universidade estadual do oeste do paranÁ centro...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CENTRO DE EDUCAÇÃO E LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM SOCIEDADE, CULTURA E FRONTEIRAS - NÍVEL DE MESTRADO ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: LINGUAGEM, CULTURA E IDENTIDADE ALINE CRISTINA PAIVA POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA DIVERSIDADE E ESCOLAS NAS FRONTEIRAS: O CASO DE FOZ DO IGUAÇU COM A ARGENTINA E O PARAGUAI FOZ DO IGUAÇU-PR 2016

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Page 1: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CENTRO …tede.unioeste.br/bitstream/tede/3593/5/Aline_Cristina_Paiva_2016.pdfSociedade, Cultura e Fronteiras e aprovada em sua forma final

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANAacute

CENTRO DE EDUCACcedilAtildeO E LETRAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO STRICTO SENSU EM SOCIEDADE

CULTURA E FRONTEIRAS - NIacuteVEL DE MESTRADO

AacuteREA DE CONCENTRACcedilAtildeO LINGUAGEM CULTURA E IDENTIDADE

ALINE CRISTINA PAIVA

POLIacuteTICAS EDUCACIONAIS PARA DIVERSIDADE E ESCOLAS NAS FRONTEIRAS O CASO DE FOZ DO IGUACcedilU COM A ARGENTINA E O

PARAGUAI

FOZ DO IGUACcedilU-PR 2016

ALINE CRISTINA PAVA

POLIacuteTICAS EDUCACIONAIS PARA DIVERSIDADE E ESCOLAS NAS FRONTEIRAS O CASO DE FOZ DO IGUACcedilU COM A ARGENTINA E O

PARAGUAI

Dissertaccedilatildeo apresentada agrave Universidade Estadual

do Oeste do Paranaacute- UNIOESTE- para obtenccedilatildeo do

tiacutetulo de Mestre em Sociedade Cultura e Fronteiras

junto ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo Strictu Sensu

Mestrado em Sociedade Cultura e Fronteiras Linha

de pesquisa Linguagem Cultura e Identidade

Orientadora ProfaordfDra Regina Coeli Machado e

Silva

FOZ DO IGUACcedilU-PR 2016

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)

Biblioteca do Campus de Foz do Iguaccedilu ndash Unioeste Ficha catalograacutefica elaborada por Miriam Fenner R Lucas - CRB-9268

P149 Paiva Aline Cristina

Poliacuteticas educacionais para diversidade e escolas nas fronteiras o caso de

Foz do Iguaccedilu com a Argentina e o Paraguai Aline Cristina Paiva - Foz do

Iguaccedilu 2016

141 f il

Orientadora Profordf Drordf Regina Coeli Machado e Silva

Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sociedade Cultura e Fronteiras - Universidade Estadual do Oeste do

Paranaacute

1 Triacuteplice Fronteira (Argentina Brasil e Paraguai) ndash Educaccedilatildeo 2 Escolas

ndash Foz do Iguaccedilu ndash Histoacuteria 3 Multiculturalismo ndash Foz do Iguaccedilu 4 Educaccedilatildeo

e Estado ITiacutetulo

CDU 37(8182892)

370145

ALINE CRISTINA PAIVA

POLIacuteTICAS EDUCACIONAIS PARA DIVERSIDADE E ESCOLAS NAS FRONTEIRAS O CASO DE FOZ DO IGUACcedilU COM A ARGENTINA E O

PARAGUAI

Esta dissertaccedilatildeo foi julgada adequada para a obtenccedilatildeo do Tiacutetulo de Mestre em

Sociedade Cultura e Fronteiras e aprovada em sua forma final pelo Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo Stricto Sensu em Sociedade Cultura e Fronteiras ndash Niacutevel de

Mestrado aacuterea de Concentraccedilatildeo em Linguagem Cultura e Identidade da

Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute ndash UNIOESTE

COMISSAtildeO EXAMINADORA

______________________________________________________

Profa Dra Neiva Maria Jung

Universidade Estadual de Maringaacute (UEM)

Membro Efetivo convidado

_______________________________________________________

ProfDr Fernando Joseacute Martins

Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute (UNIOESTE)

Membro Efetivo da Instituiccedilatildeo

______________________________________________________

ProfaDra Regina Coeli Machado e Silva

Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute (UNIOESTE)

Orientadora

Foz do Iguaccedilu 15 de marccedilo de 2016

Dedico este trabalho

Aos meus pais Joatildeo e Maria

Aos meus irmatildeos William e Joatildeo Victor

Ao meu namorado Eduardo

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agrave Professora Dra Regina Coeli Machado pela compreensatildeo pelas

saacutebias orientaccedilotildees que natildeo se limitaram agraves paacuteginas desta dissertaccedilatildeo

Ao professor Dr Fernando Joseacute Martins e agrave professora Dra Neiva Maria Jung pela

participaccedilatildeo na banca de defesa

Aos meus pais Maria Aparecida e Joatildeo Bosco e irmatildeos Joatildeo Victor e William que me

deram o suporte necessaacuterio para essa jornada foi pensando neles que nos

momentos mais difiacuteceis tive forccedila para prosseguir

A todos os meus amigos que me apoiaram com as leituras de meus rascunhos

correccedilotildees e pelo incentivo que de modo direto ou indireto contribuiacuteram para a

conclusatildeo deste trabalho

Ao Eduardo Eliana e Baacuterbara que me deram o suporte emocional apoio e carinho

em toda essa trajetoacuteria

A primeira condiccedilatildeo para modificar a realidade consiste

em conhececirc-la

Eduardo Galeano (1985)

PAIVA Aline Cristina Poliacuteticas Educacionais para a diversidade e escolas nas fronteiras O caso de Foz do Iguaccedilu na fronteira com a Argentina e o Paraguai 2016 149 paacuteginas Dissertaccedilatildeo (Mestrado Interdisciplinar em Sociedade Cultura e Fronteiras)- Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute- UNIOESTE Foz do Iguaccedilu

RESUMO

O objetivo desta dissertaccedilatildeo eacute investigar as relaccedilotildees entre poliacuteticas educacionais e a diversidade cultural presente na fronteira de Foz do Iguaccedilu localizada no estado do Paranaacute A cidade brasileira juntamente com Ciudad del Este no Paraguai e Puerto Iguazuacute na Argentina formam a triacuteplice fronteira que dentre outras caracteriacutesticas eacute conhecida pelo turismo e pelas intensas relaccedilotildees comerciais O processo de formaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu foi marcado pela influecircncia dos paiacuteses da fronteira e pela presenccedila de outras nacionalidades e etnias Trata-se portanto de uma cidade natildeo apenas diversa pela presenccedila dos paraguaios e argentinos mas que tambeacutem eacute compartilhada por libaneses chineses coreanos chilenos bolivianos italianos dentre outros A escola e as poliacuteticas educacionais para esse contexto eacute o centro desta pesquisa na medida em que a instituiccedilatildeo escolar eacute um importante espaccedilo de socializaccedilatildeo A histoacuteria da educaccedilatildeo em Foz do Iguaccedilu e a histoacuteria das poliacuteticas educacionais no Brasil revelam como a escola eacute uma instituiccedilatildeo importante na formaccedilatildeo da identidade nacional e como estas afetam a relaccedilatildeo com o bdquooutro‟ Nesse sentido foram analisados documentos de poliacuteticas educacionais para a diversidade implementadas apoacutes a Constituiccedilatildeo de 1988 sendo elas a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional de 1996 os Paracircmetros Curriculares Nacionais para a pluralidade cultural de 1997 o Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute de 2015 e o curriacuteculo baacutesico para a escola puacuteblica municipal do oeste do Paranaacute feita pela Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oeste do Paranaacute (AMOP) em 2007 Por uacuteltimo buscou-se analisar o Programa Escola Intercultural Biliacutengue iniciativa do Mercosul que tem como objetivo integrar as regiotildees fronteiriccedilas por meio da educaccedilatildeo Com base nas analises das poliacuteticas educacionais para a diversidade principalmente a partir de 1988 verificou-se uma tendecircncia universalista dessas poliacuteticas para a diversidade que difere da diversidade particular vivida em Foz do Iguaccedilu PALAVRAS-CHAVE poliacuteticas educacionais escola estado fronteira

PAIVA Aline Cristina Educational policies for diversity and schools in the boundaries the case of Foz do Iguaccedilu on the border with Argentina and Paraguay 2016 149 pages Dissertation (Masters in Interdisciplinary Society Culture and Borders) - State University of Western Paranaacute-UNIOESTE Foz do Iguaccedilu

ABSTRACT

The objective of this study is from the relationship school and state investigate educational policies and consider whether they make it possible to work with diversity on the border of Foz do Iguaccedilu in the state of Paranaacute The Brazilian city along with Ciudad del Este in Paraguay and Puerto Iguazu in Argentina form the triple border which among other characteristics is known for tourism and the intense trade relations The process of formation of Foz do Iguaccedilu was marked by the influence of the border countries and the presence of other nationalities and ethnicities It is therefore a city not only different by the presence of Paraguayan and Argentinean neighbors but that is also shared by Lebanese Chinese Korean Chilean Bolivian Italian among others The school and educational policies in this context become the center of this research since the school is a major means of training and socialization of individuals and may contribute to the integration process the intercultural bias or other hand being a border to disregard the existence of ethnic and cultural diversity that makes up the school environment The reasons for the discussions in this work pass necessarily by the nation-state relationship with schoolThe history of education in Foz do Iguaccedilu and the history of educational policies in Brazil reveal how the school is an important institution in the national identity formation and how they impact relations in border schools To analyze the educational policies for diversity policies were analyzed educational documents from the Constitution of 1988 it derived the Law of Guidelines and Bases of National Education in 1996 and the National Curriculum Guidelines for cultural plurality in 1997 These two policies along with the State Plan for 2015 Paranaacute Education and basic curriculum for public school in western Paranaacute made by the Association of western Paranaacute Cities (AMOP) in 2007 to discuss public policies in the border region implies think of the region as a whole An example of an educational policy for border is the Intercultural Bilingual School Program the Mercosur initiative which passed through discussions with other countries in the border region In the city of Foz do the program takes place at the Municipal School Adele Zanotto Scalco and aims to contribute to the integral formation of children adolescents and young people through the articulation of actions aimed at regional integration through intercultural education by offering the bilingual educationIn order to get to know an educational policy there were two interviews with Brazilian teachers one former member of the program and the other which entered the year 2015 with the interviews it was possible to collect the first impressions of the program in Foz do Iguaccedilu its challenges and its importance as an educational policy in the field of linguistics integrationist content to influence future public policy KEYWORDS educational policies school state border

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Figura 01 - A Triacuteplice Fronteira- Argentina Brasil e Paraguai26

Figura 02- Favela Paraisoacutepolis em contraste com o bairro de classe alta Morumbi

em Satildeo Paulo capital27

Figura 03-Faixa de Fronteira do Brasil com os paiacuteses da regiatildeo28

Figura 04- Mapa da regiatildeo da Triacuteplice Fronteira- Argentina Brasil e Paraguai52 Figura 05-- Grupo Escolar Bartolomeu Mitre60

Figura 06- Escola Jorge Schimmelpfeng com crianccedilas carentes sob os cuidados do Capitatildeo Cyriacuteaco e de Joseacute Vicente Ferreira (os dois adultos agrave direta da foto rara)64

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AGB- Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros

ANPUH- Associaccedilatildeo Nacional de Histoacuteria

AMOP ndash Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oeste do Paranaacute

CEEPR- Conselho Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute

CF- Constituiccedilatildeo Federal

COEF- Coordenaccedilatildeo Geral de Ensino Fundamental

CONAE- Conferecircncia Nacional de Educaccedilatildeo

CMC- Conselho do Mercado Comum

CRUTACS- Centros Rurais Universitaacuterios de Treinamento e Accedilatildeo Comunitaacuteria

DCE ndash Diretrizes Curriculares da Educaccedilatildeo Baacutesica do Estado do Paranaacute

DICEI- Diretoria de Curriacuteculos e Educaccedilatildeo Integral

EBN- Empresa Brasileira de Notiacutecias

GEREI- Gerecircncia Regional de Educaccedilatildeo e Inovaccedilatildeo

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IPOL- Instituto de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento em Poliacutetica Linguiacutestica

ISEB- Instituto Superior de Estudos Brasileiros

PNC ndash Paracircmetros Curriculares Nacionais

IMS- Instituto Mercosul Social

LDB- Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional

MEC- Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

MEC Y T- Ministeacuterio de la Educaciacuteon Ciencia y Tecnologia

MERCOSUL- Mercado Comum do Sul

MOBRAL- Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo

MST- Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

NRE- Nuacutecleo Regional de Educaccedilatildeo

OMS- Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede

PPA- Plano Pluri Anual

PEIF- Programa Escolas Interculturais Biliacutengues

PEIBF- Programa Escolas Interculturais Biliacutengues de Fronteira

PCN- Paracircmetros Curriculares Nacionais

PDI- Plano de Desenvolvimento Integrado

PEEPR- Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute

PF- Poliacutecia Federal

PME- Plano Municipal de Educaccedilatildeo

PNE- Plano Nacional de Educaccedilatildeo

PNLD- Plano Nacional do Livro Didaacutetico

PP- Poliacutetica Puacuteblica

MERCOSUL- Mercado Comum do Sul

RME- Reuniatildeo de Ministros da Educaccedilatildeo

SEB- Secretaria da Educaccedilatildeo Baacutesica

SECAD- Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade

SEEDPR- Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

SENAC- Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Comercial

SEM- Setor Educacional do Mercosul

SISFRON- Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras

SIS-MERCOSUL- Sistema Integrado de Sauacutede do Mercosul

SUED- Superintendecircncia da Educaccedilatildeo

SUS- Sistema Uacutenico de Sauacutede

TEC- Tarifa Externa Comum

UFF- Universidade da Fronteira Sul

UNESCO- Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura

UNILA- Universidade Federal da Integraccedilatildeo Latino-Americana

UNIOESTE- Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 15

I Caminhos da pesquisa o percurso metodoloacutegico 20 II Estrutura da dissertaccedilatildeo 21

CAPIacuteTULO 1 Eacute PRECISO FALAR DA ESCOLA NA FRONTEIRA 25 11 Fronteira- Primeiras aproximaccedilotildees 25 12 Fronteira e a educaccedilatildeo como construto da naccedilatildeo 29 13 Reatualizaccedilatildeo de naccedilatildeo por deslizamentos em seus limites fronteiriccedilos 32 14 A porosidade do Estado sob a forma de poliacuteticas puacuteblicas 36 15 O contexto escolar vivido entre fronteiras a escola como reguladora do Estado 41

CAPIacuteTULO II A HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO EM FOZ DO IGUACcedilU CONSTRUTOS 50

21 Contexto histoacuterico 51 21Colocircnia Militar de Foz do Iguaccedilu e as primeiras escolas da regiatildeo 53 22 O projeto nacionalista do Estado Novo e a lsquonacionalizaccedilatildeo da fronteirarsquo61 23 Da construccedilatildeo de Itaipu agrave lsquoondarsquo de migraccedilatildeo e imigraccedilatildeo seus impactos na educaccedilatildeo 64 24 A Educaccedilatildeo a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 O direito agrave diversidade nas escolas 69

CAPIacuteTULO III POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS PARA A EDUCACcedilAtildeO NA FRONTEIRA ENTRE ARGENTINA BRASIL E PARAGUA 71

31 Poliacuteticas Puacuteblicas conceitos e abordagens 71 32 Caminhos das poliacuteticas educacionais no Brasil 74 33 Poliacuteticas educacionais a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 83 34 Escola e diversidade O que temos em termos de poliacuteticas educacionais 84

341 A LDB96 - A primeira lei originaacuteria da iniciativa civil e do legislativo 86 342 Os Paracircmetros Curriculares Nacionais 91 343 O Tema Transversal Pluralidade Cultural 94 344 O Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute 98 345 O Curriacuteculo da AMOP 100 346 Algumas consideraccedilotildees 103

35 O Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles um exemplo de poliacutetica educacional para a fronteira 104

351 Do processo de elaboraccedilatildeo 107 352 Do processo para implementaccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica 108 353 Avaliaccedilatildeo da Poliacutetica Puacuteblica- Primeiros impactos do PEIBF 110 354 O PEIF em Foz do Iguaccedilu 116 355 As fronteiras do projeto 122 356 PEIF Uma alternativa na fronteira 123

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 126

5 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 130

15

INTRODUCcedilAtildeO

Esta dissertaccedilatildeo apresenta um estudo sobre as poliacuteticas educacionais e

diversidade em regiatildeo de fronteira internacional Os estudos fronteiriccedilos perpassam

por diversas aacutereas do conhecimento como a Geografia Sociologia Antropologia

Ciecircncia Poliacutetica que tem apresentado inuacutemeras pesquisas a partir das mais

variadas formas de conceituar e abordar a temaacutetica (FRANCcedilA DORFMAN 2013)

No que se refere aos estudos sobre a regiatildeo de fronteira na aacuterea da educaccedilatildeo a

produccedilatildeo ainda eacute tiacutemida no Brasil (FEDATTO 1995 CITRINOVITZ 1996

ROSSATO 2003)

Para Pereira (2009) isso se reflete no processo de desenvolvimento das

poliacuteticas puacuteblicas que ateacute recentemente estavam sendo tratadas de forma

homogecircnea e unilateral ou seja sem levar em consideraccedilatildeo as particularidades de

cada regiatildeo fronteiriccedila No que tange agrave poliacutetica educacional brasileira esta deve ser

pensada em contexto amplo onde fatores como a Constituiccedilatildeo Federal a poliacutetica

nacional de direitos humanos e os acordos e tratados internacionais devem ser

considerados assim como os fatores sociais e culturais da sociedade brasileira

(SILVA MOURA MELLO 2013) Segundo Azevedo e Aguiar (2001) os estudos

sobre as poliacuteticas educacionais para regiatildeo de fronteira no Brasil satildeo recentes mas

encontra-se em processo de construccedilatildeo e crescimento

Por outro lado grupos como a Rede RETIS do Departamento de Geografia da

Universidade Federal do Rio de Janeiro atuam desde 1994 com pesquisa de limites

e fronteiras internacionais Com uma ampla rede de associados o grupo conta com

um acervo digital1 com diversas notiacutecias artigos teses e dissertaccedilotildees sobre

fronteiras internacionais incluindo trabalhos sobre educaccedilatildeo e fronteira

internacional Existe tambeacutem o acervo digital2 do Instituto de Investigaccedilatildeo e

Desenvolvimento em Poliacutetica Linguumliacutestica fundado em 1999 com sede em

Florianoacutepolis Santa Catarina Brasil que desenvolve projetos de apoio teacutecnico agraves

comunidades agraves comunidades de falantes de liacutenguas e variedads linguiacutesticas

1Site oficial do Retis lt httpwwwretisigeoufrjbr gt Acesso em 23062015

2Site Oficial do Ipol lthttpe-ipolorgpublicacoesgt Acesso em 23062015

16

minoritaacuterias do Brasil e do Mercosul objetivando a manutenccedilatildeo e divulgaccedilatildeo da

diversidade linguumliacutestica braseleira O instituto aleacutem de publicaccedilotildees proacuteprias divulga

inuacutemeros trabalhos que tratam do tema das poliacuteticas lingustiacutecas sendo um important

mecanismo de busca para pesquisa relacionadas agrave educaccedilatildeo e fronteira

internacional divulgando trabalhos como o de Sagaz (2013) e Pereira (2014) que

apresentam em suas dissertaccedilotildees o tema das escolas interculturais biliacutenguumles de

fronteira

As universidades localizadas nas regiotildees de fronteira internacional tem se

constituiacutedo enquanto importantes centros de investigaccedilatildeo sobre educaccedilatildeo e

fronteira a citar a Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute (UNIOESTE) que

possui o programa de poacutes-graduaccedilatildeo strictu sensu em Sociedade Cultura e

Fronteira que conforme as especificaccedilotildees em sua paacutegina oficial3 tem entre outros

objetivos ldquoqualificar profissionais que desenvolvam durante o processo de formaccedilatildeo

capacidades para coordenar estudos e pesquisas transfronteiriccedilos na perspectiva

de ultrapassar as fronteiras geopoliacuteticardquo Nos uacuteltimos anos tambeacutem foram criadas

outras universidades em regiotildees de fronteiriccedilas como a Universidade Federal da

Fronteira Sul (UFF) criada em 2009 localizada na Mesorregiatildeo Grande Fronteira

Mercosul e a Universidade Federal da Integraccedilatildeo Latino-Americana (UNILA) criada

em 2010 na cidade de Foz do Iguaccedilu no Paranaacute Dentre outros objetivos estas

instituiccedilotildees buscam o desenvolvimento de pesquisa em regiotildees fronteiriccedilas

contribuindo assim para o crescimento de estudos no campo das poliacuteticas

educacionais em regiatildeo de fronteira internacional

O interesse em tratar do tema da fronteira e poliacuteticas educacionais comeccedilou

em 2011 momento em que saiacute de uma pequena cidade do interior de Minas Gerais

para chegar agrave cidade de fronteira Foz do Iguaccedilu no Oeste paranaense com o

objetivo de cursar uma segunda graduaccedilatildeo pois sou licenciada em Pedagogia pela

Universidade Federal de Viccedilosa em Minas gerais e agora bacharel em Ciecircncia

Poliacutetica e Sociologia pela Universidade Federal da Integraccedilatildeo Latino-Americana As

duas graduaccedilotildees foram fundamentais para despertar o interesse pela pesquisa e

pelo mestrado interdisciplinar em Sociedade Cultura e Fronteiras o que resultou

nesta dissertaccedilatildeo

3Paacutegina virtual do Mestrado em Sociedade Cultura e Fronteiras da Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute lt

httpwwwunioestebrpossociedadeeculturagt Acesso em 13082014

17

Quando fiz a graduaccedilatildeo em Pedagogia meu interesse em poliacuteticas

educacionais para a diversidade nasceu em disciplinas de Sociologia da Educaccedilatildeo e

principalmente na disciplina que discutia as relaccedilotildees eacutetnicos e raciais nas escolas e

a formaccedilatildeo do professor A partir das reflexotildees sobre a funccedilatildeo da escola e do

professor em lidar com a diversidade eacutetica e racial em sala de aula meu problema

de pesquisa para a elaboraccedilatildeo do trabalho de conclusatildeo de curso foi de trabalhar a

formaccedilatildeo dos professores para desenvolver o trabalho com a Lei 1063903 que

tornou obrigatoacuterio o ensino da histoacuteria e da cultura afro-brasileira e africana em todas

as escolas puacuteblicas e particulares Ao teacutermino do curso senti a necessidade de

realizar outra graduaccedilatildeo a fim de me aprofundar melhor no campo da sociologia e

da educaccedilatildeo Conheci o curso da Unila e ingressei no curso de Ciecircncia Poliacutetica e

Sociologia no ano de 2011 O interesse por estudar na referida instituiccedilatildeo era

despertado pela curiosidade em viver em uma cidade de fronteira e pela proposta de

integraccedilatildeo latino-americana que a universidade propotildee

Finalizei a graduaccedilatildeo em Ciecircncia Poliacutetica e Sociologia e meu objeto de

pesquisa foi as poliacuteticas educacionais no contexto do neoliberalismo a partir dos

anos de 1990 em comparaccedilatildeo com as poliacuteticas educacionais propostas pelos

movimentos sociais Seguindo a proposta de integraccedilatildeo da Unila optei por um

estudo comparado com as propostas oriundas do Movimento dos Trabalhadores

Rurais Sem Terra (MST) no Brasil e dos Movimentos Indiacutegenas na Boliacutevia

Entretanto minhas indagaccedilotildees sobre a vivecircncia de escolas na fronteira natildeo

puderam ser respondidas Durante estes anos em Foz do Iguaccedilu meu olhar sobre

as relaccedilotildees em meio agrave diversidade de etnias e nacionalidades mudou

significativamente e segue em transformaccedilatildeo

Meus primeiros contatos com a populaccedilatildeo e com os meios de comunicaccedilatildeo

local e as imagens que eles tinham sobre o lugar em que moravam logo contrastou

com meu imaginaacuterio sobre o que eacute uma fronteira A violecircncia diaacuteria presente nos

jornais televisivos e impressos fadava a fronteira como o inevitaacutevel caminho para

entrada do traacutefico de drogas e armas A ponte da Amizade que liga a cidade de Foz

do Iguaccedilu agrave Ciudad del Este como o limbo entre o legal e o ilegal A passagem dos

trabalhadores caracterizados como informais era uma constante nos jornais A frase

ldquotinha que ser paraguaiordquo chegou aos meus ouvidos algumas vezes como tambeacutem

as noccedilotildees de que a Ciudad del Este era suja e desorganizada e o paiacutes de um modo

geral atrasado e pobre Tambeacutem eram perceptiacutevel as imagens referentes aos

18

aacuterabes caracterizados como ricos e isolados do restante da populaccedilatildeo aleacutem da

falta de distinccedilatildeo da comunidade aacuterabe pelo paiacutes de origem ou pela divisatildeo religiosa

que haacute entre xiitas e sunitas dentro do islamismo Exemplos como esses me

provocaram Ingenuamente pensava apenas no lado positivo dessa integraccedilatildeo entre

diferentes nacionalidades e etnias mas a vivecircncia na cidade permitiu-me ampliar

essas referecircncias do que era fronteira para outras bdquofronteiras‟ e mais ainda

deslocou minha atenccedilatildeo para as escolas brasileiras que recebem diferentes perfis

de imigrantes o que torna a regiatildeo fronteiriccedila tatildeo peculiar

Meus primeiros questionamentos eram de como a escola recebia esses

alunos estrangeiros como era organizada a documentaccedilatildeo escolar como era

realizado o diagnoacutestico de alunos que haviam comeccedilado seus estudos em seu paiacutes

de origem e como eram as relaccedilotildees professor - aluno aluno-aluno e escola-aluno

Essas primeiras inquietaccedilotildees me levaram a outras como a questatildeo do curriacuteculo

escolar em cidades de fronteira uma vez que haacute uma tendecircncia nos curriacuteculos

oficiais agrave homogeneizaccedilatildeo como ao monolinguismo Outro ponto eacute sobre como a

escola lida natildeo apenas com a questatildeo do idioma mas tambeacutem como ela se

posiciona diante dos conflitos como estigmas negativos relacionados agrave origem dos

alunos que podem se revelar muitas vezes como praacuteticas xenofoacutebicas Na tentativa

de inferiorizar o outro eacute comum escutar brasileiros que tratam os paraguaios como

ldquoxiruacute4rdquo e preguiccediloso natildeo aprende porque ldquoa escola laacute eacute fracardquo Esses comentaacuterios

foram constantes em sala de aula durante o periacuteodo em que lecionei sociologia para

jovens e adultos em um cursinho popular entre os anos de 2011 e 2013 em Foz do

Iguaccedilu Nas ocasiotildees em que se abordava o tema da fronteira a imagem que se

tinha do paraguaio era carregada de valores negativos

Tantas inquietaccedilotildees impossiacuteveis de serem abarcadas em uma mesma

pesquisa pois estudar uma realidade fronteiriccedila exige bdquoolhares demorados‟ para o

objeto em estudo tiveram que ser delimitadas na seguinte proposta pensar as

poliacuteticas educacionais para a diversidade nas escolas de fronteira internacional

nesse caso nas escolas de Foz do Iguaccedilu cidade que faz divisa com a cidade

Argentina de Puerto Iguazuacute e Ciudad del Este no Paraguai

4O termo xiru eacute de origem guarani Che ldquoeu meurdquo e iru ldquocompanheiro amigordquo que traduzindo para o

portuguecircs significa ldquomeu amigordquo ldquomeu companheirordquo mas para os brasileiros tomou a conotaccedilatildeo de falsificado (TRISTONE 2011)

19

Ao delinear parte do percurso insiro parte de meus valores e visatildeo de mundo

que concordando com Ludke e Andreacute (1986) iratildeo influenciar a maneira como a

pesquisa eacute proposta ldquoem outras palavras os pressupostos que orientam seu

pensamento vatildeo tambeacutem nortear sua abordagem de pesquisardquo (LUDKE ANDREacute

1986 p03)

A justificativa da delimitaccedilatildeo empiacuterica passa pela relaccedilatildeo fronteira entre o

Estado nacional e a escola O espaccedilo escolar eacute visto como um espaccedilo de tensotildees e

contradiccedilotildees em que se manifestam as mais distintas formas de relaccedilotildees sociais

onde o preconceito o racismo a xenofobia e a exclusatildeo ocorrem ao mesmo tempo

em que se ldquocombate essas formas de violecircnciardquo A escola nesta dissertaccedilatildeo natildeo eacute

uma entidade a parte uma maacutequina do Estado Eacute tambeacutem instrumento do Estado

ao mesmo tempo que perpassa pela vida de diferentes sujeitos como os

professores alunos diretores pesquisadores que podem criar condiccedilotildees de

resistecircncia a fim de construiacuterem outros curriacuteculos a margem do Estado e adaptaacute-los

agrave realidade local e natildeo universal

Nesse sentido estudar as poliacuteticas puacuteblicas educacionais a partir da

diversidade nas escolas de fronteira parte da hipoacutetese de que o Estado ao mesmo

tempo em que se faz presente na fronteira a deixa agraves margens quando natildeo

consegue a partir das poliacuteticas educacionais nacionais direcionadas ou natildeo para a

diversidade lidar com as diferenccedilas proacuteprias de uma realidade fronteiriccedila

O objetivo desta dissertaccedilatildeo eacute investigar as poliacuteticas educacionais e as

relaccedilotildees com a diversidade na fronteira A diversidade qual nos referimos reside na

presenccedila de muacuteltiplas nacionalidades e etnias presentes nas escolas e o que essa

presenccedila e suas manifestaccedilotildees a partir das relaccedilotildees entre os diferentes sujeitos

acarretam para a escola Embora os questionamentos desta pesquisa envolva as

escolas o objeto principal da pesquisa satildeo os documentos e as poliacuteticas

educacionais para a diversidade para as escolas situadas em regiatildeo de fronteira

internacional

A fim de desenvolver a hipoacutetese de trabalho o primeiro capiacutetulo aborda o

tema da fronteira Eacute preciso compreender a polissemia e as diferentes abordagens

no acircmbito da pesquisa Albuquerque (2009) apresenta os novos enfoques

socioloacutegicos historiograacuteficos e antropoloacutegicos que tem dado acesso a pesquisas no

campo das praacuteticas culturais e sociais para aleacutem da visatildeo tradicional de fronteira

poliacutetico-juriacutedica Na concepccedilatildeo de Joseacute de Souza Martins (1997) a fronteira se faz

20

de muitas e diferentes coisas fronteiras espaciais fronteira do pensamento fronteira

da civilizaccedilatildeo etc Conforme essa citaccedilatildeo a concepccedilatildeo de fronteira ultrapassa a

visatildeo tradicional pois para o referido autor fronteira pressupotildee diferentes

significados sejam eles poliacuteticos econocircmicos sociais ou culturais

A partir do enfoque da fronteira enquanto limite juriacutedico e de espaccedilo de

relaccedilotildees sociais busca-se relacionaacute-los partindo do pressuposto de que o

nascimento da fronteira enquanto limite juriacutedico estabelecido para demarcar os

territoacuterios entre os Estado nacionais desencadeou em outros processos no campo

social que devem ser analisados a fim de desmistificar a cristalizaccedilatildeo das fronteiras

como um espaccedilo naturalizado

I Caminhos da pesquisa o percurso metodoloacutegico

Metodologicamente fizemos levantamentos de dados em fontes histoacutericas e

documentais para ldquoinvestigar os acontecimentos processos e instituiccedilotildees do

passadordquo (LAKATOS MARKONI 2003 p106) Compreende-se que para entender

as atuais formas de organizaccedilatildeo social na fronteira eacute fundamental refazer a histoacuteria

dessas instituiccedilotildees e costumes desde sua origem Desse modo foi possiacutevel no

momento da contextualizaccedilatildeo do objeto de estudo perceber quais foram os fatos

que influenciaram sua atual estrutura Assim o primeiro e segundo capiacutetulo centrou-

se principalmente na pesquisa bibliograacutefica que consistiu no levantamento de

dados por meio de livro artigos e perioacutedicos impressos e online

O terceiro capiacutetulo apresenta a anaacutelise das poliacuteticas educacionais Na

primeira parte da investigaccedilatildeo utilizou-se da pesquisa documental que difere da

pesquisa bibliograacutefica pela natureza das fontes de dados que satildeo ricas e estaacuteveis

(GIL 2010) Satildeo considerados documentos ldquoquaisquer materiais escritos que

possam ser usados como fonte de informaccedilatildeo sobre o comportamento humanordquo

(LUDKE ANDREacute 1986 p38)

Os documentos analisados foram a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo

Nacional (LDB96) os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN‟S) de 1997 o

curriacuteculo baacutesico para a escola puacuteblica municipal do Oeste do Paranaacute (2007)

produzido por iniciativa da Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oeste do Paranaacute (AMOP)

e o Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute (PEEPR)

21

Utilizamos como referencial analiacutetico a abordagem de poliacuteticas puacuteblicas de

Leite e Flexor (2006) e Secchi (2013) para anaacutelise do Programa Escola Intercultural

Biliacutenguumle de Fronteira

As entrevistas semiestruturadas tambeacutem fizeram parte do arcabouccedilo

metodoloacutegico da pesquisa Conforme Ludke e Andreacute (1986) as entrevistas natildeo

estruturadas onde natildeo haacute a determinaccedilatildeo e uma ordem riacutegida de questotildees

permitem com que o entrevistado fale do tema proposto com base nas informaccedilotildees

que ele possui Os benefiacutecios da entrevista sobre outras teacutecnicas ldquoeacute que ela permite

a captaccedilatildeo imediata e corrente da informaccedilatildeo desejada praticamente com qualquer

tipo de informante e sobre os mais variados toacutepicosrdquo (LUDKE ANDREacute 1986 p33-

34)

As entrevistas foram realizadas com duas professoras da escola brasileira

que recebem o Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumle de Fronteira Uma das

entrevistadas participa do desenvolvimento do programa desde seu iniacutecio e a outra

professora passou a acompanhar o projeto em 2015 Essa escolha permitiu

conhecer as diferentes fases da inserccedilatildeo do programa na escola O principal

objetivo da entrevista foi o de analisar os impactos do PEIF na praacutetica a partir das

experiecircncias relatadas O PEIF foi a uacutenica poliacutetica analisada a partir de entrevistas

aos atores diretamente envolvidos pois ateacute o momento da redaccedilatildeo desta

dissertaccedilatildeo constatou-se que este programa eacute a uacutenica poliacutetica educacional oficial do

Estado direcionada especificamente para escolas em regiatildeo de fronteira

internacional

II Estrutura da dissertaccedilatildeo

Esta dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em trecircs capiacutetulos juntamente com a

introduccedilatildeo e consideraccedilotildees finais No primeiro capiacutetulo- Eacute preciso falar de escola na

fronteira- buscou-se a revisatildeo de literatura sobre a temaacutetica fronteira Em seguida a

Fronteira o Territoacuterio e Estado-naccedilatildeo satildeo abordados partindo do princiacutepio de que

no processo de consolidaccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo o territoacuterio representou o espaccedilo

onde o Estado exerce a sua soberania (BOBBIO MATTEUCIA PASQUINO 2004)

A fronteira se insere na condiccedilatildeo de limite poliacutetico fundamental para delimitar o

territoacuterio que por sua vez seraacute o espaccedilo onde o imaginaacuterio da naccedilatildeo eacute construiacutedo

22

(ANDERSON 1993) A seccedilatildeo seguinte apresenta os aspectos da cidade fronteiriccedila

de Foz do Iguaccedilu que permite dizer que ela juntamente com Ciudad del Este e

Puerto Iguazuacute conformam uma regiatildeo fortemente interligada em que fatores como

os econocircmicos e sociais afetam as trecircs cidades

A premissa da triacuteplice fronteira enquanto uma regiatildeo conectada eacute observada nos

exemplos apresentados na seccedilatildeo 14 A porosidade do Estado na fronteira Um deles

demonstra a necessidade de se criar accedilotildees conjuntas para resolver questotildees como

a regulamentaccedilatildeo do trabalhador que atravessa de um paiacutes para o outro na busca

por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e que ao natildeo possuir os documentos que o

regularize natildeo possui direitos de trabalho garantidos Os dois uacuteltimos toacutepicos deste

mesmo capiacutetulo abordam identidade e as escolas na fronteira respectivamente As

diferenccedilas que tem como um dos marcadores a identidade satildeo evidenciadas nas

escolas que se apresenta neste contexto enquanto reguladora a partir de padrotildees

universalistas construiacutedos sem um diaacutelogo com a alteridade (ARROYO 2007)

O capiacutetulo II- A Histoacuteria da Educaccedilatildeo em Foz do Iguaccedilu construtos e

contradiccedilotildees para a consolidaccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo concentrou-se no processo de

formaccedilatildeo das escolas no contexto em que a cidade de Foz do Iguaccedilu foi formada

como tambeacutem sua relaccedilatildeo com a fronteira A Colocircnia Militar criada para proteccedilatildeo e

colonizaccedilatildeo do territoacuterio marca o iniacutecio das demandas pela criaccedilatildeo de escolas que

na ausecircncia do poder puacuteblico eram improvisadas pelos setores da sociedade

(EMER 1991) A influecircncia dos paiacuteses vizinhos no iniacutecio do seacuteculo XX eacute evidenciada

em relatoacuterios que explicam que a ausecircncia de escolas eacute um fator preocupante pois

as crianccedilas brasileiras estavam indo estudar na Argentina Essa influecircncia estaacute nos

relatoacuterios do Plano de desenvolvimento integrado (PDI) da deacutecada de 1970 que ao

analisar a escola e os motivos do fracasso escolar culpabiliza os alunos

estrangeiros que natildeo falam o portuguecircs A deacutecada de 1930 e o projeto de

nacionalizaccedilatildeo de Getuacutelio Vargas satildeo abordados para analisar a importacircncia que a

escola tinha para a construccedilatildeo do projeto de naccedilatildeo

O uacuteltimo capiacutetulo Poliacuteticas Puacuteblicas para a educaccedilatildeo na fronteira entre

Argentina Brasil e Paraguai teve como objetivo analisar as poliacuteticas puacuteblicas

educacionais para a diversidade Apoacutes traccedilar a trajetoacuteria das poliacuteticas educacionais

no Brasil verificou-se seu viacutenculo direto com as condiccedilotildees histoacutericas de cada eacutepoca

No Brasil colocircnia as necessidades estavam voltadas para a catequizaccedilatildeo do

indiacutegena e na instruccedilatildeo dos filhos dos proprietaacuterios de terra e da elite colonial como

23

um todo (MARCILIO 2005) A chegada da coroa portuguesa em 1808 marca o

periacuteodo das reformas pombalinas Marques de Pombal criou uma seacuterie de cursos

profissionalizantes escolas militares tanto de niacutevel meacutedio como superior

(GHIRALDELLI JR 2001)

As primeiras deacutecadas de 1930 marcam o iniacutecio do predomiacutenio das reformas

educacionais de teor nacionalista Ateacute 1930 a estrutura econocircmica brasileira estava

voltada para o modelo agraacuterio-exportador principalmente no campo da cafeicultura

Com a crise do modelo oligaacuterquico e a entrada de Getuacutelio Vargas no poder um novo

modelo de produccedilatildeo se configura mas a dependecircncia do capital estrangeiro

permanece Eacute o modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees iniciado em 1930

caracterizado pela intervenccedilatildeo estatal na economia e no incentivo agrave criaccedilatildeo de

induacutestrias (IANNI 1994)

No campo educacional eacute criado o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e da Sauacutede e com

ele importantes poliacuteticas educacionais como a reforma Francisco Campos em 1931

que regulamentou as escolas superiores secundaacuterias e primaacuterias incorporando

algumas concepccedilotildees pedagoacutegicas inovadoras (SAVIANI 2008)

O fim do Estado Novo com a nova constituinte proporcionou algumas

mudanccedilas na educaccedilatildeo Em 1946 o Ensino Primaacuterio e o Ensino Normal foram

regulamentados foi criado o Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Comercial-SENAC

As principais reformas educacionais aconteceram no governo de Juscelino

Kubitschek (1956-1960) A construccedilatildeo de Brasiacutelia a abertura ao capital estrangeiro

e o investimento em tecnologia marcaram um periacuteodo em que a naccedilatildeo eacute mobilizada

para superar seu atraso No campo da educaccedilatildeo o programa de metas do governo

priorizou a formaccedilatildeo teacutecnica dos trabalhadores

Na deacutecada de 1950 inicia-se o debate sobre a Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos

e sua funccedilatildeo ateacute entatildeo destinada agrave mera transmissatildeo de conteuacutedos Eacute o comeccedilo do

debate em torno da educaccedilatildeo popular que incluiacuteam vaacuterios adeptos educadores

liacutederes comunitaacuterios intelectuais e estudantes de todo o paiacutes A liberdade de

expressatildeo nos primeiros anos da deacutecada de 1960 permitiu que houvesse a criaccedilatildeo

de diversos espaccedilos para promoccedilatildeo das massas e da educaccedilatildeo popular Inspirado

nesse movimento de base o Plano de Nacional Alfabetizaccedilatildeo de 1964 no governo

de Joatildeo Goulart criou o meacutetodo que alfabetizava em 40 horas guiado pelo meacutetodo

de Paulo Freire Contudo com o golpe militar em 1964 o plano mal chegou a ser

implantado (PAIVA 1984)

24

A partir do governo dos militares em termos educacionais presencia-se a

repressatildeo exclusatildeo das camadas populares do ensino profissionalizante e o

desmantelamento da organizaccedilatildeo docente (GHIRALDELLI JR 2001)

A Constituinte de 1988 marca a retomada da participaccedilatildeo de diferentes

grupos organizados da sociedade como os movimentos sociais nas proposiccedilotildees de

poliacuteticas puacuteblicas A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional de 96 eacute nesse

sentido considerada um grande avanccedilo ao incluir em 2003 e 2008 a Lei 1063903

que torna o ensino de histoacuteria da Aacutefrica e da cultura afro-brasileira como obrigatoacuterio

no curriacuteculo das escola puacuteblicas e brasileiras Os Paracircmetros Curriculares Nacionais

com o tema transversal pluralidade cultural tambeacutem satildeo outros dispositivos que

buscam abordar a diversidade eacutetnico-racial nas escolas brasileiras (BRASIL 2003)

Apesar dos avanccedilos das poliacuteticas educacionais para diversidade algumas

anaacutelises apontam para a sua tendecircncia homogeneizadora (ABG 1996) As poliacuteticas

em niacutevel estadual natildeo satildeo muito diferentes dos pressupostos nacionais na medida

em que estatildeo subordinados agrave LDB96 e isso inclui o curriacuteculo baacutesico para a escola

puacuteblica municipal do Oeste do Paranaacute feito pela Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oe

ste do Paranaacute (AMOP)

Dentre as poliacuteticas educacionais estudadas o Programa Escolas

Interculturais Biliacutenguumles de Fronteira eacute um programa que nasceu com o objetivo de

promover o processo intercultural por meio do ensino biliacutengue nas escolas

pertencentes a regiotildees de fronteira internacional Os primeiros paiacuteses que aderiram

ao programa foram a Argentina e o Brasil mediante acordos assinados dentro do

bloco econocircmico Mercosul por meio do Setor Educacional do Mercosul (SEM)

responsaacutevel por desenvolver as propostas para implementaccedilatildeo de poliacuteticas

educacionais dentre essas a poliacutetica linguiacutestica

25

CAPIacuteTULO 1 Eacute PRECISO FALAR DA ESCOLA NA FRONTEIRA

11 Fronteira- Primeiras aproximaccedilotildees

Etimologicamente a palavra fronteira deriva do latim Fron e quer dizer ldquode

frenterdquo Ela foi utilizada pela primeira vez no seacuteculo XIII para estabelecer o limite

temporaacuterio e flutuante que separava dois exeacutercitos de poder no momento de conflito

(FEgraveBVRE 1962 apud SILVA 2008 p8) Foi a partir da formaccedilatildeo e expansatildeo do

Estado-naccedilatildeo que a fronteira passou a ser sinocircnimo de limite de soberania O termo

linha de fronteira por sua vez representa os limites internacionais Tal expressatildeo

acompanhou estreitamente os avanccedilos do pensamento moderno sobre territoacuterio

Hoje assim como inuacutemeras palavras que mudam ou assumem outros

sentidos de acordo com o tempo e espaccedilo a palavra fronteira assume outros

sentidos e significados No dicionaacuterio de liacutengua portuguesa Aureacutelio5 a definiccedilatildeo de

fronteira eacute apresentada enquanto limite ou divisa de um dado territoacuterio No entanto

esta palavra natildeo se resume agrave noccedilatildeo de separaccedilatildeo De acordo com Becker (2007) a

fronteira eacute concebida como parte das relaccedilotildees humanas em suas mais distintas

formas sejam elas econocircmicas poliacuteticas sociais religiosas culturais ou simboacutelicas

Os novos enfoques socioloacutegicos historiograacuteficos e antropoloacutegicos tecircm ampliado as

possibilidades de estudos diferenciados acerca do tema fronteira Um exemplo disto

satildeo as anaacutelises sobre praacuteticas culturais e accedilotildees sociais Para Albuquerque (2010) a

fronteira apresenta-se como um cenaacuterio de relaccedilotildees sociais

As fronteiras podem ser vistas como um campo singular de relaccedilotildees sociais entrelaccediladas com os atuais processos de globalizaccedilatildeo e de redefiniccedilatildeo do papel dos limites entre os Estados nacionais A fronteira eacute geralmente percebida por esses estudiosos como um lugar de passagem de contato e traduccedilatildeo cultural (ALBUQUERQUE 2010 p48)

Nesse sentido a palavra fronteira natildeo eacute neutra ao contraacuterio eacute carregada de

inuacutemeros sentidos como exemplifica Faacutebio Reacutegio Bento ldquopara o contrabandista

fronteira significa afliccedilatildeo para o exilado poliacutetico passar a fronteira significa

libertaccedilatildeordquo (BENTO 2012 p2)

5Ver Dicionaacuterio Aureacutelio Online Disponiacutevel em lthttpwwwdicionariodoaureliocomfronteiragt Acesso

em 01102014

26

Na perspectiva durkhiemiana Fronteira eacute definida enquanto um fato social

Em As Regras do Meacutetodo Socioloacutegico (1865) Eacutemile Durkheim busca trata-la como

coisa ou seja algo possiacutevel de ser estudado Sendo coisa social a fronteira eacute

exterior ao indiviacuteduo assim torna-se passiacutevel de ser compreendida e explicada

racionalmente Regina Coeli Machado e Silva (2015) citando Strathern (2014)

aponta entretanto que a ldquofronteira eacute um dos conceitos menos sutis da anaacutelise

socioloacutegica como reificaccedilatildeo de uma abstraccedilatildeo socialrdquo Eacute a partir dessa mesma

abstraccedilatildeo que obtemos efeitos sociais tanto de exclusatildeo e quanto de participaccedilatildeo

social demonstrado as ldquoambiguidades do Estado-Naccedilatildeo brasileiro e das suas

fronteiras geopoliacuteticasrdquo (STRATHERN 2014 apud SILVA 2015 p1)

De maneira geral os estudos referentes agrave fronteira apresentam-se tanto no

sentido Stricto - a noccedilatildeo tradicional onde fronteira eacute a divisa entre estados no

acircmbito nacional ou internacional6 - como tambeacutem no sentido Lato - neste caso as

fronteiras do pensamento sendo elas nocircmades e sociais A respeito deste uacuteltimo

pode-se mencionar o exemplo de uma cidade marcada pela desigualdade social

Nela a fronteira manifesta-se por meio da disposiccedilatildeo das residecircncias estatildeo

dispostas a cidade de Satildeo Paulo demonstra estas fronteiras de um lado

comunidades carentes de outro casas luxuosas7

Imagem 1 - A Triacuteplice Fronteira- Argentina Brasil e Paraguai Fonte wwwoiguassucom

6Vide imagem 1

7Vide imagem 2

27

Imagem 2 - Favela Paraisoacutepolis em contraste com o bairro de classe alta Morumbi em Satildeo Paulo capital

Fonte e foto Tuca Vieira- httpwwwtucavieiracombrA-foto-da-favela-de-Paraisopolis

Desse modo nesta dissertaccedilatildeo ao tratarmos a fronteira em seu sentido

geograacutefico estaremos buscando a localizaccedilatildeo no tempo e espaccedilo de onde

estamos falando Quando ampliarmos a noccedilatildeo deste termo para os sentidos poliacutetico

e social estaremos buscando responder a questotildees que dizem respeito agraves

consequecircncias de um processo histoacuterico em que os Estados nacionais mesmo

tendo realizado as demarcaccedilotildees de seus limites natildeo conseguiram impedir que o

mesmo ocorresse entre as populaccedilotildees que transitam em seu interior Eacute o que afirma

Albuquerque (2010) para o qual

A reflexatildeo sobre identidades nacionais e os conflitos sociais nas aacutereas de delimitaccedilotildees dos Estados-Nacionais produzem novas abordagens sobre as fronteiras e desnaturalizam as bdquofronteiras naturais‟ das naccedilotildees (ALBUQUERQUE 2010 p 45)

Em artigo publicado na obra ldquoDilemas e Diaacutelogos Platinos Fronteirasrdquo

Machado (2010) aponta que os estudos entre as fronteiras dos Estados-Nacionais

satildeo uacutenicos No caso do Brasil a Constituiccedilatildeo de 1988 confirmou a delimitaccedilatildeo de

150 km a partir do limite internacional como faixa de fronteira Desse modo natildeo

apenas a cidade que faz divisa com outro paiacutes eacute considerada fronteiriccedila mas

tambeacutem as outras cidades que ficam dentro desta faixa de 150 km

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014)

o Brasil possui uma fronteira mariacutetima de 7367 quilocircmetros e 16886 quilocircmetros de

fronteira terrestre com nove paiacuteses da Ameacuterica do Sul sendo eles Argentina

Boliacutevia Colocircmbia Guiana Peru Suriname Venezuela Paraguai Uruguai e com o

Departamento Ultramarino Francecircs da Guiana conforme observa-se na Figura 3

28

Imagem 3 - Faixa de Fronteira do Brasil com os paiacuteses da regiatildeo

Fonte Jornal Tribuna wwwjornaltribunacombr

Como os dados assinalam a dimensatildeo da fronteira do Brasil com os paiacuteses

da Ameacuterica Latina eacute expressiva e natildeo apenas no sentido de extensatildeo territorial

visto que o contato direto e diaacuterio entre as populaccedilotildees inseridas neste contexto torna

a fronteira expressiva tambeacutem no que se refere agrave dimensatildeo das relaccedilotildees sociais

Desse modo ao estudar as poliacuteticas puacuteblicas no contexto de fronteira

internacional natildeo eacute apenas a conjuntura nacional que estaacute sendo considerada mas

tambeacutem o plano externo -em sentido transnacional - considerando-se os fluxos da

populaccedilatildeo brasileira paraguaia e argentina que circulam de um paiacutes para o outro

Fernand Brauduel (1989) ao abordar as fronteiras afirma que elas

incorporam aleacutem da dimensatildeo espacial tambeacutem a ldquodimensatildeo temporalrdquo (BRAUDEL

1989 apud Heinsfeld 2014 281) Como exemplo o autor cita as divisotildees territoriais

da Ameacuterica colonial feitas por Portugal e Espanha delimitaccedilotildees essas que foram

incorporadas antes mesmo da independecircncia das colocircnias Braudel chama atenccedilatildeo

para este fato afirmando que a histoacuteria tem a tendecircncia de cristalizar as fronteiras

como se fossem ldquoacidentes naturaisrdquo (BRAUDEL 1989 p 147) Albuquerque (2010)

tambeacutem compartilha desse raciociacutenio Segundo este autor haacute uma tendecircncia

disseminada no senso comum em se conceber a fronteira enquanto algo dado

pronto e natural como se natildeo houvesse nenhum conflito de fronteira Para aleacutem

disto a fronteira tambeacutem eacute percebida preconceituosamente pela imprensa e o

imaginaacuterio popular como uma terra de ningueacutem perigosa e violenta ou seja espaccedilo

da ilegalidade e da transgressatildeo

Para Albuquerque estas representaccedilotildees satildeo construiacutedas principalmente a

partir de notiacutecias negativas associadas a conflitos violentos Como exemplo temos a

29

imigraccedilatildeo clandestina dos mexicanos para os Estados Unidos ou a disputa territorial

na faixa de Gaza entre Israel e a Palestina Cabe ressaltar que nesta perspectiva

os Estados nacionais desempenham um papel fundamental na construccedilatildeo destas

concepccedilotildees e noccedilotildees acerca da fronteira satildeo eles que legitimam tais imaginaacuterios

por meio de estrateacutegias de proteccedilatildeo do territoacuterio No caso da fronteira com os

Estados Unidos e Meacutexico a poliacutetica de seguranccedila eacute extremamente violenta natildeo

apenas no sentido fiacutesico por meio da construccedilatildeo de muros com arames farpados e

redes de alta tensatildeo mas por meio de um monitoramento que existe com a

utilizaccedilatildeo de tecnologias de ponta A natildeo obediecircncia aos limites pode levar aqueles

(natildeo apenas mexicanos) que queiram atravessar a fronteira ilegalmente agrave morte

Segundo Kearney (apud MONTIEL 2007) esta representaccedilatildeo dos problemas

fronteiriccedilos tem estado muito presente na imprensa norte-americana e tem resultado

na justificativa e defensiva do que ele denomina de ldquonacionalismo dos brancosrdquo

(KEARNEY 1991 apud MONTIEL 2007 p10) Isto explicaria o atual endurecimento

da poliacutetica do governo estadunidense que resulta natildeo apenas na militarizaccedilatildeo da

mesma mas no polecircmico projeto de construccedilatildeo de um muro ao longo da faixa de

fronteira remetendo ao modelo da ldquocortina de ferrordquo dos paiacuteses europeus no periacuteodo

da Guerra Fria que dividia de um lado os paiacuteses do leste europeu sob a influecircncia

da Uniatildeo Sovieacutetica e de outro os paiacuteses pertencentes agraves zonas de influecircncia dos

Estados Unidos

12 Fronteira e a educaccedilatildeo como construto da naccedilatildeo

Segundo o Dicionaacuterio de Poliacutetica o Estado Moderno tal qual o conhecemos

tem suas origens nas transformaccedilotildees ocorridas ao final da Idade Meacutedia que

resultaram em tratados como a Paz de Vestfaacutelia que simbolizou ldquoo momento em

que se reconhece formalmente de modo geral a soberania absoluta do Estado no

plano internacionalrdquo (BOBBIO MATTEUCIA PASQUINO 1998 p1090) Mas eacute a

definiccedilatildeo de Max Weber sobre o Estado Moderno uma das mais conhecidas Para

ele o Estado faz o uso legiacutetimo da violecircncia numa relaccedilatildeo entre homens que

dominam seus iguais em um determinado territoacuterio

Estado eacute uma relaccedilatildeo de homens dominando homens relaccedilatildeo mantida por meio da violecircncia legiacutetima (isto eacute considerada como

30

legiacutetima) Ele eacute uma comunidade humana que pretende com ecircxito o monopoacutelio do uso legiacutetimo da forccedila fiacutesica dentro de um determinado territoacuterio (WEBER 1998 p98-99)

Destaca-se aqui a questatildeo do territoacuterio uma vez que sua relaccedilatildeo com a

fronteira eacute inerente Logo falar de fronteira fiacutesica em sua definiccedilatildeo claacutessica

pressupotildee que haja um territoacuterio que fora delimitado a partir de tratados acordos ou

mesmo a venda do territoacuterio em disputa O geoacutegrafo Rogeacuterio Haesbaert afirma que o

territoacuterio estaacute mergulhado em

() relaccedilotildees de dominaccedilatildeo eou de apropriaccedilatildeo sociedade-espaccedilo desdobra-se ao longo de um continuum que vai da dominaccedilatildeo poliacutetico-econocircmica mais bdquoconcreta‟ e bdquofuncional‟ agrave apropriaccedilatildeo mais subjetiva eou bdquocultural-simboacutelica (HAESBAERT 2004 p95-96)

O autor chega a esta conclusatildeo apoacutes realizar uma analise histoacuterico-social do termo

quando a palavra territoacuterio surgiu com duas conotaccedilotildees material e simboacutelica ldquopois

etimologicamente aparece tatildeo proacuteximo de terra-territorium quanto de terreo-territor

(terror aterrorizar)rdquo (HAESBAERT 2004 p 2) O autor afirma que as duas

conotaccedilotildees tem a ver com poder natildeo somente no significado tradicional de bdquopoder

poliacutetico‟ ldquoEle diz respeito tanto ao poder no sentido mais concreto de dominaccedilatildeo

quanto ao poder no sentido mais simboacutelico de apropriaccedilatildeordquo (HAESBAERT 2004 p

2)

Portanto todo territoacuterio eacute ao mesmo tempo e obrigatoriamente em diferentes combinaccedilotildees funcional e simboacutelico pois exercemos domiacutenio sobre o espaccedilo tanto para realizar ldquofunccedilotildeesrdquo quanto para produzir bdquosignificados‟ (HAESBART 2004 p67)

Hoje o modelo de Estado territorial eacute definido como aquele que organiza este

territoacuterio que por sua vez eacute delimitado por uma fronteira cuja populaccedilatildeo estaacute unida

pelo sentimento de naccedilatildeo Por naccedilatildeo Benedict Anderson (1993) entende que ldquoseja

uma comunidade imaginada como sendo intrinsecamente limitada e ao mesmo

tempo soberanardquo (ANDERSON 1993 p24)

Utilizando a definiccedilatildeo de Anderson para naccedilatildeo tendo em vista que haacute outras

definiccedilotildees para o termo o autor explica que a naccedilatildeo eacute imaginada pois nem todos

aqueles que fazem parte dela se reconhecem ainda que tenham consciecircncia que

haja uma comunhatildeo entre eles Desse modo o sentido de pertenccedila agrave naccedilatildeo existe

somente quando os sujeitos partilham de certo imaginaacuterio social mesmo que natildeo se

conheccedilam mutuamente Entretanto esta imaginaccedilatildeo eacute limitada uma vez que seu

31

campo de abrangecircncia eacute limitado Eacute soberano assim o anseio de qualquer naccedilatildeo

ser livre da subordinaccedilatildeo de outros poderes8ou de outras naccedilotildees

Por fim a naccedilatildeo eacute imaginada como uma comunidade tendo em vista que

independentemente das desigualdades que existam entre as pessoas - sociais

poliacuteticas ou econocircmicas - o senso de companheirismo extrapola as diferenccedilas

sociais que haacute entre elas Para Anderson eacute este sentimento de unicidade que fez

com que tantas pessoas morressem em nome da defesa da naccedilatildeo nos uacuteltimos

seacuteculos

A fim de explicar como se deu este processo de construccedilatildeo da naccedilatildeo nos

paiacuteses europeus Benedict Anderson menciona os jornais impressos que quando

popularizados tornaram-se um dos meios mais eficazes de inculcar valores na

sociedade servindo entatildeo de instrumento para a construccedilatildeo de uma naccedilatildeo Se

partirmos da afirmaccedilatildeo de Durkheim segundo a qual a educaccedilatildeo tem como funccedilatildeo

coletiva adaptar a crianccedila ao meio social faz-se necessaacuterio para isto que se

estabeleccedila entre a sociedade e a escola uma ldquocomunhatildeo de ideias e sentimentos

suficientes entre os cidadatildeos comunhatildeo sem a qual qualquer sociedade eacute

impossiacutevelrdquo (DURKHIEM 2011 p63) podemos perceber como a escola e o modo

com que o Estado designa o que deve ou natildeo conter como base comum a todo

curriacuteculo nacional torna a educaccedilatildeo escolar um mecanismo de constructo da naccedilatildeo

seguindo portanto a mesma premissa de Anderson

Na cidade fronteiriccedila durante o periacuteodo de instalaccedilatildeo e funcionamento da

Colocircnia Militar da Foz de Iguaccedilu entre 1889 e 1912 jaacute havia uma preocupaccedilatildeo com

o fato de as crianccedilas brasileiras estudarem na Argentina Afinal estavam

assimilando a cultura e os valores nacionais do paiacutes vizinho o que ameaccedilava o

territoacuterio Mais tarde na Era Vargas o projeto nacionalista de unificar o paiacutes passou

pela educaccedilatildeo Neste periacuteodo escolas como as construiacutedas por estrangeiros eram

fechadas caso natildeo se adaptassem agraves poliacuteticas nacionais que tinham entre outros

objetivos

() homogeneizar a populaccedilatildeo dando a cada nova geraccedilatildeo o instrumento do idioma os rudimentos da geografia e da histoacuteria paacutetria os elementos da arte popular e do folclore as bases da formaccedilatildeo ciacutevica e moral a feiccedilatildeo dos sentimentos e ideias coletivos em que afinal o senso de unidade e de comunhatildeo nacional repousam

8Eacute tambeacutem imaginada como soberana porque nasceu numa eacutepoca em que o Iluminismo e a

Revoluccedilatildeo destruiacuteram a legitimidade do domiacutenio dinaacutestico e ordenado por Deus (ANDERSON 1993)

32

(PALMEIRA 1943 apud SCHWARTZMAN BOMENY COSTA 2000 p 93)

Diante das estrateacutegias que o Estado Moderno desenvolveu para construir a

ideia de naccedilatildeo a proacutepria fronteira poliacutetica requer quase sempre a justificaccedilatildeo

ideoloacutegica da comunidade nacional Fora preciso estabelecer na fronteira natildeo

apenas a delimitaccedilatildeo em termos juriacutedicos e fiacutesicos mas tambeacutem no social a partir

da separaccedilatildeo entre o ldquonoacutesrdquo e os ldquooutrosrdquo

A preocupaccedilatildeo com a construccedilatildeo de um senso de unidade e de comunhatildeo

nacional pela educaccedilatildeo escolar portanto acompanhou a histoacuteria de Foz do Iguaccedilu

Pois eacute importante descrever na proacutexima seccedilatildeo como ela aparece retomando como

ideacuteia a fronteira na histoacuteria da cidade

13 Reatualizaccedilatildeo de naccedilatildeo por deslizamentos em seus limites fronteiriccedilos

A cidade de Foz do Iguaccedilu eacute reconhecida por ser uma importante cidade

turiacutestica Nela encontram-se uma das ldquosete maravilhas da naturezardquo as Cataratas do

Iguaccedilu e a maior usina geradora de energia do mundo9 a hidreleacutetrica Itaipu

Binacional Por fazer fronteira com o Paraguai a cidade brasileira torna-se ainda

mais atrativa devido ao comeacutercio com Ciudad del Este Os meios de comunicaccedilatildeo

que costumam divulgar os atrativos turiacutesticos de Foz do Iguaccedilu exaltam o fato da

cidade possuir diferentes etnias e nacionalidades convivendo em um mesmo

territoacuterio Na ocasiatildeo do centenaacuterio da cidade foi composta a muacutesica bdquoIsso eacute Foz do

Iguaccedilu‟ que evidecircncia esse bdquoolhar‟ multicultural

Cidade de todas as raccedilas Que aceita o negro que aceita o branco

Iacutendio cafuzo amarelo e mamelucoCidade cosmopolitaTem brasileiro tem

argentinoAacuterabe chinecircs paraguaio e palestino Isso eacute Foz do IguaccediluDa

triacuteplice fronteira do sul Onde o ceacuteu eacute mais que azulTerra das cataratas do

Iguaccedilu (COPETTI 2014)

Nos versos verifica-se que uma das principais caracteriacutesticas atribuiacutedas agrave

cidade eacute ser multicultural com diferentes nacionalidades e etnias convivendo

pacificamente neste territoacuterio rico por suas belezas naturais No entanto existe

tambeacutem uma narrativa que caracteriza a cidade como perigosa marginal rota para

9 Dados obtidos no site oficial da Usina Hidreleacutetrica de Itaipu Binacional Disponiacutevel em

lthttpswwwitaipugovbrgt Acesso em 12122015

33

o grande traacutefico de armas e drogas espaccedilo de corrupccedilatildeo e lavagem de dinheiro

representada principalmente pela imprensa argentina de Puerto Iguazuacute e de Foz do

Iguaccedilu (ALBUQUERQUE 2010) conforme os enunciados abaixo sugerem

-PF10 estoura quadrilha que envolvia empresas-fantasmas de Foz do Iguaccedilu e traficantes do Paraguai Operaccedilatildeo Sustenido desmantelou organizaccedilatildeo criminosa suspeita de movimentar R$ 300 milhotildees (PORTAL R7 22052015)

-Contrabando ldquoempregardquo 15 mil em Foz do Iguaccedilu (GAZETA DO POVO 03032015) -Policia Federal apreende cigarros contrabandeados e um veiacuteculo (JT TRIBUNA 29012016)

Na perspectiva de Lorenzo Macagno (2011) esta visatildeo tatildeo dicotocircmica e

oposta ldquose produz e se reproduz justamente num espaccedilo peculiar e contraditoacuterio

Ali nos confins da naccedilatildeo nos espaccedilos liminares e de tracircnsito eacute onde esta conciliaccedilatildeo parece impor a necessidade de uma perpeacutetua reatualizaccedilatildeo de si mesma Sob este aparente paradoxo reside uma tensatildeo iminente entre o bdquonacional‟ e o transnacional (MACAGNO 2011 p25)

Para conhecer a dinacircmica de Foz do Iguaccedilu enquanto cidade de fronteira eacute

preciso primeiramente localizaacute-la no contexto da Triacuteplice Fronteira que recebeu

essa denominaccedilatildeo a partir de 1992 momento em que se levantavam suspeitas da

presenccedila de terroristas islacircmicos na regiatildeo A partir de 1996 o termo foi oficialmente

adotado pelo governo dos trecircs paiacuteses Utilizo-me da tese de Fernando Lima (2011)

o qual defende e argumenta que esta Triacuteplice Fronteira pode ser considerada uma

regiatildeo por possuir caracteriacutesticas proacuteprias diferente assim de outras regiotildees do

estado do Paranaacute e do sul do Brasil (LIMA 2011)

Ao tratar da origem do termo Triacuteplice Fronteira Rabossi (2004) aponta que

antes dos anos de 1990 para se referir agrave regiatildeo em seu conjunto se falava zona

regiatildeo ou trecircs fronteiras Em alguns jornais do final dos anos de 1980 o termo

bdquotriacuteplice fronteira‟ aparece para nomear a regiatildeo entretanto esse uso era geneacuterico

nunca substantivo proacuteprio Para exemplificar a constataccedilatildeo da dificuldade que era

pensar os paiacuteses fronteiriccedilos enquanto uma unidade Rabossi (2004) cita o trecho

texto do jornalista Bojunga de 1978 que diz

10

PF - abreviaccedilatildeo para Poliacutecia Federal

34

Em IguaccediluIguazuPuerto Presidente Strossneressa atividade [o contrabando] atinge caracteriacutesticas delirantes Nesse ponto em que as fronteiras da Argentina do Brasil e do Paraguai se encontram nada se perde tudo se trafica (BOJUNGA 1978 p 202 apud RABOSSI 2004 p 24)

A apariccedilatildeo do substantivo proacuteprio bdquoTriacuteplice Fronteira‟ surge a partir das

suspeitas de que havia terroristas islacircmicos na regiatildeo apoacutes os atentados na

embaixada de Israel na capital argentina Buenos Aires em 1992 Esta suspeita

aumentou apoacutes o atentado agrave Asociaciacuteon de Mutuales Israelitas Argentinas [AMIA]

em 1994 (RABOSSI 2004) Deste modo o termo Triacuteplice Fronteira surge

relacionado agraves questotildees de seguranccedila que envolve os trecircs paiacuteses ldquoEssa

denominaccedilatildeo pressupotildee a existecircncia de uma aacuterea singular e participa de sua

criaccedilatildeo a partir de uma praacutetica de nominaccedilatildeo que possibilita a emergecircncia

conceitual de um lugar onde estatildeo relacionadas agraves trecircs cidadesrdquo (RABOSSI 2004

p24) Rabossi (2004) considera a Triacuteplice Fronteira uma regiatildeo singular como Lima

(2011) afirma que Foz do Iguaccedilu possui caracteriacutesticas distintas das demais cidades

brasileiras cuja distinccedilatildeo se daacute por essa localizaccedilatildeo

Lima fala da integraccedilatildeo comercial seja por meio do turismo como a visitaccedilatildeo

agraves cataratas no Brasil e na Argentina seja por meio das compras em Ciudad del

Este que tornam a situaccedilatildeo econocircmica das cidades dependentes uma das outras O

autor chama atenccedilatildeo para a relaccedilatildeo entre as cidades de Foz do Iguaccedilu e Ciudad del

Este Ele chega agrave conclusatildeo de que a relaccedilatildeo de trabalho entre brasileiros e

paraguaios natildeo se reduz agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos aos sacoleiros que pagam aos

paraguaios para atravessarem a ponte com a mercadoria que excede a cota

permitida ldquoTrata-se de uma verdadeira extensatildeo do mercado de trabalho de Foz do

Iguaccedilurdquo (LIMA 2011 p142)

Lima aponta que embora a Itaipu seja de suma importacircncia econocircmica para

o Brasil e o Paraguai a hidreleacutetrica eacute uma ldquoinduacutestria deslocalizadardquo (LIMA 2011 p

143) Isto significa que o que ela movimenta em termos econocircmicos fica longe da

cidade Os benefiacutecios para a cidade se encontram nos pagamentos de royalties e

nos salaacuterios dos trabalhadores que por sua vez eacute um grupo relativamente pequeno

o que ldquoimpede que se forme uma massa salarial grande o suficiente para gerar uma

dinacircmica endoacutegena de crescimentordquo (LIMA 2011 p142) Ateacute mesmo o expressivo

nuacutemero de funcionaacuterios puacuteblicos existente em Foz do Iguaccedilu em decorrecircncia da

35

Aduana e da Poliacutecia Federal natildeo eacute capaz de juntamente com a Itaipu estimular o

mercado de serviccedilos local Uma das maiores movimentaccedilotildees econocircmicas da cidade

encontra-se no turismo motivado pelas Cataratas do Iguaccedilu No entanto esta aacuterea

apresenta inuacutemeras fragilidades sobretudo no que diz respeito agraves flutuaccedilotildees do

cacircmbio brasileiro e argentino aleacutem da questatildeo sazonal e a proacutepria dinacircmica do

mercado que gera a competiccedilatildeo com outros destinos turiacutesticos Com estas

caracteriacutesticas Fernando Lima afirma que tanto no acircmbito econocircmico como no

social Foz do Iguaccedilu articula-se aos fatos econocircmicos da fronteira conformando

uma economia regional Neste sentido o autor sugere a formulaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas que possam oferecer maior liberdade ao comeacutercio da regiatildeo em relaccedilatildeo agraves

poliacuteticas nacionais

Devido agrave falta desse tipo de poliacutetica de fronteira que Machado (2010) afirma

que tem sido difiacutecil para os Estados-Nacionais lidarem com a real ldquofluidez dos

agrupamentos humanosrdquo e mais ainda com o ajustamento de redes poliacuteticas

identitaacuterias econocircmicas e sociais superpostas aos limites dos estados territoriais

(MACHADO 2010 p71) Torna-se necessaacuterio avanccedilar na concepccedilatildeo de Estado

para aleacutem da esfera juriacutedica e poliacutetica para compreender que a fronteira eacute um

espaccedilo permeado por vidas e com relaccedilotildees que ultrapassam os seus limites

territoriais A Triacuteplice Fronteira ldquoeacute o espaccedilo de trocas culturais onde o local e o

internacional se articulam estabelecendo viacutenculos e dinacircmicas especiacuteficasrdquo

(MULLER 2005 p03)

Cury e Fraga (2013) consideram que a especificidade da Triacuteplice Fronteira

manifesta-se a partir das experiecircncias que se realizam nos espaccedilos e unem povos

e culturas distintas sociedades que apresentam princiacutepios sociais de forma

integrada na sua diversidade ldquosem que se dispense o fato de que os brasileiros satildeo

brasileiros paraguaios satildeo paraguaios e argentinos satildeo argentinosrdquo (CURY e

FRAGA 2013 p 52)

Estes fluxos intensos fazem com que haja encontros e desencontros De um

lado as trocas interculturais a sociabilidade e a relaccedilatildeo amistosa de outro e ao

mesmo tempo as tensotildees de ordem cultural

A vida na fronteira passa constantemente pela afirmaccedilatildeo do eu e consequumlentemente pelo reconhecimento do outro Os de laacute e os de

36

caacute constroem a relaccedilatildeo estruturam o espaccedilo como sendo de ambos (MULLER 200311)

Neste sentido ocorre uma reatualizaccedilatildeo da naccedilatildeo na fronteira pois eacute um

espaccedilo que ao mesmo tempo une e separa nas palavras de Clemente de Souza

(2009 p106) ldquoSatildeo espaccedilos nos quais o local e o internacional se articula

estabelecendo viacutenculos e dinacircmicas proacuteprias construiacutedas e reforccediladas pelos povos

fronteiriccedilosrdquo Para Souza (2009) as identidades e as culturas nacionais de cada um

dos paiacuteses fronteiriccedilos satildeo construiacutedas e reelaboradas por meio da interaccedilatildeo entre a

populaccedilatildeo desta regiatildeo assim acabam por constituir ldquooutra cultura e identidade

diferenciada capaz de recriar um novo lugar com aspectos regionaisrdquo (SOUZA

2009 p106)

14 A porosidade do Estado sob a forma de poliacuteticas puacuteblicas

Natildeo eacute apenas a educaccedilatildeo um tema delicado ao se abordar poliacuteticas puacuteblicas

para a fronteira Os exemplos das pesquisas tratadas nessa seccedilatildeo demonstram que

a particularidade da fronteira faz com que as poliacuteticas nacionais para o trabalho e a

sauacutede natildeo alcancem todos na fronteira

Na regiatildeo da Triacuteplice Fronteira a relaccedilatildeo que se estabelece principalmente entre

o Brasil e o Paraguai chama a atenccedilatildeo por seus laccedilos comerciais que fazem com

que o fluxo de pessoas seja intenso nos dois lados da fronteira Eacute comum a

premissa um morador passar o dia de trabalho em paiacutes vizinho onde sua renda eacute

obtida e viver parte do tempo em seu paiacutes de origem Eacute o caso dos trabalhadores

que satildeo contratados para atravessar mercadorias de Ciudad del Este para Foz do

Iguaccedilu de brasileiros que possuem alguma atividade comercial na Argentina ou

Paraguai ou das trabalhadoras domeacutesticas conhecidas como diaristas De modo

direto ou indireto satildeo trabalhadores (as) que contribuem com a economia da regiatildeo

fronteiriccedila mas que do ponto de vista dos direitos trabalhistas eacute um grupo que

acaba ficando agrave margem desses direitos por diferentes justificativas No caso das

11 Documento eletrocircnico sem paginaccedilatildeo MULLER K M O estudo Miacutedia e fronteira jornais locais em Uruguaiana-Libres e Livramento-Rivera Tese de doutorado defendida na Universidade do Vale dos

Sinos Satildeo Leopoldo fev 2003

17112015

37

diaristas paraguaias dada sua situaccedilatildeo de imigrantes encontram dificuldades para

a comprovaccedilatildeo de documentos necessaacuterios para exercer tal atividade no paiacutes Com

isso acabam na informalidade abrindo brechas para a desvalorizaccedilatildeo de seus

salaacuterios podendo ateacute mesmo virem a trabalhar sob condiccedilotildees insalubres e

exaustivas O delegado da Poliacutecia Federal Rodrigo Perin em uma reportagem

concedida ao site G1 fez a seguinte observaccedilatildeo sobre essa situaccedilatildeo

Na realidade se a pessoa estiver regularizada em territoacuterio nacional e estiver apta para trabalhar como ela vai ter todos os direitos trabalhistas ela natildeo vai poder receber um salaacuterio menor do que o piso fixado para aquela categoria bdquoA partir do momento que ela se encontra em situaccedilatildeo irregular ela vai receber um salaacuterio muito iacutenfimo agraves vezes varia de R$ 150 a R$ 200‟ afirmou o delegado A pessoa que contratar uma empregada domeacutestica ilegal pode ser multado em R$ 2500 Aleacutem disso o patratildeo pode responder criminalmente por manter o trabalhador em condiccedilatildeo similar a de escravo A empregada pode ser deportada para o paiacutes de origem (PORTAL DE NOTIacuteCIAS G1 2011)

Como exemplo de uma possiacutevel soluccedilatildeo ao problema da informalidade o

Ministeacuterio Puacuteblico de Foz do Iguaccedilu apoacutes receber denuacutencias acerca das

trabalhadoras domeacutesticas em regime irregular de trabalho passou a notificar os

siacutendicos de condomiacutenios da cidade a prestar contas sobre o nuacutemero de funcionaacuterios

(as) e empregados(as) contratados pelos moradores Entretanto os proacuteprios

trabalhadores temendo a demissatildeo optaram por seguirem na informalidade Tal

medida explica Hofling (2001) ldquofoi puramente repressiva e unilateral por parte do

governo brasileiro sem planejamento ou conexatildeo com outras poliacuteticas integradas

com os paiacuteses vizinhosrdquo (HOFLING 2001 p 177)

No que confere agrave questatildeo entre o legal e o ilegal este uacuteltimo eacute tatildeo

frequumlentemente associado agrave fronteira que quase vira seu sinocircnimo Esta noccedilatildeo fora

criticada por Rabossi (2011) o qual considera que o modelo de ordem e de lei

vigente natildeo se aplica para pensar ldquoo funcionamento efetivo da lei nem as atividades

que se desenvolvem naquele espaccedilordquo (RABOSSI 2011 p64) Segundo Silva (2015)

a vida dessas pessoas que vivem na ilegalidade equivaleria ao que ela denomina

de ldquoprotocidadania em direccedilatildeo inversa ou a uma forma de vida ambiacutegua e

paradoxal diante do Estado-Naccedilatildeordquo Para a autora haacute uma cidadania que eacute rompida

em sua continuidade entre o nascimento e a nacionalidade onde o sujeito encontra-

se dentro e fora da lei imersos em uma bdquozona de inderteminaccedilatildeo‟ (SILVA 2015

p3)

38

Quanto agrave questatildeo da violecircncia do traacutefico de drogas da exploraccedilatildeo sexual do

trabalho infantil que satildeo intensas na regiatildeo Rosana Pinheiro Machado (2011) em

seu artigo ldquoCaminhos do descaminho Etnografia da fiscalizaccedilatildeo na Ponte da

Amizade e seus efeitos no cotidiano da Triacuteplice Fronteira aponta que apenas ldquouma

fiscalizaccedilatildeo unilateral sem amparo de poliacuteticas puacuteblicas natildeo parece extinguir tais

problemas mas apenas deslocaacute-losrdquo (MACHADO 2011 p145)

Quando se trata de poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para a regiatildeo de fronteira

internacional o tema da seguranccedila e defesa nacional aparecem como destaque no

processo de elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica Albuquerque explica que a

ldquofronteira geralmente eacute uma zona onde as forccedilas repressoras e fiscalizadoras do

Estado tecircm dificuldade em exercer o monopoacutelio das armas e das leisrdquo

(ALBUQUERQUE 2005 p67) Essa suposta ausecircncia de controle acaba

legitimando a imagem de que a fronteira eacute uma terra de ningueacutem

O mesmo autor explica que a triacuteplice fronteira a partir de meados da deacutecada

de 1990 passou a ser representada principalmente pela imprensa brasileira e

argentina juntamente com os organismos oficiais de inteligecircncia dos Estados

Unidos como um local de traacutefico de armas e drogas de lavagem de dinheiro dentre

outros sendo portanto caracterizada como ldquosantuaacuterio da corrupccedilatildeo impunidade e

delinquumlecircnciardquo (ALBUQUERQUE 2010 p39)

Seja pelas imagens incansaacuteveis divulgadas pelos meios de comunicaccedilatildeo de

que a fronteira requer maior atenccedilatildeo no quesito seguranccedila ou pelas pressotildees

internacionais ou mesmo pelo interesse do Estado em querer legitimar o uso da

forccedila na regiatildeo demonstrando sua soberania perante os paiacuteses vizinhos a

seguranccedila na fronteira eacute o tema mais visiacutevel no sentido de poliacutetica puacuteblica

Certamente a securitizaccedilatildeo processo pelo qual a seguranccedila puacuteblica torna-se o argumento central nas relaccedilotildees entre sociedade e Estado (Gruszczac 2010) marca a gestatildeo estatal das fronteiras no globo com ecircnfases e significados ligados agrave seguranccedila puacuteblica nacional e internacional (Machado Novaes Monteiro 2009 Dorfman Franccedila 2013) O governo brasileiro mobiliza suas instituiccedilotildees como decorrecircncia dos processos securitizatoacuterios poacutes 11-S mas tambeacutem o faz dentro de um projeto maior e mais antigo de construccedilatildeo do Brasil potecircncia (FRANCcedilA DORFMAN 2014 p11)

Um exemplo desses projetos eacute o receacutem criado Sistema Integrado de

Monitoramento de Fronteiras (SISFRON) um conjunto de sistemas integrados do

39

exeacutercito brasileiro para o monitoramento e controle das fronteiras terrestres

Segundo o site oficial do SISFRON trata-se de um dos maiores projetos de

seguranccedila e defesa em execuccedilatildeo do mundo De acordo com o Ministeacuterio da Defesa

seu propoacutesito eacute ldquofortalecer a presenccedila e a capacidade de accedilatildeo do Estado na faixa de

fronteira terrestre contribuindo para a maior efetividade no combate aos delitos

transfronteiriccedilos e praticados na faixa de fronteirardquo (BRASIL 2014 p1) Dorfman e

Franccedila (2014) citam outros programas como o Plano Estrateacutegico de Fronteiras em

2011 promovido pelo Ministeacuterio da Justiccedila

Estes e outros programas nacionais de proteccedilatildeo ao territoacuterio representam a

materializaccedilatildeo da claacutessica definiccedilatildeo de Estado o exerciacutecio do uso legiacutetimo da forccedila

tendo como pano de fundo dessa legitimidade o consenso da populaccedilatildeo que em

tese aceita em troca da proteccedilatildeo do Estado (WEBER 1998)

Aleacutem da seguranccedila a sauacutede eacute um setor delicado em regiatildeo de fronteira que

ao contraacuterio das poliacuteticas para seguranccedila da fronteira natildeo recebe recursos

diferenciados das demais regiotildees do paiacutes

Relatoacuterios do ldquoEstudo da Rede de Serviccedilos de Sauacutede na Regiatildeo de

Fronteirardquo referentes a 2001 e 2002 produzidos para a Organizaccedilatildeo Mundial da

Sauacutede (OMS) ao estudar a situaccedilatildeo da sauacutede puacuteblica nas cidades de Puerto

Iguazuacute Foz do Iguaccedilu e Ciudad Del Este verificaram a existecircncia de uma

dificuldade no processo de contabilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo que necessita de

atendimento pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) haja vista que parte dessa

populaccedilatildeo eacute flutuante Deste modo os repasses de verba para o SUS acabam natildeo

abarcando a realidade total da populaccedilatildeo atendida

Neste estudo as informaccedilotildees indicaram ainda que a maior transferecircncia de

atenccedilatildeo existe entre Ciudad Del Este e Foz do Iguaccedilu Este fenocircmeno pode ser

explicado basicamente pela acessibilidade geograacutefica somadas agraves condiccedilotildees

sociais e comerciais manifestado no tracircnsito entre Ciudad del Este e Foz do Iguaccedilu

Nesse sentido Luis Astorga (2004) responsaacutevel pelo estudo da sauacutede nas trecircs

cidades completa

A atenccedilatildeo que os cidadatildeos do Paraguai solicitam em Foz equivale a algo entre 5 e 55 dos serviccedilos produzidos em Cidade do Leste sendo o Atenccedilatildeo Primaacuteria e de Especialidade os mais procurados pela populaccedilatildeo paraguaia Os serviccedilos mais demandados pela populaccedilatildeo paraguaia satildeo aqueles onde haacute maior diferenccedila entre Cidade do Leste e Foz que satildeo precisamente os serviccedilos

40

ambulatoriais de especialidade Segundo os estudos de Foz aparentemente o maior fluxo de paraguaios concentra-se nos centros de sauacutede proacuteximos ao rio e agrave ponte dado que a populaccedilatildeo pode se deslocar a peacute desde Ciudad del Este (ASTORGA etal 2004 p88)

Cabe aqui a ressalva de que em regiotildees de fronteira internacional assim

como em outras regiotildees do paiacutes o problema da sauacutede eacute resultado de uma

conjuntura de fatores sendo que os mais citados para justificar a ineficiecircncia do

sistema eacute a falta de recursos humanos especializados as distacircncias entre os

municiacutepios e os grandes centros de referecircncia e a insuficiecircncia de equipamentos

para realizaccedilatildeo de tratamentos e procedimentos de meacutedia e alta complexidade

(GADELHA 2007 p216)

Na tentativa de amenizar essa situaccedilatildeo nas cidades de fronteira tendo o

MERCOSUL como propositor dessa poliacutetica criou-se o Sistema Integrado de Sauacutede

do Mercosul (SIS-MERCOSUL) Instituiacutedo em julho de 2005 e lanccedilado em

novembro do mesmo ano na cidade de Uruguaiana ndash RS ndash por meio do ministeacuterio

da sauacutede e dos Estados-membros do Mercosul seu objetivo eacute criar uma agenda

com propostas de Cooperaccedilatildeo Teacutecnica entre os paiacuteses do referido bloco e garantir

o atendimento para a populaccedilatildeo da regiatildeo por meio de estrateacutegias que melhorassem

a sauacutede local dos paiacuteses envolvidos

Costa e Gadelha (2007) explicam que ldquoa ideacuteia eacute iniciar uma poliacutetica de

incentivo agrave gestatildeo a partir do repasse de recursos financeiros para os municiacutepios de

fronteirardquo (COSTA e GADELHA 2007 p218) Estas municipalidades por outra via

devem participar ativamente da elaboraccedilatildeo de um diagnoacutestico da realidade da sauacutede

local e realizar o cadastro da populaccedilatildeo no cartatildeo do SUS A complexidade do

diagnoacutestico reside no fato de que momento em que o Estado natildeo considera como

usuaacuterios do sistema uacutenico cidadatildeos advindos dos paiacuteses vizinhos Neste caso eacute

fundamental que haja investimento integrado com os demais paiacuteses

Alguns avanccedilos tecircm sido alcanccedilados no tocante agrave elaboraccedilatildeo de diagnoacutesticos de sauacutede para municiacutepios da linha de fronteira mas ainda natildeo se consegue verificar o relacionamento deste diagnoacutestico da infra-estrutura instalada e real utilizaccedilatildeo do sistema por parte da populaccedilatildeo flutuante que o utiliza Para reverter essa situaccedilatildeo muito haacute que se avanccedilar na coordenaccedilatildeo de poliacuteticas de fronteiras no Brasil assim como em sua articulaccedilatildeo com as dos paiacuteses vizinhos (COSTA CADELHA 2007 p217)

41

Como podemos observar nos dados apresentados autores que tratam das

poliacuteticas puacuteblicas direcionadas para regiotildees fronteiriccedilas insistem em uma melhor

articulaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses com poliacuteticas para a fronteira de modo

que estas possam ser executadas com sucesso

15 O contexto escolar vivido entre fronteiras a escola como reguladora do

Estado

Albuquerque (2010) apresenta alguns trabalhos histoacutericos e antropoloacutegicos

acerca do Estado e dos agentes locais fronteiriccedilos ldquonas redefiniccedilotildees das identidades

nacionais regionais e locaisrdquo (ALBUQUERQUE 2010 p 46) Dentre estes estudos

o autor descreve aqueles referentes agrave fronteira dos Estados Unidos com o Meacutexico

em que a loacutegica de um hibridismo cultural de uma integraccedilatildeo cultural na fronteira

entre os dois paiacuteses eacute questionada Disto decorre o fortalecimento das identidades

nacionais Inspirados pelos estudos referentes agraves fronteiras entre os paiacuteses

Europeus e Meacutexico e Estados Unidos Albuquerque aponta que os antropoacutelogos do

cone sul em destaque os argentinos tecircm realizado inuacutemeras etnografias nas

fronteiras entres os paiacuteses da Ameacuterica do Sul

O que haacute de comum eacute a tentativa de pensar a tensatildeo entre naccedilatildeo e processos de integraccedilatildeo supranacionais e as maneiras como as identidades nacionais se fortalecem nestes espaccedilos de fronteiras apesar do visiacutevel hibridismo de liacutenguas e outras expressotildees culturais (GRIMSON 2003 KARASIK 2000 VIDAL 2000 apud ALBUQUERQUE 2010 p 27)

A complexidade das relaccedilotildees sociais existentes na fronteira nos permite dizer

que seria leviano rotular as pessoas que nelas transitam Conforme Laclau

(1996)ldquonatildeo se pode afirmar uma identidade diferencial sem distingui-la de um

contexto e no processo de fazer a distinccedilatildeo afirma-se o contexto simultaneamenterdquo

(LACLAU 1996 apud HALL 2003 p 85) No contexto da fronteira nos deparamos

com um sujeito que possui sua identidade nacional negociada o tempo todo atraveacutes

do encontro com os ldquooutrosrdquo

Em Foz do Iguaccedilu como mencionado eacute comum a presenccedila de outras etnias

e nacionalidades que buscam preservar seus costume e tradiccedilotildees mas ao entrar em

contato com outros costumes e valores acabam por adquirir parte de seus haacutebitos

Machado (2006) aponta que uma vez que a identidade sendo cultural e portanto

42

social e historicamente construiacuteda ela pode ser reconstruiacuteda ou reinventada

conforme as circunstancias temporais e espaciais (MACHADO 2006 p 93)

Figueiredo (2005) afirma que a questatildeo da identidade vai para aleacutem da construccedilatildeo

para a negociaccedilatildeo

Se anteriormente as identidades apareciam como construccedilotildees ainda que percebidas como processos simboacutelicos hoje em dia aleacutem dessa noccedilatildeo pode-se pensar e discutir a identidade como negociaccedilatildeo tanto como nas fronteiras culturais como nas linguumliacutesticas e territoriais (FIGUEIREDO 2005 p546)

Deste modo estes encontros relaccedilotildees e negociaccedilotildees entre diferentes

costumes haacutebitos liacutenguas se fazem presentes em Foz do Iguaccedilu e tambeacutem se

manifestam em diferentes espaccedilos como o escolar A escola eacute considerada um

espaccedilo plural principalmente com a globalizaccedilatildeo que provocou dentre outras

mudanccedilas ldquoum redimensionamento de grupos e movimentos migratoacuteriosrdquo (VIERA

2010 p10) Grandes metroacutepoles como Satildeo Paulo possui um grande nuacutemero de

estrangeiros Em reportagem feita para o Jornal bdquoO Estado de Satildeo Paulo‟ a

jornalista Isabela Palhares foi agrave uma escola na capital paulista Os dados fornecidos

pela direccedilatildeo da escola indica que ela possui mais de 55 de alunos estrangeiros

Trata-se da Escola Estadual Marechal Deodoro no Bom Retiro regiatildeo central de

Satildeo Paulo Dos 772 estudantes matriculados 55 satildeo de outro paiacutes ou satildeo filhos

de pais que vieram recentemente para o Brasil ldquoA maioria desses alunos

estrangeiros eacute de bolivianos peruanos e paraguaios mas ainda haacute coreanos

argentinos chilenos e um camaronecircsrdquo (PALHARES 2015)

Embora natildeo seja uma grande cidade em termos populacionais12 como as

capitais ou metroacutepoles brasileiras Foz do Iguaccedilu possui uma diversidade notaacutevel

quanto agrave presenccedila de imigrantes de diferentes nacionalidades e etnias que

possibilita transformaccedilatildeo e reconfiguraccedilatildeo da cultura e do cenaacuterio local Essa

presenccedila de imigrantes como explica Maria Eta Viera (2010) nem sempre eacute

percebida pelo brasileiro como algo valorativo A autora descreve a reaccedilatildeo de

algumas pessoas em transportes puacuteblicos e nas ruas que ao perceberem a

12

Conforme o censo realizado pelo IBGE em 2010 Foz do Iguaccedilu possui cerca de 260 mil

habitantesDisponiacutevel

emlthttpcidadesibgegovbrpainelpainelphplang=ampcodmun=410830ampsearch=||infogrE1ficos-

dados-gerais-do-municEDpiogt Acesso em 14062015

43

presenccedila do estrangeiro com traccedilos fiacutesicos diferentes e falando outro idioma

reagem com repulsa e redobram os cuidados com seus pertences (bolsa celular

carteira etc) (VIERA 2010)

Tradicionalmente tido como um paiacutes hospitaleiro receptivo ao extremo e que valoriza - agraves vezes ateacute de forma exagerada- o que eacute estrangeiro causam estranheza algumas atitudes que tecircm sido observadas com relaccedilatildeo a imigrantes de determinados paiacuteses (VIERA 2010 p61)

O imigrante que deixa seu paiacutes leva consigo a sua histoacuteria cultura valores e

ao chegar a outro paiacutes deve readequar a sua vida a este novo cenaacuterio Esse

encontro pode dar-se de modos diferentes ldquoprovocando desde uma coexistecircncia e

convivecircncia paciacuteficas entre os valores e costumes das comunidades envolvidas ateacute

repulsa e marginalizaccedilatildeo do estrangeiro (VIERA 2010 p63)

Conforme apresenta Homik Babha (1998) natildeo devemos concentrar nossas

atenccedilotildees seja em um lado ou em outro - neste caso o brasileiro em relaccedilatildeo aos

outros Ele critica esta noccedilatildeo binaacuteria entre totalidades Ao observar praacuteticas comuns

tiacutepicas de uma cultura assimiladas por outras eacute possiacutevel sugerir alguns exemplos

passiacuteveis de ocorrer em Foz do Iguaccedilu a saber o mesmo sujeito brasileiro que

chama o paraguaio de xiruacute a fim de ofendecirc-lo eacute o que adquiriu o haacutebito comum aos

paraguaios de tomar o tererecirc13 Isto vale tambeacutem para os apelidos pejorativos e

estigmas que tentam associar ao aacuterabe que reside em Foz do Iguaccedilu como

terrorista14 atraveacutes da denominaccedilatildeo de ldquohomens-bombardquo Aquele que os ofende eacute o

mesmo que fuma o narguile15 consome o shawarma e a esfiha Deste modo Babha

entende que a diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ocorre ao mesmo tempo em que

haacute incorporaccedilatildeo do outro dentro de si mesmo

1313Terereacute ou tererecirc eacute uma bebida tiacutepica feita com a infusatildeo de ervas em aacutegua fria Sua origem eacute atribuiacuteda aos Paraguai tendo suas raiacutezes na cultura dos indiacutegenas guaranis 14A partir do dia 11 de setembro de 2001 uma seacuterie de alegaccedilotildees sobre viacutenculos terroristas na Triacuteplice Fronteira entre Brasil Paraguai e Argentina cruzou as Ameacutericas Essa teoria circulada nos meios de comunicaccedilatildeo combinou com duas correntes imperialistas da poliacutetica externa dos Estados Unidos por um lado a imagem do aacuterabe ou do mulccedilumano como terrorista e por outro a representaccedilatildeo da Ameacuterica do Sul como uma ldquoterra sem leirdquo (MONTENEGRO GIMEacuteNEZ BEacuteLIVEAU 2006 apud KARAN 2011 p203) 15Espeacutecie de cachimbo muito usado por hindus persas e turcos constituiacutedo de um fornilho um tubo longo e um pequeno recipiente contendo aacutegua perfumada pelo qual passa a fumaccedila antes de chegar agrave boca (Dicionaacuterio online Disponiacutevel em lthttpwwwdiciocombrnarguilegtAcesso em 23112015

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Nas escolas puacuteblicas de Foz do Iguaccedilu este ldquooutrordquo satildeo representados em

sua maioria por paraguaios e argentinos ou seja as diferenccedilas tecircm como marcador

principal a identidade nacional Trata-se de um problema histoacuterico jaacute que a escola

foi um dos instrumentos que permitiu ao Estado tentar iniciar o processo de

homogeneizaccedilatildeo cultural Logo conforme Pereira (2009) a escola deste o iniacutecio foi

considerada um espaccedilo negaccedilatildeo da diversidade O nacional torna-se assim fator

de diferenciaccedilatildeo de tensotildees de abertura para preconceitos e estigmas

Na dissertaccedilatildeo sobre a presenccedila de brasiguaios nas escolas brasileiras

Cirlani Terenciani (2011) menciona o trabalho de Joseacute Carlos de Souza (2001)

sobre as representaccedilotildees que os brasileiros fazem em relaccedilatildeo aos paraguaios

() que se tomar dinheiro emprestado natildeo gosta de pagar e natildeo quer que lembre da diacutevida Eacute vingativo para as pessoas que lhe traem a confianccedila () costuma-se dizer que trecircs coisas o paraguaio natildeo daacute a mulher o cavalo e a arma (SOUZA 2001 p 55 apud TERENCIANI 2011 p56)

Tratam-se de afirmaccedilotildees preconceituosas que contribuem para que a imagem do

paraguaio seja associada agrave ldquofalsidade ilegalidade desconfianccedilardquo (TERENCIANI

2011p 57)

Durkheim em Educaccedilatildeo e Sociologia (2011) descreve a escola enquanto

uma instituiccedilatildeo que natildeo estaacute alheia aos fatos sociais presentes na sociedade Logo

a representaccedilatildeo do ldquooutrordquo tanto em seus aspectos positivos quanto negativos eacute

reproduzido no acircmbito escolar sendo portanto um espaccedilo de negociaccedilotildees das

identidades-diferenccedilas

A educaccedilatildeo eacute inseparaacutevel da sociedade em seus momentos histoacutericos Para

Durkhiem (2011) cada sociedade em determinado momento de seu

desenvolvimento teve um sistema de educaccedilatildeo que se impocircs aos indiviacuteduos com

uma forccedila geralmente irresistiacutevel Isto significa que a educaccedilatildeo tem uma relaccedilatildeo

muito estreita com as necessidades e os conflitos que a sociedade vivencia em

determinado momento histoacuterico A funccedilatildeo social da escola estaria na socializaccedilatildeo da

crianccedila Joseacute Carlos Martins (2010) partindo da teoria sociointeracionista de

Vygotsky cuja visatildeo de desenvolvimento humano se baseia na premissa de que o

pensamento eacute constituiacutedo em um espaccedilo histoacuterico e cultural afirma que ldquoa crianccedila

reconstroacutei internamente uma atividade externa como resultado de processos

interativos que se datildeo ao longo do tempordquo (MARTINS 2010 p114) Com isso o

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professor e os demais constituintes da comunidade escolar acabam fazendo parte

do processo formativo da crianccedila Logo as ideias valores e conhecimentos desta

instituiccedilatildeo e de outros organismos da sociedade vatildeo influir diretamente na formaccedilatildeo

desta crianccedila

No que confere agraves escolas situadas em regiatildeo de fronteira o grande desafio eacute

lidar com situaccedilotildees que envolvem tanto os aspectos formais quanto os transversais

que se passam em sala de aula como exemplo a funccedilatildeo mediadora do professor e

demais responsaacuteveis pela formaccedilatildeo do aluno ao lidar com diferenccedilas eacutetnicas e

linguumliacutesticas o que eacute comum nas escolas de fronteira internacional Em artigo

publicado sobre a diversidade cultural em sala de aula intitulado de ldquoFronteira

Diversidade Cultural e Cotidiana Escolar na cidade de Ponta Poratilderdquo Nunes e

Terenciani (2010) analisaram as manifestaccedilotildees da diversidade cultural social e

poliacutetica vivida diariamente nas aulas de geografia As autoras constataram que os

alunos oriundos do Paraguai tinham muita dificuldade com a liacutengua portuguesa

() estes alunos principalmente os das seacuteries iniciais muitas vezes chegam agrave escola sem saber falar a Liacutengua Portuguesa e em alguns casos natildeo sabem falar sequer a Liacutengua Espanhola comunicando-se apenas atraveacutes da Liacutengua Guarani o que dificulta o processo de aprendizagem bem como a relaccedilatildeo dos professores com seus alunos (NUNES TERENCIANI 2010 p04)

Nunes e Terenciani (2010) consideram que a escola e o formalismo no qual

ela se fundamenta reforccedila as fronteiras simboacutelicas o que impede a integraccedilatildeo entre

os paiacuteses fronteiriccedilos

Por sua vez na pesquisa com alunos bolivianos que estudam em redes

puacuteblicas e privadas na cidade de fronteira Corumbaacute ndash MS as autoras Ruth Souza e

Aline Rodrigues (2009) em entrevista a coordenadores professores e diretores das

escolas por elas analisadas chegaram agrave conclusatildeo de que os alunos bolivianos

apresentam dificuldades para ler e escrever o que dificulta ateacute mesmo o processo

de integraccedilatildeo dos alunos com os demais (no caso os brasileiros) aleacutem de se

sentirem tiacutemidos pela estranheza daquele universo escolar Ao analisarem o Projeto

Poliacutetico Pedagoacutegico das escolas visitadas as responsaacuteveis pela pesquisa deram o

seguinte parecer

Observa-se entatildeo que a escola brasileira natildeo eacute preparada para atender o aluno estrangeiro nem mesmo em aacutereas de fronteira onde

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essa realidade eacute cada vez mais frequumlente Os PPP‟s satildeo engessados nas diretrizes gerais da educaccedilatildeo e desconsideram as especificidades locais natildeo oferecendo subsiacutedios adequados para as escolas atenderem os alunos estrangeiros e buscarem a inserccedilatildeo do mesmo no ambiente escolar e garantir o seu aprendizado (SOUZA RODRIGUES 2009 p10)

Outro estudo referente agrave presenccedila de migrantes fronteiriccedilos realizado na

fronteira do Brasil com o Uruguai na cidade de Sant‟Ana do Livramento ndash RS por

Geovana Bardesio e Paulo Cassanego (2013) apontou que as diferenccedilas

relacionadas ao idioma principalmente a expressatildeo escrita da liacutengua portuguesa

foram assinaladas pelos gestores entrevistados como um dos maiores desafios a

serem superados para o melhor desenvolvimento do aluno migrante Os mesmos

quando questionados sobre as atividades desempenhadas com vistas agrave promoccedilatildeo

da socializaccedilatildeo entre os alunos das escolas natildeo relataram nenhuma atividade

direcionada especificamente para o acolhimento de alunos migrantes ldquotambeacutem natildeo

foram verificados incentivos a promoccedilatildeo de discussotildees entre os professores sobre o

tema migraccedilatildeo e sobre a situaccedilatildeo de acolher estudantes nesta condiccedilatildeo na escolardquo

(CASSANEGO E BARDESIO 2013 p7)

Jacira Pereira (2003) apresenta o resultado de sua pesquisa referente agraves

identidades eacutetnico-culturais e sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo de escolas situadas em

regiatildeo de fronteira A pesquisa foi realizada na fronteira entre Brasil e Paraguai nas

cidades de Ponta Poratilde e Pedro Juan Caballero Buscou entrevistar duas geraccedilotildees

de migrantes presentes nas cidades oriundos de diferentes etnias e nacionalidades

Dentre as questotildees presentes na entrevista encontra-se uma referente a

atitudes preconceituosas nas escolas devido agrave origem eacutetnica do aluno Pereira

destacou a seguinte resposta de uma estudante paraguaia quando perguntada se

sofria algum tipo de preconceito

Preconceito assim natildeo mas tem aquelas brincadeirinhas de mau gosto Cala boca sua paraguaia [] Isto acontecia desde pequena agora parou um pouco Mas acontecia sempre e eu ficava brava brava Eu tinha vergonha (Luciana Assunccedilatildeo ndash 2ordf geraccedilatildeo) (PEREIRA 2003 p7)

Em relaccedilatildeo a possiacuteveis apelidos dados pelos colegas de turma a autora

destaca as seguintes falas

Natildeo ligo de ser descendente de libanecircs eu gosto [] Eu natildeo tenho mas os amigos do meu irmatildeo me chamam de turquinho Mas eu natildeo tenho um apelido que todo mundo me chama (Rames Husseinndash 2ordm geraccedilatildeo)

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Tenho vaacuterios entre eles o de japonecircs porque me confundem com japonecircs [] Natildeo gosto disso (KyoLinndash 2ordf geraccedilatildeo) (PEREIRA 2003 p8)

Pode-se inferir com base nos relatos que nas relaccedilotildees no interior da escola

natildeo se discrimina o sujeito apenas por sua nacionalidade como tambeacutem pela

aparecircncia Ainda com relaccedilatildeo aos preconceitos e agrave discriminaccedilatildeo que sofrem os

migrantes a pesquisadora constatou que a minoria migrante paraguaia eacute a que mais

demonstra ser alvo de tratamento diferenciado expresso nas zombarias e nas

chacotas o que eacute possiacutevel captar nas relaccedilotildees tensas e conflitantes entre as

diferentes etnias na fronteira Eis alguns dos relatos dessas manifestaccedilotildees

Tem alguns soacute mas natildeo falam de verdade eacute soacute de brincadeira os paraguaios natildeo levam muito a seacuterio Tem amigo do meu irmatildeo que chama de chipeiro porque eacute do Paraguai soacute que esse apelido pegou e todo mundo soacute chama assim os paraguaios (KyoLinndash 2ordf geraccedilatildeo) Jaacute vi colocar apelido Um rapaz que tem na minha sala o chamam de chipa de paraguaio Mas eacute coisa de amigo ele leva na brincadeira Natildeo leva a mal (Rames Husseinndash 2ordf geraccedilatildeo) Assim natildeo eacute que tira sarro Chama assim de chipa (Latiffe Nasserndash 2ordf geraccedilatildeo) (PEREIRA 2003 p8)

Com estes dados a pesquisadora aponta que eacute comum em escolas da

fronteira a reproduccedilatildeo do imaginaacuterio negativo que se tem do ldquooutrordquo e conclui ldquoque a

comunicaccedilatildeo entre os colegas eacute carregada de hostilidade o que marca a diferenccedila

eacutetnica como uma caracteriacutestica negativardquo (PEREIRA 2003 p7)

A professora Maria Elena Pires dos Santos (2010) em pesquisa realizada

sobre o cenaacuterio sociolinguiacutestico na fronteira e sua relaccedilatildeo com as poliacuteticas

educacionais e pedagoacutegicas ao realizar um estudo com alunos brasiguaios em uma

escola de Foz do Iguaccedilu percebe que haacute diferentes olhares para a escrita hiacutebrida do

aluno brasiguaio Para a autora ldquoa leitura e a escrita processos mais valorizados na

escola eacute justamente o que evidencia a visibilizaccedilatildeo do aluno brasiguaio

constituindo fonte de estigmatizaccedilatildeo e preconceitordquo (PIRES-SANTOS 2010 p 46)

Ela ainda aponta que os professores ficavam insatisfeitos quando tinham que

receber alunos ldquobrasiguaiosrdquo sendo uma das possiacuteveis explicaccedilotildees o fato deste

aluno possuir uma linguagem hiacutebrida e pelo fato do ldquoportunholrdquo ser um grande fator

de preconceito na fronteira

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Em pesquisa realizada sobre a presenccedila de alunos brasiguaios em escolas

de fronteira BrasilParaguai na cidade de Ponta Poratilde Ione Dalinghaus (2009)

observou que mesmo em uma escola onde 90 dos alunos satildeo paraguaios ou

ldquobrasiguaiosrdquo eacute proibido o uso de outra liacutengua que natildeo o portuguecircs evidenciando

assim o mito16 do monolinguismo Tambeacutem Cerliani Terenciani (2011) em sua

dissertaccedilatildeo tratou de estudar a presenccedila de alunos oriundos do Paraguai nas

escolas de Ponta Poratilde Ao entrevistar uma professora cujos pais satildeo paraguaios

mas ela fora registrada no Brasil relata sua experiecircncia na escola

Eu sofri hien ixi Me chamavam de paraguaia Falavam que eu era uma iacutendia que natildeo sabia falar o portuguecircs e essas coisas tipo de deboche assim sabe que eacute ()(Entrevista concedida agrave CERLIANI 2011 p102)

Outra percepccedilatildeo da dificuldade de adaptaccedilatildeo do(a) aluno(a) paraguaio(a) em

escolas brasileiras agora na cidade de Santa Terezinha de Itaipu17 encontra-se na

pesquisa de Marli Schlosser e Margarete Frasson (2012) sobre a imigraccedilatildeo de

alunos da educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Baacutesica do Paraguai para escolas brasileiras da rede

municipal de ensino entre os anos de 2007 e 2011 Segundo as autoras a fronteira

pode se apresentar como um espaccedilo de vivecircncia e possibilidades que seria por

exemplo o aluno migrante aprender um novo idioma No entanto quando os novos

conhecimentos que este aluno tem que adquirir na escola natildeo eacute em sua liacutengua

materna o processo de travessia na fronteira torna-se doloroso para o mesmo

ldquoobrigando-o a fazer uso de atitudes de silenciamento ou seja ele passa a se

apresentar reservado e em bdquoinvisibilidade‟ retraiacutedo para natildeo ser visto pelo olhar

hegemocircnico da escolardquo (GENTILI 2004 apud SCHLOSSER E FRASSON 2012

p4)

As pesquisas realizadas em diferentes escolas de fronteira apontam para a

necessidade de discussotildees que passem pelo campo das poliacuteticas linguumliacutesticas e

educacionais para a diversidade Ataiacutede e Moraes (2003) discorrem sobre a

tendecircncia de homogeneizaccedilatildeo curricular que aliena a escola de seu contexto O

Brasil como um todo ldquoproduz um projeto pedagoacutegico exoacutegeno e xenoacutefobordquo (ATAIacuteDE

16

Aleacutem do portuguecircs satildeo faladas hoje mais de 222 liacutenguas no Brasil Dessas liacutenguas explica Maher

mais de 180 satildeo indiacutegenas cerca de 40 satildeo liacutenguas de imigraccedilatildeo e duas satildeo liacutenguas de sinais LIBRAS-a Liacutengua Brasileira de Sinais-e a Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira Aleacutem das liacutenguas africanas Assim o Brasil pode ser considerado como um paiacutes multiliacutenguumle (MAHER 2013 p117) 17

Cidade localizada na zona de fronteira entre Brasil e Paraguai

49

e MORAES 2003 p83) Jurjo Santomeacute (1995) fala sobre o silenciamento que existe

nos curriacuteculos nacionais referentes agraves minorias no ambiente escolar sendo que no

caso da presenccedila de estrangeiros nas escolas fronteiriccedilas ela natildeo eacute nem negada e

tampouco silenciada tecircm se a impressatildeo de sua inexistecircncia Albuquerque e Souza

(2014) utilizam a expressatildeo ldquotrincheiras culturaisrdquo para se referirem agraves escolas em

aacutereas de fronteiras que tem por funccedilatildeo ldquonacionalizar as crianccedilasrdquo e combater o

idioma estrangeiro (ALBUQUERQUE 2014 p02)

Embora a expressatildeo ldquonacionalizar as crianccedilasrdquo seja reducionista ao limitar a

funccedilatildeo da escola agrave nacionalizaccedilatildeo um fato ocorrido em 1999 na fronteira entre

Brasil e Uruguai na cidade de Rivera natildeo tira em alguma medida este caraacuteter

ldquonacionalizadorrdquo o qual o Estado busca desempenhar atraveacutes da escola Trata-se de

uma reportagem publicada nos dois principais jornais da capital uruguaia

Montevideacuteu em que o ministro da educaccedilatildeo do paiacutes demonstrou sua indignaccedilatildeo

pelo fato do idioma portuguecircs ter invadido as escolas do Uruguai localizadas em

regiotildees de fronteira senti verguenza del estado de nuestras escuelas () Hasta

queacute punto el idioma portuguecircs habiacutea penetrado em nuestro paiacutes (Jornal El Paiacutes

1999 p6 apud SAacuteNCHEZ 2002p 115) A posiccedilatildeo do Conselho Diretivo Central de

Ensino natildeo foi muito diferente do ministro

por la expasiacuteon del idioma portugueacutes y el portunhol em aacutereas fronterizas y las acertadas medidas que adoptaraacute-fortalecimiento de la ensentildeanza del espanotildel formaacuteciacuteon de docentes de esa a signatura y maacutes centros educativosrdquo (Jornal El Observador 1999 p10 apud SAacuteNCHEZ 2002 p116)

A escola apresenta-se neste contexto enquanto reguladora seja de valores

culturas memoacuterias identidades a partir de padrotildees universalistas construiacutedos sem

um diaacutelogo com a alteridade (ARROYO 2007 p119) Uma possiacutevel tentativa de

transformar estas questotildees em estudo nas regiotildees fronteiriccedilas eacute o Programa das

Escolas Interculturais de Fronteira (PEIF) que conforme o documento oficial do

programa busca discutir a ldquoidentidade regional biliacutengue e intercultural no marco de

uma cultura de paz e cooperaccedilatildeo interfronteiriccedilardquo (ARGENTINABRASIL 2007 p 2)

Esta proposta seraacute analisada no proacuteximo capiacutetulo

Este capiacutetulo teve como objetivo traccedilar algumas perspectivas possiacuteveis de

abordar o tema de fronteira a comeccedilar com a etimologia da palavra utilizada pela

primeira vez no seacuteculo XIII como separaccedilatildeo entre Estados Hoje a fronteira eacute

estudada a partir de diferentes dimensotildees social simboacutelica cultural etc Desse

50

modo rompemos com a ideia de fronteira apenas como o limite entre estados e com

a tendecircncia de se cristalizaccedilatildeo da mesma pois eacute fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica

Outro aspecto levantado foi o papel da educaccedilatildeo escolar na construccedilatildeo do

imaginaacuterio e do sentimento de pertenccedila agrave naccedilatildeo (ANDERSON 1993) O Estado

utilizou as escolas para propagaccedilatildeo dos ideais nacionais na cidade de Foz do

Iguaccedilu com o objetivo de demarcar e proteger o territoacuterio dos paiacuteses vizinhos dos

imigrantes e seus descendentes

Na relaccedilatildeo entre fronteira e poliacuteticas puacuteblicas a bibliografia levantada sobre

estudos sobre fronteira e relaccedilotildees trabalhistas fronteira e o Sistema Uacutenico de Sauacutede

e das escolas em regiatildeo de fronteira demonstraram que os paiacuteses convivem como

naccedilotildees diferentes entre si embora os problemas que o afetem extrapolam a questatildeo

nacional de cada paiacutes A fronteira eacute um lugar o Estado se faz presente eacute notaacutevel

pelo processo de securitizaccedilatildeo da fronteira brasileira mas eacute tambeacutem o lugar onde o

Estado-naccedilatildeo se enfraquece dada a fluidez dos agrupamentos humanos

(MACHADO 2010)

CAPIacuteTULO II A HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO EM FOZ DO IGUACcedilU CONSTRUTOS

E CONTRADICcedilOtildeES PARA A CONSOLIDACcedilAtildeO DO ESTADO-NACcedilAtildeO

51

Este capiacutetulo tem como objetivo principal apresentar o processo pelo qual a

educaccedilatildeo na cidade de Foz do Iguaccedilu se desenvolveu com a finalidade de

demonstrar que neste trajeto a escola foi um dos principais instrumentos do

Estado junto com a militarizaccedilatildeo da fronteira para bdquonacionalizar‟ e proteger o

territoacuterio brasileiro Para isto primeiramente apresentamos o contexto ao qual a

cidade de Foz do Iguaccedilu foi fundada destacando que o territoacuterio desde a fundaccedilatildeo

da Colocircnia Militar em 1889 contava com a presenccedila de estrangeiros

Ao mesmo tempo abordamos a trajetoacuteria da formaccedilatildeo das escolas em Foz do

Iguaccedilu a partir da histoacuteria da educaccedilatildeo do Paranaacute O capiacutetulo destaca os principais

fatos histoacutericos que ocorreu no Estado paranaense e na regiatildeo Oeste do Paranaacute que

marcaram a criaccedilatildeo das escolas Destaca-se aqui os anos de 1930-1945 periacuteodo

em que ocorreu a Marcha para o Oeste e a fundaccedilatildeo do Territoacuterio Federal do

Iguaccedilu que estimulou o desenvolvimento do Oeste do Paranaacute e com isto a criaccedilatildeo

de escolas ao mesmo tempo em que a poliacutetica nacionalista do governo varguista

aplicou uma poliacutetica de vigilacircncia sobre as escolas dos imigrantes ou mesmo o seu

fechamento Delineamos ainda os principais aspectos educacionais a partir dos

anos de 1990 ateacute os dias atuais para destacar os resquiacutecios e as transformaccedilotildees da

educaccedilatildeo na cidade de fronteira ao longo deste periacuteodo

21 Contexto histoacuterico

A regiatildeo da chamada triacuteplice fronteira eacute composta pela Argentina Brasil e

Paraguai com suas respectivas cidades Puerto Iguazuacute Foz do Iguaccedilu e Ciudad del

Este como pode ser observado no mapa abaixo

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Imagem VI- Mapa da regiatildeo da Triacuteplice Fronteira- Argentina Brasil e Paraguai Fonte httpgeouel2009blogspotcombr201207triplice-fronteira-apontamentoshtml

A presenccedila de imigrantes europeus na regiatildeo onde hoje eacute a cidade de Foz do

Iguaccedilu data do ano de 1542 com os relatos da chegada de Aacutelvaro Nunes Cabeza

de Vaca agraves cataratas Este relato faz parte da histoacuteria de construccedilatildeo da cidade

brasileira e se funde agrave histoacuteria das cataratas do Iguaccedilu - uma das sete maravilhas da

natureza Foz do Iguaccedilu tem como marco fundador a criaccedilatildeo da colocircnia militar em

1889 e a data de 1930 como iniacutecio de seu processo modernizador (SOUZA 2009)

Portanto eacute a partir da fundaccedilatildeo da colocircnia militar que buscamos conhecer o

processo de formaccedilatildeo das primeiras escolas da regiatildeo oeste paranaense e

portanto de Foz do Iguaccedilu

Compreender o processo de desenvolvimento da cidade de Foz do Iguaccedilu

bem como o de suas instituiccedilotildees de ensino implica na contextualizaccedilatildeo dos

acontecimentos e transformaccedilotildees no Brasil e tambeacutem das mudanccedilas ocorridas

nesta regiatildeo fronteiriccedila

A educaccedilatildeo brasileira do seacuteculo XIX foi reflexo das transformaccedilotildees no acircmbito

da produccedilatildeo da vida social ocorridas no Brasil poacutes-independecircncia No Paranaacute as

atividades econocircmicas tinham como base as fazendas de gado A criaccedilatildeo de gado e

o comeacutercio foram fundamentais para a o povoamento do territoacuterio nesse periacuteodo

Segundo Maria Ceciacutelia Oliveira (1986) com o crescimento das lavouras de

cafeacute em Satildeo Paulo o comeacutercio interno de escravos cresceu significativamente Do

mesmo modo no Paranaacute que por volta de 1865 viu o nuacutemero de escravos

diminuiacuterem significativamente na Proviacutencia A falta de matildeo-de-obra refletiu na

agricultura paranaense direcionada para o abastecimento de gecircneros alimentiacutecios

53

Para solucionar a falta de matildeo-de-obra o governo provincial ldquoque jaacute vinha

promovendo a imigraccedilatildeo de grupos de estrangeiros intensificou a poliacutetica

imigratoacuteria objetivando a atender o problema da matildeo-de-obra na produccedilatildeo agriacutecolardquo

(OLIVEIRA 1986 p34) A mesma autora aponta que a Proviacutencia do Paranaacute criou

escolas em diversas colocircnias estrangeiras situadas proacuteximas dos nuacutecleos urbanos

sobretudo de Curitiba Ao mesmo tempo os imigrantes criaram suas proacuteprias

escolas para manutenccedilatildeo da cultura de seus respectivos paiacuteses de origem

