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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA ADRIANA CARNEIRO DA SILVA CONDICIONANTES E ESTRATÉGIAS DA GESTÃO TERRITORIAL NO CONSÓRCIO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO PORTAL DO SERTÃO Salvador/BA 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

ADRIANA CARNEIRO DA SILVA

CONDICIONANTES E ESTRATÉGIAS DA GESTÃO TERRITORIAL NO

CONSÓRCIO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO PORTAL

DO SERTÃO

Salvador/BA

2015

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ADRIANA CARNEIRO DA SILVA

CONDICIONANTES E ESTRATÉGIAS DA GESTÃO TERRITORIAL NO

CONSÓRCIO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO PORTAL

DO SERTÃO

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal

da Bahia – UFBA, como requisito para obter título de

Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Antonio Angelo Martins da

Fonseca

Salvador/BA

2015

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Dedico esse trabalho ao Universo

e todas as suas possibilidades de melhoria.

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AGRADECIMENTOS

É chegado o fim de uma etapa, ou melhor, o fim da primeira etapa da aventura iniciada

pelo universo geográfico. Fortes emoções, conhecimentos e descobertas a cerca da infinidade

que é a ciência em sua totalidade. E para esse período o sentimento de gratidão prevalece.

Assim, agradeço...

Ao melhor amigo e Mestre por proporcionar serenidade e força à vida. Gratidão Jesus!

A minha família que acredita nos meus sonhos, sem nem mesmo entender a dimensão

deles. Obrigada por cada uma das palavras, orações e olhares de incentivo e carinho.

Ao meu Bem por me apresentar um evento que mudaria minha trajetória. Obrigada

Ricardo pela paciência, companheirismo e cumplicidade.

Aos meus amigos que emanam boas energias, especialmente a Casa Mandala, Vevete,

Tinha e Lucilla.

Aos meus colegas de turma mestrado-doutorado 2013, obrigada pela amizade, pelos

diálogos, pelas risadas, por compartilharem comigo cada sentimento dessa roda gigante que é

a construção do conhecimento científico.

Aos colegas do DIT/LESTE pelas trocas, por cada questionamento e sugestão ao meu

trabalho, principalmente a Cida grande parceira dessa jornada.

A Capes que proporcionou a realização desse trabalho.

A Antonio Angelo por me apresentar o conhecimento geográfico de forma tão

motivadora. Obrigada pelas orientações, confiança e estímulo à pesquisa, professor.

A Juliana e Augusto pela enorme contribuição, por tamanha generosidade e gentileza

nas sugestões e considerações a esse trabalho.

Aos membros dos órgãos estudados e a todas as pessoas que encontrei nas estradas em

busca de respostas aos meus questionamentos.

Ao companheiro mar, local onde escrevo essas palavras, gratidão pela certeza de

infinito e pelo revigoramento energético.

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RESUMO

Dentro da diversidade de arranjos institucionais de cooperação territorial os consórcios

públicos estão inseridos como modelo de regência do federalismo brasileiro. A compreensão

do processo envolvido na formação e no desenvolvimento político – institucional dessa forma

de cooperação territorial passa pela dinâmica envolvida nas relações intergovernamentais

multidimensionais, levando em análise seu histórico e a natureza de sua criação. Assim, o

consórcio público constitui essencialmente um instrumento de gestão territorial possibilitando

uma maior articulação das iniciativas e políticas públicas entre os níveis de governo, logo a

sua gestão torna-se um objetivo a ser alcançado, pois é necessário analisar as relações

estratégicas do poder frente aos agentes sociais envolvidos dentro do arranjo institucional que

possibilita a prática de colaboração sobre um território. Dito isso, o objetivo principal desse

estudo é analisar a gestão do território, via consórcios públicos, como forma de fortalecimento

do federalismo brasileiro através dos condicionantes e das estratégias dessas entidades na

realidade do país, do estado da Bahia e adentrando esse conhecimento com a experiência do

Consórcio de Desenvolvimento Sustentável do Território Portal do Sertão – CDSTPS, objeto

principal do trabalho. O empenho na prestação de serviços aos municípios permite que essa

instituição dissemine soluções às demandas municipais adquirindo projetos e programas que

se aplicam a sua realidade territorial, levando o mesmo a ser um dos melhores consórcios do

estado, no sentido de projetos já executados e de equipamentos e recursos já recebidos.

Destacando que a regulamentação de novos instrumentos de cooperação territorial

federativos, dentro do âmbito da pactuação dos entes, torna-se cada vez mais imprescindíveis

para poder equacionar os problemas de coordenação e colaboração das instâncias, entretanto,

cabe ressaltar que a existência desses novos arranjos supõe a adequação à escala, o conteúdo

político administrativo do território, a natureza da instituição e o modo de gerir dos agentes

envolvidos no processo.

Palavras-chave: Consórcios públicos, Bahia, condicionantes, estratégias, CDSTPS.

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ABSTRACT

Within the diversity of institutional arrangements of territorial associations, public consortia

are included as a model regency of Brazilian federalism. The comprehension of the process

involved in the formation and development of this political-institutional form of territorial

cooperation includes the dynamics involved in multidimensional intergovernmental relations,

considering its historical analysis and the nature of its creation. Thus, the public consortium is

essentially an instrument of territorial management promoting greater articulation of

initiatives and policies between the levels of government. Therefore, their management

becomes a goal to be achieved because it is necessary to consider the strategic relations of

power before the social agents involved in the institutional arrangement that allows the

practice of collaboration on a territory. That said, the main objective of this study is to analyze

the management of the territory, via public consortia as a way of strengthening of the

Brazilian federalism through the conditions and strategies of these entities in the country's

reality, the state of Bahia and into this knowledge from experience of the Consórcio de

Desenvolvimento Sustentável do Território Portal do Sertão – CDSTPS, main object of the

work.The commitment to provide services to municipal areas allows this institution to

disseminate solutions to municipal demands acquiring projects and programs applicable to

their territorial reality, leading this consortium to be one of the best partners of the state, if

considering projects already executed and equipment and resources already received.

Highlighting that the regulation of new instruments of federal territorial cooperation within

the framework of the pact of entities, it becomes more essential to be able to solve problems

of coordination and collaboration of instances, however, it is noteworthy that the existence of

these new arrangements supposes the adequacy of the scale, the administrative territory of the

political content, the nature of the institution and how to manage the agents involved in the

process.

Key-words: Public consortia, Bahia, constraints, strategies, CDSTPS.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Distintas formas de cooperação intermunicipal no Brasil descritas na Constituição

Federal de 1988 de acordo com Cruz, 2001 e 2002..................................................................45

Quadro 2. Histórico da legislação acerca da cooperação pela modalidade dos consórcios

públicos, 1981 a 2007...............................................................................................................50

Quadro 3. Consórcios existentes na Bahia com os municípios consorciados, a data de criação

e o apoio governamental, 2014.................................................................................................84

Quadro 4. Cinco maiores municípios baianos em relação à população e ao PIB .................. 91

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Evolução do número de municípios consorciados por área nos anos de2005 e 2012

...................................................................................................................................................60

Tabela 2. População total, urbana e rural e a área territorial dos municípios pertencentes ao

CDSTPS, 2010..........................................................................................................................96

Tabela 3. Serviços básicos presentes nos municípios que compõe o CDSTPS, 2009, 2012 e

2013.........................................................................................................................................104

Tabela 4. Valor do rateio mensal e anual entre os municípios que compõe o CDSTPS,

2013.........................................................................................................................................117

Tabela 5. Quantidade de cadastro e área cadastrada do programa CEFIR nos municípios

consorciados ao CDTSPS, 2014.............................................................................................131

Tabela 6. Gestão da patrulha mecanizada; cronograma de utilização e municípios

contemplados, 2014............................................................................................................... 137

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Comparação do PIB nos municípios pertencentes ao CDSTPS, 2010 e 2011......102

Gráfico 2. PIB por setores nos municípios pertencentes ao CDSTPS, 2011.........................103

Gráfico 3. Finanças públicas dos municípios pertencentes ao CDSTPS, 2012.................... 107

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Municípios que compõe o CDSTPS no Território de Identidade Portal do Sertão,

2013...........................................................................................................................................15

Figura 2.Modelo de análise da gestão territorial do CDSTPS.................................................32

Figura 3. Sequência de ações para formação de um consórcio público ..................................53

Figura 4. Estrutura organizacional ..........................................................................................55

Figura 5. Mapeamento dos consórcios intermunicipais no Brasil nos anos de 2005 e 2009 ..60

Figura 6. Mapa de concentração do PIB no estado da Bahia, 2007.........................................76

Figura 7. Região semiárida do estado da Bahia, 2014.............................................................77

Figura 8. Territórios de Identidade do estado da Bahia, 2011 ................................................80

Figura 9.Consórcios intermunicipais no estado da Bahia, 2014 .............................................90

Figura 10. Caracterização do espaço geográfico dos municípios que compõe o CDSTPS,

2014 .........................................................................................................................................98

Figura 11. Diferenciação das dimensões socioespaciais dos municípios que compõe o TI

Portal do Sertão, 2014. .............................................................................................................99

Figura 12. Pluviosidade dos municípios que compõe o Território Portal do Sertão, 2014...101

Figura 13. Articulação rodoviária dos municípios pertencentes ao TI Portal do Sertão,

2014........................................................................................................................................ 106

Figura 14. Municípios pertencentes ao Território de Identidade Portal do Sertão, 2012......108

Figura 15. Estrutura organizacional do CDSTPS, 2014........................................................123

Figura 16. Site do CDS Território Portal do Sertão, 2014.....................................................125

Figura 17. Fanpage no facebook do Consórcio Portal do Sertão ........................................126

Figura 18. Limpeza de aguada em Água Fria, 2014..............................................................138

Figura 19. Construção de barragem em Coração de Maria 2014..........................................139

Figura 20. Barreiro trincheira município de Irará, 2014........................................................145

Figura 21. Cisterna calçadão no município de Água Fria, 2014 ...........................................146

Figura 22. Tecnologias sociais já construídas nos municípios do CDSTPS, 2014 ...............147

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SUMÁRIO

LISTA DE QUADROS

LISTA DE TABELAS

LISTA DE GRÁFICOS

LISTA DE FIGURAS

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 13

1. OS CONCEITOS DE TERRITÓRIO E GESTÃO TERRITORIAL NA RELAÇÃO

COM OS CONSÓRCIOS PÚBLICOS .................................................................................... 19

1.1. O território ..................................................................................................................... 19

1.2. A gestão do território ..................................................................................................... 24

1.3. Modelo de análise e o percurso metodológico ............................................................... 30

2. OS CONSÓRCIOS PÚBLICOS NO BRASIL ................................................................. 39

2.1. Caracterização dos consórcios públicos..................................................................... 39

2.2. A evolução legal dos consórcios públicos no Brasil .................................................. 44

2.2.1 A Lei Consorcial e a natureza dos consórcios públicos ........................................... 51

2.3. Os consórcios públicos como prática de cooperação territorial no Brasil e a atuação

do governo federal ................................................................................................................ 57

3. CONDICIONANTES À FORMAÇÃO DOS CONSÓRCIOS PÚBLICOS .................... 64

3.1. Origens e concepções do federalismo ........................................................................... 64

3.1.1. A estrutura federativa brasileira .............................................................................. 68

3.2. O processo da descentralização e os arranjos institucionais num Estado federado ...... 71

3.3. O cenário político territorial baiano ............................................................................... 76

3.3.1 Os consórcios públicos no estado da Bahia ............................................................. 83

4. ESTRUTURA E COESÃO INTERNA DO CONSÓRCIO DE DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL DO TERRITÓRIO PORTAL DO SERTÃO............................................... 97

4.1. A caracterização do território instituído pelo CDSTPS ................................................. 97

4.2 A trajetória à implantação dessa nova forma de cooperação no território e os

motivadores do processo ..................................................................................................... 109

4.3. Ordenamento jurídico à constituição e competências do consórcio ............................ 116

4.4 Os agentes, as regras e as rotinas no Consórcio Portal do Sertão ............................ 120

5. AS AÇÕES DO CONSÓRCIO PORTAL DO SERTÃO E A FORMA COMO OS

OBJETOS SE ORGANIZAM NO TERRITÓRIO ................................................................ 129

5.1. Inspeção e Sanidade Agropecuária – SIM e SUASA .................................................. 130

5.2. Cadastro Estadual Florestal de Imóveis Rurais – CEFIR ............................................ 132

5.3. Projeto Regularização Fundiária .................................................................................. 133

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5.4. Programa Nacional de Habitação Rural – PNHR ........................................................ 135

5.5. Programa Patrulha Mecanizada ................................................................................... 137

5.6. Programa Estadual de Gestão Ambiental Compartilhada – GAC ............................... 140

5.7. Projeto Segunda Água ................................................................................................. 142

5.8. Projeto Portal Qualifica ............................................................................................... 149

5.9 A organização territorial do CDSTPS .......................................................................... 149

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 152

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 157

APÊNDICE A - Roteiro de entrevista com os dirigentes públicos ou representantes dos

municípios consorciados ........................................................................................................ 164

APÊNDICE B - Roteiro de entrevista para o diretor executivo do consórcio ....................... 167

ANEXO A - Portaria conjunta SEPLAN/SEDUR ................................................................. 169

ANEXO B – Protocolo de intenções do CDSTPS ................................................................. 171

ANEXO C – Leis municipais de aprovação para constituição do CDSTPS .......................... 188

ANEXO D – Estatuto do CDSTPS ........................................................................................ 202

ANEXO E – Contrato de rateio .............................................................................................. 215

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INTRODUÇÃO

No Brasil, o Estado está territorialmente organizado com base em um sistema

federativo de governo: há uma distribuição espacial do poder entre escalas político-

administrativas autônomas, que regulam e definem ações em limites territoriais determinados.

Assim, pode-se vislumbrar o federalismo como forma característica de organização do

Estado, em que coexistem diferentes esferas territoriais que são dotadas de poder.

O processo de democratização vivido pelo Brasil e a nova Constituição Federal de

1988 fortaleceram esse modelo e geraram uma nova configuração dos entes a estes federados.

De fato, os estados e municípios brasileiros passaram a ter maior autonomia, assumindo

competências de institucionalização frente às suas demandas, entretanto, esse processo não foi

acompanhado de mecanismos capazes de coordenar essas novas relações

intergovernamentais.

Assim, nesse cenário, esses entes passaram a conviver com atribuições e

responsabilidades contrárias à sua capacidade de governo, ou melhor, eles não possuem

estrutura suficiente para gerir os escassos recursos e melhorar a vida dos seus cidadãos,

especialmente, os municípios de pequeno porte, que compõem a grande maioria do quadro

federativo brasileiro, os quais não se encontram preparados para suprir todas as demandas

assumidas e tornam-se, muitas vezes, dependentes das transferências de outros entes

federativos e, possivelmente, de municípios maiores que consigam exercer alguma liderança

regional. (ARRETCHE, 2000; ALMEIDA, 1995; FIORI, 1995).

Além disso, muitos problemas transcendem o território municipal, exigindo que a

intervenção estatal seja discutida com os vizinhos. Logo, esse processo de descentralização

reforçou a necessidade de novas formas de gestão do território com maior sintonia entre os

entes federados, capaz de produzir articulações e possibilidades de cooperação equitativas.

Assim, fica indispensável definir novas políticas territoriais que visem ao fomento de prática

sobre esses locais, a partir da lógica de coesão e cooperação dos entes federados, com a

intenção de superar os desequilíbrios e as desigualdades das regiões. (SILVA; FONSECA,

2008)

Na referida Constituição, há várias formas de cooperação intermunicipal, constituindo-

se em um tipo de regionalização geográfica com forte conteúdo normativo. Dentre elas,

destacam-se as associações, os consórcios, os fóruns e as redes de colaboração. Eles

expressam possibilidades encontradas pelos municípios para gerenciarem de forma articulada,

que, de certa maneira, acabam por transpor o seu território. Geralmente, essas formas de

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cooperação objetivam o equacionamento de questões de interesse comum entre os agentes

envolvidos, gerando, com isso, novas formas de gestão do território no Brasil, onde as

estratégias desse gerenciamento estão concentradas na coordenação num dado tempo e

espaço.

Perante isso, a presente pesquisa tem como objetivo analisar a forma de cooperação

federativa que é a mais comum entre os municípios brasileiros: os consórcios públicos. Esses

têm como meta estruturante a gestão consorciada do território para a resolução de problemas

comuns. De maneira específica, esse tipo de gestão corresponde a uma via alternativa para o

fortalecimento do território através de seu desenvolvimento, um pacto de colaboração guiado

pelo desejo de maximizar as ações públicas de maneira associativista, sobretudo para os

pequenos municípios.

Esse novo instrumento de gestão territorial consiste em uma opção viável para que os

consorciados possam superar algumas barreiras na execução de determinados projetos de

interesses comuns, via a gestão territorial cooperada, uma vez que essa forma de articulação

presume favorecer melhores condições de transação nas relações entre os entes e entre outros

órgãos públicos e/ou privados. (VARGAS, 2012). Logo, os consórcios públicos são vistos

como um território institucionalizado, delimitado pela cooperação dos entes federados, unidos

num acordo estabelecido para objetivar a realização de ações coletivas de maneira mais

equitativas.

A aprovação da Lei nº 11.107, de 6 de abril de 2005, também conhecida como Lei dos

Consórcios Públicos (LCP), regulamentada pelo Decreto nº 6.017, de 17 de janeiro de 2007,

definiu as regras gerais para a contratação de consórcios públicos pela União, Estados,

Municípios e Distrito Federal, atribuindo-lhes a possibilidade de personalidade jurídica de

direito público, um novo ente da administração pública indireta brasileira. A LCP tem como

objetivo central o fortalecimento do federalismo cooperativo entre os três entes federativos.

Além de estimular o federalismo cooperativo, as leis dos consórcios públicos

trouxeram importantes progressos para a administração pública na gestão associada dos seus

serviços. Dentre eles, destacam-se a segurança jurídica dos entes consorciados ao se

associarem, em função da personalidade adquirida pela autarquia, a instrumentalização das

suas competências e responsabilidades através de um contrato de programa, o estabelecimento

do regime contábil de acordo com as normas do direito financeiro aplicável a entes públicos e

a obrigatoriedade da sua fiscalização pelos Tribunais de Contas dos estados em que se

localizam. (RAVANELLI, 2010)

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É fato que houve, depois da regulamentação da legislação, um aumento considerável

na quantidade de municípios que declararam fazer parte de algum tipo de consorciamento no

Brasil e, de acordo com o IBGE (2013), o número de consórcios no país sobrepõe o número

de municípios brasileiros. Entretanto, esse fortalecimento deu-se através dos incentivos do

governo federal aos mesmos.

A União vem trabalhando no território brasileiro de forma a estimular a criação dos

consórcios públicos como unidade de gestão para as políticas públicas, via Secretaria de

Relações Institucional – SRI, através de palestras, fóruns, cartilhas, dentre outros mecanismos

educacionais de propagação. Mas, de acordo com Ravanelli (2010), a maior indução que o

governo federal vem fazendo é pelo viés financeiro, quando há editais de projetos e

programas, linhas de créditos, licitações exclusivamente para consórcios. Atingindo assim os

entes que já se dispuseram a se consorciarem.

Nessa mesma conjuntura de apoio a esse instrumento, o estado da Bahia vem, desde

2009, fomentando a criação dos consórcios públicos no seu território e, para isso, o grupo de

trabalho de promoção a essas instituições vem buscando utilizar dos espaços de uma

regionalização já efetivada no estado, desde 2007, os Territórios de Identidades – TIs. Os TIs

foram criados no intuito de buscar uma uniformidade para o planejamento estatal dos

municípios baianos, sendo assim, há 27 TIs que englobam os 417 municípios do estado da

Bahia.

Deste modo, existem, atualmente, 29 consórcios públicos na Bahia. Sendo que 16

consórcios receberam o apoio do governo à sua formação e/ou a melhoria de infraestrutura, e

destes consórcios que receberam o apoio do governo do estado, 14 buscaram articular os

municípios que fazem parte do mesmo TI.

Assim, de forma a analisar os consórcios como estratégias de gestão do território

dentro do cenário do federalismo brasileiro, a pesquisa buscará exemplificar esse objeto com

o estudo do Consórcio de Desenvolvimento Sustentável do Território Portal do Sertão –

CDSTPS, entidade formada em 2010 com o apoio do governo do estado.

O CDSTPS, também chamado de Consórcio Portal do Sertão, tem um caráter

multifacetário, cujo objetivo é articular ações de gestão territorial entre alguns dos municípios

que compõem o Território de Identidade Portal do Sertão. Esse Território é composto por 17

municípios, sendo que 14 decidiram fazer parte do consórcio: Amélia Rodrigues, Coração de

Maria, Santanópolis, Santo Estevão, Teodoro Sampaio, Tanquinho, Irará, Conceição do

Jacuípe, Conceição da Feira, Anguera, Antônio Cardoso, Ipecaetá, Água Fria e Santa Bárbara.

Conforme demonstrado na Figura 1.

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Figura 1. Municípios que compõem o CDSTPS no Território de Identidade Portal do Sertão,

2013.

FONTE: IBGE, 2010. In: DIAS, 2013

Concebido como instrumento para impulsionar o desenvolvimento sustentável da

região, o CDSTPS objetiva a realização de ações coletivas sobre o território, de forma a

resolver questões que são comuns aos seus consorciados. De acordo com seu estatuto e o

protocolo de intenções, esse consórcio tem por finalidade:(1) elaborar estudos e debates sobre

o desenvolvimento; e (2) desenvolver ações nas áreas de infraestrutura, transporte,

saneamento básico, turismo, agricultura familiar e segurança alimentar e nutricional dos

municípios que o compõe.

O território institucionalizado pelo consórcio está inserido em duas regiões

significativas no cenário baiano, principalmente, no que diz respeito ao clima, vegetação,

atividades agropecuárias e culturais: o recôncavo e o semiárido. Cinco municípios estão

localizados no recôncavo, dois na área de transição entre os dois cenários e sete municípios

localizados no semiárido baiano. Ao total possui uma área territorial de 3.973,947 km²,

270.052 habitantes com leve predominância da população urbana em relação à população

rural, entretanto, oito municípios consorciados (57%) têm a maioria da população no espaço

rural.

Municípios pertencentes

ao CDSTPS

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Assim, diante da região em que está inserido e da sua população, os projetos, já

implementados pelo consórcio, foram mais voltados para a população rural e para o convívio

com o semiárido. Portanto, ao longo dos seus cinco anos, o CDSTPS está

implantando/executando significativos programas/projetos no território dos municípios

consorciados. São estes: Patrulha mecanizada; Gestão Ambiental Compartilhada – GAC;

Projeto Segunda Água; Regularização Fundiária; Portal Capacita; Programa Nacional de

Habitação Rural – PNHR; Cadastro Estadual Florestal de Imóveis Rurais – CEFIR; Inspeção

e Sanidade Agropecuária SIM e SUASA; e Distribuição de sementes e mudas. (CDSTPS,

2014).

Diante dessas breves informações, surge o questionamento que norteia esta

dissertação: O Consórcio de Desenvolvimento Sustentável do Território Portal do Sertão

(CDSTPS) tem representado uma experiência de gestão territorial na busca da cooperação

federativa? E, como desdobramento dessa questão, faz-se as seguintes perguntas auxiliares:

Quais intencionalidades nortearam a criação desses consórcios no estado da Bahia? Quem são

os agentes envolvidos e como se dá a interação entre eles? Quais são os projetos, ações e

condicionamentos do CDSTPS?

A partir dessas questões, espera-se analisar o processo da gestão territorial do

Consórcio Portal do Sertão como uma possibilidade de fortalecimento da cooperação

federativa brasileira e, consequentemente, analisar os consórcios públicos como inovação

institucional da cooperação federativa; analisar o cenário político territorial dos consórcios

públicos no estado da Bahia; verificar como a articulação político-institucional entre os

agentes contribui para a gestão do território dentro do consórcio; e averiguar como acontece a

gestão territorial, as estratégias, processos e ações do Consórcio de Desenvolvimento

Sustentável do Território Portal do Sertão, gerando uma nova forma de organização desse

território.

Diante disso, destaca-se que como os consórcios públicos representam um recurso

institucional no processo do federalismo brasileiro, torna-se importante entender como

procedem seus condicionantes e estratégias e suas articulações interescalares territorializadas.

Pois, como já citado anteriormente, os consórcios são estruturados via gestão territorial para a

resolução de problemas comuns, e esse tipo de gestão corresponde a uma alternativa para a

dinâmica do território.

Dado o exposto, esse trabalho dissertativo encontra-se divido em cinco capítulos, a

saber: O primeiro explana sobre os conceitos de território e gestão territorial na relação com

os consórcios públicos, visto que a territorialização da gestão é imprescindível para entender

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as relações estratégicas do poder frente aos agentes sociais envolvidos dentro desse arranjo

institucional, além de apresentar o modelo de análise que norteia os procedimentos utilizados

para a pesquisa, com o intuito de conduzi-los à organização do território do Consórcio Portal

do Sertão.

O segundo capítulo consiste em expor o foco desse trabalho: os consórcios públicos.

Sua caracterização, conceitos, legislações e os aspectos administrativos, políticos e territoriais

que orientam essa institucionalização, além de tratar, dessa forma de cooperação no território

brasileiro e trazer os fatores de atuação do governo federal à fomentação dos consórcios, suas

potencialidades e contradições.

O terceiro capítulo, intitulado „Condicionantes à formação dos consórcios públicos‟,

constitui uma parte do modelo de análise elaborado para a realização desse estudo. Para isso,

são apresentadas as dimensões políticas, institucionais e territoriais que norteiam o

federalismo e a descentralização dos arranjos institucionais brasileiros, bem como, a formação

e fomentação dos consórcios públicos no estado da Bahia.

Os dois próximos capítulos, quarto e quinto, abordam o objeto específico da

dissertação: o Consórcio de Desenvolvimento Sustentável Território Portal do Sertão.

Baseados no bloco de apreciação das estratégias, delimitadas pelo modelo de análise, essas

partes apresentam a caracterização desse território instituído pelo consórcio, da trajetória de

implantação, seus líderes, estrutura interna e a finalidade da entidade, além das suas ações e a

forma de como estas vêm organizando esse território.

Por fim, seguem as considerações que agrupam os elementos analisados nessa

pesquisa. Entretanto, por se tratar de um processo social territorializado, essa apreciação não

representa a finalidade da discussão sobre os consórcios públicos e sobre o CDSTPS

especialmente, pois a depender do tempo/espaço outras dimensões podem surgir à análise,

solicitando desenvolver novas interações e articulações.

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1. OS CONCEITOS DE TERRITÓRIO E GESTÃO TERRITORIAL NA

RELAÇÃO COM OS CONSÓRCIOS PÚBLICOS

Esse capítulo analisa a territorialidade dos consórcios públicos pelo viés da gestão do

território. Territorializar a gestão é uma necessidade para entender as relações estratégicas do

poder frente aos agentes sociais envolvidos nesse arranjo institucional, que, na conjuntura

atual, servem de inovação da gestão territorial intergovernamental, pois possibilitam

articulação de iniciativas de políticas públicas interescalares nas ações de governos, gerando

resoluções coletivas para o território. Neste capítulo, também, apresenta-se o modelo proposto

de análise para a estruturação e estudo desse trabalho e todo o percurso metodológico

utilizado à sua construção.

1.1. O território

O território é o elemento central para entendimento das dinâmicas de intervenção de

um consórcio público. Esse termo, como categoria geográfica socialmente construída, é

polissêmico, decorre das ideias da geopolítica ratzeliana e de suas críticas e contribuições

elaboradas por diversos autores, sendo a relação de poder essencial à sua definição (BRITO,

2008).

Como tema interdisciplinar, o conceito de território está presente nos debates em torno

dessa modalidade de associativismo entre diferentes unidades espaciais, e contribui no

esclarecimento da dinâmica dos consórcios públicos. A emergência desse conceito dá-se

devido à discussão sobre as relações de poder e espaço e entre a dimensão institucional e as

unidades espaciais envolvidas no consorciamento, pois como já salientando, os consórcios são

oriundos das forças territoriais do pacto federativo.

Com base em Haesbaert (2012) há uma ampla evolução da definição de território, com

a intenção de entender o processo da desterritorialização, na qual o autor trata da polissemia

do termo e agrupa essas concepções em vertentes e em perspectivas. Assim, numa dessas

perspectivas, a visão relacional, o autor aponta que o território é construído entre o espaço

inserido em uma conjuntura social e histórica complexa, entre processos sociais e espaço

material.

Assim, o território é adotado como uma unidade espacial permeada por relações de

poder, envolvendo distintos agentes sociais e seus referentes interesses, “e se o poder é uma

das dimensões das relações sociais, o território é a expressão espacial disso: uma relação

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social tornando espaço”. (LOPES, 2013, p. 97). Essa afirmativa permite que seja inserida a

presença de um caráter político administrativo do território, onde o espaço é marcado pela

projeção do trabalho humano com toda sua interligação. Por isso, Raffestin (1993) enfatiza

que uma das consequências da projeção do trabalho humano é a territorialização do espaço.

A partir dessa assertiva pode-se apreender que o território é construção, é conteúdo. E

é sobre o espaço que o território se desenvolve e ganha materialidade, ou seja, a

“territorialidade humana” (SACK, 1986). Essa territorialidade humana é caracterizada pelo

“processo social que envolve um feixe de inter-relações mediadas por acordos formais ou não

entre distintos agentes que se interessam por algum tipo de objeto comum a eles localizado

numa dada porção do espaço geográfico que se torna território” (BRITO, 2008, p. 33).

Sack (1986) avalia a territorialidade como uma qualidade necessária à construção de

um território. Em sua obra Human territoriality o autor apresenta a territorialidade

incorporada ao espaço quando este media uma relação de poder, com o intuito de utilizar e

controlar as pessoas e/ou recursos dentro de uma área geográfica. No entanto, a

territorialidade humana “é melhor entendida como uma estratégia espacial para atingir,

influenciar ou controlar recursos e pessoas, controlando a área; e, como uma estratégia, a

territorialidade pode ser ligada e desligada” (SACK, 1986, p. 3). Com essa explanação, Sack

aponta a mobilidade inerente ao conceito de território e sua flexibilidade, pois como a

territorialidade conecta as relações de poder como sendo uma estratégia, ela mobiliza agentes

sociais em seu contexto histórico e geográfico.

Na referida obra, o autor, define “territorialidade como a tentativa de um indivíduo ou

grupo de afetar, influenciar ou controlar pessoas, fenômenos e relações, através da

delimitação e da afirmação do controle sobre uma área geográfica, e esta área será chamada: o

território” (SACK, 1986, p.19).

Ainda segundo o autor, existem três interdependências contidas na definição de

territorialidade: 1) ela envolve uma classificação por área; 2) contém uma forma de

comunicação para delimitar a área e; 3) envolve a tentativa de influenciar e controlar as

interações de possíveis acessos sobre a área. Apreende-se disso que a territorialidade se

manifesta em qualquer escala, e acaba tendo um enfoque habitado de poder, um local que

requer esforço constante para se estabelecer e manter, onde a territorialidade é exercida na

prática, no desígnio do poder sobre uma porção concisa do espaço e sobre as relações sociais

desse espaço.

Essa visão de territorialidade e território está vinculada, inclusive, ao papel do Estado,

que como aponta Sack (1986), ainda continua sendo um importante agente da territorialidade

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humana, já que sua atuação condiciona comportamentos através da comunicação e de relações

de poder. Como bem destaca Mann (1992) o exercício do poder do Estado necessita,

essencialmente, do território, no qual “o Estado pode promover uma grande mudança social

por consolidar a territorialidade” (Mann, 1992, p.196), ou seja, “é o território que confere

substância ao Estado.” (CASTRO, 2009, p.2).

No caso do Estado brasileiro, a territorialidade tem expressão mais nítida através do

poder central e dos níveis subnacionais, que por intermédio da descentralização, acaba por

delegar várias competências da gestão do território para os Estados e Municípios (FONSECA,

2005), inclusive a institucionalização territorial dos consórcios públicos. De qualquer forma, o

território do consórcio aponta para uma coesão funcional, ou seja, um conjunto de dimensões,

econômicas, sociais, territoriais, institucionais e políticas, que se ramificam por múltiplos e

diferenciados domínios exercendo interações entre si e entre outras escalas territoriais. Sendo

que essa interligação acaba por depender de uma integração através de relações, fixos e

fluxos, pertinente para integrar às ações coletivas, estratégias integradas de desenvolvimento,

a cooperação entre diferentes agentes e um sistema de gestão desse território.

Com base em Gomes (2006) o processo de delimitação e classificação institucional do

território, baseado nas concepções de Sack, passa pela categoria denominada de nomoespaço,

sendo este um espaço normatizado, institucionalizado, definido como uma associação de

indivíduos unidos por laços de solidariedade de interesses comuns e próprios e, pela

concordância e aplicação de certos princípios justificados.

Refere-se a um pacto social estabelecido pelos agentes, instituído e regido por lei, esse

nomoespaço dispõe de um espaço de controle e vigilância, na qual as práticas sociais são

regulamentadas e as interdições e a coerção são sempre matéria de comunicação e sinalização

territorial, ou seja, “o espaço é internamente qualificado por uma regulação formal e uma

visibilidade explicita de suas normas e fronteiras” (GOMES, 2006, p. 40). Portanto, esse

nomoespaço é uma condição em que se configura um pacto social do tipo contratual,

normativo, regulador e formalizador das práticas sociais. Pode-se afirmar, a partir dessa

abordagem, que o Consórcio Portal do Sertão expressa-se sob um espaço normatizado,

instituído por intermédio de agentes políticos, estaduais e locais, para o domínio e controle do

território.

A exposição desse conceito deve ser visto como forma de estratégia mobilizada, de

institucionalização, a partir de momentos diversos e contextos distintos, para entender como

ocorrem certos processos espaciais, como os consórcios públicos no Brasil. Assim, é possível

afirmar, portanto, que o processo de territorialidade humana e o território também são

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constituídos pelo nomoespaço, conforme Gomes (2006), ou como prefere Fonseca (2005), o

território visto por uma abordagem institucional, constituindo pelas instituições formais e

informais da sociedade em questão. “São construções sociais criadas com o intuito de agilizar

nas tomadas de decisões políticas e econômicas e no direcionamento das interações sociais.”

(FONSECA, 2005, p. 44).

Dito isso, pode-se aferir que o território que serve de categoria chave a esse estudo é o

definido como um recorte espacial delimitado pelas relações sociais, através da posse e do

exercício do poder dos agentes territoriais, sendo estes mediados pelas instituições. Assim, o

Consórcio Portal do Sertão é compreendido aqui como um território institucionalizado,

normatizado ou nomoespacializado.

Segundo Castro (2003) a palavra instituição deriva do seu teor original de instituir, que

vem do ato de fundar e criar, além do de disciplinar, educar, formar. São elas que garantem a

transmissão de normas e de valores na sociedade. Ou seja, as instituições são as regras do

jogo de uma sociedade. (NORTH, 1990).

Um ponto fundamental é salientar que a instituição tem uma função social, que nesse

caso é territorializada. As instituições só existem em uma determinada sociedade e num

determinado momento histórico a que se refere, sendo que esses dois elementos – o contexto

social e a história – condicionam profundamente o desempenho das instituições. (PUTNAM,

1996). Desta forma, as territorialidades são mediadas pelas instituições que através dos

interesses e objetivos sociais acabam se tornando instrumento de decisão e ação, objetivando

o alcance de seus propósitos no território.

As instituições versam em arcabouços normativos e reguladores e suas atividades

fornecem estabilidade e significado para o comportamento da sociedade. Ao fazer uso de

regras formais e informais, elas reduzem as incertezas do ambiente por constituírem-se em

guias que permeiam e limitam as ações humanas impactando nas estruturas políticas,

econômicas, sociais e territoriais além de promoverem a manutenção dos direitos de

propriedade, com o intuito de atingir o melhor bem estar social possível.

De acordo com March e Olsen (1994) as instituições são importantes no domínio

político, pois elas constituem e legitimizam os atores sociais e lhes provêm regras

comportamentais consistentes, concepções da realidade, padrões de monitoramento e

avaliação, laços de doação e afetividade, e tem consequência, na capacidade para a ação

intencional.

No território, as instituições realizam importantes funções na organização política

local. Segundo Clingermayer e Feiock (2001:3) apud Castro (2003) estes desempenhos

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derivam de três conjunturas: 1. os arranjos institucionais moldam as ações individuais; 2.

reduzindo as incertezas, as instituições estabelecem premissas para a decisão; 3. as

instituições propiciam estabilidade nas escolhas coletivas. De forma sintética, elas definem

padrões significativos dos fenômenos sociais no espaço. Ou seja, os agentes definem as regras

do jogo e, por conseguinte, as estratégias de constituição de um território.

Logo, o território sendo constituído através da ação dos agentes sociais instituídos

acaba se transformando em objeto de disputa de interesses, no qual se descobrem

intrinsecamente incorporadas às noções de poder e de controle. Nessa perspectiva o território

é construído por e a partir dos condicionantes que resultam nas relações afetando a

organização da base material da sociedade. Sendo que nessas relações o conflito não pode ser

desconsiderado; ao contrário, deve ser visto e desejado como elemento fundamental da

transformação espacial, pois como o território é uma construção social coletiva, dinâmica e

multidimensional, num dado espaço geográfico, ele conta com variados agentes envolvidos e

trajetórias históricas em embate, com instituições que moldam e são moldadas por ele.

Assim, como apontado preliminarmente as territorialidades podem ser abrangidas

enquanto expressão, num dado tempo, do conjunto de relações sociais e de poder decorrentes

de como o território constrói-se e articula-se às diferentes redes de relações, nas diferentes

escalas geográficas, podendo ser consideradas como estratégia das instituições, um fenômeno

associado à organização do espaço em territórios diversos. Como aponta Sack (1986)

territorialidade é uma forma de expressão geográfica do poder social, seu uso depende de

quem está influenciando ou regulando os contextos espaciais e temporais onde a

territorialidade se exerce.

Pelo viés do Estado o controle sobre o território é geral, contínuo e legítimo e sua

gestão envolve uma combinação de atitudes, estratégias e coordenações que com base em

Mann (1992) é um conjunto diferenciado de instituições e funcionários, expressando

centralidade, no sentido de que as relações políticas se irradiam de um centro para cobrir uma

área demarcada territorialmente sobre a qual ele exerce; um monopólio no estabelecimento de

leis autoritariamente obrigatórias, que pode ser sustentado pelo monopólio da violência física.

Portanto, o território é um marco para as estratégias e para o desempenho político dos

Estados, que nesse caso são capazes de criar um ambiente propício para o intercâmbio de

informações e de conhecimento, que são sustentadas por meio de interações face-a-face, o que

permite a formação de redes locais de conhecimento em que os diversos agentes estão

envolvidos. Sendo assim o foco desse trabalho são vínculos territoriais, capazes de fortalecer

instituições que favorecem a organização de interesses da sociedade, gerando condições

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favoráveis à cooperação e competição, possibilitar as ações estruturantes nas quais a

igualdade política, a solidariedade, a confiança e a tolerância são essenciais. (CASTRO,

2005).

Destarte, entende-se que os consórcios públicos também possuem um caráter

multifacetário, pois existem neles às dimensões sociais, econômicas, políticas e culturais

inerentes à sua constituição, e essas dimensões consolidam um campo de poder e objetivam

determinada territorialidade a depender da predominância de alguma dimensão sobre a outra.

Sendo que esse predomínio acaba por determinar a gestão desses territórios, seus

condicionantes e processos à sua forma de atuação.

1.2. A gestão do território

A expressão gestão advém do verbo latino gero, gessi, gestum, gerere, cujo

significado é levar sobre si, carregar, chamar a si, executar, exercer e gerar. No dicionário da

língua portuguesa o termo gestão significa gerir, gerência, administração. (FERREIRA,

2010). Malato (2006) relata que desde sua origem até o momento, o termo gestão tem

comportado diferentes significados, bem como conteúdos diversos, de acordo com os atores

que o utilizam e com seus respectivos objetivos.

Corroborando com isso Drucker (2006) aponta que a gestão é uma expressão

compatível com os tempos a que se propõem, sendo que qualquer um de seus usos não deve

ser resumido a apenas utilização do mesmo para o melhoramento do trabalho.

Davidovich (1991) concorda com os autores acima ao afirmar que o conceito de

gestão,

“... não se confunde simplesmente com gerenciamento ou com administração, ainda

que estes representem suportes imprescindíveis para a sua prática. Tende-se, assim,

a interpretar gestão com um saber específico, o de governança ou de

governabilidade, que deriva basicamente de imperativos da empresa, implicando um

sistema complexo de coordenação para uma sociedade em rápida transformação”.

(DAVIDOVICH 1991, p. XX)

Assim, a gestão deve ser entendida como uma prática social. Um conjunto de

mecanismos, processos e estratégias que articuladas, num determinado tempo e espaço,

transformam a sociedade. Ela é estabelecida como um processo que visa à contínua

articulação de práticas diversificadas, baseando-se na capacidade de controlar os mecanismos

institucionais, que devam assegurar a coordenação e a integração dos agentes sociais com

uma dada finalidade.

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Para Brito (2008) a gestão é uma tarefa desenvolvida por um agente social que, por

meio de estratégias, busca diminuir os conflitos e/ou superar os obstáculos, tornando as

contingências mais estáveis e previsíveis diante dos objetivos propostos. Ou seja, a gestão tem

um objetivo a ser conseguido, através das ações sociais desenvolvidas pelos agentes.

Para fins dessa pesquisa espacializar essa gestão é ao mesmo tempo, condição e

necessidade para analisar as relações estratégicas do poder frente aos agentes sociais

envolvidos dentro do arranjo institucional que possibilita a prática de cooperação sobre uma

área delimitada – o território, através do conjunto de normas específicas que coordenam,

articulam e regulam as ações desses agentes nesse espaço, num dado tempo.

Neste sentido a gestão do território acaba ratificando espaços institucionalizados para

elaboração, implementação, fiscalização e avaliação das ações territoriais, e mais que isso,

garantir que nesses espaços os sujeitos tenham o poder de definição dessas ações. Ressaltando

que não cabe aqui enfatizar a possível relação ou antagonismo entre planejamento e gestão,

pois planejamento é o ato inicial de qualquer processo gerencial.

O conceito de gestão associa-se ao conceito de território e forma o conceito de gestão

do território, aplicado aos trabalhos de muitos geógrafos brasileiros, sobretudo, a partir da

década de 1990, por intermédio de geógrafos como Becker (1988); Corrêa (1987);

Davidovich (1991); Machado (1993). Essa relevância é percebida quando analisamos as

edições da Revista Brasileira de Geografia, que foram publicadas nesse período, havendo uma

grande quantidade de artigos que abordam esta temática.

Em seu artigo inicial tratando sobre a temática, Corrêa (1987) ressalta que a gestão do

território envolve a historicidade e o processo de transformação da sociedade, para isso o

autor traz uma breve evolução de como a apropriação de um território leva a diferentes

modelos, a depender da época, de como se gere o espaço, de acordo com uma metodologia de

questionamento simples: Por quê? Para quê? Para quem? Como? Onde?

Posteriormente Corrêa define, de acordo com metodologia citada acima, a gestão do

território como,

O conjunto de práticas que visa, no plano imediato, à criação e ao controle da

organização espacial. Trata-se da criação e controle espaciais, suas funções e

distribuição espacial, assim como de determinados processos, como concentração e

dispersão espaciais, que conformam a organização do espaço em sua origem e

dinâmica. (CORRÊA, 1992, p. 35)

A dimensão espacial do processo de gestão vincula-se ao território sobre controle de

um Estado, grupo social, instituição ou empresa. Sendo uma forma de controle da organização

espacial, visando garantir condições de produção e reprodução das práticas sociais por um

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determinado grupo pode ser responsável pela formulação, criação e manutenção de diferenças

de razão econômica e social através das quais o autor denomina de gestão das diferenças

espaciais. Deste modo, a gestão territorial pode ser a principal responsável pela produção e

reprodução das práticas sociais e de suas diferenças territoriais. (CORRÊA, 1995).

Em seu primeiro ensaio sobre o tema, Becker (1987) aponta os elementos para a

construção de um conceito sobre gestão do território ressaltando a importância do território e

da territorialidade humana, como uma fase vivida do poder, além de destacar que a gestão é

um conceito moderno de prática estratégica, científica e tecnológica. Dessa forma, segundo

Becker (1995, p. 296),

“define-se a gestão do território como a prática estratégica, científico-tecnológica do

poder que dirige, no espaço e no tempo, a coerência de múltiplas decisões e ações

para atingir uma finalidade e que expressa, igualmente, a nova racionalidade e a

tentativa de controlar a desordem”.

A ideia defendida por Becker nos permite identificar que as estratégias e ações

adotados no âmbito da gestão do território são pautadas em finalidade econômica, relações de

poder, e elementos de ciência e tecnologia. Esse processo integra elementos administrativos,

logísticos e de governo, podendo constituir iniciativas democráticas com o envolvimento de

todos os atores do desenvolvimento.

Machado (1993) faz uma crítica aos autores anteriormente citados, salientando que

esses conceitos se complementam quando tomados em conjunto. Para Becker a gestão do

território é uma estratégia e prática do poder, enquanto que para Corrêa é um aspecto

organizacional, manifestada no controle da organização espacial. Dito isso, apreende-se que o

território, pelos dois vieses, é como um espaço de gestão efetivada por diferentes agentes e

processos sociais, envolvendo, todas as possíveis instituições, tais como, o Estado, as

organizações, as novas tecnologias, chegando até os movimentos sociais. Assim, a

territorialidade exercida sob esse território gestado resulta em processos apreendidos numa

perspectiva da geografia histórica, crítica e relacional.

Outra autora que está inserida no contexto exposto, e em seus estudos faz

considerações sobre o termo é Davidovich. Segundo ela

As condições conceituais, sumariamente expostas, levam a colocar em pauta

possibilidades de diferentes formas de gestão, associadas a diferentes modelos

políticos e econômicos e apoiadas em determinadas bases tecnológicas. No caso de

um país, a gestão constitui, portanto, parte integrante do sistema vigente, exercendo-

se sobre um espaço delimitado, o território nacional, e rebatendo em diferentes

escalas espaciais. (DAVIDOVICH 1991, p. 8).

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Nos trabalhos da autora há uma predisposição a entender o local, como condição

elaborada a fim de reforçar sua exclusividade em diferentes escalas, pois a gestão e o

território desenvolvem uma realidade, no qual o exercício do poder é uma condição

indispensável numa área espacial.

Corroborando com Corrêa (1987), Davidovich (1991) relaciona a gestão ao momento

histórico em que se aplica e aos interesses da sociedade, e destaca que a gestão do território

pressupõe um grau de autonomia e o não espontaneismo, pois usa-se instrumentos de controle

para que a prática espacial seja delimitada e submetida, pois a existência de uma política

territorial, ainda que nem sempre explícita, acaba embasando coordenadas de direção para a

gestão, destaca a autora.

Retornando a Putnam (1996) essa ideia de temporalidade da gestão acaba coincidindo

com as premissas do contexto social e histórico para interpretar os desempenhos das

instituições territorializadas, pois esta acaba por intervir na sociedade. Sendo a base utilizada

pelo autor para explicar sua pesquisa na Itália, principalmente, no centro norte do país.

Nessa análise de que a gestão do território se pratica de forma exclusiva sobre o local,

Machado (1993) trabalha a gestão como ato de intervir, um processo permeado através de

discussões diretas com os setores sociais envolvidos, onde normas e ações são estabelecidas a

partir de negociações entre as partes, e a intenção do controle está presente nos desígnios e

utilidades funcionais das propostas. Sendo assim a gestão do território funciona através de

acordos e consensos, no sentindo de articular interesses territoriais diversos, logo ela está

dirigida mais ao conteúdo social do território do que a sua estrutura física, visto que, essa

gestão é mais exequível em nível local.

Outro autor que trabalha com esse conceito, mas no sentido de discutir as políticas

territoriais é Sanches (1991). De acordo com ele a política, numa perspectiva territorial,

depende da apropriação e do controle do território via gestão. Buscando analisar a gestão do

território o autor a expõe como uma procura por controlar as relações de poder

territorializadas e seus conflitos de interesses, que se manifestam na apropriação e definição

do espaço.

Com essas explanações, percebe-se que a gestão do território está associada às

parcerias, a divisão das atividades e tarefas entre os agentes envolvidos nos processos

territoriais. Fundamenta-se na discussão direta, no embate, na discordância, no enfrentamento

entre as partes, caminhando em direção ao estabelecimento de normas, de ações,

responsabilidades e competências definidas, distribuídas e restabelecidas entre os agentes.

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Em síntese, observa-se que diante das explanações supracitadas, o conceito de gestão

do território envolve alguns aspectos: certo controle da organização espacial em diversas

escalas; assimilação dos conflitos entre as esferas que compõe o poder; o estabelecimento de

regras e rotinas de operacionalidade e; uma estratégia de aproveitamento do espaço para

reproduzir e manter os possíveis interesses dos grupos sociais.

Num contexto mais atual, com base nos teóricos anteriores, a gestão territorial tem o

sentido de ordenar os papéis dos agentes na gestão dos processos de desenvolvimento,

promovendo a articulação de instrumentos públicos e privados, mediando conflitos de

interesses, promovendo a divulgação sobre os projetos, influindo, assim, na distribuição e uso

do poder no âmbito de um dado território, objeto de intervenção e prática de uma ação

pública.

Dallabrida (2007) propõe conceituar gestão do território como os diferentes processos

de tomada de decisão dos atores sociais, econômicos e institucionais de um determinado

âmbito espacial, sobre a apropriação e uso dos territórios. Decorrendo dessa concepção, a

gestão territorial precisa ser apreendida como uma técnica de gestão de diversas visões de

mundo, com interesses conflitantes, tendo sua gênese em diferentes escalas geográficas, com

a finalidade de desenvolver o território. (DALLABRIDA, BÜTENBENDER, ROVER,

BIRKNER, 2009).

De acordo com essa conceituação, a escala de análise é um ponto crucial para o

entendimento da gestão do território, uma vez que cada configuração escalar resulta em um

nível de abstração do fenômeno diferente. Ou seja, de acordo com Swyngedouw (2004) as

configurações escalares resultam dos processos socioespaciais que regulam e organizam

poder e relações sociais.

Segundo Vainer (2002), qualquer projeto ou estratégia de transformação da sociedade

envolve, engaja e estabelece estratégias em cada uma das escalas em que hoje se conformam

os principais procedimentos políticos, econômicos e sociais. Nessa mesma perspectiva,

Fischer (2002) destaca que as estratégias de gestão e as relações entre os atores sociais são

transescalares, isto é, o fenômeno não fica somente numa escala localizada, é necessário

articular todas as escalas sobre as quais se deseja intervir.

Ainda em relação à conceituação proposta por Dallabrida (2007), para se entender a

gestão do território com a finalidade no desenvolvimento é preciso levar em consideração

também os atores, agentes e sujeitos que realizam e recebem as ações, os interesses dos

mesmos para isso, a escala de atuação e o centro de decisão e comando para os fatos

territoriais. No entanto, os referidos autores concluem que essas explanações são apenas

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preliminares, sendo indispensáveis mais reflexões considerando a “dinâmica territorial do

desenvolvimento, a transescalaridade e o desafio das relações de poder que se articula em

múltiplas escalas, além do papel do Estado neste processo”. (DALLABRIDA,

BÜTENBENDER, ROVER, BIRKNER, 2009, p. 13).

Abrangendo essas premissas desenvolvidas pelos autores, cabe acrescentar o conteúdo

do território, visto que ele desempenha um peso importante à gestão territorial. O conteúdo do

território se expressa através de suas pontencialidades, exercendo um papel fundamental para

essa análise, pois ele pode condicionar as decisões políticas, econômicas, institucionais e

sociais para a constituição e desenvolvimento dos próprios territórios, além do fato de como a

sua gestão será efetivada.

