universidade federal de juiz de fora · inep que, gentilmente, cederam parte do seu precioso tempo...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA CAEd - CENTRO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROFISSIONAL EM GESTÃO E AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO PÚBLICA ALESSANDRO BORGES TATAGIBA A GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO: DESAFIOS, ABORDAGENS E PERSPECTIVAS DO INEP JUIZ DE FORA 2013

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

    CAEd - CENTRO DE POLTICAS PBLICAS E AVALIAO DA EDUCAO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO PROFISSIONAL EM GESTO E AVALIAO

    DA EDUCAO PBLICA

    ALESSANDRO BORGES TATAGIBA

    A GESTO DA INFORMAO E DO CONHECIMENTO:

    DESAFIOS, ABORDAGENS E

    PERSPECTIVAS DO INEP

    JUIZ DE FORA

    2013

  • ALESSANDRO BORGES TATAGIBA

    A GESTO DA INFORMAO E DO CONHECIMENTO:

    DESAFIOS, ABORDAGENS E

    PERSPECTIVAS DO INEP

    Dissertao apresentada como requisito parcial para

    a concluso do Mestrado Profissional em Gesto e

    Avaliao da Educao Pblica, da Faculdade de

    Educao da Universidade Federal de Juiz de Fora,

    para obteno do ttulo de Mestre em Gesto e

    Avaliao da Educao Pblica.

    Orientadora: Profa. Dra. Eliane Medeiros Borges

    JUIZ DE FORA

    2013

  • TERMO DE APROVAO

    ALESSANDRO BORGES TATAGIBA

    A GESTO DA INFORMAO E DO CONHECIMENTO:

    DESAFIOS, ABORDAGENS E

    PERSPECTIVAS DO INEP

    Dissertao apresentada banca designada pela equipe de Dissertao do

    Mestrado Profissional CAED / FACED / UFJF, aprovada em __/__/___.

    ____________________________________________

    Membro da Banca Orientador

    ____________________________________________

    Membro da Banca Externa

    ____________________________________________

    Membro da Banca Interna

    Juiz de Fora,..... de .................. de 2013

  • Para Saori, Aim e Alan, pelo amor, apoio e

    por todo tempo do qual nos privamos juntos

    para tornar a pesquisa possvel. Para Elisa e

    Srvulo (in memoriam) pelas primeiras

    palavras e amor eterno.

  • A sabedoria supera o conhecimento;

    porm, s o amor capaz de compreender tudo.

  • AGRADECIMENTOS

    A concretizao de um trabalho de pesquisa envolve muitos apoiadores, desde pessoas

    muito prximas at pessoas que no chegamos a conhecer. Nesse sentido, registro aqui meus

    sinceros agradecimentos queles que contriburam nesta caminhada.

    Ao autor da vida e arquiteto do universo, ao meu Deus, eu agradeo pelo nosso

    relacionamento, por ter cuidado de todos os meus caminhos e pela presena de todas as

    pessoas que tornaram este sonho possvel. Tantas pessoas que no seria possvel aqui uma

    lista exaustiva e completa.

    Profa. Dra. Eliane Borges de Medeiros, minha orientadora, agradeo a acolhida,

    abertura e orientao. s Profas. Sheila Rigante Romero, Raquel Barroso da Silva, Profa.

    Dra. Adriana Bruno, Profs. Dr. Tarcsio Jorge Santos Pinto e Daniel Eveling da Silva,

    agradeo as valiosas e enormes contribuies.

    Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e ao Centro de Polticas Pblicas e

    Avaliao da Educao (CAEd), pelo compromisso com a qualidade do programa de ps-

    graduao, to rico em termos de conhecimentos e de trocas de vivncias acadmicas,

    profissionais e humanas. Nesse sentido, ao Prof. Manuel Palcios e Profa. Beatriz Teixeira,

    pelo pioneirismo neste programa de ps-graduao e por promover este curso com uma

    equipe docente de excelncia nacional e internacional. Portanto, ao Prof. Eduardo Antnio

    Salomo Cond, Profa. Ana Maria Hessel, Prof. Marcelo Cmara, Profa. Terezinha Barroso,

    Profa. Hilda Micarello, Profa. Rogria Campos De Almeida Dutra, Prof. Marcelo Burgos,

    Profa. Mrcia Machado, Profa. Maracy Alves, Prof. Rubem Barboza Filho, Profa. Thelma

    Lcia Pinto Polon, Profa. Lina Ktia Mesquita, Prof. Wellington Silva, Daniel Brooke, Profa.

    Edna Rezende, Prof. Fabrcio Carvalho, Prof. Ricardo Cristofaro, Profa. Eliane Bettocchi,

    Profa. Rosane Preciosa, Prof. Marcos Tanure, Prof. Marcus David, Profa. Rosimar Oliveira,

    Dbora da Silva Vieira, todos da UFJF; ao Prof. Fernando Reimers, da Havard University; ao

    Srgio Crdenas Denham, do Centro de Investigacin y Docencia Econmicas. A todos os

    docentes e inspiradores de sonhos, meu sincero agradecimento!

    A todos meus colegas de curso de todo o Brasil e de Moambique, sou grato pelo

    companheirismo e pelas valiosas trocas de experincias profissionais. Aos amigos da

    academia, Bisqu, Isabel, Alba, Aparecida Valria, Alexandra, Alisson, Andr, Jobenemar,

    Cludio, Paulo Henrique, por terem me ensinado tanto sobre a importncia de somar foras.

  • Ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira Inep, por

    ter oferecido todo o suporte necessrio para a realizao desta ps-graduao. Aos gestores do

    Inep que, gentilmente, cederam parte do seu precioso tempo para colaborar nas entrevistas e

    no aprofundamento da pesquisa. Igualmente, aos meus colegas de trabalho do Inep, registro o

    meu abrao e o reconhecimento pelo apoio para levar adiante a pesquisa. A todos os colegas

    do Cibec, por compartilhar, de forma to profissional, a valiosa expertise a respeito das

    atividades do Centro de Informao e Biblioteca em Educao do Inep. assessoria de

    imprensa e Diretoria de Planejamento e Gesto do Inep pelas informaes e dados

    fornecidos. Aos colegas da Coordenao Geral de Recursos Humanos e Gesto do Inep pelo

    contnuo suporte, ateno e assistncia aos servidores. Aos especialistas em restaurao e

    recuperao de acervos da APAE-DF e restauradora Mnica Kanegae pelas contribuies

    recebidas.

    Ao Professor Hamada Hirofumi, da Universidade de Tsukuba, pelas indelveis lies

    de teoria e prtica educacional. Profa. JoAnne Yates, do Massachusets Institute of

    Technology (MIT) Sloan School of Management, por gentilmente responder aos meus e-mails

    e pela indicao das preciosas leituras. Pesquisadora Cristina Jardim, da Universidade

    Federal do Rio de Janeiro, pelo enriquecedor dilogo e pelas sugestes de leituras. Aos

    servidores do SIC da esfera federal, pela colaborao na pesquisa. Aos servidores do

    Ministrio da Educao por compartilhar valiosas contribuies sobre a gesto do

    conhecimento. Aos usurios do Cibec, pelo precioso tempo e por possibilitar o

    aprofundamento da compreenso do ponto de vista do usurio.

    A todos familiares e amigos, pelo suporte e incentivo. Saori, Aim e Alan, pelo

    aconchego do lar, compreenso e encorajamento; aos meus queridos pais, Elisa e Srvulo, in

    memoriam, pelas primeiras lies e pelo carinho; aos avs queridos, pelas doces lembranas e

    incentivo aos estudos; aos irmos amados, George, Paulo, Christian, Veridiana, Viviane,

    Vanessa, Virgnia, Vincius, pela acolhida e harmonia. Shizuo, Michie, Yusuke e a toda

    famlia querida. Sandra Resende, pela formatao e reviso dos originais. A Flvio,

    Fabola, Joshua, Fernando, Ruth, Ezequias, Gbia, Edson, Gissele, Jos Luis, Indira, Marina,

    Daniel, Fabiana, Marcelo, Marcos, Ana, Luiz Vida, Ucha, Andra, Carlos, Harumi, Naomi,

    Candice, Mirelle, Roberto, Phablo, Lira, Kaoru, pela amizade e torcida. Ao educador Wilson,

    por sonhar, acreditar e compartilhar o ideal da educao pblica de qualidade.

  • RESUMO

    Esta pesquisa visa reflexo sobre a gesto da informao e do conhecimento no Instituto

    Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (Inep). Como rgo pblico de

    tradio histrica para a educao brasileira, nos seus mais de 75 anos de existncia, o Inep se

    destaca pelo seu trabalho estratgico e de vanguarda relacionado gesto e ao desenho das

    polticas de estado e de governo. A anlise das fontes de evidncias e a reviso de literatura

    definiram como recorte de pesquisa o Centro de Informao e Biblioteca em Educao

    (Cibec), uma das unidades do instituto, cuja origem remonta ao Decreto-Lei n 580 de 1937 e

    ao Centro de Documentao Pedaggica, criado por Ansio Teixeira. O desenho e o recorte

    desse plano de pesquisa levaram formulao da seguinte questo problema: como promover

    a gesto sistemtica e permanente das informaes e dos conhecimentos educacionais no

    Inep? Para o desenvolvimento das reflexes e o enfrentamento da questo problema,

    subsidiaram o desenvolvimento do escopo metodolgico trabalhos de autores como Yin

    (2010) e Creswell (2010). A anlise sobre as fontes de evidncias entrevistas, quantitativos

    de acesso de usurios, dados relacionados s publicaes e s informaes educacionais

    propiciou uma compreenso maior dos desafios e perspectivas da gesto da informao e do

    conhecimento para este rgo pblico. O aporte terico considera, entre outros relevantes

    autores, trabalhos como os de Batista (2012) e Thompson (2004) para discutir, no contexto da

    administrao pblica, o conceito de mediao da informao e do conhecimento, por

    exemplo. Os resultados da pesquisa destacam o desafio de implantar uma poltica oficial de

    gesto da informao e do conhecimento do instituto. A consecuo dessa poltica tem por

    objetivo assegurar parmetros legais que, de forma sistemtica e perene, contribuam para o

    aprimoramento constante dos trabalhos prestados pelo Inep educao brasileira e gesto

    das polticas de estado e de governo.

    Palavras-chave: Gesto da Informao. Gesto do Conhecimento. Inep.

