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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO CURSO DE GEOGRAFIA - LICENCIATURA ABELARDO GABRIEL DE ARAÚJO GEOGRAFIA DO TURISMO E ENSINO: UM EXERCÍCIO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM DELMIRO GOUVEIA-AL Delmiro Gouveia/AL Agosto de 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

CAMPUS DO SERTÃO

CURSO DE GEOGRAFIA - LICENCIATURA

ABELARDO GABRIEL DE ARAÚJO

GEOGRAFIA DO TURISMO E ENSINO: UM EXERCÍCIO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM DELMIRO GOUVEIA-AL

Delmiro Gouveia/AL Agosto de 2014

ABELARO GABRIEL DE ARAÚJO

GEOGRAFIA DO TURISMO E ENSINO: UM EXERCÍCIO DE EDUCAÇÃO

AMBIENTAL EM DELMIRO GOUVEIA-AL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Geografia – Licenciatura da

Universidade Federal de Alagoas, Campus do

Sertão, como requisito parcial para obtenção

do grau de graduado em Geografia -

Licenciatura.

Orientador (a): Prof. Msc. Kleber Costa da

Silva

Delmiro Gouveia/AL

Agosto de 2014

FOLHA DE APROVAÇÃO

AUTOR: Abelardo Gabriel de Araújo

Geografia do Turismo e Ensino: um exercício de educação ambiental em Delmiro Gouveia-

AL / Trabalho de Conclusão de Curso de graduação em Geografia - Licenciatura, da

Universidade Federal de Alagoas – UFAL Campus do Sertão.

Trabalho de Conclusão de Curso submetido ao

corpo docente do Curso de Geografia

Licenciatura da Universidade Federal de

Alagoas e aprovado em _______________ de

2014.

___________________________________________________

(Mestre, Kleber Costa da Silva, UFAL – Campus do Sertão) (Orientador).

Banca Examinadora:

___________________________________________________________

(Doutor, Zeno Soares Crocetti, UFAL - Campus do Sertão) (Examinador Interno).

___________________________________________________________

(Mestre, Cezar Alexandre Neri Santos, UFAL - Campus do Sertão) (Examinador Externo).

A Deus, a minha família e aos meus amigos,

que suportaram com paciência às vezes em

que não estive ao seu lado.

AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus, porque nEle foram criadas todas as coisas (Cl

1.16a), sem Ele, nada seria criado. Agradeço a minha família; a minha mãe, que mesmo nos

seus 89 anos entendeu as minhas ausências. Agradeço a minha esposa Roseane (Aninha), pelo

muito que fez em favor deste projeto, e pelo muito que faz pela minha vida. Agradeço aos

meus filhos, Pedro Gabriel e Letícia Vitória, por absorver partes das minhas responsabilidades

as quais nem podiam suportar. Agradeço aos meus colegas de turmas, companheiros de

muitas pelejas, de longas viagens, e eternas lembranças. Obrigado, Max, pelas parcerias

vitoriosas, sempre superiores às momentâneas tribulações. Obrigado, Filipe e Pablo, pela

“distração” equilibrada, tantas vezes necessária no alívio das tensões. Ao Valmir (Buiu), pelos

momentos de irreverência e descontração, a Fábio a Cícero, em fim, a todos vocês. Obrigado,

Rogéria, pela contribuição na construção desse trabalho.

Agradeço ao corpo docente da UFAL, em especial aos professores do curso de

Geografia. Professor Kleber Costa da Silva, o primeiro a me orientar, no início de todo esse

processo, na disciplina de Seminários Integradores, e o último, no Trabalho de Conclusão de

Curso. Sou em tudo grato à professora Francisca Maria Teixeira Vasconcelos, pelo muito que

fez pela turma, principalmente por revelar o compromisso que o professor precisa ter com o

exercício do ensino. Agradeço aqueles que chegaram ao inicio, e já não estão mais, gradeço

aqueles que chegaram por último, pelo muito que vão fazer, pela Educação, pela UFAL e pela

cidade de Delmiro Gouveia. Obrigado, professor José Alegnoberto Fechine, por me ajudar na

construção dos mapas usados neste trabalho.

Agradeço aos meus colegas de trabalho da Escola Municipal Noêmia Bandeira da

Silva, por muitas vezes permitir as trocas de turnos, ou as frequentes compensações de

horários em favor do crescimento pessoal e em prol da educação como um todo.

Obrigado, professor Paulo Cesar (Escola Noêmia Bandeira), por nos confiar sua sala

de aula nas disciplinas de Estágios Supervisionados. Obrigado aos alunos e funcionários,

dessa referida escola e também da Escola Estadual Watson Clementino e Gusmão. Obrigado

também ao Sr. José Francisco (Mirante do Talhado) por receber os alunos da turma do 9º ano

da Escola Noêmia, quando estes estiveram em trabalho de campo em seu estabelecimento.

Meus agradecimentos às professoras Verônica dos Santos, Mair Bezerra, Zilma Cruz,

e Wellida Stefania, pela contribuição especial na construção de algumas áreas desse trabalho.

Obrigado a você, motorista, vigilante, serviçal e funcionários de todas as áreas da UFAL -

Campus do Sertão. Muito Obrigado!

RESUMO

O projeto de pesquisa sobre o Potencial Turístico do Vale do Talhado determinou como recorte espacial o extremo Oeste do município de Olho d’Água do Casado-AL, e o extremo Leste do município de Delmiro Gouveia-AL. Para este trabalho, buscou-se efetivar a contribuição dessa região para a “Geografia do Turismo e Ensino: um exercício de educação ambiental em Delmiro Gouveia-AL”. Com as evidentes manifestações da prática do turismo na região, procurou-se analisar as informações por meio de consulta em registros, e através de pesquisa de campo. A necessidade de informações que viessem a confirmar ou negar os pressupostos a respeito do potencial turístico do Vale do Talhado direcionou os trabalhos, primeiro para a construção de conceitos em torno dos elementos chaves do estudo de geografia. Trabalhando os conceitos de espaço, baseado em Milton Santos, (2009), e de turismo, em Barreto (2003), constrói-se, assim, a base conceitual para discussão do tema proposto. A segunda parte constitui-se das análises dos elementos naturais, considerados como essencial e principal atrativo turístico para a região. A morfologia, a hidrogeologia, a cultura e a culinária também são consideradas importantes para a captação de turistas e visitantes. A terceira parte, baseada na coleta de dados na área de pesquisa, foi construída utilizando a metodologia pela abordagem qualitativa, por entender que nesta metodologia, os elementos abordados são previamente escolhidos de maneira intencional. Nesta parte, contou-se com a ajuda dos alunos do 9º ano da Escola Municipal Noêmia Bandeira da Silva da Cidade de Delmiro Gouveia-AL. As observações dessa experiência serviram como complemento das atividades desenvolvidas em sala de aula. Acredita-se que esta atividade contribuiu para o fortalecimento do ensino de geografia, para o desenvolvimento da atividade de docência e para a divulgação da realidade do potencial turístico na região do talhado em Alagoas.

Palavras chaves: Potencial turístico; Vale do talhado; Ensino de geografia; Educação ambiental.

ABSTRACT

The research project about potential of Interest Valley Carved determined as spatial selection, the extreme West of the city of Olho d'Água do Casado-AL, and the East end of the city of Al-Delmiro Gouveia. For this study, we sought to carry out the contribution of this region to the "Geography of the Tourism and Education: an exercise in environmental education in Delmiro Gouveia-AL". With the obvious manifestations of the practice of the tourism in the region, we tried to analyze the information by querying on records, and through field research. The need for information that would confirm or deny assumptions about the tourism potential of the Valley Carved directed the work first to build concepts around the key elements of the study of geography. Working the concepts of space, based on Milton Santos (2009), and tourism, Barreto (2003), is built, as well, the conceptual basis for discussion of the subject proposed. The second part constitutes from the analysis of natural elements considered essential and main tourist attraction for the region. The morphology, the hydrogeology, the culture and the cuisine are also considered important for attracting tourists and visitors. The third part, is based on the data collection in the research, the methodology was performed using the qualitative approach, to understanding in this methodology, the factors previously discussed are chosen intentionally. In this part, we told with the help of students from 9 th year from the Municipal School Noêmia Bandeira da Silva, in Delmiro Gouveia City/AL. The observations from this experience served as a complement to the activities in the classroom. It is believed this activity contributed to the strengthening of teaching geography to the development of the activity of teaching and the promotion of the reality of the tourism potential in the region carved in Alagoas.

Key words: Tourism potential; Valley carved; Teaching geography; Environmental education

SUMÁRIO

LISTA DE ILUSTRAÇÕES ................................................................................................................. 10

1 - INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 12

2 - PRESSUPOSTOS TEÓRICOS: GEOGRAFIA, ESPAÇO E TURISMO. ...................................... 16

2.1 - O CONCEITO DE ESPAÇO ........................................................................................................ 16

2.2 - O CONCEITO DE TURISMO ..................................................................................................... 20

2.3 - ESPAÇO E TURISMO ................................................................................................................. 25

2.4 - O TURISMO E O MEIO AMBIENTE......................................................................................... 32

3 - O VALE DO TALHADO NO SERTÃO DE ALAGOAS .............................................................. 42

3.1 - A PAISAGEM E O ESPAÇO TURÍSTICO DO VALE DO TALHADO. .................................. 42

3.2 - CARACTERÍSTICAS GEOGRÁFICAS GERAIS DO VALE DO TALHADO ........................ 49

3.3 - OS AGENTES DO TURISMO NO VALE DO TALHADO ....................................................... 56

4 - O TALHADO E O ENSINO DA GEOGRAFIA ............................................................................. 62

4.1 - A REALIDADE E O PROCESSO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DO TALHADO ................... 62

4.2 - A ESCOLA DESCOBRINDO O VALE DO TALHADO ........................................................... 66

4.3 - O VALE DO TALHADO DENTRO DA ESCOLA .................................................................... 68

5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................... 75

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 78

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

LISTA DE MAPAS

Mapa 01 - Localização dos pontos turísticos do Talhado-AL................................................. 51

Mapa 03 - Detalhes da localização dos pontos turísticos do Talhado-AL............................... 52

Mapa 03 - Domínio Hidrogeológicos...................................................................................... 56

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 - Tipos de Turismo e Impactos Ambientais................................................... 31 e 32

LISTA DE FOTOS

Foto 1: Canal de desembocadura do riacho do Talhado, inundado pelas águas da represa de

Xingó – Talhado-AL................................................................................................................ 35

Foto 2: Vista parcial do Restaurante Show da Natureza – Talhado-AL.................................. 37

Foto 3: Vista parcial do Restaurante Ecológico Castanho – Talhado-AL............................... 38

Foto 4: Vista parcial de um apartamento (chalé) com vistas para os cânions – Mirante do

Talhado-AL.............................................................................................................................. 38

Foto 5: Alunos da Esc. Mun. Noêmia Bandeira, na trilha nº 1 do Mirante do Talhado -

Talhado-Al.............................................................................................................................. .39

Foto 6: Trilha nº 1 com 512 m. Mirante do Talhado - Talhado-AL........................................ 40

Foto 7: Prática de escalada em Psicobloc nos paredões do Vale do Talhado - Talhado-AL.. 43

Foto 8: Pratica de Rapel nos Paredões do Vale do Talhado - Talhado-AL............................. 44

Foto 9: Pratica de Tirolesa nos Paredões do Vale do Talhado -Talhado-AL.......................... 44

Foto 10: Passeio de Kaiak nas águas do rio São Francisco - Talhado-AL.............................. 45

Foto 11: Turista fazendo a trilha. nº 1- Mirante do Talhado - Talhado-AL............................ 45

Foto 12: Catamarã com turistas embarcados na cidade de Canindé de São Francisco-SE ..... 46

Foto 13: Área de lazer do Restaurante Ecológico Castanho – Talhado-AL............................ 47

Foto 14: Catamarã – Restaurante Ecológico Castanho – Talhado-AL.....................................48

Foto 15: Vista do alto do Restaurante Show da Natureza – Talhado-AL................................ 49

Foto 16: Ponte Preta. Antiga linha férrea Paulo Afonso – riacho Bom Jesus-AL....................55

Foto 17: Vista frontal do Restaurante Show da Natureza - Talhado-AL................................. 58

Foto 18: Apartamentos em formato de chalé – Mirante do Talhado – Talhado-AL............... 59

Foto 19: Construção de quiosque com material reciclado. Rest. do Mirante do Talhado –

Talhado-AL.............................................................................................................................. 60

Foto 20: Vista interna do Restaurante do Mirante do Talhado – Talhado-AL........................ 61

Foto 21: Vista parcial do Restaurante Ecológico Castanho - Talhado-AL.............................. 62

Foto 22: Turista fazendo rapel na ponte da antiga linha férrea Paulo Afonso - riacho Bom

Jesus-AL................................................................................................................................... 63

Foto 23: Trilha sobre a antiga linha Férrea. Riacho Bom Jesus - Talhado-AL....................... 64

Foto 24: Riacho do Talhado inundado pelas aguas da barragem de Xingó – Talhado- AL.... 65

Foto 25: Gravuras rupestres – Assentamento Lameirão – Delmiro Gouveia-AL.................... 66

Foto 26: Alunos da Esc. Noêmia Bandeira em aula de campo no Mirante do Talhado –

Talhado-AL.............................................................................................................................. 68

Foto 27: Alunos da Escola Municipal Noêmia Bandeira em aula de campo – Mirante do

Talhado – AL........................................................................................................................... 69

Foto 28: Professor discutindo com os alunos o relatório de pesquisa de campo - Delmiro

Gouveia-AL............................................................................................................................. 71

Foto 29: Sistema de tratamento de esgoto sanitário do Mirante do Talhado – Talhado-AL.. 72

Foto 30: Pega de boi na caatinga............................................................................................. 74

1 - INTRODUÇÃO

Este trabalho tem o objetivo de tratar principalmente da observação do potencial

turístico no Vale do Talhado, no Sertão de Alagoas, como também, da possibilidade de

exercitar-se o processo de ensino-aprendizagem da disciplina “Geografia”, não somente na

Escola Municipal Noêmia Bandeira da Silva, em Delmiro Gouveia-AL, mas também como

fonte para futuras pesquisas.

Na mídia atual, os cânions do rio São Francisco é o local da região mais focado em

termos turísticos, são 65 km de paredões que se estendem pelas duas margens do rio, desde o

município de Paulo Afonso-BA, até Piranhas-AL e Canindé do São Francisco-SE. Dentro

deste recorte, destaca-se a região do “Vale do Talhado”, nos limites dos municípios de Olho

d’Água do Casado e Delmiro Gouveia em Alagoas, e Canindé de São Francisco em Sergipe.

A proximidade do Vale do Talhado com a histórica cidade de Piranhas-AL, com a usina

hidroelétrica de Xingó (Piranhas/Canindé de São Francisco), com as ruinas da usina de

Angiguinho (Delmiro Gouveia), e com o complexo hidroelétrico de Paulo Afonso-BA, torna a

região bastante atraente e quando realçada pelos holofotes, desperta ainda mais a atenção do

turismo para a região.