O conteúdo territorial é base para o trabalho de diversos teóricos; por um exame mais

político Putnam (1996) aponta, mesmo que de forma indireta, os conteúdos institucionais do

território na Itália, de como o peso do local afetava no contexto das decisões políticas de todo

o país; em uma análise mais econômica Storper (1990) salienta o conteúdo territorial no

contexto da dinâmica competitiva da globalização, para ele o regime de produção

tecnológico-institucional e flexível que surgiu com a chegada da globalização acabou

reforçando a importância da mobilização do local, especialmente, dos recursos técnicos,

institucionais e das habilidades, no intuito de melhor aproveitar as oportunidades e tentar

reduzir os perigos lançados pela competitividade.

Em uma análise dos conteúdos territoriais e do papel do território como um campo de

ação capaz de organizar soluções estratégicas e institucionais, Castro (2000) salienta que as

inovações são ações dos meios disponíveis nos territórios, capazes de gerar relações de

cooperações entre os variados agentes locais e regionais, criticando assim, os tradicionais

critérios e fatores de localização presentes nas teorias de desenvolvimento regional.

Portanto, o território torna-se não apenas continente, mas um dado efetivo da

inovação. Esta nova problemática baseia-se na capacidade dos agentes locais em

perceber as mudanças que se produzem fora e em realizar projetos para se adaptar,

estimulando o fortalecimento dos sistemas territoriais de produção aos quais eles

estão vinculados. (CASTRO, 2000, p.50)

Desta forma, a gestão territorial torna-se precisa para essa nova visão, mudando a

noção de que o território é apenas apoio de recursos estáticos e passivos, à abordagem de que

o conteúdo desse território e a sua gestão geram novas soluções estratégicas. Considera-se,

assim, que os consórcios públicos, na conjuntura atual, servem de inovação institucional da

gestão territorial intergovernamental, pois possibilitam uma articulação das iniciativas e

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políticas públicas entre os níveis de governo, que acabam gerando resoluções coletivas para o

território em que o mesmo está inserido, levando em consideração o seu conteúdo.

Portanto, diante de todos os autores e conceitos já citados se entende aqui a gestão do

território como a prática dos vários processos de gerenciamento, adicionado ao conteúdo

territorial, que norteiam a forma como os objetos se organizam no território. Sendo que esses

processos são os mecanismos, sistemas e estratégias que a gestão necessita para se efetivar e

acabam conduzindo as ações dos agentes sociais à organização do território, pelo exercício da

territorialidade. Que no caso desse trabalho a gestão territorial se exerce através dos

condicionantes e das estratégias, via instituição, para a organização do território dos

consórcios públicos, especificamente do Consórcio Portal do Sertão.

1.3. Modelo de análise e o percurso metodológico

A partir dessas considerações sobre gestão do território para analisar as relações dos

agentes sociais envolvidos dentro do arranjo institucional, faz-se indispensável agora elencar

alguns pontos relacionados ao modelo de análise que será adotado nesta pesquisa, a fim de

prosseguir sua análise e compreensão.

Os modelos têm sido uma ferramenta muito utilizada no campo científico,

principalmente na área das Ciências Sociais, pois o modelo pode ser considerado um

instrumento, um meio para alcançar um objetivo, permitindo que vários aspectos da sociedade

apareçam dentro de qualquer escala territorial.

Normalmente os modelos baseiam-se em algumas funções, tais como: Função de

organização – refere-se à capacidade de ordenar e reorganizar dados e estabelecer conexões

dentro da instituição; Função de predição – refere-se à disponibilidade de conhecer resultados

futuros; Função de mensuração – quantifica os dados dependendo do tipo de modelo

empregado; Função de demonstração – refere-se a revelar como alguma realidade é; Função

de descrição – representa a estrutura do modelo utilizado; dentre outras. (SOUZA, 2007)

De acordo com Fonseca (2005), a maior ascensão do uso de modelos teóricos

hipotéticos-dedutivos como princípio explicativo para analisar padrões espaciais, ocorreu por

intermédio da nova geografia. Ressaltam-se, aqui, os nomes de Richard J. Chorley, Peter

Haggett e David Harvey.

De acordo com Barros (2003), no período pós II Guerra, o uso de modelos o

transformou num instrumento de expressiva importância na análise da organização espacial,

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servindo como uma nova linguagem do trabalho geográfico, retratando, principalmente, a

expansão econômica de aglomerações urbanas e rurais. O trabalho de campo, a análise de

cartas e o uso de fotos passaram a ser utilizados com o desígnio de examinar as hipóteses e a

viabilidade dos modelos.

Posteriormente, o uso de modelo, sem o viés hipotético-dedutivo da nova geografia,

objetivando a análise da dinâmica e organização do espaço também foi incorporado em outras

correntes do pensamento geográfico. Se os modelos tradicionais expressam um tipo ideal de

organização espacial, os adotados mais atualmente são usados como ferramenta para

investigar a organização espacial concreta.

Na realidade o modelo contém todos estes elementos e, por isso, é definido como

sendo uma idealização, uma apresentação aproximada da realidade através da qual

se busca melhor entender o funcionamento, a organização e as interações entre os

diversos agentes que compõem uma determinada realidade. Além disso, o modelo é

um instrumento, um meio para se alcançar um determinado objetivo, porque permite

o aparecimento de aspectos fundamentais da sociedade, em qualquer escala

territorial. (FONSECA, 2005, p. 116).

Como a referida pesquisa trabalha com a gestão do território, institucionalizado,

balizado pela relação entre os entes federados juntos para realizar ações coletivas, será

adotado um modelo de análise que permite compreender de forma dinâmica as estratégias e os

condicionantes adotados para gestar a organização do território, como uma derivação do

modelo elaborado por Fonseca (2005).

O mencionado autor utiliza esse instrumento com a finalidade de analisar

comparativamente as estratégias institucionais que foram desenvolvidas nos municípios

baianos de Feira de Santana, Ilhéus e Vitória da Conquista, a escolha destes três municípios

foi baseada nos critérios populacional e locacional dos mesmos, dentro do estado da Bahia.

O objetivo final de seu estudo foi analisar, via modelo de análise, o município

enquanto instituição política-jurídica-administrativa e territorial, e como ele vem contribuindo

com o debate interno relacionado às novas dinâmicas do território brasileiro. Sendo que esse

trabalho parte do pressuposto de que, o oposto de ser apenas um recorte submisso e amorfo, o

município é uma instituição composta por uma potencialidade endógena apreciável,

principalmente em termos técnico, organizacional e social, capaz de desencadear decisões e

ações e produzir transformações expressivas para a sociedade local.

Para tanto, tomou como referência três estratégias institucionais: contexto, recursos

institucionais e ações institucionais. As estratégias institucionais dependem do contexto, dos

recursos e das ações que, articuladas, compõem os conteúdos do território, que de acordo com

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Fonseca (2005, p. 118) “são as principais responsáveis pelas dinâmicas de desenvolvimento

territorial nos dias atuais”.

O contexto refere-se às dimensões históricas, sociais e políticas relacionadas ao Estado

da Bahia e aos municípios estudados, sendo esses importantes para averiguar o papel

fundamental das instituições, já que eles são constituídos de constrangimentos que podem

moldar as decisões políticas e econômicas do local, além de destacar as escalas de atuação no

sentido de analisar os elementos do contexto.

Os recursos institucionais são considerados os meios indispensáveis para as tomadas

de decisões e ações, que no trabalho de Fonseca (2005) são os recursos organizacionais e

técnicos. Os recursos organizacionais se referem às normatizações e aos instrumentos de

gestão local. Os recursos técnicos abarcam os tradicionais aspectos ligados à instalação de

infraestrutura de transportes e comunicações, a capacidade informatizacional da instituição

governamental, a geração de tecnologias, e o recurso financeiro, que compreende os tipos de

recursos disponíveis no município, a origem, o montante, e de que forma são adquiridos.

Por fim, as ações institucionais representam a forma pela qual são implementadas as

políticas, aos procedimentos políticos e administrativos empregados pelos governos locais

para viabilizar as estratégias institucionais. As ações apresentam as seguintes dimensões: os

programas e projetos – sendo expostos os tipos de programas e projetos e os setores

atendidos; as fontes de financiamentos – quem está financiando os programas e projetos; a

escala – a extensão territorial do programa e projeto; os objetivos – que representam as

aspirações do programa e projeto; e os parceiros – quem está colaborando com a

implementação do projeto e de que forma.

De forma ampla esses são os elementos utilizados por Fonseca (2005) para estudar

comparativamente as estratégias institucionais de três municípios baianos. No entanto, nesse

trabalho algumas modificações foram realizadas para adaptá-lo ao objetivo principal dessa

pesquisa. Para tanto, toma-se como ponto de partida inicial a gestão do território do CDSTPS,

que se divide em dois grandes blocos de apreciação: os condicionantes da gestão e as

estratégias dos agentes, que juntos formam a base de análise de como vem se dando à

organização desse território consorciado, como ilustrado na figura 2.

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Gestão territorial do CDSTPS

Condicionantes

Político Institucional Territorial

Estratégias

Estrutura e coesão interna

Constituição e competências

Agentes e suas

articulações

Regras e rotinas

Ações

Programas e projetos

Parcerias Financiamento

Figura 2: Modelo de análise da gestão territorial do CDSTPS

Organização

do território

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Os condicionantes referem-se às dimensões políticas, institucionais e territoriais que

circundam o federalismo, a descentralização, a formação e o desenvolvimento dos consórcios

públicos no Brasil e no estado da Bahia. Além de abordar as dimensões através das

capacidades do território, especialmente, do território formado a partir do Consórcio de

Desenvolvimento Sustentável do Território Portal do Sertão, que vem exercendo papel

fundamental nos arranjos institucionais, pois essa institucionalização molda as decisões

políticas para a constituição e ampliação dos consórcios públicos.

As estratégias são planos traçados objetivando serem alcançadas as metas definidas, a

partir dos interesses e planos da referida instituição. Trata-se de um ponto de ligação entre o

universo interior da organização e o ambiente exterior no qual tudo se concretiza, ou seja, é

como os planos e interesses são transformados por e a partir das prerrogativas internas de

constituição e funcionamento e dos atos previstos por eles. Nesse trabalho, especificamente,

as estratégias dizem respeito aos meios indispensáveis para a tomada de decisão da

instituição, de como acontece à estrutura e a coesão interna do CDSTPS, e como as suas ações

resultam nos objetivos planejados. Logo, o bloco de apreciação das estratégias divide-se em

dois outros blocos: a estrutura interna e as ações institucionais.

A estrutura interna considera a operacionalidade do consórcio via gestão. A sua

competência regida pela lei e o protocolo de intenções de sua criação; a constituição à

implantação e manutenção do consórcio; as regras e rotinas de funcionamento necessárias a

uma instituição de trabalho cooperado; seus agentes – membros consorciados e técnicos do

consórcio, e suas formas de articulações e conflitos. Essa dimensão é de grande relevância de

estudo, pois os mecanismos de decisão objetivam o alcance dos propósitos do CDSTPS.

As ações representam a forma pela qual são implementadas as políticas no território,

quais programas são interessantes, como são feitas, quem são os parceiros responsáveis por

essas ações, enfim, diz respeito a como as estratégias planejadas são executadas. Para isso são

analisados os programas e projetos – exposição dos tipos de programas e projetos do

CDSTPS; as fontes de financiamento – quem está financiando os programas e projetos, o

convênio é uma busca do consórcio ou uma ação do governo ao consórcio; e as parcerias –

quem colabora para a implementação do programa/projeto no local, há algum tipo de

contrapartida do município, a população é parceira das ações.

Assim, a organização do território vem para demonstrar como os objetos se

estabeleceram no território do consórcio através de seus condicionantes e estratégias, ou seja,

a gestão territorial acaba por nortear as ações do consórcio à organização do seu território.

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Diante disso, essas dimensões compõem o conteúdo desse território institucionalizado, via

consórcio público.

Nesse contexto, a organização do território pelo Consórcio Portal do Sertão está

pensada dentro de uma totalidade, com transformações permanentes, móvel, tanto que o

modelo de análise não é inflexível, ele serve como instrumento de aproximação dessa

realidade, visto que o espaço geográfico possui uma dinamicidade que reflete nas intenções da

conjuntura no momento.

Sendo assim, os conceitos-chave que norteiam esse trabalho são consórcios públicos,

território institucionalizado, condicionantes, estratégias e CDSTPS, por entender que tais

conceitos envolvem variáveis necessárias para analisar o papel do Consórcio Portal do Sertão

no contexto do federalismo e a forma de como suas ações vem inferindo no território

instituído por ele.

Ressaltando que a escolha por esse consórcio em específico deu-se devido às ações já

implementadas no território, aos recursos já adquiridos, ao grande número de municípios

consorciados (mais de 80% dos municípios do TI aceitaram se consorciar) e a sua

infraestrutura administrativa. Além disso, o CDSTPS é considerado pela Secretaria de

Planejamento do Estado da Bahia – SEPLAN, o consórcio exemplo dentre os outros

existentes no estado da Bahia.

Diante disso e do modelo de análise elaborado, buscou-se consonância com os

procedimentos metodológicos utilizados, sendo eles: revisão bibliográfica, análise de

documentos, observação participativa e pesquisa de campo.

As fontes de informação para o debate das ideias envolvidas e a realização do trabalho

proposto são reguladas em uma detalhada revisão bibliográfica sobre o objeto escolhido para

a análise. Assim como, a pesquisa de tópicos distintos, mas relacionados que ajudem no

entendimento do tema principal. A análise dos documentos implicou na análise de dados

secundários, no levantamento e estudo da legislação de forma geral e mais, especificamente,

sobre o papel dos consórcios públicos no Estado brasileiro. Além de toda documentação do

Consórcio Portal do Sertão, salientando que a maioria desses documentos consta no próprio

site da instituição.

A observação participativa deu-se através da participação das reuniões e assembleias

do consórcio a fim de identificar como os agentes do processo atuam dentro do CDSTPS.

Entretanto, no ano de 2014 apenas três assembleias gerais foram realizadas, sendo que a

pesquisadora só foi comunicada sobre duas, uma assembleia itinerante que aconteceu no

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município de Santo Estevão no dia 1 de fevereiro de 2014 e uma assembleia na sede do

consórcio no dia 29 de outubro de 2014.

Nas duas reuniões observadas houve a participação de mais de 80% dos municípios

consorciados, salientando que na assembleia ocorrida em outubro apenas o município de

Anguera não teve nenhum representante. Nelas também foi possível verificar a relação entre

os membros consorciados, entre os representantes municipais e os técnicos do consórcio e

como as ações são pensadas na organização desse território consorcial.

Já a pesquisa de campo baseou-se em entrevista semiestruturada, de tal forma que

foram realizados encontros com os agentes envolvidos no processo a partir de um roteiro de

perguntas e da situação no momento da entrevista. Foram entrevistados os membros do

consórcio, prefeitos e ou/representantes (questionário apêndice 1) e o secretário executivo

(questionário apêndice 2).

A entrevista com os representantes municipais aconteceu entre os dias 23 de outubro

de 2014 a 05 de dezembro de 2014, sendo algumas dessas gravadas mediante licença dos

entrevistados. Dessa forma, quando necessário, a fala dos entrevistados pode referendar esse

trabalho dissertativo.

Essas entrevistas foram de grande auxílio ao entendimento da trajetória da entidade e

das suas ações. No entanto, cabe ressaltar que o ano de 2014 foi ano eleitoral para presidente,

governador, senador e deputados o que gerou certo impasse à realização dessa pesquisa.

Desde julho de 2014 foi buscado contato com o consórcio e com seus membros, eles estavam

muito envolvidos com a campanha eleitoral e não se mostravam solícitos a serem

entrevistado. Isso retardou a pesquisa durante três meses.

Assim, passado o primeiro turno da campanha eleitoral foram buscados novos contatos

e as entrevistas, portanto, foram realizadas. Sendo assim, 12 representantes municipais foram

entrevistados: sete prefeitos, dois vice-prefeitos (que têm o mesmo poder de representação do

chefe do executivo municipal no CDSTPS) e três representantes municipais (dois secretários

de agricultura e um secretário de administração e finanças).

Inicialmente buscou-se o contato com os prefeitos e/ou vice-prefeitos dos municípios

consorciados, entretanto, alguns deles não agendavam as entrevistas repassando para algum

representante que pudesse atender. Também houve o não cumprimento de entrevistas já

marcadas, sendo necessário remarcá-las para uma nova data. Destaque-se que em um

município a pesquisadora foi três vezes, na data da entrevista agendada, e o chefe do

executivo não a atendeu em nenhuma delas.

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Assim, dos 14 municípios consorciados 85,7% dos seus representantes, foram

questionados sobre a importância e o papel de pertencer a um consorciamento. Em três

entrevistas com esses representantes o tempo de questionamento passou de uma hora, isso

aconteceu devido ao conhecimento dos membros em relação ao consórcio e às políticas

territoriais do estado da Bahia, sendo são eles os representantes de Amélia Rodrigues,

Conceição da Feira e Santa Bárbara. Nas outras entrevistas o tempo variou de dez a trinta

minutos de duração.

Os dois representantes municipais que não foram entrevistados, dos municípios de

Ipecaetá e Anguera, receberam a mesma atenção de busca dos outros, entretanto não retornam

as ligações, nem marcavam entrevistas. Sendo esses os mesmos membros que pouco

frequentam as assembleias do consórcio. Nas duas assembleias assistidas, os chefes do

executivo, dos respectivos municípios, não se fizeram presentes.

Desde o início do trabalho, toda relação da pesquisadora com a instituição foi através

do secretário executivo, sendo que em alguns momentos o mesmo foi solicito no repasse das

informações, em outros houve impedimento de acesso e de subsídios para o desenvolvimento

do trabalho. Ficou acertado, baseado na metodologia, que a última entrevista aconteceria com

o mesmo, no sentido de colher todas as informações do campo e o questionar sobre as ações

da instituição, assim no dia 05 de dezembro de 2014 o secretário executivo do Consórcio

Portal do Sertão foi entrevistado na sede da entidade, sendo esta gravada mediante

autorização prévia do entrevistado.

Além das entrevistas realizadas e das assembleias gerais, foi disponibilizado, pelo

secretário executivo do CDSTPS, a participação da pesquisadora em uma reunião interna com

os funcionários da instituição, o que foi de grande importância para corroborar com as ações

que estão sendo executadas, além de entender a coesão e estrutura interna da entidade.

Também foram realizadas visitas de campo nas zonas rurais de cinco municípios

consorciados: Água Fria, Conceição da Feira, Irará, Santanópolis e Tanquinho, visto que a

maioria dos programas/projetos da entidade são destinadas a esse espaço geográfico. Nessas

visitas foi feito um levantamento fotográfico das ações já realizadas, contatos com

beneficiários, membros dos conselhos locais e/ou representantes de sindicatos dos

trabalhadores com a intenção de analisar os programas executados e a forma de como estes

vem ocorrendo e se organizando no território.

Após o levantamento das informações relacionadas, assim como da bibliografia

referente à temática e ao objeto de estudo, foi realizada a integração dos dados obtidos a partir

das análises documentais, estatísticas, cartográficas e teórica a fim de concluir o estudo

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proposto. O estudo de todas essas informações é preponderante para embasar a análise das

singularidades dos municípios que compõe a particularidade do Consórcio Portal do Sertão,

dentro da universalidade da cooperação federativa brasileira. Portanto, para analisar como o

Consórcio de Desenvolvimento Sustentável do Território Portal do Sertão vem representando

uma forma de experiência de cooperação no federalismo brasileiro faz-se necessário levantar

amplamente a caracterização dos consórcios públicos no Brasil.

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2. OS CONSÓRCIOS PÚBLICOS NO BRASIL

A fim de referenciar o objetivo central desse trabalho este capítulo explana sobre os

consórcios públicos no Brasil, seus conceitos, características, legislações e os aspectos

políticos, administrativos e territoriais que norteiam o processo de sua institucionalização.

Além de trazer a análise da cooperação territorial através dos consórcios públicos no país e a

atuação efetiva do governo federal à consolidação desse arranjo institucional.

2.1. Caracterização dos consórcios públicos

O tema dos consórcios públicos está inserido na diversidade de arranjos institucionais

relacionados a experiências de associativismo territorial como modelo de governança no

federalismo brasileiro. A compreensão do processo envolvido na formação e no

desenvolvimento político-institucional dos consórcios públicos passa pela dinâmica envolvida

nas relações intergovernamentais estabelecidas entre seus entes, tanto na sua dimensão

horizontal, quanto na vertical. Sendo que é preciso lembrar que essa forma de arranjos

federativos baseiam-se na melhor adequação entre as propriedades virtuosas da competição e

da cooperação e da centralização e da descentralização, evitando-se os aspectos negativos de

cada uma que possam surgir como obstáculos para o êxito do sistema político federativo

(ABRUCIO; SOARES, 2001; ABRUCIO, 2005).

Além de promoverem a cooperação entre os entes federados de forma multiescalares,

os consórcios públicos foram criados para solucionar problemas que surgem de situações de

interdependência e compartilhamento de responsabilidades, a partir da necessidade de

coordenação de ações conjuntas para alcançar resultados que isoladamente seriam difíceis de

serem atingidos. As experiências de consórcios existentes caminham na busca do resgate dos

conceitos de cooperação intergovernamental e solidariedade, e podem auxiliar a potencializar

ações de articulação microrregional.

Alguns autores como Cunha (2004) e Pontes (2008) definem os consórcios como

ações conjuntas em que determinados municípios da mesma região se reúnem de forma

colaborativa para equacionar questões que lhes são comuns, objetivando maximizar as ações

públicas de forma associativa e utilizando-se dos recursos necessários que cada membro

dispõe para oferecer.

Segundo Vaz (1997) os consórcios intermunicipais são como entidades que reúnem

diversos municípios para a realização de ações conjuntas que se fossem produzidas pelos

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municípios, individualmente, não atingiriam os mesmos resultados ou utilizariam um volume

maior de recursos.

Para Cruz (2002) os consórcios são como uma forma de organizar a regionalização de

forma ascendente, isto é, é formado a partir dos municípios, de suas características locais e

suas dificuldades, para discutir ações regionais, sem que os municípios percam a sua

autonomia. Já em 2001 a mesma autora ressaltou os ganhos desse instrumento às políticas

públicas, sendo um novo modelo de gestão que acaba por viabilizar as ações microrregionais.

Nesse mesmo viés de operacionalidade, Dieguez (2011) conceitua os consórcios

intermunicipais como sendo formados por uma rede federativa em que se compôs uma nova

arena política de cooperação horizontal entre dois ou mais entes federativos, voltada para a

produção compartilhada de decisões sobre políticas públicas.

Portanto, verifica-se que existem formas antagônicas e/ou complementares de

conceituar os consórcios, de acordo com Caldas (2007), de forma sistemática, pode-se

apreender dessa literatura quatro acepções distintas para esse arranjo. A primeira na qual os

consórcios se estabeleceriam em ações coletivas com o intuito de resolver problemas comuns.

A segunda baseia-se na definição dos consórcios como sendo uma instituição que através da

reunião de vários municípios resolveriam problemas conjuntos, maximizando recursos

financeiros e físicos para essas soluções coletivas, como aponta Vaz (1997). Na terceira

vertente a autora aborda que sendo instituições criadas para executarem atividades de

interesses comuns só vale o esforço se forem feitas entre os mesmos entes do governo. Por

fim, trata dos acordos firmados entre distintos entes, mas sendo estes apenas entes federados,

com o objetivo de que as ações firmadas utilizem os recursos necessários que cada membro

dispõe.

Diante disso, é nítido afirmar que qualquer vertente utilizada surge de um princípio

básico: a noção de que o consórcio é uma forma de agregação coletiva por interesses comuns.

Uma ideia de juntar forças, a fim de realizar objetivos que cada ente pertencente a essa

instituição não teria condições de sanar isoladamente. Contudo, as abordagens anteriores

deixaram de valorizar uma dimensão fundamental para a formação e desenvolvimento de um

consórcio, o espaço.

Isso se dá pelo fato da geografia não se apropriar e mostrar a importância da mesma

para as questões ligadas ao Estado como aponta Castro (2009); e/ou a negligência das outras

áreas em levar em consideração a dimensão espacial como substrato de base material para o

exercício do poder estatal na sociedade, ou seja, é necessidade para o poder do Estado o

fundamento espacial, o território. (MANN, 1992). Visto que, essa dimensão dá consistência à

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análise, pois para além de arena de ação, o Estado “se torna a própria razão da

institucionalidade moderna política” (CASTRO, 2009, p. 580).

Como um consórcio público é uma cooperação coletiva por interesses comuns, a

centralidade das dinâmicas territoriais que envolvem essa institucionalização é

imprescindível, visto que esta afeta a organização da base material da sociedade, pois a sua

representatividade política dos entes que se consorciam aludi também ao seu território, na

medida em que busca identificar processos que conduzam, na atualidade brasileira, às

recomposições territoriais e podem sinalizar outro poder, mesmo que ainda pertinente ao ente

de sua matriz originária. Ou seja, um município que se consorcia a outros a fim de resolver as

demandas coletivas, acaba por criar um novo poder local, no qual é necessário analisar a

dimensão territorial dessa institucionalização, pois essa gera uma nova dinâmica a esse

território.

As possibilidades de ações conjuntas que podem ser tratadas pelos consórcios públicos

são várias, como aponta Vaz (1997):

a) os serviços públicos: como nos consórcios os municípios podem oferecer serviços

públicos em parceria com municípios vizinhos, fica possível amortizar os custos fixos e os

investimentos sobre uma base maior de usuários, reduzindo o custo unitário da produção e

distribuição dos serviços. Diversos tipos de serviços públicos podem ser realizados

sistematicamente por meio de consórcios.

b) a saúde: a operação conjunta da rede pública de serviços de saúde, baseado na lei do

Sistema Único de Saúde – SUS da Constituição Federal de 1988 tem sido o motivo da criação

de vários consórcios municipais nos últimos anos, tornando-se um campo propício para a

criação de consórcios e prestação de serviços públicos. Devido ao fato da saúde ser um tipo de

serviço que exige grandes investimentos e que naturalmente é hierarquizado em rede por

demanda: um município de pequena população não terá condições para ofertar todos os

serviços possíveis e necessários. Assim, muitos municípios passam a depender de serviços

oferecidos fora, cuja operação está totalmente além de seu controle; outros implantam

equipamentos e serviços superdimensionados, cujo investimento necessário ou o custeio da

operação é muito elevado o para o potencial econômico do município, fazendo do consórcio

um excelente mecanismo de articulação.

c) as obras públicas: esse é um item em que os consórcios públicos revelam um

desempenho muito bom, por conta do próprio caráter circunstancial, visto que muitas das

vezes as obras públicas podem ser do interesse de mais de um município, como em áreas de

divisa (especialmente em áreas conurbadas), canalização de caminhos d`água e obras viárias

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que permitam o acesso a diversos municípios. Outras situações que pode ser interessante

compartilhar recursos é: rodízio de máquinas próprias, aquisição ou locação de máquinas para

uso comum, contratação de projetos arquitetônicos padronizados ou mutirões de manutenção

de estradas vicinais, dentre outros.

d) as atividades-meio: mais uma forma de extrair mais serventia dos recursos por

intermédio de consórcios é a realização de atividades-meio dos poderes executivos, como o

caso da informática, que dá espaço para o uso comum de equipamentos e para o

desenvolvimento de sistemas informatizados que possam atender a mais de um município. É

possível também estabelecer consórcios para realizar atividades de capacitação e treinamento

de funcionários públicos municipais, criando programas de capacitação de pessoal de menor

custo por servidor beneficiado.

e) o meio ambiente: vários consórcios têm surgido a partir de projetos de recuperação

ou preservação do meio ambiente, baseando em busca de soluções para problemas em torno

do uso dos recursos hídricos de uma bacia hidrográfica, controle de enchentes, saneamento

básico, coleta e disposição de lixo, dentre outros. Além de ser interlocutores frente aos

governos estadual e federal em questões ambientais mais amplas.

f) as políticas de desenvolvimento econômico regional: aqui os consórcios podem

assumir funções de incentivo a atividades econômicas, atração de investimentos, apoio à

produção agrícola e funcionar como agentes de controle e prevenção da guerra fiscal entre

municípios. Pode-se considerar também a hipótese de empreender programas de capacitação e

reciclagem profissional da mão-de-obra local.

Para além dos campos citados, pode-se identificar outras áreas de atuação dos

consórcios tais como: turismo, cultura, desenvolvimento urbano, resíduos sólidos,

sustentabilidade, dentre outros. Cabendo destacar, que muitos consórcios atuam de forma

multisetorial, realizando um trabalho focado nas necessidades de cada território no qual a

instituição está inserida. Assim, com isso, pode-se perceber que os consórcios acabam por

existir para duas funções básicas: a operacional, que tem sua produção voltada para a

execução de bens públicos; e a de coordenação destacando as ações de articulação, regulação,

planejamento das políticas públicas territoriais. O que, nesse sentido pode-se apreender, que o

território ao mesmo tempo é continente e conteúdo da sociedade.

Do ponto de vista da ação dos governos municipais envolvidos, a criação de

consórcios intermunicipais pode produzir resultados positivos de cinco tipos:

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a) aumento da capacidade de realização: os governos municipais podem ampliar o

atendimento aos cidadãos e o alcance das políticas públicas por conta da disponibilidade

maior de recursos e do apoio dos demais municípios;

b) maior eficiência do uso dos recursos públicos: é o caso dos consórcios cuja função

central é o compartilhamento de recursos escassos, desde máquinas de terraplanagem a

unidades de saúde ou unidades de disposição final de resíduos sólidos. O volume de recursos

aplicados como investimento no consórcio e o custeio de sua utilização são menores do que a

soma dos recursos que seriam necessários a cada um dos municípios para produzir os mesmos

resultados.

c) realização de ações inacessíveis a uma única prefeitura: a articulação de esforços em

um consórcio intermunicipal pode criar condições para que seja possível atingir resultados

que não seriam possíveis a nenhuma prefeitura isoladamente, ou mesmo à soma dos esforços

individuais de cada uma delas.

d) aumento do poder de diálogo, pressão e negociação dos municípios: a articulação de

um consórcio intermunicipal pode criar melhores condições de negociação dos municípios

junto aos governos estadual e federal, ou junto a entidades da sociedade, empresas ou

agências estatais. Com isso, vê-se fortalecida a autonomia municipal.

e) aumento da publicidade das decisões públicas: como as decisões tomadas pelos

consórcios são de âmbito regional e envolvem vários atores, naturalmente elas se tornam mais

visíveis, pois exigem um processo de discussão mais aprofundado em cada município e em

termos regionais. Com isso, abre-se espaço para uma maior fiscalização da sociedade sobre a

ação dos governos (VAZ, 1997).

Apesar das contribuições de Vaz (1997), as suas analises carecem do conteúdo

espacial salientado acima, pois os consórcios podem gerar mais coesão territorial aos seus

consorciados, permitindo que a funcionalidade, em termos de articulação com outros

territórios sejam mais operacionalizadas. Além de que o caráter de vizinhança dos municípios

que compõem a estrutura consorciada demonstra um aspecto característico da questão

regional, ou seja, a contiguidade territorial.

Esse arranjo institucional é uma forma de regionalização a partir dos interesses dos

municípios, de suas características locais e suas dificuldades, sem que os municípios percam a

sua autonomia, base do federalismo.

Outra interessante explanação é a levantada por Dieguez (2011) sobre as possíveis

naturezas dos consórcios públicos, segundo o autor estes possuem três naturezas: uma

natureza jurídica, pela sua consolidação como uma relação contratual entre os entes

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federativos autônomos do poder público nas esferas do poder; uma dimensão institucional,

pois reconfigura as regras do jogo do federalismo orientando o comportamento dos agentes e

conferem maior estabilidade e previsibilidade às suas relações e; uma concepção política,

visto que representa a cooperação entre os entes para produzirem decisões de forma

compartilhada e negociada, voltadas para atender o que os agentes calham como dificuldades

comuns em suas agendas governamentais locais.

No entanto, cabe ressaltar que seria necessário acrescentar uma quarta natureza: a

territorial, tendo em vista que as diversas ações locais, ao mesmo tempo em que afetam o

território, também são afetadas por este, devido aos seus condicionantes materiais e

simbólicos.

Assim, os consórcios são instituições de cooperação entre as unidades administrativas

que os integram, no intuito de formular políticas e diretrizes intermunicipais, gerenciar planos

e programas e realizar obras e serviços de interesses federativos horizontalizadas, ou como

prefere-se enfatizar nesse trabalho de uma gestão do território com mais horizontalidade.

Como o consórcio é resultado de um pacto de base territorial, político, institucional e

administrativo, de uma negociação que incluirá a elaboração e aprovação do estatuto deve

prevalecer a preservação da autonomia e a decisão política dos municípios, no qual deve

existir a condição de uma gestão compartilhada, ou seja, a possibilidade de se passar de um

comportamento competitivo para um mais cooperativo dentro das relações interfederais.

2.2. A evolução legal dos consórcios públicos no Brasil

A possibilidade de consorciamento entre os entes federados brasileiros, data do século

XIX com a Constituição Federal de 1891. Nesta os consórcios eram considerados contratos

celebrados entre municípios sendo que, precisavam da aprovação do Estado e, se celebrados

entre Estados, precisavam da aprovação da União.

A Constituição de 1937 previu os consórcios intermunicipais como pessoas jurídicas

de direito público, segundo o artigo 29, “os Municípios da mesma região podem agrupar-se

para a instalação, exploração e administração de serviços públicos comuns. O agrupamento,

assim constituído, será dotado de personalidade jurídica limitada a seus fins”. E como

parágrafo único aponta que: “caberá aos Estados regular as condições em que tais

agrupamentos poderão constituir-se, bem como a forma, de sua administração”. Mas o seu

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reconhecimento era apenas formal, pois está vigorou durante a ditadura do Estado Novo,

período de grande centralidade política em que a autonomia dos entes não era respeitada.

Com a redemocratização, foi editada a 4ª Constituição brasileira em 1946,

consolidando um processo de restabelecimento da forma federativa no país. A ênfase da carta

maior era toda no resgate das liberdades democráticas e nas autonomias federativas e dos

entes locais. Inicia-se debate sobre cooperação federativa, que se soma ao debate sobre o

desenvolvimento, e em 1961 é criado o BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do

Extremo Sul, autarquia interfederativa formada pelos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio

Grande do Sul, considerado o primeiro exemplo de consórcio público do tipo moderno no

território brasileiro. No entanto, em 1964, com o golpe militar, novamente o Brasil sofre

processo de centralização.

A Constituição de 1967 trata os consórcios públicos como meros pactos de

colaboração, também chamados de consórcios administrativos, cujo cumprimento dos

contratos não é obrigatório e estes não possuíam personalidade jurídica. Segundo a cartilha da

Confederação Nacional dos Municípios elaborada por Ribeiro (2007), essas medidas tinham

como finalidade prevenir que os consórcios fossem considerados centros de poder, podendo

competir com o regime centralizador da época.

Com a volta da democracia, a Constituição Federal de 1988 reestruturou o sistema

federativo brasileiro reconhecendo os municípios e o distrito federal como entes federativos e

descentralizando as competências públicas. No entanto, ela não traz inovações na forma de

estabelecer os arranjos cooperativos no Brasil, particularmente, os intermunicipais. De acordo

com Cruz (2001) pode-se distinguir cinco arranjos de cooperação intermunicipal na CF que

seriam: o Consórcio na forma de Pacto, na forma de Sociedade Civil sem fins lucrativos,

Câmara Intermunicipal, Rede e as Agências Intermunicipais, com cada um possuindo suas

especificidades, como ilustrado no quadro 1.

Como pode-se observar, apesar das diferenças organizacionais dessas diferentes

modalidades de cooperação federativa, em todas elas o princípio de ação é o mesmo: o da

união de esforços, que acaba por gerar novas formas de gestão territorial nos espaços locais.

No entanto, a discussão sobre a formação desses arranjos intermunicipais com o objetivo de

resolver, em conjunto, problemas associados a uma determinada região não é recente, como

aponta o quadro.

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Quadro 1: Distintas formas de cooperação intermunicipal no Brasil descritas na Constituição Federal de 1988 de acordo com Cruz, 2001 e 2002.

Formas de

cooperação/

Caracterização

Consórcio Intermunicipal -

Pacto

Consórcio Intermunicipal

– Sociedade Civil, sem fins

lucrativos

Câmara Intermunicipal Rede Agência Intermunicipal

Definição

Acordo firmado entre

municípios.

Acordo firmado entre

municípios

Acordo firmado entre o

poder público e entidades

da sociedade civil

Acordo resultante de

articulação entre poder

público e privado, sem a

criação de uma nova forma

jurídica.

Acordo firmado entre o poder

público e entidades da

sociedade civil

Formas

Pacto; Não é registrado em

cartório.

Sociedade civil sem fins

lucrativos; É registrado em

cartório.

Pacto; Não é registrado em

cartório.

Pacto; Não é registrado em

cartório.

Associação civil sem fins

lucrativos; é registrada em

cartório.

Características

Congrega apenas entes da

mesma esfera (municípios).

Congrega apenas entes da

mesma esfera (municípios).

Pode congregar as

diferentes esferas de

governo e entidades da

sociedade civil.

Pode aliar as diferentes

esferas de governo,

entidades da sociedade civil

e pessoas físicas.

Pode congregar as diferentes

esferas de governo e entidades

da sociedade civil.

Financiamento

Cada município disponibiliza

seus recursos (humanos,

materiais e financeiros),

conforme acordo entre as

partes.

Cota de contribuição de

cada município, essa cota é

definida em estatuto; podem

receber recursos dos

governos estaduais e

federal; podem receber

doações e receber

financiamentos.

Não há cota de

contribuição financeira dos

parceiros, cada participante

disponibiliza seus recursos

(humanos materiais e

financeiros).

Não há cota de contribuição

financeira dos parceiros,

cada participante

disponibiliza seus recursos

(humanos materiais e

financeiros).

A cota de contribuição de cada

membro é definida no estatuto,

pode haver cotas adicionais para

projetos específicos; podem

receber recursos dos governos

estaduais e federal; podem

receber doações e receber

financiamentos.

Prestação de

contas ao

Tribunal de

Contas do Estado

Cada prefeitura presta contas

diretamente ao Tribunal de

Contas do Estado

Sim Não Não Sim

Fonte: CRUZ, M. C. M. T. (2001, 2002).

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Nas décadas de 1960 e 1970, o enfoque centrou-se no desenvolvimento de regiões

metropolitanas e ou administrativas de governo, delimitadas pela esfera federal e ou estadual.

Assim, com a Constituição de 88, isso foi dissolvido com a ideia do processo de

descentralização, na direção da maior autonomia político-administrativa dos municípios,

como descrito acima. Aproveita-se para lembrar que a Lei Magna de 1988 foi formada numa

conjuntura de federalismo e descentralização, onde a gestão metropolitana não era prioridade,

consequentemente, este assunto não foi tratado na Constituição, incumbindo para as

Constituições Estaduais a responsabilidade de significados e atribuições. (AZEVEDO e

GUIA, 2000).

No entanto, como a esfera intermunicipal deixou de ser contemplada, e sem a

necessária provisão de instrumentos adequados, essas várias formas de cooperação acabou por

gerar dificuldades de gestão e de legislação. Assim, em 1998, através de uma Emenda

Constitucional, o assunto da gestão compartilhada do setor público foi reivindicado, alterou o

art. 241 da Constituição Federal de 1988, prevendo os consórcios públicos e a gestão

associada de serviços públicos no país. Segundo a Emenda Constitucional nº 19 de

04/06/1998 o artigo 241 da Constituição passa a ter a seguinte redação:

Art. 24. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disciplinarão por

meio de lei os consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes

federados, autorizando a gestão associada de serviços públicos, bem como a

transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à

continuidade dos serviços transferidos.

Essa Emenda trouxe como mudanças:

a) A exigência de que os consórcios públicos e os convênios de cooperação sejam

disciplinados por lei dos entes que cooperam entre si.

b) A distinção entre os convênios de cooperação e os consórcios públicos é que os

consórcios públicos possuem personalidade jurídica e os convênios, mesmo os de cooperação,

são mero pacto de colaboração.

c) O consórcio público foi reconhecido como instrumento de cooperação federativa

horizontal e vertical.

d) Tanto os consórcios públicos como os contratos de cooperação podem autorizar a

gestão associada de serviços públicos.

e) Reconhecida a possibilidade de que, na cooperação federativa, haja a transferência

total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens.

Embora haja esses avanços, foi somente em 2005, depois de um período grande de

discussões acerca do Projeto de Lei n.º 3.884/04, foi aprovada a Lei Federal n.º 11.107/05 que

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dispôs sobre as normas gerais de contratação de consórcios públicos. Cuja lei foi

regulamentada com o Decreto n.º 6.017 de 17 de janeiro de 2007.

Esse Decreto estabelece em seu artigo 2º que:

Para os fins deste Decreto, consideram-se:

I - consórcio público: pessoa jurídica formada exclusivamente por entes da

Federação, na forma da Lei no 11.107, de 2005, para estabelecer relações de

cooperação federativa, inclusive à realização de objetivos de interesse comum,

constituída como associação pública, com personalidade jurídica de direito público e

natureza autárquica, ou como pessoa jurídica de direito privado sem fins

econômicos.

Como se verifica, uma das inovações dessa nova legislação está no plano conceitual.

Não mais se admite a definição de que o consórcio seja um instrumento exclusivamente de

cooperação horizontal, composto por entes da mesma espécie. Percebe-se que podem figurar

num mesmo consórcio público, União, Estados e Municípios, entes de diferentes níveis de

governo, o que rechaça a definição anteriormente adotada sobre os consórcios

administrativos, que se baseavam, apenas, na horizontalidade do mecanismo.

Diante disso, uma nova definição começou a ser formulada pelos juristas. Mello

(2005), já informado pela Lei, afirma serem os consórcios “contratos realizados entre as

pessoas de Direito Público de capacidade política, isto é, entre União, Estados, Distrito

Federal e Municípios, em vista da realização de atividades públicas de interesse comum, e dos

quais resultará uma pessoa jurídica que os congregará” (MELLO, 2005, p. 625). Di Pietro

(2006) acompanha a citação anterior ao afirmar que os consórcios públicos são “associações

formadas por pessoas jurídicas políticas (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), com

personalidade de direito público ou de direito privado, criadas mediante autorização

legislativa, para a gestão associada de serviços públicos” (DI PIETRO, 2006, p.468).

Assim, o consórcio público é uma modalidade de associação entre entes federados,

horizontais e verticais, que compõem a administração indireta dos entes consorciados, com

vistas ao planejamento, à regulação e à execução de atividades de um modo geral ou de

serviços públicos de interesse comum de alguns ou de todos os consorciados.

Outra referência da legislação consorcial é o princípio da subsidiariedade, na qual

entes federados mais amplos não devem realizar aquilo que pode ser bem exercido e gerido

pelos entes federativos tidos como inferiores. Em outras palavras, não deve a União intervir

no que pode ser mais bem conduzida pelo estado, bem como, os estados não devem intervir

em ações melhor executadas pelos municípios.

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Contudo, sabe-se das limitações orçamentárias existentes entre os entes federados e de

suas grandes diferenças em sua capacidade de gestão, à vista disso, junto ao princípio da

subsidiariedade, necessita-se interligá-lo ao princípio da cooperação. Esse princípio, já

descrito anteriormente, salienta que o consórcio serve para a cooperação horizontal e/ou

vertical. Destarte, a intervenção direta dos entes centrais é considerada um último recurso, de

forma mais específica colaborar com o município pertence primeiro ao estado e, somente

insuficiente à atuação deste, é que poderá a União atuar.

Os consórcios intermunicipais de cooperação horizontal são aqueles em que todos os

entes consorciados têm o mesmo status constitucional – são todos municípios ou estados.

Historicamente, os consórcios intermunicipais surgiram como instrumentos de cooperação

intermunicipal, ou seja, como instrumentos de cooperação horizontal, o que não impedia o

estabelecimento de convênios e outras formas de cooperação com os governos estadual e

federal.

Já os consórcios intermunicipais de cooperação vertical, por sua vez, são os que

envolvem entes federados distintos: União, estados, Distrito Federal e municípios, com a

ressalva legal de que a União somente participará de consórcios públicos com municípios se

os estados em que se encontrem tais municípios também estiverem consorciados (Lei no

11.107/2005, art. 1o, par. 2

o).

A lei também consagra em seu texto duas alternativas de natureza jurídica para os

consórcios públicos. Conforme o artigo 1º, §1º, “o consórcio público constituirá associação

pública ou pessoa jurídica de direito privado”.

Na primeira forma de personalidade jurídica o consórcio pode assumir o papel de uma

associação pública, porém a lei não define este novo termo do direito brasileiro, o que gera

uma incerteza entre os estudiosos. No entanto, com baseando no Código Civil atribui-se

natureza autárquica aos consórcios, visto que em seu artigo 41: “São pessoas jurídicas de

direito público interno: IV – as autarquias, inclusive as associações públicas”. Confirma a

natureza autárquica da associação pública, explicitando que o consórcio público poderia ser

considerado até uma modalidade especial de autarquia, uma autarquia interfederativa, uma

autarquia integrante da administração indireta demais de um ente da federação. (COUTINHO,

2006).

A segunda configuração da personalidade jurídica que o consórcio público pode

assumir é a de uma pessoa jurídica de direito privado sem fins econômicos, como descritos no

Código Civil brasileiro, ou seja, assumindo essa personalidade o consórcio fica acolhido

mediante o atendimento dos requisitos da legislação civil. Outra consequência é que nesse

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caso o consórcio público observará as normas de direito público no que concerne à realização

de licitação, celebração de contratos, prestação de contas e admissão de pessoal, que será

regido pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT (COUTINHO, 2006).

Todavia, cabe destacar aqui que essas duas possibilidades de naturezas jurídicas ainda

não foram superadas, e nem melhor explicada, na prática muitas ações dos consórcios acabam

por esbarrar nelas. Oriunda dessas circunstâncias, a lei dos consórcios públicos estabelece a

existência de três modalidades diferentes dos consórcios: os consórcios administrativos; os

consórcios de direito privado; e os consórcios de direito público.

Os consórcios administrativos são os que se constituíram antes da lei dos consórcios

públicos. São os pactos de colaboração (sem personalidade jurídica), regidos pelo direito

privado. Estes continuaram a funcionar no seu regime jurídico atual, mas, como prevê

expressamente o decreto regulamentar da lei de consórcios, eles poderão ser convertidos para

consórcios públicos, isso é importante porque os consórcios administrativos não poderão

celebrar convênio com a União (art. 39 do Dec. 6.017/07).

A segunda modalidade são os consórcios públicos de direito privado, sendo pessoas

jurídicas instituídas por entes federativos, para a realização de objetivos de interesse comum,

todavia com personalidade do direito privado. Estes podem adotar a figura de uma associação

ou de uma fundação. Apesar de regidas pelo direito privado, são obrigados a obedecer aos

preceitos do direito público no que se refere à admissão de pessoal, contratações e execução

de suas receitas e despesas como: possuir orçamento estruturado em dotações, realizar

empenho e liquidação da despesa, prestar contas ao Tribunal de Contas.

Os consórcios de direito privado não poderão celebrar convênios com a União, bem

como, não podem exercer todas as competências que um consórcio público de direito público

porque, por se revestir do direito privado, está em posição de igualdade com os demais

particulares, pelo que não pode exercer sobre eles poderes de autoridade, por isso, não podem

tomar decisões que venham a atingir direitos de particulares.

Já os consórcios públicos de direito público são associações públicas como uma

autarquia, participantes da administração indireta pública brasileira. Têm por finalidade

realizar objetivos de interesse comum ou viabilizar que um ente venha a cooperar com outro

ente da Federação. O regime jurídico desses consórcios é o mesmo que o das autarquias e, por

isso, não apresenta grandes novidades. Desse modo, é recomendável que o formato jurídico

dos novos consórcios seja sempre o consórcio público de direito público.

Em resumo, a linha do tempo jurídica dos consórcios intermunicipais no Brasil:

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Quadro 2: Histórico da legislação acerca das cooperação pela modalidade dos consórcios

públicos, 1981 a 2007. Ano Características

1891 A cooperação municipal era através de contratos celebrados entre municípios que

dependiam de aprovação do estado.

1937 Reconhecimento de personalidade jurídica de direito público para as associações de

municípios.

1961 Criação do BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul, primeira

autarquia interfederativa brasileira.

1967

A Constituição desse ano trata os consórcios públicos como meros pactos de colaboração -

os chamados consórcios administrativos, cujo cumprimento dos contratos não é obrigatório

e estes não possuíam personalidade jurídica.

1988 Reestruturação do processo de redemocratização pública, através da cooperação federativa.

1998 A Emenda Constitucional nº 19, que alterou o art. 241 da CF de 1988, prevendo os

consórcios públicos e a gestão associada de serviços públicos.

2005 Aprovada a Lei Federal n.º 11.107/05 que dispôs sobre as normas gerais de contratação de

consórcios públicos para objetivos de interesses comuns.

2007 Regulamenta a Lei de 2005 com o Decreto n.º 6.017 de 17 de janeiro de 2007.

Fonte: Elaboração própria.

2.2.1 A Lei Consorcial e a natureza dos consórcios públicos

A nova legislação para os consórcios públicos no Brasil inovou na proposta de

possibilitar um leque de oportunidade de gestão compartilhada entre os entes federados. A

perspectiva é de que esses entes, especialmente os municípios, passem a se juntar mais em

consórcios para executar ações de interesse comum. A Lei Federal n.º 11.107/05 e o Decreto

Federal nº 6.017/07, que normatiza as competências e a constituição dos consórcios, têm

como objetivo maior o fortalecimento do federalismo cooperativo, estimulando as

articulações entre as três esferas de governo. Assim, nessa seção serão apresentados em linhas

gerais os pontos, os objetivos, finalidade e os constituintes da legislação.

Do objetivo e das finalidades

Desde a Emenda Constitucional de 1998 que alterou o art. 241 da CF88, o objeto dos

consórcios públicos é o de gerir associadamente os serviços públicos entre os entes

consorciados. No Decreto de 2007, art. 2, XIII, aponta que a prestação de serviço público em

regimento de gestão unificada caracteriza-se pela realização, através da cooperação

federativa, de atividades ou obra com o escopo de permitir aos usuários o acesso a um serviço

público com características e padrões de qualidade causados pela regulação ou contrato de

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programa, inclusive quando operada por transferência total ou parcial de encargos, serviços,

pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos.

Comumente, os objetivos dos consórcios públicos estão descrito no artigo 3 do

Decreto:

Art. 3º Observados os limites constitucionais e legais, os objetivos dos consórcios

públicos serão determinados pelos entes que se consorciarem, admitindo-se, entre

outros, os seguintes: I - a gestão associada de serviços públicos; II - a prestação de

serviços, inclusive de assistência técnica, a execução de obras e o fornecimento de

bens à administração direta ou indireta dos entes consorciados; III - o

compartilhamento ou o uso em comum de instrumentos e equipamentos, inclusive

de gestão, de manutenção, de informática, de pessoal técnico e de procedimentos de

licitação e de admissão de pessoal; IV - a produção de informações ou de estudos

técnicos; V - a instituição e o funcionamento de escolas de governo ou de

estabelecimentos congêneres; VI - a promoção do uso racional dos recursos naturais

e a proteção do meio-ambiente; VII - o exercício de funções no sistema de

gerenciamento de recursos hídricos que lhe tenham sido delegadas ou autorizadas;

VIII - o apoio e o fomento do intercâmbio de experiências e de informações entre os

entes consorciados; IX - a gestão e a proteção de patrimônio urbanístico,

paisagístico ou turístico comum; X - o planejamento, a gestão e a administração dos

serviços e recursos da previdência social dos servidores de qualquer dos entes da

Federação que integram o consórcio, vedado que os recursos arrecadados em um

ente federativo sejam utilizados no pagamento de benefícios de segurados de outro

ente, de forma a atender o disposto no art. 1o, inciso V, da Lei no 9.717, de 1998; XI

- o fornecimento de assistência técnica, extensão, treinamento, pesquisa e

desenvolvimento urbano, rural e agrário; XII - as ações e políticas de

desenvolvimento urbano, socioeconômico local e regional; e XIII - o exercício de

competências pertencentes aos entes da Federação nos termos de autorização ou

delegação.