  • ABSTRACT

    This research aims to reflect on information and knowledge management at the National

    Institute for Educational Research and Study Ansio Teixeira (Inep). As a Brazilian historical

    and long term educational public institute, with more than 75 years of existence, the Inep

    stands out for its strategic and cutting-edge work related to the management and design of

    state and government public policies. The analysis of the sources of evidence and literature

    review defined the Centre for Information and Library Education (Cibec) as a research outline

    among the departments of the institute. Cibecs roots date back to the Law number 580 of

    1937 and to the Pedagogical Documentation Centre, created by Ansio Teixeira. This focus

    led to the formulation of the research question as following: how to promote systematically

    and permanently educational information and knowledge management at Inep? In order to

    face this question and reflect on the research theme, the development of the methodological

    approach was based on authors such as Yin (2010) and Creswell (2010). The analysis of the

    sources of evidence, such as interviews, quantitative data about user access, as well as those

    related to Ineps publications and educational information, provided a greater understanding

    of the challenges and prospects of the information and knowledge management for this public

    institution. Among other relevant authors, works of Baptist (2012) and Thompson (2004)

    subsidized the theoretical discussion, for instance, the concept of mediation of information

    and knowledge in the context of the public administration. The results suggest the need to

    implement an official policy of information and knowledge management at the institute. The

    achievement of this policy aims to ensure legal parameters to contribute to the constant

    improvement of the work provided by the institute to the Brazilian education and to the

    management of the state and government policies in a systematic and perennial way.

    Keywords: Information Management. knowledge Management. Inep.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Organizao administrativa do Inep e o respectivo quantitativo de cargos

    comissionados ........................................................................................................................... 31

    Figura 2 Matriz conceitual do Cibec ..................................................................................... 41

    Figura 3 Servio Eletrnico de Informao ao Cidado (e-SIC)........................................... 54

    Figura 4 Solicitao de Informao I .................................................................................... 89

    Figura 5 Solicitao de Informao II ................................................................................... 94

    Figura 6 Anlise da lacuna do conhecimento estratgico.................................................... 115

    Figura 7 Casoteca da Enap .................................................................................................. 128

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 15 rgos mais demandados no Poder Executivo Federal at 20/05/2013 ............. 55

    Tabela 2 15 rgos mais demandados no Poder Executivo Federal at 20/05/2013 ............. 56

    Tabela 3 Nmero de acessos ao portal pblico do Inep na Internet ...................................... 97

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Organograma do Cibec em 1981 ........................................................................... 34

    Quadro 2 Quantitativo de consulta ao acervo do Cibec por material consultado ................. 45

    Quadro 3 Dados, Informao e Conhecimento ..................................................................... 83

    Quadro 4 Caractersticas dos pedidos de acesso s informaes .......................................... 87

    Quadro 5 Ranking dos 10 temas mais recorrentes nos pedidos de acesso informao ...... 87

    Quadro 6 Motivos da negativa de acesso informao ........................................................ 87

    Quadro 7 Porcentagem da escolaridade dos solicitantes ....................................................... 88

    Quadro 8 Porcentagem conforme a profisso........................................................................ 88

    Quadro 9 Nmero de acesso s publicaes do Inep no portal eletrnico ............................ 97

    Quadro 10 Forma textual da Metodologia de Mapeamento Institucional ........................... 106

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Quantidade de usurios da biblioteca do Cibec ...................................................... 44

    Grfico 2 Materiais e respectivos percentuais consultados no Cibec de outubro de 2012 a

    maio de 2013 ............................................................................................................................ 47

    Grfico 3 Quantidade de pedidos de acesso informao no Inep de maio de 2012 a abril de

    2013 .......................................................................................................................................... 86

    Grfico 4 Porcentagens relativas ao Grupo 1 e ao Grupo 2 .................................................. 91

    Grfico 5 Quantidade de atendimentos por meio do 0800 616161 na opo Inep ............ 95

    Grfico 6 Quantitativo de atendimentos por e-mail do Fale Conosco .................................. 96

    Grfico 7 Quantitativo de atendimentos via web do Fale Conosco ...................................... 96

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    Apae/DF Associao de Pais e Amigos dos Excepcionais do Distrito Federal

    Anresc Avaliao Nacional do Rendimento Escolar

    BBE Bibliografia Brasileira de Educao

    BBE@ Bibliografia Brasileira de Educao em Formato Digital

    Capes Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

    CBPE Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais

    Cibec Centro de Informao e Biblioteca em Educao

    Cileme Campanha de Inquritos e Levantamentos do Ensino Mdio e Elementar

    CGU Controladoria-Geral da Unio

    CPAD Comisso Permanente de Avaliao de Documentos Arquivsticos

    CRPE Centros Regionais de Pesquisas Educacionais

    Dired Diretoria de Estudos e Pesquisas Educacionais

    DTDIE Diretoria de Tecnologia e Disseminao de Informaes Educacionais

    DNE Departamento Nacional de Educao

    DUDH Declarao Universal dos Direitos Humanos

    e-SIC Servio Eletrnico de Informao ao Cidado

    Enap Escola Nacional de Administrao Pblica

    Encceja Exame Nacional de Certificao de Competncias de Jovens e Adultos

    Enem Exame Nacional do Ensino Mdio

    CSPS Escola Canadense do Servio Pblico

    FGV Fundao Getlio Vargas

    FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao

    FTP File Transfer Protocol

    Ideb ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica

    Ipac Instituto de Administrao Pblica do Canad

    Ipea Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada

    Inep Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira

    LAI Lei de Acesso a Informaes

    MEC Ministrio da Educao

    PNLD Programa Nacional do Livro Didtico

  • PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

    ProLei Programa de Legislao Educacional Integrada

    Prouni Programa Universidade para Todos

    Rbep Revista Brasileira de Estudos Pedaggicos

    Reduc Rede Latino-Americana de Documentao e Informao

    RIPE Repositrio Institucional de Pesquisa em Educao

    Sabi Sistema de Automao de Bibliotecas

    Saeb Sistema de Avaliao da Educao Bsica

    Sediae Secretaria de Avaliao e Informao da Educao

    Seec Servio de Estatstica da Educao e Cultura

    Sibe Sistema Integrado de Informaes Bibliogrficas

    SIC Servio de Acesso Informao

    TCI Termo de Classificao da Informao

    UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

  • SUMRIO

    INTRODUO ....................................................................................................................... 17

    1 DESAFIOS ............................................................................................................................ 22

    1.1 Desafios histricos e contemporneos do Inep...................................................22

    1.2 Gesto da Informao e Gesto do Conhecimento no Cibec............................37

    1.3 O acesso ao Cibec..................................................................................................43

    1.4 A Lei de Acesso Informao (LAI)...................................................................50

    1.5 Desafios: reconhecer e abordar............................................................................58

    2 ABORDAGENS .................................................................................................................... 61

    2.1 Marco metodolgico: caminhos de pesquisa........................................................61

    2.2 Pressupostos ticos................................................................................................63

    2.3 Referenciais tericos.............................................................................................65

    2.3.1 Contextualizao Terica .................................................................................. 65

    2.3.2 Abordagens conceituais: gesto da informao e gesto do conhecimento ...... 76

    2.3.3 Definio dos termos dado, informao e conhecimento .................................. 82

    2.4 Anlise de evidncias quantitativas e qualitativas.............................................85

    2.4.1 Anlise de dados do e-SIC ................................................................................ 85

    2.4.2 Anlise de dados da Central de Atendimento Fale Conosco ............................. 95

    2.4.3 Anlise de dados da Assessoria de Comunicao do Inep ................................ 97

    2.4.4 Anlise das Entrevistas ...................................................................................... 98

    2.5 Abordagens: compreender e propor.................................................................101

    3 PERSPECTIVAS ................................................................................................................ 102

    3.1 Metodologia de Mapeamento Institucional: subsdios para o desenho e a

    implementao de polticas pblicas...................................................................................105

    3.2 Desafios da construo da poltica oficial de gesto da informao e gesto do

    conhecimento do Inep...........................................................................................................107

    3.2.1 Contextualizar ................................................................................................. 107

    3.2.2 Precisar os desafios ......................................................................................... 110

    3.3 Abordagens..........................................................................................................110

  • 3.3.1 Abordagens metodolgicas ............................................................................. 111

    3.3.2 Abordagens ticas e jurdicas .......................................................................... 112

    3.3.3 Abordagens tericas ........................................................................................ 113

    3.3.4 Abordagens empricas ..................................................................................... 116

    3.3.5 Sntese ............................................................................................................. 124

    3.4 Perspectivas..........................................................................................................124

    3.5 Novos desafios..........................................................................................................127

    REFERNCIAS ................................................................................................................... 130

    ANEXOS ............................................................................................................................... 140

    ANEXO 1 TABELA IBGE 2011 ....................................................................................... 141

    ANEXO 2 Criao do Cibec .............................................................................................. 143

    ANEXO 3 Estabelecimento do depsito legal das Informaes Educacionais no Cibec ... 147

    ANEXO 4 Constituio do acervo editorial MEC .............................................................. 149

    ANEXO 5 Regimento e estrutura interna do Cibec ............................................................ 151

    ANEXO 6 Cronologia: Antecedentes histricos do Inep .................................................... 154

    ANEXO 7 Linha Editorial do Inep ...................................................................................... 156

    ANEXO 8 Gesto da Informao e Gesto do Conhecimento ............................................ 158

    APNDICES ......................................................................................................................... 159

    APNDICE 1 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ............................................. 160

    APNDICE 2 Convite ......................................................................................................... 162

    APNDICE 3 Entrevista aos gestores 1 .............................................................................. 163

    APNDICE 4 Entrevista aos gestores 2 .............................................................................. 164

    APNDICE 5 Entrevista aos gestores 3 .............................................................................. 165

    APNDICE 6 Entrevista aos gestores 4 .............................................................................. 166

  • | 17 |

    INTRODUO

    Esta dissertao, organizada em trs sees temticas Desafios, Abordagens e

    Perspectivas com seus respectivos tpicos, tem por objetivo refletir sobre a gesto da

    informao e a gesto do conhecimento no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

    Educacionais Ansio Teixeira (Inep), com vistas a oferecer contribuies para os trabalhos do

    instituto.

    Numa abordagem qualitativa e quantitativa, sob a perspectiva metodolgica do estudo

    de caso (YIN, 2010), a consecuo da pesquisa implicou uma finalidade ulterior ao prprio

    escopo acadmico, ou seja, o de dialogar com os pares de trabalho no Inep as reflexes aqui

    desencadeadas. Ao encontro do objetivo proposto e dessa perspectiva dialgica, a proposio

    a seguir emerge das trs sees deste trabalho: como promover a gesto sistemtica e

    permanente das informaes e dos conhecimentos educacionais no Inep, rgo com mais de

    75 anos dedicados pesquisa, organizao, catalogao, preservao e gesto de informaes

    e conhecimentos educacionais?

