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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS INSTITUTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS APLICADAS CIÊNCIAS ECONÔMICAS COM ÊNFASE EM CONTROLADORIA GABRIEL DE CASTRO KATO INDUSTRIALIZAÇÃO LATINO AMERICANA: IMPORTÂNCIA DOS BANCOS PÚBLI- COS DE DESENVOLVIMENTO VARGINHA 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS APLICADAS

CIÊNCIAS ECONÔMICAS COM ÊNFASE EM CONTROLADORIA

GABRIEL DE CASTRO KATO

INDUSTRIALIZAÇÃO LATINO AMERICANA: IMPORTÂNCIA DOS BANCOS PÚBLI-

COS DE DESENVOLVIMENTO

VARGINHA

2015

2

GABRIEL DE CASTRO KATO

INDUSTRIALIZAÇÃO LATINO AMERICANA: IMPORTÂNCIA DOS BANCOS PÚBLI-

COS DE DESENVOLVIMENTO

Trabalho apresentado como parte dos

requisitos para a obtenção do título de

Bacharel em Economia com Ênfase em

Controladoria pelo Instituto de Ciências

Sociais Aplicadas da Universidade

Federal de Alfenas.

Orientador: Prof. Doutor Michel Delibe-

rali Marson

VARGINHA

2015

3

“Assim como para a astronomia a dificuldade da admissão do

movimento da Terra consistia em ter de renunciar à sensação do

movimento dos planetas, também para a história a dificuldade

da admissão da subordinação da personalidade às leis do espaço,

do tempo e das causas consiste em ter de renunciar ao senti-

mento imediato da independência da própria personalidade. ”

(Guerra e Paz, Liev Tolstói)

4

Agradecimentos

Na realização deste trabalho, que em determinados momentos duvidei da concretização, teve

muita importância o apoio de meu orientador Michel Deliberali Marson, principalmente com sua

disposição em me auxiliar mesmo com adversidades. Seus conselhos foram determinantes para os

rumos que foram tomados neste trabalho. Agradeço à experiência vivida na Unifal, à qual certamente

foi determinante na minha formação pessoal e profissional. Aos professores, que contribuíram bas-

tante neste processo.

Agradeço à minha companheira Josiane pelas conversas e companheirismo. E aos meus pais

e familiares pelo apoio.

5

Resumo

O processo de industrialização latino-americano se deu de forma diferente da industrialização dos

países centrais. Partindo de tal pressuposto analisamos variáveis como, a participação estatal, o

financiamento e a relação com o setor exportador (até então o setor “dinâmico” da economia) neste

processo de industrialização. Neste trabalho é realizada a análise do processo de industrialização

latino-americano bem com a importância dos bancos públicos de desenvolvimento na evolução deste

processo na Argentina, Brasil e México. A análise da atuação dos bancos está vinculada à sua atuação

como agente do processo de industrialização, por isso, de maneira geral, abrange o período de seus

surgimentos até a limitação de suas atuações devido ao agravamento dos problemas de endividamento

externo dos países. Como técnica de pesquisa nos valeremos da pesquisa bibliográfica. Concluímos

que os bancos de desenvolvimento não lograram sucesso em seu objetivo de superação do

subdesenvolvimento via financiamento do processo de industrialização devido à persistência de

determinações exógenas sobre as economias latino-americanas.

Palavras-chave: Industrialização; América Latina; Bancos Públicos de Desenvolvimento

6

Sumário

1. Introdução ................................................................................................................................... 7

2. O desenvolvimento da indústria na América Latina .............................................................. 7

4. O Banco de Crédito Industrial Argentino (BCIA) e o desenvolvimento argentino ............... 17

4.1. O desenvolvimento industrial na Argentina ............................................................... 17

4.2. O Banco de Crédito Industrial Argentino (BCIA) e a industrialização Argentina . 24

5. O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDE) e o desenvolvimento brasileiro

............................................................................................................................................................ 30

5.1 O desenvolvimento industrial no Brasil ....................................................................... 31

5.2 O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDE) e a industrialização

brasileira ............................................................................................................................... 36

6. A Nacional Financeira (Nafinsa) e o desenvolvimento industrial no México ......................... 42

6.1 O desenvolvimento industrial no México ..................................................................... 42

6.2 A Nafinsa e a industrialização mexicana ...................................................................... 46

7. Considerações Finais.................................................................................................................... 50

8. Referências Bibliográficas ........................................................................................................... 52

7

1. Introdução

Convencionou-se, na literatura econômica, a associação do processo de industrialização

latino-americano à década de 1930. Tal fato decorre da importância adquirida por este setor uma vez

comprometidas as rendas do setor exportador pela Grande Depressão. Neste trabalho tentaremos

analisar o surgimento do processo de industrialização na América Latina, bem como a importância

dos Bancos Públicos de Investimento neste processo. Em nossa análise focaremos o processo de

industrialização argentino, brasileiro e mexicano, bem como a importância dos bancos públicos de

desenvolvimento destes países nestes processos de industrialização.

Para análise da importância dos bancos públicos de desenvolvimentos nos estudos dos casos

da industrialização argentino, brasileiro e mexicano, revisaremos a trajetória dos bancos nestes países.

Realizando também uma revisão bibliográfica sobre o processo de industrialização em cada um

desses país. A participação do Estado, em consonância com as proposições da Comissão Econômica

para América Latina e Caribe, no aprofundamento da Industrialização Substitutiva de Importações

também será abordada marginalmente em nossa análise.

Ao longo de nosso estudo tentaremos elucidar alguns dilemas ainda existentes no que tange

ao tema da industrialização latino-americana. Abordaremos a discussão sobre os “choques externos”,

o financiamento do processo de industrialização, o papel cumprido pelo Estado e a questão da

influência das variáveis exógenas ao processo. Consideramos tais economias como historicamente

atrasadas, nos termos de Gerschenkron (1962), tendo importância a análise da atuação das variáveis

que atuam nestes processos de industrializações tardios.

Tendo, então, como objetivos a discussão sobre o processo de industrialização latino-

americano e a importância dos bancos públicos de desenvolvimento neste processo no Brasil, na

Argentina e no México, este trabalho divide-se em quatro etapas. Na primeira, é feita a análise do

processo de industrialização latino-americana e a relação desse processo com fatores exógenos

determinantes. A segunda etapa elucida o processo de industrialização argentino e a importância do

Banco de Crédito Industrial Argentino. Posteriormente estudaremos o caso da industrialização

brasileira e a importância do Banco Nacional de Desenvolvimento neste contexto. Na quarta e última

etapa, abordaremos o caso da industrialização mexicana e a importância da Nacional Financeira. Por

fim, apresentaremos nossas considerações finais sobre o tema.

2. O desenvolvimento da indústria na América Latina

É difícil datar com precisão o surgimento da indústria na América Latina. As evidências

quantitativas disponíveis indicam para existência de um setor industrial desde meados da segunda

metade do século XIX. De acordo com tais evidências, porém, pode-se deduzir que estas indústrias

8

cresceram num ritmo modesto até 1890. As rendas per capitas eram muito baixas e os mercados eram

demasiadamente isolados pelos altos custos dos transportes, impedindo um maior desenvolvimento

das indústrias (HABER, 2008). Essas primeiras indústrias, conforme evidenciam as pesquisas

recentes, surgiram e se desenvolveram em função do setor exportador, seja atendendo as demandas

por insumos ou atendendo a demanda interna incipiente, fruto da nova organização social do trabalho

que começava a se disseminar e a consequente distribuição das rendas do setor exportador.

No Brasil, a crise do Encilhamento, no final do século XIX, e a consequente escassez de liquidez

impulsionaram o desenvolvimento dessas indústrias instaladas até o momento. Na América Latina

como um todo, o cenário do final do século XIX foi marcado escassez de divisas internacionais, dada

a crise do modelo de acumulação colonial, tornando mais vantajoso produzir internamente bens

anteriormente importados. Os desequilíbrios na demanda por bens primários, gerados pela crise no

mercado internacional, evidenciavam as falhas do modelo de desenvolvimento adotado até aquele

momento, a saber, um desenvolvimento sustentado exclusivamente pela exportação de bens primários

e alinhado com a divisão internacional do trabalho de tipo ricardiana. Neste período, como

comprovaram os posteriores estudos de Raúl Prebisch, a América Latina começava a sofrer com a

deterioração de seus termos de troca devido ao papel cumprido nesta divisão internacional do trabalho

(PREBISCH, 1949).

O surgimento da indústria se deu no seio deste modelo de desenvolvimento orientado para as

exportações de bens primários na maioria dos países América Latina. O gérmen industrial advém das

rendas do setor agrário-exportador. Victor Bulmer-Thomas (2009) relata que as exportações geravam

fortes crescimentos nos setores não exportadores. Já no início do século XX, alguns países latino-

americanos, como o Brasil, o México, a Argentina e o Chile, atendiam elevada proporção da demanda

nacional por meio da produção interna.

Quando, na Europa, em 2 de agosto de 1914, irrompeu a Primeira Guerra Mundial, este modelo

sustentado pelas exportações de bens primários viu-se em cheque. Assim que foi instaurada a

economia de guerra nos países centrais, foram reduzidos os embarques marítimos de mercadorias da

América Latina que, somados à escassez de crédito, desestruturaram a oferta dos bens primários.

Mesmo assim, a queda na demanda foi ainda mais brusca, desencadeando uma queda dos preços e,

consequentemente, das rendas das exportações como um todo (BULMER-THOMAS, 2009).

Alguns países recuperaram-se rapidamente dessa situação, ainda apoiados principalmente nas

exportações de matérias-primas estratégicas (como o petróleo no México, o cobre no Peru, o estanho

na Bolívia e nitratos no Chile). Já os países exportadores de matérias-primas que neste período não

eram consideradas tão “estratégicas” não tiveram a mesma sorte, tal qual o Brasil. Dependente das

exportações de café, mesmo tentando conter, via investimentos públicos, a desvalorização do seu

9

produto, viu as suas relações de trocas caírem 50% entre 1914 e 1918, mesmo mantendo o volume

das exportações (BULMER-THOMAS, 2009).

No período em que as economias desenvolvidas estavam voltadas para a guerra e no imediato

pós-guerra, quando se concentravam na reconstrução dos estragos causados, a industrialização latino-

americana encontrava ambiente propício para seu desenvolvimento. Entretanto, ainda não era

dinâmica e independente o suficiente para sustentar a sua evolução de forma autônoma, dado que se

mostrava ainda fortemente dependente das rendas do setor de exportações para realização de novos

investimentos e também para viabilização das importações de bens de capital necessários à tal

expansão.

Ao término da guerra, a readoção do padrão-ouro em 1925, sistema que regulava o comércio

internacional antes da guerra e operava na redução dos desequilíbrios das reservas no sistema de

comércio internacional liberal inglês, acabou por se fortalecer os desequilíbrios que viriam a resultar

na Grande Depressão, uma vez que tal sistema não se adaptava adequadamente às medidas

protecionistas adotadas pelos países no período Entre Guerras. Tais desequilíbrios podiam ser

percebidos nos países da América Latina ainda antes da Crise de 1929, na forma de instabilidade nos

mercados internacionais. Após um breve período de desenvolvimento, pós-Primeira Guerra Mundial,

a industrialização latino-americana tinha pela frente a grande provação de sustentar o crescimento da

renda nestes países, dada a brusca interrupção dos fluxos estrangeiros de renda. Com a quebra da

Bolsa de Nova Iorque, em 24 de outubro de 1929, estavam completamente comprometidas as

economias latino-americanas, no curto prazo ao menos, pois ainda dependiam da estabilidade dos

mercados de commodities e a indústria instalada ainda não se mostrava capaz de sustentar o

crescimento da renda. (BULMER-THOMAS, 2009)

Foi com o comprometimento das rendas e da estabilidade do setor agrário-exportador que a

maioria dos países latino-americanos passou a orientar-se para um desenvolvimento baseado na

Industrialização por Substituição de Importações. Essa mudança na base do desenvolvimento, a saber

a passagem de um desenvolvimento sustentado pelo setor agrário-exportador para um

desenvolvimento sustentado na produção de manufaturas para o mercado interno, ficou conhecida na

literatura econômica como a “mudança do eixo dinâmico das economias latino-americanas”, termo

consagrado por Celso Furtado em Formação Econômica do Brasil (2007, [1959]), por Raúl Prebisch

e pelos estudos da CEPAL.

Os preços das exportações latino-americanas vinham sofrendo quedas constantes em seus

valores desde finais do século XIX – conforme evidenciado pelos estudos de Prebisch e da CEPAL

sobre a deterioração dos termos de troca –, com o colapso da crise e a contração dos mercados norte-

americano e europeu, preços e volumes de exportação despencaram. Para citar um exemplo, Haber

10

(2008) diz que, no México, o ganho com as exportações em 1932 representava apenas um terço do

que representava em 1928. No Chile que sofreu ainda mais, em 1932 as rendas geradas pelas

exportações eram um sexto das rendas geradas no ano de 1929.

Com a queda no desempenho do setor exportador, a indústria teve seu desenvolvimento

limitado drasticamente de imediato. Ainda com base no exemplo mexicano, Haber (2008) afirma que

no curto prazo, o colapso das exportações causou uma contração dramática do setor manufatureiro.

O autor cita a estimativa de Caderna onde é evidenciado que o total da produção industrial no México

decaiu 31 por cento de 1929 a 1932. Pouco mais além, estende sua análise aos casos brasileiro e

chileno, onde os níveis de produção manufaturada caíram 7% e 22% respectivamente, no mesmo

período.

De imediato, com a crise das economias desenvolvidas, as indústrias latino-americanas

sofreram quedas em suas atividades. Ainda na década de 1930, essa indústria se mostra intimamente

dependente do desempenho do setor exportador para a viabilização de sua existência e

desenvolvimento.

No médio prazo, porém, a crise de 1930 criava condições que pareciam favoráveis à

industrialização. Durante a Grande Depressão foi abandonando o padrão-ouro. Neste contexto de

comprometimento das rendas do setor exportador, tal medida possibilitava a atuação dos governos à

nível local, mesmo que as custas do agravamento das condições externas. As desvalorizações

cambiais, resultantes desta desindexação da economia, acabaram por privilegiar o desenvolvimento

industrial por meio da proteção aos produtos nacionais e, também, por favorecer o setor exportador

por meio da elevação da competitividade dos produtos da pauta de exportação. (HABER, 2008)

Apesar dos efeitos negativos imediatos da crise de 1929, a Grande Depressão representou um

“choque externo” às economias latino-americanas. Passados os efeitos imediatos da crise, a economia

industrial latino-americana voltou a se desenvolver. Porém, essa expansão da atividade industrial,

como mostrado por Suzigan (2000) na tabela I, para o Brasil, estava baseada na utilização da

capacidade ociosa instalada anteriormente à década de 1930. Não houve um crescimento real das

importações de bens de capital ou bens intermediários. Haber diz que os dados argentinos mostram

um resultado similar. Em 1935, 78% do produto industrial argentino era produzido em fábricas

fundadas antes de 1930 (HABER, 2008).