As frequentes aparições da região do Vale do Talhado nas mídias despertaram o

interesse de se desenvolver um trabalho que pudesse afirmar ou negar o potencial turístico da

região. Numa coleta preliminar, as informações relacionadas ao Vale do Talhado remetiam

para a antiga estrada de ferro “Paulo Afonso” como sendo a expressão mais contundente da

região. Neste sentido, as ações desenvolvidas na investigação dessa “suposição”, terminaram

por revelar as evidências do “estado bruto” em que se encontra o tesouro natural que é o Vale

do Talhado.

Para a construção deste trabalho, optou-se pela abordagem de cunho qualitativo, por

entender que esta técnica é particularmente eficiente nas questões que envolvam diretamente a

vida de um grupo de pessoas e a sua cultura. Segundo Minayo (2001, p. 21-22), “A pesquisa

qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com

um nível de realidade que não pode ser quantificado”.

A presença de elementos intangíveis não mensuráveis (cultura, valores morais,

história, paisagem etc.), no processo de coleta de informações, exige um volume maior de

subjetividade. Nesses casos, o envolvimento do pesquisador com o objeto e a escolha

adequada da metodologia favorecem a realização do trabalho, e o resultado se constrói com

maior representatividade.

Para o pesquisador, é necessário um mínimo de conhecimento tecnológico que, para

Minayo, nos permite a construção de uma realidade. “Enquanto abrangência de concepções

teóricas de abordagem, a teoria e a metodologia caminham juntas, intrinscavelmente

inseparáveis.” (MINAYO, 2001, p. 16).

Destacamos que na metodologia da abordagem qualitativa, os elementos abordados

são previamente escolhidos de maneira intencional, priorizando-se os procedimentos

etnográficos e evitando-se as amostragens representativas.

Nesta perspectiva, discutimos toda suas nuances desde seus aspectos sociais e

culturais, passando pelos impactos ambientais decorrentes da prática da atividade turística que

se instalou na região nesses últimos anos.

O resultado de um trabalho usando tal metodologia nos faz entender que: “O

conhecimento desejado, não habita no sujeito, muito menos no objeto, ele é construído na

coordenação entre eles.” (PASSINI, 2007, p. 39).

O conhecimento que buscamos, de imediato, não é perceptível. No entendimento de

Passini (2007), ele não se encontra no pesquisador, também não se encontra nos objetos de

pesquisa; o que se sabe, portanto, é que o conhecimento não é formado por um único

elemento nem tampouco se apresenta num formato definitivo, sua construção é o resultado da

combinação de vários elementos e isso só é possível á medida que os questionamentos vão

sendo respondidos e novas possibilidades de se observar a realidade vão sendo reveladas.

No Vale do Talhado, às margens do rio São Francisco, extremo Oeste do Estado de

Alagoas, nos municípios de Delmiro Gouveia e Olho d’Água do Casado, encontram-se

formações geológica únicas no Estado; ela se destaca na atual formação do Sertão e carrega a

responsabilidade de ser o principal atrativo turístico da região. Apesar da relevância dessas

formações, com exceção de Piranhas-AL, Canindé de São Francisco-SE, e Paulo Afonso-BA

(os principais destinos turísticos), as demais cidades da região, se ressentem pela ausência de

estruturas complementares - transporte adaptado para navegar no rio, infraestrutura para

pratica de esportes e para banhos, pessoas capacitadas e serviços especializados nas áreas de

transporte, hospedagem e alimentação, além de uma programação cultural voltada para o

turista.

Diante dessa realidade, procuramos discutir a presença da atividade turística dentro

desse espaço. Portanto, necessitou-se saber onde ele está presente, como está presente, suas

potencialidades e seus impactos. Constatamos que o Restaurante “Show da Natureza”, o

restaurante “Mirante do Talhado” e o “Restaurante Ecológico Castanho” são os três

principais pontos receptores do turista na região. Constatamos também que os principais

atrativos turísticos se apresentam junto à exploração das formações rochosas, pelas atividades

do turismo de aventura, pela paisagem, que ocupa um lugar central nesse espaço e pela

culinária regional a base de peixe, bode e galinha caipira.

Como exemplo de atividade “ecologicamente correta” está o turismo sustentável, e

se apresenta como uma das alternativas nesse processo, pois se utiliza principalmente dos

recursos naturais disponíveis na região, assumindo que a continuidade de suas atividades está

condicionada, principalmente, à preservação e à permanência desses espaços.

O trabalho desenvolvido está dividido em três partes: Na primeira parte, foram

trabalhados alguns conceitos fundamentais ao discurso da ciência geográfica e ao foco ora

pretendido: espaço, lugar e paisagem. Neste trabalho, discutiu-se com mais ênfase o conceito

de espaço, por entender que o espaço é organizado socialmente. Outras categorias como a

paisagem e o lugar aparecem como secundárias. Para a discussão do espaço, adotou-se Milton

Santos, em A Natureza do Espaço (2009), como sendo o autor de referência, e Julia

Bernardes, em a Geografia Conceitos e Temas (2011), e outros autores, como leitura

complementar.

Como elemento central na construção desse trabalho, destaca-se o “turismo” e suas

modalidades, para discutir seus conceitos, recorreu-se, entre outros, às considerações de

Margarita Barreto (2003) e de Victor H. M. Ferreira (2007). O meio ambiente foi tratado na

perspectiva da Rita de Cássia Ariza da Cruz (2003) e da Doris V.de M. Ruschmann (1997).

Em num segundo momento, abordam-se as características geográficas predominantes

no Vale do Talhado e como elas são importantes para a atividade turística da região. Nesse

momento, se discutem as formações geomorfológicas, as condições hidrogeológicas, e os

impactos ambientais decorrentes da atividade turística na região. Discutem-se também os

tipos de atividades desenvolvidas na região que estão atreladas ao turismo e os principais

espaços turísticos do lugar.

Por último, trata-se da contribuição da região do Talhado para o ensino da geografia.

A inserção de um grupo de alunos do 9º ano da Escola Municipal Noêmia Bandeira da Silva,

num espaço tão rico de elementos trabalhados nos livros didáticos, serviu como instrumento

de trabalho da disciplina de geografia. Dentre os conteúdos trabalhados (com e pelo o autor)

em sala de aula durante os dois primeiros estágios supervisionados (observação e regência), as

principais contribuições se deram nas categorias de analise da geografia, principalmente com

a paisagem, o espaço e o lugar. As questões ambientais, econômicas e sociais também foram

discutidas e transformadas em relatórios aproveitados para a construção deste trabalho.

2 - PRESSUPOSTOS TEÓRICOS: GEOGRAFIA, ESPAÇO E TURISMO.

2.1 - O CONCEITO DE ESPAÇO

Para a proposta deste trabalho, ou seja, a de exercitar-se uma geografia do turismo

aliada à educação ambiental no Sertão alagoano, considera-se que o conceito de espaço se

torna central enquanto pressuposto teórico-metodológico. Nesse sentido, faz-se uma breve

discussão conceitual.

O senso comum em geral entende a concepção de espaço atrelada à ideia de

distância. Nessa perspectiva, costuma-se abordar esta categoria de maneira generalizada e

fracamente fundamentada pela ausência de aprofundamento metodologicamente científico.

Ao contrário, Carlos (2001, p. 65) nos indica um caminho interessante:

O espaço geográfico é produto, condição e meio para a reprodução das relações sociais no sentido amplo de reprodução da sociedade, num determinado momento histórico - um processo que se define como social e histórico; o que significa que há uma relação necessária entre espaço e sociedade.

Para a análise do conceito de espaço, destacamos, primeiramente, o seu aspecto

universal apresentado por Carlos (2001), que atribui um valor comum, em termos de expansão

da ideia de leitura da totalidade, a todos os casos ou lugares. A reprodução da sociedade se

observa em face da sua atuação sobre o espaço geográfico, pois este é “produto, condição e

meio” sobre os objetos naturais e depois sobre os artificiais que moldam a configuração

espacial. Produto, resultado da ação social. Condições, pressuposto para a realização social.

Meio, a ação, em íntima relação com a concretude do espaço possibilita a reprodução da

história social.

Tal acepção apresentada por Carlos, no entanto, se localiza num processo amplo de

desenvolvimento histórico da disciplina geográfica. Os fundamentos desta contribuição

recolocam o valor da relação espaço x sociedade como central para compreensão do mundo,

especialmente urbano, mas que pode ser ampliado à leitura de outros e novos eventos.

E a geografia, enquanto possibilidade de compreensão íntima da realidade e das

relações de conceitos e fatos que lhe dão significados (formas e conteúdos) se insere num

contexto ampliado de desenvolvimento científico e cultural. Além do mais, absorve a

complexidade da relação entre sociedade e natureza e trabalha rumo à compreensão e à ação

consciente do fazer humano no mundo. É nesse sentido que:

Como pretendia e previu Descartes, o desenvolvimento da ciência e da técnica tem proporcionado ao homem um poder crescente sobre a natureza [...], todavia a escalada daquele poder só é capaz de proporcionar aos homens conhecimento e controle limitado sobre a natureza (LIMA, 2011, p 22.).

Concordando com Lima (2011) e baseando-se em Descartes, enfatiza-se a infinidade

de possibilidades de apropriação dos conhecimentos sobre a realidade, não sendo possível

apropriar-se da totalidade do controle sobre a natureza, mas conhecer um pouco mais a

respeito da profundidade dos fenômenos naturais e sociais.

A título de contextualização histórica, com Aristóteles tivemos uma das primeiras

referências à noção de espaço (obviamente mais aliada a uma noção de localidade – ou lugar

– e distante das impressões modernas sobre a relação sociedade x natureza e/ou sociedade x

espaço). Segundo Silva (2012, p.2), “para Aristóteles, não basta que essa área esteja

preenchida, é necessário que haja um referencial, outro corpo que dê ao primeiro uma

localização”. Com o advento do Império Romano, se destaca uma noção voltada à

compreensão do território legal-administrativo. Durante a Idade Média, se desenvolve uma

noção simbólico-cosmológico da situação do homem no mundo. E com a modernidade, liga-

se a oportunidade do homem e da sociedade como centros de análise e objetos mesmos de

reflexão do protagonismo da intervenção cultural e histórica junto ao espaço.

Immanuel Kant, no século XVIII, por sua vez, deu importância às formas do sentido

como instrumento de percepção. Ainda segundo Silva (2012, p.2), para Kant, “nós

percebemos todas as coisas dotadas de dimensões, ou seja, como realidade espacial. O espaço

não é algo passível de percepção, no entanto, o que permite haver percepção”. Portanto,

espaço como uma condição a priori ao ato mesmo de conhecer.

Montados tais alicerces, a geografia se constrói como uma disciplina autônoma no

século XIX. Coloca como centro de questão geográfica a preocupação com a consolidação de

estados nacionais europeus de então e com o conhecimento de terras distantes sob domínio

colonial europeu. A diversidade de paisagens e de cultura reconsidera o conhecimento

acumulado até então e permite que a geografia olhe para o espaço como sendo o resultado da

aproximação e relação entre sociedade e meio físico-natural. Costuram-se as bases para o

chamado paradigma da Geografia Tradicional, a consolidá-la como ciência autônoma e

disciplina importante ao Estado e interessante às bancas das universidades europeias

(mormente Alemanha e França).

Dentro da Geografia Tradicional, Ratzel, no final do século XIX, foi o primeiro a se

preocupar com estudos do espaço. Para ele, que via o homem sob o ponto de vista biológico, a

evolução se daria pela supremacia daqueles que tivessem as melhores condições de adaptação

aos meios, surgindo assim o “determinismo Geográfico” (CORRÊA, 1990, p. 9); conceito que

coloca o homem como sendo um produto do meio, onde as condições naturais é quem

determinam a sua vida em sociedade. Com base nessa corrente, surge então o espaço vital

(Lebensraum) como sendo um conjunto das condições naturais e espaciais para a

consolidação do poder (político), a quem considera a base indispensável à realização da vida.

No inicio do século XX, na França de La Blache, “a natureza foi considerada como

fornecedora de possibilidades para que o homem a modificasse” (CORRÊA 2007, p.13). A

reação deste paradigma “possibilista”, em oposição ao Determinismo, era justificada pela

estabilidade das transformações que o homem poderia impor sobre a natureza física. Noutro

paradigma posterior, no entanto, chamado de “método regional”, o espaço vira uma totalidade

que contém fragmentos espaciais específicos. Tais especificidades – regionais – poderão, se e

quando somadas, explicar o todo. Segundo Corrêa (2007, p.19), Hartshorne, inspirado em La

Blache, na década de 40 do século. XX propõe um novo conceito de espaço (método

regional). Para ele, o espaço inexiste; é apenas um conceito abstrato, apenas uma referência,

pois, sendo ele um conjunto de pontos independentes, somente poderá estabelecer uma

relação de combinações com uma única porção do espaço, não sendo possível sua reprodução

mas sim, apenas conjecturar com a sua semelhança. É a afirmação do espaço absoluto dentro

da geografia fragmentada. Na passagem da década de 50, se sobressai o paradigma

“quantitativista” na geografia, apontando para o espaço como uma ideia mecanicista, abstrata,

matematizada e aparentemente “neutra” (voltada, sobretudo, ao planejamento estatal e de

mercado no que diz respeito à contabilização das diferenciações sociais e espaciais, bem

como físico-naturais). No ano de 1970, surge o paradigma da “geografia crítica”, baseada no

materialismo histórico e na dialética. E terá lugar, ainda a partir dessa década, uma geografia

que trata do simbólico e do cultural ligado ao humano, a “geografia humanista”. Para os

Geógrafos críticos, esse paradigma precisa discutir o processo da organização dos espaços,

pois o modelo anteriormente instalado não discutiu outras formas, senão a descrição do

espaço. Novos elementos precisam ser trabalhados, dentre eles, a relação sócios-cultural que

historicamente modelam as sociedades. Assim, importa o conhecimento da produção social e

histórica desigual do e no espaço, como possibilidade de construção de uma transformação

social e política ampla. Para a escola humanista, coloca-se em questão a vivência e as

impressões individuais a conduzirem a afirmação dos lugares no contexto da fenomenologia e

das condições de existência aos indivíduos (percepção, identidade e vivências em relação aos

lugares são questões fundamentais).

No entanto, para a proposta de análise da geografia critica, considera-se importante a

definição de espaço de Santos (2009; p.63): “Espaço é formado por um conjunto

indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações,

não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual história se dá”.

Nessa perspectiva, a noção de espaço compreende uma concretude, tanto de objetos

materiais quanto de ações e valores sociais. Aqueles se moldam conforme a dinâmica própria

e o movimento abrangente desses últimos. As ações sociais ocorrem diante dos objetos reais,

concretos e fixos, segundo movimentos constantes da história. Dessa relação indissociável, e

recheada de intencionalidades sociopolíticas, produz-se espaço geográfico.

No âmbito do contexto social, político e econômico ligado ao capitalismo das últimas

décadas, Saquet interpretando Milton Santos nos trás a seguinte consideração.

Para Santos (1979), como o espaço é organizado socialmente, espaço e natureza são sinônimos, desde que se considere a natureza como uma instância transformada, uma segunda natureza, conforme Marx a denominou. O espaço, dessa maneira, corresponde às transformações sociais feitas pelos homens. (SAQUET, 2008; p.12).

