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i UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA SOCIAL - DOUTORADO NÚCLEO DE PESQUISA VULNERABILIDADES E PROMOÇÃO DA SAÚDE O impacto da AIDS na Saúde Mental e Qualidade de Vida de pessoas na maturidade e velhice Josevânia da Silva JOÃO PESSOA-PB NOVEMBRO/2011

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i

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA SOCIAL - DOUTORADO

NÚCLEO DE PESQUISA VULNERABILIDADES E PROMOÇÃO DA SAÚDE

O impacto da AIDS na Saúde Mental e Qualidade de Vida de pessoas na

maturidade e velhice

Josevânia da Silva

JOÃO PESSOA-PB

NOVEMBRO/2011

ii

Josevânia da Silva

O impacto da AIDS na Saúde Mental e Qualidade de Vida de pessoas na

maturidade e velhice

Tese submetida como requisito

parcial para obtenção do grau de

Doutor em Psicologia Social.

Profa. Dra. Ana Alayde Werba Saldanha Pichelli

(Orientadora)

JOÃO PESSOA-PB

NOVEMBRO/2011

iii

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - CCHLA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA SOCIAL - DOUTORADO

NÚCLEO DE PESQUISA VULNERABILIDADES E PROMOÇÃO DA SAÚDE

O impacto da AIDS na Saúde Mental e Qualidade de Vida de pessoas na

maturidade e velhice

Autora: Josevânia da Silva

BANCA AVALIADORA

Profª Drª Maria do Carmo Eulálio

(UEPB, Membro)

Profª Drª Suy-Mey Carvalho de Mendonça Gonçalves

(UNIPE, Membro)

Profª Drª Evelyn Rúbia de Albuquerque Saraiva

(UFPB, Membro)

Profº Drº Leôncio Camino

(UFPB, Membro)

Profª Drª Ana Alayde Werba Saldanha

(UFPB, Orientadora)

DEDICATÓRIA

S586a Silva, Josevânia da. O impacto da AIDS na saúde mental e qualidade de vida

de pessoas na maturidade e velhice / Josevânia da Silva.- João Pessoa, 2011. 200f.

Orientadora: Ana Alayde Werba Saldanha Tese (Doutorado) – UFPB/CCHLA

1. Psicologia Social. 2. HIV/AIDS – saúde mental – maturidade - velhice. 3. HIV/AIDS – qualidade de vida – maturidade - velhice.

U UFPB/BC CDU: 316.6(043)

iv

À Ana Alayde,

Por tudo e tanto. De quem tenho a honra de ser

a primeira doutora sob sua orientação.

“Se todos fossem iguais a você, que maravilha viver” (Vinícius de Morais)

v

AGRADECIMENTOS

À DEUS, meu PAI, presença constante em minha vida.

À LUCIANO, fonte de saúde mental e qualidade de vida, pelo amor e

companheirismo, por me forçar, mesmo contra a minha vontade, a parar para

comer, parar para dormir e até sorrir. Amo todas as suas formas de amor.

À CÉLIA, mainha, por me amar, por cuidar de mim, ainda que distante. Obrigada por

entender minhas ausências com paciência e serenidade.

Aos meus sobrinhos JANIELE, JANIELISSON, TAINÁ e CAIO VINÍCIOS, uma das

razões do meu viver. Obrigada por me receberem com alegria e entusiasmo a cada

novo encontro, por entenderem minhas ausências, pois, como vocês disseram: “é

que tia está escrevendo um livro grande”. Amo vocês.

À Profª Drª ANA ALAYDE, fonte constante de amparo, amor e incentivo, por toda

orientação e amizade compartilhada. Obrigada por me acrescentar à sua família que

agora considero minha. Ao Paulo, Rafinha, Dany e Michele... minha eterna gratidão.

Ao Profº LEÔNCIO CAMINO, cuja prática profissional inspira, por me acompanhar

desde a graduação, obrigada pela amizade e contribuições.

À Profª Drª SUY-MEY, pelas valiosas contribuições desde a qualificação. Agradeço

pela tranquilidade nas palavras e pelo modo sereno de conduzir todo o processo.

vi

À Profª Drª CARMITA EULÁLIO, com quem compartilho a luta pela promoção de um

envelhecimento com qualidade de vida. Obrigada pela disponibilidade e pela

atenção carinhosa que me dedicou enquanto estive na UEPB.

À Profª Drª EVELYN SARAIVA, que esteve comigo nos primeiros passos, durante a

graduação. Obrigada por estar comigo nesse momento, por me incentivar com sua

tranquilidade e sorriso frequente.

À HENRY PONCIO, fonte inesgotável de amizade, por se fazer presente e sempre.

Aos AMIGOS do Núcleo de Pesquisa Vulnerabilidades e Promoção da Saúde (NVPS),

Aline, Amanda, Bruno, Camila, Cássio, Celestivo, Degmar, Elís, Flávio, Gleyde, Iria,

Isabelle, Jackeline, Juliana, Karla, Laudicéia, Lidyanne, Marina, Michael, Pollyanna,

Regina, Roberta, Sandra, Tereza... Sou um pouco de cada um de vocês!

Aos PROFESSORES do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social (UFPB),

que permitiram compartilharmos conhecimentos, bem como pela compreensão e

atenção.

À ISRAEL, profissional da instituição de pesquisa, pelo carinho a atenção.

Aos PARTICIPANTES desta pesquisa que com sua experiência e sabedoria me

ensinaram que é sempre possível sonhar e viver. Muito Obrigada!

vii

“...até porque eu já estou numa idade, 72 anos, mas a gente

não pára de sonhar, a gente envelhece tendo sonhos.”

[Participante 01]

8

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS .................................................................................................... 10

LISTA DE FIGURAS .................................................................................................... 11

LISTA DE ABREVIATURAS.......................................................................................... 12

RESUMO..................................................................................................................... 14

ABSTRACT ................................................................................................................. 15

APRESENTAÇÃO......................................................................................................... 16

Capítulo I ENVELHECIMENTO E HIV/AIDS.......................................................... 24

1.1 Vulnerabilidade ao HIV/AIDS em pessoas na maturidade e na velhice ... 29

1.2 Maturidade, velhice e saúde mental: implicações no contexto do

HIV/AIDS...................................................................................................

38

1.3 Saúde Mental de pessoas com HIV/AIDS: considerações acerca dos

Transtornos Mentais Comuns.....................................................................

42

Capítulo II APORTE TEÓRICO .............................................................................. 52

2.1 QUALIDADE DE VIDA................................................................................... 50

2.1.1 Operacionalizando o construto................................................... 50

2.1.2 A medição da Qualidade de Vida.............................................. 60

2.1.3 Avaliação da Qualidade de Vida no contexto do HIV/AIDS... 65

2.2. OBJETIVOS.................................................................................................. 71

2.2.1 Geral ........................................................................................ 71

2.2.2 Específicos ............................................................................... 72

2.3. HIPÓTESES .................................................................................................. 72

Capítulo III MÉTODO .......................................................................................... 73

3.1 Delineamento ............................................................................................. 74

9

3.2 Participantes................................................................................................ 74

3.3 Instrumentos............................................................................................... 76

3.4 Procedimentos............................................................................................ 80

3.5 Análise dos dados....................................................................................... 81

3.6 Aspectos Éticos........................................................................................... 85

Capítulo IV RESULTADOS E DISCUSSÕES 86

4.1 Perfil sociodemográfico e Clínico.............................................................. 87

4.2 Transtornos Mentais Comuns e sintomas de ansiedade e depressão em

pessoas na maturidade e velhice com HIV/AIDS ...................................

98

4.3 Qualidade de Vida em pessoas na maturidade e velhice com HIV/AIDS 111

4.4 Variáveis explicativas da Qualidade de Vida em pessoas na maturidade e

velhice com HIV/AIDS.........................................................................

123

4.5 Aspectos psicossociais AIDS na perspectiva dos participantes:

implicações para a Saúde Mental e Qualidade de Vida...........................

130

CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................... 159

REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 164

ANEXOS

10

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Etapas e Procedimentos da Análise Categorial Temática..................................83

Tabela 2 Perfil dos participantes segundo frequência das variáveis sociodemográfica....89

Tabela 3 Perfil dos participantes segundo frequência das variáveis clínicas....................92

Tabela 4 Avaliação dos participantes acerca da saúde e do considerar-se doente............94

Tabela 5 Média Global e por Fatores no SRQ-20.............................................................99

Tabela 6 Frequência das respostas afirmativas por itens do SRQ-20, com diferenças

significativas entre os participantes com mesmo diagnóstico........................100

Tabela 7 Frequência das respostas afirmativas por itens do SRQ-20, com diferenças

significativas entre os participantes de mesma faixa etária.............................102

Tabela 8 Prevalência de sintomas de Ansiedade, de Depressão e Co-morbidade...........103

Tabela 9 Médias nos Fatores sintomas de Ansiedade e Sintomas de Depressão.............104

Tabela 10 Frequência de Transtorno Mental Comum em relação às variáveis

sociodemográficas.............................................................................................105

Tabela 11 Frequência de Transtorno Mental Comum em relação às variáveis

clínicas...............................................................................................................106

Tabela 12 Média Geral e por Fatores dos participantes para a escala de Qualidade de Vida

...........................................................................................................................112

Tabela 13 Relação entre os Fatores do Psicológico e Ambiental e a variável renda........120

Tabela 14 Correlações entre a Qualidade de Vida e as variáveis antecedentes................125

Tabela 15 Regressão múltipla da Qualidade de Vida em relação às variáveis

antecedentes......................................................................................................128

11

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Domínios e Facetas do WHOQOL-HIV...............................................................67

Figura 2 Relações hipotetizadas entre a variável Qualidade de Vida e as variáveis Físico,

Psicológico, Independência, Social e Transtorno Mental Comum....................127

12

LISTA DE ABREVIATURAS

ABRASCO Associação Brasileira de Saúde Coletiva

AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

AMP Associação Mundial de Psiquiatria

ANOVA Análise de Variância

AVAI Anos de vida ajustados por incapacidade

CD4 Cluster of differentation 4

CID Código Internacional de Doenças

DP Desvio Padrão

DSTs Doenças sexualmente transmissíveis

HAD Escala de Ansiedade e Depressão

HIV Vírus da Imunodeficiência Humana

HNRC Neurobehavioral Research Center

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MOS SF-36 Medical Outcome Study Short From -36

MS Ministério da Saúde

OMS Organização Mundial de Saúde

ONU Organização das Nações Unidas

OPAS Organização Pan-Americana da Saúde

PLWHA People Living with HIV/AIDS

PN-DST/AIDS Programa Nacional de DST/AIDS

Q-LES-Q Quality of Life Enjoyment and Satisfaction Questionnaire

QV Qualidade de Vida

RM Regressão Múltipla

13

SAE Serviço de Atendimento Especializado

SAS Secretaria de Assistência Social

SPSS Statistical Package for Social Sciences

SRQ Self-Reporting Questionnaire

TARV Terapia Antirretroviral

TMC Transtorno Mental Comum

UDI Usuários de drogas Injetáveis

UNAIDS Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS

VA Variáveis Antecedentes

VC Variável Consequente

WHOQOL World Health Organization Quality of Life Instrument

WHOQOL Group World Health Organization Quality of Life Group

WHOQOL-HIV Bref Escala de Qualidade de Vida abreviada para o contexto do HIV/AIDS

14

Silva, J. (2011). O impacto da AIDS na Saúde Mental e Qualidade de Vida de pessoas na

maturidade e velhice. Tese de Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Psicologia

Social. João Pessoa, Universidade Federal da Paraíba.

RESUMO: Introdução e Objetivo: Qual o impacto da AIDS para a saúde mental e a

Qualidade de Vida em pessoas com idade igual ou superior a 50 anos? Este estudo teve

por Objetivo Geral analisar o impacto da AIDS na saúde mental e Qualidade de Vida de

pessoas com idade igual ou superior a 50 anos soropositivas para o HIV (HIV+). Método:

Participaram 86 pessoas HIV+ com idade igual ou superior a 50 anos. Foram constituídos,

ainda, dois grupos comparativos: a) Grupo formado por 86 pessoas HIV+ com idade

abaixo de 50 anos, na faixa-etária de 40 a 49 anos e b) Grupo formado por 86 pessoas com

idade igual ou superior a 50 anos da população em geral, sem o diagnóstico de

soropositividade ao HIV. Foram utilizados os seguintes instrumentos: 1) Questionário

sociodemográfico e clínico; 2) Escala Whoqol-HIV Bref; 3) Escala Self-Reporting

Questionnaire (SRQ-20); 4) Escala de Ansiedade e Depressão (HAD); e 5) Entrevista. Para

a análise dos dados do questionário sociodemográfico e das escalas foram realizadas

análises de estatística descritiva e multivariada. Já para os dados das entrevistas, utilizou-se

a Análise Categorial Temática. Resultados: Quando comparado com pessoas de mesma

faixa etária da população geral, as pessoas na maturidade e velhice com HIV/AIDS têm

maiores prejuízos na saúde mental e na qualidade de vida, mas não mais que as pessoas

abaixo de 50 anos HIV+. Na verificação das variáveis preditivas, O fator Independência

(=0,414) foi o principal responsável pela explicação da variância, seguido do fator

Psicológico (β=0,29), e, de forma negativa, os Transtornos Mentais Comuns (β= -0,20). A

partir da análise dos relatos dos participantes, emergiram nove categorias: Contágio,

Diagnóstico, Percepção da AIDS, AIDS na velhice, Enfrentamento, Suporte, Preconceito,

Trabalho e Perspectivas. Conclusão: A convivência com o HIV/AIDS tem impacto em

várias dimensões da vida de um indivíduo, contribuindo para a presença de Transtornos

Mentais Comuns. O impacto da doença para a avaliação de Qualidade de Vida foi

verificado, principalmente, quando comparado com as pessoas sem o diagnóstico da

doença, corroborando a hipótese inicial do estudo. Além disso, há variações interindividual

significativa em termos do impacto da doença para as pessoas, ainda que com o mesmo

diagnóstico. Esta variação do impacto sugere considerar não só variáveis mensuráveis, tais

como a idade, níveis de CD4 ou estágio da doença (sintomático ou assintomático), uma vez

que tal variação pode estar relacionada à natureza subjetiva da resposta do indivíduo a uma

complexa interação de fatores inerentes à convivência com a doença, conforme verificado

nos relatos dos participantes.

Palavras-chave: HIV/AIDS; Qualidade de Vida; Saúde Mental; Maturidade; Velhice.

15

Silva, J. (2011). The impact of AIDS on Mental Health and Quality of Life of people in

their maturity and in their old age. Post Graduate Program in Social Psychology.

Doctorate Thesis. João Pessoa, Federal University of Paraíba.

ABSTRACT: Introduction and Objectives: What is the impact of the AIDS on the

mental health and Quality of Life in people who are equal or superior the age of 50 years?

This study had as General Objective to analyze the impact of AIDS on the mental health

and Quality of Life on people who are equal or superior the age of 50 years for HIV

(HIV+) seropositiv. Method: A number of 86 people who are equal or superior age of 50

years, HIV+ seropositiv were the participants of this study. It was composed two

comparative groups: a) Group formed by 86 people HIV+ who are age below of the 50

years, in the age band of 40 49 years and b) Group formed by 86 people who are equal or

superior age of the 50 years of the population in general, without the diagnosis of the HIV

seropositiv. This study counted on the following instruments:1) Socio-demographic and

clinical questionnaire; 2) Whoqol-HIV Brief scales; 3) Self-Reporting Questionnaire scales

(SRQ-20); 4) Scale of Anxiety and Depression (HAD); and 5) Interview. For the analysis

of the data originated by the socio-demographic questionnaire and the scales it was applied

the descriptive and multivariate statistics analysis. The data of the interviews, the Thematic

Categorical Analysis was carried out. Results: When compared with people of same age

bands of the general population, the people in the maturity and in the old age with

HIV/AIDS have greater damages in their mental health and in their quality of life, but they

have not more damages than the people below of the 50 years HIV+. In the verification of

the predictive variables, the factor Independence ( =0,414) was main the responsible for

the explanation of the variance, followed by the Psychological factor (β=0, 29), and, of

negative form, the Common Mental Disorders (β= -0, 20). The analysis of the participants’

stories counted with nine emerged categories: Infect, Diagnosis, Perception of the AIDS,

AIDS in the old age, Confrontation, Support, Prejudice, Work and Perspectives.

Conclusions: Living with the HIV/AIDS has its impact in some dimensions of the

individual’s life, contributing for the presence of Common Mental Disorders. The impact

of the illness for the evaluation of the Quality of Life was verified, mainly, when compared

with the people without the diagnosis of the illness, corroborating for the initial hypothesis

of the study. Moreover, it has inter individual variations significant in terms of the impact

of the illness for the people, despite with the same diagnostic. This variation of the impact

suggests not only considering the changeable variables, such as the age, levels of CD4 or

period of the disease (symptomatic or asymptomatic), a time that such variation might be

related to the subjective nature of the individual’s reply to a intricate interaction of inherent

factors of living with the illness, as verified in the participants’ narratives.

Keywords: HIV/AIDS; Quality of Life; Mental health; Maturity; Old age.

16

APRESENTAÇÃO

Qual o impacto da AIDS para a saúde mental e a Qualidade de Vida em pessoas

com idade igual ou superior a 50 anos?

A avaliação do impacto da AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) na

saúde das pessoas tem sido objeto de estudos desde o início da epidemia (Silva, &

Saldanha, 2010), na década de 80, seja a partir de uma avaliação subjetiva das pessoas, seja

considerando as implicações clínicas para o funcionamento orgânico. Dentre as

implicações para a saúde, está o impacto do adoecimento para a Qualidade de Vida que,

por sua vez, está relacionada com as implicações do HIV (Vírus da Imunodeficiência

Humana) para a saúde mental, tendo em conta que a avaliação da Qualidade de Vida é

perpassada pela dimensão subjetiva e abarca a dimensão psicológica.

A ênfase na avaliação da Qualidade de Vida tem ocorrido, sobretudo, na última

década, principalmente no contexto dos avanços da eficácia da Terapia Antirretroviral

(TARV) que contribuiu para a mudança no caráter da doença, permitindo que a mesma

fosse considerada uma patologia crônica, em detrimento a associação anterior entre AIDS

e morte iminente. Assim, o foco das ações no lidar com a infecção voltou-se para a

convivência com a doença e, nesse caso, para a manutenção da saúde mental e da

Qualidade de Vida.

Esta mudança na abordagem da doença esteve relacionada, principalmente, com o

aumento da sobrevida das pessoas, em decorrência da TARV, o que tem contribuído para

que as mesmas adentrem a maturidade e a velhice já com a soropositividade ao HIV.

Outras, porém, recebem o diagnóstico após os 50 anos ou mesmo contraem o vírus durante

essa etapa da vida. Além disto, o diagnóstico do HIV/AIDS entre pessoas maturidade e da

17

velhice, quando não realizado de forma precoce, aumentam as chances de maior impacto

na saúde mental e, consequentemente, na Qualidade de Vida destas pessoas.

As pessoas com soropositividade ao HIV podem apresentar transtornos mentais

importantes, associados com prejuízos cognitivos significativos (Deribew et al., 2010). No

entanto, o estereótipo negativo, socialmente compartilhado, acerca da associação entre

envelhecimento e debilidade mental, reforçado, muitas vezes, por políticas públicas

direcionadas a redução de problemas de saúde mental em pessoas adultas e não em idosos

(Neri, 2001; Falcão, & Carvalho, 2010), contribui, em muitos casos, para a equivocada

naturalização dos prejuízos na saúde mental como sendo aspectos próprios do

envelhecimento. Assim, por exemplo, o diagnóstico da chamada demência associada ao

HIV pode ocorrer tardiamente em decorrência de tais estereótipos, embora se trate,

segundo CID-10, de uma demência que se desenvolve no curso da doença pelo HIV, na

ausência de qualquer outra doença ou infecção concomitante que pudesse explicar a

presença das características clínicas (OMS, 1993).

No que se refere à idade das pessoas soropositivas ao HIV/AIDS, Wong et al.

(2007) demonstraram que esta variável se apresenta como fator que aumenta as chances de

vulnerabilidade aos Transtornos Mentais Comuns sem, contudo, ser determinante. Nessa

direção, o HIV Neurobehavioral Research Center (HNRC) ressaltou que a avaliação

neuropsicológica deve considerar aspectos como cultura, idade, nível educacional e sexo,

pois estes podem interferir no desempenho cognitivo das pessoas (Ellis, 2007). Considera-

se que, dada às particularidades da história de vida e contextos específicos das pessoas, não

é possível tratar o fenômeno do envelhecimento como modelo único, mas considerar a

existência da velhice, uma vez que esta se apresenta para cada indivíduo de maneira

dinâmica, nos âmbitos biológicos, psicológicos e sociais.

18

Os Transtornos Mentais Comuns caracteriza-se pela presença de sintomas diversos,

tais como: irritabilidade, fadiga, insônia, dificuldade de concentração, esquecimento,

ansiedade e sintomas depressivos. Trata-se de sintomas não psicóticos, os quais podem

manifestar-se precedendo, acompanhando ou sucedendo quadros variados de infecções,

inclusive por HIV, ou de distúrbios físicos, sem que haja evidências diretas de

comprometimento cerebral. O Transtorno Mental Comum em pessoas com idade igual ou

superior a 50 anos com HIV/AIDS demanda impacto biopsicossocial que acarreta, dentre

outros aspectos, baixa adesão ao tratamento e demência associada ao HIV.

Dentre os Transtornos Mentais Comuns, a literatura tem apontado a ansiedade e

depressão como patologias frequentes em pessoas que vivem com HIV/AIDS,

apresentando, prevalência de 50% nos Estados Unidos, segundo estudo realizado com

2.864 pessoas (Ammassari et al., 2004). No Brasil, entre os transtornos psiquiátricos mais

comumentes observados em indivíduos com HIV, a depressão é o mais prevalente

(Malbergier, & Schöffel, 2001; Castanha, Coutinho, & Saldanha, 2006). Todavia, os

aspectos que caracterizam os quadros de sintomas de ansiedade e depressão nesse grupo

social, suas implicações para a adesão ao tratamento, bem como os aspectos subjacentes à

patologia, devem ser analisados numa perspectiva social do adoecimento, uma vez que a

depressão e a ansiedade podem estar associadas a fatores relacionados ao estigma da

própria doença (Deribew et al., 2010).

Em pesquisa realizada por Castanha et. al. (2006), com 91 participantes

soropositivos para o HIV, obteve-se uma prevalência de 64% de casos de sintomatologia

depressiva, destacando-se que representações sociais sobre a depressão e a AIDS estiveram

associadas à uma doença que atinge o ser humano nas mais diversas facetas da vida, o que

19

impacta na qualidade de vida em seus diversos fatores, tais como na produtividade e na

capacitação social.

Quanto às implicações para a Qualidade de Vida das pessoas, a presença de

Transtornos Mentais Comuns e de sintomas de ansiedade e depressão, além influenciar a

saúde mental pode reduzir a adesão à TARV, tratamento que tem contribuído, ao longo das

últimas décadas, para o prolongamento da vida e manutenção da Qualidade de Vida

(Brasil, 2005).

Embora não seja comprovado que a introdução da TARV levou a declínio nestas

desordens cognitivo-afetivas, o estudo de Ammassari et al. (2004) demonstrou que a

presença de depressão e ansiedade se constitui em importante barreira para a adesão ao

tratamento. No estudo desenvolvido por estes pesquisadores, foi analisado a associação de

sintomas de depressivos, prejuízos neurocognitivos e aderência a TARV em 135 pessoas

HIV positivas, das quais 30% afirmaram a não aderência ao tratamento. Os resultados

apontaram a presença de sintomas depressivos e prejuízos neurocognitivos em 24% e 12%

respectivamente, mas, apenas a depressão foi associada com a não aderência.

Outro estudo, realizado por Starace et al. (2002), apontou, dentre um amostra de

395 pacientes soropositivos para o HIV, a prevalência de prejuízos cognitivos em 18% e de

sintomatologia depressiva em 15%, com diferença significativa (p=0.05) entre pacientes

em TARV e aqueles que não tomavam antirretrovirais, prevalência de 14% e 24%

respectivamente.

A partir do surgimento da TARV as manifestações clínicas decorrentes da infecção

pelo HIV foram reduzidas e foi verificado melhor expectativa em relação ao prognóstico, o

que favoreceu uma melhor Qualidade de Vida das pessoas com diagnóstico positivo para o

HIV/AIDS (Brasil, 2005). Assim, o principal objetivo da TARV seria, através da inibição

20

da replicação viral, retardar o progresso da imunodeficiência e restaurar, tanto quanto

possível, a imunidade, contribuindo para o aumento do tempo e da Qualidade de Vida

(Brasil, 2005).

Mediante o exposto, este estudo em Psicologia Social considera que a

soropositividade ao HIV influencia o aparecimento de Transtornos Mentais Comuns e de

sintomas de ansiedade e de depressão, não estando, todavia, o aparecimento de tais

patologias associadas ao avançar da idade. Tal impacto pode contribuir para a redução da

Qualidade de Vida. No entanto, considerando o caráter subjetivo do construto, é possível

que variáveis relacionadas aos aspectos psicossociais da vida das pessoas e a adesão ao

tratamento influenciem, positivamente, na percepção dos participantes acerca da sua

Qualidade de Vida (Zeña-Castillo et al., 2009).

Embora sejam encontrados estudos na literatura das ciências da saúde (Canavarro,

2006; Fleck, 2008) acerca da avaliação da Qualidade de Vida e da saúde mental no

contexto do HIV/AIDS, a compreensão acerca dos fatores que influenciam na avaliação

dos indivíduos é de difícil consenso, principalmente quando se considera em que medida

essa percepção de Qualidade de Vida é determinada pela condição de sorologia positiva ao

HIV/AIDS ou se decorre de um conjunto de manifestações clínicas (Canavarro, 2006), ou

mesmo da associação desses aspectos com outras dimensões da vida, como a social,

psicológica e ambiental.

Por considerar vários aspectos da vida, as medidas de avaliação da Qualidade de

Vida, propostas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), têm permitido sua avaliação

numa perspectiva que considera as dimensões psicossociais, dada a centralidade desses

aspectos na vida das pessoas soropositivas ao HIV/AIDS. Ademais, estudos comparativos

21

com a população em geral e/ou o uso de medidas que abarquem questões específicas para

contexto do HIV têm sido considerados.

O estudo dessa temática no contexto da Psicologia Social contribui, ainda, para

uma análise ampla do fenômeno, não se limitando, apenas, aos aspectos clínicos e

epidemiológicos, por considerar os significados atribuídos pelos indivíduos acerca da sua

vivência e convivência com o HIV/AIDS. Portanto, trata-se de uma análise que abarca as

condições de vida, as subjetividades que se concretizam nas demandas diárias do conviver

com uma patologia com legado histórico de preconceitos e, mais ainda, no contexto do

envelhecer.

A Psicologia Social apresenta-se como perspectiva teórico-metodológica que

possibilita a investigação de um tema complexo e que, por esta razão, requer o uso de

abordagens quantitativas (questionários, escalas) e qualitativas (entrevistas individuais),

possibilitando o conhecimento acerca dos indicadores de saúde, dos construtos medidos,

dos aspectos sociodemográficos e das vivências dos atores sociais. Espera-se, assim,

subsidiar a estruturação dos serviços em saúde para atender a novas demandas

apresentadas por pessoas que convivem com o HIV/AIDS com idade igual ou superior a 50

anos, numa perspectiva psicossocial, contribuindo para a integralidade e a melhor

qualidade da atenção em saúde.

Ante os aspectos supracitados, esta Tese tem por Objetivo Geral analisar o

impacto da AIDS na Saúde Mental e na Qualidade de Vida de pessoas com idade igual ou

superior a 50 anos. Para tanto, considera os seguintes Objetivos específicos:

1) Comparar, em relação às variáveis indicadoras de saúde mental e de Qualidade de

Vida, a amostra deste estudo (pessoas com idade igual ou superior a 50 anos) com

dois grupos comparativos, isto é: o primeiro, caracterizado pelo mesmo diagnóstico

22

(soropositividade ao HIV) e faixa etária diferente (40 a 49 anos); e o segundo,

formado por pessoas da mesma faixa etária (idade igual ou superior a 50 anos), mas

sem o diagnóstico de soropositividade ao HIV.

2) Analisar a relação entre a Qualidade de Vida e variáveis sociodemográficas e

clínicas entre os participantes HIV+ com idade igual ou superior a 50 anos;

3) Identificar as variáveis preditoras da Qualidade de Vida para os participantes HIV+

com idade igual ou superior a 50 anos;

4) Analisar, entre os participantes com idade igual ou superior a 50 anos, a relação

entre os Transtornos Mentais Comuns, os Sintomas de Ansiedade e Depressão e a

Qualidade de Vida;

5) Apreender os discursos dos participantes com idade igual ou superior a 50 anos

acerca da sua convivência com o HIV/AIDS.

O Capítulo I desta Tese versa sobre o fenômeno estudado, ou seja, as “velhices” e

o HIV/AIDS, demonstrando os aspectos considerados na delimitação do objeto de estudo,

isto é, a relação entre envelhecimento e estigmas em torno da saúde mental, bem como a

abordagem desta no contexto do HIV/AIDS. Ademais, consideram-se os aspectos da

vulnerabilidade ao HIV/AIDS em pessoas com idade igual ou superior a 50 anos, bem

como a emergência dessa patologia nesse grupo etário.

No Capítulo II é apresentada a perspectiva teórica do construto Qualidade de Vida

que fundamenta o estudo. Discute-se o conceito de Qualidade de Vida na literatura e a

avaliação da Qualidade de Vida no contexto da AIDS. Por conseguinte, são apresentados

os objetivos da pesquisa. No método – Capítulo III – é demonstrado o delineamento do

estudo, a delimitação da amostra, os instrumentos e os procedimentos adotados, bem como

23

o processamento e a análise dos dados. Por fim, no Capítulo IV, os resultados são

apresentados e discutidos.

24

CAPÍTULO I – DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

25

1. Envelhecimentos e HIV/AIDS

A emergência da do HIV/AIDS em pessoas acima de 50 anos e o aumento do

número de casos, na última década, ocorre em um contexto demográfico de

envelhecimento populacional. Os avanços tecnológicos na área da saúde e a melhoria de

condições estruturais das pessoas (saneamento básico, acesso à informação, etc.),

associado ao progresso da ciência em diferentes campos do saber, são aspectos a serem

considerados na explicação do aumento, sobretudo nos países desenvolvidos, da esperança

de vida da população mundial.

Embora tenha ocorrido aumento de 20 anos na expectativa de vida da população

mundial, durante a última metade do século XX, essa expectativa varia entre os diversos

locais do mundo. A OMS (2005) postula que nos países desenvolvidos, diferentemente dos

países em desenvolvimento, o envelhecimento populacional ocorre de maneira

diferenciada, uma vez que o processo é gradual, acompanhado por aumento substancial da

economia e diminuição das desigualdades sociais.

O envelhecimento individual e o envelhecimento da população são considerados,

na presente Tese, enquanto processos relacionados, principalmente tendo em vista a

influência exercida pelo envelhecimento populacional nas oportunidades de participação e

inserção das pessoas na maturidade e na velhice na dinâmica da sociedade. Nessa direção,

as recentes mudanças demográficas e suas implicações sociais e econômicas constituem

desafios para a sociedade e tem motivado reflexões de setores da sociedade acerca do papel

das pessoas idosas enquanto cidadãos e que, por isto mesmo, com elevada importância na

participação social.

No Brasil, a população de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos cresce a

cada ano. Estima-se que em 2025 os idosos chegarão a 32 milhões de pessoas,

26

representando 11,4% da população (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE],

2009). Quando se considera o ano de 2000, verifica-se que houve uma diminuição da

representação de grupos etários com idades até 25 anos, ao passo que os demais grupos

etários aumentaram na última década (IBGE, 2009).

À exemplo, destaca-se o grupo etário de crianças com idades entre zero a quatro

anos do sexo masculino que representava 5,7% da população tota,l em 1991, enquanto o

feminino representava 5,5%. Contudo, em 2000, houve uma diminuição destes índices

correspendente a 4,9% e 4,7%, respectivamente, com continuo declínio em 2010,

apresentando índice de 3,7% e 3,6%, respectivamente (IBGE, 2009). Não obstante,

verifica-se crescimento da participação relativa da população com 60 anos ou mais, que era

de 9,1% em 1999, passando a 11,3% em 2009 (IBGE, 2009).

No entanto, no contexto brasileiro, o fenômeno do envelhecimento populacional

ocorre em meio a elevados índices de pobreza e desigualdade social (Silva, 2005), de

problemas infraestruturais, do analfabetismo, dentre outros. Devido a esta falta de

planejamento, o desfavorável impacto socioeconômico se reflete nos serviços de saúde

física e mental destinados aos idosos, nos programas de previdência e nos diversos tipos de

apoio social (Silva, 2005). Segundo o IBGE (2009), embora a grande maioria dos idosos

(64,1%) seja a pessoa de referência no domicílio em que vivem e 77,4% deles afirmem ter

doenças, 32,5% não tinham nem cadastro no Programa de Saúde da Família nem plano de

saúde particular. Todavia, essa porcentagem diminui para idosos com rendimento

domiciliar per capita de 2 salários mínimos ou mais, apresentando percentual 19,7%,

apontando para a estreita relação entre saúde e seus determinantes sociais (IBGE, 2009).

Os dados apresentados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)

demonstraram que um terço das pessoas com mais de 50 anos são analfabetas (25,36%),

27

sendo 42% homens e 58% mulheres (IBGE, 2004). Além disso, a média de anos de estudo

das pessoas com 50 a 59 anos é de 5,6 anos, a das pessoas com 60 anos ou mais é de 3,5

anos (IBGE, 2004). Na Região Nordeste, verifica-se que valores supracitados em relação a

essas faixas etárias são menores que a média nacional, apresentando 4 e 2,3 anos de estudo,

respectivamente, segundo o mesmo instituto.

Também foram verificadas diferenças em relação ao nível de escolaridade entre os

sexos: homens com idade igual ou superior a 50 anos são mais alfabetizados do que as

mulheres dessa faixa etária, índice de 94,61 %, em comparação com as mulheres que

apresentou índice de 85,69 % (IBGE, 2004).

Ainda para o IBGE (2004), o analfabetismo funcional, ou seja, os indivíduos que

possuem menos de quatro anos de estudo correspondem a 59,4% dos idosos brasileiros

responsáveis pelos domicílios. No entanto, deve-se considerar que esses idosos

compreendem as pessoas nascidas entre os anos de 1930 e 1960, quando o ensino

fundamental era limitado a poucas pessoas (IBGE, 2004), sendo este acesso à educação

maior para as pessoas do sexo masculino.

As possibilidades de entendimento das questões suscitadas pelo envelhecimento

populacional são limitadas quando se aborda este fenômeno, apenas, como preocupação

para os fundos de pensão, serviços de saúde ou aumento de previdenciários (Araújo, 2006).

Se faz necessário entender o envelhecimento como processo inerente ao desenvolvimento

humano e com chances de valorização das várias competências das pessoas idosas – como

o saber adquirido ao longo do exercício de várias profissões e outras atividades, dentre

outros –, como também é pertinente à inserção social do idoso enquanto cidadão

participativo nos processo decisórios no âmbito individual e coletivo, tirando-lhe o

estereótipo negativo de que são incapazes e inúteis (Araújo, 2006).

