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23 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GEOLOGIA JOSÉ ELVIR SOARES ALVES MAPEAMENTO GEOLÓGICO E ANÁLISE ESTRUTURAL MULTIESCALAR DO CINTURÃO DE DOBRAMENTOS E CAVALGAMENTOS DA SERRA DO ESPINHAÇO SETENTRIONAL, CAETITÉ, BAHIA Orientadora: Profª. Drª. Simone Cerqueira Pereira Cruz Salvador 2008

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23

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GEOLOGIA

JOSÉ ELVIR SOARES ALVES

MAPEAMENTO GEOLÓGICO E ANÁLISE ESTRUTURAL MULTIESCALAR DO CINTURÃO DE DOBRAMENTOS E

CAVALGAMENTOS DA SERRA DO ESPINHAÇO SETENTRIONAL, CAETITÉ, BAHIA

Orientadora: Profª. Drª. Simone Cerqueira Pereira Cruz Salvador

2008

24

JOSÉ ELVIR SOARES ALVES

MAPEAMENTO GEOLÓGICO E ANÁLISE ESTRUTURAL MULTIESCALAR DO CINTURÃO DE DOBRAMENTOS E

CAVALGAMENTOS DA SERRA DO ESPINHAÇO SETENTRIONAL, CAETITÉ, BAHIA

Monografia apresentada ao Curso de Geologia, Instituto

de Geociências, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia.

Orientadora: Profª. Drª. Simone Cerqueira Pereira Cruz

TERMO DE APROVAÃO

Salvador 2008

25

Alves, José Elvir Soares Alves

Mapeamento Geológico e Análise Estrutural Multiescalar do Cinturão de

Dobramentos e Cavalgamentos da Serra do Espinhaço Setentrional, Caetité, Bahia

Mapa geológico:

Alves, J.E.S, 2008

Orientação: Dra Simone Cerqueira Pereira Cruz

Monografia

26

JOSÉ ELVIR SOARES ALVES

MAPEAMENTO GEOLÓGICO E ANÁLISE ESTRUTURAL MULTIESCALAR DO CINTURÃO DE DOBRAMENTOS E

CAVALGAMENTOS DA SERRA DO ESPINHAÇO SETENTRIONAL, CAETITÉ, BAHIA

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:

Simone Cerqueira Pereira Cruz - Orientadora Doutora em Geologia Estrutural / Tectônica - Universidade Federal de Ouro Preto Universidade Federal da Bahia Adriano Marques Martins Bacharel em Geologia – Universidade Federal da Bahia CPRM - Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais Ângela Beatriz de Menezes Leal Doutora em Geologia – Universidade de São Paulo Universidade Federal da Bahia

Salvador, 17 de julho de 2008

27

Ao meu Irmão Antenor Alves Silva Junior (in memorian)

por acreditar e apostar em minha capacidade.

Saudades eternas!!!!

28

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus pela saúde e alegria de viver, aos meus pais

Antenor e Rita, que sempre me deram total apoio tanto na parte moral como na

material, mesmo longe se preocupam e rezam por mim. AMO MUITO vocês meus

pais, aos meus irmãos Alex e Ester pela minha infância movimentada e divertida, e

os momentos alegres nas minhas visitas a Juazeiro com os almoços em família, e a

toda minha família, principalmente as minhas tias Cleide, Joanice(in memorian) e

Nalva e os meus tios Sena e Tarcísio pelo conhecimento e sabedoria que sempre

tentaram me passar.

A minha noiva Karine pela paciência e companheirismo nesta reta final onde a

pressão se torna cada vez mais forte e as pessoas que estão mais próximas são as

mais atingidas, ela sempre me apoiou de forma incondicional. Te amo muito!!!!

A minha orientadora Simone Cruz, pelo conhecimento e apoio passado ao

longo dos trabalhos tanto no campo como no escritório com companheirismo e

dedicação ao longo do desenvolvimento desta monografia sempre com atenção e

cobrança.

A Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) pelo apoio de campo e

pela confecção das lâminas, através da geóloga Violeta, dando um suporte

necessário no campo.

A Bahia Mineração LTDA (BML) pela disponibilização das amostras de furos

de sondagem.

Ao laboratório de Metalogênese pela disponibilidade do microscópio para a

retirada das fotomicrografias.

Ao colega Punk que me acompanhou no campo, me ajudando muito na

medida das estruturas e nas discussões geologias para o entendimento de alguma

situação.

A professora Ângela Leal pela dedicação que conduz o departamento de

geologia e ministra suas aulas de metamórfica, e suporte me prestado nas dúvidas

sobre descrição das lâminas.

Ao amigo de infância Ricardo, conhecemos o verdadeiro amigo na hora da

dificuldade, pois amigo é aquele que divide todos os momentos, bons ou ruins.

Ao diretório acadêmico de Geologia da UFBa, pelas discussões e luta pelos

interesses dos estudantes para uma melhoria em nossa instituição.

29

A ENEGE - Executiva Nacional dos estudantes em Geologia pela

oportunidade de fazer parte e ajudar na reativação com a chapa Agora Vai!!!

Aos amigos de rocha espalhado Brasil a fora; Carol, Cristão, Grazi, Jesus,

Joaninha, Luana, Melado, Mikuin, Passarinho, Stalone, Vivian entre outros, valeu

pelas farras em ENEGEO, Congresso e encontros esporádicos.

Aos amigos da UFBa pela amizade e vida em conjunto, tanto pelos

corredores como nas festas, reuniões e matérias, são eles Aninha, Alô, Cristiano,

Manu, Rambo, Sâmia, Tiago, Taty, Ximenes, Zilda e vários outros.

A minha irmãzinha Thanany pela amizade e companheirismo ao longo dos

anos onde dividimos o mesmo teto, churrascos, festas e madrugadas de estudo.

Ao comando da geologia; Diegão, Du, Leo(mestre), Pará, Segundo, Seis,

Xurume, Renato e Zeólogo, pela amizade conquistada a cada encontro e cada ano.

Aos professores Ângela, Flávio, Lourdes, Luis Rogério, Marcão, Osmário,

Xavier, Simone, Telésforo, Vilton e Haroldo Sá. Pois de alguma forma, tiveram uma

grande participação na minha formação de forma direta e indireta.

A CPRM e CRA pela oportunidade de estágio, agregando mais conhecimento

e experiência na minha vida profissional, ao GPA pela oportunidade no início do

curso com uma bolsa de iniciação científica através da Professora Débora Rios.

Ufa!!!! Acabei.....

30

Gerreiros são pessoas são fortes, são frágeis

Gerreiros são meninos por dentro do peito

Precisam de um descanso Precisam de um remanso

Precisam de um sonho que os tornem perfeitos

Luis Gonzaga Jr,

31

RESUMO

O cinturão de dobramentos e cavalgamentos do Espinhaço Setentrional envolve as

unidades do supergrupo Espinhaço, de idade paleo-mesoproterozóica, plutônicas do

Complexo Lagoa Real, de idade 1.75 Ga e o embasamento do Bloco Gavião. O

objetivo geral desta monografia é proceder ao mapeamento geológico das cercanias

da cidade de Caetité, com ênfase na caracterização do arcabouço estrutural e

estudo do metamorfismo nas unidades da Formação Mosquito. Neste contexto, as

unidades mapeadas foram: i) metarenitos e metaconglomerados da Formação Salto;

ii) augen-gnaisses e sienitos do Complexo Lagoa Real; iii) associação de formação

ferrífera, rochas cálcio-silicáticas, quartzitos e xistos da Formação Mosquito. A

paragênese mineral metamórfica progressiva sin a tardi-tectônica observados na

Formação Mosquito é marcada por: estaurolita, anfibólio, cianita, biotita verde,

quartzo, opacos, calcita, quartzo, sugerindo condições de fáceis anfibolito em

intervalo entre 520 e 660ºC, na zona da estaurolita. Por outro lado, a paragênese

retrograda tardi-tectônica é marcada por calcita, clorita, quartzo, anfibólio (actinolita)

sugerindo condições de fácies xisto verde com intervalos 300 e 400ºC, na zona de

clorita. Nas unidades da Formação Salto, a presença da sericita fina sugere

condições de metamorfismo de fácies xisto verde a subxisto-verde. Neste sentido, o

metamorfismo diminui de leste para oeste. O levantamento estrutural revelou a

existência de três fases deformacionais. A primeira fase (Fn-1) é marcada por

foliação milonítica. Segunda fase (Fn) foi dividida em dois estágios, o primeiro, Fn', é

marcado por rampas de empurrão com vergência para W, boudins de quartzos,

dobras intrafoliais e de arrastos; o segundo, Fn'', está representado por dobras

regionais que estão associadas a zona de cisalhamento, em modelo clássico de

cinturões de dobramentos e cavalgamentos. A última fase, Fn+1, é marcada por

dobras em kinkbands e de crenulaçao, com desenvolvimento de clivagem. A

assimetria das primeiras sugerem vergência para leste. A evolução deformacional

da área está relacionada com regimes compressivos e distensivos que se

sucederam, em que o embasamento esteve envolvido na deformação da cobertura

metassedimentar.

Palavras-chaves: Formação Mosquito, metamorfismo e rampas de empurrão.

32

ABSTRACT

The folding and thrusting belts of Espinhaço Setentrional involves the units of

Espinhaço Supergroup, with age of paleo-mesoproterozoic, plutonics from Lagoa

Real Complex, with age of 1.75 Ga and the basement of Gavião Block. The general

objective of this monograph is to proceed to the geological mapping in the

surrounding cities of Caetité, with emphasis on the characterization of the structural

pattern and study of the metamorphism from units of Mosquito Formation. In this

context, the units mapped were: i) metarenites and metaconglomerate of Salto

Formation; ii) the augen-gneiss and sienites of Lagoa Real Complex; iii) association

of iron-formation, calcium-silicates rocks, quartzites and schist of Mosquito

Formation. The sin to tardy-tectonic progressive metamorphic mineral paragenesis

observed in the Mosquito Formation is marked by: staurolite, amphibole, cianite,

green biotite, opaques quartz, calcite, quartz, suggesting that the condition of

anfibolite´s facies in interval between 520 and 600ºC, in the staurolite zone. By the

other hand, the tardy-tectonic retrograde paragenesis by the calcite, chlorite, quartz,

amphibole (actinolite) suggesting a condition to green schist facies with a interval of

300 and 400ºC, in the chlorite zone. In the units of Salto Formation, the presence of a

thin sericite suggest that the condition of metamorphism of green schist facie to

green-subschist. In this sense, the metamorphism gets minor from east to western.

The structural survey shows the existence of three deformation phases. The first

phase (Fn-1) is marked by a milionitic foliation. The second phase (Fn) was divide in

two stages, the first one, Fn´, is marked by thrusting slopes with the vergence to W,

quartz´s boudins, intrafoliaceous of dragging, the second, Fn’’, is represented by

regional folding that are associated with the sharing zones, the classic model of belts

of folding and thrusting. The last phase, Fn+1, is marked by kinkbands and

crenulation folds. The asymmetry of the first ones, suggest that the vergence is to

east. The deformational evolution of this area is related with the compressive

regimen and distensive that are succeeded, in that the basement was involved in the

deformation of metasedimetary cover.

Palavras-chaves: Formação Mosquito, metamorphism and nappes.

33

SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS .............................................................................................28

RESUMO 31

ABSTRACT............................................................................................................32

SUMÁRIO 33

LISTA DE FIGURAS ..............................................................................................35

LISTA DE TABELA................................................................................................39

LISTA DE FOTOGRAFIA.......................................................................................40

LISTA DE FOTOMICROGRAFIA...........................................................................42

LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS...............................................................44

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO..................................................................... 23

1.1 Aspectos iniciais................................................................................... 23

1.2. Área selecionada para estudo............................................................. 25

1.3. Contextualização e apresentação do problema ................................. 25

1.4. Objetivos ............................................................................................. 27

1.5. Justificativa.......................................................................................... 27

1.6. Método de trabalho.............................................................................. 28

1.6.1 Revisão Bibliográfica..................................................................... 28

1.6.2 Fotointerpretação........................................................................... 28

1.6.3 Trabalhos de Campo..................................................................... 28

1.6.4 Estudos petrográficos e petrológicos ........................................... 28

1.6.5 Tratamento dos dados estruturais ............................................... 28

1.6.6 Análise dos dados e elaboração da monografia........................... 29

1.7.Organização da monografia ................................................................ 29

CAPÍTULO 2 – GEOLOGIA REGIONAL..................................................... 30

2.1. Introdução ........................................................................................... 30

2.2.Unidades Litoestratigráficas ................................................................ 33

2.2.1.Embasamento................................................................................ 33

34

2.2.2. Complexo Lagoa Real.................................................................. 37

2.2.3. Supergrupo Espinhaço................................................................. 38

2.2.4. Intrusivas básicas......................................................................... 43

2.2.5. Supergrupo São Francisco........................................................... 43

2.3. Evolução tectônica do Bloco Gavião e do Corredor do Paramirim ..... 44

CAPÍTULO 3 - RESULTADOS DO MAPEAMENTO GEOLÓGICO E DA ANÁLISE ESTRUTURAL............................................................................ 51 3.1 Introdução ........................................................................................ 51

3.2. Unidades litoestratigráficas ............................................................ 52

3.2.1. Formação Mosquito (Complexo Urandi-Licínio de Almeida).... 52

a) Cálcio-silicáticas com mármores e xistos subordinados ...... 53

b) Itabiritos ................................................................................ 58

c) Xistos .................................................................................... 61

3.2.2. Complexo Lagoa Real ............................................................... 66

3.2.3. Supergrupo Espinhaço .............................................................. 69

3.2.4. Coberturas Cenozóicas.............................................................. 70

3.3. Aspectos do Metamorfismo ................................................................ 71

3.4. Arcabouço Estrutural .......................................................................... 73

CAPÍTULO 4 - CONCLUSÕES................................................................... 79

Referências ................................................................................................ 81

Apendice ..................................................................................................... 89

1- Mapa geológico da área de trabalho com escala 1:32.500 ................... 89

35

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – O Cráton do São Francisco, suas faixas marginais o Aulacógeno

do Paramirim. Fonte: Cruz (2004)..........................................................................

24

Figura 1.2 – Arcabouço geológico do Corredor do Paramirim. ES- Cinturão de

Dobramentos e Cavalgamentos da Serra do Espinhaço Setentrional, CD-

Cinturão de Dobramentos e Cavalgamentos da Chapada Diamantina, SRP-

Saliência do Rio Pardo (Faixa Araçuaí), BG- Bloco Gavião, BJ- Bloco Jequié.

Fonte: Cruz (2004).................................................................................................

25

Figura 1.3 – Mapa de situação e localização da área de estudo..........................

27

Figura 1.4 – Localização dos afloramentos na área de trabalho..........................

29

Figura 2.1 – O Orógeno Araçuaí na região central do Paleocontinente

Gondwana (modificado de Alkmim et al.2006). FA, traços estruturais da Faixa

de Dobramentos Araçuaí (sensu Almeida 1977); ZI, zona de interferênciado

Orógeno Araçuaí com o Aulacógeno do Paramirim. Crátons: A, Amazônico; K,

Kalahari; PP-RP, Paraná-Paranapanema-Rio de la Plata; SF-C, São Francisco-

Congo; SL-OA, São Luís - Oeste Africano. Extraído de Pedrosa-Soares et al.

(2007).....................................................................................................................

32

Figura 2.2 - Compartimentos tectônicos do Orógeno Araçuaí-Congo Ocidental:

SE: Cinturão de Cavalgamentos da Serra do espinhaço Meridional; CA: Zona

de cisalhamento da Chapada Acauã; S: Zona de dobramentos de salinas; MN:

Corredor transpressivo de Minas Novas; RP Saliência do Rio Pardo e zona de

interação com o Aulacógeno do Paramirim; BG: Bloco de Guanhães; DS Zona

de Cisalhamento de Dom Silvério; I: Zona de Cisalhamento de Ttapebi; NC:

Núcleo cristalino; OC: Faixa Oeste-Congolesa. Extraído de Alkmim et al.

