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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS – UNIFAL MG
INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
CÂMPUS AVANÇADO DE VARGINHA
LUCAS ROCHA BORGES
A RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO DAS PERDAS ESTIMADAS EM CRÉDITOS
DE LIQUIDAÇÃO DUVIDOSA E AS OPERAÇÕES DE CRÉDITO E
ARRENTAMENTO MERCANTIL DOS MAIORES BANCOS BRASILEIROS: UM
ESTUDO NO PERÍODO DE 2003 - 2013.
Varginha/MG
2014
LUCAS ROCHA BORGES
A RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO DAS PERDAS ESTIMADAS EM
CRÉDITOS DE LIQUIDAÇÃO DUVIDOSA E AS OPERAÇÕES DE CRÉDITO
E ARRENTAMENTO MERCANTIL DOS MAIORES BANCOS BRASILEIROS:
UM ESTUDO NO PERÍODO DE 2003 - 2013.
Varginha/MG
2014
Trabalho apresentado para a
aprovação no Trabalho de
Conclusão do Curso de
Ciências Econômicas com
Ênfase em Controladoria –
TCC - pela Universidade
Federal de Alfenas, Câmpus
Avançado de Varginha. Área
estudada: Sistema bancário
brasileiro.
Professor orientador: João
Paulo de Brito Nascimento
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela oportunidade e por me dar sabedoria;
À Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL MG – Câmpus Avançado de Varginha,
pela acolhida;
Aos mestres, em especial aos professores Marçal Serafim Cândido, João Estevão
Barbosa Neto e João Paulo de Brito Nascimento que me ensinaram e me fizeram ter
prazer em estudar as Ciências Contábeis. Ainda, aos mestres Thiago Fontelas Rosado
Gambi, Roberto Pereira Silva e Michel Deliberali Marson pela excelência no ensino da
história econômica do Brasil;
Aos amigos e a todos que, de alguma forma, contribuíram para o fechamento com êxito
de um ciclo de aprendizados.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 7
2. REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................................... 8
2.1 O MERCADO BANCÁRIO BRASILEIRO ............................................................. 8
2.2 CONCENTRAÇÃO DO SETOR BANCÁRIO NO BRASIL ................................ 10
2.3 O PAPEL DOS BANCOS PÚBLICOS E DO BNDES NA ECONOMIA ............. 13
2.4 A INADIMPLÊNCIA NO SETOR BANCÁRIO E AS PECLD’s ......................... 14
2.4.1 – RISCO ................................................................................................................ 17
2.4.2 - RESOLUÇÃO 1.748/90 – CMN ........................................................................ 18
2.4.2.1 – RESOLUÇÃO 2.682/99 – CMN ..................................................................... 20
2.5 OPERAÇÕES DE CRÉDITO E ARRENDAMENTO MERCANTIL .................... 23
3 – METODOLOGIA ..................................................................................................... 25
4 – RESULTADOS ........................................................................................................ 27
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 32
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 34
7. ANEXOS .................................................................................................................... 36
RESUMO
As instituições bancárias são fundamentais para o funcionamento da economia, e
do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para o
financiamento de grandes obras, públicas e privadas, que incentivam os grandes
investimentos no país, o presente trabalho tem por objetivo analisar a relação de causa e
efeito de Granger das variáveis PECLD (Perda Estimada em Créditos de Liquidação
Duvidosa) e Operações de Crédito e Arrendamento Mercantil Total (OCAMT) dos nove
maiores bancos brasileiros, em comparação com o BNDES. Busca-se saber se é a
PECLD que precede a oferta de crédito dos bancos, se há a relação inversa, ou se as
variáveis são contemporâneas, ou seja, caminham no mesmo sentido no tempo. Nesse
sentido, a análise é feita de modo comparativo entre os nove maiores bancos brasileiros
e o BNDES buscando analisar se as políticas de concessão de crédito dos bancos
públicos e privados do varejo é semelhante ou discrepante da política de concessão do
maior banco público de fomento ao investimento do país. A análise abrange o período
entre 2003 e 2013, com foco principal nas políticas de concessão de crédito e
estimativas de perdas entre os anos de 2007 e 2009, que compreende à última grande
crise econômica mundial. Foi utilizado o modelo econométrico de Causalidade de
Granger para a estimação. Concluiu-se que não há uma relação de causalidade entre as
variáveis estudadas, em geral, o que leva à afirmação de que as Perdas Estimadas em
Créditos de Liquidação Duvidosa de um período não precedem o volume das Operações
de Crédito e Arrendamento Mercantil Total dos bancos no período seguinte.
Palavras-chave: Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa. PECLD.
Operações de Crédito e Arrendamento Mercantil Total. BNDES. Instituições
Bancárias.
ABSTRACT
Given the importance of banks for the functioning of the economy , and the
BNDES ( National Bank for Economic and Social Development ) for the financing of
major projects , public and private , to encourage large investments in the country , this
work is analyzes the relation of cause and effect variables Granger PECLD (Loss
Estimated at loan losses ) and Total Loans and Leases ( OCAMT ) of the nine largest
Brazilian banks , compared with BNDES . We seek to know whether it is PECLD
preceding the credit supply of banks , if there is an inverse relationship , or if the
variables are contemporary , that is, move in the same direction in time. In this sense ,
the analysis is made of comparatively among the nine largest Brazilian banks and
BNDES trying to analyze whether the lending policies of public and private banks retail
is similar or disparate granting policy of greater public development bank to investment
in the country. The analysis covers the period between 2003 and 2013 , with a primary
focus in lending policies and loss estimates between the years 2007 and 2009 ,
comprising the last great global economic crisis. We used the econometric model of
Granger causality for the estimation. It was concluded that there is a causal
relationship between variables in general, which leads to the assertion that the
Estimated Credit Losses Losses a period not precede the volume of Loans and Leases
Total banks in the following period .
Keywords: Estimated losses in loan losses . PECLD. Loans and Commercial Total
Lease. BNDES. Bank’s Institutions
7
1. INTRODUÇÃO
A partir da década de 80, principalmente, o mercado bancário brasileiro sofreu
diversas alterações e normatizações por parte do governo nacional, amparado nos
Acordos da Basileia, na finalidade de consolidar e reestruturar o sistema bancário no
país.
Segundo Corrêa (2005), em 1988, com o Acordo de Adequação de Capital da
Basiléia, foi fixado internacionalmente o nível mínimo de 8% entre o capital e o valor
dos ativos de um banco. No Brasil, o Conselho Monetário Nacional (CMN), estabeleceu
o índice de 11% levando em conta os riscos mais elevados das instituições brasileiras
em relação ao mercado internacional.
Em decorrência deste contexto e para diminuir o risco de quebra das instituições
financeiras, em 1990 o CMN/BACEN editou a Resolução 1.748/90. Esta norma tinha
caráter reativo, isto é, a obrigatoriedade de constituição de provisões para créditos de
liquidação duvidosa existia apenas sobre as operações já vencidas. No ano de 1997, com
o intuito de uniformizar a supervisão bancária, o Comitê de Basiléia emitiu 25
princípios de crédito, como orientação normativa de controle de crédito.
No Brasil, em 1998, o CMN/BACEN editou a Resolução 2554/98 para tornar
obrigatória a implantação e implementação de sistema de controles internos nas
instituições financeiras independente do porte da instituição.
