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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS ELIANE DO NASCIMENTO SANTOS SELETIVIDADE FISIOLÓGICA DE PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS SOBRE Coccidophilus citricola (Brèthes, 1905) (COLEOPTERA: COCCINELLIDAE) EM Diaspis echinocacti (Bouché, 1833) (HEMIPTERA: STERNORRHYNCHA: DIASPIDIDAE) PALMA-FORRAGEIRA Rio Largo Alagoas – Brasil 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

ELIANE DO NASCIMENTO SANTOS

SELETIVIDADE FISIOLÓGICA DE PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS SOBRE Coccidophilus citricola (Brèthes, 1905) (COLEOPTERA: COCCINELLIDAE) EM

Diaspis echinocacti (Bouché, 1833) (HEMIPTERA: STERNORRHYNCHA: DIASPIDIDAE) PALMA-FORRAGEIRA

Rio Largo Alagoas – Brasil

2010

ELIANE DO NASCIMENTO SANTOS

SELETIVIDADE FISIOLÓGICA DE PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS SOBRE Coccidophilus citricola (Brèthes, 1905) (COLEOPTERA: COCCINELLIDAE) EM

Diaspis echinocacti (Bouché, 1833) (HEMIPTERA: STERNORRHYNCHA: DIASPIDIDAE) PALMA-FORRAGEIRA

Orientadora: Sônia Maria Forti Broglio Micheletti

Rio Largo

Alagoas-Brasil 2010

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Unidade Acadêmica de Ciências Agrárias como

parte dos requisitos para obtenção do título de

Engenheiro Agrônomo.

ELIANE DO NASCIMENTO SANTOS

SELETIVIDADE FISIOLÓGICA DE PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS SOBRE Coccidophilus citricola (Brèthes, 1905) (COLEOPTERA: COCCINELLIDAE) EM

Diaspis echinocacti (Bouché, 1833) (HEMIPTERA: STERNORRHYNCHA: DIASPIDIDAE) PALMA-FORRAGEIRA

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Agronomia apresentado em junho de 2010 e

aprovado com média ______, pela Banca Examinadora formada pelos seguintes membros:

Profª. Drª. Sônia Maria Forti Broglio Micheletti

Drª. Nivia da Silva Dias

Engenheira Agrônoma, Mestranda, Jakeline Maria dos Santos

A minha mãe Nelcy do Nascimento Santos, ao meu tio Neilton do Nascimento Santos, ao meu avô Nelson Antonio dos Santos, a minha tia Juvanilda, e primas Deyse e Denise e ao meu noivo Marcio Alberto , Dedico.

AGRADECIMENTOS

A Deus, por estar presente em minha vida e por toda graça alcançada.

A minha mãe Nelcy do Nascimento Santos, pelo incentivo aos estudos,

esforço, dedicação, carinho, amor, simplicidade, estimulo e por ter me dado exemplo

de estrutura pessoal e sólida, para que eu pudesse ultrapassar e vencer os

obstáculos e assim trilhasse caminhos de conquistas. Sem contar no apoio

fundamental dos meus familiares e do meu noivo.

A orientadora e professora Sônia Maria Forti Broglio Micheletti, por ter me

concedido esta oportunidade no laboratório de Entomologia Agrícola, pela sua

dedicação, determinação, auxílio e por todos os seus ensinamentos.

As minhas amigas de sala que na hora que mais precisei estiveram ao meu

lado Vanessa de Melo Rodrigues, Hully Monaisy Alencar Lima, Taciana de Lima

Salvador.

Aos colegas de laboratório meu muito obrigado.

A todas as pessoas que contribuíram diretamente e indiretamente com

minha vida acadêmica.

VI

SELETIVIDADE FISIOLÓGICA DE PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS À Coccidophilus citricola (Brèthes, 1905) (COLEOPTERA: COCCINELLIDAE) EM

Diaspis echinocacti (Bouché, 1833) (HEMIPTERA: STERNORRHYNCHA: DIASPIDIDAE) PALMA-FORRAGEIRA

RESUMO

Este trabalho teve por objetivos estudar a seletividade de inseticidas naturais

e entomopatógenos a adultos de Coccidophilus citricola (Brèthes, 1905) (Coleoptera:

Coccinellidae). Os bioensaios foram conduzidos no Laboratório de Entomologia do

Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Alagoas (CECA, UFAL),

Rio Largo, AL. Foram utilizados adultos do predador C. citricola de segunda geração,

oriundos de criação mantida em laboratório em condições ambientais (T 25,5 ± 2o C,

UR 60,5 ± 10 % e fotofase de 14 horas). Como presa foram utilizadas cochonilhas

Diaspis echinocacti (Bouché, 1833) (Hemiptera: Sternorrhyncha: Diaspididae)

obtidas de cultivo de palma forrageira mantido em casa-de-vegetação. Para os dois

bioensaios, o delineamento experimental foi inteiramente casualizado, contendo

cinco tratamentos. Para os produtos naturais os tratamentos foram: extrato alcoólico

de nim a 2 % (p/v); óleo emulsionável da semente de nim (1.500 ppm/L) de

Azadirachta indica A. Juss (Meliaceae) a 3 % (v/v); óleo mineral a 1 % (v/v);