( 2007)....................................................................................................................

33

Figura 2.3 - Cinturões de dobramentos do Espinhaço Setentrional e da

36

Chapada Diamantina, que por sua vez envolvem o embasamento mais antigo

que 1.8 Ga, um conjunto de plutônicas de 1.75 Ga, rochas metassedimentares

dos supergrupos Espinhaço e São Francisco e as intrusivas básicas...................

34

Figura 2.4 – Esboço geológico do BG na região de Brumado (Adaptado de

Barbosa & Dominguez 1996). 1. Coberturas Fanerozóicas; Neoproterozóico: 2.

Faixa de Dobramento Araçuaí-Piripá. 3. Supergrupo São Francisco (Grupo

Una); Mesoproterozóico: Supergrupo Espinhaço. 4. Grupo Paraguaçu e

Chapada Diamantina. 5. Complexo Ígneo-metamórfico Lagoa Real;

Paleoproterozóico: 6. Granitóides (granitos, granodioritos e monzogranitos);

CA-Caculé, ES-Espírito Santo, IG-Iguatemi, RP-Rio do Paulo, SF-Serra da

Franga, UM-Umburanas, GA-Gameleira, PS-Pé de Serra, RPE-Riacho de

Pedras, LG/Lg-Lagoa Grande/lagoinha; Arqueano: 7. Rochas charnockíticas e

Enderbíticas do Bloco Jequié. 8. Greenstone Belt de Contendas-Mirante. 9.

Sequências greenstone belt do Bloco Gavião (GBU-Greenstone belt

Umburanas, IB-Complexo Ibitira-Brumado). 10. Granitóides (tonalitos, granitos,

granodioritos), (LM-Lagoa da Macambira, MP-Malhada de Pedras, SE- Serra do

eixo, MA- Mariana, BE-Bernarda, SV-Sete Voltas, SP-Serra dos Pombos, LMO-

Lagoa do Morro, BV/MV-Boa Vista/Mata Verde, JU-Jussiape). 11. Terrenos

gnáissicos-migmatitícos da suíte TTG (tonalitos, trondhjemitos, granodioritos)

com a presença subordinada de rochas paragnaisses - Zonas de

Cisalhamentos. Fonte: Bastos Leal (1998)............................................................

36

Figura 2.5 - Mapa esquemático do Estado da Bahia mostrando as principais

seqüências vaulcanossedimentares do tipo Greenstone Belts. Modificado de

Silva & Cunha (1999).............................................................................................

37

Figura 2.6 - Coluna estratigráfica esquemática da região pesquisada por

Rocha, mostrando o embasamento, os principais sistemas deposicionais e os

ambientes tectônicos. Fonte: Rocha (1991)...........................................................

41

Figura 2.7 - Compartimentação tectônica da Chapada Diamantina Ocidental

(Guimarães J.T. 2005)..........................................................................................

43

Figura 2.8 – Perfis esquemáticos do modelo evolutivo do Corredor do

37

Paramirim durante o Arqueano/Paleoproterozóico segundo Arcanjo (2000).

Fonte: Arcanjo et al. (2000). .................................................................................. 46

Figura 2.9 - Posições postuladas dos blocos arqueanos e início da colisão

Paleoproterozóica - Extraído de Barbosa et al., (2003).........................................

47

Figura 2.10 - Modelo evolutivo esquemático dos riftes Espinhaço e Santo

Onofre postulado por Schobbenhaus (1996) e parcialmente adaptado por

Danderfer Fo (2000) as gerações dos Granitos. Extraído de Pedrosa-Soares

(2007).....................................................................................................................

48

Figura 2.11 – Ilustração dos estágios (a)de colisão, por volta de 560 Ma, e (b)

de colapso gravitacional, após movimento lateral da porção sul do orógeno, por

volta de 500 Ma. Extraído de Pedrosa-Soares (2007)...........................................

50

Figura 3.1 – Imagem SRTM mostrando a geomorfologia da área........................

51

Figura 3.2 – Coluna mostrando o empilhamento estratigráfico, Rochas

metassedimentares do embasamento do Bloco Gavião. CC – Rochas cálcio-

silicáticas, FF- Formações ferríferas......................................................................

53

Figura 3.3 - Diagrama petrogenético para o sistema Fe, h, Al, Si em rochas

pelíticas. Fonte: Burcher & Frey (2002). Em verde está marcado as condições

associadas com o metamorfismo progressivo das rochas estudadas...................

66

Figura 3.4 – Mapa metamórfico da área de trabalho............................................

73

Figura 3.5 - Diagrama estereográfico sinóptico dos pólos da foliação Sn. Hemisfério inferior. N= número de medidas. .........................................................

76

Figura 3.6 – Diagrama estereográfico da Lxn da fase Fn. Hemisfério inferior.

N= número de medidas..........................................................................................

76

Figura 3.7 - Diagrama estereográfico sinóptico dos pólos da Lb crenulação da fase Fn+1...............................................................................................................

77

Figura 3.8- Diagrama estereográfico sinóptico dos pólos da clivagem de

crenulação fase Fn+1............................................................................................. 78

38

Figura 3.9 - Diagrama estereográfico sinóptico dos pólos da fraturas desenvolvidas sobre a clivagem de crenulação da fase Fn+1...............................

78

Figura 3.10 – Blocos diagramas mostrando a evolução das fases de

deformação a) Fase Fn’; b) Fase Fn’’ e c) Fase Fn+1...........................................

79

39

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 – Propostas de colunas estratigráficas para o Supergrupo

Espinhaço na Chapada Diamantina (Guimarães et al. 2005)................................

40

Tabela 3.1 – Reações metamórficas progressivas, ocorrentes nos xistos..........

72

Tabela 3.2 – Mostra de forma abrangente a relação entre as fases de

deformação, estruturas..........................................................................................

74

40

LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 3.1 – Vista paranorâmica de afloramento de rocha cálcio-silicática

na área urbana da cidade de Caetité. Ponto J01 (coord UTM 771932 8443596)..

54

Fotografia 3.2 – Corpos itabiríticos da área de trabalho. Afloramento ponto J08,

coordenada UTM 768917/8450938........................................................................

58

Fotografia 3.3 – Quartzo-cianita-granada xisto da Formação Mosquito. Ponto

J13, coordenada UTM 769828/8444056. ..............................................................

61

Fotografia 3.4 – Superfície com óxido de manganês em xistos da Formação

Mosquito. Foto tirada a 200m a leste do ponto J18..............................................

61

Fotografia 3.5 – Moscovita quartzito que ocorre intercalado com os xistos da

Formação Mosquito. Afloramento J02, coordenada UTM 773791/8443382..........

65

Fotografia 3.6 – Augen-gnaisse Lagoa Real de composição sienítica sem

alteração. Ponto J-10, coordenadas UTM 771433/8447450..................................

67

Fotografia 3.7 - Augen-gnaisse Lagoa Real de composição sienítica. Ponto J

04, coordenadas Foro UTM 776218/8444960......................................................

67

Fotografia 3.8 – Foto geral do afloramento da Formação Salto. Ponto J12,

coordenada UTM 768870/8444104. ......................................................................

70

Fotografia 3.9 – Detalhe da rocha do afloramento da Formação Salto

mostrando níveis micáceos mb-mica branca . Ponto J12, coord. UTM

768870/8444104....................................................................................................

70

Fotografia 3.10 – Solo eluvionar gerado a partir de augen-gnasse do Complexo

Lagoa Real. Ponto J-05, coordenada UTM 775857/8445134. ..............................

71

41

Fotografia 3.11 – Solo laterítico com presença de oxido de manganês. Ponto J-

17, coordenada UTM 770355/8444686. ................................................................

71

Fotografia 3.12 – Dobras intrafoliais sin-Fn’ em rochas cálcio-silicáticas do

complexo Licínio de Almeida, envolvendo a foliação Sn-1. Ponto J-01,

coordenada 71932/8443596..................................................................................

74

Fotografia 3.13 – Rampa de empurrão intraestratais com vergência para W.

Ponto J-01, coordenada 771932 / 8443596..........................................................

75

Fotografia 3.14 – Boudin sin-Fn’ desenvolvido em nível quartzoso imerso em

rocha cálcio-silicática. Ponto J-01, coord. 71932 /8443596...................................

75

Fotografia 3.15 – Dobras assimétricas sin-Fn+1 observado na Formação Salto. 77

42

LISTA DE FOTOMICROGRAFIAS

Fotomicrografia 3.1 - Textura lepidoblástica marcada pela biotita em rochas

cálcio-silicáticas. Base da Foto = 1,2mm aumento 50x. Ponto J-08, coordenada

768917 / 8450938. bt-biotita, qtz-quartzo. Nicóis cruzados. ................................

55

Fotomicrografia 3.2 – Grãos de cal-calcita e qtz-quartzo em rochas cálcio-

silicáticas. Base da Foto 1,22 mm. Ponto J-08 coordenada 768917 / 8450938.

Nicóis cruzados......................................................................................................

56

Fotomicrografia 3.3 – Níveis quartzosos em itabiritos da Formação Mosquito.

Notar a presença de cal-calcita e op-opaco. Base da Foto = 1,2mm. Ponto J08,

coordenada UTM 768917/8450938. Nicóis cruzados............................................

59

Fotomicrografia 3.4 – Textura granoblástica e lepidoblástica em domínios

quartzosos e grão de hornblenda paralelizados com a foliação principal em

xistos da Formação Mosquito. Base da Foto 1,2mm, aumento 50x. Amostra 55

em furo de sonda da BML, Ponto J08, coordenada UTM 768917/8450938. qtz-

quartzo e anf-anfibólio. Nicóis cruzados...............................................................

62

Fotomicrografia 3.5 – Cristais de anfibólio crescendo associado com a calcita

em xistos da Formação Mosquito. Base da Foto 1,2mm, aumento 50x. Amostra

55 em furo de sonda da BML, Ponto J08, coordenada UTM 768917/8450938.

cal-calcita, anf-anfibólio. Nicóis cruzados..............................................................

62

Fotomicrografia 3.6 – Imagem de grão de bt-biotita que cresce cortando a

foliação principal marcada pelo anf-anfibólio em xistos da formação mosquito.

Base da Foto 1,2mm aumento 50x. Amostra 55 em furo de sonda da BML,

Ponto J08, coordenada UTM 768917/8450938. Nicóis cruzados.........................

63

Fotomicrografia 3.7 – Grãos de st - estaurolita em xistos da Formação

Mosquito. Base da Foto 1,2mm aumento 50x. Amostra 55 em furo de sonda da

BML, Ponto J08, coordenada UTM 768917/8450938. Nicóis cruzados. ..............

64

Fotomicrografia 3.8 – Grão de granada em xistos da Formação Mosquito. A

43

sua morfologia sugere crescimento sin a tardi-tectônico. Base da Foto 1,2mm

aumento 50x. Amostra 55 em furo de sonda da BML, Ponto J08, coordenada

UTM 768917 / 8450938. Nicóis cruzados.............................................................

64

Fotomicrografia 3.9 – Seção mostrando bt-biotita prismática com

características ígneas e em contatos retos com o K-fdsp-feldspato (microclina).

Base da foto 1,2mm, aumento 50x. Amostra 55 em furo de sonda da BML,

Ponto J08, coordenada UTM 768917 / 8450938. Nicóis cruzados.......................

69

Fotomicrografia 3.10 – bt-Biotita prismática associada com plg-plagioclásio,

apresentando contatos retos e curvos. Notar a presença de cristais de zc-zircão

inclusos no plagioclásio. Base da Foto 1,2mm, aumento 50x. Amostra 55 em

furo de sonda da BML, Ponto J08, coordenada UTM 768917 / 8450938. Nicóis

cruzados.................................................................................................................

69

Fotomicrografia 3.11 – Duas direções de clivagem de crenulação em amostra

de xisto da Formação Mosquito. Base da Foto 1,2mm aumento 50x. Ponto J-08,

coordenada UTM 768917 / 8450938. Nicóis cruzados.........................................

77

44

LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS

Anf Anfibólio

BG Bloco Gavião

BJ Bloco Jequié

Bt Biotita

Cal Calcita

CC Calcio-silicáticas

CSF Cráton do São Francisco

FF Formação ferrífera

Fn, Fn’,Fn’’ e Fn+1 Fases de deformação

Gnt Granada

K-fdsp Feldspato

Lb Linha de charneira de dobra

Lx Linha de estiramento mireral

Op Opacos

Plg Plagioclásio

Qtz Quartzo

SRP Saliência do Rio Pardo (Faixa Araçuaí) St Estaurolita

Zc Zircão

45

CAPITULO 1 - INTRODUÇÃO O Cráton do São Francisco representa a porção da placa homônima em que o

embasamento cristalino foi poupado das deformações brasiliana (Almeida 1977).

Está circundado por um conjunto de faixas móveis, denominadas a leste de Faixa

Brasília, a norte, Rio Preto e Riacho do Pontal, a noroeste a Faixa Sergipana e a

sudeste, a Faixa Araçuaí (Figura 1.1). É constituído por um conjunto de rochas

gnáissico-migmatíticas de idades que datam o arqueano (Bastos Leal 1988; Bastos

Leal et al. 1996, 1997, 1998), seqüências vulcanossedimentares de idades

arqueana-paleoproterozóica (Cunha, J. C. & Silva, M. G. 1999) e por um conjunto de

plutônicas paleoproterozóicas (Bastos Leal 1988). No Paleo e no Neoproterozóico,

tais unidades serviram como substrato para a sedimentação de rochas vulcânicas e

terrígenas do Supergrupo Espinhaço e marinhas a glácio-marinhas do Supergrupo

São Francisco, respectivamente. A consolidação do seu substrato deve-se a um

evento colisional desenvolvido no final do Paleoproterozóico entre os blocos Gavião,

Serrinha e Jequié (Barbosa & Sabaté 2002).

Notadamente em seu interior, uma faixa com orientação, aproximadamente,

NS, delimita o Aulacógeno do Paramirim (Pedrosa-Soares et al. 2001), uma

estrutura distensional que corresponde, in totum, ao Aulacógeno do Espinhaço, de

Moutinho da Costa & Inda (1982). No Neoproterozóico, a interação entre o

Aulacógeno do Paramirim e a Faixa Araçuaí levou à estruturação de um corredor de

deformação, o Corredor do Paramirim (Alkmim et al. 1993) (Figura 1.2), cuja zona de

máxima inversão posiciona-se a sul do paralelo 13º S.

46

FAIXA RIACHO DO PONTAL

Figura 1.1 – O Cráton do São Francisco, suas faixas marginais o Aulacógeno do Paramirim. Fonte:

Cruz (2004).

A evolução estrutural do Corredor do Paramirim é marcada pela superposição

de fases deformacionais e pelo aumento do grau metamórfico em direção a sul

(Cruz & Alkmim 2006). Neste contexto, zonas de cisalhamento reversas a destral-

reversas de idade neoproterozóicas são nucleadas no embasamento e

possivelmente representam reativações de estruturas antigas (Cruz 2004, Cruz &

Alkmim 2006, Guimarães et al. 2006, Cruz et al. 2007). A identificação dessas zonas

levou Cruz & Alkmim (2006) propor que a porção sul do Corredor do Paramirim fosse

excluída do Cráton do São Francisco e inserida na porção setentrional do Orógeno

Araçuaí. No cenário regional desse compartimento do Orógeno Araçuaí, tais zonas

circundam domínios com estruturas dômicas que foram pouco ou nada deformadas

pelas estruturas do corredor em questão. Além disso, essas estruturas hospedam

depósitos de ferro e manganês, além de cálcio-silicáticas, xistos e mármores cujo

Salvador

ATLÂNTICO

OCEANO

FAIXA BRASÍLIA

ORÓGENO

ARAÇUAÍ

FAIXA RIO PRETO

0 200km

EMBASAMENTO (>1,8 GA)

COBERTURAS PROTEROZÓICAS

COBERTURAS FANEROZÓICAS

CINTURÕES BRASILIANOS

N

AULACÓGENO DO PARAMIRIM CRÁTON DO SÃO FRANCISCO

Área de Trabalho

47

significado geológico ainda é motivo de controvérsia. Em especial, na região de

Caetité, Bahia, tais rochas foram agrupadas na Formação Mosquito (Rocha 1991,

Barbosa & Dominguez 1996). Essa monografia pretende contribuir com o estudo da

evolução metamórfica da dessa formação, assim como com o entendimento das

relações geométricas entre as estruturas nucleadas durante a evolução do Corredor

do Paramirim na região de Caetité, Bahia.

