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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LETÍCIA DE ALMEIDA LEANDRO Neurocisticercose experimental: Efeito do tratamento anti- helmíntico no metabolismo energético e respiratório de cisticercos. Goiânia 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA

LETÍCIA DE ALMEIDA LEANDRO

Neurocisticercose experimental: Efeito do tratamento anti-

helmíntico no metabolismo energético e respiratório de

cisticercos.

Goiânia 2013

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TERMO DE CIÊNCIA E DE AUTORIZAÇÃO PARA DISPONIBILIZAR AS TESES E

DISSERTAÇÕES ELETRÔNICAS (TEDE) NA BIBLIOTECA DIGITAL DA UFG

Na qualidade de titular dos direitos de autor, autorizo a Universidade Federal de Goiás

(UFG) a disponibilizar, gratuitamente, por meio da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações

(BDTD/UFG), sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei nº 9610/98, o

documento conforme permissões assinaladas abaixo, para fins de leitura, impressão e/ou

download, a título de divulgação da produção científica brasileira, a partir desta data.

1. Identificação do material bibliográfico: [X] Dissertação [ ] Tese

2. Identificação da Tese ou Dissertação

Autor (a): Letícia de Almeida Leandro

E-mail: [email protected]

Seu e-mail pode ser disponibilizado na página? [X]Sim [ ] Não

Vínculo empregatício do autor

Agência de fomento: CNPq Sigla:

País: Brasil UF: CNPJ:

Título: Neurocisticercose experimental: Efeito do tratamento anti-helmíntico no metabolismo

energético e respiratório de cisticercos.

Palavras-chave: Taenia crassiceps; neurocisticercose experimental; metabolismo

energético; metabolismo respiratório.

Título em outra língua:

Palavras-chave em outra língua: Taenia crassiceps, experimental neurocysticercosis,

energetic metabolism, respiratory metabolism.

Área de concentração: Parasitologia

Data defesa: (dd/mm/aaaa) 28/02/2013

Programa de Pós-Graduação: Medicina Tropical e Saúde Pública / IPTSP-UFG

Orientador (a): Profa. Dra. Marina Clare Vinaud

E-mail: [email protected]

Co-orientador (a):* Prof. Dr. Ruy de Sousa Lino Junior

E-mail: [email protected]

*Necessita do CPF quando não constar no SisPG

3. Informações de acesso ao documento:

Concorda com a liberação total do documento [X] SIM [ ] NÃO1

Havendo concordância com a disponibilização eletrônica, torna-se imprescindível o envio do(s) arquivo(s) em formato digital PDF ou DOC da tese ou dissertação.

O sistema da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações garante aos autores, que os

arquivos contendo eletronicamente as teses e ou dissertações, antes de sua disponibilização,

receberão procedimentos de segurança, criptografia (para não permitir cópia e extração de

conteúdo, permitindo apenas impressão fraca) usando o padrão do Acrobat.

__________________________ Data: ____/ ____ / _____

Assinatura do (a) autor (a)

1 Neste caso o documento será embargado por até um ano a partir da data de defesa. A extensão deste prazo

suscita justificativa junto à coordenação do curso. Os dados do documento não serão disponibilizados durante

o período de embargo.

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LETÍCIA DE ALMEIDA LEADRO

Neurocisticercose experimental: Efeito do tratamento anti-

helmíntico no metabolismo energético e respiratório de

cisticercos.

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás para obtenção do Título de Mestre em Medicina Tropical e Saúde Pública.

Orientador: Profª. Drª. Marina Clare Vinaud Co-orientador: Prof. Dr. Ruy de Sousa Lino Junior

Goiânia 2013

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação na (CIP)

UFG

L437n

Leandro, Letícia de Almeida.

Neurocisticercose experimental: Efeito do Tratamento

Anti-helmíntico no Metabolismo Energético e Respiratório

de Cisticercos. [manuscrito] / Letícia de Almeida Leandro.

- 2013.

xii, 44 f. : il., figs, tabs.

Orientadora: Profª. Drª. Marina Clare Vinaud; Co-

orientador: Prof. Dr. Ruy de Sousa Lino Junior.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de

Goiás, Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública,

2013.

Bibliografia.

Inclui lista de figuras, abreviaturas, siglas e tabelas.

1.Neurocisticercose. 2. Taenia crassiceps – Cérebro-

Camundondo.3.Cérebro-Infecção- Parasira.I.Título.

CDU:616.831:616.993.12

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Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás

BANCA EXAMINADORA DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Aluno (a): Letícia de Almeida Leandro

Orientador (a): Profª. Drª. Marina Clare Vinaud

Co-orientador (a): Prof. Dr. Ruy de Sousa Lino Junior

Membros:

1. Prof.ª Dra. Marina Clare Vinaud

2. Prof. Dr. José Clecildo Barreto Bezerra

3. Profa. Dra. Mara Caravalhaes

Data: 28/02/2013

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v

Aos meus pais, Lúcia Aparecida de Almeida

Leandro e Geraldo Adão Leandro de Barros,

que com muita paciência e sabedoria

souberam me guiar pelo caminho da busca

do saber, aos meus irmãos Eduardo de

Almeida Leandro e Roberta de Almeida

Leandro e as minhas queridas sobrinhas,

Maria Eduarda Almeida Rodrigues e

Valentia Almeida Rodrigues.

E a toda a comunidade científica que se

disponibiliza do seu tempo e conhecimento

para trazer melhorias às nossas vidas.

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AGRADECIMENTO

Quero agradecer a Deus por tudo o que tenho: família maravilhosa, saúde, plenas

condições de estudar e trabalhar, amigos etc. Isto é, pela vida a qual eu não tenho nada a

reclamar, somente a agradecer e honrar.

Aos meus pais por terem me oferecido oportunidades, educação e amor, os quais me

fazem ser a pessoa que sou hoje. E por sempre me apoiarem em minhas escolhas e terem a

paciência de me verem voltar a trás e começar tudo de novo.

Aos meus irmãos por sempre estarem ao meu lado nos momentos bons e ruins me

amando e sendo amados.

As minhas sobrinhas as quais me proporcionam maravilhosos momentos de alegria.

Aos amigos e primos os quais durante a minha difícil transição de estudante

universitária para profissional inativo me apoiaram bastante e me deram forças para que eu

pudesse passar por mais essa etapa.

A professora Mara Carvalhaes por ter aberto as portas do IPTSP para mim e ter me

dado subsídios para que eu pudesse crescer profissionalmente e por ter me apresentado à

professora Marina Clare Vinaud, que com muita atenção, dedicação, carinho e paciência,

me guiou durante todo esse trabalho.

No entanto, muitíssimo obrigada professora Marina Clare Vinaud, por todo o

aprendizado que a senhora me proporcionou durante esse período da nossa convivência.

Ao meu co-orientador Ruy de Souza Lino Júnior que também me auxiliou durante

todo o meu mestrado.

A todos os amigos e professores do LAERPH (Laboratório de Estudos da Relação

Parasito-Hospedeiro) que de alguma forma disponibilizaram de seu tempo e atenção para

comigo. Aos funcionários, alunos e professores do Programa de Pós-Graduação em

Medicina Tropical do IPTSP/UFG.

E a todos os pesquisadores, que sempre, de formas diretas ou indiretas contribuem

para a evolução da ciência e educação.

E ao CNPQ pelo financiamento, a Merck e Teuto por nos ter fornecido os fármacos

utilizados na pesquisa.

Enfim, a todas as pessoas que fizeram parte da minha vida profissional e pessoal.

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SUMÁRIO

Lista de tabelas e figuras viii

Lista de abreviaturas, símbolos e siglas ix

Resumo X

Abstract xii

1. Introdução 1

1.1. Patogenia e diagnóstico 1

1.2. Epidemiologia 3

1.2.1. Dados epidemiológicos da neurocisticercose no Brasil 5

1.3. Modelos experimentais para o estudo de Taenia solium 6

1.3.1. Taenia crassiceps 6

1.3.1.1. Ciclo biológico 7

1.3.1.2. Infecção e Epidemiologia 8

1.4. Metabolismo energético e respiratório de helmintos 10

1.4.1. Metabolismo energético e respiratório em Taenia crassiceps 14

1.5. Os fármacos anti-helmínticos utilizados no tratamento da cisticercose 17

2. Justificativa 21

3. Objetivos 22

3.1 Objetivo geral 22

3.2 Objetivos específicos 22

4. Material e Métodos 23

4.1. Manutenção do ciclo biológico de Taenia crassiceps 23

4.2. Infecção dos camundongos com Taenia crassiceps, no encéfalo 23

4.2.1. Método de inoculação 23

4.3. Tratamento 24

4.4. Análise estatística 25

5. Resultados e discussão 26

6. Conclusão 38

7. Referências 40

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LISTA DE TABELAS E FIGURAS

Tabela 1: Concentração (média ± desvio padrão) de ácidos orgânicos (mMol/mL

(peso úmido)x10-6

) detectados em cisticercos de Taenia crassiceps retirados de

encéfalos de camundongos BALB/c fêmeas tratados com albendazol e

praziquantel (3,0 e 6,0 mg/kg de peso do animal).

40

Figura 1: Ciclo biológico de Taenia crassiceps, com seus hospedeiros

definitivos (1) - canídeos, intermediários (3) - roedores, e paratênicos (5) –

mamíferos como o homem, lêmures e animais domésticos (Vinaud 2007).

11

Figura 2: Comparação do metabolismo mitocondrial aeróbio e anaeróbio, de

carboidratos 18

Figura 3: Catabolismo de carboidratos segundo Corbin et al. (1998). 21

Figura 4: Ciclo da uréia. 47

Figura 5: Beta-oxidação de ácidos graxos. 50

Figura 6: Catabolismo de aminoácidos. 52

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LISTA DE ABREVIATURAS, SÍMBOLOS E SIGLAS

AMP - Alanina monosfosfato

Ca+2

- Íon cálcio

CETEA-UFMG - Comitê de Ética em Experimentação Animal- Universidade Federal de

Minas Gerais.

CO2 - Gás carbônico

CoA - Coenzima A

EUA - Estados Unidos da América

HIV - Human Immunodeficiency Virus

HPLC - High Performance Liquid Chromatography

IPTSP/UFG - Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública/ Universidade Federal de

Goiás

NCC - Neurocisticercose

ND - Não detectados

NH3+ - Grupo amina do aminoácido

NH4+ - Amônia

OMS - Organização Mundial de Saúde

SBCAL/COBEA - Sociedade Brasileira de Ciência em Animais de Laboratório

SNC - Sistema Nervoso Central

WHO - World Health Organization.