“querobão” (100 g de sabão, 100 g de fumo, 10 mL de querosene e 10 litros de

água) e uma testemunha (água destilada). No bioensaio com os entomopatógenos

os tratamentos foram (em conídios. mL-1) M. anisopliae - Fitossan 4, 107; M.

anisopliae - Fitossan 4, 108; B. bassiana - Fitossan 1, 107 e B. bassiana - Fitossan 1,

108 e testemunha (água destilada). Cada tratamento foi constituído por dez

repetições e cada uma delas com cinco insetos adultos. As pulverizações foram

realizadas sobre porções de palma-forrageira infestadas e posteriormente oferecidas

ao predador. Avaliou-se a mortalidade 72 horas após a aplicação dos produtos. Os

dados foram submetidos à análise de variância pelo teste F e as médias

comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5 % de probabilidade. Os tratamentos

“querobão” e o óleo da semente de nim não foram seletivos a C. citricola, causando

VII

significativa mortalidade; enquanto o óleo mineral e extrato aquoso de nim

mostraram-se pouco nocivos, a suscetibilidade de C. citricola aos entomopatógenos

dependeu da concentração do isolado.

Palavras-chave: palma-forrageira, cochonilha-de-escamas, controle alternativo,

produtos naturais, fungos entomopatogênicos.

VIII

LISTA DE FIGURAS

Pág.

Figura 1. Pulverização dos produtos fitossanitários em porções de palma-forrageira

infestadas por Diaspis echinocacti (Bouché, 1833)..................................................22

Figura 2. Recipientes plásticos contendo porções de palma-forrageira infestadas por

Diaspis echinocacti (Bouché, 1833), tratadas com produtos fitossanitários e

oferecidas à Coccidophilus citricola (Brèthes, 1905)...................................................22

Figura 3. C. citricola...................................................................................................23

Figura 4. C. citricola predando D. echinocacti...........................................................23

IX

LISTA DE TABELAS

Pág.

Tabela 1 – Tratamentos e dosagens usadas no estudo com produtos fitossanitários .....................................................................................................................................22

Tabela 2 – Tratamentos e dosagens usadas no estudo com fungos.........................25

Tabela 3. Mortalidade (%) ± EP de adultos de Coccidophilus citricola (Brèthes, 1905)

submetidos a diferentes produtos fitossanitários.........................................................26

Tabela 4. Mortalidade (%) ± EP de adultos de Coccidophilus citricola Brèthes, 1905

submetidos a diferentes isolados de fungos entomopatogênicos..............................27

SUMÁRIO

RESUMO...................................................................................................................VI

LISTA DE FIGURAS.................................................................................................VII

LISTA DE TABELAS................................................................................................VIII

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................11

2. REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................13

2.1. Cultura de Palma -Forrageira:.......................................................................13

2.2. Diaspis echinocacti (Bouché, 1833) (Hemiptera: Sternorrhyncha:

Diaspididae) e predadores (Coccinellidae)..........................................................14

2.3. Manejo Integrado de D. echinocacti, enfatizando o Controle Biológico.....16

2.4.Seletividade aos produtos fitossanitários em Coccinellidae.........................18

3. MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................................21

3.1. Seletividade em relação a produtos fitossanitários ......................................21

3.2. Seletividade em relação a fungos entomopatogênicos.................................23

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................25

4.1. Seletividade em relação a produtos fitossanitários.......................................25

4.2. Seletividade em relação a fungos entomopatogênicos.................................26

5. CONCLUSÕES.......................................................................................................28

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................29

.

11

1. INTRODUÇÃO

A família Coccinellidae é constituída principalmente por espécies predadoras,

eficazes agentes no controle biológico de pragas, atuando diretamente sobre a

população das mesmas. Os insetos pertencentes a essa família são comumente

chamados de joaninhas, atacam diversas presas como pulgões, cochonilhas, ácaros,

ovos e lagartas de lepidópteros (BUENO & BERTI FILHO, 1991).

O controle biológico de pragas utilizando insetos benéficos, como as joaninhas,

tem sido evidenciado nos dias atuais devido ao incremento da necessidade da utilização

racional de insumos agrícolas, como os agrotóxicos e da condução das culturas

agrícolas dentro de um contexto econômico, ecológico e social, premissas do manejo

integrado de pragas (GUERREIRO, 2004).

Coccinelídeos são importantes inimigos naturais de pragas e trabalhos têm sido

desenvolvidos para aumentar sua eficiência de predação, seja através de liberações ou

de métodos que conservem esses predadores como, por exemplo, uso de produtos

seletivos (SANTOS & GRAVENA, 1997).

O predador Coccidophilus citricola (Brèthes, 1905) (Coleoptera: Coccinellidae) é

um dos principais inimigos naturais das cochonilhas-de-carapaça na América do Sul

(GRAVENA, 1984). C. citricola preda ovos, ninfas e adultos de diaspidídeos, sendo que

a fêmea deposita seus ovos sob as carapaças das cochonilhas predadas. Na América

do Sul , a joaninha C. citricola destaca-se como uma das mais importantes predadoras

da cochonilha de carapaça Diaspis echinocacti (Bouché, 1833) (Hemiptera:

Sternorrhyncha: Diaspididae) (SILVA et al., 2003), ocorrendo frequentemente em palma-

forrageira.

