universidade federal de itajubá (unifei) eixo i - criação...
TRANSCRIPT
1
Desenvolvimento de estratégias de sensibilização: considerações acerca da
identidade institucional e sua importância no estabelecimento da cultura avaliativa
Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI)
Eixo I - Criação de estratégias e metodologias para o trabalho das CPA
Márcia de Souza Luz Freitas (Universidade Federal de Itajubá)
Cibele Faria Cunha (Universidade Federal de Itajubá)1
Resumo
Após oito anos da instalação das Comissões Próprias de Avaliação (CPA), em
decorrência da implantação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior
(SINAES), há instituições que ainda têm dificuldade em estabelecer uma cultura
avaliativa. A autoavaliação é vista apenas como uma das instâncias avaliativas desse
sistema, cuja função regulatória se sobrepõe à possibilidade que ela abre para o
autoconhecimento e para o provimento de subsídios que auxiliem a elaboração do
planejamento institucional e a tomada de decisões. O objetivo deste trabalho é relatar as
barreiras encontradas pela CPA no processo de sensibilização da comunidade
acadêmica, em busca de adesão e comprometimento dos vários segmentos que a
compõem analisando, a partir da identidade institucional, os fatores e as circunstâncias
que impedem o estabelecimento de uma cultura avaliativa e propondo estratégias de
ação que dêem mais legitimidade ao trabalho desenvolvido. A Instituição Federal de
Ensino Superior (IFES) em questão, embora pública, tem particularidades que a
diferenciam da imagem formada pelo senso comum em relação a universidades
públicas. O relato é descritivo, com foco nas ações que instigam a participação mais
ativa da comunidade acadêmica. Para a análise, determinam-se como categorias: a) a
experiência autoavaliativa, que busca resgatar situações e posturas de autoavaliação
anteriores à formação da CPA; b) o ideal de autoavaliação, que congrega as expectativas
dos segmentos envolvidos quanto ao processo autoavaliativo; c) o processo factual da
autoavaliação, que descortina o cenário delineado pelas respostas obtidas quando da
aplicação do instrumento avaliativo e desvela os mecanismos de resistência. A
fundamentação teórica, desse modo, está sustentada na qualidade em avaliação e na
construção da subjetividade para a identificação desses atores e a caracterização tanto
do modo em que eles se inserem no cotidiano da instituição quanto do discurso que os
legitima em seu papel social. As principais conclusões que este estudo proporcionou
são: o desenvolvimento de uma cultura avaliativa pode amenizar a resistência e o
descrédito que se observam em todas as etapas do processo de autoavaliação; os
mecanismos de resistência, que incluem a manutenção de instrumentos autoavaliativos
paralelos, mas desconectados da CPA, demonstram a não aceitação do olhar externo; a
importância dada ao trabalho da CPA tende a ser proporcional ao grau de conhecimento
que os segmentos envolvidos têm tanto sobre a necessidade do exercício de
autoavaliação quanto sobre a criação e o fortalecimento da identidade institucional.
Palavras-chave: Autoavaliação Institucional. Comissão Própria de Avaliação (CPA).
Estratégias de Sensibilização.
1 Colaboradores: Alexandre Augusto Barbosa; Edmilson Marmo Moreira; Ricardo Shitsuka; Cleide
Beatriz Gomes dos Reis ((Universidade Federal de Itajubá); Fábio Vieira Lacerda (Centro Universitário
de Itajubá FEPI).
2
Introdução
A legislação educacional e os diversos programas implementados pelo Ministério da
Educação (MEC) ao longo das duas últimas décadas geraram mudanças consistentes na
organização do ensino superior. Assume função central nessas mudanças a implantação
do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), instituído pela Lei
nº 10.861 (BRASIL, 2004), definindo o papel do Estado no processo avaliativo das
Instituições de Ensino Superior (IES). Em decorrência, têm-se ampliado as discussões
pertinentes à avaliação desse nível de ensino e aos estudos sobre esse tema.
Grosso modo, duas concepções de avaliação inspiram os modelos adotados pelo Brasil:
o modelo anglo-americano e o modelo holandês-francês. O primeiro preocupa-se com
os resultados quantitativos. Nele, a avaliação é técnica, busca a mensuração dos
resultados para definir a eficiência ou ineficiência das instituições, classificando-as. O
segundo combina resultados quantitativos e qualitativos. Nele, a avaliação é formativa e
busca reflexão e análise sobre as instituições: sua existência, seus objetivos, seu papel
na sociedade. Esse modelo extrapola a coleta de informações, medidas e controle, e
propõe uma avaliação reflexiva, emancipatória (SINAES, 2009).
Dias Sobrinho e Ristoff (2003), ao endossar a distinção de Freitag (1995)2 e Chauí
(2003)3 quanto a instituição social e organização social, diz que a avaliação das
instituições sociais deve proporcionar reflexão, questionamento e produção de sentidos.
Se orientada às organizações sociais, torna-se um mecanismo de controle e de
regulação, prescindindo de questionamentos e reflexões. Nesse caso, os segmentos
envolvidos tendem a perceber suas ações como certas, independentemente do juízo de
valor e do olhar externos.
Ao se observar o processo de autoavaliação institucional (AAI) sob tal ângulo, tem-se
uma nomenclatura que nem sempre condiz com o que se vê nas práticas autoavaliativas.