28

No Brasil, as iniciativas do Governo Federal para direcionar as ações relacionadas à

assistência ao idoso foi regulamentada por meio da Lei 8.842/94, que cria a Política

Nacional do Idoso (Brasil, 1999). Esta lei estabelece ações nas áreas de atuação da

Secretaria de Assistência Social (SAS), do Ministério da Previdência Social, Ministério da

Educação e Ministério da Saúde. A lei 8.842/94 determina o fim do modelo de

atendimento asilar, substituindo-o por centros de convivência, bem como estende o

benefício de prestação continuada (um salário mínimo) aos idosos/idosas com renda

familiar menor ou igual a meio salário mínimo (Brasil, 1999).

O Programa Brasil Saudável criado pelo Ministério da Saúde (MS) visa à criação

de políticas públicas para promover estilos de vida mais saudáveis – prática de atividades

físicas, lazer, redução do consumo de álcool e outras drogas –, uma vez que tais questões

são consideradas necessárias para o envelhecimento saudável, ou seja, um envelhecimento

acompanhado de ganho substancial em Qualidade de Vida e saúde (OMS, 2005).

Tendo em vista o Programa Brasil Saudável, foi publicado o documento

“Envelhecimento Saudável – Uma Política de Saúde”, elaborado pela Unidade de

Envelhecimento e Curso de Vida da OMS. Com base nesse documento, por meio do

Programa Brasil Saudável, o Ministério da Saúde recomenda a realização de ações

intersetoriais e transdisciplinar dos profissionais da saúde, a fim de promover o chamado

“envelhecimento ativo”, compreendido como o “processo de otimização das oportunidades

de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a Qualidade de Vida à

medida que as pessoas ficam mais velhas” (OMS, 2005, p. 13).

A perspectiva do envelhecimento ativo está pautada no reconhecimento dos direitos

humanos e nos princípios de independência, participação, dignidade, assistência e

autorrealização das pessoas mais velhas, preconizados pela Organização das Nações

29

Unidas (ONU) (OMS, 2005). Nesse sentido, como planejamento estratégico, o foco, antes

centrado nas necessidades e considerando as pessoas mais velhas como passivas, é

direcionado para uma abordagem baseada em direitos iguais de oportunidades,

favorecendo a responsabilidade individual e participação dos sujeitos nos processos

políticos e em outros aspectos da vida em comunidade (OMS, 2005), aspectos necessários

para a Qualidade de Vida, principalmente no contexto de pessoas com HIV/AIDS depois

dos 50 anos, conforme demonstrado a seguir.

1.1. Vulnerabilidade ao HIV/AIDS em pessoas na maturidade e na velhice

A identificação de crenças estereotipadas sobre a sexualidade na maturidade e na

velhice e suas consequências para a vulnerabilidade às doenças sexualmente transmissíveis

(DST’s) tem motivado a realização de pesquisas e trabalhos que possibilitem a

desconstrução de discursos equivocados. Assim, para o entendimento das concepções

existentes na contemporaneidade sobre a sexualidade na maturidade e velhice, é preciso

considerar o processo histórico-cultural de práticas sociais subjacentes a tais concepções.

A afirmativa de que a procriação seria o objetivo da relação sexual foi

significativamente fomentada pelo Cristianismo (Risman, 2005). Tal discurso ocasionou

duas consequências: a) a associação direta entre atividade sexual e reprodução e, por

consequência da primeira, b) a exclusão do sexo enquanto manifestação de trocas afetivas

(Risman, 2005). Embora esse discurso seja datado da Idade Média, verifica-se sua

permanência em contextos nos quais o exercício da sexualidade e da troca afetiva entre as

pessoas que ultrapassam o período da possibilidade de procriação são tratadas como

fenômenos ignorados ou invisíveis (Lisboa, 2007; Barbosa, 2010).

30

As poucas campanhas de prevenção das DST`s destinadas às pessoas nessa faixa

etária, o “silêncio social” como forma de abordagem da vivência da sexualidade e da

intimidade na velhice, são alguns dos aspectos decorrentes desse legado histórico de

práticas discursivas sobre a sexualidade (Silva 2009). Nesse sentido, Covey (1989)

afirmou que o pensamento da Idade Média, caracterizado pela ideia do desaparecimento do

desejo sexual a medida em que a pessoas vai envelhecendo e a prática sexual na velhice

como sinônimo de perversão, ainda perpassa as crenças ocidentais sobre a “assexualidade”

do idoso.

A ciência, de certo modo, também contribuiu para a elaboração de discursos sobre

a sexualidade ao longo da história (Neri, Born, Grespan, & Medeiros, 2006). Pautando-se

em aparatos técnico-científicos, classificou como casos de patologias psíquicas e físicas

não só as mulheres idosas, mas, também, pessoas homossexuais (Barbosa, 2010),

exercendo, assim, o controle das práticas sexuais por meio de dispositivos de poder

(Foucault, 1990).

Contudo, com o passar das décadas, verifica-se a ocorrência de mudanças

relacionadas à produção discursiva sobre a sexualidade, bem como sobre a vivência desta

sexualidade entre pessoas idosas. Tais transformações, segundo Ribeiro (1997), estão

relacionadas, em parte, com a mudança na função da atividade sexual, ou seja, o que antes

tinha a função de procriação, agora tem o afeto como elemento norteador de satisfação

pessoal dos relacionamentos; e com o significativo aumento dos anos na expectativa de

vida população mundial com condições – psíquica e física – satisfatórias e dispostas a

vivenciar sua sexualidade –, mas, sobretudo do surgimento da AIDS, exigindo, por parte

da sociedade, repensar a maneira como lidava com a sexualidade.

31

Verificou-se, sobretudo no final da década de 1980 e início da década de 1990, uma

progressiva tomada de conhecimento no mundo de uma doença imunossupressora, que

provocava deficiência de imunidade celular e humoral. No Brasil, nessa mesma década,

começa a serem publicados os primeiros casos de HIV/AIDS em periódicos científicos da

área de Medicina (Silva, 2009). A AIDS passa a ser associada a outras epidemias, como a

peste negra, a gripe espanhola e outras.

Entre as pessoas idosas, o primeiro caso diagnosticado foi publicado em 1984

(Benedict, Haight, & Johnson, 1998). Contudo, o aumento do número de casos de

HIV/AIDS nessa faixa etária não esteve associado, de igual modo, no aumento estudos que

contemplasse tal problemática, principalmente, no que se refere ao conhecimento dessa

população sobre práticas sexuais e prevenção das DST`s/Aids (Silva, 2009).

Revisões da literatura, incluindo publicações entre 1989 e 2001, realizadas por

Savasta (2004) acerca do HIV/AIDS em pessoas acima de 50 anos identificou que poucos

foram os estudos desenvolvidos sobre os riscos e as formas de transmissão do HIV.

Após os primeiro caso de AIDS, por volta de década de 1990, a epidemia do

HIV/Aids, tornou-se pauta de ações de órgão governamentais, não governamentais e da

sociedade civil em geral, demandando vários esforços na tentativa de prevenir as DST’s

(Silva, 2009). A estimativa da OMS (1994) era de que em 1996 fossem infectados 22,6

milhões de pessoas em todo o mundo, das quais, a maioria seriam homens (12,6 milhões),

seguido das mulheres (9,2 milhões) e também acometendo crianças (830 mil). Contudo, os

dados apresentaram valores superiores ao estimado, sendo identificados 29,4 milhões de

casos de Aids notificados, cumulativamente, até o final de 1996. Destes, um total de 2,6

milhões de casos referiram-se à crianças (Colombrini, Figueiredo, & Paiva, 2001). Assim,

observou-se disseminação do HIV por todas as partes do mundo, contradizendo a ideia de

32

que a AIDS estivesse restrita à grupos específicos, como usuários de drogas injetáveis,

dentre outros.

Na contemporaneidade, de acordo com o Boletim Epidemiológico de DST/AIDS

(Brasil, 2010), o número total de casos de AIDS no Brasil acumulados desde 1980 até

junho de 2010 corresponde a 474.087 casos. Todavia, a estimativa é de que 630 mil

pessoas estejam com HIV/AIDS no Brasil, número que permanece estável desde 2000.

A estabilidade da incidência da doença é observada, sobretudo, entre os homens. O

número de casos registrados era de 22,3 casos por 100 mil homens em 1996 e passou para

21,1 casos por 100 mil em 2006 (Brasil, 2010). Nas mulheres, por sua vez, verifica-se

aumento na incidência dos casos que, em 1996, era de 9,1 casos por 100 mil, e aumentou

para 14/100 mim no ano de 2006 (Brasil, 2007), observando-se o fenômeno da

feminização1 da doença. No entanto, o percurso histórico de desigualdades sociais,

políticas e culturais vividos pelas mulheres corroboram a sua vulnerabilidade ao HIV

(Brasil, 2000), já que, no processo de feminização da epidemia, existe a desigualdade de

gênero, especificamente, no que diz respeito às estratégias de prevenção e tratamento das

mulheres infectadas.

Em pessoas na faixa etária acima de 50 anos, as estimativas de vulnerabilidade

tendo em vista a variável idade (Barbosa & Struchiner, 2002) tem considerado o “risco

relativo de infecção pelo HIV” tem aumento a partir dos 13 anos de idade, com pico

máximo na faixa etária de 20 anos, o qual decresce até os 40 anos e volta a crescer em

seguida. Tal fato indica a necessidade de inserção desse segmento populacional em

estratégias de promoção à saúde e prevenção das DSt`s/AIDS, bem como a necessidade de

participação dos mesmos em ensaios Clínicos e projetos de intervenções.

1 Termo utilizado para indicar o aumento proporcional dos casos de AIDS em mulheres quando comparado

com os homens no início da epidemia.

33

Desde o advento da AIDS até 2000, o Brasil possuía cerca de 18.284 casos de

AIDS referentes às pessoas acima de 50 anos. Passados dez anos, o número de casos de

AIDS em pessoas com idade igual ou superior a 50 anos passou para 60.367, em 2010,

representando um aumento de mais de 230% (Brasil, 2010). A taxa de incidência (por

100.000 hab.) de casos de AIDS em homens na faixa etária de 50 a 59 foi de 24,9 em 2010,

índice superior à taxa de incidência dos homens na faixa etária de 20 a 24 anos, que

apresentou índice de 15,8. As mulheres de 50 a 59 anos apresentaram uma incidência de

19,3, número relativamente superior ao das mulheres com idades de 20 a 24 anos, que

apresentou uma taxa de incidência de 13,4 (Brasil, 2010). Quando se considera a

escolaridade, verifica que a incidência de AIDS é maior entre as pessoas com menos de 8

anos de escolaridade, representando 48,7% dos casos. Já as pessoas com oito anos ou mais

de escolaridade representam 27,2%, os 24,1% restante dos casos são caracterizados como

“ignorado” e “não se aplica” (Brasil, 2010). Assim, mais que destacar características

epidemiológicas, demonstra-se uma patologia que se configura a partir de contextos

sociais, tendo como característica a pauperização.

Dentre as 27 federações, a Paraíba ocupa o 26º lugar no rol de incidência de casos

(por 100.000 hab.), passando de uma incidência de 7,4, em 1999, para 11,8 em 2009

(Brasil, 2010). Todavia, em termos das capitais federativas, João Pessoa ocupa o 15º lugar

com incidência de 38,9 no último Boletim Epidemiológico de DST/AIDS (Brasil, 2010).

Além disso, o número de pessoas contaminadas pelo HIV pode ser ampliado

significativamente, em decorrência da subnotificação dos casos, a qual ocorre quando os

mesmos não são comunicados ao serviço local de saúde pública, ou então, quando não há a

notificação no período de tempo estabelecido, embora os casos preencham os critérios

preconizados pela vigilância e tenham sido identificados pelo profissional de saúde.

34

Se por um lado os dados demonstram o progressivo aumento dos casos de AIDS

em pessoas acima de 50 anos, por outro, este aumento pode estar relacionado a eficácia da

TARV, uma vez que, no Brasil, o acesso universal e gratuito aos medicamentos, garantido

pelo Programa Nacional, vem propiciando a diminuição dos casos de morbimortalidade

relacionados aos HIV/Aids (Silva, 2009). É possível que, em alguns casos, as pessoas já

adentrem a faixa etária dos 50 anos com o diagnóstico positivo para o HIV, o que aponta

demandas para o setor da saúde em termos de estratégia de prevenção que respondam às

demandas suscitadas (Silva, 2009). Nesse sentido, haja vista o aumentos de casoso de

AIDS em pessoas com idade entre 50 e 59 anos, a presente Tese contou com a participação

de pessoas acima de 50 anos e não somente, de pessoas acima de 60 anos.

Assim, após três décadas de epidemia, verifica-se maior entendimento acerca da

AIDS, maior eficácia do tratamento, aumento da sobrevida dos pacientes, contribuindo

para maior interesse pela Qualidade de Vida das pessoas que convivem com a doença. No

entanto, embora se apresente como doença, a vivência da Aids entre pessoas acima de 50

anos demonstra, ainda, os diversos aspectos a ela relacionados, tais como: contextos

sociais de pertença destas pessoas; os determinantes sociais da saúde; o acesso à

informação, à renda e à educação, dentre outros. Assim, as ações em saúde deve considerar

as dimensões objetivas e subjetivas da vida, transcendendo uma análise que se limite à

aspectos estritamente biológicos, incluindo também os aspectos psicossociais.

Em 2005, com a identificação do aumento do número de idosos com AIDS, o

Programa Nacional de DST/AIDS do Ministério da Saúde estabeleceu parceria com a

Coordenação de Saúde do Idoso do mesmo Ministério, objetivando desenvolver insumos

educacionais para a saúde e prevenção dirigidas a essa população e que tivesse como

temática a prevenção ao HIV/Aids (Silva, & Paiva, 2006). Essa parceria foi fundamental

35

na minimização dos casos, uma vez que a possibilidade de uma pessoa com mais de 60

anos ser infectada pelo HIV parecia ser “invisível” para a sociedade e para os próprios

idosos (Lisboa, 2007).

O diagnóstico da AIDS entre pessoas cima de 50 anos, geralmente, é detectado

tardiamente. Dentre as razões, está a falsa crença de alguns profissionais de saúde de que a

AIDS, dificilmente, ocorrerá nessa fase da vida, por acreditarem na inexistência de uma

vida sexualmente ativa nessa população (Dias, Fonseca, Renca, & Silva, 2005; Silva,

2009). No entanto, a utilização de terapias hormonais e a descoberta de novos fármacos

têm contribuído de forma significativa para uma melhoria da atividade sexual neste

segmento (Dias, Fonseca, Renca, & Silva, 2005), sendo as práticas sexuais a principal via

de contaminação da AIDS entre os idosos (Cloud, Browne, Salooja, & McLean, 2003).

Por outro lado, esta melhora na qualidade da vida sexual na velhice não é

acompanhada de igual modo por uma política de saúde voltada para a prevenção das

DST`s nesta população, bem como de uma discussão ampla que considere uma melhor

compreensão do processo de envelhecimento (Souza, & Leite, 2002; Silva, 2009).

Os Programas de Terceira Idade estimulam a socialização e facilitam o surgimento

de relacionamentos que podem ou não desembocar em relacionamentos de cunho sexual

(Lisboa, 2007). Analogamente, o trabalho de valorização da autonomia das pessoas na

maturidade e na velhice deve partir, também, da consideração de que estas pessoas

possuem o direito à livre expressão da sua intimidade, à vivência subjetiva do seu corpo e

ao exercício da sexualidade (Lisboa, 2007).

Entre as pessoas de 50 anos, a emergência do HIV/Aids aponta que o exercício da

sexualidade nessa população é efetivo e revela que, com o avançar do desenvolvimento

humano, as pessoas não se tornam assexuadas e, consequentemente, são vulneráveis ao

36

risco de contrair DST`s (Butin, 2002). Nesse contexto, Ayres, França Jr e Calazans (1997)

definiram a vulnerabilidade como sendo graus e naturezas de susceptibilidade de

indivíduos e coletividades à infecção, adoecimento e morte pela infecção por HIV,

segundo particularidades formadas pelo conjunto dos aspectos sociais, programáticos e

individuais que os põem em relação com o problema e com os recursos para seu

enfrentamento. Assim, a vulnerabilidade pode expressar-se no plano individual, social e

programático/institucional.

Quando se considera o plano individual, todas as pessoas são, em algum grau,

vulneráveis à infecção por HIV e suas consequências, embora essa vulnerabilidade varie ao

longo do tempo em função das estratégias e recursos que os mesmos dispõem para se

proteger (Ayres et al., 1997). Nesse aspecto, segundo Ayres et al. (1997), a vulnerabilidade

individual está relacionada a comportamentos e práticas de risco, que podem ou não,

deixar os indivíduos suscetíveis à infecção pelo HIV.

Já no plano social, a vulnerabilidade refere-se à avaliação de aspectos relacionados

à coletividade – acesso à informação, investimento do Estado em saúde, acesso aos

serviços de saúde, aos aspectos sociopolíticos e culturais, entre outros (Ayres et al., 1997).

No contexto da maturidade e da velhice, a vulnerabilidade social pode estar relacionada à

forma como se concebe o exercício da sexualidade, uma vez que a atividade sexual não se

restringe à dimensão física e orgânica das pessoas, possuindo, também, características

psicossociais e da história de vida dos sujeitos, bem como do contexto social e cultural no

qual ele está inserido (Silva, 2009).

Por último, no plano programático, a vulnerabilidade corresponde à existência ou

não de ações institucionais direcionadas para a questão da AIDS, tais como programas de

prevenção e tratamento (Ayres et al., 1997). Nesse plano, a vulnerabilidade será

37

caracterizada por aspectos como: compromisso das autoridades, coalização

interinstitucional, planejamento, gerenciamento das ações e capacidade de resposta das

instituições envolvidas. Sobre esse aspecto, verificou-se, nas três últimas décadas, o

crescente investimento realizado pelas autoridades governamentais no âmbito no

HIV/AIDS (Ayres et al., 1997). No entanto, o foco das campanhas educativas e de

prevenção estava centrado em públicos específicos – jovens e pessoas em idade

reprodutiva – (Contrera, 2000; UNAIDS, 2005), não contemplando, portanto, pessoas

acima de 50 anos. Além disso, verifica-se que a condução dessas campanhas ocorrem de

maneira pontual, com conteúdos diferentes e de acordo com as necessidades

epidemiológicas do momento (Silva, 2009).

As ações desenvolvidas pelo Programa Conjunto das Nações Unidas HIV/AIDS

(UNAIDS, 2002) para diminuir o impacto do HIV/AIDS na população idosa compreendem

aspectos como: a mudança do “estigma” acerca da sexualidade na velhice, a inclusão de

serviços que abordem a questão do HIV, a criação de programas educativos específicos

para essas pessoas e a inclusão de idosos em pesquisas sobre prevenção e assistência.

Considerando-se a concepção de vulnerabilidade supracitada, no contexto da AIDS

na maturidade e velhice, as pessoas convivem com dois fenômenos perpassados por

estereótipos negativos: a AIDS e a velhice (Silva, 2009). Trata-se de um fenômeno que

também é constituído socialmente e que, além de repercutir por meio de sintomas físicos,

tem seu impacto potencializado por crenças equivocadas que geram estigma, preconceito e

discriminação (Silva, 2009). Ademais, com o desenvolvimento da doença, ocorrerão

mudanças no estilo de vida tanto da pessoas acometida pela doença quanto dos seus

parentes e pessoas com vínculo social mais próximo, uma vez que será parte da rotina

diária a ingestão regular dos medicamentos e o cuidado permanente de evitar o

38

aparecimento de doenças oportunistas, exigindo dessas pessoas próximas adaptação às

demandas (Silveira, & Carvalho, 2003).

Mediante tais colocações e tendo em vista que as pessoas soropositivas para o

HIV/Aids vivenciam estados de instabilidade emocional e, em alguns casos, pode ocorrer

os episódios depressivos e sintomas de ansiedade, considera-se que tais aspectos tem

impacto na Qualidade de Vida e na saúde mental destas pessoas, conforme é abordada no

tópico a seguir.

1.2. Maturidade, velhice e saúde mental: implicações no contexto do HIV/AIDS

Ao se abordar o fenômeno do envelhecimento, se faz necessário considerá-lo

enquanto condição que faz parte da humanidade, perpassado por mudanças ao longo da

vida, nas esferas biológicas, psicológicas e sociais (Falcão, & Carvalho, 2010). Em face

dessas mudanças, alguns autores (Fernandez-Ballesteros, Fresneda, Martinez, & Zamarrón,

1999) afirmaram que os sujeitos se tornam menos parecidos uns com os outros à medida

que se envelhece, dada às condições de vida e historicidade de cada pessoa.

Quando se considera a associação entre envelhecimento e a ocorrência de

patologias, segundo Fernandez-Ballesteros et al. (1999), há, ao menos, três formas de

envelhecimento, a saber: a) o normal, caracterizado pelo transcorrer da velhice sem

patologias físicas ou psicológicas que possam deixar o indivíduo incapaz; b) o patológico,

resultante de um organismo acometido por enfermidade e incapacidade; e c) o bem-

sucedido, com reduzida probabilidade de doenças associada ao funcionamento cognitivo,

capacidade física e funcional e comprometimento com a vida.

De outro modo, Neri (2001) caracteriza o envelhecimento em dois tipos: 1)

envelhecimento primário (senescência ou envelhecimento normal) como sendo um

39

fenômeno universal e que afeta o funcionamento orgânico, dependendo de fatores como

estilo de vida, nível socioeconômico, entre outros; 2) o envelhecimento secundário

(senilidade ou envelhecimento patológico) que estaria relacionado às alterações

decorrentes de doenças associadas ao envelhecimento, em razão da sua acentuada

prevalência em idosos quando comparado com pessoas de menos idade.

Tanto Neri (2001) quanto Fernandez-Ballesteros et al. (1999) demonstram que, a

partir de certa idade, com o processo de envelhecimento, há uma maior probabilidade das

pessoas adoecerem, quando se compara essa probabilidade em pessoas com menor idade.

Todavia, a manifestação de doenças não pode ser confundida como sendo um aspecto

próprio do envelhecimento, mas perpassados por outras variáveis, como renda,

escolaridade, suporte social, dentre outras (Silva, 2009). Assim, se por um dado os modos

de envelhecer apontam para o caráter heterogêneo do fenômeno, sendo considerada mito a

crença de que a velhice está sempre associada a profunda debilidade física e mental, visto

que várias pessoas gozam de velhices bem-sucedidas (Falcão, & Carvalho, 2010), por

outro, considera-se que a velhice dita bem-sucedida não é, em última instância, decorrente,

apenas, de uma característica biológica particular ou mesmo da vontade individual para ter

estilos de vida saudáveis.

No que se refere à saúde mental das pessoas idosas, a OMS e a Associação Mundial

de Psiquiatria (AMP) consideram que o estigma e os processo de discriminação

relacionadas aos transtornos mentais contribui para, além do sofrimento, incapacidades e

as perdas econômicas (Graham et al., 2007). Assim, em 2001, para comemorar o Dia

Mundial de Saúde, cujo lema foi “Não à exclusão, sim aos cuidados”, foi publicada uma

declaração técnica de consenso entre a OMS e AMP (WHO/WPA, 2001), objetivando

disponibilizar um instrumento prático que viabilizasse a redução do estigma Falcão, &

40

Carvalho, 2010. Dentre as diretrizes, a declaração (a) descreve a natureza, as causas e as

consequências dessa estigmatização e (b) e propõe políticas, programas e ações para

combatê-la (Graham et al., 2007). A declaração conclui sugerindo “a condução de

pesquisas para identificar essa estigmatização e essa discriminação, a fim de definir o

contexto em que se manifestam e medir seus efeitos” (Graham et al., 2007, p. 49). Além

disso, ressalta-se a importância dessas pesquisas na identificação dos meios de intervenção

para reduzir de modo durável as formas de estigmatização e discriminação .

Deste modo, o estudo da saúde mental em pessoas com idade igual ou superior a 50

anos no contexto do HIV/AIDS sugere debates em torno de mitos e percepções

socialmente compartilhadas, como: considerar que problemas de saúde mental em idade

avançada não são passíveis de tratamento e/ou cura; as implicações dessas crenças para as

atitudes de familiares e pessoas próximas quanto à autonomia e á tomada de decisão dos

idosos; e a banalização, por parte de profissionais de saúde, de queixas apresentadas pelas

pessoas idosas (Falcão, & Carvalho, 2010). Ademais, o debate em torno dessas crenças se

justifica pelas implicações que estas possuem para a atenção em saúde e a Qualidade de

Vida dos idosos, principalmente no contexto do HIV/AIDS, contribuindo, por exemplo,

para que a depressão e ansiedade continuem sendo vistas como condições esperadas para a

velhice.

Considera-se que em qualquer faixa etária os problemas que afetam a saúde mental

apresentam aspectos variados e heterogêneos no que se refere à duração e gravidade

(Falcão, & Carvalho, 2010). Segundo, Falcão e Carvalho (2010), as implicações podem ser

de intensidade leve ou mesmo de grave prejuízo psicossocial e econômico; outros, porém

podem ser de curta duração ou manifestar-se durante todo o ciclo de vida. Deste modo,

41

tanto a saúde quanto o sofrimento mental tem perticularidade, dependendo, inclusive, dos

recursos de enfrentamento e das condições concretas de vida das pessoas.

No contexto do envelhecimento, pesquisadores (Papalia, Old, & Feldman, 2006)

demonstram que a depressão é subdiagnosticada em idosos por ser, muitas vezes,

confundida com demência ou mesmo por ser caracterizada como aspecto natural desse

grupo etário. De outro modo, na perspectiva dos próprios idosos, estes tendem a não relatar

o que estão sentindo, seja em decorrência da crença de que os sintomas desaparecerão com

o decorrer dos dias, seja devido ao temor de demonstrar “fraqueza”, o que reforçaria a

crença do estar “velho” para os familiares e pessoas próximas (Falcão, & Carvalho, 2010).

Se por um lado pesquisas (Maia, Duarante, & Ramos, 2004; Leite, Carvalho,

Barreto, & Falcão, 2006) demonstram que mulheres idosas estão mais propensas a ter

problemas de saúde mental – como sofrer com isolamento e ter autoimagem mais

depreciativa, bem como percepção mais negativa acerca da velhice –, por outro, a presença

de suporte social, acesso a melhores condições de saúde e envolvimento produtivo nas

esferas sociofamiliar contribuiu para mudanças nesse quadro.

Deste modo, evidenciam-se os determinantes sociais da saúde que podem favorecer

ou ameaçar o estado de saúde de um indivíduo ou de uma comunidade, os quais podem

estar relacionados às práticas de escolha individual como, por exemplo, o consumo de

álcool ou tabaco, mas podendo também relacionar-se com características sociais,

econômicas e ambientais, para além do controle individual, tais como: classe social,

gênero, acesso à educação e aos serviços de saúde, condições de moradia, suporte social,

participação em atividades, dentre outros.

Ademais, abordar envelhecimento e sua relação com a saúde mental implica

considerá-lo dentro das condições de saúde das pessoas, tendo em vista as especificidades

42

de alguns processos de saúde e doença, a exemplo do HIV/AIDS, conforme demonstrado a

seguir.

1.3. Saúde Mental no contexto do HIV/AIDS: considerações acerca dos Transtornos

Mentais Comuns

Para dar significados aos fenômenos que fazem parte da existência humana, como a

doença e a morte, alguns pesquisadores afirmam que os sistemas de explicação estão

relacionados às características de cada sociedade, num determinado momento histórico,

não se reduzindo, portanto, a evidências orgânicas, como fora proposto pelo modelo

biomédico (Traverso-Yépez, 2001). Nas últimas décadas, as mudanças no processo do

adoecer e seus determinantes apontam para aspectos psicológicos, bem como para a

relação destes com as práticas de saúde. Nessa direção, verifica-se que o campo da saúde

mental, ao longo da história, também foi perpassado por uma tendência a caracterizar a

saúde mental numa perspectiva psicopatológica. Todavia, a partir da década de setenta,

vem ocorrendo mudanças nessa perspectiva, principalmente ao se considerar, na avaliação

da saúde mental, vertentes mais positivas.

Considerado uma análise retrospectiva, haviam dificuldades para se estabelecer um

consenso acerca de critérios e instrumentos para avaliar e/ou medir a saúde mental,

existindo uma “heterogeneidade das medidas utilizadas por diferentes autores, desde as

mais amplas – que contemplavam um leque alargado de critérios e dimensões –, às mais

estreitas que, provavelmente, não refletiram todas as dimensões subjacentes ao construto

em apreço” (Fragoeiro, 2008, p.41). Um amplo conjunto de instrumentos incluía os que

detectavam sintomas, desde os psicossomáticos aos físicos, avaliando o estado funcional e

43

outros construtos psicológicos, como ansiedade e a depressão (Leal, Serpa JR., Muñoz,

Goldenstein, & Delgado, 2006).

A partir dos anos setenta, a medição da saúde mental, passou a focar,

preferencialmente, estes últimos construtos (ansiedade e depressão), que, em geral, eram a

evidência expressa de “distress psicológico” (Fragoeiro, 2008, p.41), o qual está

relacionado à evolução do conceito de stress (Sparrenberger, Santos, & Lima, 2003). Para

Sparrenberger et al. (2003) os diferentes fatores estressantes poderiam induzir formas

benéficas e/ou danosas de estresse (eustress e distress, respectivamente). Nesse sentido, a

incapacidade para superar a vivência de experiências estressantes – como o HIV/AIDS –

contribuiria para desgaste do indivíduo, levando a uma ruptura do bem-estar individual, o

que constituiria o distress. Assim, quando prolongado, o distress pode suscitar depressão

do sistema imunitário aumentando o risco de infecção.

Nesta perspectiva, considera-se que desde o momento do diagnóstico, o portador do

HIV sofre um grande impacto, gerando uma sobrecarga emocional que leva a mudanças de

comportamento e do modo de viver e perceber a vida. É sabido que pacientes infectados

pelo HIV, mesmo sem terem desenvolvido quadro característico de AIDS, podem

apresentar o chamado complexo demencial associado ao HIV (Ardila-Ardila et al., 2003).

A demência associada ao HIV está relacionada com déficit cognitivo com

implicações para a memória de evocação, apresentando, ainda, dificuldade para se

concentrar, com déficit da capacidade de abstração e planejamento (Ardila-Ardila et al.,

2003), dentre outros aspectos. O início dos sintomas são sutis e apresenta um quadro de

progressão relativamente rápido, podendo referir-se a semanas ou poucos meses. Para

tanto, distúrbios psiquiátricos como depressão e delirium são o principal diagnóstico

diferencial (Ardila-Ardila et al., 2003).

44

Investigações (Oliveira, 2002; Torres, & Oliveira, 2004) têm relacionado quadros

de demência com os níveis de Linfócitos T CD42 (cluster of differentation 4), entretanto,

os resultados parecem ser não conclusivos. A queda dos níveis de linfócitos CD4 e a carga

viral alta (quantidade do vírus HIV por mm3 de sangue) têm sido apontadas como fatores

de risco para o surgimento de quadros de demência – característico do estágio mais grave

dos transtornos mentais –, acometendo cerca de 5% dos indivíduos já na fase sintomática

da infecção, ou seja, quando há um comprometimento da resposta imune (Torres, &

Oliveira, 2004). No entanto, a prevalência da demência pode ser reduzida com a

prevenção, detecção e/ou manejo clínico adequado dos Transtornos Mentais Comuns

(TMC).

Sobre este aspecto, há que se considerar a diferença entre Alteração Cognitiva Leve

e Transtorno Mental Comum. As Alterações Cognitivas Leves ocorre em pessoas não-

demenciadas, ou seja, característico de pessoas portadoras de um leve déficit cognitivo que

se expressa em queixas de memória, podendo se caracterizar como uma zona de transição

entre o estágio assintomático e uma possível demência inicial passível de diagnóstico

(Canineu, & Bastos, 2002). Já o Transtorno Mental Comum Leve caracteriza-se por

sintomas não psicóticos como: insônia, fadiga, irritabilidade, esquecimento, dificuldade de

concentração, queixas somáticas, ansiedade e sintomas depressivos (Goldberg, & Huxley,

1992). Refere-se à presença de transtornos mentais que podem preceder suceder ou

acompanhar quadros demenciais (CID 10, 2000); e, portanto, não está associado

especificamente ao envelhecimento, podendo apresentar fator de risco para o

desenvolvimento de demência (Gatti, 2008).

2 CD4 (cluster of differentation 4, em inglês): Linfócitos do tipo glóbulos brancos. São células indicativas do

sistema imunológico

45

A depressão é reconhecida pela OMS (2010) como um Transtorno Mental Comum,

sendo caracteriza-se por tristeza, acompanhada por sentimentos de culpa ou

baixa autoestima, bem como perda de prazer ou interesse, distúrbio no sono ou no apetite,

pouca energia e concentração prejudicada. Tais distúrbios, principalmente quando

associados a outras patologias, como o HIV/AIDS, podem se tornar crônicos ou

recorrentes, bem como prejudicar a capacidade para lidar com as atividades da vida diária

(OMS, 2010).

Embora os Transtornos Mentais Comuns representem algo em torno de 13% da

sobrecarga de doenças no mundo, a relação entre a demanda e o atendimento satisfatório

dessa demanda não é proporcional. Estima-se que a relação entre oferta e demanda de

assistência em saúde mental apresenta lacuna, o que contribui para o não atendimento

adequado, uma vez que até 70% dessa demanda está relacionada com transtornos de humor

e 90% com transtornos por uso de álcool em países desenvolvidos (Gonçalves, Stein, &

Kapczinski, 2008).

Em países em desenvolvimento, as informações sobre o percentual de indivíduos

afetados que necessitam atendimento e não recebem são escassas. Dentre os motivos para

esta lacuna está o subdiagnóstico de Transtornos Mentais Comuns, considerando,

sobretudo, que de 25% a 50% das pessoas que procuram atendimento em serviços de saúde

primário têm pelo menos um transtorno psiquiátrico ou neurológico (Gonçalves et al.,

2008). Contudo, a não detecção dos casos pode ser de 55% para diagnóstico de depressão e

até 77% para transtorno de ansiedade generalizada (Gonçalves et al., 2008). Nesse sentido,

o HIV pode contribuir para a presença de Transtorno Mental Comum, independente da

idade, embora a associação entre os sintomas da AIDS e maturidade e velhice possam

contribuir, ainda mais, para a subdiagnóstico dos Transtornos Mentais Comuns nessa

46

categoria social, uma vez que tais sintomas podem ser considerados como “características”

do envelhecimento, sendo, portanto, esperados (Wong et al., 2007).

Embora as queixas subjetivas de falhas de memória sejam comuns entre pessoas

idosas, “é a minoria de indivíduos – cerca de 15% acima de 65 anos – que apresenta algum

tipo de demência em evolução” (Gatti, 2008, p.2). Todavia, a idade dos pacientes e a

contagem de células CD4 foram apontados por Wong et al. (2007) como fatores de risco

para a demência associada ao HIV. Para tanto, estes pesquisadores analisaram 78 pacientes

soropositivos para o HIV, dos quais 31% apresentavam demência. Os resultados

demonstraram que a idade avançada e a baixa contagem de CD4 foram as únicas variáveis

identificadas como fatores de risco significativos. Cada acréscimo de 10 anos de idade

conferia duplo risco e a redução dos níveis de células CD4 foi associado a um aumento de

60% de chances de ter demência pelo HIV (Wong et al., 2007).

