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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE LUCIANA DA RESSURREIÇÃO SANTOS CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL E DOENÇA RENAL CRÔNICA Goiânia 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

LUCIANA DA RESSURREIÇÃO SANTOS

CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL E DOENÇA RENAL

CRÔNICA

Goiânia 2017

ii

LUCIANA DA RESSURREIÇÃO SANTOS

CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL E DOENÇA RENAL CRÔNICA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Goiás para obtenção do Título Mestre em Ciências da Saúde.

Orientador: Prof.° Dr. Paulo César Brandão Veiga Jardim Coorientadora: Prof.ª Dra. Edna Regina Silva Pereira Linha de pesquisa: Dinâmica do Processo Saúde-Doença.

Goiânia 2017

iii

ficha catalográfica

iv

v

A Deus, meu Criador e Guia em todos os momentos da minha vida.

Aos meus amados pais, José da Ressureição e Alzira da Ressurreição Santos,

razão da minha vida.

vi

AGRADECIMENTOS

Aos meus amados pais, José da Ressureição e Alzira da Ressurreição

Santos, que me deram toda estrutura necessária para um caminho de aprendizado,

responsáveis pela minha formação, baseada no respeito ao próximo, no amor pela

família, na dedicação ao trabalho e no gosto pelo estudo. Presentes nas vitórias e

derrotas, erros e acertos, risos e lágrimas, não me permitindo jamais estar só.

As minhas filhas, Isabel e Alice, a caminho com muito amor.

A Maria Marta Isaura dos Santos e Jobelina Isaura dos Santos, cúmplices dos

meus pais na minha formação, me ensinando a importância em partilhar sentimentos

bons, palavras edificantes, e estímulos às lutas diárias.

Aos meus irmãos, Luciano, Lucilene, Lucio e Lúzio, meus melhores amigos,

que me fortalecem a cada degrau que sobem comigo.

Ao meu marido, Sebastião José de Souza, por todo amor, paciência,

compreensão e apoio em meus projetos.

Aos meus amados pacientes, que me formaram e me mostram dia-a-dia o

quão certa foi minha escolha profissional; Que cedem suas vidas aos meus

cuidados, com confiança, carinho e gratidão.

Aos professores de toda minha formação acadêmica, que me conduziram até

onde estou, com muita dedicação, sendo exemplo para minha conduta.

Aos funcionários e colegas de estudo da Unidade de Pesquisa Clínica e da

Liga de Hipertensão Arterial, em especial Rafaela Bernardes, Ymara Cássia Luciana

e Ana Carolina Arantes, que dividiram tarefas, conhecimentos, angústias e vitórias.

À Beatriz Maria, que em seu trabalho tão doativo, permite que façamos

sempre o melhor aos pacientes, não se esquecendo de nossas necessidades e nos

cuidando com amor materno.

A Profa. Dra. Ana Luiza Lima Sousa, por ter me acolhido, doando

conhecimento técnico e afeto durante meu mestrado.

Aos meus orientadores Prof. Dr. Paulo César Brandão Veiga Jardim, pelo

empenho no meu aprendizado, desde a graduação, dividindo conhecimento e

contribuindo para meu crescimento e Profª. Drª. Edna Regina Silva Pereira, por me

conduzir com carinho e dedicação, me apoiando nos momentos difíceis, fonte de

muita admiração, carinho, respeito e influenciadora de minha escolha profissional.

vii

APOIO

Este projeto foi realizado com recursos da Liga de Hipertensão Arterial

Universidade Federal de Goiás e complementado com recursos próprios.

Sumário viii

SUMÁRIO

TABELAS FIGURAS ANEXOS IX

SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS X

RESUMO XII

ABSTRACT XIV

1- INTRODUÇÃO

1.1- Hipertensão arterial: conceito, prevalência e fatores de risco

1.2- Hipertensão arterial primária

1.3- Lesão renal secundária a hipertensão primária: doenças renal hipertensiva

1.4- Diagnóstico de doenças renal hipertensiva

1.5- Risco de doenças renal hipertensiva

1.6- Importância do tratamento medicamentoso e efeitos na função renal

1.7- Doença renal crônica

1.8- Hipertensão arterial controlada leva à doenças renal crônica?

2- OBJETIVOS

2.1- Objetivo Geral

2.2- Objetivos Específicos

3- MÉTODOS

01

01

02

03

03

04

05

07

11

12

12

12

13

3.1- Tipo de Estudo 13

3.2- Local do Estudo 13

3.3- População e Amostragem 13

3.4- Critérios de Elegibilidade 13

3.4.1- Critérios de Inclusão 13

3.4.2- Critérios de Exclusão 14

3.5- Procedimentos do Estudo 14

3.5.1- Variáveis estudadas 15

3.6- Análise Estatística 16

3.7- Aspectos Éticos 17

4- PUBLICAÇÕES 19

ARTIGO 1 – Controle da Pressão Arterial e Doença Renal Crônica em Hipertensos

Primários em Vigência de Tratamento

20

5- CONSIDERAÇÕES FINAIS 45

REFERÊNCIAS 46

ANEXOS 50

Tabelas, figuras e anexos ix

TABELAS, FIGURAS E ANEXOS

Figura 1 Equações de estimativa da TFG. 08

Figura 2 Prognóstico de DRC e Categorias de TFG segundo KDIGO 2012.

Figura 3 Desenho do estudo.

10

15

ARTIGO 1

Tabela 1 Caracterização sociodemográfica e clínica da amostra de pacientes atendidos na LHA/UFG de acordo com o controle pressórico. Goiânia, Goiás. 2016.

37

Tabela 2 Distribuição das variáveis clínicas quanto ao controle da pressão arterial. Goiânia, Goiás, 2016.

38

Tabela 3 Distribuição do controle da pressão arterial, segundo o período de seguimento e a diferença dos valores de taxa de filtração glomerular estimada pela fórmula CKD-EPI. Goiânia, Goiás, 2016. Tabela 4 Distribuição da doença renal crônica conforme a taxa de filtração glomerular estimada segundo controle de pressão arterial (<140/90mmHg) e período de seguimento. Goiânia, Goiás, 2016. Gráfico 1 Distribuição dos pacientes da LHA/UFG com hipertensão arterial primária de acordo com a taxa de filtração glomerular estimada no início e final do seguimento. Goiânia, Goiás, 2016.

27

38

39

39

Anexo A Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa. 50

Símbolos, siglas e abreviaturas x

SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS

AASK African American Study of Kidney Disease and Hypertension

APrODiTe Active Prevention in High Risk individuals of Diabetes Type 2 Eindhoven

ASCOT Anglo-Scandinavian Cardiac Outcomes Trial

AVE Acidente vascular encefálico

CG Cockcroft–Gault

CKD EPI The Chronic Kidney Disease Epidemiology Collaboration Equation

C-STRIDE Chinese Cohort Study of Chronic Kidney Disease

DM Diabetes melitus

DCV Doença cardiovascular

DRC Doença renal crônica

DRH Doença renal hipertensiva

HVE Hipertrofia ventricular esquerda

IC Intervalo de confiança

IMC Índice de Massa corporal

KDIGO Kidney Disease Improving Global Outcomes

KDOQI Kidney Disease Outcome Quality Initiative

LHA Liga de hipertensão arterial

MAPA Medida ambulatorial da pressão arterial

MDRD Modification of Diet in Renal Disease

MRFIT Multiple Risk Factor Intervention Trial

MRPA Medida residencial da pressão arterial

NH Nefroesclerose hipertensiva

NHANES National Health and Nutrition Examination Survey

OMS Organização Mundial de Saúde

Símbolos, siglas e abreviaturas xi

ONTARGET Ramipril Global Endpoint Trial

PA Pressão arterial

PAD Pressão arterial diastólica

PAS Pressão arterial sistólica

PNS

SPRINT

Programa Nacional de Saúde

Systolic Blood Pressure Intervention Trial

SRAA Sistema renina-angiotensina-aldosterona

SUS Sistema Único de Saúde

TRANSCEND

The Telmisartan Randomized Assessment Study in ACE intolerant participants with cardiovascular Disease

TFG Taxa de filtração glomerular

TRS Terapia renal substitutiva

UFG Universidade Federal de Goiás

Resumo xii

RESUMO

SANTOS, L. R. Controle da pressão arterial e doença renal crônica. 2017.

Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO.

Objetivo: Identificar a associação entre Doença Renal Crônica (DRC) e controle de

Pressão Arterial (PA) em pacientes portadores de hipertensão arterial (HA). Material

e Método: Estudo longitudinal, descritivo e retrospectivo realizado na Liga de

Hipertensão Arterial (LHA) do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de

Goiás. Critérios de inclusão: pacientes com HA maiores que 18 anos de idade, de

ambos os sexos com seguimento na LHA há pelo menos um ano. Excluídos:

pacientes com HA secundária, diabéticos, gestantes, com hematúria, com

proteinúria > 1g/24h ou > 2+ (100-300mg/dL) no exame simples de urina e

cilindrúria. Estudo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das

Clínicas da UFG. Realizada revisão de prontuário, com coleta de dados da história

clínica, dados sócio-demográficos, valores de PA, resultados de creatinina sérica da

primeira consulta na LHA e da última consulta médica em 2015. Após coleta de

dados dois grupos foram formados de acordo com o controle da PA em 2015:

pacientes hipertensos controlados com PA < 140x90mmHg e pacientes hipertensos

não controlados com PA ≥ 140x90mmHg. Variáveis: idade, sexo,

sobrepeso/obesidade, raça (branco, não branco), atividade física (regular, irregular e

ausente), tabagismo (tabagista, ex-tabagista e não tabagista), medidas de PA,

história pregressa pessoal e familiar de doença cardiovascular e renal, taxa de

filtração glomerular estimada (TFGe). As variáveis numéricas são apresentadas em

média (± desvio padrão). Foi utilizado o teste de Shapiro-Wilk para análise da

distribuição de normalidade das variáveis contínuas; para a comparação de médias

foi aplicado o teste T-Student para amostras relacionadas ou U de Mann-Whitney. O

teste de qui-quadrado de Pearson ou Análise de Variância (ANOVA) foram utilizados

para analisar associação entre variáveis categóricas. Para todos os testes foi

considerado o nível de significância de 5% e intervalo de confiança de 95%.

Resultados: Participaram do estudo 164 pacientes, sendo 119 com PA não

controlada e 45 com PA controlada. A idade média dos pacientes foi 64,14 anos,

com predomínio de mulheres. Não houve diferença entre raças. Pacientes com

Resumo xii

excesso de peso predominaram, sem mudanças ao longo do tempo. Predominaram

ex-tabagistas e não tabagistas. Sedentarismo foi mais evidente em mulheres. Houve

redução da TFGe em todos os pacientes, mas sem diferença em relação ao controle

da PA. A análise dos dados considerando o grupo com DRC e PA controlada e DRC

e PA não controlada não mostrou diferença estatisticamente significativa em relação

à idade, sexo, raça, pressão arterial, IMC, atividade física e creatinina inicial. O

tempo de seguimento dos pacientes não controlados e com DRC foi maior.