11

Tabela I: Importações brasileiras de maquinaria industrial, 1900-1939. (a) (Real,1913, £ sterling)

Ano Máquinas têxteis Index 1913 = 100% Total de máquinas industriais Index 1913 = 100%

1900 126.743 22% 535.963 19%

1901 96.266 17% 410.308 14%

1902 170.822 30% 509.999 18%

1903 175.434 30% 582.390 20%

1904 222.508 39% 738.712 26%

1905 161.262 28% 891.185 31%

1906 201.017 35% 1.136.843 40%

1907 405.519 70% 1.591.120 56%

1908 421.303 73% 1.457.111 51%

1909 388.217 67% 1.476.458 52%

1910 423.990 73% 1.733.234 61%

1911 503.017 87% 2.222.300 78%

1912 667.605 116% 2.963.600 104%

1913 577.919 100% 2.857.718 100%

1914 172.874 30% 1.157.885 41%

1915 100.684 17% 337.491 12%

1916 113.612 20% 375.121 13%

1917 102.091 18% 487.195 17%

1918 122.520 21% 424.971 15%

1919 140.964 24% 794.953 28%

1920 131.674 23% 1.271.030 44%

1921 385.041 67% 1.607.563 56%

1922 583.579 101% 1.453.184 51%

1923 439.932 76% 1.322.218 46%

1924 634.953 110% 1.939.346 68%

1925 1.039.711 180% 2.609.991 91%

1926 638.609 111% 2.167.597 76%

1927 546.863 95% 2.144.788 75%

1928 517.749 90% 2.281.960 80%

1929 408.474 71% 2.863.740 100%

1930 215.078 37% 1.605.285 56%

1931 208.576 36% 703.717 25%

1932 246.965 43% 777.451 27%

1933 355.360 61% 1.242.563 43%

1934 435.122 75% 1.543.216 54%

1935 536.892 93% 1.929.352 68%

1936 605.101 105% 1.925.418 67%

1937 709.731 123% 2.412.365 84%

1938 811.770 140% 2.836.861 99%

1939 507.433 88% 2.428.693 85%

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De acordo com a teoria cepalina, a década de 1930 foi o marco do desenvolvimento industrial

na América Latina. Haber (2008), com base nos dados de importações de bens de capital afirma que

as evidências contradizem esta tese. Além da capacidade produtiva ter sido instalada anteriormente à

1930, o modelo de negócios adotado pelas firmas domésticas também era herança da década anterior.

A diferença era que, aliado à depreciação da taxa de câmbio, os empresários nacionais passavam a

cobrar os governos a adoção de medidas protecionistas.

Durante a década de 1930, as economias latino-americanas viram suas reservas internacionais

secarem. Com os preços de seus bens de exportações em queda, e os constantes déficits no balanço

de pagamentos não mais compensados por entradas de capitais, uma vez interrompido o fluxo pela

depressão, era inevitável a evasão das reservas nacionais. Os governos precisavam encontrar uma

maneira de estancar a hemorragia de seus Balanços de Pagamentos, pressionados ainda mais pelas

importações. As tarifas e as restrições à importação pareciam instrumentos ideais para atingir tais

objetivos. Para Haber (2008), a década de 1930 tem como resultados, na economia latino-americana

“proteção tarifária, sistemas de taxas múltiplas de câmbio, restrições quantitativas às importações,

bancos de desenvolvimento geridos pelos governos, empresas paraestatais, e um estilo de

desenvolvimento industrial voltado para dentro, tecnologicamente atrasado e ineficiente” (HABER,

2008, p. 562).

Segundo Vitor Bulmer-Thomas (2009), a recuperação da Depressão foi relativamente rápida

na América Latina. Iniciando-se em 1931/1932, para maioria dos países, sendo que no restante da

década de 1930 todas as repúblicas sobre as quais se têm dados tiveram crescimento positivo e

superaram o pico do PIB real anterior à Depressão, fato que não se verificou na maioria das economias

desenvolvidas. Nem todos os países da América Latina adotaram a Industrialização por Substituição

de Importações para superar a crise, e mesmo entre os que a adotaram, a recuperação não dependeu

exclusivamente desse novo modelo de desenvolvimento. Em grande medida, também, a recuperação

dependeu da própria recuperação nos mercados internacionais.

No geral, e em comparação com as economias europeia e norte-americana, as economias

latino-americanas se recuperaram rapidamente da Grande Depressão. Mais do que isso, a recuperação

do setor exportador contribuiu para retomada do crescimento econômico, que a partir de 1932, já

Notas: a) Exportações de maquinarias da Grã Bretanha, os Estados Unidos, França e Alemanha para o

Brasil, valorizadas em reais.

1) Inclui máquinas têxteis, bem como geradores, motores elétricos, máquinas de metal, máquinas de

madeira, máquinas para fabricação de sapatos, moinhos de açucar, equipamentos para processamento

do açucar, refrigeradores, máquinas para fermentação, máquinas de escrever, peças e outras maquina-

rias industrias não especificadas por tipos.

Fonte: Wilson Suzigan, Indústria brasileira: Origem e Desenvolvimento (São Paulo, 1986), 360-4.

13

apresentava índices positivos e recuperação da capacidade de importar. Porém, a década de 1930 foi

marcada pelas tarifas e políticas protecionistas por parte dos países desenvolvidos, que tentavam se

recuperar da crise. Tanto o setor exportador quanto as manufaturas até então importadas estavam em

constante risco, foi nesse contexto que o setor industrial latino-americano se desenvolveu amplamente.

Para Victor Bulmer-Thomas (2009) a elevação dos preços relativos das exportações, que viria

a resultar na recuperação da região, somada aos muitos casos de controle cambial, forneceu excelentes

condições as indústrias anteriormente instaladas ou em instalação nos países latino-americanos. Os

países que já tinham consolidadas suas indústrias tiveram ainda mais vantagens, uma vez recuperado

o nível de demanda interna eles não precisavam de novos investimentos para satisfazê-la e retomar o

crescimento industrial.

A década de 1940 foi marcada pela II Grande Guerra. Próximo do que ocorreu ao longo da I

Grande Guerra, a II Guerra Mundial afetou a indústria latino-americana de duas maneiras. Primeiro

no que se refere à proteção com relação aos concorrentes externos, que eram varridos do mercado

nacional em períodos de Guerra. Segundo, com relação à dificuldade da obtenção de novos

investimentos, bens de capitais e bens intermediários.

Durante a I Grande Guerra, essa restrição ao acesso de bens de capital parece ter estrangulado

o crescimento industrial no período. Agora a situação era outra, os países da América Latina tinham

uma capacidade industrial bem maior. Além disso, já vinham-se instalando indústrias de bens de

capital, mesmo que modestas, a exemplo dos casos brasileiro e argentino, que tiveram algum

desenvolvimento destas indústrias ao longo da década de 1920. (HABER, 2008)

A possibilidade de expansão da produção utilizando plantas industriais instaladas nas décadas

anteriores determinou o resultado da indústria ao longo desse período, que, diferentemente do

ocorrido durante a I Guerra Mundial, foi satisfatório. A década de 1940, além da II Guerra Mundial,

foi marcada, na América Latina, pela ascensão de governos “populistas” ao poder. Líderes como

Getúlio Vargas, Juan Perón e Lazaro Cárdenas acenderam ao poder por um processo político de

consolidação das coalizões entre as classes industriais e operárias. Tais coalizões defendiam as

barreiras tarifárias, segundo Haber (2008, p. 572), “ambos os grupos viam em seus interesses defender

as barreiras tarifárias que garantiam a eles trabalhos estáveis, lucros estáveis e (para os líderes

sindicais) um estável fluxo de privilégios de suas posições e grupos.” A então existente tarifa

protecionista ganhava agora justificativa intelectual e econômica, com as reduções das reservas

internacionais e as pressões dos industriais e operários, por defesas efetivas às condições adquiridas.

No âmbito internacional, o período imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, mais do

que marcado pela retomada do padrão câmbio-ouro, vinculado ao dólar, conforme estipulado pelo

tratado de Bretton Woods, pela fundação do Fundo Monetário Internacional (FMI) ou pela criação da

14

Organização das Nações Unidas, foi marcado pelo despontar dos Estados Unidos como principal

potência mundial. De acordo com Bulmer-Thomas (2008, p. 91) “os Estados Unidos possuíam a

metade da frota mundial de navios (em comparação com apenas quatorze por cento em 1939) e

forneciam um terço das exportações mundiais, ao passo que absorviam apenas um décimo das

importações mundiais”.

Essa nova configuração do sistema internacional de comércio fazia com que os Estados

Unidos, em tendo um alto índice de exportações e uma baixa participação das importações no

atendimento de sua demanda interna, retivessem divisas, gerando desequilíbrios no comércio

internacional e uma consequente escassez de liquidez internacional.

Esse novo contexto do comércio internacional, no tocante a América Latina, foi

principalmente caracterizado pela escassez de financiamentos externos públicos. Com a nova

potência mundial voltada para reconstrução da Europa e para seus problemas internos, não sobrava

espaço em sua pauta internacional para um plano de desenvolvimento da América Latina. Mesmo

com a fundação da Comissão Econômica para América Latina e Caribe, esse período foi marcado em

todos os países latino-americanos pela dificuldade em equilibrar o Balanço de Pagamentos, causada

em parte pela dificuldade de obtenção de recursos externos, mas também pela queda nos ganhos do

setor exportado e as pressões das importações sobre a balança comercial.

Os governos latino-americanos se confrontavam com um problema crônico em seus Balanços

de Pagamentos no período pós II Guerra. Suas exportações tinham os termos de troca desvalorizados

e, além disso, não conseguiam capitais estrangeiros para contrabalancear a queda nos valores de suas

exportações. Haber (2008, p. 573) expõe o problema relacionado aos déficits do Balanço de

Pagamentos, concluindo que o resultado foi a necessidade, por parte dos governos latino-americanos,

de adotar medidas para aumentar as exportações ou reduzir as importações. Dados os custos políticos

associados a cada opção, os governos tenderam a escolher pela última. Para se gerar um aumento nas

exportações é necessária a adoção de medidas politicamente impopulares de desvalorização da moeda

e a alteração leva tempo para se consolidar. Porém, para reduzir as importações requer-se apenas a

instituição de uma tarifa, podendo produzir efeitos da noite para o dia.

O período foi de rápida expansão industrial, porém essa expansão era impulsionada pelas

barreiras tarifárias. As economias latino-americanas produziam agora localmente grande parte do que

antes era importado. O produto industrial crescia, porém não indicava ganhos de competitividade das

indústrias latino-americanas, mas pelo contrário, sua dependência destas condições protecionistas

provava em partes sua ineficiência.

O crescimento da indústria latino-americana após a década de 1940 é, segundo Haber (2008),

fortemente marcado pela presença constante de proteções tarifárias. Outra importante constatação do

15

autor é que o desenvolvimento industrial agora era puxado por um grande crescimento no setor de

produção de bens de consumo duráveis, tais como eletrodomésticos e, principalmente, carros; além

da evolução dos setores da construção civil, com a expansão das grandes cidades. Isso demonstra a

mudança no caráter da industrialização latino-americana, anteriormente concentrada na produção de

bens de consumo.

Sobre o assunto, Haber (2008) afirma que as tarifas representavam distorções que favoreciam

as manufaturas em relação aos outros setores econômicos. Essas distorções - tarifas, restrições

quantitativas, taxas múltiplas de câmbio - geravam não intencionais e perversas consequências. Os

governos tendiam a responder a essas perversas consequências com outra rodada de políticas,

acabando por provocar outras não intencionadas e perversas consequências.1 Por exemplo, ao longo

do tempo, o protecionismo latino-americano piorou a situação dos déficits no Balanço de Pagamentos

dos países, sendo que seu objetivo inicial era solucioná-los. No curto prazo a política teve efeitos

positivos, porém,

Ninguém havia pensado, apesar de tudo, sobre as consequências do crescimento da indústria de bens de

consumo no contexto de sociedades historicamente com poucos investimentos em educação e baixo

progresso social na produção de bens capital. Logo se tornou óbvio que a maioria dos bens de capital -

e em muitas indústrias, uma grande parte dos bens intermediários - haveriam de ser importados. No

médio e longo prazo, isto criou, perversamente, tremendas pressões sobre o balanço de pagamentos.

(HABER, 2008, p. 578)

A solução tomada para esse problema era a adoção de ainda mais proteção, agora nos setores

de bens intermediários e de capital. Somado a tudo isso, o protecionismo intensificou a entrada de

empresas estrangeiras no país, uma vez que, assim, elas poderiam “burlar” as barreiras tarifárias. Esse

processo que se iniciou em 1920 estava com força total na década de 1950. Os investimentos

estrangeiros concorriam, então, localmente com investimentos nacionais em busca de retornos

garantidos pelas proteções tarifárias. Essa concorrência tendeu a expulsar produtores nacionais de

setores específicos, devido às facilidades de seus concorrentes estrangeiros na obtenção de bens de

capital e empréstimos no exterior. Sendo assim, por volta de 1950, como consequência indireta da

proteção tarifária, o mercado latino-americano encontrava-se dividido entre empresas nacionais e

estrangeiras. Enquanto os concorrentes multinacionais tendiam a dominar completamente linhas

particulares de manufaturas (automóveis, equipamentos de escritório, eletrodomésticos e

farmacêuticos) eram quase inexistentes em outros setores (têxteis, vestuários, bens em couro, aço,

cimento, vidro, e bens para construção) (HABER, 2008).

1 Entende-se que esta é uma visão liberal acerca das políticas protecionistas. Para grande parte dos autores que

pensavam a América Latina tais proteções eram necessárias para superar a condição de atraso econômico histórico.

16

Além disso, tais distorções das sinalizações do mercado acabavam por forçar os países da

América Latina a operar com tecnologias industriais desenhadas para os amplos e agitados mercados,

tais como os da Europa Ocidental e os Estados Unidos. Entretanto, “os mercados latino-americanos

tendiam a ser, apesar de tudo, pequenos e calmos. Isso significava que as companhias manufatureiras

latino-americanas - inclusive as companhias multinacionais – seriam produtores ineficientes. ”

(HABER, 2008, p. 580). Assim, as indústrias latino-americanas eram levadas a ter de escolher entre

trabalhar com máquinas depreciadas ou com capacidade produtiva ociosa. Em ambos os casos, a

indústria perderia eficiência devido as condições do restrito mercado que atendia. A última escolha,

a utilização de capacidade ociosa, ainda implicava na necessidade de uma estrutura de mercado

oligopolista/monopolista para viabilização, levando, no final, ao consumidor, os custos a serem pagos.

Desse período data também a consolidação e ampliação dos sistemas bancários latino-

americanos. Auxiliados pela criação dos bancos estatais de desenvolvimento, que visava dar suporte

ao processo de industrialização, uma vez que este vinha sofrendo com a escassez de fontes de

financiamentos desde seu surgimento. O primeiro foi o mexicano Nacional Financeira (1934),

posteriormente foi fundado o argentino Banco de Crédito Industrial (1944) e, finalmente, o brasileiro

Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (1952) (BULMER-THOMAS, 2009).

A América Latina parecia ter, nos anos pós Segunda Guerra Mundial, confirmado sua nova

orientação para um desenvolvimento econômico regido pela expansão industrial e voltado ao

atendimento da demanda local, em vez de se basear principalmente na exportação de bens primários.

Mesmo que ainda intimamente dependente do setor exportador, seja no tocante à geração de divisas,

na absorção da mão de obra excedente ou até mesmo, em última instância, no barateamento dos bens

que compunham o salário, esse novo modelo de desenvolvimento tentava minorar as consequências

da dependência externa para o desenvolvimento econômico da América Latina, buscava uma maior

dinamicidade da economia brasileira frente as, até então recorrentes, oscilações do comércio

internacional.

Após a Segunda Guerra Mundial, a Industrialização por Substituição de Importações passou

a ser defendida tanto ideológica quanto politicamente, e sendo assim, desenvolveu-se o conceito de

Processo de Industrialização por Substituição de Importações. Neste processo, as indústrias que

surgiam não eram mais fruto de um desenvolvimento autônomo da classe burguesa local influenciado

por políticas governamentais, mas sim uma ferramenta de política econômica. As empresas passavam

a ser criadas e geridas pela iniciativa pública. A industrialização foi levada à cabo pelo próprio Estado

naqueles setores onde os capitais nacionais ou estrangeiros não tinham interesse de investir, setores

estratégicos, mas que, por exemplo, exigem altos investimentos e incertezas quanto ao retorno

referente à tais investimentos. Mais à frente veremos como se comportaram as economias Argentina,

17

Brasileira e Mexicana nesse período, bem como os méritos e deméritos deste processo de

industrialização. Faremos também uma análise do papel desempenhado pelos bancos de

desenvolvimento neste contexto.

