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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL
CAMPUS DE PATOS-PB
CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA
MONOGRAFIA
ISOERITRÓLISE NEONATAL EM POTRO
Juliana Freire Sampaio Aires
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL
CAMPUS DE PATOS-PB
CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA
MONOGRAFIA
Isoeritrólise Neonatal em potro
Juliana freire Sampaio Aires
Graduanda
Prof. Dr. Antônio Flávio Medeiros Dantas
Orientador
Patos, PB / Março de 2018.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL
CAMPUS DE PATOS-PB
CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA
JULIANA FREIRE SAMPAIO AIRES
Graduanda
Monografia submetida ao Curso de Medicina Veterinária como requisito parcial para
obtenção do grau de Médico Veterinário.
ENTREGUE EM: ....../....../........ MÉDIA: ________
BANCA EXAMINADORA:
___________________________________________ _________
Prof. Dr. Antônio Flávio Medeiro Dantas Nota
Orientador
___________________________________________ _________
M.V. MsC. Erick Platiní Ferreira Souto Nota
Examinador I
____________________________________________ _________
M.V. Ismael Lira Borges Nota
Examinador II
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DO CSRT DA UFCG
A298i
Aires, Juliana Freire Sampaio
Isoelitrólise neonatal em potro / Juliana Freire Sampaio Aires. – Patos,
2018.
22f.:il.
Trabalho de Conclusão de Curso (Medicina Veterinária) – Universidade
Federal de Campina Grande, Centro de Saúde e Tecnologia Rural, 2018.
“Orientação: Prof. Dr. Antônio Flávio Medeiros Dantas .”
Referências.
1. Doença do potro. 2. Icterícia. 3. Anemia hemolítica. I. Título.
CDU 616:636.1
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à Deus, aos animais que
sempre despertaram em mim os melhores
sentimentos, a minha família que é a minha base, em
especial aos meus pais, Napoleão e Neuma.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, a toda minha família por todo apoio e incentivo, a
minha avó Juliêta por ser um exemplo de mulher, forte, determinada, batalhadora e que
sempre me motivou e apoiou com todo seu amor e carinho.
Aos meus pais que me deram todo suporte pra chegar aonde cheguei, ao meu pai
Napoleão com quem aprendi o amor pelos animais desde criança, e a minha mãe Neuma
por acreditar em mim no meu potencial e fazer tudo que estiver ao seu alcance pra me ver
feliz.
As minhas irmãs Aliete e Sara por serem as melhores companhias e meu porto
seguro.
Ao meu filho José Miguel que em tão pouco tempo de vida me fez forte pra
concluir o curso e por ser uma das minhas maiores alegrias.
A todos os professores por facilitarem todo o aprendizado e por tornarem possível a
realização desse sonho. Em especial ao meu orientador professor Flávio Dantas por toda
paciência, e dedicação por ser um exemplo de profissional e pessoa.
A todos do laboratório de patologia animal por todo o conhecimento repassado e
todo apoio, em especial a Platiní e Luana, por toda ajuda e paciência.
A todos os meus colegas e amigos por toda convivência, companhia e aprendizado
na vida pessoal ou profissional.
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS..........................................................................................................8
RESUMO .............................................................................................................................. 9
ABSTRACT ....................................................................................................................... 10
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 11
2 REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................................... 12
2.1 Epidemiologia ............................................................................................................ 12
2.2 Etiopatogenia ............................................................................................................. 12
2.3 Sinais Clínicos ........................................................................................................... 13
2.4 Patologia Clínica ...................................................................................................... 13
2.5 Achados Patológicos ................................................................................................. 14
2.6 Diagnóstico ................................................................................................................ 14
2.7 Tratamento ................................................................................................................. 14
2.8 Prevenção................................................................................................................... 15
3 MATERIAL E METÓDOS ........................................................................................... 17
4 RESULTADOS ............................................................................................................... 18
5 DISCUSSÃO ................................................................................................................... 20
6 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 21
7 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 22
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Isoeritrólise Neonatal em potro. A) Mucosa Ocular acentuadamente amarelada
(icterícia). B) Fígado e baço aumentados de tamanho (hepatoesplenomegalia). C) Fígado
difusamente alaranjado, aumentado de tamanho e com bordos arredondados. D) Áreas
multifocais avermelhadas na superfície serosa do intestino delgado ....................................... 18
9
AIRES, JULIANA FREIRE SAMPAIO. Isoelitrólise Neonatal em Potro. Patos, UFCG.