Predominaram pacientes em categorias iniciais de DRC. Conclusão: O tempo de

HA foi mais importante para o estabelecimento de DRC que o controle da PA no

estudo. Há alta prevalência de pacientes em categorias iniciais da DRC, visto com a

medida de creatinina sérica. É necessário rever as metas pressóricas a fim de se

obter nefroproteção em pacientes de risco.

Palavras - chave: Hipertensão arterial. Insuficiência renal crônica. Taxa de filtração

glomerular. Nefroesclerose. Pressão arterial.

Resumo xii

ABSTRACT

SANTOS, L.R. Control of blood pressure and chronic kidney disease. 2017. Master’s

Degree Dissertation – Federal Univesity of Goiás, Goiânia, GO.

Objective: Identify the association of chronic kidney disease (CKD) and Blood

Pressure (BP) control in hypertensive patients. Methods: Longitudinal descriptive

and retrospective study conducted at the Federal University of Goias Clinics Hospital

Hypertension League. Inclusion criteria: hypertensive patients older than 18 years,

both males and females with at least one year of follow-up. Exclusion: secondary

hypertension, diabetes, pregnant women, hematuria, proteinuria > 1g/24h or > 2+

(100-300mg/dL) and cilindruria. The study was approved by the Ethics Research

Committee of the Clinics Hospital at Federal University of Goias. Medical charts

review collected data on clinical history, sociodemographic, BP, serum creatinine

from the first and last visit (2015) to the service. After the initial data collection two

groups were determined: controlled hypertensives (BP<140/90mmHg) and

uncontrolled hypertensives (BP≥140/90 mmHg). Variables: age, sex,

Overweight/obesity, race (white, black), physical activity (regular, irregular and

absent), smoking (smoker, nonsmoker and former smoker), BP, former personal and

family history of cardiovascular and renal disease, estimated glomerular filtration rate

(eGFR). The Shapiro-Wilk test was used to analyze the distribution of normality of the

continuous variables; for the comparison of means the Student's T-test for related

samples or Mann-Whitney U was applied. The Pearson chi-square test or Analysis of

Variance (ANOVA) were used to analyze association between categorical variables.

For all tests the significance level of 5% and 95% confidence interval were

considered. Results: 164 patients participated in the study, 45 in the controlled

hypertensive group and 119 in the uncontrolled group. The mean patients age was

64.14 years, with predominance of women. There was no difference between races.

Patients with overweight were the majority, with no changes over time. Former

smokers and non-smokers were also the majority. Sedentary lifestyle was more

evident in women. There was eGFR reduction in all patients, with no differences in

relation to BP control. Data analysis considering the group with CKD and controlled

BP x CKD and uncontrolled BP showed no statistically significant difference in

Resumo xii

relation to age, sex, race, BMI, blood pressure, physical activity and initial creatinine.

Follow-up of patients with CKD and controlled BP was higher. Most patients were in

early CKD stages. Conclusion: Hypertension time was more important to the

establishment of CKD than BP control in the study. There is a high prevalence of

patients in early CKD stages, seen by serum creatinine measurements. It is

necessary to review blood pressure goals in order to obtain nephroprotection in

patients at risk.

Key words: Hypertension. Chronic kidney failure. Glomerular filtration rate.

Nefroesclerosis. Blood pressure.

Introdução 1

1 INTRODUÇÃO

1.1 Hipertensão arterial: conceito, prevalência e fatores de risco.

Hipertensão arterial (HA) é uma condição clínica multifatorial caracterizada

por níveis elevados e sustentados da pressão arterial (PA). Está presente quando os

níveis pressóricos atingem valores de pressão sistólica (PAS) ≥ 140 e/ou pressão

diastólica (PAD) ≥ 90 mmHg. Esta pode se associar a alterações metabólicas e

alterações de função e estrutura de órgãos considerados órgãos-alvo (coração, rins,

cérebro, vasos sanguíneos), agravada por outros fatores de risco, como dislipidemia,

obesidade abdominal, intolerância à glicose e diabetes melitus (DM) (MALACHIAS

MVB et al., 2016).

A HA acomete em torno de 1 bilhão de pessoas, representando mais de 25%

da população mundial (KEARNEY et al., 2005). É, segundo a Organização Mundial

da Saúde (OMS), respons vel por 9,4 milhões de mortes no mundo. Há uma relação

direta e linear entre HA e idade, com prevalência acima de 60% em indivíduos

maiores que 65 anos. Na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) realizada em 2013,

observou-se que 24,2% de mulheres referiram diagnóstico médico de HA, enquanto

18,3% dos homens fizeram este relato. Estima-se que no Brasil H atinge 2

( milh es de indiv duos adultos (SCALA et al., 2015). Pessoas de raça negra/cor

preta são mais afetados pela doença (MALACHIAS et al., 2016)

A HA tem alta prevalência e é fator de risco isolado importante para doença

cardiovascular (DCV), acidente vascular encefálico (AVE) e doença renal crônica

(DRC), responsáveis por altos índices de internação e custos socioeconômicos

(MALACHIAS et al., 2016).

Em um estudo realizado pela Sociedade de Hipertensão e Doença Renal da

Turquia (The Paten T), iniciado em 2003, com seguimento de 4 anos, foi analisada a

prevalência, conhecimento, tratamento e controle da HA. Os dados encontrados

mostraram uma prevalência alta, com taxas de controle inadequadas e pouca

percepção da doença. Mais de 30% das pessoas envolvidas na pesquisa nunca

haviam aferido a PA (ALTUN et al., 2005). Em 2012 este estudo foi repetido (The

Paten T 2 Study), mostrando maior índice de diagnóstico de HA, com maior

percepção da doença e necessidade de políticas públicas para identificação e

Introdução 2

controle deste fator de risco importante e modificável (ALTUN B., 2005). o Brasil

uma revis o reali ada em 2015, mostrou que as taxas de conhecimento (22% a

77%), de tratamento (11,4% a 77,5%) e de controle (10 1 a da P tam m

variaram astante dependendo da popula o estudada (SCALA et al., 2015). Em

Goiânia, em 2003, em estudo populacional, foram avaliados 1.739 pacientes, sendo

64,3% a taxa de conhecimento da doença, 43,4% a taxa de tratamento e 12,9% a

taxa de controle (JARDIM et al., 2007).

O excesso de peso e obesidade central aumentam o risco de

desenvolvimento da doença. A ingesta de sódio, excessiva em nosso meio e um dos

principais fatores de risco para HA, associa-se a eventos cardiovasculares e renais.

O consumo excessivo de álcool relaciona-se ao desenvolvimento de HA e seu

descontrole (MALACHIAS et al., 2016). Fatores genéticos estão implicados, mas não

se tem ainda variantes genéticas que possam predizer o risco individual de

desenvolver HA (OLIVEIRA et al., 2008). Fatores socioeconômicos são difíceis de

avaliar mas no Brasil, assim como em outras regiões do mundo, a HA é mais

prevalente entre pessoas com menor escolaridade. De outro lado, a atividade física

relaciona-se a níveis tensionais mais controlados inclusive em pré-hipertensos e

menor risco de DCV (CESARINO et al., 2008).

1.2. Hipertensão arterial primária.

A HA essencial ou primária é uma doença poligênica, com interações

genéticas e ambientais que definem sua expressão (WHO, 1978; ASIA PACIFIC

COHORT STUDIES COLLABORATION, 2003; LEWINGTON at al., 2002; LAWES,

2006). É definida como a incapacidade de múltiplos mecanismos compensatórios

envolvidos no controle da pressão arterial em mantê-la em limites apropriados. O

controle fisiológico da PA é uma função hemodinâmica, dependente de entradas

neurais e peptídeos vasoativos e hormonais, papel exercido pelos rins de forma

primordial. O controle da PA envolve regulação renal de sódio e água em um

sistema de feedback negativo clássico. Quando isto se torna disfuncional, o aumento

da PA leva a lesão renal (PALMER, 2001). A hipertensão é o produto de genes de

susceptibilidade em um ambiente incompatível. Neste contexto, a história da família,

idade, sexo, raça, status socioeconômico, nutrição, consumo de sal, obesidade,

atividade física, stress psicológico, tabagismo, clima e várias toxinas são relevantes.

Introdução 3

É discutível se eles operam de forma independente ou em conjunto com sistema

nervoso simpático hiperativo. A capacidade prevista dos rins para o controle

pressão-natriurese pode ser ultrapassado tanto por uma carga excessiva muito

crônica de sal ou pela redução absoluta em número de néfrons (MELVIN, 2015).

1.3. Lesão renal secundária à hipertensão primária: doença renal

hipertensiva.

A HA é acompanhada por alterações em vasos sanguíneos e especialmente

no rim, podendo estas serem a causa ou a consequência da ação da PA elevada no

tecido renal e/ou efeito do envelhecimento. No segundo caso, tem-se a

nefroesclerose ou nefroangioesclerose hipertensiva (NH), lesão histopatológica que

se refere à doença renal hipertensiva (DRH) (MEYRIER, 1999; FREEDMAN et al.,

1995; LUFT, 2004; B DIEZ OJEA et al., 2010).

Observa-se espessamento da camada média e hialinose das arteríolas

aferentes, com depósitos frequentes e graus variados de fibrose. A hialinose é

devido à lesão endotelial e pressão aumentada, levando a uma exsudato de

macromoléculas plasmáticas. Estão associadas alterações isquêmicas glomerular e

focais com espessamento e enrugamento da membrana basal e/ou esclerose global,

atrofia tubular e fibrose intersticial. A esclerose global é mais comumente

obsolescente, com material fibrótico ocupando o espaço de Bowman, dando indícios

de que o processo de esclerose segmentar é secundária à lesão associada à

hipertensão, e não idiopática (FOGO et al., 2006).

Postula-se que a progressão da DRH esteja relacionada à raça negra ou

branca geneticamente predisposta, com a presença de alelos MYH9 e APOL1, à

idade mais avançada, ao grau de lesão renal no momento do diagnóstico, aos níveis

de PAS, ao grau de proteinúria e ao uso de medicamentos que agem no sistema

renina-angiotensina-aldosterona (MARCANTONI et al., 2002; FREEDMAN et al.,

2009).

1.4. Diagnóstico de doença renal hipertensiva.

Na DRH não há sinais ou sintomas específicos da doença, acomete

principalmente homens com idade entre 55 a 60 anos de idade. A idade de início de

Introdução 4

DRC em estágio terminal para africano-americanos varia entre 45 e 64 anos de

idade, enquanto que para os caucasianos é maor que 65 anos de idade. A evidência

de DCV associada é notória. A doença tem progressão lenta, principalmente em

brancos não geneticamente predispostos (B DIEZ OJEA et al., 2010).