As escolas e o conjunto de sua estrutura eram precaacuterios ldquofaltava preacutedio

escolares ausecircncia e deficiecircncia de professores baixa frequumlecircncia escolar aleacutem dos

parcos recursos disponiacuteveisrdquo (OLIVEIRA 1986 p35) No Brasil como um todo

seguia sem diretrizes que pudessem organizar melhor o ensino no paiacutes

A ausecircncia de um plano definido de educaccedilatildeo que atendesse agraves necessidades brasileiras pode ser verificada pelas inuacutemeras reformas e projetos apresentados na Corte que marcam o Segundo Impeacuterio e influiacuteram na organizaccedilatildeo do ensino Entre eles podem ser

destacados (OLIVEIRA 1986 p35)

No Paranaacute apoacutes sua emancipaccedilatildeo em 1853 a instruccedilatildeo puacuteblica encontrava-

se em condiccedilotildees de precariedade e natildeo atingia toda a populaccedilatildeo Trindade (2001)

aponta que em meio a uma populaccedilatildeo de 620000 habitantes haviam apenas 615

alunos nos cursos de primeiras letras ldquoo ensino secundaacuterio era praticamente

inexistente e o pouco que havia em Curitiba buscava atender agrave demanda local e do

interior da Proviacutenciardquo (TRINDADE 2001 p 61)

21 Colocircnia Militar de Foz do Iguaccedilu e as primeiras escolas da regiatildeo

A colocircnia militar que marcou o iniacutecio da atuaccedilatildeo do Estado na regiatildeo de Foz do

Iguaccedilu foi criada a partir da lei imperial nordm 601 de 18 de setembro de 1850

regulamentada pelo decreto nordm 1318 de 30 de janeiro de 1854 que determinava o

registro das terras no territoacuterio brasileiro Desse modo o entatildeo presidente da

Proviacutencia do Paranaacute recebeu em 1854 o pedido para implementaccedilatildeo da colocircnia

militar e junto ao pedido seguiam as atividades a ser desenvolvidas pela colocircnia

1ordm Conceder o governo terras e fazer o sacrifiacutecio pecuniaacuterio annual

de 30 contos por certo numero de annos para pagar os juros de capital que se tomasse emprestado e se houvesse de applicar as

54

despezas de viagem e sustento de 500-600 familias 2ordm Estar a

direcccedilatildeo agrave cargo de pessoas responsaacuteveis pelo capital sob a

vigilacircncia o governo 3ordm Serem os lotes de terras divididos e vendidos

conforme hum preccedilo determinado destinando-se o producto a

construccedilatildeo de igrejas escolas etc etc 4ordm Incumbir a direcccedilatildeo a

procura de colonos e fornecimento de casas sementes animaes

viveres roupa bom mercado ao seus productos ampc 5ordm Cultivarem

as colocircnias de serra-acima cereais crearem animaes fazerem manteiga e queijo ao passo que as de serra-abaixo devem entregar-

se aacute cultura de generos coloneaes 6ordm Fazer o governo com as

despezas com padres e mestres de escola (RIIT 2011 p51 apud VASCONCELOS 1854 p 56)

Desse modo a ocupaccedilatildeo da regiatildeo por parte do Brasil foi consolidada no ano

de 1889 com a colocircnia militar O objetivo consistia em proteger o territoacuterio brasileiro

principalmente apoacutes a Guerra da Triacuteplice Alianccedila18 (1864-1870) Segundo Valdir

Gregory (2012) as intencionalidades em estabelecer um posto militar avanccedilado eacute

apenas uma justificativa que tinha ldquocomo pano de fundo a necessidade da

construccedilatildeo da nacionalidade () os sucessos na guerra motivaram a presenccedila fiacutesica

e ideoloacutegica na triacuteplice fronteirardquo (GREGORY 2012 p 50) Escreve Silveira Neto

(1939) em seus relatos de viagem que havia naquele periacuteodo de implementaccedilatildeo da

colocircnia militar 324 habitantes ldquosendo 188 paraguaios 33 argentinos 93 brasileiros

5 franceses 2 espanhoacuteis 1 inglecircs 2 orientais Destes 220 homens e 104 mulheresrdquo

(NETO 1939 p 52)

Estabelecida a colocircnia os militares se preocuparam com a necessidade da

instruccedilatildeo escolar Assim em 1895 foi criada uma escola informal que no iniacutecio

contou com vinte alunos matriculados

Em Foz do Iguaccedilu nuacutecleo pioneiro da ocupaccedilatildeo nacional regional desde os tempos da Colocircnia Militar existiu por parte dos militares e funcionaacuterios do fisco a preocupaccedilatildeo com a escolarizaccedilatildeo de seus filhos Esse segmento social resolveu o problema da instruccedilatildeo a partir de seu proacuteprio grupo social Essa instruccedilatildeo era quantitativamente muito restrita soacute para filhos de funcionaacuterios dos postos mais importantes na modalidade de Escola Particular Domiciliar (EMER 2012 p 37)

18 Na eacutepoca do Brasil imperial toda essa fronteira foi assegurada com a vitoacuteria da Guerra da Triacuteplice

Alianccedila (1865-1870) que derivou no aniquilamento de capacidade econocircmica e beacutelica paraguaia A vitoacuteria brasileira argentina e uruguaia impocircs ao Paraguai a assinatura do Tratado de Limites de 1872 que anexava ao territoacuterio brasileiro terras paraguaias agrave leste do Rio Paranaacute (ROSEIRA 2006 p 38)

55

Segundo o mesmo autor entre os anos de 1889 ateacute 1912 ano de extinccedilatildeo da

Colocircnia Militar as crianccedilas de famiacutelias brasileiras com boas condiccedilotildees financeiras

que natildeo eram filhas de funcionaacuterios do governo buscavam escolarizaccedilatildeo nos paiacuteses

vizinhos Para o autor a instruccedilatildeo particular domiciliar ficava restrita a filhos de

funcionaacuterios que ocupavam cargos importantes Durante o periacuteodo de vigecircncia da

Colocircnia Militar prevaleceu a modalidade de instruccedilatildeo sem instituiccedilatildeo Natildeo existiu

escola ou casa escolar em Foz do Iguaccedilu (EMER 1991 p 28)

Destacam-se os argentinos que nesse periacuteodo dominavam a regiatildeo pois as

companhias ervateiras e madeireiras eram daquele paiacutes ldquoSe a produccedilatildeo local era

estrangeira a moeda a liacutengua e os bens de primeira necessidade tambeacutem o eramrdquo

(ROSEIRA 2006 p41) No que se refere ao idioma o guarani e o espanhol eram

predominantes nesta regiatildeo Em relaccedilatildeo agrave moeda o dinheiro que circulava era o

peso argentino e as propriedades eram em sua maioria pertencentes agraves Obrages

(WACHOWICZ 1985 p 140 apud ROSEIRA 2006 p 51)

Segundo o historiador Ruy Wachowicz (2010) este processo de aproximaccedilatildeo

com a Argentina fez com que a regiatildeo oeste ficasse mais exposta agrave penetraccedilatildeo

argentina do que com o restante do Brasil (WACHOWICZ 2010 p 275) A

proximidade entre os dois paiacuteses fez com que o oeste paranaense fosse

culturalmente influenciado e economicamente dependente da Argentina Wachowicz

aponta que por volta de 1881 os argentinos comeccedilaram a exploraccedilatildeo da erva-mate

em Misiones e mais tarde no Brasil na regiatildeo oeste do Paranaacute

Otiacutellia Schimmelpfeng (1991) em seu livro ldquoRetrospectos iguaccedilusensesrdquo fala

acerca desta singularidade ldquoA moeda argentina circulava com domiacutenio absoluto na

praccedila Pouco ou nada se fala em ldquomil reacuteisrdquo naquele tempordquo (SCHIMMELPFENG

1991 p 28) O ldquopesordquo se introduzia ateacute nas reparticcedilotildees puacuteblicas Em entrevista ao

historiador Ruy Cristovatildeo Wachowicz Otiacutellia eacute mais detalhista sobre a influecircncia

argentina

Eu sentia aqui como se natildeo tivesse no Brasil Me sentia aqui isolada parecia que eu estava em outro paiacutes ateacute Porque todos os haacutebitos a liacutengua falada aqui era mais que predominava era o espanhol o castelhano como se dizia Parece que as pessoas quando vinham pra caacute no Brasil se achavam na obrigaccedilatildeo de aprender o castelhano pra ser entendido Parecia E todo mundo se interessava em falar o castelhano porque a convivecircncia aqui era muito maior com os argentinos Paraguai natildeo tanto porque noacutes natildeo tiacutenhamos Paraguai nessa regiatildeo aqui natildeo era muito habitada Mas tinha o Porto Aguirre que hoje eacute Porto Iguaccedilu que jaacute era um porto de grande movimento de turismo jaacute jaacute tava sendo legalizado entatildeo jaacute tinha mais

56

desenvolvimento e mais recurso tambeacutem pra atender Foz do Iguaccedilu entatildeo noacutes tiacutenhamos mais contacto com os argentinos [] Entatildeo a gente tinha aqui um contacto mesmo constante com os argentinos E se falava soacute quase o castelhano a moeda era soacute o peso argentino (SCHIMMELPFENG 1980 apud SBARDELOTTO 2009 p 91)

O contato de Foz de Iguaccedilu era muito mais intenso com os paiacuteses fronteiriccedilos

do que com o restante do paiacutes Sbardelotto (2008) explica que havia tambeacutem um

grande nuacutemero de paraguaios que adentravam no Oeste do Paranaacute para trabalhar

nas empresas de erva-mate e posteriormente de madeira Contudo a presenccedila

argentina se destaca uma vez que eram o grupo que ldquodetinham os meios de

produzir e comercializar a principal atividade produtiva da regiatildeo e que atraveacutes

deste controle econocircmico determinavam os costumes a cultura e tambeacutem a

educaccedilatildeo neste territoacuteriordquo (SBARDELOTTO 2008 p5)

Dessas companhias madeireiras que se estabeleceram na regiatildeo muitas

faziam parte do modelo de exploraccedilatildeo denominado de Obrage ldquoO obragero era o

proprietaacuterio desse tipo de latifuacutendio () o obragero argentino explorava a erva-mate

e a madeira em torosrdquo (WACHOWICZ 2010 p 276) Em poucas deacutecadas a regiatildeo

que compreende a costa paranaense foi ocupada por inuacutemeras obrages e

consequentemente povoada em sua maioria por paraguaios argentinos e guaranis

modernos19 que trabalhavam como mensus20 Em 1930 a populaccedilatildeo estimada nas

obrages passava dos 10000 habitantes em sua maioria estrangeira

Naquele contexto a intensidade das relaccedilotildees fez com que a Argentina se

tornasse o principal prestador de serviccedilos agrave cidade de Foz do Iguaccedilu Segundo

Sbardelotto (2009) muitas crianccedilas eram escolarizadas no sistema argentino

absorvendo a liacutengua a histoacuteria e os costumes do paiacutes vizinho (SBARDELOTTO

2009 p 92)

Durante o periacuteodo em que seguia o desenvolvimento da Colocircnia Militar os

ldquopioneirosrdquo responsaacuteveis por sua construccedilatildeo diante da ausecircncia de um sistema de

ensino institucionalizado passaram a organizar e estruturar uma educaccedilatildeo natildeo-

formal

Em Foz do Iguaccedilu nuacutecleo pioneiro da ocupaccedilatildeo nacional regional desde os tempos da Colocircnia Militar existiu por parte dos militares e

19

Termo empregado aos indiacutegenas guaranis miscigenados do Paraguai (PRIORI A et al 2012p79) 20 A expressatildeo vem do espanhol da palavra bdquomensual‟ ou seja mensalista (GREGORY 2002 p 89 apud PRIORI A et al 2012p79)

57

funcionaacuterios do fisco a preocupaccedilatildeo com a escolarizaccedilatildeo de seus filhos Esse segmento social resolveu o problema da instruccedilatildeo a partir de seu proacuteprio grupo social Essa instruccedilatildeo era quantitativamente muito restrita soacute para filhos de funcionaacuterios dos postos mais importantes na modalidade de Escola Particular Domiciliar (EMER 2012 p37)

No ano de 1910 a Colocircnia Militar passou a ser distrito de Guarapuava e

denominada de Vila do Iguassuacute Em 1912 o Ministeacuterio da Guerra emancipou a

colocircnia que passou a ser administrada pelos civis sob o governo do Estado do

Paranaacute Em 1914 com a lei nordm 1383 foi criada a municipalidade de Vila do Iguassuacute e

em 1918 o nome Foz do Iguaccedilu foi adotado como oficial Conforme Lima (2001) no

periacuteodo compreendido entre 1914 a 1930 aleacutem do estabelecimento das primeiras

famiacutelias brasileiras argentinas e paraguaias houve a colonizaccedilatildeo por parte dos

imigrantes descendentes de alematildees poloneses e italianos (LIMA 2001 p 31)

De acordo com Emer (1991) a partir de 1914 o governo do Estado do

Paranaacute instituiu um novo modelo de escola o Grupo Escolar Estes grupos

escolares dirigiam-se ao ensino de quatro seacuteries com conteuacutedos progressivos Estas

escolas estavam localizadas nos principais centros urbanos e nas regiotildees mais

afastadas do centro seguiam sem escolas ou com muita precariedade de escolas

Os grupos de migrantes na ausecircncia de escolas construiacuteam as suas proacuteprias

A falta de escolas no Paranaacute fazia sentir-se especialmente fora dos nuacutecleos coloniais dos imigrantes que ao contraacuterio dos demais nuacutecleos populacionais natildeo esperavam pela iniciativa do governo mas construiacuteam suas proacuteprias escolas e providenciavam o professor Quando muito solicitavam algum tipo de subvenccedilatildeo do governo estadual A escola dos imigrantes natildeo se desenvolveu mais porque o Estado desde 1901 apenas subvencionava os professores que ensinassem em liacutengua portuguesa Esse natildeo era o interesse dos imigrantes Pretendiam repassar agraves novas geraccedilotildees sua noccedilatildeo de nacionalidade de origem que incluiacutea a liacutengua a religiatildeo e os costumes Se o ensino fosse apenas na liacutengua portuguesa os colonos retiravam seus filhos e organizavam uma nova escola particular Em diversas localidades a escola puacuteblica foi desativada e removido o professor por absoluta falta de alunos (EMER 1991 p 207)

Emer destaca as modalidades de ensino que foram criadas neste periacuteodo

tanto no acircmbito formal quanto na esfera institucionalizada satildeo elas (1) Instruccedilatildeo

sem instituiccedilatildeo - ldquoSimplesmente algumas crianccedilas reuniam-se ao redor da mesa de

refeiccedilotildees de uma residecircncia para aprender ler escrever e calcular - curriacuteculo e

58

objetivos educacionais estabelecidos pelos paisrdquo (referecircncia) - que consistia em que

a educaccedilatildeo era dada pelo grupo social sem nenhuma institucionalizaccedilatildeo (2) casa

escolar - construiacuteda e mantida pelos pioneiros - ldquo() do professor era exigida uma

melhor qualificaccedilatildeo isto eacute deveria ensinar mais que na escolarizaccedilatildeo Domiciliar a

Casa Escolar deveria funcionar tecnicamente bemrdquo (EMER 2012 p 36) (3) casa

escolar puacuteblica criada e regulamentada pelo Municiacutepio- ldquoComo uma escola oficial

os alunos das Casas Escolares Puacuteblicas eram submetidos aos exames puacuteblicos

elaborados pelos oacutergatildeos educacionais puacuteblicos para comprovaccedilatildeo da escolaridaderdquo

Neste modelo ficava a cargo do governo contratar e remunerar o professor

cabendo a este alugar uma sala ou casa e formar o grupo de aluno de primeiras

letras Por uacuteltimo o Grupo Escolar Puacuteblico (4) ndash que se diferencia das demais

modalidades por ter sido construiacuteda em nuacutecleos de povoamento mais desenvolvidos

e pela forma de funcionamento Nas modalidades anteriores o objetivo era aprender

a ler escrever e calcular Posteriormente com a oficializaccedilatildeo da casa escolar a

comprovaccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo passou a ser feita por meio de avaliaccedilotildees No grupo

escolar a preocupaccedilatildeo era de bdquoaprovar‟ o aluno para a seacuterie seguinte ldquonum processo

gradual de comprovaccedilatildeo de conhecimentos dos conteuacutedos definidos pelo ldquosistemardquo

educacional como requisito de cada seacuterie (EMER 2012 p 36)

A partir da fundaccedilatildeo da municipalidade em 1914 a populaccedilatildeo passou a

reivindicar um modelo de educaccedilatildeo subsidiado pelo poder puacuteblico Naquele

momento Foz do Iguaccedilu desenvolvia planos para combater o contrabando da

fronteira o que demandou a contrataccedilatildeo de agentes fiscais Esse processo fez com

que o grupo de escolarizados que chegavam agrave cidade passassem a requerer

escolas para seus filhos aleacutem do fato do crescimento da populaccedilatildeo e por

consequecircncia o aumento de crianccedilas (EMER 2012 p 37)

Conforme Emer (1991) entre os anos de 1915 e 1916 ldquoa Prefeitura Municipal

teria construiacutedo e mantido uma casa escolar puacuteblica embora precaacuteria e insuficienterdquo

(EMER 1991 apud Sbardelotto 2009 p 96) Wachowicz afirma que a necessidade

da criaccedilatildeo de escolas por parte da populaccedilatildeo soacute surgiu quando a populaccedilatildeo

urbana cresceu significativamente organizando assim a vida social (WACHOWICZ

1984 p 19) Apesar da iniciativa de dar acesso ao ensino puacuteblico de forma gratuita

a todos Sbardelotto aponta que apenas a populaccedilatildeo masculina foi contemplada

aleacutem do caraacuteter eminentemente elitista uma vez que os filhos de trabalhadores por

terem que optar pela subsistecircncia da famiacutelia abandonavam as escolas

59

Outros fatores contribuiacuteram para o desenvolvimento da educaccedilatildeo em Foz do

Iguaccedilu dentre eles a presenccedila da Igreja Catoacutelica Anterior a fundaccedilatildeo do

municiacutepio em decorrecircncia da localizaccedilatildeo e da dificuldade de deslocamento a

populaccedilatildeo da cidade soacute recebia assistecircncia religiosa uma vez por ano Isso

perdurou ateacute 1918 quando a Igreja optou em criar uma Paroacutequia na cidade desde

que contasse com a ajuda do governo Nesse sentido o acordo entre Igreja e

governo do Estado foi firmado com a condiccedilatildeo de que a Igreja construiacutesse e

dirigisse um grupo escolar

Em 1923 foi instalada a paroacutequia e nomeado o primeiro vigaacuterio um sacerdote alematildeo da Congregaccedilatildeo do Verbo Divino Padre Guilherme Maria Tilecks Para cumprimento do acordo com o Estado mesmo antes da construccedilatildeo do Grupo Escolar o Padre Guilherme passou a lecionar na Casa Escolar Para o desempenho de suas atividades recebeu a ajuda de outros dois padres e de um irmatildeo de sua congregaccedilatildeo (Padre Joatildeo Progzeba Padre Paulo Schneider e Irmatildeo Bianchi) (EMER 2012 p 38)

Por meio do Decreto nordm 1326 do dia 27 de agosto de 1928 surge o Grupo

Escolar Caetano Munhoz da Rocha que posteriormente passou a ser chamado de

Grupo Bartolomeu Mitre primeiro grupo escolar da mesorregiatildeo Oeste do Paranaacute

Em 1930 o grupo escolar passou a ser administrado pelo governo do Paranaacute sob a

direccedilatildeo de professores nomeados pelo Estado Segundo o Plano Municipal de

Educaccedilatildeo (PME) de 2015 ldquoa funccedilatildeo da escola no municiacutepio na eacutepoca era a de

cooperar com a nacionalizaccedilatildeo de um espaccedilo que era submetido por argentinos e

paraguaiosrdquo (PME 2015 p 4) Desse modo a criaccedilatildeo da escola passa a ser

reconhecido pelo Estado como instrumento necessaacuterio para a nacionalizaccedilatildeo da

triacuteplice fronteira O plano municipal utiliza a palavra bdquosubmetido‟ indicando que

naquele periacuteodo havia certa preocupaccedilatildeo com a presenccedila e influecircncia dos paiacuteses

fronteiriccedilos como uma ameaccedila ao territoacuterio e a necessidade de construccedilatildeo da

naccedilatildeo

60

Imagem V- Grupo Escolar Bartolomeu Mitre Fonte Site da Secretaria Estadual do Paranaacute

httpwwwfozbartolomeumitreseedprgovbrmodulesconteudoconteudophpconteudo=9

O fato de o Brasil homenagear um general argentino ao nomear uma escola

em seu nome levou Emer a questionar os motivos que levariam o Estado brasileiro a

tomar essa atitude ou se ela foi apenas uma homenagem despretensiosa ao general

argentino Os interesses do Brasil naquele periacuteodo era dar seguimento agrave poliacutetica

integracionista do territoacuterio com uma campanha nacionalista e o Grupo Escolar Mitre

eacute o marco da institucionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo no oeste paranaense Por isso as

motivaccedilotildees natildeo ficaram tatildeo claras (SBARDELOTTO 2007)

A partir da deacutecada de 1930 a cidade de Foz do Iguaccedilu passou a receber

imigrantes descendentes de italianos e alematildees aleacutem de inuacutemeros agricultores do

Rio Grande do Sul Neste mesmo periacuteodo o governo do Estado do Paranaacute fez

algumas reformas educacionais de teor nacionalista conivente com as mudanccedilas do

governo como aponta o Plano Municipal de Educaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu (2015)

Algumas mudanccedilas comeccedilam acontecer na educaccedilatildeo do paiacutes Uma delas eacute a manifestaccedilatildeo do Estado entre os anos de 1917 e 1919 o governo federal delibera verba para as escolas que ensinavam em liacutengua portuguesa e as escolas de imigrantes que ensinavam em outra liacutengua eram vigiadas e fechadas (PME 2015 p 5)

Durante o Estado Novo essas escolas passaram a ser alvo do governo

principalmente apoacutes a Marcha para o Oeste ldquoque defendia a ocupaccedilatildeo efetiva e a

nacionalizaccedilatildeo das fronteiras nacionais brasileiras de Norte a Sul do paiacutesrdquo (PRIORI

et al 2012 p 65) O projeto explica Priori (etal 2012) buscava despertar o

sentimento de nacionalidade e brasilidade na populaccedilatildeo que vivia na fronteira

No caso da fronteira de Foz do Iguaccedilu despertar na populaccedilatildeo esse

sentimento de nacionalidade era combater agrave ameaccedila que paraguaios argentinos e

61

os descendentes de alematildees italianos poloneses dentre outros imigrantes que se

fixaram na regiatildeo representavam ao projeto de integraccedilatildeo nacional do governo

22 O projeto nacionalista do Estado Novo e a lsquonacionalizaccedilatildeo da fronteirarsquo

A ldquoMarcha para o Oesterdquo foi um importante processo que contribuiu para o

projeto de nacionalizaccedilatildeo da fronteira Segundo Lenharo (1986 apud Lopes 2004)

o discurso de Vargas justificava a ldquoMarcha para o Oesterdquo pautando-se na conquista

da brasilidade que se daria por meio da interiorizaccedilatildeo do paiacutes ldquoPara ele a

construccedilatildeo da ldquoMarcha para Oesterdquo lembra a imagem da naccedilatildeo em movimento agrave

procura de si mesma de sua integraccedilatildeo e acabamentordquo (LENHARO 1986 p56

apud LOPES 2004 p 4)

Como uma das consequumlecircncias da ldquoMarcha para o Oesterdquo foram criados os

territoacuterios federais ldquonas regiotildees do Amapaacute Guaporeacute (atual Rondocircnia) Rio Branco

(atual Roraima) Iguaccedilu e Ponta Poratilde no Estado de Mato Grosso do Sulrdquo (PRIORI et

al 2012p66) Por meio do Decreto-Lei nordm 58124 no ano de 1943 o Territoacuterio

Federal do Iguaccedilu foi criado abrangendo o Oeste e Sudoeste do Paranaacute e Oeste de

Santa Catarina

Segundo Seacutergio Lopes (2004) dentro do espiacuterito de nacionalizaccedilatildeo o

Territoacuterio Federal do Iguaccedilu deveria atender urgentemente o estabelecimento de

condiccedilotildees miacutenimas para organizaccedilatildeo econocircmica social e de seguranccedila das regiotildees

fronteiriccedilas e dos sertotildees Desse modo a criaccedilatildeo do territoacuterio pode ser entendida

como um ato de ocupaccedilatildeo definitiva da faixa de fronteira ldquopara assim romper o

isolamento e afastar definitivamente o perigo estrangeiro para a soberania nacional

que rondava a regiatildeordquo (LOPES 2004 p16)

O primeiro governador a administraacute-lo o Major Joatildeo Garcez do Nascimento

em relatoacuterio enviado ao Ministro da Justiccedila e Negoacutecios Anteriores fez inuacutemeras

consideraccedilotildees sobre a situaccedilatildeo do transporte comeacutercio sauacutede seguranccedila e

educaccedilatildeo na regiatildeo que abrangia o Territoacuterio Federal do Iguaccedilu No aspecto

educacional ele aponta

Haacute no Territoacuterio regular nuacutemero de escolas primaacuterias Satildeo elas

em nuacutemero de setenta Aleacutem disso contam‐se quatro grupos escolares sediados em Pato Branco Clevelacircndia Foz do Iguassuacute e Guaiacutera Quanto ao nuacutemero de escolas pode-se afirmar que atende

62

ainda as necessidades locais quanto as suas instalaccedilotildees poreacutem haacute muito o que providenciar A maioria delas funciona em preacutedios improacuteprios outras em simples salas cedidas a tiacutetulo precaacuterio e por empreacutestimo Em sua maioria natildeo atende aos rudimentares princiacutepios de higiene e didaacutetica O professorado salvo honrosas exceccedilotildees constitui-se de pessoas bem intencionadas e dedicadas mas de niacutevel cultural bastante abaixo do que seria estimaacutevel (RELATOacuteRIO DE 1944 apud LEMIECHEK 2014 p 06)

A criaccedilatildeo do Territoacuterio Federal do Iguaccedilu fez com que o processo de

urbanizaccedilatildeo crescesse e com ele a demanda por qualidade nos serviccedilos puacuteblicos

como a escola Enquanto as escolas natildeo eram ampliadas a classe mais favorecida

economicamente assegurava o acesso agrave educaccedilatildeo para seus filhos por meio da

contrataccedilatildeo de professores que se ldquodeslocavam ateacute as moradias em casas

escolares ou nuacutecleos urbanos mais distantes como Guarapuava Curitiba Posadas

Corrientes etcrdquo (PME 2015 p9) Para as classes menos favorecidas como aqueles

que viviam em Foz do Iguaccedilu e trabalhavam nas obrages e no cultivo da terra havia

acesso ao ensino aleacutem delas viverem em situaccedilotildees insalubres sem acesso a

higiene alimentaccedilatildeo e sauacutede

A partir desse periacuteodo escolas como as construiacutedas por estrangeiros eram

fechadas caso natildeo se adaptassem agraves poliacuteticas nacionais Era necessaacuterio que essa

populaccedilatildeo na regiatildeo se identificasse com o Brasil enquanto uma paacutetria para

constituiccedilatildeo de um Estado-Naccedilatildeo forte Segundo Helena Bomeny (1999) natildeo havia

no projeto do governo intenccedilotildees para inclusatildeo e aceitaccedilatildeo de convivecircncia com os

grupos culturais estrangeiros nas regiotildees de colonizaccedilatildeo

Em relatoacuterio sobre a nacionalizaccedilatildeo do ensino datado de 1940 o Instituto

Nacional de Estudos e Pedagoacutegicos (INEP) sob a direccedilatildeo do educador Lourenccedilo

Filho ao analisar a trajetoacuteria dos imigrantes e sua fixaccedilatildeo no Brasil constatou com

base nos relatoacuterios e depoimentos de historiadores pensadores poliacuteticos e

escritores que desde o seacuteculo XIX a presenccedila de estrangeiros no paiacutes era fator de

preocupaccedilatildeo (BOMENY 1999) Segundo a mesma autora a precariedade da

educaccedilatildeo nos estados da regiatildeo sul do paiacutes em destaque o Rio Grande do Sul

levava os colonos a optarem pelos coleacutegios privados alematildees Segundo o relatoacuterio

do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Sauacutede essa opccedilatildeo pelas escolas estrangeiras era

compreensiacutevel sendo culpa do Estado por permitir a criaccedilatildeo destas instituiccedilotildees sem

a vinculaccedilatildeo com os centros nacionais de cultura

63

A escola natildeo eacute um oacutergatildeo abstrato mas um centro de coordenaccedilatildeo da proacutepria accedilatildeo educativa da comunidade Tendo-se cometido o erro de permitir o nucleamento de estrangeiros sem maior vinculaccedilatildeo ou disciplina aos centros nacionais de cultura as instituiccedilotildees educativas que aiacute deveriam surgir seriam as que ensinassem em liacutengua estrangeira (BOMENY 1999 p154 apud INEP 1999 p8)

A preocupaccedilatildeo com a nacionalizaccedilatildeo do ensino eacute anterior ao Estado Novo

Em Foz do Iguaccedilu a educaccedilatildeo escolar das crianccedilas estava presente desde o

periacuteodo de instalaccedilatildeo da Colocircnia Militar em 1889 Na ausecircncia de escolas muitas

crianccedilas frequumlentavam o sistema educacional da Argentina cuja influecircncia

preocupava o governo da eacutepoca Em 1906 Siacutelvio Romero alertava sobre as

ameaccedilas em haver diferentes nacionalidades no Brasil Como soluccedilatildeo ele propocircs

que se ldquoaproveitasse de modo extensivo o proletariado nacional como elemento

colonizador perto do estrangeiro para educar-se com ele no trabalho e em troca

contribuir para o seu abrasileiramentordquo (BOMENY 1999 p154)

Na conferecircncia interestadual de Ensino Primaacuterio de 1921 encontra-se a fala

de Milton C A Cruz que justifica a deficiecircncia do ensino devido aos inuacutemeros

nuacutecleos estrangeiros isolados ldquoO espiacuterito dessas crianccedilas brasileiras formado em

liacutengua nos costumes nas tradiccedilotildees dos paiacutes soacute poderia tender para a paacutetria de

origem constituindo um empecilho agrave coesatildeo nacionalrdquo (BOMENY 1999 p154 apud

INEP 1999 p8)

Por determinaccedilatildeo do Estado Novo a prefeitura de Foz do Iguaccedilu passou a

promover uma administraccedilatildeo que visasse agrave ocupaccedilatildeo do territoacuterio brasileiro

valorizaccedilatildeo da liacutengua oficial e das moedas nacionais (SPERANCcedilA 1992 apud

LOPES 2004 p 49) Teve ainda que despachar suas documentaccedilotildees criar

anuacutencios comerciais listas de preccedilos ou avisos somente em liacutengua portuguesa

aleacutem da obrigatoriedade do uso da moeda brasileira Essas medidas foram tomadas

pois havia na regiatildeo grande influecircncia dos argentinos no lado brasileiro

Segundo Lopes (2004) a principal preocupaccedilatildeo do Estado Novo em relaccedilatildeo a

essa fronteira era a influecircncia Argentina Como outra medida de contenccedilatildeo dessa

influecircncia estrangeira o governo federal por meio do Decreto nordm 19842 de 1930

tornou obrigatoacuterio a contrataccedilatildeo de no miacutenimo dois terccedilos de trabalhadores nas

empresas estrangeiras presentes dentro do territoacuterio nacional

Diante das estrateacutegias que o Estado Novo desenvolveu para construir a ideacuteia

de naccedilatildeo a fronteira poliacutetica requeria a justificaccedilatildeo ideoloacutegica da comunidade

64

nacional Nessa premissa a escola enquanto instrumento de nacionalizar as

fronteiras foi fundamental

23 Da construccedilatildeo de Itaipu agrave lsquoondarsquo de migraccedilatildeo e imigraccedilatildeo seus

impactos na educaccedilatildeo

Com a queda de Getuacutelio Vargas em 1945 quando o paiacutes entrou por um

pequeno periacuteodo na fase de redemocratizaccedilatildeo os Territoacuterios do Iguaccedilu e Ponta

Poratilde foram extintos No campo da educaccedilatildeo a pedagoga Lucimara Lemiechek

aponta que vaacuterias foram agraves mudanccedilas em detrimento da promulgaccedilatildeo das Leis

Orgacircnicas e a ampliaccedilatildeo dos Cursos Normais (LEMIECHEK 2014 p 9) Nessa

mesma deacutecada em Foz do Iguaccedilu teve iniacutecio a primeira escola21 particular Jorge

Schimmelpfeng nas dependecircncias do primeiro Centro Espiacuterita fundado no

municiacutepio

Imagem VI - Escola Jorge Schimmelpfeng com crianccedilas carentes sob os cuidados do Capitatildeo Cyriacuteaco e de Joseacute Vicente Ferreira (os dois adultos agrave direta da foto rara)

Fonte Centro Espiacuterita Lidelfonso Correia

A deacutecada de 1950 e 1960 seguiu com um programa de escola de cunho

nacionalista e dualista em um periacuteodo marcado pelo programa desenvolvimentista

Cada vez mais os trabalhadores requeriam educaccedilatildeo diferenciada de um lado a

necessidade de matildeo de obra especializada e de outro a busca pelo status que a

educaccedilatildeo proporcionaria No ano de 1959 a Lei Municipal nordm 234 de 29 de outubro

de 1959 adota o programa de aboliccedilatildeo do analfabetismo

21

Vide imagem IV

65

Art 1ordm A Prefeitura de Foz do Iguaccedilu empreenderaacute uma campanha sistemaacutetica para aboliccedilatildeo do analfabetismo desde as crianccedilas de sete anos feitos aos adultos de qualquer idade (LEI 2341959) Art 2ordm Toda a crianccedila que completar sete anos de 1ordm de janeiro a 31 de dezembro deveraacute obrigatoriamente no comeccedilo do ano letivo imediato ser matriculada em escola puacuteblica ou particular cumprindo-lhes frequumlenta-la com assiduidade durante cinco anos na cidade e trecircs anos letivos nas zonas rurais (PME 2015 p 11)

Eacute nesse momento que chegam a Foz do Iguaccedilu as primeiras populaccedilotildees de

origem aacuterabe que saiacuteram de seus paiacuteses em decorrecircncia dos intensos conflitos

regionais e atraiacutedos pela oportunidade de explorar um mercado com grande

potencial de crescimento (RABOSSI 2007 p 292) Segundo Rabossi a primeira

cidade da Triacuteplice Fronteira em que eles se estabeleceram foi Foz do Iguaccedilu

principalmente na regiatildeo proacutexima da Ponte da Amizade inaugurada em 1965

passando a ligar a cidade brasileira a Ciudad del Este no Paraguai dando iniacutecio ao

comeacutercio na regiatildeo Em 1975 no contexto da Guerra do Liacutebano o comeacutercio dos

aacuterabes na fronteira estava consolidado fazendo com que atraiacutedos pelo comeacutercio e

fugindo da guerra outros grupos oriundos do Oriente Meacutedio imigrassem para a

regiatildeo da fronteiriccedila Segundo Silva (2008 p367) os uacuteltimos 30 anos recebeu um

grande nuacutemero de imigrantes de origem ldquoaacuterabe libaneses palestinos siacuterios

jordanianos bem como chineses coreanos e em nuacutemero bem menor hindus e

portugueses

A mesma autora aponta que duas escolas pertencem agrave comunidade aacuterabe

uma de ensino fundamental que ensina a liacutengua aacuterabe e a religiatildeo sunita vinculada

ao Centro Beneficente Islacircmico de Foz do Iguaccedilu uma organizaccedilatildeo cultural e

cientiacutefica A segunda escola Escola Aacuterabe Brasileira oferta ensino para o ensino

fundamental e meacutedio de acordo com as exigecircncias do Estado A especificidade

desta escola em relaccedilatildeo agraves demais do municiacutepio eacute a oferta do ensino da liacutengua

aacuterabe (SILVA 2008)

Na deacutecada de 1970 tambeacutem chegam a Foz do Iguaccedilu os primeiros imigrantes

chineses atraiacutedos pelo comeacutercio na regiatildeo Segundo Miao Shen Chen a regiatildeo da

triacuteplice fronteira abriga uma comunidade chinesa com aproximadamente quatro mil

indiviacuteduos Em Foz do Iguaccedilu haacute pelo menos mil chineses e descendentes Os

imigrantes tecircm agecircncias de turismo imobiliaacuterias construtoras especializadas em

atender os clientes orientais (CHEN 2010)

66

Apesar da implementaccedilatildeo da Lei Municipal nordm 234 de 1959 que estabelecia a

obrigatoriedade da educaccedilatildeo para aboliccedilatildeo do analfabetismo a escola seguia sendo

para poucos ao menos no que diz respeito agrave permanecircncia dos estudantes Os

alunos mais pobres abandonavam a escola muito cedo pois tinham que optar entre

estudar ou trabalhar para ajudar na subsistecircncia da famiacutelia (PME 2015 p 11)

Para Emer (1991) os colonos que aqui se encontravam diante da

precariedade das escolas mobilizaram-se para criar escolas para seus filhos

contribuindo para construccedilatildeo de inuacutemeros coleacutegios confessionais entre os anos de

1955 e 1965 (EMER 1991 p 125) Quanto agrave contrataccedilatildeo dos professores estes

deveriam ter o perfil que atendesse o grupo social

Destaca-se a criaccedilatildeo da primeira Escola Normal Colegial da regiatildeo Oeste do

Paranaacute a Escola Normal Iguaccedilu criada em 1957 em Foz do Iguaccedilu em um

contexto em que a populaccedilatildeo da cidade crescia e a demanda pelo ensino em

diversos niacuteveis aumentava havendo a necessidade de habilitar os professores para

o trabalho docente Ateacute o ano de 1957 Foz do Iguaccedilu contava com um Grupo

Escolar o Bartolomeu Mitre que atendia aproximadamente 400 crianccedilas uma Casa

Escolar com aproximadamente 80 alunos e cinco escolas rurais isoladas que

tinham capacidade para atender 250 alunos Foz do Iguaccedilu tinha capacidade para

atender aproximadamente 730 alunos no ensino primaacuterio o que era pouco diante da

crescente demanda sobretudo dos nuacutecleos urbanos e das aacutereas rurais aleacutem das

aacutereas distritais22

Ainda que tenha havido a criaccedilatildeo dos coleacutegios normais o relatoacuterio do plano

de desenvolvimento de Foz do Iguaccedilu de 1972 apontava que o corpo docente do

municiacutepio era constituiacutedo em sua maioria por professores sem habilitaccedilatildeo tanto

nas redes municipais e estaduais quanto nas privadas A justificativa para esta

qualificaccedilatildeo segundo o relatoacuterio estava no baixo niacutevel salarial que impedia os

qualificados de se dedicarem ao magisteacuterio Na zona rural a porcentagem era ainda

maior Cerca de 80 do pessoal natildeo qualificado atende ao ensino primaacuterio que

funcionava em 41 escolas isoladas e duas casas escolares Segundo o PDI

22 Dentre os distritos que ficavam sob a jurisdiccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu encontram-se Santa Terezinha

de Itaipu Itacoreacute Alvorada Medianeira dentre outros (SBARDELLOTO 2009 p 146)

67

O Estado que paga os melhores salaacuterios (Cr$ 41600) natildeo faz nomeaccedilotildees e a Prefeitura possuindo apenas 3 elementos em seu quadro efetivo percebendo Cr$ 28000 contrata os professores normalistas por apenas Cr$ 28000 e a professora leiga por 60 do salaacuterio miacutenimo (PDI 1972 p 114)

Quanto agrave estrutura do periacuteodo o relatoacuterio aponta que ateacute 1971 havia cinco

grupos escolares estaduais um privado uma casa escolar municipal e duas escolas

isoladas que segundo o relatoacuterio natildeo eram suficientes para atender a demanda

Quanto agrave estrutura o relatoacuterio aponta

Somente na Zona Urbana vamos encontrar preacutedios escolares de alvenaria com luz aacutegua encanada e instalaccedilotildees sanitaacuterias regulares Natildeo quer isto dizer que sejam instalaccedilotildees satisfatoacuterias pois deixam muito a desejar havendo falta de aacutegua e os miacutenimos requisitos agrave boa higiene dos escolares () Na zona rural os preacutedios satildeo todos de madeira sem as menores condiccedilotildees indispensaacuteveis agrave higiene escolar notando-se ausecircncia de atendimento sanitaacuterio e de sauacutede (PDI 1972 p 118)

No mesmo relatoacuterio o problema da evasatildeo eacute justificado com o argumento da

localizaccedilatildeo da cidade que por estar em uma regiatildeo de fronteira eacute caracterizada por

possuir uma populaccedilatildeo flutuante As escolas rurais por exemplo em periacuteodos de

colheita eram fechadas pois natildeo havia frequecircncia alguma uma vez que os alunos

estavam trabalhando nas lavouras Outro exemplo eacute a justificativa do baixo

rendimento escolar atribuiacutedo ao alto iacutendice de crianccedilas argentinas e paraguaias que

estudavam no lado brasileiro com a alegaccedilatildeo do problema do idioma que gerava

atraso em toda turma ldquoNo 1ordm ano o periacuteodo de preacute-alfabetizaccedilatildeo que normalmente

eacute feito em trecircs meses (no maacuteximo) chega a durar quase um anordquo (PDI 1972 p

125)

Este argumento que culpabiliza o aluno estrangeiro pelo atraso da turma natildeo

mudou muito Em pesquisa com professores da rede puacuteblica de Foz do Iguaccedilu

sobre a presenccedila de alunos brasiguaios nas escolas brasileiras citado no capiacutetulo

anterior Pires-Santos (2010) fala que alguns professores vecirc a presenccedila deste perfil

de aluno como um entrave um bdquocastigo‟ pois no seu entendimento seraacute difiacutecil

ensinaacute-los Outro destaque reside no fato de que estes relatoacuterios feitos em 1972

foram produzidos em nome do Estado que vivia sob o regime dos militares cuja

preocupaccedilatildeo com o estrangeiro no paiacutes se restringia nas questotildees de seguranccedila

nacional

68

No decorrer da deacutecada de 1970 a pauta da educaccedilatildeo segue em discussatildeo na

regiatildeo sobretudo com a reforma do ensino promulgada pela Lei 569271 Foz do

Iguaccedilu vivia nessa deacutecada os impactos da construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica de

Itaipu A cidade recebeu aproximadamente 40000 operaacuterios com suas respectivas

famiacutelias oriundas de vaacuterios estados do paiacutes para a construccedilatildeo da hidreleacutetrica O

aumento populacional gerado pela chegada dos trabalhadores na cidade fez com

que todas as obras de infraestrutura fossem feitas apressadamente dentre essas

os hospitais as moradias e escolas subsidiados pela Itaipu Um exemplo foi o

convecircnio entre a Prefeitura por meio da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo e

Cultura com a Itaipu que resultou na construccedilatildeo da escola Prof Parigot de Souza

no ano de 1975

() Fica o Chefe do Executivo Municipal autorizado a firmar convecircnio com a Empresa ITAIPU ndashBINACIONAL objetivando a aplicaccedilatildeo de recursos para pagamento de professores e demais servidores para o setor administrativo bem como da manutenccedilatildeo da nova unidade escolar preacute-fabricada construiacuteda na sede municipal onde seraacute instalada uma extensatildeo do Ginaacutesio Estadual bdquoDom Manoel Konnerrdquode Foz do Iguaccedilu‟

(Foz do Iguaccedilu Lei Municipal nordm 8821975 Art1ordm)

Com a construccedilatildeo da hidreleacutetrica o nuacutemero de escolas em Foz do Iguaccedilu

aumentou significativamente Na deacutecada de 1960 havia cerca de oito escolas

municipais na cidade na deacutecada de 1980 mais nove escolas e hoje segundo dados

da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo (2011) a cidade conta com 83 escolas

municipais e 82 estaduais 43 privadas e 04 filantroacutepicas

O periacuteodo que se estende da Colocircnia Militar de 1889 ateacute o fim da Era Vargas

(1930-1954) demonstrou que as raiacutezes pela qual as escolas foram criadas passou

pela construccedilatildeo de valores que satildeo constitutivos de uma ideal de naccedilatildeo Wachowicz

(1984) cita o ofiacutecio do general comandante da 5ordf Regiatildeo Militar em 1925 que

expressava a urgecircncia de se construir escolas nas zonas de fronteira haja vista que

a uacutenica soluccedilatildeo era enviar as crianccedilas para frequentar escola na Argentina O

incocircmodo do general se baseia na busca pelo estabelecimento de uma identidade

nacional ao Brasil pois a presenccedila de alunos brasileiros em escolas argentinas

representava um perigo A escola eacute um dos espaccedilos em que se bdquoimagina‟ se

constroacutei um identidade nacional ldquoNascida na ficccedilatildeo agrave identidade precisava de muita

coerccedilatildeo e convencimento para se consolidar e se concretizar numa realidaderdquo

(BAUMAN 2005 p 27)

69

Em siacutentese a escola natildeo eacute neutra mas perpassam tambeacutem outros interesses

que natildeo satildeo apenas os de ideais nacionalistas Ela eacute um espaccedilo marcado por

contradiccedilotildees Eacute o que o educador brasileiro Paulo Freire (1987) sugere ao natildeo

negar a influecircncia que determinado modo de se propor um modelo educativo pode

causar na sociedade Justamente por saber do potencial transformador da educaccedilatildeo

eacute que ele propunha um modelo para de educaccedilatildeo a partir da base da realidade na

qual o sujeito estaacute inserido

Em Foz do Iguaccedilu haacute a constataccedilatildeo de que o Estado esteve preocupado em

criar escolas a fim de bdquonacionalizar‟ a fronteira Braduel (2009) ao refletir acerca da

relaccedilatildeo entre Estado e territoacuterio e a ocupaccedilatildeo do espaccedilo afirma que ldquoEstados agem

como indiviacuteduos obstinando-se em delimitar seu domiciacutelio da mesma forma que

todo animal livre defende aquilo que ele considera ser o seu territoacuteriordquo (BRAUDEL

2009 p 262 apud Heinsfiel 2014 p 17)

Nessa perspectiva o Estado tem como foco a necessidade de delimitar seus

domiacutenios Domiacutenios estes que satildeo reforccedilados por instituiccedilotildees capazes de legitimar

essa loacutegica tais como as escolas Segundo Bourdieu (2008) um dos principais

poderes do Estado eacute impor categorias de pensamento categorias que noacutes

assumimos como naturais aparentemente espontacircneas mas que na verdade satildeo

impostas pelo Estado (BOURDIEU 2008 p 91)

24 A Educaccedilatildeo a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 O direito agrave diversidade nas

escolas

Com o processo de redemocratizaccedilatildeo e da nova Constituiccedilatildeo Federal

promulgada em 1988 houve um grande avanccedilo em termos de direitos civis No

caso da presenccedila de estrangeiros no paiacutes a Carta Magna assegura a todas as

pessoas brasileiras ou estrangeiras estando em situaccedilatildeo migratoacuteria regular ou

irregular o direito agrave educaccedilatildeo escolar Os princiacutepios escolares passaram a ter

como base a igualdade de condiccedilotildees para o acesso e permanecircncia nas escolas

da liberdade e do pluralismo de ideacuteias e concepccedilotildees pedagoacutegicas

Art 206 O ensino seraacute ministrado com base nos seguintes princiacutepios I - igualdade de condiccedilotildees para o acesso e permanecircncia na escola II - liberdade de aprender ensinar pesquisar e divulgar o pensamento a arte e o saber III - pluralismo de ideacuteias e de concepccedilotildees pedagoacutegicas e coexistecircncia de instituiccedilotildees puacuteblicas e

70

privadas de ensino IV - gratuidade do ensino puacuteblico em estabelecimentos oficiais (CF 1998)

Waldman (2012) destaca que a nova constituiccedilatildeo tem pela primeira vez o

princiacutepio da dignidade da pessoa humana como fundamental e afirmou como

objetivos fundamentais a ldquopromoccedilatildeo do bem para todos sem preconceitos de

origem raccedila sexo cor idade e quaisquer outras formas de discriminaccedilatildeordquo

(WALDMAN 2012 p63)

No campo das relaccedilotildees internacionais o Brasil se comprometeu pela

prevalecircncia dos direitos humanos pela cooperaccedilatildeo entre os povos e pela atenccedilatildeo

agrave integraccedilatildeo poliacutetica social e cultural da Ameacuterica Latina23 Estes pontos

apresentados satildeo importantes a serem considerados pois satildeo com base na CF

que a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional de 1996 seraacute elaborada e a

partir dela outros documentos importantes que toca agrave questatildeo da diversidade

eacutetnicas cultural e racial na educaccedilatildeo Alguns destes documentos satildeo o Curriacuteculo

da Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oeste do Paranaacute o Plano Estadual de Educaccedilatildeo

do Paranaacute e os Paracircmetros Curriculares Nacionais que seratildeo analisados no

proacuteximo capiacutetulo

23

Art 4ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes

princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos humanos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV - natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitosVIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismoIX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidadeX - concessatildeo de asilo poliacuteticoParaacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

71

CAPIacuteTULO III POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS PARA A EDUCACcedilAtildeO NA FRONTEIRA

ENTRE ARGENTINA BRASIL E PARAGUAI

31 Poliacuteticas Puacuteblicas conceitos e abordagens

O campo de estudos de poliacuteticas puacuteblicas avanccedilou nos uacuteltimos sessenta

anos tendo conformado uma literatura instrumental analiacutetica que contribuiu para a

compreensatildeo dos processos de natureza poliacutetico- administrativo (SECCHI 2013)

No Brasil segundo Faria (2003) a aacuterea de anaacutelise de poliacuteticas puacuteblicas ainda eacute

escassa Isso se comprova pela falta de anaacutelises mais sistemaacuteticas no que tange

aos processos de implementaccedilatildeo aleacutem da carecircncia em estudos que tratam de

metodologias e instrumentos de avaliaccedilatildeo destas poliacuteticas pelos trecircs niacuteveis de

governo legislativo executivo e judiciaacuterio

A fim de apresentar a analise de algumas poliacuteticas puacuteblicas (PP) que tratam

da questatildeo da educaccedilatildeo e diversidade cultural faz-se necessaacuterio apresentar o que

se compreende enquanto uma PP Teoacutericos apontam que seu significado natildeo

apresenta uma definiccedilatildeo uacutenica (SECCHI 2010 BONETI 2011) Assim utilizaremos

como definiccedilatildeo de PP as concepccedilotildees de Tamayo Saacuteez (1997) que a entende como

ldquoum conjunto de objetivos decisotildees e accedilotildees que levam a cabo um governo para

solucionar os problemasrdquo (TAMAYO SAEacuteZ 1997 p 2) Complementando esta

definiccedilatildeo citamos Lindomar Boneti (2006) e seu entendimento do que sejam

poliacuteticas puacuteblicas

Accedilatildeo que nasce do contexto social mas que passa pela esfera estatal como uma decisatildeo de intervenccedilatildeo puacuteblica numa realidade social determinada quer seja ela econocircmica ou social Ainda esclarece que as poliacuteticas puacuteblicas representam [] o resultado da dinacircmica do jogo de forccedilas que se estabelece no acircmbito das relaccedilotildees de poder relaccedilotildees estas constituiacutedas pelos grupos econocircmicos e poliacuteticos classes sociais e demais organizaccedilotildees da sociedade civil (BONETI 2006 p 76)

Eacute importante assinalar que as PPs mudam com o tempo e em consonacircncia

com o modelo de Estado vigente como as transformaccedilotildees que ocorrem em uma PP

dentro de um Estado autoritaacuterio para um Estado democraacutetico A criaccedilatildeo de uma PP

natildeo depende somente das decisotildees emanadas do poder puacuteblico Esse jogo de

72

forccedilas ao qual Boneti se refere satildeo concernentes agraves correlaccedilotildees realizadas com

agentes privados e da sociedade civil No entanto no sentido de responsabilizaccedilatildeo

por sua implementaccedilatildeo e permanecircncia compreende-se aqui que uma PP eacute

responsabilidade do Estado24

Dentre os aspectos a serem considerados no momento de escolher uma PP

os fatores culturais satildeo de fundamental importacircncia para a sua implementaccedilatildeo O

sucesso ou o fracasso de uma PP pode estar diretamente ligado ao contexto no qual

se insere

No que confere agrave anaacutelise de uma PP a mais aceita eacute aquela que busca

compreender como os formuladores de poliacutetica (policymakers) lidam com os

problemas com que se defrontam Nas palavras de Wildavsky

() o papel de Anaacutelise de Poliacutetica eacute encontrar problemas onde soluccedilotildees podem ser tentadas ou seja bdquoo analista deve ser capaz de redefinir problemas de uma forma que torne possiacutevel alguma melhoria‟ Portanto a Anaacutelise de Poliacutetica estaacute preocupada tanto com o planejamento como com a poliacutetica (politics) (WILDAVSKY 1979 apud RUA 2009 p 23)

Segundo Tamayo Saacuteez (1997) a anaacutelise de PP possui um caraacuteter

multidisciplinar Trata-se de um conjunto de teacutecnicas conceitos e estrateacutegias

oriundas de diferentes disciplinas - ciecircncia poliacutetica antropologia sociologia

psicologia e da teoria da organizaccedilatildeo - cujo objetivo eacute interpretar as causas e

consequumlecircncias das accedilotildees do governo Conforme este argumento eacute importante

ressaltar que os atores que analisam determinada PP o fazem a partir de seus

valores sua capacidade teacutecnica seus interesses e o grau de informaccedilatildeo Tais

fatores satildeo fundamentais para compreensatildeo destas anaacutelises

Por poliacuteticas puacuteblicas educacionais compreende-se tudo aquilo que um

governo faz ou deixa de fazer em mateacuteria de educaccedilatildeo No que tange agrave poliacutetica

educacional brasileira esta deve ser pensada em contexto amplo onde fatores

como a constituiccedilatildeo federal a poliacutetica nacional de direitos humanos e os acordos e

tratados internacionais devem ser considerados assim como os fatores sociais e

culturais da sociedade (SILVA MOURA MELLO 2013)

24

Mas vale dizer que natildeo necessariamente uma poliacutetica puacuteblica eacute apenas estatal

73

Segundo Azevedo e Aguiar (2001) os estudos sobre as poliacuteticas

educacionais no Brasil satildeo recentes mas encontram-se em processo de construccedilatildeo

e crescimento As pesquisas e publicaccedilotildees sobre as poliacuteticas educacionais possuem

dois eixos de estudos o primeiro refere-se aos de caraacuteter teoacuterico com questotildees

mais amplas acerca do processo de formulaccedilatildeo de poliacuteticas abarcando mudanccedilas

no papel do Estado das redes de influecircncia no desenvolvimento de formulaccedilatildeo de

poliacuteticas o segundo trata da anaacutelise e avaliaccedilatildeo de poliacuteticas e programas

(MAINARDES 2006) Quanto ao primeiro eixo ao destacar a funccedilatildeo do Estado na

definiccedilatildeo e implementaccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica Mainardes (2006) explica que

natildeo se trata de defender que o Estado ou os governos decidam por implementar as

poliacuteticas puacuteblicas mas isso reflete as pressotildees de diferentes grupos de interesse

Citando Evans Rueschmeyer e Skocpol (1985) Souza (2006) se aproxima da

perspectiva teoacuterica que defende uma autonomia relativa do Estado ldquoque faz com

que o mesmo tenha um espaccedilo proacuteprio de atuaccedilatildeo embora permeaacutevel a influecircncias

externas e internasrdquo (SOUZA 2006 p27 apud Evans Rueschmeyer e Skocpol

1985)

Os dois eixos foram abordados nesta dissertaccedilatildeo pois considera-se

importante conhecer os principais aspectos histoacutericos das poliacuteticas educativas no

Brasil e sua relaccedilatildeo com o Estado para posteriormente tratar da anaacutelise das

poliacuteticas escolhidas O modelo denominado de ciclo de poliacuteticas puacuteblicas seraacute o

recurso utilizado para analise das poliacuteticas educacional

O ciclo de poliacutetica tem adquirido importacircncia progressiva nos estudos sobre a

elaboraccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica principalmente por consistir em uma serie de etapas

que envolve o processo poliacutetico-administrativo os atores suas relaccedilotildees recursos de

poder as relaccedilotildees poliacuteticas sociais e as praacuteticas Saravia e Ferrarezi (2006p32)

descrevem sete etapas deste ciclo primeiro uma agenda poliacutetica que eacute a

necessidade social de elaborar determinada poliacutetica puacuteblica em segundo a

elaboraccedilatildeo propriamente dita da poliacutetica puacuteblica para identificar e delimitar um

problema seja ele atual ou que pode vir a ser necessaacuterio Com isto determinam-se

as alternativas para a soluccedilatildeo a partir das possiacuteveis soluccedilotildees para o problema

formula-se a alternativa mais cabiacutevel pra sua implementaccedilatildeo que deve ser

constituiacuteda por meio do ldquoplanejamento e organizaccedilatildeo do aparelho administrativo e

dos recursos humanos financeiros materiais e tecnoloacutegicos necessaacuterios para

executar uma poliacuteticardquo (SARAVIA p34) A proacutexima etapa eacute a execuccedilatildeo destinada a

74

atingir os objetivos traccedilados pela poliacutetica ldquoEssa etapa inclui o estudo dos

obstaacuteculos que normalmente se opotildeem agrave transformaccedilatildeo de enunciados em

resultados e especialmente a anaacutelise da burocraciardquo (SARAVIA 2006 p 34) A

sexta etapa reside no acompanhamento que eacute o processo de supervisatildeo da

execuccedilatildeo de uma atividade a fim de fornecer a ldquoinformaccedilatildeo necessaacuteria para

introduzir eventuais correccedilotildees a fim de assegurar a consecuccedilatildeo dos objetivos

estabelecidosrdquo (SARAVIA 2006 p34) Por uacuteltimo temos a avaliaccedilatildeo que consiste

em analisar os impactos das poliacuteticas implementadas para a sociedade

Saravia (2006) explica que esta sequecircncia eacute mais uma esquematizaccedilatildeo

teoacuterica do que ocorre na praacutetica Nem sempre essas etapas satildeo consideradas Eacute o

caso de muitos paiacuteses da Ameacuterica Latina onde os programas de ajuste estrutural

natildeo consideraram as primeiras etapas iniciais de sua elaboraccedilatildeo os resultados

sociais possiacuteveis Como consequumlecircncia os indicadores da educaccedilatildeo da sauacutede da

previdecircncia social da habitaccedilatildeo do emprego e de outros setores sociais mostram a

existecircncia de uma situaccedilatildeo difiacutecil que se agrava com o tempo (SARAVIA 2006

p35-36)

32 Caminhos das poliacuteticas educacionais no Brasil

No Brasil por muito tempo as poliacuteticas puacuteblicas para educaccedilatildeo ficaram

aqueacutem do esperado Valle (2009) aponta que no decorrer do periacuteodo colonial ou do

Impeacuterio natildeo haacute registros de uma real preocupaccedilatildeo com as poliacuteticas puacuteblicas de

Educaccedilatildeo (VALLE 2009) Arauacutejo (2011) explica que eacute recente a ideia de um ldquoEstado

em accedilatildeordquo no sentido de promover poliacuteticas para educaccedilatildeo (ARAUacuteJO 2011 p236)

Em um contexto onde sociedade e economia fundamentaram suas bases em um

modelo econocircmico agroexportador e na matildeo-de-obra escrava a preocupaccedilatildeo com a

educaccedilatildeo surgiu muito tarde

Maria Luisa Ribeiro (1992) escreve que no periacuteodo colonial a poliacutetica

educacional esteve vinculada agrave poliacutetica colonizadora dos portugueses (RIBEIRO

1992 p 20) A historiadora Maria Luiza Marciacutelio (2005) acrescenta estes dados ao

traccedilar as principais caracteriacutesticas do sistema educacional brasileiro no periacuteodo que

se estende de 1554 a 1759 ao explicar que o uacutenico ensino formal presente ateacute

meados do seacuteculo XVIII era oferecido pela Companhia de Jesus que era

75

basicamente elitista atendendo em grande parcela ldquojovens brancos proprietaacuterios

de terras famiacutelias da elite colonial aleacutem de introduzir nas primeiras letras do

catecismo elementar as crianccedilas iacutendias das aldeias jesuiacutetasrdquo (MARCIacuteLIO 2005

p42)

Saviani (2008) aponta que o primeiro documento de poliacutetica educacional foi

editado em 1548 e encontrado nos ldquoRegimentosrdquo de DJoatildeo III com a finalidade de

orientar as accedilotildees do governador geral do Brasil Tomeacute de Souza que veio com a

companhia de mais quatro padres e dois irmatildeos jesuiacutetas liderados por Manuel da

Noacutebrega

Nesse mesmo ano os jesuiacutetas receacutem-chegados deram iniacutecio agrave obra educativa centrada na catequese guiados pela orientaccedilatildeo contida nos referidos bdquoRegimentos‟ cumprindo pois um mandato que lhes fora delegado pelo rei de Portugal Nessa condiccedilatildeo cabia agrave coroa manter o ensino mas o rei enviava verbas para a manutenccedilatildeo e a vestimenta dos jesuiacutetas natildeo para construccedilotildees (SAVIANI 2008 p8)

No que se refere agrave inclusatildeo da populaccedilatildeo na instituiccedilatildeo jesuiacutetica Marciacutelio

(2005) aponta que no periacuteodo da expulsatildeo dos jesuiacutetas em 1759 a soma de todos

os alunos natildeo atingia 01 da populaccedilatildeo brasileira Em um cenaacuterio que contava

com 50 da populaccedilatildeo constituiacuteda por mulheres e 40 de escravizados aleacutem de

negros livres pardos filhos ilegiacutetimos e crianccedilas abandonadas todos estes ficavam

agrave margem do sistema de ensino Ao todo os jesuiacutetas ficaram agrave frente da educaccedilatildeo

brasileira por mais de dois seacuteculos ateacute a expulsatildeo (MARCIacuteLIO 2005 p3)

A segunda fase de poliacuteticas educacionais no Brasil foi marcada pelas

reformas pombalinas para instruccedilatildeo puacuteblica Com a instalaccedilatildeo da coroa portuguesa

no Brasil Colonial em 1808 a educaccedilatildeo ganhou novos significados Uma ldquoseacuterie de

cursos tanto profissionalizantes em niacutevel meacutedio como em niacutevel superior bem como

militares foram criados para fazer do local algo realmente parecido com uma Corterdquo

(GHIRALDELLI JR 2001 p 16) Deste modo o periacuteodo compreendido como

pedagogia pombalina (1759-1827) corresponde agraves primeiras tentativas de se instituir

uma escola puacuteblica estatal

As reformas pombalinas contrapotildeem-se ao predomiacutenio das ideacuteias religiosas e com base nas ideacuteias laicas inspiradas no Iluminismo institui o privileacutegio do Estado em mateacuteria de instruccedilatildeo surgindo assim a nossa versatildeo da bdquoeducaccedilatildeo puacuteblica estatal‟ (LUZURIAGA 1959 p23-39 apud SAVIANE 2008 p9)

76

Quando Dom Pedro I assume o poder no periacuteodo Regencial a maioria da

populaccedilatildeo seguia analfabeta A independecircncia poliacutetica natildeo alterou o quadro da

situaccedilatildeo de ensino ao menos de imediato Para Joatildeo Cruz Costa citado por

Romanelli (1985) o processo de independecircncia significava ldquosimples transferecircncia de

poderes dentro de uma mesma classe [a independecircncia] entregaria a direccedilatildeo da

nova accedilatildeo aos proprietaacuterios de terras de engenhos e aos letradosrdquo (COSTA 1980

apud ROMANELLI 1985 p 39)

Eacute neste contexto que comeccedila uma nova fase no campo da educaccedilatildeo tendo

como marco inicial a lei das Escolas das Primeiras letras de 1827 com o objetivo de

ensinar toda a populaccedilatildeo brasileira conforme o artigo de nuacutemero 6 presente na Lei

de 15 de outubro de 1827

() Art 6ordm - Os professores ensinaratildeo a ler escrever as quatro operaccedilotildees de aritmeacutetica praacutetica de quebrados decimais e proporccedilotildees as noccedilotildees mais gerais de geometria praacutetica a gramaacutetica de liacutengua nacional e os princiacutepios de moral cristatilde e da doutrina da religiatildeo catoacutelica e apostoacutelica romana proporcionados agrave compreensatildeo dos meninos preferindo para as leituras a Constituiccedilatildeo do Impeacuterio e a Histoacuteria do Brasil (BRASIL 1827)

No final do seacuteculo XIX marcado pelas influecircncias do positivismo25 comeccedilou no paiacutes

um movimento pela desoficializaccedilatildeo do ensino no Estado defendendo a liberdade

das profissotildees Com isso foram surgindo escolas privadas de benemerecircncia que se

propunham a ofertar ensino gratuito Essa tendecircncia de desoficializaccedilatildeo culminou

com a Reforma Leocircncio de Carvalho em 1879 (SAVIANI 2008) Saviani chama

atenccedilatildeo para este fato ao criticar o fato de que desde iniacutecio das primeiras poliacuteticas

educacionais brasileiras houve certa ldquopromiscuidaderdquo na relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o

privado A comeccedilar com a educaccedilatildeo jesuiacutetica que em alguma medida era puacuteblica

mas a entidade que o ofertava natildeo

Conforme Santos (2011) somente a partir do final do seacuteculo XIX e iniacutecio do

XX periacuteodo de transiccedilatildeo para um modelo de desenvolvimento moderno

25

Por Positivismo compreende-se agora de modo mais amplo a filosofia desenvolvida por Augusto Comte que se caracteriza conjuntamente pela expressa confianccedila nos benefiacutecios da industrializaccedilatildeo no otimismo em relaccedilatildeo ao progresso capitalista no culto agrave ciecircncia e a valorizaccedilatildeo do meacutetodo cientiacutefico voltados a uma reforma intelectual da sociedade (COTRIM 1993 p 189)

77

intervencionista foi que a educaccedilatildeo passou a ser reclamada como um condicionante

necessaacuterio para o desenvolvimento do paiacutes Conforme Romanelli (1985) o seacuteculo

XIX fora marcado pelo surgimento de uma nova camada intermediaacuteria tambeacutem

chamada de pequena burguesia Esta classe explica a autora foi fundamental para

a evoluccedilatildeo poliacutetica no Brasil monaacuterquico e para mudanccedilas pelas quais passou o

regime no final do seacuteculo (ROMANELLI 1985 p37)

No periacuteodo republicano outra modalidade de poliacuteticas educacionais se

desenvolveu por volta de 1890 com a implantaccedilatildeo progressiva das escolas

graduadas apoiadas nas escolas normais que comeccedilaram a ser consolidadas sob o

fluxo do iluminismo republicano

Esse periacuteodo abrange de 1890 quando se daacute no estado de Satildeo Paulo a organizaccedilatildeo da escola normal graduada ateacute 1931 quando eacute promulgada a reforma Francisco Campos dando iniacutecio ao processo de regulamentaccedilatildeo ao sistema de ensino em acircmbito nacional (SAVIANI 2004a p20-21)

Somente a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX eacute que podemos

encontrar registros das primeiras lutas por uma educaccedilatildeo e escola de qualidade

puacuteblica e gratuita Valle (2009) aponta que a poliacutetica educacional brasileira foi

marcada pela criaccedilatildeo da Universidade do Rio de Janeiro em 1920 hoje

Universidade Federal do Rio de Janeiro ndash UFRJ ndash pelas organizaccedilotildees colegiadas

como a Associaccedilatildeo Brasileira de Educaccedilatildeo fundada em 1924 liderada pelos

reformadores do movimento Escola Nova cujo marco encontra-se no lanccedilamento do

Manifesto dos Pioneiros da Educaccedilatildeo na deacutecada de 1930 (VALLE 2009 p22)

Acerca deste Manifesto escreve Santos (2011)

Lanccedilado em 1932 o Manifesto foi sobretudo um documento de poliacutetica educativa no qual para aleacutem da defesa da Escola Nova estava a causaluta maior dapela escola puacuteblica laica sendo esta responsabilidade do Estado Ressalto que as diretrizes desse manifesto influenciaram a Constituiccedilatildeo de 1934 (FREITAS 2005 SAVIANI 2005 apud SANTOS 2011 p2)

Em 1930 ano em que tecircm iniacutecio a Era Vargas eacute criado o Ministeacuterio dos

Negoacutecios da Educaccedilatildeo e Sauacutede Este periacuteodo eacute considerado por Saviani (2008) o

iniacutecio da sexta modalidade de poliacuteticas educacionais marcado pela reforma

Francisco Campos em 1931 e caracterizada pela regulamentaccedilatildeo em acircmbito

nacional das escolas superiores secundaacuterias e primaacuterias incorporando

78

crescentemente as concepccedilotildees pedagoacutegicas renovadoras ateacute a criaccedilatildeo da LDB em

1961

As propostas de poliacuteticas educacionais dos reformadores dentre eles Aniacutesio

Teixeira e Lourenccedilo Filho natildeo foram bem recebidas pelo movimento de 1930

Apesar das controveacutersias houve marcos importantes como aponta Santos (2011)

com os seguintes decretos

1) Decreto 19850 de 11 de abril de 1931 que criou o Conselho Nacional de Educaccedilatildeo 2) Decreto 19851 de 11 de abril de 1931 que dispocircs sobre a organizaccedilatildeo do ensino superior no Brasil e adotou o regime universitaacuterio 3) Decreto 19852 de 11 de abril de 1931 que dispocircs sobre a organizaccedilatildeo da Universidade do Rio de janeiro 4) Decreto 19890 de 18 de abril de 1931 que dispocircs sobre a organizaccedilatildeo do ensino secundaacuterio 5) Decreto 19941 de 30 de abril de 1931 que instituiu o ensino religioso como mateacuteria facultativa nas escolas puacuteblicas do paiacutes 6) Decreto 20158 de 30 de junho de 1931 que organizou o ensino comercial e regulamentou a profissatildeo de contador 7) Decreto 21241 de 14 de abril de 1932 que consolidou as disposiccedilotildees sobre a organizaccedilatildeo do ensino secundaacuterio (SANTOS 2011 p 2)

De acordo com Ribeiro (1992) de 1931 a 1937 foram realizados inuacutemeros

congressos e conferecircncias nos quais se discutiam os caminhos possiacuteveis para a

elaboraccedilatildeo de um plano nacional para educaccedilatildeo Nestes debates haviam duas

vertentes

Uma jaacute era tradicional representada pelos educadores catoacutelicos que defendiam a educaccedilatildeo subordinada agrave doutrina religiosa (catoacutelica) a educaccedilatildeo em separado e portanto diferenciadas pelos sexos masculino e feminino o ensino particular a responsabilidade da famiacutelia quanto agrave educaccedilatildeo etc Outra era representada pelos educadores influenciados pelas bdquoideacuteias novas‟ e que defendiam a laicidade a co- educaccedilatildeo a gratuidade a responsabilidade puacuteblica em educaccedilatildeo etc (RIBEIRO 1992 p99)

Em um contexto onde o mundo presenciava as experiecircncias de paiacuteses com

ideologias fascistas e comunistas os grupos de educadores que debatiam a

educaccedilatildeo agrave eacutepoca diziam ser contraacuterios agrave monopolizaccedilatildeo do ensino por parte do

Estado Com isto o movimento escola novista e sua ideia da educaccedilatildeo ser de

responsabilidade puacuteblica passam a ser assimiladas agraves ideias comunistas

79

Em 1934 eacute outorgada uma nova Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica que segundo

Ribeiro (1992) apesar de seu caraacuteter contraditoacuterio ao atender as reivindicaccedilotildees

sobretudo dos reformadores catoacutelicos conseguiu destacar a educaccedilatildeo dedicando-

lhe um capiacutetulo especiacutefico para o assunto Entatildeoldquoa reivindicaccedilatildeo catoacutelica quanto ao

ensino religioso eacute atendida assim como outras ligadas aos representantes das

ldquoideacuteias novasrdquo (CapI art 5ordmXIV 1934 apud RIBEIRO 1992 p104)

A partir de 1937 quando o golpe militar instaura o Estado Novo algumas

premissas satildeo mantidas como a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino primaacuterio

Institui-se como obrigatoacuterio o ensino de trabalhos manuais nas escolas primaacuterias

normais e secundaacuterias Tambeacutem fica estabelecido o programa escolar em termos de

ensino preacute-vocacional orientado agraves classes menos favorecidas No artigo 129 o

regime de cooperaccedilatildeo entre a induacutestria e o Estado eacute fixado (RIBEIRO 1992 p114-

115)

O periacuteodo do Estado Novo que durou sessenta anos foi um periacuteodo

marcante para a educaccedilatildeo pois traduziu o que aquele regime poliacutetico pretendeu

executar no Brasil Nas palavras de Helena Bomeny (1999)

Formar um bdquohomem novo‟ para um Estado Novo conformar mentalidades e criar o sentimento de brasilidade fortalecer a identidade do trabalhador ou por outra forjar uma identidade positiva no trabalhador brasileiro tudo isso fazia parte de um grande empreendimento cultural e poliacutetico para o sucesso do qual contava-se estrategicamente com a educaccedilatildeo por sua capacidade universalmente reconhecida de socializar os indiviacuteduos nos valores que as sociedades atraveacutes de seus segmentos organizados querem ver internalizados (BOMENY1999p139)

Bomeny apresenta quatro decretos que remetem ao fechamento das escolas

estrangeiras

O Decreto lei ndeg 383 de 18 de abril de 1938 que proibia aos

estrangeiros o exerciacutecio de atividades poliacuteticas no Brasil o Decreto ndeg 406 de 4 de maio 1938 que regulamentava o ingresso e a permanecircncia de estrangeiros ditando providecircncias para sua assimilaccedilatildeo e criando o Conselho de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo como oacutergatildeo executor de suas disposiccedilotildees o Decreto ndeg 868 de 18 de novembro de 1938 que instituiu a Comissatildeo Nacional de Ensino Primaacuterio que possuiacutea entre suas atribuiccedilotildees a nacionalizaccedilatildeo do ensino nos nuacutecleos estrangeiros e o Decreto ndeg 948 de 13 de dezembro do mesmo ano que considerando a complexidade das medidas para promover a assimilaccedilatildeo dos colonos e completa nacionalizaccedilatildeo dos filhos de imigrantes estabelecia que as medidas fossem tomadas pelo Conselho de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo (BOMENY 1999 p 158)

80

Em documento dirigido a Getuacutelio Vargas em 1939 o entatildeo Ministro de

Guerra Eurico Gaspar Dutra apontou a educaccedilatildeo como um dos setores

intimamente ligados agrave seguranccedila nacional ldquoO problema da educaccedilatildeo apreciado em

toda a sua amplitude natildeo pode deixar de constituir uma das mais graves

preocupaccedilotildees das autoridades militaresrdquo (Arquivo Osvaldo Aranha AO 390418

FGVCPDOC apud BOMENY 1999 p139)

Com o fim do Estado Novo a nova constituiccedilatildeo caracterizada por seu caraacuteter

liberal e democraacutetico possibilitou algumas mudanccedilas na educaccedilatildeo O novo Ministro

da Educaccedilatildeo regulamentou em 1946 o Ensino Primaacuterio e o Ensino Normal aleacutem do

Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC Neste contexto o Brasil

passou a viver o que se denominou como periacuteodo nacional-desenvolvimentista No

plano internacional o mundo vivia o poacutes-guerra momento marcado pela

reconstruccedilatildeo dos paiacuteses envolvidos o que levou a uma grande fase de crescimento

econocircmico em niacutevel mundial conhecida como a ldquoa era de ourordquo acarretando no que

ficou conhecido como Estado de Bem-Estar Social

O Estado de bem-estar social era um projeto cogente para recuperar o vigor e a capacidade de expansatildeo dos paiacuteses capitalistas apoacutes a tensatildeo social econocircmica e poliacutetica do periacuteodo entre guerras Tanto que o estabelecimento do Estado de bem-estar social entre as deacutecadas de 1940 e 1960 ficou conhecido como bdquoera dourada do capitalismo‟ por ser um momento de desenvolvimento econocircmico com garantias sociais e oferecimento praticamente de emprego pleno para a maioria da populaccedilatildeo nos paiacuteses mais desenvolvidos (VICENTE 2009 p124)

Apoacutes a reconstruccedilatildeo dos paiacuteses envolvidos na guerra ocorreu o processo de

internacionalizaccedilatildeo do capital O avanccedilo do capitalismo para paiacuteses como o Brasil

implicou em uma nova forma de desenvolvimento As ideacuteias por uma poliacutetica

nacional-desenvolvimentista foram propagadas principalmente pelo Instituto

Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) criado em 1955 durante o governo interino

de Cafeacute Filho No governo de Juscelino Kubitschek o ISEB passa a ser o braccedilo do

governo no sentido de propagar a mentalidade nacional para o desenvolvimento

A deacutecada de 1960 eacute caracterizada por uma sociedade brasileira marcada pelo

processo crescente de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo e pelas mudanccedilas nas

relaccedilotildees de trabalho no campo Na mesma intensidade aumentavam as

81

desigualdades sociais o que mobilizou setores da sociedade em lutas por reformas

de base com vistas agrave reduccedilatildeo dessas desigualdades sociais (NASCIMENTO 2006)

No que se refere ao perfil que tomam as poliacuteticas educacionais nesse periacuteodo

Saviani (2005) aponta que

[] se o periacuteodo situado entre 1930 e 1945 pode ser considerado como marcado pelo equiliacutebrio entre as influecircncias das concepccedilotildees humanista tradicional (representada pelos catoacutelicos) e humanista moderna (representada pelos pioneiros da educaccedilatildeo nova) a partir de 1945 jaacute se delineia como nitidamente predominante a concepccedilatildeo humanista moderna (SAVIANI 2005 p14)

Para o autor o foco no desenvolvimento econocircmico do paiacutes que por sua vez geraria

o desenvolvimento em outras instacircncias da sociedade acabou por gerar uma

inversatildeo do ensino puacuteblico A escola passou a ser instrumento para servir agrave loacutegica

do mercado por meio da pedagogia tecnicista26

No periacuteodo que se estende de 1964-1984 periacuteodo da ditadura militar todo o

aparelho estatal fora reformulado em nome da seguranccedila interna

Definindo a seguranccedila interna como accedilatildeo-resposta a um processo subversivo devendo ser conduzida em termos de aplicaccedilatildeo global do Poder Nacional dentro de uma Estrateacutegia Nacional especiacutefica A Escola Superior de Guerra considerava que essa accedilatildeo-resposta se delineava atraveacutes de trecircs atitudes estrateacutegicas preventiva repressiva e operativa (MIRANDA 1970 p18 apud SAVIANI 2004 p119)

Desse modo as accedilotildees preventivas procuravam evitar aquilo que era

entendido como subversivo As accedilotildees repressivas procuravam impedir a praacutetica

subversiva e as accedilotildees operativas destinavam-se a eliminar esses focos mediante a

accedilatildeo armada Em outras palavrasldquoo Poder Nacional tal como concebido pela

ideologia da interdependecircncia eacute acionado para destruir a autonomia nacional nos

termos da ideologia nacional-desenvolvimentistardquo (SAVIANI 2004 p120)

26

A partir do pressuposto da neutralidade cientiacutefica e inspirada nos princiacutepios de racionalidade eficiecircncia e produtividade a pedagogia tecnicista advogou a reordenaccedilatildeo do processo educativo de maneira a tornaacute-lo objetivo e operacional De modo semelhante ao que ocorreu no trabalho fabril pretendeu-se a objetivaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico Buscou-se entatildeo com base em justificativas teoacutericas derivadas da corrente filosoacutefico-psicoloacutegica do behaviorismo planejar a educaccedilatildeo de modo a dotaacute-la de uma organizaccedilatildeo racional capaz de minimizar as interferecircncias subjetivas que pudessem pocircr em risco sua eficiecircncia (SAVIANI 2009 p11-12)

82

Eacute neste contexto que eacute possiacutevel compreender todas as poliacuteticas educacionais

durante o regime militar Destaca-se o Mobral27 seguido das reformas de ensino de

primeiro segundo e terceiros graus a criaccedilatildeo dos Centros Rurais Universitaacuterios de

Treinamento e Accedilatildeo Comunitaacuteria (CRUTACS) os Centros Sociais Urbanos o

Projeto Rondon a Empresa Brasileira de Notiacutecias (EBN) etc (SAVIANI 2004)

O periacuteodo ditatorial ao longo de duas deacutecadas que serviram de palco para o revezamento de cinco generais na presidecircncia da repuacuteblica se pautou em termos educacionais pela repressatildeo privatizaccedilatildeo de ensino exclusatildeo de boa parcela das classes populares do ensino profissionalizante tecnicismo pedagoacutegico e desmobilizaccedilatildeo do magisteacuterio atraveacutes de abundante e confusa legislaccedilatildeo educacional Soacute uma visatildeo otimistaingecircnua poderia encontrar indiacutecios de saldo positivo na heranccedila deixada pela ditadura militar (GHIRALDELLI 1990 p163)

Em 1979 o Brasil dava iniacutecio ao lento e gradual processo de abertura

democraacutetica que teve iniacutecio no governo de General Geisel (1974-1979) A transiccedilatildeo

democraacutetica se fez seguindo a estrateacutegia de conciliaccedilatildeo pelo alto a fim de dar

prosseguimento agrave ordem socioeconocircmica vigente Naquele momento o mundo vivia

as consequumlecircncias da chamada crise do petroacuteleo que teve seu iniacutecio na deacutecada de

1970 As implicaccedilotildees da crise levaram os paiacuteses a tomarem medidas de

desregulamentaccedilatildeo da economia privatizaccedilotildees e destituiccedilatildeo do Estado de bem-

estar social Nesse contexto nasce o chamado neoliberalismo Neo quer dizer novo

e liberalismo refere-se ao pensamento claacutessico que serviu de base ao capitalismo

Segundo Anderson (1995) ldquoo neoliberalismo nasceu logo depois da II Guerra

Mundial como uma reaccedilatildeo teoacuterica e poliacutetica veemente contra o Estado

intervencionista e de bem-estarrdquo (ANDERSON 1995 p 9)

Na Ameacuterica Latina o efeito da crise fez com que os paiacuteses adotassem os

ajustes neoliberais orientados pelo Banco Mundial Fundo Monetaacuterio Internacional e

o governo dos Estados Unidos apoacutes o ldquoConsenso de Washingtonrdquo28 Os impactos

27

O Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo foi criado pela Lei Nordm 5379 de 15121967 e tinha como

prioridade promover a alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo continuada para jovens e adultos analfabetos Esteve embasada nas proposiccedilotildees de educaccedilatildeo funcional presente nos documentos da UNESCO em 1958 durante o Congresso Mundial de Ministros O MOBRAL teve iniacutecio em 1970 e foi caracterizado do ponto de vista teacutecnico como proacuteximo aos meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo de Paulo Freire que partia das palavras-chaves mas suas orientaccedilotildees pedagoacutegicas eram controladas e supervisionadas pelo governo 28

Em novembro de 1989 reuniram-se na capital dos Estados Unidos funcionaacuterios do governo norte-americano e dos organismos financeiros internacionais ali sediados - FMI Banco Mundial e BID - especializados em assuntos latino-americanos O objetivo do encontro convocado pelo Institute for

83

de tais ajustes perpassam pelo campo das reformas educacionais que devem estar

condicionadas agrave loacutegica do mercado bem como da sauacutede da alimentaccedilatildeo do

trabalho e do salaacuterio (SOARES 2000)

Nesse novo contexto as poliacuteticas educacionais satildeo marcadas por um

neoconservadorismo recheado de contradiccedilotildees e ambiguumlidades presentes nas

principais poliacuteticas educacionais que por sua vez foram resultado do debate entre

diversos setores da sociedade que queriam ver seus interesses contemplados nas

poliacuteticas educacionais somadas agraves deliberaccedilotildees dos organismos multilaterais para

a educaccedilatildeo

33 Poliacuteticas educacionais a partir da Constituiccedilatildeo de 1988

Segundo Gabriele Sapio (2010) a Constituiccedilatildeo Federal (CF) eacute ldquouma das

cartas constitucionais mais adiantadas e progressistas do mundo em mateacuteria de

proteccedilatildeo dos direitos sociais fundamentais coletivos e individuaisrdquo (SAPIO 2010

sn) No Brasil a Constituiccedilatildeo de 1988 eacute considerada um avanccedilo no sentido de

assegurar direitos sociais dentre eles o acesso agrave educaccedilatildeo

No que concerne agrave educaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo tem uma seccedilatildeo especiacutefica

destinada agrave mesma Seccedilatildeo I do capiacutetulo III Da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto

A constituiccedilatildeo de 1988 marca o retorno do Brasil para a democracia No contexto de

sua elaboraccedilatildeo houve inuacutemeros debates por parte dos setores da sociedade de

movimentos sociais a grupos dominantes que queriam ver seus interesses

contemplados na Carta Magna afirma Ghiraldelli Jr (2001 p 169) O mesmo autor

ao analisar a Carta de 1988 onde se discute a educaccedilatildeo informa que este aspecto

natildeo eacute soacute tratado em um artigo especiacutefico mas perpassa por outros toacutepicos

Na Carta de 1988 a educaccedilatildeo natildeo veio contemplada apenas no seu local proacuteprio no toacutepico especiacutefico destinada a ela mas veio tambeacutem espalhada em outros toacutepicos Assim no tiacutetulo sobre direitos e

International Economics sob o tiacutetulo Latin American Adjustment How Much Has Happened era proceder a uma avaliaccedilatildeo das reformas econocircmicas empreendidas nos paiacuteses da regiatildeo Para relatara experiecircncia de seus paiacuteses tambeacutem estiveram presentes diversos economistas latino-americanos Agraves conclusotildees dessa reuniatildeo eacute que se daria subsequentemente a denominaccedilatildeo informal de Consenso de Washingtonrdquo (BATISTA 1994 p 5)

84

garantias fundamentais a educaccedilatildeo apareceu como um direito social junto da sauacutede do trabalho do lazer da seguranccedila da previdecircncia social da proteccedilatildeo agrave maternidade e agrave infacircncia da assistecircncia aos desamparados (artigo 6deg) Tambeacutem no capiacutetulo sobre a famiacutelia a crianccedila o adolescente e o idoso a educaccedilatildeo foi incluiacuteda A Constituiccedilatildeo determinou ser dever da famiacutelia da sociedade e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente o direito agrave educaccedilatildeo como uma prioridade em relaccedilatildeo ao outros direitos (GHIRALDELLI JR 2001 p169)

Diante das mudanccedilas que a CF trouxe agrave Educaccedilatildeo houve tambeacutem a

necessidade de se elaborar uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo

Nacional Em dezembro de 1988 o deputado Octaacutevio Eliacutesio apresentou um projeto

que fixava as diretrizes e bases nacionais da educaccedilatildeo diante da nova realidade

brasileira Apoacutes oitos ano de tramitaccedilatildeo debates e discussotildees a nova LDB foi

aprovada em 1996 Atualmente eacute a diretriz que rege o curriacuteculo nacional Assim eacute a

partir dela que iremos iniciar a anaacutelise propostas das poliacuteticas educacionais para a

diversidade

34 Escola e diversidade O que temos em termos de poliacuteticas educacionais

Seraacute que a escola pode ser a mesma quando os educandos satildeo outros Seraacute que o curriacuteculo pode ser o mesmo quando os alunos satildeo outros Seraacute que a pedagogia deva ser a mesmaA docecircncia deva ser a mesma (Miguel Arroyo 2014-Em entrevista concedida ao Portal Dia a Dia Educaccedilatildeo)

As perguntas acima foram feitas pelo poacutes-doutor em educaccedilatildeo Miguel

Arroyo em entrevista concedida a TV Paulo Freire no ano de 2013 Quando

questionado sobre como a escola deve trabalhar o tema da diversidade ele aponta

que natildeo eacute o aluno quem deve se adaptar agrave escola mas a escola quem deve se

adaptar ao aluno Nesse sentido adaptando o questionamento de Arroyo sobre as

poliacuteticas educacionais para a realidade fronteiriccedila a pergunta ficaria a seguinte seraacute

que a escola situada em regiatildeo de fronteira internacional pode ser a mesma quando

os educandos satildeo outros

E este bdquooutro‟ na fronteira eacute o argentino o aacuterabe o paraguaio o brasiguaio o

indiacutegena que estatildeo imersos em meio a tantas outras diversidades que natildeo foram

tratadas aqui mas que complexificam ainda mais a realidade das escolas de

85

fronteira Nela tambeacutem nos deparamos com as questotildees de gecircnero de raccedila de

classes etc Pensando nestes aspectos o que as principais poliacuteticas educacionais

nacionais podem ou natildeo oferecer quando o assunto eacute a diversidade nas escolas de

fronteira internacional

Por diversidade Elvira de Souza Lima (2011) entende que a mesma eacute a

norma da espeacutecie humana pois ldquoos seres humanos satildeo diversos em suas

experiecircncias culturais satildeo uacutenicos em suas personalidades e satildeo diversos em suas

formas de perceber o mundordquo Segundo Gurgel (LIMA 2011 p1) a ideia de

diversidade relaciona-se diretamente com os conceitos de pluralidade multiplicidade

que indicam diferentes valores costumes vivecircncias de diferentes grupos da

sociedade

Nas concepccedilotildees de Gurgel do ponto de vista da Antropologia compreender

os elementos constitutivos da diversidade nos leva a entender diferentes ldquohaacutebitos

costumes comportamentos crenccedilas e valores e a aceitaccedilatildeo da diferenccedila no outro

chamada de alteridaderdquo (GURGEL 2011 p 4)

Nilma Lino Gomes (2008) ao discorrer sobre o que eacute diversidade busca seu

significado no dicionaacuterio apontando que as palavras que traduzem seu sentido satildeo

diferenccedila e dessemelhanccedila Em uma primeira interpretaccedilatildeo Nilma explica que a

diversidade pode se referir a fatos observaacuteveis a olho nu Contudo se ampliarmos a

noccedilatildeo sobre o que sejam diferenccedilas e incluir essas discussotildees no acircmbito cultural eacute

possiacutevel compreendecirc-la de duas formas

1)As diferenccedilas podem ser empiricamente observaacuteveis 2) as diferenccedilas tambeacutem satildeo construiacutedas ao longo do processo histoacuterico nas relaccedilotildees sociais e nas relaccedilotildees de poder Muitas vezes os grupos humanos tornam o outro diferente para fazecirc-lo inimigo para dominaacute-lo Por isso falar sobre a diversidade cultural natildeo diz respeito apenas ao reconhecimento do outro Significa pensar a relaccedilatildeo entre o eu e o outro (GOMES 2008 p2)

Na aacuterea de estudos das poliacuteticas educacionais o tema diversidade eacute recente

Somente a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 e da implementaccedilatildeo da LDB96 eacute que as

poliacuteticas educacionais para diversidade ganharam espaccedilo no campo das poliacuteticas

puacuteblicas

86

341 A LDB96 - A primeira lei originaacuteria da iniciativa civil e do legislativo

A atual LDB96 eacute fruto do novo quadro poliacutetico que se instaurou no Brasil com

o processo de abertura democraacutetica Como jaacute mencionado foram oito anos de

tramitaccedilatildeo ateacute que em 1996 ela fosse fixada com a aprovaccedilatildeo da redaccedilatildeo proposta

pelo entatildeo Deputado Federal e antropoacutelogo Darcy Ribeiro

Ao analisar a LDB96 eacute possiacutevel encontrar alguns artigos que reconhecem a

diversidade existente no paiacutes No Capiacutetulo II referente agrave Educaccedilatildeo Baacutesica o artigo

26 prescreve o seguinte

Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade da cultura da economia e da clientela (BRASIL 1996)

Com base neste artigo compreende-se que dadas as diferenccedilas culturais presentes

em cada regiatildeo cabe agrave instituiccedilatildeo escolar realizar as adaptaccedilotildees necessaacuterias agrave

realidade local Logo a lei daacute margem para que um trabalho diferenciado possa ser

realizado em aacutereas de fronteira internacional O inciso de nuacutemero cinco do mesmo

artigo torna obrigatoacuterio o ensino de uma liacutengua estrangeira moderna cuja escolha

fica a criteacuterio da comunidade escolar a partir da quinta seacuterie (hoje sexto ano)

Em 2005 foi criada a Lei de no 11161 que tornou obrigatoacuterio o ensino da

Liacutengua Espanhola para o Ensino Meacutedio

Art 1o O ensino da liacutengua espanhola de oferta obrigatoacuteria pela escola e de matriacutecula facultativa para o aluno seraacute implantado gradativamente nos curriacuteculos plenos do ensino meacutedio sect 1o O processo de implantaccedilatildeo deveraacute estar concluiacutedo no prazo de cinco anos a partir da implantaccedilatildeo desta Lei sect 2o Eacute facultada a inclusatildeo da liacutengua espanhola nos curriacuteculos plenos do ensino fundamental de 5a a 8a seacuteries Art 2o A oferta da liacutengua espanhola pelas redes puacuteblicas de ensino deveraacute ser feita no horaacuterio regular de aula dos alunos (BRASIL 2005)

Esta uacuteltima lei expressa o contexto da eacutepoca Primeiro pelo crescimento do poder

econocircmico da Espanha e o crescente aumento do espanhol nos EUA (CELADA

1991 apud AMARAL E MAZZARO 2006) Em segundo o entatildeo presidente Luis

Inaacutecio Lula da Silva tinha como plano de governo a aproximaccedilatildeo com os demais

87

paiacuteses da Ameacuterica Latina haja vista que historicamente a relaccedilatildeo do Brasil com os

paiacuteses da regiatildeo tanto no acircmbito econocircmico como social era pequena Com essa

proposta de integraccedilatildeo em um de seus discursos ele diz

A grande prioridade da poliacutetica externa durante o meu governo seraacute a construccedilatildeo de uma Ameacuterica do Sul politicamente estaacutevel proacutespera e unida com base em ideais democraacuteticos e de justiccedila social Para isso eacute essencial uma accedilatildeo decidida de revitalizaccedilatildeo do MERCOSUL enfraquecido pelas crises de cada um de seus membros e por visotildees muitas vezes estreitas e egoiacutestas do significado da integraccedilatildeo O MERCOSUL assim como a integraccedilatildeo da Ameacuterica do Sul em seu conjunto eacute sobretudo um projeto poliacutetico Mas esse projeto repousa em alicerces econocircmico-comerciais que precisam ser urgentemente reparados e reforccedilados Cuidaremos tambeacutem das dimensotildees social cultural e cientiacutefico-tecnoloacutegica do processo de integraccedilatildeo (LULA DA SILVA 2003)

A partir de entatildeo outras iniciativas aleacutem do ensino do espanhol foram

implementadas como a criaccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino superior em aacutereas

fronteiriccedilas entre elas a Universidade Federal da Fronteira Sul (Santa Catarina)

criada em outubro de 2009 a Universidade Federal do Pampa (Rio Grande do Sul)

fundada em janeiro de 2008 a Universidade Federal de Grande Dourados (Mato

Grosso do Sul) fundada em agosto de 2005 a Universidade Federal da Integraccedilatildeo

Latino-Americana (Paranaacute) criada em janeiro de 2010 e a Universidade da

Integraccedilatildeo Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira tambeacutem criada em 2010 Esta

uacuteltima que conforme o nome sugere orienta-se para o desenvolvimento cientiacutefico

educacional e cultural da Ameacuterica Latina No acircmbito da educaccedilatildeo baacutesica temos o

Programa Escola Intercultural Biliacutenguumle de iniciativa do Mercosul que objetiva a

integraccedilatildeo regional por meio da educaccedilatildeo biliacutengue em escolas puacuteblicas do ensino

fundamental presentes em cidades da faixa de fronteira

Nesse sentido ainda que as estrateacutegias dessas instituiccedilotildees estejam

relacionadas ao projeto de integraccedilatildeo na regiatildeo de faixa de fronteira a presenccedila de

instituiccedilotildees de ensino superior contribui para o desenvolvimento de pesquisas

criaccedilatildeo de projetos e programas tanto no acircmbito nacional com as cidades e as

instituiccedilotildees locais como no acircmbito internacional em parceira com instituiccedilotildees dos

paiacuteses com as quais essas instituiccedilotildees fazem fronteira Isso por consequecircncia

pode contribuir para debates e mudanccedilas na educaccedilatildeo nas escolas de fronteira

No que confere agrave obrigatoriedade do ensino de espanhol algumas pesquisas

sobre sua implementaccedilatildeo identificaram algumas fragilidades Nos resultados

88

parciais da pesquisa de doutorado sobre o ensino do espanhol no Brasil realizada

por Maria Fernanda Lisboa (2011) a autora identificou que o discurso de integraccedilatildeo

linguiacutestico-cultural que justifica a lei ldquoeacute apenas uma fachada para desviar a atenccedilatildeo

dos reais interesses por traacutes dessa poliacutetica natildeo soacute linguumliacutesticardquo (LISBOA 2011 p

213) A autora faz referecircncia aos interesses da Espanha que estaacute agrave frente dessa

poliacutetica ldquoinvestindo em assessorias linguumliacutesticas na criaccedilatildeo de vaacuterias sedes do

Instituto Cervantes e ainda disseminando cursos de capacitaccedilatildeo para professoresrdquo

(LISBOA 2011 p 213) Estes cursos satildeo vistos pelas associaccedilotildees de professores

pelos formadores de professores e por Universidades de modo negativo Na

avaliaccedilatildeo daqueles que satildeo contraacuterios a essas formaccedilotildees encontra-se a duacutevida na

real qualidade da mesma visto que eacute um curso inteiramente agrave distacircncia sem

maiores reflexotildees relacionados agrave metodologia

Aleacutem disso haacute outras questotildees como a demanda de professores oferta de

materiais didaacuteticos interesse por parte dos alunos que satildeo desafios a serem

superados nesse processo de implementaccedilatildeo Entretanto mesmo diante das

contradiccedilotildees e lacunas que a sua obrigatoriedade significou a lei que completou dez

anos de sua criaccedilatildeo e cinco do prazo final para sua execuccedilatildeo nas escolas em 2015

abre possibilidades para maiores discussotildees e provocaccedilotildees se pensarmos a partir

da integraccedilatildeo dos paiacuteses fronteiriccedilos ou mesmo em niacutevel de poliacuteticas linguumliacutesticas

para essa regiatildeo Afinal conforme Marcuschi (2005) ldquonatildeo se pode reduzir a

linguagem ao seu papel de ferramenta social tampouco reduzi-la ao caraacuteter formal

pois liacutengua natildeo eacute forma nem funccedilatildeo e sim atividade significante e constitutivardquo

(MARCUSCHI 2005 p 3)

Em 2003 foi criada a lei 1063903 que tornou obrigatoacuteria a inclusatildeo do ensino

da Histoacuteria da Aacutefrica e da Cultura Afro-Brasileira nos curriacuteculos dos estabelecimentos

de ensino puacuteblicos e particulares da educaccedilatildeo baacutesica E em 2008 foi criada a lei

1164508 que acrescenta o estudo da histoacuteria e cultura indiacutegena nas escolas

puacuteblicas e privadas da educaccedilatildeo baacutesica

1ordm O conteuacutedo programaacutetico a que se refere este artigo incluiraacute diversos aspectos da histoacuteria e da cultura que caracterizam a formaccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira a partir desses dois grupos eacutetnicos tais como o estudo da histoacuteria da Aacutefrica e dos africanos a luta dos negros e dos povos indiacutegenas no Brasil a cultura negra e indiacutegena brasileira e o negro e o iacutendio na formaccedilatildeo da sociedade

89

nacional resgatando as suas contribuiccedilotildees nas aacutereas social econocircmica e poliacutetica pertinentes agrave histoacuteria do Brasil sect 2ordm Os conteuacutedos referentes agrave histoacuteria e cultura afro-brasileira e dos povos indiacutegenas brasileiros seratildeo ministrados no acircmbito de todo o curriacuteculo escolar em especial nas aacutereas de educaccedilatildeo artiacutestica e de literatura e histoacuteria brasileira (BRASIL 2008)

No acircmbito estadual o Paranaacute emitiu a seguinte nota sobre a obrigatoriedade

da lei 1063903

No curriacuteculo oficial da Rede de Educaccedilatildeo do Paranaacute a obrigatoriedade da temaacutetica Histoacuteria e Cultura Afro-Brasileira e seus desencadeamentos tem efetivado accedilotildees para a formaccedilatildeo das equipes multidisciplinares nos Nuacutecleos Regionais de Educaccedilatildeo e nas escolas A medida eacute um dos objetivos para valorizar a histoacuteria da populaccedilatildeo negra no Estado do Paranaacute e orientar a comunidade escolar para o enfrentamento do preconceito da discriminaccedilatildeo do racismo (SEED 2013)

Assim a fim de atender tanto a lei 1063903 quanto a 1164508 a Secretaria

Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute instituiu as Equipes Multidisciplinares validadas

pelo artigo 26 da LDB Lei nordm 939496 pela Deliberaccedilatildeo nordm 0406 CEEPR pela

Instruccedilatildeo nordm 01706 SUEDSEED pela Resoluccedilatildeo nordm 339910 SEEDSEED e a

Instruccedilatildeo nordm 0101 SUESSEED As equipes multidisciplinares satildeo compostas por

professores de diferentes aacutereas pedagogos diretores e agentes educacionais e

representantes da comunidade externa (pais movimentos sociais professores do

ensino superior representantes das Comunidades Remanescentes de Quilombos

lideranccedilas indiacutegenas dentre outros)

A equipe se encontra em espaccedilos para debater estrateacutegias e desenvolver

accedilotildees pedagoacutegicas que fortaleccedilam a implementaccedilatildeo das leis 1063903 e 1164508

no curriacuteculo escolar das instituiccedilotildees de ensino da rede puacuteblica estadual e escolas

conveniadas do Paranaacute Com isso nota-se a preocupaccedilatildeo em cumprir a legislaccedilatildeo

sendo uma das accedilotildees a criaccedilatildeo da Equipe Multidisciplinar que deixa claro que o

trabalho da equipe eacute destinado ao ensino da histoacuteria da Aacutefrica e da cultura negra e

indiacutegena nas escolas estaduais paranaenses conforme as atribuiccedilotildees presentes na

Instruccedilatildeo Nordm 0102010 ndash SUEDSEE da qual destacam

Compete agrave Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash SEED 1Garantir que todos os NREs e estabelecimentos de ensino na Rede Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute organizem suas Equipes Multidisciplinares para tratar da Educaccedilatildeo das Relaccedilotildees Eacutetnico-

90

Raciais e para o Ensino de Histoacuteria e Cultura Afrobrasileira Africana e Indiacutegena Compete agrave Equipe Multidisciplinar do Nuacutecleo Regional de Educaccedilatildeo

1Orientar e acompanhar o funcionamento e organizaccedilatildeo das Equipe Multidisciplinares dos estabelecimentos da Rede Estadual de Ensino para a efetivaccedilatildeo de accedilotildeesexperiecircncias em ERER subsidiando os profissionais da educaccedilatildeo em consonacircncia com as poliacuteticas puacuteblicas estabelecidas pela Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo 2Promover accedilotildees voltadas agrave formaccedilatildeo continuada e de pesquisa dos teacutecnicos do NRE sobre o Ensino de Histoacuteria e Cultura Afro brasileira Africana e Indiacutegena (SEED 2010)

Ao longo do documento natildeo haacute referecircncias que indiquem que o professor

deva trabalhar com outros temas referentes agrave diversidade Contudo a criaccedilatildeo da

equipe multidisciplinar eacute um exemplo de uma poliacutetica educativa criada para o

cumprimento da legislaccedilatildeo Com isso vem o seguinte questionamento no caso dos

desafios enfrentados pelas escolas e professores situados em regiatildeo de fronteira a

obrigatoriedade para demandas especiacuteficas dessas escolas teria um caminho

possiacutevel (deliberaccedilotildees especiacuteficas para as documentaccedilotildees dos alunos

estrangeiros a obrigatoriedade do ensino da histoacuteria da cultura dos paiacuteses com os

quais a cidade fronteiriccedila faz parte formaccedilatildeo de professores especiacuteficas em cidade

ou regiotildees como Foz do Iguaccedilu que apresenta uma quantidade expressiva de

estrangeiras nesse caso os aacuterabes a proposta de poliacuteticas linguumliacutesticas especiacuteficas

que facilitem o processo de inserccedilatildeo desses alunos em sala de aula etc)

Essas questotildees surgiram agrave medida que se tornou possiacutevel perceber que

quando um tema eacute reconhecido pelo Estado tem-se a impressatildeo de que ele passa a

existir oficialmente nas escolas e nas outras instituiccedilotildees Por exemplo a lei

1063903 discute a temaacutetica da histoacuteria da Aacutefrica e da cultura negra e possui dentre

outros objetivos o combate ao racismo Essa discussatildeo poreacutem sempre esteve

presente nas escolas pois a luta contra o racismo e discriminaccedilatildeo racial comeccedilou

ainda no periacuteodo escravocrata pelos primeiros movimentos de resistecircncia a citar os

quilombos

Desse modo natildeo eacute novidade o enfrentamento com o racismo nem eacute

novidade que os negros ficaram excluiacutedos da histoacuteria nacional e desde entatildeo

buscam a afirmaccedilatildeo de sua identidade Denota-se que satildeo questotildees que natildeo

passam despercebidas pela escola mas para que chegasse ateacute ela necessitou de

dispositivos legais para que fossem discutidas em sala de aula com o respaldo do

91

Estado Esses respaldos seriam accedilotildees criadas para dar condiccedilotildees de

implementaccedilatildeo agrave lei como a criaccedilatildeo em 2004 da Secretaria de Educaccedilatildeo

Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade (SECAD) com a finalidade de articular o

tema da diversidade nas poliacuteticas educacionais Tambeacutem foram criados alguns

programas e projetos Programa Diversidade na Universidade (2002 a 2007) os

Foacuteruns Estaduais e Foacuteruns Permanentes de Educaccedilatildeo e Diversidade Eacutetnico-Racial

a distribuiccedilatildeo do Kit didaacutetico-pedagoacutegico a Oficina Cartograacutefica sobre Geografia

Afro-brasileira e Africana (2005) o Projeto Educadores pela Diversidade

(20042005) o Curso Educaccedilatildeo e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais (2005) a Pesquisa

Nacional Diversidade nas Escolas (2006 a 2009) dentre outros (GOMES 2010)

Tudo isto foi possiacutevel explica Gomes (2010) devido ao longo processo de

lutas sociais e natildeo a ldquouma daacutediva do Estado pois enquanto uma poliacutetica de accedilatildeo

afirmativa ela ainda eacute vista com muitas reservas pelo ideaacuterio republicano brasileiro

que resiste em equacionar a diversidaderdquo (GOMES 2010 p 9) Diante das

prerrogativas contidas na LDB96 referentes agrave questatildeo da diversidades cultural

observou que elas por si soacute natildeo atingem a fronteira com suas diversidades que

estatildeo nas escolas que devem seguir as suas normas que por sua vez seguem uma

linha de poliacuteticas universalistas

342 Os Paracircmetros Curriculares Nacionais

Os Paracircmetros Curriculares Nacionais foram publicados apoacutes a

implementaccedilatildeo da Lei de Diretrizes e bases da Educaccedilatildeo Nacional de 1996 pela

Secretaria de Educaccedilatildeo do Ensino Fundamental do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do

Desporto O contexto de sua construccedilatildeo ocorreu apoacutes a Conferecircncia Mundial de

Educaccedilatildeo para Todos em Jomtien na Tailacircndia (1990) que teve como resultado

um documento que destaca a necessidade de uma educaccedilatildeo para todos sem

distinccedilatildeo Do compromisso assumido internacionalmente para com a Educaccedilatildeo

somados aos princiacutepios previstos na LDB de 1996 nascem os PCN‟S

Os PCN‟s satildeo um instrumento normativo que nasceu para cumprir o artigo

210 disposto no capiacutetulo III da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que institui a fixaccedilatildeo de

ldquoconteuacutedos miacutenimos para o ensino fundamental de maneira a assegurar formaccedilatildeo

baacutesica comum e respeito aos valores culturais e artiacutesticos nacionais e regionaisrdquo

Nasceu tambeacutem no contexto das implementaccedilotildees das poliacuteticas neoliberais o que

92

gerou muitas criacuteticas acerca de seus reais propoacutesitos Contaram com os subsiacutedios

de acordos e documentos elaborados por organismos internacionais tais como a

declaraccedilatildeo Mundial sobre a Educaccedilatildeo para Todos Declaraccedilatildeo de Nova Delhi

Relatoacuterio para a Unesco da Comissatildeo Internacional sobre a Educaccedilatildeo para o seacuteculo

XXI dentre outros acordos e documentos de organismos internacionais

(RODRIGUES 2001)

O processo de elaboraccedilatildeo dos Paracircmetros Curriculares Nacionais conforme o

documento comeccedilou a partir do estudo das

Propostas curriculares de Estados e Municiacutepios brasileiros do diagnoacutestico realizado pela Fundaccedilatildeo Carlos Chagas sobre curriacuteculos oficiais e do contato com informaccedilotildees referentes agraves experiecircncias de outros paiacuteses (BRASIL 1998 p15)

Com base nas orientaccedilotildees presentes no Plano Decenal de Educaccedilatildeo (1993-

2003) de pesquisas internas e externas de dados acerca do desempenho dos

estudantes do ensino fundamental aleacutem das experiecircncias de sala de aula

socializadas em seminaacuterios congressos encontros e publicaccedilotildees foi elaborada a

proposta inicial que passou por um processo de anaacutelise entre os anos de 1995 e

1996 Desta anaacutelise saiacuteram aproximadamente setecentos pareceres sobre a

proposta inicial que serviram de referecircncia para sua redaccedilatildeo final

Os PNC‟s de 1ordf a 4ordf seacuterie foram transformados em 10 livros lanccedilados no dia

15 de outubro de 1997 dia do professor na capital Brasiacutelia Estes dez volumes

apresentam os seguintes conteuacutedos introduccedilatildeo liacutengua portuguesa matemaacutetica

ciecircncias naturais histoacuteria e geografia arte educaccedilatildeo fiacutesica apresentaccedilatildeo dos

temas transversais meio ambiente e sauacutede pluralidade cultural e orientaccedilatildeo sexual

Desse modo estatildeo organizados em um documento introdutoacuterio seis documentos

que tratam das aacutereas de conhecimentos gerais e trecircs volumes referentes aos Temas

Transversais (MOTTA 2005)

Segundo o documento elaborado em 1997 com o objetivo de introduzir os

PCN‟s ao professor sua funccedilatildeo eacute de

() orientar e garantir a coerecircncia dos investimentos no sistema educacional socializando discussotildees pesquisas e recomendaccedilotildees subsidiando a participaccedilatildeo de teacutecnicos e professores brasileiros principalmente daqueles que se encontram mais isolados com

93

menor contato com a produccedilatildeo pedagoacutegica atual (BRASIL 1997 p13)

Trata-se portanto natildeo de um curriacuteculo mas de um suporte para que a escola

possa elaborar seu programa curricular dentro de sua realidade especiacutefica Os

PCN‟s estatildeo organizados em dois grupos 1) composto por aacutereas tradicionais

(Portuguecircs Matemaacutetica Histoacuteria Geografia Ciecircncias Naturais Educaccedilatildeo Fiacutesica

Liacutengua Estrangeira e Arte) 2) composto pelos temas transversais que vai tratar das

seguintes questotildees Eacutetica do Meio Ambiente da Pluralidade Cultural da Sauacutede da

Orientaccedilatildeo Sexual e do Trabalho e Consumo (BRASIL 1998 p17) A justificativa

para a escolha de tais temaacuteticas pauta-se no fato de serem assuntos urgentes e que

fazem parte das preocupaccedilotildees e do cotidiano da sociedade brasileira

A finalidade uacuteltima dos Temas Transversais se expressa neste criteacuterio que os alunos possam desenvolver a capacidade de posicionar-se diante das questotildees que interferem na vida coletiva superar a indiferenccedila e intervir de forma responsaacutevel Assim os temas eleitos em seu conjunto devem possibilitar uma visatildeo ampla e consistente da realidade brasileira e sua inserccedilatildeo no mundo aleacutem de desenvolver um trabalho educativo que possibilite uma participaccedilatildeo social dos alunos (BRASIL 1998 p26)

Por temas transversais compreende-se um conjunto de conteuacutedos que natildeo

ldquoquerendo desbancar os previamente fixados pelas disciplinas acadecircmicas

claacutessicas se apresentam como temas transversais no curriacuteculo e portanto comuns

a todas as aacutereas e disciplinasrdquo (RAMOS 1998 p 2) Neste sentido como explica o

volume 10 dos Paracircmetros Curriculares Nacionais que trata dos temas transversais

os conteuacutedos convencionais devem receber as questotildees dos Temas Transversais

de modo que seus conteuacutedos os explicitem e os objetivos sejam considerados

(BRASIL 1998) Em seguida o documento apresenta o seguinte exemplo para

ilustrar essa transversalidade

() aacuterea de Ciecircncias Naturais inclui a comparaccedilatildeo entre os principais oacutergatildeos e funccedilotildees do aparelho reprodutor masculino e feminino relacionando seu amadurecimento agraves mudanccedilas no corpo e no comportamento de meninos e meninas durante a puberdade e respeitando as diferenccedilas individuais Dessa forma o estudo do corpo humano natildeo se restringe agrave dimensatildeo bioloacutegica mas coloca esse conhecimento a serviccedilo da compreensatildeo da diferenccedila de gecircnero (conteuacutedo de Orientaccedilatildeo Sexual ) e do respeito agrave diferenccedila (conteuacutedo de Eacutetica) Assim natildeo se trata de que os professores das

94

diferentes aacutereas devam ldquopararrdquo sua programaccedilatildeo para trabalhar os temas mas sim de que explicitem as relaccedilotildees entre ambos e as incluam como conteuacutedos de sua aacuterea articulando a finalidade do estudo escolar com as questotildees sociais possibilitando aos alunos o uso dos conhecimentos escolares em sua vida extra-escolar Natildeo se trata portanto de trabalhaacute-los paralelamente mas de trazer para os conteuacutedos e para a metodologia da aacuterea a perspectiva dos temas

(BRASIL 1998 p27)

Fernanda Motta (2005) explica que as discussotildees sobre os temas

transversais no campo da educaccedilatildeo surgem em um momento onde diversos grupos

sociais politicamente organizados em diferentes paiacuteses comeccedilaram a questionar

qual seria o papel da escola em meio a uma sociedade plural e globalizada e quais

assuntos que deveriam ser tratados na educaccedilatildeo escolar (MOTTA 2005 p20)

Neste sentido continua

Esses grupos comeccedilaram a pressionar os Estados para que incluiacutessem na estrutura curricular escolar temas mais vinculados ao cotidiano da maioria da populaccedilatildeo possibilitando que as disciplinas passassem a se relacionar com a realidade contemporacircnea Parte-se do princiacutepio de que a escola natildeo pode ser vista como uma instituiccedilatildeo isolada Sua accedilatildeo deve ser norteada tomando como paracircmetro a cultura na qual estaacute inserida (MOTTA 2005 p28)

Assim podemos compreender a educaccedilatildeo como um tipo de poliacutetica social

pensada natildeo somente a partir do Estado mas por atores da sociedade civil

As poliacuteticas sociais ndash e a educaccedilatildeo ndash se situam no interior de um tipo particular de Estado Satildeo formas de interferecircncia do Estado visando agrave manutenccedilatildeo das relaccedilotildees sociais de determinada formaccedilatildeo social Portanto assumem bdquofeiccedilotildees‟ diferentes em diferentes sociedades e diferentes concepccedilotildees de Estado (HOFLING 2001 p31)

343 O Tema Transversal Pluralidade Cultural

No PCN de nuacutemero dez que trata especificamente dos temas transversais

no capiacutetulo referente agrave pluralidade cultural a justificativa pela pertinecircncia do tema eacute

dada pela diversidade cultural presente no paiacutes

Convivem hoje no territoacuterio nacional cerca de 210 etnias indiacutegenas cada uma co identidade proacutepria e representando riquiacutessima diversidade sociocultural junto a uma imensa populaccedilatildeo formada pelos descendentes dos povos africanos e um grupo numeroso de

95

imigrantes e descendentes de povos de vaacuterios continentes com diferentes tradiccedilotildees culturais e religiosas (BRASIL 1997 p125)

O documento chama atenccedilatildeo para o fato de que essa pluralidade cultural que natildeo

foge agrave realidade das escolas eacute ignorada ou mesmo silenciada sendo inuacutemeras as

justificativas para tal silenciamento Um exemplo citado pelos PCN‟s foi o periacuteodo de

nacionalismo dos governos autoritaacuterios que ldquoem diferentes momentos da histoacuteria

valeu-se da accedilatildeo homogeneizadora veiculada na escolardquo (BRASIL 1997 p125) A

deacutecada de 1930 foi um periacuteodo em que a poliacutetica oficial estava preocupada com a

quantidade de imigrantes e buscava formas de fazer com que essa populaccedilatildeo

assimilasse a cultura brasileira Enquanto isso a populaccedilatildeo negra era

marginalizada explica o PCN acerca da pluralidade cultural

O trabalho com o tema transversal propotildee o desenvolvimento das seguintes

capacidades

conhecer a diversidade do patrimocircnio etnocultural brasileiro cultivando atitude de respeito para com pessoas e grupos que a compotildeem reconhecendo a diversidade cultural como um direito dos povos e dos indiviacuteduos e elemento de fortalecimento da democracia

compreender a memoacuteria como construccedilatildeo conjunta elaborada como tarefa de cada um e de todos que contribui para a percepccedilatildeo do campo de possibilidades individuais coletivas comunitaacuterias e nacionais

valorizar as diversas culturas presentes na constituiccedilatildeo do Brasil como naccedilatildeo reconhecendo sua contribuiccedilatildeo no processo de constituiccedilatildeo da identidade brasileira

reconhecer as qualidades da proacutepria cultura valorando-as criticamente enriquecendo a vivecircncia de cidadania

desenvolver uma atitude de empatia e solidariedade para com aqueles que sofrem discriminaccedilatildeo

repudiar toda discriminaccedilatildeo baseada em diferenccedilas de raccedilaetnia classe social crenccedila religiosa sexo e outras caracteriacutesticas individuais ou sociais

exigir respeito para si e para o outro denunciando qualquer atitude de discriminaccedilatildeo que sofra ou qualquer violaccedilatildeo dos direitos de crianccedila e cidadatildeo

valorizar o conviacutevio paciacutefico e criativo dos diferentes componentes da diversidade cultural

compreender a desigualdade social como um problema de todos e como uma realidade passiacutevel de mudanccedilas

analisar com discernimento as atitudes e situaccedilotildees fomentadoras de todo tipo de discriminaccedilatildeo e injusticcedila social (BRASIL1998p147)

96

Diante dessas capacidades apresentadas pelo PCN eacute possiacutevel perceber que

o documento natildeo aborda especificamente a questatildeo da diversidade em regiatildeo de

fronteira internacional pois trata-se de orientaccedilotildees a serem desenvolvidas em todas

as escolas do paiacutes e natildeo em determinada regiatildeo especiacutefica cabendo entatildeo agrave

instituiccedilatildeo escolar realizar as adaptaccedilotildees necessaacuterias conforme o contexto no qual

estaacute inserida

Eacute importante lembrar que o estreito viacutenculo entre os conteuacutedos selecionados e a realidade local a partir mesmo das caracteriacutesticas culturais locais faz com que este trabalho possa incluir e valorizar questotildees da comunidade imediata agrave escola Contudo a proposta levanta tambeacutem a necessidade de referenciais culturais voltados para a pluralidade caracteriacutestica do Brasil como forma de compreender a complexidade do paiacutes bem como de ampliar horizontes para o trabalho da escola como um todo Lembra-se ainda que os conteuacutedos aqui definidos destinam-se ao trabalho com o terceiro e o quarto ciclos do ensino fundamental (BRASIL 1998 p148)

Em uma primeira leitura os temas transversais para a pluralidade cultural

conseguem abordar as principais pautas que a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e a

LDB96 estabelecem ao propor um ensino que valorize e incorpore o debate da

diversidade cultural na escolas mas que se apresentaram de modo muito superficial

e ao mesmo tempo amplo

Dentre algumas consideraccedilotildees acerca dos PCN‟S encontra-se a do professor