CD

Monte Alegre do Piauí

12 00`o

SRP

41 00`o43 00`o

BJ

BG

14 00`o

ESMacaúbas

Piripá

Supergrupo Espinhaço

Embasamento (> 1.8 Ga)

Complexo Lagoa Real

Supergrupo São Francisco

Coberturas mesozóicas

Coberturas cenozóicas

0 150 km

Corredor do Paramirim

O AULACÓGENODO

PARAMIRIMCaetité

Área de Trabalho

Figura 1.2 - Arcabouço geológico do Corredor do Paramirim. ES- Cinturão de Dobramentos e

Cavalgamentos da Serra do Espinhaço Setentrional, CD- Cinturão de Dobramentos e Cavalgamentos

da Chapada Diamantina, SRP- Saliência do Rio Pardo (Faixa Araçuaí), BG- Bloco Gavião, BJ- Bloco

Jequié. Fonte: Cruz (2004).

1.2. Área selecionada para estudo

A área de estudo possui 56 km2 e está localizada nas proximidades da cidade

de Caetité, imediatamente a norte, na região sudoeste do Estado da Bahia (Figura

1.3).

48

1.3. Contextualização e apresentação do problema O Corredor do Paramirim representa a porção invertida do Aulacógeno

homônimo, no Neoproterozóico (Cruz & Alkmim 2006). Compreende as unidades do

embasamento mais antigo que 1.8 Ga, incluindo rochas gnáissicas-migmatiticas e

seqüências vulcanossedimentares (Cunha & Silva 1999), as rochas plutônicas do

Complexo Lagoa Real e do Supergrupo Espinhaço, de idade paleoproterozóicas

(Turpin et al. 1988, Cordani et al. 1992, Pimentel et al. 1994, Cruz 2004), um

conjunto de rochas básicas intrusivas, de idade mesoproterozóica (Guimarães et al.

2005), e as unidades do Supergrupo São Francisco, do Neoproterozóico. O

levantamento estrutural, no corredor em questão realizado por Cruz (2004) e Cruz &

Alkmim (2006) demonstrou uma história evolutiva complexa, que se inicia com o

desenvolvimento de zonas de cisalhamento e dobras com orientação,

aproximadamente, segundo E-W, e vergentes para NNW. O principal registro dessa

deformação é a zona de cisalhamento Brumado-Caetité (Figura 1.2).

Posteriormente, essas estruturas foram truncadas por um conjunto de zonas de

cisalhamento e dobras posicionadas, em geral, segundo NS. Tais estruturas foram

responsáveis pela geração do cinturão de dobramentos e cavalgamentos da

Chapada Diamantina e do Espinhaço Setentrional, tendo culminado com a inversão

do Aulacógeno do Paramirim. Seus registros podem ser encontrados nas unidades

do embasamento e de preenchimento do aulacógeno, conferindo-lhes, portanto,

uma idade neoproterozóica. Tais falhas foram reativadas no Meso e

Neoproterozóico (Danderfer-Fo 2000) e responsáveis por colocar as unidades do

embasamento sobre o Supergrupo Espinhaço, no Cinturão de Dobramentos e

Cavalgamentos da Serra do Espinhaço Setentrional (Figura 1.2).

Na borda leste do Cinturão de Dobramentos e Cavalgamentos da Serra do

Espinhaço Setentrional, especialmente na região de Caetité, afloram um conjunto de

formações ferríferas, cálcio-silicáticas, mármores e cianita-granada-estaurolita xistos

que, de acordo com Moraes et al. (1980) pertencem à seqüências

vulcanossedimentares do embasamento. Entretanto, para Rocha (1990) tais rochas

correspondem às unidades basais do Supergrupo Espinhaço. Além da controvérsia

quanto ao seu posicionamento estratigráfico, tais unidades hospedam um arcabouço

estrutural complexo, ainda pouco conhecido. Além disso, poucas são as informações

a cerca do registro metamórfico associado com essas deformações.

49

Figura 1.3 – Mapa de situação e localização da área de estudo

Diante do exposto, surgem as seguintes questões: qual o registro

deformacional-metamórfico da Formação Mosquito no Cinturão de Dobramentos e

Cavalgamentos da serra do Espinhaço Setentrional? Qual a relação estrutural entre

essas rochas, as do Complexo Lagoa Real e as do Supergrupo Espinhaço?

Responder a essas questões representa, além de contribuir com uma

controvérsia histórica, que trata da delimitação das deformações brasilianas ao

longo do Corredor do Paramirim, contribuirá para o entendimento da evolução

metamórfica associada com as deformações presentes na borda leste da Serra do

Espinhaço Setentrional, na região de Caetité. Apesar do imenso volume de solo,

alguns afloramentos puderam ser identificados permitindo a realização do presente

trabalho e a contribuição no sentido de esclarecer as questões acima relacionadas.

1.4. Objetivos

O objetivo geral desta monografia é proceder ao mapeamento geológico das

cercanias da cidade de Caetité, com ênfase na caracterização do arcabouço

estrutural e estudo do metamorfismo nas unidades da Formação Mosquito.

50

Como objetivos específicos têm-se:

a) Identificar as unidades aflorantes na área de estudo e o seu arcabouço

estratigráfico;

b) Levantar o arcabouço estrutural com vistas a identificar as fases

deformacionais e as relações entre as unidades;

c) Realizar o estudo da evolução metamórfica da Formação Mosquito;

d) Elaborar em módulo de evolução deformacional contemplando as

informações obtidas.

1.5. Justificativa

Apesar da área de estudo ter sido palco de diversos trabalhos de

mapeamento ao longo dos últimos 30 anos, tais como os produzidos por Moraes et

al. (1980), Rocha (1990) e Souza et al. (1994), controvérsias importantes ainda

existem a cerca do empilhamento litoestratigráfico das unidades aflorantes, da sua

evolução deformacional e metamórfica. Desta forma, essa monografia vem contribuir

de forma significativa para o entendimento da evolução geológica da área com vistas

a elucidar o papel das deformações brasilianas na estruturação das unidades na

borda leste da Serra do Espinhaço Setentrional, assim como os aspectos

relacionados com o metamorfismo associado a essas deformações.

1.6. Método de trabalho Para cumprir os objetivos propostos serão realizadas as seguintes atividades:

1.6.1 Revisão Bibliográfica O levantamento em questão foi realizado através da aquisição e leitura de

artigos, projetos e resumos científicos que abordem a área de trabalho.

1.6.2 Fotointerpretação

Foi realizado trabalho de Fotointerpretação utilizando fotos aéreas da

AERODATA (06/88) e CONAN (06/87) na escala 1:32.500.

51

1.6.3 Trabalhos de Campo Para atingir os objetivos propostos foram realizados oito dias efetivos de

campo. Durante esses trabalhos procedeu-se à identificação das unidades, o

levantamento do arcabouço estrutural e a coleta de amostras para estudos

petrográficos e a visita e descrição de 27 afloramentos (Figura 1.4). A área de

trabalho possui poucas exposições de rocha, tendo em vista o espesso manto de

intemperismo. Entretanto os afloramentos são de ótima qualidade.

Figura 1.4 – Localização dos afloramentos na área de trabalho

1.6.4 Estudos petrográficos e petrológicos Para esses estudos foram preparadas um total de 46 seções delgadas, sendo

que 19 foram coletadas em afloramentos e outras 27 foram fornecidas pela Bahia

Mineração LTDA. Neste caso, tratam-se de amostras de furo de sonda.

52

1.6.5 Tratamento dos dados estruturais Os dados estruturais coletados em campo foram organizados em planilha

Excel e transformados em diagramas estereográficos utilizando o programa

STEREONET (versão 3.2, for Windows). 1.6.6 Análise dos dados e elaboração da monografia Todos os dados geológicos obtidos em campo e em laboratório foram

organizados e interpretados. Em seguida, procedeu-se à elaboração da monografia

em apreço.

1.7 Organização da monografia A presente monografia foi organizada em quatro seções. Na primeira seção é

apresentada a introdução, que consta da apresentação do problema, objetivos,

justificativa e método de trabalho. A segunda seção apresenta os aspectos da

Geologia Regional, ao passo que a terceira seção mostrará os resultados do

mapeamento geológico, abordando a descrição das unidades nas escalas meso e

macroscópicas, os resultados do estudo do metamorfismo e do arcabouço estrutural

e a evolução tectônica da área de estudo. A quarta e última seção apresenta as

conclusões do trabalho.

53

CAPÍTULO 2 - GEOLOGIA REGIONAL

2.1. Introdução O Orógeno Araçuaí-Oeste Congo localiza-se na província Mantiqueira. No

Brasil, esse Orógeno se estende desde o estado de Minas Gerais até o litoral

Atlântico, entre os paralelos 15° e 21°S, ao passo que na África encontra-se entre os

paralelos 2° e 10° S (Figura 2.1). Em sua contraparte brasileira, especificamente em

relação ao Cráton do São Francisco, posiciona-se em seu limite sudoeste, estando a

sua evolução relacionada com a tectônica brasiliana (Almeida 1977). Em domínios

continentais, esse orógeno interceptou unidades do embasamento mais antigo que

1.8 Ga, em especial, o Bloco Gavião, posicionado em seu limite mais a norte. A

evolução do Orógeno Araçuaí levou à inversão de riftes e estruturas aulacogênicas,

dentre elas, o Aulacógeno do Paramirim. Este aulacógeno abrigou a sedimentação

dos supergrupos Espinhaço e São Francisco, que evoluiu desde o paleoproterozóico

até o Neoproterozóico (Schobbenhaus 1996, Danderfer–Filho 2000) e representa o

braço abortado de um sistema que, a sul, teria evoluído para uma margem passiva

(Pedrosa-Soares et al. 2001). Durante as colisões neoproterozóica toda a margem

passiva foi envolvida nas deformações, tendo o front orogenético avançado em

direção às porções mais externas, a norte, e sido responsável pela inversão parcial

do Aulacógeno do Paramirim.

De acordo com Alkmim et al. (2007) (Figura 2.2.), no Orógeno Araçuaí podem

ser encontrados dez compartimentos tectônicos, quais sejam: o Cinturão de

Cavalgamentos da Serra do Espinhaço Meridional; a Zona de Cisalhamento da

Chapada Acauã; a zona de dobramentos de Salinas; o Corredor Transpressivo de

Minas Novas; a Saliência do Rio Pardo e sua zona de interação com o Aulacógeno

do Paramirim; o Bloco de Guanhães; a Zona de Cisalhamento de Dom Silvério e

estruturas associadas; a Zona de Cisalhamento de Itapebi e estruturas associadas;

o núcleo cristalino (a zona interna de alto grau que representa o núcleo do orógeno);

e o Cinturão Oeste-Congolês.

54

Figura 2.1 - O Orógeno Araçuaí na região central do Paleocontinente Gondwana (modificado de

Alkmim et al. 2006). FA, traços estruturais da Faixa de Dobramentos Araçuaí (sensu Almeida 1977);

ZI, zona de interferênciado Orógeno Araçuaí com o Aulacógeno do Paramirim. Crátons: A,

Amazônico; K, Kalahari; PP-RP, Paraná-Paranapanema-Rio de la Plata; SF-C, São Francisco-Congo;

SL-OA, São Luís - Oeste Africano. Extraído de Pedrosa-Soares et al. (2007)

A área de trabalho encontra-se inserida na porção norte do Orógeno Araçuaí,

no compartimento denominado de Saliência do Rio Pardo (Figura 2.2). A norte, a

Saliência do Rio Pardo conecta-se com o Corredor do Paramirim, que corresponde à

porção do Aulacógeno do Paramirim que foi invertida durante a deformação

brasiliana e abriga os cinturões de dobramentos do Espinhaço Setentrional e da

Chapada Diamantina, que por sua vez envolvem o embasamento mais antigo que

1.8 Ga, um conjunto de plutônicas de 1.75 Ga, rochas metassedimentares dos

supergrupos Espinhaço e São Francisco e as intrusivas básicas (Figura 2.3). Assim,

a Saliência do Rio Pardo corresponde à porção do Corredor do Paramirim cujas

55

deformações são marcadas por estruturas E-W que foram desenvolvidas por efeito-

reflexo associado com as colisões entre a Placa São Franciscana e Amazônica.

Neste capítulo serão apresentadas as unidades que compõem o Corredor do

Paramirim assim como serão apresentados alguns modelos de evolução tectônica

regional.

Área de Trabalho

Figura 2.2 - Compartimentos tectônicos do Orógeno Araçuaí-Congo Ocidental: SE: Cinturão de

Cavalgamentos da Serra do espinhaço Meridional; CA: Zona de cisalhamento da Chapada Acauã; S:

Zona de dobramentos de salinas; MN: Corredor transpressivo de Minas Novas; RP Saliência do Rio

Pardo e zona de interação com o Aulacógeno do Paramirim; BG: Bloco de Guanhães; DS Zona de

Cisalhamento de Dom Silvério; I: Zona de Cisalhamento de Ttapebi; NC: Núcleo cristalino; OC: Faixa

Oeste-Congolesa. Extraído de Alkmim et al. ( 2007).

56

Faixa Riacho do

Figura 2.3 - Cinturões de dobramentos do Espinhaço Setentrional e da Chapada Diamantina, que

por sua vez envolvem o embasamento mais antigo que 1.8 Ga, um conjunto de plutônicas de

1.75 Ga, rochas metassedimentares dos supergrupos Espinhaço e São Francisco e as intrusivas

básicas.

2.2 .Unidades Litoestratigráficas

Nesta seção serão descritas as unidades litoestratigráficas que compõem o

Corredor do Paramirim.

2.2.1.Embasamento

Contido no Bloco Gavião, o embasamento é dividido em unidades gnáissico-

migmatíticas correspondendo aos TTGs e em seqüências vulcanossedimentares

com as associações vulcano-máfico e vulcano-ultramáfico, formações ferríferas,

ORÓGENO ARAÇUAÍ

Faixa SergipanaPontal

Faixa Rio Preto

N

CD

Aulacógeno do Paramirim

Salvador ES

Oceano AtlânticoFaixa Brasilia 0 200 km

Coberturas Fanerozóicas Coberturas Proterozóicas Cinturões Brasiliano Embasamento (>1.8 Ga) Corredor do Paramirim

57

rochas carbonáticas, cálcio-silicáticas e sedimentação terrígena metamorfizadas

(Bastos Leal 1998).

De acordo Moraes et al. (1980), Bastos Leal (1998), Arcanjo et al. (2000),

Barbosa & Sabaté (2002), no Bloco Gavião as rochas gnáissico-migmatíticas estão

metamorfisados nas fácies anfibolito e granulito. Segundo Bastos Leal et al (1998),

em locais isolados e relacionados com zonas de cisalhamento regionais foram

observados efeitos de retro-metamorfismos para a fácies xisto verde. A partir de

idades U/Pb em zircões, Bastos Leal et al. (1998) reconheceu dois grandes grupos

de rochas no Bloco Gavião (Figura 2.4). O primeiro grupo constitui a crosta

continental TTG (tonalítico-trondhjemítico-granodiorítica), com idades entre 3,2–3,4

Ga. Os dados Sm/Nd (Tdm) e valores de εNd(t) variaram entre (-0,1 a -6,5) sugerem

protólitos ainda mais primitivos na gênese destas rochas com idades entre 3,2 – 3,7

Ga, sendo sua gênese ainda não claramente definida (Martin et al.1991; Santos-

Pinto 1996; Sato 1998). As modelagens geoquímicas realizadas por (Martin et

al.1991) sugerem que a origem destas rochas foi por fusão de basaltos toleíticos,

enriquecendo-a os anfibolitos com granada ou eclogitos como resíduos.

