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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ INSTITUTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO E GESTÃO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO 2017 ENGENHARIA DE PRODUÇÃO ANÁLISE DO POSTO DE ESTUDO A PARTIR DOS DESCONFORTOS ERGONÔMICOS E DO PERFIL ANTROPOMÉTRICO DOS ALUNOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ CARLA TAÍS CONSONI FABIANO LEAL Itajubá, Junho de 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ

INSTITUTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO E GESTÃO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO – 2017

ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

ANÁLISE DO POSTO DE ESTUDO A PARTIR DOS DESCONFORTOS

ERGONÔMICOS E DO PERFIL ANTROPOMÉTRICO DOS ALUNOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ

CARLA TAÍS CONSONI

FABIANO LEAL

Itajubá, Junho de 2017

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AGRADECIMENTOS

À Deus pelo dom da vida, pela minha saúde e proteção por todos esses anos. Aos meus pais, Izabel e Vilmar, por terem me proporcionado a oportunidade de me dedicar integralmente aos estudos, e por todo o apoio prestado por eles. Aos meus irmãos, Luís e Leonardo, pelo companheirismo, apoio e ajuda em diversas situações durante a minha formação. Ao David por todo companheirismo, por me ajudar em todos os momentos e por ter colaborado para que esse trabalho fosse concluído. Aos meus professores, Renata e Fabiano, pela orientação na elaboração deste trabalho.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Diagrama de áreas dolorosas Corlett e Manenica (1980)...........................5 . Figura 2 - Carteiras escolares utilizadas na UNIFEI...................................................6 Figura 3 – Trena...........................................................................................................7 Figura 4 - Posições para realização das medidas........................................................7 Figura 5 – Medidas antropométricas. Fonte: Iida, Itiro (1997)......................................8 Figura 6 – Perguntas do questionário discurssivo........................................................9 Figura 7 – Média de intensidade de dor e desconforto pelo público feminino...........11 Figura 8 - Média de intensidade de dor e desconforto pelo público masculino.........12 Figura 9 - Gráfico da distribuição por faixas de estatura (Estatura – cm; Quantidade de alunos)...................................................................................................................13 Figura 10 - Estrado regulável para os pés.................................................................15 Figura 11 – Catálogo de carteiras escolares do FNDE..............................................16 Figura 12 – Carteira 1.................................................................................................17 Figura 13 – Carteira 2.................................................................................................18 Figura 14 – Carteira 3.................................................................................................19

LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Julgamento das carteiras pelo público feminino.......................................11 Tabela 2 – Julgamento das carteiras pelo público masculino....................................12 Tabela 3 – Medidas antropométricas.........................................................................14

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SUMÁRIO

RESUMO......................................................................................................................1

1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................1

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...............................................................................2

2.1 Postura sentada e antropometria.......................................................................2

2.2 Normas técnicas................................................................................................3

2.3 Diagrama áreas dolorosas.................................................................................4

3 MÉTODO DE PESQUISA........................................................................................6

3.1 Escolha das variáveis e objetos de estudo.......................................................6

3.2 Experimento e realização das medidas............................................................7

3.3 Questionários....................................................................................................8

3.4 Definição da amostra........................................................................................9

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................10

4.1 Medidas antropométricas................................................................................10

4.2 Análise de dor e fadiga...................................................................................13

4.3 Análise das carteiras disponíveis na UNIFEI..................................................16

5 CONCLUSÃO........................................................................................................19

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................22

ANEXO I.....................................................................................................................24

APÊNDICE I...............................................................................................................26

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RESUMO

Ergonomia é uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e os objetos ou sistemas que usam. Uma boa adequação ergonômica do espaço de trabalho a seus usuários garante bem-estar físico e psicológico de cada indivíduo, não só durante o expediente de trabalho mas também no seu tempo livre. Isso também vale para o ambiente escolar, onde carteiras ergonomicamente adequadas, por exemplo, refletem positivamente na concentração e rendimento dos estudantes em aula ou durante estudo complementar. Por outro lado, a má postura gerada por inadequação de mobiliário escolar traz impactos consideravelmente prejudiciais à prática de estudo. A norma NBR 14006 — Móveis escolares — foi estabelecida para tratar dessa questão, mas nem sempre é aplicada corretamente, e seus critérios são baseados em dados antropométricos europeus, em desacordo com a realidade da população brasileira, já que diferentes etnias e nacionalidades apresentam grande variação em características anatômicas importantes. Assim, surge a necessidade de se levantar o perfil antropométrico dos alunos de instituições de ensino nacionais para verificar a adequação de suas carteiras escolares e demais equipamentos. Com o perfil antropométrico dos alunos medido e as análises realizadas na UNIFEI, percebeu-se que o mobiliário não é adequado para toda a comunidade do campus e foram sugeridas algumas opções para que as carteiras se tornem adequadas para uma maior parcela dos alunos.

Palavras-chave: Mobiliário escolar, ergonomia, perfil antropométrico.

1. INTRODUÇÃO

Segundo a Associação Internacional de Ergonomia (IEA, 2000), ergonomia é uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema. Tanto o conforto quanto o desempenho também são importantes no ambiente escolar. Para Villa e Silva (2000) a adequação ergonômica do ambiente – que envolve condições de ordem física, como a limpeza, a organização, a conservação, a iluminação, a temperatura, o ruído e o mobiliário escolar – é tão importante quanto o programa de ensino. Não é raro ver alunos da Unifei reclamando das condições ergonômicas do ambiente. O desconforto causado pelas carteiras independe da hora do dia ou da estação do ano, pois as inadequações do mobiliário não sofre modificações com a temperatura e/ou iluminação. O mobiliário escolar não adequado resulta em má postura e, de acordo com os fisioterapeutas do Instituto Afonso Ferreira, o incômodo gerado pela má postura e falta de conforto geram, em curto e longo prazo, problemas sérios de saúde, como dores de cabeça, nas costas, pescoço, braços e até mesmo falta de energia, interferindo negativamente no aprendizado do aluno e no rendimento em sala de aula.

