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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOTECNOLOGIA ISMAEL SILVA FERNANDES PRODUÇÃO DE BIOSSURFACTANTE POR Paenibacillus sp UTILIZANDO COMO MEIO DE CULTURA A MANIPUEIRA SALVADOR 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOTECNOLOGIA

ISMAEL SILVA FERNANDES

PRODUÇÃO DE BIOSSURFACTANTE POR Paenibacillus sp UTILIZANDO

COMO MEIO DE CULTURA A MANIPUEIRA

SALVADOR

2016

Ismael Silva Fernandes

PRODUÇÃO DE BIOSSURFACTANTE POR Paenibacillus sp UTILIZANDO

COMO MEIO DE CULTURA A MANIPUEIRA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Biotecnologia do Instituto de Ciências da

Saúde da Universidade Federal da Bahia como requisito

para obtenção do grau de Mestre em Biotecnologia.

Orientador: Prof. Dr. Vitor Hugo Moreau da Cunha

SALVADOR

2016

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Processamento Técnico, Biblioteca Universitária de Saúde,

Sistema de Bibliotecas da UFBA

F363 Fernandes, Ismael Silva.

Produção de biossurfactante por Paenibacillus sp utilizando como

meio de cultura a manipueira / Ismael Silva Fernandes. - Salvador, 2016

74 f. : il.

Orientador: Prof. Dr. Vitor Hugo Moreau da Cunha.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Instituto de

Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia,

Salvador, 2016.

1. Biossurfactante. 2. Manipueira. 3. Agroresíduos. 4. Paenibacillus. I.

Cunha, Vitor Hugo Moreau da. II. Universidade Federal da Bahia.

Instituto de Ciências da Saúde. Programa de Pós-Graduação em

Biotecnologia. IIII. Título.

CDU: 604.2:661.185

Ao meu aprimoramento como ser desse

universo e a meus pais que tanto me apoiaram

nessa minha etapa de desenvolvimento.

Agradecimentos

A Deus, por me dar a oportunidade que se chama vida!

A meus pais Ednaldo Silva Fernandes e Anailda Silva Fernandes, por sempre me

darem muito amor e incentivo na minha caminhada.

Ao meu irmão Davi Silva Fernandes, por apontar a direção desse mestrado e me

auxiliar nas pendências diárias.

Ao professor Vitor Hugo Moreau da Cunha, por abrir as portas do seu laboratório e

me dar as ferramentas necessárias para os trabalhos dessa etapa de minha vida.

A professora Samira Abdallah Hanna, por seus conselhos e carinho extremamente

bem vindos.

A Daniela Santana Lima, por fornecer a matéria prima para o desenvolvimento do

trabalho.

A Rebeca Cavalcanti Imbroinise, pelo auxílio e paciência.

Ao senhor Antônio Lima, pelos auxílios nas horas de aflição.

Aos meus colegas do LBI, pelas orientações e ajuda que me deram.

E finalizando, às dificuldades desse caminho que trilhei porque essas são na

verdade oportunidades de autoconhecimento e aprimoramento pessoal.

Fernandes, Ismael Silva. Produção de biossurfactante por Paenibacillus sp utilizando como meio de cultura a manipueira. 74f. 2016. Dissertação (Mestrado). Instituto de Ciências da Saúde. Universidade Federal da Bahia 2016.

RESUMO

Surfactantes sintéticos ou tensoativos tornam-se um dos principais poluentes

encontrados na natureza. Devido a vasta gama de utilização, são geralmente

encontrados em efluentes urbanos bem como nos corpos hídricos receptores. A

substituição desses tensoativo pelos biossurfactantes que apresentam

características ambientalmente compatíveis tornou-se um tema relevante à

pesquisa. O processo de produção dos biossurfactantes é o que inviabiliza sua

produção em larga escala. Diversos estudos estão em desenvolvimento para

descobrir novas fontes de carbono e energia que possibilitem um processo de

produção mais barato. Esse trabalho teve como objetivo avaliar a utilização da

manipueira como fonte alternativa de carbono e energia para a produção de

biossurfactante pelo microrganismo Paenibacillus sp. Parâmetros como o consumo

de amido, produção de açúcares redutores e a variação da concentração de

oxigênio no meio foram utilizados para acompanhar o crescimento bacteriano.

Medição da tensão superficial, índice de emulsificação e diluição micelar crítica

foram realizados para avaliar a presença de biossurfactante no meio de cultura.

Adicionalmente, testes de estabilidade em função do pH, salinidade e temperatura

foram realizados. Os resultados mostraram que a manipueira (agroresíduo da

produção de farinha) poder ser utilizada como meio de crescimento bacteriano na

produção de biossurfactante que apresenta propriedades tensoativas estáveis

podendo ser utilizado em condições extremas de acidez, alcalinidade, salinidade e

temperatura. A otimização e o escalonamento do processo de produção são

importantes ferramentas no desenvolvimento de tecnologias ambientalmente

amigáveis e economicamente viáveis para a produção de biossurfactantes com

promissora aplicabilidade industrial.

Palavras-chave: biossurfactante, manipueira, agroresíduos, Paenibacillus

Fernandes, Ismael Silva. Biosurfactant production by Paenibacillus spp using as culture medium manipueira. 74p. 2016. Dissertation (Masters). Institute of Health Sciences. Federal University of Bahia , Salvador 2016.

ABSTRACT

Due to the broad range of synthetic surfactants utilizations, these chemicals are

usually found in urban wastes as well in water bodies receptors, becoming one of the

main pollutants found in nature. Thus, the replacement of surfactants by biological

ones (biosurfactants) is important to make environment friendly the processes in

which they are applied. biosurfactant production processes are expensive and not

feasible on large scale production scale. Many researches are being conducted to

find new carbon and energy sources in order to make the production process

cheaper. This work aimed to evaluate the use of manipueira as an alternative carbon

and energy sources for biosurfactant production using microrganisms Paenibacillus

sp. Bacterial growth was followed by measuring starch consumption, production of

reducing sugars and oxygen consumption. Measurement of surface tension,

emulsification index and critical micelle dilution were performed in order to evaluate

the presence of biosurfactant in the culture broth. Stability test of produced

surfactants against pH, salinity and temperature were made. These results suggests

that, manipueira may be used as a bacterial growth medium for production of

biosurfactants, small variation of their properties and in extreme acidic, alkaline salt

and temperature conditions.

Keywords: biosurfactant, manipueira, agricutural waste, Paenibacillus

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Representação esquemática de um tensoativo..................................... 19

Figura 2: Comportamento do tensoativo em meio aquoso.................................... 19

Figura 3: Esquema do comportamento do tensoativo entre as fases fluida e____

superficial, em função da tensão superficial, indicando a C.M.C............................ 20

Figura 4: Ângulo de contato entre uma gota de líquido e uma superfície sólida... 23

Figura 5: Redução da tensão superficial facilita a entrada do líquido nas frestas___

formadas entre as fibras proporcionando a umectação........................................... 24

Figura 6: Formação de cotículas de óleo em água na presença de tensoativos____

acima da C.M.C. provocando a formação de estruturas recobertas de moléculas____

de tensoativos......................................................................................................... 25

Figura 7: a: Formação estrutural de bolhas; ____b: ilustração da composição

estrutural em espumas............................................................................................. 27

Figura 8: Representação do tipo 1 e 2 de ramnolipídeos respectivamente.......... 30

Figura 9: Estrutura química de um lipopeptídeo.................................................... 31

Gráfico 1: Variação da concentração ao decorrer do crescimento....................... 52

Gráfico 2: Variação de concentração de amido e açúcares redutores ao decorrer

do____ crescimento................................................................................................ 53

Gráfico 3 Variação da leitura de absorbância em 400 e 430 nm para obtenção da

leitura de ramnose no crescimento 2...................................................................... 54

Gráfico 4: Variação da leitura de absorbância em 400 e 430 nm para obtenção da

leitura de ramnose no crescimento 3...................................................................... 55

Gráfico 5: Variação da concentração de ramnose no decorrer do

crescimento 2.......................................................................................................... 55

Gráfico 6: Variação da concentração de ramnose no decorrer do

crescimento 3.......................................................................................................... 56

Gráfico 7: Variação da Tensão Superficial no decorrer do

crescimento 2.......................................................................................................... 57

Gráfico 8: Curva do índice de emulsificação do crescimento 2.......................... 57

Gráfico 9 Variação da tensão superficial no decorrer do crescimento 3............. 58

Gráfico 10: Curva do índice de emulsificação do crescimento 3.......................... 58

Gráfico 11: Variação da tensão superficial de acordo com a diluição do meio..... 61

Gráfico 12: Variação da tensão superficial do meio de acordo com o tempo

de exposição ao banho-maria a 100°C................................................................... 63

Gráfico 13: Medição da tensão superficial do meio diante a diferentes_____

concentrações de NaCl........................................................................................... 64

Gráfico 14: Medição da tensão superficial do meio diante a variação do pH....... 65

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Principais classes de biossurfactantes e microrganismos envolvidos...... 29

Tabela 2: Caracterização físico-química da manipueira............................................42

Tabela 3: Tabela de atividades..................................................................................44

LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

ABS: Absorbância

BA: Bahia

C: Citosina

CaCO3: Carbonato de Cálcio

CaSO4: Sulfato de Cálcio

C.M.C.: Concentração micelar crítica

n-DBSS: n-dodecil benzeno sulfonato de sódio

DDT: Dicloro Difecil Triclopoetano

D.M.C.: Diluição micelar crítica

DNA: Ácido desoxirribonucleioco

DNS: Solução de ácido dinitrosalissílico

E24: Índice de Emulsificação

FMA: Fungos micorrízicos arbusculares

G: Guanina

HCl: Ácido clorídrico

HCN: Ácido cianídrico

HPA: Compostos aromáticos policíclicos

I2: Iodo

ICS: Instituto de Ciências da Saúde

Kl: Iodeto de Potássio

L: Litro

LB: Luria Bertani

LBI: Laboratório de Biotecnologia Industrial

mg: Miligramas

min: minuto

mL: Mililitro

N: Newton

NaCl: Cloreto de Sódio

NaOH: Hidróxido de Sódio

RNAr 16s

µL: Microlitro

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 16

2. OBJETIVOS ......................................................................................................................................... 20

2.1 Geral ...................................................................................................................................... 20

2.2 Específicos ............................................................................................................................. 20

3. REVISÂO BIBLOGRÁFICA .................................................................................................................... 21

3.1 TENSOATIVOS ........................................................................................................................ 21

3.1.1 TENSOATIVOS CATIÔNICOS ..................................................................................... 23

3.1.2 TENSOATIVOS ANIÔNICOS ....................................................................................... 23

3.1.3 TENSOATIVOS ANFÓTEROS...................................................................................... 23

3.1.4 TENSOATIVOS NÃO-IÔNICOS ................................................................................... 24

3.2 INFLUÊNCIA DOS TENSOATIVOS ........................................................................................... 24

3.2.1 TENSÃO SUPERFICIAL ............................................................................................... 24

3.2.2 MOLHABILIDADE E UMECTAÇÃO ............................................................................. 25

3.2.3 EMULSIFICAÇÃO e EMULSIFICANTES ....................................................................... 26

3.2.4 DETERGÊNCIA .......................................................................................................... 28

3.2.5 ESPUMAÇÃO ............................................................................................................ 28

3.3 BIOSSURFACTANTE ............................................................................................................... 30

3.3.1 GLICOLIPÍDEOS ......................................................................................................... 31

3.3.2 LIPOPEPTÍDIOS ......................................................................................................... 33

3.4 VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS BIOSSURFACTANTES EM COMPARAÇÃO AOS

SURFACTANTES SINTÉTICOS ....................................................................................................... 34

3.5 APLICAÇÕES INDUSTRIAIS DOS BIOSSURFACTANTES ........................................................... 35

3.5.1 RECUPERAÇÃO MELHORADA DO PETRÓLEO (MEOR) ............................................. 36

3.5.2 APLICAÇÕES TERAPÊUTICAS .................................................................................... 37

3.5.3 BIORREMEDIAÇÃO ................................................................................................... 37

3.5.4 AGRICULTURA .......................................................................................................... 39

3.5.5 MINERAÇÃO ............................................................................................................. 40

3.5.6 PRODUTOS DE HIGIENE E COSMÉTICOS .................................................................. 40

3.5.7 INDÚSTRIA DE ALIMENTOS ...................................................................................... 41

3.6 Bacillus e Paenibacillus sp ..................................................................................................... 41

3.7 MANDIOCA E MANIPUEIRA ................................................................................................... 43

4. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................................................... 46

4.1 TABELA DE ATIVIDADES ........................................................................................................ 46

4.2 ISOLAMENTO do Paenibacillus sp ......................................................................................... 47

