universidade federal de itajubá instituto de matemática e...
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Universidade Federal de Itajubá
Instituto de Matemática e Computação
Curso de Licenciatura em Matemática
MULHER E CIÊNCIA: O INTERESSE DAS ESTUDANTES DO 3º ANO
DO ENSINO MÉDIO DA CIDADE DE ITAJUBÁ-MG PELA CARREIRA
CIENTÍFICA
ITAJUBÁ – MG
2017
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PAULA RODRIGUES BORGES
MULHER E CIÊNCIA: O INTERESSE DAS ESTUDANTES DO 3º
ANO DO ENSINO MÉDIO DA CIDADE DE ITAJUBÁ-MG PELA
CARREIRA CIENTÍFICA
Orientadora: Profª Drª. Denise Pereira de Alcântara Ferraz
ITAJUBÁ – MG
2017
Trabalho Final de Graduação em
Matemática Licenciatura, apresentado à
Universidade Federal de Itajubá como
requisito parcial para a obtenção do título de
Licenciada em Matemática.
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PAULA RODRIGUES BORGES
MULHER E CIÊNCIA: O INTERESSE DAS ESTUDANTES DO 3º
ANO DO ENSINO MÉDIO DA CIDADE DE ITAJUBÁ-MG PELA
CARREIRA CIENTÍFICA
Banca Examinadora:
________________________________________
Profa. Dra. Denise Pereira de Alcântara Ferraz
Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI)
________________________________________
Profa. Dra. Mariana Feiteiro Cavalari
Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI)
________________________________________
Prof. Dra. Jane Raquel Silva de Oliveira
Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI)
ITAJUBÁ – MG
2017
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DEDICATÓRIA
Àqueles que deram todo incentivo e ajuda para
ser possível: Rosa, minha mãe, Paulo, meu pai
e Flávia, minha irmã. Vocês fazem parte de
cada vitória.
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AGRADECIMENTOS
Obrigada, meus pais, minha irmã e meus avós. Por acreditarem em mim em momentos que eu
duvidei. Sem vocês não conseguiria.
Obrigada, Lucas. Sua ajuda, paciência e compreensão foram essenciais em todos os
momentos.
Obrigada, família, amigos e amigas. Por entenderem minhas ausências e por estarem sempre
dispostos em me ajudar.
Obrigada, em especial, aos meus amigos colegas de curso. Sempre dando forças uns aos
outros, incentivando, não deixando desistir e juntos trilhamos essa etapa tão importantes de
nossas vidas.
Obrigada aos meus professores da graduação, em especial aos da educação. Vou levar um
pouco de cada um comigo.
Obrigada ao Pibid Matemática. Foram quatro anos de aprendizagem e companheirismo que
me fizeram crescer muito.
Obrigada à minha orientadora, Denise. Seu conhecimento, paciência e atenção foram
primordiais para a conclusão desse trabalho.
Obrigada a todos, que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação.
Obrigada, Senhor, pelo fim de mais uma etapa.
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“Na minha juventude eu achava que as
mulheres precisavam das ciências exatas, hoje
eu acho que são as ciências exatas que
precisam das mulheres” Maria Michell
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RESUMO
A história das mulheres foi marcada por desigualdades, sendo sempre colocadas em segundo
plano quando se tratavam de políticas públicas, assim como no que diz respeito à educação.
Pensando a partir desse contexto, a pesquisa apresenta uma comparação do interesse das
meninas com relação aos meninos, na cidade de Itajubá-MG, pela área de Ciência. A coleta de
dados foi realizada através de um questionário, que possui sete questões fechadas e três
abertas, aplicado em uma turma de 3º ano do Ensino Médio de quatro escolas da cidade, as
quais foram escolhidas pela facilidade de acesso. A primeira parte desse trabalho foca um
estudo histórico da educação e da educação feminina, no qual mostra que, marcadas por uma
trajetória educacional desprivilegiada, as mulheres viveram, em um primeiro momento, sem
instrução primária, pois, para a sociedade não era necessário que soubessem o mínimo, já que
viveriam para e pela família. Em seguida, após conseguirem o direito de ir à escola, eram mal
vistas por quererem progredir os estudos e buscar a própria profissão. Quando escolhiam
profissões, como a carreira científica, eram desconsideradas mulheres e tinham sua
capacidade colocada em dúvida. A segunda parte apresenta um estudo sobre o feminismo e
como ele colaborou para as conquistas femininas, mostrando as sutilezas da discriminação,
quando são segregadas horizontal e verticalmente e que, mesmo após muitas lutas e avanços,
ainda não é dado o devido reconhecimento às mulheres, em especial, tratado nessa pesquisa,
às cientistas. A terceira parte apresenta a análise dos dados que foi, em um primeiro momento,
quantitativa, sendo que os dados das respostas das meninas foram utilizados em comparação
ao dos meninos e, em seguida, foi feito um estudo baseado nos referenciais estudados e na
história da educação feminina. Concluiu-se que, na população pesquisada, ambos os gêneros
apresentam desinteresse pela área científica, mas o interesse das meninas pela área de Ciência
ainda é pequeno comparado ao dos meninos, mesmo com as conquistas e com a modernidade.
Palavras-chave: gênero; mulheres; ciência;
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Sumário
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 11
CAPÍTULO I: A EDUCAÇÃO E A EDUCAÇÃO DAS MULHERES NO BRASIL ..................... 15
Os primórdios da educação brasileira ............................................................................................................ 16
O passado da educação das mulheres ............................................................................................................ 18
CAPÍTULO II: MULHERES E CIÊNCIAS ...................................................................................... 26
O feminismo e as ciências .............................................................................................................................. 27
As mulheres e a ciência .................................................................................................................................. 29
CAPÍTULO III: A PESQUISA: O INTERESSE DAS MENINAS PELA ÁREA DE CIÊNCIA COMO PERSPECTIVA NA EDUCAÇÃO SUPERIOR ................................................................. 34
Procedimento metodológico .......................................................................................................................... 35
Análise dos dados .......................................................................................................................................... 37
Um olhar para a análise de dados baseada nos referenciais teóricos ............................................................. 47
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................. ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................... 51
ANEXO A- QUESTIONÁRIO .......................................................................................................... 53
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ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1: Número de entrevistados .......................................................................................... 37
Tabela 2: Áreas de interesse ..................................................................................................... 37
Tabela 3: Melhores fontes de informação ................................................................................ 39
Tabela 4: Afirmações de mais discordam ................................................................................ 40
Tabela 5: Afirmações que mais concordam ............................................................................. 40
Tabela 6: Palavras menos associadas a Ciências ..................................................................... 42
Tabela 7: Palavras mais associadas a Ciências ........................................................................ 42
Tabela 8: Sobre as ciências da escola – frases menos associadas ............................................ 43
Tabela 9: Sobre as ciências da escola - frases mais associadas ............................................... 43
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ÍNDICE DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Interesse das meninas em Ciência .......................................................................... 38
Gráfico 2: Interesse dos meninos em Ciência .......................................................................... 38
Gráfico 4: Imagem do cientista segundo os meninos ............................................................... 41
Gráfico 5: Sobre ser cientista ................................................................................................... 45
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INTRODUÇÃO
Diversos debates têm ocorrido a respeito do atual papel da mulher na sociedade, dos
cargos que vem ocupando, incluindo alguns considerados masculinos. Mesmo assim, ainda há
certo preconceito com relação às escolhas femininas das áreas que pretendem seguir, bem
como em determinadas carreiras pode-se observar uma diferença considerável no número de
homens e mulheres que as exercem.
Segundo Louro (1998), no passado, as mulheres eram criadas para casar e ter filhos, e
não estar nesse padrão era motivo de vergonha na sociedade. Deste modo, outros tipos de
habilidades como as da área científica não eram ensinadas.
Atualmente, as disciplinas da área das ciências são obrigatórias no currículo dos
estudantes, porém nem sempre foi assim. Nas escolas, para ambos os sexos era cobrado saber,
além da doutrina cristã, ler, escrever e saber as quatro operações. Porém, para os meninos,
ensinavam-se também noções de geometria e, para as meninas, bordado e costura (LOURO,
1998).
Até as primeiras décadas do século XX, a carreira científica não era considerada
adequada para mulheres (CHASSOT, 2011). Hoje, pode-se perceber uma pequena mudança
nesse cenário, pois algumas meninas têm ingressado em cursos da área das ciências exatas e
da terra e engenharias. A partir destes fatos, questiona-se: Será que essa divisão de conteúdos
que ocorria no passado ainda se reflete atualmente nas escolhas das meninas? Quanto as
meninas se interessam e entendem as áreas das ciências? A família influencia as escolhas das
jovens em relação à carreira?
No Brasil, mais estudantes do sexo masculino da escola básica mostram maior
interesse quando o assunto é aprofundar seus estudos na área de ciências (DA CUNHA,
2014). Da mesma forma ocorre na Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) que, de acordo
com seu site oficial, possui mais homens ocupando suas cadeiras, sejam professores,
funcionários ou alunos. Mas será que morar em uma cidade que possui uma universidade
tendo 24 de seus 26 cursos voltados para as áreas das ciências exatas interfere na escolha das
meninas que residem em Itajubá-MG?
É raro ver histórias de mulheres cientistas e muito menos ganhadoras de prêmios nas
mídias de grande circulação. Olhando para o prêmio mais importante da Ciência, o Prêmio
Nobel, 97% dos contemplados foram homens (ANSEDE, 2016). Apenas uma mulher, Marie
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Curie, foi homenageada duas vezes, sendo que somente na segunda vez ficou com o prêmio
individualmente para ela. Na primeira premiação, só foi reconhecida e homenageada pela
descoberta da radioatividade quando seu marido, Pierre Curie, compartilhou com ela a autoria
(CHASSOT, 2011). Assim como Marie, outras mulheres na história não foram reconhecidas
por suas produções (GUIMARÃES, 2011) negando, assim, o protagonismo feminino que
ainda hoje é difícil de ser aceito por muitos.
Das descrições e questionamentos acima, percebe-se o quanto as mulheres são
deixadas de lado ou à sombra de outros, quando o assunto é produção científica. Diante disso,
esse trabalho aborda o interesse das meninas do Ensino Médio, da cidade de Itajubá-MG, pela
área de ciências, em comparação aos meninos, buscando compreender os motivos de interesse
ou afastamento das jovens em relação à área.
Trazer essa discussão como tema nos faz refletir sobre a importância de incentivar a
carreira científica, especialmente para as meninas que mais sofrem com certos estereótipos, e
conscientizar que não é o gênero que define as escolhas. Dentro da sala de aula esse assunto
precisa ser discutido, já que as jovens que se formarão em breve, logo ocuparão as cadeiras
das universidades. Espera-se que seus nomes sejam destaque de algo tão importante, assim
como o de outras mulheres antes delas, que se dedicaram a isso. Por isso, pesquisar sobre o
assunto produz uma quebra de preconceitos e busca revelar a importância de todo incentivo
dado e de como é importante que a mulher ocupe os espaços.
O objetivo geral do trabalho é fazer um estudo de gênero, comparando o interesse
entre meninas e meninos pela área de ciências, nas turmas de Ensino Médio das escolas
públicas de Itajubá-MG.
Como objetivos específicos, inicialmente foi estudada a história da educação e da
educação das mulheres no Brasil, desde a colônia até o pós-República. Em seguida, realizada
uma análise sobre o feminismo e seus impactos na ciência, assim como uma análise sobre as
mulheres na ciência ao longo dos anos. Por fim, foi realizado o estudo comparativo através
dos dados, no qual é mostrado o interesse das meninas em comparação aos meninos pela área
das ciências.
