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OBJETOS E ESPAÇOS ESCOLARES COMO INDICADORES DE CULTURAS ESCOLARES PROMOTORAS DE APRENDIZAGEM DE HABILIDADES DE LEITURA: UM ESTUDO EM TRÊS ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO Roberta Araujo Teixeira Mestranda em Educação (PUC-Rio) RESUMO O artigo, situado no âmbito das escolas eficazes, constitui parte do estudo “Arqueologia das Escolas”, etapa qualitativa do Projeto GERES no Rio de Janeiro que busca complementar os dados sobre fatores escolares que impactam no aprendizado dos alunos, minimizando o efeito da origem social na aprendizagem. Ao investigar três escolas públicas municipais das 68 escolas públicas e privadas participantes do GERES na cidade do Rio de Janeiro, escolhidas em função da proficiência das turmas da primeira série (ou seu equivalente no sistema de ciclos) do Ensino Fundamental, foram focalizados aspectos da infra-estrutura física e organização das salas de aula e da presença e utilização de recursos pedagógicos, tendo como fio condutor os fatores promotores de aprendizagem de habilidades de leitura e escrita. No intuito de identificar evidências relativas às práticas escolares de leitura e escrita, foram fotografadas e descritas dimensões físicas de suporte da escrita escolar, tais como salas de leitura, bibliotecas, salas de apoio, laboratórios de informática, murais, cartazes, cantinhos de leitura, trabalhos escolares e carteiras. Na continuidade desta pesquisa, pretende-se analisar a descrição dos registros fotográficos comparando-os a documentos como entrevistas com professores das instituições investigadas, relatórios de observação de aula e questionários contextuais da escola e do professor. Acredita-se que este estudo poderá contribuir para uma nova perspectiva acerca da análise da eficácia das instituições escolares sob o ponto de vista dos discursos visuais da escola e para uma maior compreensão dos fatores escolares promotores de aprendizagem. Palavras-chave: Escolas Eficazes, Culturas Escolares; Organização do Espaço- tempo Escolar; Disposições Escolares.

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OBJETOS E ESPAÇOS ESCOLARES COMO INDICADORES DE CULTURASESCOLARES PROMOTORAS DE APRENDIZAGEM DE HABILIDADES DE

LEITURA: UM ESTUDO EM TRÊS ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DORIO DE JANEIRO

Roberta Araujo TeixeiraMestranda em Educação (PUC-Rio)

RESUMO

O artigo, situado no âmbito das escolas eficazes, constitui parte do estudo “Arqueologia

das Escolas”, etapa qualitativa do Projeto GERES no Rio de Janeiro que busca

complementar os dados sobre fatores escolares que impactam no aprendizado dos

alunos, minimizando o efeito da origem social na aprendizagem.

Ao investigar três escolas públicas municipais das 68 escolas públicas e privadas

participantes do GERES na cidade do Rio de Janeiro, escolhidas em função da

proficiência das turmas da primeira série (ou seu equivalente no sistema de ciclos) do

Ensino Fundamental, foram focalizados aspectos da infra-estrutura física e organização

das salas de aula e da presença e utilização de recursos pedagógicos, tendo como fio

condutor os fatores promotores de aprendizagem de habilidades de leitura e escrita.

No intuito de identificar evidências relativas às práticas escolares de leitura e escrita,

foram fotografadas e descritas dimensões físicas de suporte da escrita escolar, tais como

salas de leitura, bibliotecas, salas de apoio, laboratórios de informática, murais, cartazes,

cantinhos de leitura, trabalhos escolares e carteiras.

Na continuidade desta pesquisa, pretende-se analisar a descrição dos registros

fotográficos comparando-os a documentos como entrevistas com professores das

instituições investigadas, relatórios de observação de aula e questionários contextuais da

escola e do professor.

Acredita-se que este estudo poderá contribuir para uma nova perspectiva acerca da

análise da eficácia das instituições escolares sob o ponto de vista dos discursos visuais

da escola e para uma maior compreensão dos fatores escolares promotores de

aprendizagem.

Palavras-chave: Escolas Eficazes, Culturas Escolares; Organização do Espaço-

tempo Escolar; Disposições Escolares.

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INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, o Brasil tem contado com importantes indicadores na área da

Educação, em parte produzidos a partir da implementação de avaliações em larga

escala, como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), a Prova Brasil e

outros projetos de avaliação de redes de ensino desenvolvidos por determinados

Estados, além do aperfeiçoamento dos sistemas de informação educacional, bem como a

participação do Brasil no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA).

Vale ressaltar, que estas avaliações da realidade educacional, apontam novos desafios a

serem enfrentados por pesquisadores, formadores de professores e educadores em geral

(Oliveira, 2007).

