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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GEOLOGIA PEDRO HENRIQUE RAMOS DOS SANTOS AVALIAÇÃO PRELIMINAR DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DA MINERAÇÃO DE Pb-Zn DE BOQUIRA, BAHIA Salvador 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GEOLOGIA

PEDRO HENRIQUE RAMOS DOS SANTOS

AVALIAÇÃO PRELIMINAR DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DA

MINERAÇÃO DE Pb-Zn DE BOQUIRA, BAHIA

Salvador 2014

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PEDRO HENRIQUE RAMOS DOS SANTOS

AVALIAÇÃO PRELIMINAR DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DA

MINERAÇÃO DE Pb-Zn DE BOQUIRA, BAHIA

Monografia apresentada ao Curso de Geologia,

Instituto de Geociências, Universidade Federal da

Bahia, como requisito parcial para obtenção do

grau de Bacharel em Geologia.

Orientador: Prof. Dr. José Ângelo Sebastião

Araujo dos Anjos

Salvador 2014

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TERMO DE APROVAÇÃO

PEDRO HENRIQUE RAMOS DOS SANTOS

AVALIAÇÃO PRELIMINAR DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DA

MINERAÇÃO DE Pb-Zn DE BOQUIRA, BAHIA

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em

Geologia, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:

_________________________________________

José Ângelo Sebastião Araujo dos Anjos – Orientador (IGEO-UFBA) Doutor em Engenharia Mineral

_________________________________________

Marcus Vinicius Costa Almeida Junior Geólogo - UFBA

_________________________________________

Eduardo Paim Viglio Mestre em Geologia

Salvador, 31 de Janeiro de 2014.

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Meu Terno de Ouro, meu Monte

Santa Helena e meu Mar de Paz.

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Aos que iluminaram caminhos,

acreditaram, torceram, apoiaram,

ensinaram ou simplesmente enviaram

vibrações positivas, minha eterna

gratidão.

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RESUMO

A mineração de Pb-Zn localizada no município de Boquira, centro-oeste do estado

da Bahia, se caracteriza como um dos principais passivos ambientais no Brasil,

proveniente da atividade mineira em zona urbana. Sua produção teve início e

fechamento, respectivamente, em 1959 com 15.573 t de minério e 1989 com 82.180

t de minério. O processo de beneficamento produzia 83% de rejeito, e 17% de

concentrado de chumbo e zinco, enviado para a metalurgia de chumbo em Santo

Amaro, no Recôncavo Baiano, além do estéril, não quantificado, e disponibilizado de

forma inadequada durante o desenvolvimento das lavras a céu aberto e subterrânea.

O estéril e o rejeito foram depositados sem critérios técnicos e se caracterizam como

o principal passivo ambiental, em função dos riscos de contaminação à saúde

humana. Esta monografia, portanto, tem como objetivo avaliar preliminarmente os

principais impactos ambientais provocados pela mineração Boquira, vinte e um anos

após o seu abandono, pesquisando a literatura produzida e os processos de

degradação verificados in loco. Concluiu-se que tanto as minas à céu aberto quanto

subterrâneas representam fontes de impactos ambientais, em especial quanto a

estabilização do relevo e os processos erosivos, enquanto a bacia de rejeito

representa a principal fonte de risco à saúde humana, em função da proximidade

com a população do Boquira e a dispersão do material particulado proveniente do

vento e carreado pelas águas pluviais. Desta forma torna-se procedente o

desenvolvimento de um Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano para município

com atividade mineral urbana, aliado a um programa de Recuperação de Áreas

Degradadas, como instrumentos sustentáveis de Planejamento e Gestão Ambiental

para a região e sua população exposta.

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ABSTRACT

The Pb-Zn mining in Boquira county in the Midwest of Bahia Is characterized as a

major environmental liabilities in Brazil from the mining activity in urban areas. Its

production started and closing respectively in 1959 with 15,573 t of ore and in 1989

with 82,180 t of ore. The meliorating process produced 83% of tailing, and 17% of

lead and zinc concentrate, sent to the metallurgy of lead in Santo Amaro, Recôncavo

Baiano, beyond the sterile, non-quantified, and available inappropriately during the

development of the roofless and underground mines. The sterile and tailings were

deposited without technical criteria, and are characterized as the main environmental

liabilities, depending on the risks of contamination to human health. Hence this

monograph aims to preliminarily assess the main environmental impacts of mining

Boquira, twenty one years after its abandonment, researching the literature produced

and degradation processes examined in situ. It was concluded that both the open

mines as underground mineral represent sources of environmental impacts, in

particular on the stabilization of relief and erosion, while the tailings basin is the main

source of risk to human health, due to the proximity to the population of Boquira and

dispersion of particulate matter from the wind and adduced by rainwater. Thus it

becomes founded the development of a Master Plan for Urban Development to

county with urban mineral activity, ally Recovery of Degraded Areas program, as

instruments of sustainable environmental of planning and management for the city

and its population exposed.

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ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - O Cráton São Francisco e a localização da área de estudo. .................... 19

Figura 2 - Minério brechado cimentado por galena ................................................... 22

Figura 3 - Mapa geológico simplificado. .................................................................... 23

Figura 4 - Padre Macário Maia de Freitas ................................................................. 25

Figura 5 - O empresário Macário Maia de Freitas. .................................................... 25

Figura 6 - Critérios para avaliação de impactos ambientais ...................................... 28

Figura 7 - Cronologia do chumbo. ............................................................................. 32

Figura 8 - Amostra de galena retirada da mina de Boquira. ...................................... 33

Figura 9 - Mapa de localização de Boquira no estado da Bahia. .............................. 34

Figura 10 - Acesso a Boquira partindo da capital Salvador. ...................................... 35

Figura 11 - Mapa geológico da mina de Boquira ....................................................... 36

Figura 12 - Bloco diagrama de afloramento no flanco leste Morro do Cruzeiro ........ 37

Figura 13 - Fluxograma simplificado do processo produtivo da mineração em Boquira

e resíduos produzidos. .............................................................................................. 38

Figura 14 - Mina à céu aberto. Estado atual ............................................................. 39

Figura 15 - Imagem de satélite da mina à céu aberto no Morro do Pelado ............... 40

Figura 16 - Disposição do estéril na lavra à céu aberto e supressão da vegetação.. 41

Figura 17 - Empilhamento do estéril .......................................................................... 42

Figura 18 – Rampa de acesso à mina subterrânea ................................................... 43

Figura 19 - Entrada abandonada de uma galeria ...................................................... 44

Figura 20 - Seção longitudinal do filão Cruzeiro. Galerias, acessos e conexões. ..... 45

Figura 21 – Instalações da mina em ruínas .............................................................. 45

Figura 22 - Estrutura do silo abandonado. Ao fundo, a bacia de rejeito. ................... 46

Figura 23 - Estrutura superior de um britador abandonado. Ao fundo, o bairro

Chaves e a bacia de rejeito. ...................................................................................... 46

Figura 24 - Estrutura de uma balança para pesagem dos veículos .......................... 47

Figura 25 - Tanque de armazenamento de água ...................................................... 47

Figura 26 - Fluxograma unificado do processo de concentração do chumbo e zinco.

.................................................................................................................................. 49

Figura 27 – Estrutura onde passava a Canaleta de transporte do rejeito ................. 51

Figura 28 - A bacia de rejeito e a proximidade da sede municipal. Vista do Morro do

Pelado ....................................................................................................................... 52

Figura 29 - Residências no entorno da bacia de rejeito. Vista da própria bacia ........ 52

Figura 30 - Cultivo de abacaxi ao lado da bacia de rejeito ........................................ 53

Figura 31 - Imagem de satélite de Boquira, da bacia e dos componentes geológicos

na área. ..................................................................................................................... 54

Figura 32 - Imagem em detalhe da bacia de rejeito, bairro Chaves e BA 156. ......... 56

Figura 33 - Granulometria do rejeito na fração areia ................................................. 57

Figura 34 - Crostas esbranquiçadas evidenciando a heterogeneidade do material .. 58

Figura 35 - Feições indicando transbordamento da bacia ......................................... 58

Figura 36 – Revegetação com algaroba na bacia de rejeito ..................................... 60

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Figura 37 - Imagem panorâmica do lixão na bacia de rejeito .................................... 61

Figura 38 - Material separado coletado pelos catadores ........................................... 61

Figura 39 - Catadores sem material adequado e queima artesanal do lixo .............. 62

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 - Quantificação de impactos e medidas mitigadoras em função do tipo de

empreendimento e minério explotado. ...................................................................... 15

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 11

1.1 Objetivos ........................................................................................................ 12

1.1.1 Objetivo geral......................................................................................... 12

1.1.2 Objetivos Específicos ............................................................................ 12

1.2 Metodologia ................................................................................................... 12

1.2.1 Pesquisa Bibliográfica ........................................................................... 12

1.2.2 Campanha de campo ............................................................................ 12

1.2.3 Confecção do Trabalho Final de Graduação ......................................... 13

1.3 Métodos de Levantamento de Impactos Ambientais ................................. 13

1.4 Estruturação da Monografia ......................................................................... 15

2. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................... 16

2.1 O Semiárido ................................................................................................... 17

2.2 Mineração no Semiárido Baiano .................................................................. 17

2.3 Aspectos Geológicos de Boquira ................................................................ 18

2.4 Histórico da Mineração de Boquira ............................................................. 24

2.5 Impacto Ambiental ........................................................................................ 27

2.5.1 Avaliação do Impacto Ambiental............................................................ 27

2.6 Base Legal...................................................................................................... 29

3. LOCALIZAÇÃO, ACESSO E ASPECTOS GEOLÓGICOS NA REGIÃO DA

MINA. ........................................................................................................................ 34

