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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO - FACED CURSO DE PEDAGOGIA IVANCARLA SANTOS OLIVEIRA HABILIDADES E COMPETÊNCIAS NECESSÁRIAS PARA O PROFESSOR ATUAR NO AMBIENTE HOSPITALAR SEGUNDO A PERCEPÇÃO DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE DA CIDADE DE SALVADOR Salvador – BAHIA 2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO - FACED

CURSO DE PEDAGOGIA

IVANCARLA SANTOS OLIVEIRA

HABILIDADES E COMPETÊNCIAS NECESSÁRIAS PARA O PROFESSOR ATUAR NO AMBIENTE HOSPITALAR SEGUNDO A

PERCEPÇÃO DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE DA CIDADE DE SALVADOR

Salvador – BAHIA 2007

IVANCARLA SANTOS OLIVEIRA

HABILIDADES E COMPETÊNCIAS NECESSÁRIAS PARA O PROFESSOR ATUAR NO AMBIENTE HOSPITALAR SEGUNDO A

PERCEPÇÃO DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE DA CIDADE DE SALVADOR

Monografia apresentada ao Colegiado de Pedagogia da Faculdade de Educação – Universidade Federal da Bahia, como requisito para conclusão do Curso de Pedagogia sob a orientação da Professora Dra. Alessandra Barros.

Salvador - BAHIA

2007

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO - FACED

CURSO DE PEDAGOGIA

IVANCARLA SANTOS OLIVEIRA

HABILIDADES E COMPETÊNCIAS NECESSÁRIAS PARA O PROFESSOR ATUAR NO AMBIENTE HOSPITALAR PARA O

PROFISSIONAL DE SAÚDE Monografia apresentada ao Colegiado de Pedagogia da Faculdade de Educação – Universidade Federal da Bahia, como requisito para conclusão do Curso de Pedagogia sob a orientação da Professora Dra. Alessandra Barros. BANCA EXAMINADORA __________________________________________________________

Prof ª Dra. Alessandra Barros (Orientadora) – UFBA __________________________________________________________

Prof ª Dra. Nídia Limeira de Sá – UFBA __________________________________________________________

Prof ª Thereza Cristina Bastos (Mestra) - FSBA

AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por ter sido a minha fonte inesgotável de fé, abençoando a minha

trajetória.

Aos meus pais e meu irmão, pelo apoio e dedicação em todos os momentos, em

especial a minha mãe pelo incentivo e carinho.

Aos meus amigos e a todos as pessoas que passaram na minha vida por

compartilhar o seu conhecimento e carinho, contribuindo para essa conquista.

RESUMO

Este trabalho buscou assinalar algumas habilidades e competências necessárias o

pelo profissional de educação para atuar no ambiente hospitalar, a partir da

percepção dos profissionais de saúde. Foi realizado um apanhado acerca do

atendimento educacional em classe hospitalar a fim de mostrar a necessidade desse

tipo de atendimento no ambiente hospitalar e suas repercussões para o

desenvolvimento da criança hospitalizada. Esse estudo foi baseado em uma

pesquisa de cunho qualitativo junto aos profissionais de saúde de alguns hospitais

de Salvador/BA, onde os professores da educação básica desenvolvem o

atendimento educacional com crianças hospitalizadas. Através dessa pesquisa,

constatou-se a necessidade de qualificação do professor para atuar no ambiente

hospitalar, a partir do acesso a conteúdos e conhecimentos que contemple a

diversidade de situações do hospital para proporcionar um atendimento de qualidade

para as crianças hospitalizadas.

Palavras-chave: criança hospitalizada - classe hospitalar – formação do professor –

qualificação profissional

SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 08

2. PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA TRABALHANDO EM HOSPITAIS: COMO ISSO É POSSÍVEL?

11

3. NECESSIDADE DE QUALIFICAÇÃO DOS PROFESSORES DE CLASSE HOSPITALAR NO BRASIL

22

4. METODOLOGIA 31

5. ANALISE E DISCUSSÃO DOS DADOS 33

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 40

REFERÊNCIAS 43

ANEXOS

8

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho se prestou a assinalar algumas habilidades e competências

necessárias ao profissional de educação para atuar no ambiente hospitalar, a

partir da percepção de profissionais de saúde, não só com relação a conteúdos

acadêmicos, como também, em relação a posturas e atitudes profissionais.

A proposta de falar sobre a classe hospitalar surgiu através do contato com a

disciplina Pedagogia Hospitalar ofertada na FACED/UFBA que proporcionou um

conhecimento acerca do atendimento educacional as crianças hospitalizadas, até

então pouco explorado e conhecido na graduação. Através dessa disciplina foi

possível perceber os benefícios do atendimento educacional investidos à criança

hospitalizada, tanto no sentido pedagógico, quanto terapêutico. Apesar da minha

formação como assistente social, que trabalha na área de saúde, nunca havia

refletido sobre a relevância desse tipo de atendimento para a criança, muito em

função de não conhecer a existência da classe hospitalar.

Esse entendimento possibilitou para mim, tanto como assistente social já inserida

no mercado de trabalho quanto como pedagogo em vias de fazê-lo, uma

valorização do atendimento educacional hospitalar, bem como a necessidade de

adequação da formação do profissional de educação para a sua atuação no

contexto hospitalar, que apresenta uma diversidade de vivências e características,

tão peculiares, a esse espaço, que o diferencia de outros espaços de educação

formal.

Considerando esse novo - hospitalar - contexto, naquele o professor passa a fazer

parte, o objetivo do trabalho foi o de levantar os conhecimentos que os

profissionais de saúde consideram importantes para a atuação do professor no

ambiente hospitalar, pois esses profissionais passam a conviver no seu dia-a-dia

com o profissional que não é da área da saúde, o professor.

9

Para tanto, foi realizado uma pesquisa de cunho qualitativo junto aos profissionais

de saúde de alguns hospitais de Salvador, onde os professores da educação

básica desenvolvem o atendimento educacional com crianças hospitalizadas.

Os resultados encontrados pretendem contribuir para a formação sempre

inacabada que se desenrola acerca dos programas curriculares de formação de

professores da educação básica. Pretendem, ainda, valorizar a qualidade da

assistência prestada às crianças hospitalizadas a fim de suprir o atendimento

educacional.

Esta monografia foi organizada da seguinte maneira, no primeiro capítulo

descreve a possibilidade de atuação do professor de educação básica nos

hospitais, através da conceituação da classe hospitalar e de sua construção como

um direito social, mostrando a necessidade desse atendimento para criança

hospitalizada, para sua recuperação e para evitar o fracasso escolar.

No segundo capítulo, apresenta um breve apanhado histórico do atendimento

educacional hospitalar no Brasil e a necessidade da qualificação do professor para

atuar no ambiente hospitalar. No terceiro capítulo, descreve a metodologia

utilizada para a coleta de dados junto aos profissionais de saúde entrevistados nos

hospitais de Salvador. O quinto capítulo analisa os resultados da pesquisa,

utilizando referencial de estudiosos para contribuir acerca da necessidade da

formação do professor de classe hospitalar, por meio de conhecimentos

específicos para atuação no ambiente hospitalar, a partir da percepção do

profissional de saúde.

As considerações finais devem ser encaradas como contribuição para reflexão de

todos aqueles que se interessam para o atendimento educacional hospitalar. O

objetivo não é apontar respostas ou caminhos, mas buscar contribuir para uma

formação de qualidade dos educadores, de forma a oferecer uma assistência

10

educacional de qualidade, buscando a valorização das necessidades da criança

hospitalizada.

Cabe o registro de que, a necessária revisão de literatura não ocupou um capítulo

especial. Preferiu-se diluí-la no decorrer dos capítulos que apresentam os

conceitos que fundamentam esse trabalho.