Como finalidade, a Lei Federal n.º 11.107/05 aborda, de forma abrangente, que os

consórcios públicos tratam do atendimento aos objetivos de interesses comuns dos entes

consorciados. Segundo Coutinho (2006), baseado em estudos de Junqueira e Cruz (2002),

existem sete outras razões, como desdobramento dessa finalidade, para justificar a existências

dos consórcios públicos.

a) A articulação microrregional ou regional é uma delas, possibilitada por

mecanismos de planejamento e gestão na busca do desenvolvimento de sua área de atuação.

b) A prestação de serviços pela atuação integrada dos entes obtendo ganhos de escala

no provimento direto ou sub-contratação dos mesmos.

c) A diminuição dos custos operacionais, ampliando a oferta de serviços, pela

otimização dos recursos humanos e redução da ociosidade no uso de equipamentos e recursos

materiais.

d) A viabilização de investimentos maiores do que cada ente poderia disponibilizar

sozinho, diminuindo custos com a aquisição de bens, equipamentos e serviços.

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e) A formação e capacitação de um corpo técnico especializado na área de atuação do

consórcio.

f) A proposição de estratégias de cooperação inovadoras visando o desenvolvimento

da região.

g) A união em caráter suprapartidário viabilizando espaços de discussão dos temas de

interesse dos consorciados (JUNQUEIRA; CRUZ, 2002 apud COUTINHO, 2006).

Entretanto, cabe ressaltar que nem todos os consórcios possuem todos os objetivos e

finalidades, isso depende de qual foco o consórcio foi formado e qual o grau de complexidade

das ações desenvolvidas pelos mesmos.

Da constituição e funcionamento de um consórcio público

A fim de chegar à constituição do consórcio é preciso seguir alguns passos previstos

na legislação.

O protocolo de intenções: Trata-se do documento inicial do consórcio, sendo o

documento mais importante para a constituição da instituição, sendo muitas vezes necessários,

para a sua elaboração, profissionais técnicos com conhecimentos especializados. Após sua

elaboração deve ser assinado pelo representante do Poder Executivo de cada ente consorciado,

além de ser publicado, para conhecimento público, especialmente da sociedade civil de cada

um dos entes federativos que o subscreve.

Ratificação do protocolo de intenções: Essa etapa se efetua por meio de lei, na

qual o Poder Legislativo de cada membro consorciado aprova o protocolo de intenções nas

casas legislativas, com isso, têm-se o chamado Contrato de Constituição do Consórcio

Público. Cabe destacar um ponto importante é que caso previsto, o consórcio público pode ser

constituído, inicialmente, ainda que não conte com a assinatura de todos os entes participantes

da iniciativa, ou seja, se o protocolo de intenções foi assinado por seis municípios pode-se

prever que o consórcio entre em funcionamento com apenas a ratificação nas Câmaras

Legislativas Municipais de três municípios, esse fato é relevante ao permitir que o consórcio

entre em funcionamento não prejudicando qualquer ente integrante.

Estabelecimento do Estatuto e do Regimento Interno: Nessa terceira etapa será

convocada a assembleia geral do consórcio público, que verificará a ratificação do protocolo

por parte da cada consorciado, proclamando o consórcio como constituído, fundando a

instituição. Também será definido o Estatuto e Regimento e se realiza a primeira eleição para

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a composição da diretoria do consórcio. Com o Estatuto aprovado e registrado, o consórcio

solicitará a inscrição no CNPJ junto à Receita Federal.

Contrato de Rateio: É um instrumento administrativo, uma espécie de contrato

cuja finalidade é dar melhor operacionalidade ao consórcio público no que tange seu

financiamento, ou seja, nesse documento se define as responsabilidades econômicas de cada

ente consorciado.

Contrato de programa: Também considerado um instrumento administrativo

em que se destina a regular as obrigações que um ente consorciado assume com outro ente, ou

com o consórcio público no que tange a gestão associada da prestação de serviços públicos ou

a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal ou bens. Ele é estabelecido para

disciplinar a prestação dos serviços e bens fins dos consórcios públicos. De forma

esquematizada, pode-se apresentar a sequência de ações estabelecidas pela lei, para a

constituição e operacionalização de um consorcio público, assim:

Figura 3: Sequência de ações para formação de um consórcio público

Protocolo de intenções

Publicação

Aprovação nas Câmaras Legislativas Municipais

Elaboração do Estatuto, Regimento e Contratos

Operacionalização do consórcio

Fonte: Elaboração própria

A gestão financeira dos consórcios públicos, especialmente em relação às receitas da

constituição, pode ser oriunda de quatro fontes: receitas de contrato de rateio, no qual os entes

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participantes do consórcio poderão contribuir com parcela de suas receitas correntes;

arrecadar receitas advindas da gestão associada de serviços públicos; ser contratado pelos

consorciados; e destinar receitas de convênios com entes não consorciados.

Com a nova lei, os consórcios públicos estarão sujeitos às fiscalizações contábeis,

operacionais e patrimoniais pelos Tribunais de Contas, inclusive quanto à legalidade, à

legitimidade e à economicidade das despesas, dos atos, dos contratos e da renúncia de

receitas, sem prejuízo do controle externo a ser exercido em razão de cada um dos contratos

de rateio.

Outro ponto a ser destacado, são as normas para saída de um ente pertencente ao

consórcio, já que nenhum ente federativo pode ser obrigado a se consorciar ou a se manter

consorciado. Assim, para isso, como o consorciamento se efetivou por ratificação de lei, fica

necessária que a retirada seja respaldada por lei específica também. Cabendo observar que,

mesmo após a retirada, o ente federativo continua responsável com as obrigações que assumiu

no âmbito do consórcio.

Sobre a extinção de um consórcio público, a legislação institui em seu capítulo quinto,

artigo 29 que: “A alteração ou a extinção do contrato de consórcio público dependerá de

instrumento aprovado pela assembleia geral, ratificado mediante lei por todos os entes

consorciados”. Além de que: “Em caso de extinção: I - os bens, direitos, encargos e

obrigações decorrentes da gestão associada de serviços públicos custeados por tarifas ou outra

espécie de preço público serão atribuídos aos titulares dos respectivos serviços; II - até que

haja decisão que indique os responsáveis por cada obrigação, os entes consorciados

responderão solidariamente pelas obrigações remanescentes, garantidos o direito de regresso

em face dos entes beneficiados ou dos que deram causa à obrigação. Com a extinção, o

pessoal cedido ao consórcio público retornará aos seus órgãos de origem, e os empregados

públicos terão automaticamente rescindidos os seus contratos de trabalho com o consórcio”.

Os recursos humanos a serem utilizados pelo consorcio para seu funcionamento deve

seguir as normas estabelecidas na Consolidação das Leis trabalhistas – CLT, e isso

independente da personalidade jurídica adotada pela instituição. A admissão do pessoal para o

quadro de funcionários pode ser feita de quatro formas: concurso público para preenchimento

de emprego público; seleção pública para contratação por tempo determinado – REDA;

contratação para cargos de confiança; e cessão de servidores pelos entes consorciados.

Normalmente, os consórcios públicos têm uma estrutura organizacional formada por:

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Assembleia geral: órgão de deliberação máxima, composto pelos prefeitos de

todos os municípios consorciados, no qual as diretrizes político-administrativas são traçadas

por essa entidade.

Conselho fiscal: órgão fiscalizador e não obrigatório (por isso no organograma

da figura 4 consta com a linha tracejada) do consórcio deve acompanhar a gestão e fiscalizar

as finanças e a contabilidade do consórcio e é composto por representantes de cada município,

sendo indicados pelas respectivas câmaras municipais, pelos membros dos conselhos

municipais das áreas de atuação, ou, ainda, pelos executivos municipais.

Presidência: O consórcio possui um presidente e um vice-presidente, que são

escolhidos entre os seus pares, a presidência pode ser escolhida por eleição ou por um sistema

de rodízio, conforme for estabelecido no estatuto.

Secretaria Executiva: órgão com funções executivas dirigido por um secretário

executivo/coordenador/diretor nomeado pela Assembleia Geral, exerce a função de

administrador do consórcio público. Em casos em que a natureza do serviço é mais complexa

há, subordinadas à Secretaria Executiva, uma área técnica, administrativa, financeira dentre

outras. Além da possibilidade de uma consultoria jurídica.

Figura 4: Estrutura organizacional

Assembleia geral

Conselho fiscal

Presidente

Secretaria Executiva

Fonte: Elaboração própria

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2.3. Os consórcios públicos como prática de cooperação territorial no Brasil e a

atuação do governo federal

Como explanado na primeira seção desse capítulo os consórcios públicos são como

entidades que conjuntamente se formam, entre os entes federados e de forma colaborativa,

para realizar ações conjuntas, que individualmente, seria difícil de ser alcançadas. Acabam

sendo um pacto de colaboração, norteados judicialmente, pelo desejo de maximizar as ações

públicas de maneira cooperativa nos marcos do pacto territorial federativo.

Desta forma, Dieguez (2011) afirma que os consórcios são apreendidos como uma

relação contratual entre dois ou mais entes interescalares, podendo ser entendido como um

recurso institucional. Abrangendo esse conceito, como destacado no capítulo anterior, as

instituições acabam sendo mecanismos de decisão e ação objetivando o alcance de seus

propósitos (FONSECA, 2005). Corroborando com isso, os trabalhos de North (1990) apontam

que os papéis desempenhados pelos contextos, que no caso desse trabalho são os

condicionantes, aprontam por influenciar nas decisões políticas e econômicas do território.

O contexto regional ou nacional pode influenciar as decisões e ações dos consórcios,

pois sua formação altera o comportamento dos agentes territoriais envolvidos nessa

associação, tornando previsível e estável a relação entre eles. Assim, pode-se aferir, que os

consórcios públicos são vistos como um território institucionalizado, balizado pela

cooperação dos entes federados, juntos num pacto estabelecido para objetivar a realização de

ações coletivas, com o intuito de resolver questões que são comuns dos seus consorciados,

visto que o território desempenha um campo de ação com a possibilidade de organizar

resoluções estratégicas e institucionais. Cruz (2002) assenta que sobre o formato de

associação ou pacto, os consórcios viabilizam o planejamento local e regional, permitindo

ganhos de escala, racionalizando todos os recursos, auxiliando na coordenação de planos,

avaliações e controle.

Cunha (2004) detalha em três aspectos dos consórcios públicos, eles: 1) são entidades

que, destituídas de poder político e de base tributária própria, restringem-se às competências

delegadas pelos entes federados que o constituíram; 2) são instrumentos para a gestão

territorial cooperativa e de coordenação federativa multiescalar focados no planejamento,

regulação e fiscalização dos serviços públicos; 3) são agentes do desenvolvimento regional

que, amplificando a efetividade das políticas públicas e dos recursos, facilitam a ação

cooperada e ampliam a sua racionalidade executiva em diversas áreas.

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Assim, o consórcio público constitui essencialmente um novo instrumento de gestão

territorial intergovernamental possibilitando uma maior articulação das iniciativas e políticas

públicas entre os níveis de governo. Diante dele, fica à disposição dos entes federados, um

recurso institucional que possibilita uma nova prática de cooperação intergovernamental no

território, ou seja, esse recurso promove um arranjo político-territorial ao espaço, além de

fortalecer a transação entre os níveis de governo na busca por investimentos em seus

territórios, aumentando o poder de barganha entre eles, já que pode-se alcançar resultados

maiores quando se concretiza uma reivindicação coletiva.

Sendo assim, a sua cooperação procura condições para articular, negociar e controlar

as relações de poder territorializadas, que se manifestam na apropriação e definição desse

território, pois essa estrutura cooperativa define novos limites territoriais para a elaboração de

ações coletivas. Como aponta Rodrigues (2013) o “território da cooperação”, aquele espaço

que se torna o próprio referencial das relações intermunicipais.

Em outras palavras, os limites territoriais da cooperação são reconhecidos e

compartilhados pelo conjunto de parceiros, o que lhes possibilita identificar

problemas comuns e meios de intervenção. Em última análise, “é o território que

ordena a cooperação” (JOUVE apud RODRIGUES, 2013, p. 90).

Ponderando o caso de que os municípios são entes autônomos dentro do pacto

federativo e que se baseia, por definição, num acordo de base territorial no qual grupos sociais

localizados em diferentes partes de um território nacional organizam-se em busca da

harmonização entre suas demandas particulares e os interesses gerais da sociedade, apreende-

se que este pacto controverte a acomodação de diferenças, sendo um ambiente de constante

tensão, incumbindo a essas instituições ajustarem os interesses e controlarem os conflitos.

Caracterizando uma figura política institucional que, preservando a diversidade, tem como

desígnio a árdua tarefa de unificar e conciliar objetivos, muitas vezes opostos (CASTRO,

2005).

A legislação consorcial prevê para o Brasil formas de associação entre os entes

federados. Segundo a lei, considera-se como área de atuação do consórcio público,

independentemente de figurar a União como consorciada, a que corresponde à soma dos

territórios: a) dos municípios, quando o consórcio público for constituído somente por

municípios ou por um estado e municípios com territórios nele contidos; b) dos estados ou

dos estados e do Distrito Federal, quando o consórcio público for, respectivamente constituído

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por mais de um estado ou por um ou mais estados e o Distrito Federal, ou; c) dos municípios e

do Distrito Federal, quando o consórcio for constituído pelo Distrito Federal e os municípios.

Logo, como descrito anteriormente, os consórcios intermunicipais são na forma de

cooperação horizontal, onde normalmente, a iniciativa parte dos próprios municípios através

da identificação de um problema comum e da construção de um sistema de gestão

compartilhada entre eles que permita uma relação harmônica entre os atores envolvidos, assim

como, entre estados e estados com as mesmas prerrogativas dos intermunicipais.

As possibilidades de relações territoriais previstas na Lei nº 11.107/2005 permitiram

efetivamente a flexibilização das atividades consorciadas e o tratamento de questões em

múltiplas escalas pelos consórcios. A lei também não estabelece a obrigatoriedade de esses

territórios serem contíguos, muito embora seja mais lógico e bastante desejável que eles sejam

próximos entre si o suficiente para favorecer as condições do planejamento físico-territorial e

das ações regionais.

Portanto, existe a possibilidade de existirem associações entre municípios não

caracterizados pela vizinhança, bem como a autonomia dos municípios frente aos estados para

promover a integração regional. Outro aspecto interessante refere-se à impossibilidade de

municípios se agregarem a estados que não estejam em seus territórios, essa apreensão denota

o cuidado a fim de que um estado não intervenha no plano territorial de outro estado, o que

poderia gerar conflitos de competência federativa (VARGAS, 2012).

No Brasil, existe relato de consórcios públicos há muito tempo, como descrito acima,

mas a Lei de 2005 tornou essa forma de cooperação mais popular. Nas Pesquisas de

Informações Básicas Municipais realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) sobre o Perfil dos Municípios Brasileiros – Gestão Pública (MUNIC), no ano de 2005

o Brasil possuía 5.564 municípios, e destes, 4388 faziam parte de algum tipo de

consorciamento intermunicipal, já em 2012 o número dessas cooperações(5631) superou a

quantidade de municípios brasileiros, que são 5.565.

No entanto, cabe destacar que a conceituação sobre os consórcios se transformou ao

longo do tempo, nessa perspectiva do IBG, desde a primeira pesquisa em 2001, passando por

diferentes categorias e classificações, e com Lei 11.107/2005, o IBGE buscou adequar os

exercícios políticos dos entes à nova legislação dos consórcios públicos.

Assim, na pesquisa de 2005, a cooperação entre os municípios recebeu o título de

“articulações interinstitucionais entre os entes federativos”, já dividindo os consórcios entre

consórcios públicos intermunicipais, com a União e com os estados, além das outras formas

de parceria, como convênios de parceria com o setor privado, e apoio do setor privado e de

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comunidades. No entanto, mesmo com a adequação do IBGE à Lei Federal de 2005, apenas

com o Decreto de 2007, é que concretamente essa forma de associativismo passou a vigorar

de forma regulamentada. Logo, a pesquisa de 2012, traz dados sobre os consórcios públicos,

contando com a mesma metodologia de 2005.

Apreende-se, dessas pesquisas, que houve um aumento considerável na quantidade de

municípios que declararam fazer parte de algum tipo de consorciamento no Brasil. Uma das

possibilidades para isso foi à regulamentação da Lei, como dito acima, e da maior divulgação

dos benefícios para os municípios em se juntaram para resolver suas demandas e de induções

e incentivos do governo federal aos mesmos.

Baseado nisso Ravanelli (2010) salienta que essas induções pode acontecer, na maioria

das vezes pelo viés financeiro, quando a União reduz os limites de contrapartidas para os

municípios consorciados, abre editais específicos para consórcios, linhas de créditos

exclusivas, amplia os valores referenciais para as licitações com essa entidade, dentre outros.

Dito isso, a Secretária de Relações Institucional vem trabalhando no território brasileiro com a

fomentação dos consórcios públicos como unidade de gestão para as políticas públicas no

Brasil.

O IBGE disponibiliza um mapeamento entre a frequência do consorciamento e a sua

localização no território brasileiro (figura 5) nos dois momentos de observação, 2005 e 2009,

mesmo com a escala pouco precisa é um dos mapas mais esclarecedores sobre a evolução dos

consórcios públicos no país, o que possibilita fazer algumas considerações sobre esse arranjo

institucionais.

Nota-se nesses mapas que os municípios pertencentes às regiões Sudeste e Sul, desde

antes da aprovação da legislação, já possuíam uma maior popularização dos consórcios, ou

seja, um maior número de municípios participa. No entanto, é preciso ressaltar que os estados

de Minas Gerais e do Paraná apresentam maiores densidades de consórcios intermunicipais do

território brasileiro, o que pode ser explicado pelas consistentes políticas de incentivos

oriundas também dos seus governos estaduais. Outro ponto a ser salientado pela análise do

mapa é que predomina um único consorciamento por município, ou seja, eles fazem parte de

apenas um consórcio.

Entretanto, na análise do mapa de 2009 percebe-se que as regiões Norte e Centro-oeste

concentra boa quantidade de municípios que se consorciam várias vezes, podendo ser visto

como um ganho da nova legislação e fomentação. Pois o fato de um município se consorciar a

outros, formando novos consórcios demonstra que esse novo instrumento de cooperação vem

ganhando credibilidade no país.

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Figura 5: Mapeamento dos consórcios intermunicipais no Brasil nos anos de 2005 e 2009.

A fim de melhor ilustrar essa situação a tabela 1 traz o total de municípios no Brasil

engajados em consórcios públicos intermunicipais, segundo as áreas de atuação levantadas na

pesquisa, nos anos de 2005 e 2012, com a intenção de fazer uma análise comparativa.

Tabela 1: Evolução do número de municípios consorciados por área nos anos de 2005 e

2012

Área de atuação /

Municípios - Ano

Número de municípios

consorciados - 2005

Número de municípios

consorciados - 2012

Educação 248 280

Habitação 106 241

Meio ambiente 387 704

Saúde 1906 2288

Assistência e desenvolvimento

social 222 232

Emprego/Trabalho 114 143

Turismo 351 456

Cultura 161 248

Transporte 295 211

Desenvolvimento urbano 255 402

Saneamento e/ou manejo de

resíduos sólidos 343 426

TOTAL 4388 5631

Fonte: IBGE, 2006 - 2013.

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No ano de 2005, o Brasil possuía 5.564 municípios, e destes, 81,5% eram articulados

de forma consorcial, já em 2012 o número de formas de cooperação superou a quantidade de

municípios brasileiros, que são 5.565, levando em consideração a metodologia utilizada pelo

MUNIC, ou seja, considerando o fato de que o prefeito classifica a forma de articulação

intermunicipal como consórcio público.

Apreende-se também que a nítida expansão de formas de cooperação no setor da

saúde, e sua evolução no decorrer do tempo, principalmente como resultado da atuação

histórica dos profissionais e políticos ligados ao setor e que utilizaram os consórcios como

mecanismo de articulação intermunicipal na atenção à saúde da população, especialmente

depois da implantação do Sistema Único de Saúde (SUS). Em todas as outras áreas houve um

aumento considerável na quantidade de consórcios públicos, destacando-se a área de meio-

ambiente, que, de fato, entrou na agenda política brasileira.

Entretanto, segundo pesquisa de Abruccio, Sano e Sydow (2011) é preciso fazer

algumas observações com relação a essa dimensão dessas articulações intermunicipais, visto

que grande parte destes é fragilizada em relação a sua operacionalidade, não possuindo uma

densidade institucional que efetivamente possa conceber um algum ganho para o território em

que estão implantados. Além do fato de que nessas pesquisas os municípios fazem parte de

mais de um tipo ou modalidade de arranjo intermunicipal, como: Regiões Integradas de

Desenvolvimento – RIDE, consórcios administrativos, agências intergovernamentais,

consórcios públicos dentre outros. Assim, não tem como saber com exatidão a quantidade de

consórcios públicos existentes no país, pois como salientado acima, os prefeitos classificam

seus municípios como consórcio públicos podendo estes fazer parte de outra modalidade de

arranjo cooperativo institucional.

Em relação aos incentivos de formação dos consórcios pelo governo federal uma das

áreas que recebeu maior indução foi a dos resíduos sólidos, no qual a aplicação dos recursos

prioriza essas instituições. Sendo necessário destacar que a maioria dos municípios brasileiros

apresenta situação delicada em relação aos modelos tradicionalmente adotados para o manejo

dos resíduos sólidos, expondo uma insuficiência técnica e administrativa que é agravada pela

frequente insustentabilidade financeira dos sistemas implantados.

De acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos

Sólidos – SINIR essa fomentação é uma alternativa de resolução da questão.

“É uma forma de induzir a formação de consórcios públicos que congreguem

diversos municípios para planejar, regular, fiscalizar e prestar os serviços de acordo

com tecnologias adequadas a cada realidade, com um quadro permanente de

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técnicos capacitados, potencializando os investimentos realizados, e

profissionalizando a gestão.” (SINIR, 2014).

Assim, esse incentivo faz com que os municípios que optarem por esse viés do

consorciamento sejam dispensados da elaboração dos seus Planos Municipais de Gestão

Integrada de Resíduos Sólidos, ficando a cargo da entidade, além de permitir a maximizar dos

recursos humanos, da infraestrutura e dos ganhos financeiros para os entes envolvidos.

De acordo com a SRI um dos ministérios que mais repassa recursos para consórcios

públicos é Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) através dos

programas de desenvolvimento local, segurança alimentar, desenvolvimento sustentável,

convívio com o semiárido e geração de trabalho e renda.

A fim de fortalecer os consórcios públicos intermunicipais foi criada a Confederação

Nacional dos Consórcios Intermunicipais do Brasil – CONACI/BR, em 2012. De acordo com

o atual presidente “os consórcios têm um importante papel na solução de problemas regionais.

O município sozinho às vezes não dá conta de resolver, mas, através da articulação em grupo,

as barreiras podem ser transpostas com mais facilidades. Esse papel é estratégico, pois os

consórcios são ferramentas importantes e podem contribuir com a eficácia das políticas

públicas”. (CIS/AMUNESC, 2012)

Assim, diante dessa nova conjuntura percebe-se o sucesso dos consórcios públicos,

não pode ser visto com de forma imediata, pois não basta que se satisfaça apenas com a

parceria para que essa instituição tenha êxito (DIEGUEZ, 2011), é necessário levar em

consideração outros fatores, dentre eles, a relação do federalismo brasileiro e da

descentralização utilizada para nutrir essas entidades, a forma como os condicionantes

estratégicos influenciam o papel desempenhado por um consórcio, e uma das perspectivas

desse trabalho: o conteúdo do território e como ele desempenha um peso importante à gestão

territorial, o que será analisado a partir dos próximos capítulos.

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3. CONDICIONANTES À FORMAÇÃO DOS CONSÓRCIOS PÚBLICOS

Sendo parte do modelo de análise elaborado para a realização desse estudo, o exame

dos condicionantes refere-se a um dos grandes blocos de apreciação. Ele é constituído pelas

dimensões políticas, institucionais e territoriais que norteiam o federalismo brasileiro, a

descentralização dos arranjos institucionais e a formação e desenvolvimento dos consórcios

públicos no estado da Bahia. Os condicionantes, concebidos como ações multiescalares, são

aqui analisados a partir da escala regional.

3.1. Origens e concepções do federalismo

É muito complexo estabelecer uma única definição em relação ao termo federalismo,

mas sabe-se que ele diz respeito a uma ideia de „união‟, de articulação na forma de

organização do Estado. De certa forma, um „pacto‟ no qual coexistem diferentes esferas

territoriais dotadas de autonomia, sendo que, nessas unidades territoriais díspares, existe a

vontade de continuarem juntas. Esse pacto de base territorial consiste na organização de

grupos localizados em busca da harmonização entre suas demandas particulares e os

interesses gerais.

De acordo com Sanguin (1981), o federalismo é um tipo de organização ideal para

países de grande extensão territorial e/ou com disparidades internas, visto que essa forma de

organização estatal busca harmonizar os conflitos existentes, pois abrange toda relação de

divergência e similaridades no espaço.

Atualmente, 28 países que abrigam mais de 40% da população do mundo, se

consideram federativos (ANDERSON, 2009). No entanto, esse regime político-administrativo

e territorial surgiu em diferentes circunstâncias, condicionadas pela influência de sua

formação histórica, de sua composição social, institucional e territorial, além da forma de

adoção dessa organização em cada nação. Assim, a natureza das federações é muito

complexa.

De maneira sucinta a literatura sobre o federalismo é consensual em estabelecer que

esse regime surgiu no século XVIII como resultado das antigas colônias inglesas que, ao

conquistarem independência, uniram-se com o intuito de se fortalecerem num pacto que

garantisse a autonomia territorial e a forma de como aquela sociedade se organizaria política e

constitucionalmente.

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Sobre a formação de um regime federado, Fiori (2005) distingue três estratégias de

origem: (1) O formado na base horizontal, ou seja, de baixo para cima, considerado mais

democrático e republicano, como os Estados Unidos, que o autor denomina de federalismo

progressivo ou construtivo; (2) Os adotados como forma de defesa ou perversa, a fim de

preservar a unidade de uma sociedade diversificada e complexa; e (3) O federalismo adotado

a partir do contexto político vigente num dado momento da história, o que o autor aponta

como federalismo pragmático ou reativo, baseado na acomodação de conflitos e nos jogos de

interesses e de barganhas políticas nas unidades territoriais federadas, como no Brasil.

Outro ponto a ser destacado é o que se refere ao sistema de governo próprio de cada

federação, seja parlamentarismo, presidencialismo e mistos, sendo que estes estão

estreitamente ligados ao papel dos poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e à

configuração da divisão territorial e representativa do país. Entretanto, apesar das diferenças

que existem entre as federações mundiais, há dois fortes traços comuns para distingui-las das

demais formas de organização do Estado: as unidades constitutivas territoriais sejam

províncias, municípios, estados, distritos, nação, que são dotadas de certo grau de autonomia

em relação às outras, ou seja, há, no mínimo, dois polos de poder; e uma Constituição escrita

com o intuito de nortear essas unidades territoriais e manter o regime federativo.

A estrutura de Estados federados é uma contraposição ao modelo do Estado unitário,

na qual toda autoridade emana do governo central, do qual origina toda a soberania e

legitimidade do poder político, e o poder dos entes subnacionais deriva da ação voluntária da

esfera nacional, que delega funções e certos graus de autoridade. Entretanto, existem

variações na forma pela qual essa organização territorial se estrutura, sobretudo, devido aos

efeitos da nova era descentralizadora mundial.

Já os Estados federais são formados por uma divisão territorial do poder, onde

convivem a soberania do poder central, a autonomia dos governos subnacionais e a necessária

interdependência e unidade que decorrem do pacto constitucional. No entanto, cabe salientar

que não existe um modelo único de organização federativa, como já destacado anteriormente,

pois a forma de repartição de atribuições e recursos, a autonomia concedida a cada esfera de

governo e o grau de institucionalização das relações intergovernamentais têm variado

historicamente em cada país e na própria evolução do desenho institucional de cada um deles

(ALMEIDA, 1995); além do fato de que, em algumas federações, o governo central exerce

um papel visivelmente dominante, podendo até mesmo atuar coercitivamente nas relações

com as unidades subnacionais, cumprindo um papel mais centralizador. Em outras federações,

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os governos centrais se equilibram mais paritariamente com os governos subnacionais,

desempenhando um papel mais descentralizador.

O mesmo pode acontecer em um dado país federado em diversas fases de seu regime,

o que Fiori (2005) aponta como o pêndulo de Pareto, uma oscilação recorrente em períodos de

centralização política do poder, sucedidos por fases de descentralização políticas de poder e

vice-versa. Dito isso, apreende-se que esse pacto federativo constitui um processo dinâmico

que rege e articula as relações nas unidades territoriais e políticas diferentes que decidem por

um desenvolvimento conjunto respeitando as diversidades entre si.

De acordo com Castro (2005, p.164), o pacto federativo é “um formato político

institucional que tem como objetivo a difícil tarefa de preservar a diversidade, unificando e

conciliando objetivos, muitas vezes opostos.” Os grupos localizados em diferentes partes do

território organizam-se em busca da harmonização entre suas demandas particulares e os

interesses gerais da sociedade que eles desejam construir.

Corroborando com isso, Abruccio (2001; 2006) salienta que o entendimento do

federalismo passa pela apreciação de sua natureza, de seu significado e de sua dinâmica, na

qual é preciso prover de uma situação caracterizada por duas condições: a existência da

heterogeneidade e de práticas defensoras da unidade dentro da diversidade. Essa

heterogeneidade é o que compõe determinada nação, seja ela linguística, étnica,

socioeconômica regional/ local, cultural, política e mesmo a extensão ou diversidade física do

seu território; e o que ele determina como “condição federalista”, que é a defesa de uma

unidade apesar da diversidade, com a convivência entre autonomia, especificidades regionais/

locais e integridade territorial numa nação marcada por heterogeneidades.

Essas duas naturezas são os grandes desafios das federações, como pontua Castro

(2005), quando destaca o papel do fundamento territorial do Estado e as formas de

territorialidades existentes na sociedade, apontando que o espaço é uma dimensão inescapável

às análises e aos interesses e conflitos existentes num país federado, sendo um dos

fundamentos à existência do Estado, como já destacado em capítulos anteriores.

Como o federalismo é um modo institucional de acomodação dos interesses sociais e

territoriais, marcado intrinsecamente pela diversidade na unidade, ele estabelece demandas

diferenciadas e complexas. Com base nisso, o pacto federativo constitui um arranjo

institucional para definir limites e competências das escalas territoriais de cada esfera do

poder decisório. Apesar das relações dos entes federados possuírem características comuns e

ocorrerem habitualmente, na federação as suas negociações nem sempre são harmoniosas, o

que indica que a interdependência não deve resultar da eliminação do pluralismo do modelo.

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Como salienta Fiori (1995, p. 24), “o federalismo é uma forma de organização

territorial do poder dos Estados nacionais que supõe necessária e positiva uma permanente

tensão e desarmonia entre as partes”, sendo preciso preservar, simultaneamente, a unidade de

objetivos de um povo e a diversidade espacial de seus interesses, no qual é necessário um

constante processo de mediação e negociação permanente para conformar arranjos territoriais

e institucionais entre os entes federados. Dito isso, Fiori (2005) acrescenta que o desafio do

federalismo está na construção de poderes locais eficientes e legítimos, que possam através de

vínculos fortes ao Estado central assumir responsabilidades sistêmicas para preservar a

unidade federativa.

Logo, para apreender sobre federalismo é necessário entender as formas pelas quais os

governos se relacionam para equilibrar interdependência e autonomia, para conferir situações

decorrentes da tensão e dos conflitos entre o local/regional e o nacional, entre unidade e

diversidade, entre competição e cooperação, a fim de contextualizá-lo como condicionantes a

esse trabalho.

Na discussão sobre o federalismo, está engendrada a dualidade de cooperação e

competitividade, implícita também na noção de unidade e diversidade. A ideia de cooperação

e competitividade na federação envolve uma perspectiva complexa de negociações, acordos e

conflitos entre os governos dos entes federados. “Mais do que um simples cabo de guerra, as

relações intergovernamentais requerem uma complexa mistura de competição, cooperação e

acomodação” (PIERSON, 1995, p. 458 apud ABRUCIO, 2006, p. 94).

O modelo competitivo tem como pilar a concorrência como forma de controle na

distribuição do poder, pois para esse modelo a concorrência possibilitaria o controle mútuo

entre os níveis de governo, evitando concentrações de atitudes autoritárias. Bem como

assegura que essa competição melhore a eficiência na administração pública e na ampliação

da responsabilidade do Estado aos interesses e demandas da população, pois acabam por

deixar mais transparentes as competências de cada ente federado.

Já na abordagem cooperativa, o cerne é buscar o compartilhamento das ações entre os

entes, aperfeiçoá-las através de ações políticas redistributivas, estimulando a integração e a

parceria federativa. Adequando os aspectos jurídicos e as barreiras constitucionais através da

capacidade de articulação de influência, negociações e acordos entre os entes federados,

principalmente a aplicação de programas e financiamentos em conjunto de forma cooperada.

Não há dúvida de que, no federalismo cooperativo, os níveis governamentais perdem

uma parte de sua autonomia originária. No entanto, esta autonomia perdida não é confiscada

pelo governo federal, porque, na realidade, as matérias de competência exclusiva ou privativa

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de competência do ente federal também são afetadas. Ela é apenas restringida com a intenção

de formação de uma força maior, a da coletividade. “O federalismo cooperativo não exclui os

conflitos de competência, as concorrências ou as duplicações de atividades entre os entes da

federação, mas tenta reduzir o alcance destes problemas através de acordos políticos

negociados” (CAFFARATE, 2002, p.4).

Assim, vale destacar que a noção de competitividade aliada à cooperação é básica ao

pensamento federalista. Como afirma Abrucio (2006), o federalismo é intrinsecamente

conflitivo e sua sabedoria está em sua ilimitada competência de harmonizar a competição e o

conflito em torno da diversidade que tem relevância política dentro de um Estado. Logo, a

competição não anula a cooperação, pois as relações intergovernamentais, na verdade,

envolvem, inevitavelmente, uma combinação de ambos os processos. De acordo com

Arretche (2010), esse processo de discordância acaba por criar novos mecanismos

institucionais que favorecem a diversidade das políticas, sendo positivo ao país federado.

Nessa perspectiva que envolve o equilíbrio entre a competição e a cooperação, uma

vez que a presença de um não significa a ausência do outro, deve-se prevalecer o respeito

mútuo entre os entes e o papel da barganha nas relações entre os níveis de governo. Desta

forma, o federalismo consiste em um complexo arranjo político no qual há a existência de

mais de um poder sobre o mesmo território, o que resulta na necessidade de constante

negociação, a fim de evitar o conflito e a supremacia entre os poderes.

No cenário brasileiro, de acordo com Castro (2005), o processo de construção da

federação foi adotado como organismo de descentralização do poder imperial em três esferas

político administrativas: federal, estadual e municipal, prevalecendo: (a) o papel das elites

locais que eram diversos; (b) o centralismo político da União; (c) a extensão territorial; (d) o

mandonismo local; e (e) as desigualdades regionais e locais internas. Diante dessa conjuntura

a cerca da formação do regime federativo no Brasil, Oliveira (2005, p.1) o classifica como

uma “ideia fora do lugar”.

3.1.1. A estrutura federativa brasileira

Desde o período colonial, o Brasil concentrava seu poder em um governo

centralizador, seja na Bahia, seja no Rio de Janeiro. Com a Independência, em 1822, sob a

forma de monarquia, o Brasil adotou o sistema unitário de Estado, baseado no que cerne à

extensão do território e à diversidade cultural; o país era divido em províncias e o poder era

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exercido quase que absolutamente pelo imperador. Com a proclamação da República, as

antigas províncias, por decreto, se transformaram em estados autônomos, para assim ter

liberdade de se associarem ao novo Estado federado, uma vez que esses espaços eram os de

dominação do poder oligárquico.

Nessa fase, chamada por alguns teóricos como federação oligárquica, houve uma

divisão rígida nas competências entre os entes federativos, no qual praticamente não existia a

cooperação entre União e estados federados. De acordo com Oliveira (2005), a federação

resumia-se à totalidade dos estados e, coincidentemente, esses espaços eram os de dominação

da oligarquia, o poder da elite no período. À União competia apenas auxiliar os estados

somente em casos de considerada calamidade pública. Logo, nessa conjuntura, o modelo

federado era centrífugo, onde os estados tinham ampla autonomia e o governo federal era

bastante fraco.

Com a Revolução de 30, o poder central fortaleceu-se e, particularmente no Estado

Novo, os governos estaduais perderam a autonomia. A União teve um papel central no

planejamento e financiamento da atividade econômica do país e a centralização da

arrecadação tributária permitiu ao Estado desenvolvimentista destinar volumes de receita para

compensar desigualdades territoriais. Nessa conjuntura, ganharam visibilidade os debates

sobre a ampliação da autonomia municipal à solução de problemas locais, mas esta sempre

acompanhada da supervisão federal das políticas implementadas pelos governos territoriais. O

comando federal dos governos territoriais também foi justificado pelo julgamento de que a

política local era domínio da corrupção e do clientelismo. (ARRETCHE, 2010;

RODRIGUES, 2006; ABRUCIO, 2006; LEAL, 1976).

Essa atitude prevaleceu e, após o golpe de 64, o governo federal concentrou ainda

mais fortemente os recursos, os procedimentos de arrecadação e a forma de como eles seriam

aplicados. De acordo com Abrucio e Franzese (2007), nesse período, foi montado um modelo

que pode ser chamado de “unionista autoritário” da federação brasileira, pois, além de

centralizar os recursos no governo federal, aumentava sobremaneira o seu controle

administrativo, sendo que a autonomia política local era reduzida com a introdução de

eleições indiretas a governador e prefeito das capitais. O Congresso Nacional também

enfraqueceu devido a sua capacidade de alterar o orçamento nacional, decaindo o poder dos

líderes regionais no plano nacional.

No entanto, isso gerou à União uma constante relação de barganha com as elites

estaduais a fim de manter o poder. Outra ação importante a ser pontuada neste trabalho é que

o regime militar garantiu receitas aos estados e aos municípios através do Fundo de

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Participação dos Estados – FPE e do Fundo de Participação dos Municípios – FPM, oriundas

da arrecadação dos principais impostos de competência do governo central: Imposto sobre

Produtos Industrializados e o Imposto de Renda, sendo que a criação desses fundos foi mais

um dos mecanismos de intervenção do Governo Federal sobre as instâncias subnacionais, com

a intenção de compensar as desigualdades sociais e territoriais e manter o controle decisório

centralizado. Assim, a ditadura militar manteve a centralização do poder nas mãos da União,

paralisando a autonomia dos estados e municípios.

Esse panorama mudou com o processo de redemocratização do país, a partir da década

de 1980, visto que esse período foi marcado por uma forte oposição política frente à

centralização e autoridade exercida pelo regime militar sobre a população e a federação

brasileira. Assim, nos últimos anos, a estrutura do Estado brasileiro foi consubstanciando,

tanto do ponto de vista das relações intergovernamentais como da relação entre o poder

público e a sociedade.

Essa nova fase do federalismo que nasceu no Brasil nesse período resultou da união de

forças descentralizadoras com grupos regionais tradicionais, que se aproveitaram do

enfraquecimento do governo federal num contexto de esgotamento do modelo de estado que

teve sua origem na Era Vargas até o governo militar. O projeto básico desses atores políticos

era fortalecer os governos subnacionais e, para alguns deles, democratizar o local, porém, as

questões relativas à coordenação federativa e instrumentos de atuação nacional nesse

momento ficaram em segundo plano. (ABRUCCIO; SOARES, 2001).

Em 1988, foi promulgada uma Constituição que garantiu a autonomia política dos

estados e municípios, resguardando-os das intervenções federais, além de estabilizar um

federalismo de cunho mais cooperativo entre as instâncias. Entretanto, esse processo não foi

acompanhado de mecanismos eficazes de coordenação e relações intergovernamentais. Houve

também uma nova repartição das receitas e competências entre os entes federados, o que

acarretou numa descentralização das políticas e ações públicas e uma maior complexidade nas

relações federativas.

Mesmo com esses avanços, a Constituição de 1988 conservou certas características

das constituições anteriores:

(a) a tendência à constitucionalização de muitas questões, mantida nas emendas

constitucionais aprovadas posteriormente; (b) o fortalecimento dos governos locais

vis-à-vis os estados; (c) a tendência à adoção de regras uniformes para as esferas

subnacionais, em especial as instâncias estaduais, dificultando a adoção de políticas

próximas de suas prioridades; e (d) a impossibilidade de avançar em políticas voltadas

para a diminuição dos desequilíbrios regionais, apesar da existência de mecanismos

constitucionais que ou não foram operacionalizados ou são insuficientes para uma

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efetiva política de equalização fiscal. (SOUZA, 2005, p.110)

É fato que a nova legislação proporcionou uma evolução significativa do Estado

brasileiro, mas ainda por vícios e pela falta de planejamento nas novas coordenações

federativas, o país ainda busca avançar em mudanças profundas e nas suas entranhas, visando

equalizar a repartição de recursos e a dificuldades enfrentadas pelos governos subnacionais na

provisão das políticas territoriais.

A questão que predomina na atual conjuntura é que o processo na estrutura federativa

constitucional, após 88, é a combinação de federalismo, descentralização e participação

social. Sendo um desafio esse compartilhamento de autonomia, descentralização e a

diminuição das profundas desigualdades territoriais e sociais, além das alternâncias entre os

momentos de centralização e de descentralização política e administrativa.

Cabe ressaltar que, em alguns momentos, mesmo nos considerados como

descentralização, a União concentrou recursos e poder de decisão, intervindo nos

espaços de ação dos Estados e Municípios. Tal intervencionismo nos leva a refletir

sobre a relevância dessa escala de decisão política no processo de constituição do

próprio Estado. Os isolacionismos inter-regionais e as disparidades socioculturais

constituíram um obstáculo para uma identidade comum. Assim, coube ao Governo

Federal à tarefa de articular os antagonismos e ordenar o território, em um esforço

de construção dos referenciais nacionais (RODRIGUES, 2006, p. 52).

Contudo, na pequena descrição dessas fases, apreende-se que a federação brasileira

teve dificuldades para atender aos princípios dessa nova forma de organização territorial do

poder desde o seu princípio. O federalismo brasileiro teve diferentes desenhos constitucionais,

com competências e graus de autonomia diferenciados e, ao mesmo tempo, conviveu com

oscilações de regimes mais ou menos centralizados.

Castro (2005) credita as alternâncias do desenho federativo brasileiro às várias

questões inerentes ao fundamento territorial do Estado, como a descrita anteriormente, a

soberania da nação e a territorialidade da sociedade, visto que o federalismo tem por objetivo

acomodar as tensões decorrentes da necessidade de união das diferenças para formar a

unidade. Salientando que essa acomodação segue a lógica da distribuição territorial equitativa,

voltada para a questão da justiça social do território.

3.2. O processo da descentralização e os arranjos institucionais num Estado federado

A descentralização política e administrativa tornou-se foco principal com a

Constituição Federal de 88 e caracterizou como um resultado em reforço da federação. Para

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alguns, ela significa democratização do poder político com a maior participação social nos

processos inseridos na federação. Para outros, ela resulta na diminuição do tamanho e da

abrangência do aparelho do Estado e a possível diminuição dos déficits destes. Já alguns

abordam essa temática com a expectativa de que a descentralização melhore a administração

pública devido à proximidade do poder decisório ao povo. O fato é que a descentralização é

uma estratégia política, de racionalidade técnica e administrativa, assim como uma estratégia

de democratização social.

Abrucio (2006) define a descentralização como um processo claramente político que

resulta da transferência ou conquista efetiva de poder central a governos subnacionais. A

transferência de poder nas esferas subnacionais pode ocorrer em quatro dimensões, segundo o

autor: (1) a política – quando adquirem autonomia para escolher governantes e legisladores;

(2) a administrativa – quando passam a comandar diretamente sua administração; (3) a

jurídica – para elaborar legislação referente às competências que lhes cabem; e (4) a tributária

– para cuidar de sua estrutura tributária e financeira. Acrescenta-se a esse pensamento a

dimensão territorial – quando a conjuntura tempo e espaço direcionam os processos gestores e

regulam a forma de como os objetos se organizam no território.

Arretche (2010) salienta que a descentralização é um processo de reordenamento

político e administrativo de vários tipos, tais como: a redistribuição de competências no

interior de uma política específica; a afirmação de um grau de autonomia orçamentária e

decisória dos governos subnacionais, principalmente, os municípios; e a transferência de

atribuições dentro dos governos. De forma substancial, para Tobar (1991), os processos

descentralizatórios estabelecem a transferência de autoridade no planejamento e na tomada de

decisão do poder decisório nacional aos níveis subnacionais.

Apreende-se com essas explanações que a descentralização possui diferentes usos,

tanto de seus conceitos, quanto da sua aplicabilidade. Entretanto, é unânime afirmar que ele

veio em resposta ao centralismo autoritário do poder e que a mesma possui características

comuns, como: o fortalecimento da esfera local; o caráter político da formação e a busca pela

eficiência administrativa das ações; o papel central dos autores sociais envolvidos no

processo; e os condicionantes territoriais que compõem esse espaço.

A difusão da descentralização e da federalização deu-se por fatores como: a expansão

do fenômeno da globalização na fase da mundialização do capital; o enfraquecimento do

poder regulatório dos Estados nacionais, que, sozinhos, não conseguem coordenar um país,

devido à crises fiscais e aos instrumentos de intervenção; a emergência dos espaços

econômicos regionais/locais que se conectam diretamente com a economia internacionalizada,

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fora do controle dos Estados-nação; a nova ascensão do ideário liberal, responsável pela

redução do papel do Estado na economia – aliada à crença de que, com a descentralização,

aumentaria a eficiência do setor público como prestador de serviços à população; e a

expansão do plano nacional gerando demandas por democracia nos planos subnacionais.

(AFFONSO, 1995; ABRUCCIO, 2006).

Esse último ponto foi um dos fatores que influenciaram a redemocratização brasileira

e a ideia, quase indissociável por muitos, da descentralização. Pois, no Brasil, inicialmente,

descentralização virou sinônimo de democracia e de desenvolvimento. Não que a sua

aplicabilidade não tenha rebatimento nessas duas dimensões, mas descentralização é um

processo de alocação de poder e de responsabilidade, e só ocasionará esses rebatimentos a

depender da forma em que ela seja adotada e das condições sociais, econômicas e políticas

existentes em determinado espaço e tempo.

Dito isso, uma das grandes consequências da descentralização estabelecida na

Constituição Federal de 88 foi a distribuição de recursos fiscais aos estados e, especialmente,

aos municípios. No entanto, para isso, não houve um planejamento e uma coordenação de

competências e funções a esses entes. Assim, os estados e municípios passaram a conviver

com atribuições e responsabilidades contrários à sua capacidade de governo, ou melhor, eles

não possuem estrutura suficiente para gerir os escassos recursos e melhorar a vida dos seus

cidadãos.

No entanto, o aumento dos recursos transferidos para os governos subnacionais não foi

acompanhado por uma clara redistribuição de funções, de modo que o governo federal

continuou responsável, após a Constituição Federal de 1988, pela prestação da maior parte

dos serviços públicos. Além disso, há, na legislação, as competências comuns entre as esferas

governamentais, em que muitas das atribuições não são exclusivas de cada ente. A partir

disso, cria-se um “jogo de empurra” entre as instâncias governamentais, quando os entes

federativos não assumem as obrigações impostas constitucionalmente e atribuem às outras

esferas o desenvolvimento de determinadas ações, sendo bastante perversos para o conjunto

das políticas públicas.

Corroborando com isso, Arretche (2000) considera que essa descentralização fiscal

não foi suficiente para aplicar os recursos na implementação de políticas públicas que

deixaram de ser realizadas diretamente pelo Governo Federal. Ainda segundo a autora, para

que assumam a responsabilidade sobre a prestação de políticas sociais, as escalas

subnacionais precisam ser incentivadas, sendo:

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“...esta decisão resultado de um cálculo no qual a natureza da política, o legado das

políticas prévias, as regras constitucionais e a existência de uma estratégia

eficientemente desenhada e implementa da por parte de um nível de governo são

componentes decisivos”(ARRETCHE, 2000, p.53).

Desta forma, muita das vezes a União acaba sendo tutora do processo de

descentralização frente aos entes subnacionais. Seja pela forma de manter o controle, ou

porque ela não tem competência para assumir tudo e/ou pela incapacidade institucional e

tributária dos outros entes – visto que a grande parte das transferências é tutelada – o governo

central acaba motivando esse tipo de ação. O que resulta não em uma descentralização do

poder, apenas em uma descentralização administrativa ou uma desconcentração, ou seja,

ações em que há a delegação de competências e recursos, mas o processo decisório continua

concentrado nas mãos da União.

No entanto, para Tobar (1991) esse processo de desconcentração pode ser um projeto

pedagógico, não num sentindo de antagonizar as duas categorias, mas na intenção de criar

condições para facilitar a descentralização. Segundo o autor, “a desconcentração seria, então,

uma condição necessária, embora não suficiente, para atingir os níveis desejados de

descentralização nas tomadas de decisões”. (TOBAR, 1991, p. 5)

Nesse sentido, a partir desse processo não estruturado do federalismo brasileiro,

conflitos acabam surgindo entre os níveis de governo, sendo destacados três. O primeiro é a

disputa verticalizada entre os entes, que tem dois vieses: a natureza defensiva da União, como

descrita nos parágrafos anteriores; e o caráter predatório da ação por recursos das esferas

estaduais e municipais. O segundo conflito é a horizontalidade das disputas, fazendo com o

que as diferenças não se limitem às esferas de governo, mas aconteça dentro das próprias

esferas, o que tem gerado as guerras fiscais, os ressentimentos regionais historicamente

constituídos que permanecem latentes e a dificuldade de manter vínculos cooperativos entre

eles. O terceiro é a generalização do conflito, que deixa de se ater a disputas fiscais e acabam

alcançando outras dimensões, seja dentro do aparelho estatal, nos sistemas de prestação de

serviços, nos sistemas de representação política, ou seja, acaba por dimensionar os demais

conflitos de natureza política, institucional, territorial e social, extrapolando todos os níveis de

governo (SILVA; COSTA, 1995).

Assim, o grande desafio é a equidade, a justa distribuição territorial de poder e de

recursos entre as instâncias de governo, a fim de garantir que todas as esferas tenham

independência e autonomias sem comprometer o caráter universal da nação. Para isso, um dos

caminhos apontados é a construção de uma descentralização cooperada, na qual coexistam

graus diversos de intervenção federal, autonomia nas decisões, capacidade de financiamento e

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gasto por parte das unidades subnacionais e ações conjuntas entre esferas de governo, como

pode ser visto nos consórcios públicos.

A cooperação nessa conjuntura está totalmente associada ao grau de autonomia de

cada ente, ou seja, a capacidade de autogestão territorial garantida pela Constituição, além da

existência da descentralização. Logo, a autonomia e a cooperação acabam sendo peças

fundamentais para o êxito de qualquer arranjo federado num país como o Brasil, pois através

delas podem-se criar mecanismos coordenados de equidade estrutural entre as partes,

mantendo a coesão interna da federação.