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Na postura sentada, a circulação sanguínea sofre uma alteração significativa, onde o retorno do sangue pelas veias até o coração se torna difícil, pois nesta posição, a pressão, na parte posterior das coxas, funciona como um obstáculo para a circulação. Esta situação, muitas vezes agravada devido às más condições materiais do mobiliário escolar, principalmente quando este não permite o apoio dos pés no chão, afetando a coluna vertebral, interferindo no comportamento dos educandos e refletindo, também, diretamente no ensino-aprendizagem (REIS e MORO, 2005, p. 1).

Desta forma, para analisar o posto de estudo surge a necessidade de se traçar um perfil antropométrico para a população de alunos da Unifei. Para Iida (2005), a antropometria trata de medidas físicas do corpo humano, e essas medidas são importantes para projetos de postos de trabalho e de produtos, permitindo que se faça um dimensionamento correto para as necessidades de cada atividade. Para que o posto de estudo seja analisado, serão coletadas as medidas antropométricas de 60 alunos. Cada aluno que participar da pesquisa irá responder a um questionário discurssivo para a obtenção de dados qualitativos de fadiga, além de preencher um diagrama de desconforto e dor. Com as medidas, será traçado o perfil antropométrico dos alunos, que será comparado com as medidas das carteiras disponíveis, com as normas de adequação de mobiliário e com as respostas do questionário de desconfortos. A partir dessa comparação dos dados levantados, será discutido a adequação ou não das carteiras escolares. Em caso de inadequações, serão levantadas algumas possíveis formas do mobiliário escolar da UNIFEI se adequar as normas e ao perfil dos alunos.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Postura sentada e antropometria

Segundo Iida (2005), a postura sentada exige atividade muscular do dorso e do ventre, e consome de 3 a 10% mais energia em relação à posição horizontal. Sendo assim, a fadiga aparece mais rapidamente nessa posição. Por esse motivo, é de extrema importância que as carteiras sejam adequadas e que permitam a mudança frequente de posturas do usuário, retardando dores e o aparecimento da fadiga.

Para Coury (1995, p.1), “a sobrecarga imposta pela postura sentada vai sendo sentida gradualmente por todas as partes do nosso corpo; começam a surgir dores, formigamento, sensação de peso nas costas, pescoço, pernas, braços e mãos. ” Para que se possa adequar o mobiliário à maioria dos alunos, é necessário e importante que se trace o perfil antropométrico dos usuários, que será relacionado com dados subjetivos coletados com o questionário (item 3.3). Não adianta utilizar um perfil antropométrico de outras regiões ou outros países, mesmo se os usuários tiverem a mesma faixa etária pois, segundo Iida (2005), as proporções corporais são típicas de cada etnia, além de o clima, alimentação, saúde e prática de esportes modificarem as proporções corporais de um povo.

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Grandjean (1998) define antropometria como o conjunto de estudos que relacionam as dimensões físicas do ser humano com sua habilidade e desempenho ao ocupar um espaço em que ele realiza várias atividades, utilizando-se de equipamentos e mobiliários adequados para o desenvolvimento das mesmas. Basicamente, trata do estudo das medidas do corpo humano e como elas se relacionam com o trabalho. Moro (2005) afirma que as carteiras não atendem as condições ergonômicas e nem as diferenças físicas das pessoas. De acordo com pesquisas já realizadas, pode-se perceber que é muito comum o mobiliário escolar não estar de acordo com as normas e com o perfil antropométrico dos alunos. Como concluiu um estudo feito em uma universidade de Recife:

Na avaliação da adequação ergonômica das salas de aula e do nível de conforto do ambiente escolar atribuído pelos alunos de uma Instituição de Ensino Superior da Cidade do Recife foi verificado que a cadeira escolar é o principal fator de desconforto relatado pelos alunos; o que foi confirmado pela inadequação ergonômica das cadeiras em relação às normas da ABNT e às medidas antropométricas baseadas na altura média dos alunos. Verificou-se ainda que a maioria dos estudantes adotava posturas inadequadas durante a realização da aula, e que parte destas posturas se deve ao fato desses usuários tentarem se adaptar a um mobiliário escolar inapropriado para suas características antropométricas. Estes resultados demonstram que a inadequação das cadeiras escolares associada à manutenção de uma postura inadequada, mantida por um longo período de tempo, são fatores determinantes para o aparecimento das queixas musculoesqueléticas apresentadas pelos alunos, sendo estas localizadas principalmente na coluna lombar e cervical (SIQUEIRA, OLIVEIRA e VIEIRA, 2008, p. 9).

Sousa et al. (2007) analisaram a relação entre variáveis antropométricas e as dimensões das carteiras utilizadas por estudantes universitários do curso de Fisioterapia da UFPB. Mesmo os alunos tendo quatro opções de carteiras espalhadas pelas salas de aula utilizadas pelo curso, tomando como base dimensões recomendadas pela literatura, os resultados indicam que as carteiras são inadequadas aos alunos, sugerindo a adoção de um mobiliário de dimensões ajustáveis à antropometria dos usuários.