2018. 22 p. (Trabalho de conclusão de curso de Medicina Veterinária)
RESUMO
A isoeritrólise neonatal é uma doença isoimune causada pela incompatibilidade sanguínea
entre a mãe e o filho. Acomete mais frequentemente seres humanos e equinos, sendo
considerada rara nas demais espécies. A doença ocorre quando as fêmeas, expostas ao sangue
fetal incompatível, desenvolvem uma resposta imune. Os anticorpos produzidos são
transferidos ao neonato através do colostro e desencadeiam um quadro agudo de anemia
hemolítica. Objetivou-se com este trabalho relatar um caso de isoeritrólise neonatal em um
potro, diagnosticado no Laboratório de Patologia Animal do Hospital Veterinário da
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Patos, Paraíba. O caso ocorreu em um
macho, neonato, Quarto de Milha, que apresentava respiração ofegante, taquipneia e mucosas
ictéricas. Não foi possível instituir tratamento, pois o animal morreu vinte e cinco minutos
após o atendimento clinico. Na necropsia, observou-se icterícia generalizada, fígado
aumentado de volume e alaranjado, esplenomegalia e áreas avermelhadas irregulares na
serosa do intestino grosso. No exame histopatológico, a lesão principal foi observada no
fígado e caracterizava-se por difusa degeneração microvacular do citoplasma de hepatócitos,
hepatomegalocitose, discreto infiltrado inflamatório, acúmulo de bile e hemossiderina. Sendo
esse o primeiro caso diagnosticado na rotina do Hospital Veterinário da UFCG, devendo essa
condição ser incluída no diagnóstico diferencial de anemias e morte em potros.
Palavras-chave: Doença de potro, Icterícia, Anemia hemolítica.
10
AIRES, JULIANA FREIRE SAMPAIO. Neonatal Isoelitolysis in Foal. Patos, UFCG. 2018.
22 p. (Work of conclusion of course of Veterinary Medicine)
ABSTRACT
Neonatal isoerythrolysis is an isoimune disease caused by blood incompatibility between
mother and child. It more frequentlyaffects humans and horses, being considered rare in the
other animal species. The disease occurs when females, exposed to incompatible fetal blood,
develop an immune response. The antibodies produced are transferred to the neonate through
colostrum and trigger an acute hemolytic anemia. The objective of this work is to report a
case of neonatal isoerythrolysis in a foal, diagnosed at the Laboratory of Animal Pathology of
the Veterinary Hospital of the Federal University of Campina Grande (UFCG), Patos,
Paraíba. The case occurred in a male equine Quarter Horse, neonate, with respiratory difficult,
tachypnea and icteric mucosa. It was not possible to institute treatment, because the animal
died twenty five minutes after the clinical care. At necropsy were observed generalized
jaundice, enlarged liver and orange, splenomegaly, and irregular reddish areas were observed
in the serosa of the large intestine. In histopathological examination, the main lesion was
observed in the liver and was characterized by diffuse microvacular degeneration of
hepatocyte cytoplasm, hepatomegalocytosis, discrete inflammatory infiltrate, accumulation of
bile and hemosiderin. This is the first case diagnosed in the routine of the Veterinary Hospital
of the UFCG, and this condition should be included in the differential diagnosis of anemia
and death in foals.
Key words: Foal disease, Jaundice, Hemolytic anemia.
11
1 INTRODUÇÃO
Essa doença é uma reação de hipersensibilidade do tipo II, que acontece devido a
incompatibilidade sanguínea entre a mãe e o potro. Como a placenta é do tipo epiteliocorial
não há passagem dos anticorpos contra as hemácias do potro durante a gestação. O animal
desenvolve anemia hemolítica através da ingestão do colostro de éguas previamente
sensibilizada, por vacinas, transfusões sanguíneas ou de outras gestações, que produzem os
anticorpos semanas antes do parto (TIZARD, 2014).