Com o objetivo de avaliar os aspectos clínicos, a melhora associada ao uso da

TARV e a sobrevida em idosos com HIV/AIDS em comparação com pessoas mais jovens

também portadoras do HIV, foi realizado um estudo prospectivo (1998-2003) com

pacientes atendidos no Hospital Sabadell, nordeste da Espanha (Nogueras et al., 2006).

Tendo em conta a idade no momento do diagnóstico, o estudo considerou dois grupos: 1)

Formado por 36 pessoas soropositivas com 50 anos ou mais (Grupo 1) e 2) formado por

419 pessoas HIV-positivas com idade entre 13-40 anos (Grupo 2) (Nogueras et al., 2006).

Os resultados indicaram que o Grupo1 e o Grupo 2 apresentaram perfis clínicos diferentes

ao longo do tempo em relação à resposta imunológica (células CD4) e à carga viral

(p=0,074) (Nogueras et al., 2006). As pessoas mais velhas apresentaram menor contagem

de células CD4 na primeira análise clínica (p<0,001) e menor sobrevida (p<0,001)

(Nogueras et al., 2006).

47

No entanto, pesquisas posteriores mostraram que a resposta virológica e

imunológica em pessoas com 50 anos ou mais de idade, soropositivas ao HIV/AIDS e que

estão fazendo uso da terapia antirretroviral é semelhante ao de pacientes mais jovens

(Knobel et al., 2001; Grimes, Otiniano, Rodriguez-Barradas, & Lai, 2002; Wellons et al.,

2002; Tumbarello et al. 2003). Perez e Moore (2003) observaram que pacientes mais

velhos têm um grande benefício associado com o uso da TARV, sugerindo que a menor

sobrevida em pessoas mais velhas foi devido ao diagnóstico tardio. Os pesquisados da

Espanha (Nogueras et al., 2006) também sugeriram que a diferença na sobrevida entre o

Grupo 1 e o Grupo 2 poderia ser devida ao diagnóstico tardio e, portanto, menor chance de

ter recebido a TARV no momento adequado.

No Brasil, existe acordo geral que aqueles pacientes que apresentam carga viral

abaixo de 200 CD4/mm3

deverão iniciar o tratamento. Embora evidências apontem para a

necessidade de tratamento de todos os pacientes com menos de 350 CD4/ml (Cardozo,

2004). Contudo, o uso da TARV é recomendado para pessoas com idade igual ou superior

a 55 anos, independente da carga viral e da presença de doenças oportunistas (Brasil,

2008). Há que se considerar, ainda, aspectos como sexo, cultura, nível educacional,

religiosidade, entre outros, podem influenciar no desempenho cognitivo das pessoas.

Se por um lado os Transtornos Mentais Comuns podem aparecer nos estágios

iniciais do HIV/AIDS, por outro, no contexto das pessoas com idade igual ou superior a 50

anos, estes sintomas podem dificultar e limitar o próprio diagnóstico ao HIV/AIDS, em

decorrência das crenças sobre o envelhecimento. Sintomas como cansaço mental, falta de

apetite, “esquecimentos” e dificuldades de se concentrar em tarefas cotidianas, antes

realizadas sem dificuldades, são, muitas vezes, consideradas pelos profissionais de saúde

como patologias próprias do envelhecimento e não como sintomas da sorologia positiva ao

48

HIV. Assim, a presente Tese considera os Transtornos Mentais Comuns – e não Alterações

Cognitivas Leves, comumente associadas com o aumento da idade –, incluindo sintomas

de depressão e ansiedade, como indicador de prejuízos na saúde mental em pessoas com

idade igual ou superior a 50 anos com HIV/AIDS.

A depressão, também incluída entre os Transtornos Mentais Comuns, é um quadro

clínico frequente em pessoas infectadas pelo HIV, apresentando índice 50%, nos EUA, e

64%, no Brasil (Castanha et al, 2006). Dada a suas implicações biopsicossociais, a

Organização Mundial de Saúde (OMS, 2002) conferiu à depressão o quarto lugar entre as

vinte doenças de maior AVAI (anos de vida ajustados por incapacidade). Embora

caracterizada como um transtorno de humor, ela abrange fatores cognitivos,

comportamentais, fisiológicos, sociais, econômicos e religiosos, entre outros, estando

presente em diversos distúrbios emocionais (Castanha et al, 2006). Pode aparecer como um

sintoma de determinada doença, ora coexistir junto com outros estados emocionais, como

ansiedade, e outras vezes aparecer como causa desses sofrimentos (Castanha et al, 2006).

Neste estudo, para fins de análise, é considerada a depressão sub-sindromal, ou

seja, a situação em que são observados apenas alguns dos sintomas depressivos

(sintomatologia depressiva), e não a depressão clínica propriamente dita, uma vez que estes

sintomas são considerados necessários para o diagnóstico de uma depressão maior, bem

como tem um impacto funcional negativo e significativo (Judd, Schettler, & Akiskal,

2002). Complementarmente, outros estudos verificaram que os doentes com menor

gravidade de sintomatologia depressiva, apresentavam níveis superiores de funcionamento

e de satisfação nas atividades de vida diária, bem como no desempenho dos seus papéis e

ao nível das relações sociais (Gameiro et al., 2008).

49

A correlação entre sintomas depressivos e o aumento da idade parece não responder

inteiramente às questões concernentes às investigações sobre o bem-estar e Qualidade de

Vida na velhice. Contudo, a idade apresenta-se como variável importante na pesquisa

psicológica, não como variável causal, mas como indicador para um conjunto de outras

variáveis que, de forma próxima ou distal, estão relacionadas com o processo de

envelhecimento – os papeis sociais exercidos pelas pessoas, expectativas frente às práticas

sexuais, participação no mercado de trabalho, etc. – (Batistoni, Neri, & Cupertino, 2010),

repercutindo na saúde mental e na Qualidade de Vida, principalmente quando da

ocorrência de situações pouco esperadas, socialmente, para a velhice, á exemplo a AIDS.

Na análise da associação entre AIDS, Qualidade de Vida e saúde mental, Reis,

Lencastrea, Guerra e Remor (2010) compararam amostras de participantes Portadores de

HIV e AIDS que faziam uso da TARV e da População Geral, na mesma faixa etária, de 20

a 68 anos, em relação à sintomatologia psicopatológica – entre elas, ansiedade e depressão

– e à Qualidade de Vida. Os resultados demonstraram que as pessoas soropositivas ao

HIV/AIDS apresentam valores médios significativamente mais elevados em alguns

indicadores de sintomas psicopatológicos quando comparados a população geral que não

tinham problemas de saúde declarados (Reis et al., 2010). Ademais, observou-se um efeito

mediador de sintomatologia psicopatológica entre a adesão ao tratamento e a Qualidade de

Vida das pessoas com HIV/AIDS (Reis et al., 2010).

No contexto da soropositividade, sintomas de depressão e ansiedade possuem

características e implicações próprias e pode ter impacto para a adesão ao tratamento e a

Qualidade de Vida. Muitos são os fatores que podem interferir na adesão a TARV, dentre

os quais se podem destacar as questões relacionadas à saúde mental, uma vez que se

verifica menor aderência de pessoas com sintomas de depressão e ansiedade (Castanha et

50

al., 2006). Ainda nesse sentido, estes autores afirmaram que pacientes com sintomas

depressivos tendem a não aderir ao tratamento, a não fazer o uso regular da medicação e a

não acolher as orientações dos profissionais de saúde, além da existência de ideação

suicidae (Castanha et al., 2006). Entre as pessoas soropositivas para o HIV/Aids, verificou-

se a existência de sentimentos de raiva, culpa, autopiedade e ansiedade (Castanha et al.,

2006). Ademais, a sintomatologia depressiva tem alta associação com o pior

funcionamento social, maior utilização de recursos de saúde e pior Qualidade de Vida, uma

vez que sintomas depressivos afetam vários dos domínios que fazem parte da avaliação

global da Qualidade de Vida.

Durante episódios depressivos, o indivíduo percebe a si mesmo, ao seu ambiente e

ao seu futuro de forma distorcida, o que contribui para que a Qualidade de Vida seja

negativamente percebida. Entretanto, embora se considere a relação entre os construtos

Qualidade de Vida e depressão, há carência na literatura de modelos que estabeleçam de

forma satisfatória a relação entre esses dois construtos (Berlim, Brenner, Caldieraro,

Pargendler, & Fleck, 2008). A avaliação e o acompanhamento dos índices de Qualidade de

Vida são úteis no desenvolvimento de estratégias de intervenção, oferecendo informações

importantes sobre o paciente, permitindo estimar suas prioridades e mensurando o impacto

do tratamento na Qualidade de Vida.

Assim como a depressão, os transtornos ansiosos também fazem parte dos

Transtornos Mentais Comuns (OMS, 2010) e repercutem na avaliação que as pessoas farão

acerca da Qualidade de Vida. Estes são considerados quadros clínicos em que os sintomas

são primários, ou seja, não são derivados de outras condições psiquiátricas (depressões,

psicoses, etc.). Já os sintomas ansiosos (e não os transtornos propriamente) são frequentes

em outros transtornos psiquiátricos (Castillo, Recondo, Asbahr, & Manfro, 2000), bem

51

como pode aparecer em decorrência de situações inesperadas, como o diagnóstico de

soropositividade ao HIV/AIDS. Os sintomas ansiosos podem se manifestar por

sentimentos subjetivos de apreensão, temor ou de ameaça, dificuldades de concentração,

hipervigilância, insônia, diminuição da libido, dentre outros (Castillo et al., 2000). Em

relação ao HIV/AIDS, sintomas de ansiedade pode se manifestar em diferentes momentos:

no aconselhamento pré-teste, na hora de receber o resultado e, se o resultado for positivo,

em várias outras situações durante o curso da infecção pelo HIV (Morais, & Moura, 2005).

Assim, o manejo dos sintomas de ansiedade e a redução do stress podem melhorar

significativamente a Qualidade de Vida das pessoas com HIV/AIDS.

A este respeito, o capítulo que se segue demonstra a definição operacional do

construto Qualidade de Vida, como este vem sendo aplicado no contexto da saúde, as

medidas utilizadas, bem como sua avaliação no contexto do HIV/AIDS.

52

CAPÍTULO II - APORTE TEÓRICO

53

2.1. QUALIDADE DE VIDA

2.1.1. Operacionalizando o construto

Ante tais avanços na medicina, doenças que eram letais passam a ser curadas.

Contudo, verifica-se que, embora não se tenha cura para a maioria das doenças, é possível

o controle de seus sintomas, bem como o retardo do seu curso natural (Fleck, 2008). Com

isso, há um prolongamento da sobrevida, tendo-se por preocupação o convívio com a

patologia, bem como a necessidade de se dispor de medidas para verificar a forma como as

pessoas convivem com os anos a mais.

É neste contexto, a partir da década de 1970, que o conceito de Qualidade de Vida é

introduzido enquanto medida de desfecho em saúde (Fleck, 2008). Para Fleck (2008), seis

grandes vertentes contribuíram para o desenvolvimento do conceito:

1) Estudos de base epidemiológica sobre a felicidade e o bem-estar: nesta vertente,

consideram-se os estudos (Gurin, Veroff, & Feld, 1960; Campbell Converse, &

Rodgers, 1976) que analisaram a percepção de bem-estar em países desenvolvidos,

nos quais a eliminação da miséria passou a ser um objetivo insuficiente diante das

sociedades cada vez mais ricas (Fleck, 2008). Esses estudos apontaram que não

havia uma relação linear entre ganhos materiais (riqueza) e percepção de bem-estar,

felicidade e saúde mental.

2) Busca de indicadores sociais: Indicadores de riqueza e de desenvolvimento – como

produto bruto interno e índices de mortalidade infantil – passou a ser considerado, a

partir do século XX, pelo Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento

(Fleck, 2008). Assim, procurou incluir aspectos de natureza social e cultural como

indicadores de saúde, e não apenas os tradicionais parâmetros econômicos.

54

3) Insuficiência das medidas objetivas de desfecho em saúde: Embora se considerasse

a importância das medidas de desfecho em saúde baseada em exames laboratoriais,

essas medidas eram insuficientes, uma vez que se avaliava mais a doença que a

pessoas acometidas pela doença (Fleck, 2008). Segundo, Fleck (2008), tal limitação

era percebida principalmente no contexto de doenças crônicas onde a cura não era o

objetivo, buscando-se a avaliação subjetiva de saúde e, não apenas, seus

indicadores objetivos. Ao se considerar a subjetividade do paciente na avaliação da

Qualidade de Vida, seria possível verificar o real impacto da enfermidade sob um

aspecto multidimensional, não tendo como referência, apenas, a redução dos

números da morbidade e mortalidade (Fleck, 2008).

4) Psicologia positiva: Caracterizada pela tendência para o desenvolvimento de

pesquisas que considere os aspectos positivos da experiência humana,

principalmente no contexto da doença, uma vez que havia um predomínio nas

pesquisas em saúde que tinham por ênfase a doença (Fleck, 2008).

5) Satisfação do cliente: A contribuição dessa vertente se deu em razão dos esforços,

na área da saúde, para avaliar o grau de satisfação dos usuários com os serviços de

saúde, bem como sua “Qualidade de Vida” (Fleck, 2008).

6) Movimento de humanização da medicina: A preocupação com a humanização no

atendimento, no sentido de recolocar a relação médico-paciente como responsável

pelo sucesso das intervenções na área da saúde, contribuiu para o desenvolvimento

de parâmetros de avaliação que leve em conta esse fenômeno (Fleck, 2008).

Na contemporaneidade, os estudos envolvendo o construto Qualidade de Vida estão

presentes em outros campos do saber: psicologia, sociologia, educação, história, entre

outros. Esse aumento significativo no interesse pela avaliação da Qualidade de Vida está

55

relacionado, entre outros aspectos, com a valorização da avaliação que o paciente faz do

seu processo de adoecimento. Para Seidl e Zannon (2004), os indicadores que fornecem

informações sobre Qualidade de Vida estão sendo considerados na avaliação do

desempenho de tratamentos de portadores de diversas patologias, tendo em vista avaliar a

eficácia dos mesmos, e comparar com procedimentos para o controle de problemas de

saúde.

Dentre alguns modelos teóricos que tentam fundamentar o conceito de Qualidade

de Vida, destaca-se, como, por exemplo, o modelo psicológico, o modelo de Qualidade de

Vida relacionada à saúde e o modelo de Calman (Lima, & Fleck, 2009).

O modelo psicológico parte do pressuposto de que ter um diagnóstico para uma

doença é diferente de sentir-se doente (Schipper, Clinch, & Olweny, 1996; Lima, & Fleck,

2009). Nessa direção, a análise de Canguilhem (1990) dos conceitos de normalidade e

patologia destaca a centralidade do valor atribuído pelas pessoas aos eventos de saúde e

doença. Uma dada doença diagnosticada pelo profissional de saúde não é percebida de

igual modo pelas pessoas.

A doença, na perspectiva de Canguilhem (1990), só será percebida como patológica

quando estiver associada ao que ele chamou de sentimento de vida contrariada, ou seja, a

um sentimento direto e concreto de sofrimento e de impotência. Segundo Canguilhem

(1990), a doença estaria na dificuldade que o organismo encontra para dar respostas às

demandas que seu meio lhe impõe. A saúde, por sua vez, é poder ficar doente e recuperar-

se, é a possibilidade de enfrentar situações novas. Portanto, o normal seria poder viver em

um meio em que flutuações e novos acontecimentos são possíveis. Desse modo, verifica-se

a estreita relação entre a percepção de saúde e doença e a percepção de Qualidade de Vida,

56

uma vez que subjacente aos processos de atribuição de sentidos está o caráter subjetivo das

pessoas que avaliam.

Por sua vez, no modelo de Calman (1984), que tem como ênfase os estudos de

Qualidade de Vida em pessoas com doenças crônicas, a medição da Qualidade de Vida só

pode ser descrita termos individuais por considerar, principalmente, que a Qualidade de

Vida é o produto da interação entre as expectativas e as realizações de um indivíduo (Lima,

& Fleck, 2009). Nessa perspectiva, quanto menor for a capacidade de um indivíduo para

realizar suas expectativas, mais pobre será a sua Qualidade de Vida. Todavia, Caman

(1984) considera que a relação entre as expectativas e as realizações pode mudar ao longo

do tempo, de acordo com a melhora ou a progressão da doença no indivíduo Lima, &

Fleck, 2009.

Já o modelo de qualidade de vida relacionada à saúde, desenvolvido por Parsons

(Lima, & Fleck, 2009), considera a Qualidade de Vida como "um estado de capacidade

absoluta para a realização de tarefas" (Parsons, 1958, p. 166). Segundo Lima e Fleck

(2009), neste modelo “a doença só se torna um problema quando ela afeta a capacidade de

desempenho, sendo a saúde o mais valioso estado de existência. Ainda para esses autores,

trata-se de um modelo baseado na capacidade funcional do sujeito, relacionada ao

desempenho em atividades diárias de acordo com a idade e com os principais papéis

sociais no contexto de vida do sujeito (Lima, & Fleck, 2009).

O conceito de Qualidade de Vida na área da saúde, para Schuttinga (1995), refere-

se à avaliação subjetiva que o paciente realiza, ou seja, compreende as demandas que o

estado de saúde acarreta sobre a vida do indivíduo e a sua capacidade para vivê-la em suas

dimensões. Considera-se, ainda, que a Qualidade de Vida relacionada à saúde compreende

o produto das condições objetivas de existência, o resultado das condições socioculturais,

57

bem como das relações que o homem estabelece entre si e o contexto no qual se insere, por

meio do trabalho.

No setor da saúde, o interesse pela Qualidade de Vida decorre, em parte, dos novos

paradigmas acerca do entendimento dos processos de saúde e doença. (Seidl & Zannon,

2004). Saúde já não significa a ausência de doença e, para a implementação de uma

política de saúde eficaz, se faz necessário abarcar os diversos determinantes da mesma.

Assim, Seidl e Zannon (2004) entendem o processo saúde e doença enquanto um

continuum e determinado por aspectos econômicos, sociais e culturais.

Não há, pois, consenso sobre um modelo teórico que explique Qualidade de Vida,

bem como em relação ao quanto ela é afetada pelos processos de saúde doença. Definições

de Qualidade de Vida vão desde uma ênfase holística sobre o bem-estar social, emocional

e física dos pacientes após o tratamento, até aqueles que descrevem o impacto dos

processos de saúde doença na capacidade das pessoas de levar uma vida com satisfação.

Em seu estudo sobre a relação entre Qualidade de Vida e saúde, Minayo, Hartz e

Buss (2000) verificaram que o termo “Qualidade de Vida” se tornou uma expressão de uso

significativo nos anais de congressos gerais e temáticos da Associação Brasileira de Pós-

graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO). Os autores constataram, ainda, que esse termo

aparece de forma genérica, não deixando uma definição clara da relação existente entre

saúde e Qualidade de Vida. Verifica-se que o termo Qualidade de Vida, às vezes, aparece

como sinônimo de status de saúde e bem-estar subjetivo. Para Patrick (2003), Qualidade

de Vida é mais abrangente que o status de saúde e inclui aspectos do meio ambiente que

podem ou não ser afetados pela saúde. Já o bem-estar subjetivo refere-se a percepções

subjetivas acerca de relatos de sensações prazerosas ou desprazerosas.

58

De outro modo, na prática médica, a apropriação do termo Qualidade de Vida tem

como referência a clínica, ou seja, a Qualidade de Vida compreenderia as ações em que se

promovem melhorias nas condições de vida de pessoas doentes (Minayo et al. 2000).

Nesse sentido, a expressão “Qualidade de Vida em saúde” teria a doença como foco, seria

medida por indicadores “bioestatísticos, psicométricos e econômicos”, observando-se a

relação custo-benefício (Minayo et al. 2000) e não levando em conta a historicidade dos

indivíduos e os aspectos socioculturais.

Na consideração de aspectos socioculturais, Minayo et al. (2000) fundamentam o

conceito de Qualidade de Vida da seguinte maneira:

Qualidade de Vida é uma noção eminentemente humana, que tem sido aproximada

ao grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental e à

própria estética existencial. Pressupõe a capacidade de efetuar uma síntese cultural

de todos os elementos que determinada sociedade considera seu padrão de conforto

e bem-estar. O termo abrange muitos significados, que refletem conhecimentos,

experiências e valores de indivíduos e coletividades que a ele se reportam em

variadas épocas, espaços e histórias diferentes, sendo, portanto uma construção

social com a marca da relatividade cultural (p. 8).

Ao afirmar que a Qualidade de Vida também é construída socialmente com a marca

da relatividade cultural, Minayo et al. (2000) tomam por base três aspectos: o histórico, ou

seja, os parâmetros de Qualidade de Vida de uma sociedade diferem ao longo do tempo e

corresponderão ao seu desenvolvimento social e tecnológico do seu tempo; o cultural, a

hierarquização dos valores e necessidades é perpassada pela cultura e tradição de cada

povo; e, por fim, as classes sociais (estratificações), pois ao se estudar sociedades com

suas desigualdades e heterogeneidades, verifica-se que a idéia de bem-estar também passa

59

por um processo de estratificação. Assim, considerando esse último aspecto, a Qualidade

de Vida satisfatória estaria relacionada com a idéia de bem-estar das camadas superiores da

sociedade, ao passo que as camadas mais inferiores possuiriam uma Qualidade de Vida

menos satisfatória (Minayo et al. 2000).

Numa perspectiva ampla, esta Tese adota o conceito de Qualidade de Vida

proposto pela OMS (1994, p.1405), definindo-a com “a percepção do indivíduo de sua

posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação

aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Verifica-se que o termo

Qualidade de Vida é mais amplo e abarca uma variedade de condições que podem

influenciar a forma como o indivíduo percebe o seu funcionamento diário, podendo afetar

seus sentimentos e comportamentos, mas não se limitando à sua condição de saúde (Fleck

et al., 1999). Por estar relacionada à forma como o sujeito percebe os aspectos de sua vida,

fica clara a presença do elemento da subjetividade neste construto.

Embora não havendo, na literatura, consenso a respeito do conceito Qualidade de

Vida, Fleck et al. (1999) consideram alguns elementos como sendo características

fundamentais deste construto: (1) a multidimensionalidade, uma vez que engloba diversas

áreas da vida humana, abarcando, assim, os aspectos físicos, psicológicos, sociais e

espirituais; (2) a bipolaridade, tal sensação de Qualidade de Vida pode variar de uma

dimensão positiva (satisfatória) a uma dimensão negativa (insatisfatória); e (3) a

subjetividade, ou seja, a sensação de Qualidade de Vida partirá da percepção do sujeito.

Considerando tais aspectos, a noção de Qualidade de Vida proposta por Fleck et al. (1999)

está relacionada com o conceito de Qualidade de Vida presente nos estudos da OMS

(2005), o qual tem suscitado o desenvolvimento e a adoção de medidas que considerem os

elementos supracitados.

60

2.1.2. A medição da Qualidade de Vida

Se por um lado a Qualidade de Vida tem como característica a subjetividade, ou

seja, é perpassado pela percepção do indivíduo; por outro, busca-se instrumentos que

possam medi-la, ou seja, elaborar medidas que representem o construto latente.

Considerando o caráter individual do construto, duas avaliações de Qualidade de Vida

jamais serão iguais, uma vez que cada avaliação é feita tendo em conta um contexto

particular e em determinado momento da vida das pessoas (Fleck, 2008).

Algumas medidas em Qualidade de Vida têm como ênfase uma abordagem

ideográfica, que enfatiza o indivíduo, na qual os instrumentos são individualizados e

gerados pelas próprias pessoas, principalmente em contextos clínicos, permitindo que o

respondente escolha os aspectos considerados relevantes a serem incluídos na avaliação

(Joyce, O'Boyle, & McGee, 1999; Fleck, 2008). Geralmente, os métodos de avaliação são

padronizados de forma que as escalas de respostas sejam uniformes durante toda a

aplicação, permitindo o uso de estatísticas descritivas. Tais medidas partem da noção

essencial de que a percepção de Qualidade de Vida é individual (Fleck, 2008). Todavia,

estudos com abordagem nomotética, que enfatiza o grupo e o geral, buscou desenvolver

medidas de caráter modular que engloba a variação cultural, abordagem essa adotada pelos

grupos provenientes da OMS (The WHOQOL Group, 1995). Para Fleck (2008), durante o

processo de construção dessas medidas busca-se apreender os aspectos que emergem sobre

Qualidade de Vida nas diferentes culturas, considerando como compatível entre as culturas

os aspectos que “emergem” até o topo, embora a importância dada aos domínios dos

instrumentos do WHOQOL possa variar entre as culturas. Para esse autor, é possível,

ainda, que cada cultura ou país desenvolvam módulos que reflitam seus interesses e

61

preocupações, uma vez que os instrumentos se referem a uma avaliação parcial de um

grupo específico.

A busca por operacionalização desse construto e o desenvolvimento de

instrumentos capazes de medi-lo, requer delimitações em vários níveis: conceitual,

metodológico, psicométrico e estatístico. Além de se considerar aspectos sociais e

culturais. Assim, Fleck (2008) considerou que as metodologias quantitativas e qualitativas

tem proporcionado contribuições significativas para a medição da Qualidade de Vida.

Desse modo, as principais tendências metodológicas no que se refere à avaliação da

Qualidade de Vida fazem uso de métodos tanto qualitativos quanto quantitativos.

Pesquisas com enfoques quantitativos, para Seidl e Zannon (2004), são as de maior

predomínio na literatura especializada, voltados para a construção de instrumentos que

considere o caráter multidimensional do construto e sua validade. São pesquisas que

procuram analisar a estrutura fatorial com testes de confiabilidade, bem como testes de

validade de critério, discriminante e de construto. No caso da análise de conteúdo, sugere-

se a necessidade de elaboração de aportes teóricos que possibilite a análises estruturais das

variáveis em relação aos modelos teóricos (Seidl, & Zannon, 2004).

Já as pesquisas com enfoques qualitativos, consideram que o uso de medidas

padronizadas gera a estereotipagem das respostas, as quais possuem pouco ou nenhum

significado para a pessoa, enfatizando o uso de técnicas como as histórias de vida ou as

biografias, e outras análises (Seidl, & Zannon, 2004). Há, no entanto, pesquisadores (Gill,

Alvan, & Feinstein, 1994; Fleck, 2008) que defendem a complementaridade das

abordagens, fazendo o uso combinado de medidas padronizadas com análises de cunho

qualitativo, proporcionando emergir aspectos que fazem sentido para o sujeito, bem como

62

garantindo a validade e confiabilidade das técnicas, o que, de outro modo, permitiriam a

comparação de resultados de grupos e de indivíduos (Seidl, & Zannon, 2004).

Os instrumentos que avaliam a Qualidade de Vida podem ser classificados, ainda,

em três categorias: os que avaliam Qualidade de Vida geral, Qualidade de Vida ligada à

saúde e Qualidade de Vida liga a uma doença específica (Fleck et al., 1999).

Quando se considera a perspectiva da Qualidade de Vida geral, adota-se uma

abordagem ampla, englobando os vários domínios do construto. Tal perspectiva,

aparentemente influenciada por estudos sociológicos, não faz referência a disfunções ou

agravos (Seidl, & Zannon, 2004), ou fornece subsídios para compreender as motivações, os

desejos, as oportunidades e os recursos disponíveis para satisfação e bem-estar do

indivíduo, no que diz respeito aos diversos domínios da sua vida, bem como se destinam a

pessoas saudáveis da população, sem fazer restrição à agravos específicos (Fleck, 2008).

Nesse sentido, o instrumento de medida World Health Organisation Quality of Life

assessment (o WHOQOL-100) é um exemplo de medida que se apóia nessa perspectiva de

Qualidade de Vida. Trata-se de uma medida de caráter transcultural, composta por 100

itens, representando 25 facetas distribuídas em seis domínios e se fundamenta na definição

de Qualidade de Vida proposto pela OMS. Assim, considera um conceito amplo,

englobando saúde física, estado psicológico, nível de independência, relações sociais, as

crenças pessoais e características predominantes do meio ambiente.

Já o termo Qualidade de Vida relacionada à saúde é frequente na literatura e tem

sido usado com objetivos semelhantes à conceituação mais geral (Seidl, & Zannon, 2004).

Entretanto, segundo Cruz (2005), são medidas que enfatizam aspectos relacionados

diretamente com a saúde, ou seja, as limitações funcionais decorrentes de adoecimento. O

63

instrumento mais utilizado atualmente para avaliar Qualidade de Vida relacionada à saúde

é o Medical Outcomes Studies 36-item Short-Form (MOS SF-36) (Fleck et al., 1999).

Por sua vez, os instrumentos para avaliação da Qualidade de Vida ligada a uma

doença específica tem por objetivo verificar particularidades da Qualidade de Vida em

determinadas doenças, enfocando aspectos das funções físicas, sexual, sono, fadiga, entre

outro (Fleck et al., 1999). Consideram-se os aspectos mais diretamente associados às

enfermidades ou às intervenções em saúde, permitindo conhecer a avaliação do paciente,

sua adaptação à condição, além de dar subsídios para decisões e condutas terapêuticas das

equipes de saúde (Cruz, 2005). Para Cruz (2005), a ênfase está nos aspectos relacionados

ao processo das limitações funcionais provocadas pela doença e resposta a tratamentos, em

detrimento de aspectos sociais ou ambientais, focalizando as dimensões da vida humana

afetadas pelo processo de adoecimento. O Quality of Life Enjoyment and Satisfaction

Questionnaire (Q-LES-Q) é um exemplo de medida elaborada para a avaliação da

Qualidade de Vida de pessoas portadoras com diagnóstico de depressão (Endicott, Nee,

Harrison, & Blumenthal, 1993; Castanha, 2005).

A importância de se distinguir a Qualidade de Vida geral da Qualidade de Vida

relacionada à saúde, segundo (Cruz, 2005), reside em que na primeira perspectiva estão

presentes os aspectos não médicos (relações familiares, espiritualidade, satisfação com a

vida profissional), que influenciam a Qualidade de Vida das pessoas, independente da

presença ou não de patologia. Para essa autora, se por um lado tal distinção evita a ênfase

excessiva em aspectos relacionados à saúde, por outro, sugere, inversamente, não

negligenciar o efeito de fatores não médicos.

Há controvérsia na literatura de que medidas de Qualidade de Vida relacionada à

saúde se restringem aos sintomas e às disfunções, contribuindo pouco para abranger os

64

aspectos não médicos associados à Qualidade de Vida – como suporte social, condições de

moradia, renda, qualidade do meio ambiente –, mas que podem ter implicações para a

Qualidade de Vida (Seidl, & Zannon, 2004; Castanha, 2005; Silva, 2009). Outros

pesquisadores, porém, defendem abordagens mais específicas da Qualidade de Vida por

considerarem que elas caracterizam melhor as demandas relacionadas ao construto tendo

em vista contextos específicos de agravos em saúde (Seidl, & Zannon, 2004). Todavia, há

que se considerar que “os instrumentos de mensuração da Qualidade de Vida relacionada à

saúde tendem a manter o caráter multidimensional e avaliam ainda a percepção geral da

Qualidade de Vida” (Seidl, & Zannon, 2004, p.583).

Verifica-se, ainda, sobretudo em relação à construção de instrumentos específicos,

a existência de vários estudos que realizam adaptações de instrumentos de avaliação da

Qualidade de Vida que foram, inicialmente, elaborados para determinada enfermidade

(Seidl, & Zannon, 2004). Do contrário, também acontece, ou seja, a adaptação de

instrumento de caráter genérico que são modificados para adequar-se à avaliação da

Qualidade de Vida em pessoas em contextos específicos de agravo (Seidl, & Zannon,

2004), a exemplo do WHOQOL-HIV. Embora se tenha em conta aspectos específicos

desse contexto, considera-se também outras dimensões da vida caracterizada por aspectos

não médicos, mas que podem ser afetadas pela com a convivência com uma patologia

crônica, como as relações sociais, a independência, etc. (Seidl, & Zannon, 2004). Tais

estratégias de avaliação e medida da Qualidade de Vida são descritas a seguir.

2.1.3. A avaliação da Qualidade de Vida no contexto da AIDS

No contexto de doenças específicas, no caso o HIV/AIDS, os estudos sobre a

Qualidade de Vida têm utilizado instrumentos genéricos ou instrumentos construídos para

65

avaliação de outras doenças crônicas, como, por exemplo, o câncer ou, ainda, instrumentos

adaptados (Seidl, & Zannon, 2004; Fleck, 2008; Silva, 2009).

De modo geral, os instrumentos genéricos tem a vantagem proporcionar a

comparação entre níveis de Qualidade de Vida de pessoas com doenças diferentes, mas

tendem a não ser sensíveis na detecção de alterações clínicas, ou ainda podem omitir

dimensões relevantes para pessoas que convivem com uma doença em particular (Zimpel,

& Fleck, 2008). Instrumentos específicos, por sua vez, embora relevantes para apreender

questões específicas de determinada doença, não permite a comparação. Assim, tem se

sugerido a estrutura de módulos, combinando módulos com itens genéricos e específicos,

visando à necessidade de comparação com outros estudos, bem como ser específico para

situações clínicas em estudo (Lenderking, Testa, & Katzenstein, 1997). Nesse sentido,

Patrick e Deyo (1989) apud Zimpel, & Fleck (2008) propõe três opções para avaliar a

Qualidade de Vida em populações com doenças específicas: 1) Uso de um instrumento

genérico e outro instrumento específico para a doença; 2) Uso de um instrumento genérico

modificado para uma doença e outro instrumento genérico não-modificado; e 3) Utilizar

dimensões selecionadas de um instrumento genérico para formar um núcleo (core) e

combinar esse núcleo com dimensões retiradas de um instrumento de caráter específico

para determinado agravo, elaborando, assim, um instrumento core-plus-module. Tais

opções objetivam avaliar a Qualidade de Vida genérica e aspectos específicos para uma

determinada condição em saúde-doença (Zimpel, & Fleck, 2008). Destarte, considerando a

terceira opção, a OMS desenvolveu o Módulo WHOQOL-HIV.

Neste sentido, considerando o impacto do HIV/AIDS, foi desenvolvido um módulo

específico para avaliação da Qualidade de Vida das pessoas com HIV/AIDS. O

WHOQOL-120-HIV tem por base o instrumento inicialmente desenvolvido pela OMS, o

66

WHOQOL-100. É um instrumento de autoavaliação da Qualidade de Vida, constituído

pelos seis domínios anteriormente referidos que, por sua vez, abarcam 29 itens específicos

e dois itens que se refere a avaliação geral de Qualidade de Vida, sendo referente a

avaliação global da Qualidade de Vida e outro referente à percepção geral de saúde, sendo

cada faceta avaliada através de quatro perguntas (Canavarro, Pereira, Simões, Pintassilgo,

& Ferreira, 2008). Assim, como na medida genérica, bem como em instrumentos da

família WHOQOL, o WHOQOL-HIV considera a definição de Qualidade de Vida

proposta pela OMS, abarcando cinco novas facetas (adicionais às 24 facetas que compõem

a medida genérica): no Domínio I: Sintomas dos PLWHA (People Living with

HIV/AIDS), no Domínio IV: Inclusão Social; e no Domínio VI: Perdão e Culpa;

Preocupações sobre o Futuro; e Morte e morrer, conforme esquematizado na Figura 1.