4. O Banco de Crédito Industrial Argentino (BCIA) e o desenvolvimento argentino

4.1. O desenvolvimento industrial na Argentina

Convencionou-se, na historiografia argentina, em se tratando do desenvolvimento industrial,

a analisar a industrialização em “fases”. Esta análise resulta da identificação de diferentes modelos

de crescimento, onde, em cada momento, diferentes ramos industriais se mostravam como motores

dinâmicos do crescimento, diferia a origem dos capitais investidos, variava o grau de abertura externa,

entre outras oscilações. Os estudos nessa área foram amplamente aprofundados por A. Ferrer (1963),

A. Dorfman (1983), J. Katz (1989).2

Porém, anterior ao entendimento do processo de industrialização da Argentina é necessária a

compreensão do processo de desenvolvimento que conduziu a economia deste país até a

industrialização como forma viável de desenvolvimento econômico. Aldo Ferrer (1963) inicia a

análise da economia argentina, numa perspectiva de longo prazo, pela etapa denominada de

“economias regionais de subsistência”, uma etapa caracterizada pelo baixo nível de renda e

produtividade em que essas economias mostravam-se alheias ao processo de ampliação dos mercados

internacionais. Segundo o autor, este período abrangeria os séculos XVI, XVII e XVIII. Entre o final

do século XVIII até cerca de 1860, se dá a “etapa de transição”, que é marcada pela ascensão da

economia pecuária e por uma maior integração à economia mundial. Com a independência, em 1810,

o porto de Buenos Aires se tornará o pólo de comércio exterior. A terceira etapa é definida como

“economia primária exportadora”, que se inicia em torno de 1860 e será substituída em 1930 pela

fase da “industrialização não concluída” (FERRER, 2004).

É a partir desta terceira etapa que será feita nossa análise, pois foi nela se deu o surgimento

do desenvolvimento industrial argentino. Foi no ventre da economia agrário-exportadora que as

indústrias encontraram ambiente propício para seu desenvolvimento, mesmo que em pequena escala.

Como já foi dito, esta etapa é marcada pela incorporação da Argentina no comércio internacional em

expansão e por uma crescente importância dos setores de pecuária e agricultura na economia argentina.

Cabe destacar que a Argentina era o país mais bem integrado à economia internacional na América

Latina neste período. Segundo Bulmer-Thomas (2009), em 1913 as rendas adquiridas pelas

exportações argentinas foram de U$ 510 milhões, enquanto U$ 315 milhões para as exportações

brasileiras. Neste mesmo ano, a renda per capitas era de 537 dólares na Argentina e 125 dólares no

2Para mais, ver: J. Katz, B. Kosacoff “El proceso de industrialización en Argentina; evolución, retroceso y prospectiva”,

Capítulos IV e V, CEPAL, 1989.

18

Brasil.

Este modelo de desenvolvimento, adotado pelos países latino-americanos até então, como já

foi dito, dependia fortemente do livre acesso aos mercados mundiais de commodities para operar. A

argentina era a que melhor se beneficiava deste modelo, também sofria fortemente com suas crises.

Com a guerra que se sucedeu na Europa em 1914, foram destruídos os sistemas internacionais de

comércio existentes até então. Bulmer-Thomas diz que a primeira baixa da Grande Guerra foi o

padrão-ouro e o movimento de capitais.

A conversibilidade da moeda foi suspensa pelos países beligerantes; as novas saídas de capital foram

canceladas e o balanço das instituições financeiras da Europa passou a estear-se nos empréstimos

antigos. Algumas repúblicas latino-americanas, sumamente dependentes do mercado europeu no tocante

ao financiamento de seu balanço de pagamentos, como Argentina e Brasil, viram-se em sérias

dificuldades quando os bancos europeus exigiram o pagamento dos empréstimos, o que acabou por

provocar crise financeira interna. (BULMER-THOMAS, 2009, pág. 21)

Ao final da guerra foram feitos numerosos esforços para a reconstrução do sistema vigente

até então, porém o equilíbrio internacional não era mais a preocupação central do principal pólo

financeiro emergente, os Estados Unidos.

Apesar do impulso a favor da industrialização gerado pela guerra, devido a extinção dos

concorrentes estrangeiros do mercado e do comprometimento das rendas do setor exportador, a

recuperação da recessão nas economias latino-americanas e principalmente na Argentina esteve

ligado à recuperação do setor exportador. Bulmer-Thomas (2009) cita que a Argentina tinha como

principal importador a Grã-Bretanha, e que esta continuou fortemente dependente da importação de

carne e grãos ao longo da guerra. Além disso, o autor destaca também que ao final da década de 1920,

nações como a Argentina e o Chile já tinham alcançado tamanho desenvolvimento industrial que o

setor começara a adquirir dinamismo próprio, apesar de ainda não serem os motores do

desenvolvimento em suas nações.

Porém ao final da década de 1920 todas as nações latino-americanas continuavam fortemente

dependentes do setor exportador, e mesmo nos países onde havia um maior grau de diversificação,

como na Argentina, os três principais produtos de exportações representavam mais de cinquenta por

cento da pauta de exportações. Casos como o brasileiro, boliviano, colombiano, cubano e muitos

outros representavam bem a vulnerabilidade às variações dos mercados mundiais das economias

latino-americanas. Nestes países apenas um produto era responsável por mais de cinquenta por cento

das receitas com comércio exterior.

A Argentina era, até então, sem dúvidas a economia latino-americana mais desenvolvida.

Apresentando um produto interno bruto (PIB) per capta duas vezes maior que o da região e quatro

vezes maior que o brasileiro. Porém, mesmo assim, não conseguira escapar das reduções nos ganhos

das exportações e dos consequentes decréscimos das importações e das receitas governamentais,

19

suscitando cortes nos gastos públicos e redução da demanda interna. (BULMER-THOMAS, 2009)

Em 1929, com a crise de Wall Street e, posteriormente, durante a depressão que assolou a

década seguinte, o sistema de comércio internacional que vinha evoluindo de maneira rápida e

desordenada foi suprimido. A recessão reduziu drasticamente os níveis de comércio internacional.

Tanto o preço das exportações quanto o volume destas se reduziram drasticamente no período.

Bulmer-Thomas (2009) calcula que a Argentina sofreu uma queda de quarenta por cento no poder de

compra de suas exportações, em 1932 com relação à 1928, antes da crise.

Somado à redução no volume do comércio internacional, os países latino-americanos sofreram

fortemente com a redução do fluxo de capitais internacionais. Bulmer-Thomas (2009) calcula que,

devido ao aumento dos encargos reais da dívida externa, era preciso destinar uma parcela cada vez

maior das rendas das exportações, já em declínio, para o pagamento dos juros da dívida. A Argentina,

em 1929, reservou para o pagamento da dívida 91,2 milhões de pesos dos 2168 milhões recebidos

com as exportações, num total de 42%. Em 1932, as rendas das exportações reduziram-se para 1288

milhões de pesos, ao passo que os encargos da dívida externa continuaram em 93,6 milhões,

representando agora 72% do total das rendas provenientes das exportações. (FERRER, 2004)

O ajuste da economia argentina passou pelo abandono do padrão-ouro, fato que ocorreu,

inclusive, antes da interrupção de venda de ouro pelo governo britânico. Essa suspensão do padrão-

ouro e a adoção de meios de controle cambial estabeleceu uma separação entre os ajustes internos e

externos, de maneira que haviam decorrentes déficits orçamentários financiados via crescimento da

dívida e, no mercado interno, a atuação do governo de maneira a garantir a atividade econômica.

Aldo Ferrer (2004), ao iniciar sua análise sobre a etapa que se inicia na década de 1930, a

intitulada “industrialização não concluída”, descreve o cenário internacional desta época ressaltando

a queda no movimento internacional de capitais.

A contração do comércio internacional, a redução da poupança nos países exportadores de capital, a

dificuldade dos países devedores para pagar o serviço dos capitais estrangeiros neles radicado e as con-

dições gerais de insegurança contraíram a corrente internacional de capitais. Não apenas cessou o fluxo

tradicional, mas em vez disso ocorreu também que os países exportadores de capital começaram a re-

cuperar parte dos investimentos radicados no exterior, provocando uma inversão de sentido da corrente

internacional de capitais. Deste modo, a França, o Reino Unido e os Estados Unidos, que entre 1928 e

1930 haviam exportado 3.300 milhões de dólares em capitais de curto e longo prazo, em 1931 e 1932

importaram 1.589 milhões. (A. FERRER, 2004, pág. 120)

Países, que já sofriam fortemente com a crise dado sua condição de dependente, tinham de

arcar com grande parte dos custos da crise em seus centros. Concomitantemente a este impacto da

depressão sobre as economias periféricas, acentuaram-se tendências que vinham se verificando desde

o começo do século. A saber, a deterioração dos termos de trocas.

É, a partir de então, que se desenha, de acordo com o autor, uma nova divisão internacional

do trabalho. Nesta nova ordem não caberia mais aos países latino-americanos a posição de meros

20

produtores de bens primários, teria de ser adotado um novo modelo de desenvolvimento. A composi-

ção do comércio internacional registrou nitidamente essas tais tendências,

entre 1928 e 1955-57 as exportações mundiais de produtos primários (exclusive o petróleo)

aumentaram em 14%, mas as de manufaturas cresceram 103%. Entre 1960 e 1970 as exporta-

ções mundiais de manufaturas aumentarem em 199% e as de produtos primários em 88%. Par-

ticularmente lento foi o aumento das exportações de produtos agropecuários, com 61%. (FER-

RER, 2004, p. 127).

Foi assim que a divisão tradicional do trabalho alterou seus termos e o antigo modelo expor-

tador deixou de constituir um caminho viável para o desenvolvimento das relações econômicas entre

a Argentina e as economias centrais. O novo sistema elevou o nível do intercâmbio de manufaturas,

tecnologia e capitais entre os países industrialmente avançados e, desde 1945, vem regendo o pro-

cesso de integração da economia internacional. Exigia-se a adoção de medidas compensatórias por

parte dos países prejudicados, como a argentina, e a industrialização parecia o caminho mais indicado

(FERRER,2004).

A decisão mais inteligente para os países da periferia era a absorção de parte dos ganhos dessa

nova divisão internacional do trabalho via industrialização. A Argentina e muitos outros países da

américa-latina, como o Brasil e o Chile, tiveram na década de trinta o marco divisor entre o desen-

volvimento econômico apoiado nas exportações de bens primários para um desenvolvimento econô-

mico apoiado na industrialização, mesmo que “fechado e parcial”.3

Já na década de 1920 a Argentina apresentava um parque industrial amplo, porém ainda muito

ligado às demandas do setor exportador. Stephen Haber (2008) relata que, de acordo com dados de

1914, em alguns países latino-americanos, tais como a Argentina, Brasil o México e o Chile, já havia

uma ampla base industrial instalada convivendo com o modelo de desenvolvimento baseado nas ex-

portações de bens primários. Tais indústrias se concentravam principalmente na produção de bens de

consumo não duráveis, apesar de haverem relatos de casos de indústrias que avançaram para a pro-

dução de bens intermediários e até de capital.

Os dados da tabela 2, de Paul Lewis sobre o crescimento da indústria Argentina evidenciam

algumas tendências comuns aos países que se industrializavam neste período. Primeiro, em 1913, na

Argentina, haviam 47.343 estabelecimentos industriais instalados, empregando 363.771 trabalhado-

res. Em 1935, período posterior do qual se despõe dados, haviam 37.362 estabelecimentos, ou seja,

uma redução de quase um quarto no número de estabelecimentos, empregando 437.816 trabalhadores,

uma taxa de crescimento na ocupação, ao longo de 22 anos, menor do que o crescimento que se deu

nos dois anos posteriores a 1935, quando a Argentina se recuperava da depressão e já empregava

539.525 trabalhadores no setor industrial em 45.263 estabelecimentos. Podemos concluir então que

3Temo utilizado por M. Tavares em "Auge e declínio do processo de substituição de importações no Brasil" 1972,

Zahar, Rio de Janeiro.

21

a indústria cresceu num ritmo moderado no período entre a primeira guerra e a recuperação da de-

pressão. Porém, os dados também deixam claro que neste período houve um enorme aumento na

capacidade produtiva instalada (medida em cavalos de potência), sinalizando um intenso investi-

mento de capital no setor. A taxa de Cavalos-de-Potência/Trabalhadores em 1913 era de 0,7 e em

1935 já registravam uma taxa de 2,3 H.P./L, nível que se manteve até a década de 50.

Outra característica que podemos identificar é a mudança no padrão da indústria na Argentina

anterior a 1930 e as indústria posterior a década de 1930. Em 1913, como evidencia a tabela, a média

de trabalhadores por firmas era de apenas 7,5 e a maioria das firmas eram de propriedade local. Já na

década de 1950, a maioria das firmas já se integravam a multinacionais e empregavam uma média de

12,7 trabalhadores por estabelecimento. (HABER,2008)

Na década de 1930, como podemos perceber pela tabela II de Lewis, o crescimento industrial

na Argentina, assim como constatado por Suzigan (2000) para o Brasil, se deu apoiado na utilização

de capacidade ociosa anteriormente instalada. A instalação e expansão da indústria se deram apoiadas

nos ganhos do setor exportador, sua viabilidade e sua participação na produção e ocupação nacional

é que se expandiram posteriormente à década de 1930.

Porém, mesmo com esse aumento do setor industrial no período, Ferrer relata que “Entre 1933

e 1939 o produto bruto interno aumentou em 23%. Essa expansão se apoiou fundamentalmente em

um incremento das exportações e do consumo interno, já que o investimento fixo declinou nesse

período” (FERRER, 2004, p. 149). Ferrer (2004) calcula que os investimentos caíram em 16% na

década de 1930, em comparação com a década anterior. A escassez de divisas gerou forte redução das

Tabela II: O crescimento da indústria Argentina, 1895-1974.

Ano Número de esta-

belecimentos

Número de tra-

balhadores

Cavalos de potên-

cia instalados

Trabalhadores

por estabeleci-

mento

Cavalos de po-

tência por traba-

lhador

1895 24.114 174.782 30.033 7,2 0,2

1913 47.343 363.771 237.817 7,7 0,7

1935 37.362 437.816 1.026.086 11,7 2,3

1937 45.263 539.525 1.190.493 11,9 2,2

1939 49.100 581.599 1.423.872 11,8 2,4

1941 52.445 684.497 1.645.041 13,1 2,4

1943 59.765 820.470 1.836.453 13,7 2,2

1946 84.905 1.058.673 2.076.531 12,5 2,0

1950 81.599 1.035.765 2.661.922 12,7 2,6

1954 148.371 1.217.844 3.570.037 8,2 2,9

1964 190.892 1.370.483 5.115.913 7,2 3,7

1974 126.388 1.525.221 6.753.375 12,1 4,4

Fonte: Paul Lewis, The Crisis of Argentine Capitalism (Chapel Hill, NC, 1990), 36, 37, 299, apud

Haber (2008) pág. 546.

22

importações de maquinaria e equipamentos, estes eram as principais fontes de abastecimento desse

tipo de bens de capital. Dado o contexto de crise, durante a década de 1929 a 1939 o volume das

importações em geral reduziu-se de quase 30% (FERRER, 2004).

A mudança do paradigma ideológico dominante, que ocorreu na década de 1930, com a deca-

dência da crença na eficiência do liberalismo econômico e a crescente utilização da intervenção esta-

tal para o ajuste dos desequilíbrios de mercado, explicava ideologicamente a atuação de governos

ditos populistas na América Latina. O estado deveria intervir na economia de maneira a garantir o

pleno emprego e a demanda agregada. Esta posição, que ganhava embasamento teórico, aliava-se as

constatações das constantes deteriorações nos termos de trocas delimitando como melhor caminho

para atuação estatal a intervenção a favor da industrialização, dando origem ao estado “desenvolvi-

mentista”.

No período posterior à depressão de 1930 a Argentina teve um bom desempenho se comparado

às economias centrais, com um forte crescimento do setor industrial e da produção para o mercado

interno. Porém a recuperação nacional, como relata Bulmer-Thomas (2009), foi inferior a desempe-

nhada por outros países da região, como o Brasil, o México, o Chile, o Peru ou a Venezuela, que

conseguiram um aumento de 50% do Produto Interno Bruto entre os anos da depressão (1931/32) e

1939. A Argentina conseguiu um aumento superior a 20%, porém inferior à 50% no seu Produto

Interno Bruto no período. O autor ainda relata que, apesar da relativa recuperação do setor exportador

na Argentina, que foi fundamental para recuperação do país no período pós-depressão, a recuperação

se deu principalmente apoiada na Industrialização por Substituição de Importações. Destaca-se que a

participação do setor exportador no PIB da economia Argentina caiu de 29,8%, em 1928, para 15,7%,

em 1938. Este dado se torna ainda mais contundente quando analisada também a redução das impor-

tações, ou seja, a soma da participação do setor externo na economia Argentina (exportações somadas

às importações) caiu de 59,7% do PIB para 35,7% (BULMER-THOMAS, 2009).