Isoeritrólise neonatal é uma doença que ocorre esporadicamente em potros,
principalmente em animais de raças puras. Nos cavalos de linhagens indefinidas a prevalência
é menor, variando de 0,05 a 2% dos potros. Em mulas que possuem uma diferença antigênica
maior entre os progenitores, cerca de 8 a 10% dos filhotes podem ser acometidos (TIZARD,
2014). O neonato não apresenta problemas no momento do parto e nem alterações ao nascer.
Os sinais e sintomas só se manifestam após a ingestão do colostro (SMITH, 2006).
Os sinais clínicos mais comuns são fraqueza e mucosas pálidas ou ictéricas, a
depender da evolução clínica. O estado de debilidade do animal depende da quantidade de
anticorpos ingeridos através do colostro, nas primeiras horas. Os animais evoluem
rapidamente para a morte caso não sejam tratados.
A isoeritrólise é uma doença rara, de ocorrência esporádica e geralmente fatal, além de
pouco conhecida e relatada na Paraíba. Assim, o objetivo deste trabalho é descrever um caso
de isoeritrólise neonatal ocorrido em um potro, caracterizando seus aspectos epidemiológicos,
clínicos e patológicos, a fim de conhecer as características da doença na nossa região e evitar
perdas econômicas na equideocultura.
12
2 REVISÃO DE LITERATURA
A isoeritrólise neonatal, conhecida como doença hemolítica do recém-nascido
ou eritroblastose fetal, é uma doença frequentemente relatada em humanos e equinos,
rara em cães e gatos. Em bovinos ocorre após a premunição das fêmeas para
anaplasmose e babesiose e em suínos ocorre com o uso da vacina para peste suína
clássica (FIGHERA; GRAÇA, 2014).
2.1 Epidemiologia
A doença hemolítica do recém-nascido é relativamente comum em potros,
mulas e principalmente em animais de linhagens puras. Os equinos possuem os
seguintes grupos sanguíneos (EAA, EAC, EAD, EAK, EAP, EAQ e EAU), os
principais grupos sanguíneos envolvidos na doença hemolítica do recém-nascido são
grupo Aa e Qa. O Qa causa uma resposta mais branda e de início lento (TIZARD,
2014). O risco de éguas serem sensibilizadas contra os antígenos agressores mais
comuns tem suas porcentagens variadas entre raças, dependendo da frequência do gene
envolvido em cada população. A doença também pode ocorrer durante a primeira
prenhez, apesar ser mais comum em potros da segunda gestação. (SMITH, 2006).
2.2 Etiopatogenia
As causas da anemia hemolítica podem ser tóxicas, infecciosas e imunológicas.
A doença resulta da destruição dos eritrócitos da circulação na corrente sanguínea. A
enfermidade é a caracterizada pela icterícia, detectada através alteração da coloração das
mucosas, por nível de bilirrubina no sangue, hemoglobinemia e hemoglobinúria
(JONES, 2003).
As anemias imunohemolíticas ocorrem de duas formas: uma isoimune e outra
imune idiopática; as duas se caracterizam por apresentarem na superfície dos eritrócitos
anticorpos. A Isoimune ocorre através do vazamento de eritrócitos do feto que são
estranhos à mãe e são passados da placenta para circulação sanguínea, que vai
desencadear uma resposta imune. Os anticorpos são transferidos quando os neonatos
ingerem o colostro, desenvolvendo a anemia de horas a dias. (JONES, 2003).
13
A isoeritrólise neonatal equina é uma hipersensibilidade do tipo II causada pela
incompatibilidade sanguínea entre mãe e feto, adquiridos através da ingestão do colostro
com anticorpos contra os eritrócitos do potro, que culmina com uma anemia hemolítica
e icterícia, perda está que a medula não consegue suprir, levando a falta de oxigenação
dos órgãos vitais por consequência o óbito do animal. (MOURA et al; 2013).
Essa condição ocorre quando fêmeas são sensibilizadas por transfusões
incompatíveis ou por extravasamento de eritrócitos fetais da placenta para a circulação
sanguínea durante a gestação, ou prenhez prévia. Para que a enfermidade aconteça, o
potro deve herdar um antígeno eritrocitário de seu pai que seja ausente em sua mãe; tem
que haver uma resposta da mãe estimulada mais de uma vez por gestação repetidas ou
hemorragias transplacentárias e a ingestão do colostro.