Antocircnio Cunha que na ocasiatildeo do lanccedilamento dos documentos questionou-os em

relaccedilatildeo ao o seu processo de elaboraccedilatildeo uma vez que o governo preferiu criar

propostas novas para os PCN‟s desconsiderando totalmente as anteriores

Em vez de se partir das propostas curriculares existentes para se chegar aos PCN‟s o que se fez foi apresentar aos estupefactos assistentes os paracircmetros jaacute elaborados Esse procedimento insoacutelito serviu para desestimular docentes e pesquisadores a darem seu parecer sobre os documentos quando solicitados pela Secretaria do Ensino Fundamental Parece que mais uma vez a administraccedilatildeo puacuteblica tem da pesquisa uma visatildeo apenas justificatoacuteria das opccedilotildees tomadas pelos dirigentes quando natildeo de algo apresentado tatildeo-somente para efeito propagandiacutestico (CUNHA 1996 p61)

Deste modo algumas das criacuteticas direcionadas aos PCN‟s encontram-se em

sua concepccedilatildeo O Parecer da Agecircncia Nacional dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB)

em consonacircncia com a posiccedilatildeo da Associaccedilatildeo Nacional de Histoacuteria (ANPUH)

97

realizado a pedido Secretaria do Ensino Fundamental do MEC na ocasiatildeo de seu

processo de elaboraccedilatildeo deu a seguinte resposta

Os bdquoParacircmetros‟ apresentam-se hoje como um retrocesso Apresentam-se organizados de forma semelhante aos antigos Guias Curriculares divididos em objetivos conteuacutedos avaliaccedilatildeo orientaccedilotildees didaacuteticas (em lugar das estrateacutegias) Apoacutes uma tentativa de explicitaccedilatildeo de conteuacutedos elenca-se para cada ciclo uma lista que pretende sintetizaacute-los Mesmo que no documento introdutoacuterio e nos documentos de aacuterea apareccedila registrada a natildeo intencionalidade da parte do MEC no sentido da obrigatoriedade de conteuacutedos determinados a real intenccedilatildeo jaacute patente a partir da escolha do termo bdquoparacircmetros‟ e a forma da organizaccedilatildeo dos mesmos eacute de molde a constituir em modelos uacutenicos a serem popularizadas e vulgarizadas em novos manuais didaacuteticos ()- O documento intitulado bdquoTemas Transversais‟ homogeneizar para a totalidade do paiacutes a definiccedilatildeo de bdquoconviacutevio social e eacutetica‟ meio ambiente e sauacutederdquo(AGB 1996p 62)

No parecer dos geoacutegrafos a construccedilatildeo de modelos uacutenicos e vulgarizados

bem como a tentativa de universalizar temas como a de conviacutevio social e eacutetico para

todo o paiacutes satildeo objetos de criacuteticas na medida em que a reflexatildeo sobre pluralidade

que haacute no paiacutes deve-se primeiramente ao seguinte questionamento destes temas

transversais - e em destaque o que trata da pluralidade cultural - quando adentra

em realidades como a de Foz do Iguaccedilu satildeo passiacuteveis de considerar as condiccedilotildees

locais Na mesma perspectiva Calllai (1997) fez o seguinte questionamento e

reflexatildeo

Os temas transversais propostos de certa forma homogeinizam tanto os problemas como o curriacuteculo a niacutevel nacional Eacute possiacutevel articular-se questotildees como pluralidade cultural exclusatildeo social e proposiccedilatildeo uacutenica de curriacuteculo As desigualdades sociais satildeo tambeacutem regionalizadas e como tal diferenciadas na sua expressatildeo localizada E eacute no local que o sujeito encara os problemas do seu cotidiano embora eles sejam o mais das vezes globais Poreacutem o global estaacute concretizado no lugar em que se vive e como tal eacute a partir daiacute que se precisa consideraacute-lo (CALLAI 1997 p 10)

Por outro lado aqueles (SILVEIRA MARQUES 2004) que vecircem os Temas

Transversais como uma novidade facilitadora para que haja debates em sala sobre

cultura diversidade e voltada para a interculturalidade possuem a consciecircncia de

que haacute alguma dificuldades seja pela falta de bibliografia pelas poucas experiecircncias

desenvolvidas e ateacute mesmo pela falta de formaccedilatildeo adequada de professores

Para que o trabalho com os temas transversais seja de fato efetivo torna-se

necessaacuterio a construccedilatildeo de uma proposta pedagoacutegica que envolva toda a

98

comunidade escolar Eacute necessaacuterio considerar que os temas ultrapassem os muros

da escola incluindo o contexto social envolvente Com relaccedilatildeo aos PCN‟s ainda que

haja criacuteticas referentes agrave sua elaboraccedilatildeo ainda que eles tendam agrave homogeneizaccedilatildeo

e por isso apresentem certa incoerecircncia teoacuterica a problemaacutetica maior eacute se esse

documento por meio dos temas transversais conseguiu inserir o debate sobre a

diversidade na comunidade escolar e como esse debate foi inserido

De modo geral os PCN‟s representam um avanccedilo no modo como trata do

tema pluralidade cultural No entanto as anaacutelises demonstraram que as tendecircncias

agrave homogeneizaccedilatildeo do curriacuteculo nacional ficam impliacutecitas no documento logo ele

recai em contradiccedilotildees pois reconhece a diversidade que existe no paiacutes mas insiste

em direcionar o trabalho da pluralidade a grupos especiacuteficos Neste caso negros e

indiacutegenas natildeo alcanccedilando realidades como a fronteiriccedila Assim acaba por deixar

de lado outros grupos

344 O Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute

O Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute (PEE-PR) de 2015 eacute fruto de um

processo que tem iniacutecio na Constituiccedilatildeo de 1988 que por meio do Art 22 inciso

XXIV estabelecia a elaboraccedilatildeo de uma Nova Lei de Diretrizes e Bases para

Educaccedilatildeo Sendo entatildeo criada em 1996 a LDB96 que delegou para estados

municiacutepios Uniatildeo e Distrito Federal ldquoaos entes federados fica a responsabilidade de

garantir os meios necessaacuterios para o acesso e permanecircncia de todos agrave educaccedilatildeo

puacuteblica e gratuitardquo (BRASIL 2014a)

Deste modo conforme o PEE-PR do Paranaacute a educaccedilatildeo foi estruturada em

planos decenais com o objetivo de

Articular o sistema nacional de educaccedilatildeo em regime de colaboraccedilatildeo e definir diretrizes objetivos metas e estrateacutegias de implementaccedilatildeo para assegurar a manutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensino em seus diversos niacuteveis etapas e modalidades por meio de accedilotildees integradas dos poderes puacuteblicos das diferentes esferas federativas (BRASIL 2014a p 15 apud PEE-PR 2015 p23)

As primeiras discussotildees do PNE comeccedilaram nas Conferecircncias Brasileiras de

Educaccedilatildeo (CBEs) nas deacutecadas de 1980 e 1990 Posteriormente estas conferecircncias

99

foram dando lugar para os Seminaacuterios Brasileiros de Educaccedilatildeo e as Conferecircncias

Nacionais de Educaccedilatildeo datadas da deacutecada de 1920 (PEE-PR 2015 p24) As

CBEs entre os anos de 1996 e 2004 foram substituiacutedas pelos Congressos

Nacionais de Educaccedilatildeo (Coned)(PARANAacute 2015)

O Plano Nacional de Educaccedilatildeo (PNE) foi aprovado pela primeira vez em 2001

pelo Congresso Nacional Brasileiro Em 2009 foi estabelecida a Conferecircncia

Nacional de Educaccedilatildeo (Conae) sendo um de seus objetivos o de mobilizar os

diversos setores da educaccedilatildeo brasileira a elaborarem um PNE correspondente ao

periacuteodo de 2011-2020 Assim apoacutes quatro anos de debates e de reelaboraccedilatildeo do

PNE a Lei Federal nordm 13005 de junho de 2014 instituiu o novo Plano composto

por 14 artigos e um anexo contendo 20 metas e estrateacutegias nacionais a serem

atingidas no periacuteodo de dez anos (PEE-PR 2015)

O documento base do PEE-PR na introduccedilatildeo apresenta as caracteriacutesticas

gerais da populaccedilatildeo paranaense Nela eacute destacada a presenccedila de diversas etnias e

nacionalidades que fazem parte da histoacuteria do estado e dada essa presenccedila a

educaccedilatildeo eacute uma instacircncia automaticamente atingida por essa diversidade

A populaccedilatildeo eacute formada por descendentes de povos europeus africanos ameriacutendios e indiacutegenas das etnias Guarani Kaingang e Xetaacute e por imigrantes procedentes principalmente dos estados do Rio Grande do Sul Santa Catarina Satildeo Paulo e Minas Gerais () Dessa forma esses grupos participaram na construccedilatildeo da cultura paranaense e muitos costumes oriundos dessas diferentes etnias ainda satildeo preservados em determinadas comunidades e se refletem na educaccedilatildeo paranaense (PEE-PR2015p 26)

Refletindo sobre estas caracteriacutesticas e atendendo agraves leis nordm 1063908 e

1164508 sobre a obrigatoriedade do ensino de histoacuteria e cultura afro-brasileira

africana e indiacutegena no curriacuteculo oficial dos estabelecimentos de ensino puacuteblico o

plano base possui as seguintes estrateacutegias

13 Orientar as instituiccedilotildees educacionais que atendem crianccedilas de zero a cinco anos a agregarem ou ampliarem em suas praacuteticas pedagoacutegicas cotidianas accedilotildees que visem ao enfrentamento da violecircncia sexual e a outros tipos de violecircncia agrave inclusatildeo e ao respeito agraves diversidades de toda ordem gecircnero eacutetnico-racial religiatildeo entre outros agrave promoccedilatildeo da sauacutede e dos cuidados agrave convivecircncia escolar saudaacutevel e ao estreitamento da relaccedilatildeo famiacutelia-crianccedila-instituiccedilatildeo ()18 Estabelecer programas em parceria com os municiacutepios para a oferta da educaccedilatildeo inclusiva nas comunidades indiacutegenas

100

quilombolas do campo e ciganas de acordo com suas especificidades (PEE-PR 2015 p64)

Conforme a finalidade no Plano este estabelece metas e estrateacutegias a serem

implementadas e consonacircncia com o Art8ordm contido no plano de educaccedilatildeo que

estabeleceu as seguintes estrateacutegias

I - asseguram a articulaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais com as demais poliacuteticas sociais particularmente as culturais II - consideram as necessidades especiacuteficas das populaccedilotildees do campo e das comunidades indiacutegenas quilombolas e demais grupos sociais singulares asseguradas a equidade educacional e a diversidade cultural (PEE-PR 2015 p2)

Chama atenccedilatildeo a especificidade do artigo oitavo que visa agrave articulaccedilatildeo das

poliacuteticas educacionais com as demais poliacuteticas sociais destacando principalmente a

questatildeo cultural Ao pensar nas particularidades educacionais encontradas em

regiotildees de fronteira internacional em Foz do Iguaccedilu onde a presenccedila de alunos

oriundos de outros paiacuteses eacute comum nas escolas seria pertinente que o tema

diversidade fosse ampliado Por exemplo no caso da presenccedila de alunos aacuterabes

(principalmente libaneses siacuterios e palestinos) nas escolas as diferenccedilas

manifestadas natildeo satildeo apenas linguiacutesticas Neste caso abarca tambeacutem a religiatildeo

(predominante o islatilde) os haacutebitos costumes vestuaacuterio alimentaccedilatildeo etc Neste

sentido propor poliacuteticas puacuteblicas que possibilitem a inclusatildeo desses alunos e natildeo a

exclusatildeo ou a desconsideraccedilatildeo das origens deste aluno eacute sem duacutevidas um grande

desafio

345 O Curriacuteculo da AMOP

Reduzindo o campo de anaacutelise da poliacutetica educativa para a regiatildeo oeste do

Paranaacute onde estaacute localizada a cidade de Foz do Iguaccedilu encontramos o curriacuteculo

baacutesico da Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do oeste do Paranaacute (AMOP) que na

introduccedilatildeo do documento baacutesico afirma que houve uma confusatildeo por parte das

escolas municipais que ao implementarem os PCN‟s nas escolas natildeo o utilizaram

como um paracircmetro Muitas o adotaram como curriacuteculo ou tornaram sua proposta

pedagoacutegica como ecleacutetica Assim os educadores da regiatildeo Oeste do Paranaacute

101

sentiram a necessidade de se rediscutir o curriacuteculo Para tal adotaram a seguinte

metodologia

Inicialmente a metodologia adotada nos colocou limites que avaliada apontou para uma nova organizaccedilatildeo Reorganizado um cronograma de trabalho coletivamente com as redes municipais de Ensino chegamos a este documento que eacute resultado de dois anos de intensos estudos de reflexotildees de embates teoacutericos de sistematizaccedilotildees de leituras de discussotildees e de anaacutelises do coletivo dos educadores os quais respeitando o movimento proacuteprio de cada rede e por sua vez de cada escola partiram de contribuiccedilotildees teoacutericas de alguns autores das experiecircncias e compreensotildees do que jaacute se fez ou se faz em nossas escolas (AMOP 2007 p07)

Os trabalhos para elaboraccedilatildeo de diretrizes curriculares para o oeste

paranaense comeccedilaram em 2005 juntamente com secretaacuterios municipais de

educaccedilatildeo do Oeste do Paranaacute Na primeira etapa foram organizados grupos de

trabalho para elaboraccedilatildeo de propostas para as disciplinas de Liacutengua

PortuguesaAlfabetizaccedilatildeo Matemaacutetica Histoacuteria Geografia e Ciecircncias Assim as

atividades comeccedilaram a partir de seminaacuterio com representantes das equipes de

ensino das secretarias municipais de educaccedilatildeo

No qual se discutiu sobre a concepccedilatildeo de homem de sociedade de conhecimento e sobre a funccedilatildeo da escola Participaram do evento aproximadamente 380 representantes (AMOP 2007 p25)

Os trabalhos seguiram no decorrer do ano de 2005 mediante reuniotildees dos

grupos junto aos profissionais da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo (SEED) que

atuaram na elaboraccedilatildeo das diretrizes para as escolas estaduais do Paranaacute O

Departamento Pedagoacutegico da AMOP integrou-se ao grupo como tambeacutem os

educadores da educaccedilatildeo baacutesica e instituiccedilotildees de ensino superior Posteriormente

abriram-se as discussotildees para toda regiatildeo a fim de compreender as primeiras

impressotildees da versatildeo preliminar do documento

A partir desse processo houve a reelaboraccedilatildeo desse documento que reelaborado a partir das contribuiccedilotildees dos educadores dos municiacutepios envolvidos tornou-se o ponto de partida para a elaboraccedilatildeo do curriacuteculo A construccedilatildeo do curriacuteculo foi feita por meio de um processo que desencadeou discussotildees preacutevias com os representantes dos municiacutepios sistematizaccedilatildeo dessas discussotildees por um grupo menor discussatildeo e anaacutelise dessa sistematizaccedilatildeo pelo conjunto de educadores de cada municiacutepio que tinha suas

102

contribuiccedilotildees registradas pelos seus representantes (AMOP 2007 p26)

A partir de entatildeo elaborado o curriacuteculo no que confere agraves questotildees da

diversidade a partir da realidade em Foz do Iguaccedilu foram identificados nas

diretrizes propostas para o ensino de Geografia e Histoacuteria componentes que

trabalham com a questatildeo da diversidade nas escolas Os conteuacutedos referentes ao

ensino da Geografia estatildeo nas seguintes proposiccedilotildees para o 5ordm ano

Caracteriacutesticas sociais ndash diversidades eacutetnicas e culturais do Paranaacute

Movimentos da populaccedilatildeo paranaense crescimento da populaccedilatildeo

Divisatildeo poliacutetica (formaccedilatildeo do conceito de distritomuniciacutepioestadopaiacutes)

A industrializaccedilatildeo e o crescimento urbano do Paranaacute ndash malha urbana

Tracircnsito - circulaccedilatildeo no estado ndash ligaccedilatildeo rodoviaacuteria ferroviaacuteria aeacuterea - vias pedagiadas ndash Fiscalizaccedilatildeo Poliacutecia Rodoviaacuteria e pesagem

Organizaccedilatildeo dos espaccedilos urbanos ndash problemas urbanos - centro e periferia Impostos e taxas pagamentos que financiam a infra-estrutura dos bens puacuteblicos (AMOPE 2007 p252-253)

Sobre os conteuacutedos propostos no AMOP (2007) o ensino de geografia propotildee que

as diversidades eacutetnicas e culturais presentes no Paranaacute sejam parte do conteuacutedo a

ser desenvolvido em sala de aula Tambeacutem a histoacuteria dos processos migratoacuterios

para o estado e a presenccedila dos diferentes grupos eacutetnicos que formam parte da

histoacuteria de formaccedilatildeo do Paranaacute (AMOP 2007)

Neste sentido a proposta da AMOP se aproxima da LDB96 e dos proacuteprios

PCN‟s que tratam da diversidade cultural com a diferenccedila de que ele eacute destinado

para a rede municipal de educaccedilatildeo do Oeste paranaense Nesta perspectiva haacute um

vieacutes positivo na medida em que delimita o oeste paranaense adotando o enfoque da

diversidade eacutetnico-racial o que permite maior aproximaccedilatildeo com a realidade do

aluno

103

346 Algumas consideraccedilotildees

Diante do exposto considerando os documentos analisados percebe-se que

haacute uma induccedilatildeo clara para que o trabalho pedagoacutegico com a temaacutetica da

diversidade esteja fundada na noccedilatildeo29 presente na Constituiccedilatildeo de 1988 de que o

Brasil sendo formado por trecircs raccedilas - o iacutendio o branco e o negro- deve considerar

essas e reconhececirc-las nos espaccedilos educacionais A LDB96 reafirma esses

propoacutesitos no artigo 26 Os PCN‟spor sua vez se adequa a LDB06 principalmente

com a criaccedilatildeo dos Temas Transversais

No plano estadual as poliacuteticas educacionais para diversidade natildeo ficam

distantes das propostas em niacutevel nacional pois devem obrigatoriamente seguir os

componentes das diretrizes nacionais Desse modo natildeo foi evidenciado nessas

poliacuteticas mecanismos que subsidiassem as escolas presentes em fronteira neste

caso Foz do Iguaccedilu com estrateacutegias para criar programas e projetos para a

diversidade Do mesmo modo podemos falar dos planos nacionais e estaduais de

educaccedilatildeo Por mais que enfatizem o trabalho pedagoacutegico conforme a realidade

local eles natildeo deixam de pensar no nacional Outro problema eacute a imposiccedilatildeo dessas

poliacuteticas puacuteblicas e os PCN‟s satildeo um exemplo de uma proposta vertical assim

como inuacutemeros projetos que chegam agrave escola sem uma preacutevia discussatildeo com as

bases que seriam as comunidades escolares

Desse modo o que pode ser feito nas escolas eacute uma adaptaccedilatildeo agrave realidade

local Todas essas poliacuteticas educativas chegam agrave regiatildeo da fronteira mas natildeo

atingem suas especificidades Por especificidades recordamos tratar-se da

presenccedila dos alunos estrangeiros nas escolas de Foz do Iguaccedilu a saber

paraguaios argentinos e brasiguaios que satildeo grupos que fizeram e fazem parte da

histoacuteria da cidade desde o seu iniacutecio mas ao mesmo tempo natildeo satildeo preocupaccedilatildeo

do Estado brasileiro devendo ser uma preocupaccedilatildeo de seus Estados Nacionais

Nesta loacutegica as escolas da regiatildeo natildeo foram criadas a partir da realidade

fronteiriccedila O multilinguismo eacute desconsiderado O Estado por meio da legislaccedilatildeo

impotildee o portuguecircs enquanto liacutengua oficial Falar de diversidade eacute possiacutevel desde

29

Pires-Santos e Cavalcanti (2008) definem o monolinguismo como um a adoccedilatildeo de uma

liacutengua homogecircnea pura uma liacutengua para um povo Trata-se na concepccedilatildeo das autoras de um mito ligado a interesses e investida de ideologia e que estaacute relacionado agrave nacionalidade

104

que seja referente aos grupos presentes no territoacuterio brasileiro que foram

historicamente colocados agrave margem da sociedade Logo 1) Seraacute que as nossas

escolas disponibilizam de tempo espaccedilo e interesse para desenvolver trabalhos de

combate ao preconceito contra o paraguaio chamado em momentos de ofensas de

xiru 2) E quanto agrave presenccedila aacuterabe na regiatildeo ela eacute discutida Como eacute a acolhida

destes na escola 3) O professor se sente preparado para lidar com estas questotildees

em sala de aula

Tais perguntas apresentadas acima foram motivadas a partir do pressuposto

de que temos um curriacuteculo nacional com raiacutezes eurocecircntricas conforme Tomaz

Tadeu da Silva (2007 p7) o curriacuteculo natildeo eacute neutro este ldquotransmite visotildees sociais

particulares e interessadas o curriacuteculo produz identidades individuais e sociais

particularesrdquo Por muito tempo a histoacuteria dos negros e indiacutegenas eram abordadas de

modo superficial por outro lado a histoacuteria antiga e recente da Europa sempre se fez

presente em nossos livros didaacuteticos Desconhecemos a Ameacuterica Latina seus povos

e histoacuteria logo desconhecemos os que fazem fronteira com o Brasil Squinelo

(2011) no artigo ldquoRevisotildees Historiograacuteficas A Guerra do Paraguai nos livros

didaacuteticos brasileiros-PNLD 2011rdquo ao analisar a histoacuteria da Guerra da Triacuteplice Alianccedila

presente nos livros didaacuteticos do Brasil aponta que pouco se discute considera a

versatildeo falha tendenciosa e conclui seu artigo com os seguintes questionamentos

Resta-me ainda algumas duacutevidas em relaccedilatildeo ao porquecirc entatildeo estudamos a Guerra do Paraguai na medida em que a) natildeo procuramos entender o sentido para os paiacuteses nela envolvidos b) natildeo buscamos a compreensatildeo de nosso desenvolvimento histoacuterico-soacutecio-cultural e econocircmico c) natildeo realizamos as conexotildees necessaacuterias ao entendimento das questotildees relacionadas ao Mercosul e finalmente d) natildeo propiciamos ao educando a compreensatildeo dos eventos histoacutericos de nosso passado latino-americano o que nos levaria a nos conhecer e a conhecer o outro e tambeacutem responderia muitas questotildees postas em nosso presente (SQUINELO 2011p 36)

35 O Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles um exemplo de poliacutetica

educacional para a fronteira

Dentro das poliacuteticas educacionais encontram-se outras variaacuteveis de poliacuteticas

dentre elas a poliacutetica linguiacutestica definida por Oliveira (2004 p38) como ldquoum o

conjunto de decisotildees que um grupo de poder sobretudo um Estado (mas tambeacutem

105

uma Igreja ou outros tipos de instituiccedilotildees de poder menos totalizantes) toma sobre o

lugar e a forma das liacutenguas na sociedade e a implementaccedilatildeo destas decisotildeesrdquo

Para Maher (2013 p 119) as poliacuteticas linguiacutesticas se referem aos objetivos e

agraves intervenccedilotildees que de uma forma ou outra visam ldquoafetarrdquo tanto o modo como as

liacutenguas se constituem quanto os modos como elas satildeo utilizadas eou transmitidas

A autora chama atenccedilatildeo para o equiacutevoco comumente difundido de que as poliacuteticas

lingusticas seriam apenas criadas por meio do governo ldquoPoliacuteticas linguumliacutesticas podem

ser arquitetadas e colocadas em accedilatildeo localmente uma escola ou uma famiacutelia pode

colocar em praacutetica ou estabelecer certa situaccedilatildeo sociolinguumliacutesticardquo (MAHER 2013

p120)

Essa perspectiva vai ao encontro da abordagem30 multicecircntrica ou policecircntrica

de poliacuteticas puacuteblicas que aleacutem de considerar o Estado inclui outras instacircncias como

protagonistas no estabelecimento de poliacuteticas puacuteblicas tais como as organizaccedilotildees

natildeo governamentais organizaccedilotildees privadas e organismos (DROS 1971

KOOIMAN 1993 RHODES 1997 HAJER 2003 apud SECCHI 2013) Nessa

premissa o PEIBF se enquadra na visatildeo multicecircntrica dos estudos de poliacuteticas

puacuteblicas uma vez que foi fruto de acordos bilaterais iniciados pela Argentina e o

Brasil no acircmbito do Mercado Comum do Sul (Mercosul)

O Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles de Fronteira (PEIBF) surgiu

dentro do oacutergatildeo pertencente ao Mercosul denominado Setor Educacional do

Mercosul (SEM) Segundo o documento ldquoEscolas de Fronteirardquo (BRASIL 2008) dos

antecedentes desse projeto encontra-se a oficializaccedilatildeo da criaccedilatildeo do MERCOSUL

em 1991 instituiccedilatildeo intergovernamental que nasceu com a assinatura do Tratado de

Assunccedilatildeo acordados inicialmente entre Argentina Brasil Paraguai e Uruguai

O bloco econocircmico Mercosul apresenta-se em um contexto de globalizaccedilatildeo

da economia O projeto teve como base as negociaccedilotildees entre Brasil e Argentina

30

Dentro das analises de poliacuteticas puacuteblicas Secchi (2013) discorre sobre o noacute conceitual que haacute na

literatura especializada nos estudos de poliacuteticas puacuteblicas Alguns pesquisadores defendem a abordagem estatista que considera as PP analiticamente monopoacutelio de atores estatais Outros a abordagem multicecircntrica que aleacutem de considerar o Estado inclui outras instacircncias como protagonistas no estabelecimento de poliacuteticas puacuteblicas

106

para a integraccedilatildeo de suas economias e os resultados positivos dessa integraccedilatildeo

levaram o Paraguai e o Uruguai a fazerem parte do projeto integracionista

O objetivo inicial do Mercosul fora a integraccedilatildeo dos quatros Estados

membros em termos de circulaccedilatildeo de bens e serviccedilos e de fatores produtivos da

formulaccedilatildeo de poliacutetica comercial comum da afirmaccedilatildeo de uma Tarifa Externa

Comum (TEC) e da busca por poliacuteticas legislativas comum aos paiacuteses membros Em

2012 a Venezuela tornou-se oficialmente mais um paiacutes membro do bloco e a Boliacutevia

caminha para o processo de ordenamento juriacutedico para oficializar sua participaccedilatildeo

Aleacutem disso o mercado comum conta com a participaccedilatildeo de paiacuteses associados

Chile Peru Colocircmbia Equador Guiana e Suriname

No final do seacuteculo passado o Mercosul passava por outro lado por crises do

ponto de vista comercial as dimensotildees poliacutetica sociocultural e educacional foram

ganhando relevacircncia (ALMEIDA 2015) Este periacuteodo de crise refere-se aos

impactos das poliacuteticas neoliberais implantadas na regiatildeo no decorrer das deacutecadas

de 1980 e 1990 O nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de pobreza passou de 136

milhotildees em 1980 para 222 milhotildees em 2004 (ESTAY 2007) Neste contexto de crise

econocircmica e aumento das desigualdades sociais que foi assinada a ldquoCarta de

Buenos Aires sobre o Compromisso Social no Mercosul Boliacutevia e Chile31rdquo no dia 30

de junho de 2000 A carta reconhece a importacircncia da dimensatildeo sociocultural do

Mercosul

Com a entrada de governos progressistas como a eleiccedilatildeo de Luiacutes Inaacutecio Lula

da Silva em 2003 e de Neacutestor Kircher na Argentina a funccedilatildeo do Mercosul enquanto

bloco meramente de integraccedilatildeo econocircmica foi revista e acrescida pelas dimensotildees

sociais para a integraccedilatildeo regional Desse modo a aacuterea social do Mercosul que

havia sido abordada na ldquoCarta de Buenos Airesrdquo e pela criaccedilatildeo da Reuniatildeo de

Ministros e Autoridades de Desenvolvimento Social do Mercosul foi expandida e

institucionalizada com a criaccedilatildeo do Instituto Mercosul Social (IMS) em 2007

(ALMEIDA 2015)

31

Em junho de 2000 os presidentes aprovaram a Carta de Buenos Aires com o Compromisso

Social no Mercosul Boliacutevia e Chile O documento estimula as autoridades competentes a ldquofortalecer o trabalho conjunto entre os seis paiacuteses assim como o intercacircmbio de experiecircncias e informaccedilotildees a fim de contribuir para a superaccedilatildeo dos problemas sociais mais agudos que os afetam e para definir os temas ou aacutereas onde seja viaacutevel uma accedilatildeo coordenada ou complementar para solucionaacute-los (BRASIL 2007 p25) Dentre as accedilotildees promovidas a partir da Carta encontra-se a criaccedilatildeo da Reuniatildeo de Ministros e Autoridades de Desenvolvimento Social do Mercosul instituiacuteda pela Decisatildeo n 612000 do CMC (ALMEIDA 2015p24)

107

A estrutura organizacional do Mercosul eacute composta pelo Conselho Mercado

Comum (CMC) Grupo Mercado Comum Comissatildeo Parlamentar Foro Consultivo

Econocircmico-Social Comissatildeo de Comeacutercio do Mercosul e Secretaria Administrativa

do Mercosul O CMC eacute responsaacutevel pela criaccedilatildeo da Reuniatildeo de Ministros da

Educaccedilatildeo (RME) principal responsaacutevel pela estrutura do Setor educacional do

Mercosul (SEM) (MERCOSUL EDUCACIONAL 2013) Dentre os objetivos

estrateacutegicos para a educaccedilatildeo do SEM estaacute agrave integraccedilatildeo e formaccedilatildeo de uma

identidade regional Tem como objetivo ser um espaccedilo regional no qual a educaccedilatildeo

seja de qualidade fundada no ldquoconhecimento intercultural o respeito agrave diversidade e

agrave cooperaccedilatildeo solidaacuteriardquo de modo a contribuir para a democratizaccedilatildeo dos sistemas

educacionais da regiatildeo (MERCOSUL 2011 p15) Da missatildeo definida pelo SEM

encontra-se a de

Formar um espaccedilo educacional comum por meio da coordenaccedilatildeo de poliacuteticas que articulem a educaccedilatildeo com o processo de integraccedilatildeo do MERCOSUL estimulando a mobilidade o intercacircmbio e a formaccedilatildeo de uma identidade e cidadania regional com o objetivo de alcanccedilar uma educaccedilatildeo de qualidade para todos com atenccedilatildeo especial aos setores mais vulneraacuteveis em um processo de desenvolvimento com justiccedila social e respeito agrave diversidade cultural dos povos da regiatildeo (MERCOSUL EDUCACIONAL 2011 p10)

No acircmbito do SEM encontra-se o Comitecirc Coordenador Regional cuja funccedilatildeo eacute

propor poliacuteticas de integraccedilatildeo e cooperaccedilatildeo da aacuterea educacional Uma vez

estabelecidas como liacutenguas oficiais do MERCOSUL o espanhol guarani e

portuguecircs coube ao setor educativo do bloco enfatizar em seu plano de accedilatildeo a

necessidade de difundir o ensino de portuguecircs e do espanhol por meio dos

sistemas educativos formais e informais

Como parte desse processo o Setor Educacional do Mercosul ndash SEM aponta nos seus planos de accedilatildeo a necessidade de difundir o aprendizado do portuguecircs e do espanhol por meio dos sistemas educacionais formais e natildeo formais considerando como aacutereas prioritaacuterias o fortalecimento da identidade regional levando dessa forma ao conhecimento muacutetuo a uma cultura de integraccedilatildeo e agrave promoccedilatildeo de poliacuteticas regionais de formaccedilatildeo de recursos humanos visando agrave melhoria da qualidade da educaccedilatildeo (BRASIL 2008 p 6)

351 Do processo de elaboraccedilatildeo

Conforme Secchi (2013) a tomada de decisatildeo no momento de se propor uma

poliacutetica puacuteblica eacute uma etapa em que os interesses dos atores satildeo equacionados

108

onde as razotildees de um problema puacuteblico satildeo explicitadas Nessa fase a equipe

bilateral de teacutecnicos e linguistas argentinos e brasileiros foram requeridos para

formular o projeto a fim de atender agraves expectativas dos dois paiacuteses Assim o projeto

proposto pela equipe teve como intuito promover as liacutenguas espanhola e portuguesa

atraveacutes do ensino biliacutengue e atraveacutes de intercacircmbios culturais entre Argentina e

Brasil

352 Do processo para implementaccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica

Para O‟Tolle Jr (2003 apud Secchi 2003p55 ) ldquoa fase de implementaccedilatildeo eacute

aquela em que regras rotinas e processos sociais satildeo convertidos de intenccedilotildees em

accedilotildeesrdquo Dos elementos baacutesicos para anaacutelise desse processo encontram-se

() pessoas e organizaccedilotildees com interesses competecircncias e comportamentos variados () tambeacutem fazem parte de processo as relaccedilotildees existentes entre as pessoas as instituiccedilotildees vigentes (regras formais e informais) os recursos financeiros materiais informativos e poliacuteticos (capacidade de influecircncia) (SECCHI 2013 p57)

Nesta perspectiva o Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles de Fronteira

foi implementado inicialmente em 2005 nas cidades brasileiras de Dioniacutesio

Cerqueira no estado de Santa Catarina e Uruguaiana no Rio Grande do Sul Do

lado argentino as cidades que aderiram ao programa foram Bernado de Irogoyen

em Misiones e Paso de los Libres em Corrientes O programa foi implantado pelo

Governo Federal brasileiro por meio da Coordenaccedilatildeo de Formaccedilatildeo Continuada do

Departamento de Poliacuteticas de Educaccedilatildeo Infantil e do Ensino Fundamental da

Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica32 em conjunto com o Ministeacuterio de la Educaciacuteon

Ciencia y Tecnologia (MEC y T) da Argentina A partir de 2006 o programa

estendeu-se para outras regiotildees de fronteira sendo elas Puerto Iguazuacute em

Misiones e Santo Tomeacute e La Cru e Corrrientes na Argentina e Foz do Iguaccedilu no

Paranaacute e Satildeo Borja e Itaqui no Rio Grande do Sul

Desde o primeiro momento algumas questotildees sobre sua origem foram

criticadas Sagaz (2013) aponta que o MEC natildeo apresentou o PEIBF oficialmente

como um Programa Temaacutetico ou um Projeto proposto e aprovado em Plano Pluri

32

O PEIF eacute de responsabilidade da Coordenaccedilatildeo Geral de Ensino Fundamental (COEF) na Diretoria

de Curriacuteculos e Educaccedilatildeo Integral - (DICEI) da Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica (SEB) no MEC

109

Anual (PPA) Para o autor natildeo era intenccedilatildeo do poder legislativo discutir os

orccedilamentos ldquotampouco eacute uma accedilatildeo de governo no que diz respeito agraves suas

diretrizes poliacuteticas uma vez que o oacutergatildeo competente natildeo solicitou a formalizaccedilatildeo

dos recursos junto ao PPArdquo (SAGAZ 2013 p 43) Isto manteve o PEIBF ateacute 2010

distante da prioridade e discussatildeo por parte do governo se comparado a outros

Programas e Projetos

O processo de implementaccedilatildeo comeccedilou no ano de 2004 com a primeira

reuniatildeo de planejamento No mesmo ano na cidade de Dioniacutesio Cerqueira ocorreu

uma reuniatildeo para instituir o programa na escola eleita Dentre as instituiccedilotildees

presentes encontravam-se o Instituto de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento em

Poliacutetica Linguiacutestica (IPOL) a 30ordf Gerecircncia Regional de Educaccedilatildeo e Inovaccedilatildeo

(GEREI) e o MECyT

A escola brasileira escolhida para a implementaccedilatildeo do projeto foi a Dr

Theodureto Carlos de Faria Souto A escola possui uma localizaccedilatildeo estrateacutegica pois

estaacute a aproximadamente dois quilocircmetros do posto da Receita Federal na fronteira

BrasilArgentina ldquoPode-se ir caminhando da escola ateacute o outro paiacutes sem nenhum

impedimento em relaccedilatildeo agraves vias de acesso e em relaccedilatildeo ao posto alfandegaacuteriordquo

(SAGAZ 2013 p77) Nela ocorreu a primeira reuniatildeo com os pais dos estudantes

em fevereiro de 2005 De acordo com a equipe teacutecnica a implementaccedilatildeo do PEIBF

deveria ser gradual a comeccedilar com a inclusatildeo das seacuteries iniciais do ensino

fundamental no projeto para posteriormente incluir as demais seacuteries A ampliaccedilatildeo

do projeto para todas as seacuteries da educaccedilatildeo baacutesica de uma soacute vez poderia causar

transtornos dada a necessidade de adequaccedilatildeo dos sistemas locais de educaccedilatildeo agrave

sua estrutura (BRASIL 2008)

As seacuteries escolhidas para o projeto foram o primeiro e segundo ano do ensino

fundamental A estrutura operacional e a tentativa de avanccedilar nas seacuteries iniciais do

ensino fundamental para os anos finais segundo a relatoria tornaram-se inviaacuteveis

pela falta de entendimento pedagoacutegico entre Argentina e Brasil (BRASIL 2008) Em

2006 os ministeacuterios dos paiacuteses envolvidos no PEIBF comeccedilaram a formular um

documento com diretrizes para todas as escolas em zonas de fronteiras envolvidas

no projeto intitulado ldquoModelo de ensino comum em escolas de zona de fronteira a

partir do desenvolvimento de um programa para a educaccedilatildeo intercultural com

ecircnfase no ensino do portuguecircs e do espanholrdquo Em 2012 o documento baacutesico foi

reelaborado contando com a contribuiccedilatildeo do Uruguai e Paraguai O nome do

110

documento passou a ser Modelo de ensentildeanza comuacuten em escuelas de zona de

frontera a partir del desarrollo de un programa para la educacioacuten intercultural com

eacutenfasis em la ensentildeanza de latildes lenguas predominantes en la regioacuten (MERCOSUL

EDUCACIONAL 2014)

Segundo o documento inicial do programa a projeccedilatildeo pretendida era de que

a cada ano fosse ampliado o nuacutemero de turmas envolvidas e que se avanccedilasse para

as proacuteximas seacuteries de modo que os alunos que fazera parte do programa pudesse

adquirir a familiarizaccedilatildeo com a cultura do paiacutes vizinho

O Programa tem por metodologia o intercacircmbio docente e as escolas satildeo as

responsaacuteveis por organizar os quadros dos professores que iratildeo fazer parte das

chamadas escolasespelhos (unidades baacutesicas de trabalho atuando como uma

unidade operacional)

Esta forma permite aos docentes dos paiacuteses envolvidos vivenciarem eles mesmos na sua atuaccedilatildeo e nas suas rotinas semanais praacuteticas de bilinguumlismo e de interculturalidade semelhantes agraves que querem construir com os alunos na medida em que se expotildeem agrave vivecircncia com seus colegas do outro paiacutes e com as crianccedilas das vaacuterias seacuteries com as quais atuam (BRASIL 2008 p21)

353 Avaliaccedilatildeo da Poliacutetica Puacuteblica- Primeiros impactos do PEIBF

De acordo com Leite e Flexor (2006) a avaliaccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica

consiste em verificar os efeitos atribuiacutedos agrave accedilatildeo do governo tendo portanto um

caraacuteter normativo Os autores afirmam que os avaliadores agem em funccedilatildeo de

quadros de referecircncia com valores e normas incluindo a percepccedilatildeo que devem ser

considerados nesse processo

A dificuldade dessa fase reside tambeacutem no fato de que os resultados efetivos satildeo relativamente independentes das expectativas iniciais Aleacutem disso as aspiraccedilotildees podem mudar no decorrer do percurso outros problemas podem surgir os objetivos satildeo geralmente ambiacuteguos e causas externas podem explicar os resultados Em outras palavras natildeo existe causalidade uniacutevoca (LEITE FLEXOR 2006 p 11)

Para Secchi (2013) existem alguns modelos diferenciados de avaliaccedilatildeo Haacute

aquelas que ocorrem anterior agrave implementaccedilatildeo (ex ante) e a avaliaccedilatildeo posterior agrave

implementaccedilatildeo (ex post) Existe tambeacutem a avaliaccedilatildeo que ocorre durante o processo

de implementaccedilatildeo cujo objetivo eacute a busca de ajustes imediatos O referido autor

111

elenca os principais criteacuterios utilizados para avaliaccedilotildees sendo eles economicidade

produtividade eficiecircncia econocircmica eficiecircncia administrativa eficaacutecia e equidade

O documento preliminar -Programa Escolas Biliacutenguumles de Fronteira - Modelo

de ensino comum em escolas de zona de fronteira a partir do desenvolvimento de

um programa para a educaccedilatildeo intercultural com ecircnfase no ensino do portuguecircs e

do espanholrdquo ( MEC y T MEC2008) busca analisar os primeiras experiecircncias do

projeto Nesse sentido trata-se de uma avaliaccedilatildeo que ocorreu durante o processo

de implementaccedilatildeo Dentre as consideraccedilotildees feitas nessa primeira etapa encontram-

se

- Do repertoacuterio linguumliacutestico das crianccedilas Apoacutes alguns meses do estabelecimento do

programa as professoras envolvidas evidenciaram que as crianccedilas argentinas

tinham maior familiaridade com a liacutengua portuguesa enquanto as crianccedilas

brasileiras tiveram dificuldades para assimilar o espanhol

As crianccedilas argentinas jaacute satildeo em algum niacutevel biliacutengues entendem razoavelmente bem a liacutengua portuguesa e muitas a falam com facilidade Isso se deve ao fato de que muitos satildeo descendentes de brasileiros Aleacutem disso tecircm uma maior exposiccedilatildeo agrave liacutengua atraveacutes da miacutedia maior frequecircncia de estadia no Brasil e eventualmente em consequecircncia destes fatores nota-se uma maior disponibilidade da populaccedilatildeo argentina de fronteira para o aprendizado do portuguecircs (MECy T MEC 2008 p 13)

Neste periacuteodo identificou-se uma necessidade de promover uma ldquosensibilizaccedilatildeo

linguumliacutesticardquo de modo que as crianccedilas brasileiras pudessem querer aprender a liacutengua

espanhola Para tal sensibilizaccedilatildeo a praacutetica intercultural eacute fundamental assinala o

documento

Da necessidade de Intercacircmbio entre alunos Verificou-se que aleacutem do

intercacircmbio entre professores houve a demanda por intercacircmbio entre os alunos

No entanto esse processo eacute mais complexo de ser executado haja vista que haacute

empecilhos como a documentaccedilatildeo das crianccedilas para entrada em outro paiacutes As

crianccedilas brasileiras e argentinas soacute podem realizar a travessia com uma

documentaccedilatildeo assinada pelos pais autorizando sua travessia

Da carga horaacuteria das escolas Como satildeo secretarias educacionais e paiacuteses

distintos um modelo uacutenico para sua execuccedilatildeo eacute praticamente improvaacutevel Essa

112

pauta foi discutida na equipe quando foram elaborados trecircs modelos de

organizaccedilatildeo das escolas envolvidas

Escola em Tempo Integral (Jornada Completa) Nesse modelo os alunos

possuem pelo menos dois dias de aula de liacutengua estrangeira e uma carga

horaacuteria total de 6 horas semanais Como a escola eacute de tempo integral os

alunos podem ter outras atividades destinados agrave educaccedilatildeo biliacutengue

Escola em Contra-Turno eacute semelhante agrave escola de Tempo Integral mas

neste caso apenas em um dos turnos haacute o ensino biliacutengue

Escola em Turno Uacutenico em dois dias da semana os trabalhos do programa

escolas biliacutengues satildeo realizados dentro do proacuteprio turno num total de cinco

horas semanais

Entre os modelos apresentados acima o primeiro eacute o da escola Dioniacutesio

Cerqueira e Bernado Yrigoyen o segundo aplica-se a Foz do Iguaccedilu e Puerto

Iguazuacute o terceiro modelo encontra-se presente em Uruguaina Verificou-se que o

trabalho desenvolvido nas escolas de turno uacutenico possui em sua base curricular o

segundo idioma enquanto o trabalho em contra-turno jaacute assimila as atividades do

programa como atividade extra-curricular o que natildeo eacute o objetivo do PEIBF O

melhor turno para se desenvolver o programa eacute o Turno Uacutenico pois natildeo interfere na

rotina da escola nem na estrutura fiacutesica ou mesmo na contrataccedilatildeo de mais

funcionaacuterios ou aumento da carga horaacuteria dos professores envolvidos (BRASIL

2008)

A escola em contra-turno amplia o periacuteodo de permanecircncia do aluno na

instituiccedilatildeo uma estrateacutegia vaacutelida e uacutetil para o processo de aprendizagem do aluno

Conforme o documento de implantaccedilatildeo as experiecircncias aqui expostas somadas

aos debates nas reuniotildees das equipes de trabalho bilaterais e no decorrer dos

encontros de formaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo requerem a formulaccedilatildeo de um novo modelo

para o Programa para que se possa refletir e dar respostas as peculiaridades das

escolas interculturais biliacutenguumles (BRASIL 2008)

A partir de 2012 o PEIBF por meio da Portaria nordm 798 de 19 de junho de

2012 do Diaacuterio Oficial da Uniatildeo passou a se chamar Programa Escolas

Interculturais de Fronteira (PEIF)

113

Art 1ordm Fica instituiacutedo o Programa Escolas Interculturais de Fronteira (PEIF) com o objetivo de contribuir para a formaccedilatildeo integral de crianccedilas adolescentes e jovens por meio da articulaccedilatildeo de accedilotildees que visem agrave integraccedilatildeo regional por meio da educaccedilatildeo intercultural das escolas puacuteblicas de fronteira alterando o ambiente escolar e ampliando a oferta de saberes meacutetodos processos e conteuacutedos educativos sect 1ordm As Escolas Interculturais de Fronteira satildeo as escolas puacuteblicas Estaduais e Municipais situadas na faixa de fronteira e instruiacutedas pelo Modelo de ensino comum de zona de fronteira a partido desenvolvimento de um Programa para a educaccedilatildeo interculturalcom ecircnfase no ensino do portuguecircs e do espanhol da Declaraccedilatildeo Conjunta de Brasiacutelia firmada em 23 de novembro de 2003 pela Argentina e pelo Brasil e do Plano de Accedilatildeo do Setor Educativo do MERCOSUL (BRASIL 2012)

Pela mesma portaria criou-se o documento ldquoMarco Referencial de Desenvolvimento

Curricularrdquo o qual tem como objetivo central apresentar orientaccedilotildees comuns a serem

desenvolvidos pelas escolas envolvidas Entre os eixos organizadores encontram-

se

Eixo 1 - Funcionamento do Programa na escola

a) o envolvimento de toda a escola b) a definiccedilatildeo de metodologias dos projetos de aprendizagem c) a construccedilatildeo do projeto poliacutetico pedagoacutegico da escola intercultural (planejamento conjunto das accedilotildees) e regimento escolar d) considerar as especificidades curriculares e socioculturais das comunidades do campo indiacutegena e quilombola e) dinamizaccedilatildeo do relacionamento com escola do paiacutes vizinho definindo um plano de accedilatildeo conjunto para a realizaccedilatildeo do intercacircmbio docente aleacutem de outras accedilotildees que promovam a interculturalidade estendendo-se a todos os anos de escolarizaccedilatildeo da escola f) utilizaccedilatildeo das tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo disponiacuteveis e necessaacuterias Eixo 3 - Formaccedilatildeo continuada dos profissionais da educaccedilatildeo baacutesica sob a coordenaccedilatildeo das Universidades

a) compor o grupo local formado por Coordenador-geral do PEIF Coordenador-adjunto de Educaccedilatildeo Integral Supervisor de Articulaccedilatildeo e Acompanhamento Pedagoacutegico (secretaria de educaccedilatildeo) Pesquisadores Professores Formadores (universidade) Professor Formador (coordenador pedagoacutegico ou diretor da escola) Tutor agrave distacircncia (universidade) Tutor presencial eou PIBID (universidade para acompanhamento pedagoacutegico na escola) b) promover a articulaccedilatildeo no espaccedilo da Universidade entre educaccedilatildeo integral e interculturalidade c) articular-se com o comitecirc gestor de recursos financeiros de sua

114

instituiccedilatildeo d) ofertar accedilotildeescursos de aperfeiccediloamento e) contribuir para o repositoacuterio dos materiais de formaccedilatildeo f) agilizar os procedimentos de afastamento do paiacutes (tracircmite interno das IES) g) definir arranjos que permitam realizar formaccedilotildees dentro das regiotildees de fronteira nos municiacutepios h) elaborar produtos finais resultantes de cada moacutedulo de formaccedilatildeo conjunta com outros paiacuteses i) articular as accedilotildees do PEIF com o Programa Institucional de Bolsa de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia (PIBIDCAPESMEC) e com o Programa Novos Talentos (CAPESMEC) j) induzir a inclusatildeo da temaacutetica interculturalidade na perspectiva da educaccedilatildeo integral na formaccedilatildeo inicial dos cursos de licenciatura e poacutes-graduaccedilatildeo e na pesquisa acadecircmica k) promover o uso das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo realizar o diagnoacutestico sociolinguiacutestico das comunidades participantes do PEIF

Dentre os princiacutepios expostos acima destaca-se a participaccedilatildeo das

universidades o que abre espaccedilo para o desenvolvimento de pesquisas da criaccedilatildeo

de novas metodologias e de avaliaccedilotildees do projeto e da formaccedilatildeo docente numa

perspectiva intercultural O entendimento de interculturalidade do Programa eacute

() nesse caso ativa a escola seraacute intercultural na medida em que haja a participaccedilatildeo efetiva de profissionais e de alunos das diversas culturas envolvidas na comunidade educacional (e que natildeo satildeo soacute bdquoduas‟ a cultura argentina e a cultura brasileira o que corresponderia a pensaacute-las como unidades homogecircneas) em todas as instacircncias de convivecircncia que satildeo proacuteprias da instituiccedilatildeo escolar (BRASIL ARGENTINA 2008 p 26)

O Boletim produzido pela publicaccedilatildeo Salto para o Futuro que complementa

as ediccedilotildees televisivas da TV Escola do Ministeacuterio da educaccedilatildeo em sua primeira

ediccedilatildeo de 2014 apresentou o tema das Escolas Interculturais Biliacutenguumles de Fronteira

A professora Eliana Rosa Sturza coordenadora do Programa das Escolas

Interculturais de Fronteira na Universidade Federal de Santa Maria e do Laboratoacuterio

Entre liacutenguas da Universidade Federal de Sergipe relata as experiecircncias e

aprendizados do programa em diferentes cidades localizadas na fronteira

A proposta metodoloacutegica foi analisada por Sturza (2010 2014) enfocando a

experiecircncia das crianccedilas brasileiras em Uruguaiana no Rio Grande do Sul cuja

aprendizagem eacute dentro e fora de sala de aula Em uma das escolas as crianccedilas

confundiram as professoras argentinas com enfermeiras do posto meacutedico pois

115

estas usam avental branco costume que natildeo eacute habitual no Brasil As professoras

argentinas por sua vez estranharam as manifestaccedilotildees inicialmente constantes dos

alunos brasileiros que queriam abraccedilaacute-las tocaacute-las beijaacute-las ldquoEste eacute um traccedilo

cultural do comportamento brasileiro muito identificado pelo bdquoestrangeiro‟ Neste

caso nem tatildeo estrangeiro mas um vizinho do outro lado do riordquo (STURZA 2014

p26)

A experiecircncia dos professores brasileiros no projeto possibilitou que eles

tivessem contato direto com o sistema educacional do vizinho e esse contato gerou

novos espaccedilos de discussatildeo sobre o trabalho docente mediante as comparaccedilotildees

sobre os conteuacutedos relaccedilatildeo aluno-professor da infraestrutura das escolas e ateacute a

autonomia da gestatildeo escolar

Nesta experiecircncia os professores foram conhecendo o funcionamento e a estrutura do sistema educacional do paiacutes vizinho e percebendo como sistema brasileiro eacute autocircnomo em relaccedilatildeo ao sistema uruguaio ou argentino mais centralizado O aprendizado eacute de toda ordem ocorrendo entre os professores da escola e os das escolas parceiras ou seja argentinos e brasileiros debatem a educaccedilatildeo trocam ideias e fazem planejamento de projetos em conjunto (STURZA 2014 p25)

A metodologia tem como norte o ensino por Projetos de Aprendizagem (EPA)

modo de organizaccedilatildeo que permite o desenvolvimento de projetos localmente

envolvendo a participaccedilatildeo de toda a comunidade escolar ou outros grupos a

depender da necessidade do projeto

Ensino via Projetos de Aprendizagem (EPA) faz com que as crianccedilas participem de projetos biliacutengues que prevecircem tarefas a serem realizadas em portuguecircs e em espanhol Satildeo coordenadas respectivamente pela docente brasileira ou argentina de acordo com o niacutevel de conhecimento do idioma que possuam e de acordo com o planejamento conjunto realizado periodicamente por professoras argentinas e brasileiras com suas respectivas assessorias pedagoacutegicas (BRASIL 2008 p 28)

Nesta perspectiva os temas das aulas e os projetos de aprendizagem a

serem desenvolvidos parte dos interesses dos alunos Cabe agraves professoras

argentinas e brasileiras o desenvolvimento do programa em conjunto Sturza (2014)

ilustra alguns temas que surgiram da curiosidade dos alunos e que por sua vez

podem ser trabalhadas em conjunto Um exemplo nasce da pergunta porque os

dentes caem Curiosidade comum entre crianccedilas de 7 anos por estarem vivenciado

a troca dos dentes A fim de explicar esse processo as atividades partiram da leitura

116

da histoacuteria ldquoFada dos Dentesrdquo ou do ldquoRaacuteton Peacuterezrdquo a primeira contada no Brasil e a

segunda no Uruguai As tarefas realizadas satildeo como um ldquopasso a passordquo a partir de

um mapa conceitual33

Do ponto de vista normativo todos os trabalhos desenvolvidos devem estar

em acordo com as diretrizes curriculares de cada paiacutes juntamente com a proposta

curricular do projeto Sobre as formas de avaliaccedilatildeo dos alunos o documento da

versatildeo preliminar do programa visa agrave metodologia de bdquoportifoacutelio‟ ldquodefinido como o

acompanhamento realizado a partir de evidecircncias de variadas naturezas do trabalho

realizado pelos alunos individual e coletivamenterdquo (BRASIL 2008 p29) O portifoacutelio

eacute uma forma de organizar o conjunto de memoacuterias de obras realizadas pelo aluno

podendo ser realizadas individualmente ou em grupo O objetivo eacute mostrar a

trajetoacuteria de cada estudante no decorrer de um projeto permitindo que o professor

possa avaliar esse aluno atraveacutes das informaccedilotildees contidas no portfoacutelio

354 O PEIF em Foz do Iguaccedilu

O PEIF teve iniacutecio na cidade de Foz do Iguaccedilu em abril de 2006 a partir do

encontro com todos os envolvidos na cidade de Puerto Iguazuacute A primeira instituiccedilatildeo

responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo do projeto foi a Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo

Em 2014 a Universidade Federal da Integraccedilatildeo Latino-Americana (UNILA) passou a

coordenar o programa

As escolas escolhidas para realizaccedilatildeo do projeto foram a Escola municipal

Adele Zanotto Scalco em Foz do Iguaccedilu e a Escuela 164 em Puerto Iguazuacute As

escolas foram escolhidas pela localizaccedilatildeo estrateacutegica ambas ficam proacuteximas da

regiatildeo da Ponte Tancredo Neves ligaccedilatildeo entre os dois paiacuteses (CARVALHO 2012)

33

Mapas conceituais satildeo ferramentas graacuteficas para a organizaccedilatildeo e representaccedilatildeo do conhecimento Eles incluem conceitos geralmente dentro de ciacuterculos ou quadros de alguma espeacutecie e relaccedilotildees entre conceitos que satildeo indicadas por linhas que os interligam As palavras sobre essas linhas que satildeo palavras ou frases de ligaccedilatildeo especificam os relacionamentos entre dois conceitos Noacutes definimos conceito como uma regularidade percebida em eventos ou objetos designada por um roacutetulo Na maioria dos conceitos o roacutetulo eacute uma palavra embora algumas vezes usemos siacutembolos como + ou e em outras usemos mais de uma palavra Proposiccedilotildees satildeo enunciaccedilotildees sobre algum objeto ou evento no universo seja ele natural ou artificial Elas contecircm dois ou mais conceitos conectados por palavras de ligaccedilatildeo ou frases para compor uma afirmaccedilatildeo com sentido Por vezes satildeo chamadas de unidades semacircnticas ou unidades de sentido (CANAtildeS NOVAK 2010 p10)

117

Cabe destacar que a escola de Foz do Iguaccedilu eacute a uacutenica que participa do projeto no

Paranaacute conforme informaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (2015)

Sobre a estrutura do programa o relatoacuterio produzido pela Secretaria

Municipal da Educaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu na ocasiatildeo da primeira reuniatildeo entre a

equipe dos dois paiacuteses em abril de 2006 destaca os principais acordos para a

implementaccedilatildeo do programa nas escolas

Inicialmente o projeto atenderia duas turmas do ensino fundamental de cada

instituiccedilatildeo no turno da tarde todas as quartas-feiras

As aulas biliacutenguumles seriam ministradas no periacuteodo contra turno

A metodologia escolhida foi a de projetos pedagoacutegicos interculturais

A cada quinze dias os planejamentos das aulas seriam feitos com os

professores envolvidos no projeto com alternacircncia dos turnos de encontro e

das escolas

No mesmo relatoacuterio constam as comparaccedilotildees quanto agrave estrutura fiacutesica das

escolas A escola brasileira possui melhor estrutura fiacutesica pois possui videoteca

centro de esportes biblioteca sala de computaccedilatildeo e ar condicionado dentro das

salas de aula A escola argentina natildeo dispotildee desta estrutura Apesar destas

diferenccedilas as crianccedilas da escola brasileira e argentina natildeo possuem maiores

diferenccedilas quanto ao conhecimento pedagoacutegico

No iniacutecio do programa seu objetivo estava voltado para trabalhar com os

aspectos histoacutericos e culturais do paiacutes vizinhos tais como as muacutesicas roupas e as

comidas tiacutepicas de cada naccedilatildeo Depois por meio da assessoria do Instituto de

Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento de Poliacuteticas Linguiacutesticas (IPOL) no Brasil e

do Ministerio de Cultura Educacioacuten Ciencia y Tecnologiacutea de la Provincia de

Misiones (MCECyT) na Argentina passaram a adotar a pedagogia de projetos

(ALBUQUERQUE SOUSA 2014) O tema eacute escolhido pelos alunos e planejado

pelas professoras dos dois paiacuteses

Com a finalidade de conhecer o histoacuterico do PEIF a partir da experiecircncia

daqueles que estatildeo envolvidos diretamente no programa foram realizadas

entrevistas com duas professoras brasileiras ligadas ao programa e que ministram

aulas na argentina As entrevistadas tiveram seus nomes preservados A fim de

118

identificaacute-las adotamos os seguintes nomes fictiacutecios Tacircnia que participou do

projeto por cinco anos e Clara que entrou no programa em 2015

A professora Tacircnia que permaneceu no projeto por cinco anos na ocasiatildeo de

sua entrada relata que o programa na Argentina passava por um processo de

transiccedilatildeo Em 2009 eles inauguraram a Escuela Intercultural Biliacutengue 2 para atender

o PEIF Hoje o cruce (termo utilizado pelas professoras que realizam a travessia

para lecionar no paiacutes vizinho) eacute realizado duas vezes na semana sendo que o

nuacutemero de turmas para as duas escolas envolvidas satildeo as mesmas

Ateacute 2013 o nuacutemero de turmas atendidas por escola eram oito distribuiacutedas

entre quatro professoras com carga- horaacuteria correspondente a 2 horas As seacuteries

atendidas eram do 1ordm ao 4ordm ano No Brasil as professoras argentinas fazem o cruce

duas vezes na semana enquanto as brasileiras todas as quartas-feiras pela manhatilde

A partir de 2014 o nuacutemero de professoras brasileiras a participarem do projeto foi

reduzido pela metade

Assim como Sturza (2014) apontou esse processo de travessia possui um

significado aleacutem de ir ateacute uma escola estrangeira e colocar em praacutetica o programa

Trata-se de um processo de aprendizagem que vai desde as reflexotildees referentes

aos diferentes aspectos educacionais presentes nos dois paiacuteses ateacute os significados

que o programa exerce nos aspectos pessoais

Se eu tiver oportunidade eu volto porque eu gosto do projeto E o projeto eacute uma das minhas paixotildees eu gostei Eacute uma coisa super interessante eacute diferente acho que eacute um crescimento na profissatildeo da gente (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

As comparaccedilotildees em relaccedilatildeo agraves diferentes infraestruturas das escolas dos

dois paiacuteses satildeo inevitaacuteveis Tacircnia aponta que apesar da estrutura fiacutesica da escola

argentina ser muito boa os recursos didaacuteticos satildeo precaacuterios percebendo entatildeo os

contrastes que haacute nas poliacuteticas educacionais

A estrutura da escola laacute eacute muito boa eacute maravilhosa mas assim eacute tudo muito burocraacutetico no sentido de organizaccedilatildeo da escola Laacute eacute totalmente diferente aqui a gente tem fartura de material opccedilatildeo de coisa de tudo laacute bdquofarta‟ As salas satildeo uma penumbra com pouca iluminaccedilatildeo e tudo porque o governo natildeo daacute apoio nenhum como aqui tambeacutem (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

119

Outro ponto de comparaccedilatildeo satildeo os salaacuterios A professora Tacircnia aponta que o salaacuterio

da professoras argentinas eacute o dobro enquanto no Brasil o incentivo aos professores

eacute uma especulaccedilatildeo

Uma remuneraccedilatildeo diferente () ah isso aiacute jaacute foi questionado vaacuterias vezes que noacutes teriacuteamos um diferencial no salaacuterio a escola como um todo teria Se tivesse algum incentivo eu duvido que haveria resistecircncia em estar participando (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Quando a professora diz que ldquoeu duvido que haveria resistecircncia em estar

participandordquo ela se refere agrave resistecircncia de alguns professores em aderir ao PEIF

Quando questionada sobre o processo de escolha dos professores para o projeto

ela descreve que o correto eacute a rotatividade A cada um ou dois anos uma professora

ou professor deve assumir o projeto mas na praacutetica a direccedilatildeo eacute quem escolhe

A intenccedilatildeo do projeto eacute que se faccedila rodiacutezio soacute que aqui eacute por indicaccedilatildeo mesmo ldquoEsse ano vai ser vocecirc e ponto finalrdquo Porque por um bom tempo ficaram praticamente as mesmas pessoas igual eu permaneci por muito tempo (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

No iniacutecio do PEIF natildeo havia na carga horaacuteria oficial da escola a

disponibilidade para o preparo das aulas do programa O grupo que fazia parte do

projeto deveria encontrar uma brecha para organizar suas aulas

() depois do almoccedilo eu ia conciliando assim ia preparando a aula para as minhas turmas daqui para laacute e depois no ano passado34 quando entraram as outras professoras que melhorou comeccedilou a melhorar A prefeitura reduziu para dois professores e liberou a manhatilde para o projeto daiacute a escola se organizava como fosse possiacutevel Soacute que aumentou o nuacutemero de dias laacute (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Quando perguntada sobre a receptividade do projeto por parte dos

professores Tacircnia responde que havia outros motivos para resistecircncia

Tanto laacute quanto caacute haacute resistecircncia de professores tanto para trabalhar no projeto tanto para receber o projeto na escola Algumas coisas

34

Referente ao ano de 2014 tendo em vista que as entrevistas foram realizadas julho de 2015

120

avanccedilaram algumas estacionaram e muitas tecircm que melhorar ainda Porque ateacute agora o uacutenico objetivo () eacute um projeto lindo maravilhoso muito bom soacute que natildeo eacute feito na iacutentegra Poliacuteticos criam essas coisas e jogam e natildeo datildeo apoio Criam esses projetos porque foi na eacutepoca do Mercosul que foi criado soacute que natildeo datildeo apoio E aiacute a cada mudanccedila de governo eacute aquela burocracia porque um Ministro entra o outro sai o que entra natildeo sabe de nada do que estaacute acontecendo o que saiu deixa tudo engavetado natildeo passa pro outro () eacute aquela coisa (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Evidencia-se aiacute a criacutetica da professora Tacircnia agrave falta de acompanhamento por

parte do Estado em dar continuidade aos projetos O mesmo ocorre quanto aos

repasses de verba Do ponto de vista legal somente apoacutes a criaccedilatildeo da Portaria nordm

798 de 19 de junho de 2012 quando instituiu o Programa Escolas Interculturais de

Fronteira se pode falar em repasses de verba Em 2014 o Fundo Nacional de

Desenvolvimento da Educaccedilatildeo publicou como seriam feitos os repasses a escolas

de educaccedilatildeo baacutesica do Brasil para promover atividades em periacuteodo integral Dentro

desse grupo35 encontram-se os valores destinados agraves escolas que fazem parte do

Programa Escolas Interculturais de Fronteira no entanto a distribuiccedilatildeo de recursos

segue confusa

Segundo as professoras Tacircnia e Clara houve tambeacutem alguns retrocessos no

decorrer do projeto As duas destacam o processo de formaccedilatildeo dos professores

para atuarem no PEIF Em Foz do Iguaccedilu a universidade que coordena a formaccedilatildeo

para os professores eacute a UNILA entretanto as professoras entrevistadas se

queixam da ausecircncia da instituiccedilatildeo no ano de 2015

No ano passado acho que soacute teve uma formaccedilatildeo que ela (UNILA) proporcionou Mas nem foi a Unila quem acabou dando essa formaccedilatildeo foram as nossas supervisoras aqui Eu arrumei o material com as professoras que jaacute nem estatildeo mais aqui () eu nunca mais tive essas formaccedilotildees no comeccedilo noacutes tivemos vaacuterias (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

35

O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo publicou por meio da Resoluccedilatildeo nordm 14 de

2014 os detalhes de como seratildeo feito os repasses de verba para as escolas de educaccedilatildeo baacutesica a fim de promover atividades em periacuteodo integral e aos finais de semana De acordo com a Resoluccedilatildeo os montantes repassados seguiratildeo os moldes do Programa Dinheiro Direto na Escola As escolas envolvidas satildeo aquelas que desenvolveratildeo atividades em periacuteodo integral podendo ser urbanas rurais ou no caso das escolas do PEIF a promoccedilatildeo do ensino biliacutenguumle (BRASIL 2016) Disponiacutevel em lthttpwwwbrasilgovbreducacao201406fundo-destina-verba-para-garantir-atividades-da-educacao-integralgt Acesso em 14102015

121

A professora Clara quando questionada se jaacute passou por alguma formaccedilatildeo

responde que em 2015 teve uma que partiu da iniciativa dos professores da escola

Foi para os professores novos que trabalham aqui para conhecerem o projeto pois muitos professores sabem que existe o projeto sabe mais ou menos como ele funciona sabe assim que tem professoras de laacute que vem pra caacute e professoras daqui que vai pra laacute e soacute Mas o funcionamento mesmo tinha bastante professor que natildeo conhecia Daiacute agrave escola tomou iniciativa de fazer um dia todo de formaccedilatildeo Foram levantadas as dificuldades que cada um sentia ou no que poderia mudar mas ateacute agora ningueacutem deu um parecer daquilo ficou no papel (Entrevista realizada com a professora Clara em julho de 2015)

O que chama atenccedilatildeo na fala da professora Clara eacute a iniciativa local A

comunidade escolar organizou um curso de formaccedilatildeo para os professores Nesse

sentido abre possibilidades para que ainda que as poliacuteticas tenham sido em sua

elaboraccedilatildeo sem discussatildeo com as escolas no momento em que se inicia na

praacutetica pode ser ressignificada Aleacutem disso faz-se necessaacuterio maior estreitamento

com a instituiccedilatildeo responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo do PEIF pois conforme a fala das

professoras entrevistas eacute importante a formaccedilatildeo dos professores envolvidos no

projeto

Tacircnia quando questionada se ela conhecia o processo de elaboraccedilatildeo em que

surgiu o PEIF embora goste do projeto deixa claro que a iniciativa na sua

concepccedilatildeo foi arbitraacuteria

Noacutes bdquoengolimos goela a baixo‟ Soacute que natildeo tem apoio nenhum () assim eacute uma coisa muito bonita eacute um projeto maravilhoso Na verdade para ser um projeto mesmo tinha que ter a integraccedilatildeo tanto de noacutes professores funcionaacuterios e tudo mas principalmente das crianccedilas Conhecer a realidade um do outro soacute que isso noacutes nunca conseguimos (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Uma das criacuteticas evidenciadas no decorrer desta dissertaccedilatildeo eacute que o

processo histoacuterico de elaboraccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais tem origem

distante dos interesses dos grupos interessados por elas Mesmo quando eacute fruto das

demandas sociais elas passam por um confronto de interesses cujo resultado

culmina em leis projetos programas e curriacuteculos que nascem ambiacuteguos

(FRIGOTTO 2002)

122

Santos (et al 2015) em artigo sobre a construccedilatildeo de conhecimento em

Linguiacutestica Aplicada com foco no letramento considerando os conflitos entre o

conhecimento local o campo acadecircmico e os programas governamentais

descrevem as experiecircncias vivenciadas em um processo de formaccedilatildeo de

professores em uma escola puacuteblica na Triacuteplice Fronteira (Brasil Paraguai e

Argentina) As autoras chamam atenccedilatildeo para a resistecircncia de alguns professores

que podem interpretar a interferecircncia externa natildeo como uma cooperaccedilatildeo mas como

ameaccedila pela ldquoimposiccedilatildeo de um conhecimento considerado superior e

consequumlentemente tambeacutem uma desqualificaccedilatildeo do trabalho ali construiacutedordquo

(SANTOS et al 2015p 51) No caso do PEIF a criacutetica da professora Tacircnia

encontra-se na ausecircncia da participaccedilatildeo dos professores diretamente envolvidos no

programa e da falta de integraccedilatildeo entre os alunos dos dois paiacuteses envolvidos

355 As fronteiras do projeto

Quando perguntado agraves professoras quais satildeo as possiacuteveis sugestotildees para

melhorias para o projeto elas sugerem que os alunos possam fazer parte do cruce

No entendimento delas seria importante a integraccedilatildeo entre esses alunos Poreacutem a

rigidez das aduanas com relaccedilatildeo agrave documentaccedilatildeo e agrave travessia de crianccedilas na

ausecircncia dos pais somadas a toda responsabilidade que isso acarretaria torna

difiacutecil imaginar essa possibilidade Com isso o intercacircmbio dos alunos se reduz ao

envio de viacutedeos cartas e fotografias

Tacircnia acrescenta ainda que os proacuteprios professores correm um certo risco ao

fazer a travessia Em caso de acidente natildeo haacute nada que possa comprovar que elas

estavam em horaacuterio de trabalho

A gente vai pra laacute com a cara e a coragem noacutes natildeo temos nada que nos assegure Que Deus o livre se acontece uma desgraccedila Natildeo sei como que vai ficar porque natildeo tem nada que nos assegure Noacutes natildeo temos um seguro de vida nada que nos ampare legalmente (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Quando perguntadas sobre as dificuldades referentes ao bilinguumlismo as

professoras expressam que os alunos argentinos compreendem bem o portuguecircs e

alguns falam portunhol Satildeo curiosos conhecem as novelas os jornais e muacutesicas

123

brasileiras Este fato eacute atribuiacutedo ao intenso contato com os meios de comunicaccedilatildeo

brasileiro principalmente a televisatildeo explica Tacircnia

No comeccedilo eu achei que ia ter dificuldade de entendimento eacute claro que a gente natildeo entende cem por cento mas eu natildeo vi dificuldade nenhuma porque laacute eles satildeo muito receptivos Laacute as crianccedilas participam muito mais do que aqui e assim quanto agrave liacutengua natildeo tem dificuldade nenhuma porque as crianccedilas falam o portunhol e muitos o portuguecircs perfeitamente e eles nos entendem perfeitamente Laacute eles seguem as nossas programaccedilotildees da TV falam que aprendem o portuguecircs na TV na tela Eles amam o portuguecircs eles amam a programaccedilatildeo nossa aqui a gente chega laacute pelo menos nas salas que eu entrava eles querem falar sobre a novela eles querem conversar sobre as nossas programaccedilotildees e quando eu os questiono sobre onde eles aprenderam tudo aquilo eles respondem na tela professora na tela (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Os alunos brasileiro tecircm muita dificuldade com o espanhol Tacircnia explica que

geralmente as professoras brasileiras tecircm que permanecer em sala de aula para

auxiliar as professoras argentinas Retomo os aspectos histoacutericos da cidade para

explicar que o espanhol foi uma liacutengua presente no ensino do municiacutepio mas que foi

retirada do curriacuteculo acrescentando a importacircncia de se promover novamente a

inserccedilatildeo do espanhol nos curriacuteculos baacutesicos para as escolas situadas em fronteira

ou que pelo menos as escolas que integram PEIF

Creio eu que pra nossa cidade aqui () noacutes vivemos em uma fronteira aonde convivemos com dois paiacuteses que fala espanhol entatildeo natildeo que o inglecircs natildeo seja importante mas pelo menos na rede puacuteblica ou ateacute mesmo na particular o espanhol deve fazer parte da grade ou pelo menos nas escolas que tem esse projeto (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

356 PEIF Uma alternativa na fronteira

Com base na literatura que destaca a importacircncia de se analisar as poliacuteticas

puacuteblicas foi possiacutevel verificar que o Programa Escolas Interculturais Biliacutengues

possui algumas falhas advindas de seu processo de implementaccedilatildeo Dos atores

envolvidos nesse processo os principais satildeo oriundos dos Ministeacuterios da Educaccedilatildeo

a partir de acordos bilaterais Nesse sentido a verticalizaccedilatildeo da implementaccedilatildeo

originou alguns problemas como resistecircncia em aderir ao projeto divergecircncias de

turnos e conflitos de carga horaacuteria das escolas envolvidas Esses problemas talvez

124

pudessem ser amenizados caso os professores e demais membros da equipe

pedagoacutegica das escolas fizessem parte do processo de estruturaccedilatildeo do programa e

natildeo apenas da execuccedilatildeo

A inserccedilatildeo do Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles na cidade de Foz do

Iguaccedilu enquanto uma poliacutetica linguumliacutestica e ao mesmo tempo integracionista

demonstrou alguns ranccedilos Primeiro os documentos de 2008 sobre os primeiros

impactos do programa trata do tema resistecircncia do professor ao aderir ao programa

tambeacutem constado na fala da professora entrevistada que criticou o caraacuteter arbitraacuterio

das poliacuteticas educacionais e de como elas chegam agraves escolas

Eacute importante assinalar que do processo de implementaccedilatildeo o PEIF comeccedilou

sem um marco oficial para a sua institucionalizaccedilatildeo Segundo o ldquoPrograma de

Promoccedilatildeo do Desenvolvimento da Faixa de Fronteirardquo (2010) de 2004 ateacute 2010

ainda natildeo havia as bases legais para implementaccedilatildeo do Programa Isso deu

margem para que em vaacuterias anaacutelises o Programa fosse descrito como projeto pois

natildeo havia um estatuto ou algo que delimitasse o que caracterizava essa poliacutetica

Arbitraacuteria tambeacutem eacute a ausecircncia de discussotildees mais profundas sobre a

implementaccedilatildeo de uma poliacutetica linguiacutestica em regiatildeo de fronteira Nas entrevistas

constatou-se que os alunos argentinos possuem mais proximidade com a liacutengua

portuguesa e em contrapartida os alunos brasileiros demonstraram pouca

intimidade com a liacutengua portuguesa Sturza (2006) explica que enquanto no campo

internacional o espanhol deteacutem certo status se comparado ao portuguecircs na

fronteira esse papel eacute invertido pois argentinos da regiatildeo consideram o portuguecircs

como liacutengua de mais valor

Como pano de fundo desta discussatildeo encontra-se o Estado-naccedilatildeo O Brasil eacute

uma potecircncia regional36 o que pode contribuir tanto para o imaginaacuterio dos brasileiros

quanto de argentinos da regiatildeo ao considerarem os aspectos de nossa cultura isso

inclui nossa liacutengua oficial como superior ao espanhol Outro aspecto relevante eacute a

expressiva presenccedila dos meios de comunicaccedilatildeo por meio dos sinais de raacutedio e TV

que chegam aos lares argentinos o que faz com que eles tenham um contato mais

36

Ver Moniz Bandeira (2008) Texto para o seminaacuterio sobre ldquoA poliacutetica exterior do Brasil em sua

proacutepria visatildeo e na dos parceirosrdquo No artigo o autor cita os aspectos teoacutericos e histoacutericos que permitem caracterizar o Brasil enquanto uma potecircncia regional desde o seacuteculo XIX O que inclui sua dimensatildeo territorial seu poderio econocircmico e militar Disponiacutevel emlt httpwwwespacoacademicocombr09191bandeirapdf gt Acesso em 17112015

125

intenso com a liacutengua por meio dos programas de TV como as novelas citadas pela

professora entrevistada

O programa possui outras lacunas Eacute preciso estabelecer um consenso sobre

o orccedilamento para o programa a fim de fomentar a formaccedilotildees dos professores

manter uma estrutura que possibilite o transporte dos professores com seus

materiais didaacuteticos Contudo em termos de poliacutetica educacional para fronteira eacute a

primeira destinada para regiotildees de fronteira o que significa um certo avanccedilo para a

regiatildeo Eacute importante destacar que o PEIF eacute uma poliacutetica multilateral envolve outros

paiacuteses do Mercosul o que pode ser um exemplo de cooperaccedilatildeo para a promoccedilatildeo de

outras poliacuteticas educacionais

Eacute pioneirismo do Programa por meio da poliacutetica educacional para fronteira

internacional possuir como eixo a funccedilatildeo integradora onde o Mercosul tornou-se a

instituiccedilatildeo que fomentou a ideia a fim de promover programas que ultrapassam as

relaccedilotildees meramente econocircmicas entre os paiacuteses-membros A avaliaccedilatildeo inicial do

Programa mostrou que alguns pontos devem ser repensados Dos relatoacuterios

analisados constam poucos registros por parte dos professores sobre o processo de

aprendizado da liacutengua por parte dos alunos brasileiros Seria fundamental que o

mecanismo de avaliaccedilatildeo do Programa fosse aprimorado com instrumentos capazes

de captar como se daacute o programa em sala de aula mas conforme expresso aqui no

Brasil satildeo poucos os estudos e metodologias de avaliaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

126

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A relaccedilatildeo Estado-naccedilatildeo fronteira e poliacuteticas educacionais foram agraves palavras-

chave que nortearam esta dissertaccedilatildeo A hipoacutetese inicial eacute de que as poliacuteticas

educacionais principalmente as direcionadas para todo o ensino em niacutevel nacional

natildeo contempla as especificidades presentes na fronteira de Foz do Iguaccedilu Desse

modo para o desenvolvimento da hipoacutetese de trabalho buscou-se compreender um

pouco da histoacuteria da educaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu e suas particularidades por ser

uma cidade de fronteira

No primeiro capiacutetulo buscamos apresentar os principais conceitos que

norteiam a palavra fronteira Segundo a etimologia a palavra eacute de origem latina Foi

utilizada pela primeira vez no seacuteculo XVIII para estabelecer limites entre exeacutercitos

em conflito deslizando para as definiccedilotildees de fronteira do ponto de vista geograacutefico

geopoliacutetico e socioloacutegico (BECKER 2007 ALBUQUERQUE 2010 SILVA 2010)

Um dos principais objetivos deste capiacutetulo foi de apresentar a fronteira enquanto

uma regiatildeo em que eacute possiacutevel observar os principais instrumentos do Estado para o

construto da naccedilatildeo tais como a imprensa a escola e o exeacutercito

Dentro deste estudo a instituiccedilatildeo escolar foi o centro da pesquisa Com isso

foram apresentadas resultados de pesquisas anteriores (PEREIRA 2009 SOUZA

RODRIGUES 2009 TERENCIANI 2011) que destacam a relaccedilatildeo da escola na

fronteira sob diferentes perspectivas principalmente o da inserccedilatildeo do aluno oriundo

de outro paiacutes que faz fronteira com o Brasil e os principais desafios encontrados por

ele e para a escola Os dados apresentados neste capiacutetulo apontam que quando se

trata de investimentos em poliacuteticas puacuteblicas para regiatildeo de fronteira internacional o

Brasil tem priorizado as poliacuteticas de seguranccedila conforme os trabalhos de Franccedila e

Dorfman (2014) Trata-se de informaccedilotildees que vatildeo em direccedilatildeo aos aspectos

histoacutericos da funccedilatildeo do Estado e das concepccedilotildees de soberania e territoacuterio que

foram apresentadas no iniacutecio deste capiacutetulo

O segundo capiacutetulo apresentou a gecircnese das primeiras escolas na cidade de

Foz do Iguaccedilu sempre vinculadas aos outros aspectos como os fatores econocircmicos

e sociais Demonstrou-se que a formaccedilatildeo das escolas de Foz do Iguaccedilu antes

mesmo da fundaccedilatildeo da municipalidade contou com a presenccedila de estrangeiros que

na ausecircncia de um ensino formal criavam as suas proacuteprias escolas (WACHOWICZ

127

1984 SBARDELOTTO 2009) Essas escolas foram fechadas no periacuteodo

nacionalista momento em o governo brasileiro buscava a conformaccedilatildeo de uma

identidade e integraccedilatildeo nacional para tal conforme Lemiechek (2014) a criaccedilatildeo do

Territoacuterio Federal do Iguaccedilu em 1943 possibilitou maior controle das escolas

principalmente das escolas estrangeiras

Identificou-se ainda que em meados da deacutecada de 1970 nos relatoacuterios

sobre a situaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu no campo educacional havia uma tendecircncia em

depositar no aluno a culpa do fracasso escolar Nesse caso os alunos oriundos do

Paraguai e da Argentina eram considerados os mais fracos e ldquoatrapalhavamrdquo o

desenvolvimento do restante da turma ou seja a diferenccedila interpretada como um

problema para escola a liacutengua do outro como um entrave

O capiacutetulo trecircs sobre as poliacuteticas puacuteblicas para educaccedilatildeo apresenta um

breve histoacuterico das poliacuteticas educacionais brasileiras evidenciando que elas satildeo

fruto do contexto ao qual se inserem o periacuteodo ditatorial evidenciou a ausecircncia da

populaccedilatildeo no processo criaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais que por sua vez eram

controladas pelo Estado A partir do periacuteodo de abertura democraacutetica ateacute os dias

atuais as poliacuteticas educacionais passaram por inuacutemeras mudanccedilas Muitas

nasceram a partir das discussotildees oriundas de movimentos sociais das discussotildees

acadecircmicas etc Conforme Das e Poe (2004) o ldquoEstado eacute constantemente

refundado em suas formas de ordenar e fazer leis sugerindo que as margens satildeo

ldquodecorrecircncia e implicaccedilatildeo necessaacuteria do Estado assim como a exceccedilatildeo eacute um

componente necessaacuterio da regrardquo (DAS e POE 2004 p4)

Nesta premissa ao se analisar as principais poliacuteticas educacionais brasileiras

identificou-se que a questatildeo da diversidade cultural presente nos documentos tende

a generalizaccedilatildeo e homogeneizaccedilatildeo dada agrave superficialidade dos documentos Ainda

que represente um grande avanccedilo ao tornar obrigatoacuterio o ensino da cultura afro-

brasileira histoacuteria da Aacutefrica e indiacutegena nas escolas puacuteblicas e privadas brasileiras

quando chegamos agrave fronteira identificamos diversidades para aleacutem dessas duas

poliacuteticas

Tais princiacutepios de universalizaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais satildeo o espelho

de um Estado que se formou tentando ter como princiacutepio legal o tratamento igual da

populaccedilatildeo algo que soacute acentua as desigualdades existentes na medida em que o

diferente eacute tratado como um problema a ser solucionado Com esta noccedilatildeo o Estado

128

deixa de ser reconhecido como um importante ator na reproduccedilatildeo das

desigualdades para ser considerado a uacutenica soluccedilatildeo para os problemas sociais

Algumas pesquisas realizadas em escolas presentes em regiotildees de fronteira

constataram a erronia praacutetica de culpabilizar os alunos e professores pelo sucesso

ou fracasso escolar satildeo os professores que natildeo tem formaccedilatildeo satildeo os brasiguaios

argentinos e paraguaios com sua bdquohibridizaccedilatildeo linguiacutestica‟ satildeo os aacuterabes (colocados

em uma uacutenica caixa como se todos viessem do mesmo paiacutes) satildeo os alunos

indiacutegenas que chegam nas escola falando bdquoapenas‟ o guarani As pessoas tornam-se

problema

No caso de Foz do Iguaccedilu o perfil dos alunos que frequumlenta as instituiccedilotildees

escolares demonstra que os conceitos de cidadania natildeo satildeo riacutegidos se (des)fazem

na fronteira Os alunos que chegam aos espaccedilos escolares fronteiriccedilos natildeo

necessariamente assimilaratildeo a liacutengua portuguesa como uacutenica e oficial Ao mesmo

tempo estes alunos trazem consigo conhecimentos adquiridos de seu paiacutes de

origem mas o processo de equivalecircncia de estudos acaba por negar esses

conhecimentos que para serem validados devem ser bdquotraduzidos‟ para o portuguecircs

Para aleacutem do problema linguiacutestico temos a questatildeo da integraccedilatildeo desse

aluno no ambiente escolar que eacute ao mesmo tempo permeada por tensotildees mas

tambeacutem pela aproximaccedilatildeo com o outro Essas relaccedilotildees merecem atenccedilatildeo da escola

a fim de evitar manifestaccedilotildees xenofoacutebicas preconceituosas estigmatizadas e de

inferiorizaratildeo

A primeira hipoacutetese do trabalho me levou a pensar apenas na relaccedilatildeo Estado

Nacional e poliacuteticas educacionais para regiatildeo de fronteira Poreacutem os vazios

encontrados ao se analisar essas poliacuteticas e o modo como o Estado se faz presente

e ao mesmo distante da fronteira levou-me a refletir sobre a emergecircncia de outras

pedagogias

Para outros sujeitos outras pedagogias (ARROYO 2015) Paulo Freire em

sua obra a Pedagogia do Oprimido fala aos educadores que eacute preciso ter ldquoum

profundo respeito pela identidade cultural dos alunos e das alunas () implica

respeito pela linguagem do outro pela cor do outro o gecircnero do outro outrordquo

(FREIRE 2001 p60)

Conhecer de perto uma poliacutetica educacional para a fronteira do ponto de vista

institucional e das poliacuteticas de governo possibilitou-me a constatar contradiccedilotildees e

complexidades de uma poliacutetica que envolve natildeo apenas o campo das relaccedilotildees

129

internacionais mas o diaacutelogo na construccedilatildeo de um curriacuteculo as implicaccedilotildees legais

para o tracircnsito de pessoas na fronteira os questionamentos sobre as reais intenccedilotildees

do programa PEIF e de como esse programa foi concebido Pode-se considerar que

o PEIF foi a uacutenica poliacutetica puacuteblica analisada a partir dos dois eixos propostos no

iniacutecio do capiacutetulo terceiro Mainardes (2006) Assim traccedilamos os aspectos que

envolveu o papel do Estado na elaboraccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica e buscamos por meio

da anaacutelise dos documentos e entrevistas demonstrar os principais aspectos

impactos que a poliacutetica exerceu na escola envolvida considerando principalmente

as experiecircncia dos atores envolvidos neste caso das professoras entrevistadas

Dos caminhos possiacuteveis para uma poliacutetica educacional na fronteira a

perspectiva intercultural ldquoreconhece e assume a multiplicidade de praacuteticas culturais

que se encontram e se confrontam na interaccedilatildeo entre diferentes sujeitosrdquo (FLEURI

2003 p12)

Por fim ao considerar a fronteira uma regiatildeo que engloba as cidades de Foz

do Iguaccedilu Puerto Iguazuacute e Ciudad del Este a proposiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em

conjunto com os paiacuteses envolvidos satildeo importantes para atender as demandas

locais

130

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ALINE CRISTINA PAVA

POLIacuteTICAS EDUCACIONAIS PARA DIVERSIDADE E ESCOLAS NAS FRONTEIRAS O CASO DE FOZ DO IGUACcedilU COM A ARGENTINA E O

PARAGUAI

Dissertaccedilatildeo apresentada agrave Universidade Estadual

do Oeste do Paranaacute- UNIOESTE- para obtenccedilatildeo do

tiacutetulo de Mestre em Sociedade Cultura e Fronteiras

junto ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo Strictu Sensu

Mestrado em Sociedade Cultura e Fronteiras Linha

de pesquisa Linguagem Cultura e Identidade

Orientadora ProfaordfDra Regina Coeli Machado e

Silva

FOZ DO IGUACcedilU-PR 2016

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)

Biblioteca do Campus de Foz do Iguaccedilu ndash Unioeste Ficha catalograacutefica elaborada por Miriam Fenner R Lucas - CRB-9268

P149 Paiva Aline Cristina

Poliacuteticas educacionais para diversidade e escolas nas fronteiras o caso de

Foz do Iguaccedilu com a Argentina e o Paraguai Aline Cristina Paiva - Foz do

Iguaccedilu 2016

141 f il

Orientadora Profordf Drordf Regina Coeli Machado e Silva

Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sociedade Cultura e Fronteiras - Universidade Estadual do Oeste do

Paranaacute

1 Triacuteplice Fronteira (Argentina Brasil e Paraguai) ndash Educaccedilatildeo 2 Escolas

ndash Foz do Iguaccedilu ndash Histoacuteria 3 Multiculturalismo ndash Foz do Iguaccedilu 4 Educaccedilatildeo

e Estado ITiacutetulo

CDU 37(8182892)

370145

ALINE CRISTINA PAIVA

POLIacuteTICAS EDUCACIONAIS PARA DIVERSIDADE E ESCOLAS NAS FRONTEIRAS O CASO DE FOZ DO IGUACcedilU COM A ARGENTINA E O

PARAGUAI

Esta dissertaccedilatildeo foi julgada adequada para a obtenccedilatildeo do Tiacutetulo de Mestre em

Sociedade Cultura e Fronteiras e aprovada em sua forma final pelo Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo Stricto Sensu em Sociedade Cultura e Fronteiras ndash Niacutevel de

Mestrado aacuterea de Concentraccedilatildeo em Linguagem Cultura e Identidade da

Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute ndash UNIOESTE

COMISSAtildeO EXAMINADORA

______________________________________________________

Profa Dra Neiva Maria Jung

Universidade Estadual de Maringaacute (UEM)

Membro Efetivo convidado

_______________________________________________________

ProfDr Fernando Joseacute Martins

Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute (UNIOESTE)

Membro Efetivo da Instituiccedilatildeo

______________________________________________________

ProfaDra Regina Coeli Machado e Silva

Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute (UNIOESTE)

Orientadora

Foz do Iguaccedilu 15 de marccedilo de 2016

Dedico este trabalho

Aos meus pais Joatildeo e Maria

Aos meus irmatildeos William e Joatildeo Victor

Ao meu namorado Eduardo

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agrave Professora Dra Regina Coeli Machado pela compreensatildeo pelas

saacutebias orientaccedilotildees que natildeo se limitaram agraves paacuteginas desta dissertaccedilatildeo

Ao professor Dr Fernando Joseacute Martins e agrave professora Dra Neiva Maria Jung pela

participaccedilatildeo na banca de defesa

Aos meus pais Maria Aparecida e Joatildeo Bosco e irmatildeos Joatildeo Victor e William que me

deram o suporte necessaacuterio para essa jornada foi pensando neles que nos

momentos mais difiacuteceis tive forccedila para prosseguir

A todos os meus amigos que me apoiaram com as leituras de meus rascunhos

correccedilotildees e pelo incentivo que de modo direto ou indireto contribuiacuteram para a

conclusatildeo deste trabalho

Ao Eduardo Eliana e Baacuterbara que me deram o suporte emocional apoio e carinho

em toda essa trajetoacuteria

A primeira condiccedilatildeo para modificar a realidade consiste

em conhececirc-la

Eduardo Galeano (1985)

PAIVA Aline Cristina Poliacuteticas Educacionais para a diversidade e escolas nas fronteiras O caso de Foz do Iguaccedilu na fronteira com a Argentina e o Paraguai 2016 149 paacuteginas Dissertaccedilatildeo (Mestrado Interdisciplinar em Sociedade Cultura e Fronteiras)- Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute- UNIOESTE Foz do Iguaccedilu

RESUMO

O objetivo desta dissertaccedilatildeo eacute investigar as relaccedilotildees entre poliacuteticas educacionais e a diversidade cultural presente na fronteira de Foz do Iguaccedilu localizada no estado do Paranaacute A cidade brasileira juntamente com Ciudad del Este no Paraguai e Puerto Iguazuacute na Argentina formam a triacuteplice fronteira que dentre outras caracteriacutesticas eacute conhecida pelo turismo e pelas intensas relaccedilotildees comerciais O processo de formaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu foi marcado pela influecircncia dos paiacuteses da fronteira e pela presenccedila de outras nacionalidades e etnias Trata-se portanto de uma cidade natildeo apenas diversa pela presenccedila dos paraguaios e argentinos mas que tambeacutem eacute compartilhada por libaneses chineses coreanos chilenos bolivianos italianos dentre outros A escola e as poliacuteticas educacionais para esse contexto eacute o centro desta pesquisa na medida em que a instituiccedilatildeo escolar eacute um importante espaccedilo de socializaccedilatildeo A histoacuteria da educaccedilatildeo em Foz do Iguaccedilu e a histoacuteria das poliacuteticas educacionais no Brasil revelam como a escola eacute uma instituiccedilatildeo importante na formaccedilatildeo da identidade nacional e como estas afetam a relaccedilatildeo com o bdquooutro‟ Nesse sentido foram analisados documentos de poliacuteticas educacionais para a diversidade implementadas apoacutes a Constituiccedilatildeo de 1988 sendo elas a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional de 1996 os Paracircmetros Curriculares Nacionais para a pluralidade cultural de 1997 o Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute de 2015 e o curriacuteculo baacutesico para a escola puacuteblica municipal do oeste do Paranaacute feita pela Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oeste do Paranaacute (AMOP) em 2007 Por uacuteltimo buscou-se analisar o Programa Escola Intercultural Biliacutengue iniciativa do Mercosul que tem como objetivo integrar as regiotildees fronteiriccedilas por meio da educaccedilatildeo Com base nas analises das poliacuteticas educacionais para a diversidade principalmente a partir de 1988 verificou-se uma tendecircncia universalista dessas poliacuteticas para a diversidade que difere da diversidade particular vivida em Foz do Iguaccedilu PALAVRAS-CHAVE poliacuteticas educacionais escola estado fronteira

PAIVA Aline Cristina Educational policies for diversity and schools in the boundaries the case of Foz do Iguaccedilu on the border with Argentina and Paraguay 2016 149 pages Dissertation (Masters in Interdisciplinary Society Culture and Borders) - State University of Western Paranaacute-UNIOESTE Foz do Iguaccedilu

ABSTRACT

The objective of this study is from the relationship school and state investigate educational policies and consider whether they make it possible to work with diversity on the border of Foz do Iguaccedilu in the state of Paranaacute The Brazilian city along with Ciudad del Este in Paraguay and Puerto Iguazu in Argentina form the triple border which among other characteristics is known for tourism and the intense trade relations The process of formation of Foz do Iguaccedilu was marked by the influence of the border countries and the presence of other nationalities and ethnicities It is therefore a city not only different by the presence of Paraguayan and Argentinean neighbors but that is also shared by Lebanese Chinese Korean Chilean Bolivian Italian among others The school and educational policies in this context become the center of this research since the school is a major means of training and socialization of individuals and may contribute to the integration process the intercultural bias or other hand being a border to disregard the existence of ethnic and cultural diversity that makes up the school environment The reasons for the discussions in this work pass necessarily by the nation-state relationship with schoolThe history of education in Foz do Iguaccedilu and the history of educational policies in Brazil reveal how the school is an important institution in the national identity formation and how they impact relations in border schools To analyze the educational policies for diversity policies were analyzed educational documents from the Constitution of 1988 it derived the Law of Guidelines and Bases of National Education in 1996 and the National Curriculum Guidelines for cultural plurality in 1997 These two policies along with the State Plan for 2015 Paranaacute Education and basic curriculum for public school in western Paranaacute made by the Association of western Paranaacute Cities (AMOP) in 2007 to discuss public policies in the border region implies think of the region as a whole An example of an educational policy for border is the Intercultural Bilingual School Program the Mercosur initiative which passed through discussions with other countries in the border region In the city of Foz do the program takes place at the Municipal School Adele Zanotto Scalco and aims to contribute to the integral formation of children adolescents and young people through the articulation of actions aimed at regional integration through intercultural education by offering the bilingual educationIn order to get to know an educational policy there were two interviews with Brazilian teachers one former member of the program and the other which entered the year 2015 with the interviews it was possible to collect the first impressions of the program in Foz do Iguaccedilu its challenges and its importance as an educational policy in the field of linguistics integrationist content to influence future public policy KEYWORDS educational policies school state border

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Figura 01 - A Triacuteplice Fronteira- Argentina Brasil e Paraguai26

Figura 02- Favela Paraisoacutepolis em contraste com o bairro de classe alta Morumbi

em Satildeo Paulo capital27

Figura 03-Faixa de Fronteira do Brasil com os paiacuteses da regiatildeo28

Figura 04- Mapa da regiatildeo da Triacuteplice Fronteira- Argentina Brasil e Paraguai52 Figura 05-- Grupo Escolar Bartolomeu Mitre60

Figura 06- Escola Jorge Schimmelpfeng com crianccedilas carentes sob os cuidados do Capitatildeo Cyriacuteaco e de Joseacute Vicente Ferreira (os dois adultos agrave direta da foto rara)64

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AGB- Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros

ANPUH- Associaccedilatildeo Nacional de Histoacuteria

AMOP ndash Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oeste do Paranaacute

CEEPR- Conselho Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute

CF- Constituiccedilatildeo Federal

COEF- Coordenaccedilatildeo Geral de Ensino Fundamental

CONAE- Conferecircncia Nacional de Educaccedilatildeo

CMC- Conselho do Mercado Comum

CRUTACS- Centros Rurais Universitaacuterios de Treinamento e Accedilatildeo Comunitaacuteria

DCE ndash Diretrizes Curriculares da Educaccedilatildeo Baacutesica do Estado do Paranaacute

DICEI- Diretoria de Curriacuteculos e Educaccedilatildeo Integral

EBN- Empresa Brasileira de Notiacutecias

GEREI- Gerecircncia Regional de Educaccedilatildeo e Inovaccedilatildeo

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IPOL- Instituto de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento em Poliacutetica Linguiacutestica

ISEB- Instituto Superior de Estudos Brasileiros

PNC ndash Paracircmetros Curriculares Nacionais

IMS- Instituto Mercosul Social

LDB- Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional

MEC- Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

MEC Y T- Ministeacuterio de la Educaciacuteon Ciencia y Tecnologia

MERCOSUL- Mercado Comum do Sul

MOBRAL- Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo

MST- Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

NRE- Nuacutecleo Regional de Educaccedilatildeo

OMS- Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede

PPA- Plano Pluri Anual

PEIF- Programa Escolas Interculturais Biliacutengues

PEIBF- Programa Escolas Interculturais Biliacutengues de Fronteira

PCN- Paracircmetros Curriculares Nacionais

PDI- Plano de Desenvolvimento Integrado

PEEPR- Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute

PF- Poliacutecia Federal

PME- Plano Municipal de Educaccedilatildeo

PNE- Plano Nacional de Educaccedilatildeo

PNLD- Plano Nacional do Livro Didaacutetico

PP- Poliacutetica Puacuteblica

MERCOSUL- Mercado Comum do Sul

RME- Reuniatildeo de Ministros da Educaccedilatildeo

SEB- Secretaria da Educaccedilatildeo Baacutesica

SECAD- Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade

SEEDPR- Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

SENAC- Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Comercial

SEM- Setor Educacional do Mercosul

SISFRON- Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras

SIS-MERCOSUL- Sistema Integrado de Sauacutede do Mercosul

SUED- Superintendecircncia da Educaccedilatildeo

SUS- Sistema Uacutenico de Sauacutede

TEC- Tarifa Externa Comum

UFF- Universidade da Fronteira Sul

UNESCO- Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura

UNILA- Universidade Federal da Integraccedilatildeo Latino-Americana

UNIOESTE- Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 15

I Caminhos da pesquisa o percurso metodoloacutegico 20 II Estrutura da dissertaccedilatildeo 21

CAPIacuteTULO 1 Eacute PRECISO FALAR DA ESCOLA NA FRONTEIRA 25 11 Fronteira- Primeiras aproximaccedilotildees 25 12 Fronteira e a educaccedilatildeo como construto da naccedilatildeo 29 13 Reatualizaccedilatildeo de naccedilatildeo por deslizamentos em seus limites fronteiriccedilos 32 14 A porosidade do Estado sob a forma de poliacuteticas puacuteblicas 36 15 O contexto escolar vivido entre fronteiras a escola como reguladora do Estado 41

CAPIacuteTULO II A HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO EM FOZ DO IGUACcedilU CONSTRUTOS 50

21 Contexto histoacuterico 51 21Colocircnia Militar de Foz do Iguaccedilu e as primeiras escolas da regiatildeo 53 22 O projeto nacionalista do Estado Novo e a lsquonacionalizaccedilatildeo da fronteirarsquo61 23 Da construccedilatildeo de Itaipu agrave lsquoondarsquo de migraccedilatildeo e imigraccedilatildeo seus impactos na educaccedilatildeo 64 24 A Educaccedilatildeo a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 O direito agrave diversidade nas escolas 69

CAPIacuteTULO III POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS PARA A EDUCACcedilAtildeO NA FRONTEIRA ENTRE ARGENTINA BRASIL E PARAGUA 71

31 Poliacuteticas Puacuteblicas conceitos e abordagens 71 32 Caminhos das poliacuteticas educacionais no Brasil 74 33 Poliacuteticas educacionais a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 83 34 Escola e diversidade O que temos em termos de poliacuteticas educacionais 84

341 A LDB96 - A primeira lei originaacuteria da iniciativa civil e do legislativo 86 342 Os Paracircmetros Curriculares Nacionais 91 343 O Tema Transversal Pluralidade Cultural 94 344 O Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute 98 345 O Curriacuteculo da AMOP 100 346 Algumas consideraccedilotildees 103

35 O Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles um exemplo de poliacutetica educacional para a fronteira 104

351 Do processo de elaboraccedilatildeo 107 352 Do processo para implementaccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica 108 353 Avaliaccedilatildeo da Poliacutetica Puacuteblica- Primeiros impactos do PEIBF 110 354 O PEIF em Foz do Iguaccedilu 116 355 As fronteiras do projeto 122 356 PEIF Uma alternativa na fronteira 123

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 126

5 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 130

15

INTRODUCcedilAtildeO

Esta dissertaccedilatildeo apresenta um estudo sobre as poliacuteticas educacionais e

diversidade em regiatildeo de fronteira internacional Os estudos fronteiriccedilos perpassam

por diversas aacutereas do conhecimento como a Geografia Sociologia Antropologia

Ciecircncia Poliacutetica que tem apresentado inuacutemeras pesquisas a partir das mais

variadas formas de conceituar e abordar a temaacutetica (FRANCcedilA DORFMAN 2013)

No que se refere aos estudos sobre a regiatildeo de fronteira na aacuterea da educaccedilatildeo a

produccedilatildeo ainda eacute tiacutemida no Brasil (FEDATTO 1995 CITRINOVITZ 1996

ROSSATO 2003)

Para Pereira (2009) isso se reflete no processo de desenvolvimento das

poliacuteticas puacuteblicas que ateacute recentemente estavam sendo tratadas de forma

homogecircnea e unilateral ou seja sem levar em consideraccedilatildeo as particularidades de

cada regiatildeo fronteiriccedila No que tange agrave poliacutetica educacional brasileira esta deve ser

pensada em contexto amplo onde fatores como a Constituiccedilatildeo Federal a poliacutetica

nacional de direitos humanos e os acordos e tratados internacionais devem ser

considerados assim como os fatores sociais e culturais da sociedade brasileira

(SILVA MOURA MELLO 2013) Segundo Azevedo e Aguiar (2001) os estudos

sobre as poliacuteticas educacionais para regiatildeo de fronteira no Brasil satildeo recentes mas

encontra-se em processo de construccedilatildeo e crescimento

Por outro lado grupos como a Rede RETIS do Departamento de Geografia da

Universidade Federal do Rio de Janeiro atuam desde 1994 com pesquisa de limites

e fronteiras internacionais Com uma ampla rede de associados o grupo conta com

um acervo digital1 com diversas notiacutecias artigos teses e dissertaccedilotildees sobre

fronteiras internacionais incluindo trabalhos sobre educaccedilatildeo e fronteira

internacional Existe tambeacutem o acervo digital2 do Instituto de Investigaccedilatildeo e

Desenvolvimento em Poliacutetica Linguumliacutestica fundado em 1999 com sede em

Florianoacutepolis Santa Catarina Brasil que desenvolve projetos de apoio teacutecnico agraves

comunidades agraves comunidades de falantes de liacutenguas e variedads linguiacutesticas

1Site oficial do Retis lt httpwwwretisigeoufrjbr gt Acesso em 23062015

2Site Oficial do Ipol lthttpe-ipolorgpublicacoesgt Acesso em 23062015

16

minoritaacuterias do Brasil e do Mercosul objetivando a manutenccedilatildeo e divulgaccedilatildeo da

diversidade linguumliacutestica braseleira O instituto aleacutem de publicaccedilotildees proacuteprias divulga

inuacutemeros trabalhos que tratam do tema das poliacuteticas lingustiacutecas sendo um important

mecanismo de busca para pesquisa relacionadas agrave educaccedilatildeo e fronteira

internacional divulgando trabalhos como o de Sagaz (2013) e Pereira (2014) que

apresentam em suas dissertaccedilotildees o tema das escolas interculturais biliacutenguumles de

fronteira

As universidades localizadas nas regiotildees de fronteira internacional tem se

constituiacutedo enquanto importantes centros de investigaccedilatildeo sobre educaccedilatildeo e

fronteira a citar a Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute (UNIOESTE) que

possui o programa de poacutes-graduaccedilatildeo strictu sensu em Sociedade Cultura e

Fronteira que conforme as especificaccedilotildees em sua paacutegina oficial3 tem entre outros

objetivos ldquoqualificar profissionais que desenvolvam durante o processo de formaccedilatildeo

capacidades para coordenar estudos e pesquisas transfronteiriccedilos na perspectiva

de ultrapassar as fronteiras geopoliacuteticardquo Nos uacuteltimos anos tambeacutem foram criadas

outras universidades em regiotildees de fronteiriccedilas como a Universidade Federal da

Fronteira Sul (UFF) criada em 2009 localizada na Mesorregiatildeo Grande Fronteira

Mercosul e a Universidade Federal da Integraccedilatildeo Latino-Americana (UNILA) criada

em 2010 na cidade de Foz do Iguaccedilu no Paranaacute Dentre outros objetivos estas

instituiccedilotildees buscam o desenvolvimento de pesquisa em regiotildees fronteiriccedilas

contribuindo assim para o crescimento de estudos no campo das poliacuteticas

educacionais em regiatildeo de fronteira internacional

O interesse em tratar do tema da fronteira e poliacuteticas educacionais comeccedilou

em 2011 momento em que saiacute de uma pequena cidade do interior de Minas Gerais

para chegar agrave cidade de fronteira Foz do Iguaccedilu no Oeste paranaense com o

objetivo de cursar uma segunda graduaccedilatildeo pois sou licenciada em Pedagogia pela

Universidade Federal de Viccedilosa em Minas gerais e agora bacharel em Ciecircncia

Poliacutetica e Sociologia pela Universidade Federal da Integraccedilatildeo Latino-Americana As

duas graduaccedilotildees foram fundamentais para despertar o interesse pela pesquisa e

pelo mestrado interdisciplinar em Sociedade Cultura e Fronteiras o que resultou

nesta dissertaccedilatildeo

3Paacutegina virtual do Mestrado em Sociedade Cultura e Fronteiras da Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute lt

httpwwwunioestebrpossociedadeeculturagt Acesso em 13082014

17

Quando fiz a graduaccedilatildeo em Pedagogia meu interesse em poliacuteticas

educacionais para a diversidade nasceu em disciplinas de Sociologia da Educaccedilatildeo e

principalmente na disciplina que discutia as relaccedilotildees eacutetnicos e raciais nas escolas e

a formaccedilatildeo do professor A partir das reflexotildees sobre a funccedilatildeo da escola e do

professor em lidar com a diversidade eacutetica e racial em sala de aula meu problema

de pesquisa para a elaboraccedilatildeo do trabalho de conclusatildeo de curso foi de trabalhar a

formaccedilatildeo dos professores para desenvolver o trabalho com a Lei 1063903 que

tornou obrigatoacuterio o ensino da histoacuteria e da cultura afro-brasileira e africana em todas

as escolas puacuteblicas e particulares Ao teacutermino do curso senti a necessidade de

realizar outra graduaccedilatildeo a fim de me aprofundar melhor no campo da sociologia e

da educaccedilatildeo Conheci o curso da Unila e ingressei no curso de Ciecircncia Poliacutetica e

Sociologia no ano de 2011 O interesse por estudar na referida instituiccedilatildeo era

despertado pela curiosidade em viver em uma cidade de fronteira e pela proposta de

integraccedilatildeo latino-americana que a universidade propotildee

Finalizei a graduaccedilatildeo em Ciecircncia Poliacutetica e Sociologia e meu objeto de

pesquisa foi as poliacuteticas educacionais no contexto do neoliberalismo a partir dos

anos de 1990 em comparaccedilatildeo com as poliacuteticas educacionais propostas pelos

movimentos sociais Seguindo a proposta de integraccedilatildeo da Unila optei por um

estudo comparado com as propostas oriundas do Movimento dos Trabalhadores

Rurais Sem Terra (MST) no Brasil e dos Movimentos Indiacutegenas na Boliacutevia

Entretanto minhas indagaccedilotildees sobre a vivecircncia de escolas na fronteira natildeo

puderam ser respondidas Durante estes anos em Foz do Iguaccedilu meu olhar sobre

as relaccedilotildees em meio agrave diversidade de etnias e nacionalidades mudou

significativamente e segue em transformaccedilatildeo

Meus primeiros contatos com a populaccedilatildeo e com os meios de comunicaccedilatildeo

local e as imagens que eles tinham sobre o lugar em que moravam logo contrastou

com meu imaginaacuterio sobre o que eacute uma fronteira A violecircncia diaacuteria presente nos

jornais televisivos e impressos fadava a fronteira como o inevitaacutevel caminho para

entrada do traacutefico de drogas e armas A ponte da Amizade que liga a cidade de Foz

do Iguaccedilu agrave Ciudad del Este como o limbo entre o legal e o ilegal A passagem dos

trabalhadores caracterizados como informais era uma constante nos jornais A frase

ldquotinha que ser paraguaiordquo chegou aos meus ouvidos algumas vezes como tambeacutem

as noccedilotildees de que a Ciudad del Este era suja e desorganizada e o paiacutes de um modo

geral atrasado e pobre Tambeacutem eram perceptiacutevel as imagens referentes aos

18

aacuterabes caracterizados como ricos e isolados do restante da populaccedilatildeo aleacutem da

falta de distinccedilatildeo da comunidade aacuterabe pelo paiacutes de origem ou pela divisatildeo religiosa

que haacute entre xiitas e sunitas dentro do islamismo Exemplos como esses me

provocaram Ingenuamente pensava apenas no lado positivo dessa integraccedilatildeo entre

diferentes nacionalidades e etnias mas a vivecircncia na cidade permitiu-me ampliar

essas referecircncias do que era fronteira para outras bdquofronteiras‟ e mais ainda

deslocou minha atenccedilatildeo para as escolas brasileiras que recebem diferentes perfis

de imigrantes o que torna a regiatildeo fronteiriccedila tatildeo peculiar

Meus primeiros questionamentos eram de como a escola recebia esses

alunos estrangeiros como era organizada a documentaccedilatildeo escolar como era

realizado o diagnoacutestico de alunos que haviam comeccedilado seus estudos em seu paiacutes

de origem e como eram as relaccedilotildees professor - aluno aluno-aluno e escola-aluno

Essas primeiras inquietaccedilotildees me levaram a outras como a questatildeo do curriacuteculo

escolar em cidades de fronteira uma vez que haacute uma tendecircncia nos curriacuteculos

oficiais agrave homogeneizaccedilatildeo como ao monolinguismo Outro ponto eacute sobre como a

escola lida natildeo apenas com a questatildeo do idioma mas tambeacutem como ela se

posiciona diante dos conflitos como estigmas negativos relacionados agrave origem dos

alunos que podem se revelar muitas vezes como praacuteticas xenofoacutebicas Na tentativa

de inferiorizar o outro eacute comum escutar brasileiros que tratam os paraguaios como

ldquoxiruacute4rdquo e preguiccediloso natildeo aprende porque ldquoa escola laacute eacute fracardquo Esses comentaacuterios

foram constantes em sala de aula durante o periacuteodo em que lecionei sociologia para

jovens e adultos em um cursinho popular entre os anos de 2011 e 2013 em Foz do

Iguaccedilu Nas ocasiotildees em que se abordava o tema da fronteira a imagem que se

tinha do paraguaio era carregada de valores negativos

Tantas inquietaccedilotildees impossiacuteveis de serem abarcadas em uma mesma

pesquisa pois estudar uma realidade fronteiriccedila exige bdquoolhares demorados‟ para o

objeto em estudo tiveram que ser delimitadas na seguinte proposta pensar as

poliacuteticas educacionais para a diversidade nas escolas de fronteira internacional

nesse caso nas escolas de Foz do Iguaccedilu cidade que faz divisa com a cidade

Argentina de Puerto Iguazuacute e Ciudad del Este no Paraguai

4O termo xiru eacute de origem guarani Che ldquoeu meurdquo e iru ldquocompanheiro amigordquo que traduzindo para o

portuguecircs significa ldquomeu amigordquo ldquomeu companheirordquo mas para os brasileiros tomou a conotaccedilatildeo de falsificado (TRISTONE 2011)

19

Ao delinear parte do percurso insiro parte de meus valores e visatildeo de mundo

que concordando com Ludke e Andreacute (1986) iratildeo influenciar a maneira como a

pesquisa eacute proposta ldquoem outras palavras os pressupostos que orientam seu

pensamento vatildeo tambeacutem nortear sua abordagem de pesquisardquo (LUDKE ANDREacute

1986 p03)

A justificativa da delimitaccedilatildeo empiacuterica passa pela relaccedilatildeo fronteira entre o

Estado nacional e a escola O espaccedilo escolar eacute visto como um espaccedilo de tensotildees e

contradiccedilotildees em que se manifestam as mais distintas formas de relaccedilotildees sociais

onde o preconceito o racismo a xenofobia e a exclusatildeo ocorrem ao mesmo tempo

em que se ldquocombate essas formas de violecircnciardquo A escola nesta dissertaccedilatildeo natildeo eacute

uma entidade a parte uma maacutequina do Estado Eacute tambeacutem instrumento do Estado

ao mesmo tempo que perpassa pela vida de diferentes sujeitos como os

professores alunos diretores pesquisadores que podem criar condiccedilotildees de

resistecircncia a fim de construiacuterem outros curriacuteculos a margem do Estado e adaptaacute-los

agrave realidade local e natildeo universal

Nesse sentido estudar as poliacuteticas puacuteblicas educacionais a partir da

diversidade nas escolas de fronteira parte da hipoacutetese de que o Estado ao mesmo

tempo em que se faz presente na fronteira a deixa agraves margens quando natildeo

consegue a partir das poliacuteticas educacionais nacionais direcionadas ou natildeo para a

diversidade lidar com as diferenccedilas proacuteprias de uma realidade fronteiriccedila

O objetivo desta dissertaccedilatildeo eacute investigar as poliacuteticas educacionais e as

relaccedilotildees com a diversidade na fronteira A diversidade qual nos referimos reside na

presenccedila de muacuteltiplas nacionalidades e etnias presentes nas escolas e o que essa

presenccedila e suas manifestaccedilotildees a partir das relaccedilotildees entre os diferentes sujeitos

acarretam para a escola Embora os questionamentos desta pesquisa envolva as

escolas o objeto principal da pesquisa satildeo os documentos e as poliacuteticas

educacionais para a diversidade para as escolas situadas em regiatildeo de fronteira

internacional

A fim de desenvolver a hipoacutetese de trabalho o primeiro capiacutetulo aborda o

tema da fronteira Eacute preciso compreender a polissemia e as diferentes abordagens

no acircmbito da pesquisa Albuquerque (2009) apresenta os novos enfoques

socioloacutegicos historiograacuteficos e antropoloacutegicos que tem dado acesso a pesquisas no

campo das praacuteticas culturais e sociais para aleacutem da visatildeo tradicional de fronteira

poliacutetico-juriacutedica Na concepccedilatildeo de Joseacute de Souza Martins (1997) a fronteira se faz

20

de muitas e diferentes coisas fronteiras espaciais fronteira do pensamento fronteira

da civilizaccedilatildeo etc Conforme essa citaccedilatildeo a concepccedilatildeo de fronteira ultrapassa a

visatildeo tradicional pois para o referido autor fronteira pressupotildee diferentes

significados sejam eles poliacuteticos econocircmicos sociais ou culturais

A partir do enfoque da fronteira enquanto limite juriacutedico e de espaccedilo de

relaccedilotildees sociais busca-se relacionaacute-los partindo do pressuposto de que o

nascimento da fronteira enquanto limite juriacutedico estabelecido para demarcar os

territoacuterios entre os Estado nacionais desencadeou em outros processos no campo

social que devem ser analisados a fim de desmistificar a cristalizaccedilatildeo das fronteiras

como um espaccedilo naturalizado

I Caminhos da pesquisa o percurso metodoloacutegico

Metodologicamente fizemos levantamentos de dados em fontes histoacutericas e

documentais para ldquoinvestigar os acontecimentos processos e instituiccedilotildees do

passadordquo (LAKATOS MARKONI 2003 p106) Compreende-se que para entender

as atuais formas de organizaccedilatildeo social na fronteira eacute fundamental refazer a histoacuteria

dessas instituiccedilotildees e costumes desde sua origem Desse modo foi possiacutevel no

momento da contextualizaccedilatildeo do objeto de estudo perceber quais foram os fatos

que influenciaram sua atual estrutura Assim o primeiro e segundo capiacutetulo centrou-

se principalmente na pesquisa bibliograacutefica que consistiu no levantamento de

dados por meio de livro artigos e perioacutedicos impressos e online

O terceiro capiacutetulo apresenta a anaacutelise das poliacuteticas educacionais Na

primeira parte da investigaccedilatildeo utilizou-se da pesquisa documental que difere da

pesquisa bibliograacutefica pela natureza das fontes de dados que satildeo ricas e estaacuteveis

(GIL 2010) Satildeo considerados documentos ldquoquaisquer materiais escritos que

possam ser usados como fonte de informaccedilatildeo sobre o comportamento humanordquo

(LUDKE ANDREacute 1986 p38)

Os documentos analisados foram a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo

Nacional (LDB96) os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN‟S) de 1997 o

curriacuteculo baacutesico para a escola puacuteblica municipal do Oeste do Paranaacute (2007)

produzido por iniciativa da Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oeste do Paranaacute (AMOP)

e o Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute (PEEPR)

21

Utilizamos como referencial analiacutetico a abordagem de poliacuteticas puacuteblicas de

Leite e Flexor (2006) e Secchi (2013) para anaacutelise do Programa Escola Intercultural