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x

RESUMO

Realizou-se a análise do metabolismo energético e respiratório de cisticercos de Taenia

crassiceps inoculados no encéfalo de camundongos BALB/c fêmeas. Após 30 dias de

infecção, esses camundongos foram tratados com baixas doses (3,0 e 6,0 mg/kg) de

albendazol e praziquantel visando observação de alterações provocadas no metabolismo do

parasito. O objetivo deste trabalho foi detectar a influência de baixas doses desses anti-

helmínticos na produção dos ácidos orgânicos do metabolismo intermediário (citrato, α-

cetoglutarato, succinato, fumarato, malato, oxaloacetato), de carboidratos (piruvato, lactato,

oxaloacetato, malato, acetato e propionato), de ácidos graxos e proteínas (β-hidroxibutirato,

acetoacetato, acetato, α-cetoglutarato e oxalato) realizados por cisticercos de T. crassiceps

implantados no SNC de camundongos BALB/c fêmeas. Com relação a glicólise, detectou-

se lactato em todas as amostras mostrando que esse parasito fez fermentação lática; em

relação ao metabolismo intermediário foi possível detectar os ácidos orgânicos citrato, α-

cetoglutarato, succinato, fumarato, malato e oxaloacetato, indicando que os cisticercos

apresentaram elementos do ciclo do ácido cítrico para produzir energia. Porém diante dos

resultados encontrados a principal evidência é de que esses cisticercos utilizaram uma via

denominada reversão do ciclo do ácido cítrico para produzirem energia, obtendo como

produtos finais propionato e acetato. Não se observou diferenças significativas entre os

grupos que sofreram tratamentos e os grupos controle exceto pelo fato de que, o grupo

tratado com albendazol 6,0 mg/kg de peso do camundongo teve como principal produto

final da reversão do ciclo do ácido cítrico, o acetato, ao contrário dos demais grupos que

tiveram o propionato; nos grupos tratados com praziquantel não houveram a produção de

acetato como nos demais grupos e no grupo tratado com praziquantel 6,0 mg/kg não houve

a produção de β-hidroxibutirato; nos grupos tratados com albendazol observou-se um

aumento na produção de β-hidroxibutirato indicando que esse grupo maximizou a via de

produção energética através da β-oxidação de ácidos graxos e/ou através do catabolismo

proteico.

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xi

Concluímos que os cisticercos de T. crassiceps, nas condições do presente trabalho,

deram preferência para uma via de produção energética anaeróbia e provavelmente

catabolizaram, além de carboidratos, proteínas e ácidos graxos para produzirem ATP.

Palavras chave: Taenia crassiceps; neurocisticercose experimental; metabolismo

energético; metabolismo respiratório.

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Abstract

The analysis of the energetic and respiratory metabolism of Taenia crassiceps cysticerci

innoculated into the encefalum of female BALB/c mice was performed. After 30 days of

infection the mice were treated with low dosages (3.0 and 6.0 mg/kg) of albendazole and

praziquantel aiming the observation of the alterations caused by a hostile environment on

the parasite's metabolism. The aim of this study was to detect the influence of low dosages

of anti-helminthic drugs on the production of organic acids related to the intermediary

metabolism (oxaloacetate, malate, fumarate, succinate, citrate and α-ketoglutarate),

carbohydrates metabolism (pyruvate, lactate, propionate, oxaloacetate and malate) and fatty

acids and proteins catabolism (β-hydroxibutyrate, acetoacetate, acetate, α-ketoglutarate and

oxalate) by T. crassiceps cysticerci innoculated into the CNS of BALB/c mice. Regarding

the glycolisis, it was possible to detect lactate in all samples which shows that this parasite

performs a lactic fermentation. As to the intermediary metabolism it was possible to detect

oxaloacetate, citrate, malate, succinate, fumarate and α-ketoglutarate which indicates that

the cysticerci may have used the tricarboxilic acid cycle (TCA) to produce energy.

However facing the results found the evidences show that the cysticerci used a metabolic

pathway denominated reversion of the TCA for energy production which presents as main

end products propionate and acetate. There were no significant differences between the

groups treated with the anti-helminthic and the control one except that the group treated

with 6.0 mg/kg of albendazole presented acetate as main end product of the TCA reversion

while the other groups presented propionate. In the groups treated with praziquantel, both

concentrations, there was no production of acetate and in the 6.0 mg/kg of praziquntel there

was no production of β-hydroxibutyrate wheter in the groups treated with both

concentrations of albendazol there was an increase in the production of this organic acid

which indicates the maximization of the energetic pathway of fatty acids oxidation and/or

of the proteic catabolism. It was possible to conclude that T. crassiceps cysticerci when

exposed to the conditions of this study preferred an anaerobic energy production pathway

and probably performed the catabolism of carbohydrates, proteins and fatty acids.

Key words: Taenia crassiceps, experimental neurocysticercosis, energetic metabolism,

respiratory metabolism.

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1

1. INTRODUÇÃO

A neurocisticercose (NCC) é uma infecção causada pela presença da forma larval do

helminto Taenia solium no sistema nervoso central (SNC) (Coyle et al. 2012).

Essa parasitose envolve dois hospedeiros em seu ciclo, o homem como hospedeiro

definitivo abriga o helminto adulto em seu intestino e o suíno como hospedeiro

intermediário alberga a fase larval ou cisticerco, também chamado de Cysticercus

cellulosae em sua musculatura (Rey 2010) e outros locais como no SNC (Tsang & Wilson

1995).

A teníase é adquirida através da ingestão de carne suína mal cozida contaminada

com o cisticerco. A carne é digerida e o cisticerco liberado; sob a ação da bile o escólex

desenvagina-se e suas ventosas fixam-se na mucosa intestinal, e o rostro insinua-se entre as

vilosidades e ancora-se firmemente através dos seus acúleos; a vesícula atrofia-se e começa

a desenvolver o estróbilo e após cerca de 60 a 70 dias já se tem evacuações contendo

proglotes e ovos mostrando que o helminto adulto já está totalmente formado (Rey 2010).

Já a cisticercose ocorre pela ingestão de ovos presentes em água e alimentos

contaminados por fezes humanas. Essa doença inicia-se com a ingestão acidental desses

ovos, os quais sofrem ação de sucos digestórios e da bile. Durante sua passagem pelo

estômago e duodeno, a oncosfera eclode e penetra na mucosa intestinal usando os acúleos e

a secreção de suas glândulas de penetração, alcança a corrente sanguínea e se instala no

tecido, principalmente nos olhos e anexos, seguido do SNC, pele, tecido subcutâneo,

músculos e outros órgãos. A gravidade das manifestações clínicas está diretamente

relacionada à localização do parasito (Rey 2010).

1.1. Patogenia e diagnóstico

Os cisticercos podem ser encontrados em vários sítios anatômicos, porém as

manifestações clínicas ocorrem principalmente quando estes se encontram no SNC,

caracterizando o quadro de NCC (Del Brutto et al. 1959).

Os casos de cisticercose intraocular podem produzir uma diminuição progressiva da

acuidade visual ou defeitos do campo visual, induzir vitrite, uveíte e endoftalmite. Já nas

infecções maciças de músculos estriados podem produzir fraqueza generalizada (Del Brutto

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2

2012).

A NCC pode apresentar-se assintomática, sob várias formas sintomatológicas e até

levar a morte. Diferenças entre as formas clínicas dependem do tamanho do cisticerco,

localização, quantidade, resposta do sistema imune do paciente e da reação do tecido

adjacente a esse parasito (Sinha and Sharma 2009).

Algumas das manifestações clínicas são decorrentes das formas parenquimatosas,

meníngeas, intraventriculares, subaracnóideas e espinhal. E os cisticercos podem estar

viáveis ou calcificados (Sinha and Sharma, 2009).

Dentre as manifestações clínicas na NCC estão convulsões, hidrocefalia e

hipertensão intracraniana (WHO 2010). Essas manifestações clínicas podem ser baseadas

fundamentalmente em duas síndromes que podem ocorrer isoladamente ou associadas:

epilepsia e hipertensão intracraniana (Agapejev 2011).

A progressão dessa doença pode ser aguda, subaguda, crônica e levar a morte

podendo haver remissões com ou sem o tratamento. O paciente pode passar um longo

período sem sintomas ou estes podem persistir até o momento do óbito (Agapejev 2011).

Em alguns casos quando o paciente é tratado ou os cisticercos são reconhecidos pelo

sistema imune, esses podem degenerar-se e/ou pode-se seguir uma reação inflamatória que

normalmente leva ao aparecimento dos sinais e sintomas clínicos como dores de cabeça

crônicas, cegueira, convulsões, hidrocefalia, meningite, demência e a morte do paciente

(WHO 2010).

O diagnóstico da cisticercose é baseado em sinais e sintomas clínicos, testes de

imagem como tomografias computadorizadas, ressonâncias magnéticas e através de

biópsias com a identificação de cisticercos com escólex. Ensaios sorológicos também são

utilizados, lembrando que, ensaios mais antigos não fornecem especificidade e nem

sensibilidade adequadas, porém novos ensaios utilizando glicoproteínas antigênicas

purificadas possuem uma boa sensibilidade e especificidade. Alguns ensaios já possuem até

30 antígenos com os quais os anticorpos do paciente podem reagir (Singh & Prabhakar

2002). A aplicação de técnicas com DNA recombinantes vem sendo empregadas para a

produção de proteínas como a Tsol-p27, proporcionando maiores especificidades e

sensibilidades ao diagnóstico da NCC (Tsang & Wilson 1995; Lundtrom et al. 2010;

Salazar-Anton et al. 2012).

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3

1.2. Epidemiologia

O desenvolvimento e utilização de técnicas com alta sensibilidade e especificidade

como técnicas de diagnóstico por imagem, biologia molecular e utilização de glicoproteínas

específicas de T. solium em testes imunológicos possibilitam a realização de estudos

epidemiológicos mais precisos. O baixo custo de algumas técnicas empregadas no

diagnóstico da NCC viabiliza esse estudo em comunidades mais pobres (Tsang & Wilson

1995).

Tsang & Wilson (1995) também verificaram que a NCC causa um grande impacto

na saúde pública, consequência da sua grande relação com quadros de epilepsia e sua

ocorrência em diversos países, inclusive em comunidades onde não há o consumo de carne

suína (Tsang & Wilson 1995).

A NCC é altamente endêmica em alguns países da América Latina, África

Subsariana, subcontinente indiano e sudeste da Ásia, mas durante as últimas décadas vem

sendo reconhecida em países não endêmicos e atualmente é considerada a helmintose mais

comum do sistema nervoso e a maior causa de epilepsia adquirida em todo o mundo (Coyle

et al. 2012; Del Brutto & García 2012).

A OMS (Organização Mundial de Saúde) estima que no mínimo 50 milhões de

pessoas sofram de epilepsia e 80% dessa população reside em países em desenvolvimento.

Além disso, aproximadamente um terço dos casos de epilepsia associados à NCC ocorre em

locais endêmicos para T. solium (WHO 2010; Coyle et al. 2012).

A combinação de condições como clima quente, pobreza extrema e analfabetismo,

presentes nos países endêmicos, favorecem a transmissão dessa e de outras parasitoses.

Nesses países, a NCC acaba se tornando um grande problema de saúde pública, pois ocorre

um grande número de internações em hospitais neurológicos em decorrência dessa doença

(Del Brutto 2012).

Hoje com o crescente número de imigrantes de áreas endêmicas, tem havido um

aumento recente do número de pacientes com NCC no mundo desenvolvido. Quase 90%

dos pacientes com diagnóstico de NCC nos EUA e Europa são imigrantes latino-

americanos (Del Brutto 2012). Flisser (2006) relatou alguns casos de NCC nos EUA

ocorridos entre os anos de 1989 e 2000, e 73% desses casos foram de imigrantes

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mexicanos. Essas imigrações já favoreceram o aparecimento de casos autóctones nessas

regiões, onde a doença era inexistente, como por exemplo, nos EUA, cerca de 5% dos

pacientes diagnosticados com NCC são autóctones (Del Brutto & García 2012). Evidências

recentes também indicam um aumento da frequência da NCC em outros países que eram

aparentemente livres da doença como a Austrália, Canadá, Israel, Japão, Países da Europa

Ocidental e países muçulmanos (Del Brutto & García 2012).