11

2. PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA TRABALHANDO EM HOSPITAIS: COMO ISSO É POSSÍVEL?

A educação é um direito de toda e qualquer criança. Portanto seu acesso deve ser

garantido, independentemente do espaço que esteja inserida. Isto inclui também

as crianças hospitalizadas, pois não é porque se está em uma condição de

doença que se deixa de ter necessidades e interesse em aprender. Ao contrário: a

criança hospitalizada precisa do acesso à educação como forma de vislumbrar um

mundo diferente do qual está vivendo naquele momento, a fim de buscar a sua

escolarização, resgatar a sua imaginação, alegria e sua identidade como criança,

abrindo espaço para a atuação do professor no hospital.

O fato de que a criança ou jovem, mesmo hospitalizado, tenha sua escolaridade continuada torna-se importante para a visão que ela ou ele tem de si, da sua doença, de seu desempenho escolar e de seu papel social. A classe hospitalar ratifica seu direito à cidadania. A educação em hospital pauta-se pelo respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana e no especial direito das crianças e adolescentes à proteção integral. (Ceccim e Fonseca1 apud GABARDO, 2002, p.10).

Destacar a atenção integral à criança hospitalizada significa reconhecer que esta

precisa ter uma valorização de suas necessidades. A classe hospitalar tem o

intuito de dar continuidade ao atendimento educacional à criança hospitalizada e

ser um instrumento que favoreça a sua recuperação física e emocional. Segundo

Fonseca (2003, p.10) “a criança doente não tem apenas direito à saúde, mas

também à educação, pois os seus interesses e necessidades intelectuais e sócio-

interativas também estão presentes no ambiente hospitalar”.

O atendimento do professor em classe hospitalar surge da necessidade de

atender a criança hospitalizada na sua integralidade, enquanto, indivíduo bio-

1CECCIM, R. B. ; FONSECA E. S. Classe hospitalar : buscando padrões referenciais de atendimento pedagógico-educacional á criança e adolescentes hospitalizados. Revista Integração,v.21, p. 31-40, 1999.

12

psico-social, na qual não bastaria para a sua assistência apenas a dimensão da

doença, mas também de compreender a criança nas suas diversas expressões.

Há um despertar para a adoção de uma visão holística do paciente, o qual não é

reconhecido, meramente, como um corpo fragmentado que carrega uma patologia

e um conjunto de sintomas, e sim pela sua complexidade, enquanto ser social.

Ceccim considera que,

Colocar a atenção integral como sendo escuta à vida na assistência de saúde da criança significa reconhecer que há uma dimensão vivencial na experiência de ser saudável-adoecer-curar que não se esgota na melhor qualidade do diagnóstico e prescrição, tampouco com simples agregação da noção de realidade cultural e simbólica. (1997, p. 33).

Essa perspectiva é mais forte, quando o paciente é uma criança por ter uma

representatividade maior da enfermidade e da hospitalização no seu tratamento e

na sua vida, por mexer com sentimentos de perda de convívio familiar e social

mais intenso, a proibição do brincar, a mudança da rotina, o excesso de proteção,

a dor o medo.

A hospitalização, breve, prolongada ou intermitente, implica em traumatismo físico

e psíquico, associado a angústia das crianças hospitalizadas e incerteza dos pais

diante de uma doença do seu filho. Ao atribuir esse conceito, Maia chama atenção

acerca dos efeitos provocados pelo internamento de uma criança, que passa pelo

sofrimento físico e emocional diante de uma condição de doença, da qual muitas

vezes desconhece ou não compreende a situação de hospitalização que está

vivendo. (MAIA2 apud MENEZES, 2004)

O hospital, geralmente, é um espaço estranho e frio, de relações impessoais e de

rotinas rígidas, onde a criança ao ficar internada perde um pouco a sua identidade,

pois deixa de ser João, Maria, para ser o paciente do leito tal, com determinada

enfermidade. A criança passa agora a conviver com procedimentos e exames

dolorosos, com a dor e com a doença, no seu cotidiano. Segundo Barros (1999, p. 2 MAIA, S. A psicopedagogia hospitalar para as crianças e adolescentes. Disponível em http:// www.psicopedagogia.com.br . Acesso em 17 out, 2003.

13

12), “o estresse da hospitalização composto pela angústia da definição

diagnóstica, evolução prognóstica, ansiedade pela resposta do organismo à

terapêutica empreendida e o afastamento do lar são eventos disruptivos”.

O processo de hospitalização pode acarretar para a criança alguns prejuízos

psicológicos e as relações sociais e familiares, que podem ter um reflexo no

processo de tratamento e recuperação, em função da imposição de algumas

restrições a criança. Segundo Chiattone3 apud Gabardo (2002) a forma como as

crianças reagem à situação de doença, ocorre em função de alguns fatores como

a sua idade, a sua fase desenvolvimento, a doença, a forma de tratamento, a sua

relação com as pessoas com que convive, naquele momento, com ambiente e

com a sua auto-estima.

É da necessidade de uma assistência integral a criança hospitalizada que se

favorece a inclusão da classe hospitalar, por ser um instrumento importante à

atenção da criança hospitalizada e no seu processo de recuperação bio-psico-

social. Conforme Ceccim,

a escolarização constitui o mais potente agenciamento da subjetividade (excluída a família) na sociedade contemporânea e a manutenção do encontro pedagógico-educacional favorece a construção subjetiva de uma estabilidade de vida (não como elaboração psíquica da enfermidade e da hospitalização, mas como continuidade e segurança diante dos laços sociais da aprendizagem). (1997, p.35).

O atendimento hospitalar pode criar possibilidades de desenvolvimento para a

criança hospitalizada, tanto na qualidade biológica como na qualidade emocional,

pois produz uma relação mais próxima do seu cotidiano, mais afetuosa e mais

compreensiva do adoecer e do tratamento. Lima (s/a p. 302) comenta que “a

inserção no ambiente escolar no período da internação é importante para a

3 CHIATTONE, H.B.C. A criança e a morte. In: ANGERAMI-CAMON, V.A. (Org.). E a psicologia

entrou no hospital. 2ed. São Paulo: Pioneira, 1998. p. 108.

14

recuperação da saúde da criança, já que reduz a ansiedade e o medo advindos do

processo de doença”.

É importante, mesmo para a criança hospitalizada, dar continuidade nos seus

estudos, participar de brincadeiras e ter atividades semelhantes a outras crianças.

O atendimento de classe hospitalar possibilita a criança uma manutenção da sua

identidade escolar e social, pois mantém uma ligação com a sua vida que ficou

fora dos muros do hospital.

Não é porque a criança está em uma condição de doença, que deixa de ter

curiosidade, necessidade de aprender e o gosto pelo brincar, ou seja, ela não

deixa de ser criança, por isso que o ambiente hospitalar, também, carece do tipo

de atendimento de educadores em classe hospitalar para abarcar as crianças que

estão impossibilitadas de freqüentar a escola, para não serem prejudicadas. A

criança deve desfrutar, durante a permanência no hospital, de apoio psicológico,

quando for necessário, e participar de atividades educativas, de recreação, de

acompanhamento curricular (GABARDO, 2002).

A hospitalização pode ser minimizada a partir do momento em que a criança

começa a vivenciar experiências que aproximem a sua vida, naquele momento, do

mundo que ficou lá fora.

Experiência esta, que pode dar um novo significado para a vida escolar da criança

hospitalizada, quando retornar para a sua escola de origem, pois muitas vezes

essa criança encontrava-se alheia ao processo de escolarização, desanimada,

com dificuldades na aprendizagem e até em algumas situações, abandonaram ou

nunca chegaram a freqüentar uma escola.