Biliacutenguumle de Fronteira

As entrevistas semiestruturadas tambeacutem fizeram parte do arcabouccedilo

metodoloacutegico da pesquisa Conforme Ludke e Andreacute (1986) as entrevistas natildeo

estruturadas onde natildeo haacute a determinaccedilatildeo e uma ordem riacutegida de questotildees

permitem com que o entrevistado fale do tema proposto com base nas informaccedilotildees

que ele possui Os benefiacutecios da entrevista sobre outras teacutecnicas ldquoeacute que ela permite

a captaccedilatildeo imediata e corrente da informaccedilatildeo desejada praticamente com qualquer

tipo de informante e sobre os mais variados toacutepicosrdquo (LUDKE ANDREacute 1986 p33-

34)

As entrevistas foram realizadas com duas professoras da escola brasileira

que recebem o Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumle de Fronteira Uma das

entrevistadas participa do desenvolvimento do programa desde seu iniacutecio e a outra

professora passou a acompanhar o projeto em 2015 Essa escolha permitiu

conhecer as diferentes fases da inserccedilatildeo do programa na escola O principal

objetivo da entrevista foi o de analisar os impactos do PEIF na praacutetica a partir das

experiecircncias relatadas O PEIF foi a uacutenica poliacutetica analisada a partir de entrevistas

aos atores diretamente envolvidos pois ateacute o momento da redaccedilatildeo desta

dissertaccedilatildeo constatou-se que este programa eacute a uacutenica poliacutetica educacional oficial do

Estado direcionada especificamente para escolas em regiatildeo de fronteira

internacional

II Estrutura da dissertaccedilatildeo

Esta dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em trecircs capiacutetulos juntamente com a

introduccedilatildeo e consideraccedilotildees finais No primeiro capiacutetulo- Eacute preciso falar de escola na

fronteira- buscou-se a revisatildeo de literatura sobre a temaacutetica fronteira Em seguida a

Fronteira o Territoacuterio e Estado-naccedilatildeo satildeo abordados partindo do princiacutepio de que

no processo de consolidaccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo o territoacuterio representou o espaccedilo

onde o Estado exerce a sua soberania (BOBBIO MATTEUCIA PASQUINO 2004)

A fronteira se insere na condiccedilatildeo de limite poliacutetico fundamental para delimitar o

territoacuterio que por sua vez seraacute o espaccedilo onde o imaginaacuterio da naccedilatildeo eacute construiacutedo

22

(ANDERSON 1993) A seccedilatildeo seguinte apresenta os aspectos da cidade fronteiriccedila

de Foz do Iguaccedilu que permite dizer que ela juntamente com Ciudad del Este e

Puerto Iguazuacute conformam uma regiatildeo fortemente interligada em que fatores como

os econocircmicos e sociais afetam as trecircs cidades

A premissa da triacuteplice fronteira enquanto uma regiatildeo conectada eacute observada nos

exemplos apresentados na seccedilatildeo 14 A porosidade do Estado na fronteira Um deles

demonstra a necessidade de se criar accedilotildees conjuntas para resolver questotildees como

a regulamentaccedilatildeo do trabalhador que atravessa de um paiacutes para o outro na busca

por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e que ao natildeo possuir os documentos que o

regularize natildeo possui direitos de trabalho garantidos Os dois uacuteltimos toacutepicos deste

mesmo capiacutetulo abordam identidade e as escolas na fronteira respectivamente As

diferenccedilas que tem como um dos marcadores a identidade satildeo evidenciadas nas

escolas que se apresenta neste contexto enquanto reguladora a partir de padrotildees

universalistas construiacutedos sem um diaacutelogo com a alteridade (ARROYO 2007)

O capiacutetulo II- A Histoacuteria da Educaccedilatildeo em Foz do Iguaccedilu construtos e

contradiccedilotildees para a consolidaccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo concentrou-se no processo de

formaccedilatildeo das escolas no contexto em que a cidade de Foz do Iguaccedilu foi formada

como tambeacutem sua relaccedilatildeo com a fronteira A Colocircnia Militar criada para proteccedilatildeo e

colonizaccedilatildeo do territoacuterio marca o iniacutecio das demandas pela criaccedilatildeo de escolas que

na ausecircncia do poder puacuteblico eram improvisadas pelos setores da sociedade

(EMER 1991) A influecircncia dos paiacuteses vizinhos no iniacutecio do seacuteculo XX eacute evidenciada

em relatoacuterios que explicam que a ausecircncia de escolas eacute um fator preocupante pois

as crianccedilas brasileiras estavam indo estudar na Argentina Essa influecircncia estaacute nos

relatoacuterios do Plano de desenvolvimento integrado (PDI) da deacutecada de 1970 que ao

analisar a escola e os motivos do fracasso escolar culpabiliza os alunos

estrangeiros que natildeo falam o portuguecircs A deacutecada de 1930 e o projeto de

nacionalizaccedilatildeo de Getuacutelio Vargas satildeo abordados para analisar a importacircncia que a

escola tinha para a construccedilatildeo do projeto de naccedilatildeo

O uacuteltimo capiacutetulo Poliacuteticas Puacuteblicas para a educaccedilatildeo na fronteira entre

Argentina Brasil e Paraguai teve como objetivo analisar as poliacuteticas puacuteblicas

educacionais para a diversidade Apoacutes traccedilar a trajetoacuteria das poliacuteticas educacionais

no Brasil verificou-se seu viacutenculo direto com as condiccedilotildees histoacutericas de cada eacutepoca

No Brasil colocircnia as necessidades estavam voltadas para a catequizaccedilatildeo do

indiacutegena e na instruccedilatildeo dos filhos dos proprietaacuterios de terra e da elite colonial como

23

um todo (MARCILIO 2005) A chegada da coroa portuguesa em 1808 marca o

periacuteodo das reformas pombalinas Marques de Pombal criou uma seacuterie de cursos

profissionalizantes escolas militares tanto de niacutevel meacutedio como superior

(GHIRALDELLI JR 2001)

As primeiras deacutecadas de 1930 marcam o iniacutecio do predomiacutenio das reformas

educacionais de teor nacionalista Ateacute 1930 a estrutura econocircmica brasileira estava

voltada para o modelo agraacuterio-exportador principalmente no campo da cafeicultura

Com a crise do modelo oligaacuterquico e a entrada de Getuacutelio Vargas no poder um novo

modelo de produccedilatildeo se configura mas a dependecircncia do capital estrangeiro

permanece Eacute o modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees iniciado em 1930

caracterizado pela intervenccedilatildeo estatal na economia e no incentivo agrave criaccedilatildeo de

induacutestrias (IANNI 1994)

No campo educacional eacute criado o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e da Sauacutede e com

ele importantes poliacuteticas educacionais como a reforma Francisco Campos em 1931

que regulamentou as escolas superiores secundaacuterias e primaacuterias incorporando

algumas concepccedilotildees pedagoacutegicas inovadoras (SAVIANI 2008)

O fim do Estado Novo com a nova constituinte proporcionou algumas

mudanccedilas na educaccedilatildeo Em 1946 o Ensino Primaacuterio e o Ensino Normal foram

regulamentados foi criado o Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Comercial-SENAC

As principais reformas educacionais aconteceram no governo de Juscelino

Kubitschek (1956-1960) A construccedilatildeo de Brasiacutelia a abertura ao capital estrangeiro

e o investimento em tecnologia marcaram um periacuteodo em que a naccedilatildeo eacute mobilizada

para superar seu atraso No campo da educaccedilatildeo o programa de metas do governo

priorizou a formaccedilatildeo teacutecnica dos trabalhadores

Na deacutecada de 1950 inicia-se o debate sobre a Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos

e sua funccedilatildeo ateacute entatildeo destinada agrave mera transmissatildeo de conteuacutedos Eacute o comeccedilo do

debate em torno da educaccedilatildeo popular que incluiacuteam vaacuterios adeptos educadores

liacutederes comunitaacuterios intelectuais e estudantes de todo o paiacutes A liberdade de

expressatildeo nos primeiros anos da deacutecada de 1960 permitiu que houvesse a criaccedilatildeo

de diversos espaccedilos para promoccedilatildeo das massas e da educaccedilatildeo popular Inspirado

nesse movimento de base o Plano de Nacional Alfabetizaccedilatildeo de 1964 no governo

de Joatildeo Goulart criou o meacutetodo que alfabetizava em 40 horas guiado pelo meacutetodo

de Paulo Freire Contudo com o golpe militar em 1964 o plano mal chegou a ser

implantado (PAIVA 1984)

24

A partir do governo dos militares em termos educacionais presencia-se a

repressatildeo exclusatildeo das camadas populares do ensino profissionalizante e o

desmantelamento da organizaccedilatildeo docente (GHIRALDELLI JR 2001)

A Constituinte de 1988 marca a retomada da participaccedilatildeo de diferentes

grupos organizados da sociedade como os movimentos sociais nas proposiccedilotildees de

poliacuteticas puacuteblicas A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional de 96 eacute nesse

sentido considerada um grande avanccedilo ao incluir em 2003 e 2008 a Lei 1063903

que torna o ensino de histoacuteria da Aacutefrica e da cultura afro-brasileira como obrigatoacuterio

no curriacuteculo das escola puacuteblicas e brasileiras Os Paracircmetros Curriculares Nacionais

com o tema transversal pluralidade cultural tambeacutem satildeo outros dispositivos que

buscam abordar a diversidade eacutetnico-racial nas escolas brasileiras (BRASIL 2003)

Apesar dos avanccedilos das poliacuteticas educacionais para diversidade algumas

anaacutelises apontam para a sua tendecircncia homogeneizadora (ABG 1996) As poliacuteticas

em niacutevel estadual natildeo satildeo muito diferentes dos pressupostos nacionais na medida

em que estatildeo subordinados agrave LDB96 e isso inclui o curriacuteculo baacutesico para a escola

puacuteblica municipal do Oeste do Paranaacute feito pela Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oe

ste do Paranaacute (AMOP)

Dentre as poliacuteticas educacionais estudadas o Programa Escolas

Interculturais Biliacutenguumles de Fronteira eacute um programa que nasceu com o objetivo de

promover o processo intercultural por meio do ensino biliacutengue nas escolas

pertencentes a regiotildees de fronteira internacional Os primeiros paiacuteses que aderiram

ao programa foram a Argentina e o Brasil mediante acordos assinados dentro do

bloco econocircmico Mercosul por meio do Setor Educacional do Mercosul (SEM)

responsaacutevel por desenvolver as propostas para implementaccedilatildeo de poliacuteticas

educacionais dentre essas a poliacutetica linguiacutestica

25

CAPIacuteTULO 1 Eacute PRECISO FALAR DA ESCOLA NA FRONTEIRA

11 Fronteira- Primeiras aproximaccedilotildees

Etimologicamente a palavra fronteira deriva do latim Fron e quer dizer ldquode

frenterdquo Ela foi utilizada pela primeira vez no seacuteculo XIII para estabelecer o limite

temporaacuterio e flutuante que separava dois exeacutercitos de poder no momento de conflito

(FEgraveBVRE 1962 apud SILVA 2008 p8) Foi a partir da formaccedilatildeo e expansatildeo do

Estado-naccedilatildeo que a fronteira passou a ser sinocircnimo de limite de soberania O termo

linha de fronteira por sua vez representa os limites internacionais Tal expressatildeo

acompanhou estreitamente os avanccedilos do pensamento moderno sobre territoacuterio

Hoje assim como inuacutemeras palavras que mudam ou assumem outros

sentidos de acordo com o tempo e espaccedilo a palavra fronteira assume outros

sentidos e significados No dicionaacuterio de liacutengua portuguesa Aureacutelio5 a definiccedilatildeo de

fronteira eacute apresentada enquanto limite ou divisa de um dado territoacuterio No entanto

esta palavra natildeo se resume agrave noccedilatildeo de separaccedilatildeo De acordo com Becker (2007) a

fronteira eacute concebida como parte das relaccedilotildees humanas em suas mais distintas

formas sejam elas econocircmicas poliacuteticas sociais religiosas culturais ou simboacutelicas

Os novos enfoques socioloacutegicos historiograacuteficos e antropoloacutegicos tecircm ampliado as

possibilidades de estudos diferenciados acerca do tema fronteira Um exemplo disto

satildeo as anaacutelises sobre praacuteticas culturais e accedilotildees sociais Para Albuquerque (2010) a

fronteira apresenta-se como um cenaacuterio de relaccedilotildees sociais

As fronteiras podem ser vistas como um campo singular de relaccedilotildees sociais entrelaccediladas com os atuais processos de globalizaccedilatildeo e de redefiniccedilatildeo do papel dos limites entre os Estados nacionais A fronteira eacute geralmente percebida por esses estudiosos como um lugar de passagem de contato e traduccedilatildeo cultural (ALBUQUERQUE 2010 p48)

Nesse sentido a palavra fronteira natildeo eacute neutra ao contraacuterio eacute carregada de

inuacutemeros sentidos como exemplifica Faacutebio Reacutegio Bento ldquopara o contrabandista

fronteira significa afliccedilatildeo para o exilado poliacutetico passar a fronteira significa

libertaccedilatildeordquo (BENTO 2012 p2)

5Ver Dicionaacuterio Aureacutelio Online Disponiacutevel em lthttpwwwdicionariodoaureliocomfronteiragt Acesso

em 01102014

26

Na perspectiva durkhiemiana Fronteira eacute definida enquanto um fato social

Em As Regras do Meacutetodo Socioloacutegico (1865) Eacutemile Durkheim busca trata-la como

coisa ou seja algo possiacutevel de ser estudado Sendo coisa social a fronteira eacute

exterior ao indiviacuteduo assim torna-se passiacutevel de ser compreendida e explicada

racionalmente Regina Coeli Machado e Silva (2015) citando Strathern (2014)

aponta entretanto que a ldquofronteira eacute um dos conceitos menos sutis da anaacutelise

socioloacutegica como reificaccedilatildeo de uma abstraccedilatildeo socialrdquo Eacute a partir dessa mesma

abstraccedilatildeo que obtemos efeitos sociais tanto de exclusatildeo e quanto de participaccedilatildeo

social demonstrado as ldquoambiguidades do Estado-Naccedilatildeo brasileiro e das suas

fronteiras geopoliacuteticasrdquo (STRATHERN 2014 apud SILVA 2015 p1)

De maneira geral os estudos referentes agrave fronteira apresentam-se tanto no

sentido Stricto - a noccedilatildeo tradicional onde fronteira eacute a divisa entre estados no

acircmbito nacional ou internacional6 - como tambeacutem no sentido Lato - neste caso as

fronteiras do pensamento sendo elas nocircmades e sociais A respeito deste uacuteltimo

pode-se mencionar o exemplo de uma cidade marcada pela desigualdade social

Nela a fronteira manifesta-se por meio da disposiccedilatildeo das residecircncias estatildeo

dispostas a cidade de Satildeo Paulo demonstra estas fronteiras de um lado

comunidades carentes de outro casas luxuosas7

Imagem 1 - A Triacuteplice Fronteira- Argentina Brasil e Paraguai Fonte wwwoiguassucom

6Vide imagem 1

7Vide imagem 2

27

Imagem 2 - Favela Paraisoacutepolis em contraste com o bairro de classe alta Morumbi em Satildeo Paulo capital

Fonte e foto Tuca Vieira- httpwwwtucavieiracombrA-foto-da-favela-de-Paraisopolis

Desse modo nesta dissertaccedilatildeo ao tratarmos a fronteira em seu sentido

geograacutefico estaremos buscando a localizaccedilatildeo no tempo e espaccedilo de onde

estamos falando Quando ampliarmos a noccedilatildeo deste termo para os sentidos poliacutetico

e social estaremos buscando responder a questotildees que dizem respeito agraves

consequecircncias de um processo histoacuterico em que os Estados nacionais mesmo

tendo realizado as demarcaccedilotildees de seus limites natildeo conseguiram impedir que o

mesmo ocorresse entre as populaccedilotildees que transitam em seu interior Eacute o que afirma

Albuquerque (2010) para o qual

A reflexatildeo sobre identidades nacionais e os conflitos sociais nas aacutereas de delimitaccedilotildees dos Estados-Nacionais produzem novas abordagens sobre as fronteiras e desnaturalizam as bdquofronteiras naturais‟ das naccedilotildees (ALBUQUERQUE 2010 p 45)

Em artigo publicado na obra ldquoDilemas e Diaacutelogos Platinos Fronteirasrdquo

Machado (2010) aponta que os estudos entre as fronteiras dos Estados-Nacionais

satildeo uacutenicos No caso do Brasil a Constituiccedilatildeo de 1988 confirmou a delimitaccedilatildeo de

150 km a partir do limite internacional como faixa de fronteira Desse modo natildeo

apenas a cidade que faz divisa com outro paiacutes eacute considerada fronteiriccedila mas

tambeacutem as outras cidades que ficam dentro desta faixa de 150 km

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014)

o Brasil possui uma fronteira mariacutetima de 7367 quilocircmetros e 16886 quilocircmetros de

fronteira terrestre com nove paiacuteses da Ameacuterica do Sul sendo eles Argentina

Boliacutevia Colocircmbia Guiana Peru Suriname Venezuela Paraguai Uruguai e com o

Departamento Ultramarino Francecircs da Guiana conforme observa-se na Figura 3

28

Imagem 3 - Faixa de Fronteira do Brasil com os paiacuteses da regiatildeo

Fonte Jornal Tribuna wwwjornaltribunacombr

Como os dados assinalam a dimensatildeo da fronteira do Brasil com os paiacuteses

da Ameacuterica Latina eacute expressiva e natildeo apenas no sentido de extensatildeo territorial

visto que o contato direto e diaacuterio entre as populaccedilotildees inseridas neste contexto torna

a fronteira expressiva tambeacutem no que se refere agrave dimensatildeo das relaccedilotildees sociais

Desse modo ao estudar as poliacuteticas puacuteblicas no contexto de fronteira

internacional natildeo eacute apenas a conjuntura nacional que estaacute sendo considerada mas

tambeacutem o plano externo -em sentido transnacional - considerando-se os fluxos da

populaccedilatildeo brasileira paraguaia e argentina que circulam de um paiacutes para o outro

Fernand Brauduel (1989) ao abordar as fronteiras afirma que elas

incorporam aleacutem da dimensatildeo espacial tambeacutem a ldquodimensatildeo temporalrdquo (BRAUDEL

1989 apud Heinsfeld 2014 281) Como exemplo o autor cita as divisotildees territoriais

da Ameacuterica colonial feitas por Portugal e Espanha delimitaccedilotildees essas que foram

incorporadas antes mesmo da independecircncia das colocircnias Braudel chama atenccedilatildeo

para este fato afirmando que a histoacuteria tem a tendecircncia de cristalizar as fronteiras

como se fossem ldquoacidentes naturaisrdquo (BRAUDEL 1989 p 147) Albuquerque (2010)

tambeacutem compartilha desse raciociacutenio Segundo este autor haacute uma tendecircncia

disseminada no senso comum em se conceber a fronteira enquanto algo dado

pronto e natural como se natildeo houvesse nenhum conflito de fronteira Para aleacutem

disto a fronteira tambeacutem eacute percebida preconceituosamente pela imprensa e o

imaginaacuterio popular como uma terra de ningueacutem perigosa e violenta ou seja espaccedilo

da ilegalidade e da transgressatildeo

Para Albuquerque estas representaccedilotildees satildeo construiacutedas principalmente a

partir de notiacutecias negativas associadas a conflitos violentos Como exemplo temos a

29

imigraccedilatildeo clandestina dos mexicanos para os Estados Unidos ou a disputa territorial

na faixa de Gaza entre Israel e a Palestina Cabe ressaltar que nesta perspectiva

os Estados nacionais desempenham um papel fundamental na construccedilatildeo destas

concepccedilotildees e noccedilotildees acerca da fronteira satildeo eles que legitimam tais imaginaacuterios

por meio de estrateacutegias de proteccedilatildeo do territoacuterio No caso da fronteira com os

Estados Unidos e Meacutexico a poliacutetica de seguranccedila eacute extremamente violenta natildeo

apenas no sentido fiacutesico por meio da construccedilatildeo de muros com arames farpados e

redes de alta tensatildeo mas por meio de um monitoramento que existe com a

utilizaccedilatildeo de tecnologias de ponta A natildeo obediecircncia aos limites pode levar aqueles

(natildeo apenas mexicanos) que queiram atravessar a fronteira ilegalmente agrave morte

Segundo Kearney (apud MONTIEL 2007) esta representaccedilatildeo dos problemas

fronteiriccedilos tem estado muito presente na imprensa norte-americana e tem resultado

na justificativa e defensiva do que ele denomina de ldquonacionalismo dos brancosrdquo

(KEARNEY 1991 apud MONTIEL 2007 p10) Isto explicaria o atual endurecimento

da poliacutetica do governo estadunidense que resulta natildeo apenas na militarizaccedilatildeo da

mesma mas no polecircmico projeto de construccedilatildeo de um muro ao longo da faixa de

fronteira remetendo ao modelo da ldquocortina de ferrordquo dos paiacuteses europeus no periacuteodo

da Guerra Fria que dividia de um lado os paiacuteses do leste europeu sob a influecircncia

da Uniatildeo Sovieacutetica e de outro os paiacuteses pertencentes agraves zonas de influecircncia dos

Estados Unidos

12 Fronteira e a educaccedilatildeo como construto da naccedilatildeo

Segundo o Dicionaacuterio de Poliacutetica o Estado Moderno tal qual o conhecemos

tem suas origens nas transformaccedilotildees ocorridas ao final da Idade Meacutedia que

resultaram em tratados como a Paz de Vestfaacutelia que simbolizou ldquoo momento em

que se reconhece formalmente de modo geral a soberania absoluta do Estado no

plano internacionalrdquo (BOBBIO MATTEUCIA PASQUINO 1998 p1090) Mas eacute a

definiccedilatildeo de Max Weber sobre o Estado Moderno uma das mais conhecidas Para

ele o Estado faz o uso legiacutetimo da violecircncia numa relaccedilatildeo entre homens que

dominam seus iguais em um determinado territoacuterio

Estado eacute uma relaccedilatildeo de homens dominando homens relaccedilatildeo mantida por meio da violecircncia legiacutetima (isto eacute considerada como

30

legiacutetima) Ele eacute uma comunidade humana que pretende com ecircxito o monopoacutelio do uso legiacutetimo da forccedila fiacutesica dentro de um determinado territoacuterio (WEBER 1998 p98-99)

Destaca-se aqui a questatildeo do territoacuterio uma vez que sua relaccedilatildeo com a

fronteira eacute inerente Logo falar de fronteira fiacutesica em sua definiccedilatildeo claacutessica

pressupotildee que haja um territoacuterio que fora delimitado a partir de tratados acordos ou

mesmo a venda do territoacuterio em disputa O geoacutegrafo Rogeacuterio Haesbaert afirma que o

territoacuterio estaacute mergulhado em

() relaccedilotildees de dominaccedilatildeo eou de apropriaccedilatildeo sociedade-espaccedilo desdobra-se ao longo de um continuum que vai da dominaccedilatildeo poliacutetico-econocircmica mais bdquoconcreta‟ e bdquofuncional‟ agrave apropriaccedilatildeo mais subjetiva eou bdquocultural-simboacutelica (HAESBAERT 2004 p95-96)

O autor chega a esta conclusatildeo apoacutes realizar uma analise histoacuterico-social do termo

quando a palavra territoacuterio surgiu com duas conotaccedilotildees material e simboacutelica ldquopois

etimologicamente aparece tatildeo proacuteximo de terra-territorium quanto de terreo-territor

(terror aterrorizar)rdquo (HAESBAERT 2004 p 2) O autor afirma que as duas

conotaccedilotildees tem a ver com poder natildeo somente no significado tradicional de bdquopoder

poliacutetico‟ ldquoEle diz respeito tanto ao poder no sentido mais concreto de dominaccedilatildeo

quanto ao poder no sentido mais simboacutelico de apropriaccedilatildeordquo (HAESBAERT 2004 p

2)

Portanto todo territoacuterio eacute ao mesmo tempo e obrigatoriamente em diferentes combinaccedilotildees funcional e simboacutelico pois exercemos domiacutenio sobre o espaccedilo tanto para realizar ldquofunccedilotildeesrdquo quanto para produzir bdquosignificados‟ (HAESBART 2004 p67)

Hoje o modelo de Estado territorial eacute definido como aquele que organiza este

territoacuterio que por sua vez eacute delimitado por uma fronteira cuja populaccedilatildeo estaacute unida

pelo sentimento de naccedilatildeo Por naccedilatildeo Benedict Anderson (1993) entende que ldquoseja

uma comunidade imaginada como sendo intrinsecamente limitada e ao mesmo

tempo soberanardquo (ANDERSON 1993 p24)

Utilizando a definiccedilatildeo de Anderson para naccedilatildeo tendo em vista que haacute outras

definiccedilotildees para o termo o autor explica que a naccedilatildeo eacute imaginada pois nem todos

aqueles que fazem parte dela se reconhecem ainda que tenham consciecircncia que

haja uma comunhatildeo entre eles Desse modo o sentido de pertenccedila agrave naccedilatildeo existe

somente quando os sujeitos partilham de certo imaginaacuterio social mesmo que natildeo se

conheccedilam mutuamente Entretanto esta imaginaccedilatildeo eacute limitada uma vez que seu

31

campo de abrangecircncia eacute limitado Eacute soberano assim o anseio de qualquer naccedilatildeo

ser livre da subordinaccedilatildeo de outros poderes8ou de outras naccedilotildees

Por fim a naccedilatildeo eacute imaginada como uma comunidade tendo em vista que

independentemente das desigualdades que existam entre as pessoas - sociais

poliacuteticas ou econocircmicas - o senso de companheirismo extrapola as diferenccedilas

sociais que haacute entre elas Para Anderson eacute este sentimento de unicidade que fez

com que tantas pessoas morressem em nome da defesa da naccedilatildeo nos uacuteltimos

seacuteculos

A fim de explicar como se deu este processo de construccedilatildeo da naccedilatildeo nos

paiacuteses europeus Benedict Anderson menciona os jornais impressos que quando

popularizados tornaram-se um dos meios mais eficazes de inculcar valores na

sociedade servindo entatildeo de instrumento para a construccedilatildeo de uma naccedilatildeo Se

partirmos da afirmaccedilatildeo de Durkheim segundo a qual a educaccedilatildeo tem como funccedilatildeo

coletiva adaptar a crianccedila ao meio social faz-se necessaacuterio para isto que se

estabeleccedila entre a sociedade e a escola uma ldquocomunhatildeo de ideias e sentimentos

suficientes entre os cidadatildeos comunhatildeo sem a qual qualquer sociedade eacute

impossiacutevelrdquo (DURKHIEM 2011 p63) podemos perceber como a escola e o modo

com que o Estado designa o que deve ou natildeo conter como base comum a todo

curriacuteculo nacional torna a educaccedilatildeo escolar um mecanismo de constructo da naccedilatildeo

seguindo portanto a mesma premissa de Anderson

Na cidade fronteiriccedila durante o periacuteodo de instalaccedilatildeo e funcionamento da

Colocircnia Militar da Foz de Iguaccedilu entre 1889 e 1912 jaacute havia uma preocupaccedilatildeo com

o fato de as crianccedilas brasileiras estudarem na Argentina Afinal estavam

assimilando a cultura e os valores nacionais do paiacutes vizinho o que ameaccedilava o

territoacuterio Mais tarde na Era Vargas o projeto nacionalista de unificar o paiacutes passou

pela educaccedilatildeo Neste periacuteodo escolas como as construiacutedas por estrangeiros eram

fechadas caso natildeo se adaptassem agraves poliacuteticas nacionais que tinham entre outros

objetivos

() homogeneizar a populaccedilatildeo dando a cada nova geraccedilatildeo o instrumento do idioma os rudimentos da geografia e da histoacuteria paacutetria os elementos da arte popular e do folclore as bases da formaccedilatildeo ciacutevica e moral a feiccedilatildeo dos sentimentos e ideias coletivos em que afinal o senso de unidade e de comunhatildeo nacional repousam

8Eacute tambeacutem imaginada como soberana porque nasceu numa eacutepoca em que o Iluminismo e a

Revoluccedilatildeo destruiacuteram a legitimidade do domiacutenio dinaacutestico e ordenado por Deus (ANDERSON 1993)

32

(PALMEIRA 1943 apud SCHWARTZMAN BOMENY COSTA 2000 p 93)

Diante das estrateacutegias que o Estado Moderno desenvolveu para construir a

ideia de naccedilatildeo a proacutepria fronteira poliacutetica requer quase sempre a justificaccedilatildeo

ideoloacutegica da comunidade nacional Fora preciso estabelecer na fronteira natildeo

apenas a delimitaccedilatildeo em termos juriacutedicos e fiacutesicos mas tambeacutem no social a partir

da separaccedilatildeo entre o ldquonoacutesrdquo e os ldquooutrosrdquo

A preocupaccedilatildeo com a construccedilatildeo de um senso de unidade e de comunhatildeo

nacional pela educaccedilatildeo escolar portanto acompanhou a histoacuteria de Foz do Iguaccedilu

Pois eacute importante descrever na proacutexima seccedilatildeo como ela aparece retomando como

ideacuteia a fronteira na histoacuteria da cidade

13 Reatualizaccedilatildeo de naccedilatildeo por deslizamentos em seus limites fronteiriccedilos

A cidade de Foz do Iguaccedilu eacute reconhecida por ser uma importante cidade

turiacutestica Nela encontram-se uma das ldquosete maravilhas da naturezardquo as Cataratas do

Iguaccedilu e a maior usina geradora de energia do mundo9 a hidreleacutetrica Itaipu

Binacional Por fazer fronteira com o Paraguai a cidade brasileira torna-se ainda

mais atrativa devido ao comeacutercio com Ciudad del Este Os meios de comunicaccedilatildeo

que costumam divulgar os atrativos turiacutesticos de Foz do Iguaccedilu exaltam o fato da

cidade possuir diferentes etnias e nacionalidades convivendo em um mesmo

territoacuterio Na ocasiatildeo do centenaacuterio da cidade foi composta a muacutesica bdquoIsso eacute Foz do

Iguaccedilu‟ que evidecircncia esse bdquoolhar‟ multicultural

Cidade de todas as raccedilas Que aceita o negro que aceita o branco

Iacutendio cafuzo amarelo e mamelucoCidade cosmopolitaTem brasileiro tem

argentinoAacuterabe chinecircs paraguaio e palestino Isso eacute Foz do IguaccediluDa

triacuteplice fronteira do sul Onde o ceacuteu eacute mais que azulTerra das cataratas do

Iguaccedilu (COPETTI 2014)

Nos versos verifica-se que uma das principais caracteriacutesticas atribuiacutedas agrave

cidade eacute ser multicultural com diferentes nacionalidades e etnias convivendo

pacificamente neste territoacuterio rico por suas belezas naturais No entanto existe

tambeacutem uma narrativa que caracteriza a cidade como perigosa marginal rota para

9 Dados obtidos no site oficial da Usina Hidreleacutetrica de Itaipu Binacional Disponiacutevel em

lthttpswwwitaipugovbrgt Acesso em 12122015

33

o grande traacutefico de armas e drogas espaccedilo de corrupccedilatildeo e lavagem de dinheiro

representada principalmente pela imprensa argentina de Puerto Iguazuacute e de Foz do

Iguaccedilu (ALBUQUERQUE 2010) conforme os enunciados abaixo sugerem

-PF10 estoura quadrilha que envolvia empresas-fantasmas de Foz do Iguaccedilu e traficantes do Paraguai Operaccedilatildeo Sustenido desmantelou organizaccedilatildeo criminosa suspeita de movimentar R$ 300 milhotildees (PORTAL R7 22052015)

-Contrabando ldquoempregardquo 15 mil em Foz do Iguaccedilu (GAZETA DO POVO 03032015) -Policia Federal apreende cigarros contrabandeados e um veiacuteculo (JT TRIBUNA 29012016)

Na perspectiva de Lorenzo Macagno (2011) esta visatildeo tatildeo dicotocircmica e

oposta ldquose produz e se reproduz justamente num espaccedilo peculiar e contraditoacuterio

Ali nos confins da naccedilatildeo nos espaccedilos liminares e de tracircnsito eacute onde esta conciliaccedilatildeo parece impor a necessidade de uma perpeacutetua reatualizaccedilatildeo de si mesma Sob este aparente paradoxo reside uma tensatildeo iminente entre o bdquonacional‟ e o transnacional (MACAGNO 2011 p25)

Para conhecer a dinacircmica de Foz do Iguaccedilu enquanto cidade de fronteira eacute

preciso primeiramente localizaacute-la no contexto da Triacuteplice Fronteira que recebeu

essa denominaccedilatildeo a partir de 1992 momento em que se levantavam suspeitas da

presenccedila de terroristas islacircmicos na regiatildeo A partir de 1996 o termo foi oficialmente

adotado pelo governo dos trecircs paiacuteses Utilizo-me da tese de Fernando Lima (2011)

o qual defende e argumenta que esta Triacuteplice Fronteira pode ser considerada uma

regiatildeo por possuir caracteriacutesticas proacuteprias diferente assim de outras regiotildees do

estado do Paranaacute e do sul do Brasil (LIMA 2011)

Ao tratar da origem do termo Triacuteplice Fronteira Rabossi (2004) aponta que

antes dos anos de 1990 para se referir agrave regiatildeo em seu conjunto se falava zona

regiatildeo ou trecircs fronteiras Em alguns jornais do final dos anos de 1980 o termo

bdquotriacuteplice fronteira‟ aparece para nomear a regiatildeo entretanto esse uso era geneacuterico

nunca substantivo proacuteprio Para exemplificar a constataccedilatildeo da dificuldade que era

pensar os paiacuteses fronteiriccedilos enquanto uma unidade Rabossi (2004) cita o trecho

texto do jornalista Bojunga de 1978 que diz

10

PF - abreviaccedilatildeo para Poliacutecia Federal

34

Em IguaccediluIguazuPuerto Presidente Strossneressa atividade [o contrabando] atinge caracteriacutesticas delirantes Nesse ponto em que as fronteiras da Argentina do Brasil e do Paraguai se encontram nada se perde tudo se trafica (BOJUNGA 1978 p 202 apud RABOSSI 2004 p 24)

A apariccedilatildeo do substantivo proacuteprio bdquoTriacuteplice Fronteira‟ surge a partir das

suspeitas de que havia terroristas islacircmicos na regiatildeo apoacutes os atentados na

embaixada de Israel na capital argentina Buenos Aires em 1992 Esta suspeita

aumentou apoacutes o atentado agrave Asociaciacuteon de Mutuales Israelitas Argentinas [AMIA]

em 1994 (RABOSSI 2004) Deste modo o termo Triacuteplice Fronteira surge

relacionado agraves questotildees de seguranccedila que envolve os trecircs paiacuteses ldquoEssa

denominaccedilatildeo pressupotildee a existecircncia de uma aacuterea singular e participa de sua

criaccedilatildeo a partir de uma praacutetica de nominaccedilatildeo que possibilita a emergecircncia

conceitual de um lugar onde estatildeo relacionadas agraves trecircs cidadesrdquo (RABOSSI 2004

p24) Rabossi (2004) considera a Triacuteplice Fronteira uma regiatildeo singular como Lima

(2011) afirma que Foz do Iguaccedilu possui caracteriacutesticas distintas das demais cidades

brasileiras cuja distinccedilatildeo se daacute por essa localizaccedilatildeo

Lima fala da integraccedilatildeo comercial seja por meio do turismo como a visitaccedilatildeo

agraves cataratas no Brasil e na Argentina seja por meio das compras em Ciudad del

Este que tornam a situaccedilatildeo econocircmica das cidades dependentes uma das outras O

autor chama atenccedilatildeo para a relaccedilatildeo entre as cidades de Foz do Iguaccedilu e Ciudad del

Este Ele chega agrave conclusatildeo de que a relaccedilatildeo de trabalho entre brasileiros e

paraguaios natildeo se reduz agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos aos sacoleiros que pagam aos

paraguaios para atravessarem a ponte com a mercadoria que excede a cota

permitida ldquoTrata-se de uma verdadeira extensatildeo do mercado de trabalho de Foz do

Iguaccedilurdquo (LIMA 2011 p142)

Lima aponta que embora a Itaipu seja de suma importacircncia econocircmica para

o Brasil e o Paraguai a hidreleacutetrica eacute uma ldquoinduacutestria deslocalizadardquo (LIMA 2011 p

143) Isto significa que o que ela movimenta em termos econocircmicos fica longe da

cidade Os benefiacutecios para a cidade se encontram nos pagamentos de royalties e

nos salaacuterios dos trabalhadores que por sua vez eacute um grupo relativamente pequeno

o que ldquoimpede que se forme uma massa salarial grande o suficiente para gerar uma

dinacircmica endoacutegena de crescimentordquo (LIMA 2011 p142) Ateacute mesmo o expressivo

nuacutemero de funcionaacuterios puacuteblicos existente em Foz do Iguaccedilu em decorrecircncia da

35

Aduana e da Poliacutecia Federal natildeo eacute capaz de juntamente com a Itaipu estimular o

mercado de serviccedilos local Uma das maiores movimentaccedilotildees econocircmicas da cidade

encontra-se no turismo motivado pelas Cataratas do Iguaccedilu No entanto esta aacuterea

apresenta inuacutemeras fragilidades sobretudo no que diz respeito agraves flutuaccedilotildees do

cacircmbio brasileiro e argentino aleacutem da questatildeo sazonal e a proacutepria dinacircmica do

mercado que gera a competiccedilatildeo com outros destinos turiacutesticos Com estas

caracteriacutesticas Fernando Lima afirma que tanto no acircmbito econocircmico como no

social Foz do Iguaccedilu articula-se aos fatos econocircmicos da fronteira conformando

uma economia regional Neste sentido o autor sugere a formulaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas que possam oferecer maior liberdade ao comeacutercio da regiatildeo em relaccedilatildeo agraves

poliacuteticas nacionais

Devido agrave falta desse tipo de poliacutetica de fronteira que Machado (2010) afirma

que tem sido difiacutecil para os Estados-Nacionais lidarem com a real ldquofluidez dos

agrupamentos humanosrdquo e mais ainda com o ajustamento de redes poliacuteticas

identitaacuterias econocircmicas e sociais superpostas aos limites dos estados territoriais

(MACHADO 2010 p71) Torna-se necessaacuterio avanccedilar na concepccedilatildeo de Estado

para aleacutem da esfera juriacutedica e poliacutetica para compreender que a fronteira eacute um

espaccedilo permeado por vidas e com relaccedilotildees que ultrapassam os seus limites

territoriais A Triacuteplice Fronteira ldquoeacute o espaccedilo de trocas culturais onde o local e o

internacional se articulam estabelecendo viacutenculos e dinacircmicas especiacuteficasrdquo

(MULLER 2005 p03)

Cury e Fraga (2013) consideram que a especificidade da Triacuteplice Fronteira

manifesta-se a partir das experiecircncias que se realizam nos espaccedilos e unem povos

e culturas distintas sociedades que apresentam princiacutepios sociais de forma

integrada na sua diversidade ldquosem que se dispense o fato de que os brasileiros satildeo

brasileiros paraguaios satildeo paraguaios e argentinos satildeo argentinosrdquo (CURY e

FRAGA 2013 p 52)

Estes fluxos intensos fazem com que haja encontros e desencontros De um

lado as trocas interculturais a sociabilidade e a relaccedilatildeo amistosa de outro e ao

mesmo tempo as tensotildees de ordem cultural

A vida na fronteira passa constantemente pela afirmaccedilatildeo do eu e consequumlentemente pelo reconhecimento do outro Os de laacute e os de

36

caacute constroem a relaccedilatildeo estruturam o espaccedilo como sendo de ambos (MULLER 200311)

Neste sentido ocorre uma reatualizaccedilatildeo da naccedilatildeo na fronteira pois eacute um

espaccedilo que ao mesmo tempo une e separa nas palavras de Clemente de Souza

(2009 p106) ldquoSatildeo espaccedilos nos quais o local e o internacional se articula

estabelecendo viacutenculos e dinacircmicas proacuteprias construiacutedas e reforccediladas pelos povos

fronteiriccedilosrdquo Para Souza (2009) as identidades e as culturas nacionais de cada um

dos paiacuteses fronteiriccedilos satildeo construiacutedas e reelaboradas por meio da interaccedilatildeo entre a

populaccedilatildeo desta regiatildeo assim acabam por constituir ldquooutra cultura e identidade

diferenciada capaz de recriar um novo lugar com aspectos regionaisrdquo (SOUZA

2009 p106)

14 A porosidade do Estado sob a forma de poliacuteticas puacuteblicas

Natildeo eacute apenas a educaccedilatildeo um tema delicado ao se abordar poliacuteticas puacuteblicas

para a fronteira Os exemplos das pesquisas tratadas nessa seccedilatildeo demonstram que

a particularidade da fronteira faz com que as poliacuteticas nacionais para o trabalho e a

sauacutede natildeo alcancem todos na fronteira

Na regiatildeo da Triacuteplice Fronteira a relaccedilatildeo que se estabelece principalmente entre

o Brasil e o Paraguai chama a atenccedilatildeo por seus laccedilos comerciais que fazem com

que o fluxo de pessoas seja intenso nos dois lados da fronteira Eacute comum a

premissa um morador passar o dia de trabalho em paiacutes vizinho onde sua renda eacute

obtida e viver parte do tempo em seu paiacutes de origem Eacute o caso dos trabalhadores

que satildeo contratados para atravessar mercadorias de Ciudad del Este para Foz do

Iguaccedilu de brasileiros que possuem alguma atividade comercial na Argentina ou

Paraguai ou das trabalhadoras domeacutesticas conhecidas como diaristas De modo

direto ou indireto satildeo trabalhadores (as) que contribuem com a economia da regiatildeo

fronteiriccedila mas que do ponto de vista dos direitos trabalhistas eacute um grupo que

acaba ficando agrave margem desses direitos por diferentes justificativas No caso das

11 Documento eletrocircnico sem paginaccedilatildeo MULLER K M O estudo Miacutedia e fronteira jornais locais em Uruguaiana-Libres e Livramento-Rivera Tese de doutorado defendida na Universidade do Vale dos

Sinos Satildeo Leopoldo fev 2003

17112015

37

diaristas paraguaias dada sua situaccedilatildeo de imigrantes encontram dificuldades para

a comprovaccedilatildeo de documentos necessaacuterios para exercer tal atividade no paiacutes Com

isso acabam na informalidade abrindo brechas para a desvalorizaccedilatildeo de seus

salaacuterios podendo ateacute mesmo virem a trabalhar sob condiccedilotildees insalubres e

exaustivas O delegado da Poliacutecia Federal Rodrigo Perin em uma reportagem

concedida ao site G1 fez a seguinte observaccedilatildeo sobre essa situaccedilatildeo

Na realidade se a pessoa estiver regularizada em territoacuterio nacional e estiver apta para trabalhar como ela vai ter todos os direitos trabalhistas ela natildeo vai poder receber um salaacuterio menor do que o piso fixado para aquela categoria bdquoA partir do momento que ela se encontra em situaccedilatildeo irregular ela vai receber um salaacuterio muito iacutenfimo agraves vezes varia de R$ 150 a R$ 200‟ afirmou o delegado A pessoa que contratar uma empregada domeacutestica ilegal pode ser multado em R$ 2500 Aleacutem disso o patratildeo pode responder criminalmente por manter o trabalhador em condiccedilatildeo similar a de escravo A empregada pode ser deportada para o paiacutes de origem (PORTAL DE NOTIacuteCIAS G1 2011)

Como exemplo de uma possiacutevel soluccedilatildeo ao problema da informalidade o

Ministeacuterio Puacuteblico de Foz do Iguaccedilu apoacutes receber denuacutencias acerca das

trabalhadoras domeacutesticas em regime irregular de trabalho passou a notificar os

siacutendicos de condomiacutenios da cidade a prestar contas sobre o nuacutemero de funcionaacuterios

(as) e empregados(as) contratados pelos moradores Entretanto os proacuteprios

trabalhadores temendo a demissatildeo optaram por seguirem na informalidade Tal

medida explica Hofling (2001) ldquofoi puramente repressiva e unilateral por parte do

governo brasileiro sem planejamento ou conexatildeo com outras poliacuteticas integradas

com os paiacuteses vizinhosrdquo (HOFLING 2001 p 177)

No que confere agrave questatildeo entre o legal e o ilegal este uacuteltimo eacute tatildeo

frequumlentemente associado agrave fronteira que quase vira seu sinocircnimo Esta noccedilatildeo fora

criticada por Rabossi (2011) o qual considera que o modelo de ordem e de lei

vigente natildeo se aplica para pensar ldquoo funcionamento efetivo da lei nem as atividades

que se desenvolvem naquele espaccedilordquo (RABOSSI 2011 p64) Segundo Silva (2015)

a vida dessas pessoas que vivem na ilegalidade equivaleria ao que ela denomina

de ldquoprotocidadania em direccedilatildeo inversa ou a uma forma de vida ambiacutegua e

paradoxal diante do Estado-Naccedilatildeordquo Para a autora haacute uma cidadania que eacute rompida

em sua continuidade entre o nascimento e a nacionalidade onde o sujeito encontra-

se dentro e fora da lei imersos em uma bdquozona de inderteminaccedilatildeo‟ (SILVA 2015

p3)

38

Quanto agrave questatildeo da violecircncia do traacutefico de drogas da exploraccedilatildeo sexual do

trabalho infantil que satildeo intensas na regiatildeo Rosana Pinheiro Machado (2011) em

seu artigo ldquoCaminhos do descaminho Etnografia da fiscalizaccedilatildeo na Ponte da

Amizade e seus efeitos no cotidiano da Triacuteplice Fronteira aponta que apenas ldquouma

fiscalizaccedilatildeo unilateral sem amparo de poliacuteticas puacuteblicas natildeo parece extinguir tais

problemas mas apenas deslocaacute-losrdquo (MACHADO 2011 p145)

Quando se trata de poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para a regiatildeo de fronteira

internacional o tema da seguranccedila e defesa nacional aparecem como destaque no

processo de elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica Albuquerque explica que a

ldquofronteira geralmente eacute uma zona onde as forccedilas repressoras e fiscalizadoras do

Estado tecircm dificuldade em exercer o monopoacutelio das armas e das leisrdquo

(ALBUQUERQUE 2005 p67) Essa suposta ausecircncia de controle acaba

legitimando a imagem de que a fronteira eacute uma terra de ningueacutem

O mesmo autor explica que a triacuteplice fronteira a partir de meados da deacutecada

de 1990 passou a ser representada principalmente pela imprensa brasileira e

argentina juntamente com os organismos oficiais de inteligecircncia dos Estados

Unidos como um local de traacutefico de armas e drogas de lavagem de dinheiro dentre

outros sendo portanto caracterizada como ldquosantuaacuterio da corrupccedilatildeo impunidade e

delinquumlecircnciardquo (ALBUQUERQUE 2010 p39)

Seja pelas imagens incansaacuteveis divulgadas pelos meios de comunicaccedilatildeo de

que a fronteira requer maior atenccedilatildeo no quesito seguranccedila ou pelas pressotildees

internacionais ou mesmo pelo interesse do Estado em querer legitimar o uso da

forccedila na regiatildeo demonstrando sua soberania perante os paiacuteses vizinhos a

seguranccedila na fronteira eacute o tema mais visiacutevel no sentido de poliacutetica puacuteblica

Certamente a securitizaccedilatildeo processo pelo qual a seguranccedila puacuteblica torna-se o argumento central nas relaccedilotildees entre sociedade e Estado (Gruszczac 2010) marca a gestatildeo estatal das fronteiras no globo com ecircnfases e significados ligados agrave seguranccedila puacuteblica nacional e internacional (Machado Novaes Monteiro 2009 Dorfman Franccedila 2013) O governo brasileiro mobiliza suas instituiccedilotildees como decorrecircncia dos processos securitizatoacuterios poacutes 11-S mas tambeacutem o faz dentro de um projeto maior e mais antigo de construccedilatildeo do Brasil potecircncia (FRANCcedilA DORFMAN 2014 p11)

Um exemplo desses projetos eacute o receacutem criado Sistema Integrado de

Monitoramento de Fronteiras (SISFRON) um conjunto de sistemas integrados do

39

exeacutercito brasileiro para o monitoramento e controle das fronteiras terrestres

Segundo o site oficial do SISFRON trata-se de um dos maiores projetos de

seguranccedila e defesa em execuccedilatildeo do mundo De acordo com o Ministeacuterio da Defesa

seu propoacutesito eacute ldquofortalecer a presenccedila e a capacidade de accedilatildeo do Estado na faixa de

fronteira terrestre contribuindo para a maior efetividade no combate aos delitos

transfronteiriccedilos e praticados na faixa de fronteirardquo (BRASIL 2014 p1) Dorfman e

Franccedila (2014) citam outros programas como o Plano Estrateacutegico de Fronteiras em

2011 promovido pelo Ministeacuterio da Justiccedila

Estes e outros programas nacionais de proteccedilatildeo ao territoacuterio representam a

materializaccedilatildeo da claacutessica definiccedilatildeo de Estado o exerciacutecio do uso legiacutetimo da forccedila

tendo como pano de fundo dessa legitimidade o consenso da populaccedilatildeo que em

tese aceita em troca da proteccedilatildeo do Estado (WEBER 1998)

Aleacutem da seguranccedila a sauacutede eacute um setor delicado em regiatildeo de fronteira que

ao contraacuterio das poliacuteticas para seguranccedila da fronteira natildeo recebe recursos

diferenciados das demais regiotildees do paiacutes

Relatoacuterios do ldquoEstudo da Rede de Serviccedilos de Sauacutede na Regiatildeo de

Fronteirardquo referentes a 2001 e 2002 produzidos para a Organizaccedilatildeo Mundial da

Sauacutede (OMS) ao estudar a situaccedilatildeo da sauacutede puacuteblica nas cidades de Puerto

Iguazuacute Foz do Iguaccedilu e Ciudad Del Este verificaram a existecircncia de uma

dificuldade no processo de contabilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo que necessita de

atendimento pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) haja vista que parte dessa

populaccedilatildeo eacute flutuante Deste modo os repasses de verba para o SUS acabam natildeo

abarcando a realidade total da populaccedilatildeo atendida

Neste estudo as informaccedilotildees indicaram ainda que a maior transferecircncia de

atenccedilatildeo existe entre Ciudad Del Este e Foz do Iguaccedilu Este fenocircmeno pode ser

explicado basicamente pela acessibilidade geograacutefica somadas agraves condiccedilotildees

sociais e comerciais manifestado no tracircnsito entre Ciudad del Este e Foz do Iguaccedilu

Nesse sentido Luis Astorga (2004) responsaacutevel pelo estudo da sauacutede nas trecircs

cidades completa

A atenccedilatildeo que os cidadatildeos do Paraguai solicitam em Foz equivale a algo entre 5 e 55 dos serviccedilos produzidos em Cidade do Leste sendo o Atenccedilatildeo Primaacuteria e de Especialidade os mais procurados pela populaccedilatildeo paraguaia Os serviccedilos mais demandados pela populaccedilatildeo paraguaia satildeo aqueles onde haacute maior diferenccedila entre Cidade do Leste e Foz que satildeo precisamente os serviccedilos

40

ambulatoriais de especialidade Segundo os estudos de Foz aparentemente o maior fluxo de paraguaios concentra-se nos centros de sauacutede proacuteximos ao rio e agrave ponte dado que a populaccedilatildeo pode se deslocar a peacute desde Ciudad del Este (ASTORGA etal 2004 p88)

Cabe aqui a ressalva de que em regiotildees de fronteira internacional assim

como em outras regiotildees do paiacutes o problema da sauacutede eacute resultado de uma

conjuntura de fatores sendo que os mais citados para justificar a ineficiecircncia do

sistema eacute a falta de recursos humanos especializados as distacircncias entre os

municiacutepios e os grandes centros de referecircncia e a insuficiecircncia de equipamentos

para realizaccedilatildeo de tratamentos e procedimentos de meacutedia e alta complexidade

(GADELHA 2007 p216)

Na tentativa de amenizar essa situaccedilatildeo nas cidades de fronteira tendo o

MERCOSUL como propositor dessa poliacutetica criou-se o Sistema Integrado de Sauacutede

do Mercosul (SIS-MERCOSUL) Instituiacutedo em julho de 2005 e lanccedilado em

novembro do mesmo ano na cidade de Uruguaiana ndash RS ndash por meio do ministeacuterio

da sauacutede e dos Estados-membros do Mercosul seu objetivo eacute criar uma agenda

com propostas de Cooperaccedilatildeo Teacutecnica entre os paiacuteses do referido bloco e garantir

o atendimento para a populaccedilatildeo da regiatildeo por meio de estrateacutegias que melhorassem

a sauacutede local dos paiacuteses envolvidos

Costa e Gadelha (2007) explicam que ldquoa ideacuteia eacute iniciar uma poliacutetica de

incentivo agrave gestatildeo a partir do repasse de recursos financeiros para os municiacutepios de

fronteirardquo (COSTA e GADELHA 2007 p218) Estas municipalidades por outra via

devem participar ativamente da elaboraccedilatildeo de um diagnoacutestico da realidade da sauacutede

local e realizar o cadastro da populaccedilatildeo no cartatildeo do SUS A complexidade do

diagnoacutestico reside no fato de que momento em que o Estado natildeo considera como

usuaacuterios do sistema uacutenico cidadatildeos advindos dos paiacuteses vizinhos Neste caso eacute

fundamental que haja investimento integrado com os demais paiacuteses

Alguns avanccedilos tecircm sido alcanccedilados no tocante agrave elaboraccedilatildeo de diagnoacutesticos de sauacutede para municiacutepios da linha de fronteira mas ainda natildeo se consegue verificar o relacionamento deste diagnoacutestico da infra-estrutura instalada e real utilizaccedilatildeo do sistema por parte da populaccedilatildeo flutuante que o utiliza Para reverter essa situaccedilatildeo muito haacute que se avanccedilar na coordenaccedilatildeo de poliacuteticas de fronteiras no Brasil assim como em sua articulaccedilatildeo com as dos paiacuteses vizinhos (COSTA CADELHA 2007 p217)

41

Como podemos observar nos dados apresentados autores que tratam das

poliacuteticas puacuteblicas direcionadas para regiotildees fronteiriccedilas insistem em uma melhor

articulaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses com poliacuteticas para a fronteira de modo

que estas possam ser executadas com sucesso

15 O contexto escolar vivido entre fronteiras a escola como reguladora do

Estado

Albuquerque (2010) apresenta alguns trabalhos histoacutericos e antropoloacutegicos

acerca do Estado e dos agentes locais fronteiriccedilos ldquonas redefiniccedilotildees das identidades

nacionais regionais e locaisrdquo (ALBUQUERQUE 2010 p 46) Dentre estes estudos

o autor descreve aqueles referentes agrave fronteira dos Estados Unidos com o Meacutexico

em que a loacutegica de um hibridismo cultural de uma integraccedilatildeo cultural na fronteira

entre os dois paiacuteses eacute questionada Disto decorre o fortalecimento das identidades

nacionais Inspirados pelos estudos referentes agraves fronteiras entre os paiacuteses

Europeus e Meacutexico e Estados Unidos Albuquerque aponta que os antropoacutelogos do

cone sul em destaque os argentinos tecircm realizado inuacutemeras etnografias nas

fronteiras entres os paiacuteses da Ameacuterica do Sul

O que haacute de comum eacute a tentativa de pensar a tensatildeo entre naccedilatildeo e processos de integraccedilatildeo supranacionais e as maneiras como as identidades nacionais se fortalecem nestes espaccedilos de fronteiras apesar do visiacutevel hibridismo de liacutenguas e outras expressotildees culturais (GRIMSON 2003 KARASIK 2000 VIDAL 2000 apud ALBUQUERQUE 2010 p 27)

A complexidade das relaccedilotildees sociais existentes na fronteira nos permite dizer

que seria leviano rotular as pessoas que nelas transitam Conforme Laclau

(1996)ldquonatildeo se pode afirmar uma identidade diferencial sem distingui-la de um

contexto e no processo de fazer a distinccedilatildeo afirma-se o contexto simultaneamenterdquo

(LACLAU 1996 apud HALL 2003 p 85) No contexto da fronteira nos deparamos

com um sujeito que possui sua identidade nacional negociada o tempo todo atraveacutes

do encontro com os ldquooutrosrdquo

Em Foz do Iguaccedilu como mencionado eacute comum a presenccedila de outras etnias

e nacionalidades que buscam preservar seus costume e tradiccedilotildees mas ao entrar em

contato com outros costumes e valores acabam por adquirir parte de seus haacutebitos

Machado (2006) aponta que uma vez que a identidade sendo cultural e portanto

42

social e historicamente construiacuteda ela pode ser reconstruiacuteda ou reinventada

conforme as circunstancias temporais e espaciais (MACHADO 2006 p 93)

Figueiredo (2005) afirma que a questatildeo da identidade vai para aleacutem da construccedilatildeo

para a negociaccedilatildeo

Se anteriormente as identidades apareciam como construccedilotildees ainda que percebidas como processos simboacutelicos hoje em dia aleacutem dessa noccedilatildeo pode-se pensar e discutir a identidade como negociaccedilatildeo tanto como nas fronteiras culturais como nas linguumliacutesticas e territoriais (FIGUEIREDO 2005 p546)

Deste modo estes encontros relaccedilotildees e negociaccedilotildees entre diferentes

costumes haacutebitos liacutenguas se fazem presentes em Foz do Iguaccedilu e tambeacutem se

manifestam em diferentes espaccedilos como o escolar A escola eacute considerada um

espaccedilo plural principalmente com a globalizaccedilatildeo que provocou dentre outras

mudanccedilas ldquoum redimensionamento de grupos e movimentos migratoacuteriosrdquo (VIERA

2010 p10) Grandes metroacutepoles como Satildeo Paulo possui um grande nuacutemero de

estrangeiros Em reportagem feita para o Jornal bdquoO Estado de Satildeo Paulo‟ a

jornalista Isabela Palhares foi agrave uma escola na capital paulista Os dados fornecidos

pela direccedilatildeo da escola indica que ela possui mais de 55 de alunos estrangeiros

Trata-se da Escola Estadual Marechal Deodoro no Bom Retiro regiatildeo central de

Satildeo Paulo Dos 772 estudantes matriculados 55 satildeo de outro paiacutes ou satildeo filhos

de pais que vieram recentemente para o Brasil ldquoA maioria desses alunos

estrangeiros eacute de bolivianos peruanos e paraguaios mas ainda haacute coreanos

argentinos chilenos e um camaronecircsrdquo (PALHARES 2015)

Embora natildeo seja uma grande cidade em termos populacionais12 como as

capitais ou metroacutepoles brasileiras Foz do Iguaccedilu possui uma diversidade notaacutevel

quanto agrave presenccedila de imigrantes de diferentes nacionalidades e etnias que

possibilita transformaccedilatildeo e reconfiguraccedilatildeo da cultura e do cenaacuterio local Essa

presenccedila de imigrantes como explica Maria Eta Viera (2010) nem sempre eacute

percebida pelo brasileiro como algo valorativo A autora descreve a reaccedilatildeo de

algumas pessoas em transportes puacuteblicos e nas ruas que ao perceberem a

12

Conforme o censo realizado pelo IBGE em 2010 Foz do Iguaccedilu possui cerca de 260 mil

habitantesDisponiacutevel

emlthttpcidadesibgegovbrpainelpainelphplang=ampcodmun=410830ampsearch=||infogrE1ficos-

dados-gerais-do-municEDpiogt Acesso em 14062015

43

presenccedila do estrangeiro com traccedilos fiacutesicos diferentes e falando outro idioma

reagem com repulsa e redobram os cuidados com seus pertences (bolsa celular

carteira etc) (VIERA 2010)

Tradicionalmente tido como um paiacutes hospitaleiro receptivo ao extremo e que valoriza - agraves vezes ateacute de forma exagerada- o que eacute estrangeiro causam estranheza algumas atitudes que tecircm sido observadas com relaccedilatildeo a imigrantes de determinados paiacuteses (VIERA 2010 p61)

O imigrante que deixa seu paiacutes leva consigo a sua histoacuteria cultura valores e

ao chegar a outro paiacutes deve readequar a sua vida a este novo cenaacuterio Esse

encontro pode dar-se de modos diferentes ldquoprovocando desde uma coexistecircncia e

convivecircncia paciacuteficas entre os valores e costumes das comunidades envolvidas ateacute

repulsa e marginalizaccedilatildeo do estrangeiro (VIERA 2010 p63)

Conforme apresenta Homik Babha (1998) natildeo devemos concentrar nossas

atenccedilotildees seja em um lado ou em outro - neste caso o brasileiro em relaccedilatildeo aos

outros Ele critica esta noccedilatildeo binaacuteria entre totalidades Ao observar praacuteticas comuns

tiacutepicas de uma cultura assimiladas por outras eacute possiacutevel sugerir alguns exemplos

passiacuteveis de ocorrer em Foz do Iguaccedilu a saber o mesmo sujeito brasileiro que

chama o paraguaio de xiruacute a fim de ofendecirc-lo eacute o que adquiriu o haacutebito comum aos

paraguaios de tomar o tererecirc13 Isto vale tambeacutem para os apelidos pejorativos e

estigmas que tentam associar ao aacuterabe que reside em Foz do Iguaccedilu como

terrorista14 atraveacutes da denominaccedilatildeo de ldquohomens-bombardquo Aquele que os ofende eacute o

mesmo que fuma o narguile15 consome o shawarma e a esfiha Deste modo Babha

entende que a diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ocorre ao mesmo tempo em que

haacute incorporaccedilatildeo do outro dentro de si mesmo

1313Terereacute ou tererecirc eacute uma bebida tiacutepica feita com a infusatildeo de ervas em aacutegua fria Sua origem eacute atribuiacuteda aos Paraguai tendo suas raiacutezes na cultura dos indiacutegenas guaranis 14A partir do dia 11 de setembro de 2001 uma seacuterie de alegaccedilotildees sobre viacutenculos terroristas na Triacuteplice Fronteira entre Brasil Paraguai e Argentina cruzou as Ameacutericas Essa teoria circulada nos meios de comunicaccedilatildeo combinou com duas correntes imperialistas da poliacutetica externa dos Estados Unidos por um lado a imagem do aacuterabe ou do mulccedilumano como terrorista e por outro a representaccedilatildeo da Ameacuterica do Sul como uma ldquoterra sem leirdquo (MONTENEGRO GIMEacuteNEZ BEacuteLIVEAU 2006 apud KARAN 2011 p203) 15Espeacutecie de cachimbo muito usado por hindus persas e turcos constituiacutedo de um fornilho um tubo longo e um pequeno recipiente contendo aacutegua perfumada pelo qual passa a fumaccedila antes de chegar agrave boca (Dicionaacuterio online Disponiacutevel em lthttpwwwdiciocombrnarguilegtAcesso em 23112015

44

Nas escolas puacuteblicas de Foz do Iguaccedilu este ldquooutrordquo satildeo representados em

sua maioria por paraguaios e argentinos ou seja as diferenccedilas tecircm como marcador

principal a identidade nacional Trata-se de um problema histoacuterico jaacute que a escola

foi um dos instrumentos que permitiu ao Estado tentar iniciar o processo de

homogeneizaccedilatildeo cultural Logo conforme Pereira (2009) a escola deste o iniacutecio foi

considerada um espaccedilo negaccedilatildeo da diversidade O nacional torna-se assim fator

de diferenciaccedilatildeo de tensotildees de abertura para preconceitos e estigmas

Na dissertaccedilatildeo sobre a presenccedila de brasiguaios nas escolas brasileiras

Cirlani Terenciani (2011) menciona o trabalho de Joseacute Carlos de Souza (2001)

sobre as representaccedilotildees que os brasileiros fazem em relaccedilatildeo aos paraguaios

() que se tomar dinheiro emprestado natildeo gosta de pagar e natildeo quer que lembre da diacutevida Eacute vingativo para as pessoas que lhe traem a confianccedila () costuma-se dizer que trecircs coisas o paraguaio natildeo daacute a mulher o cavalo e a arma (SOUZA 2001 p 55 apud TERENCIANI 2011 p56)

Tratam-se de afirmaccedilotildees preconceituosas que contribuem para que a imagem do

paraguaio seja associada agrave ldquofalsidade ilegalidade desconfianccedilardquo (TERENCIANI

2011p 57)

Durkheim em Educaccedilatildeo e Sociologia (2011) descreve a escola enquanto

uma instituiccedilatildeo que natildeo estaacute alheia aos fatos sociais presentes na sociedade Logo

a representaccedilatildeo do ldquooutrordquo tanto em seus aspectos positivos quanto negativos eacute

reproduzido no acircmbito escolar sendo portanto um espaccedilo de negociaccedilotildees das

identidades-diferenccedilas

A educaccedilatildeo eacute inseparaacutevel da sociedade em seus momentos histoacutericos Para

Durkhiem (2011) cada sociedade em determinado momento de seu

desenvolvimento teve um sistema de educaccedilatildeo que se impocircs aos indiviacuteduos com

uma forccedila geralmente irresistiacutevel Isto significa que a educaccedilatildeo tem uma relaccedilatildeo

muito estreita com as necessidades e os conflitos que a sociedade vivencia em

determinado momento histoacuterico A funccedilatildeo social da escola estaria na socializaccedilatildeo da

crianccedila Joseacute Carlos Martins (2010) partindo da teoria sociointeracionista de

Vygotsky cuja visatildeo de desenvolvimento humano se baseia na premissa de que o

pensamento eacute constituiacutedo em um espaccedilo histoacuterico e cultural afirma que ldquoa crianccedila

reconstroacutei internamente uma atividade externa como resultado de processos

interativos que se datildeo ao longo do tempordquo (MARTINS 2010 p114) Com isso o

45

professor e os demais constituintes da comunidade escolar acabam fazendo parte

do processo formativo da crianccedila Logo as ideias valores e conhecimentos desta

instituiccedilatildeo e de outros organismos da sociedade vatildeo influir diretamente na formaccedilatildeo

desta crianccedila

No que confere agraves escolas situadas em regiatildeo de fronteira o grande desafio eacute

lidar com situaccedilotildees que envolvem tanto os aspectos formais quanto os transversais

que se passam em sala de aula como exemplo a funccedilatildeo mediadora do professor e

demais responsaacuteveis pela formaccedilatildeo do aluno ao lidar com diferenccedilas eacutetnicas e

linguumliacutesticas o que eacute comum nas escolas de fronteira internacional Em artigo

publicado sobre a diversidade cultural em sala de aula intitulado de ldquoFronteira

Diversidade Cultural e Cotidiana Escolar na cidade de Ponta Poratilderdquo Nunes e

Terenciani (2010) analisaram as manifestaccedilotildees da diversidade cultural social e

poliacutetica vivida diariamente nas aulas de geografia As autoras constataram que os

alunos oriundos do Paraguai tinham muita dificuldade com a liacutengua portuguesa

() estes alunos principalmente os das seacuteries iniciais muitas vezes chegam agrave escola sem saber falar a Liacutengua Portuguesa e em alguns casos natildeo sabem falar sequer a Liacutengua Espanhola comunicando-se apenas atraveacutes da Liacutengua Guarani o que dificulta o processo de aprendizagem bem como a relaccedilatildeo dos professores com seus alunos (NUNES TERENCIANI 2010 p04)

Nunes e Terenciani (2010) consideram que a escola e o formalismo no qual

ela se fundamenta reforccedila as fronteiras simboacutelicas o que impede a integraccedilatildeo entre

os paiacuteses fronteiriccedilos

Por sua vez na pesquisa com alunos bolivianos que estudam em redes

puacuteblicas e privadas na cidade de fronteira Corumbaacute ndash MS as autoras Ruth Souza e

Aline Rodrigues (2009) em entrevista a coordenadores professores e diretores das

escolas por elas analisadas chegaram agrave conclusatildeo de que os alunos bolivianos

apresentam dificuldades para ler e escrever o que dificulta ateacute mesmo o processo

de integraccedilatildeo dos alunos com os demais (no caso os brasileiros) aleacutem de se

sentirem tiacutemidos pela estranheza daquele universo escolar Ao analisarem o Projeto

Poliacutetico Pedagoacutegico das escolas visitadas as responsaacuteveis pela pesquisa deram o

seguinte parecer

Observa-se entatildeo que a escola brasileira natildeo eacute preparada para atender o aluno estrangeiro nem mesmo em aacutereas de fronteira onde

46

essa realidade eacute cada vez mais frequumlente Os PPP‟s satildeo engessados nas diretrizes gerais da educaccedilatildeo e desconsideram as especificidades locais natildeo oferecendo subsiacutedios adequados para as escolas atenderem os alunos estrangeiros e buscarem a inserccedilatildeo do mesmo no ambiente escolar e garantir o seu aprendizado (SOUZA RODRIGUES 2009 p10)

Outro estudo referente agrave presenccedila de migrantes fronteiriccedilos realizado na

fronteira do Brasil com o Uruguai na cidade de Sant‟Ana do Livramento ndash RS por

Geovana Bardesio e Paulo Cassanego (2013) apontou que as diferenccedilas

relacionadas ao idioma principalmente a expressatildeo escrita da liacutengua portuguesa

foram assinaladas pelos gestores entrevistados como um dos maiores desafios a

serem superados para o melhor desenvolvimento do aluno migrante Os mesmos

quando questionados sobre as atividades desempenhadas com vistas agrave promoccedilatildeo

da socializaccedilatildeo entre os alunos das escolas natildeo relataram nenhuma atividade

direcionada especificamente para o acolhimento de alunos migrantes ldquotambeacutem natildeo

foram verificados incentivos a promoccedilatildeo de discussotildees entre os professores sobre o

tema migraccedilatildeo e sobre a situaccedilatildeo de acolher estudantes nesta condiccedilatildeo na escolardquo

(CASSANEGO E BARDESIO 2013 p7)

Jacira Pereira (2003) apresenta o resultado de sua pesquisa referente agraves

identidades eacutetnico-culturais e sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo de escolas situadas em

regiatildeo de fronteira A pesquisa foi realizada na fronteira entre Brasil e Paraguai nas

cidades de Ponta Poratilde e Pedro Juan Caballero Buscou entrevistar duas geraccedilotildees

de migrantes presentes nas cidades oriundos de diferentes etnias e nacionalidades

Dentre as questotildees presentes na entrevista encontra-se uma referente a

atitudes preconceituosas nas escolas devido agrave origem eacutetnica do aluno Pereira

destacou a seguinte resposta de uma estudante paraguaia quando perguntada se

sofria algum tipo de preconceito

Preconceito assim natildeo mas tem aquelas brincadeirinhas de mau gosto Cala boca sua paraguaia [] Isto acontecia desde pequena agora parou um pouco Mas acontecia sempre e eu ficava brava brava Eu tinha vergonha (Luciana Assunccedilatildeo ndash 2ordf geraccedilatildeo) (PEREIRA 2003 p7)

Em relaccedilatildeo a possiacuteveis apelidos dados pelos colegas de turma a autora

destaca as seguintes falas

Natildeo ligo de ser descendente de libanecircs eu gosto [] Eu natildeo tenho mas os amigos do meu irmatildeo me chamam de turquinho Mas eu natildeo tenho um apelido que todo mundo me chama (Rames Husseinndash 2ordm geraccedilatildeo)

47

Tenho vaacuterios entre eles o de japonecircs porque me confundem com japonecircs [] Natildeo gosto disso (KyoLinndash 2ordf geraccedilatildeo) (PEREIRA 2003 p8)

Pode-se inferir com base nos relatos que nas relaccedilotildees no interior da escola

natildeo se discrimina o sujeito apenas por sua nacionalidade como tambeacutem pela

aparecircncia Ainda com relaccedilatildeo aos preconceitos e agrave discriminaccedilatildeo que sofrem os

migrantes a pesquisadora constatou que a minoria migrante paraguaia eacute a que mais

demonstra ser alvo de tratamento diferenciado expresso nas zombarias e nas

chacotas o que eacute possiacutevel captar nas relaccedilotildees tensas e conflitantes entre as

diferentes etnias na fronteira Eis alguns dos relatos dessas manifestaccedilotildees

Tem alguns soacute mas natildeo falam de verdade eacute soacute de brincadeira os paraguaios natildeo levam muito a seacuterio Tem amigo do meu irmatildeo que chama de chipeiro porque eacute do Paraguai soacute que esse apelido pegou e todo mundo soacute chama assim os paraguaios (KyoLinndash 2ordf geraccedilatildeo) Jaacute vi colocar apelido Um rapaz que tem na minha sala o chamam de chipa de paraguaio Mas eacute coisa de amigo ele leva na brincadeira Natildeo leva a mal (Rames Husseinndash 2ordf geraccedilatildeo) Assim natildeo eacute que tira sarro Chama assim de chipa (Latiffe Nasserndash 2ordf geraccedilatildeo) (PEREIRA 2003 p8)

Com estes dados a pesquisadora aponta que eacute comum em escolas da

fronteira a reproduccedilatildeo do imaginaacuterio negativo que se tem do ldquooutrordquo e conclui ldquoque a

comunicaccedilatildeo entre os colegas eacute carregada de hostilidade o que marca a diferenccedila

eacutetnica como uma caracteriacutestica negativardquo (PEREIRA 2003 p7)

A professora Maria Elena Pires dos Santos (2010) em pesquisa realizada

sobre o cenaacuterio sociolinguiacutestico na fronteira e sua relaccedilatildeo com as poliacuteticas

educacionais e pedagoacutegicas ao realizar um estudo com alunos brasiguaios em uma

escola de Foz do Iguaccedilu percebe que haacute diferentes olhares para a escrita hiacutebrida do

aluno brasiguaio Para a autora ldquoa leitura e a escrita processos mais valorizados na

escola eacute justamente o que evidencia a visibilizaccedilatildeo do aluno brasiguaio

constituindo fonte de estigmatizaccedilatildeo e preconceitordquo (PIRES-SANTOS 2010 p 46)

Ela ainda aponta que os professores ficavam insatisfeitos quando tinham que

receber alunos ldquobrasiguaiosrdquo sendo uma das possiacuteveis explicaccedilotildees o fato deste

aluno possuir uma linguagem hiacutebrida e pelo fato do ldquoportunholrdquo ser um grande fator

de preconceito na fronteira

48

Em pesquisa realizada sobre a presenccedila de alunos brasiguaios em escolas

de fronteira BrasilParaguai na cidade de Ponta Poratilde Ione Dalinghaus (2009)

observou que mesmo em uma escola onde 90 dos alunos satildeo paraguaios ou

ldquobrasiguaiosrdquo eacute proibido o uso de outra liacutengua que natildeo o portuguecircs evidenciando

assim o mito16 do monolinguismo Tambeacutem Cerliani Terenciani (2011) em sua

dissertaccedilatildeo tratou de estudar a presenccedila de alunos oriundos do Paraguai nas

escolas de Ponta Poratilde Ao entrevistar uma professora cujos pais satildeo paraguaios

mas ela fora registrada no Brasil relata sua experiecircncia na escola

Eu sofri hien ixi Me chamavam de paraguaia Falavam que eu era uma iacutendia que natildeo sabia falar o portuguecircs e essas coisas tipo de deboche assim sabe que eacute ()(Entrevista concedida agrave CERLIANI 2011 p102)

Outra percepccedilatildeo da dificuldade de adaptaccedilatildeo do(a) aluno(a) paraguaio(a) em

escolas brasileiras agora na cidade de Santa Terezinha de Itaipu17 encontra-se na

pesquisa de Marli Schlosser e Margarete Frasson (2012) sobre a imigraccedilatildeo de

alunos da educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Baacutesica do Paraguai para escolas brasileiras da rede

municipal de ensino entre os anos de 2007 e 2011 Segundo as autoras a fronteira

pode se apresentar como um espaccedilo de vivecircncia e possibilidades que seria por

exemplo o aluno migrante aprender um novo idioma No entanto quando os novos

conhecimentos que este aluno tem que adquirir na escola natildeo eacute em sua liacutengua

materna o processo de travessia na fronteira torna-se doloroso para o mesmo

ldquoobrigando-o a fazer uso de atitudes de silenciamento ou seja ele passa a se

apresentar reservado e em bdquoinvisibilidade‟ retraiacutedo para natildeo ser visto pelo olhar

hegemocircnico da escolardquo (GENTILI 2004 apud SCHLOSSER E FRASSON 2012

p4)

As pesquisas realizadas em diferentes escolas de fronteira apontam para a

necessidade de discussotildees que passem pelo campo das poliacuteticas linguumliacutesticas e

educacionais para a diversidade Ataiacutede e Moraes (2003) discorrem sobre a

tendecircncia de homogeneizaccedilatildeo curricular que aliena a escola de seu contexto O

Brasil como um todo ldquoproduz um projeto pedagoacutegico exoacutegeno e xenoacutefobordquo (ATAIacuteDE

16

Aleacutem do portuguecircs satildeo faladas hoje mais de 222 liacutenguas no Brasil Dessas liacutenguas explica Maher

mais de 180 satildeo indiacutegenas cerca de 40 satildeo liacutenguas de imigraccedilatildeo e duas satildeo liacutenguas de sinais LIBRAS-a Liacutengua Brasileira de Sinais-e a Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira Aleacutem das liacutenguas africanas Assim o Brasil pode ser considerado como um paiacutes multiliacutenguumle (MAHER 2013 p117) 17

Cidade localizada na zona de fronteira entre Brasil e Paraguai

49

e MORAES 2003 p83) Jurjo Santomeacute (1995) fala sobre o silenciamento que existe

nos curriacuteculos nacionais referentes agraves minorias no ambiente escolar sendo que no

caso da presenccedila de estrangeiros nas escolas fronteiriccedilas ela natildeo eacute nem negada e

tampouco silenciada tecircm se a impressatildeo de sua inexistecircncia Albuquerque e Souza

(2014) utilizam a expressatildeo ldquotrincheiras culturaisrdquo para se referirem agraves escolas em

aacutereas de fronteiras que tem por funccedilatildeo ldquonacionalizar as crianccedilasrdquo e combater o

idioma estrangeiro (ALBUQUERQUE 2014 p02)

Embora a expressatildeo ldquonacionalizar as crianccedilasrdquo seja reducionista ao limitar a

funccedilatildeo da escola agrave nacionalizaccedilatildeo um fato ocorrido em 1999 na fronteira entre

Brasil e Uruguai na cidade de Rivera natildeo tira em alguma medida este caraacuteter

ldquonacionalizadorrdquo o qual o Estado busca desempenhar atraveacutes da escola Trata-se de

uma reportagem publicada nos dois principais jornais da capital uruguaia

Montevideacuteu em que o ministro da educaccedilatildeo do paiacutes demonstrou sua indignaccedilatildeo

pelo fato do idioma portuguecircs ter invadido as escolas do Uruguai localizadas em

regiotildees de fronteira senti verguenza del estado de nuestras escuelas () Hasta

queacute punto el idioma portuguecircs habiacutea penetrado em nuestro paiacutes (Jornal El Paiacutes

1999 p6 apud SAacuteNCHEZ 2002p 115) A posiccedilatildeo do Conselho Diretivo Central de

Ensino natildeo foi muito diferente do ministro

por la expasiacuteon del idioma portugueacutes y el portunhol em aacutereas fronterizas y las acertadas medidas que adoptaraacute-fortalecimiento de la ensentildeanza del espanotildel formaacuteciacuteon de docentes de esa a signatura y maacutes centros educativosrdquo (Jornal El Observador 1999 p10 apud SAacuteNCHEZ 2002 p116)

A escola apresenta-se neste contexto enquanto reguladora seja de valores

culturas memoacuterias identidades a partir de padrotildees universalistas construiacutedos sem

um diaacutelogo com a alteridade (ARROYO 2007 p119) Uma possiacutevel tentativa de

transformar estas questotildees em estudo nas regiotildees fronteiriccedilas eacute o Programa das

Escolas Interculturais de Fronteira (PEIF) que conforme o documento oficial do

programa busca discutir a ldquoidentidade regional biliacutengue e intercultural no marco de

uma cultura de paz e cooperaccedilatildeo interfronteiriccedilardquo (ARGENTINABRASIL 2007 p 2)

Esta proposta seraacute analisada no proacuteximo capiacutetulo

Este capiacutetulo teve como objetivo traccedilar algumas perspectivas possiacuteveis de

abordar o tema de fronteira a comeccedilar com a etimologia da palavra utilizada pela

primeira vez no seacuteculo XIII como separaccedilatildeo entre Estados Hoje a fronteira eacute

estudada a partir de diferentes dimensotildees social simboacutelica cultural etc Desse

50

modo rompemos com a ideia de fronteira apenas como o limite entre estados e com

a tendecircncia de se cristalizaccedilatildeo da mesma pois eacute fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica

Outro aspecto levantado foi o papel da educaccedilatildeo escolar na construccedilatildeo do

imaginaacuterio e do sentimento de pertenccedila agrave naccedilatildeo (ANDERSON 1993) O Estado

utilizou as escolas para propagaccedilatildeo dos ideais nacionais na cidade de Foz do

Iguaccedilu com o objetivo de demarcar e proteger o territoacuterio dos paiacuteses vizinhos dos

imigrantes e seus descendentes

Na relaccedilatildeo entre fronteira e poliacuteticas puacuteblicas a bibliografia levantada sobre

estudos sobre fronteira e relaccedilotildees trabalhistas fronteira e o Sistema Uacutenico de Sauacutede

e das escolas em regiatildeo de fronteira demonstraram que os paiacuteses convivem como

naccedilotildees diferentes entre si embora os problemas que o afetem extrapolam a questatildeo

nacional de cada paiacutes A fronteira eacute um lugar o Estado se faz presente eacute notaacutevel

pelo processo de securitizaccedilatildeo da fronteira brasileira mas eacute tambeacutem o lugar onde o

Estado-naccedilatildeo se enfraquece dada a fluidez dos agrupamentos humanos

(MACHADO 2010)

CAPIacuteTULO II A HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO EM FOZ DO IGUACcedilU CONSTRUTOS

E CONTRADICcedilOtildeES PARA A CONSOLIDACcedilAtildeO DO ESTADO-NACcedilAtildeO

51

Este capiacutetulo tem como objetivo principal apresentar o processo pelo qual a

educaccedilatildeo na cidade de Foz do Iguaccedilu se desenvolveu com a finalidade de

demonstrar que neste trajeto a escola foi um dos principais instrumentos do

Estado junto com a militarizaccedilatildeo da fronteira para bdquonacionalizar‟ e proteger o

territoacuterio brasileiro Para isto primeiramente apresentamos o contexto ao qual a

cidade de Foz do Iguaccedilu foi fundada destacando que o territoacuterio desde a fundaccedilatildeo

da Colocircnia Militar em 1889 contava com a presenccedila de estrangeiros

Ao mesmo tempo abordamos a trajetoacuteria da formaccedilatildeo das escolas em Foz do

Iguaccedilu a partir da histoacuteria da educaccedilatildeo do Paranaacute O capiacutetulo destaca os principais

fatos histoacutericos que ocorreu no Estado paranaense e na regiatildeo Oeste do Paranaacute que

marcaram a criaccedilatildeo das escolas Destaca-se aqui os anos de 1930-1945 periacuteodo

em que ocorreu a Marcha para o Oeste e a fundaccedilatildeo do Territoacuterio Federal do

Iguaccedilu que estimulou o desenvolvimento do Oeste do Paranaacute e com isto a criaccedilatildeo

de escolas ao mesmo tempo em que a poliacutetica nacionalista do governo varguista

aplicou uma poliacutetica de vigilacircncia sobre as escolas dos imigrantes ou mesmo o seu

fechamento Delineamos ainda os principais aspectos educacionais a partir dos

anos de 1990 ateacute os dias atuais para destacar os resquiacutecios e as transformaccedilotildees da

educaccedilatildeo na cidade de fronteira ao longo deste periacuteodo

21 Contexto histoacuterico

A regiatildeo da chamada triacuteplice fronteira eacute composta pela Argentina Brasil e

Paraguai com suas respectivas cidades Puerto Iguazuacute Foz do Iguaccedilu e Ciudad del

Este como pode ser observado no mapa abaixo

52

Imagem VI- Mapa da regiatildeo da Triacuteplice Fronteira- Argentina Brasil e Paraguai Fonte httpgeouel2009blogspotcombr201207triplice-fronteira-apontamentoshtml

A presenccedila de imigrantes europeus na regiatildeo onde hoje eacute a cidade de Foz do

Iguaccedilu data do ano de 1542 com os relatos da chegada de Aacutelvaro Nunes Cabeza

de Vaca agraves cataratas Este relato faz parte da histoacuteria de construccedilatildeo da cidade

brasileira e se funde agrave histoacuteria das cataratas do Iguaccedilu - uma das sete maravilhas da

natureza Foz do Iguaccedilu tem como marco fundador a criaccedilatildeo da colocircnia militar em

1889 e a data de 1930 como iniacutecio de seu processo modernizador (SOUZA 2009)

Portanto eacute a partir da fundaccedilatildeo da colocircnia militar que buscamos conhecer o

processo de formaccedilatildeo das primeiras escolas da regiatildeo oeste paranaense e

portanto de Foz do Iguaccedilu

Compreender o processo de desenvolvimento da cidade de Foz do Iguaccedilu

bem como o de suas instituiccedilotildees de ensino implica na contextualizaccedilatildeo dos

acontecimentos e transformaccedilotildees no Brasil e tambeacutem das mudanccedilas ocorridas

nesta regiatildeo fronteiriccedila

A educaccedilatildeo brasileira do seacuteculo XIX foi reflexo das transformaccedilotildees no acircmbito

da produccedilatildeo da vida social ocorridas no Brasil poacutes-independecircncia No Paranaacute as

atividades econocircmicas tinham como base as fazendas de gado A criaccedilatildeo de gado e

o comeacutercio foram fundamentais para a o povoamento do territoacuterio nesse periacuteodo

Segundo Maria Ceciacutelia Oliveira (1986) com o crescimento das lavouras de

cafeacute em Satildeo Paulo o comeacutercio interno de escravos cresceu significativamente Do

mesmo modo no Paranaacute que por volta de 1865 viu o nuacutemero de escravos

diminuiacuterem significativamente na Proviacutencia A falta de matildeo-de-obra refletiu na

agricultura paranaense direcionada para o abastecimento de gecircneros alimentiacutecios

53

Para solucionar a falta de matildeo-de-obra o governo provincial ldquoque jaacute vinha

promovendo a imigraccedilatildeo de grupos de estrangeiros intensificou a poliacutetica

imigratoacuteria objetivando a atender o problema da matildeo-de-obra na produccedilatildeo agriacutecolardquo

(OLIVEIRA 1986 p34) A mesma autora aponta que a Proviacutencia do Paranaacute criou

escolas em diversas colocircnias estrangeiras situadas proacuteximas dos nuacutecleos urbanos

sobretudo de Curitiba Ao mesmo tempo os imigrantes criaram suas proacuteprias

escolas para manutenccedilatildeo da cultura de seus respectivos paiacuteses de origem

As escolas e o conjunto de sua estrutura eram precaacuterios ldquofaltava preacutedio

escolares ausecircncia e deficiecircncia de professores baixa frequumlecircncia escolar aleacutem dos

parcos recursos disponiacuteveisrdquo (OLIVEIRA 1986 p35) No Brasil como um todo

seguia sem diretrizes que pudessem organizar melhor o ensino no paiacutes

A ausecircncia de um plano definido de educaccedilatildeo que atendesse agraves necessidades brasileiras pode ser verificada pelas inuacutemeras reformas e projetos apresentados na Corte que marcam o Segundo Impeacuterio e influiacuteram na organizaccedilatildeo do ensino Entre eles podem ser

destacados (OLIVEIRA 1986 p35)

No Paranaacute apoacutes sua emancipaccedilatildeo em 1853 a instruccedilatildeo puacuteblica encontrava-

se em condiccedilotildees de precariedade e natildeo atingia toda a populaccedilatildeo Trindade (2001)

aponta que em meio a uma populaccedilatildeo de 620000 habitantes haviam apenas 615

alunos nos cursos de primeiras letras ldquoo ensino secundaacuterio era praticamente

inexistente e o pouco que havia em Curitiba buscava atender agrave demanda local e do

interior da Proviacutenciardquo (TRINDADE 2001 p 61)

21 Colocircnia Militar de Foz do Iguaccedilu e as primeiras escolas da regiatildeo

A colocircnia militar que marcou o iniacutecio da atuaccedilatildeo do Estado na regiatildeo de Foz do

Iguaccedilu foi criada a partir da lei imperial nordm 601 de 18 de setembro de 1850

regulamentada pelo decreto nordm 1318 de 30 de janeiro de 1854 que determinava o

registro das terras no territoacuterio brasileiro Desse modo o entatildeo presidente da

Proviacutencia do Paranaacute recebeu em 1854 o pedido para implementaccedilatildeo da colocircnia

militar e junto ao pedido seguiam as atividades a ser desenvolvidas pela colocircnia

1ordm Conceder o governo terras e fazer o sacrifiacutecio pecuniaacuterio annual

de 30 contos por certo numero de annos para pagar os juros de capital que se tomasse emprestado e se houvesse de applicar as

54

despezas de viagem e sustento de 500-600 familias 2ordm Estar a

direcccedilatildeo agrave cargo de pessoas responsaacuteveis pelo capital sob a

vigilacircncia o governo 3ordm Serem os lotes de terras divididos e vendidos

conforme hum preccedilo determinado destinando-se o producto a

construccedilatildeo de igrejas escolas etc etc 4ordm Incumbir a direcccedilatildeo a

procura de colonos e fornecimento de casas sementes animaes

viveres roupa bom mercado ao seus productos ampc 5ordm Cultivarem

as colocircnias de serra-acima cereais crearem animaes fazerem manteiga e queijo ao passo que as de serra-abaixo devem entregar-

se aacute cultura de generos coloneaes 6ordm Fazer o governo com as

despezas com padres e mestres de escola (RIIT 2011 p51 apud VASCONCELOS 1854 p 56)

Desse modo a ocupaccedilatildeo da regiatildeo por parte do Brasil foi consolidada no ano

de 1889 com a colocircnia militar O objetivo consistia em proteger o territoacuterio brasileiro

principalmente apoacutes a Guerra da Triacuteplice Alianccedila18 (1864-1870) Segundo Valdir

Gregory (2012) as intencionalidades em estabelecer um posto militar avanccedilado eacute

apenas uma justificativa que tinha ldquocomo pano de fundo a necessidade da

construccedilatildeo da nacionalidade () os sucessos na guerra motivaram a presenccedila fiacutesica

e ideoloacutegica na triacuteplice fronteirardquo (GREGORY 2012 p 50) Escreve Silveira Neto

(1939) em seus relatos de viagem que havia naquele periacuteodo de implementaccedilatildeo da

colocircnia militar 324 habitantes ldquosendo 188 paraguaios 33 argentinos 93 brasileiros

5 franceses 2 espanhoacuteis 1 inglecircs 2 orientais Destes 220 homens e 104 mulheresrdquo

(NETO 1939 p 52)

Estabelecida a colocircnia os militares se preocuparam com a necessidade da

instruccedilatildeo escolar Assim em 1895 foi criada uma escola informal que no iniacutecio

contou com vinte alunos matriculados

Em Foz do Iguaccedilu nuacutecleo pioneiro da ocupaccedilatildeo nacional regional desde os tempos da Colocircnia Militar existiu por parte dos militares e funcionaacuterios do fisco a preocupaccedilatildeo com a escolarizaccedilatildeo de seus filhos Esse segmento social resolveu o problema da instruccedilatildeo a partir de seu proacuteprio grupo social Essa instruccedilatildeo era quantitativamente muito restrita soacute para filhos de funcionaacuterios dos postos mais importantes na modalidade de Escola Particular Domiciliar (EMER 2012 p 37)

18 Na eacutepoca do Brasil imperial toda essa fronteira foi assegurada com a vitoacuteria da Guerra da Triacuteplice

Alianccedila (1865-1870) que derivou no aniquilamento de capacidade econocircmica e beacutelica paraguaia A vitoacuteria brasileira argentina e uruguaia impocircs ao Paraguai a assinatura do Tratado de Limites de 1872 que anexava ao territoacuterio brasileiro terras paraguaias agrave leste do Rio Paranaacute (ROSEIRA 2006 p 38)

55

Segundo o mesmo autor entre os anos de 1889 ateacute 1912 ano de extinccedilatildeo da

Colocircnia Militar as crianccedilas de famiacutelias brasileiras com boas condiccedilotildees financeiras

que natildeo eram filhas de funcionaacuterios do governo buscavam escolarizaccedilatildeo nos paiacuteses

vizinhos Para o autor a instruccedilatildeo particular domiciliar ficava restrita a filhos de

funcionaacuterios que ocupavam cargos importantes Durante o periacuteodo de vigecircncia da

Colocircnia Militar prevaleceu a modalidade de instruccedilatildeo sem instituiccedilatildeo Natildeo existiu

escola ou casa escolar em Foz do Iguaccedilu (EMER 1991 p 28)

Destacam-se os argentinos que nesse periacuteodo dominavam a regiatildeo pois as

companhias ervateiras e madeireiras eram daquele paiacutes ldquoSe a produccedilatildeo local era

estrangeira a moeda a liacutengua e os bens de primeira necessidade tambeacutem o eramrdquo

(ROSEIRA 2006 p41) No que se refere ao idioma o guarani e o espanhol eram

predominantes nesta regiatildeo Em relaccedilatildeo agrave moeda o dinheiro que circulava era o

peso argentino e as propriedades eram em sua maioria pertencentes agraves Obrages

(WACHOWICZ 1985 p 140 apud ROSEIRA 2006 p 51)

Segundo o historiador Ruy Wachowicz (2010) este processo de aproximaccedilatildeo

com a Argentina fez com que a regiatildeo oeste ficasse mais exposta agrave penetraccedilatildeo

argentina do que com o restante do Brasil (WACHOWICZ 2010 p 275) A

proximidade entre os dois paiacuteses fez com que o oeste paranaense fosse

culturalmente influenciado e economicamente dependente da Argentina Wachowicz

aponta que por volta de 1881 os argentinos comeccedilaram a exploraccedilatildeo da erva-mate

em Misiones e mais tarde no Brasil na regiatildeo oeste do Paranaacute

Otiacutellia Schimmelpfeng (1991) em seu livro ldquoRetrospectos iguaccedilusensesrdquo fala

acerca desta singularidade ldquoA moeda argentina circulava com domiacutenio absoluto na

praccedila Pouco ou nada se fala em ldquomil reacuteisrdquo naquele tempordquo (SCHIMMELPFENG

1991 p 28) O ldquopesordquo se introduzia ateacute nas reparticcedilotildees puacuteblicas Em entrevista ao

historiador Ruy Cristovatildeo Wachowicz Otiacutellia eacute mais detalhista sobre a influecircncia

argentina

Eu sentia aqui como se natildeo tivesse no Brasil Me sentia aqui isolada parecia que eu estava em outro paiacutes ateacute Porque todos os haacutebitos a liacutengua falada aqui era mais que predominava era o espanhol o castelhano como se dizia Parece que as pessoas quando vinham pra caacute no Brasil se achavam na obrigaccedilatildeo de aprender o castelhano pra ser entendido Parecia E todo mundo se interessava em falar o castelhano porque a convivecircncia aqui era muito maior com os argentinos Paraguai natildeo tanto porque noacutes natildeo tiacutenhamos Paraguai nessa regiatildeo aqui natildeo era muito habitada Mas tinha o Porto Aguirre que hoje eacute Porto Iguaccedilu que jaacute era um porto de grande movimento de turismo jaacute jaacute tava sendo legalizado entatildeo jaacute tinha mais

56

desenvolvimento e mais recurso tambeacutem pra atender Foz do Iguaccedilu entatildeo noacutes tiacutenhamos mais contacto com os argentinos [] Entatildeo a gente tinha aqui um contacto mesmo constante com os argentinos E se falava soacute quase o castelhano a moeda era soacute o peso argentino (SCHIMMELPFENG 1980 apud SBARDELOTTO 2009 p 91)

O contato de Foz de Iguaccedilu era muito mais intenso com os paiacuteses fronteiriccedilos

do que com o restante do paiacutes Sbardelotto (2008) explica que havia tambeacutem um

grande nuacutemero de paraguaios que adentravam no Oeste do Paranaacute para trabalhar

nas empresas de erva-mate e posteriormente de madeira Contudo a presenccedila

argentina se destaca uma vez que eram o grupo que ldquodetinham os meios de

produzir e comercializar a principal atividade produtiva da regiatildeo e que atraveacutes

deste controle econocircmico determinavam os costumes a cultura e tambeacutem a

educaccedilatildeo neste territoacuteriordquo (SBARDELOTTO 2008 p5)

Dessas companhias madeireiras que se estabeleceram na regiatildeo muitas

faziam parte do modelo de exploraccedilatildeo denominado de Obrage ldquoO obragero era o

proprietaacuterio desse tipo de latifuacutendio () o obragero argentino explorava a erva-mate

e a madeira em torosrdquo (WACHOWICZ 2010 p 276) Em poucas deacutecadas a regiatildeo

que compreende a costa paranaense foi ocupada por inuacutemeras obrages e

consequentemente povoada em sua maioria por paraguaios argentinos e guaranis

modernos19 que trabalhavam como mensus20 Em 1930 a populaccedilatildeo estimada nas

obrages passava dos 10000 habitantes em sua maioria estrangeira

Naquele contexto a intensidade das relaccedilotildees fez com que a Argentina se

tornasse o principal prestador de serviccedilos agrave cidade de Foz do Iguaccedilu Segundo

Sbardelotto (2009) muitas crianccedilas eram escolarizadas no sistema argentino

absorvendo a liacutengua a histoacuteria e os costumes do paiacutes vizinho (SBARDELOTTO

2009 p 92)

Durante o periacuteodo em que seguia o desenvolvimento da Colocircnia Militar os

ldquopioneirosrdquo responsaacuteveis por sua construccedilatildeo diante da ausecircncia de um sistema de

ensino institucionalizado passaram a organizar e estruturar uma educaccedilatildeo natildeo-

formal

Em Foz do Iguaccedilu nuacutecleo pioneiro da ocupaccedilatildeo nacional regional desde os tempos da Colocircnia Militar existiu por parte dos militares e

19

Termo empregado aos indiacutegenas guaranis miscigenados do Paraguai (PRIORI A et al 2012p79) 20 A expressatildeo vem do espanhol da palavra bdquomensual‟ ou seja mensalista (GREGORY 2002 p 89 apud PRIORI A et al 2012p79)

57

funcionaacuterios do fisco a preocupaccedilatildeo com a escolarizaccedilatildeo de seus filhos Esse segmento social resolveu o problema da instruccedilatildeo a partir de seu proacuteprio grupo social Essa instruccedilatildeo era quantitativamente muito restrita soacute para filhos de funcionaacuterios dos postos mais importantes na modalidade de Escola Particular Domiciliar (EMER 2012 p37)

No ano de 1910 a Colocircnia Militar passou a ser distrito de Guarapuava e

denominada de Vila do Iguassuacute Em 1912 o Ministeacuterio da Guerra emancipou a

colocircnia que passou a ser administrada pelos civis sob o governo do Estado do

Paranaacute Em 1914 com a lei nordm 1383 foi criada a municipalidade de Vila do Iguassuacute e

em 1918 o nome Foz do Iguaccedilu foi adotado como oficial Conforme Lima (2001) no

periacuteodo compreendido entre 1914 a 1930 aleacutem do estabelecimento das primeiras

famiacutelias brasileiras argentinas e paraguaias houve a colonizaccedilatildeo por parte dos

imigrantes descendentes de alematildees poloneses e italianos (LIMA 2001 p 31)

De acordo com Emer (1991) a partir de 1914 o governo do Estado do

Paranaacute instituiu um novo modelo de escola o Grupo Escolar Estes grupos

escolares dirigiam-se ao ensino de quatro seacuteries com conteuacutedos progressivos Estas

escolas estavam localizadas nos principais centros urbanos e nas regiotildees mais

afastadas do centro seguiam sem escolas ou com muita precariedade de escolas

Os grupos de migrantes na ausecircncia de escolas construiacuteam as suas proacuteprias

A falta de escolas no Paranaacute fazia sentir-se especialmente fora dos nuacutecleos coloniais dos imigrantes que ao contraacuterio dos demais nuacutecleos populacionais natildeo esperavam pela iniciativa do governo mas construiacuteam suas proacuteprias escolas e providenciavam o professor Quando muito solicitavam algum tipo de subvenccedilatildeo do governo estadual A escola dos imigrantes natildeo se desenvolveu mais porque o Estado desde 1901 apenas subvencionava os professores que ensinassem em liacutengua portuguesa Esse natildeo era o interesse dos imigrantes Pretendiam repassar agraves novas geraccedilotildees sua noccedilatildeo de nacionalidade de origem que incluiacutea a liacutengua a religiatildeo e os costumes Se o ensino fosse apenas na liacutengua portuguesa os colonos retiravam seus filhos e organizavam uma nova escola particular Em diversas localidades a escola puacuteblica foi desativada e removido o professor por absoluta falta de alunos (EMER 1991 p 207)

Emer destaca as modalidades de ensino que foram criadas neste periacuteodo

tanto no acircmbito formal quanto na esfera institucionalizada satildeo elas (1) Instruccedilatildeo

sem instituiccedilatildeo - ldquoSimplesmente algumas crianccedilas reuniam-se ao redor da mesa de

refeiccedilotildees de uma residecircncia para aprender ler escrever e calcular - curriacuteculo e

58

objetivos educacionais estabelecidos pelos paisrdquo (referecircncia) - que consistia em que

a educaccedilatildeo era dada pelo grupo social sem nenhuma institucionalizaccedilatildeo (2) casa

escolar - construiacuteda e mantida pelos pioneiros - ldquo() do professor era exigida uma

melhor qualificaccedilatildeo isto eacute deveria ensinar mais que na escolarizaccedilatildeo Domiciliar a

Casa Escolar deveria funcionar tecnicamente bemrdquo (EMER 2012 p 36) (3) casa

escolar puacuteblica criada e regulamentada pelo Municiacutepio- ldquoComo uma escola oficial

os alunos das Casas Escolares Puacuteblicas eram submetidos aos exames puacuteblicos

elaborados pelos oacutergatildeos educacionais puacuteblicos para comprovaccedilatildeo da escolaridaderdquo

Neste modelo ficava a cargo do governo contratar e remunerar o professor

cabendo a este alugar uma sala ou casa e formar o grupo de aluno de primeiras

letras Por uacuteltimo o Grupo Escolar Puacuteblico (4) ndash que se diferencia das demais

modalidades por ter sido construiacuteda em nuacutecleos de povoamento mais desenvolvidos

e pela forma de funcionamento Nas modalidades anteriores o objetivo era aprender

a ler escrever e calcular Posteriormente com a oficializaccedilatildeo da casa escolar a

comprovaccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo passou a ser feita por meio de avaliaccedilotildees No grupo

escolar a preocupaccedilatildeo era de bdquoaprovar‟ o aluno para a seacuterie seguinte ldquonum processo

gradual de comprovaccedilatildeo de conhecimentos dos conteuacutedos definidos pelo ldquosistemardquo

educacional como requisito de cada seacuterie (EMER 2012 p 36)

A partir da fundaccedilatildeo da municipalidade em 1914 a populaccedilatildeo passou a

reivindicar um modelo de educaccedilatildeo subsidiado pelo poder puacuteblico Naquele

momento Foz do Iguaccedilu desenvolvia planos para combater o contrabando da

fronteira o que demandou a contrataccedilatildeo de agentes fiscais Esse processo fez com

que o grupo de escolarizados que chegavam agrave cidade passassem a requerer

escolas para seus filhos aleacutem do fato do crescimento da populaccedilatildeo e por

consequecircncia o aumento de crianccedilas (EMER 2012 p 37)

Conforme Emer (1991) entre os anos de 1915 e 1916 ldquoa Prefeitura Municipal

teria construiacutedo e mantido uma casa escolar puacuteblica embora precaacuteria e insuficienterdquo

(EMER 1991 apud Sbardelotto 2009 p 96) Wachowicz afirma que a necessidade

da criaccedilatildeo de escolas por parte da populaccedilatildeo soacute surgiu quando a populaccedilatildeo

urbana cresceu significativamente organizando assim a vida social (WACHOWICZ

1984 p 19) Apesar da iniciativa de dar acesso ao ensino puacuteblico de forma gratuita

a todos Sbardelotto aponta que apenas a populaccedilatildeo masculina foi contemplada

aleacutem do caraacuteter eminentemente elitista uma vez que os filhos de trabalhadores por

terem que optar pela subsistecircncia da famiacutelia abandonavam as escolas

59

Outros fatores contribuiacuteram para o desenvolvimento da educaccedilatildeo em Foz do

Iguaccedilu dentre eles a presenccedila da Igreja Catoacutelica Anterior a fundaccedilatildeo do

municiacutepio em decorrecircncia da localizaccedilatildeo e da dificuldade de deslocamento a

populaccedilatildeo da cidade soacute recebia assistecircncia religiosa uma vez por ano Isso

perdurou ateacute 1918 quando a Igreja optou em criar uma Paroacutequia na cidade desde

que contasse com a ajuda do governo Nesse sentido o acordo entre Igreja e

governo do Estado foi firmado com a condiccedilatildeo de que a Igreja construiacutesse e

dirigisse um grupo escolar

Em 1923 foi instalada a paroacutequia e nomeado o primeiro vigaacuterio um sacerdote alematildeo da Congregaccedilatildeo do Verbo Divino Padre Guilherme Maria Tilecks Para cumprimento do acordo com o Estado mesmo antes da construccedilatildeo do Grupo Escolar o Padre Guilherme passou a lecionar na Casa Escolar Para o desempenho de suas atividades recebeu a ajuda de outros dois padres e de um irmatildeo de sua congregaccedilatildeo (Padre Joatildeo Progzeba Padre Paulo Schneider e Irmatildeo Bianchi) (EMER 2012 p 38)

Por meio do Decreto nordm 1326 do dia 27 de agosto de 1928 surge o Grupo

Escolar Caetano Munhoz da Rocha que posteriormente passou a ser chamado de

Grupo Bartolomeu Mitre primeiro grupo escolar da mesorregiatildeo Oeste do Paranaacute

Em 1930 o grupo escolar passou a ser administrado pelo governo do Paranaacute sob a

direccedilatildeo de professores nomeados pelo Estado Segundo o Plano Municipal de

Educaccedilatildeo (PME) de 2015 ldquoa funccedilatildeo da escola no municiacutepio na eacutepoca era a de

cooperar com a nacionalizaccedilatildeo de um espaccedilo que era submetido por argentinos e

paraguaiosrdquo (PME 2015 p 4) Desse modo a criaccedilatildeo da escola passa a ser

reconhecido pelo Estado como instrumento necessaacuterio para a nacionalizaccedilatildeo da

triacuteplice fronteira O plano municipal utiliza a palavra bdquosubmetido‟ indicando que

naquele periacuteodo havia certa preocupaccedilatildeo com a presenccedila e influecircncia dos paiacuteses

fronteiriccedilos como uma ameaccedila ao territoacuterio e a necessidade de construccedilatildeo da

naccedilatildeo

60

Imagem V- Grupo Escolar Bartolomeu Mitre Fonte Site da Secretaria Estadual do Paranaacute

httpwwwfozbartolomeumitreseedprgovbrmodulesconteudoconteudophpconteudo=9

O fato de o Brasil homenagear um general argentino ao nomear uma escola

em seu nome levou Emer a questionar os motivos que levariam o Estado brasileiro a

tomar essa atitude ou se ela foi apenas uma homenagem despretensiosa ao general

argentino Os interesses do Brasil naquele periacuteodo era dar seguimento agrave poliacutetica

integracionista do territoacuterio com uma campanha nacionalista e o Grupo Escolar Mitre

eacute o marco da institucionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo no oeste paranaense Por isso as

motivaccedilotildees natildeo ficaram tatildeo claras (SBARDELOTTO 2007)

A partir da deacutecada de 1930 a cidade de Foz do Iguaccedilu passou a receber

imigrantes descendentes de italianos e alematildees aleacutem de inuacutemeros agricultores do

Rio Grande do Sul Neste mesmo periacuteodo o governo do Estado do Paranaacute fez

algumas reformas educacionais de teor nacionalista conivente com as mudanccedilas do

governo como aponta o Plano Municipal de Educaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu (2015)

Algumas mudanccedilas comeccedilam acontecer na educaccedilatildeo do paiacutes Uma delas eacute a manifestaccedilatildeo do Estado entre os anos de 1917 e 1919 o governo federal delibera verba para as escolas que ensinavam em liacutengua portuguesa e as escolas de imigrantes que ensinavam em outra liacutengua eram vigiadas e fechadas (PME 2015 p 5)

Durante o Estado Novo essas escolas passaram a ser alvo do governo

principalmente apoacutes a Marcha para o Oeste ldquoque defendia a ocupaccedilatildeo efetiva e a

nacionalizaccedilatildeo das fronteiras nacionais brasileiras de Norte a Sul do paiacutesrdquo (PRIORI

et al 2012 p 65) O projeto explica Priori (etal 2012) buscava despertar o

sentimento de nacionalidade e brasilidade na populaccedilatildeo que vivia na fronteira

No caso da fronteira de Foz do Iguaccedilu despertar na populaccedilatildeo esse

sentimento de nacionalidade era combater agrave ameaccedila que paraguaios argentinos e

61

os descendentes de alematildees italianos poloneses dentre outros imigrantes que se

fixaram na regiatildeo representavam ao projeto de integraccedilatildeo nacional do governo

22 O projeto nacionalista do Estado Novo e a lsquonacionalizaccedilatildeo da fronteirarsquo

A ldquoMarcha para o Oesterdquo foi um importante processo que contribuiu para o

projeto de nacionalizaccedilatildeo da fronteira Segundo Lenharo (1986 apud Lopes 2004)

o discurso de Vargas justificava a ldquoMarcha para o Oesterdquo pautando-se na conquista

da brasilidade que se daria por meio da interiorizaccedilatildeo do paiacutes ldquoPara ele a

construccedilatildeo da ldquoMarcha para Oesterdquo lembra a imagem da naccedilatildeo em movimento agrave

procura de si mesma de sua integraccedilatildeo e acabamentordquo (LENHARO 1986 p56

apud LOPES 2004 p 4)

Como uma das consequumlecircncias da ldquoMarcha para o Oesterdquo foram criados os

territoacuterios federais ldquonas regiotildees do Amapaacute Guaporeacute (atual Rondocircnia) Rio Branco

(atual Roraima) Iguaccedilu e Ponta Poratilde no Estado de Mato Grosso do Sulrdquo (PRIORI et

al 2012p66) Por meio do Decreto-Lei nordm 58124 no ano de 1943 o Territoacuterio

Federal do Iguaccedilu foi criado abrangendo o Oeste e Sudoeste do Paranaacute e Oeste de

Santa Catarina

Segundo Seacutergio Lopes (2004) dentro do espiacuterito de nacionalizaccedilatildeo o

Territoacuterio Federal do Iguaccedilu deveria atender urgentemente o estabelecimento de

condiccedilotildees miacutenimas para organizaccedilatildeo econocircmica social e de seguranccedila das regiotildees

fronteiriccedilas e dos sertotildees Desse modo a criaccedilatildeo do territoacuterio pode ser entendida

como um ato de ocupaccedilatildeo definitiva da faixa de fronteira ldquopara assim romper o

isolamento e afastar definitivamente o perigo estrangeiro para a soberania nacional

que rondava a regiatildeordquo (LOPES 2004 p16)

O primeiro governador a administraacute-lo o Major Joatildeo Garcez do Nascimento

em relatoacuterio enviado ao Ministro da Justiccedila e Negoacutecios Anteriores fez inuacutemeras

consideraccedilotildees sobre a situaccedilatildeo do transporte comeacutercio sauacutede seguranccedila e

educaccedilatildeo na regiatildeo que abrangia o Territoacuterio Federal do Iguaccedilu No aspecto

educacional ele aponta

Haacute no Territoacuterio regular nuacutemero de escolas primaacuterias Satildeo elas

em nuacutemero de setenta Aleacutem disso contam‐se quatro grupos escolares sediados em Pato Branco Clevelacircndia Foz do Iguassuacute e Guaiacutera Quanto ao nuacutemero de escolas pode-se afirmar que atende

62

ainda as necessidades locais quanto as suas instalaccedilotildees poreacutem haacute muito o que providenciar A maioria delas funciona em preacutedios improacuteprios outras em simples salas cedidas a tiacutetulo precaacuterio e por empreacutestimo Em sua maioria natildeo atende aos rudimentares princiacutepios de higiene e didaacutetica O professorado salvo honrosas exceccedilotildees constitui-se de pessoas bem intencionadas e dedicadas mas de niacutevel cultural bastante abaixo do que seria estimaacutevel (RELATOacuteRIO DE 1944 apud LEMIECHEK 2014 p 06)

A criaccedilatildeo do Territoacuterio Federal do Iguaccedilu fez com que o processo de

urbanizaccedilatildeo crescesse e com ele a demanda por qualidade nos serviccedilos puacuteblicos

como a escola Enquanto as escolas natildeo eram ampliadas a classe mais favorecida

economicamente assegurava o acesso agrave educaccedilatildeo para seus filhos por meio da

contrataccedilatildeo de professores que se ldquodeslocavam ateacute as moradias em casas

escolares ou nuacutecleos urbanos mais distantes como Guarapuava Curitiba Posadas

Corrientes etcrdquo (PME 2015 p9) Para as classes menos favorecidas como aqueles

que viviam em Foz do Iguaccedilu e trabalhavam nas obrages e no cultivo da terra havia

acesso ao ensino aleacutem delas viverem em situaccedilotildees insalubres sem acesso a

higiene alimentaccedilatildeo e sauacutede

A partir desse periacuteodo escolas como as construiacutedas por estrangeiros eram

fechadas caso natildeo se adaptassem agraves poliacuteticas nacionais Era necessaacuterio que essa

populaccedilatildeo na regiatildeo se identificasse com o Brasil enquanto uma paacutetria para

constituiccedilatildeo de um Estado-Naccedilatildeo forte Segundo Helena Bomeny (1999) natildeo havia

no projeto do governo intenccedilotildees para inclusatildeo e aceitaccedilatildeo de convivecircncia com os

grupos culturais estrangeiros nas regiotildees de colonizaccedilatildeo

Em relatoacuterio sobre a nacionalizaccedilatildeo do ensino datado de 1940 o Instituto

Nacional de Estudos e Pedagoacutegicos (INEP) sob a direccedilatildeo do educador Lourenccedilo

Filho ao analisar a trajetoacuteria dos imigrantes e sua fixaccedilatildeo no Brasil constatou com

base nos relatoacuterios e depoimentos de historiadores pensadores poliacuteticos e

escritores que desde o seacuteculo XIX a presenccedila de estrangeiros no paiacutes era fator de

preocupaccedilatildeo (BOMENY 1999) Segundo a mesma autora a precariedade da

educaccedilatildeo nos estados da regiatildeo sul do paiacutes em destaque o Rio Grande do Sul

levava os colonos a optarem pelos coleacutegios privados alematildees Segundo o relatoacuterio

do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Sauacutede essa opccedilatildeo pelas escolas estrangeiras era

compreensiacutevel sendo culpa do Estado por permitir a criaccedilatildeo destas instituiccedilotildees sem

a vinculaccedilatildeo com os centros nacionais de cultura

63

A escola natildeo eacute um oacutergatildeo abstrato mas um centro de coordenaccedilatildeo da proacutepria accedilatildeo educativa da comunidade Tendo-se cometido o erro de permitir o nucleamento de estrangeiros sem maior vinculaccedilatildeo ou disciplina aos centros nacionais de cultura as instituiccedilotildees educativas que aiacute deveriam surgir seriam as que ensinassem em liacutengua estrangeira (BOMENY 1999 p154 apud INEP 1999 p8)

A preocupaccedilatildeo com a nacionalizaccedilatildeo do ensino eacute anterior ao Estado Novo

Em Foz do Iguaccedilu a educaccedilatildeo escolar das crianccedilas estava presente desde o

periacuteodo de instalaccedilatildeo da Colocircnia Militar em 1889 Na ausecircncia de escolas muitas

crianccedilas frequumlentavam o sistema educacional da Argentina cuja influecircncia

preocupava o governo da eacutepoca Em 1906 Siacutelvio Romero alertava sobre as

ameaccedilas em haver diferentes nacionalidades no Brasil Como soluccedilatildeo ele propocircs

que se ldquoaproveitasse de modo extensivo o proletariado nacional como elemento

colonizador perto do estrangeiro para educar-se com ele no trabalho e em troca

contribuir para o seu abrasileiramentordquo (BOMENY 1999 p154)

Na conferecircncia interestadual de Ensino Primaacuterio de 1921 encontra-se a fala

de Milton C A Cruz que justifica a deficiecircncia do ensino devido aos inuacutemeros

nuacutecleos estrangeiros isolados ldquoO espiacuterito dessas crianccedilas brasileiras formado em

liacutengua nos costumes nas tradiccedilotildees dos paiacutes soacute poderia tender para a paacutetria de

origem constituindo um empecilho agrave coesatildeo nacionalrdquo (BOMENY 1999 p154 apud

INEP 1999 p8)

Por determinaccedilatildeo do Estado Novo a prefeitura de Foz do Iguaccedilu passou a

promover uma administraccedilatildeo que visasse agrave ocupaccedilatildeo do territoacuterio brasileiro

valorizaccedilatildeo da liacutengua oficial e das moedas nacionais (SPERANCcedilA 1992 apud

LOPES 2004 p 49) Teve ainda que despachar suas documentaccedilotildees criar

anuacutencios comerciais listas de preccedilos ou avisos somente em liacutengua portuguesa

aleacutem da obrigatoriedade do uso da moeda brasileira Essas medidas foram tomadas

pois havia na regiatildeo grande influecircncia dos argentinos no lado brasileiro

Segundo Lopes (2004) a principal preocupaccedilatildeo do Estado Novo em relaccedilatildeo a

essa fronteira era a influecircncia Argentina Como outra medida de contenccedilatildeo dessa

influecircncia estrangeira o governo federal por meio do Decreto nordm 19842 de 1930

tornou obrigatoacuterio a contrataccedilatildeo de no miacutenimo dois terccedilos de trabalhadores nas

empresas estrangeiras presentes dentro do territoacuterio nacional

Diante das estrateacutegias que o Estado Novo desenvolveu para construir a ideacuteia

de naccedilatildeo a fronteira poliacutetica requeria a justificaccedilatildeo ideoloacutegica da comunidade

64

nacional Nessa premissa a escola enquanto instrumento de nacionalizar as

fronteiras foi fundamental

23 Da construccedilatildeo de Itaipu agrave lsquoondarsquo de migraccedilatildeo e imigraccedilatildeo seus

impactos na educaccedilatildeo

Com a queda de Getuacutelio Vargas em 1945 quando o paiacutes entrou por um

pequeno periacuteodo na fase de redemocratizaccedilatildeo os Territoacuterios do Iguaccedilu e Ponta

Poratilde foram extintos No campo da educaccedilatildeo a pedagoga Lucimara Lemiechek

aponta que vaacuterias foram agraves mudanccedilas em detrimento da promulgaccedilatildeo das Leis

Orgacircnicas e a ampliaccedilatildeo dos Cursos Normais (LEMIECHEK 2014 p 9) Nessa

mesma deacutecada em Foz do Iguaccedilu teve iniacutecio a primeira escola21 particular Jorge

Schimmelpfeng nas dependecircncias do primeiro Centro Espiacuterita fundado no

municiacutepio

Imagem VI - Escola Jorge Schimmelpfeng com crianccedilas carentes sob os cuidados do Capitatildeo Cyriacuteaco e de Joseacute Vicente Ferreira (os dois adultos agrave direta da foto rara)

Fonte Centro Espiacuterita Lidelfonso Correia

A deacutecada de 1950 e 1960 seguiu com um programa de escola de cunho

nacionalista e dualista em um periacuteodo marcado pelo programa desenvolvimentista