Wallin & Kurtzke (2004) fizeram um estudo de revisão da literatura que citava os

casos de NCC diagnosticados nos EUA entre os anos de 1980 e 2004 e notaram que foi

relatado um total de 1494 pacientes com NCC nesse período. Os sintomas mais comuns

eram convulsões (66%), hidrocefalia (16%) e dores de cabeça (15%). Dentre as

localizações dos cistos, 91% estavam no parênquima cerebral, 6% nos ventrículos, 2% no

espaço subaracnóide e 0,2% na coluna vertebral. A maioria dos casos era proveniente de

pacientes que tinham viajado para regiões endêmicas, principalmente América-Latina ou

que tinham entrado em contato com essa população infectada (Wallin & Kurtzke 2004).

Um estudo feito no México demonstrou que a carga parasitária dos indivíduos

pesquisados variava de 2-16 cisticercos, e os pacientes assintomáticos possuíam um número

significativamente menor que os sintomáticos. As localizações dos cistos eram

principalmente nos espaços subaracnóides seguido pelos ventrículos e parênquima, e 75,9%

destes encontravam-se calcificados ou no estado coloidal e 24,1% na forma vesicular

(Saénz et al. 2008).

Interessantemente, na Índia, uma grande parte dos pacientes com NCC são

vegetarianos, indicando a contaminação ambiental por ovos de T. solium e o não preparo

adequado dos alimentos (WHO 2010). De acordo com o ciclo biológico descrito por Rey

(2010) essas pessoas adquiriram a NCC, provavelmente, através da ingestão de ovos

eliminados por outras pessoas (adquiriram a teníase através da ingestão de carne suína

infectadas com cisticercos), os quais estavam contaminando os vegetais e outros alimentos

ou a água ingerida por esses pacientes.

Já na China cerca de 200.000 toneladas de carne suína contaminada com cisticercos

são descartadas anualmente, ocasionando um prejuízo de cerca de 146 milhões de dólares

(WHO 2010).

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Entretanto, esta parasitose é teoricamente passível de controle e em 1993 foi

declarado ser erradicável pela Força Tarefa Internacional para Erradicação de Doenças da

OMS. Porém a NCC continua a ser considerada uma doença negligenciada devido à falta

de informação sobre tal parasitose, falta de ferramentas para diagnóstico no campo e falta

de estratégias simples de intervenções (WHO 2010).

Portanto, a erradicação da cisticercose requer melhoria em vários campos inclusive

no aprimoramento da quimioterapia tanto humana quanto suína (WHO 2010), pois o uso

indiscriminado de anti-helmínticos leva à resistência entre várias espécies de helmintos

(Lundstrom et al. 2010).

1.2.1. Dados epidemiológicos da neurocisticercose no Brasil

A literatura brasileira sobre a NCC trata de estudos regionais, porém Agapejev

(2003) agrupou toda a literatura disponível, do período de 1915 a 2002 e delineou um

perfil clínico-epidemiológico dos pacientes com NCC. Nesse estudo foi possível traçar

dois perfis, o primeiro trata-se de um perfil geral que é a expressão inativa da NCC e é

caracterizado por homens na faixa etária de 31 a 50 anos, procedência rural, com

quadros epilépticos associados ou não à depressão, tomografia mostrando calcificações e

o líquor normal ou com hiperproteinorraquia, podendo apresentar também cisticercose

cutânea. O outro perfil é o de gravidade (com a expressão da forma ativa da doença) e é

representado, em sua maioria, por mulheres, 21 a 40 anos, de procedência urbana,

apresentando queixa de cefaleia vascular e hipertensão intracraniana, associada ou não a

calcificações (visualizadas por tomografia computadorizada). Verificou-se a prevalência,

ainda que subestimada, nos estados do Distrito Federal, São Paulo, Paraná, Mato Grosso

do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Ceará, Pará, Maranhão, Santa Catarina, Rio

Grande do Sul, Bahia, Pernambuco, Paraíba e Espírito Santo. Quanto aos padrões dessa

neuroparasitose, no Brasil, notou-se que a incidência na população psiquiátrica pode ser

até 5(cinco) vezes mais elevada que na população geral; a população indígena mostra

incidência soro-epidemiológica de cisticercose cerca de 18 (dezoito) vezes maior que

nas demais etnias; a forma assintomática foi detectada em 50% dos casos com

diagnóstico necroscópico de NCC; e sua letalidade foi em torno de 15%. Na maioria das

vezes encontraram cisticercos únicos, localizados principalmente nos lobos frontal e

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parietal à direita, e o exame neurológico pode ser normal em 50% dos pacientes com

NCC.

1.3. Modelos experimentais para o estudo de Taenia solium

O desenvolvimento de bons modelos experimentais é importante para se obter uma

compreensão dos fenômenos que ocorrem naturalmente e na medicina permite que

estudemos melhor e entendamos os mecanismos envolvidos na fisiologia e etiopatogenia

das doenças, ação dos medicamentos etc. Para isso um modelo experimental deve ser o

mais semelhante possível a situação real a ser estudada (Ferreira et al. 2005).

Como o estudo da NCC é limitado devido ao caráter de progressão crônica da

doença, influência do tratamento anti-helmíntico e a escassez de pacientes que são

submetidos a intervenções cirúrgicas, foi necessário desenvolver um modelo experimental

para melhores estudos dessa doença (Alvarez et al. 2010).

Dentre os modelos experimentais existentes tem-se a utilização dos cestóideos

Mesocestoides corti e T. crassiceps, os quais são inoculados intracranianamente em

camundongos (Vaz et al. 1997; Alvarez et al. 2010; Silva et al. 2011).

A vantagem na utilização de cisticercos de T. crassiceps é que, por terem a

capacidade de se reproduzirem assexuadamente formando brotamentos, é possível sua

manutenção na cavidade peritoneal de camundongos sem a formação de helmintos adultos

(Vaz et al. 1997).

Estudos feito por Palomares et al. (2006) demonstraram que se pode utilizar

cisticercos de T. crassiceps como modelo experimental para o estudo de cisticercos de T.

solium quando se trata da análise da ação de drogas cestocidas.

1.3.1 Taenia crassiceps

O parasito T. crassiceps Rudolphi, 1810, pertence à ordem Cyclophyllidea, classe

Cestoda e à família Taeniidae. Como todo cestoda, possui o corpo segmentado em

proglotes, as quais se dividem em jovens, maduras e grávidas. São hermafroditas e não

possuem trato digestório. Os adultos medem de 7 a 14 cm de comprimento; o escólex é

esférico com duas fileiras de acúleos, cada uma com cerca de 32 a 36 acúleos. A forma

larval/ larva metacestóide/ cisticerco é também chamado de Cysticercos longicollis

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Rudolphi, 1810, mede 4 a 5 mm de diâmetro, possui um escólex invaginado e é capaz de

formar brotamentos em sua superfície (Freeman 1962; Maillard et al. 1998).

1.3.1.1. Ciclo biológico

Os ovos eliminados por meio de proglotes grávidas, pelos hospedeiros definitivos

como os canídeos, especialmente raposas, coiotes e cães domésticos, são ingeridos por

roedores (hospedeiros intermediários). Os ovos ingeridos liberam seus embriões hexacantos

(6 a 8μm de diâmetro) e estes penetram na mucosa intestinal e migram por via linfática e/ou

hematogênica até se alojarem em um determinado órgão ou cavidade, na qual se

desenvolvem a larvas metacestóides/ cisticercos e esses cisticercos formam

multibrotamenos a partir de sua membrana externa (reprodução assexuada). Esta forma

larval pode ser detectada por volta de 12 dias após a ingestão dos ovos (Freeman 1962;

Arocker-Mettinger et al. 1992; Dyer & Greve1998; Shimalov & Shimalov 2003).

Em algumas cepas deste parasito, como na cepa ORF, os cisticercos são capazes de

produzir inúmeros brotamentos que não apresentam o canal do escólex, o que impede a

formação de helmintos adultos (Freeman 1962).

O hospedeiro definitivo ingere as larvas metacestóides juntamente com a carne

contaminada dos hospedeiros intermediários e desenvolve o helminto adulto no seu

intestino, que passa a eliminar ovos através das proglotes grávidas. Estes ovos podem ser

encontrados nas fezes a partir de 5 a 6 semanas após a infecção (Freeman 1962; Arocker-

Mettinger et al. 1992; Dyer & Greve1998; Shimalov & Shimalov 2003).

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Figura 1: Ciclo biológico de Taenia crassiceps. (1) Hospedeiros definitivos – canídeos; (2)

Ovos; (3) Hospedeiros intermediários – roedores; (4) Cisticercos; (5) Hospedeiros

paratênicos – mamíferos como o homem, lêmures e animais domésticos (Vinaud et al.

2007).

1.3.1.2. Infecção e Epidemiologia

No hospedeiro definitivo a infecção se mantém naturalmente cerca de 9 (nove)

meses, e posteriormente evolui para cura espontânea. Em hospedeiros intermediários e

paratênicos (mamíferos como o homem, lêmures e animais domésticos) não foi relatada a

cura espontânea (Freeman 1962)

As larvas metacestóides de T. crassiceps são capazes de se implantar, causando

cisticercose em vários locais como: fígado, SNC, intra-ocular, intrapleural e região

subcutânea; relatadas em vários mamíferos, como raposas, texugos e humanos,

principalmente, mas não exclusivamente em imunodeprimidos (Freeman 1962; Deblock &

Petavy 1983; Dyer & Greeve 1998; Brojer et al. 2002).

A presença de animais domésticos infectados com o helminto adulto de T.

crassiceps aumenta a incidência de casos em humanos, como o relato de cisticercose

intraocular em uma menina de 17 anos de idade que ingeriu, acidentalmente, ovos de

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T. crassiceps que estavam sendo liberado por seu cão de estimação (Freeman 1962). Outros

animais domésticos como os gatos também podem atuar como hospedeiros paratênicos,

desenvolvendo os cisticercos no SNC e na região subcutânea, demonstrando que a fonte da

infecção pode estar próxima de humanos (Wünschmann et al. 2003).

Na grande maioria dos casos relatados de cisticercose humana por T. crassiceps, os

pacientes eram portadores da AIDS (Acquired Immunodeficiency Syndrome). Alguns casos

foram descritos, como de um homem com 34 anos de idade, de Liverpool, portador da

AIDS que apresentou hematomas no braço esquerdo que foi diagnosticado ter sido causado

por cisticercos de T. crassiceps. Esse paciente foi tratado com os anti-helmínticos

albendazol e praziquantel durante um período de seis meses, porém após sete meses houve

recorrência da infecção e o tratamento foi novamente inserido durante um mês. Outros

casos também foram diagnosticados na Inglaterra e na França, nesse primeiro, um paciente

de 34 anos de idade com AIDS, desenvolveu um hematoma na arcada paravertebral onde

cisticercos de T. crassiceps foram encontrados e o segundo, paciente de 38 anos de idade

também com AIDS, desenvolveu um tumor intermuscular também devido a cisticercos de

T. crassiceps (Maillard et al. 1998; François et al. 1998).

Nos casos de cisticercose por T. crassiceps os tratamentos com anti-helmínticos são

mais eficazes que a remoção cirúrgica, pois através dessa não se faz a remoção de todos os

parasitos e seus brotamentos. Porém é de grande importância se fazer a identificação do

parasito e consequentemente o diagnóstico correto (Maillard et al. 1998).

Também podem ocorrer casos em humanos sem imunodepressão com melhor

prognóstico e tratamento, como por exemplo, o relato de cisticercose intraocular em

paciente imunocompetente e sem recorrência após remoção cirúrgica do parasito, não sendo

necessário tratamento farmacológico (Arocker-Mettinger et al. 1992). Duong et al. (2006)

relataram um caso autóctone de paciente imunocompetente com presença de cisticercos

sugestivos de T. crassiceps na parede abdominal e sem relato de doença ou caso na família

de teníase por T. solium. O diagnóstico de cisticercose por T. crassiceps foi sugerida devido

ao provável contato do paciente com raposas provenientes da região norte da França.