A partir de março de 2000, com o advento da Resolução 2.682/99 do
CMN/BACEN, as instituições financeiras se adequaram aos novos critérios de
constituição da provisão para créditos de liquidação duvidosa sobre suas operações,
atribuindo faixas crescentes de risco para cada operação, independente da situação de
normalidade. Os níveis de riscos vão de AA até H, com as provisões crescendo de 0 a
100% do capital concedido.
Nesse sentido, após estas mudanças na regulamentação do mercado bancário
brasileiro ao longo das últimas três décadas, as operações de concessão de crédito e as
provisões de perdas destas operações passaram a ser controladas a fim de diminuir os
riscos de quebra das instituições.
Diante desse contexto, surge a questão principal desse estudo: Um aumento (ou
diminuição) das PECLD’s no exercício é que determinam a oferta de crédito por parte
dos bancos no exercício seguinte?
8
De forma complementar, busca-se comparar os resultados entre o conglomerado
dos nove maiores bancos brasileiros, em termos de ativos totais, com o BNDES, que é o
único banco de fomento do país e que tem suas operações concedidas a longo prazo e
com altos valores, diferentemente dos demais, na tentativa de mensurar se o
comportamento de concessão e provisão de perdas sobre as operações financeiras é
discrepante ou semelhante entre eles.
Assim, a próxima seção analisa o sistema bancário nacional, os conceitos de
Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa, as Resoluções do
CMN/BACEN sobre o tema e as Operações de Crédito e Arrendamento Mercantil dos
bancos no Brasil. Na seção 3, a metodologia do trabalho é explicitada, enquanto na
seção 4 evidenciam-se os resultados da pesquisa. Na seção 5 conclui-se o trabalho com
uma avaliação ampla dos resultados alcançados com a pesquisa.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 O MERCADO BANCÁRIO BRASILEIRO
O mercado bancário tem fundamental importância para o funcionamento e
desenvolvimento de qualquer economia, sendo os bancos os principais agentes do
mercado financeiro. Segundo Swank (1996), as instituições financeiras são especiais,
pois no caso dos bancos, oferecem serviços que geralmente são vistos como
fundamentais para o bom funcionamento da sociedade moderna. São especializados em
informações, transformam e aceitam riscos, proveem liquidez à economia, além de
facilitarem as transações de modo geral. Basicamente, os bancos captam depósitos dos
agentes superavitários para reemprestar o capital a agentes deficitários. Nessa
intermediação financeira, os bancos usam da taxa de juros como remuneração do capital
que emprestam. Eles ajustam as necessidades dos depositantes com as dos tomadores
por meio da transformação de ativos de baixa liquidez e longa maturidade em ativos de
alta liquidez e baixa maturidade (FAMA, 1985).
A atividade bancária afeta não só o volume e a distribuição dos recursos, como o
comportamento cíclico dos preços, rendas e emprego (MINSKY, 1986).
9
O gerenciamento de fundos de bancos está baseado nos princípios gerais de
escolha de ativos e passivos comuns a todas as empresas. Tal gerenciamento, porém,
ocorre dentro de um contexto que envolve conceder empréstimos, decidir que taxa de
juros cobrar e determinar o preço da transferência de fundos. Tudo isso dentro de um
marco regulatório normalmente rigoroso e aplicável a todos os participantes do setor
(BLACK, 1975). Salienta-se, ainda, ao dizer que os bancos devem ser vistos como
especialistas em informação, que minimizam ineficiências provocadas por informações
incompletas, ou assimétricas, que nada mais são do que informações restritas e
impactantes para a tomada de decisões, porém não se trata de uma informação de acesso
a todos, o que lhe denomina incompleta (MESTER, 1992).
O mercado bancário brasileiro é, atualmente, um mercado desenvolvido e faz
frente aos padrões europeus e americanos de operações de concessão de crédito,
tecnologia, estrutura, regulamentação e saúde financeira. No entanto, segundo estudos
da ANEFAC (2013), o total do crédito ainda é baixo se comparado às principais
economias do mundo, o que representa um ambiente favorável à expansão do crédito no
setor.
Os bancos são empresas, públicas, privadas ou mistas, que visam obter lucro
sobre operações financeiras de concessão de crédito, carteira de investimentos,
financiamentos e seguros. O índice de lucratividade dos bancos está diretamente
relacionado com a variação do spread bancário praticado pela instituição. O spread
baseia-se em variáveis como índices de inadimplência, taxa de juros básica da economia
(SELIC), avaliação da carteira de crédito, e índices de operações financeiras do período.
A diferença entre o valor pago para os depositários menos o valor recebido pela
concessão de empréstimos é a margem de ganho dos bancos ou spread bancário, o que
pode-se afirmar ser uma aproximação do lucro da firma.
O mercado bancário, no Brasil, passou por um processo de consolidação e
concentração ao longo dos anos, devido às políticas econômicas internas e externas, de
acordo com as políticas dos governos que administraram o país em diferentes
momentos, conforme apresentado a seguir.
10
2.2 CONCENTRAÇÃO DO SETOR BANCÁRIO NO BRASIL
No Brasil, o mercado de crédito é bastante concentrado. Segundo Laureto e
Oreiro (2010), a alta rentabilidade dos bancos, com taxas de juros bastante elevadas, são
decorrência de um processo histórico de estruturação do sistema bancário no país, com a
concentração do crédito em poucos bancos, que dominam o mercado pelas fusões e
aquisições (F&As) de novas instituições.
A partir da década de 80, o sistema bancário brasileiro sofreu significativas
alterações pelo governo, com leis que permitiram as instituições a operar em todos os
serviços financeiros. As mudanças nas leis de operação de crédito no Brasil foram
fundamentais para um processo de concentração e reestruturação dos bancos no país.
Ainda segundo Laureto e Oreiro (2010), durante a década de 1980 e início da década de
1990, o país sofreu com instabilidades macroeconômicas que levaram a um baixo
crescimento econômico e persistente inflação. Esses fatores causaram a desmonetização
da economia, que culminou com colapso do sistema financeiro.
Os bancos, até a introdução do Plano Real, geravam uma parte considerável de
suas receitas via ganhos inflacionários, ou seja, receitas de floating, que se trata de
ganhos financeiros pelos rendimentos de depósitos à vista, em conta corrente, realizados
pelos clientes da instituição. Isso comprometeu a concessão de crédito pelos bancos já
que o risco em conceder crédito era maior do que o risco com a obtenção de receitas por
floating. Uma das consequências dessa estrutura de funcionamento foi que os bancos
deixaram em segundo plano as questões relacionadas à estrutura de custos e eficiência
produtiva.
Com a implantação do Plano Real, em 1994, a inflação foi controlada, o que
culminou em um processo de reestruturação do sistema bancário devido à necessidade
de rearranjar a economia no momento de remonetização e concessão de crédito, além de
precisar recuperar as perdas de receitas inflacionárias do PIB.
Entre 1994 e 1995, os bancos aumentaram a concessão de crédito para consumo
visando conquistar mercado. Entretanto, a crise Mexicana no final de 1994 e o
desequilíbrio no balanço de pagamentos fizeram com que o governo contraísse a
política monetária. O recolhimento compulsório para concessão de empréstimos pelos
bancos foi elevado, juntamente com elevação da taxa básica de juros e das despesas
11
com provisões pela autoridade monetária, o Banco Central. Isso levou à contração da
atividade econômica e ao crescimento da inadimplência bancária pelo fato de os bancos
terem, em um primeiro momento, expandido a concessão de crédito ao consumidor. A
consequência dessa desestabilização foi a ocorrência dos primeiros indícios de falências
bancárias (FREITAS, 2008).