Como metodologia, trata-se de uma pesquisa quali-quantitativa, produzida através de
um grupo que será o objeto de estudo (FIORENTINI; LORENZATO, 2011). Para a obtenção
dos dados, foi aplicado um questionário individual para ambos os gêneros em uma turma de
terceiro ano de quatro escolas públicas de Itajubá que possua Ensino Médio. Sabendo da
importância da metodologia, essa foi julgada a mais coerente, pois o objetivo da pesquisa
deve estar de acordo com a forma de coleta de dados (FIORENTINI; LORENZATO, 2011).
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Os questionários foram aplicados na sala de aula para que os alunos presentes, sem se
identificar, pudessem responder e expor nele o que entendem por ciência, quais são as áreas
preferenciais de estudo, se há incentivos na escola ou em casa, se possuem parentesco
próximo com alguém que trabalha na área de exatas e, se pretenderem continuar os estudos, se
será na área de ciências.
O questionário foi uma adaptação do instrumento usado para analisar o interesse das
meninas com relação aos meninos, no Brasil, pela área científica. Em sua pesquisa, autores
fizeram sua análise de dados nas regiões do Brasil, escolhendo uma escola de interior e outra
da capital de cada estado brasileiro (DA CUNHA et al, 2014).
A definição de Ciência utilizada nesse trabalho inclui, segundo a Tabela de Áreas de
Conhecimento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),
as Ciências Exatas e da Terra e Engenharias.
Ao optar por uma pesquisa também qualitativa, os rumos da análise dos dados são
incertos, pois dependerão das respostas dadas nos questionários (FIORENTINI e
LORENZATO, 2011), mas pretendeu-se, como mencionado, comparar estatisticamente o
interesse das meninas em relação aos meninos pela área de ciências através de suas respostas.
Esperou-se, além de tudo, que todas as perguntas indagadas ao longo desse texto pudessem
ser respondidas através da análise feita dos resultados da pesquisa. Para embasamento teórico
da pesquisa, Louro (2008), Perrot (1998) e Rosemberg (2013) foram consultadas para a
discussão da história das mulheres, história das mulheres brasileiras e da educação das
mulheres no Brasil. Sobre o feminismo e ciências, foram consultados Moreira et al (2010),
Pinto (2010), Schiebinger (1999). Moreira et al (2010), Olinto (2011), Schiebinger (1999) e
Velho e León (1997) deram o suporte para o estudo de mulheres e ciências.
O trabalho foi divido em três capítulos, contendo detalhadamente tudo o que foi
exposto aqui. O Capítulo 1, “A Educação e a Educação das Mulheres no Brasil”, aborda a
história da ciência na educação das mulheres, sobre como era no passado, como era o ensino,
o que elas aprendiam sobre ciências, o quão incomum era seguir por esse rumo ou qualquer
outro que não fosse cuidar da casa e da família e, para as que seguiam caminhos contrários,
como eram vistas por outros.
No Capítulo 2, “Mulheres e Ciências”, foi feita uma análise sobre o feminismo e seus
impactos na ciência, como as lutas ao passar do tempo influenciou esse ramo, assim como
uma breve análise sobre as mulheres na ciência ao longo dos anos.
Por fim, no Capítulo 3, “A pesquisa: O interesse das meninas pela área de ciência
como perspectiva na Educação Superior”, foi feito o estudo dos dados coletados com os
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questionários, comparando as respostas dos meninos e meninas no interesse da carreira
científica e de continuar nessa área, buscando compreender o porquê dos resultados. Levou-se
em consideração todo o passado de ensino para as meninas e o presente, se conhecem e
entendem a área de ciências e se quando houver interesse em continuar nessa área, se há
incentivos da escola ou da família.
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CAPÍTULO I
A educação e a educação das mulheres no Brasil
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Os primórdios da educação brasileira
A educação formal no Brasil começou por volta do ano de 1550 quando, após a
chegada dos portugueses, em 1500, chegaram os jesuítas, que permaneceriam por aqui por um
grande período de tempo e que dariam os primeiros passos para esta modalidade de educação.
Durante a colônia, a educação jesuíta foi a única forma da educação oferecida no
Brasil, tanto para os nativos que aqui viviam como para os portugueses que vieram para cá.
Segundo Paiva (2011), desde que os jesuítas chegaram ao Brasil, foram criadas escolas.
Nestas escolas, os jesuítas começaram o ensino da leitura e da escrita, contar e cantar e, além
do objetivo de conseguir maiores seguidores do catolicismo. A forma de escrita era uma
maneira de a população mostrar adesão plena à cultura portuguesa.
Essa época também foi marcada pelos conflitos entre portugueses e nativos, que viram
nos índios uma forma de mão-de-obra barata e que conheciam a terra. Estes conflitos se
estendiam até mesmo entre os próprios grupos de nativos, sendo incentivados pelos
portugueses para enfraquecer os povos. Mas essa realidade parecia não atingir os colégios,
que aparentavam viver em um mundo paralelo. Assim, dentro da sala de aula, tudo
funcionava perfeitamente, cada um realizando suas funções, como em uma sociedade sem
problemas (PAIVA, 2011).
Essa realidade no Brasil durou por 210 anos. Na segunda metade do século XVII, os
jesuítas foram expulsos pelo ministro Marquês de Pombal devido à grande autonomia política
e econômica que possuíam, e, para substituir os padres, Marques de Pombal criou as aulas
régias e, em 1760, o primeiro concurso para professores, porém os efeitos da mudança só
foram sentidos depois de algum tempo (PAIVA, 2011).
A etapa inicial de ensino dentro das mudanças feitas por Marques de Pombal, chamada
“estudos menores”, possuía aulas de escrita e leitura, canto e humanidades, e as aulas régias
eram ministradas na casa dos professores, depois de terem sido liberados pelos inspetores
(SCACHETTI, 2013). Com a morte de Dom José I, em 1777, dona Maria I assumiu o trono e
demitiu Marques de Pombal, que perdeu seus privilégios. Mesmo com a mudança de governo,
não houve mudanças no sistema de ensino, a menos o nome das aulas que passaram de aulas
régias para aulas públicas.
O reinado de Dona Maria I durou até o ano de 1792, quando seu filho Dom João VI
assumiu o trono. Em 1808 a família real veio para o Brasil e com ela houve a tentativa de
trazer tudo o que possuíam em Portugal. Como consequência, foi grande o desenvolvimento
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cultural no Brasil, que teve o Jardim Botânico do Rio de Janeiro e o Museu Real inaugurados,
além do surgimento da Imprensa Régia e de alguns jornais.
Em 1822, ano da Proclamação da Independência, iniciaram os primeiros indicativos de
interesse em mudar a imagem de um Brasil colônia dependente para um país que tinha voz e
vez. Dentre as mudanças esperadas e discutidas, o tema da educação e sua importância nesse
novo sistema era recorrente, pois o país se encontrava em estado de abandono educacional e
esse abandono era criticado nos debates do parlamento, nos jornais e até mesmo nos saraus
(LOURO, 1998).
A criação das Escolas de Primeiras Letras foi resultado da primeira lei educacional do
Brasil, de 15 de outubro de 1827, que, segundo seu artigo 1°, “em todas as cidades, vilas e
lugares mais populosos, haverão as escolas de primeiras letras que forem necessárias”. No
entanto, a realidade estava distante do cumprimento desta lei, pois, segundo Louro:
Até que ponto era imperativo saber ler e escrever ou conhecer as quatro operações?
Naquela sociedade escravocrata e predominantemente rural, em que latifundiários e
coronéis teciam as tramas políticas e silenciavam agregados, mulheres e crianças, os
arranjos sociais se faziam, na maior parte das vezes, por acordos tácitos, pelo
submetimento ou pela palavra empenhada. (LOURO, 1998, p. 444)
Apesar de serem negligenciadas, ainda era possível encontrar escolas, estas fundadas
por congregações ou ordens religiosas femininas e masculinas ou, até mesmo, escolas
mantidas por leigos e, em todos os casos, designavam professores para as classes de meninos
e professora para as de meninas (LOURO, 1998).
A contratação dos professores e professoras era rígida, devendo ser eles “pessoas de
moral inatacável; suas casas ambientes decentes e saudáveis, uma vez que as famílias lhes
confiavam seus filhos e filhas” (LOURO, 1998, p. 444). Porém, as tarefas atribuídas aos
mestres e mestras eram diferentes, já demonstrando uma diversidade na maneira de ensinar
meninos e meninas.
Ambos os gêneros aprendiam, além do cristianismo, a ler, escrever e contar. Os
meninos podiam aprender um pouco de geometria enquanto as meninas aprendiam bordado e
costura e, nas salas de aula, segundo Rosemberg (2012), não era recomendado a convivência
de meninas e meninos e de moças e rapazes em um mesmo espaço público escolar, nem pela
Igreja Católica, nem pelo ideário positivista da época.
Nessa situação, o Brasil caminhou para o século XX com grande parte da população
analfabeta, sendo em 1890, 89,6% das mulheres analfabetas e 80,8% homens analfabetos
(ROSEMBERG, 2012).
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A educação das meninas e meninos eram processos diferentes dentro daquela
sociedade. Além das distinções sociais, étnicas e religiosas, o gênero também determinava
qual forma de educação a criança teria. Isso será o que discutiremos a seguir, tendo como foco
a educação de mulheres.
O passado da educação das mulheres
No Brasil colônia, a primeira reivindicação para a instrução feminina partiu dos
indígenas brasileiros. Segundo Ribeiro (2011) os índios foram até Pe. Manoel de Nóbrega e
pediram que houvesse ensino para as mulheres também, para que elas aprendessem a ler e a
escrever e não viam motivos para a diferenciação na educação. A cultura indígena era muito
diferente da dos brancos com relação às mulheres. Segundo Ribeiro (2011):
O indígena considerava a mulher uma companheira (...). Não viam, como os brancos
os preveniam, o perigo que pudesse representar o fato de suas mulheres serem
alfabetizadas. Condená-las ao analfabetismo e à ignorância lhes parecia uma ideia
absurda. Isso porque o trabalho e o prazer do homem, como os da mulher indígena,
eram considerados equitativos e socialmente uteis (RIBEIRO, 2011, p. 80).
Respondendo aos pedidos, enviou uma carta à Rainha de Portugal, Dona Catarina,
alegando que se as índias mostravam tanto interesse no catecismo e eram tão frequentes.
Deste modo, por que não ensiná-las a ler e a escrever? Mas a sensibilidade do Padre não
comoveu a Rainha, que negou a iniciativa, afinal, “por que oferecer educação para mulheres
„selvagens‟, em uma colônia que só existia para o lucro português?” (RIBEIRO, 2011, p. 81).
Apesar de a metrópole ter negado o pedido das índias, algumas conseguiram burlar as
regras. Destaca-se, então, a primeira mulher brasileira que sabia ler e escrever, Catarina
Paraguaçu, também conhecida como Madalena Caramuru. Até 1627, somente duas mulheres
de São Paulo sabiam assinar o nome (RIBEIRO, 2011). Aprender a ler e escrever, então, eram
exclusividade masculina e os padres da Companhia de Jesus eram os responsáveis pelo
ensino.
Com o objetivo da perpetuação da cultura europeia e com a preocupação pelo aumento
de mestiços no país, no século XVI, os jesuítas e a metrópole começaram um processo de
imigração de mulheres portuguesas. Não havia, no entanto, distinção entre as mulheres,
podendo ser órfãs, prostitutas, ladras, o importante seria que, chegando ao Brasil,
começassem a se reproduzir com os portugueses. Dentro desse cenário, pode-se perceber que
não havia interesse na educação das mulheres que chegavam aqui, pois seu único destino era
o casamento para a reprodução e continuação da cultura portuguesa, sendo que o esperado era
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que “a mulher branca da época colonial deveria ser passiva, calada, regrada, submissa”
(RIBEIRO, 2011, p. 83).