O período de internamento para uma criança pode contribuir para a perda de ano,

para uma evasão escolar e uma desmotivação dos seus estudos, assim ao

proporcionar o contato com atividades pedagógicas, a classe hospitalar pode

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favorecer ao processo ensino-aprendizagem, trabalhando as suas habilidades e

conteúdos. Segundo Vasconcelos, (2006, p. 8) “ a classe hospitalar recupera a

socialização da criança por um processo de inclusão, dando continuidade a sua

escolarização e valorizando sua nova aprendizagem.”

A classe hospitalar tem um papel importante na garantia do acesso da criança a

educação básica e a atenção das necessidades educacionais especiais, pois tenta

promover a continuidade da escolarização daquelas crianças que estão incluídas

nas escolas e busca o resgate das crianças que estão excluídas desse espaço de

aprendizagem, a fim de possibilitar o desenvolvimento e a construção do

conhecimento dessas crianças.

A peculiaridade da educação no ambiente hospitalar como sendo a de assegurar a manutenção dos vínculos escolares, de devolver a criança para a sua escola de origem com a certeza de que poderá reintegrar-se ao currículo e aos colegas sem prejuízo pelo afastamento temporário ou, ainda, de demonstrar, na prática, que o lugar da criança é na escola, aprendendo e compondo experiências educacionais mediadas pelo mesmo professor que as demais crianças. (FONSECA, 2003, p.08)

Assim, para evitar que a criança seja prejudicada em sua formação e privadas da

escolarização, em razão de internações, temporária ou permanente, foi legitimado

para essas crianças o atendimento pedagógico em classe hospitalar.

A legitimidade desse direito à educação para crianças hospitalizadas no Brasil

ocorre em linhas gerais, no primeiro momento, com a Constituição de 88, em que

o Estado deve garantir a educação para a população, incluindo as crianças

hospitalizadas, pois é um direito do cidadão, além de criar espaços para que esse

direito possa estar se concretizando.

Aliado à Constituição de 88, o Estatuto da Criança e do Adolescente (8.069/90)

reforça o direito à educação das crianças e adolescentes, com o intuito de

favorecer o seu desenvolvimento e sua formação, enquanto, cidadão. A todo

instante, a lei enaltece o direito à educação e o dever do Estado em provê-la. Isto

16

fica claro no art. 53 “a criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao

pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e

qualificação para o trabalho”. Ao Estado cabe fornecer condições para esse

acesso a educação, sendo a criança hospitalizada, uma criança que está em

condições especiais de saúde, sendo necessário então viabilizar alternativas que

garantam o seu acesso e continuidade da educação.

Até então, o direito à educação para as crianças hospitalizadas fica subentendido

na legislação brasileira por tratar de forma geral o tema, pois não há uma

especificidade sobre o atendimento hospitalar, apenas que é necessário que o

Estado crie condições para que todas as crianças tenham o acesso à educação.

Na tentativa de oferecer uma proteção mais adequada, em 1995, o Conselho

Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) aprova o texto

oriundo do Departamento de Defesa dos Direitos da Criança Hospitalizada da

Sociedade Brasileira de Pediatria, através da Resolução n.41, que enumera

diversos direitos da criança hospitalizada. Um destes itens é o de n.9, o qual

especifica que a criança tem “direito a desfrutar de alguma forma de recreação,

programas de educação para saúde, acompanhamento do “currículo” escolar,

durante a sua permanência hospitalar.”

Para Fonseca (2003), a classe hospitalar tem o objetivo de atender de forma

pedagógica as necessidades de desenvolvimento cognitivo e psíquico das

crianças e jovens hospitalizados, que não tenham condições de compartilhar de

experiências com a sua família, com o ambiente escolar e com seu grupo social.

Dessa forma, possibilita-se a criança à oportunidade de desfrutar do processo

educacional, independendo do período de permanência no hospital.

Na busca de orientar os profissionais da educação para trabalhar na classe

hospitalar foi publicado um documento do Governo Federal, em 2002, chamado

“Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e

17

orientações”, com a finalidade de estruturar e orientar os educadores acerca das

ações de atendimento educacional, em ambientes hospitalares e domiciliares. O

documento reafirma a importância do atendimento de classe hospitalar, a sua

implantação, abordando os aspectos físicos, equipamentos, a integração com a

escola regular e com o sistema de saúde, e a necessidade de formação do

profissional de educação para atuar na classe hospitalar. Além disso, denomina

como classe hospitalar,

o atendimento pedagógico-educacional que ocorre em ambientes de tratamento de saúde, seja na circunstância de internação, como tradicionalmente conhecida, seja na circunstância do atendimento em hospital-dia e hospital-semana ou em serviços de atenção integral à saúde mental.(BRASIL, 2002, 13).

Cabe a classe hospitalar o acompanhamento pedagógico-educacional das

crianças hospitalizadas, independente, de estarem matriculadas ou não na escola,

em qualquer espaço de atendimento á saúde, de forma a trabalhar a auto-estima e

a importância da escola para a própria criança e para a sua família, com o intuito

de estimular a inserção da criança na escola.

Apesar da classe hospitalar ter suas peculiaridades no atendimento à criança é

importante o educador adequar a necessidade de desenvolvimento cognitivo com

os interesses da criança, para favorecer a aprendizagem, promover a sua saúde,

amenizar as sua angústias e contribuir para a sua formação como sujeito.

O aumento do número de classes hospitalares é um reconhecimento do

atendimento escolar hospitalar, o que demonstra uma atenção sobre a

necessidade desse tipo de atendimento no ambiente hospitalar para o processo

de desenvolvimento da criança, talvez esse crescimento não ocorra na velocidade

esperada por aqueles que defendem esse atendimento, mas vem ganhando

espaço e se fortalecendo, principalmente nos últimos anos. Essa modalidade da

educação especial se fortalece ainda mais com a luta pela garantia da educação e

18

pela humanização da saúde, que ganhou um status importante dentro do cenário

da saúde.

A classe hospitalar é uma das alternativas que contribui para o processo de

humanização da saúde, pois possibilita a criança hospitalizada minimizar os

efeitos causados pelo internamento, por meio de atividades educativas e lúdicas,

associados com a construção de uma relação de afeto e de acolhimento.

Constitui-se como uma alternativa importante para a humanização dos hospitais

que tem o objetivo de “tornar o ambiente hospitalar menos aversivo e frio”

(GONÇALVES4 apud LIMA, s/a, p.302).

Ao oportunizar para criança hospitalizada um atendimento de classe hospitalar,

está se dando oportunidade para um atendimento mais humanizado, que

proporciona um ambiente acolhedor e próximo a realidade em que a criança vivia

na escola, de descontração e de aprendizagem. Menezes (2004) comenta que há

necessidade de realizar um trabalho humanizado junto à criança, pois esta se

encontra distante do convívio com a família, dos amigos, de seus antigos hábitos e

formas de lazer.

Aliado a classe hospitalar, existem outras alternativas de humanização, como a

brinquedoteca, terapeutas do riso, voluntários, contação de história que

contribuem, também, para promover junto ao paciente um ambiente saudável e

seguro para a sua recuperação.

Para a criança hospitalizada, quanto mais um ambiente hospitalar humanizado,

melhor para a sua recuperação e seu bem estar emocional. Isso pode ser

garantido através das relações de aprendizagem numa classe hospitalar, que “são

injeções de ânimo, remédio contra os sentimentos de abandono e isolamento,

4 GONÇALVES, A. G. Poesia na classe hospitalar :texto e contexto de crianças e adolescentes hospitalizados. Marília. Dssertção de Mestrado. UEPR, 2001.

19

infusão de coragem, instilação de confiança no seu progresso e em suas

capacidades”. (FONSECA, 2003, p.28).

O professor tem a possibilidade, por meio da classe hospitalar, de aproximar o

internamento e a vida cotidiana da criança, através do resgate de algumas

atividades e hábitos que ficaram fora das paredes do hospital, minimizando os

feitos da doença. Os resultados positivos da classe hospitalar e a busca pelo

direito a educação as crianças hospitalizadas, como forma de consolidar a

cidadania, fazem com que, haja um aumento da oferta desse tipo de atendimento

por parte dos hospitais, articulados, em geral, com a Secretaria de Educação, dos

estados e/ou os municípios.