Sugere-se que o diagnóstico clínico na ausência de biópsia renal seja feito

por meio de história clínica cuidadosa mostrando HA de longa data com evidência de

lesão em outros órgãos (retinopatia graus I e II ou hipertrofia de ventrículo esquerdo

- HVE), função renal normal quando do diagnóstico de HA e proteinúria mínima

(SCHLESSINGER; TANKERSLEY; CURTIS, 1994). Fogo et al., (1997) investigando

a acurácia do diagnótico clinico de nefroesclerose hipertensiva para o estudo African

American Study of Kidney Disease (AASK), demonstrou em uma série de 39

biopsias renais de afro-americanos, hipertensos, não diabéticos e com a razão

proteina/creatinina na urina < 2,0, que as lesões vasculares renais nas biópsias

eram consistentes com o diagnóstico clinico de nefrosclerose hipertensiva. Todavia,

na prática clínica o diagnóstico de DRH tende a ser superestimado, pois em geral é

feito com dados clínicos incompletos, sem evidências de que a HA preceda a DRC

ou biópsia renal (CAETANO et al., 2001; PIRKLE; FREEDMAN, 2013).

1.5. Risco de doença renal hipertensiva

A HA primária geralmente é diagnosticada entre 25 e 45 anos de idade e as

alterações renais secundárias geralmente com 10 anos de HA não controlada. O

estudo Multiple Risk Factor Intervention Trial (MRFIT) avaliou, durante 16 anos, em

332.544 pacientes hipertensos, o impacto do controle de fatores de risco para lesão

de órgãos alvo. Segundo o MRFIT, considerando a classificação de HA da época, o

risco relativo de pessoas não hipertensas desenvolverem DRC é de 1,9. O risco

relativo de HA estágio 1 em desenvolver DRC é de 3,1, a HA estágio 2 eleva o risco

para 6, o estágio 3 para 11,2 e o estágio 4 faz o risco chegar a 12,4 (KLAU et al.,

1996).

No estudo de Yuichiro et al, 2012, que avaliou na população japonesa fatores

de risco relacionados com DRC, a pré-hipertensão (PAS 120-139 / PAD 80-

89mmHg), foi enfatizada como um fator de risco independente, com resultados

estatisticamente significativos. Tal dado foi correlato ao observado pelo National

Introdução 5

Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) III, publicado na mesma época.

Este demonstrou que a prevalência de DRC em pré-hipertensos foi de 17,3%,

enquanto nos indivíduos com PA ótima foi de 13,4%. A maior prevalência de DRC,

seguindo suas categorias, relacionando proteinúria e pré-hipertensão também foi

demonstrada neste estudo. No mesmo estudo, ainda que considerando fatores de

risco como obesidade, idade, sexo, tabagismo, etilismo, a associação entre pré-

hipertensão e DRC foi mantida. Digno de nota, é que a população eleita para o

estudo não estava ainda sob tratamento farmacológico para HA (YANO;

FUGIMOTO, 2012).

Em relação à HA, a proteinúria já é considerada um marcador precoce de

nefropatia e aumento do risco cardiovascular. Em pacientes com hipertensão

primária a prevalência de proteinúria varia em torno de 4 a 46% (esta discrepância

nos dados, refere–se a diferentes métodos de coleta e subgrupos populacionais)

(VERDECCHIA; REBOLDI, 2004). Dado de grande relevância para o aumento de

morbimortalidade é o encontro de proteinúria e a presença de HVE. Em pacientes

em categorias avançadas da doença renal ou em tratamento dialítico, estudos

demonstram um efeito J (curva J)–reverso na relação HA com mortalidade, ou seja,

pacientes com pressões mais baixas também apresentam risco cardiovascular

aumentado (BORTOLOTTO, 2008). Esses dados devem ser analisados com cautela,

pois estes indivíduos já possuem importante disfunção de ventrículo esquerdo. Outro

ponto que merece destaque é a disfunção diastólica, como responsável por aumento

da morbimortalidade em DRC (PANTAGE, 2013). No estudo de Armario et al, em

2010, com uma população de 513 pacientes, a prevalência de HVE e disfunção

diastólica, determinadas pelo ecocardiograma foi de 57,1% e 10% respectivamente.

Nestes pacientes, proteinúria foi encontrada em 46,6% dos indivíduos (WILLIAMS,

2010).

1.6. Importância do tratamento medicamentoso e efeitos na função renal.

A mortalidade cardiovascular é estimada em 57% maior em pessoas com

TFG inferior a 60 mL/min/1,73m² e 63% maior em pessoas com microalbuminúria em

comparação com pessoas sem DRC (DI ANGELO ANTONIO et al., 2007;

PERKOVIC et al., 2008). O risco de IAM não fatal é aumentado em 33% quando a

TFG é inferior a 60 mL/min/1,73m² e em 48% com microalbuminúria, com risco de

Introdução 6

IAM e morte cardiovascular aumentando à medida que o TFG declina e a

albuminúria aumenta. O risco de AVE aumentou 7% para cada 10 mL/min/1,73m²

de redução na TFG e 10% para cada aumento de 25 mg/mmol na razão

albumina/creatinina (MATSUSHITA et al., 2010; GANSEVOORT et al., 2011).

O controle da PA é a prática mais estabelecida para prevenir a progressão da

DRC, entretanto ainda existem muitas dúvidas quanto aos valores que devem ser

buscados para que a prevenção seja mais efetiva. O estudo Active Prevention in

High Risk individuals of Diabetes Type 2 in Eindhoven (APrODiTe-2) avaliou o

controle da pressão através da medida ambulatorial (MAPA) e residencial (MRPA)

da PA e as alterações do descenso noturno em pacientes hipertensos com DRC e

seus efeitos nos danos em órgãos-alvo. Os pacientes foram divididos de acordo com

TFG e as alterações de proteinúria. O controle da PA e padrão dipping foram

associados a maior estabilidade da TFG e proteinúria, e menos eventos

cardiovasculares (CHA et al., 2017). O AASK foi realizado entre 1995 e 1998. Foram

randomizados 1094 pacientes com DRH para receber controle intensivo ou padrão

de HA, com três classes de medicações, incluindo inibidores do SRAA. Os pacientes

que apresentaram o alvo da PA inferior a 130/80mmHg foram seguidos por 8,8 a

12,2 anos. O desfecho clínico primário foi a progressão da DRC, definida como uma

duplicação do nível de creatinina sérica, diagnóstico de DRC terminal ou morte. Não

houve diferença significativa entre os grupos no risco do desfecho primário. No

entanto, os efeitos diferiram de acordo com o nível basal de proteinúria, com maior

benefício do tratamento intensivo em pacientes com proteinúria e em uso de

inibidores do SRAA por pelo menos 1 ano (LAWRENCE, 2010).

Em uma metanálise de 11 ensaios com dados sobre 9287 pacientes com

DRC foi visto que o controle intensivo da PA em pessoas com DRC reduziu o risco

de progressão para DRC terminal em 21%, mas apenas entre as pessoas com

proteinúria. O controle intensivo da PA não teve efeito sobre os desfechos

cardiovasculares ou a morte. Os inibidores da enzima conversora da angiotensina

(iECA) reduzem os eventos vasculares na população em geral quando usados em

prevenção secundária, reduzindo a mortalidade por todas as causas em pacientes

com proteinúria (RASHID; LEONARDI-BEE; BATH, 2003; SHARMA et al., 2011).

Quando o sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) é bloqueado, a

perda da vasoconstrição da arteríola eferente pode levar a uma diminuição aguda da

pressão intraglomerular, com queda na TFG. Geralmente há um declínio inicial ao

Introdução 7

longo dos primeiros seis meses do início do bloqueio do SRAA, estabilizando em 8

semanas e nova queda ao longo dos seguintes anos (HOLTKAMP et al., 2011). As

taxas de declínio de até 30% na TFG foram associadas a menor perda de TFG

subsequente (YUSUF et al., 2000). Em seguimento de pacientes em risco ou com

DCV de dois ensaios clínicos randomizados, Ongoing Telmisartan Alone And In

Combination With Ramipril Global Endpoint Trial (ONTARGET) e The Telmisartan

Randomized Assessment Study In ACE Intolerant Participants With Cardiovascular

Disease (TRANSCEND), por 56 meses, foi visto que o bloqueio SRAA é benéfico em

pacientes com DRC e DCV e a redução da TFG não deve precipitar a retirada de

bloqueadores do SRAA. Maiores variações na TFG (aumento/redução) foram

relacionadas a um risco aumentado de DCV e desfechos renais graves, sendo,

então, motivo de suspensão do uso de agentes bloqueadores do SRAA

(CATHERINE et al., 2017).

1.7. Doença renal crônica

A DRC constitui-se importante problema de saúde pública, com aumento na

incidência e prevalência da doença, mesmo tratando–se de doença prevenível

(BASTOS et al., 2010). No Sistema Único de Saúde (SUS), cerca de 30% do

orçamento é gasto com procedimentos de alta complexidade, sendo um importante

deles, a terapia renal substitutiva (TRS), que aumenta o ônus para o sistema público

de saúde assim como para o paciente e seus familiares (SESSO et al., 2012).

A DRC consiste em lesão renal e perda progressiva e irreversível da função

dos rins (glomerular, tubular e endócrina). Em 2002, a Kidney Disease Outcome

Quality Initiative (KDOQI) publicou diretriz sobre DRC considerando avaliação,

classificação e estratificação de risco da doença (KDOQI, 2002). .Nesta publicação

novos conceitos foram introduzidos e a definição de DRC passou a considerar três

componentes: 1. anatômico ou estrutural (marcadores de dano renal); 2. funcional

(baseado na TFG); 3. temporal. Assim, seriam portadores de DRC os pacientes com

TFG < 60 mL/min/1,73m2, com pelo menos um marcador de dano renal

parenquimatoso (proteinúria, alterações em sedimento urinário, desordens tubulares,

anormalidades histológicas e em exames de imagens) presentes há pelo menos 3

meses (BASTOS et al., 2011).

Introdução 8

A creatinina, derivada do metabolismo da creatina muscular, tem produção

diretamente proporcional à massa muscular. Seu uso como método clínico de

avaliação da TFG baseia-se na boa correlação entre sua depuração e a

determinação da TFG pela inulina, substância padrão ouro. Sua excreção é

relativamente constante durante o dia e sua determinação é relativamente simples,

sendo amplamente utilizada para definir TFG, com diferentes métodos e fórmulas,

sendo as mais amplamente utilizadas as desenvolvidas por Cockcroft–Gault, do

estudo Modification of Diet in Renal Disease (MDRD) e The Chronic Kidney Disease

Epidemiology Collaboration Equation (CKD–EPI) (BASTOS, 2012). Hoje,

recomenda-se o uso da equação de CKD-EPI, que envolve raça, idade e sexo dos

pacientes e pode ser calculada a partir da creatinina sérica ou associada a outro

marcador, no caso a cistatina C sérica, bom preditor de eventos adversos,

mortalidade, com maior independência de fatores demográficos e massa muscular

(KDIGO, 2013).

Figura 1- Equações de estimativa da TFG

Equação de Cockcroft-Gault

TFG (e) = 140 – idade (anos) x peso (Kg) / 72 x Scr (x 0,85 se mulher)

Equação do estudo MDRD

TFG (e) = 186 x (Scr)-1,164 x (idade)-0,203 x (0,742 se mulher) x (1,210 se negro)

Equação CKD - EPI

TFG (e) = 141 x [(min (Scr/K) x Max (Scr/K)1)] α – 1,209 x idade – 0,993 x 1,018 (se mulher

x (1,157 se negro)

α 0 29 para mulher e 0 411 para homens; é 0,7 para mulher e 0,9 para homens.