3.1 Localização e Acesso ................................................................................... 34

3.2 Aspectos Geológicos na região da mina .................................................... 35

4. MODELO HIPOTÉTICO DA MINERAÇÃO DE CHUMBO E ZINCO NO

MUNICÍPIO DE BOQUIRA/BA ................................................................................. 38

4.1 Mina à céu aberto .......................................................................................... 39

4.2 Mina Subterrânea .......................................................................................... 42

5. O MINÉRIO E O PROCESSO DE CONCENTRAÇÃO ..................................... 48

5.1 Bacia de Rejeito ............................................................................................. 51

6. CONCLUSÕES E PROPOSIÇÕES .................................................................. 63

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 65

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1. INTRODUÇÃO

Passados cinco séculos do início da mineração brasileira, os passivos

ambientais deixados constituem parte da história da atividade mineira pretérita e

atual, à exemplo da mineração de Boquira, onde chumbo e zinco foram lavrados

intensamente por mais de três décadas até a exaustão das reservas e consequente

abandono da mina, em 1992.

Para BRASIL (1940) apud Correia (2007), na época da lavra do minério de

Boquira, década de 1950, os cuidados com mananciais, fauna e flora, eram quase

inexistentes, bem como as ações de fiscalização dos empreendimentos mineiros e

leis ambientais no Brasil. Prendia-se, apenas, a cumprir tão somente as exigências

do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) quanto aos métodos de

lavra, de estocagem, tratamento de minério, locação da bacia de rejeito entre outras

especificações determinadas pelo Decreto-lei 1.985, de 29 de Janeiro de 1940,

Código de Minas.

A ausência de leis ambientais durante o período exploratório da mina permitiu

que a mineração em Boquira gerasse impactos ambientais relevantes que

acometeram o solo, as águas superficial e subterrânea, a atmosfera e,

consequentemente, os seres humanos expostos aos contaminantes, ainda que a

Mineração Boquira, atual Plumbum Mineração e Metalurgia Ltda., alegasse ter

desenvolvido um trabalho de recuperação do meio ambiente assessorados pela

ECOPLAM (Empresa de Consultoria e Planejamento Ambiental).

Todavia, na época de encerramento das atividades na empresa, já havia

legislação à proteção ambiental como o Decreto nº. 97.632, de 10 de abril de 1989,

que em seu Artigo 1º, parágrafo único, obrigava os empreendimentos já existentes a

apresentarem aos órgãos ambientais no prazo máximo de 180 dias, a partir da

publicação deste decreto, um Plano de Recuperação de Área Degradada (PRAD)

(BRASIL, 1989 apud CORREIA, 2007).

Poucos estudos técnico-científicos foram elaborados acerca da problemática

ambiental da mineração de Boquira. Desta forma, a importância, gravidade do caso

e as medidas mitigadoras foram levantadas e discutidas. Sabe-se que os impactos

da mineração podem afetar áreas distantes, englobando as esferas econômica,

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social e política da sociedade, além da degradar os meios físico e biótico. Têm-se

como exemplo, os metais tóxicos lavrados em Boquira que continuam contaminando

todo o ecossistema do estuário do Rio Subaé e Bahia de Todos os Santos, no

Recôncavo Baiano, por meio dos metais disponibilizados pela Metalurgia de

Chumbo instalada em Santo Amaro/BA.

1.1 Objetivos

1.1.1 Objetivo geral

Esta pesquisa tem como objetivo geral avaliar, a partir dos dados obtidos em

literatura e observação de campo, os principais impactos gerados pela mineração de

Pb-Zn no município de Boquira, Bahia.

1.1.2 Objetivos Específicos

A) Elaborar um modelo hipotético dos passivos ambientais da mineração

Boquira;

B) Identificar os impactos nas minas à céu aberto, subterrânea e bacia de

rejeito; e

C) Discutir os impactos observados e os estudos desenvolvidos na área.

1.2 Metodologia

1.2.1 Pesquisa Bibliográfica

A busca por pesquisas e informações que contemplassem o tema foi

realizada durante a fase pré-campo. Artigos, monografias e livros foram consultados

na biblioteca do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia,

materiais publicados na internet, além do acervo particular do Professor José Angelo

S. A. Anjos. A revisão bibliográfica perdurou entre os meses de setembro, outubro,

novembro e dezembro do ano de 2013, e Janeiro do ano de 2014.

1.2.2 Campanha de campo

Concomitantemente à pesquisa bibliográfica, foi realizada uma campanha de

campo durante os dias 17 e 24 de novembro do ano de 2013.

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O objetivo da campanha foi avaliar in loco o estudo de caso e referendar as

pesquisas bibliográficas com as feições de campo. Foi realizada uma visita à mina à

céu aberto e a uma entrada da mina subterrânea, na época abandonadas. O arquivo

fotográfico se constituiu em ferramenta de grande importância para a caracterização

dos impactos ambientais observados.

Durante esse período acompanhou-se a coleta de sedimentos de rua e

amostragem de solos realizados por equipe da CPRM – Companhia de Pesquisa e

Recursos Minerais, em parceria com o Instituto de Geociências da Universidade

Federal da Bahia, para a elaboração do mapa de Detalhamento Geoquímico da

Bacia hidrográfica do Rio Paramirim, Bahia.

1.2.3 Confecção do Trabalho Final de Graduação

Durante o mês de dezembro do ano de 2013, e o mês de janeiro de 2014,

organizaram-se os dados e informações de campo aliados ao levantamento

bibliográfico para confecção do trabalho final de graduação.

1.3 Métodos de Levantamento de Impactos Ambientais

Segundo Prado Filho (1994), mais de cinquenta tipos de métodos foram

desenvolvidos para atender aos requisitos de AIA (Avaliação de Impacto Ambiental)

contidos na legislação de proteção ambiental norte americana, o National

Environmental Policy Act (NEPA), de 1969. Entretanto, nenhum deles se constitui

em metodologia universal, em condições de ser aplicado genericamente a toda e

qualquer atividade econômica que provoque impacto. Segundo o autor, os métodos

de avaliação de impactos ambientais utilizados no Brasil são utilizados como

instrumentos de planejamento e gestão ambiental no processo de licenciamento

ambiental.

Desta forma, entre os principais métodos citados na literatura, pode-se

caracterizar:

Checklist – também denominado de listagem de controle, é um método

qualitativo de identificação dos impactos ambientais, servindo particularmente para

uma análise prévia de impacto ambiental provocado por um projeto ou ação. Procura

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estabelecer detalhadamente o relacionamento entre as características do projeto e

os fatores ambientais, através da descrição causa-efeito (PRADO FILHO, 1994);

Ad Hoc – Morgan (2010) define este método como a prática de reuniões entre

especialistas de diversas áreas, com a finalidade de se obter dados e informações

em tempo reduzido, imprescindíveis à conclusão dos estudos;

Matrizes causa-efeito – Para Prado Filho (1994), consiste em métodos

bidimensionais que possibilitam uma integração entre componentes ambientais

(relacionados na horizontal) e as diferentes fases e alternativas de um projeto

(listados na vertical). As interações podem ser quantificadas através de uma escala

arbitrária de valores;

Sobreposição de cartas - A essência desse método, definida por Morgan

(2010), é a elaboração e a posterior sobreposição de cartas temáticas, solo,

categoria de decline e vegetação de uma determinada área. Esse método é

associado à técnica SIG – Sistemas de Informações Geográficas, uma vez que deve

ser assistido por computador, o que permite o armazenamento, a análise e a

representação de dados ambientais; e

Para o MMA (2001), o Plano de Remediação de Área Degradada (PRAD) é

definido como instrumento básico no processo de fechamento de minas. Pode ser

utilizado para mensurar impactos ambientais causados por empreendimentos

abandonados ou em atividade. Deve reunir informações, diagnósticos,

levantamentos e estudos que permitam a avaliação da degradação ou alteração e a

consequente definição de medidas adequadas à recuperação da área degradada.

Em casos especiais, os PRADs podem estar inseridos no Estudo de Impactos

Ambientais (EIA) e Relatório de Impactos Ambientais (RIMA). O EIA é o estudo

detalhado dos impactos ambientais associados a um dado empreendimento,

enquanto o RIMA é um resumo do EIA, que objetiva a fácil compreensão da

comunidade e interessados.

No quadro 1, encontra-se como exemplo desses estudos, a quantificação dos

empreendimentos minerais no Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais (quanto ao

porte e potencial poluidor), o tipo de minério explotado, o número de impactos

ambientais identificados e analisados para cada empreendimento e a quantidade de

medidas mitigadoras para o impacto ambiental indicado nos EIAs/RIMAs

correspondentes.

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Quadro 1 - Quantificação de impactos e medidas mitigadoras em função do tipo de empreendimento e minério explotado.

Fonte: PRADO FILHO; SOUZA (2004).