Segundo Paiva (2007), que analisou o mobiliário escolar em salas de informática de colégios públicos, o mobiliário deveria ser facilmente adaptável, para atender às diferenças de estaturas dos alunos, pois carteiras padronizadas e inajustáveis não serão ideais para boa parte dos alunos, causando má postura. Tais posturas podem acarretar fadiga, perda de atenção e interesse nos estudos, tornando as aulas em uma experiência negativa. Estudos como o de Moro (2005) e Souza et al. (2007) sugerem que a melhor opção é ter carteiras ajustáveis ou mais tamanhos de carteiras para atender todos os alunos com suas respectivas estaturas. 2.2. Normas técnicas Existem normas técnicas para adequação dos móveis escolares, as principais são: a NBR 14006 – Móveis escolares – Assentos e mesas para instituições educacionais -

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Classes e dimensões; e a NR 17 – Ergonomia, que não é específica para mobiliário escolar, mas indica parâmetros para uma correta postura sentada. Porém, não existe a real preocupação com a postura e condições ergonômicas adequadas para os estudantes, tanto de escolas como de universidades, como relata Moro (2005).

No ambiente escolar tem-se observado uma grande lacuna de aplicações e adequações ergonômicas. A atividade escolar por não tratar-se de uma situação de trabalho, muitas vezes fica a mercê da "causalidade", ou seja, ainda não existe um critério que lhes atenda nos requisitos de saúde e segurança para a concepção do mobiliário escolar. Portanto, informar-se e conhecer o assunto é uma necessidade urgente para que cresça a consciência social sobre este tema. (MORO, 2005, p. 1)

A NBR 14006 (ANEXO I) define os requisitos ergonômicos básicos para o mobiliário escolar. Porém, a própria norma afirma que suas dimensões foram baseadas em estudos antropométricos realizados na Europa. Segundo Iida (2005), todas as populações humanas são compostas de indivíduos de diferentes biótipos e essas diferenças antropométricas aumentam se as medidas forem comparadas com etnias e nacionalidades diferentes. Sendo assim, não parece confiável e adequado usar padrões europeus para basear as regras do Brasil. De acordo com Bergmiller (1999), é recomendado a adoção de tamanhos diferentes de cadeiras e mesas, pois a adoção de um único padrão, através de médias de estaturas não é uma solução adequada pois sacrificará a postura dos alunos de menor estatura. Essa recomendação é baseada em análise desenvolvida sobre normas internacionais, como a Din 68970 (Alemanha) e BS 3030 (Inglaterra).

A adoção de padrões diferenciados permite melhor adequação do mobiliário às diferentes estaturas de alunos observadas nas escolas. Esse critério foi proposto no Brasil através do projeto Móvel Escolar, desenvolvido na década de 1970 pelo Instituto de Desenho Industrial do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro para o CEBRACE, posteriormente adotado pela CONESP e pela FDE. Eram recomendados 3 padrões: pequeno, médio e grande (BERGMILLER, 1999, p. 14).

2.3. Diagrama de áreas dolorosas

O diagrama de áreas dolorosas, que foi proposto por Corlett e Manenica (1980), é uma ferramenta qualitativa para medir a intensidade de desconforto postural em determinada situação. Essa ferramenta apresenta um mapa que divide as regiões corporais em 27 partes, nas quais o sujeito pode sentir dor. Isso vem somado a um questionário que admite cinco respostas para a intensidade de desconforto/dor em cada parte do corpo, que vai de (1) Nenhum à (5) Intolerável, como pode ser visto na Figura 1.

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Figura 1 – Diagrama de áreas dolorosas

Fonte: Corlett e Manenica (1980)

O uso dessa técnica é simples e auxilia na detecção de problemas causados pela má adequação das carteiras. Porém, como é um dado que depende do julgamento do sujeito, nada impede do aluno omitir ou aumentar alguma queixa. Mas, de qualquer forma, é uma ferramenta a mais para chegar a um resultado mais elaborado.

Reis et al. (2003) realizaram um estudo sobre a altura do mobiliário escolar e a distribuição de pressão na região glútea em crianças. Para esse estudo eles associaram a obtenção dos dados de pressão pelo Sistema F-Scan, com o diagrama de Corlett e Manenica, que é delimitado por segmentos, a fim de verificar o relato de queixas ou desconfortos corporais percebidos durante a utilização do mobiliário

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escolar. A utilização desse método os auxiliaram a definir um melhor posto de estudo.

3. MÉTODO DE PESQUISA 3.1. Escolha das variáveis e objetos de estudo

Uma pesquisa em ergonomia geralmente consiste em estabelecer relacionamento entre determinadas variáveis (IIDA, 2005). Neste trabalho será analisada a relação entre as dimensões das carteiras e o perfil antropométrico dos alunos, conforto, postura e fadiga. Serão analisadas três tipos de carteiras que são utilizadas pelos alunos da UNIFEI, como pode-se ver na Figura 2. As medidas serão comparadas com as medidas adequadas para o perfil dos alunos.

Figura 2 – Carteiras escolares utilizadas na UNIFEI

Ao entrar em contato com o Diretor de Assuntos Comunitários, da prefeitura do campus, obteve-se informações sobre a quantidade de cada tipo de carteira que compõe o mobiliário escolar da universidade. Em depoimento, ele disse: “Possuímos em torno de 440 carteiras azuis conjugadas (assento+apoio) e 760 carteiras brancas (cadeira +Mesa), foi realizada a compra de 650 carteiras do modelo novo (CJA-06) e que já foram distribuídas nas salas novas do bloco I e CEDUC, estamos aguardando recurso para substituição das 1200 nos demais blocos. A carteiras no modelo novo estão em torno de 35%”. Os três modelos de carteiras estão alocados de forma distribuída pela UNIFEI. A maioria dos blocos de aula (edifícios na universidade alocados para cursos específicos) possuem todos os modelos de carteiras. No bloco X (um dos edifícios), a quantidade das carteiras novas é maior. Apesar da existência de todos os modelos nos blocos, cada sala é mobiliada com apenas um dos modelos de carteira.