Testes para o estudo do efeito de produtos fitossanitários em organismos

benéficos tornaram–se obrigatórios em vários países, tendo como objetivo conhecer a

seletividade desses compostos e obtendo informações para seu uso em programas de

controle integrado (HASSAN, 1997). Inseticidas ideais para uso em programas de

manejo integrado de pragas devem ser tóxicos para as pragas e não para os inimigos

naturais (PLAPP & BULL, 1978).

.

12

Há informações escassas na literatura sobre os efeitos de produtos fitossanitários

em relação à C. citricola, apesar de ser um dos inimigos naturais mais importantes no

controle natural de D. echinocacti em cultivo de palma forrageira em Alagoas. Neste

contexto, BORN et al. (2009) avaliaram a possibilidade de controlar D. echinocacti com

o uso de inseticidas alternativos e controle biológico envolvendo entomopatógenos,

obtendo 76,68% de mortalidade média com o uso do extrato da semente de nim, em

fração hexânica, porém não informando sobre os seus efeitos em relação aos inimigos

naturais.

Devido à importância de C. citricola como predador de D.echinocacti, este

trabalho teve por objetivo estudar a seletividade de produtos naturais e

entomopatógenos a adultos deste inimigo natural.

.

13

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Cultura da palma-forrageira

O cultivo da palma-forrageira abrange uma área no Nordeste de mais de 550

mil hectares, sendo concentrado nos estados de Pernambuco, Alagoas e Paraíba.

As vantagens de seu cultivo é que se trata de uma cultura que suporta condições de

déficit hídrico, altas temperaturas, solos pobres e é de fácil manejo no plantio

(GOVERNO DA PARAÍBA, 2004).

No Nordeste são cultivados três tipos distintos de palma, pertencentes à

família Cactaceae: Opuntia ficus-indica Mill (“gigante ou graúda”); Opuntia sp.

(“redonda”), que segundo os botânicos é uma variação da graúda e Nopalea

cochenillifera (L.) Salm Dick (“miúda ou doce”) (ARRUDA, 1983).

A variedade de palma-forrageira mais cultivada no estado de Alagoas é da

espécie N. cochenillifera. Não apresenta espinhos, sendo também de menor

resistência a praga, porém é a mais palatável e de maior valor forrageiro

(CARVALHO, et al. 1978; SANTOS et al. 1991).

As cactáceas forrageiras são espécies bem adaptadas às condições adversas

do semi-árido, devido a sua fisiologia, caracterizada pelo processo fotossintético

denominado metabolismo ácido das crassuláceas (CAM). À noite, estas plantas

abrem os estômatos que permitem a entrada do CO2, que fica armazenado

temporariamente em ácido málico, sendo consumido nas reações fotossintéticas do

dia seguinte. A redução do CO2 na fotossíntese ocorre sem a troca de gases com a

atmosfera, consequentemente, sem perda de água. Além desse comportamento

fisiológico, a palma apresenta raízes superficiais, que penetram normalmente, até

oitenta centímetros de profundidade no solo e atingem vários metros de extensão,

formando verdadeira rede capilar, com elevada capacidade de absorção da água do

solo (SANTOS, 1992).

.

14

2.2. Diaspis echinocacti (Bouché,1833) (Hemiptera: Sternorrhyncha:

Diaspididae) e predadores seus (Coccinellidae)

D. echinocacti é encontrada nas diversas regiões do globo. As plantas

hospedeiras desse inseto são em sua grande maioria, cactáceas, sobretudo

forrageiras, que são desprovidas de espinhos, muito embora também possa ocorrer

em cactáceas de espinho (ARRUDA, 1983), em assa-peixe (Vernonia polyanthes L.)

(Asteraceae) e em Urticaceae (SILVA, 1968).

As causas da persistência de D. echinocacti para a região da Bacia Leiteira

do Estado de Alagoas são plantio de propagos já infestados e o clima, com

temperatura e umidade relativa altamente favorável a sua adaptação e multiplicação

(SILVA, 1984; SILVA & BARBOSA, 1984).

Os danos ocasionados por D. echinocacti podem ser diretos, pelo ato de

alimentação e indiretos pela injeção de toxinas e de fitopatógenos no hospedeiro

(MILLER & KOSZIARAB, 1979). Qualquer parte da planta pode ser atacada, ficando

revestida de escamas onde são observadas, com o auxílio de uma lupa de campo,

com aumento de dez vezes, fêmeas adultas, ovos e ninfas neonatas em movimento,

além de ninfas fixas (CARVALHO et al. 1978). As áreas infestadas e danificadas

adquirem coloração marrom-clara e, com a intensificação do ataque, a planta torna-

se clorótica, com posterior apodrecimento e queda das raquetes. As perdas, são

decorrentes da redução do número de plantas por área, e da rejeição das partes

infestadas pelos animais (ANDRADE, 1990; LIMA, 1992).