O surgimento dos conventos no Brasil, na segunda metade do século XVII,
proporcionou para as mulheres a oportunidade de serem educadas, já que ainda não havia um
sistema de educação formal e, segundo Ribeiro (2011), era ensinada leitura e escrita
paralelamente ao ensino de trabalhos domésticos, do órgão e do cantochão - canto tradicional
do catolicismo.
O primeiro convento brasileiro foi fundado em 1678, na Bahia, e foi considerado um
dos mais luxuosos e, muito mais que a educação formal, os conventos mostravam a
importância que a população da colônia dava à questão da economia e do comércio:
[...] muitas mulheres eram internadas sem nenhuma vocação definida e com pouca
idade. Os pais que tivessem gerado muitas filhas trancafiavam a maioria nos
conventos, com receio de terem de dividir suas propriedades com os futuros genros.
Também era para os conventos que os maridos enviavam as esposas que os traíam,
ou as que eles queriam trair, quando não a assassinavam. (RIBEIRO, 2011, p. 88)
Como já dito anteriormente, os jesuítas foram expulsos do Brasil em 1759 pelo
ministro Marquês de Pombal, que também implantou a Reforma Pombalina da Educação em
Portugal e colônias. Apesar do caráter moderno da reforma, não foi pensado em nada
específico para a educação feminina, mantendo-se a mesma até por volta de 1808, quando a
família real chegou ao Brasil.
A partir da primeira metade do século XIX, além de separadas pelo gênero, a educação
das mulheres era também diferenciada por sua condição social, ou seja, as meninas nobres
tinham direitos a um pouco mais de informações que as meninas pobres. Para as meninas de
grupos privilegiados, além da escrita e leitura, também aprendiam noções básicas de
matemática, piano e francês, sendo as aulas ministradas, em sua maioria, em casa por
professoras particulares ou em escolas religiosas para meninas (LOURO, 1998).
Outros elementos que faziam parte da educação das meninas era aprender a costurar e
bordar, cozinhar e a cuidar das serviçais. Além disso, aprendiam também comportamentos
que, na falta de seu marido, seriam uma boa representante perante a sociedade (LOURO,
1998).
Apesar de terem outras lições, é visível que o principal objetivo na educação das
meninas era o cuidado da casa. Com isso, as meninas eram reprimidas em outras atividades
que não fossem relacionadas à casa e à Igreja:
O domínio da casa era claramente o seu destino e para esse domínio das moças
deveriam estar plenamente preparadas. Sua circulação pelos espaços públicos só
deveria se fazer em situações especiais, notadamente ligadas às atividades da Igreja
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que, com suas missas, novenas e procissões, representava uma das poucas formas de
lazer para essas jovens. (LOURO, 1998, p. 444)
Para a sociedade da época, não havia motivos para se dedicar a ensinar mais que isso
às mulheres, afinal, seu destino já estava escrito: casar, cuidar da casa e zelar por seu marido e
filhos, e essas tarefas exigiam, acima de tudo, uma moral impecável e uma pregadora dos
bons costumes. Dessa maneira, a educação das mulheres seria ajustada às suas necessidades:
educada para educar os outros. Nas mãos das mulheres estava o destino da sociedade, pois
eram elas as “formadoras dos futuros cidadãos. ” (LOURO, 1998, p. 447).
A justificativa para a educação das mulheres, baseada no fato de que seu destino era a
maternidade, estava exposta na primeira lei de instrução pública do Brasil, de 1827:
As mulheres carecem tanto mais de instrução, porquanto são elas que dão a primeira
educação aos seus filhos. São elas que fazem os homens bons e maus; são as origens
das grandes desordens, como dos grandes bens; os homens moldam a sua conduta
aos sentimentos delas. (Lei de Instrução Pública, 1927 apud LOURO, 1998, p.447)
Ao final do século XIX, era necessária a modernização da educação das mulheres para
acompanhar a modernização da sociedade. Com isso, as mulheres das camadas populares
começaram também a ser olhadas, pois, para o progresso tão esperado acontecer, seria
necessário que todas as pessoas se dedicassem a isso, e, as mulheres, sendo elas consideradas
criadoras do futuro, deveriam ser “diligentes, honestas, ordeiras, asseadas; a elas caberia
controlar seus homens e formar novos trabalhadores e trabalhadoras do país” (LOURO, 1998,
p.447).
Em 1890, com a Proclamação da República, José Veríssimo escreveu em sua obra
Educação Nacional, que os programas educacionais devem satisfazer o interesse do
educando, que depende da natureza a que se destina, e o interesse da coletividade, pelas
condições sociais que vivem. Pensando nisso, os programas de educação devem atender a
mulher, não só brasileira, que:
tem de ser mãe, esposa, amiga e companheira do homem, sua aliada na luta da vida,
criadora e primeira mestra de seus filhos, conselheira e confidente natural de seu
marido, guia de sua prole, dona e reguladora da economia de sua casa, com todos os
mais deveres correlativos a cada uma dessas funções (VERISSIMO, 1890 apud
LOURO, 1998, p. 448)
Comparando os processos de mudança na educação feminina, pode-se ver que, do
início do século até o ano de 1890, houve uma evolução quanto aos interesses em progredir.
Por mais que o foco naquele momento ainda fosse o cuidado com os filhos, marido e a casa,
havia uma intenção de melhorar a educação dessas mulheres, pois elas é que educariam os
homens do futuro, sendo o progresso completamente dependente dos ensinamentos que elas
dariam e, consequentemente, da educação que receberiam. Sendo assim, na virada do século,
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pensando na modernização da educação feminina, foram criadas novas disciplinas como
puericultura, psicologia e economia doméstica, todas ligadas ainda à função materna e
doméstica.
De modo geral, ainda em meados do século XIX, era muito grande o abandono
escolar, que era vinculado à falta de mestres e mestras com boa formação (LOURO, 1998).
Para melhorar a frequência das escolas e responder aos pedidos da população, foram criadas
em algumas cidades, para a formação docente, as primeiras escolas normais.
As escolas básicas foram criadas para formar professores e professoras, atendendo,
assim, ao aumento no número de professores qualificados solicitados pela população. Por
outro lado, o que se observou foi o fato de haver uma progressiva evasão dos homens e,
consequentemente, o crescimento do número de professoras. Segundo Louro (1998), essa
tendência não era exclusiva da província, tendo em várias regiões a mesma ocorrência e,
assim, começou o que a autora chama de “feminização do magistério”, também observada em
outros países.
Com a maioria das mulheres na docência, a população não estava satisfeita já que, sem
uma educação adequada no passado, julgavam a inteligência da mulher inferior. Havia
também os que defendiam a docência feminina, afirmando que as mulheres tinham por
natureza a habilidade de cuidar de crianças, já que elas eram destinadas a isso. Então, o
magistério significaria a “extensão da maternidade” e, segundo Louro (1998):
O argumento parecia perfeito: a docência não subvertia a função feminina
fundamental, ao contrário, poderia ampliá-la ou sublimá-la. Para tanto seria
importante que o magistério fosse também representado como uma atividade de
amor, de entrega e doação. A ele ocorreriam aquelas que tivessem “vocação”.
(LOURO, 1998, p. 450)
Apesar desse argumento afastar ainda mais os homens da sala de aula, aparecia, pela
primeira vez, a oportunidade de as mulheres estudarem um pouco mais e terem uma profissão.
A docência torna-se então vista como uma profissão feminina, mas direcionada somente para
lecionar para crianças. O conteúdo continuava limitado em ler, escrever e contar, nada muito
aprofundado, e o ciclo continuava então: as meninas, se desejassem, poderiam fazer
magistério e lecionar, e os meninos poderiam aprofundar seus conhecimentos em outras áreas.
Apesar dos avanços, a educação e profissionalização das mulheres se limitavam às
disciplinas do magistério, sem muitos progressos em outras áreas como as científicas. Louro
(1998) cita um trecho de uma crônica de Barreto (1918) na qual diz:
Se as moças residentes no Município do Rio de Janeiro mostram de tal forma
vontade de aprender, de completar o seu curso primário com um secundário e
profissional, o governo só deve e tem que fazer uma coisa: aumentar o número de
escolas de quantas houver necessidade. (p. 452)
22
Os relatos mostram que talvez houvesse demanda de mulheres que desejassem seguir
com os estudos, mas o estado não incentivava, não se preocupando com a criação de cursos
ou mais turmas.
Até aquele momento, qualquer atividade fora de sua casa representava um risco para a
função social da mulher. Dessa maneira, algumas outras profissões também foram
feminizadas, como, por exemplo, a enfermagem (LOURO, 1998), sendo atribuída a essas
carreiras características como cuidado, sensibilidade, amor, sacrifício, dentre outras.
Em seu texto, Rosemberg (2012) cita algumas prescrições da Lei Orgânica do Ensino
Secundário, de 9 de abril de 1942:
1. É recomendável que a educação secundária das mulheres se faça em
estabelecimentos de ensino secundário de exclusiva frequência feminina.
2. Nos estabelecimentos de ensino secundário frequentados por homens e
mulheres, será a educação destas ministradas em classes exclusivamente
femininas. Este preceito só deixará de vigorar por motivo relevante, dada
especial autorização do Ministério da Educação.
3. Incluir-se-á nas 3ª e 4ª séries do curso ginasial e em todas as séries dos cursos
clássico e científico a disciplina de Economia Doméstica
4. A orientação metodológica dos programas terá em mira a natureza da
personalidade feminina e bem assim a missão da mulher dentro do lar (p. 337).
É possível notar uma maior preocupação em zelar pela moral da mulher e por ensinar
cuidados domésticos do que por aquilo que ela estudaria e a qualidade disso, evidenciando
que a defasagem para elas fosse ainda maior e durasse mais tempo para ser corrigida.
A imagem de que a mulher é frágil e incapaz, construída pela igreja e até pela
medicina, também tem influências para a profissão. Louro (1998, p. 454) escreve que: “a
professora terá de ser produzida, então, em meio a aparentes paradoxos, já que ela deve ser,
ao mesmo tempo, dirigida e dirigente, profissional e mãe espiritual, disciplinada e
disciplinadora. ” A cobrança feminina ia além da qualidade profissional, sendo essa a ultima
preocupação da sociedade. Em primeiro lugar, a mulher deveria saber cuidar de sua casa,
frequentar a igreja e ter uma boa reputação entre as pessoas.
Seguindo na história, a igualdade no ensino nos cursos secundários para meninos e
meninas só ocorreu em 1971, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), passando
então o curso secundário a ser não só profissionalizante, mas também um passo para ingresso
no ensino superior.
Durante este percurso, houve inúmeras barreiras para essa igualdade, como a
separação das turmas por gênero, a limitação de conteúdos para as mulheres, pois se
acreditava que elas eram incapazes e, devido ao seu destino materno, havia o impedimento de
continuarem os estudos em cursos secundários e superiores (ROSEMBERG, 2012). Tudo isso
23
se refletia nas opções que as moças faziam e na vida que levavam: a continuação nos estudos
não era incentivada e a única saída era se tornar professora para se tornar minimamente
independente.
Observando as mudanças que ocorreram na educação, percebe-se que pouco mudou na
educação das mulheres durante as mudanças que nosso país enfrentou, desde a colônia até a
Primeira República.
A efígie feminina da República – inspirada na Liberdade guiando o povo, de
Delacroix – serviu mais a cunhar moedas que a guiar a nação para promover a
educação das mulheres: nos 122 anos de vida republicana e nos 74 anos do
Ministério da Educação, tivemos apenas uma ministra da educação, Esther de
Figueiredo Ferraz (1915-2008), no governo de João Batista Figueiredo, entre agosto
de 1982 e março de 1985, isto é, durante a ditadura militar (ROSEMBERG, 2012, p.