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3.2. Experimento e realização das medidas

Para Iida (2005) existem, basicamente, duas formas de realizar experimentos em ergonomia. A primeira é no laboratório, em condições artificialmente construídas e controladas. A segunda forma é observar o fenômeno nas condições reais, no próprio local em que ocorre. As medidas antropométricas dos alunos foram coletadas em laboratório, para garantir as mesmas condições de coleta dos dados para toda a amostra. A coleta de dados foi realizada no Laboratório de Métodos de Aprendizagem Interativa – LMAI, na Unifei, onde com o auxílio de instrumentos foram realizadas as medidas. No item 3.4 será melhor explicado sobre a definição da amostra. Para as medidas objetivas que resultam em valores numéricos, os intrumentos utilizados foram uma cadeira e uma trena (Figura 3). Como mostra a Figura 4 os alunos sentavam de modo que os pés encostassem no chão, e de pé para medir a postura em pé.

Figura 3 – Trena

Figura 4 – Posições para realização das medidas

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Na Figura 5 pode-se observar as medidas que foram coletadas para análise. São elas: A – Postura em pé, B – Postura sentada, C – Altura dos olhos, na postura sentada, D – Altura dos ombros, na postura sentada, E – Altura do cotovelo, na postura sentada, F – Largura das pernas (altura das coxas), G – Altura poplítea, H – Profundidade do tórax, I – Comprimento do antebraço, J – Comprimento do braço.

Figura 5 – Medidas antropométricas

Fonte: Iida, Itiro (1997)

3.3. Questionários

Além das medidas objetivas, foram realizadas medidas subjetivas, que são aquelas que dependem do julgamento do sujeito. Foi realizado um questionário (Apêndice I) com os mesmos alunos que tiveram as medidas coletadas, para avaliar fadiga e conforto. Os dados coletados serviram para diagnosticar os efeitos das carteiras nos alunos, que serão confrontados com o perfil antropométrico dos alunos e com as medidas das carteiras.

Os questionários que dependem de julgamentos humanos sofrem diversos tipos de distorções, que são conhecidos e estudados pelos psicológos. Aqueles mais frequentes são a tendência central, tendência para extremos e o efeito halo (preferências pessoais a determinados produtos). A tendência central ocorre quando uma pessoa tende a aproximar-se mais da média, eliminando níveis extremos da “escala”. (IIDA,2005, p. 57 )

Questionários discursivos são uma ferramenta qualitativa de pesquisa, que associados aos demais dados trazem informações muito interessantes, pois as vezes os participantes da pesquisa levantam pontos e informações que não haviam sido explorados ou pensados. Os alunos participantes da pesquisa, após terem suas medidas coletadas, receberam um questionário impresso para responder. O questionário (APÊNDICE I) continha perguntas discurssivas para que os participantes da pesquisa pudessem expressar as suas opiniões sobre as carteiras, sem a limitação das perguntas objetivas. Como pode ser visto na Figura 6, nesse questionário os alunos

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escolheram também, entre as carteiras apresentadas, qual a que mais os agradava e qual menos agradava no ponto de vista ergonômico.

Figura 6 – Perguntas do questionário discurssivo

3.4. Definição da amostra

Segundo o Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (Maio/2016), a UNIFEI – Campus Itajubá conta com 5195 alunos de graduação e 1042 alunos de pós-graduação, totalizando 6237 alunos. Porém, não é possível calcular o tamanho da amostra para determinado grau de confiança, pois não foi encontrado desvio padrão de dados antropométricos dos alunos da Unifei, e nem da população brasileira. Segundo Iida (2005), essa dificuldade em encontrar dados antropométricos dos brasileiros, faz com que sejam usadas como referências tabelas de medidas copiadas de outros países. E como já foi visto, isso não é eficaz e induz ao erro, devido as diferenças antropométricas dos povos. Segundo Iida (2005), para a Organização Mundial da Saúde (OMS, 1995), as dimensões antropométricas devem basear-se em uma amostra mínima de 200 pessoas, entretanto, para aplicações em ergonomia, em que não se exigem graus de confiança superiores a 90 ou 95%, amostras de 30 a 50 sujeitos geralmente são satisfatórias. Será adotado o tipo de amostragem estratificada, que é feita de acordo com uma classificação da população da amostra de acordo com uma característica que pode influir no resultado. Nesse caso a seleção dos alunos terá apenas um critério, a amostra deverá ser composta de 50% de mulheres e 50% de homens. Sendo assim, pretende-se coletar as medidas de 60 alunos, 30 homens e 30 mulheres, pois de acordo com Iida (2005), os dados de mulheres e homens devem ser calculados separadamente, devido à existência de diferenças significativas entre as médias das medidas antropométricas. Será feita a combinação das medidas máximas e minimas para juntas os dados das duas populações.