Cada vez mais os trabalhadores requeriam educaccedilatildeo diferenciada de um lado a

necessidade de matildeo de obra especializada e de outro a busca pelo status que a

educaccedilatildeo proporcionaria No ano de 1959 a Lei Municipal nordm 234 de 29 de outubro

de 1959 adota o programa de aboliccedilatildeo do analfabetismo

21

Vide imagem IV

65

Art 1ordm A Prefeitura de Foz do Iguaccedilu empreenderaacute uma campanha sistemaacutetica para aboliccedilatildeo do analfabetismo desde as crianccedilas de sete anos feitos aos adultos de qualquer idade (LEI 2341959) Art 2ordm Toda a crianccedila que completar sete anos de 1ordm de janeiro a 31 de dezembro deveraacute obrigatoriamente no comeccedilo do ano letivo imediato ser matriculada em escola puacuteblica ou particular cumprindo-lhes frequumlenta-la com assiduidade durante cinco anos na cidade e trecircs anos letivos nas zonas rurais (PME 2015 p 11)

Eacute nesse momento que chegam a Foz do Iguaccedilu as primeiras populaccedilotildees de

origem aacuterabe que saiacuteram de seus paiacuteses em decorrecircncia dos intensos conflitos

regionais e atraiacutedos pela oportunidade de explorar um mercado com grande

potencial de crescimento (RABOSSI 2007 p 292) Segundo Rabossi a primeira

cidade da Triacuteplice Fronteira em que eles se estabeleceram foi Foz do Iguaccedilu

principalmente na regiatildeo proacutexima da Ponte da Amizade inaugurada em 1965

passando a ligar a cidade brasileira a Ciudad del Este no Paraguai dando iniacutecio ao

comeacutercio na regiatildeo Em 1975 no contexto da Guerra do Liacutebano o comeacutercio dos

aacuterabes na fronteira estava consolidado fazendo com que atraiacutedos pelo comeacutercio e

fugindo da guerra outros grupos oriundos do Oriente Meacutedio imigrassem para a

regiatildeo da fronteiriccedila Segundo Silva (2008 p367) os uacuteltimos 30 anos recebeu um

grande nuacutemero de imigrantes de origem ldquoaacuterabe libaneses palestinos siacuterios

jordanianos bem como chineses coreanos e em nuacutemero bem menor hindus e

portugueses

A mesma autora aponta que duas escolas pertencem agrave comunidade aacuterabe

uma de ensino fundamental que ensina a liacutengua aacuterabe e a religiatildeo sunita vinculada

ao Centro Beneficente Islacircmico de Foz do Iguaccedilu uma organizaccedilatildeo cultural e

cientiacutefica A segunda escola Escola Aacuterabe Brasileira oferta ensino para o ensino

fundamental e meacutedio de acordo com as exigecircncias do Estado A especificidade

desta escola em relaccedilatildeo agraves demais do municiacutepio eacute a oferta do ensino da liacutengua

aacuterabe (SILVA 2008)

Na deacutecada de 1970 tambeacutem chegam a Foz do Iguaccedilu os primeiros imigrantes

chineses atraiacutedos pelo comeacutercio na regiatildeo Segundo Miao Shen Chen a regiatildeo da

triacuteplice fronteira abriga uma comunidade chinesa com aproximadamente quatro mil

indiviacuteduos Em Foz do Iguaccedilu haacute pelo menos mil chineses e descendentes Os

imigrantes tecircm agecircncias de turismo imobiliaacuterias construtoras especializadas em

atender os clientes orientais (CHEN 2010)

66

Apesar da implementaccedilatildeo da Lei Municipal nordm 234 de 1959 que estabelecia a

obrigatoriedade da educaccedilatildeo para aboliccedilatildeo do analfabetismo a escola seguia sendo

para poucos ao menos no que diz respeito agrave permanecircncia dos estudantes Os

alunos mais pobres abandonavam a escola muito cedo pois tinham que optar entre

estudar ou trabalhar para ajudar na subsistecircncia da famiacutelia (PME 2015 p 11)

Para Emer (1991) os colonos que aqui se encontravam diante da

precariedade das escolas mobilizaram-se para criar escolas para seus filhos

contribuindo para construccedilatildeo de inuacutemeros coleacutegios confessionais entre os anos de

1955 e 1965 (EMER 1991 p 125) Quanto agrave contrataccedilatildeo dos professores estes

deveriam ter o perfil que atendesse o grupo social

Destaca-se a criaccedilatildeo da primeira Escola Normal Colegial da regiatildeo Oeste do

Paranaacute a Escola Normal Iguaccedilu criada em 1957 em Foz do Iguaccedilu em um

contexto em que a populaccedilatildeo da cidade crescia e a demanda pelo ensino em

diversos niacuteveis aumentava havendo a necessidade de habilitar os professores para

o trabalho docente Ateacute o ano de 1957 Foz do Iguaccedilu contava com um Grupo

Escolar o Bartolomeu Mitre que atendia aproximadamente 400 crianccedilas uma Casa

Escolar com aproximadamente 80 alunos e cinco escolas rurais isoladas que

tinham capacidade para atender 250 alunos Foz do Iguaccedilu tinha capacidade para

atender aproximadamente 730 alunos no ensino primaacuterio o que era pouco diante da

crescente demanda sobretudo dos nuacutecleos urbanos e das aacutereas rurais aleacutem das

aacutereas distritais22

Ainda que tenha havido a criaccedilatildeo dos coleacutegios normais o relatoacuterio do plano

de desenvolvimento de Foz do Iguaccedilu de 1972 apontava que o corpo docente do

municiacutepio era constituiacutedo em sua maioria por professores sem habilitaccedilatildeo tanto

nas redes municipais e estaduais quanto nas privadas A justificativa para esta

qualificaccedilatildeo segundo o relatoacuterio estava no baixo niacutevel salarial que impedia os

qualificados de se dedicarem ao magisteacuterio Na zona rural a porcentagem era ainda

maior Cerca de 80 do pessoal natildeo qualificado atende ao ensino primaacuterio que

funcionava em 41 escolas isoladas e duas casas escolares Segundo o PDI

22 Dentre os distritos que ficavam sob a jurisdiccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu encontram-se Santa Terezinha

de Itaipu Itacoreacute Alvorada Medianeira dentre outros (SBARDELLOTO 2009 p 146)

67

O Estado que paga os melhores salaacuterios (Cr$ 41600) natildeo faz nomeaccedilotildees e a Prefeitura possuindo apenas 3 elementos em seu quadro efetivo percebendo Cr$ 28000 contrata os professores normalistas por apenas Cr$ 28000 e a professora leiga por 60 do salaacuterio miacutenimo (PDI 1972 p 114)

Quanto agrave estrutura do periacuteodo o relatoacuterio aponta que ateacute 1971 havia cinco

grupos escolares estaduais um privado uma casa escolar municipal e duas escolas

isoladas que segundo o relatoacuterio natildeo eram suficientes para atender a demanda

Quanto agrave estrutura o relatoacuterio aponta

Somente na Zona Urbana vamos encontrar preacutedios escolares de alvenaria com luz aacutegua encanada e instalaccedilotildees sanitaacuterias regulares Natildeo quer isto dizer que sejam instalaccedilotildees satisfatoacuterias pois deixam muito a desejar havendo falta de aacutegua e os miacutenimos requisitos agrave boa higiene dos escolares () Na zona rural os preacutedios satildeo todos de madeira sem as menores condiccedilotildees indispensaacuteveis agrave higiene escolar notando-se ausecircncia de atendimento sanitaacuterio e de sauacutede (PDI 1972 p 118)

No mesmo relatoacuterio o problema da evasatildeo eacute justificado com o argumento da

localizaccedilatildeo da cidade que por estar em uma regiatildeo de fronteira eacute caracterizada por

possuir uma populaccedilatildeo flutuante As escolas rurais por exemplo em periacuteodos de

colheita eram fechadas pois natildeo havia frequecircncia alguma uma vez que os alunos

estavam trabalhando nas lavouras Outro exemplo eacute a justificativa do baixo

rendimento escolar atribuiacutedo ao alto iacutendice de crianccedilas argentinas e paraguaias que

estudavam no lado brasileiro com a alegaccedilatildeo do problema do idioma que gerava

atraso em toda turma ldquoNo 1ordm ano o periacuteodo de preacute-alfabetizaccedilatildeo que normalmente

eacute feito em trecircs meses (no maacuteximo) chega a durar quase um anordquo (PDI 1972 p

125)

Este argumento que culpabiliza o aluno estrangeiro pelo atraso da turma natildeo

mudou muito Em pesquisa com professores da rede puacuteblica de Foz do Iguaccedilu

sobre a presenccedila de alunos brasiguaios nas escolas brasileiras citado no capiacutetulo

anterior Pires-Santos (2010) fala que alguns professores vecirc a presenccedila deste perfil

de aluno como um entrave um bdquocastigo‟ pois no seu entendimento seraacute difiacutecil

ensinaacute-los Outro destaque reside no fato de que estes relatoacuterios feitos em 1972

foram produzidos em nome do Estado que vivia sob o regime dos militares cuja

preocupaccedilatildeo com o estrangeiro no paiacutes se restringia nas questotildees de seguranccedila

nacional

68

No decorrer da deacutecada de 1970 a pauta da educaccedilatildeo segue em discussatildeo na

regiatildeo sobretudo com a reforma do ensino promulgada pela Lei 569271 Foz do

Iguaccedilu vivia nessa deacutecada os impactos da construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica de

Itaipu A cidade recebeu aproximadamente 40000 operaacuterios com suas respectivas

famiacutelias oriundas de vaacuterios estados do paiacutes para a construccedilatildeo da hidreleacutetrica O

aumento populacional gerado pela chegada dos trabalhadores na cidade fez com

que todas as obras de infraestrutura fossem feitas apressadamente dentre essas

os hospitais as moradias e escolas subsidiados pela Itaipu Um exemplo foi o

convecircnio entre a Prefeitura por meio da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo e

Cultura com a Itaipu que resultou na construccedilatildeo da escola Prof Parigot de Souza

no ano de 1975

() Fica o Chefe do Executivo Municipal autorizado a firmar convecircnio com a Empresa ITAIPU ndashBINACIONAL objetivando a aplicaccedilatildeo de recursos para pagamento de professores e demais servidores para o setor administrativo bem como da manutenccedilatildeo da nova unidade escolar preacute-fabricada construiacuteda na sede municipal onde seraacute instalada uma extensatildeo do Ginaacutesio Estadual bdquoDom Manoel Konnerrdquode Foz do Iguaccedilu‟

(Foz do Iguaccedilu Lei Municipal nordm 8821975 Art1ordm)

Com a construccedilatildeo da hidreleacutetrica o nuacutemero de escolas em Foz do Iguaccedilu

aumentou significativamente Na deacutecada de 1960 havia cerca de oito escolas

municipais na cidade na deacutecada de 1980 mais nove escolas e hoje segundo dados

da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo (2011) a cidade conta com 83 escolas

municipais e 82 estaduais 43 privadas e 04 filantroacutepicas

O periacuteodo que se estende da Colocircnia Militar de 1889 ateacute o fim da Era Vargas

(1930-1954) demonstrou que as raiacutezes pela qual as escolas foram criadas passou

pela construccedilatildeo de valores que satildeo constitutivos de uma ideal de naccedilatildeo Wachowicz

(1984) cita o ofiacutecio do general comandante da 5ordf Regiatildeo Militar em 1925 que

expressava a urgecircncia de se construir escolas nas zonas de fronteira haja vista que

a uacutenica soluccedilatildeo era enviar as crianccedilas para frequentar escola na Argentina O

incocircmodo do general se baseia na busca pelo estabelecimento de uma identidade

nacional ao Brasil pois a presenccedila de alunos brasileiros em escolas argentinas

representava um perigo A escola eacute um dos espaccedilos em que se bdquoimagina‟ se

constroacutei um identidade nacional ldquoNascida na ficccedilatildeo agrave identidade precisava de muita

coerccedilatildeo e convencimento para se consolidar e se concretizar numa realidaderdquo

(BAUMAN 2005 p 27)

69

Em siacutentese a escola natildeo eacute neutra mas perpassam tambeacutem outros interesses

que natildeo satildeo apenas os de ideais nacionalistas Ela eacute um espaccedilo marcado por

contradiccedilotildees Eacute o que o educador brasileiro Paulo Freire (1987) sugere ao natildeo

negar a influecircncia que determinado modo de se propor um modelo educativo pode

causar na sociedade Justamente por saber do potencial transformador da educaccedilatildeo

eacute que ele propunha um modelo para de educaccedilatildeo a partir da base da realidade na

qual o sujeito estaacute inserido

Em Foz do Iguaccedilu haacute a constataccedilatildeo de que o Estado esteve preocupado em

criar escolas a fim de bdquonacionalizar‟ a fronteira Braduel (2009) ao refletir acerca da

relaccedilatildeo entre Estado e territoacuterio e a ocupaccedilatildeo do espaccedilo afirma que ldquoEstados agem

como indiviacuteduos obstinando-se em delimitar seu domiciacutelio da mesma forma que

todo animal livre defende aquilo que ele considera ser o seu territoacuteriordquo (BRAUDEL

2009 p 262 apud Heinsfiel 2014 p 17)

Nessa perspectiva o Estado tem como foco a necessidade de delimitar seus

domiacutenios Domiacutenios estes que satildeo reforccedilados por instituiccedilotildees capazes de legitimar

essa loacutegica tais como as escolas Segundo Bourdieu (2008) um dos principais

poderes do Estado eacute impor categorias de pensamento categorias que noacutes

assumimos como naturais aparentemente espontacircneas mas que na verdade satildeo

impostas pelo Estado (BOURDIEU 2008 p 91)

24 A Educaccedilatildeo a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 O direito agrave diversidade nas

escolas

Com o processo de redemocratizaccedilatildeo e da nova Constituiccedilatildeo Federal

promulgada em 1988 houve um grande avanccedilo em termos de direitos civis No

caso da presenccedila de estrangeiros no paiacutes a Carta Magna assegura a todas as

pessoas brasileiras ou estrangeiras estando em situaccedilatildeo migratoacuteria regular ou

irregular o direito agrave educaccedilatildeo escolar Os princiacutepios escolares passaram a ter

como base a igualdade de condiccedilotildees para o acesso e permanecircncia nas escolas

da liberdade e do pluralismo de ideacuteias e concepccedilotildees pedagoacutegicas

Art 206 O ensino seraacute ministrado com base nos seguintes princiacutepios I - igualdade de condiccedilotildees para o acesso e permanecircncia na escola II - liberdade de aprender ensinar pesquisar e divulgar o pensamento a arte e o saber III - pluralismo de ideacuteias e de concepccedilotildees pedagoacutegicas e coexistecircncia de instituiccedilotildees puacuteblicas e

70

privadas de ensino IV - gratuidade do ensino puacuteblico em estabelecimentos oficiais (CF 1998)

Waldman (2012) destaca que a nova constituiccedilatildeo tem pela primeira vez o

princiacutepio da dignidade da pessoa humana como fundamental e afirmou como

objetivos fundamentais a ldquopromoccedilatildeo do bem para todos sem preconceitos de

origem raccedila sexo cor idade e quaisquer outras formas de discriminaccedilatildeordquo

(WALDMAN 2012 p63)

No campo das relaccedilotildees internacionais o Brasil se comprometeu pela

prevalecircncia dos direitos humanos pela cooperaccedilatildeo entre os povos e pela atenccedilatildeo

agrave integraccedilatildeo poliacutetica social e cultural da Ameacuterica Latina23 Estes pontos

apresentados satildeo importantes a serem considerados pois satildeo com base na CF

que a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional de 1996 seraacute elaborada e a

partir dela outros documentos importantes que toca agrave questatildeo da diversidade

eacutetnicas cultural e racial na educaccedilatildeo Alguns destes documentos satildeo o Curriacuteculo

da Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oeste do Paranaacute o Plano Estadual de Educaccedilatildeo

do Paranaacute e os Paracircmetros Curriculares Nacionais que seratildeo analisados no

proacuteximo capiacutetulo

23

Art 4ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes

princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos humanos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV - natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitosVIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismoIX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidadeX - concessatildeo de asilo poliacuteticoParaacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

71

CAPIacuteTULO III POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS PARA A EDUCACcedilAtildeO NA FRONTEIRA

ENTRE ARGENTINA BRASIL E PARAGUAI

31 Poliacuteticas Puacuteblicas conceitos e abordagens

O campo de estudos de poliacuteticas puacuteblicas avanccedilou nos uacuteltimos sessenta

anos tendo conformado uma literatura instrumental analiacutetica que contribuiu para a

compreensatildeo dos processos de natureza poliacutetico- administrativo (SECCHI 2013)

No Brasil segundo Faria (2003) a aacuterea de anaacutelise de poliacuteticas puacuteblicas ainda eacute

escassa Isso se comprova pela falta de anaacutelises mais sistemaacuteticas no que tange

aos processos de implementaccedilatildeo aleacutem da carecircncia em estudos que tratam de

metodologias e instrumentos de avaliaccedilatildeo destas poliacuteticas pelos trecircs niacuteveis de

governo legislativo executivo e judiciaacuterio

A fim de apresentar a analise de algumas poliacuteticas puacuteblicas (PP) que tratam

da questatildeo da educaccedilatildeo e diversidade cultural faz-se necessaacuterio apresentar o que

se compreende enquanto uma PP Teoacutericos apontam que seu significado natildeo

apresenta uma definiccedilatildeo uacutenica (SECCHI 2010 BONETI 2011) Assim utilizaremos

como definiccedilatildeo de PP as concepccedilotildees de Tamayo Saacuteez (1997) que a entende como

ldquoum conjunto de objetivos decisotildees e accedilotildees que levam a cabo um governo para

solucionar os problemasrdquo (TAMAYO SAEacuteZ 1997 p 2) Complementando esta

definiccedilatildeo citamos Lindomar Boneti (2006) e seu entendimento do que sejam

poliacuteticas puacuteblicas

Accedilatildeo que nasce do contexto social mas que passa pela esfera estatal como uma decisatildeo de intervenccedilatildeo puacuteblica numa realidade social determinada quer seja ela econocircmica ou social Ainda esclarece que as poliacuteticas puacuteblicas representam [] o resultado da dinacircmica do jogo de forccedilas que se estabelece no acircmbito das relaccedilotildees de poder relaccedilotildees estas constituiacutedas pelos grupos econocircmicos e poliacuteticos classes sociais e demais organizaccedilotildees da sociedade civil (BONETI 2006 p 76)

Eacute importante assinalar que as PPs mudam com o tempo e em consonacircncia

com o modelo de Estado vigente como as transformaccedilotildees que ocorrem em uma PP

dentro de um Estado autoritaacuterio para um Estado democraacutetico A criaccedilatildeo de uma PP

natildeo depende somente das decisotildees emanadas do poder puacuteblico Esse jogo de

72

forccedilas ao qual Boneti se refere satildeo concernentes agraves correlaccedilotildees realizadas com

agentes privados e da sociedade civil No entanto no sentido de responsabilizaccedilatildeo

por sua implementaccedilatildeo e permanecircncia compreende-se aqui que uma PP eacute

responsabilidade do Estado24

Dentre os aspectos a serem considerados no momento de escolher uma PP

os fatores culturais satildeo de fundamental importacircncia para a sua implementaccedilatildeo O

sucesso ou o fracasso de uma PP pode estar diretamente ligado ao contexto no qual

se insere

No que confere agrave anaacutelise de uma PP a mais aceita eacute aquela que busca

compreender como os formuladores de poliacutetica (policymakers) lidam com os

problemas com que se defrontam Nas palavras de Wildavsky

() o papel de Anaacutelise de Poliacutetica eacute encontrar problemas onde soluccedilotildees podem ser tentadas ou seja bdquoo analista deve ser capaz de redefinir problemas de uma forma que torne possiacutevel alguma melhoria‟ Portanto a Anaacutelise de Poliacutetica estaacute preocupada tanto com o planejamento como com a poliacutetica (politics) (WILDAVSKY 1979 apud RUA 2009 p 23)

Segundo Tamayo Saacuteez (1997) a anaacutelise de PP possui um caraacuteter

multidisciplinar Trata-se de um conjunto de teacutecnicas conceitos e estrateacutegias

oriundas de diferentes disciplinas - ciecircncia poliacutetica antropologia sociologia

psicologia e da teoria da organizaccedilatildeo - cujo objetivo eacute interpretar as causas e

consequumlecircncias das accedilotildees do governo Conforme este argumento eacute importante

ressaltar que os atores que analisam determinada PP o fazem a partir de seus

valores sua capacidade teacutecnica seus interesses e o grau de informaccedilatildeo Tais

fatores satildeo fundamentais para compreensatildeo destas anaacutelises

Por poliacuteticas puacuteblicas educacionais compreende-se tudo aquilo que um

governo faz ou deixa de fazer em mateacuteria de educaccedilatildeo No que tange agrave poliacutetica

educacional brasileira esta deve ser pensada em contexto amplo onde fatores

como a constituiccedilatildeo federal a poliacutetica nacional de direitos humanos e os acordos e

tratados internacionais devem ser considerados assim como os fatores sociais e

culturais da sociedade (SILVA MOURA MELLO 2013)

24

Mas vale dizer que natildeo necessariamente uma poliacutetica puacuteblica eacute apenas estatal

73

Segundo Azevedo e Aguiar (2001) os estudos sobre as poliacuteticas

educacionais no Brasil satildeo recentes mas encontram-se em processo de construccedilatildeo

e crescimento As pesquisas e publicaccedilotildees sobre as poliacuteticas educacionais possuem

dois eixos de estudos o primeiro refere-se aos de caraacuteter teoacuterico com questotildees

mais amplas acerca do processo de formulaccedilatildeo de poliacuteticas abarcando mudanccedilas

no papel do Estado das redes de influecircncia no desenvolvimento de formulaccedilatildeo de

poliacuteticas o segundo trata da anaacutelise e avaliaccedilatildeo de poliacuteticas e programas

(MAINARDES 2006) Quanto ao primeiro eixo ao destacar a funccedilatildeo do Estado na

definiccedilatildeo e implementaccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica Mainardes (2006) explica que

natildeo se trata de defender que o Estado ou os governos decidam por implementar as

poliacuteticas puacuteblicas mas isso reflete as pressotildees de diferentes grupos de interesse

Citando Evans Rueschmeyer e Skocpol (1985) Souza (2006) se aproxima da

perspectiva teoacuterica que defende uma autonomia relativa do Estado ldquoque faz com

que o mesmo tenha um espaccedilo proacuteprio de atuaccedilatildeo embora permeaacutevel a influecircncias

externas e internasrdquo (SOUZA 2006 p27 apud Evans Rueschmeyer e Skocpol

1985)

Os dois eixos foram abordados nesta dissertaccedilatildeo pois considera-se

importante conhecer os principais aspectos histoacutericos das poliacuteticas educativas no

Brasil e sua relaccedilatildeo com o Estado para posteriormente tratar da anaacutelise das

poliacuteticas escolhidas O modelo denominado de ciclo de poliacuteticas puacuteblicas seraacute o

recurso utilizado para analise das poliacuteticas educacional

O ciclo de poliacutetica tem adquirido importacircncia progressiva nos estudos sobre a

elaboraccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica principalmente por consistir em uma serie de etapas

que envolve o processo poliacutetico-administrativo os atores suas relaccedilotildees recursos de

poder as relaccedilotildees poliacuteticas sociais e as praacuteticas Saravia e Ferrarezi (2006p32)

descrevem sete etapas deste ciclo primeiro uma agenda poliacutetica que eacute a

necessidade social de elaborar determinada poliacutetica puacuteblica em segundo a

elaboraccedilatildeo propriamente dita da poliacutetica puacuteblica para identificar e delimitar um

problema seja ele atual ou que pode vir a ser necessaacuterio Com isto determinam-se

as alternativas para a soluccedilatildeo a partir das possiacuteveis soluccedilotildees para o problema

formula-se a alternativa mais cabiacutevel pra sua implementaccedilatildeo que deve ser

constituiacuteda por meio do ldquoplanejamento e organizaccedilatildeo do aparelho administrativo e

dos recursos humanos financeiros materiais e tecnoloacutegicos necessaacuterios para

executar uma poliacuteticardquo (SARAVIA p34) A proacutexima etapa eacute a execuccedilatildeo destinada a

74

atingir os objetivos traccedilados pela poliacutetica ldquoEssa etapa inclui o estudo dos

obstaacuteculos que normalmente se opotildeem agrave transformaccedilatildeo de enunciados em

resultados e especialmente a anaacutelise da burocraciardquo (SARAVIA 2006 p 34) A

sexta etapa reside no acompanhamento que eacute o processo de supervisatildeo da

execuccedilatildeo de uma atividade a fim de fornecer a ldquoinformaccedilatildeo necessaacuteria para

introduzir eventuais correccedilotildees a fim de assegurar a consecuccedilatildeo dos objetivos

estabelecidosrdquo (SARAVIA 2006 p34) Por uacuteltimo temos a avaliaccedilatildeo que consiste

em analisar os impactos das poliacuteticas implementadas para a sociedade

Saravia (2006) explica que esta sequecircncia eacute mais uma esquematizaccedilatildeo

teoacuterica do que ocorre na praacutetica Nem sempre essas etapas satildeo consideradas Eacute o

caso de muitos paiacuteses da Ameacuterica Latina onde os programas de ajuste estrutural

natildeo consideraram as primeiras etapas iniciais de sua elaboraccedilatildeo os resultados

sociais possiacuteveis Como consequumlecircncia os indicadores da educaccedilatildeo da sauacutede da

previdecircncia social da habitaccedilatildeo do emprego e de outros setores sociais mostram a

existecircncia de uma situaccedilatildeo difiacutecil que se agrava com o tempo (SARAVIA 2006

p35-36)

32 Caminhos das poliacuteticas educacionais no Brasil

No Brasil por muito tempo as poliacuteticas puacuteblicas para educaccedilatildeo ficaram

aqueacutem do esperado Valle (2009) aponta que no decorrer do periacuteodo colonial ou do

Impeacuterio natildeo haacute registros de uma real preocupaccedilatildeo com as poliacuteticas puacuteblicas de

Educaccedilatildeo (VALLE 2009) Arauacutejo (2011) explica que eacute recente a ideia de um ldquoEstado

em accedilatildeordquo no sentido de promover poliacuteticas para educaccedilatildeo (ARAUacuteJO 2011 p236)

Em um contexto onde sociedade e economia fundamentaram suas bases em um

modelo econocircmico agroexportador e na matildeo-de-obra escrava a preocupaccedilatildeo com a

educaccedilatildeo surgiu muito tarde

Maria Luisa Ribeiro (1992) escreve que no periacuteodo colonial a poliacutetica

educacional esteve vinculada agrave poliacutetica colonizadora dos portugueses (RIBEIRO

1992 p 20) A historiadora Maria Luiza Marciacutelio (2005) acrescenta estes dados ao

traccedilar as principais caracteriacutesticas do sistema educacional brasileiro no periacuteodo que

se estende de 1554 a 1759 ao explicar que o uacutenico ensino formal presente ateacute

meados do seacuteculo XVIII era oferecido pela Companhia de Jesus que era

75

basicamente elitista atendendo em grande parcela ldquojovens brancos proprietaacuterios

de terras famiacutelias da elite colonial aleacutem de introduzir nas primeiras letras do

catecismo elementar as crianccedilas iacutendias das aldeias jesuiacutetasrdquo (MARCIacuteLIO 2005

p42)

Saviani (2008) aponta que o primeiro documento de poliacutetica educacional foi

editado em 1548 e encontrado nos ldquoRegimentosrdquo de DJoatildeo III com a finalidade de

orientar as accedilotildees do governador geral do Brasil Tomeacute de Souza que veio com a

companhia de mais quatro padres e dois irmatildeos jesuiacutetas liderados por Manuel da

Noacutebrega

Nesse mesmo ano os jesuiacutetas receacutem-chegados deram iniacutecio agrave obra educativa centrada na catequese guiados pela orientaccedilatildeo contida nos referidos bdquoRegimentos‟ cumprindo pois um mandato que lhes fora delegado pelo rei de Portugal Nessa condiccedilatildeo cabia agrave coroa manter o ensino mas o rei enviava verbas para a manutenccedilatildeo e a vestimenta dos jesuiacutetas natildeo para construccedilotildees (SAVIANI 2008 p8)

No que se refere agrave inclusatildeo da populaccedilatildeo na instituiccedilatildeo jesuiacutetica Marciacutelio

(2005) aponta que no periacuteodo da expulsatildeo dos jesuiacutetas em 1759 a soma de todos

os alunos natildeo atingia 01 da populaccedilatildeo brasileira Em um cenaacuterio que contava

com 50 da populaccedilatildeo constituiacuteda por mulheres e 40 de escravizados aleacutem de

negros livres pardos filhos ilegiacutetimos e crianccedilas abandonadas todos estes ficavam

agrave margem do sistema de ensino Ao todo os jesuiacutetas ficaram agrave frente da educaccedilatildeo

brasileira por mais de dois seacuteculos ateacute a expulsatildeo (MARCIacuteLIO 2005 p3)

A segunda fase de poliacuteticas educacionais no Brasil foi marcada pelas

reformas pombalinas para instruccedilatildeo puacuteblica Com a instalaccedilatildeo da coroa portuguesa

no Brasil Colonial em 1808 a educaccedilatildeo ganhou novos significados Uma ldquoseacuterie de

cursos tanto profissionalizantes em niacutevel meacutedio como em niacutevel superior bem como

militares foram criados para fazer do local algo realmente parecido com uma Corterdquo

(GHIRALDELLI JR 2001 p 16) Deste modo o periacuteodo compreendido como

pedagogia pombalina (1759-1827) corresponde agraves primeiras tentativas de se instituir

uma escola puacuteblica estatal

As reformas pombalinas contrapotildeem-se ao predomiacutenio das ideacuteias religiosas e com base nas ideacuteias laicas inspiradas no Iluminismo institui o privileacutegio do Estado em mateacuteria de instruccedilatildeo surgindo assim a nossa versatildeo da bdquoeducaccedilatildeo puacuteblica estatal‟ (LUZURIAGA 1959 p23-39 apud SAVIANE 2008 p9)

76

Quando Dom Pedro I assume o poder no periacuteodo Regencial a maioria da

populaccedilatildeo seguia analfabeta A independecircncia poliacutetica natildeo alterou o quadro da

situaccedilatildeo de ensino ao menos de imediato Para Joatildeo Cruz Costa citado por

Romanelli (1985) o processo de independecircncia significava ldquosimples transferecircncia de

poderes dentro de uma mesma classe [a independecircncia] entregaria a direccedilatildeo da

nova accedilatildeo aos proprietaacuterios de terras de engenhos e aos letradosrdquo (COSTA 1980

apud ROMANELLI 1985 p 39)

Eacute neste contexto que comeccedila uma nova fase no campo da educaccedilatildeo tendo

como marco inicial a lei das Escolas das Primeiras letras de 1827 com o objetivo de

ensinar toda a populaccedilatildeo brasileira conforme o artigo de nuacutemero 6 presente na Lei

de 15 de outubro de 1827

() Art 6ordm - Os professores ensinaratildeo a ler escrever as quatro operaccedilotildees de aritmeacutetica praacutetica de quebrados decimais e proporccedilotildees as noccedilotildees mais gerais de geometria praacutetica a gramaacutetica de liacutengua nacional e os princiacutepios de moral cristatilde e da doutrina da religiatildeo catoacutelica e apostoacutelica romana proporcionados agrave compreensatildeo dos meninos preferindo para as leituras a Constituiccedilatildeo do Impeacuterio e a Histoacuteria do Brasil (BRASIL 1827)

No final do seacuteculo XIX marcado pelas influecircncias do positivismo25 comeccedilou no paiacutes

um movimento pela desoficializaccedilatildeo do ensino no Estado defendendo a liberdade

das profissotildees Com isso foram surgindo escolas privadas de benemerecircncia que se

propunham a ofertar ensino gratuito Essa tendecircncia de desoficializaccedilatildeo culminou

com a Reforma Leocircncio de Carvalho em 1879 (SAVIANI 2008) Saviani chama

atenccedilatildeo para este fato ao criticar o fato de que desde iniacutecio das primeiras poliacuteticas

educacionais brasileiras houve certa ldquopromiscuidaderdquo na relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o

privado A comeccedilar com a educaccedilatildeo jesuiacutetica que em alguma medida era puacuteblica

mas a entidade que o ofertava natildeo

Conforme Santos (2011) somente a partir do final do seacuteculo XIX e iniacutecio do

XX periacuteodo de transiccedilatildeo para um modelo de desenvolvimento moderno

25

Por Positivismo compreende-se agora de modo mais amplo a filosofia desenvolvida por Augusto Comte que se caracteriza conjuntamente pela expressa confianccedila nos benefiacutecios da industrializaccedilatildeo no otimismo em relaccedilatildeo ao progresso capitalista no culto agrave ciecircncia e a valorizaccedilatildeo do meacutetodo cientiacutefico voltados a uma reforma intelectual da sociedade (COTRIM 1993 p 189)

77

intervencionista foi que a educaccedilatildeo passou a ser reclamada como um condicionante

necessaacuterio para o desenvolvimento do paiacutes Conforme Romanelli (1985) o seacuteculo

XIX fora marcado pelo surgimento de uma nova camada intermediaacuteria tambeacutem

chamada de pequena burguesia Esta classe explica a autora foi fundamental para

a evoluccedilatildeo poliacutetica no Brasil monaacuterquico e para mudanccedilas pelas quais passou o

regime no final do seacuteculo (ROMANELLI 1985 p37)

No periacuteodo republicano outra modalidade de poliacuteticas educacionais se

desenvolveu por volta de 1890 com a implantaccedilatildeo progressiva das escolas

graduadas apoiadas nas escolas normais que comeccedilaram a ser consolidadas sob o

fluxo do iluminismo republicano

Esse periacuteodo abrange de 1890 quando se daacute no estado de Satildeo Paulo a organizaccedilatildeo da escola normal graduada ateacute 1931 quando eacute promulgada a reforma Francisco Campos dando iniacutecio ao processo de regulamentaccedilatildeo ao sistema de ensino em acircmbito nacional (SAVIANI 2004a p20-21)

Somente a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX eacute que podemos

encontrar registros das primeiras lutas por uma educaccedilatildeo e escola de qualidade

puacuteblica e gratuita Valle (2009) aponta que a poliacutetica educacional brasileira foi

marcada pela criaccedilatildeo da Universidade do Rio de Janeiro em 1920 hoje

Universidade Federal do Rio de Janeiro ndash UFRJ ndash pelas organizaccedilotildees colegiadas

como a Associaccedilatildeo Brasileira de Educaccedilatildeo fundada em 1924 liderada pelos

reformadores do movimento Escola Nova cujo marco encontra-se no lanccedilamento do

Manifesto dos Pioneiros da Educaccedilatildeo na deacutecada de 1930 (VALLE 2009 p22)

Acerca deste Manifesto escreve Santos (2011)

Lanccedilado em 1932 o Manifesto foi sobretudo um documento de poliacutetica educativa no qual para aleacutem da defesa da Escola Nova estava a causaluta maior dapela escola puacuteblica laica sendo esta responsabilidade do Estado Ressalto que as diretrizes desse manifesto influenciaram a Constituiccedilatildeo de 1934 (FREITAS 2005 SAVIANI 2005 apud SANTOS 2011 p2)

Em 1930 ano em que tecircm iniacutecio a Era Vargas eacute criado o Ministeacuterio dos

Negoacutecios da Educaccedilatildeo e Sauacutede Este periacuteodo eacute considerado por Saviani (2008) o

iniacutecio da sexta modalidade de poliacuteticas educacionais marcado pela reforma

Francisco Campos em 1931 e caracterizada pela regulamentaccedilatildeo em acircmbito

nacional das escolas superiores secundaacuterias e primaacuterias incorporando

78

crescentemente as concepccedilotildees pedagoacutegicas renovadoras ateacute a criaccedilatildeo da LDB em

1961

As propostas de poliacuteticas educacionais dos reformadores dentre eles Aniacutesio

Teixeira e Lourenccedilo Filho natildeo foram bem recebidas pelo movimento de 1930

Apesar das controveacutersias houve marcos importantes como aponta Santos (2011)

com os seguintes decretos

1) Decreto 19850 de 11 de abril de 1931 que criou o Conselho Nacional de Educaccedilatildeo 2) Decreto 19851 de 11 de abril de 1931 que dispocircs sobre a organizaccedilatildeo do ensino superior no Brasil e adotou o regime universitaacuterio 3) Decreto 19852 de 11 de abril de 1931 que dispocircs sobre a organizaccedilatildeo da Universidade do Rio de janeiro 4) Decreto 19890 de 18 de abril de 1931 que dispocircs sobre a organizaccedilatildeo do ensino secundaacuterio 5) Decreto 19941 de 30 de abril de 1931 que instituiu o ensino religioso como mateacuteria facultativa nas escolas puacuteblicas do paiacutes 6) Decreto 20158 de 30 de junho de 1931 que organizou o ensino comercial e regulamentou a profissatildeo de contador 7) Decreto 21241 de 14 de abril de 1932 que consolidou as disposiccedilotildees sobre a organizaccedilatildeo do ensino secundaacuterio (SANTOS 2011 p 2)

De acordo com Ribeiro (1992) de 1931 a 1937 foram realizados inuacutemeros

congressos e conferecircncias nos quais se discutiam os caminhos possiacuteveis para a

elaboraccedilatildeo de um plano nacional para educaccedilatildeo Nestes debates haviam duas

vertentes

Uma jaacute era tradicional representada pelos educadores catoacutelicos que defendiam a educaccedilatildeo subordinada agrave doutrina religiosa (catoacutelica) a educaccedilatildeo em separado e portanto diferenciadas pelos sexos masculino e feminino o ensino particular a responsabilidade da famiacutelia quanto agrave educaccedilatildeo etc Outra era representada pelos educadores influenciados pelas bdquoideacuteias novas‟ e que defendiam a laicidade a co- educaccedilatildeo a gratuidade a responsabilidade puacuteblica em educaccedilatildeo etc (RIBEIRO 1992 p99)

Em um contexto onde o mundo presenciava as experiecircncias de paiacuteses com

ideologias fascistas e comunistas os grupos de educadores que debatiam a

educaccedilatildeo agrave eacutepoca diziam ser contraacuterios agrave monopolizaccedilatildeo do ensino por parte do

Estado Com isto o movimento escola novista e sua ideia da educaccedilatildeo ser de

responsabilidade puacuteblica passam a ser assimiladas agraves ideias comunistas

79

Em 1934 eacute outorgada uma nova Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica que segundo

Ribeiro (1992) apesar de seu caraacuteter contraditoacuterio ao atender as reivindicaccedilotildees

sobretudo dos reformadores catoacutelicos conseguiu destacar a educaccedilatildeo dedicando-

lhe um capiacutetulo especiacutefico para o assunto Entatildeoldquoa reivindicaccedilatildeo catoacutelica quanto ao

ensino religioso eacute atendida assim como outras ligadas aos representantes das

ldquoideacuteias novasrdquo (CapI art 5ordmXIV 1934 apud RIBEIRO 1992 p104)

A partir de 1937 quando o golpe militar instaura o Estado Novo algumas

premissas satildeo mantidas como a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino primaacuterio

Institui-se como obrigatoacuterio o ensino de trabalhos manuais nas escolas primaacuterias

normais e secundaacuterias Tambeacutem fica estabelecido o programa escolar em termos de

ensino preacute-vocacional orientado agraves classes menos favorecidas No artigo 129 o

regime de cooperaccedilatildeo entre a induacutestria e o Estado eacute fixado (RIBEIRO 1992 p114-

115)

O periacuteodo do Estado Novo que durou sessenta anos foi um periacuteodo

marcante para a educaccedilatildeo pois traduziu o que aquele regime poliacutetico pretendeu

executar no Brasil Nas palavras de Helena Bomeny (1999)

Formar um bdquohomem novo‟ para um Estado Novo conformar mentalidades e criar o sentimento de brasilidade fortalecer a identidade do trabalhador ou por outra forjar uma identidade positiva no trabalhador brasileiro tudo isso fazia parte de um grande empreendimento cultural e poliacutetico para o sucesso do qual contava-se estrategicamente com a educaccedilatildeo por sua capacidade universalmente reconhecida de socializar os indiviacuteduos nos valores que as sociedades atraveacutes de seus segmentos organizados querem ver internalizados (BOMENY1999p139)

Bomeny apresenta quatro decretos que remetem ao fechamento das escolas

estrangeiras

O Decreto lei ndeg 383 de 18 de abril de 1938 que proibia aos

estrangeiros o exerciacutecio de atividades poliacuteticas no Brasil o Decreto ndeg 406 de 4 de maio 1938 que regulamentava o ingresso e a permanecircncia de estrangeiros ditando providecircncias para sua assimilaccedilatildeo e criando o Conselho de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo como oacutergatildeo executor de suas disposiccedilotildees o Decreto ndeg 868 de 18 de novembro de 1938 que instituiu a Comissatildeo Nacional de Ensino Primaacuterio que possuiacutea entre suas atribuiccedilotildees a nacionalizaccedilatildeo do ensino nos nuacutecleos estrangeiros e o Decreto ndeg 948 de 13 de dezembro do mesmo ano que considerando a complexidade das medidas para promover a assimilaccedilatildeo dos colonos e completa nacionalizaccedilatildeo dos filhos de imigrantes estabelecia que as medidas fossem tomadas pelo Conselho de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo (BOMENY 1999 p 158)

80

Em documento dirigido a Getuacutelio Vargas em 1939 o entatildeo Ministro de

Guerra Eurico Gaspar Dutra apontou a educaccedilatildeo como um dos setores

intimamente ligados agrave seguranccedila nacional ldquoO problema da educaccedilatildeo apreciado em

toda a sua amplitude natildeo pode deixar de constituir uma das mais graves

preocupaccedilotildees das autoridades militaresrdquo (Arquivo Osvaldo Aranha AO 390418

FGVCPDOC apud BOMENY 1999 p139)

Com o fim do Estado Novo a nova constituiccedilatildeo caracterizada por seu caraacuteter

liberal e democraacutetico possibilitou algumas mudanccedilas na educaccedilatildeo O novo Ministro

da Educaccedilatildeo regulamentou em 1946 o Ensino Primaacuterio e o Ensino Normal aleacutem do

Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC Neste contexto o Brasil

passou a viver o que se denominou como periacuteodo nacional-desenvolvimentista No

plano internacional o mundo vivia o poacutes-guerra momento marcado pela

reconstruccedilatildeo dos paiacuteses envolvidos o que levou a uma grande fase de crescimento

econocircmico em niacutevel mundial conhecida como a ldquoa era de ourordquo acarretando no que

ficou conhecido como Estado de Bem-Estar Social

O Estado de bem-estar social era um projeto cogente para recuperar o vigor e a capacidade de expansatildeo dos paiacuteses capitalistas apoacutes a tensatildeo social econocircmica e poliacutetica do periacuteodo entre guerras Tanto que o estabelecimento do Estado de bem-estar social entre as deacutecadas de 1940 e 1960 ficou conhecido como bdquoera dourada do capitalismo‟ por ser um momento de desenvolvimento econocircmico com garantias sociais e oferecimento praticamente de emprego pleno para a maioria da populaccedilatildeo nos paiacuteses mais desenvolvidos (VICENTE 2009 p124)

Apoacutes a reconstruccedilatildeo dos paiacuteses envolvidos na guerra ocorreu o processo de

internacionalizaccedilatildeo do capital O avanccedilo do capitalismo para paiacuteses como o Brasil

implicou em uma nova forma de desenvolvimento As ideacuteias por uma poliacutetica

nacional-desenvolvimentista foram propagadas principalmente pelo Instituto

Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) criado em 1955 durante o governo interino

de Cafeacute Filho No governo de Juscelino Kubitschek o ISEB passa a ser o braccedilo do

governo no sentido de propagar a mentalidade nacional para o desenvolvimento

A deacutecada de 1960 eacute caracterizada por uma sociedade brasileira marcada pelo

processo crescente de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo e pelas mudanccedilas nas

relaccedilotildees de trabalho no campo Na mesma intensidade aumentavam as

81

desigualdades sociais o que mobilizou setores da sociedade em lutas por reformas

de base com vistas agrave reduccedilatildeo dessas desigualdades sociais (NASCIMENTO 2006)

No que se refere ao perfil que tomam as poliacuteticas educacionais nesse periacuteodo

Saviani (2005) aponta que

[] se o periacuteodo situado entre 1930 e 1945 pode ser considerado como marcado pelo equiliacutebrio entre as influecircncias das concepccedilotildees humanista tradicional (representada pelos catoacutelicos) e humanista moderna (representada pelos pioneiros da educaccedilatildeo nova) a partir de 1945 jaacute se delineia como nitidamente predominante a concepccedilatildeo humanista moderna (SAVIANI 2005 p14)

Para o autor o foco no desenvolvimento econocircmico do paiacutes que por sua vez geraria

o desenvolvimento em outras instacircncias da sociedade acabou por gerar uma

inversatildeo do ensino puacuteblico A escola passou a ser instrumento para servir agrave loacutegica

do mercado por meio da pedagogia tecnicista26

No periacuteodo que se estende de 1964-1984 periacuteodo da ditadura militar todo o

aparelho estatal fora reformulado em nome da seguranccedila interna

Definindo a seguranccedila interna como accedilatildeo-resposta a um processo subversivo devendo ser conduzida em termos de aplicaccedilatildeo global do Poder Nacional dentro de uma Estrateacutegia Nacional especiacutefica A Escola Superior de Guerra considerava que essa accedilatildeo-resposta se delineava atraveacutes de trecircs atitudes estrateacutegicas preventiva repressiva e operativa (MIRANDA 1970 p18 apud SAVIANI 2004 p119)

Desse modo as accedilotildees preventivas procuravam evitar aquilo que era

entendido como subversivo As accedilotildees repressivas procuravam impedir a praacutetica

subversiva e as accedilotildees operativas destinavam-se a eliminar esses focos mediante a

accedilatildeo armada Em outras palavrasldquoo Poder Nacional tal como concebido pela

ideologia da interdependecircncia eacute acionado para destruir a autonomia nacional nos

termos da ideologia nacional-desenvolvimentistardquo (SAVIANI 2004 p120)

26

A partir do pressuposto da neutralidade cientiacutefica e inspirada nos princiacutepios de racionalidade eficiecircncia e produtividade a pedagogia tecnicista advogou a reordenaccedilatildeo do processo educativo de maneira a tornaacute-lo objetivo e operacional De modo semelhante ao que ocorreu no trabalho fabril pretendeu-se a objetivaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico Buscou-se entatildeo com base em justificativas teoacutericas derivadas da corrente filosoacutefico-psicoloacutegica do behaviorismo planejar a educaccedilatildeo de modo a dotaacute-la de uma organizaccedilatildeo racional capaz de minimizar as interferecircncias subjetivas que pudessem pocircr em risco sua eficiecircncia (SAVIANI 2009 p11-12)

82

Eacute neste contexto que eacute possiacutevel compreender todas as poliacuteticas educacionais

durante o regime militar Destaca-se o Mobral27 seguido das reformas de ensino de

primeiro segundo e terceiros graus a criaccedilatildeo dos Centros Rurais Universitaacuterios de

Treinamento e Accedilatildeo Comunitaacuteria (CRUTACS) os Centros Sociais Urbanos o

Projeto Rondon a Empresa Brasileira de Notiacutecias (EBN) etc (SAVIANI 2004)

O periacuteodo ditatorial ao longo de duas deacutecadas que serviram de palco para o revezamento de cinco generais na presidecircncia da repuacuteblica se pautou em termos educacionais pela repressatildeo privatizaccedilatildeo de ensino exclusatildeo de boa parcela das classes populares do ensino profissionalizante tecnicismo pedagoacutegico e desmobilizaccedilatildeo do magisteacuterio atraveacutes de abundante e confusa legislaccedilatildeo educacional Soacute uma visatildeo otimistaingecircnua poderia encontrar indiacutecios de saldo positivo na heranccedila deixada pela ditadura militar (GHIRALDELLI 1990 p163)

Em 1979 o Brasil dava iniacutecio ao lento e gradual processo de abertura

democraacutetica que teve iniacutecio no governo de General Geisel (1974-1979) A transiccedilatildeo

democraacutetica se fez seguindo a estrateacutegia de conciliaccedilatildeo pelo alto a fim de dar

prosseguimento agrave ordem socioeconocircmica vigente Naquele momento o mundo vivia

as consequumlecircncias da chamada crise do petroacuteleo que teve seu iniacutecio na deacutecada de

1970 As implicaccedilotildees da crise levaram os paiacuteses a tomarem medidas de

desregulamentaccedilatildeo da economia privatizaccedilotildees e destituiccedilatildeo do Estado de bem-

estar social Nesse contexto nasce o chamado neoliberalismo Neo quer dizer novo

e liberalismo refere-se ao pensamento claacutessico que serviu de base ao capitalismo

Segundo Anderson (1995) ldquoo neoliberalismo nasceu logo depois da II Guerra

Mundial como uma reaccedilatildeo teoacuterica e poliacutetica veemente contra o Estado

intervencionista e de bem-estarrdquo (ANDERSON 1995 p 9)

Na Ameacuterica Latina o efeito da crise fez com que os paiacuteses adotassem os

ajustes neoliberais orientados pelo Banco Mundial Fundo Monetaacuterio Internacional e

o governo dos Estados Unidos apoacutes o ldquoConsenso de Washingtonrdquo28 Os impactos

27

O Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo foi criado pela Lei Nordm 5379 de 15121967 e tinha como

prioridade promover a alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo continuada para jovens e adultos analfabetos Esteve embasada nas proposiccedilotildees de educaccedilatildeo funcional presente nos documentos da UNESCO em 1958 durante o Congresso Mundial de Ministros O MOBRAL teve iniacutecio em 1970 e foi caracterizado do ponto de vista teacutecnico como proacuteximo aos meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo de Paulo Freire que partia das palavras-chaves mas suas orientaccedilotildees pedagoacutegicas eram controladas e supervisionadas pelo governo 28

Em novembro de 1989 reuniram-se na capital dos Estados Unidos funcionaacuterios do governo norte-americano e dos organismos financeiros internacionais ali sediados - FMI Banco Mundial e BID - especializados em assuntos latino-americanos O objetivo do encontro convocado pelo Institute for

83

de tais ajustes perpassam pelo campo das reformas educacionais que devem estar

condicionadas agrave loacutegica do mercado bem como da sauacutede da alimentaccedilatildeo do

trabalho e do salaacuterio (SOARES 2000)

Nesse novo contexto as poliacuteticas educacionais satildeo marcadas por um

neoconservadorismo recheado de contradiccedilotildees e ambiguumlidades presentes nas

principais poliacuteticas educacionais que por sua vez foram resultado do debate entre

diversos setores da sociedade que queriam ver seus interesses contemplados nas

poliacuteticas educacionais somadas agraves deliberaccedilotildees dos organismos multilaterais para

a educaccedilatildeo

33 Poliacuteticas educacionais a partir da Constituiccedilatildeo de 1988

Segundo Gabriele Sapio (2010) a Constituiccedilatildeo Federal (CF) eacute ldquouma das

cartas constitucionais mais adiantadas e progressistas do mundo em mateacuteria de

proteccedilatildeo dos direitos sociais fundamentais coletivos e individuaisrdquo (SAPIO 2010

sn) No Brasil a Constituiccedilatildeo de 1988 eacute considerada um avanccedilo no sentido de

assegurar direitos sociais dentre eles o acesso agrave educaccedilatildeo

No que concerne agrave educaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo tem uma seccedilatildeo especiacutefica

destinada agrave mesma Seccedilatildeo I do capiacutetulo III Da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto

A constituiccedilatildeo de 1988 marca o retorno do Brasil para a democracia No contexto de

sua elaboraccedilatildeo houve inuacutemeros debates por parte dos setores da sociedade de

movimentos sociais a grupos dominantes que queriam ver seus interesses

contemplados na Carta Magna afirma Ghiraldelli Jr (2001 p 169) O mesmo autor

ao analisar a Carta de 1988 onde se discute a educaccedilatildeo informa que este aspecto

natildeo eacute soacute tratado em um artigo especiacutefico mas perpassa por outros toacutepicos

Na Carta de 1988 a educaccedilatildeo natildeo veio contemplada apenas no seu local proacuteprio no toacutepico especiacutefico destinada a ela mas veio tambeacutem espalhada em outros toacutepicos Assim no tiacutetulo sobre direitos e

International Economics sob o tiacutetulo Latin American Adjustment How Much Has Happened era proceder a uma avaliaccedilatildeo das reformas econocircmicas empreendidas nos paiacuteses da regiatildeo Para relatara experiecircncia de seus paiacuteses tambeacutem estiveram presentes diversos economistas latino-americanos Agraves conclusotildees dessa reuniatildeo eacute que se daria subsequentemente a denominaccedilatildeo informal de Consenso de Washingtonrdquo (BATISTA 1994 p 5)

84

garantias fundamentais a educaccedilatildeo apareceu como um direito social junto da sauacutede do trabalho do lazer da seguranccedila da previdecircncia social da proteccedilatildeo agrave maternidade e agrave infacircncia da assistecircncia aos desamparados (artigo 6deg) Tambeacutem no capiacutetulo sobre a famiacutelia a crianccedila o adolescente e o idoso a educaccedilatildeo foi incluiacuteda A Constituiccedilatildeo determinou ser dever da famiacutelia da sociedade e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente o direito agrave educaccedilatildeo como uma prioridade em relaccedilatildeo ao outros direitos (GHIRALDELLI JR 2001 p169)

Diante das mudanccedilas que a CF trouxe agrave Educaccedilatildeo houve tambeacutem a

necessidade de se elaborar uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo

Nacional Em dezembro de 1988 o deputado Octaacutevio Eliacutesio apresentou um projeto

que fixava as diretrizes e bases nacionais da educaccedilatildeo diante da nova realidade

brasileira Apoacutes oitos ano de tramitaccedilatildeo debates e discussotildees a nova LDB foi

aprovada em 1996 Atualmente eacute a diretriz que rege o curriacuteculo nacional Assim eacute a

partir dela que iremos iniciar a anaacutelise propostas das poliacuteticas educacionais para a

diversidade

34 Escola e diversidade O que temos em termos de poliacuteticas educacionais

Seraacute que a escola pode ser a mesma quando os educandos satildeo outros Seraacute que o curriacuteculo pode ser o mesmo quando os alunos satildeo outros Seraacute que a pedagogia deva ser a mesmaA docecircncia deva ser a mesma (Miguel Arroyo 2014-Em entrevista concedida ao Portal Dia a Dia Educaccedilatildeo)

As perguntas acima foram feitas pelo poacutes-doutor em educaccedilatildeo Miguel

Arroyo em entrevista concedida a TV Paulo Freire no ano de 2013 Quando

questionado sobre como a escola deve trabalhar o tema da diversidade ele aponta

que natildeo eacute o aluno quem deve se adaptar agrave escola mas a escola quem deve se

adaptar ao aluno Nesse sentido adaptando o questionamento de Arroyo sobre as

poliacuteticas educacionais para a realidade fronteiriccedila a pergunta ficaria a seguinte seraacute

que a escola situada em regiatildeo de fronteira internacional pode ser a mesma quando

os educandos satildeo outros

E este bdquooutro‟ na fronteira eacute o argentino o aacuterabe o paraguaio o brasiguaio o

indiacutegena que estatildeo imersos em meio a tantas outras diversidades que natildeo foram

tratadas aqui mas que complexificam ainda mais a realidade das escolas de

85

fronteira Nela tambeacutem nos deparamos com as questotildees de gecircnero de raccedila de

classes etc Pensando nestes aspectos o que as principais poliacuteticas educacionais

nacionais podem ou natildeo oferecer quando o assunto eacute a diversidade nas escolas de

fronteira internacional

Por diversidade Elvira de Souza Lima (2011) entende que a mesma eacute a

norma da espeacutecie humana pois ldquoos seres humanos satildeo diversos em suas

experiecircncias culturais satildeo uacutenicos em suas personalidades e satildeo diversos em suas

formas de perceber o mundordquo Segundo Gurgel (LIMA 2011 p1) a ideia de

diversidade relaciona-se diretamente com os conceitos de pluralidade multiplicidade

que indicam diferentes valores costumes vivecircncias de diferentes grupos da

sociedade

Nas concepccedilotildees de Gurgel do ponto de vista da Antropologia compreender

os elementos constitutivos da diversidade nos leva a entender diferentes ldquohaacutebitos

costumes comportamentos crenccedilas e valores e a aceitaccedilatildeo da diferenccedila no outro

chamada de alteridaderdquo (GURGEL 2011 p 4)

Nilma Lino Gomes (2008) ao discorrer sobre o que eacute diversidade busca seu

significado no dicionaacuterio apontando que as palavras que traduzem seu sentido satildeo

diferenccedila e dessemelhanccedila Em uma primeira interpretaccedilatildeo Nilma explica que a

diversidade pode se referir a fatos observaacuteveis a olho nu Contudo se ampliarmos a

noccedilatildeo sobre o que sejam diferenccedilas e incluir essas discussotildees no acircmbito cultural eacute

possiacutevel compreendecirc-la de duas formas

1)As diferenccedilas podem ser empiricamente observaacuteveis 2) as diferenccedilas tambeacutem satildeo construiacutedas ao longo do processo histoacuterico nas relaccedilotildees sociais e nas relaccedilotildees de poder Muitas vezes os grupos humanos tornam o outro diferente para fazecirc-lo inimigo para dominaacute-lo Por isso falar sobre a diversidade cultural natildeo diz respeito apenas ao reconhecimento do outro Significa pensar a relaccedilatildeo entre o eu e o outro (GOMES 2008 p2)

Na aacuterea de estudos das poliacuteticas educacionais o tema diversidade eacute recente

Somente a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 e da implementaccedilatildeo da LDB96 eacute que as

poliacuteticas educacionais para diversidade ganharam espaccedilo no campo das poliacuteticas

puacuteblicas

86

341 A LDB96 - A primeira lei originaacuteria da iniciativa civil e do legislativo

A atual LDB96 eacute fruto do novo quadro poliacutetico que se instaurou no Brasil com

o processo de abertura democraacutetica Como jaacute mencionado foram oito anos de

tramitaccedilatildeo ateacute que em 1996 ela fosse fixada com a aprovaccedilatildeo da redaccedilatildeo proposta

pelo entatildeo Deputado Federal e antropoacutelogo Darcy Ribeiro

Ao analisar a LDB96 eacute possiacutevel encontrar alguns artigos que reconhecem a

diversidade existente no paiacutes No Capiacutetulo II referente agrave Educaccedilatildeo Baacutesica o artigo

26 prescreve o seguinte

Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade da cultura da economia e da clientela (BRASIL 1996)

Com base neste artigo compreende-se que dadas as diferenccedilas culturais presentes

em cada regiatildeo cabe agrave instituiccedilatildeo escolar realizar as adaptaccedilotildees necessaacuterias agrave

realidade local Logo a lei daacute margem para que um trabalho diferenciado possa ser

realizado em aacutereas de fronteira internacional O inciso de nuacutemero cinco do mesmo

artigo torna obrigatoacuterio o ensino de uma liacutengua estrangeira moderna cuja escolha

fica a criteacuterio da comunidade escolar a partir da quinta seacuterie (hoje sexto ano)

Em 2005 foi criada a Lei de no 11161 que tornou obrigatoacuterio o ensino da

Liacutengua Espanhola para o Ensino Meacutedio

Art 1o O ensino da liacutengua espanhola de oferta obrigatoacuteria pela escola e de matriacutecula facultativa para o aluno seraacute implantado gradativamente nos curriacuteculos plenos do ensino meacutedio sect 1o O processo de implantaccedilatildeo deveraacute estar concluiacutedo no prazo de cinco anos a partir da implantaccedilatildeo desta Lei sect 2o Eacute facultada a inclusatildeo da liacutengua espanhola nos curriacuteculos plenos do ensino fundamental de 5a a 8a seacuteries Art 2o A oferta da liacutengua espanhola pelas redes puacuteblicas de ensino deveraacute ser feita no horaacuterio regular de aula dos alunos (BRASIL 2005)

Esta uacuteltima lei expressa o contexto da eacutepoca Primeiro pelo crescimento do poder

econocircmico da Espanha e o crescente aumento do espanhol nos EUA (CELADA

1991 apud AMARAL E MAZZARO 2006) Em segundo o entatildeo presidente Luis

Inaacutecio Lula da Silva tinha como plano de governo a aproximaccedilatildeo com os demais

87

paiacuteses da Ameacuterica Latina haja vista que historicamente a relaccedilatildeo do Brasil com os

paiacuteses da regiatildeo tanto no acircmbito econocircmico como social era pequena Com essa

proposta de integraccedilatildeo em um de seus discursos ele diz

A grande prioridade da poliacutetica externa durante o meu governo seraacute a construccedilatildeo de uma Ameacuterica do Sul politicamente estaacutevel proacutespera e unida com base em ideais democraacuteticos e de justiccedila social Para isso eacute essencial uma accedilatildeo decidida de revitalizaccedilatildeo do MERCOSUL enfraquecido pelas crises de cada um de seus membros e por visotildees muitas vezes estreitas e egoiacutestas do significado da integraccedilatildeo O MERCOSUL assim como a integraccedilatildeo da Ameacuterica do Sul em seu conjunto eacute sobretudo um projeto poliacutetico Mas esse projeto repousa em alicerces econocircmico-comerciais que precisam ser urgentemente reparados e reforccedilados Cuidaremos tambeacutem das dimensotildees social cultural e cientiacutefico-tecnoloacutegica do processo de integraccedilatildeo (LULA DA SILVA 2003)

A partir de entatildeo outras iniciativas aleacutem do ensino do espanhol foram

implementadas como a criaccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino superior em aacutereas

fronteiriccedilas entre elas a Universidade Federal da Fronteira Sul (Santa Catarina)

criada em outubro de 2009 a Universidade Federal do Pampa (Rio Grande do Sul)

fundada em janeiro de 2008 a Universidade Federal de Grande Dourados (Mato

Grosso do Sul) fundada em agosto de 2005 a Universidade Federal da Integraccedilatildeo

Latino-Americana (Paranaacute) criada em janeiro de 2010 e a Universidade da

Integraccedilatildeo Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira tambeacutem criada em 2010 Esta

uacuteltima que conforme o nome sugere orienta-se para o desenvolvimento cientiacutefico

educacional e cultural da Ameacuterica Latina No acircmbito da educaccedilatildeo baacutesica temos o

Programa Escola Intercultural Biliacutenguumle de iniciativa do Mercosul que objetiva a

integraccedilatildeo regional por meio da educaccedilatildeo biliacutengue em escolas puacuteblicas do ensino

fundamental presentes em cidades da faixa de fronteira

Nesse sentido ainda que as estrateacutegias dessas instituiccedilotildees estejam

relacionadas ao projeto de integraccedilatildeo na regiatildeo de faixa de fronteira a presenccedila de

instituiccedilotildees de ensino superior contribui para o desenvolvimento de pesquisas

criaccedilatildeo de projetos e programas tanto no acircmbito nacional com as cidades e as

instituiccedilotildees locais como no acircmbito internacional em parceira com instituiccedilotildees dos

paiacuteses com as quais essas instituiccedilotildees fazem fronteira Isso por consequecircncia

pode contribuir para debates e mudanccedilas na educaccedilatildeo nas escolas de fronteira

No que confere agrave obrigatoriedade do ensino de espanhol algumas pesquisas

sobre sua implementaccedilatildeo identificaram algumas fragilidades Nos resultados

88

parciais da pesquisa de doutorado sobre o ensino do espanhol no Brasil realizada

por Maria Fernanda Lisboa (2011) a autora identificou que o discurso de integraccedilatildeo

linguiacutestico-cultural que justifica a lei ldquoeacute apenas uma fachada para desviar a atenccedilatildeo

dos reais interesses por traacutes dessa poliacutetica natildeo soacute linguumliacutesticardquo (LISBOA 2011 p

213) A autora faz referecircncia aos interesses da Espanha que estaacute agrave frente dessa

poliacutetica ldquoinvestindo em assessorias linguumliacutesticas na criaccedilatildeo de vaacuterias sedes do

Instituto Cervantes e ainda disseminando cursos de capacitaccedilatildeo para professoresrdquo

(LISBOA 2011 p 213) Estes cursos satildeo vistos pelas associaccedilotildees de professores

pelos formadores de professores e por Universidades de modo negativo Na

avaliaccedilatildeo daqueles que satildeo contraacuterios a essas formaccedilotildees encontra-se a duacutevida na

real qualidade da mesma visto que eacute um curso inteiramente agrave distacircncia sem

maiores reflexotildees relacionados agrave metodologia

Aleacutem disso haacute outras questotildees como a demanda de professores oferta de

materiais didaacuteticos interesse por parte dos alunos que satildeo desafios a serem

superados nesse processo de implementaccedilatildeo Entretanto mesmo diante das

contradiccedilotildees e lacunas que a sua obrigatoriedade significou a lei que completou dez

anos de sua criaccedilatildeo e cinco do prazo final para sua execuccedilatildeo nas escolas em 2015

abre possibilidades para maiores discussotildees e provocaccedilotildees se pensarmos a partir

da integraccedilatildeo dos paiacuteses fronteiriccedilos ou mesmo em niacutevel de poliacuteticas linguumliacutesticas

para essa regiatildeo Afinal conforme Marcuschi (2005) ldquonatildeo se pode reduzir a

linguagem ao seu papel de ferramenta social tampouco reduzi-la ao caraacuteter formal

pois liacutengua natildeo eacute forma nem funccedilatildeo e sim atividade significante e constitutivardquo

(MARCUSCHI 2005 p 3)

Em 2003 foi criada a lei 1063903 que tornou obrigatoacuteria a inclusatildeo do ensino

da Histoacuteria da Aacutefrica e da Cultura Afro-Brasileira nos curriacuteculos dos estabelecimentos

de ensino puacuteblicos e particulares da educaccedilatildeo baacutesica E em 2008 foi criada a lei

1164508 que acrescenta o estudo da histoacuteria e cultura indiacutegena nas escolas

puacuteblicas e privadas da educaccedilatildeo baacutesica

1ordm O conteuacutedo programaacutetico a que se refere este artigo incluiraacute diversos aspectos da histoacuteria e da cultura que caracterizam a formaccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira a partir desses dois grupos eacutetnicos tais como o estudo da histoacuteria da Aacutefrica e dos africanos a luta dos negros e dos povos indiacutegenas no Brasil a cultura negra e indiacutegena brasileira e o negro e o iacutendio na formaccedilatildeo da sociedade

89

nacional resgatando as suas contribuiccedilotildees nas aacutereas social econocircmica e poliacutetica pertinentes agrave histoacuteria do Brasil sect 2ordm Os conteuacutedos referentes agrave histoacuteria e cultura afro-brasileira e dos povos indiacutegenas brasileiros seratildeo ministrados no acircmbito de todo o curriacuteculo escolar em especial nas aacutereas de educaccedilatildeo artiacutestica e de literatura e histoacuteria brasileira (BRASIL 2008)

No acircmbito estadual o Paranaacute emitiu a seguinte nota sobre a obrigatoriedade

da lei 1063903

No curriacuteculo oficial da Rede de Educaccedilatildeo do Paranaacute a obrigatoriedade da temaacutetica Histoacuteria e Cultura Afro-Brasileira e seus desencadeamentos tem efetivado accedilotildees para a formaccedilatildeo das equipes multidisciplinares nos Nuacutecleos Regionais de Educaccedilatildeo e nas escolas A medida eacute um dos objetivos para valorizar a histoacuteria da populaccedilatildeo negra no Estado do Paranaacute e orientar a comunidade escolar para o enfrentamento do preconceito da discriminaccedilatildeo do racismo (SEED 2013)

Assim a fim de atender tanto a lei 1063903 quanto a 1164508 a Secretaria

Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute instituiu as Equipes Multidisciplinares validadas

pelo artigo 26 da LDB Lei nordm 939496 pela Deliberaccedilatildeo nordm 0406 CEEPR pela

Instruccedilatildeo nordm 01706 SUEDSEED pela Resoluccedilatildeo nordm 339910 SEEDSEED e a

Instruccedilatildeo nordm 0101 SUESSEED As equipes multidisciplinares satildeo compostas por

professores de diferentes aacutereas pedagogos diretores e agentes educacionais e

representantes da comunidade externa (pais movimentos sociais professores do

ensino superior representantes das Comunidades Remanescentes de Quilombos

lideranccedilas indiacutegenas dentre outros)

A equipe se encontra em espaccedilos para debater estrateacutegias e desenvolver

accedilotildees pedagoacutegicas que fortaleccedilam a implementaccedilatildeo das leis 1063903 e 1164508

no curriacuteculo escolar das instituiccedilotildees de ensino da rede puacuteblica estadual e escolas

conveniadas do Paranaacute Com isso nota-se a preocupaccedilatildeo em cumprir a legislaccedilatildeo

sendo uma das accedilotildees a criaccedilatildeo da Equipe Multidisciplinar que deixa claro que o

trabalho da equipe eacute destinado ao ensino da histoacuteria da Aacutefrica e da cultura negra e

indiacutegena nas escolas estaduais paranaenses conforme as atribuiccedilotildees presentes na

Instruccedilatildeo Nordm 0102010 ndash SUEDSEE da qual destacam

Compete agrave Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash SEED 1Garantir que todos os NREs e estabelecimentos de ensino na Rede Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute organizem suas Equipes Multidisciplinares para tratar da Educaccedilatildeo das Relaccedilotildees Eacutetnico-

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Raciais e para o Ensino de Histoacuteria e Cultura Afrobrasileira Africana e Indiacutegena Compete agrave Equipe Multidisciplinar do Nuacutecleo Regional de Educaccedilatildeo

1Orientar e acompanhar o funcionamento e organizaccedilatildeo das Equipe Multidisciplinares dos estabelecimentos da Rede Estadual de Ensino para a efetivaccedilatildeo de accedilotildeesexperiecircncias em ERER subsidiando os profissionais da educaccedilatildeo em consonacircncia com as poliacuteticas puacuteblicas estabelecidas pela Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo 2Promover accedilotildees voltadas agrave formaccedilatildeo continuada e de pesquisa dos teacutecnicos do NRE sobre o Ensino de Histoacuteria e Cultura Afro brasileira Africana e Indiacutegena (SEED 2010)

Ao longo do documento natildeo haacute referecircncias que indiquem que o professor

deva trabalhar com outros temas referentes agrave diversidade Contudo a criaccedilatildeo da

equipe multidisciplinar eacute um exemplo de uma poliacutetica educativa criada para o

cumprimento da legislaccedilatildeo Com isso vem o seguinte questionamento no caso dos

desafios enfrentados pelas escolas e professores situados em regiatildeo de fronteira a

obrigatoriedade para demandas especiacuteficas dessas escolas teria um caminho

possiacutevel (deliberaccedilotildees especiacuteficas para as documentaccedilotildees dos alunos

estrangeiros a obrigatoriedade do ensino da histoacuteria da cultura dos paiacuteses com os

quais a cidade fronteiriccedila faz parte formaccedilatildeo de professores especiacuteficas em cidade

ou regiotildees como Foz do Iguaccedilu que apresenta uma quantidade expressiva de

estrangeiras nesse caso os aacuterabes a proposta de poliacuteticas linguumliacutesticas especiacuteficas

que facilitem o processo de inserccedilatildeo desses alunos em sala de aula etc)

Essas questotildees surgiram agrave medida que se tornou possiacutevel perceber que

quando um tema eacute reconhecido pelo Estado tem-se a impressatildeo de que ele passa a

existir oficialmente nas escolas e nas outras instituiccedilotildees Por exemplo a lei

1063903 discute a temaacutetica da histoacuteria da Aacutefrica e da cultura negra e possui dentre

outros objetivos o combate ao racismo Essa discussatildeo poreacutem sempre esteve

presente nas escolas pois a luta contra o racismo e discriminaccedilatildeo racial comeccedilou

ainda no periacuteodo escravocrata pelos primeiros movimentos de resistecircncia a citar os

quilombos

Desse modo natildeo eacute novidade o enfrentamento com o racismo nem eacute

novidade que os negros ficaram excluiacutedos da histoacuteria nacional e desde entatildeo

buscam a afirmaccedilatildeo de sua identidade Denota-se que satildeo questotildees que natildeo

passam despercebidas pela escola mas para que chegasse ateacute ela necessitou de

dispositivos legais para que fossem discutidas em sala de aula com o respaldo do

91

Estado Esses respaldos seriam accedilotildees criadas para dar condiccedilotildees de

implementaccedilatildeo agrave lei como a criaccedilatildeo em 2004 da Secretaria de Educaccedilatildeo

Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade (SECAD) com a finalidade de articular o

tema da diversidade nas poliacuteticas educacionais Tambeacutem foram criados alguns

programas e projetos Programa Diversidade na Universidade (2002 a 2007) os

Foacuteruns Estaduais e Foacuteruns Permanentes de Educaccedilatildeo e Diversidade Eacutetnico-Racial

a distribuiccedilatildeo do Kit didaacutetico-pedagoacutegico a Oficina Cartograacutefica sobre Geografia

Afro-brasileira e Africana (2005) o Projeto Educadores pela Diversidade

(20042005) o Curso Educaccedilatildeo e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais (2005) a Pesquisa

Nacional Diversidade nas Escolas (2006 a 2009) dentre outros (GOMES 2010)

Tudo isto foi possiacutevel explica Gomes (2010) devido ao longo processo de

lutas sociais e natildeo a ldquouma daacutediva do Estado pois enquanto uma poliacutetica de accedilatildeo

afirmativa ela ainda eacute vista com muitas reservas pelo ideaacuterio republicano brasileiro

que resiste em equacionar a diversidaderdquo (GOMES 2010 p 9) Diante das

prerrogativas contidas na LDB96 referentes agrave questatildeo da diversidades cultural

observou que elas por si soacute natildeo atingem a fronteira com suas diversidades que

estatildeo nas escolas que devem seguir as suas normas que por sua vez seguem uma

linha de poliacuteticas universalistas

342 Os Paracircmetros Curriculares Nacionais

Os Paracircmetros Curriculares Nacionais foram publicados apoacutes a

implementaccedilatildeo da Lei de Diretrizes e bases da Educaccedilatildeo Nacional de 1996 pela

Secretaria de Educaccedilatildeo do Ensino Fundamental do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do

Desporto O contexto de sua construccedilatildeo ocorreu apoacutes a Conferecircncia Mundial de

Educaccedilatildeo para Todos em Jomtien na Tailacircndia (1990) que teve como resultado

um documento que destaca a necessidade de uma educaccedilatildeo para todos sem

distinccedilatildeo Do compromisso assumido internacionalmente para com a Educaccedilatildeo

somados aos princiacutepios previstos na LDB de 1996 nascem os PCN‟S

Os PCN‟s satildeo um instrumento normativo que nasceu para cumprir o artigo

210 disposto no capiacutetulo III da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que institui a fixaccedilatildeo de

ldquoconteuacutedos miacutenimos para o ensino fundamental de maneira a assegurar formaccedilatildeo

baacutesica comum e respeito aos valores culturais e artiacutesticos nacionais e regionaisrdquo

Nasceu tambeacutem no contexto das implementaccedilotildees das poliacuteticas neoliberais o que

92

gerou muitas criacuteticas acerca de seus reais propoacutesitos Contaram com os subsiacutedios

de acordos e documentos elaborados por organismos internacionais tais como a

declaraccedilatildeo Mundial sobre a Educaccedilatildeo para Todos Declaraccedilatildeo de Nova Delhi

Relatoacuterio para a Unesco da Comissatildeo Internacional sobre a Educaccedilatildeo para o seacuteculo

XXI dentre outros acordos e documentos de organismos internacionais

(RODRIGUES 2001)

O processo de elaboraccedilatildeo dos Paracircmetros Curriculares Nacionais conforme o

documento comeccedilou a partir do estudo das

Propostas curriculares de Estados e Municiacutepios brasileiros do diagnoacutestico realizado pela Fundaccedilatildeo Carlos Chagas sobre curriacuteculos oficiais e do contato com informaccedilotildees referentes agraves experiecircncias de outros paiacuteses (BRASIL 1998 p15)

Com base nas orientaccedilotildees presentes no Plano Decenal de Educaccedilatildeo (1993-

2003) de pesquisas internas e externas de dados acerca do desempenho dos

estudantes do ensino fundamental aleacutem das experiecircncias de sala de aula

socializadas em seminaacuterios congressos encontros e publicaccedilotildees foi elaborada a

proposta inicial que passou por um processo de anaacutelise entre os anos de 1995 e

1996 Desta anaacutelise saiacuteram aproximadamente setecentos pareceres sobre a

proposta inicial que serviram de referecircncia para sua redaccedilatildeo final

Os PNC‟s de 1ordf a 4ordf seacuterie foram transformados em 10 livros lanccedilados no dia

15 de outubro de 1997 dia do professor na capital Brasiacutelia Estes dez volumes

apresentam os seguintes conteuacutedos introduccedilatildeo liacutengua portuguesa matemaacutetica

ciecircncias naturais histoacuteria e geografia arte educaccedilatildeo fiacutesica apresentaccedilatildeo dos

temas transversais meio ambiente e sauacutede pluralidade cultural e orientaccedilatildeo sexual

Desse modo estatildeo organizados em um documento introdutoacuterio seis documentos

que tratam das aacutereas de conhecimentos gerais e trecircs volumes referentes aos Temas

Transversais (MOTTA 2005)

Segundo o documento elaborado em 1997 com o objetivo de introduzir os

PCN‟s ao professor sua funccedilatildeo eacute de

() orientar e garantir a coerecircncia dos investimentos no sistema educacional socializando discussotildees pesquisas e recomendaccedilotildees subsidiando a participaccedilatildeo de teacutecnicos e professores brasileiros principalmente daqueles que se encontram mais isolados com

93

menor contato com a produccedilatildeo pedagoacutegica atual (BRASIL 1997 p13)

Trata-se portanto natildeo de um curriacuteculo mas de um suporte para que a escola

possa elaborar seu programa curricular dentro de sua realidade especiacutefica Os

PCN‟s estatildeo organizados em dois grupos 1) composto por aacutereas tradicionais

(Portuguecircs Matemaacutetica Histoacuteria Geografia Ciecircncias Naturais Educaccedilatildeo Fiacutesica

Liacutengua Estrangeira e Arte) 2) composto pelos temas transversais que vai tratar das

seguintes questotildees Eacutetica do Meio Ambiente da Pluralidade Cultural da Sauacutede da

Orientaccedilatildeo Sexual e do Trabalho e Consumo (BRASIL 1998 p17) A justificativa

para a escolha de tais temaacuteticas pauta-se no fato de serem assuntos urgentes e que

fazem parte das preocupaccedilotildees e do cotidiano da sociedade brasileira

A finalidade uacuteltima dos Temas Transversais se expressa neste criteacuterio que os alunos possam desenvolver a capacidade de posicionar-se diante das questotildees que interferem na vida coletiva superar a indiferenccedila e intervir de forma responsaacutevel Assim os temas eleitos em seu conjunto devem possibilitar uma visatildeo ampla e consistente da realidade brasileira e sua inserccedilatildeo no mundo aleacutem de desenvolver um trabalho educativo que possibilite uma participaccedilatildeo social dos alunos (BRASIL 1998 p26)

Por temas transversais compreende-se um conjunto de conteuacutedos que natildeo

ldquoquerendo desbancar os previamente fixados pelas disciplinas acadecircmicas

claacutessicas se apresentam como temas transversais no curriacuteculo e portanto comuns

a todas as aacutereas e disciplinasrdquo (RAMOS 1998 p 2) Neste sentido como explica o

volume 10 dos Paracircmetros Curriculares Nacionais que trata dos temas transversais

os conteuacutedos convencionais devem receber as questotildees dos Temas Transversais

de modo que seus conteuacutedos os explicitem e os objetivos sejam considerados

(BRASIL 1998) Em seguida o documento apresenta o seguinte exemplo para

ilustrar essa transversalidade

() aacuterea de Ciecircncias Naturais inclui a comparaccedilatildeo entre os principais oacutergatildeos e funccedilotildees do aparelho reprodutor masculino e feminino relacionando seu amadurecimento agraves mudanccedilas no corpo e no comportamento de meninos e meninas durante a puberdade e respeitando as diferenccedilas individuais Dessa forma o estudo do corpo humano natildeo se restringe agrave dimensatildeo bioloacutegica mas coloca esse conhecimento a serviccedilo da compreensatildeo da diferenccedila de gecircnero (conteuacutedo de Orientaccedilatildeo Sexual ) e do respeito agrave diferenccedila (conteuacutedo de Eacutetica) Assim natildeo se trata de que os professores das

94

diferentes aacutereas devam ldquopararrdquo sua programaccedilatildeo para trabalhar os temas mas sim de que explicitem as relaccedilotildees entre ambos e as incluam como conteuacutedos de sua aacuterea articulando a finalidade do estudo escolar com as questotildees sociais possibilitando aos alunos o uso dos conhecimentos escolares em sua vida extra-escolar Natildeo se trata portanto de trabalhaacute-los paralelamente mas de trazer para os conteuacutedos e para a metodologia da aacuterea a perspectiva dos temas

(BRASIL 1998 p27)

Fernanda Motta (2005) explica que as discussotildees sobre os temas

transversais no campo da educaccedilatildeo surgem em um momento onde diversos grupos

sociais politicamente organizados em diferentes paiacuteses comeccedilaram a questionar

qual seria o papel da escola em meio a uma sociedade plural e globalizada e quais

assuntos que deveriam ser tratados na educaccedilatildeo escolar (MOTTA 2005 p20)

Neste sentido continua

Esses grupos comeccedilaram a pressionar os Estados para que incluiacutessem na estrutura curricular escolar temas mais vinculados ao cotidiano da maioria da populaccedilatildeo possibilitando que as disciplinas passassem a se relacionar com a realidade contemporacircnea Parte-se do princiacutepio de que a escola natildeo pode ser vista como uma instituiccedilatildeo isolada Sua accedilatildeo deve ser norteada tomando como paracircmetro a cultura na qual estaacute inserida (MOTTA 2005 p28)

Assim podemos compreender a educaccedilatildeo como um tipo de poliacutetica social

pensada natildeo somente a partir do Estado mas por atores da sociedade civil

As poliacuteticas sociais ndash e a educaccedilatildeo ndash se situam no interior de um tipo particular de Estado Satildeo formas de interferecircncia do Estado visando agrave manutenccedilatildeo das relaccedilotildees sociais de determinada formaccedilatildeo social Portanto assumem bdquofeiccedilotildees‟ diferentes em diferentes sociedades e diferentes concepccedilotildees de Estado (HOFLING 2001 p31)

343 O Tema Transversal Pluralidade Cultural

No PCN de nuacutemero dez que trata especificamente dos temas transversais

no capiacutetulo referente agrave pluralidade cultural a justificativa pela pertinecircncia do tema eacute

dada pela diversidade cultural presente no paiacutes

Convivem hoje no territoacuterio nacional cerca de 210 etnias indiacutegenas cada uma co identidade proacutepria e representando riquiacutessima diversidade sociocultural junto a uma imensa populaccedilatildeo formada pelos descendentes dos povos africanos e um grupo numeroso de

95

imigrantes e descendentes de povos de vaacuterios continentes com diferentes tradiccedilotildees culturais e religiosas (BRASIL 1997 p125)

O documento chama atenccedilatildeo para o fato de que essa pluralidade cultural que natildeo

foge agrave realidade das escolas eacute ignorada ou mesmo silenciada sendo inuacutemeras as

justificativas para tal silenciamento Um exemplo citado pelos PCN‟s foi o periacuteodo de

nacionalismo dos governos autoritaacuterios que ldquoem diferentes momentos da histoacuteria

valeu-se da accedilatildeo homogeneizadora veiculada na escolardquo (BRASIL 1997 p125) A

deacutecada de 1930 foi um periacuteodo em que a poliacutetica oficial estava preocupada com a

quantidade de imigrantes e buscava formas de fazer com que essa populaccedilatildeo

assimilasse a cultura brasileira Enquanto isso a populaccedilatildeo negra era

marginalizada explica o PCN acerca da pluralidade cultural

O trabalho com o tema transversal propotildee o desenvolvimento das seguintes

capacidades

conhecer a diversidade do patrimocircnio etnocultural brasileiro cultivando atitude de respeito para com pessoas e grupos que a compotildeem reconhecendo a diversidade cultural como um direito dos povos e dos indiviacuteduos e elemento de fortalecimento da democracia

compreender a memoacuteria como construccedilatildeo conjunta elaborada como tarefa de cada um e de todos que contribui para a percepccedilatildeo do campo de possibilidades individuais coletivas comunitaacuterias e nacionais

valorizar as diversas culturas presentes na constituiccedilatildeo do Brasil como naccedilatildeo reconhecendo sua contribuiccedilatildeo no processo de constituiccedilatildeo da identidade brasileira

reconhecer as qualidades da proacutepria cultura valorando-as criticamente enriquecendo a vivecircncia de cidadania

desenvolver uma atitude de empatia e solidariedade para com aqueles que sofrem discriminaccedilatildeo

repudiar toda discriminaccedilatildeo baseada em diferenccedilas de raccedilaetnia classe social crenccedila religiosa sexo e outras caracteriacutesticas individuais ou sociais

exigir respeito para si e para o outro denunciando qualquer atitude de discriminaccedilatildeo que sofra ou qualquer violaccedilatildeo dos direitos de crianccedila e cidadatildeo

valorizar o conviacutevio paciacutefico e criativo dos diferentes componentes da diversidade cultural

compreender a desigualdade social como um problema de todos e como uma realidade passiacutevel de mudanccedilas

analisar com discernimento as atitudes e situaccedilotildees fomentadoras de todo tipo de discriminaccedilatildeo e injusticcedila social (BRASIL1998p147)

96

Diante dessas capacidades apresentadas pelo PCN eacute possiacutevel perceber que

o documento natildeo aborda especificamente a questatildeo da diversidade em regiatildeo de

fronteira internacional pois trata-se de orientaccedilotildees a serem desenvolvidas em todas

as escolas do paiacutes e natildeo em determinada regiatildeo especiacutefica cabendo entatildeo agrave

instituiccedilatildeo escolar realizar as adaptaccedilotildees necessaacuterias conforme o contexto no qual

estaacute inserida

Eacute importante lembrar que o estreito viacutenculo entre os conteuacutedos selecionados e a realidade local a partir mesmo das caracteriacutesticas culturais locais faz com que este trabalho possa incluir e valorizar questotildees da comunidade imediata agrave escola Contudo a proposta levanta tambeacutem a necessidade de referenciais culturais voltados para a pluralidade caracteriacutestica do Brasil como forma de compreender a complexidade do paiacutes bem como de ampliar horizontes para o trabalho da escola como um todo Lembra-se ainda que os conteuacutedos aqui definidos destinam-se ao trabalho com o terceiro e o quarto ciclos do ensino fundamental (BRASIL 1998 p148)

Em uma primeira leitura os temas transversais para a pluralidade cultural

conseguem abordar as principais pautas que a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e a

LDB96 estabelecem ao propor um ensino que valorize e incorpore o debate da

diversidade cultural na escolas mas que se apresentaram de modo muito superficial

e ao mesmo tempo amplo

Dentre algumas consideraccedilotildees acerca dos PCN‟S encontra-se a do professor

Antocircnio Cunha que na ocasiatildeo do lanccedilamento dos documentos questionou-os em

relaccedilatildeo ao o seu processo de elaboraccedilatildeo uma vez que o governo preferiu criar

propostas novas para os PCN‟s desconsiderando totalmente as anteriores

Em vez de se partir das propostas curriculares existentes para se chegar aos PCN‟s o que se fez foi apresentar aos estupefactos assistentes os paracircmetros jaacute elaborados Esse procedimento insoacutelito serviu para desestimular docentes e pesquisadores a darem seu parecer sobre os documentos quando solicitados pela Secretaria do Ensino Fundamental Parece que mais uma vez a administraccedilatildeo puacuteblica tem da pesquisa uma visatildeo apenas justificatoacuteria das opccedilotildees tomadas pelos dirigentes quando natildeo de algo apresentado tatildeo-somente para efeito propagandiacutestico (CUNHA 1996 p61)

Deste modo algumas das criacuteticas direcionadas aos PCN‟s encontram-se em

sua concepccedilatildeo O Parecer da Agecircncia Nacional dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB)

em consonacircncia com a posiccedilatildeo da Associaccedilatildeo Nacional de Histoacuteria (ANPUH)

97

realizado a pedido Secretaria do Ensino Fundamental do MEC na ocasiatildeo de seu

processo de elaboraccedilatildeo deu a seguinte resposta

Os bdquoParacircmetros‟ apresentam-se hoje como um retrocesso Apresentam-se organizados de forma semelhante aos antigos Guias Curriculares divididos em objetivos conteuacutedos avaliaccedilatildeo orientaccedilotildees didaacuteticas (em lugar das estrateacutegias) Apoacutes uma tentativa de explicitaccedilatildeo de conteuacutedos elenca-se para cada ciclo uma lista que pretende sintetizaacute-los Mesmo que no documento introdutoacuterio e nos documentos de aacuterea apareccedila registrada a natildeo intencionalidade da parte do MEC no sentido da obrigatoriedade de conteuacutedos determinados a real intenccedilatildeo jaacute patente a partir da escolha do termo bdquoparacircmetros‟ e a forma da organizaccedilatildeo dos mesmos eacute de molde a constituir em modelos uacutenicos a serem popularizadas e vulgarizadas em novos manuais didaacuteticos ()- O documento intitulado bdquoTemas Transversais‟ homogeneizar para a totalidade do paiacutes a definiccedilatildeo de bdquoconviacutevio social e eacutetica‟ meio ambiente e sauacutederdquo(AGB 1996p 62)

No parecer dos geoacutegrafos a construccedilatildeo de modelos uacutenicos e vulgarizados

bem como a tentativa de universalizar temas como a de conviacutevio social e eacutetico para

todo o paiacutes satildeo objetos de criacuteticas na medida em que a reflexatildeo sobre pluralidade

que haacute no paiacutes deve-se primeiramente ao seguinte questionamento destes temas

transversais - e em destaque o que trata da pluralidade cultural - quando adentra

em realidades como a de Foz do Iguaccedilu satildeo passiacuteveis de considerar as condiccedilotildees

locais Na mesma perspectiva Calllai (1997) fez o seguinte questionamento e

reflexatildeo

Os temas transversais propostos de certa forma homogeinizam tanto os problemas como o curriacuteculo a niacutevel nacional Eacute possiacutevel articular-se questotildees como pluralidade cultural exclusatildeo social e proposiccedilatildeo uacutenica de curriacuteculo As desigualdades sociais satildeo tambeacutem regionalizadas e como tal diferenciadas na sua expressatildeo localizada E eacute no local que o sujeito encara os problemas do seu cotidiano embora eles sejam o mais das vezes globais Poreacutem o global estaacute concretizado no lugar em que se vive e como tal eacute a partir daiacute que se precisa consideraacute-lo (CALLAI 1997 p 10)

Por outro lado aqueles (SILVEIRA MARQUES 2004) que vecircem os Temas

Transversais como uma novidade facilitadora para que haja debates em sala sobre

cultura diversidade e voltada para a interculturalidade possuem a consciecircncia de

que haacute alguma dificuldades seja pela falta de bibliografia pelas poucas experiecircncias

desenvolvidas e ateacute mesmo pela falta de formaccedilatildeo adequada de professores

Para que o trabalho com os temas transversais seja de fato efetivo torna-se

necessaacuterio a construccedilatildeo de uma proposta pedagoacutegica que envolva toda a

98

comunidade escolar Eacute necessaacuterio considerar que os temas ultrapassem os muros

da escola incluindo o contexto social envolvente Com relaccedilatildeo aos PCN‟s ainda que

haja criacuteticas referentes agrave sua elaboraccedilatildeo ainda que eles tendam agrave homogeneizaccedilatildeo

e por isso apresentem certa incoerecircncia teoacuterica a problemaacutetica maior eacute se esse

documento por meio dos temas transversais conseguiu inserir o debate sobre a

diversidade na comunidade escolar e como esse debate foi inserido

De modo geral os PCN‟s representam um avanccedilo no modo como trata do

tema pluralidade cultural No entanto as anaacutelises demonstraram que as tendecircncias

agrave homogeneizaccedilatildeo do curriacuteculo nacional ficam impliacutecitas no documento logo ele

recai em contradiccedilotildees pois reconhece a diversidade que existe no paiacutes mas insiste

em direcionar o trabalho da pluralidade a grupos especiacuteficos Neste caso negros e

indiacutegenas natildeo alcanccedilando realidades como a fronteiriccedila Assim acaba por deixar

de lado outros grupos

344 O Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute

O Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute (PEE-PR) de 2015 eacute fruto de um

processo que tem iniacutecio na Constituiccedilatildeo de 1988 que por meio do Art 22 inciso

XXIV estabelecia a elaboraccedilatildeo de uma Nova Lei de Diretrizes e Bases para

Educaccedilatildeo Sendo entatildeo criada em 1996 a LDB96 que delegou para estados

municiacutepios Uniatildeo e Distrito Federal ldquoaos entes federados fica a responsabilidade de

garantir os meios necessaacuterios para o acesso e permanecircncia de todos agrave educaccedilatildeo

puacuteblica e gratuitardquo (BRASIL 2014a)

Deste modo conforme o PEE-PR do Paranaacute a educaccedilatildeo foi estruturada em

planos decenais com o objetivo de

Articular o sistema nacional de educaccedilatildeo em regime de colaboraccedilatildeo e definir diretrizes objetivos metas e estrateacutegias de implementaccedilatildeo para assegurar a manutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensino em seus diversos niacuteveis etapas e modalidades por meio de accedilotildees integradas dos poderes puacuteblicos das diferentes esferas federativas (BRASIL 2014a p 15 apud PEE-PR 2015 p23)

As primeiras discussotildees do PNE comeccedilaram nas Conferecircncias Brasileiras de

Educaccedilatildeo (CBEs) nas deacutecadas de 1980 e 1990 Posteriormente estas conferecircncias

99

foram dando lugar para os Seminaacuterios Brasileiros de Educaccedilatildeo e as Conferecircncias

Nacionais de Educaccedilatildeo datadas da deacutecada de 1920 (PEE-PR 2015 p24) As

CBEs entre os anos de 1996 e 2004 foram substituiacutedas pelos Congressos

Nacionais de Educaccedilatildeo (Coned)(PARANAacute 2015)

O Plano Nacional de Educaccedilatildeo (PNE) foi aprovado pela primeira vez em 2001

pelo Congresso Nacional Brasileiro Em 2009 foi estabelecida a Conferecircncia

Nacional de Educaccedilatildeo (Conae) sendo um de seus objetivos o de mobilizar os

diversos setores da educaccedilatildeo brasileira a elaborarem um PNE correspondente ao

periacuteodo de 2011-2020 Assim apoacutes quatro anos de debates e de reelaboraccedilatildeo do

PNE a Lei Federal nordm 13005 de junho de 2014 instituiu o novo Plano composto

por 14 artigos e um anexo contendo 20 metas e estrateacutegias nacionais a serem

atingidas no periacuteodo de dez anos (PEE-PR 2015)

O documento base do PEE-PR na introduccedilatildeo apresenta as caracteriacutesticas

gerais da populaccedilatildeo paranaense Nela eacute destacada a presenccedila de diversas etnias e

nacionalidades que fazem parte da histoacuteria do estado e dada essa presenccedila a

educaccedilatildeo eacute uma instacircncia automaticamente atingida por essa diversidade

A populaccedilatildeo eacute formada por descendentes de povos europeus africanos ameriacutendios e indiacutegenas das etnias Guarani Kaingang e Xetaacute e por imigrantes procedentes principalmente dos estados do Rio Grande do Sul Santa Catarina Satildeo Paulo e Minas Gerais () Dessa forma esses grupos participaram na construccedilatildeo da cultura paranaense e muitos costumes oriundos dessas diferentes etnias ainda satildeo preservados em determinadas comunidades e se refletem na educaccedilatildeo paranaense (PEE-PR2015p 26)

Refletindo sobre estas caracteriacutesticas e atendendo agraves leis nordm 1063908 e

1164508 sobre a obrigatoriedade do ensino de histoacuteria e cultura afro-brasileira

africana e indiacutegena no curriacuteculo oficial dos estabelecimentos de ensino puacuteblico o

plano base possui as seguintes estrateacutegias

13 Orientar as instituiccedilotildees educacionais que atendem crianccedilas de zero a cinco anos a agregarem ou ampliarem em suas praacuteticas pedagoacutegicas cotidianas accedilotildees que visem ao enfrentamento da violecircncia sexual e a outros tipos de violecircncia agrave inclusatildeo e ao respeito agraves diversidades de toda ordem gecircnero eacutetnico-racial religiatildeo entre outros agrave promoccedilatildeo da sauacutede e dos cuidados agrave convivecircncia escolar saudaacutevel e ao estreitamento da relaccedilatildeo famiacutelia-crianccedila-instituiccedilatildeo ()18 Estabelecer programas em parceria com os municiacutepios para a oferta da educaccedilatildeo inclusiva nas comunidades indiacutegenas

100

quilombolas do campo e ciganas de acordo com suas especificidades (PEE-PR 2015 p64)

Conforme a finalidade no Plano este estabelece metas e estrateacutegias a serem

implementadas e consonacircncia com o Art8ordm contido no plano de educaccedilatildeo que

estabeleceu as seguintes estrateacutegias

I - asseguram a articulaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais com as demais poliacuteticas sociais particularmente as culturais II - consideram as necessidades especiacuteficas das populaccedilotildees do campo e das comunidades indiacutegenas quilombolas e demais grupos sociais singulares asseguradas a equidade educacional e a diversidade cultural (PEE-PR 2015 p2)

Chama atenccedilatildeo a especificidade do artigo oitavo que visa agrave articulaccedilatildeo das

poliacuteticas educacionais com as demais poliacuteticas sociais destacando principalmente a

questatildeo cultural Ao pensar nas particularidades educacionais encontradas em

regiotildees de fronteira internacional em Foz do Iguaccedilu onde a presenccedila de alunos

oriundos de outros paiacuteses eacute comum nas escolas seria pertinente que o tema

diversidade fosse ampliado Por exemplo no caso da presenccedila de alunos aacuterabes

(principalmente libaneses siacuterios e palestinos) nas escolas as diferenccedilas

manifestadas natildeo satildeo apenas linguiacutesticas Neste caso abarca tambeacutem a religiatildeo

(predominante o islatilde) os haacutebitos costumes vestuaacuterio alimentaccedilatildeo etc Neste

sentido propor poliacuteticas puacuteblicas que possibilitem a inclusatildeo desses alunos e natildeo a

exclusatildeo ou a desconsideraccedilatildeo das origens deste aluno eacute sem duacutevidas um grande

desafio

345 O Curriacuteculo da AMOP

Reduzindo o campo de anaacutelise da poliacutetica educativa para a regiatildeo oeste do

Paranaacute onde estaacute localizada a cidade de Foz do Iguaccedilu encontramos o curriacuteculo

baacutesico da Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do oeste do Paranaacute (AMOP) que na

introduccedilatildeo do documento baacutesico afirma que houve uma confusatildeo por parte das

escolas municipais que ao implementarem os PCN‟s nas escolas natildeo o utilizaram

como um paracircmetro Muitas o adotaram como curriacuteculo ou tornaram sua proposta

pedagoacutegica como ecleacutetica Assim os educadores da regiatildeo Oeste do Paranaacute

101

sentiram a necessidade de se rediscutir o curriacuteculo Para tal adotaram a seguinte

metodologia

Inicialmente a metodologia adotada nos colocou limites que avaliada apontou para uma nova organizaccedilatildeo Reorganizado um cronograma de trabalho coletivamente com as redes municipais de Ensino chegamos a este documento que eacute resultado de dois anos de intensos estudos de reflexotildees de embates teoacutericos de sistematizaccedilotildees de leituras de discussotildees e de anaacutelises do coletivo dos educadores os quais respeitando o movimento proacuteprio de cada rede e por sua vez de cada escola partiram de contribuiccedilotildees teoacutericas de alguns autores das experiecircncias e compreensotildees do que jaacute se fez ou se faz em nossas escolas (AMOP 2007 p07)

Os trabalhos para elaboraccedilatildeo de diretrizes curriculares para o oeste

paranaense comeccedilaram em 2005 juntamente com secretaacuterios municipais de

educaccedilatildeo do Oeste do Paranaacute Na primeira etapa foram organizados grupos de

trabalho para elaboraccedilatildeo de propostas para as disciplinas de Liacutengua

PortuguesaAlfabetizaccedilatildeo Matemaacutetica Histoacuteria Geografia e Ciecircncias Assim as

atividades comeccedilaram a partir de seminaacuterio com representantes das equipes de

ensino das secretarias municipais de educaccedilatildeo

No qual se discutiu sobre a concepccedilatildeo de homem de sociedade de conhecimento e sobre a funccedilatildeo da escola Participaram do evento aproximadamente 380 representantes (AMOP 2007 p25)

Os trabalhos seguiram no decorrer do ano de 2005 mediante reuniotildees dos

grupos junto aos profissionais da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo (SEED) que

atuaram na elaboraccedilatildeo das diretrizes para as escolas estaduais do Paranaacute O

Departamento Pedagoacutegico da AMOP integrou-se ao grupo como tambeacutem os

educadores da educaccedilatildeo baacutesica e instituiccedilotildees de ensino superior Posteriormente

abriram-se as discussotildees para toda regiatildeo a fim de compreender as primeiras

impressotildees da versatildeo preliminar do documento

A partir desse processo houve a reelaboraccedilatildeo desse documento que reelaborado a partir das contribuiccedilotildees dos educadores dos municiacutepios envolvidos tornou-se o ponto de partida para a elaboraccedilatildeo do curriacuteculo A construccedilatildeo do curriacuteculo foi feita por meio de um processo que desencadeou discussotildees preacutevias com os representantes dos municiacutepios sistematizaccedilatildeo dessas discussotildees por um grupo menor discussatildeo e anaacutelise dessa sistematizaccedilatildeo pelo conjunto de educadores de cada municiacutepio que tinha suas

102

contribuiccedilotildees registradas pelos seus representantes (AMOP 2007 p26)

A partir de entatildeo elaborado o curriacuteculo no que confere agraves questotildees da

diversidade a partir da realidade em Foz do Iguaccedilu foram identificados nas

diretrizes propostas para o ensino de Geografia e Histoacuteria componentes que

trabalham com a questatildeo da diversidade nas escolas Os conteuacutedos referentes ao

ensino da Geografia estatildeo nas seguintes proposiccedilotildees para o 5ordm ano

Caracteriacutesticas sociais ndash diversidades eacutetnicas e culturais do Paranaacute

Movimentos da populaccedilatildeo paranaense crescimento da populaccedilatildeo

Divisatildeo poliacutetica (formaccedilatildeo do conceito de distritomuniciacutepioestadopaiacutes)

A industrializaccedilatildeo e o crescimento urbano do Paranaacute ndash malha urbana

Tracircnsito - circulaccedilatildeo no estado ndash ligaccedilatildeo rodoviaacuteria ferroviaacuteria aeacuterea - vias pedagiadas ndash Fiscalizaccedilatildeo Poliacutecia Rodoviaacuteria e pesagem

Organizaccedilatildeo dos espaccedilos urbanos ndash problemas urbanos - centro e periferia Impostos e taxas pagamentos que financiam a infra-estrutura dos bens puacuteblicos (AMOPE 2007 p252-253)

Sobre os conteuacutedos propostos no AMOP (2007) o ensino de geografia propotildee que

as diversidades eacutetnicas e culturais presentes no Paranaacute sejam parte do conteuacutedo a

ser desenvolvido em sala de aula Tambeacutem a histoacuteria dos processos migratoacuterios

para o estado e a presenccedila dos diferentes grupos eacutetnicos que formam parte da

histoacuteria de formaccedilatildeo do Paranaacute (AMOP 2007)

Neste sentido a proposta da AMOP se aproxima da LDB96 e dos proacuteprios

PCN‟s que tratam da diversidade cultural com a diferenccedila de que ele eacute destinado

para a rede municipal de educaccedilatildeo do Oeste paranaense Nesta perspectiva haacute um

vieacutes positivo na medida em que delimita o oeste paranaense adotando o enfoque da

diversidade eacutetnico-racial o que permite maior aproximaccedilatildeo com a realidade do

aluno

103

346 Algumas consideraccedilotildees

Diante do exposto considerando os documentos analisados percebe-se que

haacute uma induccedilatildeo clara para que o trabalho pedagoacutegico com a temaacutetica da

diversidade esteja fundada na noccedilatildeo29 presente na Constituiccedilatildeo de 1988 de que o

Brasil sendo formado por trecircs raccedilas - o iacutendio o branco e o negro- deve considerar

essas e reconhececirc-las nos espaccedilos educacionais A LDB96 reafirma esses

propoacutesitos no artigo 26 Os PCN‟spor sua vez se adequa a LDB06 principalmente

com a criaccedilatildeo dos Temas Transversais

No plano estadual as poliacuteticas educacionais para diversidade natildeo ficam

distantes das propostas em niacutevel nacional pois devem obrigatoriamente seguir os

componentes das diretrizes nacionais Desse modo natildeo foi evidenciado nessas

poliacuteticas mecanismos que subsidiassem as escolas presentes em fronteira neste

caso Foz do Iguaccedilu com estrateacutegias para criar programas e projetos para a

diversidade Do mesmo modo podemos falar dos planos nacionais e estaduais de

educaccedilatildeo Por mais que enfatizem o trabalho pedagoacutegico conforme a realidade

local eles natildeo deixam de pensar no nacional Outro problema eacute a imposiccedilatildeo dessas

poliacuteticas puacuteblicas e os PCN‟s satildeo um exemplo de uma proposta vertical assim

como inuacutemeros projetos que chegam agrave escola sem uma preacutevia discussatildeo com as

bases que seriam as comunidades escolares

Desse modo o que pode ser feito nas escolas eacute uma adaptaccedilatildeo agrave realidade

local Todas essas poliacuteticas educativas chegam agrave regiatildeo da fronteira mas natildeo

atingem suas especificidades Por especificidades recordamos tratar-se da

presenccedila dos alunos estrangeiros nas escolas de Foz do Iguaccedilu a saber

paraguaios argentinos e brasiguaios que satildeo grupos que fizeram e fazem parte da

histoacuteria da cidade desde o seu iniacutecio mas ao mesmo tempo natildeo satildeo preocupaccedilatildeo

do Estado brasileiro devendo ser uma preocupaccedilatildeo de seus Estados Nacionais

Nesta loacutegica as escolas da regiatildeo natildeo foram criadas a partir da realidade

fronteiriccedila O multilinguismo eacute desconsiderado O Estado por meio da legislaccedilatildeo

impotildee o portuguecircs enquanto liacutengua oficial Falar de diversidade eacute possiacutevel desde

29

Pires-Santos e Cavalcanti (2008) definem o monolinguismo como um a adoccedilatildeo de uma

liacutengua homogecircnea pura uma liacutengua para um povo Trata-se na concepccedilatildeo das autoras de um mito ligado a interesses e investida de ideologia e que estaacute relacionado agrave nacionalidade

104

que seja referente aos grupos presentes no territoacuterio brasileiro que foram

historicamente colocados agrave margem da sociedade Logo 1) Seraacute que as nossas

escolas disponibilizam de tempo espaccedilo e interesse para desenvolver trabalhos de

combate ao preconceito contra o paraguaio chamado em momentos de ofensas de

xiru 2) E quanto agrave presenccedila aacuterabe na regiatildeo ela eacute discutida Como eacute a acolhida

destes na escola 3) O professor se sente preparado para lidar com estas questotildees

em sala de aula

Tais perguntas apresentadas acima foram motivadas a partir do pressuposto

de que temos um curriacuteculo nacional com raiacutezes eurocecircntricas conforme Tomaz

Tadeu da Silva (2007 p7) o curriacuteculo natildeo eacute neutro este ldquotransmite visotildees sociais

particulares e interessadas o curriacuteculo produz identidades individuais e sociais

particularesrdquo Por muito tempo a histoacuteria dos negros e indiacutegenas eram abordadas de

modo superficial por outro lado a histoacuteria antiga e recente da Europa sempre se fez

presente em nossos livros didaacuteticos Desconhecemos a Ameacuterica Latina seus povos

e histoacuteria logo desconhecemos os que fazem fronteira com o Brasil Squinelo

(2011) no artigo ldquoRevisotildees Historiograacuteficas A Guerra do Paraguai nos livros

didaacuteticos brasileiros-PNLD 2011rdquo ao analisar a histoacuteria da Guerra da Triacuteplice Alianccedila

presente nos livros didaacuteticos do Brasil aponta que pouco se discute considera a

versatildeo falha tendenciosa e conclui seu artigo com os seguintes questionamentos

Resta-me ainda algumas duacutevidas em relaccedilatildeo ao porquecirc entatildeo estudamos a Guerra do Paraguai na medida em que a) natildeo procuramos entender o sentido para os paiacuteses nela envolvidos b) natildeo buscamos a compreensatildeo de nosso desenvolvimento histoacuterico-soacutecio-cultural e econocircmico c) natildeo realizamos as conexotildees necessaacuterias ao entendimento das questotildees relacionadas ao Mercosul e finalmente d) natildeo propiciamos ao educando a compreensatildeo dos eventos histoacutericos de nosso passado latino-americano o que nos levaria a nos conhecer e a conhecer o outro e tambeacutem responderia muitas questotildees postas em nosso presente (SQUINELO 2011p 36)

35 O Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles um exemplo de poliacutetica

educacional para a fronteira

Dentro das poliacuteticas educacionais encontram-se outras variaacuteveis de poliacuteticas

dentre elas a poliacutetica linguiacutestica definida por Oliveira (2004 p38) como ldquoum o

conjunto de decisotildees que um grupo de poder sobretudo um Estado (mas tambeacutem

105

uma Igreja ou outros tipos de instituiccedilotildees de poder menos totalizantes) toma sobre o

lugar e a forma das liacutenguas na sociedade e a implementaccedilatildeo destas decisotildeesrdquo

Para Maher (2013 p 119) as poliacuteticas linguiacutesticas se referem aos objetivos e

agraves intervenccedilotildees que de uma forma ou outra visam ldquoafetarrdquo tanto o modo como as

liacutenguas se constituem quanto os modos como elas satildeo utilizadas eou transmitidas

A autora chama atenccedilatildeo para o equiacutevoco comumente difundido de que as poliacuteticas

lingusticas seriam apenas criadas por meio do governo ldquoPoliacuteticas linguumliacutesticas podem

ser arquitetadas e colocadas em accedilatildeo localmente uma escola ou uma famiacutelia pode

colocar em praacutetica ou estabelecer certa situaccedilatildeo sociolinguumliacutesticardquo (MAHER 2013

p120)

Essa perspectiva vai ao encontro da abordagem30 multicecircntrica ou policecircntrica

de poliacuteticas puacuteblicas que aleacutem de considerar o Estado inclui outras instacircncias como

protagonistas no estabelecimento de poliacuteticas puacuteblicas tais como as organizaccedilotildees

natildeo governamentais organizaccedilotildees privadas e organismos (DROS 1971

KOOIMAN 1993 RHODES 1997 HAJER 2003 apud SECCHI 2013) Nessa

premissa o PEIBF se enquadra na visatildeo multicecircntrica dos estudos de poliacuteticas

puacuteblicas uma vez que foi fruto de acordos bilaterais iniciados pela Argentina e o

Brasil no acircmbito do Mercado Comum do Sul (Mercosul)

O Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles de Fronteira (PEIBF) surgiu

dentro do oacutergatildeo pertencente ao Mercosul denominado Setor Educacional do

Mercosul (SEM) Segundo o documento ldquoEscolas de Fronteirardquo (BRASIL 2008) dos

antecedentes desse projeto encontra-se a oficializaccedilatildeo da criaccedilatildeo do MERCOSUL

em 1991 instituiccedilatildeo intergovernamental que nasceu com a assinatura do Tratado de

Assunccedilatildeo acordados inicialmente entre Argentina Brasil Paraguai e Uruguai

O bloco econocircmico Mercosul apresenta-se em um contexto de globalizaccedilatildeo

da economia O projeto teve como base as negociaccedilotildees entre Brasil e Argentina

30

Dentro das analises de poliacuteticas puacuteblicas Secchi (2013) discorre sobre o noacute conceitual que haacute na

literatura especializada nos estudos de poliacuteticas puacuteblicas Alguns pesquisadores defendem a abordagem estatista que considera as PP analiticamente monopoacutelio de atores estatais Outros a abordagem multicecircntrica que aleacutem de considerar o Estado inclui outras instacircncias como protagonistas no estabelecimento de poliacuteticas puacuteblicas

106

para a integraccedilatildeo de suas economias e os resultados positivos dessa integraccedilatildeo

levaram o Paraguai e o Uruguai a fazerem parte do projeto integracionista

O objetivo inicial do Mercosul fora a integraccedilatildeo dos quatros Estados

membros em termos de circulaccedilatildeo de bens e serviccedilos e de fatores produtivos da

formulaccedilatildeo de poliacutetica comercial comum da afirmaccedilatildeo de uma Tarifa Externa

Comum (TEC) e da busca por poliacuteticas legislativas comum aos paiacuteses membros Em

2012 a Venezuela tornou-se oficialmente mais um paiacutes membro do bloco e a Boliacutevia

caminha para o processo de ordenamento juriacutedico para oficializar sua participaccedilatildeo

Aleacutem disso o mercado comum conta com a participaccedilatildeo de paiacuteses associados

Chile Peru Colocircmbia Equador Guiana e Suriname

No final do seacuteculo passado o Mercosul passava por outro lado por crises do

ponto de vista comercial as dimensotildees poliacutetica sociocultural e educacional foram

ganhando relevacircncia (ALMEIDA 2015) Este periacuteodo de crise refere-se aos

impactos das poliacuteticas neoliberais implantadas na regiatildeo no decorrer das deacutecadas

de 1980 e 1990 O nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de pobreza passou de 136

milhotildees em 1980 para 222 milhotildees em 2004 (ESTAY 2007) Neste contexto de crise

econocircmica e aumento das desigualdades sociais que foi assinada a ldquoCarta de

Buenos Aires sobre o Compromisso Social no Mercosul Boliacutevia e Chile31rdquo no dia 30

de junho de 2000 A carta reconhece a importacircncia da dimensatildeo sociocultural do

Mercosul

Com a entrada de governos progressistas como a eleiccedilatildeo de Luiacutes Inaacutecio Lula

da Silva em 2003 e de Neacutestor Kircher na Argentina a funccedilatildeo do Mercosul enquanto

bloco meramente de integraccedilatildeo econocircmica foi revista e acrescida pelas dimensotildees

sociais para a integraccedilatildeo regional Desse modo a aacuterea social do Mercosul que

havia sido abordada na ldquoCarta de Buenos Airesrdquo e pela criaccedilatildeo da Reuniatildeo de

Ministros e Autoridades de Desenvolvimento Social do Mercosul foi expandida e

institucionalizada com a criaccedilatildeo do Instituto Mercosul Social (IMS) em 2007

(ALMEIDA 2015)

31

Em junho de 2000 os presidentes aprovaram a Carta de Buenos Aires com o Compromisso

Social no Mercosul Boliacutevia e Chile O documento estimula as autoridades competentes a ldquofortalecer o trabalho conjunto entre os seis paiacuteses assim como o intercacircmbio de experiecircncias e informaccedilotildees a fim de contribuir para a superaccedilatildeo dos problemas sociais mais agudos que os afetam e para definir os temas ou aacutereas onde seja viaacutevel uma accedilatildeo coordenada ou complementar para solucionaacute-los (BRASIL 2007 p25) Dentre as accedilotildees promovidas a partir da Carta encontra-se a criaccedilatildeo da Reuniatildeo de Ministros e Autoridades de Desenvolvimento Social do Mercosul instituiacuteda pela Decisatildeo n 612000 do CMC (ALMEIDA 2015p24)

107

A estrutura organizacional do Mercosul eacute composta pelo Conselho Mercado

Comum (CMC) Grupo Mercado Comum Comissatildeo Parlamentar Foro Consultivo

Econocircmico-Social Comissatildeo de Comeacutercio do Mercosul e Secretaria Administrativa

do Mercosul O CMC eacute responsaacutevel pela criaccedilatildeo da Reuniatildeo de Ministros da

Educaccedilatildeo (RME) principal responsaacutevel pela estrutura do Setor educacional do

Mercosul (SEM) (MERCOSUL EDUCACIONAL 2013) Dentre os objetivos

estrateacutegicos para a educaccedilatildeo do SEM estaacute agrave integraccedilatildeo e formaccedilatildeo de uma

identidade regional Tem como objetivo ser um espaccedilo regional no qual a educaccedilatildeo

seja de qualidade fundada no ldquoconhecimento intercultural o respeito agrave diversidade e

agrave cooperaccedilatildeo solidaacuteriardquo de modo a contribuir para a democratizaccedilatildeo dos sistemas

educacionais da regiatildeo (MERCOSUL 2011 p15) Da missatildeo definida pelo SEM

encontra-se a de

Formar um espaccedilo educacional comum por meio da coordenaccedilatildeo de poliacuteticas que articulem a educaccedilatildeo com o processo de integraccedilatildeo do MERCOSUL estimulando a mobilidade o intercacircmbio e a formaccedilatildeo de uma identidade e cidadania regional com o objetivo de alcanccedilar uma educaccedilatildeo de qualidade para todos com atenccedilatildeo especial aos setores mais vulneraacuteveis em um processo de desenvolvimento com justiccedila social e respeito agrave diversidade cultural dos povos da regiatildeo (MERCOSUL EDUCACIONAL 2011 p10)

No acircmbito do SEM encontra-se o Comitecirc Coordenador Regional cuja funccedilatildeo eacute

propor poliacuteticas de integraccedilatildeo e cooperaccedilatildeo da aacuterea educacional Uma vez

estabelecidas como liacutenguas oficiais do MERCOSUL o espanhol guarani e

portuguecircs coube ao setor educativo do bloco enfatizar em seu plano de accedilatildeo a

necessidade de difundir o ensino de portuguecircs e do espanhol por meio dos

sistemas educativos formais e informais

Como parte desse processo o Setor Educacional do Mercosul ndash SEM aponta nos seus planos de accedilatildeo a necessidade de difundir o aprendizado do portuguecircs e do espanhol por meio dos sistemas educacionais formais e natildeo formais considerando como aacutereas prioritaacuterias o fortalecimento da identidade regional levando dessa forma ao conhecimento muacutetuo a uma cultura de integraccedilatildeo e agrave promoccedilatildeo de poliacuteticas regionais de formaccedilatildeo de recursos humanos visando agrave melhoria da qualidade da educaccedilatildeo (BRASIL 2008 p 6)

351 Do processo de elaboraccedilatildeo

Conforme Secchi (2013) a tomada de decisatildeo no momento de se propor uma

poliacutetica puacuteblica eacute uma etapa em que os interesses dos atores satildeo equacionados

108

onde as razotildees de um problema puacuteblico satildeo explicitadas Nessa fase a equipe

bilateral de teacutecnicos e linguistas argentinos e brasileiros foram requeridos para

formular o projeto a fim de atender agraves expectativas dos dois paiacuteses Assim o projeto

proposto pela equipe teve como intuito promover as liacutenguas espanhola e portuguesa

atraveacutes do ensino biliacutengue e atraveacutes de intercacircmbios culturais entre Argentina e

Brasil

352 Do processo para implementaccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica

Para O‟Tolle Jr (2003 apud Secchi 2003p55 ) ldquoa fase de implementaccedilatildeo eacute

aquela em que regras rotinas e processos sociais satildeo convertidos de intenccedilotildees em

accedilotildeesrdquo Dos elementos baacutesicos para anaacutelise desse processo encontram-se

() pessoas e organizaccedilotildees com interesses competecircncias e comportamentos variados () tambeacutem fazem parte de processo as relaccedilotildees existentes entre as pessoas as instituiccedilotildees vigentes (regras formais e informais) os recursos financeiros materiais informativos e poliacuteticos (capacidade de influecircncia) (SECCHI 2013 p57)

Nesta perspectiva o Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles de Fronteira

foi implementado inicialmente em 2005 nas cidades brasileiras de Dioniacutesio

Cerqueira no estado de Santa Catarina e Uruguaiana no Rio Grande do Sul Do

lado argentino as cidades que aderiram ao programa foram Bernado de Irogoyen

em Misiones e Paso de los Libres em Corrientes O programa foi implantado pelo

Governo Federal brasileiro por meio da Coordenaccedilatildeo de Formaccedilatildeo Continuada do