4.3 OBTENÇÃO DA MANIPUEIRA ................................................................................................ 47

4.4 PRODUÇÃO DO INÓCULO ..................................................................................................... 48

4.5 CULTIVO DA BACTÉRIA NA MANIPUEIRA .............................................................................. 48

4.5.1 Crescimento 1 (Em Biorreator) ................................................................................ 48

4.5.2 Crescimento 2 (Em Erlenmeyer) .............................................................................. 49

4.5.3 Crescimento 3 (Em Erlenmeyer) .............................................................................. 49

4.6 AVALIAÇÃO DA SÍNTESE DE BIOSSURFACTANTES PELA BACTÉRIA UTILIZANDO COMO MEIO

DE CULTURA A MANIPUEIRA. ..................................................................................................... 49

4.6.1 DOSAGEM DE AMIDO .............................................................................................. 49

4.6.2 DOSAGEM DE AÇÚCARES REDUTORES .............................................................................. 50

4.7 AVALIAÇÃO DO O CRESCIMENTO DA BACTÉRIA UTILIZANDO MANIPUEIRA COMO MEIO DE

CULTURA ..................................................................................................................................... 50

4.7.1 DOSAGEM DE RAMNOSE ......................................................................................... 50

4.7.2 TENSÃO SUPERFICIAL ............................................................................................... 51

4.7.3 ÍNDICE DE EMULSIFICAÇÃO ..................................................................................... 51

4.7.4 DETERMINAÇÃO DA DILUIÇÃO MICELAR CRÍTICA (DMC) DO EXTRATO BACTERIANO

LIVRE DE CÉLULAS ............................................................................................................. 52

4.8 ESTUDOS DE ESTABILIDADE .................................................................................................. 52

4.8.1 ESTABILIDADE EM VARIAÇÃO DE TEMPERATURA ................................................... 53

4.8.2 ESTABILIDADE EM VARIAÇÃO DE pH ....................................................................... 53

4.8.3 ESTABILIDADE EM VARIAÇÃO DE SALINIDADE ........................................................ 53

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................................................ 54

5.1 AVALIAÇÃO DO O CRESCIMENTO DA BACTÉRIA UTILIZANDO MANIPUEIRA COMO MEIO DE

CULTURA. .................................................................................................................................... 54

5.2 AVALIAÇÃO DA SÍNTESE DE BIOSSURFACTANTES PELA BACTÉRIA UTILIZANDO COMO MEIO

DE CULTURA A MANIPUEIRA. ..................................................................................................... 56

5.2.1 CURVA DE CONCENTRAÇÃO DE RAMNOSE ............................................................. 56

5.2.2 CURVA DE EMULSIFICAÇÃO E TENSÃO SUPERFICIAL DO MEIO ............................... 58

5.2.3 DMC E TENSÃO SUPERFICIAL ................................................................................... 62

5.3 ESTUDO DA ESTABILIDADE DO BIOSSURFACTANTE FRENTE À VARIAÇÃO DE TEMPERATURA,

SALINIDADE E pH ......................................................................................................................... 64

5.3.1 ESTABILIDADE À TEMPERATURA ............................................................................. 64

5.3.2 ESTABILIDADE À SALINIDADE .................................................................................. 66

5.3.3 ESTABILIDADE À VARIAÇÃO DE pH .......................................................................... 67

6. CONCLUSÃO ...................................................................................................................................... 69

7. REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 70

16

1. INTRODUÇÃO

Surfactantes ou Tensoativos são moléculas orgânicas que usualmente

consistem de uma porção hidrofóbica e outra hidrofílica. Em consequência dessa

estrutura anfifílica os tensoativos apresentam capacidade de interagir com

substâncias de diferentes polaridades, influenciam na tensão superficial de fluidos e

tem a capacidade de formar micelas (CERQUEIRA; COSTA, 2009; PENTEADO; EL

SEOUD, 2006).

Essas propriedades fazem dos surfactantes excelentes detergentes,

emulsificantes, formadores de espuma e dispersores de hidrocarbonetos (DESAI;

BANAT, 1997). Desta forma, essas substâncias são a base de uma gama de

produtos importantes, por exemplo, na formulação de herbicidas, pesticidas,

fármacos e produtos de consumo (xampus, condicionadores), no combate de

vazamento de petróleo (PENTEADO; EL SEOUD, 2006), produção de tintas,

plásticos e nas indústrias têxteis, de mineração e de alimentos (MASTORI, 1998).

Assim, os surfactantes são tidos como uma das substâncias mais versáteis na

indústria.

Devido a sua grande utilização, os surfactantes sintéticos são geralmente

encontrados em efluentes das cidades bem como nos corpos hídricos receptores

(MASTROTI, 1998). A presença desses compostos em corpos hídricos pode gerar

sérios desequilíbrios ecológicos por sua capacidade de interferir de forma danosa na

membrana plasmática dos microrganismos e até mesmo no seu metabolismo desses

(ROMANELLI, 2004). Outro fato preocupante é a formação de uma barreira na

superfície da água que diminui a troca gasosa com a atmosfera e interferindo na

qualidade da água (DE MORAIS; DE ANGELIS, 2012; ROMANELLI, 2004).

O primeiro país a criar uma lei que tentasse minimizar as problemáticas

causadas pelo uso dos tensoativos foi a Alemanha. Em 1964, foi aprovada a

"Primeira Lei Alemã de Detergentes" que proibia a comercialização de produtos com

biodegradabilidade inferior a 80%. Outros países como Estados Unidos, França,

Reino Unido, Itália e Japão criaram leis semelhantes (MASTROTI, 1998).

No Brasil, inicialmente, a Portaria 112 de 14 de maio de 1982 do Ministério da

Saúde determinava que as substâncias tensoativas aniônicas, utilizadas na

17

composição de saneantes de qualquer natureza devem ser biodegradáveis. Porém,

critérios precisos que definissem o termo "biodegradáveis" não foram estabelecidos.

Posteriormente, o Ministério da Saúde publicou a Portaria 120 de 24 de novembro

de 1995 que estabeleceu a metodologia a ser adotada para determinação da

biodegradabilidade de tensoativos aniônicos utilizados na composição de saneantes

ou tensoativos puros. Ainda, segundo esta Portaria, o produto é considerado

satisfatório quando o grau de biodegradação do tensoativo testado for igual ou

superior ao grau de biodegradação definido para o n-DBSS (n-dodecil benzeno

sulfonato de sódio) considerado como referência de biodegradabilidade para este

teste. Apesar de bastante clara e precisa, a Portaria do Ministério da Saúde só

previu a realização de testes para água doce (ROMANELLI, 2004).

Nos últimos anos, uma tendência mundial visando à sustentabilidade das

atividades industriais e seus produtos, criou a necessidade de uma nova alternativa

que substituísse parcialmente ou até totalmente os surfactantes produzidos a partir

de processos petroquímicos, que utilizam fontes não renováveis de matéria prima

(MARCHANT; BANAT, 2012).

Uma opção para esses tensoativos sintéticos são os biossurfactantes. Os

biossurfactantes são compostos de origem microbiana, consistindo em subprodutos

metabólicos de bactérias, fungos e leveduras, que exibem propriedades

surfactantes, isto é, diminuem a tensão superficial dos líquidos e possuem alta

capacidade emulsificante (NITSCHKE; PASTORE, 2002).

Em relação aos surfactantes sinteticamente produzidos, os biossurfactantes

demonstram algumas vantagens: São produzidos por microrganismos que utilizam

para a sua produção, substratos renováveis como açúcares, olhos vegetais e

glicerol; apresentam baixa toxicidade, alta biodegradabilidade e ação antimicrobiana.

Outra vantagem é o fato de apresentarem grande diversidade estrutural

(glicolipídios, lipopeptídios, ácidos graxos, e outros) oferecendo assim alta

aplicabilidade nas atividades humanas (COSTA, 2005).

Uma das classes de biossurfactante promissoras e em evidência são os

glicolipídeos, que compreendem um grupo de moléculas com longas cadeias de

ácidos alifáticos ou ácidos hidroxialifáticos ligadas a moléculas de açucares. Nessa

classe destacam-se os ramnolipídeos, trealolipídeos e soforolipídeos (GOUVEIA et

al., 2003). Outro grupo estudado são os lipopeptídeos, que consistem de peptídeos

18

cíclicos ligados a uma cadeia de ácido β-hidroxigraxo ou β-aminograxo. Ambos são

bioemulsificantes de baixa massa molecular (SOUSA, 2012).

Os pré-requisitos para a produção competitiva de biossurfactante são a

obtenção de produtos com grande atividade tensoativa, produzidos a partir de

substratos baratos através de processos economicamente viáveis e com alto

rendimento. No entanto, não é isso o que acontece no panorama atual (OLIVEIRA,

2010). Apesar dos processos biotecnológicos de produção de biossurfactante já

terem sido estabelecidos há alguns anos, o alto custo de produção e purificação

juntamente com o elevado custo para purifica-los têm impedido sua ampla utilização.

As principais dificuldades referem-se aos altos custos associados aos meios de

cultura e a baixa produtividade das cepas microbianas (OLIVEIRA, 2010).

Dessa maneira, faz-se necessário:

1) A identificação de meios de cultura alternativos para o cultivo de

microrganismos, visto que representam entre 30 a 40% do custo envolvido na

produção (JOO; CHANG, 2005).

2) A identificação de novas espécies de microrganismos que apresentem

maiores taxas de produção de biossurfactantes (DA SILVA, 2010).

3) A caracterização de condições ideais para produção em larga escala (DA

SILVA, 2010).

Em geral, substratos agroindustriais que contenham altos níveis de

carboidratos ou de lipídeos suprem a necessidade de fonte de carbono para a

produção de biossurfactantes. A utilização desses resíduos permite diminuir os

custos de produção para níveis competitivos em relação aos similares obtidos por

via petroquímica e, ao mesmo tempo reduzir os problemas ambientais relativos ao

descarte e aos custos do tratamento desses resíduos (BEZERRA, 2006).

Concomitantemente, o aproveitamento desses resíduos para a geração de produtos

com alto valor agregado, além de diminuir os danos ambientais, oportuniza a

melhoria da qualidade de vida da população rural.

Como exemplo de rejeito agroindustrial, observa-se a manipueira. A

manipueira é um resíduo com elevado teor de carboidratos que é descartada

durante o processamento da mandioca para produção de farinha e fécula. Seu

tratamento causa elevação nos custos industriais, enquanto seu descarte, direto ao

solo ou em cursos de água, causa sérios danos ambientais. Sua utilização como

19

meio de cultura em diversos processos biotecnológicos, inclusive para produção de

biossurfactantes, pode ser adequado, tanto em termos de produtividade como pelo

fato de não ser necessária suplementação nutritiva (BARROS, 2007).

Além disso, o IBGE prevê, em 2016, uma produção nacional de 23 milhões de

toneladas de mandioca, resultando aproximadamente numa produção de 5,12

milhões de toneladas de manipueira o que a caracteriza como um abundante meio

de cultura (BARROS, 2007; IBGE, 2016).

Neste projeto, pretendeu-se utilizar a manipueira como meio de cultivo de

baixo custo para a produção de biossurfactante pela bactéria Paenibacillus sp.

isolada a partir de resíduos de produção do óleo de dendê.

20

2. OBJETIVOS

2.1 Geral

O objetivo geral desse trabalho é avaliar a manipueira como fonte alternativa

de carbono e energia para o crescimento e produção de biossurfactante pela

bactéria Paenibacillus sp.

2.2 Específicos

• Analisar o crescimento da bactéria previamente isoladas da torta

de dendê, gerada pelo esmagamento do dendê, utilizando a manipueira como

meio de cultura;

• Avaliar a síntese de biossurfactantes pela bactéria utilizando

como meio de cultura a manipueira;

• Estudar a estabilidade do biossurfactante produzido frente a

variações de temperatura, salinidade e pH.

21

3. REVISÂO BIBLOGRÁFICA

3.1 TENSOATIVOS

Tensoativos são substâncias naturais ou sintéticas, que possuem em sua

estrutura uma parte lipofílica (ou hidrofóbica) e uma parte hidrofílica (Figura 1).

Graças a sua estrutura molecular essas moléculas apresentam um conjunto de

propriedades intrínsecas (ROSSI et al., 2005).

Quando dissolvidas em meio líquido os tensoativos tendem permanecerem na

interface líquido-líquido, líquido-gás ou sólido-líquido de um dado sistema. Dessa

forma, ao se posicionarem nessa região elas acabam afastando as moléculas do

solvente que estão na superfície do líquido fazendo com que as forças de coesão

entre essas moléculas não exerçam efetivamente sua influencia umas nas outras e

assim levando a diminuição da tensão superficial do líquido (NITSCHKE; PASTORE,

2002).