No livro A Natureza do Espaço (1996), de Milton Santos, espaço é entendido como

um híbrido; composto de formas-conteúdos, formas-funções, objetos-ações, processos e

resultados, sendo o fenômeno técnico uma das principais condições históricas de

transformação do espaço, juntamente com outros processos econômicos, culturais e políticos.

Assim expostos todos esses aspectos, como a geografia visualiza a realidade? A

partir do momento em que o espaço encontra a paisagem natural, e permite ser territórios, ele

se estende sobre si mesmo, até encontrar um (re)novo como ferramenta ou meio teórico de

(re)pensar o mundo. Dessa forma, considera-se uma rica possibilidade de planejar os meios

que irão definir as novas formas do espaço.

Nesse sentido, a noção a ser considerada para este trabalho é a de que espaço

geográfico é uma condição a priori para a realização da cultura e a da concretude da

existência humana e física. Mas, em paralelo à expressão da realidade, em sua especificidade

resultante de relação entre sociedade e meio físico, dá-lhe forma e conteúdos que imprimem a

sociedade situada, organizada e em transformação constante.

A extensão desta concepção será oferecida para o exercício de compreensão de um

evento particular, que é o turismo, junto ao Sertão de Alagoas, como oportunidade de elevar

tal categoria à condição de norte teórico, mas também de suporte ao também exercício de

iniciação à pesquisa e ao ensino de geografia.

2.2 - O CONCEITO DE TURISMO

Dada a importância do turismo para a economia mundial e regional, bem como a

força de impacto social e transformação ambiental decorrente, torna-se necessário uma

definição mais clara desse fenômeno para a nossa proposta de trabalho.

O objetivo principal não é a construção de uma apreciação aprofundada do

desenvolvimento histórico do conceito, mas trazer algumas contribuições e referências à

definição teórico-conceitual e à explicação do seu funcionamento, em linhas gerais, para o

nosso trabalho.

Para a compreensão do turismo, deve-se levar em conta, ao menos, os seguintes

aspectos:

a) Espaço geográfico e/ou paisagem como conteúdos de interesse pela vivência/apreciação;

b) Economia de mercado;

c) Agentes promotores da mobilidade;

d) Turistas;

e) Lugar emissor;

f) Lugar receptor.

O primeiro aspecto diz respeito à base de concretização do fenômeno turístico:

espacial e especialmente cultural e físico-natural, portanto, geográfica. A economia de

mercado se dá a partir do momento em que se observa o turismo como um serviço oferecido

pela lógica do capitalismo. Os agentes representam aqueles diretamente ligados à ativa

realização dos serviços de compra e venda; permanência e transporte, aos turistas, e aos

usuários. O lugar emissor como origem dos turistas, e o receptor como o produto final de

venda, de vivência turística, e de impacto ambiental.

O conjunto das relações e atividades desenvolvidas pelos agentes que compõem o

fenômeno denominado “turismo” provoca uma incessante inquietação no mercado do setor: a

busca pelos melhores locais, pelos melhores produtos e pelos melhores serviços traz

frequentes renovações para o segmento. À medida que outras modalidades e novas práticas

são incorporadas ao setor, novos conceitos também precisam ser adotados. Para Arrillaga

(1976, p.25), o turismo é:

O conjunto de deslocamentos voluntários e temporais determinados por causas alheias ao lucro: conjunto de bens, serviços e organização que determinam e tornam possíveis estes deslocamentos e as relações e fatos que entre aqueles e os viajantes têm lugar.

Nessa perspectiva, Arrillaga (1976) definiu turismo como sendo um conjunto de

fatores que interagem entre si e estabelecem uma relação de participação com incidência

direta nas três áreas que o compõem, a saber: áreas dispersoras, também chamadas de áreas

emissoras; áreas de deslocamento; e as áreas receptoras, também chamadas de áreas de

atração. Estas três áreas formam um tripé de sustentação do fenômeno “turismo”.

A Organização Mundial do Turismo (OMT), em 2001, adota a definição de turista de

acordo com De La Torre (1992, p.19), para quem o turista é “Visitante temporário,

proveniente de um país estrangeiro, que permanece no país mais de 24 horas e menos de três

meses, por qualquer razão, exceção feita de trabalho”.

Nesta concepção de turismo trabalhado por De La Torre (1992), seu elemento

principal encontra-se na figura do “turista estrangeiro”, sobre o qual concentra (mas não

representa) as demais categorias de turistas, bem como, seus lugares de origens. Ele

descarrega maior ênfase no elemento turista, sem, no entanto, desprezar as demais partes

constitutivas do conjunto.

A União Internacional das Organizações de Viagens (IUOTO), em 1963, na

conferencia da ONU sobre turismo e viagem, propõe que seja feito uma distinção entre

ambas. A proposta foi aprovada pela comissão de estatística da Organização das Nações

Unidas (ONU), em 1968, (BENI 1998, p.250). Nesta mesma conferência, a figura do visitante

é definida como sendo:

Toda pessoa que visita um país diferente daquele em que reside habitualmente, por qualquer razão que não seja realizar um trabalho remunerado. Entre os visitantes estão os turistas excursionistas. Os turistas são visitantes que realizam pelo menos um pernoite num país ou região e permanece um mínimo de 24 horas. Os excursionistas são, para a IUOTO, aqueles visitantes que não param para um pernoite, mas que atravessam o país ou região. Um excursionista permanece por menos de 24 horas e inclui viajante de um dia e pessoas fazendo cruzeiros. (IUOTO Apud BARRETO, 2003, p. 25-26).

Percebe-se na definição da IUOTO, segundo Barreto (2003), uma preocupação em

separar o turista do excursionista – ambos, visitantes. Tanto a OMT quanto a IUOTO,

consideram turistas, as pessoas que se deslocam entre países. No entanto, é necessário

desprezar o país de origem como ponto de referência, pois, se assim não o fizermos, o turista

domestico (que se desloca entre as diversas regiões do mesmo país) será sempre, apenas um

visitante/excursionista.

O visitante estrangeiro, tanto pode ser um turista, quanto um excursionista, isso vai

depender se ele pernoitar ou não no seu destino. Da mesma forma, o visitante doméstico.

Para um melhor entendimento dos conceitos de turismo, elencamos definições

compiladas por Ferreira (2007), que, por sua vez, contribui com uma leitura do

desenvolvimento histórico do turismo. Ele relaciona uma série de autores que discutiram os

conceitos de turismo por um período aproximado de um século, tais pressupostos buscavam

principalmente uma definição para o turismo de tal maneira que pudessem contemplar a

evolução da atividade com todas suas variantes. Vejamos, então, sua trajetória de evolução:

“O turismo engloba as atividades das pessoas que viajam e permanecem em lugares fora de

seu ambiente usual durante não mais do que um ano consecutivo, a negócios ou outros fins”.

(OMT, 2001 apud FERREIRA, 2007 p. 29 - 30).

A OMT, segundo Ferreira (2007), neste caso, o turista está contido no conceito de

turismo, sendo destinado a ele, apenas uma das partes dos elementos que compõem o

fenômeno do turismo. Ainda assim, a OMT, ressalta o turista e, minimiza, na citação acima,

as outras partes não menos importantes, que compõem, juntamente com o “turista”, o

fenômeno do turismo.

Ferreira (2007) considera importantes as discussões do economista austríaco Herman

Von Schullard, o qual trabalha o conceito de turismo ligado à natureza econômica. Para o

conceito de “turista” é necessário a ausência de atividades remuneradas; para a atividade

turística, é fundamental a sua presença.

Os números revelam a consolidação do segmento que hoje, segundo o Instituto

Brasileiro de Turismo (EMBRATUR, 2013) representa quase 10% do Produto Interno Bruto

(PIB), da economia do Brasil.

Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, na sigla em inglês) [...] - divulgou que, com dados coletados em 184 países. O Brasil aparece com destaque, em 6º lugar no ranking de países, em economia do turismo. [...] O impacto do turismo na economia do Brasil deverá alcançar 9,5% do PIB (R$ 466,6 bilhões), um crescimento de 5,2% em relação ao ano passado, que foi de foi de 9,2% do PIB (R$ 443,7 bilhões), segundo o WTTC. O número é superior à média mundial, que será de 2,5%. [...], para 2014. O setor deverá gerar 8,9 milhões de empregos diretos e indiretos, um crescimento de 4,5% em relação a 2013, quando o segmento foi responsável por 8,5 milhões de postos de trabalho. No mundo, espera-se um aumento de 2,5% em relação ao ano anterior. De acordo com o relatório, o Brasil é o 5º maior gerador de empregos diretos e totais pro meio do turismo no mundo. (EMBRATUR, 2013). Disponível em: <http://www.embratur.gov.br/>. Acessado em 19 de agosto de 2014.

Os dados do WTTC, divulgados pela EMBRATUR, a respeito do turismo no Brasil

em relação ao mundo, permiti analisar a importância do segmento para o Brasil, e a

importância do Brasil para o mundo. Portanto, é necessário tratar por definição, a

representação econômica do turismo dentro desse segmento.

Ferreira (2007) também analisa as definições do autor Arthur Bormann, e de

Hunziker e Krapf, de Jafar Jafari, para quem segundo Ferreira, apresenta uma visão mais

holística sobre o turismo.

Tais definições trabalhadas por Ferreira (2002) apresentam uma variação a partir do

contexto do tema e do tempo em que foi discutido. Para o conceito de Jafar Jafari, o turismo é

discutido de uma maneira holística estendendo suas análises a outras dimensões, trazendo

para a discussão o aspecto dos impactos ambientais provocado pela atividade.

É o estudo do homem longe de seu local de residência, da indústria que satisfaz suas necessidades, e dos impactos que ambos, ele e a indústria, geram sobre os ambientes físico, econômico e sociocultural da área receptora. (JAFAR JAFARI, apud FERREIRA, 2007 p. 31).

Naturalmente, assim como qualquer outra atividade, o turismo foi agregando outros

valores e se fortalecendo. Esses valores também chegaram aos seus conceitos permitindo uma

maior representatividade para a categoria. Ao longo do século, o conceito de turismo se

expandiu, passando a integrar outros elementos, inclusive, a sensação de prazer liberado pela

atividade, sensação que passa a ser considerada como um fator importante, semelhantemente

a outros fatores como o descanso, o ócio ou o financeiro.

Segundo definição por De La Torre apud Barretto, (1998, p.13):

O turismo é um fenômeno social que consiste no deslocamento voluntário e temporário de indivíduos ou grupos de pessoas que, fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, saem de seu local de residência habitual para outro, no qual não exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada, gerando múltiplas, interrelações de importância social, econômica e cultural.

O turismo de De La Torre, abordado por Barreto (1998), leva o indivíduo ou grupo

de indivíduos para dentro dos relacionamentos sociais, mesmo quando a atividade turística é

motivada pelos meios menos convencionais, como é o caso de tratamento de saúde. Essa

possibilidade de relacionamento como agente motivador, tem se transformado inclusive, em

motivo para a prática do turismo.

O turismo, de uma maneira geral, é definido pelos deslocamentos de pessoas em

decorrência de suas atividades enquanto turistas, além das relações de prestações de serviços e

da fabricação de produtos direcionados para o desenvolvimento do turismo e para o usufruto

do turista, para a satisfação de todas as suas necessidades relativas ao turismo. O turismo é um

arranjo de produtos e serviços preparados especialmente para o turista. Segundo Ferreira

(2007, p.32), isso significa: “A soma dos fenômenos e relações que surgem da interação de

turistas, empresas prestadoras de serviços, governos e comunidades receptivas no processo de

atrair e alojar estes visitantes”.

Dentro da categoria de turismo a OMT, entendeu a necessidade de promover

algumas classificações em função do comportamento do turista e das atividades praticadas

pelos agentes promotores do turismo. Para a instituição, “O turista”, a depender do seu local

de referência (origem ou de estada), pode ser enquadrado apenas como um visitante, nacional

ou internacional. O tempo de sua permanência também determinará a sua classificação. O

local de origem e o local de destino do turista ganham especificidades e passam a ser

conhecidos como lugares emissores e lugares receptores. O turismo, a partir desses lugares, é

classificado como turismo doméstico, turismo interno, turismo nacional ou internacional.

Cruz (2001). Com essa formação, organiza-se e classificam-se os termos “turismo, turista e

visitante”.

Tais noções, caras à compreensão de um importante fenômeno a promover

transformações espaciais, indicam que o turismo é uma atividade social que ocorre no espaço

está ligado a uma rede de serviços econômicos, senão sendo um serviço especial a constituir

uma rede complexa de mercado capitalista. Depende de agentes reais que promovem o

deslocamento, a permanência, a informação e a vivência.

2.3 - ESPAÇO E TURISMO

E como se apresenta a relação entre espaço e turismo na condução de uma possível

geografia do turismo? Por ora, nos interessa compreender que o turismo toma como referência

principal e produto de venda os aspectos reais do espaço geográfico. Por um lado, o turismo

acontece no próprio espaço, uma vez que é a sociedade atual situada. Por outro, traz a

experiência do vivenciar e do permanecer como fins mesmo de realização do mercado de

serviços turísticos; a aposta na experimentação dos espaços diferenciados.

O longo processo de organização e reorganização da sociedade deu-se concomitantemente à transformação da natureza primitiva em campos, cidades, estradas de ferro, minas, voçorocas, parques nacionais, shopping centers, etc. Estas obras do homem são as suas marcas apresentando um determinado padrão de localização que é próprio a cada sociedade. Organizadas espacialmente, constituem

o espaço do homem, a organização espacial da sociedade ou, simplesmente, o espaço geográfico (CORRÊA, 2007, p. 52).

O lugar permitiria desvendar a sociedade atual na medida em que aponta para a globalidade. Enquanto parcela do espaço, enquanto construção social, o lugar abre perspectiva para se pensar o viver e o habitar, o uso e o consumo, os processos de apropriação do espaço. Ao mesmo tempo, posto que preenchido por múltiplas coações, expõe as pressões que se exercem em todos os níveis (CARLOS, 1997, p.303).

A intenção manifesta do homem com o lugar, mais se parece uma relação de

consumo, onde a relação de troca se dá pelo interesse do consumidor pelo objeto de consumo.

Sua apropriação inevitavelmente, se dará na presença do capital que mediará o valor de troca

de cada ordenamento determinado.

Turismo, portanto, produz espaço e, por isso mesmo, lugares. Não sendo possível

explorar todo o potencial turístico do Sertão, selecionamos um recorte espacial junto ao

extremo Oeste do município de Olho D’agua do Casado-AL, e o extremo Leste do município

de Delmiro Gouveia-AL. Nessas regiões, notaram-se algumas manifestações da prática do

turismo.

A geografa, etimologicamente, do grego Geo+Grafia, significa “descrição da Terra”.

Porém, há muito ela tem se dedicado tanto à descrição pura dos lugares quanto servir-se como

uma ferramenta cartográfica. Nesse processo de construção e na busca por tornar-se de direito

uma “ciência”, fez-se necessário e incondicional trazer para dentro da geografia os

“relacionamentos sociais” em virtude de ser o homem agente transformador da natureza

geográfica.