Dessa forma, as menores instituições perderam força no mercado. Algumas
faliram e outras foram adquiridas por bancos maiores. Isso ocorre devido ao fato de
essas instituições terem baixa liquidez e fonte de recursos para lidar com o alto índice
de inadimplência. Foi o início do processo de concentração do mercado bancário no
Brasil. No entanto, a falência de bancos pode levar a colapsos na atividade econômica e
riscos sistêmicos e, dessa maneira, o Banco Central, juntamente com o Conselho
Monetário Nacional (CMN), órgão máximo do Sistema Financeiro Nacional,
programaram medidas para intervir no sistema de operações de crédito do país, visando
evitar esses colapsos na economia.
Nas Resoluções 2.208, 2.211 e 2.212 do CMN, em 1995, o Bacen instituiu o
PROER – Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema
Financeiro Nacional, regulamentou o FGC (Fundo Garantidor de Crédito) e aumentou o
capital mínimo para a abertura de novos bancos, além de permitir e facilitar a entrada de
bancos estrangeiros no país, respectivamente.
Segundo Puga (1999), o PROER contempla a criação de uma linha especial de
assistência financeira, destinada a financiar reorganizações administrativas,
operacionais e societárias de instituições financeiras que resultem na transferência de
controle ou na modificação de objeto social para finalidades não-privativas de
instituições financeiras. Além disso, as instituições participantes desse programa podem
diferir em até dez semestres os gastos com reestruturação, reorganização ou
modernização, além de ficar temporariamente liberadas do atendimento dos limites
operacionais referentes ao Acordo da Basileia.
O PROER deu estabilidade ao sistema de pagamentos por meio de garantia dos
depósitos dos aplicadores e a penalização dos bancos mal geridos. Em caso de fraudes,
gestão ineficiente e ativos de baixa qualidade da instituição, por exemplo, o controle do
banco era transferido. Assim, o Banco Central intervia, saneava os problemas de
liquidez dos bancos ineficientes e repassava suas ações a outras instituições. Segundo
Laureto e Oreiro (2010), o PROER beneficiou de forma direta as F&As. Por exemplo,
12
em meados de 1999, o Banco Nacional foi adquirido pelo Unibanco, o Banco
Econômico pelo Excel e o Banco Mercantil pelo Rural.
De forma geral, com a implantação do Plano Real, 104 instituições sofreram
alguma forma de intervenção, sendo que várias delas com recursos do programa. Esses
recursos eram provenientes de reservas compulsórias mantidas pelos bancos junto ao
Banco Central, não causando impactos sobre o orçamento fiscal da União.
Outro programa instituído na década de 1990 foi o PROES (Programa de
Incentivo à Redução do Setor Público Estadual na Atividade Bancária), que tinha por
objetivo reduzir a participação dos bancos estaduais no sistema bancário. A ideia era
reduzir ao máximo a presença de instituições financeiras controladas por governos
estaduais. Esses bancos já sofriam problemas de liquidez mesmo antes do fim das
receitas de floating por concederem empréstimos a governos estaduais. Tais
empréstimos, muitas vezes, eram executados sem qualquer garantia, o que tornava esses
bancos inadimplentes. Isso enfraquecia os bancos estaduais e diminuía a eficiência do
crédito concedido por eles. Dessa forma, era importante reduzir sua participação no
sistema bancário nacional dentro de um contexto de ajuste fiscal dos estados e
reestruturação da dívida pública (FREITAS, 2008).
Com a medida, nove bancos estaduais foram extintos e outros treze foram
privatizados, colaborando ainda mais para a concentração do setor de crédito no Brasil
(MARQUES, 2002).
Já a resolução 2.212 do CMN passou a não mais exigir que os bancos
estrangeiros que quisessem se instalar no mercado brasileiro, tivessem, no mínimo, o
dobro do capital mínimo exigido dos bancos nacionais. Dessa forma, o governo
acreditava que poderia acirrar a competitividade no setor, estimulando inovações
operacionais. Além disso, o governo esperava que a medida diminuísse os impactos de
crises financeiras internacionais na economia brasileira. Assim, o mercado teve grande
ascensão de bancos estrangeiros, o que estimulou também as F&As e concentração do
setor.
As medidas governamentais na economia, a partir da década de 1990, portanto,
tiveram forte efeito na concentração das instituições bancárias no Brasil. Entre 1994 e
2000, houve uma redução de 58 bancos, o que resultou em um número 189 bancos
operantes em 2000. No período, houve uma diminuição de 50% nos bancos públicos e
19,53% nos bancos privados, sendo que 71,8% das operações de F&As ocorreram entre
1997 e 2000. Dentre elas, destaca-se a compra do banco Banco de Crédito Nacional
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pelo Bradesco em 1998. Nesse período, ocorreram cinco privatizações (Banespa,
Bemge, Banestado, Baneb e Banerj), duas incorporações de bancos estrangeiros por
nacionais (Boavista Inter-Atlântico pelo Bradesco e Bandeirantes pelo Unibanco) e uma
aquisição de um nacional por um estrangeiro (Real pelo ABN Amro). Portanto, fica
clara a reação dos bancos privados nacionais à entrada dos bancos estrangeiros no
mercado (ROCHA, 2001).
Um mercado bancário concentrado em poucas instituições, porém de grande
porte e poderio econômico, leva-as a deterem maior poder de regulação do mercado,
aplicando maiores taxas de juros para a concessão de empréstimos, com elevação de seu
spread e seus índices de lucratividade.
2.3 O PAPEL DOS BANCOS PÚBLICOS E DO BNDES NA ECONOMIA
A atuação dos bancos públicos federais, segundo Araújo e Cintra (2011) pode
ser explicada em pelo menos quatro grandes dimensões. A primeira diz respeito à
atuação setorial, sustentando os segmentos industrial, rural e imobiliário, em distintas
fases dos ciclos de crédito. Muito embora o estoque de crédito dos bancos privados
tenha crescido entre 2004 e 2008 a taxas mais elevadas do que as dos bancos públicos,
estes tiveram um desempenho relevante quanto ao crédito setorial. O fomento ao
desenvolvimento constitui uma típica função dos bancos públicos, em particular – mas
não exclusivamente – no provimento de financiamento de longo prazo, modalidade em
que o setor bancário privado brasileiro pouco atua – em geral, utilizando-se de fontes
externas.
O BNDES persiste como o principal banco de fomento brasileiro – figurando-se
entre os maiores do mundo entre os seus congêneres. A função de fomento não lhe é
restrita, uma vez executada pelo Banco do Brasil – a maior instituição de crédito rural –
e pela Caixa Econômica Federal – a maior de financiamento habitacional, no Brasil.
Essas instituições também fornecem capital de giro para indústria, comércio, serviços,
modalidade fundamental para sustentar as decisões de produção dos empresários, bem
como crédito para o consumo das famílias. A segunda forma de atuação dos bancos
públicos federais é o desenvolvimento regional, também executado pelo BNDES, pelo
BB e pela CEF, dadas suas próprias dimensões e múltiplas operações de fomento. Além
destas instituições, o BNB (Banco do Nordeste do Brasil) e o Basa (Banco da
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Amazônia) – organizados como bancos múltiplos – desempenham papel crucial no
desenvolvimento regional, constituindo canais de direcionamento do crédito para
fomentar o desenvolvimento econômico e a infraestrutura das respectivas regiões. A
terceira é a atuação anticíclica da oferta de crédito. Com o aprofundamento da crise
financeira global no quarto trimestre de 2008, os bancos privados retraíram o crédito, o
qual foi sustentado pelos bancos públicos, que atuaram de forma anticíclica para contra-
arrestar os efeitos recessivos oriundos da retração do crédito privado – interno e externo.
