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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA JOÃO PEDRO FEITOSA LIMA ALEXANDRISMOS” E MOVIMENTO BODY POSITIVE: UM ESTUDO SOBRE A SUPERAÇÃO DA GORDOFOBIA. Delmiro Gouveia 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA

JOÃO PEDRO FEITOSA LIMA

“ALEXANDRISMOS” E MOVIMENTO BODY POSITIVE: UM ESTUDO SOBRE A

SUPERAÇÃO DA GORDOFOBIA.

Delmiro Gouveia

2019

JOÃO PEDRO FEITOSA LIMA

“ALEXANDRISMOS” E MOVIMENTO BODY POSITIVE: UM ESTUDO SOBRE A

SUPERAÇÃO DA GORDOFOBIA.

Artigo Apresentando como requisito parcial

para obtenção do título de Licenciatura em

História pela Universidade Federal de Alagoas

– Campus do Sertão.

Orientadora: Profa. Dra. Ana Cristina

Conceição Santos

Delmiro Gouveia

2019

Catalogação na fonte

Universidade Federal de Alagoas

Biblioteca do Campus Sertão Sede Delmiro Gouveia

Bibliotecária responsável: Renata Oliveira de Souza – CRB-4/2209

L732a Lima, João Pedro Feitosa “Alexandrismos” e movimento body positive: um estudo sobre a

superação da gordofobia / João Pedro Feitosa Lima. – 2019.

22 f. : il.

Orientação: Profa. Dra. Ana Cristina Conceição Santos.

Artigo monográfico (Licenciatura em História) – Universidade Federal de Alagoas. Curso de História. Delmiro Gouveia, 2019.

1. História social. 2. Obesidade. 3. Gordofobia. 4. Movimento

Body positive. 5. Redes sociais. 6. Aceitação. I. Título.

CDU: 94(81):613

FOLHA DE APROVAÇÃO

JOÃO PEDRO FEITOSA LIMA

“ALEXANDRISMOS” E MOVIMENTO BODY POSITIVE: UM ESTUDO

SOBRE A SUPERAÇÃO DA GORDOFOBIA.

Artigo Apresentando como requisito

parcial para obtenção do título de

Licenciatura em História pela

Universidade Federal de Alagoas –

UFAL Campus do Sertão.

Orientadora: Profa. Dra. Ana Cristina

Conceição Santos

Aprovado em 5 de Setembro de 2019

“ALEXANDRISMOS” E MOVIMENTO BODY POSITIVE: UM ESTUDO SOBRE A

SUPERAÇÃO DA GORDOFOBIA

João Pedro Feitosa Lima1

RESUMO

Este artigo pretende instigar o leitor à reflexão sobre os processos mentais, físicos e sociais que

estão envolvidos na problemática da gordofobia e como a vivência de cada pessoa com

sobrepeso pode influenciar em sua percepção do Eu. Dessa maneira foi analisado o impacto das

mídias sociais, canais de youtuber, especificamente o canal Alexandrismos e o livro “Pare de

se odiar – Porque amar o próprio corpo é um ato revolucionário” na qualidade de vida das

pessoas com sobrepeso. Verificar a influência positiva que a ação do canal de Youtube

Alexandrismos vem repercutindo, bem como a obra de Alexandra Gurgel; Problematizar o

movimento body positive e de como após a sua criação houve um cenário distinto quando se

fala em aceitação e auto aceitação foram objetivos deste artigo. A metodologia da pesquisa

voltaram-se às análises tanto do Canal de Youtube quanto a obra de Alexandra e as discussões

partiram da ideia de aceitação e corporalidade, integrando a metodologia às falas narradas no

livro “pare de se odiar”, provocando o leitor à refletir sobre o tabu de que gordofobia está

associada a obesidade.

ABSTRACT

This article intends to send the reader into a reflection over the mental, physical and social

processes that are involved in the problem of gordophobia and how the experience of each

overweight person can influence their own self perception. Therefore, this article analyzes the

impact of social media, Youtube channels (specifically the Alexandrismos) and the book "Pare

de se odiar – Porque amar o próprio corpo é um ato revolucionário" in overweight people's

quality of life. To verify the positive influence that the streaming of the Youtube channel

Alexandrismos has been having, as well as the work of Alexandra Gurgel; To criticize the body

positive movement and the way that after its creation a distinct scenario has blossomed when it

comes to acceptance and self acceptance, were objectives of this article. The research

methodology focused on the analysis of both Youtube Channel and Alexandra's work and the

discussions born from ideas of acceptance and corporeality, integrating the methodology into

the narratives of the book “stop hating yourself”, provoking the reader to reflect about the taboo

were gordophobia is associated with obesity.