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Para Iida (2005, p.135), “como quase sempre as medidas antropométricas de homens são maiores que as de mulheres, o máximo é apresentado pelo percentil 95% dos homens e, o mínimo, pelo percentil 5% das mulheres.” A pesquisa foi divulgada no grupo da UNIFEI Campus Itajubá no Facebook, para que os alunos se voluntariassem a participar. As primeiras 30 mulheres e os primeiros 30 homens que demonstraram interesse, participaram da pesquisa. A intenção foi que os alunos se identificassem com o tema do estudo e se motivassem a participar para colaborar com a melhoria ergonômica das carteiras da universidade. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1. Análise de dor e fadiga Além das medidas antropométricas que serão analisadas no item 4.2, foram realizados o diagrama de áreas dolorosas e um questionário discursivo onde o aluno pôde escrever os incômodos que sentia em relação as carteiras. Além disso foi questionado qual das três carteiras o aluno julgava mais e menos confortável. O diagrama de áreas dolorosas, como visto no item 2.4, separa o corpo em áreas. O sujeito, ao responder o questionário, marca a intensidade da dor que sente em cada área durante o uso do posto de trabalho. A intensidade pode ser de 1 a 5, sendo (1) nenhum desconforto ou dor, e (5) intolerável. No caso desse estudo, a intensidade de desconforto e dor mostrada é a que os alunos julgam sentir durante o tempo que o aluno está sentado assistindo as aulas. Os alunos responderam abertamente sobre os desconfortos gerados pelas carteiras, como foi mostrado no questionário (item 3.3.1). Também foi questionado qual das três carteiras os alunos julgavam mais e menos confortável. Pode-se comparar esses dados com as avaliações que serão feitas das carteiras no item 4.3. Foram separadas as respostas do público feminino e do publico masculino, para serem avaliadas separadamente as opiniôes de cada publico. A Figura 7 mostra a média de desconforto e dor em cada área, julgados pelo publico feminino, e a Figura 8 mostra o resultado do público masculino. A escala de intensidade é: (1) nenhum, (2) algum, (3) moderado, (4) bastante e (5) intolerável. Por exemplo, a média de dor e desconforto no pescoço, para o público feminino, é de (2,3), ou seja, a intensidade média dessa área está entre alguma e moderada, mais próxima de alguma.

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Figura 7 – Média de intensidade de dor e desconforto pelo público feminino

Uma aluna que cursa Química Bacharelado citou que seria interessante ter apoio para os pés, como um pequeno degrau, já que os pés dela não encostam no chão, causando fadiga e pressão nas coxas. Outra aluna do curso Administração compartilha do mesmo problema, dizendo que tende a ficar com os pés “pendurados”, o que causa dor durante as aulas. Isso pode ser justificado pelo fato da média da estatura feminina ser menor que a masculina. Pode-se ver na Figura 7 que a média de dor nas coxas e nas pernas são 2,0 e 2,2 respectivamente, o que mostra que existe algum desconforto nessas áreas, e pode-se confirmar isso com os depoimentos das alunas descritos acima. A Tabela 1 mostra o julgamento das carteiras pelo público feminino. A carteira 1 (Figura 11, item 4.3), foi a que teve maior taxa de aprovação. Ela será avaliada de acordo com a NBR 14006, no item 4.3. A taxa de aprovação foi de 63,33% , considerando que 80% das participantes entram na faixa de estatura de 158 cm a 188 cm, que é teóricamente a faixa de estatura atendida pela carteira 1.

Tabela 1 – Julgamento das carteiras pelo público feminino

Carteira Mais confortável Menos confortável

1 - Azul (CJA-06) 63,33% 16,67%

2 - Branca 16,67% 43,33%

3 – Azul Conjugada 20,00% 40,00% A maior intensidade de dor tanto para o público masculino, como para o público feminino, está na área das costas, como podemos ver na Figuras 7 e 8. O diagrama de desconforto e dor pode ser confirmado com o questionário discursivo, onde 68,3% dos alunos participantes da pesquisa afirmaram sentir dores nas costas

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durante e após as aulas. Eles também afirmaram sair de sala durante o horário de aula por motivos de desconfortos. Dos alunos participantes da pesquisa, 83,3% afirmaram que perdem a concentração pela falta de conforto na cadeira e alguns disseram que ficam se mexendo demais para encontrar uma posição adequada.

Figura 8 – Média de intensidade de dor e desconforto pelo público masculino

Segundo Corlett, Wilson e Manenica (1986) as más posturas da coluna vertebral ao sentar são causadoras de dores nas costas, principalmente, nas regiões cervicais, glúteas e lombares. E estas foram as áreas com maiores intensidades de dores e desconfortos julgados pelos alunos da UNIFEI. Assim, pode-se associar esses desconfortos à má postura causada pelo mobiliário escolar. Uma aluna do curso Engenharia de Produção disse: “Tenho dores nas costas e no cóccix, depois de um certo tempo sentada necessito levantar e andar um pouco para mudar a posição. Isso me faz ausentar da sala ao decorrer da aula”.

A Tabela 2 mostra o julgamento das carteiras pelo público masculino. A carteira 1 (Figura 12, item 4.3) foi a que teve maior taxa de aprovação, assim como para as mulheres. A taxa de aprovação foi de 86,67%, considerando que 100% dos participantes entraram na faixa de estatura de 158 cm a 188 cm, que é teoricamente a faixa de estatura atendida pela carteira 1.

Tabela 2 – Julgamento das carteiras pelo público masculino

Carteira Mais confortável Menos confortável

1 - Azul 86,67% 6,67%

2 - Branca 0,00% 40,00%

3 – Azul Conjugada 13,33% 53,33%

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A carteira 3 (Figura 14) foi a mais rejeitada, com 53,33% de rejeição, contra 40,00% de rejeição por parte das mulheres. Essa rejeição é devido a ser a carteira com menos espaço, associado à estatura masculina que tende a ser maior que a feminina. Muitos alunos reclamaram da falta de espaço nessa carteira. Um aluno que cursa Engenharia da Computação relatou sua insatisfação quanto às carteiras conjugadas, alegando não existir espaço suficiente para se sentar, causando obstrução de espaço para as pernas e dificuldades ao levantar. Um aluno do curso de Ciências da Computação afirmou que por ser obeso ele não consegue sentar adequadamente na carteira. Por esse motivo acaba não prestando atenção na aula, pois não consegue achar uma posição confortável. 4.2. Medidas antropométricas Com as medidas coletadas dos 60 alunos, sendo 30 mulheres e 30 homens, foi definido o perfil antropométrico da população de alunos da Unifei. O perfil antropométrico mostra a diferença entre a medida mínima (5%) e a máxima (95%), mas não mostra a distribuição dessas medidas. Por esse motivo, foi feito um gráfico de distribuição das estaturas dos alunos que participaram da pesquisa. A Figura 6 é a representação gráfica da distribuição por faixa de estatura dos alunos que participaram da pesquisa. Observando o gráfico, percebe-se que a estatura das mulheres é em geral menor que a dos homens, como podemos ver nas faixas de menor estatura, onde os homens nem aparecem, o que implica em diferentes experiências ergonômicas com a mesma carteira.