Essa é uma clara insinuação da atual divisão das correntes do pensamento

geográfico, que bi polarizado, discute a geografia sobre a ótica das relações físicas e da ótica

das relações sociais. Observando o seu campo de investigação, podemos considerar que a

geografia desenvolve observações de aspecto geral e outras observações de caráter regional,

ainda que tenha ela os mesmos objetos de estudo. As subdivisões favorecem o surgimento de

outras ciências, valorizando os níveis de conhecimento pelas suas especificidades. Assim

sendo, podemos considerar à geografia econômica como uma geografia que teve sua gênese a

partir das relações comerciais; atrelada a geografia econômica surgem outras “geografias” e,

dentre elas, a geografia do turismo.

No decorrer do século XX, vivenciamos profundas transformações na estrutura

urbana e também na rural. O processo de industrialização nas primeiras décadas deste século

provocou um forte movimento migratório do campo para a cidade. Nas últimas décadas do

século XX e início do século XXI, o processo de mecanização das lavouras, a presença do

agronegócio e a diversificação da produção mudou o comportamento do homem do campo.

Nesse contexto, “o rural” vem sendo visto como um espaço de novas relações a partir da

valorização dos seus aspectos naturais para outras finalidades “que não somente a produção

de alimentos”.

Todo esse processo de valorização do rural, com a constituição de uma demanda por espaços outrora ocupados somente pela produção agropecuária e que, agora, passam a ser destinadas também para o lazer e para o turismo, trazem oportunidades junto a determinadas comunidades rurais podendo então contribuir para engendrar uma nova dinâmica nesses espaços. (ELESBÃO, 2010, p.154)

O espaço, segundo Elesbão (2010) abriga uma série de possibilidades, que ao seu

tempo são reveladas. Esse espaço que sempre esteve atrelado às leis da natureza, agora se

sujeita também às leis de mercado, no qual o interesse do capitalista determinará suas novas

aplicabilidades.

O espaço a que nos referimos não é essencialmente um território, “este é formado por

configurações naturais”, segundo Santos (2009, p. 62). Atribui-se ao território sempre uma

condição “impositiva” caracterizada como um objeto dominado: “o espaço é muito mais do

que isso, pois incorpora também a vida que o anima”, mas este espaço, “que é formado por

um conjunto indissociável, solidário e contraditório de sistema de objetos e sistema de ações”,

ainda conforme Santos (2009, p. 62), torna-se cada vez mais artificial à medida que novos

objetos são adicionados à paisagem natural. Assim, suas relações com os objetos “naturais”

tornam-se cada vez mais fracas e menos frequentes à medida que as relações sócias

representadas pelas ações se estabelecem e impõem novas formas espaciais. Santos (2009, p

61) considera que essas transformações são consequências das ações que “direta ou

indiretamente” modificam o lugar.

Nessa perspectiva, vemos que o acelerado processo de reprodução do homem o torna

cada vez mais ativo, sua dinâmica de ação movimenta o seu entorno, quando agem sobre si

mesmo ele também desloca as coisas de outro mundo que não o seu. O deslocamento é

imediatamente perceptível, primeiramente, na paisagem pela sua fragilidade estrutural. Talvez

seja essa, a parte mais sensível e suscetível às alterações.

A paisagem traz a marca da atividade produtiva dos homens e de seus esforços para habitar o mundo, adaptando-o às suas necessidades. Ela é marcada pelas técnicas materiais que a sociedade domina e moldada para responder às convicções religiosas, às paixões ideológicas ou aos gostos estéticos dos grupos. Ela constitui desta maneira um documento-chave para compreender as culturas, o único que subsiste frequentemente para as sociedades do passado (CLAVAL, 2001, p.14).

A paisagem que se altera a cada mudança do nosso olhar, neste sentido, não pela

mudança estrutural do modelado, mas, sim, pela nossa incapacidade de sobrepor o olhar ao

espaço anterior, e também pela impossibilidade de reproduzir as mesmas condições climáticas

e temporais.

Observando a geografia sobre a ótica espacial, podemos considerar suas bases

apoiadas em pares de pilares, que Santos (2009, p. 61) chama de fixos e fluxos, qual considera

os “fixos os elementos fixados de cada lugar”, e os fluxos os elementos que direta ou

indiretamente alteram os fixos, modificando os seus valores e seus significados. Para ele, os

fixos é o Conjunto de pilares formado pela “configuração territorial”, e o fluxo são as

“relações sociais”, As configurações territoriais são representadas pelos elementos naturais e

os acréscimos feitos pelo homem em um determinado lugar.

O espaço que se apresenta como instrumento de estabilização para os elementos

constitutivos do “novo” lugar, quando suas feições ainda não estão totalmente definidas, é

classificado por Santos (2009, p. 62) como sendo um sistema de objetos e um sistema de

ações:

De um lado os sistemas de objetos condicionam a forma como se dão as ações e, de outro lado, os sistemas de ações leva a criação de objetos novos ou se realiza sobre os objetos pré-existentes. É assim que o espaço encontra a sua dinâmica e se transforma (SANTOS, 2009, p. 63).

No espaço de Santos (2009), tais sistemas não atuam sozinhos, eles são formados por

ligações “solidárias e indissociáveis” que, ao longo do tempo, vão se estabelecendo em

conexões cada vez mais complexas, e numa velocidade sem precedentes, tornando cada vez

mais artificial aquilo que, no início, era só natureza.

O espaço resultante das metamorfoses imposta aos meios naturais o afasta cada vez

mais do território, pois a sua realidade, formada por “sistemas de objetos e de sistemas de

ação”, determina uma materialidade que o torna visível quando do seu deslocamento. Nesse

seu processo de avanço ou de recuo, o espaço manifesta sua intencionalidade. É este

movimento que acaba modificando os objetos, sem necessariamente retirá-los do seu lugar, e

lhes atribui novas feições, que se tornam perceptíveis aos nossos sentidos.

O espaço se distingue das outras categorias da geografia justamente pelos seus

elementos pulsantes, encontrados na vida que o anima, que lhe dá movimento, são esses

elementos abundantes nas relações sociais, que interagem obrigatoriamente com o ambiente,

influenciando diretamente nas espacializações, que é o presente se deslocando para o futuro,

para uma nova forma espacial.

Na busca pelo espaço, inevitavelmente teremos que encontrar elementos básicos para

sua formação: “As relações sociais e as técnicas de produção” como sendo elementos

indispensáveis à sua composição. Evidentemente, à medida que nos distanciamos no tempo,

essas relações são enfraquecidas, e o termo espaço, usado para tal finalidade, vai se

aniquilando, ao ponto de ser totalmente nulo quando encontra a paisagem natural na sua

forma primitiva.

Observando que as contribuições de diversos autores para o estudo do espaço

favorece a concepção de que “a sociedade opera no espaço”, e que essa mesma sociedade, a

cada dia atinge níveis de complexidade cada vez maiores e exige também sistemas de

relacionamentos cada vez mais abrangentes, eliminando ou reduzindo fronteira, tornando

assim o espaço mais globalizado.

Segundo Tuan apud Corrêa, (2011, p. 30), existem diversos espaços; “um pessoal,

outro grupal, e outro mítico que extrapola para além das evidências sensoriais” Nesse sentido,

é possível que um mesmo indivíduo possa abstrair simultaneamente essas sensações existindo

compatibilidade entre elas. Quando o espaço vivido se liberta do egocentrismo, abre novas

funções sociais possibilitando novas formas de manifestação.

A prática espacial se dá por meio de ações e revelam sua intencionalidade objetivada

na gestão do território e no controle do espaço. Corrêa (2011) entende que no processo de

organização do seu espaço, o homem age seletivamente, considerando que os múltiplos

interesses sobre o mesmo é que vão determinar seus arranjos e modelar sua paisagem. Assim,

as potencialidades das atividades irão obedecer a uma inclinação setorial, não sendo, com

isso, descartada a exploração de outras vertentes que irradiam do lugar. Um espaço marcado

pela presença religiosa, também precisa desenvolver outros segmentos a exemplo do

comércio e do turismo. É nessa fragmentação sofrida que se dá o controle do espaço, e quanto

mais lucrativo se torna sua exploração, mais forte se torna o domínio. Um dos grandes

desafios da exploração espacial se dá, em primeiro lugar, pela apropriação de um “lugar em

potencial”. A exploração de uma determinada região que tem somente as condições

favoráveis a uma determinada atividade poderá trazer um custo inicial de produção mais

elevado, que poderá ser compensado pelos preços locacionais mais baixos. Esses preços

certamente serão alterados em decorrência do êxito ou do fracasso do empreendimento, bem

como pela exaustão de suas reservas. A condição prévia do espaço determina uma série de

pontos de partidas para a implantação de atividade econômica.

Para Bernardes (2011, p.241), “a aplicação de novas tecnologias necessita de

mudanças na estrutura espacial”, para que uma sociedade funcione adequadamente, deve

haver coerência entre as diferentes estruturas: produtiva, social, política e territorial. Para

Sanchez (1991, apud BERNARDES, 2011, p. 241), “as transformações sociais devem

encontrar correspondências nas adequações espaciais, sem a qual não é viável a manutenção

da estrutura social”. De acordo com Sanchez e conforme Bernardes, a tecnologia que altera o

espaço e consome a paisagem, inevitavelmente deixará suas digitais, pois, não existe nenhum

tipo de atividade social que prescinda a tecnologia, ainda que esta não se materialize, mas

estará subjetivada nas ações construtivas ou destrutivas do ambiente em discussão.

Para Kosik (1967, apud BERNARDES 2011, p. 243), um recorte espacial que esteja

representado em uma escala seja ela de menor ou maior detalhe faz parte de um todo, mas “a

totalidade não se percebe explicitamente, é caótica, nebulosa, o todo revela o lugar,

compreensível por meio do abstrato”. Na impossibilidade de se ter o todo, busca-se sua

representatividade por meios de amostras, para um espaço, as amostras se dão por meios de

recortes apresentadas em cartas, uma escala determinara seu grau de detalhes favorecendo o

entendimento do todo.

Segundo Sanches (1991, apud BERNARDES 2011, p.243), a construção do espaço é

na aparência um fato técnico, mas na essência um fato social. Assim sendo, o espaço que é

um lugar base para a construção de um território para o exercício de uma atividade

econômica, também é na verdade uma expressão material das atividades sociais, que galgará

êxito principalmente a partir do desenvolvimento das forças produtiva. Bernardes (2011,

p.243) afirma que à medida que o capital privado por si mesmo não pode estruturar o espaço

de forma eficiente para a acumulação, o Estado assume o papel de produtor do espaço

territorial. As responsabilidades do Estado não se confundem a ele estão reservados, entre

outros, o controle do ordenamento territorial. Entende-se como ordenamento, a instalação de

infraestrutura para o bem comum. Quando o Estado entende que determinado lugar é de

interesse publico, poderá manifestar sua presença neste lugar, mas nem sempre foi assim.

Segundo Mandel (1975, apud BERNARDES, 2011, p. 249), “o sistema capitalista

resulta do desenvolvimento desigual”. As diferenciações subespaciais estão hierarquizadas de

acordo com a capacidade de intervenção dos grupos que se estabelecem e se relacionam com

outros atores que podem ser de uma ordem local, regional, nacional ou mesmo internacional.

No Brasil, o turismo surge como uma alternativa econômica considerada capaz de minimizar a decadência do meio rural, e manter atividades agrícolas nas propriedades que estão sendo abandonadas por uma serie de fatores de ordem econômica e social. (SANTOS e PIRES, 2010, p.60).

Se entendermos que o Brasil é um país com tradições ruralista e que, mesmo com

séculos de experiências nessa atividade, muitos proprietários estão abandonando suas

propriedades em decorrências de dificuldades econômicas conforme afirmam Santos e Pires

(2010), é razoável que se tenha um pouco de prudência antes de se iniciar qualquer negócio

nesses espaços.

A PNT (Política Nacional do Turismo), e o PRONAF (Programa Nacional de

Agricultura Familiar) desenvolvem programas e financiam projetos para atividades voltadas

para o turismo rural, (SANTOS e PIRES 2010, p.63). O sistema “S”, por meio do Serviço

Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAI), vem capacitando

empreendedores em diversas áreas de setores como: indústria, comércio e serviços. O

SEBRAI, agora, chegou ao campo, a fim de preparar o produtor rural que se propõem aos

desafios de um novo e diferente ramo de atividade. A prática consiste em manter as

características das atividades do campo e adaptá-la ao turismo. O produtor rural, na condição

de “empreendedor turístico”, tem se beneficiado da estrutura locacional, da cultura e da

culinária regional, das atividades de rotina do campo para transformá-los em atrativos

turísticos de grande valor.

2.4 - O TURISMO E O MEIO AMBIENTE

Sendo a atividade turística um segmento bastante exigente, sua satisfação tende a

provocar uma demanda sempre crescente por serviços e equipamentos especializados. Os

meios de produção organizados pelo capital exigem sempre as melhores condições, os

melhores espaços, os melhores serviços e as melhores infraestruturas. A exploração exagerada

e indiscriminada desses recursos tem provocado um passivo bastante expressivo nesses

ambientes, no qual fica evidente que:

A falta de planejamento adequado na utilização dos recursos naturais de uma destinação turística poderá acarretar, a médio prazo, o esgotamento desses recursos que, na maioria dos casos são irrecuperáveis, inviabilizando a comercialização e, consequentemente, acarretando o abandono do local por parte da demanda; (ROSE 2002, apud DIAS, 2003 p. 38).

Um lugar turístico pode ser planejado e construído totalmente como é o caso de Las

Vegas, nos Estados Unidos. Outros existem naturalmente e são adaptados e aproveitados

como é o caso das Cataratas do Iguaçu no Brasil, e, por fim, tornam-se um destino turístico de

grande sucesso. Há lugares, no entanto, que são surpreendidos por uma grande procura que

supera em muito sua carga de absorção, os lugares naturais são mais suscetíveis a esses

problemas. Mas tanto em um como no outro se tornam agressivos ao ambiente.

Segundo Cruz (2003, p.30), “Não há atividade humana que não interfira nos

ambientes de alguma forma. É impossível ao homem viver neste planeta sem transformá-lo”.

Para Cruz, (2003, p.30), os impactos “ambientais” tornam-se inevitáveis, mas nem sempre

comprometedores. Todo ambiente suporta um determinado volume de degradação, cabendo

aos agentes de sistema local a responsabilidade não somente ética e moral, mas também o

dever de minimizar esses impactos, para que haja manutenção das atividades e a continuidade

dos espaços naturais, culturais e sociais do lugar.

É preciso ressaltar que todas as intervenções do turismo não se traduzem, necessariamente, em agressão ou na degradação do meio ambiente natural. [...], portanto, o turismo não pode ser responsabilizado por todos os efeitos negativos e agressões à natureza. (RUSCHMANN, 1997, p.56).

O turismo, que já foi considerado uma “indústria limpa”, (muito embora, isso não

significa dizer que não provoque impactos) tem grande interesse na preservação ambiental a

ponto de manter uma relação com ela quase parental, pois os recursos naturais do meio

ambiente que, são fontes de atrações para o turista, é também, matéria prima para o turismo.