Palavras Chaves: Alexandrismos, Gordofobia e Movimento Body Positive

1 Graduando em História pela Universidade Federal de Alagoas – Campus Sertão

Sumário

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 6

2. NOTAS SOBRE O CONCEITO DO “ALEXANDRISMO” ................................................ 8

3 – UMA ANÁLISE SOBRE A NARRATIVA DO LIVRO “PARE DE SE ODIAR” DE

ALEXANDRA GURGEL ........................................................................................................ 14

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 20

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 23

6

INTRODUÇÃO

Nos dias atuais, a discussão sobre aspectos corporais vem ganhando espaço no mundo

cientifico. A temática do corpo atravessa todas as áreas do conhecimento, incluindo a História,

tendo em vista a evolução e discussão que é dada, buscando resgatar a memória da humanidade

e ampliar a compreensão da condição humana, desde a literatura passando pelas escolas da

Psicologia, a ótica da educação, saúde, aspectos culturais, permitindo assim um olhar

interdisciplinar.

No Brasil, ao longo da construção e afirmação dos movimentos sociais, que entre 1970

e 1980. Com a redemocratização do Brasil os movimentos ganharam visibilidade e dentre eles:

Movimento Negro, Movimento Feminista, movimento LGBT, mais a frente surge o termo

empoderamento 2 que está presente principalmente nas discussões de gênero e quando se

expressa a frase: mulher empoderada! E assim o termo empoderamento, que agora não se

restringe a questão de mulher e gênero é associada a demais variáveis como a aceitação do

cabelo crespo, enrolado, cacheado e que chega até o corpo e os padrões de beleza.

Conforme o dicionário, o sentido da palavra empoderar remete-se a conceder ou

conseguir poder; passar a ter domínio sobre sua própria vida; não confundir com: apoderar.

Etimologia (origem da palavra empoderar). Em + poder + ar. (dicionário online de português –

Dicio).

No contexto da educação contemporânea, o corpo é estudado em muitas

disciplinas, incluindo ciência, a partir de uma abordagem arraigada,

conservador e fragmentada, não apresentando conexões com outras dimensões

existentes (ALBUQUERUE e BRANDÃO apud BRANDÃO 20015, p.17).

Nessa perspectiva, pode-se perceber que as questões corporais sempre foram temas de

discussão, quer seja com relação à auto percepção, quer seja sobre as questões fisiológicas,

quem seja sobre as questões sociais.

De acordo com Albuquerque (2002), o corpo pode ser compreendido através de várias

óticas e em todos esses olhares, percebe-se que ele é fundamental para a expressão e construção

da sociedade e vice-versa. As diversidades de entendimento sobre o aspecto corporal estão

ligadas às concepções de vida e de mundo inerente ao sujeito. Dessa forma, o corpo, se

apresenta como “locus” para a configuração e reconfiguração da identidade, sexualidade e

gênero. Por este motivo, o corpo deixa de ter importância simplista e passa a ser visto como

2 Reflexão que pode ser encontrada em: Movimentos sociais de sexualidade e gênero: análise do acesso às políticas

públicas. Aguinsky e Ferreira (PUCRS). Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rk/v16n2/08.pdf

7

dinâmica, fonte geradora de ideias e estados somáticos capaz de realizar grande transformação

na história de vida do indivíduo.

No olhar biológico, o corpo é algo anatômico, fisiológico e bioquímico:

O contexto anatômico refere-se às suas partes constituintes, forma e suas

respectivas inter-relações. Na perspectiva fisiológica, revela-se sobre suas

funções corporais, sejam elas químicas, físicas ou elétricas. E o entendimento

bioquímico dia respeito à natureza das substâncias que constituem o corpo

humano. No contexto da educação atual, o corpo é, então, trabalhado em

diversas disciplinas, de maneira estanque e fragmentada, não apresentando

conexões com as outras dimensões existentes (ALBUQUERUE e BRANDÃO

apud BRANDÃO 20015, p.19).

Villas Boas apud Brandão (2015), expondo a visão psicanalítica de corpo, evidencia que

o corpo pode ser pensado com “ficção”, montagem que é feita por cada sujeito de forma

astuciosa a ponto de se ignorar a dimensão de ser humano e suas emoções e sentimentos. O

autor continua a reflexão dando ênfase as pulsões que fazem do corpo uma espécie de terreno

pré-estabelecido sobre o qual é confiado o destino das pulsões. Dessa maneira, o corpo, para a

psicanálise, é paradoxal.

A individualidade é uma outra coisa e os riscos que ela encaminha são nada

mais que sintomas do que faz cada um passar despercebido em suas

reivindicações solitárias. Aí existe a intenção de se fazer valer entre muitos e

agarrar as vantagens que o simbólico oferece ao sujeito dividido. O corpo,

especifica nesse campo, o manejo da sexualidade no que ela propõe

escandalizar por sua eficiência na modalização do prazer e iludindo tantos,

pois estes se fixam nas convicções particulares de quem pensa saber tudo e

dominar todos os aspectos do que o sexual promete (VILLAS BOAS apud

BRANDÃO 20015, p.43).