338).
Isso mostra não só a falta da presença de mulheres estudando, mas também, e, talvez
por consequência, a falta delas em cargos importantes que seriam de extrema ajuda ao se
pensar em políticas educacionais femininas.
Com a maioria das mulheres sendo estudantes da área de ciências humanas, isso
formou uma boa base para estudos e pesquisas sobre a mulher e sobre o feminismo que
nascia. Assim, iniciou-se a partir da década de 1970 uma maior preocupação em melhorar a
qualidade de vida, direitos e oportunidades das mulheres. Segundo Rosemberg (2012), o tema
“mulher” se tornou interessante nos debates e na política quando eventos isolados coincidiram
com a data, ano de 1975, em que a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou o Ano
Internacional da Mulher, onde as mulheres professoras universitárias e pesquisadoras,
militantes da esquerda e feministas, chamadas mulheres educadas, colocaram em suas pautas
de discussões a “educação não sexista”. Nesse momento, a educação da mulher ganha o maior
destaque para discussões e mudanças, deixando para trás, pela primeira vez, questões que
sempre estiveram em pauta como trabalho feminino e maternidade.
Na década de 1980 foi institucionalizado, em sua vertente militante e acadêmica, o
movimento feminista (ROSEMBERG, 2012) e, a partir de então, começaram a aparecer
exigências nos tratamentos das mulheres na sala de aula. Segundo o documento redigido em
1978, na Comissão Parlamentar Mista sobre a Condição da Mulher (CPI da Mulher) para a
criação de órgãos representativos femininos do Estado, algumas exigências são feitas:
Estabelecimento de igualdade de oportunidades para ambos os sexos quanto a
programas e currículos escolares; (...)
Reavaliação dos livros didáticos, afim de que, se necessário, sejam reescritos
para que reflitam uma imagem não estereotipada do papel da mulher na
sociedade;
Revisão dos cursos de formação e treinamento de professores para promover
mudanças em atitudes preconceituosas;
24
Intensificação de programas de orientação educacional visando encaminhar
ambos os sexos para novas ocupações e novos papeis dentro da família e da
sociedade; (...) (CPI da mulher, 1987 apud ROSEMBERG, 2012, p. 344).
Com as exigências do documento pode-se ver uma abertura de novos horizontes para
as mulheres, deixando talvez de se limitar somente às áreas humanas, podendo aparecer
oportunidades de outras áreas. Mas, segundo Rosemberg (2012), a criação desse órgão do
Estado foi adiada até 1982, quando oposições ao regime militar foram vitoriosas e ocorreu o
fim do bipartidarismo, sendo criado, assim, em 1983, o Conselho Estadual da Condição
Feminina que
propôs formular uma política global para a mulher no âmbito do estado de São Paulo
visando ao “estabelecimento da igualdade social entre os sexos”, previa também a
promoção de estudos, debates e pesquisas sobre a condição da mulher, aí incluindo a
luta contra a educação diferenciada. “Não aos estereótipos sexuais na educação” foi
lema, palavra de ordem e tema de livros, artigos, palestras, cursos, pesquisas a partir
de então (ROSEMBERG, 2012, p. 344).
A partir de então, os ideais foram espalhando-se, até que em outros estados também
houve a criação de órgãos que compartilhavam as mesmas ideias, tornando assim, pelo menos
na teoria, uma maior abertura para as vontades femininas com relação à educação e trabalho.
Pensando em análises mais recentes, pode-se ver um aumento no número de mulheres
interessadas em carreiras consideradas masculinas e homens em carreiras consideradas
femininas e, como consequência disso, podemos encontrar hoje homens na área da Educação
(considerada carreira feminina) e mulheres na Engenharia (considerada masculina)
(ROSEMBERG, 2012). Isso é reflexo das várias lutas femininas, que desde sempre entendiam
a importância da diversidade do ensino para os gêneros e a tendência hoje é só o aumento
desses casos, onde a mulher ocupará cada vez mais espaços.
Ainda existem muitas mudanças a serem feitas, rompendo outras barreiras que estão
sendo carregadas pela história das mulheres, desde a não necessidade do estudo até as lutas
para a formalização de um ensino sem diferenciações de gênero. Sobre a “profissão de
mulher”, Perrot (1998, tradução RIBEIRO, 1998) nos diz que
Enraizada no simbólico, no mental, na linguagem, o „ideal‟ (Maurice Godelier), a
noção de „profissão de mulher‟ é uma construção social ligada à relação entre os
sexos. Ela mostra as armadilhas da diferença, inocentada pela natureza, e erigida em
princípio organizador, em uma relação desigual. (p. 258)
Portanto, a desconstrução do trabalho masculino/feminino ainda está recente em nossa
cultura e espera-se que com o tempo esses estereótipos de ser feito para homem ou para
mulher diminua.
25
O capítulo a seguir abordará a história do feminismo e as transformações que o mesmo
causou na área científica, além do impacto da ciência na vida das mulheres e seu percurso
nessa área.
26
CAPÍTULO II
Mulheres e Ciências
27
O feminismo e as ciências
Do que vimos até agora, pode-se perceber que as maiores preocupações da sociedade
para com as mulheres eram, basicamente, que fossem dignas de conduzir um casamento e
cuidar dos filhos, por isso sua instrução era toda voltada para o saber cozinhar, cuidar das
tarefas domésticas, corte e costura e poucas regras básicas de convivência. O pouco de leitura
era apenas para acompanhar os folhetos da igreja, que era também o único passeio permitido
sem a companhia do marido, no caso de ser casada, ou de sua mãe, quando ainda solteira.
Sem opções de avançar nos estudos, parando no máximo no magistério, havendo
poucas exceções, as mulheres viviam uma vida de dependência e subordinação, limitada ao
pouco conhecimento que lhes era permitido e tendo sua capacidade julgada o tempo todo,
especialmente quando os assuntos tratados eram, por exemplo, matemática ou física, ciências
consideradas mais abstratas (MOREIRA et al., 2010)
No entanto, a partir da Revolução Francesa, os ideais ao redor do mundo começaram a
mudar. Nesse sentido, nas últimas décadas do século XIX, surge o chamado feminismo de
primeira onda, quando as mulheres se uniram para lutar pelos seus direitos, sendo que o que
mais as mobilizou foi a reivindicação pelo direito ao voto. O movimento começou na
Inglaterra e chegou ao Brasil, também popular, pela luta pelo voto.
Comum no Brasil ainda nesta primeira onda do feminismo, o movimento das operárias
de ideologias anarquistas, reunidas na “União das Costureiras, Chapeleiras e Classes Anexas”
(PINTO, 2010), reivindicavam, em manifesto de 1917: “Se refletirdes um momento vereis
quão dolorida é a situação da mulher nas fábricas, nas oficinas, constantemente,
amesquinhadas por seres repelentes” (PINTO, 2003, p. 35 apud PINTO, 2010).
Essa onda inicial do feminismo durou até por volta de 1930, e só ganhou forças
novamente na década de 1960, quando, nos Estados Unidos e na Europa, voltou com poder e
cheio de novas reivindicações. As mulheres começaram, então, a falar diretamente sobre as
relações desiguais de poder com relação à classe masculina e assim
O feminismo aparece como um movimento libertário, que não quer só espaço para a
mulher – no trabalho, na vida pública, na educação -, mas que na luta, sim, por uma
nova forma de relacionamento entre homens e mulheres, em que esta última tenha
liberdade e autonomia para decidir sua vida e seu corpo. Aponta, e isto é o que há de
mais original no movimento, que existe uma outra forma de dominação – além da
clássica dominação de classe -, a dominação do homem sobre a mulher – e que uma
não pode ser representada pela outra, já que cada uma tem suas características
próprias. (PINTO, 2010, p.16)
28
A forma mais popular do feminismo nos Estados Unidos foi o chamado feminismo
liberal, que foi um grande passo nas lutas das mulheres, levando a algumas conquistas, porém
ainda havia algumas incoerências dentro do movimento que tendia a
[...] ignorar diferenças de gênero, ou a negá-las completamente. [...] As feministas
liberais tendem a ver uniformidade e assimilação como os únicos terrenos para
igualdade, e isto frequentemente requer que as mulheres sejam como os homens -
culturalmente ou mesmo biologicamente [...]. (SCHIEBINGER, 1999, p. 23)
Com relação à ciência, o feminismo liberal, segundo Schiebinger (1999), também
conhecido por “feminismo científico”, “empirismo feminista”, ou “feminismo de igualdade”
(p. 24), entendia que as mulheres cientistas teriam de se adaptar ao meio em que estariam
inseridas e não o contrário, como se nada precisasse ser adaptado no meio científico para
recebê-las.
No Brasil, porém, a situação era um pouco diferente. Em 1964 ocorreu o golpe militar
e em 1968 a pior fase do regime com o Ato Institucional n. 5 (AI-5). Nesse contexto, todos os
movimentos, fossem eles de qualquer espécie, eram reprimidos, não sendo exceção o
movimento feminista, que teve suas primeiras manifestações, desse segundo momento no
Brasil, por volta de 1970. Segundo Pinto (2010), “o regime militar via com grande
desconfiança quaisquer manifestações de feministas, por entendê-las como política e
moralmente perigosas” (PINTO, 2010, p.17).
A partir da primeira década de 1980 surgiu o “feminismo de diferença”, assim
conhecido, que abrangia três princípios básicos:
Primeiramente, o feminismo de diferença divergia do liberalismo ao enfatizar a
diferença, não a uniformidade, entre homens e mulheres. (...) também tendia a
reavaliar qualidades que nossa sociedade desvalorizava como "femininas", tais como
subjetividade, cooperação, sentimento e empatia. E a nova corrente de feminismo
argumentava que, para as mulheres se tornarem iguais na ciência, eram necessárias
mudanças, não apenas nas mulheres, mas também nas aulas de ciência, nos
currículos, laboratórios, teorias, prioridades e programas de pesquisa.
(SCHIEBINGER, 1999, p. 24)
Dessa forma, a ciência começou a receber mudanças para e pelas mulheres. A
escritora alemã Elise Oelsner, citada por Schiebinger (1999), diz que “a "natureza superior
das mulheres" poderia reformar a ciência, desviando o conhecimento da busca de poder para
maior igualdade, liberdade e fraternidade para toda a espécie humana” (p. 24). Assim, o
feminismo de diferença desconstruiu estereótipos da mulher sem aptidão científica e sem
capacidade de produzir ciências, deixando claro que o conhecimento feminino pode ser usado
em diversas áreas.
29
Apesar de o feminismo de diferença ter trazido grandes acréscimos nas conquistas das
mulheres, ele também possui pontos que devem ser pensados, como, por exemplo, o fato de
que, pelos seus princípios, toda mulher tem acesso às ciências e as mesmas oportunidades de
se envolver com elas. Existem diferentes tipos de mulheres, vindas de diferentes meios, não
sendo possível generalizar uma ação para todas. Outro ponto é que o principal estereótipo de
homem e mulher não é desconstruído, pois o feminismo de diferença tende a “romantizar
aqueles valores tradicionalmente considerados femininos” (SCHIEBINGER, 1999, p. 26), ou
seja, a feminilidade, que é o mais apontado nos estereótipos.
Em 1980, após processos de redemocratização no Brasil, o movimento feminista
voltou a protagonizar mobilizações pelas mulheres com a aparição de grupos e coletivos em
todo o país que discutiam e tratavam diversos temas de interesse femininos como violência,
sexualidade, opções sexuais, direito ao trabalho, direito ao estudo, entre outras (PINTO,
2010).
Nesse momento, a mulher brasileira começou a se dar conta de todos os direitos que
ficaram para trás e abriu os olhos para a luta, para conquistar aquilo que já é seu por direito.