    Apesar de contempornea, essa questo-problema sempre possuiu importncia

    estratgica para o Inep e para a educao nacional. Com base na pesquisa bibliogrfica e nos

    documentos legais sobre o instituto, verifica-se que, ainda que por diferentes definies

    terminolgicas, a gesto das informaes e dos conhecimentos educacionais se fizeram

    presentes em todos os momentos da histria do Inep, desde sua constituio oficial em 1937.

    No cenrio atual, constata-se a crescente legitimao da oferta e do consumo de

    informaes associadas s novas Tecnologias da Informao e Comunicao. Na dcada

    passada, o Brasil participou das duas Cpulas Mundiais sobre Sociedade da Informao, em

    2003 e 2006, na Genebra e na Tunsia respectivamente. Ao final das rodadas de negociaes,

    o Compromisso da Tunsia celebra, entre outros relevantes itens, uma Agenda Digital

    Solidria mundial com plataformas interligadas e com softwares livres e abertos para

    educao, cincia e programas digitais inclusivos.

    Nesse sentido, no podemos deixar de considerar, por exemplo, que no Brasil, se por

    um lado, entre 2005 e 2011, o acesso internet cresceu 143,8% entre a populao acima de 10

    anos; por outro, 53,5% dos brasileiros nessa faixa etria ainda no usam a rede (IBGE, 2011).

    Ainda entre aqueles que tm acesso internet, deve-se considerar que o nvel de letramento

  • | 18 |

    digital pode ser um impedimento ou uma dificuldade para aes de incluso em benefcios de

    programas governamentais.

    Este cenrio remete gestores e servidores do Inep ao desafio de compreender as

    dimenses histrico-sociais do instituto e, ao mesmo tempo, os novos contextos de organizao

    social que, na perspectiva da sociedade da obsolescncia (BAUMAN, 1998, p. 112), implicam

    mudanas no s de ordem poltica, mas tambm educacional, econmica, artstica, tica. As

    sociedades, contudo, experimentam mudanas tecnolgicas em intervalos de tempo cada vez

    mais curtos, e, por conseguinte, transformaes nas relaes do ser humano com as informaes

    e com os conhecimentos. Uma evidncia emprica dessa afirmao se apresenta na atual

    simbiose e na naturalizao da relao ser humano-mquina-mundo proporcionada

    recentemente pela computao ubqua (ubiquitous computing) e vislumbrada por Weiser em

    1988 que, em sntese, alterou o paradigma do processo para o usurio final (ARAUJO, 2009).

    Novos contextos de organizao social no significam, todavia, que antigas demandas

    sociais tenham sido superadas. Mais do que antes, instituies pblicas e privadas se encontram

    impelidas aos desafios de pensar a gesto das informaes e a gesto do conhecimento. De

    outra forma, corre-se o risco de continuar a intervir nos desafios de forma fragmentada,

    contingencial e, no raro, ultrapassada e descontextualizada em relao s demandas sociais.

    A sociedade espera respostas e atendimento da gesto pblica. No podemos ficar

    presos na discusso exclusiva a respeito dos desafios. Torna-se imprescindvel pensar em

    instrumentos para abord-los, compreend-los, para ento, com maior segurana, apontar

    perspectivas. De outra forma, alguns dos resultados da investigao no apresentariam

    evidncias recentes a respeito de instituies brasileiras que j vm apresentando respostas ao

    desafio de promover aes de gesto da informao e de gesto do conhecimento frente aos

    novos contextos de organizao e mudana social.

    Com a finalidade de desencadear reflexes que possam convergir em perspectivas, o

    recorte da pesquisa considera o Centro de Informao e Biblioteca em Educao (Cibec), desde

    seus fundamentos de constituio histrica, lanados na dcada de 1930, at a poca atual,

    como unidade orgnica em relao s outras do Inep. Isso, evidentemente, sem a pretenso de

    realizar uma investigao exaustiva acerca de toda a abrangncia, particularidades e relevncia

    dos trabalhos de gesto da informao e gesto do conhecimento do instituto.

    O resgate e o desenho desse panorama histrico do Inep importam uma vez que, como

    se ver mais adiante, no Decreto-Lei n 580 (BRASIL, 1938) j constavam os fundamentos de

    um centro e biblioteca especializados em informaes e conhecimentos educacionais. Nesse

  • | 19 |

    sentido, apesar das contingncias sofridas pela instituio, a histria do Inep se configura,

    sobretudo, como uma histria construda com o compromisso de pessoas que, de acordo com

    as respectivas identidades profissionais (CASTELLS, 1999), deram respostas aos desafios de

    cada poca ao dialogar com a sociedade por meio de informaes e conhecimentos

    educacionais confiveis, vlidos e relevantes. Esse compromisso com as polticas

    educacionais no nasce por decreto e, conforme Elmore (1980), Dyer (1999) e Brooke (2012),

    implica, sem dvida, a participao ativa dos atores institucionais. Em primeira e ltima

    instncia, portanto, deve-se sempre buscar compreender o papel dos atores que se relacionam

    determinada poltica.

    Com base nesse recorte e nessa perspectiva analtica, busco, por conseguinte,

    comparar a tica do pesquisador, imerso no ambiente natural da pesquisa, com documentos

    legais, entrevistas, documentos de arquivo, levantamento de informaes e reviso de

    literatura (YIN, 2010). Ao ingressar no Inep, por meio de concurso pblico para a carreira de

    Pesquisador-Tecnologista em Informaes e Avaliaes Educacionais, trabalhei com todos os

    exames e avaliaes do Inep relacionados educao bsica. Por acumular quase duas

    dcadas de docncia na rede pblica de ensino do Distrito Federal, passei a compreender o

    potencial que as reflexes sobre os exames e as avaliaes em larga escala da educao bsica

    poderiam promover para a prtica docente.

    Integrei tambm a equipe de publicaes do Inep, com a qual, inclusive, pude conhecer

    um pouco sobre a histria das publicaes do Inep na tica de interlocutores com reconhecida

    expertise nesse campo de atuao. A partir de maio de 2012, como membro da equipe do Cibec,

    abracei o desafio de inaugurar e iniciar o Servio de Informao ao Cidado (SIC) do Inep em

    cumprimento Lei n 12.527, de novembro de 2011. Lei que, em sntese, regulamenta o direito

    constitucional de acesso dos cidados s informaes pblicas e aplicvel aos trs Poderes da

    Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios (BRASIL, 2011).

    Com o advento da Lei de Acesso Informao, entendo que, entre outros benefcios,

    se possibilita s instituies pblicas instrumentos quantitativos e qualitativos para construir a

    inteligncia da gesto das informaes, inclusive de forma compartilhada entre os diferentes

    rgos pblicos. Isso ocorreu recentemente no 1 evento de celebrao da Lei de Acesso

    Informao, em 16 de maio de 2013, em Braslia, quando uma representante da sociedade

    civil aludiu 1 edio do Hackathon Dados da Educao Bsica, promovido pelo Inep em

    parceria com a Fundao Lemann, como uma boa iniciativa para promover o acesso

    informao pblica. O Hackathon Dados da Educao Bsica reuniu hackers,

  • | 20 |

    programadores e inventores com o objetivo de criar programas e aplicativos em plataformas

    fixas e dispositivas mveis para disseminar informaes educacionais e mobilizar a sociedade

    por uma educao pblica de qualidade (BRASIL, INEP, 2013). Como resultado, o site

    "www.escolaquequeremos.org", mostrado para o pblico neste evento, destaca-se pela oferta

    de informaes educacionais de forma interativa, visualmente amigvel e numa abordagem

    multimodal da linguagem (KRESS; VAN LEEUWEN, 2001).

    Esse exemplo recente rene-se a outros trabalhos de gesto de informaes e de

    conhecimentos educacionais no Inep, entre eles, publicaes de sries documentais, relatrios

    pedaggicos, textos com reflexes sobre avaliaes nacionais (Saeb/Prova Brasil) e

    internacionais (Pisa). Nesse sentido, ressalto ainda que, desde 1944, a Revista Brasileira de

    Estudos Pedaggicos (Rbep) e outras publicaes do Inep tm subsidiado o trabalho de

    gestores pblicos, pesquisadores e professores. Pesquisas e levantamentos do Censo da

    Educao Bsica e do Censo da Educao Superior representam igualmente um gigantesco

    trabalho de gesto da informao educacional em articulao com estados, municpios,

    escolas e gestores escolares.

    Esta breve contextualizao indica apenas um ponto de partida. A primeira seo do

    trabalho, Desafios, contextualiza o estudo de caso por meio de uma descrio analtica do

    percurso histrico do Inep e do Cibec at alcanar o contexto de implantao da Lei de

    Acesso Informao. Essa descrio, conforme Yin (2010, p. 211), configura-se como

    relevante para contextualizar o estudo de caso e, sobretudo, para promover insights

    relacionados questo problema. A apresentao do estudo de caso se d por meio do

    levantamento das fontes de evidncia, conforme Yin (2010), associadas s pesquisas e estudos

    de autores como Correia (2009), Cunha (1991), Jardim (2008; 2013), Saavedra (1988),

    Saviani (2012) e Xavier (1999). Por sua vez, a estratgia analtica se baseia, na medida do

    possvel, em orientaes de ordem cronolgica, conforme Miles e Huberman (1984).

    Com base nos referenciais tericos mobilizados para a abordagem dos desafios

    levantados, a segunda seo inclui, alm de uma contextualizao terica e a definio de

    termos, a apresentao dos pressupostos ticos que nortearam a conduo da pesquisa,

    registro e divulgao. Em seguida, a discusso detida de dados e a anlise das entrevistas

    servem para ajustar, confirmar ou refutar a leitura do pesquisador em relao s evidncias.

    No ltimo tpico da segunda seo, a sntese das abordagens empregadas articula-se

    releitura e ao aprofundamento da compreenso dos desafios apontados na primeira seo.

  • | 21 |

    Considerando, portanto, a necessidade de enfrentar os desafios histricos e

    contemporneos do Inep, na terceira e ltima seo do trabalho, os resultados da pesquisa

    convergem para a apresentao de subsdios para a construo de uma poltica perene e

    atualizvel de gesto da informao e gesto do conhecimento educacional no Inep com

    destaque ao compromisso dos atores para o desenho e a implementao efetiva da poltica

    pretendida. Sem mais tardar, delineado o panorama do trabalho, como podemos entender os

    desafios histricos e contemporneos do Inep?

  • | 22 |

    1 DESAFIOS

    1.1 Desafios histricos e contemporneos do Inep

    Refletir sobre informaes e conhecimentos educacionais no Brasil significa

    reconstituir o papel histrico e contemporneo do Inep. Os antecedentes histricos do Inep

    remontam assembleia constituinte de 1823, na qual chegou a se propor a criao de um

    instituto encarregado da verificao dos resultados do ensino em todo o pas (INEP, 1956).