67

Figura 1- Domínios e Facetas do WHOQOL-HIV.

Espiritualidade/

Religião/ Crenças

pessoais

Independência

Psicológico

Relações Sociais

Ambiente

1. dor e desconforto

2. energia e fadiga

3. sono e descanso

50. sintomas de PLVHA

4. sentimentos positivos

5. cognição (pensamento, aprendizagem, memória e concentração)

6. autoestima

7. corpo (imagem corporal e aparência)

8. sentimentos negativos

9. mobilidade

10. AVD (atividades da vida diária)

11. dependência de medicação ou tratamentos

12. aptidão ao trabalho

24. ERCP (espiritualidade/religião/crenças pessoais)

52. perdão e culpa

53. preocupações sobre o futuro

54. morte e morrer

13. relacionamentos pessoais

14. apoio social

15. atividade sexual

51. inclusão social

16. segurança física / 17. Moradia / 18. finanças

19. cuidados (acesso e qualidade à saúde e assistência social)

20. informação (adquirir informação nova)

21. lazer

22 ambiente físico (poluição/ barulho/ trânsito/ clima)

23 transporte

Qualidade de Vida Geral

Físico

WH

OQ

OL

-HIV

68

Tendo em vista uma avaliação da Qualidade de Vida mais breve no preenchimento

das respostas, mas igualmente válida, e à semelhança do realizado para a medida genérica,

o Grupo de Qualidade de Vida da OMS desenvolveu uma versão reduzida do WHOQOL-

HIV: o WHOQOL-HIV Bref. Este instrumento está baseado no WHOQOL-Bref, a forma

abreviada do WHOQOL-100, contendo cinco questões extras, HIV-específicas, para

pessoas que vivem com HIV/AIDS e contabiliza, no total, 31 questões (Fleck, 2008). Cada

faceta do HOQOL-HIV-BREF é avaliada por apenas uma pergunta e é igualmente

constituída pelos seis domínios supracitados (Canavarro et al., 2008). Assim, é possível a

comparação com a população em geral (no que se refere às facetas da medida genérica –

WHOQOL Bref), bem como verificar os aspectos específicos das pessoas que convivem

com a doença.

Por esta razão, o uso do WHOQOL-HIV Bref foi considerado na presente Tese por

ser coerente com a definição de Qualidade de Vida aqui adotada, bem como por ser

passível de aplicação em pessoas soropositivas com idade igual ou superior a 18 anos, bem

como por apresentar facetas genéricas e aplicáveis a população em geral, o que possibilita

a comparação entre os grupos. Ademais, não se adequaria o WHOQOL-Old (Medida de

Qualidade de Vida para pessoas idosas), pois, além de não contemplar aspectos específicos

do HIV, não se destina a pessoas abaixo de 60 anos.

No contexto da AIDS, os instrumentos de avaliação da Qualidade de Vida têm sido

introduzidos para melhor avaliar os problemas que interferem com o bem-estar das

pessoas. A vivência da soropositividade ao HIV tem múltiplas implicações, seja na saúde

mental das pessoas acometidas pela doença, seja nas esferas sociais e familiares. Tais

implicações podem abarcar, ainda, o isolamento e rejeição social, a diminuição da

69

autoestima, o sentimento de perda de controle acerca do futuro e a limitação de recursos

financeiros demandados pelo manejo da doença.

Estudo realizado (Smith, Avis, & Assmann, 1999) com pessoas portadoras de

enfermidades crônicas (câncer, hipertensão, HIV/AIDS, entre outras), procurou analisar a

influência das dimensões saúde mental, funcionamento físico e funcionamento social

sobre a percepção da Qualidade de Vida. As análises demonstraram que a dimensão da

saúde mental/bem-estar psicológico foi a de maior poder preditivo em relação ao escore da

Qualidade de Vida (Smith, Avis, & Assmann, 1999).

Outro estudo (Zimpel, & Fleck, 2008) realizado no Brasil com o objetivo de avaliar

a Qualidade de Vida de pessoas com HIV/AIDS e sua relação com sintomas de ansiedade e

depressão, demonstrou que os sintomas depressivos apresentaram correlação negativa com

todos os domínios do WHOQOL-HIV. Sintomas de ansiedade também apresentaram

correlações negativas com os domínios do WHOQOL-HIV, mas com escores menores,

indicando associações menos significativas (Zimpel, & Fleck, 2008). Por meio da

regressão linear múltipla, tendo em vista verificar o quanto da piora na Qualidade de Vida

está associada à evolução da doença ou a outras variáveis, verificou-se que as variáveis

preditoras, em ordem crescente de importância, foram: sintomas depressivos, idade

(menos de 35 anos), baixo nível socioeconômico, estágio de AIDS, sintomas de ansiedade,

ser casado (a), baixo nível de escolaridade, estágio sintomático, antirretrovirais (uso de

apenas um ou nenhum), CD4 inferior a 200 e histórico de tratamento psiquiátrico ou

psicológico (Zimpel, & Fleck, 2008).

No entanto, o interesse dos estudos acerca da relação entre Qualidade de Vida e

HIV/AIDS não decorre, apenas, das dificuldades vivenciadas pelas pessoas. O interesse

deve-se, principalmente, à introdução da TARV, no início da década passada, que

70

possibilitou o aumento da expectativa de vida e diminuição da associação entre AIDS e

morte iminente, podendo-se, inclusive, caracterizá-la como doença crônica e passível de

convivência (Alencar, Nemes, & Velloso, 2008), focalizando-se os aspectos da Qualidade

de Vida nesse contexto. Canavarro et al. (2008) destacaram que a ênfase na Qualidade de

Vida objetiva, entre outros aspectos, compreender a forma como o portador do HIV

percebe e lida com as questões cotidianas, bem como a necessidade de avaliar a adesão ao

tratamento e seus efeitos no bem estar desses indivíduos.

A avaliação da Qualidade de Vida embora apresente-se necessária no contexto do

HIV/AIDS, a compreensão acerca dos fatores que influenciam na avaliação dos indivíduos

é de difícil consenso, principalmente quando se considera em que medida essa percepção

de Qualidade de Vida é determinada pela condição de sorologia positiva ao HIV/AIDS ou

se decorre de um conjunto de manifestações clínicas (Canavarro, 2006), ou mesmo da

associação desses aspectos com outras dimensões da vida, como a social, psicológica e

ambiental. Assim, verifica-se a complexa relação entre Qualidade de Vida e variáveis

clínicas, sociodemográficas e aspectos da saúde mental em pessoas com HIV/AIDS.

Embora diante dos avanços do tratamento com antirretrovirais e o aumento da sua

eficácia, com melhorias significativas no controle da doença e no prolongamento da vida, a

Qualidade de Vida de pessoas na maturidade e na velhice soropositivos para o HIV não

está relacionada, apenas, à possibilidade de ampliar os anos de vida, mas compreende o

enfrentamento de situações de discriminação, falta de recursos sociais e financeiros e

ruptura nas relações afetivas (Galvão, 2002). Assim, viver e enfrentar a doença torna-se

cada vez mais problemático e, como consequência, a Qualidade de Vida e a saúde mental

podem ser comprometidas.

71

Pesquisadores (Santos, Santos, Fernandes, & Henriques, 2002) têm associado

Qualidade de Vida na velhice e questões de dependência e autonomia, sendo essa

dependência decorrente de alterações de ordem biológica, que gera deficiências e/ou

incapacidades, e de alterações de ordem social, gerando desvantagens para as pessoas mais

velhas (Silva, 2009). No entanto, aspectos intersubjetivos, como perda de papéis

ocupacionais, o sentido do trabalho, expectativas frente ao futuro, dentre outros, devem ser

considerados na avaliação da Qualidade de Vida (Neri, 2004). Para Neri (2004):

Avaliar Qualidade de Vida significa também comparar suas condições ao longo do

tempo e registrar a desejabilidade das mudanças ocorridas no tempo, em

comparação com pessoas da mesma idade, mais novas e mais velhas, portadoras

das mesmas ou de diferentes condições de saúde ou de ambiente. Na prática, supõe-

se que as pessoas avaliem a Qualidade de Vida comparando a vida que tinham no

passado com a que pretendem ter no futuro (p.06).

Destarte, Araújo, Coutinho e Saldanha (2005) consideraram a importância de situar

a velhice e o envelhecimento em contextos sociais e culturais específicos para o

entendimento das suas construções sociais, meio pelo qual seria possível quebrar

preconceitos e rever estereótipos. Nessa direção, ante o exposto, a presente Tese

estabeleceu os seguintes objetivos:

2.2. Objetivos

2.2.1. Objetivo Geral

Analisar o impacto da AIDS na Saúde Mental e na Qualidade de Vida de pessoas

com idade igual ou superior a 50 anos;

2.2.2. Objetivos específicos

72

Comparar, em relação às variáveis indicadoras de saúde mental e de Qualidade de

Vida, a amostra deste estudo (pessoas com idade igual ou superior a 50 anos) com

dois grupos comparativos, isto é: o primeiro, caracterizado pelo mesmo diagnóstico

(soropositividade ao HIV) e faixa etária diferente (40 a 49 anos); e o segundo,

formado por pessoas da mesma faixa etária (idade igual ou superior a 50 anos), mas

sem o diagnóstico de soropositividade ao HIV.

Analisar a relação entre a Qualidade de Vida e variáveis sociodemográficas e

clínicas entre os participantes HIV+ com idade igual ou superior a 50 anos;

Identificar as variáveis preditoras da Qualidade de Vida para os participantes HIV+

com idade igual ou superior a 50 anos;

Analisar, entre os participantes com idade igual ou superior a 50 anos, a relação

entre os Transtornos Mentais Comuns, os Sintomas de Ansiedade e Depressão e a

Qualidade de Vida;

Apreender os discursos dos participantes com idade igual ou superior a 50 anos

acerca da sua convivência com o HIV/AIDS.

2.3. Hipóteses

A variável antecedente diagnóstico soropositividade para o HIV/AIDS tem maior

impacto para a avaliação da Qualidade de Vida que a variável idade.

Os Transtornos Mentais Comuns influenciam a avaliação, de modo inverso, da

Qualidade de Vida.

Há variações significativas entre os grupos comparativos de pessoas soropositivas

em termos do impacto da doença, ainda que com o mesmo diagnóstico.

73

CAPÍTULO III – MÉTODO

74

3. MÉTODO

3.1. Delineamento

Tratou de um estudo com abordagem quantitativa e qualitativa, de caráter

transversal e correlacional, tendo como Variável Consequente (VC) as escala de medida

dos construtos em apreço: Qualidade de Vida (WHOQOL-HIV Bref), Transtornos Mentais

Comuns (Self-Reporting Questionnaire [SRQ-20]) e sintomas de ansiedade e depressão

(Escala de Ansiedade e Depressão [HAD]). E como Variáveis Antecedentes (VA):

diagnóstico de soropositividade ao HIV/AIDS, variáveis sociodemográficas e clínicas.

3.2. Participantes

Para estimativa do tamanho da amostra, ou seja, para determinar a

representatividade do número de pessoas com idade igual ou superior a 50 anos com AIDS

no Estado da Paraíba, recorreu-se à estratégia sugerida por Barbeta (2008), para

amostragem aleatória simples, considerando um erro amostral de 5%. Assim, considerando

o número de casos de AIDS em pessoas com idade igual ou superior a 50 anos na Paraíba,

divulgado em 2008 através do Boletim Epidemiológico de AIDS do Ministério da Saúde,

foram notificados 319 casos de AIDS3, desde o início da epidemia, em 1980, dos quais,

112 vieram a óbito. Sendo assim, considerando um N populacional igual a 207, a

estimativa inicial da amostra seria de 136 pessoas soropositivas para o HIV. Contudo,

neste estudo, foram consideradas apenas as pessoas com idade igual ou superior a 50 anos

que estavam fazendo uso da TARV, uma vez que esta recomendação é dada para pessoas

com idade igual ou superior a 55 anos, independente da carga viral, do número de células

CD4 e da existência ou não de doenças oportunistas.

3 O Boletim Epidemiológico de DST/AIDS do Ministério da Saúde apresenta apenas os casos notificados.

75

Ressalta-se que, após cinco meses de coleta de dados (maio a setembro de 2010)

nos quatro serviços de atendimento especializado (SAE) do Estado da Paraíba –

localizados nos municípios de João Pessoa, Cabedelo, Santa Rita e Campina Grande –,

verificou-se que o número de pessoas atendidas por estes serviços foi inferior ao

apresentado pelo Boletim Epidemiológico (Brasil, 2008). Isto pode estar relacionado a

vários aspectos: a) Embora notificados, muitos pacientes, após o diagnóstico, não aderem

ao tratamento ou as recomendações para o controle da doença; b) Muitas pessoas, por

residirem em cidades distantes dos centros de referência, têm limitações para manter-se no

tratamento; c) Há um intervalo de tempo de dois anos entre os dados do Boletim

Epidemiológico e o período da coleta, o que pode contribuir para o aumento nos casos

novos, bem como no número de óbitos.

Cabe ressaltar que, a subnotificação de casos no Brasil, principalmente na região

Nordeste, varia de 24 a 65% (Oliveira, Barreira, Santos, & Latorre, 2004), sugerindo-se

que este número pode ser diferente do apresentado no Boletim Epidemiológico (Brasil,

2008). Além disso, foram adotados os seguintes critérios de exclusão: a) Recusa a

participar do estudo; b) Ausência de informações importantes no questionário; c)

Questionários devolvidos com muitas questões em branco ou contendo respostas inválidas;

d) pacientes que não estavam fazendo uso da TARV; e) Pacientes acometidos de

transtornos mentais graves.

Considerando os critérios supracitados, a mostra deste estudo foi constituída por 86

pessoas soropositivas para o HIV/AIDS com idade igual ou superior a 50 anos, dos quais

33 (38,4%) contraíram o HIV após os 50 anos. A idade dos participantes variou de 50 a 69

anos (M=56; DP=4,6), sendo a maioria do sexo masculino (57%), tendo a maioria (76,7%)

até 8 anos de escolaridade, bem como renda menor que 2 salários mínimos (67,4%).

76

Considerando que a idade, e não só o diagnóstico de HIV/AIDS, é uma variável de

importância na explicação da saúde mental e Qualidade de Vida das pessoas soropositivas

ao HIV/AIDS, foi constituído, ainda, dois grupos comparativos:

a) Grupo formado por 86 pessoas soropositivas para o HIV com idade abaixo de 50

anos, na faixa-etária de 40 a 49 anos (M=44; DP=2,8), sendo a maioria do sexo masculino

(61%), tendo a maioria (64%) até 8 anos de escolaridade, bem como renda menor que 2

salários mínimos (73%).

b) Grupo formado por 86 pessoas com idade igual ou superior a 50 anos da

população em geral, sem o diagnóstico de soropositividade ao HIV, com idade variando de

50 a 86 anos (M=58; DP=7,7), sendo a maioria do sexo feminino (57%), também

apresentando, na maioria dos casos (57%), até 8 anos de escolaridade, bem como renda

menor que 2 salários mínimos (57,3%).

3.3. Instrumentos

Para a coleta dos dados, foram utilizados os seguintes instrumentos:

a) Questionário biodemográfico e clínico: Para fins de caracterização dos participantes,

este instrumento foi constituído por questões versando sobre sexo, idade, grau de

escolaridade, renda familiar, situação conjugal, local de residência, nível de

religiosidade e dados clínicos, tais como: contagem de CD4, tempo de infecção

diagnosticada e de tratamento, via de contágio, tempo de uso da TARV, medicamentos

utilizados e doenças oportunistas.

b) Whoqol-HIV Bref: Instrumento para medida da Qualidade de Vida no contexto do

HIV/AIDS, desenvolvida pela OMS e validada no Brasil por Zimpel e Fleck (2008).

77

Esta escala foi desenvolvida dentro de uma perspectiva transcultural, considerando

como características fundamentais, o caráter subjetivo do construto e sua natureza

multidimensional.

Possui 31 itens distribuídos em seis domínios: físico, psicológico, nível de

independência, relações sociais, ambiental e crenças pessoais/espiritualidade. Dentre as

31 facetas, duas examinam a percepção de Qualidade de Vida geral: a percepção global

do indivíduo acerca da sua Qualidade de Vida e a percepção global em relação à sua

saúde. Além das 26 questões que já compõe o WHOQOL Bref, medida genérica de

Qualidade de Vida, o WHOQOL-HIV Bref acrescenta cinco questões HIV-específicas,

distribuídas entre os domínios: Físico (“O quanto você fica incomodado por ter (ou ter

tido) algum problema físico desagradável relacionado ao HIV?”), Social (“Em que

medida você se sente aceito pelas pessoas que você conhece?”) e Crenças

Pessoais/espiritualidade (“Você se incomoda com o fato das pessoas lhe

responsabilizarem pela sua condição de HIV?”; “O quanto você tem medo do futuro?”;

“O quanto você se preocupa com a morte?”).

Nota-se que, dentre as cinco facetas acrescentadas ao WHOQOL-HIV-Bref, apenas

duas fazem menção ao HIV – uma no Domínio Físico e outra no Domínio Crenças

pessoais e espiritualidade –, sendo as demais questões de caráter genérico. Os

participantes da população em geral não responderam a estas duas facetas, sendo as

respostas em branco computadas como missing values, procedimento aplicado para

questões em branco ou quando a variável em questão não se aplica ao indivíduo. Desse

modo, para as pontuações da população geral, os valores destas variáveis foram

desconsiderados no tratamento estatístico, não sendo computados nas médias dos

fatores. Ademais, em termos psicométricos da escala, os domínios compostos por quatro

78

facetas só serão prejudicados em termos de análise quando não há respostas para duas

ou mais facetas (Santos, Pedroso, Scandelari, & Pilatti, 2009). Assim, segundo Santos et

al. (2009), não há prejuízo algum na análise do construto Qualidade de Vida em Fatores

cuja ausência de resposta equivale a uma faceta.

Para todos os itens as respostas foram dadas numa escala do tipo Likert onde 1

indicou percepções baixas e negativas e 5 indicou percepções altas e positiva.

Desta forma, os escores dos domínios e das facetas foram dispostos em um sentido

positivo, onde pontuações mais altas denotaram melhor Qualidade de Vida.

c) Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20): Instrumento que foi desenhado pela OMS,

validado no Brasil por Gonçalves et al. (2008), para a detecção de morbidade

psiquiátrica na população geral (rastreamento de Transtornos Mentais Comuns, não-

psicóticos).

As 20 questões que compõem a escala têm duas possibilidades de resposta

(sim/não) e foram desenhadas para abordar sintomas emocionais e físicos associados a

quadros psiquiátricos (ex: cefaléias frequentes, queixas de insônia e de alterações de

apetite, piora da concentração, nervosismo, cansaço, queixas estomacais, diminuição do

interesse pelas atividades rotineiras, pensamentos suicidas, sentimentos de tristeza e de

desesperança). Cada resposta afirmativa pontua com o valor Um para compor o escore

final por meio do somatório destes valores. Morbidade psiquiátrica significativa está

associada à presença de 8 ou mais respostas afirmativas.

d) Escala de Ansiedade e Depressão – HAD: Validada para a língua portuguesa por

Botega, Bio, Zomignani, Garcia Jr e Pereira (1995) foi desenvolvida para pacientes

hospitalizados ou portadores de doenças crônicas, evitando perguntas que possam ser

79

atribuídas tanto à depressão, quanto a sintomas da doença. Destina-se a detectar graus

leves de transtornos afetivos em ambientes não psiquiátricos. É um questionário

composto por 14 itens, subdivididos em duas subescalas, sendo que sete avaliam o

sintoma depressão (HAD-d) e sete o sintoma ansiedade (HAD-a). Cada um dos seus

itens são pontuados de 0 a 3, compondo uma pontuação máxima de 21 pontos para cada

escala. É considerado o escore igual ou superior a oito como indicativo de sintoma de

ansiedade ou de depressão.

a) Entrevista: O roteiro da entrevista teve por base os temas evocados por cada

participante para a seguinte pergunta: "o que vem a ser para o (a) senhor (a) conviver

com HIV/AIDS depois dos 50 anos de idade?". Os três temas apontados pelos

participantes foram anotados e, então, procurou-se explorar os temas evocados e

investigar os sentidos atribuídos. Tal instrumento foi aplicado apenas em 10

participantes com idade igual ou superior a 50 anos soropositivos para o HIV/AIDS.

Como critério para a escolha dos participantes, considerou-se algumas características do

perfil maior da amostra (86 pessoas): participantes do sexo masculino e feminino, sendo

a maioria homens; com idades distribuídas ao longo da faixa etária (idade igual ou

superior a 50 anos); com renda de até dois salários mínimos e até 8 anos de

escolaridade.

3.4. Procedimentos

Foi realizado contato com os dirigentes responsáveis pelos serviços de saúde,

apresentando-se os objetivos do estudo e a importância do local para o desenvolvimento do

80

mesmo. Após sua autorização, oficialmente assinada e a aprovação do Comitê de Ética, foi

iniciada a aplicação dos instrumentos. Ao serem contatados, os participantes foram

informados acerca do estudo, explicitando-se o caráter voluntário da participação, seguido

da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.

Por conseguinte, foi solicitado a cada participante, individualmente, que

respondesse aos instrumentos de coleta de dados. Dentre os participantes com idade igual

ou superior a 50 anos soropositivos para o HIV/AIDS, foram convidados dez participantes

para realizar o procedimento de entrevista, as quais foram realizadas individualmente, em

sala reservada na instituição, e gravadas mediante autorização prévia do participante.

Uma vez agendada a entrevista, era solicitado a cada participante que pensasse

palavras, temas ou frases relacionadas à seguinte pergunta: "o que vem a ser para o (a)

senhor (a) conviver com HIV/Aids depois dos 50 anos de idade?". Denomina-se esta

fase de evocação. Concluído o processo de evocação, foi solicitado que o participante

enunciasse, ao menos, três aspectos mais importantes em relação à pergunta feita. Os três

temas apontados pelos participantes foram anotados e, então, solicitada uma explicação

sobre cada um deles, procurando-se, assim, explorar os temas evocados e investigar os

sentidos atribuídos pelos participantes, individualmente.

Por sua vez, na constituição do grupo comparativo da população em geral, foi

seguido todos os critérios éticos citados acima. Os participantes foram abordados, de forma

não probabilística e acidental, em locais públicos (logradouros, praças, locais de trabalho,

etc.) e, quando da aceitação em participar do estudo, seguiu-se a aplicação dos

instrumentos de forma individual.

81

3.5. Análise dos Dados

O banco de dados foi construído a partir de digitação dos questionários com

prévia codificação das respostas, utilizando o Software SPSS - versão18. Inicialmente,

foram realizados procedimentos para análise exploratória de dados visando identificar

eventuais omissões de respostas.

Os dados do Questionário biodemográfico e clínico foram analisados através de

estatística descritiva, com a utilização de medidas de posição (Média, Mediana) e de

variabilidade (Desvio Padrão, Amplitude).

Os dados decorrentes da Escala de Qualidade de Vida (WHOQOL-HIV Bref)

foram analisados, estatisticamente, com a utilização da Sintaxe SPSS-WHOQOL-HIV Bref

Questionarei, conforme as instruções para aplicação e avaliação do instrumento fornecido

pelo Centro WHOQOL do Brasil.

Para o cálculo da média das facetas composta por questões negativas, foram feitas

as inversões dos escores. A inversão das questões é utilizada com o objetivo de padronizar

todas as respostas do instrumento, de forma que, quanto mais positiva a resposta, esta deve

se aproximar de 5 (Santos et al., 2009). Por conseguinte, quanto mais negativa a resposta,

esta deve se aproximar de 1. Após a inversão dos itens negativos, os escores das facetas da

escala foram transformados em índices com ponderação de 0 a 100, em que 0 corresponde

ao menor e 100 ao maior valor encontrado para cada domínio, considerando-se, portanto,

como nada ou pouco satisfatório os domínios que apresentaram índices cuja média foi

inferior a 50 pontos, uma vez que a pontuação máxima poderia ser de 100 pontos.

Foi realizado o Teste t de Student e ANOVA para verificar as diferenças entre as

médias dos grupos-critérios. Para que fosse demonstrado o significado da força e do tipo

de relação existente entre as dimensões que compunham o instrumento, bem como entre o

82

construto Qualidade de Vida e as variáveis sociodemográficas e clínicas, utilizou-se o

coeficiente de correlação r de Pearson, acompanhado dos seus respectivos níveis de

significância (p).

Com o propósito de obter-se também um índice do grau de explicação da variável

critério e da consideração simultânea das outras variáveis antecedentes, fez-se o uso da

Regressão Múltipla por Etapas (stepwise), obtendo-se também a contribuição isolada de

cada variável antecedente, onde o índice (R) irá indicar o grau de correlação existente entre

as variáveis preditoras e a variável critério.

Já para os instrumentos Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20) e a Escala de

Ansiedade e Depressão – HAD, por se tratar de instrumentos de rastreamento, atribuiu-se,

conforme instruções para a análise dessas escalas, um ponto a cada resposta afirmativa

dada aos itens das escalas, compondo, assim, o escore final por meio do somatório destes

valores. A partir do ponto de corte para cada escala, verificou-se a existência ou não dos

respectivos sintomas.

No que se refere à Entrevista, para a análise do material coletado, utilizou-se a

Análise Categorial Temática de acordo com a proposta de Figueiredo (1993), na qual as

categorias são determinadas a partir dos temas suscitados nas entrevistas e processados por

meio de etapas, conforme demonstrado na Tabela 1:

83

Tabela 1 Etapas e procedimentos da Análise Categorial Temática

* Conteúdos relacionados a várias Categorias, no mesmo sujeito ou mesmo grupo.

** Conteúdos de vários sujeitos ou vários grupos, em uma mesma Categoria.

Primeira Fase

As entrevistas foram analisadas individualmente e a junção compreendeu conteúdos

comuns dentro de cada discurso. Assim, cada discussão foi transcrita e estudada em função

de cada entrevista realizada, referindo-se às questões particulares de cada indivíduo. Neste

sentido, seguiram-se as seguintes fases:

Etapa Procedimentos

TRANSCRIÇÃO DO MATERIAL

PRIMEIRA FASE

(Sessões/Sujeitos)

A. Leitura Inicial

B. Marcação

C. Corte

D. Primeira Junção*

E. Notação

F. Organização e Primeira

Síntese

Segunda Junção**

SEGUNDA FASE

(Conteúdos)

G. Leitura Inicial

H. Organização

I. Notação

J. Redação Final

84

A. Leitura Inicial: Nessa primeira leitura, foram identificados os pontos

preliminares, ligados às categorias. Ademais, realizaram-se anotações acerca de

aspectos relacionados à situação da entrevista (rapport, dificuldades de interação,

disponibilidade e seu estado afetivo).

B. Marcação: Foram selecionados alguns trechos da entrevista que corresponderam

às Categorias pré-estabelecidas, além de outros conteúdos também considerados

importantes.

C. Corte: Os trechos selecionados foram retirados do texto.

D. Junção: Os trechos selecionados foram agrupados, ou seja, todas as anotações de

uma mesma entrevista foram dispostas em protocolos de análise.

E. Notação: Realizaram-se observações marginais sobre os trechos, objetivando

localizá-los na literatura e no contexto do grupo.

F. Discussão: As observações foram discutidas que se fizesse a segunda junção,

onde foram agrupados os trechos de todas as entrevistas em relação a uma mesma

categoria.

Segunda Fase

Nesta etapa, as entrevistas não foram consideradas individualmente e a junção se

referiu aos conteúdos comuns a todas as entrevistas. Assim, as junções realizadas na etapa

anterior foram agrupadas e estudadas em função da equivalência de

conteúdos/significados, referindo-se às questões comuns, dentro de cada categoria. Seguiu-

se as seguintes fases:

85

G. Leitura Inicial: Foi realizada uma leitura para a identificação dos trechos, cujos

significados foram comuns dentro de cada Categoria.

H. Organização: Esses trechos foram agrupados e classificados em subcategorias

com base em protocolos especiais.

I. Notação: Quando necessário, foram ampliadas as observações marginais

relacionando-as às subcategorias.

J. Discussão Final e Redação: Foi realizada a redação definitiva, baseada nos

resultados obtidos através da análise de conteúdo, relativo às categorias que

surgiu durante as entrevistas.

3.6. Aspectos éticos

Após a aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa do

Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW) da Universidade Federal da Paraíba,

entrou-se em contato com as diretorias das instituições de saúde envolvidas no

desenvolvimento do projeto. Para tanto, os objetivos do estudo e a importância dos locais

para o desenvolvimento do mesmo foram enfatizados.

A aplicação do instrumento se deu de forma individual, considerando todos os

procedimentos éticos de acordo com a “Resolução n0 196/96 sobre Pesquisa envolvendo

Seres Humanos”, do Ministério da Saúde. Assim, os participantes, ao serem abordados,

foram informados acerca da pesquisa, de modo que se deixou claro o caráter voluntário de

sua participação, seguido da assinatura de um termo de consentimento livre e esclarecido.

O sigilo das respostas dadas foi devidamente assegurado.

86

CAPÍTULO IV – RESULTADOS E DISCUSSÃO

87

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Perfil sociodemográfico e Clínico

Em relação ao sexo, os resultados indicaram que a proporção de homens para cada

mulher é menor que dois, tanto na amostra do estudo quanto no grupo comparativo de

pessoas com HIV/AIDS abaixo de 50 anos, refletindo a tendência epidemiológica da

doença no país, ou seja, a chamada feminização da AIDS. Já o grupo da população geral

segue a tendência nacional, constituindo-se, em sua maioria, por mulheres.

A feminização da AIDS diz respeito ao aumento proporcional do número de casos

em mulheres, quando comparado ao número de casos em homens. Segundo o Ministério da

Saúde, no Brasil, a razão de casos de AIDS entre os sexos (M:F) vem diminuindo ao longo

da história, passando de 15,1:1, em 1986, para 1,5:1 em 2006. Em 1986, a razão era de 15

casos de AIDS em homens para cada caso em mulheres, e a partir de 2002, a razão de sexo

estabilizou-se em 15 casos em homens para cada 10 em mulheres (Brasil, 2010).

Na compreensão desse aumento dos casos de AIDS em mulheres, pesquisas (Brasil,

2007; Lima, & Moreira, 2008) têm considerado as questões de gênero presentes na

construção social do papel da mulher, as quais são consideradas como contribuinte

significativo para a vulnerabilidade social a AIDS. Fatores sociais, como diferenciais de

poder e papéis de gênero, influencia não só nos processos de adoecimento, mas também no

posicionamento das mulheres frente ao contexto familiar, na negociação do uso de

preservativo com o parceiro e em relação à vivência subjetiva do seu corpo.

No perfil sociodemográfico verifica-se, ainda, que a maioria dos participantes

possui no máximo 8 anos de escolaridade, confirmando resultados de pesquisas anteriores

(Cruz, 2005; Saldanha, Figueiredo, & Coutinho, 2004) ao dissertarem sobre a pauperização

88

da AIDS, uma vez que no Brasil, ainda que com algumas restrições, tal “pauperização” é

caracterizada de acordo com a escolaridade das pessoas atingidas pela doença (Brito,

Castilho, & Szwarcwald, 2001).

A relação entre saúde e nível sócio-econômico é mensurada, dentre outros

indicadores, através da renda, ocupação e escolaridade, sendo este último um dos

indicadores mais importante (Cairney, & Arnold, 1998). Considera-se que a escolaridade

diferenciaria as pessoas quanto ao acesso às informações, já a renda pode indicar

estimativa quanto ao acesso de bens materiais e serviços de saúde. Neste estudo verificou-

se que a renda dos participantes é, em sua maioria, inferior a dois salários mínimos. Estes e

outros dados podem ser observados na Tabela 2, a seguir:

89

Tabela 2

Perfil dos participantes segundo frequênciaa das variáveis sociodemográficas

Variáveis

≥ 50 anos

com HIV

< 50 anos

com HIV

População em

Geral

f % f % F %

Sexo

Masculino

Feminino

49

37 57

43

53

33 61,6

38,4

31

55

36

64

Escolaridade

Sem Escolaridade

Fundamental

Médio

Superior

24

42

8

12

27,9

48,8

9,3

14

17

38

21

10

19,8

44,2

24,4

11,6

11

38

21

16

12,8

44,2

24,4

18,6

Estado Civil

Solteiro

Casado/Convivente

Separado/Divorciado

Viúvo

29

22

21

14

33,7

25,6

24,4

16,3

28

35

12

11

32,6

40,7

14

12,8

10

51

20

5

11,6

59,3

23,3

5,8

Filhos

Nenhum

1 – 3 filhos

4 – 6 filhos

Acima de 6 filhos

21

42

14

9

24,4

48,8

16,3

10,5

33

44

9

0

38,8

51,2

10,5

-

9

58

10

9

10,5

67,4

11,6

10,5

Situação Laboral

Empregado

Desempregado

Aposentado

44

15

27

51,2

17,4

31,4

45

16

25

52,3

18,6

29,1

47

10

27

54,7

11,9

32,1

Renda Mensalb

Menor que 2 salários

2 – 5 salários

6 – 10 salários

Acima de 10 salários

58

25

3

0

67,4

29,1

3,5

63

18

4

1

73,3

20,9

4,7

1,2

47

25

7

3

57,3

30,5

8,5

3,6

Religião

Católica

Evangélica

Espírita

Outras

Nenhuma

58

20

1

1

6

67,4

23,3

1,2

1,2

7

45

22

4

2

13

52,3

25,6

4,7

2,3

15,1

48

23

4

1

7

57,8

27,7

4,8

1,2

8,4

O quanto se considera religioso

Nada

Quase nada

Pouco

Muito

7

5

34

40

8,1

5,8

39,5

46,5

10

4

35

37

11,6

4,7

40,7

43

5

5

34

42

5,8

5,8

39,5

48,8

Religiosidade após diagnóstico

Aumentou

Não aumentou

45

33 57,7

42,3

46

37

55,4

44,6 -

-

-

- a Excluídos os casos omissos.

b Salário Mínimo Vigente no momento da coleta: R$465,00.

90

A partir dos dados da Tabela 2, há que se considerar que não se trata, apenas, de

caracterizar o perfil dos participantes, mas os dados sociodemográficos apontam para

contextos de vida das pessoas soropositivas ao HIV, anterior ao diagnóstico, caracterizados

por determinantes sociais que aumentam as chances de exposição de coletividades ao

adoecimento e morte, como a baixa escolaridade e a renda (Silva, 2009). Nessa direção,

estudo (Garcia, & Souza, 2010) acerca de indicadores de conhecimento e práticas sexuais

mostrou que os grupos de menor nível de escolaridade e socioeconômico são também os

que detêm o menor nível de informação sobre as formas de transmissão do HIV, possuem

as maiores taxas de prática sexual, bem como maior frequência de práticas sexuais não

seguras. Assim, verifica-se que não se trata apenas de uma vulnerabilidade individual,

explicada em termos comportamentais, mas perpassa contextos sociais, associados à

vulnerabilidade programática, tendo em vista as desigualdades sociais existentes no Brasil

e as políticas públicas sociais e de saúde que, em muitos casos, são insuficientes para

atender às demandas.

