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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO ADESTRAMENTO E BEM-ESTAR DE CÃES POLICIAIS: UM ESTUDO DE CASO ELBER VICTOR GOMES DA COSTA AREIA PB JUNHO 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

ADESTRAMENTO E BEM-ESTAR DE CÃES POLICIAIS: UM ESTUDO DE CASO

ELBER VICTOR GOMES DA COSTA

AREIA – PB

JUNHO – 2016

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ELBER VICTOR GOMES DA COSTA

ADESTRAMENTO E BEM-ESTAR DE CÃES POLICIAIS: UM ESTUDO DE CASO

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Colegiado do Curso de

Zootecnia Centro de Ciências Agrárias da

Universidade Federal da Paraíba, como parte

dos requisitos para obtenção do título de

Bacharel em Zootecnia

Orientador: Professor MSc. Vinícius de França Carvalho Fonsêca

AREIA – PB

JUNHO – 2016

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ELBER VICTOR GOMES DA COSTA

ADESTRAMENTO E BEM-ESTAR DE CÃES POLICIAIS: UM ESTUDO DE CASO

Banca examinadora

___________________________________________________________________________

Professor MSc. Vinícius de França Carvalho Fonsêca - CCA – UFPB

Orientador

___________________________________________________________________________

Professor Dr. Edílson Paes Saraiva - CCA – UFPB

Examinador

___________________________________________________________________________

MSc. Severino Guilherme Caetano Gonçalves dos Santos - CCA – UFPB

Examinador

LOCAL ______________________, ___/___/___

AREIA – PB

JUNHO – 2016

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DEDICATÓRIA

Dedico esta vitória primeiramente ao Pai Celestial que não me esquece nem por um

segundo e está sempre abençoando minha vida. Sou grato ao Senhor por nunca desistir de

mim. “... em espírito e em verdade; que vivais rendendo graças diariamente pelas muitas

misericórdias e bênçãos que Ele vos concede.” – Alma 34:38.

À minha querida mãe Maria Vanusia Gomes Leite, dedico esta conquista, pelo seu

carinho, pelos puxões de orelha, por sempre me ensinar a andar no caminho certo e por seu

amor. Tudo aquilo que sou, ou pretendo ser, devo a um anjo: minha mãe. Te amo.

Ao meu velho coroa Elenildo Pessoa da Costa, muito obrigado pai por tudo e por estar

sempre ao meu lado. Te amo.

À minha namorada Kivya Marcionilla Palmeira Damasceno, dedico esta conquista,

por sempre estar comigo, me ajudando a levantar quando caio, por aguentar minhas chatices,

por me dar conselhos, pelas conversas, beijos e abraços. “Escolha o seu amor e ame sua

escolha.” Amo você.

Aos meus amigos Danillo Marte, Yasmim Santos, Cazuza Moura e Yohana Corrêa.

Vocês não são apenas meus amigos, são meus irmãos, não são de sangue mas de coração.

Ao meu orientador e amigo cumpade Vinícius Fonsêca, dedico a você. Não teria

conseguido sem sua ajuda. Esta conquista não é só minha, esta conquista é nossa.

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AGRADECIMENTOS

Este trabalho representa o culminar de alguns anos até minha formação e,

simultaneamente, o início de uma nova e importante etapa de minha vida. Estou feliz e tenho

muito a agradecer ao contemplar este ciclo. Peço licença para ser um tanto sentimental.

Ao Pai Celestial, sou grato por todo seu amor por mim, por me fazer vivenciar

momentos de conquista como este e por sempre me ajudar nos momentos de dificuldades,

tornando sempre meu jugo suave e meu fardo leve.

À minha mãe Maria Vanusia pelo apoio, esforço, algumas pisas e por seu amor, sem

você eu não chegaria até aqui, muito obrigado.

Ao meu pai Elenildo, por todo seu amor e dedicação, e por sempre mostrar o caminho

certo, obrigado coroa.

À minha melhor amiga e namorada Kivya Marcionilla, muito obrigado por tudo, por

seu grande amor, apoio, por sempre me ajudar, pelos momentos felizes juntos e por ser o meu

porto seguro, principalmente nos momentos difíceis.

À minha grande amiga e cunhada Carol Diniz “rirri” rsrs, pelos momentos engraçados,

boas conversas e risadas compartilhadas.

Ao meu orientador e amigo professor Vinícius Fonsêca, por ter apoiado e acreditado

na ideia do trabalho, por ter confiado e me ajudado a realizá-lo, pela paciência, injeções de

ânimo e troca de ideias, meus sinceros agradecimentos.

Também aos meus amigos, professor Edilson Paes Saraiva e Guilherme Caetano,

muito obrigado pela participação e excelente contribuição na minha banca de defesa.

Minha gratidão aos meus companheiros e grandes amigos Danillo Marte, Yasmim

Santos, Yohana Corrêa e Cazuza Moura, por termos vivenciados muitas lutas e vitórias juntos

nesses cinco anos de curso, esta é apenas mais uma das diversas que ainda estão por vir. Um

dia vamos olhar para trás e lembraremos desses momentos que passamos juntos; que nunca

esqueçamos deles. “Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito.”

A todos da minha turma 2011.2, por cada momento feliz e pelas ajudas de cada um

nos momentos de sufoco, a todos meu muito obrigado.

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Aos meus amigos do bloco 3 “favela”, sou grato pelos bons e felizes momentos que

passamos juntos, as bagunças, leseiras e as boas conversas. A todos vocês Rafael Luã, Natan

Guerra, Ricardo Medeiros, Davi Oliveira, Vital Henrique, André Spinosa, José Luiz Carneiro,

meus sinceros agradecimentos.

Ao meu amigo Wellyson Magno, meu amigo “cumpade” de longa data e aos meus

amigos Filipe Barbosa, Rosil Rodrigues, Luender Lima, meus agradecimentos.

Minha gratidão a todos os professores que durante esta minha jornada tive a honra de

conhecer, ser aluno e amigo, se não fosse por vocês eu não conseguiria chegar tão longe.

Minha sincera gratidão por tudo.

Quero aproveitar e agradecer também a toda a equipe da 2º Cia., Bope canil da Polícia

Militar. Agradecer em especial ao Capitão Deuslânio e Tenente Sobral por abrir as portas e

permitir que eu realizasse o trabalho, ao Sargento Barbosa pela sua grande ajuda, dedicação,

atenção e por sempre tirar minhas dúvidas, ao Sargento Ricardo por me ajudar no trabalho. À

todos vocês, meu muito obrigado.

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Combati o bom combate, terminei

a carreira, guardei a fé.

2 Timóteo 4:7

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SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS ..................................................................................................................... 9

LISTA DE FIGURAS .................................................................................................................... 10

RESUMO ....................................................................................................................................... 11

ABSTRACT ................................................................................................................................... 12

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 13

2 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................................... 15

2.1 Evolução e domesticação dos cães (Canis familiaris) .......................................................... 15

2.2 O comportamento animal: Experiência, aprendizagem e cognição ...................................... 16

2.2.1 Capacidade de aprendizagem ......................................................................................... 18

2.2.2 Base teórica para o adestramento: Como os cães aprendem? ........................................ 18

2.2.3 Reforço positivo e negativo ........................................................................................... 21

2.2.4 Punição positiva e negativa ............................................................................................ 22

2.3 Adestramento de cães: Técnicas e métodos utilizados ......................................................... 23

2.3.1 Ferramentas utilizadas no treinamento de cães .............................................................. 24

2.3.2 Frequência e duração dos treinos ................................................................................... 25

2.4 Principais raças de cães utilizadas em atividades policiais .................................................. 26

2.4.1 Pastor Alemão ................................................................................................................ 26

2.4.2 Pastor Alemão (linhagem de trabalho) .......................................................................... 27

2.4.3 Pastor Belga ................................................................................................................... 27

2.4.4 Rottweiler....................................................................................................................... 28

2.4.5 Labrador Retriever ......................................................................................................... 29

2.5 Os cães e a atividade policial ................................................................................................ 29

2.5.1 Detecção de drogas e explosivos ................................................................................... 31

2.5.2 Guarda, proteção e patrulhamento ................................................................................. 31

2.6 Bem-Estar de cães ................................................................................................................ 32

3 MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................................................... 34

3.1 Local e período de realização do estudo ............................................................................... 34

3.2 Instalações e manejo ............................................................................................................. 34

3.3 Avaliação do bem-estar dos cães .......................................................................................... 38

3.4 Adestramento e relação adestrador X animal ....................................................................... 39

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................... 40

4.1 Avaliação subjetiva das condições de bem-estar dos cães ................................................... 40

4.2 Adestramento e relação adestrador x animal ........................................................................ 44

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 44

REFERÊNCIAS ............................................................................................................................. 49

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Efetivo canino, raças e suas respectivas funções.....................................................35

Tabela 2. Composição nutricional das rações utilizadas no canil para cães adultos e

filhotes.....................................................................................................................................37

Tabela 3. Questionário aplicado ao treinador..........................................................................39

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Diagrama exemplificando o aprendizado pelo condicionamento clássico................19

Figura 2. Diagrama sobre as diferenças pontuais entre reforço (positivo e negativo) e punição

(positiva e negativa)..................................................................................................................23

Figura 3. Cão da raça Pastor Alemão........................................................................................26

Figura 4. Cão da raça Pastor Alemão linhagem de Trabalho ...................................................27

Figura 5. Cão da raça Pastor Belga Malinóis............................................................................27

Figura 6. Cão da raça Rottweiler..............................................................................................28

Figura 7. Cão da raça Labrador Retriever.................................................................................29

Figura 8. Planta baixa simples das principais instalações do canil...........................................36

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RESUMO

DA COSTA, ELBER VICTOR GOMES. ADESTRAMENTO E BEM-ESTAR DE CÃES

POLICIAIS: UM ESTUDO DE CASO. UFPB, 2016, 51 p, Monografia (Graduação em

Zootecnia) – Universidade Federal da Paraíba, Areia.

Resumo: A avaliação do Bem-Estar de cães de atividade policial é um ponto importante, no

entanto, pouco discutido na literatura. Com base nisso, objetivou-se com este trabalho discutir

os aspectos gerais que envolvem o adestramento de cães e por meio de critérios subjetivos

avaliar o estado de bem-estar dos cães pertencentes ao Canil da Polícia Militar do Estado da

Paraíba (2ª Cia. BOPE). O trabalho foi conduzido no canil da polícia militar, situado no

município de Cabedelo – PB. Colheita de informações foram realizadas por meio de visitas

semanais nos meses de março e abril de 2016. Tomando por base as condições físicas das

instalações, sanitárias, manejo nutricional, sociabilidade e funcionamento biológico dos cães,

foi feito um diagnóstico subjetivo do estado de bem-estar dos animais. Para entender a rotina

no treinamento dos cães, aplicou-se um questionário de vinte perguntas relacionadas à esta

rotina e perguntas de caráter pessoal a um adestrador do canil. Foi possível constatar que um

dos pontos que mais limitam uma boa condição de bem-estar dos cães é a estrutura física das

instalações, principalmente, no que se refere a baixa disponibilidade de espaço oferecido.