As rochas de composição granodioríticas e granítica representam um

segundo evento, ocorrido no Bloco Gavião com idade entre 3,15 - 3,20 Ga. Estas

rochas, possuem idades Sm/Nd (TDM) com variação apresentada de 3,1 e 3,6 Ga e

εNd(t) (-2,0 e -8,5), sugerindo processos de reciclagem continental arqueanos no

Bloco Gavião (Santos-Pinto 1996; Basto Leal 1998; Barbosa 1997).

Ainda de acordo com Bastos Leal (1998), no Mesoarqueano o Bloco Gavião

foi palco de colocação plutônica com composição granítica e granodiorítica, com

idades de cristalização obtidas pelo método (Rb/Sr e Pb/Pb, rocha total) por volta de

2,8 Ga. Tais rochas teriam sido originada por processos de reciclagem continental

de terrenos TTG’s com formação Paleoarqueana (Marinho et al. 1991; Bastos Leal

et al. 1998). Estas rochas são contemporâneas as intrusões cácio-alcalinas de

composição enderbíticas-charnoquíticas no bloco Jequié apresentando idades

(Pb/Pb e Rb-Sr) variando entre 2,9 e 2,7 sendo associada à mecanismo de

subducção de crosta oceânica para oeste (Barbosa 1997).

No Bloco Gavião a granitogênese paleoproterozóico está representada por

corpos de composição que variam desde tonalitos até álcali-granitos com textura

porfirítica e granulometria variada (Sabaté et al. 1990; Bastos Leal & Teixeira 1994;

58

Fróes et al. 1994; Santos-Pinto et al. 1994). Tais corpos ocorrem lineados e ou

foliados, cortando as rochas mais antigas e unidades vulcanossedimentares,

descritas a seguir.

Figura 2.4 – Esboço geológico do BG na região de Brumado (Adaptado de Barbosa & Dominguez

1996). 1. Coberturas Fanerozóicas; Neoproterozóico: 2. Faixa de Dobramento Araçuaí-Piripá. 3.

Supergrupo São Francisco (Grupo Una); Mesoproterozóico: Supergrupo Espinhaço. 4. Grupo

Paraguaçu e Chapada Diamantina. 5. Complexo Ígneo-metamórfico Lagoa Real; Paleoproterozóico:

6. Granitóides (granitos, granodioritos e monzogranitos); CA-Caculé, ES-Espírito Santo, IG-Iguatemi,

RP-Rio do Paulo, SF-Serra da Franga, UM-Umburanas, GA-Gameleira, PS-Pé de Serra, RPE-Riacho

de Pedras, LG/Lg-Lagoa Grande/lagoinha; Arqueano: 7. Rochas charnockíticas e Enderbíticas do

Bloco Jequié. 8. Greenstone Belt de Contendas-Mirante. 9. Sequências greenstone belt do Bloco

Gavião (GBU-Greenstone belt Umburanas, IB-Complexo Ibitira-Brumado). 10. Granitóides (tonalitos,

granitos, granodioritos), (LM-Lagoa da Macambira, MP-Malhada de Pedras, SE- Serra do eixo, MA-

Mariana, BE-Bernarda, SV-Sete Voltas, SP-Serra dos Pombos, LMO-Lagoa do Morro, BV/MV-Boa

Vista/Mata Verde, JU-Jussiape). 11. Terrenos gnáissicos-migmatitícos da suíte TTG (tonalitos,

trondhjemitos, granodioritos) com a presença subordinada de rochas paragnaisses - Zonas de

Cisalhamentos. Fonte: Bastos Leal (1998).

59

De acordo com Cunha & Silva (1999) no Bloco Gavião ocorrem seqüências

vulcanossedimentares, tendo sido reconhecidas as de Umburanas, Urandi-Licínio de

Almeida, Guajeru, Ibitira-Ubiraçaba e Brumado (Figura 2.5).

Figura 2.5 - Mapa esquemático do Estado da Bahia mostrando as principais seqüências

vulcanossedimentares do tipo Greenstone Belts. Modificado de Silva & Cunha (1999).

Para esses autores, tais seqüências representam remanescentes de Greenstone

Belts Arqueanos. Em algumas delas, como é o caso do Greenstone Belt de

Umburanas, foram reconhecidas estruturas do tipo spinifex. De acordo com Cunha

& Fróes (1994), para esse greenstone pode ser identificadas três unidades, que

60

refletem três ciclos vulcânicos distintos: (i) a base da unidade está composta, por

rochas de natureza komatiítica associadas a metabasaltos de origem toleítica e a

metadacitos. Essas unidades estão recobertas por quartzitos com níveis

conglomeráticos, com presença de pelitos e metassedimentos (BIF, cherts,

metacarbonatos, cálcio-silicáticas) e pulsos secundários de metavulcânicas félsica,

que foi atribuído ao segundo ciclo vulcânico; (ii) a Unidade intermediária é dominada

por metavulcânicas félsicas do terceiro ciclo vulcânico, com a presença subordinada

aos fluxos máficos de rochas piroclásticas e epiclásticas; e (iii) a Unidade Superior,

constituiu essencialmente de metacarbonatos. Os dados geocronológicos obtidos

através do método Sm-Nd e Pb-Pb (zircão primário) e U-P (SHRIMP) demonstraram

idade de cristalização em torno de 2.7 Ga para as vulcânicas félsicas da unidade

intermediária e de 3.0 Ga para as vulcânicas máficas (Cunha et al., 1996b).

Menor detalhamento é feito para os outros Greenstone Belts do Bloco Gavião. Em

especial, como Seqüência Vulcanossedimentar Licínio de Almeida foi agrupada toda

a faixa de xistos, cálcio-silicáticas e formações ferríferas que se posiciona na

margem leste da serra do Espinhaço Setentrional, exatamente à porção denominada

de Formação Mosquito e apresentada em Rocha (1991) (Figura 2.6). 2.2.2. Complexo Lagoa Real

O Complexo Lagoa Real corresponde ao conjunto sienitos e sienogranitos

(Cruz 2004) de idade 1.750 Ga (Cordani et al. 1992, Cruz 2004), além de

ortognaisses miloníticos derivados dos sienitos e sienogranitos, anfibolitos,

oligoclasitos, epidositos, microclinitos e albititos mineralizados em urânio, que

ocorrem encaixadas em ortognaisses migmatíticos e em seqüências

vulcanossedimentares do Bloco Gavião (Lobato 1985, Lobato & Fyfe 1990, Arcanjo

et al 2000, Cruz 2004). Os sienitos e sienogranitos desse complexo representam o

magmatismo anorogênico tipo A da fase de abertura do Aulacógeno do Paramirim

(McReath & Sabaté. 1987). Durante o evento brasiliano (Pimentel et al. 1994, Cruz

2004, Cruz & Alkmim 2006), tais rochas foram submetidas à deformações em zonas

de cisalhamento compressionais, originando corpos lenticulares gnaisses, albititos,

oligoclasitos e microclinitos mineralizados em urânio (Lobato, 1985; Costa et al.

1985; Arcanjo et al. 2000, Cruz 2004, Cruz & Alkmim 2006).

61

2.2.3. Supergrupo Espinhaço Regionalmente, as unidades do Supergrupo Espinhaço estão inseridas em

dois domínios fisiográficos: Serra do Espinhaço e Chapada Diamantina. O início

evolução da bacia que abrigou os sedimentos desse supergrupo ocorreu no

Estateriano por volta de 1,75 Ga (Brito Neves et al. 1979) e evoluiu até o Toniano,

em cerca de 850 Ma (Schobbenhaus 1993, 1996). Diversas propostas já foram

aventadas para explicar o empilhamento estratigráfico do Supergrupo Espinhaço na

Chapada Diamantina (Tabela 2.1). Além disso, propostas de correlação entre as

unidades desse supergrupo que afloram nas serras do Espinhaço Setentrional e na

Chapada Diamantina também já foram apresentadas por diversos autores, tais como

Dominguez (1996) e Danderfer Filho (2000).

No Espinhaço Setentrional, Rocha (1991) e Dominguez & Rocha (1989)

prepuseram uma estratigrafia representada pelos Grupos Borda Leste, na base, e

Serra Geral, no topo. Para esses autores, o Grupo Borda leste é constituído pelas

formações Mosquito que está sotoposta às formações Pajeú, Bom Retiro e Riacho

do Bento. A Formação Mosquito é composta na base por quartzitos com laminação

paralela, xistos, com granada e cianita. Sotoposto aos quartzitos ocorrem filitos

interestratificados de ambiente marinho plataformal com influência de tempestades.

As intercalações do quartzito e filito vão diminuindo para o topo, predominado filitos

com formações ferromanganesíferas bandadas.

O grupo Serra Geral foi definido por Dominguez & Rocha (1989) e Rocha

(1991) (Figura 2.6). Segundo esses autores, o seu contato com o Grupo Borda Leste

se faz através de uma discordância erosiva. Na base esse grupo está representado

por sedimentos flúvio-eólicos da Formação Salto, constituída por quartzitos com

estratificações cruzadas acanalada e lentes de seixos estirados de xistos, quartzitos

e de rochas da formação ferríferas. Tais sedimentos foram depositados em

ambiental fluvial. Em direção ao topo, as camadas são compostas por quartzitos

finos a médios, com laminação plano-paralela que gradam para quartzitos com

estratificação cruzada de grande porte de origem eólica.

Acima da Formação Salto ocorre a Formação Sítio Novo (Rocha 1991), sendo

esta constituída por três litofácies. A primeira é composta por quartzitos médios,

sericíticos com um grande volume de estratificações do tipo acanaladas; a segunda

possui quartzitos com granulação mais fina, coloração avermelhada e presença de

62

sericita, que ocorre intercalados com camadas finas de filito grafitoso de coloração

cinza e com estruturas plano paralelas; a terceira é composta por quartzitos de

granulação de média a fina sendo com estratificação cruzada do tipo hummocky e

marcas onduladas de granulação grossa do tipo ripple (Rocha 1991). Tabela 2.1 - Propostas de colunas estratigráficas para o Supergrupo Espinhaço na Chapada

Diamantina (Guimarães ET al.2005).

Na Chapada Diamantina diversas propostas foram sugeridas para explicar o

empilhamento estratigráfico do Supergrupo Espinhaço (Tabela 2.1). A partir de 1978

foram identificados três grupos principais, denominados de Grupo Rio dos

Remédios, Grupo Paraguaçu e Grupo Chapada Diamantina. No Grupo Rio dos

Remédios foi incluído um conjunto de rochas vulcânicas ácidas a intermediárias

constituídas por riolitos, riodacitos (Barbosa & Dominguez 1996) com idade de 1.75

Ga (Babinski et al. 1999).

Para Inda & Barbosa (1978), Barbosa & Dominguez (1996) e Schobenhaus

(1996), o Grupo Paraguaçu (Derby 1906 apud Barbosa & Dominguez 1996) é

constituído da base para o topo por conglomerados e arenitos fluviais (Formação

Ouricuri do Ouro), que gradam para quartzitos e metarenitos finos bem

selecionados, com estratos cruzados de grande porte, ambiente eólico (Formações

Mangabeira e Lagoa de Dentro, que por sua vez são sobrepostos por ardósias e

63

metassiltitos laminados com gretas de contração e marcas de ondulação

assimétrica, de ambiente marinho (Formação Açuruá de Inda & Barbosa 1978 e

Barbosa & Dominguez 1996). Recentemente, Guimarães et al. (2005) reconheceu a

Formação Serra da Gameleira (conglomerados fluviais) que ocorrem sotoposta ao

Grupo Rio dos Remédios (Tabela 2.1).

Figura 2.6 - Coluna estratigráfica esquemática da região pesquisada por Rocha, mostrando o

embasamento, os principais sistemas deposicionais e os ambientes tectônicos.

Legenda: 1 a 3 Estratificação cruzada: 1- Acanalada pequeno porte; 2- Acanalada grande porte; 3 –

Hummocky; 4 – Laminação plano-paralela; 5 – Laminação plano-paralela com marcas onduladas; 6 –

Formação ferromagnesiana bandada; 7 – Quartzitos; 8 – Filitos; 9 – Granitóides; 10 – Anfibolitos; 11 –

Gnaisses; 12 – Formação ferromanganesífera do embasamento. Modelo deposicionais: A – Ambiente

marinho profundo (possível talude), com lobos turbidíticos; B – Ambiente litorâneo (shoreface), com

tempestade; C – Ambiente continental flúvio-eólico; D – Plataforma marinha rasa, com tempestades.

Fonte: Rocha (1991).

A partir do conhecimento existente na época, o Grupo Chapada Diamantina

foi subdividido nas Formações Tombador, Caboclo e Morro do Chapéu por Inda &

64

Barbosa (1978) e Barbosa & Dominguez (1996). Por ouro lado, Schobbenhaus

(1996) e Guimarães et al. (2005) propuseram que essa formação fosse excluída do

Grupo Chapada Diamantina. Segundo Dominguez (1993), a Formação Tombador é

composta por arenitos e conglomerados preenchendo depressões do embasamento

cristalino arqueano a paleoproterozóico. Ainda segundo esse autor, esta formação

compreende fácies fluviais e eólicas. As fluviais são caracterizadas por ciclos com

granodecrescência ascendente e as eólicas, por granulometria bimodal,

estratificações cruzadas de médio porte e superfícies de deflação. Silveira et al.,

(1989) e Silveira (1991) colocam que os arenitos da formação Tombador gradam

para lamitos e arenitos finos da Formação Caboclo. Essa formação teria sido

depositada em ambiente de plataforma rasa e o aumento da profundidade da lâmina

d’água teria favorecido à formação de estratificação cruzada espinha de peixe, que

caracterizam a invasão marinha da Formação Caboclo (Silveira et al., 1989 e Silveira

1991).

As rochas da Formação Morro do Chapéu estão estratificamente

posicionadas acima da Formação Caboclo, sendo composta na base por

conglomerados e arenitos conglomeráticos com estratificação cruzada acanalada de

origem fluvial, que grada no sentido do topo arenitos bem selecionados com

estratificação cruzada de médio porte e lamitos com camadas ondular de forma

lenticular, sendo interpretado como deposição de ambiente estuarino (Silveira 1991

apud Barbosa & Dominguez 1996). O topo dessa formação consiste em uma

sucessão dominada por lobos deltáicos, esta formação é superposta pelos

sedimentos glaciais e carbonáticos do Grupo Una, do Supergrupo São Francisco.

Com relação ao modelo de evolução da Bacia que abrigou os sedimentos do

Supergrupo Espinhaço, o modelo de um sistema de riftes, evoluído a partir de

1,7Ga, para a deposição de Supergrupo Espinhaço no Estado da Bahia é aceito sem

restrições (Guimarães et al., 2005). O início dessa evolução é marcado por

magmatismo datado pelo método U-Pb em zircão em 1748Ma e 1752Ma,

respectivamente por Babinsky et al. (1994) e Schobbenhaus et al. (1994). Danderfer

Filho (2000) e Danderfer & Dardenne (2002) advogam a existência de sete eventos

sucessivos de bacias que teria se iniciado no paleoproterozóico e proceguido até o

Toniano. Guimarães et al. (2005), por outro lado, sugere uma história evolutiva mais

simples marcada pela presença de um rifte oriental, que teria abrigado a

65

sedimentação das unidades da Formação Gameleira e dos grupos Rio dos

Remédios e Paraguaçu (Figura 2.7).

Figura 2.7 - Compartimentação tectônica da Chapada Diamantina Ocidental( Guimarães et al. 2005).