Entre as cochonilhas, esse grupo é o que apresenta o mais alto nível de

evolução, tanto por ser séssil (quanto mais especializada a espécie, menor sua

mobilidade), quanto por secretar carapaça cerosa (MILLER & KOSZTARAB, 1979).

Além de possuir carapaça protetora, característica da família, essa espécie ainda

apresenta uma característica reprodutiva importante que leva a um alto potencial de

infestação, representada pela coexistência de dois tipos de reprodução: a

partenogênese telítoca, que é a mais comum, em que, fêmeas originam somente

fêmeas e a anfigonia, que origina machos e fêmeas (Arruda, dados não publicado).

.

15

A biologia de D. echinocacti, foi estudada, em laboratório, por Arruda (1983), a

uma temperatura de 27,13 ± 0,38 ºC e umidade relativa de 75,88 ± 0,81%. Seus

ovos têm forma elíptica, de coloração amarela esverdeada no primeiro dia,

passando para branco no segundo. A partir do terceiro dia, pode-se perceber o

embrião desenvolvido, através de zonas escuras. Os ovos postos recentemente

apresentam-se presos uns aos outros, assim como os elos de uma corrente. Depois

vão se soltando e ficam juntos da fêmea, embaixo da escama. A partir do terceiro

dia, começam a eclodir; no primeiro estádio, machos e fêmeas se confundem,

apresentam-se como uma larva campodeiforme e caminham livremente sobre a

“palma” (9 a 10 dias). A partir do segundo estádio aparece nitidamente a diferença:

as fêmeas formam escamas arredondadas e os machos, escamas alongadas, a

fêmea ápoda, fica estacionada sugando a planta hospedeira e realiza ainda duas

ecdises até a fase adulta. (8 a 9 dias segundo estádio, 11 a 13 para o terceiro). Os

machos também realizam três ecdises. A longevidade máxima para machos foi de

três dias, sendo que os adultos são de vida livre e das fêmeas 49 a 52 dias. O

número de gerações anuais é de aproximadamente sete.

A disseminação da cochonilha, por si mesma, acontece somente durante o

primeiro estádio, quando a ninfa apresenta-se hexápoda e pode caminhar livremente

sobre as raquetes da “palma”. A propagação a grandes distâncias só é possível por

outros meios, tais como: vento, outros animais (forésia) e pelo homem em suas

atividades agrícolas (ARRUDA, 1983). Na época seca, a disseminação da

cochonilha é mais rápida. Dois fatores influenciam a maior incidência da praga: a

população de inimigos naturais diminui e a planta sofre perda de umidade e

nutrientes, isto a torna mais vulnerável ao ataque do inseto (EMBRAPA SEMI-

ÁRIDO, 2001).

Coccinellidae são besouros conhecidos vulgarmente sob o nome de

joaninhas. Formam um grupo bem conhecido de insetos pequenos, ovais, convexos

e frequentemente de coloração brilhante, que apresentam tarsos com três

segmentos, sendo principalmente predadores. Quanto à metamorfose são

holometábolos, com larvas alongadas, achatadas e cobertas por pequenos

tubérculos ou espinhos (campodeiformes) (BORROR & DELONG, 1988).

.

16

Predador é um organismo que, para seu completo desenvolvimento

necessita de mais de um indivíduo da presa (BERTI FILHO & CIOCIOLA, 2002). Na

América do Sul, a joaninha C. citricola destaca-se como uma das mais importantes

predadoras de cochonilhas de carapaça dos citros (SILVA et al. 2003).

2.3. Manejo Integrado de D. echinocacti com ênfase ao controle biológico

Para controlar D. echinocacti, indica-se o Manejo Integrado de Pragas (MIP)

com ênfase para o Controle Biológico, uma vez que são conhecidos diversos

inimigos naturais da cochonilha (CARVALHO et al. 1978; SILVA, 1990).

O MIP tem como principal objetivo manter a população de uma determinada

praga abaixo do nível de dano econômico: as medidas de controle adotadas devem

ser dirigidas para diminuição da densidade populacional do inseto para níveis de

equilíbrio que não causem danos econômicos, e não para exterminar, isso podendo

acarretar perdas irrecuperáveis no equilíbrio do ecossistema. O MIP da cochonilha-

da-palma deve envolver além das medidas químicas e biológicas, as culturais,

mecânicas e físicas, para impedir o crescimento populacional do inseto (BERGAMIN

FILHO & AMORIM, 19991 apud ARRUDA FILHO & ARRUDA, 2002).

O controle biológico é, a médio e a longo prazo, um dos métodos mais

baratos, mais seguros e mais eficientes no controle de pragas. Não polui o ar, a

terra, os rios, o mar, nem destrói a vida selvagem. Portanto, apresenta ausência de

efeitos colaterais adversos, principalmente quando comparado ao controle químico.

A resistência aos inimigos naturais não se desenvolve por parte das pragas, ao

contrário do que pode ocorrer no caso de resistência às substâncias químicas.