Figura 9 – Gráfico da distribuição por faixas de estatura (Abscissas: Estatura – cm; Ordenadas: Quantidade de alunos)

Com as medidas antropométricas coletadas e separadas em femininas e masculinas, foi montada a Tabela 3, calculado pelo percentil minímo e máximo de

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5% e 95%. A coluna de medidas adotadas foi proposta por Iida (2005) para o dimensionamento de um posto de trabalho.

Se for preciso definir um posto de trabalho, no caso uma carteira escolar, única para toda a população de alunos, deve-se criar um projeto com as medidas adotadas na Tabela 3. Como sugere Iida (2005), as medidas antropométricas indicadas pelas letras A, B, E, F e G correspondem às máximas, enquanto as indicadas pelas letras C, D, I e J pelas mínimas.

Tabela 3 – Medidas antropométricas

MEDIDAS DE ANTROPOMETRIA

ESTÁTICA (cm)

CRITÉRIO MULHERES HOMENS

MEDIDA ADOTADA

MIN. MAX. 5% 95% 5% 95%

A. Estatura X 151,5 178,5 163,0 185,5 185,5

B. Altura da cabeça, sentado

X 117,0 139,0 124,5 139,5 139,5

C. Altura dos olhos, sentado

X 106,5 129,0 114,0 117,0 106,5

D. Altura dos ombros, sentado

X 92,0 105,0 95,5 106,0 92,0

E. Altura do cotovelo, sentado

X 59,5 72,5 62,0 70,5 72,5

F. Largura das pernas

X 12,0 23,0 12,0 19,5 23,0

G. Altura do assento (poplítea)

X 36,5 46,5 40,5 49,5 49,5

H. Profundidade do tórax

X 13,0 32,0 15,0 22,5 32,0

I. Comprimento do antebraço

X 35,0 49,0 43,5 50,5 35,0

J. Comprimento do braço

X 68,0 79,0 69,0 80,5 68,0

Como dito anteriormente, quando as plantas dos pés não encostam no chão, a coxa sofre uma compressão, dificultando a circulação sanguínea. Se precisasse ser definido um posto de estudo unificado para toda a comunidade de alunos, a altura do assento, G, precisaria ser adotada pela medida máxima para toda a população possuir espaço o suficiente para utilizar a carteira. Porém adotando essa medida, as pessoas com menor estatura sofreriam consequências por não apoiarem os pés no chão. Iida (2005) propõe uma solução para esse problema, dizendo que as pessoas

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mais baixas podem corrigir a altura do assento com um pequeno estrado para os pés, que no caso dos alunos da Unifei, pode chegar até 13 cm para as pessoas mais baixas. Na Figura 10 pode-se ver um modelo de estrado para os pés. Trata-se de um objeto regulável para atender todas as estaturas. Porém, esta é uma solução extremamente cara, sendo cada unidade custando em torno de R$200,00. Isto pode tornar a idéia inviável, pois teriam que ser compradas várias unidades para atender a todos os alunos que apresentam tal necessidade.

Figura 10 - Estrado regulável para os pés

Outra opção é ter mesas e cadeiras de diferentes alturas, para atender todos os alunos. As carteiras novas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, FNDE – orgão responsável por captar e distribuir recursos financeiros a vários programas relacionados à educação no país - têm modelos que atendem diferentes alturas, como pode ser visto na Figura 11. As carteiras do FNDE foram projetadas de acordo com as normas técnicas brasileiras (ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas - e INMETRO - O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), para efeito de aquisição pelos entes federados.

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Figura 11 – Catálogo de carteiras escolares do FNDE

Segundo o Diretor de Assunto Comunitários, da prefeitura do Campus, o conjunto mais adequado para o biotipo da comunidade Unifei Itajubá são as carteiras azuis CJA-06 (classificação dada pelo catálogo de carteiras do FNDE), que segundo o FNDE atende os alunos com estatura entre 159 cm e 188 cm. A análise dessa carteira será feita no próximo item. 4.3. Análise das carteiras disponíveis na Unifei São três os modelos de carteiras que prevalecem na composição do mobiliário escolar da Unifei. E a partir das medidas de cada uma delas associadas ao perfil antropométrico dos alunos, será avaliada a adequação ou não das mesmas. Para avaliar as cadeiras serão utilizados os parâmetros antropométricos de acordo com a NBR 14006, das faixas de estatura 5 e 6, referentes as estaturas entre 146

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cm a 188 cm, que abrange toda a amostra estudada, como pode ser visto no ANEXO I. Levando em consideração a faixa de estatura dos alunos e a NBR 14006, os principais requisitos que serão analisados nesse trabalho são: - Largura mínima do assento: 390 mm; - Largura mínima do encosto: 350 mm; - Altura do assento: entre 430 mm e 460 mm; - Extensão vertical mínima do encosto: 150 mm; - Profundidade mínima da superfície do assento: entre 380 mm e 420 mm; - Ângulo de inclinação do encosto: entre 95° e 110°; - Largura da mesa: 600 mm; - Altura da mesa: entre 710 mm e 760 mm. A Figura 12 mostra a carteira do modelo novo (CJA-06). O FNDE tem por objetivo renovar e padronizar os mobiliários das escolas no país. Segundo o órgão, a qualidade e conforto do mobiliário em sala de aula contribuem para a permanência dos alunos e professores nas escolas.

