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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE - Campus de Cascavel - Centro de Ciências Sociais Aplicadas ESCOLA DE GOVERNO DO PARANÁ – Gerência Executiva da Escola de Governo CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FORMULAÇÃO E GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS LEI 11.340/06 - MARIA DA PENHA: UMA PROPOSTA PARA PRECISÃO TÉCNICA AO ATENDIMENTO DA VÍTIMA E PUNIÇÃO DO SEU AGRESSOR CARLINDO POSSER CLAUDER TEODORO CASCAVEL MARÇO - 2008

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE - Campus de Cascavel - Centro de Ciências Sociais Aplicadas ESCOLA DE GOVERNO DO PARANÁ – Gerência Executiva da

Escola de GovernoCURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FORMULAÇÃO E GESTÃO DE

POLÍTICAS PÚBLICAS

LEI 11.340/06 - MARIA DA PENHA: UMA PROPOSTA PARA PRECISÃO TÉCNICA AO ATENDIMENTO DA VÍTIMA E PUNIÇÃO DO

SEU AGRESSOR

CARLINDO POSSER

CLAUDER TEODORO

CASCAVELMARÇO - 2008

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CARLINDO POSSERCLAUDER TEODORO

LEI 11.340/06 - MARIA DA PENHA: UMA PROPOSTA PARA PRECISÃO TÉCNICA AO ATENDIMENTO DA VÍTIMA E PUNIÇÃO DO

SEU AGRESSOR

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado como requisito parcial para

obtenção do título de Especialista em

Formulação e Gestão de Políticas

Públicas.

Orientador Prof.: Geysler P. F. Bertolini.

UNIOESTE

CascavelMarço - 2008

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CARLINDO POSSERCLAUDER TEODORO

LEI 11.340/06 - MARIA DA PENHA: UMA PROPOSTA PARA PRECISÃO TÉCNICA AO ATENDIMENTO DA VÍTIMA E PUNIÇÃO DO

SEU AGRESSOR

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para obtenção do

título de Especialista em Formulação e Gestão de Políticas Públicas, da UNIOESTE

– Campus de Cascavel/Escola de Governo do Paraná.

Data da aprovação

___/____/_______

Banca Examinadora:

_______________________

Prof. Geysler P. F. Bertolini.Orientador

________________________

Prof. Cláudio Antonio Rojo.

________________________

Profª: Elizandra Silva.

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A violência não é natural. É um comportamento aprendido.

(Marcos Nascimento, 2006).

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SUMÁRIO

LISTA DE ILUSTRAÇÕESCLAUDER TEODORO......................................................................................................... 2CLAUDER TEODORO......................................................................................................... 3SUMÁRIO..............................................................................................................................5

1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................61.1 Problema ...............................................................................................................81.2 Objetivos.................................................................................................................81.3.1 Objetivo geral......................................................................................................81.3.2 Objetivos específicos..........................................................................................9a) Identificar as estatísticas e registros de violência doméstica;.................................91.3 Justificativa.............................................................................................................91.4 Metodologia............................................................................................................93 RESULTADOS E DISCUSSÃO..............................................................................19

VALOR........................................................................................................................... 38VALOR........................................................................................................................... 38

Total ...........................................................................................................................385 CONCLUSÃO..........................................................................................................38

REFERÊNCIAS................................................................................................................... 39CASTRO, Lola Aniyar de. Criminologia da reação social. Rio de Janeiro: Forense, 1983............................................................................................................................40

ANEXOS..............................................................................................................................42ANEXO 1 – CASO VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – ........................................................... 43AMEAÇA E ABALO PSICOLÓGICO............................................................................... 43ANEXO 2 – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – AGRESSÃO FÍSICA.................................... 47ANEXO 3 – AUTOS DO PROMOTOR DE JUSTIÇA DE CURITIBA – PARANÁ........51

Dra. Juíza de Direito da 2° Vara Criminal da Comarca de Toledo............................531.1 Problema

CLAUDER TEODORO......................................................................................................... 2CLAUDER TEODORO......................................................................................................... 3SUMÁRIO..............................................................................................................................5

1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................61.1 Problema ...............................................................................................................81.2 Objetivos.................................................................................................................81.3.1 Objetivo geral......................................................................................................81.3.2 Objetivos específicos..........................................................................................9a) Identificar as estatísticas e registros de violência doméstica;.................................91.3 Justificativa.............................................................................................................91.4 Metodologia............................................................................................................93 RESULTADOS E DISCUSSÃO..............................................................................19

VALOR........................................................................................................................... 38VALOR........................................................................................................................... 38

Total ...........................................................................................................................385 CONCLUSÃO..........................................................................................................38

REFERÊNCIAS................................................................................................................... 39

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CASTRO, Lola Aniyar de. Criminologia da reação social. Rio de Janeiro: Forense, 1983............................................................................................................................40

ANEXOS..............................................................................................................................42ANEXO 1 – CASO VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – ........................................................... 43AMEAÇA E ABALO PSICOLÓGICO............................................................................... 43ANEXO 2 – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – AGRESSÃO FÍSICA.................................... 47ANEXO 3 – AUTOS DO PROMOTOR DE JUSTIÇA DE CURITIBA – PARANÁ........51

Dra. Juíza de Direito da 2° Vara Criminal da Comarca de Toledo............................53

1 INTRODUÇÃO

Os estudiosos da ciência Jurídica entendem que o objetivo principal de

combater e reduzir os elevados índices da delinqüência violenta no mundo é aplicar

normas que a Constituição consagrou.

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A finalidade da pena não é atormentar um ser humano, nem desfazer o

delito já cometido, e sim fazer com que se tome consciência de seus erros, mudando

seu comportamento na sociedade em que convive.

Para o cumprimento da pena existe um sistema penitenciário, no qual o

culpado cumpre sua pena na cela, sem sair; e no sentenciado o presidiário trabalha

durante o dia e, é isolado à noite, no progressivo existe um período inicial de

isolamento, um período posterior de trabalho junto a outros reclusos e na última fase

o apenado é posto em liberdade condicional.

O Assunto é polêmico, e, a princípio, parece prevalecer como mais lógica

a afirmação de que a suspensão condicional do processo se inviabiliza em qualquer

crime praticado em situação de violência contra a mulher em face da regra do art. 41

da Lei 11340/06. A Lei tipifica a violência doméstica como uma das formas de

violação dos direitos humanos. Altera o Código Penal e possibilita que agressores

sejam presos em flagrante, ou tenham sua prisão preventiva decretada, quando

ameaçarem a integridade física da mulher.

Além disso, tem caráter sancionatório, significando uma antecipação

pragmática da suspensão condicional da pena. Pois deveriam ser impostas

condições mais severas na suspensão condicional do processo, como a obrigação

de prestar serviços à comunidade no primeiro ano da suspensão, a obrigação de

comprovar o pagamento de pensão alimentícia durante a suspensão, de se afastar

da casa da vítima e, inclusive, a proibição de ser beneficiado novamente com esta

medida despenalizadora no prazo de cinco anos.

A dignidade do homem merece respeito de seus semelhantes e do

Estado que, através do Direito, dá-lhe liberdade de ação. Um homem é livre para

praticar qualquer ato. Mesmo um assassinato, se quiser. Mas, o Estado impõe uma

pena a quem o pratique.

Esses assuntos referem-se somente a um exemplo da utilização dúbia do

Direito. Sabe-se que, de muitas formas, o Direito pode vir a ser colocado em prática

de forma indevida.

O Ministério Púbico, incumbido da defesa da ordem jurídica, do regime

democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, desempenha

função primordial para a consecução dos fins do Direito - função social. Estando

mais próximo do povo e atuando positivamente nas lides submetidas ao Judiciário,

contribui sobremaneira para a formação de fonte jurisprudencial, que, aos poucos,

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insere no ordenamento jurídico, as situações da vida real que escapam da

regulamentação específica.

Multiplicam-se geometricamente novas formas de relacionamentos

sociais, econômicos, interpessoais, trabalhistas, afetivos, virtuais, sendo necessário,

pois, a visão cosmológica - origem, natureza e princípios - do Direito para, assim,

possibilitar a integração capaz de alcançar os princípios e fins do Direito.

1.1 Problema

O impacto da nova Lei Maria da Penha se situa em todos os delitos antes

sujeitos à apuração policial por termo circunstanciado, pois, a apuração deverá dar-

se pela via tradicional do inquérito.

Sem dúvida a lei está causando mudanças impactantes sobre a atividade

da Polícia Judiciária, uma vez que, a escolha legislativa, ainda se encontra longe de

alentar a punição de pequenos crimes contra a mulher, e isso, acabará por estimular

sua impunidade, pois nem a Polícia, nem a Justiça dispõem de meios para instaurar

tantos inquéritos e processos. Diante disso, a problemática situa-se com o seguinte

questionamento:

As deficiências institucionais, defluentes das carências estruturais do

Sistema de Justiça, estão causando situações inconvenientes nos registros dos

inquéritos policiais no que se refere aos direitos da mulher estabelecidos na nova Lei

11.340/06 ou seja, Lei Maria da Penha?

1.2 Objetivos

1.3.1 Objetivo geral

Apresentar propostas para mudanças no ambiente de atendimento às

ocorrências de agressão a mulher, que se enquadra na Lei Maria da Penha, em face

da atual realidade estrutural.

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1.3.2 Objetivos específicos

a) Identificar as estatísticas e registros de violência doméstica;

b) Pesquisar junto ás autoridades envolvidas os resultados de Lei Maria

da Penha;

c) Propor mudanças para o atendimento às ocorrências da Lei 11340/06.

1.3 Justificativa

As medidas cautelares de caráter protetivo dos arts. 22 a 24 da Lei

11340/06, inclusive as garantias do art. 9º, § 2º, da referida lei, devem ser aplicadas

pelo Juiz Criminal até que instalados os Juizados da Violência Doméstica e Familiar

contra a mulher, conforme art. 33 da referida lei. Assim justifica-se o interesse pelo

estudo, para apresentar planos estratégicos de mudanças na estrutura do

atendimento às vítimas, uma vez que, a Lei 11340/06 tem resultados concretos a

curto e médio prazo, posto que, atentando-se para os possíveis impactos de suas

disposições sobre o sistema de justiça, é possível prenunciar que as medidas mais

importantes para implementação dos seus objetivos envolvem a consecução de

políticas sociais, a cargo do poder público e de instituições privada.