Segundo avaliações do SAEB dos anos de 2001, 2003 e 2005, o país ficou com médias

165,1; 169,4 e 172,3, respectivamente, no que se refere aos indicadores de desempenho

dos alunos em leitura ao final da quarta série. Embora se perceba o aumento das médias,

é importante frisar que o patamar atingido pelos alunos da quarta série está abaixo do

considerado adequado à consolidação e ao desenvolvimento das habilidades de leitura

que permitirão aos alunos continuar a estudar com bom aproveitamento.

No Brasil, os estudos sobre a eficácia escolar, em geral, usam dados do SAEB (Oliveira,

2007) para investigar os fatores escolares que influenciam o desempenho dos alunos e

devem ser ou não priorizados nos investimentos relativos aos sistemas de ensino.

Nesta direção, estudos atuais revelam que, no Brasil, e em outros países da América

Latina, ao contrário dos países desenvolvidos, os recursos escolares aparecem como

aspectos fundamentais para o desempenho dos alunos em sala de aula, mesmo

considerando-se a importância da origem social dos alunos (Gomes 2005, Bonamino e

Franco, 2005). Dentre muitos aspectos, esses estudos apontam os fatores materiais

(aqueles relacionados aos materiais didáticos, à infra-estrutura escolar e aos recursos

pedagógicos, ao tamanho das turmas etc.) como importantes responsáveis pela

mediação na aprendizagem dos alunos. Neste âmbito, a ênfase não recai sobre a

associação entre fatores materiais e resultados, mas sim nas características das próprias

escolas, na sua organização e nos processos que nelas se desenvolvem para alcançar os

determinados resultados escolares (Bonamino e Franco, 2005).

Os estudos sobre escolas eficazes envolvem tipicamente formas diversificadas de

colaboração entre abordagens quantitativas e qualitativas de pesquisa. Pesquisas que

adotam abordagens quantitativas só podem investigar aspectos da realidade antecipados

e incluídos nos seus instrumentos de mensuração. Dessa forma, pesquisas quantitativas

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tendem a ser ‘epistemologicamente conservadoras’, no sentido de que nada pode ser

dito sobre aquilo que não é incluído nos instrumentos de medida adotados. No âmbito

do projeto Geres a tendência ao ‘conservadorismo epistemológico’ é contrabalançada

via pesquisas qualitativas, como o estudo exploratório de natureza qualitativa que vem

sendo conduzido desde 2005, no Rio de Janeiro, em escolas do Projeto, escolhidas a

partir dos resultados iniciais.

Na linha de investigação das escolas eficazes no contexto brasileiro, o Projeto GERESi,

o qual subsidia o estudo que deu origem a este artigo, tem colaborado para a

compreensão dos fatores promotores de aprendizagem em escolas de cinco cidades do

país. O estudo exploratório visou complementar o levantamento dos dados sobre fatores

escolares realizados nas 68 escolas participantes do Geres no município do Rio de

Janeiro, realizado por meio de aplicação de testes de Leitura e Matemática aos alunos e

de questionários contextuais a diferentes atores da comunidade escolar. No estudo

exploratório denominado ‘Arqueologia das Escolas’ii, no qual se inscreve o presente

trabalho, cada uma das 68 escolas foi visitada por uma equipe de pesquisadores entre os

meses de Maio e Setembro de 2005 e foram documentados seus aspectos materiais e

pedagógicos, relativos à infra-estrutura escolar e das salas de aula, aos tipos de rituais e

interações desenvolvidas e aos recursos pedagógicos utilizados, a partir de diferentes

instrumentos, como roteiros de observação, registros fotográficos e entrevistas com

professores e diretores.

Face ao interesse em investigar quais características estão presentes nas escolas que

apresentam altos níveis de proficiência em Leitura, foi desenvolvido o estudo

exploratório em seis escolas municipais da cidade do Rio de Janeiro que apresentaram

bons resultados nas duas primeiras avaliações do Geres realizadas em 2005. Nesta

etapa, foi realizada uma investigação mais adensada de diferentes aspectos espaciais e

materiais das escolas, efetuaram- se novos registros fotográficos e foram observadas, ao

longo de uma semana, as turmas participantes do GERES.

No intuito da dar continuidade ao estudo das escolas, foram escolhidas, no início de

2007, três das seis instituições de ensino com desempenhos diferenciados nas duas

primeiras ondas de aplicação do GERES, denominadas Escolas A, B e C. É importante

ressaltar que, em Leitura, o intervalo total da escala de proficiência do Projeto vai de

‘menor que 50’ a 200, sendo ela dividida em sete intervalos de 25 pontos.

Assim, no patamar mais elevado, encontra-se a Escola A, com as maiores proficiências

nas escalas das duas ondas (131,94 e 140,96); já Escola B, próximo ao patamar mais

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baixo da escala, apresenta uma das menores proficiências (96,71 e 116,1) e a Escola C,

próxima da Escola A, também apresenta proficiências elevadas (122,48 e 137,51).