Esta queda na participação do setor exportador na economia causava um comprometimento

das divisas internacionais. Foi assim que este novo padrão de desenvolvimento adotado começou a

atingir seus limites. Os aumentos de produção e o atendimento do mercado interno requeriam cada

vez mais importações de bens de capitais e deterioravam, assim, o Balanço de Pagamentos argentino.

Este “gargalo” da industrialização substitutiva de importações foi aprofundado fortemente

pela Segunda Guerra Mundial, como relata Ferrer (p. 2004):

Os anos da guerra tiveram efeito contraditório sobre o desenvolvimento da economia argentina. Por um

lado, ao restringir severamente as importações, proporcionaram novos estímulos à substituição de im-

portações. Porém, ao mesmo tempo, dificultaram gravemente o processo de capitalização, ao suspender

as importações de maquinaria e equipamento que eram indispensáveis para a expansão da capacidade

instalada na indústria e sua diversificação. Entre 1938 e 1945, o estoque de capital em maquinaria e

equipamento caiu em cerca de 30%. Em consequência desses fatores o crescimento da economia durante

o conflito foi muito lento. Entre 1939 e 1945 o produto bruto interno cresceu em 13%, contra 23% nos

23

seis anos anteriores, e o produto do setor manufatureiro aumentou em 27%, contra 43% em 1933-1939. (FERRER, 2004, p. 150)

Ao mesmo tempo em que se estimulava a intensificação da industrialização substitutiva de

importações se impedia, via impossibilidade de aquisição de insumos e bens de capital, a evolução

do mesmo processo. Em 1943 o presidente Castillo sofreu o golpe de estado que viria a culminar na

ditadura Peronista. Este novo governo assumiu claramente a defesa da intensificação do Processo de

Industrialização por Substituição de Importações como maneira de tentar solucionar estes gargalos.

Stephen Haber (2008), em “The Political Economy of Industrialization”, ressalta que na Ar-

gentina, de 1931 a 1946, houve um grande aumento no número de firmas, mas que, entretanto, não

foi acompanhado de um aumento proporcional no produto ou na capacidade produtiva. Evidenciando

o fato de grande parte dos investimentos serem provenientes, ainda, das décadas anteriores à 1930.

Apesar de todas as evidências da necessidade da intensificação do processo que tomava rumos,

com o benefício da análise pós-factual, Bulmer-Thomas relata que as relações de trocas, a partir de

1946, apresentaram fortes e constantes apreciações com relação aos termos de trocas base, fixado no

ano de 1939. Com base neste argumento, ele critica a política do governo peronista, visto que esta se

baseava na industrialização via extração de excedentes dos produtores de carne e trigo. Tal política

era efetuada via entidade estatal criada para promoção da industrialização, o Instituto Argentino para

la Promoción del Intercambio (IAPI). O autor relata ainda que houve casos onde os exportadores

eram pagos por apenas metade dos preços internacionais (BULMER-THOMAS, 2009).

Tais atitudes não ocorreram por acaso. O problema da inconversibilidade da moeda proveni-

ente das exportações argentinas, visto que exportavam produtos similares aos produzidos pelos prin-

cipais exportadores das tecnologias e capitais necessitados, aliado ao problema da escassa oferta de

capital internacional, destinados agora à reconstrução dos países afetados pela Guerra, fazia necessá-

ria a intervenção do governo em defesa da coalização que o sustentava no poder.

Aldo Ferrer (2004) relata que este forte desincentivo ao setor exportador foi responsável pela

crise do regime peronista. Em 1950 os indicadores macroeconômicos já se mostravam fortemente

abalados. A política econômica adotada gerava fortes pressões sobre o balanço de pagamentos. De

acordo com os dados, os saldos de exportações e importações caíram para um terço do valor em 4

anos, além disso, as reservas internacionais reduziram-se a aproximadamente um décimo nestes mes-

mos quatro anos, com um forte aumento da dívida externa.

O governo peronista adotou medidas de abertura da economia para superar seus problemas

internos e tentar sustentar-se junto a sua base no poder. Neste período, a argentina atingiu um elevado

nível de comércio com outros países da América Latina, nível tal que só foi superado com o estabe-

lecimento da Associação Latino Americana de Livre Comércio, além de adquirir substanciais novas

24

linhas de crédito junto aos Estados Unidos e até aprovou uma lei aumentando os limites de remessas

de lucros ao exterior (FERRER, 2004).

Para Bulmer-Thomas (2009), 1955 foi o ano de maior instabilidade nos mercados internacio-

nais para a Argentina. Sendo que, foram justamente esses desequilíbrios que culminaram na queda

do regime peronista. Após a queda de Perón, tentou-se ainda reverter as consequências da distribuição

forçada das rendas nacionais, porém o país já se mostrava muito dependente do setor interno e as

pressões sobre o balanço de pagamentos continuavam devido à alta dependência de matérias-primas

e bens de produção importados deste setor. Segundo Ferrer (2004), no período houve uma distribuição

de renda favorável à classe dominante, que, por sua vez, não se refletiu em novos investimentos.

O problema dos déficits passou a ser enfrentado de forma diferente no governo Frondizi, por

meio de investimentos nas indústrias de base. Neste período a indústria teve um desempenho satisfa-

tório. Ferrer (2004) diz que esse desempenho era fruto dos investimentos realizados pelo governo na

indústria de base aliado à liberação das importações de maquinaria e equipamento, resultando numa

rápida modernização do conjunto da atividade produtiva, especialmente na indústria manufatureira.

O volume físico do investimento bruto subiu 76% em 1962, se comparado a 1959.

Neste período, podemos delimitar uma intensificação da Industrialização Substitutiva de Im-

portações (ISI) para um Processo de Substituição de Importações (PSI), quando a pauta de importa-

ções dos países latino-americanos começa a deixar de ser composta principalmente por bens de con-

sumo para uma composição mais voltada para a industrialização nacional. Nesta parte da análise se

busca identificar o surgimento e a consolidação das indústrias nos determinados países. Para tal, abor-

daremos até esse ponto de convergência, onde a indústria já se mostra consolidada nos países e até

demanda uma alteração no padrão das importações.

4.2. O Banco de Crédito Industrial Argentino (BCIA) e a industrialização Argentina

Em 1944 foi criado na Argentina o Banco de Crédito Industrial Argentino (BICA). Em 1952

seu nome foi redefinido para Banco Industrial da República Argentina (BIRA) e, em 1970, para Banco

Nacional de Desenvolvimento (BANADE), tendo suas atividades encerradas em 1990.

Segundo Rougier (2011), tratava-se de uma instituição estatal destinada a fomentar o cresci-

mento das empresas industriais e a impulsionar as estratégias de desenvolvimento desenhadas nos

moldes do modelo de industrialização por substituição de importações na Argentina.

O autor divide a atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento em quatro fases, sendo estas

determinadas pelos delineamentos gerais de sua política creditícia. O primeiro período abarca os

governos peronistas, caracterizado principalmente pela estratégia definida pelas autoridades

25

econômicas de impulsionar o setor manufatureiro. O segundo período, que se inicia em 1955 e

culmina em 1966, se caracteriza pela alteração da orientação da política de industrialização gerida

pelo governo, então voltada ao desenvolvimento das indústrias de base e ao aprofundamento do

modelo de industrialização por substituição de importações. A “Revolução Argentina” inicia a terceira

etapa que durará até o golpe de estado em 1976. O período partir de 1976 é caracterizado por uma

política econômica que delega à indústria um papel secundário, podendo ser considerado um período

de rompimento com o modelo de ISI. Em termos de política industrial o período pode ser

caracterizado pela consolidação de grandes projetos industriais destinados a intensificar a produção

nacional de bens intermediários e insumos industriais, na tentativa de compensar os efeitos causados

na indústria pela opção da política econômica. A última fase da entidade é caracterizada pelo apoio a

poucos e grandes projetos industriais e pela utilização do banco como instrumento de canalização dos

fundos estrangeiros e endividamento externo. Apesar de algumas tentativas de reformulação

institucional, o período culmina com a liquidação do banco em 1992.

Até a década de 1940 a indústria argentina carecia de fontes financiamento, ainda mais

considerando-se suas necessidades específicas como financiamentos diferenciados para pequenas

empresas, financiamentos de grandes projetos com longos prazos, etc. Com a Segunda Guerra

Mundial tornava-se ainda mais difícil o acesso às fontes de recursos necessárias. Neste período foram

despendidos numerosos esforços por parte da consolidação de um mecanismo para atender tais

demandas do setor industrial. Dessa necessidade, por meio de decreto do poder executivo argentino

foi criado o Banco de Crédito Industrial Argentino (BCIA), com o objetivo de dotar a economia de

capital circulante e financiar investimentos destinados ao setor industrial argentino, papel até então

cumprido pelo Banco Central da República Argentina (BCRA) e os bancos comerciais. (ROUGIER,

2011)

Em seu projeto inicial o banco pretendia ser uma ferramenta de apoio ao setor industrial,

alinhado a uma política industrial e econômica vigente no período. Dentre as disposições iniciais

sobre a atuação do banco estava previsto o não recebimento de depósitos à vista, por considerar a

instituição como dedicada ao provimento de créditos a longo prazo que deveriam ser obtidos junto ao

mercado de capitais e não por meio de depósitos à vista (ROUGIER, 2011).

O banco foi constituído por um presidente designado pelo Poder Executivo e dez diretores

representantes: um do Ministério da Fazenda, um do Ministério da Agricultura, um do Ministério da

Guerra, um do Ministério da Marinha, um do Banco da Nação Argentina, um do BCRA e três da

União Industrial Argentina, proposto pelas entidades designadas e designados pelo Executivo.

Após o início das atividades, já em 1945 o banco tinha alterado muito a sua política creditícia,

devido as necessidades encontradas junto ao setor industrial. Estendeu-se a gama das operações de

26

crédito do banco, autorizaram-se operações de curto prazo e receber depósitos bancários de origem

industrial. Além dessas alterações, em atendimento as demandas do setor industrial, identificaram-se

problemáticas relacionadas à capacidade das pequenas empresas nacionais de cumprirem com as

exigências comprobatórias para acesso ao crédito.

Nos meses que antecedem a acessão peronista, o regime monetário e bancário argentino foram

modificados bruscamente. O objetivo era garantir que o sistema financeiro se responsabilizasse pelo

apoio necessário a consolidação da industrialização e ao oferecimento de um alto nível de ocupação.

Tal política se mostrava em linha com os delineamentos ideológicos do período, uma crescente

intervenção do estado na estrutura socioeconômica.

Em 1949, devido à crise gerada pelos desequilíbrios nas contas externas argentinas, as

entidades governamentais argentinas optaram pela substituição de uma estratégia de “planejamento

expansivo da indústria” para uma tentativa de “sã consolidação” da indústria nacional. Na prática, o

período foi marcado pela consolidação de uma carteira fixa de clientes, orientada principalmente ao

abastecimento de dinheiro para evolução normal de seus negócios. Em 1954 se dispôs que as

solicitações de crédito para investimentos industriais se responsabilizassem pela maior parte possível

dos fundos. O final do período foi marcado fortemente pela limitação da capacidade da instituição de

financiar projetos de investimentos produtivos e pela constante necessidade de complementações

estrangeiras para realização de inversões industriais propriamente ditas.

Nas palavras de Rougier (2011) o banco consolidou sua atuação neste período na concessão

de créditos ao “setor industrial”, apesar de não especificamente “créditos industriais”. Apesar da

dificuldade na obtenção de dados, o autor calcula que o Banco chegou a ser responsável pela

concessão de 90% do total de créditos outorgados à indústria em 1950, porcentual que descende à 50%

em 1955 com a reforma do sistema monetário argentino (ROUGIER, 2011).

Em 1955, com a queda do governo peronista encerra-se a primeira etapa de atuação do banco.

Como resultados temos diversas alterações no caráter da instituição. A começar pela revogação da

decisão do banco trabalhar apenas com empréstimos de longo prazo, a partir da alteração de sua carta

orgânica no primeiro ano das atividades, já em 1945. O financiamento da evolução corrente dos

negócios do setor industrial se tornou o principal papel cumprido pelo banco. Em suma, no período

o banco se caracterizou pela adoção de um perfil “comercial”, sendo que, durante todo o período, os

empréstimos a longo prazo e destinado aos investimentos no setor manufatureiro não superaram a

monta de 10% do total dos financiamentos realizados. (ROUGIER, 2011)

A partir de 1955 se inicia a segunda etapa da atividade do banco. Apesar das duras críticas às

instituições criadas no período anterior, o BCIA foi uma dessas poucas instituições a continuar

funcionando na Argentina. Nem todas as instituições criadas no período para incentivo da

27

industrialização substitutiva de importações tiveram a mesma sorte. Foram fechadas diversas

instituições, como o IAPI, o Instituto Misto de Inversões Mobiliárias ou a Direção Nacional de

Indústrias do Estado.

Seguindo a nova perspectiva, de acordo com os delineamentos traçados pelos estudos da

Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL) realizados no período, identificava-se

a necessidade de impulsionar as atividades básicas como meio de garantir o aprofundamento da

industrialização substitutiva de importações. Os estudos de Prebisch (1949) indicavam para

necessidade, no período, de transformar o BCIA em um verdadeiro banco de desenvolvimento e

fomento, destinado aos investimentos industriais. Seria com base em tais delineamentos que se

pautaria a atividade da entidade nesta segunda etapa.

Com a alteração da carta orgânica da entidade, em 1957, foi autorizada a obtenção de recursos

estrangeiros pelo banco e a participação deste no capital das empresas. Tais alterações, em linhas

gerais, incentivavam que a instituição se concentrasse na realização de empréstimos a longo prazo e

para realização de investimentos industriais produtivos. Dentre as novas disposições estava também

a proibição expressa das operações de curto prazo, tal como se havia tentado estipular quando da sua

criação, 13 anos antes. Mais uma vez tal medida teve de ser suplantada pouco depois, visando o

atendimento das necessidades do setor industrial argentino (ROUGIER, 2011).

O principal direcionamento da política creditícia do banco no período se tornou, então, o foco

no atendimento das demandas creditícias do setor industrial. Principalmente quando do incentivo ao

desenvolvimento de indústrias exportadoras ou substitutivas de importações, dadas as pressões

recorrentes no Balanço de Pagamentos argentino no período.

Ao longo deste período o banco sofreu com a redução de suas reservas, e já em 1959 não

podia mais atender as demandas do setor industrial. Tal escassez de recursos na entidade obrigou-a a

reestruturar sua política creditícia e pela primeira vez, forçada pela escassez monetária, a entidade

atuou disciplinadamente na concessão de créditos para inversões produtivas. Além da escassez de

recursos, a atuação do banco junto ao setor externo, por meio da obtenção de financiamentos

funcionou também como instrumento disciplinador da atividade do banco no período, uma vez que

para obtenção de tais recursos o banco deveria cumprir com os requisitos estabelecidos pela entidade

financiadora.

O aumento na capitação de recursos externos e a escassez de recursos próprios do banco

atuaram como reguladores da atuação do banco, propiciando uma alocação eficiente dos recursos, em

linha com os delineamentos propostos para atuação do banco. Para se ter noção da amplitude atingida

por tal processo podemos analisar a importância crescente dos financiamentos externos na geração

de recursos pelo banco. Em 1960 os empréstimos estrangeiros representavam a metade dos passivos

28

da entidade, e a participação do banco na concessão de créditos ao setor industrial se reduz a apenas

25% do total. Em meados da década de 1960, dada a conjuntura crítica, o BCIA constituiu uma série

instrumentos para atuação junto as empresas nacionais fragilizadas, conforme determinação do Banco

Central da República Argentina. Foram realizadas operações de redesconto emergencial e

empréstimos extraordinários de curto prazo. (ROUGIER, 2011)

Nos anos posteriores, a partir da metade da década de 1960, foram amenizados os problemas

financeiros da instituição, aportes foram realizados pelo BCRA na monta de 50% de suas

disponibilidades, além de uma recuperação na geração de recursos próprios. Tal alteração permitiu a

ampliação da atividade creditícia destinada a realização de investimentos produtivos. O Plan

Nacional de Desarrollo delimitava as áreas da indústria que mereciam prioridade. Como resultado, o

final deste período foi marcado pelo direcionamento dos investimentos à áreas específicas como a

produção de maquinarias, metais e aparatos elétricos.