2.3 Sinais Clínicos
De acordo com Rossi (2009) Os sinais clínicos da isoeritrólise neonatal são
classificados em hiperagudos, agudos ou subagudos, o quadro hiperagudo que ocorre
primeiras horas após o nascimento, nessa é observada a hemoglobinúria e palidez.
A intensidade da sintomatologia depende da quantidade de colostro absorvida pelo
neonato. (CORBELLA, 1991).
Alguns potros apresentam a doença entre 6 e 8 horas, podendo ocorrer também
no período de 12 a 48 horas ou até 5 dias. Os primeiros sintomas são fraqueza e
depressão, mucosas pálidas e podem apresentar icterícia, alguns potros entram em
choque e morrem antes de desenvolver icterícia (TIZARD, 2014). Com a progressão da
doença a respiração torna-se rápida e superficial, seguida por dispneia, os potros podem
apresentar bocejos repetidos. E a sua frequência cardíaca é elevada (SMITH, 2006).
Os potros que sobrevivem 48 horas comumente apresentam icterícia das
mucosas. Devido da falta de oxigenação, podem convulsionar ou entrar em coma. As
mortes são decorrentes de falência hepática, lesões cerebrais e septicemia (TIZARD,
2014).
2.4 Patologia Clínica
Os neonatos acometidos apresentam-se anêmicos. Os indicadores de
concentração sanguínea de eritrócitos apresentam declínio significativo. O hematócrito
14
pode apresentar valores entre 13% e 19%, podendo chegar a 5%. A hemoglobinemia e
hemoglobinúria podem estar presentes. Os níveis de bilirrubina vão estar aumentados
devido à destruição acelerada de hemácias, podendo apresentar também
trombocitopenia, principalmente potros muares (SMITH, 2006).
A hemoglobinemia é evidente macroscopicamente, o plasma ou o soro
encontra-se tingido de rosa, como consequência da hemólise intravascular (FRY;
McGAVIN, 2013). Embora não seja comum, a hemoglobinúria é patognomônica em
potros recém-nascido (TIZARD, 2014).
2.5 Achados Patológicos
A nível macroscópico são encontradas as seguintes alterações: mucosas pálidas
ou icterícas, esplenomegalia e hepatomegalia (THRALL, 2006). Microscopicamente, no
fígado observa-se degeneração e necrose de hepatócitos, colestase intracanalicular e
intra-hepática. Nos rins nefrose tubular isquêmica, além de hemossiderina nos casos
hiperagudos (ROSSI, 2009).
2.6 Diagnóstico
O diagnostico é baseado nos sinais clínicos e histórico, animal fraco nas
primeiras horas de vida, com mucosas pálidas, e a égua com histórico de mais de uma
prenhez (THOMASSIAN, 2005).
Quantidades significativas de anticorpos no colostro da égua, com antígenos
contra os eritrócitos do potro, confirmam o diagnóstico de isoeritrólise neonatal, através
dos testes de hemólise e do teste de aglutinação. O teste de hemólise é mais confiável na
detecção dos anticorpos agressores. Também pode ser utilizado o teste antiglobulina
direta e indireta através da presença de anticorpos no soro da égua (SMITH, 2006).
2.7 Tratamento
A conduta a ser tomada no tratamento vai depender da sintomatologia
apresentada pelo neonato, dependendo da severidade da destruição eritrocitária, que esta
relacionada à quantidade de colostro ingerida e quantidade de anticorpos contidas nele
(THOMASSIAN, 2005).
15
Deve ser evitado o estresse do animal e o exercício limitado. Potros acometidos
possuem menor tolerância ao exercício, se forem submetidos ao mesmo podem colapsar
e morrer (SMITH, 2006).
Se os sinais forem brandos, deve-se administrar colostro de uma égua doadora.
Casos mais severos necessitam de transfusão sanguínea com a compatibilidade
devidamente testada, a oxigênioterapia também pode servir de suporte, utilização de
corticoides para prevenir que o animal entre em choque, e antibióticoterapia prevenindo
a sepse (THOMASSIAN, 2005).