A quarta é a expansão da “bancarização” mediante processo de inclusão bancária das
classes menos favorecidas, que trata da ampliação da carteira de crédito dos bancos para
alavancar suas receitas e ao mesmo tempo expandir a concessão de crédito.
No entanto, os principais bancos públicos federais (Caixa Econômica Federal,
Banco do Brasil e Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) trabalham
na concessão de créditos de longo prazo. A CEF, por exemplo, tem sua carteira
altamente concentrada em financiamentos de moradia com pagamentos a serem
recebidos no longo prazo. Enquanto o BNDES opera na realização de empréstimos e
financiamentos de grandes obras, de grande porte e valor, com recebimento a juros não
muito elevados e no longo prazo, muitas vezes até com grandes períodos de carência
para o pagamento por parte dos devedores.
2.4 A INADIMPLÊNCIA NO SETOR BANCÁRIO E AS PECLD’s
Define-se inadimplência como deixar de pagar uma obrigação, quebrar um
acordo, entrar em um procedimento legal ou defaut econômico.
No mercado bancário, a mensuração mais próxima da exata em relação aos
índices de inadimplência é de fundamental importância para uma correta provisão de
não recebimento de ativos pela instituição, o que impacta diretamente nos resultados do
banco, devido às despesas com provisões que lhes são inerentes.
Segundo o Committee on Banking Supervision – Comitê da Basileia sobre
Supervisão Bancária (2006, p.100), considera-se a ocorrência de defaut em relação a um
devedor específico quando um ou ambos os eventos seguintes tenham acontecido:
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1 – O banco considera improvável que o devedor pague na totalidade suas
obrigações ao conglomerado financeiro sem que este tenha que recorrer a ações tais
como a realização de garantias (se possuir);
2 – O devedor está atrasado há mais de 90 dias em alguma obrigação material
com o conglomerado financeiro. Saques a descoberto são considerados como operações
em atraso quando o cliente infringir um limite recomendado ou tenha lhe sido
recomendado um limite menor que a dívida atual.
A inadimplência ocorrida e esperada dos bancos é identificada como uma conta
redutora de ativo circulante nos balanços patrimoniais das companhias pela composição
das Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa (PECLD’s), que tem
regulação específica e fiscalização do Banco Central do Brasil por se tratar de uma
conta que impacta diretamente o resultado financeiro da instituição e,
consequentemente, a saúde financeira, a exposição real de situação econômica aos
investidores e o patrimônio líquido.
As Expected Losses, ou Perdas Esperadas, tem três tipos de mensuração,
segundo o Basileia II, citadas por Annibal (2009). São elas:
1 – Probability of Defaut (Provisão): A proporção de devedores que
apresentarão uma situação de defaut em um determinado horizonte de tempo;
2 – Exposure at Defaut (Exposição): A exposição da instituição financeira a
estes devedores no momento do defaut;
3 – Loss Given Defaut (Quantidade): O percentual desta exposição que não
será recuperado em caso de ocorrência do defaut.
Os índices de inadimplência na abordagem por Provisão são medidos pela razão
entre as provisões constituídas em um período, ajustadas pelas reversões, e o saldo total
médio das operações de crédito. Segundo Annibal (2009), os índices de inadimplência
que utilizam este conceito não estão medindo a inadimplência stricto senso, pois a
constituição correta das provisões para perdas esperadas não considera apenas a falta de
cumprimento de uma obrigação, mas também a exposição que a IF terá junto ao
devedor no momento da inadimplência e o montante que poderá ser recuperado.
Já os índices na abordagem por Exposição são os que calculam a inadimplência
segundo a razão entre o montante das operações com atraso no pagamento superior a
um determinado número de dias e o total da carteira de crédito (ANNIBAL, 2009).
Estes, também, são índices que não calculam a inadimplência stricto senso, pois não
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considera apenas a falta de cumprimento de uma obrigação, mas também a exposição da
instituição frente ao devedor no momento em que houve a inadimplência.
A abordagem por Quantidade, no entanto, mede a inadimplência como sendo a
razão entre o número de operações inadimplentes e o número total de operações. Os
índices constituídos dessa forma medem a inadimplência efetiva, ou seja, stricto senso.
A correta constituição das PECLD’s pelos bancos e sua divulgação em Balanço
Patrimonial, no entanto, seguem determinações do Banco Central do Brasil e do
Conselho Monetário Nacional e levam em consideração alguns pontos-chave da carteira
de créditos da Instituição Financeira (IF), como por exemplo: a) número de operações,
b) valor das operações, c) prazo das operações, d) valor das prestações e e)
probabilidade de inadimplência.
A qualidade de uma carteira de crédito tem relação direta com o risco de
inadimplência da mesma. O risco de inadimplência é um elemento importante da
composição do spread bancário e permite concluir que instituições com carteira de
crédito de melhor qualidade cobram menores taxas nas operações de empréstimos e
financiamentos (DANTAS, MEDEIROS E CAPELLETO, 2011)
O Gráfico a seguir mostra a variação dos índices de inadimplência, tanto para
Pessoa Física quanto para Pessoa Jurídica, no setor, no período compreendido entre
2003 e 2013:
Gráfico 1: Inadimplência no setor bancário brasileiro no período 2003-2013.
Fonte: ANEFAC
Em relação à inadimplência, tanto para Pessoa Física quando para Pessoa Jurídica, o
17
estudo Anefac demonstra que a mesma apresentou uma redução de 3,6 pontos
percentuais no período, de 8,8% em jan/2003 pra 5,2% em jan/2013.
Os índices de inadimplência estão diretamente ligados aos riscos incorridos
pelos bancos e instituições financeiras na concessão de crédito às pessoas, conforme
abordagem a seguir.
2.4.1 – RISCO
Segundo informações do Banco do Brasil, os principais riscos que um banco está
sujeito, são: Risco de Mercado, Risco de Liquidez, Risco de Crédito, Risco
Operacional, Risco Legal, Risco de Conjuntura e Risco de Imagem.
Risco de Mercado
Decorre da possibilidade de perdas que podem ser ocasionadas por mudanças no
comportamento das taxas de juros, do câmbio, dos preços das ações e dos preços de
commodities.
Risco de Liquidez
Este tipo de risco assume duas formas: risco de liquidez de mercado e risco de
liquidez de fluxo de caixa (funding). O primeiro é a possibilidade de perda decorrente
da incapacidade de realizar uma transação em tempo razoável e sem perda significativa
de valor. O segundo está associado à possibilidade de falta de recursos para honrar os
compromissos assumidos em função do descasamento entre os ativos e passivos.
Risco de Crédito
Trata-se do risco mais importante e mais estudado no presente trabalho. É
definido como a possibilidade de perda resultante da incerteza quanto ao recebimento de
valores pactuados com tomadores de empréstimos, contrapartes de contratos ou
emissões de títulos.
Risco Operacional
Definido como a possibilidade de ocorrência de perdas resultantes de falha,
deficiência ou inadequação de processos internos, pessoas e sistemas, ou de eventos
externos. Este conceito inclui o risco legal.