Em Salvador a classe hospitalar, segundo informações da Secretaria Municipal de

Educação, surgiu em 1991 com a criação do Programa Criança Viva, com o

objetivo de oferecer continuidade do atendimento pedagógico para as crianças e

adolescentes hospitalizadas, garantindo a escolaridade e buscando amenizar os

efeitos causados pelo processo de hospitalização.

De acordo com essas informações, esse programa já atendeu 8.531 pacientes

entre crianças e adolescentes, os quais são internados por diversas patologias

crônicas, como hepatite, desnutrição, anorexia nervosa, pneumonia, ortopedia,

queimaduras, cardiopatia, câncer, e AIDS, evitando a evasão escolar e

promovendo a inclusão daquelas crianças que encontram-se fora da escola. Além

disso, o Programa Criança Viva também atua na alfabetização e educação dos

pais e responsáveis pelos alunos-pacientes.

O programa funciona no Hospital Santa Isabel (Unidade Cardiopatia Santa Rosa),

na Unidade de Onco-hematologia Pediátrica Erik Loeff, na Casa de apoio a

Criança Cardiopata (Atendimento Pedagógico Domiciliar), no Gacc (Atendimento

Pedagógico Domiciliar), no Hospital Couto Maia, Hospital Martagão Gesteira, no

20

Hospital Roberto Santos (Unidade de Nefrologia Pediátrica) e no Centro Pediátrico

Professor Hosanah de Oliveira.

Em parceria com as Obras Sociais Irmã Dulce, surge em 2001 o Programa Vida e

Saúde que tem o intuito de levar o cotidiano escolar para dentro do ambiente

hospitalar, a fim de oferecer o atendimento educacional e diminuir o estresse da

internação para ao pacientes do Hospital da Criança. É, também, fruto de

convênio com a Secretaria Municipal de Educação.

Assim como o Programa Criança Viva, o Programa Vida e Saúde busca garantir a

continuidade dos conteúdos pedagógicos, contribuir para diminuir o estresse da

internação e dar autoconfiança para as crianças hospitalizadas, ajudando-as a

acreditar na cura e no restabelecimento de suas atividades normais.

Cabe registrar que, o Hospital Sarah em Salvador, também, faz acompanhamento

educacional para criança hospitalizada, porém não tem convênio com a SMEC.

(No entanto, é necessário ressaltar que essas informações disponibilizadas pela

Secretaria Municipal de Educação apresentam uma contradição quando

confrontadas com informações divulgadas pela mídia a respeito do atendimento

pedagógico hospitalar. Foi possível verificar que, a própria mídia em reportagens

nas quais se tenta valorizar e divulgar a educação à criança hospitalizada revelam

dados diferenciados e por vezes contraditórios).

Além disso, a própria SMEC disponibiliza dados contraditórios com relação ao

atendimento de classe hospitalar em seus boletins e documentos: com relação à

data da criação do projeto, à quantidade de alunos atendidos, às unidades

hospitalares participantes e ao seu tempo de funcionamento.

É importante dizer que o atendimento educacional hospitalar tem uma

repercussão positiva à propaganda do governo na área da educação, pois pode

21

significar o quanto há de interesse em garantir a continuidade do estudo e de

favorecer o desenvolvimento da criança hospitalizada.

22

3. NECESSIDADE DE QUALIFICAÇÃO DOS PROFESSORES DE CLASSE HOSPITALAR NO BRASIL

O primeiro registro de educação de crianças hospitalizadas no Brasil ocorre em

1950, na cidade do Rio de Janeiro, no Hospital Municipal de Jesus, que estava

voltado para todas as crianças, independente de deficiência, para o atendimento

educacional para aqueles pacientes com internações prolongadas, os quais em

decorrência de sua enfermidade acabavam por ter o ano letivo prejudicado.

No entanto, essa modalidade de atendimento escolar hospitalar foi reconhecida

apenas em 1994 pelo Ministério da Educação e teve seu tema lembrado na

Política Nacional de Educação Especial deste mesmo ano, por meio da definição

de classe hospitalar. A partir da década de 90 existe uma intensificação por parte

dos órgãos públicos, em citar e criar documentos, como Diretrizes Nacionais para

Educação Especial no Brasil em 2001 e o documento Classe hospitalar e

atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações, a fim de dar uma

maior estruturação ao atendimento de classe hospitalar.

Fonseca (1999) comenta em uma pesquisa realizada de 1997 á 1998, que das 30

classes hospitalares em funcionamento, até dezembro de 1997, apenas 04 delas

tinham sido criadas antes da década de 80, o que apresenta a evolução da

quantidade de classes hospitalares, onde tem a sua quantidade expressiva a partir

dessa década. Isso coincide com a Constituição de 88, com o surgimento do

Sistema Único de Saúde (SUS) e com o reconhecimento dos direitos da criança e

do adolescente, através da Lei nº 8.069/90 do Estatuto da Criança e do

Adolescente.

A criação de classes escolares em hospitais é resultado do reconhecimento formal de que as crianças hospitalizadas, independentemente do período de permanência na instituição ou de outro fator qualquer, têm necessidades educacionais e direitos de

23

cidadania, onde se inclui a escolarização. (AMARAL E SILVA 2003, p.01)

Apesar desse reconhecimento do direito da criança hospitalizada no acesso a

educação e do avanço verificado acerca da quantidade de classes hospitalares,

ainda está muito aquém o seu número em relação ao número de hospitais

brasileiros para atender as necessidades de acesso à educação e a saúde

hospitalar. Segundo Paula,

[...].embora esteja previsto em lei que as crianças tenham acompanhamento pedagógico no hospital e que existam professores para realizá-los, os hospitais,de um modo geral, quer sejam públicos ou privados têm feito muito pouco para que as crianças e adolescentes possam dar continuidade aos seus estudos; salvo raras exceções que têm se preocupado em atender as gerais desta população.”(2004, p.5)

Essa informação é confirmada através da pesquisa de Fonseca (1999), citada no

inicio, que comenta a incipiência de uma política voltada para o atendimento

educacional e para as práticas pedagógico-educacionais das crianças

hospitalizadas, associado ao pouco estudo e relativa restrição de dados sobre

essa modalidade. Isso mostra que apesar do reconhecimento oficial do

atendimento da classe hospitalar, ela ainda está relegada à obscuridade da

educação no Brasil, como declara Paula (2004 p.7) “embora a pedagogia

hospitalar esteja em fase de expansão, ela sobrevive ainda como se estivesse em

certa “clandestinidade” em vias do seu reconhecimento”.

Existe um desconhecimento por parte de alguns profissionais de saúde, dos

educadores, dos pais e da sociedade em geral, acerca da existência e da garantia

por lei dessa modalidade de ensino da educação especial para as crianças

hospitalizadas, aliado ao conceito equivocado sobre a classe hospitalar, que

muitas vezes associam apenas a tipo de recreação e um passa-tempo.

O que se verifica é uma apatia por parte dos órgãos públicos e de outros

segmentos que não oferecem o apoio necessário para o desenvolvimento do

atendimento dessa modalidade, que muitas vezes funcionam de forma precária de

24

material didático e de recursos, aliado a falta de formação dos profissionais de

educação, que na sua maioria são lançados no espaço hospitalar sem nenhuma

preparação para lidar com a diversidade de situações dos ambientes hospitalares.

Em virtude do pouco reconhecimento por parte dos órgãos públicos e dos

hospitais acerca da importância do atendimento do professor em classe hospitalar

para a recuperação de saúde e o desenvolvimento cognitvo e emocional da

criança, pouco tem se pensado e investido sobre a capacitação desses

professores de educação.