Essa segunda etapa foi marcada pela constante tentativa de direcionamento das linhas de

crédito do banco para realização de inversões em ativos fixos. Apesar de tais direcionamentos, as

variáveis exógenas obrigaram o banco a desviar-se de seu trajeto. Com auge no ano de 1961, a crise

fez com que o banco destinasse 90% de seus recursos para linhas de crédito destinadas a evolução

corrente dos negócios das firmas. Como consequência, a participação do BIRA no financiamento

creditício ao setor industrial argentino caiu fortemente, Rougier (2011) calcula que tal participação

se manteve num nível de 15% no período.

Ao final do período, apesar dos delineamentos iniciais, o banco não foi capaz de cumprir a

função de entidade promotora do desenvolvimento industrial. Mesmo assim, houveram ocasiões em

que ele se provou um importante aliado da atividade industrial, como nos anos de 1959 e 1962, onde

mediante intermediação financeira com fontes estrangeiras foram realizados importantes aportes de

capital destinados ao reequipamento do pátio industrial nacional. No final do período o banco estava

atuando de maneira a tentar relegar os empréstimos de curto prazo e destinados a evolução normal

dos negócios das firmas aos bancos comerciais, na tentativa de concentrar seus recursos no

financiamento dos investimentos a médio e longo prazos. Como missão futura da entidade coloca-se

o desafio de tornar-se em um banco totalmente destinado ao Fomento e Desenvolvimento.

A partir de 1966 a atuação do banco voltou-se para o financiamento de grandes projetos de

investimentos, em ramos da economia considerados estratégicos. Eram realizados financiamentos

principalmente para viabilização de obras de infraestrutura e instalação de polos dinâmicos de

industrialização. Após a crise da década de 1960 os agentes econômicos argentinos conscientizaram-

se das implicações perversas impostas pelo financiamento das atividades do banco baseado na

obtenção de recursos externos. Sendo assim, o período a partir de 1966 foi marcado pela constante

29

busca por fontes internas para o financiamento da atividade industrial. Tal tentativa de internalização

do financiamento industrial exigia o fortalecimento das instituições financeiras destinadas a

concessão de créditos para realização de investimentos produtivos. O BIRA seria o responsável pela

viabilização de tal canalização de recursos. O banco, até então, tinha cumprido um papel secundário

enquanto promotor do desenvolvimento. A partir de 1966, o BIRA tornara-se instrumento chave para

viabilização de tal desenvolvimento. (ROUGIER,2011)

Foram implementadas diversas medidas e reformas no final da década, que aliadas a

constituição do BENADE deixam clara a intencionalidade governamental de reposicionar a entidade

como instrumento chave da política de desenvolvimento industrial. Caberia ao banco a

responsabilidade de mobilização de recursos nacionais para realização dos investimentos em obras

de infraestrutura e para a constituição dos polos industriais propostos.

Segundo Rougier (2011), esse papel do banco foi parcialmente cumprido no período de 1966

a 1976. Principalmente no triênio que vai de 1967-1969, quando a estabilização econômica permitia

uma designação eficiente dos recursos do banco, a instituição tendeu a promover o dinamismo e os

investimentos no setor industrial, abandonando as características dos bancos privados, principalmente

no que tange aos prazos dos empréstimos concedidos.

A reorganização administrativa e a ampliação da gama de objetivos do BND na primeira parte

da década de 1970 aumentaram os desafios e também as potencialidades da instituição. Porém, sua

política creditícia sofreu fortemente com as alterações na política econômica derivadas do

aprofundamento das tensões sociais resultantes do regime militar instaurado em 1966.

De acordo com Rougier (2011), apesar dos avanços do período, a política creditícia do BND

não evidência uma orientação específica para o desenvolvimento, nem pelo incentivo às indústrias

exportadoras nem às indústrias de base, conforme estipulado pelos delineamentos de política

econômica formulados. De qualquer maneira, foram realizados importantes investimentos nas áreas

petroquímica e de produção de matérias primas (ferro, alumínio, celulose e papel, entre outros). Tais

investimentos tinham o apelo de atender uma demanda anteriormente suprida por produtos

estrangeiros. Dentre as alterações ocorridas no período destaca-se a constituição de um bloco de poder

do empresariado nacional argentino.

Neste período, após as alterações sofridas pela entidade, a principal atuação do banco tornou-

se o financiamento das obras públicas e dos investimentos em infraestrutura (rodoviária, energética,

hidráulica, etc.). Na sua maioria tais investimentos estavam vinculados a consolidação dos grandes

projetos de criação de “polos de desenvolvimento”. A partir da década de 1970 o banco atuou também

no financiamento das empresas públicas estatais, principalmente naquelas consideradas de interesse

nacional, além de diversos organismos e repartições públicas.

30

A análise empreendida por Rougier (2011) ressalta ainda que, apesar das melhoras

institucionais do período, a atuação do BND foi fortemente limitada por interesses políticos. A

concessão de certos regimes especiais de créditos, definidos por setores e regiões de atividade das

indústrias, não se mostrou necessariamente a melhor maneira de incentivar o desenvolvimento

nacional. O autor questiona o fato das empresas industriais propriamente ditas terem obtido montas

de créditos menores que as empresas manufatureiras e de serviços, sendo que a atividade industrial

majoritariamente apoiada foi a produção de alimentos e bebidas, deixando de lado aquelas

estabelecidas como prioritárias no Plan Trienal.

A partir de 1976, com o golpe militar na Argentina, foram substituídas as autoridades

econômicas e os delineamentos gerais da política econômica argentina. Diagnósticos publicados

pelos novos funcionários do banco defendiam que a instituição havia se desvirtuado de seus objetivos.

Em 1977 foi elaborada uma nova carta orgânica para o banco, onde se definia o objetivo de recuperar

a capacidade do banco de atuar como instrumento de desenvolvimento econômico, por meio da

orientação de sua política creditícia ao financiamento a médio e longo prazos.

As constantes alterações na carta orgânica da entidade evidenciam a dificuldade desta em

atingir os objetivos delimitados para sua atuação. Em mais de uma oportunidade o banco se provou

incapaz de promover os objetivos delimitados, não passando estes de objetivos. A potencialidade da

instituição continuava a ser defendida pelos agentes econômicos, bem como sua importância. Porém,

a mudança na política econômica introduzida a partir da década de 1990, que propunha o fim da

intervenção estatal e do paradigma keynesiano, levou ao comprometimento da atuação do banco, que

teve suas atividades encerradas 1992.

Neste período, dos anos que se seguiram à intervenção militar ao encerramento das operações

da entidade, sua atuação se reduziu fortemente. Os poucos recursos restantes se destinavam a

viabilização de investimentos em ativos fixos, que só então passaram a compor a maior parte da

carteira do banco. Outra característica é a redução da participação das pequenas e médias empresas

na carteira do banco. Enquanto em 1983 só se outorgaram créditos a 33 empresas deste tipo, as 18

maiores empresas absorviam 50% dos recursos do banco.

Por fim, com o agravamento da crise da dívida externa nos países latino-americanos, em

meados da década de 1980 o banco já demonstrava ter perdido quase toda sua capacidade de

promoção do desenvolvimento. A maioria de seus empréstimos encontrava-se em situação de atraso

e a instituição se constituiu como a entidade bancária de maior dívida externa da argentina, vindo a

ser liquidado em 1992, com uma carteira de cuja quase 50% referiam-se a dívida de apenas uma

empresa.

5. O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDE) e o desenvolvimento brasileiro

31

5.1 O desenvolvimento industrial no Brasil

Assim como nos outros países da América Latina que se empenhavam nas exportações de

matérias primas, no Brasil a indústria surgiu como complemento a este setor responsável pela geração

da riqueza nacional. Implementaram-se primeiramente indústrias de bens de consumo não duráveis e

que visavam atender às necessidades das importações. Foram estas, segundo Haber, as cervejarias,

indústrias têxteis e de couro, chapelarias, fábricas de celulose, vidrarias. (HABER, 2008)

Os investimentos industriais foram proibidos no Brasil de 1795 a 1808, só voltando a serem

permitidos com a vinda da corte para a colônia. Mesmo após a liberação, as condições ainda eram

muito desfavoráveis dados os acordos de comércio firmados com a Grã-Bretanha. Tais acordos des-

favoreceram fortemente os investimentos industrias até 1844. Foi só em 1860 que o desenvolvimento

industrial tomou forma no Brasil. A expansão monetária resultante das despesas com guerra do Para-

guai, além de incentivar o investimento industrial, acabou por exigir do governo a adoção de medidas

anti-inflacionárias que resultaram na criação de barreiras aduaneiras. (SUZIGAN, 2000)

Estas indústrias se desenvolveram lentamente e em função do setor exportador, só atingindo

maior autonomia nas últimas duas décadas do século XIX, após a consolidação da malha ferroviária

que escoaria a produção do café nacional, provando sua dependência. Apesar deste desenvolvimento,

Haber (2008) alerta para o relativo atraso no desenvolvimento de indústrias chaves como a de aço e

de cimento, que só viriam a se desenvolver a partir de finais da década de 1910. E que, em compen-

sação, já se desenvolviam indústrias de bens intermediários (como a juta nacionalmente produzida

que embalava as exportações de café), além da produção de bens de capital como navios e maquina-

rias, ainda em pequenas escalas.

Essa indústria local que se instalava e se provou amplamente dependente do setor exportador

foi favorecida amplamente pelo bom desempenho do setor exportador no período, resultando em uma

rápida evolução da indústria nacional. O México tinha, em 1890, uma indústria têxtil pequena se

comparada a da Argentina, ainda assim ela representava duas vezes a indústria têxtil brasileira. Em

1905 a indústria têxtil brasileira já era a maior da América Latina. Já em 1914 produtos têxteis es-

trangeiros tinham sido varridos do mercado pelos produtores nacionais de tecidos, só restando impor-

tações de tecidos finos. (HABER, 2008)

Para Suzigan (2000), o período de 1880 a 1895 foi importante no que se refere à expansão nos

investimentos da indústria de transformação. As rendas geradas no setor exportador, a expansão da

malha ferroviária nacional e o aumento da imigração impulsionaram fortemente o desenvolvimento

industrial. Em 1912/13 o investimento industrial atingia seu mais elevado nível em todo o período

anterior a 1939. A combinação entre proteção aduaneira e valorização da taxa real de câmbio, dado o

contexto de crescimento econômico, resultou numa ampla expansão dos investimentos industriais.

32

Como foi dito anteriormente, a I Guerra Mundial impactou de maneira ambígua nestes países

em processo de industrialização. Suzigan (2000) calcula que o nível de importações de maquinarias

e equipamentos durante os anos de 1915 e 1916 foi reduzido a apenas 12% do nível de 1913. Repre-

sentando em 1918 apenas 18%, ainda, do nível de 1913. Essa queda no investimento foi resultado da

economia de guerra instaurada nos países centrais, principais exportadores de bens de capital para o

atendimento da demanda nacional, e das consequentes quedas nas rendas do setor exportador e au-

mentos dos preços dos bens de capital importados. Apesar de todos esses problemas, a Guerra repre-

sentava também um incentivo à industrialização. Seguindo em sua análise, Suzigan (2000) destaca

novos investimentos para produção de matérias primas anteriormente importada (Carbonato de cálcio,

anilinas, e produtos de metais). Ocorreram, também, investimentos em setores que visavam atender

as demandas geradas pela guerra, seja no atendimento dos países que se focavam agora na guerra ou

nas demandas insatisfeitas devido a este direcionamento das economias para a guerra. Apesar de tudo,

o desempenho da indústria no período não foi satisfatório se comparado aos anos anteriores, ou ao

“auge da economia exportadora”, que viria nos anos seguintes.

Após a recuperação da estabilidade internacional, uma vez finda a Guerra em 1919, a econo-

mia brasileira voltou a crescer. Em termos de Produto Interno Bruto (PIB), na década que se inicia

em 1919, o crescimento atingiu uma média de 7,3% a.a. A condição favorável provinha ainda, prin-

cipalmente, do setor exportador e as flutuações na taxa de câmbio. A crise da economia cafeeira do

final da década e as consequentes políticas de valorização do café acabavam por depreciar a taxa de

câmbio nacional, tornando os bens importados mais caros e os bens nacionais mais competitivos. A

despeito da redução da atividade econômica nacional nos finais da década, a economia industrial

continuou a ampliar seus investimentos até 1929. (SUZIGAN, 2000)

Segundo Bulmer-Thomas (2009), na década de 1930, o Brasil não teve o melhor nem o pior

desempenho da América Latina. Ele calcula que as reduções nos volumes das exportações ficaram

em torno de 25%, porém esta queda no volume foi acompanhada de uma redução nos preços, acarre-

tando numa forte redução do nível de renda nacional. O pior de tudo era a manutenção das taxas de

juros fixas sobre as dívidas externas destes países, neste cenário de redução das rendas. Tais encargos

sobre as dívidas exigiam uma parcela cada vez mais significativa do valor total das exportações, já

em declínio, para sua satisfação.

A capacidade de atuação do governo, visando a minimização destes efeitos negativos, foi for-

temente reduzida pela drástica queda nas arrecadações até então provenientes, principalmente, dos

impostos sobre as importações. Aliado a isto, a escassez de empréstimos estrangeiros acabou por

dificultar fortemente a atuação governamental frente ao cenário de crise.

Apesar de todas as dificuldades enfrentadas e da queda nos índices econômicos, o Brasil, ao

33

longo da Grande Depressão, recuperou-se consideravelmente mais rápido que o restante dos países

afetados pela. As políticas de valorização do café e o aumento favorável nos preços do açúcar nacional

foram decisivos na retomada do ritmo de crescimento brasileiro, que já em 1933 apresentava níveis

semelhantes ao de 1929. Neste processo de recuperação foi crucial o abandono do padrão-ouro por

parte dos países centrais. Apesar de implicar na necessidade dos países de lidarem com suas taxas de

câmbio, o abandono do padrão-ouro possibilitou a atuação dos governos por meio de políticas eco-

nômicas e cambiais (BULMER-THOMAS, 2009).

Suzigan (2000) calcula que, no período, a renda real nacional cresceu apenas 1,3% em 1930

e declinou em 6,7% e 4,3% nos anos posteriores, 1931 e 1932 respectivamente, só vindo a crescer

novamente após 1933. Com a depreciação da taxa real de câmbio aliada à elevação dos direitos adu-

aneiros, o Brasil estabeleceu um cenário favorável a expansão da atividade industrial interna, com a

elevação do custo dos bens importados à níveis vigentes durante a Primeira Guerra.

Foi nesse período que Celso Furtado identificou o deslocamento do centro dinâmico da eco-

nomia brasileira. O autor, partindo de sua análise keynesiana do nível de renda nacional, identifica

em 1930 o ano de inflexão da economia brasileira. Foi a partir da crise e do comprometimento das

divisas externas que o setor industrial passou a ser o mais importante na produção nacional. (FUR-

TADO, 2007)

A indústria nacional, que até então para Furtado (2007), concentrava-se essencialmente na

produção de bens não duráveis passou a expandir suas ramificações. O comprometimento das rendas

do setor exportador aliado à crescente demanda por bens de produção para o atendimento da demanda

interna anteriormente atendida pelas importações pressionava fortemente a estrutura industrial. O au-

tor relata o bom desempenho do setor de produção de bens de capital e intermediário no período da

crise, citando os exemplos das indústrias de ferro, aço e cimento que pouco sofreram com a crise, já

retomando o crescimento em 1931. Em 1932, a produção dessas indústrias já havia aumentado em

60% com relação à de 1929.