Sendo que essa descentralização cooperada seja não somente ter competências e

funções próprias e decisórias, mas também participar do processo de elaboração, decisão e

execução de programas, normas mais gerais que, mais tarde, condicionarão a sua atuação,

podendo reduzir as disparidade a quase nada (BORJA, 1984). Pois, se não for dessa forma, as

instâncias envolvidas podem acordar a descentralização num aspecto e, ao mesmo tempo, a

centralização em outro.

Entretanto, cabe considerar que a descentralização é um processo e não uma solução.

A depender dos acordos e de cada estratégia descentralizadora, o conflito será posto de uma

determinada maneira, porém, como já salientado, esse conflitos e o problema das disparidades

são inerentes aos sistemas federativos. Logo, descentralizar é a construção de um processo,

estando intrinsecamente interligado ao sistema político adotado pelo governo central.

Assim, todas essas relações existentes no federalismo brasileiro e a questão da

descentralização e de como os entes federados se articulam servem de contexto para a

realidade dos consórcios públicos no país, uma vez que esse processo de cooperação

federativo foi fortificado com a Emenda Constitucional de 1998, e aprimorado com a Lei

11.107 de 2005, como descrito no capítulo 2.

Nesse mesmo trabalho, está apontada a fomentação do governo federal à criação

dessas entidades. Essa motivação deu-se através da Secretária de Relações Institucionais –

SRI com a intenção de disponibilizar instrumentos adequados de articulação de políticas

públicas de responsabilidade compartilhada, de forma a possibilitar um planejamento de

médio e longo prazo para a gestão intergovernamental; atender a demanda proveniente das

entidades municipalistas; e suprir a fragilidade jurídica dos arranjos legais e institucionais

existentes de cooperação intergovernamental (RAVELLI, 2010).

Na busca de descentralizar as políticas públicas, a União criou incentivos aos

consorciamentos, como: a ampliação dos valores referenciais para as modalidades de

licitação, que são considerados em dobro ou em triplo para os consórcios públicos, a depender

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do número de entes consorciados – Art. 17 da Lei 11.107, de 2005; a possibilidade de redução

dos limites mínimos da contrapartida exigida pela Lei de Responsabilidade Fiscal para as

transferências voluntárias da União, quando os recursos forem destinados a consórcios

públicos ou à execução de ações desenvolvidas por esses consórcios; e a abertura de crédito

diretamente para os consórcios públicos no financiamento de obras e serviços estruturantes do

território do consórcio (RAVELLI, 2010).

Além disso, a SRI criou cartilhas informativas sobre esse arranjo cooperativo,

descrevendo sua importância, a implicação e aplicabilidade dessa instituição, além do passo a

passo para a construção de um consórcio público. E a partir disso, a Secretária realizou cursos

e palestras nos estados brasileiros, no sentido de divulgar essa nova forma de cooperação e

fomentar a sua criação. Assim, em 2007, a SRI realizou o primeiro encontro com o governo

da Bahia e suas secretarias, a fim de estimular esse instrumento de cooperação federativa no

estado.

3.3. O cenário político territorial baiano

O estado da Bahia tem uma população de 14 milhões de habitantes, numa área

territorial de 564 mil km², desmembrado em 417 municípios, sendo que 80% deles possuem

menos de 30 mil habitantes. A taxa de urbanização do estado é de 72,7% sendo o estado

brasileiro com maior população rural do país com 4 milhões de habitantes nesse espaço

geográfico. (IBGE, 2010).

O estado abriga 26 Regiões de Planejamento e Gestão das Águas (RPGA) nas suas 17

bacias hidrográficas. O clima tropical predomina em toda a Bahia, apresentando distinções

apenas quanto aos índices de precipitação em cada uma das diferentes regiões. Possui três

tipos de vegetação: caatinga, floresta tropical úmida e cerrado. Na faixa litorânea, encontra-se

clima ameno e floresta tropical úmida, sendo as áreas remanescentes de Mata Atlântica. No

semiárido, na região central, a temperatura é quente e a vegetação predominante é a caatinga,

enquanto no oeste o clima é seco e a vegetação é típica do cerrado. (SEMA, 2014).

Possui o sexto produto interno bruto – PIB do país, com R$ 154.340 bilhões de reais,

corresponde a 4,1% da riqueza nacional, sendo a oitava maior economia do Brasil. (SEI,

2012). No entanto, de acordo com a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da

Bahia – SEI esse PIB está concentrado em alguns municípios baianos, como ilustrado na

figura 6, e a maioria deles aos extremos no território baiano. Isso gera um quadro em que a

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renda é mal distribuída, refletindo-se no Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, de 0,66

em 2010, o sexto menor do Brasil. Sendo que 37,45% de todo o PIB do estado está

concentrado na Região Metropolitana de Salvador – RMS.

Figura 6. Mapa de concentração do PIB no estado da Bahia, 2012.

Nos municípios em destaque, estão as atividades industriais e agroindustriais do

estado. No entanto, o que mais fica evidente é a quantidade de municípios na parte central que

desenvolve poucas atividades de agregação de renda, levando-se a considerar que essa grande

região sofre com a precariedade técnica, administrativa e financeira dos recursos, essa região

corresponde ao semiárido, como ilustra a figura 7, disponibilizada pela SEI. Cerca de 70 % do

território baiano fica nessa área, com a vegetação caatinga.

Fonte: SEI

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Figura 7. Região semiárida do estado da Bahia, 2014.

Comparando a figura 6 com a figura 7, apreende-se que poucos municípios da área

central da Bahia possui um PIB significativo, e estes são oriundos das cidades com

industrialização e/ou polos de distribuição e logísticas como Feira de Santana, Vitória da

Conquista, como também ao norte, região que corresponde ao polo de fruticultura da cidade

de Juazeiro, na Bahia e de Petrolina, em Pernambuco. Já os outros municípios com destaque

no PIB se concentram no oeste da Bahia, correspondente ao Cerrado, e a leste, a Mata

Atlântica ou Zona Costeira.

No caso da Bahia, a maioria dos municípios localizados nos limites da fronteira do

estado apresenta características mais próximas a de estados vizinhos, assumindo,

inclusive, o perfil econômico daqueles estados. Um corredor extenso no centro do

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estado da Bahia agrega parte da população, e em geral a mais pobre, especialmente

agravada, em função do seu ecossistema que condiciona uma estrutura produtiva

predominantemente primária e de subsistência. De modo geral, existem focos ou

núcleos regionais da economia estadual orientados para os setores de serviço e

indústria, mas, de certa, forma pouco expressiva quando comparados aos estados

mais dinâmicos da federação. (CAMPOS, 2012)

Diante disso, com a intenção de superar as desigualdades territoriais, fortalecer a

coesão social e promover o potencial de desenvolvimento dos territórios, o governo baiano

criou uma regionalização chamada de Territórios de Identidades resultado de um projeto de

planejamento primordialmente agrário.

A regionalização do território baiano foi instituída no ano de 2007, no âmbito do Plano

Plurianual – PPA, de 2008-2011, definindo a adoção desse recorte espacial como unidade de

planejamento, trazendo ainda a perspectiva territorial da descentralização e da participação

(FLORES, 2014).

Essa divisão é oriunda dos Territórios Rurais estabelecida no Brasil, a partir de 2003,

com o intuito de nortear as políticas públicas para o setor agrícola, especialmente aos ligados

à agricultura familiar. Depois disso, o país adotou outra classificação – Territórios da

Cidadania, em 2008, tendo como objetivo primordial a superação da pobreza e a geração de

emprego e renda por meio de estratégias sustentáveis.

Entretanto, no estado baiano, os Territórios Rurais que se desdobraram em Territórios

da Cidadania perpassaram pela consolidação dos Territórios de Identidades. De acordo com a

pesquisa realizada por Flores (2014), ainda existe uma lacuna acerca desse processo.

Essas respostas são vagas, (os membros do governo) não explicam a materialidade

do movimento ou como foram as consultas. Ainda permanece nebuloso entender

como se estabeleceu um recorte territorial com base no sentimento de pertencimento

da população sem que nenhum dos entrevistados soubesse dizer quais foram os

critérios adotados, que elementos, dentro do conceito (será conceito?) de Território

Rural (ou de Identidade) foram considerados no sentido de “distinguir um ou mais

elementos que indicam identidade e coesão social, cultural e territorial” do interior

do espaço baiano? (FLORES, 2014, p. 36).

Outro ponto a ser salientado, além dessa Identidade, é o termo Território utilizado pelo

governo, que vem sendo usado sem levar em consideração o seu significado e conceito. Pois

como ressalta Souza (2013) o que define primeiro um território é a dimensão das relações

sociais de poder no espaço. Assim, sem a participação dos agentes constituintes do espaço o

Território não é o território geográfico, ele não foi visto como um processo, uma construção a

partir das relações existentes, apenas foi utilizado o termo para delimitar e instituir uma área

específica.

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Em entrevista a Monteiro e Serpa (2011), o diretor de planejamento territorial da

Secretaria de Planejamento do estado da Bahia – SEPLAN, no período, Benito Juncal afirma:

Nós resolvemos adotar essa divisão pelo seguinte: divisões existem várias, qualquer

divisão é válida e qualquer divisão é contestada. Não existe a divisão territorial

perfeita, depende do foco que você tenha. Então nós adotamos porque era um

movimento do governo federal e são os critérios de levar em conta essa parte

ambiental, econômica, política, cultural etc. na composição, então era uma divisão

mais sustentável, para você conseguir apoio e as pessoas se identificarem, terem a

noção de território no seu dia a dia. (MONTEIRO e SERPA, 2011, p. 155)

.

Sendo assim, essa regionalização, baseada na cultura do modo de vida segundo os

membros do governo, foi o diferencial da metodologia de territorialização do estado da Bahia,

mesmo que esse processo identitário ainda seja questionado por muitos e não aceita/conhecida

por parte população. O fato é que as institucionalizações criadas e implantadas pelo governo

federal foram incorporadas com as singularidades a uma política de institucionalização do

governo estadual baiano.

Nessa institucionalização, os 417 municípios baianos foram divididos em 26 TIs.

Entretanto, desde a sua adoção até os dias atuais, muitos processos de mudanças foram

realizados, alguns municípios passaram para outro território e, consequentemente, um novo

Território foi formado e, assim, atualmente, o estado da Bahia é divido em 27 TIs cuja

disposição pode ser vislumbrada na figura 8.

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81

Figura 8. Territórios de Identidade do estado da Bahia, 2011.

O atual conceito de TI está descrito no Art. 1º, § 1º, do Decreto 12354/10, que

considera Território de Identidade o agrupamento identitário municipal formado de acordo

com critérios sociais, culturais, econômicos e geográficos, e reconhecido pela sua população

como o espaço historicamente construído ao qual pertence, com identidade que amplia as

possibilidades de coesão social e territorial. (BAHIA, Decreto 12.354, 2010).

Segundo a SEPLAN, os TIs assimilam princípios básicos da democratização das

políticas públicas, como a descentralização das decisões, a regionalização das ações e a co-

responsabilidade na aplicação de recursos, e na execução e avaliação de projetos. E, a fim de

coordenar essa nova instância, cada Território1

conta com um Colegiado Territorial –

CODETER, um espaço institucional de planejamento, gestão e controle social de políticas

públicas, articulando e fomentando programas e projetos que visam a promoção do

desenvolvimento sustentável, como a instituição de Fonseca (2005, p. 23), “uma criação

1A expressão Território está em maiúscula por se tratar do Território institucionalizado pelo governo, levando

em consideração a análise acima sobre o uso termo.

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82

humana com objetivos de dar formas às interações sociais”, através de processos ascendentes

de planejamento e controle social. (SEPLAN, 2014).

Um CODETER tem como objetivos: sensibilizar, comprometer, articular e coordenar

os atores sociais do território; articular, apoiar e acompanhar os arranjos institucionais que, no

âmbito do território, se responsabilizarão pela elaboração, implantação e operação dos

projetos específicos; estimular e apoiar a criação, estruturação e operacionalização de redes

territoriais de prestação de serviços; contribuir para a integração territorial, articulação

intermunicipal, buscando estabelecer relações horizontais de cooperação e oportunidades;

desenvolver e apoiar programas, projetos, ações e iniciativas voltadas para o desenvolvimento

territorial; fomentar a criação e o fortalecimento de redes sociais de cooperação no território;

articular-se com outros colegiados, fóruns, redes, universidades e outros organismos nacionais

e internacionais com o propósito de construir relações de cooperação, dentre outros

(SEPLAN, 2014).

Cada colegiado tem autonomia em relação à paridade da sua composição, sendo

exclusivamente composto por representantes dos poderes públicos, dos segmentos e das

entidades sociais dos municípios que compõem o Território. Essa composição culmina na

realização de uma ampla plenária, que deve consolidar as ações que irão compor os

colegiados. Além dessa entidade, todos os TIs contam com um articulador territorial, um

membro governamental, que tem o papel de apoiar os processos de elaboração e gestão de

cada Território de Identidade e manter a relação com as secretarias do estado, visando

potencializar esforços em torno de objetivos integradores.

No entanto, muitas dessas instâncias de gestão representativas não contam com o

poder e infraestrutura para realizar ações de impacto nos Territórios, ficando apenas no

caráter consultivo e na formação das demandas. Visto que muitas não criam personalidade

jurídica para poder executar projetos, outras não possuem um capital social tão atuante para

fomentar demandas coletivas e outras não têm uma participação constante dos representantes

do poder público o que acaba travando os projetos.

Em pesquisa realizada por Serpa et al., desenvolvida em 2011, sobre a participação

dos CODETER no PPA do estado da Bahia, foi demostrado que essa regionalização não

descentralizou tanto assim os recursos investidos, ou seja, ela acabou contrariando uma das

máximas da política territorial estadual: a descentralização da ação do estado em direção

àquelas unidades territoriais menos favorecidas em regionalizações e políticas públicas

anteriores, pois o PPA apresentou ações muito amplas e concentradas nas regiões maiores do

estado. (SERPA; BORGES; ARAUJO; MONTEIRO, 2011).

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83

Assim, como forma de buscar novos critérios de descentralização das ações, o governo

do estado, juntamente com a SRI, fomentou a criação de consórcios públicos na Bahia, a

partir do ano de 2009, buscando, sobretudo, uma aproximação desses incentivos nos TIs. Ou

seja, as bases territoriais dos consórcios seriam os Territórios de Identidades do estado, visto

que essa institucionalização já conta com um suporte de cooperação entre os entes envolvidos.

Na avaliação do secretário do Planejamento, no período, as vantagens da implantação

dos consórcios públicos são a ampliação da eficácia das políticas públicas, a redução dos

custos e a otimização dos investimentos. “A implantação dos consórcios vai constituir

caminhos de gestão não só no campo municipal, mas também no campo regional. Ela

representa uma melhora do processo de gestão, estabelece parâmetros de sustentabilidade,

amplia o horizonte dos serviços e viabiliza o que é inexequível para um pequeno município”

(SEDUR, 2009).

3.3.1 Os consórcios públicos no estado da Bahia

A pesquisa realizada por Abrucio e Sano (2013) aponta alguns fatores para o

consorciamento municipal, dentre eles, há quatro que influenciaram esse processo nos estados

da federação brasileira:

(1) A existência de uma identidade regional prévia que abarque um conjunto de

municípios, tornando-se um catalisador político e social que favorece a atuação

conjugada. Como a regionalização pelos Territórios de Identidades.

(2) O apoio e até a indução do governo estadual e/ou federal é outro instrumento que pode

incentivar a criação e manutenção de consórcios, e reduzir rivalidades e incertezas que

possam existir entre os prefeitos.

(3) A lógica das políticas públicas pode impulsionar formas de consorciamento,

especialmente quando as regras do sistema e/ou seus mecanismos de indução

financeira apontam nesse sentido, como tem acontecido com a política de gestão

ambiental, na qual a Secretaria do Meio Ambiente determinou que o governo estadual

repasse recursos a municípios que atuarem sob regime de consórcio público.

(4) Pactos políticos, ad hoc, entre prefeitos e governadores podem favorecer o

associativismo intermunicipal quando estão em jogo questões que favoreçam, pelo

menos conjunturalmente, a ambos.

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84

Diante desses fatores e de toda conjuntura já descrita nas seções anteriores, o governo

da Bahia motivou a formação de consórcios públicos nos TIs, via os Colegiados Territoriais.

No estado existiam poucos casos de consórcios intermunicipais que atuavam na área de

infraestrutura e de desenvolvimento regional. Entretanto, com essa mobilização

governamental, esse novo arranjo federado ganhou mais forma no estado.

Inicialmente, a mobilização baseou-se na apresentação, dentro dos Colegiados

Territoriais, do mecanismo dos consórcios públicos, com a intenção de difundir e mobilizar os

possíveis envolvidos. Essa ação deu-se através de palestras e capacitações aos gestores

municipais e aos membros dos CEDETER em cada Território; com a distribuição de cartilhas

e CDs nas secretarias estaduais e em eventos cujos temas tenham relação com

desenvolvimento territorial; encaminhamento desse material para as prefeituras; visitas aos

municípios; reunião com as Secretarias estaduais para apresentar possibilidades e vantagens

de políticas públicas direcionadas aos consórcios públicos (Informação coletada através de

entrevista com técnico da SEPLAN e membro do GT, realizada em junho de 2014).

Em 2009, foi formado um Grupo de Trabalho – GT composto de técnicos da SEPLAN

(Secretaria do Planejamento do Estado da Bahia) e SEDUR (Secretaria de Desenvolvimento

Urbano), denominado GT SEDUR-SEPLAN, com o intuito de apoiar essa mobilização, sendo

esse GT regulamentado em 2010, como descrito no anexo 1. Sendo atribuído a esse GT: I.

elaborar a Política Estadual de incentivo à formação de consórcios públicos; II. prestar

apoio/assessoramento aos municípios interessados em constituírem consórcios públicos; III.

propor projetos e ações a integrarem a política estadual de incentivo à formação de consórcios

públicos; IV. realizar a mobilização e capacitação de gestores municipais e divulgação da

política de consórcios públicos (Portaria Conjunta 14, set 2010).

Com toda essa mobilização, os consórcios na Bahia, que eram apenas oito, passaram a

vinte e nove, registrados até o ano de 2014, tendo um em formação no TI do Litoral Norte e

Agreste Baiano. O quadro 3 reúne informações dos consórcios existentes no estado – os

municípios aos quais pertencem, seu ano de criação e se contou (ou não) com o apoio do

governo do estado pelo GT SEDUR – SEPLAN.

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Quadro 3. Consórcios existentes na Bahia com os municípios consorciados, a data de criação

e o apoio governamental, 2014.

Número Consórcio Municípios Ano de

criação Observação

1

CDSVJ - Consórcio de

Desenvolvimento

Sustentável do Vale do

Jequiriça

Amargosa, Brejões, Cravolândia, Elísio

Medrado, Iaçu, Irajuba, Itaquara, Itatim, Itiruçu,

Jaguaquara, Jiquiriçá, Lafayete Coutinho, Laje,

Lajedo do Tabocal, Maracás, Milagres,

Mutuípe, Nova Itarana, Planaltino, Santa Inês,

Santa Teresinha, São Miguel das Matas, Ubaíra.

1993

Com a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

2

CIVARP – Consórcio

Intermunicipal Vale do

Rio Pardo

Itambé, Cândido Sales, Encruzilhada, Ribeirão

do Largo. 2005

Sem a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

3

CIRB - Consórcio

Intermunicipal do

Recôncavo Baiano

Vera Cruz, Itaparica, Salinas da Margarida,

Nazaré, Aratuípe, Jaguaripe, Muniz Ferreira,

Santo Antonio de Jesus, Dom Macedo Costa,

São Miguel das Matas, São Felipe, São Félix,

Conceição do Almeida, Cruz das Almas,

Governador Mangabeira, Castro Alves,

Saubara, Cachoeira, Santo Amaro, Sapeaçu,

Santa Terezinha, São Sebastião do Passé,

Muritiba, Amargosa, Cabaceiras do Paraguaçu,

Varzedo, São Francisco do Conde, Maragojipe.

2005

Sem a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

4

CICC - Consórcio

Intermunicipal Costa dos

Coqueiros

Lauro de Freitas, Camaçari, Mata de São João,

Entre Rios, Esplanada, Conde, Jandaira, Rio

Real, Cardeal da Silva, Pojuca, Dias D'Ávila,

São Sebastião do Passe.

2007

Sem a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

5

CIAPRA - Consórcio

Intermunicipal da APA

do Pratigi

Ibirapitanga; Igrapiúna; Ituberá; Nilo Peçanha e

Piraí do norte. 2008

Sem a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

6

CONSTESF- Consórcio

de Desenvolvimento

Sustentável do Território

do Sertão do São

Francisco

Sobradinho, Casa Nova, Curaçá, Juazeiro, Pilão

Arcado, Remanso, Sento-Sé, Uauá. 2009

Com a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

7

Consórcio Público

Intermunicipal de

Infraestrutura do

Extremo Sul da Bahia

Ibirapuã, Itanhém, Lajedão, Medeiros, Neto,

Vereda. 2009

Sem a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

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86

(continua)

Número Consórcio Municípios Ano de

criação Observação

8

CISS - Consórcio

Intermunicipal de Saúde

do Sudoeste da Bahia

Barra do Choça, Boa Nova, Bom Jesus da Serra,

Caetanos, Manoel Vitorino, Mirante, Nova

Canaã, , Planalto, Poções.

2009

Sem a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

9

CDS DE IRECÊ -

Consórcio Público de

Desenvolvimento

Sustentável do Território

de Irecê

Irecê, Uibai, Lapão, Central, Ibititá, Presidente

Dutra, Gentio do Ouro, São Gabriel, Jussara,

America Dourada, João Dourado, Itaguaçu da

Bahia, Xique-Xique, Brotas de Macaúbas,

Barro Alto, Barra do Mendes, Cafarnaum,

Ibipeba e Ipupiara.

2010

Com a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

10

CDS PORTAL DO

SERTÃO - Consórcio de

Desenvolvimento

Sustentável do Território

Portal do Sertão

Água Fria, Anguera, Amélia Rodrigues,

Antônio Cardoso, Conceição da Feira,

Conceição do Jacuípe, Coração de Maria, Irará,

Ipecaetá, Santanópolis, Santa Bárbara, Santo

Estêvão, Teodoro Sampaio, Tanquinho.

2010

Com a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

11

CONSISAL - Consórcio

Público de

Desenvolvimento

Sustentável do Território

do Sisal

Cansanção, Itiúba, Monte Santo, Nordestina,

Queimadas, Serrinha e Teofilândia. 2010

Com a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

12

CDSTSB - Consórcio de

Desenvolvimento

Sustentável do Território

Piemonte Norte do

Itapicuru

Senhor do Bonfim, Pindobaçu, Andorinha,

Antônio Gonçalves, Ponto Novo, Filadélfia,

Jaguarari, Campo Formoso, Caldeirão Grande.

2011

Com a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

13

CDS SERTÃO BAIANO

- Consórcio de

Desenvolvimento

Sustentável do Território

do Sertão Baiano

Abaré, Adustina, Banzaê, Chorrochó,Cipó,

Coronel João Sá, Fátima, Glória, Jeremoabo,

Macururé, Paripiranga, Ribeira do Amparo,

Ribeira do Pombal, Rodelas, Santa Brígida,

Sítio do Quinto.

2011

Com a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

14

Consórcio Público dos

Municípios do Portal da

Chapada Diamantina e

adjacência - COPCHAD

América Dourada, Boa Vista do Tupim, Bonito,

Caem, Cafarnaum, Ibiquera, Itaberaba,

Lajedinho, Macajuba, Morro do Chapéu,

Mulungu do Morro, Mundo Novo, Nova

Redenção, Piritiba, Ruy Barbosa, Tapiramutá,

Utinga, Wagner.

2011

Sem a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

15

Consórcio de

Desenvolvimento

Sustentável do Território

da Diamantina

Caém, Capim Grosso, Jacobina, Miguel

Calmon, Mirangaba, Ourolândia, Saúde,

Umburanas, Várzea Nova.

2011

Com a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

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87

(continua)

Número Consórcio Municípios Ano de

criação Observação

16

CDS BACIA DO

JACUÍPE - Consórcio de

Desenvolvimento

Sustentável do Território

da Bacia do Jacuípe

Baixa Grande, Capela do Alto Alegre, Gavião,

Ipirá, Macajuba, Mairí, Nova Fátima, Pé de

Serra, Pintadas, Riachão do Jacuípe, São José

do Jacuipe, Serrolandia, Varzea da Roça,

Varzea do Poço, Quixabeira.

2011

Com a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

17

CIMURC- Consórcio

Intermunicipal do Médio

Rio de Contas

Aiquara, Apuarema, Barra do Rocha, Boa

Nova, Dario Meira, Gongogi, Ibirataia, Ipiaú,

Itagi, Itagibá, Itamari, Jequié, Jitaúna, Manoel

Vitorino, Nova Ibiá, Ubatã.

2011

Com a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

18

Consórcio

Intermunicipal da Bacia

do Rio Corrente

Santana, Santa Maria da Vitória, Coribe e São

Félix do Coribe. 2012

Sem a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

19

Consórcio de

Desenvolvimento

Sustentável do Território

Litoral Sul

Almadina, Arataca, Barro Preto, Buerarema;

Camacan, Coaraci, Canavieras, Floresta Azul,

Ibicaraí, Itajuípe, Itapé, Itapitanga, Jussari, Pau

Brasil e Uruçuca.

2013

Com a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

20

CIVARPA - Consórcio

Intermunicipal do Vale

do Paramirim

Ibipitanga,Boquira, Botuporã, Brotas de

Macaúbas, Dom Basílio, Érico Cardoso,

Ibitiara, Macaúbas, Morporá, Novo Horizonte,

Oliveira dos Brejinhos, Rio do Pires, Tanque

Novo.

2013

Com

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

21

CDS ALTO SERTÃO -

Consórcio de

Desenvolvimento

Sustentável do Alto

Sertão

Caetité, Caculé, Ibiassucê, Lagoa Real,

Guanambi, Palmas de Monte Alto, Pindaí;

Malhada, Sebastião Laranjeiras, Matina,

Igaporã.

2013

Com a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

22

Consórcio de

Desenvolvimento

Sustentável da Costa do

Descobrimento

Eunápolis, Itapebi, Itagimirim, Guratinga,

Itabela. 2013

Com a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

23

CIVALERG- Consórcio

Intermunicipal do vale

do Rio Gavião

Cordeiros, Condeúba, Piripá, Tremedal, Belo

Campo, Guajerú, Presidente Jânio Quadros,

Mortugaba, Jacaraci, Aracatu, Anagé, Bom

Jesus da Serra, Caetanos.

2013

Sem a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

24

CIMA- Consórcio

Intermunicipal da Mata

Atlântica

Arataca, Buerarema, Camacan, Canavieiras,

Itaju da Colônia, Jussari, Mascote, Pau Brasil,

Santa Luzia, São José da Vitória, Una.

2013

Sem a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

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88

(conclusão)

Número Consórcio Municípios Ano de

criação Observação

25

Consórcio

Intermunicipal do

Semiárido Nordeste II

Ribeira do Pombal, Banzaê, Ribeira do Amparo,

Cícero Dantas, Fátima, Cipó, Euclides da

Cunha.

2013

Sem a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

26

CIARC – Consórcio

Intermunicipal do Alto

Rio de Contas

Rio de Contas, Abaíra, Jussiape, Livramento de

Nossa Senhora, Iramaia, Barra de Estiva. 2013

Sem a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

27

CHAPADA FORTE -

Consórcio

Intermunicipal de

Desenvolvimento do

Circuito do Diamante da

Chapada Diamantina

Andaraí, Boninal, Mucugê, Itaetê, Ibicoara,

Iramaia, Iraquara, Lençóis, Palmeiras, Seabra e

Marcionílio Souza.

2013

Sem a

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

28

Consórcio de

Desenvolvimento do

Território do Médio

Sudoeste

Caatiba, Itapetinga, Itarantim, Maiquinique,

Firmino Alves, Santa Cruz da Vitória, Ibicuí,

Iguaí, Nova Canaã.

2013

Com

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

29

CTR - Consórcio do

Território do Recôncavo

Sapeaçu, Cruz das Almas, Conceição do

Almeida, São Felipe e Muniz Ferreira. 2014

Com

orientação do

GT SEDUR-

SEPLAN

Fonte: SEPLAN; Receita Federal; ABACP; Site dos consórcios.

Como destacado no quadro, não foram todos os consórcios que tiveram o apoio do GT

SEDUR-SEPLAN. Mas, é fato que, depois da fomentação, no ano de 2010, muitos

municípios começaram a aderir a essa forma de consorciamento, seja por essa motivação ou

pelo resultado das ações de outros consórcios, como pode ser visto nos anos de formação dos

mesmos. Somente no ano de 2013, dez consórcios foram formados no estado, sendo metade

sem a parceria com o governo estadual.

Dentre os 29 consórcios, 16 deles receberam o auxílio do governo estadual. Seja para

sua formação, para a adequação da personalidade jurídica e/ou para a melhor forma de gerir

seus membros. Como aconteceu no consórcio mais antigo do estado, o do Vale do Jequiriçá.

O Consórcio Intermunicipal do Vale do Jequiriçá, nome inicial, foi instituído em 1993,

com o objetivo de elaborar e executar políticas públicas de desenvolvimento ambiental na

bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá e atuou de forma ativa até o ano de 2000. Constituía-se

numa associação civil suprapartidária, sem fins lucrativos, que atuava como agente mediador

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e articulador nas áreas política e técnica entre as esferas governamentais, iniciativa privada,

instituições financeiras e os diversos segmentos sociais, atuando diretamente como

instrumento de orientação técnica dirigida aos municípios que constituem a Bacia do Rio

Jiquiriçá (LYRA, 2000, p.1). Reativado em 2008, com o objetivo de articular ações de

desenvolvimento local/regional entre os municípios que compõem o Vale, contou com o

apoio do GT e se adequou à legislação de 2005, passando a ter personalidade jurídica de

direito público.

Como a fomentação dos consórcios deu-se nos Colegiados Territoriais, os Territórios

de Identidades passaram a ser a referencia espacial para a criação deles, por isso, essa

regionalização é um dos condicionantes da pesquisa. Sendo que essa nova forma de

cooperação fortalece ainda mais a política de institucionalização do governo estadual.

Logo, dos 16 consórcios com o apoio, 14 tiveram como base territorial os seus

respectivos TI, sendo difundido dentro dos CEDETER, buscando agregar a maior quantidade

de municípios dos Territórios. De acordo com um técnico da SEPLAN, coube a cada

município aceitar ou não fazer o consorciamento, sendo que este salienta que isso dependeu

do viés do gestor público, de como ele estava inserido nas discussões no Colegiado.

“Fizemos reuniões nos Colegiados mostrando a importância do consórcio

para todo o Território, também ficamos a disposição deles para quaisquer

esclarecimentos, mas alguns gestores não participavam ativamente das

reuniões do próprio Colegiado, imagine de uma coisa que estava começando?

Ainda sem muitas ações positivas? Assim, no início muitos municípios se

abstiveram em participar, depois do sucesso de alguns consórcios ficou mais

fácil essa articulação”. (Informação coletada em entrevista com técnico da

SEPLAN e membro do GT, realizada em junho de 2014).

Outro ponto a ser salientado nessa seção é a ideia de fomentação de consórcios

multifacetários, sem objetivos específicos. Para isso, foi pensado o nome inicial de

Consórcios de Desenvolvimento Sustentável – CDS, vindo acrescido do nome do TI dos quais

os municípios fazem parte. Por exemplo, o Consórcio de Desenvolvimento Sustentável do

Território da Bacia do Jacuípe, que conta com 15 municípios que pertencem ao Território de

Identidade da Bacia do Jacuípe. Assim sendo, dos 16 consórcios que contaram e contam com

o apoio do GT, 13 possuem em seu nome essa denominação.

Os recursos repassados do governo estadual aos consórcios, via GT, dependem da

necessidade de cada um deles, mas, na maioria, envolvem repasses financeiros à estrutura

física, materiais permanentes e aquisição de equipamentos de informática, além de orientação

jurídica e técnica para os consórcios.

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Não é o foco desta pesquisa entender e analisar o porquê de um consórcio no estado

da Bahia contar com o apoio do GT ou não, entretanto, diante dessa institucionalização e

formas de investimentos, ela não pode ser desconsiderada, visto que a partir desse

nomoespaço já estabelecido pelos TIs, a constituição dessa nova instituição acaba

qualificando e dando uma nova dinâmica a esse território.

Num panorama geral, 347 municípios fazem parte de pelo menos um consórcio no

estado da Bahia, ou seja, mais de 80% dos municípios baianos pertencem a um consórcio

público. No sentido de especializar esses consórcios, a figura 9 traz o mapeamento da malha

territorial baiana e os consórcios intermunicipais existentes nela.

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Figura 9. Consórcios públicos no estado da Bahia, 2014.

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Fazendo uma análise comparativa da figura 6 com a figura 9, verifica-se que os

consórcios formados no estado não correspondem aos pontos de concentração de atividades

industriais e agroindústrias do estado, exceto no CONSTESF, ao norte da Bahia, no qual os

municípios ligados à fruticultura pertencem a um consórcio criado em 2009 com o apoio do

governo do estado.

Fazendo uma sobreposição da figura 7 com a figura 9, percebe-se que a maioria dos

consórcios no estado se concentra na parte central do território, no semiárido baiano. Isso

pode ser explicado pela quantidade de programas governamentais voltados para essa região

em decorrência de ser afetada constantemente pelas longas estiagens e por ser uma região que

apresenta grandes problemas de desigualdades sociais. Assim como, pela dinâmica de

interiorização dos consórcios, o que corrobora com o país, como aponta Lima (2000, p. 14),

“isso destaca ser a prática de consórcios uma tendência dos municípios do interior do país, em

um movimento de desconcentração dos centros urbanos”.

Continuando essa análise em âmbito estadual, o quadro 4 traz os cinco municípios

baianos com a maior quantidade de população e os que apresentaram os maiores PIB no ano

de 2011, estes ao total agrupam 42,6% do PIB total do estado e 26,3% da população. Dentre

estes, apenas o município de Camaçari pertence a um consórcio público, ao Consórcio

Intermunicipal da Costa dos Coqueiros - CICC, formado desde 2007, antes da fomentação do

GT SEDUR – SEPLAN.

Quadro 4. Cinco maiores municípios baianos em relação à população e ao PIB,

2010 e 2011.

População (2010) PIB (2011)

1º Salvador Salvador

2º Feira de Santana Camaçari

3º Vitória da Conquista Feira de Santana

4º Camaçari Candeias

5º Itabuna Simões Filho

Fonte: IBGE

A não participação desses municípios considerados de porte diferenciado corrobora

com os estudos de Lima (2000), quando destaca que os consorciamentos intermunicipais no

Brasil, em sua maioria, são formados por pequenos municípios, enquanto que os médios são

reticentes a essa forma de cooperação. Não há uma explicação única para isso, muitos deles

não se consorciam devido ao repasse de recursos aos consórcios do seu FPM, já que há uma

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discrepância em relação aos outros municípios consorciados, ou seja, na visão de alguns

gestores municipais, o seu município, por ter mais recursos, pode acabar sustentando o

consórcio como um todo.

Outro ponto a ser destacado é que os municípios sede das duas regiões metropolitanas

do estado, Salvador e Feira de Santana, não se consorciaram a nenhuma instituição. De acordo

com a pesquisa de Spink (2005), que faz uma análise comparativa das regiões metropolitanas

brasileiras com os consórcios públicos, isso é bem comum, devido ao fato de que os

governadores acabam disputando com os prefeitos das capitais e das sedes das RM, ficando

difícil trabalhar a cooperação entre os entes. Além de que os consórcios trabalham de maneira

inclusiva e não exclusiva, ou seja, ele deixa de existir quando param de funcionar.

Assim, o mesmo considera os consórcios uma inovação baseada em termos territoriais

importantes e crescentes, “o que torna os consórcios duplamente importantes e significativos

como arranjos inter-jurisdicionais no Brasil é que a sua efetividade é marcada pelo contraste

com a não-efetividade das suas contrapartes constituintes – as regiões metropolitanas”

(SPINK, 2005, p. 4. tradução da autora). Essa análise baseia-se no fato de que muitas RMs no

país não desempenham um papel de promotora do desenvolvimento da região, além de

implementar poucas políticas públicas, devido, muitas vezes, à ausência de orçamento

estadual e/ou municipal, diferente de um consórcio público.

Um ponto de grande relevância a ser destacado nesse trabalho, também salientado no

mapa, é a quantidade de municípios que faz parte de mais de um consórcio público, o que

pode ser visto como positivo para o fortalecimento desses arranjos federados no estado, até

mesmo um ganho oriundo das ações já realizadas pelos outros consórcios, já que existe um

período de diferença no ano de formação entre eles.

Um dos exemplos é o formado pelos municípios de Sapeaçu, Cruz das Almas,

Conceição do Almeida, São Felipe e Muniz Ferreira que, com a orientação do GT SEDUR –

SEPLAN, formou o Consórcio do Território do Recôncavo – CTR, sendo que estes mesmos

municípios fazem parte do CIRB – Consórcio Intermunicipal do Recôncavo Baiano desde

2005. O CTR foi formado pela proximidade geográfica, inicialmente com o intuito de

execução de obras de recuperação de estradas vicinais, que integram zonas rurais e áreas

distritais dos municípios em questão. Já o CIRB já existe há nove anos, sendo o primeiro

consórcio brasileiro de acordo com a lei de 2005, e tem o intuito de promover o

fortalecimento e desenvolvimento dos municípios que integram todo recôncavo baiano,

incluindo 28 municípios de três Territórios de Identidade (CIRB, 2014).

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94

Outro ponto a ser destacado no estado é a formação de duas entidades que representam

os consórcios. Uma é a Associação Baiana de Consórcios Públicos – ABACP, criada em 28

de agosto de 2013, por doze consórcios: CIRB, COPCHAD, CIMA, CIVARP, CIVALERG,

CIARC, CIRMS, CONTESF, CISAN, CIAPRA, CISS e CDS do Alto Sertão, cuja maioria

não recebeu apoio do GT SEDUR – SEPLAN em sua formação e desenvolvimento. Essa

associação possui personalidade jurídica de direito privado da espécie associação civil, sem

fins lucrativos. Seu objetivo é de coordenar os esforços entre seus associados com a

implementação de uma efetiva política estadual que atenda os consórcios públicos e

estabeleça um fórum permanente de debates de assuntos consorciais nos três âmbitos de

governo (ABACP, 2014).

A outra é o Fórum de Consórcios Públicos dos Territórios de Identidade do Estado da

Bahia, instituída em 13 de agosto de 2013. Essa entidade tem a missão de fomentar o

desenvolvimento sustentável e solidário, sendo um espaço de articulação e representação

político-social dos consórcios públicos multifinalitários do estado, que tenham como

referência para base de ação os TIs, visando à promoção do desenvolvimento sustentável dos

municípios que os compõem. Inicialmente, esse Fórum começou com reunião de articulação

entre os presidentes dos consórcios e o GT, a partir disso, com a intenção de fortalecer cada

vez mais essas entidades, foi criado o órgão, a fim de elaborar estratégias que são de

fundamental importância para a execução de políticas públicas em nível territorial e estadual.

Fazem parte desse Fórum, atualmente, 11 consórcios que receberam o auxílio do GT SEDUR

– SEPLAN, principalmente, na sua formação (SEPLAN, 2013).

Como já dito anteriormente, a parceria entre o governo do estado e os consórcios

públicos estava ligada à sua criação e infraestrutura técnica e de equipamentos, via GT.

Ampliando isso, desde o ano de 2013, o governo estadual vem estabelecendo convênios com

essas instituições, uma delas é o Projeto Patrulha Mecanizada, destinado à compra de

maquinário para o convívio com o semiárido, no valor de 20 milhões de reais, diluído entre

doze consórcios baianos.

Outra parceria importante é com a Secretária de Meio Ambiente – SEMA que vem

realizando a gestão ambiental compartilhada dos municípios via consórcios. Parte desses

recursos será financiada pelo Programa de Desenvolvimento Ambiental (PDA), através de

empréstimo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A gestão ambiental é

uma norma a ser cumprida por todos os municípios brasileiros, no entanto, no estado da

Bahia, a prioridade é a realização dessa ação, inicialmente via consórcios públicos com o

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95

intuito de agilizar o trabalho a ser realizado e descentralizar essa política pública (SEPLAN,

2014)

A relação consórcio e União, na Bahia, tem se estabelecido através de programas

pontuais, ou seja, quando o governo federal lança algum tipo de programa, as instituições

enviam o projeto a fim de se conseguir o recurso. Segundo o SRI, no ano de 2013, a Bahia foi

o estado que mais captou recursos federais via consórcios públicos. Tanto que, com o

Ministério de Desenvolvimento Social, houve a transferência de cerca de 60 milhões de

recursos para três entidades (Consórcio Público de Desenvolvimento Sustentável do Território

do Sisal – CONSISAL – 30 milhões; Consórcio de Desenvolvimento Sustentável do

Território da Bacia do Jacuípe – CDS BACIA DO JACUÍPE – 15 milhões; Consórcio de

Desenvolvimento Sustentável do Território Portal do Sertão – CDSTPS – 14,7 milhões),

todos revertidos em ação para o convívio com o semiárido (SEPLAN, 2014).

A fim de fortalecer ainda mais essas instituições, o governo da Bahia buscou a

parceria com os consórcios para o planejamento das ações territoriais que serão descritas no

próximo Plano Plurianual – PPA do estado. O objetivo é a cooperação técnica para os planos

de médio prazo, visto que os consórcios públicos podem executar muitas das ações que

estarão descritas no planejamento. Inicialmente essa ação é um teste piloto com quatro

consórcios, a fim de testar a efetividade dessa nova prática.

Entretanto, cabe pontuar aqui que o PPA, num viés mais participativo, como pede a

conjuntura atual, deve ser criado sob as demandas de toda a sociedade, ou seja, com toda a

participação da mesma. Assim, o planejamento sendo criado pelos consórcios públicos,

formado apenas pelos chefes do executivo, perde o caráter de participação efetiva da

população. Talvez se o mesmo fosse constituído pelas demandas de um CEDETER, o caráter

participativo seria mais adequado.

Isso demonstra um fator que vem acontecendo nos TIs baianos com a efetivação dos

consórcios públicos, no qual os Colegiados Territoriais vêm perdendo forças de

representatividade, ao menos nos consórcios que são compostos pelos municípios de um

mesmo Território de Identidade. Ou seja, instâncias com o caráter mais participativo vêm

atuando pouco no estado, ou seja, está havendo um processo de despolitização das ações

estaduais. Todavia, essa participação popular pode ser motivada nos próprios consórcios

públicos, e isso fica a cargo de como cada consórcio é constituído e do viés dos membros que

se consorciam. Logo, esses processos de jogos de interesses e de articulações são a base que

norteia qual ação, em qualquer escala do federalismo brasileiro.

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96

No entanto, a espacialidade consorcial no estado não está só ligada à ação de auxílio

do GT. Ela se deve ao empreendedorismo dos gestores, dos técnicos, e de alguns deputados

que se envolvem nessas articulações, pois alguns consórcios, mesmo recebendo recursos, não

conseguem dar robustez as suas ações, enquanto que outros apenas ficam no estatuto de

criação.

Outro ponto a ser considerado é que algumas instituições servem apenas para

administrar programas e projetos das outras instâncias federadas, sendo que, quando esses

programas terminam, essas perdem suas articulações e ficam à mercê de outra ação

verticalizada, o que pode ser descrito como uma descentralização tutelar de apenas

determinadas ações específicas. Além de considerar a baixa arrecadação financeira dos

municípios que não podem repassar recursos para manter o consórcio e a pouca infraestrutura

técnica dos membros consorciados.

Dito isso, esses condicionantes expressam a situação dos consórcios públicos na Bahia

e precisamente no CDSTPS, foco deste trabalho. Este é um dos consórcios formados no

estado da Bahia com a orientação do GT SEDUR – SEPLAN, em abril de 2010 e começou a

funcionar, efetivamente, em 2011.

Nos próximos capítulos será apresentada a caracterização desse território

institucionalizado no Território de Identidade do Portal do Sertão, suas estratégias, ações e

como vem ocorrendo a organização dos objetos desenvolvidos pelo consórcio dentro dos

municípios pertencentes a ele.

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4. ESTRUTURA E COESÃO INTERNA DO CONSÓRCIO DE

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO TERRITÓRIO PORTAL DO SERTÃO

Este capítulo adentra no objetivo específico dessa pesquisa: o Consórcio de

Desenvolvimento Sustentável do Território Portal do Sertão (CDSTPS). Sendo assim, ele

trabalha com parte do bloco de apreciação das estratégias delimitadas pelo modelo de análise:

a estrutura e coesão interna, o ponto de ligação entre o interior da instituição e o ambiente

exterior no qual tudo se concretiza, ou seja, é como os planos e interesses são transformados

por e a partir das prerrogativas internas de constituição e funcionamento e dos atos previstos

por eles, e isso será demonstrado através da caracterização desse novo território instituído

pelo consórcio, do movimento à implantação, suas constituições, os motivadores do processo

e as regras de seu funcionamento.

4.1. A caracterização do território instituído pelo CDSTPS

O território institucionalizado pelo Consórcio de Desenvolvimento Sustentável do

Território Portal do Sertão foi criado em 2010, sendo composto por 14 municípios, como já

salientado anteriormente na figura 1. Fica a leste da capital do estado, atinge uma população

de pouco mais de 270 mil habitantes, o que corresponde, a apenas 9,3% da população baiana,

em uma área de 3.973,947 km². A fim de contextualizar cada município consorciado, a tabela

2 traz a população urbana e rural dos municípios que fazem parte do CDSTPS e a sua

extensão territorial.

Tabela 2. População total, urbana e rural e a área territorial dos municípios

pertencentes ao CDSTPS, 2010.

Municípios População 2010 Área da unidade territorial

(km²)

Água Fria

Urbana 5.777

661,859 Rural 9.954

Total 15.731

Amélia Rodrigues

Urbana 19.957

173,484 Rural 5.233

Total 25.190

Anguera

Urbana 4.326

177,044 Rural 5.916

Total 10.242

Antônio Cardoso

Urbana 3.225

294,452 Rural 8.329

Total 11.554

Conceição da Feira Urbana 13.137

162,883 Rural 7.254

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98

Total 20.391

Conceição do Jacuípe

Urbana 23.539

117,529 Rural 6.584

Total 30.123

Coração de Maria

Urbana 9.400

348,161 Rural 13.001

Total 22.401

Ipecaetá

Urbana 2.637

369,889 Rural 12.694

Total 15.331

Irará

Urbana 11.246

277,792 Rural 16.220

Total 27.466

Santa Bárbara

Urbana 8.669

345,667 Rural 10.395

Total 19.064

Santanópolis

Urbana 1.684

230,834 Rural 7.092

Total 8.776

Santo Estevão

Urbana 27.690

362,961 Rural 20.190

Total 47.880

Tanquinho

Urbana 5.711

219,849 Rural 2.297

Total 8.008

Teodoro Sampaio

Urbana 6.341

231,543 Rural 1.554

Total 7.895

TOTAL População geral 270.052 3973,947

Fonte: IBGE, 2010

Apreende-se com essa tabela, que os municípios consorciados são de pequeno porte, e

que apenas os municípios de Anguera, Santa Bárbara e Santo Estevão têm certo equilíbrio

entre o número de habitantes que residem no espaço urbano e rural. Observa-se, nessa tabela,

que seis municípios têm a população no espaço urbano maior do que no espaço rural,

destacando-se, entre eles, Amélia Rodrigues e Conceição do Jacuípe, com uma certa

discrepância em relação aos dois espaço, e o município de Santo Estevão, que é o maior em

numero de habitantes do território instituído, com 47.880 habitantes.

Verifica-se, então, um leve predomínio da população urbana, com 53,08%, em relação

à população rural, com 46,92%. Apesar de que a maioria dos municípios consorciados (57%)

tem sua população no espaço rural. Outro ponto a ser destacado é a área territorial do

município de Água Fria, que chega a ser cinco vezes maior do que a área do município de

Conceição do Jacuípe, que é o menor em extensão dentre todos.

A Figura 10 representa a delimitação do espaço urbano e rural definida pelo IBGE.

Vale destacar que essa conceituação de urbano e rural nem sempre corrobora com as

discussões envolvidas na academia, uma vez que a instituição ainda utiliza uma metodologia

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antiquada, pois considera apenas fatores políticos e administrativos. Entretanto, mesmo com

essas ressalvas a delimitação do que é urbano e rural, pelo IBGE, ainda é a principal

referência à espacialização municipal.

Figura 10. Caracterização do espaço geográfico dos municípios que compõe o CDSTPS,

2014.

A Figura 10 corrobora com a Tabela 2, ao apontar os municípios de Amélia

Rodrigues, Conceição da Feira, Conceição do Jacuípe, Santo Estevão, Tanquinho e Teodoro

Sampaio como os que possuem maior quantidade de habitantes no espaço urbano. No entanto,

cabe destacar que há uma forte dinâmica da zona rural na maioria dos municípios

consorciados, visto que, como já ressaltado, boa parte da população se encontra nesse espaço

geográfico e vive dos setores a ele ligados, como a agricultura na produção de feijão, milho,

mandioca, abacaxi, banana, cana-de-açúcar, maracujá e hortaliças; e na pecuária na criação de

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bovinos, galinhas, frangos e pintos. Assim, para esse território institucionalizado pelo

consórcio é necessário pensar em estratégias de desenvolvimento que articulem, ao mesmo

tempo, as dinâmicas espaciais rurais e urbanas.

De forma geral, esse território está distribuído em duas regiões com características

relativamente distintas no cenário baiano, especialmente, no que diz respeito ao clima,

vegetação, atividades agropecuárias e culturais: o recôncavo e o semiárido, como apontado na

Figura 11. Entretanto, na análise desta figura, cabe destacar que alguns municípios

consorciados são considerados zona de transição entre o recôncavo e o semiárido, sendo eles

Irará e Água Fria.

Figura 11. Diferenciação das dimensões socioespaciais dos municípios que compõe o TI

Portal do Sertão, 2014.

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101

Essas duas regiões são ricas de formas distintas e de grande referência ao estado da

Bahia. O recôncavo possui histórico de intensa antropização e atividades agrícolas com a

exploração dos seus recursos naturais, cultura da cana-de-açúcar e do fumo, com

remanescentes da mata atlântica. Já o semiárido baiano, que muitas vezes é chamado de sertão

pela população local, é uma área geográfica onde as chuvas são bastante irregulares e o solo é

raso e há o predomínio da caatinga; por isso, o TI dessa região ser denominado Portal do

Sertão, ou seja, a entrada para o sertão do estado da Bahia. Cabendo apontar que a

circunstância desse território é fundamental para entender a lógica do consórcio sobre a

perspectiva desse espaço de transição geográfica.

A gestão territorial dessas duas regiões é distinta pelo estado baiano desde a sua

formação. Na história da Bahia o recôncavo teve/tem um papel significativo de exploração de

recursos, além de ser um importante elo da capital com o restante dos municípios baianos. O

semiárido, parte maior do estado, vem ao longo do tempo ganhando espaço e força frente às

demandas estatais, e muitas ações só foram realizadas através do governo federal.

Assim, atualmente, há um maior enraizamento das caracterizações dessas áreas através

da criação, articulação e sustentação de dinâmicas socioambientais, socioespaciais e

socioeconômicas específicas, dando um caráter transformador da relação socioeconômica e

espacial, seja do recôncavo, seja do semiárido.

As respectivas gestões territoriais pressupõe a necessidade de formar vínculos entre os

agentes sociais e suas formas de organizações, de compreendê-los regionalmente, e nisso os

TI vem fortalecendo, de maneira coesiva, essas regiões no estado da Bahia. Logo, isso

corrobora com o conceito de gestão territorial adotado nesta pesquisa, no qual os múltiplos

processos gestores norteiam, através dos agentes envolvidos, as formas de como as ações se

organizam territorialmente.