2.2.4. Intrusivas básicas De acordo com Correa-Gomes et al., (1996), na província Chapada

Diamantina-Paramirim podem ser reconhecidas três gerações filoneanas de diques,

relacionadas a intrusões dos blocos Paramirim e Gavião com idades entre 1,3 Ga a

0,6 Ga. Guimarãres et al. (2005) coloca que os diques e sills máficos são corpos

que estão distribuídos regionalmente, onde intrudiram as unidades das formações

Tombador e Caboclo. De acordo com esses autores, as dimensões dos diques são

bastante variáveis, podendo estender seu comprimento em até dezenas de

quilômetros. Esses autores estudaram um corpo de rocha básica que aflora na

66

localidade de Lagoa do Dionísio, a norte da Chapada Diamantina. Trata-se de um

gabro isotrópico de textura inequigranular composto por cristais de plagioclásio

saussitirizado e augita parcialmente tremolitizada, sendo de filiação toleítica. As

idades U-Pb obtida por aqueles autores em zircões dessas rochas foi de 1496,1±3,2

Ma. De acordo com esses autores, essa idade é muito próxima ao que foi

encontrado por Babinski et al. (1999) em dique de anfibólio-gabro na região de

Brotas de Macaúbas sendo U-Pb em zircão com idade 1514 Ma.

2.2.5. Supergrupo São Francisco Distribuído amplamente no Estado da Bahia, o Supergrupo São Francisco

aflora na Bacia do São Francisco e na Chapada Diamantina, representado pelos

grupos Macaúbas e Una, respectivamente (Barbosa & Dominguez 1996).

Na Bacia do São Francisco está representado pelo Grupo Macaúbas, que

compreende um conjunto de metassiltitos com níveis de metarenitos de granulação

grossa, além de diamictitos (Barbosa & Dominguez 1996). Na Chapada Diamantina,

os estudos realizados por Misi (1979) e Chang et al.(1988) demonstram que o Grupo

Una é composto por sedimentos siliciclásticos e calcários interestratificados,

chegando a alcançar mais de mil metros de espessura. Segundo Barbosa &

Dominguez (1996) o Grupo Una é composto pela Formação Bebedouro (diamictitos

associados com geleiras) e pela Formação Salitre (engloba rochas carbonáticas, tais

como calcarenitos, calcilutitos, dolomitos, estromatólitos, arenitos, siltitos associadas

com ambiente marinho).

2.3. Evolução tectônica do Bloco Gavião e do Corredor do Paramirim A área de trabalho possui uma evolução tectônica complexa, cujos estudos

desenvolvidos nas últimas décadas apontam para uma evolução desde o arqueano

ao paleoproterozóico (Figura 2.8).

No Arqueano de acordo com Arcanjo et al. (2000), ocorreram 3 estágios de

evolução, primeiro estágio inicia em 3.300Ma com formação da crosta siálica

primitiva, constituída por protólitos do Complexo Gnáissico-Migmatítico e por

segmentos do Complexo Paramirim. O segundo estágio ocorreu entre 3.300 a

3.200Ma com a fragmentação da crosta siálica primordial e com a estruturação de

67

sistema de rifts na direção predominante WNW-ESE; ocorre a deposição de

associações vulcanossedimentares (protólitos dos complexos Ibitira-Ubiraçaba,

Ibiajara, Boquira e Riacho de Santana; sendo os dois últimos estão representados

na (Figura 2.8), com seqüências mais completas com evolução em direção a S-SW,

culminando nesta porção com geração de assoalho oceânico. O terceiro e último

estágio ocorreu entre 3.000 a 2.700Ma (Figura 2.8 B) iniciando com orogênese, com

subducção de placa oceânica sob placa oceânica para N-NE, fusão parcial da placa

oceânica subductada, com produção de plútons TTG, protólitos de porções dos

complexos Santa Isabel e Paramirim (Apo e Apm); neste contexto houve a formação

de um prisma acrescionário. A evolução finaliza com o desenvolvimento de

deformação tangencial e metamorfismo nas fácies xisto verde e anfibolito.

No Paleoproterozóico, de acordo com Arcanjo et al. (2000) ocorreu um

estágio dividido em duas fases. A primeira fase ocorreu entre 2.400 a 2.300 Ma

(Figura 2.8 C), a partir da qual se inicia a orogênese com deformação tangencial e

cavalgamentos para W-SW, reorientando as estruturas pretéritas para NNW-SSE. O

metamorfismo atinge fácies granulito em alguns setores como o Complexo Santa

Isabel. A segunda fase ocorreu de 2.200 a 2.000 Ma (Figura 2.8 D) com

espessamento crustal promove a fusão parcial da porção inferior da crosta siálica,

gerando migmatização e retrabalhando as litologias existentes, seguido de um

período de relaxamento pós-compressional do orógeno com geração de

magmatismo híbrido (componente mantélica de natureza alcalina+produto da fusão

parcial de crosta TTG) produzindo intrusões granitóides metaluminosas de filiação

calcialcalina de alto K (Batólito de Guanambi e granitos de Boquira e Veredinha).

Por outro lado, através de dados estruturais, metamórficos e radiométricos,

Barbosa & Sabaté (2002) sugerem que durante o Paleoproterozóico o Bloco Gavião

teria participado das colisões que estruturaram o Orógeno Itabuna Itabuna-Salvador-

Curaçá (Figura 2.9). As colisões ocorreram com movimentos dos blocos no sentido

NW para SE, sendo deduzida através de falhas de empurrão e zonas transcorrentes

tardias. A diferença entre os modelos de Arcanjo et al. (2000) e Barbosa & Sabaté

(2002) é que para os segundos autores no Paleoproterozóico as colisões no Bloco

Gavião ficaram restritas à seu limite leste, ao passo que Arcanjo et al. (2000)

defendem um cinturão de dobramentos e cavalgamentos entre os blocos Gavião e

Guanambi-Correntina.

68

Figura 2.8 – Perfis esquemáticos do modelo evolutivo do Corredor do Paramirim durante o

Arqueano/Paleoproterozóico. Fonte: Arcanjo et al. (2000).

69

Figura 2.9 - Posições postuladas dos blocos arqueanos e início da colisão Paleoproterozóica.

Extraído de Barbosa et al., (2003)

No Paleoproterozóico um sistema de riftes continentais e aulacógenos teriam

evoluído e abrigado a sedimentação do Supergrupo Espinhaço, assim como um

conjunto de vulcânicas e plutônicas ácidas e básicas teriam se posicionado na

crosta (Moutino da Costa & Inda, Schobenhaus 1993, 1996) (Figura 2.10). Para

Schobenhaus (1993, 1996), em tempos neoproterozóicos, uma segunda bacia teria

se instalado e abrigado os sedimentos do Supergrupo São Francisco (Figura 2.10).

Um conjunto de rochas alcalinas anorogênica da província Salto da Divisa datada

por Silva et al. (2002) (U/Pb em zircão) e apresentando idade por volta de 880 Ma

70

marcam essa segunda fase de rifteamento. Para Danderfer-Filho (2000), a evolução

dos supergrupos Espinhaço e São Francisco está relacionada com a superposição

de oito episódios de formação de bacias, que se instalaram entre 1.750 e 680 Ma.

Figura 2.10 - Modelo evolutivo esquemático dos riftes Espinhaço e Santo Onofre postulado por Schobbenhaus (1996) e parcialmente adaptado por Danderfer Fo (2000).

O aulacógeno do Paramirim não evolui para oceanização, ao passo que em

direção a sul o rifte entra em franco estágio de margem passiva (Pedrosa-Soares et

al. 2001, 2007). Esta fase é marcada pela intensa deposição de pelitos, em alguns

locais com característica químico-exalativos e meta basitos tipo MORB com idade de

800 Ma (Pedrosa-Soares et al. 2003).

71

No Orógeno Araçuaí são reconhecidos quatro estágios orogênicos

denominados pré-colisional (ca. 630 - 580 Ma), sin-colisional (ca. 580 - 560 Ma),

tardi-colisional (ca. 560 - 530 Ma) e pós-colisional (ca. 530 - 490 Ma)( Pedrosa-

Soares et al. 2007) Estes estágios são caracterizados com base nas relações

estruturais e associações com a foliação regional, assinaturas geoquímicas e

isotópicas, e idades U-Pb das rochas que os representam (Pedrosa-Soares &

Wiedemann-Leonardos 2000, Pedrosa-Soares et al.2001, 2007). No estágio pré-

colisional considerado como estágio acrescionário, foi edificado o arco magmático

do Orógeno Araçuaí, representado pela Suíte G1 e rochas vulcânicas do Grupo Rio

Doce. A Suíte G1 é constituída principalmente por tonalitos e granodioritos. Os

corpos G1 são batólitos e stocks que apresentam a foliação regional, muitas vezes

milonítica, e outras estruturas impressas pela deformação sin-colisional, em quase

toda sua extensão. As idades encontradas TDM entre 1,2 e 2,2 Ga e dados

geoquímicos marcados por εNd entre -5 e -13, nas rochas do grupo G1 indica uma

suíte cálcio-alcalina representando o arco magmático de margem continental ativa,

com idades 630 e 585 Ma, produto e contribuição de magmas crustais predominante

sobre magmas mantélicos (Pedrosa-Soares et al. 2007).

A granitogênese do tipo S é encontrada na suíte G2, relacionado ao estágio

sin-colisional, é constituída essencialmente de granito peraluminoso composto por

granada e cordierita / sillimanita, ocorrendo também granito a duas micas e

granodiorito granatífero subordinados. Os granitos G2 ocorrem em batólitos, corpos

tabulares e stocks que registram a deformação regional marcada por foliação em

estado sólido, muitas vezes milonítica e geralmente paralela à prévia orientação de

fluxo ígneo (Nalini et al. 2000, Celino et al. 2000, Pedrosa-Soares & Wiedemann-

Leonardos 2000, Pedrosa-Soares et al. 2001, 2006, Pinto et al. 2001, Campos et al.

2004). As rochas que representam a suíte G3, do tipo S, tiveram origem no período

tardi- a pós-colisional do Orógeno Araçuaí (Pedrosa- Soares & Wiedemann-

Leonardos 2000, Pedrosa-Soares et al. 2007). As rochas típicas da Suíte G3 são

leucogranitos com granada e/ou cordierita, pobres em micas e livres da foliação

regional. Entretanto, variedades de granito micáceo, granatífero, com foliação

incipiente, podem também pertencer a esta suíte. Idades U-Pb de leucogranitos G3

indicam cristalização magmática no intervalo 545-520 Ma (Pedrosa-Soares et al.

2007). Feições petrográficas e estruturais evidenciam que os cordierita-granada

72

leucogranitos G3 são produtos autóctones e parautóctones da fusão parcial de

granitos G2 deformados, em episódio pós-cinemático à foliação regional.

Alkmim et al. (2003) sugerem um mecanismo para a formação do orógeno

denominado como Tectônica de Quebra-Nozes. Para esse modelo, as colisões que

ocorreram à distância, na Faixa Brasília, teriam causado o fechamento da bacia

Araçuaí e a rotação da Penísula São Francisco (Figura 2.11). Marshak et al., (2005)

propôs que no Orógeno Araçuaí o colapso gravitacional esta relacionado com o

estágio pós-colisional com idades entre 530-490 Ma, sendo observada evidências no

domínio externo do Orógeno, marcado por uma clivagem de crenulação íngreme

com mergulho para oeste, acompanhado por dobras com vergência para oeste, e

zonas de cisalhamento com teto abatido para leste. Já no domínio interno (Pedrosa-

Wiedemann 2000; Pedrosa-Soares et al., 2001) caracterizam este estágio do

domínio utilizando a quarta”G4” e a quinta”G5” geração deste granitos, sendo que

G4 é do tipo “I” e o G5 do tipo “S” Cruz et al. (2007) verificaram a existência de

feições de colapso orogenético na região do Corredor do Paramirim, tendo

encontrado idades de 480 Ma para as deformações.

Figura 2.11 – Ilustração dos estágios (a)de colisão, por volta de 560 Ma, e (b) de colapso

gravitacional, após movimento lateral da porção sul do orógeno, por volta de 500 Ma. Extraído de

Pedrosa-Soares (2007)

73

CAPÍTULO 3 - RESULTADOS DO MAPEAMENTO GEOLÓGICO E DA ANÁLISE ESTRUTURAL 3.1 Introdução A área de estudo foi mapeada na escala 1: 32.500, tendo sido descrito um

total de vinte sete afloramentos (Figura 1.4). A maior dificuldade encontrada no

mapeamento geológico deu-se em função da presença de espessas coberturas de

solo, muitas vezes alóctones, marcadas pela presença de linhas se seixos. A

individualização das unidades contou com o auxílio das fotografias aéreas, de

imagens Raster (Landsat e SRTM) (Figura 3.1) e amostras de furos de sondagem

fornecidas pela Bahia Mineração LTDA. Nessa seção serão apresentadas as

unidades litoestratigráficas, assim como o arcabouço estrutural da área pesquisada.

Figura 3.1 – Imagem SRTM usada durante os trabalhos.

3.2. Unidades litoestratigráficas O mapeamento geológico permitiu a identificação de três conjuntos principais

de rochas (Apêndice 1). i) Associação de formação ferrífera, rochas cálcio-silicáticas,

quartzitos e xistos da Formação Mosquito, que foram agrupadas nas seqüências

sedimentares do embasamento do Bloco Gavião, mais precisamente no Complexo

Urandi-Licínio de Almeida, seguindo a proposta de Moraes et al. (1980) e a

denominação adotada por Silva & Cunha (1999) e Delgado et al. (2004); ii) Augen-

74

gnaisses e sienitos do Complexo Lagoa Real; iii) Metarenitos e metaconglomeráticos

da Formação Salto, Supergrupo Espinhaço, de acordo com Rocha (1991,1992,

1998). As características petrográficas verificadas e as relações estruturais

levantadas no Complexo Licínio de Almeida permitem sugerir que os protólitos das

rochas foram gerados em ambiente marinho e que o conjunto, de deformados, ainda

mantém a estratigrafia original. Desta forma, as rochas calcio-silicáticas e as

formações ferríferas devem ser as unidades mais velhas de complexo, na área

estudada. O contato entre essas unidades possivelmente era gradacional. Desta

forma, em direção a leste, aumenta o conteúdo em calcio-silicáticas e diminui o

volume de formações ferríferas, sugerindo uma progradação continental nesse

sentido. Essas unidades possivelmente foram afogadas por pelitos, que

metamorfisados deram origem aos xistos, sendo esta a unidade mais nova.

Nesta seção serão apresentadas as características macro e microscópicas

das unidades cartografadas, assim como o arcabouço estrutural verificado em

campo.

3.2.1. Complexo Urandi-Licínio de Almeida (Formação Mosquito) Essa unidade é subdividida em três litofácies, quais sejam: i) cálcio-silicáticas

com mármores e xistos subordinados, ii) itabiritos e iii) xistos. O levantamento em

afloramento e a estruturação existente permitiram sugerir uma ordem de

empilhamento estratigráfico, em que as rochas cálcio-silicáticas estariam na base,

sendo estas superpostas pelas formações ferríferas e os xistos que estão sobre

estas duas unidades sugerindo variações laterais de composição em função de

processo regressivos em direção a leste. O contato entre essas unidades se faz a

partir de zonas de cisalhamento compressionais intraestratais, que possivelmente

mantiveram a estratigrafia original dentro da unidade. A figura 3.2 demonstra o

empilhamento tectônico-estratigráfico atual. Acredita-se que as estruturas

compressionais que atuaram nas unidades não promoveram a inversão

estratigráfica, tendo sido mantidas as relações estratigráficas primárias.

75

Xisto

FF CC

W E

Figura 3.2 – Coluna mostrando o empilhamento tectono-estratigráfico, Rochas metassedimentares

do embasamento do Bloco Gavião. CC – Rochas cálcio-silicáticas, FF- Formações ferríferas.

a) Cálcio-silicáticas com mármores e xistos subordinados

Essas rochas foram encontradas na região sul da área de trabalho, mas

precisamente na zona urbana da cidade de Caetité e perfaz em torno de 2% do total

cartografado. As unidades apresentam-se na forma alongada, com orientação

noroeste-sudeste, gerando relevo ondulado (Figura 1.4). Essas rochas associam-se

a mármores, em menor proporção, e xistos, mais persistentemente.