1.4 Estruturação da Monografia

Foi proposta a divisão desta monografia em cinco capítulos, assim dispostos:

O Capítulo 1 compreende a Introdução, que engloba a justificativa e a

problemática, além dos objetivos do trabalho e metodologia utilizada;

No Capítulo 2 são abordados o referencial teórico, com aspectos do

semiárido, do panorama atual da mineração baiana, da geologia do município,

histórico da mineração de Boquira, impactos ambientais, base legal e como o metal

chumbo é caracterizado;

O Capítulo 3 apresenta o estudo de caso. São abordados a localização e

acesso à área de trabalho e os aspectos da geologia local, englobando o

compartimento geológico que envolveu a mina;

No Capítulo 4 é apresentado o modelo hipotético dos passivos ambientais da

mineração de Chumbo e Zinco do município de Boquira; e

No Capítulo 5, a conclusão e as recomendações são apresentadas ao leitor.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

Segundo Banco de Nordeste (1999) a mineração é, sem dúvida, uma

atividade indispensável à sobrevivência do homem moderno, dada a importância

assumida pelos bens minerais em praticamente todas as atividades humanas; das

mais básicas como habitação, construção, saneamento básico, transporte,

agricultura, às mais sofisticadas como tecnologia de ponta nas áreas de

comunicação e medicina. Ao mesmo tempo, apresenta-se como um desafio para o

conceito de desenvolvimento sustentável, uma vez que retira da natureza recursos

naturais não renováveis.

Já Guimarães (1981) apud Sánchez (2006) descrevem que a história da

mineração no Brasil tem início no seu período colonial, há mais de quinhentos anos,

na época do descobrimento, com a exploração de ouro e ferro. Acredita-se que a

primeira mineração brasileira pode ter sido a de conchas calcárias na Baía de Todos

os Santos para a fabricação de cal à época da fundação de Salvador.

Para Sánchez (2006) o Ciclo do Ouro, primeira referência mineral no Brasil,

tem início no século XVII e é definido pelos manuais de história como um novo ciclo

econômico, que trouxe consigo o povoamento de vastas porções do interior do país.

Neste período, o Brasil se tornou o maior produtor mundial de ouro,

respondendo por mais da metade de toda a produção. Todavia, atrelado à crescente

na produção, havia os impactos ambientais gerados pelos garimpos e

empreendimentos, tais como: o cascalho e areia escavados dos rios durante a

estação seca e transportado para as margens formando pilhas chamadas mundéus.

Para facilitar a escavação do leito, o desvio de riachos era uma prática adotada

(GUIMARÃES, 1981 apud SÁNCHEZ, 2006).

Posteriormente, as primeiras descobertas de ouro e diamante na Bahia são

relatadas por Menezes, Guimarães e Souza (1995). O ouro de Jacobina, descoberto

em 1702, e Teofilândia em 1990, assim como diamantes, em 1732 em Jacobina e

Nordestina em 2010, ambas localizadas no semiárido baiano.

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2.1 O Semiárido

Segundo IBGE (2010) apud Correio da Bahia (2013), o semiárido brasileiro

ocupa um território com extensão de 980.133,079 km², o equivalente a 11% do

território do Nordeste. Abrange 1.135 municípios, no espaço geográfico de nove

unidades da federação: Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio

Grande do Norte, Sergipe e Minas Gerais, abrigando uma população de 22.598.318

habitantes, o equivalente a 11,85% da população brasileira e 42,57% da população

nordestina.

O bioma predominante é a Caatinga e o clima é marcado por longos períodos

de estiagem, com temperaturas médias anuais de 26º C. A precipitação

pluviométrica é de 750 mm/ano, com distribuição irregular. O semiárido baiano

representa uma área de 390.594 km², o equivalente a 39% da área do nordeste do

país, distribuídos em 265 municípios. (IBGE, 2010 apud Correio da Bahia, 2013).

Pinheiro e Leone (2014) destacam os parâmetros sociais que envolvem o

Semiárido. Caracterizam a região como marcada pela pobreza, falta de

infraestrutura, falta de sistemas de transporte que interligue a região, ausência de

rede que estruture a produção econômica e inexistência de saneamento público na

maioria das vezes (menos de 30% dos municípios tem rede de esgoto).

2.2 Mineração no Semiárido Baiano

Leone e Longo (2013) abordam traços gerais da economia do estado, que

possui 417 municípios, sendo 265 localizados na região do Semiárido. Essa região

abriga 48% da população baiana e produz 28% da riqueza do estado.

Segundo a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral, 100 dos 417 municípios

da Bahia têm, em 2013, alguma atividade de mineração, e desses, 90% estão

localizados no semiárido. O setor produtor de bens minerais do semiárido baiano,

responsável por três quartos da produção mineral da Bahia, apresenta um espectro

bastante diversificado, com a produção de cobre, ouro, níquel, ferro, diamante, entre

outros. (CORREIO DA BAHIA, 2013).

Leone e Longo (2014), baseado em dados obtidos pela Secretaria da

Indústria, Comércio e Mineração, informam que os municípios do Semiárido

receberam 25 dos 36 projetos no setor mineral a partir de 2007 e que, até 2016,

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serão contabilizados mais de 12,8 bilhões de reais em investimentos, com a geração

de 8.735 empregos diretos.

A atividade mineira baiana no semiárido pode ser exemplificada pelas

empresas:

Yamana Gold. Ouro em Santaluz, Jacobina e Barrocas;

Mirabela Mineração. Níquel em Itagibá;

Magnesita S.A. Magnesita em Brumado;

Mineração Caraíba. Cobre em Jaguarari;

FERBASA. Cromo em Campo Formoso

Bahia Mineração. Ferro em Caetité;

Lipari Mineração. Diamante em Nordestina;

Indústrias Nucleares do Brasil S.A. Urânio em Caetité; e

Largo Mineração. Vanádio em Maracás

2.3 Aspectos Geológicos de Boquira

Correia (2007) cita Alkimim et. al. (1993), que insere a mina de Boquira no

corredor de deformação do Paramirim, que é formado pelo Espinhaço Setentrional,

pelos blocos Gavião e Paramirim e pela Chapada Diamantina. Esta situação

corresponde à porção central do Cráton do São Francisco (Figura 01).

O Bloco do Paramirim é constituído por rochas tonalito-trondhjemito-

granodiorito-graníticas arqueanas do Complexo Paramirim, migmatizadas em torno

de 2.700 Ma, durante o evento Jequié (CORDANI et. al., 1992 apud ARCANJO et.

al. 2005), e por remanescentes de sequências supracrustais supostamente

arqueanas (complexos Boquira, Ibiajara e Ibitira-Ubiraçaba), além de rochas

granitoides intrusivas desde o Paleoproterozóico (granitos Boquira e Veredinha) até

o Mesoproterozóico (Suíte Intrusiva Lagoa Real), estas últimas colocadas entre

1.725 e 1.745 Ma (TURPIN et. al., 1988; CORDANI et. al., 1992; PIMENTEL et. al.,

1994 apud ARCANJO et. al., 2005).

Segundo Arcanjo et. al. (2005), os limites ocidental e oriental do Bloco do

Paramirim são marcados por descontinuidades estruturais com o Espinhaço

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Setentrional e com a Chapada Diamantina, respectivamente. Para sul-sudeste, não

são bem definidas suas relações com o Bloco do Gavião.

Figura 1 - O Cráton São Francisco e a localização da área de estudo.

Fonte: EGYDIO-SILVA, KARMANN & TROMPETTE, 2011.

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Silva e Cunha (2000) afirmam que o bloco do Paramirim faz parte do

compartimento geotectônico oeste do Estado da Bahia. Nos seus domínios além do

predomínio das rochas graníticas, gnáissicas e migmatíticas da infraestrutura do

Cráton do São Francisco, ocorrem também associações de sequências

vulcanossedimentares a dominantemente sedimentares, constituindo faixas isoladas

geralmente estreitas e alongadas, com orientação geral norte-sul e dispostas em

meio aos granitos, gnaisses e migmatitos do embasamento do CSF (Cráton do São

Francisco).

A localização das faixas dominantemente sedimentares situa-se

essencialmente, ao longo da margem oriental da serra do Espinhaço. A faixa de

maior expressão e mais conhecida, com 64 km de comprimento e largura de 3 km,

atravessando as cidades de Macaúbas e Boquira, hospeda as mineralizações

stratabound1 e/ou estratiformes de Pb-Zn (Cd-Ag) da exaurida Mina de Chumbo da

Boquira (SILVA e CUNHA, 2000).

Em função da presença das importantes mineralizações plumbíferas, a região

situada entre as cidades de Macaúbas e Boquira foi alvo de estudos detalhados

realizados por diversos autores, como Nagell et. al. (1967) e Nagell (1970), que

utilizaram pela primeira vez, respectivamente, as denominações Unidade e

Formação Boquira. Costa et. al. (1976) propuseram que a sequência supracrustal

encaixante daquelas mineralizações constituísse um greenstone belt,

correlacionando-a ao Complexo Riacho de Santana (apud ARCANJO et. al., 2005).

Esta associação metavulcanossedimentar que abriga a mina, segundo

Correia (2007), estruturalmente tem a forma de um grande sinclinal completamente

deformado e redobrado, com um sistema de fraturas na direção NW-SE, que

permitiu o controle da rede hidrográfica da região.