Como a palma-forrageira serve de alimento para rebanhos, cuja carne e leite

são consumidos pela população, a possibilidade de utilização do controle biológico,

visando manter a população de cochonilhas em níveis baixos, pode ser uma técnica

viável, uma vez que os inseticidas utilizados para controle dessa praga podem

deixar resíduos perigosos à saúde humana (LIMA, 1998). 1 BERGAMIM FILHO, A.; AMORIM, L. Manejo Integrado: problemas conceituais para sua aplicação em

Fitopatologia. In: Manejo Integrado de Doenças e Pragas, 1, 1999. Viçosa, Brasil. Encontro. Universidade

Federal de Viçosa, p.6-29, 1999.

.

17

Predadores e parasitos (parasitóide ou parasito protélico) são agentes

entomófagos. Predadores são organismos de vida livre, usualmente maiores do que

as presas, que requerem grande número delas para completar o seu ciclo de vida e

podem apresentar comportamento predatório tanto no estágio ninfal/larval como no

adulto. Na Entomologia, considera-se como parasitóide o inseto que parasita um

hospedeiro, completa o seu ciclo em um único hospedeiro, usualmente matando-o.

Suas larvas exibem o hábito parasítico e os adultos são de vida livre, alimentando-se

de néctar, pólen, etc. (BERTI FILHO & CIOCIOLA, 2002; BUENO, 2005).

A indicação do controle biológico da cochonilha-da-palma, no Nordeste do

Brasil, já se encontra estabelecido. O controle biológico tem maior probabilidade de

ser eficiente em culturas perenes, semiperenes e anual onde a população da praga

pode manter-se continuamente durante o ano e em regiões de clima tropical e

subtropical, principalmente para os predadores de diaspidídeos, talvez por serem as

condições mais estáveis e também quando o alvo é uma única praga, pois este tipo

de controle não se tem mostrado eficiente quando, na mesma planta, existem várias

espécies de pragas não apreciadas igualmente pelo predador (BEIERNE, 1962;

LHOSTE, 19792; DREA & GORDON, 19903 apud LIMA, 1998).

Como as cochonilhas desse grupo desenvolvem facilmente resistência a

inseticidas, o controle biológico vem sendo resgatado através do interesse na

utilização de inimigos naturais, destacando-se, entre eles predadores coccinelídeos

(SANWAYS 19844, 1984 apud LIMA, 1998).

Em condições naturais, os inimigos naturais realizam o controle biológico de

D. echinocacti, sendo as joaninhas: C. citricola (Brèthes, 1905) (joaninha preta

pequena), Chilocorus nigrita (Fabricius, 1798) (joaninha preta média, espécie

introduzida confundida com Curinus sp.), Exochomus bimaculosus Mulsant, 1850

(joaninha amarela e preta), Pentilia egena Mulsant, 1850 (joaninha marrom),

Zagreus bimaculosus (Mulsant, 1850), Calloeneis sp., Zagloba beaumonti Casey,

1899, pertencentes à ordem Coleoptera, família Coccinellidae e Salpingogater 2 LHOSTE, J. Des insectes et des hommes. Paris, Arthème Fayard, v..15, p. 155-72, 1979.

3 DREA, J.J. & GORDON, R.D. Predators: Coccinellidae. In: ROSEN, D. (ed.). The armored scale insects: their

biology, natural enemies and control. Amsterdam, Elsevier Science Publishers, v.8, p.19-40, 1990. 4 SAMWAYS, M.J. Biology and economic value of the scale predator Chilocorus nigritus (F.) (Coccinellidae).

Biocontrol news and information, v.5, n.2, p.91-105, 1984. (Commonwealth Institute of Biological Control).

.

18

conopida (Philipi, 1865) (Diptera, Syrphidae). Outros inimigos naturais são

parasitóides Plagiomerus cyaneus (Ashmead, 1888) e Prospaltella aurantii (Howard,

1894) (Hymenoptera: Encyrtidae e Aphelinidae, respectivamente) (ARRUDA &

ARRUDA, 1984; ALMEIDA, 1986; SILVA, 1990; LIMA, 1992; SANTOS et al., 1997;

LIMA, 2003). Espécimes de Cybocephalus sp. (Coleoptera: Nitidulidae) foram

coletados predando colônias de D. echinocacti em O. ficus-indica e N. cochenillifera.

Neste último caso, o nitidulídeo estava presente juntamente com C. citricola (LIMA,

2002).

É importante o conhecimento dos inimigos naturais da praga para

preservação e manutenção dos mesmos nos plantios de palma sujeitos a ação da

praga. Faz-se necessário dependendo do nível de infestação da praga na cultura,

uma média de dois mil predadores/ha para se obter o controle da praga estável em

uma faixa de 3 a 4 meses. Melhor resultado com o controle biológico é obtido com a

ação conjunta de predadores e parasitóides atuando na mesma área, que podem

ser adquiridos de criação em laboratório ou remanejados de onde eles ocorrem para

o local onde a praga vem se desenvolvendo livremente (ARRUDA FILHO &

ARRUDA, 2002).