Percebe-se que as questões singulares e os aspectos sexuais, possuem um espaço

significativo na forma como o ser humano percebe seu corpo. A bagagem de crenças e valores

influenciam positivamente ou negativamente sobre percepção do Eu. Isto vai depender da

vivência com o meio social. Por muitos anos as questões de repressão sexual interferiam de

maneira negativa no auto-conhecimento de seu corpo e das áreas de prazeres, dado que

repercutiam na construção da individualidade no tocante as convicções particulares sobre si.

Dessa maneira foi analisado o impacto das mídias sociais, canais de youtuber,

especificamente o canal Alexandrismos e o livro “Pare de se odiar – Porque amar o próprio

corpo é um ato revolucionário” na qualidade de vida das pessoas com sobrepeso. Verificar a

influência positiva que a ação do canal de Youtube Alexandrismos vem repercutindo, bem como

a obra de Alexandra Gurgel; Problematizar o movimento body positive e de como após a sua

criação houve um cenário distinto quando se fala em aceitação e auto aceitação foram objetivos

deste artigo.

8

2. NOTAS SOBRE O CONCEITO DO “ALEXANDRISMO”

O ALEXANDRISMO3 é um canal criado pela jornalista Alexandra Gurgel, que viveu

por anos com complexos em relação ao seu corpo. Depois de uma busca incessante por

autoconhecimento, a carioca “deu play no Youtube” com vídeos sobre body positive, amor-

próprio, autoestima, cabelo, saúde mental e relacionamentos.

Utilizando como fonte já a obra de Alexandra Gurgel “Pare de se odiar – Porque amar

o próprio corpo é um ato revolucionário” como fonte, e a análise do canal de youtube

Alexandrismos também criado pela mesma autora, referindo-se ao aporte teórico podemos

destacar que na revisão bibliográfica não se encontrou achados sobre a teática, o que mostra

que esse é um assunto pouco explorado pela academia. Porém, é exequível extrair de conteúdo

que estão relacionados a textos sobre corporalidade que os mesmos adentram a aceitação de

corpo e do êxito de como se é.

Uma das fontes de pesquisa como referencial teórico é o que podemos encontrar nos

textos de José Carlos Rodrigues (1979)4, em sua obra “Tabu do corpo” ele relativa bem essa

questão da aceitação do que venha ser a corporalidade, lembro que não é especificidade a

gordofobia, mas adere as diferenciações de formas e gosto do corpo humano. Como podemos

ver na seguinte citação o autor procura uma naturalidade ao se referir ao corpo.

A ideia de negatividade tornasse bastante clara quando as pessoas só querem

se auto rotular por uma busca chamada corpo perfeito e esquecem de

aceitarem o que realmente são... A proposta de ideia positiva somente se dará

conta quando os homens de livre espontânea vontade se colocarem

socialmente como indubitáveis. Sendo da corporalidade algo natural”

(RODRIGUES, 1979, p. 29)

Observamos como o autor procura uma questão de ideia indubitável, de algo que seja

obvio e evidente, mas isso só é possível quando a grande maioria da sociedade reconhecer que

as coisas se dão de modo natural.

A abordagem trazida pelo autor, é importante, pois nos remete a reflexão dos tabus que

perpassam a ótica da pessoa com sobrepeso. O conceito gordofobia, não é tão novo, porém,

existe sobre ele crenças e valores que dificultam o debate. O conceito Alexandrismo, partiu das

reflexões e intervenções da Alexandra Gurbel (criadora do canal Alexandrismos no Youtube),

além de escrever um livro “Pare de se odiar” 2018, que será utilizado para as reflexões sobre a

superação da gordofobia.

3 https://www.youtube.com/channel/UC2LQ5jMieMZjb5k5Gprp2JQ

4 Livro em PDF disponível em: https://www.academia.edu/30616235/O_Tabu_Do_Corpo-

_Jos%C3%A9_Carlos_Rodrigues

9

O canal de Jessica Hipólito5 “Gorda e Sapatão”, trazem também relatos pessoais e entre

eles das diversas ações que ela sofreu desde da sala de aula nas escolas públicas de São Paulo

(cidade onde ela residia) a ofensas horríveis por meio das redes sociais através de suas fotos.

Em um determinado texto de seu blog no qual ela intitula: Um corpo negro, feminino e gordo

no mundo podemos ter a leitura de:

“Não pediremos mais desculpas por sermos o que somos e nem

modificaremos ou sacrificaremos nossos corpos por imposições de uma

sociedade sufocante. Apenas seremos o que nascemos para ser, sem culpas e

sem mais sofrimentos. Criaremos as nossas próprias histórias, ocuparemos

espaços que nos são negados e criaremos outros espaços sempre que preciso

for.” (HIPOLITO, 2014)

Deste modo, Hipólito explicita a importância da identidade de uma sociedade sufocante

por padrões idealizados como a beleza perfeita e que a luta da gordofobia não para, continua

sempre tempo após tempo e fazendo que a aceitação das pessoas gordas seja reconhecida e

respeita, especialmente durante a juventude na escola onde se procura quebrar os paradigmas

de preconceitos existentes nas salas de aula.