O processo se denomina institucional, mas a imagem construída pelos indivíduos
pertencentes à IES é que define se seu comportamento autoavaliativo é de ‘instituição’
ou de ‘organização’.
Dessa forma, é possível pensar a estruturação do processo de AAI nas IES dividindo-as
em duas categorias: aquelas que já desenvolviam práticas de autoavaliação antes do
SINAES e aquelas que passaram a desenvolvê-las pela instalação da Comissão Própria
de Avaliação (CPA), em cumprimento ao exposto no artigo 11 da lei nº 10.861
(BRASIL, 2004).
As IES do primeiro grupo geralmente relatam uma história de AAI consolidada em
experiências como, por exemplo, o Programa de Avaliação Institucional das
Universidades Brasileiras (PAIUB). É importante ressaltar que o PAIUB serviu de
motivação para a atual proposta de avaliação institucional (AI), conforme Ristoff e
Giolo (2006). Essas instituições percebem a concepção regulatória do SINAES em
atendimento às demandas de regulação do ensino superior, mas também sua concepção
formativo-emancipatória de avaliação em atendimento às demandas sociais por uma
educação de qualidade.
2 FREITAG, Michel. Le naufrage de l’université. Paris:Editions de laDécouverte, 1995.
3 CHAUI, Marilena. A Universidade Pública sob nova perspectiva. Revista Brasileira de Educação. n. 24.
São Paulo: ANPEd, set-dez, 2003.
3
Já as IES do segundo grupo tendem a relatar dificuldades em estabelecer uma cultura
avaliativa. A autoavaliação é vista apenas como uma das instâncias avaliativas que
compõem o SINAES, cuja função regulatória se sobrepõe à possibilidade que ela abre
para o autoconhecimento e para o provimento de subsídios que auxiliem a elaboração
do planejamento institucional e a tomada de decisões. Para essas, o Estado fica imbuído
do papel de principal agente avaliador, pela obrigatoriedade de se atender e cumprir as
exigências do MEC.
A descrença na efetividade do processo para a tomada de decisões, tanto em âmbito
interno quanto em relação às ações do MEC, somada ao paradigma tradicional de
avaliação como instrumento de poder, de caráter punitivo, reforçam a dificuldade do
estabelecimento da cultura autoavaliativa. Assim, há a aplicação de metodologias e
instrumentos autoavaliativos, numa perspectiva regulatória, que quantifiquem a
qualidade das IES, porém não se aproveita adequadamente a potencialidade de uma
perspectiva formativo-emancipatória de avaliação.
A IES tratada neste estudo apresenta esta dificuldade, a de utilizar a autoavaliação com
propósitos emancipatórios, no desenvolvimento de uma cultura avaliativa que permita a
ação reflexiva e a construção de conhecimento. Assim, relata-se, neste trabalho, a
necessidade do desenvolvimento de estratégias de sensibilização como parte do
conjunto de ações da CPA da IES em estudo que busca desencadear tal cultura, capaz de
vencer a resistência à adesão às proposições da comissão. Para isso, delineia-se um
panorama da identidade institucional, com vistas a responder ao principal
questionamento norteador da pesquisa: Que fatores e circunstâncias específicos da IES,
no tocante à sua identidade institucional, impedem o estabelecimento dessa cultura
avaliativa?
Objetivos
O objetivo geral deste trabalho é analisar as barreiras encontradas pela CPA no processo
de sensibilização da comunidade acadêmica, em busca de adesão e comprometimento
dos vários segmentos que a compõem.
Foram definidos como objetivos específicos:
a) Descrever, a partir de dados e documentos oficiais, o perfil da instituição, com
vistas a definir sua identidade;
b) Identificar, ao longo de sua história, os fatores e as circunstâncias que impedem
o estabelecimento de uma cultura avaliativa;
c) Reforçar a necessidade de estratégias de ação que deem mais legitimidade ao
trabalho desenvolvido pela CPA.
Metodologia
A universidade em que se desenvolveu este estudo é uma Instituição Federal de Ensino
Superior (IFES) cuja sede está situada em um município do interior de Minas Gerais
com aproximadamente noventa mil habitantes. Esse município destaca-se na área
educacional, com uma rede pública de educação que contabiliza trinta escolas de ensino
fundamental e centros municipais de educação infantil (administração municipal), treze
escolas estaduais de ensino fundamental e médio (administração estadual) e uma
universidade (administração federal). Quanto ao ensino superior, o município abriga
ainda um centro universitário e três faculdades isoladas, sem se considerar as
4
instituições com sede em outro município ou que atuam especificamente como polos de
apoio presencial para oferta de cursos na modalidade a distância.
Essa IFES passou por um primeiro processo de expansão em 1998, com a criação de
nove cursos de graduação que se somaram aos dois já existentes4. Em 2002, conseguiu
ser transformada de escola em universidade. Em 2007, começou a ofertar um curso de
graduação na modalidade a distância por meio do programa Universidade Aberta do
Brasil (UAB). A partir de 2008, com o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e
Expansão das Universidades Federais (REUNI), implantou-se mais um campus
(denominado aqui como Campus 2) e criaram-se vários outros cursos. A oferta atual é
de trinta e cinco cursos de graduação.
Para a realização do estudo foram fixadas três etapas. Cada uma delas teve duração de
três meses. Na primeira etapa, buscou-se o resgate de situações ou práticas de
autoavaliação originadas na instituição anteriores à criação da CPA, independentemente
dos sujeitos proponentes da iniciativa. Para essa etapa foram essenciais as consultas a
registros da Pró-Reitoria de Graduação (PRG) bem como entrevistas com gestores,
entendendo-se aqui mais especificamente as coordenações de curso e a chefia da PRG.