Geralmente, esses professores estão ligados a Secretaria Municipal de Educação,

já pertencem ao quadro, sendo aproveitados para a classe hospitalar, por meio de

uma capacitação. De acordo com Fontes (2005), a maioria dos hospitais não

realiza concurso para a área pedagógica, exceto o Hospital Sarah Kubitschek.

Essa forma de aproveitamento dos professores, sem uma seleção, pode

influenciar no atendimento a criança hospitalizada, pois é sabido acerca das

peculiaridades que esse espaço tem em relação as outros espaços educacionais.

Com o avanço do número de classes hospitalares, nos últimos anos, denota a

necessidade de uma atenção para com a formação dos profissionais de educação

que vão trabalhar no ambiente hospitalar, porém, o que se verifica é ainda uma

morosidade sobre a preparação desses profissionais para atuar no ambiente

hospitalar.

Para CAIADO (2003), a preocupação com a formação dos professores para o

atendimento de classe hospitalar deve ocorrer em função do aumento da oferta de

atendimento e pela especificidade desse serviço. Em geral nos cursos de

formação para professores de licenciatura e pedagogia existe a discussão sobre o

cotidiano escolar, por outro lado os cursos de formação para profissional de saúde

não abordam a participação do professor dentro do atendimento hospitalar.

25

Fica claro que, durante a formação do profissional de educação não há uma

discussão sobre a prática do atendimento em classe hospitalar e sobre a

diversidade de situações a serem enfrentadas por esse profissional. A formação

de professores ainda está muita alicerçada nos espaços de educação formal,

deixando de abordar questões relacionados a outros espaços que abarcam a

“aprendizagem dos conteúdos da escolarização formal, escolar, em espaços

diferenciados” (GOHN5 apud AMARAL e SILVA, 1999, p.02), o que inclui a classe

hospitalar.

Não se pode acreditar, que basta a mesma formação do profissional de educação

de uma escola regular para atuar no ambiente hospitalar, pois como foi verificado,

esta tem características singulares que precisam ser considerados para poder

desenvolver um trabalho, voltado para as necessidades da criança hospitalizada.

Caso contrário como afirma Paula,

ao invés das práticas educativas estarem possibilitando às crianças e aos adolescentes superarem as dificuldades que encontram no cotidiano, acabam gerando um duplo sofrimento para essas crianças e adolescentes: o da hospitalização e o da exclusão nas classes hospitalares. (2004, 14).

Muitas vezes o educador por não ter uma formação adequada para atuar no

ambiente hospitalar utiliza as mesmas estratégias e práticas educativas de uma

escola regular em uma classe hospitalar, fazendo com que as necessidades dessa

criança não seja atendida. A criança hospitalizada tem uma vivência diferenciada

das demais crianças, por estar em um espaço que lida com a doença, com a dor

física, a falta de um convívio com a família, com os amigos e de sua rotina do seu

dia-a-dia.

A partir disso, torna-se necessário para o profissional de educação conhecer os

efeitos da hospitalização, a questão psíquica, social e física da criança

hospitalizada, pois tem uma conseqüência direta no processo de desenvolvimento 5 GOHN, Maria da Glória. Educação não-formal e cultura política: impactos sobre o associativismo do terceiro setor. São Paulo: Cortez, 1999.

26

e de aprendizagem da criança. O educador não pode ignorar esse tipo de

informação que pode contribuir para sua prática pedagógica.

Por outro lado à qualificação que se possa atingir para o trabalho nas classe da

Educação Especial modalidade de atendimento que tecnicamente comporta a

Classe Hospitalar, é também insatisfatória para capacitar o professor ao trabalho

com crianças hospitalizadas.

Para Fonseca (2003) a escola hospitalar tem uma “ecologia particular” e sua

prática pedagógica para ser efetiva necessita de uma compreensão da realidade

hospitalar, dos diversos aspectos relacionados a ela. Isto reafirma que o educador

para atuar no ambiente hospitalar precisa ter uma preparação, ou melhor, uma

formação adequada para atender as necessidades educacionais da criança

hospitalizada.

A LDB, no art. 59, e a resolução nº 2 das Diretrizes Nacionais para a Educação

Especial de 2001 enfatizam que é preciso haver professores capacitados e

especializados para atuar em Educação Especial, através da formação como

profissional de nível superior ou da capacitação dos professores que já estão

exercendo o magistério. Ambas as leis favorecem a necessidade da formação do

educador para atuar com a educação especial. Sendo o atendimento escolar

hospitalar uma modalidade da educação especial, é notório que haja uma

preparação para o educador atuar na realidade hospitalar.

Isso foi ratificado com mais especificidade para o atendimento de classe hospitalar

no documento, “Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar” em 2002,

que declara que,

o professor deverá ter formação pedagógica preferencialmente em Educação Especial ou em cursos de Pedagogia ou licenciatura, ter noções sobre as doenças e condições psicossociais vivenciadas pelos educandos e as características delas decorrentes, sejam do ponto de vista clínico, seja do ponto de vista afetivo. (BRASIL, 2002, p.22)

27

Percebe-se que há uma referência quanto à importância da formação do educador

para atuar no ambiente hospitalar. No entanto, o que é ocorre é que em muitos

cursos superiores não incluem disciplinas obrigatórias para abordar as

necessidades especiais e nem se prepara o pedagogo para atuar com a realidade

hospitalar.(MENEZES 2004)

Não necessariamente seria preciso haver disciplinas obrigatórias destinados ao

atendimento escolar hospitalar. Bastava que se oferecesse aos futuros

profissionais de educação a possibilidade de acesso a disciplinas optativas que

contemplasse a área de saúde e aspectos relacionados às características do

atendimento escolar hospitalar (para aqueles profissionais que tivessem interesse

em uma formação mais consistente). Segundo CAIADO, “no ensino de graduação,

a classe hospitalar, como uma modalidade de atendimento educacional, deve

compor conteúdos das disciplinas e ser espaço considerado nas práticas de

ensino nos curso de pedagogia e conteúdo dos cursos da área da saúde”.(2003,

p.77)

Isso proporciona para o educador uma formação mais consistente e integral para

atuar junto à criança hospitalizada, além de uma socialização da importância da

sua presença no hospital para os demais profissionais de saúde, que estão em

formação. A partir do momento, em que na graduação há uma integração do

educador com área de saúde, se favorece o fortalecimento e o reconhecimento do

atendimento escolar hospitalar.

Para Ceccim (1997) o profissional de educação adquire uma bagagem maior de

conhecimento para poder atuar junto à criança hospitalizada, o que

conseqüentemente contribuir para lidar com a situação de doença, o seu

desenvolvimento, a aprendizagem e sua reinserção na escola. Aliado a isso, esse

profissional por ter um conhecimento acerca de sua prática e da realidade em que

está inserido passa a ter um maior reconhecimento perante aos profissionais de

28

saúde acerca de seu trabalho, ganhando credibilidade. Isto é importante porque

até então, o hospital a tido como um espaço dos profissionais de saúde, daí a

importância de valorização da prática pedagógica-educativa. Mas, para que isso

ocorra, é necessária uma formação adequada, onde,

não lhe deve faltar noções sobre técnicas e terapêuticas que fazem parte da rotina da enfermaria, sobre as doenças que acometem seus alunos e os problemas(até mesmo emocionais) delas decorrentes para as crianças e também para os familiares e para as perspectivas de vida fora do hospital. (FONSECA, 2003, p.25).

Diante de tal argumento vê-se uma afirmação importante em favor da formação do

profissional de educação para atuar no ambiente hospitalar. Uma preparação tal

que vá além daquilo que se evidencia na prática: onde o professor, é obrigado a

aprender em serviço como trabalha em um contexto, hospitalar, e como atender à

diversidade representada pela criança hospitalizada. Isto é muito bem colocado

por Paula (2004), que afirma que os professores se sentem solitários nesse

processo de educar e de se qualificar profissionalmente para trabalhar com

crianças hospitalizadas.