Os dados apresentados por Stephen Haber para a indústria brasileira no período confirmam

essa tendência. Utilizando-se de dados sobre a indústria têxtil algodoeira, o autor afirma que houve

queda na lucratividade da indústria nos primeiros anos, mas já em 1931 a taxa de lucro destas indús-

trias voltou a crescer. Para o autor, a depreciação das taxas reais de câmbio foi fundamental para o

crescimento econômico desempenhado pelos países da América Latina no período. Tal depreciação

era responsável tanto pela recuperação dos índices da economia exportadora, devido ao aumento da

competitividade das exportações no mercado internacional, quanto pela proteção à indústria nacional,

via elevação dos preços dos produtos industriais importados. (HABER,2010)

34

Passados os efeitos imediatos da crise, a indústria retomou seu crescimento. As políticas ado-

tadas na tentativa de manter o nível de renda nacional geravam um forte estimulo a produção nacional,

uma vez que os produtos importados estavam encarecidos. Durante a década de 1930, a taxa de câm-

bio brasileira permaneceu em níveis desvalorizados, no geral, e continuou a ser o principal determi-

nante dos altos custos dos produtos importados. Porém, a imposição de restrições não tarifárias às

importações, como resultado desses déficits no Balanço de Pagamentos brasileiro, foi provavelmente

mais importante para a proteção da produção interna do que a elevação dos preços dos bens importa-

dos. (SUZIGAN, 2000)

O bom desempenho da indústria no período, conforme afirma Suzigan (2000), se deve em

grande parte a utilização de capacidade instalada anteriormente. Destacando-se, porém, os novos in-

vestimentos feitos no período, que destinavam principalmente às indústrias de substituição de impor-

tações, como de cimento, metalomecânica, ferro e aço, papel e celulose, produtos de borracha, óleos

de caroço de algodão e têxteis. Confirmando assim o crescimento da participação da indústria nacio-

nal no atendimento das demandas nacionais, já em setores estratégicos, não somente na produção de

bens de consumo não duráveis.

O crescimento da produção no setor manufatureiro brasileiro não foi superior somente ao

crescimento deste setor nos países industrializados. O crescimento do setor industrial brasileiro foi

superior até ao crescimento dos outros setores da economia. O produto industrial brasileiro cresceu

82% de 1929 a 1939, o do México, de 1925 à 1939, quase dobrou, sendo ainda que a maior parte do

crescimento se deu anteriormente a 1934. (HABER, 2008)

A produção líquida brasileira cresceu a uma taxa anual de 7,6% no período de 1932 a 1939.

Sendo que em 1939 a indústria brasileira já era responsável pela contribuição com uma parcela de

14,5% do PIB nacional. Apesar dos progressos feitos, até em setores como a produção de bens de

capital (cuja participação no valor agregado atingiu 4,9%), em 1939 a indústria nacional já sofria com

limitação da capacidade que começava a surgir em diversos setores. Como resposta a tal limitação,

as indústrias passavam a empregar uma proporção maior de trabalhadores/capital. “Na verdade, os

insumos do trabalho “explicam” a maior parte do crescimento da indústria brasileira nos anos de 1930,

pois os aumentos de produtividade foram reduzidos” (BULMER-THOMAS, 2009, pág. 66). Isso nos

leva a considerar que a industrialização, apesar de avançar, ainda mantinha vínculos com a economia

exportadora e seu desempenho.

Celso Furtado obtêm resultados semelhantes para o período. De 1929 a 1937 o crescimento

da produção industrial teria ficado em torno de 50%, sendo que a produção para o mercado interno

teria crescido mais de 40%, também. Mesmo no cenário da depressão, a renda nacional teria crescido

20% ao longo dos dois anos, representando um incremento per capita anual de 7%. (FURTADO, 2007)

35

Já em 1939 a indústria começava a sofrer os efeitos da II Guerra Mundial, com dificuldade de

acesso a importações de bens de capital e intermediários, e, mais uma vez, os investimentos industri-

ais se viam comprometidos pela dependência do setor externo. Novamente a indústria teria de provar

sua viabilidade, porém agora sua estrutura já estava mais consolidada e ela pôde responder rápida e

satisfatoriamente aos desequilíbrios gerados pela guerra, diferente do ocorrido ao longo das anteriores

crises externas. (SUZIGAN ,2000)

O Brasil foi o primeiro país latino-americano a declarar formalmente guerra no período da

segunda guerra mundial. Segundo Bulmer-Thomas (2009) os resultados vieram logo. Aumentou-se

no período as exportações de minérios e matérias primas, resultando num aumento expressivo das

reservas externas nacionais, 635% no período de 1940 à 1945. A situação econômica nacional me-

lhorava, principalmente apoiada na recuperação da capacidade do setor exportador durante o período

do conflito. Na indústria, porém:

“(...) operaram forças contraditórias. Decerto a escassez de produtos importados estimulava novos es-

forços para sua substituição, mas esses mesmos esforços eram limitados, por sua vez, pela diminuição

das importações fundamentais de bens de capital. O resultado líquido foi a continuação do crescimento

industrial já registrado na década de 30, mas com uma nova propensão para os bens de capital e os

insumos básicos. ” (BULMER-THOMAS, 2009, pág. 88)

Haber (2008) também elucida o processo de consolidação dos interesses da classe trabalha-

dora no período. Com a ascensão dos governos populistas na América Latina, Getúlio Vargas, Juan

Perón e Lazaro Cárdenas, as coalizões que sustentavam tais governos cobravam medidas voltadas ao

mantimento de uma elevada taxa de ocupação. Com tais demandas, as autoridades locais logo come-

çaram a implementar políticas protecionistas.

Tais medidas estavam plenamente em linha com os delineamentos da política econômica do

período, que desde o pós-guerra vinha sendo direcionada para o suprimento dos problemas crônicos

com o Balanço de Pagamentos nacional. Aliado à queda na participação das exportações na geração

da renda nacional, após breve recuperação durante o período da guerra, somava-se agora a escassez

de fluxos estrangeiros de capital, destinados prioritariamente à reconstrução dos países afetados pela

guerra. Neste contexto, a indústria brasileira se desenvolveu principalmente voltada para o mercado

interno, num processo de desenvolvimento definido por Maria Conceição Tavares (1972) como “fe-

chado e parcial”. Ou seja, um processo de industrialização necessariamente voltado ao atendimento

da demanda interna e visando a solução dos gargalos estruturais identificados.

O governo Dutra foi marcado pela sua acessão ao poder com ideais liberais, porém uma vez

confirmada a inexistência dos fluxos esperados de capital tais ideais foram abandonados. Apesar do

cenário externo favorável no período da guerra, uma vez cessados os fluxos de capital estrangeiros,

começaram a pesar sobre o balanço as importações necessárias ao progresso da industrialização subs-

titutiva de importações. A breve experiência liberal terminou em 1947, com a suspensão das reduções

36

tarifárias. Neste mesmo ano foram retomados os controles sobre importações, tamanho o déficit do

Balanço de Pagamentos. O controle das exportações evolui posteriormente para um sistema de taxas

múltiplas de câmbio, visando a viabilização das importações essenciais ao desenvolvimento industrial.

Tais mecanismos de proteção a atividade nacional só seriam suplantados ao final da década de 1950.

(BULMER-THOMAS, 2009)

O segundo governo Vargas representou a intensificação da atuação estatal na economia naci-

onal. Além dos mecanismos protecionistas implementados, o governo atuava diretamente no provi-

mento da estrutura produtiva nacional. Houve um aumento expressivo do número de firmas estatais

e financiamentos a projetos de infraestrutura na primeira década de 1950. Os investimentos eram

realizados principalmente mediante expansão do nível liquidez nacional. Com a crise internacional

decorrente da recuperação dos países afetados pela guerra e o “inundamento” dos mercados interna-

cionais e a consequente queda nas divisas geradas pelas exportações brasileiras, tais investimentos se

mostraram insustentáveis.

Stephen Haber (2008), com base nos dados de A. Taylor (1998) afirma que, no Brasil ao final

da década de 1950, a taxa nominal proteção à indústria alcançava 328% para produção de bens de

consumos duráveis, 260% para bens não duráveis, e taxas acima de 80% para as outras ramas indus-

triais.

O período foi marcado também pelo debate acerca da legitimidade da atuação estatal enquanto

provedora do desenvolvimento. Tal impasse já parecia plenamente solucionado na consecução do

Plano de Metas do governo Juscelino Kubitscheck. Apesar da importância do capital estrangeiro nos

períodos anteriores, foi neste período, após, principalmente, a instituição da instrução 113 da Sumoc

que o capital estrangeiro passou a ser um agente importante no cenário político-econômico brasileiro.

Formava-se neste período a tríplice aliança que viria a sustentar o amplo desenvolvimento nos perío-

dos posteriores, o Estado, o Capital Estrangeiros e a Burguesia Nacional. (BULMER-THOMAS,

2009)

A atuação estatal enquanto agente impulsor da industrialização por substituição de

importações ganha também seus delineamentos gerais neste período. São as medidas protecionistas

e a atuação da máquina estatal na atividade produtiva que transformam a industrialização substitutiva

de importações em um projeto de desenvolvimento nacional, um processo de substituição de

importações.

5.2 O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDE) e a industrialização

brasileira

Em 1952 foi criado o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDE). O segundo

37

governo Vargas implementou o Programa de Modernização Econômica, onde previam-se aportes de

capitais a serem realizados por entidades financeira internacionais como o Eximbank e o Banco

Mundial, visando a modernização da infraestrutura nacional. Foi visando a consolidação de tal plano

e a viabilização dos aportes estrangeiros que se criou o BNDE. (ARAUJO et al, 2011)

Até a criação do banco, um dos maiores estrangulamentos ao desenvolvimento industrial

brasileiro era a carência de uma entidade destinada ao financiamento a longo prazo. Apesar da

existência de diversas entidades destinadas ao financiamento da atividade econômica, como a Sumoc,

o Banco do Brasil como executor de política econômica. O BNDE foi a primeira entidade destinada

ao financiamento a longo prazo no Brasil.

Apesar da previsão de generosos aportes externos, o banco constituiu-se principalmente sobre

o adicional de 15% criado sobre o imposto de renda. Devido a sua pequena dimensão inicial, o banco

atuou principalmente na formulação de projetos econômicos, tendo tido participação ativa na

formulação do Plano de Metas e no Plano Trienal, nos governos Kubitschek e Goulart. (ARAUJO et

al, 2011)

Os primeiros anos do BNDE, durantes os governos Vargas e Kubitschek pode-se identificar

uma atuação no sentido da promoção prioritária do setor industrial nacional. Até a execução do plano

de metas sua atuação foi voltada principalmente na viabilização dos planos elaborados pela CMBEU,

com importantes atuações também na reconstrução de vias férreas e investimentos em empresas de

eletricidade, os setores que limitavam o desenvolvimento industrial nacional.

Mesmo assim, a maioria dos planos elaborados tiveram de ser adaptados a escassez inicial de

recursos do banco. Além da inexistência do volume esperado de fluxos externos, apenas 38,9% dos

recursos gerados pelo adicional sobre o imposto de renda foram destinados ao banco. Com o objetivo

de elevar a efetividade da atuação do banco provendo-o de fundos foram criados, em 1955,

instrumentos tributários destinados a obtenção de fundos (denominados “Recursos Vinculados”). Tais

fundos eram providos pela taxação sobre consumo de determinados bens e destinavam-se a promoção

de investimentos em projetos determinados pela legislação. Existiam fundos para Eletrificação,

renovação e melhoramento das ferrovias, pavimentação, etc. (ARAUJO et al, 2011)

Uma expressão da baixa efetividade do banco em seus primeiros anos são os dados

apresentados nos estudos de Araujo et al (2011). As inversões realizadas pelo banco no período de

1953 e 1954 representaram apenas 5,7% dos investimentos totais realizados no período de 1952 a

1965. Além disso, nestes primeiros anos identificou-se uma elevada concentração dos investimentos

nos setores de energia elétrica e ferrovias, somando a monta de 91% do total da atuação do banco.

Entre 1954 de 1955 evidenciou-se uma tendência à diversificação de sua atividade, sendo que

o setor industrial atingiu neste ano 20% de participação nos projetos financiados pelo BNDE. No

38

período se destacam os investimentos nos setores automobilísticos e químico realizados pelo banco,

respectivamente direcionados a Fábrica Nacional de Motores (FNM) e a Companhia Nacional de

Álcalis. (ARAUJO et al, 2011)

No período posterior, com a ascensão do presidente Kubitschek o projeto de

desenvolvimentista nacional continuou a progredir, ainda que com outros protagonistas. O período

foi marcado pelo alto nível de desenvolvimento e pela elevação da participação da indústria na

geração da renda nacional. O PIB brasileiro cresceu a taxas médias de 8% a.a., sendo que a

participação da indústria cresceu de 26,6% em 1955 para 33,2% em 1960. Neste período, o BNDE

que até então tinha tido dificuldades na mobilização de recursos passa a ser a principal entidade

responsável pela consolidação das ações desenvolvimentistas.

O BNDE foi uma ferramenta amplamente utilizada para consolidação do Plano de Metas, uma

vez que este previa largos investimentos em diversos setores sem utilização da expansão da oferta

monetária. Tal objetivo foi alcançado em parte pela larga utilização da Instrução 113 da Sumoc para

realização de investimentos diretos estrangeiros, e em parte pela atuação do BNDE. Na realidade,

segundo dados da presidência da república apresentados pelos autores, “O BNDE dispunha de 44.200

milhões de cruzeiros, dos quais 80% seriam destinados a execução do Plano de Metas e o restante a

outros projetos. ” (ARAUJO et al, 2011, pág. 126)

Dentre outras fontes de recursos canalizadas pelo governo no banco, para viabilização do

Plano de Metas, ressaltamos a importância dos recursos provenientes do adicional criado sobre o

imposto de renda, que chegou a ser plenamente repassado para o banco nos anos de 1959 e 1960.

Foram criados também diversos novos fundos vinculados, visando a elevação da atuação setorial do

banco. Ao final da década o banco tinha firmado 133 projetos de financiamento, chegando alguns

deles a se destinarem a implementação da indústria nacional de bens e equipamentos e de papel e

celulose.

Nos primeiros anos da década de 1960 o Brasil sofreu com o agravamento de sua situação

econômica. Elevaram-se as taxas de inflação juntamente com a queda no crescimento do PIB, além

do agravamento dos déficits do Balanço de Pagamentos. Tal situação se agravou com a crise política

ocorrida no período. Com a renúncia de Jânio Quadros e a adoção do regime parlamentarista foram

reduzidas as possibilidades de atuação frente ao cenário de crise. Somente em 1963, com a

recuperação do projeto presidencialistas por meio de plebiscito popular, e o anuncio do Plano Trienal

que este cenário deprecatório começa a se reverter. O Plano Trienal não logrou o sucesso almejado

principalmente devido à dificuldade de renegociação das dívidas externas e a alta propensão para a

importação da economia nacional. (ARAUJO et al, 2011)

Com o Golpe Militar em 1964 e a ascensão ao poder de Castelo Branco, num período onde a

39

elevação da inflação atingia o nível de 82%, com um crescimento do PIB de apenas 0,6%, tinha como

desafio a retomada do desenvolvimento econômico. O Plano de Ação Econômica do Governo foi

elaborado para dar resposta a tais demandas. Levou-se a cabo um ajuste macroeconômico de curto

prazo, apoiado pelo arrocho salarial imposto pela política de reajustes implementada. Realizaram-se

também importantes reestruturações no sistema financeiro nacional, com a criação do Banco Central,

do Conselho Monetário Nacional, do Sistema Financeiro Nacional (SFN), Banco Nacional de

Habitação (BNH) e com a criação de diversos bancos voltados à realização de investimentos a longo

prazo.

O papel cumprido pelo BNDE neste período foi secundário, sem grande crescimento de sua

atuação. Considerando que o período foi marcado pela realização de ajustes macroeconômicos de

curto prazo, implicando no abandono do apoio as políticas econômicas voltadas ao desenvolvimento.