Houve também a colaboração de membros que compuseram a CPA em mandatos
anteriores. A segunda etapa consistiu na análise de registros constantes do material
coletado para a elaboração do primeiro relatório da CPA apresentado ao MEC em 2007.
Para essa etapa, utilizaram-se também os apontamentos resultantes do I Seminário de
Autoavaliação, realizado em agosto de 2006 na IES, e dos encontros das comissões
mineiras, série de eventos promovidos por instituições públicas e privadas de Minas
Gerais entre 2005 e 20085. Em uma terceira etapa, procedeu-se à análise comparativa
dos documentos produzidos pela CPA em seus ciclos avaliativos, conforme Quadro 1.
Quadro 1 – Ciclos Avaliativos da CPA na IES estudada.
Ciclo
Avaliativo
Processo de
Autoavaliação
Institucional
Ano de Postagem de relatório no
EMEC
Relatório Parcial Relatório Final
1º 2004-2006 2005 2007
2º 2006-2008 - 2009
3º 2008-2009(1)
- 2010
4º 2010-2011(2)
2011 2012
5º 2012-2013 2013 2014 (1) Apenas Dimensão 2.
(2) Apenas Dimensões 1 e 3.
Fonte: Relatório da CPA, 2013
Essas três etapas foram permeadas por aprofundamentos teóricos que deram
consistência à discussão e ampliaram a possibilidade de produção de sentidos ante os
dados obtidos. A discussão empreendida pelos atuais membros da CPA pautou-se na
metodologia de pesquisa-ação, com predefinição das categorias de análise, quais sejam:
4 Apresentam-se aqui somente os cursos de graduação, cuja avaliação é o foco do SINAES.
5http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3376&catid=212&Itemid=97
5
a) experiência autoavaliativa anterior à CPA, b) o ideal de autoavaliação e c) o processo
factual de autoavaliação. Definiu-se, assim, pela produção de relato descritivo que
priorizasse as ações da CPA direcionadas à participação mais ativa da comunidade
acadêmica.
Referencial Teórico
A fundamentação teórica está sustentada na qualidade em avaliação, no que tange à sua
concepção, e também na constituição da identidade institucional a partir da construção
subjetiva dos atores envolvidos no processo de AAI. A formulação dessa identidade
considera a caracterização tanto do modo como tais indivíduos se inserem no cotidiano
da instituição quanto do discurso que os legitima em seu papel social.
Considerando a distinção feita por Dias Sobrinho e Ristoff (2003) entre instituição
social e organização social, assume-se como pressuposto que
a avaliação educativa não pode se confundir com a prestação de contas, com
a mensuração e muito menos com o mero controle. Sua intencionalidade é
radicalmente distinta da simples regulação. [...] e até mesmo em
determinados âmbitos acadêmicos se dá o equivoco, carregado de pesadas
consequências, de identificar-se avaliação com medida de controle (DIAS
SOBRINHO; RISTOFF, 2003, p. 39).
Assim, se é necessário que haja a concepção regulatória em consonância com as
solicitações legais, também o é a concepção formativo-emancipatória para atender às
demandas sociais de educação superior de qualidade.
A criação de um sistema, combinando regulação e avaliação educativa, em
suas dimensões interna e externa, deve ser de responsabilidade compartilhada
do Estado e das instituições, mas interessa também e sobretudo à população,
que tem os direitos de contar com um sistema educativo que cumpra com os
principais anseios e necessidades mais gerais da sociedade, e de saber como
as instituições estão realizando seus mandatos sociais relativos ao avanço do
conhecimento e à formação de cidadãos que também sejam bons
profissionais (SINAES, 2009, p.30).
Para a atual composição da CPA desta IES, seria insuficiente e incipiente dizer que os
vários segmentos da IFES veem a avaliação como medida de controle, embora o
processo de autoavaliação institucional só tenha sido desencadeado devido à imposição
legal.
A sensibilização da comunidade interna é passo de extrema relevância para o trabalho
da CPA e foi considerada como prioridade máxima no mais recente ano de suas
atividades. Mobilizar os vários segmentos significa lidar com o aspecto da participação,
vista por boa parte dos sujeitos envolvidos como um direito, dado o fato de estarem
inseridos em uma sociedade e, consequentemente, em uma instituição regida pelo
princípio da democracia. Entretanto, uma participação ativa e crítica ainda precisa ser
aprendida e ensinada. Para Abramowicz (1996, p.119), “aprender a participar significa
aprender a dialogar, aprender a organizar, aprender a criticar, aprender a aprender”.
Tal aprendizagem passa pelo trânsito, nos dizeres de Lima (2003, p.69), de uma
participação espontânea para uma participação organizada. Para se sair de um estágio e
chegar ao outro, segundo as teorias de identidade organizacional, é necessária a
configuração de três componentes: o cognitivo, o afetivo e o valorativo. O componente
6
cognitivo “diz respeito à autodefinição do sujeito”. O componente afetivo é “retratado
pelos sentimentos do sujeito em relação ao fato de pertencer a um determinado grupo
social”. O componente valorativo “é vinculado à forma como, na percepção da pessoa,
seu grupo social é valorizado pelos outros grupos” (FERNANDES; MARQUES;
CARRIERI, 2009, p.692-3).