Outra propriedade que os tensoativos apresentam, é a capacidade de criar

micelas. Quando dissolvido, por exemplo em água, pequenas quantidades de um

Figura 1 - Representação esquemática de

um tensoativo

Figura 2 – Comportamento do tensoativo

em meio aquoso

Fonte: ROSSI et al, 2005 Fonte: ROSSI et al, 2005

22

tensoativo, uma parte é dissolvida como monômero e outra parte se posiciona na

interface ar-água. As moléculas da monocamada permanecem em equilíbrio com os

monômeros que se formam na solução, e a cada concentração de monômero

corresponde uma tensão superficial característica. Quando a concentração do

biossurfactante atinge um determinado valor crítico que determina a sua saturação

na interface, ocorre uma mudança brusca nas propriedades físico-químicas do

tensoativos, fazendo com que os monômeros livres na água se agrupem em

estruturas circulares de maneira que a parte hidrofóbica fique voltada para dentro e

a parte hidrofílica fique em contato com a água (ROSSI et al, 2005). A essa estrutura

dar-se o nome de micelas (Figura 2).

A concentração onde há a saturação da interface e a formação de micelas é

dado o nome de Concentração Micelar Crítica (C.M.C). Abaixo da CMC, as

moléculas de tensoativo estão presentes na forma de monômeros dispersos e

acima, estão presentes na forma de micelas (Figura 3). Este processo de formação é

conhecido como micelização (SANTOS et al., 2007).

Fonte: SANTOS et al., 2007

Figura 3 – Esquema do comportamento do tensoativo entre as fases fluida e

superficial, em função da tensão superficial, indicando a C.M.C.

23

Tipicamente os tensoativos sintéticos possuem a estrutura R-X, onde R é uma

cadeia de hidrocarboneto variando de 8-18 átomos (normalmente linear) e X é o

grupo cabeça, polar (ou iônico). Dependendo de X os tensoativos podem ser

classificados como não-iônicos, catiônicos, aniônicos ou anfóteros (SANTOS et al.,

2007; GOUVEIA et al., 2003).

3.1.1 TENSOATIVOS CATIÔNICOS

Um tensoativo catiônico possui em geral a fórmula RnX Y, onde R representa

uma ou mais cadeias hidrofóbicas, X é um elemento capaz de formar uma estrutura

catiônica e Y é um contra íon. Os principais representantes desta classe são os sais

quaternários de amônio (MANIASSO, 2001).

3.1.2 TENSOATIVOS ANIÔNICOS

A dissociação desses tensoativos em água origina íons carregados

negativamente na superfície ativa. Dentre os tensoativos aniônicos mais

frequentemente utilizados, estão aqueles que possuem sais de ácidos carboxílicos

(graxos) monopróticos ou polipróticos com metais alcalinos ou alcalinos terrosos,

ácidos como sulfúrico, sulfônico e fosfórico contendo um substituinte de

hidrocarboneto saturado ou insaturado (SANTOS et al., 2007).

3.1.3 TENSOATIVOS ANFÓTEROS

Os tensoativos anfóteros possuem ambos os grupos aniônicos e catiônicos no

meio hidrofóbico. A depender do pH da solução e da estrutura, pode prevalecer a

espécie aniônica, catiônica ou neutra. Os tensoativos anfóteros mais comuns

24

incluem N-alquil e C-alquil betaína e sultaína como também álcool amino fosfatidil e

ácidos (MANIASSO, 2001)

3.1.4 TENSOATIVOS NÃO-IÔNICOS

Esta classe de tensoativo não apresenta moléculas dissociadas em solução

aquosa (MANIASSO, 2001).

3.2 INFLUÊNCIA DOS TENSOATIVOS

Graças as suas propriedades moleculares, quando estão em interação com

outras substâncias, os tensoativos conseguem influenciar de forma direta nas suas

propriedades como a Umectação, Molhabilidade, Emulsificação, Detergência e a

formação de Espumas.

3.2.1 TENSÃO SUPERFICIAL

A tensão superficial está presente nas interfaces entres dois fluidos (gás-

líquido ou líquido-líquido) ou entre um fluido e um sólido (sólido-gás ou sólido-

líquido) (FERREIRA, 2005). Considerando, por exemplo, a interface líquido-gás, as

moléculas presentes na superfície do líquido se encontram em um equilíbrio

dinâmico onde passam constantemente do estado liquido para o gasoso e vice-

versa. Nessas condições, quando as moléculas de água saem do estado líquido

para o gasoso, ao se desprenderem da superfície do líquido, ocorre uma mudança

ligeira de densidade da substância, criando assim um distanciamento abrupto das

moléculas que estão na superfície com as que estão no estado gasoso. Dessa

forma, graças a essa grande distância, as moléculas que estão no estado gasoso

25

não conseguem exercer a força de coesão sobre as que estão na superfície do

líquido gerando assim uma força resultante que faz com que as moléculas que estão

na superfície sejam atraídas para o interior do líquido. Em outras palavras, tensão

superficial pode ser definida como a força resultante da atração entre as moléculas

do interior do líquido pelas moléculas na sua superfície (FERREIRA, 2005).

3.2.2 MOLHABILIDADE E UMECTAÇÃO

Molhabilidade e umectação são termos utilizados para descrever um mesmo

fenômeno em aplicações diferentes. O termo molhabilidade é utilizado para

descrever o quanto uma gota de líquido se espalha sobre uma superfície, molhando-

a. Compostos de elevada tensão superficial tendem a se comportar como gotas

esféricas sobre uma superfície, molhando-a pouco, já que as moléculas apresentam

forte atração entre si e tendem a se manter juntas. Quando a tensão superficial é

menor, o líquido se espalha mais sobre a superfície, adquirindo um formato

chamado de lente. Essa lente apresenta um determinado ângulo de contato com a

superfície sólida que depende diretamente da tensão superficial do líquido (DALTIN,

2012).

Por definição tem-se que quando o ângulo de contato (θ), demonstrado na

figura 5, for θ > 90º, não há o molhamento do sólido pelo líquido, ou seja, não ocorre

o espalhamento do líquido; quando θ < 90º, há o molhamento e o líquido se espalha

espontaneamente; quando θ ≈ 0º, o líquido se espalha indefinidamente sobre o

sólido, ou seja, o molhamento é total (LUZ; RIBEIRO; PANDOLFELLI, 2008).

Figura 04 – ângulo de contato entre uma gota de

líquido e uma superfície sólida.

Fonte: DALTIN 2012

26

A redução da tensão superficial do líquido por ação de tensoativos diminui o

ângulo de contato e aumenta a área da superfície molhada (LUZ; RIBEIRO;

PANDOLFELLI, 2008).

Umectação é o termo utilizado para a molhabilidade de superfícies mais

complexas, como o molhamento de um material têxtil, em que a capilaridade é

fundamental para que o líquido penetre profundamente no material. A Figura 5

mostra como a redução da tensão superficial facilita a penetração dos líquidos nas

frestas formadas entre duas fibras do tecido, proporcionando a capilaridade e,

portanto, a umectação. É por isso que se utilizam solventes apolares na lavagem de

tecidos a seco. Como o solvente apresenta baixa tensão superficial, umecta bem o

tecido e penetra facilmente entre as fibras, arrastando eficientemente as sujeiras do

tecido. Depois de realizada a lavagem, o solvente é evaporado do tecido e

condensado em sistema fechado para reaproveitamento em uma próxima lavagem

(DALTIN, 2012).

3.2.3 EMULSIFICAÇÃO e EMULSIFICANTES

Emulsificação é a dispersão de um líquido em outro, consistindo em gotas

microscópicas que variam de tamanho entre 0,1 a 100 nm de diâmetro. Geralmente,

Figura 5 - Redução da tensão superficial facilita a entrada do líquido nas

frestas formadas entre as fibras proporcionando a umectação.

Fonte: DALTIN, 2012

27

quanto menor o diâmetro das gotículas, mais estável será a emulsão formada (DE

LIMA, 2007).

Quando se fala em misturas entre compostos polares e apolares, a

emulsificação não se mantém porque logo após da dispersão das fazes as

moléculas de substâncias apolares não oferecem forças tão atrativas quanto as que

acontecem entre compostos polares, dessa forma, existe uma tendência natural das

moléculas polares se reagruparem e expulsar do seu seio as moléculas apolares

fazendo com que essas não se misturem. Essas duas substâncias são denominados

assim de substâncias imiscíveis (DALTIN, 2012).

Dois líquidos imiscíveis não podem formar emulsões. Neste caso, para

promover a manutenção da dispersão de um líquido em outro, deve ser adicionado

um terceiro componente capaz de estabilizar o conjunto. Esse componente é

chamado de emulsificante e frequentemente é um agente tensoativos (DE LIMA,

2007).

Tomando como exemplo a mistura entre água e óleo e considerando que são

as gotículas de óleo que estão inseridas em um sistema onde o meio contínuo é a

água, as emulsões são estabilizadas a partir do momento que os tensoativos se

posicionam na interface da gotícula de óleo e o meio continuo da água, como é

demonstrado na figura 6 (DAANE et al., 2002).

A gotícula que agora tem sua superfície totalmente ocupada por tensoativos

passa a ter uma superfície capaz de atrair de forma efetiva as moléculas de água

criando ao seu redor uma camada elétrica em sua volta. Como gotículas iguais

Figura 6 - Formação de cotículas de óleo em água na presença de tensoativos acima da

C.M.C. provocando a formação de estruturas recobertas de moléculas de tensoativos.

Fonte: DALTIN, 2012

28

vizinhas vão apresentar carga eletrostática de mesmo sinal nas suas superfícies,

ocorre o efeito de repulsão entre as gotículas com tensoativos, o que impede a

aproximação entre as gotículas, mantendo-as estáveis e separadas, reduzindo a

probabilidade de coalescência (DALTIN, 2012; FERREIRA, 2005).

3.2.4 DETERGÊNCIA

Em um ambiente que se queira fazer uma limpeza normalmente se utiliza

como solvente a água. Devido a sua polaridade a grande maioria das sujeiras

polares serão solubilizadas e assim arrastadas pela água, no entanto, as sujidades

apolares se não tiradas com ações físicas, ainda permanecem no local. Para que a

água possa interagir com esses compostos apolares é adicionado a esse sistema

um tensoativo em quantidades acima de suas concentrações micelares críticas

(CMC), proporcionando uma mistura estável entre a sujeira apolar e a água em

decorrência da alta afinidade da água pelas novas superfícies criadas pelos

tensoativos (OCHOA, 2014).

As moléculas do tensoativo em micelas rapidamente ocupam as superfícies

do óleo com a água e do substrato com a água. Assim que todas essas superfícies

forem ocupadas por moléculas de tensoativo, caso ainda haja micelas em

quantidade suficiente, haverá uma tendência para moléculas de tensoativo dessas

micelas ainda procurarem se posicionar nessas superfícies. Essa tendência gera

uma força chamada de efeito cunha, que busca aumentar o tamanho das superfícies

para permitir que mais moléculas de tensoativo possam se estabilizar. Assim sendo,

a sujidade oleosa vai se deformando e sendo desprendida da superfície do substrato

e ficando livre para ser carregada pela água (DALTIN, 2012).

3.2.5 ESPUMAÇÃO

As espumas são sistemas termodinamicamente instáveis que apresentam

uma estrutura tridimensional constituída de células gasosas delimitadas por um filme

29

líquido contínuo. Essa estrutura origina-se do agrupamento de bolhas geradas ao se

dispersar um gás em um líquido que contenha agentes espumantes, como

surfactantes solúveis ou impurezas (FIGUEREDO; RIBEIRO, 1999).

Como é demonstrado na figura 7, a formação da bolha começa com o

processo de dispersão do gás pela solução que pode acontecer por agitação ou

batimento do líquido e por borbulhamento do gás no líquido. Quando as bolhas de ar

penetram na solução contendo o tensoativo, que se encontra acima de sua

concentração micelar crítica, essas bolhas de ar formam novas superfícies água–ar,

em um processo muito semelhante ao de formação de uma emulsão, quando se

utiliza um óleo em água (DALTIN, 2012; FIGUEREDO; RIBEIRO,1999). Moléculas

do surfactante difundem-se na solução em direção à interface água-ar formando

uma monocamada adsorvida que estabiliza a bolha de gás e retarda sua rápida

coalescência. A destruição das bolhas é termodinamicamente favorável, pois

provoca redução da elevada área superficial da espuma e expansão do gás contido

nas células e, consequentemente, redução da energia livre da espuma

(FIGUEREDO; RIBEIRO,1999).