Para superar isso o professor busca sobrepujar essas dificuldades na sua

formação no seu dia-a-dia, elaborando estratégias, tentando absorver e trocar

informações com os profissionais de saúde acerca da situação de doença da

criança.

No entanto, nem sempre isso é possível, porque algumas vezes, a relação com a

equipe de saúde não é tão aberta e compartilhada, em virtude do

desconhecimento e desconforto por parte dos profissionais de saúde, acerca da

presença do professor no atendimento das crianças hospitalizadas. Além disso o

professor sofre as mesmas relações de hierarquia e desigualdade existente entre

as diversas profissões da equipe de saúde, e sendo o professor, um profissional

que não é da área de médica, isto fica muito mais evidente. Como ressalta Fontes,

29

“alguns profissionais da área da saúde não valorizam a Pedagogia Hospitalar.

(2005, p.25)

Mesmo diante dessa dificuldade, há um movimento por parte de outros

profissionais de saúde que defendem a presença do profissional de educação no

atendimento da criança hospitalizada para atender as suas necessidades, “a fim

de minimizar tais efeitos negativos, além de ter uma função pedagógica, por

aumentar as chances de reintegração da criança na volta para a casa”. (LIMA, s/a,

p.302)

Com isso observa-se que o professor pode ser um parceiro no período de

internamento da criança, junto aos demais profissionais de saúde, pois contribui

para a recuperação e para o seu desenvolvimento. O professor tem a

possibilidade de conviver com a criança num espaço, que mais se aproxima da

realidade de vida da criança, o que lhe propicia observar o comportamento e as

suas manifestações perante a hospitalização.

Para Fonseca (2003), o professor é um veículo importante de informações, uma

vez que, no ambiente da classe hospitalar as crianças tem atitudes mais

espontâneas e normais, em relação a sua vivência no hospital, o que pode

contribuir muito para uma intervenção da equipe junto à criança hospitalizada.

Ao professor, cabe ajudar a equipe com informações e percepções a respeito da

criança para contribuir para uma melhor assistência de saúde. Essa integralidade

de ações entre os diferentes profissionais tem um fator importante no processo de

internamento, principalmente, no que se refere à internação em pediatria.

(CECCIM, 1997)

No entanto, é necessário que o professor transite entre a equipe de saúde de

forma segura, sendo imprescindível uma boa receptividade da equipe de saúde

para a participação do professor, para isso o professor precisa afirma-se perante a

equipe por meio da apreensão de conhecimento acerca do ambiente hospitalar.

30

Tendo em vista as considerações até aqui levantadas, foi que se pretendeu, então

investigar quais seriam as competências e habilidades esperadas por um

profissional de educação para atuar no ambiente hospitalar a partir da percepção

dos profissionais de saúde.

31

4. METODOLOGIA

A pesquisa apresentada aqui foi realizada com uma amostra de profissionais de

saúde definida a partir do número de hospitais em Salvador que ofertam o

atendimento em classe hospitalar, o que corresponde a 09 hospitais. No entanto,

essa amostra não foi aleatória, e sim, intencional, justificada pela dificuldade de

acesso a alguns hospitais e profissionais de saúde.

A pesquisa foi realizada com os profissionais de saúde de cinco hospitais e de

uma casa de apoio da cidade de Salvador que mantém convênio com a Secretaria

Municipal de Educação. Foram estes, a saber, Gacc (Grupo de Apoio a Criança

com Câncer), Hospital Martagão Gesteira, Hospital Geral Roberto Santos

(Unidade de Nefrologia Pediátrica), Centro Pediátrico Professor Hosanah de

Oliveira que estão conveniados através do Programa Criança Viva e o Hospital da

Criança das Obras Sociais de Irmã Dulce por meio do Programa Vida e Saúde.

Participaram 11 profissionais de saúde dentre eles: 04 assistentes sociais, 03

enfermeiros, 02 terapeutas ocupacionais, 01 psicólogo e 01 médica. Em cada um

dos hospitais participaram profissionais ligados ao atendimento da criança

hospitalizada. É necessário registrar que não foi possível abordar um

representante de cada categoria profissional nos hospitais citados, em virtude da

dificuldade de acesso para alguns profissionais, valendo-se pelo menos de um

profissional de cada hospital. Essa dificuldade do acesso aos profissionais de

saúde se deu, geralmente, em virtude da dinâmica de trabalho dos hospitais que

os impossibilitava de participar da entrevista, no horário combinado.

Foi aplicado como procedimento de coleta de dados, um questionário do tipo com

perguntas fechadas e alguma abertas. Este questionário tem característica de ser

fechado, mas também, apresenta algumas questões abertas com o intuito de

apreender informações espontâneas do entrevistado acerca da classe hospitalar.

32

Dentro do questionário constavam muitas alternativas para assinalamento das

respostas e, portanto, não limitava tanto a possibilidade de expressão dos sujeitos.

A abordagem aos entrevistados se deu na unidade hospitalar ou casa de apoio

onde o profissional de saúde trabalha, no período de maio a junho de 2007. O

tempo de duração para cada abordagem com os entrevistados foi em média de 1

hora.

É necessário registrar que a aplicação do questionário ocorreu pessoalmente

como uma estratégia para uma maior adesão à pesquisa por parte dos

profissionais de saúde. Além disso, havia a necessidade do pesquisador observar

o contexto local em que as classes hospitalares estavam inseridas, os aspectos

físicos da enfermaria, da brinquedoteca e da sala da classe hospitalar,

propriamente dita. Essas observações foram importantes, pois possibilitaram uma

visão mais próxima da realidade do atendimento de classe hospitalar, o

conhecimento das condições de assistência às crianças hospitalizadas e codições

de trabalho dos professores.

O questionário buscou expandir as possibilidades de respostas dos entrevistados,

embora não contasse com muitas questões abertas. Isto foi possível por causa da

minha formação como assistente social que atuo na área de saúde, o que

proporciona ter um conhecimento mais apurado acerca das vivências do ambiente

hospitalar.

A análise dos dados foi feita de forma descritiva, traduzida em números relativos,

para uma compreensão dos resultados.

33

5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

A pesquisa foi realizada com profissionais de saúde que trabalham em hospitais e

casa de apoio que tem atendimento em classe hospitalar dos 11 entrevistados, 07

trabalham em hospitais filantrópicos, 03 em hospital federal e 01 estadual. Quanto

ao tipo de atendimento, 07 profissionais atuam em unidade hospitalar com

especialidade para atendimento geral pediátrico, 03 para tratamento de oncologia

em casa de apoio e 01 para tratamento de nefrologia.

A maioria dos profissionais de saúde, 06 deles, atendem crianças hospitalizadas

com um perfil sócio-econômico entre 1 á 2 salários mínimos, seguidos por outros

05 profissionais que atendem crianças com perfil familiar abaixo de um salário

mínimo, demonstrando a condição de vulnerabilidade econômica e social das

famílias dessas crianças. A faixa etária atendida na sua maioria varia de 6 a 12

anos incompletos.

No que concerne ao diagnóstico das crianças hospitalizadas, os mais freqüentes

citados pelos entrevistados são celulite6, desnutrição e doenças respiratórias.

O período médio de internação, segundo 07 dos 11 profissionais de saúde, nos

hospitais pesquisados compreende na sua maioria até 15 dias. Esse dado mostra

que o professor precisa ter capacidade de adequar os conhecimentos a serem

trabalhados na classe hospitalar com o período pequeno de internamento.