As três unidades litológicas que compõem a Formação Boquira foram

definidas por Arcanjo et. al. (2005). A estruturação das unidades, típicas de um

greenstone belt são denominadas: Unidade Botuporã, basal, composta por rochas

ultrabásicas komatiíticas; Unidade Cristais, que congrega metabasaltos com

sedimentos químicos e clásticos associados; e Unidade Boquira, superior,

constituída por formações ferríferas, além de xistos, quartzitos e carbonatos.

1 Termo utilizado para indicar determinado depósito mineral que se encontra limitado a uma

determinada camada ou estrato.

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Das unidades citadas, apenas a Unidade Boquira hospeda os jazimentos de

chumbo-zinco, segundo Espourteille e Fleischer (1988). Caracteriza-se por ser a

mais extensa das três unidades que constituem a Formação Boquira e é descrita

como uma sequência sedimentar químico-terrígena, sem contribuição vulcânica

aparente, metamorfisada em geral na fácies epidoto-anfibolito, constituída

dominantemente por formações ferríferas, carbonatos, quartzitos e xistos. Esses

litotipos ocorrem sob a forma de corpos lenticulares que se interdigitam e gradam

entre si.

As formações ferríferas são em geral bandadas, com bandas de espessura

milimétrica a centimétrica, de composições (óxidos, silicatos e carbonatos, em

proporções diversas), cores e, às vezes, granulações distintas. Os tipos maciços são

subordinados e aqueles xistosos são em geral restritos a zonas de cisalhamento. Na

mina Boquira e arredores essas rochas estão representadas pelas fácies óxido,

silicato e carbonato (Carvalho et. al., 1982) ou, segundo Rocha (1985), pelas

subfácies quartzo-hematita, quartzo-magnetita, silicato-magnetita e carbonato-

silicato. À subfácies silicato-magnetita associam-se as mineralizações de chumbo e

zinco (ARCANJO et. al., 2005).

A mineralização de Pb-Zn (Cd-Ag) da Formação Boquira, representada

fundamentalmente pela já exaurida Mina de Chumbo da Boquira, está intimamente

associada à subfácies BIF2, silicato-magnetita. O minério (Figura 02) é concordante

com o bandamento da rocha encaixante e ocorre também remobilizado, ao longo de

zonas de falhas e de cisalhamento, associado a quartzo leitoso, calcita, clorita,

biotita e às vezes granada (ROCHA, 1990 apud SILVA & CUNHA, 2000).

Em Arcanjo et. al. (2005), os autores citam os carbonatos, juntamente com as

formações ferríferas bandadas, como as rochas predominantes na mina de Boquira,

Esses grupos de rochas são representados por dolomitos, mármores e calcários à

magnetita.

Quanto à idade, Rocha (1990) discute a possibilidade da sequência litológica

da Formação Boquira ter sido formada no final do Arqueano ou no Proterozóico

Inferior, considerando as datações do embasamento, com idades em torno de 2.6

Ga., e de granitoides intrusivos, com idades de 2.0 Ga. (apud Silva & Cunha 2000).

2 Banded Iron Formation ou Formações Ferríferas Bandadas. Subfácies indica o aspecto secundário

da rocha no âmbito litológico, estrutural ou metamórfico, bem como reflexos do ambiente no qual a rocha se formou.

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As galenas dos corpos de minério estratiforme de Boquira datadas pelo

método Pb/Pb forneceram idades modelo em torno de 2,5 Ga. (CASSEDANE &

LASSERRE, 1969 apud ARCANJO et. al., 2005). Segundo Arcanjo et. al. (2005),

Carvalho et. al. (1997) concluíram pela idade dos depósitos de chumbo no intervalo

2,5 Ga. a 2,7 Ga., o que implica a deposição da Unidade Boquira e, por extensão, do

Complexo Boquira, no Arqueano.

Várias hipóteses têm sido levantadas em relação à gênese do minério. Silva e

Cunha (2000) afirmam que Carvalho et. al. (1997) realizaram estudos isotópicos na

mineralização, tendo os resultados apontados claramente para uma fonte crustal

para o Pb (embasamento). Silva e Cunha (2000) propõem que os autores

idealizaram um modelo SEDEX3, no qual o minério teria sido transportado para o

ambiente marinho através de soluções hidrotermais e se depositado juntamente com

os sedimentos.

Figura 2 - Minério brechado cimentado por galena

Fonte: ARCANJO et. al., 2005

O mapa geológico regional simplificado, Figura 03, engloba a geologia de

Boquira e municípios vizinhos.

3 Sediment-hosted massive sulfide deposit. Depósitos de sulfetos maciços hospedados em

sedimentos

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Figura 3 - Mapa geológico simplificado.

Fonte: ARCANJO et. al., 2005

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A abundância de carbonatos (séries ankerita e dolomita) e ausência de barita

foram indicadas nas descrições de depósitos sulfetados de fundo oceânico atuais

por Scott (1997) apud Figueiredo (2000) em sítios específicos (bacias sedimentares

distintas das de retrocarco). Temperaturas de até 370º C para a deposição dos

sulfetos de Boquira foram estimadas nos estudos de Carvalho et. al. (1997),

segundo Figueiredo (2000).

2.4 Histórico da Mineração de Boquira

Teixeira et. al. (1998) afirmam que os primeiros passos da história da

mineração de Boquira estão expressos em ocorrências imprecisas, localizadas no

auge das buscas que aconteciam no século XVII. Havia apenas alguma alusão à

ocorrência nas menções de Montes Flores, em 1923.

Ferran (2007) descreve que por volta de 1938, o Sr. Antenor, considerado

médico da região e dono de uma farmácia, recebeu umas pedras do Sr. Joaquim,

que as considerou distintas das outras principalmente pelo peso. Posteriormente, as

amostras foram levadas a um ferreiro.

Teixeira et. al. (1998) descreveram que dois lavradores entregaram ao padre

Macário Maia de Freitas (Figura 04) amostras das estranhas rochas. Os lavradores

da região faziam o uso das pedras em edificações e estranharam o peso. Segundo

Ferran (2007), o padre Macário suspeitou que houvesse chumbo na composição

daquele material.

Conforme Ferran (2007), as amostras recebidas por Macário foram enviadas

para um laboratório no Rio de Janeiro no qual, os estudos químicos elaborados

apontaram para chumbo nas amostras.

Teixeira et. al. (1998) e Sant’ana (2012) relatam a mudança drástica ocorrida

na vida do até então padre Macário. Quando confirmada a composição do minério,

Macário casou-se com a filha do farmacêutico Antenor. Então, partiram em incursão

para o Morro do Pelado. A Figura 05 consiste numa antiga fotografia do ex-padre e

então empresário, Macário Maia de Freitas.

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Figura 4 - Padre Macário Maia de Freitas

Fonte: TEIXEIRA et. al., 1998

Figura 5 - O empresário Macário Maia de Freitas.

Fonte: TEIXEIRA et. al., 1998

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Ferran (2007) e Teixeira et. al. (1998) descreveram os passos iniciais da

mineração. Em 1957 tem início o processo de explotação e, em seguida, Macário

negocia as cerussitas do Morro do Pelado com a fábrica Pres-o-Lite, que

desenvolveu as atividades em nível subterrâneo. Posteriormente, a empresa

americana Denver entrou com os equipamentos para viabilizar a operação.

Segundo Ferran (2007), quando a operação de flotação não estava rendendo

o resultado esperado, Macário entrou em conversações com a empresa francesa

Plumbum, que tinha experiência na lavra de beneficiamento de chumbo em minas

no Paraná e São Paulo.

Com o tempo, o domínio da Mineração Boquira torna-se exclusivo dos

franceses da Peñarroya Oxide S/A, que passa a se chamar COBRAC – Companhia

Brasileira de Chumbo e instala em Santo Amaro-BA uma metalúrgica para produção

de ligas de chumbo. Mazoni e Minas (2009) apud Rabelo (2010) afirmam que a

empresa faturou cerca de US$ 450 milhões durante o período ativo, produzindo

chumbo num intervalo entre 11.000 e 32.000 toneladas por ano.

Segundo Ferran (2007), nos anos de declínio da produção, a Plumbum, nesta

época denominada Luxma, passou a explorar os pilares de sustentação da mina de

Boquira, que teoricamente deveriam ser poupadas para assegurar a sustentação

das galerias abertas. Para segurança, cada pilar utilizado como minério, tinha que

ser substituído por um pilar artificial, para que fosse assegurada a sustentação da

mina subterrânea, com isso, o alto custo começava a inviabilizar a mineração.

Os últimos anos foram descritos por Ferran (2007) como um período de baixo

investimento da Luxma em Boquira. A empresa, que nos tempos áureos, empregava

mais de mil funcionários, foi reduzindo drasticamente este número. Teixeira et. al.

(1998) afirmam que a atividade de explotação perdurou até a plena exaustão do

minério.

Ferran (2007) justifica o abandono da mina devido ao excesso de oferta

internacional de chumbo aliado aos altos custos operacionais, haja vista o

esgotamento das reservas mais viáveis. Segundo Teixeira et. al. (1998), a mina foi

desativada em 1992, após ter extraído cerca de 117 mil toneladas de minério

composto, em grande parte, de chumbo, zinco e prata.