Além disso, o isolamento social dos animais também aparece como fator limitante na garantia

de bons níveis de bem-estar dos cães dessa unidade policial. Conforme informações de um

dos adestradores, a rotina diária de treinamento dos cães segue padrões definidos pelas

Normas Técnicas de Padronização para Canis de Segurança Pública. Todos os adestradores do

canil possuem curso de adestramento e gostam dos cães que trabalham. Em síntese, existe a

necessidade de mais trabalhos com foco na adequação de instalações para cães de atividade

policial e uma maior preocupação por parte dos adestradores na procura por métodos de

adestramento e manejo mais compatíveis com as necessidades de bem-estar dos cães.

Palavras chave: ambiente, comportamento animal, condicionamento, habituação, isolamento

social, necessidade dos animais

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ABSTRACT

DA COSTA, ELBER VICTOR GOMES. TRAINING AND POLICE WELFARE DOGS:

A INVESTIGATIGATORY STUDY. UFPB, 2016, 51 p, Monograph (Animal Science

Graduation) – Federal Universityof Paraíba, Areia.

Abstract: Evaluation of policing dogs welfare is an important point, however, little discussed

in the literature. Thus, the aim of this study was to discuss general aspects involving the

training of dogs and using subjective criteria to evaluate the state of well-being of dogs

belonging to the kennel of the Military Police of the State of Paraiba (2nd

Cia. BOPE). The

work was conducted in the shelter of the military police, in the municipality of Cabedelo - PB.

Harvest information was made through weekly visits in March and April 2016. Based on the

physical conditions of the facilities, health, nutritional management, sociability and biological

functioning of the dogs, it was made a subjective diagnosis of well- state animal welfare. To

understand the routine training of dogs, we applied a questionnaire of twenty questions related

to this routine and personal questions to one trainer kennel. It was found that most of the

points bordering a good health condition of the dogs is the physical structure of the premises,

particularly in regard to low availability of space provided. In addition, the social isolation of

animals also appears as a limiting factor in ensuring good levels of well-being of dogs that

police unit. According to information from one of the trainers, the daily routine of training

dogs follows standards set by the Standardization Technical for House Dogs Public Safety

(2011). All trainers had a training course and like the dogs working. In summary, there is a

need for further work focused on the improve of facilities for policing dogs and a greater

concern on the part of trainers in demand for training methods and management more

compatible with the needs of dogs welfare.

Key words: environment, behaviour, habituation, conditioning, loneliness, animals need

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1 INTRODUÇÃO

Os cães foram submetidos a um longo processo de domesticação, passando por

alterações genéticas permanentes, dando origem as diversas raças distribuídas por todo o

planeta. A domesticação envolve a adaptação de uma certa população ao ambiente de

cativeiro e o homem. O sucesso dessa relação é a causa da utilização, cada vez mais

frequente, dos cães em serviços de Segurança Pública com atividades relacionadas à faro de

entorpecentes, artefatos explosivos, salvamento de humanos, possuindo ainda funções de

caráter preventivo e de enfrentamento (Machado, 2013). Assim, estudos têm sido feitos para

selecionar cães na área de segurança e companhia.

Um dos principais parâmetros utilizados na seleção desses cães é o seu comportamento,

sendo importante o conhecimento de sua base teórica, respeitando os limites dentro dos

padrões de bem-estar da espécie (Machado, 2013; Pereira, 2013). Para este propósito,

algumas características como o temperamento e capacidade cognitiva do animal são levadas

em consideração no momento da seleção. O comportamento é qualquer reação do animal,

perceptível ou não ao universo sensorial humano, sendo determinado por fatores genéticos e

ambientais; os animais são seres integrados ao meio, capazes de aprender a partir de suas

experiências. Processos mentais como percepção, consciência, aprendizado, memória e

tomada de decisões em resposta aos estímulos do meio ambiente fazem parte dos mecanismos

da cognição (Heckler, 2011).

As funções realizadas pelos cães de Segurança Pública não são atividades de sua própria

natureza, elas precisam ser aprendidas (Parizotto, 2013). O ato de adestrar um animal exige

tempo, paciência e noções básicas dos princípios de aprendizagem. Neste sentido, a base do

treinamento canino resume-se em três formas de aprendizagem: habituação, sensibilização e o

condicionamento clássico e operante (Broom e Fraser, 2010). Em associações com estes

princípios, ferramentas são utilizadas para aumentar ou diminuir a frequência de determinado

comportamento por parte do cão, sendo estas, o reforço e a punição, ambas, em caráter

positivo e negativo (Agostini, 2012).

Anormalidades no comportamento canino como agressividade em excesso são indícios

fortes de condições pobres de bem-estar. Broom e Fraser (2010) definem o bem-estar como o

estado de um animal em relação às suas tentativas de se adaptar ao meio em que vive. Neste

sentido, na avaliação do estado de bem-estar de um animal, questões relacionadas à liberdade

nutricional, sanitária, comportamental, psicológica e ambiental devem ser levadas em

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consideração; em resumo, quando necessidades básicas como alimento, água, abrigo e

cuidados não são oferecidas, o grau de bem-estar dos animais é pobre, afetando

negativamente seu funcionamento biológico e estado emotivo. Modelos de instalações, rotinas

de treinamento e manejo de cães utilizados na atividade policial são fatores que podem limitar

a garantia de bons níveis de bem-estar aos animais. Assim, estudos que possam identificar tais

fatores podem ser úteis no direcionamento de ajustes no ambiente dos cães de polícia,

sugerindo melhores métodos de treinamento e sistemas de manejo.

São poucos os trabalhos que discutem a relação do bem-estar e adestramento de cães

na atividade policial. Com base nisso, a partir deste trabalho, objetivou-se discutir os aspectos

gerais que envolvem o adestramento de cães e por meio de critérios subjetivos avaliar o

estado de bem-estar dos cães pertencentes ao Canil da Polícia Militar do Estado da Paraíba (2º

Cia., Bope).

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Evolução e domesticação dos cães (Canis familiaris)

Segundo Cruz (2007), várias são as hipóteses sobre como ocorreu os primeiros contatos

do homem e o cão primitivo. Numa delas, supõe-se que o lobo se aproximava dos

acampamentos humanos em busca de sobras de alimentos. A partir dessa aproximação, os

cães primitivos começaram a reduzir distância de fuga ao homem, comportamentos

agonísticos e manter relações sociais, facilitando a introdução e o manejo desses animais em

cativeiro. Em contrapartida, Silva (2011) deduziu que matilhas de lobos sempre ameaçaram

populações humanas e os homens para se defenderem dos ataques, eliminavam os lobos

adultos, deixando inúmeros filhotes órfãos. Esses filhotes eram atraídos principalmente pelos

odores produzidos pelas atividades humanas e acabavam se aproximando, dando origem aos

primeiros indícios de domesticação e convivência harmoniosa com os humanos.

A relação de cães e seres humanos existe há pelo menos 12000 de anos e durante esse

período, esses animais foram submetidos a um longo processo de domesticação, marcado por

alterações permanentes na base genética, dando origem a inúmeras raças em todas as regiões

do planeta. As consequências desta seleção (natural e artificial) foram o surgimento de

indivíduos biologicamente modificados na morfologia, fisiologia e comportamento (Machado,

2013). Por definição, domesticação é um processo pelo qual uma população de animais se

torna adaptada ao ser humano e ao ambiente de cativeiro (Broom & Fraser, 2010).

Nos primórdios da domesticação, os cães eram utilizados principalmente com

propósitos de segurança, caça, companhia e transporte. Contudo, ao longo do tempo, outras

funções foram acrescidas, fortalecendo ainda mais a ligação com os seres humanos. O uso dos

cães com finalidade militar é muito antigo; há relatos de sua utilização pelos egípcios, gregos,

persas e romanos. Por exemplo, os cães Molossos de Epyrus, é o ascendente da raça Mastim

Napolitano, sendo esta utilizada pelos romanos nas guerras (Machado, 2013). Neste sentido, a

seleção de raças para determinadas funções, como por exemplo, para propósitos de segurança

ou relações sociais (companhia, cinoterapia, cães guias, detectores de doenças), têm

impulsionado investimentos na área para melhoria e eficácia dessas funções (Machado, 2013;

Pereira, 2013).

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2.2 O comportamento animal: Experiência, aprendizagem e cognição

Comportamento pode ser definido como sendo as reações de um animal em um

determinado ambiente; é tudo aquilo que o animal é capaz de fazer, sendo também, ações que

os animais deixam de realizar, como as que envolvem atos imperceptíveis aos olhos humanos

(Del-Claro,2004); de maneira geral, são modificações fisiológicas e comportamentais dos

animais, perceptíveis ou não ao universo sensorial humano.

O comportamento de um animal é determinado por influência de fatores genéticos e

ambientais. Assim como em outras espécies, o desenvolvimento no comportamento de um

cão envolve processos contínuos de experiência e aprendizagem, as quais ocorrem com maior

intensidade em uma fase "sensível" da vida, sendo fundamentais no aperfeiçoamento dos

sistemas sensoriais e motores (Carmo, 2013). Os animais são seres integrados ao meio,

capazes de aprender a partir de suas experiências. De acordo com Broom e Fraser (2010), uma

experiência pode ser definida como uma alteração no cérebro que resulta de informação

adquirida fora dele; quando o animal modifica o seu comportamento como resultado de uma

experiência, ocorre um processo de aprendizagem. Portanto, cada interação de um animal e

seu meio ambiente apresenta um potencial para modificar o seu comportamento. No cão,

esses constructos mentais acontecem continuamente, sendo específicos para cada fase de

crescimento.

Carmo (2013) descreve o período neonatal (0 - 15 dias), de transição (15 - 21 dias),

socialização (21 - 100 dias) e o período juvenil (100 dias até a maturidade sexual) como as

principais fases na vida do cão; entretanto, a duração dessas fases pode apresentar variações

significativas em função do ambiente de criação e precocidade de cada raça. Durante o

período neonatal, o cão é surdo e cego, procurando a mãe por meio de pistas olfativas e do

tato; para se locomoverem, se arrastam, utilizando principalmente os membros anteriores.

Assim, o ritmo de atividades resume-se a alimentação, descanso, defecação e micção, sendo

estas últimas, estimuladas pela mãe (Coelho, 2013; Carmo, 2013). No período de transição, os

olhos abrem, porém, a capacidade visual neste momento não é tão desenvolvida, sendo

dependente dos estímulos ambientais. De acordo com Broom e Fraser (2010), animais criados

no escuro durante essa fase, têm menos células e sinapses entre neurônios no caminho do

estímulo visual. Além da visão, a capacidade auditiva começa a ser expressiva, aumentando a

percepção dos estímulos à sua volta; a defecação e micção tornam-se espontâneas e os dentes

começam a surgir. Em síntese, o desenvolvimento da visão, audição e capacidade motora

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torna o cachorro mais ativo aos estímulos ambientais, conferindo-lhes maior habilidade para

identificar perigos potenciais (Coelho, 2013; Carmo, 2013).