    Posteriormente, a iniciativa de Benjamim Constant e o parecer de autoria do ento Deputado

    Rui Barbosa, em 1882, para a criao do Pedagogium, em 1890, j continha algumas das

    diretrizes que sob o contexto de influncia dos pioneiros da educao1 constituiriam

    alguns dos pilares de criao do Inep, em 1937. Um marco recente dessa trajetria histrica

    ocorreu em 2012, quando o Inep completou e comemorou 75 anos de existncia oficial.

    Por ocasio desse recente marco para a histria do instituto e para a educao

    brasileira, a Revista Brasileira de Estudos Pedaggicos Rbep, que publicada pelo prprio

    Inep desde 1944, trouxe, entre os relevantes trabalhos cientficos, O Inep, o diagnstico da

    educao brasileira e a Rbep, de Saviani (2012). Nesse trabalho, o autor destaca que entre os

    objetivos da criao do Inep sempre figurou a ideia de realizao de pesquisas tendo em vista

    o esclarecimento e soluo dos problemas pedaggicos. Esse objetivo, ainda atual e urgente

    para a educao nacional, implica que o trabalho do Inep possui contexto e finalidades

    educacionais bem definidas.

    Ao encontro dessa perspectiva, Goulart (2007) com base nos registros do Professor

    Jader de Medeiros Brito, que fora diretor da Rbep por 20 anos afirmou que o Inep possui

    quatro grandes eixos norteadores de suas atividades:

    auxiliar na definio de polticas pblicas para a educao brasileira;

    prestar assistncia tcnica s unidades da Federao;

    1 O Manifesto dos Pioneiros da Educao, redigido por Fernando Azevedo, teve signatrios como Ansio

    Teixeira, Loureno Filho, Roquete-Pinto, Almeida Jnior, Ceclia Meireles, entre outros. O Manifesto, com

    todo o texto na ntegra, encontra-se na Biblioteca Virtual Ansio Teixeira

    (http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/artigos/mapion.htm) e tambm disponvel para download em:

    http://download.inep.gov.br/download/70Anos/Manifesto_dos_Pioneiros_Educacao_Nova.pdf.

  • | 23 |

    estruturar um sistema de documentao e intercmbio educacional capaz de

    veicular a disseminao de informaes, mediante um programa editorial;

    atuar no desenvolvimento de uma poltica de estudos e pesquisas (GOULART,

    2007).

    Esses objetivos e eixos norteadores, ao ecoar inclusive dos ideais educacionais dos

    pioneiros da educao, comearam a tomar forma por meio da Lei n 378, de 13 de janeiro de

    1937 (BRASIL, 1937). Este decreto, que dava poca nova organizao ao Ministrio da

    Educao e Sade Pblica, criou o Instituto Nacional de Pedagogia. Alm de inaugurar

    juridicamente um instituto educacional de grande porte, o art. 39 dessa lei inovou ao conferir

    ao Inep o carter e a atribuio de realizar pesquisas em matrias educacionais: Fica criado o

    Instituto Nacional de Pedagogia, destinado a realizar pesquisas sobre os problemas do ensino,

    nos seus diferentes aspectos (BRASIL, 1937). Por sua vez, Loureno Filho, primeiro

    presidente do Inep, de 1938 a 1946, enfatizou a organizao do sistema de documentao para

    a realizao e disseminao de estudos e pesquisas.

    Ao encontro dessa perspectiva de pesquisa, a Lei n 378 (BRASIL, 1937) j atribua

    tambm ao nascente instituto a tarefa de estudar o problema da literatura infanto-juvenil por

    meio da constituio de uma comisso de pesquisa especfica. Como resultado dessa

    atribuio e do trabalho de todos que a essa causa se dedicaram, Saavedra (1988, p. 1) inicia

    seu trabalho acadmico com a seguinte afirmao: No se pode falar em pesquisa

    educacional no Brasil sem se falar no Inep, porque suas histrias esto estreitamente ligadas.

    De forma mais detalhada e com vistas a oferecer diretrizes ao efetivo funcionamento

    desse instituto de pesquisa, por meio do Decreto-Lei n 580, de 30 de julho de 1938, altera-se

    o nome Instituto Nacional de Pedagogia para Instituto Nacional de Estudos Pedaggicos

    (BRASIL, 1938). Deve-se a origem da sigla Inep a esse decreto de 1938. poca,

    especificamente o art. 2 do Decreto-Lei n 580 (BRASIL, 1938) regulamentou as

    competncias do Inep e podemos observar que alm de manter o carter de pesquisa do rgo,

    houve um cuidado em se detalhar atividades relacionadas tambm organizao e

    disseminao das informaes educacionais:

    a) organizar documentao relativa histria e ao estudo atual das doutrinas e das

    tcnicas pedaggicas, bem como das diferentes espcies de instituies educativas;

    b) manter intercmbio, em matria de pedagogia, com as instituies educacionais

    do Pas e do estrangeiro;

    c) promover inquritos e pesquisas sobre todos os problemas atinentes organizao

    do ensino, bem como sobre os vrios mtodos e processos pedaggicos;

  • | 24 |

    d) promover investigaes no terreno da psicologia aplicada educao, bem como

    relativamente ao problema da orientao e seleo profissional;

    e) prestar assistncia tcnica aos servios estaduais, municipais e particulares de

    educao, ministrando-lhes, mediante consulta ou independentemente desta,

    esclarecimentos e solues sobre os problemas pedaggicos;

    f) divulgar, pelos diferentes processos de difuso, os conhecimentos relativos

    teoria e prtica pedaggicas. (BRASIL, 1938).

    Em 1938, no campo da nascente Cincia da Documentao, o Inep iniciou um

    levantamento da bibliografia educacional brasileira e, conforme Saavedra (1988, p. 35),

    constitui-se a biblioteca pedaggica com um acervo inicial de 440 volumes. Atualmente,

    conta com 65.771 exemplares indexados, catalogados e preservados no acervo do Centro de

    Informao e Biblioteca em Educao do Inep (CIBEC/INEP, 2013). Devido s contribuies

    dos grandes educadores frente da gesto e ao compromisso profissional dos servidores do

    Inep, o acervo educacional cresceu em qualidade e quantidade. Na viso de Ansio Teixeira e

    Loureno Filho, ex-presidentes do Inep, as pesquisas institucionais do Inep tambm seriam as

    ferramentas para proporcionar a qualidade, confiabilidade e validade das informaes e

    conhecimentos educacionais vinculados aos trabalhos do instituto.

    Da anlise sobre os documentos legais de criao e constituio do Inep, sobressai o

    entendimento de que, desde a inaugurao do Inep, grande parte da misso institucional do

    instituto permanece at os dias de hoje. Por exemplo, a proposta de reunir e difundir a

    documentao relativa educao brasileira j constava, em 1938, do decreto de criao do

    Inep, conforme se observa na alnea a do artigo 2.

    Com base no Decreto-Lei n 580 de 1938 e nas origens da gesto da informao

    abordadas nos estudos de Paul Otlet em Trait de documentation publicados em 1934

    (LOUSADA et al., 2012) , podemos entender, ainda que sob nomenclaturas equivalentes,

    que a constituio oficial das bases de um Centro de Informao e da respectiva Biblioteca em

    Educao do Inep se deu em 1938. Posteriormente, os trabalhos em prol da pesquisa e difuso

    dos conhecimentos educacionais, sobretudo na gesto Ansio Teixeira, s vieram a confirmar

    a vocao do Inep em atuar como gestor de informaes e de conhecimentos educacionais.

    Ao encontro dessa afirmao, a leitura combinada das alneas a e f permite-nos

    entender que a gesto da informao, tanto do ponto de vista da organizao (entrada) bem

    como da disseminao das informaes (sada) j constava do iderio de criao do Inep. Por

    sua vez, conforme a alnea c, a produo de conhecimento por meio de estudos e pesquisas

    j atribua ao Inep o papel de irradiar o conhecimento pedaggico. J se previa, segundo a

    alnea e, a funo de consulta ao Inep, mediante assistncia tcnica aos Estados e

  • | 25 |

    Municpios. Obviamente, para que se possa prestar o servio de consulta, torna-se

    imprescindvel gerir todo esse conjunto de informaes educacionais de forma perfeitamente

    organizada, de fcil recuperao e, sobretudo, acessvel aos usurios.

    Obviamente, o Decreto-Lei n 580 (BRASIL, 1938) alude a diversas atribuies para o

    Inep, entre as quais se pode observar, inclusive, o destaque dado Psicologia, conforme se l

    na alnea d do artigo 2 do referido decreto. Nesse sentido, segundo Saviani (2012),

    podemos compreender a primeira fase do Inep como o perodo que se inicia em 1938 e se

    estende at 1952, perodo este marcado pelas bases psicolgicas que Loureno Filho

    procurava difundir no contexto do movimento renovador da educao brasileira, cujo marco

    o Manifesto de 1932 dos Pioneiros da Educao.

    Em vista do exposto acerca do Decreto-Lei n 580 (BRASIL, 1938), deve-se ressalvar

    que, ao longo do sculo XX, todas as unidades diretoras do Inep passaram por mudanas de

    nomenclatura enquanto outras deixaram de existir, como a Seo Psicologia Aplicada. Em

    1952, assume a direo do Inep o Professor Ansio Teixeira que, ao lado do Professor

    Loureno Filho, foi um dos Pioneiros da Educao.

    Por iniciativa do prprio Ansio Teixeira, o Inep instaura definitivamente uma nova

    fase com uma nfase maior nas Cincias Sociais. Ansio Teixeira cria o Centro Brasileiro de

    Pesquisas Educacionais (CBPE) e os Centros Regionais de Pesquisas Educacionais (CRPE),

    rgos do Inep, conforme o Decreto n 38.460, de 28 de dezembro de 1955 (BRASIL, 1955).

    Nos anos 1950 e 1960, segundo Xavier (1999), o CBPE reuniu educadores e cientistas sociais

    em um projeto ambicioso de promover o desenvolvimento de pesquisas sobre educao, a fim

    de subsidiar as polticas pblicas do setor no pas.