Em campo, a rochas calcio-silicáticas possuem coloração amarelo-

esverdeada (Fotografia 3.1). O bandamento composicional é proeminente e

marcado por alternância de níveis com proporção variada de anfibólio, biotita,

granada, calcita, quartzo, clorita e epidoto. Associado com o bandamento

composicional foi observada uma foliação milonítica marcada pela orientação de

minerais como clorita, anfibólio e biotita verde. Fraturas cortam essa unidade e

hospedam níveis de epidoto. Esse mineral ocorre substituindo anfibólio, o que

sugere percolação de fluidos hidrotermais. Além disso, veios de calcita tardios são

encontrados.

Nas cálcio-silicáticas, a proporção mineral é amplamente variada, podendo

ser encontrados calcita (0-38%), anfibólio (25-40%), biotita (10-17%), granada (0-

5%), quartzo (11-20%), clorita (0-8%) e epidoto (0-4%).

76

Fotografia 3.1 – Vista paranorâmica de afloramento de rocha cálcio-silicática na área urbana da

cidade de Caetité. Ponto J01 (coordenada UTM 771932 /8443596).

Ao microscópio, essa unidade apresenta as seguintes texturas: i)

anisotrópica; inequegranular; poiquiloblástica marcada pela presença de quartzo

incluso em granada; granoblástica poligonal representada pela calcita; lepidoblástica

marcada por biotita (Fotomicrografia 3.1) e clorita; nematoblástica, marcada pela

presença do anfibólio; helicítica marcada pelo alinhamento de grãos de quartzo em

granada e textura de reação marcada pela substituição do anfibólio pela calcita e

pela clorita, da biotita pela clorita, além da possível geração de actinolita a partir da

hornblenda.

De forma subordinada, intercaladas às rochas cálcio-silicáticas são

encontradas camadas descontínuas de mármores e xistos, cuja alternância forma o

bandamento composicional. A variação composicional é paralela a foliação Sn, com

domínios ricos em calcita e domínios com proporções variadas entre a calcita,

anfibólio, biotita e clorita. Nos mármores predomina texturas granoblásticas

poligonais envolvendo a calcita, e subordinadamente a textura lepidoblástica,

marcada pela biotita e nematoblástica marcada pelo anfibólio. Em termos de

proporção modal, pode-se indicar que a calcita varia entre 30 e 100%, o anfibólio

entre 0 e 40%, a biotita entre 0 e 30% e a clorita entre 0 e 20%.

Como apresentado acima, xistos também foram observados intercalados com

as rochas cálcio-silicática e com os mármores. Entretanto, eles serão descritos em

conjunto no item referente a essas rochas.

77

Por fim, uma rocha composta quase que predominantemente por anfibólio e

quartzo foi encontrada intercalada com as unidades cálcio-silicáticas. Nas seções

analisadas ao microscópio não foi encontrado o plagioclásio. A presença dessa

rocha pode, em uma análise preliminar e sem muitos dados para confirmar, estar

relacionada com a presença de rochas vulcânicas máficas a ultramáficas ou refletir a

variação composicional do sedimento original.

Fotomicrografia 3.1 - Textura lepidoblástica marcada pela biotita em rochas cálcio-silicáticas. Base

da Foto = 1,2mm, aumento 50x. Ponto J-08, coordenada 768917 / 8450938. bt-biotita, qtz-quartzo.

Nicóis cruzados.

Uma descrição mais detalhada pode ser feita da mineralogia das rochas

cálcio-silicáticas e dos mármores. A exceção da calcita, anfibólio, biotita e cloritas, os

demais minerais descritos a seguir apenas ocorrem nas rochas cálcio-silicáticas.

Primeiramente serão descritos os minerais comuns às duas rochas. As relações dos

minerais com a principal fase deformacional da área também serão identificadas.

A calcita apresenta coloração cinza clara, ocorre xenoblástica, poligonal

(Fotomicrografia 3.2), com contatos retos e curvos com o quartzo, e contatos retos

com outros cristais de calcita. Em alguns grãos foram observados a presença de

fraturas. Esse mineral ocorre na matriz dos mármores e associada com anfibólios

nas rochas cálcio-silicáticas. Neste caso, a calcita mostra contatos interlobados,

amebóides e reentrantes com o anfibólio sugerindo que se trata de produto de

alteração daquele mineral. Em algumas lâminas foram observadas em fraturas

cortando a rocha. Esse mineral pode ocorrer com a geminação polissintética e é

encontrada associada com a biotita. Nos mármores possivelmente é uma fase

78

mineral sin-tectônica, ao passo que nas rochas cálcio-silicáticas as feições texturais

sugerem tratar-se de um mineral tardi-tectônico.

Fotomicrografia 3.2 – Grãos de calcita(cal)e quartzo(qtz) em rochas cálcio-silicáticas. Base da Foto

1,22 mm. Ponto J-08, coordenada 768917 / 8450938. Nicóis cruzados.

O anfibólio ocorre com coloração verde e com pleocroísmo variando entre

tons claros e escuros. Os cristais são subédricos a euédricos, tabulares, e ocorrem

formando a foliação principal. Nas rochas cálcio-silicáticas, os cristais apresentam

contatos curvos com a calcita, ao passo que nos mármores esses contatos são, em

geral, retos. Não foi possível identificar quimicamente o anfibólio, mas as suas

características óticas como coloração verde escura, birrefringência no início da

segunda ordem e ângulo de extinção superior a 17º sugerem tratarem-se de

minerais do grupo da hornblenda (Jordt-Evangelista 1988). A hornblenda ocorre em

contato curvo e sendo cortado pela clorita, sugerindo reações entre esses dois

minerais. Em algumas seções foram observados minerais menos coloridos, com

pleocroísmo menos intenso, e ângulo de extinção inferior a 17º, podendo tratar-se de

actinolita (Jordt-Evangelista 1988). Neste caso, esses indivíduos menos coloridos

ocorrem nas bordas dos grãos de anfibólio de coloração mais escura, possivelmente

hornblenda, e em fraturas alojadas naquele mineral. A hornblenda possivelmente é

um mineral sin-tectônico, ao passo que a actinolita é um mineral tardi-tectônico.

A biotita tem pleocroísmo variando entre verde e marrom claro. Ocorrem

como grãos subédricos, tabulares com contatos retos com os demais minerais da

rocha. Em algumas lâminas verificaram-se contatos curvos desse mineral com a

79

clorita, sugerindo feições de substituição da biotita pela clorita. Possivelmente, trata-

se de um mineral sin-tectônico.

A clorita possui preocoísmo variando em tons de verde claro, com baixa

birrefringência. Apresenta-se em grãos subédricos e geralmente ocorre associada

ao anfibólio e à biotita. Possivelmente, trata-se de um mineral tardi-tectônico.

As próximas fases minerais descritas, como anteriormente mencionados,

apenas ocorrem nas rochas cálcio-silicáticas.

A granada ocorre como porfiroblastos incolores, com o alto relevo e a

isotropia diagnósticos. Ocorre variando de 1,2mm a 3,8mm. Alguns cristais são

subédricos, quebrados, outros são euédricos, pouco fraturados. Alguns grãos

possuem inclusões orientadas se quartzo, com continuidade com a matriz das

rochas. As relações das inclusões e a forma do mineral, além do grau de

quebramento sugerem condições sin a tardi-tectônica de crescimento.

O quartzo é incolor, com extinção ondulante, evidenciando que os grãos

foram submetidos às deformações plásticas. Em geral, os contatos entre os grãos

individuais de quartzo são curvos a interbordados, ao passo que com a calcita forma

contatos retos. Feições de contatos curvos com cristais de biotita foram verificadas.

Formam níveis individualizados, descontínuos, que pode tratar-se de mineral original

da rocha ou de veios de quartzo, estes últimos verificados em afloramentos.

O epidoto apresenta coloração verde a amarelado, em cristais anédricos, na

maioria das vezes. Ocorre associado com o quartzo e com o anfibólio.

Os opacos ocorrem na forma subédrica, inclusos em todas as fases minerais

anteriormente descritas. Entretanto, não foi possível identificá-los, pois não foram

realizados estudos microquímicos e seções polidas.

Nas rochas cálcio-silicáticas, a paragênese mineral prógrada sin-tectônica é

marcada por calcita, hornblenda, biotita, granada e quartzo, ao passo clorita e o

epidoto marcam a paragênese retrógrada tardi-tectônica. De acordo com Burcher &

Frey (2002), a temperatura mínima da formação da hornblenda e da granada é de

520ºC. Não se tem condições de estimar a temperatura máxima do metamorfismo.

Por outro lado, a presença da actinolita sugere metamorfismo retrógrado em

condições de fácies xisto verde, sendo a temperatura máxima em torno de 520º C.

Através das associações minerais propõe-se que o protólito seja uma marga

das cálcio-silicáticas sejam margas, ao passo que para mármore deve tratar-se de

carbonato.

80

b) Itabiritos Os itabiritos ocorrem em 7% da área, estando localizado a norte de Caetité,

próximo ao campo de pouso da cidade. Essas rochas ocorrem na forma alongada,

com orientação geral segundo norte-sul (Apêndice 1). Na sua área de ocorrências, o

relevo apresenta-se com cristas aguçadas, retilíneas e alongadas, dispondo-se

paralelizadas com a direção da rocha. A rocha se encontra bastante alterada,

gerando solos lateríticos com coloração amarronzada (Fotografia 3.2). O estudo

petrográfico demonstrou que essas rochas associam-se com níveis milimétricos a

centimétricos de rochas cálcio-silicáticas, cujas características foram descritas

anteriormente. Desta forma, sugere-se um contato gradacional primário entre as

unidades.

Fotografia 3.2 – Corpos itabiríticos da área de trabalho. Afloramento ponto J08, coordenada UTM

768917/8450938.

Em mesoescala, essas rochas possuem tonalidade escura em função do

conteúdo de hematita (opaco não magnético) e magnetita (opaco magnético) das

rochas. Possuem um bandamento composicional muito bem desenvolvido, marcado

por alternância de níveis com proporção variada de opacos e anfibólio, esses

relacionados com lentes de cálcio-silicáticas e quartzo. A presença de bandamento

gerado pela alternância entre quartzo e hematita/magnetita, aliada à presença de

anfibólio metamórfico configuram itabiritos formados a partir de uma Formação

81

Ferrífera Bandada. O bandamento composicional associa-se com uma foliação

milonítica, marcada pela orientação dos minerais tabulares.

Os itabiritos são compostos por hematita (25-50%), identificada em

afloramento, quartzo (20-40%), anfibólio (0-25%), clorita (0-10%), calcita (0-5%).

Podem ser denominados de itabiritos anfiboliticos

As principais texturas associadas com os itabiritos são: inequigranular,

granoblástica poligonal, envolvendo o quartzo, decussada marcada por anfibólio

(actinolita?) e clorita.

Como mineral opaco, em afloramento pode ser individualizado a hematita e a

magnetita, como anteriormente colocado. Em lâmina não foram identificados em

virtude de não terem sido confeccionadas seções polidas. Na luz transmitida

aparentemente, formam grãos euédricos a subédricos, com contatos retos com o

quartzo. Esses são minerais sin-tectônicos.

O quartzo, por sua vez, apresenta-se em grãos euédricos, não são grãos

novos formados e sim um grão maior se subdividiu. Fraturamento nessas rochas em

quartzo é função do laminador, com extinção ondulante. Em algumas porções ocorre

associado à calcita. Trata-se de um mineral sin-tectônico (Fotomicrografia 3.3).

Fotomicrografia 3.3 – Níveis quartzosos em itabiritos da Formação Mosquito. Notar a presença de

calcita(cal) e opaco(op). Base da Foto = 1,2mm. Ponto J08, coordenada UTM 768917/8450938.

Nicóis cruzados.

82

O anfibólio apresenta-se com pleocroísmo variando entre tons de verde,

formando cristais euédricos a subédricos, tabulares, com a clivagem típica. Foram

verificadas duas gerações de anfibólio, sendo que a primeira apresenta-se em

contato reto com quartzo e calcita, orientando-se paralelamente à foliação principal,

sendo, portanto, sin-tectônicos. Apresenta birrefringência no início da segunda

ordem e o ângulo de extinção superior a 17º sugere tratarem-se de minerais do

grupo da hornblenda (Jordt-Evangelista 1988).

A segunda geração, em alguns casos cresce associada com calcita e com a

clorita. Esses minerais crescem sem orientação preferencial, são, portanto, tardi a

pós-tectônicos. Apresenta birrefringência no final da primeira ordem e o ângulo de

extinção inferior a 17º sugere tratarem-se de minerais do grupo da actinolita (Jordt-

Evangelista 1988).

A clorita ocorre na coloração verde clara, subédrica, tabular,

preferencialmente associada com os níveis subordinados de cálcio-silicáticas.

Ocorre em contatos retos e irregulares, tanto com o anfibólio quanto com o mineral

opaco.

A calcita em cristais poligonizados, euédricos. Ocorre associada com o

quartzo e com o anfibólio sem orientação preferencial. Trata-se, possivelmente, de

minerais tardi a pós-tectônico.

Nos Itabiritos, a paragênese progressiva é marcada por quartzo, hematita,

magnetita e anfibólio. A regressiva é marcada pela calcita, clorita e anfibólio sem

orientação preferencial.

As condições de metamorfismo prógrado associadas com essas rochas

podem ser sugeridas pela presença do anfibólio sin-tectônico como de fácies

anfibolito. Não se tem argumentos petrográficos para sugerir a temperatura máxima,

mas possivelmente a mínima é de 500ºC, ou seja, na transição xisto verde -

anfibolito (Burcher & Frey 2002), uma vez que, de acordo com aqueles autores, essa

é a temperatura mínima de aparecimento da hornblenda. Ainda segundo Burcher &

Frey (2002), a presença da actinolita sugere condições retrógradas de fácies xisto

verde, com temperaturas máximas em torno de 520º C. Assim, sugere-se que essa é

a temperatura máxima do metamorfismo regressivo.

Observando as associações minerais, o protólito sugerido são as formações

ferríferas.

83

c) Xistos

Esta unidade foi encontrada na parte sul e centro-oeste da área, recobrindo

um total de 19% da área de trabalho. Ela ocorre na forma alongada na direção

oeste-leste na parte sul e alongada norte-sul na parte centro-oeste. Na área de

ocorrência o relevo se dispõe ondulado com cristas abauladas (Apêndice 1). A rocha

se encontra alterada, apresentando variação de cor de amarelo a avermelhado

dependendo do grau de alteração (Fotografia 3.3), em alguns pontos gerando solos

com presença de óxidos de manganês (Fotografia 3.4). O estudo petrográfico

mostra uma associação dos xistos com rochas cálcio-silicáticas e itabiritos, cujas

características foram descritas anteriormente. Nas escalas macro e microscópica, os

xistos apresentam variação composicional, que ocorre associada com uma foliação

principal milonítica. Esse bandamento é marcado pela alternância de domínios ricos

em biotita, outros ricos em clino-anfibólios e proporções intermediárias entre esse

dois extremos, com a presença de quartzo, cianita, estaurolita e granada.

Fotografia 3.3 – Quartzo-cianita-granada xisto

da Formação Mosquito. Ponto J13, coordenada

UTM 769828/8444056.

Fotografia 3.4 – Superfície com óxido de

manganês em xistos da Formação Mosquito.

Foto tirada a 200m a leste do ponto J18.

Em geral, os xistos são compostos por clino-anfibólio (30-50%), biotita (25-

40%), quartzo, (10-40%), mica branca (10-40%), calcita (0-15%), estaurolita (0-10%),

clorita (0%-10%), cianita (0-10%), granada (0-8%), opacos (0-5%) e epidoto (0- 5%).