1.4 Metodologia

Os procedimentos metodológicos adotados foram pesquisa descritiva e

exploratória, que segundo Cervo e Bervian (1996), o estudo exploratório, é o passo

inicial no processo de pesquisa pela experiência e auxílio que traz na formulação de

hipóteses a serem testadas no trabalho.

O levantamento de dados deu-se de forma documental (fontes primárias),

podem ser feitas no momento em que o fato ou fenômeno ocorre. E, pesquisa

bibliográfica (fontes secundárias), que conforme Lakatos e Marconi (1991), abrange

toda a bibliografia já tornada pública, em relação ao tema de estudo, desde

publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses,

material cartográfico, e também meios de comunicação, Internet.

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O instrumento utilizado na coleta de dados foi entrevista. De acordo com

Ruiz (1996), as técnicas para coleta de dados são classificadas como: entrevista

(diálogo com objetivo de determinar fonte...), questionário (o informante escreve ou

responde questões que podem ser elaboradas de forma aberta ou fechadas),

formulário (tem a vantagem de permitir esclarecimentos verbais adicionados à

questões de entendimento mais difícil).

À amostra envolvida no estudo foram: três Escrivões, um Delegado, um

Juiz, um Promotor, vítimas e, quatro Agentes do distrito policial do município de

Toledo, Estado do Paraná.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Violência Contra a Mulher

O direito humano fundamental à vida deve ser entendido como direito a

um nível de vida adequado com à condição humana, ou seja, direito à alimentação,

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vestuário, assistência médico-odontológica, educação, cultura, lazer e demais

condições vitais.

A Constituição Federal enaltece o direito à vida, mas, tem-se que verificar

aspectos quanto ao surgimento da vida e a sua continuidade com dignidade. “O

inciso III do art. 1 º da Constituição Federal brasileira de 1988 consagra o princípio

da dignidade da pessoa humana, como um dos fundamentos da República

Federativa do Brasil, configurada como Estado democrático de direito” (FABRIZ,

2003, p. 274).

Conforme Santos (2007), a nova Constituição Federal estabeleceu a

igualdade entre os cônjuges (artigo 226, § 5º), diferentemente do Código Civil de

1916 que atribuía ao homem a chefia da sociedade conjugal; proibiu a diferenciação

entre filhos (artigo 227, § 6º), o que ocorria na legislação anterior; reconheceu novas

formas de família (artigo 226, §§ 3º e 4º).

Conseqüentemente, “o crime é para o classicismo uma violação

‘consciente e voluntária’, da norma penal, e dos seus elementos constitutivos

conferem especial relevância à ‘vontade culpável’, elemento subjetivo que

contemporaneamente é denominado ‘culpabilidade’” (ANDRADE, 1996, p. 55).

Diante dessa afirmativa, pode-se mencionar que a violação consciente e

voluntária da norma penal deve ser exercida ao domínio do livre-arbítrio, que confere

responsabilidade ao sujeito da ação.

“A responsabilidade moral, sinônimo da liberdade de vontade conduz, a

pena pelo mal realizado, diretamente proporcionada ao crime e por ele justificada. A

pena é um justo e proporcionado castigo que a sociedade inflige ao culpado”

(ANDRADE, 1996, p. 58).

Durante o período de vacatio legis, entretanto (da publicação da lei

08/8/06 à 21/9/06), os delitos contra a mulher foram resolvidos pelos Juizados

criminais (quando a pena máxima prevista para o crime não for superior a dois

anos). Conforme Gomes e Bianchini (2007, p. 2):

Essa é a primeira etapa da disciplina jurídica desse assunto. Mesmo que a lei nova seja favorável (por exemplo: pena mínima no caso de lesão corporal leve: hoje é de seis meses e com a lei nova passou para três meses), não pode o juiz aplicá-la durante a vacatio (porque a lei nova pode ser revogada em qualquer momento, antes mesmo de entrar em vigor).

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A justiça penal não pode fundar-se na responsabilidade moral, pois, corre

o risco de inocentar criminosos perigosos em detrimento da defesa social.

Tudo que for da competência dos Jufams (Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher), a partir de 22.09.06 e nos locais em que ainda não foram criados os Jufams, cabe às "varas criminais" (arts. 29 e 33), que terão competência "cível e criminal" para conhecer e julgar "as causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher" (GOMES e BIANCHINI, 2007, p. 2).

No sistema penal clássico (inquérito policial, denúncia, instrução

probatória, ampla defesa, contraditório, sentença, recursos) e supõe que o

funcionamento da Justiça criminal brasileira seja eficiente para solucionar algum

problema. Para Gomes e Bianchini (2007, p. 2), “o sistema penal clássico, que é

fechado e moroso, que gera medo, opressão, continuará cumprindo seu papel de

fonte de impunidade” e, pior que isso, reconhecidamente não constitui meio hábil

para a solução desse conflito humano que consiste na violência que

(vergonhosamente) vitimiza, no âmbito doméstico e familiar, quase um terço das

mulheres brasileiras. Nesse sentido, Gomes e Bianchini (2007, p. 4), expressam

que:

Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher têm competência "cível e criminal" para conhecer e julgar "as causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher" (art. 14). Enquanto não criados tais juizados, essa tarefa será das "varas criminais" (arts. 29 e 33).

Conseqüentemente, o fundamento do direito de punir reside no campo

teórico, responsabilidade social e no campo prático quando materializada em lei, ou

responsabilidade legal. Diante desse entendimento a resposta deve ser encontrada

no artigo 5º da Lei 11340/2006, que diz o seguinte:

Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,

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independentemente de coabitação. Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual (GOMES e BIANCHINI, 2007, p. 4).

O crime deve ser tomado como sintonia do mal moral que habita o

criminoso e as condições individuais. Ou seja, o crime é produto de uma errônea

canalização dos impulsos sexuais, de acordo com Porto Carrero (1932, p. 29), tem-

se a afirmativa:Quando uma educação sexual bem dirigida preparar o indivíduo para a vida coletiva, que é a vida de espécie, quando houver um regime de trabalho obrigatório e toda vocação for discriminada no gabinete do técnico, pelo menos os impulsos sexuais são satisfeitos naturalmente, pelo ato procriador, e não sublimados pelo trabalho, se dividem para as suas direções anômalas, perversão, neurose ou crime.

Nesse sentido, é que o novo Código vai reconhecer a anormalidade do

criminoso, pois esse será um Código mais voltado para o encarceramento, para a

reclusão. A criminologia permanece como discurso relativamente inoperante.

Nesse entendimento, pode-se destacar que o sujeito ativo da violência

pode ser qualquer pessoa vinculada com a vítima (pessoa de qualquer orientação

sexual, conforme o art. 5º, parágrafo único). Gomes e Bianchini (2007, p. 5), dizem

que:

Do sexo masculino, feminino ou que tenha qualquer outra orientação sexual. Ou seja: qualquer pessoa pode ser o sujeito ativo da violência; basta estar coligada a uma mulher por vínculo afetivo, familiar ou doméstico: todas se sujeitam à nova lei. Mulher que agride outra mulher com quem tenha relação íntima: aplica a nova lei. A essa mesma conclusão se chega: na agressão de filho contra mãe, de marido contra mulher, de neto contra avó, de travesti contra mulher, empregador ou empregadora que agride empregada doméstica, de companheiro contra companheira, de quem está em união estável contra a mulher etc. Exceção: marido policial militar que agride mulher policial militar, em quartel militar (a competência, nesse caso, é da Justiça militar).

Nesse sentido, a afirmativa pode ser interpretada, considerando que

quem agredir uma mulher que está fora da ambiência doméstica, familiar ou íntima

do agente do fato não está sujeito à Lei 11.340/2006. Gomes e Bianchini (2007, p. 5)

afirmam que: “quem ataca fisicamente uma mulher num estádio de futebol, num

show musical..., desde que essa vítima não tenha nenhum vínculo doméstico,

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familiar ou íntimo com o agente do fato, não terá a incidência da lei nova”. Nesse

caso, as disposições são aplicadas como penais e processuais do CP, CPP.

2.2 Medidas Integradas de Proteção

A Lei 11340/06 refere-se exclusivamente à violência contra a mulher,

estabelecendo um sujeito passivo próprio dessas formas de violência específica,

mas não pré-determina nenhum sujeito ativo próprio, de modo que, não apenas o

homem, mas também outra mulher pode ser sujeito ativo de violência doméstica ou

familiar contra a mulher (GOMES apud PORTO, 2006).

Segundo Porto (2006), a expressão violência doméstica e familiar,

envolve as diferentes interpretações em casos de violência doméstica e de violência

familiar, reservando à primeira, a situação em que as diversas formas de violência

dão-se no âmbito da unidade doméstica, sem necessidade de vínculos parentais,

conforme previsão do art. 5º, I, da Lei 11340/06, enquanto as situações de violência

familiar estariam notadamente relacionadas às formas de violência praticadas entre

parentes ou pessoas com vínculo afetivo (art. 5º, II e III). Partindo-se dessa distinção

seria mais correto dizer-se “violência doméstica ou familiar” contra a mulher.

A lei em sentido formal pode impor às pessoas um dever de abstenção ou

de prestação, sendo veiculadoras de regras gerais, impessoais e abstratas, mesmo

não atendendo à exigência constitucional. No campo do Direito Penal, conforme

Chimenti et. al, (2005, p. 63):

O princípio da legalidade protege o indivíduo, evitando que seja surpreendido com qualquer incriminação, pois, não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia comunicação legal (art. XXXIX), e também porque a lei penal não retroagirá para prejudicar o acusado (art. 5°, XL).

A Lei 11340/06 manteve integralmente o texto da lei anterior, apenas

ampliando a pena máxima para três anos e reduzindo a mínima para três meses. Ou

seja, se a pena anterior para a lesão corporal praticada em situação de violência

doméstica era de 06 meses a 01 ano, a partir da nova lei passará a ser de 03 meses

a 03 anos (ROXIN apud PORTO, 2006).

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Ainda para o mesmo autor, vale frisar outro aspecto curioso da Lei

11340/06: a contradição endógena entre seus dispositivos iniciais, que, a toda

evidência, configuram como sujeito passivo da proteção legal, exclusivamente, a

mulher, enquanto o § 9º do art. 129 do Código Penal, recepcionado expressamente,

no art. 44 da nova Lei, não faz distinção entre homens e mulheres. Assim, para

efeitos deste dispositivo legal importa a violência praticada no ambiente doméstico

contra homens e mulheres, adultos e crianças.