Esses mesmos autores (2009, p. 691) mostram que,
integrando identidade organizacional e imagem, Dutton e Dukerich (1991)6
fornecem mais uma perspectiva de análise argumentando que a identidade
organizacional é uma das imagens que a organização possui. (...) a percepção
interna diz respeito àquilo que as pessoas “de dentro” acreditam ser os
atributos centrais, distintivos e duradouros da organização; ou seja, a
identidade organizacional. Quanto à percepção externa, esta diz respeito
àquilo que os “de fora” pensam sobre a organização; ou seja, à imagem
organizacional. Posteriormente Dutton, Dukerich e Harquail (1994)
propuseram uma nova concepção, a imagem externa construída, fazendo
referência à forma como as pessoas “de dentro” da organização acreditam
que esta esteja sendo percebida pelos “de fora” 7.
A IFES em questão, embora pública, tem particularidades que a diferenciam da imagem
formada pelo senso comum em relação a universidades públicas. Essa imagem reflete-se
em nomenclaturas e termos presentes em vários documentos institucionais,
demonstrando o conceito de universidade que se quer, sua missão, seus princípios e
objetivos e determinando a elaboração dos demais documentos norteadores das práticas
político-pedagógicas. O segundo artigo da lei que a institui como universidade confirma
que seus objetivos se concretizam “nas áreas especializadas de Engenharia, Ciências
Exatas e da Terra e outras correlatas e afins” (BRASIL, 2002).
Na versão preliminar do planejamento institucional em construção (iniciada em 2012 e
ainda não finalizada), lê-se como missão institucional
Ser uma Universidade Tecnológica de Pesquisa
8 que valoriza a autonomia,
a autossustentabilidade e a relevância para melhorar, em todas as suas
atividades, o bem estar da humanidade sendo um elemento essencial para o
desenvolvimento tecnológico brasileiro e o progresso socioeconômico das
regiões onde atua, através da geração, disseminação e aplicação do
conhecimento, da formação empreendedora de profissionais de alto nível,
do exercício da boa gestão e da responsabilidade social (Fonte: PEI, 2012).
Entende-se que, a expressão “melhorar o bem estar da humanidade”, na missão de uma
instituição de ensino, refere-se diretamente à noção de qualidade. Esta, por sua vez,
exige planejamento e avaliação. Entretanto, não basta ter uma educação superior de alta
performance, garantindo qualidade, para uma minoria, pois esta medida não mais
atenderia às demandas do novo cenário mundial. Não se pode implantar um modelo de
instituição, sem primeiramente, diagnosticar problemas e possibilidades e esse
movimento exige participação coletiva mais ativa de toda a comunidade acadêmica.
6 DUTTON, Jane E.; DUKERICH, Janet M. Keeping an eye on the mirror: image and identity in
organizational adaptation. Academy of Management Journal, v.34, n.3, p.517-554, 1991. 7 Grifos dos autores.
8 Grifos nossos.
7
Nesse contexto, segundo Guedes e Krames (2010, p. 28), com base em Giroux (1986)9,
balizada por elementos de emancipação e regulação, a avaliação institucional
traduz a identidade da instituição num movimento simultâneo tanto de
resistência como de abertura às mudanças. Nessa perspectiva, evoca-se o
‘valor pedagógico da resistência’ para desvelar os interesses imbricados nos
processos de avaliação.
Dessa forma, os componentes cognitivo, afetivo e valorativo, manifestos nas ações
individuais e institucionais, determinam o grau de mobilização necessário ao
desenvolvimento de estratégias de sensibilização para a AAI. Conforme Felício e
Possani (2010, p. 58),
a resistência se dá principalmente pelo fato de que a avaliação expõe as
fragilidades externas de uma instituição e, por mais que ela se proponha a ser
realizada de forma autônoma, há duas expectativas em evidência: uma
primeira é a expectativa externa em relação aos resultados alcançados pela
instituição e a segunda expectativa é interna e tem relação com o que se pode
fazer com tais resultados, bons ou ruins.
Considerando-se o exposto por Abramowicz (1989) e Felício e Possani (2010), os
fatores exógenos, de resistência institucional, evidenciados na relação da IES com o
MEC, incluem desconfiança, conservadorismo, ausência de agentes de transformação e
crença na incompetência dos agentes exteriores. Já os fatores endógenos, de resistência
funcional e individual, detectados na relação da IES com os corpos docente e discente e
seus funcionários/servidores técnico-administrativos, são principalmente a
obrigatoriedade do ato, o desconhecimento dos objetivos e a ausência de postura ativa.
Mesmo depois de decorridos oito anos da instalação da CPA, reafirma-se a dificuldade
da instituição de estabelecer uma cultura avaliativa pela também real dificuldade de
definição de sua identidade institucional. A postura de percepção da AAI como
imposição externa regulatória maximiza a resistência e impossibilita as chances de
autoconhecimento e de valorização da CPA para o provimento de subsídios que
auxiliem a elaboração do planejamento institucional e a tomada de decisões.
Resultados e Discussões
Considerando como marco temporal deste estudo o período de 2004 a 2012, a IFES em
estudo apresentou uma evolução do quantitativo de alunos e cursos de graduação
expressos no Quadro 2.