Figura 12 – Carteira 1 – CJA-06

As medidas da carteira CJA-06 realmente atendem os requisitos presentes nas normas para a faixa 6 (159 cm a 188 cm) de estatura. Porém, como já foi dito, as normas brasileiras foram baseadas em perfils antropométricos europeus, sendo assim, a utilização das normas não garante a adequação ao perfil brasileiro ou ao de alguma comunidade.

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Ainda assim, a carteira CJA-06 da Figura 12, de acordo com o questionário, foi a mais aceita pelos alunos. No item 4.1 foram mostrados esses dados obtidos a partir da compilação dos dados das respostas dos alunos. Como pode-se ver nas tabelas 1 e 2 do item 4.1, 63,33% das mulheres e 86,67% dos homens a escolheram como a mais confortável entre as três carteiras disponíveis. A carteira branca da Figura 13 apresenta duas inadequações: a altura da mesa é maior que o adequado e a profundidade do assento, de 35,0 cm, é menor do que o menor exigido pela norma. Essa mesa alta dificulta a escrita das pessoas com menor estatura, além da altura da cadeira ser baixa para a altura da mesa, ou seja, mesmo se a pessoa for alta para uma mesa de 78,0 cm, a cadeira de 44,0 cm provavelmente não será adequada para ela.

Figura 13 – Carteira 2

A Figura 14 mostra a cadeira azul conjugada. Ela não está de acordo com as determinações da NBR 14006, pois a extensão vertical de 14,5 cm está 0,5 cmmenor que a medida exigida, a largura da mesa de 53,5 cm está 6,5 cm menor do que o mínimo exigido e a profundidade do assento de 39,5 cm está 2,5 cm menor do que o exigido, já que se trata de uma carteira azul da faixa de estatura 6 (159 cm a 188 cm). Além disso, por ela ser conjugada, tem o inconveniente da falta de ajuste a cada tipo de corpo, sendo o deslocamento da mesa para frente e para trás de apenas 2,5 cm. A carteira conjugada foi a com maior índice de rejeição, de acordo com a compilação dos dados obtidos pelo questionário. Como pode-se ver nas Tabelas 1 e 2, no item

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4.1, 40,00% das mulheres e 53,33% dos homens julgaram como a menos confortável.

Figura 14 – Carteira 3 conjugada

Um aluno do curso de Engenharia de Produção, além de achar a carteira conjugada sem espaço, não a considera adequada porque não consegue ajustar a distância entre a mesa e a cadeira. Outra aluna de Engenharia Aeronáutica, possuindo 38 cm de profundidade do tórax (medida essa que não entra na tabela do perfil antropométrico, pois para o cálculo é considerado como medida máxima o percentil de 95% dos valores da amostra) afirmou que a cadeira conjugada aperta o tórax e deixa sem ar. O depoimento desta aluna é justificado pelas medidas da carteira, já que a máxima distância entre a cadeira e a mesa é de 36,5 cm. Além disso, a UNIFEI não está preparada para atender cadeirantes ou pessoas com algum tipo de deficiência física. Não há carteiras preparada para isso. Um aluno,que usa prótese no joelho, disse que “as carteiras conjugadas são muito pequenas e muito baixas, eu fico batendo meu joelho no tampo e isso me atrapalha muito, nao consigo esticar minha perna para entrar na carteira por que ela é muito baixinha. Com uma carteira mais alta, que nao tivesse nada que me atrapalhasse ao entrar, eu conseguiria assistir a aula de maneira mais confortável”. 5. CONCLUSAO Foi constatado que as condições ergonômicas do posto de estudo influenciam diretamente nos aspectos físicos e no rendimento do sujeito. Através dos

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questionários realizados na pesquisa, observou-se a grande taxa de desconforto e inadequação do mobiliário escolar aos alunos da Unifei. Ao calcular o perfil antropométrico dos alunos, apresentado pela Tabela 3, foi definido o perfil de estatura entre 151,5 cm e 185,5 cm. Pôde-se concluir que a faixa antropométrica das mulheres é menor que a dos homens, e que do mínimo feminino para o máximo masculino há um intervalo significativo. Sendo assim, já pode-se concluir que apenas um tipo de carteira não iria suprir as necessidades de toda a comunidade. As carteiras do FNDE (carteira 1 – CJA-06), que estão sendo compradas pela Unifei para substituir as carteiras antigas, atendem os requisitos das normas e são aceitas por 75% da amostra total da pesquisa. Apesar da própria norma não ser adequada para atender as necessidades da população brasileira e da nossa comunidade, ela serve para dar uma base em requisitos ergonômicos para a fabricação das carteiras escolares. Apesar das carteiras do FNDE serem bem aceitas pelos alunos e atenderem ergonomicamente grande parte deles, não é suficiente e eficiente para a Unifei fazer a compra de apenas um tamanho dessas carteiras, pois não atende toda a faixa antropométrica dos alunos, fazendo com que os alunos de menor estatura sofram com dores e desconfortos causados pela falta de suporte nos pés. Duas recomendações que podem melhorar as condições ergonômicas dos alunos são: a compra de dois tamanhos das carteiras novas, a CJA-05 e CJA-06 (segunda o catálogo do FNDE), que atenderiam a faixa de estatura de 146 cm a 188 cm, faixa esta que se mostra eficaz para o perfil estudado, e caso todas as carteiras compradas sejam do tamanho CJA-06, seria necessário a compra de apoios para os pés de quem não os consegue encostar no chão, porém essa segunda opção pode ser inviável devido ao alto custo de obtenção dos estrados para os pés. No caso de compras da carteira do modelo CJA-05, seria interessante que esse modelo compusesse pelo menos 10% do total do mobiliário escolar, pois 10% dos alunos da amostra estão na faixa de estatura adequada para as medidas desse modelo e não estão para as medidas do modelo CJA-06. Porém, 15% dos 90% dos alunos que são teoricamente atendidos pela faixa de estatura da CJA-06, não se sentem confortáveis, e como a CJA-05 também atende uma boa parte da faixa de estatura que a CJA-06 atente, é muito possível que esses 15% se adequem melhor à CJA-05, com excessão dos alunos muito altos. Ou seja, de 20 a 25% do mobiliário poderia ser composto por esse modelo menor. Além disso, se faz necessário a compra de carteiras para cadeirantes. A lei 13.146 de julho de 2015, Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, garante que em todos os ambientes as pessoas tenham as mesmas condições de exercer seus direitos e liberdades. Existe também, um projeto de lei (PL 7109/14), que obriga as escolas e instituições de ensino a terem mobiliários adequados para canhotos e deficientes. Com a pesquisa realizada encontrou-se um aluno cadeirante e um aluno que usa prótese nessa universidade. Seria interessante a UNIFEI realizar a compra de algumas unidades da carteira MA-02 do mesmo catálogo, para atender a