No período de 3 as 14 semanas de idade (socialização), a mãe começa a passar mais

tempo fora do ninho (progressivamente) até proibir a aproximação dos cachorros ocasionando

o desmame; há um desacordo entre mãe e cria em torno da quantidade de cuidado parental a

ser oferecido, sendo caracterizado por um período curto de conflito (Paul et al., 2013). Os

cães aprendem a se afastar e passam de um apego exclusivo apenas à mãe para um apego ao

grupo social, apresentando o comportamento de viver em matilhas; a ninhada já interage de

forma lúdica como brincadeiras de luta, movimento de cabeça, rosnar, ladrar e começa a

estabelecimento de hierarquia. É importante ressaltar que cães retirados das mães e dos

irmãos durante este período, terão dificuldades de socialização, manifestando medo ou

agressividade com outros cães na fase adulta (Coelho, 2013; Carmo, 2013). Por fim, durante o

período juvenil, o cão começa a mostrar interesse sexual e atingem maturidade aos 8 meses de

idade aproximadamente. O final desse período coincide com o primeiro estro da fêmea e com

o alcance de características viáveis do sêmen à fecundação para os machos. A partir deste

ponto, o cão desenvolve de forma mais aparente, relações de dominância-subordinação,

demonstrando padrões comportamentais típicos de um cão adulto (Coelho, 2013; Carmo,

2013).

Processos mentais como percepção, consciência, aprendizado, memória e tomada de

decisões em resposta aos estímulos do meio ambiente fazem parte dos mecanismos

psicobiológicos da cognição (Heckler, 2011). Em seres humanos e animais, a capacidade

cognitiva é modificada ao longo da vida. Por exemplo, animais idosos podem demonstrar

dificuldades de aprendizagem e queda no desempenho de atividades que exigem a memória

(Heckler, 2011). Para Piaget (1983), a cognição é uma forma de adaptação biológica, na qual

o conhecimento é construído aos poucos por meio do desenvolvimento das estruturas

cognitivas. Muitos conceitos importantes estão vinculados ao mecanismo de aprendizagem

dos animais, especialmente os de cognição e consciência. As funções realizadas pelos cães de

faro, busca, resgate, guarda e patrulha não são atividades naturais da espécie, elas precisam

ser aprendidas por eles (Parizotto, 2013). Assim, a compreensão dos processos cognitivos é

fundamental para o êxito no adestramento de cães.

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2.2.1 Capacidade de aprendizagem

A partir de estudos experimentais sobre aprendizagem, é possível constatar que os

animais podem aprender a circular em seu meio ambiente, distinguir qualidades dos

alimentos, retornar a fontes de alimentos, evitar perigos físicos, evitar predação e responder

outros animais individualmente de forma diferente (Broom & Fraser, 2010). Outras pesquisas

sugerem que os animais podem aprender tarefas simples e complexas com grande rapidez

(Demant, et al., 2011). Neste sentido, observações de aprendizagem no mundo real dos

animais domésticos, oferecem as evidências mais impressionantes de sua capacidade.

A aprendizagem é um processo de aquisição de conhecimentos resultantes da interação

social dos cães com outros cães ou seres humanos; se dá pela observação e pela facilitação

social (Morais, 2014). As tarefas mais complexas na vida dos animais são aquelas associadas

ao estabelecimento e manutenção das relações sociais. Assim, cães e lobos que vivem em

matilhas e animais de produção que vivem em rebanhos ou bandos devem ter um intelecto

considerável somente para esse propósito (Broom & Fraser, 2010).

2.2.2 Base teórica para o adestramento: Como os cães aprendem?

O aprendizado dos cães está associado à capacidade do mesmo em recordar-se de

eventos passados (Parizotto, 2013). As técnicas de modificação comportamental utilizam os

princípios da aprendizagem por meio da habituação, sensibilização e os condicionamentos

clássico e operante. O condicionamento clássico, também conhecido por aprendizagem de

Pavlov, consiste na resposta do animal a um estímulo condicionado quando este é pareado

com um estímulo incondicionado. De forma geral, o condicionamento clássico significa a

substituição de estímulos; um estímulo, antes neutro, provoca uma resposta condicionada

(Exército Brasileiro, 2014). Para que haja o aprendizado pelo condicionamento clássico, é

importante que o estímulo condicionado preceda o estímulo não condicionado num intervalo

de tempo muito curto (latência), pois se forem apresentados simultaneamente, a aprendizagem

será mais lenta (Pereira, 2013).

Os testes de Pavlov com cães podem exemplificar bem a teoria do condicionamento

clássico.

A) Comida = Salivação

- A comida é o estímulo não condicionado

- Salivação é a resposta não condicionada.

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B) Comida + Som dos passos do tratador = Salivação (Condicionamento) onde, o som

dos passos é o estímulo neutro, pois a princípio não tinha nenhum significado para o cão.

Depois de repetir diversas vezes o condicionamento do item B, este som passa a produzir a

resposta de salivação. Assim, o som dos passos do tratador transforma-se em estímulo

condicionado, pois agora produz a resposta que antes era produzida apenas pela comida.

Em um outro exemplo, brinquedo + palavra = excitação (figura 1); o cão ficará excitado

não pela palavra, mas pelo brinquedo. Assim, após o condicionamento, a palavra será o

estímulo condicionado e a excitação, a resposta condicionada; o brinquedo passa a ser um

"reforçador" na manutenção do condicionamento, devendo ser apresentado todas as vezes que

o estímulo condicionado (palavra) for executado, reforçando o comportamento desejado.

Quanto maior o número de vezes que o exercício de condicionamento for repetido, melhor sua

eficiência. O instrumento ou reforço aumenta a probabilidade da resposta de excitação

ocorrer, sendo este o princípio do condicionamento operante.

Antes do condicionamento

Durante o condicionamento

Condicionamento/Aprendizado

Figura 1: Diagrama exemplificando o aprendizado pelo condicionamento clássico.

O condicionamento operante ou instrumental trata-se de oferecer uma recompensa ao

animal com intuito de aumentar a probabilidade de um determinado comportamento

acontecer. Se a recompensa for boa, o cão terá maior motivação para repetir o

comportamento. Caso o estímulo ou recompensa não seja boa, a motivação do animal para

realizar o comportamento tende a diminuir, podendo haver extinção do aprendizado (Carmo,

2013). Se o comportamento tiver um resultado agradável ele tende a ser repetido, se for

desagradável, a tendência é que este seja extinto (Pereira, 2013).

Brinquedo Excitação

Brinquedo

Palavra

Excitação

Palavra Excitação

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Um pesquisador da escola do behaviorismo americano (Frederick Skinner, 1964)

introduziu pela primeira vez os conceitos de reforço, punição e extinção do aprendizado.

Quando um animal não realiza um comportamento desejado e isso lhe traz uma consequência

negativa; numa próxima tentativa de comando, a probabilidade deste comportamento ser

executado corretamente aumenta. Neste caso, para produzir aprendizagem por

condicionamento operante, o reforço negativo deve ser apresentado imediatamente à resposta

não desejada (Manteca, 2003). Por exemplo, a associação da palavra senta com o ato de sentar

do animal; após o comando dado, caso o animal não execute a ação de sentar, será punido

com algo negativo; após a apresentação do reforço negativo, o animal realiza o

comportamento de sentar; imediatamente pode ser oferecido um estímulo positivo pelo

comportamento sentar. Assim, o cão aprende a associar o seu comportamento com um

determinado resultado que ele lhe traz; neste exemplo, quando o estímulo é dado pela palavra

senta, o ato de ficar imóvel ao comando lhe trouxe consequências negativas, enquanto que a

realização do comportamento, resultados positivos.

A frequência com que a recompensa é oferecida, o grau de motivação do animal pelo

reforço e a latência na apresentação, são os principais fatores que influenciam na

probabilidade de haver o aprendizado pelo condicionamento (Manteca, 2003). Na base do

adestramento canino, o condicionamento clássico é utilizado para manipular o estado de

ânimo do cão e o condicionamento operante está associado com o ensino da técnica. Em

resumo, o processo de aprendizagem envolve estímulo, comportamento e consequência. O

estímulo pode ser o comando de voz do condutor ou o movimento do figurante. Esse estímulo

provoca um comportamento no cão (desejado ou não), seguido de uma consequência

(reforçadora ou inibidora) do comportamento apresentado. O reforço ou inibição deve ser

apresentado ao cão imediatamente após o comportamento apresentado. Se um petisco for

dado ao cão vários segundos depois dele ter executado um exercício corretamente, não

existirá associação para o cão entre o exercício executado e a recompensa. Portanto, a ação

tende a reforçar o comportamento desejado do cão. Em contrapartida, uma ação inibidora

tende a extinguir um comportamento indesejado (Exército Brasileiro, 2014).

Habituação é uma forma de aprendizagem que ocorre durante toda a vida do animal.

As respostas aos estímulos são diminuídas pela apresentação repetitiva desses estímulos, caso

este seja percebido pelo animal como “trivial” (Morais, 2014). O processo de habituação é

importante para o cão de polícia em atividades conduzidas em ambiente aberto, uma vez que a

diminuição da resposta à estímulos como bicicletas, pessoas e outros animais é benéfica;

dessa forma, o animal responderá de formar mais eficiente nas tarefas dadas pelo condutor

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(Morais, 2014). A habituação é desvantajosa para o condutor quando ocorre a diminuição da

resposta aos estímulos dados por ele durante o adestramento (Morais, 2014).

Um cão de patrulha aprende a habituar-se aos barulhos dos tiros após inúmeras

repetições Broom e Fraser (2010) descrevem que a habituação pode ocorrer como uma

consequência de fadiga dos receptores ou de adaptação neuronal no percurso cerebral; neste

exemplo, a exposição repetida dos cães aos tiros pode representar bem essas suposições.

Ademais, é importante que o processo de habituação aconteça durante o crescimento do cão,

pois ao habituar-se com determinados objetos, pessoas e animais, diminui-se a resposta de

medo e ansiedade do animal (Carmo, 2013).

A sensibilização é um mecanismo de aprendizagem contrário ao da habituação, onde o

animal se torna mais reativo sempre que exposto a um estímulo não trivial. É importante ter

consciência deste processo, pois pode está na origem de problemas como hiper-excitabilidade

e respostas de medo. Existem alguns estímulos que aumentam a probabilidade de um animal

ser sensibilizado em vez de habituado como a duração e o tipo do estímulo; acredita-se que a

sensibilização está na origem de algumas fobias como trovoadas e fogos de artifício, as quais

na maioria dos casos, surgem em intervalos irregulares (Pereira, 2013). A probabilidade de

haver habituação é dependente da natureza do estímulo, frequência, regularidade e estado do

animal (Broom e Fraser, 2010).

2.2.3 Reforço positivo e negativo

Um reforço é qualquer estímulo que aumente a probabilidade de um comportamento

ocorrer. Reforço positivo não deve ser entendido como bom. Em vez disso, deve ser

entendido por um sinal de + (positivo); é um reforço, pois o animal está aumentando a

motivação para repetir (frequência) o comportamento. É positivo, pois está adicionando (+)

alguma coisa boa ao animal. Por exemplo, ao ensinar um cão vir até você quando chamado,

oferecendo-lhe um petisco, você estará utilizando um reforço positivo. O ato de recompensá-

lo (adicionar) com alguma coisa que ele tem motivação irá aumentar a probabilidade dele

atender ao seu chamado da próxima vez (Agostini, 2012).