    Para ilustrar, ainda que minimamente, esse perodo da gesto de Ansio, do trabalho

    Passos e descompassos de uma instituio de pesquisa educacional no Brasil: a realidade do

    Inep de Saavedra (1988), as servidoras do Cibec, Doracy Rodrigues Farias, Luza Maria

    Sousa do Amaral e Regina Clia Soares (2001) destacam:

    Ansio Teixeira perseguia a melhoria da educao pblica, para tanto, iniciou uma

    srie de levantamentos e inquritos que levariam a uma anlise detalhada das

    condies do ensino em cada Estado. Foi instituda a Campanha de Inquritos e

    Levantamentos do Ensino Mdio e Elementar (Cileme), que no se tratava de um

    levantamento estatstico das condies do ensino nem uma verificao pura e

    simples da ao pedaggica, mas da "busca do como e do porqu da prtica

    educativa em situaes conjunturais particulares em uma dada cultura de uma dada

    sociedade. Seria o estudo de aspectos ou fenmenos educacionais com a

    profundidade suficiente para ressaltar as modalidades que se apresentam, as

    circunstncias que lhes do origem, e as repercusses que produzem no quadro geral

    das instituies sociais. Enfim, ir ao encontro da educao em sua realidade escolar

  • | 26 |

    para v-la e senti-la de perto e dentro, fugindo ao conhecimento dos problemas que

    chegam de forma mais ou menos longnqua ou distorcida queles que tm a

    responsabilidade de enfrent-los e propor solues" (SAAVEDRA, 1988, p. 48).

    Nesse contexto de expanso da pesquisa por meio dos CBPE e CRPE, a biblioteca do

    Inep, presente desde o incio da fundao do Inep, teve seu momento mais expressivo sob a

    administrao de Ansio Teixeira (1952-1964), lembra Jardim (2008). A autora ainda destaca

    que, do ponto de vista qualitativo e quantitativo, a biblioteca modernizou suas atividades e

    ampliou seu acervo.

    O CBPE, com sede no Rio de Janeiro, e os CRPE com sede em Recife, Salvador, Belo

    Horizonte, So Paulo e Porto Alegre subordinavam-se todos ao Inep. Cada Centro de

    Pesquisa compreendia sempre: i) uma biblioteca em educao; ii) um servio de

    documentao e informao pedaggica; iii) um museu pedaggico; iv) os servios de

    pesquisa e inqurito de cursos, estgios e aperfeioamento do magistrio e,quando possvel,

    servios de educao audiovisual, de distribuio de livros e material didtico e de cinema

    educativo (CASTRO, 1999).

    Apesar de no ter fundado o Inep, Ansio Teixeira, conforme Rothen (2005), refunda o

    Inep com a criao, em 1953, do Centro de Documentao Pedaggica, com a funo de

    integrar a atividade de pesquisa e de documentao, facilitando a sistematizao dos trabalhos

    e a posterior divulgao de seus resultados (SAAVEDRA, 1988, p. 51). Nessa poca, em

    1960, conforme Jardim (2013), o acervo do Inep compreendia 34.000 volumes e 600 ttulos

    de peridicos nacionais e estrangeiros abrangendo reas de cultura brasileira, educao,

    psicologia e sociologia educacional. Todos os artigos sobre educao j eram analisados e

    indexados pelos servidores do setor de documentao como se realiza hoje no Cibec.

    Pode-se entender a criao desses centros de pesquisa, segundo Saviani (2012), como

    a tendncia de suplantao da influncia da psicologia na educao, largamente difundida pela

    gesto de Loureno Filho. As leituras sobre a histria do Inep evidentemente possuem

    diferentes perspectivas, conforme destaca Rothen (2005). Cunha (1991), por sua vez, destaca

    que os centros de pesquisa criados na gesto Ansio Teixeira, alm de representarem a

    continuidade de projetos voltados para a profissionalizao e especializao da educao,

    correspondiam aos ideais desenvolvimentistas alimentados nos anos 1950, consubstanciando

    a crena no planejamento racional das polticas pblicas e incorporando a esperana no papel

    da educao como fator de progresso cultural e de estabilizao social.

  • | 27 |

    Consoante o exposto por Cunha (1991) e a anlise documental a respeito do Inep,

    indago se o perodo de 1952 a 1963, com Ansio Teixeira frente do instituto, no poderia ser

    entendido como a perspectiva interdisciplinar da pesquisa educacional. No podemos

    esquecer que o trabalho de gesto de Ansio Teixeira frente do Inep recebera influncia de

    John Dewey a partir do contato do educador brasileiro, na Universidade de Columbia (EUA),

    com as ideias pioneiras sobre educao de Dewey. Nesse sentido, Chaves (1999) aponta que

    Ansio Teixeira e John Dewey procuravam conhecer, por meio de pesquisas e diagnsticos, a

    realidade das escolas. Esse ponto em comum entre os educadores se revela, inclusive, no art.

    2 do Decreto n 38.460, de 26 de dezembro de 1955, em que se colocam quatro objetivos

    para os Centros de Pesquisas, a saber:

    1. Pesquisa das condies culturais escolares e das tendncias de desenvolvimento de cada regio e da sociedade brasileira como um todo, para o efeito de conseguir

    elaborao gradual de uma poltica educacional para o Pas;

    2. Elaborao de planos, recomendaes e sugestes para a reviso e a reconstruo educacional do Pas em cada regio nos nveis primrio, mdio e superior e no

    setor de educao de adultos;

    3. Elaborao de livros, de fontes e de textos, preparo de material de ensino, estudos especiais sobre administrao escolar, currculos, psicologia educacional,

    filosofia da educao, medidas escolares, formao de mestres e sob quaisquer

    outros temas que concorram para o aperfeioamento do magistrio nacional;

    4. Treinamento e Aperfeioamento de Administradores Escolares, Orientadores Educacionais, Especialistas de Educao e Professores de Escolas Normais e

    Primrias. (BRASIL, 1955).

    Conforme destaca Jardim (2008), durante a gesto de Ansio Teixeira frente do Inep,

    o perodo de 1952 a 1964 caracterizou-se pela ampliao da abrangncia do acervo da

    biblioteca, com a incluso de obras no s de Educao, mas tambm de Cincias Sociais,

    Cultura Brasileira e Psicologia. Segundo a autora, o Inep adquiriu a biblioteca do Prof. Arthur

    Ramos, especializada em Sociologia e Antropologia. A biblioteca do Inep, nesse perodo,

    passa a ser reconhecida como uma coleo que rene as obras mais importantes sobre a

    memria da educao e da cultura no Brasil, tornando-se uma referncia para a pesquisa das

    questes educacionais brasileiras.

    Na dcada de 1970, ocorrem grandes transformaes no Inep e seus Centros de

    Pesquisa. O Decreto n 71.407, de 20 de novembro de 1972, mantm a sigla Inep, mas o

    rgo passou a ser denominado de Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

    (BRASIL, 1972). No ano seguinte, o Decreto n 71.713, de 16 de janeiro de 1973, extingue os

    Centros Regionais de Pesquisa Educacional (BRASIL, 1973). Quase no final da dcada de

  • | 28 |

    1970, o Decreto n 79.809, de 14 de junho de 1977, extingue o Centro Brasileiro de Pesquisa

    Educacional (BRASIL, 1977).

    De fato, com a transferncia do Inep para Braslia, no final da dcada de 1970, o

    Instituto perdeu temporariamente a sua biblioteca. Nesse perodo, foi doado para a

    Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) grande parte do acervo do Inep e desses

    centros. Hoje, 70% do acervo do CBPE/Inep localizam-se no Espao Ansio Teixeira, no

    Centro de Filosofia e Cincias Humanas da UFRJ.

    De acordo com o Termo de Cesso datado de 15 de Setembro de 1977, o Inep cedia

    Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em carter definitivo, grande parte do acervo

    da Biblioteca do extinto Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, um dos maiores e mais

    importantes conjuntos documentais de fontes de informao sobre Educao no pas. Por

    meio de contatos por e-mail, a pesquisadora Jardim (2013) relata que, no final do ano de

    2008, teve incio o registro dos itens da coleo Inep no Catlogo online das Bibliotecas da

    UFRJ Base Minerva2. At abril de 2013, entre livros e peridicos, 8.352 itens do antigo

    acervo do Inep j se encontravam inseridos na Base Minerva da UFRJ.

    A Fundao Getlio Vargas (FGV) tambm abriga outra parte desse acervo. Conforme

    o Guia de Arquivos da FGV, em sua coleo Ansio Teixeira, h 344 livros, 65 peridicos,

    166 exemplares de peridicos e 13 artigos de peridicos. No arquivo histrico do Cibec ainda

    h uma parte do acervo do CBPE e dos CRPE com materiais diversos, inclusive plantas

    baixas originais do CRPE de Alagoas, dirigido pelo pesquisador Gilberto Freyre, conforme

    relata o servidor do Inep Leonardo Ruas Correa, especialista em arquivologia e gesto do

    conhecimento.

    Pouco depois de concretizado o processo de transferncia do Inep para Braslia, a

    biblioteca do Inep, no ano de 1981, organiza-se novamente por meio da fuso da biblioteca

    remanescente do CBPE do Inep, no Rio de Janeiro, com o acervo do Ministrio da Educao

    (MEC). Assim, da fuso da biblioteca histrica do Inep, criada pelo Decreto n 580 (BRASIL,

    1938), com as bibliotecas do MEC constitui-se novamente para o instituto um centro

    especializado em documentao, informao e biblioteca educacional que, a partir de 1981,

    passa a se denominar Cibec.

    A partir da redemocratizao do pas, o Inep passou por um novo desenho institucional

    que imprimia ao instituto um carter inicial de assessoramento e suporte ao Ministrio da

    Educao. Logo depois que o Cibec integrou definitivamente a estrutura do Inep. No

    2 Endereo eletrnico: www.minerva.ufrj.br

  • | 29 |

    decorrer da dcada de 1990, ento, ocorreu um processo de reestruturao no Cibec com base

    em dois objetivos: 1) orientao das polticas de apoio a pesquisas educacionais; e 2) reforo

    do processo de disseminao de informaes educacionais, com a incorporao de novas

    modalidades e estratgias de produo e difuso de conhecimentos e informaes (BRASIL,

    CIBEC/INEP, 2012).

    Em consonncia com esses objetivos, as Portarias do Ministrio da Educao n 263

    de 1982 (Anexo 3) e n 1414 de 1994 (Anexo 4) atriburam ao Cibec a responsabilidade pela

    organizao, preservao, catalogao e disseminao da informao educacional brasileira.

    Essas portarias trazem uma determinao explcita para que os rgos produtores das

    informaes educacionais enviassem ao Cibec documentos e publicaes para facilitar o

    acesso e a recuperao das informaes, a qualquer tempo e por qualquer usurio. Ao

    encontro desses documentos legais est o Regimento do Cibec (Anexo 5).