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1.4. Metabolismo energético e respiratório de helmintos

A produção de ácidos orgânicos por helmintos foi relatada pela primeira vez em

1850 e desde então as principais vias do metabolismo energético vem sendo estudadas mais

detalhadamente. Esses estudos foram feitos, principalmente, utilizando enzimas purificadas

ou semi-purificadas e o catabolismo de carboidratos foi bastante explorado. Durante esses

estudos, ficou claro que as formas adultas dos helmintos dependiam de carboidratos na

forma de glicose ou glicogênio como fonte energética e não encontraram evidencias do

catabolismo de aminoácidos e lipídeos (Barret 2009).

Braeckman et al. (2009) relataram que o nematoide Caenorhabditis elegans pode

usar lipídios e aminoácidos como fontes de energia.

A forma de produção energética dos helmintos segue o princípio dos demais

organismos vivos que utilizam um sistema de reações de oxi-redução para sintetizar ATP.

Essa síntese de ATP pode vir da degradação de substratos por enzimas, onde parte da

energia livre dessa degradação é conservada e transferida para a formação do ATP ou de

uma cadeia transportadora de elétrons associada à fosforilação do ADP, em que, um

gradiente eletroquímico de prótons serve como uma força termodinâmica intermediária que

conduz essa fosforilação do ADP para formar o ATP. Entretanto, comparando esses

sistemas ao de animais superiores, os helmintos apresentam um maior número de

estratégias metabólicas para formar ATP, conseguindo desempenhar essas ações em

ambientes de aerobiose e/ou anaerobiose (Kohler 1985).

Já foi mostrado que a função global das mitocôndrias é sintetizar ATP através da

utilização de compostos orgânicos como doadores de elétrons. Porém existem

mitocôndrias, de diferentes organismos eucariotos, que fazem essa produção utilizando

diferentes vias. Dentre elas temos uma via em que o oxigênio é o aceptor final de elétrons,

então temos uma via aeróbia de produção de energia; compostos orgânicos ou inorgânicos

que não sejam o oxigênio também podem servir como acpetores finais de elétrons, diante

de uma anaerobiose, caracterizando uma respiração anaeróbia. Uma forma de produzir

energia, bem peculiar, encontrada em um molusco aquático chamado de Geukensia

demissa, é a utilização de compostos inorgânicos como doadores de elétrons. Em helmintos

foram relatados apenas a utilização de compostos orgânicos como doadores de elétrons em

aerobiose ou anaerobiose (Tielens et al. 2002).

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Em relação à cadeia respiratória, durante o metabolismo aeróbio, os elétrons

produzidos durante o ciclo do ácido cítrico passam do succinato para a quinona através do

complexo II da cadeia respiratória. Já durante o metabolismo anaeróbio ocorre a reversão

do ciclo do ácido cítrico e o fumarato é o aceptor final de elétrons (o fluxo de elétrons

desloca-se da quinona para o fumarato)(figura 2) (Tielens et al. 2002).

Todos os helmintos são capazes de assimilar oxigênio, mas nenhum consegue

oxidar completamente seus substratos em CO2 e água acumulando assim outros produtos

finais (Saz 1981). Algumas enzimas do metabolismo energético, existente em

mamíferos já foram encontradas em helmintos, mas as vias a que elas pertencem não foram

identificadas. Acredita-se que esses parasitos tenham adaptado velhos caminhos a novas

utilizações, utilizando enzimas comuns a mamíferos em diferentes vias. Quando se

compara estágios evolutivos dos parasitos nota-se diferenças metabólicas entre elas, e

interessantemente, algumas vias que não são encontradas nos helmintos adultos são ativas

nas suas formas larvais (Barret 2009).

Ainda não se sabe se os helmintos realizam a biossíntese de aminoácidos e proteínas

e como isso ocorreria. Aparentemente ocorre uma retirada destes elementos do meio de

acordo com a biodisponibilidade oferecida pelo hospedeiro. Os processos de catabolismo

de proteínas também não estão claros em helmintos, admitindo-se a produção e excreção

de amônia como produto final e não de uréia, como ocorre na maioria dos invertebrados

(Köhler & Voigt 1988). Porém, a excreção de uréia foi detectada em cisticercos de T.

crassiceps por Vinaud et al. (2009).

Saz 1981 discerniu três grupos de helmintos baseado em seu metabolismo

energético. Os grupos foram identificados como: 1- grupos de helmintos obrigatoriamente

aeróbios como alguns estágios larvais de Ascaris sp.; 2- parasitos que precisam do oxigênio

para sua motilidade e não para sua sobrevivência, tendo como exemplo a microfilária do

Brugia pahangi; e 3- o grupo no qual se enquadra o helminto adulto do Ascaris

lumbricoides e da T. crassiceps, que conseguem sobreviver tanto na presença quanto na

ausência de oxigênio.

Na presença de oxigênio o nematóide Caenorhabditis elegans faz o ciclo do ácido

cítrico completo inclusive com transporte de elétrons na cadeia respiratória (figura 2).

Formas juvenis de F. hepatica também fazem o ciclo do ácido cítrico sob a presença de

oxigênio produzindo CO2 e água como produtos finais. Porém diante de anerobiose

[L1] Comentário: Não entendi oq é pra fazer na figura dois. A senhora escreveu

que é para indicar fig, na introdução.

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também possuem a capacidade de fazer fermentação lática produzindo o lactato como

produto final e realizam a reversão do ciclo do ácido cítrico obtendo como produtos finais,

o propionato e o acetato(figura 2) (Tielens et al. 1981; Braeckman et al. 2009).

A reversão do ciclo do ácido cítrico já foi relatada em F. hepatica e A. suum, que

utilizam a respiração anaeróbia para produzir parte, se não toda a sua energia. Essa

produção inicia-se com a glicólise no citoplasma celular onde o fosfoenolpiruvato é

convertido a oxaloacetato através da ação da enzima fosfoenolpiruvato carboxiquinase e

consecutivamente o oxaloacetato é reduzido à malato pela enzima malato desidrogenase

citosólica. Esse malato é transportado para a mitocôndria e parte é oxidado pela enzima

málica mitocondrial e forma piruvato que através da enzima piruvato desidrogenase é

convertido à acetil-CoA. Diferentemente dos organismos superiores (o acetil- CoA é

oxidado até CO2 ou utilizado para síntese de alguns compostos), a parte CoA do acetil-CoA

é transferida para o succinato através da enzima succinato CoA-transferase formando

acetato e succinil-CoA; essa reação é reversível tendo como resultado a formação de 1 ATP

por mol de glicose degradada. A outra parte do malato é reduzida à fumarato que através da

enzima fumarato redutase é convertido à succinato, o qual posteriormente será

metabolizado à propionato. A redução do fumarato está interligada à cadeia transportadora

de elétrons, ao bombeamento de prótons através da enzima NADH desidrogenase

(complexo I) e à formação de ATP. Contudo, essa degradação anaeróbia da glicose tem

como resultado a formação de 5 mol de ATP por mol de glicose degradada e a produção de

propionato e acetato como produtos finais(figura 2) (Saz 1981; Matthews et al. 1985;

Tielens et al. 2002; van Grinsven et al. 2009).

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Figura 2: Comparação do metabolismo mitocondrial aeróbio e anaeróbio, de carboidratos.

As principais vias aeróbias (setas vermelhas) e anaeróbias(setas azuis) do metabolismo de

Fasciola hepatica são mostrados. O transporte de elétrons é mostrado nas setas tracejado e

os produtos finais são apresentados nas caixas. Abreviaturas: AcCoA- acetil-CoA; ASCT-

acetato:succinato-CoA transferase; ; C- citocromo c; CI- complexo I; CIII- complexo III;

CIV-complexo IV; CITR- citrato; FRD- fumarato redutase; FUM- fumarato; MAL- malato;

ME-enzima málica; OXAC- oxaloacetato; PDH- piruvato desidrogenase; PEP-

fosfoenolpiruvato; PYR- piruvato; RQ- rodoquinona; SDH- succinato desidrogenase;

SUCC- succinato; Succ-CoA- succinil-CoA; UO- ubiquinona; Glucose- glicose; ATP

synthase- ATP sintetase (Tielens et al. 2002).

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1.4.1. Metabolismo energético e respiratório em Taenia crassiceps

Os helmintos da classe Cestoda não apresentam trato digestório, portanto é

necessária a incorporação de substâncias energeticamente rentáveis por meio da superfície

do tegumento (Melhorn et al. 1988).

Em cisticercos de T. crassiceps, o glicogênio e a glicose são os carboidratos

utilizados como reserva e fonte energética, respectivamente. Mas outros carboidratos

também são armazenados em sua membrana cística (Lamsam & McManaus 1990).

Os parasitos da família Taeniidae apresentam na fase adulta metabolismo

preferencialmente anaeróbio devido à escassez de oxigênio no seu habitat natural, a luz

intestinal do hospedeiro definitivo (Köhler & Voigt 1988). Entretanto, sua fase larvária

apresenta atividade in vivo aeróbia dependente do oxigênio que se difunde pelos tecidos de

seu hospedeiro intermediário. Contudo, o metabolismo energético de cestóides varia de

acordo com a oferta de oxigênio de seu habitat (Del Arenal et al. 2005; Fraga et. al. 2012a).

Os estudos de Corbin et al. (1998) com cisticercos de T. crassiceps, utilizando

piruvato com carbono marcado, demonstraram que durante o catabolismo desse ácido

orgânico houve a incorporação desse carbono no succinato, citrato, acetato, alanina e

lactato. Essas evidências sugeriram que o piruvato citosólico foi rapidamente convertido

pela enzima transaminase em alanina e pela enzima lactato desidrogenase em lactato ou foi

transportado para a mitocôndria e foi convertido a malato através da ação da enzima málica

mitocôndrial; e/ou esse piruvato foi convertido a malato no citoplasma da célula pela ação

da enzima málica citosólica, e esse último entrou para a mitocôndria; o malato mitocondrial

sofreu ação da malato desidrogenase e converteu-se a oxaloacetato que ligou-se a acetil-

CoA sob ação da enzima citrato sintetase e formou o citrato que também foi um produto

final (indicando que o ciclo do ácido cítrico não ocorreu nesse parasito ou ocorreu numa

velocidade baixa); esse malato também pode ter sofrido ação da enzima fumarase e ter

seguido outra via(reversão do ciclo do ácido cítrico), onde se teria a produção de fumarato,

que por sua vez seria reduzido pela enzima fumarato redutase à succinato e este último

seria excretado. Outra via que o piruvato pode ter seguido é a sua conversão à acetil-CoA

pela ação das enzimas do complexo piruvato desidrogenase e o acetil-CoA ter sido

convertido à acetato que foi excretado (figura 3).

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Figura 3: Catabolismo de carboidratos segundo Corbin et al. (1998). 1- Piruvato quinase;

2- Lactato desidrogenase; 3- Fosfoenolpiruvato carboxiquinase; 4- Malato desidrogenase

citosólica; 5- Complexo piruvato desidrogenase; 6- Enzima málica citosólica; 7-

Acetoacetato descarboxilase; 8-Citrato cintetase; 13- Fumarato redutase; 14- Fumarase; 15-

Malato desidrogenase mitocondrial; 16- Enzima málica mitocondrial; * - produto final;

– ácidos orgânicos detectados em nosso estudo. Esquema adaptado de Corbin et al.