Em processos industriais ou em lavagens mecânicas, a formação de espuma

é indesejável, pois reduz a capacidade dos equipamentos envolvidos nos processos

Figura 7 – a: Formação estrutural de bolhas; b: ilustração

da composição estrutural em espumas

Fonte: OCHOA, 2014

30

industriais. Já para os produtos de limpeza e xampus, os usuários esperam a

formação de espuma abundante e associam essa formação de espuma à limpeza.

Em produtos de limpeza, como os detergentes para lavagem de louças, a espuma

apresenta um efeito estético ao consumidor, mas até dificulta a limpeza, pois requer

mais enxágues para sua retirada. Em produtos como xampus, a espuma tem a

função de impedir que o tensoativo seja rapidamente levado pela água do chuveiro e

também ajuda a arrastar fisicamente as partículas de sujidades sólidas, mantendo-

as suspensas até o enxágue (ALVES, 2013).

3.3 BIOSSURFACTANTE

Biossurfactantes são moléculas anfipáticas de origem microbiana com

propriedades surfactantes, ou seja, com capacidade de diminuir a tensão superficial

e promover a emulsificação de líquidos imiscíveis. Geralmente esses compostos são

subprodutos do metabolismo de bactérias, fungos filamentosos e leveduras (DE

LIMA, 2007; OLIVEIRA, 2010). Os biossurfactantes podem ser intra, extracelulares

ou constituintes da parede celular (DE LIMA, 2007).

Muitas vezes a célula microbiana, por si só, pode demonstrar significante

capacidade emulsificante e se comportar como um biossurfactante. Muitos autores

consideram que a célula intacta possuidora de capacidade emulsificante é por si só

um biossurfactante, porém, apenas os biossurfactantes extracelulares têm o poder

de reduzir a tensão superficial de uma fase aquosa (FRANCY et al., 1991).

Existe uma grande variedade de moléculas que fazem parte do grupo dos

biossurfactante e podem ser classificadas de acordo com seu peso molecular,

composição química e sua origem microbiana (OLIVEIRA, 2010).

De acordo com o peso molecular podem ser classificados como possuidores

de baixo ou alto peso molecular. Os biossurfactantes de baixo peso molecular

apresentam uma maior eficiência em reduzir a tensão superficial e interfacial de

meios líquidos, enquanto os surfactantes de alto peso molecular demonstram uma

maior eficiência em estabilizar emulsões óleo/água (RON; ROSEMBERG, 2002).

31

De acordo com seus constituintes moleculares os biossurfactantes podem ser

agrupados nas seguintes classes: glicolipídios, lipopeptídios, ácidos graxos, lipídios

neutros, fosfolipídios e biossurfactantes poliméricos (NITSCHKE; PASTORE, 2002),

como mostra a tabela 1.

3.3.1 GLICOLIPÍDEOS

Os biossurfactantes mais conhecidos são os glicolipídeos. Essas moléculas

são constituídas de carboidratos combinados com longas cadeias de ácidos

alifáticos ou ácidos hidroxialifáticos. Nessa classe destacam-se os ramnolipídeos,

os trealolipídeos e os soforolipídeos (GOUVEIA et al., 2003; DE LIMA, 2007).

Tabela 1 – Principais classes de biossurfactantes e microrganismos envolvidos

Fonte: NITSCHKE; PASTORE, 2002

32

Ramnolipídeos são os biossurfactantes mais estudados desse grupo. Sua

produção pela Pseudomonas aeruginosa foi descrita pela primeira vez por Jarvis e

Johnson em 1949, a partir dai, muitas cepas de bactérias produtoras de

ramnolipídeos foram isoladas (INÉS; DHOUHA, 2015).

Ramnolipídeos são compostos de um ou dois ácidos β-hidroxidecanóicos

(porção hidrofóbica) os quais são ligados através de ligações β-glicosidicas a uma

ou duas moléculas de ramnose formando a porção hidrofílica (WITTGENS et al.,

2011). L-Ramnose- L-ramnose- β-hidroxidecanóico- β-hidroxidecanóico e L-

rhamnosyl-β-hidroxidecanóico-β-hidroxidecanóicoque são referidas como

ramnolipídeo 1 e 2 respectivamente ilustrados na figura 09, são os principais

glicolipídios produzidos P. aeruginosa. A formação de ramnolipídeos tipo 3 e 4 que

possuem uma β-hidroxidecanóico ligada a uma ou duas moléculas de ramnose

respectivamente e ramnolipídios que possuem outros ácidos graxos como porção

hidrofóbica já foram observados em outros estudos (DESAI; BANAT, 1997).

Variações nos tamanhos das cadeias dos β-hidroxidecanóicos também são

observadas nos ramnolipídios de diferentes cepas de P. aeruginosa, até mesmo

diferentes tipos de ramnolipídeos podem ser produzidos por uma mesma cepa. Uma

mistura de mono e di-raminolipídios com a porções hidrofóbicas possuindo cadeias

carbônicas em sua grande maioria variando de 8 até 12 carbonos, vem sendo

constatado em cepas de P. aeruginosas (ABDEL-MAWGOUD, 2011).

Figura 08 - Representação do tipo 1 e 2 de ramnolipídeos respectivamente

Fonte: MÜLLER et al., 2012

33

Em outras espécies produtoras, foi observada a síntese de ramnolipídeos

com a porção hidrofóbica contendo cadeias carbônicas de até 14 carbonos. Até

então, cerca de 60 diferentes congêneres e homólogos de Ramnolipídeos vem

sendo reportados (ABDEL-MAWGOUD, 2011).

3.3.2 LIPOPEPTÍDIOS

A classe do lipopeptídeos se caracteriza existência de peptídeos ligados a

ácidos graxos, sendo que a porção protéica da molécula pode ser neutra ou aniônica

e os aminoácidos estão frequentemente dispostos em uma estrutura cíclica (DE

MORAIS, 2012; BARROS, 2007).

Lipopeptídeos representam uma classe de biossurfactantes que tem atraído

grande interesse na área científica. Isso se deve às suas excelentes propriedades

tensoativas e por suas atividades antibióticas, sendo melhor caracterizados aqueles

produzidos por Bacillus sp, incluindo surfactina, iturina, fengicina, liquenisina,

micosubtilisina e bacilomicina. Tais compostos são encontrados na natureza e são

produzidos por vários microrganismos, principalmente, do gênero Bacillus sp

(SOUSA, 2012; BARROS, 2007).

Figura 09 – Estrutura química de um lipopeptídeo.

Fonte: NITSCHKE; PASTORE, 2002

34

3.4 VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS BIOSSURFACTANTES EM

COMPARAÇÃO AOS SURFACTANTES SINTÉTICOS

Os biossurfactantes são tão ou mais eficientes e efetivos com relação à

atividade superficial e interfacial do que os surfactantes convencionais (detergentes

aniônicos sulfatados), pois produzem menor tensão superficial com menores

concentrações de produto ativo (SANTOS et al., 2007; NITSCHKE; PASTORE,

2003). Alguns biossurfactantes apresentam elevada estabilidade térmica, de pH e

força iônica, podendo ser utilizados em ambientes com condições mais drásticas do

que as suportadas pelos surfactantes convencionais. Como exemplo, tem-se que a

maioria dos biossurfactantes suporta concentrações de 10 % de NaCl (Cloreto de

Sódio) enquanto que uma concentração de 2-3 % é suficiente para inativar os

surfactantes convencionais (DE ARAUJO; FERREIRA; NITSCHKE, 2013).

Observando o destino final dos surfactantes utilizados na indústria, note-se

que na maioria das vezes essas substâncias são jogadas ao meio ambiente sem

nenhuma preocupação ou tratamento. O acúmulo dessa substância no ambiente

afeta seriamente o ecossistema, causando inclusive toxicidade aos mamíferos e

bactérias (DE MORAIS; DE ANGELIS, 2012).

Os surfactantes apresentam marcante atividade biológica. Eles são capazes

de interagir com componentes da membrana celular, tais como peptídeos e lipídeos,

aumentando a permeabilidade celular. O tensoativo também promove alterações na

estrutura das mitocôndrias e na fosforilação oxidativa, inibindo a síntese de DNA e

modificando a permeabilidade da membrana ao potássio (ROMANELLI, 2004).

Outro fato preocupante é a formação de espumas em rios pela presença dos

tensoativos. Através dela, poluentes tóxicos, impurezas e vírus são disseminados

pelo vento a grandes distâncias. Além disso, ocorre a formação de uma película

isolante na superfície da água, diminuindo a troca gasosa com a atmosfera e inter-

ferindo na qualidade da água (DE MORAIS; DE ANGELIS, 2012; ROMANELLI,

2004).

Dentro desse contexto, uma das grandes vantagens em relação aos

surfactantes sintéticos, é que os biossurfactantes são prontamente biodegradáveis

na água e no solo, apresentando uma melhor compatibilidade ambiental, o que os

35

torna adequados para aplicações como biorremediação e tratamento de resíduos

(DE ARAUJO; FREIRE; NITSCHKE, 2013). Além disso, os biossurfactantes

possuem baixa toxicidade por isso são atrativos, já que os produtos sintéticos tem

sido motivo de preocupação da população devido aos seus efeitos alergênicos. Além

disso, essa baixa toxicidade permite o uso em alimentos, cosméticos e produtos

farmacêuticos (DE MORAIS; DE ANGELIS, 2012; DE ARAUJO; FREIRE;

NITSCHKE, 2013).

Os biossurfactantes também apresentam a vantagem de não serem derivados

de petróleo. Esses tensoativos podem ser produzidos a partir de substratos

renováveis fazendo com que não dependam das variações sazonais do preço do

petróleo como é o caso dos sintéticos. Outra característica importante também é a

possibilidade de modificação da estrutura química e das propriedades físicas dos

biossurfactantes através de manipulações genéticas, biológicas ou químicas permite

o desenvolvimento de produtos para necessidades específicas (DE MORAIS; DE

ANGELIS, 2012).

É graças a esse conjunto de vantagens que os biossurfactantes estão sendo

considerados como uma opção ao uso de tensoativos sintéticos, além do que, com o

aumento da preocupação ambiental entre os consumidores, juntamente com as

legislações de controle do meio ambiente e pela necessidade de substituição de

compostos não biodegradáveis ou pouco biodegradáveis, novas alternativas devem

ser utilizadas.

3.5 APLICAÇÕES INDUSTRIAIS DOS BIOSSURFACTANTES

O maior mercado para os biossurfactantes é a indústria petrolífera, onde são

utilizados na produção de petróleo ou incorporados em formulações de óleos

lubrificantes. Outras aplicações incluem biorremediação e dispersão no

derramamento de óleos, remoção e mobilização de resíduos de óleo em tanques de

estocagem, e a recuperação melhorada de petróleo. Porém, atualmente, as

36

aplicações se distribuem entre os mais diversos setores industriais (NETSCHKE;

PASTORE, 2002).

3.5.1 RECUPERAÇÃO MELHORADA DO PETRÓLEO (MEOR)

A extração primária de petróleo geralmente acontece auxiliada pela grande

pressão dos fluidos presentes dentro do posso. Quando a pressão já não é

suficiente para expurgar o petróleo para fora do poço se faz necessária a injeção de

água ou gás dentro dos poços para que ocorra o aumento de pressão e uma nova

etapa de extração possa ser feita. Porém, graças à alta viscosidade do óleo do

reservatório e elevadas tensões interfaciais entre os fluidos injetados e o óleo, os

fluidos injetados tendem a percorrer as regiões mais permeáveis, deixando

quantidades substanciais de óleo nas rochas porosas (CORREIA; FRANÇA;

MOTHÉ, 2004).

A MEOR consiste em uma tecnologia de recuperação do petróleo que utiliza

microrganismos ou produtos de seu metabolismo para a recuperação de óleo

residual. Os microrganismos produzem polímeros e surfactantes que reduzem a

tensão superficial óleo-rocha, reduzindo as forças capilares que impedem a

movimentação do óleo através dos poros da rocha. Os biossurfactantes também

auxiliam na emulsificação e na quebra dos filmes de óleo das rochas (BANAT,

1995).

A utilização de biossurfactantes em MEOR envolve várias estratégias, como a

injeção de microrganismos produtores de biossurfactantes no reservatório e

subsequente propagação in situ, ou a injeção de nutrientes no reservatório,

estimulando o crescimento de microrganismos selvagens produtores de

surfactantes. Para serem úteis na MEOR in situ os microrganismos devem ser aptos

a crescer em condições extremas, como alta temperatura, pressão, salinidade e

baixa tensão de oxigênio (KARANTH; DEO; VEENANADIG, 1999).

Ainda há a possibilidade de produção de biossurfactantes em reatores e

posterior injeção no reservatório. Essa estratégia é mais cara devido à necessidade

de capital para produção, purificação e introdução do biossurfactante. As outras

37

requerem que o reservatório contenha bactérias capazes de produzir quantidades

suficientes de biossurfactantes (BANAT, 1995).