A fim de continuar exemplificando essa caracterização, a Figura 12 traz o mapeamento

da pluviosidade do TI Portal do Sertão. De acordo com a Superintendência do

Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE é considerada „semiárido‟ a localidade cujas

precipitações médias anuais são iguais ou inferiores 800 mm. Sendo assim, a próxima figura

reafirma a classificação da figura 11.

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Figura 12. Pluviosidade dos municípios que compõe o Território Portal do Sertão, 2014.

Uma forte característica dessa área é a alta salinização do solo devido à grande

evapotranspiração e precipitação pluviométrica insuficiente. A salinidade pode ter relações

com a desertificação na medida em que resíduos de dessanilização de águas salobras são

despejados ao acaso no solo, elevando a salinidade dos mesmos a níveis tão altos que

impedem o crescimento de plantas cultivadas e nativas. Cabendo destacar que além das secas,

essa zona semiárida, se caracteriza pela presença da desertificação, fenômeno natural cujas

relações causais estão referidas ao clima e também ao uso inadequado dos recursos naturais,

cujos efeitos são potencializados pela ação do homem através da degradação ambiental.

(SEMA, 2014).

Assim, a maioria dos municípios consorciados está inserida nessa área e sofre com

presença da desertificação, além de grande parte está localizada na zona rural e sobreviver,

principalmente, de atividades econômicas ligadas, basicamente, à agricultura e à pecuária.

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Entretanto, de acordo com o Produto Interno Bruto – PIB, de 2010, 13 dos 14 municípios

possuem a predominância de serviços na sua atividade econômica, estando apenas o

município de Conceição do Jacuípe com o predomínio industrial. O Gráfico 1 traz a

comparação do PIB entre os anos de 2010 e 2011 dos municípios pertencentes ao Consórcios

Portal do Sertão.

Gráfico 1. Comparação do PIB nos municípios pertencentes ao CDSTPS, 2010 e 2011.

Fonte: IBGE (2010 e 2011)

O município de Conceição do Jacuípe teve um PIB, no ano de 2011, de 598.015 mil

reais, sendo quase 40% oriundo do setor industrial. O município se destaca pela quantidade de

vias de acesso para escoar a produção e pelos incentivos fiscais que o governo municipal,

juntamente com o governo do estado, fez ao longo de sua história para atrair as indústrias. Em

compensação os municípios de Anguera e Tanquinho têm os PIBs mais baixos dos membros

do consórcio, com 35.528 mil reais e 33.503 mil reais, respectivamente.

O gráfico 2 traz um levantamento do PIBs desagregado pelos seus setores nos

municípios consorciados ao Portal do Sertão. A partir dele apreende-se que, apesar da maioria

dos municípios terem a sua população no espaço rural, o setor agropecuário é baixo em todos

-

50.000,00

100.000,00

150.000,00

200.000,00

250.000,00

300.000,00

350.000,00

400.000,00

450.000,00

500.000,00

550.000,00

600.000,00

650.000,00

Mil

hões

(R

$)

Municípios

PIB 2010 PIB 2011

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os municípios consorciados. Isso pode apontar que os agricultores e produtores desse setor

não realizam suas atividades de forma formal, sendo eles em sua maioria composta de

agricultores familiar que utilizam seus produtos à sua subsistência.

Gráfico 2. PIB por setores nos municípios pertencentes ao CDSTPS, 2011.

Fonte: IBGE 2011

Na análise do gráfico 2 também destaca-se que município de Santo Estevão, o segundo

maior em volume de PIB, dentre os membros consorciados, teve, em 2011, um PIB de

338.592 mil reais, com predomínio do setor de serviços com 63%, fato que corrobora com a

realidade, visto que o município desempenha um papel de concentrador de serviços básicos

para os municípios circunvizinhos.

A fim de buscar uma melhor explicação sobre os municípios consorciados, a tabela 3

traz os estabelecimentos de serviços considerados básicos à dinâmica de uma localidade

municipal.

0

15.000

30.000

45.000

60.000

75.000

90.000

105.000

120.000

135.000

150.000

165.000

180.000

195.000

210.000

225.000

240.000

255.000

Mil

(R

$)

Municípios

Agropecuária Indústria Serviços

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Tabela 2. Serviços básicos presentes nos municípios que compõe o CDSTPS, 2009, 2012 e

2013.

Municípios

Agências

bancárias

(2013)

Escolas públicas e

privadas (2012)

Estabelecimento de

saúde (2009)

Leitos para

internação (público e

privado)

Água Fria 2 50 11 (municipais e

privados) 20

Amélia Rodrigues 3 10 (municipais e

privados) 57 21

Anguera 2 37 11 (municipais e

privados)

0

Antônio Cardoso 1 52 7 (municipais e 1

estadual) 0

Conceição da Feira 1 55 9 (todos municipais) 20

Conceição do Jacuípe

16 (municipais e

privados) 3 66 61

Coração de Maria

11 (municipais e

privados) 2 87 29

Ipecaetá

5 (municipais e 1

estadual) 1 107 13

Irará

16 (municipais e

privados) 3 72 28

Santa Bárbara

17 (municipais e

privados) 2 90 30

Santanópolis

6 (todos municipais) 1 48 16

Santo Estevão

21 (2 federais,

municipais e privados) 3 99 49

Tanquinho

4 (municipais e

privados) 1 23 20

Teodoro Sampaio

8 (municipais e

privados) 1 17 0

TOTAL 26 860 152 307

Fonte: IBGE

A análise dos municípios que possuem os maiores PIBs certifica-se com a quantidade

de agências bancárias e de estabelecimento de saúde descritos na tabela 2, sendo estes os

municípios de Conceição do Jacuípe, Santo Estevão, Amélia Rodrigues e Irará. Em pesquisa

de campo, foi percebido que dois desses municípios realizam um papel de concentração de

serviços e ações da sua microrregião.

Como já descrito anteriormente, Santo Estevão exerce uma centralidade com os

municípios de Conceição da Feira, Ipecaetá e Antônio Cardoso, além de outras localidades

que não pertencem ao consórcio, no sentido de concentrar serviços bancários, médicos e

comerciais que dão suporte a essa região, sendo o mesmo papel desempenhado por Irará em

relação aos municípios de Água Fria e Santanópolis.

Entretanto, todos esses municípios relacionam-se de forma bastante significativa com

o município de Feira de Santana. De acordo com a pesquisa realizada por Silva (2014), Feira

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de Santana desempenha um forte poder dirigente no espaço baiano, no qual 136 municípios da

Bahia são influenciados pelo consumo dos serviços que o município feirense dispõe. Logo, os

14 municípios consorciados são altamente influenciados por Feira de Santana, além de 9

destes municípios possuírem área limítrofe com a referida cidade.

Feira de Santana é um centro de desenvolvimento regional no interior da Bahia com

uma área territorial de 1.337,993 km², população de 556.642 habitantes sendo mais de 90% no

espaço urbano, além de um PIB de 8.276.213 mil reais, sendo quatro vezes maior que a soma

de todos os PIB dos municípios que compõem o Consórcio Portal do Sertão.

A estruturação econômica junto com a localização geográfica privilegiada, elo entre o

recôncavo, a capital do estado e o semiárido, acaba propiciando à cidade um fluxo contínuo

de grande intensidade de escoamento de produção e de relações industriais no âmbito do

território nacional. Além de concentrar muitos serviços da administração pública direta e

indireta que suprem toda uma região, chegando a exercer um papel de comando regional

sobre os demais municípios baianos. (SILVA, 2014).

A figura 13 apresenta as vias de acesso dos municípios pertencentes ao TI Portal do

Sertão e o papel centralizador de Feira de Santana. O Território é cortado por duas grandes

rodovias federais, especialmente a BR 101 que interliga todo o país, e a BR 324 que liga

Salvador ao interior do estado da Bahia.

Como já apontado, o município de Conceição do Jacuípe conta com várias rodovias

que fez com que as empresas se instalassem lá, além dos incentivos fiscais, como afirmou o

representante municipal em entrevista realizada pela pesquisadora deste trabalho. Diante

disso, esse município possui uma dinâmica bem diferenciada dos outros municípios

pertencentes ao CDSTPS.

A logística de deslocamento entre os municípios fica centralizada em Feira de

Santana, onde há uma concentração de ônibus, cooperativas de transporte e carros alternativas

para ligar os municípios. Exemplificando essa situação, embora sejam municípios vizinhos, o

acesso entre Conceição da Feira e Antônio Cardoso fica mais fácil se deslocando à Feira de

Santana, do que se deslocando direto de um município para o outro.

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Figura 13. Articulação rodoviária dos municípios pertencentes ao TI Portal do Sertão, 2014.

Como o trabalho aborda o ente federado, o município, fez-se necessário o

levantamento das finanças públicas dos membros consorciados, de acordo com o Gráfico 3.

Nele está descrita a quantidade de receita total, despesa total e o valor do Fundo de

Participação Municipal – FPM. Este foi destacado visto que o valor repassado para manter o

consórcio é estabelecido pela cota do FPM.

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Gráfico 3. Finanças públicas dos municípios pertencentes ao CDSTPS, 2012.

Fonte: FINBRA, 2012

Como o FPM é baseado de acordo com o número de habitantes dos municípios, Santo

Estevão é o que possui a cota maior sendo este, também, o município com a maior quantidade

de receita e despesa dos consorciados, no período analisado percebe-se um déficit financeiro

municipal. Outro ponto a ser destacado é que os municípios de Anguera e Tanquinho têm

mais da metade de sua receita oriunda do Fundo de Participação. O total de receita pública do

município de Anguera é 15.818.783,56 reais, sendo que 8.401.941,67 reais são oriundos do

FPM. No caso do município de Tanquinho o total de receita é de 12.297.882,38 reais, no qual

6.301.456,24 reais são receitas vindas do FPM. Sem levar em consideração as outras receitas

vinculadas que os mesmos municípios recebem.

Essa breve contextualização do território instituído pelo Consórcio Portal do Sertão

demonstra que os municípios consorciados são de pequeno porte, na sua maioria com uma

dinâmica rural enraizada, mesmo que em seus PIB‟s prevaleçam o setor de serviço. Todos os

municípios são influenciados por Feira de Santana, sendo que alguns exercem um papel de

polo regional sobre outros. Em relação às diferenciações físicas prevalece o semiárido, visto

que, as quantidades de chuvas vêm diminuindo também no recôncavo, além de que a maioria

dos programas governamentais são para essa área, o que acaba fazendo com que os

municípios busquem essa classificação. Assim, a gestão desse território normalizado, deve ser

0,00

10.000.000,00

20.000.000,00

30.000.000,00

40.000.000,00

50.000.000,00

60.000.000,00

70.000.000,00

80.000.000,00

Re

ais

Municípios

Receita Total Despesa Total FPM

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capaz de articular toda essa conjuntura com os agentes sociais locais, a fim de gerenciar os

processos e ações necessárias à organização territorial.

4.2 A trajetória à implantação dessa nova forma de cooperação no território e os

motivadores do processo

Como descrito no capítulo anterior, em 2007, houve uma nova regionalização do

estado da Bahia, os Território de Identidades, com o intuito de unificar as unidades de

planejamento territoriais estatais. Esses Territórios buscam centralizar em único local de

planejamento a formulação e a implantação das políticas públicas pelas secretarias do estado e

pelo governo federal. Nesse contexto, surge o Território de Identidade Portal do Sertão,

formado por 17 municípios, como demonstrado na Figura 14.

Figura 14. Municípios pertencentes ao Território de Identidade Portal do Sertão, 2012.

Fonte: SEI, 2012.

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Esse novo espaço de planejamento é coordenado pelo Colegiado Territorial do Portal

do Sertão, como representação paritária entre poder público e sociedade civil, contando com

as seguintes funções: Conselho de Administração e Conselho Fiscal contendo um

representante do poder público e outro da sociedade civil de cada município; Presidente do

Conselho de Administração, que necessariamente precisa ser representante do poder público

de um dos municípios por questões burocráticas e Vice-Presidente, que deve ser representante

da sociedade civil; e um Secretário Executivo.

No entanto, a formação desse Colegiado não foi tão simples. Para isso, houve várias

reuniões, conferências, uma vez que o governo do estado não dispensou apoio a esse

Território e a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola - EBDA assumiu o papel de

articulador do território, pois estava mais próximo aos movimentos envolvidos na entidade.

Dentre os representantes da sociedade civil, pertencentes ao Colegiado, os mais atuantes eram

os movimentos rurais, principalmente os representantes dos Sindicatos dos Trabalhadores

Rurais dos municípios.

Tendo em vista que as características do modelo de gestão adotado por cada Colegiado

são condizentes com a conjuntura da sua realidade, o Portal do Sertão concentrou as

discussões em mais ações ligadas ao espaço rural, sendo esse um dos assuntos mais presente

nas pautas do Colegiado.

Segundo a pesquisa realizada por Couto (2011, p. 67), no Território Identidade Portal

do Sertão, em 2011, o conselho tinha como objetivo principal “promover a ação conjunta

entre poder público e sociedade civil a fim de identificar as principais demandas locais, e

assim possibilitar estratégias de solução dos problemas”.

Destarte, algumas ações foram feitas, alguns recursos foram adquiridos, mas muitos

dos projetos ficavam apenas no campo teórico, nas discussões tendo pouca resolutividade às

demandas, como destaca o membro da EBDA que trabalhou como o primeiro articulador

territorial.

“Nós fomos vemos a dificuldade de execução de políticas públicas, as prefeituras

com muito pouco recurso e muito pouca capacidade técnica; o estado com o braço

muito pequeno no interior; o governo federal, onde tem muito recurso, mas sem

capilaridade quase que nenhuma no interior; e por si as organizações ainda

precisando se fortalecer.” (Funcionário afastado da EBDA, primeiro articulador do

território Portal do Sertão, atual Secretário Executivo do CDSTPS, entrevista

concedida em 05/12/2014).

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Nesse mesmo período, início de 2009, o prefeito de Amélia Rodrigues2 convidou três

municípios vizinhos, Teodoro Sampaio, Conceição do Jacuípe e Terra Nova, para discutirem

a questão do aterro sanitário de forma cooperada. A partir dessa primeira reunião, essa

discussão foi levada ao Colegiado para ser debatida por todos os municípios pertencentes ao

TI. E nessa conjuntura, o prefeito de Amélia Rodrigues tornou-se o presidente do Colegiado.

“Daí saiu aquela coisa que bom, vamos criar um consórcio não só para o lixo, um

consórcio também para o Território, onde a gente pudesse abarcar todos os

municípios, podendo alcançar outras áreas... para fortalecer a economia dos

municípios, para que a gente pudesse fazer políticas públicas comuns.” (Prefeito de

Amélia Rodrigues, presidente do Colegiado no momento de criação do consórcio,

atual presidente do CDSTPS, entrevista concedida em 05/12/14).

Diante disso, o presidente do Colegiado, juntamente com o membro da EDBA que

articulava o Território, começou a pensar nessa estrutura de execução de política pública para

todo o Território, para isso eles começaram a pesquisar exemplos de consórcios pelo Brasil.

Ainda de acordo com as entrevista realizada em 2014, o articulador foi a Brasília se

familiarizar com essa nova ferramenta de execução e, a partir disso, eles procuraram as

secretarias do governo estadual para buscar auxílio sobre a implantação de um consórcio, fase

que coincide, como destaca o capítulo anterior desse trabalho, com a vinda da SRI e a

formação do Grupo de Trabalho entre a secretaria de planejamento do estado e a de

desenvolvimento urbano.

Já com informações sobre o processo de formação de um consórcio, o prefeito de

Amélia Rodrigues e o membro da EBDA saíram em todas as prefeituras que formam o

Território Portal do Sertão para motivar a participação dos prefeitos. No mesmo período, o

governo do estado contratou uma consultoria para criar as peças jurídicas a fim de orientar a

implantação dos consórcios, “se eu não me engano, nós fomos os primeiros a utilizar essas

peças, assim, depois da gente, elas foram se adequando, melhorando” (Secretário Executivo

do CDSTPS, em entrevista concedida em 05/12/2014).

Depois de todas essas visitas, 14 municípios decidiram aprovar a lei de criação do

consórcio nas respectivas câmaras municipais e, no início de 2010, foi instituído o Consórcio

de Desenvolvimento Sustentável do Território Portal do Sertão. Vale destacar que muitos dos

prefeitos que decidiram se consorciar cumpriram seu primeiro mandato, o que pode ser visto

2 Cabe destacar o personagem Antonio Paim (Toinho do PT), prefeito de Amélia Rodrigues desde o ano de 2009.

Político recente ocupou apenas um cargo antes de ser prefeito, como vereador do próprio município. Químico

por formação, funcionário aposentado do polo petroquímico de Camaçari, desde criança planejou que quando se

aposentasse retornaria à cidade para se tornar gestor do município. Prefeito de visão empreendedora que no ano

de 2013, recebeu o prêmio ANPV de excelência de gestão dentre as 100 cidades mais sustentáveis do Brasil.

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como positivo para essa atitude, além do fato de serem municípios participantes das reuniões

do Colegiado, destaca o prefeito de Amélia Rodrigues.

A pesquisa de Couto (2011) aponta que o poder público de Feira de Santana, apesar de

ser sede do Colegiado, não participava das discussões na entidade de representação territorial.

Corroborando com isso, muitos dos entrevistados nessa pesquisa também deixaram claro que

o prefeito de Feira de Santana não se fazia presente nas reuniões do Colegiado Territorial. Em

entrevista concedida à autora deste trabalho, em 03 de novembro de 2013, o vice-prefeito de

Santa Bárbara destaca que os municípios de Terra Nova e São Gonçalo dos Campos

participavam pouco das reuniões do Colegiado e, talvez por isso, não acreditassem na política

de desenvolvimento via Territórios. Questionados se todos os municípios tinham recebido a

mesma atenção de motivação para participar do consórcio, os dois fomentadores do processo

são enfáticos ao afirmar que sim, que foi uma escolha deles não participar.

Após a elaboração das peças necessárias à sua formação, foi feita a escolha da mesa

diretora do consórcio e, por aclamação, o prefeito de Amélia Rodrigues foi escolhido como

presidente e como secretário executivo foi proclamado Daniel Moreira, o técnico da EBDA,

motivador do processo. Em entrevista, um dos prefeitos que faziam parte do consórcio no

período afirmou que “essa conclamação foi justa, ninguém melhor do que eles, que lutaram

tanto para a implantação, serem os responsáveis legais pelo consórcio” (Prefeito de Irará,

entrevista concedida em 03.11.2014). Sendo assim, eles são as lideranças desse processo de

formação do Consórcio Portal do Sertão.

Quando questionados sobre os motivos dessa buscar de implantação do CDSTPS as

lideranças afirmaram que o principal objetivo era buscar a melhoria para os municípios e

enxergavam nos consórcios uma forma de articular essas ações, além do fato do estado baiano

está movimentando suas ações no sentindo de fortalecer os TIs naquele período.

A primeira ideia de formação à sua implantação durou mais ou menos um ano, tempo

altamente suficiente para desenvolver todo o processo burocrático necessário para a criação

de uma entidade pública. No entanto, depois de tudo consolidado, os projetos começaram a

demorar de acontecer, sendo o primeiro convênio assinado em 2010, que, efetivamente,

aconteceu apenas no ano seguinte.

Logo, diante desse breve histórico, apreende-se que o Consórcio Portal do Sertão foi

formado pela determinação e visão empreendedora das suas lideranças, em articular

municípios que nunca antes tinham trabalhado conjuntamente em torno de um objeto comum.

Sendo que eles contaram com a credibilidade dos outros prefeitos e com o apoio total do

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Colegiado do território3. Assim, o consórcio é oriundo do Colegiado territorial, como destaca

o prefeito de Amélia Rodrigues, “é a sua parte operacional”.

No entanto, depois do início dos projetos desenvolvidos pelo consórcio, o colegiado se

esvaziou. Os prefeitos deixaram de participar das reuniões, deixando apenas as discussões à

sociedade civil. “O consórcio é objeto do Colegiado. Saiu de dentro do Colegiado. Do seio do

Colegiado. Porém, hoje se fizer uma reunião do Colegiado, não vai uma prefeitura... daí o

pessoal dos movimentos sociais se reúnem sozinho” (Vice-prefeito de Santa Bárbara,

entrevista concedida em 03.11.2014).

Isso aponta para uma conjuntura já destacada no final do capítulo anterior, no qual as

instâncias com o caráter mais participativo vêm atuando pouco nos TI, tanto que em uma nota

pública, publicada em fevereiro de 2013, a coordenação estadual, composta por todos os

Territórios de Identidade da Bahia, salienta que “a estratégia de desenvolvimento territorial na

Bahia ficou relegada à margem dos processos de decisão e implementação das políticas

públicas, tendo o diálogo com a sociedade restringido à mera participação nas conferências e

conselhos, apenas como pano de fundo do processo político”.

O que vem acontecendo no Colegiado do Portal do Sertão, está sendo mais agravado

com as atividades do consórcio, no qual as reuniões do Colegiado acabaram se esvaindo. No

ano de 2014, não houve uma reunião do colegiado territorial com a presença dos prefeitos.

Houve várias tentativas de diálogo com os representantes do Colegiado, todas sem sucesso.

Também houve a busca de contato com a articuladora territorial, a fim de entender esse

processo de esvaziamento e de interação com o consórcio, mas a mesma não respondia aos e-

mails e nem atendia aos telefonemas.

Entretanto, em uma das assembleias do consórcio, os membros do colegiado fizeram-

se presentes, assim como a atual articuladora do território. Segundo o secretario executivo do

consórcio, eles sempre recebem o convite para a participação das assembleias gerais do

CDSTPS, corroborando com o que ressaltou em entrevista o presidente do consórcio “a gente

sempre colocou que as discussões do colegiado viessem para o consórcio para a gente

resolver, essa foi à proposta desde o início” (Secretário Executivo do CDSTPS, em entrevista

concedida em 05/12/2014).

Assim, com a falta de participação dos entes públicos, a entidade vem se

desarticulando. Nas entrevistas realizada com os prefeitos para a realização deste trabalho,

quando questionados sobre a relação com o colegiado, cinco entrevistados disseram que não

3 Visto que nesse período o presidente do Colegiado se tornou o mesmo do Consórcio, exercendo os dois

mandatos até final de 2011.

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sabia quando havia os encontros dos colegiados, que fazia tempo que não participava. Quatro

entrevistados desconversavam sobre o assunto, justificando que os membros do colegiado iam

às reuniões itinerantes do consórcio, deixando claro que uma entidade está substituindo a

outra.

De acordo com o vice-prefeito de Santa Bárbara, membro político oriundo dos

movimentos rurais, essa desarticulação provocou um desconfortou dentro do TI em relação às

políticas territoriais.

“Tá aquela coisa chata. Tiraram do colegiado, se fortaleceram, então as prefeituras

acham que não precisa mais participar e mesmo se tivesse (as reuniões), para lhe ser

sincero, muitos municípios tinha problema de relacionamento internamento (dentro

do colegiado)”. (Vice-prefeito de Santa Bárbara, entrevista concedida em

03/11/2014).

Essa fala demonstra que as relações existentes dentro da instância paritária não são tão

amistosas. Há um campo de força, no qual o poder e o controle estão fortemente incorporadas

a essa área delimitada que é o Território de Identidade Portal do Sertão. Onde os agentes que

o compõem buscam criar estratégias de influenciar e conduzir a forma como os objetos vão se

organizar no território, corroborando com as ideias preconizadas sobre a territorialidade

humana de Sack (1986) descritas no primeiro capítulo.

Dentro de uma instituição de representatividade do poder público, como em um

consórcio, essa relação sociedade-agente público acaba sendo diminuída. Não que o consórcio

não possa atender e receber as demandas da sociedade, mas, dentro da sua estrutura, ela não

tem canais de participação direta da sociedade civil organizada, a não ser na implantação dos

projetos, como será apresentada mais adiante, mas, no planejamento das estratégias de ação,

fica restrita a atuação dos agentes públicos e dos técnicos do consórcio.

Diante de toda essa conjuntura de conflito, esvaziamento e ações concretas, o TI Portal

do Sertão conta com duas instâncias de articulação em prol das suas políticas territoriais, ou

seja, há uma sobreposição de instâncias de representatividade num mesmo Território. Existe a

instituição Colegiado Territorial do Portal do Sertão, órgão paritário de representatividade do

Território, composta pelos 17 municípios, formado em 2007. E, originado deste, o Consórcio

de Desenvolvimento Sustentável Território Portal do Sertão, composto por 14 municípios,

mais de 80% do total, formado em 2010.

Além dessas duas entidades, o Território Portal do Sertão teve a aprovação do projeto

de lei complementar para a criação da Região Metropolitana de Feira de Santana – RMFS, a

segunda RM do estado da Bahia, composta por seis municípios: Amélia Rodrigues,

Conceição da Feira, Conceição do Jacuípe, Feira de Santana, São Gonçalo dos Campos e

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Tanquinho. Todos pertencentes ao Colegiado e quatro pertencentes ao Consórcio. Não

obstante, essa lei foi sancionada em 2011, mas a região ainda não conta como o regimento

metropolitano, documento necessário para dar funcionalidade à mesma.

Essa discrepância de tempo e ação, de acordo com Silva (2014, p. 177), “é um enigma,

já que foi pautada apenas na perspectiva institucional, mas não encontra respaldo no estado

para o funcionamento”. Essa afirmação vai de encontro a todo auxílio prestado pelo governo

do estado à construção dos consórcios públicos e a negligência em relação à operacionalidade

da RMFS.

De acordo com o representante do município de Conceição da Feira, esse regimento

não foi aprovado ainda por questões políticas, visto que a segunda maior cidade da Bahia é

oposição ao governo estadual, e o processo de condução da RMFS foi liderado por um

deputado estadual opositor ao governo,

“a uma questão do governo do estado em contraponto à região metropolitana de

Feira de Santana. O consórcio surgiu nesse momento, fazendo esse contraponto,

para não influenciar o desenvolvimento da região metropolitana, favorecendo o

território do consórcio que é influenciado pelo PT (governo do estado da Bahia)”.

(Secretário de Agricultura do município de Conceição da Feira, entrevista concedida

em 07/11/2014).

Ainda segundo o entrevistado, isso foi mais um dos agravantes para Feira de Santana

não querer fazer parte do consórcio, pois, além de não participar de forma atuante nas

reuniões, nesse processo de articulação de formação da RMFS, o governo do estado

burocratizou algumas etapas.

A RMFS não é o foco principal desse estudo, mas cabe destacar que a aprovação do

regimento de funcionalidade dessa instituição poderá contribuir para que “então os

representantes plurimunicipais se articulem da melhor forma, a fim de que seja possível aliar

crescimento local e regional de forma equilibrada” no território (SILVA, 2014, p. 177).

Sendo assim, no Território de Identidade Portal do Sertão há uma sobreposição de

instituições que fazem desse espaço geográfico um território efervescente, complexo e em

constante tensão. No qual é preciso não „coisificar‟ o território, como solicita Souza (2013),

pois como trata-se de relações de poder projetadas no espaço, que nesse caso são normadas

pelo Estado, esse substrato material serve de suporte para as práticas sociais de atuação

governamental.

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4.3. Ordenamento jurídico à constituição e competências do consórcio

De acordo com a Lei Federal 11.107/05 e do Decreto Federal 6.017/07, há uma série

de procedimentos necessários para a constituição de um consórcio público, como

esquematizado na Figura 3, no segundo capítulo desse trabalho. Conforme essa sequência, a

primeira ação a ser realizada é a construção do protocolo de intenções.

De acordo com o secretário executivo do consórcio, essa primeira peça jurídica foi

feita por uma consultoria contratada pelo governo do estado à implantação dos consórcios

públicos na Bahia, como já apontado na seção anterior. Assim, esse protocolo de intenções

(Anexo 2) é uma peça genérica que traz os propósitos gerais sobre a instituição.

Na primeira cláusula do protocolo em anexo, há os membros que podem ser subscritos

no consórcio e estes são 18, sendo eles: o estado da Bahia e todos os municípios que

compõem o TI Portal do Sertão. Sendo que na cláusula segunda o documento é salientado que

basta pelo menos 10% dos municípios ratificarem sua participação através das leis de criação

para que o protocolo converta-se em contrato de consórcio público.

Esse protocolo foi publicado em 02 de dezembro de 2009, tornando o CDSTPS uma

autarquia com sede no município de Feira de Santana, abrangendo a área de atuação o

correspondente à soma dos territórios dos municípios que o integram. Das finalidades, o

objetivo do consórcio é promover o desenvolvimento sustentável da sua área de atuação,

entendendo que este significa a promoção do bem-estar de forma socialmente justa e

ecologicamente equilibrada.

Como finalidade, o consórcio tem como proposta treze atos:

I. a elaboração de propostas para o desenvolvimento regional, inclusive realizando debates e

executando estudos;

II. a gestão associada de serviços públicos de saneamento básico, de transporte urbano ou

intermunicipal, construção e manutenção de estradas, abatedouros e frigoríficos;

III. a implantação e manutenção de infraestrutura e equipamentos urbanos;

IV. a promoção do turismo, inclusive mediante gestão ou exploração de bens ou equipamentos e

execução de obras;

V. a disciplina do trânsito urbano, inclusive efetivando seu planejamento e exercendo o poder de

polícia na instância direta ou recursal;

VI. a execução de ações de desenvolvimento rural, inclusive o apoio à agricultura familiar;

VII. a execução de ações de assistência social e de segurança alimentar e nutricional, atendidos os

princípios, diretrizes e normas que regulam o Sistema Único de Assistência Social – SUAS e a

Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional;

VIII. o apoio:

a) à gestão administrativa e financeira municipal, inclusive treinamento e formação de

cidadãos e servidores municipais;

b) ao planejamento e gestão urbana e territorial municipal ou intermunicipal, inclusive

regularização fundiária e mobilidade urbana, e da política habitacional;

c) à gestão e manutenção de infraestrutura aeroportuária, atendidos os termos de delegação

da União;

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d) à gestão da política ambiental, inclusive subsidiando a emissão de licenças e a

fiscalização;

e) à execução de ações de educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, educação

profissional e de alfabetização, inclusive de adultos, bem como de programas

suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde;

IX. o planejamento e a execução descentralizada da Política Estadual de Desenvolvimento Urbano;

X. a execução de forma descentralizada da Política Estadual de Cultura, bem como a integração das

ações de política cultural dos entes da Federação consorciados;

XI. a participação na formulação da Política Estadual de Planejamento e Ordenamento Territorial, bem

como na execução de ações a ela relativas;

XII. a aquisição de bens ou a execução de obras para o uso compartilhado ou individual dos

consorciados, bem como a administração desses bens ou outros cuja gestão venha a ser entregue ao

Consórcio;

XIII. a realização de licitações compartilhadas de que decorra contrato a ser celebrado por órgão ou

entidade da administração direta ou indireta de consorciado. (Protocolo de Intenções, 2010)

De acordo com a legislação, a estrutura organizacional do consórcio deve ser

composta por: Assembleia Geral; Presidência; Secretaria Executiva; e Conselho Consultivo.

Todos os cargos com competências a serem cumpridas. O documento também ressalta que

todos os funcionários/técnicos do consórcio têm suas funções regidas pela Consolidação das

Leis Trabalhistas – CLT, além de poder fazer contratação de forma temporária.

O protocolo aborda também que o consórcio ficará sujeito à fiscalização contábil,

operacional e patrimonial pelo Tribunal de Contas, cláusula 44, em relação aos possíveis

convênios firmados, os atos de despesas, contratos e renúncias de receita, enfim, deixa claro

que a instituição pode ser fiscalizada e autuada pelo Tribunal. Além de tratar dos mecanismos

de exclusão de um membro ou de extinção do consórcio.

Após a publicação desse protocolo, a segunda ação a ser executada era a aprovação

nas câmaras municipais da lei de ratificação do protocolo de intenções para a constituição do

consórcio público. De acordo com o secretário executivo, todas as quatorze câmaras

aprovaram a lei, porém, de acordo com a página virtual do consórcio, constam treze atas,

faltando a ata de criação no município de Teodoro Sampaio. De acordo com o atual prefeito, o

município aprovou a lei, no entanto, até a presente data, não se conseguiu ter resposta da

câmara de vereadores do referido município.

Assim, na análise das treze leis dos municípios, apreende-se que, como descrito pelos

articuladores dos consórcios, as ações já haviam sido desenvolvidas em paralelo com cada

prefeitura, visto que o protocolo foi publicado em 02 de dezembro de 2009 e, apenas treze

dias depois, o município de Coração de Maria já aprovava em sua câmara municipal a

participação do mesmo no consórcio, no dia 15 de dezembro de 2009.

Outra informação descrita pela análise das atas é que as mesmas seguem o mesmo

padrão de escrita, diferenciando apenas o nome do município em questão, como pode ser

verificado no anexo 3 deste trabalho. Dos trezes municípios, quatro aprovaram o documento

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ainda em 2009, ficando o restante para o ano seguinte, sendo que o último município a

aprovar a lei foi o de Tanquinho, que aconteceu no dia 08 de junho de 2010.

Em paralelo a esse processo de aprovação nas câmaras, foi criado o estatuto social do

Consórcio de Desenvolvimento Sustentável do Território Portal do Sertão – CDSTPS (Anexo

4), sendo que, a partir dele, o consórcio foi instituído no dia 26 de fevereiro de 2010, no

município de Água Fria. Nele, são tratadas as condições necessárias à composição e

funcionalidade do consórcio.

De acordo com o secretário executivo, no mesmo ano, foram criadas as outras peças

jurídicas necessárias para a funcionalidade do consórcio. Entretanto, estas não foram

disponibilizadas para essa pesquisa, assim, apenas o contrato de rateio do ano de 2013 foi

analisado (Anexo 5), sendo ele atualizado a cada ano. Esse contrato define as regras e critérios

de participação em relação aos repasses das obrigações financeiras na consecução dos

objetivos definidos no contrato de programa.

Nele, fica estabelecido o valor que cada município deve repassar ao consórcio

mensalmente, sendo que esse montante é baseado no índice do FPM dos mesmos. Assim, no

ano de 2013, ficou definido que o rateio para o exercício de 2013 seria de 21.560,00 reais

mensais, diluído entre os municípios, como demonstrado na tabela 4.

Tabela 4. Valor do rateio mensal e anual entre os municípios que compõem o CDSTPS,

2013. Municípios Valor mensal Valor anual

Água Fria R$1.400,00 R$16.800,00

Amélia Rodrigues R$1.960,00 R$23.520,00

Anguera R$1.120,00 R$13.440,00

Antônio Cardoso R$1.120,00 R$13.440,00

Conceição da Feira R$1.680,00 R$20.160,00

Conceição do Jacuípe R$2.240,00 R$26.880,00

Coração de Maria R$1.680,00 R$20.160,00

Ipecaetá R$1.400,00 R$16.800,00

Irará R$1.960,00 R$23.520,00

Santa Bárbara R$1.680,00 R$20.160,00

Santanópolis R$ 840,00 R$10.080,00

Santo Estevão R$2.800,00 R$33.600,00

Tanquinho R$ 840,00 R$10.080,00

Teodoro Sampaio R$ 840,00 R$10.080,00

TOTAL R$21.560,00 R$258.720,00

Fonte: CDSTPS

Essas informações corroboram com o Gráfico 3 que trata das finanças públicas

municipais, no qual, os municípios que possuem um índice maior repassam um valor

proporcional a ele, como ocorre com Santo Estevão. Nas entrevistas realizadas ao longo deste

trabalho, foi observado que o município de Feira de Santana não se mostrou interessado em

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fazer parte do consórcio, devido a esse repasse, visto que o valor do FPM do município, em

2012, foi de 66.751.103,77 reais, sendo este maior do que a receita total de qualquer

município consorciado.

Em relação a São Gonçalo dos Campos, alguns entrevistados ressaltaram que este não

se integrou ao consórcio pelo mesmo motivo. Entretanto, a análise das finanças públicas

municipais, pela base FINBRA, demonstra que eles possuem uma arrecadação inferior ao

município de Santo Estevão, membro consorciado. Logo, isso não é um motivo da não

participação. Assim, reafirma-se a justificativa de que o gestor não participava das ações do

território, mostrando-se desinteressado em participar dessa nova institucionalização, o que é

bastante compreensivo, visto que um consórcio público é formado pela ação voluntária de

participação dos membros.

Segundo os membros do consórcio, esse valor mensal descrito em 2013 foi o mesmo

estabelecido nos anos anteriores a sua formação, assim como no ano em exercício de 2014. O

que vale destacar que esse valor é utilizado para manutenção e para o pagamento do salário de

alguns funcionários do consórcio, ressaltando que alguns técnicos são pagos pelos convênios

firmados, como melhor descrito nas seções seguintes.

Esse método financeiro de manter o consórcio esteve vigente até agosto de 2014,

período no qual foi aprovada uma nova forma de manutenção da instituição. Diante dos

convênios já firmados, a assessoria jurídica, junto ao secretario executivo, descobriu que um

consórcio público poderia ser mantido pelo Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza –

ISS, imposto este que os municípios recebem por realizarem a implantação do projeto,

acabando assim o rateio baseado no FPM. Isso foi possível com o convênio assinado com o

Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome – MDS, o projeto Segunda Água,

no valor de R$ 14.795.205,00 reais a serem aplicados em tecnologias sociais, melhor

detalhado em seções posteriores.

Aqui, cabe destacar que essa nova forma de arrecadação gerou uma frente de trabalho

dos técnicos do consórcio com os assessores financeiros e contadores das prefeituras, com o

intuito de discriminar, de forma detalhada, as contas públicas dos entes envolvidos,

cumprindo as prerrogativas da Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF.

Sendo assim, de acordo com a legislação relativa ao ISS e ao convênio assinado, 5%

do valor do serviço executado são destinados aos municípios. Destes, 15% são destinados ao

setor de educação, 25% à saúde e 60% sem designo específico, portanto esse valor sem

destino é repassado ao consórcio à sua manutenção. Portanto, o valor a ser repassado é

proporcional à quantidade de tecnologias construídas nos municípios.

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Caso o consórcio execute um novo convênio que gere ISS, consequentemente ele

ganhará mais recursos à sua manutenção e, de acordo com a fala do secretário executivo, em

uma assembleia realizada no dia 29 de outubro de 2014, “quanto mais recurso à gente tiver,

mais podemos buscar projetos e investir no consórcio”. (Secretário Executivo do CDSTPS,

fala em assembleia geral, realizada em 29.10.2014).

De acordo com essa breve descrição, o consórcio é autossustentável. Entretanto, todas

essas informações foram colhidas durante assembleias da entidade, utilizando o procedimento

metodológico de observação, nenhuma informação acerca disso foi divulgada nos canais de

comunicação do consórcio, assim como a lei de alteração do contrato de rateio não foi

disponibilizado à pesquisadora. Por isso, ainda não há maiores informações a respeito desse

novo procedimento financeiro.

4.4 Os agentes, as regras e as rotinas no Consórcio Portal do Sertão

Do ponto de vista institucional, esse arranjo associativista territorial, depende

exclusivamente dos membros consorciados, as prefeituras – na figura dos prefeitos e dos

técnicos contratados para o serviço.

O consórcio foi formado entre 2009 e 2010. Nesse período, os chefes do executivo nos

quatorzes municípios, eram, em sua maioria, homens, contendo apenas duas mulheres em

Antônio Cardoso e Conceição do Jacuípe. Eram filiados a diversos partidos, sendo: um do

Partido Progressista – PP; quatro do Partido dos Trabalhadores – PT; cinco do Partido do

Movimento Democrático Brasileiro – PMDB; um do Partido da Social Democracia Brasileira

– PSDB; um do Democratas – DEM; um do Partido da República – PR e; um do Partido

Socialista Brasileiro – PSB.

Dentre eles, cinco pertenciam à base aliada do governo estadual no período (PT e PP),

e outros sete apoiaram o governo por conta própria. No entanto, segundo a entrevista com os

articuladores do consórcio, isso não foi impedimento às negociações de cooperação, pois “o

prefeito de Teodoro Sampaio, que era oposição ao governo (estadual), na época, foi um dos

prefeitos mais empenhados na construção do projeto do consórcio. Ele acreditava na ideia e

abraçou a causa”, afirma o secretário executivo.

Em 2012, houve novo processo eleitoral para os cargos municipais e nove novos

prefeitos assumiram o executivo dos quatorzes prefeituras consorciadas. Sendo eles na cidade

de Água Fria; Antônio Cardoso; Conceição da Feira; Conceição do Jacuípe; Coração de

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Maria; Ipecaetá; Santa Bárbara; Santo Estevão e Teodoro Sampaio. Diante dessas mudanças

nos membros executivos e, consequentemente, nos membros do consórcio, a secretaria

executiva e a presidência do CDSTPS saíram em busca de diálogos com esses prefeitos, com

o intuito de manter as ações do consórcio em pleno funcionamento.

Em paralelo a essas conversas, alguns projetos já aconteciam nos municípios, sendo

estes porta-vozes da importância de participação no consórcio, segundo o representante do

município de Coração de Maria, que, em entrevista, afirmou que

“a minha relação com o consórcio começou com 200 mil reais destinados para

abastecimento de carro pipa no início da minha gestão, isso foi positivo para mim

por causa do combate a seca e para entender os benefícios de se consorciar”

(Prefeito de Coração de Maria, em entrevista concedida em 29/10/14).

O perfil dos membros atuais do consórcio é variado. Sobre a filiação partidária alguns

dos reeleitos mudaram de partidos, entrando novos partidos a essa delimitação diversificando

ainda mais esses membros quanto ao partido sendo eles: um do PP; cinco do PT (aumentando

um da composição passada); um PMDB (diminuindo quatro da gestão do consórcio passada);

um do PSB; três do Partido Social Democrático – PSD; um do Partido Democrático

Trabalhista – PDT; um do Partido Republicano Brasileiro – PRB e; um do Partido Social

Cristão – PSC. Sendo que, desses partidos, 12 prefeitos são da base aliada do governo do

estado.

Em relação ao gênero, há apenas uma mulher como chefe do executivo dos municípios

pertencentes ao Consórcio Portal do Sertão, a prefeita de Conceição do Jacuípe. Sobre o nível

de escolaridade, 42% dos prefeitos possuem nível superior completo; 28% nível médio

completo; 14% nível superior incompleto e 7% nível fundamental completo e incompleto.

Na busca em entender de forma mais aprofundada a funcionalidade e os mecanismos

do consórcio que eles são membros, foi questionado aos representantes do executivo (9

entrevistados, entre prefeitos e vice-prefeitos) sobre o histórico do consórcio, dentre eles,

apenas três representantes conheciam o processo de criação do CDSTPS.

Os prefeitos atuais afirmavam que não buscaram saber informações sobre essa fase da

instituição e cinco entrevistados salientaram que conhecem pouco sobre os consórcios

públicos, até de forma geral. Isso muitas vez era confirmado com as questões que dizem

respeito à prospecção do consórcio (últimas questões do questionário norteador), no qual as

respostas eram vagas e baseadas nos ganhos dos projetos, ou seja, muitos deles não possuem

conhecimento sobre esse arranjo institucional e nem do ordenamento jurídico de um

consórcio público.

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Sobre a existência de cooperação entre os municípios antes da implantação do

consórcio, todos afirmaram que não existia. Exceto em casos de problemas na divisa, logo,

apenas nos municípios vizinhos. O que fez existir essa aproximação foi a constituição dos

Territórios de Identidades e do Colegiado Territorial, ou seja, com essas ações houve a

institucionalização de um território.

Nesse ponto, cabe destacar uma descoberta com a pesquisa de campo: segundo o

representante de Conceição da Feira, o seu município, por volta do ano de 1998, fez uma

cooperação com os municípios de São Gonçalo dos Campos, São Félix e Muritiba para a

concessão de maquinário, a fim de melhorar as estradas vicinais e a logística de utilização de

uma ambulância. Essa cooperação não tinha um ordenamento jurídico, mas funcionou de

forma atuante nesse território, entretanto, ela durou apenas a gestão dos prefeitos no período.

E desses quatro municípios, três pertencem a consórcios, Conceição da Feira ao CDSTPS e

São Félix e Muritiba ao CIRB, consórcios diferentes em TI também diferentes.

Outro ponto a ser analisado nessa seção é o papel dos técnicos4 do consórcio. De

acordo com o secretario executivo, os técnicos são escolhidos a partir da função que eles vão

desempenhar, essa escalação se dá através de um processo seletivo simplificado e/ou por meio

de indicações de profissionais das prefeituras consorciadas. Assim, nos primeiros seis meses

de existência, o consórcio contava apenas com dois funcionários, entretanto, atualmente, a

entidade conta com 52 técnicos distribuídos em várias funções e projetos, a saber:

administradores advogado, assistentes sociais, biólogo, contadores, médico veterinário,

engenheiro agrimensor, engenheiro agrônomos, engenheiro ambiental, gestor de pessoas,

gestor público, jornalista, publicitário, operadores de máquinas, telefonista e serviços gerais.

Nas entrevistas com os representantes dos municípios, foi apontado que os técnicos

têm autonomia para buscar os projetos, até porque o único prefeito que já pesquisou e

encontrou ações a ser realizada pelo consórcio foi o prefeito de Amélia Rodrigues, que é o

presidente da entidade. Dito isso, o papel dos funcionários no consórcio Portal do Sertão é

fator primordial para sua existência e seu desempenho positivo frente aos outros consórcios

no estado da Bahia e á quantidade de ações já executadas.

Também se apreende que há uma confiança dos prefeitos em relação à equipe técnica,

e essa é oriunda do papel que o secretario executivo exerce. De formação agrônoma, o

secretário é chefe de toda a equipe técnica, já que o cargo dele está abaixo da assembleia e da

presidência como estabelecido por lei; tem uma boa articulação com os prefeitos e mantém

4 Técnicos são os funcionários da entidade. Utiliza-se esse nome devido à forma como os mesmos são tratados

dentro do consórcio.

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sua equipe de forma próxima, o que favorece a coesão interna entre os membros. Participa de

todas as fases das ações, na maioria das vezes, é ele quem cria os projetos e tem as ideias de

novas formas de gerir essa instituição cooperada.

A sua forma de gerir os funcionários do consórcio é centralizadora, seu foco é no

resultado e, para isso, criou uma reunião mensal, que acontece, geralmente, na última sexta

feira do mês, com todos os funcionários por setor, com o intuito de saber o andamento das

ações, especialmente as atuações no campo, ou seja, prestação de contas do mês que se

passou. Entretanto, cabe destacar que o clima nessa reunião e entre os técnicos é bastante

amistoso, pois, ao mesmo tempo em que eles são muito cobrados para realizar as ações no

prazo estabelecido, o secretário disponibiliza toda infraestrutura para o trabalho, além de

muitas vezes criar estratégias para solucionar os problemas existentes.

Sendo assim, diferentemente de como descrito no protocolo de intenções, a

composição organizacional do consórcio não conta com o Conselho Consultivo, ou com um

Conselho Fiscal, como salienta a Lei de 2005. Na verdade, no Consórcio Portal do Sertão,

apenas um chefe do executivo exerce uma função, o de presidente, sendo o mesmo desde a

sua formação. Assim, na prática, a estrutura interna do consórcio é a descrita na figura 15.

Nessa estrutura, há uma hierarquia decisória, de acordo com a legislação, onde a

instância máxima é a assembleia geral composta pelos representantes do poder executivo.

Também apreende-se que o secretário executivo exerce um papel de chefia dos técnicos do

consórcio e que estes são divididos entre setores: administrativo, contábil, controle interno,

jurídico e projeto/programa.

Entretanto, como a entidade vive de recursos baseados em seus projetos/programas,

todos os outros setores se reportam e dependem dele para existir, por isso, ele vem acima dos

outros, no organograma, e ao mesmo tempo cada projeto se relaciona com os demais setores a

fim de manter sua existência. Outro ponto a se observado com a ilustração da estrutura interna

é a função do setor de comunicação, este desempenha apoio a todos os outros setores e serve

de suporte à secretaria executiva.

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Figura 15. Estrutura organizacional do CDSTPS, 2014.

Fonte: Elaboração própria

As assembleias gerais, segundo a legislação que norteia a instituição, devem acontecer

ordinariamente, duas vezes ao ano, entretanto, segundo o secretário executivo, elas acontecem

normalmente a cada 60 dias ou sempre que tiver algo para ser deliberado, sendo o ponto alto

da coesão interna da instituição. Portanto, a pauta das reuniões é para prestação de contas das

propostas na seção anterior, assim como da situação atual e de novas deliberações a serem

Administrativo Jurídico Contábil Controle interno

Projetos/Programas

Comunicação

2 Água

SIM/SUASA

Cefir

Assembleia Geral

Presidência

Secretaria

Executiva

GAC

Patrulha

mecanizada

PNHR

Regularização

fundiária

Portal capacita

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realizadas. Nas assembleias, há a presença de representantes de cada um dos setores internos

do consórcio com o intuito de oferecer possíveis esclarecimentos quando necessário.

Para o consórcio fortalecer esta sua dimensão, expressa através da negociação dessas

demandas e mediação de conflitos, é preciso que haja entre os seus agentes um elemento de

coesão interna, percebido através da convergência de agenda (Caldas, 2007), que se reproduza

em ação cooperativa da entidade. A convergência das agendas governamentais é decisória

para esses processos, pois ela permite que todos os municípios que formam o consórcio

tenham o interesse de mobilizar a cooperação, sendo o que os une. Ou seja, é necessário que

haja uma sensibilidade das atenções de todos os representantes municipais e que estas sejam

incorporadas nas agendas governamentais locais.

De acordo com os representantes municipais entrevistados, não há conflitos em

relação às prioridades do consórcio, nem preferência por algum município nas ações, ou seja,

o processo decisório é bastante igualitário e todas as ações contemplam todos os municípios.

Cabe destacar que alguns prefeitos não são tão atuantes nas assembleias gerais, o que

fragiliza a coesão interna da entidade, diante da análise da convergência das agendas. Alguns

não participam, sendo ativamente representados pelos vice-prefeitos, que têm o mesmo poder

de representação dentro do consórcio, o que acontece com os representantes dos municípios

de Santa Bárbara e Santanópolis. Outros frequentam poucas reuniões e enviam em seu lugar o

secretário administrativo, o chefe de gabinete e/ou o secretário de agricultura, já que as

maiores ações são realizadas nessa área, sendo visto, de acordo com os entrevistados.

Contudo, dois municípios se destacaram na ausência às reuniões: Ipecaetá e Anguera, os

mesmos municípios que a pesquisadora não conseguiu contato para entrevista.

Os assuntos mais discutidos nas reuniões são: 1) saúde; 2) resíduos sólidos e; 3)

desenvolvimento rural e ambiental. Segundo o secretário executivo, a saúde não avançou

devido ao fato do estado da Bahia não ter criado nenhuma ação de descentralização nesse

setor. O segundo ponto mais discutido nas assembleias é a criação das áreas de coletas e

destinação dos resíduos sólidos, que também não avançou, apesar de ser o primeiro motivo de

criação desse consórcio. Sobre esse assunto, o secretário salienta que já fez o projeto duas

vezes, mas o estado não disponibilizou recursos para implementação.

Em relação ao desenvolvimento rural e ambiental, o consórcio se destacou, servindo

de modelo e exemplo aos outros consórcios no Brasil, destacando que essas ações se adequam

à caracterização do território pelo consórcio Portal do Sertão. O exemplo é o projeto Segunda

Água, que possui a primeira tecnologia social implantada em todo território nacional, ou seja,

a primeira cisterna calçadão construída foi no município de Tanquinho, tendo esta o número

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001 disponibilizado pelo sistema do MDS (CDSTSP, 2014). Outro exemplo é a regularização

fundiária, sendo uma ação pioneira a ser executada por um consórcio público no estado da

Bahia (SEAGRI, 2014).

Sobre as discussões e a busca de solucionar essas demandas é necessário que exista

uma consubstancial coesão interna entre os membros, pois ela faz com que o consórcio

adquira legitimidade política para intermediar e representar os interesses dos municípios.

Contudo, na entidade estudada essa coesão está centrada no papel dos técnicos, visto que os

representantes municipais não têm buscado formas de solucionar as demandas coletivas.