(1998).

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A cadeia transportadora de elétrons detectada em cisticercos de T. crassiceps é

semelhante à cadeia encontrada em seus hospedeiros mamíferos, demonstrando presença de

citocromos bc1, c e aa3; enquanto este tipo de respiração é ausente em parasitos adultos

(Del Arenal et al. 2001). O metabolismo de cisticercos de T. crassiceps se mostra bastante

complexo por apresentar uma via respiratória alternativa ao ser resistente à inibição da

enzima citocromo oxidase por cianeto. Ainda não se sabe ao certo porque fases larvais de

helmintos apresentam maiores capacidades de oxidação do que suas respectivas fases

adultas (Del Arenal et al. 2005).

Os ácidos graxos juntamente com álcoois formam os lipídeos. E esses compostos

orgânicos são, além de reserva energética, componentes celulares tendo uma função

estrutural (Lehninger et al. 2006). Os cisticercos de T. crassiceps fazem reprodução

assexuada formando inúmeros brotamentos, portanto necessitam de um suprimento maior

de lipídeos. Como a maioria dos helmintos são incapazes de sintetiza-los, há a necessidade

de captar esses lipídeos do hospedeiro (Frayha & Smyth 1983; Köhler & Voigt 1988;

Smyth & Mc Manus 1989; Corbin et al. 1996).

Estudos demonstraram que cisticercos de T. crassiceps e T. solium tem a capacidade

de produzir hormônios esteroides, confirmando a incorporação de lipídeos fornecidos pelo

hospedeiro (Valdez et al. 2006; Presas et al. 2008).

Diante de relatos da detecção de produtos finais do catabolismo de ácidos graxos,

percebe-se que estes parasitos apresentam capacidade de degradação de lipídeos e sua

consequente utilização como fonte de energia, em situações em que a glicose ou o

glicogênio não estão disponíveis (Vinaud et al. 2009; Fraga et al. 2012b).

Em T. crassiceps, verificou-se que os produtos finais do metabolismo de

carboidratos são: lactato, acetato, succinato e alanina; e do metabolismo respiratório são:

acetato, citrato e succinato o que demonstra a existência de vias citoplasmáticas e

mitocondriais de produção de energia (Corbin et al. 1998; Vinaud et al. 2007; 2008).

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1.5. Os fármacos anti-helmínticos utilizados no tratamento da cisticercose.

Várias formas de tratamento podem ser empregadas dependendo de cada

manifestação clínica e por isso cada paciente deve ser avaliado como um caso isolado

(Nogales-Gaete et al. 2006; Sinha & Sharma 2009).

Dentro das modalidades de tratamento temos como possibilidade, o uso de fármacos

cestocidas, o uso de corticoesteróides para diminuir ou prevenir reações inflamatórias,

utilização de drogas antiepilépticas e intervenções cirúrgicas para remover o cisto ou como

manobra para reverter o quadro de hidrocefalia. Apesar de às vezes controverso, o

tratamento com drogas cestocidas já se mostrou eficiente em diminuir algumas lesões

(Nogales-Gaete et al. 2006; Sinha & Sharma 2009).

Hoje, o tratamento cestocida recomendado para cisticercose causada por larva

metacestóide de T. solium (Cysticercus cellulosae) é a utilização de albendazol e

praziquantel. As reações adversas a este esquema terapêutico são escassas, apesar de que o

uso tanto de praziquantel quanto de albendazol, por levarem a morte do parasito, pode gerar

uma resposta inflamatória local( alcança seu pico entre o 5º e 7º dias de tratamento) que

associada à encefalite e a reações meníngeas pode levar a um aumento da pressão

intracraniana, nos casos de NCC, evoluindo para formas graves e até levar o paciente a

óbito. Recomenda-se, portanto, cautela e acompanhamento médico no tratamento

farmacológico da cisticercose (Nogales-Gaete et al. 2006).

De acordo com o fabricante (Merck®) o mecanismo de ação do praziquantel é

desregular os mecanismos que controlam o fluxo de cátions através da membrana celular

dos helmintos, inibindo as enzimas que mantém os gradientes de íons inorgânicos,

estimular a entrada celular de sódio e inibir a de potássio, ocasionando despolarização nas

células do parasito. Parece ativar, de maneira direta ou indireta, a contração cálcio

dependente da musculatura do parasito; havendo rápido aumento da passagem de cálcio

para o interior das células do parasito, com elevação do tônus muscular, que imobiliza o

helminto segundos após o contato com o fármaco.

No caso da NCC, o praziquantel produz paralisia espástica no parasito e destrói seu

escólex. Em cerca de 60 a 70% das formas parenquimais, os cisticercos desaparecem após

mais ou menos 15 dias de tratamento, quando se utiliza a dosagem de 50 mg/kg por dia.

Outro esquema terapêutico estudado foi à utilização desse fármaco por apenas um dia, onde

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a redução do número de cistos foi igual para os cursos mais longos demonstrando que esse

esquema terapêutico mais curto também pode ser eficiente (Sinha & Sharma 2009).

Apesar de todas as descrições quanto ao mecanismo de ação do praziquantel, o seu

mecanismo molecular ainda não foi totalmente elucidado, mas alguns fenômenos

relacionados aos seus efeitos em Schistosoma sp. já foram descritos. Dentre eles temos, um

rápido influxo de Ca2+ para o interior do parasito (os canais de cálcio são possíveis alvos

moleculares do praziquantel pois nesses helmintos suas subunidades-β parecem ter uma

estrutura diferente das subunidades-β já conhecidas e quando estas são expressas

juntamente com subunidades-α heterólogas podem conferir a esta última uma sensibilidade

anteriormente inexistente ao praziquantel) e consequentimente levar a uma paralisia

espástica do musculatura; outro efeito precoce do praziquantel consiste em alterações

morfológicas que podem ser observada no tegumento do helminto, inicialmente

representadas por vacuolização na base do tegumento acompanhadas por um aumento da

exposição dos antígenos de superfície do parasito que antes eram mascarados pelo

mimetismo molecular realizado por esse helminto; essa exposição de antígenos parece estar

relacionado ao reconhecimento pelo sistema imune do hospedeiro o que é necessário para a

completa efetividade do praziquantel (Cioli & Matticcia 2003).

Estudos realizados por Palomares et al. 2006 com cisticercos de T. crassiceps,

demonstraram que após o tratamento com praziquantel houve um aumento no tamanho dos

cisticercos e estiramento dos tecidos exteriores e parenquimatoso. O praziquantel também

exerceu um efeito sob a região interna da camada germinal e apareceram grandes vacúolos

citoplasmáticos e em algumas áreas foi observado perda da integridade tecidual que podem

ter ocorrido em consequência de um efeito indireto da perturbação geral metabólica. Além

desses efeitos o fármaco também produziu alterações na contratilidade do parasito e ao

contrário do albendazol, não demostrou qualquer efeito sobre microtríquias, que se

mantiveram inalteradas.

O albendazol é um fármaco benzimidazólico utilizado como anti-helmíntico. Este

fármaco atua ao se ligar a β-tubulina do parasito impedindo a polimerização e incorporação

de glicose, atuando em seu metabolismo energético (Venkatesan 1998). Segundo a empresa

fabricante (Vitapan®) o fármaco realiza inibição da polimerização dos túbulos, tornando o

nível de energia inadequado à sobrevivência do helminto, imobilizando-o e,

posteriormente, levando-o à morte. Ocorre pouca biodisponibilidade do fármaco que

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apresenta maior atuação na luz intestinal. É indicado no tratamento de vários helmintos

intestinais, como: Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiura, Enterobius vermicularis,

Ancylostoma duodenale, Necator americanus, Taenia spp., Strongyloides stercoralis e

Echinococcus granulosus.

Sob os cisticercos a ação do albendazol é a mesma descrita pelo fabricante. Ele age

sob a captação de glicose, inibindo-a e causando uma depleção de energia. Em 75% a 90%

dos cisticercos nas formas parenquimais desaparecem após o uso desse fármaco, o qual

também é eficaz quando utilizado nas formas subaracnóides, meníngeas e ventriculares.

Outras vantagens do albendazol é que além de possuir um baixo custo, não interage com

corticoesteróides e nem antiepilépticos e hoje já foi considerado superior ao praziquantel

em vários estudos. O tratamento recomendado, inicialmente, é a utilização de 15 mg/kg

durante um mês, mas novos estudos mostraram que uma semana de tratamento é

igualmente efetivo ao tratamento prolongado de um mês e é provavelmente mais efetivo

que o tratamento com praziquantel. Mesmo diante dos estudos demonstrando que esses

tratamentos com menor duração também são eficazes, a duração deste deve ser estabelecido

de acordo com a situação de cada paciente. (Sinha & Sharma 2009).

Os estudos de Palomares et al. (2006) em seu trabalho in vitro demonstraram que o

sulfóxido de albendazol ocasionou várias mudanças na morfologia dos cisticercos de T.

crassiceps, como perda parcial do tecido intracelular, o que está associado ao mecanismo

de ação dos benzimidazóis, uma vez que eles destroem os microtúbulos e interferem na

nutrição do cisticerco; ruptura das “flame cells” mostrando que a funções excretoras foram

prejudicada justamente por causa dos danos causados nos microtúbulos e o número de

microtríquias diminuiu consideravelmente. Contudo, o sulfóxido de albendazol causou um

colapso no parasita e sua forma foi alterada e o fluído vesicular foi reduzido.

O uso concomitante do praziquantel e albendazol tem sido utilizado para aumentar a

efetividade do custo-benefício em programas de larga escala e essa combinação tem sido

segura e eficaz. O praziquantel aumenta significativamente a biodisponibilidade do

albendazol (Cioli & Matticcia 2003).

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Estudos feito, in vitro, com cisticercos de T. solium e T. crassiceps sob a ação do

praziquantel nas concentrações de 0,001 a 0,3 μg/ml, e sulfóxido de albendazol à 0.0125 a

2,5 μg/ml demonstraram que os cisticercos de T. solium, quando expostos ao praziquantel,

perderam fluido cístico e os cisticercos de T. crassiceps perderam a integridade da

membrana quando expostos aos dois fármacos. Durante esse estudo verificaram que o

efeito do praziquantel e do albendazol nesses cisticercos depende tanto da concentração

quanto do tempo de exposição ao fármaco, porém para um maior efeito do albendazol é

necessário um tempo maior de incubação e isso se deve a sua biodisponibilidade

(Palomares et al. 2004).

Quando o praziquantel e o sulfóxido de albendazol foram usados em combinação,

os efeitos sob os cisticercos foram notados em menor tempo de exposição e a mortalidade

dos cisticercos também foi superior. Verificou-se um efeito mais destrutivo no tecido do

parasito com uma redução dramática no comprimento das microtríquias e na espessura do

tegumento, bem como uma degeneração celular total. Embora tenha sido mostrada uma

maior eficácia na administração concomitante do sulfóxido de albendazol e praziquantel do

que quando foram administrados isoladamente, até o momento não há informações

disponíveis sobre o tipo de interação que ocorre entre esses fármacos (Palomares et al.

2006).

A fim de identificar alvos para novas drogas, as vias metabólicas podem ser

estudadas para se pesquisar enzimas exclusivas dos cestoides, que poderão ser possíveis

alvos terapêuticos (Lundstrom et al. 2010).