No ano de 2007, foi discutido o reaproveitamento das reservas e no estudo de

rejeito. Conforme Reuters (2007), a empresa responsável seria a Bolland do Brasil

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S.A, que teria enviado ao DNPM um estudo de viabilidade para reativação da mina

de chumbo no município e da fundição de Santo Amaro. Posteriormente, a empresa

desistiu do projeto, deixando-o para a Mineração Cruzeiro Ltda., subsidiária da Metal

Data S.A., que assumiu os direitos da concessão da Plumbum Mineração e

Metalurgia S.A.

2.5 Impacto Ambiental

Segundo IBRAM (1992), a legislação federal define impacto ambiental como:

toda alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas, que, direta ou indiretamente, afetem: a segurança e o bem estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais (art. 1º, Resolução CONAMA 001/86).

Conforme Sánchez (2006) há, na literatura técnica, várias definições de

impacto ambiental. Grande parte dessas definições concorda em seus elementos

básicos e ideia, sendo discordantes apenas na formulação das premissas.

“A noção de impacto ambiental é também fundamental para a sua avaliação,

pois determina a abordagem metodológica, a abrangência dos estudos e até mesmo

a utilização dos seus resultados”. (IBRAM, 1992, p. 14)

Moreira (1992) apud SÁNCHEZ (2006) define impacto ambiental como

qualquer alteração no meio ambiente em um ou mais de seus componentes –

provocada por uma ação humana.

Westman (1985) apud SÁNCHEZ (2006) interpreta impacto ambiental como o

efeito sobre o ecossistema de uma ação induzida pelo homem.

Enquanto que, a mudança em um parâmetro ambiental, num determinado

período e numa determinada área, que resulta de uma dada atividade, comparada

com a situação que ocorreria se essa atividade não tivesse sido iniciada também

seria impacto ambiental (WATHERN, 1988 apud SÁNCHEZ, 2006).

2.5.1 Avaliação do Impacto Ambiental

Conforme IBRAM (1992) a Avaliação dos Impactos Ambientais (AIA)

decorrentes de ações antrópicas não é uma tarefa simples. A diversidade dos

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fatores sociais, físicos e biológicos podem complicar a interpretação e avaliação do

impacto. A figura 06 representa a concepção geral que norteou o estabelecimento

de critérios utilizados na avaliação de impacto ambiental.

Figura 6 - Critérios para avaliação de impactos ambientais

Fonte:IBRAM, 1992

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O termo Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) entrou na terminologia e na

literatura ambiental a partir da legislação pioneira que criou esse instrumento de

planejamento ambiental, National Environmental Policy Act – NEPA, a lei de política

nacional do meio ambiente dos Estados Unidos (SÁNCHEZ, 2006).

Para Sánchez (2006), o significado e objetivo da avaliação de impacto

ambiental podem ser interpretados em inúmeras linhas de raciocínio. Seu sentido

pode variar com a perspectiva, ponto de vista e propósito de avaliação. Algumas

definições são transcritas a seguir:

Atividade que visa identificar, prever, interpretar e comunicar

informações sobre as consequências de uma determinada ação sobre

a saúde e o bem estar dos humanos (MUNN, 1975);

Instrumento de política ambiental, formado por um conjunto de

procedimentos, capaz de assegurar, desde o início do processo, que

se faça um exame sistemático dos impactos ambientais de uma ação

proposta (projeto, programa, plano ou política) e de suas alternativas, e

que os resultados sejam apresentados de forma adequada ao público e

aos responsáveis pela tomada de decisão, e por ele sejam

considerados (MOREIRA, 1992); e

O processo de identificar, prever, avaliar e mitigar os efeitos relevantes

de ordem biofísica, social ou outros projetos ou atividades antes que

decisões importantes sejam tomadas (IAIA, 1999).

2.6 Base Legal

A partir da Conferência Mundial sobre Meio Ambiente, realizada em

Estocolmo, em 1972, a preocupação com as questões ambientais mudou de

patamar e passou a fazer parte das políticas de desenvolvimento adotadas

principalmente nos países mais avançados (IBRAM, 1992).

Atualmente, a interação do Homem com o meio ambiente coloca-se como

uma problemática de repercussão mundial. A degradação de áreas e a extração

abusiva dos recursos naturais da Terra aliados ao consumo desenfreado dos

mesmos têm sido alvo de discussões na comunidade científica.

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O artigo 225 da Constituição Federal de 1988, p. 36 diz:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. [...] § 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. § 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

A primeira Lei Ambiental promulgada no Brasil foi a Lei 6.938, em 1981, que

estabeleceu a Política Nacional de Meio Ambiente. Esta Lei consiste na base que

define a proteção ambiental no Brasil e que, posteriormente, durante a década de

80, foram regulamentados através de decretos, normas, resoluções e portarias.

(IBRAM, 1992). Destacam-se as resoluções federais a seguir:

Conama 001/1986 que dispõe sobre critérios básicos e diretrizes gerais para

a avaliação de impacto ambiental; e

Conama 237/1997 que dispõe sobre a revisão e complementação dos

procedimentos e critérios utilizados para o licenciamento ambiental;

Na Constituição do Estado da Bahia, 1989, destacam-se:

Art. 212 - Ao Estado cabem o planejamento e a administração dos recursos

ambientais, para desenvolver ações articuladas com todos os setores da

administração pública e de acordo com a política formulada pelo Conselho Estadual

de Meio Ambiente;

Art. 213 - O Estado instituirá, na forma da lei, um sistema de administração da

qualidade ambiental, proteção, controle e desenvolvimento do meio ambiente e uso

adequado dos recursos naturais, para organizar, coordenar e integrar as ações da

administração pública e da iniciativa privada, assegurada a participação da

coletividade; e

Art. 214 - O Estado e Municípios obrigam-se, através de seus órgãos da

Administração direta e indireta, a:

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade

potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo

prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;

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XII - promover medidas judiciais e administrativas, responsabilizando os

causadores de poluição ou de degradação ambiental, podendo punir ou interditar

temporária ou definitivamente a instituição causadora de danos ao meio ambiente;

XIII - estabelecer, na forma da lei, a tributação das atividades que utilizem

recursos ambientais e que impliquem potencial ou efetiva degradação ambiental.

Com base nas informações da Secretaria do Meio Ambiente (SEMA),

destacam-se as seguintes leis estaduais:

LEI DELEGADA Nº. 31, de 03 de Março de 1983. Cria o Centro de

Recursos Ambientais – CRA;

LEI Nº 10.431 de 20 de Dezembro de 2006. Dispõe sobre a Política de

Meio Ambiente e de Proteção à Biodiversidade do Estado da Bahia e

dá outras providências; e

LEI Nº 11.050 de 06 de Junho de 2008. Altera a denominação, a

finalidade, a estrutura organizacional e de cargos em comissão da

Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SEMARH e das

entidades da Administração Indireta a ela vinculadas, e dá outras

providências.

2.7 O metal Chumbo e o mineral Galena

Conforme Gray (2009), o chumbo é um metal de número atômico 82, peso

atômico 207,2, densidade 11,340 e de raio atômico 154 pm. Para Baird e Cann

(2011) o ponto de fusão relativamente baixo do chumbo de 327º C permite que seja

facilmente manipulado. Foi o primeiro metal a ser extraído de seu minério, sendo

utilizado como metal estrutural desde os tempos antigos, como proteção de

construções, em tubulações de água e em recipientes de cozinha. O uso e história

do chumbo estão expressos na Figura 07. Nos tempos atuais, utiliza-se o chumbo

em telhados e chapas para cobrir juntas, e em isolamentos acústicos.

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Segundo Klein e Dutrow (2012), a galena (PbS), ilustrada na Figura 084 é um

mineral de forma mais comum cúbica, clivagem perfeita, brilho metálico reluzente e

cor e traço cinza. Composta por 86,6% de chumbo e 13,4% de enxofre. A prata

normalmente está presente nos minerais acantita (Ag2S, sulfeto de prata) ou a

tetraedita (Cu9Fe3Sb4S13 que possui prata em baixo teor), mas também em solução

sólida. Pequenas quantidades de Zn, Cd, Sb, As e Bi podem ocorrer em decorrência

de inclusões presentes.

Figura 7 - Cronologia do chumbo.

Fonte: BAIRD; CANN, 2011.

4 Amostra de galena retirada da mina de Boquira. Gentilmente doada pelo Sr. Antônio, ex trabalhador

da mina por 9 anos.

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Figueiredo (2000) define o mineral galena como estável quando ocorre em

condições de temperatura abaixo de seu ponto de fusão de 1.127º C. Sulfossais são

minerais muito frequentes nas paragêneses da galena.

Klein e Dutrow (2012) definem a galena como um sulfeto metálico comum,

encontrado em veios, associados à esfalerita, pirita, marcassita, calcopirita,

cerussita, anglesita, dolomita, calcita, quartzo, barita e fluorita. Quando oxidado,

pode se transformar em anglesita e cerussita, respectivamente, sulfato de chumbo e

carbonato de chumbo.

Figura 8 - Amostra de galena retirada da mina de Boquira.

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3. LOCALIZAÇÃO, ACESSO E ASPECTOS GEOLÓGICOS NA REGIÃO DA

MINA.