Risco Legal
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Pode ser definido como a possibilidade de perdas decorrentes de multas,
penalidades ou indenizações resultantes de ações de órgãos de supervisão e controle,
bem como perdas decorrentes de decisão desfavorável em processos judiciais ou
administrativos.
Risco de Conjuntura
Decorre da possibilidade de perdas decorrentes de mudanças verificadas nas
condições políticas, culturais, sociais, econômicas ou financeiras do Brasil ou de outros
países. Estão inclusos o Risco-País, Risco Sistêmico e Risco Estratégico.
Risco de Imagem
Possibilidade de perdas decorrentes de a instituição ter seu nome desgastado
junto ao mercado ou às autoridades, em razão de publicidade negativa, verdadeira ou
não.
2.4.2 - RESOLUÇÃO 1.748/90 – CMN
A resolução 1.748/90 regulamentada pelo Conselho Monetário Nacional detinha
algumas particularidades, dentre as quais serão expostas as de maior relevância para o
entendimento do trabalho, a seguir.
Conforme apresentado por Niyama (2001), no que tange à transferência dos
créditos em curso normal para o curso anormal, os prazos eram os seguintes:
I – Transferência Imediata
a) Créditos titulados por empresas importadoras que, na data pactuada para
liquidação da operação de câmbio, não contem com fundos suficientes para
acolhimento do débito em conta corrente;
b) Financiamentos de valores mobiliários, não liquidados, cujas garantias, que a
juízo das instituições sejam consideradas insuficientes à cobertura do saldo
devedor atualizado;
c) Outros créditos em favor dos quais tenha sido efetivada medida judicial, visando
a protesto ou a outra ação semelhante. Excetuando-se as operações parciais ou
totalmente amparadas por garantias;
19
d) Titulados por empresas sob regime falimentar ou em liquidação extrajudicial,
com ou sem garantias;
e) Outros créditos de difícil liquidação, que possam ser efetivamente comprovados
como em curso anormal pelas instituições perante o Banco Central ou a critério
deste.
II – Transferência após decorridos 20 dias:
a) Adiantamentos sobre contratos de câmbio, decorridos vinte dias do prazo
previsto para a entrega dos documentos;
III – Transferência após 30 dias:
a) Adiantamentos sobre contratos de câmbio, decorridos trinta dias do prazo
previsto para liquidação do respectivo contrato de câmbio (na hipótese de a
instituição não optar pela transferência prevista no inciso II anterior);
b) Saldos devedores de contas correntes de clientes, resultantes de negociação e
intermediação de títulos e valores mobiliários, não liquidados, sem garantias,
contados da data da ocorrência.
IV – Transferência após 60 dias:
a) Adiantamento a depositantes, após decorridos 60 dias da sua ocorrência;
b) Outros créditos, sem garantias, após decorridos 60 dias.
V – Transferência após 90 dias:
a) Créditos decorrentes de operações de câmbio de importação, liquidadas a débito
da conta “Devedores Diversos – País” na forma da legislação vigente, caso o
pagamento não se efetive até 90 dias do respectivo lançamento.
VI – Transferência após 180 dias:
a) Outros créditos, vencidos há mais de 180 dias, com garantias que, a juízo das
instituições ou do Banco Central, sejam consideradas insuficientes à cobertura
do saldo devedor.
VII – Transferência após 360 dias:
20
a) Outros créditos, vencidos há mais de 360 dias, com garantias que, a juízo das
instituições ou do Banco Central, sejam consideradas insuficientes à cobertura
do saldo devedor.
Ainda conforme apresentado por Niyama (2001), a constituição das Perdas
Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa nos balanços patrimoniais e balancetes
semestrais das empresas não poderia ser inferior ao somatório das aplicações
percentuais a seguir:
a) 20% sobre as operações amparadas por garantias que, a juízo das instituições,
sejam consideradas suficientes à cobertura do saldo devedor atualizado,
registradas em contas de atraso;
b) 50% sobre as operações amparadas por garantias que, a juízo das instituições,
ou a critério do Banco Central do Brasil, não sejam consideradas suficientes à
cobertura do saldo devedor atualizado, registradas em contas de atraso;
c) 100% dos critérios inscritos em contas de créditos em liquidação;
Podem ser debitados à provisão, os créditos:
a) Vencidos, que não tenham condições de recebimento, após decorridos no
mínimo, 180 dias da data de transferência para as contas de créditos em
liquidação; ou
b) Ajuizados, após esgotados os meios usuais e normais de cobrança judicial; ou
c) Cujos saldos devedores atualizados não ultrapassem o montante correspondente
a R$ 1.000,00 aproximadamente, após decorridos 180 dias dos respectivos
vencimentos.
2.4.2.1 – RESOLUÇÃO 2.682/99 – CMN
No âmbito de abranger e proteger as instituições financeiras do risco de crédito,
foi editada a Resolução nº 2.682/99 quanto às Provisões Para Créditos de Liquidação
Duvidosa, agora baseadas na classificação das operações de crédito segundo o nível de
risco das operações. Esta resolução revogou a anterior, de 1990.
O objetivo da resolução do CMN/BACEN era o de criar uma “Central do
Risco”, cujas operações financeiras seriam separadas por níveis de risco e as
21
informações repassadas ao Banco Central para maior controle sobre as operações e
implementação de políticas para a diminuição das perdas.
Segundo Niyama (2001), as instituições financeiras passaram a observar os
seguintes aspectos:
I – Em relação aos devedores e suas garantias:
a) Situação econômico-financeira;
b) Grau de endividamento;
c) Capacidade de geração de resultados;
d) Fluxo de caixa;
e) Administração e qualidade dos controles;
f) Pontualidade e atraso nos pagamentos;
g) Contingências;
h) Setor de atividade econômica;
i) Limite de crédito;
II – Em relação à operação:
a) Natureza e finalidade da transação;
b) Características das garantias, particularmente quanto à suficiência e liquidez;
c) Valor.
A resolução criou, ainda, uma classificação de “AA” a “H” quanto às operações
de crédito e arrendamento mercantil das IF’s em ordem crescente de risco, conforme a
tabela 1:
22
Tabela 1 – Regras de Provisionamento conforme a Resolução 2.682/99
DIAS DE
ATRASO CATEGORIA % PCLD
- AA 0%
- A 0,50%
Entre 15 a 30 dias B 1%
Entre 31 a 60 dias C 3%
Entre 61 a 90 dias D 10%
Entre 91 a 120 dias E 30%
Entre 121 a 150 dias F 50%
Entre 151 a 180 dias G 70%
Acima de 180 dias H 100%
Fonte: Niyamma, 2001.
A resolução veda ainda, com rigor, o reconhecimento de encargos nas operações
que apresentem atrasos superiores a 60 dias no pagamento de principal ou de juros.
Dessa maneira, não há reconhecimento de receita para operações de difícil ou duvidosa
realização (NIYAMA, 2001).
A Resolução 2.682/99, amparada às políticas governamentais, como o PROEF,
resultaram em uma melhor e mais segura mensuração das provisões pra créditos de
liquidação duvidosa dos bancos e instituições financeiras no Brasil. A nova resolução
tem como diferencial da anterior, de 1990, o provisionamento de riscos sobre operações
já realizadas, em andamento e futuras, enquanto a anterior somente considerava as
perdas sobre as transações já realizadas e inadimplentes.
A classificação das operações em níveis de risco também é fundamental para o
Banco Central exercer maior controle sobre a concessão de créditos pelas IFs. A
regulamentação mudou o patamar de provisionamento da carteira de crédito dos bancos
em geral, que passou de 2,2% em 1995 para 6,8% em 2005, segundo Fernandes, Ponte,
Moura, De Luca e Oliveira (2007).