Pelas lutas, conseguiu-se a criação do Conselho Nacional da Condição da Mulher, em 1984,
que promoveu campanhas para a inclusão na nova constituição os direitos da mulher. Por
consequência, a constituição de 1988 é uma das constituições que mais garante os direitos das
mulheres no mundo.
Concluindo, não há um padrão feminino para a realização de atividades, sejam elas no
campo científico ou não. Segundo Schiebinger (1999),
É tempo de afastar-se de concepções de ciência feminista como empática, não-
dominadora, ambientalista, ou "favorável às pessoas". É tempo de voltar-se, ao invés
disso, para instrumentos de análise pelos quais a pesquisa científica possa ser
desenvolvida, bem como criticada em linhas feministas. Eu não proponho esses
instrumentos para criar alguma ciência "feminista" especial, esotérica, mas sim para
incorporar uma consciência crítica de gênero na formação básica de jovens cientistas
e no mundo rotineiro da ciência. (SCHIEBINGER, 1999, p. 31)
As mulheres e a ciência
Atualmente, pode-se observar um maior número de mulheres matriculadas em cursos
superiores (VELHO e LEÓN, 1997), mas segundo pesquisa realizada por Cunha et al (2014),
a maioria dos estudantes do Ensino Médio no Brasil não se interessam pela área científica, e
aqueles que tem interesse são meninos. Porém, segundo Schiebinger (1999)
As pessoas tendem a pensar que as mulheres tornaram- se cientistas apenas no
século XX. Embora hoje em dia seja difícil para qualquer um, sem acesso à
30
educação universitária ou a laboratórios industriais, trabalhar em ciência, este não
era o caso nos séculos XVII e XVIII. Nesse período, poucos homens ou mulheres
eram cientistas assalariados em tempo integral. (p. 60)
Porém, hoje, mesmo após todas as mudanças sociais citadas anteriormente, ainda
parece haver um distanciamento das meninas por certas áreas, especialmente as científicas.
Houve momentos na história em que a o conhecimento científico da mulher foi posto à prova,
com o argumento que os homens já nascem com mais facilidades na área das exatas.
A psicóloga Leda Cosmides, citada por Nogueira (2005), afirma que gene não é a
explicação para a falta de mulheres na ciência e, sim, o processo histórico pelo qual as
mulheres passaram, desenvolvendo outros tipos de interesse, mas ao optarem por qualquer
segmento profissional “não há fator inato que possa prejudicá-las” (MOREIRA et al, 2010, p.
7). Segundo Velho e León (1997),
(...) o pequeno envolvimento das mulheres na Física e nas Engenharias (...) não se dá
por escolha consciente delas, mas pelo fato de que as portas de entrada para as
carreiras lhes foram fechadas, segundo alguns autores, em torno da sétima série
escolar, quando as meninas começam a apresentar menor habilidade para a
matemática que os meninos. (VELHO e LEÓN, 1997, p. 312)
Nesse sentido, os meninos se destacam mais, deixando as meninas à suas sombras,
além disso, o incentivo por parte dos professores e pais também mudam, mostrando maior
apoio aos meninos no desenvolvimento matemático que passa “a ser visto como “coisa de
meninos”, conflitante com a identidade sexual das meninas, “mais difícil” e “menos útil” para
elas” (VELHO e LEÓN, 1997, p. 313).
Em se tratando de produção científica, os homens também passam à frente,
apresentando rendimento melhor do que as mulheres, mas isso é comum apenas no começo da
carreira científica da mulher, que depois de algum tempo mostra mais “vigor profissional”
que os homens, ou seja, não se pode concluir que há uma “supremacia masculina” quando
falamos de produção científica (OLINTO, 2010, p. 70).
No século XVIII, como parte da reestruturação social que estava acontecendo na
Europa, iniciou-se um processo de reavaliar as funções de cada gênero em seus papeis,
incluindo então a produção científica (SCHIEBINGER, 1999). Assim, encontrar de fato
mulheres que produziram coisas importantes para a área para desmistificar que a mulher não
pode, seja fisicamente ou intelectualmente, produzir ciências e incentivar a participação de
jovens na área, passou a ser o objetivo da época. Nesse sentido, os enciclopedistas que
“reuniam nomes de mulheres renomadas no sentido de provar que as mulheres eram capazes
de grandes realizações e deveriam ser admitidas nas instituições científicas”
(SCHIEBINGER, 1999, p. 55) foram de extrema ajuda para esse incentivo.
31
A abordagem enciclopédica caiu de uso no século XIX, pois mesmo se tendo
registrado conquistas femininas, ainda havia pessoas que desacreditavam. Como, por
exemplo, Charles Darwin, citado por Schiebinger (1999), disse que
Se duas listas fossem feitas dos mais eminentes homens e mulheres em poesia,
pintura, escultura, música - incluindo composição e execução - história, ciência e
filosofia, com meia-dúzia de nomes sob cada assunto, as duas listas não teriam
comparação. (SCHIEBINGER, 1999, p. 57)
As palavras de Darwin refletem o quão a defasada educação feminina se refletia nos
pensamentos da época. Realmente, as produções femininas ou masculinas não teriam
comparações, pois as mulheres não receberam instrução como os homens para tais
realizações.
As primeiras oportunidades de aparições de mulheres na ciência foram nas
universidades, com seu surgimento, mas não durou por muito tempo, além de ter sido mais
comum somente na Itália. A partir daí, a oportunidade de produzir ciência para as mulheres
estava relacionada àquelas de classe alta ou casadas com homens com maior prestígio.
Segundo Schiebinger (1999, p.65), “mulheres bem nascidas frequentemente trocavam
prestígio social por acesso a conhecimento científico” ou senão, vivam às sombras de outros
homens, sendo esses seus maridos ou parentes.
A profissionalização das ciências fez com que ou as mulheres seguissem a carreira
através da conclusão de cursos nas universidades, o que não era eficaz, pois não eram aceitas,
ou que trabalhassem com seus maridos e familiares, correndo o risco de nunca terem seus
trabalhos reconhecidos pela sociedade. A segunda opção era a mais comum.
Sendo assim, é inegável que as mulheres enfrentaram e ainda enfrentam dificuldades,
não só nas carreiras científicas. Para explica-las, Margareth Rossiter, no início da década de
1980, usou pela primeira vez de dois mecanismos: a segregação horizontal e a segregação
vertical.
A segregação horizontal faz com que as meninas sigam caminhos totalmente opostos
aos que os meninos optam seguir, ou seja,
(...) as meninas tendem a se avaliar como mais aptas para o exercício de
determinadas atividades e a estabelecer para si mesmas estratégias de vida mais
compatíveis com o que consideram ou são levados a considerar como mais
adequados para elas. A segregação horizontal inclui mecanismos que fazem com que
as escolhas de carreiras sejam marcadamente segmentadas por gênero. (OLINTO,
2011, p. 69)
Já a segregação vertical, considerada mais sutil, “tende a fazer com que as mulheres se
mantenham em posições mais subordinadas ou, em outras palavras, que não progridam nas
suas escolhas profissionais” (OLINTO, 2011, p. 69), colocando-se sempre abaixo de cargos
32
masculinos, o que a autora denomina “teto de vidro” (p. 69), uma barreira invisível que
impede com que as mulheres cresçam em suas carreiras.
A segregação horizontal aparece desde muito cedo, do momento em que as meninas
deixam de escolher carreiras consideradas masculinas, mesmo tendo melhor desempenho,
para se dedicarem a carreiras dentro de sua zona de conforto, até o momento em que,
profissionalmente, quanto mais alto o cargo e quanto mais prestígio ele demanda, menos
rostos femininos são vistos Schiebinger (1999). Já a segregação vertical, ou “teto de vidro”,
aparece assim que as mulheres iniciam suas vidas profissionais. A evolução profissional
masculina se dá com maior rapidez que a feminina e, segundo Olinto (2011), como se
existisse uma barreira invisível que impedisse o maior sucesso feminino e a carreira da
mulher só decola quando a do homem, de sua mesma idade, já está estável.
Pensando dessa forma encontram-se justificativas para a falta de conhecimento ou
reconhecimento de mulheres cientistas. Por exemplo, Emmy Noether (1882-1935), uma das
ajudantes de Einstein na elaboração da Teoria da Relatividade, fez estudos durante 15 anos e
não obteve reconhecimento, decidiu lecionar matemática nos Estados Unidos quando a
Institute For Advanced Studies de Princeton, a mesma que abriu as portas para Einstein, não a
recebeu. Outro exemplo que pode ser citado é Marie Curie, primeira mulher a receber o
prêmio Nobel em 1903, mas só foi reconhecida individualmente após o falecimento de seu
marido.
O que se pode aprender com a história das mulheres na ciência é que as universidades
tiveram papéis positivos e negativos ao longo dos séculos, sendo que, em alguns deles, deram
suporte à mulher e, em outros, simplesmente a abandonaram. Além disso, foi e ainda é
questionado sobre a conciliação do sucesso profissional feminino com, se desejado por ela,
cuidar da casa e de seus filhos, atribuindo a mulher, mesmo que de forma não expressa, a total
responsabilidade sobre isso, deixando o homem sem responsabilidades.
Ou seja, a cobrança para a conciliação do sucesso profissional e pessoal, para o
julgamento dos outros, é impossível e por isso as produções femininas não são tão boas
quanto as masculinas. Sem contar com o fato de atribuir muitas vezes o sucesso científico
feminino ao marido, o que prova que a sociedade acredita que a mulher não é capaz de
produzir nada de muita significância sozinha. Por fim, ainda existe a negação do sucesso
feminino, alegando-se que o que foi produzido por mulheres não tem o mesmo valor, segundo
de Pizan (1405) citada por Schiebinger (1999),
Eu imagino que se pode citar numerosos e frequentes casos de mulheres instruídas
nas ciências e nas artes. Mas eu então perguntaria se se tem conhecimento de
quaisquer mulheres que, por meio de força de emoção e sutileza de mente e
33
compreensão, descobriram elas próprias quaisquer novas artes e ciências que são
necessárias, boas e proveitosas, e que até então não haviam sido descobertas ou
conhecidas. Pois não é grande feito de maestria estudar e aprender algum campo de
conhecimento já descoberto por alguém mais como o é descobrir, por si mesmo,
alguma coisa nova e desconhecida. SCHIEBINGER, 1999, 54)
E, com esses pensamentos, cria-se a ilusão de que tudo vai acertar sozinho, pois na
história das mulheres quase sempre foi assim (SCHIEBINGER, 1999). Mas, pelo estudo
percebe-se a que a situação das mulheres ao longo da história foi marcada por mudanças
contextualizadas com momentos sociais e, mais recentemente, por lutas.
34
CAPÍTULO III
A pesquisa: O interesse das meninas pela área de ciência como perspectiva na Educação Superior
35
Procedimento metodológico
Após o estudo bibliográfico anterior, seguiu-se a coleta de dados a fim de pesquisar o
interesse das meninas pela área de ciências em relação ao interesse dos meninos pela mesma
área, em escolas da cidade de Itajubá-MG. Nesta pesquisa, entende-se por Ciência as áreas
das ciências exatas e da terra, além das engenharias.
Os locais determinados para a coleta de dados foram escolas públicas da cidade de
Itajubá-MG. A escolha pela cidade de Itajubá-MG é justificada pelo fato desta cidade ser a
localidade onde a pesquisadora, formanda em licenciatura em Matemática, reside atualmente
e, as escolas públicas foram escolhidas, pois é onde a pesquisadora pretende atuar
profissionalmente.