    Em relao ao instituto de pesquisa como um todo, na segunda metade da dcada de

    1990, o Inep passou por uma nova reestruturao. Essa reestruturao se relaciona aos novos

    parmetros jurdicos inaugurados pela Constituio de 1988. Nesse contexto jurdico, em

    1997, ano em que o Inep foi transformado em autarquia federal, incorporou-se estrutura do

    Inep uma unidade responsvel pelos levantamentos estatsticos. Essa nova estrutura nasceu da

    fuso do Servio de Estatstica da Educao e Cultura (Seec), rgo criado em 1937, e da

    Secretaria de Avaliao e Informao da Educao (Sediae/ MEC). Na dcada de 1990, testes

    e exames em larga escala comeam a ganhar espao nas discusses pedaggicas, como o

    Sistema de Avaliao da Educao Bsica (Saeb), em 1990, e o Exame Nacional do Ensino

    Mdio (Enem), em 1998.

    A respeito do contexto educacional do Inep no comeo dos anos 2000, a ampliao e a

    consolidao dos exames em larga escala no cenrio brasileiro trouxeram mais

    responsabilidades para o instituto de pesquisa. A Prova Brasil, a Provinha Brasil, o Exame

    Nacional de Certificao de Competncias de Jovens e Adultos (Encceja) ganharam espao

    nos meios educacionais. Desse perodo, as discusses em torno da qualidade do ensino

    pblico se destacaram a partir do ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica (Ideb).

    A realizao desses exames implica um gigantesco trabalho que abarca da concepo

    terica do instrumento disseminao de resultados e relatrios. Aspectos pedaggicos,

    metodolgicos e tcnicos desses exames se tornam objeto de relatrios e trabalhos de

    pesquisa. Esses estudos vm sendo realizados por: i) servidores do instituto, ii) por meio de

    contrataes financiadas pelo Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),

  • | 30 |

    iii) ou financiadas com base no Decreto n 6.092, de 24 de abril de 2007, que regulamenta o

    Auxlio de Avaliao Educacional e, conforme seu artigo 1,

    devido ao servidor ou colaborador eventual que, em decorrncia do exerccio da

    docncia ou pesquisa no ensino bsico ou superior, pblico ou privado, participe, em

    carter eventual, de processo de avaliao educacional de instituies, cursos,

    projetos ou desempenho de estudantes a ser executado pelo Instituto Nacional de

    Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira INEP, pela Fundao

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior CAPES e pelo

    Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao FNDE. (BRASIL, 2007).

    Na mesma poca da edio desse decreto, o Inep passou por uma ampliao do seu

    quadro de servidores, com a realizao de dois concursos pblicos para provimentos de

    cargos, em 2008 e 2012. Esses dois concursos pblicos visaram ao provimento de vagas em

    duas carreiras criadas recentemente: 1) Pesquisador-Tecnologista em Informaes e

    Avaliaes Educacionais; e 2) Tcnico em Informaes e Avaliaes Educacionais. Pode-se

    entender a criao dessas duas carreiras como aes da gesto federal no sentido de

    fortalecer a educao brasileira, conferindo ao Inep meios de constituir e formar seus

    recursos humanos.

    Ao encontro dessa perspectiva e do ideal da consolidao do instituto de pesquisa e

    informaes educacionais, a carreira de Pesquisador-Tecnologista em Avaliaes e

    Informaes Educacionais possui como funo desenvolver atividades especializadas de

    produo, anlise e disseminao de dados e informaes de natureza estatstica.

    responsvel pelo planejamento, superviso, orientao, coordenao e desenvolvimento de

    estudos e pesquisas educacionais em todos os nveis e modalidades de ensino e do

    desenvolvimento de sistemas e projetos de avaliaes educacionais, bem como por sistemas

    de informao e documentao que abranjam todos os nveis e modalidades de ensino.

    Representam, ainda, atribuies do cargo a implementao e execuo de planos, programas e

    projetos no mbito do Inep. De acordo com a implantao das novas carreiras de pesquisa,

    entende-se que, alm da pesquisa, a informao educacional recebe assim o reconhecimento e

    a devida importncia neste conceituado e histrico rgo da educao brasileira.

    Contudo, problemas j amplamente abordados no mbito federal sobre a inadequao

    dos planos de carreiras do Inep podem estar relacionados migrao de servidores do Inep

    para outros rgos como Capes, Abin, Ipea e Ministrio da Cincia e Tecnologia, entre

    outros. Obviamente, servidores acabam levando consigo toda uma expertise em avaliaes e

    http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEC%206.092-2007?OpenDocument

  • | 31 |

    informaes educacionais, construda no Inep, como fruto tambm de um investimento

    financeiro do instituto para a capacitao dos servidores.

    No s as carreiras do Inep tm passado por alteraes nos anos recentes. O Decreto

    de reestruturao do Inep, o Decreto n 6.317, de 20 de dezembro de 2007, possui um quadro

    organizacional dividido, basicamente, em diretorias que, por sua vez, abrigam coordenaes

    gerais (BRASIL, 2007). Com base no Decreto n 7.693, de 2 de maro de 2012, a Figura 1 a

    seguir sintetiza a organizao administrativa do Inep e o respectivo quantitativo de cargos

    comissionados.

    Figura 1 Organizao administrativa do Inep e o respectivo quantitativo de cargos

    comissionados

    Presidncia (9)

    Procuradoria

    Federal (3) Gabinete (5)

    Auditoria

    Interna (3)

    DGP (25) DTDIE (20) Deed (15) Daes (15) Daeb (17) Dired (7)

    DGP: Diretoria de Gesto e Planejamento

    DTDIE: Diretoria de Tecnologia e Disseminao de Informaes Educacionais

    Deed: Diretoria de Estatsticas Educacionais

    Daes: Diretoria de Avaliao da Educao Superior

    Daeb: Diretoria de Avaliao da Educao Bsica

    Dired: Diretoria de Estudos Educacionais

    Fonte: BRASIL (2007; 2012).

    Como se pode observar na Figura 1, o Inep se organiza em seis Diretorias

    subordinadas ao gabinete e presidncia do Inep. Ao todo, h 119 cargos comissionados na

    estrutura administrativa do Inep (BRASIL, 2012). Os quantitativos de cargos mencionados na

    Figura 1, conhecidos como DAS, correspondem aos de Direo, Chefia e Assessoramento,

    e FG, que significa Funes Gratificadas. Juridicamente, so cargos em comisso de livre

  • | 32 |

    nomeao e exonerao, ou seja, um cargo que pertence ao rgo e que ocupado

    temporariamente por um servidor concursado ou por um no concursado.

    Nas diretorias esto 83,19% dos cargos comissionados. A diretoria que possui mais

    cargos comissionados a DGP, 21% do total disponvel para o rgo; ou seja, do total

    reservado para as sete diretorias. Em nmeros absolutos, a Diretoria que possui menos cargos

    comissionados a Dired, com 5,8% do total. Exceto na Dired, com apenas uma coordenao

    geral, em cada uma das outras diretorias h atualmente trs coordenaes gerais.

    De acordo com a pesquisa documental, segundo o Decreto n 6.317 (BRASIL, 2007),

    pode-se observar que o Cibec no aparece denominado oficialmente neste documento, embora

    no cotidiano da instituio, os servidores do Inep entendam que o Cibec faa parte da Dired.

    Contudo, atualmente, no portal eletrnico do Inep na internet, o Cibec aparece ligado ao

    gabinete. Segundo a rvore regimental que consta dos documentos arquivados no rgo, nos

    anos 2000, o Cibec localizava-se na Diretoria de Tecnologia e Disseminao de Informaes

    Educacionais (DTDIE).

    importante esclarecer que, embora no produza contedo especfico para

    pesquisadores e professores, o trabalho da DTDIE est voltado, na prtica, para solues

    tecnolgicas do Instituto. Desse modo, a DTDIE tem como uma de suas finalidades manter os

    servios de infraestrutura de tecnologia disponveis bem como desenvolver, implementar,

    documentar e manter sistemas de informao para atender s necessidades das demais

    Diretorias do Inep, Ministrio da Educao e Sociedade.

    A Dired conduz, entre outras, relevantes pesquisas educacionais, como a do i) Perfil

    dos Dirigentes Municipais de educao; ii) Pesquisas em avaliao do Fundeb; iii) Validao

    psicomtrica e pedaggica da Matriz de Referncia da Prova Nacional de Concurso para

    Ingresso na Carreira Docente. Alm de pesquisas, estudos e projetos, a Dired coordena o

    trabalho de publicaes do Inep como a Em Aberto e a Rbep. Hoje a Dired abrange mais

    atividades do que em meados da dcada passada.

    H cerca de dois anos, a equipe de editorao e publicaes passou a integrar a Dired.

    Alm disso, o volume de trabalho e as responsabilidades da Dired vm aumentando bastante.

    Entre esses responsveis por essas publicaes, encontram-se os revisores, diagramadores e

    os membros do comit editorial do Inep. Com seis linhas editoriais diferentes (Anexo 7), a

    Dired, conforme portal eletrnico do Inep (2013b), promove aes de gesto das informaes

    e gesto do conhecimento junto a vrios agentes externos ao Inep:

  • | 33 |

    Associaes da classe educacional3;

    Biblioteca Central das Universidades Particulares;

    Biblioteca Central das Universidades Pblicas;

    Bibliotecas Setoriais Particulares;

    Bibliotecas Setoriais Pblicas;

    Instituies de Ensino e Pesquisa;

    Secretarias Estaduais de Educao;

    Secretarias Municipais de Educao (nas Capitais).

    A Figura 1, contudo, no mostra a dinmica intensa e integrada dos trabalhos de

    gesto do Inep. A gesto da informao e a gesto do conhecimento educacional permeiam

    todas as diretorias do Inep. Os Censos da Educao Bsica, os Censos da Educao Superior,

    os resultados de exames e avaliaes bem como os estudos, pesquisas e disseminaes

    desenvolvidas pelas diretorias representam parte relevante desse trabalho de gesto. Neste

    tpico da primeira seo do trabalho, ao tomar como unidade analtico-descritiva o Cibec,

    busco destacar algumas reflexes relacionadas aos objetivos do estudo de caso.

    No Inep, a integrao de trabalhos entre as diretorias significa a melhoria constante

    dos servios prestados sociedade. Por exemplo, a respeito da criao de um sistema online

    de inscries para o Enem, muitas equipes e diretorias trabalham de forma integrada. A

    DTDIE cria e promove a gesto do sistema, conforme o planejamento estabelecido com a

    DGP e a Daeb.

    Anteriormente ao perodo de inscries, equipes realizam diversos encontros de

    trabalho para criar, entre outros materiais informativos, o guia Passo a Passo das Inscries do

    Enem, em parceria pela DTDIE, a Daeb e a Assessoria de Comunicao (Ascom) do Inep, e o

    Fale Conosco (0800 616161), administrado pela DGP. Segundo a Ascom do Inep, o

    resultado desse trabalho integrado de diversas reas do Inep, sob a superviso direta do

    Gabinete da Presidncia, foi um recorde de inscries confirmadas, que superaram todas as

    previses e chegaram a 7.173.574 milhes no ano de 2013. Desse total, 784.830 tambm

    solicitaram certificao do Ensino Mdio. Nos meses de inscries para exames, como o

    Enem principalmente, os trabalhos do Balco do SIC supervisionado hoje pelo Cibec tendem

    a aumentar bastante.