A partir dos dados sociodemográficos, verificou-se, ainda, que a maioria dos

participantes, em todos os grupos comparativos, considera-se muito religiosos. Ademais,

após o diagnóstico de soropositividade ao HIV/AIDS, houve aumento da religiosidade. É

possível que a religiosidade ao proporcionar uma estrutura cognitiva que ordena e explica

os eventos (Seidl, 2005), contribua para a sensação de bem-estar emocional. O

enfrentamento religioso (definido como a forma como uma pessoa usa a sua

espiritualidade/religião para gerir uma situação difícil) contribui para encontrar um

propósito na vida, para lidar com questões de culpa e vergonha, para lidar com a dor e luto

associados com a doença, bem como na mudança de atitudes em relação a essa

problemática (Carvalho, Morais, Koller & Piccinini, 2007).

91

Achados nessa direção foram encontrados por Seidl (2005) na pesquisa sobre

estratégias de enfrentamento de pessoas HIV+, demonstrando a importância da

religiosidade como estratégia para lidar com a enfermidade. Tal influência também foi

encontrada no estudo realizado por Santos et al. (2002) com mulheres soropositivas, o qual

demonstrou que 88% das participantes declararam a religiosidade como fator importante

em suas vidas. Outros estudos (Cotton et al., 2006; Somlal, & Heckman, 2000) tem

demonstrado, em pessoas com HIV/AIDS, a associação entre maiores níveis de

espiritualidade e variáveis como satisfação coma vida, status funcional de saúde, qualidade

de vida e bem-estar geral, mesmo quando controlado outras variáveis importantes (por

exemplo, idade, estágio em HIV: sintomático e assintomático).

Todavia, há que se considerar que, embora a crença religiosa auxilie como

estratégia para suportar a sobrecarga psicológica demandada pela convivência com o

HIV/AIDS, quando exacerbadas, as crenças religiosas podem atuar de forma negativa,

prejudicando ou interrompendo o tratamento ao acreditarem na cura ou apenas na

intervenção divina (Saldanha, 2003; Silva, 2009). Além disso, as crenças

pessoal/espiritual/religiosa podem apresentar-se prejudiciais à saúde mental das pessoas

HIV+ quando, por exemplo, promovem sentimentos patológicos de culpa e castigo (Silva,

2009). Nesse contexto, torna-se relevante investigar melhor a influência da religiosidade

nos modos de lidar com a soropositividade, fato que se procurará demonstrar pelos

discursos dos participantes.

No que se refere à caracterização clínica, deve-se considerar que os dados aqui

apresentados referem-se a pessoas atendidas em serviços especializados para o tratamento

de pessoas que convivem com o HIV/AIDS, estando todos os participantes (amostra e

92

grupo comparativo) fazendo uso da terapia antirretroviral combinada. Estes e outros dados

clínicos podem ser observados na Tabela 3:

Tabela 3

Perfil dos participantes segundo frequência das variáveis clínicas

Variáveis

≥ 50 anos com

HIV

< 50 anos com

HIV

f % f %

Tempo de diagnóstico

< 2 anos

2 – 5 anos

6 – 10 anos

>10 anos

9

22

33

19

10,8

26,5

39,8

22,9

8

25

35

17

9,4

29,4

41,2

20

Modo Contaminação

Heterossexual

Homossexual

UDI

Sanguínea

Outro

62

10

0

6

5

74,7

12

0

7,2

6

54

20

1

6

3

64,3

23,8

1,2

7,1

3,6

Estágio HIV

Sintomática

Assintomática

42

44

48,8

51,2

45

41 52,3

47,7

Tempo Uso TARV

< 1 ano

1 – 2 anos

3 – 5 anos

6 – 10 anos

>10 anos

6

9

19

32

16

7,3

11

23,2

39

19,5

5

10

19

33

14

6,2

12,3

23,5

40,7

17,3

Motivo para usar a TARV

CD4/Carga Viral

Sintomas/Doença Oportunista

Diagnóstico

Não sabe

48

10

6

15

60,8

12,6

7,6

19

52

11

6

9

66,7

14,1

7,7

11,5

Doenças Oportunistas

Sim

Não

42

44

48,8

51,2

45

41 52,3

47,7

Nível de CD4

<200

200 – 350

351 – 500

>500

7

11

11

23

13,5

21,2

21,2

44,2

8

17

11

27

12,7

27

17,5

42,9

Verifica-se que a maioria dos participantes com idade igual ou superior a 50 anos

foi diagnosticada há mais de seis anos, tendo como principais vias de contaminação as

93

relações heterossexuais, seguido da categoria homossexual. Além disso, o tempo de

diagnóstico de soropositividade ao HIV/AIDS variou de 1 a 22 anos (M=7,9; DP=5), o que

pode estar relacionado com eficácia da TARV, uma vez que todos os participantes estavam

fazendo uso da mesma, com tempo de uso variando de 1 a 19 anos (M=6,8; DP=4,5).

Dentre as razões para o uso da TARV estão, principalmente, a carga viral e doenças

oportunistas, com 51,2% dos participantes relatando condição assintomática e 48,8%

sintomática, não havendo diferença estatisticamente significativa em relação ao grupo

comparativo com idade abaixo de 50 anos. No que se refere ao CD4, dentre os prontuários

que constavam esta informação (54 casos), a taxa variou de 28 a 1159/mm3 de sangue

periférico (M=529; DP=298).

Em relação ao grupo comparativo de pessoas soropositivas abaixo de 50 anos, o

tempo de diagnóstico variou de 1 a 26 anos (M=7,3; DP=4,6), com tempo de uso da TARV

variando de 1 a 19 anos (M=6,7; DP=3,9). Dentre os 86 participantes, 63 apresentaram em

seus prontuários informações sobre a taxa de CD4, a qual variou de 52 a 1669/mm3 de

sangue periférico (M=486,7; DP=288,4).

A partir do perfil clínico dos participantes soropositivos, mais especificamente

considerando o tempo de diagnóstico e de uso da TARV, é possível considerar que, em

parte, a população de idosos com HIV está crescendo devido ao sucesso do tratamento que

contribui para que as pessoas adentre a faixa etária dos 50 anos já com a soropositividade

ao HIV (Brasil, 2005; Alencar et al., 2008). Se por um lado essa melhoria na eficácia do

tratamento influencia na sobrevida das pessoas, por outro sugere a necessidade de

respostas – seja da esfera institucional/programática, da família e da sociedade em geral –

que promovam a Qualidade de Vida, baseada na compreensão acerca do conviver com uma

doença crônica, mas que, na maioria dos casos, não inviabiliza o exercício das atividades

94

diárias das pessoas. A percepção, por parte da pessoa que convive com o HIV/ADIS,

acerca da eficácia do tratamento na manutenção da saúde pode ter implicações para o

modo como essa pessoa avaliará seu estado de saúde.

Neste sentido, além dos dados clínicos, foi perguntado aos participantes como eles

avaliavam sua saúde e se os mesmos se consideravam doentes, conforme demonstrado na

Tabela 4 abaixo, onde também estão expostos os resultados das associações entre o grupo

de participantes com HIV ≥ 50 anos e o grupo de participantes <50 anos com HIV, assim

como do grupo de participantes com HIV ≥ 50 anos e o grupo de participantes da

população em geral.

Tabela 4

Avaliação dos participantes acerca da saúde e do considerar-se doente.

Variáveis

≥ 50 anos

com HIV

(n=86)

<50 anos com HIV

(n=86)

População Geral

(n=86)

f % f % x2(gl) p* f % x

2(gl) p*

Como você avalia

sua saúde?

Muito ruim

Ruim

Nem ruim/nem boa

Boa

Muito boa

2

4

26

45

9

2,3

4,7

30

52

10,5

2

7

30

41

6

2,3

8,1

35

48

7,0

5,075(8)

,750

3

2

25

49

7

3,5

2,3

29

57

8,1

1,306(4)

,860

Você se considera

doente?

Sim

Não

28

58

33

67

35

51

41

59

11,356(2)

,003

15

71

17

83

5,240(1)

,017

* Qui-quadrado (x2) com p < ,05

95

Os resultados indicaram que a maioria dos participantes HIV+ com idade igual ou

superior a 50 anos avaliaram positivamente a sua saúde, não havendo diferença

estatisticamente significativa em relação aos grupos comparativos, bem como em relação

aos grupos critérios. Contudo, ao avaliar a percepção acerca do “considerar-se doente”, as

pessoas HIV+ com 50 anos ou mais de idade se percebem doentes (32,6%) em menor

frequência que as pessoas abaixo de 50 anos (40,7%), sendo essa diferença estatisticamente

significativa.

Se por um lado, os resultados sugerem que o impacto do HIV na percepção sobre

o “sentir-se doente” é maior para as pessoas abaixo de 50 anos; por outro, indica que o

aumento da idade não implica, necessariamente, em maior frequência da percepção do

“sentir-se doente” entre as pessoas com HIV/AIDS acima de 50 anos, mas sugere-se

considerar a natureza do diagnóstico implicada nessa avaliação, bem como a própria noção

subjetiva de saúde e doença que as pessoas possuem. Destarte, Canguilhem (1990)

considerou que o conceito de saúde se refere tanto às funções orgânicas, quanto ao corpo

subjetivo, ou seja, os modos de perceber e significar os processos de saúde-doença. Tal

perspectiva tem implicações para o modo como são representados os sintomas de

determinada doença, ao valor atribuído aos mesmos e as capacidades que as pessoas

possuem para enfrentar as adversidades. Desse modo, Canguilhem (1990) demonstra a

inadequação da perspectiva biomédica que afirma que o estado morbidade de um ser vivo é

uma simples variação quantitativa sobre os fenômenos fisiológicos que definem o estado

normal do funcionamento físico.

Estudos no contexto do HIV/AIDS (Jia et al., 2007; Franchi, & Wenzel, 1998)

têm mostrado que a percepção acerca da saúde e da Qualidade de Vida parece não estar

relacionada com estágio da doença imunológica, mas, sim com a percepção que as pessoas

96

têm da sua capacidade para dar sentido a sua vida face às demandas apresentadas pela

doença (Dominice Dao et al., 2010).

Em contexto de pessoas com doença crônica, o modelo de Calman (1984) sobre a

Qualidade de Vida considera o caráter subjetivo do construto, partindo do pressuposto de

que a percepção de Qualidade de Vida e saúde é o produto da interação entre as

expectativas e as realizações de um indivíduo. Desse modo, quanto menor for a capacidade

de um indivíduo para realizar suas expectativas, menos positiva será sua percepção de

Qualidade de Vida. Contudo, para Caman (1984), as expectativas podem sofrer mudanças

ao longo do tempo, de acordo com a melhora ou a progressão da doença no indivíduo.

Considerando os resultados apresentados na Tabela 4 (p. 89), para compreender o

maior impacto da AIDS na percepção das pessoas de menor faixa etária acerca do “sentir-

se doente”, é preciso que se considere que a autopercepção de saúde inclui fatores como a

experiência de vida, o conhecimento que a pessoa tem a cerca da doença, as expectativas

frente ao futuro, as condições socioeconômicas e os estilos de vida. É possível que a

diferença na avaliação do “sentir-se doente” decorra das expectativas de saúde esperadas

por ambos os grupos, tendo em conta o momento de vida que cada um se encontra.

Não se quer afirmar, todavia, que o aumento da idade em associação com o

diagnóstico de soropositividade ao HIV não possa aumentar a probabilidade da emergência

de outras patologias. Mesmo fazendo uso da TARV, conforme os participantes deste

estudo, e considerando a importância do tratamento para a Qualidade de Vida, a terapia

não restaura completamente a saúde da pessoa ou promove a cura da infecção pelo HIV.

Mas, considera-se que os modos de se conviver com a AIDS serão perpassados pelo

momento de vida que as pessoas se encontram, dados a associação, ainda presente na

sociedade, entre AIDS e morte iminente. Nesse sentido, é possível que as pessoas de

97

menor idade, vivenciem outras expectativas de futuro quando comparadas com pessoas

mais velhas, o que vai ter impactos diferenciados para a avaliação da Qualidade de Vida,

bem como para a emergência de sintomas de ansiedade e depressão.

Nesta Tese, embora se considere que com o avançar da idade aumente as chances

do aparecimento de doenças, a convivência com a soropositividade HIV/AIDS parece ter

maior impacto para a saúde e mental e Qualidade de Vida que a variável idade. Nesse

sentido, o impacto da AIDS na percepção acerca do estado de saúde foi verificado,

principalmente, quando, em comparação com pessoas na mesma faixa etária da população

em geral (17,4%), as pessoas acima de 50 anos com HIV/AIDS consideraram-se doentes

em frequência (33%) significativamente superior (Tabela 4).

Os resultados acerca dos Transtornos Mentais Comuns e da avaliação de

Qualidade de Vida serão apresentados a seguir, considerando o primeiro objetivo

específico desta Tese. Assim, inicialmente, em relação às variáveis indicadoras de saúde

mental, é demonstrada a comparação entre a amostra deste estudo (pessoas com idade igual

ou superior a 50 anos) e dois grupos comparativos, isto é: o primeiro, caracterizado pelo

mesmo diagnóstico (soropositividade ao HIV) e faixa etária diferente (40 a 49 anos); e o

segundo, formado por pessoas da mesma faixa etária (idade igual ou superior a 50 anos),

mas sem o diagnóstico de soropositividade ao HIV. Depois, segue-se o mesmo

procedimento de comparação em relação ao construto Qualidade de Vida.

Espera-se, assim, corroborar a hipótese deste estudo de que a variável antecedente

diagnóstico soropositividade para o HIV/AIDS tem maior impacto na avaliação da

Qualidade de Vida que a variável idade.

98

4.2. Transtornos Mentais Comuns na maturidade e na velhice com HIV/AIDS

As respostas ao Self Reporting Questionnaire (SRQ-20), desenvolvido como

instrumento de rastreamento para Transtornos Mentais Comuns, embora não implique

diagnóstico psiquiátrico formal, indica sofrimento psíquico relevante e que merece atenção

de profissionais de saúde.

Neste estudo, foi encontrada presença de Transtornos Mentais Comuns em 29

(33,7%) participantes na maturidade e velhice com HIV/AIDS. Todavia, não foi verificada

diferenças estatísticas (x2= 1,212; gl=1; p=,173) em relação à frequência apresentada pelo

grupo de pessoas abaixo de 50 anos com HIV, no qual 36 pessoas apresentaram

Transtornos Mentais Comuns. Diferenças significativas (x2= 13,111; gl=1; p=,000) foram

entradas em comparação com a população geral, na qual apenas 9 (10,5%) participantes

apresentaram tais sintomas.

Através do Test t, foi comparado as médias por fatores do SRQ-20 – que avalia os

Transtornos Mentais Comuns – das pessoas com idade igual ou superior a 50 anos HIV+

com a média dos grupos comparativos. Entre os dois grupos de participantes com

HIV/AIDS, verificou-se maior prejuízo entre os participantes de menor idade. Já em

relação ao grupo comparativo de mesma idade, as pessoas acima de 50 anos HIV+

apresentam índices superiores nas médias dos fatores e na média global, sendo todas as

diferenças estatisticamente significativas. Tais dados podem ser observados na Tabela 5:

99

Tabela 5

Média Global e por Fatores no SRQ-20 dos participantes.

Fatores

≥ 50 anos com

HIV (n=86)

< 50 anos com HIV+

(n=86)

População Geral

(n=86)

M DP M DP t p M DP t p

Humor depressivo/ansioso

1,49

1,32 1,91 1,29 -2,05 ,041

0,81 0,86

3,98

,000

Sintomas Somáticos

1,93

1,63 2,50 1,90 -2,10 ,037

1,21 1,21

3,27

,001

Decréscimo Energia Vital

1,87

1,60 2,47 1,89 -2,21 ,028

1,16 1,36

3,11

,002

Pensamentos Depressivos

0,94

1,16 1,37 1,33 -2,24 ,026

0,24 0,55

4,97

,000

Global

5,91

4,17 7,79 5,08 -2,62 ,009

3,24 3,02

4,77

,000

A fim de verificar quais as facetas (itens) do SRQ-20 que mais contribuíram para

a presença de Transtornos Mentais Comuns, com diferenças estatísticas significativas,

comparou-se as frequências das respostas dos participantes, por meio do qui-quadrado, em

relação aos itens mais assinalados para cada um dos fatores. Na Tabela 6 a seguir, verifica-

100

se a comparação entre as pessoas com idade igual ou superior a 50 anos com HIV/AIDS e

o grupo comparativo caracterizado pelo mesmo diagnóstico, mas com faixa etária abaixo

de 50 anos.

Tabela 6

Frequência das respostas afirmativas por itens do SRQ-20, com diferenças significativas

entre os participantes com mesmo diagnóstico.

Fatores ≥ 50 anos com

HIV (n=86)

< 50 anos

com HIV (n=86)

x2(gl) p*

F % f %

Humor depressivo/ansioso

Sente-se nervoso, tenso ou preocupado

49

58

66

77

7,08(1)

,006

Sintomas Somáticos

Tem sensações desagradáveis no estômago

22

26

45

52

12,54(1)

,000

Decréscimo de Energia Vital

Acha difícil gostar das atividades diárias

14

16,5

27

31

5,22(1)

,017

Pensamentos Depressivos

Acha que é uma pessoa que não vale nada

Pensamento de acabar com a sua vida já

passou pela cabeça

10

28

12

33

21

41

24

48

4,61(1)

3,85(1)

,025

,035

* Qui-quadrado (x

2) com p< ,05

Na comparação entre os grupos com mesmo diagnóstico e considerando a ordem

decrescente de maior média dos Fatores do SRQ-20, os fatores com seus respectivos itens

que mais contribuíram para a presença dos Transtornos Mentais Comuns foram: 1) Fator

Sintomas Somáticos, com o item “sensações desagradáveis no estômago”; 2) Fator

Decréscimo de Energia Vital, com o item “Acha difícil gostar das atividades diárias”; 3)

101

Fator Humor Depressivo/Ansioso, com o item “Sente-se nervoso, tenso ou preocupado”; e,

por fim, 4) Fator Pensamento Depressivos, com diferenças entre as respostas dos dois

grupos para os itens “Acha que é uma pessoa que não vale nada” e “Pensamento de

acabar com a sua vida já passou pela cabeça”. Cabe ressaltar que houve diferenças,

estatisticamente significativa, na frequência das respostas dos dois grupos em relação a tais

itens, sendo maior a frequência, em todos os itens, para os participantes com faixa etária

abaixo de 50 anos, indicativo de maior impacto para a saúde mental.

Já na comparação entre os grupos de mesma faixa etária, os itens que mais

apresentaram diferenças na frequência de resposta entre os dois grupos foram: “dorme

mal” (Fator Sintomas Somáticos); “Acha difícil gostar das atividades diárias” (Fator

Decréscimo de Energia Vital); “Chora mais que o comum” (Fator Humor

Depressivo/Ansioso); e “Pensamento de acabar com a sua vida já passou pela cabeça”

(Fator Pensamento Depressivo). Tais itens foram os mais assinalados pelos participantes,

embora outros itens nos fatores do SRQ-20 também tenham apresentado diferenças na

frequência de respostas entre os grupos, sendo o maior impacto para a saúde mental entre

os participantes com HIV/AIDS, ainda que com mesma faixa etária. Esses dados podem

ser observados na Tabela 7, abaixo:

102

Tabela 7

Frequência das respostas afirmativas por itens do SRQ-20, com diferenças significativas

entre os participantes de mesma faixa etária.

Fatores ≥ 50 anos com

HIV (n=86)

População

Geral (n=86)

x2(gl) p*

F % f %

Humor depressivo/ansioso

Fica com medo com facilidade

Sente-se infeliz

Chora mais que o comum

26

23

29

31

27

34

15

7

9

17

8

10

4,05(1)

10,57(1)

13,83(1)

,033

,001

,000

Sintomas Somáticos

Dorme Mal

Suas mãos tremem

Tem falta de apetite

Fica cansado com facilidade

Fica cansado o tempo todo

41

28

25

33

31

48

33

29

39

36

26

16

9

18

14

30

19

10

21

16

5,81(1)

4,59(1)

9,63(1)

6,53(1)

8,98(1)

,012

,024

,002

,008

,002

Decréscimo de Energia Vital

Acha difícil gostar das atividades diárias

Seu trabalho diário é um sofrimento

Perdeu o interesse nas coisas

14

19

22

16

22

26

27

3

7

31

3

8

5,22

13,57

9,55

,017

,000

,002

Pensamentos Depressivos

Não é capaz de ter um papel útil na vida

Acha que é uma pessoa que não vale nada

Pensamento de acabar com a sua vida já

passou pela cabeça

20

10

28

23

12

33

6

2

6

7

2

7

9,08

5,83

18,09

,002

,015

,000

* Qui-quadrado (x

2) com p< ,05

103

No que se refere à prevalência de sintomas de ansiedade e de depressão,

verificada por meio da Escala de Ansiedade e Depressão (HAD), também foram

encontradas diferenças, estatisticamente significativas, entre os participantes na maturidade

e na velhice com HIV/AIDS e as pessoas da população em geral, o que aponta ainda mais

para a relação entre HIV/AIDS e os Transtornos Mentais Comuns, como demonstrado na

Tabela 8, abaixo:

Tabela 8

Prevalência de sintomas de Ansiedade, de Depressão e Co-morbidade.

Variáveis

≥ 50 anos com

HIV (n=86)

< 50 anos com HIV

(n=86)

População Geral

(n=86)

f % f % x2 (gl) p f % x

2 (gl) p

Sintomas de Ansiedade

Sintomas de Depressão

Co-morbidade

32

16

13

37

19

15

42

25

18

49

29

21

2,372(1)

2,594(1)

,984(6)

,083

,073

,214

16

8

3

19

9

3,5

7,398(1)

3,099(1)

6,891(1)

,005*

,061

,008*

*Qui-quadrado (x2) com p< ,05

Considerando as diferenças entre as frequências que deram significativas entre os

grupos, é possível afirmar que, em relação à população em geral, a presença de sintomas de

ansiedade é duas vezes maior para os participantes na mesma faixa etária com HIV/AIDS e

quatro vezes maior quando se considera a comorbidade dos sintomas de ansiedade e

depressão. Nessa direção, ao se comparar as médias dos grupos comparativos para a escala

de sintomas de ansiedade e depressão (HAD), verificou-se que esta diferença entre os

participantes com idade igual ou superior a 50 anos com HIV/AIDS e a população em

104

geral se mantem, com diferenças estatisticamente significativas, apenas para a subescala de

sintomas de ansiedade, conforme Tabela 9 abaixo:

Tabela 9

Médias nos Fatores Sintomas de Ansiedade e Sintomas de Depressão.

Fatores ≥ 50 anos com

HIV (n=86)

< 50 anos com HIV

(n=86)

População Geral

(n=86)

M DP M DP t p M DP t p

Sintomas de Ansiedade 7,9 4,7 8,2 4,6 1,602 ,111 5,1 3,1 3,280 ,001*

Sintomas de Depressão 4,5 3,7 5,6 4,0 1,877 ,062 4,0 2,7 ,955 ,341

*Test t com p< ,05

Ao se analisar a relação entre Transtornos Mentais Comuns e as variáveis

sociodemográficas, para os participantes com HIV/AIDS na maturidade e velhice, não

houve diferenças estatisticamente significativas entre os Transtornos Mentais Comuns e as

variáveis, sexo, escolaridade, estado civil e renda. Contudo, observou-se diferença

estatisticamente significativa (x2=9,063; gl=2; p==,01) entre Transtorno Mental Comum e

situação laboral. Assim, dentre os participantes acima de 50 anos com HIV/AIDS que

apresentaram Transtornos Mentais Comuns (n=29), a maior frequência ocorreu entre as

pessoas empregadas, seguido das pessoas desempregadas e aposentadas (Tabela 10).

105

Tabela 10

Frequência de Transtorno Mental Comum em relação às variáveis sociodemográficas.

Variáveis Sem TMC Com TMC x2(gl) p

Estágio HIV

Masculino

Feminino

34

23

15

14

,492(1)

,318

Escolaridade

> 8 anos

≤ 8 anos

13

44

7

22

,019(1)

,546

Estado Civil

Solteiro

Casado

Divorciado

Viúvo

19

14

14

10

10

8

7

4

,244(3)

,970

Renda

> 2 salários

≤ 2 salários

21

36

7

22

1,413(1)

,173

Situação laboral

Empregado

Desempregado

Aposentado

25

8

4

19

7

3

9,063

,011

*Qui-quadrado (x2) com p< ,05

Em relação às variáveis clínicas, não foram encontradas diferenças

estatisticamente significativas entre Transtorno Mental Comum e as variáveis Estágio HIV,

Tempo de diagnóstico, formas de contaminação, tempo de uso da TARV e CD4. Todavia,

conforme já esperado, a presença de Transtorno Mental Comum foi maior entre os

participantes acima de 50 anos com HIV/AIDS que se consideravam doentes, conforme

demonstrado na Tabela 11.

106

Tabela 11

Frequência de Transtorno Mental Comum em relação às variáveis clínicas.

Variáveis Sem TMC Com TMC x2(gl) p

Estágio HIV

Sintomático

Assintomático

29

28

13

16

,282(1)

,382

Tempo de diagnóstico

> 6 anos

≤ 6 anos

35

20

17

11

,068(1)

,489

Tempo de uso da TARV

> 6 anos

≤ 6 anos

32

24

16

10

,141(1)

,448

Formas de Contágio

Heterossexual

Homossexual

Sanguínea

Outro

40

8

5

3

22

2

1

2

1,777(3)

,620

Nível de CD4

> 500/mm3 de sangue

≤ 500/mm3 de sangue

15

21

8

8

,312

,398

Se considera doente?

Sim

Não

10

47

18

11

17,354(1)

,000

*Qui-quadrado (x2) com p< ,05

Desde o início da epidemia, a associação entre transtornos mentais e HIV/AIDS

tem sido confirmada por alguns estudos (Ammassari et al., 2004; Castanha et al., 2006;

Ellis et al., 2007; Wong et al., 2007; Reis et al., 2010). Corroborando a literatura citada,

nos resultados da presente Tese, também foi verificada uma maior prevalência de

107

Transtornos Mentais Comuns entre os participantes com HIV/AIDS com idade igual ou

superior a 50 anos. Embora tendo sido identificado alguns casos no grupo comparativo da

população geral, a prevalência na amostra soropositiva é significativamente maior.

No contexto do HIV/AIDS, os Transtornos Mentais Comuns são sintomas mais

sutis e que, por isso mesmo, quando presente em pessoas com idade mais avançada, é de

difícil diagnóstico, dada a confusão com outros sintomas ditos próprios da idade. Todavia,

tais sintomas podem progredir para a demência associada ao HIV, quadro mais frequente

em estágios avançados da doença, mas que pode ocorrer mesmo em indivíduos

assintomáticos e que fazem uso da TARV (OMS, 1993; Wong et al., 2007). Além disso,

aumenta o risco de mortalidade precoce, independente dos indicadores de saúde (Ellis et

al., 1997), e muitas vezes interfere, significativamente, no exercício das atividades diárias.

Entre os participantes deste estudo, o impacto dos Transtornos Mentais Comuns

para o exercício das atividades diárias foi demonstrado no Fator Decréscimo da Energia

Vital, sendo o item “Acha difícil gostar das atividades diárias” o mais pontuado, com

diferença significativa entre os participantes soropositivos ao HIV. Já quando comparado

com a população geral, os itens que apresentaram diferenças significativas foram “Perdeu

o interesse nas coisas” e “Seu trabalho diário é um sofrimento”. Nessa direção, ao se

referir sobre o exercício da atividade laboral, pesquisadores (Parker, & Camargo, 2000;

Cechim, & Sell, 2007) já demonstraram que, no contexto do HIV/AIDS, a função do

trabalho para a saúde mental das pessoas vai além do subsídio propiciado por ele para a

manutenção das necessidades, mas contribui para o sentimento de papel útil na vida, para a

socialização e a Qualidade de Vida. Contudo, na análise global dos Transtornos Mentais

Comuns, verificou-se uma maior presença de sintomas (como pensamentos depressivos e

108

humor depressivo e ansioso) entre as pessoas que estão empregadas (x2=9,063; gl=2; p=

,01).

A associação entre sofrimento e realização do trabalho diário, bem como a perda

de interesse, pode estar relacionada ao temor em perder o emprego, seja em razão da

doença, ou mesmo da associação desta com a dificuldade para a participação no mercado

de trabalho após os 50 anos. Segundo Vetter e Donnelly (2006), que avaliaram os

obstáculos percebidos por indivíduos soropositivos no processo de retorno ao trabalho, os

aspectos que contribuem para dificuldades nesse contexto são: efeitos colaterais da

medicação, condições relacionadas à saúde como fadiga, ambiente de trabalho inadequado,

falta de flexibilidade de horários com pausas para descanso e para uso da medicação, bem

como a indecisão sobre a revelação do status sorológico.

Estudo realizado com mulheres acometidas pelo HIV/AIDS demonstrou que a

discriminação no trabalho constituiu-se em fator de medo constante, capaz de comprometer

a saúde física e metal das pacientes, de modo que, o receio de tornar público sua condição,

nestes contextos, trouxeram constrangimentos e perdas importantes para o bem-estar

(Cechim, & Selli, 2007). Nesse sentido, Parker e Camargo (2000) consideraram os

contextos de trabalho como espaços privilegiados para intervenções de prevenção ao HIV,

tendo como ênfase a redução do preconceito e da discriminação, contribuindo para que

essas pessoas sintam-se pertencentes e aceitas pelos seus grupos sociais.

Ante os resultados apresentados acerca dos Transtornos Mentais Comuns,

verifica-se que, na comparação entre os dois grupos de mesma faixa etária, o impacto do

HIV/AIDS na saúde mental é significativamente maior entre as pessoas com HIV/AIDS.

Corroborando tais resultados, pesquisa realizada por Reis et al. (2010) com pessoas

soropositivas e da população em geral indicou que, em comparação com as pessoas da

109

população em geral, as pessoas com HIV e AIDS apresentaram escores médios

significativamente superior de sintomas psicopatológicos. A dimensão de maior pontuação

por parte dos participantes com HIV/AIDS foi a Somatização, conforme também

observado nos resultados desta Tese ao se verificar que o fator Sintomas Somáticos do

SRQ-20 foi o que apresentou maior escore médio (Tabela 5, p. 94).

Por outro lado, Reis et al. (2010) ressaltaram que os resultados da pesquisa

apontaram que a soropositividade ao HIV, passada a etapa de adaptação ao diagnóstico

prevista entre seis e oito semanas (Remor, 2003; Remor, Penedo, Shen, & Schneiderman,

2007), não supõe um impacto negativo na saúde mental do indivíduo se este apresentar

recursos psicológicos e de apoio social para lidar com a situação. Ao comparar subgrupos

dentro da amostra soropositiva ao HIV, Reis et al. (2010) verificaram que as pessoas entre

4 e 170 meses de tempo de infecção apresentaram menores índices de indicadores

psicopatológicos avaliados pelo Inventário de Sintomas Breves (Brief Symptom

Inventory)4 em comparação com a população geral, exceto para as dimensões Somatização

e Índice de sintomas positivos.

Tais resultados diferem dos encontrados nesta Tese, uma vez que os participantes

com HIV/AIDS apresentaram índices superiores aos apresentados pela população geral em

todos os Fatores do SRQ-20 (Tabela 5, p. 94), bem como para a subescala Sintomas de

Ansiedade (HAD) (Tabelas 8 e 9, p. 98 e 99), mesmo apresentando tempo de diagnóstico

entre 1 e 22 anos (M=7,9; DP=5). Todavia, deve se considerar que os resultados

encontrados nesta Tese se referem a pessoas com idade igual ou superior a 50 anos, o que

difere da faixa etária analisada por Reis et al. (2010) – 20 a 68 anos –, o qual também não

4 Inventário de autoresposta com 53 itens, constituído por 9 subescalas, a saber: Somatização, Obsessões-

Compulsões, Sensibilidade Interpessoal, Depressão, Ansiedade, Hostilidade, Ansiedade Fóbica, Ideação

Paranóide e Psicoticismo. O inventário permite calcular três variáveis resumo: índice global de severidade

(IGS), total de sintomas positivos (TSP) e índice de sintomas positivos (ISP). Uma maior pontuação em cada

dimensão indica maior presença de sintomas de disfunção psicológica (Reis et al., 2010).

110

demonstrou se houve diferenças das pontuações das pessoas soropositivas considerando as

faixas etárias.

Na presente Tese, considera-se a importância do suporte social e afetivo para a

manutenção da saúde mental e Qualidade de Vida, mas sugere-se levar em conta as

especificidades do conviver com o HIV/AIDS que podem diferir entre as pessoas ao longo

da vida, ainda que com o mesmo diagnóstico. Assim, no que se refere à presença de

Transtornos Mentais Comuns, além de encontrar resultados na mesma de direção que os

achados por Reis et al. (2010), os resultados desta Tese indicaram diferenças também entre

as a pessoas com mesmo diagnóstico de HIV/AIDS, demonstrando que, embora se refira à

mesma patologia e ambos os grupos estivessem fazendo uso da TARV, às implicações

psicossociais ocorrem de modos diferenciados associados as particularidades dos contextos

e momentos de vivência.

De outro modo, o aumento da faixa etária não implicou, necessariamente, em maior

impacto dos Transtornos Mentais Comuns nas pessoas soropositivas ao HIV/AIDS. Mas,

verifica-se, sobretudo, o impacto do conviver com uma doença-metáfora, no sentido

apresentado por Minayo (2000), ou seja, caracterizada como enfermidades que, a partir do

imaginário social, perpetuam na coletividade a ideia de perenidade do mal e de limites do

ser humano frente à ameaça da morte, o que pode gerar preconceito e rejeição social.

Ademais, a vivência de estigmas e discriminação pode contribuir para o aparecimento de

Transtornos Mentais Comuns no contexto da AIDS.

No estudo feito por Deribew et al. (2010) com pessoas soropositivas para o HIV,

verificou-se que o estigma percebido apresentou-se como variável preditora de

Transtornos Mentais Comuns. Para esses autores, as pessoas que sofriam de rejeição e

preconceito tendiam ao isolamento social. No contexto das pessoas com 50 anos ou mais

111

de idade e que convivem com o HIV/AIDS deve-se considerar a idade enquanto variável

de análise na compreensão das vivências. Adultos mais velhos que vivem com HIV/AIDS

enfrentam duas fontes principais de estigma: a relacionada com a AIDS, e a relacionada

com a velhice. Tais vivências têm implicações para a emergência de Transtornos Mentais

Comuns, bem como para a Qualidade de Vida, conforme demonstrado a seguir.

4.3. Qualidade de Vida em pessoas na maturidade e velhice com HIV/AIDS

Considerando a Avaliação Geral de Qualidade de Vida, todos os participantes

apresentaram avaliações positivas, sem diferenças significativas entre os grupos. Todavia,

quando se analisou a Qualidade de Vida por fatores, estimada pela média da soma dos

pontos atribuídos a cada item que compõe cada fator, verificou-se o impacto da AIDS

nessa avaliação, uma vez que não houve diferenças entre os grupos de pessoas com

HIV/AIDS, mas houve diferenças significativas em relação ao grupo comparativo da

população em geral, mais especificamente nos Fatores Físico, Psicológico, Independência

e Social, podendo ser observado na Tabela 12.

112

Tabela 12

Média Geral e por Fatores dos participantes para a escala de Qualidade de Vida.