“Os impactos do turismo de acordo com sua tipologia, foram apresentados por

Pillman, (1992, p.6) na Envirotur/92 em Viena...”.

Quadro 01 - Tipos de Turismo e Impactos Ambientais

TIPOS DE TURISMO ATIVIDADES PINCIPAIS IMPACTOS

Turismo de lazer

Compras, degustação,

recreios, comunicação

descanso, observar a

natureza, monumentos, obras

de artes.

Ruídos, poluição e produção

de resíduos, agressão à

paisagem e a vegetação,

erosão das praias e das

encostas.

Turismo de aventura

Pescar, escalar, fazer trilha,

esquiar, nadar, passear de

carro, barco, participação em

competição.

Ruídos, geração de resíduos,

poluição do ar, da água,

agressão à natureza pela

construção equipamentos,

vandalismo.

Turismo de negócios

Compra, venda negócios;

congressos, exposições

feiras, formação/estudos.

Ruídos, geração de resíduos,

poluição do ar da água do

solo (indústrias).

Turismo de férias

Viagens de carros, trem,

avião, navio, city-tour,

passeios, visitas a locais

naturais, históricos, culturais,

alojamento, acampamento.

Aumento do trafego, ruídos,

poluição, danos ao meio

ambiente pela construção de

portos aeroportos, vias,

rodovias, ferrovias;

acidentes, turismo de massa,

monotonia na paisagem.

Turismo de saúde

Spa, passeio, descanso,

terapia, cura.

Resíduos, consumo da

natureza, alteração no

cotidiano das localidades.

Fonte: inspirado e adaptado de PILLMAN (1992, p.6) apud RUSCHMANN. (1997, p.61)

O desenvolvimento turístico pode gerar impactos ambiental, cultural, social. Tais

impactos tanto podem ser “negativos como positivos”; isso vai depender de como são

desenvolvidos e aplicados em cada ambiente. Segundo Ruschmann (1997, p.58-60), os

impactos positivos se dão por meio de: criação de planos e programas de conservação das

áreas naturais, de sítios e monumentos; investimentos preservacionistas; com a descoberta a

promoção e acessibilidade a regiões antes não valorizadas; interação sociocultural entre

povos; aumento da renda nas localidades receptoras do turismo; valorização dos espaços.

Os impactos negativos são: poluição da água, do ar, poluição sonora, poluição das

áreas de visitas; destruição da paisagem natural e agropastoril; destruição da fauna e da flora;

degradação da paisagem, de sítios históricos e de monumentos; congestionamentos, conflitos

e competitividades.

Naturalmente, não há possibilidade de se viver sem impactar o meio ambiente. Como

observamos no quadro adaptado de Pillman, o desafio reside na possibilidade de se

desenvolver atividades provocando o mínimo possível de alteração na ordem natural de um

ambiente estável.

Em pesquisa de campo no ano de 2011, uma equipe do Instituto de Assessoria para o

Desenvolvimento Humano (IADH) constatou que “Alagoas possui um patrimônio natural,

cultural, arquitetônico e histórico de grande valor” (ALAGOAS, 2013, p.26), e que nos seus

230 km de litoral estão localizadas as praias mais bonitas do Brasil, muitas delas conhecidas

mundialmente, como é o caso das praias do Francês, Barra de São Miguel, Gunga e Maragogi.

Alagoas também possui 19 lagoas/lagunas sendo as mais importantes do complexo lagunar

Mundaú/Manguaba. O rio São Francisco, nas fronteiras dos estados de Alagoas, Pernambuco,

Bahia e Sergipe, pela sua importância e beleza, também faz parte desse patrimônio.

Foto 1:Canal de desembocadura do riacho do Talhado, inundado pelas águas da represa de Xingó – Talhado-AL. Autoria: Abelardo Gabriel, julho 2014.

Esses recursos naturais demonstram as potencialidades do Estado para o

desenvolvimento do turismo em diversas modalidades: praias, negócios, eventos, cultura,

aventura, religiosos, pedagógicos etc..

Segundo a Secretaria de Estado do Turismo, (SETUR), através do Plano Estratégico

de Desenvolvimento do Turismo (PEDT) para o decênio 2013-2023, “Os atrativos naturais

que mobiliza uma demanda significativa de turistas para as principais regiões turísticas do

estado de Alagoas apresentam uma vulnerabilidade ambiental elevada devido à fragilidade

dos seus ecossistemas”. (ALAGOAS, 2013, p.37).

Pensando nessas vulnerabilidades, o Estado estruturou a Secretaria de Estado do

Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (SEMARH), para que ela possa implantar e

coordenar as políticas públicas e os programas de gestão ambiental, entre elas, as licenças

ambientais e as avaliações de impactos ambientais do meio ambiente e dos recursos hídricos.

O programa de Revitalização da Bacia Hidrográfica do São Francisco é um programa

coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, foi criado em 2004 e tem prazo de 20 anos

para sua execução. Seu principal objetivo é “recuperar, preservar e conservar a bacia do São

1

Francisco por meio de ações integradas e permanentes que promovam o uso sustentável dos

recursos naturais” (ALAGOAS, 2013, p.39). Esses são os principais órgãos e as principais

políticas que têm o compromisso de evitar que haja comprometimento da biodiversidade e dos

ecossistemas no Estado de Alagoas.

O resultado da pesquisa do IADH constatou que “na região do São Francisco, os

municípios de Piranhas, Penedo e Delmiro Gouveia [...] têm oferta razoável de equipamentos:

hotéis, pousadas, bares, restaurantes, agencias de turismo e locadoras”. (ALAGOAS, 2013,

p.26).

Assim, muito embora, o resultado da pesquisa que aponta algumas cidades de

Alagoas com um razoável volume de equipamentos turísticos, Delmiro Gouveia, Olho

d’Água do Casado e Piranhas, são as cidades com maior proximidade aos Cânions do Vale do

Talhado, dentre elas, Delmiro Gouveia é a cidade com maiores recursos, a sua rede hoteleira

é composta por doze hotéis e pousadas com um total de 220 apartamentos e quase 500 leitos.

A cidade também tem espaço para reuniões (três auditórios) dois clubes, três academias,

quatro bancos (Banco do Brasil, Caixa Econômica, Bradesco, Banco do Nordeste), correios,

hospital, UPA (Unidade de Pronto Atendimento), SAMU, corpo de Bombeiro, rodoviária, e a

Universidade Federal de Alagoas. Delmiro Gouveia também tem um comércio intenso e

diversificado com redes de supermercados, quatro lojas de departamentos, casas de peças,

farmácias, atacadistas, fábricas de tecidos, polo de confecções, serigrafias, fábrica de panelas,

fábrica de bolos e biscoitos, fábricas de embalagens plásticas (...) esses conjunto de fábricas,

comércio e serviços, torna Delmiro Gouveia uma referência para a região. Talvez, por isso, é

que o Sertão de Alagoas contém o mínimo de estrutura necessária e seja capaz de atender a

alguns segmentos turísticos sem provocar impactos expressivos nas rotinas das cidades.

Foto 2: Vista parcial do restaurante Show da Natureza – Talhado-AL Autoria: Abelardo Gabriel, julho 2014.

Foto 3: Vista parcial do Restaurante Ecológico Castanho – Talhado-AL Autoria: Abelardo Gabriel, julho 2014.

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Foto 4: Vista parcial de um apartamento (chalé) com vistas para os cânions – Mirante do Talhado-AL Autoria: Abelardo Gabriel, julho 2014.

O Sertão confirma sua vocação turística, explorando principalmente seus recursos

naturais. O geoturismo é um ramo da geografia que, associado ao ecoturismo, procura

explorar a morfologia do relevo, principalmente as formações morfodinâmicas e

morfoesculturais das rochas; outras formações também bastante exploradas são as cavernas,

furnas, montanhas, rochas, chapadas e cânions.

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Foto 5:Alunos da Escola Mun. Noêmia Bandeira, na trilhas nº 1 do Mirante do Talhado - Talhado AL . Autoria: Abelardo Gabriel, maio de 2014.

Foto 6: Trilha Nº 1 com 512 m. Mirante do Talhado – Talhado-AL. Disponível em:< www.mirantedotalhado.com.br/> Acessado em 25/07/2014.

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5

É muito comum, no meio do turismo de aventura, o uso do termo “fazer trilha”, que

consiste em caminhadas por “veredas” estabelecidas entre os recursos naturais (matas,

montanhas, serras e outros elementos naturais). São essas trilhas que permitem uma maior

interação do turista com o ambiente. Essa relação torna-se mais intensa e provoca no turista

um comprometimento preservacionista pela identificação com a área visitada. Essa

responsabilidade compartilhada é muito mais comum com os turistas que têm objetivos

“ecológicos, pedagógicos e científicos” amenizando assim os impactos ambientais citado no

Artigo 1º da Resolução n.º 001/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)1.

Impacto Ambiental, ainda conforme o CONAMA é qualquer alteração das

propriedades físicas, químicas, biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de

matéria ou energia resultante das atividades humanas que afetem diretamente ou

indiretamente:

a) A saúde, a segurança, e o bem estar da população;

b) As atividades sociais e econômicas;

c) A biota;

d) As condições estéticas e sanitárias ambientais;

e) A qualidade dos recursos ambientais.

Numa análise preliminar, observa-se a incapacidade do homem viver sem impactar o

meio ambiente. A prática de atividades que nos leve a um desenvolvimento sustentável passa,

primeiramente, pelo manuseio adequado dos recursos naturais. A implementação de ações

planejadas permite a expansão e o melhoramento das condições de vida de uma comunidade,

portanto, torna-se imprescindível identificar, mapear e criar ações que minimizem os impactos

decorrentes do diversos tipos de atividades que se desenvolvem em cada localidade.

O turismo sustentável se apresenta como uma das alternativas nesse processo, pois se

utiliza principalmente dos recursos naturais disponíveis. Nessa perspectiva, percebe-se que a

continuidade de suas atividades estará condicionada, principalmente, à permanência dos

atrativos turísticos não renováveis, (a paisagem e o lugar, por exemplo) e também da

exploração racional dos recursos renováveis, (corpos d’água, fauna, flora,...) e de outros

1 Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA): órgão deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), vinculado ao Ministério do meio ambiente, dos recursos hídricos e da Amazônia legal.

elementos tangíveis e não tangíveis como é o caso da história e da cultura de cada lugar. Para

o Vale do Talhado convergem muitos desses fatores. Sua capacidade de absorção de impactos

relevantes, como foi o caso da estrada de ferro Paulo Afonso e a construção da hidroelétrica

de Xingó, não somente fez história, mas tornou sua paisagem mais peculiar. O lugar, que era

antes desconhecido, hoje concorre com os maiores centros receptor de turistas da região.

3 - O VALE DO TALHADO NO SERTÃO DE ALAGOAS

3.1 - A PAISAGEM E O ESPAÇO TURÍSTICO DO VALE DO TALHADO.

O Nordeste brasileiro ocupa uma área contigua de terras de 1,6 milhões de km² e

mais de 40 milhões de habitantes distribuídos pelo Litoral, Zona da Mata, Agreste e Sertão. O

Litoral, com mais de 3.000 km (45% da costa brasileira), tem uma infraestrutura mais

consolidada. Sua diversidade de atratividade voltada para o turismo consegue atrair o turista

em diversas modalidades, algumas delas mais intensamente, como é o turismo de negócio nas

regiões metropolitanas e o turismo ecológico nas regiões onde a natureza é mais abundante e

diversificada.

Para o caso do Vale do Talhado, os aspectos naturais são determinantes na atividade

turística. Existe uma proporção desbalanceada em favor do turismo ecológico numa relação

com outras modalidades, onde a maior carga encontra-se sobre os recursos naturais,

representados pelos lugares e pelas paisagens.

O Talhado, já testemunhou avanços e retrocessos nos fluxos. Primeiro, com a estrada

de ferro “Paulo Afonso”, que cortava seus vales, depois, com a construção da hidroelétrica de

Xingó, e, mais recente, pela exploração do seu potencial turístico. A margem esquerda, ainda

busca sua afirmação, e, a margem direita, apresenta números correspondentes ao “turismo de

massas”, a exemplo dos feriados prolongados do mês de maio de 2014, onde “diariamente,

cerca de três mil pessoas visitaram os cânions do rio. Os números chegam a mais de 30 mil

durante todo o ano”, assim afirmou o Sr. José Francisco empresário do ramo.

O Baixo rio São Francisco, aos poucos perdeu o vigor de suas correntezas, em

virtude da instalação da usina de Xingó inaugurada e 1994, mas, na região dos cânions, se

fortaleceu em importância, primeiramente pela instalação da Usina Hidroelétrica de Xingó,

que alterou o curso e o regime das suas águas, depois pela instalação de cinco assentamento

de trabalhadores rurais, ao longo de 20 Km de sua margem, e, mais recentemente, pela

instalações de áreas de lazer como restaurantes, pousadas, barcos para passeios e outras

atividades destinadas ao público local e ao turismo nacional e internacional.

O turismo como agente consumidor da paisagem exagera na dependência dessa

categoria. Isso fica mais evidente na região do Talhado, que já tão privilegiado pela sua beleza

exuberante, ganha incrementos preciosos com a construção da Usina Hidro Elétrica de Xingó.

O barramento do rio São Francisco permitiu a elevação das suas águas em dezenas de metros

dentro do paredão de arenito, tornando navegável um novo trecho do rio e possibilitando o

acesso a alguns lugares das suas margens, favorecendo ainda mais desenvolvimento de

atividades turísticas do lugar.

O ambiente ainda bastante preservado concentra, num mesmo lugar, um conjunto de

formações naturais que permite a prática de atividades turísticas voltadas principalmente para

o turismo de aventura, atividade que ganham força dentro do contexto nacional e

internacional. O local é frequentemente visitado por equipes de reportagens do Brasil, do

exterior e por esportistas que descobriram no lugar uma das poucas formações geológicas nas

quais os paredões com inclinações “negativas” são ideais para a prática de atividades como o

Psicobloc.

Foto7: Prática de escalada em Psicobloc nos paredões do Vale do Talhado - Talhado-AL. Disponível em:< www.escaladajpa.com.br> acessado em 25/07/2014.

O lugar também é utilizado para a prática de outros esportes como o rapel, a tirolesa,

andar de kaiak e jet-ski, fazer trilhas, passear de catamarã, pesca esportiva e subaquática.

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Foto 8: Prática de Rapel nos Paredões do Vale do Talhado - Talhado-AL Disponível em:< www.mirantedotalhado.com.br/> Acessado em 25/07/2014.

Foto 9: Prática de Tirolesa nos Paredões do Vale do Talhado -Talhado-AL. Disponível em:< www.mirantedotalhado.com.br/> Acessado em 25/07/2014.

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Foto 10: Passeio de Kaiak nas águas do rio São Francisco – Talhado-AL. Disponível em:< www.mirantedotalhado.com.br/> Acessado em 25/07/2014.

Foto 11: Turistas fazendo a trilha. Nº 1- Mirante do Talhado – Talhado-AL. Disponível em:< www.mirantedotalhado.com.br/> Acessado em 25/07/2014.