    3 CNTE, ANDES, UNDIME, ANFOPE, ANPAE, FORUMDIR, ANPED.

  • | 34 |

    O Cibec, por sua vez, passou por muitas transformaes ao longo das ltimas dcadas.

    A Portaria Ministerial 697 de 15 de dezembro de 1981 (Anexo 2), que aprova a estrutura,

    competncia das unidades e atribuies dos dirigentes do Cibec, oferece uma ideia da

    relevncia dedicada s suas aes poca.

    Quadro 1 Organograma do Cibec em 1981

    Direo do Cibec

    Servio de

    Seleo e

    Aquisio

    Servio de

    Anlise e

    Processamento

    Tcnico

    Servio de

    Referncias e

    Buscas

    Retrospectivas

    Servio de

    Referncia

    Legislativa

    Servio de

    Disseminao

    Servio de

    audiovisual

    Fonte: Artigo 2 da Portaria Ministerial 697 de 15 de dezembro de 1981.

    Posteriormente, a Portaria Ministerial n 2.255 de 25, de agosto 2003, reduziu o Cibec

    a uma coordenao geral com duas coordenaes, uma para coordenao e tratamento da

    informao e outra para coordenao de informao e documentao. Observa-se que no

    regimento do Inep ainda em vigor que o texto atribui ao prprio Cibec a tarefa de planejar,

    coordenar e controlar a execuo das competncias especficas de suas Coordenaes. A

    Portaria Ministerial n 2.255 de 2003, a respeito do Regimento Interno do Inep, traz, na seo

    IV, as seguintes competncias em relao ao Cibec.

    Seo IV

    Da Coordenao-Geral do Centro de Informao e Biblioteca em Educao

    Art. 45. Coordenao-Geral do Centro de Informao e Biblioteca em Educao

    compete:

    I - planejar, coordenar e controlar a execuo das competncias especficas de suas

    Coordenaes;

    II - promover e estimular a disseminao aos agentes do sistema educacional e

    sociedade em geral, dos resultados e produtos referentes rea de atuao do Inep;

    III - coordenar a implementao da poltica de disseminao de informaes

    educacionais e documentao do Inep, oferecendo suporte divulgao dos

    resultados e produtos dos sistemas de avaliao e indicadores educacionais;

    IV - planejar as atividades, promover a articulao institucional e secretariar

    executivamente os trabalhos do Comit dos Produtores da Informao Educacional

    (Comped);

    V - definir e elaborar contedos institucionais para a Revista Brasileira de Estudos

    Pedaggicos;

    VI - gerenciar a produo e disseminao de informaes educacionais via web,

    adequando-as ao formato necessrio e promovendo a necessria articulao com as

    reas produtoras do Inep; e

  • | 35 |

    VII - apoiar e coordenar estudos e pesquisas utilizando as bases de informaes do

    Inep, em articulao com as Diretorias.

    O texto ainda destaca o relevante papel do Cibec no sentido de promover e estimular a

    disseminao aos agentes do sistema educacional e sociedade em geral, dos resultados e

    produtos referentes rea de atuao do Inep. H alguns anos que, em cargos de chefia, o

    Cibec funciona apenas com um coordenador e um assistente, ou seja, sem observar a

    organizao em torno das referidas coordenaes.

    Numa tentativa de dialogar e compreender, coletivamente, os desafios

    contemporneos do Inep, no dia 24 de fevereiro de 2011, o Inep realizou 1 Frum O Inep

    que queremos, o Inep que a sociedade quer, no Museu Nacional do Conjunto Cultural da

    Repblica, Setor Cultural Sul, lote 2, Esplanada dos Ministrios, em Braslia. A partir desse

    primeiro frum, a sequncia de vrios grupos de trabalhos e de outros fruns resultou no

    consenso de que a estrutura do Inep se encontra inadequada para abarcar toda a complexidade

    de responsabilidades acrescidas na ltima dcada.

    Caso ocorra a aprovao dessa reestruturao, o Cibec, possivelmente, passaria, na

    forma da lei, a integrar legalmente a Dired como uma coordenao geral com trs outras

    coordenaes. J se observa no Inep, entre as vrias aes de gesto da Presidncia do Inep,

    decises no sentido de fortalecer institucionalmente o Inep em trs eixos:

    i) realizao de concurso pblico;

    ii) assegurar a reestruturao da autarquia;

    iii) integrao de todo o Inep Presidncia do Inep, Diretorias e Cibec em um nico

    prdio.

    Existe a perspectiva de que haver mudanas positivas ao se localizar fisicamente o

    Cibec em um mesmo prdio, juntamente com as demais diretorias do Inep, com maior

    capacidade de acomodao de recursos humanos e materiais. O novo prdio, alugado, situa-se

    a cerca de sete quilmetros do MEC, localiza-se no Setor de Indstrias Grficas de Braslia,

    Quadra 4, lote 327 e j conta com algumas diretorias instaladas, enquanto outras seguem com

    o cronograma de mudana.

    At o dia 7 de junho de 2013, no trreo do prdio do MEC, por mais de trs dcadas

    desde a transferncia do Inep para Braslia, o Cibec atendeu a vrias geraes de

    pesquisadores, professores, estudantes, estudiosos, enfim, cidados e servidores da educao.

  • | 36 |

    Chegamos, portanto, ao limiar em que passado, presente e futuro do Cibec se encontram. Por

    conseguinte, no pode haver maior desafio do que este: compreender que as aes e decises

    de gesto de ontem e de hoje se repercutem para as geraes atuais e igualmente para as

    futuras.

    A partir do dia 10 de junho de 2013, o Cibec comeou o processo de mudana para o

    novo endereo. A gesto do Inep decidiu transferir para o novo local o acervo educacional da

    biblioteca, a sala de peridicos, a sala de obras raras, o arquivo histrico do Inep, o balco do

    SIC. Alm da mudana fsica que representa uma das maiores mudanas do Cibec em sua

    histria com a integrao de todas as unidades do Inep existe a perspectiva de haver uma

    reestruturao do Inep, abrangendo inclusive o Cibec, de forma a refletir melhor os desafios

    contemporneos do instituto.

    Este primeiro tpico, portanto, conforme o escopo do trabalho, trouxe uma descrio

    analtica do conjunto de evidncias sobre alguns dos desafios histricos e contemporneos do

    Inep. De acordo com os documentos oficiais e as evidncias analisadas, vimos que a gesto da

    informao inicialmente marcada fortemente pelo paradigma da nascente da Cincia da

    Documentao e a gesto dos conhecimentos no sentido de desenvolver pesquisas,

    publicar e disseminar conhecimentos educacionais representam umas das principais

    atividades do Inep junto sociedade.

    Para a consecuo dessa gesto junto sociedade, os fundamentos da constituio

    histrica do Cibec foram lanados em 1938 e ganharam estatura definitiva em 1953, com a

    expanso dos acervos e com o Centro de Documentao Pedaggica, criado na gesto

    Ansio Teixeira (SAAVEDRA, 1988, p. 51). O Cibec, portanto, nasce em 1938 como

    precursor de toda uma tradio do Inep na rea da Cincia da Documentao para, na gesto

    Ansio Teixeira, crescer em qualidade e quantidade com a criao da Biblioteca Murilo Braga,

    do Setor de Documentao e Intercmbio e da Campanha de Inquritos e Levantamentos do

    Ensino Mdio e Elementar (Cileme).

    Neste primeiro tpico, numa breve abordagem dos antecedentes histricos do Inep,

    detalhado melhor no Anexo 6, destaca-se o fato de que o ideal das pesquisas educacionais

    fulgura-se desde a constituio oficial do Inep, em 1937, e revela-se ainda nos trabalhos atuais

    do instituto. A partir da dcada de 1990, conforme evidenciado nos diplomas legais, a partir

    dos primeiros estudos em avaliao em larga escala, o Inep passa comea a receber e atuar

    sob essa forte influncia do paradigma da avaliao em larga escala. No comeo da dcada de

    2000, esse paradigma, no Inep, ganha mais fora com o redimensionamento, a criao, e

  • | 37 |

    ampliao de novos exames e avaliaes em larga escala. Dessa forma, da pesquisa

    educacional, visivelmente o foco e as notcias relacionadas ao Inep se deslocaram para a

    realizao de exames em larga escala. Por outro lado, a pesquisa educacional, nessa mesma

    poca, ganha novo impulso, com a criao de carreiras de pesquisa do Inep e a retomada de

    outros projetos e publicaes.

    No perodo, considerado para as anlises descritivas deste primeiro tpico, destacou-se

    ainda a criao e a extino do CBPE e dos CRPE. Esses fatos, ao lado de vrias mudanas

    institucionais, representam o desafio de vencer a falta de projetos de longo prazo para a

    educao. Entre outros exemplos, a no efetivao do repositrio digital do conhecimento e

    das informaes educacionais previsto no projeto BBE@, conforme planejado em 2006 pelo

    Cibec implica considervel atraso em relao realidade de institutos educacionais no

    Brasil e no mundo de porte semelhante ao Inep.

    Este e outros exemplos, trazidos tona nesta contextualizao, no possuem a mesma

    abrangncia do escopo das anlises de Silvia Maria Galliac Saavedra a respeito do instituto

    para o qual trabalhou desde 1968, a ponto da dissertao de mestrado desta autora se intitular

    Passos e Descompassos de Uma Instituio de Pesquisa Educacional no Brasil: A Realidade

    do Inep (SAAVEDRA, 1988). Inicialmente, esta seo contextualiza a respeito do Inep cujo

    foco temtico converge para o Cibec, conforme o propsito alado para o desenvolvimento da

    pesquisa. Logo a seguir, no segundo tpico desta primeira seo, a descrio analtica da

    gesto da informao e do conhecimento no Cibec tem por objetivo aprofundar a

    compreenso sobre a complexidade dos trabalhos dessa relevante unidade do Inep.

    1.2 Gesto da Informao e Gesto do Conhecimento no Cibec

    Quanto origem, as informaes e conhecimentos educacionais disponveis no Cibec,

    podem ser de trs tipos: primrias, produzidas pelo prprio Inep; secundrias, fornecidas por

    instituies educacionais pblicas e privadas; e as tercirias so informaes primrias e

    secundrias que receberam tratamento ou agregao de valor pelo Inep. Um estudo ou

    pesquisa realizado pelo Inep um exemplo de informao primria, os dados informados ao

    Inep por instituies pblicas e privadas a respeito da educao superior um exemplo de

  • | 38 |

    informao secundria. Por sua vez, os dados do Censo da Educao Bsica e do Censo da

    Educao Superior so exemplos de informaes tercirias.