O preceito constitucional consagra a inviolabilidade do domicílio, direito fundamental enraizado mundialmente, a partir das tradições inglesas, conforme verificamos no discurso de Lord Chatham no Parlamento britânico: O homem mais pobre desafia em sua casa todas as forças da Coroa, sua cabana pode ser muito frágil, seu teto pode tremer, o vento pode soprar entre as portas mal ajustadas, a tormenta pode nela penetrar, mas o Rei da Inglaterra não pode nela entrar (MORAES, 2002, p. 81).

Este paradoxo poderá levantar a tese de que, como os objetivos da nova

lei são exclusivamente a proteção da mulher, o dispositivo do § 9º, ora em comento,

deve ser restrito ao sujeito passivo feminino. Não é, todavia, esta a solução correta,

primeiro, porque ela contradiz o texto expresso da lei e, destarte, refoge a uma

interpretação literal do dispositivo, sempre recomendada em termos de tipicidade

penal. Em segundo lugar, a lei 11340/06 é espécie da qual a anterior lei 10886/04

era gênero, pois enquanto aquela se refere especificamente à violência contra a

mulher, instrumentalizando diversos meios para sua dissuasão, esta se refere a

outros tipos de violência doméstica cujo combate é também socialmente relevante

como a violência contra criança e idosos, e, como tal, subsiste íntegra em face do

princípio da proibição de retrocesso social (PORTO, 2006).

2.3 Medidas Protetivas de Urgência

De acordo com Freire (2006, p. 23), a Seção 1, em suas Disposições

Gerais sobre a nova Lei Maria da Penha, dispõe que:

Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofendida, caberá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas:I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas protetivas de urgência;II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência judiciária, quando for o caso;

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III - comunicar ao Ministério Público para que adote as providências cabíveis.Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da Ministério Público ofendida.§ 1° As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato, independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério Público, devendo este ser prontamente comunicado.§ 2° As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados.§ 3° Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se entender necessário à proteção da ofendida, de seus familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público.Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação da autoridade policial.Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no curso do processo, verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.Art. 21. A ofendida deverá ser notificada dos atos processuais relativos ao agressor, especialmente dos pertinentes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da intimação do advogado constituído ou do defensor público.Parágrafo único. A ofendida não poderá entregar intimação ou notificação ao agressor.

Ainda Freire (2006, p. 24), complementa em sua Seção II, conforme

Medidas Protetivas de Urgência que Obrigam o agressor:

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da lei n° 10.826, de 22 de dezembro de 2003;II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida;IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;

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V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.§ 1° As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de outras previstas na legislação em vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a providência ser comunicada ao Ministério Público.§ 2° Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o agressor nas condições mencionadas no caput e incisos do art. 6° da lei n° 10.826 de 22 de dezembro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão, corporação ou instituição as medidas protetivas de urgência concedidas e determinará a restrição do porte de armas, ficando o superior imediato do agressor responsável pelo cumprimento da determinação judicial, sob pena de incorrer nos crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o caso,§ 3° Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento, auxílio da força policial.§ 4° Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que couber, o disposto no caput e nos §§ 5° e 6° do art. 461 da lei n° 5869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil).

Por conseguinte, o mesmo autor, na Seção III, segundo as Medidas

Protetivas de Urgência à Ofendida, a Lei Maria da Penha, assim dispõe:

Art. 23 Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento;II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do agressor; III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;IV - determinar a separação de corpos.Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes medidas, entre outras:I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial;III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor-;IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida.Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins previstos nos incisos II e III deste artigo.

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De acordo com Mezzomo (2005, p. 33), em julgamento do Habeas

Corpus nº 70008198756, Quinta Câmara Criminal do TJRS, Relator: Aramis Nassif,

firmou-se posição segundo a qual:

1o A liberdade provisória é garantia constitucional (art. 5º, LXVI c/c LIV), pois reserva ao cidadão não julgado e condenado, o seu status libertatis, que, na extensão interpretativa, leva ao reconhecimento do princípio da presunção da inocência (art. 5º, inc. LVII). Dessa filtragem constitucional, inevitável concluir que a norma agride preceitos da Carta que invalidam o dispositivo infra-constitucional que obsta a liberdade provisória. Para manter a prisão em, flagrante, necessários são os requisitos do Art. 312, CPP. Liberdade provisória concedida, vez a ausência de fundamentos específicos a respeito de sua presença.

No HC 43164/SP, Relator o Ministro Paulo Gallotti, estabeleceu-se que “a

fundamentação das decisões do Poder Judiciário, tal como exigido pelo inciso IX do

artigo 93 da Constituição da República, é condição absoluta de sua validade” sendo

que: a imposição da manutenção da prisão cautelar exige a demonstração

inequívoca de, pelo menos, um dos requisitos constantes no art. 312 do Código de

Processo Penal. De forma comparativa Gomes e Bianchini (2007, p. 9), apresentam

as seguintes hipóteses, conforme Art. 41 da nova lei:

Dentre todos os delitos que, no Brasil, admitem representação acham-se a lesão corporal culposa e a lesão corporal (dolosa) simples. Nessas duas hipóteses a exigência de representação (que é condição específica de procedibilidade) vem contemplada no art. 88 da Lei 9.099/1995 (lei dos juizados especiais). Dispositivo não revogado, apenas derrogado (ele não se aplicará mais em relação à mulher de que trata a Lei 11.340/2006 - em ambiência doméstica, familiar ou íntima). O referido art. 88, só fala em lesão culposa ou dolosa simples. Logo, nunca ninguém questionou que a lesão corporal dolosa grave ou gravíssima (CP, art. 129, § 1º e 2º) sempre integrou o grupo da ação penal pública incondicionada.

Considerando-se o disposto no art. 41 da nova lei, que determinou que

aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,

“independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei 9.099/1995, já não se

pode falar em representação quando a lesão corporal culposa ou dolosa simples

atinge a mulher que se encontra na situação da Lei 11.340/2006” (GOMES e

BIANCHINI, 2007, p. 9).

Nestes termos, mediante a análise do referido assunto, pode-se

mencionar que: a ação penal transformou-se em pública incondicionada (o que

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conduz à instauração de inquérito policial, denúncia, devido processo contraditório,

provas, sentença, duplo grau de jurisdição...). Segundo Gomes e Bianchini (2007, p.

9):

Não existe nenhuma incompatibilidade, de outro lado, entre o art. 41 e o art. 16. O primeiro excluiu a representação nos delitos de lesão corporal culposo e lesão simples. No segundo existe expressa referência à representação da mulher. Mas é evidente que esse ato só tem pertinência em relação a outros crimes (ameaça, crimes contra a honra da mulher, contra sua liberdade sexual quando ela for pobre etc.). Aliás, nesses outros crimes, a autoridade policial vai colher a representação da mulher (quando ela desejar manifestar sua vontade) logo no limiar do inquérito policial (art. 12, I, da Lei 11.340/2006).

Ainda segundo os autores no que diz respeito à Identificação criminal do

indiciado: por força do art. 12, VI, da Lei 11.340/2006, deve a autoridade policial:

Quando instaurado inquérito e desde que haja fumus delicti, ordenar a identificação do agressor. Mais uma hipótese obrigatória de identificação criminal (CPP, art. 6º, VIII), na linha do que já ficou estabelecido no art. 3º da Lei 10.054/2000. Ocorre que a identificação criminal (dactiloscópica e fotográfica) em situações de dúvida ou quando o agente não conta com identificação civil (não conta com cédula de identidade). Logo, quando o agente apresenta esta última e não paira nenhuma dúvida razoável sobre sua individualidade, falta razoabilidade para a exigência da identificação criminal, que passa a ter cunho puramente simbólico e punitivo. Pior: punitivismo inútil (porque, em relação a quem já é civilmente e indiscutivelmente identificado, absolutamente nada acrescenta a identificação criminal). [...], é nisso que reside a falta de razoabilidade da exigência (abusiva) da identificação criminal. (GOMES e BIANCHINI, 2007, p. 9).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Considerando-se os estudos analisados e as pesquisas realizadas pode-

se informar dados concretos sobre a Lei Maria da Penha e a problemática da

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violência doméstica vivenciada no cotidiano, sendo que o assunto tem sido

questionado por meio da prática política dos movimentos de mulheres. À medida

que o tema da violência estrutural de gênero adquiriu relevância teórica, essa crítica

inicial estendeu-se também às abordagens da violência doméstica, as quais

adotavam o ponto de vista individual e psicológico e não o ponto de vista sócio-

estrutural.

Segundo estudos de Sabadell (2005, p. 429), o conceito de violência

doméstica tendia a ampliar-se: “aquilo que inicialmente era entendido como violência

física perpetrada contra a mulher (extensível a seus filhos) começa a sofrer

profundas transformações”. Na década de 1980, levou à inclusão de todas as formas

de violência que podem ocorrer no âmbito das relações familiares, encontrando-se,

nos anos de 1990, autores que sugerem incluir ao conceito as agressões entre

vizinhos ou amigos.

Para um melhor entendimento do assunto abordado destaca-se conceitos

da evolução da adoção do termo "violência privada" que, por indicar o espaço onde

ocorre a violência, evitaria as conotações de intimidade e harmonia que o uso do

termo "doméstico" comporta. Assim, a proposta de aceitação da ampliação do

conceito de violência doméstica tem por objetivo abarcar todos os integrantes de

uma família.

Conforme dados sobre a pesquisa da violência doméstica, Sabadell

(2005, p. 430), relata que:

A violência doméstica não constitui uma patologia de certos indivíduos, grupos ou classes sociais, tampouco se trata de um fenômeno aleatório. A violência doméstica, como indicam as pesquisas feministas, é um correlato da construção histórico-social das relações desiguais entre os gêneros. Constitui um meio sistematicamente empregado para controlar as mulheres mediante a intimidação e o castigo, mesmo se, no senso comum, prevalece a idéia de que a violência doméstica é algo isolado, que pode ser atribuído a patologias do homem ou do casal.

Além, disso, o autor comenta que: a violência por razões de gênero

parece "esquecida" e, de todas as formas, excluída do conceito de segurança

pública. A impressão do caráter isolado e patológico dessa violência indica a

existência de uma cifra obscura particularmente alta. Isto significa que o número de

casos de violência doméstica que efetivamente chega ao conhecimento das

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autoridades é muito inferior ao que realmente ocorre. No Gráfico 1 – pode-se

visualizar os índices de violência registrados no município de Toledo e à nível de

Brasil.