A correta avaliação de provisões de perdas com operações de créditos pelos
bancos é de fundamental importância, pois afeta diretamente o resultado da instituição e
trata-se de uma informação relevante para os investidores.
Não há dúvidas de que a resolução do CMN amparou de forma mais consistente
o mercado bancário brasileiro, dando maior solidez ao sistema e diminuindo os riscos
de crédito e insolvência das instituições pelo princípio contábil da prudência.
23
2.5 OPERAÇÕES DE CRÉDITO E ARRENDAMENTO MERCANTIL
Chama-se de operação de crédito o contrato realizado entre um consumidor
(denominado tomador ou devedor) e uma instituição financeira (denominada credora),
que coloca à disposição do tomador determinado montante de recursos financeiros,
comprometendo-se o tomador a devolver esses recursos em um determinado prazo,
acrescido de juros.
As operações de crédito dividem-se, no meio bancário, entre operações de
financiamento e de empréstimo. Nas operações de financiamento, os recursos
financeiros possuem uma destinação específica, como, por exemplo, os financiamentos
para aquisição de bens de consumo duráveis (veículos, equipamentos), os
financiamentos imobiliários, os financiamentos rurais etc. Já nas operações de
empréstimo, não é estipulada uma finalidade específica para os recursos, como, por
exemplo, nos empréstimos pessoais (crédito direto ao consumidor – CDC, empréstimo
consignado, cheque especial etc.).
Outra alternativa para a aquisição de bens são as operações conhecidas como
arrendamento mercantil financeiro ou leasing que, embora possuam características
próprias, como, por exemplo, regras restritivas para a liquidação antecipada, na prática
funcionam também como uma forma de financiamento de bens duráveis. Nessas
operações, a propriedade do bem adquirido fica com a arrendadora (que é uma
instituição financeira), que concede o direito de uso desse bem ao arrendatário
(consumidor). Em geral, os contratos de arrendamento mercantil financeiro preveem a
transferência da propriedade do bem do arrendador para o arrendatário no final do
contrato, consolidando-se assim, de fato, como uma modalidade de financiamento.
Na última década, muitos países têm apresentado um crescimento acelerado do
crédito ao setor privado. No Brasil, esse fenômeno, segundo Andrade (2012), destacou-
se a partir de 2004 quando o crédito ao setor privado cresceu a taxas expressivas,
atingindo uma taxa de crescimento real acima de 20% a.a. entre 2006 e 2008. Enquanto
a proporção em relação ao PIB (Produto Interno Bruto), segundo dados do Banco
Central do Brasil (BCB), o país apresentou um aumento de mais de 20 pontos
percentuais do crédito entre 2004 e 2011, atingindo 47% do PIB ao final do exercício de
2011.
24
A Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e
Contabilidade (ANEFAC) publicou um estudo, ao final de 2012, em que demonstra que
o volume de crédito cresceu mais de 500% em dez anos no Brasil. De 27,2% do PIB em
2002 para 50,6% em 2012.
O Gráfico 2, a seguir, apresenta o crescimento do volume total de crédito no
Brasil entre os anos de 2003 e 2013.
Gráfico 2: Crescimento do volume total de crédito no Brasil no período 2003-2013
Fonte: ANEFAC
O volume total de crédito do sistema financeiro, entre recursos livres e recursos
direcionados, atingiu em junho/2013, aproximadamente R$2,53 bilhões contra
aproximadamente R$381 milhões em junho/2003, um crescimento de 563,8% no
período, a uma taxa de inflação de (IPCA) de 70,57%, segundo o estudo da ANEFAC.
Este volume representa um crescimento de 30,5% em relação ao PIB, de 24,7% em
2003 para 55,2% dez anos depois.
Os estudos da ANEFAC mostram, nessa análise de dez anos, que as condições
de crédito apresentaram substancial melhora no período com forte expansão do volume
emprestado, redução das taxas de juros, redução dos spreads bancários, aumento dos
prazos médios de financiamento e redução da inadimplência apesar do crescimento do
crédito.
Em síntese, fica evidente o crescimento, em números, da indústria bancária no
Brasil. Fato este, decorrente de um processo histórico que deve ser considerado,
principalmente em relação às políticas governamentais e fatores que levaram à
concentração do setor, conforme abordado anteriormente.
25
3 – METODOLOGIA
O estudo contempla os dados dos balanços patrimoniais consolidados dos dez
maiores bancos do país, disponíveis no site do Banco Central do Brasil, em “50 maiores
bancos brasileiros e o conglomerado do Sistema Financeiro Nacional” 1.
A escolha dos dez maiores bancos, conforme a Tabela 2, segundo classificação
do BACEN em dezembro de 2013, deve-se ao fato de que a amostra escolhida
representa cerca de 90,6% do total, em termos de ativos totais, dos 50 maiores bancos
atuantes no Brasil.
Quadro 1: Ranking dos 10 maiores bancos brasileiros segundo BACEN em 2013
RANKING INSITUIÇÃO ATIVO TOTAL EM MIL $
1º BANCO DO BRASIL 1.218.525.361
2º BANCO ITAÚ 1.027.324.008
3º CAIXA ECONÔMICA FEDERAL 858.475.356
4º BANCO BRADESCO 776.724.294
5º BANCO BNDES 762.953.109
6º BANCO SANTANDER BRASIL 495.443.913
7º BANCO HSBC 159.948.239
8º BANCO SAFRA 130.111.584
9º BANCO BTG PACTUAL 115.901.631
10º CITIBANK 54.297.355
Fonte: Banco Central do Brasil
Quadro 2: Relação Percentual: Ʃ Ativo Total dos 10 maiores bancos x Ʃ Ativo Total
dos 50 maiores bancos.
VALOR EM MIL $
Ʃ ATIVO TOTAL 10 MAIORES R$ 5.652.382.583,00
Ʃ ATIVO TOTAL 50 MAIORES R$ 6.239.198.879,00
RELAÇÃO PERCENTUAL 90,59% Fonte: Banco Central do Brasil
Para a mensuração da relação de causa e efeito das variáveis PECLD e
Operações de Crédito e Arrendamento Mercantil Total (OCAMT) dos nove maiores
bancos em relação ao BNDES, foi utilizado o Teste de Causalidade de Granger no
software Stata base.
1 Disponível em: http://www4.bcb.gov.br/top50/port/top50.asp
26
Granger parte da premissa de que o futuro não pode “causar” o presente ou o
passado. Se o evento A ocorre após o evento B, sabe-se que A não pode “causar” B. Ao
mesmo tempo, se A ocorre antes de B, isso não implica necessariamente que A causa B.
Na prática, observa-se A e B como séries temporais e busca-se saber se A precede B ou
se B precede A, ou se eles são contemporâneos. Por exemplo, os movimentos dos
preços precedem movimentos nas taxas de juro, ou ocorre o contrário ou os movimentos
são contemporâneos? Esse é o propósito da causalidade de Granger, que não é a
causalidade conforme ela é realmente compreendida. (MADDALA, 2003).