A proximidade do centro da cidade também se constituiu como critério para a seleção
das escolas onde o questionário seria aplicado. Sendo assim, foram selecionadas escolas que
possuíssem até 2,5 quilômetros (km) de distância do centro da cidade de Itajubá-MG segundo
o Google Maps1. Deste modo, quatro instituições foram selecionadas e apresentadas a seguir
juntamente com a distância do centro da cidade: Escola 1 (0,6 km), Escola (1,2 km), Escola 3
(2,0 km) e Escola 4 (2,5 km).
A coleta de dados foi feita através da adaptação e aplicação de um questionário (DA
CUNHA et al, 2014) contendo dez perguntas, sendo sete questões de múltipla escolha e três
discursivas. As perguntas foram fundamentadas nos referenciais teóricos estudados e
apresentados nos capítulos anteriores e nas dúvidas e questionamentos expostos pela autora na
introdução deste trabalho. As questões de múltipla escolha foram priorizadas na análise dos
dados, enquanto as questões discursivas auxiliaram na compreensão dos resultados.
Antes da efetiva aplicação, um questionário piloto foi apresentado a um grupo de
quatro alunos de uma das turmas de 3º ano da Escola 2, para um aprimoramento das perguntas
se necessário, e para medir o tempo gasto para ser respondido. Os alunos que responderam ao
questionário piloto gastaram aproximadamente de 12 a 15 minutos, tempo considerado
adequado, visto que os questionários seriam aplicados durante o horário letivo. Após a
explanação da pesquisadora, os alunos referiram não ter dúvidas com relação às perguntas. Os
alunos foram questionados sobre a linguagem apresentada e sobre se houve dificuldade nas
respostas. Um dos entrevistados, após finalizado o processo, perguntou quais seriam as
disciplinas consideradas da área de ciências. A pesquisadora respondeu novamente que a área
de ciências era uma área muito abrangente, contendo desde profissionais da saúde até
1 O Google Maps é o serviço de satélites do Google para localização e para encontrar percursos e distâncias.
36
profissionais que estudam as dinâmicas sociais, mas que esta pesquisa, em especial, tratava
das ciências exatas, que envolviam também as ciências puras, Matemática, Física, Química, e
as engenharias em geral.
Sem mais dúvidas e sem alterações no piloto, os questionários puderam então ser
aplicados nas salas regulares de 3º ano das escolas selecionadas.
Na aplicação dos questionários, a escolha da sala de aula de 3º ano independia da
autora. A mesma solicitava à direção ou vice direção da escola que a encaminhasse em uma
turma de 3º ano que estivesse disponível para ajudá-la.
Já em sala de aula a pesquisadora fazia uma breve apresentação, que constava de seu
nome, curso que estava graduando e terminando nesse ano de 2017, além de explicação sobre
sua presença na sala, sobre os objetivos de seu Trabalho Final de Graduação (TFG) e sobre
sua pesquisa de maneira geral. Não houve perguntas durante as aplicações.
No decorrer do procedimento de coleta de dados, nas Escolas 2, 3 e 4 todos os
acontecimentos ocorreram dentro do previsto, sem atrasos ou interferências da gestão da
escola ou dos professores que estavam nas salas de aula.
Por outro lado, na Escola 1 o diretor não recebeu a autora e esta, por meio da
secretária, foi avisada de que não poderia entrar na escola. A secretária informou ainda que, se
fosse possível, os questionários poderiam ser deixados para que o próprio diretor aplicasse na
única turma de 3º ano da escola. A autora também foi informada que neste mesmo dia, após o
intervalo, que aconteceria das 9h30 às 10h50, já poderia buscar os questionários respondidos.
Porém, após vários imprevistos justificados pelo diretor, os questionários ficaram prontos dois
dias depois, estando apenas 15 completos. Frente a este acontecimento, os questionários
incompletos foram descartados da análise e, para esta escola foram analisados somente os 15
questionários completos.
Portanto, para a análise dos dados, foram utilizados 15 questionários da Escola 1, 31
questionários da Escola 2, 36 questionários da Escola 3 e 24 da Escola 4, totalizando 106
questionários.
Após a descrição do procedimento metodológico, será agora apresentado o estudo dos
dados coletados.
37
Análise dos dados
De modo geral, mais participantes do gênero feminino participaram da pesquisa,
mostrando, em um primeiro momento, que as salas são ocupadas em sua maioria por meninas.
A quantidade de alunos participantes está descrita na tabela 1.
Tabela 1- Número de entrevistados
Escola Gênero
feminino
Gênero
masculino Total
Escola 1 18 13 31
Escola 2 3 12 15
Escola 3 26 10 36
Escola 4 16 8 24
Total 63 43 106
Fonte: elaborado pela autora
A análise dos dados será feita por comparação das porcentagens de meninas em
relação a meninos, de maneira que 63 representa do total de meninas e 43 o total de meninos.
Nas perguntas, as alternativas que possuírem número relevante de respostas serão analisadas
uma a uma.
A primeira questão refere-se aos assuntos de maior preferência dos alunos
participantes. Esta questão evidenciou que os meninos se mostraram mais interessados
primeiramente por esportes e em seguida por ciências. Moda é o assunto que os meninos
mostram menos interesse. Já as meninas têm maior preferência por medicina e saúde, seguido
de ciências, desinteressando-se, em sua maioria, por esportes.
Tabela 2- Áreas de interesse
Assunto Porcentagem (%)
Feminino Masculino
Medicina e Saúde 52,38 35,56
Ciência 50,79 48,84
Esporte 9,52 67,44
Moda 38,09 9,30
Fonte: elaborado pela autora
38
Apesar da opção mais escolhida pelas meninas ser medicina e saúde e pelos meninos
esporte, ambos os gêneros marcaram, como segunda opção de preferência, a Ciência. Isso
mostra que a curiosidade sobre o assunto, percentualmente entre ambos os gêneros é muito
próxima. Ou seja, ser do sexo feminino ou masculino parece não afetar o interesse por
Ciência. Os gráficos 1 e 2 trazem, em valores arredondados, as respostas mais detalhadas
sobre essa questão, reafirmando que o valor de interesse ou desinteresse são bem próximos.
Gráfico 1: Interesse das meninas em Ciência
Fonte: elaborado pela autora
Gráfico 2: Interesse dos meninos em Ciência
Fonte: elaborado pela autora
Ao responderem que possuem pouco ou nenhum interesse em Ciência, era necessário
que se respondesse a pergunta seguinte que os questionava sobre motivo de tal resposta. Para
ambos os gêneros, a justificativa é que nunca pensaram sobre isso, com percentual de 46,88%
das meninas e 31,82% dos meninos.
51% 40%
9%
Muito Interesse Pouco Interesse Nenhum Interesse
49%
39%
12%
Muito interesse Pouco interesse Nenhum interesse
39
Para testar a credibilidade dos cientistas, a pergunta de número 3 teve por objetivo
saber qual profissional os entrevistados confiavam mais quando procuravam informações.
Essa questão era a única de todo o questionário em que os alunos poderiam marcar mais de
uma opção. A tabela 3 mostra quais são os profissionais que mais passam credibilidade ao se
informar.
Tabela 3: Melhores fontes de informação
Profissional Porcentagem (%)
Feminino Masculino
Jornalistas 33,33 30,23
Cientistas 41,27 44,19
Professores 55,55 34,88
Fonte: elaborado pela autora
Analisando os dados, observa-se que as meninas, em sua maioria, confiam mais nos
professores como fonte de informações e os meninos demonstram mais confiança nos
cientistas, porém ambos mostram grande admiração por jornalistas que tiveram
aproximadamente 33% da confiança das meninas e 30% dos meninos.
Os profissionais menos escolhidos como fonte de informação, em aproximação, foram
representantes de organização de defesa do consumidor com 3% das meninas e 2% dos
meninos, e os políticos com 2% das meninas e 5% dos meninos. A não escolha dos
representantes de direito do consumidor seja, talvez, pelo desconhecimento do que fazem. A
não opção dos políticos reflete a situação atual da política brasileira, com denúncias diárias de
corrupção e desonestidade, influenciando na não confiança de tal profissão.
Na questão 4 foi pedido que se assinalasse de 1 a 5 nas afirmações sobre Ciência, onde
1 significaria que não concorda até 5 concordaria plenamente. Para a análise das respostas
dessa questão, observa-se na tabela 4 – afirmações que mais discordam, e na tabela 5 –
afirmações que mais concordam a disposição dos dados.
40
Tabela 4- Afirmações de mais discordam
Afirmação Porcentagem (%)
Feminino Masculino
Por causa do seu conhecimento, os cientistas
têm poderes que os tornam perigosos. 22,22 20,93
A Ciência pode resolver qualquer problema. 31,75 27,91
A Ciência está aumentando a distância entre
países ricos e pobres. 15,87 23,26
A população é ouvida nas grandes decisões
sobre os rumos da Ciência. 47,62 30,23
Fonte: elaborado pela autora
Tabela 5- Afirmações que mais concordam
Afirmação Porcentagem (%)
Feminino Masculino
A maioria das pessoas é capaz de entender o
conhecimento científico se ele for bem
explicado;
34,92 46,51
A Ciência está fazendo nossas vidas serem
melhores, mais fáceis e cômodas; 44,44 60,47
Graças a Ciência haverá mais oportunidade para
gerações futuras 50,79 44,19
Fonte: elaborado pela autora
Observando a tabela 4, a maioria de ambos os gêneros dissociam a frase “A população
é ouvida nas grandes decisões sobre os rumos da Ciência” quando pensam sobre Ciência, em
um percentual de 47,62% das meninas e 30,23% dos meninos. Em seguida, a frase que teve
mais opções foi “A Ciência pode resolver qualquer problema” com 31,75% das meninas e
27,91% dos meninos.
Em contrapartida, a maioria das meninas, 50,79%, e uma alta porcentagem de
meninos, 44,19%, acreditam que “Graças a Ciência haverá mais oportunidade para gerações
futuras”, assim como a maioria dos meninos, 60,47%, e grande parcela das meninas, 44,44%,
associam que “A Ciência está fazendo nossas vidas serem melhores, mais fáceis e cômodas”.
Ambos, em porcentagens relevantes, 34,92% das meninas e 46,51% dos meninos, entende
que “A maioria das pessoas é capaz de entender o conhecimento científico se ele for bem
explicado”.
Observa-se que mesmo com a maioria dos estudantes acreditando que a comunidade
Científica não ouve a população em suas decisões, estes ainda concordam que a Ciência
proverá oportunidades para as gerações e que está tornando nossas vidas melhores. Vale
41
observar também que uma porcentagem relevante dos participantes associa que a Ciência, se
for bem explicada, pode ser entendida por qualquer pessoa. Ressalta-se que mais meninos
concordam, comparado às meninas, ou seja, as meninas ainda acreditam que a Ciência
seleciona quem pode aprendê-la, fato que é menos comum entre os meninos.
Sobre a imagem social do cientista, referente às condições de remuneração, ao quanto
a área é atrativa para os jovens e o quão são reconhecidos socialmente, questionados na quinta
questão, a distribuição de respostas está evidenciada nos gráficos 3 e 4.
Gráfico 3: Imagem do cientista segundo as meninas
Fonte: elaborado pela autora
Gráfico 4: Imagem do cientista segundo os meninos
Fonte: elaborado pela autora
Ambos os gêneros concordam que a profissão é pouco atrativa para os jovens, porém
mostra-se menos atrativa entre as meninas. Com relação ao reconhecimento social, as
Muito
Alto
Sim
Pouco
Baixo
Não Não sei
Não sei
Não sei
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
A profissão de
cientista é atrativa
para os jovens?
Qual o nível de
reconhecimento
social de um
cientista?
O cientista tem boas
remunerações
salariais?
Muito
Alto Sim
Pouco Baixo
Não Não sei
Não sei
Não sei
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
A profissão de
cientista é atrativa
para os jovens?