2.000.000

175.0006.000 243 4

0

200.000

400.000

600.000

800.000

1.000.000

1.200.000

1.400.0001.600.000

1.800.000

2.000.000

por anom ilhões

por mêsm il

por dia por hora porm inutos

Gráfico 1 – Registros de violência doméstica.

Fonte: dados de pesquisa, 2007. (promotor)

Os dados apresentados no gráfico 1, tem como origem denúncias

efetivadas na Delegacia do Município de Toledo e demais do Brasil, sendo que

segundo entrevista concedida na pesquisa verificou-se que no período de um ano

são vítimas de violência doméstica 2.090.000 milhões de mulheres. Durante o mês

obteve-se a quantidade de 175 mil mulheres que sofreram violência. Sendo que isso

equivale a 243 vítimas por hora e 4 vítimas por minutos.

Mediante a ilustração pode-se mencionar que, o questionamento a

respeito das causas da invisibilidade da violência doméstica, apresenta como

primeira resposta possível, o predomínio da cultura patriarcal em todos os

segmentos da sociedade. Porém, essa é uma afirmação de pouca utilidade prática,

pois, se na sociedade prevalece a cultura patriarcal, se a violência doméstica é

manifestação dessa cultura e se não há uma mudança de paradigma cultural, nunca

será resolvido o problema da violência doméstica. Por conseguinte: há uma hipótese

explicativa que não exclui a influência da cultura patriarcal, mas permite refletir sobre

estratégias para o seu enfrentamento levando em consideração a posição adotada

pelas mulheres vítimas de violência doméstica.

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No gráfico 2 pode-se visualizar as causas de tolerância da violência

contra a mulher.

13%

19%

33%

11%

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35

Mulher agride hom em

Hom em agride mulher

Violência fora e dentrode casa

Suporta violência param anter fam ília unida

Gráfico 2 – Causas da mulher admitir a violência

Fonte: dados de pesquisa, 2007. (promotor)

No gráfico 2, pode-se verificar que das mulheres entrevistas 33% toleram

a violência dentro e fora de casa; 19% mencionaram que o homem agride a mulher;

13% indicam que a mulher agride o homem e vice versa; e 11% suportam a

violencia para manter a família unida.

Na sociedade atual percebe-se a decisão das vítimas de minimizar ou

esconder episódios violentos. Mesmo que a denúncia terá como conseqüência a

estigmatização da mulher como fraca e incapaz de reagir, além de tumultuar a vida

familiar e atiçar o conflito. Em outras palavras, nota-se uma dupla vitimização das

mulheres: para evitar a segunda vitimização pela sociedade e pelas agências

estatais, elas preferem aceitar a primeira vitimização.

Nesse sentido, verifica-se que o direito possui gênero e este é masculino.

Em outras palavras, é uma regra básica de técnica legislativa nos estados

modernos, que adotam o princípio da igualdade, é o emprego de termos neutros, o

que permite situar o direito em uma posição tecnicamente "avalorativa" em relação

aos seus destinatários.

No gráfico 3, apresentam-se as opiniões dos agentes e escrivão

entrevistados no município de Toledo, sobre a denúncia da violência doméstica.

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64%

33%

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

O homem que agride a mulherdeve ser preso

A mulher denuncia, o marido ficasabendo, e ela apanha mais

Gráfico 3 – Opinião sobre a denúncia da violência doméstica

Fonte: dados de pesquisa 2007.

Pode-se observar no gráfico 3, que dos entrevistados 65% apontaram sua

opinião revelando que o homem que agride a mulher deve ser preso. Enquanto que

33%, indicaram que a mulher faz a denúncia, mas permanece o medo do marido

ficar sabendo, e se ele não for preso ela apanha mais, sofre violência em dobro.

Portanto, a alta incidência da violência doméstica mesmo em países onde

o Estado faz investimentos de recursos significativos de seu orçamento para

combatê-la, ainda permanece a dificuldade em encontrar soluções.

Consequentemente, se o sistema social é patriarcal, é utópico reivindicar

a neutralidade do sistema de justiça quando julga "o gênero masculino", por isso, o

problema da dupla vitimização da mulher parece insolúvel – pelo menos no âmbito

jurídico. Diante disso, ao analisar a legislação de alguns países, Sabadell (2005, p.

432), aponta como formas de solução, o seguinte:

a) Tutela extrapenal da vítima. Uma legislação específica permite que, em caso de violência intrafamiliar, o agressor seja afastado da residência familiar por decisão judicial, sendo possível decretar sua detenção ou impor outras sanções em caso de violação dessa ordem, acompanhando essas decisões de outras medidas cautelares (proibição de freqüentar o lugar de trabalho da vítima, de fazer ligações telefônicas, submissão a tratamento etc.). Exemplo deste tipo de legislação constitui a lei inglesa de 1976 Domestic Violence and Matrimonial Proceedings Act.b) Legislação penal específica. Aqui se cria um delito específico de "maus-tratos na relação de casal", "violência doméstica" etc. Esse delito é tipificado e sancionado de forma diferente daquela que se aplica a condutas similares ocorridas entre estranhos. Muitas vezes

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se inclui na descrição legal a referência a "danos emocionais". Exemplo é a Lei 54 de Porto Rico "para a prevenção e intervenção contra a violência doméstica" de 15.08.1989. Esse modelo foi adotado no Brasil ainda que de forma parcial e muito problemática.

Em relação ao tratamento legislativo dado à questão da violência

doméstica, foram identificadas algumas normas que indicam que o legislador foi

paulatinamente ocupando-se da matéria. Conforme cita Sabadell (2005, p. 435):

A Lei 10.455 de 2002 modificou o art. 69 da Lei 9.099/95 relativo à lavratura do termo circunstanciado por parte da autoridade policial e do seu encaminhamento à autoridade judicial. A Lei 10.455/2002 especificou que, em caso de violência doméstica, o juiz pode determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor do lugar de convivência com a vítima. Ora, a lei não definiu o que se entendia por violência doméstica, dificultando a aplicação do artigo.Em 2003, a Lei 10.778 impôs a todos os serviços de saúde pública e privada a obrigação de proceder à notificação de casos de violência doméstica e apresentou uma definição legal do termo, preenchendo a lacuna deixada pela Lei 10.455/2002. O § 1.° do art. 1.° define a violência contra a mulher considerando o lar como um dos possíveis lugares de sua incidência: Para os efeitos dessa Lei deve-se entender por violência contra a mulher qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado. Porém, é necessário destacar a falta de concretude dessa definição, pois ela não esclarece o termo gênero.Em seguida, o § 2.º, I, especifica que a violência contra a mulher inclui a violência física, sexual e psicológica que tenha ocorrido dentro da família ou unidade doméstica ou em qualquer outra relação interpessoal, em que o agressor conviva ou haja convivido com a mulher, compreendendo, entre outros atos, o estupro, a "violação" (sic), os maus-tratos e o abuso sexual. Essa norma também faz referências aos tratados e convenções internacionais ratificados pelo Brasil em matéria de punição e erradicação da violência contra a mulher, prevendo que estes devem ser observados para efeito de concretização da definição de violência contra a mulher.

Além disso, conforme a Declaração sobre a eliminação da violência

contra a mulher (resolução A.G. 48/104 da ONU), de 1993, entende por violência

contra a mulher “todo ato de violência que seja devido à pertença ao sexo feminino,

que tenha como resultado um dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico,

incluindo-se as ameaças de prática de tais atos, a coação ou a privação arbitrária de

liberdade”, (SABADELL, 2005, p. 436). Isso está estabelecido tanto na esfera

pública como na privada (art.1), incluindo o ambiente familiar (art. 2)

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Estudos indicam que há pelo menos três razões para que a mulher vítima

de violência queira continuar (se possível sob melhores condições) o relacionamento

privado com o agressor: “– medo de não poder prover sozinha as necessidades dos

filhos; – depressão e passividade devida à experiência contínua de violência; –

temor de sofrer maiores danos e correr risco de morte se abandonar o companheiro

violento” (SABADELL, 2005, p. 436).

No gráfico 4, apresentam-se as opiniões das vítimas entrevistadas

indicando as causas das vítimas de violência nem sempre fazerem a denúncia do

agressor.

22%

26%18%

34%

de acordo homens mulheres + velhos

Gráfico 4 – Opinião: “Ele bate, mas ruim com ele, pior sem ele”.

Fonte: dados de pesquisa 2007.

Das mulheres entrevistadas no município de Toledo, 34% indicaram que o

agressor deverá ser detido se agir de forma violenta com sua mulher. 26%

revelaram que o homem em casa faz falta, mesmo sendo violento, elas necessitam

de sua ajuda para sobreviverem. 22% mencionaram que possuem medo e risco de

morte se abandonar o marido ou fizerem denúncia. 18% das mulheres destacaram

que sem o marido não podem cuidar dos filhos e sustentar a casa, por isso, ficam

caladas quando sofrem violência doméstica.

Além disso, foi possível analisar que a estes fatores, se acrescentam os

vínculos emocionais com o agressor. Não se trata de considerar como plausível a

afirmação de que "mulher gosta de apanhar", mas de levar em consideração fatores

culturais que influenciam as relações pessoais. A inserção das mulheres na cultura

patriarcal impõe reconhecer que o homem deve ser provedor e exercer autoridade

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(paternal), portanto, deve e pode solicitar submissão, desde que não implique

violência física, sobretudo quando sistematicamente exercida. Portanto, "corrigindo"

os desvios (ou excessos) no exercício do poder patriarcal, não haveria motivo para o

homem deixar de ser desejado por sua companheira. Talvez isso explique a

contradição experimentada pela mulher ao sentir-se, ainda, afetivamente vinculada

ao agressor (SABADELL, 2005, p. 432).

Para complementar essas afirmativas, encontram-se anexados

documentos do Ministério Público do Município de Toledo, contendo o processo que

envolve a violência contra a mulher (Anexo 1 e 2). Ainda no anexo 3, pode-se

verificar os autos de um caso de violência doméstica. E o promotor faz sua

homologação de forma imprudente.