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2. JUSTIFICATIVA

Os dados epidemiológicos nos mostram que há um crescente número de pacientes

com NCC e que, mesmo sendo uma doença que pode levar o paciente a óbito, ainda é

negligenciada. Por isso é de extrema importância, que sejam feito estudos sobre a

NCC, no âmbito da patogenia, diagnóstico e tratamento.

Devido a essa necessidade o presente estudo propõe uma análise do metabolismo

energético e respiratório de cisticercos de T. crassiceps quando estes estão implantados

no SNC de camundongos BALB/c fêmeas, causando a NCC experimental, e uma

avaliação das alterações metabólicas (energéticas e respiratórias) provocadas pelos dois

fármacos anti-helmínticos (albendazol e praziquantel) mais utilizados no tratamento da

NCC. Essa análise poderá nos ajudar a compreender melhor a interação parasito-

hospedeiro no contexto da NCC e a verificar as vias metabólicas usadas por estes

parasitos e a ação dos fármacos sob essas vias, já que não se tem estudos relatando

essas correlações metabólicas no contexto da NCC.

Além da utilização da T. crassiceps como modelo experimental para a NCC, a

descoberta desse helminto como um parasito que acomete humanos e com caráter

especialmente grave em pacientes imunocomprometidos nos faz propor um melhor

entendimento da biologia deste parasito, avaliando suas adaptações a ambientes

diversos como o SNC do hospedeiro intermediário e diante da presença de fármacos

em baixas dosagens.

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3. OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral

Analisar o metabolismo energético e respiratório de cisticercos de T. crassiceps in

vivo, provenientes de encéfalos de camundongos BALB/c fêmeas infectados

experimentalmente e tratados com baixas doses de fármacos anti-helmínticos.

3.2 Objetivos específicos:

a- Detectar e quantificar ácidos orgânicos do metabolismo intermediário: citrato, α-

cetoglutarato, succinato, fumarato, malato e oxaloacetato em cisticercos implantados no

SNC de camundongos BALB/c fêmeas.

b- Avaliar os ácidos orgânicos do catabolismo de carboidratos: piruvato, lactato,

oxaloacetato, malato, acetato, propionato em cisticercos implantados no SNC de

camundongos BALB/c fêmeas.

c- Quantificar os ácidos orgânicos do catabolismo de ácidos graxos: β-

hidroxibutirato, acetato e acetoacetato em cisticercos implantados no SNC de camundongos

BALB/c fêmeas.

d- Quantificar os ácidos orgânicos do catabolismo de proteínas: β-hidroxibutirato,

acetato, acetoacetato e α-cetoglutarato em cisticercos implantados no SNC de camundongos

BALB/c fêmeas.

e- Observar a influência dos fármacos praziquantel e albendazol, em baixas

dosagens, no metabolismo de vias respiratórias e energéticas dos cisticercos implantados no

SNC de camundongos BALB/c fêmeas.

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4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1. Manutenção do ciclo biológico de T. crassiceps:

O ciclo biológico de T. crassiceps (cepa ORF) foi mantido no biotério do

IPTSP/UFG, a partir da forma larvária de T. crassiceps a qual foi inoculada na cavidade

intraperitoneal de camundongos BALB/c fêmeas de 8 a 12 semanas de idade e se

multiplicaram por brotamento. Cerca de 90 dias após a inoculação os animais foram

eutanasiados por deslocamento cervical e necropsiados. Os cisticercos de fase inicial foram

retirados de sua cavidade intraperitoneal e inoculados em camundongos não infectados e

saldáveis para dar continuidade ao ciclo (Vaz et al. 1997).

Os princípios éticos em experimentação animal preconizados pela Sociedade

Brasileira de Ciência em Animais de Laboratório (SBCAL/COBEA) foram seguidos e o

trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFG (protocolo nº 031/10).

Assim, os animais foram devidamente alojados com luminosidade e temperatura

controladas, a intensidade de ruído e a umidade relativa do ar foram as do ambiente geral e

os camundongos receberam cuidados diários, água acidificada e ração padrão autoclavada

para a espécie à vontade.

4.2. Infecção dos camundongos com T. crassiceps, no encéfalo:

Camundongos fêmeas BALB/c de 8 a 12 semanas de idade foram infectados no

encéfalo com 4 a 5 cisticercos em estádio inicial de T. crassiceps (cepa ORF) (Vaz et al.

1997; Vinaud et al. 2007; Silva et al. 2011).

4.2.1. Método de inoculação:

Antes da inoculação os animais foram anestesiados com uma solução anestésica de

Cetamina 100mg/ml e Xilazina 20mg/ml na proporção de 0,1ml/10 g de peso do animal

(CETEA-UFMG 2008; Teale et al. 2008).

Os cisticercos a serem implantados foram coletados assepticamente da cavidade

intraperitoneal dos camundongos dos grupos de manutenção de ciclo. E os cisticercos

coletados foram lavados com soro fisiológico, e cerca de quinze cisticercos(os menores) de

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fase inicial foram coletados com uma seringa acoplada a uma agulha de 25G especialmente

seccionada transversalmente a um tamanho de dois milímetros. Essa coleta dos cisticercos

foi feita com o auxílio de um microscópio estereoscópico (Silva et al. 2011).

Uma incisão longitudinal e mediana na pele do crânio foi feita com lâmina de

bisturi nº 20, após assepsia com iodo tópico. Uma boa exposição da calota craniana para

visualização adequada das suturas foi realizada por dissecção subperiostal. O orifício de

trepanação selecionado foi feito com uma broca (1/8) movida por micromotor tomando-se

cuidado para não lesionar o córtex cerebral com a ponta da broca. A agulha foi inserida a 2

mm na junção sagital superior e sutura transversa e os cisticercos foram inoculados. O

orifício foi ocluso com alginato de massa dentística e a incisão foi suturada (Silva et al.

2011).

Os animais foram assistidos durante todo o período entre a infecção e sua necropsia

e mantidos sob condições preconizados pela Sociedade Brasileira de Ciência em Animais

de Laboratório (SBCAL/COBEA).

4.3. Tratamento

Os camundongos infectados foram divididos em grupos de acordo com o tratamento

e um grupo, que não recebeu tratamento, foi considerado controle infectado. Cada grupo foi

formado por 5 camundongos e foram realizadas 5 repetições do experimento.

Após 30 dias de inoculação os camundongos dos grupos teste foram tratados com

baixas doses de albendazol e praziquantel (3,0 e 6,0 mg/kg de peso do camundongo) para

garantir o efeito não letal dos fármacos e após 24h foram eutanasiados e necropsiados para

a coleta dos cisticercos.

Para avaliação bioquímica dos produtos finais do metabolismo energético e

respiratório dos cisticercos, os camundongos infectados foram eutanasiados por

deslocamento cervical, necropsiados e os cisticercos retirados do SNC foram congelados

com nitrogênio líquido. Em seguida esses cisticercos foram preparados para a extração dos

ácidos orgânicos: homogenados com ácido perclórico à 12%, depois foram centrifugados a

12000g/10 minutos à 2ºC, o sobrenadante teve seu pH ajustado para 7,0 e novamente

centrifugado, formando o homogenado (Vinaud et al. 2007). Os ácidos orgânicos presentes

no homogenado foram extraídos com a utilização de uma coluna cromatográfica de troca

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iônica (Bond Elut® - Varian) e com auxílio de um sistema de extração de fase sólida e de

uma bomba a vácuo. Esta coluna de extração foi ativada com 1 ml de HCl (0,5 mol/L), 1 ml

de Metanol e 2 ml de H2O ultrafiltrada; em seguida foi aplicado o homogenado (3ml); após

a aplicação da amostra, foram acrescentados 2 ml de água ultrafiltrada e o Bond Elut foi

retirado do sistema de extração de fase sólida; e por último aplicou-se 250 μL de H2SO4

(0,5 M) e o material foi centrifugado a 500 g/5 minutos a 20 C para se obter a amostra para

análise (Vinaud et al. 2007).

A amostra resultante foi submetida a uma cromatografia líquida de alta eficiência

(HPLC – Varian ProStar) com uma coluna de exclusão BIORAD-Aminex ion exchange

HPX – 87H (300 X 7,8 mm). A coluna de separação é protegida por uma coluna de

proteção BIORAD-Aminex HPX – 85. O eluente utilizado na fase móvel foi o ácido

sulfúrico (5 mMol/L) à temperatura de 20ºC, com vazão de 0,6 ml/min, acoplado a um

detector UV/visível em comprimento de onda de 210nm. Cada amostra injetada

corresponde a um volume de 50μL (Vinaud et al. 2007).

Os resultados foram analisados por um programa computadorizado acoplado ao

cromatógrafo: Star Chromatography Workstation 5.0 Varian, calibrado, para identificar os

ácidos orgânicos: piruvato, lactato, citrato, α-cetoglutarato, succinato, fumarato, malato,

oxaloacetato, acetato, propionato, β-hidroxibutirato, acetoacetato e oxalato.

4.4. Análise estatística

A análise estatística foi realizada por meio do programa Sigma Stat 3.2. Todas as

variáveis foram testadas quanto à distribuição normal e variância homogênea com o teste

de Kolmogorov-Smirnov. Quando a distribuição foi considerada normal e com variância

homogênea foram utilizados testes paramétricos (ANOVA). Em casos em que a

distribuição não foi normal ou que a variância não foi homogênea foram utilizados testes

não paramétricos (Kruskal-Wallis e Dunn). As diferenças observadas foram consideradas

significantes quando p<0,05.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Por meio desse estudo foi possível observar o metabolismo energético e respiratório

de cisticercos de T. crassiceps inoculados no encéfalo de camundongos BALB/c fêmeas

com e sem tratamento.

Foram detectados ácidos orgânicos referentes ao catabolismo de carboidratos

através das seguintes vias: a presença do piruvato e do lactato indicam que houve glicólise;

o ciclo do ácido cítrico: citrato, α-cetoglutarato, succinato, fumarato, malato e oxaloacetato;

e por último, uma reversão do ciclo do ácido cítrico: oxaloacetato, malato, fumarato,

succinato, piruvato, acetato e propionato. Ácidos orgânicos como o acetoacetato e β-

hidroxybutirato nos levam a crer que esses cisticercos catabolizaram ácidos graxos e/ou

proteínas para produzirem ATP, assim como o α-cetoglutarato, acetato e oxalato também

podem ser produzidos através do catabolismo de proteínas (tabela 1).

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Tabela 1: Concentração (média ± desvio padrão) de ácidos orgânicos (mMol/mL (peso

úmido)x10-6

) detectados em cisticercos de Taenia crassiceps retirados de encéfalos de

camundongos BALB/c fêmeas tratados com albendazol e praziquantel (3,0 e 6,0 mg/kg de

peso do animal).