3.5.2 APLICAÇÕES TERAPÊUTICAS

Diversas são as aplicações dos biossurfactantes para favorecer a saúde

humana. Estes compostos podem atuar como antibióticos, agentes antivirais e

antitumorais, imunomoduladores ou inibidores de enzimas e toxinas. O modo de

ação de muitos desses compostos não foi esclarecido em detalhe até o momento,

apesar de se saber que suas atividades de superfícies e de membrana

desempenham um papel importante em diversos sistemas (BARROS et al., 2007).

A surfactina, um dos mais conhecidos biossurfactantes, possui várias

aplicações farmacêuticas como a inibição da formação de coágulos; formação de

canais iônicos em membranas; atividade antibacteriana e antifúngica; atividade

antiviral e antitumoral. O biossurfactante produzido por Rhodococcus erythropolis

inibiu o vírus do herpes simples e vírus parainfluenza (NITSCHKE; PASTORE,

2002).

A iturina, lipopeptídio produzido por Bacillus subtilis, demonstrou atividade

antifúngica, afetando a morfologia e a estrutura da membrana celular de leveduras.

A inibição da adesão de bactérias entéricas patogênicas por biossurfactante

produzido por Lactobacillus foi relatada. Os autores sugeriram o desenvolvimento de

agentes antiadesivos para uso em cateteres visando diminuir a formação de

biofilmes (VELRAEDS et al., 1996).

3.5.3 BIORREMEDIAÇÃO

A biorremediação é uma tecnologia que utiliza o metabolismo de

microrganismos para eliminação rápida de poluentes presentes no ambiente ou a

38

sua redução a níveis de concentração aceitáveis (COLLA; COSTA, 2003). Nesse

contexto os biossurfactantes vêm despertando um grande interesse na remediação

de solos e ambientes marinhos, visto que além de apresentarem uma estrutura

química favorável, possui propriedades benéficas para a remediação, são produtos

biodegradáveis, o que os tornam aceitáveis na aplicação em ambientes

contaminados (NITSCHKE; PASTORE, 2002; SANTOS, 2016).

Os biossurfactantes podem ser utilizados, diretamente no ambiente, como

agentes emulsificantes para aumentar a solubilidade de contaminantes hidrofóbicos

no ambiente. A capacidade dos biossurfactantes em emulsificar e dispersar

hidrocarbonetos aumenta a degradação destes compostos no ambiente

(NITSCHKE; PASTORE 2002).

Alternativamente, podem ser utilizados microrganismos produtores ou a

adição de fatores de crescimento de microrganismos selvagens capazes de produzir

estes compostos. Alguns estudos demonstraram o aumento da biodisponibilidade de

compostos aromáticos pouco solúveis como os aromáticos policíclicos (HPA) pelo

uso de biossurfactantes. O tratamento de amostras contaminadas por fenantreno e

naftaleno com biossurfactantes resultou em aumento nas suas taxas de

mineralização e solubilização (MILLER, 1995).

A biodegradação de hidrocarbonetos derivados do petróleo por

biosurfactantes ocorre através de dois mecanismos. O primeiro envolve um aumento

na biodisponibilidade do substrato hidrofóbico para microrganismos, com a

consequente redução da tensão de superfície do meio em torno da bactéria bem

como uma redução da tensão interfacial entre a parede da célula e moléculas de

hidrocarbonetos. O outro mecanismo envolve a interação entre o biossurfactante e

da superfície celular, conduzindo a alterações na membrana, o que facilita a adesão

de hidrocarboneto (aumento na hidrofobicidade) e a redução do índice de

lipopolissacarideo da parede celular, sem danificar a membrana. Assim, os

tensoativos bloqueiam a formação de pontes de hidrogénio e permitem a interações

hidrofóbica-hidrófila, o que causa rearranjos moleculares e reduzem a tensão

superficial do líquido ao aumentar a sua área de superfície, bem como a promoção

da biodisponibilidade e consequente biodegradabilidade (SANTOS, 2016).

Além da biorremediação de hidrocarbonetos que geralmente acontecem em

acidentes derramamento de petróleo, os biossurfactantes também são empregados

39

em biorremediaçãos contra outros agentes poluentes. Vem sendo objeto de

investigação o uso de biossurfactantes na biodegradação de pesticidas. A

degradação de hexaclorociclohexano por surfactante produzido por Pseudomonas

foi relatada, sendo que outros organoclorados como DDT e ciclodienos também

foram emulsificados em menor grau (KARANTH; DEO; VEENANADIG, 1999;). Os

biossurfactantes também são úteis na biorremediação de locais contaminados com

metais pesados tóxicos como urânio, cádmio e chumbo (MILLER, 1995).

3.5.4 AGRICULTURA

Os biossurfactantes são usados na agricultura especialmente em formulações

de herbicidas e pesticidas. Os compostos ativos destas formulações são geralmente

hidrofóbicos, sendo necessários agentes emulsificantes para dispersá-los em

soluções aquosas (LIN, 1996).

Outro nicho de ação dos biossurfactantes Estudos desenvolvidos por Mnif et

al (2015), demonstram que a surfactina, um biossurfactante de caráter lipopeptídico,

demonstra propriedades antifúngicas podendo ser utilizado como um fungicida

natural no combate contra fungos que infestam plantações de batatas e tomates. O

que se torna mais adequado dentro da recente demanda por gestões de pragas

ecologicamente amigáveis.

Sachdev e Cameotra (2013), comentam que muitos benefício são gerados

nas lavouras quando existe a associação de rizobactérias produtores de

biossurfactantes às raízes de plantas. Os tensoativos produzidos por essas

bactérias aumentam a biodisponibilidade de moléculas hidrofóbicas que servem

como nutrientes para a planta, facilitando assim assimilação desse recurso. Esse

biossurfactante também proporcionam uma maior molhabilidade do solo o que

promove uma distribuição adequada de fertilizantes químicos no solo e contribuindo

para o desenvolvimento do vegetal.

40

3.5.5 MINERAÇÃO

Compostos tensoativos produzidos por culturas de Pseudomonas sp. e

Alcaligenes sp. foram utilizados para flotação e separação de calcita e eschelita. A

recuperação foi de 95% para CaSO4 e 30% para CaCO3, ressaltando que reagentes

químicos convencionais são incapazes de separar estes dois minerais. O

biodispersan, polissacarídeo aniônico, produzido por A. calcoaceticus A2, foi

utilizado na prevenção da floculação e dispersão de misturas de pedra calcárea e

água. Biossurfactantes de C. bombicola demonstraram eficiência na solubilização de

carvão (DA SILVA, 2012).

3.5.6 PRODUTOS DE HIGIENE E COSMÉTICOS

Dentre os milhares de componentes que estão disponíveis para formulações

cosméticas, a água é o mais utilizado. Como nem todos os ingredientes cosméticos

são miscíveis à água, ocorre uma necessidade prática de estabilizar e suspender as

misturas heterogêneas de água com outras matérias primas como: líquidos

parafínicos, óleos vegetais, ceras naturais e sintéticas e pigmentos inorgânicos

através de um processo de emulsificação no qual uma das fases está dispersa na

outra. Assim, emulsões cosméticas, basicamente cremes e loções, são conhecidas

pelos pesquisadores como sendo misturas relativamente estáveis de água e

componentes oleosos ou graxos, na presença de um emulsionante ou também

chamado de surfactante (COSTA, 2005).

Muitos biossurfactantes apresentam compatibilidade com a pele, com isso

são utilizados em produtos de higiene e cosméticos. Um produto comercial que

utilizava na sua composição uma complementação de soforolipídeo apresentou

excelente compatibilidade dérmica, sendo utilizado como hidratante em cremes

faciais. Alguns soforolipídeos também são usados como umectantes para

incorporação em produtos de maquiagem (COLLA; COSTA, 2003).

41

3.5.7 INDÚSTRIA DE ALIMENTOS

Tendo como foco a indústria de alimentos podemos ver que a propriedade de

emulsificação tem um papel importante na formação da consistência e textura, bem

como na dispersão de fase e na solubilização de aromas (DA SILVA 2012). Os

biossurfactantes são utilizados como emulsionantes no processamento de matérias-

primas. Os agentes tensoativos encontram aplicação em panificação e produtos

derivados de carne, onde influenciam as características reológicas da farinha e a

emulsificação de gorduras. O biossurfactante produzido por Candida utilis tem sido

utilizado em molhos prontos para saladas (KARANTH; DEO; VEENANADIG, 1999).

Apesar da aplicação potencial, a indústria de alimentos não utiliza ainda os

biossurfactantes como aditivos em larga escala. Muitas propriedades dos

biossurfactantes necessitam de aprovação para sua regulamentação como novo

ingrediente para alimentos (DA SILVA, 2012).

3.6 Bacillus e Paenibacillus sp

Bactérias em forma de bastonete, que se diferenciam em endósporos, sob

condições aeróbicas eram tradicionalmente atribuídas ao gênero Bacillus. Como

resultado desta simples definição e a importância atribuída à esporulação, uma

coleção muito diversificada de microrganismos foi atribuída a esse gênero. Mais de

60 espécies foram agrupadas nesse gênero (ASH; PRIEST; COLLINS, 1993).

Os organismos incluídos nesse grupo apresentam uma enorme variedade de

fenótipos incluindo, por exemplo: aeróbios, anaeróbios facultativos, rigorosos e até

mesmo acidófilos, alcalófilos, quimioautotróficos, halófilos, psicrófilos e termófilos.

Em adição a esta heterogeneidade fenotípica muito considerável, a composição de

bases de DNA cromossómico varia de 33 a 64 mol% de G + C (guanina + citosina),

o que é demasiado grande para ser abrangidas por um único gênero (ASH; PRIEST;

COLLINS, 1993; DAANE et al., 2002).

42

Ao longo da última década grandes avanços foram feitos para elucidar as

inter-relações naturais de Bacillus. Em particular a catalogação de oligonucleotídeos

do RNAr 16s e posteriormente à compreensão da análise de sequenciamento do

16S rRNA demonstraram que o gênero Bacillus é filogeneticamente muito

heterogênea. Análises de sequências mais abrangentes mostraram a presença de

pelo menos 5 linhas altamente divergentes dentro do gênero (ASH et al., 1991).

Em 1993, Ash, Priest e Collins (1993), desenvolveram um trabalho onde

foram apresentadas evidências filogenéticas e fenotípicas incluindo a descrição de

uma sonda altamente específica com base em assinaturas características dentro do

RNAr 16S que forneceram evidencias para a atribuição de algumas das espécies de

anaeróbios facultativos em um novo gênero, denominado Paenibacillus, além de

fornecer meio de diferenciar de forma inequívoca membros deste novo gênero de

outros bacilos formadores de esporos.

As bactérias do gênero Paenibacillus são células com formato de bastonete,

gram positivas, gram negativas ou gram lábeis. Possuem motilidade por meio de

flagelos peritricosos. Produzem esporos elipsoidais que são formados em

esporângios inchados. Nenhum pigmento solúvel é produzido em agar nutriente.São

facultativamente anaeróbias ou estritamente aeróbicas. Quase todas as espécies

são positivas para catalase. Paenibacillus larvae subsp. larvae e Paenibacillus larvae

subsp. pulvifaciens são negativas para catalase. Atividade de oxidase é variável

(SHIDA, 1997).

A reação de Voges-Proskauer (produção de acetilmetilcarbinol) é variável, e o

pH no caldo de Voges-Proskauer é inferior a 6,0. Sulfeto de hidrogênio não é

produzido. Indol é produzido por algumas espécies. Redução de nitrato em nitrito é

variável (SHIDA, 1997).

Paenibacillus possuem uma ampla distribuição, podendo ser isoladas das

mais variadas fontes incluindo solo, água, rizosfera de plantas, materiais vegetais,

forragem e fezes. Sabe-se que esse gênero possui espécies que promovem a

interação entre fungos micorrízicos arbusculares (FMA) e as raízes de plantas

(HILDEBRANDT et al., 2006). Outros estudos apontam espécies desse mesmo

gênero como bons produtores de biossurfactantes, geralmente lipopeptídeos com

grandes propriedades tensoativas e apresentando também atividade antimicrobiana.

43

3.7 MANDIOCA E MANIPUEIRA

A mandioca (Manihot esculenta Crantz) é uma raiz cultivada a mais de 5.000

anos na América Tropical, que teve a sua origem no Brasil, região amazônica

fronteiriça com a Venezuela. Essa raiz tuberosa é utilizada como alimento por mais

de 400 milhões de pessoas no mundo, sobretudo nos países em desenvolvimento

onde é a principal fonte de carboidrato para a população de menor poder aquisitivo

(BEZERRA, 2012). A maior parte da sua produção destina-se à fabricação de

farinha de mandioca e o restante divide-se entre alimentação humana, animal e

processamento para amido (fécula) (CHISTE et al., 2006).