Em Entrevista concedida com Dra. Juíza, no Município de Toledo,

referente ao assunto Breves Considerações à Lei n°11.340/2006, denominada "Lei

Maria da Penha", tem-se as seguintes colocações:

Não obstante a Lei n°11340, de 7 de agosto de 2006 ter completado um (01) ano de vigência, muito tem se discutido acerca de sua validade e eficácia.O aprofundamento na análise dos artigos desta Lei conduz à reflexão acerca de sua "constitucionalidade", cujo tema tem sido objeto de debate tanto na doutrina e quanto na jurisprudência pátria.A tendência é de reconhecimento da "inconstitucionalidade" da Lei n.° 11.340/06, denominada "Lei Maria da Penha', pelos Tribunais dos Estados da Federação Brasileira e pelas Cortes Superiores (STF e STJ).Os argumentos são relevantes acerca da inconstitucionalidade de referida Lei, principalmente, por ferir os princípios da proporcionalidade e da igualdade, consagrados na Constituição Federal de 1988, dentre os quais, destaco os seguintes:I) O artigo 50, inciso 1, da Constituição Federal estabelece que:"homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição'. Nesse contexto, a Lei n°11.340/06 estaria a ferir os princípios da proporcionalidade e da isonomia, por criar discriminação ao coibir a violência contra a mulher e não a que porventura exista contra homens.II) A vedação da aplicação de penas de "cesta básica" ou de outras de prestação pecuniária, bem como a substituição por pena isolada de multa, inserta no art.17, da Lei n°11.340/06, estaria a ferir os princípios da proporcionalidade e da isonomia, porque proíbe a aplicação de penas alternativas em substituição à pena privativa de liberdade, em razão do sujeito passivo do crime (mulher em situação de violência doméstica e familiar), quando a vedação deveria ter base na gravidade do delito (pena superior a 04 anos - art.44, CP).III) O artigo 41 da Lei n° 11.340/06, que veda a aplicação da Lei n°9099/95, estaria afrontando o art.98, inc. I da Constituição

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Federal, pois a competência dos Juizados Especiais Criminais é ditada pela natureza da infração penal, estabelecida em razão da matéria e, portanto, de caráter absoluto, ainda mais porque tem base constitucional. Ora, se a própria Constituição Federal estabelece a competência dos Juizados Especiais Criminais para o processo, julgamento e execução das infrações penais de menor potencial ofensivo (art.61, da Lei n°9099/95), não poderia ser possível à exclusão desta competência em razão do sujeito passivo (mulher) ou pela circunstância de se tratar de violência doméstica e familiar. Neste aspecto, importante é ressaltar que a Lei n°9099/95 autoriza apenas duas causas modificadoras de competência: a complexidade ou circunstâncias da causa que dificultem a formulação oral da peça acusatória (art.77, § 20) e o fato do réu não ser encontrado para citação pessoal (art.66, § único). Portanto, a Lei n.°11.340/06 estaria incidindo em flagrante inconstitucionalidade ao subtrair a competência do Juizado Especial Criminal, expressamente determinada na Constituição Federal, porquanto, não poderia ser reduzida por lei infraconstitucional.IV) O artigos 20 e 42 da Lei n° 11340/06 (acréscimo do inc. IV, no art. 313, CPP) que autorizam a decretação da prisão preventiva em delitos perpetrados no âmbito da violência doméstica e familiar também seriam inconstitucionais. A inconstitucionalidade residiria no permissivo que qualquer que seja crime (doloso), ainda que apenado com detenção (fora das hipóteses do inc. II, do art. 313, CPP), comportaria a prisão preventiva, ainda sem a necessidade de análise dos pressupostos probatórios (fumus boni iurís) e cautelares (periculum in mora), definidos no artigo 312 do Código de Processo Penal.Outro aspecto que merece consideração é a questão da "delegação" de matérias de natureza cível como a maioria das medidas protetivas de urgência (com abrangência na área de direito de família), aos juízes com competência criminal, enquanto não criados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, inclusive, com determinação de "direito de preferência" aos processos criminais de réus presos (art.33 e § único, Lei n°11340/06).Em resumo, a Lei n 11.340/06 está recheada de imperfeições técnicas em sua redação e, o que é mais grave, em confronto com normas constitucionais. Além disso, após um ano de vigência, dados estatísticos podem comprovar que a lei, denominada "Maria da Penha", não tem alcançado o objetivo auferido pelo legislador, qual seja, o de coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher.Não obstante não detenha os números estatísticos precisos, dentre os inquéritos policiais e processos criminais com atuação desta Magistrada perante a 2a Vara Criminal da Comarca de Toledo, é possível afirmar que na grande maioria os delitos perpetrados no âmbito da violência doméstica e familiar são de ameaça e de lesões corporais leves, quase todos agravados pela ingestão excessiva de bebida alcoólica pelo ofensor ou agressor nos quais, geralmente, as mulheres renunciam ao direito de representação (art. 16, da Lei n° 11340/06), por motivos diversos, especialmente, porque muitas não tem condições de subsistência própria, outras por reconciliação com cônjuge ou companheiro, e ainda, algumas porque pretendiam com o registro da ocorrência na Delegacia de Polícia, auferir no juízo criminal a separação de fato ou judicial, pensão alimentícia, guarda

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de filhos e regulamentação do direito de visitas (matérias afetadas ao direito de família).

Conforme Promotor do Município de Toledo tem-se o seguinte

pronunciamento:

Toledo unida contra a violência à mulherNo dia 10.12.2007, marcou o encerramento da campanha mundial dos 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres, que iniciou no dia vinte e um de novembro de 2007, com o dia internacional da não-violência contra as mulheres.- Antes de encerrar os 16 Dias de Ativismo, as principais instituições brasileiras que buscam o fim da violência de gênero divulgam que o fator pode ser considerado um mal social, que atinge homens, mulheres e a economia de toda uma nação.- Em edições anteriores foi possível constatar que, um em cada cinco dias de falta ao trabalho é causado pela violência contra as mulheres dentro de suas casas. A violência contra as mulheres custa ao país R$80 bilhões, ou seja, 10,5% do PIB.

Em entrevista concedida com o Delegado de Polícia de Toledo,

verificaram-se as seguintes opiniões:

Qual a quantidade de casos de violência contra a mulher registrada na 20a SDP?R= 180 Inquéritos Policiais instaurados desde a implantação

da Lei.

Em sua opinião, porque as vítimas em sua maioria não fazem denuncias das agressões?R = Porque não foram implementadas as garantias oferecidas

pela lei, como é o caso da construção ou destinação de um

lugar seguro para ser utilizado como casa de apoio, com isso a

mulher que faz a denuncia não raras vezes volta para sua

casa, onde tem que continuar convivendo com o agressor.

Outro relevante é a dependência econômica da vítima em

relação ao seu agressor.

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Em sua opinião, com a nova Lei Maria da Penha em vigor há possibilidades de implantação da Delegacia da Mulher no Município de Toledo?R = Sim, mas não basta simplesmente criar uma Delegacia,

deve-se buscar junto ao poder Público (Estadual e Municipal),

condições de amparo a estas mulheres vítimas de todo tipo de

violência, tais como: atendimentos psicológicos locais seguros

onde possam ficar abrigadas (nos casos mais graves), busca

por formação profissional destas mulheres, pois só desta

maneira haveria a desvinculação econômica em relação ao

marido (agressor).

A atual estrutura do Município de Toledo comporta a aplicabilidade da Lei Maria da Penha?R = Conforme especificado anteriormente, não.

Quais as mudanças que devem ser implantadas na estrutura da região de Toledo, para aplicá-las?R = Que o Município e Estado façam convênios visando dar

maior segurança, bem como, confiabilidade a vítima para que

ela continue denunciando, e para que a Lei 11340/2006 (Maria

da Penha) não venha a se tomar letra morta.

A aplicação de questionário para a população de três Escrivão de Polícia

da 20 SDP no município de Toledo. Obtiveram-se os seguintes relatos:

Conforme escrivão V. H.1) Em sua opinião, por que as vítimas em sua maioria não fazem denúncias das

agressões?

A Lei n°11340, de 7 de agosto de 2006, veio em boa hora, visto

que antes da mesma o Código: civil de 1961 faz referência ao

“homem" o novo Código emprega a palavra “pessoa”, e a Lei

Maria da Penha trata especificamente da “mulher", dando-lhe o

direito a dignidade humana, e se faz cumprir o que estabelece

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a Constituição Federal 1988 “homens e mulheres são iguais

em direitos e obrigações”.

2) Em sua opinião, com a Nova Lei Maria da Penha em vigor, há possibilidades de

implantação da Delegacia da Mulher no Município de Toledo?

Na minha opinião, falta mais consciência por parte das

“mulheres" vítimas, quanto ao direito que lhe é assistido pelo

estado, falta credibilidade da aplicabilidade da lei e também

uma ampla divulgação quanto aos direitos da vítima, com

relação ao divórcio, partilha dos bens e guarda dos filhos. As

vítimas não são assistidas pelo estado no seu todo, chegam a

conclusão de que “se está ruim, pode piorar.

Qualquer tomada de decisão, desde um registro de boletim de

ocorrência, sem representação, até um flagrante com base na

Lei Maria da Penha, pode beneficiar a vítima de violência,

doméstica: pois não devemos considerar vítima só a mulher

que: “apanha”, mais também: toda: a estrutura da família, como

os filhos que vão, crescer com traumas ou com tendências a

serem também violentos, o que não se pode admitir é ter um

ambiente onde não se tem o mínimo de respeito pela pessoa e

achar que isso: é, normal. Para se ter uma sociedade mais

justa, devemos valorizar o ambiente familiar que é a “célula

mater da sociedade”.

3) A atual estrutura do Município de Toledo comporta a aplicabilidade da Lei Maria

da Penha?

A delegacia da mulher, deveria funcionar em toda e qualquer

delegacia. Em Toledo onde no papel ela já: existe deveria se

priorizar o funcionamento com uma delegada é também com

atendentes femininas para os casos de violências contra as

mulheres, isto deixaria, de constranger as vitimas, em especial

as de violência sexual, já que ma maioria das vezes, em

função de falta de estrutura, são atendidas pelo quadro que a

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delegacia dispõe, que por mais profissional que seja o

escrivão ou o investigador e delegado, não se pode dar um

atendimento conforme a vítima merece; no tocante ao

esclarecimento devido do fato.

4) Quais as mudanças devem ser implantadas na estrutura da região de Toledo para

aplicá-la?

A começar pela delegacia da mulher lar abrigo, e a falta de

acompanhamento psicológico e jurídico da vítima: e seus

'familiares antes, durante e após a tomada de decisão policial e

judicial. Em suma, a estrutura de atendimento em Toledo não

existe ou não tenho conhecimento que exista.

Começar da base inicial.

Segundo Escrivão S. F.1) Em sua opinião, por que as vítimas em sua maioria não fazem denúncias das

agressões?