Fatores

≥ 50 anos com

HIV (n=86)

< 50 anos com HIV

(n=86)

População Geral

(n=86)

M DP M DP t p M DP t p

Avaliação Geral de QV 71,5 15,1 67,4 16,1 1,709 ,157 75,3 11,8 1,837 ,198

Físico

(Dor, desconforto; Energia, fadiga; Sono e Descanso; Sintomas HIV)

61,8 21,8 59,5 22,9 ,676 ,748 67,7 17,4 1,952 ,053*

Psicológico

(Sentimentos Positivos e Negativos; Cognição; Autoestima; Imagem

Corporal)

64,6 17,5 61,4 18,3 1,164 ,406 70,8 17,7 2,692 ,008*

Independência

(Mobilidade; Capacidade para atividades diárias; capacidade para

trabalho; dependência a medicamentos/ tratamento)

56,5 16,7 56,8 17,7 ,109 ,993 71,0 17,2 5,567 ,000*

Social

(Relacionamentos e apoio social; atividade sexual; inclusão social) 66,5 15,3 65,5 17,7 ,390 ,904 72,2 11,5 2,737 ,007

*

Ambiental

(Segurança; moradia; finanças; acesso aos serviços de saúde;

informação; lazer; ambiente físico; transporte)

60,0 14,1 56,9 13,7 1,453 ,308 59,4 13,5 ,314 ,947

Crenças Pessoais/Espiritualidade

(Sentido da vida; perdão e culpa; preocupação sobre o futuro; morte

e morrer)

69,7 22,9 70,5 22,1 ,249 ,962 75,5 18,5 1,810 ,181

*Teste t com p< ,05

113

Em comparação com as pessoas de mesma faixa etária da população em geral, as

pessoas com idade igual ou superior a 50 anos com HIV apresentaram menor escore

médio para o Fator Independência. Nesse Fator, considera-se o quanto as pessoas estão

satisfeitas com sua capacidade para realizar suas atividades diárias, como o trabalho,

bem como em relação ao uso e dependência dos medicamentos. Assim, verifica-se que,

para estes participantes, o impacto da AIDS na avaliação de Qualidade de Vida foi

maior em relação aos aspectos ligados à independência.

Vários estudos (OMS, 2005; Pereira et al., 2006; Sousa, Saldanha, & Araújo,

2006) apontaram para a associação entre Qualidade de Vida, autonomia e participação

social na maturidade e na velhice têm sido, frequentemente, associadas. Em publicação

anterior, a OMS (2005) apresentou diretrizes que destacavam a necessidade de

estratégias que promovessem a autonomia e a participação social das pessoas nessa

faixa etária.

Na perspectiva das teorias do envelhecimento bem sucedido, a Qualidade de

Vida e o bem-estar são fatores que devem acompanhar o indivíduo ao longo do

desenvolvimento humano (Santos et al. 2002), tendo valor preponderante na percepção

de bem-estar e Qualidade de Vida o Fator Independência. Nesse sentido, na tentativa de

articular melhor Qualidade de Vida, melhoria e manutenção da saúde com o aumento da

expectativa de vida, a OMS (2005) formulou projeto de política de saúde visando à

promoção de Envelhecimento Saudável e Ativo. Abordando a questão da saúde sob uma

perspectiva ampla, busca-se apresentar o envelhecimento com experiência positiva,

onde a autonomia e a independência dos indivíduos são fundamentais no processo de

envelhecimento e onde ações intersetoriais são imprescindíveis para que essa política

seja efetiva.

114

Neste estudo, contudo, verifica-se que, dependendo do contexto de saúde e

doença em que o envelhecimento ocorre – como o do HIV/AIDS –, a capacidade para o

exercício das atividades diárias tem maior impacto para a avaliação de Qualidade de

Vida, estando o fator Independência também correlacionado com o Fator Físico (r= ,73;

p= ,003) (ver Tabela 14, p.119). A partir desse resultado, é possível considerar que a

noção de Qualidade de Vida está associada a “um estado de capacidade absoluta para a

realização de tarefas” (Parsons, 1958, p. 166). Assim, o impacto da doença é percebido

quando afeta a capacidade de desempenho (Lima, & Fleck, 2009), ou seja, uma

Qualidade de Vida satisfatória está, de certo modo, associada com a capacidade

funcional do sujeito para o desempenho em atividades diárias, de acordo com a idade e

o exercício de papéis sociais.

Embora apresentado escore médio positivo, o Fator Físico apresentou a segunda

menor média, estatisticamente significativa, dos participantes com idade igual ou

superior a 50 anos HIV+, em comparação com a população em geral; seguido,

respectivamente, dos Fatores Psicológico e Social.

O Fator Físico avalia em que medida a dor ou desconforto físico afetam a vida

diária e a participação em atividades, bem como avalia se a pessoa sente energia

suficiente para a realização dessas atividades. Assim, verificou-se que ambos os grupos

avaliaram positivamente tais aspectos, mas a avaliação das pessoas acima dos 50 anos

com HIV/AIDS foi, significativamente, menos positiva. Isso não significa dizer que os

indivíduos não possuam, em algum grau, perdas em seu funcionamento físico, mas que

essas perdas não afetam a sua vivência cotidiana.

Na escala SRQ-20, por exemplo, que avalia os Transtornos Mentais Comuns, os

participantes com 50 anos ou mais HIV+ apresentaram maiores escores no Fator

115

“Decréscimo da Energia Vital” quando comparado com a população geral. Os itens

“perdeu interesse nas coisas” e “seu trabalho diário é um sofrimento” foram o mais

assinalados pelas pessoas soropositivas, já o item “acha difícil gostar das atividades

diárias” foi mais assinalado pela população geral. Na presente pesquisa, os participantes

HIV+ na maturidade e na velhice consideram que os aspectos relacionados ao

funcionamento físico têm afetado “nada” ou “muito pouco” a vida diária e a

participação em atividades, o que não significa dizer que não gere algum tipo de

sofrimento.

Esse resultado se aproxima do modelo psicológico (Schipper et al., 1996) da

Qualidade de Vida que considera a relação entre ter um diagnóstico para uma doença e

sentir-se doente, demonstrando que os dois processos nem sempre estão relacionados.

Nesse caso, por exemplo, entre as pessoas com idade igual ou superior a 50 anos com

HIV, embora todas soubessem do seu diagnóstico, poucas se percebiam como doentes.

No entanto, a percepção negativa da saúde esteve associada à presença de Transtornos

Mentais Comuns, uma vez que estes foram mais frequentes entre os participantes acima

de 50 anos com HIV/AIDS que se consideravam doentes (Tabela 11, p.101).

Considerando o aspecto multidimensional da Qualidade de Vida (Fleck et al.,

1999), o fator Físico assume importância na avaliação que as pessoas farão acerca desse

construto, sugerindo-se que a mesma seja avaliada considerando, também, o estado de

saúde do indivíduo (Fassino et al., 2002). Assim, é válido salientar que, embora

apresentando soropositividade para o HIV, a maioria dos participantes afirmaram ser

assintomático (51,2%) e nunca ter apresentado qualquer doença oportunista (51,2%)

(Tabela 3, p. 87).

116

Salienta-se, ainda, que todos os participantes estavam fazendo uso TARV no

momento da pesquisa, fato que pode ter contribuído para que os mesmos avaliassem o

funcionamento físico como satisfatório. Segundo Bastos e Szwarcwald (2000), “tais

terapias vêm tendo um impacto profundo sobre a história natural da infecção pelo HIV,

alterando a natureza e a frequência das doenças oportunistas e aumentando

substancialmente a sobrevida das pessoas com AIDS” (p.72). Além de ter

proporcionado maior sobrevida, a TARV contribuiu para que as pessoas com idade

igual ou superior a 50 anos pudessem continuar participando de suas atividades

cotidianas, embora a morte se apresente, ainda, como crença central nas representações

de pessoas com AIDS (Castanha, Coutinho, Saldanha, & Ribeiro, 2007).

Estudo realizado por Provinciali (2005) com idosos HIV+ para verificar as

crenças acerca da sua convivência com a doença demonstrou que, para alguns

participantes, a AIDS não implicou mudanças significativas no estilo de vida, sendo a

condição de soropositividade inserida na vida dessas pessoas como mais um aspecto a

ser vivido. O estudo sugeriu que o impacto, após o diagnóstico de HIV/AIDS, é

refletido de forma mais significativa na esfera psicossocial da vida das pessoas.

A este respeito, os fatores Psicológico e Social foram avaliados positivamente

pelos participantes com idade igual ou superior a 50 anos com HIV, embora com

diferenças nas médias, estatisticamente significativas, em comparação com a população

em geral, apresentando este último grupo médias superiores. A dimensão psicológica

avalia, entre outros aspectos, a frequência de sentimentos positivos e negativos

vivenciados pelas pessoas (mau humor, desespero, ansiedade, depressão), autoestima e

satisfação acerca da autoimagem corporal. Já a dimensão social considera a satisfação

das pessoas no que se refere às relações pessoais, suporte (apoio) social e atividade

117

sexual. Desse modo, verificou-se uma avaliação menos positiva em tais dimensões entre

as pessoas com idade igual ou superior a 50 anos com HIV/AIDS.

A avaliação menos positiva das dimensões Psicológica e Social da Qualidade de

Vida entre as pessoas na maturidade e velhice com HIV/AIDS aponta para o impacto da

doença, uma vez os participantes não diferiam do grupo comparativo da população em

geral em termos de faixa etária, baixa renda e escolaridade, aspectos considerados

importantes para a avaliação de Qualidade de Vida. Achados nesta direção têm sido

apontados em estudos (Remor et al., 2007; Zeña-Castillo et al., 2009) que versam sobre

a relação entre os aspectos psicossociais e avaliação de Qualidade de Vida.

Estudo realizado na Espanha com homens e mulheres que viviam com

HIV/AIDS, controlando-se as variáveis sociodemográficas e clínicas, verificou que o

estresse percebido a partir dos seus contextos sociais de pertença se relacionou com a

diminuição de células CD4 (Remor et al. 2007). As dimensões psicossociais também

foram evidenciadas em outro estudo no Peru, onde se verificou que altos níveis de

ansiedade e depressão associados à hospitalização em pacientes com AIDS se

relacionaram com uma diminuição do número de células de CD4, ressaltando-se a

importância de aspectos psicoafetivos para a melhor vivência da soropositividade ao

HIV/AIDS (Zeña-Castillo et al., 2009).

Não se quer afirmar, no entanto, que características emocionais e psicológicas

sejam a causa de patologias, mas que condições de estresse percebido, ansiedade,

depressão, entre outras, podem contribuir para a diminuição da resposta imune do

organismo, o que pode ocasionar o surgimento de doenças oportunistas, trazendo

implicações para a Qualidade de Vida. Ademais, no contexto da soropositividade ao

HIV, as variações e implicações no sistema nervoso e endócrino, associados a quadros

118

depressivos ou de estresse, poderiam influir no aparecimento e na evolução dos

sintomas da doença, isto é da AIDS (Silva, Saldanha, & Azevedo, 2010).

Na avaliação das dimensões da Qualidade de Vida dos participantes desse estudo

procurou-se, ainda, considerar as suas condições de vida, uma vez que o perfil

sociodemográfico apontou para características de pauperização. Além disso, na

avaliação da Qualidade de Vida, mais especificamente no contexto do HIV/AIDS em

adultos mais velhos, sugere-se levar em conta as condições clínicas e sociodemográficas

das pessoas, bem como uma noção ampla de saúde, abarcando os aspectos

biopsicossoais e culturais do fenômeno.

Nesta direção, considerando o segundo Objetivo Específico desta Tese –

Analisar a relação entre a Qualidade de Vida e variáveis sociodemográficas e clínicas

entre os participantes HIV+ com idade igual ou superior a 50 anos –, foram realizados

testes de comparação de médias (Test t) e de correlação (r de Pearson) entre as variáveis

sociodemográficas (sexo, idade, escolaridade, estado civil, religião, situação laboral e

renda) e clínicas (estágio HIV, tempo de diagnóstico e uso de TARV e CD4) e os

fatores da Qualidade de Vida, bem como em relação à avaliação geral de Qualidade de

Vida.

A partir das análises, não foram encontradas diferenças estatisticamente

significativas em relação às variáveis clínicas. Cabe ressaltar, que a influência de

variáveis clínicas na avaliação que as pessoas com HIV/AIDS fazem acerca da

Qualidade de Vida é controversa (Santos, Franca Jr, & Lopes, 2007; Reis, et al., 2010).

Estudos demonstram a influência do estágio HIV (sintomático e assintomático) na

percepção de Qualidade de Vida (Calvetti, Muller, & Nunes, 2008), do tempo de

diagnóstico e de uso da TARV (Silva et al., 2010), bem como em relação aos níveis de

119

CD4 (Santos et al., 2007). Outros estudos (Santos et al., 2007; Reis, et al., 2010),

porém, demonstrarem não haver diferenças em relação a tais variáveis.

Esta controvérsia também ocorre em relação às variáveis sociodemográficas,

com exceção da variável renda que em vários estudos (Santos et al., 2007; Silva et al.,

2010) tem diferenciado os participantes em relação à percepção de Qualidade de Vida,

sendo tal avaliação mais negativa entre as pessoas de menor renda. Neste estudo, não

foram identificas diferenças estatisticamente significativas entre os fatores da Qualidade

de Vida e as variáveis sociodemográficas, exceto em relação à variável renda.

Na comparação entre as médias dos grupos critérios (1= renda menor que 2

salários mínimos; 2= renda igual ou superior a 2 salários mínimos), a variável “renda”

influenciou na avaliação da Qualidade de Vida dos participantes com idade igual ou

superior a 50 anos com HIV/AIDS que possuíam renda familiar menor que 2 salários

mínimos, apresentando baixos escores nos fatores “Psicológico” e “Ambiental”,

conforme Tabela 13 abaixo.

120

Tabela 13

Relação entre os Fatores do Psicológico e Ambiental e a variável renda.

Fatores Grupo Critério n M DP t p

Físico

Renda

< 2 salários

≥ 2 salários

57

28

60,64

64,29

23,5 ,722 ,472

Psicológico

Renda

< 2 salários

≥ 2 salários

57

28

61,84

70,18

18,53

13,91

2,107 ,038*

Independência

Renda

< 2 salários

≥ 2 salários

57

28

55,26

50,15

16,86

16,35

1,009 ,316

Social

Renda

< 2 salários

≥ 2 salários

57

28

65,68

68,30

16,20

13,70

,737 ,463

Ambiental

Renda

< 2 salários

≥ 2 salários

57

28

45,76

63,54

19,32

19,18

2,714 ,008*

Crenças pessoais/ Espiritualidade

Renda

< 2 salários

≥ 2 salários

57

28

75,22

76,56

14,17

11,86

2,714 ,518

*Test t com p< 0,05

121

No contexto da AIDS, a consideração de variáveis que apontam as

desigualdades socioeconômicas têm contribuído para a compreensão dos determinantes

sociais que influenciam de forma significativa a gravidade da epidemia, apontando para

a relação existente entre AIDS e vulnerabilidade social (Ayres et al., 1997), sugerindo-

se estudos sobre o impacto desta relação para a Qualidade de Vida das pessoas com

idade igual ou superior a 50 anos soropositivas para o HIV.

Achados nesta direção (Fonseca et al., 2000; Silva et al., 2010) mencionam a

renda como um fator diretamente relacionado às condições de saúde do indivíduo e a

sua capacidade funcional, demonstrando a relação existente entre baixa renda,

comprometimentos com estado de saúde e Qualidade de Vida. Se por um lado a renda

pode limitar o acesso aos serviços de saúde preventivos, por outro, pode estar associada

à própria condição de saúde das pessoas.

O Fator Ambiental – que avalia a presença de recursos financeiros, qualidade

na assistência à saúde, melhores informações sobre a sua infecção, dentre outros

aspectos – apresentou-se mais negativamente na avaliação dos participantes com menos

renda. A esse respeito, considera-se que a convivência com uma patologia crônica

demanda cuidados médicos e o uso continuado de medicamentos, contribuindo para a

necessidade de suporte financeiro que, quando da sua ausência, pode ser um fator de

estresse para as pessoas. Todavia, verifica-se que o Fator Ambiental, embora relevante

para uma avaliação de Qualidade de Vida satisfatória, não determinou, por si só, a

avaliação geral de Qualidade de Vida.

Por outro lado, é importante considerar a baixa renda mensal observada entre

os participantes, com 67,4% da amostra referindo renda familiar de até 2 salários

mínimos (correspondente ao valor máximo de R$ 930,00, no momento da coleta de

122

dados), uma vez que a renda esta relacionada com as condições sociolaborais da região,

bem como pode ser decorrente do estado de saúde e capacidade funcional para o

exercício das atividades diárias, o que dificultaria ainda mais sua permanência ou

inserção no mercado de trabalho.

Na avaliação dos domínios da Qualidade de Vida, é possível que cada indivíduo

combine diferentes aspectos de sua vida e os resuma em uma avaliação global em

função de cada dimensão do construto. Contudo, não se sabe se, durante esta avaliação,

os indivíduos realmente fazem um resumo de tudo, ou se incluem apenas aspectos que

os preocupam no momento da avaliação. Tal questionamento tem sido considerado ao

se avaliar diferentes resultados de pesquisas que avaliaram a Qualidade de Vida de

grupos semelhantes (Rapkin, & Schwartz, 2004), principalmente em contextos de

doenças específica como o HIV/AIDS.

A percepção de Qualidade de Vida pode ser percebida como boa ou ruim

dependendo de aspectos sociodemográficos e clínicos, dos significados atribuídos ao

processo de adoecimento, do apoio social percebido, dos grupos sociais de pertença,

dentre outros.

A Qualidade de Vida depende, então, da interpretação que cada indivíduo faz

dos fatos e eventos e está intimamente relacionada à percepção subjetiva dos

acontecimentos e condições de vida (Pereira et al., 2006). A diminuição da capacidade

para o exercício das atividades diárias e independência, por exemplo, pode não

significar o mesmo para dois indivíduos diferentes, bem como para indivíduos da

população em geral sem o diagnóstico de soropositividade ao HIV/AIDS. Assim, há

para cada indivíduo, na avaliação do impacto psicossocial da AIDS, uma forma de

operacionalizar sua avaliação, e a avaliação de um mesmo indivíduo pode variar com o

123

tempo, com a variação de prioridades ao longo da vida e com as circunstâncias pelas

quais a vida pode se modificar (Pereira et al., 2006).

Ante tais considerações, não se quer apontar para a existência de inconsistência

das medidas utilizadas ou baixa operacionalização do construto. Mas sugere-se que a

avaliação de Qualidade de Vida seja contextualizada por se tratar de um construto que

tem como característica fundamental a subjetividade, o que tem contribuído para uso

combinado de medidas quantitativas e qualitativas.

As considerações acerca da Qualidade de Vida devem ser compreendidas tendo

em conta que se trata de pessoas com idade igual ou superior a 50 anos com HIV/AIDS,

caracterizadas, em sua maioria, com baixa escolaridade e renda e todas fazendo uso da

terapia antirretroviral. É a partir deste contexto que se procurou verificar e analisar as

variáveis de impacto na Qualidade de Vida desses atores sociais.

4.4. Variáveis explicativas da Qualidade de Vida em pessoas na maturidade e

velhice com HIV/AIDS

Considerando o terceiro e o quarto Objetivo Específico da Tese, isto é,

Identificar as variáveis preditoras da Qualidade de Vida para os participantes HIV+

com idade igual ou superior a 50 anos e Analisar, entre os participantes com idade

igual ou superior a 50 anos, a relação entre os Transtornos Mentais Comuns, os

Sintomas de Ansiedade e Depressão e a Qualidade de Vida, respectivamente, realizou-

se uma análise de regressão linear múltipla (método stepwise).

Como variável consequente, considerou-se Qualidade de Vida Geral, medida

pela média ponderada dos itens 1 e 2 do instrumento WHOQOL-HIV Bref (Como você

124

avalia sua Qualidade de Vida?; Como você avalia a sua saúde?). Já para a inclusão das

variáveis antecedentes, foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão:

1. Considerar apenas as variáveis que apresentaram diferenças estatisticamente

significativas na comparação entre o grupo de pessoas com idade igual ou superior

a 50 anos, soropositivas para o HIV, e o grupo de pessoas da população em geral

sem diagnóstico soropositivo. Conforme pode ser observado nos resultados até

então apresentados, foi encontrada diferença significativamente significante entre

os grupos para as variáveis: físico (FS), psicológica (PSI), independência (IND),

social (SO), ansiedade (ANS), humor depressivo/ansioso (HDA), sintomas

somáticos (SS), decréscimo da energia vital (DEV), pensamento depressivo (PD) e

Transtornos Mentais Comuns (TMC), indicados por meio do SRQ.

2. Considerar àquelas variáveis que apresentaram correlações significativas com a

Qualidade de Vida (QV), no entanto que apresentassem correlações menores que

0,75 entre si, evitando o efeito de multicolinearidade.

Com a finalidade de atender ao segundo critério, efetuou-se uma correlação de

Pearson, como pode ser observado na Tabela 14. Os resultados indicam a existência de

correlações significativas entre todos os construtos utilizados (foram consideradas

apenas as correlações maiores que r=,30) e a Qualidade de Vida. No entanto, conforme

esperado, observa-se também a existência de correlações altas entre os fatores do SQR-

20 e seu índice geral, acrescido da variável ansiedade.

125

Tabela 14

Correlações entre a Qualidade de Vida e as variáveis antecedentes

QV FS PSI IND SO ANS HDA SS DEV PD SRQ

QV 1

FS ,69 1

PSI ,70 ,70 1

IND ,69 ,73 ,65 1

SO ,49 ,57 ,49 ,54 1

ANS -,52 -,63 -,67 -,48 -,37 1

HDA -,47 -,50 -,59 -,26 -,24 ,68 1

SS -,36 -,32 -,34 -,25 -,05* ,53 ,58 1

DEV -,58 -,62 -,61 -,55 -,39 -,61 ,56 ,35 1

PD -,32 -,35 -,46 -,23 -,14* ,56 ,48 ,29 ,50 1

SRQ -,58 -,59 -,65 -,44 -,27 ,76 ,83 ,72 ,81 ,71 1

*Não significativo;

Legenda: QV (qualidade de vida); FS (físico); PSI (Psicológico); IND (Independência); SO (Social); ANS

(Sintomas de Ansiedade); HDA (Humor Depressivo Ansioso); SS (Sintomas Somáticos); DEV

(Decréscimo de Energia Vital); PD (Pensamentos Depressivos); SRQ (Pontuação total no SRQ-20).

Diferente da Escala WHOQOL-HIV Bref em que as facetes que avaliam a

Qualidade de Vida Geral são independentes das facetas que compõe os fatores, na

escala SRQ-20 (que avalia os Transtornos Mentais Comuns) o Fator Geral é dado pelo

somatório de todas as facetas que compõem os quatro fatores (Humor

Depressivo/Ansioso, Sintomas Somáticos, Decréscimo da Energia Vital e Pensamento

Depressivo).

126

Deste modo, tendo em vista reduzir o número de vaiáveis antecedentes para a

análise de regressão, dado o n amostral (86), e considerando que as facetas dos fatores

do SRQ estão incluídas no SRQ global – fato corroborado pelas correlações altas entre

o fator geral do SRQ e seus fatores e a variável Sintomas de Ansiedade –, optou-se pela

utilização de um índice geral, doravante denominada Transtornos Mentais Comuns

(TMC), aglutinando estas variáveis. Assim, testou-se um modelo incluindo apenas as

seguintes variáveis antecedentes: Físico (FS), Psicológica (PSI), Independência (IND),

Social (SO) e Transtornos Mentais Comuns (TMC), indicados por meio do SRQ global.

A partir destas considerações, a Figura 2 ilustra as relações hipotetizadas, com

seus devidos índices de correlação (r). As hipóteses associadas, Físico, Psicológico,

Independência e Social afirmam sua influência positiva sobre a Qualidade de Vida, ao

passo que a hipótese Transtorno Mental Comum constitui influência negativa.

127

Figura 2

Relações hipotetizadas entre a variável Qualidade de Vida e as variáveis Físico, Psicológico,

Independência, Social e Transtorno Mental Comum.

Para verificação das hipóteses e obtenção do valor preditivo de cada variável, foi

utilizado a Regressão Múltipla por Etapas (Stepwise), onde o índice (R) indica o grau de

correlação existente entre as variáveis preditoras e a variável critério. Obteve-se também

o peso (Beta estandartizado) para cada variável antecedente na predição da variável

critério.

Dor e desconforto, energia e fadiga, sono e

descanso, sintomas HIV. FÍSICO

Sentimentos positivos e negativos, cognição,

auto-estima, imagem corporal.

Mobilidade, atividades diárias, dependência

de medicamentos e tratamento, aptidão ao

trabalho.

Relacionamentos pessoais, suporte social,

atividade sexual.

PSICOLÓGICO

INDEPENDENCIA

SOCIAL

Sintomas emocionais e físicos não

psicóticos: diminuição da energia, sintomas

somáticos (cefaléia, insônia, inapetência,

nervosismo, queixas estomacais), humor

depressivo/ ansioso e pensamentos

depressivos/ suicidas.

Q

U

A

L

I

D

A

D

E

D

E

V

I

D

A

TRANSTORNO

MENTAL LEVE

Descrição Variáveis

r =,69

r =,69

r =,68

r =,47

r = - ,58

128

A análise de Regressão Múltipla indicou uma quantidade significativa de

variância compartilhada (RM = 0,78; R2 = 0,61; p<0,000) entre a variável critério e três

variáveis antecedentes (Psicológica, Independência e Transtornos Mentais Comuns), ou

seja, explicando conjuntamente 60% da variância total na determinação da Qualidade de

Vida.

Tabela 15

Regressão múltipla da Qualidade de Vida em relação às variáveis antecedentes.

Variáveis R R2 F Sig(F) BETA (β) t p

Psicológica

Independência

TMC

0,698

0,766

0,781

0,487

0,587

0,610

F(1,83)= 78,648

F(2,82)= 58,337

F(3,81)= 42,310

0,0001

0,0001

0,0001

0,297

0,414

-0,201

2,730

4,529

2,195

,008

,000

,031

De acordo com estes resultados, observa-se que o componente Independência

(= 0,414) foi o principal responsável pela explicação da variância da avaliação de

Qualidade de Vida, o que vem a demonstrar a importância da autonomia na vida destas

pessoas. Segue-se o fator Psicológico (β = 0,29), e, com menor peso e explicando de

forma negativa, os Transtornos Mentais Comuns (β = -0,20).

Os resultados parecem indicar que a percepção global de Qualidade de Vida é

mais abrangente que o status de saúde, podendo ser influenciada, mais especificamente,

pelo fator psicológico (numa perspectiva mais subjetiva dos aspectos vivenciados:

sentimentos positivos e negativos, cognição, autoestima e imagem corporal), pelos

Transtornos Mentais Comuns (incluindo sintomas de ansiedade e depressão) e pela

129

independência, os quais têm implicações psicossociais para a convivência com a

HIV/AIDS na maturidade e na velhice.

Tal avaliação de Qualidade de Vida em pessoas com idade igual ou superior a

50 anos com HIV/AIDS não está, necessariamente relacionado aos aspectos físicos e

sintomas da doença, mas considera, principalmente, os aspectos da dimensão

psicológica (e, portanto, relacionado à subjetividade), da saúde mental (Transtornos

Mentais Comuns) e da independência que propiciam a convivência com a doença – não

necessariamente a cura – e a manutenção das atividades diárias.

A partir dos resultados, verifica-se que a percepção de Qualidade de Vida no

contexto do HIV/AIDS é perpassada por aspectos da experiência subjetiva dos

indivíduos, experiência essa que pode estar relacionada direta e indiretamente com

outros processos de saúde-doença (Transtornos Mentais Comuns), podendo a percepção

de Qualidade de Vida e seu significado variarem ao longo do tempo entre indivíduos e

no indivíduo.

Sugere-se que, ao avaliar as dimensões da vida (físico, psicológico, social,

independência, ambiental), as pessoas com HIV/AIDS consideram suas expectativas

frente ao seu contexto atual. Assim, é possível encontrar em estudos (Silva, & Saldanha,

2010 ), por exemplo, nos quais as pessoas da população em geral avaliem sua dimensão

física de forma mais negativa que as pessoas com HIV/AIDS, uma vez que as

expectativas das pessoas que convivem com uma doença crônica, geralmente associada

com a morte, atribuirão outros valores ao seu estado de bem estar e/ou Qualidade de

Vida. Assim, por exemplo, a redução nos sentidos da visão ou audição em pessoas

HIV+ pode não significar muito diante das expectativas de morte vivenciado por muitos

deles.

130

Já as pessoas sem diagnóstico fazem suas avaliações tendo em conta outras

expectativas, como, por exemplo, as atividades que exerciam em outras faixas etárias.

Tal perspectiva corrobora a definição de Qualidade de Vida da OMS (1995, p.1405)

quando afirma que a mesma se refere a “percepção do indivíduo”, estando tal percepção

associada à “sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais

ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”.

4.5. Aspectos psicossociais da AIDS na perspectiva dos participantes: implicações

para a saúde mental e Qualidade de Vida.

Considerando o quarto e último Objetivo Específico da Tese, isto é, apreender

os discursos dos participantes com idade igual ou superior a 50 anos acerca da sua

convivência com o HIV/AIDS, foram realizadas entrevistas com dez pessoas, as quais

foram selecionadas tendo em conta algumas características do perfil maior da amostra

(86 pessoas). Assim, considerou-se os seguinte critérios: a) participantes do sexo

masculino e feminino, sendo a maioria homens; b) idades distribuídas ao longo da faixa

etária (idade igual ou superior a 50 anos); c) renda de até dois salários mínimos; e d)

participantes com até 8 anos de escolaridade.

Assim, participaram, de forma não-probabilística e por conveniência, 10

pessoas soropositivas para o HIV, sendo 6 homens e 4 mulheres, com idades variando

de 51 a 72 anos, com renda familiar de um salário mínimo e até 8 anos de escolaridade.

Nove dos participantes eram aposentados e estavam fora do mercado de trabalho e um

participante recebia auxílio doença, permanecendo, ainda, no seu trabalho, mas com

carga horária reduzida.

131

Quanto aos aspectos clínicos, o tempo médio de diagnóstico de

soropositividade ao HIV/AIDS foi de 7 anos, variando de 1 a 14 anos e todos estavam

fazendo uso da TARV no momento da pesquisa. Se por um lado estes dados apontam

para a eficácia do tratamento na sobrevida dessas pessoas, por outro demonstra a

dificuldade dos mesmos em permanecerem exercendo suas atividades ocupacionais, fato

apresentado pelos participantes como motivo de angústia e sofrimento, acompanhada da

sensação de improdutividade (Silva, 2009).

Dos participantes, sete já adentraram na maturidade e velhice com a

soropositividade ao HIV, dois contraíram a doença após os 50 anos e um após os 60

anos. Além disso, a maioria dos participantes (nove) contraiu a doença através de

relações sexuais, apresentando-se como a principal via de contágio.

No caso das mulheres, todas eram casadas e contraíram a doença do parceiro,

tendo apenas uma mantido o relacionamento após o diagnóstico. Todas as mulheres

justificaram a ausência do uso de preservativo em decorrência da confiança no parceiro

e por se considerarem a “mulher de casa” e não a “mulher de fora”, fato também

encontrado em relatos de mulheres soropositivas para o HIV entrevistadas no estudo de

Saldanha (2003) e de Silva (2009). Para esta autora, tais comportamentos são

fundamentados nas crenças existentes entre as mulheres sobre o mito do amor

romântico, as quais são construídas ao longo de suas histórias de vida.

Embora a maioria (nove) dos participantes morasse com familiares, cinco

participantes afirmaram não possuir cuidador quando necessitados de acompanhamento

para consultas ou internações, em decorrência do desconhecimento do diagnóstico por

parte da família.

132

Categorias enunciadas

A partir das entrevistas emergiram nove Categorias, a saber: a) Contágio, b)

Diagnóstico, c) Percepção da AIDS, d) AIDS na maturidade e na velhice, e)

Enfrentamento, g) Suporte, h) Preconceito, i) Trabalho e j) Perspectivas.

a. Contágio

Na categoria contágio, mais que apontar a maneira pela qual os participantes

contraíram o HIV/AIDS, são demonstrados indicadores de vulnerabilidade. Assim, é

possível observar que a vulnerabilidade ao HIV dessas pessoas está relacionada aos

aspectos coletivos e contextuais, não apenas individuais, da historia de vida dessas

pessoas (Silva, 2009):

(...) às vezes fico assim pensando o porquê que ele [marido] fez isso né, ter

botado isso [HIV] “neu”, (...) eu por outro lado como mulher dele, a mulher

de casa, não me prevenia pra ficar com ele, achando que ele se cuidava, até

porque eu como mulher dele confiava né, aí deu no que deu. (...) e ainda ficava

com outras e outras mulheres do cabaré, (...) pegou [HIV] foi com essas

mulheres de cabaré. [Participante 2; mulher; 52 anos]

Do meu marido né, daquele raparigueiro, de ter confiado nele e ele ter botado

[HIV] em mim, (...) ele morou 11 anos comigo, tinha outra mulher, transava

com ela sem camisinha. [Participante 7; mulher; 56 anos]

133

A confiança no parceiro está presente nos dois relatos como justificativa para a

ausência de prevenção. Todavia, subjacentes a estas falas estão às questões de gênero

verificadas na construção social do papel da “mulher submissa”, as quais são

consideradas na literatura (Saldanha, 2003; Machado, & Figueiredo, 2007; Silva, 2009)

como contribuinte significativo para a vulnerabilidade social e, consequentemente, para

a feminização da AIDS. Para Saldanha (2003), a partir das relações desiguais de poder e

acesso diferenciado a bens materiais e simbólicos entre homens e mulheres, constrói-se

uma moral social com valores distintos no que se refere ao comportamento sexual.

Em seus relatos, essas mulheres demonstram o sentimento de traição não só em

decorrência do contágio com o HIV através do parceiro, mas pelas relações sexuais que

seus parceiros tiveram com outras mulheres sem o uso do preservativo, uma vez que tal

comportamento, para elas, significa demonstração de amor, confiança e fidelidade,

justificando, inclusive, seus comportamentos frente ao seu uso. A pergunta “o porquê

que ele fez isso né, ter botado isso [HIV] „neu‟” fica sem resposta para essa mulher,

principalmente, quando ela se considerava “merecedora” da fidelidade conjugal do

marido por ser a “mulher dele, a mulher de casa”, ou seja, companheira e mãe dos seus

filhos.

Além disso, a imagem das mulheres profissionais do sexo – “mulheres de

cabaré” – são associadas como propagadoras do vírus HIV, imagem esta difundida no

início da epidemia da AIDS. No entanto, estudo realizado por Azevedo, Saldanha e

Silva (2008) apontou para a vulnerabilidade vivenciada também por estas profissionais

no exercício da sua atividade em decorrência da exigência dos clientes para não usar

preservativo, seja por pagamento financeiro superior ao valor do programa ou mesmo

através da violência física.

134

b. Diagnóstico

Considerando o processo de adoecimento e descobrimento da doença, o

momento do diagnóstico e a maneira como é revelado são fundamentais para a

formação de estratégias de enfrentamento por parte da pessoa que o recebe. No caso dos

participantes entrevistados, o diagnóstico de soropositividade ao HIV ocorreu através de

processos de adoecimento que os levaram a necessitar de cuidados de saúde.