Estas escolas foram visitadas novamente com o olhar mais direcionado para as

evidências de fatores promotores de aprendizagem de habilidades de leitura. Realizou-

se outra bateria de registros fotográficos, o que tornou possível verificar o contraste

entre as escolas investigadas e perceber mudanças ocorridas ao longo dos três anos.

Com isso, os registros fotográficos de determinados aspectos das escolas foram

utilizados para a descrição de indícios de características estruturais e materiais

relacionados à promoção da aprendizagem de habilidades de leitura, tais como salas de

leitura, bibliotecas, salas de apoio, laboratórios de informática, murais, cartazes,

cantinhos de leitura, trabalhos escolares e carteiras.

Na seqüência deste artigo, são apresentados os principais referenciais teóricos do

estudo, os pressupostos metodológicos que nortearam as incursões ao campo, bem como

uma descrição preliminar dos registros fotográficos da pesquisa.

1 - Principais referências teóricas que nortearam o trabalho

Conforme indicado na introdução do artigo, o estudo ora apresentado situa-se no âmbito

das escolas eficazes. Neste âmbito, pesquisadores brasileiros apontam para o fato de

que, no país, a existência e a conservação dos prédios, de equipamentos, condições de

funcionamento de recursos pedagógicos e espaços adicionais para atividades escolares

têm efeito positivo sobre o desempenho dos alunos (Franco e Bonamino, 2005, cit. Em

Bonamino et all, 2005). No entanto, é importante enfatizar que somente a existência

destes aspectos nos estabelecimentos de ensino não é suficiente, pois é o uso efetivo

destes que faz a diferença nos resultados escolares.

A respeito das características das escolas relacionadas à organização dos espaços,

processos e aspectos materiais, autores como Viñao Frago e Escolano (2001) e Vidal

(2005) as concebem como indicadores culturais de práticas escolares e padrões de

socialização.

Segundo os autores, estes elementos expressam indícios das diferentes composições

curriculares, inseridos nas diferentes culturas das escolas, delineadas pelo conjunto de

práticas, imagens, normas, idéias e procedimentos que se expressam em modos de fazer

e pensar o cotidiano da escola, e de um sistema de padrões de socialização partilhados

pelos membros da comunidade escolar, que varia de instituição para instituição. Nesta

direção, o conceito de dimensões tácitas é utilizado para compreender estas diferentes

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composições escolares e de salas de aula. O espaço escolar, concebido em sua dimensão

tácita, opera como um:“(...) construto cultural que expressa e reflete, para além de suamaterialidade, determinados discursos (...) é, além disso, ummediador cultural em relação à gênese e formação dosprimeiros esquemas cognitivos e motores, ou seja, umelemento significativo do currículo, uma fonte de experiência eaprendizagem” (Frago, 2001, p. 26).

Vidal (2005) ressalta ainda que, por meio do estudo das culturas das escolas refletidas

em objetos utilizados na escola como, por exemplo, exercícios, cadernos, cartazes,

quadros, entre outros, é possível revelar aspectos das práticas escolares, aumentando,

assim, o “entendimento do conjunto de fazeres ativados no interior da escola” (Vidal,

2005, p.64). No âmbito das dimensões físicas de suporte de escrita escolar, a autora

atenta para o fato de que elementos tais como o formato de quadro-negros, lousas,

trabalhos escolares, cartazes, faixas, quadros, associação do papel a outros materiais,

etc. trazem as marcas da modelação das práticas escolares, quando observados na sua

regularidade. Faria Filho, Gonçalves, Vidal e Paulilo (2004) acrescentam ainda que:Investigações como aquelas que estudam as práticas de ensinoda leitura e da escrita estão a nos revelar que a materialidadeda escola é fator às vezes preponderante na constituição dedeterminadas práticas escolares e, sobretudo, constrangem ouestimulam a disseminação social de certos conhecimentos oucompetências. (Faria Filho, Gonçalves, Vidal e Paulilo, 2004,p. 151)

Neste sentido, concebe-se o espaço escolar, a existência e a utilização dos recursos

pedagógicos, os objetos, as imagens e os discursos nele presentes como mediadores

culturais em relação à formação de disposições escolares e, portanto, como elementos

tácitos significativos na dimensão do ensino-aprendizagem.

Nesta direção, busca-se caracterizar, nas três escolas selecionadas, as relações entre a

proficiência na aprendizagem de habilidades básicas de leitura com três fatores de

eficácia escolar reportados pela literatura brasileira e que orientaram este estudo: i)

infra-estrutura das escolas e das salas de aula; ii) recursos pedagógicos e iii) práticas

pedagógicas de sala de aula.

Com relação ao fator infra-estrutura, procurou-se registrar a presença de murais nos

pátios e corredores das escolas e no interior das salas de aula no tocante à atualização, à

quantidade e autoria dos materiais expostos.