Ácidos orgânicos Controle ABDZ 3

mg/kg

ABDZ 6

mg/kg

PZQ 3

mg/kg

PZQ 6

mg/kg

Oxalato 6,019 ±

5,171

4,647 ±

4,830 4,240 ±

6,849

1,042 ±

2,222

3,953 ±

5,460

Citrato ND 0,26 ±0,21 ND ND ND

α-cetoglutarato 0,010 ±

0,006

0,007

±0,006●

0,035 ±

0,019●

0,012 ±

0,011

0,020 ± 0,11

Oxaloacetato 0,057 ±

0,064

0,058

±0,0069

0,227 ±

0,468

0,072 ±

0,066

0,067 ±

0,047

Piruvato 0,101 ±

0,047

0,071 ±0,008 ND 0,069 ±

0,029

0,040 ±

0,006

Malato 1,444 ±

1,242

2,314 ±

3,543

10,075 ±

11,407

2,663 ±

2,635

3,619 ±

3,100

Succinato 0,561 ±

0,546

0,351 ±

0,218

4,015 ±

6,918

0,234 ±

0,258

0,447 ±

0,271

Lactato 0,511 ±

0,447

0,530 ±

0,686

0,723 ±

0,383

0,495 ±

0,386

0,808 ±

0,419

β-hidroxibutirato 0,053 ±

0,022

0,330 ±

0,349

1,818 ±

4,162

0,122 ±0,058 ND

Acetato 0,376 ±

0,202

0,540 ±

0,737

9,540 ±

15,438

ND ND

Fumarato 0,062 ±

0,083*

0,070 ±

0,078°

0,173 ±

0,176*°

0,059 ±

0,026

0,058 ±

0,013

Acetoacetato 0,230±0,079

ND ND 0,167± 0,140

0,294±0,251

Propionato 7,364 ±

3,860

5,644 ±

4,787

3,460 ±

1,779

5,197 ±

3,240

3,218 ±

1,705

ND – não detectado;*/ °/●- diferenças estatisticamente significantes.

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A identificação de baixa concentração ou a não detecção de piruvato (tabela 1)

assemelha-se aos resultados de Vinaud et al. (2008) e a Fraga et al. (2012a), indicando que

esse ácido orgânico foi consumido para formar outros compostos como lactato e malato

e/ou foi transportado para a mitocôndria e lá foi degradado à acetil-CoA que por sua vez

pode ter sido convertida a citrato e/ou à acetato(reversão do ciclo do ácido cítrico). Esse

resultado aponta para uma total mobilização desse ácido orgânico para produzir energia

(figura 2) (Corbin et al. 1998).

O lactato foi encontrado tanto nos controles quanto nos grupos tratados (tabela 1),

mostrando que esse parasito utilizou a fermentação lática (via anaeróbia) para produzir

energia. Esse processo inicia-se com a catabolização da glicose em fosfoenolpiruvato que é

degradado em piruvato e este é convertido em lactato pela ação da enzima lactato

desidrogenase (Lehninger et al. 2006).

Os estudos de Taylor et al. (1966) mostram que o lactato foi produzido, em T.

crassiceps, aerobicamente e anaerobicamente na presença de glicose. Isso nos mostra que

mesmo em ambientes aeróbios, como no presente estudo (os cisticercos foram implantados

no encéfalo) eles conseguiram utilizar vias que são ativas, geralmente, em anerobiose.

A detecção de lactato corrobora os resultados de Corbin et al. (1996) que

demonstraram um aumento na concentração desse ácido orgânico no fígado de

camundongos infectados com cisticercos de T. crassiceps. O aumento desse composto, no

fígado, foi devido a sua excreção pelos cisticercos, mostrando que durante o metabolismo

dessas larvas elas excretam lactato, sendo este um produto final do metabolismo energético

anaeróbio.

Apesar de não ter ocorrido diferença estatisticamente significante, foi claramente

perceptível que nos grupos tratados com albendazol 6,0 mg/kg de peso do camundongo e

praziquantel 6,0 mg/kg de peso do camundongo houve um aumento na produção de lactato

indicando que os cisticercos desses grupos aumentaram sua fermentação lática. Mas houve

diferença quando comparado aos achados de Vinaud et al. (2008) no qual as concentrações

de lactato foram significativamente menores nos grupos tratados in vitro com albendazol e

praziquantel do que as concentrações detectadas nos controles.

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Essa diferença provavelmente ocorreu porque o nosso estudo foi realizado in vivo e do

referido autor foi in vitro.

Um estudo in vitro feito com o trematódeo Cotylophoron cotylophorum mostrou

que a atividade da enzima lactato desidrogenase sob o efeito do praziquantel alcançou seu

nível máximo de inibição (>85%) tanto para a oxidação do lactato quanto para a redução do

piruvato; já o albendazol inibiu parcialmente a oxidação do lactato e aumentou a catálise da

redução do piruvato em 40,1% e consequentemente mudou o destino metabólico do

fosfoenolpiruvato desviando a via de produção de malato mitocondrial (serve como o

principal substrato para a fosforilação mitocôndrial) para uma maior produção de lactato.

Logo reduziu a formação de ATP através da diminuição da fosforilação o que pode levar à

morte do helminto (Veerakumari & Munuswamy 2000). Relacionando com os nossos

resultados, esse desvio para uma maior produção do lactato nos grupos tratados com

albendazol e praziquantel (6,0 mg/kg de peso do camundongo) pode ter sido por uma

alteração na enzima lactato desidrogenase e como consequência esses cisticercos tiveram

uma perda energética pois o piruvato que poderia servir como substrato para vias mais

rentáveis (ciclo do ácido cítrico) provavelmente foi catabolizado à lactato. A presença do

lactato em todos os grupos demonstra que a fermentação lática é uma via usualmente

utilizada.

A presença de citrato, ocorreu apenas no grupo tratado com albendazol 3,0 mg/kg

de peso do camundongo, indicando que diante dessa condição os cisticercos utilizaram o

ciclo do ácido cítrico e/ou a formação de citrato como produto final (Lehninger et al. 2006;

Corbin et al. 1996 e 1998). A não detecção de citrato nos demais grupos, eventualmente

ocorreu porque a rota de escolha para produzir energia foi outra, onde não ocorreu

preferência ao ciclo do ácido cítrico, mas sim, provavelmente, a reversão desse ciclo. Já nos

estudos de Vinaud et al. (2008), foram encontrados a secreção/excreção de citrato, nos

grupos controles e tratados com os fármacos albendazol e praziquantel mostrando que

houve diferenças entre o referido estudo realizado in vitro e este que foi realizado in vivo.

A detecção de α-cetoglutarato (tabela 1) corrobora os estudos de Fraga et al.

(2012a). Durante o ciclo do ácido cítrico, citrato é convertido em isocitrato que é oxidado

pela enzima isocitrato desidrogenase e forma α-cetoglutarato e CO2 (Lehninger et al 2006).

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Foi detectado α-cetoglutarato em todas as amostras e houve uma diferença

significativa (p<0,05) entre os grupos tratados com albenzadol 3,0 e 6,0 mg/kg de peso do

camundongo. Esse aumento na concentração no grupo tratado com 6,0 mg/kg de peso do

camundongo demonstra que diante dessa concentração do fármaco, os cisticercos podem ter

utilizado um pouco mais as vias em que esse ácido orgânico é produzido, como o ciclo do

ácido cítrico e/ou a degradação de proteínas, mas não significa que essas vias foram as

principais.

Já Vinaud et al. (2008) utilizando a mesma metodologia de detecção dos ácidos

orgânicos (HPLC) que a utilizada nesse trabalho, não detectaram o α-cetoglutarato e isso

provavelmente ocorreu pelo fato de ter sido realizado in vitro. Igualmente Corbin et al.

(1996 e 1998) não relataram a presença desse ácido orgânico mas neste caso isso ocorreu

porque o estudo foi direcionado para os ácidos orgânicos detectados em excesso no

hospedeiro, ou seja, ácido orgânicos que eram produtos finais e portanto excretados.

Lehninger et al. (2006) demonstram que o α-cetoglutarato é um produto intermediário do

ciclo do ácido cítrico e não final.

Outro ácido orgânico encontrado em todas as amostras foi o succinato (tabela 1)

indicando que pode ter havido a utilização do ciclo do ácido cítrico e/ou a reversão desse

ciclo em que ocorreram reduções do malato à fumarato pela enzima fumarase e o fumarato

à succinato, e este último foi convertido à propionato (figura 2)(Saz 1981). Houve um

aumento considerável desse ácido orgânico no grupo albendazol 6,0 mg/kg de peso do

camundongo, adicionando mais uma evidência de que esse grupo amplificou a utilização da

reversão do ciclo do ácido cítrico. Ainda que Corbin et al. (1998) tenham descrito que o

succinato é um produto final, Del Arenal et al. (2001) demonstraram que as mitocôndrias

de cisticercos de T. crassiceps possuem proteínas como citocromo bc1, c e aa3, as quais, nos

vertebrados, fazem parte da cadeia transportadora de elétrons e o succinato é o primeiro

composto a entrar nesta cadeia, sendo, portanto utilizado nesta via. Isto posto, o succinato,

em T. crassiceps pode ser excretado, utilizado para conversão à propionato ou ser utilizado

na cadeia transportadora de elétrons.

O fumarato foi detectado em todas as amostras e houve diferenças estatísticas

(p<0,05) entre os grupos controle e tratado com albendazol 6,0 mg/kg de peso do

camundongo e entre os grupos tratados com albendazol 3,0 e 6,0 mg/kg de peso do

camundongo (tabela 1). O fumarato pode ter sido produzido, na mitocôndria, a partir de

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malato, pela enzima fumarase (reversão do ciclo do ácido cítrico), ou a partir de succinato

pela ação da enzima fumarato redutase (ciclo do ácido cítrico). O fumarato também pode

originar-se, nos animais ureotélicos, durante o ciclo da uréia (as proteínas são precursoras

para a formação desse ácido orgânico) (figura 4) (Lehninger et al. 2006).

A concentração de fumarato foi maior estatisticamente no grupo tratado com

albendazol 6,0 mg/kg de peso do camundongo que nos no grupos controle e tratado com

albendazol 3,0 mg/kg de peso do camundongo. Isso nos mostra que quando os cisticercos

foram tratados com albendazol 6,0 mg/kg de peso do camundongo, eles ampliaram a

utilização das vias que produzem o fumarato. Diante dos resultados dos demais ácidos

orgânicos desse grupo (tratado com albendazol 6,0 mg/kg de peso do camundongo)

podemos observar que esses cisticercos utilizaram mais a via da reversão do ciclo do ácido

cítrico com um maior desvio para a produção de acetato (encontrado em uma concentração

bem maior que dos demais grupos) como produto final e provavelmente a maior parte desse

fumarato vem dessa via.

Houve a produção de oxaloacetato e o malato em todos os grupos analisados. Esses

ácidos orgânicos podem ter sido produzidos tanto por uma via mitocondrial (ciclo do ácido

cítrico) quanto por uma via citosólica, nessa última, a enzima fosofenolpiruvato

carboxiquinase converte o fosfoenolpiruvato em oxaloacetato e assim ocorre a reversão do

ciclo do ácido cítrico (Corbin et al. 1996; 1998). Um fundamento de que, durante a

glicólise, o fosfoenolpiruvato sofre ação da enzima fosfoenolpiruvato carboxiquinase e

forma oxaloacetato foi à purificação dessa enzima em Hymenolepis diminuta, e o

reconhecimento de que ela tinha uma grande afinidade pelo fosfoenolpiruvato (Saz 1981).

O presente estudo verificou um aumento na concentração de oxaloacetato e malato

no grupo tratado com albendazol 6,0 mg/kg de peso do camundongo indicando novamente

que houve uma intensificação na via a qual ambos pertencem, provavelmente a reversão do

ciclo do ácido cítrico (figura 2). O estudo realizado in vitro por Vinaud et al. (2008) não

encontraram diferenças nas concentrações de oxaloacetato entre seus grupos estudados e no

estudo de Fraga et al. (2012a) in vivo em que se inoculou na cavidade intraperitoneal de

camundongos BALB/c cisticercos de T. crassiceps, detectaram uma diminuição estatística

na produção de oxaloacetato por cisticercos de fase inicial tratados com albendazol

mostrando que a interação parasito-hospedeira incluindo o sítio anatômico onde se

encontram os cisticercos interferem na forma com que o parasito irá produzir energia.