O body positive é um movimento feminista cujo principal objetivo é convencer

as pessoas a se aceitarem como são. Seu lema é: “Meu corpo, minhas regras”. O objetivo é lutar

contra os padrões de beleza impostos pela sociedade, livrar as pessoas de complexos e começar

a falar sem medo sobre cada um deles. A ideia principal do movimento é que todos tenham

o direito de ser respeitados, independentemente da aparência, algo muito humano e correto.

Uma pessoa pode não atender aos padrões de beleza que a sociedade exige, mas merece

a mesma aceitação daquelas que “não se encaixam”.

A criação do body positive começou em 1967, com uma campanha contra

a discriminação pública de pessoas obesas e a luta por seus direitos. Mais tarde, ativistas

começaram a exigir respeito não apenas para pessoas com obesidade, mas também para aquelas

com deficiências, cicatrizes, queimaduras, transgêneros, etc. O que parece muito lógico, já que

neste caso estamos falando de características que não podem ser mudadas. Assim, o body

positive ajuda as pessoas a superar seus conflitos com a aparência, para que possam viver uma

vida plena e feliz6.

5 Jéssica Hipólito, mulher de 23 anos lesbica, negra, gorda e feminista assumida e ativista nas causas de

lesbianiedade, feminismo, sexualidade, racismo e gordofobia, entre outras causas relacionadas.

6 https://incrivel.club/inspiracao-mulher/o-que-acontece-com-o-movimento-body-positive-no-seculo-xxi-

815860/

10

Podemos perceber, através dos escritos de Brandini (2007) que o corpo humano sempre

foi amoldado pela cultura, desde o início da História. Nessa perspectiva, a cultura é dotada de

modelos estéticos que estão em conformidade com a essência de cada período sócio histórico,

induzindo os sujeitos de seu tempo a fazer uma construção estética dos próprios corpos para se

sentirem incluídos. O autor discute ainda que certas reproduções sobre o indivíduo compuseram

elementos de distinção social: adornos particulares da nobreza, a crença num sangue distinto,

padrões de peso, altura e proporção corporal associavam-se a classes sociais específicas.

Os gregos já dividiam essência e aparência (corpo/mente), tanto que Platão ponderava

perfeito o mundo das ideias. Contudo, os gregos não tinham uma concepção única do corpo,

como depois se tornou no cristianismo. Na Idade Moderna, o desenvolvimento do capitalismo

mercantil e o surgimento da clínica médica fizeram a ótica sobre o corpo humano mudar, e o

corpo passa a ser visto como objeto de estudo e intervenção: o corpo anato fisiológico da cultura

racionalista burguesa renascentista surge em contraposição ao corpo como ferramenta de

pecado e penitência da cultura cristã medieval.

A magreza se torna o ideal feminino moderno. Passa a ser representada e

glorificada como um sinal externo de sucesso. As mulheres em todo o mundo

ocidental passam a ter uma obsessão por uma imagem corporal esbelta. O

corpo, enfatiza a Autora, é agora estereotipado e estampado diariamente nas

revistas, a beleza é um valor inerente ao feminino: magro, branco e de classe

média. Na contemporaneidade vemos uma época em que o corpo tem sido

percebido como um objeto de consumo, para as representações identitárias e

estéticas – um elemento à disposição que pode ser melhorado de acordo com

as expectativas do retentor, e assim, ser servil às exigências da sociedade.

Nisso, empregam-se de diversos recursos disponíveis (medicamentos,

cirurgia, procedimentos estéticos, dietas, entre outros) para operar na

transformação do corpo que se adeque às exigências sociais. Além do mais, o

corpo assume um estatuto de representação de subjetividades, de

individualidade, de personalidade, de exteriorização de conteúdo das pessoas

(VASCONCELOS e Cols 2004, p. 23).

Em oposição ao entendimento de padronização sobre o corpo feminino, o movimento

Body Positive (Positividade Corporal) nasceu nos Estados Unidos da América, no final da

década de 1990, com a iniciativa de duas mulheres: Connie Sobczak e Elizabeth Scott; elas

fundaram o instituto The Body Positive, movidas pela paixão compartilhada de criar uma

comunidade viva e curativa que oferecesse liberdade de mensagens sociais em contraposição

àquelas sufocantes que mantêm as pessoas em uma luta perpétua com seus corpos (THE BODY

POSITIVE apud SOUZA, 2019).

Pesquisas realizadas especificamente sobre o movimento Body Positive são

escassas. Porém, pesquisas sobre um dos seus pilares, a imagem corporal

positiva, são abundantes. O fato da imagem corporal positiva ser parte da

filosofia do Body Positive Moviment nos permite fazer conexões entre eles.

11

Como por exemplo em seu artigo “What is and what is not positive body

image? Conceptual foundations and construct definition” as autoras Tracy

Tilka e Nichole Wood-Barcalow expõe o que acreditam ser as linhas de

pensamento e linguagem que precedem e compõe a imagem corporal positiva,

e sendo assim correlacionando com o Body Positive Moviment os que também

o precedem e compõe (SOUZA, 2019, p. 24).