Os estímulos ou reforços que normalmente estão relacionados com a sobrevivência do

animal e que naturalmente o animal tem um alto grau de motivação como um alimento, são

chamados reforços positivos primários, enquanto que outros como elogios e carinhos, são

secundários; podem ser divididos em consumíveis (alimento); atividades (passear, brincar);

posse (brinquedos); reforço social (dar atenção ao animal, como carinho por exemplo). É

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importante escolher a forma adequada na apresentação do reforço, a qual pode ser variável de

animal para animal. O acesso ao reforço escolhido deve ser restrito fora dos treinos (para

evitar a saciedade e assim diminuir a motivação do animal), devendo ocorrer na ocasião e

lugares corretos (Carmo, 2013). Por exemplo, um cão que acabara de ingerir ração pode não

responder de forma eficiente quando, durante o treinamento, for apresentado como reforço

positivo essa mesma ração, uma vez que seu estado motivacional estará diminuído.

Como no reforço positivo, o reforço negativo não deve ser entendido como algo ruim,

sendo representado um sinal de – (negativo). É um reforço, pois o animal está aumentando a

vontade de repetir (frequência) um comportamento. É negativo pois se está retirando

(subtraindo) alguma coisa que o animal não gosta, aumentando a vontade dele em repetir uma

ação; ao ensinar o comando “sentar” a um cão com uma guia de puxador ou enforcador, no

momento que o cão sentar, imediatamente a guia irá afrouxar, subtraindo este reforço

negativo. Na remoção da pressão do enforcador, aumenta-se a motivação do animal para

(frequência) repetir o comportamento (Agostini, 2012). Um reforço negativo sempre será

associado com situações de desagrado ou prejudiciais ao cão; assim, na tentativa de conseguir

alívio, a resposta do cão irá modificar-se. Um ponto interessante é que neste momento, não

existam comportamentos alternativos que o cão possa escolher; utilizando o exemplo anterior,

ou o cão senta ou o enforcador continuará pressionando o seu pescoço. Esse tipo de reforço

pode variar desde um beliscão até um colar eletrônico, sendo este último muito utilizado

(Rossi, 2002).

2.2.4 Punição positiva e negativa

Uma punição é qualquer ação que diminua a motivação do animal em executar

(frequência) um comportamento, podendo ser positiva ou negativa, não devendo ser utilizada

isoladamente, sendo preferível associá-la a um reforço. A punição deve ser aplicada no

momento da manifestação do comportamento indesejado. Na punição do tipo positiva, é

punição, pois está diminuindo a probabilidade de um comportamento se repetir; além disso,

adiciona-se algo aversivo ao animal com o intuito de diminuir a frequência deste

comportamento. O objetivo da punição positiva é fazer com que o animal crie uma aversão a

determinado comportamento; por exemplo, algo que seja desagradável ao cão (punição) como

um berro ou um trancão. Há técnicas menos aversivas, como por exemplo, o uso de um colar

de spray com citronela que pulveriza água com citronela quando o cão ladra, sendo-lhe

desagradável (Carmo, 2013). Semelhante ao tipo de castigo positivo, o negativo diminui a

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motivação do animal em executar um comportamento, passando a ser negativo quando lhe é

retirado algum estímulo que tenha motivação.

Reforço e punição podem diferenciar-se conforme o diagrama:

Figura 2: Diagrama sobre as diferenças pontuais de reforço (positivo e negativo) e punição

(positiva e negativa).

2.3 Adestramento de cães: Técnicas e métodos utilizados

A teoria do condicionamento clássico e instrumental é a base para o treinamento de

cães. Por definição, o ato de adestrar ou instruir um animal, mesmo que para realizar

comportamentos simples, demanda tempo, paciência e noções básicas dos princípios de

aprendizagem. Existem diversos métodos e técnicas de adestramento e treinamento canino,

desde os mais simples aos mais complexos, os quais são diferenciados pelo nível de

complexidade das funções a serem exercidas pelo cão.

O engodo, do inglês luring (atrair), é um exemplo de técnica simples e tem como

objetivo captar a atenção do animal de forma que este realize o comportamento desejado.

(Pereira, 2013). A técnica do luring guia o cão para uma determinada posição por meio do

alimento, recompensando-o com a isca (reforço) quando o comportamento desejado for

executado. O engodo pode ser utilizado no adestramento para realizar funções simples como

comandos de sentar-se, deitar ou subir para o carro. Por exemplo, para o exercício de sentar, o

adestrador coloca um pedaço de comida à frente do focinho do cão e levanta a mão acima da

cabeça dele; para não perder o contato com o alimento o cão levanta a cabeça, baixa a parte

posterior do corpo e por fim, senta-se. Na realização do comportamento desejado, o cão é

imediatamente recompensado com o engodo ou outro pedaço de comida. A ajuda do engodo

para guiar o animal utiliza-se apenas na primeira fase do treino. Em um segundo momento,

Reforço Punição

Aumenta a vontade

(frequência) de um

comportamento

Diminui a vontade

(frequência) de um

comportamento

POSITIVO

Adiciona algo

agradável ao

animal

NEGATIVO

Subtrai algo

agradável ao

animal

POSITIVO

Adiciona algo

aversivo ao

animal

NEGATIVO

Subtrai algo

agradável ao

animal

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com o êxito do comportamento desejado, é importante retirar as ajudas (engodo e reforço) e

repetir o movimento da mão sem o engodo. Em suma, a técnica do "luring" é relativamente

fácil de ser utilizada e produz resultados satisfatórios. Contudo, pode ser limitada na instrução

de comportamentos mais complexos.

Independente de qual seja o tipo de treinamento e dos equipamentos utilizados, os

treinadores sempre enfrentam um problema que é conseguir o timming ou latência correta na

hora de aplicar uma recompensa ou um castigo ao cão, pois, dependendo do treinamento,

estão distantes do dono, impossibilitando que este possa punir ou premiá-lo imediatamente o

animal. O timming das recompensas ou dos castigos é muito importante no treino. O atraso da

recompensa ou castigo podem prejudicar o condicionamento, causando confusão de

associação nos cães (Yamamoto et al., 2009; Pereira, 2013). Para isso, o uso de materiais que

possam auxiliar o adestrador, principalmente quando estão distante do cão é uma boa

alternativa para atingir um timming próximo do ideal.

O clicker nada mais é do que uma maneira de dizer ao cão “muito bem” (Rossi, 2002);

é um dispositivo que produz um som e pode ser feito de materiais simples como madeira. É

um marcador de comportamentos, uma forma de informar o cão que ele fez uma coisa certa,

atuando como uma ponte entre a realização da tarefa solicitada ao cão e a obtenção da sua

recompensa. O treinamento com o clicker é totalmente baseado no adestramento positivo,

ou seja, recompensar bons comportamentos. Essa rapidez de resposta ao comportamento

desejado é necessária para criar as conexões cognitivas de associação da recompensa com

o comportamento desejado, essenciais para a aprendizagem. O clicker deve ser associado

a recompensa. Chama-se a atenção do pet, clica o aparelho e dá um petisco; repetindo

isso várias vezes, o cão associa o "barulhinho" à recompensa. O clicker é um reforço

secundário associado a um reforço primário. As vantagens do clicker é sua maior

eficiência em comparação com um elogio falado, rapidez de associação, funcionando

bem a distância, além de reduzir a necessidade de recompensas primárias (Rossi, 2002).

2.3.1 Ferramentas utilizadas no treinamento de cães

Para um adestramento eficiente e seguro, são necessários algumas ferramentas de treino.

Os cães estão sujeitos a inúmeras distrações, movimentos, ruídos, cheiros, entre outras coisas

que podem perturbar a atenção do cão. É importante também que o adestrador saiba utilizar os

equipamentos de forma correta, sendo estes brinquedos, coleiras (peitorais, guias,

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estranguladores, coleiras eletrônicas e de spray de citronela); caixas de contenção/transporte;

petiscos; e objetos para “punição” sem machucar o cão (Rossi, 2002).

Alguns equipamentos utilizados no treino de animais de guarda e proteção são: manga

de proteção; macacão de proteção; colete treinador (fotógrafo); manguim (para filhotes);

focinheira; bastão flexível; manga oculta; avental para treino; chicote de estalo; obstáculo

regulável; halter de madeira; protetor escrotal (para o condutor e figurante); entre diversos

outros equipamentos (Rossi, 2002). O figurante é de fundamental importância no treinamento

de cães de guarda e proteção, ele é um estímulo para o cão morder e deve ser feito por alguém

capacitado tanto para prevenir acidente como para o desenvolvimento do treino. Para cães de

faro, outros equipamentos importantes são: caixa e painel de odor.

2.3.2 Frequência e duração dos treinos

Demant et al. (2011) observaram que a frequência e duração do treinamento

influenciaram diretamente na aprendizagem e memória dos cães. Estes autores constataram

que cães treinados uma a duas vezes por semana tinham um melhor desempenho do que

quando treinados diariamente; ademais, cães treinados somente uma sessão por dia tinham

uma melhor aquisição do que quando treinados em três sessões. Demant et al. (2011) também

constataram que intervalos de até quatro semanas nos treinos não prejudicaram o processo de

aprendizagem dos animais, concluindo que a combinação de um ou mais treinamentos

semanais em sessão diária única é a mais efetiva.

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2.4 Principais raças de cães utilizadas em atividades policiais

2.4.1 Pastor Alemão

Figura 3: Cão da raça Pastor Alemão (Fonte: http://www.beevoz.net/2015/12/21/tudo-sobre-

o-pastoralemao/).

País de origem: Alemanha

Aptidão: companhia, pastoreio, guarda e proteção.

Classificação da Federação Cinológica Internacional: Grupo 1 – Cães pastores e

boiadeiros (Exceto Boiadeiros Suíços); Seção 1 – Cães Pastores.

Nome no país de origem: Deutscher Schäferhund.

O Pastor Alemão é de tamanho médio, levemente alongado (em relação à altura),

vigoroso, bem musculoso e com ossatura seca. Caracteriza-se por ser um cão seguro, atento e

disposto a agradar. Possui um temperamento flexível e autoconfiante, bem equilibrado,

inofensivo (salvo quando provocado), vigilante e dócil. Os machos têm em média de 30 a 40

kg e as fêmeas de 25 a 30 kg (Confederação Brasileira de Cinofilia, 2015).

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2.4.2 Pastor Alemão (linhagem de trabalho)

Figura 4: Cão da raça Pastor Alemão Linhagem de trabalho (Fonte:

http://www.forbraz.com.br/schutzhund-pastor-alemao.htm).

São a mesma raça, controlada pelo mesmo órgão de registro, mas pertencem a uma

linhagem genética específica para trabalho. Seu único critério de escolha de reprodutores é o

desempenho em trabalho, que é consequência natural e obrigatória de sua saúde, inteligência e

disposição para trabalhar. São cães mais robustos e rústicos, com estrutura física mais atlética,

não apresentando a garupa “rebaixada”.

2.4.3 Pastor Belga

Figura 5: Cão da raça Pastor Belga Malinóis (Fonte:

http://www.portalmundoanimal.com.br/pastor-belga-malinois).