2. 4. Seletividade de produtos fitossanitários de Coccinellidae

A seletividade de um inseticida para insetos úteis, como as abelhas

predadores e parasitóides, é uma característica muito importante, que deve ser

levada em consideração no MIP (Manejo Integrado de Pragas), uma vez que busca

preservar as espécies benéficas. Infelizmente, em muitos casos é difícil alcançar a

seletividade, dadas as características de toxicidade do inseticida, que atua no

mesmo local de ação, tanto dos insetos nocivos como dos úteis. A seletividade pode

ser inerente a um composto, em relação a um determinado inseto benéfico, quando,

por exemplo, há uma redução na penetração (absorção) do tegumento, ou aumento

na degradação da molécula tóxica pelo sistema enzimático do inseto, como

acontece com alguns inseticidas fosforados (seletividade fisiológica), o que muitas

vezes é difícil de alcançar. A seletividade também pode ser obtida pelo modo

.

19

favorável e apropriado de aplicar o inseticida; por exemplo, se ele é aplicado como

sistêmico no solo e circula na seiva da planta, atingindo apenas as pragas

sugadoras, mas não seus inimigos naturais (seletividade ecológica) (GALLO et al.,

2002).

Os inseticidas comumente usados em citros são em sua maioria, nocivos às

joaninhas, com exceção de aldicarb, que é levemente nocivo, provavelmente devido

a seu modo de aplicação (granulado sistêmico de solo), que confere seletividade

ecológica aos coccinelídeos. Os óleos minerais, que podem ser uma opção para o

controle de algumas cochonilhas, são inócuos ou levemente nocivos, mas a sua

mistura com outros inseticidas, prática comum, acarreta um incremento na

mortalidade das joaninhas (YAMAMOTO & BASSANEZI, 2003).

CZEPAK et al. (2005) avaliaram a seletividade de inseticidas ao complexo de

inimigos naturais na cultura do algodão, observando que três dias após a aplicação

dos tratamentos thiamethoxam (300 g.ha-1), lufenuron (300 mL.ha-1) e diflubenzuron

(60 g.ha-1) não apresentaram efeito de choque sobre o complexo de inimigos

naturais presentes na cultura, entretanto aos sete dias após a aplicação, apenas o

tratamento com lufenuron manteve a seletividade aos predadores e, dentre eles as

joaninhas.

BELLIZZI et al. (2009) estudaram a seletividade dos entomopatógenos

Metarhizium anisopliae (Metsch.) Sorok, Beauveria bassiana (Bals.) Vuill e

Baculovirus anticarsia aos inimigos naturais em algodoeiro colorido, em diferentes

isolados e concentrações. Os entomopatógenos não afetaram o desempenho de

Cycloneda sanguinea (L., 1763) (Coleoptera: Coccinellidae) e Doru luteipes

(Scudder, 1876) (Dermaptera: Forficulidae) , que continuaram predando as pragas,

independente dos tratamentos utilizados.

LOPES et al. (2009) avaliaram o desempenho do óleo de laranja (Prev-Am,

Sodium tetraborohydrate decahydrate) nas concentrações de 0,3; 0,4; 0,5; 0,6; 0,7%

no controle da cochonilha–do-carmim (Dactylopius opuntiae) (Hemiptera:

Dactylopidae) em palma gigante (O. ficus-indica) (Cactaceae). Observaram que a

partir de 0,3% obtiveram controle satisfatório, com maiores efeitos nas

concentrações de 0,6 e 0,7%. Após 48 horas, adultos e ninfas apresentavam-se

.

20

dessecados. O produto não apresentou efeito mortífero sobre as joaninhas C.

sanguinea e Scymnus intrusus Horn, 1895 (Coleoptera: Coccinellidae).

.

21

3. MATERIAL E MÉTODOS

Os bioensaios foram conduzidos no Laboratório de Entomologia do Centro de

Ciências Agrárias da Universidade Federal de Alagoas (CECA, UFAL). Os insetos

foram mantidos em sala de criação à temperatura média de 25,5 ± 2o C, umidade

relativa média de 60,5 ± 10 % e fotofase de 14 horas.

Foram utilizados adultos do predador C. citricola da segunda geração,

oriundos de criação mantida em laboratório. Como presa foram utilizadas D.

echinocacti obtidas de cultivo de palma forrageira mantido em casa-de-vegetação.

Foram realizados dois bioensaios, avaliando-se o efeito dos fungos

entomopatogênicos e os produtos naturais sobre C.citricola.

3.1 Seletividade em relação aos produtos fitossanitários e fungos

O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, contendo cinco

tratamentos: 1- extrato alcoólico de nim a 2 % (peso/volume); 2- óleo emulsionável

da semente de nim (1.500 ppm/L) de Azadirachta indica A. Juss (Meliaceae) a 3 %

(volume/volume);3- óleo mineral a 1 % (volume/volume);4- “querobão” (100 g de

sabão, 100 g de fumo, 10 mL de querosene e 10 litros de água) e 5- testemunha

(água destilada). Cada tratamento foi constituído por dez repetições, cada uma delas

contendo cinco insetos adultos de C.citricola. As pulverizações foram realizadas

sobre porções de palma-forrageira (5 cm de largura x 5 cm de comprimento)

infestadas por D. echinocacti e posteriormente oferecidas ao predador em

recipientes plásticos (Figuras 1 e 2). Foi avaliada a mortalidade 72 horas após a

aplicação dos produtos. Os dados foram transformados em √ x+0,5 e submetidos à

análise de variância pelo teste F e as médias comparadas pelo teste de Tukey ao

nível de 5 % de probabilidade.