De acordo com os estudos realizados por Souza (2019), o body positive tem suas raízes

no fat liberation movement (movimento da liberação do gordo), também conhecido como fat

acceptance movement (movimento da aceitação do gordo), que começou durante a segunda

onda do feminismo no final da década de 60 e ganhou proeminência na terceira onda do

feminismo, atacando problemas sobre biopoliticas e discriminação contra corpos gordos.

Esse movimento possui proposta maior de ajudar as pessoas a compreenderem que é

imponderado resistir ao impulso de interiorizar a imagem e conceito de aparência ideal que a

mídia propaga, e sim apreciar e amar o próprio corpo, mesmo que se diferencie do padrão

imposto por mídias e socialmente construído.

As autoras também apontam a psicologia humanista como um precedente da

imagem corporal positiva. Elas explicam que esse campo da psicologia foi

moldado por Carl Rogers e Abraham Maslow, onde é enfatizado a necessidade

de aceitação incondicional para promover o bem-estar. E a psicologia

humanista também propôs os objetivos do auto realização e da transcendência,

o que envolve ir além da aparência física e sim seu significado espiritual.

(Tilka e Wood-Barcalow, 2012). Ainda, segundo Tilka e Wood-Barcalow

(2012), um precedente importante é a filosofia Budista. O budismo, que

conceitua a angústia psicológica enraizada no desejo rígido e inflexível de

evitar ou controlar experiências internas adversas (pensamentos, emoções,

percepções e sensações). O budismo enfatiza o valor de estar atento às

experiências internas, e aceitar essas experiências internas sem tentar mudá-

las, escolhendo uma direção significativa e valorizada, e seguir nessa direção.

Tilka e WoodBarcalow (2012) explicam que abordar o sofrimento dessa

maneira promove a flexibilidade psicológica e autocompaixão. “A

autocompaixão pode promover a compaixão do corpo, amenizando o

sofrimento causado por ameaças relacionadas à imagem corporal” (SOUZA,

2019, p. 26).

Deste modo, de acordo com as leituras realizadas para a construção deste artigo,

compreende-se o movimento “Body Positive” como qualquer mensagem (visual ou textual),

que desafia o modo dominante de visão corporal e padrões de beleza ideal e que encoraja o

autocontrole da própria imagem de cada indivíduo. Assim, o body positive abarca todo

indivíduo ou ações que denunciam as influências sociais para construções do corpo ideal, e

promove aceitação e amor por corpos de qualquer tamanho, forma ou aparência.

Desde sua fundação nos anos 90 o movimento tem se expandindo,

particularmente na mídia social Instagram. A ferramenta mais utilizada dentro

da mídia social para conectar os usuários ao movimento body positive é a

hashtag. Muitas dos perfis que tratam de body positive incorporam várias

12

hashtags nas suas legendas em ordem de identificar os vários problemas que

suas imagens estão tentando abordar. No Brasil é recente esta discussão sobre

o body positive, apenas no ano de 2018 que foi lançado o primeiro livro

brasileiro voltado especificamente para o movimento: “Pare de se odiar:

porque amar o próprio corpo é um ato revolucionário”, da ativista e jornalista

Alexandra Gurgel, que também é influenciadora digital (SOUZA, 2019, p.

28).

Em seu estudo Dalessandro (2016) expõe a opinião de Ariel Woodson dona do perfil do

instagram @kiddotrue e co- produtora do podcast feminista “Bad Fat Broads”, no qual descreve

essa nova versão do body positive como “ativismo de gordura demente reembalado de forma

adequada para uso corporativo e para proteger os sentimentos de mulheres brancas, cisgênero

e fisicamente aceitas” ou “Eu sou positiva, eu não ligo para o que você pensa sobre o meu

corpo”.

Assim, o movimento tem tornado-se politizado e comoditizado por corporações que

procuram lucrar com a crescente popularidade do movimento, e enfim, mudando a estrutura e

os objetivos do movimento.

Uma outra opinião que critica a interação contemporânea do body positive, é a da

pesquisadora feminista Alexandra Sastre. Em sua tese “Towards a Radical Body Positive”

(2014), Sastre (2014), afirma que apesar de ser difícil e doloroso criticar um movimento como

o body positive, que pela sua ideologia traz tantos relatos profundamente pessoais e íntimos.

Ela não pode se abster de que apesar do formato de que os blogs, Instagram e mídias não

tradicionais sejam bem-intencionados, eles acabam simplesmente, em grande parte, somente

conduzindo a comunidade por um caminho meramente paralelo àquele que é contra em

primeiro lugar.

Alexandra (2014) afirma não querer diminuir as experiências que levaram as pessoas ao

body positive, muito menos descartar a importância dos espaços de resistência a mensagens

difundidas sobre quem devemos ser e como devemos nos parecer. Mas, Alexandra acredita que

vale enfatizar que, em uma análise profunda, o body positive em seu modelo atual não

promoveu uma alternativa realmente resistente ou radial ao status quo.