No que tange ao fator recursos pedagógicos, foram observados e registrados espaços

de apoio pedagógico destinados a práticas de leitura e escrita na escola, tais como

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laboratório de informática, sala de leitura e/ou biblioteca. Nas salas de aula, atentou-se

para a presença de espaços como cantinhos de leitura e/ou bibliotecas de sala,

focalizando-se o estado de conservação e a disposição dos mesmos no espaço, tipo e

diversidade de materiais disponibilizados e acessibilidade.

No que diz respeito ao fator práticas pedagógicas, focalizamos o formato e a forma de

utilização de quadro-negros e brancos, presença de materiais expostos em quadro de

avisos, cartazes e faixas que indiquem o desenvolvimento de habilidades de leitura e

escrita, bem como a forma de organização das carteiras nas salas de aula.

Todos os fatores acima descritos foram analisados tendo em vista não só a sua

existência na instituição escolar, mas, principalmente, a sua condição e freqüência de

uso pela comunidade escolar.

2 - Incursões ao Campo

Conforme indicado no início do artigo, o presente trabalho envolve um estudo de

natureza eminentemente qualitativa, que utiliza dados quantitativos e qualitativos

relevados nas duas primeiras avaliações do Projeto GERES no município do Rio de

Janeiro. De posse dos resultados de Leitura, foi possível identificar as escolas em

relação à média geral de proficiência.

Paralelamente, buscou-se analisar o corpus coletado ao longo das duas etapas

qualitativas do estudo ‘Arqueologia das Escolas’, por meio de instrumentos tais como

roteiros de observação de aulas e entrevistas realizadas com os professores das turmas

participantes do Geres e com os diretores das escolas nos períodos de Maio a Novembro

de 2005 e de Outubro a Novembro de 2006. Na análise foram explorados os aspectos

materiais relacionados à infra-estrutura das escolas e das salas de aula.

Desta forma, os critérios para a escolha das escolas recaíram sobre aqueles

estabelecimentos que obtiveram resultados divergentes em relação ao nível de

proficiência nos testes de Leitura aplicados aos alunos no contexto do Geres e em

relação aos aspectos levantados nas duas etapas qualitativas do Projeto.

Restringiu-se, assim, ao estudo de três instituições da rede municipal de ensino (escolas

A, B e C) localizadas em bairros de periferias da Baixada Fluminense e da Zona Oeste

do Rio de Janeiro, respectivamente, e que atendem um público constituído por alunos

provenientes de classes populares.

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Após este recorte, as três escolas selecionadas foram revisitadas no mês de Junho de

2007 e foram fotografadas, novamente, nos seus aspectos infra-estruturais e materiais

relacionados ao desenvolvimento de práticas de leitura e escrita.

Com isso, os registros fotográficos das etapas anteriores da ‘Arqueologia das Escolas’

relativos às escolas ora escolhidas puderam ser comparados e analisados junto às

fotografias obtidas no ano de 2007. Como as incursões ao campo foram realizadas em

momentos estratégicos do calendário escolar, como início, meio e término do ano letivo,

foi possível verificar, além dos conteúdos, a atualização dos murais ao longo do ano.

Foi dado um enfoque especial às posições dos murais e à contextualização dos mesmos

em relação ao espaço em que se encontram situados.

A ênfase no uso de registros fotográficos como recurso metodológico deve-se à riqueza

que estes podem proporcionar às pesquisas educacionais. A respeito do uso da

fotografia como fonte documental de pesquisas, Vidal (2005) explicita:“O concurso de outras fontes – sempre analisadas com basenas especificidades da linguagem que utilizam e tendo emconta as condições de produção documental, o que provoca onecessário exercício da crítica – como fotografia, história orale de vida, para citar algumas delas, pode, ainda, aumentar acompreensão desses ‘fazeres com’, das rotinas escolares e daconstituição de corporeidades nos sujeitos das escolas.” (Vidal,2005, p. 65)

Na continuidade desta pesquisa, pretende-se realizar outras duas incursões ao campo a

fim de analisar a descrição dos registros fotográficos comparando-os a documentos

como entrevistas com professores das instituições investigadas, relatórios de observação

de aula e questionários.

3 - Descrição preliminar dos registros fotográficos

Escola A

A Escola A localiza-se em Campo Grande, bairro situado na Zona Oeste da cidade do

Rio de Janeiro. A região tem o maior contingente populacional da cidade em números

absolutos e a maior área territorial, destacando-se como um importante pólo industrial e

comercial do Estado. A escola atende um público constituído, basicamente, de crianças

provenientes de comunidades ou favelas situadas nos arredores da região. Há uma turma

participante do Projeto GERES cujos alunos atingiram maior média de proficiência na

escala de habilidades de Leitura e Matemática.

Escola B

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A Escola B funciona num CIEP e atende a uma clientela composta basicamente por

moradores das comunidades ou favelas do seu entorno. Situada em Costa Barros, bairro

da Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, está localizada próxima a várias

comunidades carentes que apresentam alto índice de violência. 4 turmas participam do

GERES, das quais três delas encontram-se na média das escala de proficiência avaliado

no Projeto e uma encontra-se abaixo da média.