Portanto, muitas das ações executadas pelo consórcio foram buscadas pelos funcionários,

especialmente, pelo secretário executivo. O que leva a considerar que as ações cooperadas

ainda não foram adequadas as agendas dos governantes municipais.

O consórcio também conta com uma sede bem estruturada, localizada em Feira de

Santana. Nela tem equipamentos disponibilizados pelo GT SEDUR-SEPLAN e pelos

convênios já firmados. É o local da maioria das reuniões e de encontro para as ações da

entidade.

Como forma de dar visibilidade ao consórcio, foi criado um site, figura 16, com o

endereço eletrônico www.portaldosertao.ba.gov.br/site/index.php. Nele contêm um breve

histórico, a legislação específica do CDSTPS, o estatuto, regimento, ata de criação e algumas

atas, resoluções e portarias, além de trazer notícias sobre o andamento das atividades

desenvolvidas.

Figura 16: Site do CDS Território Portal do Sertão, 2014.

Fonte: CDSTPS

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Seguindo essa ideia de divulgação virtual, foi criado uma fanpage dentro da rede

social facebook, figura 17, com o endereço

www.facebook.com/consorcioportaldosertao?fref=ts. Nele, há um fluxo maior de

informações, substituindo o site na atualização das notícias. Também existe folder e banner

com informações sobre o consórcio e o que ele vem desenvolvendo.

Figura 17: Fanpage no facebook do Consórcio Portal do Sertão

Fonte: Domínio público

Entretanto, a maior ação de divulgação do consórcio é a assembleia itinerante. Ela foi

pensada pelo secretário executivo com o intuito de aproximar e mostrar ao poder legislativo

dos municípios e a toda população o funcionamento do consórcio. Essas reuniões são públicas

e, normalmente, acontecem nas câmaras municipais. “Pensei nisso porque via a necessidade

dos secretários municipais, a vontade deles de conhecer o que era o consorcio. E também

trazer as pessoas que participavam da discussão do território.” (Secretário Executivo do

CDSTPS, em entrevista concedida em 05/12/2014).

Assim, as reuniões, de caráter itinerário, vêm acontecendo desde o ano de 2013 e já

passaram por metade dos municípios consorciados, sendo a última realizada em Santo

Estevão, no dia 14 de fevereiro de 2014.

Como no ano de 2014 ocorreu pleito eleitoral para os entes federais e estaduais, e com

isso muitas das ações do consórcio foram negligenciadas, especialmente, no segundo semestre

do ano, sendo uma delas as assembleias com pauta e divulgação à população. Algumas vezes,

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existiam reuniões na própria sede do consórcio para decidir algo específico e urgente, onde a

mesma não era divulgada. Em outros momentos, os técnicos do consórcio saiam em cada

prefeitura a fim de adquirir assinaturas dos chefes do executivo para dar continuidade aos

projetos. Ou seja, o pleito eleitoral gerou para os municípios, mesmo não sendo as eleições

para esses entes uma nova conjuntura, que acabou sendo resplandecida na instituição

consorcial, como já destacado no primeiro capítulo desse trabalho.

Portanto, até aqui foram elencados a estrutura interna do consórcio, como deu seu

surgimento, seus agentes e como a coesão interna do mesmo vem gerando ambiente propício

para as ações a serem executadas, pois os mecanismos de decisão objetivam o alcance dos

propósitos estabelecidos pelo CDSTPS, já que os planos e interesses são transformados por e

a partir das prerrogativas internas de constituição, funcionamento e dos atos previstos por

eles.

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5. AS AÇÕES DO CONSÓRCIO PORTAL DO SERTÃO E A FORMA COMO OS

OBJETOS SE ORGANIZAM NO TERRITÓRIO

Baseado no modelo de análise desenvolvido para nortear esse trabalho, essa seção

funda-se nas ações implementadas ao longo dos cinco anos (2010-2014) de existência da

instituição. Para isso, foram levantadas todas as ações, vias programas e projetos executados

ou em execução pelo consórcio, as parcerias e as fontes de financiamentos necessários à

implantação. Ao mesmo tempo em que será analisada a forma como o consórcio vem

organizando o seu território, de acordo com seus condicionantes e suas estratégias.

As ações aqui representam a forma pela qual são implementadas as políticas no

território, quais os programas e projetos já implantados, como são feitas sua gestão, quem são

os parceiros responsáveis por essas ações, ou seja, busca apontar como as estratégias

planejadas são executadas. Para isso são analisados os tipos de programas e projetos do

Consórcio Portal do Sertão; as fontes de financiamento; quem fez a busca da ação; e quem

colabora para a implementação do programa/projeto no território consorcial. Salientando que

essas ações acabam fomentando as formas de como os objetos vêm se organizando nesse

território a partir dos processos de sua gestão.

De acordo com o presidente do consórcio, inicialmente foi muito difícil implementar

um projeto, muitas das ações travavam da parte burocrática dos procedimentos e eles não

tinham tanto conhecimento, fazendo com que o projeto voltasse para ser refeito várias vezes,

“as secretarias colocavam muitas dificuldades, a gente pensou muito... viajamos muito para

conhecer outros locais que eram exemplo. Daí, depois dos primeiros convênios, as coisas

andaram.” (Presidente do CDSTPS, em entrevista concedida em 05/12/14).

O primeiro convênio assinado pelo consórcio, em 2010, foi com a SEPLAN no valor

de R$ 66.000,00, entretanto, o valor só foi repassado em 2011. Ele já vinha com destinação

descrita: a compra de um carro para realizar a logística de contato com os municípios e a

estruturação da sede, já que até então os técnicos do consórcio se reuniam em uma sala na

prefeitura de Amélia Rodrigues.

Assim, com a sede já estruturada, em Feira de Santana, foi possível alavancar novas

ações e, a partir disso, o consórcio vem executando oito projetos e/ou convênios voltados ao

caráter rural e ao convívio com o semiárido, corroborando com a tabela 1, que mostra a

quantidade da população rural que compõe o consórcio e as figuras 10 e 11 que apontam o

predomínio do espaço rural no território.

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Assim, os projetos e programas em execução são oito, como demostrado a figura 15:

Patrulha mecanizada; Gestão Ambiental Compartilhada – GAC; Projeto Segunda Água;

Regularização Fundiária; Portal Capacita; Programa Nacional de Habitação Rural – PNHR;

Cadastro Estadual Florestal de Imóveis Rurais – CEFIR; Inspeção e Sanidade Agropecuária

SIM e SUASA.

Além desses, o Consórcio Portal do Sertão realizou, a pedido do governo do estado da

Bahia, em 2014, a distribuição de mudas e mais de 150 toneladas de sementes de milho e

feijão, devido à greve dos funcionários da EBDA, órgão responsável por esse serviço. Assim,

como o consórcio já possuía uma infraestrutura logística de presença nos municípios, devido

ao projeto Segunda Água, esse serviço foi realizado de forma eficaz até a volta dos

funcionários da entidade responsável.

Sendo assim, o CDSTPS é a entidade com o maior número de ações já implementadas,

via consórcio, no estado da Bahia, sendo destaque no cenário nacional, visto que o presidente

e o secretário executivo são convidados a participar de eventos em outros estados para

divulgar as ações do consórcio e a forma de gestão do território, sendo um dos representantes

baianos do Fórum Interconselhos, promovido pelo Governo Federal. Além de receber, em sua

sede, vários outros consórcios, no sentido de auxiliá-los na execução das ações da entidade.

A fim de trabalhar a metodologia de acordo com as ações descritas no modelo de

análise, busca-se levantar a maior quantidade de informações possíveis acerca dos projetos

implantados. E com isso, fazer uma análise a partir da lógica de organização do território

consorcial, que acontece a partir dos múltiplos processos sociais que articulam os

condicionantes desse território com as estratégias dos agentes que o compõem.

5.1. Inspeção e Sanidade Agropecuária – SIM e SUASA

A implantação do SIM/SUASA tem como principal objetivo regulamentar e fiscalizar

a produção, comercialização e transporte dos produtos de origem animal, derivados da

agricultura familiar, com a intenção de fortalecer essa forma de economia nos municípios

consorciados. Cabendo destacar que a busca desse projeto se deu em parceria de cooperação

com outros dois consórcios do estado e circunvizinhos ao Portal: o CONSISAL e o Bacia do

Jacuípe.

O Sistema Único de Atenção à Sanidade Agropecuária (SUASA), regulamentado em

2006, é um sistema unificado e sua gestão é coordenada pela União, com participação dos

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municípios e estados, através da adesão do SIM ao SUASA, os produtos inspecionados por

qualquer instância do sistema SUASA podem ser comercializados em todo o território

nacional. O Serviço de Inspeção Municipal (SIM) é responsável pelo controle da qualidade

dos alimentos processados de forma artesanal ou em agroindústrias de pequenos produtores

rurais. A liberação de produtos para comercialização é mediante análises que garantam a

qualidade microbiológica e nutricional dos alimentos, tendo como responsáveis os municípios

e, neste caso, a gestão do projeto será desenvolvida em parceria com os consórcios envolvidos

(CDSTPS, 2013).

A fim de adquirir maiores informações sobre o Projeto, em 2013, os secretários

executivos dos três consórcios foram fazer uma visita no estado de Santa Catarina,

especificamente nos municípios consorciados ao Consórcio Intermunicipal de Segurança

Alimentar, Atenção à Sanidade, Agropecuária e Desenvolvimento Local. Essa foi a primeira

ação estratégica, objetivando estabelecer mecanismos de gestão territorial do projeto, de

maneira mais eficiente.

Para o Projeto ser regularizado é necessário que as câmaras municipais aprovem um

projeto de lei de implantação, sendo assim, dos 14 municípios consorciados ao Portal do

Sertão, Irará e Ipecaetá já aprovaram a Lei que implantará o Serviço de Inspeção Municipal

(SIM), que pretende examinar e controlar a qualidade dos alimentos de origem animal

produzidos nos municípios. O município de Conceição da Feira já tem a lei aprovada desde

maio de 2012, e os outros municípios estão no processo de aprovação da legislação específica,

nas respectivas câmaras de vereadores.

Em diálogo com a Superintendência de Agricultura Familiar do Governo da Bahia e o

Ministério de Desenvolvimento Agrário, o Projeto pelo consórcio tem como objetivo por em

prática as leis aprovadas, além de implantar estrutura de apoio gestor, técnico e logístico

composta por veterinários e agrônomos, para auxiliar na execução do Serviço de Inspeção

Municipal, permitindo maior agilidade e redução dos custos operacionais. (CDSTPS, 2014)

Cabe destacar que o projeto SIM e SUASA está na fase de aprovação das leis nos

municípios e de preparação da equipe técnica que fará o trabalho. Contudo, a gestão do

serviço é uma parceria consórcio-município a partir dos critérios estabelecidos nas suas

respectivas leis municipais, baseado na legislação federal da área de atuação. Ou seja, cada

município estabelecerá os pré-requisitos que achar válidos à aplicação dos selos de acordo

com sua conjuntura.

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5.2. Cadastro Estadual Florestal de Imóveis Rurais – CEFIR

O CEFIR é um registro eletrônico que visa à formação de um banco de dados que

servirão para o controle, o monitoramento e o planejamento ambiental e econômico do estado

da Bahia, visto que, o cadastro permite a regularização de áreas ambientais do imóvel rural,

incluindo o cadastro de Reserva Legal e a regularização de passivos ambientais existentes;

além de monitorar a manutenção, a recomposição, a regeneração, a compensação e a

supressão da vegetação nativa e da cobertura vegetal nas áreas de Preservação Permanente, de

Uso Restrito, e de Reserva Legal, no interior dos imóveis rurais. Sendo desenvolvido pela

Secretaria Estadual do Meio Ambiente – SEMA, em conjunto com o Instituto do Meio

Ambiente e Recursos Hídricos – INEMA.

Com o intuito de garantir esse registro, a SEMA/INEMA estabeleceram convênios

com prefeituras municipais, consórcios intermunicipais, entidades não governamentais e

sindicatos de trabalhadores rurais, com o propósito de criar uma rede de apoio técnico aos

agricultores familiares. Assim, o governo do estado disponibiliza às entidades conveniadas

recursos para a gestão e execução do cadastro. (SEMA/INEMA, 2013).

De acordo com a SEMA, para os municípios pertencentes ao CDSTPS, a parceria via

essa entidade foi estabelecida pelo fato do Consórcio vir desempenhando, de forma eficaz,

projetos relacionados ao espaço rural do território institucionalizado. (SEMA, 2014).

Assim, para essa ação, o Consórcio Portal do Sertão conta com 11 técnicos que vão a

campo cadastrar as famílias no interior dos imóveis rurais dos 14 municípios. Ao total já

foram realizados o cadastro de 2.079 beneficiários, totalizando 6.786,96 hectares de terra. De

forma detalhada, a tabela 5 traz a quantidade de agricultores cadastrados e a área cadastrada,

até o final de 2014, nos municípios consorciados.

Tabela 5: Quantidade de cadastro e área cadastrada do programa CEFIR nos municípios

consorciados ao CDTSPS, 2014. Munícipios Número de cadastro Área cadastrada (ha)

Água Fria 135 362,16

Amélia Rodrigues 45 57,00

Anguera 140 547,30

Antônio Cardoso 201 691,43

Conceição da Feira 121 267,84

Conceição do Jacuípe 29 68,00

Coração de Maria 238 652,69

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Ipecaetá 197 877,15

Irará 285 595,51

Santa Bárbara 138 394,81

Santanópolis 156 333,88

Santo Estevão 108 215,31

Tanquinho 216 1.381,33

Teodoro Sampaio 70 342,54

TOTAL 2.079 6.786,96

Fonte e elaboração: CDSTPS

Aprende-se na análise da tabela que nem sempre o quantitativo de cadastro

corresponde à área territorial cadastrada. Um exemplo disso é que o município de Tanquinho

teve 216 cadastros e é o maior quantitativo de área cadastrada. Outra analise desse programa é

que o município de Conceição do Jacuípe, por ser o município dentre os 14 com o maior grau

de urbanização, tem a menor quantidade de agricultores/área cadastrados.

Para a equipe técnica do programa um dos maiores motivadores para esse cadastro é

que o processo de regularização da propriedade e a obtenção de licenciamento ambiental é um

dos pré-requisitos para o acesso a financiamentos em instituições financeiras brasileiras, o que

faz com os proprietários rurais busquem se adequar as normas.

5.3. Projeto Regularização Fundiária

Esse Projeto baseia-se na regularização fundiária rural com o objetivo de identificar,

delimitar e regularizar a ocupação da posse de terras públicas estaduais rurais e devolutas que

se tornaram produtivas. Ao ocupante da área rural e também das comunidades remanescentes

de quilombo, comunidades tradicionais de fundos de pastos e fechos de pastos é expedido o

Título Definitivo da terra para ser utilizada nas atividades já existentes, tais como: agrícola,

agropastoris, florestais ou agroindustriais.

A Coordenação de Desenvolvimento Agrário – CDA já faz esse tipo de serviço de

forma não tão extensiva como desejaria, por isso, procurou a parceria com o Consórcio com o

intuito de conferir mais eficiência e agilidade aos processos. Segundo o secretário estadual da

agricultura “a iniciativa oferece novas possibilidades para ampliação da política

implementada pelo governo do Estado, de regularização das posses dos agricultores

familiares, alcançando uma escala cada vez maior de propriedades, para que a Bahia possa

emitir o título definitivo”. (Entrevista concedida a Ascom Seagri, em 30 de julho de 2014).

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O Projeto contribuirá para o ordenamento agrário de forma articulada e sustentável,

promovendo o diálogo entre as ações da política estadual, territorial e municipal,

potencializando a utilização de recursos, em conformidade com os princípios da

economicidade e da eficiência administrativa, a efetividade das ações na busca de um modelo

de desenvolvimento territorial. Vale destacar também que, a partir do projeto proposto, os

agricultores poderão regularizar suas ocupações de forma gratuita (SEAGRI, 2014).

Esse é um projeto piloto, exclusivamente aos agricultores familiares dos municípios

que compõem o Consórcio Portal do Sertão. A previsão é atender e realizar mais de 16.000

cadastros literal e gráfico (georreferenciamento), de agricultores familiares em terras públicas

estaduais, rurais e devolutas, com área até 100 hectares, de forma individual, pela modalidade

de alienação gratuita (doação) ou alienação simples, com duração de 24 meses, contando a

partir da data de assinatura do convênio que aconteceu em 29 de julho de 2014.

Esse consórcio foi escolhido por conter dez municípios que tiveram situação de

emergência decretada devido aos efeitos da seca nos últimos anos. Além disso, o Consórcio

Portal do Sertão já está realizando o cadastro no Cadastro Estadual Florestal de Imóveis

Rurais – CEFIR, por meio de celebração de acordo de cooperação técnica com a Secretaria do

Meio Ambiente – SEMA do estado da Bahia. Portanto, a caracterização do território e o papel

desempenhado pelo consórcio foram imprescindíveis a essa parceria.

Ao Consórcio Portal do Sertão, cabe realizar as seguintes atividades de gestão

territorial:

Identificação das áreas de posses em terras públicas estaduais, rurais e devolutas

limitadas a 100 hectares;

Cadastramento dos ocupantes (agricultores familiares) das áreas de posse (em terras

públicas estaduais, rurais e devolutas), que cumpram os requisitos para a

regularização fundiária;

Vistoria e georreferenciamento das áreas a serem regularizadas.

Os recursos humanos capacitados, infraestrutura e equipamentos para

operacionalização dos procedimentos para regularização fundiária é desenvolvido sob a

coordenação, supervisão e fiscalização da Secretaria Estadual da Agricultura/Coordenação de

Desenvolvimento Agrário – SEAGRI/CDA.

Aos municípios consorciados, cabe formar uma comissão para gerir essas ações com:

(1) Um membro do poder Executivo; (2) Um membro do poder Legislativo; (3) Um membro

do Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável; (4) Um membro do sindicato rural.

A ideia dessa comissão é a de auxiliar a equipe técnica do consórcio com o levantamento dos

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agricultores familiares que receberam o projeto e fiscalizar a gestão territorial do mesmo,

fazendo com que representantes da população local participem de todo o processo de

regularização.

A escala de atuação é para todos os municípios que compõe o CDSTPS, mas, como se

trata de um teste piloto, a primeira fase acontecerá em cinco municípios: Santa Bárbara;

Anguera; Água Fria; Ipecaetá e Teodoro Sampaio, com o cadastro e a entrega de títulos de

terra a 200 agricultores familiares por município. Após essa fase, será efetuada a entrega de

mais de 1000 cadastros em todos os municípios consorciados.

Já foi feito o cadastro de 85 agricultores no município de Santa Bárbara, 79 no

município de Anguera e 59 em Água Fria. Sendo que, de acordo com a técnica do consórcio

responsável pelo projeto, o maior problema existente para o cadastro é detectar quais são as

terras devolutivas no território, diante disso, ela salienta o papel dos municípios em buscar

entre seus munícipes os beneficiários da ação.

5.4. Programa Nacional de Habitação Rural – PNHR

O programa é uma das facetas do Programa Minha Casa Minha Vida, do governo

federal, que concede financiamento subsidiado com objetivo de reduzir a precariedade

habitacional rural, levando moradia digna e incentivando a manutenção da família no campo

como: os agricultores familiares, trabalhadores rurais e/ou pertence a comunidades

tradicionais, por meio da construção de uma casa nova ou da conclusão, reforma ou aumento

do imóvel já existente.

Os recursos para produção da unidade habitacional são oriundos do Orçamento Geral

da União – OGU e são concedidos diretamente às pessoas físicas, trabalhadores rurais ou

agricultores familiares, organizadas sob a forma coletiva, por uma Entidade Organizadora,

que, nesse caso, é o CDSTPS. De acordo com o secretário executivo esse programa foi uma

busca da instituição a partir das demandas dos municípios, no qual foi feito um projeto,

submetido ao Programa Minha Casa Minha Vida sendo o consórcio contemplado. Nesse caso

a meta é a construção de até 50 habitações rurais por município consorciado.

Assim, o programa beneficiará a família com renda bruta anual de até R$ 15.000,00,

sendo concedido o subsídio de R$ 28.500,00 para cada construção da casa. A contrapartida do

beneficiário corresponde a 4% incidentes sobre o valor do subsídio concedido para a ação da

unidade habitacional.

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Ao Consórcio Portal do Sertão, cabe realizar as seguintes atividades de gestão: o

cadastro da família beneficiada em parceria com a prefeitura; a construção, pela assistente

social do consórcio, de um projeto social de cada município como toda a situação das famílias

que serão contempladas pelo programa; acompanhar e ficar a cargo da prefeitura e da

comissão para quaisquer necessidades futuras.

Aos municípios consorciados cabe: fazer o levantamento das famílias que serão

beneficiadas com a construção das habitações. Normalmente fica a cargo da Secretaria

Municipal de Assistência Social e/ou Secretaria Municipal de Agricultura, a assistente social

do Portal vai a campo conversar com cada um dos possíveis beneficiados e conhecer a sua

realidade, para dar respaldo à escolha feita; trabalhar em parceria com a comissão formada

entre os beneficiários.

Aos beneficiários cabe: formar uma comissão entre os próprios beneficiários para

acompanhar a execução dos serviços; a forma como será realizado a construção (se cada

beneficiário fará ou se contratará uma empresa especializada); prestar contas à Caixa

Econômica Federal.

Ressaltando, mais uma vez, a participação da população no processo de gestão dessa

política pública, como um dos requisitos estabelecidos na Constituição Federal de 1988.

Esse programa aponta para um processo descentralizador, como descrito no capítulo

três desta dissertação, no qual, a União disponibiliza um projeto, a ser gestado por uma

entidade norteadora, a fim de fazer com o que o objetivo final seja atendido. Sendo que essa

descentralização tem um viés de tutelamento e de cooperação, uma vez que a União elaborou

a política sem o apoio das outras instâncias, entretanto à sua execução há graus de autonomia

a cada esfera que participa da ação. Pois os municípios têm certa autonomia para decidir qual

munícipe será beneficiado, a fluidez de como a ação será gerida e executada no território, uma

maior proximidade do local à ação, relação face-a-face, além de dar maior idoneidade ao

processo.

Portanto, a situação atual do projeto é a seguinte: Os municípios de Santa Bárbara,

Teodoro Sampaio, Coração de Maria e Amélia Rodrigues já selecionaram as famílias

beneficiárias e a comissão e aguardam o repasse do valor para a confecção das habitações. Os

municípios de Conceição da Feira e Irará também estão com o projeto social, com as famílias

selecionadas e comissão prontos, bastando apenas entregar à Caixa. No entanto, devido às

restrições orçamentárias, a entidade só receberá a verba no ano de 2015. Já os outros oitos

municípios, estão em fase de levantamento das famílias a serem beneficiadas com o

programa.

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5.5. Programa Patrulha Mecanizada

Como já pontuado no capítulo anterior, o programa Patrulha Mecanizada foi

idealizado pelo governo do estado, através da Secretaria de Desenvolvimento e Integração

Regional – SEDIR, com o objetivo de beneficiar a população que convive com a seca no

semiárido, através da construção e limpeza de aguadas, barreiros, barragens, além da

manutenção das estradas vicinais, estradas de caráter secundário, na maioria das vezes

municipais, que, em geral, não dispõem de asfaltamento, melhorando as condições de

transporte dos usuários, o escoamento da produção agrícola e a segurança dos moradores,

beneficiando doze consórcios públicos baianos. (CDSTPS, 2013).

O programa conta com quatro máquinas: trator de esteiras, pá carregadeira,

escavadeira hidráulica e um caminhão basculante, que somam, aproximadamente, R$ 1,5

milhão, os quais foram recebidos pelo Consórcio Portal do Sertão, em agosto de 2013,

ficando a seu critério a forma de trabalhar das máquinas.

No ato da entrega, o secretário estadual da Casa Civil, do período, destacou a

importância da iniciativa para o desenvolvimento do Semiárido. “Vamos fortalecer os

Consórcios para que eles tenham condições de agirem em benefício direto de seus municípios.

O objetivo é garantir, cada vez mais, a capilaridade das ações do Governo, para,

principalmente, fortalecer a agricultura familiar e dar qualidade de vida à população

sertaneja” (Site da CDSTPS, 2013).

Sendo assim, em assembleia geral, foi acordada a forma de gestão do programa com a

intenção de abranger todo o território normatizado. Assim, ficou decidido que o maquinário

ficaria sobre a responsabilidade de coordenação do CDSTPS e que a utilização das máquinas

seria via sorteio entre os municípios consorciados e o equipamento a ser utilizado, podendo

haver mudanças entre esses, a depender da necessidade de cada ente, além da questão do

abastecimento, manutenção, coordenação da patrulha e quantas horas ou dias as máquinas

permaneceriam em cada município.

Esse programa corrobora com o conceito de gestão do território estabelecido para esse

trabalho, no qual esse processo de gerenciamento, nesse caso do maquinário, direciona a

forma de como as ações estão se dando no território, como cada membro busca solucionar

suas demandas territoriais.

Assim, ao consórcio cabe coordenar as ações e manter os equipamentos funcionando,

além dos salários dos operadores das máquinas, a cada prefeitura, cabe a contrapartida de

hospedar e alimentar os operadores e dispor de combustível para o funcionamento das

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máquinas. Assim, o cronograma e as regras foram definidas em consenso com os chefes

executivos municipais. Para isso, eles criaram a tabela 6, a fim de coordenar a ação. Nela, há

todos os meses de 2014, salientando que o programa começou em setembro de 2013, mas a

entidade só disponibilizou as atividades a partir de 2014, além de informar qual máquina

estava no município.

A fim de contemplar um melhor entendimento da gestão territorial desse programa, a

tabela conta com a seguinte legenda:

1. Escaveira hidráulica

2. Caminhão basculante

3. Trator de esteiras

4. Pá carregadeira

Tabela 6. Gestão da patrulha mecanizada; cronograma de utilização e municípios

contemplados, 2014. Meses 2014

Município Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Água Fria 1 3 2 2

Amélia

Rodrigues 2 e 4 4 4 4 3 1 1 e 3

Anguera 4 3 1 1, 2 e

3 2 2

Antônio Cardoso 2

Conceição da

Feira 3

Conceição do

Jacuípe 2

Coração de

Maria 1 3 1

Ipecaetá 1 3

Irará 3 1 1 1

Santa Bárbara 2 1

Santanópolis

Santo Estevão 3

Tanquinho 4 1 e 3 4

Teodoro Sampaio 2 3 2 e

3 2

Fonte e elaboração: CDSTPS

Como ressaltado anteriormente, foi realizado um sorteio para beneficiar todos os

municípios com todas as máquinas, entretanto, houve bastante alteração ao longo do ano. De

acordo com o técnico do consórcio e coordenador do programa, muitos prefeitos, no mês de

receber o benefício, não têm dinheiro disponível para cobrir as contrapartidas necessárias. Já

outros enfrentaram algum tipo de necessidade urgente, a exemplo de desabamento de encosta,

de maneira a proceder a troca do uso do equipamento com outro município.

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Em entrevista o representante do município de Santo Estevão salientou que nunca fez

tanta questão de receber o programa, visto que já possui boas máquinas em seu município, as

quais suprem a necessidade, além do fato de nunca ter precisado para resolver alguma

demanda urgente. “Sempre que os outros municípios precisam e o técnico solicita, eu cedo a

minha vez, nós temos algumas máquinas. Também meu município é mais urbano, assim

preciso pouco desse tipo de serviço.” (Prefeito de Santo Estevão, entrevista concedida em

29.10.2014). Essa fala, assim como a análise do quadro anterior, acaba apresentando o perfil

do gestor público e a forma de como ele vê o benefício que esse serviço gerará a população

local.

No intuito de demostrar a organização desse território, de acordo com esse programa,

este trabalho traz algumas imagens de ações realizadas pelos equipamentos. A Figura 18 traz

a limpeza de uma aguada no município de Água Fria, através da escavadeira hidráulica. A

Figura 19 mostra a construção de uma barragem no município de Coração de Maria com o

trator esteira.

Figura 18. Limpeza de aguada em Água Fria, 2014.

Fonte: CDSTPS

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Figura 19. Construção de barragem em Coração de Maria, 2014.

Fonte: CDSTPS

5.6. Programa Estadual de Gestão Ambiental Compartilhada – GAC

A Secretaria do Meio Ambiente – SEMA do estado da Bahia criou o Programa

Estadual de Gestão Ambiental Compartilhada – GAC, em 2009, com a intenção de orientar os

municípios sobre como tratar e estabelecer suas administrações ambientais, através de ações

de capacitação para os gestores e técnicos, e de apoio no processo de organização das

estruturas e alternativas de financiamento. Esse programa trabalha a descentralização da

gestão pública, fortalecendo os órgãos municipais de meio ambiente para o exercício de sua

competência para a gestão ambiental, ou seja, repassar para os municípios a capacidade de

emitir a licença ambiental, o que acaba por aumentar a capacidade do poder público

municipal, além de gerar recursos financeiros aos cofres públicos (SEMA, 2013).

Neste projeto, um dos objetivos específicos é o de apoiar a gestão ambiental através de

convênios com consórcios públicos de desenvolvimento sustentável, exemplificando as ações

de fortalecimento do governo da Bahia a esse arranjo federativo. Assim sendo, em julho de

2013, a SEMA firmou um convênio com o Consórcio Portal do Sertão, que fez a Bahia

despontar como primeiro estado brasileiro a conveniar a gestão ambiental compartilhada com

um consórcio público intermunicipal e repasse de recursos financeiros para os mesmos. Essa

parceria veio através da própria secretaria que buscou o CDSTPS para gerir o projeto.

(SEMA, 2013).

De acordo com a secretaria, o objetivo de trabalhar com o consórcio é colaborar com

os municípios diante de suas dificuldades localizadas na sua estrutura e nos poucos recursos

técnicos. Sendo assim, o valor total do convênio é de R$ 280 mil por ano, além de

equipamentos como um carro, computadores, decibilímetros e GPS para auxiliar no trabalho

de fiscalização, cumprindo assim, o convênio de apoio técnico e financeiro. Sendo que parte

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desses recursos será financiada pelo Programa de Desenvolvimento Ambiental (PDA), através

de empréstimo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

A gestão desse programa se dará pelo consórcio com a contratação de quatro

funcionários: dois engenheiros agrônomos, um engenheiro ambiental e um biólogo. Técnicos

que cumprem a função de inspecionar e fiscalizar as entidades que têm um potencial à

poluição nos municípios. Além de motivar a regularização dessas instituições baseadas nas

resoluções específica da área.

Aos municípios, compete a aprovação em câmaras legislativas da lei municipal que

estabelece as prerrogativas de regularização da situação da entidade e a criação de um

conselho municipal do meio ambiente. Como esse projeto gera receita ao ente municipal, para

isso o papel do conselho é criar um fundo municipal de meio ambiente e nortear onde serão os

investimentos do meio ambiente municipal, com a intenção de melhorar a qualidade de vida

da população.

De acordo com o técnico do consórcio, coordenador desse projeto, o maior obstáculo

que ele enfrentou foi à aprovação da lei, que requeria uma adequação a cada conjuntura

municipal e a criação efetiva do conselho municipal, sendo que existiram alguns municípios

que passaram mais de um ano para aprovar a lei, o que acaba dificultando o processo.

Entretanto, o primeiro passo deste plano de trabalho é de informar, educativamente, a

importância de regularizar ambientalmente a atividade empresarial, para isso, mesmo sem as

leis aprovadas, os técnicos contratodos para esse convênio saem a campo com a intenção de

informar e auxiliar as entidades a regularizarem a sua situação. Após essa fase, com todas as

informações disponibilizadas e as leis criadas, a prefeitura pode aplicar sanção às instituições

que ainda não se licenciaram.

Outro fato pontuado pelo coordenador é que as demandas ficam a cargo das entidades

que desejem se licenciar, ou seja, eles só podem dar o parecer técnico5 autorizando o

município a liberar a licença baseado no interesse da instituição. Diante disso, a sequência dos

procedimentos necessários ao licenciamento depende da atividade empresarial desenvolvida,

da entrega de todos os documentos solicitados, da análise da prefeitura, inspeção e parecer

técnico do consórcio e, só assim, a prefeitura pode licenciar a entidade.

Como já salientado, esse projeto está focado na parte de fiscalização educativa, na

disseminação das informações necessárias ao licenciamento, sendo que o município de

5 Como o parecer técnico deve ser assinado por profissionais qualificados, os técnicos do consórcio realizam essa

atividade. Mas caso o município possua uma junta de funcionários preparados a essa atividade, eles têm

autonomia para realizar a ação.

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Amélia Rodrigues e de Ipecaetá por já terem aprovado suas respectivas leis municipais, já

começaram a emitir licenças.

5.7. Projeto Segunda Água

O projeto tem o objetivo promover a conservação, a preservação e a reconstituição dos

agroecossistemas, com a adoção de práticas focadas no ambiente natural, através da

construção de tecnologias sociais de captação de água da chuva em propriedades de

agricultores familiares do semiárido sendo que essa água será utilizada para a produção

agropecuária, possibilitando o desenvolvimento econômico, social e ambiental de maneira

sustentável dos agricultores familiares.

O projeto, oriundo do Governo Federal, através do Ministério do Desenvolvimento

Social e Combate à Fome – MDS, engloba três grandes ações destinadas à população rural do

semiárido: (1) o Projeto Primeira Água – tecnologias sociais para o consumo; (2) o Projeto

Segunda Água – tecnologias sociais à produção e; (3) o Projeto Terceira Água – tecnologias

sociais para as escolas. Tecnologias sociais é o termo dado ao conjunto de técnicas e

metodologias transformadoras, desenvolvidas e/ou aplicadas na interação com a população e

apropriadas por ela, que representam soluções para inclusão social e melhoria das condições

de vida. O MDS, atualmente, financia a implementação de diversos tipos de tecnologias como

cisterna calçadão, cisterna de enxurrada, barragem subterrânea, tanque de pedra, sistema de

barraginhas, barreiros trincheiras, entre outras (MDS, 2014).

Sendo assim, como destacado no capítulo III, três consórcios na Bahia receberam esse

programa em 2013, eles juntaram forças para elaborar o projeto e ao mesmo tempo deram

entrada no MDS no sentindo de fortalecer a ação consorcial do território. Assim, para o

CDSTPS foi repassado o valor de 14.795.205,00 reais para a construção de 1300 tecnologias

sociais nos 14 municípios consorciados, do tipo da cisterna calçadão, barreiros trincheiras e

barragem subterrânea.

A cisterna calçadão é um tipo de reservatório de água cilíndrico, coberto e

semienterrado, que permite a captação e o armazenamento de águas das chuvas a partir de

umcalçadão de 200 m². O reservatório é coberto e fechado, protegido da evaporação e das

contaminações causadas por animais. A área de captação, chamada calçadão, tem sua área

delimitada por um meio fio, e fica num plano mais elevado que o reservatório, dotado de uma

pequena declividade visando conduzir a água para uma caixa de decantação e daí para o

reservatório. (MDS, 2014).

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Já os barreiros trincheira são reservatórios escavados no subsolo, com paredes

verticais, estreitos e profundos. O barreiro trincheira de referência deve ser capaz de

armazenar pelo menos 500 m³ de água, e deve possuir entre 3 e 5 metros de profundidade, de

forma a reduzir a evaporação e manter a água acumulada por mais tempo. (MDS, 2014).

A barragem subterrânea é um barramento transversal ao leito das enxurradas, córregos

e riachos temporários, por meio da fixação de uma manta de plástico flexível em uma vala

escavada até encontrar o cristalino ou impermeável, que é uma camada rochosa característica

dos solos de grande parte do semiárido brasileiro. Sua função é reter a água da chuva que

escoa em cima e dentro do solo, proporcionando a formação ou elevação do lenço freático.

(MDS, 2014).

A escolha dessas tecnologias deu-se através do estudo do MDS em relação à

caracterização física do território do consórcio. Na sua gestão cabe ao consórcio o

monitoramento e acompanhamento das atividades, visto que a execução do serviço fica a

cargo de uma entidade executora, contratada através de seleção pública, nesse caso específico,

a ganhadora da triagem foi a Fundação de Apoio à Agricultura Familiar do Semiárido da

Bahia – FATRES, entidade formada em 1996 que, ao longo do tempo, vem desenvolvendo e

executando projetos no semiárido baiano.

Diante dessa seleção, a FATRES contratou uma equipe técnica composta por 12

funcionários: um coordenador; dois supervisores técnicos; sete técnicos de campo

(engenheiros agrônomos), sendo um para atuar em duas cidades consorciadas e; um apoio

administrativo. Além desses, o consórcio disponibiliza de um coordenador e dois apoios

administrativos para fiscalizar e auxiliar nos trabalhos.

Às prefeituras cabe uma contrapartida no valor de 144.952,05 reais a ser repassado no

primeiro e no último mês do programa, além de acompanhar a seleção das famílias e auxiliar

a entidade executora do projeto. Para implementar qualquer uma das tecnologias de captação

e armazenagem de água da Segunda Água, é necessário seguir alguns passos:

(1) Mobilização: as ações preparatórias nos municípios, mostrando o objetivo do

programa à população e a formação de um Conselho Municipal de Desenvolvimento

Sustentável – CMDS, caso o município ainda não o possua. Sendo que a partir do CMDS é

formada uma comissão destinada a acompanhar o projeto. Interessante destacar aqui o papel

da participação popular nas ações do governo federal na implantação dos programas.

(2) Cadastro dos beneficiários: a comissão, junto com o técnico da FATRES, escolhe o

beneficiário, baseado nos critérios estabelecidos pelo MDS, tais como: renda familiar per

capita baixa; famílias chefiadas por mulheres; maior número de crianças; maior número de

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pessoas com deficiência; maior número de idosos; participar de alguma associação

comunitária rural; e ser produtor e/ou criador de pecuária. No ato do cadastro, a depender do

objetivo do beneficiário, é destinado o tipo de tecnologia que ele ira receber. Logo, a

organização do território, dentro desse programa, fica a cargo dos agentes locais,

especialmente, dos membros do CMDS.

(3) Capacitação às famílias: curso sobre o melhor uso da gestão da água e da

produção. Além de capacitá-los sobre a manutenção da tecnologia.

(4) Construção da tecnologia no melhor local da propriedade do beneficiário.

(5) Caráter produtivo: após todas as etapas, o beneficiário recebe um kit com

equipamentos a fim de melhorar a sua produção. No caso específico dos municípios do

consórcio, foram destinados quatro tipos de kits: fruticultura, avicultura, hortaliça e pecuária.

De acordo com o coordenador do projeto, a escolha de cada caráter deu-se através do foco de

produção dos próprios agricultores.

Inicialmente, como descrito acima, o consórcio recebeu 1300 tecnologias sociais a

serem divididas igualmente entre os municípios. Entretanto, a tecnologia de barragem

subterrânea não foi bem aceita pelos agricultores do território, sendo assim, o consórcio

transferiu a sua destinação para os outros dois tipos de tecnologias: a cisterna calçadão e o

barreiro trincheira.

Outro ponto a ser destacado é que o município de Conceição do Jacuípe não se

mostrou solícito a receber o projeto. Segundo o engenheiro agrônomo responsável pelo

município, na primeira etapa do projeto, os agricultores não compareçam às reuniões e não

quiseram receber o benefício, para ele, isso aconteceu porque o município não sofre com

escassez de água e possui poucos agricultores familiares. Sendo assim, a gestora municipal

repassou sua parte para os outros municípios consorciados que mais demandavam por

tecnologias sociais.

Essa situação de Conceição do Jacuípe corrobora com sua peculiaridade em relação

aos outros membros consorciados, o seu caráter industrial, já apontado no gráfico 2. Em

entrevista concedida à pesquisadora desse trabalho, o representante municipal salientou que,

por enquanto, o consórcio ainda não beneficiou um município, visto que as ações são mais

voltadas para a zona rural, “nosso município é industrial, nossa área rural é bem pequena,

assim, os projetos não atingem nossas demandas. Acho importante que o consórcio conheça

melhor a caracterização do local para implantar os programas.” (Representante do município

de Conceição do Jacuípe, em entrevista concedida em 13.11.2014).

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Entretanto, a ação apresentada por esse município reafirma a noção de cooperação

territorial defendida por Jouve (apud RODRIGUES, 2013), pois é o território, nesse caso

institucionalizado pelo consórcio, que ordena a cooperação entre os municípios, mesmo que

inicialmente o benefício não abranja a todos. Assim Conceição do Jacuípe vem

desempenhando uma responsabilidade de desenvolvimento de todo o território do Consórcio

Portal do Sertão.

Nas entrevistas com os outros representantes municipais, o projeto Segunda Água é a

ação mais positiva executada pelo consórcio em seu território. Isso foi verificado na

divulgação que as prefeituras vêm fazendo em cima do projeto, por exemplo, na sala da

recepção da prefeitura de Tanquinho há um banner do programa com o intuito de divulgar o

programa e o consórcio.

Além de toda a divulgação via sites locais e páginas virtuais, das ações do projeto,

principalmente da última etapa na entrega do caráter produtivo, sendo um evento de cunho

municipal com participação dos beneficiários, da equipe executora, do consórcio e de

membros das prefeituras. De acordo com o secretário executivo, esse evento é importante para

divulgar a imagem e as ações do consórcio Portal do Sertão.

Com as mudanças destacadas acima, a quantidade de tecnologias sociais passou de

1300 para 1481, visto que como valor de implantação de uma barragem subterrânea constrói-

se mais barreiros trincheira e cisternas calçadão. Logo, ficou destinado a ser implantado 866

barreiros trincheira, 610 cisternas calçadão e 5 barragens subterrâneas (no sentido de divulgar

essa nova tecnologia ao território, ainda não construídas).

A tecnologia dos barreiros trincheira, executada no território do CDSTPS, tem as

dimensões de 5m de profundidade x 5m de largura x 26m de cumprimento, com capacidade

de 500 mil litros de água. Normalmente, são construídos em áreas de baixa declividade para

fazer com que a água escoe para dentro dela, como demonstrada na Figura 20.

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Figura 20. Barreiro trincheira município de Irará, 2014.

Fonte: Pesquisa de Campo, 2014

Em conversa com os beneficiários do projeto, nas visitas de campo realizadas nos

municípios, a tecnologia acaba gerando novas formas de ganho para sua produção. De acordo

com a agricultora familiar que recebeu esse barreiro trincheira, “quando a minha aguada

encher vou poder plantar mais hortaliças e criar mais galinhas.” (Entrevista concedida em

04.11.2014). Para o membro do CMDS de Irará, a tecnologia do barreiro é construída de

forma bem peculiar, pois o fato de ele ser mais fechado na largura faz a água não evaporar, “o

que é muito bom para nosso clima”. (Representante do Conselho Municipal de

Desenvolvimento Sustentável de Irará, em entrevista concedida em 04.11.2014).

Já a tecnologia da cisterna calçadão é uma novidade para muitos municípios do

consórcio. Ela baseia-se na construção de um calçadão, com área de 200 m², onde a água é

escoada para uma cisterna com capacidade para 52 mil litros, como verificado na Figura 21,

cisterna calçadão no município de Água Fria.

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Figura 21. Cisterna calçadão no município de Água Fria, 2014.

Fonte: Pesquisa de Campo, 2014

De acordo com a agricultora, que já produz mandioca, feijão e milho e vende na feira

livre da cidade, a tecnologia “vai melhorar muito minha situação, agora terei mais água, posso

plantar mais” (Entrevista concedida em 04.11.2014).

Essa tecnologia é bastante eficaz, especialmente para captação de água e

armazenamento, além de ser fonte de renda aos munícipes, visto que os pedreiros que

constroem a tecnologia são dos próprios municípios. Para prepará-los para atuarem na

construção de cisternas, o consórcio disponibilizou cursos aos interessados, entretanto, poucos

foram os interessados e, em alguns municípios, há dificuldade para a implantação dessa

tecnologia.

De acordo com essas informações a figura 22 traz o mapeamento das tecnologias

sociais já construídas nos municípios consorciados até o ano de 2014.

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Figura 22: Tecnologias sociais já construídas nos municípios do CDSPTS, 2014.

Ao total já foram instaladas mais de 60% das tecnologias sociais destinada aos

municípios pertencentes ao Consórcio Portal do Sertão. Sendo que o barreiro trincheira

predomina pela simplicidade de excursão da obra, apenas com a utilização da máquina

retroescavadeira. Outro ponto a ser destacado com essa figura é o fato de que em alguns locais

há mais tecnologias instaladas que em outros, isso deve-se a agilidade da comissão formada

pelo CMDS de cada município, bem como da disponibilidade de mão-de-obra para executar o

serviço.

Esse projeto, o mais visto pelos representantes municipais, gera uma descentralização

administrativa do governo federal à instituição do consórcio e dá autonomia aos municípios,

de forma participativa, para implantar o projeto. O que pode ser indício de uma

descentralização cooperada, pois, apesar do projeto já vir pronto ao consórcio, eles tiveram

habilidade de adequá-lo a sua realidade, salientando mais uma vez que a descentralização é

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um processo e não uma solução e que uma equipe técnica bem qualificada acaba gerando

maiores ganhos as ações consorciadas.

5.8. Projeto Portal Qualifica

Este projeto tem o objetivo de melhorar a capacidade de gestão do poder público nos

municípios consorciados, a fim de desenvolver as competências dos servidores de forma

gradual e orientada. Foi pensado e desenvolvido pelo secretário executivo da entidade, através

dos rendimentos bancários oriundos dos outros programas executados pelo consórcio.

“Solicitamos os rendimentos e com isso disponibilizamos os cursos aos funcionários das

prefeituras. E isso é muito bom porque as prefeituras têm gente que só precisa se capacitar...

A gente quer que as prefeituras aproveitem o seu próprio potencial.” (Secretário Executivo do

CDSTPS, em entrevista concedida em 05/12/2014).

Diante disso, a ideia de utilização desse recurso foi comunicada às entidades

disponibilizadoras dos mesmos, sendo aceita e parabenizada por todos, especialmente, pelo

MDS. Através das demandas dos próprios funcionários municipais, são propostas as

capacitações que serão disponibilizadas, assim, o consórcio busca profissionais qualificados

para ministrar os cursos com a intenção de capacitar a gestão pública nas prefeituras.

Esse projeto começou a ser realizado em 2014. Ao total, foram oferecidos três cursos:

curso de capacitação em Compras e Licitações, com o objetivo de preparar os servidores a

exemplo das legislações específicas e de como proceder dentro da sua função; e dois cursos

de capacitação do Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse do Governo

Federal – SICONV I e II, com o objetivo de apresentar, na prática, toda operacionalização do

sistema que é utilizado pela prefeitura. Nessas qualificações realizadas, coube às prefeituras

disponibilizarem dois funcionários do setor específico a fim de capacitá-los para melhor servir

as suas funções.

5.9 A organização territorial do CDSTPS

Diante dessas ações apresentadas, apreende-se que o Consórcio de Desenvolvimento

Sustentável do Território Portal do Sertão vem desempenhando um papel de gestora sobre o

território instituído por ele, através dos programas executados. E isso é possível pelo fato de

que a quantidade e eficiência dos programas e projetos, já implementados, deve-se a sua

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infraestrutura técnica e de equipamentos e recursos, além da competência de ajustar inovação

institucional na forma de gerir o território ao conteúdo da política territorial local, em aceitar

esse arranjo como estratégico para obter resultados a demandas coletivas.

Assim, o CDSTPS vem representando uma experiência de gestão territorial na

tentativa de articular os entes envolvidos em torno dos interesses comuns. Já que a gestão

desse território refere-se à prática dos múltiplos processos de gerenciamento que direcionam a

forma como os objetos vêm se organizando. Entretanto, essa articulação de cooperação

interfederativa ainda não ganhou robustez, devido ao fato de que as decisões de elaboração a

cerca dos programas executados ainda estão subordinadas aos pré-requisitos estabelecidos

pelos entes que o destina.

Ou seja, há um certo grau de descentralização das ações no sentido de otimizar a

execução das políticas públicas destinadas, mas ainda carece de embasamento institucional do

consórcio para elaborar suas próprias ações, além da necessidade de autonomia e maior

cooperação entre os entes envolvidos e os outros entes federativos. Essa relação com os outros

entes federados, especialmente a União, é importante, pois o consórcio não deve ser apenas

um executor das políticas já planejadas, visto que isso acaba apenas ressignificando o poder

central, mas sim uma instituição com capacidade de completa gestão do território a que

representa.

No objeto estudado, o consórcio é um parceiro na aplicação das políticas públicas

federais e/ou estaduais, sendo que a sua gestão ocorre através das regras e mecanismos

estabelecidos pela entidade, dotando ele de autonomia e auto reponsabilidade, sendo que esses

processos são os mecanismos, sistemas e estratégias que a gestão necessita para se efetivar e

acabam conduzindo as ações dos agentes sociais à organização do território, pelo exercício da

territorialidade, e dos caminhos abertos por esses entes à instituição consorcial.

O Consórcio Portal do Sertão tem um caráter de formação multifacetário, não havendo

um foco único de atuação nas políticas públicas, apesar de haver uma predisposição às ações

voltadas ao espaço rural e ao convívio com o semiárido. Isso leva a um questionamento sobre

o objetivo principal da instituição: essa abrangência de ações não seria apenas o interesse pela

obtenção de recursos da União e do governo do estado baiano? De fato, os consórcios com

essa estrutura multisetorial certamente, em parte, o interesse pela captação de recursos de

outras esferas seria um dos grandes elementos motivadores.

Há de se considerar que a entidade estudada já desempenha significativo papel de

gestora do território com apenas cinco anos de atuação, e que os consórcios públicos ainda

são novos instrumentos para o federalismo contemporâneo brasileiro. Sendo um bom avanço

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sobre o dilema entre as tendências de compartimentalização das competências federativas

decisórias sobre a formulação, implementação e execução de políticas públicas

descentralizadas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As discussões a respeito da forma de cooperação interfederativa, que se tornou mais

acentuada ao longo de quase dez anos, pode ser vista como uma forma de resposta da

sociedade política, principalmente municipal, às profundas transformações do território

regional. E uma dessas possibilidade foi a figura jurídica do consórcio público,

institucionalizada pela legislação federal em 2005, dando legitimidade ao discurso político

para a atuação no planejamento e na gestão territorial, ou seja, foi um resultado da reforma

política do Estado brasileiro oriunda da democratização do final dos anos 80.

A organização do Estado brasileiro segundo um modelo federativo está associada à

ideia de que as distintas esferas governamentais compartilham de uma soberania e de uma

autonomia mantendo a unidade na diversidade, no qual os três entes federados se articulam

buscando conciliar seus interesses através do pacto federativo que ajusta a divisão de poder

entre as esferas: a União, os Estados e os Municípios.

É fato que a Lei dos Consórcios Públicos é uma inovação institucional do federalismo

cooperativo brasileiro. Entretanto ela ainda precisa de fortalecimento para que as parcerias,

nesse novo arranjo institucional, tenham êxito. Para compreender os consórcios públicos faz-

se necessário analisar os entes federados, principalmente, neste trabalho, os municípios, como

espaço fundamental no contexto do federalismo. Visto que essa busca pelo compartilhamento

das ações entre os entes, proporcionado pelos consórcios, requer um aperfeiçoamento dessa

forma de interação, além de um esforço em buscar a equidade territorial nas relações entre

todos os envolvidos.

Outro ponto considerado nesse trabalho é o papel da descentralização como

reordenamento administrativo e político do país. Nesse processo o ente federativo que mais

assumiu competências foram os municípios, incididos a terem maiores responsabilidades, a

partir da Constituição Federal de 1988. Assim uma das maneiras encontradas para diminuir

essas atribuições foi à busca das relações cooperativas, e para isso a União teve uma forte

presença nesse processo, mesmo que em muitas vezes ela acabe se comportando como a

tutora, já que, ao longo da constituição democrática brasileira, os papéis e atribuições não

foram bem estabelecidos, gerando sobreposições e/ou escassez de ações governamentais.