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Figura 4: Ciclo da uréia. 1- Aminotransferase; 2- Glutamato desidrogenase; 3- Ornitina

transcarbamilase; 4- Arginosuccinase sintetase; 5- Arginosuccinase; 6- Arginase; NH3+ -

grupo amina do aminoácido; NH4+ - amônia; AMP - Alanina monofosfato; - ácidos

orgânicos detectados em nosso estudo; * - entra para o ciclo do ácido cítrico. Esquema

adaptado de Lehninger et al. (2006).

Houve produção de propionato em todas as amostras e nota-se que houve uma

redução nas concentrações dos grupos tratados, com uma acentuação nos grupos tratados

com albendazol 6,0 mg/kg de peso do camundongo e praziquantel 6,0 mg/kg de peso do

camundongo, mostrando que nesses casos os cisticercos tiveram uma perda energética pois

durante a reversão do ciclo do ácido cítrico a maior produção de energia acontece durante

essa rota (Tielens et al. 2002).

Foi identificado acetato somente nos grupos controle e tratados com albendazol 3,0

e 6,0 mg/kg de peso do camundongo (tabela 1). Esse ácido orgânico pode ser produzido

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através do piruvato que sob ação da enzima piruvato desidrogenase é convertido à acetil-

CoA que por sua vez é convertida a acetato e succinil CoA pela enzima succinato CoA-

transferase(descrito anteriormente) (Tielens et al. 2002; Saz 1981).

No grupo tratado com albendazol 6,0 mg/kg de peso do camundongo sua

concentração foi maior que nos demais grupos, mostrando que durante a reversão do ciclo

do ácido cítrico esse grupo convergiu para a via de produção de acetato ao invés do

propionato. A não detecção de acetato nos grupos tratados com praziquantel ocorreu,

provavelmente porque, de alguma forma, essa via foi inibida.

O acetato também pode vir do catabolismo de lipídeos e proteínas. No entanto, a

presença desse ácido orgânico nos indica que o parasito também pode ter utilizado o

catabolismo de lipídeos, proteínas e/ou carboidratos (Lehninger et al. 2006). Contudo,

como nos estudos realizados por Matthews et al. (1985) com F. hepatica, algumas

evidencias nos traz que grande parte do acetato produzido veio da conversão do piruvato à

acetato e a via utilizada foi a reversão do ciclo do ácido cítrico.

Em suma, sobre o catabolismo de carboidratos identificamos que os cisticercos

podem ter produzido energia através de um via aeróbia, utilizando o ciclo o ácido cítrico e

também através de vias anaeróbias que podem produzir vários produtos finais como o

lactato (fermentação lática), citrato, succinato, acetato e propionato (Braeckman et al. 2009;

Corbin et al. 1998). Porém diante de todos os resultados, aparentemente os cisticercos

tiveram uma predileção à reversão do ciclo do ácido cítrico com a formação principalmente

de propionato como produto final (resultados semelhantes foram encontrados por Matthews

et al. (1985) ao estudarem F. hepatica), exceto no grupo tratado com albendazol 6,0 mg/kg

de peso do camundongo que teve uma maior produção de acetato, em paralelo não foi

identificado piruvato e, dentro das amostra que identificaram oxaloacetato, malato e

fumarato, nesse grupo observou-se a maior concentração desses ácidos orgânicos;e esse

conjunto de resultados nos levam a crer que a não identificação do piruvato ocorreu porque

estava em baixa concentração devido: 1-parte do piruvato ter sido convertido à lactato pela

lactato desidrogenase; 2- parte ter sido utilizada para formação de acetato(alta

concentração); 3- ter sofrido ação da enzima málica e ter sido convertido à malato; e 4- o

fosfoenolpiruvato ter sofrido maior catabolismo pela enzima fosfoenolpiruvato quinase,

desviando a via para formação de oxaloacetato ao invés de se formar piruvato, e

consequentemente à reversão do ciclo do ácido cítrico formando-se acetato(alta

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concentração) e propionato (Tielens et al. 2002; Lehninger et al. 2006).

Vinaud et al. (2007) relataram que os cisticercos de T. crassiceps utilizam ácidos

graxos para seu metabolismos energético devido a detecção de β-hidroxibutirato. Em nosso

estudo também foi detectado β-hidroxibutirato (tabela 1). Segundo Lehninger et al. (2006),

a oxidação de ácidos graxos, nos vertebrados, gera acetil-CoA, que participa do ciclo do

ácido cítrico e/ ou é convertida á corpos cetônicos como acetona, acetoacetato e β-

hidroxibutirato (figura 5); o acetoacetato e β-hidroxibutirato vão para outros tecidos para

serem convertidos a acetil-CoA.

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Figura 5: β-oxidação de ácidos graxos. 1- são ácidos graxos com cadeia carbônica de

número par; Ácidos graxos 2- são ácidos graxos com cadeia carbônica de número ímpar; 1-

Tiolase; 2- HMG-CoA sintase; 3- HMG-CoA liase; 4- Acetato descarboxilase; 5- β-

hidroxibutirato desidrogenase; 6- β-cetoacil-CoA transferase; - ácidos orgânicos

referentes ao metabolismo de ácidos graxos que foram identificados em nosso trabalho.

Esquema adaptado de Lehninger et al. (2006).

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Diferentemente dos estudos realizados por Fraga et al. (2012b) e Vinaud et al.

(2009) nós identificamos a produção de acetoacetato nos grupos controle, tratados com

praziquantel 3,0 e 6,0 mg/kg de peso do camundongo e em semelhança a esses estudos,

identificamos β-hidroxibutirato, nos grupos controle, tratados com albendazol 3,0 e 6,0

mg/kg de peso do camundongo e tratados com praziquantel 3,0 mg/kg de peso do

camundongo, nos indicando que o parasito utilizou a β-oxidação de ácidos graxos para

produzir energia. A não detecção do acetoacetato nos grupos albendazol 3,0 e 6,0 mg/kg de

peso do camundongo e a detecção de β-hidroxibutirato nos respectivos grupos pode ter

ocorrido devido alta conversão do acetoacetato à β-hidroxibutirato, levando esse último a

ter uma concentração muito baixa a qual não foi possível detectar metodologicamente. Já

no grupo tratado com praziquantel 6,0 mg/kg de peso do camundongo nós identificamos o

acetoacetato porém não identificamos o β-hidroxibutirato; essa situação nos leva a concluir

que nesse grupo a produção de β-hidroxibutirato foi bloqueada na via de catabolismo

proteico e/ou lipídico pela inativação/bloqueio da enzima 5-β-hidroxibutirato desidrogenase

(figura 5).

A presença de acetoacetato e β-hidroxibutirado (tabela 1) também podem indicar

uma quebra de proteínas e a utilização dos seus aminoácidos para a produção de energia.

Alguns aminoácidos podem ser convertidos à acetoacetil-CoA, que é convertido em

acetoacetato e depois a acetona e β-hidroxibutirato (Lehninger et al. 2006).

Outro composto identificado que, pode ser formado tanto na quebra dos

aminoácidos quando na síntese desses, foi o α-cetoglutarato. Nos casos de catabolismo o

que ocorre é a desaminação do aminoácido glutamato para então formar α-cetoglutarato

que poderá entrar no ciclo do ácido cítrico (Lehninger et al. 2006; Braeckman et al. 2009)

(figura 6).

A degradação de alguns aminoácidos com a leucina e isoleucina também podem

gerar acetato (Lehninger et al. 2006), portanto o acetato das nossas amostras pode ser

resultante do catabolismo de carboidratos, lipídeos e/ou proteínas .

A glicina pode ser catabolizada e gerar oxalato (Lehninger et al. 2006), o qual foi

identificado em todas as amostras.

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Figura 6: Catabolismo de aminoácidos. - Ácidos orgânicos referentes ao catabolismo

de proteínas identificados em nosso trabalho. Adaptado de Lehninger et al. (2006).

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6. CONCLUSÃO

A detecção de tais ácidos orgânicos em suas respectivas concentrações nos levam a

crer que os cisticercos de T. crassiceps implantados no SNC de camundongos BALB/c

fêmeas podem ter utilizado diferentes vias de produção de energia catabolizando não só

carboidratos, mas também lipídeos e proteínas.

Os ácidos orgânicos produzidos pelos cisticercos dos grupos não tratados (controle)

indicam-nos que estes parasitos utilizaram o catabolismo de carboidratos através de vias

anaeróbia e aeróbias assim como vias citosólicas e mitocondriais, tendo uma predileção

pela via anaeróbia da reversão do ciclo do ácido cítrico, com uma maior produção de

propionato. Utilizaram também o catabolismo de proteínas e também de lipídeos.

Os grupos tratados com albendazol 3,0 e 6,0 mg/kg de peso do camundongo

produziram ácidos orgânicos referentes ao metabolismo intermediário de carboidratos e a

reversão do ciclo do ácido cítrico como o citrato, α-cetoglutarato, succinato, fumarato,

malato, oxaloacetato, acetato e propionato; a glicólise como o lactato; e ao catabolismo de

proteínas e lipídeos como o oxalato, β- hidroxibutirato, acetato.

Apesar de não ter ocorrido diferenças estatísticas, percebeu-se que, em relação ao

controle, os grupos tratados com albendazol tiveram uma tendência a aumentar a

fermentação lática e a produzir principalmente acetato ao invés de propionato. O

direcionamento a essas vias, as quais são menos rentáveis energeticamente que a rota do

propionato e do ciclo do ácido cítrico, pode causar um declínio energético para o parasito e

talvez por isso ele maximizou seu catabolismo de lipídeos e/ou proteínas (não detecção do

acetoacetato provavelmente pelo seu consumo durante a β-oxidação). E todas essas

alterações foram consequências à ação do fármaco que é diminuir a captação de glicose.

Já os grupos tratados com praziquantel em ambas as concentrações apresentaram

ácidos orgânicos também referentes ao metabolismo intermediário e à reversão do ciclo do

ácido cítrico, visto que houve um bloqueio na via de produção do acetato nos grupos

tratados com praziquantel 3,0 e 6,0 mg/kg de peso do camundongo, ocorrendo

consequentemente apenas a produção de propionato, porém essa produção foi menor que a

do controle mostrando que houve uma diminuição dessa via e como resultado uma perda

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energética; além disso, nesses grupos também ocorreu um possível bloqueio na produção

de β-hidroxibutirato durante o catabolismo de lipídeos e/ou de proteínas.

Portanto, os cisticercos podem utilizar diferentes vias para produção de energia

dependendo das condições ambientais e da relação parasito-hospedeiro levando em conta a

localização do parasito, aporte nutricional e interferências externas.

Desse modo, eles são capazes de produzir energia em aerobiose e anaerobiose. Mas

diante dos nossos estudos, percebemos que mesmo em ambiente aeróbio, os cisticercos de

T. crassiceps tiveram uma predileção pela produção de energia através de vias anaeróbias,

principalmente a reversão do ciclo do ácido cítrico.

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8. ANEXOS 8.1. Parecer consubstanciado-comitê de ética em pesquisa(UFG)

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8.2. Gráficos da análise cromatográfica(HPLC) 8.2.1 Gráficos referentes ao grupo controle

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8.2.2 Gráficos referentes ao grupo tratado com albendazol 3,0 mg/kg de peso do

camundongo

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8.2.3 Gráficos referentes ao grupo tratado com albendazol 6,0 mg/kg de peso do

camundongo

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8.2.4 Gráficos referentes ao grupo tratado com praziquantel 3,0 mg/kg de peso do

camundongo

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8.2.5 Gráficos referentes ao grupo tratado praziquantel 6,0 mg/kg de peso do

camundongo

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