Também pode utilizar as hemácias lavadas da égua genitora, que deve ser
removido através da lavagem, uma quantidade de 6 a 8 litros, utilizando como
anticoagulante dextrose-citrato-ácido ou citrato sódico, a separação é feito com uma
centrífuga, o método da sedimentação é menos indicado por ser lento e não eliminar
todos os antígenos agressores. Quando não for possível esse procedimento com as
hemácias da progenitora, como geralmente a tipagem sanguínea não é possível em
tempo hábil, uma boa escolha são doadores previamente identificados, como sendo Aa-,
Qa- e livre de aloanticorpos, pois a maioria dos casos de isoeritrólise estão ligados a
estes dois antígenos (SMITH,2006).
O prognóstico depende do número de anticorpos ingeridos, do grau de anemia,
do tempo de aparecimento dos sinais. Em alguns casos peragudos os animais vem a
óbito antes de ser instituído a terapia de suporte, ou transfusão (SMITH, 2006).
2.8 Prevenção
Uma das medidas preventivas é testar o sangue do potro, antes da ingestão do
colostro, principalmente animais de raças puras, filhos de éguas com mais de uma cria.
A doença pode ser prevenida evitando administração de colostro da mãe durante as
primeiras 36 horas para o potro que se desconfie da doença hemolítica (TIZARD,
2014).
Atualmente estão disponíveis diversas estratégias para prevenir esta
enfermidade, como identificar éguas com antígenos Aa e Qa, as éguas negativas para
estes antígenos podem produzir anticorpos contra eles e por isso é considerada de risco,
outra possibilidade é realizar o cruzamento entre éguas de risco e garanhões que
também sejam negativos, quando o cruzamento for desconhecido ou incompatível , o
soro da égua deve ser avaliado 30 dias antes do parto, se for detectado anticorpos anti-
16
hemácias, deve ser feita a análise do colostro antes de ser administrado ao potro
(SMITH, 2006).
17
3 MATERIAL E METÓDOS
Foi realizado um estudo retrospectivo, analítico descritivo onde foram revisados
os protocolos de necropsias de equinos realizadas no Laboratório de Patologia Animal
do Hospital Veterinário do Centro de Saúde e Tecnologia Rural da Universidade
Federal de Campina Grande (LPA/HV/CSTR/UFCG), no período de janeiro de 2007 a
dezembro de 2016, em busca de casos confirmados de isoeritrólise neonatal em potros.
Constatou-se apenas um caso do qual foi obtido, informações referentes à
epidemiologia (idade, sexo, raça, época do ano e procedência do animal), sinais
clínicos, alterações macroscópicas e histológicas. Foram resgatados ainda os registros
fotográficos.
Buscou-se o material fixado em formol tamponado a 10% e os blocos de
parafina, arquivados no LPA, para confecção das lâminas. Todas as lâminas foram
processadas rotineiramente e coradas pela Hematoxilina e Eosina (HE), para a descrição
histológica. Após a confecção as lâminas foram revisadas e posteriormente foi realizada
a descrição das alterações clínicas e os achados macroscópicos e microscópicos do caso.
18
4 RESULTADOS
No dia doze de setembro de 2013 foi recebido no Laboratório de Patologia
Animal do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Campina Grande (LPA-
HV-UFCG) um potro neonato, macho, da raça Quarto de Milha, encaminhado por um
médico veterinário. O animal havia sido atendido em uma propriedade na zona rural de
Patos, Paraíba, apresentando decúbito lateral, mucosas ictéricas, respiração ofegante,
taquipnéia, morrendo vinte e cinco minutos após o exame clínico.
Na necropsia, observou-se estado corporal regular e mucosas oculares (Figura
1A) e tecido subcutâneo ictéricos.); baço levemente aumentado de volume
(esplenomegalia) (Figura 1B); Observou-se ainda, fígado difusamente alaranjado,
hepatomegalia e com bordos arredondados (Figura 1: B,C) bexiga repleta de urina
vermelho-enegrecida; e áreas multifocais avermelhadas na serosa do intestino delgado
(Figura 1D).
Figura 1: Isoeritrólise Neonatal equina. A) Mucosa ocular acentuadamente amarelada
(icterícia). B) Fígado e baço aumentados de tamanho( Hepatoesplenomegalia). C)
Fígado difusamente alaranjado, aumentado de tamanho e com bordos arredondados. D)
Áreas multifocais avermelhadas na superfície serosa do intestino delgado.