Nesse mesmo período o número de servidores docentes aumentou praticamente na
mesma proporção. O número de servidores técnico-administrativos (STA), embora
também registre aumento, ficou aquém (Quadro 3).
O Quadro 4 apresenta os cursos de graduação ofertados pela IFES e respectivas áreas do
conhecimento às quais pertencem.
9 GIROUX, Henry. Teoria crítica e resistência em educação: para além das teorias de reprodução.
Petrópolis: Vozes, 1986.
8
Quadro 2: Quantitativo de alunos e cursos da IFES – de 2004 a 2012
Ano Quantitativo
Modalidade Local de Oferta Matrículas ativas Cursos
2004 1995 11 Presencial Sede
2005 2046 11 Presencial Sede
2006 2079 11 Presencial Sede
2007 2280 11 Presencial Sede
1 EaD Polos UAB
2008 2487
11 Presencial Sede
3 Presencial Campus 2
1 EaD Polos UAB
2009 2813
14 Presencial Sede
3 Presencial Campus 2
1 EaD Polos UAB
2010 3577
17 Presencial Sede
9 Presencial Campus 2
1 EaD Polos UAB
2011 3626
20 Presencial Sede
9 Presencial Campus 2
1 EaD Polos UAB
2012 4451
25 Presencial Sede
9 Presencial Campus 2
1 EaD Polos UAB
Fonte: Indicadores da IFES - Portal Acadêmico
Quadro 3: Quantitativo de docentes e STA da IFES – de 2004 a 2012
Servidores Quantitativo de contratações
2004 2012
Docentes 194 480
Técnico-administrativos 279 425
Fonte: CPA – Relatórios
Os quantitativos de cursos, alunos, professores e servidores demonstram que a
instituição, embora universitária participante do REUNI, com uma expansão acelerada
nos últimos quatro anos, continua sendo uma IES de pequeno porte comparada às
demais universidades brasileiras, também públicas e participantes do REUNI.
9
Quadro 4: Quantitativo de Cursos por Área do Conhecimento da IFES
– de 2004 a 2012
Ano Cursos Área do Conhecimento Modalidade Local da Oferta
2004
1 Ciências Sociais e Aplicadas Presencial Sede
3 Ciências Exatas e da Terra Presencial Sede
7 Engenharias Presencial Sede
2005
1 Ciências Sociais e Aplicadas Presencial Sede
3 Ciências Exatas e da Terra Presencial Sede
7 Engenharias Presencial Sede
2006
1 Ciências Sociais e Aplicadas Presencial Sede
3 Ciências Exatas e da Terra Presencial Sede
7 Engenharias Presencial Sede
2007
1 Ciências Sociais e Aplicadas Presencial Sede
3 Ciências Exatas e da Terra Presencial Sede
7 Engenharias Presencial Sede
1 Ciências Exatas e da Terra EaD Polos UAB
2008
1 Ciências Sociais e Aplicadas Presencial Sede
3 Ciências Exatas e da Terra Presencial Sede
7 Engenharias Presencial Sede
3 Engenharias Presencial Campus 2
1 Ciências Exatas e da Terra EaD Polos UAB
2009
1 Ciências Sociais e Aplicadas Presencial Sede
6 Ciências Exatas e da Terra Presencial Sede
7 Engenharias Presencial Sede
3 Engenharias Presencial Campus 2
1 Ciências Exatas e da Terra EaD Polos UAB
2010
1 Ciências Sociais e Aplicadas Presencial Sede
7 Ciências Exatas e da Terra Presencial Sede
9 Engenharias Presencial Sede
9 Engenharias Presencial Campus 2
1 Ciências Exatas e da Terra EaD Polos UAB
2011
1 Ciências Sociais e Aplicadas Presencial Sede
7 Ciências Exatas e da Terra Presencial Sede
12 Engenharias Presencial Sede
9 Engenharias Presencial Campus 2
1 Ciências Exatas e da Terra EaD Polos UAB
2012
1 Ciências Sociais e Aplicadas Presencial Sede
9 Ciências Exatas e da Terra Presencial Sede
1 Ciências Biológicas Presencial Sede
14 Engenharias Presencial Sede
9 Engenharias Presencial Campus 2
1 Ciências Exatas e da Terra EaD Polos UAB
Fonte: Indicadores da IFES - Portal Acadêmico
10
É uma IFES com vocação nas áreas das Engenharias e das Ciências Exatas e da Terra.
Analisando o quantitativo de cursos por área, em 2012, quando finaliza a criação de
cursos na IFES, pelo REUNI, tem-se do total de cursos: sessenta e seis por cento (66 %)
na Área de Engenharias e vinte e nove por cento (29%) na Área de Ciências Exatas e da
Terra, conforme Gráfico 1.
Na mesma região (sul do Estado de Minas Gerais), aproximadamente a 300 km, há duas
universidades federais (nomeadas, neste estudo, como IFES 4 e IFES 5) com número
maior de cursos que a IFES estudada, uma (IFES 2) com o mesmo número de cursos e
uma (IFES 3) com número inferior de cursos, porém todas elas apresentam uma
distribuição diferenciada de cursos por áreas do conhecimento, conforme mostram os
gráficos 2, 3, 4, 5.