TFG (e): taxa de filtração glomerular estimada; Scr: creatinina sérica; MDRD: Modification of

Diet in Renal Disease; CKD – EPI: The Chronic Kidney Disease Epidemiology Collaboration

Equation; min: mínimo; máx: máximo; K: constante.

Em 2012, atualizações das diretrizes internacionais para DRC foram

realizadas pelo Kidney Disease Improving Global Outcomes (KDIGO),

acrescentando à definição de DRC implicações para saúde relacionadas a ela. A

DRC passou a ser classificada baseando-se na causa, categorias de TFG e

Introdução 9

categoria de proteinúria, como marcador de lesão morfológica, que juntos

determinam prognóstico da DRC (Figura 1) (KDIGO, 2013).

No KDIGO, recomenda-se para o diagnóstico de DRC a junção de vários

fatores (idade, etnia, síndrome metabólica, tabagismo) e marcadores, entre estes a

proteinúria medida pela excreção de albumina. A proteinúria especificamente faz

parte dos critérios diagnósticos de DRC e independente de estar relacionada à

fisiopatologia da doença em questão, como na nefropatia diabética, indica aumento

do risco relativo para mortalidade e desfechos renais quando sua medida é igual ou

maior que 0mg/g (≥ mg/mmol (KDIGO 201 .

É importante determinar a taxa de declínio da função renal ao longo do tempo

para identificar indivíduos que progridem a uma taxa mais rápida do que o previsto, o

que está associado ao aumento da morbidade e mortalidade. Os Indivíduos que são

"progressores rápidos" devem ser direcionados para retardar a progressão e seus

resultados adversos associados. Um declínio progressivo da função renal é

influenciado pela categoria de TFG de base e pela categoria de proteinúria. A

progressão confirmada é definida como uma queda na categoria de TFG

acompanhada por uma queda de 25% ou mais na TFG a partir da linha de base. A

progressão rápida é definida como um declínio sustentado da TFG de mais de 5

mL/1,73m2/ano (KDIGO, 2013).

Faltam, no Brasil, estudos populacionais que avaliem o número de brasileiros

nas diferentes categorias pré-diálise da DRC com exatidão, como em outros países.

A análise transversal do NHANES envolveu adultos não institucionalizados dos

Estados Unidos da América (EUA), entre 1999 e 2004, maiores de 20 anos de idade.

A prevalência de DRC foi determinada com base na presença de proteinúria

persistente (>30mg/g), redução da TFG estimada usando a equação abreviada do

MDRD, reexpressa para creatinina sérica padrão. Essa análise revelou que

aproximadamente 13% da população dos EUA apresentam DRC nas suas diferentes

categorias (BASTOS et al., 2011). No Brasil, uma análise de dados laboratoriais

revelou que 2,3% dos indivíduos avaliados tinham TFG<45mL/min/1,73m2 , o que

representaria uma estimativa de que cerca de 2,9 milhões de brasileiros teriam DRC

maior ou igual a categoria 3B (FERNANDES et al., 2010).

O Censo Brasileiro de Diálise de 2011 apontava que o Brasil tinha um número

estimado de 91.314 pacientes em TRS. O diagnóstico etiológico atribuído à doença

renal primária foram HA (35,1%) HA e DM (27,5%). Em dez anos, conforme o censo,

Introdução 10

este dado aumentou em mais de 100%, sendo que em 2015, o número de pacientes

em TRS era de 111.303 (21% em 4 anos) (SESSO et al., 2012). De acordo com os

mesmos dados, a HA mantém sua prevalência, maior que 35% e mais de 80%

destes pacientes recebem tratamento com recursos do SUS. A faixa etária mais

acometida (45-64 anos) segue as etiologias principais, sendo mais prevalente no

sexo masculino. Dado importante é o aumento de casos novos desde 2011,

seguindo um gráfico em ascensão (SESSO et al., 2016).

Figura 2- Prognóstico de DRC e Categorias de TFG segundo KDIGO 2012.

Categorias de proteinúria persistente

A1 A2 A3

aumento aumento aumento normal a moderado importante médio <30mg/g 30-300 mg/g >300 mg/g <3mg/mmol 3-30mg/mmol 30mg/mmol

CA

TE

GO

RIA

S D

E T

FG

(mL / m

in / 1

,73m

2 )

G1 NORMAL OU ALTA

≥90

G2

REDUÇÃO MÉDIA 60-89

G3a REDUÇÃO MÉDIA A MODERADA

45-59

G3b REDUÇÃO MODERADA A IMPORTANTE

30-44

G4 REDUÇÃO IMPORTANTE

15-29

G5 FALÊNCIA RENAL <15

DRC: doença renal crônica; TFG: taxa de filtração glomerular (mL/min/1,73m2); KDIGO:

Kidney Disease Improving Global Outcomes; G: categoria; A: categoria (verde: baixo risco-

se nenhum outro marcador de doença renal, não DRC; amarelo: risco moderadamente

aumentado; laranja: alto risco; vermelho: risco muito alto).

A progressão da DRC pode ser retardada ou até interrompida com algumas

medidas, como o controle rigoroso da PA, do DM e uso de medicamentos que

bloqueiam o SRAA dentre outras (BASTOS et al., 2011; PIRKLE; FREEDMAN,

2013; KDIGO, 2013).

Introdução 11

1.8. Hipertensão arterial controlada leva à doença renal crônica?

É bem estabelecido que o controle da PA seja importante medida de proteção

contra eventos cardiovasculares e renais. Os estudos que recomendam um objetivo

de PA mais intensivo em pacientes com DRH ainda são escassos. As análises

sugerem que um alvo de PA mais baixa pode retardar a progressão da doença em

pacientes com proteinúria, estabelecendo o alvo <130/80mmHg adequado para

estes pacientes (KDIGO, 2013; GIUSEPPE et al., 2013; VIII JOINT, 2014).

A DRH se estabelece em hipertensos primários em torno de 11 anos após o

diagnóstico da doença, em diferentes graus, como já visto em estudos como AASK e

seus desdobramentos. (FOGO et al., 1997; KDIGO 2013).

Diante destes fatos, independente do controle pressórico os pacientes com

HA podem evoluir com DRC? Seria a meta atual de controle da PA adequada para

impedir progressão de doença e diminuir a prevalência de DRC?

Objetivos 12

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Identificar a associação entre controle da pressão arterial e doença renal

crônica em pacientes portadores de hipertensão arterial primária sob tratamento.

2.2 Objetivos Específicos

Avaliar a taxa de filtração glomerular em população hipertensa sob tratamento;

Averiguar a prevalência de doença renal crônica em pacientes portadores de

hipertensão arterial primária tratados, segundo os valores pressóricos, controlados

e não controlados;

Identificar a presença de fatores associados à doença renal crônica em

hipertensos controlados e não controlados.

Métodos 13

3 MÉTODO(S)

3.1 Tipo de Estudo

Estudo longitudinal, descritivo e retrospectivo.

3.2 Local do Estudo

A pesquisa foi realizada na Liga de Hipertensão Arterial (LHA) da

Universidade Federal de Goiás (UFG).

3.3 População e amostragem

No ano de 2013, o total de pacientes em acompanhamento na LHA era de

1681 cadastrados em registro oficial. Estes pacientes são atendidos por equipe

multidisciplinar, contendo médicos, professores de educação física, fisioterapeutas,

musicoterapeutas, nutricionistas e enfermeiras. As consultas seguem um padrão

regular de intervalo (pelo menos a cada 3 meses), com objetivos definidos e com

protocolo de atendimento padronizado. Para este estudo foi calculada a amostra

considerando uma proporção de PA elevada de 8,6% em população com TFG

reduzida, conforme estudo realizado em Goiânia, em 2015 (PEREIRA et al., 2016).

Com precisão absoluta de 5%, nível de significância de 5% e intervalo de confiança

(IC) de 95%, o tamanho da amostra calculado foi de 113 indivíduos. Optamos por

avaliar uma amostra com 45% a mais de indivíduos, para torná-la mais robusta. No

total foram avaliados prontuários de 164 pacientes cadastrados na LHA com mais de

1 ano de seguimento, selecionados de forma aleatória.

3.4 Critérios de Elegibilidade

3.4.1 Critérios de Inclusão

Pacientes hipertensos sob tratamento maiores que 18 anos de ambos os

sexos cadastrados na LHA, com seguimento há pelo menos 1 ano.

Métodos 14

3.4.2 Critérios de Exclusão

Pacientes menores que 18 anos;

Pacientes com hipertensão secundária;

Pacientes com diagnóstico de DM;

Gestantes;

Pacientes com proteinúria acima de 1g em urina 24h ou presença de proteínas

em exame simples de urina (4+ ou mais, correspondente a ≥1000mg/dL de

proteinúria);

Pacientes com hematúria;

Pacientes com presença de cilindrúria.

3.5 Procedimentos do Estudo

Foram selecionados aleatoriamente 276 prontuários dos pacientes atendidos

na LHA há mais de um ano, sendo que 164 preencheram os critérios de inclusão e

112 foram excluídos de acordo com os critérios de elegibilidade. Dentre os

excluídos, 82 pacientes eram portadores de DM, 10 pacientes apresentavam

hematúria e 20 apresentavam proteinúria acima do limite estabelecido. Foi realizada

revisão de prontuário de todos os pacientes elegíveis, com coleta de dados da

história clínica, dados sócio-demográficos, resultados de exames laboratoriais da

primeira consulta na LHA e da última consulta médica em 2015. Após coleta de

dados dois grupos foram formados, conforme a VII Diretriz Brasileira de Hipertensão:

Pacientes hipertensos controlados com PA < 140/90mmHg;

Pacientes hipertensos não controlados com PA ≥ 140/90mmHg.

Foram estudadas as variáveis clínicas e laboratoriais destes grupos e

comparadas.

Métodos 15

Figura 3- Desenho do estudo.

3.5.1 Variáveis estudadas

As variáveis sóciodemográficas estudadas foram :

Sexo (masculino e feminino);

Idade (em anos de vida completos);

Raça (brancos e não brancos).

As variáveis clínicas e laboratoriais estudadas foram :

História familiar e pessoal pregressa de doença renal;

Antecedentes pessoais e familiares de DCV;

Atividade física, considerando-se regular a prática de pelo menos 30 min de

atividade física por dia por pelo menos três vezes por semana; Irregular a prática

de atividade física menos de três vezes por semana e ausente a não prática de

nenhum tipo de atividade física;

1681

prontuários da LHA

276 prontuários revisados

164 prontuários incluídos

164 prontuários estudados

112 prontuários excluídos

82 prontuários de pacientes diabéticos

10 prontuários de pacientes com

hematúria

20 prontuários de pacientes com

proteinúria acima do estabelecido

Métodos 16

Tabagismo: Os pacientes foram classificados em fumantes, não fumantes e ex-

fumantes (acima de 6 meses);

Dados antropométricos: Peso em kilogramas (kg) e altura em metros (m);

Índice de massa corpórea (IMC) calculado pela fórmula peso (kg), dividido pela

altura em metro (m) ao quadrado (peso/altura2), sendo a classificação dos valores

proposta pela OMS em 1997 (baixo peso, para IMC < 20 Kg/m2; eutróficos, para

IMC entre 20 e 25 kg/m²; sobrepeso, para valores entre 25 e 30 kg/m²; obesidade,

para indivíduos com IMC ≥ 0 kg/m² ;

Pressão Arterial: dados coletados dos prontuários, sendo as medidas realizadas

pela LHA em conformidade com a técnica padronizada pelas Diretrizes vigentes à

época, sendo estas mantidas pela VII Diretriz Brasileira de Hipertensão.