Assim, o governo federal cria instrumentos para „facilitar‟ esse processo de

cooperação, através do consorciamento. No entanto, esse método acaba sendo centralizador,

pois o papel de planejar e tomar as decisões continua nesse ente federado. Para isso, é

necessário buscar uma descentralização mais cooperada que, inicialmente, coexistam

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diferentes graus de intervenção, de autonomia, de tomada de decisões, a fim de coordenar

ações equitativas entre os entes.

Balizada em toda essa conjuntura, está o conceito de território, no qual se encontram

intrinsecamente incorporadas às noções de poder, influência e controle. Nesse sentido, o

território, aqui nesse trabalho, se determina e se constitui a partir de relações essencialmente

sociais, sendo possível perceber, nesse conjugado de fatores, a importância das dinâmicas

territoriais que afetam a organização da sociedade.

Nessa perspectiva, o território deve ser visto como um espaço regido pelas instituições

sociais, balizadas pela cooperação e compartilhamento de ações federativas que, muitas vezes,

são conflitantes, sendo fundamental a necessidade da política e das suas instituições para

negociação e explicitação desses conflitos. Assim, por tratar de problemas de unidades

territoriais independentes, os consórcios públicos, em certa medida, acabam reconstruindo os

territórios de ação de seus participantes.

Assim, a demarcação dos recortes territoriais aceitáveis para a ação consorciada

ressalta a importância da dimensão espacial no ajuste dessa forma de cooperação estabelecida

entre entes federativos. Essa espécie de associação está inserida numa estratégia de

planejamento que implica na reorganização territorial dos poderes de gestão administrativa.

Logo, os consórcios públicos tornaram-se importante ferramenta de gestão territorial

das ações e serviços públicos, sendo essa gestão uma prática dos múltiplos processos de

gerenciamento que norteiam a forma como os objetos se organizam no território consorcial,

especialmente para os municípios, visto que eles estão mais próximos do cidadão e possuem

uma diversidade de obrigações constitucionais na provisão de políticas públicas.

Portanto, tornaram-se com as reforma do Estado brasileiro uma arena política

privilegiada, mas que enfrenta várias dificuldades do ponto de vista da sua governança. Uma

das principais vantagens da constituição dos consórcios são os ganhos de escala promovidos

pela atuação conjunta, pois todos os níveis buscam a igualdades na execução das ações,

criando uma noção de responsabilidade territorial no recorte estabelecido. No plano

administrativo não é diferente, no entanto, os consórcios não podem, apenas, se tornar mais

uma estrutura pública que apenas mobiliza recursos humanos, administrativos e financeiros.

No caso brasileiro, em que o Estado vem fomentando a constituição de consórcio

público, é preciso encontrar um bom senso nessa articulação, pois, como os consórcios

trabalham com a noção de participação voluntária à sua formação, a influência verticalizada

permite a reflexão do papel de cada ente federado e as possíveis articulações entre eles. Além

do fato de que é preciso pensar se essa verticalização, que estimulou a implantação da

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cooperação territorial, será satisfatória para assegurar a sustentabilidade desses consórcios

públicos ao longo do tempo.

Na Bahia, há uma ideia de institucionalização estatal, chegando até mesmo a apontar

como uma política de governo a criação de consórcios públicos, especialmente nos Territórios

de Identidade, fortalecendo assim essa regionalização de governança já instituída. Entretanto,

com ações exclusivas para os consórcios, o governo estadual acaba induzindo o

consorciamento intermunicipal, essa ação de cooperação deixa de ser espontânea, voluntária,

como estabelecida para sua criação. Logo há uma intencionalidade do governo do estado na

criação dos consórcios, ao mesmo tempo em que eles são vistos como um meio de

sobrevivência para os municípios de pequeno porte.

Outro ponto a ser destacado na fomentação dos consórcios públicos no território

baiano é a sobreposição de instituições de representatividade dos municípios e/ou dos

Territórios em que os mesmos estão inseridos, o que tem gerado desgastes e conflitos entre os

agentes sociais que compõem essas entidades. Além de ressaltar a despolitização nos projetos

desenvolvidos nesses Territórios, neles não há embate político, há esvaziamentos sociais

levando-os a serem apenas espaços de planejamento e execução para as políticas públicas do

Estado.

Essa situação vem acontecendo no objeto de estudo desse trabalho: o Consórcio Portal

do Sertão. Entidade criada em 2010, a partir do Colegiado Territorial, que já articulava a

cooperação entre os municípios, e que, atualmente, não se articula mais da forma que

beneficiaria o território. Certo de que nem todos os membros do Colegiado pertencem ao

consórcio, mas, caso as demandas fossem discutidas de forma mais articulada entre os

representantes sociais que compõem o Colegiado e os membros consorciados (ou seja, caso o

Colegiado ainda se reunisse), as ações poderiam fortalecer mais esse recorte geográfico.

É fato que, ao longo desses cinco anos, o Consórcio de Desenvolvimento Sustentável

do Território Portal do Sertão - CDSTPS realizou e vem realizando projetos e programas de

forma eficaz nos munícipios, tanto que se tornou exemplo de eficiência para o governo de

estado e até para o governo federal. Mas isso se deve ao papel empreendedor dos gestores da

entidade, que, desde a sua criação, buscam mecanismos e ações de infraestrutura junto aos

membros consorciados, realizam programas e projetos dentro dos prazos e das metas

estabelecidas pelos mesmos.

Além de que a maioria dos programas já foi executada ou já está estabelecidos à

execução em todos os municípios do consórcio, sendo esse um ponto interessante da entidade:

a igualdade das ações nos municípios, ou seja, não há preferência nas ações entre os

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municípios consorciados. Embora fique claro que alguns municípios, por possuírem

especificidades diferentes dos demais, não estão sendo contemplados com as ações da

entidade.

Isso indica que os programas já executados pelo consórcio são ligados ao fato de

grande parte dos seus membros terem um espaço rural forte e estarem inseridos no contexto

do semiárido brasileiro. Logo, os municípios que não se enquadram nessa conjuntura ainda

não sentiram a importância de participar de uma entidade de cunho associativista. Não

obstante, esses mesmos membros ainda permanecem consorciados, talvez por entenderem que

o estado da Bahia tem norteado as políticas públicas aos consórcios, bem como, pelo fato de

que as ações que estão sendo planejadas para 2015 tenham um caráter mais geral, abrangendo

todos os municípios e não especificamente os que têm um papel mais rural, ou se mantem

articulados de forma cooperativa por perceberem a importância para o território e para si

mesmos.

Deste modo, há uma forte influência de como os condicionantes e as estratégias de

gestão influenciam o papel desempenhado por esse consórcio, ou seja, o conteúdo do

território desempenha um peso importante à gestão territorial.

Um ponto a ser destacado no locus estudado é o papel da infraestrutura técnica, de

equipamentos e de recursos, além da competência de ajustar inovação institucional na forma

de gerir o território e ao conteúdo da política territorial local em aceitar esse arranjo como

estratégico para obter resultados frente às demandas coletivas.

O CDSTPS é composto por profissionais qualificados e articulados em torno da busca

de projetos e ações administrativas, além da melhor forma de gerir os programas recebidos,

com a intenção de fazer deles passaporte para novos, como demonstrado nas ações já

implementadas. Apesar disso, nas entrevistas com os representantes municipais, percebeu-se

que poucos sabiam dos instrumentos e da gestão de uma entidade de caráter cooperativo,

como um consórcio público, evidenciando que o papel da equipe técnica tem um peso

significativo no CDSTPS.

Isso pode levar a compreensão de que ainda existe no Brasil uma fragilidade da cultura

cooperativa no federalismo, mesmo com os avanços alcançados com a Lei dos Consórcios

Públicos. A experiência de formas de cooperação interfederativa vem de longo tempo, o que

indica que a construção institucional desse arranjo, seja em qualquer viés, é processual, onde a

aprendizagem institucional, em termos de cooperação, ocorre ao longo do processo. No

entanto, acredita-se que, mesmo com todas as dificuldades, os consórcios públicos podem se

disseminar pelo país à medida que forem sendo descobertos os benefícios e vantagens da

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atuação conjunta, pois há significativos ganhos de escala nas políticas públicas e a

possibilidade de instalação de um novo modelo de gestão desse território consorciado.

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APÊNDICE A - Roteiro de entrevista com os dirigentes públicos ou representantes dos

municípios consorciados

Data: ________________

1. Entrevistado:

Município: __________________________________________________________________

Nome do Representante: _______________________________________________________

Cargo no município: __________________________________________________________

Idade:

[ ] Menos de 25 anos [ ] Entre 25 a 50 anos [ ] Entre 51 a 75 anos [ ] Mais de 75 anos

Nível de escolaridade:

[ ] Analfabeto [ ] Alfabetizado [ ] Fundamental completo [ ] Fundamental incompleto

[ ] Nível médio completo [ ] Nível médio incompleto [ ] Superior completo [ ] Superior

incompleto

Ocupa ou já ocupou cargo no CDSTPS: Sim Não

Qual cargo? ________________________ Período do cargo: _________________________

2. Histórico do consórcio:

2.1. Quando e como o consórcio surgiu?

2.2. No processo de articulação política para criar o consórcio, qual o principal argumento

utilizado para sua criação?

2.3. Teve alguma liderança nesse movimento? Se sim, pode me dizer qual intencionalidade

dessa liderança?

2.4. Quais foram os momentos mais importantes e os de maior dificuldade no

desenvolvimento do CDSTPS?

2.5. Houve algum agente externo na criação do CDSTPS? Como se deu essa articulação?

3. Cooperação e delimitação geográfica6:

3.1. O que aproxima os municípios que integram o consórcio?

3.2. Antes da criação do consórcio já existia alguma relação de cooperação entre os

municípios agora consorciados?

3.3. Em sua opinião a cooperação entre os municípios no âmbito do consórcio é

espontânea ou precisa de incentivo para isso ocorrer?

6 Livremente baseado em RODRIGUES (2010)

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3.4. Como ficou a articulação dentro dos TIs depois da criação do consórcio? Como esses

municípios se relacionam com os não consorciados?

3.5. Quais as dificuldades que o município enfrentava para atender as demandas locais e

em que medida o CDSTPS ajudou a solucioná-los?

3.6. Tendo dois aspectos geográficos diferentes: semiárido e recôncavo no território do

consórcio surge a seguinte questão: Como este lida com essas características? Há algum

predomínio para algum dos aspectos? Isso é discutido no consórcio?

4. Coesão interna:

4.1. Quais são os critérios de recrutamento da equipe técnica do consórcio? A equipe é

estável ou tem muita rotatividade?

4.2. Qual o papel dos técnicos no processo de definição das prioridades?

4.3. Após a assembleia dos prefeitos definir as linhas gerais de atuação do consórcio, a

equipe técnica tem autonomia para desenvolver os projetos?

4.4. Como funcionam as reuniões do consórcio? Como é definida a pauta da reunião?

Quem as define?

4.5. O processo decisório permite uma participação igualitária dos municípios?

4.6. Assiduidade nas reuniões: Os prefeitos valorizam a presença nas reuniões? Há o envio

de representantes? Tem algum município que se destaca nesse quesito, positiva ou

negativamente?

4.7. Existe algum tipo de entrave partidário dentro do consórcio?

4.8. O consórcio busca estabelecer diálogo com as câmaras de vereadores dos municípios

associados? Os vereadores se mostram interessados em participar dos consórcios?

4.9. Existe participação da população dos municípios no processo de definição das ações

do consórcio? Para você a população entende o que é o CDSTPS?

5. Ações:

5.1. Como são escolhidos os projetos e programas a serem implementados pelo consórcio?

5.2. Quem faz a busca desses projetos? Você, enquanto membro, procura ações/programas

a serem implementados?

5.3. Qual o foco de beneficiamento do consórcio?

5.4. Caso algum projeto precise de rateio entre os municípios como este acontece?

5.5. Quais foram as principais realizações do CDSTPS e qual foi a grande vitória já

alcançada até aqui? Qual é o principal projeto em andamento atualmente?

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5.6. Quais parceiros já foram contatados pelo consórcio para implantação das suas ações?

Vocês estão buscando outros parceiros?

5.7. Quais ações já foram implementadas pelo CDSTPS no seu município?

5.8. Existe conflito em relação às prioridades do consórcio?

5.9. Como acontece a repartição dos custos e benefícios entre os municípios?

5.10. Existe algum privilégio – dentre o município – para as ações do consórcio?

6. Prospecção:

6.1. Quais as expectativas em relação ao consórcio? Acredita que essas expectativas serão

atendidas?

6.2. Você acredita que a cooperação intermunicipal melhora a prestação dos serviços

públicos?

6.3. Qual o ganho para os municípios com a criação dos consórcios públicos? Há um

fortalecimento institucional desse ente com esse novo arranjo?

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APÊNDICE B - Roteiro de entrevista para o diretor executivo do consórcio

1. Há quanto tempo exerce a função de secretário executivo do CDSTPS? Como foi a

escolha? Houve alguma indicação?

2. O senhor acompanhou o processo de formação do CDSTPS? Quais foram os fatores

que mais influenciaram a iniciativa em sua opinião? A cooperação entre os municípios se deu

de forma voluntária ou precisou ser estimulada por algum agente externo?

3. Existe algum agente político que tenha desempenhado um papel realmente

diferenciado na formação do consórcio?

4. Quais foram os momentos mais importantes e os de maior dificuldade no

desenvolvimento do CDSTPS?

5. O processo de condução política das alianças intermunicipais é/foi favorável à

formação de consórcios? As orientações partidárias e as rivalidades entre os grupos políticos

tiveram algum tipo de influência na trajetória do consórcio?

6. Qual o papel do CDSTPS e como é a sua relação com os municípios? Há resistência

dos municípios às orientações do consórcio?

7. Quais as principais vantagens e as principais dificuldades presentes na utilização do

CDSTPS para os municípios?

8. Coesão interna

8.1. Quais são os critérios de recrutamento da equipe técnica do consórcio?

8.2. Qual o papel dos técnicos no processo de definição das prioridades?

8.3. Após a assembleia dos prefeitos definir as linhas gerais de atuação do consórcio, a

equipe técnica tem autonomia para desenvolver os projetos?

8.4. Como funcionam as reuniões do consórcio? Qual periodicidade para acontecer? Como

é definida a pauta da reunião? Quem a define?

8.5. Qual o assunto mais discutido ao longo das assembleias do consórcio?

8.6. O processo decisório permite uma participação igualitária dos municípios?

8.7. Assiduidade nas reuniões: Os prefeitos valorizam a presença nas reuniões? Há o envio

de representantes? Tem algum município que se destaca nesse quesito, positiva ou

negativamente?

8.8. Existe algum tipo de ameaça que pode representar a redução da coesão interna do

CDSTPS e, consequentemente, um esvaziamento do consórcio?

9. Ações

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9.1. Como são escolhidos os projetos e programas a serem implementados pelo consórcio?

9.2. Quem faz a busca desses projetos?

9.3. Qual o foco de beneficiamento do consórcio?

9.4. Caso algum projeto precise de rateio entre os municípios como este acontece?

9.5. Quais foram as principais realizações do CDSTPS e qual foi a grande vitória já

alcançada até aqui? Qual é o principal projeto em andamento atualmente?

9.6. Quais parceiros já foram contatados pelo consórcio para implantação das suas ações?

Vocês estão buscando outros parceiros?

9.7. Como acontece a articulação entre os parceiros e o CDSTPS?

9.8. Como acontece a repartição dos custos e benefícios entre os municípios?

9.9. Existe algum privilégio – dentre o município – para as ações do consórcio?

10. Prospecção

10.1. Quais as expectativas em relação ao consórcio? Acredita que essas expectativas serão

atendidas?

10.2. Você acredita que a cooperação intermunicipal melhora a prestação dos serviços

públicos?

10.3. Qual o ganho para os municípios com a criação dos consórcios públicos? Há um

fortalecimento institucional desse ente com esse novo arranjo?

10.4. Eu posso ter acesso às atas das reuniões do CDSTPS e aos balanços com as

informações sobre a execução do orçamento?

10.5. O CDSTPS já foi objeto de algum outro estudo acadêmico anteriormente? Poderia me

disponibilizar?

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ANEXO A - Portaria conjunta SEPLAN/SEDUR

Salvador, Bahia · Terça-feira

14 de setembro de 2010

Ano · XCV · No 20.367

Secretaria do Planejamento

GABINETE DO SECRETÁRIO

PORTARIA CONJUNTA SEPLAN / SEDUR Nº 003 DE 13 DE SETEMBRO DE 2010

Dispõe sobre a instituição de Grupo de Trabalho – GT para apoiar a formação de Consórcios Públicos e dá outras providências.

O SECRETÁRIO DO PLANEJAMENTO E O SECRETÁRIO DE DESENVOLVIMENTO URBANO, no uso de suas atribuições,

R E S O L V E M

Art. 1º - Fica constituído o Grupo de Trabalho – GT para apoiar a formação de Consórcios Públicos no Estado da Bahia, composto por técnicos da Secretaria do Planejamento e da Secretaria de Desenvolvimento Urbano, devidamente indicados pelos respectivos dirigentes.

Art. 2º - O Grupo de Trabalho – GT será coordenado pela Secretaria do Planejamento, através da Diretoria de Planejamento Territorial – DPT, da Superintendência de Planejamento Estratégico – SPE.

Art. 3º - O Grupo de Trabalho – GT adotará como base territorial para suas atividades a divisão em Regiões de Desenvolvimento Sustentável – RDS, que por sua vez é composta pela regionalização já adotada pelos Territórios de Identidade, acrescidas das modificações pactuadas entre a SEDUR e SEPLAN, até que a divisão dos Territórios de Identidade seja atualizada com as modificações já acordadas entre as Secretarias.

Art. 4º - Integram o Grupo de Trabalho – GT:

I - pela SECRETARIA DO PLANEJAMENTO – SEPLAN

Superintendência de Planejamento Estratégico – SPE:

Benito Muiños Juncal, Thiago dos Santos Xavier, Luciano Ribeiro Brito Costa, Maurício José Nunes Ferreira e Simone Maria Lima de Carvalho

II - pela SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO URBANO – SEDUR

Superintendência de Saneamento – SAN:

Maria Valéria Gaspar de Queiroz Ferreira, Antônio Olavo de Almeida Fraga Lima, Anésio Miranda Fernandes e Maria Maranhão

Superintendência de Habitação – SH:

Raquel Matedi

Superintendência de Gestão Territorial – SGT

Homero Mazottini Saes e Maria da Graça de Oliveira da Silva Costa

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Comissão de Regulação dos Serviços Públicos de Saneamento Básico – Coresab:

Tamires Lyra Queiroz

Art. 5º - São atribuições dos membros integrantes do Grupo de Trabalho – GT instituído no artigo 1º desta Portaria:

I - elaborar a Política Estadual de incentivo à formação de consórcios públicos;

II - prestar apoio/assessoramento aos municípios interessados em constituírem consórcios públicos;

III - propor projetos e ações a integrarem a política estadual de incentivo à formação de consórcios públicos;

IV - realizar a mobilização e capacitação de gestores municipais e divulgação da política de consórcios públicos;

Art. 6º - A coordenação do Grupo de Trabalho – GT poderá convidar terceiros que possam contribuir para o desenvolvimento dos trabalhos relacionados com o objeto desta Portaria.

Art. 7º - Esta Portaria entrará em vigor na data de sua publicação.

ANTÔNIO ALBERTO VALENÇA CÍCERO DE CARVALHO MONTEIRO

Secretário do Planejamento Secretário de Desenvolvimento Urbano

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ANEXO B – Protocolo de intenções do CDSTPS

PROTOCOLO DE INTENÇÕES

CONSÓRCIO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO TERRITÓRIO PORTAL DO SERTÃO

TÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES INICIAIS

CAPÍTULO I DO CONSORCIAMENTO

CLÁUSULA 1ª (Dos subscritores). São subscritores deste Protocolo de Intenções: I – O ESTADO DA BAHIA, pessoa jurídica de direito público interno, inscrito no CNPJ/MF sob o nº. 13.937.032/0001-60, com sede na 3ª Avenida, nº. 390, Centro Administrativo da Bahia, Município de Salvador, Estado da Bahia, neste ato representado pelo Governador do Estado; II – O MUNICÍPIO DE IRARÁ, pessoa jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 13.626.205/0001-29, com sede na Praça Tancredo Neves, 120 - Centro, neste ato representado por seu Prefeito Municipal; III – O MUNICÍPIO DE FEIRA DE SANTANA, pessoa jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 14.043.574/0001-51, com sede na Av. Sampaio, 344 – Centro, neste ato representado por seu Prefeito Municipal; IV – O MUNICÍPIO DE CORAÇÃO DE MARIA, pessoa jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 13.883.996/0001-72, com sede na Praça Araujo Pinho, 14 - Centro, neste ato representado por seu Prefeito Municipal; V – O MUNICÍPIO DE SANTO ESTÊVÃO, pessoa jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 14.042.667/0001-61, com sede na Praça Sete de Setembro, 548 - Centro, neste ato representado por seu Prefeito Municipal; VI – O MUNICÍPIO DE CONCEIÇÃO DA FEIRA, pessoa jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 13.828.371/0001-08, com sede na Praça Marechal Deodoro, 26 - Centro, neste ato representado por seu Prefeito Municipal; VII – O MUNICÍPIO DE TANQUINHO, pessoa jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 13.627.997/0001-56, com sede na Praça Aldo de Lima Pereira, 42 - Centro, neste ato representado por seu Prefeito Municipal; VIII – O MUNICÍPIO DE AMÉLIA RODRIGUES, pessoa jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 13.607.213/0001-28, com sede na Av. Justiniano Silva, 98- Centro, neste ato representado por seu Prefeito Municipal; IX – O MUNICÍPIO DE CONCEIÇÃO DO JACUÍPE, pessoa jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 14.222.574/0001-19, com sede na Praça Manoel Teixeira de Freitas, s/n - Centro, neste ato representado por seu Prefeito Municipal; X – O MUNICÍPIO DE TEODORO SAMPAIO, pessoa jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 13.824.248/0001-19, com sede na Rua Dr. Otavio de Araujo, 44 - Centro, neste ato representado por seu Prefeito Municipal; XI – O MUNICÍPIO DE TERRA NOVA, pessoa jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 13.824.511/0001-70, com sede na Rua Luiz T. de Menezes, 73 - Centro, neste ato representado por seu Prefeito Municipal; XII – O MUNICÍPIO DE ANGUERA, pessoa jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 13.607.346/0001-02, com sede na Praça Artur Vieira, s/n- Centro, neste ato representado por seu Prefeito Municipal;

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XIII – O MUNICÍPIO DE SANTA BÁRBARA, pessoa jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 13.626.908/0001-57, com sede na Praça Clodoaldo Campos, 26 - Centro, neste ato representado por seu Prefeito Municipal; XIV – O MUNICÍPIO DE ANTÔNIO CARDOSO, pessoa jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 13.607.494/0001-19, com sede na Rua Cel. João Augusto, 49 - Centro, neste ato representado por seu Prefeito Municipal; XV – O MUNICÍPIO DE ÁGUA FRIA, pessoa jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 13.606.702/0001-65, com sede na Rua Ruy Barbosa, 10 - Centro, neste ato representado por seu Prefeito Municipal; XVI – O MUNICÍPIO DE SANTANÓPOLIS, pessoa jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 13.627.062/0001-70, com sede na Praça João Neres, 48 - Centro, neste ato representado por seu Prefeito Municipal; XVII – O MUNICÍPIO DE SÃO GONÇALO DOS CAMPOS, pessoa jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 14.060.602/0001-49, com sede na Av. Anibal Pedreira, 01 - Centro, neste ato representado por seu Prefeito Municipal; XVIII – O MUNICÍPIO DE IPECAETÁ, pessoa jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 13.621.735/0001-84, com sede na Rua Ruy Barbosa, 02 - Centro, neste ato representado por seu Prefeito Municipal; § 1º O ente da Federação não mencionado no caput somente poderá integrar o Consórcio por meio de instrumento de alteração do Contrato de Consórcio Público. § 2º Todos os Municípios criados através de desmembramento ou de fusão de quaisquer dos entes mencionados nos incisos do caput considerar-se-ão subscritores do Protocolo de Intenções ou consorciados, caso o Município-mãe ou o que tenha participado da fusão ou incorporação seja respectivamente subscritor ou consorciado. CLÁUSULA 2ª (Da ratificação). O Protocolo de Intenções, após sua ratificação mediante leis aprovadas por, pelo menos, 10% (dez por cento) dos Municípios que o tenham subscrito converter-se-á automaticamente em Contrato de Consórcio Público, ato constitutivo do CONSÓRCIO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO TERRITÓRIO PORTAL DO SERTÃO - CDSTPS. § 1º Somente será considerado consorciado o ente da Federação subscritor do Protocolo de Intenções que o ratificar por meio de lei. § 2º Será automaticamente admitido como consorciado o ente da Federação que efetuar a ratificação em até 2 (dois) anos da data da primeira subscrição deste instrumento. § 3º A ratificação realizada após 2 (dois) anos da data da primeira subscrição somente será válida após homologação da Assembléia Geral. § 4º A subscrição pelo Chefe do Poder Executivo não induz a obrigação de ratificar, cuja decisão caberá, soberanamente, ao respectivo Poder Legislativo. § 5º Somente poderá ratificar este instrumento o ente da Federação que, antes, o tenha subscrito. § 6ª. A alteração do Contrato de Consórcio dependerá de instrumento aprovado pela Assembléia Geral, cuja eficácia dependerá de ratificação, mediante lei, por parte de todos os consorciados.

CAPÍTULO II DA DENOMINAÇÃO, PRAZO E SEDE

CLÁUSULA 3º (Da denominação e natureza jurídica). O CONSÓRCIO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO TERRITÓRIO PORTAL DO SERTÃO (CDSTPS) é uma autarquia, do tipo associação pública (art. 41, IV, do Código Civil).

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PARÁGRAFO ÚNICO. O Consórcio adquirirá personalidade jurídica com a conversão do presente Protocolo de Intenções em Contrato de Consórcio Público (Cláusula 2ª, caput). CLÁUSULA 4ª (Do prazo de duração). O Consórcio vigerá por prazo indeterminado. CLÁUSULA 5ª (Da sede). A sede do Consórcio é o Município de Feira de Santana, Estado da Bahia. PARÁGRAFO ÚNICO. A Assembléia Geral poderá alterar a sede mediante decisão adotada com o mesmo quorum exigido para a aprovação de alteração dos estatutos, podendo manter escritórios em outros Municípios. CLAUSULA 6ª. (Da área de atuação). A área de atuação do Consórcio corresponde à soma dos territórios dos Municípios que o integram.

CAPÍTULO III DAS FINALIDADES

CLAÚSULA 7º (Do objetivo). O objetivo do CDSTPS é promover o desenvolvimento sustentável na sua área de atuação. PARÁGRAFO ÚNICO. Para fins do caput entende-se por desenvolvimento sustentável o que promova o bem-estar de forma socialmente justa e ecologicamente equilibrada. CLÁUSULA 8ª (Das finalidades). O CDSTPS tem por finalidades: I – a elaboração de propostas para o desenvolvimento regional, inclusive realizando debates e executando estudos; II - a gestão associada de serviços públicos de saneamento básico, de transporte urbano ou intermunicipal, construção e manutenção de estradas, abatedouros e frigoríficos; III – a implantação e manutenção de infraestrutura e equipamentos urbanos; IV – a promoção do turismo, inclusive mediante gestão ou exploração de bens ou equipamentos e execução de obras; V – a disciplina do trânsito urbano, inclusive efetivando seu planejamento e exercendo o poder de polícia na instância direta ou recursal; VI – a execução de ações de desenvolvimento rural, inclusive o apoio à agricultura familiar; VII – a execução de ações de assistência social e de segurança alimentar e nutricional, atendidos os princípios, diretrizes e normas que regulam o Sistema Único de Assistência Social – SUAS e a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional; VIII – o apoio: a) à gestão administrativa e financeira municipal, inclusive treinamento e formação de cidadãos e servidores municipais; b) ao planejamento e gestão urbana e territorial municipal ou intermunicipal, inclusive regularização fundiária e mobilidade urbana, e da política habitacional; c) à gestão e manutenção de infraestrutura aeroportuária, atendidos os termos de delegação da União; d) à gestão da política ambiental, inclusive subsidiando a emissão de licenças e a fiscalização; e) à execução de ações de educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, educação profissional e de alfabetização, inclusive de adultos, bem como de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde; IX – o planejamento e a execução descentralizada da Política Estadual de Desenvolvimento Urbano;

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X – a execução de forma descentralizada da Política Estadual de Cultura, bem como a integração das ações de política cultural dos entes da Federação consorciados; XI – a participação na formulação da Política Estadual de Planejamento e Ordenamento Territorial, bem como na execução de ações a ela relativas; XII – a aquisição de bens ou a execução de obras para o uso compartilhado ou individual dos consorciados, bem como a administração desses bens ou outros cuja gestão venha a ser entregue ao Consórcio; XIII – a realização de licitações compartilhadas de que decorra contrato a ser celebrado por órgão ou entidade da administração direta ou indireta de consorciado. § 1º. No âmbito da gestão associada prevista no inciso II do caput: I - no que se refere ao exercício de competências relativas ao planejamento, regulação, fiscalização ou o modelo de prestação, inclusive contratação, dos serviços públicos dar-se-á nos termos de decisão da Assembléia Geral, exigida a manifestação unânime dos entes da Federação consorciados; II – no que se refere à prestação dos serviços pelo próprio Consórcio, dependerá da celebração de contrato de programa. § 2º. As finalidades previstas nos incisos III, IV, V e VIII, alíneas ―d‖ e ―e‖, do caput, dependerão de convênios com o Município consorciado, os quais poderão prever transferência de recursos financeiros somente por meio de contratos a eles vinculados. § 3º. Os convênios previstos no § 2º poderão prever a execução direta, pelo Consórcio, de ações de educação profissional, alfabetização, inclusive de adultos, e transporte escolar. § 4º. Mediante a lei que ratificar o presente instrumento, e constituído o consórcio público, ficam revogadas, no território de atuação do Consórcio, as competências iguais ou assemelhadas antes atribuídas a órgãos ou entidades que integram a administração de ente da Federação consorciado, com exceção das competências previstas nos incisos III, IV, V e VIII, alíneas ―d‖ e ―e‖, do caput, em que apenas a execução da competência será delegada, mediante convênios. § 5º. Dependerá da decisão da Assembléia Geral prevista no inciso I do § 1º a revogação prevista no § 4º em relação ao planejamento, regulação, fiscalização e modelo de prestação de serviços públicos em regime de gestão associada. § 6º. Os bens adquiridos ou produzidos na forma do inciso XII do caput, inclusive o derivados de obras ou investimentos em comum, terão o seu uso e propriedade disciplinados por contrato entre os entes da Federação interessados e o Consórcio. § 7º. Omisso o contrato mencionado no § 6º, nos casos de retirada de consorciado ou de extinção do Consórcio, os bens permanecerão em condomínio entre os entes da Federação que contribuíram para a sua aquisição ou produção. § 8º. As licitações compartilhadas mencionadas no inciso XIII do caput poderão se referir a qualquer atividade de interesse de consorciado, não ficando adstritas ao atendimento de finalidades específicas do Consórcio. § 9º. O exercício das competências previstas nos incisos IX, X e XI, e a gestão associada de serviços de transporte público intermunicipal, dependerá de o Estado da Bahia ratificar o presente instrumento. CLÁUSULA 9ª (Das atribuições). Para viabilizar as finalidades mencionadas na Cláusula 8ª, o Consórcio poderá: I – realizar estudos técnicos e pesquisas, elaborar e monitorar planos, projetos e programas, inclusive para obtenção de recursos estaduais ou federais; II - prestar serviços por meio de contrato de programa que celebrar com os titulares interessados;

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III - regular e fiscalizar a prestação de serviços públicos, diretamente ou mediante convênio com entidade municipal ou estadual; IV - executar, manter ou viabilizar a execução de obras, inclusive mediante licitação e celebração de contratos administrativos, em especial os de concessão ou permissão; V - adquirir ou administrar bens; VI - promover desapropriações e instituir servidões nos termos de declaração de utilidade ou necessidade pública, ou de interesse social; VII - assessorar e prestar assistência técnica, administrativa, contábil e jurídica aos Municípios consorciados; VIII - capacitar cidadãos e lideranças dos Municípios consorciados, servidores do Consórcio ou dos entes da Federação consorciados; IX - promover campanhas educativas e mobilizar a sociedade civil para a gestão participativa; X - formular, implantar, operar e manter sistemas de informações articulados com os sistemas estadual e nacional correspondentes; XI - elaborar e publicar revistas ou outros periódicos, cartilhas, manuais e quaisquer materiais técnicos ou informativos, impressos ou em meio eletrônico, bem como promover a divulgação e suporte das ações do Consórcio por qualquer espécie de mídia; XII - exercer o poder de polícia administrativa; XIII - rever e reajustar taxas e tarifas de serviços públicos, bem como elaborar estudos e planilhas referentes aos custos dos serviços e sua recuperação; XIV - emitir documentos de cobrança e exercer atividades de arrecadação de tarifas e de outros preços públicos, inclusive mediante convênio com entidades privadas ou públicas; XV - prestar apoio financeiro e operacional para o funcionamento de fundos e conselhos; XVI - representar os titulares, ou parte deles, em contrato de concessão celebrado após licitação, ou em contrato de programa que possua por objeto a prestação de serviços públicos; XVII – realizar estudos técnicos para informar o licenciamento ambiental e urbanístico por consorciado; XVIII - prestar serviço de utilidade pública de planejamento, gestão, operação, educação, aplicação de penalidades e fiscalização dos sistemas locais de trânsito e dos modos de transporte público coletivos dos consorciados e demais prerrogativas previstas no Código de Trânsito Brasileiro, ou de outra atividade diretamente relacionada; XIX – exercer outras competências necessárias à fiel execução de suas finalidades e que sejam compatíveis com o seu regime jurídico. PARÁGRAFO ÚNICO. O convênio previsto no inciso III poderá delegar a arrecadação da taxa prevista no Anexo 4 deste instrumento, bem como a aplicação dos recursos, nos termos de plano de trabalho, devendo haver a prestação de contas ao Consórcio.

CAPÍTULO IV DA GESTÃO ASSOCIADA DE SERVIÇOS PÚBLICOS

CLÁUSULA 10a (Da autorização). Os consorciados autorizam a gestão associada de serviços públicos mencionada no inciso II do caput da Cláusula 8ª, inclusive no que se refere ao seu planejamento, regulação, fiscalização e prestação.

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PARÁGRAFO ÚNICO. A eficácia da autorização mencionada no caput dependerá de decisão da Assembléia Geral que discipline os seus termos. CLÁUSULA 11a. (Da uniformidade das normas de planejamento, regulação e fiscalização dos serviços em regime de gestão associada). Mediante a ratificação do presente instrumento, mediante lei, as normas dos Anexos 2, 3 e 4 converter-se-ão nas normas municipais de disciplina do planejamento, regulação, fiscalização, contratação e prestação dos serviços em regime de gestão associada.

TÍTULO II DA ORGANIZAÇÃO DO CONSÓRCIO

CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

CLÁUSULA 12ª (Dos estatutos). O Consórcio será organizado por estatutos cujas disposições, sob pena de nulidade, deverão atender a todas as cláusulas do Contrato de Consórcio Público. PARÁGRAFO ÚNICO. Os estatutos poderão dispor sobre o exercício do poder disciplinar e regulamentar, procedimento administrativo e outros temas referentes ao funcionamento e organização do Consórcio.

CAPÍTULO II DOS ÓRGÃOS

CLÁUSULA 13ª (Da Autarquia). São órgãos do Consórcio: I – Assembléia Geral; II – Presidência; III – Secretaria Executiva; IV – Conselho Consultivo. § 1º. Os estatutos poderão dispor sobre a criação e o funcionamento do Conselho de Administração, Câmaras Temáticas, Ouvidoria, Câmara de Regulação e de outros órgãos internos da organização do Consórcio, sendo vedada a criação de cargos, empregos e funções remunerados. § 2º. É assegurado à sociedade civil o direito de participar dos órgãos colegiados que integram o Consórcio, com exceção: I - dos previstos no inciso I do caput e os que nele se circunscrevem; II - das comissões de licitação ou de natureza disciplinar.

CAPÍTULO III DA ASSEMBLÉIA GERAL

Seção I Do funcionamento

CLÁUSULA 14ª (Natureza e composição). A Assembléia Geral, instância máxima do Consórcio é órgão colegiado composto pelos representantes de todos os entes da Federação consorciados. § 1º O Vice-Governador e os Vice-Prefeitos de consorciado poderão participar de todas as reuniões da Assembléia Geral com direito a voz. § 2º No caso de ausência do Governador e do Prefeito de consorciado, o Vice-Governador, ou o Vice-Prefeito respectivo, assumirá a representação do ente da Federação na Assembléia Geral, inclusive com direito a voto, salvo se o Governador ou Prefeito enviar representante especialmente designado, o qual assumirá os direitos de voz e voto. § 3º. Nenhum servidor do Consórcio poderá representar qualquer ente consorciado na Assembléia Geral, e nenhum servidor de ente consorciado poderá representar outro ente consorciado, salvo as exceções previstas nos estatutos.

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§ 4º. Ninguém poderá representar dois ou mais consorciados na mesma Assembléia Geral. CLÁUSULA 15ª (Das reuniões). A Assembléia Geral reunir-se-á ordinariamente ao menos 2 (duas) vezes por ano, na forma fixada nos estatutos, e, extraordinariamente, sempre que convocada. PARÁGRAFO ÚNICO. A forma de convocação das Assembléias Gerais ordinárias e extraordinárias será definida nos estatutos. CLÁUSULA 16ª (Dos votos). Na Assembléia Geral, cada um dos Municípios consorciados terá direito a 10 (dez) votos e o Estado da Bahia terá direito a um terço do total de votos da Assembléia. § 1º. Para apuração dos votos do Estado será utilizada a fórmula seguinte: nm x 10 ÷ 2 = ve, sendo; nm = número de Municípios ve = votos do Estado § 1º O voto será público, nominal e aberto. § 2º O Presidente do Consórcio, salvo nas eleições, nas destituições e nas decisões que exijam quorum qualificado, votará apenas para desempatar. CLÁUSULA 17ª (Do quorum de instalação). A Assembléia Geral instalar-se-á com a presença de pelo menos 2/5 (dois quintos) dos entes consorciados. CLAUSULA 18ª (Dos quora de deliberação). A Assembléia Geral somente poderá deliberar com a presença de mais da metade dos entes consorciados, exceto sobre as matérias que exijam quorum superior nos termos deste instrumento ou dos estatutos. CLAUSULA 19ª (Dos quora para as decisões). As decisões da Assembléia Geral serão tomadas, salvo as exceções previstas neste instrumento e nos estatutos, mediante maioria de, pelo menos, metade mais um dos votos dos presentes.

Seção II Das competências

CLÁUSULA 20ª (Das competências). Compete à Assembléia Geral: I – homologar o ingresso no Consórcio de ente federativo que tenha ratificado o Protocolo de Intenções após 2 (dois) anos de sua subscrição; II – aplicar a pena de exclusão do Consórcio, bem como desligar temporariamente consorciado; III – elaborar os estatutos do Consórcio e aprovar as suas alterações; IV – eleger ou destituir o Presidente do Consórcio ou membro do Conselho de Administração; V – aprovar: a) orçamento plurianual de investimentos; b) programa anual de trabalho; c) o orçamento anual do Consórcio, bem como os respectivos créditos adicionais, inclusive a previsão de aportes a serem cobertos por recursos advindos de contrato de rateio; d) a realização de operações de crédito; e) a alienação e a oneração de bens do Consórcio ou a oneração daqueles que, nos termos de contrato de programa, tenham sido outorgados os direitos de exploração ao Consórcio; VI – homologar, atendidos os requisitos previstos nos estatutos: a) os planos relativos à gestão do território, habitação, regularização fundiária, turismo, trânsito urbano e interurbano na área de atuação do consórcio, desenvolvimento rural; meio ambiente, cultura e de serviços públicos;

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b) os regulamentos dos serviços públicos; c) as minutas de contratos de programa nas quais o Consórcio comparece como contratante ou como prestador de serviço público; d) a minuta de edital de licitação e de contrato para concessão de serviço ou obra pública; e) o reajuste e a revisão das tarifas e preços públicos; f) o reajuste dos valores da taxa de coleta, remoção e destinação de resíduos sólidos urbanos, nos termos das leis municipais; VII –– monitorar e avaliar a execução dos planos dos serviços públicos; VIII - aceitar a cessão de servidores por ente federativo, consorciado ou conveniado ao Consórcio; IX – apreciar e sugerir medidas sobre: a) a melhoria dos serviços prestados pelo Consórcio; b) o aperfeiçoamento das relações do Consórcio com órgãos públicos, entidades e empresas privadas; X – homologar a indicação do Secretário Executivo. § 1º. A Assembléia Geral, presentes pelo menos 3/5 (três quintos) dos consorciados, poderá aceitar a cessão de servidores ao Consórcio. No caso de cessão com ônus para o Consórcio exigir-se-á, para a aprovação, pelo menos 4/5 (quatro quintos) dos votos dos consorciados presentes. § 2º. Os estatutos preverão as matérias que a Assembléia Geral poderá deliberar somente quando decorrido o prazo para manifestação do Conselho Consultivo. § 3º. As competências arroladas nesta cláusula não prejudicam que outras sejam reconhecidas pelos estatutos.

Seção III Da eleição e da destituição do Presidente e do Conselho de Administração

CLÁUSULA 21ª (Da eleição do Presidente). O Presidente será eleito em Assembléia Geral, podendo ser apresentadas candidaturas nos primeiros 30 (trinta) minutos. Somente são admitidos como candidatos Chefes do Poder Executivo de consorciado. § 1º O Presidente será eleito mediante voto secreto, salvo quando a eleição se der por aclamação. § 2º. Será considerado eleito o candidato que obtiver ao menos 2/3 (dois terços) dos votos, só podendo ocorrer a eleição com a presença de ao menos 3/5 (três quintos) dos consorciados. § 3º. Caso nenhum dos candidatos tenha alcançado 2/3 (dois terços) dos votos, realizar-se-á segundo turno de eleição, tendo como concorrentes os dois mais votados no primeiro turno. No segundo turno será considerado eleito o candidato que obtiver metade mais um dos votos válidos, excluídos os brancos e nulos. § 4º. Não concluída a eleição, será convocada nova Assembléia Geral com essa mesma finalidade, a se realizar entre 20 (vinte) e 40 (quarenta) dias, prorrogando-se pro tempore o mandato daquele que estiver no exercício das funções da Presidência. CLÁUSULA 22ª (Da destituição do Presidente ou de membro do Conselho Administração). Em qualquer Assembléia Geral poderá ser votada a destituição do Presidente do Consórcio ou de qualquer dos membros do Conselho de Administração, bastando ser apresentada moção de censura com apoio de pelo menos 1/5 (um quinto) dos consorciados, desde que presentes pelo menos 3/5 (três quintos) dos entes consorciados. A moção de censura não será motivada, ocorrendo por mera perda de confiança.

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§ 1º Em todas as convocações de Assembléia Geral deverão constar como item de pauta: ―apreciação de eventuais moções de censura‖. § 2º Apresentada moção de censura, as discussões serão interrompidas e será ela imediatamente apreciada, sobrestando-se os demais itens da pauta. § 3º A votação da moção de censura será efetuada depois de facultada a palavra, por 15 (quinze) minutos, ao seu primeiro subscritor e, caso presente, ao Presidente ou ao membro do Conselho de Administração que se pretenda destituir. § 4º Será considerada aprovada a moção de censura por metade mais 1 (um) dos votos dos presentes à Assembléia Geral, em votação nominal e pública. § 5º Caso aprovada moção de censura, haverá imediata e automática destituição, procedendo-se, na mesma Assembléia, à eleição para completar o período remanescente de mandato. § 6º Na hipótese de não se viabilizar a eleição, será designado Presidente ou membro do Conselho de Administração pro tempore por metade mais 1 (um) dos votos presentes. O Presidente ou membro do Conselho de Administração pro tempore exercerá as suas funções até a próxima Assembléia Geral, a se realizar entre 20 (vinte) e 40 (quarenta) dias. § 7º Rejeitada moção de censura, nenhuma outra poderá ser apreciada na mesma assembléia e nos 180 (cento e oitenta) dias seguintes.

Seção V Das atas

CLÁUSULA 23ª (Do registro). Nas atas da Assembléia Geral serão registradas: I – por meio de lista de presença, todos os entes federativos representados na Assembléia Geral, indicando o nome do representante e o horário de seu comparecimento; II – de forma resumida, todas as intervenções orais e, como anexo, todos os documentos que tenham sido entregues ou apresentados na reunião da Assembléia Geral; III – a íntegra de cada uma das propostas votadas na Assembléia Geral e a indicação expressa e nominal de como cada representante nela votou, bem como a proclamação de resultados. § 1º Somente se reconhecerá sigilo de documentos e declarações efetuadas na Assembléia Geral mediante decisão na qual se indique expressamente os motivos do sigilo. A decisão será tomada pela metade mais 1 (um) dos votos dos presentes e a ata deverá indicar expressa e nominalmente os representantes que votaram a favor e contra o sigilo. § 2º A ata será rubricada em todas as suas folhas, inclusive de anexos, por aquele que a lavrou e por quem presidiu o término dos trabalhos da Assembléia Geral. CLÁUSULA 24a. (Da publicação). Sob pena de ineficácia das decisões, a íntegra da ata da Assembléia Geral será, em até 10 (dez) dias, afixada na sede do Consórcio e publicada no sítio que o Consórcio mantiver na internet por pelo menos dois anos. Parágrafo único. Cópia autenticada da ata será fornecida: I - mediante o pagamento das despesas de reprodução, para qualquer do povo, independentemente da demonstração de seu interesse; II – de forma gratuita, no caso de solicitação de qualquer órgão ou entidade, inclusive conselho, que integre a Administração de consorciado.

CAPÍTULO IV DA PRESIDÊNCIA

CLÁUSULA 25ª (Da competência). Sem prejuízo do que prever os Estatutos do Consórcio, incumbe ao Presidente:

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I – ser o representante legal do Consórcio; II – como ordenador das despesas do Consórcio, responsabilizar-se pela sua prestação de contas; III – indicar, para apreciação da Assembléia Geral, nome para ocupar o emprego público de Secretário Executivo; IV - nomear e exonerar o Secretário Executivo; V - exercer as competências não atribuídas a outro órgão por este instrumento ou pelos estatutos. § 1º Com exceção das competências previstas nos incisos I, III e IV, todas as demais poderão ser delegadas ao Secretário Executivo. § 2º Os estatutos disciplinarão sobre o exercício: I - interino das funções da Presidência, inclusive para evitar inelegibilidade; II - em substituição ou em sucessão nos casos em que o Presidente não mais exercer a Chefia do Poder Executivo de consorciado.

CAPÍTULO V DA SECRETARIA EXECUTIVA

CLÁUSULA 26ª (Da nomeação). Fica criado o emprego público em comissão de Secretário Executivo, com vencimentos constantes da tabela do Anexo 1.

§ 1º O emprego público em comissão de Secretário Executivo será provido mediante indicação do Presidente do Consórcio, homologado pela Assembléia Geral, entre pessoas que satisfaçam os seguintes requisitos: I – inquestionável idoneidade moral; II – formação de nível superior. § 2º Caso seja servidor do Consórcio ou de ente consorciado, o Secretário Executivo será automaticamente afastado de suas funções originais. § 3º O ocupante do emprego público de Secretário Executivo estará sob regime de dedicação exclusiva, somente podendo exercer outra atividade remunerada nas hipóteses previstas nos estatutos. § 4º O Secretário Executivo poderá ser exonerado ad nutum por ato do Presidente. CLÁUSULA 27ª (Das competências). Além das competências previstas nos estatutos, compete ao Secretário Executivo: I – quando convocado, comparecer às reuniões de órgãos colegiados do Consórcio; II – secretariar as reuniões da Assembléia Geral do Consórcio; III – movimentar as contas bancárias do Consórcio em conjunto com o Presidente ou com outra pessoa designada pelos estatutos, bem como elaborar os boletins diários de caixa e de bancos; IV – submeter ao presidente, e a outros órgãos designados pelos estatutos, as propostas de plano plurianual e de orçamento anual do Consórcio; V – praticar todos os atos necessários à execução da receita e da despesa; VI – exercer a gestão patrimonial; VII – zelar por todos os documentos e informações produzidos pelo Consórcio, providenciando a sua adequada guarda e arquivo; VIII – praticar atos relativos à área de recursos humanos e administração de pessoal, cumprindo e se responsabilizando pela observância dos preceitos da legislação trabalhista e previdenciária; IX – fornecer as informações necessárias para que sejam consolidadas, nas contas dos entes consorciados, todas as despesas realizadas com os recursos entregues em virtude de contrato de rateio, de forma que possam ser contabilizadas nas contas de cada ente da federação na conformidade dos elementos econômicos e das atividades ou projetos atendidos;

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X – promover a publicação de atos e contratos do Consórcio, quando essa providência for prevista em Lei, neste instrumento ou nos estatutos, respondendo civil, administrativa e criminalmente pela omissão dessa providência. § 1º Além das atribuições previstas no caput, o Secretário Executivo poderá exercer, por delegação, atribuições de competência do Presidente do Consórcio. § 2º A delegação prevista no § 1º dependerá de ato escrito e publicado no sítio que o Consórcio mantiver na internet, devendo tal publicação ocorrer entre a sua data de início de vigência e até 1 (um) ano após a data de término da delegação.

CAPÍTULO VI DO CONSELHO CONSULTIVO

CLÁUSULA 28ª (Da natureza e atribuições). O Conselho Consultivo é órgão permanente, de natureza colegiada, com as atribuições de opinar sobre as matérias constantes dos incisos V a VII da Cláusula 20ª. PARÁGRAFO ÚNICO. Os estatutos poderão prever outras atribuições ao Conselho Consultivo. CLÁUSULA 29ª (Da composição). Os estatutos disporão sobre a composição do Conselho Consultivo, bem como a forma da escolha de seus integrantes, assegurada a participação exclusiva de representantes da sociedade civil, a qual deverá contemplar, pelo menos, os seguintes segmentos sociais: I – movimentos sociais, populares e de moradores, inclusive de vilas e povoados; II – trabalhadores, por suas entidades sindicais; III – empresários, por suas entidades classistas; IV – entidades profissionais, acadêmicas e de pesquisa; V – organizações não governamentais. PARÁGRAFO ÚNICO. Nos termos dos estatutos, a participação nas reuniões do Conselho Consultivo poderá ser remunerada

TÍTULO III DA GESTÃO ADMINISTRATIVA DO CONSÓRCIO

CAPÍTULO I DOS AGENTES PÚBLICOS

Seção I Disposições gerais

CLÁUSULA 30ª (Do exercício de funções remuneradas). Somente serão remunerados pelo Consórcio, para nele exercer funções, os contratados para ocupar algum dos empregos públicos previstos no Anexo 1 deste instrumento. § 1º Nos termos dos estatutos, os empregados públicos do Consórcio ou servidores a ele cedidos, excetuado o Secretário Executivo, no exercício de funções que sejam consideradas de chefia, direção ou assessoramento superior poderão ser gratificados até a razão de 30% (trinta por cento) de sua remuneração total, proibindo-se o cômputo da gratificação para o cálculo de quaisquer parcelas remuneratórias, salvo férias e décimo-terceiro salário. § 2º A atividade da Presidência e a de membro do Conselho de Administração, bem

como a participação dos representantes dos entes consorciados na Assembléia Geral e em outras atividades do Consórcio não será remunerada, sendo

considerado trabalho público relevante. Seção II

Dos empregos públicos CLÁUSULA 31ª (Do regime jurídico). Os servidores do Consórcio são regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT.