Nos hospitais pesquisados já existe algum tipo de atividade lúdica e de

humanização do ambiente hospitalar para a criança hospitalizada, sendo que o

mais citado pelos profissionais de saúde foram contação de história (10) e

brinquedoteca (7), o que mostra a preocupação de desenvolver atividades lúdicas

e acolhedoras dentro do ambiente hospitalar, paralelamente, ao atendimento em

6 Conceito : são infecções que atingem os tecidos mais profundos da pele.

34

classe hospitalar. Fonseca (1999) ressalta que a educação lúdica ou o brincar não

substitui a necessidade das classes hospitalares, pois tem estruturas distintas de

atenção.

Foi sinalizado na pesquisa que todos os profissionais de saúde têm conhecimento

sobre o funcionamento da classe hospitalar, e 7 dos entrevistados declaram saber

o seu tempo de funcionamento. Porém, é importante registrar que ao se comparar

como tempo de trabalho desses profissionais na instituição hospitalar, há 04

profissionais que não sabem do tempo de funcionamento do atendimento, o que é

um dado a ser considerado, pois a maior parte dos entrevistados (09) tem mais de

2 anos de trabalho na instituição.

O atendimento pedagógico-educacional oferecido por estas classes hospitalares

tem um espaço específico em todos os hospitais pesquisados. Em algumas

situações especificas há, também, o atendimento junto ao leito das crianças

hospitalizadas. Isso demonstra uma certa preocupação em preservar um espaço

dentro da unidade hospitalar que tenha semelhanças à escola em que a criança

faz parte e, principalmente, por proporcionar um ambiente adequado para o

desenvolvimento de suas atividades, fugindo um pouco do ambiente hospitalar.

a vantagem de um ambiente de uso exclusivo para a finalidade de escolarização é que este mantém uma atmosfera própria, onde, por exemplo, tarefas produzidas anteriormente podem ficar afixadas e serem comparadas com as dos colegas da enfermaria e com outras ao longo do seu processo de aprendizagem.(BARROS, 1999, p.85).

A importância desse espaço é confirmada através do reconhecimento por parte

dos profissionais de saúde (11) acerca da necessidade de um espaço para a

classe hospitalar, cerca de 05 dos entrevistados acham importante esse espaço

para o desenvolvimento das atividades da classe hospitalar, outros 02 colocam

que a criança precisa de um ambiente mais próximo à realidade da sua escola,

seguido por 02 entrevistados que afirmam que é importante para a criança ter um

35

espaço para o desenvolvimento de suas atividades e proporcionar um ambiente

próximo à escola e 01 considera necessário para manter a rotina hospitalar.

Apesar de a classe hospitalar dispor de salas para o desenvolvimento de suas

atividades pedagógico-educacionais a maior freqüência para atendimento

educacional ocorre no turno da tarde ou em ambos os turnos (05 cada). Isto

ocorre devido à rotina da maioria dos hospitais e da demanda médica se

intensificar junto à criança no horário da manhã.

O desenvolvimento de atividades por parte do professor sofre algumas

interferências, em função da dinâmica do hospital, do horário de medicação, de

visita e do atendimento médico. Para Fontes (2005), o professor deve ter

consciência desses intervenientes, mas precisa buscar estratégias para um

melhor horário para desenvolvimento de suas atividades em cada hospital, aliado

também a flexibilidade de outros profissionais. No entanto, muitas vezes a

inflexibilidade por parte desses profissionais decorre da incapacidade de aceitar

outros tipos de contribuição para a assistência hospitalar, como afirma Manzini

(1997).

Esses aspectos da rotina hospitalar e da sua forma de organização algumas vezes

não são compreensíveis pelos os professores que não compreendem a

organização hospitalar e o processo de doença.

ter um bom conhecimento da rotina hospitalar facilita tanto o trabalho da escola hospitalar, (...), sabendo como o hospital funciona, pode-se adentrar nele e, mais assertivamente, encontrar espaços para uma efetiva atuação pedagógico-educacional com as crianças hospitalizadas.(FONSECA, 2003, p.38).

Entre os profissionais de saúde interrogados, 06 assinalaram que os professores

têm dificuldade de compreensão com relação aos horários de medicação. Quatro

profissionais assinalam dificuldade do professor em compreender às proibições

relativas a biosegurança da criança. Para os entrevistados existem alguns

36

procedimentos que não podem aguardar, necessitando a interrupção do

acompanhamento pedagógico, o que gera muitas vezes uma relação de conflito

entre os profissionais de saúde e o professor. É importante ressaltar que, algumas

vezes, os profissionais de saúde tem uma postura intransigente quanto ao término

da atividade da classe hospitalar, por talvez, não valorizar esse tipo de

atendimento.

De acordo com 05 profissionais de saúde há dificuldade de adaptação do

professor ao ambiente hospitalar. Desses 05, 02 dos entrevistados comentam

sobre a dificuldade em lidar com o sofrimento e a perda, enquanto os demais (03)

de diálogo e relacionamento com a equipe. Caiado (2003) comenta que o

professor de classe hospitalar precisa ter uma formação que contemple a

organização e funcionamento do hospital e uma preparação para lidar com

sentimentos de perda e de dor vivenciados no cotidiano hospitalar. O que se

evidencia até aqui, pelos profissionais de saúde é uma carência na formação do

professor para atuar no ambiente hospitalar.

Em uma das perguntas, foi solicitado aos profissionais de saúde que

enumerassem algumas atitudes que o professor precisaria evitar para trabalhar

em um ambiente hospitalar. A mais freqüente foi responder às curiosidades de

outras mães acerca do diagnóstico mais delicado (10), seguido pela antecipação

para o paciente/acompanhante acerca de informação clínica que seria passada

pela equipe médica (09). A partir desses dados pode-se assinalar a importância do

professor, também, ter uma formação que aborde princípios éticos e de sigilo

profissional diante de informações delicadas dentro do contexto hospitalar.

Quanto à reunião interdisciplinar, foi constatado que na maioria dos hospitais (06)

não ocorre essa atividade, porém onde existe a reunião, o professor não participa,

apenas o médico, assistente social, psicólogo, enfermeiro e terapeuta

ocupacional. Isso é algo a ser considerado, pois apesar dos profissionais de saúde

relatarem sobre a importância do atendimento educacional e de sua contribuição

37

para o atendimento da criança hospitalizada, não convidam o professor a fazer

parte da equipe interdisciplinar. Para Amaral e Silva (2003) ainda é necessário

consolidar uma parceria entre os profissionais de educação e com os da saúde, a

fim de superar algumas dificuldades, como o intercâmbio de informações e

recomendações de um determinado paciente.

Apesar disso, cerca dos 07 profissionais de saúde já solicitaram em algum

momento informação para o professor de classe hospitalar acerca do paciente. A

maioria das solicitações refere-se à qualidade das relações familiares de uma

criança (05) e acerca do relacionamento das crianças entre si no hospital (05). No

entanto, ao se questionar junto aos profissionais de saúde sobre sua participação

nas atividades da classe hospitalar, 06 deles afirmam que não têm nenhuma

participação junto a essas atividades. Assim, Fontes coloca que “a relação do

professor com os demais profissionais do hospital ainda é fragmentada, ainda não

há um trabalho realmente integrado.”( 2005, p. 25)

No entanto, 09 desses profissionais defendem que é importante trabalhar com

outros profissionais que não pertencem à área da saúde, pois possibilita troca de

informações, favorecendo uma melhor assistência para a criança hospitalizada.

Fica claro que os profissionais de saúde consideram ser importante o atendimento

educacional e a sua contribuição para a equipe de saúde, porém essa valorização

do trabalho ainda está muito presente no discurso desses profissionais, sendo

necessário trazer para o cotidiano hospitalar.