Considerou-se PA não controlada quando PAS ≥ 140 mmHg e/ou P D ≥ 90. Para

fins de análise, considerou-se o valor da média entre as duas últimas medidas

realizadas em cada participante;

Exame laboratorial: creatinina sérica em mg/dL, realizada pelo método cinético

colorimétrico, com valor referencial de 0,40 – 1,40mg/dL, no Laboratório Central

do Hospital das Clínicas da UFG;

Classificação de TFG conforme o KDIGO 2012, sem análise de proteinúria, com

TFG determinada por meio da equação de CKD – EPI, utilizando creatinina

s rica sendo definidas categorias de acordo com a TFG: categoria 1: ≥90

mL/min/1,73m2; categoria 2: 60-89 mL/min/1,73m2; categoria 3a: 45-59

mL/min/1,73m2; categoria 3b: 30-44 mL/min/1,73m2; categoria 4: 15-29

mL/min/1,73m2; categoria 5 <15 mL/min/1,73m2;

Para definir progressores foi utilizada a definição do KDIGO 2012, sendo a

progressão confirmada definida como uma queda na categoria de TFG

acompanhada por uma queda de 25% ou mais na TFG a partir da linha de base e

progressão rápida definida como um declínio sustentado da TFG de mais de 5

mL/1,73/m2/ano.

3.6 Análise Estatística

A análise dos dados foi realizada através do programa IBM Statistical

Package for the Social Sciences (SPSS) Statistics versão 23. As variáveis numéricas

Métodos 17

são apresentadas em média (± desvio padrão). Foi utilizado o teste de Shapiro-Wilk

para análise da distribuição de normalidade das variáveis contínuas; para

a comparação de médias foi aplicado o teste T-Student para amostras relacionadas

ou ou U de Mann-Whitney. O teste de qui-quadrado de Pearson ou Análise de

Variância (ANOVA) foram utilizados para analisar associação entre variáveis

categóricas. Para todos os testes foi considerado o nível de significância de 5% e

intervalo de confiança de 95%.

3.7 Aspectos Éticos

O presente protocolo de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em

Pesquisa do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás, e aprovado

segundo parecer nº 777.830, Nº CAAE Plataforma Brasil: 35158514.1.00005078

(anexo A).

Métodos 18

RESULTADOS Os resultados foram apresentados sob a forma de um artigo científico submetido em 13 de setembro de 2017 no Jornal Brasileiro de Nefrologia.

Publicações 19

4 PUBLICAÇÕES

CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL E DOENÇA RENAL CRÔNICA EM

HIPERTENSOS PRIMÁRIOS EM VIGÊNCIA DE TRATAMENTO

BLOOD PRESSURE CONTROL AND CHRONIC KIDNEY DISEASE IN TREATED

PRIMARY HYPERTENSIVES

ARTIGO ORIGINAL

Luciana da Ressurreição Santos1,2

Edna Regina Silva Pereira1

Thiago de Souza Veiga Jardim1

Rafaela Bernardes Rodrigues1

Ana Luiza Lima Sousa1

Ana Carolina Arantes1

Ymara Cássia Luciana Araújo1

Wátila de Moura Sousa1

Weimar Kunz Sebba Barroso de Souza1

Paulo César Brandão Veiga Jardim1

Trabalho realizado na Liga de Hipertensão da Universidade Federal de Goiás

1- Universidade Federal de Goiás

2- Autora responsável pela correspondência

Endereço para correspondência: Rua 10 A, apto 1003, Ed. Ilha da Madeira,

CEP 74075260, Setor Aeroporto, Goiânia, Goiás - Brasil.

E-mail: [email protected]

Publicações 19

Resumo

Introdução: A principal etiologia de doença renal crônica (DRC) no Brasil é

hipertensão arterial (HA). Discute-se controle da pressão arterial (PA) como

relevante para desenvolvimento de DRC.

Objetivo: Verificar prevalência e associação entre controle da PA e DRC em

hipertensos primários sob tratamento.

. Métodos: Estudo longitudinal, realizado em serviço de referência. Incluídos

pacientes acima de 18 anos de idade, ambos os sexos seguidos há pelo menos um

ano. Excluídos pacientes com HA secundária, diabéticos, gestantes, proteinúria >

1g/24h ou > 2+ (100-300mg/dL) no exame de urina e hematúria. Coletados dados

clínicos, sóciodemográficos, valores de PA e creatinina sérica do prontuário

padronizado. Constituídos dois grupos de acordo com controle da PA na última

avalia o P ≥ 140/90 mmHg (n o controlada e P < 140/90 mmHg (controlada .

Taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) pela equação The Chronic Kidney

Disease Epidemiology Collaboration Equation (CKD-EPI).

Resultados: Participaram 164 pacientes, 119 com PA não controlada e 45

controlados. A prevalência de DRC foi 15,24% no inicio do estudo e 22,56% ao final.

Predominaram mulheres, média de idade 64,2 anos, sobrepeso e sedentárias.

Houve queda da TFGe nos dois grupos (p= 0,001). Tempo de seguimento dos

pacientes não controlados e com DRC maior (p=0,001).

Conclusão: Nesse estudo foi observada prevalência aumentada de DRC em

hipertensos controlados e não controlados. A única variável associada à DRC foi

maior tempo de seguimento em hipertensos não controlados, sugerindo que tempo

de HA foi mais importante para desenvolver DRC que a meta estabelecida de

controle da PA.

Publicações 19

Palavras - chave: Hipertensão. Insuficiência renal crônica. Taxa de filtração

glomerular. Nefroesclerose. Pressão arterial.

Abstract

Introduction: The main cause of chronic kidney disease (CKD) in Brazil is

arterial hypertension (HTN). Blood pressure (BP) control impact on developing CKD

is discussed.

Objective: Assess prevalence and association of BP control and CKD in

individuals with primary hypertension under treatment.

Methods: Longitudinal analytic retrospective study conducted in a reference

center. Patients over 18 years, from both sexes and with at least one year of follow-

up were included. Secondary HTN, diabetes, pregnancy, proteinuria 1g/24h or > 2+

(100-300mg/dL) and hematuria were exclusion criteria. Sociodemographic and

clinical, BP values and serum creatinine were collected from the standardized

medical charts. Patients were divided into two groups according to BP control in the

last evaluation (controlled BP – BP < 140/90 mmHg, and uncontrolled BP - BP ≥

140/90 mmHg). Estimated glomerular filtration rate (eGFR) was obtained using The

Chronic Kidney Disease Epidemiology Collaboration Equation (CKD-EPI).

Results: A total of 164 patients were included (119 uncontrolled BP and 45

controlled BP), with a mean age of 64.2 years, predominantly women, with

overweight and sedentary. The prevalence of CKD was 15.24% in the beginning of

the study and 22.56% at the end. A decline in the eGFR was observed in both

groups (p=0.001). The follow-up time was longer in the uncontrolled patients and in

those with CKD.

Publicações 19

Conclusion: An increased prevalence of CKD was observed in controlled and

uncontrolled hypertensive patients. The only variable associated to CKD was the

longer follow-up time in uncontrolled hypertensives, suggesting that hypertension

duration is more important than BP control as a cause of CKD.

Key-words: hypertension; chronic kidney failure; glomerular filtration rate;

nephrosclerosis; blood pressure.

Publicações 19

INTRODUÇÃO

A doença renal crônica (DRC) é importante problema de saúde pública, com

aumento na incidência e prevalência da doença, que representa grande ônus para o

Sistema Único de Saúde (SUS), pacientes e familiares.1,2

A DRC consiste em lesão renal e perda progressiva e irreversível de função,

com implicações para a saúde relacionadas a ela, sendo portadores os pacientes

com taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) < 60mL/min/1,73m2, ou aqueles

que em vigência de TFGe ≥ 0mL/min/1 7 m2 apresentarem um marcador de dano

renal parenquimatoso tais como albuminúria ou proteinúria, presente há pelo menos

3 meses.3-5 No Brasil, a hipertensão arterial (HA) é a principal etiologia atribuída para

a DRC. Em 2015, respondia por 34% dos pacientes com DRC.1

Ainda é difícil precisar o número de pacientes que realmente possuem DRC

secundária à HA primária, designada doença renal hipertensiva (DRH), uma vez que

o diagnóstico histopatológico não é feito rotineiramente nestes pacientes. Em geral,

o diagnóstico de DRH é feito com dados clínicos excluindo outras causas de

doenças primárias ou secundárias que acometem o rim. Na ausência de biópsia

renal os critérios clínicos sugeridos são: evidência de HA precedendo o

aparecimento da DRC, proteinúria < 1,0 g em 24h, sedimento urinário normal e

ausência de nefropatia isquêmica.6 Na prática clínica entretanto, nem sempre esses

critérios são atendidos, provocando erros no diagnóstico desta etiologia da DRC.

Embora a presença de DRH possa ser superestimada, parte dos pacientes

com HA podem evoluir para DRC terminal, como demonstrado pelo African

American Study of Kidney Disease (AASK), que analisou critérios clínicos e

histopatológicos para identificar estes pacientes. Esse número pode ser significativo

devido a alta prevalência de HA na população geral, com tendência a aumentar com

Publicações 19

a maior sobrevida desses pacientes.6,7 A HA primária geralmente é diagnosticada

entre 25 e 45 anos de idade e as alterações renais secundárias geralmente com 10

anos de HA não controlada.8

O controle da pressão arterial (PA) é a prática mais estabelecida para

prevenir a progressão da DRC, entretanto ainda existem muitas dúvidas quanto aos

valores que devem ser buscados para que a prevenção seja mais efetiva. O controle

da PA e padrão dipping na medida ambulatorial da PA (MAPA) foram associados a

maior estabilidade da TFGe e proteinúria, e menos eventos cardiovasculares.9 No

entanto, pacientes com DRH e PA controlada (<130/80mmHg) evoluíram para DRC

da mesma forma que os não controlados. Os resultados do tratamento intensivo

(objetivo de PA<130/80mmHg) ou padrão (objetivo de PA<140/90mmHg) diferiram

de acordo com o nível basal de proteinúria, com maior benefício do tratamento

intensivo em pacientes com proteinúria.10

Não existe consenso quanto as metas de controle pressórico a se atingir em

pacientes hipertensos sob risco de lesão renal. Em 2017, o Systolic Blood Pressure

Intervention Trial (SPRINT) demonstrou que entre os pacientes com DRC e

hipertensão, sem diabetes, o controle intensivo da P (P S ≤ 120mmHg redu iu as

taxas de doenças cardiovasculares (DCV) e morte por todas as causas, sem

evidências de modificações na TFGe e DRC terminal. Contudo, ocorreram mais

eventos adversos com o controle intensivo, mas sem diferença significativa.11

Diante do fato de pacientes evoluírem para DRH na dependência do tempo

de exposição à HA, estudos que possam ampliar a compreensão da evolução para

DRC em hipertensos primários ainda são essenciais. Dentro desta perspectiva, o

objetivo desse estudo foi verificar a prevalência de DRC e associação entre controle

da PA e DRC em hipertensos primários em vigência de tratamento.