    O Cibec, responsvel pela gesto de relevante e de singular acervo do conhecimento e

    da memria educacional, possui mais de um milho de documentos. Do acervo especializado

    em educao, alm de todos os nmeros publicados na Revista Brasileira de Estudos

    Pedaggicos (desde 1944) e na Em Aberto (desde 1981), constam mais de 65.771 ttulos,

    entre os quais 1618 obras raras da educao e 13.807 peridicos. Devido a esse vasto e rico

    acervo, pesquisadores de todo Brasil recorrem ao Cibec para aprofundarem suas respectivas

    investigaes.

    Para manter, preservar, atualizar e gerir informaes e conhecimentos educacionais,

    uma rede interligada de trabalho constitui a equipe de trabalho do Cibec. Essa rede de

    trabalho compreende: o arquivo do Inep; a catalogao, a indexao e a preservao do acervo

    de referncias bibliogrficas; a manuteno do acervo audiovisual relacionado educao

    brasileira; a indexao de publicaes acadmicas voltadas educao; a preservao e

    guarda do acervo de obras raras da educao; a gesto do SIC, a organizao e manuteno

    das informaes relativas s avaliaes e exames em larga escala do Inep; do servio de

    referncia com o atendimento aos usurios na modalidade presencial e remota.

    O Cibec atualmente realiza a organizao, a preservao e a disseminao dos

    materiais recebidos tambm pelo Inep, tais como sries documentais sobre temas da educao

    e relatrios pedaggicos de exames e avaliaes em larga escala do Inep. O Cibec atualmente

    preserva e promove a gesto do conhecimento educacional por meio de obras dedicadas

    educao bsica e superior, como por exemplo, sobre o censo escolar; estatsticas

    educacionais; currculo; educao ambiental; educao especial; educao indgena; educao

    infantil; profissional; rural; filosofia da educao; financiamento da educao; formao e

    capacitao de professores; gesto da escola; polticas pblicas em educao; psicologia da

    educao; tecnologia e educao, etc. (INEP, 2013).

    Atualmente, com apenas quatro servidores responsveis pela indexao e catalogao

    de novos volumes e nenhum recurso financeiro para novas aquisies de obras, a equipe do

    Cibec responsvel por esse trabalho, em um perodo de um ano, chegou a realizar a indexao

    e a catalogao de mais de 1100 itens novos para o acervo educacional. Alm desse

    quantitativo registrado no sistema interno de administrao do acervo, estes servidores

    tambm realizaram outras catalogaes, como a de obras novas produzidas pelo MEC e pelo

    Inep. Esse trabalho, o de catalogao na fonte, exige conhecimentos especializados em

  • | 39 |

    biblioteconomia. A incluso de obras no acervo do Cibec, mesmo sem recursos financeiros

    para novas aquisies, deve-se s doaes voluntrias de obras educacionais ao Cibec.

    Atualmente, essas doaes chegam de universidades, institutos de pesquisa,

    particulares e, com certa frequncia, de algumas secretarias do MEC. As secretarias do MEC,

    quando enviam materiais ao Cibec, tm por preocupao resguardar a memria da educao

    brasileira. Por exemplo, aps a participao em eventos internacionais, como a VI

    Conferncia Internacional de Educao de Adultos (Confintea VI), em Belm, ocorreu o

    envio ao Cibec de alguns dos materiais dessa conferncia, a primeira do gnero, alis, sediada

    em um pas do hemisfrio sul. Alm deste exemplo, h uma grande diversidade de materiais

    no Cibec que servem a muitos pesquisadores em educao.

    Conforme mostram as evidncias documentais, o Cibec passou a organizar e

    centralizar as informaes educacionais acumuladas no Brasil at ento e aquelas que o

    prprio Inep e o MEC produziam, como uma forma de recuperar a qualquer tempo as

    informaes que estavam sendo produzidas. De acordo com o Relatrio de Gesto 2011,

    ainda em 1981 houve a tentativa de modernizar e informatizar a Biblioteca do Inep com a

    criao do Sistema de Informaes Bibliogrficas em Educao Sibe/Cibec. Contudo,

    conforme observa Saavedra (1988, p. 135), O oramento do Inep continuava pequeno

    demais para seu encargo e a sustentao de um programa at certo ponto ambicioso como era

    o Sistema Integrado de Informaes Bibliogrficas (Sibe) e a manuteno dos programas de

    fomento pesquisa.

    O Sibe se constitua de uma rede nacional de bibliotecas, tendo como unidade central a

    biblioteca do Mec/Inep, que tinha como base as referncias bibliogrficas da Bibliografia

    Brasileira de Educao (BBE). Por sua vez, a BBE, inicialmente uma publicao editada pelo

    Inep, originou-se em 1935 com base no levantamento da Bibliografia Pedaggica Nacional.

    Solicitado pelo Ministro Gustavo Capanema, ao Departamento Nacional de Educao (DNE),

    esse levantamento foi interrompido por ocasio da reforma do DNE. O Inep retomou esse

    trabalho em 1941 e a publicao do primeiro nmero da Rbep trouxe referncias do perodo

    de 1812 a 1900, sob o ttulo Bibliografia Pedaggica Brasileira. Posteriormente, em 1954,

    foi publicado o primeiro nmero da BBE.

    Com a criao do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE) e dos

    respectivos centros regionais, a BBE, em 1955, passou a integrar a Diviso de Documentao

    e Informao Pedaggica. Aps a extino desses centros de pesquisa em 1978, a BBE

    constituiu-se numa das atividades tcnicas da biblioteca do Inep. Em 1981, com a efetiva

  • | 40 |

    transferncia de parte da biblioteca do Inep para Braslia, criou-se o Cibec e o Sibe, rede

    integrada por seis bibliotecas e centros de documentao especializados em educao. As

    unidades desenvolviam atividades descentralizadas de coleta e catalogao cooperativa por

    meio do Sistema Bibliodata Calco, da Fundao Getlio Vargas. O Sibe alimentava ainda o

    Boletim Internacional de Bibliografia em Educao, com sede na Espanha, e tambm

    integrava a Rede Latino-Americana de Documentao e Informao (Reduc), com sede no

    Chile.

    Em 1988, a BBE foi processada pelo Sistema de Automao de Bibliotecas (Sabi),

    sofware implantado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Conforme registros de

    arquivo do Inep, devido manuteno e a atualizaes no disponveis em Braslia, adotou-se

    em seguida o Sistema Thesaurus de Automao de Biblioteca, fornecido pela empresa Via

    pia Informtica, que hoje tambm no presta mais servios para o Inep. No perodo de 1992

    a 1995 seu funcionamento foi inviabilizado, fator que dificultou a implantao completa do

    Sabi, conforme aponta o Relatrio de Gesto 2011.

    Em 1996, em decorrncia das novas tendncias da poltica educacional, o MEC

    redefiniu a misso do Inep e lhe conferiu, como uma das principais funes, as atividades de

    produo e disseminao de informaes referentes Educao Bsica e Educao

    Superior. Em decorrncia disso, o Cibec foi modernizado com a informatizao dos processos

    e implementao de outros projetos que, segundo o Relatrio de Gesto 2011, dinamizaram

    os trabalhos do Cibec poca.

    Em 2006, a equipe de gesto do Cibec e servidores propuseram a retomada da BBE. A

    equipe do Cibec props um repositrio digital e se originou o Projeto BBE@. Por meio do

    BBE@ seria possvel dinamizar a gesto das informaes e conhecimentos educacionais

    produzidos pelo Inep como um todo e pela sociedade. Contudo, a BBE e a BBE@ no se

    efetivaram ainda. A retomada efetiva desses projetos, contudo, seriam importantes para a

    gesto da informao e do conhecimento no Inep.

    Da mesma poca em que se pensou na BBE@, resgato do Manual do Cibec de 2006 a

    sua matriz conceitual, conforme a Figura 2, a seguir. Essa matriz destaca a dinmica do Cibec

    cujo referente das informaes e dos conhecimentos educacionais a realidade educacional

    contextualizada. Portanto, a Educao, pela sua natureza, interage com todos os aspectos da

    vida humana individual e social e, por essa razo, influencia e influenciada pelo contexto

    global da realidade (CIBEC/INEP, 2006). Conforme explicitado nessa matriz, para

    compreender a realidade educacional e interagir eficazmente com ela, necessrio abord-la

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    dentro do que o manual chama de contexto global. Da interao com a realidade

    educacional contextualizada surgem as informaes e os conhecimentos educacionais. A

    partir do conhecimento de como essa realidade e de como deveria ser que deveriam ser

    planejadas as aes necessrias para transform-la (MANUAL DO CIBEC, 2006).

    Figura 2 Matriz conceitual do Cibec

    REALIDADE GLOBAL

    REALIDADE DA EDUCAO

    Pesquisa da Educao:

    dados

    Informaes

    conhecimentos

    Levantamento de

    necessidades

    informacionais

    Coleta de informaes

    educacionais

    Agentes da Educao:

    pesquisadores

    educadores

    gestores

    educandos

    Anlise das informaes

    Sntese: indexao e

    resumo

    Anlise

    das necessidades

    informacionais

    Sntese (Indexao

    esquemtica)

    Produtos Servios

    Arm

    aze

    nagem

    Recu

    pera

    o

    Pesq

    uisa E

    xplor

    atria

    Como

    a r

    ealid

    ade

    Planejamento

    Pesquisa Experimental -

    Inovaes

    Como deveria ser a realidade

    Poltica de anlise

    da informao

    (Cibec)

    RedesRedes

    Polticas Educacionais

    (MEC)

    Poltica da Informao

    (Inep)

    Coleta Disseminao(Bases de dados)

    Banco de dados

    CIBEC

    Thesaurus

    Brasileiro da

    Educao

    (Cibec)(Cibec)

    Fonte: Manual do Cibec (2006).

    Do ponto de vista conceitual e prtico, uma matriz de referncia assume grande

    relevncia dada a complexidade e a abrangncia das aes do Cibec. Em 2006, nessa matriz,

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    j se observava a necessidade de constituir uma poltica da informao do Inep alinhada s

    polticas educacionais do MEC. Para ser significativa, a nfase realidade global e

    educacional devem acompanhar uma caracterizao dos Agentes da Educao e das outras

    unidades com as quais o Cibec interage organicamente dentro do Inep. Na prtica, um

    trabalho constante de interlocuo com os agentes da educao se torna o motor fundamental

    da gesto da informao e do conhecimento educacional. Essa observao re