A mesma autora (2014) destaca ainda expressões mais singulares de positividade corporal

(braços amputados, cicatrizes nos pulsos) para incomodar a noção de que uma relação positiva

com o corpo precisa seguir um caminho padrão. Assim ensina que o body positive pode e deve

refletir não só a verdade do corpo através de suas medidas e contornos, mas também na verdade

imaginativa, afetiva e ansiosa do autoconhecimento contínuo.

Ela encerra sua pesquisa ao apontar um possível caminho para o movimento: A chave

talvez seja

13

reimaginar a positividade corporal não como uma receita para a resolução corpórea, mas

como uma provocação, um chamado para rejeitar a própria noção de qualquer envolvimento

regulado com a construção física e ideológica do corpo. A positividade do corpo radical deve

nos desafiar a visualizar e compartilhar, como vemos, as complexidades de nossas experiências

corporais, verrugas e tudo mais.

14

3 – UMA ANÁLISE SOBRE A NARRATIVA DO LIVRO “PARE DE SE ODIAR” DE

ALEXANDRA GURGEL

É valido enfatizar que, diante da escassez de material científico a cerca dessa

problemática, resolveu-se portanto, delimitar a análise da fala da Alexandra Gurgel conhecida

por abordar em seus vídeos no canal de youtube, temas como auto aceitação, o movimento body

positive, autoestima, relacionamentos e a luta contra a gordofobia. No livro supra citado, a

autora (2018) tem como objetivo ajudar suas leitoras a trilhar os caminhos do amor-próprio e

da construção de uma autoimagem mais positiva, entendendo como a sociedade em que

vivemos interfere diretamente na relação que temos como nosso corpo.

A escolha por esta autora, deu-se porque ela tem sido uma das vozes mais atuantes do

movimento body positive no Brasil, tentando mostrar que amar o próprio corpo é, de fato, um

dos atos mais revolucionários deste século.

Com a justificativa em mente, analisaremos agora, trechos do livro no sentido de

reforçar a luta pela superação da gordofobia.

[...] Eu era uma pessoa que precisava se encaixar e parecer com as outras,

magras,... Conforme eu crescia, o colégio se tornava um ambiente hostil

(GURGEL, 2018, p. 15).

Nesta fala, a autora reflete sobre a necessidade que o sujeito imprime de autoafirmação

relacionada aos padrões sociais. Os chamados constructos sociais.

Sempre falo que sofri bullying na escola, mas durou muito pouco tempo... me

tornei uma adolescente que “zoava” a si mesma, num processo

autodepreciativo. De toda maneira, encontrei no esporte uma forma de me

destacar e me sentir parte de um grupo (GURGEL, 2018, p. 15).

É importante abrir um parêntese na narrativa da Gurgel (2018) sobre o bullying, que

apesar de ser um termo bastante discutido em escolas e no âmbito das ciências da saúde, seus

índices continuam a crescer no pais.

De acordo com Cunha e Weber (2011), essa violência identificada no ambiente escolar

não está restrita aos muros da escola, sendo o bullying considerado um fenômeno social. Dessa

forma, o bullying não pode ser compreendido fora da dinâmica da sociedade, uma vez que esse

fenômeno está atrelado a fatores políticos, econômicos e culturais, não podendo, então, ser

dissociado do contexto social, urbano, relacional e familiar no qual as crianças e adolescentes

estão inseridos, dado que evidencia e reforça a importância da discussão sobre a gordofobia,

15

visto que, entre as vítimas do bullying, crianças e adolescentes com sobrepeso aparecem com

considerável índice.

Desde os 14 anos comecei a tratar a depressão... felicidade útopica. Eu

desejava ser anoréxica, desejava ser bulímica e me sentia fracassada por não

conseguir seguir com todas as dicas (GURGEL, 2018, p. 17).

A fala da autora supracitada, remete a reflexão sobre a necessidade de aceitação que o

convívio com o outro causa em nós, que conduz a pensar sobre a necessidade de autoestima,

estudada por Carl Rogers citada por Fadiman e Frager (1986) quando defendia que o homem

desenvolve sua personalidade a serviço de objetivos positivos, e cada organismo apresenta

determinadas aptidões, capacidades e potencialidades inatas. Neste processo único para cada

pessoa, ocorrem experiências e comportamentos congruentes e incongruentes, ambos

necessários ao crescimento saudável e inevitáveis, ou seja, refere-se ao grau de exatidão entre

a experiência da comunicação e a tomada de consciência; indica o estado de coerência interna

e autenticidade do indivíduo, levando-o a aceitar os sentimentos, experiências e atitudes do

outro.

Eu estava com 17 anos, foi uma época difícil, complicada, muitos problemas

familiares, eu tive um episódio de tentativa de suicídio (GURGEL, 2018, p.

17).