Publicações 19

MÉTODOS

Trata-se de um estudo longitudinal, realizado na Liga de Hipertensão Arterial

(LHA) da Universidade Federal de Goiás (UFG). O estudo foi aprovado pelo Comitê

de Ética em Pesquisa do HC/UFG, nº CAAE Plataforma Brasil:

35158514.1.00005078.

A LHA é um serviço de referência no tratamento da HA em funcionamento há

mais de 25 anos, composta por equipe multidisciplinar envolvendo médicos,

enfermeiros, nutricionistas, professores de educação física, fisioterapeutas e

musicoterapeutas. Os pacientes são atendidos de forma regular, com intervalos de

pelo menos 3 meses, seguindo um protocolo padrão. As recomendações da Diretriz

Brasileira de Hipertensão vigente são seguidas criteriosamente. Todos os dados

referentes aos pacientes do serviço são registrados em prontuários padronizados.

No ano de 2013 o total de pacientes em acompanhamento na LHA era de 1681 em

registro oficial. O cálculo amostral foi realizado considerando uma proporção de PA

elevada de 8,6% em população com TFGe reduzida, conforme estudo realizado por

Pereira et al, em 2015,12 sendo necessários 113 indivíduos para que fosse atingida

a meta proposta. A este número acrescentamos um adicional de 45% para eventuais

dificuldades o que somou 164 pacientes a serem estudados.

Foram inicialmente selecionados aleatoriamente 276 prontuários dos

pacientes atendidos na LHA há mais de um ano, de ambos os sexos, maiores que

18 anos de idade. Excluídos 112 prontuários de acordo com os critérios de

elegibilidade. Dentre estes, constavam 82 pacientes portadores de diabetes melitus

(DM), 10 pacientes com hematúria e 20 pacientes que apresentavam proteinúria

acima do limite estabelecido (≥ 1g em urina 24h ou ≥ 2+ no exame simples de urina

Publicações 19

correspondente a 100-300mg/dL de proteinúria). Não haviam pacientes gestantes

ou HA secundária documentada.

Foram colhidas informações dos prontuários, sendo registrada história clínica,

dados sóciodemográficos, valores de PA e resultados dos exames de creatinina

sérica da primeira consulta realizada na LHA e da última consulta realizada em

2015.

Com informações da última consulta de 2015, foram formados dois grupos:

grupo dos pacientes hipertensos controlados (PA < 140/90mmHg) e grupo dos

pacientes hipertensos n o controlados (P ≥ 140/90mmHg . Foram analisadas e

comparadas as variáveis clínicas e laboratoriais destes grupos.

As variáveis clínicas avaliadas foram: idade, sexo, sobrepeso/obesidade,

etnia/cor (branco, não branco), atividade física (regular, irregular e ausente),

tabagismo, medidas de PA, história pregressa pessoal e familiar de doença

cardiovascular e renal, TFGe.

O prontuário da LHA é padronizado e todas as informações obedecem a

critérios pré-estabelecidos e são realizados em todos os atendimentos. A aferição do

peso e estatura são realizadas de acordo com a padronização da Organização

Mundial de Saúde (OMS). Com base nessas medidas, calcula-se o índice de massa

corporal (IMC) dos participantes, dividindo-se o peso (kg) pelo quadrado da altura

(m). O estado nutricional é categorizado pelos percentis determinados de acordo

com a classificação da OMS para adultos: baixo peso, para IMC < 20 Kg/m2;

eutróficos, para IMC entre 20 e 25 kg/m²; sobrepeso, para valores entre 25 e 30

kg/m²; o esidade para indiv duos com IMC ≥ 0 kg/m².13,14

Em relação à atividade física considera-se regular a prática de pelo menos 30

min de atividade física por dia por pelo menos três vezes por semana; irregular a

Publicações 19

prática de atividade física menos de três vezes por semana e ausente a não prática

de nenhum tipo de atividade física. Em relação ao tabagismo, são categorizados em:

fumante, ex-fumante (não fuma há mais de seis meses) e nunca fumou.

A medida de PA é sistematicamente realizada de acordo com técnica

padronizada pelas Diretrizes vigentes, sendo mantidas pela VII Diretrizes Brasileiras

de Hipertensão Arterial.15

Considerou-se P n o controlada quando P S ≥ 140 mmHg e/ou P D ≥ 90

mmHg. Para fins de análise, considerou-se o valor da média entre as duas últimas

medidas realizadas em cada participante.

A variável laboratorial utilizada foi à medida de creatinina sérica em mg/dL,

realizada pelo método cinético colorimétrico, sendo os exames realizados no

laboratório Central do Hospital.

A classificação da TFGe foi feita conforme a versão 2012 do KDIGO e KDOQI

2014, por meio da equação do Chronic Kidney Disease Epidemiology Collaboration

(CKD – EPI), utilizando creatinina sérica, sendo definidas 5 categorias de acordo

com a TFGe: categoria 1: ≥90 mL/min/1 7 m2; categoria 2: 60-89 mL/min/1,73m2;

categoria 3a: 45-59 mL/min/1,73m2; categoria 3b: 30-44 mL/min/1,73m2; categoria 4:

15-29 mL/min/1,73m2; categoria 5: <15 mL/min/1,73m2.3,5

A análise dos dados foi realizada através do programa IBM Statistical

Package for the Social Sciences (SPSS) Statistics versão 23. As variáveis numéricas

são apresentadas em média (± desvio padrão). Foi utilizado o teste de Shapiro-Wilk

para análise da distribuição de normalidade das variáveis contínuas; para

a comparação de médias foi aplicado o teste T-Student para amostras relacionadas

ou U de Mann-Whitney. O teste de qui-quadrado de Pearson ou Análise de

Variância (ANOVA) foram utilizados para analisar associação entre variáveis

Publicações 19

categóricas. Para todos os testes foi considerado o nível de significância de 5% e

intervalo de confiança de 95%.

RESULTADOS

A população de estudo correspondeu a 164 pacientes hipertensos em

tratamento com tempo médio de seguimento de 11,3 anos (±6,9), mínimo de 2 anos

e máximo de 26 anos. Houve predomínio do sexo feminino (68,3 %; p<0,001). A

média de idade foi de 64,2 anos (± 10,2) e semelhante entre os sexos.

Na distribuição segundo a raça não houve diferença entre os sexos e foi

identificada proporção semelhante, com 56,7% (n=93) de brancos.

A frequência de tabagistas entre os participantes foi de 6,1% (n=10) e de ex-

tabagistas foi 21,3% (n=35), sendo que os homens apresentaram-se com maior

frequência nessa categoria (34,6%).

Havia entre os participantes 12,2% (n=20) com registro de doença renal

conhecida, tendo por etiologia litíase renal, sem alteração de função renal; com

distribuição semelhante entre os sexos. História familiar de doença renal

representou 16,5% (n=27) e história de DCV foi de 26,8% (n=44). Predominaram no

estudo pacientes acima do peso ideal, sendo que 37,8% (n=62) apresentaram

sobrepeso e 35,3% (n=58) obesidade, sem diferença estatisticamente significante. O

IMC médio foi 27,5 Kg/m2 (±4,5) entre os homens e 29,7 Kg/m2 (±6,8) entre as

mulheres (p= 0,027). O sedentarismo predominou entre as mulheres (p= 0,008).

Em relação ao controle da PA, 72,5% (n=119) dos pacientes não atingiram as

metas estabelecidas (PA < 140/90mmHg). O tempo de seguimento dos pacientes na

LHA com PA não controlada foi maior (p=0,001). Não houve diferença entre raça,

Publicações 19

tabagismo, histórico pessoal e familiar de DRC, prática de atividade física, presença

de DCV entre os grupos (Tabela 1).

Houve redução entre as TFGe inicial e final considerando a meta de PA

<140/90 mmHg tanto nos pacientes com PA controlada (p=0,001) quanto naqueles

com PA não controlada (p<0,001). Quando foi realizada a comparação entre os

grupos, com PA controlada e não controlada não foi encontrada diferença

significativa em relação à TFGe. Assim, inicialmente 15,2% dos pacientes

apresentavam DRC, sendo que 17 pacientes (16,5%) apresentavam PA controlada e

8 pacientes (13,1%) PA não controlada (p=0,559). Em 2015 houve um aumento para

23,2 %, sendo que 26 pacientes (25,2%) apresentavam PA controlada e 12

pacientes (19,7%) PA não controlada e DRC (p=0,414). O IMC não se modificou em

todo o estudo. Os pacientes que praticavam atividade física predominaram nos dois

grupos, não havendo diferença estatisticamente significante entre eles (Tabela 2).

Em relação ao período de seguimento, a média entre os pacientes com PA

controlada foi de 8,5 anos (±5,8) e de 12,3 anos (±7,1) entre os pacientes com PA

não controlada (p=0,001). A piora da TFGe foi semelhante entre pacientes com PA

controlada e não controlada (p=0,782) (Tabela 3).

Quando se analisa o período de seguimento na LHA em relação à presença

de DRC não há diferença estatisticamente significante entre os pacientes com PA

controlada. No entanto, entre os pacientes com PA não controlada, aqueles com

maior período de seguimento apresentaram mais DRC, com média de 13,1 anos (p=

0,018) (Tabela 4).

Em relação ao estadiamento da TFG, no início do estudo predominou a

categoria II com 43,3% seguido da categoria I com 41,5%. Não havia pacientes nas

categorias IV ou V. Em 2015, a categoria II manteve-se predominante com 44,5% e

Publicações 19

houve aumento do número de pacientes com DRC nas categorias IIIa com 18,3% e

IIIb com 4,3% (Gráfico 1).

DISCUSSÃO

Esse estudo permitiu verificar em uma população de pacientes hipertensos

acompanhados em serviço de referência, uma prevalência aumentada de DRC. A

PA não controlada, sexo, raça, idade, creatinina sérica e TFGe inicial não foram

associados com maior frequência de DRC. A única variável associada ao maior risco

de desenvolver DRC foi o tempo mais longo de seguimento na LHA em portadores

de HA não controlada.