Escola C

Na Escola C, localizada no bairro Barra da Tijuca na Zona Oeste, existe uma forte

mobilização educacional por parte dos pais dos alunos no que diz respeito à procura de

vagas e à permanência dos alunos na escola. Constatamos que a maioria do corpo

discente mora em bairros distantes da escola. A própria localização da instituição não

favorece o acesso, pois está situada dentro de um condomínio de luxo numa das

avenidas mais movimentadas do bairro. Duas das turmas desta instituição estão

participando do GERES e ambas tiveram a proficiência em Leitura acima da média

geral da escola.

3.1.1 - Infra-estrutura das escolas

Escola A

Pode-se verificar a existência de diversos murais nos pátios e corredores. Os pátios

internos, em especial, têm as paredes tomadas por murais e trabalhos dos alunos. Os

murais do pátio externo são destinados ao diálogo com os pais e responsáveis, contendo

informes da escola, cartazes da Prefeitura do Rio de Janeiro e anúncios de cursos

oferecidos na região (Fotografia 1). Os demais murais expõem diferentes produções de

alunos, desde desenhos até gráficos e tabelas. Percebe-se que todos os trabalhos são

produzidos pelo corpo discente e atualizados permanentemente (Fotografias 2 e 3).

Fotografias 1, 2 e 3

Escola B

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Nas duas primeiras incursões, foram observados poucos murais nos corredores,

principalmente no segundo pavimento do CIEP (Fotografia 4) onde funciona a Escola

B. Percebeu-se que há uma concentração de trabalhos no primeiro andar, próximo à

secretaria da escola. Os murais expunham desenhos estilizados, montados pelas

professoras (Fotografia 5). Percebeu-se a existência de muitos cartazes disponibilizados

pela Prefeitura do Rio de Janeiro colados diretamente nas paredes que permaneceram

nos mesmos lugares durante a realização deste trabalho de campo. Havia também

alguns trabalhos pendurados em varais, contendo atividades realizadas pelas turmas da

escola, produzidas, predominantemente, pelas professoras. A Fotografia 6 expõe

produções de alunos cujo título é “Espaço Histórico”; estas produções, todas iguais

umas às outras, apresentam o mapa do Brasil dividido em capitanias hereditárias. Os

demais varais expunham, de maneira geral, recortes de palavras e figuras de revistas, a

maioria em estado de conservação regular.

Fotografias 4, 5 e 6

Escola CExistem murais espalhados pelos corredores da escola e próximos à secretaria, todos em

excelente estado de conservação, expondo, em geral, diferentes trabalhos realizados por

alunos (Fotografias 7, 8 e 9).

Fotografias 7, 8 e 9

3.1.2 - Infra-estrutura das salas de aula

Escola A

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As salas de aula possuem murais que expõem, basicamente, produções de alunos e

apresentam as seqüências dos projetos desenvolvidos pelas turmas (Fotografias 10, 11 e

12). Na sala de aula analisada, o número de trabalhos é bastante grande e fica evidente a

preocupação com a diversidade textual e de linguagens e a valorização da auto-estima

dos educandos.

Fotografias 10, 11 e 12

Escola B

Assim como nos corredores, existem poucos murais no interior das salas de aula das

turmas participantes do GERES da Escola B. A Fotografia 13 chama atenção pelo fato

de ilustrar a exposição de trabalhos relativos ao ‘Dia da Árvore’ cujos desenhos são

todos iguais. Valendo-se da informação recolhida pela última visita à escola realizada

no mês de Junho, foram encontrados murais desatualizados, versando assuntos como as

férias escolares de final de ano, que aconteceram entre os meses de Dezembro, Janeiro e

Fevereiro e ‘Dia Internacional da Mulher’, comemorado em março (Fotografia 14). A

maioria dos trabalhos expostos encontrava-se em mau estado de conservação

(Fotografia 15).

Fotografias 13, 14 e 15

Cada uma das salas de aula da Escola B possui, ao fundo, um grande mural. Em duas

das salas analisadas estes murais não sofreram alteração alguma ao longo dos três anos

da pesquisa (Fotografias 16, 17 e 18). Estes murais expunham desenhos montados pelas

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professoras, de figuras estilizadas (Fotografia 19) e de personagens infantis, alguns

deles de orientação religiosa (Fotografia 20).

Fotografias 16, 17 e 18

Fotografias 19, 20 e 21

Escola C

Os murais presentes nas salas de aula das turmas GERES da Escola C expõem trabalhos

e atividades realizados pelos alunos das turmas. Percebe-se a preocupação com a

diversidade textual e com a valorização do trabalho dos alunos. Conforme se pode

observar nas Fotografias 22 e 23, são tratados temas atualizados (chegada da primavera,

na incursão realizada em 2005; Dia da Comunicação e Dia das Mães em 2007) e

relacionados a assuntos recentes trabalhados em classe (Fotografia 24). Verifica-se a

presença de personagens infantis na decoração do mural ilustrado na Fotografia 22.