País de origem: Bélgica.

Aptidão: guarda, defesa e pastoreio.

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Classificação da Federação Cinológica Internacional: Grupo 1 – Cães pastores e

Boiadeiros (Exceto Boiadeiros Suíços). Seção 1 – Cães Pastores.

Nome no país de origem: Chien de Berger Belge.

É um cão de tamanho médio, forte e robusto. Possui aptidão para atividades com

rebanho, sendo considerado um dos melhores cães de guarda de propriedades com animais. É

um obstinado defensor do seu dono (Confederação Brasileira de Cinofilia, 2015).

2.4.4 Rottweiler

Figura 6: Cão da raça Rottweiler (Fonte: https://br.pinterest.com/dylanwcc/rottweilers/).

País de origem: Alemanha

Utilização: Tração, guarda e boiadeiro.

Classificação da Federação Cinológica Internacional: Grupo 2 – Pinscher e Schnauzer e

Molossóides – Cães Montanheses Suíços e Boiadeiros. – Seção 2.1 – Raças Molossóides –

Tipo Mastife.

O Rottweiler figura entre as raças mais antigas. Sua origem remonta à época dos

romanos, onde foi criado como um cão de guarda boiadeiro. É um cão extraordinariamente

adequado para tarefas de serviço policial. É caracterizado por ser um animal forte, resistente e

ágil (Confederação Brasileira de Cinofilia, 2015).

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2.4.5 Labrador Retriever

Figura 7: Cão da raça Labrador Retriever (Fonte: http://dogs.petbreeds.com/l/95/Labrador-

Retriever).

País de origem: Grã-Bretanha.

Aptidão: atividades de caça e faro.

Classificação da Federação Cinológica Internacional: Grupo 8 – Retrievers,

Levantadores e Cães d’Água. Seção 1 – Retrievers.

É um excelente cão de água, pelo resistente às intempéries e cauda singular.

Fortemente constituído, curto, muito ativo (o que se opõe a excesso de peso). Possui bom

temperamento, muito ágil e com excelente faro, cuidadoso ao recolher a caça, além de gostar

muito de água. Capaz de se adaptar em qualquer lugar, não possuindo traço de agressividade

ou timidez (Confederação Brasileira de Cinofilia, 2015).

2.5 Os cães e a atividade policial

O tempo fez que os cães chegassem ao trabalho policial fazendo com que essa força

evoluísse a forma de aplicação do cão policial. O cão é utilizado como um meio de emprego

de força ou um instrumento de menor potencial lesivo. Na Europa, em meados do século

XVIII, a polícia já utilizava sabujos (cães de faro). A partir da Primeira Guerra Mundial,

países como Bélgica e Alemanha começaram a utilizar os cães para função de guarda. Logo,

programas de cão policial foram iniciados em Londres. Nos Estados Unidos (anos setenta),

começou-se a desenvolver técnicas para atividades de polícia com cães e atualmente são

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reconhecidos como parte vital da força da lei e seu uso tem crescido rapidamente (Arcuri,

2015).

No Brasil, os cães da área de Segurança Pública são vinculados à Polícia Federal,

Polícia Rodoviária Federal, Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros Civil e Militar

e Guardas Municipais, realizando funções que envolvem faro de entorpecentes, artefatos

explosivos, salvamento de humanos, entre outras (Normas Técnicas de Padronização para

Canis de Segurança Pública, 2011). O primeiro canil de Segurança Pública foi inaugurado

pela Polícia Militar do Estado de São Paulo em 9 de setembro de 1950.

Os cães são utilizados nas seguintes funções: policiamento ostensivo; operações de

busca, resgate e salvamento; demonstrações de cunho educacional/recreativo; policiamento de

praças desportivas; controle de distúrbios civis; guerrilha rural e urbana; provas oficiais de

trabalho e estrutura; controle de rebeliões e/ou fuga de preso; formaturas e desfiles de caráter

cívico-militar; e detecção de entorpecentes (Normas Técnicas de Padronização para Canis de

Segurança Pública, 2011). Os animais geralmente nascem no canil de polícia e a partir daí, já

começam o processo de seleção dos animais da ninhada e o treinamento inicial para escolher

os melhores cães para funções trabalhadas no canil. Os cães são designados a um policial que

será responsável pelo seu cuidado, adestramento, treinamento e mais tarde, quando estiver

preparado, utilizado no policiamento. Os cães são aposentados aos oito anos de idade ou

quando ficam incapacitados de trabalhar devido alguma lesão. A maioria dos cães, após

aposentadoria, são adotados pelo policial que o treinou ou doado para pessoas interessadas

como é estabelecido pela Instrução Normativa I – 19 PM, 1988.

Os cães iniciam com o adestramento básico de obediência para que saibam responder a

comandos que serão essenciais no futuro, além do estabelecimento de regras e horários. Os

treinamentos de ataque, perseguição, faro e resgate têm a mesma estrutura, ou seja, quando os

cães realizam o comportamento desejado, ele é recompensado. Os cães farejadores são

treinados para reconhecer as substâncias, assim como os cães de guarda e proteção treinam

repetidas vezes o exercício e a obediência, pois quando imobilizar algum suspeito, eles

precisam ter sua agressividade inflamada e precisam responder bem aos comandos do

adestrador (Instrução Normativa I – 19 PM, 1988).

Antes do cão ser reconhecido como policial, ele passa por um período de teste para ver

como se comporta nas situações para as quais foi treinado, pois, o mesmo cão que está na

linha de frente e perseguirá o infrator da lei, deve poder ser acariciado por uma criança e

entender que seu papel é responder aos comandos do treinador. Para que isso ocorra, os

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animais participam de projetos sociais apoiados pela polícia que visam justamente a

aproximação de comunidades com a força policial (Instrução Normativa I – 19 PM, 1988).

2.5.1 Detecção de drogas e explosivos

Essencialmente farejador, o olfato do cão é considerado o seu sentido de maior

destaque. Para se ter uma ideia, seres humanos podem discriminar 10.000 odores diferentes;

quando comparados cães são um milhão de vezes mais sensíveis. A membrana olfatória

humana tem superfície de aproximadamente 2,5 cm2, enquanto que no cão pode chegar a 150

cm2. Em humanos, existem cerca de 5 milhões de células olfatórias (sensoriais) cada uma com

4 a 25 cílios ou pelos olfatórios; cães possuem mais de 200 milhões de células sensoriais,

cada uma com pelo menos 100 pelos sensoriais (Lourenço et al., 2007). A utilização de cães

policias têm crescido muito nos últimos anos, principalmente para função de busca e detecção

de odores, sendo hoje, a “tecnologia” mais utilizada e precisa na detecção de odores. A

Alemanha obteve muito sucesso utilizando cães em atividades militares e resolveu aplicar os

cães na área policial. Por meio de experimentos, cruzamentos raciais, criações,

comportamentos caninos, treinamento e uso de algumas raças, os alemães concluíram que o

Pastor Alemão era o mais adequado para trabalhos em multidões e obediência. Em 1899

passaram a ser treinados para a atividade policial na busca de drogas, explosivos e corpos

(Machado, 2013).

2.5.2 Guarda, proteção e patrulhamento

O cão é considerado (juridicamente) como uma arma, sendo assim, cabe a figura do

portador/condutor a utilização correta, bem como a responsabilidade em caso de acidentes

envolvendo o cão. O cão, assim como para qualquer outra função policial, deve apresentar

características como sobriedade (moderação), robustez, agilidade, memória, fidelidade e

lealdade para com seu condutor (Exército Brasileiro, 2014). O cão de guarda é treinado para

dar o alerta ou impedir que algum elemento estranho invada seu local e/ou agrida determinada

pessoa. O cão também é empregado no policiamento ostensivo, com o intuído de impacto

moral ou agente direto, sendo adestrado para defender o seu condutor (Exército Brasileiro,

2014).

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2.6 Bem-Estar de cães

Por definição, o bem-estar de um indivíduo é seu estado em relação as suas tentativas

de lidar com o seu ambiente, as quais levam em consideração o seu funcionamento biológico

(saúde e desempenho), estado emotivo (dor, sofrimento, frustração) e expressão de

comportamentos naturais. As primeiras preocupações com o bem-estar animal surgiram na

década de 60 a partir do relatório de Brambell (Inglaterra), criando o conceito das cinco

liberdades, sendo essas: a liberdade de fome e sede; liberdade de dor, ferimentos e doenças;

liberdade de desconforto; liberdade para expressar o comportamento natural e liberdade de

medo. Contudo, nos últimos 20 anos o tema tem ganhado destaque em virtude da maior

preocupação e conhecimento das pessoas sobre os sistemas intensivos de produção animal,

além do aumento das pesquisas demonstrando os benefícios em oferecer instalações mais

compatíveis com a necessidade do animal, levando em consideração os princípios de bem-

estar (Broom e Molento, 2004; Calderón, 2010; Broom e Fraser, 2010; Von Keyserlingk et

al., 2013; Oliveira, 2014).

Para animais domésticos, esse conceito pode ser confundido e mal aplicado pelo

homem, uma vez que este confronta a realidade do animal com a sua própria e passa a

adequar parâmetros humanos a esses animais (Machado, 2013). Métodos sobre como definir e

quantificar o bem-estar de um animal devem ser relacionados com vários outros conceitos

como necessidade, felicidade, liberdade, adaptação, controle, sentimentos, dor, ansiedade,

medo, tédio, estresse e saúde, o que torna a avaliação complexa. Em alguns casos, onde as

necessidades básicas como alimento, água, abrigo e cuidados não são respeitados, o grau de

bem-estar dos animais é notavelmente pobre. No entanto, outros estados psicobiológicos do

animal como tristeza e dor, podem ser de difícil percepção, não sendo possível avaliações

seguras a respeito do grau de bem-estar experimentado por esse animal.

Um tipo de avaliação subjetiva pode ser útil quando não houver possibilidade de se

obter um diagnóstico mais preciso do estado de bem-estar do animal num determinado

ambiente (Calderón, 2010). Em resumo, quando não existem necessidades imediatas, o animal

provavelmente experimenta sentimentos positivos e seu bem-estar é atendido em níveis

satisfatórios. Da mesma forma, quando existem necessidades não satisfeitas, o animal

experimenta sentimentos ruins e o seu bem-estar é pobre. Os sentimentos geralmente resultam

em alteração de preferências que podem fornecer informações úteis a respeito das

necessidades. Outras informações sobre as necessidades dos animais são obtidas pela

observação de anormalidades comportamentais ou fisiológicas (Broom et al., 2004). Por

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exemplo, níveis séricos de hormônios ou outras substâncias químicas no organismo podem

ser bons indicadores de necessidades não atendidas no animal.