De qualquer maneira, ambos os governos Goulart e Castelo Branco tentaram fortalecer a entidade

estatal, foram realizadas importantes ações no sentido de provimento de fundos para atuação do banco,

tal como a criação do Fundo Nacional de Investimentos (FUNAI). Instrumento que rapidamente se

tornou responsável por aproximadamente 30% dos recursos do Banco em 1964.

Os esforços para o provimento de novas fontes de recursos para a atuação do BNDE

resultaram na criação do Imposto sobre Operações Financeiras, em 1966. Tais recursos constituíam

reserva monetário do Banco Central, podendo ser destinada ao BNDE, caso determinado pelo

Conselho Monetário Nacional.

Além disso, no período do governo Castelo Branco houve uma melhoria nas relações com os

países centrais, numa política considerada amigável ao capital estrangeiro. O BNDE passou a ser

responsável pela intermediação dos fundos obtidos junto ao Banco Interamericano de

Desenvolvimento (BID) e outros acordos internacionais.

Neste período os autores evidenciam a predominância das operações vinculadas à indústria,

que atingiram um total de 92% em 1963, relegando aos serviços de utilidade pública como transportes

e geração de energia um papel secundário no período. Entre 1952 e 1967 houve uma mudança notável

no direcionamento das operações do banco. Enquanto em princípio o banco se mostrou um importante

instrumento para o financiamento dos investimentos em serviços de utilidade pública, 69,8% do total

de suas operações entre 1952 e 1960, nos períodos posteriores as operações destinadas a indústria

cresceram largamente, atingindo um total de 82,6% do total das operações financiadas pelo banco

entre 1964 e 1967.

Nos anos posteriores ao término do mandato de Castelo Branco, foi inaugurado o período que

seria consagrado na literatura econômica brasileira como o “Milagre Econômico”. Sob o comando de

Delfin Neto no ministério da fazenda, foram adotadas medidas heterodoxas para o combate da

40

inflação. A atuação governamental de combate à inflação passou a combater a inflação pela redução

dos custos produtivos, não mais por medidas restritivas. Foi criada a Comissão Nacional de

Estabilização de Preços (posteriormente substituída pela Comissão Interministerial de Preços – CIP)

e implementado um sistema de controle de preços.

O período apresentou taxas de crescimento médias de 10% ao ano, principalmente apoiadas

na utilização da capacidade ociosa do parque industrial, promovida pelo sistema de controle de preços.

Além de diversos programas de incentivos e subsídios, um sistema tributário regressivo. Durante a

implementação do Plano Estratégico de Desenvolvimento (PED) e do Plano Nacional de

Desenvolvimento (PND) a atuação do BNDE foi destacada como veículo para realização dos

investimentos em capital fixo propostos pela segunda etapa do PED. Já no período do PAEG a função

principal do banco seria auxiliar o empresariado nacional na construção da “Grande Empresa

Nacional”, protegendo os setores prioritários, promovendo a concentração, inovação e economias de

escala. Tal papel foi viabilizado principalmente pela atuação dos fundos vinculados, sendo o principal

expoente o FINAME. (ARAUJO et al, 2011)

Neste período, com a atuação do banco voltada ao cumprimento das proposições do PED e do

PAEG, houve elevação da predominância de operações vinculadas ao setor industrial, relegando aos

serviços de utilidade pública a parca participação de 9,22% no total das operações aprovadas pelo

banco no ano de 1973. Os autores defendem que tais características determinam a atuação do banco

neste período, voltado principalmente ao desenvolvimento do setor industrial. Com atuação

principalmente no apoio financeiro, não mais técnico como no período anterior.

Visando o cumprimento do estipulado pelo II PND do governo Geisel, foi realizado um novo

ciclo de investimentos em infraestrutura na economia brasileira, principalmente financiado pelo

endividamento externo. Tal plano buscava de forma concomitante a consolidação da instalação da

indústria pesada, a internalização da produção de bens de capital e o complemento da capacidade

produtiva de insumos básicos e bens intermediários.

Mais uma vez o BNDE teve de se adaptar as condições impostas pelas disputas no âmbito

político. Sua atuação ao longo do final da década de 1970 teve de se alinhar: i) com a expansão de

suas fontes de recursos, uma vez que a viabilização do projeto da Grande Empresa Nacional se daria

pela atuação dos fundos geridos pela entidade; ii) a delimitação de sua atuação junto ao setor privado,

uma vez que o setor público financiava-se com subsídios via empréstimos estrangeiros; iii) o processo

de reorganização do banco, com a criação de diversas subsidiárias como a EMBRAMEC, FIBASE

S.A., IBRASA, empresas criadas visando o fortalecimento da atividade do setor privado.

No quinquênio 1974 – 1979 o BNDE registrou um crescimento médio de seus recursos de

aproximadamente 21% anualmente, índice bastante elevado quando comparado ao crescimento de

41

3,6% anualmente no governo Médici. No período foi retomada também a tradição do banco na

elaboração do planejamento setorial, sendo que a entidade foi responsável pela elaboração do

Primeiro Plano Quinquenal de Ação, que visava delimitar a atuação do banco para viabilização da

execução do II PND.

Confirmando a tendência dos anos anteriores, a atuação do BNDE continuou a se concentrar

no financiamento à atividade privada nacional, sendo que no ano de 1977 o total de recursos

destinados às obras de Serviços Públicos representava apenas 3,33% do total aportado pelo banco,

enquanto os financiamentos à indústria nacional perdiam peso, devido a criação de novos fundos

vinculados e das empresas subsidiárias, porém continuavam a representar a maioria das operações

aprovadas no ano, com um total de 29,85%. (ARAUJO et al, 2011)

O cenário econômico latino-americano foi marcado pela crise da dívida externa nos anos

posteriores ao Segundo Choque do Petróleo e a elevação da taxa de juros norte-americana. Com a

máquina pública tendo sua atuação fortemente limitada pela expansão da dívida, o BNDE voltou-se

ao apoio das empresas privadas mais gravemente afetadas pela crise. No período de 1980 o bancou

viu suas fontes de recursos reduzirem-se em 18%, sendo que no ano posterior a contração continuaria,

com redução de mais 12%, dado a estratégia tipicamente ortodoxa adotada para o combate da crise

da dívida externa.

O BNDE voltou a desempenhar um papel secundário na execução da política econômica neste

período. Num cenário onde as prioridades eram os ajustes macroeconômicos, controle da inflação e

a geração de superávits comerciais, a atividade do banco tomou novos direcionamentos estratégicos.

Diminuiu-se substancialmente a parcela de recursos destinada às indústrias de bens de capital, que de

1976 a 1978 tinham recebido 59,9% do total dos recursos e no triênio subsequente recebeu apenas

3,1%. Os recursos agora escassos eram destinados principalmente aos setores de Insumo Básicos e

Infraestrutura, recebendo 40,3% e 38% das operações aprovadas entre 1979 a 1982, sendo que suas

participações no período anterior eram apenas 5,1% e 2,9% do total das operações aprovadas.

(ARAUJO et al, 2011)

Ainda segundo os autores, a crise da década de 1980 forçou o banco a reestruturar suas

operações. Além da mudança na tendência geral de atuação, o BNDE passou a financiar um número

crescente de projetos nas áreas de produção agrícola, educação, saúde e habitação. A partir do decreto

de lei número 1940 de 25 de maio de 1982, foi criado o Fundo de Investimento Social (FINSOCIAL)

com o objetivo de captar recursos para o empreendimento das atividades do BNDE nas áreas de

desenvolvimento social. Foi a partir da criação do FINSOCIAL que se adicionou a letra S ao acrônimo

BNDE, tornando-se BNDES. No primeiro ano o FINSOCIAL era responsável por mais de 13% dos

recursos do banco, sendo que os fundos se constituía sobre a contribuição imposta pela lei de 0,5%

42

da renda bruta das empresas.

Uma vez imposta a impossibilidade de se prosseguir no apoio a um projeto desenvolvimentista

nacional, devido à crise da dívida externa, o banco se voltou para financiar da forma mais eficiente

possível o desenvolvimento com seus escassos recursos. O BNDE reduz sua atuação enquanto

promotor do desenvolvimento via fortalecimento do processo de industrialização e passa a exercer

atividades em setores como a educação, saúde e habitação.

6. A Nacional Financeira (Nafinsa) e o desenvolvimento industrial no México

6.1 O desenvolvimento industrial no México

No período colonial o setor industrial mexicano era limitado pelas imposições comerciais da

metrópole espanhola, e já com a independência, em 1821, essa limitação foi superada. Porém, mesmo

após o rompimento com a metrópole, as constantes guerras internas e externas impossibilitaram um

maior desenvolvimento do setor manufatureiro. Foi em 1830, com a criação do Banco de Avio, que

se estabeleceram no país as primeiras plantas industriais e inovações tecnológicas. (BENATTI, 2010)

Benatti (2010) expõe ainda, como proposto por Haber (2008), que devido elevado isolamento

dos mercados e aos altos custos dos transportes, impediam um maior desenvolvimento dessas

indústrias incipientes, obrigando-as a voltarem suas produções para o atendimento das demandas de

seus mercados nacionais. A economia industrial e agraria no México eram voltadas principalmente

ao atendimento da demanda interna, enquanto o setor minerador era responsável pela geração da

renda nacional ao longo deste período.

Foi somente durante o governo de Porfírio Diaz que essa relação se alterou. Foram realizados

numerosos investimentos estrangeiros, principalmente destinados a expansão da malha ferroviária do

país. Entre 1870 e 1913 as exportações triplicaram sua participação na geração do PIB nacional

mexicano. O crescimento acelerado do setor exportador impulsionava o processo incipiente de

industrialização nacional. (BENATTI, 2010)

O caso mais ilustre na América Latina do desenvolvimento industrial apoiado no crescimento

do setor exportador foi sem dúvida o caso mexicano. Haber (2008) relata que até 1880 as manufaturas

mexicanas sofriam com a baixa renda per capta e pelo obstáculo imposto pelo transporte. Nos

primeiros anos da década de 1880 e mais intensamente após 1890 o crescimento do setor exportador

mexicano removeu esse obstáculo. Como consequência, o período posterior é marcado pelo rápido

crescimento do setor industrial.

A expansão do setor exportador favoreceu a implementação e consolidação de diversas

indústrias. Na década de 1900 foram criadas empresas nacionais que viriam a monopolizar o

atendimento ao mercado nacional em seus ramos de atuação. Nesta época se consolidaram as

43

empresas que viriam a manter o monopólio sobre a produção de vidro mexicano até a década de 1990,

por exemplo. Setores produtores de bens de consumo, como fábricas de cervejas, cigarros. Além da

consolidação da gigante nacional mexicana Fundidora Monterrey, destinada a fundição de metais.

Apesar do forte crescimento impulsionado pelo setor exportador, a estrutura econômica do

México ainda se mostrava fortemente atrasada, tendo ainda grande parte da sua população no meio

rural, onde tais progressos ainda não haviam chegado. Sob a égide de um regime autoritário era

possível manter a segregação entre as classes nacionais, porém o processo de luta política

intensificou-se até o rompimento do sistema imposto pela Revolução de 1910. Neste período houve

grande avanço nos direitos trabalhista e realizou-se a reforma agrária. A constituição promulgada em

1917 previa alterações institucionais nas áreas da educação, reforma agrária, e seguridade social. Tais

reformas não geraram resultados tão rápidos quanto esperados e o período não apresentou altas taxas

de crescimento do PIB, que praticamente permaneceu estagnado entre 1910 e 1921. (BENATTI, 2010)

A análise de Haber (2008) aponta para o baixo investimento industrial realizado no período

da guerra civil instituída após a Revolução de 1910, além da destruição da capacidade produtiva

instalada. A tabela III mostra como no período houve uma forte contração nos investimentos

realizados no setor de manufaturas no México.

Tabela III: Exportações de máquinas de manufatura dos Estados Unidos e Reino Unido para

o México (em U.S. dólares de 1929).

Ano Total de máquinaria de manufatu-

ras

Index 1913 =

100%

Máquinas Téx-

teis

Index 1913 =

100%

1900 734.770 51 468.115 1806,0

1901 402.167 28 183.564 708

1902 386.609 27 248.021 957

1903 521.033 36 147.243 568

1904 789.190 55 395.789 1527,0

1905 890.938 62 265.632 1025,0

1906 1.158.405 80 354.592 1368,0

1907 1.474.894 102 471.916 1821,0

1908 1.441.350 100 472.963 1825,0

1909 1.154.146 80 525.028 2025,0

1910 1.017.436 71 349.919 1350,0

1911 1.372.511 95 331.188 1278,0

1912 1.111.385 77 391.488 1510,0

1913 1.442.572 100 25.922 100

1914 300.418 21 6.274 24

1915 115.660 8 3.405 13

1916 428.426 30 8.521 33

1917 895.278 62 35.552 137

1918 1.543.712 107 85.800 331

1919 2.891.556 200 164.364 634

1920 4.960.427 344 457.035 1763,0

44

1921 4.056.181 281 138.966 536

1922 2.779.865 193 1.112.938 4293,0

1923 2.050.045 142 595.872 2299,0

1924 2.011.632 139 634.439 2447,0

1925 2.699.575 187 916.903 3537,0

1926 7.298.838 506 1.111.451 4288,0

1927 6.604.369 458 1.066.284 4113,0

1928 6.263.526 434 1.123.659 4335,0

1929 8.615.809 597 680.932 2627,0

1930 8.179.263 567 643.881 2484,0

1931 1.089.077 75 426.688 1646,0

1932 546.913 38 163.623 631

1933 957.090 66 415.211 1602,0

1934 1.421.132 99 532.113 2053,0

1935 1.778.275 123 694.107 2678,0

Fonte: Stephen Haber, Armando Razo, and Noel Maurer, The Politics of Property Rights: Political

Instability, Credible Commitments and Economic Growth in Mexico, 1876-1929, Cambridge, 2003

ch.5. apud Haber (2008) pág. 559.

O crescimento econômico Mexicano foi retomado a partir de 1921, sendo mantido até 1935

por meio de diversas reformas implementadas pelos governos de Calles (1924-1928), Maximato

(1928-1934) e o Cárdenas (1934-1940). Regulou-se neste período a atuação do sistema bancário

nacional, foi criado o Banco do México, aprofundada a reforma agrária, o Banco Nacional de Crédito

Agrícola, entre outras instituições que tiveram sua atuação fortalecida possibilitando o

desenvolvimento nacional e industrial. (BENATTI, 2010)

A autora expõe ainda que no final deste período houve uma forte valorização da prata e do

petróleo, que eram os principais produtos de exportação mexicana, favorecendo largamente o

processo de instalação de capacidade produtiva no país. Neste período foram realizados os

investimentos que tornariam a indústria manufatureira o setor mais dinâmico da economia mexicana

no período a partir de 1940.

O governo do final da década de 1930, de Lazaro Cádernas, realizou uma grande expansão

das atividades do setor público, com a criação de entidades financeiras e de desenvolvimento. Foram

nacionalizadas as indústrias petrolíferas e elétricas e iniciou-se finalmente um plano real de reforma

agrária em larga escala. Neste período foi de grande importância a participação do estado mexicano

no intermédio da realização dos investimentos estrangeiros.

Manuel Ávila Camacho ascende ao poder em 1940 e dá início a criação das condições

necessárias à implementação de um processo de industrialização nacional. Foram realizados diversos

esforços no sentido de diversificação da estrutura produtiva, manutenção da estabilidade política e

controle da classe trabalhadora a fim de consolidar os interesses das classes burguesas nacionais.

45

Neste período as reformas sociais e políticas foram substituídas por industrialização e crescimento

econômico. (BENATTI, 2010).

Ao longo da segunda guerra o México, assim como os outros países analisados, teve grandes

dificuldade de acesso aos bens de capital necessários ao avanço do processo de industrialização.

Porém a larga capacidade ociosa instalada nas décadas de grande crescimento do setor exportador

permitiu à produção manufatureira a manutenção de taxas médias de crescimento superiores a 7%

neste período.

O México presenciou um tremendo crescimento de suas reservas estrangeiras ao longo da

Segunda Guerra Mundial, principalmente apoiada pelas exportações de minérios e petróleo. Com o

término da guerra, tão rapidamente quanto se constituíram tais reservas as mesmas foram extinguidas.