Para 06 dos profissionais de saúde, o professor tem um bom diálogo com a

equipe, porém 04 deles acham que não mantém um diálogo e 01 um dos

entrevistados não opinou por não ter contato direto com o professor, o que

denuncia, de certa forma, uma falta de integração entre os profissionais. Dentre

aqueles que consideram que o profissional de educação não tem bom diálogo

justificam que “estes não se integram à equipe”, “não se sentindo parte dela é

como se a escola fosse algo isolado do restante do hospital”. Essa informação

38

corrobora com a afirmação de uma pesquisa feita acerca da perspectiva do

profissional de saúde sobre o atendimento educacional, onde os participantes

ressaltam a necessidade de um trabalho pedagógico a ser feito junto à equipe de

saúde, tendo em vista que alguns membros acreditam que o pedagogo não seja

integrante dessa equipe. (MANZINI, 1997).

Na busca de transpor essa visão por parte da equipe de saúde, é importante que o

profissional de educação se afirme dentro do ambiente hospitalar, através de

conhecimentos necessários que lhe possibilite transitar nesse espaço. Para isso,

os profissionais de saúde responderam que o professor precisa ter noção sobre a

doença que a criança tem (11), saber sobre a rotina hospitalar (10), lidar com a

situação da perda e da morte (09), ter conhecimento sobre o corpo humano (04),

seguido pela humanização do atendimento e dos direitos da criança.

Esses dados são reafirmados pelos entrevistados, quando, dão sugestões de

leitura e conhecimento para o professor intervir junto à criança hospitalizada,

aparecendo, novamente, com maior freqüência a informação sobre a patologia e

seus riscos (09), a possibilidade da morte (06) e a rotina hospitalar (03).

A partir da análise desses dados, é possível apreender que o profissional de

saúde defende que professor em classe hospitalar precisa ter uma formação

diferenciada, na qual aborde noções sobre doença e condições psicossociais do

educando, ter conhecimento da dinâmica hospitalar e estar integrado a equipe de

assistência à criança hospitalizada, para poder ter uma prática pedagógica que

favoreça a aprendizagem e o desenvolvimento da criança hospitalizada. Todavia,

o que se verifica na prática, é que o educador não tem uma formação adequada e

preparação para atuar no ambiente hospitalar que tem características específicas

que diferenciam de qualquer outro espaço.

[...] para atender à clientela de alunos hospitalizados, são necessários conhecimentos sobre a rotina hospitalar, medicamentos, diferentes tipos de enfermidades, dentre outros aspectos que não constituem práticas usuais de uma professora de escola regular e nem fazem parte do

39

currículo da formação para o magistério, habitualmente. (AMARAL E SILVA, 2003, p. 03).

Além disso, o professor deve ser preparado para lidar com a realidade do hospital,

que é marcada por medo, sofrimento e o risco de morte.

Caiado (2003) ressalta que na formação do professor, a classe hospitalar, deve ter

conteúdos da disciplina e da área da saúde. A autora defende a necessidade de

uma formação pautada em disciplinas como: a introdução ao ambiente hospitalar;

dor e perdas: o cotidiano do professor no hospital; metodologia do trabalho

pedagógico em ambiente hospitalar; e a prática do ensino do trabalho pedagógico

no hospital. A partir da sugestão desses conteúdos, tenta-se superar a lacuna na

formação do profissional de educação para atuar no ambiente hospitalar.

Essa preocupação com a formação do professor, também, é lembrada por Ceccim

ao enfatizar que,

é importante que o professor: 1) conheça as dependências e funcionários das unidades de internação com o objetivo de saber como proceder e a quem recorrer diante de algum mal-estar da criança durante o período em que a mesma se encontre na sala de aula; 2) conheça as diversas patologias, a fim de poder respeitar os limites clínicos de cada criança. (1997, p.80).

No entanto, é extremamente necessário que o professor não esqueça que antes

de tudo é um educador, portanto, precisa ter clareza acerca da sua prática

pedagógica no ambiente hospitalar para possibilitar meios para o processo de

ensino-aprendizagem da criança hospitalizada.

Diante do que foi exposto fica evidente a necessidade de uma atenção mais

efetiva voltada para a formação do professor de classe hospitalar, que dentre

outras, envolve o conhecimento do contexto hospitalar e de uma prática

pedagógica diferenciada, a fim de garantir um atendimento educacional de

qualidade que possibilite a criança hospitalizada a sua aprendizagem e a sua

formação como cidadão.

40

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando o recorte feito, este estudo buscou trazer contribuições para a

formação do educador para a sua atuação no ambiente hospitalar, pois como foi

verificado, há uma carência de conteúdos e conhecimentos a serem contemplados

na formação do professor para o atendimento educacional hospitalar. Essa

carência é fruto do caráter, recente, dessa modalidade no Brasil e da falta de

conhecimento por parte da população, dos próprios professores e dos

profissionais de saúde acerca da sua existência, por isso pouco se tem pensado

sobre a capacitação desses profissionais. Apesar do enfoque dado em

documentos oficiais acerca da necessidade de qualificação do professor de classe

hospitalar, isso não se reverte para a realidade.

Isso ficou claro, durante a pesquisa junto aos profissionais de saúde, que

levantaram o quanto essa lacuna no processo de formação é percebida por estes

profissionais que lidam com o educador no cotidiano hospitalar. Na maioria das

vezes, o professor aprende a lidar com as situações e com a dinâmica hospitalar

na prática do seu trabalho, sem nenhuma preparação. Esse tipo de situação faz

com que o professor tenha dificuldade de adaptação e de se integrar à equipe de

saúde, como pode ser visto nos relatos dos profissionais e saúde que afirmam que

muitos professores não tem muita clareza acerca da sua prática pedagógica e

segurança para transitar entre os profissionais da área médica.

Isso leva o professor até uma relação distanciada da equipe. Por outro lado, os

profissionais da saúde nem sempre estão abertos a compartilhar o seu espaço de

trabalho. Apesar desses mesmos profissionais considerarem de grande

importância à contribuição do educador no processo de hospitalização, o que se

percebe é que o discurso dos profissionais de saúde, acerca importância da

classe hospitalar, embora bem difundido, na prática não se converte em uma

41

integração, uma articulação com o educador para poder favorecer uma melhor

assistência a criança hospitalizada.

Daí a necessidade de durante a graduação disponibilizar, também, disciplinas

comuns para os futuros professores e para os profissionais de saúde em

formação, que envolvam essas duas áreas, pois dessa forma pode contribuir para

uma mudança de postura no hospital.

No decorrer do trabalho é possível constatar a todo o momento a necessidade de

abarcar conhecimentos específicos na formação do professor para o atendimento

as demandas educacionais de crianças hospitalizadas. Assim, cabe em sua

formação conhecimento sobre o ambiente hospitalar, ter noção sobre as doenças,

acerca das condições psicossociais da criança que se encontra em hospitalização

e como lidar com uma situação de sofrimento e morte. Além disso, é importante,

também, para o professor ter uma formação calcada em princípios éticos e de

sigilo profissional, pois muitas vezes esse profissional está exposto a situações

delicadas referentes ao paciente.

O professor precisa ter sensibilidade ao transitar dentro do ambiente hospitalar, a

partir do diálogo, escuta e percepção acerca das necessidades das crianças

hospitalizadas, pois a partir dessas observações pode construir uma prática

pedagógica hospitalar.

Assim, é possível verificar a necessidade do desenvolvimento de habilidade e

competências, por meio da formação dos professores para atendimento

educacional hospitalar para proporcionar uma educação de qualidade, que

favoreça o desenvolvimento da criança hospitalizada, enquanto cidadão.

As contribuições para a formação do professor de Classe Hospitalar haverão de

se refletir na formação do educando como em todo, uma vez que a experiência do

manejo com a criança hospitalizada provoca a compreensão da condição de

42

diversidade, nos seus limites mais extremos. Aprender a trabalhar em uma Classe

Hospitalar ajuda mesmo a quem não necessariamente haverá de fazê-lo.

43

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ANEXO