Qual o nível de
reconhecimento
social de um
cientista?
O cientista tem boas
remunerações
salariais?
42
meninas acreditam ser alto, enquanto os meninos, baixo. Por fim, ambos desconhecem a
condição financeira de um cientista, possuindo porcentagens muito próximas.
Nesse sentido, os gráficos mostram que a profissão de cientista parece ser mais
atrativa para os meninos, mesmo com a maioria das meninas acreditando que existe um alto
reconhecimento social para a profissão. Pode-se observar, então, uma certa identificação
maior dos meninos pela Ciência.
Na questão 6 foram apresentadas 10 palavras e era pedido para que se fizesse uma
associação com a Ciência, de 1 – discordo plenamente a 5 – concordo plenamente. A tabela 6
mostra as palavras mais dissociadas de Ciência e a tabela 7 as mais associadas.
Tabela 6: Palavras menos associadas a Ciências
Palavra Porcentagem (%)
Feminino Masculino
Desumanização 22,22 25,58
Desigualdade 25,40 23,26
Ameaça 22,22 27,91
Fonte: elaborado pela autora
Tabela 7: Palavras mais associadas a Ciências
Palavra Porcentagem(%)
Feminino Masculino
Progresso 49,21 48,84
Sabedoria 60,32 62,79
Poder 23,81 32,56
Bem estar 47,62 41,86
Oportunidade 23,81 25,58
Eficácia 28,57 30,23
Fonte: elaborado pela autora
As meninas, de modo geral, não encontram ligação entre desigualdade (25,40%) e
desumanização e ameaça (22,22%), porém associam, em 60,32% dos questionários
respondidos, a palavra sabedoria, seguida de progresso (49,21%). Já para os meninos, ameaça
aparece em primeiro como a mais dissociada (27,91%) seguida de desumanização (25,58%) e
desigualdade (23,26%), mas, coincidindo com a opinião das meninas, sabedoria aparece em
primeiro lugar como a mais associada, com 62,79% e em seguida, progresso, com 48,84%.
43
De maneira geral, os alunos pesquisados associam sabedoria e progresso à Ciência,
não acreditando que isso causará desigualdade ou ameaça às populações. Além disso, ambos,
em números consideráveis, associam bem-estar à Ciência, comprovando o que assinalaram na
questão 4, afirmando que “A Ciência está fazendo nossas vidas serem melhores, mais fáceis e
cômodas”.
Na questão 7, assim como na questão 4, eram apresentadas frases e os participantes
deveriam responder o quão eles concordavam de 1 a 5, onde 1 era discordo totalmente e 5
concordo plenamente, porém com relação à ciência aprendida na escola. As tabelas 8 e 9
mostram as frases que os alunos menos se identificam ou mais de identificam,
respectivamente, ao se tratar do assunto.
Tabela 8: Sobre as ciências da escola – frases menos associadas
Frase Porcentagem (%)
Feminino Masculino
Gosto mais de Ciências do que das outras
disciplinas. 36,51 27,91
Penso que todos deveriam aprender Ciências. 14,29 20,93
Gostaria de ser cientista. 60,32 39,53
Gostaria de fazer uma graduação (faculdade) na
área de ciências. 46,03 41,86
Gostaria de ter um emprego que lide com
tecnologia avançada. 22,22 18,60
Fonte: elaborado pela autora
Tabela 9: Sobre as ciências da escola - frases mais associadas
Frase Porcentagem (%)
Feminino Masculino
A disciplina de Ciências é interessante. 53,97 46,51
Penso que todos deveriam aprender Ciências. 28,57 32,56
Os conhecimentos que adquiro em Ciências
serão úteis na minha vida cotidiana. 19,04 37,21
As ciências estimularam a minha curiosidade
acerca das coisas que ainda não conseguimos
explicar
31,75 37,21
A Ciência que aprendo na escola ensina-me a
cuidar melhor da minha saúde. 26,98 25,58
Gostaria de ter um emprego que lide com
tecnologia avançada. 22,22 37,21
Fonte: elaborado pela autora
44
Assim, na última questão fechada do questionário, pensando nas ciências que se
aprende na escola, as meninas menos se identificaram com “Gostaria de ser cientista”
apresentando 60,51% das opiniões, enquanto os meninos discordam dessa mesma questão em
39,53%. Depois, a frase que as meninas menos associam é “Gostaria de fazer uma graduação
(faculdade) na área de ciências” com 46,03% das escolhas e essa é a mesma frase na qual os
meninos apresentam a maior porcentagem de dissociação, 41,86%.
Do modo contrário, analisando a tabela 9, que traz as frases mais associadas à ciência
da escola, as meninas apresentam maior identificação com a frase “A disciplina de Ciências é
interessante” indicando 53,97% das opiniões, enquanto os meninos nessa mesma frase
assinalaram 46,51%, sendo, assim como na opinião das meninas, a frase que mais coerente.
Logo em seguida, as meninas concordam em 31,75% das vezes que “As ciências estimularam
a minha curiosidade acerca das coisas que ainda não conseguimos explicar”, a segunda frase
mais marcada pelos meninos, em 37,21% das vezes, se repete em três opções: “Os
conhecimentos que adquiro em Ciências serão úteis na minha vida cotidiana”, “As ciências
estimularam a minha curiosidade acerca das coisas que ainda não conseguimos explicar”
coincidindo com as meninas e “Gostaria de ter um emprego que lide com tecnologia
avançada”.
Analisando mais a fundo as respostas, observa-se que em uma das frases mais
marcadas pelos meninos, “Gostaria de ter um emprego que lide com tecnologia avançada”, as
meninas apesentam identificação com a mesma frase em pouco mais de 22%, expondo então a
baixa perspectiva de continuar na área científica depois de formadas.
Sobre as afirmações “Gostaria de fazer uma graduação (faculdade) na área de
ciências” e “Gostaria de ser cientista”, nota-se que, de maneira geral, os alunos participantes
da pesquisa não têm interesse em seguir a carreira científica, pois tanto as meninas quanto os
meninos apresentam porcentagens consideráveis. Ao se fazer uma analise mais minuciosa,
pode-se ver uma grande diferença percentual entre meninas e meninos, 20,79%, para a frase
“Gostaria de ser cientista”. Ou seja, apesar do baixo interesse de ambos os gêneros, as
participantes femininas possuem menos interesse em relação aos participantes masculinos,
mostrando um distanciamento das mulheres na Ciência. O gráfico 5 mostra a questão de ser
cientista mais amplamente.
45
Gráfico 5: Sobre ser cientista
Fonte: elaborado pela autora
A partir do gráfico 5, vê-se que realmente a maioria das meninas discorda totalmente
da frase “Gostaria de ser cientista”, mas que os meninos ultrapassam a porcentagem de
meninas que concorda totalmente, comprovando que os alunos participantes do gênero
masculino têm maior interesse, em relação as meninas, em ser cientista, mesmo que em
pequena porcentagem.
Analisando agora as questões dissertativas, observa-se que apenas 23,81% dos
questionários femininos e 29% dos masculinos parecem saber o que é a área de Ciências e o
que é um cientista. Abaixo se apresentam transcrições de duas repostas, uma masculina e uma
feminina, exemplificando a maioria das respostas obtidas:
8) O que você entende pela área de Ciências? Em poucas palavras descreva o que é um
cientista para você.
“Eu não entendo muito bem. Nunca tive a curiosidade de me aprofundar.”
(Transcrição de resposta masculina)
“Para ser um cientista tem que gostar muito do que faz, não entendo muita coisa.”
(Transcrição de resposta feminina)
Dessa maneira, pode-se perceber que a maioria dos alunos entrevistados sabe pouco
ou não sabe do que se trata a Ciência ou ser cientista. A resposta a seguir exemplifica outro
tipo comum de escrita encontrada na questão:
“É a área que descobre coisas novas. É o indivíduo que explica/demonstra coisas não
conhecidas pelo homem.”. (Transcrição de resposta feminina)
Assim, observa-se que os alunos participantes acreditam que a área de Ciência faz
constantes descobertas que mudam nossas vidas, não considerando, portanto, que a Ciência
60,32%
16,87%
10,52%
5,76%
6,35%
39,53%
19,61%
21,93%
9,30%
9,30%
1- Discordo totalmente
2- Discordo parcialmente
3- Indiferente
4- Concordo parcialmente
5- Concordo totalmente
Meninos Meninas
46
também pode estudar coisas que já foram descobertas, aperfeiçoando-as. Também parecem
desconsiderar que nem sempre são estudos que transformam nossas vidas, mas que
transformam, talvez, a área estudada.
As respostas que apresentam, segundo a pesquisadora, coerência com o que é a área de
Ciência e o que é um cientista, justificam de forma mais precisa as definições pedidas.
Seguem abaixo duas transcrições, uma feminina e uma masculina:
8) O que você entende pela área de Ciências? Em poucas palavras descreva o que é um
cientista para você.
“O profissional desta área possui bastante conhecimento sobre o meio em que as
pessoas e os animais vivem, por isso acrescenta-se ao estudioso da Ciência certas aptidões,
como o senso crítico efetuado na análise das coisas e fenômenos.” (Transcrição de resposta
masculina)
“A Ciência é relativa ao conhecimento, as [sic] pesquisas, a descobrir novas coisas
que estão ligadas à sociedade, e evoluir nas que já foram descobertas. Cientista é o
profissional que exerce a ciência, que trabalha com pesquisas e experimentos para
comprovar a mesma.” (Transcrição de resposta feminina)
Dessa forma, a minoria dos alunos apresentou respostas como as acima, demonstrando
que não é comum entre eles pensar sobre Ciência.
Na questão 9 foi perguntado se o aluno entrevistado conhece alguém que trabalhe com
Ciência. Das respostas, 69,77% dos meninos e 73,02% das meninas disseram não conhecer
ninguém que segue a carreira científica.
Dos que conhecem alguém da área, 53,87% dos meninos afirmam que esse fato os
inspira a seguir no mesmo ramo, enquanto o mesmo fato ocorre em 29,41% das meninas. A
partir dos dados pode-se observar que, no geral, nem meninas ou meninos conhecem pessoas
próximas que atuam na área de Ciência, porém, a maioria das meninas que têm contato com
alguém nesse ramo, não se sente inspirada a seguir a mesma carreira.
Na questão 10, última questão, os alunos responderam se possuíam interesse em
realizar uma graduação na Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI). Essa pergunta foi
adicionada ao questionário para avaliar se possuir uma universidade federal na cidade poderia
influenciar nas escolhas dos estudantes, especialmente por essa universidade apresentar a
maioria de seus cursos voltados para a área de ciências exatas.
Com relação a esta questão, 48,84% dos meninos e 50,79% das meninas disseram ter
interesse em graduar-se na UNIFEI, contradizendo os resultados anteriores como, por
47
exemplo, na questão 7 nas frases “Gostaria de ser cientista”, “Gostaria de fazer uma
graduação (faculdade) na área de ciências” e “Gostaria de ter um emprego que lide com
tecnologia avançada” que apresentam baixa aceitação entre as meninas, conforme tabelas 8 e
9 e gráfico 5. Isso mostra que os alunos não associam a UNIFEI a uma instituição que produz
Ciência e forma cientistas.
Um olhar para a análise de dados baseada nos referenciais teóricos
Partindo-se dos resultados apresentados nos parágrafos anteriores, vê-se que as
meninas ainda estão muito afastadas da ideia de estudar ou trabalhar na área científica. Apesar
de o número de meninas na sala de aula superar o de meninos, mostrando um avanço na
valorização da educação feminina, superando aquilo que Rosemberg (2011) e Louro (1997)
dizem sobre instrução feminina, elas ainda se mostram inseguras em optar por áreas
estereotipadas masculinas.