10

11

Os agentes de desenvolvimento do turismo do local ainda procuram uma forma de

manutenção dessas atividades, buscando principalmente uma regularidade nos fluxos por

períodos mais longos. O desafio consiste em atrair o turista/visitante, tendo em vista que o

turista estrangeiro e o turista/esportista, que costumam gastar um pouco mais, são pouco

frequentes e muito exigentes pelas suas especificidades. Este tipo de turista não é suficiente

para garantir a continuidade da atividade, por isso, o equilíbrio das receitas se dá pela oferta

de serviços oferecidos à comunidade, principalmente na gastronomia, nas hospedagens para

recém-casados, ou pela promoção das festas tradicionais do nosso calendário, valorizando

principalmente, os eventos culturais, a exemplo das “pegas de bois” (vaquejadas), que

eventualmente acontecem nos arredores dos principais locais turísticos da região.

O turismo que se desenvolveu a margem direita do rio, a partir da cidade de Canindé

de São Francisco-SE, tem superado as questões da sazonalidade em decorrência de uma

melhor infraestrutura e de um trabalho mais consolidado na mídia nacional. Uma bem

estruturada rede de serviço possibilitou num mesmo dia, a visitação de cerca de três mil

pessoas aos cânions do rio durante os feriados prolongados do mês de maio de 2014.

Foto 12: Catamarã com turistas embarcados na cidade de Canindé de São Francisco-SE Autoria: Abelardo Gabriel, julho 2014.

Na margem esquerda do rio, a recente atividade turística ainda é um desafio para um

pequeno grupo de empreendedores. O acesso aos três lugares (Show da Natureza, Mirante do

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Talhado e Restaurante Ecológico Castanho), distante aproximadamente 14 km da AL-220,

ainda é o principal gargalo do desenvolvimento da região. As estradas vicinais não

pavimentadas apresentam trechos com um grau de conservação bastante sofrível, limitando,

inclusive, o tráfego de veículos mais longos, como é o caso de ônibus. O senhor Elizeu

Gomes, proprietário do Restaurante Ecológico Castanho, que oferece um catamarã e tem um

porto no seu estabelecimento, ao contrário, aposta na utilização do rio como via de acesso.

Segundo ele, “a pavimentação das estradas tiraria o romantismo do lugar”.

Foto 13: Área de lazer do Restaurante Ecológico Castanho – Talhado-AL. Autoria: Abelardo Gabriel. Março de 2013

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Foto 14: Catamarã – Restaurante Ecológico Castanho – Talhado-AL Autoria: Abelardo Gabriel, março 2013.

Para o Senhor José Francisco, proprietário do Mirante do Talhado, “o detalhe das

estradas não pavimentadas tornam o lugar mais específico, mais seletivo, inclusive, mais

atraente para categorias que buscam o turismo de natureza”.

O restaurante Show da Natureza aposta na democratização do espaço. Sua

proximidade com o rio e com a comunidade do assentamento Nova Esperança, fazendo desse

local um espaço multicultural, onde os nativos, os pescadores, os criadores de peixes, turistas

e visitantes dividem as atratividades do local.

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Foto 15: Vista do alto do restaurante Show da Natureza – Talhado-AL Autoria: Abelardo Gabriel, julho 2014.

O Vale do Talhado e sua extensão às margens do São Francisco é a última expressão

geológica mais diferenciada de Alagoas. Nesse Estado, cuja paisagem é dominada pela

monotonia dos canaviais, encontra no Sertão uma barreira de contenção para a monocultura

da cana-de-açúcar. Delmiro Gouveia, na extremidade do Estado, com pouco mais de 600

km², concentra as mais fortes expressões do Sertão e da Caatinga, e, ao mesmo tempo, revela

a exuberância talhada e esculpidas durante milhares de anos nas rochas cristalinas e no

arenito, modelando, assim, o lugar, até as atuais formações, que encantam turistas e visitantes.

3.2 - CARACTERÍSTICAS GEOGRÁFICAS GERAIS DO VALE DO TALHADO

• Região do Talhado/Delmiro Gouveia-Al.

• População residente do município: 48.090 hab. IBGE/2010.

• IDH do município: 0,612 PNUD/2010.

• Extensão territorial total do Município: 607,81(km²).

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• Região do Talhado/Olho d’Água do Casado-Al.

• População residente do município: 8.491 hab. IBGE/2010.

• IDH do município: 0,525 PNUD/2010.

• Extensão territorial total do Município: 322,94(km²).

No sentido Leste-Oeste, a rodovia AL 220 liga Delmiro Gouveia-AL à Olho d’Água

do Casado-AL. Esta é a principal via de acesso aos cânions do rio São Francisco por esses

dois municípios. Para acessar o complexo do Mirante do Talhado ou o restaurante Ecológico

Castanho, existem três pontos, a partir de Delmiro Gouveia, mais especificamente pelo

povoado Pedrão, assentamento Quarenta e Quatro, e próximo do Riacho Bom Jesus. Para

acessar o restaurante Show da Natureza, a entrada se dá no município de Olho d’Água do

Casado, pelo Assentamento Boa Esperança. As estradas vicinais têm uma distância de

aproximadamente 14 km da referida rodovia.

A distância aproximada desses pontos turísticos em relação às rodovias federal ou

estadual mais próxima são as seguintes: Rodovia BR 316: 30 km; e AL 220: 14 km. As

Distâncias em relação às capitais de estados mais próximas: Em relação a Maceió-Al: 290

km; em relação a Aracajú-SE: 309 km; em relação a Recife-PE: 423 km; e em relação a

Salvador-BA: 509 km.

Mapa 01 - Localização dos pontos turísticos do Talhado-AL

Fonte: Base cartográfica do ZAAL (2014) Autoria: J. Alegnoberto/Abelardo Gabriel.

O mapa nº 01 apresenta a localização dos principais pontos turísticos da região do

Vale do Talhado, nas cidades de Delmiro Gouveia-AL e Olho d’Água do Casado-AL. O

principal ponto de acesso se dá pela rodovia AL 220, na margem direita do riacho Bom Jesus.

Uma placa localizada às margens da rodovia indica o ponto em que se deve deixar a rodovia e

seguir por uma estrada vicinal de terra batida. Ao longo da estrada estão várias placas

informando a direção correta do lugar. O Restaurante Mirante do Talhado está a 14 km da

rodovia, e o Restaurante Ecológico Castanho, 5 km depois do Restaurante Mirante do

Talhado, ou seja, a 19 km da rodovia.

O restaurante Show da Natureza está localizado no Município de Olho d’Água do

Casado e seu acesso se dá pela rodovia AL 220, pelo assentamento Nova Esperança. Saindo

da rodovia, percorre-se 6 km e chega-se ao local.

Mapa 02 - Detalhes da localização dos pontos turísticos do Talhado-AL

Fonte: Base cartográfica do ZAAL (2014). Autoria: J. Alegnoberto/Abelardo Gabriel.

Com auxílio do mapa de detalhes (mapa nº2) da região do Vale do Talhado, é

possível perceber a relação de distância entre a sede do município de Delmiro Gouveia, e os

principais destinos turísticos sinalizados no mapa. A 11 km da sede do município, pela AL

220, no sentido Oeste Leste, encontra-se o local de acesso ao restaurante Mirante do Talhado

e Restaurante Ecológico Castanho. Na mesma Rodovia, no mesmo sentido, 5 km depois,

encontra-se o acesso ao restaurante Show da Natureza.

No mesmo mapa, percebe-se a concentração dos principais tributários do rio São

Francisco na região (Bom Jesus, Talhado, Castanho, Cachoeirinha), sendo que o Bom Jesus,

encontra-se com o Talhado para formar o principal afluente da região. São corpos d’água de

regime intermitente, ficando a maior parte do ano seco. No período conhecido como inverno

na região, que vai de abril a junho, não costuma ter água, suas contribuições mais expressiva,

se dá durante as chuvas de verão, conhecidas também por trovoadas, que podem ocorre entre

os meses de outubro a janeiro.

Segundo o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), no Projeto Cadastro de fontes de

abastecimento por água subterrânea para a cidade de Delmiro Gouveia:

O município de Delmiro Gouveia encontra-se inserido na bacia hidrográfica do Rio São Francisco, sendo banhado apenas por tributários secundários da sub-bacia do Rio do Maxixe, que atravessa a sede do município. Os principais tributários são: a WNW, os Riachos Salinas, da Olaria, do Curral Novo, do Correia, das Mortes, da Cachoeira, Salgadinho e da Ripa. Na porção centro-sul, os riachos Lajedinho, Pereira, do Cordeiro, Grota Funda, Grande da Cruz, Barriguda, Salgado e da Veneza. Na porção ESE, os Riachos Xingó, da Areia, do Castanho, dos Juremas, Olho d’Água, Bom Jesus, Cachoeirinha e do Talhado. Existe ainda, na porção NW, um Açude do DNOCS, que deságua no Riacho Pereira. O padrão de drenagem é do tipo Pinado, uma variação do dendrítico. (CPRM/PRODEEM, 2005).

Em 1952, o escritor Tadeu Rocha coletou uma série de dados na estação

meteorológica de Paulo Afonso-BA, que fica localizada a menos de 50 km do Vale do

Talhado e da cidade de Delmiro Gouveia-AL. Segundo Rocha (2012, p. 90), no mês de

dezembro de 1952, numa altitude de 249,38 m, os termômetros chegaram a marcar 40,1ºc e

em junho do ano seguinte, 15,2ºC, quando a temperatura média ficou em 27,6ºC. Na

classificação de Köpen, a região está inserida no semiárido, pois apresenta um clima quente e

seco com precipitações irregulares que, segundo Rocha (2012 p.91), não ultrapassam os 600

mm/ano. Nessas condições de clima, temperatura e solo, a vegetação é basicamente composta

por Caatinga Hiperxerófila com trechos de Floresta Caducifólia. Segundo Rocha. (2012, p.

97)

Para que seja identificada uma legítima região fisiográfica, isto é, uma região natural complexa, é preciso descobrir a correlação existente entre os fenômenos do domínio da geografia física predominantemente na área e estudo. Da conexão dos fatos fisiograficos é que resultam as características peculiares a cada região natural.

A região foi esquadrinhada pela CPRM para a construção do Projeto Cadastro de

fontes de abastecimento por água subterrânea para a cidade de Delmiro Gouveia, que nos

traz as seguintes informações a respeito do município.

O município de Delmiro Gouveia está inserido na unidade geoambiental da Depressão Sertaneja que representa a paisagem típica do semiárido nordestino, caracterizada por uma superfície de pediplanação bastante monótona, relevo predominantemente suave-ondulado, cortada por vales estreitos, com vertentes dissecadas. Elevações residuais, cristas e/ou outeiros pontuam a linha do horizonte. Esses relevos isolados testemunham os ciclos intensos de erosão que atingiram. (CPRM/PRODEEM, 2005).

Segundo o Sr. Elizeu Gomes, proprietário do Restaurante Ecológico Castanho,

“andar por essa região é passear pela história”. É possível buscar conhecimentos sobre os

fatos e acontecimentos que marcaram essa parte do rio São Francisco bem como os seus

arredores, como foi o caso do turista mais ilustre que passou pela região em 1859 – o

imperador D. Pedro II, - além de outras figuras de destaque regional e nacional.

Da visita do então imperador D. Pedro II, nasceu o projeto e a construção da linha

férrea Paulo Afonso, que tinha como objetivo principal interligar a área do baixo ao médio

São Francisco, cuja navegabilidade sofria uma interrupção no trecho das cachoeiras de Paulo

Afonso. “A estrada teve seu início de operação em 1882 e encerrou suas atividades em 1964,

quando teve início a retirada dos trilhos que mediam de 115 km e ligava a cidade de Piranhas

em Alagoas a cidade de Jatobá em Pernambuco”,(depoimento do Sr. Luiz Ruben Ferreira de

Alcântara Bonfim) historiador e empresário na cidade de Paulo Afonso-BA.

Foto16: Ponte Preta. Antiga linha férrea Paulo Afonso – riacho Bom Jesus-AL. Autoria: Abelardo Gabriel, março de 2013.

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Segundo o Sr. Elizeu Gomes, “há uma variação geológica nas margens do talhado,

sendo que a porção que dá acesso à cidade de Olho d’Água é constituída de rocha cristalina,

enquanto a margem onde se encontra a cidade de Delmiro Gouveia-Al, constitui-se de rocha

sedimentar”.

Mapa 03 - Domínio Hidrogeológicos.

Fonte: CPRM/PRODEEM

Na parte Leste de Delmiro Gouveia, especificamente, onde esta localizada a porção

do Vale do Talhado, encontramos uma mancha expressiva de rochas sedimentares.

Caminhando no sentido Oeste, segue-se uma extensa faixa de rochas cristalinas com

predominância das rochas metamórficas e um pequeno ponto de rochas ígneas no seu

extremo.

Área do município em estudo está inserida em dois Domínios Hidrogeológicos: o Fissural e o Intersticial. O Domínio Fissural é composto por rochas do embasamento cristalino da Província Borborema, Sistema de Dobramentos Sergipano e Maciço Pernambuco-Alagoas, podendo ser dividida em dois subdomínios: Subdomínio Rochas Ígneas: representado regionalmente pelos granitos e rochas grabóides da Suíte Magmática Ácida tardia postecônica, como as unidades

Caraíbas, Glória, Águas Belas e Mata Grande (Proterozóico). O Domínio Intersticial constituído por rochas sedimentares, representado no município pelos arenitos da Formação Tacaratú (Paleozoica) inserido no Subdomínio Paleozoico – Mesozóico. (CPRM/PRODEEM, 2005).

No mirante do Talhado, percorrendo a trilha nº 1, chega-se ao cume da escarpa dos

paredões de arenito, lá, é possível perceber com clareza, o lugar onde se dá o encontro dos

dois subdomínios hidrogeológicos. São elementos visíveis que testemunham e fortalecem a

importância desse ambiente, não somente para o turismo, mas também para a comunidade

cientifica que estuda esses fenômenos. Como iniciativa ao processo de ensino aprendizagem

da disciplina de Geografia, trouxemos um grupo de estudantes do 9º ano da Escola Municipal

de Ensino Fundamental Noêmia Bandeira da Silva, da Cidade de Delmiro Gouveia-AL para

conhecer esse lugar.

3.3 - OS AGENTES DO TURISMO NO VALE DO TALHADO

Na momentânea atividade de exploração do turismo na região do Vale do Talhado,

destacam-se três pontos de destinação turística, o Restaurante Show da Natureza, o

Restaurante Mirante do Talhado e o Restaurante Ecológico Castanho.

No restaurante Show da Natureza, localizado nas proximidades do assentamento

Nova Esperança, no município de Olho d’Água do Casado, onde o Sr. Lourival Pereira

Gomes, um filho de assentado, no ano de 2005, construiu um pequeno barraco às margens do

rio, aproveitando restos de material utilizado na construção de um reservatório para uma

adutora de um projeto de irrigação. O propósito inicial do Sr. Lourival Pereira, era de se

recuperar de um trauma motivado por um assalto que o mesmo havia sofrido. O pequeno

barraco que servia para guardar o material usado nas suas pescarias passou a ser visitado por

seus amigos nos fins de semana, Por sugestão de um desses amigos, o Sr. Lourival Pereira,

passou a comercializar bebidas, e tira-gostos à base de peixes, pescados no local. À demanda

cresceu e o lugar foi se adaptando, até chegar à atual formação.