De acordo com Santos e colaboradores (2011), outra característica

importante da mandioca é a presença de linamarina e lotaustralina, que são

glicosídeos cianogênicos potencialmente tóxicos. As variedades com alto teor de

glicosídeo na polpa das raízes, além de oferecerem riscos de envenenamento, tem

sabor desagradável, sendo, por isso, classificadas como bravas ou amargas e,

variedades in natura com sabor agradável, são classificadas como mansas.

Mikumbira e colaboradores (2003), observaram que o sabor amargo é perceptível

quando as concentrações de glicosídeos cianogênicos são superiores a 100-150 mg

eq. de HCN kg-1 de massa fresca de raízes.

Um dos principais subprodutos no processamento da mandioca para

obtenção da farinha ou fécula é a manipueira. É um líquido leitoso amarelo-claro,

contendo açúcares, gomas, proteínas, linamarina, derivados cianogênicos, sais e

outras substâncias (CEREDA, 2001). Na tabela 1 está presente a caracterização

físico-química da manipueira realizada por Cereda (2001), utilizando amostras

coletadas em indústrias de processamento de mandioca.

A manipueira é rica em linamarina que é um glicosídeo cianogênico tóxico do

qual provém o HCN (ácido cianídrico), bastante volátil (GONZAGA et al., 2007).

Assim, caso seja lançada diretamente em cursos d'água, onde comumente são

despejados os resíduos líquidos industriais, a manipueira pode representar grave

problema para o meio ambiente (CEREDA, 2001).

44

Tabela 2 – Características físico-químicas da manipueira

Fonte: CEREDA, 2001

Em trabalho realizado no município de Maringá, Estado do Paraná, Silva et al.

(2005), verificaram efeito fertilizante da manipueira na cultura do sorgo. Aragão e Da

Ponte (1995), encontraram resultados que evidenciaram a superioridade das plantas

tratadas com manipueira como adubo foliar em várias diluições na cultura do quiabo

(Hibiscus sculentus L.). Vieites e Brinholi (1994) encontraram respostas positivas

para a utilização deste extrato líquido associado à adubação mineral na cultura da

mandioca, com aumento do comprimento e diâmetro das raízes e elevação da

produtividade.

Tendo em vista a facilidade para a obtenção e o baixo custo da manipueira,

considera-se que a sua utilização como fertilizante possa ser uma alternativa de

substituição dos adubos químicos industrializados. No entanto, para viabilizar essa

utilização, além da determinação de dosagem adequada para cada espécie vegetal,

fazem-se necessários cuidados prévios como o aquecimento para evitar os impactos

45

ambientais decorrentes de composto tóxicos presentes em sua constituição. Estas

etapas, prévias ao uso, encarecem a sua aplicabilidade.

No Brasil, não há o devido reconhecimento da manipueira, pela sociedade do

setor agroindustrial, como sendo um potencial agente de poluição do meio ambiente.

Considerando as medidas atuais de proteção e recuperação ambiental que vem se

expandindo em todos os setores, a sociedade está sendo conduzida para uma

reflexão mais profunda quanto às práticas adotadas pelo setor agroindustrial. O

aprofundamento na utilização dos recursos potencialmente poluentes e

aproveitáveis faz-se necessário. O setor agroindustrial brasileiro gera uma grande

quantidade de resíduos que podem ser usados como substrato para o crescimento

celular com aplicação biotecnológica. A matéria orgânica presente nesse material

pode ser usada como fonte de energia para o crescimento e para a síntese de

biomassa celular. A utilização dos resíduos da agroindústria, além de fornecer

diferentes alternativas de substratos para fermentação, também ajuda na diminuição

dos problemas de poluição (SILVA et al., 2005; PANDEY et al., 1999).

46

4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 TABELA DE ATIVIDADES

A tabela abaixo descreve as atividades realizadas dentro do presente estudo.

Tabela 3 – Tabela de atividades/

Crescimentos Etapas de análises

Crescimento 1

Crescimento 2

Crescimento 3

1º Etapa

Análise do crescimento

Bacteriano

- Variação da

concentração de

Oxigênio

------

- Variação da

concentração de

amido e açucares

redutores

2ºEtapa

Análise da produção

de Biossurfactante

------

- Variação da

concentração de

Ramnose

- Variação da tensão

superficial

- Variação do índice de emulsificação

- Variação da

concentração de

Ramnose

- Variação da tensão

superficial

- Variação do índice de

emulsificação

- Diluição micelar

crítica

3º Etapa

Análise da

manutenção das

propriedades

tensoativas do

Biossurfactante

------

------

- Variação da tensão

superficial diante a

variação de pH,

Salinidade e

Temperatura

47

4.2 ISOLAMENTO do Paenibacillus sp

As cepas de Paenibacillus sp. foram isoladas de resíduos agrícolas, em

trabalhos anteriores, conforme protocolo previamente estabelecido no laboratório e

brevemente descrito a seguir.

A torta de dendê é um subproduto resultante da polpa seca do fruto, após

moagem e extração do óleo (BARROS; FERNANDES, 2013). Esse resíduo foi

coletado na fazenda Juerana localizada no Km 12, Rodovia Ilhéus-Itacaré. Após sua

coleta, a torta de dendê foi lavada com água corrente e armazenada em sacos

plásticos limpos, sendo transportados para processamento com intervalo de no

máximo 8h. Antes do processamento, foi feita uma separação e identificados de

acordo com a parte da planta coletada (cascas, folhas, galhos, etc.). Em seguida, os

resíduos agrícolas foram triturados separadamente e armazenados em frascos de

vidro estéreis (DE JESUS, 2013).

Amostras de 1g da torta foram trituradas e adicionadas em solução aquosa

contendo: 0,01% CaCl2, 0,02% de NH4Cl, 0,01% de MgSO4, 0,01% de K2HPO4, para

enriquecimento. Em seguida a solução foi incubada a 37º C, sob agitação, por 48 h.

Alíquotas desta solução foram plaqueadas em meio sólido contendo ágar, meio

mínimo e amido como única fonte de carbono. Colônias isoladas foram repicadas

novamente em placas separadas contendo ágar, meio mínimo e amido como única

fonte de carbono. Em seguida, as colônias isoladas foram mantidas em meio Miller

Hinton, caracterizadas pelo método de Gram. Subsequentemente, foi identificada

como Paenibacillus sp. por sequenciamento de gene do RNAr 16S (DE JESUS,

2013).

4.3 OBTENÇÃO DA MANIPUEIRA

A manipueira foi coletada na Fazenda Maré, localizada na rodovia BA 233,

Conde, BA. Assim que coletada, foi congelada, em garrafas pet, para inibir a ação

48

de microrganismos durante o seu transporte até ao Laboratório de Biotecnologia

Industrial (LBI), localizado no Instituto de Ciências da Saúde (ICS) da UFBA.

Logo após a seu transporte ao LBI, a manipueira foi aquecida até a fervura

para inativação das enzimas e microrganismos fermentativos presentes, como

também para remoção do material sólido insolúvel. Após resfriamento em

temperatura ambiente, a manipueira foi centrifugada a 3000 rpm por 30 minutos. O

sobrenadante foi armazenado em frascos plásticos de 2 L a -20°C (BEZERRA,

2012).

4.4 PRODUÇÃO DO INÓCULO

Inóculo é a denominação dada a suspenção, em meio líquido, de

microrganismos em concentração adequada para ser utilizado nos crescimentos da

bactéria.

O preparo do inóculo consiste em adicionar 1mL de amostra congelada da

bactéria a 250mL de meio LB (Luria Bertani) líquido, contendo 1,25g de extrato de

levedura, 2,5g de peptonas e 2,5g de NaCl. Após 48h crescimento o inóculo estava

pronto para ser utilizado nos crescimentos.

4.5 CULTIVO DA BACTÉRIA NA MANIPUEIRA

4.5.1 Crescimento 1 (Em Biorreator)

O crescimento da Paenibacillus sp em Biorreator (BIO-TEC da TECNAL) foi

realizado, utilizando-se 600mL de manipueira como caldo de cultivo e adicionado 6

mL de inóculo da bactéria para crescimento. Temperatura, pH e transferência de

massa (agitação e aeração) foram controlados automaticamente. A bactéria foi

cultivada a 37°C, com agitação a 400 rpm e com 100% de abertura da válvula de

controle de passagem de ar.

49

4.5.2 Crescimento 2 (Em Erlenmeyer)

O crescimento aconteceu em triplicata, utilizando erlenmeyers de 250mL

contendo 70mL de manipueira previamente tratada e 0,7mL de inóculo. Antes da

inoculação o meio foi autoclavado a 121°C por 20 minutos. Após a inoculação os

Erlenmeyer foram colocados em estufa com shaker a uma temperatura de 31°C e

uma rotação de 120 rpm. O crescimento teve uma duração de 120h.

Amostras foram coletadas a cada 12h, centrifugadas a 20.000 rpm para a

retirada das células e o sobrenadante foi congelado para que pudessem ser

analisados futuramente.

4.5.3 Crescimento 3 (Em Erlenmeyer)

O crescimento aconteceu em triplicata, utilizando erlenmeyers de 250mL

contendo 140mL de manipueira previamente tratada e 1,4 mL de inóculo. Antes da

inoculação o meio foi autoclavado a 121°C por 20 minutos. Após a inoculação os

Erlenmeyer foram colocados em estufa com shaker a uma temperatura de 31°C e

uma rotação de 120 rpm. O crescimento teve uma duração de 120h.

Amostras foram coletadas a cada 12h, centrifugadas a 20.000 rpm para a

retirada das células e o sobrenadante foi congelado para que pudessem ser

analisados futuramente.

4.6 AVALIAÇÃO DA SÍNTESE DE BIOSSURFACTANTES PELA BACTÉRIA

UTILIZANDO COMO MEIO DE CULTURA A MANIPUEIRA.

4.6.1 DOSAGEM DE AMIDO

Para constatação do consumo do substrato energético, foi testada a hidrólise

do amido contido no meio. Para tal, um método colorimétrico utilizando a coloração

azul gerada quando há a formação do complexo amido-iodo foi utilizado. O protocolo

utilizado por De Jesus (2013), foi adaptado para realização das leituras em

microplacas.

50

Assim, 60 µL do das amostras livres de células foram misturadas a 540 µL de

água por osmose reversa. Dessa diluição foi retirado 15µL que foi misturado a 285

µL de lugol a 4%. A mistura foi lida em espectrofotômetro da marca Thermo

Scientific modelo Multiskan GO UV/Vis, a 620 nm. O lugol (reativo iodo-iodeto) foi

preparado diluindo a 4% um solução de KI 30g/L e I2 3g/L.

4.6.2 DOSAGEM DE AÇÚCARES REDUTORES

Os açúcares redutores foram dosados pela reação com o ácido 3,5-

dinitrosalicílico (DNS). O protocolo utilizado por de Jesus (2013), foi ajustados para

leitura em microplacas.

As amostras livres de células foram diluídas previamente 20 vezes. Das

diluições foram retirados 35µL e misturados a 15µL de DNS.

A microplaca foi selada com filme plástico para evitar a entrada ou saída de

água dos poços. Logo após, a microplaca foi colocado em banho-maria a 100 °C

durante 5 minutos.

Após o resfriamento até a temperatura ambiente, as amostras foram lidas em

espectrofotômetro da marca Thermo Scientific modelo Multiskan GO UV/Vis numa

absorbância de 490 nm.

4.7 AVALIAÇÃO DO O CRESCIMENTO DA BACTÉRIA UTILIZANDO MANIPUEIRA

COMO MEIO DE CULTURA

4.7.1 DOSAGEM DE RAMNOSE

Sempre em triplicatas, o método foi aplicado adicionando-se 4,5 mL de

solução de ácido sulfúrico a 1 mL de amostra do caldo de crescimento livre de

células, numa diluição de 1:1000, acondicionando a mistura em tubo de ensaio com

tampa de rosca. Os tubos contendo esta solução foram colocados em banho Maria a

51

100°C, por 10 min e resfriados a temperatura ambiente. Após o resfriamento,

adicionou-se 0,1mL de solução de ácido tioglicólico. Os tubos foram

homogeneizados em vortex e guardados na ausência de luz por três horas.

Passadas as três horas foram feitas em cada amostra duas leituras de absorbância

em comprimentos de onda de 400 e 430 nm em um espectrofotômetro da marca

Biospectro, modelo SP220 (CHANDRASEKARAN; BEMILLER, 1980). Após a

obtenção das leituras nos diferentes comprimentos de onda foi feita a subitração das

leituras seguindo a seguinte equação para conseguir a leitura de absorbância

referente à concentração de ramnose.