3.1 Localização e Acesso

Boquira localiza-se na mesorregião Centro-oeste do estado da Bahia (Figura

09). Com uma área de 1.483 km², possui população estimada em 22.037 habitantes

(IBGE, 2010). A palavra Boquira provém de origem indígena, significando “broto

d’água” haja vista a quantidade de mananciais existentes na época da emancipação,

na década de 1960.

Figura 9 - Mapa de localização de Boquira no estado da Bahia.

BAHIA

BRASIL

OCEAN

O A

TLÂNTIC

O

BAHIA

Salvador

Boquira

Fonte: CORREIA, 2007

O acesso ao município de Boquira, partindo da capital baiana Salvador, se dá

pelas rodovias BR 324 até Feira de Santana, passando pela BR 116 e BR 242, em

direção a Oliveira dos Brejinhos. Acessa-se a BA 156 até chegar em Boquira (Figura

10).

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Figura 10 - Acesso a Boquira partindo da capital Salvador.

Fonte: Modificado de Google Earth

3.2 Aspectos Geológicos na região da mina

Nas regiões próximas ao local da mina, Espourteille e Fleischer (1988)

destacam clorita granada biotia xistos, quartzitos, calcários, mármores, itabiritos e

anfibolitos como representações da Formação Boquira. Estes litotipos ocorrem em

direções concordantes com a borda leste da Serra do Espinhaço (Figura 11)

As quatro serras proeminentes e alongadas que constituem a mina

encontram-se alinhadas do norte para sul: Pelado; Sobrado; Cruzeiro; e Maranhão,

e constituem a expressão topográfica dos anfibolitos, a rocha hospedeira da

mineralização (ESPOURTEILLE E FLEISCHER, 1988).

Espourteille e Fleischer (1988) apontam para a lenticularidade e a

interdigitação de todas as suas litologias. Anfibolitos gradam para itabiritos em uma

extremidade e para calcários na outra. Itabiritos podem passar diretamente para

calcários e estes diretamente para clorita granada biotita xistos. Essas feições

podem ser observadas na figura 11.

Apesar de confirmada a ocorrência através de furos de sondagem e

levantamentos de galerias, Espourteille e Fleischer (1988) afirmam que o

intemperismo apagou registros de calcários e margas dolomíticos, com isso, essas

rochas não afloram na área de Boquira.

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Figura 11 - Mapa geológico da mina de Boquira

Fonte: ESPOURTEILLE; FLEISCHER, 1988.

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Arcanjo et. al. (2005) alertam para a presença, na Mina de Boquira, de um

importante metalotecto5 estrutural, representado pelas falhas extensionais,

longitudinais, orientadas NNW-SSE e oblíquas NW-SE, mergulhando em alto ângulo

para os quadrantes ENE e NE. Ao longo das falhas longitudinais desenvolveram-se

zonas brechadas, controladoras dos principais corpos mineralizados em Pb-Zn. Em

contraste, nas zonas menos deformadas, os corpos mais expressivos de granitoides,

com cerca de dois metros de espessura máxima (Figura 12), mostram deformação

dúctil limitada a seus contatos, e apenas fraturamentos na parte interna.

Figura 12 - Bloco diagrama de afloramento no flanco leste Morro do Cruzeiro

Fonte: ARCANJO et. al., 2005

Quando comparada com minas de outros países, a mina de Boquira é

classificada como de pequeno porte, em função da sua produção, da ordem de

250.000t de minério por ano, e pelo seu conteúdo global de metais (produção +

reservas) em torno de 650.000t Pb + Zn, sendo 85% de Pb (ARCANJO et. al. 2005;

ESPOURTEILLE & FLEISCHER, 1988).

O teor médio em agosto de 1964 era de 12% de Pb (Cassedanne, 1967),

enquanto em 1986 os teores eram de 5% de Pb e 1,7% de Zn, para a reserva

remanescente de 1.250.000 toneladas de minério (Espourteille & Fleischer, 1988).

No início das operações lavrava-se apenas o minério oxidado, com mais de 45% de

Pb. A prata associada com galena possuía teor médio de 38g Ag/t de minério

(Nagell, 1970) (apud ARCANJO et. al. 2005).

5 Caracterização dos processos envolvidos na construção de determinados depósitos ou

concentrações minerais bem como as suas feições típicas inerentes.

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4. MODELO HIPOTÉTICO DA MINERAÇÃO DE CHUMBO E ZINCO NO

MUNICÍPIO DE BOQUIRA/BA

De acordo com Correia (2007), o processo de mineração de Boquira envolvia

a mina a céu aberto e a mina subterrânea, englobando as seguintes fases de

produção: Lavra, Transporte, Britagem, Flotação e Concentração. Deste processo,

resultavam os concentrados de chumbo e zinco e o rejeito, disposto na bacia. A

figura 13 apresenta um fluxograma simplificado do processo produtivo da mineração

em Boquira.

Figura 13 - Fluxograma simplificado do processo produtivo da mineração em Boquira e resíduos produzidos.

Fonte: Modificado de CORREIA, 2007.

Segundo relatório elaborado pelo engenheiro de minas Marco Túlio Vilasboas,

da Mineração Boquira S/A., apud Correia (2007), p. 29:

[...] lavra foi desenvolvida nas cristas dos morros do Cruzeiro, Sobrado, Pelado e a partir de 1979, também no morro do Maranhão, em anfibolitos da sequência metassedimentar da Formação Boquira, inicialmente por meio da lavra a céu aberto e posteriormente por meio de lavra subterrânea, tendo sido comprometida com os trabalhos de mineração, uma área de cerca de 1.770.000 m

2, sendo 1.170.000m

2

pela lavra em subsolo e 600.000m2 pela lavra a céu aberto. O minério ocorria tanto

sob a forma sulfetada (galena e esfalerita) quanto oxidada (Piromorfita, entre outras), além do carbonato (cerusita).

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4.1 Mina à céu aberto

O processo de lavra à céu aberto (Figura 14) em Boquira consistia

basicamente na extração dos bens minerais das jazidas próximas à superfície. A

partir de observações de campo e pesquisas bibliográficas, identificou-se o método

de lavra “A Seco” 6, próprio para minerais consolidados que, posteriormente, são

transportados e processados mecanicamente.

Em campo, foram utilizadas estradas e caminhos que dão acesso à mina à

céu aberto. Provavelmente, essas vias surgiram num período próximo ao de

abertura da mina, com a finalidade de viabilizar o acesso ao local de trabalho, o que

constitui um impacto ambiental potencial aos processos erosivos. Pode-se incluir

neste grupo as construções de instalações auxiliares, hoje em ruínas, que podem

contribuir para a degradação do solo, dos recursos hídricos e da biota (Figura 15).

Figura 14 - Mina à céu aberto. Estado atual

6 Processo utilizado para minerais soltos ou consolidados. As unidades de lavra não estão em meio

aquoso, nem em um ambiente de plataforma continental.

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Figura 15 - Imagem de satélite da mina à céu aberto no Morro do Pelado

Fonte: Google Earth

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A camada superficial que cobria os morros, composta por Cerussita (PbCO3),

foi retirada (FERRAN, 2007). Iniciou-se, então, o processo de degradação ambiental

e relevante impacto visual como observado na figura 15, uma imagem de satélite do

Morro do Pelado. A morfologia da superfície foi alterada em função das bancadas

criadas pela explotação, o que pode ter gerado instabilidade em taludes. Essas

bancadas consistem, juntamente com os estéreis, nos materiais causadores de

impactos ambientais no processo de lavra à céu aberto.

Com o avançar da mineração, mais vias de acesso foram construídas, o que

pode ter acarretado a alteração do relevo original. À época da mineração, as

máquinas deviam gerar ruídos e vibrações. Estas últimas que também eram geradas

pelas detonações para expansão da lavra. As explosões e o tráfego de veículos

levantavam poeira, que se dispersava com a atividade eólica.

As figuras 15 e 16 mostram também a supressão da vegetação nativa, o que

pode ter acarretado na migração de animais silvestres, além de afetar a flora.

Figura 16 - Disposição do estéril na lavra à céu aberto e supressão da vegetação

O estéril, fração rejeitada da concentração de minério formada pelos minerais

sem aproveitamento comercial ou industrial, foi disposta nos arredores dos morros

onde ocorria a lavra. Observou-se, nas pilhas de estéril, fragmentos das rochas

encaixantes da Formação Boquira. Na lavra à céu aberto, o estéril oxidado foi

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utilizado como suporte estrutural para a construção de vias de acesso, como pode

ser visto nas figuras 15 e 16.

Este material está disposto de forma incorreta e não foi observado qualquer

tipo de barreira ou contenção que impeça a lixiviação de metais ou a queda de

blocos. Esta disposição inadequada pode acelerar a erosão, originando ravinas. A

instabilidade dos taludes caracteriza um impacto ambiental potencial (Figura 17),

pois o acesso à mina é aberto e a população pode vir a ocupar a área.

. Não foram observadas estruturas para a estabilidade física, como sistemas de

drenagens de águas pluviais, valetas para controle de infiltração ou revegetação.

Figura 17 - Empilhamento do estéril

4.2 Mina Subterrânea

A lavra subterrânea (Figura 18) consistia na extração do minério a médias e

grandes profundidades, onde existem galerias interconectadas que viabilizavam o

processo de explotação. O produto era trazido à superfície para posterior

beneficiamento.