66
29
3
3
Gráfico 1: IFES estudada
Comparativo de cursos por área do conhecimento - em 2012
Engenharias
Ciências Exatas e da Terra
Ciências Sociais Aplicadas
Ciências Biológicas
Gráfico 2: IFES 2
Comparativo de cursos por área do conhecimento - em 2012
Engenharias
Ciências Exatas e da Terra
Ciências Sociais Aplicadas
Ciências Biológicas
Interdisciplinar
Ciências da Saúde
Ciências Humanas
Linguística, Letras e Artes
Fonte: emec.mec.gov.br
Fonte: emec.mec.gov.br
11
Gráfico 3: IFES 3
Comparativo de cursos por área do conhecimento - em 2012
Engenharias
Ciências Exatas e da Terra
Ciências Sociais Aplicadas
Ciências Biológicas
Ciências Agrárias
Ciências da Saúde
Ciências Humanas
Linguística, Letras e Artes
Gráfico 4: IFES 4
Comparativo de cursos por área do conhecimento - em 2012
Engenharias
Ciências Exatas e da Terra
Ciências Sociais Aplicadas
Ciências Biológicas
Interdisciplinar
Ciências da Saúde
Ciências Humanas
Linguística, Letras e Artes
Gráfico 5: IFES 5
Comparativo de cursos por área do conhecimento - em 2012
Engenharias
Ciências Exatas e da Terra
Ciências Sociais Aplicadas
Ciências Biológicas
Ciências Agrárias
Ciências da Saúde
Ciências Humanas
Linguística, Letras e Artes
Fonte: emec.mec.gov.br
Fonte: emec.mec.gov.br
Fonte: emec.mec.gov.br
12
Diante do panorama exposto, confirma-se a identidade organizacional de uma
universidade especializada (Engenharias e Ciências Exatas e da Terra) e de pequeno
porte. Seu perfil difere das demais IFES, tanto da região próxima, quanto das demais do
Brasil, nos quantitativos de cursos, alunos e servidores e também nas características e
especificidades das áreas dos cursos ofertados por ela.
Com relação às práticas avaliativas anteriores ao período apresentado nesse conjunto de
dados, não se encontram registros em nenhum documento institucional. Sabe-se,
entretanto, que os centros acadêmicos (iniciativa de discentes, portanto) de alguns
cursos realizavam – e ainda o fazem – avaliação de desempenho do docente. Embora se
caracterize como uma forma de participação organizada, não é uma atividade altamente
sistematizada. Seu resultado é encaminhado à coordenação de curso, cabendo a esta a
realização ou não de algum processo reflexivo.
Tem-se conhecimento também de iniciativas isoladas e igualmente pouco
sistematizadas por parte da própria coordenação de alguns cursos, principalmente por
ocasião do primeiro momento expansivo da IFES. Essas iniciativas foram consideradas,
na análise deste estudo, como mecanismo de consolidação dos novos cursos, em busca
de sua identidade junto aos cursos ditos tradicionais, que fizeram a imagem da
instituição durante seus mais de 80 anos anteriores ao processo de expansão. Assim,
elas não se caracterizam exclusivamente como práticas ativo-reflexivas que norteiam o
planejamento institucional e a tomada de decisões. Pelo contrário, são formas de
participação espontânea que, em vez de contribuir para o fortalecimento da identidade
institucional, salientam as divisões, por destaque do componente valorativo, de
pequenos grupos que constituem o todo de uma instituição em crescimento.
Há falas que se reportam a práticas do docente em, ao fim da sua disciplina, solicitar do
aluno o preenchimento de questionários de avaliação da disciplina e do desempenho
docente. Tais práticas, embora, pelas circunstâncias, sejam de reconhecida ênfase mais
no processo do que no produto, têm alcance e divulgação limitados, centralizando-se na
reflexão da própria prática pedagógica, sem um movimento que amplie a visão do
processo avaliativo para outras dimensões além do ensino.
Percebe-se, dessa maneira, que, como práticas isoladas que foram, pouco contribuíram
para o desenvolvimento da cultura avaliativa na instituição, além de, pela falta de
sistematização, de constância, de registro e de feedback, ficarem restritas ao contexto
situacional da sala de aula. Essa limitação do espaço, nesta análise, é vista como fator
excludente, que não incentiva a participação em sua totalidade e reforça a fragmentação,
em vez de dar unidade ao processo. Colabora para isso, a existência de instrumentos
paralelos que não “dialogam” entre si e que “se fecham” ao olhar externo.
Com a instalação da CPA, os movimentos de resistência à prática autoavaliativa e
inclusive de não aceitação do olhar externo tornam-se mais visíveis, embora haja uma
aparente conformidade com as ações desenvolvidas. Destaca-se que todas as práticas
avaliativas existentes antes da CPA, apesar da falta de alcance da totalidade da
instituição, continuam acontecendo paralelamente ao trabalho de unificação da CPA.
As estratégias de sensibilização logo no primeiro ano dos trabalhos da CPA foram
sustentadas por passos e princípios metodológicos da avaliação emancipatória.
Realizaram-se vários encontros nas diversas instâncias da universidade, na tentativa de
13
articular discentes, docentes, funcionários e diretores num trabalho de avaliação
contínua da atividade acadêmica, administrativa e pedagógica da Instituição. Um dos
questionamentos levantados nessa ocasião, conforme o relatório apresentado ao MEC,
já era justamente “Como fica o enquadramento das forças conservadoras e progressistas
no exercício da avaliação participativa?” Em decorrência dos questionamentos
apontados, o documento traz a seguinte exposição:
É preciso que esta reflexão, além de crítica, seja também, coletiva. Coletiva,
justamente para permitir a readequação do modelo, para pensar alternativas,
para encontrar um caminho necessário a uma mudança de paradigmas em
termos de avaliação institucional. Porém, como realizar uma avaliação que
não descaracterize o grupo de suas relações e que seja um processo de
crescimento destas relações?