Leitura de ABS (absorbância) da Ramnose = ABS 400nm – ABS 430nm

4.7.2 TENSÃO SUPERFICIAL

O método do anel de Du Nouy é utilizado para a medida a tensão superficial

de um líquido. Para realizar a medição, sempre em triplicatas, foi utilizado um

tensiômetro da Sigma, modelo 702/702ET, que mede a força necessária para

remover um anel de platina da superfície do líquido a ser testado.

O valor lido na escala no ponto de desprendimento é a força exercida pela

superfície do líquido sobre o anel, ou seja, a tensão superficial (DOS REIS, 2007).

Para cada leitura foram utilizados 10mL do caldo de crescimento livre de

células.

4.7.3 ÍNDICE DE EMULSIFICAÇÃO

A atividade emulsificante foi determinada de acordo como o método descrito

por Cooper e Goldenberg (1987). Foram misturados 6 ml de querosene a 4 ml do

caldo de crescimento livre de células, dentro de um tubo de ensaio com tampa

rosqueada. A mistura foi agitada em vórtex a alta velocidade durante 2 min. As

52

medições foram feitas 24h depois. O índice de emulsão (E24), um valor percentual,

corresponde à altura da camada de emulsão, dividido pela altura total do líquido,

multiplicada por 100, conforme equação abaixo:

Sendo: HEM= altura da camada emulsificante

Ht= altura total do líquido

4.7.4 DETERMINAÇÃO DA DILUIÇÃO MICELAR CRÍTICA (DMC) DO EXTRATO

BACTERIANO LIVRE DE CÉLULAS

Diluição micelar crítica é o número de diluições necessárias para se alcançar

a concentração micelar crítica. A amostra foi diluída sucessivas vezes com água

destilada e em cada diluição foi medida a tensão superficial do meio diluído. Na

diluição que apresenta o aumento da tensão superficial do meio, esta diluição é

considerada a diluição micelar crítica e no meio existe a concentração

correspondente a concentração micelar crítica. A tensão superficial foi estimada pela

pelo método do anel de du Nouy por um tensiômetro da marca Sigma, modelo

702/702ET (ROSSMANN, 2008).

4.8 ESTUDOS DE ESTABILIDADE

No intuito de caracterizar melhor o biossurfactante, após a criação de uma

curva de emulsificação e de tensão superficial, foram feitos alguns testes nos pontos

que apresentaram menor tensão superficial e maior índice de emulsificação (120h),

que observaram a estabilidade das propriedades tensoativas desse surfactante em

diferentes temperaturas, pH e níveis de salinidade no meio.

53

4.8.1 ESTABILIDADE EM VARIAÇÃO DE TEMPERATURA

Para se avaliar o efeito da temperatura na atividade emulsificante, tubos de

ensaio com tampa rosqueada, contendo 10 mL do caldo de crescimento livre de

células, foram mantidas em banho-maria a temperatura de 100°C. Nos tempos de

15, 30, 60 e 70 minutos no banho-maria e a 121°C por 15 minutos na autoclave, as

amostras foram resfriadas do aquecimento e foram resfriadas a temperatura

ambiente. Após resfriamento, determinou-se a tensão superficial da amostra

(ROCHA et al., 2007).

4.8.2 ESTABILIDADE EM VARIAÇÃO DE pH

Amostras de 10mL do meio livre de células após 120h de crescimento foram

utilizadas para essa análise.

O pH das amostras foi ajustado para diferentes valores de pH (2, 4, 6, 8, 10 e

12), utilizando a base NaOH (1M) e o ácido HCl (1M). Após 30 minutos, foi verificada

a tensão superficial em cada valor de pH (BEZERRA, 2012).

4.8.3 ESTABILIDADE EM VARIAÇÃO DE SALINIDADE

O efeito da salinidade foi determinado variando a concentração de NaCl para

1, 5, 10, 12, 15, 17, 20, 23, 25% (p/v) ao adicionar as quantidades do sal

correspondente às concentrações desejadas, ao meio de crescimento livre de

células e agitando o mesmo até dissolver todo o sal. As amostras permaneceram em

repouso por 3 horas, verificando-se a tensão superficial em seguida (BEZERRA,

2012; NITSCHKE; PASTORE, 2006).

Amostras de 10mL do meio livre de células após 120h de crescimento foram

utilizadas para essa análise.

54

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 AVALIAÇÃO DO O CRESCIMENTO DA BACTÉRIA UTILIZANDO MANIPUEIRA

COMO MEIO DE CULTURA.

O crescimento 1 foi feito em um biorreator a fim de dar início às análises de

crescimento. Para a constatação do crescimento bacteriano e a construção da curva

de crescimento, em um meio de cultura líquido, geralmente utiliza-se a densitometria

ótica que conta com o auxílio do espectrofotômetro em leituras de absorbância da

luz na amostra e assim chegar à quantificação da concentração de microrganismos

dentro daquele intervalo de tempo estudado (LUDWIG; OLIVA-NETO; ANGELIS,

2001), ou a contagem de microrganismo que utiliza diluições seriadas e contagem

de em placa das colônias para saber a quantidade de células viáveis no meio de

cultura (VERMELHO; PEREIRA; COELHO, 2006).

No entanto, inicialmente foi utilizada a concentração de oxigênio do meio, que

foi captado pelo sensor presente no biorreator, como indicativo do desenvolvimento

da bactéria na manipueira. O gráfico abaixo mostra a variação da concentração de

oxigênio no meio dentro de um período de 48h de crescimento.

Gráfico 01 – Variação da concentração ao decorrer do crescimento

55

Posteriormente, no crescimento 3 foi dosada a quantidade de amido e a

quantidade de açúcar redutor para constatação do consumo do substrato pela

bactéria. O gráfico abaixo demonstram os resultados.

Gráfico 02 – Variação de concentração de amido e açúcares redutores ao decorrer

do crescimento

A variação da concentração de amido e glicose no meio mostra um

comportamento dessa bactéria já visto em trabalhos anteriores (DE JESUS, 2013).

A inibição da produção de amilase pela presença de glicose em solução é

conhecida como repressão catabólica (MONTEIRO; ULHOA, 2006; FERNANDES et

al., 2007). Inicialmente a bactéria produz amilase com o intuito de utilizar o amido

como fonte de energia e carbono, com o aumento da concentração de glicose

graças à quebra do amido, ocorre a inibição da produção de amilase. Nota-se esse

padrão quando se observa o decréscimo na concentração de amido de 0h para 36h

e a manutenção com pouquíssima variação da concentração de amido até o fim do

crescimento.

Somado a isso, pode ser observado, no mesmo tempo onde observamos o

decréscimo de amido, o aumento da concentração de glicose e logo após o seu

consumo, pela bactéria, mostrado pela diminuição progressiva de sua concentração.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

0h 36h 72h 120h

Co

nce

ntr

ação

(g/

L)

Tempo (horas)

amido

açu. redt.

56

Com isso, a variação da concentração de oxigênio no meio juntamente com a

variação da concentração de amido e açucares redutores, demonstram com clareza

a disposição que o microrganismo teve em se desenvolver na manipueira e também

o potencial de utilização da manipueira como fonte de carbono e energia sem

necessidade de complementações.

5.2 AVALIAÇÃO DA SÍNTESE DE BIOSSURFACTANTES PELA BACTÉRIA

UTILIZANDO COMO MEIO DE CULTURA A MANIPUEIRA.

5.2.1 CURVA DE CONCENTRAÇÃO DE RAMNOSE

Inicialmente acreditava-se que o biossurfactante produzido fosse o

ramnolipídeo, com isso dosagens de ramnose foram feitas para a constatação da

produção desse biossurfactante pelo microrganismo. Os gráficos 03 e 04

demonstram os resultados obtidos a partir do crescimento 2 e 3 respectivamente.

Gráfico 03 – Variação da leitura de absorbância em 400 e 430 nm para obtenção da

leitura de ramnose no crescimento 2

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0h 12h 24h 36h 48h 60h 72h 84h 96h 108h 120h

leit

ura

de

ab

sorb

ânci

a

Tempo (horas)

400 nm

430 nm

57

Gráfico 04 – Variação da leitura de absorbância em 400 e 430 nm para obtenção da

leitura de ramnose no crescimento 3

No gráfico 3 e 4 pode ser observada a diminuição gradual das leituras de

absorbância. De acordo com Cahndrasekaran e Bemiller (1980), as leituras

representam a absorbância das hexoses presentes no meio analisado, dessa forma

mais uma vez pode se observar o consumo do substrato pela bactéria indicando sua

disposição em se desenvolver na manipueira. A variação da concentração de

ramnose gerada a partir da subtração das leituras de absorbância no comprimento

de onda de 400 e 430, do crescimento 2 e 3 estão demonstradas nos gráficos 5 e 6.

Gráfico 05 – Variação da concentração de ramnose no decorrer do crescimento 2

0,0000

0,0200

0,0400

0,0600

0,0800

0,1000

0,1200

0,1400

0,1600

0,1800

0,2000

0h 12h 36h 48h 60h 72h 108h 120h

Leit

ura

de

ab

sorb

ânci

a

Tempo (horas)

400 nm

430 nm

310

399

293310

346

275275

168

222

133115

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

0h 12h 24h 36h 48h 60h 72h 84h 96h 108h 120h

Co

nce

ntr

ação

(m

g/L)

Tempo (horas)

58

Gráfico 06 – Variação da concentração de ramnose no decorrer do crescimento 3

Tanto no crescimento 2 como novamente no crescimento 3, pode ser

observado o decréscimo gradual da concentração de ramnose ao decorrer do

crescimento, o que pode indicar o consumo dessa hexose pelo microrganismo.

Bezerra (2012), utilizando a manipueira como meio de cultura para a

produção de ramnolipídeo, testou três métodos de quantificação de ramnose e nos

três métodos ocorreu o mesmo decréscimo nas leituras de ramnose ao longo do

crescimento como ocorreu no presente estudo. O autor atribui essa tendência ao

consumo do biossurfactante produzido pela bactéria no decorrer do seu

crescimento, no entanto não há uma correlação entre esse decréscimo e a

diminuição da tensão superficial do meio de cultura e nem uma analise de como a

maior concentração de ramnose se encontra no tempo zero, assim como ocorreu no

presente trabalho.

5.2.2 CURVA DE EMULSIFICAÇÃO E TENSÃO SUPERFICIAL DO MEIO

Como afirmado por (PIRÔLLO, 2006), os parâmetros utilizados para a

constatação da produção de biossurfactante por uma bactéria e medir sua eficiência

são a redução da tensão superficial do meio e a variação do índice de emulsificação.

Então em paralelo a quantificação de ramnose no meio, foram feitas medições para

252

168168

120

120

56,8

11097,6

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

0h 12h 36h 48h 60h 72h 108h 120h

Co

nce

ntr

ação

(m

g/L)

Tempo (horas)

59

constatações de possíveis diminuições da tensão superficial do meio e uma curva foi

criada para constatar a variação do índice de emulsificação do meio no decorrer do

tempo dos crescimentos 2 e 3. Nos gráficos 08 e 09 pode-se ver a variação da

tensão superficial e do índice de emulsificação do meio ao longo do crescimento 2.

Gráfico 07 – Variação da Tensão Superficial, do meio, no decorrer do crescimento 2

Gráfico 08 – Curva do índice de emulsificação do crescimento 2

Nos gráficos 9 e 10 são demonstradas as variações do crescimento 3.

72

49,54

26,83

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Água Destilada 0h 120h

Ten

são

su

pe

rfic

ial (

mN

/m)

Tempo (hora)

65,51% 65,51%

3,44% 3,44% 3,44%6,89%

51,72%

86,20%

96,55% 96,55% 96,55%

0h 12h 24h 36h 48h 60h 72h 84h 96h 108h 120h

Índ

ice

de

em

uls

ific

ação

(%

)

Tempo (hora)

60

Gráfico 9 – Variação da tensão superficial do meio no decorrer do crescimento 3

Gráfico – 10 Curva do índice de emulsificação do crescimento 3

Os gráfico de tensão superficial demonstram no crescimento 2 e 3 a

diminuição da tensão superficial em valores bem semelhantes: 27,1 e 26,83 mN/m.

Como afirmados por Nitschke e Pastore (2006) esse valores de tensão superficial

alcançados no crescimento 2 e 3 indicam a produção de um poderoso tensoativo,

72,84

48,12

27,39 27,04 27,1

0

10

20

30

40

50

60

70

80

água destilada 0h 36h 72h 120h

Ten

são

su

pe

rfic

ial (

mN

/m)

Tempo (horas)

63,27% 65,52%

3,57%10,71%

3,57% 3,45%

94,25% 91,95%

0,00%

20,00%

40,00%

60,00%

80,00%

100,00%

120,00%

0h 12h 36h 48h 60h 72h 98h 120h

índ

ice

de

em

uls

ific

ação

(%

)

Tempo (horas)

61

visto que, valores semelhantes (26,6 mN/m) foram obtidos pelos autores citados,

quando analisavam a produção de biossurfactante por uma cepa de Bacillus subtilis.