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Por se tratar de um ambiente fechado, a preocupação com as condições de

trabalho deveria ser uma constante, considerando a temperatura e umidade no

interior da mina, presença de radiações, pó gerado a partir de explosões e veículos

transportadores. Além disso, o uso de equipamentos de proteção individual deveria

ser obrigatório, principalmente para os trabalhadores da mina, que passavam horas

expostos e em contato direto com metais tóxicos, todavia, essas medidas

preventivas foram questionadas na mina de Boquira7.

Diversos impactos ambientais podem ser causados pela atividade mineira

subterrânea destacando, primeiramente, a disposição indevida do estéril, formando

pilhas instáveis e de impacto visual significativo. Também foi observado o uso dos

estéreis para preenchimento das cavas ou blocos vazios dentro da mina subterrânea

(Figura 19).

Figura 18 – Rampa de acesso à mina subterrânea

7 Relatos de ex trabalhadores da mina apontam para o óbito de profissionais da mineração em

virtude, provavelmente, da intensa exposição aos metais e condições de trabalho insatisfatórias.

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Figura 19 - Entrada abandonada de uma galeria

Fonte: TEIXEIRA et. al. (1998)

Nas minas de Boquira, pode ter havido a deformação da superfície do terreno

em função dos desmoronamentos ocasionados por explosões. Há a possibilidade de

estar ocorrendo a contaminação da água subterrânea devido à lixiviação e

solubilização dos materiais finos depositados dentro da mina, assim como a

alteração do fluxo, gerado pela construção das galerias na época da mineração8.

A comunicação das galerias com a superfície e a infraestrutura construída

para funcionamento e manutenção da mina subterrânea podem ter causado

impactos significativos para o uso futuro da área. A Figura 20 mostra uma seção

longitudinal do filão Cruzeiro na mina subterrânea.

Alguns equipamentos e estruturas utilizados na mineração continuam na área.

Em alguns casos, o desmonte parcial foi feito, mas fundações, equipamentos

inteiros e ruínas de construções (Figura 21) são de livre e fácil acesso.

8 Estudos realizados pela CPRM em 2013 (no prelo) constataram um valor de 4,8 para o ph nas

águas das cavas do Morro do Cruzeiro.

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Figura 20 - Seção longitudinal do filão Cruzeiro. Galerias, acessos e conexões.

Fonte: ESPOURTEILLE; FLEISCHER (1988).

Figura 21 – Instalações da mina em ruínas

Fonte: CORREIA (2007)

Durante a campanha de campo, foram identificados um provável silo (Figura

22), um britador (Figura 23), uma balança para pesagem dos veículos (Figura 24) e

tanques para armazenamento de água (Figura 25).

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Figura 22 - Estrutura do silo abandonado. Ao fundo, a bacia de rejeito.

Figura 23 - Estrutura superior de um britador abandonado. Ao fundo, o bairro Chaves e a bacia de rejeito.

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Figura 24 - Estrutura de uma balança para pesagem dos veículos

Figura 25 - Tanque de armazenamento de água

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5. O MINÉRIO E O PROCESSO DE CONCENTRAÇÃO

Segundo Correia (2007), a composição do minério extraído nas minas de

Boquira apresentava na sua composição os seguintes elementos: Pb, Zn, Fe, Cd, S,

CaO, MgO, CO2, Al2O3 e SiO2. Até o período de desativação da mina, mais de seis

milhões de toneladas de resíduo haviam sido produzidos pelas quatro serras e

depositados na bacia de rejeito.

Este material retirado das minas à céu aberto e subterrânea era transportado

por caminhões até os silos e britadores. O processo de britagem tinha como objetivo

a redução granulométrica das rochas e o número de estágios de britagem está de

acordo com as especificações desejadas para o produto final, como a qualidade e

dimensão do mesmo. De acordo com Correia (2007), constava no relatório do então

engenheiro de minas da empresa que processo em Boquira envolvia dois estágios,

com o minério reduzido a 15 mm.

A concentração dos metais chumbo e zinco era realizada no processo de

flotação, que consiste numa técnica de separação de compostos por meio da

introdução de bolhas de ar a uma suspensão de partículas. Com isso, verifica-se

que as partículas aderem às bolhas, formando uma espuma que pode ser removida

da solução e separando seus componentes de maneira efetiva.

Na planta de concentração de Boquira, fazia-se a flotação seletiva de galena

e esfalerita, sendo inicidado o processo produtivo do concentrado de chumbo no ano

de 1959 e, em 1974, iniciou-se a produção do concentrado de zinco. Chaves e Leal

Filho (1994) afirmam que o processo de flotação seletiva separa sulfetos

polimetálicos, flotando individualmente um a um dos sulfetos presentes. A Figura 26

agrupa os fluxogramas de flotação do zinco e chumbo, no qual eram obtidos os

concentrados de chumbo e zinco, e o rejeito final, depositado na bacia de rejeito.

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Figura 26 - Fluxograma unificado do processo de concentração do chumbo e zinco.

Fonte: Modificado de CHAVES; LEAL FILHO (1994).

De acordo com Chaves e Leal Filho (1994) e Bastos Junior (2010), os

condicionadores têm a função de viabilizar a atuação dos reagentes nas superfícies

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minerais. Rougher é a denominação da etapa inicial da flotação, com resultados

pouco satisfatórios, ou seja, o concentrado é pobre e o rejeito contém teores de

minerais úteis. Os valores obtidos nesta etapa apontam para baixas concentrações.

O estágio seguinte, de relavagem dos rejeitos, consiste em aumentar o teor do

concentrado e é denominado Scavenger. Uma segunda flotação gera o concentrado

final e um rejeito de teor elevado, denominada Cleaner, que pode acontecer em

vários estágios (1º, 2º, 3º e 4º estágios).

Como observado no fluxograma, os rejeitos Cleaner e Scavenger podem

retornar às células Rougher, pelo fato de ainda apresentarem teores de minerais

úteis. Espessadores são usados quando há a necessidade de adensar a polpa.

Posteriormente, os filtros recebem os concentrados.

Estes concentrados, segundo Ferran (2007), eram encaminhados de

caminhão para outra instalação industrial, a metalúrgica Cobrac, em Santo Amaro,

próximo a Salvador e a 500 km da mina.

O rejeito final da flotação era enviado diretamente à bacia de rejeito por meio

de tubulações e, em 2013, a estrutura onde passavam as canaletas encontra-se

presente no local de instalação, como observado na Figura 27.

Segundo Arcanjo et.al. (2005), a lavra da mina de Boquira poderia ser

retomada em escala modesta, aproveitando os pilares remanescentes da mineração

que somam, estimadamente, entre 60.000 e 70.00 toneladas de minério com cerca

de 10% de Pb+Zn. Os mesmos autores citam também a bacia de rejeito como

possibilidade futura. Com 2,5 milhões de toneladas e teores de 1,2 a 1,5% de Zn,

dependeria de um processo viável de concentração.

Segundo Correia (2007), ainda nos anos de funcionamento da mina a

Plumbum vinha implementando trabalhos de recuperação da área degradada como

abertura de poços verticais para determinação do contato estéril-solo fértil,

nivelamento do terreno por meio de trator de esteira, adição de adubo orgânico e

plantio de 2000 mudas de árvores. Este projeto foi abandonado no mesmo período

em que ocorreu a desativação do empreendimento, ficando apenas estruturas de

equipamentos, ruínas de instalações, as pilhas de estéril e a bacia de rejeito como

legado histórico da mineração. Vale ressaltar que, na época de desativação da mina,

já existiam leis que prezavam pela proteção ambiental e citavam PRAD como projeto

a ser obrigatoriamente apresentado aos órgãos competentes.

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Figura 27 – Estrutura onde passava a Canaleta de transporte do rejeito

5.1 Bacia de Rejeito

Segundo Oliveira Júnior (2006):

São considerados como bacias de rejeito os locais onde são dispostos os rejeitos do beneficiamento, durante a vida útil da mina e após a sua desativação. [...] A determinação do local e tipo de confinamento do rejeito, para um determinado projeto, dependem de alguns fatores, os quais incluem: Topografia, riscos naturais, volume a ser contido, hidrografia e economia.

A bacia de rejeito da mineração de Pb-Zn em Boquira constitui um dos

grandes passivos ambientais da história da mineração no país. Os constituintes da

bacia provêm da flotação do minério, no processo produtivo do concentrado.

Segundo Nascimento (1994) apud Correia (2007), o processo de construção da

bacia ficou restrito ao aprofundamento da área com uso de pás escavadeiras, no

qual nenhum tipo de impermeabilização foi utilizado. Em 2013, observaram-se

claramente os efeitos da erosão pluvial que se tornou mais efetiva com a retirada da

vegetação e a ausência de barreiras de contenção na bacia. Pode-se observar

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bairros, povoados (Tiros) e até mesmo a sede municipal, próximos da bacia nas

Figuras 28 e 29.

Figura 28 - A bacia de rejeito e a proximidade da sede municipal. Vista do Morro do Pelado

Figura 29 - Residências no entorno da bacia de rejeito. Vista da própria bacia

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Áreas adjacentes à bacia também são utilizadas para a agricultura, o que

pode acarretar na contaminação dos alimentos e posterior contaminação da

população, tornando o alimento produzido no município uma via de contaminação.

(Figura 30).