A abordagem qualitativa, na vertente da avaliação emancipatória, surge como
o caminho possível para efetuar uma avaliação que não seja um ato
autoritário e/ou de um pequeno grupo de “notáveis”. É o caminho que
permite desvelar o que está por trás das aparências de funções, desempenhos
e relações estabelecidas na Instituição.
(Fonte: CPA – Relatório 2005)
Lê-se, nesse mesmo documento:
O trabalho de conscientização da comunidade interna foi feito sob forma de
pequenas reuniões em vários espaços da instituição. As reuniões com os
diversos segmentos dentro da instituição aconteceram nos meses de agosto e
setembro de 2005. Devidamente agendadas, as reuniões atingiram os
servidores, os docentes e a administração da UNIFEI. Não foi possível
realizar reuniões com todos os discentes por questões de horários de aula e
espaço físico e por isso, os docentes foram convidados a multiplicarem o
convite aos discentes.
Considerando que o trabalho de conscientização junto à comunidade sobre a
importância da contribuição individual no processo de avaliação foi feito
pelos membros da comissão no corpo-a-corpo, isso pode ter restringido
atingir um número maior de pessoas nos segmentos que não estão
diretamente ligados à instituição. A participação de discentes, tanto de
graduação quanto de pós-graduação também não foi expressiva.
O documento principal de sensibilização, (...) em forma de lâminas, foi
utilizado pelos membros da comissão para, principalmente, docentes,
técnicos e discentes da graduação.
(Fonte: CPA – Relatório 2005)
A expectativa dos segmentos envolvidos mostrou-se, nos momentos coletivos,
relativamente alta, em especial o corpo docente e os STA, quando convidados a
reuniões explicativas e também quando da apresentação dos resultados em seminário
específico para tal fim na própria IES. Nos momentos individuais (preenchimento de
questionários), o impacto não se fez tão forte. Estratégias de “corpo-a-corpo” foram as
mais funcionais, até porque se decidiu pela não obrigatoriedade de os segmentos
responderem aos questionários de autoavaliação (Quadro 5).
No entanto, devido à desconsideração dos resultados, por meio de ações de reflexão e
meta-avaliação, no planejamento institucional gerou certo descrédito nos vários
segmentos e não fomentou o envolvimento dos discentes. Esse comportamento
fortaleceu a visão burocrática da AAI e a concepção regulatória do SINAES,
valorizando a importância do produto, em cumprimento ao artigo 61-D da Portaria nº
14
40, de 12 de dezembro de 2007, consolidada e publicada em 29 de dezembro de 2010
(BRASIL, 2010), em detrimento do processo.
Quadro 5: Participação no 1º ciclo avaliativo da CPA por segmento – 2004/2006
Segmento Total
(2005)
Cadastrados Participantes Participantes
(% total)
Cadastrados
(%)
Aluno de
graduação
2.099 851 406 19,3 47,7
Aluno de
pós-
graduação
873 45 10 1,1 22,2
Comunidade
externa
– 10 4 – 40,0
Docentes 194 194 161 83,0 83,0
Docentes
aposentados
59 8 3 5,1 37,5
Ex-alunos*
7.471 12 0 0,0 0,0
STA 279 279 267 95,7 95,7
STA
aposentados
121 17 4 3,3 23,5
*Os ex-alunos registrados são: 6.690 graduados, 741 mestres e 40 doutores.
Fonte: CPA – Relatório 2005.
O último relatório encaminhado ao MEC registra um baixo contingente de respondentes
(Quadro 6).
Quadro 6: Participação no 5º ciclo avaliativo da CPA por segmento – 2012
Segmento Total Respondentes Percentagem
Docentes 480 159 33,13
STA 425 44 10,35
Discentes - Graduação 4759 180 3,78
Discentes – Pós-Graduação 2709 4 0,15
Fonte: CPA – Relatório Parcial 2013.
É notório o significado dado à avaliação da dimensão 1 (Missão e planos de
desenvolvimento institucional), em que se observa o desconhecimento dos segmentos
envolvidos bem como a dificuldade em dirimir as dúvidas quando dos questionamentos,
e a resistência, por parte da gestão, em criar mecanismos de esclarecimento e
divulgação do PDI. O último relatório da CPA destaca, nesse item:
Quanto ao PDI e ao PPI, nota-se que o desconhecimento é grande, como já
observado nas últimas avaliações. Não se tem registro de nenhuma ação
desenvolvida para melhorar esse quadro, apesar de a instituição ter
vivenciado em 2012 o desenvolvimento de um esboço de Planejamento
15
Estratégico, cujos documentos ficaram disponíveis na página eletrônica da
instituição.
(Fonte: CPA – Relatório Parcial 2013)
A produção de sentidos para os dados obtidos a partir da aplicação do instrumento
avaliativo demonstra tanto a fragilidade das estratégias de sensibilização até então
utilizadas quanto os mecanismos de resistência às ações desenvolvidas. Ademais,
conforme Guedes e Krames (2010, p. 27), as instituições educacionais “são espaços
sociais formados por sujeitos histórico-sociais, que possuem suas ideologias e, portanto,
não aceitam tacitamente as que lhe são impostas. Assim como elas reproduzem as
ideologias, elas também as produzem”. Essas instituições “são espaço de luta e
conflitos”.