Bezerra (2012), utilizando a manipueira como meio de crescimento para o cultivo de

uma cepa de Pseudomonas aeruginosa, obteve como menor valor de tensão

superficial 30,92mN/m, indicando assim que os valores de tensão superficial

demonstrados no presente trabalho se equipara a valores de tensão superficial

obtidos pela P. aeruginosa, uma das espécies bacterianas mais promissoras dentro

dos estudos de prospecção de microrganismos produtores de biossurfactante.

De acordo com Willumsen e Karlson (1997), um critério para considerar uma

biossurfactante como um bom emulsificante é a capacidade de formar emulsões e

se manter emulsionado acima de 50% por 24 horas ou mais. Analisando os gráficos

da curva de emulsificação do crescimento 2 e 3 pode ser visto indícios de que a

manipueira já possui a capacidade de emulsionar o querosene por mostrar um

índice de emulsificação que varia entre 63,27 e 65,52%,. Pode ser observado

também o grande índice de emulsificação atingido pelo biossurfactante no

crescimento 2 e 3 chegando respectivamente a 96,55 e 91,95% no tempo de 120h, o

que leva a crer que a bactéria produz um excelente emulsificante com índices

superiores aos alcançados por bactérias já largamente estudadas, quando

comparamos esses valores com os obtidos por Bezerra (2012), onde em seus

estudos os valores máximos de índice de emulsificação variaram de 50 a 68%.

Observando os resultados obtidos com a concentração de ramnose

associados às curvas do índice de emulsificação e as medições de tensão

superficial do meio, foi descartada a possibilidade de ter ocorrido a produção de

ramnolipídeo no presente estudo visto que, um aumento da concentração de

ramnose seria o esperado para que ocorresse a diminuição da tensão superficial do

meio e o que foi visto foi o contrario disso. Um indício do possível biossurfactante

produzido pela bactéria é encontrado no estudo desenvolvido por Najafi et al (2011),

onde uma bactéria de mesmo gênero (Paenibacillus alvei) produziu um

biossurfactante que apresentavam características de ser um lipopeptídeos. Estudos

futuros serão feitos no intuito de identificar o biossurfactante.

No entanto, resta a dúvida sobre a presença de ramnose na amostra sem que

evidências de produção de ramnolipídeo tenham sido constatadas. Como os

maiores valores de concentração de ramnose encontrados ocorreram no início do

62

crescimento concluiu-se que, a ramnose já estava presente na composição da

manipueira. A presença de ramnose na amostra pode ser atribuída à presença de

hemicelulose no meio de cultura. Como afirmado por Pereira e Beléia (2004),

quando fez o isolamento, fracionamento e caracterização de paredes celulares de

raízes de mandioca, a Hemicelulose é um dos principais constituintes das paredes

celulares da raiz de mandioca, variando sua concentração de acordo com a espécie

e variáveis de cultivo. Como a ramnose é um dos monossacarídeos liberados a

partir da hidrolise da hemicelulose como é demonstrado por Borges, Borges e

Buckeridge (2000), em seu trabalho que estuda alterações nas composições de

carboidratos e ácidos graxos em sementes de Jacarandá-da-Bahia

osmocondicionadas, as leituras de concentração de ramnose podem ser atribuídas à

presença da hemicelulose no meio.

Com isso, na utilização da manipueira como meio de cultura para produção

de ramnolipídeos a presença de hemicelulose pode interferir nas leituras de

ramnose proveniente do biossurfactante ou até mesmo causar falsas interpretações

de resultado indicando erroneamente o consumo do biossurfactante pela bactéria.

5.2.3 DMC E TENSÃO SUPERFICIAL

A DMC foi identificada diluindo sucessivas vezes amostras do final do

crescimento 3 (120h). A diluição onde foi houve o aumento da tensão superficial foi

considerada com a diluição micelar crítica. E a partir dai pode ser feito uma

estimativa indireta da quantidade de biossurfactante presente na amostra.

O gráfico abaixo mostra a medidas de tensão superficial em relação às

diluições feitas com o meio de cultura livre de célula.

63

Gráfico 11 – Variação da tensão superficial de acordo com a diluição do meio

Como visto no gráfico, a tensão superficial começa a aumentar a partir do

momento que o meio foi diluído 15 vezes, sendo esse ponto considerado como a

diluição micelar crítica.

Assim, podemos constatar que no meio existia uma quantidade 15 vezes

maior de biossurfactante que a concentração micelar crítica. De acordo com

Rossmann (2008), esse valor de DMC indica índices satisfatórios de produção

biossurfactante pelo microrganismo, visto que, o autor chega a essa conclusão

quando consegue valores de DMC equiparados em seu trabalho quando esse utiliza

uma cepa de Pseudomonas aeruginosas na para produção de biossurfactante.

Os valores encontrados no presente estudo superam os resultados de DMC

encontrados no trabalho feito por Fernandes (2007), que utilizando uma cepa de

Bacillus spp., alcança uma DMC de 3,6 o que indica que o meio de cultura

apresentava uma concentração de biossurfactante 3,6 vezes maior que a sua

concentração micelar crítica.

Cooper, Zajic e Gerson (1979) afirmam que valores de tensão superficial

iguais ou inferiores a 40 mN/m indicam uma redução efetiva da tensão superficial da

água destilada e indicam a presença de um biossurfactante de elevada atividade

tensoativa. Com o gráfico 11 pode ser visto que com diluições de até 45 vezes o

biossurfactante demonstra valor de tensão superficial de 34,75mN/m, valor que se

encontra abaixo do critério criado por Cooper, Zajic e Gerson (1979), o que pode

27,72

26,85

26,91

26,86

27,5

27,74

28,38

29,78

32,69

34,75

44,86

47,31

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

X2 X4 X6 X8 X10 X11 X15 X20 X30 X45 X60 X80

Ten

são

su

pe

rfic

ial (

mN

/m)

Diluição das amostras

64

indicar que o biossurfactante produzido pode, até mesmo em baixas concentrações,

diminuir bastante a tensão superficial da água destilada.

Os resultados demonstram, que a bactéria isolada da torta de dendê não só

produz biossurfactante como um biossurfactante que apresenta uma boa

capacidade emulsificante e tensoativade, além disso, de acordo com Rossmann

(2008), mostra uma produção satisfatória do biossurfactante e apresentar

diminuições efetivas da tensão superficial da água destilada até mesmo em baixas

concentrações.

5.3 ESTUDO DA ESTABILIDADE DO BIOSSURFACTANTE FRENTE À VARIAÇÃO

DE TEMPERATURA, SALINIDADE E pH

Foram realizados testes com amostras do crescimento 3 no tempo de 120h

de crescimento, analisando a estabilidade das propriedades tensoativas do

biossurfactante em diferentes exposições à altas temperatura, diferentes níveis de

pH e salinidade do meio.

5.3.1 ESTABILIDADE À TEMPERATURA

Nesse teste, as amostras livres de célula foram aquecidas a 100°C em banho-

maria e foram retiradas em diferentes intervalos de tempo (15, 30, 60 e 70 minutos).

Após as amostras atingirem a temperatura ambiente forma feitas medidas da tensão

superficial para avaliar variações. Amostras do meio também foram autoclavadas a

121°C por 15 minutos. Os resultados estão demonstrado no gráfico 12.

65

Gráfico 12 – Variação da tensão superficial do meio de acordo com o tempo de

exposição ao banho-maria a 100°C.

Os resultados mostram que ocorreram variações mínimas na tensão

superficial do meio nos diferentes tempos de exposição e no processo de

autoclavagem (121°C/15min) do meio, mostrando assim a manutenção das

propriedades tensoativas em condições extremas de temperatura assim como, no

trabalho de Nitschke e Pastore (2006), que demonstram a manutenção das

propriedades do tensoativos produzidos por uma cepa de Bacillus subtilis, diante da

exposição a temperaturas extremas incluindo a esterilização na autoclave. Além

disso, as propriedades ainda se mantiveram mesmo após 6 meses de

armazenamento em baixas temperaturas (-18°C).

Em comparação ao estudo realizado por Rocha et al. (2007), pode ser visto

uma maior estabilidade do tensoativo, visto que, no trabalho desenvolvido pelo autor

houve o aumento da tensão superficial após a exposição a altas temperaturas por 75

min e também por 15 min a 121 °C do biossurfactante produzido por uma cepa de

Pseudomonas aeruginosa ATCC 10145.

26,8426,92

27,23

27,36

27,08

27,14

26

26,2

26,4

26,6

26,8

27

27,2

27,4

27,6

27,8

28

inicial 15 30 60 70 autoclave

Ten

são

su

pe

rfic

ial (

mN

/m)

Tempo (minutos)

66

5.3.2 ESTABILIDADE À SALINIDADE

A estabilidade das propriedades tensoativas do surfactante diante a variação

da concentração salina no meio foi estada. Os resultados estão demonstrados no

gráfico 13.

Gráfico 13 - Medição da tensão superficial do meio diante a diferentes

concentrações de NaCl.

Ao se deparar com diferentes concentrações de NaCl, o biossurfactante

apresentou sua melhor desempenho com 10% de concentração salina no meio.

Resultados semelhantes foram demonstrados por Ilore, Amobi e Adocha (2005),

quando esse avaliou a estabilidade do biossurfactante produzido por Aeromonas

ssp., onde foi observado uma melhora nas propriedades do biossurfactante na

concentração de 5% de NaCl. O autor atribui o aumento da atividade surfactante do

tensoativo na concentração citada por ser a mesma condição de salinidade que foi

encontrada no local de isolamento da bactéria.

Pode ser observado também que em concentrações acima de 20% NaCl

mantiveram valores de tensão superficial ainda efetivos (COOPER; ZAJIC;

26,84

20,43 19,35

27,4 28,0431,06 31,91

34,7336,27 35,35

0

5

10

15

20

25

30

35

40

inicial 1% 5% 10% 12% 15% 17% 20% 23% 25%

en

são

su

pe

rfic

ial m

N/m

Concentração de NaCl (p/v)

67

GERSON, 1979). Tolerância a concentrações de sal acima de 20% também foram

demonstradas no estudo de Nitschke e Pastore (2006).

5.3.3 ESTABILIDADE À VARIAÇÃO DE pH

A estabilidade do surfactante também foi testada diante à variações de pH no

meio. Os resultados se encontram no gráfico 14.

Gráfico 14 – Medição da tensão superficial do meio diante a variação do pH

Levando em consideração a afirmação de Cooper, Zajic e Gerson (1979),

pode ser visto que mesmo em condições extremas de acidez e alcalinidade os

valores de tensão superficial do meio ainda se mantiveram dentro de valores que

definem os bons agentes tensoativos, mostrando assim grande estabilidade do

biossurfactante.

Valores de 62 mN/m de tensão superficial foram obtidos pela acidificação do

meio para pH 2 no estudo realizado por Cooper, Macdonald e Kosaric (1981),

quando avaliando a produziu surfactina por Bacillus subtilis, Variações semelhantes

foram constatadas por Nitschke e Pastore (2006). Quando o meio foi ajustado pH

32,2028,63

26,46 27,2427,88 29,34

32,33

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

30,00

35,00

2,0 4,0 6,0 7,1(120h)

8,0 10,0 12,0

Ten

são

sip

erf

icia

l (m

N/m

)

pH

68

2,0 os valores das tensões superficiais aumentaram bastante. Esses estudos só

confirmam a grande estabilidade do tensoativo analisado no presente trabalho, em

condições extremas de acidez e alcalinidade.

69

6. CONCLUSÃO

Considerando que o objetivo desse trabalho foi analisar a utilização de

manipueira como fonte alternativa de carbono e energia para o crescimento da

Paenibacillus sp. e produção de Biossurfactantes pela mesma, pode-se considerar

que a manipueira foi capaz de fornecer um meio propício para o desenvolvimento

bacteriano sem requerer complementações nutricionais.

Analisando os resultados relacionados às propriedades do biossurfactante

produzido, constata-se que esse apresenta excelentes propriedades tensoativas e

emulsificantes, superando, nesses quesitos, biossurfactantes já largamente

estudados.

Os estudos de estabilidade da propriedade do biossurfactante demonstram

que a bactéria utilizada foi capaz de produzir um biossurfactante com características

estáveis em diferentes tempo exposições a altas temperaturas, níveis de pH e

salinidade. Sendo assim, esse biossurfactante pode ser claramente utilizado em

condições extremas dentro dessas variáveis analisadas, o que faz dele um

excelente biossurfactante.

70

7. REFERÊNCIAS

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