Figura 30 - Cultivo de abacaxi ao lado da bacia de rejeito

O impacto visual da bacia é relevante sendo a mesma facilmente identificada,

em imagens de satélites. O material depositado ultrapassa as margens da rodovia

estadual BA – 156, que se colocaria como barreira física bloqueando parcialmente a

migração do material. A extensão da bacia e o consequente impacto visual que a

mesma provoca pode ser observada na figura 31, onde também é possível estabeler

parâmetros de distância a partir da localização espacial entre elementos geológicos

(Greenstone Belt Boquira e Serra do Espinhaço), depósitos de resíduos sólidos

(pilha de estéril e bacia de rejeito) e a sede municipal.

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Figura 31 - Imagem de satélite de Boquira, da bacia e dos componentes geológicos na área.

Fonte: Google Earth

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Na figura 32, observa-se a extensão territorial da bacia em detalhe, a rodovia

estadual BA156, que constitui uma barreira física parcial à migração do material, a

vegetação que bordeja a bacia, recomposta com e as áreas que circundam a bacia,

utilizadas para moradia e agricultura.

Segundo Lozano (2006), o planejamento para a implantação deve ser iniciado

pela procura, que deve obedecer a critérios e variáveis que influenciam direta ou

indiretamente a obra, tais como: características geológicas, hidrológicas,

topográficas, geotécnicas, ambientais, sociais, entre outras.

Conforme Oliveira Junior (2006), os rejeitos após processados deveriam ser

dispostos em locais construídos com o objetivo de proteger o meio ambiente dos

impactos físico-químicos que eles podem causar. Geralmente são dispostos em

locais que aproveitam a topografia natural dos terrenos em uma barragem ou bacia,

cujo objetivo é evitar a dispersão do material.

De acordo com as Normas Reguladoras da Mineração, a disposição dos

rejeitos deve ser prevista no Plano de Lavra e os depósitos devem ser mantidos sob

monitoramento e supervisão de um profissional devidamente capacitado,

respeitando a regulamentação vigente.

Em Boquira, não foram observadas medidas que evitassem o arraste de

sólidos para cursos de drenagem e não há o conhecimento de medidas técnicas que

garantam a segurança da bacia. A inclinação e instalibilidade dos taludes permite

que o rejeito se movimente por gravidade chegando em áreas localizadas fora dos

limites da bacia.

Não se tem conhecimento de medidas que visem evitar ou minimizar a

decomposição química ou dissolução parcial do material depositado, o que poderia

garantir a liberação de poluentes.

O baixo índice pluviométrico em Boquira constitui um fator minimizador dos

riscos de extravasamento do material.

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Figura 32 - Imagem em detalhe da bacia de rejeito, bairro Chaves e BA 156.

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Uma análise macroscópica do rejeito depositado permitiu a classificação

do mesmo como de granulometria fina (Figura 33), nas frações areia e argila

(entre 0,062mm e 2 mm), com coloração predominante cinza a preta, ainda que

haja crostas marrons e esbranquiçadas indicando, talvez, precipitação de sais.

(Figura 34). Foram identificadas gretas de ressecamento geradas a partir da

redução do volume do material em virtude da evaporação, que podem constituir

canais de infiltração da água pluvial que pode percolar com metais pesados em

solução.

Em porções marginais da bacia, observa-se o transbordamento da

mesma em virtude das chuvas (Figura 35). Correia (2007) acredita que três

milhões de metros cúbicos de rejeito deslizaram em direção à pequenos cursos

de drenagem e à áreas de plantio.

Ao se observar o material transbordado da bacia, infere-se que os

fatores regentes para construção da bacia e consequente deposição do

material não foram respeitados, não havendo nenhum tipo de medida

preventiva que pudesse evitar o transbordamento.

Figura 33 - Granulometria do rejeito na fração areia

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Figura 34 - Crostas esbranquiçadas evidenciando a heterogeneidade do material

Figura 35 - Feições indicando transbordamento da bacia

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Conforme DNPM (2006), os rejeitos do beneficiamento apresentam

teores de zinco, cádmio, arsênio, prata, além de chumbo e outros metais, e não

foram dispostos segundo parâmetros ambientais aceitáveis, colocando em

risco os mananciais e solos após o rompimento de uma antiga barragem de

contenção.

Peritos do Programa de Fiscalização Preventiva Integrada, coordenado

por órgãos ambientais e de fiscalização estaduais e federais e pelo Ministério

Público do Estado da Bahia, estiveram, em 2008, em Boquira para avaliar a

situação das antigas galerias no Morro Pelado - hoje interditadas -, da pilha de

estéril com reserva de minério e da pilha de rejeito do beneficiamento, sobre a

qual, há anos, foi instalado o lixão municipal. À época, constataram

instabilidade do material contido na pilha de rejeito, com diversos canais de

erosão conduzindo sedimentos e contaminando há décadas águas superficiais

e subterrâneas com resíduo de chumbo (BARRERO, 2008).

A dispersão atmosférica do fino material constituinte da bacia

ocasionava a chegada do mesmo nas vilas e bairros vizinhos, segundo relatos

de moradores da vila de Tiros. Este local abrigou mineradores nos tempos

áureos da mina e, segundo o PRAD desenvolvido na época do abandono da

mina, foi realizado um projeto de revegetação na bacia de rejeito, o que levou à

redução da dispersão do rejeito, ainda que muito material da bacia já tenha

sido carregado e depositado pelo vento nos anos que precederam o

reflorestamento.

A revegetação da bacia foi feita com Algaroba (Figura 36), árvore nativa

dos desertos peruanos de fácil adaptação às regiões de clima semiárido.

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Figura 36 – Revegetação com algaroba na bacia de rejeito

A bacia de rejeito da mineração de Pb-Zn de Boquira abriga um lixão

(Figura 37) à céu aberto, onde alguns moradores das comunidades vizinhas e

de Boquira recolhem o material aproveitado do lixão (Figura 38). Estes

catadores de lixo não utilizam nenhum equipamento de proteção e o local atrai

também animais como cachorros, bois e animais nocivos transmissores de

doenças. Regularmente, os catadores infringem as regras impostas pela

prefeitura e retornam ao local.

As chuvas na região criam um volume de chorume que também funciona

como agente transportador de poluentes para as águas subterrâneas,

superficiais e solo. Na bacia, concomitantemente à coleta, ocorre incineração

do lixo de forma “artesanal”, ou seja, simplesmente a queima. Este processo

libera poluentes para a atmosfera, como o gás carbônico, e para o solo as

cinzas contaminadas com metais tóxicos (Figura 39).

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Figura 37 - Imagem panorâmica do lixão na bacia de rejeito

Figura 38 - Material separado coletado pelos catadores

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Figura 39 - Catadores sem material adequado e queima artesanal do lixo

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6. CONCLUSÕES E PROPOSIÇÕES

A pesquisa realizada na literatura, aliada a investigação no local,

constatou o conflito entre a exaustão dos recursos minerais, os impactos

ambientais provenientes de antiga mineração em áreas urbanas e o risco de

contaminação ambiental à população exposta e ao ecossistema.

Os impactos ambientais provenientes da lavra à céu aberto requer

detalhamento dos impactos relacionados a estabilidades dos taludes, erosão e

carreamento de material para as drenagens, além da deposição dos estéreis

em locais inapropriados.

Já as lavras subterrâneas caracterizam-se pela acomodação e

desmoronamento de túneis desenvolvidos durante o processo de lavra, o que

poderá ocasionar o recalque do relevo e modificação do sistema de drenagem

superficial, além da contaminação das águas subterrâneas, enriquecidas com o

estéril depositados nos túneis, e que poderia estar sendo utilizada para usos

diversos, em uma das regiões mais seca do semiárido brasileiro.

Os rejeitos disponibilizados no entorno da zona urbana, sem controle e

medidas de proteção ao solo, águas superficiais e subterrâneas, e ao ar

caracterizam-se como principal fonte de contaminação e risco à saúde

humana, em função da dispersão atmosférica atingir as comunidades

circundantes, ou à atividade do lixão municipal como instrumento de

degradação humana.

O aprofundamento desta pesquisa vem sendo realizado pelo projeto

“Detalhamento Geoquímico do município de Boquira”, 2013/2014, desenvolvido

pela CPRM - Serviço Geológico do Brasil em parceria com o Instituto de

Geociências da Universidade Federal da Bahia e representa um grande avanço

na quantificação dos principais impactos ambientais que ocorrem na região e

tem como objetivo auxiliar os gestores públicos no planejamento urbano e

gestão ambiental, enfatizando a pesquisa e proposição de soluções na área da

Geologia Médica.

Compreende-se como proposições efetivas: a formulação do Plano

Diretor de Desenvolvimento Urbano, como instrumento formulador de políticas

públicas e regulamentador dos conflitos do uso e ocupação do solo urbano, em

especial, onde a atividade de mineração poderá continuar com sua atividade

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por meio de lavra e beneficiamento de outra substância mineral, como é o caso

da mineralização de ferro que ocorre no entorno da zona urbana da sede do

município de Boquira; além da viabilização do Plano de Recuperação de Áreas

Degradadas, como projeto sustentável de mitigação e controle dos impactos

ambientais que ocorrem na área, com o intuito de compatibilizar o setor

produtivo, o desenvolvimento regional e local, e especialmente, o bem estar e a

saúde da população.

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