A recuperação dos mercados internacionais e as crescentes importações esgotaram as reservas

acumuladas no período anterior. Foi nesse contexto que o Governo Alemán teve de alterar sua

estratégia de atuação, sendo que em novembro seu partido se aliou ao Partido Comunista Mexicano,

que via no governo de Alemanismo a constituição de uma burguesia progressista. Surgia sob o

comando de Alemán um novo projeto da elite política e econômica, dirigido a substituição das

importações, a fomentar o crescimento agrícola para exportação de produtos e satisfação da demanda

interna, além dos investimentos destinados às importações de bens intermediários e de capital.

(BENATTI, 2010)

Nos anos seguintes, tanto a atuação estatal quanto as demandas nacionais mostravam-se

plenamente de acordo com a participação crescente dos agentes públicos na busca pelo

desenvolvimento. Foram realizadas desvalorizações cambiais nos anos de 1948, 1949 e 1950, aliadas

com a implementação de um sistema de licenças de importações, na tentativa de conter os déficits

comerciais que depreciavam o Balanço de Pagamentos mexicano.

A reforma agrária foi possibilitada por meio de reformas estruturais, como grandes obras de

irrigação e o fortalecimento das entidades de fomento, a exemplo do Banco da Agricultura. Foi só

então que se garantiu a suficiência alimentícia mexicana, gerando ainda excedentes exportáveis. Tais

reformas cumpriam um papel essencial ao desenvolvimento das indústrias em instalação no país,

tanto pela geração de renda para a população excluída do mercado de trabalho formal quanto pelo

atendimento da demanda pelos insumos básicos à indústria e de bens que compunham o salário.

Mesmo com tais alterações a estrutura mexicana ainda se mostrava fortemente dependente das

importações. As políticas implementadas propiciaram um alto aumento médio anual de 6% do PIB.

No período de 1946 a 1958 houve um forte processo inflacionário. As medidas governamentais

implementadas redistribuíam as rendas da economia de maneira a favorecer à indústria.

(BENATTI,2010)

46

Segundo Enrique Cárdenas (2008) seria um mito que desde o governo Cádernas (1934) até o

governo Mateos (1958), as autoridades financeiras tenham adotados politicas financeiras e monetárias

expansionistas destinadas ao desenvolvimento que acabariam por causar inflação. Na realidade, se

observa neste período uma boa disciplina fiscal e monetária. A inflação corrente no período era

causada pelos choques externos que sofria a economia.

O período seguinte foi marcado pela adoção de políticas voltada ao controle da pressão

inflacionária. Políticas fiscais e monetárias restritivas foram adotadas e o período ficou consagrado

como o “Desenvolvimento Estabilizador” (1958-1970). Os principais objetivos de política econômica

era a proteção à indústria nacional, acentuação da arrecadação tributária e o controle do Balanço de

Pagamentos. Os investimentos industrias realizados eram principalmente oriundos do crescimento

dos setores externos da economia e do forte fluxo de capital estrangeiro do período. (BENATTI, 2010)

Ainda de acordo com Benatti (2010), é possível observar uma clara mudança na composição

setorial do PIB, destacando-se o aumento da importância da produção industrial. Enquanto em 1956

a indústria era responsável por 27,9% da produção nacional, cabendo aos setores de serviços e

agropecuária as parcelas de 55% e 17,1% respectivamente. Em 1970 a agropecuária era responsável

por apenas 11,5%, a participação do setor de serviços caiu para 54,4% e a da indústria elevou-se a

34,1%.

Haber (2008) chama atenção para o processo de internalização de muitas firmas

multinacionais nos períodos pós-Segunda Guerra Mundial. As barreiras tarifárias adotadas ao longo

deste período como forma de incentivo ao processo de industrialização vigente incentivavam a

instalação de diversas firmas multinacionais, com maiores facilidades de acesso às fontes de capital

e apoiadas na proteção fornecida pela barreira tarifária, tais empresas tendiam a atuar de maneira

monopolística nos setores mais dinâmicos da economia. O México foi um dos principais expoentes

nesse sentido, sendo que os investimentos diretos norte-americanos chegaram a representar quase 10%

do total dos investimentos em manufaturas no ano de 1959.

Tanto nos períodos dos governos populistas quanto do desenvolvimento estabilizador a

indústria foi o principal responsável pela dinamicidade da economia mexicana. Veremos agora a

importância da Nacional Financeira, o primeiro banco público de investimento em desenvolvimento

da América Latina, fundado em 1934, neste processo de consolidação e evolução da industrialização

substitutiva de importações mexicana.

6.2 A Nafinsa e a industrialização mexicana

O período intenso de desequilíbrio da economia mexicana foi o período de 1914 a 1917, onde

além das imposições internacionais atuavam forças nacionais em diversas direções. Este foi o período

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mais conturbado da revolução mexicana, sendo marcado pelo acirramento dos combates, o abandono

do padrão-ouro, processo inflacionário, colapso do sistema bancário, crise fiscal e por fim suspensão

do pagamento dos serviços da dívida pública. A revolução contribuiu para destruição do sistema

financeiro vigente até então, cedendo lugar a confirmação de diversas novas instituições que seriam

primordiais no processo de desenvolvimento posterior. (LÓPEZ, 2011)

Para o autor, a alteração mais importante nesse contexto se produziu sobre a liderança de

Lazaro Cárdenas, onde se aceleraram as reformas institucionais, tal qual a reforma agrária, a evolução

da malha ferroviária, e a participação estatal na promoção do desenvolvimento. Houve um grande

investimento na indústria, mas essa ainda não era a principal responsável pela geração do PIB nem o

foco da política econômica.

A industrialização substitutiva de importações data da década de 1940 no México, produto

principalmente das restrições impostas pela II Guerra Mundial. No período que se compreende entre

1940 e 1982 o estado realizou numerosos esforços para viabilização da industrialização nacional. A

Nacional Financeira (Nafinsa), criada em 1934, consolidou-se a partir de 1940 enquanto banco

público de fomento da industrialização, e viria a se tornar a segunda instituição financeira mais

importante do México no período, atrás apenas do Banco do México.

O objetivo da entidade era o a realização do intermédio entre as pessoas nacionais e

estrangeiras dispostas a aplicaram seus capitais a longos prazos com as pessoas que desses capitais

precisassem. Durante a presidência de Alemán se expos claramente a intencionalidade do estado de

atuar apenas nos setores onde a iniciativa privada não devia ou não queria atuar.

Tal direcionamento da atividade estatal alterou o caráter de atuação da entidade, que teve sua

lei orgânica alterada para atender aos novos objetivos estipulados. Em atendimento as proposições da

atuação do estado, a Nafinsa teve um aumento na participação das obras de infraestrutura dentre suas

operações aprovadas, aumento do financiamento externo em detrimento da utilização de recursos

próprios, redução dos investimentos reais e aumento das concessões creditícias, diminuição das

operações de financiamento de investimentos produtivos e redução da participação total da Nafinsa

sobre o total de operações outorgadas à indústria pelo sistema bancário. Tais processos se mostraram

contínuos e evolutivos ao longo de todo o período de 1942 até 1970.

O papel mais importante cumprido pela Nafinsa nesse período deixou de ser o financiamento

ao desenvolvimento industrial, como havia sido em 1940. Agora sua atuação estava principalmente

voltada ao cumprimento do papel empresarial desempenhado pelo Estado na economia industrial

incipiente. No final da Segunda Guerra a Nafinsa já obtinha posição majoritária em diversas empresas

onde realizava investimentos. (LÓPEZ 2011)

Ainda segundo López (2011), a elevada participação da entidade no período pós-Segunda

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Guerra se reduziu fortemente a partir da década de 1950, quando não eram mais realizados

significativos empreendimentos. Na segunda metade desta década sua atuação estava relegada a

concessão de créditos operacionais e, esporadicamente, para ampliações das plantas existentes.

No que tange ao desenvolvimento industrial, López (2011) explica que houve uma mudança

importante no caráter das inversões ao longo do desenvolvimento da entidade. Enquanto em seus

primeiros anos ela voltava-se principalmente para o financiamento industrial, já em 1947 sua

atividade se voltava principalmente ao financiamento de obras de infraestrutura. Essa alteração no

caráter da atividade do banco não implica em perda de sua importância para o processo de

industrialização, conforme comprovado pelo autor, apesar da queda porcentual da participação do

setor industrial nos negócios do banco houve um crescimento nominal das operações aprovadas ao

longo de todo o período, até a década de 1970.

Em 1961 a Nafinsa possuía ações de 60 empresas industriais, das quais obtinha participação

majoritária em 13. Já em 1964 o número de empresas com usa participação reduziu-se para 47, com

participação majoritária em 15 delas. Em 1970 os investimentos destinados ao setor industrial

realizados pela Nafinsa representavam apenas 5,9% do total do saldo financiado. A participação dos

financiamentos destinados a Transportes e Comunicações e Energia Elétrica cresceram largamente

ao longo desse período, atingindo um total de 43,8% das operações do banco em 1969, enquanto

somavam apenas 7,6% em 1945. Já a participação dos setores de Petróle e Carvão Mineral e de Ferro

e Aço diminuíram amplamente neste período, sua participação incial de 47,8% reduziu-se para meros

6,1% em 1969. (LÓPEZ, 2011)

Na opinião de López (2011) essa mudança no caráter da entidade evidência as transições das

necessidades ao longo da evolução do processo de substituição de importações, ainda que muitas

vezes industrias mais importantes neste processo fossem desprivilegiadas pelas decisões políticas. O

objetivo expresso da entidade era o financiamento das atividades substituidoras de importações,

porém estas não eram bem definidas, somente por meio de generalizações amplas, que resultavam

em ambiguidade da aplicação da política econômica no período.

O período que compreende as décadas de 1950, 1960 e 1970 é conhecido na literatura

econômica como o “Desenvolvimento Estabilizador”. Ao longo deste período o estado passou a se

utilizar crescentemente de fontes externas de financiamento. Uma vez que o objetivo era a

estabilidade de preços e do câmbio aliado a manutenção de um alto nível crescimento econômico, as

emissões monetárias eram controladas. Eram recorrentes os desequilíbrios no Balanço de Pagamentos

mexicano, que de 1958 a 1970 não conseguiu obter superávits comerciais, e como maneira de

compensá-los o endividamento externo cresceu de 602 milhões de dólares em 1958 para 3 bilhões e

259 milhões em 1970. (LÓPEZ, 2011)

49

A Nafinsa nesse contexto teve sua atuação muito limitada, sendo seu principal foco a

canalização de recursos estrangeiros para realização de investimentos em infraestrutura na economia

mexicana. Muitas vezes a obtenção desses recursos estava vinculada com a realização de obras em

determinadas áreas e o cumprimento de projetos específicos. Os capitais obtidos junto ao Eximbank,

e posteriormente o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Internacional para

Reconstrução e Fomento (BIRF) tinham muitas vezes um destino certo e a atividade da Nafinsa se

via limitada ao cumprimento de determinados objetivos.

O desenvolvimento estabilizador conseguiu manter altas taxas de crescimento até da década

de 1970, porém os desequilíbrios na balança de pagamentos se tornavam um entrave a manutenção

de tal sistema. A política econômica mexicana passa a buscar o desenvolvimento econômico por meio

da atuação estatal, principalmente incentivando a intensificação do processo industrialização, via

substituição de importações de bens de capital. O Estado passou a financiar e apoiar fortemente a

industrialização e via expansão monetária buscava elevar a demanda agregada e o nível de emprego.

(LÓPEZ, 2011)

Novamente a Nafinsa cumpriria um papel importante no desenvolvimento econômico via

financiamento da indústria. A partir de 1970 até 1982 a empresa incrementou a participação das

indústrias de base no total das operações aprovadas. O Estado, por meio da Nafinsa, realizou

importantes aportes às empresas petroleiras, siderúrgicas e de base. A participação do estado na

economia cresceu fortemente nestes anos. Enquanto entre 1955 a 1970 chegaram a existir 272

empresas paraestatais, durante o período de 1970 a 1982 esse número se elevou a 1.155. (LÓPEZ,

2010)

Estas expansões das atividades do Estado foram apoiadas na liquidez externa gerada pelos

petrodólares. A participação da Nanfisa, nesse contexto, diminui frente a participação do

endividamento externo. Ainda segundo o autor a dívida pública mexicana passou de 7 bilhões de

dólares em 1970 para cerca de 80 bilhões em 1982.

Dada alteração do contexto externo, com a II crise do petróleo e o aumento da taxa básica de

juros norte-americana, era impossível à economia mexicana fazer frente aos encargos da dívida

externa. A atuação da política econômica era voltada a negociação da dívida externa e se abandou a

estratégia de aprofundamento da industrialização. As exigências impostas para a negociação muitas

vezes impunham medidas restritivas, que acabavam por reduzir fortemente a capacidade de atuação

estatal.

Neste contexto a Nafinsa foi transformada em um dos principais representantes do México no

processo de negociação da dívida. A partir de 1983 até o final da década foi através da Nafinsa que

se destinavam os recursos do exterior à economia mexicana. Neste contexto a entidade não cumpria

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mais o papel de promoção do desenvolvimento industrial, sendo extinguido com a alteração de sua

lei orgânica em 1986 que estabelecia a não participação da Nafinsa em projetos industrias e

determinava sua participação minoritária no capital das empresas. Das 88 empresas existentes no

grupo, somente 32 existiam ainda em 1991. (LÓPEZ, 2011)

7. Considerações Finais

Neste trabalho discutimos o processo de industrialização latino-americana. Vimos que, a

despeito de a década de 1930 ser considerada como o momento em que se deu a mudança do “eixo

dinâmico” nas economias latino-americanas, o processo de desenvolvimento industrial já estava em

estágio avançado, com instalações até de indústrias de bens de capital. Entretanto tal avanço era

sustentado pelo aumento das rendas do setor exportador.

Com o comprometimento das rendas do setor exportador, causado pela depreciação dos

termos de troca e, posteriormente à década de 1945, a adoção de políticas protecionistas pelos países

centrais, a indústria se tornou instrumento de manutenção e expansão da renda nacional.

Dado o atraso relativo no processo de industrialização latino-americano, a estrutura existente

em tais economias exigia a adoção de medidas, por parte do estado, que visavam à sua promoção.

Neste contexto, tratamos da importância dos bancos públicos de desenvolvimento no referido

processo.

A partir da análise da atuação desses bancos, no contexto das economias argentina, brasileira

e mexicana, percebemos a importância dos bancos enquanto instrumentos de financiamento do

processo de industrialização, dado que atuava na canalização de recursos nacionais e estrangeiros

para viabilização dos investimentos necessários ao aprofundamento de tal processo. Entretanto,

mesmo com esse aprofundamento, ainda na década de 1980, o setor externo se apresenta como

limitante à industrialização.

A atuação dos bancos alterou sua forma ao do longo período, visando solucionar os diversos

gargalos impostos pelo processo de industrialização destas economias subdesenvolvidas, atuando

desde o estabelecimento de empresas próprias, ao financiamento da instalação da infraestrutura

necessária.

Dentre as principais diferenças identificadas entre as atuações destes bancos, podemos

destacar o financiamento das atividades desenvolvidas. Enquanto a atuação do BCIA estava

majoritariamente vinculada à obtenção de recursos externos para viabilização de seus projetos, a

atuação da Nafinsa buscava manter a menor participação de capital estrangeiro possível em seu

quadro operacional, utilizando-se preferencialmente de recursos próprios. O BNDE representaria o

meio termo entre esses dois bancos, utilizando-se amplamente de recursos próprios bem como de

51

recursos estrangeiros.

Indiferentemente da forma de financiamento da atividade do banco, o setor externo

desempenhou um papel fundamental na viabilização e realização dos projetos destes bancos, bem

como na evolução da própria atuação destes. Seja pela imposição da necessidade de realização de

obras em determinados setores da economia visando a solução de algum gargalo, seja pela

inviabilização de obras devido às imposições monetárias ou financeiras externas. Ao longo de todo o

período a atuação destes bancos esteve fortemente vinculada com as imposições deste setor externo,

mesmo quando o banco está buscando a utilização majoritária de recursos próprios.

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8. Referências Bibliográficas

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