Fotografias 22, 23 e 24

3.2 - Recursos pedagógicos

Escola A

A escola A possui uma Sala de Leitura onde se encontra disponível um diversificado

acervo contendo livros infanto-juvenis e técnicos, revistas, gibis, enciclopédias e

dicionários, que é constantemente freqüentada por alunos, professores e funcionários da

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escola (Fotografias 25, 26, 27 e 28) e conta com um profissional responsável pela

organização do espaço e pelo desenvolvimento de atividades e projetos envolvendo

atividades de leitura e escrita.

Fotografias 25, 26, 27 e 28

Na Fotografia 29 é possível observar uma estante destinada ao cantinho de leitura onde

encontra-se uma quantidade variada de livros, gibis, e revistas ao alcance das crianças.

O espaço é freqüentemente utilizado pelos alunos, que têm autorização para levar os

livros para casa ou para o recreio. Na terceira incursão à escola, a professora, que

acompanha esta mesma turma desde o ano letivo de 2005, mostrou outros espaços

destinados à leitura naquela sala de aula, além do Cantinho de Leitura. A turma possui

três caixas de livros, montadas por iniciativa dos próprios alunos e da professora: uma

somente com gibis (Fotografia 30), outra contendo livros diversos doados pelos pais dos

alunos (Fotografia 31) e uma terceira contendo os livros da ‘Ciranda da Leitura’, projeto

da escola que acontece entre todas as salas de escola.

Fotografias 29, 30 e 31

Escola B

A Escola B dispõe de uma sala de leitura (Fotografias 32 e 33) que mantém um pequeno

acervo de livros de literatura infantil, mas que não é utilizada pelos alunos da escola

devido à falta de profissionais responsáveis. Existe um espaço onde são armazenados

gibis, dicionários, livros didáticos e materiais sobre a história do CIEP que também não

é utilizado com freqüência.

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Fotografias 32 e 33

Em duas das quatro salas de aula investigadas havia um pequeno espaço destinado ao

cantinho de leitura, uma espécie de estante, igual nas classes, pregada no alto da parede,

ao fundo das salas ficando, portanto, fora do alcance das crianças menores. Em uma das

classes o espaço encontrava-se vazio, conforme pode-se observar na Fotografia 34. No

acervo do cantinho de leitura presente na outra sala de aula, havia, na visita realizada

em 2006, cerca de 10 gibis (Fotografia35) e, na incursão de 2007, foram encontrados

somente dois gibis (Fotografia 36).

Fotografias 34,35 e 36

Escola C

A escola possui uma sala de leitura - com recursos multimídia e biblioteca – (Fotografia

37), uma sala de informática equipada com computadores conectados via banda larga

(Fotografia 38), e uma sala de apoio destinada à realização de atividades com as

crianças portadoras de necessidades educacionais especiais (Fotografia 39), todos em

pleno funcionamento. Vale destacar que a instituição funciona, na rede municipal de

ensino, como uma escola pólo, onde espaços como a Sala de Leitura e a biblioteca,

localizadas numa mesma sala, são utilizados não somente pelos professores e alunos da

própria escola, como também para realização de reuniões e cursos com os professores

das escolas vizinhas. Existe uma programação regular de seu uso por alunos e há um

profissional com carga horária exclusiva dedicada ao espaço.

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Fotografias 37, 38 e39

Uma das salas de aula da Escola C possui dois cantinhos de leitura contendo livros

infantis, gibis e revistas organizados em pequenas estantes e em cima de carteiras

(Fotografias 40 e 41). Na outra turma, o cantinho de leitura (Fotografia 42) ilustra um

trabalho peculiar: a professora constrói, junto aos alunos, portfólios divididos por

assunto, contendo diversas produções da turma anteriormente expostos em murais da

sala de aula e da escola. Estes materiais, junto a gibis e livros infantis, constituem o

acervo.

Fotografias 40, 41 e 42

3.3 - Práticas pedagógicas

Escola A

Foi possível perceber que a lousa é utilizada com freqüência pela professora e pelos

alunos para correção de tarefas, cópia de exercícios e explicação de conteúdos

(Fotografia 43). A diversidade textual fica explícita nas ilustrações dos murais da turma.

Há exposição de poesias elaboradas por alunos associadas a desenhos também de

alunos, textos jornalísticos descrevendo a rotina dos alunos na escola e a visita de uma

emissora de TV ao local, textos informativos sobre a prevenção da Dengue (também

elaborados por alunos), críticas de livros infantis lidos pela turma, havendo a presença

de um quadro de avisos sobre o cotidiano da turma e da escola (Fotografia 44). Isto nos

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sugere o desenvolvimento de práticas com ênfase em atividades de letramento e

reflexão sobre o uso social da escrita e da leitura.