Na medida do bem-estar, é importante conhecer a biologia e fisiologia

comportamental do animal dentro de um contexto de ambiente natural. Broom (2004) relata

que o comportamento é um importante medidor de bem-estar. A principal dificuldade é a

compreensão do comportamento normal, natural ou ideal do animal para que se possa

quantificar o comportamento anormal. Comportamentos que podem sinalizar bons níveis de

bem-estar experimentados pelos animais incluem postura relaxada, combinada com

comportamentos de repouso, interações positivas e interesse no ambiente. Comportamentos

que indicam condições de bem-estar animal são apatia, sinais de frustração, tremor, aumento

da produção de saliva e piloereção (Arcuri, 2015). Um dos principais indicadores de baixo

níveis de bem-estar nos animais é o aparecimento de comportamentos que se apresentam na

forma de movimentos regulares, repetitivos e sem função aparente para o animal, sendo esses

as estereotipias; a ocorrência deste tipo de anormalidade comportamental é quase sempre

associada com estados de frustração do animal. Quando um animal tem motivação para

executar algum comportamento e alguma barreira física ou psicológica presente neste

ambiente o impede, este é acometido por um estado psicobiológico de frustração.

Para cães, tanto em domicílios quanto em atividades policiais, problemas de baixos

níveis de bem-estar são relacionados com a privação social, variedade ambiental insuficiente e

métodos de treinamento brutos ou inadequados (Broom e Fraser, 2010). A falta de

complexidade ambiental é um problema frequente para cães que vivem em canis de hotéis, de

quarentena ou policial. Por exemplo, um cão pode ter seus movimentos restritos por uma

corrente ou corda, de forma que muitos eventos ambientais potencialmente interessantes

estejam fora do alcance. Clark e Boyer (1993) verificaram os efeitos da interação cão e

treinador sobre a condição de bem-estar dos animais em um canil policial na Bélgica. Tais

autores verificaram que caminhadas diárias de apenas 20 minutos reduzia a incidência de

comportamentos agressivos indesejáveis nos cães.

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3 MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Local e período de realização do estudo

O trabalho foi conduzido no canil do BOPE (Batalhão de Operações Policiais

Especiais) da Polícia Militar do Estado da Paraíba (2º Companhia, BOPE), situado no

município de Cabedelo – PB (7º00’20,9”S 34º49’53,9”W), com visitas semanais para a coleta

de informações, no período de março à abril de 2016.

3.2 Instalações e manejo

3.2.1 Cães

O canil contava 26 cães, machos e fêmeas, de diferentes idades e fases de treinamento

(Tabela 1). As raças utilizadas pelos policiais eram o Pastor Alemão, Pastor Alemão linhagem

de trabalho, Pastor Belga Malinóis, Rottweiler e o Labrador Retriever. Os animais foram

treinados para diversas funções no trabalho policial e social, envolvendo atividades de guarda

e proteção (policiamento ostensivo, presídios, reintegração de posse em área rural, praças

desportivas, eventos de grande porte, patrulhamento e busca e captura de fugitivos) e funções

de detecção de substâncias (explosivos, narcóticos, armas e munições); há também a

utilização do cão no emprego de programas de Cinoterapia (APAE – João Pessoa) e

apresentações de cunho educacional e recreativo.

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Tabela 1: Efetivo canino, raças e suas respectivas funções. - Informações não disponíveis.

Cães Idade Sexo Raça Peso(kg) Função

Messi 3 anos M Labrador Retriever 34 kg Faro/droga, arma e munição

Nitro 3 anos M Labrador Retriever - Faro de explosivo

Dina 3 anos F Labrador Retriever - Faro/droga, arma e munição

Hulk 6 meses M Labrador Retriever - Faro/droga, arma e munição

Emy 6 meses F Labrador Retriever - Faro/droga, arma e munição

Kiara 6 meses F Labrador Retriever - Faro/droga, arma e munição

Scan 6 meses M Labrador Retriever - Faro/droga, arma e munição

Cindy 6 meses F Labrador Retriever - Faro/droga, arma e munição

Honda 1 ano F Labrador Retriever 35 kg Show dog e Cinoterapia

Cammy 1ano,6meses F Labrador Retriever 35 kg Show dog e Cinoterapia

Marley 4 anos M Labrador Retriever 35 kg Show dog e Cinoterapia

Mila 1ano, 6meses F Labrador Retriever - Show dog

Thor 1ano, 8meses M Rottweiler 50 kg Guarda, proteção/Patrulha

Otho 4 anos M Rottweiler - Patrulha

Jaspion 7 anos M Rottweiler - Patrulha

Panzer 4anos,

3meses M Rottweiler 45 kg Guarda, proteção/Patrulha

Bone 5 anos M Pastor Alemão - Patrulha

Crazer 2 anos M Pastor Alemão - Patrulha

Ariela 1ano, 3 meses F Pastor Alemão - Duplo emprego

Cristal 2 anos F Pastor Alemão - Busca e captura

Catrina 2 anos F Pastor Alemão trabalho - Faro/droga, arma e munição

Connar 2 anos M Pastor Alemão trabalho 35 kg Guarda, proteção/Patrulha

Charlie 1ano, 8meses M Pastor Alemão trabalho 35 kg Duplo emprego/guarda, faro

Cumier 1ano, 6meses M Pastor Belga Malinóis 30 kg Faro/droga, arma e munição

Dara 1ano, 6meses F Pastor Belga Malinóis - Patrulha

Barão 1ano, 6meses M Pastor Belga Malinóis 30 kg Duplo emprego

3.2.2 Instalações

Os cães eram alojados de forma individual em boxes com dimensões de 2m x 4m, área

coberta de 2m2 e área de solário (2m

2), cobertura de laje, piso de concreto com caimento na

direção do escoador, portas gradeadas com visores, tranca de segurança, iluminação elétrica,

comedouro e bebedouro de metal (Figura 8). Possuíam também sala de administração onde

ficavam guardados todas as fichas com as informações de cada animal. A área de treinamento

era ampla medindo 15m x 10m, com piso de grama. O canil ainda contava com uma sala para

depósito de ração e suplementos, arejada, com piso de cerâmica, estrados de madeira para

acondicionamento apropriado da ração e iluminação elétrica adequada, além de uma farmácia

para armazenamento de medicamentos e um depósito para guardar os equipamentos utilizados

nos treinamentos dos cães.

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Figura 8: Planta baixa simples das principais instalações do canil.

3.2.3 Manejo nutricional

Os cães eram desmamados aos 45 dias de vida e passavam a se alimentar

exclusivamente com ração três vezes ao dia, além de receberem suplementação vitamínica e

mineral de acordo com as recomendações do fabricante (Tabela 2). Na fase adulta, recebem

ração exclusiva para cães adultos, sendo alimentados duas vezes ao dia, recebendo também

suplementação de aminoácidos, vitaminas e minerais. As sobras de ração eram recolhidas

diariamente e a água é oferecida à vontade.

S N

L

O

15m x 10m

2m x 4m

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Tabela 2: Composição nutricional das rações utilizadas no canil para cães filhotes e adultos

(informações do fabricante da ração).

Ração Filhote % Adulto %

Umidade 90g/kg 9% 90g/kg 9%

Proteína bruta 400g/kg 40% 380g/kg 38%

Extrato etéreo 220g/kg 22% 180g/kg 18%

Matéria fibrosa 32g/kg 3,2% 32g/kg 3,20%

Matéria mineral 84g/kg 8,4% 79g/kg 7,90%

Cálcio 10g/kg 1% 15g/kg 1,50%

Fósforo 8.000mg/kg 0,80% 7.000mg/kg 0,70%

Potássio 5.000mg/kg

5.000mg/kg

L - Carnitina 250mg/kg

250mg/kg

DL - Metionina 4.000mg/kg

3.000mg/kg

Energia Metabolizável 5.086 kcal 4.880 kcal

3.2.4 Manejo sanitário

Os animais receberam acompanhamento contínuo de um médico veterinário do

próprio canil, um policial técnico veterinário responsável por ajudar e auxiliar o veterinário

nos acompanhamentos e um tratador para serviços gerais de limpeza. A limpeza dos boxes

eram feitas diariamente, uma vez pela manhã e uma no período da tarde; os boxes eram

lavados e higienizados utilizando produtos desinfetantes. O canil segue um protocolo de

vacinação obrigatória dos cães; aos 45, 65 e 90 dias de vida do filhote, é aplicado a primeira,

segunda e terceira dose da vacina polivalente, respectivamente; esta vacina imuniza os cães de

enfermidades como a cinomose, adenovirose, coronavirose, parainfluenza, leptospirose,

hepatite infecciosa, e parvovirose. Quando adultos, é feito apenas uma dose da vacina

polivalente, correspondente ao reforço anual, além da vacinação contra a raiva.

A vermifugação era feita com 15, 30, 45 e 60 dias de vida do animal, sendo esta

repetida a cada cinco meses, a qual protege os animais dos principais endo e ectoparasitas. Por

fim, a cada 15 dias era passado vassoura de fogo dentro dos boxes de cada cão.

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3.3 Avaliação do bem-estar dos cães

De acordo com adaptações de Calderón (2010), foi realizado uma avaliação subjetiva

do grau de bem-estar dos animais no canil tomando por base as condições físicas, sanitárias e

psicológicas experimentadas pelos cães, sendo avaliadas conforme os critérios:

a) Condições físicas das instalações

- Tipo de piso

- Ambiente térmico

- Áreas com sol e sombra

- Disponibilidade de espaço

- Higiene

b) Alimentação dos animais

- Dieta oferecida

- Limpeza de comedouros e bebedouros

c) Interações sociais e estado emotivo dos animais

- Sociabilidade

- Agressividade

- Facilidade de manejo

- Interação com humanos

- Interação com outros animais

- Emoções positivas

- Emoções negativas

d) Funcionamento biológico dos animais

- Presença de lesões ou ferimentos

- Sintomas de alguma doença

- Sinais de dor

- Condição corporal dos animais

Nos pontos (a) e (b), informações foram coletadas visualmente e por meio de

tratadores do canil. Nos itens (c) e (d), em cada visita, observações eram feitas e registradas

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em planilhas. Durante todo o período de estudo, 6 visitas, em horários alternados, foram

realizadas.

3.4 Adestramento e relação adestrador X animal

Para entender a rotina no treinamento dos cães e interação cão e adestrador, aplicou-se

um questionário de 20 questões direcionadas a um dos treinadores. Foram feitas perguntas

relacionadas à rotina dos treinamentos com os cães e de caráter pessoal (Tabela 3); a

entrevista foi realizada com auxílio de um gravador portátil (LG Optimus L1 II Dual E415),

sendo posteriormente transcrita.

Tabela 3: Questionário aplicado ao treinador.

1 - Questões de caráter geral

- Qual a origem dos animais do canil?

- Quais os critérios para a seleção da ninhada?

- Com que idade os cães começam a ser treinados?

- Quais as etapas do adestramento?

- Com que frequência os cães são treinados?

- Quantas horas o cão trabalha por dia?

- Quais os equipamentos utilizados para o adestramento?

- Quais os tipos de reforço positivo utilizado?

- Quais os tipos de reforço negativo utilizados?

- Quando são utilizados?

- Qual a frequência e horário de lazer dos cães?

- Qual a importância do enriquecimento ambiental para cães?

- Quando os animais não são mais treinados (aposentadoria)?

2 - Questões de caráter específico do adestrador

- Você possui cursos para adestramento?

- Qual a sua relação com os cães?

- Qual a importância do adestramento?

- Como você classificaria seu temperamento?

- Para você, quais os critérios básicos para um bom adestrador?

- Qual a raça que você tem mais afinidade e prefere trabalhar?