19
Histologicamente, observou-se no fígado difusa degeneração microvacuolar de
hepatócitos, alguns hepatócitos aumentados (hepatomegalocitose); ocasionais áreas
aleatórias de necrose individual de hepatócitos; discreto infiltrado inflamatório
constituído por neutrófilos e com ocasionais plasmócitos e linfócitos,
predominantemente nas áreas de perda de hepatócitos, mas visto também nos espaços
sinusoides (leucocitostase); moderada proliferação de ductos biliares nas tríades portais;
acúmulo de bile intra-hepatocitária e intracanalicular (bilestase); acúmulo de
hemossiderina no citoplasma das células de Kupffer; e moderada congestão vascular e
hemorragia em meio aos cordões de hepatócitos. Nos demais órgãos não se observaram
alterações significativas.
20
5 DISCUSSÃO
O diagnóstico de isoeritrólise neonatal foi estabelecido com base nos achados
epidemiológicos, clínicos e anatomopatológicos. Segundo Tizard (2014), os potros
acometidos nascem saudáveis, mas adoecem algumas horas após a ingestão do colostro.
A doença se apresenta entre 12 e 48 horas de vida, podendo ocorrer em até 5 dias após o
nascimento. Nesse caso especificamente, não foi possível identificar essas informações,
pois não foram descritas no laudo de necropsia.
Os sinais clínicos descritos nesse caso foram semelhantes aos observados por
Smith (2006), caracterizados por letargia progressiva e fraqueza, em casos agudos as
mucosas apresentam palidez inicial, e posteriormente icterícia, a respiração torna-se
rápida e superficial. Essas manifestações clínicas são decorrentes do quadro de
hemólise, consequentemente levando a dificuldade respiratória pela hemólise excessiva
e hiperbilirrubinemia, que se manifesta com icterícia, dependendo da evolução clínica,
como visto nesse caso.
O animal do relato de caso já foi atendido no estágio bem avançado da doença
em que já apresentava icterícia.
A esplenomegalia ocorre devido à hemólise e o grande sequestro de hemácias
pelo baço (FRY; McGAVIN, 2013). E a hepatomegalia se dá pela grande quantidade de
bilirrubina que sobrecarrega a capacidade do fígado (CULLEN; BROWN, 2013).
Outras doenças que causam anemia no neonato são anemia hemolítica
imunomediada sem isoeritrólise neonatal, úlcera gástrica, rompimento de cisto ovariano,
anemia de doença crônica associada a infecções, piroplamose e anemia infecciosa
equina. Além de outras doenças de neonatos que também fazem parte do diagnóstico
diferencial a angústia respiratória por causas não pulmonares, taquipnéia idiopática
(MADDIGAN, 2006).
21
6 CONCLUSÃO
A isoeritrólise neonatal ocorre esporadicamente em potros neonatos
necropsiados no Laboratório de Patologia Animal da UFCG, caracterizada por
distúrbios respiratórios e hemolíticos.
Essa enfermidade deve ser incluída como diagnóstico diferencial das outras
causas de anemia e outras afecções em potros que também apresentem alterações
respiratórias e hemolíticas.
Relatos como esse contribuem para o diagnóstico precoce, sendo possível
instituir o tratamento e reestabelecer a saúde do animal, diminuindo assim o número de
óbitos causados por essa enfermidade.
22
7 REFERÊNCIAS
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<http://www.magrama.gob.es/ministerio/pags/biblioteca/revistas/pdf_MG/MG_1991_9_91_30_
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FRY,M.M.; McGAVIN, M. D. Medula óssea , Células sanguíneas e sistema linfático. In:
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MADER, R. P. Isoeritrólise Neonatal. TCC Online, 2004. Disponível em:
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MADIGAN, J. E. Manifestações de Doenças no Neonato. In: SMITH,B.P. Medicina interna de
Grandes Animais. 3. ed. Barueri, São Paulo: Manole, 2006.
MOURA, R.; NUNES, A.; ARAPIRACA, K.; BITENCOURT, V.; FIGUEIREDO, T.
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ROSSI, L. S. Isoeritrólise neonatal equina. Repositório UNESP, 2009. Disponível em:
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THRALL, M. A. Anemia Regenerativa. In: THRALL, M. A. et al. Hematologia e Bioquímica
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