O interesse de ambos os gêneros pela área de Ciência é compatível com a pesquisa
intitulada Percepção Pública da Ciência e Tecnologia de 2015, na qual os participantes
também são questionados sobre assuntos que mais se interessam. Assim como nessa pesquisa,
Ciência aparece em segundo lugar, comprovando o índice de interesse brasileiro de que
ambos os gêneros se interessam em números consideráveis por Ciência.
Sobre a visão social do cientista, pode-se notar que os alunos não tem familiaridade
com o assunto e a imagem construída por eles seja, provavelmente, aquela passada pelas
mídias e o “que prevalece nessa forma de divulgação científica é o apelo ao espetáculo
sensibilizador das emoções, e pouca atenção se dá ao processo de produção científica”
(KOSMINSKY, GIORDAN, 2001).
Em comparação aos números encontrados com a pesquisa de da Cunha et al (2014),
que traz em seu artigo uma comparação do interesse das meninas em relação aos meninos pela
Ciência no âmbito do Brasil, percebe-se que as conclusões dessa pesquisa foram parecidas.
Em suas considerações finais, cita:
Em relação ao foco de análise deste trabalho, ou seja, verificar o padrão feminino de
intencionalidade de querer “ser cientista” observamos que, das cinco regiões
avaliadas, em duas delas as mulheres superam os homens na intenção de seguir a
carreira científica, entretanto, esses valores são muito pequenos e não são nada
animadores tendo em vista o papel da mulher na atual sociedade e a forma como ela
está sendo vista no mercado de trabalho. (p. 411)
48
As duas regiões citadas em que as mulheres superaram o interesse dos homens na
pesquisa foram as regiões Centro-Oeste e Sul, ou seja, o padrão encontrado para a pesquisa na
região Sudeste, a qual Itajubá-MG está localizada, se mantém.
Além disso, houve um aumento na perspectiva de progredir nos estudos fazendo uma
graduação, comprovando que a ideia de que a área científica é inadequada para mulheres é
ultrapassada, citado por Chassot, (2011). Isso é mostrado no estudo da questão 10, na qual
aproximadamente metade das meninas respondeu ter interesse em fazer algum curso na
UNIFEI.
Na análise, é nítido que os alunos participantes da pesquisa não sabem exatamente o
que é Ciência. Isso certamente influencia em suas respostas, mostrando então que a educação
científica nas escolas é falha.
É comum entre os estudantes não haver interesse em ser cientista, porém, entre as
meninas, a porcentagem é bem mais preocupante, mostrando que a segregação horizontal,
explicada por Olinto (2011) e Schiebinger (1999), se faz muito presente na fase da escolha da
profissão, comprovado também pelas questões na qual as meninas rejeitam a possibilidade de
fazer algum curso na área de Ciência ou trabalhar com tecnologias.
Apesar de haver muitas mulheres que trouxeram ricas contribuições para a Ciência,
muitas vezes elas não são reconhecidas (GUIMARÃES, 2011), não tendo lugar na mídia e
suas pesquisas pouco divulgadas. Isso também influencia no olhar nas meninas com relação à
profissão, pois o jovem sempre busca alguém em quem se espelhar e, com referências pouco
divulgadas, as meninas se sentem desmotivadas. A questão 9 nos mostra algo semelhante, já
que as meninas que conhecem alguém da área não se sentem inspiradas.
Outro apontamento a ser colocado é com relação à escolha por se graduar na UNIFEI.
Mesmo que em todas as outras perguntas o interesse pela carreira científica seja menor entre
as meninas, quando questionadas sobre realizar algum curso na UNIFEI a porcentagem de
interesse entre meninos e meninas é quase o mesmo. Essa informação mostra que possuir uma
universidade federal na cidade pode influenciar nas escolhas, talvez pela praticidade de não
precisar deixar a cidade natal e mudar da casa dos pais, ou pelo fato de ser considerado um
valor social realizar uma graduação nessa universidade.
O feminismo tem mostrado às mulheres que existem caminhos alternativos que elas
podem e devem seguir, porém a principal barreira que deve ser quebrada é a própria, deixando
de lado preconceitos e procurando auto aceitamento e autoconhecimento nas escolhas de
carreiras.
49
CONSIDERAÇÕES FINAIS
50
Vê-se que não é fácil ser mulher: Se escolhem profissões estereotipadas femininas são
consideradas fora de seu padrão, quando, mesmo assim, escolhem, conseguem pouco
reconhecimento e de maneira mais lenta que o homem. Se optarem por profissões dentro do
padrão imposto, ou até mesmo fora, são cobradas por seu papel materno-familiar, pois, para
muitos é exclusivo delas.
Dessa forma, percebe-se que todo o passado histórico de desigualdades entre homens e
mulheres e o atraso no progresso educacional feminino, ainda é reflexo na educação que
temos hoje na escola. Ponto positivo para o fato que haver maioria de rostos femininos na sala
de aula, porém essas mulheres ainda não se sentem completamente inseridas em todos os
espaços.
A intenção da elaboração dessa pesquisa foi mostrar o quanto a sociedade ainda encara
as decisões femininas, heranças de um passado sem oportunidades, e o quanto isso influencia
nas jovens, que estão perto de escolher sua futura profissão. Através desse trabalho, pode-se
ver o quanto as jovens ainda parecem relutantes em escolher a profissão de cientista, seja pelo
fato do desconhecimento ou por não pensar que se encaixam em tal carreira.
De modo geral, ambos os gêneros não pensam em ser cientistas, mesmo pensando que,
talvez, tenham bons salários ou tenham alto reconhecimento, porém esse desejo aparece bem
menor entre as meninas, mostrando uma não associam da mulher com a Ciência, resquícios de
um passado que achava essa profissão inadequada para as mulheres de família ou até da
sociedade que duvidava do potencial feminino, que era colocado como insuficiente para essa
área.
Conclui-se, também, que todos os avanços e conquistas ao longo dos anos deve-se
mérito total à luta de mulheres, o feminismo, que faz com que o incômodo da desigualdade
gere revolta e provoque mudanças. Mas, mesmo em considerado tempos modernos, o
feminismo não tem chegado a todas, o que causa afastamento das mulheres ou preconceito
entre mulheres. A pesquisadora acredita que para amenizar essa distância deva acontecer uma
frequente conscientização entre mulheres, pois essa é a melhor forma de empoderamento.
Apesar desse retrato de desigualdade, especialmente esta que é sutil e subconsciente,
ainda há relatos de mulheres que não abaixaram a cabeça e se viram determinadas em realizar
aquilo que desejavam, transformando o Brasil no país onde as mulheres já produzem metade
das pesquisas científicas o que é significativo para quem luta por igualdade e inspirador para
quem quer seguir o mesmo caminho.
51
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53
Anexo A- Questionário
IDADE DO ENTREVISTADO:_______ GÊNERO: F ( ) M ( ) DATA DA ENTREVISTA:___/___/___
ESCOLA:___________________________________________________________
1) Da seguinte lista de assuntos, assinale se você tem muito interesse, pouco interesse ou nenhum
interesse em cada um deles.
ASSUNTO
MUITO
INTERESSANTE
POUCO
INTERESSANTE
NENHUM
INTERESSE
Política ( ) ( ) ( )
Medicina e Saúde ( ) ( ) ( )
Arte e Cultura ( ) ( ) ( )
Meio Ambiente ( ) ( ) ( )
Ciência ( ) ( ) ( )
Esporte ( ) ( ) ( )
Moda ( ) ( ) ( )
Economia ( ) ( ) ( )
Religião ( ) ( ) ( )
2) Se você assinalou na questão anterior POUCO ou NENHUM INTERESSE por Ciência. Por
que você não se interessa por Ciência?
( ) não entende ( ) não tem tempo ( ) nunca pensou nisso ( ) não gosta
( ) não liga ( ) não precisa saber sobre isso ( ) não sabe
3) Quando você quer ter informação sobre algum assunto importante para você e para a
sociedade, quem transparece maior confiança como fonte de informação:
( ) Jornalistas ( ) Médicos ( ) Cientistas ( ) Religiosos
( ) Representantes de organizações de defesa do consumidor ( ) Advogados ( ) Escritores
( ) Militares ( ) Políticos ( ) Professores
4) Para cada afirmação, assinale em que medida você concorda ou discorda dela, sendo que 1
você não concorda e 5 você concorda plenamente.
5) Qual a imagem que você tem da profissão do cientista? (assinale uma opção em cada coluna)
1-( ) muito atrativa para os jovens
2-( ) pouco atrativa para os jovens
3-( ) não sei
1-( ) com alto reconhecimento social
2-( ) com pouco reconhecimento social
3-( ) não sei
1-( ) bem remunerada economicamente
2-( ) mal remunerada economicamente
3-( ) não sei
6) A seguir você tem uma série de valores distintos. Para cada um deles assinale o grau que você
associa a Ciência. Para isso utilize uma escala de 1 a 5, em que 1 significa que você não associa em
nada a Ciência com o referido valor e 5 que o identifica completamente com a Ciência.
Por causa do seu conhecimento, os cientistas têm poderes que os tornam perigosos; 1 2 3 4 5
A maioria das pessoas é capaz de entender o conhecimento científico se ele for bem explicado; 1 2 3 4 5
A Ciência está fazendo nossas vidas serem melhores, mais fáceis e cômodas; 1 2 3 4 5
A Ciência pode resolver qualquer problema 1 2 3 4 5
A Ciência está aumentando a distância entre países ricos e pobres 1 2 3 4 5
A população é ouvida nas grandes decisões sobre os rumos da Ciência. 1 2 3 4 5
Graças a Ciência haverá mais oportunidade para gerações futuras 1 2 3 4 5
54
Progresso 1 2 3 4 5
Desumanização 1 2 3 4 5
Riqueza 1 2 3 4 5
Desigualdade 1 2 3 4 5
Ameaça 1 2 3 4 5
Sabedoria 1 2 3 4 5
Poder 1 2 3 4 5
Bem estar 1 2 3 4 5
Oportunidade 1 2 3 4 5
Eficácia 1 2 3 4 5
7) Até que ponto você concorda com as seguintes afirmações sobre a ciência que já aprendeu na
escola? (de 1 – não concordo nada até 5 – concordo plenamente)
8) O que você entende pela área de Ciências? Em poucas palavras descreva o que é um cientista
para você.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
9) Alguém que você conhece trabalha na área de Ciência? Se sim, isso te inspira a seguir a
mesma carreira?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
10) Você faria algum curso na Universidade Federal de Itajubá? Se sim, qual e por quê?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
A disciplina de Ciências é interessante. 1 2 3 4 5
As Ciências, para mim, são bastante fáceis de aprender. 1 2 3 4 5
Gosto mais de Ciências do que das outras disciplinas. 1 2 3 4 5
Penso que todos deveriam aprender Ciências. 1 2 3 4 5
Os conhecimentos que adquiro em Ciências serão úteis na minha vida cotidiana. 1 2 3 4 5
Penso que a Ciência que eu aprendo na escola melhorará as minhas oportunidades de carreira. 1 2 3 4 5
As ciências estimularam a minha curiosidade acerca das coisas que ainda não conseguimos
explicar.
1 2 3 4 5
As Ciências aumentaram o meu gosto pela natureza. 1 2 3 4 5
As ciências mostraram-me a importância da Ciência para a forma como vivemos. 1 2 3 4 5
A Ciência que aprendo na escola ensina-me a cuidar melhor da minha saúde. 1 2 3 4 5
Gostaria de ser cientista. 1 2 3 4 5
Gostaria de fazer uma graduação (faculdade) na área de ciências. 1 2 3 4 5
Gostaria de ter um emprego que lide com tecnologia avançada. 1 2 3 4 5