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Avaliação das condições de bem-estar dos cães

Na avaliação das condições físicas das instalações, observou-se que o piso dos boxes

era feito de concreto liso (alvenaria) e o piso da área de treinamento era de grama baixa. Os

boxes foram construídos com seu eixo longitudinal na orientação leste-oeste e com 3 m de pé

direito. Os boxes tinham área total de 10 m2, área de solário (4 m

2), e área coberta (6 m

2).

Quanto a higiene das instalações, eram feitas limpezas diariamente, retirando-se fezes, urina,

lavando o piso com produtos desinfetantes e em seguida, realizado o procedimento para

retirada dos focos de umidade. A grama da área de treino era cortada frequentemente para

evitar o crescimento exagerado. O banho dos animais era realizado uma vez por semana.

O bebedouro dos cães era limpo diariamente, sendo a água sempre renovada e

fornecida à vontade. Os comedouros também eram limpos na mesma frequência, retirando-se

sobras de ração, sempre oferecendo alimento fresco. As rações utilizadas eram específicas

para filhotes e adultos; aos filhotes, alimentação fornecida três vezes ao dia, enquanto os

adultos eram alimentados duas vezes. A quantidade de ração fornecida aos animais era em

média 2,5% de seu peso vivo; os cães também eram suplementados com fontes de vitaminas,

minerais e aminoácidos.

Quanto às interações sociais e estado emotivo dos animais, as principais observações

foram: os cães eram mantidos em boxes individuais; alguns cães eram sociáveis com o

condutor, outras pessoas e também com outros cães; este maior nível de socialização era

nítida com os cães da raça Labrador, sendo estes, utilizados principalmente para trabalho com

crianças no canil (cinoterapia). Por outro lado, os cães da raça Rottweiler apresentavam

interações positivas apenas com seus treinadores; um desses cães, era sociável apenas com o

seu condutor específico; este animal tinha um temperamento agressivo, até mesmo com os

treinadores de outros cães; o cão foi doado ao canil e não foi possível obter informações

detalhadas a respeito de seu histórico anterior. Os demais cães dessa raça não apresentavam

sinais fortes de agressividade (apenas quando esta agressividade era inflamada), entretanto,

mostravam-se agressivos com outros cães e pessoas estranhas (visitantes do canil). Os níveis

de socialização dos cães da raça Pastor Alemão (e de trabalho) resumia-se também aos seus

condutores, apresentando também, comportamentos de agressividade com outros animais e

pessoas estranhas. Os cães da raça Pastor Malinóis, assim como Pastor Alemão, eram muito

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sociáveis com os condutores; alguns desta linhagem interagiam positivamente com outras

pessoas e cães.

Para atividades extra trabalho (horário que os animais não estavam em treinamento ou

missão) dos cães, constatou-se baixa regularidade dos condutores na realização de ações como

exercícios, brincadeiras, entre outras interações positivas; alguns destes treinadores,

praticavam exercício de caminhada com "seus" cães, levando-os em locais públicos como

praças e orla; contudo, tais ocasiões eram incertas. Quanto ao manejo dos cães, não foi

observado nenhuma dificuldade dos tratadores na hora do banho dos animais (realizado pela

manhã), vermifugação, vacinação, retirada dos animais para limpeza dos boxes ou passeio.

Sinais de estado pscicobiológico negativo (tristeza, apatia) nos cães não foram registrados;

todos eles eram muito ativos e com temperamento equilibrado, exceto um animal da raça

Rottweiler; como mencionado anteriormente, este desvio comportamental era representado

por altos níveis de agressividade. Em nenhum dos cães foi constatado incidência de algum

tipo de estereotipia; com relação ao funcionamento biológico, todos os animais aparentavam

estar em boas condições corporais (peso, escore e pelos brilhantes) e sempre motivados para

realização de treinamentos e missões. Durante o período de realização do estudo, sinais de

dor, lesões ou sintomas de doenças, não foram observadas nos cães.

Um dos principais fatores que afetam o bem-estar dos animais diz respeito a

instalações mal desenhadas. No presente estudo, as condições físicas observadas nos boxes

dos cães podem ser questionadas por dois fatores que acabam por limitar a garantia de bons

níveis de bem-estar desses animais, sendo estes o piso de concreto e a pequena área

disponível. De acordo com Broom e Fraser (2010), ambientes com variedades insuficiente é

uma das principais causas de baixo grau de bem-estar em cães domésticos e de atividade

policial. Cães mantidos em instalações de concreto com baixa disponibilidade de área e sem

nenhum tipo de enriquecimento ambiental (acesso a áreas com terra ou outro tipo de

substrato), podem ter seus movimentos privados, de forma que muitos eventos ambientais

potencialmente interessantes estejam fora de seu alcance. A expressão de comportamentos

naturais como correr, pular, se espojar na areia, cavar e esconder objetos são exemplos de

atividade que podem ser privadas nestas condições de ambiente.

O piso de concreto liso (alvenaria), apesar de facilitar o manejo na hora da limpeza dos

boxes por absorver pouca água e apresentar boa aderência, não seria o ideal para o animal

passar 24 horas de seu dia. No canil, os cães só tinham acesso a outras áreas nos momentos de

passeio e treinamento, os quais não ocorriam todos os dias da semana. Especificamente, a

palma nos membros (anterior e posterior) dos cães foi desenvolvida durante o seu processo

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evolutivo em ambientes com grama, areia ou solos com outras características. Assim, pisos de

concreto, cerâmicas ou azulejos podem ocasionar problemas de aprumos nos cães, sendo o

principal deles, as displasias; outros problemas como formação de calos e claudicação podem

acometer cães que vivem em ambientes com pisos de cimento (Hubrecht et al., 1993).

Um ponto positivo na instalação dos cães diz respeitos a presença de áreas cobertas e

solário, orientação e altura do pé direito. A orientação do eixo longitudinal dos boxes no

sentido leste oeste favorece uma menor carga térmica radiante no interior da instalação nos

horários mais quentes do dia (11 e 15 horas). Uma altura ideal de pé direito otimiza uma

maior ventilação no interior dos boxes, retirando umidade e o calor, além da importância do

acesso a áreas cobertas, especialmente nas condições de ambiente tropical com níveis

elevados de radiação (Bruchim et al., 2006). O contrário, nos horários de baixos níveis de

radiação (primeiras horas da manhã), o acesso do cão a áreas como solário é importante na

manutenção de sua saúde. O banho de sol é muito importante para a saúde do cão. A radiação

de ondas curtas ativa um precursor da vitamina D presente em células da pele. A vitamina D

participa de processos que facilitam a absorção de cálcio no trato gastrintestinal (Reece et al.,

2006). Assim, problemas de má formação nos ossos e manutenção dos níveis de cálcio podem

ser evitados em animais que tenham acesso a banhos de sol regularmente.

Quanto ao manejo alimentar dos cães, a garantia das exigências nutricionais é um dos

pré-requisitos na avaliação do bem-estar animal. No canil, cães filhotes e adultos eram

alimentados com dietas que atendem suas necessidades nutricionais de acordo com a

Instrução Normativa nº 8 publicada pelo MAPA em 2002 (Fortes, 2005), a qual estabelece os

níveis mínimos de garantia exigidos para alimentos completos de cães. Atualmente, um

número significativo de informações acerca das exigências nutricionais dos cães estão

disponíveis no mercado e literatura. No entanto, os problemas das dietas de cães ocorrem

principalmente por causa de alimentação inapropriada oferecida pelos proprietários,

especialmente nas condições de criação doméstica. Proprietários, algumas vezes, presumem

que os alimentos que eles gostam serão bons para seus cães, entretanto, estes animais podem

facilmente receber alimento exageradamente doce, com excesso de carboidratos, proteínas,

além de uma quantidade insuficiente de outros nutrientes.

Com relação ao aspectos de socialização dos animais no canil, alguns pontos merecem

destaque: os cães eram separados da mãe e dos irmãos aos 45 dias de vida, justamente no

período de socialização desses animais (Carmo, 2013). Cães retirados das mães e dos irmãos

durante este período, terão dificuldades de socialização, manifestando medo ou agressividade

com outros cães na fase adulta. De acordo com Broom e Fraser (2010), as tarefas mais

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complexas na vida dos animais são aquelas associadas ao estabelecimento e manutenção das

relações sociais. Dessa forma, é importante que durante este período de socialização, animais

possam passar por um mínimo de experiências, aprendendo sobre como manter uma

estabilidade social com os membros de sua matilha. A aprendizagem é um processo de

aquisição de conhecimentos resultantes da interação social dos cães com outros cães ou seres

humanos; se dá pela observação e pela facilitação social, em consequência de

comportamentos realizados em conjunto com outros cães (Morais, 2014).

No presente estudo, foi possível constatar que apenas os animais da raça Labrador

eram sociáveis com outros cães de sua raça. Na maioria dos casos, os cães das outras raças

apresentavam comportamentos agressivos uns com os outros, deixando claro a dificuldade de

socialização desses animais. Alguns comportamentos agressivos exibidos em direção a outros

membros da mesma espécie ou de outra são considerados normais, pois servem como função

de defesa do animal, filhotes ou estabelecimento de propriedade ou posição social. Entretanto,

este comportamento torna-se anormal em função de sua intensidade e frequência. Os cães de

algumas raças, em momento algum, poderiam ser colocados em contato uns com os outros,

mesmo sob condições de recursos disponíveis a todos, as interações agressivas iriam

acontecer. O cão da raça Rottweiler que foi doado para o canil apresentava agressividade

excessiva, provavelmente porque tivera sido privado durante o período de socialização

quando filhote. De acordo com informações de seu condutor, o antigo dono não lhe dava a

atenção e cuidados necessários, além dele ter sido criado sozinho.

Os cães naturalmente vivem quase toda a sua vida na companhia de outros membros

da matilha. Anormalidades de comportamento canino quando criados sozinhos são comuns de

serem observadas. Tais anormalidades podem ser expressas na forma de agressividade

intensa, aparecimento de estereotipias e comportamentos anormais (auto direcionados e

direcionados ao ambiente). No presente estudo, um fator que certamente limitava o Bem-Estar

dos cães no canil era a privação do contato social, uma vez que eram mantidos em boxes

individuais, sendo esta, uma das possíveis causas de comportamentos agressivos exagerados

entre os cães. Ademais, a irregularidade na frequência de atividades extra trabalho como

prática de atividades físicas e acesso dos cães a brincadeiras aparecem como uma condição

que deve estar comprometendo o Bem-Estar desses animais. Clark e Boyer (1993) verificaram

os efeitos da interação cão e treinador sobre a condição de bem-estar dos animais em um canil

policial na Bélgica. Tais autores constataram que caminhadas diárias de apenas 20 minutos

reduzia a incidência de comportamentos agressivos indesejáveis nos cães.

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4.2 Adestramento e relação adestrador x animal

A transcrição da entrevista foi realizada reproduzindo as falas originais do entrevistado.