A média de idade acima de 60 anos, semelhante entre os sexos, mostrou

uma tendência ao aumento da prevalência de HA com o envelhecimento da

população e as alterações vasculares com consequente enrijecimento arterial.6 A

prevalência de HA em idosos tem sido avaliada em vários estudos brasileiros, mas

ainda não há dados representativos no país. Em meta-análise com revisão

sistemática da literatura, uma estimativa de HA entre idosos no Brasil entre 1980 e

2010 mostrou prevalência da doença de 68%.16 Nos Estados Unidos da América

(EUA), a prevalência de HA entre 1999 e 2004 foi de 78,0% para mulheres e 64,0%

para homens acima de 60 anos de idade.17 No Japão (60%) e em Taiwan (48,0%

nos homens e 60,0% nas mulheres), a prevalência foi menor, mas na Coréia do Sul

a prevalência de homens e mulheres idosos foi de 68,7%.18-20 Da mesma forma, em

Portugal as taxas de prevalência para homens e mulheres acima de 60 anos de

idade em 2003 foram de 79,0% e 78,7%, respectivamente.21

Houve proporcionalmente maior participação feminina neste estudo. Na

Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2013, a prevalência de HA entre homens foi

Publicações 19

predominante (25,3%), mas esta prevalência é subestimada, pois foram excluídos

da amostra os indivíduos sob tratamento para hipertensão.22 O tabagismo, relaciona-

se a presença de proteinúria e é fator de risco independente de HA e DRC, com

aumento da mortalidade cardiovascular.5 Em uma coorte afro-americana o

tabagismo foi associado independentemente ao declínio da TFGe.8 No presente

estudo, a frequência de tabagistas e ex-tabagistas entre os participantes foi

relativamente pequena, sendo os homens predominaram nestas categorias. No

entanto, não foi demonstrada a associação com DRC.

O estudo Chinese Cohort Study of Chronic Kidney Disease (C-STRIDE)

realizado entre 2011 e 2016, incluiu participantes de 39 centros clínicos na China.

Foram coletados dados epidemiológicos, história clínica e exames laboratoriais e um

modelo de regressão logística multivariável foi utilizado para estimar a associação

entre fatores de risco e DCV, demonstrando que os participantes com DRC

progressiva têm uma maior prevalência de DCV. A prevalência de DCV foi de 9,8%,

e em 69,1% dos casos observou-se doença cerebrovascular. A análise multivariada

mostrou que o aumento da idade, menor TFGe e HA foram independentemente

associados com maior prevalência de DCV.23 No presente estudo, história de

doença cardiovascular não teve associação com a existência de DRC.

Dentre os fatores de risco para DRC tem-se a história pessoal e familiar

pregressa de DRC. A identificação de componente hereditário é importante à medida

que se pode tomar medidas para a prevenção de DRC dialítica no futuro.5 Havia

entre os participantes deste estudo pequeno número com registro de doença renal

estabelecida, tendo por etiologia litíase renal, porém sem alteração de função renal e

sem associação com DRC.

Publicações 19

A obesidade tornou-se uma epidemia mundial, e há uma projeção de

crescimento de sua prevalência em 40% na próxima década, sendo IMC elevado um

importante fator de risco para DRC e HA. Em pacientes obesos há hiperfiltração

renal compensatória para atender às elevadas exigências metabólicas do aumento

do peso corporal e à presença dos mediadores inflamatórios provenientes do

aumento da adiposidade. A incidência de doença renal relacionada à obesidade

aumentou dez vezes nos últimos anos.24 Sendo o IMC sabidamente um fator de

risco independente para DRC, sua presença nos dois grupos neste estudo pode

explicar a inexistência de relação com o controle da PA e desenvolvimento de DRC.

Considerando o número de pacientes com sobrepeso/obesidade, foi acertada a

escolha do uso da equação de CKD-EPI.

A prática de atividade física está relacionada ao bom controle da PA.25 Em

estudo transversal, realizado em 2016, em Seatle, foram avaliados 47 pacientes com

DRC e 29 pacientes saudáveis. Os parâmetros analisados foram atividade física,

sensibilidade à insulina e obesidade. Os participantes com DRC foram menos ativos

que os participantes sem DRC e apresentaram menor sensibilidade à insulina, maior

massa de gordura e maiores concentrações de triglicerídeos.26 Neste estudo a

prática regular de atividade física predominou entre todos os pacientes,

possivelmente porque são estimulados à esta prática pela equipe multidisciplinar de

atendimento, sendo que sedentarismo predominou entre as mulheres, assim como

nos dados da PNS.22

A TFGe média reduziu de forma considerável tanto nos pacientes com PA

controlada quanto nos pacientes com PA não controlada. Esta queda é compatível

com o tempo médio de seguimento dos pacientes do estudo, associado ao

aparecimento de alterações renais em pacientes hipertensos. Quando se analisa o

Publicações 19

período de seguimento em relação à presença de DRC não há diferença

estatisticamente significante entre os pacientes com DRC e com PA controlada.

Porém, entre os pacientes com PA não controlada, aqueles com maior período de

seguimento apresentaram mais DRC, sugerindo o efeito do tempo de exposição à

HA no dano renal.6,27

O controle da PA é a prática mais estabelecida para prevenir a progressão da

DRC. O estudo APrODiTe-2 avaliou o controle da PA através da MAPA e as

alterações do descenso noturno em pacientes hipertensos com DRC e seus efeitos

nos danos em órgãos-alvo. Os pacientes foram divididos de acordo com TFGe e as

alterações de proteinúria. O controle da PA e padrão dipping foram associados a

maior estabilidade da TFGe e menor proteinúria, e menos eventos

cardiovasculares.9 Dados de 11 ensaios clínicos com total de 9.287 participantes

mostraram uma redução 22% no risco renal obtida para cada redução de 10 mmHg

na PAS. Este achado reafirma as recomendações do KDIGO 20125, que recomenda

um alvo pressórico < 130/80 mmHg para pacientes com proteinúria e, na ausência

desta, < 140/90 mmHg.28 No presente estudo houve aumento no número de

pacientes com DRC tanto no grupo com PA controlada quanto no grupo com PA não

controlada. Apesar de este aumento ter sido maior entre os não controlados, não

houve diferença estatisticamente significativa entre os valores. Estudos analisando a

MAPA ou MRPA devem ser levados em consideração para detectar a presença de

HA relacionada ao avental branco, mascarada e da hipertensão noturna, que tem

sido demonstrado ser o tipo de HA mais fortemente associada à progressão da DCV

e DRC.28 Outro fator a ser considerado é que o alvo de controle da PA em pacientes

com HA (PA < 140/90 mmHg) pode não ser adequado para prevenir DRC, o que foi

Publicações 19

demonstrado no SPRINT onde o controle intensivo da PAS (< 120mmHg) se

mostrou mais eficaz que o padrão (PAS < 140mmHg).11

Ainda faltam estudos que mostrem com exatidão o número de brasileiros nas

diferentes categorias de DRC. Uma análise de dados laboratoriais revelou que 2,3%

dos indivíduos avaliados tinham TFGe < 45mL/min/1,73m2, o que representaria uma

estimativa de que cerca de 2,9 milhões de brasileiros teriam DRC maior ou igual à

categoria 3B.29 Pereira et al, em estudo sobre DRC e fatores de risco em pacientes

atendidos pela atenção básica, em Goiânia, entre 2011 e 2013, mostrou prevalência

de 32,53% de DRC, utilizando creatinina sérica para cálculo da TFGe pela equação

de CKD-EPI e presença de albuminúria. Neste estudo, 10,64% dos pacientes

apresentaram TFGe<60 mL/min/1,73m2, predominando pacientes em categorias 1 e

2, sem albuminúria.12

A busca de proteinúria ou albuminúria em pacientes de risco, principalmente

naqueles com DM e HA, é mandatória, uma vez que detecta alterações renais

precoces, antes da redução da TFGe (DRC oculta). Estes pacientes têm maiores

riscos de morte, DCV e DRC terminal. Em estudo realizado a partir de dados do

NHANES 1988-1994 e 1999-2002 nos EUA, foi avaliada a prevalência de DRC

oculta entre adultos não diabéticos e hipertensos. A DRC oculta foi definida como

TFGe pela cistatina C sérica < 60 mL/min/1,73m2 e/ou proteinúria acima de 30 mg/g

em pacientes com TFGe pela creatinina sérica > 60 mL/min/1,73m2. Em 1988-1994,

a DRC oculta foi prevalente entre 25% dos hipertensos não diabéticos, e em 1999-

2002 foi entre 22% dos hipertensos.30 No presente estudo, houve, também,

predomínio das categorias 1 e 2, considerando somente a redução da TFGe.

Apesar de ainda faltarem estudos que demonstrem que o monitoramento da

DRC nas categorias 1 a 3 modificam os desfechos clínicos da doença, considera-se

Publicações 19

a necessidade do rastreamento de alterações precoces da função renal com intuito

de prevenir a evolução para DRC terminal e/ou DCV em hipertensos primários com

aumento dos custos para a Saúde.31

Este trabalho possui algumas limitações. Foram utilizadas apenas duas

dosagens de creatinina sérica (inicial e de 2015). Para a determinação de DRC e

sua progressão não foi utilizada a presença de proteinúria ou albuminúria, conforme

proposto pelo KDIGO 2013, por se tratar de revisão de prontuários. No entanto, boa

parte dos estudos são realizados com o cálculo da TFGe utilizando medida sérica da

creatinina, mostrando sua importância no rastreio da DRC, principalmente na

atenção básica, onde é facilmente disponibilizado. Em um dos poucos estudos sobre

prevalência de DRC na saúde básica foram avaliados 39.525 pacientes com HA, na

Itália. Os níveis séricos de creatinina, PA e antihipertensivos foram obtidos para

cada paciente. A TFGe foi calculada pela equação de MDRD e DRC foi definida

como o encontro de TFGe < 60 mL/min/1,73m2, sendo suficiente para identificar

prevalência de 23% de DRC32, semelhante ao observado neste estudo.

Outra limitação deste estudo, é que não foram consideradas as medicações

utilizadas no tratamento, que poderiam se relacionar ao retardo na progressão da

DRC. No entanto, o tratamento instituído pela LHA segue as recomendações das

Diretrizes de Hipertensão Arterial vigentes, sendo mandatória a introdução de

bloqueadores do SRAA em pacientes com proteinúria em qualquer grau, que

poderia ser detectado pelo EAS, exame de rotina na LHA.

Apesar disso, a coleta de dados realizada em prontuários teve sua limitação

reduzida à medida que todas as consultas são realizadas seguindo padrões

regulares e padronizados de atendimento por todos os profissionais envolvidos,

sendo o intervalo de consultas seguido rigorosamente, assim como o controle

Publicações 19

laboratorial e medicamentoso, na busca de adequada adesão. Enfim, há que se

considerar que a LHA é um centro de referência em tratamento da HA no centro-

oeste e apresenta equipe multiprofissional, com seguimento clínico e laboratorial

regular dos pacientes e programa de prevenção bem estabelecido, o que poderia

tornar a população deste estudo não representativa da população geral.

Há, especialmente no Brasil, poucos estudos de prevalência de DRH levando

a DRC. Este estudo mostra que é possível fazer análises com dados clínicos e

cálculo de TFGe, podendo ser adotado de uma maneira geral.