Fotografias 43 e 44

As carteiras são individuais e organizadas para comportar grupos de 4, 5 ou 6 alunos,

algumas posicionadas de frente para o quadro negro e outras viradas de lado, conforme

pode ser visualizado nas Fotografias 45, 46 e 47. Este padrão de organização, que se

manteve ao longo de toda a pesquisa, indica o desenvolvimento de práticas que

valorizam a interação e a troca de experiências entre os alunos do grupo.

Fotografias 45, 46 e 47

Escola B

As fotografias revelam que, além de serem utilizados para fins de correção de tarefas,

cópia de exercícios e explicação de conteúdos, os quadros-negros e as lousas presentes

nas salas de aula onde estudam as turmas GERES da Escola B expõem cartazes feitos

pelo corpo docente, contendo o alfabeto associado a imagens estilizadas e sílabas

(Fotografias 48 e 49), e aos nomes das imagens (Fotografia 50) demonstrando

preocupação com a apropriação do código alfabético.

Fotografias 48, 49 e 50

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As Fotografias 51 e 52 mostram cartazes iguais, confeccionados pela professora,

utilizados por dois anos consecutivos (2006 e 2007 respectivamente) que expõem

imagens estilizadas associadas a sílabas. Isto revela novos indícios de práticas nas quais

a ênfase encontra-se na apropriação do código alfabético. Ademais, as bordas enroladas

e amassadas evidenciam o mau estado de conservação do material.

Fotografias 51 e 52

Há alguns trabalhos pendurados em varais contendo aspectos formais do uso da língua

escrita associados a imagens aleatórias e lembretes gramaticais escritos pelas

professoras (Fotografias 53 e 54), vestígios de práticas pedagógicas com ênfase nos

aspectos formais da língua. Foram encontrados outros cartazes nas salas de aula,

conforme pode-se observar na Fotografia 55, também confeccionados pela professora,

contendo explicações sobre tempos verbais.

Fotografias 53, 54 e 55

Nas salas de aula observadas, as carteiras estavam organizadas em duplas. Em algumas

classes as carteiras são individuais (Fotografia 56) e em outras o mobiliário é próprio

para a organização dos alunos em duplas (Fotografias 57 e 58).

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Fotografias 56, 57 e 58

Não foram encontrados quadros de recados e avisos em nenhuma das turmas

observadas.

Escola C

Nas salas de aula da Escola C, o uso do quadro-negro e quadros-brancos não fica

restrito à cópia de conteúdos, explicação e correção de exercícios. Pelo fato de conter

em uma das classes os dois recursos, um deles (o quadro-negro) exerce função de

quadro de avisos contendo informativos acerca do cotidiano da turma e da escola, além

de expor bilhetes dos alunos para a professora e o calendário do mês (Fotografia 59),

enquanto o quadro-branco é utilizado para os fins convencionais (Fotografia 60).

Encontram-se murais expondo diversas produções textuais das crianças, como bilhetes,

redações livres, preenchimento de cheques, histórias em quadrinho e poesias, ao lado de

cartazes contendo lembretes de conteúdos ortográficos - produzidos pela professora a

partir dos ‘erros freqüentes’ identificados nas produções textuais dos alunos (Fotografia

61). Estes indícios, em conjunto, sugerem o desenvolvimento de práticas centradas na

preocupação com o uso social da língua e, ao mesmo tempo, com a sua utilização

correta.

Fotografias 59, 60 e 61

Nas classes são utilizadas carteiras individuais organizadas em duplas (Fotografias 62,63 e 64).

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Fotografias 62, 63 e 64

4 - Considerações Finais

Após a descrição preliminar dos dados acerca dos fatores descritos (infra-estrutura da

escola e das salas de aula, recursos e práticas pedagógicas associadas ao

desenvolvimento de habilidades de leitura e escrita), foi possível observar aspectos

similares e divergentes entre as escolas investigadas.

Em relação à questão da infra-estrutura, tanto da escola como das salas de aula, o que

se percebe, de maneira geral, é que a situação da Escola B se difere bastante das Escolas

A e C. Esta diferença torna-se marcante ao comparar-se a quantidade e o tipo de

trabalhos expostos. Enquanto nas Escolas A e C encontram-se murais marcados pela

diversidade de trabalhos e pela valorização da criatividade dos alunos, na Escola B é

grande o número de trabalhos expostos de autoria dos professores e, dos trabalhos

expostos de alunos, a maioria era padronizada.