Os aspectos texturais desta unidade são representados por: inequigranular,

textura porfiroblástica marcado por granada e estaurolita; lepidoblástica

representada pela biotita e mica branca; granoblástica poligonal formadas pelos

84

grãos de quartzo (Fotomicrografia 3.4); nematoblástica marcado pelo anfibólio

(Fotomicrografia 3.5); textura em livro visto no crescimento intercalado entre a mica

branca e biotita; e textura helicítica, fruto da orientação dos opacos inclusos na

granada, de reação, marcada pela transformação da biotita em clorita e do anfibólio

em calcita (Fotomicrografia 3.5); porfiroclástica, representado por cristais de biotita

sendo truncados pela foliação principal e decussada, marcada pelo crescimento

aleatório de mica branca.

Fotomicrografia 3.4 – Textura granoblástica e

lepidoblástica em domínios quartzosos e grão de

hornblenda paralelizados com a foliação principal

em xistos da Formação Mosquito. Base da Foto

1,2 mm. Amostra 55 em furo de sonda da BML,

Ponto J08, coordenada UTM 768917/8450938.

quartzo(qtz) e anfibólio(anf). Nicóis cruzados.

Fotomicrografia 3.5 – Cristais de anfibólio

crescendo associado com a calcita em xistos da

Formação Mosquito. Base da Foto 1,2 mm.

Amostra 55 em furo de sonda BML, Ponto J08,

coordenada UTM 768917/8450938. calcita(cal),

anfibólio(anf). Nicóis cruzados.

O anfibólio se encontra com pleocroísmo variando em tons de verde claro e

escuro. Esse mineral é idioblástico a subidioblástico e ocorre na forma acicular a

tabular. Em geral, o ângulo de extinção é maior que 17º, sugerindo tratar-se de

clinoanfibólio, possivelmente, hornblenda (Jordt-Evangelista 1988). Esse mineral

ocorre paralelo à foliação Sn e cresce associado com a calcita. O seu

comportamento é pré e sin-tectônico.

A biotita tem coloração castanha clara, ocorrendo em cristais subidioblásticos,

tabulares e orientados segundo a foliação principal. Outros se apresentam sendo

cortados pela foliação principal e praticamente ortogonal e às vezes obliqua a ela

(Fotomicrografia 3.6). Os contatos desse mineral com os demais das rochas são

85

retos a curvos. Pode apresentar intercrescimento com a mica branca e estar

associada com a clorita. Em alguns cristais, há inclusões de epidoto sugerindo

reações metamórficas com injeção de cálcio. A biotita é um mineral pré a sin-

tectônico.

O quartzo ocorre como grãos xenoblásticos, em contatos irregulares com

minerais do mesmo tipo. Esse mineral apresenta-se com extinção ondulante, e com

tamanho variando de 0,064 a 0,36mm. Em alguns casos, pode ser reconhecida a

presença de novos grãos contornando porfiroclastos com subgrãos, sugerindo a

atuação de processos de recristalização.

A mica branca possivelmente é a moscovita, que se apresenta em cristais

subidioblásticos, tabulares. Esse mineral possui contatos irregulares e ou retos com

a biotita, sendo orientada paralelamente a foliação principal das rochas. Em outros

domínios, a mica branca apresenta sem orientação preferencial. Pode ocorrer

intercrescida com a biotita. Sua origem é sin-tectônica a tardi-tectônica.

A calcita ocorre em grãos irregulares, xenoblásticos, granular, associada ao

anfibólio. Em geral, apresenta contato interlobado com esse mineral, sugerindo a

substituição do anfibólio pela calcita. É um mineral tardi-tectônico.

Fotomicrografia 3.6 – Imagem de grão de biotita(bt) que cresce cortando a foliação principal

marcada pelo anfibólio(anf) em xistos da Formação Mosquito. Base da Foto 1,2mm. Amostra 55 em

furo de sonda da BML, Ponto J08, coordenada UTM 768917/8450938. Nicóis cruzados.

A estaurolita ocorre com coloração amarelada, em porfiroblastos variando

entre euédricos a anédricos, com tamanhos entre 0,4mm a 1,4mm. Apresentam

contatos curvos com a biotita e inclusões de quartzo. Alguns cristais, euédricos a

86

subédricos, apresentam textura helicítica cuja foliação interna é contínua com

relação à externa e estão moderadamente fraturados, sugerindo que se trata de uma

fase sin-tectônica. Outros porfiroblástos, euédricos, possivelmente cresceram em

condições tardi-tectônicas (Fotomicrografia 3.7).

A clorita, por sua vez, ocorre subidioblástica, com contatos interdigitados e

curvos com a biotita.

A cianita ocorre de forma anédrica, contatos retos e curvos, ocorre, em geral,

paralela à foliação principal das rochas, mas cristais em alto ângulo com essas

estruturas também são observados. Neste caso, a foliação contorna os grãos,

sugerindo que se tratam se cristais sin-tectônicos. Em alguns casos foi encontrado o

mineral crescendo ortogonalmente a foliação, sendo truncada pela a mesma

ocasionando feição de crescimento pós-tectônico.

A granada é incolor e ocorre como porfiroblastos, sendo contornada pela

foliação principal da rocha. Esse mineral ocorre subidioblástico a idioblástico. No

primeiro caso, ocorre granular, fraturada, podendo apresentar com Inclusões

orientadas constituídas por opacos e quartzo, que são compatíveis com a foliação

externa. No segundo caso, apresenta poucas fraturas. Possivelmente é um mineral

Sin a tardi e pós-tectônico (Fotomicrografia 3.8).

Fotomicrografia 3.7 – Grãos de st - estaurolita

em xistos da Formação Mosquito. Base da Foto

1,2mm. Amostra 55 em furo de sonda da BML,

Ponto J08, coordenada UTM 768917/8450938.

Nicóis cruzados.

Fotomicrografia 3.8 – Grão de granada em

xistos da Formação Mosquito. A sua morfologia

sugere crescimento sin a tardi-tectônico. Base da

Foto 1,2mm aumento 50x. Amostra 55 em furo

de sonda da BML, Ponto J08, coordenada UTM

768917 / 8450938. Nicóis cruzados.

87

Os minerais opacos ocorrem com grãos sub-angulosos, em alguns casos

preenchendo fraturas e inclusos na própria granada ocorrendo de forma orientada.

Associados com os xistos, moscovita quartzitos também foram encontrados

em formas de lentes. Essas rochas afloram em corte de estrada e apresentam

coloração amarela esbranquiçada (Fotografia 3.5). Em geral, estão bastante

alteradas e apresentam domínios com uma foliação bem marcada que se alternam

com domínios maciços. A rocha é composta essencialmente por quartzo (30-70%) e

moscovita com (10-40%). Apresenta textura inequigranular, anisotrópica,

granoblástica poligonal, marcado por grãos poligonais de quartzo e lepidoblástica,

marcada pela mica branca.

Fotografia 3.5 – Moscovita quartzito que ocorre intercalado com os xistos da Formação Mosquito.

Afloramento J02, coordenada UTM 773791/8443382.

De acordo com Burcher & Frey (2002), a presença da estaurolita, da granada

e da cianita sugerem condições metamórfica com temperaturas entre 520 e 660º C,

e pressão acima de 4 Kbar. Assim, a rocha apresenta grau de metamorfismo médio,

com temperatura mínima na fácies xisto verde baixo e temperatura máxima de 680º

C, ou seja, em condições de fácies xisto verde alto. A paragênese retrógrada, tardi-

tectônica, sugere condições de fácies xisto verde, com temperatura máxima em

torno de 520º C, que é a temperatura máxima para aparição da clorita e do epidoto

(Burcher & Frey 2002). Na figura 3.3 está marcado o campo de temperatura e

pressão sugerido para o metamorfismo progressivo das rochas estudadas. Como

88

não se tem dados de pressão, não será possível confeccionar as curvas de evolução

do metamorfismo prógrado e retrógrado.

Com relação aos protólitos, sugere-se que os xistos ricos em granada, cianita

e estaurolita sejam derivados de rochas pelíticas, ao passo que aqueles ricos em

anfibólios podem ser derivados de rochas básicas.

Figura 3.3 - Diagrama petrogenético para o sistema Fe, h, Al, Si em rochas pelíticas. Fonte: Burcher

& Frey (2002). Em verde está marcado as condições associadas com o metamorfismo progressivo

das rochas estudadas.

3.2.2. Complexo Lagoa Real

As rochas desta unidade estão localizadas na parte centro-leste da área de

trabalho e ocupa 38% da área cartografada (Apêndice 1). O relevo onde encontra

essas rochas é ondulado e pouco acidentado. A sua definição em fotografias aéreas

foi feita utilizando o critério de relevo com cristas mais suaves e sistema de

drenagem mais freqüente.

89

Foi observado em campo e confirmado em lâminas que se trata de augen-

gnaisse gerados a partir da deformação de sienitos. Em direção à porção oeste da

área predominam os augen-gnaisses, ao passo que em direção a leste, predominam

fácies menos deformadas. As rochas possuem coloração esbranquiçada, quando

alterada por processos intempéricos, a castanho rosado, quando mais preservadas

(Fotografia 3.6). Cristais azulados de quartzo são encontrados na matriz dessas

rochas. A foliação é anastomosada, marcada pela biotita e pelo alinhamento de

forma dos pórfiros de quartzo e feldspatos (Fotografia 3.7).

Fotografia 3.6 – Augen-gnaisse Lagoa Real de

composição sienítica sem alteração. Ponto J-10,

coordenadas UTM 771433/8447450.

Fotografia 3.7 - Augen-gnaisse Lagoa Real de

composição sienítica. Ponto J 04, coordenadas

UTM 776218/8444960.

O estudo petrográfico permitiu identificar microclina (30-50%), plagioclásio

(20-40%), quartzo (5-20%), biotita (3-6%), anfibólio (0-3%), mica branca (0-5%). Os

minerais acessórios são apatita e zircão.

As texturas ígneas reliquiares são: holocristalina, textura porfirítica, marcada

por quartzo e feldspato; mimerquítica, resultado do intercrescimento irregular entre

quartzo e plagioclásio, pertítica marcado pelo feldspato alcalino hospedando o

plagioclásio e poiquilítica, pela apatita e zircão imersos no quartzo, plagioclásio e

feldspato e pela biotita inclusa em feldspatos. Como texturas metamórficas, pode ser

observada porfiroclastos de quartzo e feldspatos envolvidos por grãos recristalizados

desses minerais. A matriz dessas rochas apresenta-se, granoblástica com textura

poligonal e milonítica.

90

A microclina apresenta-se incolor em luz plana, são subidioblásticos,

ocorrendo como porfiroclastos e grãos poligonais. Os primeiros apresentam

tamanhos máximos de 5cm, ao passo que os grãos poligonais ocorrem com

tamanhos variando entre 0,2 e 1cm. Os cristais apresentam macla em xadrez e

extinção ondulante (Fotomicrografia 3.9). O contato com outros cristais de microclina

é embaiado a reto.

O plagioclásio ocorre subidioblástico a xenoblástico, como porfiroclastos e

grãos poligonais. No primeiro caso o tamanho máximo é de 2 cm, ao passo que no

segundo varia entre 1 a 2mm. Apresentam-se associados com a mica branca.

Possuem contatos irregulares com a biotita e outros feldspatos. Foi observado

cristais de apatita e zircão inclusos nesses minerais (Fotomicrografia 3.10).

O quartzo é xeonoblástico e ocorrem em grãos poligonais ou como

porfiroclastos. Esse mineral apresenta-se com tamanhos variando entre 0,4 e 12mm.

É comum a presença de extinção ondulante. Ocorre na matriz, em alguns casos

associado ao plagioclásio, apresentando contatos curvos.

A biotita ocorre com pleocroísmo variando entre 0,2 a 1,6mm, em cristais

subidioblástico a idioblásticos, possivelmente ígneos. Esse mineral possui contatos

retos com o feldspato (Fotomicrografia 3.9) e em algumas ocasiões ocorre incluso

neles.

O anfibólio apresenta pleocroísmo variando em tons de verde, ocorre

subidioblástico, tabular, em contato em reto com a biotita, possivelmente em

equilíbrio com esse mineral. Seu tamanho varia entre 0,12 e 2,3 mm.

A mica branca ocorre subdioblástica, tabular e associada com o feldspato,

com tamanho variando entre 0,3 e 2,5 mm.

O zircão ocorre como cristais subédricos, fraturados, com tamanhos variando

(0,06 a 0,2mm, ocorrendo inclusos no quartzo, plagioclásio e feldspato

(Fotomicrografia 3.10). A apatita ocorre ocasionalmente na rocha, sob forma de

cristais euédricos a subédricos, não apresentando variação de tamanho em torno de

0,2mm. Esse mineral ocorre incluso no feldspato e exibe contatos retos com a biotita

e feldspato.

Nos augen-gnaisses do Complexo Lagoa Real predominam a paragênese

ígnea reliquiar, mesmo nas porções deformadas. Essa paragênese ígnea é marcada

por microclina, plagioclásio, biotita e anfibólio, ao passo que a metamórfica somente

foi representada pela mica branca.

91

Fotomicrografia 3.9 – Seção mostrando biotita(bt)

prismática com características ígneas e em

contatos retos com o feldspato(K-fdsp) (microclina).

Base da foto 1,2mm. Amostra 55 em furo de sonda

da BML, Ponto J08, coordenada UTM 768917 /

8450938. Nicóis cruzados.

Fotomicrografia 3.10 – Biotita(bt) prismática

associada com plagioclásio(plg), apresentando

contatos retos e curvos. Notar a presença de

cristais de zircão(zi) inclusos no plagioclásio.

Base da Foto 1,2mm. Amostra 55 em furo de

sonda da BML, Ponto J08, coordenada UTM

768917 / 8450938. Nicóis cruzados.

3.2.3. Supergrupo Espinhaço (Formação Salto)

O Supergrupo Espinhaço está representado pela Formação Salto. As rochas

dessa formação ocorrem na parte oeste e sudoeste da área de trabalho, aflorando

em cortes de estradas (Fotografia 3.8). Essas rochas geram relevos acidentados e

montanhosos, formando cristas que se destacam e se mostram alongadas norte-sul.

Essa unidade perfaz um total de 11% da área mapeada. Está representado por

meta-arenitos com níveis metaconglomeráticos com coloração esbranquiçada. O

bandamento composicional primário está paralelizado com a foliação principal da

área de trabalho, mas ainda pode ser reconhecido.

A rocha é composta essencialmente por quartzo (60-90%) e moscovita com

(0-05%). Trata-se de uma rocha holocristalina, inequiganular e anisotrópica, ocorre

com textura granoblástica poligonal marcado pelo quartzo. Possivelmente esse

mineral é pré-tectônico com recristalização sin-tectônica.

92

O quartzo mineral é xenoblástico e ocorrem em grãos poligonais, com

extinção ondulante e tamanhos variando de 0,016 a 0,2mm. Os cristais apresentam

contatos curvos e retos.

A mica branca apresenta-se com granulação fina, em geral entre 0,2 e

0,9mm, e se encontra orientada segundo a foliação principal (Fotografia 3.9) trata-se

de um mineral metamórfico. A presença de um bandamento composicional marcado pela alternância de

níveis conglomeráticos com quartzitos, aliado com o pouco desenvolvimento de

minerais metamórficos sugere condições de baixa temperatura para essas rochas,

em condições de fácies xisto verde baixo a sub-xisto verde (Burcher & Frey 2002).

Fotografia 3.8 – Foto geral do afloramento da

Formação Salto. Ponto J12, coordenada UTM

768870/8444104.

Fotografia 3.9 – Detalhe da rocha do

afloramento da Formação Salto mostrando níveis

micáceos mica branca(mb). Ponto J12,

coordenada UTM 768870/8444104.

3.2.4. Coberturas Cenozóicas

As coberturas cenozóicas ocupam boa parte da porção norte da área

cartografada e algumas porções a leste, totalizando 23% da área de trabalho. As

coberturas são detríticas e inconsolidadas, formando os depósitos coluvionares,

aluvionares e eluvionares.