(...) eu comecei a me sentir doente, sentindo um cansaço, dor no estômago

muito forte, e era eu sem querer comer, e era minha filha, magra, vomitando.

E cada médico que fizesse um tipo de exame. (...) Ninguém pediu teste pra

saber dessas coisas de HIV. Daí o tempo foi passando e eu ficando pior,

magrinha, magrinha. Aí foi quando eu fui fazer endoscopia. Aí quando eu

cheguei na médica, ela chamou meus filhos e disse: olhe, sua mãe realmente tá

doente, mas o problema dela é outro problema, o problema dela vai ser, eu

tenho quase certeza, o problema dela vai ser HIV. (...) Aí então, quando fez o

teste, aí pronto, deu. [Participante 10; mulher; 56 anos]

Ante o exposto, verifica-se que uma das características do diagnóstico de

soropositividade ao HIV em pessoas com idade igual ou superior a 50 anos é sua

revelação tardia (Silva, 2009). A passagem por vários profissionais, a realização de

vários exames, bem como diagnósticos incertos foram relatados pelos participantes. A

presença de sintomas como cansaço e desconforto no estomago também foi verificado

por meio da escala SRQ. Contudo, tais sintomas são, muitas vezes, considerados pelos

profissionais de saúde como patologias próprias do envelhecimento, ou seja, o binômio

sexo e AIDS é considerado pouco evidente nesse grupo etário (Oliveira, Lima, &

135

Saldanha, 2008), demonstrando a AIDS enquanto fenômeno social, perpassado por

questões morais e, no caso de pessoas com idade igual ou superior a 50 anos, tais

questões estão relacionadas, principalmente, à sexualidade.

Outro aspecto importante no processo de diagnóstico de HIV diz respeito à

forma como é revelado. Maliska, Padilha, Vieira e Bastiani (2009) sugerem que o

diagnóstico de soropositividade ao HIV seja realizado por profissionais de saúde atentos

aos anseios do paciente, o que é inviável sem uma escuta ampla e postura empática que

permita conhecer os limites e também as possibilidades que as pessoas possuem para

lidar com as adversidades do viver com a AIDS na maturidade e velhice. No entanto,

segundo o relato da participante 9, a revelação do seu diagnóstico por parte de um

profissional de saúde gerou sofrimento e crenças equivocadas para ela e sua família, as

quais foram minimizadas após serem atendidas por um serviço de atendimento

especializado:

(...) ele devia ter me chamado e conversado direitinho, mas não ele chegou

logo e aí disse assim: „vocês tá com AIDS, vou lhe encaminhar hoje mesmo pra

o hospital que tem lá em João Pessoa, você vai ficar lá internada‟. (...)„a

senhora vai ficar internada até um dia que a senhora morrer. A senhora vai

ficar lá no isolamento‟. (...) Me falou mesmo assim. Aí eu disse „ta, eu vou

fazer o que‟. (...) Aí ele me deu uns papéis, vim pra cá. Quando eu cheguei

aqui o pessoal me explicou „não, não vai acontecer nada disso não‟.

[Participante 9; mulher; 55 anos]

Em alguns casos, verifica-se que a devolutiva se dá através de profissionais

despreparados para lidar com o manejo clínico em AIDS. As pessoas acima de 50 anos

136

soropositivas para o HIV/AIDS, quando necessitadas de atendimento profissional, nem

sempre se deparam com equipes de saúde preparadas para lidar com as demandas

oriundas dessa clientela (Carvalho, Braga & Galvão, 2004). Embora se verificando

avanços no tratamento clínico da AIDS, muitas vezes, o atendimento às pessoas

caracteriza-se pela “repetição de preceitos normativos, além de uma postura de

distanciamento, com o exercício da autoridade médica dicotomizada com relação às

expectativas e vivências do paciente, agravadas pelo pouco tempo disponível para o

atendimento” (Saldanha et al., 2004, p. 90). Além dos aspectos mencionados, o

atendimento a pessoas acima de 50 anos é caracterizado por profissionais com

dificuldades em lidar com a sexualidade dessa categoria social, fazendo com que a

abordagem deste tema seja prejudicada (Oliveira et al., 2008; Silva, 2009).

A forma como é realizada a devolutiva do diagnóstico pode influenciar na

adesão do indivíduo ao tratamento, sendo necessário no processo de diagnóstico a

participação de uma equipe multidisciplinar capacitada junto ao paciente e seus

familiares. Ademais, no momento em que receberam o diagnóstico estas pessoas foram

confrontadas com a possibilidade de morte, comumente associada à AIDS, o que gerou

sentimentos de desespero, revolta e culpa.

Aí eu fiquei também meio nervosa, chorando. (...) Eu pensei que ia pra o

isolamento, não ia receber visita. (...) Aí eu fiquei meio nervosa assim „ah meu

Deus, nem vou ver mais minha família‟, porque eu pensei que ia morrer

[Participante 9; mulher; 55 anos].

137

Quando recebi o diagnóstico eu pensei assim: “eu nunca cheguei a uma fase

terminal”. Daí, fiquei tão desesperado, desesperado que acho que o mundo

morreu. Morreu com a doença, morreu pra amizade e me senti sozinho, sem

ninguém, acabou meu mundo [Participante 6; homem; 56 anos].

O medo, o desespero e a angústia inicial e, ainda, as alterações de humor,

foram sentimentos vivenciados por essas pessoas após receber o diagnóstico da

soropositividade ao HIV, o que pode contribuir para o surgimento sintomas de

ansiedade e depressão, aspectos dos Transtornos Mentais Comuns que apareceu com

maior frequência entre pessoas com HIV/AIDS. Segundo Machado e Figueiredo (2007,

p.6), esses sentimentos são acompanhados da “sensação de não ser e não pertencer, e a

impossibilidade de esquecimento da soropositividade, na medida em que a doença traz

em si uma relevante carga de estigmatização”. Há uma preocupação com os

relacionamentos interpessoais, uma vez que a doença, em alguns casos, contribui para a

perda do emprego, para o afastamento de amigos e mudanças na aparência física (Silva,

2009). Além disso, a revelação do diagnóstico emerge como uma sentença de morte,

seja em relação aos aspectos físicos, seja em relação aos projetos de vida. Não há, de

início, uma aceitação do diagnóstico, sendo acompanhada de sentimentos de angústia e

desejo de morrer:

Eu gritava: „deixe eu sair, deixe eu sair‟. Eu queria sair pra poder morrer, pra

comprar veneno. Procurei veneno dentro de casa e não achei porque se tivesse

eu teria tomado. Eu não queria mais viver. Aí o tempo foi passando, eu fui me

consultando com ela, e ela dizendo que eu ia tomar esse remédio pro resto da

138

vida e que a minha saúde ia melhorar, que eu ia ser uma pessoa normal como

qualquer um. [Participante 10; mulher; 56 anos]

Com base no relato acima, considera-se a estreita relação existente entre morte

e vida enquanto características, aparentemente opostas, da vida humana, uma vez que

subjacente a fala “eu queria morrer, eu queria morrer, eu não queria mais viver” está o

desejo de, se fosse possível, manter a vida que existia antes do diagnóstico. Nesse

sentido, Kubler-Ross (1996) descreveu as cinco fases vivenciadas por pacientes ao ter

diagnóstico de uma patologia sem cura: negação, revolta ou raiva, barganha ou

negociação, interiorização e aceitação. Embora não existindo linearidade entre as fases,

alguns autores (Goforth, Lowery, Cutson, Kenedi & Cohen, 2009) sugerem que as

pessoas com diagnóstico positivo ao HIV também vivenciam, de alguma maneira, tais

sentimentos. Em alguns casos, as pessoas podem recorrer a outros exames e outros

profissionais para desmentir o resultado recebido, principalmente em pessoas

assintomáticas (Silva, 2009). Já os sentimentos de revolta e raiva ocorrem quando a

pessoa se percebe soropositiva. A pergunta “por que eu?” é recorrente nos relatos,

seguido da procura por possíveis culpados ou mesmo a própria culpabilização.

Um negócio desse que culpa eu não tive. Uma coisa que ele [marido] podia ter

evitado se tivesse se prevenido, mas não. Mas Deus ta vendo. Também eu

confiava e sempre sobra pra mulher. Mas ninguém vai dar jeito. (...) Mas as

vezes que eu me vejo assim contrariada e fico chorando é desse meu problema

mesmo. Se eu pudesse eu não chegava nem perto dele. (...) porque ele me faz

lembrar a doença, é tudo culpa dele. Mas no momento, graças a Deus que eu

to só. [Participante 7; mulher; 56 anos]

139

(...) até porque eu sabia que ele [esposo] ficava com outras mulheres da vida,

eu também tive culpa por não me prevenir. Então eu nem posso me revoltar

tanto assim e ele é o pai dos meus filhos. [Participante 2; mulher; 51 anos]

Desse modo, verifica-se que o diagnóstico de AIDS na maturidade e velhice

desencadeia sentimentos adversos nas pessoas, os quais apontam a experiência subjetiva

que é manifestada em seus relatos. Contudo, há que se considerar que a produção de um

discurso sobre determinado fenômeno ocorre inserido em uma cultura, a qual é

considerada por Silva (2000) como sendo o espaço de confronto responsável pela

produção dos sentidos e dos sujeitos, de acordo com suas especificidades e grupos

sociais de pertença. Nessa perspectiva, Foucault (1987) referiu-se ao discurso como

sendo o conjunto de saberes e práticas “que formam sistematicamente os objetos de que

falam”, o que significa dizer que o discurso sobre determinado fenômeno, ao mesmo

tempo em que descreve uma realidade, contribui para a produção dessa realidade e do

próprio ator social. Assim, ao afirmar “... eu confiava e sempre sobra pra mulher. Mas

ninguém vai dar jeito”, essa participante descreve a condição da mulher e, ao mesmo

tempo, essa descrição é para ela uma realidade.

A construção desse discurso não é alienada do tempo histórico e cultural no

qual essa mulher se insere, mas reflete um conjunto de práticas discursivas sobre o

papel da mulher, mais especificamente sobre a vivência subjetiva do seu corpo de

mulher e de suas práticas sexuais (Silva, 2009).

140

c. Percepção da AIDS

As crenças elaboradas, socialmente, sobre a AIDS no decorrer da história

influenciaram as políticas públicas de atuação frente à epidemia, bem como

contribuíram para a elaboração e, depois, a desconstrução da noção de grupos de risco

(Ayres, 2002). Numa perspectiva mais individual, a forma como os indivíduos

subjetivam os seus processos de saúde e doença, como a AIDS, tem influência nas

estratégias de enfrentamento utilizadas pelos mesmos (Silva, 2009). Nesse sentido, a

vivência da AIDS foi percebida de forma negativa, gerando sofrimento psíquico, mas

apresentando também ganhos secundários, ou seja, benefícios adquiridos em

decorrência de estar vivendo determinada situação, como, por exemplo, maior atenção

por parte dos familiares.

No que se refere à percepção negativa, a AIDS é a associada às dificuldades de

se conviver com uma doença que não tem cura, bem como ao impacto negativo de

campanhas de prevenção, tendo como referência a percepção do portador.

(...) me sinto triste, muito triste, uma coisa dessa é muito ruim. (...) sei que

toda vida tem dificuldade, mas você sabe que tem outros problemas, mas esse

não, esse meu não tem jeito. [Participante 1; homem; 72 anos]

Hoje está bem maleável, usar camisinha tudo bem, mas só que, na época, a

medicina colocou pânico. Eu andava com medo. Hoje ainda tenho um

medozinho, acho até a medicina até mais razoável, mas também ia chegar a

um ponto que ninguém ia olhar mais pra ninguém, como dizia a história „quem

vê cara não ver AIDS‟. Pra mim, portador, isso me matava. [Participante 6;

homem; 56 anos]

141

A associação entre AIDS e morte, segundo Ayres (2002), foi uma imagem

frequente em campanhas de prevenção no início da epidemia, gerando pânico na

sociedade em geral e, no caso das pessoas soropositivas ao HIV, contribuiu para o medo

de serem rejeitadas. Essa via de discurso nas campanhas de prevenção, além de se

mostrar ineficaz, promoveu o medo e o preconceito entre as pessoas (Silva, 2009). É

possível perceber nos relatos a presença de expectativas em relação à morte e o morrer,

estando associada, em alguns casos, a sintomas de ansiedade e depressão, o que explica,

de certo modo, o maior impacto da AIDS para as pessoas com idade igual ou superior a

50 anos no fator Psicológico da Qualidade de Vida e no fator global do SRQ, quando

comparados com a população em geral.

No discurso dos participantes, também foi frequente a nomeação de categorias

sociais excluídas e discriminadas no início da epidemia, como profissionais do sexo,

homossexuais e usuários de drogas injetáveis, aos quais foi atribuída a responsabilidade

pela propagação do vírus.

Às vezes o cara também é casado e sai com outras, ou mulher também aí passa

pra ele. E assim vai. Eu ainda acrescento uns 15%, que pra completar os

100%, que o cara que usa droga na veia. E o restante são caras de 40, 50 anos

que são solteiros, aí vai pro cabaré e se contamina, entendeu? Mas a maior

parte, sem querer ser ofensivo, é homossexual. (...) mas nem por isso é o caso

de você desprezá-lo ou dizer que ta errado ou que ta certo. [Participante 8;

homem; 53 anos]

Diferente do relato acima que associou a AIDS aos chamados grupos de risco

do início da epidemia, dados do Ministério da Saúde do Brasil têm demonstrado o

142

processo de “heterossexualização” da AIDS. Na década de 1980, início da epidemia, os

casos de AIDS diagnosticados em homossexuais, heterossexuais e bissexuais eram de

24,2%, 17,4% e 14,2%, respectivamente. Em 2010, o índice de casos de AIDS em

heterossexuais foi de 43,4%, ao passo em que os homossexuais e bissexuais

representaram 20,7% e 7,8%, respectivamente (Brasil, 2010). Todavia, para melhor

entendimento acerca dos discursos supracitados, se faz necessário considerar que os

autores desses discursos falam a partir de um lugar social (Silva, 2009). Não se trata,

pois, de pessoas com realidades particulares no mundo, mas se trata de um “ser social,

apreendido em um espaço coletivo” (Fernandes, 2005, p. 33).

Os homossexuais e os profissionais do sexo são categorias sociais com legado

de preconceito e discriminação anterior aos primeiro casos de AIDS, categorias essas

que contrapõem os parâmetros da moral heteronormativa e religiosa sobre o “certo” e o

“errado”, sobre o “normal” e “anormal” acerca das práticas sexuais e da vivência

subjetiva do corpo (Araújo, & Oliveira, 2008). Os relatos dos participantes, assim, são

perpassados pelo conjunto de práticas discursivas sobre os homossexuais e profissionais

do sexo, as quais vêm mudando no decorrer da história, mas que ainda possui

preconceitos subjacentes, embora manifestado de forma diferenciada, forma essa

denominada por Camino, Silva, Machado e Pereira (2001) de “preconceito sutil”. Para

estes autores, embora o preconceito e o estereótipo sejam construtos e estejam no plano

da consciência individual, sugere-se que, na análise dos mesmos, seja considerada a

natureza das relações intergrupais no que tange às suas formas de comunicação, de

elaboração e de propagação dos discursos (Camino et al., 2001).

Ainda no que se refere à percepção da AIDS, verifica-se os aspectos

emocionais e afetivos que são vivenciados em decorrência da doença, contribuindo para

143

a percepção da AIDS como um acontecimento que impulsiona o indivíduo para uma

avaliação das suas experiências passadas e presentes, bem como gerando tristeza e

ansiedade (Silva, 2009), o que foi verificado na análise dos sintomas de Ansiedade por

meio da HADa (Tabela 9, p.99), o que prejudicar a adesão ao tratamento.

Num sei, dá uma crise de choro em mim, sozinho. (...) penso no que estou

passando na minha vida, o que já foi, o que já era, o tempo todo a gente

pensando nesse problema, tudo ta errado. (...) Quando esses pensamentos vêm,

aí me dá a crise, eu sei que é difícil, eu fico triste muito triste, depressivo, não

dá nem vontade de vir aqui pegar esse medicamento, para que? Se isso um dia

vai ter fim, o meu fim. [Participante 1; homem; 72 anos]

Estudos (Junqueira, Bellucci, Rossini & Reimão, 2008; Christo, 2010) têm

apontado a prevalência da depressão em pessoas soropositivas para o HIV,

demonstrando características e implicações. Dentre outros fatores, a depressão pode

influenciar a adesão ao tratamento, seja não tomando a medicação prescrita, seja não

atendendo as recomendações dos profissionais de saúde (Silva, 2009). Embora tendo

que lidar com muitos problemas físicos, sociais e emocionais, alguns participantes

discorreram sobre a necessidade de “olhar além” de sua própria situação, falando dos

ganhos secundários da doença, ou seja, o que melhorou depois do diagnóstico, bem

como a necessidade de transmitir às pessoas recém-diagnosticadas sua vivência com a

doença.

Depois da doença sabe, agora eu sou feliz. Antes eu não sabia o que era ser

feliz. Sou feliz com certeza. (...) E eu com AIDS eu sou feliz pra caramba

144

porque eu tenho o meu Deus. Eu não conhecia Deus. [Participante 3; homem;

57 anos]

Antes de ser portador, não tinha nem contado de amizade com tanta gente.

(...) Eu não tinha amizades por que eu estava bom de saúde, por que eu não

sabia que tinha problema nenhum. Aí depois que eu adoeci, aí resolvi procurar

amizade. [Part. 6; homem; 56 anos]

Pesquisas nesta direção (Saldanha, 2003; Ribeiro, Coutinho, Saldanha &

Azevedo, 2006) demonstram que relatos de pessoas soropositivas para o HIV indicam a

existência de ganhos secundários com a doença: melhoria na espiritualidade,

ressignificação da vida, melhoria nas relações familiares, aprofundamento de laços

afetivos, entre outros. A soropositividade impõe perdas significativas (amigos,

emprego, planos), mas ao mesmo tempo traz mudanças subjetivas de cunho positivo,

incluindo novos valores e expectativas frente à vida.

d. AIDS na maturidade e velhice

Os participantes fizeram uma distinção entre a velhice de um modo geral e a

experiência individual da velhice no contexto da AIDS. Assim, ao relatar sobre as suas

vivências, os participantes discorrem sobre atributos positivos que os tornam distintos e

com ganhos em relação aos mais jovens.

Essa coisa de ter essa doença na terceira idade tudo depende da pessoa certa,

velho ou novo, vai depender de quem a pessoa ta, de quem a gente confia, se

presta ou não presta, aí ela pode pegar ou não pegar. (...) Eu quero é viver,

145

doutora, tem gente jovem aí muito mais acabado que eu, só vive reclamando o

tempo inteiro, eu não, eu quero é seguir vivendo. [Part. 7; homem; 56 anos]

Eu fico com pena quando eu vejo um garoto de 16, 18 anos ta com AIDS,

mesmo com toda a informação que ta aí no mundo e a pessoa pegar AIDS com

13, 14 anos de idade né. Aí é preocupante né. (...) Porque a pessoa com AIDS

na terceira idade ele já teve uma vida, mas um jovem não viveu, tem toda uma

vida, é saudável. [Part. 8; homem; 53 anos]

A AIDS na velhice apresenta-se como um evento de menor impacto quando

comparado aos jovens, uma vez que se considera o tempo de vida já decorrido depois

dos 50 anos, bem como o fato de já terem construído um futuro. Assim, estas pessoas

consideram que a AIDS entre os jovens acarretaria em maiores danos em decorrência do

não-aproveitamento da vida, já que a doença imporia limitações e tornaria a morte um

acontecimento iminente (Silva, 2009). Corroborando tais discursos, quando comparado

com as pessoas com idade igual ou superior a 50 anos com HIV, verificou-se que as

pessoas de menor idade apresentaram maiores índices de Transtornos Mentais Comuns

por meio da escala SRQ (Tabela 5, p.94).

Outros participantes, porém, afirmam que a AIDS na velhice contribuiu ainda

mais para o abreviamento dos anos de vida. A experiência individual de tempo é

constituída por meio das interações sociais visto que a percepção negativa da AIDS, não

da velhice, emergiu como o fator que contribuiu para o medo de ficar “dependendo dos

outros”, de não ter oportunidade de trabalho e de ficar sozinho, o que corrobora o fator

Independência como variável de maior poder explicativo para as pessoas com

HIV/AIDS na maturidade e na velhice. Contudo, a ênfase na independência ocorre não

146

devido, apenas, à doença em si, mas a superação de estigma de improdutividade

associado ao próprio envelhecimento, dificultando a inserção no mercado de trabalho:

(...) mesmo eu estando já com 72 anos. O tempo de vida ta muito curto e aí

vem essa doença e a gente não cura de jeito nenhum, (...)penso que não vou

viver mais o suficiente, até porque eu já estou numa idade, 72 anos, mas a

gente não pára de sonhar, a gente envelhece tendo sonhos. [Participante 1;

homem; 72 anos]

Porque é sempre uma situação difícil, porque eu com 51 anos e ainda doente.

E uma pessoa assim fica muito difícil o povo querer. Ninguém quer dar

emprego pra um velho com AIDS né. [Participante 4; homem; 51 anos]

Embora a TARV tenha prolongado a vida das pessoas que convivem com a

doença e melhorado sua Qualidade de Vida, verifica-se que a AIDS impõe limitações no

plano social e subjetivo, seja em decorrência dos medicamentos, seja devido à evolução

da própria doença. Além disso, de acordo com Malbergier (2000), a incapacidade

trazida pelo adoecimento pode significar não corresponder às suas expectativas em

relação ao futuro, favorecendo a interrupção de projetos de vida pessoal, familiar e

profissional.

e. Enfrentamento

Após o momento em que se descobrem soropositivas para o HIV, as pessoas

demonstram a necessidade de reorganizar a vida em seus vários aspectos (Machado e

Figueiredo, 2007). A partir dos relatos dos participantes, verifica-se que a nova

147

condição foi incorporada de maneira diferenciada para essas pessoas, através de

estratégias igualmente distintas. Há, em alguns casos, uma naturalização da AIDS

como um acontecimento que não alterou significativamente o seu cotidiano.

(...) apesar de eu estar com esse problema, tem hora que eu nem sei se estou

com essa doença, porque eu não sinto nada, vivo bem, como bem, durmo bem.

[Participante 2; mulher; 51 anos]

A naturalização da AIDS é comumente demonstrada por pessoas

assintomáticas, contribuindo para que a AIDS passe a ser mais um aspecto a ser

vivenciado, sendo prioritárias questões mais urgentes, tais como: renda, moradia e

alimentação, ou seja, aspectos mais objetivos do dia-a-dia (Silva, 2009). “Neste

momento, focaliza-se na vida, na continuidade dos projetos de vida e no desempenho de

papéis sociais no âmbito da família e do trabalho” (Machado e Figueiredo, 2007, p.10).

Diferentemente da naturalização, alguns participantes utilizaram a religiosidade como

estratégia de enfrentamento por meio da qual esperam ser possível reduzir a ansiedade

frente à doença e à possibilidade da morte.

Eu não tenho direito de determinar a minha morte, por que quando eu parar

pra pensar em Deus e vou pensar: “a AIDS, é digamos, como diabetes, e

outras doenças que se tornam gravíssimas e que não tem cura” então até por

aí eu não me desespero. Aí isso me conforta muito. (...) a religião ajudou muito

porque eu dei esses saltos, estou dando até agora. [Participante 6; homem; 56

anos]

148

Nos relatos acima, a espiritualidade/religiosidade/crenças pessoais apresenta-se

como uma maneira de enfrentar os eventos estressantes como a AIDS, por exemplo.

Nesse sentido, é possível que a religiosidade contribua para a manutenção de um

sentido na vida, já que a AIDS, enquanto doença incurável apresenta-se como um

evento cuja resolução não depende do indivíduo (Silva, 2009). Além da religiosidade,

os participantes abordaram outras formas de enfrentamento como o sigilo, ou seja, a

manutenção do resultado apenas para si ou, no máximo, para alguma pessoa confidente

que, na maioria dos casos, trata-se de um parente ou amigo muito próximo em quem a

pessoa confia. Tal sigilo é assegurado, tendo em vista o medo de não poder controlar o

conhecimento do seu diagnóstico por outras pessoas. Ocorre, ainda, que algumas

pessoas falam da sua doença como sendo outra patologia, bem como procuram

tratamento de saúde em outros municípios, evitando, assim, serem reconhecidos.

f. Suporte

Com o aumento da sobrevida das pessoas em decorrência da terapia

antirretroviral, as redes de apoio social e a participação em atividades sociais no

cotidiano tornaram-se aspectos relevantes no enfrentamento da soropositividade ao

HIV/AIDS (Silva, Medeiros & Saldanha, 2008), o que é corroborado pelos relatos dos

participantes:

Recebi sempre ajuda no meu trabalho, dos moradores. Pronto, agora mesmo

eu necessitei fazer uma ressonância e não eu tinha condição financeira. Então

essa história chegou no meu trabalho e todo morador do prédio que eu

trabalhava ajudou. [Participante 4; homem; 51 anos]

149

É bom quando na hora da visita a gente ver, é só uma hora, mas quando sai o

pessoal chega você fica aliviado. (...) minha esposa me ajuda a lembrar a

medicação. Tudo é a família. [Part. 8; homem; 53 anos]

Nesta direção, um estudo realizado por Ncama et al. (2008) com sul-africanos

soropositivos ao HIV, demonstrou que o número de amigos próximos e a família

constituíram-se fatores que contribuíram para um maior senso de suporte social . A

percepção positiva sobre o apoio social recebido apresenta-se necessário para a

manutenção do bem-estar, uma vez que as percepções negativas podem desmotivar as

pessoas na manutenção do tratamento, prejudicando, assim, a adesão ao mesmo (Silva,

2009). Para Machado e Figueiredo (2007, p.7), o suporte social contribui “para o

término de uma postura de auto-reclusão, na medida em que a vivência e o acolhimento

do outro, potencializam sentimentos de integração, suprindo com elementos para re-

estabelecimento do equilíbrio psicoativo”. Assim, para os participantes desta pesquisa, a

família propiciou a estas pessoas uma rede de suporte social e afetivo, favorecendo o

desenvolvendo estratégias de proteção para a convivência coma doença.

No que se refere ao suporte prestado por profissionais e instituições, um estudo

realizado no Canadá (Crook, Browne, Roberts, & Gafni, 2005) com pessoas

soropositivas ao HIV/AIDS demonstrou que uma percepção positiva acerca dos

serviços de saúde prestados contribui para redução do isolamento social dos pacientes,

auxiliaram-nos no conhecimento e enfrentamento do HIV/AIDS, bem como

melhoraram a sua Qualidade de Vida relacionada com a saúde. Neste sentido, é possível

verificar que o suporte social prestado pelos cuidadores formais foi avaliado

positivamente por alguns participantes:

150

Jesus está dentro desse hospital, porque eu fui bem tratado, muito bem tratado

nunca tive prazo nenhum nem de pegar medicação, nem de falar com o

médico. (...) então eu gosto muito daqui e fui muito bem atendido. [Participante

4; homem; 51 anos]

(...) tem doutora que me abraça, a gente sente aquele carinho, quando elas

perguntam por mim, pelos exames. [Participante 8; mulher; 53 anos]

De modo contrário, quando da ausência de suporte social e acolhimento

adequado, alguns participantes relatam o sentimento de abandono e preconceito

vivenciado:

Eu fico sozinho o tempo inteiro, (...) eu presto atenção na casa toda

arrumadinha, sofazinho CD, DVD, um sonzinho, mas quando eu tiver

morrendo sem nenhuma pessoa pra cuidar deu, num é? Num tenho ninguém,

sou sozinho. [Participante 1; homem; 72 anos]

Mas eles [família] tiveram que vir nesse hospital, me viram e, na verdade,

caíram fora daqui, isso é um absurdo. Me entristeci muito” [Participante 6;

homem; 56 anos]

Estudo realizado por Diniz, Saldanha e Araújo (2006) com cuidadores

informais de idosos HIV+ na cidade de João Pessoa demonstrou, entre outros aspectos,

a dificuldade de encontrar cuidadores/familiares, junto a estas pessoas, para a realização

151

da pesquisa. Para estes pesquisadores, tal realidade decorre, em parte, do fato de “o

idoso portador morar sozinho; a família não estar ciente de sua condição de

soropositividade e se está não aceita; ou ainda o paciente opta por contar a uma pessoa

próxima” (Diniz et al., 2006, p. 6). Além disso, a ausência de suporte decorre, muitas

vezes, da falta de assistência institucional.

Que os gestores desse mais uma condição de liberdade, de vida melhor. Ter o

passe livre, ta entendendo? (...) Por isso que eu falo „dê liberdade pra gente

viver uma vida digna e morrer dignamente, com a UTI, com a medicação

toda‟. A gente não morre de HIV mais, a gente morre de doenças inoportunas

e eles não dão condições. (...) Falta de um gestor, falta de prefeito, sei lá, de

lutar pela causa nossa. [Participante 3; homem; 57 anos]

Sobre o tratamento, além da distribuição universal dos medicamentos para o

coquetel no tratamento da AIDS, a Portaria nº 2314, de 20 de dezembro de 2002, que

institui a Política de Incentivo ao HIV/AIDS e outras DST traz como uma de suas

exigências a necessidade da pactuação entre Estados e municípios na aquisição e

distribuição de medicamentos para o tratamento das “Infecções Oportunistas”

relacionadas à AIDS, bem como das DST. Todavia, os participantes afirmam que,

embora a medicação do coquetel seja assegurada, faltam medicamentos para outras

doenças. Ademais, outras dificuldades mencionadas podem prejudicar a adesão ao

tratamento de forma sistemática, tais como: condições financeiras para uma alimentação

adequada, bem como para o custeio das passagens de ônibus necessárias para ir à

consulta, principalmente quando se considera que parte dos participantes vem do

interior do Estado (Silv, 2009). Embora algumas Prefeituras disponibilizem meios de

152

transportes gratuitos, as pessoas alegam que, além dos carros saírem dos municípios em

horários específicos de difícil conciliação com suas rotinas, o uso destes transportes

levantaria suspeita sobre o seu diagnóstico, já que o serviço se destina a pessoas com

diagnóstico positivo para o HIV/AIDS.

g. Preconceito

Além de ser uma doença com impacto na saúde física e psicológica, a AIDS é

acompanhada por estigmas socialmente construídos, os quais estão relacionados com as

crenças sociais sobre a doença (Ferreira & Figueiredo, 2006). Tais crenças equivocadas

emergem nos relatos dos participantes como um dos fatores que contribuem para a

discriminação sofrida.

As pessoas discriminam muito, (...) só porque você tá com HIV, as pessoas se

mantêm distantes, se afastam, porque é muito discriminado, com medo de

transmitir o HIV, mas muitas pessoas não sabem, acham que só basta pegar na

mão que já é contagioso, (...) sem falar que não vai nem na casa da pessoa,

passa pela pessoa não fala, não dá nem bom dia. [Participante 1; homem; 72

anos]

Uma coisa que mata, é que eu não posso chegar pras pessoas e dizer: „olhe eu

sou portador daquela doença‟. Uma relação sem dizer a verdade fica difícil

né? Mas tem o preconceito aí por trás. (...) Eu tenho muito medo de perder o

ciclo de amizade, tanto social, de família, como no trabalho. Essa coisa aí é

que me prende e me deixa muito infeliz. [Participante 6; homem; 56 anos]

153

Crenças associadas à visão da AIDS como sinônimo de morte e difundidas na

mídia em meados da década de 1980 contribuíram, em parte, para condutas

discriminatórias em relação aos portadores do HIV. A vivência de situações

discriminatórias gera associações simbólicas com a doença, causando sofrimento

psíquico e influenciando na sua percepção sobre a doença e sobre os comportamentos

das outras pessoas frente a ela, o que contribui para sentimentos de ansiedade em

decorrência medo da rejeição social (Silva, 2009). Tais relatos corroboram os resultados

que apontaram maior presença de Transtornos Mentais Comuns entre os participantes

que trabalhavam.

h. Trabalho

Para as pessoas entrevistadas, o trabalho emergiu como um fator importante na

manutenção da saúde. No entanto, a idade e o diagnóstico de AIDS apresentaram-se

como dificuldades para o exercício de atividades ocupacionais, seja em decorrência da

saúde debilitada, seja por ausência de oportunidades no mercado de trabalho:

Mas já é outro problema, quem vai dar ocupação pra um portador? Se for

mais velho então, aí ta perdido. Mas trabalhar também ajuda na saúde.

[Participante 6; homem; 56 anos]

Antes amanhecia o dia, eu ia pra o trabalho, num sentia nada, trabalhava o

dia todo, tinha minha vida normal, tinha meu emprego que eu gostava muito.

Muitas vezes eu me aperreio porque num tem como eu tá o tempo todo no meu

trabalho né, aí diante disso eu fico triste. [Participante 4; homem; 51 anos]

154

Como eu vivo nessa situação e sou aposentado, não tenho interesse mais em

trabalhar. [Part. 8; homem; 53 anos]

O trabalho é considerado fator influente na manutenção da Qualidade de Vida

no contexto da AIDS, principalmente quando se considera a melhora da eficácia da

TARV, favorecendo a convivência com o HIV por vários anos sem a manifestação de

sintomas, sendo possível o exercício de atividades durante esse período (Contrera,

1998).

Em 1992, o Governo Federal do Brasil incluiu no Programa de DST/AIDS do

Ministério da Saúde o componente “AIDS no Local de Trabalho”, objetivando

promover ações integradas entre organizações governamentais e não governamentais

(ONGs), bem como incentivar maior participação do setor privado na luta contra a

AIDS. Assim, dentre as diretrizes, proibiu-se a solicitação da testagem sorológica ao

HIV em exames de pré-admissão, bem como foi declarado a soropositividade ao HIV

em si “não acarreta prejuízo da capacidade de trabalho” e que a convivência com estas

pessoas não se caracteriza risco, tendo como medidas de prevenção informações

corretas e adequadas e procedimentos preventivos pertinentes (Pimenta, & Terto Jr,

2002).

Todavia, sobre a permanência ou reinserção no mercado de trabalho de pessoas

HIV+, um estudo realizado por Ferreira e Figueiredo (2006, p.591) com dez pessoas

soropositivas ao HIV, com tempo médio de diagnóstico de 5 anos, demonstrou que

características como “absenteísmo, estigmatização, atrasos, danos à saúde provocados

por doenças oportunistas e efeitos colaterais de medicamentos são fortes determinantes

das dificuldades para a reinserção no mercado de trabalho”. Ademais, Garrido, Paiva,

155

Nascimento, Sousa e Santos (2007, p. 72) consideraram que “o tratamento

antirretroviral exige idas frequentes aos serviços de assistência médica, que implicam

em faltas ou atrasos no trabalho”. Para estes autores, embora a aposentadoria por

invalidez se apresente, muitas vezes, como “saída para o estigma de desempregado”,

quando a associada a outras características da AIDS (preconceito, ausência de suporte

social, sensação de improdutividade, etc.) contribui para sofrimento psicológico

significativo.

i. Perspectivas

A associação entre soropositividade ao HIV e vivência do diagnóstico depois

dos 50 anos apresentou-se como fator potencializador de incertezas frente ao futuro, à

morte e em relação à própria saúde. No que se refere à perspectiva de futuro, os

participantes discorrem sobre a ausência de esperança em relação à concretização de

projetos de vida em decorrência do sentimento de finitude.