Minha opinião sobre a Lei Maria da Penha é uma lei que foi

necessária sua inclusão no meio jurídico, uma vez que havia

casos de violência doméstica que realmente teria que ser

punido o autor, que geralmente era o esposo, companheiro da

vítima.

Porém, ao meu ver as vítimas de violência doméstica, tem que

analisar realmente qual o grau: de gravidade da violência

praticada e se o autor é contumaz. Assim, poderá tomar uma

atitude mais drástica como representar pela Prisão, Separação

de Corpos e: distância mínima de aproximação da residência.

2) Em sua opinião, com a Nova Lei Maria da Penha em vigor, há possibilidades de

implantação da Delegacia da Mulher no Município de Toledo?

Sim, em Toledo há necessidade da implantação da Delegacia

da Mulher. Como toda cidade de médio porte, em torno de 100

mil habitantes. Há registros de violência doméstica e outros

crimes praticados contra a Mulher quase diariamente. Desta

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forma, acredito ser necessário a: criação de Delegacia

especializada para atendimentos da mulher.

3) A atual estrutura do Município de Toledo comporta a aplicabilidade da Lei Maria

da Penha?

Sim, tem que adaptar a realidade existe a Lei e tem que as ser

cumprida. Porém, algumas mudanças tem que serem feitas.

4) Quais as mudanças devem ser implantadas na estrutura da região de Toledo para

aplicá-la?

As mudanças a serem feitas? São muitas. Primeiro, os presos

por violência doméstica não podem se misturar com os demais

presos. As vítimas da violência doméstica tem que ter

assistência social completa para ampara-los pois está

havendo um desamarro do vínculo familiar. Fato esse que o

Estado não previu quando da criação da Lei. Portanto tem que

haver a implantação dessa Estrutura para que a, Lei possa ser

plenamente aplicada e eficaz.

Escrivão de Polícia da 20 SDP1) Em sua opinião, por que as vítimas em sua maioria não fazem denúncias das

agressões?

Alguns desconhecem a Lei. Outros têm receio de denunciar o

agressor, pois temem pela integridade física e de seus

familiares.

2) Em sua opinião, com a Nova Lei Maria da Penha em vigor, há possibilidades de

implantação da Delegacia da Mulher no Município de Toledo?

A própria aplicação da Lei n°11.340/2006 em todos os seus

aspectos.

3) A atual estrutura do Município de Toledo comporta a aplicabilidade da Lei Maria

da Penha? Não.

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4) Quais as mudanças devem ser implantadas na estrutura da região de Toledo para

aplicá-la? Não. Devem ser construídos:

Centros de atendimento integral e multidisciplinar para

mulheres e respectivos dependentes;

Casas – abrigos para mulheres e respectivos dependentes;

Centros de educação e reabilitação para os agressores.

Aos investigadores da 20 SDP, foi aplicado questionário, tendo como resultado os seguintes esclarecimentos:

1) Em sua opinião, por que as vítimas em sua maioria não fazem denúncias das

agressões?

2) Em sua opinião, com a Nova Lei Maria da Penha em vigor, há possibilidades de

implantação da Delegacia da Mulher no Município de Toledo?

3) A atual estrutura do Município de Toledo comporta a aplicabilidade da Lei Maria

da Penha?

4) Quais as mudanças devem ser implantadas na estrutura da região de Toledo para

aplicá-la?

Primeiro entrevistado:

1) Há muitos motivos para as vítimas não procurarem a

Polícia, embora o quadro esteja mudando, o principal motivo é

o financeiro, a vítima acha que não pode arcar sozinha com a

manutenção da família e isso a amedronta e acaba

"perdoando" o agressor.

2) Sim, o Município de Toledo já comporta uma Delegacia da

Mulher pois isso viria a desafogar a quantidade de Inquéritos

existentes na Vigésima Subdivisão.

3) Não, a partir do momento que entrou em funcionamento a

nova Lei os serviços, principalmente cartorários, aumentaram

consideravelmente e prejudicou o andamento dos demais

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serviços posto que o quadro funcional e a estrutura física

continuam inalterados.

4) A implantação e funcionamento urgente da Delegacia da

Mulher de forma concreta, já que no papel ela existe e

contrafação de novos servidores para preencher as vagas

existentes com a nova Delegacia.

Segundo entrevistado

1) Por gostarem do cônjuge, por medo, ou muitas vezes falta

informação.

2) Tanto há possibilidade como é necessário.

3) Não, pois acredito que falta envolvimento de todos os

órgãos da sociedade, (Saúde, OAB, Polícia, Prefeitura), além

do que acredito que a Delegacia (cadeia), não é local para

manter preso um envolvido num caso de violência doméstica,

o problema é social, álcool ou cultura, normalmente.

4) Penas alternativas e locais adequados para o cumprimento

da pena.

Terceiro Entrevistado

1) Há vários fatores, podemos citar alguns: - medo de sofrer

ainda mais, vergonha, receio do marido permanecer preso e

não poder sustentar a família, falta de uma estrutura familiar

ou seja, apoio da família pois se o agressor mandá-la embora

não sabe para onde buscar abrigo.

2) Sim. É urgente que se implante a Delegacia da Mulher em

Toledo, pois as ocorrências de ameaças e lesões corporais

são diárias e caso fosse criada uma DM diminuiria em muito

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as ocorrências. Acredito que haveria uma diminuição

considerável em relação às agressões sofridas pelas mulheres

Toledanas.

3) Não, não possuímos estrutura mínima para aplicação da Lei

Maria da Penha.

4) A criação urgente de uma Delegacia Especializada ou

Órgão autônomo que desvinculasse os registros de ocorrência

da Vigésima Subdivisão Policial.

Quarto entrevistado

1) As vítimas não denunciam as agressões porque elas

gostam dos maridos, não querem ficar sendo acusadas pelos

filhos de terem mandado prender seus pais. Normalmente as

vítimas querem uma solução para os problemas, e não castigo

para seus companheiros.

2) Sim, o Município de Toledo já comporta uma Delegacia da

Mulher, pois isso viria a desafogar a quantidade de Inquéritos

existentes na Vigésima Subdivisão.

3) Não, na Delegacia não há espaço físico para aplicação da

Lei Maria da Penha na sua plenitude.

4) Precisa muitas melhorias, como espaço na Delegacia e

contratação de policiais para o devido atendimento.

4 PROPOSTA DE FORMAÇÃO DE EQUIPE PARA ATENDIMENTO DA LEI MARIA DA PENHA

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A apresentação dessa proposta visa a busca de soluções para os

problemas vivenciados constantemente, na Vara Criminal da Comarca de Toledo.

Percebe-se na sociedade que a maioria das medidas protetivas de

urgência na área de direito familiar ainda estão passando por medidas de adaptação

e dependência de locais apropriados para execução do que regulamenta a Lei

11340/06 - Maria da Penha, e também verificam-se imperfeições técnicas em sua

redação, o que é uma problemática diante das normas constitucionais, onde após

um ano de sua vigência, pesquisas indicam dados estatísticos que comprovam que

os objetivos não foram alcançados no que cabe à violência doméstica e familiar

contra a mulher.

Os objetivos da instalação de um setor para atendimento das vítimas da

violência doméstica dependem de um planejamento com tomada de decisões, sobre

a forma de como as atividades serão desempenhadas, qual a melhor posição das

instalações dos departamentos de atendimento ao público alvo, qual o espaço a ser

ocupado, número de salas, ou quantas pessoas irão desempenhar suas atividades.

As características do espaço físico englobam vantagens e desvantagens.

Entre as desvantagens tem-se a falta de recursos financeiros e a dependência de

treinamento dos funcionários, e altos custos em investimento (remuneração,

principalmente).

Já as vantagens se enquadram no ambiente de trabalho com uma

apresentação agradável, que irá contribuir com o relacionamento interpessoal,

reduzir acidentes, possibilitando um atendimento às vítimas com segurança.

Um ambiente de trabalho deve ser seguro e livre de acidentes. Os acidentes ocorrem devido condições inseguras de trabalho como: equipamento sem proteção adequada, defeituosos, falta de equipa-mentos, sobrecarga dos atendentes, iluminação inadequada, ventila-ção inadequada, renovação de ar insuficiente e ações inseguras por parte dos funcionários (DESSLER, 2003, p. 278).

Os funcionários também têm direitos e responsabilidades, mas não

podem ser intimados por violação de suas responsabilidades. Devem seguir todos

os padrões, cumprir regras de segurança e saúde e notificar o supervisor sobre as

condições de perigo.

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Para a implantação do atendimento às vítimas da violência doméstica no

município de Toledo, é necessário ter uma Delegacia da Mulher com os seguintes

setores, conforme organograma.

Figura 1 - Organograma atendimento vítimas da violência conforme Lei Maria da

Penha

Fonte: autores da pesquisa, 2007.

No organograma pode-se verificar de forma resumida os departamentos

que devem fazer parte do espaço físico para atendimento e funcionamento da

Delegacia da mulher vítima da violência.

Na Tabela 1, apresenta-se um breve esboço do capital/investimento,

verbas necessárias para construção e instalações do espaço físico.

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Delegacia da Mulher

Dept. Jurídico Delegado Dept. Saúde

Promotor/JuizAdvogado Oficial de Justiça Central

Atendimento

Sala de Espera

Investigador

Escrivão

Sala repouso

Pronto Atendimento

Viaturas

Médico

EnfermeiraSUS

ExamesPOSTOSAÙDE

AssistenteSocial Psicóloga

História de vida Das vítimas

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Tabela 1 – Investimentos para instalação Delegacia da mulher

CAPITAL INVESTIMENTO VALORTerreno 1.000m2 120.000,00Construção 600m2 1.800.000,00Equipamentos (matérias de escritório, saúde,

veículos,...)

600.000,00

Remuneração funcionários 40 funcionários (mês) 200.000,00TOTAL 2.720.000,00

Fonte:autores da pesquisa, 2007.

Tabela 2 – Custos fixos para Delegacia da mulher

PRODUTOS VALORAlimentação (mês) 11.000,00

Medicamentos (mês) 18.000,00Recursos/higiene (mês) 8.000,00Custos fixos (mês) 14.500,00Previsões futuras 7.000,00

Total 58.500,00

Fonte:autores da pesquisa, 2007.