Em geral mostram uma granulometria fina, coloração cinza e amarelada

(Fotografia 3.10) quando associados aos augens-gnaisse, amareladas e

avermelhadas quando associadas aos xisto e itabiritos, respectivamente. Os

93

eluviões são constituídos por fragmentos de minerais e rochas mais resistentes ao

intemperismo, sendo configurados como os depósitos residuais que não passaram

pelo processo de transporte, ou seja, são autóctones. Por outro lado, os coluviões

são caracterizados por serem depósitos formados a partir de deslizamento de solos

e rochas de zonas mais elevadas, sendo considerados parcialmente alóctones.

Em alguns locais foram encontrados crostas lateríticas e rica em óxidos de

manganês, podendo ser consideradas como um tipo de depósito eluvionar, porém

são caracterizadas pelas altas concentrações de ferro e manganês (Fotografia 3.11).

Os depósitos aluvionares são constituídos por sedimentos arenosos finos a

argilosos encontrados principalmente ao longo dos rios, em planícies de inundação.

Fotografia 3.10 – Solo eluvionar gerado a partir

de augen-gnaisse do Complexo Lagoa Real.

Ponto J-05, coordenada UTM 775857/8445134.

Fotografia 3.11 – Solo laterítico com presença de

óxido de manganês. Ponto J-17, coordenada

UTM 770355/8444686.

3.3. Aspectos do Metamorfismo O levantamento geológico realizado macro e microscopicamente, permitiu

identificar as paragêneses minerais metamórficas nas rochas estudadas. A

paragênese progressiva sin a tardi-tectônica encontrada nas cálcio-silicáticas e nos

xistos é marcada por: anfibólio, cianita, biotita verde, quartzo, opacos, anfibólio

(hornblenda), cianita, biotita verde, calcita, quartzo, sugerindo condições

metamórficas de fáceis anfibolito para esse conjunto, em intervalo entre 520º e 660º

C (Figura 3.3), na zona da estaurolita. Por outro lado, a paragênese retrógrada é

94

marcada por calcita, clorita, quartzo, anfibólio (actinolita) sugerindo condições de

fácies xisto verde, na zona de clorita (Bucher & Frey 2002).

Um forte contraste metamórfico é encontrado na Formação Salto, presente na

porção oeste da área e as demais unidades. Na Formação Salto, como apresentado

anteriormente, a paragênese marcada pela sericita fina, com tamanho < 1mm,

sugerindo que não houve temperatura suficiente para o crescimento do mineral.

Nesta rocha as feições reliquiares sedimentares ainda estão preservadas, com

metamorfismo de fácies xisto verdes baixo a sub-xisto verde, ao passo que para das

demais unidades, o metamorfismo progressivo é de fácies anfibolito baixo a médio.

O contato entre esses dois domínios metamórficos se através de falhas reversas,

que justapõe rochas metamórficas de fácies anfibolito sobre rochas de fácies de

xisto verde baixo a anfibolito. A figura 3.4 apresenta um esboço da distribuição do

metamorfismo na área de trabalho, onde pode-se observar um aumento das

temperatura de deformação e metamorfismo em direção a leste.

Paragêneses progressiva e regressiva são encontradas nos xistos. Na tabela

3.1 podem ser visualizadas algumas reações possíveis para explicar a paragênese

nessas rochas, de acordo com Yardley (1994).

Tabela 3.1 – Reações metamórficas progressivas sugeridas para os xistos da Formação Mosquito.

Fonte: Yardley (1994).

Fácies Metamórfica

Reações metamórficas

Metamorfismo

Xisto Verde Superior

clorita + moscovita → granada + biotita + quartzo + H2O

Progressivo

Anfibolito Inferior

granada + moscovita + clorita → estaurolita + biotita + quartzo + H2O

clorita + moscovita → estaurolita + biotita +

quartzo + H2O

Progressivo

Anfibolito Médio

moscovita + estaurolita + clorita → biotita + cianita + quartzo + H2O

estaurolita + moscovita + quartzo → Al2SiO3 + biotita + H2O

Progressivo

Xisto Verde Baixo

A clorita primária tem ocorrência rara com a estaurolita. Na maioria das vezes, a clorita

aparece como produto metamórfico retrógrado: biotita → clorita

Regressivo

95

Figura 3.4 – Mapa metamórfico da área de trabalho

Nas rochas calcio-silicáticas, como feição retrometamórfica tem-se o

crescimento de calcita associado com o anfibólio, formando textura de reação. Nos

xistos, ocorrem intercrescimentos de clorita nas bordas de biotitas metamórficas.

3.4. Arcabouço Estrutural

O levantamento estrutural revelou a existência de três fases deformacionais,

cujos registros estão apresentados na tabela 3.2. Para realizar o estudo da

vergência tectônica utilizou-se indicadores de movimento tais como estrutura S/C e

assimetrias de dobras. As condições metamórficas associada com as fases

identificadas, balizada pelas feições texturais apresentadas no item anterior também

foram apresentadas na tabela 3.2.

96

Tabela 3.2 – Estruturas associadas com as fases deformacionais identificadas em campo.

Fase

Estruturas associadas

Contexto tectônico

Metamorfismo

Fn-1

Foliação milonítica (Sn-1) e bandamento composicional paralelizado com a foliação principal.

?

Progressivo

Fn’

Rampas de empurrão com vergência para W (Fotografia 3.13), zonas de cisalhamento intraestratais, lineação de estiramento mineral(Lxn’), foliação milonítica (Sn’), boudins de quartzo (Fotografia 3.14). dobras intrafoliais (Fotografia 3.12) e de arrasto.

Compressional

Progressivo

Fn”

Dobras (antiformes e sinformes) regionais associadas a zonas de cisalhamento que cortam a estratigrafia e possuem vergência para W

Compressional

Progressivo sin-tectônico

seguido de retrógrado tardi-

tectônico

Fn+1

Dobras em kink (Fotografia 3.15), assimétricas, com vergência para leste; zona de cisalhamento distencional, dobras e clivagem de crenulação (Fotomicrografia 3.11).

Distensional

Retrógrado

A Fase Fn-1 está representada por uma foliação Sn-1, cujo contexto tectônico

não foi definido (Tabela 3.2).

Sn-1//Sn

Fotografia 3.12 – Dobras intrafoliais sin-Fn’ em rochas cálcio-silicáticas do Complexo Licínio de

Almeida, envolvendo a foliação Sn-1. Ponto J-01, coordenada 71932 /8443596.

97

A primeira fase deformacional Fn-1, pode ser observada em dobras intrafoliais

que envolve a foliação Sn-1. A segunda fase de deformação fase Fn’ é marcada por

rampas de empurrão com vergência para W, que apresentam-se confinadas a

estratos (intraestratais) (Fotografia 3.13), foliação milonítica, boudins em níveis

quartzosos (Fotografia 3.14), dobras intrafoliais (Fotografia 3.12), dobras de arrasto

e lineação de estiramento(Lxn’) (Tabela 3.2). A foliação Sn’ é marcada por biotita e

mica branca e esta orienta-se com plano máximo em N 345 / 20 SE (Figura 3.5). A

lineação de estiramento mineral(Lxn’) é marcada pela biotita e orienta-se segundo

16p/ 066 (Figura 3.6). Falhas intra-estratais e dobras de arraso, ambas com

vergência para W, além de intrafoliais foram geradas nessa fase de deformação.

Essa fase de deformação é marcada pelo desenvolvimento de estruturas intra-

estratais que provocaram cisalhamentos paralelos as camadas.

Fotografia 3.13 – Rampa de empurrão

intraestratais com vergência para W. Ponto J-01,

coordenada 771932 / 8443596.

Fotografia 3.14 – Boudin sin-Fn’ desenvolvido

em nível quartzoso imerso em rocha cálcio-

silicática. Ponto J-01, coord. 71932 /8443596.

Durante a Fase Fn’’, progressivamente à anterior, foram desenvolvidas

dobras regionais associadas a falhas de empurrão com vergência para oeste que

justapõem as unidades da área de trabalho e estrutura os contatos. Neste sentido,

formaram o antiforme na cidade de Caetité e as dobras sinforme nas laterais. As

estruturas anteriormente geradas foram rotacionadas. Acredita-se que essa fase de

deformação tenha sido responsável por justapor as unidades do Complexo Lagoa

Real sobre aquelas da Formação Mosquito e essas sobre a Formação Salto. A

mudança abrupta de metamorfismo entre as unidades da Formação Mosquito,

98

metamorfisada em condições de anfibolito médio e a da Formação Salto, em

condições de metamorfismo de baixa temperatura sugere que as zonas de

cisalhamento sin-Fn’ cortaram as isógradas da área justapondo rochas com graus

metamórficos distintos.

Sn//Sn-1

Máximo - 70,3 p/ 254,4

Plano máximo - N 344,4 / 19,7 SE

Lxn Máximo - 16,1 p/ 65,7

Lower hemisphere - 36020N=73 K=100.00 Sigma=0.730 Peak=36.81

3 %6 %9 %12 %15 %18 %21 %24 %27 %30 %33 %36 %

N=73

Lower hemisphere - 7025N=74 K=100.00 Sigma=0.740 Peak=34.64

3 %6 %9 %12 %15 %18 %21 %24 %27 %30 %33 %

N=74

Figura 3.5 - Diagrama estereográfico sinóptico dos pólos da foliação Sn. Hemisfério inferior. N= número de medidas.

Figura 3.6 – Diagrama estereográfico da Lxn da fase Fn. Hemisfério inferior. N= número de medidas.

A fase Fn+1 formou dobras em kink (Fotografia 3.15), assimétrica, com

vergência para leste. Essas estruturas foram somente observadas nos moscovita

quartzitos da Formação Salto e foram geradas em um contexto distencional. Elas

representam as reativações distensionais das estruturas anteriormente nucleadas.

Dobras de crenulações também foram observadas e essas se posicionam com dois

máximos principais (Fotomicrografia 3.10), ou seja, 02 p/ 160 e 05 para 052 (Figura

3.7). Ao passo que a clivagem de crenulação ocorre com plano máximo em 76 p/

356 (Figura 3.8).

Cortando essas estruturas, foram desenvolvidas fraturas e essas ocorrem

com plano máximo em N172/82 SW (Figura 3.9)

99

Fotografia 3.15 – Dobras assimétricas Fn+1 observado na Formação Salto.

Lb - Crenulação

Máximos: 2.1 p/ 159.9 e 05 p/ 052

Lower hemisphere - 1525

N=10 K=100.00 Sigma=0.100 Peak=66.53

5 %10 %15 %20 %25 %30 %35 %40 %45 %50 %55 %60 %

N=10

Fotomicrografia 3.11 – Duas direções de

clivagem de crenulação em amostra de xisto

da Formação Mosquito. Base da Foto

1,2mm, aumento 50x. Ponto J-08,

coordenada UTM 768917 / 8450938. Nicóis

cruzados.

Figura 3.7 - Diagrama estereográfico sinóptico dos pólos da Lb crenulação da fase Fn+1.

100

Clivagem crenulação Máximo – 76,8 p/ 73,5

Plano Máximo – N 163,5 / 13,8 W

Fratura Máximo - 8,4 p/ 81,2

Plano máximo - N 172,2 / 82,4 E

Lower hemisphere - 35078N=8 K=100.00 Sigma=0.080 Peak=21.00

2 %4 %6 %8 %10 %12 %14 %16 %18 %20 %

N=08

Lower hemisphere - 17079N=11 K=100.00 Sigma=0.110 Peak=24.71

2 %4 %6 %8 %10 %12 %14 %16 %18 %20 %22 %24 %

N=11

Figura 3.8 - Diagrama estereográfico sinóptico

dos pólos da clivagem de crenulação fase Fn+1.

Figura 3.9 - Diagrama estereográfico sinóptico dos pólos da fraturas desenvolvidas sobre a clivagem de crenulação da fase Fn+1.

A partir do levantamento estrutural observado, pode-se sugerir uma evolução

deformacional contínua que evoluiu progressivamente. A Figura 3.10 apresenta

esquematicamente as fases de deformação interpretadas. Assim, durante a Fase

Fn’ as tensões regionais levaram ao desenvolvimento de deformações intraestratais

que transpõem uma estrutura mais antiga, Sn-1. Com o avançar das deformações,

zonas de cisalhamento de mais alto ângulo são nucleadas e essas cortam a

estratigrafia. Neste contexto, antiformes e sinformes regionais são formados. Em

regime distensional, dobras com vergência contrária ao sistema regional associadas

a zonas de cisalhamento distensionais foram nucleadas durante Fn+1. Essas

estruturas somente estão acomodadas em metarenitos da Formação Salto.

101

Figura 3.10 – Blocos diagramas mostrando a evolução das fases de deformação a) Fase Fn’; b) Fase

Fn’’ e c) Fase Fn+1.

102

CAPÍTULO 4 - CONCLUSÕES Do que foi apresentado e discutido anteriormente. Chegou-se a seguinte conclusão:

1. O mapeamento geológico permitiu a identificação de três conjuntos principais

de rochas. i) Associação de formação ferrífera, rochas cálcio-silicáticas,

quartzitos e xistos da Formação Mosquito, sendo agrupadas nas seqüências

sedimentares do embasamento do Bloco Gavião, mais precisamente no

Complexo Urandi-Licínio de Almeida, ii) Augen-gnaisses e sienitos do

Complexo Lagoa Real; iii) Metarenitos e metaconglomeráticos da Formação

Salto, Supergrupo São Espinhaço.

2. A temperatura do metamorfismo cresce de oeste para leste. A paragênese

progressiva sin a tardi-tectônica encontrada nas cálcio-silicáticas e nos xistos,

sugere condições metamórficas de fáceis anfibolito para esse conjunto, em

intervalo entre 520º e 660º C. Por outro lado, a paragênese retrógrada

sugerindo condições de fácies xisto verde. Nas rochas do Complexo Lagoa

Real não foi encontrada uma mineralogia metamórfica. A paragênese sin-

deformacional é marcada pela microclina e quartzo, que ocorrem

recristalizados.

3. Um forte contraste metamórfico é encontrado na Formação Salto, presente na

porção oeste da área com relação às demais unidades. A presença da

sericita fina com tamanhos inferiores a 1mm e de feições reliquiares

sedimentares preservadas sugerem condições de metamorfismo fácies xisto

verdes baixo a sub-xisto verde. O contato entre os domínios metamórficos

distintos de faz através de zonas de cisalhamento que cortam as isógrada.

4. Um total de três fases deformacionais pode ser caracterizado na área. A

primeira, fase Fn-1, é composta pela foliação milonítica (Sn-1) e pelo

bandamento composicional paralelizado com a foliação principal. A essa fase

está associada a paragênese metamórfica progressiva. Essa fase foi divididas

em dois estágios fundamentais: Fn’, marcado pela presença de rampas de

empurrão e de zonas de cisalhamento intraestratais, com vergência para W,

além de foliação milonítica (Sn’), boudins de quartzo, dobras intrafoliais e de

arrasto. O estágio Fn’’ é representando por dobras (antiformes e sinformes)

regionais, em geral horizontais, que estão associadas a zonas de

103

cisalhamento que cortam a estratigrafia. Tais zonas possuem vergência para

W e ocorreram em contexto tectônico compressivo. A essa fase associa-se o

metamorfismo progressivo, sin-tectônico, seguido do metamorfismo

retrógrado, tardi-tectônico e marca da fase de ativação do embasamento. A

última fase Fn+1 está representada por suas dobras em kink, assimétricas,

com vergência para leste. Tais estruturas formaram em contexto tectônico

distencional e metamorfismo retrógrado.

5. Através dos dados apresentados, acredita-se que a região de Caetité possui

um rico acervo petrológico e estrutural permitindo a extração de informações

sobre a evolução geológica das unidades que lá afloram.

104

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APÊNDICE 1

1 - Mapa geológico da área de trabalho na escala 1:32.500