Foto 17: Vista frontal do restaurante Show da Natureza - Talhado-AL. Autoria: Abelardo Gabriel, julho 2014.

O reservatório de concreto destoa na paisagem. Fora isso, as construções mantêm

uma harmonia com o seu entorno, com o ambiente rustico da caatinga, com os paredões

rochosos e com as águas do lago que avançam pelo riacho do Talhado. Procurando aproveitar

os objetos da paisagem, o restaurante foi decorado e arborizado com elementos da região, o

lixo é acondicionado numa área da parte superior da encosta e a cada oito dias são recolhidos

pela prefeitura, os dejetos sanitários, segundo o proprietário, “são destinados em uma

sequência de três fossas”, na primeira ficam a parte mais sólida, o sobrenadante vai por

gravidade para a segunda caixa e, depois para terceira, e, desta, é bombeado para a parte alta

servindo de irrigação para a mata nativa. Seu principal problema ambiental, segundo o

proprietário, é a dificuldade de manter um nível razoável de ruído, pois, mesmo com os avisos

espalhados pelo local, a população insiste em utilizar o som de carro.

Hoje o lugar possui uma área útil de mais de dois mil metros quadrados, distribuídos

em dois ambientes com capacidade para atender simultaneamente 30 famílias e

estacionamento para mais de 20 carros.

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Foto 18: Apartamentos em formato de chalé – Mirante do Talhado – Talhado-AL. Autoria: Abelardo Gabriel, maio 2014.

No restaurante Mirante do Talhado, encontra-se um ambiente com outras

características, o lugar está localizado na parte superior da encosta e, além do restaurante,

também oferece hospedagem em chalés e uma área de camping. O lugar ainda oferece um

espaço para banhos de chuveiro e uma piscina que está em construção.

O proprietário tem desenvolvido atividades interessantes utilizando principalmente

material reciclado, como, garrafas pet, usado na construção de quiosques, troncos de

madeiras, usadas como bancos, árvores mortas, transformadas em esculturas. Além desses

elementos, uma carroça utilizada na construção de cenas da novela Global “Cordel

Encantado” (2011), lançada do alto do penhasco para dentro do rio chama a atenção. A

carroça foi regatada pelo Sr. José Francisco, e, hoje faz parte da decoração do restaurante.

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Foto 19: Construção de quiosque com material reciclado. Rest. do Mirante do Talhado – Talhado-AL. Autoria: Abelardo Gabriel, Maio 2014.

A população local também participa do projeto, juntando e entregando no próprio

restaurante, (por uma pequena compensação financeira) garrafas vazias de água mineral e um

refugo dos “facheiros”, planta cactácea retirada da caatinga e usada na alimentação do gado

durante os períodos mais críticos da seca. Com esses dois produtos, o Sr. José Francisco

construiu um pequeno quiosque, (foto nº 19) usado como expositor de produtos e também

como pequeno depósito. Todas as instalações estão localizadas a cerca de quinhentos metros

da encosta e, segundo o proprietário, o material orgânico (inclusive os sanitários) gerado no

local é totalmente aproveitado na irrigação e adubação da horta, do pomar e da vegetação

nativa. Como área de preservação, o proprietário destinou um espaço correspondente a 28%

da área total do estabelecimento.

O Restaurante Mirante do Talhado, mantem convênios com agências de turismo,

com guias freelances e com moradores da localidade para realização de algumas atividades

esportivas e culturais, dentre elas, a prática de rapel e tirolesa e nas apresentações de rituais

indígenas e nas pegas de boi na caatinga, atividade bastante apreciada pelos “vagueiros” nos

seus momentos de lazer. As trilhas (quatro ao todo) têm como guia o Sr. José Francisco,

19

proprietário do restaurante, que, com palestras prévias e vigilância ostensiva, mantém o lugar

o mais preservado possível. No restaurante, há um acervo do bioma Caatinga, aguardando a

construção de um espaço par a instalação de uma biblioteca.

Foto 20: Vista interna do restaurante do Mirante do Talhado – Talhado-AL. Autoria: Abelardo Gabriel, maio 2014.

O Restaurante Ecológico Castanho está localizado na margem do rio num espaço

onde os paredões sofrem uma breve descontinuidade e o rio consegue avançar por uma

estreita faixa de terra, permitindo a construção de um atracadouro para catamarãs, lanchas,

jet-ski e Kaiake. O lugar também permite que por dois ou três metros, seja possível tomar

banhos sem submergir nas águas profundas do rio.

20

Foto 21: Vista parcial do Restaurante Ecológico Castanho - Talhado-AL. Autoria: Abelardo Gabriel, julho 2014.

O restaurante ocupa uma estreita faixa horizontal, aproveitando intensamente toda a

margem, inclusive, árvores mais expressivas do lugar para servir como sombreiro e armadores

de rede. A arquitetura aproveitou os elementos do lugar na pavimentação e nos taludes de

proteção, foram utilizadas pedras de arenito, abundante na região; o verde foi intensificado

com gramíneas, que, além das águas do rio, também recebe os nutrientes dos resíduos

orgânicos produzidos no local. Segundo o Sr. Elizeu Gomes, a propriedade mantém a maior

reserva particular de caatinga do estado, são 1600 hectares distribuídos de forma contínua na

qual, segundo ele, já foi visto, inclusive, “rastro de onça,” um felino que há muito não se vê

na região. O urubu-rei, o gavião verdadeiro, a juriti e a asa branca são espécies que ainda

podem ser encontradas nessa reserva, frisou o Sr. Elizeu Gomes.

21

4 - O TALHADO E O ENSINO DA GEOGRAFIA

4.1 - A REALIDADE E O PROCESSO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DO TALHADO

Em trabalho de campo realizado na região do Vale do Talhado, nas cidades de Olho

D’água do Casado e Delmiro Gouveia, em Alagoas, foi possível observar as principais

atrações que motivam o turista a conhecer a região, explorando o leito “seco” do Riacho do

Talhado, Bom Jesus, e Castanho - corpos d’água tributários do São Francisco – encontram-se

as primeiras formações do modelado do Vale do Talhado. No leito seco dos riachos, formou-

se uma densa camada de areia e pedregulhos: são as principais jazidas de areia lavada para a

construção civil na cidade de Delmiro Gouveia. Nas duas margens, as matas ciliares

estendem-se até encontrar a caatinga, nas áreas mais elevadas alguns vestígios de culturas de

cerqueiro (tabocas de pés de milhos) do último período das chuvas. O resto do ano (agosto a

fevereiro) os mesmo espaços servem de pastagem para o gado, para os caprinos e ovinos.

Além disso, o que se vê é uma grande extensão da caatinga e ao longe, um serrote,

modificando a paisagem.

Foto 22: Turista fazendo rapel na ponte da antiga linha férrea Paulo Afonso - Riacho Bom Jesus-AL. Disponível em:< www.mirantedotalhado.com.br/> Acessado em 25/07/2014.

22

As duas pontes da antiga linha férrea “Paulo Afonso” são dois corpos estranhos no

meio da caatinga. Sua beleza e seu estado de conservação ignoram o tempo e se destacam na

paisagem, os detalhes de um fino acabamento em uma enorme estrutura de ferro e pedra,

fazem delas obras de arte, hoje solitária; outrora, intensamente visitada. Sua história é

desconhecida por uma parte da população e esquecida por outra. Poucos se aventuram pela

trilha formada no dorso da antiga ferrovia, desativada há quase 50 anos. Hoje, está quase

encoberta pela caatinga.

Foto23: Trilha sobre a antiga linha Férrea. Riacho Bom Jesus - Talhado-AL Autoria: Abelardo Gabriel. Março 2013

É possível chegar às pontes a partir de antiga estação de trem localizada no Povoado

Talhado, ou pela agrovila nº01 do assentamento Nova Esperança, próxima ao restaurante

Show da Natureza. Este mantém convênios com guias e instrutores de rapel, que utilizam a

ponte como espaço para a prática dessa atividade. A partir do cruzamento do Riacho do

Talhado com a “ponte preta”, fica mais evidente a aproximação com o rio São Francisco. Os

paredões que molduram o leito do rio começam a se projetar pela ação milenar das águas

escavando o solo e expondo as rochas mais resistentes aos intemperes.

23

Foto 24: Riacho do Talhado inundado pelas aguas da barragem de Xingó – Talhado- AL Autoria: Abelardo Gabriel, março 2013.

Os paredões que se abrem para receber as águas dos Riachos do Talhado e do Bom

Jesus impressionam pela sua grandeza e, principalmente, pela sua beleza realçada pelas águas

esverdeadas do lago da hidroelétrica de Xingó que inundou parte do vale.

Os sítios arqueológicos, que revelam partes da história de antigos moradores estão

registrados nas gravuras rupestres encontradas na área preservada do Restaurante Ecológico

Castanho e em vários pontos espalhados pela região. Outros fósseis que ajudam a contar essa

história encontram-se no museu MAX, localizado no município de Canindé de São Francisco

no Estado de Sergipe.

24

Foto 25: Gravuras rupestres – Sítio Arqueológico do Assentamento Lameirão – Delmiro Gouveia/AL – Talhado-AL. Autoria: Abelardo Gabriel, maio de 2014.

A fauna e a flora típica da caatinga, aparentemente mortas nos períodos das secas,

tornam-se exuberante no período das chuvas, transformando lugar e os hábitos de seus

moradores. A maior área de caatinga preservada do Estado encontra-se justamente na região

do Talhado, ao longo do riacho Castanho até encontrar o leito do rio. São 1600 hectares de

mata contínua. Segundo o proprietário, o Sr. Elizeu Gomes, ainda é possível encontrar

espécies da fauna e da flora como a “Onça Pintada (Panthera onca); e a Imburana de Cheiro

(Amburana cearensis)”, que há muito não são vistas na região. Outras espécies bastante

ameaçadas são encontradas no interior da reserva como: barriguda (Cavanillesia arbórea),

angico (Anadenanthera falcata), aroeira (Schinus molle), baraúna (Schinopsis brasiliensis).

São exemplares que também se tornaram atração para o turismo na região.

Os elementos culturais ajudam a formar o conjunto de atrações turísticas do Vale do

talhado são: cavalhada, pastoril, quadrilha, reisado, festa da padroeira, festa junina, pega de

boi, missa de vaqueiros.

25

A culinária tornou-se um dos elementos mais importantes dos estabelecimentos da

região, os pratos a base de peixe, bode e galinha caipira levam semanalmente dezenas de

famílias para estes lugares. A tradicional comida caseira, feita com produtos plantados e

criados no “quintal” de casa, é a base do cardápio dos restaurantes da região, além desses, os

peixes são pescados ou cultivado no rio São Francisco. Os pratos mais apreciados são: a

galinha caipira, o bode guisado, e o peixe ensopado ou assado.

Redes, esteiras e preguiçosas são armadas embaixo de aroeiras, umbuzeiros e

juazeiros disponibilizadas pelos estabelecimentos gratuitamente. Elas parecem nos convidar

para uma “soneca” ou para um merecido “descanso” depois de fazer uma trilha, nadar,

passear ou tão somente para se refrescar e diminuir a fadiga provocada pelo calor do Sertão

antes de retornar para suas casas.

4.2 - A ESCOLA DESCOBRINDO O VALE DO TALHADO

O processo educacional precisa estar presente em qualquer trabalho das licenciaturas,

não somente por que todo o processo de formação esteve voltado para a concepção do ensino,

mas principalmente para formação de educadores preocupados com a qualidade deste ensino.

Um trabalho de pesquisa procura constatar a realidade dos fatos através de levantamento de

dados, aplicação de questionários e de outros instrumentos que permitam uma visualização

representativa da realidade que se queira analisar. Nesta perspectiva, trabalhou-se a questão

do ensino da geografia, dentro de um recorte espacial do Vale do Talhado, em Delmiro

Gouveia e Olho d’Água do Casado, em Alagoas. Exploraram-se suas nuances desde seus

aspectos sociais e culturais, bem como os impactos ambientais decorrentes da prática da

atividade turística instalada na região nos últimos anos.

A primeira parte do trabalho se deu em sala de aula com um grupo de 29 alunos da

turma do 9º ano do ensino fundamental da Escola Municipal Noêmia Bandeira da Silva,

localizada no bairro do Desvio, na cidade de Delmiro Gouveia/AL, a maioria desses alunos

são remanescente da turma do 8º ano de 2013, que, com a permissão e a colaboração do

professor de geografia, Paulo Cesar, participaram do processo de formação de docente do

curso de Licenciatura em Geografia, da Universidade Federal de Alagoas - Campus Sertão,

nas disciplinas de estágio supervisionado 1, 2 e 4, culminando com a participação na

construção deste trabalho. A princípio, discutiram-se as principais atividades econômicas e

seus reflexos na sociedade e na natureza, discutiram-se também, algumas categorias da

geografia, principalmente os aspectos do lugar do espaço e da paisagem, direcionando o foco

para a atividade turística. Nesse proposito, agendamos uma visita à região em discussão para

observar in loco os questionamentos decorrentes das observações de sala de aula. Elaboramos

questionários, dividimos as equipes e seguimos para o Mirante do Talhado, nosso ponto de

referência para a região.

Nas fotos 26 e 27, observamos os alunos da Escola Noêmia Bandeira, recebendo

instruções do Sr. José Francisco, guia e proprietário do restaurante Mirante do talhado.

Foto 26: Alunos da Esc. Noêmia Bandeira em aula de campo no Mirante do Talhado – Talhado-AL Autoria: Abelardo Gabriel, maio 2014.

Nessa proposta de trabalho, visou-se oferecer uma possibilidade de compreensão e

interpretação dos dados reais a partir das observações e do envolvimento do aluno com o

problema proposto. Isso só foi possível a partir da realidade confrontada e rediscutida dentro

do processo de aprendizagem e, assim, afirmar ou negar os pressupostos concebidos, que a

região dos cânions, especificamente no Mirante do Talhado, trata-se de uma região com

elevado potencial turístico, que têm compromisso, com a preservação e conservação do meio

ambiente.

26

A problemática do trabalho girava em torno do Turismo na região. Cinco subtemas

foram apresentados, considerando que a possibilidade de exploração de uma atividade

historicamente urbana, que ao chegar ao meio rural logo provoca mudança visível na forma de

vida e no comportamento da população. Que tipos de impactos poderá causar essa atividade,

positivos ou negativos? Para responder esses questionamentos, cinco grupos de cincos e/ou

seis alunos desenvolveram pesquisa de campo através de registros fotográficos, gravações,

observação direta, entrevistas e pesquisa.

Foto 27: Alunos da Escola Municipal Noêmia Bandeira em aula de campo – Mirante do Talhado – AL. Autoria: Abelardo Gabriel, maio 2014.