No que se refere ao fator recursos pedagógicos, fica claro que a Escola C apresenta

melhores condições do que as demais instituições pelo fato de dispor de espaços

importantes como laboratório de informática, sala de apoio para alunos portadores de

necessidades especiais e sala de leitura com recursos multimídia, todos supervisionados

por profissionais específicos e à disposição dos alunos. Embora não tenha os mesmo

recursos, a Escola A apresenta sala de leitura, também sob a supervisão de um

profissional específico, bem equipada e com um acervo diversificado à disposição de

toda a comunidade escolar. Já a escola B além de possuir um acervo pequeno e pouco

diversificado, limita o uso de sua sala de leitura aos professores devido à ausência de

um profissional responsável pelo espaço. No que tange aos recursos presentes nas salas

de aula, as Escolas A e C novamente se destacam não só pela presença de cantinhos de

leitura, mas pela qualidade, diversidade e quantidade de materiais de leitura

disponibilizados aos alunos. Em contrapartida, nem todas as salas de aula da Escola B

possuem este recurso, e, aquelas que os possuem parecem colocá-los pouco à disposição

dos alunos, além de apresentar acervos bastante reduzidos ou até mesmo inexistentes.

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Quanto aos indícios de práticas pedagógicas desenvolvidas no interior das salas de

aula, as Escolas A e C pareceram estar mais sintonizadas com o processo de ensino-

aprendizagem baseado na formação de leitores conectados com a diversidade social de

utilização da língua, enquanto na Escola B a ênfase parece estar no ensino de aspectos

formais da língua. A organização das carteiras em duplas e trios em todas as salas de

aula observadas indicam que, independentemente do trabalho pedagógico realizado, é

dado atenção especial à interação e à troca de experiências entre os alunos.

Em suma, os dados descritos e associados aos resultados quantitativos do GERES

revelaram indícios de culturas escolares diferenciadas no que se refere à formação de

leitores e que parecem interferir no desempenho dos seus alunos.

Por fim, vale lembrar que, pelo fato de estarmos trabalhando, neste artigo, com

resultados preliminares, ainda não é possível estabelecer relações consolidadas entre as

diferentes culturas escolares e os níveis de proficiência das escolas investigadas. Por

isso, na continuidade desta pesquisa, pretende-se enriquecer a análise e a descrição dos

registros fotográficos comparando-os a documentos como entrevistas com professores

das instituições investigadas, relatórios de observação de aula e questionários.

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i O Projeto Geres, estudo longitudinal que teve início em 2005 e acompanhará a evolução daaprendizagem de Leitura e Matemática de alunos de escolas públicas e privadas das séries iniciais doEnsino Fundamental por quatro anos, levando em consideração os fatores escolares e sócio-familiares queincidem sobre o desempenho escolar. O GERES pesquisa uma amostra de 303 escolas eaproximadamente 21.000 alunos em cinco cidades brasileiras, a saber: Belo Horizonte (MG), Campinas(SP), Salvador (BA), Campo Grande (MS) e Rio de Janeiro (RJ), por meio de testes de Leitura eMatemática que focalizam as habilidades básicas dos alunos das séries/anos iniciais do EnsinoFundamental. No Rio de Janeiro, a amostra corresponde a 3.454 alunos distribuídos em 176 turmas de 68escolas pertencentes às redes municipal (90 turmas), privada (55 turmas) e federal (31 turmas). Além dosinstrumentos cognitivos, outros dados são coletados, por meio de questionários contextuais da escola, dosalunos, dos professores e diretores das escolas investigadas, com o objetivo de identificar característicasescolares que aumentam o aprendizado dos alunos.e minimizam o efeito da origem social dos alunos naaprendizagem.

ii Na vertente qualitativa, o Projeto GERES, no pólo do Rio de Janeiro, conta com um estudo exploratóriodenominado ‘Arqueologia das Escolas’. A primeira etapa do estudo, em 2005, consistiu numa exploraçãopreliminar de um conjunto de características relacionadas à infra-estrutura e às rotinas escolares, bemcomo às práticas pedagógicas de sala de aula de professores da primeira série/ano do ensino fundamentaldas escolas cariocas que participam do Geres. Nessa etapa, foram registrados fotograficamente e porescrito aspectos do prédio e das instalações escolares e do material exposto nos murais das escolas e salasde aula.Na segunda etapa, em 2006, o objetivo foi o de coletar informações sobre aspectos relacionados à sala deaula e à gestão escolar em seis escolas públicas municipais que revelaram altos níveis de proficiência naprimeira e na segunda avaliação do Geres ocorridas entre a primeira e a segunda avaliação ocorridas noinício e no final do ano letivo de 2005, no intuito de identificar práticas e políticas escolares, isto é,aspectos da estrutura organizacional das escolas, das interações que nelas acontecem e seus possíveisefeitos sobre a aprendizagem dos alunos medida pelo Geres. (Para maiores esclarecimentos verBONAMINO ET ALL, Da “arqueologia” das escolas às práticas escolares: um estudo exploratóriosobre as características das escolas participantes do Projeto GERES no pólo Rio de Janeiro. ABAVE,2006. [Publicação eletrônica])