É de fundamental importância o planejamento, a organização e o controle

do que se pretende investir, pois, se o Estado repassa uma quantidade de verbas e

essas não são suficientes para finalizar as obras, e as instalações, tem-se riscos

financeiros, e também riscos de uma obra inacabada sem funcionamento do que foi

projetado ou elaborada uma proposta com finalidades de combate à violência e

cumprimento da Lei Maria da Penha.

5 CONCLUSÃO

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Com o estudo verificou-se que para realizar a implantação da Delegacia

da Mulher são necessários recursos financeiros e adequação no departamento de

Recursos Humanos, uma vez que os profissionais para realizar esse atendimento

devem ser treinados em conformidade com as leis e regulamentações de

departamentos jurídicos, executivos e legislativos.

As pesquisas indicam que a violência contra a mulher apresenta-se na

sociedade de forma calada. Isso se deve ao fato da mulher após realizar queixas

contra seu agressor não ter proteção e amparo para sustento de sua família. Com

isso, os filhos apresentam comportamento de agressivo. Em sua maioria, quando o

pai é afastado da casa por ser agressor, a mulher e os filhos sofrem ameaças,

provocando transtornos psicológicos.

A falta de estrutura familiar é uma problemática que está afetando o meio

social, principalmente, no que diz respeito à formação do cidadão para o mercado de

trabalho. Jovens que vivenciam a violência familiar, dificilmente, se dedicam a busca

de uma profissão, desviando seu comportamento, praticando atos de roubo,

prostituição, se tornando alcoólatras ainda jovens ou ainda, partem para o mundo

das drogas.

Diante das análises desses fatos, verificou-se que é necessário acolher

esses casos de violência, implantando uma central de denúncias anônimas, para

que as mulheres vítimas de violência familiar possam ter seus direitos humanos.

Para isso, também é necessário desenvolver palestras com assistentes sociais e

psicólogas nas comunidades escolares, orientando os filhos e os pais para formação

de uma família sem violência.

Outro fator necessário ao implantar uma delegacia da mulher é oferecer

oportunidades para que as vítimas possam desenvolver atividades auto-

sustentáveis, ou seja, construir cooperativas de trabalho, onde os filhos e as mães

possam ganhar seu sustento tendo apóio do Estado e do município. Como exemplo

dessas cooperativas seria (artesanato, confecções, pequena industria de culinária).

E para complementar a busca de soluções contra a violência doméstica, é

de fundamental importância desenvolver projetos com estudantes de cursos

superiores, que seriam os instrutores, trabalhando como estagiários voluntários para

ensinar de forma gratuita mães e filhos que convivem com a violência doméstica.

REFERÊNCIAS

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ANEXOS

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ANEXO 1 – CASO VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – AMEAÇA E ABALO PSICOLÓGICO

MINISTÉRIO PÚBLICO

EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUIZA DE DIREITO DA 2ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE TOLEDO-PR

O MINISTÉRIO PÚBLICO, por seu Promotor de Justiça ao final subscrito, no

uso das atribuições que lhe são conferidas pelo art.129 inciso I da Constituição

Federal e art.25 inciso III da Lei 8625193, vem respeitosamente perante Vossa

Excelência, nos termos do art.41 do Código de Processo Penal e com fulcro nos

autos de inquérito policial n° 2006.1376-9 encartado, oferecer DENÚNCIA contra P.

O. B., brasileiro, casado, comerciante, portador do RG, natural de Foz do Iguaçu,

residente no centro, do fato delituoso a seguir articulado:

Consta dos inclusos autos que o denunciado e a vítima S. R. DE O. eram

legalmente casados, mas se encontram separados de fato desde meados de 2006.

Todavia, extrai-se dos autos que desde o rompimento do convívio conjugal

com a vítima, o denunciado não aceita a separação do casal, passando a proferir

constantes ameaças de morte contra sua ex-esposa S. provocando-lhe constante

abafo psicológicos, inclusive com informações de que o denunciado anda armado.

Nesse sentido, consta do Boletim de Ocorrência n° 2006102.54084, que no

dia 15 de outubro de 2006, o denunciado proferiu ameaças de morte contra S,

afirmando que "vai acabar com esta situação, que mata ela". (fls.04/05). Em Virtude

desta situação, a vítima obteve a concessão de medida protetiva aos 06 de

novembro de 2006 com o fito de obrigar o denunciado a se afastar da vítima, sob

pena de decretação da custódia preventiva (fls.08/09). Não obstante tal medida

judicial, dando ensejo a conduta supra, o denunciado seguiu a vítima até a cidade de

Iguaçu-PR no dia 17 de novembro de 2006, onde novamente ameaçou S. de morte,

prometendo-lhe causar mal grave e injusto, inclusive obrigando a mesma a adentrar

em seu veículo, trazendo-a de volta até Toledo, fato registrado no Boletim de

Ocorrência n° 2006/3572272 (fls.18). Não bastasse isso, em 16 de março de 2007, a

vítima registrou novo Boletim de Ocorrência, sob n° 2007/193821 (fls.15), narrando

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que mesmo após tomar conhecimento da determinação judicial de afastar-se da

vítima, o denunciado continuou proferindo-lhe ameaças de morte dizendo 'para a

mesma se cuidar quando sair de casa. Após tal fato, a vítima novamente procurou a

autoridade policial em 30 de março de 2007, prestando o depoimento de fls.14,

reiterando as ameaças sofridas, aduzindo que no dia anterior (29/03/2007), o

denunciado P. inclusive permaneceu em uma rua localizada nos fundos de sua

residência, gerando-lhe intranqüilidade e temor. Reiterando seu comportamento

delituoso, o denunciado persistiu com sua conduta ameaçadora, desta vez

obrigando a vitima, em 09 de maio de 2007, a dirigir-se ao Ministério Público

pedindo providências, tendo narrado que está totalmente abalada psicologicamente,

inclusive afirmando que "a situação está fora de controle"' (fls.16/17 dos autos em

apenso).

Em seguida, a vítima novamente compareceu perante o Ministério Público

aos 18 de julho de 2007, reiterando providências contra o denunciado, afirmando

que persiste lhe ameaçando de morte, dizendo abertamente que 'irá matar a vítima"

dirigindo-se constantemente até sua residência, situação que inclusive vem gerando

abalo psicológico aos filhos do casal, sendo que um deles já está sob avaliação com

uma Psicóloga (doc. incluso). Ato contínuo, a vítima compareceu novamente perante

a Delegacia de Polícia aos 30 de agosto de 2007, reiterando providências, narrando

que o denunciado continua lhe ameaçando de morte e também lhe perseguindo,

gerando pavor na vítima e aos seus filhos menores (fls.24125 dos autos em

apenso). Em resumo, com tais condutas reprováveis, infere-se que há mais de 01

ano, e por reiteradas vezes, o denunciado ameaçou a vítima S de morte,

prometendo-lhe causar mal grave e injusto, gerando-lhe intenso abalo psicológico,

consistente em violência moral".

Assim agindo, incorreu o denunciado P. O. B. na conduta tipificada no art..147

"caput" c/c o art. 61, inciso 11, letra f, ambos do Código Penal c/c o art13 e ss. da Lei

11.34012006, razão pela qual é oferecida a presente denúncia, que espera seja

recebida e autuada, ordenando-se a citação do acusado para interrogatório e

demais termos do processo, com a intimação das testemunhas abaixo arroladas

para prestarem depoimento, sob as penas da lei, culminando com a ulterior

condenação do denunciado nas sanções imputadas.

Toledo, 11 de outubro de 2007.

PROMOTOR DE JUSTIÇA

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MINISTÉRIO PÚBLICOAUTOS N° 2006.1376-9

DENUNCIADO: P. O; B.

VÍTIMA: S. R. de O.

MM. JUIZA:

Ofereci denúncia em separado contra P.O.B pela prática delitiva constante no

art..147 "caput' c/c o art.61, inciso II, letra "f', ambos do Código Penal c/c o art-13 e

ss. da Lei 11.34012006.

Requeiro a certificação dos antecedentes criminais do denunciado perante

esta Vara Criminal, 20 Vara Criminal, Juizado Especial Criminal e Instituto de

Identificação do Paraná.

Requeiro a juntada de termo de declarações prestadas pela vítima perante

esta Promotoria.

Em virtude da grave situação em exame, principalmente do histórico

envolvendo a vítima e denunciado, evidenciamos a necessidade de decretação da

PRISÃO PREVENTIVA de P.O.B

Nesse contexto, vemos que pelos autos sob análise e também pelo apenso,

que há vários meses o denunciado vem gerando um verdadeiro caos na vida da

vítima, posto que não aceita o rompimento do casamento com S, prometendo-se

causar mal injusto e grave através de reiteradas ameaças de morte.

A extrema gravidade da situação é sopesada pelos inúmeros pedidos de

providências da vítima, a qual se encontra visivelmente encurralada, amedrontada e

temerosa com sua vida em virtude das constantes ameaças e perseguições que

vem sofrendo.

Importa ressaltar que nem mesmo após a aplicação da medida protetiva em

favor da vítima o denunciado cessou seu desairoso comportamento.

Não bastasse isto, mesmo após vários registros de ocorrência efetuados pela

vítima, o denunciado continua tendo a desfaçatez de ameaçar S. constatando-se

que a vida da vítima se transformou num caos, pois está sendo constantemente

ameaçada de morte.

Aliás, vemos que as medidas protetivas aplicadas por este juízo nos autos em

epigrafe, quais sejam, afastamento do lar conjugal e proibição de aproximação da

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ofendida, não surtiram qualquer efeito, pois o infrator está se dirigindo

tranqüilamente a residência da vítima, ameaçando-a constantemente de morte, em

total menosprezo às determinações deste juízo.

O histórico de agressões psicológicas sofridas pela vítima chegam a assustar

até os menos incautos, dado a quantidade de ocorrências já registradas perante a

Delegacia de Polícia e Ministério Público, o que revela a urgente necessidade de

aplacar o comportamento desairoso do denunciado, que claramente se julga acima

da lei.

Destarte, está presente o iminente risco de vida e da saúde da vítima, não

podendo o Ministério Público e o Poder Judiciário quedar-se inerte diante de tão

grave situação, posto que a chamada Lei Maria da Penha foi editada justamente

para evitar situações como esta.

Nesse prisma, prevê o art.20 da Lei 11.340/2006, que: em qualquer fase do

inquérito policial ou da instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor,

decretada pelo Juiz de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante

representação da autoridade policial.