O suicídio é, segundo Durkheim (2000, p.38), “todo o caso de morte que resulta, direta

ou indiretamente, de um ato, positivo ou negativo, executado pela própria vítima, e que ela

sabia que deveria produzir esse resultado”. Conforme o sociólogo, cada sociedade está

predisposta a fornecer um contingente determinado de mortes voluntárias, e o que interessa à

sociologia sobre o suicídio é a análise de todo o processo social, dos fatores sociais que agem

não sobre os indivíduos isolados, mas sobre o grupo, sobre o conjunto da sociedade.

Cada sociedade possui, a cada momento da sua história, uma atitude definida em

relação ao suicídio. Assim, podemos ter uma noção do quanto que as percepções corporais

negativas de si mesmo, afetam significativamente o psicológico do ser humano. No Brasil, os

números são preocupantes: de 2007 a 2016, 106.374 pessoas morreram em decorrência do

suicídio — em 2016, a taxa foi de 5,8 por 100 mil habitantes de acordo com o Ministério da

Saúde (2017).

Os dados revelam a preocupante problemática que também é vivenciada pela pessoa

com sobrepeso, uma vez que o sobrepeso muitas vezes faz o sujeito acreditar que não pertence

16

ao grupo “socialmente aceitável” e esse fator repercute de forma negativa em sua autoestima,

percepção do Eu, sentimentos e emoções.

Não é à toa que o maior elogio para uma menina é “linda” e para o menino,

“esperto”. Ou seja, a menina cresce uma mulher julgada pela aparência e o

menino, um homem julgado pela capacidade (GURGEL, 2018, p. 35).

Nesta passagem, reflete-se sobre o universo patriarcal no qual o País está inserido. De

acordo com Freyre apud Tavolaro (2017), o patriarcalismo estabeleceu-se no Brasil como uma

estratégia da colonização portuguesa. As bases institucionais dessa dominação são o grupo

doméstico rural e o regime da escravidão. A estratégia patriarcal consiste em uma política de

população de um espaço territorial de grandes dimensões, com carência de povoadores e de

mão-de-obra para gerar riquezas. A dominação se exerce com homens utilizando sua

sexualidade como recurso para aumentar a população escrava. A relação entre homens e

mulheres ocorre pelo arbítrio masculino no uso do sexo.

Dessa maneira, percebe-se que ser “gordo” num país onde a capacidade do homem é

exaltada, sobreposta aos aspectos físicos da mulher, não é tarefa fácil, porque envolve raízes de

crenças e valores socialmente construídos, os quais estão enraizados numa cultura patriarcal

que exige de forma não equivalente de homens e mulheres em todos os âmbitos.

Dessa forma, por mais que as Leis tenham mudado, as questões culturais e

religiosas continuam presas ao moldes antigos, ou seja, a mulher ainda é vista

como a propriedade do homem, e um homem de respeito não deve se meter

na propriedade alheia (GURGEL, 2018, p. 35).

A normalização da intolerância contra pessoas gordas é encorajada por órgãos de saúde

pública e campanhas publicitárias – especialmente no verão, quando os corpos ficam sempre à

mostra. Uma sociedade que prega um padrão estético inalcançável também colabora com a

repressão de quem não consegue comprar uma roupa em uma loja de departamentos popular.

Se normaliza, se vela e se repreende7.

7 https://falauniversidades.com.br/gordofobia/

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(Imagem1: Reprodução/Facebook página Empodere Duas Mulheres)

A imagem 1 acima representada, evidencia o Cyberbullying8 (um tipo de violência

praticada contra alguém através da internet ou de outras tecnologias relacionadas.

Praticar cyberbullying significa usar o espaço virtual para intimidar e hostilizar uma pessoa

(colega de escola, professores, ou mesmo desconhecidos), difamando, insultando ou atacando

covardemente. É uma prática altamente danosa e frequentemente utilizada nos meios sociais

servindo até de catalizador no processo depressivo da vítima.

8 https://www.significados.com.br/cyberbulliyng/

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(Imagem 2 - Foto: Reprodução/Instagram)

A figura número 2 acima exposta, relata o desabafo de “Nara Almeida”, que era uma

digital influencer que ganhou mais notoriedade quando passou a compartilhar com seus

seguidores todas as fases de seu tratamento contra um câncer no estômago (hoje já falecida).

Em uma postagem meses antes criticou os elogios que recebia por estar magra. Diversas pessoas

comentavam o quanto ela estava bonita, desejavam seu corpo independente do resultado vir por

meio de uma luta contra uma doença complicada. Após sua morte, houve-se uma inundação de

matérias que contavam sua trajetória, gente de todo canto se solidarizando com a situação,

deixavam, e ainda deixam, mensagens de apoio9.

As figuras 1 e 2, escolhidas como recorte para esse trabalho, têm a intensão de mensurar

dois casos ocorridos no mês de maio. O primeiro deixado de lado, banhado pelo ódio; o outro

reportado em muitas mídias e cheio de compaixão. Isso é que se chama empatia seletiva, onde

a pessoa escolhe quem apoiar pela imagem do que é bonito que lhe foi construída através das

influências sociais. Existe na sociedade brasileira, embora não se tenham dados estatísticos

comprobatórios, a cultura da repressão pela figura do gordo, e essas duas imagens demonstram

com clareza essa afirmativa.