Departamento de Poliacuteticas de Educaccedilatildeo Infantil e do Ensino Fundamental da

Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica32 em conjunto com o Ministeacuterio de la Educaciacuteon

Ciencia y Tecnologia (MEC y T) da Argentina A partir de 2006 o programa

estendeu-se para outras regiotildees de fronteira sendo elas Puerto Iguazuacute em

Misiones e Santo Tomeacute e La Cru e Corrrientes na Argentina e Foz do Iguaccedilu no

Paranaacute e Satildeo Borja e Itaqui no Rio Grande do Sul

Desde o primeiro momento algumas questotildees sobre sua origem foram

criticadas Sagaz (2013) aponta que o MEC natildeo apresentou o PEIBF oficialmente

como um Programa Temaacutetico ou um Projeto proposto e aprovado em Plano Pluri

32

O PEIF eacute de responsabilidade da Coordenaccedilatildeo Geral de Ensino Fundamental (COEF) na Diretoria

de Curriacuteculos e Educaccedilatildeo Integral - (DICEI) da Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica (SEB) no MEC

109

Anual (PPA) Para o autor natildeo era intenccedilatildeo do poder legislativo discutir os

orccedilamentos ldquotampouco eacute uma accedilatildeo de governo no que diz respeito agraves suas

diretrizes poliacuteticas uma vez que o oacutergatildeo competente natildeo solicitou a formalizaccedilatildeo

dos recursos junto ao PPArdquo (SAGAZ 2013 p 43) Isto manteve o PEIBF ateacute 2010

distante da prioridade e discussatildeo por parte do governo se comparado a outros

Programas e Projetos

O processo de implementaccedilatildeo comeccedilou no ano de 2004 com a primeira

reuniatildeo de planejamento No mesmo ano na cidade de Dioniacutesio Cerqueira ocorreu

uma reuniatildeo para instituir o programa na escola eleita Dentre as instituiccedilotildees

presentes encontravam-se o Instituto de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento em

Poliacutetica Linguiacutestica (IPOL) a 30ordf Gerecircncia Regional de Educaccedilatildeo e Inovaccedilatildeo

(GEREI) e o MECyT

A escola brasileira escolhida para a implementaccedilatildeo do projeto foi a Dr

Theodureto Carlos de Faria Souto A escola possui uma localizaccedilatildeo estrateacutegica pois

estaacute a aproximadamente dois quilocircmetros do posto da Receita Federal na fronteira

BrasilArgentina ldquoPode-se ir caminhando da escola ateacute o outro paiacutes sem nenhum

impedimento em relaccedilatildeo agraves vias de acesso e em relaccedilatildeo ao posto alfandegaacuteriordquo

(SAGAZ 2013 p77) Nela ocorreu a primeira reuniatildeo com os pais dos estudantes

em fevereiro de 2005 De acordo com a equipe teacutecnica a implementaccedilatildeo do PEIBF

deveria ser gradual a comeccedilar com a inclusatildeo das seacuteries iniciais do ensino

fundamental no projeto para posteriormente incluir as demais seacuteries A ampliaccedilatildeo

do projeto para todas as seacuteries da educaccedilatildeo baacutesica de uma soacute vez poderia causar

transtornos dada a necessidade de adequaccedilatildeo dos sistemas locais de educaccedilatildeo agrave

sua estrutura (BRASIL 2008)

As seacuteries escolhidas para o projeto foram o primeiro e segundo ano do ensino

fundamental A estrutura operacional e a tentativa de avanccedilar nas seacuteries iniciais do

ensino fundamental para os anos finais segundo a relatoria tornaram-se inviaacuteveis

pela falta de entendimento pedagoacutegico entre Argentina e Brasil (BRASIL 2008) Em

2006 os ministeacuterios dos paiacuteses envolvidos no PEIBF comeccedilaram a formular um

documento com diretrizes para todas as escolas em zonas de fronteiras envolvidas

no projeto intitulado ldquoModelo de ensino comum em escolas de zona de fronteira a

partir do desenvolvimento de um programa para a educaccedilatildeo intercultural com

ecircnfase no ensino do portuguecircs e do espanholrdquo Em 2012 o documento baacutesico foi

reelaborado contando com a contribuiccedilatildeo do Uruguai e Paraguai O nome do

110

documento passou a ser Modelo de ensentildeanza comuacuten em escuelas de zona de

frontera a partir del desarrollo de un programa para la educacioacuten intercultural com

eacutenfasis em la ensentildeanza de latildes lenguas predominantes en la regioacuten (MERCOSUL

EDUCACIONAL 2014)

Segundo o documento inicial do programa a projeccedilatildeo pretendida era de que

a cada ano fosse ampliado o nuacutemero de turmas envolvidas e que se avanccedilasse para

as proacuteximas seacuteries de modo que os alunos que fazera parte do programa pudesse

adquirir a familiarizaccedilatildeo com a cultura do paiacutes vizinho

O Programa tem por metodologia o intercacircmbio docente e as escolas satildeo as

responsaacuteveis por organizar os quadros dos professores que iratildeo fazer parte das

chamadas escolasespelhos (unidades baacutesicas de trabalho atuando como uma

unidade operacional)

Esta forma permite aos docentes dos paiacuteses envolvidos vivenciarem eles mesmos na sua atuaccedilatildeo e nas suas rotinas semanais praacuteticas de bilinguumlismo e de interculturalidade semelhantes agraves que querem construir com os alunos na medida em que se expotildeem agrave vivecircncia com seus colegas do outro paiacutes e com as crianccedilas das vaacuterias seacuteries com as quais atuam (BRASIL 2008 p21)

353 Avaliaccedilatildeo da Poliacutetica Puacuteblica- Primeiros impactos do PEIBF

De acordo com Leite e Flexor (2006) a avaliaccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica

consiste em verificar os efeitos atribuiacutedos agrave accedilatildeo do governo tendo portanto um

caraacuteter normativo Os autores afirmam que os avaliadores agem em funccedilatildeo de

quadros de referecircncia com valores e normas incluindo a percepccedilatildeo que devem ser

considerados nesse processo

A dificuldade dessa fase reside tambeacutem no fato de que os resultados efetivos satildeo relativamente independentes das expectativas iniciais Aleacutem disso as aspiraccedilotildees podem mudar no decorrer do percurso outros problemas podem surgir os objetivos satildeo geralmente ambiacuteguos e causas externas podem explicar os resultados Em outras palavras natildeo existe causalidade uniacutevoca (LEITE FLEXOR 2006 p 11)

Para Secchi (2013) existem alguns modelos diferenciados de avaliaccedilatildeo Haacute

aquelas que ocorrem anterior agrave implementaccedilatildeo (ex ante) e a avaliaccedilatildeo posterior agrave

implementaccedilatildeo (ex post) Existe tambeacutem a avaliaccedilatildeo que ocorre durante o processo

de implementaccedilatildeo cujo objetivo eacute a busca de ajustes imediatos O referido autor

111

elenca os principais criteacuterios utilizados para avaliaccedilotildees sendo eles economicidade

produtividade eficiecircncia econocircmica eficiecircncia administrativa eficaacutecia e equidade

O documento preliminar -Programa Escolas Biliacutenguumles de Fronteira - Modelo

de ensino comum em escolas de zona de fronteira a partir do desenvolvimento de

um programa para a educaccedilatildeo intercultural com ecircnfase no ensino do portuguecircs e

do espanholrdquo ( MEC y T MEC2008) busca analisar os primeiras experiecircncias do

projeto Nesse sentido trata-se de uma avaliaccedilatildeo que ocorreu durante o processo

de implementaccedilatildeo Dentre as consideraccedilotildees feitas nessa primeira etapa encontram-

se

- Do repertoacuterio linguumliacutestico das crianccedilas Apoacutes alguns meses do estabelecimento do

programa as professoras envolvidas evidenciaram que as crianccedilas argentinas

tinham maior familiaridade com a liacutengua portuguesa enquanto as crianccedilas

brasileiras tiveram dificuldades para assimilar o espanhol

As crianccedilas argentinas jaacute satildeo em algum niacutevel biliacutengues entendem razoavelmente bem a liacutengua portuguesa e muitas a falam com facilidade Isso se deve ao fato de que muitos satildeo descendentes de brasileiros Aleacutem disso tecircm uma maior exposiccedilatildeo agrave liacutengua atraveacutes da miacutedia maior frequecircncia de estadia no Brasil e eventualmente em consequecircncia destes fatores nota-se uma maior disponibilidade da populaccedilatildeo argentina de fronteira para o aprendizado do portuguecircs (MECy T MEC 2008 p 13)

Neste periacuteodo identificou-se uma necessidade de promover uma ldquosensibilizaccedilatildeo

linguumliacutesticardquo de modo que as crianccedilas brasileiras pudessem querer aprender a liacutengua

espanhola Para tal sensibilizaccedilatildeo a praacutetica intercultural eacute fundamental assinala o

documento

Da necessidade de Intercacircmbio entre alunos Verificou-se que aleacutem do

intercacircmbio entre professores houve a demanda por intercacircmbio entre os alunos

No entanto esse processo eacute mais complexo de ser executado haja vista que haacute

empecilhos como a documentaccedilatildeo das crianccedilas para entrada em outro paiacutes As

crianccedilas brasileiras e argentinas soacute podem realizar a travessia com uma

documentaccedilatildeo assinada pelos pais autorizando sua travessia

Da carga horaacuteria das escolas Como satildeo secretarias educacionais e paiacuteses

distintos um modelo uacutenico para sua execuccedilatildeo eacute praticamente improvaacutevel Essa

112

pauta foi discutida na equipe quando foram elaborados trecircs modelos de

organizaccedilatildeo das escolas envolvidas

Escola em Tempo Integral (Jornada Completa) Nesse modelo os alunos

possuem pelo menos dois dias de aula de liacutengua estrangeira e uma carga

horaacuteria total de 6 horas semanais Como a escola eacute de tempo integral os

alunos podem ter outras atividades destinados agrave educaccedilatildeo biliacutengue

Escola em Contra-Turno eacute semelhante agrave escola de Tempo Integral mas

neste caso apenas em um dos turnos haacute o ensino biliacutengue

Escola em Turno Uacutenico em dois dias da semana os trabalhos do programa

escolas biliacutengues satildeo realizados dentro do proacuteprio turno num total de cinco

horas semanais

Entre os modelos apresentados acima o primeiro eacute o da escola Dioniacutesio

Cerqueira e Bernado Yrigoyen o segundo aplica-se a Foz do Iguaccedilu e Puerto

Iguazuacute o terceiro modelo encontra-se presente em Uruguaina Verificou-se que o

trabalho desenvolvido nas escolas de turno uacutenico possui em sua base curricular o

segundo idioma enquanto o trabalho em contra-turno jaacute assimila as atividades do

programa como atividade extra-curricular o que natildeo eacute o objetivo do PEIBF O

melhor turno para se desenvolver o programa eacute o Turno Uacutenico pois natildeo interfere na

rotina da escola nem na estrutura fiacutesica ou mesmo na contrataccedilatildeo de mais

funcionaacuterios ou aumento da carga horaacuteria dos professores envolvidos (BRASIL

2008)

A escola em contra-turno amplia o periacuteodo de permanecircncia do aluno na

instituiccedilatildeo uma estrateacutegia vaacutelida e uacutetil para o processo de aprendizagem do aluno

Conforme o documento de implantaccedilatildeo as experiecircncias aqui expostas somadas

aos debates nas reuniotildees das equipes de trabalho bilaterais e no decorrer dos

encontros de formaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo requerem a formulaccedilatildeo de um novo modelo

para o Programa para que se possa refletir e dar respostas as peculiaridades das

escolas interculturais biliacutenguumles (BRASIL 2008)

A partir de 2012 o PEIBF por meio da Portaria nordm 798 de 19 de junho de

2012 do Diaacuterio Oficial da Uniatildeo passou a se chamar Programa Escolas

Interculturais de Fronteira (PEIF)

113

Art 1ordm Fica instituiacutedo o Programa Escolas Interculturais de Fronteira (PEIF) com o objetivo de contribuir para a formaccedilatildeo integral de crianccedilas adolescentes e jovens por meio da articulaccedilatildeo de accedilotildees que visem agrave integraccedilatildeo regional por meio da educaccedilatildeo intercultural das escolas puacuteblicas de fronteira alterando o ambiente escolar e ampliando a oferta de saberes meacutetodos processos e conteuacutedos educativos sect 1ordm As Escolas Interculturais de Fronteira satildeo as escolas puacuteblicas Estaduais e Municipais situadas na faixa de fronteira e instruiacutedas pelo Modelo de ensino comum de zona de fronteira a partido desenvolvimento de um Programa para a educaccedilatildeo interculturalcom ecircnfase no ensino do portuguecircs e do espanhol da Declaraccedilatildeo Conjunta de Brasiacutelia firmada em 23 de novembro de 2003 pela Argentina e pelo Brasil e do Plano de Accedilatildeo do Setor Educativo do MERCOSUL (BRASIL 2012)

Pela mesma portaria criou-se o documento ldquoMarco Referencial de Desenvolvimento

Curricularrdquo o qual tem como objetivo central apresentar orientaccedilotildees comuns a serem

desenvolvidos pelas escolas envolvidas Entre os eixos organizadores encontram-

se

Eixo 1 - Funcionamento do Programa na escola

a) o envolvimento de toda a escola b) a definiccedilatildeo de metodologias dos projetos de aprendizagem c) a construccedilatildeo do projeto poliacutetico pedagoacutegico da escola intercultural (planejamento conjunto das accedilotildees) e regimento escolar d) considerar as especificidades curriculares e socioculturais das comunidades do campo indiacutegena e quilombola e) dinamizaccedilatildeo do relacionamento com escola do paiacutes vizinho definindo um plano de accedilatildeo conjunto para a realizaccedilatildeo do intercacircmbio docente aleacutem de outras accedilotildees que promovam a interculturalidade estendendo-se a todos os anos de escolarizaccedilatildeo da escola f) utilizaccedilatildeo das tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo disponiacuteveis e necessaacuterias Eixo 3 - Formaccedilatildeo continuada dos profissionais da educaccedilatildeo baacutesica sob a coordenaccedilatildeo das Universidades

a) compor o grupo local formado por Coordenador-geral do PEIF Coordenador-adjunto de Educaccedilatildeo Integral Supervisor de Articulaccedilatildeo e Acompanhamento Pedagoacutegico (secretaria de educaccedilatildeo) Pesquisadores Professores Formadores (universidade) Professor Formador (coordenador pedagoacutegico ou diretor da escola) Tutor agrave distacircncia (universidade) Tutor presencial eou PIBID (universidade para acompanhamento pedagoacutegico na escola) b) promover a articulaccedilatildeo no espaccedilo da Universidade entre educaccedilatildeo integral e interculturalidade c) articular-se com o comitecirc gestor de recursos financeiros de sua

114

instituiccedilatildeo d) ofertar accedilotildeescursos de aperfeiccediloamento e) contribuir para o repositoacuterio dos materiais de formaccedilatildeo f) agilizar os procedimentos de afastamento do paiacutes (tracircmite interno das IES) g) definir arranjos que permitam realizar formaccedilotildees dentro das regiotildees de fronteira nos municiacutepios h) elaborar produtos finais resultantes de cada moacutedulo de formaccedilatildeo conjunta com outros paiacuteses i) articular as accedilotildees do PEIF com o Programa Institucional de Bolsa de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia (PIBIDCAPESMEC) e com o Programa Novos Talentos (CAPESMEC) j) induzir a inclusatildeo da temaacutetica interculturalidade na perspectiva da educaccedilatildeo integral na formaccedilatildeo inicial dos cursos de licenciatura e poacutes-graduaccedilatildeo e na pesquisa acadecircmica k) promover o uso das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo realizar o diagnoacutestico sociolinguiacutestico das comunidades participantes do PEIF

Dentre os princiacutepios expostos acima destaca-se a participaccedilatildeo das

universidades o que abre espaccedilo para o desenvolvimento de pesquisas da criaccedilatildeo

de novas metodologias e de avaliaccedilotildees do projeto e da formaccedilatildeo docente numa

perspectiva intercultural O entendimento de interculturalidade do Programa eacute

() nesse caso ativa a escola seraacute intercultural na medida em que haja a participaccedilatildeo efetiva de profissionais e de alunos das diversas culturas envolvidas na comunidade educacional (e que natildeo satildeo soacute bdquoduas‟ a cultura argentina e a cultura brasileira o que corresponderia a pensaacute-las como unidades homogecircneas) em todas as instacircncias de convivecircncia que satildeo proacuteprias da instituiccedilatildeo escolar (BRASIL ARGENTINA 2008 p 26)

O Boletim produzido pela publicaccedilatildeo Salto para o Futuro que complementa

as ediccedilotildees televisivas da TV Escola do Ministeacuterio da educaccedilatildeo em sua primeira

ediccedilatildeo de 2014 apresentou o tema das Escolas Interculturais Biliacutenguumles de Fronteira

A professora Eliana Rosa Sturza coordenadora do Programa das Escolas

Interculturais de Fronteira na Universidade Federal de Santa Maria e do Laboratoacuterio

Entre liacutenguas da Universidade Federal de Sergipe relata as experiecircncias e

aprendizados do programa em diferentes cidades localizadas na fronteira

A proposta metodoloacutegica foi analisada por Sturza (2010 2014) enfocando a

experiecircncia das crianccedilas brasileiras em Uruguaiana no Rio Grande do Sul cuja

aprendizagem eacute dentro e fora de sala de aula Em uma das escolas as crianccedilas

confundiram as professoras argentinas com enfermeiras do posto meacutedico pois

115

estas usam avental branco costume que natildeo eacute habitual no Brasil As professoras

argentinas por sua vez estranharam as manifestaccedilotildees inicialmente constantes dos

alunos brasileiros que queriam abraccedilaacute-las tocaacute-las beijaacute-las ldquoEste eacute um traccedilo

cultural do comportamento brasileiro muito identificado pelo bdquoestrangeiro‟ Neste

caso nem tatildeo estrangeiro mas um vizinho do outro lado do riordquo (STURZA 2014

p26)

A experiecircncia dos professores brasileiros no projeto possibilitou que eles

tivessem contato direto com o sistema educacional do vizinho e esse contato gerou

novos espaccedilos de discussatildeo sobre o trabalho docente mediante as comparaccedilotildees

sobre os conteuacutedos relaccedilatildeo aluno-professor da infraestrutura das escolas e ateacute a

autonomia da gestatildeo escolar

Nesta experiecircncia os professores foram conhecendo o funcionamento e a estrutura do sistema educacional do paiacutes vizinho e percebendo como sistema brasileiro eacute autocircnomo em relaccedilatildeo ao sistema uruguaio ou argentino mais centralizado O aprendizado eacute de toda ordem ocorrendo entre os professores da escola e os das escolas parceiras ou seja argentinos e brasileiros debatem a educaccedilatildeo trocam ideias e fazem planejamento de projetos em conjunto (STURZA 2014 p25)

A metodologia tem como norte o ensino por Projetos de Aprendizagem (EPA)

modo de organizaccedilatildeo que permite o desenvolvimento de projetos localmente

envolvendo a participaccedilatildeo de toda a comunidade escolar ou outros grupos a

depender da necessidade do projeto

Ensino via Projetos de Aprendizagem (EPA) faz com que as crianccedilas participem de projetos biliacutengues que prevecircem tarefas a serem realizadas em portuguecircs e em espanhol Satildeo coordenadas respectivamente pela docente brasileira ou argentina de acordo com o niacutevel de conhecimento do idioma que possuam e de acordo com o planejamento conjunto realizado periodicamente por professoras argentinas e brasileiras com suas respectivas assessorias pedagoacutegicas (BRASIL 2008 p 28)

Nesta perspectiva os temas das aulas e os projetos de aprendizagem a

serem desenvolvidos parte dos interesses dos alunos Cabe agraves professoras

argentinas e brasileiras o desenvolvimento do programa em conjunto Sturza (2014)

ilustra alguns temas que surgiram da curiosidade dos alunos e que por sua vez

podem ser trabalhadas em conjunto Um exemplo nasce da pergunta porque os

dentes caem Curiosidade comum entre crianccedilas de 7 anos por estarem vivenciado

a troca dos dentes A fim de explicar esse processo as atividades partiram da leitura

116

da histoacuteria ldquoFada dos Dentesrdquo ou do ldquoRaacuteton Peacuterezrdquo a primeira contada no Brasil e a

segunda no Uruguai As tarefas realizadas satildeo como um ldquopasso a passordquo a partir de

um mapa conceitual33

Do ponto de vista normativo todos os trabalhos desenvolvidos devem estar

em acordo com as diretrizes curriculares de cada paiacutes juntamente com a proposta

curricular do projeto Sobre as formas de avaliaccedilatildeo dos alunos o documento da

versatildeo preliminar do programa visa agrave metodologia de bdquoportifoacutelio‟ ldquodefinido como o

acompanhamento realizado a partir de evidecircncias de variadas naturezas do trabalho

realizado pelos alunos individual e coletivamenterdquo (BRASIL 2008 p29) O portifoacutelio

eacute uma forma de organizar o conjunto de memoacuterias de obras realizadas pelo aluno

podendo ser realizadas individualmente ou em grupo O objetivo eacute mostrar a

trajetoacuteria de cada estudante no decorrer de um projeto permitindo que o professor

possa avaliar esse aluno atraveacutes das informaccedilotildees contidas no portfoacutelio

354 O PEIF em Foz do Iguaccedilu

O PEIF teve iniacutecio na cidade de Foz do Iguaccedilu em abril de 2006 a partir do

encontro com todos os envolvidos na cidade de Puerto Iguazuacute A primeira instituiccedilatildeo

responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo do projeto foi a Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo

Em 2014 a Universidade Federal da Integraccedilatildeo Latino-Americana (UNILA) passou a

coordenar o programa

As escolas escolhidas para realizaccedilatildeo do projeto foram a Escola municipal

Adele Zanotto Scalco em Foz do Iguaccedilu e a Escuela 164 em Puerto Iguazuacute As

escolas foram escolhidas pela localizaccedilatildeo estrateacutegica ambas ficam proacuteximas da

regiatildeo da Ponte Tancredo Neves ligaccedilatildeo entre os dois paiacuteses (CARVALHO 2012)

33

Mapas conceituais satildeo ferramentas graacuteficas para a organizaccedilatildeo e representaccedilatildeo do conhecimento Eles incluem conceitos geralmente dentro de ciacuterculos ou quadros de alguma espeacutecie e relaccedilotildees entre conceitos que satildeo indicadas por linhas que os interligam As palavras sobre essas linhas que satildeo palavras ou frases de ligaccedilatildeo especificam os relacionamentos entre dois conceitos Noacutes definimos conceito como uma regularidade percebida em eventos ou objetos designada por um roacutetulo Na maioria dos conceitos o roacutetulo eacute uma palavra embora algumas vezes usemos siacutembolos como + ou e em outras usemos mais de uma palavra Proposiccedilotildees satildeo enunciaccedilotildees sobre algum objeto ou evento no universo seja ele natural ou artificial Elas contecircm dois ou mais conceitos conectados por palavras de ligaccedilatildeo ou frases para compor uma afirmaccedilatildeo com sentido Por vezes satildeo chamadas de unidades semacircnticas ou unidades de sentido (CANAtildeS NOVAK 2010 p10)

117

Cabe destacar que a escola de Foz do Iguaccedilu eacute a uacutenica que participa do projeto no

Paranaacute conforme informaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (2015)

Sobre a estrutura do programa o relatoacuterio produzido pela Secretaria

Municipal da Educaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu na ocasiatildeo da primeira reuniatildeo entre a

equipe dos dois paiacuteses em abril de 2006 destaca os principais acordos para a

implementaccedilatildeo do programa nas escolas

Inicialmente o projeto atenderia duas turmas do ensino fundamental de cada

instituiccedilatildeo no turno da tarde todas as quartas-feiras

As aulas biliacutenguumles seriam ministradas no periacuteodo contra turno

A metodologia escolhida foi a de projetos pedagoacutegicos interculturais

A cada quinze dias os planejamentos das aulas seriam feitos com os

professores envolvidos no projeto com alternacircncia dos turnos de encontro e

das escolas

No mesmo relatoacuterio constam as comparaccedilotildees quanto agrave estrutura fiacutesica das

escolas A escola brasileira possui melhor estrutura fiacutesica pois possui videoteca

centro de esportes biblioteca sala de computaccedilatildeo e ar condicionado dentro das

salas de aula A escola argentina natildeo dispotildee desta estrutura Apesar destas

diferenccedilas as crianccedilas da escola brasileira e argentina natildeo possuem maiores

diferenccedilas quanto ao conhecimento pedagoacutegico

No iniacutecio do programa seu objetivo estava voltado para trabalhar com os

aspectos histoacutericos e culturais do paiacutes vizinhos tais como as muacutesicas roupas e as

comidas tiacutepicas de cada naccedilatildeo Depois por meio da assessoria do Instituto de

Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento de Poliacuteticas Linguiacutesticas (IPOL) no Brasil e

do Ministerio de Cultura Educacioacuten Ciencia y Tecnologiacutea de la Provincia de

Misiones (MCECyT) na Argentina passaram a adotar a pedagogia de projetos

(ALBUQUERQUE SOUSA 2014) O tema eacute escolhido pelos alunos e planejado

pelas professoras dos dois paiacuteses

Com a finalidade de conhecer o histoacuterico do PEIF a partir da experiecircncia

daqueles que estatildeo envolvidos diretamente no programa foram realizadas

entrevistas com duas professoras brasileiras ligadas ao programa e que ministram

aulas na argentina As entrevistadas tiveram seus nomes preservados A fim de

118

identificaacute-las adotamos os seguintes nomes fictiacutecios Tacircnia que participou do

projeto por cinco anos e Clara que entrou no programa em 2015

A professora Tacircnia que permaneceu no projeto por cinco anos na ocasiatildeo de

sua entrada relata que o programa na Argentina passava por um processo de

transiccedilatildeo Em 2009 eles inauguraram a Escuela Intercultural Biliacutengue 2 para atender

o PEIF Hoje o cruce (termo utilizado pelas professoras que realizam a travessia

para lecionar no paiacutes vizinho) eacute realizado duas vezes na semana sendo que o

nuacutemero de turmas para as duas escolas envolvidas satildeo as mesmas

Ateacute 2013 o nuacutemero de turmas atendidas por escola eram oito distribuiacutedas

entre quatro professoras com carga- horaacuteria correspondente a 2 horas As seacuteries

atendidas eram do 1ordm ao 4ordm ano No Brasil as professoras argentinas fazem o cruce

duas vezes na semana enquanto as brasileiras todas as quartas-feiras pela manhatilde

A partir de 2014 o nuacutemero de professoras brasileiras a participarem do projeto foi

reduzido pela metade

Assim como Sturza (2014) apontou esse processo de travessia possui um

significado aleacutem de ir ateacute uma escola estrangeira e colocar em praacutetica o programa

Trata-se de um processo de aprendizagem que vai desde as reflexotildees referentes

aos diferentes aspectos educacionais presentes nos dois paiacuteses ateacute os significados

que o programa exerce nos aspectos pessoais

Se eu tiver oportunidade eu volto porque eu gosto do projeto E o projeto eacute uma das minhas paixotildees eu gostei Eacute uma coisa super interessante eacute diferente acho que eacute um crescimento na profissatildeo da gente (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

As comparaccedilotildees em relaccedilatildeo agraves diferentes infraestruturas das escolas dos

dois paiacuteses satildeo inevitaacuteveis Tacircnia aponta que apesar da estrutura fiacutesica da escola

argentina ser muito boa os recursos didaacuteticos satildeo precaacuterios percebendo entatildeo os

contrastes que haacute nas poliacuteticas educacionais

A estrutura da escola laacute eacute muito boa eacute maravilhosa mas assim eacute tudo muito burocraacutetico no sentido de organizaccedilatildeo da escola Laacute eacute totalmente diferente aqui a gente tem fartura de material opccedilatildeo de coisa de tudo laacute bdquofarta‟ As salas satildeo uma penumbra com pouca iluminaccedilatildeo e tudo porque o governo natildeo daacute apoio nenhum como aqui tambeacutem (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

119

Outro ponto de comparaccedilatildeo satildeo os salaacuterios A professora Tacircnia aponta que o salaacuterio

da professoras argentinas eacute o dobro enquanto no Brasil o incentivo aos professores

eacute uma especulaccedilatildeo

Uma remuneraccedilatildeo diferente () ah isso aiacute jaacute foi questionado vaacuterias vezes que noacutes teriacuteamos um diferencial no salaacuterio a escola como um todo teria Se tivesse algum incentivo eu duvido que haveria resistecircncia em estar participando (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Quando a professora diz que ldquoeu duvido que haveria resistecircncia em estar

participandordquo ela se refere agrave resistecircncia de alguns professores em aderir ao PEIF

Quando questionada sobre o processo de escolha dos professores para o projeto

ela descreve que o correto eacute a rotatividade A cada um ou dois anos uma professora

ou professor deve assumir o projeto mas na praacutetica a direccedilatildeo eacute quem escolhe

A intenccedilatildeo do projeto eacute que se faccedila rodiacutezio soacute que aqui eacute por indicaccedilatildeo mesmo ldquoEsse ano vai ser vocecirc e ponto finalrdquo Porque por um bom tempo ficaram praticamente as mesmas pessoas igual eu permaneci por muito tempo (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

No iniacutecio do PEIF natildeo havia na carga horaacuteria oficial da escola a

disponibilidade para o preparo das aulas do programa O grupo que fazia parte do

projeto deveria encontrar uma brecha para organizar suas aulas

() depois do almoccedilo eu ia conciliando assim ia preparando a aula para as minhas turmas daqui para laacute e depois no ano passado34 quando entraram as outras professoras que melhorou comeccedilou a melhorar A prefeitura reduziu para dois professores e liberou a manhatilde para o projeto daiacute a escola se organizava como fosse possiacutevel Soacute que aumentou o nuacutemero de dias laacute (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Quando perguntada sobre a receptividade do projeto por parte dos

professores Tacircnia responde que havia outros motivos para resistecircncia

Tanto laacute quanto caacute haacute resistecircncia de professores tanto para trabalhar no projeto tanto para receber o projeto na escola Algumas coisas

34

Referente ao ano de 2014 tendo em vista que as entrevistas foram realizadas julho de 2015

120

avanccedilaram algumas estacionaram e muitas tecircm que melhorar ainda Porque ateacute agora o uacutenico objetivo () eacute um projeto lindo maravilhoso muito bom soacute que natildeo eacute feito na iacutentegra Poliacuteticos criam essas coisas e jogam e natildeo datildeo apoio Criam esses projetos porque foi na eacutepoca do Mercosul que foi criado soacute que natildeo datildeo apoio E aiacute a cada mudanccedila de governo eacute aquela burocracia porque um Ministro entra o outro sai o que entra natildeo sabe de nada do que estaacute acontecendo o que saiu deixa tudo engavetado natildeo passa pro outro () eacute aquela coisa (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Evidencia-se aiacute a criacutetica da professora Tacircnia agrave falta de acompanhamento por

parte do Estado em dar continuidade aos projetos O mesmo ocorre quanto aos

repasses de verba Do ponto de vista legal somente apoacutes a criaccedilatildeo da Portaria nordm

798 de 19 de junho de 2012 quando instituiu o Programa Escolas Interculturais de

Fronteira se pode falar em repasses de verba Em 2014 o Fundo Nacional de

Desenvolvimento da Educaccedilatildeo publicou como seriam feitos os repasses a escolas

de educaccedilatildeo baacutesica do Brasil para promover atividades em periacuteodo integral Dentro

desse grupo35 encontram-se os valores destinados agraves escolas que fazem parte do

Programa Escolas Interculturais de Fronteira no entanto a distribuiccedilatildeo de recursos

segue confusa

Segundo as professoras Tacircnia e Clara houve tambeacutem alguns retrocessos no

decorrer do projeto As duas destacam o processo de formaccedilatildeo dos professores

para atuarem no PEIF Em Foz do Iguaccedilu a universidade que coordena a formaccedilatildeo

para os professores eacute a UNILA entretanto as professoras entrevistadas se

queixam da ausecircncia da instituiccedilatildeo no ano de 2015

No ano passado acho que soacute teve uma formaccedilatildeo que ela (UNILA) proporcionou Mas nem foi a Unila quem acabou dando essa formaccedilatildeo foram as nossas supervisoras aqui Eu arrumei o material com as professoras que jaacute nem estatildeo mais aqui () eu nunca mais tive essas formaccedilotildees no comeccedilo noacutes tivemos vaacuterias (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

35

O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo publicou por meio da Resoluccedilatildeo nordm 14 de

2014 os detalhes de como seratildeo feito os repasses de verba para as escolas de educaccedilatildeo baacutesica a fim de promover atividades em periacuteodo integral e aos finais de semana De acordo com a Resoluccedilatildeo os montantes repassados seguiratildeo os moldes do Programa Dinheiro Direto na Escola As escolas envolvidas satildeo aquelas que desenvolveratildeo atividades em periacuteodo integral podendo ser urbanas rurais ou no caso das escolas do PEIF a promoccedilatildeo do ensino biliacutenguumle (BRASIL 2016) Disponiacutevel em lthttpwwwbrasilgovbreducacao201406fundo-destina-verba-para-garantir-atividades-da-educacao-integralgt Acesso em 14102015

121

A professora Clara quando questionada se jaacute passou por alguma formaccedilatildeo

responde que em 2015 teve uma que partiu da iniciativa dos professores da escola

Foi para os professores novos que trabalham aqui para conhecerem o projeto pois muitos professores sabem que existe o projeto sabe mais ou menos como ele funciona sabe assim que tem professoras de laacute que vem pra caacute e professoras daqui que vai pra laacute e soacute Mas o funcionamento mesmo tinha bastante professor que natildeo conhecia Daiacute agrave escola tomou iniciativa de fazer um dia todo de formaccedilatildeo Foram levantadas as dificuldades que cada um sentia ou no que poderia mudar mas ateacute agora ningueacutem deu um parecer daquilo ficou no papel (Entrevista realizada com a professora Clara em julho de 2015)

O que chama atenccedilatildeo na fala da professora Clara eacute a iniciativa local A

comunidade escolar organizou um curso de formaccedilatildeo para os professores Nesse

sentido abre possibilidades para que ainda que as poliacuteticas tenham sido em sua

elaboraccedilatildeo sem discussatildeo com as escolas no momento em que se inicia na

praacutetica pode ser ressignificada Aleacutem disso faz-se necessaacuterio maior estreitamento

com a instituiccedilatildeo responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo do PEIF pois conforme a fala das

professoras entrevistas eacute importante a formaccedilatildeo dos professores envolvidos no

projeto

Tacircnia quando questionada se ela conhecia o processo de elaboraccedilatildeo em que

surgiu o PEIF embora goste do projeto deixa claro que a iniciativa na sua

concepccedilatildeo foi arbitraacuteria

Noacutes bdquoengolimos goela a baixo‟ Soacute que natildeo tem apoio nenhum () assim eacute uma coisa muito bonita eacute um projeto maravilhoso Na verdade para ser um projeto mesmo tinha que ter a integraccedilatildeo tanto de noacutes professores funcionaacuterios e tudo mas principalmente das crianccedilas Conhecer a realidade um do outro soacute que isso noacutes nunca conseguimos (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Uma das criacuteticas evidenciadas no decorrer desta dissertaccedilatildeo eacute que o

processo histoacuterico de elaboraccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais tem origem

distante dos interesses dos grupos interessados por elas Mesmo quando eacute fruto das

demandas sociais elas passam por um confronto de interesses cujo resultado

culmina em leis projetos programas e curriacuteculos que nascem ambiacuteguos

(FRIGOTTO 2002)

122

Santos (et al 2015) em artigo sobre a construccedilatildeo de conhecimento em

Linguiacutestica Aplicada com foco no letramento considerando os conflitos entre o

conhecimento local o campo acadecircmico e os programas governamentais

descrevem as experiecircncias vivenciadas em um processo de formaccedilatildeo de

professores em uma escola puacuteblica na Triacuteplice Fronteira (Brasil Paraguai e

Argentina) As autoras chamam atenccedilatildeo para a resistecircncia de alguns professores

que podem interpretar a interferecircncia externa natildeo como uma cooperaccedilatildeo mas como

ameaccedila pela ldquoimposiccedilatildeo de um conhecimento considerado superior e

consequumlentemente tambeacutem uma desqualificaccedilatildeo do trabalho ali construiacutedordquo

(SANTOS et al 2015p 51) No caso do PEIF a criacutetica da professora Tacircnia

encontra-se na ausecircncia da participaccedilatildeo dos professores diretamente envolvidos no

programa e da falta de integraccedilatildeo entre os alunos dos dois paiacuteses envolvidos

355 As fronteiras do projeto

Quando perguntado agraves professoras quais satildeo as possiacuteveis sugestotildees para

melhorias para o projeto elas sugerem que os alunos possam fazer parte do cruce

No entendimento delas seria importante a integraccedilatildeo entre esses alunos Poreacutem a

rigidez das aduanas com relaccedilatildeo agrave documentaccedilatildeo e agrave travessia de crianccedilas na

ausecircncia dos pais somadas a toda responsabilidade que isso acarretaria torna

difiacutecil imaginar essa possibilidade Com isso o intercacircmbio dos alunos se reduz ao

envio de viacutedeos cartas e fotografias

Tacircnia acrescenta ainda que os proacuteprios professores correm um certo risco ao

fazer a travessia Em caso de acidente natildeo haacute nada que possa comprovar que elas

estavam em horaacuterio de trabalho

A gente vai pra laacute com a cara e a coragem noacutes natildeo temos nada que nos assegure Que Deus o livre se acontece uma desgraccedila Natildeo sei como que vai ficar porque natildeo tem nada que nos assegure Noacutes natildeo temos um seguro de vida nada que nos ampare legalmente (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Quando perguntadas sobre as dificuldades referentes ao bilinguumlismo as

professoras expressam que os alunos argentinos compreendem bem o portuguecircs e

alguns falam portunhol Satildeo curiosos conhecem as novelas os jornais e muacutesicas

123

brasileiras Este fato eacute atribuiacutedo ao intenso contato com os meios de comunicaccedilatildeo

brasileiro principalmente a televisatildeo explica Tacircnia

No comeccedilo eu achei que ia ter dificuldade de entendimento eacute claro que a gente natildeo entende cem por cento mas eu natildeo vi dificuldade nenhuma porque laacute eles satildeo muito receptivos Laacute as crianccedilas participam muito mais do que aqui e assim quanto agrave liacutengua natildeo tem dificuldade nenhuma porque as crianccedilas falam o portunhol e muitos o portuguecircs perfeitamente e eles nos entendem perfeitamente Laacute eles seguem as nossas programaccedilotildees da TV falam que aprendem o portuguecircs na TV na tela Eles amam o portuguecircs eles amam a programaccedilatildeo nossa aqui a gente chega laacute pelo menos nas salas que eu entrava eles querem falar sobre a novela eles querem conversar sobre as nossas programaccedilotildees e quando eu os questiono sobre onde eles aprenderam tudo aquilo eles respondem na tela professora na tela (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Os alunos brasileiro tecircm muita dificuldade com o espanhol Tacircnia explica que

geralmente as professoras brasileiras tecircm que permanecer em sala de aula para

auxiliar as professoras argentinas Retomo os aspectos histoacutericos da cidade para

explicar que o espanhol foi uma liacutengua presente no ensino do municiacutepio mas que foi

retirada do curriacuteculo acrescentando a importacircncia de se promover novamente a

inserccedilatildeo do espanhol nos curriacuteculos baacutesicos para as escolas situadas em fronteira

ou que pelo menos as escolas que integram PEIF

Creio eu que pra nossa cidade aqui () noacutes vivemos em uma fronteira aonde convivemos com dois paiacuteses que fala espanhol entatildeo natildeo que o inglecircs natildeo seja importante mas pelo menos na rede puacuteblica ou ateacute mesmo na particular o espanhol deve fazer parte da grade ou pelo menos nas escolas que tem esse projeto (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

356 PEIF Uma alternativa na fronteira

Com base na literatura que destaca a importacircncia de se analisar as poliacuteticas

puacuteblicas foi possiacutevel verificar que o Programa Escolas Interculturais Biliacutengues

possui algumas falhas advindas de seu processo de implementaccedilatildeo Dos atores

envolvidos nesse processo os principais satildeo oriundos dos Ministeacuterios da Educaccedilatildeo

a partir de acordos bilaterais Nesse sentido a verticalizaccedilatildeo da implementaccedilatildeo

originou alguns problemas como resistecircncia em aderir ao projeto divergecircncias de

turnos e conflitos de carga horaacuteria das escolas envolvidas Esses problemas talvez

124

pudessem ser amenizados caso os professores e demais membros da equipe

pedagoacutegica das escolas fizessem parte do processo de estruturaccedilatildeo do programa e

natildeo apenas da execuccedilatildeo

A inserccedilatildeo do Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles na cidade de Foz do

Iguaccedilu enquanto uma poliacutetica linguumliacutestica e ao mesmo tempo integracionista

demonstrou alguns ranccedilos Primeiro os documentos de 2008 sobre os primeiros

impactos do programa trata do tema resistecircncia do professor ao aderir ao programa

tambeacutem constado na fala da professora entrevistada que criticou o caraacuteter arbitraacuterio

das poliacuteticas educacionais e de como elas chegam agraves escolas

Eacute importante assinalar que do processo de implementaccedilatildeo o PEIF comeccedilou

sem um marco oficial para a sua institucionalizaccedilatildeo Segundo o ldquoPrograma de

Promoccedilatildeo do Desenvolvimento da Faixa de Fronteirardquo (2010) de 2004 ateacute 2010

ainda natildeo havia as bases legais para implementaccedilatildeo do Programa Isso deu

margem para que em vaacuterias anaacutelises o Programa fosse descrito como projeto pois

natildeo havia um estatuto ou algo que delimitasse o que caracterizava essa poliacutetica

Arbitraacuteria tambeacutem eacute a ausecircncia de discussotildees mais profundas sobre a

implementaccedilatildeo de uma poliacutetica linguiacutestica em regiatildeo de fronteira Nas entrevistas

constatou-se que os alunos argentinos possuem mais proximidade com a liacutengua

portuguesa e em contrapartida os alunos brasileiros demonstraram pouca

intimidade com a liacutengua portuguesa Sturza (2006) explica que enquanto no campo

internacional o espanhol deteacutem certo status se comparado ao portuguecircs na

fronteira esse papel eacute invertido pois argentinos da regiatildeo consideram o portuguecircs

como liacutengua de mais valor

Como pano de fundo desta discussatildeo encontra-se o Estado-naccedilatildeo O Brasil eacute

uma potecircncia regional36 o que pode contribuir tanto para o imaginaacuterio dos brasileiros

quanto de argentinos da regiatildeo ao considerarem os aspectos de nossa cultura isso

inclui nossa liacutengua oficial como superior ao espanhol Outro aspecto relevante eacute a

expressiva presenccedila dos meios de comunicaccedilatildeo por meio dos sinais de raacutedio e TV

que chegam aos lares argentinos o que faz com que eles tenham um contato mais

36

Ver Moniz Bandeira (2008) Texto para o seminaacuterio sobre ldquoA poliacutetica exterior do Brasil em sua

proacutepria visatildeo e na dos parceirosrdquo No artigo o autor cita os aspectos teoacutericos e histoacutericos que permitem caracterizar o Brasil enquanto uma potecircncia regional desde o seacuteculo XIX O que inclui sua dimensatildeo territorial seu poderio econocircmico e militar Disponiacutevel emlt httpwwwespacoacademicocombr09191bandeirapdf gt Acesso em 17112015

125

intenso com a liacutengua por meio dos programas de TV como as novelas citadas pela

professora entrevistada

O programa possui outras lacunas Eacute preciso estabelecer um consenso sobre

o orccedilamento para o programa a fim de fomentar a formaccedilotildees dos professores

manter uma estrutura que possibilite o transporte dos professores com seus

materiais didaacuteticos Contudo em termos de poliacutetica educacional para fronteira eacute a

primeira destinada para regiotildees de fronteira o que significa um certo avanccedilo para a

regiatildeo Eacute importante destacar que o PEIF eacute uma poliacutetica multilateral envolve outros

paiacuteses do Mercosul o que pode ser um exemplo de cooperaccedilatildeo para a promoccedilatildeo de

outras poliacuteticas educacionais

Eacute pioneirismo do Programa por meio da poliacutetica educacional para fronteira

internacional possuir como eixo a funccedilatildeo integradora onde o Mercosul tornou-se a

instituiccedilatildeo que fomentou a ideia a fim de promover programas que ultrapassam as

relaccedilotildees meramente econocircmicas entre os paiacuteses-membros A avaliaccedilatildeo inicial do

Programa mostrou que alguns pontos devem ser repensados Dos relatoacuterios

analisados constam poucos registros por parte dos professores sobre o processo de

aprendizado da liacutengua por parte dos alunos brasileiros Seria fundamental que o

mecanismo de avaliaccedilatildeo do Programa fosse aprimorado com instrumentos capazes

de captar como se daacute o programa em sala de aula mas conforme expresso aqui no

Brasil satildeo poucos os estudos e metodologias de avaliaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

126

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A relaccedilatildeo Estado-naccedilatildeo fronteira e poliacuteticas educacionais foram agraves palavras-

chave que nortearam esta dissertaccedilatildeo A hipoacutetese inicial eacute de que as poliacuteticas

educacionais principalmente as direcionadas para todo o ensino em niacutevel nacional

natildeo contempla as especificidades presentes na fronteira de Foz do Iguaccedilu Desse

modo para o desenvolvimento da hipoacutetese de trabalho buscou-se compreender um

pouco da histoacuteria da educaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu e suas particularidades por ser

uma cidade de fronteira

No primeiro capiacutetulo buscamos apresentar os principais conceitos que

norteiam a palavra fronteira Segundo a etimologia a palavra eacute de origem latina Foi

utilizada pela primeira vez no seacuteculo XVIII para estabelecer limites entre exeacutercitos

em conflito deslizando para as definiccedilotildees de fronteira do ponto de vista geograacutefico

geopoliacutetico e socioloacutegico (BECKER 2007 ALBUQUERQUE 2010 SILVA 2010)

Um dos principais objetivos deste capiacutetulo foi de apresentar a fronteira enquanto

uma regiatildeo em que eacute possiacutevel observar os principais instrumentos do Estado para o

construto da naccedilatildeo tais como a imprensa a escola e o exeacutercito

Dentro deste estudo a instituiccedilatildeo escolar foi o centro da pesquisa Com isso

foram apresentadas resultados de pesquisas anteriores (PEREIRA 2009 SOUZA

RODRIGUES 2009 TERENCIANI 2011) que destacam a relaccedilatildeo da escola na

fronteira sob diferentes perspectivas principalmente o da inserccedilatildeo do aluno oriundo

de outro paiacutes que faz fronteira com o Brasil e os principais desafios encontrados por

ele e para a escola Os dados apresentados neste capiacutetulo apontam que quando se

trata de investimentos em poliacuteticas puacuteblicas para regiatildeo de fronteira internacional o

Brasil tem priorizado as poliacuteticas de seguranccedila conforme os trabalhos de Franccedila e

Dorfman (2014) Trata-se de informaccedilotildees que vatildeo em direccedilatildeo aos aspectos

histoacutericos da funccedilatildeo do Estado e das concepccedilotildees de soberania e territoacuterio que

foram apresentadas no iniacutecio deste capiacutetulo

O segundo capiacutetulo apresentou a gecircnese das primeiras escolas na cidade de

Foz do Iguaccedilu sempre vinculadas aos outros aspectos como os fatores econocircmicos

e sociais Demonstrou-se que a formaccedilatildeo das escolas de Foz do Iguaccedilu antes

mesmo da fundaccedilatildeo da municipalidade contou com a presenccedila de estrangeiros que

na ausecircncia de um ensino formal criavam as suas proacuteprias escolas (WACHOWICZ

127

1984 SBARDELOTTO 2009) Essas escolas foram fechadas no periacuteodo

nacionalista momento em o governo brasileiro buscava a conformaccedilatildeo de uma

identidade e integraccedilatildeo nacional para tal conforme Lemiechek (2014) a criaccedilatildeo do

Territoacuterio Federal do Iguaccedilu em 1943 possibilitou maior controle das escolas

principalmente das escolas estrangeiras

Identificou-se ainda que em meados da deacutecada de 1970 nos relatoacuterios

sobre a situaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu no campo educacional havia uma tendecircncia em

depositar no aluno a culpa do fracasso escolar Nesse caso os alunos oriundos do

Paraguai e da Argentina eram considerados os mais fracos e ldquoatrapalhavamrdquo o

desenvolvimento do restante da turma ou seja a diferenccedila interpretada como um

problema para escola a liacutengua do outro como um entrave

O capiacutetulo trecircs sobre as poliacuteticas puacuteblicas para educaccedilatildeo apresenta um

breve histoacuterico das poliacuteticas educacionais brasileiras evidenciando que elas satildeo

fruto do contexto ao qual se inserem o periacuteodo ditatorial evidenciou a ausecircncia da

populaccedilatildeo no processo criaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais que por sua vez eram

controladas pelo Estado A partir do periacuteodo de abertura democraacutetica ateacute os dias

atuais as poliacuteticas educacionais passaram por inuacutemeras mudanccedilas Muitas

nasceram a partir das discussotildees oriundas de movimentos sociais das discussotildees

acadecircmicas etc Conforme Das e Poe (2004) o ldquoEstado eacute constantemente

refundado em suas formas de ordenar e fazer leis sugerindo que as margens satildeo

ldquodecorrecircncia e implicaccedilatildeo necessaacuteria do Estado assim como a exceccedilatildeo eacute um

componente necessaacuterio da regrardquo (DAS e POE 2004 p4)

Nesta premissa ao se analisar as principais poliacuteticas educacionais brasileiras

identificou-se que a questatildeo da diversidade cultural presente nos documentos tende

a generalizaccedilatildeo e homogeneizaccedilatildeo dada agrave superficialidade dos documentos Ainda

que represente um grande avanccedilo ao tornar obrigatoacuterio o ensino da cultura afro-

brasileira histoacuteria da Aacutefrica e indiacutegena nas escolas puacuteblicas e privadas brasileiras

quando chegamos agrave fronteira identificamos diversidades para aleacutem dessas duas

poliacuteticas

Tais princiacutepios de universalizaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais satildeo o espelho

de um Estado que se formou tentando ter como princiacutepio legal o tratamento igual da

populaccedilatildeo algo que soacute acentua as desigualdades existentes na medida em que o

diferente eacute tratado como um problema a ser solucionado Com esta noccedilatildeo o Estado

128

deixa de ser reconhecido como um importante ator na reproduccedilatildeo das

desigualdades para ser considerado a uacutenica soluccedilatildeo para os problemas sociais

Algumas pesquisas realizadas em escolas presentes em regiotildees de fronteira

constataram a erronia praacutetica de culpabilizar os alunos e professores pelo sucesso

ou fracasso escolar satildeo os professores que natildeo tem formaccedilatildeo satildeo os brasiguaios

argentinos e paraguaios com sua bdquohibridizaccedilatildeo linguiacutestica‟ satildeo os aacuterabes (colocados

em uma uacutenica caixa como se todos viessem do mesmo paiacutes) satildeo os alunos

indiacutegenas que chegam nas escola falando bdquoapenas‟ o guarani As pessoas tornam-se

problema

No caso de Foz do Iguaccedilu o perfil dos alunos que frequumlenta as instituiccedilotildees

escolares demonstra que os conceitos de cidadania natildeo satildeo riacutegidos se (des)fazem

na fronteira Os alunos que chegam aos espaccedilos escolares fronteiriccedilos natildeo

necessariamente assimilaratildeo a liacutengua portuguesa como uacutenica e oficial Ao mesmo

tempo estes alunos trazem consigo conhecimentos adquiridos de seu paiacutes de

origem mas o processo de equivalecircncia de estudos acaba por negar esses

conhecimentos que para serem validados devem ser bdquotraduzidos‟ para o portuguecircs

Para aleacutem do problema linguiacutestico temos a questatildeo da integraccedilatildeo desse

aluno no ambiente escolar que eacute ao mesmo tempo permeada por tensotildees mas

tambeacutem pela aproximaccedilatildeo com o outro Essas relaccedilotildees merecem atenccedilatildeo da escola

a fim de evitar manifestaccedilotildees xenofoacutebicas preconceituosas estigmatizadas e de

inferiorizaratildeo

A primeira hipoacutetese do trabalho me levou a pensar apenas na relaccedilatildeo Estado

Nacional e poliacuteticas educacionais para regiatildeo de fronteira Poreacutem os vazios

encontrados ao se analisar essas poliacuteticas e o modo como o Estado se faz presente

e ao mesmo distante da fronteira levou-me a refletir sobre a emergecircncia de outras

pedagogias

Para outros sujeitos outras pedagogias (ARROYO 2015) Paulo Freire em

sua obra a Pedagogia do Oprimido fala aos educadores que eacute preciso ter ldquoum

profundo respeito pela identidade cultural dos alunos e das alunas () implica

respeito pela linguagem do outro pela cor do outro o gecircnero do outro outrordquo

(FREIRE 2001 p60)

Conhecer de perto uma poliacutetica educacional para a fronteira do ponto de vista

institucional e das poliacuteticas de governo possibilitou-me a constatar contradiccedilotildees e

complexidades de uma poliacutetica que envolve natildeo apenas o campo das relaccedilotildees

129

internacionais mas o diaacutelogo na construccedilatildeo de um curriacuteculo as implicaccedilotildees legais

para o tracircnsito de pessoas na fronteira os questionamentos sobre as reais intenccedilotildees

do programa PEIF e de como esse programa foi concebido Pode-se considerar que

o PEIF foi a uacutenica poliacutetica puacuteblica analisada a partir dos dois eixos propostos no

iniacutecio do capiacutetulo terceiro Mainardes (2006) Assim traccedilamos os aspectos que

envolveu o papel do Estado na elaboraccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica e buscamos por meio

da anaacutelise dos documentos e entrevistas demonstrar os principais aspectos

impactos que a poliacutetica exerceu na escola envolvida considerando principalmente

as experiecircncia dos atores envolvidos neste caso das professoras entrevistadas

Dos caminhos possiacuteveis para uma poliacutetica educacional na fronteira a

perspectiva intercultural ldquoreconhece e assume a multiplicidade de praacuteticas culturais

que se encontram e se confrontam na interaccedilatildeo entre diferentes sujeitosrdquo (FLEURI

2003 p12)

Por fim ao considerar a fronteira uma regiatildeo que engloba as cidades de Foz

do Iguaccedilu Puerto Iguazuacute e Ciudad del Este a proposiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em

conjunto com os paiacuteses envolvidos satildeo importantes para atender as demandas

locais

130

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Poliacuteticas educacionais para diversidade e escolas nas fronteiras o caso de

Foz do Iguaccedilu com a Argentina e o Paraguai Aline Cristina Paiva - Foz do

Iguaccedilu 2016

141 f il

Orientadora Profordf Drordf Regina Coeli Machado e Silva

Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sociedade Cultura e Fronteiras - Universidade Estadual do Oeste do

Paranaacute

1 Triacuteplice Fronteira (Argentina Brasil e Paraguai) ndash Educaccedilatildeo 2 Escolas

ndash Foz do Iguaccedilu ndash Histoacuteria 3 Multiculturalismo ndash Foz do Iguaccedilu 4 Educaccedilatildeo

e Estado ITiacutetulo

CDU 37(8182892)

370145

ALINE CRISTINA PAIVA

POLIacuteTICAS EDUCACIONAIS PARA DIVERSIDADE E ESCOLAS NAS FRONTEIRAS O CASO DE FOZ DO IGUACcedilU COM A ARGENTINA E O

PARAGUAI

Esta dissertaccedilatildeo foi julgada adequada para a obtenccedilatildeo do Tiacutetulo de Mestre em

Sociedade Cultura e Fronteiras e aprovada em sua forma final pelo Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo Stricto Sensu em Sociedade Cultura e Fronteiras ndash Niacutevel de

Mestrado aacuterea de Concentraccedilatildeo em Linguagem Cultura e Identidade da

Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute ndash UNIOESTE

COMISSAtildeO EXAMINADORA

______________________________________________________

Profa Dra Neiva Maria Jung

Universidade Estadual de Maringaacute (UEM)

Membro Efetivo convidado

_______________________________________________________

ProfDr Fernando Joseacute Martins

Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute (UNIOESTE)

Membro Efetivo da Instituiccedilatildeo

______________________________________________________

ProfaDra Regina Coeli Machado e Silva

Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute (UNIOESTE)

Orientadora

Foz do Iguaccedilu 15 de marccedilo de 2016

Dedico este trabalho

Aos meus pais Joatildeo e Maria

Aos meus irmatildeos William e Joatildeo Victor

Ao meu namorado Eduardo

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agrave Professora Dra Regina Coeli Machado pela compreensatildeo pelas

saacutebias orientaccedilotildees que natildeo se limitaram agraves paacuteginas desta dissertaccedilatildeo

Ao professor Dr Fernando Joseacute Martins e agrave professora Dra Neiva Maria Jung pela

participaccedilatildeo na banca de defesa

Aos meus pais Maria Aparecida e Joatildeo Bosco e irmatildeos Joatildeo Victor e William que me

deram o suporte necessaacuterio para essa jornada foi pensando neles que nos

momentos mais difiacuteceis tive forccedila para prosseguir

A todos os meus amigos que me apoiaram com as leituras de meus rascunhos

correccedilotildees e pelo incentivo que de modo direto ou indireto contribuiacuteram para a

conclusatildeo deste trabalho

Ao Eduardo Eliana e Baacuterbara que me deram o suporte emocional apoio e carinho

em toda essa trajetoacuteria

A primeira condiccedilatildeo para modificar a realidade consiste

em conhececirc-la

Eduardo Galeano (1985)

PAIVA Aline Cristina Poliacuteticas Educacionais para a diversidade e escolas nas fronteiras O caso de Foz do Iguaccedilu na fronteira com a Argentina e o Paraguai 2016 149 paacuteginas Dissertaccedilatildeo (Mestrado Interdisciplinar em Sociedade Cultura e Fronteiras)- Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute- UNIOESTE Foz do Iguaccedilu

RESUMO

O objetivo desta dissertaccedilatildeo eacute investigar as relaccedilotildees entre poliacuteticas educacionais e a diversidade cultural presente na fronteira de Foz do Iguaccedilu localizada no estado do Paranaacute A cidade brasileira juntamente com Ciudad del Este no Paraguai e Puerto Iguazuacute na Argentina formam a triacuteplice fronteira que dentre outras caracteriacutesticas eacute conhecida pelo turismo e pelas intensas relaccedilotildees comerciais O processo de formaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu foi marcado pela influecircncia dos paiacuteses da fronteira e pela presenccedila de outras nacionalidades e etnias Trata-se portanto de uma cidade natildeo apenas diversa pela presenccedila dos paraguaios e argentinos mas que tambeacutem eacute compartilhada por libaneses chineses coreanos chilenos bolivianos italianos dentre outros A escola e as poliacuteticas educacionais para esse contexto eacute o centro desta pesquisa na medida em que a instituiccedilatildeo escolar eacute um importante espaccedilo de socializaccedilatildeo A histoacuteria da educaccedilatildeo em Foz do Iguaccedilu e a histoacuteria das poliacuteticas educacionais no Brasil revelam como a escola eacute uma instituiccedilatildeo importante na formaccedilatildeo da identidade nacional e como estas afetam a relaccedilatildeo com o bdquooutro‟ Nesse sentido foram analisados documentos de poliacuteticas educacionais para a diversidade implementadas apoacutes a Constituiccedilatildeo de 1988 sendo elas a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional de 1996 os Paracircmetros Curriculares Nacionais para a pluralidade cultural de 1997 o Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute de 2015 e o curriacuteculo baacutesico para a escola puacuteblica municipal do oeste do Paranaacute feita pela Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oeste do Paranaacute (AMOP) em 2007 Por uacuteltimo buscou-se analisar o Programa Escola Intercultural Biliacutengue iniciativa do Mercosul que tem como objetivo integrar as regiotildees fronteiriccedilas por meio da educaccedilatildeo Com base nas analises das poliacuteticas educacionais para a diversidade principalmente a partir de 1988 verificou-se uma tendecircncia universalista dessas poliacuteticas para a diversidade que difere da diversidade particular vivida em Foz do Iguaccedilu PALAVRAS-CHAVE poliacuteticas educacionais escola estado fronteira

PAIVA Aline Cristina Educational policies for diversity and schools in the boundaries the case of Foz do Iguaccedilu on the border with Argentina and Paraguay 2016 149 pages Dissertation (Masters in Interdisciplinary Society Culture and Borders) - State University of Western Paranaacute-UNIOESTE Foz do Iguaccedilu

ABSTRACT

The objective of this study is from the relationship school and state investigate educational policies and consider whether they make it possible to work with diversity on the border of Foz do Iguaccedilu in the state of Paranaacute The Brazilian city along with Ciudad del Este in Paraguay and Puerto Iguazu in Argentina form the triple border which among other characteristics is known for tourism and the intense trade relations The process of formation of Foz do Iguaccedilu was marked by the influence of the border countries and the presence of other nationalities and ethnicities It is therefore a city not only different by the presence of Paraguayan and Argentinean neighbors but that is also shared by Lebanese Chinese Korean Chilean Bolivian Italian among others The school and educational policies in this context become the center of this research since the school is a major means of training and socialization of individuals and may contribute to the integration process the intercultural bias or other hand being a border to disregard the existence of ethnic and cultural diversity that makes up the school environment The reasons for the discussions in this work pass necessarily by the nation-state relationship with schoolThe history of education in Foz do Iguaccedilu and the history of educational policies in Brazil reveal how the school is an important institution in the national identity formation and how they impact relations in border schools To analyze the educational policies for diversity policies were analyzed educational documents from the Constitution of 1988 it derived the Law of Guidelines and Bases of National Education in 1996 and the National Curriculum Guidelines for cultural plurality in 1997 These two policies along with the State Plan for 2015 Paranaacute Education and basic curriculum for public school in western Paranaacute made by the Association of western Paranaacute Cities (AMOP) in 2007 to discuss public policies in the border region implies think of the region as a whole An example of an educational policy for border is the Intercultural Bilingual School Program the Mercosur initiative which passed through discussions with other countries in the border region In the city of Foz do the program takes place at the Municipal School Adele Zanotto Scalco and aims to contribute to the integral formation of children adolescents and young people through the articulation of actions aimed at regional integration through intercultural education by offering the bilingual educationIn order to get to know an educational policy there were two interviews with Brazilian teachers one former member of the program and the other which entered the year 2015 with the interviews it was possible to collect the first impressions of the program in Foz do Iguaccedilu its challenges and its importance as an educational policy in the field of linguistics integrationist content to influence future public policy KEYWORDS educational policies school state border

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Figura 01 - A Triacuteplice Fronteira- Argentina Brasil e Paraguai26

Figura 02- Favela Paraisoacutepolis em contraste com o bairro de classe alta Morumbi

em Satildeo Paulo capital27

Figura 03-Faixa de Fronteira do Brasil com os paiacuteses da regiatildeo28

Figura 04- Mapa da regiatildeo da Triacuteplice Fronteira- Argentina Brasil e Paraguai52 Figura 05-- Grupo Escolar Bartolomeu Mitre60

Figura 06- Escola Jorge Schimmelpfeng com crianccedilas carentes sob os cuidados do Capitatildeo Cyriacuteaco e de Joseacute Vicente Ferreira (os dois adultos agrave direta da foto rara)64

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AGB- Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros

ANPUH- Associaccedilatildeo Nacional de Histoacuteria

AMOP ndash Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oeste do Paranaacute

CEEPR- Conselho Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute

CF- Constituiccedilatildeo Federal

COEF- Coordenaccedilatildeo Geral de Ensino Fundamental

CONAE- Conferecircncia Nacional de Educaccedilatildeo

CMC- Conselho do Mercado Comum

CRUTACS- Centros Rurais Universitaacuterios de Treinamento e Accedilatildeo Comunitaacuteria

DCE ndash Diretrizes Curriculares da Educaccedilatildeo Baacutesica do Estado do Paranaacute

DICEI- Diretoria de Curriacuteculos e Educaccedilatildeo Integral

EBN- Empresa Brasileira de Notiacutecias

GEREI- Gerecircncia Regional de Educaccedilatildeo e Inovaccedilatildeo

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IPOL- Instituto de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento em Poliacutetica Linguiacutestica

ISEB- Instituto Superior de Estudos Brasileiros

PNC ndash Paracircmetros Curriculares Nacionais

IMS- Instituto Mercosul Social

LDB- Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional

MEC- Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

MEC Y T- Ministeacuterio de la Educaciacuteon Ciencia y Tecnologia

MERCOSUL- Mercado Comum do Sul

MOBRAL- Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo

MST- Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

NRE- Nuacutecleo Regional de Educaccedilatildeo

OMS- Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede

PPA- Plano Pluri Anual

PEIF- Programa Escolas Interculturais Biliacutengues

PEIBF- Programa Escolas Interculturais Biliacutengues de Fronteira

PCN- Paracircmetros Curriculares Nacionais

PDI- Plano de Desenvolvimento Integrado

PEEPR- Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute

PF- Poliacutecia Federal

PME- Plano Municipal de Educaccedilatildeo

PNE- Plano Nacional de Educaccedilatildeo

PNLD- Plano Nacional do Livro Didaacutetico

PP- Poliacutetica Puacuteblica

MERCOSUL- Mercado Comum do Sul

RME- Reuniatildeo de Ministros da Educaccedilatildeo

SEB- Secretaria da Educaccedilatildeo Baacutesica

SECAD- Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade

SEEDPR- Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

SENAC- Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Comercial

SEM- Setor Educacional do Mercosul

SISFRON- Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras

SIS-MERCOSUL- Sistema Integrado de Sauacutede do Mercosul

SUED- Superintendecircncia da Educaccedilatildeo

SUS- Sistema Uacutenico de Sauacutede

TEC- Tarifa Externa Comum

UFF- Universidade da Fronteira Sul

UNESCO- Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura

UNILA- Universidade Federal da Integraccedilatildeo Latino-Americana

UNIOESTE- Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 15

I Caminhos da pesquisa o percurso metodoloacutegico 20 II Estrutura da dissertaccedilatildeo 21

CAPIacuteTULO 1 Eacute PRECISO FALAR DA ESCOLA NA FRONTEIRA 25 11 Fronteira- Primeiras aproximaccedilotildees 25 12 Fronteira e a educaccedilatildeo como construto da naccedilatildeo 29 13 Reatualizaccedilatildeo de naccedilatildeo por deslizamentos em seus limites fronteiriccedilos 32 14 A porosidade do Estado sob a forma de poliacuteticas puacuteblicas 36 15 O contexto escolar vivido entre fronteiras a escola como reguladora do Estado 41

CAPIacuteTULO II A HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO EM FOZ DO IGUACcedilU CONSTRUTOS 50

21 Contexto histoacuterico 51 21Colocircnia Militar de Foz do Iguaccedilu e as primeiras escolas da regiatildeo 53 22 O projeto nacionalista do Estado Novo e a lsquonacionalizaccedilatildeo da fronteirarsquo61 23 Da construccedilatildeo de Itaipu agrave lsquoondarsquo de migraccedilatildeo e imigraccedilatildeo seus impactos na educaccedilatildeo 64 24 A Educaccedilatildeo a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 O direito agrave diversidade nas escolas 69

CAPIacuteTULO III POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS PARA A EDUCACcedilAtildeO NA FRONTEIRA ENTRE ARGENTINA BRASIL E PARAGUA 71

31 Poliacuteticas Puacuteblicas conceitos e abordagens 71 32 Caminhos das poliacuteticas educacionais no Brasil 74 33 Poliacuteticas educacionais a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 83 34 Escola e diversidade O que temos em termos de poliacuteticas educacionais 84

341 A LDB96 - A primeira lei originaacuteria da iniciativa civil e do legislativo 86 342 Os Paracircmetros Curriculares Nacionais 91 343 O Tema Transversal Pluralidade Cultural 94 344 O Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute 98 345 O Curriacuteculo da AMOP 100 346 Algumas consideraccedilotildees 103

35 O Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles um exemplo de poliacutetica educacional para a fronteira 104

351 Do processo de elaboraccedilatildeo 107 352 Do processo para implementaccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica 108 353 Avaliaccedilatildeo da Poliacutetica Puacuteblica- Primeiros impactos do PEIBF 110 354 O PEIF em Foz do Iguaccedilu 116 355 As fronteiras do projeto 122 356 PEIF Uma alternativa na fronteira 123

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 126

5 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 130

15

INTRODUCcedilAtildeO

Esta dissertaccedilatildeo apresenta um estudo sobre as poliacuteticas educacionais e

diversidade em regiatildeo de fronteira internacional Os estudos fronteiriccedilos perpassam

por diversas aacutereas do conhecimento como a Geografia Sociologia Antropologia

Ciecircncia Poliacutetica que tem apresentado inuacutemeras pesquisas a partir das mais

variadas formas de conceituar e abordar a temaacutetica (FRANCcedilA DORFMAN 2013)

No que se refere aos estudos sobre a regiatildeo de fronteira na aacuterea da educaccedilatildeo a

produccedilatildeo ainda eacute tiacutemida no Brasil (FEDATTO 1995 CITRINOVITZ 1996

ROSSATO 2003)

Para Pereira (2009) isso se reflete no processo de desenvolvimento das

poliacuteticas puacuteblicas que ateacute recentemente estavam sendo tratadas de forma

homogecircnea e unilateral ou seja sem levar em consideraccedilatildeo as particularidades de

cada regiatildeo fronteiriccedila No que tange agrave poliacutetica educacional brasileira esta deve ser

pensada em contexto amplo onde fatores como a Constituiccedilatildeo Federal a poliacutetica

nacional de direitos humanos e os acordos e tratados internacionais devem ser

considerados assim como os fatores sociais e culturais da sociedade brasileira

(SILVA MOURA MELLO 2013) Segundo Azevedo e Aguiar (2001) os estudos

sobre as poliacuteticas educacionais para regiatildeo de fronteira no Brasil satildeo recentes mas

encontra-se em processo de construccedilatildeo e crescimento

Por outro lado grupos como a Rede RETIS do Departamento de Geografia da

Universidade Federal do Rio de Janeiro atuam desde 1994 com pesquisa de limites

e fronteiras internacionais Com uma ampla rede de associados o grupo conta com

um acervo digital1 com diversas notiacutecias artigos teses e dissertaccedilotildees sobre

fronteiras internacionais incluindo trabalhos sobre educaccedilatildeo e fronteira

internacional Existe tambeacutem o acervo digital2 do Instituto de Investigaccedilatildeo e

Desenvolvimento em Poliacutetica Linguumliacutestica fundado em 1999 com sede em

Florianoacutepolis Santa Catarina Brasil que desenvolve projetos de apoio teacutecnico agraves

comunidades agraves comunidades de falantes de liacutenguas e variedads linguiacutesticas

1Site oficial do Retis lt httpwwwretisigeoufrjbr gt Acesso em 23062015

2Site Oficial do Ipol lthttpe-ipolorgpublicacoesgt Acesso em 23062015

16

minoritaacuterias do Brasil e do Mercosul objetivando a manutenccedilatildeo e divulgaccedilatildeo da

diversidade linguumliacutestica braseleira O instituto aleacutem de publicaccedilotildees proacuteprias divulga

inuacutemeros trabalhos que tratam do tema das poliacuteticas lingustiacutecas sendo um important

mecanismo de busca para pesquisa relacionadas agrave educaccedilatildeo e fronteira

internacional divulgando trabalhos como o de Sagaz (2013) e Pereira (2014) que

apresentam em suas dissertaccedilotildees o tema das escolas interculturais biliacutenguumles de

fronteira

As universidades localizadas nas regiotildees de fronteira internacional tem se

constituiacutedo enquanto importantes centros de investigaccedilatildeo sobre educaccedilatildeo e

fronteira a citar a Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute (UNIOESTE) que

possui o programa de poacutes-graduaccedilatildeo strictu sensu em Sociedade Cultura e

Fronteira que conforme as especificaccedilotildees em sua paacutegina oficial3 tem entre outros

objetivos ldquoqualificar profissionais que desenvolvam durante o processo de formaccedilatildeo

capacidades para coordenar estudos e pesquisas transfronteiriccedilos na perspectiva

de ultrapassar as fronteiras geopoliacuteticardquo Nos uacuteltimos anos tambeacutem foram criadas

outras universidades em regiotildees de fronteiriccedilas como a Universidade Federal da

Fronteira Sul (UFF) criada em 2009 localizada na Mesorregiatildeo Grande Fronteira

Mercosul e a Universidade Federal da Integraccedilatildeo Latino-Americana (UNILA) criada

em 2010 na cidade de Foz do Iguaccedilu no Paranaacute Dentre outros objetivos estas

instituiccedilotildees buscam o desenvolvimento de pesquisa em regiotildees fronteiriccedilas

contribuindo assim para o crescimento de estudos no campo das poliacuteticas

educacionais em regiatildeo de fronteira internacional

O interesse em tratar do tema da fronteira e poliacuteticas educacionais comeccedilou

em 2011 momento em que saiacute de uma pequena cidade do interior de Minas Gerais

para chegar agrave cidade de fronteira Foz do Iguaccedilu no Oeste paranaense com o

objetivo de cursar uma segunda graduaccedilatildeo pois sou licenciada em Pedagogia pela

Universidade Federal de Viccedilosa em Minas gerais e agora bacharel em Ciecircncia

Poliacutetica e Sociologia pela Universidade Federal da Integraccedilatildeo Latino-Americana As

duas graduaccedilotildees foram fundamentais para despertar o interesse pela pesquisa e

pelo mestrado interdisciplinar em Sociedade Cultura e Fronteiras o que resultou

nesta dissertaccedilatildeo

3Paacutegina virtual do Mestrado em Sociedade Cultura e Fronteiras da Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute lt

httpwwwunioestebrpossociedadeeculturagt Acesso em 13082014

17

Quando fiz a graduaccedilatildeo em Pedagogia meu interesse em poliacuteticas

educacionais para a diversidade nasceu em disciplinas de Sociologia da Educaccedilatildeo e

principalmente na disciplina que discutia as relaccedilotildees eacutetnicos e raciais nas escolas e

a formaccedilatildeo do professor A partir das reflexotildees sobre a funccedilatildeo da escola e do

professor em lidar com a diversidade eacutetica e racial em sala de aula meu problema

de pesquisa para a elaboraccedilatildeo do trabalho de conclusatildeo de curso foi de trabalhar a

formaccedilatildeo dos professores para desenvolver o trabalho com a Lei 1063903 que

tornou obrigatoacuterio o ensino da histoacuteria e da cultura afro-brasileira e africana em todas

as escolas puacuteblicas e particulares Ao teacutermino do curso senti a necessidade de

realizar outra graduaccedilatildeo a fim de me aprofundar melhor no campo da sociologia e

da educaccedilatildeo Conheci o curso da Unila e ingressei no curso de Ciecircncia Poliacutetica e

Sociologia no ano de 2011 O interesse por estudar na referida instituiccedilatildeo era

despertado pela curiosidade em viver em uma cidade de fronteira e pela proposta de

integraccedilatildeo latino-americana que a universidade propotildee

Finalizei a graduaccedilatildeo em Ciecircncia Poliacutetica e Sociologia e meu objeto de

pesquisa foi as poliacuteticas educacionais no contexto do neoliberalismo a partir dos

anos de 1990 em comparaccedilatildeo com as poliacuteticas educacionais propostas pelos

movimentos sociais Seguindo a proposta de integraccedilatildeo da Unila optei por um

estudo comparado com as propostas oriundas do Movimento dos Trabalhadores

Rurais Sem Terra (MST) no Brasil e dos Movimentos Indiacutegenas na Boliacutevia

Entretanto minhas indagaccedilotildees sobre a vivecircncia de escolas na fronteira natildeo

puderam ser respondidas Durante estes anos em Foz do Iguaccedilu meu olhar sobre

as relaccedilotildees em meio agrave diversidade de etnias e nacionalidades mudou

significativamente e segue em transformaccedilatildeo

Meus primeiros contatos com a populaccedilatildeo e com os meios de comunicaccedilatildeo

local e as imagens que eles tinham sobre o lugar em que moravam logo contrastou

com meu imaginaacuterio sobre o que eacute uma fronteira A violecircncia diaacuteria presente nos

jornais televisivos e impressos fadava a fronteira como o inevitaacutevel caminho para

entrada do traacutefico de drogas e armas A ponte da Amizade que liga a cidade de Foz

do Iguaccedilu agrave Ciudad del Este como o limbo entre o legal e o ilegal A passagem dos

trabalhadores caracterizados como informais era uma constante nos jornais A frase

ldquotinha que ser paraguaiordquo chegou aos meus ouvidos algumas vezes como tambeacutem

as noccedilotildees de que a Ciudad del Este era suja e desorganizada e o paiacutes de um modo

geral atrasado e pobre Tambeacutem eram perceptiacutevel as imagens referentes aos

18

aacuterabes caracterizados como ricos e isolados do restante da populaccedilatildeo aleacutem da

falta de distinccedilatildeo da comunidade aacuterabe pelo paiacutes de origem ou pela divisatildeo religiosa

que haacute entre xiitas e sunitas dentro do islamismo Exemplos como esses me

provocaram Ingenuamente pensava apenas no lado positivo dessa integraccedilatildeo entre

diferentes nacionalidades e etnias mas a vivecircncia na cidade permitiu-me ampliar

essas referecircncias do que era fronteira para outras bdquofronteiras‟ e mais ainda

deslocou minha atenccedilatildeo para as escolas brasileiras que recebem diferentes perfis

de imigrantes o que torna a regiatildeo fronteiriccedila tatildeo peculiar

Meus primeiros questionamentos eram de como a escola recebia esses

alunos estrangeiros como era organizada a documentaccedilatildeo escolar como era

realizado o diagnoacutestico de alunos que haviam comeccedilado seus estudos em seu paiacutes

de origem e como eram as relaccedilotildees professor - aluno aluno-aluno e escola-aluno

Essas primeiras inquietaccedilotildees me levaram a outras como a questatildeo do curriacuteculo

escolar em cidades de fronteira uma vez que haacute uma tendecircncia nos curriacuteculos

oficiais agrave homogeneizaccedilatildeo como ao monolinguismo Outro ponto eacute sobre como a

escola lida natildeo apenas com a questatildeo do idioma mas tambeacutem como ela se

posiciona diante dos conflitos como estigmas negativos relacionados agrave origem dos

alunos que podem se revelar muitas vezes como praacuteticas xenofoacutebicas Na tentativa

de inferiorizar o outro eacute comum escutar brasileiros que tratam os paraguaios como

ldquoxiruacute4rdquo e preguiccediloso natildeo aprende porque ldquoa escola laacute eacute fracardquo Esses comentaacuterios

foram constantes em sala de aula durante o periacuteodo em que lecionei sociologia para

jovens e adultos em um cursinho popular entre os anos de 2011 e 2013 em Foz do

Iguaccedilu Nas ocasiotildees em que se abordava o tema da fronteira a imagem que se

tinha do paraguaio era carregada de valores negativos

Tantas inquietaccedilotildees impossiacuteveis de serem abarcadas em uma mesma

pesquisa pois estudar uma realidade fronteiriccedila exige bdquoolhares demorados‟ para o

objeto em estudo tiveram que ser delimitadas na seguinte proposta pensar as

poliacuteticas educacionais para a diversidade nas escolas de fronteira internacional

nesse caso nas escolas de Foz do Iguaccedilu cidade que faz divisa com a cidade

Argentina de Puerto Iguazuacute e Ciudad del Este no Paraguai

4O termo xiru eacute de origem guarani Che ldquoeu meurdquo e iru ldquocompanheiro amigordquo que traduzindo para o

portuguecircs significa ldquomeu amigordquo ldquomeu companheirordquo mas para os brasileiros tomou a conotaccedilatildeo de falsificado (TRISTONE 2011)

19

Ao delinear parte do percurso insiro parte de meus valores e visatildeo de mundo

que concordando com Ludke e Andreacute (1986) iratildeo influenciar a maneira como a

pesquisa eacute proposta ldquoem outras palavras os pressupostos que orientam seu

pensamento vatildeo tambeacutem nortear sua abordagem de pesquisardquo (LUDKE ANDREacute

1986 p03)

A justificativa da delimitaccedilatildeo empiacuterica passa pela relaccedilatildeo fronteira entre o

Estado nacional e a escola O espaccedilo escolar eacute visto como um espaccedilo de tensotildees e

contradiccedilotildees em que se manifestam as mais distintas formas de relaccedilotildees sociais

onde o preconceito o racismo a xenofobia e a exclusatildeo ocorrem ao mesmo tempo

em que se ldquocombate essas formas de violecircnciardquo A escola nesta dissertaccedilatildeo natildeo eacute

uma entidade a parte uma maacutequina do Estado Eacute tambeacutem instrumento do Estado

ao mesmo tempo que perpassa pela vida de diferentes sujeitos como os

professores alunos diretores pesquisadores que podem criar condiccedilotildees de

resistecircncia a fim de construiacuterem outros curriacuteculos a margem do Estado e adaptaacute-los

agrave realidade local e natildeo universal

Nesse sentido estudar as poliacuteticas puacuteblicas educacionais a partir da

diversidade nas escolas de fronteira parte da hipoacutetese de que o Estado ao mesmo

tempo em que se faz presente na fronteira a deixa agraves margens quando natildeo

consegue a partir das poliacuteticas educacionais nacionais direcionadas ou natildeo para a

diversidade lidar com as diferenccedilas proacuteprias de uma realidade fronteiriccedila

O objetivo desta dissertaccedilatildeo eacute investigar as poliacuteticas educacionais e as

relaccedilotildees com a diversidade na fronteira A diversidade qual nos referimos reside na

presenccedila de muacuteltiplas nacionalidades e etnias presentes nas escolas e o que essa

presenccedila e suas manifestaccedilotildees a partir das relaccedilotildees entre os diferentes sujeitos

acarretam para a escola Embora os questionamentos desta pesquisa envolva as

escolas o objeto principal da pesquisa satildeo os documentos e as poliacuteticas

educacionais para a diversidade para as escolas situadas em regiatildeo de fronteira

internacional

A fim de desenvolver a hipoacutetese de trabalho o primeiro capiacutetulo aborda o

tema da fronteira Eacute preciso compreender a polissemia e as diferentes abordagens

no acircmbito da pesquisa Albuquerque (2009) apresenta os novos enfoques

socioloacutegicos historiograacuteficos e antropoloacutegicos que tem dado acesso a pesquisas no

campo das praacuteticas culturais e sociais para aleacutem da visatildeo tradicional de fronteira

poliacutetico-juriacutedica Na concepccedilatildeo de Joseacute de Souza Martins (1997) a fronteira se faz

20

de muitas e diferentes coisas fronteiras espaciais fronteira do pensamento fronteira

da civilizaccedilatildeo etc Conforme essa citaccedilatildeo a concepccedilatildeo de fronteira ultrapassa a

visatildeo tradicional pois para o referido autor fronteira pressupotildee diferentes

significados sejam eles poliacuteticos econocircmicos sociais ou culturais

A partir do enfoque da fronteira enquanto limite juriacutedico e de espaccedilo de

relaccedilotildees sociais busca-se relacionaacute-los partindo do pressuposto de que o

nascimento da fronteira enquanto limite juriacutedico estabelecido para demarcar os

territoacuterios entre os Estado nacionais desencadeou em outros processos no campo

social que devem ser analisados a fim de desmistificar a cristalizaccedilatildeo das fronteiras

como um espaccedilo naturalizado

I Caminhos da pesquisa o percurso metodoloacutegico

Metodologicamente fizemos levantamentos de dados em fontes histoacutericas e

documentais para ldquoinvestigar os acontecimentos processos e instituiccedilotildees do

passadordquo (LAKATOS MARKONI 2003 p106) Compreende-se que para entender

as atuais formas de organizaccedilatildeo social na fronteira eacute fundamental refazer a histoacuteria

dessas instituiccedilotildees e costumes desde sua origem Desse modo foi possiacutevel no

momento da contextualizaccedilatildeo do objeto de estudo perceber quais foram os fatos

que influenciaram sua atual estrutura Assim o primeiro e segundo capiacutetulo centrou-

se principalmente na pesquisa bibliograacutefica que consistiu no levantamento de

dados por meio de livro artigos e perioacutedicos impressos e online

O terceiro capiacutetulo apresenta a anaacutelise das poliacuteticas educacionais Na

primeira parte da investigaccedilatildeo utilizou-se da pesquisa documental que difere da

pesquisa bibliograacutefica pela natureza das fontes de dados que satildeo ricas e estaacuteveis

(GIL 2010) Satildeo considerados documentos ldquoquaisquer materiais escritos que

possam ser usados como fonte de informaccedilatildeo sobre o comportamento humanordquo

(LUDKE ANDREacute 1986 p38)

Os documentos analisados foram a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo

Nacional (LDB96) os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN‟S) de 1997 o

curriacuteculo baacutesico para a escola puacuteblica municipal do Oeste do Paranaacute (2007)

produzido por iniciativa da Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oeste do Paranaacute (AMOP)

e o Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute (PEEPR)

21

Utilizamos como referencial analiacutetico a abordagem de poliacuteticas puacuteblicas de

Leite e Flexor (2006) e Secchi (2013) para anaacutelise do Programa Escola Intercultural

Biliacutenguumle de Fronteira

As entrevistas semiestruturadas tambeacutem fizeram parte do arcabouccedilo

metodoloacutegico da pesquisa Conforme Ludke e Andreacute (1986) as entrevistas natildeo

estruturadas onde natildeo haacute a determinaccedilatildeo e uma ordem riacutegida de questotildees

permitem com que o entrevistado fale do tema proposto com base nas informaccedilotildees

que ele possui Os benefiacutecios da entrevista sobre outras teacutecnicas ldquoeacute que ela permite

a captaccedilatildeo imediata e corrente da informaccedilatildeo desejada praticamente com qualquer

tipo de informante e sobre os mais variados toacutepicosrdquo (LUDKE ANDREacute 1986 p33-

34)

As entrevistas foram realizadas com duas professoras da escola brasileira

que recebem o Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumle de Fronteira Uma das

entrevistadas participa do desenvolvimento do programa desde seu iniacutecio e a outra

professora passou a acompanhar o projeto em 2015 Essa escolha permitiu

conhecer as diferentes fases da inserccedilatildeo do programa na escola O principal

objetivo da entrevista foi o de analisar os impactos do PEIF na praacutetica a partir das

experiecircncias relatadas O PEIF foi a uacutenica poliacutetica analisada a partir de entrevistas

aos atores diretamente envolvidos pois ateacute o momento da redaccedilatildeo desta

dissertaccedilatildeo constatou-se que este programa eacute a uacutenica poliacutetica educacional oficial do

Estado direcionada especificamente para escolas em regiatildeo de fronteira

internacional

II Estrutura da dissertaccedilatildeo

Esta dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em trecircs capiacutetulos juntamente com a

introduccedilatildeo e consideraccedilotildees finais No primeiro capiacutetulo- Eacute preciso falar de escola na

fronteira- buscou-se a revisatildeo de literatura sobre a temaacutetica fronteira Em seguida a

Fronteira o Territoacuterio e Estado-naccedilatildeo satildeo abordados partindo do princiacutepio de que

no processo de consolidaccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo o territoacuterio representou o espaccedilo

onde o Estado exerce a sua soberania (BOBBIO MATTEUCIA PASQUINO 2004)

A fronteira se insere na condiccedilatildeo de limite poliacutetico fundamental para delimitar o

territoacuterio que por sua vez seraacute o espaccedilo onde o imaginaacuterio da naccedilatildeo eacute construiacutedo

22

(ANDERSON 1993) A seccedilatildeo seguinte apresenta os aspectos da cidade fronteiriccedila

de Foz do Iguaccedilu que permite dizer que ela juntamente com Ciudad del Este e

Puerto Iguazuacute conformam uma regiatildeo fortemente interligada em que fatores como

os econocircmicos e sociais afetam as trecircs cidades

A premissa da triacuteplice fronteira enquanto uma regiatildeo conectada eacute observada nos

exemplos apresentados na seccedilatildeo 14 A porosidade do Estado na fronteira Um deles

demonstra a necessidade de se criar accedilotildees conjuntas para resolver questotildees como

a regulamentaccedilatildeo do trabalhador que atravessa de um paiacutes para o outro na busca

por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e que ao natildeo possuir os documentos que o

regularize natildeo possui direitos de trabalho garantidos Os dois uacuteltimos toacutepicos deste

mesmo capiacutetulo abordam identidade e as escolas na fronteira respectivamente As

diferenccedilas que tem como um dos marcadores a identidade satildeo evidenciadas nas

escolas que se apresenta neste contexto enquanto reguladora a partir de padrotildees

universalistas construiacutedos sem um diaacutelogo com a alteridade (ARROYO 2007)

O capiacutetulo II- A Histoacuteria da Educaccedilatildeo em Foz do Iguaccedilu construtos e

contradiccedilotildees para a consolidaccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo concentrou-se no processo de

formaccedilatildeo das escolas no contexto em que a cidade de Foz do Iguaccedilu foi formada

como tambeacutem sua relaccedilatildeo com a fronteira A Colocircnia Militar criada para proteccedilatildeo e

colonizaccedilatildeo do territoacuterio marca o iniacutecio das demandas pela criaccedilatildeo de escolas que

na ausecircncia do poder puacuteblico eram improvisadas pelos setores da sociedade

(EMER 1991) A influecircncia dos paiacuteses vizinhos no iniacutecio do seacuteculo XX eacute evidenciada

em relatoacuterios que explicam que a ausecircncia de escolas eacute um fator preocupante pois

as crianccedilas brasileiras estavam indo estudar na Argentina Essa influecircncia estaacute nos

relatoacuterios do Plano de desenvolvimento integrado (PDI) da deacutecada de 1970 que ao

analisar a escola e os motivos do fracasso escolar culpabiliza os alunos

estrangeiros que natildeo falam o portuguecircs A deacutecada de 1930 e o projeto de

nacionalizaccedilatildeo de Getuacutelio Vargas satildeo abordados para analisar a importacircncia que a

escola tinha para a construccedilatildeo do projeto de naccedilatildeo

O uacuteltimo capiacutetulo Poliacuteticas Puacuteblicas para a educaccedilatildeo na fronteira entre

Argentina Brasil e Paraguai teve como objetivo analisar as poliacuteticas puacuteblicas

educacionais para a diversidade Apoacutes traccedilar a trajetoacuteria das poliacuteticas educacionais

no Brasil verificou-se seu viacutenculo direto com as condiccedilotildees histoacutericas de cada eacutepoca

No Brasil colocircnia as necessidades estavam voltadas para a catequizaccedilatildeo do

indiacutegena e na instruccedilatildeo dos filhos dos proprietaacuterios de terra e da elite colonial como

23

um todo (MARCILIO 2005) A chegada da coroa portuguesa em 1808 marca o

periacuteodo das reformas pombalinas Marques de Pombal criou uma seacuterie de cursos

profissionalizantes escolas militares tanto de niacutevel meacutedio como superior

(GHIRALDELLI JR 2001)

As primeiras deacutecadas de 1930 marcam o iniacutecio do predomiacutenio das reformas

educacionais de teor nacionalista Ateacute 1930 a estrutura econocircmica brasileira estava

voltada para o modelo agraacuterio-exportador principalmente no campo da cafeicultura

Com a crise do modelo oligaacuterquico e a entrada de Getuacutelio Vargas no poder um novo

modelo de produccedilatildeo se configura mas a dependecircncia do capital estrangeiro

permanece Eacute o modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees iniciado em 1930

caracterizado pela intervenccedilatildeo estatal na economia e no incentivo agrave criaccedilatildeo de

induacutestrias (IANNI 1994)

No campo educacional eacute criado o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e da Sauacutede e com

ele importantes poliacuteticas educacionais como a reforma Francisco Campos em 1931

que regulamentou as escolas superiores secundaacuterias e primaacuterias incorporando

algumas concepccedilotildees pedagoacutegicas inovadoras (SAVIANI 2008)

O fim do Estado Novo com a nova constituinte proporcionou algumas

mudanccedilas na educaccedilatildeo Em 1946 o Ensino Primaacuterio e o Ensino Normal foram

regulamentados foi criado o Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Comercial-SENAC

As principais reformas educacionais aconteceram no governo de Juscelino

Kubitschek (1956-1960) A construccedilatildeo de Brasiacutelia a abertura ao capital estrangeiro

e o investimento em tecnologia marcaram um periacuteodo em que a naccedilatildeo eacute mobilizada

para superar seu atraso No campo da educaccedilatildeo o programa de metas do governo

priorizou a formaccedilatildeo teacutecnica dos trabalhadores

Na deacutecada de 1950 inicia-se o debate sobre a Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos

e sua funccedilatildeo ateacute entatildeo destinada agrave mera transmissatildeo de conteuacutedos Eacute o comeccedilo do

debate em torno da educaccedilatildeo popular que incluiacuteam vaacuterios adeptos educadores

liacutederes comunitaacuterios intelectuais e estudantes de todo o paiacutes A liberdade de

expressatildeo nos primeiros anos da deacutecada de 1960 permitiu que houvesse a criaccedilatildeo

de diversos espaccedilos para promoccedilatildeo das massas e da educaccedilatildeo popular Inspirado

nesse movimento de base o Plano de Nacional Alfabetizaccedilatildeo de 1964 no governo

de Joatildeo Goulart criou o meacutetodo que alfabetizava em 40 horas guiado pelo meacutetodo

de Paulo Freire Contudo com o golpe militar em 1964 o plano mal chegou a ser

implantado (PAIVA 1984)

24

A partir do governo dos militares em termos educacionais presencia-se a

repressatildeo exclusatildeo das camadas populares do ensino profissionalizante e o

desmantelamento da organizaccedilatildeo docente (GHIRALDELLI JR 2001)

A Constituinte de 1988 marca a retomada da participaccedilatildeo de diferentes

grupos organizados da sociedade como os movimentos sociais nas proposiccedilotildees de

poliacuteticas puacuteblicas A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional de 96 eacute nesse

sentido considerada um grande avanccedilo ao incluir em 2003 e 2008 a Lei 1063903

que torna o ensino de histoacuteria da Aacutefrica e da cultura afro-brasileira como obrigatoacuterio

no curriacuteculo das escola puacuteblicas e brasileiras Os Paracircmetros Curriculares Nacionais

com o tema transversal pluralidade cultural tambeacutem satildeo outros dispositivos que

buscam abordar a diversidade eacutetnico-racial nas escolas brasileiras (BRASIL 2003)

Apesar dos avanccedilos das poliacuteticas educacionais para diversidade algumas

anaacutelises apontam para a sua tendecircncia homogeneizadora (ABG 1996) As poliacuteticas

em niacutevel estadual natildeo satildeo muito diferentes dos pressupostos nacionais na medida

em que estatildeo subordinados agrave LDB96 e isso inclui o curriacuteculo baacutesico para a escola

puacuteblica municipal do Oeste do Paranaacute feito pela Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oe

ste do Paranaacute (AMOP)

Dentre as poliacuteticas educacionais estudadas o Programa Escolas

Interculturais Biliacutenguumles de Fronteira eacute um programa que nasceu com o objetivo de

promover o processo intercultural por meio do ensino biliacutengue nas escolas

pertencentes a regiotildees de fronteira internacional Os primeiros paiacuteses que aderiram

ao programa foram a Argentina e o Brasil mediante acordos assinados dentro do

bloco econocircmico Mercosul por meio do Setor Educacional do Mercosul (SEM)

responsaacutevel por desenvolver as propostas para implementaccedilatildeo de poliacuteticas

educacionais dentre essas a poliacutetica linguiacutestica

25

CAPIacuteTULO 1 Eacute PRECISO FALAR DA ESCOLA NA FRONTEIRA

11 Fronteira- Primeiras aproximaccedilotildees

Etimologicamente a palavra fronteira deriva do latim Fron e quer dizer ldquode

frenterdquo Ela foi utilizada pela primeira vez no seacuteculo XIII para estabelecer o limite

temporaacuterio e flutuante que separava dois exeacutercitos de poder no momento de conflito

(FEgraveBVRE 1962 apud SILVA 2008 p8) Foi a partir da formaccedilatildeo e expansatildeo do

Estado-naccedilatildeo que a fronteira passou a ser sinocircnimo de limite de soberania O termo

linha de fronteira por sua vez representa os limites internacionais Tal expressatildeo

acompanhou estreitamente os avanccedilos do pensamento moderno sobre territoacuterio

Hoje assim como inuacutemeras palavras que mudam ou assumem outros

sentidos de acordo com o tempo e espaccedilo a palavra fronteira assume outros

sentidos e significados No dicionaacuterio de liacutengua portuguesa Aureacutelio5 a definiccedilatildeo de

fronteira eacute apresentada enquanto limite ou divisa de um dado territoacuterio No entanto

esta palavra natildeo se resume agrave noccedilatildeo de separaccedilatildeo De acordo com Becker (2007) a

fronteira eacute concebida como parte das relaccedilotildees humanas em suas mais distintas

formas sejam elas econocircmicas poliacuteticas sociais religiosas culturais ou simboacutelicas

Os novos enfoques socioloacutegicos historiograacuteficos e antropoloacutegicos tecircm ampliado as

possibilidades de estudos diferenciados acerca do tema fronteira Um exemplo disto

satildeo as anaacutelises sobre praacuteticas culturais e accedilotildees sociais Para Albuquerque (2010) a

fronteira apresenta-se como um cenaacuterio de relaccedilotildees sociais

As fronteiras podem ser vistas como um campo singular de relaccedilotildees sociais entrelaccediladas com os atuais processos de globalizaccedilatildeo e de redefiniccedilatildeo do papel dos limites entre os Estados nacionais A fronteira eacute geralmente percebida por esses estudiosos como um lugar de passagem de contato e traduccedilatildeo cultural (ALBUQUERQUE 2010 p48)

Nesse sentido a palavra fronteira natildeo eacute neutra ao contraacuterio eacute carregada de

inuacutemeros sentidos como exemplifica Faacutebio Reacutegio Bento ldquopara o contrabandista

fronteira significa afliccedilatildeo para o exilado poliacutetico passar a fronteira significa

libertaccedilatildeordquo (BENTO 2012 p2)

5Ver Dicionaacuterio Aureacutelio Online Disponiacutevel em lthttpwwwdicionariodoaureliocomfronteiragt Acesso

em 01102014

26

Na perspectiva durkhiemiana Fronteira eacute definida enquanto um fato social

Em As Regras do Meacutetodo Socioloacutegico (1865) Eacutemile Durkheim busca trata-la como

coisa ou seja algo possiacutevel de ser estudado Sendo coisa social a fronteira eacute

exterior ao indiviacuteduo assim torna-se passiacutevel de ser compreendida e explicada

racionalmente Regina Coeli Machado e Silva (2015) citando Strathern (2014)

aponta entretanto que a ldquofronteira eacute um dos conceitos menos sutis da anaacutelise

socioloacutegica como reificaccedilatildeo de uma abstraccedilatildeo socialrdquo Eacute a partir dessa mesma

abstraccedilatildeo que obtemos efeitos sociais tanto de exclusatildeo e quanto de participaccedilatildeo

social demonstrado as ldquoambiguidades do Estado-Naccedilatildeo brasileiro e das suas

fronteiras geopoliacuteticasrdquo (STRATHERN 2014 apud SILVA 2015 p1)

De maneira geral os estudos referentes agrave fronteira apresentam-se tanto no

sentido Stricto - a noccedilatildeo tradicional onde fronteira eacute a divisa entre estados no

acircmbito nacional ou internacional6 - como tambeacutem no sentido Lato - neste caso as

fronteiras do pensamento sendo elas nocircmades e sociais A respeito deste uacuteltimo

pode-se mencionar o exemplo de uma cidade marcada pela desigualdade social

Nela a fronteira manifesta-se por meio da disposiccedilatildeo das residecircncias estatildeo

dispostas a cidade de Satildeo Paulo demonstra estas fronteiras de um lado

comunidades carentes de outro casas luxuosas7

Imagem 1 - A Triacuteplice Fronteira- Argentina Brasil e Paraguai Fonte wwwoiguassucom

6Vide imagem 1

7Vide imagem 2

27

Imagem 2 - Favela Paraisoacutepolis em contraste com o bairro de classe alta Morumbi em Satildeo Paulo capital

Fonte e foto Tuca Vieira- httpwwwtucavieiracombrA-foto-da-favela-de-Paraisopolis

Desse modo nesta dissertaccedilatildeo ao tratarmos a fronteira em seu sentido

geograacutefico estaremos buscando a localizaccedilatildeo no tempo e espaccedilo de onde

estamos falando Quando ampliarmos a noccedilatildeo deste termo para os sentidos poliacutetico

e social estaremos buscando responder a questotildees que dizem respeito agraves

consequecircncias de um processo histoacuterico em que os Estados nacionais mesmo

tendo realizado as demarcaccedilotildees de seus limites natildeo conseguiram impedir que o

mesmo ocorresse entre as populaccedilotildees que transitam em seu interior Eacute o que afirma

Albuquerque (2010) para o qual

A reflexatildeo sobre identidades nacionais e os conflitos sociais nas aacutereas de delimitaccedilotildees dos Estados-Nacionais produzem novas abordagens sobre as fronteiras e desnaturalizam as bdquofronteiras naturais‟ das naccedilotildees (ALBUQUERQUE 2010 p 45)

Em artigo publicado na obra ldquoDilemas e Diaacutelogos Platinos Fronteirasrdquo

Machado (2010) aponta que os estudos entre as fronteiras dos Estados-Nacionais

satildeo uacutenicos No caso do Brasil a Constituiccedilatildeo de 1988 confirmou a delimitaccedilatildeo de

150 km a partir do limite internacional como faixa de fronteira Desse modo natildeo

apenas a cidade que faz divisa com outro paiacutes eacute considerada fronteiriccedila mas

tambeacutem as outras cidades que ficam dentro desta faixa de 150 km

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014)

o Brasil possui uma fronteira mariacutetima de 7367 quilocircmetros e 16886 quilocircmetros de

fronteira terrestre com nove paiacuteses da Ameacuterica do Sul sendo eles Argentina

Boliacutevia Colocircmbia Guiana Peru Suriname Venezuela Paraguai Uruguai e com o

Departamento Ultramarino Francecircs da Guiana conforme observa-se na Figura 3

28

Imagem 3 - Faixa de Fronteira do Brasil com os paiacuteses da regiatildeo

Fonte Jornal Tribuna wwwjornaltribunacombr

Como os dados assinalam a dimensatildeo da fronteira do Brasil com os paiacuteses

da Ameacuterica Latina eacute expressiva e natildeo apenas no sentido de extensatildeo territorial

visto que o contato direto e diaacuterio entre as populaccedilotildees inseridas neste contexto torna

a fronteira expressiva tambeacutem no que se refere agrave dimensatildeo das relaccedilotildees sociais

Desse modo ao estudar as poliacuteticas puacuteblicas no contexto de fronteira

internacional natildeo eacute apenas a conjuntura nacional que estaacute sendo considerada mas

tambeacutem o plano externo -em sentido transnacional - considerando-se os fluxos da

populaccedilatildeo brasileira paraguaia e argentina que circulam de um paiacutes para o outro

Fernand Brauduel (1989) ao abordar as fronteiras afirma que elas

incorporam aleacutem da dimensatildeo espacial tambeacutem a ldquodimensatildeo temporalrdquo (BRAUDEL

1989 apud Heinsfeld 2014 281) Como exemplo o autor cita as divisotildees territoriais

da Ameacuterica colonial feitas por Portugal e Espanha delimitaccedilotildees essas que foram

incorporadas antes mesmo da independecircncia das colocircnias Braudel chama atenccedilatildeo

para este fato afirmando que a histoacuteria tem a tendecircncia de cristalizar as fronteiras

como se fossem ldquoacidentes naturaisrdquo (BRAUDEL 1989 p 147) Albuquerque (2010)

tambeacutem compartilha desse raciociacutenio Segundo este autor haacute uma tendecircncia

disseminada no senso comum em se conceber a fronteira enquanto algo dado

pronto e natural como se natildeo houvesse nenhum conflito de fronteira Para aleacutem

disto a fronteira tambeacutem eacute percebida preconceituosamente pela imprensa e o

imaginaacuterio popular como uma terra de ningueacutem perigosa e violenta ou seja espaccedilo

da ilegalidade e da transgressatildeo

Para Albuquerque estas representaccedilotildees satildeo construiacutedas principalmente a

partir de notiacutecias negativas associadas a conflitos violentos Como exemplo temos a

29

imigraccedilatildeo clandestina dos mexicanos para os Estados Unidos ou a disputa territorial

na faixa de Gaza entre Israel e a Palestina Cabe ressaltar que nesta perspectiva

os Estados nacionais desempenham um papel fundamental na construccedilatildeo destas

concepccedilotildees e noccedilotildees acerca da fronteira satildeo eles que legitimam tais imaginaacuterios

por meio de estrateacutegias de proteccedilatildeo do territoacuterio No caso da fronteira com os

Estados Unidos e Meacutexico a poliacutetica de seguranccedila eacute extremamente violenta natildeo

apenas no sentido fiacutesico por meio da construccedilatildeo de muros com arames farpados e

redes de alta tensatildeo mas por meio de um monitoramento que existe com a

utilizaccedilatildeo de tecnologias de ponta A natildeo obediecircncia aos limites pode levar aqueles

(natildeo apenas mexicanos) que queiram atravessar a fronteira ilegalmente agrave morte

Segundo Kearney (apud MONTIEL 2007) esta representaccedilatildeo dos problemas

fronteiriccedilos tem estado muito presente na imprensa norte-americana e tem resultado

na justificativa e defensiva do que ele denomina de ldquonacionalismo dos brancosrdquo

(KEARNEY 1991 apud MONTIEL 2007 p10) Isto explicaria o atual endurecimento

da poliacutetica do governo estadunidense que resulta natildeo apenas na militarizaccedilatildeo da

mesma mas no polecircmico projeto de construccedilatildeo de um muro ao longo da faixa de

fronteira remetendo ao modelo da ldquocortina de ferrordquo dos paiacuteses europeus no periacuteodo

da Guerra Fria que dividia de um lado os paiacuteses do leste europeu sob a influecircncia

da Uniatildeo Sovieacutetica e de outro os paiacuteses pertencentes agraves zonas de influecircncia dos

Estados Unidos

12 Fronteira e a educaccedilatildeo como construto da naccedilatildeo

Segundo o Dicionaacuterio de Poliacutetica o Estado Moderno tal qual o conhecemos

tem suas origens nas transformaccedilotildees ocorridas ao final da Idade Meacutedia que

resultaram em tratados como a Paz de Vestfaacutelia que simbolizou ldquoo momento em

que se reconhece formalmente de modo geral a soberania absoluta do Estado no

plano internacionalrdquo (BOBBIO MATTEUCIA PASQUINO 1998 p1090) Mas eacute a

definiccedilatildeo de Max Weber sobre o Estado Moderno uma das mais conhecidas Para

ele o Estado faz o uso legiacutetimo da violecircncia numa relaccedilatildeo entre homens que

dominam seus iguais em um determinado territoacuterio

Estado eacute uma relaccedilatildeo de homens dominando homens relaccedilatildeo mantida por meio da violecircncia legiacutetima (isto eacute considerada como

30

legiacutetima) Ele eacute uma comunidade humana que pretende com ecircxito o monopoacutelio do uso legiacutetimo da forccedila fiacutesica dentro de um determinado territoacuterio (WEBER 1998 p98-99)

Destaca-se aqui a questatildeo do territoacuterio uma vez que sua relaccedilatildeo com a

fronteira eacute inerente Logo falar de fronteira fiacutesica em sua definiccedilatildeo claacutessica

pressupotildee que haja um territoacuterio que fora delimitado a partir de tratados acordos ou

mesmo a venda do territoacuterio em disputa O geoacutegrafo Rogeacuterio Haesbaert afirma que o

territoacuterio estaacute mergulhado em

() relaccedilotildees de dominaccedilatildeo eou de apropriaccedilatildeo sociedade-espaccedilo desdobra-se ao longo de um continuum que vai da dominaccedilatildeo poliacutetico-econocircmica mais bdquoconcreta‟ e bdquofuncional‟ agrave apropriaccedilatildeo mais subjetiva eou bdquocultural-simboacutelica (HAESBAERT 2004 p95-96)

O autor chega a esta conclusatildeo apoacutes realizar uma analise histoacuterico-social do termo

quando a palavra territoacuterio surgiu com duas conotaccedilotildees material e simboacutelica ldquopois

etimologicamente aparece tatildeo proacuteximo de terra-territorium quanto de terreo-territor

(terror aterrorizar)rdquo (HAESBAERT 2004 p 2) O autor afirma que as duas

conotaccedilotildees tem a ver com poder natildeo somente no significado tradicional de bdquopoder

poliacutetico‟ ldquoEle diz respeito tanto ao poder no sentido mais concreto de dominaccedilatildeo

quanto ao poder no sentido mais simboacutelico de apropriaccedilatildeordquo (HAESBAERT 2004 p

2)

Portanto todo territoacuterio eacute ao mesmo tempo e obrigatoriamente em diferentes combinaccedilotildees funcional e simboacutelico pois exercemos domiacutenio sobre o espaccedilo tanto para realizar ldquofunccedilotildeesrdquo quanto para produzir bdquosignificados‟ (HAESBART 2004 p67)

Hoje o modelo de Estado territorial eacute definido como aquele que organiza este

territoacuterio que por sua vez eacute delimitado por uma fronteira cuja populaccedilatildeo estaacute unida

pelo sentimento de naccedilatildeo Por naccedilatildeo Benedict Anderson (1993) entende que ldquoseja

uma comunidade imaginada como sendo intrinsecamente limitada e ao mesmo

tempo soberanardquo (ANDERSON 1993 p24)

Utilizando a definiccedilatildeo de Anderson para naccedilatildeo tendo em vista que haacute outras

definiccedilotildees para o termo o autor explica que a naccedilatildeo eacute imaginada pois nem todos

aqueles que fazem parte dela se reconhecem ainda que tenham consciecircncia que

haja uma comunhatildeo entre eles Desse modo o sentido de pertenccedila agrave naccedilatildeo existe

somente quando os sujeitos partilham de certo imaginaacuterio social mesmo que natildeo se

conheccedilam mutuamente Entretanto esta imaginaccedilatildeo eacute limitada uma vez que seu

31

campo de abrangecircncia eacute limitado Eacute soberano assim o anseio de qualquer naccedilatildeo

ser livre da subordinaccedilatildeo de outros poderes8ou de outras naccedilotildees

Por fim a naccedilatildeo eacute imaginada como uma comunidade tendo em vista que

independentemente das desigualdades que existam entre as pessoas - sociais

poliacuteticas ou econocircmicas - o senso de companheirismo extrapola as diferenccedilas

sociais que haacute entre elas Para Anderson eacute este sentimento de unicidade que fez

com que tantas pessoas morressem em nome da defesa da naccedilatildeo nos uacuteltimos

seacuteculos

A fim de explicar como se deu este processo de construccedilatildeo da naccedilatildeo nos

paiacuteses europeus Benedict Anderson menciona os jornais impressos que quando

popularizados tornaram-se um dos meios mais eficazes de inculcar valores na

sociedade servindo entatildeo de instrumento para a construccedilatildeo de uma naccedilatildeo Se

partirmos da afirmaccedilatildeo de Durkheim segundo a qual a educaccedilatildeo tem como funccedilatildeo

coletiva adaptar a crianccedila ao meio social faz-se necessaacuterio para isto que se

estabeleccedila entre a sociedade e a escola uma ldquocomunhatildeo de ideias e sentimentos

suficientes entre os cidadatildeos comunhatildeo sem a qual qualquer sociedade eacute

impossiacutevelrdquo (DURKHIEM 2011 p63) podemos perceber como a escola e o modo

com que o Estado designa o que deve ou natildeo conter como base comum a todo

curriacuteculo nacional torna a educaccedilatildeo escolar um mecanismo de constructo da naccedilatildeo

seguindo portanto a mesma premissa de Anderson

Na cidade fronteiriccedila durante o periacuteodo de instalaccedilatildeo e funcionamento da

Colocircnia Militar da Foz de Iguaccedilu entre 1889 e 1912 jaacute havia uma preocupaccedilatildeo com

o fato de as crianccedilas brasileiras estudarem na Argentina Afinal estavam

assimilando a cultura e os valores nacionais do paiacutes vizinho o que ameaccedilava o

territoacuterio Mais tarde na Era Vargas o projeto nacionalista de unificar o paiacutes passou

pela educaccedilatildeo Neste periacuteodo escolas como as construiacutedas por estrangeiros eram

fechadas caso natildeo se adaptassem agraves poliacuteticas nacionais que tinham entre outros

objetivos

() homogeneizar a populaccedilatildeo dando a cada nova geraccedilatildeo o instrumento do idioma os rudimentos da geografia e da histoacuteria paacutetria os elementos da arte popular e do folclore as bases da formaccedilatildeo ciacutevica e moral a feiccedilatildeo dos sentimentos e ideias coletivos em que afinal o senso de unidade e de comunhatildeo nacional repousam

8Eacute tambeacutem imaginada como soberana porque nasceu numa eacutepoca em que o Iluminismo e a

Revoluccedilatildeo destruiacuteram a legitimidade do domiacutenio dinaacutestico e ordenado por Deus (ANDERSON 1993)

32

(PALMEIRA 1943 apud SCHWARTZMAN BOMENY COSTA 2000 p 93)

Diante das estrateacutegias que o Estado Moderno desenvolveu para construir a

ideia de naccedilatildeo a proacutepria fronteira poliacutetica requer quase sempre a justificaccedilatildeo

ideoloacutegica da comunidade nacional Fora preciso estabelecer na fronteira natildeo

apenas a delimitaccedilatildeo em termos juriacutedicos e fiacutesicos mas tambeacutem no social a partir

da separaccedilatildeo entre o ldquonoacutesrdquo e os ldquooutrosrdquo

A preocupaccedilatildeo com a construccedilatildeo de um senso de unidade e de comunhatildeo

nacional pela educaccedilatildeo escolar portanto acompanhou a histoacuteria de Foz do Iguaccedilu

Pois eacute importante descrever na proacutexima seccedilatildeo como ela aparece retomando como

ideacuteia a fronteira na histoacuteria da cidade

13 Reatualizaccedilatildeo de naccedilatildeo por deslizamentos em seus limites fronteiriccedilos

A cidade de Foz do Iguaccedilu eacute reconhecida por ser uma importante cidade

turiacutestica Nela encontram-se uma das ldquosete maravilhas da naturezardquo as Cataratas do

Iguaccedilu e a maior usina geradora de energia do mundo9 a hidreleacutetrica Itaipu

Binacional Por fazer fronteira com o Paraguai a cidade brasileira torna-se ainda

mais atrativa devido ao comeacutercio com Ciudad del Este Os meios de comunicaccedilatildeo

que costumam divulgar os atrativos turiacutesticos de Foz do Iguaccedilu exaltam o fato da

cidade possuir diferentes etnias e nacionalidades convivendo em um mesmo

territoacuterio Na ocasiatildeo do centenaacuterio da cidade foi composta a muacutesica bdquoIsso eacute Foz do

Iguaccedilu‟ que evidecircncia esse bdquoolhar‟ multicultural

Cidade de todas as raccedilas Que aceita o negro que aceita o branco

Iacutendio cafuzo amarelo e mamelucoCidade cosmopolitaTem brasileiro tem

argentinoAacuterabe chinecircs paraguaio e palestino Isso eacute Foz do IguaccediluDa

triacuteplice fronteira do sul Onde o ceacuteu eacute mais que azulTerra das cataratas do

Iguaccedilu (COPETTI 2014)

Nos versos verifica-se que uma das principais caracteriacutesticas atribuiacutedas agrave

cidade eacute ser multicultural com diferentes nacionalidades e etnias convivendo

pacificamente neste territoacuterio rico por suas belezas naturais No entanto existe

tambeacutem uma narrativa que caracteriza a cidade como perigosa marginal rota para

9 Dados obtidos no site oficial da Usina Hidreleacutetrica de Itaipu Binacional Disponiacutevel em

lthttpswwwitaipugovbrgt Acesso em 12122015

33

o grande traacutefico de armas e drogas espaccedilo de corrupccedilatildeo e lavagem de dinheiro

representada principalmente pela imprensa argentina de Puerto Iguazuacute e de Foz do

Iguaccedilu (ALBUQUERQUE 2010) conforme os enunciados abaixo sugerem

-PF10 estoura quadrilha que envolvia empresas-fantasmas de Foz do Iguaccedilu e traficantes do Paraguai Operaccedilatildeo Sustenido desmantelou organizaccedilatildeo criminosa suspeita de movimentar R$ 300 milhotildees (PORTAL R7 22052015)

-Contrabando ldquoempregardquo 15 mil em Foz do Iguaccedilu (GAZETA DO POVO 03032015) -Policia Federal apreende cigarros contrabandeados e um veiacuteculo (JT TRIBUNA 29012016)

Na perspectiva de Lorenzo Macagno (2011) esta visatildeo tatildeo dicotocircmica e

oposta ldquose produz e se reproduz justamente num espaccedilo peculiar e contraditoacuterio

Ali nos confins da naccedilatildeo nos espaccedilos liminares e de tracircnsito eacute onde esta conciliaccedilatildeo parece impor a necessidade de uma perpeacutetua reatualizaccedilatildeo de si mesma Sob este aparente paradoxo reside uma tensatildeo iminente entre o bdquonacional‟ e o transnacional (MACAGNO 2011 p25)

Para conhecer a dinacircmica de Foz do Iguaccedilu enquanto cidade de fronteira eacute

preciso primeiramente localizaacute-la no contexto da Triacuteplice Fronteira que recebeu

essa denominaccedilatildeo a partir de 1992 momento em que se levantavam suspeitas da

presenccedila de terroristas islacircmicos na regiatildeo A partir de 1996 o termo foi oficialmente

adotado pelo governo dos trecircs paiacuteses Utilizo-me da tese de Fernando Lima (2011)

o qual defende e argumenta que esta Triacuteplice Fronteira pode ser considerada uma

regiatildeo por possuir caracteriacutesticas proacuteprias diferente assim de outras regiotildees do

estado do Paranaacute e do sul do Brasil (LIMA 2011)

Ao tratar da origem do termo Triacuteplice Fronteira Rabossi (2004) aponta que

antes dos anos de 1990 para se referir agrave regiatildeo em seu conjunto se falava zona

regiatildeo ou trecircs fronteiras Em alguns jornais do final dos anos de 1980 o termo

bdquotriacuteplice fronteira‟ aparece para nomear a regiatildeo entretanto esse uso era geneacuterico

nunca substantivo proacuteprio Para exemplificar a constataccedilatildeo da dificuldade que era

pensar os paiacuteses fronteiriccedilos enquanto uma unidade Rabossi (2004) cita o trecho

texto do jornalista Bojunga de 1978 que diz

10

PF - abreviaccedilatildeo para Poliacutecia Federal

34

Em IguaccediluIguazuPuerto Presidente Strossneressa atividade [o contrabando] atinge caracteriacutesticas delirantes Nesse ponto em que as fronteiras da Argentina do Brasil e do Paraguai se encontram nada se perde tudo se trafica (BOJUNGA 1978 p 202 apud RABOSSI 2004 p 24)

A apariccedilatildeo do substantivo proacuteprio bdquoTriacuteplice Fronteira‟ surge a partir das

suspeitas de que havia terroristas islacircmicos na regiatildeo apoacutes os atentados na

embaixada de Israel na capital argentina Buenos Aires em 1992 Esta suspeita

aumentou apoacutes o atentado agrave Asociaciacuteon de Mutuales Israelitas Argentinas [AMIA]

em 1994 (RABOSSI 2004) Deste modo o termo Triacuteplice Fronteira surge

relacionado agraves questotildees de seguranccedila que envolve os trecircs paiacuteses ldquoEssa

denominaccedilatildeo pressupotildee a existecircncia de uma aacuterea singular e participa de sua

criaccedilatildeo a partir de uma praacutetica de nominaccedilatildeo que possibilita a emergecircncia

conceitual de um lugar onde estatildeo relacionadas agraves trecircs cidadesrdquo (RABOSSI 2004

p24) Rabossi (2004) considera a Triacuteplice Fronteira uma regiatildeo singular como Lima