Referida previsão foi consolidada pelo acréscimo o inciso IV ao art.313 do

Código de Processo Penal, que trata especificamente da possibilidade prisão

preventiva nos casos de violência doméstica, independentemente da natureza e

pena prevista para o crime, para o fim de garantir a execução das medidas

protetivas:'Art. 313. Em qualquer das circunstâncias, previstas no artigo anterior, será admitida a decretação da prisão preventiva nos crimes dolosos:...........IV - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos da lei específica, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência.

Conforme já salientado, nenhuma das medidas protetivas aplicadas em favor,

da vítima surtiram efeitos, estando a mesma à mercê do comportamento violento do

denunciado, de modo que a única solução ao caso é a decretação de sua custódia

preventiva.

Isto posto, com lastro no art.20 da lei 11.340/2006 c/c o art.313 inciso IV do

CPP, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO seja decretada a PRISÃO PREVENTIVA do

denunciado P.O.B

Toledo, 11 de outubro de 2007.

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Promotor de Justiça

ANEXO 2 – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – AGRESSÃO FÍSICAMINISTÉRIO PÚBLICO

EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA 2ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE TOLEDO-PR

O MINISTÉRIO PÚBLICO, por seu Promotor de Justiça ao final subscrito, no

uso das atribuições que lhe são conferidas pelo art.129 inciso I da Constituição

Federal e art.25 inciso III da Lei 8625/93, vem respeitosamente perante Vossa

Excelência, nos termos do art.41 do Código de Processo Penal e com fulcro nos

autos de inquérito policial n° 2007.50-2 encartado, oferecer DENÚNCIA contra N. A.,

vulgo 'VITAMINA', brasileiro, convivente, desempregado, natural de Arroio do Tigre-

RS, residente na Rua Rio Grande do Sul, 711, Jardim Porto Alegre, nesta cidade de

Toledo, pela prática do fato delituoso a seguir articulado:

"Consta dos inclusos autos que por volta das 15:40 horas do dia 04 de janeiro

de 2007, o denunciado N.A, chegou em sua residência embriagado e passou a

discutir com sua companheira L. A. DOS S. S., momento em que passou a agredi-Ia

fisicamente, desferindo-lhe um tapa no rosto. Ato contínuo, o denunciado prometeu

causar mal grave e sério à vítima, dizendo expressamente que se a mesma

chamasse a polícia iria ser agredida novamente.

Em virtude de tais fatos, foi designada audiência perante esta 2ª Vara

Criminal para as 9:00 horas do dia 22 de fevereiro de 2007, ocasião em que a vítima

compareceu em juízo e manifestou expresso desejo de representar contra o

denunciado. Entretanto, momentos antes da audiência, o denunciado compareceu

ao prédio do Fórum, e de forma dolosa e consciente, prometeu causar mal grave e

sério à vítima, dizendo expressamente que se ela não retirasse a queixa sua nova

casa seria o cemitério. Em virtude do oferecimento da representação pela vítima,

desde referida data o denunciado vêm diariamente ameaçando a vítima de morte,

inclusive fazendo menção de usar um pedaço de pau cheio de pregos, com o qual

ameaça tirar a vida da companheira. Assim agindo, incorreu o denunciado N. A. na conduta tipificada no art.147 "caput c/c o art.61, inciso 1, letra 'f', ambos do Código Penal c/c o art. 13 e ss. da Lei 11.340/2006, razão pela qual é oferecida a presente denúncia, que espera seja recebida e autuada, ordenando-se a citação do acusado para interrogatório e demais termos do processo, com a intimação das testemunhas abaixo arroladas para prestarem depoimento, sob as penas da lei, culminando com a ulterior condenação do denunciado nas sanções imputadas.

Toledo, 12 de março de 2007.

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PROMOTOR DE JUSTIÇA

AUTOS N° 2007.50-2

DENUNCIADO; N.A

VÍTIMA: L. A. D. S.

MM. JUIZA:

Ofereci denúncia em separado contra NA, pela prática delitiva constante no

art.. 147 "caput c/c o art.61, inciso I, letra "f', ambos do Código Penal c/c o art.13 e

ss. da Lei 11.340/2006.

Requeiro a certificação dos antecedentes criminais do denunciado perante

esta Vara Criminal, 10 Vara Criminal, Juizado Especial Criminal e Instituto de

Identificação do Paraná.

Requeiro a juntada de termo de declarações prestadas pela vítima perante

esta Promotoria aos 09 de março de 2007.

Requeiro a juntada de cópia parcial dos Autos n0 2006.174 de medida de

proteção envolvendo as mesmas partes, onde foram aplicadas ao denunciado as

medidas constantes no art.22 II e III 'a' da Lei 11.340/2006.

Em virtude da situação aventada e principalmente do histórico envolvendo a

vítima e denunciado, evidenciamos a necessidade de decretação de sua PRISÃO

PREVENTIVA.

Nesse contexto, vemos que nos autos sob análise, o denunciado obteve o

benefício da liberdade provisória aos 17 de janeiro de 2007 fls.36/37.

Todavia, nem mesmo a prisão em flagrante e as advertências deste juízo, não

obstaram o violento comportamento do denunciado.

Conforme aventado nos Autos n° 2006.174 de medida de Proteção, há vários

anos a vítima sendo agredida pelo denunciado, tendo o primeiro ato de violência

ocorrido em 05/04/2003, quando sofreu vários socos e pontapés, conforme boletim

de ocorrência n.2000/2003001449; num segundo fato, alega que em virtude de

questões alimentícias envolvendo um filho atinente ao seu primeiro casamento

(boletim de ocorrência n.2000/20051014), diz ter sido ameaçada de morte pelo

companheiro N; notícia uma terceira agressão física, registrada em 11/06/2006,

conforme BO 2000/2006002349, tendo o requerido espancado gravemente a vítima

através de vários socos em seu rosto, provocando seu desmaio, além de fratura do

maxilar esquerdo (fls.05); Por fim, no último dia 09/10/2006 (caso em análise), a

vítima novamente compareceu perante a Delegacia registrando o BO

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n.2000/2006249350 alegando ter sido novamente agredida por N, o qual inclusive

tentou sufocar a filha de apenas 04 anos de idade.

Não bastasse isto, mesmo após ter obtido a liberdade Provisória, o

denunciado teve a desfaçatez de ameaçar a vítima no interior do próprio prédio do

Fórum, momentos antes da audiência em que a vítima representou contra sua

pessoa. Depois disto, vemos que a vida da vítima se transformou num caos, pois

está sendo constantemente ameaçada de morte.

Aliás, vemos que as medidas protetivas aplicadas por este juízo nos Autos n.

2006.174, quais sejam, afastamento do lar conjugal e proibição de aproximação da

ofendida, não surtiram qualquer efeito, pois o infrator está freqüentando

tranqüilamente a residência da vítima, ameaçando-a diariamente de morte, em total

menosprezo às determinações deste juízo.

Destarte, está presente o iminente risco de vida para a vítima, não podendo o

Ministério Público e o Poder Judiciário quedar-se inerte diante de tão grave situação,

posto que a chamada Lei Maria da Penha foi editada justamente para evitar

situações como esta.

Nesse Prisma, Prevê o art.20 da Lei 11.340/2006, que em qualquer fase do

inquérito policial ou da instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor,

decretada pelo juiz de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante

representação da autoridade policial.

Referida previsão foi consolidada pelo acréscimo o inciso IV ao art.313 do

Código de Processo Penal, que trata especificamente da possibilidade Prisão

preventiva nos casos de violência doméstica, independentemente da natureza e

pena prevista para crime. Para o fim de garantir a execução das medidas protetivas:"Art. 313. Em qualquer das circunstâncias, previstas no artigo anterior, será admitida a decretação da prisão preventiva nos crimes dolosos:...........IV- se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos da lei específica, para garantir a execução das medidas Protetivas de urgência.

Conforme já salientado, nenhuma das medidas Protetivas aplicadas em favor

da vítima surtiram efeitos, estando a mesma à mercê do comportamento violento do

denunciado, de modo que a única solução ao caso é a decretação de sua custódia

preventiva.

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Isto posto, com lastro no art.20 da Lei 11.340/2006 c/c o art.313 inciso IV do

CPP, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO seja decretada a PRISÃO PREVENTIVA do

denunciado.

Conforme narra a vítima, o denunciado mantêm na residência conjugal um

'pedaço de pau com pregos, cujo objeto é usado para ameaçar a vítima de morte.

Tratando-se de objeto que pode ser usado em prática criminosa, inclusive para

intimidar a vítima, torna-se necessário a expedição mandado de busca e apreensão

para apreender referido objeto, além de outras eventuais armas pertencentes ao

denunciado.

Destarte, com sustentáculo no art.240 e seguintes do Código de Processo

Penal, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO seja ordenada a expedição do competente

mandado de busca e apreensão na residência do denunciado e vítima, atendendo-

se as exigências do art.243 do mesmo 'codex' quanto à formalidade do ato a

perpetrar-se, ainda observando-se que a busca deverá ocorrer durante o dia, "ex VI"

do art.50 inciso XI da Constituição Federal.

Toledo, 12 de março de 2007.

Promotor de Justiça

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ANEXO 3 – AUTOS DO PROMOTOR DE JUSTIÇA DE CURITIBA – PARANÁ

O caso apresentado mostra a determinação do Juizado Especial Criminal da

Comarca de Curitiba – Paraná, conforme decisão em audiência aberta em data de

23 de outubro do ano de 2001.

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ANEXO 4 - ENTREVISTA COM O ESCRIVÃO DA 20° SDP, MUNICÍPIO DE TOLEDO

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ANEXO 5 – QUESTIONÁRIO PESQUISA

Promotor

1) Qual a quantidade de casos de violência da mulher registrado na vara de família

da comarca de Toledo?

2) Em sua opinião, por que as vítimas em sua maioria não fazem denúncias das

agressões?

3) Em sua opinião, com a Nova Lei Maria da Penha em vigor, há possibilidades de

implantação da Delegacia da Mulher no Município de Toledo?

Dra. Juíza de Direito da 2° Vara Criminal da Comarca de Toledo

1) Quais suas considerações a respeito da Lei 11.340/2006 – Lei Maria da Penha

2) Quais as causas da mulher admitir a violência?

3) Em seu ponto de vista, as mulheres não fazem as denúncias de violência por

medo de não conseguir sustentar a família sem seu companheiro? Qual outra

causa?

Escrivão da 20° DP do Município de Toledo

1) Qual sua opinião a respeito da Lei Maria da Penha?

2) Qual da tomada de decisão que poderá beneficiar as vítimas de violência?

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