(...) a esperança da gente vai a zero, (...) os planos que a gente faz, qualquer

coisa que a gente faz fica assim, estranho assim, parece que nada vai se

realizar, que o fim tá chegando. (...) O que mais me entristece é isso. Que eu

não vou alcançar os objetivos que eu tinha, que eu vou morrer antes disso.

[Participante 1; homem; 72 anos]

E o futuro minha filha, é muito difícil isso que eu vivo. (...) eu não tenho que

fazer, não tenho como comprar uma casa, e o futuro o que eu posso fazer é ir

levando a vida assim como Deus quiser.” [Participante 10; mulher; 56 anos]

156

A perspectiva de morte como evento motivador de incertezas frente à

concretização ou não do que se almeja foi observado também em outros estudos

(Saldanha & Araújo, 2006; Carvalho & Galvão, 2008) com pessoas soropositivas ao

HIV. Verifica-se nos relatos destas pessoas que a vivência da AIDS na velhice, mesmo

considerando o aumento da sobrevida com o uso da TARV, influencia na avaliação que

elas fazem sobre seus planos para o futuro, bem como na reavaliação dos aspectos

considerados essenciais. Corroborando tais resultados, estudo realizado por Brasileiro e

Freitas (2006) com o objetivo de analisar as representações sobre AIDS de 9 pessoas

com idade igual ou superior a 50 anos, infectadas pelo HIV demonstrou que nas

representações destas pessoas, entre outros aspectos, “AIDS é uma ameaça constante de

morte”.

Os participantes demonstraram, ainda, que a expectativa em relação ao futuro é

perpassada pelo medo de envelhecer sem trabalho e em condições de pobreza, podendo

prejudicar a sua Qualidade de Vida.

A gente sem uma aposentadoria, com 51 anos e com AIDS, aí tem medo de

chegar a uma situação de pobreza, assim de precisão, de faltar e a gente não

ter pra dar. [Participante 4; homem; 51 anos]

Ah, o meu futuro como pessoa já foi. [Participante 8; homem; 53 anos]

O trabalho apresenta-se como um meio que possibilitaria as condições

necessárias para satisfazer as necessidades de alimentação, moradia, entre outras.

Assim, o afastamento do trabalho ou o desemprego de pessoas que convivem com a

AIDS, além da perda do salário e benefícios de seguros, contribui para limitações

financeiras para si e suas famílias, o que prejudica o auxílio para as atividades da vida

157

diária e o manejo clínico da doença. Além disso, para Saldanha, Coutinho, Ribeiro e

Araújo (2005, p. 12), o trabalho permite “uma estabilidade e credibilidade adquiridas

perante a sociedade como um ser produtivo”, já que a soropositividade ao HIV pode

acarretar, dependendo do grau de evolução da doença, a perda da capacidade para o

trabalho.

Ademais, ao falarem sobre suas perspectivas, alguns participantes discorreram

sobre o desejo de ter a saúde recuperada e sobre a esperança de cura para a doença, seja

em decorrência do avanço da medicina, seja por uma intervenção de Deus:

A esperança de alguma cura ainda existe, porque não é fácil conviver com a

doença ao longo desses dez anos, mas há ainda esperança de que algo mude,

cura em relação a isso, eu acredito. [Participante 6; homem; 56 anos]

(...) quando não tem piora eu fico feliz da vida, contente, eu não quero nem me

lembrar que eu tenho essa doença. Tem hora que eu paro pra pensar assim

„será que eu tenho essa doença? Eu acho que eu não tenho não. Ah meu Jesus,

quem sabe meu senhor que aconteceu um milagre e eu vou fazer o exame e

num vai ter mais nada. Ah, deu negativo.‟ Aí eu fico com esses pensamentos

que não tenho mais nada. [Participante 10; mulher; 56 anos]

A vivência da AIDS na era dos tratamentos mais eficazes contribui para a

crença na possibilidade de “alcançar” a cura da doença e, consequentemente, o

adiamento da morte, principalmente, quando se considera o avanço das pesquisas

científicas com este objetivo. Para Coelho (2006, p. 110), com os “novos medicamentos

158

para o tratamento da AIDS e das doenças oportunistas, a ideia da condenação a uma

morte rápida foi sendo diluída, mantendo-se a representação de morte, mas agora

adiada”. Assim, alguns participantes acreditam na possibilidade de saúde melhor,

prolongando seu tempo de vida até ver chegar uma cura definitiva.

De outro modo, na ausência da cura baseada nos aparatos técnico-científicos,

os participantes justificaram a esperança de cura para a AIDS em decorrência de uma

intervenção divina ou “milagre”. Discursos nesta direção foram encontrados no estudo

realizado por Cardoso e Arruda (2005) com pessoas soropositivas ao HIV, mas havendo

diferenças nos relatos quando se considerava a condição de estar ou não fazendo uso da

TARV. Os resultados da pesquisa indicaram que os participantes usuários da TARV

“acreditam que a cura viria no futuro, através da mão do homem” (pesquisas científicas

no setor da saúde), diferindo dos discursos dos participantes não aderentes ao

tratamento que acreditavam na cura “pelas mãos de Deus, através da fé ou do milagre”

(Cardoso, & Arruda, 2005, p.156), diminuindo, assim, a participação individual na

manutenção da saúde.

159

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Qual o impacto da AIDS para a saúde mental e a Qualidade de Vida em pessoas

com idade igual ou superior a 50 anos?

O impacto do HIV/AIDS na Qualidade de Vida foi explicado, principalmente,

pelo fator Independência e Psicológico e, de modo inverso, pelos Transtornos Mentais

Comuns.

A partir dos resultados apresentados, têm-se algumas considerações: a) a

convivência com o HIV/AIDS tem impacto em várias dimensões da vida de um

indivíduo, contribuindo para a presença de Transtornos Mentais Comuns; b) o impacto

da doença para a avaliação de Qualidade de Vida foi verificado, principalmente, quando

comparado com as pessoas sem o diagnóstico da doença; c) há variações interindividual

significativa em termos do impacto da doença para as pessoas, ainda que com o mesmo

diagnóstico; d) esta variação do impacto sugere considerar não só variáveis

mensuráveis, tais como a idade, níveis de CD4 ou estágio da doença (sintomático ou

assintomático), uma vez que tal variação pode estar relacionada à natureza subjetiva da

resposta do indivíduo a uma complexa interação de fatores inerentes à convivência com

a doença.

Deste modo, as hipóteses iniciais deste estudo foram corroboradas, ou seja, 1)

variável antecedente diagnóstico soropositividade para o HIV/AIDS teve maior impacto

para a avaliação da Qualidade de Vida que a variável idade; 2) os Transtornos Mentais

Comuns influenciaram a avaliação, de modo inverso, da Qualidade de Vida; e 3)

verificou-se variações significativas entre os grupos comparativos de pessoas

soropositivas em termos do impacto da doença, ainda que com o mesmo diagnóstico.

160

Ante o exposto, dada à natureza multidimensional e altamente subjetiva do

construto, a avaliação da Qualidade de Vida no contexto de pessoas soropositivas ao

HIV/AIDS com idade igual ou superior a 50 anos sugere, necessariamente, que se

considere a perspectiva subjetiva do indivíduo. A partir das entrevistas, embora tenha

sido observado que os indivíduos podem experimentar ganhos secundários e relatar

aspectos psicologicamente benéficos após a convivência com uma doença crônica, foi

possível verificar também a vivência de situações desencadeadoras de sofrimento

psíquico, como preconceito por parte da família e pessoas próximas. De outro modo, a

escala WHOQOL-HIV Bref, na avaliação geral de Qualidade de Vida aponta para

índices positivos do construto.

Tais resultados não significam aspectos contraditórios das medidas, mas

evidencia a necessária complementação entre elas. Se por um lado as entrevistas

demonstram o caráter processual do conviver com a doença e seu impacto para a

Qualidade de Vida, a Escala WHOQOL-HIV Bref demonstra a avaliação dos

participantes acerca de fatores específicos da Qualidade de Vida, o que não significa

dizer que não existam outros fatores implicados nessa avaliação, ainda que não

contemplados na medida, como as especificidades das relações familiares e os aspectos

relacionados ao trabalho, aspectos mencionados pelos participantes durante as

entrevistas.

A ocorrência da AIDS na vida destas pessoas mostrou-se como fator, após o

diagnóstico, norteador da vivência cotidiana e influenciando a Qualidade de Vida.

Verificou-se a vivência, por parte das pessoas, de sentimentos de angústia e solidão,

bem como a existência de situações de discriminação. Assim, para uma avaliação mais

161

ampla de Qualidade de Vida, o uso de medidas com respostas objetivas não abarcaria o

aprofundamento das experiências vividas.

Considerando-se que o construto Qualidade de Vida possui uma dimensão

subjetiva do, na avaliação da Qualidade de Vida se faz necessário enfatizar, ainda, os

atributos da vida valorizados pelas pessoas, tais como: conforto, auto percepção de bem

estar, participação social, funcionamento psíquico e físico e a habilidade para participar

de atividades. Desse modo, busca-se avaliar a experiência da doença, levando em conta

não apenas medidas objetivas de gravidade da doença, mas, também, a percepção da

pessoa acerca dos próprios sintomas, a maneira pela qual ele os comunica a outras

pessoas, a experiência de não ser capaz de desempenhar suas atividades e as estratégias

de enfrentamento no lidar com a doença.

Considera-se, ainda, que a ênfase dada a determinado domínio da Qualidade de

Vida pode variar ao longo do processo de convivência com a doença, seja em

decorrência das expectativas sobre o tratamento e prognóstico, ou mesmo das

expectativas dos indivíduos relacionadas com as esferas da vida, como o psicológico – e

o necessário suporte social para o enfrentamento das demandas –, e a independência

para o exercício das atividades diárias.

Entre outros aspectos, chama-se a atenção para a presença de sintomas de

ansiedade, depressão e comorbidade entre as pessoas com idade igual ou superior a 50

anos com HIV/AIDS. Nesse aspecto, mediante a análise subjetiva da Qualidade de Vida

por meio dos relatos, foi verificado o recorrente medo da morte, bem como a descrição

da vivência da intimidade na velhice, mediante o contexto da soropositividade ao HIV,

como algo difícil, principalmente, em relação ao medo de ser rejeitado pelo parceiro

após a revelação do diagnóstico. Assim, observou-se que o silêncio, em relação à

162

soropositividade, além de sentimentos de rejeição, tornou o cotidiano comprometido

pela instabilidade emocional e a grande sensibilidade às vicissitudes deste convívio.

Há que se considerar que na Escala WHOQOL-HIV Bref não houve diferenças

nos fatores em razão do sexo. Todavia, nos discursos dos participantes as questões de

gênero mostraram-se importantes, influenciando a Qualidade de Vida em aspectos

diferentes para os homens e as mulheres. Por exemplo, “quedas de cabelo”, “magreza”,

e “feiúra” foram aspectos físicos mencionados nos discursos das mulheres como

causadores de preocupação, de vergonha diante de amigos e parentes e de sofrimento

em decorrência da doença.

Já os homens relataram a diminuição da “disposição física” como empecilhos

para continuar trabalhando. Além disso, ao discorrerem sobre o contágio, as mulheres

falam da culpa do parceiro e do sentimento de culpa por não terem se prevenido. Os

homens, por sua vez, além do fato de apenas um falar sobre o contágio, o discurso foi

caracterizado por conteúdos de vitimização, já que o contágio com o vírus ocorreu

devido a procedimentos cirúrgicos.

Antes mesmo do contágio com o HIV, a partir dos discursos dos participantes,

verificou-se que a AIDS está vinculada com distintos tipos de vulnerabilidades quando

se considera as questões de gênero, de renda, de níveis educacionais, de oportunidades

de trabalho, de acesso aos bens materiais e simbólicos, entre outras. No que se refere ao

gênero, a lógica da frase “...sempre sobra pra mulher. Mas ninguém vai dar jeito...” só

é possível numa compreensão mais ampla da vida cotidiana destas mulheres, dos

discursos e lógicas que prevalecem no universo amoroso-reprodutivo-econômico

subjetivado.

163

A emergência da AIDS depois dos 50 anos aponta para a dimensão ontológica

da sexualidade, ou seja, enquanto característica humana que não se limita ao tempo e à

idade, construindo-se no decorrer da trajetória existencial e perpassada pela dimensão

sociocultural. Assim, a sexualidade, além de ser socialmente construída, modifica-se

conforme a cultura e ao longo da história, envolvendo também a percepção da própria

pessoa.

O caráter multidimensional da Qualidade de Vida aponta para a necessidade de

se considerar, concomitante aos aspectos sócio-econômicos, a influência dos

indicadores subjetivos na avaliação que as pessoas fazem sobre sua Qualidade de Vida.

Assim, características próprias de cada indivíduo, como o suporte social, podem

influenciar a forma como são percebidos e internalizados os eventos ocorridos. Além

disso, a consideração da saúde mental, como a avaliação dos Transtornos Mentais

Comuns, é importante variável clínica para uma melhor avaliação da Qualidade de

Vida.

Desse modo, sugere-se a avaliação da relação existente entre o uso dos

medicamentos antirretrovirais e a saúde mental de pessoas com mais de 50 anos, o que

não foi verificado neste estudo. Outra limitação, conforme demonstrado anteriormente,

dizem respeito aos desvios padrão referentes aos índices de Qualidade de Vida dos

participantes, os quais foram, relativamente, altos, indicando uma ampla variabilidade

de respostas entre os participantes, ou seja, é possível que existam poucos participantes

com índices elevadíssimos de Qualidade de Vida, em detrimento de outros com baixos

índices.

Os dados apresentados não são conclusivos, mas sugerem outros estudos que

contemplem a saúde mental dessas pessoas e suas estratégias de enfrentamento no lidar

164

com a infecção pelo HIV. Ademais, aspectos intersubjetivos, como perda de papeis

ocupacionais, doenças e perdas afetivas, devem ser considerados na avaliação da

Qualidade de Vida na maturidade e velhice, bem como a adoção de critérios de natureza

variada – biológica, psicológica e sociocultural –, visto que esses elementos estão

relacionados com as potencialidades de saúde e de vida do idoso, podendo interferir ou

não no seu processo saúde-doença.

O estudo sobre a Qualidade de Vida de pessoas na maturidade e velhice

soropositivas para o HIV pauta-se na possibilidade de ampliar os estudos que

contemplam esta população, contribuindo para melhor entendimento acerca da

sexualidade na velhice e do próprio processo de envelhecimento, contemplando a

dimensão psicossociológica. Assim, a utilização de medidas que avaliem Qualidade de

Vida, considerando a perspectiva dos próprios idosos, pode contribuir para maior

entendimento do que vem a ser viver com AIDS na velhice.

Por último, verifica-se que, no contexto do HIV/AIDS, a percepção de uma

saúde satisfatória não está, necessariamente, associada à ausência de sintomas, mas com

a capacidade para o trabalho e realização de atividades que se exercia antes do

diagnóstico. Além disso, a autonomia para a realização de atividades compreende

também a adequação dos medicamentos considerando a rotina dos usuários, fato que

também aponta para a participação dos profissionais de saúde na promoção da qualidade

de vida de pessoas soropositivas ao HIV/AIDS.

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187

188

189

ANEXO 1

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado (a) Senhor (a)

Esta pesquisa é sobre a qualidade de vida no contexto da Aids e está sendo

desenvolvida pelo Núcleo de Pesquisas Vulnerabilidades e Promoção da Saúde da

Universidade Federal da Paraíba, sob a orientação da Profa. Dra. Ana Alayde Werba

Saldanha.

A finalidade deste trabalho é contribuir para melhorar a qualidade de vida e

intervenções mais eficazes.

Solicitamos a sua colaboração para responder a um questionário, como também

sua autorização para apresentar os resultados deste estudo em eventos da área de saúde e

publicar em revista científica. Por ocasião da publicação dos resultados, seu nome será

mantido em sigilo. Informamos que essa pesquisa não oferece riscos, previsíveis, para a

sua saúde.

Esclarecemos que sua participação no estudo é voluntária e, portanto, o(a)

senhor(a) não é obrigado(a) a fornecer as informações e/ou colaborar com as atividades

solicitadas pelo Pesquisador(a). Caso decida não participar do estudo, ou resolver a

qualquer momento desistir do mesmo, não sofrerá nenhum dano, nem haverá

modificação na assistência que vem recebendo na Instituição.

Os pesquisadores estarão a sua disposição para qualquer esclarecimento que

considere necessário em qualquer etapa da pesquisa.

.................................................................................................................................

Diante do exposto, declaro que fui devidamente esclarecido(a) e dou o meu

consentimento para participar da pesquisa e para publicação dos resultados. Estou ciente

que receberei uma cópia desse documento.

______________________________________

Assinatura do Participante da Pesquisa

Espaço para impressão

Dactiloscópica Caso necessite de maiores informações sobre o presente estudo, favor ligar para:

Ms. Josevânia da Silva

UFPB - Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social - Telefone: (83)88737129

190

ANEXO 2

Instrumento aplicado às pessoas com HIV/AIDS

Por favor, leia cada questão, veja o que você acha e circule a resposta que afirma o que o Sr(a)

sente.

Sim Não

B1) Sr.(a) tem dores de cabeça com frequência?

B2) Tem falta de apetite?

B3) O Sr.(a) dorme mal?

B4) O Sr.(a) fica com medo com facilidade?

B5) Suas mãos tremem?

B6) O Sr(a) se sente nervoso, tenso ou preocupado?

B7) Sua digestão não é boa ou sofre de perturbação digestiva?

B8) O Sr(a) não consegue pensar com clareza?

B9) Sente-se infeliz?

B10) O Sr(a) chora mais que o comum?

B11) Acha difícil apreciar (gostar de) suas atividades diárias?

B12) Acha difícil tomar decisões?

B13) Seu trabalho diário é um sofrimento? Tormento? Tem dificuldade em fazer seu

trabalho?

B14) O Sr.(a) não é capaz de ter um papel útil na vida?

B15) O Sr.(a) perdeu interesse nas coisas?

B16) Acha que é uma pessoa que não vale nada?

B17) O pensamento de acabar com a sua vida já passou por sua cabeça?

B18) O Sr.(a) se sente cansado (a) todo o tempo?

B19) O Sr.(a) tem sensações desagradáveis no estômago

B20) Fica cansado com facilidade?

As questões seguintes são sobre o quanto você tem sentido algumas coisas nas últimas semanas.

D1a) Eu me sinto tenso ou contraído:

A maior parte do

tempo

Boa parte do

tempo

De vez em

quando

Nunca

D2d) Eu ainda sinto gosto pelas mesmas

coisas de antes:

Sim, como era

antes

Não tanto

quanto antes

Só um

pouco

Já não sinto mais

prazer em nada

191

D3a) Eu sinto uma espécie de medo, como

se alguma coisa ruim fosse acontecer:

Sim, de um jeito

muito forte

Sim, mas

não tão forte

Um pouco,

mas isso não

me preocupa

Não sinto nada

disso

D4d) Dou risada e me divirto quando vejo

coisas engraçadas:

Sim, como era

antes

Atualmente

um pouco

menos

Atualmente

bem menos

Não consigo

mais

D5a)Estou com a cabeça cheia de

preocupações:

A maior parte do

tempo

Boa parte do

tempo

De vez em

quando

Raramente

D6d) Eu me sinto alegre:

Nunca Poucas

Vezes

Muitas Vezes A maior parte

do tempo

D7a) Consigo ficar sentado à vontade e

me sentir relaxado:

Sim, quase sempre Muitas

Vezes

Poucas Vezes Nunca

D8d) Eu estou lento para pensar e fazer as

coisas:

Quase sempre Muitas

Vezes

De vez em

quando

Nunca

D9a) Eu tenho uma sensação ruim de

medo, como um frio na barriga ou um

aperto no estômago:

Nunca De vez em

quando

Muitas Vezes Quase sempre

D10d) Eu perdi o interesse em cuidar de

minha aparência:

Completame

nte

Não estou mais

me cuidando

como deveria

Talvez não

tanto como

antes

Me cuido do

mesmo jeito

que antes

D11a) Eu me sinto inquieto, como se eu

não pudesse ficar parado em lugar

nenhum:

Sim, demais Bastante Um pouco Não me sinto

assim

D12d) Fico esperando animado as coisas

boas que estão por vir:

Do mesmo jeito

que antes

Um pouco

menos

Bem menos do

que antes

Quase nunca

D13a) De repente tenho a sensação de

entrar em pânico

A quase todo

momento

Várias vezes De vez em

quando

Não sinto isso

D14d) Consigo sentir prazer quando

assisto um bom programa de televisão, de

rádio, ou qualquer outra coisa:

Quase sempre Varias

Vezes

Poucas Vezes Quase nunca

192

Por favor, leia cada questão, veja o que você acha e marque o que lhe parece a melhor resposta.

E1) Como você avaliaria sua qualidade de

vida?

Muito ruim Ruim Nem ruim/

Nem boa

Boa Muito boa

E2) Quão satisfeito(a) você está com a sua

saúde?

Muito

insatisfeito

Insati

sfeito

Nem satisfeito,

Nem insatisfeito

Satisfeito Muito

Satisfeito

As questões seguintes são sobre o quanto o Sr(a). tem sentido algumas coisas nas últimas semanas.

Nada Muito

Pouco

Mais ou Menos Bastante Demais

E3) Em que medida você acha que sua dor

(física) impede você de fazer o que você

precisa?

E4) O quanto você fica incomodado por

ter (ou ter tido) algum problema físico

desagradável relacionado ao HIV?

E5) Quanto você precisa de algum

tratamento médico para levar sua vida

diária?

E6) O quanto você aproveita a vida?

E7) Em que medida você acha que a sua

vida tem sentido?

E8) Você se incomoda com o fato das

pessoas lhe responsabilizarem pela sua

condição de HIV?

E9) O quanto você tem medo do futuro?

E10) O quanto você se preocupa com a

morte?

E11) O quanto você consegue se

concentrar?

E12) Quão seguro(a) você se sente em

sua vida diária?

E13) Quão saudável é o seu ambiente

físico (clima, barulho, poluição,

atrativos)?

As questões seguintes perguntam sobre quão completamente o Sr(a). tem sentido ou é capaz de

fazer certas coisas nestas últimas duas semanas.

Nada Muito Pouco Médio Muito Completamente

E14) Você tem energia suficiente para

seu dia-a-dia?

E15) Você é capaz de aceitar a sua

aparência física?

E16) Você tem dinheiro suficiente para

satisfazer suas necessidades?

E17) Em que medida você se sente

aceito pelas pessoas que você conhece?

E18) Quão disponível para você estão

as informações que precisa no seu dia-a-

dia?

193

E19) Em que medida você tem

oportunidades de atividades de lazer?

E20) Quão bem você é capaz de se

locomover?

Muito ruim Ruim Nem ruim

Nem boa

Bom Muito bom

As questões seguintes perguntam sobre quão bem ou satisfeito o Sr(a). se sentiu a respeito de vários

aspectos de sua vida nas últimas duas semanas.

Muito

insatisfeito

Insatisfeito Nem

satisfeito,

Nem

insatisfeito

Satisfeito Muito

Satisfeito

E21) Quão satisfeito(a) você está com

o seu sono?

E22) Quão satisfeito(a) você está com

sua

capacidade de desempenhar as

atividades do seu dia-a-dia?

E23)Quão satisfeito(a) você está com a

sua

capacidade para o trabalho?

E24) Quão satisfeito(a) você está

consigo mesmo?

E25) Quão satisfeito você está com suas

relações

pessoais (amigos, parentes, conhecidos,

colegas)?

E26) Quão satisfeito(a) você está com

sua vida

sexual?

E27) Quão satisfeito(a) você está com

o apoio

que você recebe de seus amigos?

E28) Quão satisfeito(a) você está com

as

condições do local onde mora?

E29) Quão satisfeito(a) você está com

o seu

acesso aos serviços de saúde?

E30) Quão satisfeito(a) você está com

o seu

meio de transporte?

A questão seguinte refere-se a com que frequência o Sr(a). sentiu ou experimentou certas

coisas nas últimas duas semanas.

E31) Com que freqüência você tem

sentimentos negativos, tais como mau

humor, desespero, ansiedade, depressão?

Nunca Algumas

Vezes

Frequentemente Muito

frequentemente

Sempre

194

E, por fim, algumas perguntas sobre o (a) Sr(a):

Sexo? ( ) Masculino ( )Feminino Idade (em anos): __________

Qual é o grau de instrução mais elevado que o Sr(a) atingiu? ( ) Nenhum ( ) 1º grau

( ) 2º grau ( ) 3º grau

Qual é o seu estado civil? ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Vivendo como casado

( ) Separado /Divorciado ( ) Viúvo

Tem filhos? ( ) Nenhum ( ) Sim. Quantos? ________________

O Sr(a). se considera religioso? ( ) Muito ( ) um pouco ( ) quase nada ( )nenhum pouco

Religião? ______________ Sua religiosidade aumentou depois do diagnostico? ( ) Sim ( ) Não

Profissão:__________________Renda Mensal:_________________________________________

Como está a sua saúde? ( ) Muito ruim ( ) Ruim ( ) Nem ruim, nem boa ( ) Boa ( ) Muito boa

O Sr(a). se considera doente atualmente? ( ) Sim ( ) Não

Se o Sr(a) acha que algo não está bem consigo próprio, o que acha que é?_____________________

Qual é o seu estágio de HIV? ( ) Assintomático ( ) Sintomático ( ) Aids

Em que ano o Sr(a) fez o primeiro teste HIV positivo?______

Em que ano o Sr(a) acha que foi infectado?________

Como o Sr(a) acha que foi infetado pelo HIV? (circule apenas um):

( ) Sexo com mulher ( ) Sexo com homem ( ) Injetando drogas ( ) Derivados de sangue

( ) Outro (especifique)_______________________________________________________________________

- O Sr(a). faz uso da TARV (medicamentos)? ( ) Sim ( ) Não ( ) Já fiz, mas não uso mais

- Em que ano começou a usar a TARV? ____________

- Qual o motivo?

_________________________________________________________________________________

- Assinale com X os medicamentos em uso:

Abacavir (ABC) Enfuvirtida (T-20) Nevirapina (NVP)

Amprenavir (APV) Estavudina (d4T) Ritonavir (RTV)

Atazanavir (ATZ) Fosamprenavir (FPV) Saquinavir (SQV)

Darunavir (DRV) Indinavir (IDV) Talidomida

Didanosina (EC) Lamivudina (3TC) Tenofovir (TDF)

Efavirenz (EFZ) Lopinavir/Ritonavir (LPV/r) Zidovudina (AZT)

195

- Usa outros medicamentos? Quais?

____________________________________________________________________

- Após usar a TARV o Sr(a) considera que sua saúde: ( ) melhorou ( ) piorou ( ) continua igual

- O Sr(a). já teve alguma doença oportunista? ( ) Sim ( ) Não

- Assinale com X as doenças oportunistas que o Sr(a). já teve:

Pneumonia Tuberculose Herpes

Meningite Sarcoma Toxoplasmose

Esofagite Outras (quais?):

- Qual o resultado do ultimo exame: CD4 __________________ CD8_______________________

196

ANEXO 3

Instrumento aplicado à população em geral

Por favor, leia cada questão, veja o que você acha e circule a resposta que afirma o que o Sr(a)

sente.

Sim Não

B1) Sr.(a) tem dores de cabeça com frequência?

B2) Tem falta de apetite?

B3) O Sr.(a) dorme mal?

B4) O Sr.(a) fica com medo com facilidade?

B5) Suas mãos tremem?

B6) O Sr(a) se sente nervoso, tenso ou preocupado?

B7) Sua digestão não é boa ou sofre de perturbação digestiva?

B8) O Sr(a) não consegue pensar com clareza?

B9) Sente-se infeliz?

B10) O Sr(a) chora mais que o comum?

B11) Acha difícil apreciar (gostar de) suas atividades diárias?

B12) Acha difícil tomar decisões?

B13) Seu trabalho diário é um sofrimento? Tormento? Tem dificuldade em fazer seu

trabalho?

B14) O Sr.(a) não é capaz de ter um papel útil na vida?

B15) O Sr.(a) perdeu interesse nas coisas?

B16) Acha que é uma pessoa que não vale nada?

B17) O pensamento de acabar com a sua vida já passou por sua cabeça?

B18) O Sr.(a) se sente cansado (a) todo o tempo?

B19) O Sr.(a) tem sensações desagradáveis no estômago

B20) Fica cansado com facilidade?

As questões seguintes são sobre o quanto você tem sentido algumas coisas nas últimas semanas.

D1a) Eu me sinto tenso ou contraído:

A maior parte do

tempo

Boa parte do

tempo

De vez em

quando

Nunca

D2d) Eu ainda sinto gosto pelas mesmas

coisas de antes:

Sim, como era

antes

Não tanto

quanto antes

Só um

pouco

Já não sinto mais

prazer em nada

197

D3a) Eu sinto uma espécie de medo, como

se alguma coisa ruim fosse acontecer:

Sim, de um jeito

muito forte

Sim, mas

não tão forte

Um pouco,

mas isso não

me preocupa

Não sinto nada

disso

D4d) Dou risada e me divirto quando vejo

coisas engraçadas:

Sim, como era

antes

Atualmente

um pouco

menos

Atualmente

bem menos

Não consigo

mais

D5a)Estou com a cabeça cheia de

preocupações:

A maior parte do

tempo

Boa parte do

tempo

De vez em

quando

Raramente

D6d) Eu me sinto alegre:

Nunca Poucas

Vezes

Muitas Vezes A maior parte

do tempo

D7a) Consigo ficar sentado à vontade e

me sentir relaxado:

Sim, quase sempre Muitas

Vezes

Poucas Vezes Nunca

D8d) Eu estou lento para pensar e fazer as

coisas:

Quase sempre Muitas

Vezes

De vez em

quando

Nunca

D9a) Eu tenho uma sensação ruim de

medo, como um frio na barriga ou um

aperto no estômago:

Nunca De vez em

quando

Muitas Vezes Quase sempre

D10d) Eu perdi o interesse em cuidar de

minha aparência:

Completame

nte

Não estou mais

me cuidando

como deveria

Talvez não

tanto como

antes

Me cuido do

mesmo jeito

que antes

D11a) Eu me sinto inquieto, como se eu

não pudesse ficar parado em lugar

nenhum:

Sim, demais Bastante Um pouco Não me sinto

assim

D12d) Fico esperando animado as coisas

boas que estão por vir:

Do mesmo jeito

que antes

Um pouco

menos

Bem menos do

que antes

Quase nunca

D13a) De repente tenho a sensação de

entrar em pânico

A quase todo

momento

Várias vezes De vez em

quando

Não sinto isso

D14d) Consigo sentir prazer quando

assisto um bom programa de televisão, de

rádio, ou qualquer outra coisa:

Quase sempre Varias

Vezes

Poucas Vezes Quase nunca

198

Por favor, leia cada questão, veja o que você acha e marque o que lhe parece a melhor resposta.

E1) Como você avaliaria sua qualidade de

vida?

Muito ruim Ruim Nem ruim/

Nem boa

Boa Muito boa

E2) Quão satisfeito(a) você está com a sua

saúde?

Muito

insatisfeito

Insati

sfeito

Nem satisfeito,

Nem insatisfeito

Satisfeito Muito

Satisfeito

As questões seguintes são sobre o quanto o Sr(a). tem sentido algumas coisas nas últimas semanas.

Nada Muito

Pouco

Mais ou Menos Bastante Demais

E3) Em que medida você acha que sua dor

(física) impede você de fazer o que você

precisa?

E4) O quanto você fica incomodado por

ter (ou ter tido) algum problema físico

desagradável relacionado ao HIV? Não se

aplica.

E5) Quanto você precisa de algum

tratamento médico para levar sua vida

diária?

E6) O quanto você aproveita a vida?

E7) Em que medida você acha que a sua

vida tem sentido?

E8) Você se incomoda com o fato das

pessoas lhe responsabilizarem pela sua

condição de HIV? Não se aplica.

E9) O quanto você tem medo do futuro?

E10) O quanto você se preocupa com a

morte?

E11) O quanto você consegue se

concentrar?

E12) Quão seguro(a) você se sente em

sua vida diária?

E13) Quão saudável é o seu ambiente

físico (clima, barulho, poluição,

atrativos)?

As questões seguintes perguntam sobre quão completamente o Sr(a). tem sentido ou é capaz de

fazer certas coisas nestas últimas duas semanas.

Nada Muito Pouco Médio Muito Completamente

E14) Você tem energia suficiente para

seu dia-a-dia?

E15) Você é capaz de aceitar a sua

aparência física?

E16) Você tem dinheiro suficiente para

satisfazer suas necessidades?

E17) Em que medida você se sente

aceito pelas pessoas que você conhece?

E18) Quão disponível para você estão

as informações que precisa no seu dia-a-

dia?

199

E19) Em que medida você tem

oportunidades de atividades de lazer?

E20) Quão bem você é capaz de se

locomover?

Muito ruim Ruim Nem ruim

Nem boa

Bom Muito bom

As questões seguintes perguntam sobre quão bem ou satisfeito o Sr(a). se sentiu a respeito de vários

aspectos de sua vida nas últimas duas semanas.

Muito

insatisfeito

Insatisfeito Nem

satisfeito,

Nem

insatisfeito

Satisfeito Muito

Satisfeito

E21) Quão satisfeito(a) você está com

o seu sono?

E22) Quão satisfeito(a) você está com

sua

capacidade de desempenhar as

atividades do seu dia-a-dia?

E23)Quão satisfeito(a) você está com a

sua

capacidade para o trabalho?

E24) Quão satisfeito(a) você está

consigo mesmo?

E25) Quão satisfeito você está com suas

relações

pessoais (amigos, parentes, conhecidos,

colegas)?

E26) Quão satisfeito(a) você está com

sua vida

sexual?

E27) Quão satisfeito(a) você está com

o apoio

que você recebe de seus amigos?

E28) Quão satisfeito(a) você está com

as

condições do local onde mora?

E29) Quão satisfeito(a) você está com

o seu

acesso aos serviços de saúde?

E30) Quão satisfeito(a) você está com

o seu

meio de transporte?

A questão seguinte refere-se a com que frequência o Sr(a). sentiu ou experimentou certas

coisas nas últimas duas semanas.

E31) Com que freqüência você tem

sentimentos negativos, tais como mau

humor, desespero, ansiedade, depressão?

Nunca Algumas

Vezes

Frequentemente Muito

frequentemente

Sempre

200

E, por fim, algumas perguntas sobre o (a) Sr(a):

Sexo? ( ) Masculino ( )Feminino Idade (em anos)___________

Qual é o grau de instrução mais elevado que o Sr(a)

atingiu? ( ) Nenhum ( ) 1º grau

( ) 2º grau ( ) 3º grau

Qual é o seu estado civil? ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Vivendo como casado

( ) Separado/Divorciado ( ) Viúvo

Tem filhos? ( ) Nenhum ( ) Sim. Quantos? ________________

O Sr(a). se considera religioso? ( ) Muito ( ) um pouco ( ) quase nada ( )nenhum pouco

Religião? ____________________________________

Profissão: _________________________ Renda Mensal: ______________________________

Como está sua saúde? ( ) Muito ruim ( ) Ruim ( ) Nem ruim, nem boa ( ) Boa ( ) Muito boa

O Sr(a). se considera doente atualmente? ( ) Sim ( ) Não

Se o Sr(a) acha que algo não está bem consigo próprio, o que acha que é?_____________________

Muito Obrigado!!!