.

22

Tabela 1 – Tratamentos e dosagens usadas no estudo com produtos fitossanitários Tratamento Dosagens

1- Extrato alcoólico de nim 2%

2- Óleo emulsionável da semente de nim 3%

3- Óleo mineral 1%

4- “Querobão -

5- Testemunha -

FIGURA 1: Pulverização dos produtos fitossanitários em porções de palma- forrageira infestadas por Diaspis echinocacti (Bouché, 1833).

FIGURA 2: Recipientes plásticos contendo porções de palma-forrageira infestadas por Diaspis echinocacti (Bouché, 1833), tratadas com produtos fitossanitários e oferecidas à Coccidophilus citricola (Brèthes, 1905).

.

23

FIGURA 3: C. citricola.

FIGURA 4: C. citricola predando D.echinocacti.

.

24

Os isolados fúngicos obtidos para a realização dos bioensaios pertenciam à

micoteca do Laboratório Fitossan – Assistência Fitossanitária e Controle Biológico

Ltda. O isolado fúngico 1 de B. bassiana foi coletado de: Orthezia praelonga

Douglas, 1891 (Hemiptera: Orthezidae). O isolado Fitossan 4 de M. anisopliae foi

coletado de Mahanarva posticata (Stal, 1855) (Hemiptera: Cercopidae).

Para a multiplicação e repicagem do fungo, os isolados foram cultivados em

placas de Petri contendo meio de cultura Batata-Dextrose-Ágar (BDA) mais o

antibiótico sulfato de estreptomicina e óleo Nujol® (BDA+A), previamente

autoclavados a 120 °C por 20 minutos, por um período de sete dias, seguidamente

transferidos para outras placas e acondicionados por sete dias em estufa incubadora

(tipo B.O.D.) a 26 ± 1 ºC, com fotofase de 12 horas. Após este período, foram

multiplicados em tubos de ensaio contendo o mesmo meio de cultura, nas mesmas

condições anteriormente descritas, os quais permaneceram em estufa incubadora,

pelo período de 14 dias, obtendo-se após esse período o material necessário para

os testes (ALVES, 1998; ALVES et al., 1998). As suspensões foram preparadas a

partir dos tubos de ensaio contendo meio de cultura com o entomopatógeno,

adicionando-se 100 mL de água destilada esterilizada mais espalhante adesivo

Tween 80 a 0,01 % (ADE+E). As suspensões foram aferidas mediante quantificação

em câmara de Neubauer com o auxilio de um microscópio óptico, sendo

posteriormente ajustadas para as concentrações 107, 108 e 109 conídios. mL-1.

A viabilidade dos isolados foi avaliada utilizando-se duas placas de Petri

contendo BDA+A. Nas placas foram colocados 0,1 mL da suspensão

correspondente a 107, 108 e 109 conídios.mL-1, espalhando-se com alça de

Drigaslky. As leituras foram efetuadas em microscópio óptico mediante a

determinação do percentual de conídios germinados e não germinados, contando-se

100 conídios por placa 24 horas após o plaqueamento. As viabilidades dos conídios

dos isolados utilizados nos experimentos foram superiores a 95%.

O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, contendo cinco

tratamentos: 1- M. anisopliae - Fitossan 4, 107 conídios/mL, 2- M. anisopliae -

Fitossan 4, 108 conídios. mL-1

), 3- B. bassiana - Fitossan 1, 107 conídios. mL-1

) 4- B.

bassiana - Fitossan 108 conídios. mL-1

) e 5- testemunha (água destilada). Cada

tratamento foi constituído por dez repetições e cada uma delas com cinco insetos.

.

25

As pulverizações foram feitas sobre porções de palma-forrageira (5 cm de largura x

5 cm de comprimento) infestadas por D. echinocacti e posteriormente oferecidas ao

predador. Foi avaliada a mortalidade 72 horas após a aplicação dos produtos. Os

dados obtidos foram transformados em √ x+0,5 e analisados pelo teste F, sendo as

médias comparadas pelo Teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Tabela 2 – Tratamentos e dosagens usadas no estudo com fungos. Tratamento Dosagens

1- Metarhizium anisopliae 107 20g/200mL

2- Metarhizium anisopliae 108 200g/200mL

3- Beauveria bassiana 107 20g/200mL

4- Beauveria bassiana 108 200g/200mL

5- Testemunha -

.

26

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Seletividade em relação a produtos fitossanitários

Houve diferenças significativas na mortalidade de C. citricola, de acordo com

os produtos utilizados (Tabela 1).

Tabela 3. Mortalidade (%) ± EP de adultos de Coccidophilus citricola( Brèthes,) 1905 submetidos a diferentes produtos naturais.