No presente trabalho, busca-se saber se a PECLD precede as OCAMT, se as
OCAMT predem a PECLD, ou se as variáveis são contemporâneas. Para isso, os dados
foram organizados em planilhas do Microsoft Office Excel e comparados no período
compreendido entre 2003 e 2013. Tendo em vista que a comparação entre valores
monetários ao longo do tempo só deve ser feita se considerada e descontada a inflação
do período, os valores monetários foram transformados em números-índices,
desprezando-se assim a inflação para a possibilidade de comparação de valores
monetários ao longo dos onze anos analisados, conforme descrito a seguir:
1 - ÍNDICE OPERAÇÕES DE CRÉDITO E ARREND. MERC. TOTAL
2 –ÍNDICE PERDAS ESTIMADAS EM CRÉDITOS DE LIQUIDAÇÃO
DUVIDOSA
Ainda no Microsoft Office Excel foram organizados os gráficos com os índices e
comparados através de gráficos para mostrar a diferença das operações dos nove
maiores bancos em comparação com o BNDES.
27
4 – RESULTADOS
Em relação aos resultados obtidos graficamente, nota-se, conforme o gráfico a
seguir, que a média dos índices de PECLD’s dos dez maiores bancos brasileiros, no
período de análise, diminuiu.
Gráfico 3: Média das Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa dos dez
maiores bancos brasileiros no período 2003 – 2013.
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados disponibilizados pelo BACEN.
Destaca-se, neste caso, o período compreendido entre 2008 e 2009, que trata da
crise financeira mundial, onde os índices de provisões de perdas foram os mais elevados
nos dez anos analisados. Em termos comparativos dos nove maiores bancos com o
BNDES, observa-se o Gráfico 4:
Gráfico 4: Comparação entre as médias de PECLD’s noves maiores bancos brasileiros
com o BNDES.
0
0,005
0,01
0,015
0,02
0,025
0,03
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
MÉDIA PECLD 10 MAIORES BANCOS
MÉDIA PECLD 10MAIORES BANCOS
28
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados disponibilizados pelo BACEN.
Nota-se que, neste caso, que o BNDES provisiona menos, em termos
percentuais, os índices de perda sobre as suas operações se comparado com a média das
provisões dos outros nove maiores bancos do mercado brasileiro. Isso quer dizer que,
apesar de o maior banco de fomento ao desenvolvimento social e econômico do país ser
o grande financiador de grandes obras e altos valores, suas provisões de perda são mais
baixas que a dos bancos públicos e privados do varejo que, comparativamente,
emprestam menos e a uma carteira diversificada de clientes.
Merece destaque, ainda, o período compreendido entre 2006 e 2009, que mostra
o pico das PECLD’s dos nove maiores bancos, na média, devido a crise econômica
mundial, enquanto o BNDES demonstra não ter mudado suas constituições de provisões
de perdas neste período. Isso pode ter relação com o fato de os outros bancos da amostra
atuarem em ramo diferente do BNDES, que empresta para grandes empresas, no longo
prazo, porém tem maior garantia de recebimento pela confiabilidade e poderio
financeiro das empresas tomadoras.
Já em relação às operações de crédito e arrendamento mercantil total, o gráfico 5
demonstra a média das operações da amostra analisada.
0
0,02
0,04
0,06
0,08
0,1
0,12
0,14
0,16
0,18
0,2
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
MÉDIA PECLDMAIORES BANCOS
PECLD BNDES
MÉDIA DE PECLD DOS 9 MAIORES BANCOS X BNDES - 2003 A 2013
29
Gráfico 5: Média das Operações de Crédito e Arrendamento Mercantil Total dos dez
maiores bancos brasileiros no período 2003-2013.
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados disponibilizados pelo BACEN.
Destaca-se o aumento de aproximadamente 7,1% dos índices de operações de
crédito e arrendamento mercantil total dos dez maiores bancos brasileiros, incluído o
BNDES, o que reforça o que foi dito anteriormente segundo estudos da ANEFAC. Já
em termos comparativos, nota-se:
Gráfico 6: A Média das Operações de Crédito e Arrendamento Mercantil Total dos
nove maiores bancos x BNDES
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados disponibilizados pelo BACEN.
Percebe-se, no gráfico anterior, que o BNDES, ao longo dos últimos dez anos,
na média, concede maior volume de crédito que os demais bancos brasileiros juntos.
Vale destacar o período da crise econômica mundial de 2008, onde a discrepância do
volume de capital emprestado pelo BNDES é quase 12% maior que os demais,
justificado pelo menor risco que o banco incorre nas suas operações, conforme em
0
0,1
0,2
0,3
0,4
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
MÉDIA OP. CRÉDITO E ARRENDAMENTO MERCANTIL TOTAL 10 MAIORES BANCOS
MÉDIA OP.CRÉDITO EARRENDAMENTOMERCANTILTOTAL 10MAIORES BANCOS
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
0,35
0,4
0,45
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
MÉDIA OP. DE CRÉDITO EARRENDAMENTOMERCANTIL TOTALMAIORES BANCOS
OP. DE CRÉDITO EARRENDAMENTOMERCANTIL TOTAL BNDES
MÉDIA OPERAÇÕES DE CRÉDITO E ARREND. MERCANTIL TOTAL
30
análise anterior. Já a partir de 2011, os bancos do varejo e o BNDES aumentaram suas
concessões de empréstimos e um dos fatos relevantes que favoreceu a esse cenário
expansionista foram as obras e investimentos realizados para a Copa do Mundo de
2014.
Em termos eficiência, foi analisado o Retorno sobre o Patrimônio (ROE) destes
bancos para evidenciar se conceder maior volume de crédito a baixas provisões, ou a
relação inversa, incorreu em eficiência nos resultados dos mesmos.
Gráfico 7: Retorno sobre o Patrimônio dos nove maiores bancos (média) x BNDES
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados disponibilizados pelo BACEN.
A análise do ROE evidencia a capacidade da empresa, neste caso dos bancos, de
agregar valor utilizando recursos próprios nas suas operações. Basicamente divide-se o
lucro líquido pelo patrimônio líquido do banco no período para a sua obtenção.
Em termos percentuais, o BNDES foi menos eficiente que os demais bancos da
amostra, na média, nos exercícios de 2004, 2005 2007, 2008 e 2011. Destaca-se,
novamente, período pré-crise econômica e o ano de sua eclosão, em 2008, onde o
BNDES concedeu mais empréstimos, provisionou menores perdas, porém foi menos
eficiente que os demais bancos analisados. No entanto, em 2009, quando o cenário de
crise mundial começava a perder forças, o BNDES foi 12% mais eficiente que os
demais bancos da amostra, mostrando uma oscilação de seus índices de ROE. Isso deve-
se ao fato de que outros fatores e despesas, além das que constituem as PECLDS,
afetaram os lucros do banco no período.
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
ROE BNDES
ROE DOS 9 MAIORESBANCOS - MÉDIA
ROE 9 MAIORES BANCOS (MÉDIA) X ROE BNDES - EM %
31
Vale destacar, ainda, a queda de eficiência dos bancos do varejo, analisados
conjuntamente na amostra, durante o período, mostrando que o retorno de seus
investimentos em relação aos recursos próprios tem sido menor que os retornos dos
investimentos com capital de terceiros.
Os resultados do teste de Causalidade de Granger, ao nível de significância de
5%, levando-se em consideração a hipótese nula , onde
referem-se aos índices PECLD e OCAMT, estão apresentados na Tabela 4, a
seguir:
Tabela 2: Resultados do Teste de Causalidade de Granger ao nível de significância de
5%.