O desvelamento dessa resistência por meio de abordagens diferenciadas de
sensibilização para a participação dos vários segmentos dá a possibilidade de se
verificar se ela é
reveladora da insatisfação e da incredibilidade com a política de avaliação do
MEC em vigor, ou mesmo uma forma de ressignificação das relações de
poder, vez que este não é unidimensional. Ele tanto pode ser exercido como
uma forma de dominação, como um ato de resistência, ou ainda como
expressão de uma maneira criativa de produção cultural e social,
desvinculado de dominação (GUEDES E KRAMES, 2010, p. 28).
Cabe ressaltar que os segmentos que menos percebem sua importância no processo de
gestão e de tomada de decisões mantêm-se alheios aos apelos da AAI. Em seu discurso,
valem-se da imagem institucional, caracterizada pela repetição de rótulos inscritos em
documentos e outros discursos produzidos pela instituição, tais como “universidade
especializada” e “universidade tecnológica”.
Fica patente ainda que a AAI não subsidia a gestão acadêmica, quando as instâncias de
elaboração do planejamento institucional não se valem das informações advindas dos
relatórios elaborados pela CPA, não cogitam nem instigam a análise dos dados nem
consideram a participação desta em sua programação, conferindo à comissão um papel
de lócus para o cumprimento das obrigações legais da instituição com o MEC.
Considerações Finais
As análises empreendidas proporcionaram algumas conclusões em relação ao
desenvolvimento de uma cultura avaliativa. A identidade institucional e a imagem
estabelecida pelos atores envolvidos no processo de AAI são essenciais para que haja
interesse em participar de qualquer proposta de autoavaliação.
A legislação vigente aposta na tentativa da AAI, com proposta formativa, colocando a
CPA no foco dessa proposta. A existência de uma filosofia avaliativa que funcione
como ponto de partida para o desenvolvimento e a ampliação dessa proposta faz
diferença quanto à receptividade das ações. Quando a cultura avaliativa formativa,
reflexiva, emancipatória já faz parte da rotina da IES, a sensibilização, de certo modo, é
automática. Os sujeitos envolvidos se vêem participantes já de modo organizado.
Quando não há essa cultura avaliativa, é preciso criar estratégias de sensibilização que
amenizem a resistência e o descrédito que se observam em todas as etapas do processo
de autoavaliação.
16
Por este estudo, conclui-se ainda que os mecanismos de resistência que incluem a
manutenção de instrumentos autoavaliativos paralelos, mas desconectados da CPA,
demonstram a não aceitação do olhar externo. A importância dada ao trabalho da CPA
tende a ser proporcional ao grau de conhecimento que os segmentos envolvidos têm
tanto sobre a necessidade do exercício de autoavaliação quanto sobre a criação e o
fortalecimento da identidade institucional.
Referências
ABRAMOWICZ, M. Avaliando a avaliação da aprendizagem: um novo olhar. São
Paulo: Lúmen, 1996.
ABRAMOWICZ, M. Programa de ensino inovador: implantação e análise crítica.
Cadernos Brasileiros de Educação. v.6. São Paulo: CLR Balieiro, 1989.
BRASIL. Lei nº 10.435, de 24 de abril de 2002. Brasília: Diário Oficial da União
(DOU), 2002.
BRASIL. Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004. Brasília: Diário Oficial da União
(DOU), 2004.
BRASIL. MEC. Portaria Normativa nº 40, de 12 de dezembro de 2007, republicada em
29 de dezembro de 2010. Brasília: Diário Oficial da União (DOU), 2010.
DIAS SOBRINHO, J.; RISTOFF, D. (org.). Avaliação e Compromisso Público: a
Educação Superior em Debate. Florianópolis: Editora Insular. 2003.
FELÍCIO, Helena Maria dos Santos; POSSANI, Lourdes de Fátima Paschoaletto.
Desdobramentos da avaliação interna nas IES. In: LARA, M.R.; MONIZ, M.I.A.S.;
ABRAMOWICZ, M (orgs.). Políticas públicas de avaliação: uma pesquisa em
currículo. Série Currículo: questões atuais. v.1. p.55-66. Curitiba: CRV, 2010.
FERNANDES, M. E. R.; MARQUES, A. L.; CARRIERI, A. P. Identidade
organizacional e os componentes do processo de identificação: uma proposta de
integração. Cad. EBAPE.BR. v. 7, n. 4, Rio de Janeiro, p.687-703, Dez. 2009
. Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-
39512009000400011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 07 Set. 2013.
GUEDES, M. Q.; KRAMES, I. P. O processo de avaliação interna desenvolvido para
atender ao SINAES. In: LARA, M.R.; MONIZ, M.I.A.S.; ABRAMOWICZ, M (orgs.).
Políticas públicas de avaliação: uma pesquisa em currículo. Série Currículo: questões
atuais. v.1. p.19-31. Curitiba: CRV, 2010.
LIMA, L. C. A escola como organização educativa. 2.ed. São Paulo: Cortez, 2003.
RISTOFF, D.; GIOLO, J. O Sinaes como sistema. R B P G. Brasília, v. 3, n. 6, p.193-
213, dez. 2006.
SINAES. Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior: da concepção à
regulamentação. 5.ed. Brasília: INEP, 2009.