(2011) afirma que Foz do Iguaccedilu possui caracteriacutesticas distintas das demais cidades

brasileiras cuja distinccedilatildeo se daacute por essa localizaccedilatildeo

Lima fala da integraccedilatildeo comercial seja por meio do turismo como a visitaccedilatildeo

agraves cataratas no Brasil e na Argentina seja por meio das compras em Ciudad del

Este que tornam a situaccedilatildeo econocircmica das cidades dependentes uma das outras O

autor chama atenccedilatildeo para a relaccedilatildeo entre as cidades de Foz do Iguaccedilu e Ciudad del

Este Ele chega agrave conclusatildeo de que a relaccedilatildeo de trabalho entre brasileiros e

paraguaios natildeo se reduz agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos aos sacoleiros que pagam aos

paraguaios para atravessarem a ponte com a mercadoria que excede a cota

permitida ldquoTrata-se de uma verdadeira extensatildeo do mercado de trabalho de Foz do

Iguaccedilurdquo (LIMA 2011 p142)

Lima aponta que embora a Itaipu seja de suma importacircncia econocircmica para

o Brasil e o Paraguai a hidreleacutetrica eacute uma ldquoinduacutestria deslocalizadardquo (LIMA 2011 p

143) Isto significa que o que ela movimenta em termos econocircmicos fica longe da

cidade Os benefiacutecios para a cidade se encontram nos pagamentos de royalties e

nos salaacuterios dos trabalhadores que por sua vez eacute um grupo relativamente pequeno

o que ldquoimpede que se forme uma massa salarial grande o suficiente para gerar uma

dinacircmica endoacutegena de crescimentordquo (LIMA 2011 p142) Ateacute mesmo o expressivo

nuacutemero de funcionaacuterios puacuteblicos existente em Foz do Iguaccedilu em decorrecircncia da

35

Aduana e da Poliacutecia Federal natildeo eacute capaz de juntamente com a Itaipu estimular o

mercado de serviccedilos local Uma das maiores movimentaccedilotildees econocircmicas da cidade

encontra-se no turismo motivado pelas Cataratas do Iguaccedilu No entanto esta aacuterea

apresenta inuacutemeras fragilidades sobretudo no que diz respeito agraves flutuaccedilotildees do

cacircmbio brasileiro e argentino aleacutem da questatildeo sazonal e a proacutepria dinacircmica do

mercado que gera a competiccedilatildeo com outros destinos turiacutesticos Com estas

caracteriacutesticas Fernando Lima afirma que tanto no acircmbito econocircmico como no

social Foz do Iguaccedilu articula-se aos fatos econocircmicos da fronteira conformando

uma economia regional Neste sentido o autor sugere a formulaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas que possam oferecer maior liberdade ao comeacutercio da regiatildeo em relaccedilatildeo agraves

poliacuteticas nacionais

Devido agrave falta desse tipo de poliacutetica de fronteira que Machado (2010) afirma

que tem sido difiacutecil para os Estados-Nacionais lidarem com a real ldquofluidez dos

agrupamentos humanosrdquo e mais ainda com o ajustamento de redes poliacuteticas

identitaacuterias econocircmicas e sociais superpostas aos limites dos estados territoriais

(MACHADO 2010 p71) Torna-se necessaacuterio avanccedilar na concepccedilatildeo de Estado

para aleacutem da esfera juriacutedica e poliacutetica para compreender que a fronteira eacute um

espaccedilo permeado por vidas e com relaccedilotildees que ultrapassam os seus limites

territoriais A Triacuteplice Fronteira ldquoeacute o espaccedilo de trocas culturais onde o local e o

internacional se articulam estabelecendo viacutenculos e dinacircmicas especiacuteficasrdquo

(MULLER 2005 p03)

Cury e Fraga (2013) consideram que a especificidade da Triacuteplice Fronteira

manifesta-se a partir das experiecircncias que se realizam nos espaccedilos e unem povos

e culturas distintas sociedades que apresentam princiacutepios sociais de forma

integrada na sua diversidade ldquosem que se dispense o fato de que os brasileiros satildeo

brasileiros paraguaios satildeo paraguaios e argentinos satildeo argentinosrdquo (CURY e

FRAGA 2013 p 52)

Estes fluxos intensos fazem com que haja encontros e desencontros De um

lado as trocas interculturais a sociabilidade e a relaccedilatildeo amistosa de outro e ao

mesmo tempo as tensotildees de ordem cultural

A vida na fronteira passa constantemente pela afirmaccedilatildeo do eu e consequumlentemente pelo reconhecimento do outro Os de laacute e os de

36

caacute constroem a relaccedilatildeo estruturam o espaccedilo como sendo de ambos (MULLER 200311)

Neste sentido ocorre uma reatualizaccedilatildeo da naccedilatildeo na fronteira pois eacute um

espaccedilo que ao mesmo tempo une e separa nas palavras de Clemente de Souza

(2009 p106) ldquoSatildeo espaccedilos nos quais o local e o internacional se articula

estabelecendo viacutenculos e dinacircmicas proacuteprias construiacutedas e reforccediladas pelos povos

fronteiriccedilosrdquo Para Souza (2009) as identidades e as culturas nacionais de cada um

dos paiacuteses fronteiriccedilos satildeo construiacutedas e reelaboradas por meio da interaccedilatildeo entre a

populaccedilatildeo desta regiatildeo assim acabam por constituir ldquooutra cultura e identidade

diferenciada capaz de recriar um novo lugar com aspectos regionaisrdquo (SOUZA

2009 p106)

14 A porosidade do Estado sob a forma de poliacuteticas puacuteblicas

Natildeo eacute apenas a educaccedilatildeo um tema delicado ao se abordar poliacuteticas puacuteblicas

para a fronteira Os exemplos das pesquisas tratadas nessa seccedilatildeo demonstram que

a particularidade da fronteira faz com que as poliacuteticas nacionais para o trabalho e a

sauacutede natildeo alcancem todos na fronteira

Na regiatildeo da Triacuteplice Fronteira a relaccedilatildeo que se estabelece principalmente entre

o Brasil e o Paraguai chama a atenccedilatildeo por seus laccedilos comerciais que fazem com

que o fluxo de pessoas seja intenso nos dois lados da fronteira Eacute comum a

premissa um morador passar o dia de trabalho em paiacutes vizinho onde sua renda eacute

obtida e viver parte do tempo em seu paiacutes de origem Eacute o caso dos trabalhadores

que satildeo contratados para atravessar mercadorias de Ciudad del Este para Foz do

Iguaccedilu de brasileiros que possuem alguma atividade comercial na Argentina ou

Paraguai ou das trabalhadoras domeacutesticas conhecidas como diaristas De modo

direto ou indireto satildeo trabalhadores (as) que contribuem com a economia da regiatildeo

fronteiriccedila mas que do ponto de vista dos direitos trabalhistas eacute um grupo que

acaba ficando agrave margem desses direitos por diferentes justificativas No caso das

11 Documento eletrocircnico sem paginaccedilatildeo MULLER K M O estudo Miacutedia e fronteira jornais locais em Uruguaiana-Libres e Livramento-Rivera Tese de doutorado defendida na Universidade do Vale dos

Sinos Satildeo Leopoldo fev 2003

17112015

37

diaristas paraguaias dada sua situaccedilatildeo de imigrantes encontram dificuldades para

a comprovaccedilatildeo de documentos necessaacuterios para exercer tal atividade no paiacutes Com

isso acabam na informalidade abrindo brechas para a desvalorizaccedilatildeo de seus

salaacuterios podendo ateacute mesmo virem a trabalhar sob condiccedilotildees insalubres e

exaustivas O delegado da Poliacutecia Federal Rodrigo Perin em uma reportagem

concedida ao site G1 fez a seguinte observaccedilatildeo sobre essa situaccedilatildeo

Na realidade se a pessoa estiver regularizada em territoacuterio nacional e estiver apta para trabalhar como ela vai ter todos os direitos trabalhistas ela natildeo vai poder receber um salaacuterio menor do que o piso fixado para aquela categoria bdquoA partir do momento que ela se encontra em situaccedilatildeo irregular ela vai receber um salaacuterio muito iacutenfimo agraves vezes varia de R$ 150 a R$ 200‟ afirmou o delegado A pessoa que contratar uma empregada domeacutestica ilegal pode ser multado em R$ 2500 Aleacutem disso o patratildeo pode responder criminalmente por manter o trabalhador em condiccedilatildeo similar a de escravo A empregada pode ser deportada para o paiacutes de origem (PORTAL DE NOTIacuteCIAS G1 2011)

Como exemplo de uma possiacutevel soluccedilatildeo ao problema da informalidade o

Ministeacuterio Puacuteblico de Foz do Iguaccedilu apoacutes receber denuacutencias acerca das

trabalhadoras domeacutesticas em regime irregular de trabalho passou a notificar os

siacutendicos de condomiacutenios da cidade a prestar contas sobre o nuacutemero de funcionaacuterios

(as) e empregados(as) contratados pelos moradores Entretanto os proacuteprios

trabalhadores temendo a demissatildeo optaram por seguirem na informalidade Tal

medida explica Hofling (2001) ldquofoi puramente repressiva e unilateral por parte do

governo brasileiro sem planejamento ou conexatildeo com outras poliacuteticas integradas

com os paiacuteses vizinhosrdquo (HOFLING 2001 p 177)

No que confere agrave questatildeo entre o legal e o ilegal este uacuteltimo eacute tatildeo

frequumlentemente associado agrave fronteira que quase vira seu sinocircnimo Esta noccedilatildeo fora

criticada por Rabossi (2011) o qual considera que o modelo de ordem e de lei

vigente natildeo se aplica para pensar ldquoo funcionamento efetivo da lei nem as atividades

que se desenvolvem naquele espaccedilordquo (RABOSSI 2011 p64) Segundo Silva (2015)

a vida dessas pessoas que vivem na ilegalidade equivaleria ao que ela denomina

de ldquoprotocidadania em direccedilatildeo inversa ou a uma forma de vida ambiacutegua e

paradoxal diante do Estado-Naccedilatildeordquo Para a autora haacute uma cidadania que eacute rompida

em sua continuidade entre o nascimento e a nacionalidade onde o sujeito encontra-

se dentro e fora da lei imersos em uma bdquozona de inderteminaccedilatildeo‟ (SILVA 2015

p3)

38

Quanto agrave questatildeo da violecircncia do traacutefico de drogas da exploraccedilatildeo sexual do

trabalho infantil que satildeo intensas na regiatildeo Rosana Pinheiro Machado (2011) em

seu artigo ldquoCaminhos do descaminho Etnografia da fiscalizaccedilatildeo na Ponte da

Amizade e seus efeitos no cotidiano da Triacuteplice Fronteira aponta que apenas ldquouma

fiscalizaccedilatildeo unilateral sem amparo de poliacuteticas puacuteblicas natildeo parece extinguir tais

problemas mas apenas deslocaacute-losrdquo (MACHADO 2011 p145)

Quando se trata de poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para a regiatildeo de fronteira

internacional o tema da seguranccedila e defesa nacional aparecem como destaque no

processo de elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica Albuquerque explica que a

ldquofronteira geralmente eacute uma zona onde as forccedilas repressoras e fiscalizadoras do

Estado tecircm dificuldade em exercer o monopoacutelio das armas e das leisrdquo

(ALBUQUERQUE 2005 p67) Essa suposta ausecircncia de controle acaba

legitimando a imagem de que a fronteira eacute uma terra de ningueacutem

O mesmo autor explica que a triacuteplice fronteira a partir de meados da deacutecada

de 1990 passou a ser representada principalmente pela imprensa brasileira e

argentina juntamente com os organismos oficiais de inteligecircncia dos Estados

Unidos como um local de traacutefico de armas e drogas de lavagem de dinheiro dentre

outros sendo portanto caracterizada como ldquosantuaacuterio da corrupccedilatildeo impunidade e

delinquumlecircnciardquo (ALBUQUERQUE 2010 p39)

Seja pelas imagens incansaacuteveis divulgadas pelos meios de comunicaccedilatildeo de

que a fronteira requer maior atenccedilatildeo no quesito seguranccedila ou pelas pressotildees

internacionais ou mesmo pelo interesse do Estado em querer legitimar o uso da

forccedila na regiatildeo demonstrando sua soberania perante os paiacuteses vizinhos a

seguranccedila na fronteira eacute o tema mais visiacutevel no sentido de poliacutetica puacuteblica

Certamente a securitizaccedilatildeo processo pelo qual a seguranccedila puacuteblica torna-se o argumento central nas relaccedilotildees entre sociedade e Estado (Gruszczac 2010) marca a gestatildeo estatal das fronteiras no globo com ecircnfases e significados ligados agrave seguranccedila puacuteblica nacional e internacional (Machado Novaes Monteiro 2009 Dorfman Franccedila 2013) O governo brasileiro mobiliza suas instituiccedilotildees como decorrecircncia dos processos securitizatoacuterios poacutes 11-S mas tambeacutem o faz dentro de um projeto maior e mais antigo de construccedilatildeo do Brasil potecircncia (FRANCcedilA DORFMAN 2014 p11)

Um exemplo desses projetos eacute o receacutem criado Sistema Integrado de

Monitoramento de Fronteiras (SISFRON) um conjunto de sistemas integrados do

39

exeacutercito brasileiro para o monitoramento e controle das fronteiras terrestres

Segundo o site oficial do SISFRON trata-se de um dos maiores projetos de

seguranccedila e defesa em execuccedilatildeo do mundo De acordo com o Ministeacuterio da Defesa

seu propoacutesito eacute ldquofortalecer a presenccedila e a capacidade de accedilatildeo do Estado na faixa de

fronteira terrestre contribuindo para a maior efetividade no combate aos delitos

transfronteiriccedilos e praticados na faixa de fronteirardquo (BRASIL 2014 p1) Dorfman e

Franccedila (2014) citam outros programas como o Plano Estrateacutegico de Fronteiras em

2011 promovido pelo Ministeacuterio da Justiccedila

Estes e outros programas nacionais de proteccedilatildeo ao territoacuterio representam a

materializaccedilatildeo da claacutessica definiccedilatildeo de Estado o exerciacutecio do uso legiacutetimo da forccedila

tendo como pano de fundo dessa legitimidade o consenso da populaccedilatildeo que em

tese aceita em troca da proteccedilatildeo do Estado (WEBER 1998)

Aleacutem da seguranccedila a sauacutede eacute um setor delicado em regiatildeo de fronteira que

ao contraacuterio das poliacuteticas para seguranccedila da fronteira natildeo recebe recursos

diferenciados das demais regiotildees do paiacutes

Relatoacuterios do ldquoEstudo da Rede de Serviccedilos de Sauacutede na Regiatildeo de

Fronteirardquo referentes a 2001 e 2002 produzidos para a Organizaccedilatildeo Mundial da

Sauacutede (OMS) ao estudar a situaccedilatildeo da sauacutede puacuteblica nas cidades de Puerto

Iguazuacute Foz do Iguaccedilu e Ciudad Del Este verificaram a existecircncia de uma

dificuldade no processo de contabilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo que necessita de

atendimento pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) haja vista que parte dessa

populaccedilatildeo eacute flutuante Deste modo os repasses de verba para o SUS acabam natildeo

abarcando a realidade total da populaccedilatildeo atendida

Neste estudo as informaccedilotildees indicaram ainda que a maior transferecircncia de

atenccedilatildeo existe entre Ciudad Del Este e Foz do Iguaccedilu Este fenocircmeno pode ser

explicado basicamente pela acessibilidade geograacutefica somadas agraves condiccedilotildees

sociais e comerciais manifestado no tracircnsito entre Ciudad del Este e Foz do Iguaccedilu

Nesse sentido Luis Astorga (2004) responsaacutevel pelo estudo da sauacutede nas trecircs

cidades completa

A atenccedilatildeo que os cidadatildeos do Paraguai solicitam em Foz equivale a algo entre 5 e 55 dos serviccedilos produzidos em Cidade do Leste sendo o Atenccedilatildeo Primaacuteria e de Especialidade os mais procurados pela populaccedilatildeo paraguaia Os serviccedilos mais demandados pela populaccedilatildeo paraguaia satildeo aqueles onde haacute maior diferenccedila entre Cidade do Leste e Foz que satildeo precisamente os serviccedilos

40

ambulatoriais de especialidade Segundo os estudos de Foz aparentemente o maior fluxo de paraguaios concentra-se nos centros de sauacutede proacuteximos ao rio e agrave ponte dado que a populaccedilatildeo pode se deslocar a peacute desde Ciudad del Este (ASTORGA etal 2004 p88)

Cabe aqui a ressalva de que em regiotildees de fronteira internacional assim

como em outras regiotildees do paiacutes o problema da sauacutede eacute resultado de uma

conjuntura de fatores sendo que os mais citados para justificar a ineficiecircncia do

sistema eacute a falta de recursos humanos especializados as distacircncias entre os

municiacutepios e os grandes centros de referecircncia e a insuficiecircncia de equipamentos

para realizaccedilatildeo de tratamentos e procedimentos de meacutedia e alta complexidade

(GADELHA 2007 p216)

Na tentativa de amenizar essa situaccedilatildeo nas cidades de fronteira tendo o

MERCOSUL como propositor dessa poliacutetica criou-se o Sistema Integrado de Sauacutede

do Mercosul (SIS-MERCOSUL) Instituiacutedo em julho de 2005 e lanccedilado em

novembro do mesmo ano na cidade de Uruguaiana ndash RS ndash por meio do ministeacuterio

da sauacutede e dos Estados-membros do Mercosul seu objetivo eacute criar uma agenda

com propostas de Cooperaccedilatildeo Teacutecnica entre os paiacuteses do referido bloco e garantir

o atendimento para a populaccedilatildeo da regiatildeo por meio de estrateacutegias que melhorassem

a sauacutede local dos paiacuteses envolvidos

Costa e Gadelha (2007) explicam que ldquoa ideacuteia eacute iniciar uma poliacutetica de

incentivo agrave gestatildeo a partir do repasse de recursos financeiros para os municiacutepios de

fronteirardquo (COSTA e GADELHA 2007 p218) Estas municipalidades por outra via

devem participar ativamente da elaboraccedilatildeo de um diagnoacutestico da realidade da sauacutede

local e realizar o cadastro da populaccedilatildeo no cartatildeo do SUS A complexidade do

diagnoacutestico reside no fato de que momento em que o Estado natildeo considera como

usuaacuterios do sistema uacutenico cidadatildeos advindos dos paiacuteses vizinhos Neste caso eacute

fundamental que haja investimento integrado com os demais paiacuteses

Alguns avanccedilos tecircm sido alcanccedilados no tocante agrave elaboraccedilatildeo de diagnoacutesticos de sauacutede para municiacutepios da linha de fronteira mas ainda natildeo se consegue verificar o relacionamento deste diagnoacutestico da infra-estrutura instalada e real utilizaccedilatildeo do sistema por parte da populaccedilatildeo flutuante que o utiliza Para reverter essa situaccedilatildeo muito haacute que se avanccedilar na coordenaccedilatildeo de poliacuteticas de fronteiras no Brasil assim como em sua articulaccedilatildeo com as dos paiacuteses vizinhos (COSTA CADELHA 2007 p217)

41

Como podemos observar nos dados apresentados autores que tratam das

poliacuteticas puacuteblicas direcionadas para regiotildees fronteiriccedilas insistem em uma melhor

articulaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses com poliacuteticas para a fronteira de modo

que estas possam ser executadas com sucesso

15 O contexto escolar vivido entre fronteiras a escola como reguladora do

Estado

Albuquerque (2010) apresenta alguns trabalhos histoacutericos e antropoloacutegicos

acerca do Estado e dos agentes locais fronteiriccedilos ldquonas redefiniccedilotildees das identidades

nacionais regionais e locaisrdquo (ALBUQUERQUE 2010 p 46) Dentre estes estudos

o autor descreve aqueles referentes agrave fronteira dos Estados Unidos com o Meacutexico

em que a loacutegica de um hibridismo cultural de uma integraccedilatildeo cultural na fronteira

entre os dois paiacuteses eacute questionada Disto decorre o fortalecimento das identidades

nacionais Inspirados pelos estudos referentes agraves fronteiras entre os paiacuteses

Europeus e Meacutexico e Estados Unidos Albuquerque aponta que os antropoacutelogos do

cone sul em destaque os argentinos tecircm realizado inuacutemeras etnografias nas

fronteiras entres os paiacuteses da Ameacuterica do Sul

O que haacute de comum eacute a tentativa de pensar a tensatildeo entre naccedilatildeo e processos de integraccedilatildeo supranacionais e as maneiras como as identidades nacionais se fortalecem nestes espaccedilos de fronteiras apesar do visiacutevel hibridismo de liacutenguas e outras expressotildees culturais (GRIMSON 2003 KARASIK 2000 VIDAL 2000 apud ALBUQUERQUE 2010 p 27)

A complexidade das relaccedilotildees sociais existentes na fronteira nos permite dizer

que seria leviano rotular as pessoas que nelas transitam Conforme Laclau

(1996)ldquonatildeo se pode afirmar uma identidade diferencial sem distingui-la de um

contexto e no processo de fazer a distinccedilatildeo afirma-se o contexto simultaneamenterdquo

(LACLAU 1996 apud HALL 2003 p 85) No contexto da fronteira nos deparamos

com um sujeito que possui sua identidade nacional negociada o tempo todo atraveacutes

do encontro com os ldquooutrosrdquo

Em Foz do Iguaccedilu como mencionado eacute comum a presenccedila de outras etnias

e nacionalidades que buscam preservar seus costume e tradiccedilotildees mas ao entrar em

contato com outros costumes e valores acabam por adquirir parte de seus haacutebitos

Machado (2006) aponta que uma vez que a identidade sendo cultural e portanto

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social e historicamente construiacuteda ela pode ser reconstruiacuteda ou reinventada

conforme as circunstancias temporais e espaciais (MACHADO 2006 p 93)

Figueiredo (2005) afirma que a questatildeo da identidade vai para aleacutem da construccedilatildeo

para a negociaccedilatildeo

Se anteriormente as identidades apareciam como construccedilotildees ainda que percebidas como processos simboacutelicos hoje em dia aleacutem dessa noccedilatildeo pode-se pensar e discutir a identidade como negociaccedilatildeo tanto como nas fronteiras culturais como nas linguumliacutesticas e territoriais (FIGUEIREDO 2005 p546)

Deste modo estes encontros relaccedilotildees e negociaccedilotildees entre diferentes

costumes haacutebitos liacutenguas se fazem presentes em Foz do Iguaccedilu e tambeacutem se

manifestam em diferentes espaccedilos como o escolar A escola eacute considerada um

espaccedilo plural principalmente com a globalizaccedilatildeo que provocou dentre outras

mudanccedilas ldquoum redimensionamento de grupos e movimentos migratoacuteriosrdquo (VIERA

2010 p10) Grandes metroacutepoles como Satildeo Paulo possui um grande nuacutemero de

estrangeiros Em reportagem feita para o Jornal bdquoO Estado de Satildeo Paulo‟ a

jornalista Isabela Palhares foi agrave uma escola na capital paulista Os dados fornecidos

pela direccedilatildeo da escola indica que ela possui mais de 55 de alunos estrangeiros

Trata-se da Escola Estadual Marechal Deodoro no Bom Retiro regiatildeo central de

Satildeo Paulo Dos 772 estudantes matriculados 55 satildeo de outro paiacutes ou satildeo filhos

de pais que vieram recentemente para o Brasil ldquoA maioria desses alunos

estrangeiros eacute de bolivianos peruanos e paraguaios mas ainda haacute coreanos

argentinos chilenos e um camaronecircsrdquo (PALHARES 2015)

Embora natildeo seja uma grande cidade em termos populacionais12 como as

capitais ou metroacutepoles brasileiras Foz do Iguaccedilu possui uma diversidade notaacutevel

quanto agrave presenccedila de imigrantes de diferentes nacionalidades e etnias que

possibilita transformaccedilatildeo e reconfiguraccedilatildeo da cultura e do cenaacuterio local Essa

presenccedila de imigrantes como explica Maria Eta Viera (2010) nem sempre eacute

percebida pelo brasileiro como algo valorativo A autora descreve a reaccedilatildeo de

algumas pessoas em transportes puacuteblicos e nas ruas que ao perceberem a

12

Conforme o censo realizado pelo IBGE em 2010 Foz do Iguaccedilu possui cerca de 260 mil

habitantesDisponiacutevel

emlthttpcidadesibgegovbrpainelpainelphplang=ampcodmun=410830ampsearch=||infogrE1ficos-

dados-gerais-do-municEDpiogt Acesso em 14062015

43

presenccedila do estrangeiro com traccedilos fiacutesicos diferentes e falando outro idioma

reagem com repulsa e redobram os cuidados com seus pertences (bolsa celular

carteira etc) (VIERA 2010)

Tradicionalmente tido como um paiacutes hospitaleiro receptivo ao extremo e que valoriza - agraves vezes ateacute de forma exagerada- o que eacute estrangeiro causam estranheza algumas atitudes que tecircm sido observadas com relaccedilatildeo a imigrantes de determinados paiacuteses (VIERA 2010 p61)

O imigrante que deixa seu paiacutes leva consigo a sua histoacuteria cultura valores e

ao chegar a outro paiacutes deve readequar a sua vida a este novo cenaacuterio Esse

encontro pode dar-se de modos diferentes ldquoprovocando desde uma coexistecircncia e

convivecircncia paciacuteficas entre os valores e costumes das comunidades envolvidas ateacute

repulsa e marginalizaccedilatildeo do estrangeiro (VIERA 2010 p63)

Conforme apresenta Homik Babha (1998) natildeo devemos concentrar nossas

atenccedilotildees seja em um lado ou em outro - neste caso o brasileiro em relaccedilatildeo aos

outros Ele critica esta noccedilatildeo binaacuteria entre totalidades Ao observar praacuteticas comuns

tiacutepicas de uma cultura assimiladas por outras eacute possiacutevel sugerir alguns exemplos

passiacuteveis de ocorrer em Foz do Iguaccedilu a saber o mesmo sujeito brasileiro que

chama o paraguaio de xiruacute a fim de ofendecirc-lo eacute o que adquiriu o haacutebito comum aos

paraguaios de tomar o tererecirc13 Isto vale tambeacutem para os apelidos pejorativos e

estigmas que tentam associar ao aacuterabe que reside em Foz do Iguaccedilu como

terrorista14 atraveacutes da denominaccedilatildeo de ldquohomens-bombardquo Aquele que os ofende eacute o

mesmo que fuma o narguile15 consome o shawarma e a esfiha Deste modo Babha

entende que a diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ocorre ao mesmo tempo em que

haacute incorporaccedilatildeo do outro dentro de si mesmo

1313Terereacute ou tererecirc eacute uma bebida tiacutepica feita com a infusatildeo de ervas em aacutegua fria Sua origem eacute atribuiacuteda aos Paraguai tendo suas raiacutezes na cultura dos indiacutegenas guaranis 14A partir do dia 11 de setembro de 2001 uma seacuterie de alegaccedilotildees sobre viacutenculos terroristas na Triacuteplice Fronteira entre Brasil Paraguai e Argentina cruzou as Ameacutericas Essa teoria circulada nos meios de comunicaccedilatildeo combinou com duas correntes imperialistas da poliacutetica externa dos Estados Unidos por um lado a imagem do aacuterabe ou do mulccedilumano como terrorista e por outro a representaccedilatildeo da Ameacuterica do Sul como uma ldquoterra sem leirdquo (MONTENEGRO GIMEacuteNEZ BEacuteLIVEAU 2006 apud KARAN 2011 p203) 15Espeacutecie de cachimbo muito usado por hindus persas e turcos constituiacutedo de um fornilho um tubo longo e um pequeno recipiente contendo aacutegua perfumada pelo qual passa a fumaccedila antes de chegar agrave boca (Dicionaacuterio online Disponiacutevel em lthttpwwwdiciocombrnarguilegtAcesso em 23112015

44

Nas escolas puacuteblicas de Foz do Iguaccedilu este ldquooutrordquo satildeo representados em

sua maioria por paraguaios e argentinos ou seja as diferenccedilas tecircm como marcador

principal a identidade nacional Trata-se de um problema histoacuterico jaacute que a escola

foi um dos instrumentos que permitiu ao Estado tentar iniciar o processo de

homogeneizaccedilatildeo cultural Logo conforme Pereira (2009) a escola deste o iniacutecio foi

considerada um espaccedilo negaccedilatildeo da diversidade O nacional torna-se assim fator

de diferenciaccedilatildeo de tensotildees de abertura para preconceitos e estigmas

Na dissertaccedilatildeo sobre a presenccedila de brasiguaios nas escolas brasileiras

Cirlani Terenciani (2011) menciona o trabalho de Joseacute Carlos de Souza (2001)

sobre as representaccedilotildees que os brasileiros fazem em relaccedilatildeo aos paraguaios

() que se tomar dinheiro emprestado natildeo gosta de pagar e natildeo quer que lembre da diacutevida Eacute vingativo para as pessoas que lhe traem a confianccedila () costuma-se dizer que trecircs coisas o paraguaio natildeo daacute a mulher o cavalo e a arma (SOUZA 2001 p 55 apud TERENCIANI 2011 p56)

Tratam-se de afirmaccedilotildees preconceituosas que contribuem para que a imagem do

paraguaio seja associada agrave ldquofalsidade ilegalidade desconfianccedilardquo (TERENCIANI

2011p 57)

Durkheim em Educaccedilatildeo e Sociologia (2011) descreve a escola enquanto

uma instituiccedilatildeo que natildeo estaacute alheia aos fatos sociais presentes na sociedade Logo

a representaccedilatildeo do ldquooutrordquo tanto em seus aspectos positivos quanto negativos eacute

reproduzido no acircmbito escolar sendo portanto um espaccedilo de negociaccedilotildees das

identidades-diferenccedilas

A educaccedilatildeo eacute inseparaacutevel da sociedade em seus momentos histoacutericos Para

Durkhiem (2011) cada sociedade em determinado momento de seu

desenvolvimento teve um sistema de educaccedilatildeo que se impocircs aos indiviacuteduos com

uma forccedila geralmente irresistiacutevel Isto significa que a educaccedilatildeo tem uma relaccedilatildeo

muito estreita com as necessidades e os conflitos que a sociedade vivencia em

determinado momento histoacuterico A funccedilatildeo social da escola estaria na socializaccedilatildeo da

crianccedila Joseacute Carlos Martins (2010) partindo da teoria sociointeracionista de

Vygotsky cuja visatildeo de desenvolvimento humano se baseia na premissa de que o

pensamento eacute constituiacutedo em um espaccedilo histoacuterico e cultural afirma que ldquoa crianccedila

reconstroacutei internamente uma atividade externa como resultado de processos

interativos que se datildeo ao longo do tempordquo (MARTINS 2010 p114) Com isso o

45

professor e os demais constituintes da comunidade escolar acabam fazendo parte

do processo formativo da crianccedila Logo as ideias valores e conhecimentos desta

instituiccedilatildeo e de outros organismos da sociedade vatildeo influir diretamente na formaccedilatildeo

desta crianccedila

No que confere agraves escolas situadas em regiatildeo de fronteira o grande desafio eacute

lidar com situaccedilotildees que envolvem tanto os aspectos formais quanto os transversais

que se passam em sala de aula como exemplo a funccedilatildeo mediadora do professor e

demais responsaacuteveis pela formaccedilatildeo do aluno ao lidar com diferenccedilas eacutetnicas e

linguumliacutesticas o que eacute comum nas escolas de fronteira internacional Em artigo

publicado sobre a diversidade cultural em sala de aula intitulado de ldquoFronteira

Diversidade Cultural e Cotidiana Escolar na cidade de Ponta Poratilderdquo Nunes e

Terenciani (2010) analisaram as manifestaccedilotildees da diversidade cultural social e

poliacutetica vivida diariamente nas aulas de geografia As autoras constataram que os

alunos oriundos do Paraguai tinham muita dificuldade com a liacutengua portuguesa

() estes alunos principalmente os das seacuteries iniciais muitas vezes chegam agrave escola sem saber falar a Liacutengua Portuguesa e em alguns casos natildeo sabem falar sequer a Liacutengua Espanhola comunicando-se apenas atraveacutes da Liacutengua Guarani o que dificulta o processo de aprendizagem bem como a relaccedilatildeo dos professores com seus alunos (NUNES TERENCIANI 2010 p04)

Nunes e Terenciani (2010) consideram que a escola e o formalismo no qual

ela se fundamenta reforccedila as fronteiras simboacutelicas o que impede a integraccedilatildeo entre

os paiacuteses fronteiriccedilos

Por sua vez na pesquisa com alunos bolivianos que estudam em redes

puacuteblicas e privadas na cidade de fronteira Corumbaacute ndash MS as autoras Ruth Souza e

Aline Rodrigues (2009) em entrevista a coordenadores professores e diretores das

escolas por elas analisadas chegaram agrave conclusatildeo de que os alunos bolivianos

apresentam dificuldades para ler e escrever o que dificulta ateacute mesmo o processo

de integraccedilatildeo dos alunos com os demais (no caso os brasileiros) aleacutem de se

sentirem tiacutemidos pela estranheza daquele universo escolar Ao analisarem o Projeto

Poliacutetico Pedagoacutegico das escolas visitadas as responsaacuteveis pela pesquisa deram o

seguinte parecer

Observa-se entatildeo que a escola brasileira natildeo eacute preparada para atender o aluno estrangeiro nem mesmo em aacutereas de fronteira onde

46

essa realidade eacute cada vez mais frequumlente Os PPP‟s satildeo engessados nas diretrizes gerais da educaccedilatildeo e desconsideram as especificidades locais natildeo oferecendo subsiacutedios adequados para as escolas atenderem os alunos estrangeiros e buscarem a inserccedilatildeo do mesmo no ambiente escolar e garantir o seu aprendizado (SOUZA RODRIGUES 2009 p10)

Outro estudo referente agrave presenccedila de migrantes fronteiriccedilos realizado na

fronteira do Brasil com o Uruguai na cidade de Sant‟Ana do Livramento ndash RS por

Geovana Bardesio e Paulo Cassanego (2013) apontou que as diferenccedilas

relacionadas ao idioma principalmente a expressatildeo escrita da liacutengua portuguesa

foram assinaladas pelos gestores entrevistados como um dos maiores desafios a

serem superados para o melhor desenvolvimento do aluno migrante Os mesmos

quando questionados sobre as atividades desempenhadas com vistas agrave promoccedilatildeo

da socializaccedilatildeo entre os alunos das escolas natildeo relataram nenhuma atividade

direcionada especificamente para o acolhimento de alunos migrantes ldquotambeacutem natildeo

foram verificados incentivos a promoccedilatildeo de discussotildees entre os professores sobre o

tema migraccedilatildeo e sobre a situaccedilatildeo de acolher estudantes nesta condiccedilatildeo na escolardquo

(CASSANEGO E BARDESIO 2013 p7)

Jacira Pereira (2003) apresenta o resultado de sua pesquisa referente agraves

identidades eacutetnico-culturais e sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo de escolas situadas em

regiatildeo de fronteira A pesquisa foi realizada na fronteira entre Brasil e Paraguai nas

cidades de Ponta Poratilde e Pedro Juan Caballero Buscou entrevistar duas geraccedilotildees

de migrantes presentes nas cidades oriundos de diferentes etnias e nacionalidades

Dentre as questotildees presentes na entrevista encontra-se uma referente a

atitudes preconceituosas nas escolas devido agrave origem eacutetnica do aluno Pereira

destacou a seguinte resposta de uma estudante paraguaia quando perguntada se

sofria algum tipo de preconceito

Preconceito assim natildeo mas tem aquelas brincadeirinhas de mau gosto Cala boca sua paraguaia [] Isto acontecia desde pequena agora parou um pouco Mas acontecia sempre e eu ficava brava brava Eu tinha vergonha (Luciana Assunccedilatildeo ndash 2ordf geraccedilatildeo) (PEREIRA 2003 p7)

Em relaccedilatildeo a possiacuteveis apelidos dados pelos colegas de turma a autora

destaca as seguintes falas

Natildeo ligo de ser descendente de libanecircs eu gosto [] Eu natildeo tenho mas os amigos do meu irmatildeo me chamam de turquinho Mas eu natildeo tenho um apelido que todo mundo me chama (Rames Husseinndash 2ordm geraccedilatildeo)

47

Tenho vaacuterios entre eles o de japonecircs porque me confundem com japonecircs [] Natildeo gosto disso (KyoLinndash 2ordf geraccedilatildeo) (PEREIRA 2003 p8)

Pode-se inferir com base nos relatos que nas relaccedilotildees no interior da escola

natildeo se discrimina o sujeito apenas por sua nacionalidade como tambeacutem pela

aparecircncia Ainda com relaccedilatildeo aos preconceitos e agrave discriminaccedilatildeo que sofrem os

migrantes a pesquisadora constatou que a minoria migrante paraguaia eacute a que mais

demonstra ser alvo de tratamento diferenciado expresso nas zombarias e nas

chacotas o que eacute possiacutevel captar nas relaccedilotildees tensas e conflitantes entre as

diferentes etnias na fronteira Eis alguns dos relatos dessas manifestaccedilotildees

Tem alguns soacute mas natildeo falam de verdade eacute soacute de brincadeira os paraguaios natildeo levam muito a seacuterio Tem amigo do meu irmatildeo que chama de chipeiro porque eacute do Paraguai soacute que esse apelido pegou e todo mundo soacute chama assim os paraguaios (KyoLinndash 2ordf geraccedilatildeo) Jaacute vi colocar apelido Um rapaz que tem na minha sala o chamam de chipa de paraguaio Mas eacute coisa de amigo ele leva na brincadeira Natildeo leva a mal (Rames Husseinndash 2ordf geraccedilatildeo) Assim natildeo eacute que tira sarro Chama assim de chipa (Latiffe Nasserndash 2ordf geraccedilatildeo) (PEREIRA 2003 p8)

Com estes dados a pesquisadora aponta que eacute comum em escolas da

fronteira a reproduccedilatildeo do imaginaacuterio negativo que se tem do ldquooutrordquo e conclui ldquoque a

comunicaccedilatildeo entre os colegas eacute carregada de hostilidade o que marca a diferenccedila

eacutetnica como uma caracteriacutestica negativardquo (PEREIRA 2003 p7)

A professora Maria Elena Pires dos Santos (2010) em pesquisa realizada

sobre o cenaacuterio sociolinguiacutestico na fronteira e sua relaccedilatildeo com as poliacuteticas

educacionais e pedagoacutegicas ao realizar um estudo com alunos brasiguaios em uma

escola de Foz do Iguaccedilu percebe que haacute diferentes olhares para a escrita hiacutebrida do

aluno brasiguaio Para a autora ldquoa leitura e a escrita processos mais valorizados na

escola eacute justamente o que evidencia a visibilizaccedilatildeo do aluno brasiguaio

constituindo fonte de estigmatizaccedilatildeo e preconceitordquo (PIRES-SANTOS 2010 p 46)

Ela ainda aponta que os professores ficavam insatisfeitos quando tinham que

receber alunos ldquobrasiguaiosrdquo sendo uma das possiacuteveis explicaccedilotildees o fato deste

aluno possuir uma linguagem hiacutebrida e pelo fato do ldquoportunholrdquo ser um grande fator

de preconceito na fronteira

48

Em pesquisa realizada sobre a presenccedila de alunos brasiguaios em escolas

de fronteira BrasilParaguai na cidade de Ponta Poratilde Ione Dalinghaus (2009)

observou que mesmo em uma escola onde 90 dos alunos satildeo paraguaios ou

ldquobrasiguaiosrdquo eacute proibido o uso de outra liacutengua que natildeo o portuguecircs evidenciando

assim o mito16 do monolinguismo Tambeacutem Cerliani Terenciani (2011) em sua

dissertaccedilatildeo tratou de estudar a presenccedila de alunos oriundos do Paraguai nas

escolas de Ponta Poratilde Ao entrevistar uma professora cujos pais satildeo paraguaios

mas ela fora registrada no Brasil relata sua experiecircncia na escola

Eu sofri hien ixi Me chamavam de paraguaia Falavam que eu era uma iacutendia que natildeo sabia falar o portuguecircs e essas coisas tipo de deboche assim sabe que eacute ()(Entrevista concedida agrave CERLIANI 2011 p102)

Outra percepccedilatildeo da dificuldade de adaptaccedilatildeo do(a) aluno(a) paraguaio(a) em

escolas brasileiras agora na cidade de Santa Terezinha de Itaipu17 encontra-se na

pesquisa de Marli Schlosser e Margarete Frasson (2012) sobre a imigraccedilatildeo de

alunos da educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Baacutesica do Paraguai para escolas brasileiras da rede

municipal de ensino entre os anos de 2007 e 2011 Segundo as autoras a fronteira

pode se apresentar como um espaccedilo de vivecircncia e possibilidades que seria por

exemplo o aluno migrante aprender um novo idioma No entanto quando os novos

conhecimentos que este aluno tem que adquirir na escola natildeo eacute em sua liacutengua

materna o processo de travessia na fronteira torna-se doloroso para o mesmo

ldquoobrigando-o a fazer uso de atitudes de silenciamento ou seja ele passa a se

apresentar reservado e em bdquoinvisibilidade‟ retraiacutedo para natildeo ser visto pelo olhar

hegemocircnico da escolardquo (GENTILI 2004 apud SCHLOSSER E FRASSON 2012

p4)

As pesquisas realizadas em diferentes escolas de fronteira apontam para a

necessidade de discussotildees que passem pelo campo das poliacuteticas linguumliacutesticas e

educacionais para a diversidade Ataiacutede e Moraes (2003) discorrem sobre a

tendecircncia de homogeneizaccedilatildeo curricular que aliena a escola de seu contexto O

Brasil como um todo ldquoproduz um projeto pedagoacutegico exoacutegeno e xenoacutefobordquo (ATAIacuteDE

16

Aleacutem do portuguecircs satildeo faladas hoje mais de 222 liacutenguas no Brasil Dessas liacutenguas explica Maher

mais de 180 satildeo indiacutegenas cerca de 40 satildeo liacutenguas de imigraccedilatildeo e duas satildeo liacutenguas de sinais LIBRAS-a Liacutengua Brasileira de Sinais-e a Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira Aleacutem das liacutenguas africanas Assim o Brasil pode ser considerado como um paiacutes multiliacutenguumle (MAHER 2013 p117) 17

Cidade localizada na zona de fronteira entre Brasil e Paraguai

49

e MORAES 2003 p83) Jurjo Santomeacute (1995) fala sobre o silenciamento que existe

nos curriacuteculos nacionais referentes agraves minorias no ambiente escolar sendo que no

caso da presenccedila de estrangeiros nas escolas fronteiriccedilas ela natildeo eacute nem negada e

tampouco silenciada tecircm se a impressatildeo de sua inexistecircncia Albuquerque e Souza

(2014) utilizam a expressatildeo ldquotrincheiras culturaisrdquo para se referirem agraves escolas em

aacutereas de fronteiras que tem por funccedilatildeo ldquonacionalizar as crianccedilasrdquo e combater o

idioma estrangeiro (ALBUQUERQUE 2014 p02)

Embora a expressatildeo ldquonacionalizar as crianccedilasrdquo seja reducionista ao limitar a

funccedilatildeo da escola agrave nacionalizaccedilatildeo um fato ocorrido em 1999 na fronteira entre

Brasil e Uruguai na cidade de Rivera natildeo tira em alguma medida este caraacuteter

ldquonacionalizadorrdquo o qual o Estado busca desempenhar atraveacutes da escola Trata-se de

uma reportagem publicada nos dois principais jornais da capital uruguaia

Montevideacuteu em que o ministro da educaccedilatildeo do paiacutes demonstrou sua indignaccedilatildeo

pelo fato do idioma portuguecircs ter invadido as escolas do Uruguai localizadas em

regiotildees de fronteira senti verguenza del estado de nuestras escuelas () Hasta

queacute punto el idioma portuguecircs habiacutea penetrado em nuestro paiacutes (Jornal El Paiacutes

1999 p6 apud SAacuteNCHEZ 2002p 115) A posiccedilatildeo do Conselho Diretivo Central de

Ensino natildeo foi muito diferente do ministro

por la expasiacuteon del idioma portugueacutes y el portunhol em aacutereas fronterizas y las acertadas medidas que adoptaraacute-fortalecimiento de la ensentildeanza del espanotildel formaacuteciacuteon de docentes de esa a signatura y maacutes centros educativosrdquo (Jornal El Observador 1999 p10 apud SAacuteNCHEZ 2002 p116)

A escola apresenta-se neste contexto enquanto reguladora seja de valores

culturas memoacuterias identidades a partir de padrotildees universalistas construiacutedos sem

um diaacutelogo com a alteridade (ARROYO 2007 p119) Uma possiacutevel tentativa de

transformar estas questotildees em estudo nas regiotildees fronteiriccedilas eacute o Programa das

Escolas Interculturais de Fronteira (PEIF) que conforme o documento oficial do

programa busca discutir a ldquoidentidade regional biliacutengue e intercultural no marco de

uma cultura de paz e cooperaccedilatildeo interfronteiriccedilardquo (ARGENTINABRASIL 2007 p 2)

Esta proposta seraacute analisada no proacuteximo capiacutetulo

Este capiacutetulo teve como objetivo traccedilar algumas perspectivas possiacuteveis de

abordar o tema de fronteira a comeccedilar com a etimologia da palavra utilizada pela

primeira vez no seacuteculo XIII como separaccedilatildeo entre Estados Hoje a fronteira eacute

estudada a partir de diferentes dimensotildees social simboacutelica cultural etc Desse

50

modo rompemos com a ideia de fronteira apenas como o limite entre estados e com

a tendecircncia de se cristalizaccedilatildeo da mesma pois eacute fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica

Outro aspecto levantado foi o papel da educaccedilatildeo escolar na construccedilatildeo do

imaginaacuterio e do sentimento de pertenccedila agrave naccedilatildeo (ANDERSON 1993) O Estado

utilizou as escolas para propagaccedilatildeo dos ideais nacionais na cidade de Foz do

Iguaccedilu com o objetivo de demarcar e proteger o territoacuterio dos paiacuteses vizinhos dos

imigrantes e seus descendentes

Na relaccedilatildeo entre fronteira e poliacuteticas puacuteblicas a bibliografia levantada sobre

estudos sobre fronteira e relaccedilotildees trabalhistas fronteira e o Sistema Uacutenico de Sauacutede

e das escolas em regiatildeo de fronteira demonstraram que os paiacuteses convivem como

naccedilotildees diferentes entre si embora os problemas que o afetem extrapolam a questatildeo

nacional de cada paiacutes A fronteira eacute um lugar o Estado se faz presente eacute notaacutevel

pelo processo de securitizaccedilatildeo da fronteira brasileira mas eacute tambeacutem o lugar onde o

Estado-naccedilatildeo se enfraquece dada a fluidez dos agrupamentos humanos

(MACHADO 2010)

CAPIacuteTULO II A HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO EM FOZ DO IGUACcedilU CONSTRUTOS

E CONTRADICcedilOtildeES PARA A CONSOLIDACcedilAtildeO DO ESTADO-NACcedilAtildeO

51

Este capiacutetulo tem como objetivo principal apresentar o processo pelo qual a

educaccedilatildeo na cidade de Foz do Iguaccedilu se desenvolveu com a finalidade de

demonstrar que neste trajeto a escola foi um dos principais instrumentos do

Estado junto com a militarizaccedilatildeo da fronteira para bdquonacionalizar‟ e proteger o

territoacuterio brasileiro Para isto primeiramente apresentamos o contexto ao qual a

cidade de Foz do Iguaccedilu foi fundada destacando que o territoacuterio desde a fundaccedilatildeo

da Colocircnia Militar em 1889 contava com a presenccedila de estrangeiros

Ao mesmo tempo abordamos a trajetoacuteria da formaccedilatildeo das escolas em Foz do

Iguaccedilu a partir da histoacuteria da educaccedilatildeo do Paranaacute O capiacutetulo destaca os principais

fatos histoacutericos que ocorreu no Estado paranaense e na regiatildeo Oeste do Paranaacute que

marcaram a criaccedilatildeo das escolas Destaca-se aqui os anos de 1930-1945 periacuteodo

em que ocorreu a Marcha para o Oeste e a fundaccedilatildeo do Territoacuterio Federal do

Iguaccedilu que estimulou o desenvolvimento do Oeste do Paranaacute e com isto a criaccedilatildeo

de escolas ao mesmo tempo em que a poliacutetica nacionalista do governo varguista

aplicou uma poliacutetica de vigilacircncia sobre as escolas dos imigrantes ou mesmo o seu

fechamento Delineamos ainda os principais aspectos educacionais a partir dos

anos de 1990 ateacute os dias atuais para destacar os resquiacutecios e as transformaccedilotildees da

educaccedilatildeo na cidade de fronteira ao longo deste periacuteodo

21 Contexto histoacuterico

A regiatildeo da chamada triacuteplice fronteira eacute composta pela Argentina Brasil e

Paraguai com suas respectivas cidades Puerto Iguazuacute Foz do Iguaccedilu e Ciudad del

Este como pode ser observado no mapa abaixo

52

Imagem VI- Mapa da regiatildeo da Triacuteplice Fronteira- Argentina Brasil e Paraguai Fonte httpgeouel2009blogspotcombr201207triplice-fronteira-apontamentoshtml

A presenccedila de imigrantes europeus na regiatildeo onde hoje eacute a cidade de Foz do

Iguaccedilu data do ano de 1542 com os relatos da chegada de Aacutelvaro Nunes Cabeza

de Vaca agraves cataratas Este relato faz parte da histoacuteria de construccedilatildeo da cidade

brasileira e se funde agrave histoacuteria das cataratas do Iguaccedilu - uma das sete maravilhas da

natureza Foz do Iguaccedilu tem como marco fundador a criaccedilatildeo da colocircnia militar em

1889 e a data de 1930 como iniacutecio de seu processo modernizador (SOUZA 2009)

Portanto eacute a partir da fundaccedilatildeo da colocircnia militar que buscamos conhecer o

processo de formaccedilatildeo das primeiras escolas da regiatildeo oeste paranaense e

portanto de Foz do Iguaccedilu

Compreender o processo de desenvolvimento da cidade de Foz do Iguaccedilu

bem como o de suas instituiccedilotildees de ensino implica na contextualizaccedilatildeo dos

acontecimentos e transformaccedilotildees no Brasil e tambeacutem das mudanccedilas ocorridas

nesta regiatildeo fronteiriccedila

A educaccedilatildeo brasileira do seacuteculo XIX foi reflexo das transformaccedilotildees no acircmbito

da produccedilatildeo da vida social ocorridas no Brasil poacutes-independecircncia No Paranaacute as

atividades econocircmicas tinham como base as fazendas de gado A criaccedilatildeo de gado e

o comeacutercio foram fundamentais para a o povoamento do territoacuterio nesse periacuteodo

Segundo Maria Ceciacutelia Oliveira (1986) com o crescimento das lavouras de

cafeacute em Satildeo Paulo o comeacutercio interno de escravos cresceu significativamente Do

mesmo modo no Paranaacute que por volta de 1865 viu o nuacutemero de escravos

diminuiacuterem significativamente na Proviacutencia A falta de matildeo-de-obra refletiu na

agricultura paranaense direcionada para o abastecimento de gecircneros alimentiacutecios

53

Para solucionar a falta de matildeo-de-obra o governo provincial ldquoque jaacute vinha

promovendo a imigraccedilatildeo de grupos de estrangeiros intensificou a poliacutetica

imigratoacuteria objetivando a atender o problema da matildeo-de-obra na produccedilatildeo agriacutecolardquo

(OLIVEIRA 1986 p34) A mesma autora aponta que a Proviacutencia do Paranaacute criou

escolas em diversas colocircnias estrangeiras situadas proacuteximas dos nuacutecleos urbanos

sobretudo de Curitiba Ao mesmo tempo os imigrantes criaram suas proacuteprias

escolas para manutenccedilatildeo da cultura de seus respectivos paiacuteses de origem

As escolas e o conjunto de sua estrutura eram precaacuterios ldquofaltava preacutedio

escolares ausecircncia e deficiecircncia de professores baixa frequumlecircncia escolar aleacutem dos

parcos recursos disponiacuteveisrdquo (OLIVEIRA 1986 p35) No Brasil como um todo

seguia sem diretrizes que pudessem organizar melhor o ensino no paiacutes

A ausecircncia de um plano definido de educaccedilatildeo que atendesse agraves necessidades brasileiras pode ser verificada pelas inuacutemeras reformas e projetos apresentados na Corte que marcam o Segundo Impeacuterio e influiacuteram na organizaccedilatildeo do ensino Entre eles podem ser

destacados (OLIVEIRA 1986 p35)

No Paranaacute apoacutes sua emancipaccedilatildeo em 1853 a instruccedilatildeo puacuteblica encontrava-

se em condiccedilotildees de precariedade e natildeo atingia toda a populaccedilatildeo Trindade (2001)

aponta que em meio a uma populaccedilatildeo de 620000 habitantes haviam apenas 615

alunos nos cursos de primeiras letras ldquoo ensino secundaacuterio era praticamente

inexistente e o pouco que havia em Curitiba buscava atender agrave demanda local e do

interior da Proviacutenciardquo (TRINDADE 2001 p 61)

21 Colocircnia Militar de Foz do Iguaccedilu e as primeiras escolas da regiatildeo

A colocircnia militar que marcou o iniacutecio da atuaccedilatildeo do Estado na regiatildeo de Foz do

Iguaccedilu foi criada a partir da lei imperial nordm 601 de 18 de setembro de 1850

regulamentada pelo decreto nordm 1318 de 30 de janeiro de 1854 que determinava o

registro das terras no territoacuterio brasileiro Desse modo o entatildeo presidente da

Proviacutencia do Paranaacute recebeu em 1854 o pedido para implementaccedilatildeo da colocircnia

militar e junto ao pedido seguiam as atividades a ser desenvolvidas pela colocircnia

1ordm Conceder o governo terras e fazer o sacrifiacutecio pecuniaacuterio annual

de 30 contos por certo numero de annos para pagar os juros de capital que se tomasse emprestado e se houvesse de applicar as

54

despezas de viagem e sustento de 500-600 familias 2ordm Estar a

direcccedilatildeo agrave cargo de pessoas responsaacuteveis pelo capital sob a

vigilacircncia o governo 3ordm Serem os lotes de terras divididos e vendidos

conforme hum preccedilo determinado destinando-se o producto a

construccedilatildeo de igrejas escolas etc etc 4ordm Incumbir a direcccedilatildeo a

procura de colonos e fornecimento de casas sementes animaes

viveres roupa bom mercado ao seus productos ampc 5ordm Cultivarem

as colocircnias de serra-acima cereais crearem animaes fazerem manteiga e queijo ao passo que as de serra-abaixo devem entregar-

se aacute cultura de generos coloneaes 6ordm Fazer o governo com as

despezas com padres e mestres de escola (RIIT 2011 p51 apud VASCONCELOS 1854 p 56)

Desse modo a ocupaccedilatildeo da regiatildeo por parte do Brasil foi consolidada no ano

de 1889 com a colocircnia militar O objetivo consistia em proteger o territoacuterio brasileiro

principalmente apoacutes a Guerra da Triacuteplice Alianccedila18 (1864-1870) Segundo Valdir

Gregory (2012) as intencionalidades em estabelecer um posto militar avanccedilado eacute

apenas uma justificativa que tinha ldquocomo pano de fundo a necessidade da

construccedilatildeo da nacionalidade () os sucessos na guerra motivaram a presenccedila fiacutesica

e ideoloacutegica na triacuteplice fronteirardquo (GREGORY 2012 p 50) Escreve Silveira Neto

(1939) em seus relatos de viagem que havia naquele periacuteodo de implementaccedilatildeo da

colocircnia militar 324 habitantes ldquosendo 188 paraguaios 33 argentinos 93 brasileiros

5 franceses 2 espanhoacuteis 1 inglecircs 2 orientais Destes 220 homens e 104 mulheresrdquo

(NETO 1939 p 52)

Estabelecida a colocircnia os militares se preocuparam com a necessidade da

instruccedilatildeo escolar Assim em 1895 foi criada uma escola informal que no iniacutecio

contou com vinte alunos matriculados

Em Foz do Iguaccedilu nuacutecleo pioneiro da ocupaccedilatildeo nacional regional desde os tempos da Colocircnia Militar existiu por parte dos militares e funcionaacuterios do fisco a preocupaccedilatildeo com a escolarizaccedilatildeo de seus filhos Esse segmento social resolveu o problema da instruccedilatildeo a partir de seu proacuteprio grupo social Essa instruccedilatildeo era quantitativamente muito restrita soacute para filhos de funcionaacuterios dos postos mais importantes na modalidade de Escola Particular Domiciliar (EMER 2012 p 37)

18 Na eacutepoca do Brasil imperial toda essa fronteira foi assegurada com a vitoacuteria da Guerra da Triacuteplice

Alianccedila (1865-1870) que derivou no aniquilamento de capacidade econocircmica e beacutelica paraguaia A vitoacuteria brasileira argentina e uruguaia impocircs ao Paraguai a assinatura do Tratado de Limites de 1872 que anexava ao territoacuterio brasileiro terras paraguaias agrave leste do Rio Paranaacute (ROSEIRA 2006 p 38)

55

Segundo o mesmo autor entre os anos de 1889 ateacute 1912 ano de extinccedilatildeo da

Colocircnia Militar as crianccedilas de famiacutelias brasileiras com boas condiccedilotildees financeiras

que natildeo eram filhas de funcionaacuterios do governo buscavam escolarizaccedilatildeo nos paiacuteses

vizinhos Para o autor a instruccedilatildeo particular domiciliar ficava restrita a filhos de

funcionaacuterios que ocupavam cargos importantes Durante o periacuteodo de vigecircncia da

Colocircnia Militar prevaleceu a modalidade de instruccedilatildeo sem instituiccedilatildeo Natildeo existiu

escola ou casa escolar em Foz do Iguaccedilu (EMER 1991 p 28)

Destacam-se os argentinos que nesse periacuteodo dominavam a regiatildeo pois as

companhias ervateiras e madeireiras eram daquele paiacutes ldquoSe a produccedilatildeo local era

estrangeira a moeda a liacutengua e os bens de primeira necessidade tambeacutem o eramrdquo

(ROSEIRA 2006 p41) No que se refere ao idioma o guarani e o espanhol eram

predominantes nesta regiatildeo Em relaccedilatildeo agrave moeda o dinheiro que circulava era o

peso argentino e as propriedades eram em sua maioria pertencentes agraves Obrages

(WACHOWICZ 1985 p 140 apud ROSEIRA 2006 p 51)

Segundo o historiador Ruy Wachowicz (2010) este processo de aproximaccedilatildeo

com a Argentina fez com que a regiatildeo oeste ficasse mais exposta agrave penetraccedilatildeo

argentina do que com o restante do Brasil (WACHOWICZ 2010 p 275) A

proximidade entre os dois paiacuteses fez com que o oeste paranaense fosse

culturalmente influenciado e economicamente dependente da Argentina Wachowicz

aponta que por volta de 1881 os argentinos comeccedilaram a exploraccedilatildeo da erva-mate

em Misiones e mais tarde no Brasil na regiatildeo oeste do Paranaacute

Otiacutellia Schimmelpfeng (1991) em seu livro ldquoRetrospectos iguaccedilusensesrdquo fala

acerca desta singularidade ldquoA moeda argentina circulava com domiacutenio absoluto na

praccedila Pouco ou nada se fala em ldquomil reacuteisrdquo naquele tempordquo (SCHIMMELPFENG

1991 p 28) O ldquopesordquo se introduzia ateacute nas reparticcedilotildees puacuteblicas Em entrevista ao

historiador Ruy Cristovatildeo Wachowicz Otiacutellia eacute mais detalhista sobre a influecircncia

argentina

Eu sentia aqui como se natildeo tivesse no Brasil Me sentia aqui isolada parecia que eu estava em outro paiacutes ateacute Porque todos os haacutebitos a liacutengua falada aqui era mais que predominava era o espanhol o castelhano como se dizia Parece que as pessoas quando vinham pra caacute no Brasil se achavam na obrigaccedilatildeo de aprender o castelhano pra ser entendido Parecia E todo mundo se interessava em falar o castelhano porque a convivecircncia aqui era muito maior com os argentinos Paraguai natildeo tanto porque noacutes natildeo tiacutenhamos Paraguai nessa regiatildeo aqui natildeo era muito habitada Mas tinha o Porto Aguirre que hoje eacute Porto Iguaccedilu que jaacute era um porto de grande movimento de turismo jaacute jaacute tava sendo legalizado entatildeo jaacute tinha mais

56

desenvolvimento e mais recurso tambeacutem pra atender Foz do Iguaccedilu entatildeo noacutes tiacutenhamos mais contacto com os argentinos [] Entatildeo a gente tinha aqui um contacto mesmo constante com os argentinos E se falava soacute quase o castelhano a moeda era soacute o peso argentino (SCHIMMELPFENG 1980 apud SBARDELOTTO 2009 p 91)

O contato de Foz de Iguaccedilu era muito mais intenso com os paiacuteses fronteiriccedilos

do que com o restante do paiacutes Sbardelotto (2008) explica que havia tambeacutem um

grande nuacutemero de paraguaios que adentravam no Oeste do Paranaacute para trabalhar

nas empresas de erva-mate e posteriormente de madeira Contudo a presenccedila

argentina se destaca uma vez que eram o grupo que ldquodetinham os meios de

produzir e comercializar a principal atividade produtiva da regiatildeo e que atraveacutes

deste controle econocircmico determinavam os costumes a cultura e tambeacutem a

educaccedilatildeo neste territoacuteriordquo (SBARDELOTTO 2008 p5)

Dessas companhias madeireiras que se estabeleceram na regiatildeo muitas

faziam parte do modelo de exploraccedilatildeo denominado de Obrage ldquoO obragero era o

proprietaacuterio desse tipo de latifuacutendio () o obragero argentino explorava a erva-mate

e a madeira em torosrdquo (WACHOWICZ 2010 p 276) Em poucas deacutecadas a regiatildeo

que compreende a costa paranaense foi ocupada por inuacutemeras obrages e

consequentemente povoada em sua maioria por paraguaios argentinos e guaranis

modernos19 que trabalhavam como mensus20 Em 1930 a populaccedilatildeo estimada nas

obrages passava dos 10000 habitantes em sua maioria estrangeira

Naquele contexto a intensidade das relaccedilotildees fez com que a Argentina se

tornasse o principal prestador de serviccedilos agrave cidade de Foz do Iguaccedilu Segundo

Sbardelotto (2009) muitas crianccedilas eram escolarizadas no sistema argentino

absorvendo a liacutengua a histoacuteria e os costumes do paiacutes vizinho (SBARDELOTTO

2009 p 92)

Durante o periacuteodo em que seguia o desenvolvimento da Colocircnia Militar os

ldquopioneirosrdquo responsaacuteveis por sua construccedilatildeo diante da ausecircncia de um sistema de

ensino institucionalizado passaram a organizar e estruturar uma educaccedilatildeo natildeo-

formal

Em Foz do Iguaccedilu nuacutecleo pioneiro da ocupaccedilatildeo nacional regional desde os tempos da Colocircnia Militar existiu por parte dos militares e

19

Termo empregado aos indiacutegenas guaranis miscigenados do Paraguai (PRIORI A et al 2012p79) 20 A expressatildeo vem do espanhol da palavra bdquomensual‟ ou seja mensalista (GREGORY 2002 p 89 apud PRIORI A et al 2012p79)

57

funcionaacuterios do fisco a preocupaccedilatildeo com a escolarizaccedilatildeo de seus filhos Esse segmento social resolveu o problema da instruccedilatildeo a partir de seu proacuteprio grupo social Essa instruccedilatildeo era quantitativamente muito restrita soacute para filhos de funcionaacuterios dos postos mais importantes na modalidade de Escola Particular Domiciliar (EMER 2012 p37)

No ano de 1910 a Colocircnia Militar passou a ser distrito de Guarapuava e

denominada de Vila do Iguassuacute Em 1912 o Ministeacuterio da Guerra emancipou a

colocircnia que passou a ser administrada pelos civis sob o governo do Estado do

Paranaacute Em 1914 com a lei nordm 1383 foi criada a municipalidade de Vila do Iguassuacute e

em 1918 o nome Foz do Iguaccedilu foi adotado como oficial Conforme Lima (2001) no

periacuteodo compreendido entre 1914 a 1930 aleacutem do estabelecimento das primeiras

famiacutelias brasileiras argentinas e paraguaias houve a colonizaccedilatildeo por parte dos

imigrantes descendentes de alematildees poloneses e italianos (LIMA 2001 p 31)

De acordo com Emer (1991) a partir de 1914 o governo do Estado do

Paranaacute instituiu um novo modelo de escola o Grupo Escolar Estes grupos

escolares dirigiam-se ao ensino de quatro seacuteries com conteuacutedos progressivos Estas

escolas estavam localizadas nos principais centros urbanos e nas regiotildees mais

afastadas do centro seguiam sem escolas ou com muita precariedade de escolas

Os grupos de migrantes na ausecircncia de escolas construiacuteam as suas proacuteprias

A falta de escolas no Paranaacute fazia sentir-se especialmente fora dos nuacutecleos coloniais dos imigrantes que ao contraacuterio dos demais nuacutecleos populacionais natildeo esperavam pela iniciativa do governo mas construiacuteam suas proacuteprias escolas e providenciavam o professor Quando muito solicitavam algum tipo de subvenccedilatildeo do governo estadual A escola dos imigrantes natildeo se desenvolveu mais porque o Estado desde 1901 apenas subvencionava os professores que ensinassem em liacutengua portuguesa Esse natildeo era o interesse dos imigrantes Pretendiam repassar agraves novas geraccedilotildees sua noccedilatildeo de nacionalidade de origem que incluiacutea a liacutengua a religiatildeo e os costumes Se o ensino fosse apenas na liacutengua portuguesa os colonos retiravam seus filhos e organizavam uma nova escola particular Em diversas localidades a escola puacuteblica foi desativada e removido o professor por absoluta falta de alunos (EMER 1991 p 207)

Emer destaca as modalidades de ensino que foram criadas neste periacuteodo

tanto no acircmbito formal quanto na esfera institucionalizada satildeo elas (1) Instruccedilatildeo

sem instituiccedilatildeo - ldquoSimplesmente algumas crianccedilas reuniam-se ao redor da mesa de

refeiccedilotildees de uma residecircncia para aprender ler escrever e calcular - curriacuteculo e

58

objetivos educacionais estabelecidos pelos paisrdquo (referecircncia) - que consistia em que

a educaccedilatildeo era dada pelo grupo social sem nenhuma institucionalizaccedilatildeo (2) casa

escolar - construiacuteda e mantida pelos pioneiros - ldquo() do professor era exigida uma

melhor qualificaccedilatildeo isto eacute deveria ensinar mais que na escolarizaccedilatildeo Domiciliar a

Casa Escolar deveria funcionar tecnicamente bemrdquo (EMER 2012 p 36) (3) casa

escolar puacuteblica criada e regulamentada pelo Municiacutepio- ldquoComo uma escola oficial

os alunos das Casas Escolares Puacuteblicas eram submetidos aos exames puacuteblicos

elaborados pelos oacutergatildeos educacionais puacuteblicos para comprovaccedilatildeo da escolaridaderdquo

Neste modelo ficava a cargo do governo contratar e remunerar o professor

cabendo a este alugar uma sala ou casa e formar o grupo de aluno de primeiras

letras Por uacuteltimo o Grupo Escolar Puacuteblico (4) ndash que se diferencia das demais

modalidades por ter sido construiacuteda em nuacutecleos de povoamento mais desenvolvidos

e pela forma de funcionamento Nas modalidades anteriores o objetivo era aprender

a ler escrever e calcular Posteriormente com a oficializaccedilatildeo da casa escolar a

comprovaccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo passou a ser feita por meio de avaliaccedilotildees No grupo

escolar a preocupaccedilatildeo era de bdquoaprovar‟ o aluno para a seacuterie seguinte ldquonum processo

gradual de comprovaccedilatildeo de conhecimentos dos conteuacutedos definidos pelo ldquosistemardquo

educacional como requisito de cada seacuterie (EMER 2012 p 36)

A partir da fundaccedilatildeo da municipalidade em 1914 a populaccedilatildeo passou a

reivindicar um modelo de educaccedilatildeo subsidiado pelo poder puacuteblico Naquele

momento Foz do Iguaccedilu desenvolvia planos para combater o contrabando da

fronteira o que demandou a contrataccedilatildeo de agentes fiscais Esse processo fez com

que o grupo de escolarizados que chegavam agrave cidade passassem a requerer

escolas para seus filhos aleacutem do fato do crescimento da populaccedilatildeo e por

consequecircncia o aumento de crianccedilas (EMER 2012 p 37)

Conforme Emer (1991) entre os anos de 1915 e 1916 ldquoa Prefeitura Municipal

teria construiacutedo e mantido uma casa escolar puacuteblica embora precaacuteria e insuficienterdquo

(EMER 1991 apud Sbardelotto 2009 p 96) Wachowicz afirma que a necessidade

da criaccedilatildeo de escolas por parte da populaccedilatildeo soacute surgiu quando a populaccedilatildeo

urbana cresceu significativamente organizando assim a vida social (WACHOWICZ

1984 p 19) Apesar da iniciativa de dar acesso ao ensino puacuteblico de forma gratuita

a todos Sbardelotto aponta que apenas a populaccedilatildeo masculina foi contemplada

aleacutem do caraacuteter eminentemente elitista uma vez que os filhos de trabalhadores por

terem que optar pela subsistecircncia da famiacutelia abandonavam as escolas

59

Outros fatores contribuiacuteram para o desenvolvimento da educaccedilatildeo em Foz do

Iguaccedilu dentre eles a presenccedila da Igreja Catoacutelica Anterior a fundaccedilatildeo do

municiacutepio em decorrecircncia da localizaccedilatildeo e da dificuldade de deslocamento a

populaccedilatildeo da cidade soacute recebia assistecircncia religiosa uma vez por ano Isso

perdurou ateacute 1918 quando a Igreja optou em criar uma Paroacutequia na cidade desde

que contasse com a ajuda do governo Nesse sentido o acordo entre Igreja e

governo do Estado foi firmado com a condiccedilatildeo de que a Igreja construiacutesse e

dirigisse um grupo escolar

Em 1923 foi instalada a paroacutequia e nomeado o primeiro vigaacuterio um sacerdote alematildeo da Congregaccedilatildeo do Verbo Divino Padre Guilherme Maria Tilecks Para cumprimento do acordo com o Estado mesmo antes da construccedilatildeo do Grupo Escolar o Padre Guilherme passou a lecionar na Casa Escolar Para o desempenho de suas atividades recebeu a ajuda de outros dois padres e de um irmatildeo de sua congregaccedilatildeo (Padre Joatildeo Progzeba Padre Paulo Schneider e Irmatildeo Bianchi) (EMER 2012 p 38)

Por meio do Decreto nordm 1326 do dia 27 de agosto de 1928 surge o Grupo

Escolar Caetano Munhoz da Rocha que posteriormente passou a ser chamado de

Grupo Bartolomeu Mitre primeiro grupo escolar da mesorregiatildeo Oeste do Paranaacute

Em 1930 o grupo escolar passou a ser administrado pelo governo do Paranaacute sob a

direccedilatildeo de professores nomeados pelo Estado Segundo o Plano Municipal de

Educaccedilatildeo (PME) de 2015 ldquoa funccedilatildeo da escola no municiacutepio na eacutepoca era a de

cooperar com a nacionalizaccedilatildeo de um espaccedilo que era submetido por argentinos e

paraguaiosrdquo (PME 2015 p 4) Desse modo a criaccedilatildeo da escola passa a ser

reconhecido pelo Estado como instrumento necessaacuterio para a nacionalizaccedilatildeo da

triacuteplice fronteira O plano municipal utiliza a palavra bdquosubmetido‟ indicando que

naquele periacuteodo havia certa preocupaccedilatildeo com a presenccedila e influecircncia dos paiacuteses

fronteiriccedilos como uma ameaccedila ao territoacuterio e a necessidade de construccedilatildeo da

naccedilatildeo

60

Imagem V- Grupo Escolar Bartolomeu Mitre Fonte Site da Secretaria Estadual do Paranaacute

httpwwwfozbartolomeumitreseedprgovbrmodulesconteudoconteudophpconteudo=9

O fato de o Brasil homenagear um general argentino ao nomear uma escola

em seu nome levou Emer a questionar os motivos que levariam o Estado brasileiro a

tomar essa atitude ou se ela foi apenas uma homenagem despretensiosa ao general

argentino Os interesses do Brasil naquele periacuteodo era dar seguimento agrave poliacutetica

integracionista do territoacuterio com uma campanha nacionalista e o Grupo Escolar Mitre

eacute o marco da institucionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo no oeste paranaense Por isso as

motivaccedilotildees natildeo ficaram tatildeo claras (SBARDELOTTO 2007)

A partir da deacutecada de 1930 a cidade de Foz do Iguaccedilu passou a receber

imigrantes descendentes de italianos e alematildees aleacutem de inuacutemeros agricultores do

Rio Grande do Sul Neste mesmo periacuteodo o governo do Estado do Paranaacute fez

algumas reformas educacionais de teor nacionalista conivente com as mudanccedilas do

governo como aponta o Plano Municipal de Educaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu (2015)

Algumas mudanccedilas comeccedilam acontecer na educaccedilatildeo do paiacutes Uma delas eacute a manifestaccedilatildeo do Estado entre os anos de 1917 e 1919 o governo federal delibera verba para as escolas que ensinavam em liacutengua portuguesa e as escolas de imigrantes que ensinavam em outra liacutengua eram vigiadas e fechadas (PME 2015 p 5)

Durante o Estado Novo essas escolas passaram a ser alvo do governo

principalmente apoacutes a Marcha para o Oeste ldquoque defendia a ocupaccedilatildeo efetiva e a

nacionalizaccedilatildeo das fronteiras nacionais brasileiras de Norte a Sul do paiacutesrdquo (PRIORI

et al 2012 p 65) O projeto explica Priori (etal 2012) buscava despertar o

sentimento de nacionalidade e brasilidade na populaccedilatildeo que vivia na fronteira

No caso da fronteira de Foz do Iguaccedilu despertar na populaccedilatildeo esse

sentimento de nacionalidade era combater agrave ameaccedila que paraguaios argentinos e

61

os descendentes de alematildees italianos poloneses dentre outros imigrantes que se

fixaram na regiatildeo representavam ao projeto de integraccedilatildeo nacional do governo

22 O projeto nacionalista do Estado Novo e a lsquonacionalizaccedilatildeo da fronteirarsquo

A ldquoMarcha para o Oesterdquo foi um importante processo que contribuiu para o

projeto de nacionalizaccedilatildeo da fronteira Segundo Lenharo (1986 apud Lopes 2004)

o discurso de Vargas justificava a ldquoMarcha para o Oesterdquo pautando-se na conquista

da brasilidade que se daria por meio da interiorizaccedilatildeo do paiacutes ldquoPara ele a

construccedilatildeo da ldquoMarcha para Oesterdquo lembra a imagem da naccedilatildeo em movimento agrave

procura de si mesma de sua integraccedilatildeo e acabamentordquo (LENHARO 1986 p56

apud LOPES 2004 p 4)

Como uma das consequumlecircncias da ldquoMarcha para o Oesterdquo foram criados os

territoacuterios federais ldquonas regiotildees do Amapaacute Guaporeacute (atual Rondocircnia) Rio Branco

(atual Roraima) Iguaccedilu e Ponta Poratilde no Estado de Mato Grosso do Sulrdquo (PRIORI et

al 2012p66) Por meio do Decreto-Lei nordm 58124 no ano de 1943 o Territoacuterio

Federal do Iguaccedilu foi criado abrangendo o Oeste e Sudoeste do Paranaacute e Oeste de

Santa Catarina

Segundo Seacutergio Lopes (2004) dentro do espiacuterito de nacionalizaccedilatildeo o

Territoacuterio Federal do Iguaccedilu deveria atender urgentemente o estabelecimento de

condiccedilotildees miacutenimas para organizaccedilatildeo econocircmica social e de seguranccedila das regiotildees

fronteiriccedilas e dos sertotildees Desse modo a criaccedilatildeo do territoacuterio pode ser entendida

como um ato de ocupaccedilatildeo definitiva da faixa de fronteira ldquopara assim romper o

isolamento e afastar definitivamente o perigo estrangeiro para a soberania nacional

que rondava a regiatildeordquo (LOPES 2004 p16)

O primeiro governador a administraacute-lo o Major Joatildeo Garcez do Nascimento

em relatoacuterio enviado ao Ministro da Justiccedila e Negoacutecios Anteriores fez inuacutemeras

consideraccedilotildees sobre a situaccedilatildeo do transporte comeacutercio sauacutede seguranccedila e

educaccedilatildeo na regiatildeo que abrangia o Territoacuterio Federal do Iguaccedilu No aspecto

educacional ele aponta

Haacute no Territoacuterio regular nuacutemero de escolas primaacuterias Satildeo elas

em nuacutemero de setenta Aleacutem disso contam‐se quatro grupos escolares sediados em Pato Branco Clevelacircndia Foz do Iguassuacute e Guaiacutera Quanto ao nuacutemero de escolas pode-se afirmar que atende

62

ainda as necessidades locais quanto as suas instalaccedilotildees poreacutem haacute muito o que providenciar A maioria delas funciona em preacutedios improacuteprios outras em simples salas cedidas a tiacutetulo precaacuterio e por empreacutestimo Em sua maioria natildeo atende aos rudimentares princiacutepios de higiene e didaacutetica O professorado salvo honrosas exceccedilotildees constitui-se de pessoas bem intencionadas e dedicadas mas de niacutevel cultural bastante abaixo do que seria estimaacutevel (RELATOacuteRIO DE 1944 apud LEMIECHEK 2014 p 06)

A criaccedilatildeo do Territoacuterio Federal do Iguaccedilu fez com que o processo de

urbanizaccedilatildeo crescesse e com ele a demanda por qualidade nos serviccedilos puacuteblicos

como a escola Enquanto as escolas natildeo eram ampliadas a classe mais favorecida

economicamente assegurava o acesso agrave educaccedilatildeo para seus filhos por meio da

contrataccedilatildeo de professores que se ldquodeslocavam ateacute as moradias em casas

escolares ou nuacutecleos urbanos mais distantes como Guarapuava Curitiba Posadas

Corrientes etcrdquo (PME 2015 p9) Para as classes menos favorecidas como aqueles

que viviam em Foz do Iguaccedilu e trabalhavam nas obrages e no cultivo da terra havia

acesso ao ensino aleacutem delas viverem em situaccedilotildees insalubres sem acesso a

higiene alimentaccedilatildeo e sauacutede

A partir desse periacuteodo escolas como as construiacutedas por estrangeiros eram

fechadas caso natildeo se adaptassem agraves poliacuteticas nacionais Era necessaacuterio que essa

populaccedilatildeo na regiatildeo se identificasse com o Brasil enquanto uma paacutetria para

constituiccedilatildeo de um Estado-Naccedilatildeo forte Segundo Helena Bomeny (1999) natildeo havia

no projeto do governo intenccedilotildees para inclusatildeo e aceitaccedilatildeo de convivecircncia com os

grupos culturais estrangeiros nas regiotildees de colonizaccedilatildeo

Em relatoacuterio sobre a nacionalizaccedilatildeo do ensino datado de 1940 o Instituto

Nacional de Estudos e Pedagoacutegicos (INEP) sob a direccedilatildeo do educador Lourenccedilo

Filho ao analisar a trajetoacuteria dos imigrantes e sua fixaccedilatildeo no Brasil constatou com

base nos relatoacuterios e depoimentos de historiadores pensadores poliacuteticos e

escritores que desde o seacuteculo XIX a presenccedila de estrangeiros no paiacutes era fator de

preocupaccedilatildeo (BOMENY 1999) Segundo a mesma autora a precariedade da

educaccedilatildeo nos estados da regiatildeo sul do paiacutes em destaque o Rio Grande do Sul

levava os colonos a optarem pelos coleacutegios privados alematildees Segundo o relatoacuterio

do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Sauacutede essa opccedilatildeo pelas escolas estrangeiras era

compreensiacutevel sendo culpa do Estado por permitir a criaccedilatildeo destas instituiccedilotildees sem

a vinculaccedilatildeo com os centros nacionais de cultura

63

A escola natildeo eacute um oacutergatildeo abstrato mas um centro de coordenaccedilatildeo da proacutepria accedilatildeo educativa da comunidade Tendo-se cometido o erro de permitir o nucleamento de estrangeiros sem maior vinculaccedilatildeo ou disciplina aos centros nacionais de cultura as instituiccedilotildees educativas que aiacute deveriam surgir seriam as que ensinassem em liacutengua estrangeira (BOMENY 1999 p154 apud INEP 1999 p8)

A preocupaccedilatildeo com a nacionalizaccedilatildeo do ensino eacute anterior ao Estado Novo

Em Foz do Iguaccedilu a educaccedilatildeo escolar das crianccedilas estava presente desde o

periacuteodo de instalaccedilatildeo da Colocircnia Militar em 1889 Na ausecircncia de escolas muitas

crianccedilas frequumlentavam o sistema educacional da Argentina cuja influecircncia

preocupava o governo da eacutepoca Em 1906 Siacutelvio Romero alertava sobre as

ameaccedilas em haver diferentes nacionalidades no Brasil Como soluccedilatildeo ele propocircs

que se ldquoaproveitasse de modo extensivo o proletariado nacional como elemento

colonizador perto do estrangeiro para educar-se com ele no trabalho e em troca

contribuir para o seu abrasileiramentordquo (BOMENY 1999 p154)

Na conferecircncia interestadual de Ensino Primaacuterio de 1921 encontra-se a fala

de Milton C A Cruz que justifica a deficiecircncia do ensino devido aos inuacutemeros

nuacutecleos estrangeiros isolados ldquoO espiacuterito dessas crianccedilas brasileiras formado em

liacutengua nos costumes nas tradiccedilotildees dos paiacutes soacute poderia tender para a paacutetria de

origem constituindo um empecilho agrave coesatildeo nacionalrdquo (BOMENY 1999 p154 apud

INEP 1999 p8)

Por determinaccedilatildeo do Estado Novo a prefeitura de Foz do Iguaccedilu passou a

promover uma administraccedilatildeo que visasse agrave ocupaccedilatildeo do territoacuterio brasileiro

valorizaccedilatildeo da liacutengua oficial e das moedas nacionais (SPERANCcedilA 1992 apud

LOPES 2004 p 49) Teve ainda que despachar suas documentaccedilotildees criar

anuacutencios comerciais listas de preccedilos ou avisos somente em liacutengua portuguesa

aleacutem da obrigatoriedade do uso da moeda brasileira Essas medidas foram tomadas

pois havia na regiatildeo grande influecircncia dos argentinos no lado brasileiro

Segundo Lopes (2004) a principal preocupaccedilatildeo do Estado Novo em relaccedilatildeo a

essa fronteira era a influecircncia Argentina Como outra medida de contenccedilatildeo dessa

influecircncia estrangeira o governo federal por meio do Decreto nordm 19842 de 1930

tornou obrigatoacuterio a contrataccedilatildeo de no miacutenimo dois terccedilos de trabalhadores nas

empresas estrangeiras presentes dentro do territoacuterio nacional

Diante das estrateacutegias que o Estado Novo desenvolveu para construir a ideacuteia

de naccedilatildeo a fronteira poliacutetica requeria a justificaccedilatildeo ideoloacutegica da comunidade

64

nacional Nessa premissa a escola enquanto instrumento de nacionalizar as

fronteiras foi fundamental

23 Da construccedilatildeo de Itaipu agrave lsquoondarsquo de migraccedilatildeo e imigraccedilatildeo seus

impactos na educaccedilatildeo

Com a queda de Getuacutelio Vargas em 1945 quando o paiacutes entrou por um

pequeno periacuteodo na fase de redemocratizaccedilatildeo os Territoacuterios do Iguaccedilu e Ponta

Poratilde foram extintos No campo da educaccedilatildeo a pedagoga Lucimara Lemiechek

aponta que vaacuterias foram agraves mudanccedilas em detrimento da promulgaccedilatildeo das Leis

Orgacircnicas e a ampliaccedilatildeo dos Cursos Normais (LEMIECHEK 2014 p 9) Nessa

mesma deacutecada em Foz do Iguaccedilu teve iniacutecio a primeira escola21 particular Jorge

Schimmelpfeng nas dependecircncias do primeiro Centro Espiacuterita fundado no

municiacutepio

Imagem VI - Escola Jorge Schimmelpfeng com crianccedilas carentes sob os cuidados do Capitatildeo Cyriacuteaco e de Joseacute Vicente Ferreira (os dois adultos agrave direta da foto rara)

Fonte Centro Espiacuterita Lidelfonso Correia

A deacutecada de 1950 e 1960 seguiu com um programa de escola de cunho

nacionalista e dualista em um periacuteodo marcado pelo programa desenvolvimentista

Cada vez mais os trabalhadores requeriam educaccedilatildeo diferenciada de um lado a

necessidade de matildeo de obra especializada e de outro a busca pelo status que a

educaccedilatildeo proporcionaria No ano de 1959 a Lei Municipal nordm 234 de 29 de outubro

de 1959 adota o programa de aboliccedilatildeo do analfabetismo

21

Vide imagem IV

65

Art 1ordm A Prefeitura de Foz do Iguaccedilu empreenderaacute uma campanha sistemaacutetica para aboliccedilatildeo do analfabetismo desde as crianccedilas de sete anos feitos aos adultos de qualquer idade (LEI 2341959) Art 2ordm Toda a crianccedila que completar sete anos de 1ordm de janeiro a 31 de dezembro deveraacute obrigatoriamente no comeccedilo do ano letivo imediato ser matriculada em escola puacuteblica ou particular cumprindo-lhes frequumlenta-la com assiduidade durante cinco anos na cidade e trecircs anos letivos nas zonas rurais (PME 2015 p 11)

Eacute nesse momento que chegam a Foz do Iguaccedilu as primeiras populaccedilotildees de

origem aacuterabe que saiacuteram de seus paiacuteses em decorrecircncia dos intensos conflitos

regionais e atraiacutedos pela oportunidade de explorar um mercado com grande

potencial de crescimento (RABOSSI 2007 p 292) Segundo Rabossi a primeira

cidade da Triacuteplice Fronteira em que eles se estabeleceram foi Foz do Iguaccedilu

principalmente na regiatildeo proacutexima da Ponte da Amizade inaugurada em 1965

passando a ligar a cidade brasileira a Ciudad del Este no Paraguai dando iniacutecio ao

comeacutercio na regiatildeo Em 1975 no contexto da Guerra do Liacutebano o comeacutercio dos

aacuterabes na fronteira estava consolidado fazendo com que atraiacutedos pelo comeacutercio e

fugindo da guerra outros grupos oriundos do Oriente Meacutedio imigrassem para a

regiatildeo da fronteiriccedila Segundo Silva (2008 p367) os uacuteltimos 30 anos recebeu um

grande nuacutemero de imigrantes de origem ldquoaacuterabe libaneses palestinos siacuterios

jordanianos bem como chineses coreanos e em nuacutemero bem menor hindus e

portugueses

A mesma autora aponta que duas escolas pertencem agrave comunidade aacuterabe

uma de ensino fundamental que ensina a liacutengua aacuterabe e a religiatildeo sunita vinculada

ao Centro Beneficente Islacircmico de Foz do Iguaccedilu uma organizaccedilatildeo cultural e

cientiacutefica A segunda escola Escola Aacuterabe Brasileira oferta ensino para o ensino

fundamental e meacutedio de acordo com as exigecircncias do Estado A especificidade

desta escola em relaccedilatildeo agraves demais do municiacutepio eacute a oferta do ensino da liacutengua

aacuterabe (SILVA 2008)

Na deacutecada de 1970 tambeacutem chegam a Foz do Iguaccedilu os primeiros imigrantes

chineses atraiacutedos pelo comeacutercio na regiatildeo Segundo Miao Shen Chen a regiatildeo da

triacuteplice fronteira abriga uma comunidade chinesa com aproximadamente quatro mil

indiviacuteduos Em Foz do Iguaccedilu haacute pelo menos mil chineses e descendentes Os

imigrantes tecircm agecircncias de turismo imobiliaacuterias construtoras especializadas em

atender os clientes orientais (CHEN 2010)

66

Apesar da implementaccedilatildeo da Lei Municipal nordm 234 de 1959 que estabelecia a

obrigatoriedade da educaccedilatildeo para aboliccedilatildeo do analfabetismo a escola seguia sendo

para poucos ao menos no que diz respeito agrave permanecircncia dos estudantes Os

alunos mais pobres abandonavam a escola muito cedo pois tinham que optar entre

estudar ou trabalhar para ajudar na subsistecircncia da famiacutelia (PME 2015 p 11)

Para Emer (1991) os colonos que aqui se encontravam diante da

precariedade das escolas mobilizaram-se para criar escolas para seus filhos

contribuindo para construccedilatildeo de inuacutemeros coleacutegios confessionais entre os anos de

1955 e 1965 (EMER 1991 p 125) Quanto agrave contrataccedilatildeo dos professores estes

deveriam ter o perfil que atendesse o grupo social

Destaca-se a criaccedilatildeo da primeira Escola Normal Colegial da regiatildeo Oeste do

Paranaacute a Escola Normal Iguaccedilu criada em 1957 em Foz do Iguaccedilu em um

contexto em que a populaccedilatildeo da cidade crescia e a demanda pelo ensino em

diversos niacuteveis aumentava havendo a necessidade de habilitar os professores para

o trabalho docente Ateacute o ano de 1957 Foz do Iguaccedilu contava com um Grupo

Escolar o Bartolomeu Mitre que atendia aproximadamente 400 crianccedilas uma Casa

Escolar com aproximadamente 80 alunos e cinco escolas rurais isoladas que

tinham capacidade para atender 250 alunos Foz do Iguaccedilu tinha capacidade para

atender aproximadamente 730 alunos no ensino primaacuterio o que era pouco diante da

crescente demanda sobretudo dos nuacutecleos urbanos e das aacutereas rurais aleacutem das

aacutereas distritais22

Ainda que tenha havido a criaccedilatildeo dos coleacutegios normais o relatoacuterio do plano

de desenvolvimento de Foz do Iguaccedilu de 1972 apontava que o corpo docente do

municiacutepio era constituiacutedo em sua maioria por professores sem habilitaccedilatildeo tanto

nas redes municipais e estaduais quanto nas privadas A justificativa para esta

qualificaccedilatildeo segundo o relatoacuterio estava no baixo niacutevel salarial que impedia os

qualificados de se dedicarem ao magisteacuterio Na zona rural a porcentagem era ainda

maior Cerca de 80 do pessoal natildeo qualificado atende ao ensino primaacuterio que

funcionava em 41 escolas isoladas e duas casas escolares Segundo o PDI

22 Dentre os distritos que ficavam sob a jurisdiccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu encontram-se Santa Terezinha

de Itaipu Itacoreacute Alvorada Medianeira dentre outros (SBARDELLOTO 2009 p 146)

67

O Estado que paga os melhores salaacuterios (Cr$ 41600) natildeo faz nomeaccedilotildees e a Prefeitura possuindo apenas 3 elementos em seu quadro efetivo percebendo Cr$ 28000 contrata os professores normalistas por apenas Cr$ 28000 e a professora leiga por 60 do salaacuterio miacutenimo (PDI 1972 p 114)

Quanto agrave estrutura do periacuteodo o relatoacuterio aponta que ateacute 1971 havia cinco

grupos escolares estaduais um privado uma casa escolar municipal e duas escolas

isoladas que segundo o relatoacuterio natildeo eram suficientes para atender a demanda

Quanto agrave estrutura o relatoacuterio aponta

Somente na Zona Urbana vamos encontrar preacutedios escolares de alvenaria com luz aacutegua encanada e instalaccedilotildees sanitaacuterias regulares Natildeo quer isto dizer que sejam instalaccedilotildees satisfatoacuterias pois deixam muito a desejar havendo falta de aacutegua e os miacutenimos requisitos agrave boa higiene dos escolares () Na zona rural os preacutedios satildeo todos de madeira sem as menores condiccedilotildees indispensaacuteveis agrave higiene escolar notando-se ausecircncia de atendimento sanitaacuterio e de sauacutede (PDI 1972 p 118)

No mesmo relatoacuterio o problema da evasatildeo eacute justificado com o argumento da

localizaccedilatildeo da cidade que por estar em uma regiatildeo de fronteira eacute caracterizada por

possuir uma populaccedilatildeo flutuante As escolas rurais por exemplo em periacuteodos de

colheita eram fechadas pois natildeo havia frequecircncia alguma uma vez que os alunos

estavam trabalhando nas lavouras Outro exemplo eacute a justificativa do baixo

rendimento escolar atribuiacutedo ao alto iacutendice de crianccedilas argentinas e paraguaias que

estudavam no lado brasileiro com a alegaccedilatildeo do problema do idioma que gerava

atraso em toda turma ldquoNo 1ordm ano o periacuteodo de preacute-alfabetizaccedilatildeo que normalmente

eacute feito em trecircs meses (no maacuteximo) chega a durar quase um anordquo (PDI 1972 p

125)

Este argumento que culpabiliza o aluno estrangeiro pelo atraso da turma natildeo

mudou muito Em pesquisa com professores da rede puacuteblica de Foz do Iguaccedilu

sobre a presenccedila de alunos brasiguaios nas escolas brasileiras citado no capiacutetulo

anterior Pires-Santos (2010) fala que alguns professores vecirc a presenccedila deste perfil

de aluno como um entrave um bdquocastigo‟ pois no seu entendimento seraacute difiacutecil

ensinaacute-los Outro destaque reside no fato de que estes relatoacuterios feitos em 1972

foram produzidos em nome do Estado que vivia sob o regime dos militares cuja

preocupaccedilatildeo com o estrangeiro no paiacutes se restringia nas questotildees de seguranccedila

nacional

68

No decorrer da deacutecada de 1970 a pauta da educaccedilatildeo segue em discussatildeo na

regiatildeo sobretudo com a reforma do ensino promulgada pela Lei 569271 Foz do

Iguaccedilu vivia nessa deacutecada os impactos da construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica de

Itaipu A cidade recebeu aproximadamente 40000 operaacuterios com suas respectivas

famiacutelias oriundas de vaacuterios estados do paiacutes para a construccedilatildeo da hidreleacutetrica O

aumento populacional gerado pela chegada dos trabalhadores na cidade fez com

que todas as obras de infraestrutura fossem feitas apressadamente dentre essas

os hospitais as moradias e escolas subsidiados pela Itaipu Um exemplo foi o

convecircnio entre a Prefeitura por meio da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo e

Cultura com a Itaipu que resultou na construccedilatildeo da escola Prof Parigot de Souza

no ano de 1975

() Fica o Chefe do Executivo Municipal autorizado a firmar convecircnio com a Empresa ITAIPU ndashBINACIONAL objetivando a aplicaccedilatildeo de recursos para pagamento de professores e demais servidores para o setor administrativo bem como da manutenccedilatildeo da nova unidade escolar preacute-fabricada construiacuteda na sede municipal onde seraacute instalada uma extensatildeo do Ginaacutesio Estadual bdquoDom Manoel Konnerrdquode Foz do Iguaccedilu‟

(Foz do Iguaccedilu Lei Municipal nordm 8821975 Art1ordm)

Com a construccedilatildeo da hidreleacutetrica o nuacutemero de escolas em Foz do Iguaccedilu

aumentou significativamente Na deacutecada de 1960 havia cerca de oito escolas

municipais na cidade na deacutecada de 1980 mais nove escolas e hoje segundo dados

da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo (2011) a cidade conta com 83 escolas

municipais e 82 estaduais 43 privadas e 04 filantroacutepicas

O periacuteodo que se estende da Colocircnia Militar de 1889 ateacute o fim da Era Vargas

(1930-1954) demonstrou que as raiacutezes pela qual as escolas foram criadas passou

pela construccedilatildeo de valores que satildeo constitutivos de uma ideal de naccedilatildeo Wachowicz

(1984) cita o ofiacutecio do general comandante da 5ordf Regiatildeo Militar em 1925 que

expressava a urgecircncia de se construir escolas nas zonas de fronteira haja vista que

a uacutenica soluccedilatildeo era enviar as crianccedilas para frequentar escola na Argentina O

incocircmodo do general se baseia na busca pelo estabelecimento de uma identidade

nacional ao Brasil pois a presenccedila de alunos brasileiros em escolas argentinas

representava um perigo A escola eacute um dos espaccedilos em que se bdquoimagina‟ se

constroacutei um identidade nacional ldquoNascida na ficccedilatildeo agrave identidade precisava de muita

coerccedilatildeo e convencimento para se consolidar e se concretizar numa realidaderdquo

(BAUMAN 2005 p 27)

69

Em siacutentese a escola natildeo eacute neutra mas perpassam tambeacutem outros interesses

que natildeo satildeo apenas os de ideais nacionalistas Ela eacute um espaccedilo marcado por

contradiccedilotildees Eacute o que o educador brasileiro Paulo Freire (1987) sugere ao natildeo

negar a influecircncia que determinado modo de se propor um modelo educativo pode

causar na sociedade Justamente por saber do potencial transformador da educaccedilatildeo

eacute que ele propunha um modelo para de educaccedilatildeo a partir da base da realidade na

qual o sujeito estaacute inserido

Em Foz do Iguaccedilu haacute a constataccedilatildeo de que o Estado esteve preocupado em

criar escolas a fim de bdquonacionalizar‟ a fronteira Braduel (2009) ao refletir acerca da

relaccedilatildeo entre Estado e territoacuterio e a ocupaccedilatildeo do espaccedilo afirma que ldquoEstados agem

como indiviacuteduos obstinando-se em delimitar seu domiciacutelio da mesma forma que

todo animal livre defende aquilo que ele considera ser o seu territoacuteriordquo (BRAUDEL

2009 p 262 apud Heinsfiel 2014 p 17)

Nessa perspectiva o Estado tem como foco a necessidade de delimitar seus

domiacutenios Domiacutenios estes que satildeo reforccedilados por instituiccedilotildees capazes de legitimar

essa loacutegica tais como as escolas Segundo Bourdieu (2008) um dos principais

poderes do Estado eacute impor categorias de pensamento categorias que noacutes

assumimos como naturais aparentemente espontacircneas mas que na verdade satildeo

impostas pelo Estado (BOURDIEU 2008 p 91)

24 A Educaccedilatildeo a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 O direito agrave diversidade nas

escolas

Com o processo de redemocratizaccedilatildeo e da nova Constituiccedilatildeo Federal

promulgada em 1988 houve um grande avanccedilo em termos de direitos civis No

caso da presenccedila de estrangeiros no paiacutes a Carta Magna assegura a todas as

pessoas brasileiras ou estrangeiras estando em situaccedilatildeo migratoacuteria regular ou

irregular o direito agrave educaccedilatildeo escolar Os princiacutepios escolares passaram a ter

como base a igualdade de condiccedilotildees para o acesso e permanecircncia nas escolas

da liberdade e do pluralismo de ideacuteias e concepccedilotildees pedagoacutegicas

Art 206 O ensino seraacute ministrado com base nos seguintes princiacutepios I - igualdade de condiccedilotildees para o acesso e permanecircncia na escola II - liberdade de aprender ensinar pesquisar e divulgar o pensamento a arte e o saber III - pluralismo de ideacuteias e de concepccedilotildees pedagoacutegicas e coexistecircncia de instituiccedilotildees puacuteblicas e

70

privadas de ensino IV - gratuidade do ensino puacuteblico em estabelecimentos oficiais (CF 1998)

Waldman (2012) destaca que a nova constituiccedilatildeo tem pela primeira vez o

princiacutepio da dignidade da pessoa humana como fundamental e afirmou como

objetivos fundamentais a ldquopromoccedilatildeo do bem para todos sem preconceitos de

origem raccedila sexo cor idade e quaisquer outras formas de discriminaccedilatildeordquo

(WALDMAN 2012 p63)

No campo das relaccedilotildees internacionais o Brasil se comprometeu pela

prevalecircncia dos direitos humanos pela cooperaccedilatildeo entre os povos e pela atenccedilatildeo

agrave integraccedilatildeo poliacutetica social e cultural da Ameacuterica Latina23 Estes pontos

apresentados satildeo importantes a serem considerados pois satildeo com base na CF

que a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional de 1996 seraacute elaborada e a

partir dela outros documentos importantes que toca agrave questatildeo da diversidade

eacutetnicas cultural e racial na educaccedilatildeo Alguns destes documentos satildeo o Curriacuteculo

da Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oeste do Paranaacute o Plano Estadual de Educaccedilatildeo

do Paranaacute e os Paracircmetros Curriculares Nacionais que seratildeo analisados no

proacuteximo capiacutetulo

23

Art 4ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes

princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos humanos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV - natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitosVIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismoIX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidadeX - concessatildeo de asilo poliacuteticoParaacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

71

CAPIacuteTULO III POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS PARA A EDUCACcedilAtildeO NA FRONTEIRA

ENTRE ARGENTINA BRASIL E PARAGUAI

31 Poliacuteticas Puacuteblicas conceitos e abordagens

O campo de estudos de poliacuteticas puacuteblicas avanccedilou nos uacuteltimos sessenta

anos tendo conformado uma literatura instrumental analiacutetica que contribuiu para a

compreensatildeo dos processos de natureza poliacutetico- administrativo (SECCHI 2013)

No Brasil segundo Faria (2003) a aacuterea de anaacutelise de poliacuteticas puacuteblicas ainda eacute

escassa Isso se comprova pela falta de anaacutelises mais sistemaacuteticas no que tange

aos processos de implementaccedilatildeo aleacutem da carecircncia em estudos que tratam de

metodologias e instrumentos de avaliaccedilatildeo destas poliacuteticas pelos trecircs niacuteveis de

governo legislativo executivo e judiciaacuterio

A fim de apresentar a analise de algumas poliacuteticas puacuteblicas (PP) que tratam

da questatildeo da educaccedilatildeo e diversidade cultural faz-se necessaacuterio apresentar o que

se compreende enquanto uma PP Teoacutericos apontam que seu significado natildeo

apresenta uma definiccedilatildeo uacutenica (SECCHI 2010 BONETI 2011) Assim utilizaremos

como definiccedilatildeo de PP as concepccedilotildees de Tamayo Saacuteez (1997) que a entende como

ldquoum conjunto de objetivos decisotildees e accedilotildees que levam a cabo um governo para

solucionar os problemasrdquo (TAMAYO SAEacuteZ 1997 p 2) Complementando esta

definiccedilatildeo citamos Lindomar Boneti (2006) e seu entendimento do que sejam

poliacuteticas puacuteblicas

Accedilatildeo que nasce do contexto social mas que passa pela esfera estatal como uma decisatildeo de intervenccedilatildeo puacuteblica numa realidade social determinada quer seja ela econocircmica ou social Ainda esclarece que as poliacuteticas puacuteblicas representam [] o resultado da dinacircmica do jogo de forccedilas que se estabelece no acircmbito das relaccedilotildees de poder relaccedilotildees estas constituiacutedas pelos grupos econocircmicos e poliacuteticos classes sociais e demais organizaccedilotildees da sociedade civil (BONETI 2006 p 76)

Eacute importante assinalar que as PPs mudam com o tempo e em consonacircncia

com o modelo de Estado vigente como as transformaccedilotildees que ocorrem em uma PP

dentro de um Estado autoritaacuterio para um Estado democraacutetico A criaccedilatildeo de uma PP

natildeo depende somente das decisotildees emanadas do poder puacuteblico Esse jogo de

72

forccedilas ao qual Boneti se refere satildeo concernentes agraves correlaccedilotildees realizadas com

agentes privados e da sociedade civil No entanto no sentido de responsabilizaccedilatildeo

por sua implementaccedilatildeo e permanecircncia compreende-se aqui que uma PP eacute

responsabilidade do Estado24

Dentre os aspectos a serem considerados no momento de escolher uma PP

os fatores culturais satildeo de fundamental importacircncia para a sua implementaccedilatildeo O

sucesso ou o fracasso de uma PP pode estar diretamente ligado ao contexto no qual

se insere

No que confere agrave anaacutelise de uma PP a mais aceita eacute aquela que busca

compreender como os formuladores de poliacutetica (policymakers) lidam com os

problemas com que se defrontam Nas palavras de Wildavsky

() o papel de Anaacutelise de Poliacutetica eacute encontrar problemas onde soluccedilotildees podem ser tentadas ou seja bdquoo analista deve ser capaz de redefinir problemas de uma forma que torne possiacutevel alguma melhoria‟ Portanto a Anaacutelise de Poliacutetica estaacute preocupada tanto com o planejamento como com a poliacutetica (politics) (WILDAVSKY 1979 apud RUA 2009 p 23)

Segundo Tamayo Saacuteez (1997) a anaacutelise de PP possui um caraacuteter

multidisciplinar Trata-se de um conjunto de teacutecnicas conceitos e estrateacutegias

oriundas de diferentes disciplinas - ciecircncia poliacutetica antropologia sociologia

psicologia e da teoria da organizaccedilatildeo - cujo objetivo eacute interpretar as causas e

consequumlecircncias das accedilotildees do governo Conforme este argumento eacute importante

ressaltar que os atores que analisam determinada PP o fazem a partir de seus

valores sua capacidade teacutecnica seus interesses e o grau de informaccedilatildeo Tais

fatores satildeo fundamentais para compreensatildeo destas anaacutelises

Por poliacuteticas puacuteblicas educacionais compreende-se tudo aquilo que um

governo faz ou deixa de fazer em mateacuteria de educaccedilatildeo No que tange agrave poliacutetica

educacional brasileira esta deve ser pensada em contexto amplo onde fatores

como a constituiccedilatildeo federal a poliacutetica nacional de direitos humanos e os acordos e

tratados internacionais devem ser considerados assim como os fatores sociais e

culturais da sociedade (SILVA MOURA MELLO 2013)

24

Mas vale dizer que natildeo necessariamente uma poliacutetica puacuteblica eacute apenas estatal

73

Segundo Azevedo e Aguiar (2001) os estudos sobre as poliacuteticas

educacionais no Brasil satildeo recentes mas encontram-se em processo de construccedilatildeo

e crescimento As pesquisas e publicaccedilotildees sobre as poliacuteticas educacionais possuem

dois eixos de estudos o primeiro refere-se aos de caraacuteter teoacuterico com questotildees

mais amplas acerca do processo de formulaccedilatildeo de poliacuteticas abarcando mudanccedilas

no papel do Estado das redes de influecircncia no desenvolvimento de formulaccedilatildeo de

poliacuteticas o segundo trata da anaacutelise e avaliaccedilatildeo de poliacuteticas e programas

(MAINARDES 2006) Quanto ao primeiro eixo ao destacar a funccedilatildeo do Estado na

definiccedilatildeo e implementaccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica Mainardes (2006) explica que

natildeo se trata de defender que o Estado ou os governos decidam por implementar as

poliacuteticas puacuteblicas mas isso reflete as pressotildees de diferentes grupos de interesse

Citando Evans Rueschmeyer e Skocpol (1985) Souza (2006) se aproxima da

perspectiva teoacuterica que defende uma autonomia relativa do Estado ldquoque faz com

que o mesmo tenha um espaccedilo proacuteprio de atuaccedilatildeo embora permeaacutevel a influecircncias

externas e internasrdquo (SOUZA 2006 p27 apud Evans Rueschmeyer e Skocpol

1985)

Os dois eixos foram abordados nesta dissertaccedilatildeo pois considera-se

importante conhecer os principais aspectos histoacutericos das poliacuteticas educativas no

Brasil e sua relaccedilatildeo com o Estado para posteriormente tratar da anaacutelise das

poliacuteticas escolhidas O modelo denominado de ciclo de poliacuteticas puacuteblicas seraacute o

recurso utilizado para analise das poliacuteticas educacional

O ciclo de poliacutetica tem adquirido importacircncia progressiva nos estudos sobre a

elaboraccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica principalmente por consistir em uma serie de etapas

que envolve o processo poliacutetico-administrativo os atores suas relaccedilotildees recursos de

poder as relaccedilotildees poliacuteticas sociais e as praacuteticas Saravia e Ferrarezi (2006p32)

descrevem sete etapas deste ciclo primeiro uma agenda poliacutetica que eacute a

necessidade social de elaborar determinada poliacutetica puacuteblica em segundo a

elaboraccedilatildeo propriamente dita da poliacutetica puacuteblica para identificar e delimitar um

problema seja ele atual ou que pode vir a ser necessaacuterio Com isto determinam-se

as alternativas para a soluccedilatildeo a partir das possiacuteveis soluccedilotildees para o problema

formula-se a alternativa mais cabiacutevel pra sua implementaccedilatildeo que deve ser

constituiacuteda por meio do ldquoplanejamento e organizaccedilatildeo do aparelho administrativo e

dos recursos humanos financeiros materiais e tecnoloacutegicos necessaacuterios para

executar uma poliacuteticardquo (SARAVIA p34) A proacutexima etapa eacute a execuccedilatildeo destinada a

74

atingir os objetivos traccedilados pela poliacutetica ldquoEssa etapa inclui o estudo dos

obstaacuteculos que normalmente se opotildeem agrave transformaccedilatildeo de enunciados em

resultados e especialmente a anaacutelise da burocraciardquo (SARAVIA 2006 p 34) A

sexta etapa reside no acompanhamento que eacute o processo de supervisatildeo da

execuccedilatildeo de uma atividade a fim de fornecer a ldquoinformaccedilatildeo necessaacuteria para

introduzir eventuais correccedilotildees a fim de assegurar a consecuccedilatildeo dos objetivos

estabelecidosrdquo (SARAVIA 2006 p34) Por uacuteltimo temos a avaliaccedilatildeo que consiste

em analisar os impactos das poliacuteticas implementadas para a sociedade

Saravia (2006) explica que esta sequecircncia eacute mais uma esquematizaccedilatildeo

teoacuterica do que ocorre na praacutetica Nem sempre essas etapas satildeo consideradas Eacute o

caso de muitos paiacuteses da Ameacuterica Latina onde os programas de ajuste estrutural

natildeo consideraram as primeiras etapas iniciais de sua elaboraccedilatildeo os resultados

sociais possiacuteveis Como consequumlecircncia os indicadores da educaccedilatildeo da sauacutede da

previdecircncia social da habitaccedilatildeo do emprego e de outros setores sociais mostram a

existecircncia de uma situaccedilatildeo difiacutecil que se agrava com o tempo (SARAVIA 2006

p35-36)

32 Caminhos das poliacuteticas educacionais no Brasil

No Brasil por muito tempo as poliacuteticas puacuteblicas para educaccedilatildeo ficaram

aqueacutem do esperado Valle (2009) aponta que no decorrer do periacuteodo colonial ou do

Impeacuterio natildeo haacute registros de uma real preocupaccedilatildeo com as poliacuteticas puacuteblicas de

Educaccedilatildeo (VALLE 2009) Arauacutejo (2011) explica que eacute recente a ideia de um ldquoEstado

em accedilatildeordquo no sentido de promover poliacuteticas para educaccedilatildeo (ARAUacuteJO 2011 p236)

Em um contexto onde sociedade e economia fundamentaram suas bases em um

modelo econocircmico agroexportador e na matildeo-de-obra escrava a preocupaccedilatildeo com a

educaccedilatildeo surgiu muito tarde

Maria Luisa Ribeiro (1992) escreve que no periacuteodo colonial a poliacutetica

educacional esteve vinculada agrave poliacutetica colonizadora dos portugueses (RIBEIRO

1992 p 20) A historiadora Maria Luiza Marciacutelio (2005) acrescenta estes dados ao

traccedilar as principais caracteriacutesticas do sistema educacional brasileiro no periacuteodo que

se estende de 1554 a 1759 ao explicar que o uacutenico ensino formal presente ateacute

meados do seacuteculo XVIII era oferecido pela Companhia de Jesus que era

75

basicamente elitista atendendo em grande parcela ldquojovens brancos proprietaacuterios

de terras famiacutelias da elite colonial aleacutem de introduzir nas primeiras letras do

catecismo elementar as crianccedilas iacutendias das aldeias jesuiacutetasrdquo (MARCIacuteLIO 2005

p42)

Saviani (2008) aponta que o primeiro documento de poliacutetica educacional foi

editado em 1548 e encontrado nos ldquoRegimentosrdquo de DJoatildeo III com a finalidade de

orientar as accedilotildees do governador geral do Brasil Tomeacute de Souza que veio com a

companhia de mais quatro padres e dois irmatildeos jesuiacutetas liderados por Manuel da

Noacutebrega

Nesse mesmo ano os jesuiacutetas receacutem-chegados deram iniacutecio agrave obra educativa centrada na catequese guiados pela orientaccedilatildeo contida nos referidos bdquoRegimentos‟ cumprindo pois um mandato que lhes fora delegado pelo rei de Portugal Nessa condiccedilatildeo cabia agrave coroa manter o ensino mas o rei enviava verbas para a manutenccedilatildeo e a vestimenta dos jesuiacutetas natildeo para construccedilotildees (SAVIANI 2008 p8)

No que se refere agrave inclusatildeo da populaccedilatildeo na instituiccedilatildeo jesuiacutetica Marciacutelio

(2005) aponta que no periacuteodo da expulsatildeo dos jesuiacutetas em 1759 a soma de todos

os alunos natildeo atingia 01 da populaccedilatildeo brasileira Em um cenaacuterio que contava

com 50 da populaccedilatildeo constituiacuteda por mulheres e 40 de escravizados aleacutem de

negros livres pardos filhos ilegiacutetimos e crianccedilas abandonadas todos estes ficavam

agrave margem do sistema de ensino Ao todo os jesuiacutetas ficaram agrave frente da educaccedilatildeo

brasileira por mais de dois seacuteculos ateacute a expulsatildeo (MARCIacuteLIO 2005 p3)

A segunda fase de poliacuteticas educacionais no Brasil foi marcada pelas

reformas pombalinas para instruccedilatildeo puacuteblica Com a instalaccedilatildeo da coroa portuguesa

no Brasil Colonial em 1808 a educaccedilatildeo ganhou novos significados Uma ldquoseacuterie de

cursos tanto profissionalizantes em niacutevel meacutedio como em niacutevel superior bem como

militares foram criados para fazer do local algo realmente parecido com uma Corterdquo

(GHIRALDELLI JR 2001 p 16) Deste modo o periacuteodo compreendido como

pedagogia pombalina (1759-1827) corresponde agraves primeiras tentativas de se instituir

uma escola puacuteblica estatal

As reformas pombalinas contrapotildeem-se ao predomiacutenio das ideacuteias religiosas e com base nas ideacuteias laicas inspiradas no Iluminismo institui o privileacutegio do Estado em mateacuteria de instruccedilatildeo surgindo assim a nossa versatildeo da bdquoeducaccedilatildeo puacuteblica estatal‟ (LUZURIAGA 1959 p23-39 apud SAVIANE 2008 p9)

76

Quando Dom Pedro I assume o poder no periacuteodo Regencial a maioria da

populaccedilatildeo seguia analfabeta A independecircncia poliacutetica natildeo alterou o quadro da

situaccedilatildeo de ensino ao menos de imediato Para Joatildeo Cruz Costa citado por

Romanelli (1985) o processo de independecircncia significava ldquosimples transferecircncia de

poderes dentro de uma mesma classe [a independecircncia] entregaria a direccedilatildeo da

nova accedilatildeo aos proprietaacuterios de terras de engenhos e aos letradosrdquo (COSTA 1980

apud ROMANELLI 1985 p 39)

Eacute neste contexto que comeccedila uma nova fase no campo da educaccedilatildeo tendo

como marco inicial a lei das Escolas das Primeiras letras de 1827 com o objetivo de

ensinar toda a populaccedilatildeo brasileira conforme o artigo de nuacutemero 6 presente na Lei

de 15 de outubro de 1827

() Art 6ordm - Os professores ensinaratildeo a ler escrever as quatro operaccedilotildees de aritmeacutetica praacutetica de quebrados decimais e proporccedilotildees as noccedilotildees mais gerais de geometria praacutetica a gramaacutetica de liacutengua nacional e os princiacutepios de moral cristatilde e da doutrina da religiatildeo catoacutelica e apostoacutelica romana proporcionados agrave compreensatildeo dos meninos preferindo para as leituras a Constituiccedilatildeo do Impeacuterio e a Histoacuteria do Brasil (BRASIL 1827)

No final do seacuteculo XIX marcado pelas influecircncias do positivismo25 comeccedilou no paiacutes

um movimento pela desoficializaccedilatildeo do ensino no Estado defendendo a liberdade

das profissotildees Com isso foram surgindo escolas privadas de benemerecircncia que se

propunham a ofertar ensino gratuito Essa tendecircncia de desoficializaccedilatildeo culminou

com a Reforma Leocircncio de Carvalho em 1879 (SAVIANI 2008) Saviani chama

atenccedilatildeo para este fato ao criticar o fato de que desde iniacutecio das primeiras poliacuteticas

educacionais brasileiras houve certa ldquopromiscuidaderdquo na relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o

privado A comeccedilar com a educaccedilatildeo jesuiacutetica que em alguma medida era puacuteblica

mas a entidade que o ofertava natildeo

Conforme Santos (2011) somente a partir do final do seacuteculo XIX e iniacutecio do

XX periacuteodo de transiccedilatildeo para um modelo de desenvolvimento moderno

25

Por Positivismo compreende-se agora de modo mais amplo a filosofia desenvolvida por Augusto Comte que se caracteriza conjuntamente pela expressa confianccedila nos benefiacutecios da industrializaccedilatildeo no otimismo em relaccedilatildeo ao progresso capitalista no culto agrave ciecircncia e a valorizaccedilatildeo do meacutetodo cientiacutefico voltados a uma reforma intelectual da sociedade (COTRIM 1993 p 189)

77

intervencionista foi que a educaccedilatildeo passou a ser reclamada como um condicionante

necessaacuterio para o desenvolvimento do paiacutes Conforme Romanelli (1985) o seacuteculo

XIX fora marcado pelo surgimento de uma nova camada intermediaacuteria tambeacutem

chamada de pequena burguesia Esta classe explica a autora foi fundamental para

a evoluccedilatildeo poliacutetica no Brasil monaacuterquico e para mudanccedilas pelas quais passou o

regime no final do seacuteculo (ROMANELLI 1985 p37)

No periacuteodo republicano outra modalidade de poliacuteticas educacionais se

desenvolveu por volta de 1890 com a implantaccedilatildeo progressiva das escolas

graduadas apoiadas nas escolas normais que comeccedilaram a ser consolidadas sob o

fluxo do iluminismo republicano

Esse periacuteodo abrange de 1890 quando se daacute no estado de Satildeo Paulo a organizaccedilatildeo da escola normal graduada ateacute 1931 quando eacute promulgada a reforma Francisco Campos dando iniacutecio ao processo de regulamentaccedilatildeo ao sistema de ensino em acircmbito nacional (SAVIANI 2004a p20-21)

Somente a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX eacute que podemos

encontrar registros das primeiras lutas por uma educaccedilatildeo e escola de qualidade

puacuteblica e gratuita Valle (2009) aponta que a poliacutetica educacional brasileira foi

marcada pela criaccedilatildeo da Universidade do Rio de Janeiro em 1920 hoje

Universidade Federal do Rio de Janeiro ndash UFRJ ndash pelas organizaccedilotildees colegiadas

como a Associaccedilatildeo Brasileira de Educaccedilatildeo fundada em 1924 liderada pelos

reformadores do movimento Escola Nova cujo marco encontra-se no lanccedilamento do