Tratamento Mortalidade1 ± EP

Querobão 82,00 ± 0,31a

Óleo emulsionável nim 3 % (semente) 54,00 ± 0,47a

Óleo mineral 1 % 18,00 ± 0,27b

Extrato alcóolico da folha de nim 2 % 14,00 ± 0,30b

Testemunha 6,00 ± 0,15b

F 24,53 CV (%) 24,96

1 Médias com letras iguais não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade. CV= Coeficiente de Variação EP= Erro-padrão da média.

Pode-se observar que o “querobão”, frequentemente utilizado no controle de

cochonilhas, não foi seletivo a C. citricola causando letalidade em 82 % da

população. Resultado semelhante foi obtido quando se utilizou o óleo emulsionável

da semente de nim, que causou a mortalidade em 54% dos insetos. Isso pode estar

relacionado ao alto teor de azadirachtina contido nos frutos dessa planta. Segundo

MARTINEZ (2002) é possível extrair das sementes de nim até 47 % de óleo, que

contém cerca de 10 % da azadirachtina presente nos frutos. O óleo mineral, que é

uma opção no controle de algumas cochonilhas, mostrou-se pouco nocivo a esse

predador, causando a mortalidade de 18 % do mesmo, não diferindo da testemunha.

Mas, segundo YAMAMOTO & BASSANEZI (2003), sua mistura com outros

inseticidas, prática comum, acarreta um incremento na mortalidade das joaninhas C.

citricola (Brèthes, 1905), C. nigrita (Fabricius, 1798) Z. bimaculosus (Mulsant, 1850)

entre outras espécies. O extrato alcoólico das folhas de nim também não diferiu da

testemunha mostrando-se assim seletivo a esse inimigo natural.

.

27

4.2 Seletividade em relação aos fungos entomopatogênicos

Houve diferenças significativas na mortalidade de C. citricola, de acordo com as

concentrações dos entomopatógenos (Tabela 2).

Tabela 4. Mortalidade (%) ± EP de adultos de Coccidophilus citricola (Brèthes,) 1905 submetidos a diferentes isolados de fungos entomopatogênicos

Tratamento (conídios. mL-1) Mortalidade1 ± EP

Metarhizium anisopliae 108 62,00 ± 0,45a

Beauveria bassiana 108 54,00 ± 0,42ab

Beauveria bassiana 107 32,00 ± 0,37b Metarhizium anisopliae 10

7 8,00 ± 0,17c Testemunha 6,00 ± 0,15c

F 20,65 CV (%) 23,57

1 Médias com letras iguais não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade. EP= Erro-padrão da media. CV= Coeficiente de variação.

Observou-se maior mortalidade dos adultos quando tratados com as

suspensões de M. anisopliae 108 conídios. mL-1, B. bassiana 108 conídios. mL-1 e B.

bassiana 107 conídios. mL-1 . Esses resultados são condizentes com os relatados

por Magalhães et al. (1998), os quais sugerem que os entomopatógenos podem

atuar de forma nociva sobre os predadores, podendo alterar vários aspectos da sua

biologia. Altas taxas de mortalidade de adultos do predador podem ser consideradas

desfavoráveis sob o ponto de vista do controle biológico. No entanto, o tratamento

com a suspensão de M. anisopliae 107 conídios. mL-1 não diferiu da testemunha,

não apresentando valores de mortalidade significativos. Portanto, para a aplicação

desses fungos em campo deve-se observar a concentração que terá maior influência

sobre os inimigos naturais, uma vez que, o objetivo é a eliminação do inseto que

está ocasionando dano. Desta forma, M. anisopliae 107 conídios. mL-1 pode ser

recomendado em aplicações conjuntas com C. citricola em programas de controle

biológico de D.echinocacti, tendo em vista a baixa suscetibilidade desse predador ao

entomopatógeno nesta concentração. Segundo Alves (1986) o efeito do

entomopatógeno sobre o inseto é dependente do isolado utilizado, o que pode

explicar a variação no grau de virulência dos isolados utilizados neste experimento.

Sosa-Gómez & Moscardi (1998) mencionaram a importância de estudar o efeito de

diversos isolados sobre a praga-alvo, mas também sobre os insetos benéficos,

.

28

selecionando em seguida os isolados que causam menor impacto sobre a

entomofauna benéfica. Assim, neste estudo ficou caracterizado que os isolados M.

anisopliae 108 conídios. mL-1, B. bassiana 108 conídios. mL-1 e B. bassiana 107

conídios. mL-1 causaram taxas consideráveis de mortalidade, não sendo

recomendados para o controle de D. echinocacti.

.

29

5. CONCLUSÕES

Os produtos fitossanitários tais como: “querobão” e o óleo da semente de nim

não são seletivos a C. citricola, causando significativa mortalidade desses insetos;

enquanto, o óleo mineral e extrato aquoso de nim mostraram-se pouco nocivos,

demonstrando seu potencial de utilização no manejo integrado de cochonilhas com o

predador C. citricola.

A suscetibilidade de C. citricola aos entomopatógenos depende da

concentração do isolado.

.

30

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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