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necessidade dos alunos com deficiência, e para estar preparada para a vinda de futuros alunos que precisem fazer o uso de carteiras diferenciadas. Observou-se que há grande desconforto por parte dos alunos, demonstrando que as condições são inadequadas, aumentando o risco de ocorrerem lesões a longo prazo em diversos indivíduos da população. Isso se confirma ao observar que as condições físicas dos objetos de estudo não condizem com as normas estabelecidas e nem com a literatura consultada, já que apenas 35% das carteiras são do modelo novo que atendem os requisitos das normas, e ainda assim, o tamanho comprado não atende toda a população.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Móveis escolares- Assentos e mesas para instituições educacionais - Classes e dimensões, NBR 14006. Rio de Janeiro, 1997. BERGMILLER, K. H. Ensino fundamental: mobiliário escolar. Série Cadernos Técnicos I. FUNDESCOLA - MEC, 1999 CORLLET, E. N.; WILSON, J.; MANENICA, I. The Ergonomics of Working Posturs. London and Philadelphia: Taylor e Francis, 1986. COURY, H. G. Trabalhando sentado: manual para postura confortáveis. 2.ed. São Carlos: UFSCAR, 1995. FERREIRA, J. C. A. Estresse e fadiga diária podem estar associados à má postura. Disponível em: < http://www.iafortopedia.com.br/noticias/estresse-e-fadiga-diaria-podem-estar-associados-a-ma-postura/>. Acesso em nov/2016. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE. Disponível em: < http://www.fnde.gov.br/portaldecompras/index.php/produtos/mobiliario-escolar>. Acesso em maio de 2017. GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. Porto Alegre: Bookman, 1998. IIDA, I. Ergonomia, Projeto e Produção. 1° Edição. São Paulo: Editora Edgard Blücher. 1997. IIDA, I. Ergonomia, Projeto e Produção. 2° Edição. São Paulo: Editora Edgard Blücher. 2005. MORO, A. R. P. Ergonomia da sala de aula: constrangimentos posturais impostos pelo mobiliário escolar. Florianópolis: UFSC, 2005. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. OMS. PHYSICAL STATUS: THE USE AND INTERPRETATION of anthropometry. In: REPORT OF A WHO STUDY GROUP, 1995, Genebra. REIS, P. F.; REIS, D. C.; MORO, A. R. P. Mobiliário escolar: antropometria e ergonomia da postura sentada. Florianópolis: UFSC, 2005. SIQUEIRA, G. R.; OLIVEIRA, B. 0.; VIEIRA, R. A. G. Inadequação ergonômica e desconforto das salas de aula em instituição de ensino superior do Recife-PE. Recife: FIR e UPE, 2008. SOUSA, C.; SANTOS, H.; RABELO, F.; CARDIA, M.; OISHI, J. Relação entre variáveis antropométricas e as dimensões das carteiras utilizadas por estudantes universitários. Juiz de Fora: UFJF, 2007.

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VILLA. L. C.; SILVA, J. C. P. Levantamento e Análise: postos de trabalho dos universitários, um estudo de caso. Bauru: Unesp Campus; 2000.

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APÊNDICE I

Questionário

Nome: Matrícula: Curso: Idade: Sexo: ( ) F ( ) M E-mail: A – Postura em pé: B – Postura sentada: C – Altura dos olhos, na postura sentada: D – Altura dos ombros, na postura sentada: E – Altura do cotovelo, na postura sentada: F – Largura das pernas: G – Altura do assento (poplítea): H – Profundidade do tórax: I – Comprimento do antebraço: J – Comprimento do braço:

QUESTIONÁRIO

1 – Você acha as carteiras da Unifei adequadas para seu corpo? Se não, por que? 2 – Algum desconforto causado por sua postura em sala de aula te atrapalha na concentração? Explique. 3 – Já sentiu dores fora do horário de aula, causadas pela postura inadequada durante as aulas? Com que frequência, local e intensidade? 4 – Qual das carteiras você considera mais confortável, e qual menos confortável? 5 – Com base na carteira que você considera menos confortável, marque o questionário abaixo:

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Gostaria de acrescentar algo ou fazer alguma observação?

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ANEXO I

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