4.3 - O VALE DO TALHADO DENTRO DA ESCOLA

Os alunos formaram quatro grupos de cinco alunos e um de seis, e cada grupo

recebeu um dos seguintes eixos-temas:

27

a) Quais os impactos visíveis que a atividade turística provocou na região e quais as ações

para evitá-los?

b) Quais as mudanças econômicas e sociais que essa atividade trouxe para a comunidade?

c) O que significa o turismo para a comunidade do Olho d’Águinha?

d) Quais são os principais atrativos turísticos da região?

e) Quais as principais políticas públicas para a região?

A partir do tema principal, os alunos teriam que desenvolver atividades estratégicas

para respondê-las, utilizando recursos fotográficos, gravações em vídeo, entrevistas,

questionários e observação direta da área visitada.

Na questão ambiental, os alunos teriam de trabalhar os aspectos referentes à

infraestrutura, esgotamento sanitário, coleta e disposição do lixo e área de preservação. Nas

questões culturais, discutiram os recursos do lugar para a prática de atividades culturais,

calendários dessas atividades, tipos de eventos desenvolvidos para o turismo, e quais atores

estiveram envolvidos nas atividades. Nas questões econômicas, observaram os produtos e

serviços oferecidos, a origem do turista/visitante, os períodos da alta e baixa temporada, as

relações trabalhistas, quem são os fornecedores, produtores e trabalhadores; nos recursos

turísticos, observaram qual a importância da geomorfologia, da paisagem, do lugar, da

culinária, do modo e vida da comunidade e que outros elementos poderão ser usados como

atrativos turísticos do lugar; e por último, como o setor público atua neste espaço, se há

trabalho de capacitação e treinamento, como se dá os investimentos e se existem políticas

direcionadas para o Talhado que possa melhorar a prática da atividade na região.

Além dessas atividades de grupo, os alunos teria que socializar suas experiências,

“pois o tema também entraria como componentes na avaliação” advertiu o professor Paulo

Cesar, da disciplina Geografia.

O resultado dos trabalhos de pesquisa de campo foi apresentado pelos alunos em

forma de relatório, primeiro, ao professor, para ser usado como um instrumento para

composição da nota do segundo bimestre do ano letivo de 2014, e depois disponibilizado para

o trabalho de pesquisa.

Foto 28: Professor discutindo com os alunos o relatório de pesquisa de campo. Delmiro Gouveia-AL Autoria: Abelardo Gabriel, maio 2014.

O grupo que trabalhou as questões referentes ao meio ambiente em seu relato deixou

evidente que o maior foco de suas observações estava voltado para as questões do lixo e do

esgotamento sanitário. Segundo eles, o Sr. José Francisco (proprietário do complexo turístico

do Mirante do Talhado) afirmou que “todo o lixo orgânico gerado no restaurante é

aproveitado como alimento para as galinhas ou usado como adubo”. Além das árvores

frutíferas situadas em volta do restaurante, existe uma área reservada onde fica a horta, o

pomar, o viveiro de hortaliças e o galinheiro. O esgoto sanitário, ainda segundo o Sr. José

Francisco, “é totalmente aproveitado”, o esgoto é canalizado para um conjunto de quatro

reservatórios, a caixa nº 1 recebe o esgoto in natura, extravasando a 15 cm da borda superior

para a caixa nº 2, esta por sua vez, extravasa a 30 cm, o mesmo acontecendo coma as caixas

nº 3 e 4. O sobrenadante da última caixa é destinado como produto de irrigação, enfatizou

ele, e continuou: “não se perde nada”, a parte sólida é usada como compostagem para

adubação e a parte líquida como produto de irrigação na mata da reserva ambiental que fica

no prolongamento da área dos chalés.

28

Foto 29: Sistema de tratamento de esgoto sanitário do Mirante do Talhado – Talhado-AL. Autoria: Abelardo Gabriel, maio de 2014.

O segundo ponto explorava as informações referentes à preservação ambiental.

Segundo os alunos, o Sr. José Francisco, quando da apresentação do lugar, já trazia uma

preocupação “justificada” a respeito da conservação e da preservação da natureza, que “o

desejo é de interferir o mínimo possível na paisagem na fauna e na flora ou em qualquer outro

elemento da natureza”. Na oportunidade, ainda segundo os alunos, ele apresentou uma área

destinada à reserva natural do lugar, correspondente a 28% de toda a área do estabelecimento

que corresponde a 1.8 hectares.

Para justificar suas palavras, o Sr. Francisco mostrou um ninho de “rolinha”

(Columbina talpacoti), construído sobre o umbral da porta de entrada de um dos chalés, e que,

segundo ele, “já era a terceira geração de filhotes que nascia ali”. Aproveitou e advertiu ao

grupo para não retirar nenhum objeto do lugar (plantas, pedras, animais etc.).

Na infraestrutura, os alunos relataram o que ouviram do Sr. Francisco. Segundo ele,

que se intitula de “analfabeto”, chegou à região em 2005, quando comprou uma área inferior a

dois hectares que mantém até hoje. Lá, iniciou “mais uma vez” um projeto desafiador. A

princípio, se instalou embaixo de um pé umbuzeiro e começou pessoalmente a trabalhar e a

transformar o lugar. Hoje já construiu quatro chalés e quer chegar a dez. O restaurante está

29

sendo ampliado e a piscina está em fase de construção. No lugar também será construído uma

biblioteca para abrigar um acervo do bioma caatinga, doada por uma família não revelada.

Segundo os alunos, o lugar mantém as mesmas características de uma propriedade

rural, é cercado com arame farpado, na entrada tem uma porteira, tem cachorros, galinhas e

outros animais. As estradas de acesso só recebeu um tratamento melhor quando da gravação

de algumas cenas da novela global “cordel encantado”.

As questões culturais foram discutidas por outro grupo de alunos, e as principais

contribuições veio do Sr. José Francisco que, segundo eles, é o principal articulador dos

eventos sócio-culturais do lugar. Como atração turística, o restaurante desenvolve parcerias

com atores da comunidade local. As principais atrações são as apresentações “surpresas” (em

algum ponto de uma das trilhas), de um grupo que representa uma comunidade indígena.

Outra atração, segundo os alunos, é a simulação de uma pega de boi no mato (vaquejada em

estilo livre), por um grupo de vagueiros da própria comunidade nas caatingas da região. Fora

essas atividades que são previamente agendadas, a comunidade acompanha o calendário

nacional para a realização das festas pagãs, e conta com o auxílio da Paróquia para as festas

religiosas.

Foto 30: Pega de boi na caatinga. Disponível em: < http://fotohugo.blogspot.com.br/2008/11/no-mato-pega-de-boi.html > acessado em 25/07/2014.

O terceiro grupo de alunos, responsável por trabalhar as questões econômicas, trouxe

informações referentes aos preços dos principais produtos oferecidos no lugar. Segundo eles,

30

o preço da hospedagem nos chalés é de R$ 75,00 por pessoa, com café da manhã, ou R$

135,00 com as três refeições e água mineral incluso. O preço do almoço custa em média R$

50,00 e dá para almoçar três pessoas, a trilha 1, 2 e 3 custam R$ 10,00 por pessoa, e a 4 custa

R$ 15,00 por pessoas.

Para o Sr. José Francisco, segundo os alunos, “os principais períodos para a atividade

do turismo na região são os períodos de férias e os feriados prolongados, os visitantes

costumam aparecer nos finais de semana para almoçar”.

Ainda segundo os alunos, o Sr. José Francisco contrata trabalhadores (as)

temporários da própria comunidade principalmente para os fins de semana e para os períodos

de maior movimento. Os principais produtos utilizados na cozinha do restaurante são

adquiridos na própria comunidade, os demais, na cidade de Delmiro Gouveia.

O quarto grupo de alunos trouxe informações a respeito dos principais recursos

turísticos da região do Vale do Talhado. Suas observações afirmam a importância da

geomorfologia do lugar como elemento principal da atividade turística da região. Para o Sr.

José Francisco, a paisagem que revela as características do lugar é o “cartão de apresentação

do Mirante do Talhado”, ainda segundo ele, “são essas formações que tornaram o lugar

conhecido mundialmente”. Para ele, “a pessoa quem vem aqui e não vai ver essa paisagem

(cânions) é o mesmo que ir a Roma e não ver o Papa”. O turista vem pra conhecer a paisagem

e praticar algum tipo de turismo de aventura, “os visitantes voltam principalmente para

apreciar a comida do lugar”. De acordo os alunos, o Sr. José Francisco acredita que “ainda há

muitas possibilidades de aproveitamento do potencial turístico da região”.

O quinto e último grupo de alunos tentou responder às questões referentes às

atividades econômicas para o setor turístico da região do Vale do Talhado. Para o Sr. José

Francisco, segundo constatado pelos alunos, existe financiamentos que podem ser adquiridos

no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), no Banco do

Nordeste, e também pelo PRONAF. Para ele, o SEBRAI tem estado muito presente, com

capacitações desenvolvidas nos estabelecimentos, como foi o caso do restaurante Mirante do

Talhado e na Fazenda Amarela. O poder público local ainda não realizou ações mais efetivas,

concluiu ele.

O trabalho de pesquisa de campo, realizado com a colaboração dos alunos da Escola

Municipal Noêmia Bandeira da Silva, ressaltou a importância desse tipo de trabalho para as

três categorias envolvidas, a saber: o agente local, o professor/pesquisador e o aluno. O agente

local, por entender a necessidade de divulgação de uma atividade relativamente nova na

região; o professor/pesquisador, por ajudar na construção de conceitos revelando novos

olhares, e por último, os alunos pela oportunidade de construir o conhecimento por uma ótica

diferente da tradicional sala de aula.

5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os cânions que modelam a primeira parte do baixo São Francisco, num recorte

localizado no extremo Oeste da cidade de Olho D’água do Casado, em Alagoas e na parte

mais Oriental da cidade de Delmiro Gouveia, também em Alagoas, denominada de Vale do

Talhado, serviu de matéria básica para a construção deste trabalho. Partindo do pressuposto

que o local é um lugar turístico em potencial, buscou-se sua confirmação através de pesquisa

bibliográfica e de campo, além de consultas em outros meios como: agências de turismo, de

Delmiro Gouveia e Piranhas, de secretarias de turismos, de Delmiro Gouveia, Piranhas e

Canindé de São Francisco e de bares e restaurantes dessas três cidades.

Para sua compreensão, em primeiro lugar, foi preciso considerar como instrumento a

serem analisados a concepção de espaço, lugar e algumas considerações acerca de paisagem.

Em segundo lugar, foi preciso analisar os conceitos e turismo, turista e visitante, bem como de

outros elementos presentes na temática do turismo. Em terceiro lugar, trabalhou-se o ensino

da geografia atrelada a atividade turística no Vale do talhado, tendo como elementos base a

relação da atividade turística com o meio ambiente, com o modo de vida da comunidade, com

as relações sociais e culturais, com as questões econômicas e com os investimentos para a

região e para a atividade turística local.

As coletas dos elementos encerou-se numa aula de campo com os alunos do 9º ano

da Escola Municipal Noêmia Bandeira da Silva – Delmiro Gouveia-AL, no “Mirante do

Talhado” (parte central da área de estudo), na companhia do professor Paulo Cesar da

disciplina de Geografia da Escola Noêmia Bandeira, do pesquisador, do guia local, o Sr. José

Francisco, e de outros atores (turistas moradores da comunidade e trabalhadores do

estabelecimento). Os dados coletados (posteriormente interpretados), pelos alunos se deram

por meios de: fotografias, gravações em vídeo, entrevista, aplicação de questionário, ou pela

observação direta do lugar. Tudo isso possibilitou que os mesmos vivenciassem uma

realidade até então deslocada do seu cotidiano, através de discussão dos conceitos teóricos

abordados.

O relatório dos alunos, fruto das discussões que se desenvolveram primeiro em sala

de aula, e, em seguida, no campo, e posteriormente em sala de aula, permitiu a reflexão e a

avalição.

Contudo, a presença de um público diferente (alunos e professores) provocou no

lugar visitado (o Mirante do Talhado) uma visível inquietação. Para o anfitrião, que também

era o guia, o fato de ter recebido um grupo de alunos e não de turistas, alterou a sequência da

sua rotina de apresentação. A realidade presente, que predomina no lugar, já foi enredo em

diversas produções literárias: a caatinga, o gado magro, a produção de cerqueiro, núcleos

familiares com alto índice de analfabetismo e infraestrutura precária. A presença dos

programas de transferências de renda esta presente em praticamente todos os domicílios.

(dados das Escolas Noêmia Bandeira e José Bezerra). De acordo com a sabedoria empírica

do Sr. José Francisco, essa realidade só mudará através de novos conhecimentos, e esse

conhecimento só será adquirido através dos estudos. Essa talvez tenha sido a contribuição

imediata dos alunos, professor e pesquisador para o lugar.

Para o exercício da docência em geografia, todo o processo em construção deste

trabalho, permitiu uma aproximação não somente com obras de diversos autores, mas também

com as “obras” por eles legadas. A possibilidade de confrontar a teoria e a realidade permitiu

o exercício de reflexão, rico no que tange, a ver como geografo, uma parcela da realidade

geográfica, com base em algumas ferramentas teóricas da disciplina. Na discussão de algumas

categorias da geografia, a exemplo do espaço, no qual Milton Santos (2009, p.62) afirma que:

“este se diferencia da paisagem porque nele existe uma vida que o anima”. Como afirmar esta

justificativa se não se for ao espaço vivido? E como “reproduzir” uma paisagem se não

visualizá-la? Estes e outros questionamentos só permitem ser desvendados com o auxílio de

pesquisa e pela contemplação da realidade discutida.

No desenrolar desse trabalho de pesquisa, buscou-se principalmente a consolidação

de uma ideia. Antes, porém, foi necessário definir alguns parâmetros: o recorte temporal e o

recorte espacial que delimitou o campo de atuação do pesquisador.

No processo de garimpagem das informações foram se acumulando conhecimentos,

formando-se a base e os contornos do trabalho proposto. Neste processo de construção,

inegavelmente herdamos conhecimento tanto teórico quanto empírico. No primeiro caso,

discutimos exaustivamente vários pressupostos conceituais importantes no processo de

construção do conhecimento. No segundo caso, aprendemos com a realidade e como de fato

elas se deram. No Mirante do Talhado, onde esses saberes se encontraram, entendemos a

importância desses dois conhecimentos, e nos surpreendemos com a coragem, ousadia e

sabedoria de um senhor de 75 anos, que se diz “analfabeto”, mas fala com propriedade a

respeito da caatinga, da morfologia, da história, da cultura, e que só se envaidece quando

conta como construiu pessoalmente as principais edificações do lugar.

A realização deste exercício de pesquisa-ensino possibilitou o amadurecimento

pessoal e profissional, portanto, no que diz respeito à aproximação com leituras, o contato

com a realidade e o aperfeiçoamento da reflexão inerente ao processo de aprendizado em

geografia. O plano de fundo da proposta de trabalho – neste caso o turismo e seus impactos

numa parcela importante do Sertão de Alagoas – forneceu os pilares para novos

questionamentos e trabalhos futuros. Considera-se que, se este trabalhou permitiu o

surgimento de novas questões e lacunas à produção de outros trabalhos, então os nossos

esforços não foram em vão: o olhar da geografia para o turismo oportunizará encontros

sempre caros e multiplicadores de saberes os mais variados a respeito da realidade sertaneja.

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