BANCO X Y RESULTADO
BNDES PECLD/ATIVO TOTAL PECLD/OCAMT ACEITA-SE
PECLD/OCAMT PECLD/ATIVO TOTAL ACEITA-SE
BANCO DO BRASIL PECLD/ATIVO TOTAL PECLD/OCAMT REJEITA-SE
PECLD/OCAMT PECLD/ATIVO TOTAL ACEITA-SE
ITAÚ PECLD/ATIVO TOTAL PECLD/OCAMT ACEITA-SE
PECLD/OCAMT PECLD/ATIVO TOTAL ACEITA-SE
CAIXA ECONÔMICA
FEDERAL PECLD/ATIVO TOTAL PECLD/OCAMT REJEITA-SE
PECLD/OCAMT PECLD/ATIVO TOTAL ACEITA-SE
BRADESCO PECLD/ATIVO TOTAL PECLD/OCAMT ACEITA-SE
PECLD/OCAMT PECLD/ATIVO TOTAL ACEITA-SE
SANTANDER PECLD/ATIVO TOTAL PECLD/OCAMT ACEITA-SE
PECLD/OCAMT PECLD/ATIVO TOTAL ACEITA-SE
HSBC PECLD/ATIVO TOTAL PECLD/OCAMT ACEITA-SE
PECLD/OCAMT PECLD/ATIVO TOTAL ACEITA-SE
SAFRA PECLD/ATIVO TOTAL PECLD/OCAMT ACEITA-SE
PECLD/OCAMT PECLD/ATIVO TOTAL REJEITA-SE
CITIBANK PECLD/ATIVO TOTAL PECLD/OCAMT ACEITA-SE
PECLD/OCAMT PECLD/ATIVO TOTAL ACEITA-SE
BTG PACTUAL PECLD/ATIVO TOTAL PECLD/OCAMT REJEITA-SE
PECLD/OCAMT PECLD/ATIVO TOTAL ACEITA-SE
TODOS OS BANCOS JUNTOS
PECLD/ATIVO TOTAL PECLD/OCAMT ACEITA-SE
PECLD/OCAMT PECLD/ATIVO TOTAL ACEITA-SE
Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados gerados no software Stata base.
Com base na tabela anterior, nota-se que não há uma relação de causalidade
32
entre as variáveis PECLD e OCAMT dos dez maiores bancos brasileiros, em geral, pois
aceita-se a hipótese nula de que X não Granger causa Y, ou seja, X não precede Y, ao
mesmo tempo que Y não Granger causa X, ou seja, Y não precede X. Em comparação
com o BNDES, a amostra apresenta os mesmos resultados, ou seja, o Banco Nacional
do Desenvolvimento Econômico e Social também aceitou a hipótese nula do teste e
demonstrou não haver causalidade entre as variáveis estudadas, na decorrência de suas
operações de provisões e concessões de empréstimos.
Nesse sentido, define-se que as Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação
Duvidosa no período anterior não precedem o volume das Operações de Crédito e
Arrendamento Mercantil Total dos dez maiores bancos brasileiros no período seguinte,
e a recíproca é verdadeira.
Ressalta-se que na análise dos últimos dez anos, apenas o Banco do Brasil, a
Caixa Econômica Federal, o BTG Pactual e o banco Safra rejeitaram a hipótese nula.
Ou seja, para estes três primeiros bancos, respectiva e exclusivamente, as PECLD’s do
período precedem as OCAMT do período seguinte. Enquanto que apenas no banco
Safra as OCAMT do período precedem as PECLD’s do período seguinte.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho buscou analisar a relação de causa e efeito das variáveis
PECLD e Operações de Crédito e Arrendamento Mercantil Total dos dez maiores
bancos brasileiros, em valores de ativos totais. Segundo os dados, conclui-se que não há
uma relação de causalidade de Granger entre as variáveis na amostra dos dez bancos
analisados e também do BNDES.
Em termos comparativos e em uma análise macro dos resultados, buscou-se
comparar os nove maiores bancos brasileiros, que incluem Banco do Brasil, Itaú, Caixa
Econômica Federal, Bradesco, Santander, HSBC, Safra, Citibank e BTG Pactual, com o
BNDES para comprovar se há evidências de discrepâncias na forma de atuação e nos
resultados dos mesmos.
Nota-se, pelo exposto, que o BNDES, por se tratar de um banco público de
fomento ao desenvolvimento econômico e social, atua de forma diferente dos demais
33
bancos do varejo. Em relação às Operações de Crédito e Arrendamento Mercantil, o
BNDES concedeu maior volume de recursos do que os demais bancos em todos os anos
do período analisado, na média. Já em relação à constituição das provisões de perdas, o
BNDES, na média, provisionou significativamente menos que os demais bancos do
varejo analisados.
Em linhas gerais, isso quer dizer que o BNDES empresta valores mais altos, em
longo prazo e a baixas taxas de juros, mesmo em períodos de crise e recessão
econômica, conforme evidenciado no período da grande crise 2008, em relação aos
demais bancos. Há, contudo, um viés nos resultados devido à política expansionista
aplicada pelo governo do período. E, concomitantemente, o BNDES provisiona menos
perdas de suas operações, em comparação com os demais bancos, o que não quer dizer
que trata-se de um banco com má gestão operacional de riscos, mas sim que suas
concessões são feitas de forma segura, em larga escalada e para clientes com baixo
potencial de inadimplência. Ou seja, a concessão de crédito é mais segura.
No entanto, foi observado que a relação de causalidade das duas variáveis,
apesar de afetar diretamente no resultado financeiro dos bancos, não tem relação
diretamente proporcional com o índice de eficiência ROE. Dos últimos dez anos
analisados, em cinco deles o BNDES teve, na média, menor eficiência se comparado
com os nove maiores bancos, inclusive no período da grande crise econômica de 2008.
Nota-se, portanto, a importância de uma boa gestão operacional de riscos dentro
de uma instituição financeira para decidir o quanto, quando, a qual preço e a quem
emprestar o capital. E, além disso, a importância de uma análise macroeconômica e
política do cenário da economia em âmbito mundial, principalmente no caso do
BNDES, para que se caminhe lado a lado com eficiência operacional e o ganho de valor
para a instituição.
Sugere-se, ainda, para pesquisas futuras, uma análise de outros índices de
eficiência, como o Retorno sobre o Ativo (ROA) para se entender se é mais vantajoso
para os bancos, em relação aos riscos inerentes, aplicar com recursos próprios ou com
capital de terceiros para que se tenha uma maior rentabilidade.
34
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, André Pino da Silva. Avaliação da recente expansão do crédito no
Brasil: boom ou crescimento sustentável?. FEA-USP. Departamento de Economia.
São Paulo. Ano: 2012.
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Contabilidade. Estudo ANEFAC – Análide de dez anos do crédito no país – Edição 2013.
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7. ANEXOS
7.1 Estatísticas descritivas no software Stata base.
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7.2 Teste de Causalidade de Granger – Banco BNDES
7.2.1 Teste de Causalidade de Granger – Banco do Brasil
7.2.2 Teste de Causalidade de Granger – Banco Itaú
7.2.3 Teste de Causalidade de Granger – Caixa Econômica Federal
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7.2.4 Teste de Causalidade de Granger – Banco Bradesco
7.2.5 Teste de Causalidade de Granger – Banco Santander
7.2.6 Teste de Causalidade de Granger – Banco HSBC
7.2.7 Teste de Causalidade de Granger – Banco Safra
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7.2.8 Teste de Causalidade de Granger – BTG Pactual
7.9 Teste de Causalidade de Granger – Banco Citibank