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§ 1º Regulamento específico deliberará sobre a descrição das funções, lotação, jornada de trabalho e denominação de seus empregos públicos. § 2º Os empregados do Consórcio não poderão ser cedidos, inclusive aos consorciados, salvo no caso de exercício de função eletiva. CLÁUSULA 32ª (Do quadro próprio de pessoal). O quadro próprio de pessoal do Consórcio será de até 52 (cinqüenta e dois) empregados, mediante provimento dos empregos públicos constantes do Anexo 1 deste instrumento. § 1º Com exceção do cargo de Secretário Executivo, técnico de nível superior de livre provimento em comissão, os demais empregos do Consórcio serão providos mediante concurso público de provas ou de provas e títulos. § 2º A remuneração dos empregos públicos é a definida no Anexo 1 deste instrumento, até o limite fixado no orçamento anual do Consórcio, sendo que poderá se conceder revisão anual. CLÁUSULA 33ª (Do concurso público). Os editais de concurso público deverão ser: I - subscritos pelo Presidente; II – atender os critérios previstos nos estatutos. PARÁGRAFO ÚNICO. Sob pena de nulidade, os editais de concurso público deverão ter sua íntegra divulgada por meio do sítio que o Consórcio manter na internet, bem como ter sua divulgação por meio de extrato publicado na imprensa oficial do Estado da Bahia.

Seção III Das contratações temporárias

CLÁUSULA 34ª (Hipótese de contratação por tempo determinado). Somente admitir-se-á contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público na hipótese de preenchimento de emprego público vago, até o seu provimento efetivo por meio de concurso público. PARÁGRAFO ÚNICO. Os contratados temporariamente exercerão as funções do emprego público vago e perceberão a remuneração para ele prevista. CLÁUSULA 35ª (Da condição de validade e do prazo máximo de contratação). As contratações temporárias serão automaticamente extintas após 180 dias caso não haja o início de inscrições de concurso público para preenchimento efetivo do emprego público. § 1º As contratações temporárias terão prazo de até 1 (um) ano. § 2º O prazo de contratação poderá ser prorrogado até atingir o prazo máximo de 2 (dois) anos, contados a partir da contratação inicial. § 3º Não se admitirá prorrogação quando houver resultado definitivo de concurso público destinado a prover o emprego público.

CAPÍTULO II DOS CONTRATOS

Seção I Do procedimento de contratação

CLÁUSULA 36ª (Das aquisições de bens e serviços comuns). Para aquisição de bens e serviços comuns será obrigatório o uso da modalidade pregão, nos termos da Lei nº. 10.520, de 17 de julho de 2002, e do regulamento previsto no Decreto nº. 5.450, de 31 de maio de 2005, sendo utilizada preferencialmente a sua forma eletrônica. PARÁGRAFO ÚNICO. A inviabilidade da utilização do pregão na forma eletrônica deverá ser devidamente justificada pelo Secretário Executivo mediante decisão publicada.

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CLÁUSULA 37ª (Das contratações diretas por ínfimo valor e das licitações). Os estatutos disciplinarão as contratações diretas fundamentadas no disposto nos incisos I e II do caput, e no parágrafo único, do art. 24, da Lei nº. 8.666, de 21 de junho de 1993, bem como as licitações nas modalidades convite e tomada de preços, fixando-lhes procedimento e alçadas de responsabilidade no âmbito da organização administrativa do Consórcio.

Seção II Dos contratos

CLÁUSULA 38ª (Da publicidade). Todos os contratos de valor superior a R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais) terão a sua íntegra publicada no sítio do Consórcio na internet por pelo menos dois anos. CLÁUSULA 39ª (Da execução do contrato). Qualquer cidadão, independentemente de demonstração de interesse, tem o direito de ter acesso aos documentos sobre a execução e pagamento de contratos celebrados pelo Consórcio. PARÁGRAFO ÚNICO. Todos os pagamentos superiores a R$ 10.000,00 (dez mil reais) serão publicados no sítio do Consórcio na internet por pelo menos dois anos e, no caso de obras, da publicação constará o laudo de medição e o nome do responsável por sua conferência.

CAPÍTULO III DA DELEGAÇÃO DA PRESTAÇÃO

DE SERVIÇOS PÚBLICOS CLÁUSULA 40ª (Dos contratos de delegação da prestação de serviços públicos). Ao Consórcio somente é permitido comparecer a: I - contrato de programa para: a) na condição de contratado, prestar serviços públicos por meios próprios ou sob sua gestão administrativa ou contratual, tendo como contratante ente da Federação consorciado; b) na condição de contratante, delegar a prestação de serviços públicos pertinentes, ou de atividades deles integrantes, a órgão ou entidade de ente consorciado; II – contrato de concessão, após prévia licitação, para delegar a prestação de serviços públicos a ele entregue sob regime de gestão associada, ou de atividade deles integrante. PARÁGRAFO ÚNICO. Os estatutos disporão sobre os contratos mencionados no caput, podendo prever outros requisitos e condições a serem observados em sua contratação e execução.

TÍTULO IV DA GESTÃO ECONÔMICA E FINANCEIRA

CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS

CLÁUSULA 41ª (Do regime da atividade financeira). A execução das receitas e das despesas do Consórcio obedecerá às normas de direito financeiro aplicáveis às entidades públicas. PARÁGRAFO ÚNICO. Todas as demonstrações financeiras serão publicadas no sítio que o Consórcio mantiver na internet. CLÁUSULA 42ª (Das relações financeiras entre consorciados e o Consórcio). A administração direta ou indireta de ente da Federação consorciado somente entregará recursos ao Consórcio quando houver: I – contratado o Consórcio para a prestação de serviços, execução de obras ou fornecimento de bens, respeitados os valores de mercado; II – contrato de rateio.

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CLÁUSULA 43ª (Da responsabilidade subsidiária). Os entes consorciados respondem somente de forma subsidiária pelas obrigações do Consórcio. CLÁUSULA 44ª (Da fiscalização). O Consórcio estará sujeito à fiscalização contábil, operacional e patrimonial pelo Tribunal de Contas competente para apreciar as contas do Chefe do Poder Executivo representante legal do Consórcio, inclusive quanto à legalidade, legitimidade e economicidade das despesas, atos, contratos e renúncia de receitas, sem prejuízo do controle externo a ser exercido em razão de cada um dos contratos que os entes da federação consorciados vierem a celebrar com o Consórcio.

CAPÍTULO II DA CONTABILIDADE

CLÁUSULA 45ª (Da segregação contábil). No que se refere aos serviços prestados em regime de gestão associada, a contabilidade do Consórcio deverá permitir que se reconheça a gestão econômica e financeira de cada serviço em relação a cada um de seus titulares. PARÁGRAFO ÚNICO. Anualmente deverá ser apresentado demonstrativo que indique: I – o investido e arrecadado em cada serviço, inclusive os valores de eventuais subsídios cruzados; II – a situação patrimonial, especialmente a parcela de valor dos bens vinculados aos serviços que tenha sido amortizada pelas receitas emergentes da prestação de serviços.

CAPÍTULO III DOS CONVÊNIOS

CLÁUSULA 46ª (Dos convênios para receber recursos). Com o objetivo de receber recursos, o Consórcio fica autorizado a celebrar convênios com entidades governamentais ou privadas, nacionais ou estrangeiras, exceto com entes consorciados ou com entidades a eles vinculadas. CLÁUSULA 47ª (Da interveniência). Fica o Consórcio autorizado a comparecer como interveniente em convênios celebrados por entes consorciados e terceiros, a fim de receber ou aplicar recursos.

TÍTULO V DA SAÍDA DO CONSORCIADO

CAPÍTULO I DO RECESSO

CLÁUSULA 48ª (Do recesso). A retirada de membro do Consórcio dependerá de ato formal de seu representante na Assembléia Geral. § 1º O recesso não prejudicará as obrigações já constituídas entre o consorciado que se retira e o Consórcio. § 2º Os bens destinados ao Consórcio pelo consorciado que se retira não serão revertidos ou retrocedidos, excetuadas as hipóteses de previsão contratual ou de decisão da Assembléia Geral.

CAPÍTULO II DA EXCLUSÃO

CLÁUSULA 49ª (Das hipóteses de exclusão). São hipóteses de exclusão de consorciado: I – a não inclusão, pelo ente consorciado, em sua lei orçamentária ou em créditos adicionais, de dotações suficientes para suportar as despesas assumidas por meio de contrato de rateio;

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II – o não cumprimento por parte de ente da Federação consorciado de condição necessária para que o Consórcio receba recursos onerosos ou transferência voluntária; III – a subscrição de Protocolo de Intenções para constituição de outro Consórcio com finalidades iguais ou, a juízo da maioria da Assembléia Geral, assemelhadas ou incompatíveis; IV – a existência de motivos graves, reconhecidos em deliberação fundamentada, pela maioria absoluta dos presentes à Assembléia Geral. § 1º A exclusão prevista nos incisos I e II do caput somente ocorrerá após prévia suspensão, o período em que o consorciado poderá se reabilitar e não será considerado ente consorciado. § 2º Os estatutos poderão prever prazo de suspensão e outras hipóteses de exclusão. CLÁUSULA 50ª (Do procedimento). Os estatutos estabelecerão o procedimento administrativo para a aplicação da pena de exclusão, respeitado o direito à ampla defesa e ao contraditório. § 1º A aplicação da pena de exclusão dar-se-á por meio de decisão da Assembléia Geral, exigido o mínimo de 2/3 (dois terços) dos votos. § 2º Nos casos omissos, e subsidiariamente, será aplicado o procedimento previsto pela Lei nº. 9.784, de 29 de janeiro de 1999. § 3º Da decisão do órgão que decretar a exclusão caberá recurso de reconsideração dirigido à Assembléia Geral, o qual não terá efeito suspensivo.

CAPÍTULO III DA EXTINÇÃO DO CONSÓRCIO

CAPÍTULO III DA ALTERAÇÃO E DA EXTINÇÃO DO CONTRATO DE CONSÓRCIO PÚBLICO

CLÁUSULA 51ª (Da extinção). A extinção do contrato de Consórcio dependerá de instrumento aprovado pela Assembléia Geral, ratificado mediante lei por todos os consorciados. § 1º Os bens, direitos, encargos e obrigações decorrentes da gestão associada de serviços públicos serão atribuídos aos titulares dos respectivos serviços. § 2º Até que haja decisão que indique os responsáveis por cada obrigação, os consorciados responderão, solidariamente, pelas obrigações remanescentes, garantido o direito de regresso em face dos entes beneficiados ou dos que deram causa à obrigação. § 3º Com a extinção, o pessoal cedido ao Consórcio retornará aos seus órgãos de origem e os empregados públicos do Consórcio terão seus contratos de trabalho automaticamente rescindidos.

TÍTULO VI DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

CLÁUSULA 52ª (Do regime jurídico). O Consórcio será regido pelo disposto na Lei Federal nº. 11.107, de 6 de abril de 2005; Decreto Federal nº. 6.017, de 17 de janeiro de 2007; e, no que tais diplomas foram omissos, pela legislação que rege as associações civis. CLÁUSULA 53ª (Da interpretação). A interpretação do disposto neste Contrato deverá ser compatível com o exposto em seu Preâmbulo, bem como, aos seguintes princípios:

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I – respeito à autonomia dos entes federativos consorciados, pelo que o ingresso ou retirada do Consórcio depende apenas da vontade de cada ente federativo sendo vedado que lhe sejam oferecidos incentivos para o ingresso; II – solidariedade, em razão da qual os entes consorciados se comprometem a não praticar qualquer ato, comissivo ou omissivo, que venha a prejudicar a boa implementação de qualquer dos objetivos do Consórcio; III – eletividade de todos os órgãos dirigentes do Consórcio; IV – transparência, pelo que não se poderá negar que o Poder Executivo ou Legislativo de ente federativo consorciado tenha o acesso a qualquer reunião ou documento do Consórcio; V – eficiência, o que exigirá que todas as decisões do Consórcio tenham explícita e prévia fundamentação técnica que demonstrem sua viabilidade e economicidade. CLÁUSULA 54ª (Da exigibilidade). Quando adimplente com suas obrigações, qualquer ente consorciado é parte legítima para exigir o pleno cumprimento das cláusulas previstas neste contrato. CLÁUSULA 55ª (Da correção). Mediante aplicação de índices oficiais, poderão ser corrigidos monetariamente os valores previstos neste instrumento, na forma que dispuser os estatutos.

CAPÍTULO II DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS

Seção IV Da elaboração dos Estatutos

CLÁUSULA 56ª (Da Assembléia Estatuinte). Atendido o disposto no caput da Cláusula 2ª, por meio de edital subscrito por, pelo menos, 10% (dez por cento) Municípios consorciados, será convocada a Assembléia Geral para a elaboração dos Estatutos do Consórcio. § 1º A Assembléia Geral, por maioria simples, elegerá o Presidente e o Secretário da Assembléia e, ato contínuo, aprovará resolução que estabeleça: I – o texto do projeto de estatutos que norteará os trabalhos; II – o prazo para apresentação de emendas e de destaques para votação em separado; III – o número de votos necessários para aprovação de emendas ao projeto de estatutos. § 2º Sempre que recomendar o adiantado da hora, os trabalhos serão suspensos para recomeçarem em dia, horário e local anunciados antes do término da sessão. § 3º Da nova sessão poderão comparecer os entes que tenham faltado à sessão anterior, bem como os que, no interregno entre uma e outra sessão, tenham também ratificado o Protocolo de Intenções. § 4º Os estatutos preverão as formalidades e quorum para a alteração de seus dispositivos. § 5o Os Estatutos do Consórcio entrarão em vigor após publicação no Diário Oficial do Estado da Bahia. CLÁUSULA 77ª O primeiro Presidente terá mandato até o dia 31 de dezembro de 2010.

CAPÍTULO III DO FORO

CLÁUSULA 78ª (Do foro). Para dirimir eventuais controvérsias deste instrumento, fica eleito o foro da Comarca de Feira de Santana ou, no caso de o Estado da Bahia ser consorciado, o Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, nos termos do art. 123, I, "j", da Constituição do Estado da Bahia.

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Feira de Santana, 02 de dezembro de 2009.

JAQUES WAGNER Governador do Estado da Bahia DERIVALDO PINTO CERQUEIRA Prefeito do Município de IRARÁ TARCIZIO SUZART PIMENTA JÚNIOR Prefeito do Município de FEIRA DE SANTANA DIEGO HENRIQUE S C MARTINS Prefeito do Município de CORAÇÃO DE MARIA ROGERIO DOS SANTOS COSTA Prefeito do Município de SANTO ESTEVÃO EDVALDO DE SOUSA SANTOS Prefeito do Município de CONCEIÇÃO DA FEIRA JORGE FLAMARION RAMOS DE SOUZA Prefeito do Município de TANQUINHO ANTONIO CARLOS PAIM CARDOSO Prefeito do Município de AMÉLIA RODRIGUES TÂNIA MARLI RIBEIRO YOSHIDA Prefeita do Município de CONCEIÇÃO DO JACUÍPE

ANTONIO VALENTE BARBOSA Prefeito do Município de TEODORO SAMPAIO FRANCISCO HELIO DE SOUZA

Prefeito do Município de TERRA

NOVA

MAURO SELMO OLIVEIRA VIEIRA Prefeito do Município de ANGÜERA JAILSON COSTA DOS SANTOS Prefeito do Município de SANTA BÁRBARA MARIA ANGÉLICA LOPES CARVALHO Prefeita do Município de ANTONIO CARDOSO ADAILTON NUNES DE SOUZA LEAO Prefeito do Município de ÁGUA FRIA JUAREZ ALMEIDA TAVARES Prefeito do Município de SANTANÓPOLIS ANTÔNIO DESSA CARDOZO Prefeito do Município de SÃO GONÇALO DOS CAMPOS AILTON SOUZA SILVA Prefeito do Município de IPECAETÁ

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ANEXO C – Leis municipais de aprovação para constituição do CDSTPS

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ANEXO D – Estatuto do CDSTPS

ESTATUTO DO CONSÓRCIO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO

TERRITÓRIO PORTAL DO SERTÃO – CDSTPS TÍTULO I

DO CONSÓRCIO E DOS CONSORCIADOS CAPÍTULO I DO CDSTPS

Art. 1º. O CONSÓRCIO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO TERRITÓRIO PORTAL DO SERTÃO – CDSTPS é autarquia interfederativa, pessoa jurídica de direito público interno, integrante da Administração Indireta de cada ente federativo que o compõe. § 1º. A sede do Consórcio é no Município e Comarca de Feira de Santana, Estado da Bahia, podendo haver o desenvolvimento de atividades em escritórios, laboratórios ou unidades localizadas em outros Municípios. § 2º. A Assembléia Geral do Consórcio, mediante decisão de 3/5 (três quintos) dos Consorciados, poderá alterar a sede. § 3º. O Consórcio terá duração por prazo indeterminado.

CAPÍTULO II DO OBJETO E DO ÂMBITO DE APLICAÇÃO DO ESTATUTO

Art. 2º. O presente estatuto disciplina o CDSTPS de forma a complementar e regulamentar o estabelecido no Contrato de Consórcio Público, resultante da ratificação, por lei, do Protocolo de Intenções.

CAPÍTULO III DA CONDIÇÃO DE CONSORCIADO

Art. 3º. Não há, entre Consorciados, direitos e obrigações recíprocas. Art. 4º. Os Consorciados não são titulares de quota ou fração ideal do patrimônio do Consórcio, sendo inválidos quaisquer negócios jurídicos que o tenham por objeto.

CAPÍTULO III DO RECESSO E DA EXCLUSÃO

Seção I Do Recesso

Art. 5º. Os Consorciados poderão se retirar do Consórcio mediante declaração escrita, subscrita por seu representante na Assembléia Geral, lavrada nos seguintes termos: ―Eu, (nome), (cargo que ocupa no ente federativo) e representante do (nome do ente federativo), pessoa jurídica de direito público inscrita no CNPJ sob o n.º (número), tendo em vista o autorizado pela Lei n.º (número de Lei) de (data da lei), especialmente editada pelo Poder Legislativo do (nome do ente federativo) para o presente fim, declaro de forma expressa e irrevogável que o (nome do ente) se retira do CONSÓRCIO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO TERRITÓRIO DO PORTAL DO SERTÃO – CDSTPS, comprometendo-se a honrar com todas as obrigações constituídas até esta Data, mesmo as ainda não líquidadas. Declaro, ainda, que referidas obrigações serão cumpridas em seu prazo de vencimento ou, no caso de obrigações não exigíveis, em trinta dias de sua apresentação, sob pena de pagamento de multa de 10% (dez por cento) de seu valor corrigido e, ainda, de juros de mora à razão de 0,33% (trinta e três centésimos por cento) ao dia.‖

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Art. 6º. A retirada do ente da federação do Consórcio somente produzirá efeitos a partir do primeiro dia útil do mês seguinte à data de realização da Assembléia Geral em que for apresentada.

Seção II Da exclusão Subseção I

Das hipóteses de exclusão Art. 7°. Além das previstas no Contrato de Consórcio Público, são hipóteses de aplicação da pena de exclusão do Consórcio: I - atraso injustificado e superior a 60 (cento e vinte dias) no cumprimento das obrigações financeiras com o Consórcio; II - a desobediência à norma dos estatutos ou ao deliberado na Assembléia Geral. § 1°. Somente se configurará o atraso mencionado no inciso I do caput após o ente Consorciado ser notificado para efetuar o pagamento do devido, assegurado o prazo mínimo de quinze dias úteis para o pagamento. § 2°. A notificação mencionada no § 1º deste artigo poderá se efetuar por correspondência ou mediante publicação com destaque no sítio que o Consórcio manterá na internet. § 3º. A exclusão prevista no caput deste artigo somente ocorrerá após prévia suspensão.

Subseção II Do procedimento de exclusão

Art. 8º. O procedimento de exclusão será instaurado mediante portaria do Presidente do Consórcio, de onde conste: I – a descrição da conduta que se considera praticada, com as circunstâncias de quando, quem e de que forma foi praticada; II — as penas a que está sujeito o infrator, caso confirmados os fatos; III – os documentos e outros meios de prova, mediante os quais se considera razoável a instauração do procedimento administrativo. Art. 9°. O acusado será notificado a oferecer defesa prévia em 15 (quinze) dias úteis, sendo-lhe fornecida cópia da portaria de instauração do procedimento, bem como franqueado o acesso, por si ou seu advogado, aos autos, inclusive mediante carga. Parágrafo Único. Não são considerados dias úteis, para os fins deste artigo, o período de 20 de dezembro a 19 de janeiro. Art. 10. A notificação será realizada pessoalmente ou mediante correspondência com aviso de recebimento. Art. 11. O prazo para a defesa contar-se-á a partir do dia útil que se seguir à juntada, aos autos, da cópia da notificação devidamente assinada pelo acusado ou, então, do aviso de recebimento da notificação. Art. 12. Mediante requerimento do interessado, devidamente motivado, poderá o Presidente estender o prazo para defesa em até mais 15 (quinze) dias úteis. Art. 13. Havendo dificuldade para a notificação do acusado, será esta considerada válida mediante publicação com destaque no sítio que o Consórcio manterá na internet. Parágrafo único. A publicação mencionada no caput deste artigo produzirá seus efeitos após quinze dias, contando-se o prazo para a defesa a partir do primeiro dia útil seguinte aos referidos quinze dias.

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Art. 14. A apreciação da defesa e de eventual instrução caberá ao Presidente do Consórcio, ou à Comissão que tenha sido por ele nomeada na própria portaria de instauração do procedimento. Art. 15. A fase de apuração do procedimento disciplinar será concluída com relatório que deverá indicar se o acusado é inocente ou culpado de cada uma das imputações e, reconhecida culpa, quais as penas consideradas cabíveis. Parágrafo Único. No caso de o relatório mencionado no caput ter sido elaborado por Comissão, somente produzirá efeitos mediante a sua homologação pelo Presidente do Consórcio. Art. 16. Tendo em vista as circunstâncias do caso, a Assembléia Geral poderá aplicar as penas de multa, limitada a R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais) e de suspensão até cento e oitenta dias, fixadas de forma proporcional à gravidade da infração. § 1°. Durante o período de suspensão o infrator poderá se reabilitar. § 2°. As penas de multa e de suspensão poderão ser aplicadas cumulativamente. Art. 17. A pena de multa ou de suspensão poderá ser cumulada com a de exclusão mediante aprovação de 3/5 (três quintos) dos Consorciados. Art. 18. O julgamento perante a Assembléia Geral terá o seguinte procedimento, no qual realizar-se-ão simultaneamente duas votações: I - leitura da Portaria de instauração do procedimento, das alegações finais da defesa e do relatório final; II — manifestação do Presidente do Consórcio e da defesa do acusado, fixadas em quinze minutos cada uma; III - julgamento, decidindo se o acusado é culpado ou inocente de cada uma das imputações, bem como se aplicável pena de multa e de suspensão, mediante votação secreta; IV — julgamento sobre a aplicação ou não da pena de exclusão, mediante votação secreta e em urna separada; V - apuração dos votos sobre a inocência ou culpa, bem como de aplicação das penas de multa e suspensão, considerando-se vitorioso o veredicto que obtiver maioria simples; VI — vitorioso o veredicto de inocência de todas as acusações, o procedimento será encerrado, com a imediata destruição de todas as cédulas da segunda urna; caso seja vitorioso o veredicto de culpa, serão tidas como mantidas as penas de multa e de suspensão fixadas em face da acusação considerada procedente, iniciando-se incontinenti a apuração dos votos da segunda urna; VII — apurados os votos da segunda urna, somente admitir-se-á o veredicto de exclusão mediante voto de 3/5 (três quintos) dos Consorciados. VIII - adotada a pena de exclusão, iniciará imediatamente os seus efeitos, não tendo mais o ente federativo direito a voto na Assembléia Geral. Parágrafo Único. O Presidente do Consórcio presidirá o julgamento e votará, dada a exigência de quorum qualificado. Art. 19. Das decisões que impuserem sanções caberá o recurso de reconsideração à Assembléia Geral. § 1°. O recurso de reconsideração deverá ser interposto no prazo de 15 (quinze) dias, contados do dia útil seguinte ao de publicação da decisão na imprensa oficial. § 2°. O recurso de reconsideração não terá efeito suspensivo. § 3°. Protocolizado o recurso, constará ele do primeiro item de pauta da próxima Assembléia Geral e se processará nos termos previstos nos incisos II a VII do Art. 18 deste estatuto.

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Art. 20. Nos casos omissos, e subsidiariamente, será aplicado o procedimento previsto pela Lei Federal n°. 9.784, de 29 de janeiro de 1999.

Seção III Da admissão

Art. 21. O ente da Federação que pretenda integrar o CDSTPS, e cujo nome não tenha constado no Protocolo de Intenções, somente poderá fazê-lo mediante alteração no Contrato de Consórcio Público, aprovada pela Assembléia Geral e ratificada, mediante lei, por cada um dos Consorciados.

TÍTULO II DA ASSEMBLÉIA GERAL

CAPITULO I DA CONVOCAÇÃO

Art. 22. A Assembléia Geral será convocada pelo Presidente do Consórcio ou por um terço (1/3) dos Consorciados. Art. 23. As Assembléias Ordinárias serão convocadas mediante edital publicado no quadro de avisos da sede do Consórcio e, com destaque, no sítio que o Consórcio manterá na internet, dele devendo constar: I - os nomes daqueles que convocaram a Assembléia; II - o local, o horário e a data da Assembléia; III - a pauta da Assembléia; IV - no caso de apreciação de contas ou relatórios, deverá ser disponibilizado o seu texto integral através do sítio que o Consórcio manterá na internet; § 1°. As Assembléias Ordinárias realizar-se-ão nos meses de março e setembro, devendo ser convocadas com a antecedência mínima de 15 dias. § 2°. O edital de convocação da Assembléia deverá permanecer publicado no Quadro de Avisos e na internet até a data de realização da Assembléia. Art. 24. As Assembléias Extraordinárias serão convocadas mediante edital publicado no Quadro de Avisos da sede do Consórcio e, com destaque, no sítio que o Consórcio manterá na internet, bem como por meio de notificação escrita dirigida a cada um dos Consorciados. § 1°. O aviso mencionado no caput deverá estar publicado pelo menos 72 (setenta e duas) horas antes da realização da Assembléia Extraordinária. § 2°. A Assembléia Extraordinária será tida por regularmente convocada mediante a comprovação de que, em até 24 (vinte quatro) horas de sua realização foram notificados representantes legais de pelo menos 1/3 (um terço) dos entes Consorciados. § 3°. Não atendido o previsto nos § 1° e 2° deste artigo, os atos da Assembléia serão tidos por nulos, salvo se a ela comparecer em representantes de, pelo menos, metade dos Consorciados.

CAPÍTULO II DO QUÓRUM DE INSTALAÇÃO

Art. 25. A Assembléia Geral instalar-se-á com a presença de, pelo menos, 2/5 (dois quintos) dos entes Consorciados, porém seus trabalhos ficarão restritos às discussões até que se alcance o quorum para deliberação.

CAPÍTULO III DO QUÓRUM DE DELIBERAÇÃO

Art. 26. A Assembléia Geral somente deliberará mediante a presença de mais da metade dos Consorciados, salvo nas seguintes matérias, em relação às quais o quorum de deliberação é de 2/3 (dois terços): I - alteração dos estatutos;

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II – aceitar a cessão de servidores para o Consórcio, com ou sem ônus para a origem; III – aceitar as reservas e, bem como, a admissão como consorciado do ente da Federação que as apôs; IV - deliberar sobre a reversão ou retrocessão de bens para ente da Federação que tenha exercido o seu direito de recesso do Consórcio; Parágrafo único. O quorum para a Assembléia Geral deliberar sobre a nomeação de membros da Diretoria Executiva ou sobre a alteração da sede do Consórcio é de 3/5 (três quintos) dos Consorciados.

CAPÍTULO IV DAS DELIBERAÇÕES DA ASSEMBLÉIA GERAL

Art. 27. A Assembléia Geral deliberará mediante maioria simples de votos, considerando-se aprovada a proposta que obtiver número de votos superior à metade dos votos dos entes Consorciados presentes, salvo nas seguintes hipóteses: I - aceitar o recebimento de servidores que sejam cedidos com ônus para o Consórcio, que exigirá a aprovação de pelo menos 4/5 (quatro quintos) dos votos dos consorciados presentes; II – aceitar o recebimento de servidores que sejam cedidos sem ônus para o Consórcio, oportunidade que exigirá a aprovação de pelo menos 3/5 (três quintos) dos votos dos consorciados presentes; III – deliberar sobre a reversão ou retrocessão de bens para ente da Federação que tenha exercido o seu direito de recesso, que exigirá manifestação favorável de 2/3 (dois terços) dos Consorciados; IV - eleger o Presidente do Consórcio em primeiro escrutínio, ou aprovar moção de censura, que exigirá 2/3 (dois terços) dos votos dos entes Consorciados presentes. V - imposição de penalidades a Consorciado, ou mudança da sede do Consórcio, que exigirá 3/5 (três quintos) dos votos dos Consorciados. § 1º. Para o cômputo do número de votos considerar-se-ão os votos brancos e nulos, com exceção da hipótese do inciso IV, em que tais votos serão considerados como válidos. § 2°. As abstenções serão tidas como votos brancos.

CAPÍTULO V DAS DELIBERAÇÕES DE ALTERAÇÃO DE

DISPOSITIVO DOS ESTATUTOS Art. 28. Para a alteração de dispositivos dos estatutos exigir-se-á a apresentação de proposta subscrita por pelo menos 1/3 (um terço) dos Consorciados, a qual deverá acompanhar obrigatoriamente o edital de convocação da Assembléia Geral. Art. 29. Haverá uma votação para cada artigo a ser alterado; caso o artigo, além do caput, possua mais de três parágrafos, a votação dar-se-á também parágrafo por parágrafo. Art. 30. Não se iniciará a votação sem que o texto proposto seja lido em alto e bom som por aquele que preside a Assembléia e sem que seja franqueada cópia dele a cada um dos integrantes da Assembléia com direito a voto. Art. 31. Antes de cada votação assegurar-se-á o direito de que pelo menos um ente Consorciado que for contrário à proposta possa externar as razões de sua contrariedade por cinco minutos. Parágrafo Único. Havendo orador inscrito em favor da proposta de alteração, aquele que seja contrário à alteração terá o direito de falar por último.

CAPITULO VI DO REGIMENTO INTERNO

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Art. 32. As disposições sobre o funcionamento da Assembléia Geral poderão ser consolidadas e completadas por Regimento Interno que a própria Assembléia Geral venha a adotar.

TÍTULO III DO MANDATO, DA ELEIÇÃO E DA POSSE DA DIRETORIA EXECUTIVA

CAPÍTULO I DO MANDATO

Art. 33. O mandato da Diretoria Executiva é de dois anos, coincidindo sempre com os primeiros e segundos anos ou os terceiros e quartos anos dos mandatos de prefeito. Parágrafo único. O mandato iniciar-se-á no dia 1º de janeiro, e encerrar-se-á no dia 31 de dezembro do ano subseqüente. O atraso na posse não implicará a alteração na data de término do mandato, mas apenas na prorrogação pro tempore do mandato anterior.

CAPÍTULO II DA ELEIÇÃO E POSSE DO PRESIDENTE

Art. 34. O Presidente em exercício convocará, até o dia 10 de dezembro do ano de encerramento de seu mandato, a Assembléia para cerimônia pública de eleição e posse do Presidente. § 1º A convocação far-se-á por meio de edital publicado no quadro de avisos da sede do Consórcio e, com destaque, no sitio que o Consórcio mantiver na internet. § 2º A eleição e a posse far-se-ão no mesmo dia. Art. 35. Imediatamente após o encerramento da eleição, iniciar-se-á a cerimônia pública de posse, que obedecerá ao seguinte procedimento: I - manifestação de representantes dos entes federativos Consorciados que tenham antecipadamente se inscrito, podendo ser limitado pelo Presidente eleito o tempo e o número dessas manifestações; II — manifestação dos membros da Diretoria que encerra o mandato, caso presentes, limitada cada uma delas a cinco minutos; III - manifestação do Presidente que encerra o seu mandato; IV - ato formal de posse, em que será lavrado o respectivo termo, com a seguinte redação: ―Aos (data), nesta cidade de (local), eu, (nome), (cargo que ocupa no ente Consorciados), tomo posse como Presidente do CDSTPS, com mandato que se inicia nesta data e que se concluirá no dia 31 de dezembro de (data). Nos termos do deliberado em Assembléia Geral, nomeio como membros de minha Diretoria os (as) Srs. (Sras): (nome), (cargos que ocupam nos entes federativos Consorciados, ou no Consórcio, ou na Fundação Nacional de Saúde –Funasa ou em órgão ou entidade conveniada ao consórcio ou a informação de que foi aposentado no exercício de um de tais cargos) (nome dos entes federativos que representas no Consórcio). (assinatura do empossado). V - assinado o termo de posse, serão convocados os diretores nomeados, que o subscreverão, caso sua nomeação tenha sido homologada pela Assembléia Geral, após ter sido lançada a seguinte expressão: ―nesta mesma data, nós, os diretores nomeados pelo Presidente, tomamos posse - (assinaturas dos diretores empossados ao lado de seu nome grafado de forma legível); VI - empossados os diretores, será franqueado o acesso ao termo de posse aos presentes, para que o leiam e assinem, na qualidade de testemunhas;

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VII - lavrado o termo de posse, manifestar-se-á o Presidente eleito, encerrando a cerimônia pública. § 1º. Ninguém poderá se pronunciar ou praticar ato na cerimônia de posse por meio de procurador ou representante. § 2°. Caso ausente membro da Diretoria a ser empossada, este tomará posse perante o Presidente do Consórcio, aditando-se o termo de posse.

TÍTULO IV DA GESTÃO ADMINISTRATIVA

CAPÍTULO I DA SECRETARIA EXECUTIVA

Art. 36. Compõem a Secretaria Executiva o Presidente e o Secretário Executivo. Art. 37. A Secretaria Executiva reunir-se-á pelo menos uma vez por mês, sendo suas reuniões convocadas pelo Presidente. Art. 38. Compete à Secretaria Executiva: I - autorizar que o Consórcio ingresse em juízo, reservado ao Presidente a incumbência de, ad referendum da Secretaria, tomar as medidas que reputar urgentes; II — aprovar a proposta de orçamento anual, de créditos adicionais, de orçamento plurianual de investimentos, de instituição de fundo especial e de realização de operação de crédito, autorizando que seja qualquer dessas propostas apreciada pela Assembléia Geral; III - aprovar a proposta de fixação, revisão ou reajuste de tarifas e outros preços públicos, autorizando que seja enviada para emissão de parecer do Conselho de Regulação e de aprovação da Assembléia Geral; IV - aprovar as propostas de planos e regulamentos de saneamento ambiental, autorizando que sejam encaminhadas, para apreciação, ao Conselho de Regulação e à Assembléia Geral; V - aprovar proposta de cessão de servidores ao Consórcio, autorizando que seja apreciada pela Assembléia Geral; VI — autorizar a dispensa ou exoneração de empregados e de servidores temporários; VII – alterar, definitiva ou provisoriamente, o número de horas da jornada de trabalho dos empregados do Consórcio, ou dos servidores para ele cedidos; VIII - elaborar proposta de Regulamento Geral do Pessoal do CDSTPS, enviando-a para a apreciação da Assembléia Geral; IX - conceder, nos termos previstos no orçamento anual do Consórcio, revisão anual da remuneração de seus empregados; X - autorizar a instauração de procedimentos licitatórios relativos a contratos cujo valor estimado seja igual ou superior a RS 150.000,00 (cento e cinqüenta mil reais); XI - autorizar a instauração de licitação que não de tipo menor preço, nos termos de justificativa subscrita pelo Superintendente; XII — propor alterações ao presente estatuto ou resolver questões vinculadas à interpretação de seus dispositivos; XIII - julgar: a) impugnações a editais de concursos públicos; b) recursos referentes ao indeferimento de inscrição de concursos públicos ou à homologação de seus resultados; e) impugnações a editais ou outros atos convocatórios de licitação; c) recursos relativos à inabilitação, desclassificação homologação e adjudicação de licitações;

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e) recursos referentes ao indeferimento de registro cadastral, para fins de constar do cadastro de fornecedores; f) aplicação de penalidades a contratados ou a empregados o Consórcio; XIV – estabelecer, orientar e supervisionar todos e quaisquer procedimentos técnicos, administrativos e operacionais no âmbito do Consórcio, fornecendo, inclusive, subsídios para deliberações e ações do Consórcio. § 1°. Em face de decisões da Diretoria não cabe recurso à Assembléia Geral, porém esta última, ex officio, poderá debater, manter, extinguir ou modificar atos da Diretoria. § 2°. Os não membros da Secretaria somente poderão assistir ou participar de suas reuniões caso convidado pelo Presidente.

CAPÍTULO II DO PRESIDENTE

Art. 39. Além do previsto no Contrato de Consórcio Público e em outros dispositivos destes estatutos, incumbe ao Presidente: I — representar o Consórcio judicial e extrajudicialmente; II - ordenar as despesas do Consórcio e responsabilizar-se pela sua prestação de contas; III - convocar as reuniões da Secretaria Executiva; IV - nomear e contratar o Superintendente; V - movimentar as contas bancárias, em conjunto com o Superintendente; VI - celebrar acordos, contratos, convênios e outros ajustes; VII - exercer o poder disciplinar no âmbito do Consórcio, determinando a instauração de procedimentos e julgando-os, aplicando as penas que considerar cabíveis, com exceção da dispensa de empregados efetivos ou temporários, que dependerá de autorização da Diretoria; VIII – autorizar a instauração de procedimentos licitatórios relativos a contratos cujo valor estimado seja igual ou superior a R$ 75.000,00 (setenta e cinco mil reais) e inferior à R$ 150.000,00 (cento e cinqüenta mil reais); IX - homologar e adjudicar objeto de licitações cuja proposta seja igual ou superior a R$ 150.000,00 (cento e cinqüenta mil reais); X – homologar a cotação de preços de contratações diretas, por dispensa de licitação fundamentada no inciso 1 ou II do Art. 24 da Lei n° 8.666, de 1993, quando a proposta de menor preço for de valor superior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais), XI - zelar pelos interesses do Consórcio, exercendo todas as competências que não tenham sido atribuídas a outro órgão do Consórcio pelos presentes estatutos ou pelo Contrato de Consórcio Público. § 1°. Com exceção das competências arroladas nos incisos II, III, IV, V, VIII, IX, X e XI do caput deste artigo, as competências do Presidente podem ter o seu exercício delegado ao Superintendente. § 2°. Por razões de urgência ou para permitir a celeridade na condução administrativa do Consórcio, o Secretário Executivo poderá praticar atos ad referendum do Presidente, inclusive relativos a matérias de que não cabe delegação. § 3°. Os atos mencionados no § 2° perderão a sua eficácia caso não ratificados em até 30 (trinta) dias úteis de sua emissão.

CAPÍTULO IV DO CONSELHO CONSULTIVO

Art. 40. Compete ao Conselho Consultivo opinar, de ofício, sobre os seguintes assuntos de interesse do Consórcio:

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I – as propostas e a aprovação do orçamento plurianual de investimentos, do programa anual de trabalho e do orçamento anual do Consórcio, bem como dos respectivos créditos adicionais, inclusive da previsão de aportes a serem cobertos por recursos advindos de contrato de rateio; II – a realização de operações de crédito; III – a alienação e a oneração de bens do Consórcio ou a oneração daqueles que, nos termos de contrato de programa, tenham sido outorgados os direitos de exploração ao Consórcio; IV a homologação, atendidos os requisitos previstos nos estatutos dos planos relativos à gestão do território, habitação, regularização fundiária, turismo, trânsito urbano e interurbano na área de atuação do consórcio, desenvolvimento rural; meio ambiente, cultura e de serviços públicos; V os regulamentos dos serviços públicos em regime de gestão associada; VI – as minutas de contratos de programa nas quais o Consórcio comparece como contratante ou como prestador delegado de serviço público; VII - a minuta de edital de licitação e de contrato para concessão de serviço ou obra pública; VIII – o reajuste e a revisão das tarifas e preços públicos; IX - o reajuste dos valores da taxa de coleta, remoção e destinação de resíduos sólidos urbanos, nos termos das leis municipais; e X – o monitoramento e a avaliação da execução dos planos dos serviços públicos. Art. 41. A forma e as condições da composição do Conselho Consultivo serão determinadas por resolução da Assembléia Geral. § 1º. Os membros do Conselho Consultivo serão designados para mandatos de dois anos em Assembléia Geral especialmente designada pela Secretaria Executiva.

CAPÍTULO V DA CÃMARA DE REGULAÇÃO

Seção I Da competência

Art. 42. Compete à Câmara de Regulação: I - deliberar sobre as propostas de Regulamento a ser submetidas à Assembléia Geral; II - emitir parecer sobre as propostas de revisão e de reajuste de tarifas; III -apurar e divulgar os indicadores de qualidade dos serviços e de sua adequada e eficiente prestação; IV -opinar sobre os mecanismos de acompanhamento, fiscalização e avaliação dos serviços, e procedimentos para recepção, apuração e solução de queixas e reclamações dos cidadãos e utentes dos serviços; V - emitir parecer sobre penalidades a que estarão sujeitos os utentes dos serviços; VI - promover ampla e periódica informação aos utentes de serviços, com precisas indicações sobre os seguintes aspectos: qualidade, receitas, custos, ocorrências operacionais relevantes e custos financeiros; VII - assegurar aos utentes dos serviços prévio conhecimento das penalidades a que estão sujeitos; § 1º. Sobre as queixas e reclamações dos utentes dos serviços, deve o Conselho de Regulação, ou o seu Presidente, se pronunciar em até 30 (trinta) dias, dando- lhes ciência, por escrito, da solução adotada. § 2°. São ineficazes as decisões da Assembléia Geral sobre as matérias mencionadas nos incisos deste artigo sem que haja a prévia manifestação do Conselho de Regulação.

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§ 3°. As informações mencionadas no inciso VIII serão também divulgadas no sítio que o Consórcio manterá na internet.

Seção II Da composição e do funcionamento

Art. 43. A Câmara de Regulação será composta pelos membros da Secretaria Executiva e por 3 (três) representantes dos utentes dos serviços. Parágrafo único. Os membros do Conselho de Regulação, quando realizarem viagens no interesse do Consórcio, farão jus ao recebimento de diárias, cujo valor será fixado em ato da Assembléia Geral. Art. 44. O Presidente do Conselho de Regulação será o mesmo membro eleito Presidente do Consórcio Público. Art. 45. As reuniões do Conselho de Regulação serão convocadas pelo Presidente do Conselho de Regulação ou por 5 (cinco) de seus membros. Art. 46. O Conselho de Regulação deliberará quando presentes ao menos 5/9 (cinco nonos) de seus membros. Art. 47. As decisões do Conselho de Regulação serão tomadas mediante mais da metade de seus votos. Art. 48. Cada membro do Conselho de Regulação terá apenas um voto. Parágrafo Único. No caso de empate, prevalecerá o voto do Presidente do Conselho de Regulação.

Seção III Dos representantes dos utentes dos serviços

Art. 49. Os representantes dos utentes dos serviços serão designados para mandatos de dois anos em Assembléia Geral especialmente designada pela Diretoria Executiva. § 1º. Os representantes dos utentes de serviços deverão ser membros de Conselho de Desenvolvimento Sustentável do Território Portal do Sertão. § 2º. Os representantes de utentes dos serviços no Conselho de Regulação deverão ser representantes dos segmentos de utentes também no Conselho mencionado no § 1º. Art. 50. É permitida a reeleição de representantes de utentes de serviços. Art. 51. A posse dos representantes eleitos far-se-á em reunião da Câmara de Regulação.

CAPÍTULO VI DO PESSOAL

Art. 52. 0 pessoal do Consórcio será regido pelo Regulamento Geral de Pessoal do CDSTPS, que será instituído pela Assembléia Geral mediante proposta da Diretoria. § 1º. O regulamento de pessoal disporá sobre como o Presidente do Consórcio exercerá o poder disciplinar, complementando as normas dos presentes estatutos. § 2º. Ato da Diretoria Executiva fixará as hipóteses e critérios para empregado do Consórcio, ou servidor para ele cedido, exercer, interinamente, as atribuições de outro empregado público do Consórcio. § 3º. Até que seja adotado o Regulamento Geral mencionado no caput deste artigo, aplicar-se-á aos empregados do Consórcio, no que se refere aos aspectos disciplinares, o disposto na Lei n°. 8.112, de 1990, com a diferença de que o procedimento disciplinar será promovido e instruído perante o Superintendente e não por comissão processante.

TÍTULO V DO PLANEJAMENTO

CAPÍTULO ÚNICO

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DOS PROCEDIMENTOS Seção I

Disposições gerais Art. 53. A elaboração e a revisão dos planos e regulamentos de serviços públicos que venham a ser prestados pelo Consórcio obedecerão ao seguinte procedimento: I - divulgação e debate da proposta de plano ou de regulamento e dos estudos que a fundamentam; II - apreciação da proposta pelo Conselho de Regulação, e III - homologação pela Assembléia Geral. § 1º A divulgação da proposta de plano ou de regulamento dar-se-á mediante: I - acesso integral de seu teor no sítio que o Consórcio manterá na internet; II - a apresentação de seu conteúdo em texto cujo sentido essencial de suas disposições possa ser facilmente apreendido por qualquer utente de serviço de saneamento, e III - audiências públicas, a serem realizadas em cada um dos Municípios interessados. § 2°. O debate efetivar-se-á por meio de consulta pública, garantidos o prazo mínimo de trinta dias para o recebimento de críticas e sugestões e o acesso às respostas a qualquer do povo. § 3°. À Assembléia Geral incumbe homologar ou negar homologação à proposta de plano ou de regulamento na redação que lhe for apresentada pelo Conselho de Regulação. § 4°. Negada a homologação, a Câmara de Regulação, em sessenta dias, poderá apresentar novo texto para a apreciação da Assembléia Geral. § 5°. Repetida a negação de homologação, ou decorrido o prazo sem proposta reformulada, nova proposta de plano ou de regulamento dependerá de novo processo de divulgação e debate.

Seção II Das audiências e consultas públicas

Art. 54. Os procedimentos das audiências e das consultas públicas para a divulgação e o debate das propostas de plano ou de regulamento serão estabelecidos por resolução da Assembléia Geral. Parágrafo Único. Até que sejam adotadas as resoluções mencionadas no caput deste artigo serão utilizadas, no que couberem, as prescrições sobre audiência e consultas públicas instituídas pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama).

TITULO VI DA GESTÃO ORÇAMENTÁRIA, FINANCEIRA E PATRIMONIAL

CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 55. O Consórcio executará as suas receitas e despesas em conformidade com as normas de direito financeiro aplicáveis às entidades públicas. Art. 56. O Consórcio não possui fundo social e de seu patrimônio os entes Consorciados não possuem quotas ou partes ideais. Art. 57. A Assembléia Geral poderá instituir, por resolução, normas para a elaboração, apreciação, aprovação e execução do orçamento e dos planos plurianuais, bem como para a prestação de contas, sendo que tais normas prevalecerão em face do estipulado neste estatuto, desde que não contrariarem o previsto na legislação e no Contrato de Consórcio Público.

CAPÍTULO II DO ORÇAMENTO

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Art. 58. O orçamento do Consórcio será estabelecido por resolução da Assembléia Geral, mediante proposta da Diretoria. Art. 59. Até o dia 30 de novembro de cada ano a proposta de orçamento deverá ser apreciada pela Assembléia Geral. Art. 60. Os integrantes da Assembléia Geral poderão apresentar emendas ao projeto de orçamento, que somente serão aprovadas caso: I - indiquem os recursos necessários, admitidos somente os advindos de anulação de despesa, excluídas as referentes a: a) dotações para pessoal e seus encargos; b) serviço da dívida, ou II - sejam relacionadas: a) com a correção de erros ou omissões; b) com os dispositivos do texto do projeto de resolução. Art. 61. Aprovado o orçamento, será ele publicado no sítio que o Consórcio manterá na internet.

CAPÍTULO III DA GESTÃO PATRIMONIAL

Art. 62. Têm direito ao uso compartilhado de bens apenas os entes Consorciados que contribuíram para sua aquisição. § 1°. O direito ao uso compartilhado poderá ser cedido mediante instrumento escrito, desde que dele se dê ciência ao Consórcio com razoável antecedência. § 2°. Os próprios interessados ou, em sua falta, a Diretoria, poderão fixar normas para o uso compartilhado de bens, dispondo em especial sobre a sua manutenção, seguro, riscos, bem como despesas, se cabíveis, com combustível e lubrificantes.

TÍTULO VIII DA EXTINÇÃO DO CONSÓRCIO

Art. 63. Extinto o Consórcio Público por ato judicial ou extrajudicial: I – A Assembléia Geral decidirá sobre a destinação dos bens, podendo ser doados a qualquer entidade pública de objetivos iguais ou semelhantes ao Consórcio ou, ainda, alienados onerosamente, para rateio de seu valor entre os consorciados na proporção também definida em Assembléia Geral; II - até que haja decisão que indique os responsáveis por cada obrigação, os entes Consorciados responderão solidariamente pelas obrigações remanescentes, garantindo-se direito de regresso em face dos entes beneficiados ou dos que deram causa à obrigação;

TÍTULO IX DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS

Art. 64. A Assembléia Geral poderá sobrestar, uma única vez, por até 2 (dois) anos, a aplicação de normas previstas nestes estatutos. Art. 65. O primeiro Presidente e Diretoria do Consórcio terão mandato até o dia 31 de dezembro de 2012. § 1º. Não eleito o Presidente do Consórcio até 31.12.2012, o mandato do anterior Presidente será prorrogado por 60 dias, até a eleição do sucessor. Art. 66. O Presidente do Consórcio será sempre o Município Consorciado, por meio de seu Prefeito Municipal, pelo que não exercerá tal múnus aquele que teve findo o seu mandato de Prefeito Municipal. Art. 67. Os presentes estatutos, e as suas respectivas alterações, passarão a viger após a sua publicação, por extrato, no Diário Oficial do Estado da Bahia.

Água Fria, 26 de Fevereiro de 2010.

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JAQUES WAGNER Governador do Estado da Bahia DERIVALDO PINTO CERQUEIRA Prefeito do Município de IRARÁ TARCIZIO SUZART PIMENTA JÚNIOR Prefeito do Município de FEIRA DE SANTANA DIEGO HENRIQUE S C MARTINS Prefeito do Município de CORAÇÃO DE MARIA ROGERIO DOS SANTOS COSTA Prefeito do Município de SANTO ESTEVÃO EDVALDO DE SOUSA SANTOS Prefeito do Município de CONCEIÇÃO DA FEIRA JORGE FLAMARION RAMOS DE SOUZA Prefeito do Município de TANQUINHO TÂNIA MARLI RIBEIRO YOSHIDA Prefeita do Município de CONCEIÇÃO DO JACUÍPE MAURO SELMO OLIVEIRA VIEIRA Prefeito do Município de ANGÜERA JUAREZ ALMEIDA TAVARES

Prefeito do Município de SANTANÓPOLIS ANTONIO VALENTE BARBOSA Prefeito do Município de TEODORO SAMPAIO JAILSON COSTA DOS SANTOS Prefeito do Município de SANTA BÁRBARA MARIA ANGÉLICA LOPES CARVALHO Prefeita do Município de ANTONIO CARDOSO ADAILTON NUNES DE SOUZA LEAO Prefeito do Município de ÁGUA FRIA ANTÔNIO DESSA CARDOZO Prefeito do Município de SÃO GONÇALO DOS CAMPOS ANTONIO CARLOS PAIM CARDOSO Prefeito do Município de AMÉLIA RODRIGUES AILTON SOUZA SILVA Prefeito do Município de IPECAETÁ FRANCISCO HELIO DE SOUZA Prefeito do Município de TERRA

NOVA

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ANEXO E – Contrato de rateio

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