CONCLUSÃO

Neste estudo foi observada uma prevalência aumentada de DRC secundária

à DRH, porém não houve associação entre a presença de DRC e o controle de PA

entre pacientes hipertensos primários submetidos a tratamento regular. Foi

identificada uma associação positiva entre o desenvolvimento de DRC e maior

tempo de hipertens o n o controlada (P ≥ 140/90 mmHg o que sugere ser o

tempo de exposição do rim à HA fundamental para a progressão da lesão, mesmo

em pacientes tratados segundo as recomendações vigentes. Sugere-se estudos

prospectivos incluindo outros marcadores que possam identificar os pacientes de

maior risco para a DRC secundária à HA primária.

Publicações 19

Tabela 1 – Caracterização sociodemográfica e clínica da amostra de pacientes atendidos na LHA/UFG de acordo com o controle pressórico. Goiânia, Goiás. 2016.

PA controlada (<140/90mmHg)

(n=45)

PA não controlada (≥140/90mmHg)

(n=119)

p Total (n=164)

Variáveis Média (desvio padrão)

Média (desvio padrão)

Idade (anos)

63,3 (± 9,5)

64,5 (± 10,5)

0,516**

Tempo de seguimento (anos)

8,5 (± 5,8) 12,3 (± 7,1) 0,001***

IMC (Kg/m2) 28,6 (± 6,1) 28,8 (± 5,8) 0,850**

n (%) n (%) p* n (%)

Tabagismo

0,750

Ex- fumante 11 (24,4) 24 (20,2) 35 (21,3) Fumante 2 (4,4) 8 (6,7) 10 (6,1) Não fumante

32 (71,1) 87 (73,1) 119 (72,6)

História de Doença Renal 0,419 Sim 7 (15,6) 13 (10,9) 20 (12,2) Não

38 (84,4) 106 (89,1) 144 (87,8)

História DCV 0,121 Sim 16 (35,6) 28 (23,5) 44 (26,8) Não

29 (64,4) 91 (76,5) 120 (73,2)

História familiar DR 0,780 Sim 8 (17,8) 19 (16,0) 27 (16,5) Não

37 (82,2) 100 (84,0) 137 (83,5)

Raça 0,113 Branco 30 (66,7) 63 (52,9) 93 (56,7) Não branco

15 (33,3) 56 (47,1) 71 (43,3)

IMC 0,928**** Baixo peso 2 (4,4) 3 (2,5) 5 (3) Eutrófico 10 (22,2) 29 (24,4) 39 (23,8) Sobrepeso 17 (37,8) 45 (37,8) 62 (37,8) Obeso 16 (35,6) 42 (35,3) 58 (35,4) Atividade física 0,992**** Regular 19 (42,2) 51 (42,9) 70 (42,7) Irregular 6 (13,3) 15 (12,6) 21 (12,8) Ausente 20 (44,4) 53 (44,4) 73 (44,5)

LHA/UFG: Liga de Hipertensão Arterial da Universidade Federal de Goiás; PA: pressão arterial (mmHg); DCV: doença cardiovascular; DR: doença renal; IMC: índice de massa corporal (Kg/m2); p = valor de p significância (0,05); n: número da amostra; *teste qui-quadrado; ** Teste t-student para amostras independentes; ***Teste U de Mann-Whitney para amostras independentes; ****ANOVA.

Publicações 19

Tabela 2 – Distribuição das variáveis clínicas quanto ao controle da pressão arterial. Goiânia, Goiás, 2016.

PA controlada (<140/90mmHg)

PA não controlada (≥140/90mmHg)

Variáveis Média (desvio padrão)

p Média (desvio padrão)

p p** Total

TFGe inicial 86,8 (± 21,4) - 83,1 (± 22,0) - 0,527 TFGe final 79,2 (± 20,2) 0,001* 77,1 (± 21,3) <0,001* 0,538 IMC inicial 28,5 (± 5,8) - 28,8 (± 6,0) - 0,923 IMC final 28,9 (± 5,8) 0,195* 29,0 (± 6,5) 0,675* 0,948

Variáveis n (%) n (%) p n (%)

DRC inicial 0,559 Sim 17 (16,5) - 8 (13,1) - 25 (15,3) Não 86 (83,5) - 53 (86,9) - 139 (84,7) DRC final 0,414 Sim 26 (25,2) 0,128* 12 (19,7) 0,342* 38 (23,2) Não 77 (74,8) - 49 (80,3) - 126 (76,8) Atividade Física

0,102

Regular 48 (46,6) - 22 (36,1) - 70 (42,7) Irregular 9 (8,7) - 12 (19,7) - 21 (12,8) Ausente 46 (44,7) - 27 (44,3) - 73 (44,5)

PA: pressão arterial (mmHg); TFGe: taxa de filtração glomerular estimada (mL/min/1,73m2); IMC: índice de massa corporal (Kg/m2); DRC: doença renal crônica; *Teste t-student para amostras em pares; ** Teste t-student para amostras independentes; p = valor de p significância (0,05); n: número da amostra.

Tabela 3 – Distribuição do controle da pressão arterial, segundo o período de seguimento e a diferença dos valores de taxa de filtração glomerular estimada pela

fórmula CKD-EPI. Goiânia, Goiás, 2016.

PA controlada (<140/90mmHg)

PA não controlada (≥140/90mmHg)

Variáveis Média (desvio padrão) Mediana (IC)

Média (desvio padrão) Mediana (IC)

p

Período de seguimento (anos)

8,5 (± 5,8) 8,0 (9,1 – 11,6)

12,3(± 7,1) 14,0 (11,0 – 14,7)

0,001*

Delta TFGe 6,0 (± 14,3) 3,9 (3,3 – 8,8)

7,6 (± 17,4) 5,0 (3,2 – 12,1)

0,782*

PA: pressão arterial (mmHg); *Teste U de Mann Whitney; TFGe: taxa de filtração glomerular estimada (mL/min/1,73m2) CKD- EPI = Chronic Kidney Disease Epidemiology Collaboration; Delta TFGe: diferença entre TFGe inicial e final; p = valor de p significância (0,05).

Publicações 19

Tabela 4 - Distribuição da doença renal crônica conforme a taxa de filtração glomerular estimada segundo controle de pressão arterial (<140/90mmHg) e período

de seguimento. Goiânia, Goiás, 2016.

PA controlada (<140/90mmHg)

PA não controlada (≥140/90mmHg)

p

Variáveis Média (desvio padrão) Mediana (IC 95%)

Média (desvio padrão) Mediana (IC 95%)

DRC SIM

DRC Não

p* DRC SIM

DRC Não

Período de seguimento (anos)

13,1 (± 8,2)

10 (7,9–8,3)

12,8 (± 7,1)

14(10,7–14,9)

0,696 13,1 (± 6,9)

13(10,3–15,9)

9,4 (± 6,3)

7(8,0–10,8)

0,018*

PA: pressão arterial (mmHg); DRC: doença renal crônica; DRC definida como TFGe < 60ml/mL/1,73m2; *Teste de Mann-Whitney de amostras independentes; IC 95% = intervalo de confiança; p = valor de p significância (0,05).

Gráfico 1 – Distribuição dos pacientes da LHA/UFG com hipertensão arterial primária de acordo com a taxa de filtração glomerular estimada no início e final do

seguimento. Goiânia, Goiás, 2016.

LHA/UFG: Liga de Hipertensão Arterial da Universidade Federal de Goiás; TFGe:

taxa de filtração glomerular estimada (mL/min/1,73m2) pelo CKD-EPI (Chronic

Kidney Disease Epidemiology Collaboration).

68 71

23

2 0

53

73

30

7

1 0

10

20

30

40

50

60

70

80

TFGe ≥ 90 TFGe 60-89 TFGe 45-59 TFGe 30-44 TFGe 15-29 início do seguimento na LHA final do seguimento na LHA

Número de pacientes

Publicações 19

AGRADECIMENTOS

À Liga de Hipertensão Arterial/UFG.

À Dra Cibele Isaac Saad Rodrigues, Dra Alessandra Vitorino Naghettini e Dr

Humberto Graner Moreira.

Publicações 19

REFERÊNCIAS

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diálise crônica 2014. J Bras Nefrol. 2016; 38 (1):54-61.

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grave, mas também prevenível e tratável. Rev Assoc Med Bras. 2010; 56(2):

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3- National Kidney Foundation. K/DOQI. Clinical practice guidelines for chronic

kidney disease: evaluation, classification and stratification. Am J Kidney Dis.

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4- Bastos MG, Kirsztajn GM. Doença renal crônica: Importância do Diagnóstico

precoce, encaminhamento imediato e abordagem interdisciplinar estruturada

para melhora do desfecho em pacientes ainda não submetidos à diálise. J Bras

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5- National Kidney Foundation. KDIGO. Clinical practice guidelines for the

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A DRC é bastante prevalente em todo mundo. A HA, uma das principais

etiologias, ainda tem números crescentes em praticamente todos os lugares,

levando à DRH. Seu controle, assim como dos fatores de risco associados, é

medida de grande valia para evitar progressão da doença, com eventos graves e

onerosos para a saúde. A prevenção e diagnóstico precoce devem ser buscados e

tratamento intensivo instituído, com grande impacto nas estatísticas da doença.

Este trabalho é valido a medida que busca identificar fatores de risco

associados a HA e DRC em uma população de pacientes hipertensos primários. O

estudo mostrou que o bom controle da PA, com monitorização regular de seus

níveis, avaliação nutricional, programa de educação sobre a doença e suas

consequências em um serviço de saúde apesar de possíveis, não mostraram neste

caso, interferência no curso da doença. Pacientes com longo tempo de doença,

mesmo que apresentem níveis pressóricos considerados sob controle, devem ser

seguidos sistematicamente em busca de lesões iniciais de órgão alvo, no sentido de

tentar evitar sua progressão . Isso pode ser feito na saúde básica, com aumento da

consciência do clínico sobre a doença. Métodos diagnósticos de fácil execução,

baixo custo boa reprodutibilidade e aplicação, acessíveis desde a rede básica ao

atendimento terciário, como medida sérica de creatinina, são úteis para screening da

doença, identificando a população de risco.

A medida da proteinúria é necessária para identificação da doença e

estratificação de risco. É, ainda, método de identificação precoce de alterações

renais podendo detectar pacientes que embora tenham TFG normal, apresentam

DRC oculta, com alto risco de morte por DCV. Esta medida pode ser feita, como

recomendado, por medida em amostra isolada de urina, pela relação

creatinina/albumina.

Diante dos resultados acredita-se que conhecer o curso da DRH e controlar

seus fatores associados é de extrema importância para a redução da prevalência de

DRC terminal e eventos cardiovasculares, responsáveis por alta morbimortalidade

no mundo. Mais ainda, diante da crença de que o bom controle da PA determina

modificações na história natural da doença renal, é importante a busca por valores

de pressão que efetivamente exerçam efeito protetor sobre os rins.

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Anexos 42

ANEXOS

Anexo A – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa

Anexos 42

Goiânia, 03 de setembro de 2014

__________________________ Assinado por:

José Mario Coelho Moraes (coordenador)