Os primeiros pontos abordados na entrevista com o Sargento Ricardo dizem respeito à origem

dos animais, critérios de seleção, idade e etapas do adestramento. Conforme o Sargento

Ricardo “durante muitos anos os cães eram doados para o canil pela própria sociedade;

através do Governo do Estado, os cães são adquiridos por meio de compras e pela própria

reprodução dos cães do canil. Para a função de proteção são selecionados cães que gostam

muito de morder o “paninho” (caça) ou outro material, a partir daí, o cão passa a ser cada

vez mais estimulado para morder. Para faro faz-se testes com uma bolinha (recompensa),

trabalhando o faro do animal para achar a bolinha que é a sua premiação. Há cães que se

saem muito bem nos testes tanto para guarda e proteção (paninho) como para faro (bolinha),

então, ele pode ser usado para os dois (dupla função). Existem outros métodos de avaliar o

cão e o tipo de função que ele pode trabalhar. O treinamento começa a ser feito a partir do

momento que o cão chega no canil ou quando nasce lá dentro, onde vai trabalhar a educação

do cão, depois passa para os treinamentos de impulso (a partir dos 45 dias de vida),

socialização e ambientação, só depois que ele já tiver com vacinações corretas. Vai variar do

tipo de treinamento, o objetivo, da raça e do próprio cão. O principal para qualquer

treinamento é a ambientação e a socialização, pois já é uma base para qualquer tipo de

função que se deseja com o animal.”

Os cães iniciam com o adestramento básico de obediência para que saibam responder a

comandos que serão essenciais no futuro, além do estabelecimento de regras e horários. Os

treinamentos de ataque, perseguição, faro e resgate têm a mesma estrutura, ou seja, quando os

cães realizam o comportamento desejado, ele é recompensado. Os cães farejadores são

treinados para reconhecer as substâncias, assim como os cães de guarda e proteção treinam

repetidas vezes o exercício e a obediência, pois quando imobilizar algum suspeito, eles

precisam ter sua agressividade inflamada e precisam responder bem aos comandos do

adestrador (Instrução Normativa I – 19 PM, 1988).

O comportamento de um animal é determinado por influência de fatores genéticos e

ambientais. Desde cedo, a seleção de cães mais apropriados para cada tipo de função baseia-

se na observação de comportamentos simples, os quais possam indicar habilidades úteis para

execução de tarefas futuras; mesmo numa ninhada, a variação individual é significativa, pois

cada interação de um animal e seu meio ambiente apresenta um potencial para modificar o seu

comportamento. No cão, esses constructos mentais acontecem continuamente, sendo

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específicos para cada fase de crescimento; um ponto que já foi destacado é o período que os

filhotes são retirados da ninhada para início do treinamento, sendo este, quarenta e cinco dias.

Nessa fase, a ninhada já interage de forma lúdica com brincadeiras de luta, movimento de

cabeça, rosnar, ladrar e inicia o estabelecimento de hierarquia, sendo estes eventos ou

experiências, fundamentais no processo de socialização do cão. Assim, na primeira fase do

adestramento (socialização e ambientação), é interessante que os filhotes sejam criados em

conjunto com outros animais de idade semelhante.

Em seguida, o adestrador foi questionado sobre a frequência e duração com que os

cães são treinados e quantas horas o cão trabalha diariamente. Segundo informações do

Sargento " o treinamento pode ser feito diariamente, pode ser dividido em várias sessões

(quantidade de vezes ao dia). Mas o mais importante para a frequência do treinamento é

saber que, se o animal começou bem, ele tem que terminar bem. Ele não pode começar

cansado pois não vai render no treino. O cão deve sempre começar alegre e com muita

vontade de treinar. O cão só trabalha 6 horas por dia, a partir do momento em que sai do

boxe. O estado de motivação do animal é muito importante para o sucesso e eficiência dos

períodos de treinamento; no presente caso relatado pelo Sargento, cães sempre tinham níveis

ótimos de motivação para iniciar o treinamento. Nesta situação, os cães passam o dia preso e

logicamente, associam o período de treinamento como um dos únicos momentos que este tem

oportunidade de interação com outro indivíduo (homem), acesso a um tipo de ambiente mais

complexo, entre outros fatores que influenciam diretamente seu estado motivacional. Com

relação a frequência desses treinamentos, estudo têm investigado qual seria a combinação

mais eficiente no adestramento de cães policiais. Demant et al. (2011), constataram que cães

treinados uma ou duas vezes por semana tinham uma melhor aquisição em comparação aos

treinados diariamente, e que treinados somente uma sessão por dia tinham um melhor

rendimento comparado aos cães que treinaram três vezes por dia, concluindo que a

combinação de um ou mais treinamentos por semana em apenas uma sessão por dia é mais

efetiva.

Quanto aos equipamentos utilizados no adestramento, tipos de reforço e a frequência

com o qual são utilizados, o treinador afirma: “Para o adestrador pode ser utilizado

enforcador com colar liso, com colar de garra, coleira, peitoral, guia, colar eletrônico,

clicker. O figurante é outro profissional habilitado no treinamento de animais de proteção,

então para cada etapa do treinamento de proteção, ele irá utilizar equipamentos específicos

para tal etapa. O equipamento utilizado no início com o cão entre 45 dias é o corim, usado

nessa fase para estimular o cão a querer morder, depois tem o salsichão, manga filhote.

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Macacão, bite suíte (oferece mordida em qualquer parte do corpo). Eu trabalho com reforço

positivo e reforço negativo, punição positiva e punição negativa, e extinção de

comportamento. Reforço positivo é quando acrescenta algo induzindo o animal a fazer o que

se pede e quando o cão acerta dá a ele o que ele gosta (recompensa), pode ser carinho,

petisco, bolinha.Reforço negativo aumenta a vontade de realizar um comportamento

retirando algo que não seja prazeroso para ele forçando o animal a fazer o que está pedindo.

Quando ele faz o que se pede, ele é automaticamente aliviado daquilo que não está sendo

prazeroso para ele. Punição positiva é quando acrescenta no treinamento algo aversivo para

o animal por exemplo, um trancão, entonação de voz, a forma da expressão corporal do

adestrador etc. Punição negativa é quando tira algo que o animal gosta. Extinção de

comportamento o adestrador fica neutro na situação, quando o animal faz um

comportamento indesejado e o adestrador não apresenta nenhum tipo de estímulo nem

positivo nem negativo, até o ponto em que o animal vai entender que com esse

comportamento não obteve nenhum tipo de resposta irá extinguir o comportamento pois não

teve resposta nem do condutor nem do ambiente.”

Os métodos de treinamento utilizados pelos adestradores do canil são os mesmos

descritos por Rossi (2002). De acordo com este autor, reforço é o aumento na probabilidade

de um comportamento ocorrer, podendo ser positivo quando adicionado algo que seja

agradável ao animal ou negativo, quando subtrai algo desagradável ao animal. Enquanto que a

punição é a diminuição de um determinado comportamento que também pode ser positivo

quando adicionado algo aversivo ao animal ou negativo retirando algo agradável ao animal.

Broom e Fraser (2010) chamam atenção para métodos de treinamentos brutos e inadequado

que podem comprometer o Bem-Estar dos animais. Existem proprietários de cães que

acreditam que cães nunca aprendem a ser obedientes, a menos que apanhem severamente. Na

maioria das vezes, especialmente sob condições de criação doméstica, além de ser muito

severa e dolorosa, a punição não leva a nenhum aprendizado porque o cão não sabe o motivo

pelo qual está sendo punido. No caso dos cães de atividade policial, os tipos de reforço ou

punição utilizados podem influenciar diretamente no estado motivacional dos cães. Tipos de

punição muito severa (choque ou uso de estrangulador) podem fazer que o cão associe todo o

período de treinamento como um evento ruim e dessa forma, diminuam seu estado

motivacional para o treino seguinte. Assim, é importante que os adestradores possam ter uma

base teórica sobre os princípios que regem a aprendizagem dos cães, principalmente os

conceitos do condicionamento clássico e operante, utilizando ferramentas e métodos de treino

eficiente e compatível as necessidades de Bem-Estar dos animais.

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Quanto a frequência e horário de lazer dos cães, a importância do enriquecimento

ambiental e quando os cães não são mais treinados, o Sargento Ricardo relatou o seguinte:

“Cabe ao condutor do cão, fazer uma caminhada com ele na rua, correr na praia, algo que

seja feito para desestressar o cão, já que ele é o seu parceiro de trabalho o bom é passear

com o cão para relaxar e não ficar com energia acumulada. O enriquecimento ambiental é a

parte da ambientação e socialização do animal. Fica a critério das normas e da

administração do canil. De acordo com a regra padrão os cães se aposentam com 8 anos de

idade.” Sem dúvida, um dos fatores que mais limitam o estado de Bem-Estar dos cães de

atividade policial é a interação com o seu treinador. Em uma pesquisa realizada na Bélgica,

Lefbvre et al. (2007) aplicaram um questionário de 40 questões para entender como a relação

adestrador e cão refletia no Bem-Estar, obediência e agressividade dos animais. De acordo

com estes autores, nas condições em que os cães eram levados pelo condutor para suas casas,

notavelmente, eram animais mais obedientes, sociáveis e menos agressivos. De uma forma

geral, os autores demonstraram que a prática regular de exercícios e maior interação com seus

cães tiveram relação direta com comportamentos indicativos de bons níveis de Bem-Estar. De

semelhante modo, Clark e Boyer (1993) já tinham relatado a influência positiva de exercícios

regulares na redução dos níveis de agressividade em cães de atividade policial. No presente

estudo, o adestrador não deixa claro a frequência com que ele interage com o seu cão, sendo

esse, o um dos fatores que mais contribuem para a condição de Bem-estar dos cães no canil.

Com relação a formação do entrevistado e sobre a importância do adestramento para

ele, foi relatado o seguinte: “Possuo cursos de cinotecnia para cães policiais, cursos

específicos para determinadas funções dos cães, como resgate e salvamento, faro de

entorpecentes, adestramento básico entre outros. Também ministro cursos. É ter um controle

sobre o animal, estabelecer uma comunicação com ele, é saber conduzi-lo da forma correta,

enfim, o adestramento tem uma infinidade de benefícios tanto para o cão quanto para o

condutor que também deve ser adestrado.” Por fim, os últimos questionamentos foram sobre

a sua relação com os cães, seu temperamento, sobre quais os critérios básicos para um bom

adestrador e de qual raça tem afinidade e prefere trabalhar. Sargento Ricardo: "Trabalho com

obediência básica, avançada (show dog), guarda e proteção, faro, mas o que gosto mais de

fazer é passar para as pessoas como trabalhar com o cão. Também tenho o meu canil

particular. Temperamento calmo e equilibrado. O adestrador ele tem que gostar de cão.

Gosto de trabalhar mais com cães que sejam de guarda. Apesar de ter um canil particular só

de Pastor Alemão eu não posso dizer que gosto apenas de trabalhar com eles, gosto de

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diversas outras raças, Rottweiler também gosto mas no geral é com cães de guarda, é uma

afinidade particular minha.”

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os cães policiais são ferramentas indispensáveis no combate ao crime e tráfico de

drogas por isso, existe a necessidade de mais trabalhos com foco na adequação de instalações

para cães de atividade policial e uma maior preocupação por parte dos adestradores na

procura por métodos de adestramento e manejo mais compatível com as necessidades de bem-

estar dos cães.

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