9 https://falauniversidades.com.br/gordofobia/

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(Figura 3 - Foto: Reprodução/Instagram)

O mercado precisa acompanhar as mudanças, certo? Com a moda não foi diferente.

Diante da procura por roupas acima do manequim 42 muitas marcas e lojas começaram a

produzir modelos que atendessem a demanda, só que nem tudo é 100%. Os preços das peças

ainda ultrapassam a média do salário brasileiro as roupas com numeração maior que tamanho

44 não consegue aparecer em lojas populares. Uma influência para isso são as passarelas plus

size que também impuseram um padrão de corpo gordo: seios grandes, cintura fina e quadris

largos. Bastante remetente aos corpos femininos da Era Vitoriana10.

A Figura 3 retrata a modelo brasileira “plus size” Fluvia Lacerda de renome

internacional. Já foi capa da revista Vogue e recentemente fez um ensaio à revista Playboy do

Brasil. Ela faz jus a esse molde de corpo que normalmente representa as mulheres gordas dentro

do mundo da moda. Certamente foi uma enorme revolução e serve de inspiração às mulheres

de todas as idades, deixa visível que ser “grande dos lados” não caracteriza feiura ou falta de

feminilidade e sensualidade. Fluvia também colabora na militância. Em 2017 lançou um livro

intitulado “Gorda não é palavrão” onde conta sua trajetória, problemas enfrentados e defende o

corpo gordo.

O necessário ainda é desmistificar esse ideal do corpo gordo aceitável. Do mesmo jeito

que encontramos corpos magros de todos os jeitos, as pessoas gordas também serão diferentes.

10 https://falauniversidades.com.br/gordofobia/

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Quadris estreitos, seios grandes e pequenos, barrigas grandes, cintura marcada ou não e etc.

Com tanta diversidade, exigir um padrão dentro do padrão é impor um mundo irreal

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com os argumentos expostos, há de se considerar que a os construtos sociais cria e

molda comportamentos e costumes, justamente, devido à sua influência de conferir ou afirmar

identidades. Nesta construção de identidade, Baudrillard (1995) ensina, que o corpo assumiu

uma condição importante dentro da aparência ideal. Ele mesmo tornou-se um objeto de

consumo. Ainda afirmando “Na panóplia do consumo, o mais belo, precioso e resplandecente

de todos os objetos – com mais conotações que o automóvel – é o corpo” (BRAUDRILLARD,

1995, P. 136).

Dessa maneira, o corpo ganha valor cultural, além do biológico, de tal maneira que por

ser cultura pode ser alterado. E neste espaço em que a sociedade colocou o corpo, existe o temor

de engordar e a busca pelo emagrecer. A magreza é mostrada pela mídia, muitas vezes como a

chave do sucesso, do equilíbrio da felicidade e aqui pode-se compreender os danos causados

pelo poder de alienação da mídia.

Então, o corpo assume um papel de status social. De modo que tudo que é positivo é

ligado a magreza e tudo que é negativo ao corpo gordo (Sudo e Luz, 2007). Sendo assim,

acredita-se que programas de intervenção de imagem devem destacar a natureza idealizada das

imagens e conteúdos enviados para as mídias sociais, e educar as crianças e adolescentes sobre

o impacto que as comparações com esse tipo de conteúdo podem causar em sua estrutura

mental.

Na direção contrária, percebe-se o movimento de aceitação corporal “Body Positive”,

fortemente baseado no campo da psicologia humanista, nos movimentos de aceitação do corpo

gordo ligados ao corpo gordo e ao princípio de autocompaixão do Budismo. Esse movimento

ajuda de modo formal (The Body Positive Institute) e informal (mídia sociais), a promover uma

conexão consciente, apreciativa e benevolente com o corpo.

De modo que agora o “Body Positive” ganha espaço de filosofia multifacetada. Como

ensina Alexandra Gurgel (2018), quando narra a apreciação corporal, aceitação e amor ao

corpo, ampliando o conceito de beleza, positividade interna (que se manifesta no exterior como

filtragem de informações de uma maneira que proteja o corpo). É um movimento estável, mas

ajustável via intervenção, provavelmente protetora, ligada à aceitação do corpo incondicional

por outros, e moldada pelas múltiplas identidades sociais dos indivíduos.

Com peso significativamente considerável no sentido positivo na qualidade de saúde

mental das pessoas gordas e de importância impar na reconstrução do entendimento sobre

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aquilo que é feio e aquilo que é bonito em nós mesmos e consequentemente no outro. Pois, de

acordo com Iolanda Cabral, “É, a beleza está nos olhos de quem vê e no coração de quem sente.

Se sou capaz de sentir o que vejo. Sou capaz de ver o que sinto. Compreender e aceitar quem

sou”.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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2005.

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RODRIGUES, José Carlos. O tabu do corpo. – Rio de Janeiro: Edições Achiamé Ltda. 1975

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