Manifesto dos Pioneiros da Educaccedilatildeo na deacutecada de 1930 (VALLE 2009 p22)

Acerca deste Manifesto escreve Santos (2011)

Lanccedilado em 1932 o Manifesto foi sobretudo um documento de poliacutetica educativa no qual para aleacutem da defesa da Escola Nova estava a causaluta maior dapela escola puacuteblica laica sendo esta responsabilidade do Estado Ressalto que as diretrizes desse manifesto influenciaram a Constituiccedilatildeo de 1934 (FREITAS 2005 SAVIANI 2005 apud SANTOS 2011 p2)

Em 1930 ano em que tecircm iniacutecio a Era Vargas eacute criado o Ministeacuterio dos

Negoacutecios da Educaccedilatildeo e Sauacutede Este periacuteodo eacute considerado por Saviani (2008) o

iniacutecio da sexta modalidade de poliacuteticas educacionais marcado pela reforma

Francisco Campos em 1931 e caracterizada pela regulamentaccedilatildeo em acircmbito

nacional das escolas superiores secundaacuterias e primaacuterias incorporando

78

crescentemente as concepccedilotildees pedagoacutegicas renovadoras ateacute a criaccedilatildeo da LDB em

1961

As propostas de poliacuteticas educacionais dos reformadores dentre eles Aniacutesio

Teixeira e Lourenccedilo Filho natildeo foram bem recebidas pelo movimento de 1930

Apesar das controveacutersias houve marcos importantes como aponta Santos (2011)

com os seguintes decretos

1) Decreto 19850 de 11 de abril de 1931 que criou o Conselho Nacional de Educaccedilatildeo 2) Decreto 19851 de 11 de abril de 1931 que dispocircs sobre a organizaccedilatildeo do ensino superior no Brasil e adotou o regime universitaacuterio 3) Decreto 19852 de 11 de abril de 1931 que dispocircs sobre a organizaccedilatildeo da Universidade do Rio de janeiro 4) Decreto 19890 de 18 de abril de 1931 que dispocircs sobre a organizaccedilatildeo do ensino secundaacuterio 5) Decreto 19941 de 30 de abril de 1931 que instituiu o ensino religioso como mateacuteria facultativa nas escolas puacuteblicas do paiacutes 6) Decreto 20158 de 30 de junho de 1931 que organizou o ensino comercial e regulamentou a profissatildeo de contador 7) Decreto 21241 de 14 de abril de 1932 que consolidou as disposiccedilotildees sobre a organizaccedilatildeo do ensino secundaacuterio (SANTOS 2011 p 2)

De acordo com Ribeiro (1992) de 1931 a 1937 foram realizados inuacutemeros

congressos e conferecircncias nos quais se discutiam os caminhos possiacuteveis para a

elaboraccedilatildeo de um plano nacional para educaccedilatildeo Nestes debates haviam duas

vertentes

Uma jaacute era tradicional representada pelos educadores catoacutelicos que defendiam a educaccedilatildeo subordinada agrave doutrina religiosa (catoacutelica) a educaccedilatildeo em separado e portanto diferenciadas pelos sexos masculino e feminino o ensino particular a responsabilidade da famiacutelia quanto agrave educaccedilatildeo etc Outra era representada pelos educadores influenciados pelas bdquoideacuteias novas‟ e que defendiam a laicidade a co- educaccedilatildeo a gratuidade a responsabilidade puacuteblica em educaccedilatildeo etc (RIBEIRO 1992 p99)

Em um contexto onde o mundo presenciava as experiecircncias de paiacuteses com

ideologias fascistas e comunistas os grupos de educadores que debatiam a

educaccedilatildeo agrave eacutepoca diziam ser contraacuterios agrave monopolizaccedilatildeo do ensino por parte do

Estado Com isto o movimento escola novista e sua ideia da educaccedilatildeo ser de

responsabilidade puacuteblica passam a ser assimiladas agraves ideias comunistas

79

Em 1934 eacute outorgada uma nova Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica que segundo

Ribeiro (1992) apesar de seu caraacuteter contraditoacuterio ao atender as reivindicaccedilotildees

sobretudo dos reformadores catoacutelicos conseguiu destacar a educaccedilatildeo dedicando-

lhe um capiacutetulo especiacutefico para o assunto Entatildeoldquoa reivindicaccedilatildeo catoacutelica quanto ao

ensino religioso eacute atendida assim como outras ligadas aos representantes das

ldquoideacuteias novasrdquo (CapI art 5ordmXIV 1934 apud RIBEIRO 1992 p104)

A partir de 1937 quando o golpe militar instaura o Estado Novo algumas

premissas satildeo mantidas como a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino primaacuterio

Institui-se como obrigatoacuterio o ensino de trabalhos manuais nas escolas primaacuterias

normais e secundaacuterias Tambeacutem fica estabelecido o programa escolar em termos de

ensino preacute-vocacional orientado agraves classes menos favorecidas No artigo 129 o

regime de cooperaccedilatildeo entre a induacutestria e o Estado eacute fixado (RIBEIRO 1992 p114-

115)

O periacuteodo do Estado Novo que durou sessenta anos foi um periacuteodo

marcante para a educaccedilatildeo pois traduziu o que aquele regime poliacutetico pretendeu

executar no Brasil Nas palavras de Helena Bomeny (1999)

Formar um bdquohomem novo‟ para um Estado Novo conformar mentalidades e criar o sentimento de brasilidade fortalecer a identidade do trabalhador ou por outra forjar uma identidade positiva no trabalhador brasileiro tudo isso fazia parte de um grande empreendimento cultural e poliacutetico para o sucesso do qual contava-se estrategicamente com a educaccedilatildeo por sua capacidade universalmente reconhecida de socializar os indiviacuteduos nos valores que as sociedades atraveacutes de seus segmentos organizados querem ver internalizados (BOMENY1999p139)

Bomeny apresenta quatro decretos que remetem ao fechamento das escolas

estrangeiras

O Decreto lei ndeg 383 de 18 de abril de 1938 que proibia aos

estrangeiros o exerciacutecio de atividades poliacuteticas no Brasil o Decreto ndeg 406 de 4 de maio 1938 que regulamentava o ingresso e a permanecircncia de estrangeiros ditando providecircncias para sua assimilaccedilatildeo e criando o Conselho de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo como oacutergatildeo executor de suas disposiccedilotildees o Decreto ndeg 868 de 18 de novembro de 1938 que instituiu a Comissatildeo Nacional de Ensino Primaacuterio que possuiacutea entre suas atribuiccedilotildees a nacionalizaccedilatildeo do ensino nos nuacutecleos estrangeiros e o Decreto ndeg 948 de 13 de dezembro do mesmo ano que considerando a complexidade das medidas para promover a assimilaccedilatildeo dos colonos e completa nacionalizaccedilatildeo dos filhos de imigrantes estabelecia que as medidas fossem tomadas pelo Conselho de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo (BOMENY 1999 p 158)

80

Em documento dirigido a Getuacutelio Vargas em 1939 o entatildeo Ministro de

Guerra Eurico Gaspar Dutra apontou a educaccedilatildeo como um dos setores

intimamente ligados agrave seguranccedila nacional ldquoO problema da educaccedilatildeo apreciado em

toda a sua amplitude natildeo pode deixar de constituir uma das mais graves

preocupaccedilotildees das autoridades militaresrdquo (Arquivo Osvaldo Aranha AO 390418

FGVCPDOC apud BOMENY 1999 p139)

Com o fim do Estado Novo a nova constituiccedilatildeo caracterizada por seu caraacuteter

liberal e democraacutetico possibilitou algumas mudanccedilas na educaccedilatildeo O novo Ministro

da Educaccedilatildeo regulamentou em 1946 o Ensino Primaacuterio e o Ensino Normal aleacutem do

Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC Neste contexto o Brasil

passou a viver o que se denominou como periacuteodo nacional-desenvolvimentista No

plano internacional o mundo vivia o poacutes-guerra momento marcado pela

reconstruccedilatildeo dos paiacuteses envolvidos o que levou a uma grande fase de crescimento

econocircmico em niacutevel mundial conhecida como a ldquoa era de ourordquo acarretando no que

ficou conhecido como Estado de Bem-Estar Social

O Estado de bem-estar social era um projeto cogente para recuperar o vigor e a capacidade de expansatildeo dos paiacuteses capitalistas apoacutes a tensatildeo social econocircmica e poliacutetica do periacuteodo entre guerras Tanto que o estabelecimento do Estado de bem-estar social entre as deacutecadas de 1940 e 1960 ficou conhecido como bdquoera dourada do capitalismo‟ por ser um momento de desenvolvimento econocircmico com garantias sociais e oferecimento praticamente de emprego pleno para a maioria da populaccedilatildeo nos paiacuteses mais desenvolvidos (VICENTE 2009 p124)

Apoacutes a reconstruccedilatildeo dos paiacuteses envolvidos na guerra ocorreu o processo de

internacionalizaccedilatildeo do capital O avanccedilo do capitalismo para paiacuteses como o Brasil

implicou em uma nova forma de desenvolvimento As ideacuteias por uma poliacutetica

nacional-desenvolvimentista foram propagadas principalmente pelo Instituto

Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) criado em 1955 durante o governo interino

de Cafeacute Filho No governo de Juscelino Kubitschek o ISEB passa a ser o braccedilo do

governo no sentido de propagar a mentalidade nacional para o desenvolvimento

A deacutecada de 1960 eacute caracterizada por uma sociedade brasileira marcada pelo

processo crescente de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo e pelas mudanccedilas nas

relaccedilotildees de trabalho no campo Na mesma intensidade aumentavam as

81

desigualdades sociais o que mobilizou setores da sociedade em lutas por reformas

de base com vistas agrave reduccedilatildeo dessas desigualdades sociais (NASCIMENTO 2006)

No que se refere ao perfil que tomam as poliacuteticas educacionais nesse periacuteodo

Saviani (2005) aponta que

[] se o periacuteodo situado entre 1930 e 1945 pode ser considerado como marcado pelo equiliacutebrio entre as influecircncias das concepccedilotildees humanista tradicional (representada pelos catoacutelicos) e humanista moderna (representada pelos pioneiros da educaccedilatildeo nova) a partir de 1945 jaacute se delineia como nitidamente predominante a concepccedilatildeo humanista moderna (SAVIANI 2005 p14)

Para o autor o foco no desenvolvimento econocircmico do paiacutes que por sua vez geraria

o desenvolvimento em outras instacircncias da sociedade acabou por gerar uma

inversatildeo do ensino puacuteblico A escola passou a ser instrumento para servir agrave loacutegica

do mercado por meio da pedagogia tecnicista26

No periacuteodo que se estende de 1964-1984 periacuteodo da ditadura militar todo o

aparelho estatal fora reformulado em nome da seguranccedila interna

Definindo a seguranccedila interna como accedilatildeo-resposta a um processo subversivo devendo ser conduzida em termos de aplicaccedilatildeo global do Poder Nacional dentro de uma Estrateacutegia Nacional especiacutefica A Escola Superior de Guerra considerava que essa accedilatildeo-resposta se delineava atraveacutes de trecircs atitudes estrateacutegicas preventiva repressiva e operativa (MIRANDA 1970 p18 apud SAVIANI 2004 p119)

Desse modo as accedilotildees preventivas procuravam evitar aquilo que era

entendido como subversivo As accedilotildees repressivas procuravam impedir a praacutetica

subversiva e as accedilotildees operativas destinavam-se a eliminar esses focos mediante a

accedilatildeo armada Em outras palavrasldquoo Poder Nacional tal como concebido pela

ideologia da interdependecircncia eacute acionado para destruir a autonomia nacional nos

termos da ideologia nacional-desenvolvimentistardquo (SAVIANI 2004 p120)

26

A partir do pressuposto da neutralidade cientiacutefica e inspirada nos princiacutepios de racionalidade eficiecircncia e produtividade a pedagogia tecnicista advogou a reordenaccedilatildeo do processo educativo de maneira a tornaacute-lo objetivo e operacional De modo semelhante ao que ocorreu no trabalho fabril pretendeu-se a objetivaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico Buscou-se entatildeo com base em justificativas teoacutericas derivadas da corrente filosoacutefico-psicoloacutegica do behaviorismo planejar a educaccedilatildeo de modo a dotaacute-la de uma organizaccedilatildeo racional capaz de minimizar as interferecircncias subjetivas que pudessem pocircr em risco sua eficiecircncia (SAVIANI 2009 p11-12)

82

Eacute neste contexto que eacute possiacutevel compreender todas as poliacuteticas educacionais

durante o regime militar Destaca-se o Mobral27 seguido das reformas de ensino de

primeiro segundo e terceiros graus a criaccedilatildeo dos Centros Rurais Universitaacuterios de

Treinamento e Accedilatildeo Comunitaacuteria (CRUTACS) os Centros Sociais Urbanos o

Projeto Rondon a Empresa Brasileira de Notiacutecias (EBN) etc (SAVIANI 2004)

O periacuteodo ditatorial ao longo de duas deacutecadas que serviram de palco para o revezamento de cinco generais na presidecircncia da repuacuteblica se pautou em termos educacionais pela repressatildeo privatizaccedilatildeo de ensino exclusatildeo de boa parcela das classes populares do ensino profissionalizante tecnicismo pedagoacutegico e desmobilizaccedilatildeo do magisteacuterio atraveacutes de abundante e confusa legislaccedilatildeo educacional Soacute uma visatildeo otimistaingecircnua poderia encontrar indiacutecios de saldo positivo na heranccedila deixada pela ditadura militar (GHIRALDELLI 1990 p163)

Em 1979 o Brasil dava iniacutecio ao lento e gradual processo de abertura

democraacutetica que teve iniacutecio no governo de General Geisel (1974-1979) A transiccedilatildeo

democraacutetica se fez seguindo a estrateacutegia de conciliaccedilatildeo pelo alto a fim de dar

prosseguimento agrave ordem socioeconocircmica vigente Naquele momento o mundo vivia

as consequumlecircncias da chamada crise do petroacuteleo que teve seu iniacutecio na deacutecada de

1970 As implicaccedilotildees da crise levaram os paiacuteses a tomarem medidas de

desregulamentaccedilatildeo da economia privatizaccedilotildees e destituiccedilatildeo do Estado de bem-

estar social Nesse contexto nasce o chamado neoliberalismo Neo quer dizer novo

e liberalismo refere-se ao pensamento claacutessico que serviu de base ao capitalismo

Segundo Anderson (1995) ldquoo neoliberalismo nasceu logo depois da II Guerra

Mundial como uma reaccedilatildeo teoacuterica e poliacutetica veemente contra o Estado

intervencionista e de bem-estarrdquo (ANDERSON 1995 p 9)

Na Ameacuterica Latina o efeito da crise fez com que os paiacuteses adotassem os

ajustes neoliberais orientados pelo Banco Mundial Fundo Monetaacuterio Internacional e

o governo dos Estados Unidos apoacutes o ldquoConsenso de Washingtonrdquo28 Os impactos

27

O Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo foi criado pela Lei Nordm 5379 de 15121967 e tinha como

prioridade promover a alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo continuada para jovens e adultos analfabetos Esteve embasada nas proposiccedilotildees de educaccedilatildeo funcional presente nos documentos da UNESCO em 1958 durante o Congresso Mundial de Ministros O MOBRAL teve iniacutecio em 1970 e foi caracterizado do ponto de vista teacutecnico como proacuteximo aos meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo de Paulo Freire que partia das palavras-chaves mas suas orientaccedilotildees pedagoacutegicas eram controladas e supervisionadas pelo governo 28

Em novembro de 1989 reuniram-se na capital dos Estados Unidos funcionaacuterios do governo norte-americano e dos organismos financeiros internacionais ali sediados - FMI Banco Mundial e BID - especializados em assuntos latino-americanos O objetivo do encontro convocado pelo Institute for

83

de tais ajustes perpassam pelo campo das reformas educacionais que devem estar

condicionadas agrave loacutegica do mercado bem como da sauacutede da alimentaccedilatildeo do

trabalho e do salaacuterio (SOARES 2000)

Nesse novo contexto as poliacuteticas educacionais satildeo marcadas por um

neoconservadorismo recheado de contradiccedilotildees e ambiguumlidades presentes nas

principais poliacuteticas educacionais que por sua vez foram resultado do debate entre

diversos setores da sociedade que queriam ver seus interesses contemplados nas

poliacuteticas educacionais somadas agraves deliberaccedilotildees dos organismos multilaterais para

a educaccedilatildeo

33 Poliacuteticas educacionais a partir da Constituiccedilatildeo de 1988

Segundo Gabriele Sapio (2010) a Constituiccedilatildeo Federal (CF) eacute ldquouma das

cartas constitucionais mais adiantadas e progressistas do mundo em mateacuteria de

proteccedilatildeo dos direitos sociais fundamentais coletivos e individuaisrdquo (SAPIO 2010

sn) No Brasil a Constituiccedilatildeo de 1988 eacute considerada um avanccedilo no sentido de

assegurar direitos sociais dentre eles o acesso agrave educaccedilatildeo

No que concerne agrave educaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo tem uma seccedilatildeo especiacutefica

destinada agrave mesma Seccedilatildeo I do capiacutetulo III Da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto

A constituiccedilatildeo de 1988 marca o retorno do Brasil para a democracia No contexto de

sua elaboraccedilatildeo houve inuacutemeros debates por parte dos setores da sociedade de

movimentos sociais a grupos dominantes que queriam ver seus interesses

contemplados na Carta Magna afirma Ghiraldelli Jr (2001 p 169) O mesmo autor

ao analisar a Carta de 1988 onde se discute a educaccedilatildeo informa que este aspecto

natildeo eacute soacute tratado em um artigo especiacutefico mas perpassa por outros toacutepicos

Na Carta de 1988 a educaccedilatildeo natildeo veio contemplada apenas no seu local proacuteprio no toacutepico especiacutefico destinada a ela mas veio tambeacutem espalhada em outros toacutepicos Assim no tiacutetulo sobre direitos e

International Economics sob o tiacutetulo Latin American Adjustment How Much Has Happened era proceder a uma avaliaccedilatildeo das reformas econocircmicas empreendidas nos paiacuteses da regiatildeo Para relatara experiecircncia de seus paiacuteses tambeacutem estiveram presentes diversos economistas latino-americanos Agraves conclusotildees dessa reuniatildeo eacute que se daria subsequentemente a denominaccedilatildeo informal de Consenso de Washingtonrdquo (BATISTA 1994 p 5)

84

garantias fundamentais a educaccedilatildeo apareceu como um direito social junto da sauacutede do trabalho do lazer da seguranccedila da previdecircncia social da proteccedilatildeo agrave maternidade e agrave infacircncia da assistecircncia aos desamparados (artigo 6deg) Tambeacutem no capiacutetulo sobre a famiacutelia a crianccedila o adolescente e o idoso a educaccedilatildeo foi incluiacuteda A Constituiccedilatildeo determinou ser dever da famiacutelia da sociedade e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente o direito agrave educaccedilatildeo como uma prioridade em relaccedilatildeo ao outros direitos (GHIRALDELLI JR 2001 p169)

Diante das mudanccedilas que a CF trouxe agrave Educaccedilatildeo houve tambeacutem a

necessidade de se elaborar uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo

Nacional Em dezembro de 1988 o deputado Octaacutevio Eliacutesio apresentou um projeto

que fixava as diretrizes e bases nacionais da educaccedilatildeo diante da nova realidade

brasileira Apoacutes oitos ano de tramitaccedilatildeo debates e discussotildees a nova LDB foi

aprovada em 1996 Atualmente eacute a diretriz que rege o curriacuteculo nacional Assim eacute a

partir dela que iremos iniciar a anaacutelise propostas das poliacuteticas educacionais para a

diversidade

34 Escola e diversidade O que temos em termos de poliacuteticas educacionais

Seraacute que a escola pode ser a mesma quando os educandos satildeo outros Seraacute que o curriacuteculo pode ser o mesmo quando os alunos satildeo outros Seraacute que a pedagogia deva ser a mesmaA docecircncia deva ser a mesma (Miguel Arroyo 2014-Em entrevista concedida ao Portal Dia a Dia Educaccedilatildeo)

As perguntas acima foram feitas pelo poacutes-doutor em educaccedilatildeo Miguel

Arroyo em entrevista concedida a TV Paulo Freire no ano de 2013 Quando

questionado sobre como a escola deve trabalhar o tema da diversidade ele aponta

que natildeo eacute o aluno quem deve se adaptar agrave escola mas a escola quem deve se

adaptar ao aluno Nesse sentido adaptando o questionamento de Arroyo sobre as

poliacuteticas educacionais para a realidade fronteiriccedila a pergunta ficaria a seguinte seraacute

que a escola situada em regiatildeo de fronteira internacional pode ser a mesma quando

os educandos satildeo outros

E este bdquooutro‟ na fronteira eacute o argentino o aacuterabe o paraguaio o brasiguaio o

indiacutegena que estatildeo imersos em meio a tantas outras diversidades que natildeo foram

tratadas aqui mas que complexificam ainda mais a realidade das escolas de

85

fronteira Nela tambeacutem nos deparamos com as questotildees de gecircnero de raccedila de

classes etc Pensando nestes aspectos o que as principais poliacuteticas educacionais

nacionais podem ou natildeo oferecer quando o assunto eacute a diversidade nas escolas de

fronteira internacional

Por diversidade Elvira de Souza Lima (2011) entende que a mesma eacute a

norma da espeacutecie humana pois ldquoos seres humanos satildeo diversos em suas

experiecircncias culturais satildeo uacutenicos em suas personalidades e satildeo diversos em suas

formas de perceber o mundordquo Segundo Gurgel (LIMA 2011 p1) a ideia de

diversidade relaciona-se diretamente com os conceitos de pluralidade multiplicidade

que indicam diferentes valores costumes vivecircncias de diferentes grupos da

sociedade

Nas concepccedilotildees de Gurgel do ponto de vista da Antropologia compreender

os elementos constitutivos da diversidade nos leva a entender diferentes ldquohaacutebitos

costumes comportamentos crenccedilas e valores e a aceitaccedilatildeo da diferenccedila no outro

chamada de alteridaderdquo (GURGEL 2011 p 4)

Nilma Lino Gomes (2008) ao discorrer sobre o que eacute diversidade busca seu

significado no dicionaacuterio apontando que as palavras que traduzem seu sentido satildeo

diferenccedila e dessemelhanccedila Em uma primeira interpretaccedilatildeo Nilma explica que a

diversidade pode se referir a fatos observaacuteveis a olho nu Contudo se ampliarmos a

noccedilatildeo sobre o que sejam diferenccedilas e incluir essas discussotildees no acircmbito cultural eacute

possiacutevel compreendecirc-la de duas formas

1)As diferenccedilas podem ser empiricamente observaacuteveis 2) as diferenccedilas tambeacutem satildeo construiacutedas ao longo do processo histoacuterico nas relaccedilotildees sociais e nas relaccedilotildees de poder Muitas vezes os grupos humanos tornam o outro diferente para fazecirc-lo inimigo para dominaacute-lo Por isso falar sobre a diversidade cultural natildeo diz respeito apenas ao reconhecimento do outro Significa pensar a relaccedilatildeo entre o eu e o outro (GOMES 2008 p2)

Na aacuterea de estudos das poliacuteticas educacionais o tema diversidade eacute recente

Somente a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 e da implementaccedilatildeo da LDB96 eacute que as

poliacuteticas educacionais para diversidade ganharam espaccedilo no campo das poliacuteticas

puacuteblicas

86

341 A LDB96 - A primeira lei originaacuteria da iniciativa civil e do legislativo

A atual LDB96 eacute fruto do novo quadro poliacutetico que se instaurou no Brasil com

o processo de abertura democraacutetica Como jaacute mencionado foram oito anos de

tramitaccedilatildeo ateacute que em 1996 ela fosse fixada com a aprovaccedilatildeo da redaccedilatildeo proposta

pelo entatildeo Deputado Federal e antropoacutelogo Darcy Ribeiro

Ao analisar a LDB96 eacute possiacutevel encontrar alguns artigos que reconhecem a

diversidade existente no paiacutes No Capiacutetulo II referente agrave Educaccedilatildeo Baacutesica o artigo

26 prescreve o seguinte

Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade da cultura da economia e da clientela (BRASIL 1996)

Com base neste artigo compreende-se que dadas as diferenccedilas culturais presentes

em cada regiatildeo cabe agrave instituiccedilatildeo escolar realizar as adaptaccedilotildees necessaacuterias agrave

realidade local Logo a lei daacute margem para que um trabalho diferenciado possa ser

realizado em aacutereas de fronteira internacional O inciso de nuacutemero cinco do mesmo

artigo torna obrigatoacuterio o ensino de uma liacutengua estrangeira moderna cuja escolha

fica a criteacuterio da comunidade escolar a partir da quinta seacuterie (hoje sexto ano)

Em 2005 foi criada a Lei de no 11161 que tornou obrigatoacuterio o ensino da

Liacutengua Espanhola para o Ensino Meacutedio

Art 1o O ensino da liacutengua espanhola de oferta obrigatoacuteria pela escola e de matriacutecula facultativa para o aluno seraacute implantado gradativamente nos curriacuteculos plenos do ensino meacutedio sect 1o O processo de implantaccedilatildeo deveraacute estar concluiacutedo no prazo de cinco anos a partir da implantaccedilatildeo desta Lei sect 2o Eacute facultada a inclusatildeo da liacutengua espanhola nos curriacuteculos plenos do ensino fundamental de 5a a 8a seacuteries Art 2o A oferta da liacutengua espanhola pelas redes puacuteblicas de ensino deveraacute ser feita no horaacuterio regular de aula dos alunos (BRASIL 2005)

Esta uacuteltima lei expressa o contexto da eacutepoca Primeiro pelo crescimento do poder

econocircmico da Espanha e o crescente aumento do espanhol nos EUA (CELADA

1991 apud AMARAL E MAZZARO 2006) Em segundo o entatildeo presidente Luis

Inaacutecio Lula da Silva tinha como plano de governo a aproximaccedilatildeo com os demais

87

paiacuteses da Ameacuterica Latina haja vista que historicamente a relaccedilatildeo do Brasil com os

paiacuteses da regiatildeo tanto no acircmbito econocircmico como social era pequena Com essa

proposta de integraccedilatildeo em um de seus discursos ele diz

A grande prioridade da poliacutetica externa durante o meu governo seraacute a construccedilatildeo de uma Ameacuterica do Sul politicamente estaacutevel proacutespera e unida com base em ideais democraacuteticos e de justiccedila social Para isso eacute essencial uma accedilatildeo decidida de revitalizaccedilatildeo do MERCOSUL enfraquecido pelas crises de cada um de seus membros e por visotildees muitas vezes estreitas e egoiacutestas do significado da integraccedilatildeo O MERCOSUL assim como a integraccedilatildeo da Ameacuterica do Sul em seu conjunto eacute sobretudo um projeto poliacutetico Mas esse projeto repousa em alicerces econocircmico-comerciais que precisam ser urgentemente reparados e reforccedilados Cuidaremos tambeacutem das dimensotildees social cultural e cientiacutefico-tecnoloacutegica do processo de integraccedilatildeo (LULA DA SILVA 2003)

A partir de entatildeo outras iniciativas aleacutem do ensino do espanhol foram

implementadas como a criaccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino superior em aacutereas

fronteiriccedilas entre elas a Universidade Federal da Fronteira Sul (Santa Catarina)

criada em outubro de 2009 a Universidade Federal do Pampa (Rio Grande do Sul)

fundada em janeiro de 2008 a Universidade Federal de Grande Dourados (Mato

Grosso do Sul) fundada em agosto de 2005 a Universidade Federal da Integraccedilatildeo

Latino-Americana (Paranaacute) criada em janeiro de 2010 e a Universidade da

Integraccedilatildeo Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira tambeacutem criada em 2010 Esta

uacuteltima que conforme o nome sugere orienta-se para o desenvolvimento cientiacutefico

educacional e cultural da Ameacuterica Latina No acircmbito da educaccedilatildeo baacutesica temos o

Programa Escola Intercultural Biliacutenguumle de iniciativa do Mercosul que objetiva a

integraccedilatildeo regional por meio da educaccedilatildeo biliacutengue em escolas puacuteblicas do ensino

fundamental presentes em cidades da faixa de fronteira

Nesse sentido ainda que as estrateacutegias dessas instituiccedilotildees estejam

relacionadas ao projeto de integraccedilatildeo na regiatildeo de faixa de fronteira a presenccedila de

instituiccedilotildees de ensino superior contribui para o desenvolvimento de pesquisas

criaccedilatildeo de projetos e programas tanto no acircmbito nacional com as cidades e as

instituiccedilotildees locais como no acircmbito internacional em parceira com instituiccedilotildees dos

paiacuteses com as quais essas instituiccedilotildees fazem fronteira Isso por consequecircncia

pode contribuir para debates e mudanccedilas na educaccedilatildeo nas escolas de fronteira

No que confere agrave obrigatoriedade do ensino de espanhol algumas pesquisas

sobre sua implementaccedilatildeo identificaram algumas fragilidades Nos resultados

88

parciais da pesquisa de doutorado sobre o ensino do espanhol no Brasil realizada

por Maria Fernanda Lisboa (2011) a autora identificou que o discurso de integraccedilatildeo

linguiacutestico-cultural que justifica a lei ldquoeacute apenas uma fachada para desviar a atenccedilatildeo

dos reais interesses por traacutes dessa poliacutetica natildeo soacute linguumliacutesticardquo (LISBOA 2011 p

213) A autora faz referecircncia aos interesses da Espanha que estaacute agrave frente dessa

poliacutetica ldquoinvestindo em assessorias linguumliacutesticas na criaccedilatildeo de vaacuterias sedes do

Instituto Cervantes e ainda disseminando cursos de capacitaccedilatildeo para professoresrdquo

(LISBOA 2011 p 213) Estes cursos satildeo vistos pelas associaccedilotildees de professores

pelos formadores de professores e por Universidades de modo negativo Na

avaliaccedilatildeo daqueles que satildeo contraacuterios a essas formaccedilotildees encontra-se a duacutevida na

real qualidade da mesma visto que eacute um curso inteiramente agrave distacircncia sem

maiores reflexotildees relacionados agrave metodologia

Aleacutem disso haacute outras questotildees como a demanda de professores oferta de

materiais didaacuteticos interesse por parte dos alunos que satildeo desafios a serem

superados nesse processo de implementaccedilatildeo Entretanto mesmo diante das

contradiccedilotildees e lacunas que a sua obrigatoriedade significou a lei que completou dez

anos de sua criaccedilatildeo e cinco do prazo final para sua execuccedilatildeo nas escolas em 2015

abre possibilidades para maiores discussotildees e provocaccedilotildees se pensarmos a partir

da integraccedilatildeo dos paiacuteses fronteiriccedilos ou mesmo em niacutevel de poliacuteticas linguumliacutesticas

para essa regiatildeo Afinal conforme Marcuschi (2005) ldquonatildeo se pode reduzir a

linguagem ao seu papel de ferramenta social tampouco reduzi-la ao caraacuteter formal

pois liacutengua natildeo eacute forma nem funccedilatildeo e sim atividade significante e constitutivardquo

(MARCUSCHI 2005 p 3)

Em 2003 foi criada a lei 1063903 que tornou obrigatoacuteria a inclusatildeo do ensino

da Histoacuteria da Aacutefrica e da Cultura Afro-Brasileira nos curriacuteculos dos estabelecimentos

de ensino puacuteblicos e particulares da educaccedilatildeo baacutesica E em 2008 foi criada a lei

1164508 que acrescenta o estudo da histoacuteria e cultura indiacutegena nas escolas

puacuteblicas e privadas da educaccedilatildeo baacutesica

1ordm O conteuacutedo programaacutetico a que se refere este artigo incluiraacute diversos aspectos da histoacuteria e da cultura que caracterizam a formaccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira a partir desses dois grupos eacutetnicos tais como o estudo da histoacuteria da Aacutefrica e dos africanos a luta dos negros e dos povos indiacutegenas no Brasil a cultura negra e indiacutegena brasileira e o negro e o iacutendio na formaccedilatildeo da sociedade

89

nacional resgatando as suas contribuiccedilotildees nas aacutereas social econocircmica e poliacutetica pertinentes agrave histoacuteria do Brasil sect 2ordm Os conteuacutedos referentes agrave histoacuteria e cultura afro-brasileira e dos povos indiacutegenas brasileiros seratildeo ministrados no acircmbito de todo o curriacuteculo escolar em especial nas aacutereas de educaccedilatildeo artiacutestica e de literatura e histoacuteria brasileira (BRASIL 2008)

No acircmbito estadual o Paranaacute emitiu a seguinte nota sobre a obrigatoriedade

da lei 1063903

No curriacuteculo oficial da Rede de Educaccedilatildeo do Paranaacute a obrigatoriedade da temaacutetica Histoacuteria e Cultura Afro-Brasileira e seus desencadeamentos tem efetivado accedilotildees para a formaccedilatildeo das equipes multidisciplinares nos Nuacutecleos Regionais de Educaccedilatildeo e nas escolas A medida eacute um dos objetivos para valorizar a histoacuteria da populaccedilatildeo negra no Estado do Paranaacute e orientar a comunidade escolar para o enfrentamento do preconceito da discriminaccedilatildeo do racismo (SEED 2013)

Assim a fim de atender tanto a lei 1063903 quanto a 1164508 a Secretaria

Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute instituiu as Equipes Multidisciplinares validadas

pelo artigo 26 da LDB Lei nordm 939496 pela Deliberaccedilatildeo nordm 0406 CEEPR pela

Instruccedilatildeo nordm 01706 SUEDSEED pela Resoluccedilatildeo nordm 339910 SEEDSEED e a

Instruccedilatildeo nordm 0101 SUESSEED As equipes multidisciplinares satildeo compostas por

professores de diferentes aacutereas pedagogos diretores e agentes educacionais e

representantes da comunidade externa (pais movimentos sociais professores do

ensino superior representantes das Comunidades Remanescentes de Quilombos

lideranccedilas indiacutegenas dentre outros)

A equipe se encontra em espaccedilos para debater estrateacutegias e desenvolver

accedilotildees pedagoacutegicas que fortaleccedilam a implementaccedilatildeo das leis 1063903 e 1164508

no curriacuteculo escolar das instituiccedilotildees de ensino da rede puacuteblica estadual e escolas

conveniadas do Paranaacute Com isso nota-se a preocupaccedilatildeo em cumprir a legislaccedilatildeo

sendo uma das accedilotildees a criaccedilatildeo da Equipe Multidisciplinar que deixa claro que o

trabalho da equipe eacute destinado ao ensino da histoacuteria da Aacutefrica e da cultura negra e

indiacutegena nas escolas estaduais paranaenses conforme as atribuiccedilotildees presentes na

Instruccedilatildeo Nordm 0102010 ndash SUEDSEE da qual destacam

Compete agrave Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash SEED 1Garantir que todos os NREs e estabelecimentos de ensino na Rede Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute organizem suas Equipes Multidisciplinares para tratar da Educaccedilatildeo das Relaccedilotildees Eacutetnico-

90

Raciais e para o Ensino de Histoacuteria e Cultura Afrobrasileira Africana e Indiacutegena Compete agrave Equipe Multidisciplinar do Nuacutecleo Regional de Educaccedilatildeo

1Orientar e acompanhar o funcionamento e organizaccedilatildeo das Equipe Multidisciplinares dos estabelecimentos da Rede Estadual de Ensino para a efetivaccedilatildeo de accedilotildeesexperiecircncias em ERER subsidiando os profissionais da educaccedilatildeo em consonacircncia com as poliacuteticas puacuteblicas estabelecidas pela Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo 2Promover accedilotildees voltadas agrave formaccedilatildeo continuada e de pesquisa dos teacutecnicos do NRE sobre o Ensino de Histoacuteria e Cultura Afro brasileira Africana e Indiacutegena (SEED 2010)

Ao longo do documento natildeo haacute referecircncias que indiquem que o professor

deva trabalhar com outros temas referentes agrave diversidade Contudo a criaccedilatildeo da

equipe multidisciplinar eacute um exemplo de uma poliacutetica educativa criada para o

cumprimento da legislaccedilatildeo Com isso vem o seguinte questionamento no caso dos

desafios enfrentados pelas escolas e professores situados em regiatildeo de fronteira a

obrigatoriedade para demandas especiacuteficas dessas escolas teria um caminho

possiacutevel (deliberaccedilotildees especiacuteficas para as documentaccedilotildees dos alunos

estrangeiros a obrigatoriedade do ensino da histoacuteria da cultura dos paiacuteses com os

quais a cidade fronteiriccedila faz parte formaccedilatildeo de professores especiacuteficas em cidade

ou regiotildees como Foz do Iguaccedilu que apresenta uma quantidade expressiva de

estrangeiras nesse caso os aacuterabes a proposta de poliacuteticas linguumliacutesticas especiacuteficas

que facilitem o processo de inserccedilatildeo desses alunos em sala de aula etc)

Essas questotildees surgiram agrave medida que se tornou possiacutevel perceber que

quando um tema eacute reconhecido pelo Estado tem-se a impressatildeo de que ele passa a

existir oficialmente nas escolas e nas outras instituiccedilotildees Por exemplo a lei

1063903 discute a temaacutetica da histoacuteria da Aacutefrica e da cultura negra e possui dentre

outros objetivos o combate ao racismo Essa discussatildeo poreacutem sempre esteve

presente nas escolas pois a luta contra o racismo e discriminaccedilatildeo racial comeccedilou

ainda no periacuteodo escravocrata pelos primeiros movimentos de resistecircncia a citar os

quilombos

Desse modo natildeo eacute novidade o enfrentamento com o racismo nem eacute

novidade que os negros ficaram excluiacutedos da histoacuteria nacional e desde entatildeo

buscam a afirmaccedilatildeo de sua identidade Denota-se que satildeo questotildees que natildeo

passam despercebidas pela escola mas para que chegasse ateacute ela necessitou de

dispositivos legais para que fossem discutidas em sala de aula com o respaldo do

91

Estado Esses respaldos seriam accedilotildees criadas para dar condiccedilotildees de

implementaccedilatildeo agrave lei como a criaccedilatildeo em 2004 da Secretaria de Educaccedilatildeo

Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade (SECAD) com a finalidade de articular o

tema da diversidade nas poliacuteticas educacionais Tambeacutem foram criados alguns

programas e projetos Programa Diversidade na Universidade (2002 a 2007) os

Foacuteruns Estaduais e Foacuteruns Permanentes de Educaccedilatildeo e Diversidade Eacutetnico-Racial

a distribuiccedilatildeo do Kit didaacutetico-pedagoacutegico a Oficina Cartograacutefica sobre Geografia

Afro-brasileira e Africana (2005) o Projeto Educadores pela Diversidade

(20042005) o Curso Educaccedilatildeo e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais (2005) a Pesquisa

Nacional Diversidade nas Escolas (2006 a 2009) dentre outros (GOMES 2010)

Tudo isto foi possiacutevel explica Gomes (2010) devido ao longo processo de

lutas sociais e natildeo a ldquouma daacutediva do Estado pois enquanto uma poliacutetica de accedilatildeo

afirmativa ela ainda eacute vista com muitas reservas pelo ideaacuterio republicano brasileiro

que resiste em equacionar a diversidaderdquo (GOMES 2010 p 9) Diante das

prerrogativas contidas na LDB96 referentes agrave questatildeo da diversidades cultural

observou que elas por si soacute natildeo atingem a fronteira com suas diversidades que

estatildeo nas escolas que devem seguir as suas normas que por sua vez seguem uma

linha de poliacuteticas universalistas

342 Os Paracircmetros Curriculares Nacionais

Os Paracircmetros Curriculares Nacionais foram publicados apoacutes a

implementaccedilatildeo da Lei de Diretrizes e bases da Educaccedilatildeo Nacional de 1996 pela

Secretaria de Educaccedilatildeo do Ensino Fundamental do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do

Desporto O contexto de sua construccedilatildeo ocorreu apoacutes a Conferecircncia Mundial de

Educaccedilatildeo para Todos em Jomtien na Tailacircndia (1990) que teve como resultado

um documento que destaca a necessidade de uma educaccedilatildeo para todos sem

distinccedilatildeo Do compromisso assumido internacionalmente para com a Educaccedilatildeo

somados aos princiacutepios previstos na LDB de 1996 nascem os PCN‟S

Os PCN‟s satildeo um instrumento normativo que nasceu para cumprir o artigo

210 disposto no capiacutetulo III da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que institui a fixaccedilatildeo de

ldquoconteuacutedos miacutenimos para o ensino fundamental de maneira a assegurar formaccedilatildeo

baacutesica comum e respeito aos valores culturais e artiacutesticos nacionais e regionaisrdquo

Nasceu tambeacutem no contexto das implementaccedilotildees das poliacuteticas neoliberais o que

92

gerou muitas criacuteticas acerca de seus reais propoacutesitos Contaram com os subsiacutedios

de acordos e documentos elaborados por organismos internacionais tais como a

declaraccedilatildeo Mundial sobre a Educaccedilatildeo para Todos Declaraccedilatildeo de Nova Delhi

Relatoacuterio para a Unesco da Comissatildeo Internacional sobre a Educaccedilatildeo para o seacuteculo

XXI dentre outros acordos e documentos de organismos internacionais

(RODRIGUES 2001)

O processo de elaboraccedilatildeo dos Paracircmetros Curriculares Nacionais conforme o

documento comeccedilou a partir do estudo das

Propostas curriculares de Estados e Municiacutepios brasileiros do diagnoacutestico realizado pela Fundaccedilatildeo Carlos Chagas sobre curriacuteculos oficiais e do contato com informaccedilotildees referentes agraves experiecircncias de outros paiacuteses (BRASIL 1998 p15)

Com base nas orientaccedilotildees presentes no Plano Decenal de Educaccedilatildeo (1993-

2003) de pesquisas internas e externas de dados acerca do desempenho dos

estudantes do ensino fundamental aleacutem das experiecircncias de sala de aula

socializadas em seminaacuterios congressos encontros e publicaccedilotildees foi elaborada a

proposta inicial que passou por um processo de anaacutelise entre os anos de 1995 e

1996 Desta anaacutelise saiacuteram aproximadamente setecentos pareceres sobre a

proposta inicial que serviram de referecircncia para sua redaccedilatildeo final

Os PNC‟s de 1ordf a 4ordf seacuterie foram transformados em 10 livros lanccedilados no dia

15 de outubro de 1997 dia do professor na capital Brasiacutelia Estes dez volumes

apresentam os seguintes conteuacutedos introduccedilatildeo liacutengua portuguesa matemaacutetica

ciecircncias naturais histoacuteria e geografia arte educaccedilatildeo fiacutesica apresentaccedilatildeo dos

temas transversais meio ambiente e sauacutede pluralidade cultural e orientaccedilatildeo sexual

Desse modo estatildeo organizados em um documento introdutoacuterio seis documentos

que tratam das aacutereas de conhecimentos gerais e trecircs volumes referentes aos Temas

Transversais (MOTTA 2005)

Segundo o documento elaborado em 1997 com o objetivo de introduzir os

PCN‟s ao professor sua funccedilatildeo eacute de

() orientar e garantir a coerecircncia dos investimentos no sistema educacional socializando discussotildees pesquisas e recomendaccedilotildees subsidiando a participaccedilatildeo de teacutecnicos e professores brasileiros principalmente daqueles que se encontram mais isolados com

93

menor contato com a produccedilatildeo pedagoacutegica atual (BRASIL 1997 p13)

Trata-se portanto natildeo de um curriacuteculo mas de um suporte para que a escola

possa elaborar seu programa curricular dentro de sua realidade especiacutefica Os

PCN‟s estatildeo organizados em dois grupos 1) composto por aacutereas tradicionais

(Portuguecircs Matemaacutetica Histoacuteria Geografia Ciecircncias Naturais Educaccedilatildeo Fiacutesica

Liacutengua Estrangeira e Arte) 2) composto pelos temas transversais que vai tratar das

seguintes questotildees Eacutetica do Meio Ambiente da Pluralidade Cultural da Sauacutede da

Orientaccedilatildeo Sexual e do Trabalho e Consumo (BRASIL 1998 p17) A justificativa

para a escolha de tais temaacuteticas pauta-se no fato de serem assuntos urgentes e que

fazem parte das preocupaccedilotildees e do cotidiano da sociedade brasileira

A finalidade uacuteltima dos Temas Transversais se expressa neste criteacuterio que os alunos possam desenvolver a capacidade de posicionar-se diante das questotildees que interferem na vida coletiva superar a indiferenccedila e intervir de forma responsaacutevel Assim os temas eleitos em seu conjunto devem possibilitar uma visatildeo ampla e consistente da realidade brasileira e sua inserccedilatildeo no mundo aleacutem de desenvolver um trabalho educativo que possibilite uma participaccedilatildeo social dos alunos (BRASIL 1998 p26)

Por temas transversais compreende-se um conjunto de conteuacutedos que natildeo

ldquoquerendo desbancar os previamente fixados pelas disciplinas acadecircmicas

claacutessicas se apresentam como temas transversais no curriacuteculo e portanto comuns

a todas as aacutereas e disciplinasrdquo (RAMOS 1998 p 2) Neste sentido como explica o

volume 10 dos Paracircmetros Curriculares Nacionais que trata dos temas transversais

os conteuacutedos convencionais devem receber as questotildees dos Temas Transversais

de modo que seus conteuacutedos os explicitem e os objetivos sejam considerados

(BRASIL 1998) Em seguida o documento apresenta o seguinte exemplo para

ilustrar essa transversalidade

() aacuterea de Ciecircncias Naturais inclui a comparaccedilatildeo entre os principais oacutergatildeos e funccedilotildees do aparelho reprodutor masculino e feminino relacionando seu amadurecimento agraves mudanccedilas no corpo e no comportamento de meninos e meninas durante a puberdade e respeitando as diferenccedilas individuais Dessa forma o estudo do corpo humano natildeo se restringe agrave dimensatildeo bioloacutegica mas coloca esse conhecimento a serviccedilo da compreensatildeo da diferenccedila de gecircnero (conteuacutedo de Orientaccedilatildeo Sexual ) e do respeito agrave diferenccedila (conteuacutedo de Eacutetica) Assim natildeo se trata de que os professores das

94

diferentes aacutereas devam ldquopararrdquo sua programaccedilatildeo para trabalhar os temas mas sim de que explicitem as relaccedilotildees entre ambos e as incluam como conteuacutedos de sua aacuterea articulando a finalidade do estudo escolar com as questotildees sociais possibilitando aos alunos o uso dos conhecimentos escolares em sua vida extra-escolar Natildeo se trata portanto de trabalhaacute-los paralelamente mas de trazer para os conteuacutedos e para a metodologia da aacuterea a perspectiva dos temas

(BRASIL 1998 p27)

Fernanda Motta (2005) explica que as discussotildees sobre os temas

transversais no campo da educaccedilatildeo surgem em um momento onde diversos grupos

sociais politicamente organizados em diferentes paiacuteses comeccedilaram a questionar

qual seria o papel da escola em meio a uma sociedade plural e globalizada e quais

assuntos que deveriam ser tratados na educaccedilatildeo escolar (MOTTA 2005 p20)

Neste sentido continua

Esses grupos comeccedilaram a pressionar os Estados para que incluiacutessem na estrutura curricular escolar temas mais vinculados ao cotidiano da maioria da populaccedilatildeo possibilitando que as disciplinas passassem a se relacionar com a realidade contemporacircnea Parte-se do princiacutepio de que a escola natildeo pode ser vista como uma instituiccedilatildeo isolada Sua accedilatildeo deve ser norteada tomando como paracircmetro a cultura na qual estaacute inserida (MOTTA 2005 p28)

Assim podemos compreender a educaccedilatildeo como um tipo de poliacutetica social

pensada natildeo somente a partir do Estado mas por atores da sociedade civil

As poliacuteticas sociais ndash e a educaccedilatildeo ndash se situam no interior de um tipo particular de Estado Satildeo formas de interferecircncia do Estado visando agrave manutenccedilatildeo das relaccedilotildees sociais de determinada formaccedilatildeo social Portanto assumem bdquofeiccedilotildees‟ diferentes em diferentes sociedades e diferentes concepccedilotildees de Estado (HOFLING 2001 p31)

343 O Tema Transversal Pluralidade Cultural

No PCN de nuacutemero dez que trata especificamente dos temas transversais

no capiacutetulo referente agrave pluralidade cultural a justificativa pela pertinecircncia do tema eacute

dada pela diversidade cultural presente no paiacutes

Convivem hoje no territoacuterio nacional cerca de 210 etnias indiacutegenas cada uma co identidade proacutepria e representando riquiacutessima diversidade sociocultural junto a uma imensa populaccedilatildeo formada pelos descendentes dos povos africanos e um grupo numeroso de

95

imigrantes e descendentes de povos de vaacuterios continentes com diferentes tradiccedilotildees culturais e religiosas (BRASIL 1997 p125)

O documento chama atenccedilatildeo para o fato de que essa pluralidade cultural que natildeo

foge agrave realidade das escolas eacute ignorada ou mesmo silenciada sendo inuacutemeras as

justificativas para tal silenciamento Um exemplo citado pelos PCN‟s foi o periacuteodo de

nacionalismo dos governos autoritaacuterios que ldquoem diferentes momentos da histoacuteria

valeu-se da accedilatildeo homogeneizadora veiculada na escolardquo (BRASIL 1997 p125) A

deacutecada de 1930 foi um periacuteodo em que a poliacutetica oficial estava preocupada com a

quantidade de imigrantes e buscava formas de fazer com que essa populaccedilatildeo

assimilasse a cultura brasileira Enquanto isso a populaccedilatildeo negra era

marginalizada explica o PCN acerca da pluralidade cultural

O trabalho com o tema transversal propotildee o desenvolvimento das seguintes

capacidades

conhecer a diversidade do patrimocircnio etnocultural brasileiro cultivando atitude de respeito para com pessoas e grupos que a compotildeem reconhecendo a diversidade cultural como um direito dos povos e dos indiviacuteduos e elemento de fortalecimento da democracia

compreender a memoacuteria como construccedilatildeo conjunta elaborada como tarefa de cada um e de todos que contribui para a percepccedilatildeo do campo de possibilidades individuais coletivas comunitaacuterias e nacionais

valorizar as diversas culturas presentes na constituiccedilatildeo do Brasil como naccedilatildeo reconhecendo sua contribuiccedilatildeo no processo de constituiccedilatildeo da identidade brasileira

reconhecer as qualidades da proacutepria cultura valorando-as criticamente enriquecendo a vivecircncia de cidadania

desenvolver uma atitude de empatia e solidariedade para com aqueles que sofrem discriminaccedilatildeo

repudiar toda discriminaccedilatildeo baseada em diferenccedilas de raccedilaetnia classe social crenccedila religiosa sexo e outras caracteriacutesticas individuais ou sociais

exigir respeito para si e para o outro denunciando qualquer atitude de discriminaccedilatildeo que sofra ou qualquer violaccedilatildeo dos direitos de crianccedila e cidadatildeo

valorizar o conviacutevio paciacutefico e criativo dos diferentes componentes da diversidade cultural

compreender a desigualdade social como um problema de todos e como uma realidade passiacutevel de mudanccedilas

analisar com discernimento as atitudes e situaccedilotildees fomentadoras de todo tipo de discriminaccedilatildeo e injusticcedila social (BRASIL1998p147)

96

Diante dessas capacidades apresentadas pelo PCN eacute possiacutevel perceber que

o documento natildeo aborda especificamente a questatildeo da diversidade em regiatildeo de

fronteira internacional pois trata-se de orientaccedilotildees a serem desenvolvidas em todas

as escolas do paiacutes e natildeo em determinada regiatildeo especiacutefica cabendo entatildeo agrave

instituiccedilatildeo escolar realizar as adaptaccedilotildees necessaacuterias conforme o contexto no qual

estaacute inserida

Eacute importante lembrar que o estreito viacutenculo entre os conteuacutedos selecionados e a realidade local a partir mesmo das caracteriacutesticas culturais locais faz com que este trabalho possa incluir e valorizar questotildees da comunidade imediata agrave escola Contudo a proposta levanta tambeacutem a necessidade de referenciais culturais voltados para a pluralidade caracteriacutestica do Brasil como forma de compreender a complexidade do paiacutes bem como de ampliar horizontes para o trabalho da escola como um todo Lembra-se ainda que os conteuacutedos aqui definidos destinam-se ao trabalho com o terceiro e o quarto ciclos do ensino fundamental (BRASIL 1998 p148)

Em uma primeira leitura os temas transversais para a pluralidade cultural

conseguem abordar as principais pautas que a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e a

LDB96 estabelecem ao propor um ensino que valorize e incorpore o debate da

diversidade cultural na escolas mas que se apresentaram de modo muito superficial

e ao mesmo tempo amplo

Dentre algumas consideraccedilotildees acerca dos PCN‟S encontra-se a do professor

Antocircnio Cunha que na ocasiatildeo do lanccedilamento dos documentos questionou-os em

relaccedilatildeo ao o seu processo de elaboraccedilatildeo uma vez que o governo preferiu criar

propostas novas para os PCN‟s desconsiderando totalmente as anteriores

Em vez de se partir das propostas curriculares existentes para se chegar aos PCN‟s o que se fez foi apresentar aos estupefactos assistentes os paracircmetros jaacute elaborados Esse procedimento insoacutelito serviu para desestimular docentes e pesquisadores a darem seu parecer sobre os documentos quando solicitados pela Secretaria do Ensino Fundamental Parece que mais uma vez a administraccedilatildeo puacuteblica tem da pesquisa uma visatildeo apenas justificatoacuteria das opccedilotildees tomadas pelos dirigentes quando natildeo de algo apresentado tatildeo-somente para efeito propagandiacutestico (CUNHA 1996 p61)

Deste modo algumas das criacuteticas direcionadas aos PCN‟s encontram-se em

sua concepccedilatildeo O Parecer da Agecircncia Nacional dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB)

em consonacircncia com a posiccedilatildeo da Associaccedilatildeo Nacional de Histoacuteria (ANPUH)

97

realizado a pedido Secretaria do Ensino Fundamental do MEC na ocasiatildeo de seu

processo de elaboraccedilatildeo deu a seguinte resposta

Os bdquoParacircmetros‟ apresentam-se hoje como um retrocesso Apresentam-se organizados de forma semelhante aos antigos Guias Curriculares divididos em objetivos conteuacutedos avaliaccedilatildeo orientaccedilotildees didaacuteticas (em lugar das estrateacutegias) Apoacutes uma tentativa de explicitaccedilatildeo de conteuacutedos elenca-se para cada ciclo uma lista que pretende sintetizaacute-los Mesmo que no documento introdutoacuterio e nos documentos de aacuterea apareccedila registrada a natildeo intencionalidade da parte do MEC no sentido da obrigatoriedade de conteuacutedos determinados a real intenccedilatildeo jaacute patente a partir da escolha do termo bdquoparacircmetros‟ e a forma da organizaccedilatildeo dos mesmos eacute de molde a constituir em modelos uacutenicos a serem popularizadas e vulgarizadas em novos manuais didaacuteticos ()- O documento intitulado bdquoTemas Transversais‟ homogeneizar para a totalidade do paiacutes a definiccedilatildeo de bdquoconviacutevio social e eacutetica‟ meio ambiente e sauacutederdquo(AGB 1996p 62)

No parecer dos geoacutegrafos a construccedilatildeo de modelos uacutenicos e vulgarizados

bem como a tentativa de universalizar temas como a de conviacutevio social e eacutetico para

todo o paiacutes satildeo objetos de criacuteticas na medida em que a reflexatildeo sobre pluralidade

que haacute no paiacutes deve-se primeiramente ao seguinte questionamento destes temas

transversais - e em destaque o que trata da pluralidade cultural - quando adentra

em realidades como a de Foz do Iguaccedilu satildeo passiacuteveis de considerar as condiccedilotildees

locais Na mesma perspectiva Calllai (1997) fez o seguinte questionamento e

reflexatildeo

Os temas transversais propostos de certa forma homogeinizam tanto os problemas como o curriacuteculo a niacutevel nacional Eacute possiacutevel articular-se questotildees como pluralidade cultural exclusatildeo social e proposiccedilatildeo uacutenica de curriacuteculo As desigualdades sociais satildeo tambeacutem regionalizadas e como tal diferenciadas na sua expressatildeo localizada E eacute no local que o sujeito encara os problemas do seu cotidiano embora eles sejam o mais das vezes globais Poreacutem o global estaacute concretizado no lugar em que se vive e como tal eacute a partir daiacute que se precisa consideraacute-lo (CALLAI 1997 p 10)

Por outro lado aqueles (SILVEIRA MARQUES 2004) que vecircem os Temas

Transversais como uma novidade facilitadora para que haja debates em sala sobre

cultura diversidade e voltada para a interculturalidade possuem a consciecircncia de

que haacute alguma dificuldades seja pela falta de bibliografia pelas poucas experiecircncias

desenvolvidas e ateacute mesmo pela falta de formaccedilatildeo adequada de professores

Para que o trabalho com os temas transversais seja de fato efetivo torna-se

necessaacuterio a construccedilatildeo de uma proposta pedagoacutegica que envolva toda a

98

comunidade escolar Eacute necessaacuterio considerar que os temas ultrapassem os muros

da escola incluindo o contexto social envolvente Com relaccedilatildeo aos PCN‟s ainda que

haja criacuteticas referentes agrave sua elaboraccedilatildeo ainda que eles tendam agrave homogeneizaccedilatildeo

e por isso apresentem certa incoerecircncia teoacuterica a problemaacutetica maior eacute se esse

documento por meio dos temas transversais conseguiu inserir o debate sobre a

diversidade na comunidade escolar e como esse debate foi inserido

De modo geral os PCN‟s representam um avanccedilo no modo como trata do

tema pluralidade cultural No entanto as anaacutelises demonstraram que as tendecircncias

agrave homogeneizaccedilatildeo do curriacuteculo nacional ficam impliacutecitas no documento logo ele

recai em contradiccedilotildees pois reconhece a diversidade que existe no paiacutes mas insiste

em direcionar o trabalho da pluralidade a grupos especiacuteficos Neste caso negros e

indiacutegenas natildeo alcanccedilando realidades como a fronteiriccedila Assim acaba por deixar

de lado outros grupos

344 O Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute

O Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute (PEE-PR) de 2015 eacute fruto de um

processo que tem iniacutecio na Constituiccedilatildeo de 1988 que por meio do Art 22 inciso

XXIV estabelecia a elaboraccedilatildeo de uma Nova Lei de Diretrizes e Bases para

Educaccedilatildeo Sendo entatildeo criada em 1996 a LDB96 que delegou para estados

municiacutepios Uniatildeo e Distrito Federal ldquoaos entes federados fica a responsabilidade de

garantir os meios necessaacuterios para o acesso e permanecircncia de todos agrave educaccedilatildeo

puacuteblica e gratuitardquo (BRASIL 2014a)

Deste modo conforme o PEE-PR do Paranaacute a educaccedilatildeo foi estruturada em

planos decenais com o objetivo de

Articular o sistema nacional de educaccedilatildeo em regime de colaboraccedilatildeo e definir diretrizes objetivos metas e estrateacutegias de implementaccedilatildeo para assegurar a manutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensino em seus diversos niacuteveis etapas e modalidades por meio de accedilotildees integradas dos poderes puacuteblicos das diferentes esferas federativas (BRASIL 2014a p 15 apud PEE-PR 2015 p23)

As primeiras discussotildees do PNE comeccedilaram nas Conferecircncias Brasileiras de

Educaccedilatildeo (CBEs) nas deacutecadas de 1980 e 1990 Posteriormente estas conferecircncias

99

foram dando lugar para os Seminaacuterios Brasileiros de Educaccedilatildeo e as Conferecircncias

Nacionais de Educaccedilatildeo datadas da deacutecada de 1920 (PEE-PR 2015 p24) As

CBEs entre os anos de 1996 e 2004 foram substituiacutedas pelos Congressos

Nacionais de Educaccedilatildeo (Coned)(PARANAacute 2015)

O Plano Nacional de Educaccedilatildeo (PNE) foi aprovado pela primeira vez em 2001

pelo Congresso Nacional Brasileiro Em 2009 foi estabelecida a Conferecircncia

Nacional de Educaccedilatildeo (Conae) sendo um de seus objetivos o de mobilizar os

diversos setores da educaccedilatildeo brasileira a elaborarem um PNE correspondente ao

periacuteodo de 2011-2020 Assim apoacutes quatro anos de debates e de reelaboraccedilatildeo do

PNE a Lei Federal nordm 13005 de junho de 2014 instituiu o novo Plano composto

por 14 artigos e um anexo contendo 20 metas e estrateacutegias nacionais a serem

atingidas no periacuteodo de dez anos (PEE-PR 2015)

O documento base do PEE-PR na introduccedilatildeo apresenta as caracteriacutesticas

gerais da populaccedilatildeo paranaense Nela eacute destacada a presenccedila de diversas etnias e

nacionalidades que fazem parte da histoacuteria do estado e dada essa presenccedila a

educaccedilatildeo eacute uma instacircncia automaticamente atingida por essa diversidade

A populaccedilatildeo eacute formada por descendentes de povos europeus africanos ameriacutendios e indiacutegenas das etnias Guarani Kaingang e Xetaacute e por imigrantes procedentes principalmente dos estados do Rio Grande do Sul Santa Catarina Satildeo Paulo e Minas Gerais () Dessa forma esses grupos participaram na construccedilatildeo da cultura paranaense e muitos costumes oriundos dessas diferentes etnias ainda satildeo preservados em determinadas comunidades e se refletem na educaccedilatildeo paranaense (PEE-PR2015p 26)

Refletindo sobre estas caracteriacutesticas e atendendo agraves leis nordm 1063908 e

1164508 sobre a obrigatoriedade do ensino de histoacuteria e cultura afro-brasileira

africana e indiacutegena no curriacuteculo oficial dos estabelecimentos de ensino puacuteblico o

plano base possui as seguintes estrateacutegias

13 Orientar as instituiccedilotildees educacionais que atendem crianccedilas de zero a cinco anos a agregarem ou ampliarem em suas praacuteticas pedagoacutegicas cotidianas accedilotildees que visem ao enfrentamento da violecircncia sexual e a outros tipos de violecircncia agrave inclusatildeo e ao respeito agraves diversidades de toda ordem gecircnero eacutetnico-racial religiatildeo entre outros agrave promoccedilatildeo da sauacutede e dos cuidados agrave convivecircncia escolar saudaacutevel e ao estreitamento da relaccedilatildeo famiacutelia-crianccedila-instituiccedilatildeo ()18 Estabelecer programas em parceria com os municiacutepios para a oferta da educaccedilatildeo inclusiva nas comunidades indiacutegenas

100

quilombolas do campo e ciganas de acordo com suas especificidades (PEE-PR 2015 p64)

Conforme a finalidade no Plano este estabelece metas e estrateacutegias a serem

implementadas e consonacircncia com o Art8ordm contido no plano de educaccedilatildeo que

estabeleceu as seguintes estrateacutegias

I - asseguram a articulaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais com as demais poliacuteticas sociais particularmente as culturais II - consideram as necessidades especiacuteficas das populaccedilotildees do campo e das comunidades indiacutegenas quilombolas e demais grupos sociais singulares asseguradas a equidade educacional e a diversidade cultural (PEE-PR 2015 p2)

Chama atenccedilatildeo a especificidade do artigo oitavo que visa agrave articulaccedilatildeo das

poliacuteticas educacionais com as demais poliacuteticas sociais destacando principalmente a

questatildeo cultural Ao pensar nas particularidades educacionais encontradas em

regiotildees de fronteira internacional em Foz do Iguaccedilu onde a presenccedila de alunos

oriundos de outros paiacuteses eacute comum nas escolas seria pertinente que o tema

diversidade fosse ampliado Por exemplo no caso da presenccedila de alunos aacuterabes

(principalmente libaneses siacuterios e palestinos) nas escolas as diferenccedilas

manifestadas natildeo satildeo apenas linguiacutesticas Neste caso abarca tambeacutem a religiatildeo

(predominante o islatilde) os haacutebitos costumes vestuaacuterio alimentaccedilatildeo etc Neste

sentido propor poliacuteticas puacuteblicas que possibilitem a inclusatildeo desses alunos e natildeo a

exclusatildeo ou a desconsideraccedilatildeo das origens deste aluno eacute sem duacutevidas um grande

desafio

345 O Curriacuteculo da AMOP

Reduzindo o campo de anaacutelise da poliacutetica educativa para a regiatildeo oeste do

Paranaacute onde estaacute localizada a cidade de Foz do Iguaccedilu encontramos o curriacuteculo

baacutesico da Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do oeste do Paranaacute (AMOP) que na

introduccedilatildeo do documento baacutesico afirma que houve uma confusatildeo por parte das

escolas municipais que ao implementarem os PCN‟s nas escolas natildeo o utilizaram

como um paracircmetro Muitas o adotaram como curriacuteculo ou tornaram sua proposta

pedagoacutegica como ecleacutetica Assim os educadores da regiatildeo Oeste do Paranaacute

101

sentiram a necessidade de se rediscutir o curriacuteculo Para tal adotaram a seguinte

metodologia

Inicialmente a metodologia adotada nos colocou limites que avaliada apontou para uma nova organizaccedilatildeo Reorganizado um cronograma de trabalho coletivamente com as redes municipais de Ensino chegamos a este documento que eacute resultado de dois anos de intensos estudos de reflexotildees de embates teoacutericos de sistematizaccedilotildees de leituras de discussotildees e de anaacutelises do coletivo dos educadores os quais respeitando o movimento proacuteprio de cada rede e por sua vez de cada escola partiram de contribuiccedilotildees teoacutericas de alguns autores das experiecircncias e compreensotildees do que jaacute se fez ou se faz em nossas escolas (AMOP 2007 p07)

Os trabalhos para elaboraccedilatildeo de diretrizes curriculares para o oeste

paranaense comeccedilaram em 2005 juntamente com secretaacuterios municipais de

educaccedilatildeo do Oeste do Paranaacute Na primeira etapa foram organizados grupos de

trabalho para elaboraccedilatildeo de propostas para as disciplinas de Liacutengua

PortuguesaAlfabetizaccedilatildeo Matemaacutetica Histoacuteria Geografia e Ciecircncias Assim as

atividades comeccedilaram a partir de seminaacuterio com representantes das equipes de

ensino das secretarias municipais de educaccedilatildeo

No qual se discutiu sobre a concepccedilatildeo de homem de sociedade de conhecimento e sobre a funccedilatildeo da escola Participaram do evento aproximadamente 380 representantes (AMOP 2007 p25)

Os trabalhos seguiram no decorrer do ano de 2005 mediante reuniotildees dos

grupos junto aos profissionais da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo (SEED) que

atuaram na elaboraccedilatildeo das diretrizes para as escolas estaduais do Paranaacute O

Departamento Pedagoacutegico da AMOP integrou-se ao grupo como tambeacutem os

educadores da educaccedilatildeo baacutesica e instituiccedilotildees de ensino superior Posteriormente

abriram-se as discussotildees para toda regiatildeo a fim de compreender as primeiras

impressotildees da versatildeo preliminar do documento

A partir desse processo houve a reelaboraccedilatildeo desse documento que reelaborado a partir das contribuiccedilotildees dos educadores dos municiacutepios envolvidos tornou-se o ponto de partida para a elaboraccedilatildeo do curriacuteculo A construccedilatildeo do curriacuteculo foi feita por meio de um processo que desencadeou discussotildees preacutevias com os representantes dos municiacutepios sistematizaccedilatildeo dessas discussotildees por um grupo menor discussatildeo e anaacutelise dessa sistematizaccedilatildeo pelo conjunto de educadores de cada municiacutepio que tinha suas

102

contribuiccedilotildees registradas pelos seus representantes (AMOP 2007 p26)

A partir de entatildeo elaborado o curriacuteculo no que confere agraves questotildees da

diversidade a partir da realidade em Foz do Iguaccedilu foram identificados nas

diretrizes propostas para o ensino de Geografia e Histoacuteria componentes que

trabalham com a questatildeo da diversidade nas escolas Os conteuacutedos referentes ao

ensino da Geografia estatildeo nas seguintes proposiccedilotildees para o 5ordm ano

Caracteriacutesticas sociais ndash diversidades eacutetnicas e culturais do Paranaacute

Movimentos da populaccedilatildeo paranaense crescimento da populaccedilatildeo

Divisatildeo poliacutetica (formaccedilatildeo do conceito de distritomuniciacutepioestadopaiacutes)

A industrializaccedilatildeo e o crescimento urbano do Paranaacute ndash malha urbana

Tracircnsito - circulaccedilatildeo no estado ndash ligaccedilatildeo rodoviaacuteria ferroviaacuteria aeacuterea - vias pedagiadas ndash Fiscalizaccedilatildeo Poliacutecia Rodoviaacuteria e pesagem

Organizaccedilatildeo dos espaccedilos urbanos ndash problemas urbanos - centro e periferia Impostos e taxas pagamentos que financiam a infra-estrutura dos bens puacuteblicos (AMOPE 2007 p252-253)

Sobre os conteuacutedos propostos no AMOP (2007) o ensino de geografia propotildee que

as diversidades eacutetnicas e culturais presentes no Paranaacute sejam parte do conteuacutedo a

ser desenvolvido em sala de aula Tambeacutem a histoacuteria dos processos migratoacuterios

para o estado e a presenccedila dos diferentes grupos eacutetnicos que formam parte da

histoacuteria de formaccedilatildeo do Paranaacute (AMOP 2007)

Neste sentido a proposta da AMOP se aproxima da LDB96 e dos proacuteprios

PCN‟s que tratam da diversidade cultural com a diferenccedila de que ele eacute destinado

para a rede municipal de educaccedilatildeo do Oeste paranaense Nesta perspectiva haacute um

vieacutes positivo na medida em que delimita o oeste paranaense adotando o enfoque da

diversidade eacutetnico-racial o que permite maior aproximaccedilatildeo com a realidade do

aluno

103

346 Algumas consideraccedilotildees

Diante do exposto considerando os documentos analisados percebe-se que

haacute uma induccedilatildeo clara para que o trabalho pedagoacutegico com a temaacutetica da

diversidade esteja fundada na noccedilatildeo29 presente na Constituiccedilatildeo de 1988 de que o

Brasil sendo formado por trecircs raccedilas - o iacutendio o branco e o negro- deve considerar

essas e reconhececirc-las nos espaccedilos educacionais A LDB96 reafirma esses

propoacutesitos no artigo 26 Os PCN‟spor sua vez se adequa a LDB06 principalmente

com a criaccedilatildeo dos Temas Transversais

No plano estadual as poliacuteticas educacionais para diversidade natildeo ficam

distantes das propostas em niacutevel nacional pois devem obrigatoriamente seguir os

componentes das diretrizes nacionais Desse modo natildeo foi evidenciado nessas

poliacuteticas mecanismos que subsidiassem as escolas presentes em fronteira neste

caso Foz do Iguaccedilu com estrateacutegias para criar programas e projetos para a

diversidade Do mesmo modo podemos falar dos planos nacionais e estaduais de

educaccedilatildeo Por mais que enfatizem o trabalho pedagoacutegico conforme a realidade

local eles natildeo deixam de pensar no nacional Outro problema eacute a imposiccedilatildeo dessas

poliacuteticas puacuteblicas e os PCN‟s satildeo um exemplo de uma proposta vertical assim

como inuacutemeros projetos que chegam agrave escola sem uma preacutevia discussatildeo com as

bases que seriam as comunidades escolares

Desse modo o que pode ser feito nas escolas eacute uma adaptaccedilatildeo agrave realidade

local Todas essas poliacuteticas educativas chegam agrave regiatildeo da fronteira mas natildeo

atingem suas especificidades Por especificidades recordamos tratar-se da

presenccedila dos alunos estrangeiros nas escolas de Foz do Iguaccedilu a saber

paraguaios argentinos e brasiguaios que satildeo grupos que fizeram e fazem parte da

histoacuteria da cidade desde o seu iniacutecio mas ao mesmo tempo natildeo satildeo preocupaccedilatildeo

do Estado brasileiro devendo ser uma preocupaccedilatildeo de seus Estados Nacionais

Nesta loacutegica as escolas da regiatildeo natildeo foram criadas a partir da realidade

fronteiriccedila O multilinguismo eacute desconsiderado O Estado por meio da legislaccedilatildeo

impotildee o portuguecircs enquanto liacutengua oficial Falar de diversidade eacute possiacutevel desde

29

Pires-Santos e Cavalcanti (2008) definem o monolinguismo como um a adoccedilatildeo de uma

liacutengua homogecircnea pura uma liacutengua para um povo Trata-se na concepccedilatildeo das autoras de um mito ligado a interesses e investida de ideologia e que estaacute relacionado agrave nacionalidade

104

que seja referente aos grupos presentes no territoacuterio brasileiro que foram

historicamente colocados agrave margem da sociedade Logo 1) Seraacute que as nossas

escolas disponibilizam de tempo espaccedilo e interesse para desenvolver trabalhos de

combate ao preconceito contra o paraguaio chamado em momentos de ofensas de

xiru 2) E quanto agrave presenccedila aacuterabe na regiatildeo ela eacute discutida Como eacute a acolhida

destes na escola 3) O professor se sente preparado para lidar com estas questotildees

em sala de aula

Tais perguntas apresentadas acima foram motivadas a partir do pressuposto

de que temos um curriacuteculo nacional com raiacutezes eurocecircntricas conforme Tomaz

Tadeu da Silva (2007 p7) o curriacuteculo natildeo eacute neutro este ldquotransmite visotildees sociais

particulares e interessadas o curriacuteculo produz identidades individuais e sociais

particularesrdquo Por muito tempo a histoacuteria dos negros e indiacutegenas eram abordadas de

modo superficial por outro lado a histoacuteria antiga e recente da Europa sempre se fez

presente em nossos livros didaacuteticos Desconhecemos a Ameacuterica Latina seus povos

e histoacuteria logo desconhecemos os que fazem fronteira com o Brasil Squinelo

(2011) no artigo ldquoRevisotildees Historiograacuteficas A Guerra do Paraguai nos livros

didaacuteticos brasileiros-PNLD 2011rdquo ao analisar a histoacuteria da Guerra da Triacuteplice Alianccedila

presente nos livros didaacuteticos do Brasil aponta que pouco se discute considera a

versatildeo falha tendenciosa e conclui seu artigo com os seguintes questionamentos

Resta-me ainda algumas duacutevidas em relaccedilatildeo ao porquecirc entatildeo estudamos a Guerra do Paraguai na medida em que a) natildeo procuramos entender o sentido para os paiacuteses nela envolvidos b) natildeo buscamos a compreensatildeo de nosso desenvolvimento histoacuterico-soacutecio-cultural e econocircmico c) natildeo realizamos as conexotildees necessaacuterias ao entendimento das questotildees relacionadas ao Mercosul e finalmente d) natildeo propiciamos ao educando a compreensatildeo dos eventos histoacutericos de nosso passado latino-americano o que nos levaria a nos conhecer e a conhecer o outro e tambeacutem responderia muitas questotildees postas em nosso presente (SQUINELO 2011p 36)

35 O Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles um exemplo de poliacutetica

educacional para a fronteira

Dentro das poliacuteticas educacionais encontram-se outras variaacuteveis de poliacuteticas

dentre elas a poliacutetica linguiacutestica definida por Oliveira (2004 p38) como ldquoum o

conjunto de decisotildees que um grupo de poder sobretudo um Estado (mas tambeacutem

105

uma Igreja ou outros tipos de instituiccedilotildees de poder menos totalizantes) toma sobre o

lugar e a forma das liacutenguas na sociedade e a implementaccedilatildeo destas decisotildeesrdquo

Para Maher (2013 p 119) as poliacuteticas linguiacutesticas se referem aos objetivos e

agraves intervenccedilotildees que de uma forma ou outra visam ldquoafetarrdquo tanto o modo como as

liacutenguas se constituem quanto os modos como elas satildeo utilizadas eou transmitidas

A autora chama atenccedilatildeo para o equiacutevoco comumente difundido de que as poliacuteticas

lingusticas seriam apenas criadas por meio do governo ldquoPoliacuteticas linguumliacutesticas podem

ser arquitetadas e colocadas em accedilatildeo localmente uma escola ou uma famiacutelia pode

colocar em praacutetica ou estabelecer certa situaccedilatildeo sociolinguumliacutesticardquo (MAHER 2013

p120)

Essa perspectiva vai ao encontro da abordagem30 multicecircntrica ou policecircntrica

de poliacuteticas puacuteblicas que aleacutem de considerar o Estado inclui outras instacircncias como

protagonistas no estabelecimento de poliacuteticas puacuteblicas tais como as organizaccedilotildees

natildeo governamentais organizaccedilotildees privadas e organismos (DROS 1971

KOOIMAN 1993 RHODES 1997 HAJER 2003 apud SECCHI 2013) Nessa

premissa o PEIBF se enquadra na visatildeo multicecircntrica dos estudos de poliacuteticas

puacuteblicas uma vez que foi fruto de acordos bilaterais iniciados pela Argentina e o

Brasil no acircmbito do Mercado Comum do Sul (Mercosul)

O Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles de Fronteira (PEIBF) surgiu

dentro do oacutergatildeo pertencente ao Mercosul denominado Setor Educacional do

Mercosul (SEM) Segundo o documento ldquoEscolas de Fronteirardquo (BRASIL 2008) dos

antecedentes desse projeto encontra-se a oficializaccedilatildeo da criaccedilatildeo do MERCOSUL

em 1991 instituiccedilatildeo intergovernamental que nasceu com a assinatura do Tratado de

Assunccedilatildeo acordados inicialmente entre Argentina Brasil Paraguai e Uruguai

O bloco econocircmico Mercosul apresenta-se em um contexto de globalizaccedilatildeo

da economia O projeto teve como base as negociaccedilotildees entre Brasil e Argentina

30

Dentro das analises de poliacuteticas puacuteblicas Secchi (2013) discorre sobre o noacute conceitual que haacute na

literatura especializada nos estudos de poliacuteticas puacuteblicas Alguns pesquisadores defendem a abordagem estatista que considera as PP analiticamente monopoacutelio de atores estatais Outros a abordagem multicecircntrica que aleacutem de considerar o Estado inclui outras instacircncias como protagonistas no estabelecimento de poliacuteticas puacuteblicas

106

para a integraccedilatildeo de suas economias e os resultados positivos dessa integraccedilatildeo

levaram o Paraguai e o Uruguai a fazerem parte do projeto integracionista

O objetivo inicial do Mercosul fora a integraccedilatildeo dos quatros Estados

membros em termos de circulaccedilatildeo de bens e serviccedilos e de fatores produtivos da

formulaccedilatildeo de poliacutetica comercial comum da afirmaccedilatildeo de uma Tarifa Externa

Comum (TEC) e da busca por poliacuteticas legislativas comum aos paiacuteses membros Em

2012 a Venezuela tornou-se oficialmente mais um paiacutes membro do bloco e a Boliacutevia

caminha para o processo de ordenamento juriacutedico para oficializar sua participaccedilatildeo

Aleacutem disso o mercado comum conta com a participaccedilatildeo de paiacuteses associados

Chile Peru Colocircmbia Equador Guiana e Suriname

No final do seacuteculo passado o Mercosul passava por outro lado por crises do

ponto de vista comercial as dimensotildees poliacutetica sociocultural e educacional foram

ganhando relevacircncia (ALMEIDA 2015) Este periacuteodo de crise refere-se aos

impactos das poliacuteticas neoliberais implantadas na regiatildeo no decorrer das deacutecadas

de 1980 e 1990 O nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de pobreza passou de 136

milhotildees em 1980 para 222 milhotildees em 2004 (ESTAY 2007) Neste contexto de crise

econocircmica e aumento das desigualdades sociais que foi assinada a ldquoCarta de

Buenos Aires sobre o Compromisso Social no Mercosul Boliacutevia e Chile31rdquo no dia 30

de junho de 2000 A carta reconhece a importacircncia da dimensatildeo sociocultural do

Mercosul

Com a entrada de governos progressistas como a eleiccedilatildeo de Luiacutes Inaacutecio Lula

da Silva em 2003 e de Neacutestor Kircher na Argentina a funccedilatildeo do Mercosul enquanto

bloco meramente de integraccedilatildeo econocircmica foi revista e acrescida pelas dimensotildees

sociais para a integraccedilatildeo regional Desse modo a aacuterea social do Mercosul que

havia sido abordada na ldquoCarta de Buenos Airesrdquo e pela criaccedilatildeo da Reuniatildeo de

Ministros e Autoridades de Desenvolvimento Social do Mercosul foi expandida e

institucionalizada com a criaccedilatildeo do Instituto Mercosul Social (IMS) em 2007

(ALMEIDA 2015)

31

Em junho de 2000 os presidentes aprovaram a Carta de Buenos Aires com o Compromisso

Social no Mercosul Boliacutevia e Chile O documento estimula as autoridades competentes a ldquofortalecer o trabalho conjunto entre os seis paiacuteses assim como o intercacircmbio de experiecircncias e informaccedilotildees a fim de contribuir para a superaccedilatildeo dos problemas sociais mais agudos que os afetam e para definir os temas ou aacutereas onde seja viaacutevel uma accedilatildeo coordenada ou complementar para solucionaacute-los (BRASIL 2007 p25) Dentre as accedilotildees promovidas a partir da Carta encontra-se a criaccedilatildeo da Reuniatildeo de Ministros e Autoridades de Desenvolvimento Social do Mercosul instituiacuteda pela Decisatildeo n 612000 do CMC (ALMEIDA 2015p24)

107

A estrutura organizacional do Mercosul eacute composta pelo Conselho Mercado

Comum (CMC) Grupo Mercado Comum Comissatildeo Parlamentar Foro Consultivo

Econocircmico-Social Comissatildeo de Comeacutercio do Mercosul e Secretaria Administrativa

do Mercosul O CMC eacute responsaacutevel pela criaccedilatildeo da Reuniatildeo de Ministros da

Educaccedilatildeo (RME) principal responsaacutevel pela estrutura do Setor educacional do

Mercosul (SEM) (MERCOSUL EDUCACIONAL 2013) Dentre os objetivos

estrateacutegicos para a educaccedilatildeo do SEM estaacute agrave integraccedilatildeo e formaccedilatildeo de uma

identidade regional Tem como objetivo ser um espaccedilo regional no qual a educaccedilatildeo

seja de qualidade fundada no ldquoconhecimento intercultural o respeito agrave diversidade e

agrave cooperaccedilatildeo solidaacuteriardquo de modo a contribuir para a democratizaccedilatildeo dos sistemas

educacionais da regiatildeo (MERCOSUL 2011 p15) Da missatildeo definida pelo SEM

encontra-se a de

Formar um espaccedilo educacional comum por meio da coordenaccedilatildeo de poliacuteticas que articulem a educaccedilatildeo com o processo de integraccedilatildeo do MERCOSUL estimulando a mobilidade o intercacircmbio e a formaccedilatildeo de uma identidade e cidadania regional com o objetivo de alcanccedilar uma educaccedilatildeo de qualidade para todos com atenccedilatildeo especial aos setores mais vulneraacuteveis em um processo de desenvolvimento com justiccedila social e respeito agrave diversidade cultural dos povos da regiatildeo (MERCOSUL EDUCACIONAL 2011 p10)

No acircmbito do SEM encontra-se o Comitecirc Coordenador Regional cuja funccedilatildeo eacute

propor poliacuteticas de integraccedilatildeo e cooperaccedilatildeo da aacuterea educacional Uma vez

estabelecidas como liacutenguas oficiais do MERCOSUL o espanhol guarani e

portuguecircs coube ao setor educativo do bloco enfatizar em seu plano de accedilatildeo a

necessidade de difundir o ensino de portuguecircs e do espanhol por meio dos

sistemas educativos formais e informais

Como parte desse processo o Setor Educacional do Mercosul ndash SEM aponta nos seus planos de accedilatildeo a necessidade de difundir o aprendizado do portuguecircs e do espanhol por meio dos sistemas educacionais formais e natildeo formais considerando como aacutereas prioritaacuterias o fortalecimento da identidade regional levando dessa forma ao conhecimento muacutetuo a uma cultura de integraccedilatildeo e agrave promoccedilatildeo de poliacuteticas regionais de formaccedilatildeo de recursos humanos visando agrave melhoria da qualidade da educaccedilatildeo (BRASIL 2008 p 6)

351 Do processo de elaboraccedilatildeo

Conforme Secchi (2013) a tomada de decisatildeo no momento de se propor uma

poliacutetica puacuteblica eacute uma etapa em que os interesses dos atores satildeo equacionados

108

onde as razotildees de um problema puacuteblico satildeo explicitadas Nessa fase a equipe

bilateral de teacutecnicos e linguistas argentinos e brasileiros foram requeridos para

formular o projeto a fim de atender agraves expectativas dos dois paiacuteses Assim o projeto

proposto pela equipe teve como intuito promover as liacutenguas espanhola e portuguesa

atraveacutes do ensino biliacutengue e atraveacutes de intercacircmbios culturais entre Argentina e

Brasil

352 Do processo para implementaccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica

Para O‟Tolle Jr (2003 apud Secchi 2003p55 ) ldquoa fase de implementaccedilatildeo eacute

aquela em que regras rotinas e processos sociais satildeo convertidos de intenccedilotildees em

accedilotildeesrdquo Dos elementos baacutesicos para anaacutelise desse processo encontram-se

() pessoas e organizaccedilotildees com interesses competecircncias e comportamentos variados () tambeacutem fazem parte de processo as relaccedilotildees existentes entre as pessoas as instituiccedilotildees vigentes (regras formais e informais) os recursos financeiros materiais informativos e poliacuteticos (capacidade de influecircncia) (SECCHI 2013 p57)

Nesta perspectiva o Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles de Fronteira

foi implementado inicialmente em 2005 nas cidades brasileiras de Dioniacutesio

Cerqueira no estado de Santa Catarina e Uruguaiana no Rio Grande do Sul Do

lado argentino as cidades que aderiram ao programa foram Bernado de Irogoyen

em Misiones e Paso de los Libres em Corrientes O programa foi implantado pelo

Governo Federal brasileiro por meio da Coordenaccedilatildeo de Formaccedilatildeo Continuada do

Departamento de Poliacuteticas de Educaccedilatildeo Infantil e do Ensino Fundamental da

Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica32 em conjunto com o Ministeacuterio de la Educaciacuteon

Ciencia y Tecnologia (MEC y T) da Argentina A partir de 2006 o programa

estendeu-se para outras regiotildees de fronteira sendo elas Puerto Iguazuacute em

Misiones e Santo Tomeacute e La Cru e Corrrientes na Argentina e Foz do Iguaccedilu no

Paranaacute e Satildeo Borja e Itaqui no Rio Grande do Sul

Desde o primeiro momento algumas questotildees sobre sua origem foram

criticadas Sagaz (2013) aponta que o MEC natildeo apresentou o PEIBF oficialmente

como um Programa Temaacutetico ou um Projeto proposto e aprovado em Plano Pluri

32

O PEIF eacute de responsabilidade da Coordenaccedilatildeo Geral de Ensino Fundamental (COEF) na Diretoria

de Curriacuteculos e Educaccedilatildeo Integral - (DICEI) da Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica (SEB) no MEC

109

Anual (PPA) Para o autor natildeo era intenccedilatildeo do poder legislativo discutir os

orccedilamentos ldquotampouco eacute uma accedilatildeo de governo no que diz respeito agraves suas

diretrizes poliacuteticas uma vez que o oacutergatildeo competente natildeo solicitou a formalizaccedilatildeo

dos recursos junto ao PPArdquo (SAGAZ 2013 p 43) Isto manteve o PEIBF ateacute 2010

distante da prioridade e discussatildeo por parte do governo se comparado a outros

Programas e Projetos

O processo de implementaccedilatildeo comeccedilou no ano de 2004 com a primeira

reuniatildeo de planejamento No mesmo ano na cidade de Dioniacutesio Cerqueira ocorreu

uma reuniatildeo para instituir o programa na escola eleita Dentre as instituiccedilotildees

presentes encontravam-se o Instituto de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento em

Poliacutetica Linguiacutestica (IPOL) a 30ordf Gerecircncia Regional de Educaccedilatildeo e Inovaccedilatildeo

(GEREI) e o MECyT

A escola brasileira escolhida para a implementaccedilatildeo do projeto foi a Dr

Theodureto Carlos de Faria Souto A escola possui uma localizaccedilatildeo estrateacutegica pois

estaacute a aproximadamente dois quilocircmetros do posto da Receita Federal na fronteira

BrasilArgentina ldquoPode-se ir caminhando da escola ateacute o outro paiacutes sem nenhum

impedimento em relaccedilatildeo agraves vias de acesso e em relaccedilatildeo ao posto alfandegaacuteriordquo

(SAGAZ 2013 p77) Nela ocorreu a primeira reuniatildeo com os pais dos estudantes

em fevereiro de 2005 De acordo com a equipe teacutecnica a implementaccedilatildeo do PEIBF

deveria ser gradual a comeccedilar com a inclusatildeo das seacuteries iniciais do ensino

fundamental no projeto para posteriormente incluir as demais seacuteries A ampliaccedilatildeo

do projeto para todas as seacuteries da educaccedilatildeo baacutesica de uma soacute vez poderia causar

transtornos dada a necessidade de adequaccedilatildeo dos sistemas locais de educaccedilatildeo agrave

sua estrutura (BRASIL 2008)

As seacuteries escolhidas para o projeto foram o primeiro e segundo ano do ensino

fundamental A estrutura operacional e a tentativa de avanccedilar nas seacuteries iniciais do

ensino fundamental para os anos finais segundo a relatoria tornaram-se inviaacuteveis

pela falta de entendimento pedagoacutegico entre Argentina e Brasil (BRASIL 2008) Em

2006 os ministeacuterios dos paiacuteses envolvidos no PEIBF comeccedilaram a formular um

documento com diretrizes para todas as escolas em zonas de fronteiras envolvidas

no projeto intitulado ldquoModelo de ensino comum em escolas de zona de fronteira a

partir do desenvolvimento de um programa para a educaccedilatildeo intercultural com

ecircnfase no ensino do portuguecircs e do espanholrdquo Em 2012 o documento baacutesico foi

reelaborado contando com a contribuiccedilatildeo do Uruguai e Paraguai O nome do

110

documento passou a ser Modelo de ensentildeanza comuacuten em escuelas de zona de

frontera a partir del desarrollo de un programa para la educacioacuten intercultural com

eacutenfasis em la ensentildeanza de latildes lenguas predominantes en la regioacuten (MERCOSUL

EDUCACIONAL 2014)

Segundo o documento inicial do programa a projeccedilatildeo pretendida era de que

a cada ano fosse ampliado o nuacutemero de turmas envolvidas e que se avanccedilasse para

as proacuteximas seacuteries de modo que os alunos que fazera parte do programa pudesse

adquirir a familiarizaccedilatildeo com a cultura do paiacutes vizinho

O Programa tem por metodologia o intercacircmbio docente e as escolas satildeo as

responsaacuteveis por organizar os quadros dos professores que iratildeo fazer parte das

chamadas escolasespelhos (unidades baacutesicas de trabalho atuando como uma

unidade operacional)

Esta forma permite aos docentes dos paiacuteses envolvidos vivenciarem eles mesmos na sua atuaccedilatildeo e nas suas rotinas semanais praacuteticas de bilinguumlismo e de interculturalidade semelhantes agraves que querem construir com os alunos na medida em que se expotildeem agrave vivecircncia com seus colegas do outro paiacutes e com as crianccedilas das vaacuterias seacuteries com as quais atuam (BRASIL 2008 p21)

353 Avaliaccedilatildeo da Poliacutetica Puacuteblica- Primeiros impactos do PEIBF

De acordo com Leite e Flexor (2006) a avaliaccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica

consiste em verificar os efeitos atribuiacutedos agrave accedilatildeo do governo tendo portanto um

caraacuteter normativo Os autores afirmam que os avaliadores agem em funccedilatildeo de

quadros de referecircncia com valores e normas incluindo a percepccedilatildeo que devem ser

considerados nesse processo

A dificuldade dessa fase reside tambeacutem no fato de que os resultados efetivos satildeo relativamente independentes das expectativas iniciais Aleacutem disso as aspiraccedilotildees podem mudar no decorrer do percurso outros problemas podem surgir os objetivos satildeo geralmente ambiacuteguos e causas externas podem explicar os resultados Em outras palavras natildeo existe causalidade uniacutevoca (LEITE FLEXOR 2006 p 11)

Para Secchi (2013) existem alguns modelos diferenciados de avaliaccedilatildeo Haacute

aquelas que ocorrem anterior agrave implementaccedilatildeo (ex ante) e a avaliaccedilatildeo posterior agrave

implementaccedilatildeo (ex post) Existe tambeacutem a avaliaccedilatildeo que ocorre durante o processo

de implementaccedilatildeo cujo objetivo eacute a busca de ajustes imediatos O referido autor

111

elenca os principais criteacuterios utilizados para avaliaccedilotildees sendo eles economicidade

produtividade eficiecircncia econocircmica eficiecircncia administrativa eficaacutecia e equidade

O documento preliminar -Programa Escolas Biliacutenguumles de Fronteira - Modelo

de ensino comum em escolas de zona de fronteira a partir do desenvolvimento de

um programa para a educaccedilatildeo intercultural com ecircnfase no ensino do portuguecircs e

do espanholrdquo ( MEC y T MEC2008) busca analisar os primeiras experiecircncias do

projeto Nesse sentido trata-se de uma avaliaccedilatildeo que ocorreu durante o processo

de implementaccedilatildeo Dentre as consideraccedilotildees feitas nessa primeira etapa encontram-

se

- Do repertoacuterio linguumliacutestico das crianccedilas Apoacutes alguns meses do estabelecimento do

programa as professoras envolvidas evidenciaram que as crianccedilas argentinas

tinham maior familiaridade com a liacutengua portuguesa enquanto as crianccedilas

brasileiras tiveram dificuldades para assimilar o espanhol

As crianccedilas argentinas jaacute satildeo em algum niacutevel biliacutengues entendem razoavelmente bem a liacutengua portuguesa e muitas a falam com facilidade Isso se deve ao fato de que muitos satildeo descendentes de brasileiros Aleacutem disso tecircm uma maior exposiccedilatildeo agrave liacutengua atraveacutes da miacutedia maior frequecircncia de estadia no Brasil e eventualmente em consequecircncia destes fatores nota-se uma maior disponibilidade da populaccedilatildeo argentina de fronteira para o aprendizado do portuguecircs (MECy T MEC 2008 p 13)

Neste periacuteodo identificou-se uma necessidade de promover uma ldquosensibilizaccedilatildeo

linguumliacutesticardquo de modo que as crianccedilas brasileiras pudessem querer aprender a liacutengua

espanhola Para tal sensibilizaccedilatildeo a praacutetica intercultural eacute fundamental assinala o

documento

Da necessidade de Intercacircmbio entre alunos Verificou-se que aleacutem do

intercacircmbio entre professores houve a demanda por intercacircmbio entre os alunos

No entanto esse processo eacute mais complexo de ser executado haja vista que haacute

empecilhos como a documentaccedilatildeo das crianccedilas para entrada em outro paiacutes As

crianccedilas brasileiras e argentinas soacute podem realizar a travessia com uma

documentaccedilatildeo assinada pelos pais autorizando sua travessia

Da carga horaacuteria das escolas Como satildeo secretarias educacionais e paiacuteses

distintos um modelo uacutenico para sua execuccedilatildeo eacute praticamente improvaacutevel Essa

112

pauta foi discutida na equipe quando foram elaborados trecircs modelos de

organizaccedilatildeo das escolas envolvidas

Escola em Tempo Integral (Jornada Completa) Nesse modelo os alunos

possuem pelo menos dois dias de aula de liacutengua estrangeira e uma carga

horaacuteria total de 6 horas semanais Como a escola eacute de tempo integral os

alunos podem ter outras atividades destinados agrave educaccedilatildeo biliacutengue

Escola em Contra-Turno eacute semelhante agrave escola de Tempo Integral mas

neste caso apenas em um dos turnos haacute o ensino biliacutengue

Escola em Turno Uacutenico em dois dias da semana os trabalhos do programa

escolas biliacutengues satildeo realizados dentro do proacuteprio turno num total de cinco

horas semanais

Entre os modelos apresentados acima o primeiro eacute o da escola Dioniacutesio

Cerqueira e Bernado Yrigoyen o segundo aplica-se a Foz do Iguaccedilu e Puerto

Iguazuacute o terceiro modelo encontra-se presente em Uruguaina Verificou-se que o

trabalho desenvolvido nas escolas de turno uacutenico possui em sua base curricular o

segundo idioma enquanto o trabalho em contra-turno jaacute assimila as atividades do

programa como atividade extra-curricular o que natildeo eacute o objetivo do PEIBF O

melhor turno para se desenvolver o programa eacute o Turno Uacutenico pois natildeo interfere na

rotina da escola nem na estrutura fiacutesica ou mesmo na contrataccedilatildeo de mais

funcionaacuterios ou aumento da carga horaacuteria dos professores envolvidos (BRASIL

2008)

A escola em contra-turno amplia o periacuteodo de permanecircncia do aluno na

instituiccedilatildeo uma estrateacutegia vaacutelida e uacutetil para o processo de aprendizagem do aluno

Conforme o documento de implantaccedilatildeo as experiecircncias aqui expostas somadas

aos debates nas reuniotildees das equipes de trabalho bilaterais e no decorrer dos

encontros de formaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo requerem a formulaccedilatildeo de um novo modelo

para o Programa para que se possa refletir e dar respostas as peculiaridades das

escolas interculturais biliacutenguumles (BRASIL 2008)

A partir de 2012 o PEIBF por meio da Portaria nordm 798 de 19 de junho de

2012 do Diaacuterio Oficial da Uniatildeo passou a se chamar Programa Escolas

Interculturais de Fronteira (PEIF)

113

Art 1ordm Fica instituiacutedo o Programa Escolas Interculturais de Fronteira (PEIF) com o objetivo de contribuir para a formaccedilatildeo integral de crianccedilas adolescentes e jovens por meio da articulaccedilatildeo de accedilotildees que visem agrave integraccedilatildeo regional por meio da educaccedilatildeo intercultural das escolas puacuteblicas de fronteira alterando o ambiente escolar e ampliando a oferta de saberes meacutetodos processos e conteuacutedos educativos sect 1ordm As Escolas Interculturais de Fronteira satildeo as escolas puacuteblicas Estaduais e Municipais situadas na faixa de fronteira e instruiacutedas pelo Modelo de ensino comum de zona de fronteira a partido desenvolvimento de um Programa para a educaccedilatildeo interculturalcom ecircnfase no ensino do portuguecircs e do espanhol da Declaraccedilatildeo Conjunta de Brasiacutelia firmada em 23 de novembro de 2003 pela Argentina e pelo Brasil e do Plano de Accedilatildeo do Setor Educativo do MERCOSUL (BRASIL 2012)

Pela mesma portaria criou-se o documento ldquoMarco Referencial de Desenvolvimento

Curricularrdquo o qual tem como objetivo central apresentar orientaccedilotildees comuns a serem

desenvolvidos pelas escolas envolvidas Entre os eixos organizadores encontram-

se

Eixo 1 - Funcionamento do Programa na escola

a) o envolvimento de toda a escola b) a definiccedilatildeo de metodologias dos projetos de aprendizagem c) a construccedilatildeo do projeto poliacutetico pedagoacutegico da escola intercultural (planejamento conjunto das accedilotildees) e regimento escolar d) considerar as especificidades curriculares e socioculturais das comunidades do campo indiacutegena e quilombola e) dinamizaccedilatildeo do relacionamento com escola do paiacutes vizinho definindo um plano de accedilatildeo conjunto para a realizaccedilatildeo do intercacircmbio docente aleacutem de outras accedilotildees que promovam a interculturalidade estendendo-se a todos os anos de escolarizaccedilatildeo da escola f) utilizaccedilatildeo das tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo disponiacuteveis e necessaacuterias Eixo 3 - Formaccedilatildeo continuada dos profissionais da educaccedilatildeo baacutesica sob a coordenaccedilatildeo das Universidades

a) compor o grupo local formado por Coordenador-geral do PEIF Coordenador-adjunto de Educaccedilatildeo Integral Supervisor de Articulaccedilatildeo e Acompanhamento Pedagoacutegico (secretaria de educaccedilatildeo) Pesquisadores Professores Formadores (universidade) Professor Formador (coordenador pedagoacutegico ou diretor da escola) Tutor agrave distacircncia (universidade) Tutor presencial eou PIBID (universidade para acompanhamento pedagoacutegico na escola) b) promover a articulaccedilatildeo no espaccedilo da Universidade entre educaccedilatildeo integral e interculturalidade c) articular-se com o comitecirc gestor de recursos financeiros de sua

114

instituiccedilatildeo d) ofertar accedilotildeescursos de aperfeiccediloamento e) contribuir para o repositoacuterio dos materiais de formaccedilatildeo f) agilizar os procedimentos de afastamento do paiacutes (tracircmite interno das IES) g) definir arranjos que permitam realizar formaccedilotildees dentro das regiotildees de fronteira nos municiacutepios h) elaborar produtos finais resultantes de cada moacutedulo de formaccedilatildeo conjunta com outros paiacuteses i) articular as accedilotildees do PEIF com o Programa Institucional de Bolsa de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia (PIBIDCAPESMEC) e com o Programa Novos Talentos (CAPESMEC) j) induzir a inclusatildeo da temaacutetica interculturalidade na perspectiva da educaccedilatildeo integral na formaccedilatildeo inicial dos cursos de licenciatura e poacutes-graduaccedilatildeo e na pesquisa acadecircmica k) promover o uso das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo realizar o diagnoacutestico sociolinguiacutestico das comunidades participantes do PEIF

Dentre os princiacutepios expostos acima destaca-se a participaccedilatildeo das

universidades o que abre espaccedilo para o desenvolvimento de pesquisas da criaccedilatildeo

de novas metodologias e de avaliaccedilotildees do projeto e da formaccedilatildeo docente numa

perspectiva intercultural O entendimento de interculturalidade do Programa eacute

() nesse caso ativa a escola seraacute intercultural na medida em que haja a participaccedilatildeo efetiva de profissionais e de alunos das diversas culturas envolvidas na comunidade educacional (e que natildeo satildeo soacute bdquoduas‟ a cultura argentina e a cultura brasileira o que corresponderia a pensaacute-las como unidades homogecircneas) em todas as instacircncias de convivecircncia que satildeo proacuteprias da instituiccedilatildeo escolar (BRASIL ARGENTINA 2008 p 26)

O Boletim produzido pela publicaccedilatildeo Salto para o Futuro que complementa

as ediccedilotildees televisivas da TV Escola do Ministeacuterio da educaccedilatildeo em sua primeira

ediccedilatildeo de 2014 apresentou o tema das Escolas Interculturais Biliacutenguumles de Fronteira

A professora Eliana Rosa Sturza coordenadora do Programa das Escolas

Interculturais de Fronteira na Universidade Federal de Santa Maria e do Laboratoacuterio

Entre liacutenguas da Universidade Federal de Sergipe relata as experiecircncias e

aprendizados do programa em diferentes cidades localizadas na fronteira

A proposta metodoloacutegica foi analisada por Sturza (2010 2014) enfocando a

experiecircncia das crianccedilas brasileiras em Uruguaiana no Rio Grande do Sul cuja

aprendizagem eacute dentro e fora de sala de aula Em uma das escolas as crianccedilas

confundiram as professoras argentinas com enfermeiras do posto meacutedico pois

115

estas usam avental branco costume que natildeo eacute habitual no Brasil As professoras

argentinas por sua vez estranharam as manifestaccedilotildees inicialmente constantes dos

alunos brasileiros que queriam abraccedilaacute-las tocaacute-las beijaacute-las ldquoEste eacute um traccedilo

cultural do comportamento brasileiro muito identificado pelo bdquoestrangeiro‟ Neste

caso nem tatildeo estrangeiro mas um vizinho do outro lado do riordquo (STURZA 2014

p26)

A experiecircncia dos professores brasileiros no projeto possibilitou que eles

tivessem contato direto com o sistema educacional do vizinho e esse contato gerou

novos espaccedilos de discussatildeo sobre o trabalho docente mediante as comparaccedilotildees

sobre os conteuacutedos relaccedilatildeo aluno-professor da infraestrutura das escolas e ateacute a

autonomia da gestatildeo escolar

Nesta experiecircncia os professores foram conhecendo o funcionamento e a estrutura do sistema educacional do paiacutes vizinho e percebendo como sistema brasileiro eacute autocircnomo em relaccedilatildeo ao sistema uruguaio ou argentino mais centralizado O aprendizado eacute de toda ordem ocorrendo entre os professores da escola e os das escolas parceiras ou seja argentinos e brasileiros debatem a educaccedilatildeo trocam ideias e fazem planejamento de projetos em conjunto (STURZA 2014 p25)

A metodologia tem como norte o ensino por Projetos de Aprendizagem (EPA)

modo de organizaccedilatildeo que permite o desenvolvimento de projetos localmente

envolvendo a participaccedilatildeo de toda a comunidade escolar ou outros grupos a

depender da necessidade do projeto

Ensino via Projetos de Aprendizagem (EPA) faz com que as crianccedilas participem de projetos biliacutengues que prevecircem tarefas a serem realizadas em portuguecircs e em espanhol Satildeo coordenadas respectivamente pela docente brasileira ou argentina de acordo com o niacutevel de conhecimento do idioma que possuam e de acordo com o planejamento conjunto realizado periodicamente por professoras argentinas e brasileiras com suas respectivas assessorias pedagoacutegicas (BRASIL 2008 p 28)

Nesta perspectiva os temas das aulas e os projetos de aprendizagem a

serem desenvolvidos parte dos interesses dos alunos Cabe agraves professoras

argentinas e brasileiras o desenvolvimento do programa em conjunto Sturza (2014)

ilustra alguns temas que surgiram da curiosidade dos alunos e que por sua vez

podem ser trabalhadas em conjunto Um exemplo nasce da pergunta porque os

dentes caem Curiosidade comum entre crianccedilas de 7 anos por estarem vivenciado

a troca dos dentes A fim de explicar esse processo as atividades partiram da leitura

116

da histoacuteria ldquoFada dos Dentesrdquo ou do ldquoRaacuteton Peacuterezrdquo a primeira contada no Brasil e a

segunda no Uruguai As tarefas realizadas satildeo como um ldquopasso a passordquo a partir de

um mapa conceitual33

Do ponto de vista normativo todos os trabalhos desenvolvidos devem estar

em acordo com as diretrizes curriculares de cada paiacutes juntamente com a proposta

curricular do projeto Sobre as formas de avaliaccedilatildeo dos alunos o documento da

versatildeo preliminar do programa visa agrave metodologia de bdquoportifoacutelio‟ ldquodefinido como o

acompanhamento realizado a partir de evidecircncias de variadas naturezas do trabalho

realizado pelos alunos individual e coletivamenterdquo (BRASIL 2008 p29) O portifoacutelio

eacute uma forma de organizar o conjunto de memoacuterias de obras realizadas pelo aluno

podendo ser realizadas individualmente ou em grupo O objetivo eacute mostrar a

trajetoacuteria de cada estudante no decorrer de um projeto permitindo que o professor

possa avaliar esse aluno atraveacutes das informaccedilotildees contidas no portfoacutelio

354 O PEIF em Foz do Iguaccedilu

O PEIF teve iniacutecio na cidade de Foz do Iguaccedilu em abril de 2006 a partir do

encontro com todos os envolvidos na cidade de Puerto Iguazuacute A primeira instituiccedilatildeo

responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo do projeto foi a Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo

Em 2014 a Universidade Federal da Integraccedilatildeo Latino-Americana (UNILA) passou a

coordenar o programa

As escolas escolhidas para realizaccedilatildeo do projeto foram a Escola municipal

Adele Zanotto Scalco em Foz do Iguaccedilu e a Escuela 164 em Puerto Iguazuacute As

escolas foram escolhidas pela localizaccedilatildeo estrateacutegica ambas ficam proacuteximas da

regiatildeo da Ponte Tancredo Neves ligaccedilatildeo entre os dois paiacuteses (CARVALHO 2012)

33

Mapas conceituais satildeo ferramentas graacuteficas para a organizaccedilatildeo e representaccedilatildeo do conhecimento Eles incluem conceitos geralmente dentro de ciacuterculos ou quadros de alguma espeacutecie e relaccedilotildees entre conceitos que satildeo indicadas por linhas que os interligam As palavras sobre essas linhas que satildeo palavras ou frases de ligaccedilatildeo especificam os relacionamentos entre dois conceitos Noacutes definimos conceito como uma regularidade percebida em eventos ou objetos designada por um roacutetulo Na maioria dos conceitos o roacutetulo eacute uma palavra embora algumas vezes usemos siacutembolos como + ou e em outras usemos mais de uma palavra Proposiccedilotildees satildeo enunciaccedilotildees sobre algum objeto ou evento no universo seja ele natural ou artificial Elas contecircm dois ou mais conceitos conectados por palavras de ligaccedilatildeo ou frases para compor uma afirmaccedilatildeo com sentido Por vezes satildeo chamadas de unidades semacircnticas ou unidades de sentido (CANAtildeS NOVAK 2010 p10)

117

Cabe destacar que a escola de Foz do Iguaccedilu eacute a uacutenica que participa do projeto no

Paranaacute conforme informaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (2015)

Sobre a estrutura do programa o relatoacuterio produzido pela Secretaria

Municipal da Educaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu na ocasiatildeo da primeira reuniatildeo entre a

equipe dos dois paiacuteses em abril de 2006 destaca os principais acordos para a

implementaccedilatildeo do programa nas escolas

Inicialmente o projeto atenderia duas turmas do ensino fundamental de cada

instituiccedilatildeo no turno da tarde todas as quartas-feiras

As aulas biliacutenguumles seriam ministradas no periacuteodo contra turno

A metodologia escolhida foi a de projetos pedagoacutegicos interculturais

A cada quinze dias os planejamentos das aulas seriam feitos com os

professores envolvidos no projeto com alternacircncia dos turnos de encontro e

das escolas

No mesmo relatoacuterio constam as comparaccedilotildees quanto agrave estrutura fiacutesica das

escolas A escola brasileira possui melhor estrutura fiacutesica pois possui videoteca

centro de esportes biblioteca sala de computaccedilatildeo e ar condicionado dentro das

salas de aula A escola argentina natildeo dispotildee desta estrutura Apesar destas

diferenccedilas as crianccedilas da escola brasileira e argentina natildeo possuem maiores

diferenccedilas quanto ao conhecimento pedagoacutegico

No iniacutecio do programa seu objetivo estava voltado para trabalhar com os

aspectos histoacutericos e culturais do paiacutes vizinhos tais como as muacutesicas roupas e as

comidas tiacutepicas de cada naccedilatildeo Depois por meio da assessoria do Instituto de

Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento de Poliacuteticas Linguiacutesticas (IPOL) no Brasil e

do Ministerio de Cultura Educacioacuten Ciencia y Tecnologiacutea de la Provincia de

Misiones (MCECyT) na Argentina passaram a adotar a pedagogia de projetos

(ALBUQUERQUE SOUSA 2014) O tema eacute escolhido pelos alunos e planejado

pelas professoras dos dois paiacuteses

Com a finalidade de conhecer o histoacuterico do PEIF a partir da experiecircncia

daqueles que estatildeo envolvidos diretamente no programa foram realizadas

entrevistas com duas professoras brasileiras ligadas ao programa e que ministram

aulas na argentina As entrevistadas tiveram seus nomes preservados A fim de

118

identificaacute-las adotamos os seguintes nomes fictiacutecios Tacircnia que participou do

projeto por cinco anos e Clara que entrou no programa em 2015

A professora Tacircnia que permaneceu no projeto por cinco anos na ocasiatildeo de

sua entrada relata que o programa na Argentina passava por um processo de

transiccedilatildeo Em 2009 eles inauguraram a Escuela Intercultural Biliacutengue 2 para atender

o PEIF Hoje o cruce (termo utilizado pelas professoras que realizam a travessia

para lecionar no paiacutes vizinho) eacute realizado duas vezes na semana sendo que o

nuacutemero de turmas para as duas escolas envolvidas satildeo as mesmas

Ateacute 2013 o nuacutemero de turmas atendidas por escola eram oito distribuiacutedas

entre quatro professoras com carga- horaacuteria correspondente a 2 horas As seacuteries

atendidas eram do 1ordm ao 4ordm ano No Brasil as professoras argentinas fazem o cruce

duas vezes na semana enquanto as brasileiras todas as quartas-feiras pela manhatilde

A partir de 2014 o nuacutemero de professoras brasileiras a participarem do projeto foi

reduzido pela metade

Assim como Sturza (2014) apontou esse processo de travessia possui um

significado aleacutem de ir ateacute uma escola estrangeira e colocar em praacutetica o programa

Trata-se de um processo de aprendizagem que vai desde as reflexotildees referentes

aos diferentes aspectos educacionais presentes nos dois paiacuteses ateacute os significados

que o programa exerce nos aspectos pessoais

Se eu tiver oportunidade eu volto porque eu gosto do projeto E o projeto eacute uma das minhas paixotildees eu gostei Eacute uma coisa super interessante eacute diferente acho que eacute um crescimento na profissatildeo da gente (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

As comparaccedilotildees em relaccedilatildeo agraves diferentes infraestruturas das escolas dos

dois paiacuteses satildeo inevitaacuteveis Tacircnia aponta que apesar da estrutura fiacutesica da escola

argentina ser muito boa os recursos didaacuteticos satildeo precaacuterios percebendo entatildeo os

contrastes que haacute nas poliacuteticas educacionais

A estrutura da escola laacute eacute muito boa eacute maravilhosa mas assim eacute tudo muito burocraacutetico no sentido de organizaccedilatildeo da escola Laacute eacute totalmente diferente aqui a gente tem fartura de material opccedilatildeo de coisa de tudo laacute bdquofarta‟ As salas satildeo uma penumbra com pouca iluminaccedilatildeo e tudo porque o governo natildeo daacute apoio nenhum como aqui tambeacutem (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

119

Outro ponto de comparaccedilatildeo satildeo os salaacuterios A professora Tacircnia aponta que o salaacuterio

da professoras argentinas eacute o dobro enquanto no Brasil o incentivo aos professores

eacute uma especulaccedilatildeo

Uma remuneraccedilatildeo diferente () ah isso aiacute jaacute foi questionado vaacuterias vezes que noacutes teriacuteamos um diferencial no salaacuterio a escola como um todo teria Se tivesse algum incentivo eu duvido que haveria resistecircncia em estar participando (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Quando a professora diz que ldquoeu duvido que haveria resistecircncia em estar

participandordquo ela se refere agrave resistecircncia de alguns professores em aderir ao PEIF

Quando questionada sobre o processo de escolha dos professores para o projeto

ela descreve que o correto eacute a rotatividade A cada um ou dois anos uma professora

ou professor deve assumir o projeto mas na praacutetica a direccedilatildeo eacute quem escolhe

A intenccedilatildeo do projeto eacute que se faccedila rodiacutezio soacute que aqui eacute por indicaccedilatildeo mesmo ldquoEsse ano vai ser vocecirc e ponto finalrdquo Porque por um bom tempo ficaram praticamente as mesmas pessoas igual eu permaneci por muito tempo (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

No iniacutecio do PEIF natildeo havia na carga horaacuteria oficial da escola a

disponibilidade para o preparo das aulas do programa O grupo que fazia parte do

projeto deveria encontrar uma brecha para organizar suas aulas

() depois do almoccedilo eu ia conciliando assim ia preparando a aula para as minhas turmas daqui para laacute e depois no ano passado34 quando entraram as outras professoras que melhorou comeccedilou a melhorar A prefeitura reduziu para dois professores e liberou a manhatilde para o projeto daiacute a escola se organizava como fosse possiacutevel Soacute que aumentou o nuacutemero de dias laacute (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Quando perguntada sobre a receptividade do projeto por parte dos

professores Tacircnia responde que havia outros motivos para resistecircncia

Tanto laacute quanto caacute haacute resistecircncia de professores tanto para trabalhar no projeto tanto para receber o projeto na escola Algumas coisas

34

Referente ao ano de 2014 tendo em vista que as entrevistas foram realizadas julho de 2015

120

avanccedilaram algumas estacionaram e muitas tecircm que melhorar ainda Porque ateacute agora o uacutenico objetivo () eacute um projeto lindo maravilhoso muito bom soacute que natildeo eacute feito na iacutentegra Poliacuteticos criam essas coisas e jogam e natildeo datildeo apoio Criam esses projetos porque foi na eacutepoca do Mercosul que foi criado soacute que natildeo datildeo apoio E aiacute a cada mudanccedila de governo eacute aquela burocracia porque um Ministro entra o outro sai o que entra natildeo sabe de nada do que estaacute acontecendo o que saiu deixa tudo engavetado natildeo passa pro outro () eacute aquela coisa (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Evidencia-se aiacute a criacutetica da professora Tacircnia agrave falta de acompanhamento por

parte do Estado em dar continuidade aos projetos O mesmo ocorre quanto aos

repasses de verba Do ponto de vista legal somente apoacutes a criaccedilatildeo da Portaria nordm

798 de 19 de junho de 2012 quando instituiu o Programa Escolas Interculturais de

Fronteira se pode falar em repasses de verba Em 2014 o Fundo Nacional de

Desenvolvimento da Educaccedilatildeo publicou como seriam feitos os repasses a escolas

de educaccedilatildeo baacutesica do Brasil para promover atividades em periacuteodo integral Dentro

desse grupo35 encontram-se os valores destinados agraves escolas que fazem parte do

Programa Escolas Interculturais de Fronteira no entanto a distribuiccedilatildeo de recursos

segue confusa

Segundo as professoras Tacircnia e Clara houve tambeacutem alguns retrocessos no

decorrer do projeto As duas destacam o processo de formaccedilatildeo dos professores

para atuarem no PEIF Em Foz do Iguaccedilu a universidade que coordena a formaccedilatildeo

para os professores eacute a UNILA entretanto as professoras entrevistadas se

queixam da ausecircncia da instituiccedilatildeo no ano de 2015

No ano passado acho que soacute teve uma formaccedilatildeo que ela (UNILA) proporcionou Mas nem foi a Unila quem acabou dando essa formaccedilatildeo foram as nossas supervisoras aqui Eu arrumei o material com as professoras que jaacute nem estatildeo mais aqui () eu nunca mais tive essas formaccedilotildees no comeccedilo noacutes tivemos vaacuterias (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

35

O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo publicou por meio da Resoluccedilatildeo nordm 14 de

2014 os detalhes de como seratildeo feito os repasses de verba para as escolas de educaccedilatildeo baacutesica a fim de promover atividades em periacuteodo integral e aos finais de semana De acordo com a Resoluccedilatildeo os montantes repassados seguiratildeo os moldes do Programa Dinheiro Direto na Escola As escolas envolvidas satildeo aquelas que desenvolveratildeo atividades em periacuteodo integral podendo ser urbanas rurais ou no caso das escolas do PEIF a promoccedilatildeo do ensino biliacutenguumle (BRASIL 2016) Disponiacutevel em lthttpwwwbrasilgovbreducacao201406fundo-destina-verba-para-garantir-atividades-da-educacao-integralgt Acesso em 14102015

121

A professora Clara quando questionada se jaacute passou por alguma formaccedilatildeo

responde que em 2015 teve uma que partiu da iniciativa dos professores da escola

Foi para os professores novos que trabalham aqui para conhecerem o projeto pois muitos professores sabem que existe o projeto sabe mais ou menos como ele funciona sabe assim que tem professoras de laacute que vem pra caacute e professoras daqui que vai pra laacute e soacute Mas o funcionamento mesmo tinha bastante professor que natildeo conhecia Daiacute agrave escola tomou iniciativa de fazer um dia todo de formaccedilatildeo Foram levantadas as dificuldades que cada um sentia ou no que poderia mudar mas ateacute agora ningueacutem deu um parecer daquilo ficou no papel (Entrevista realizada com a professora Clara em julho de 2015)

O que chama atenccedilatildeo na fala da professora Clara eacute a iniciativa local A

comunidade escolar organizou um curso de formaccedilatildeo para os professores Nesse

sentido abre possibilidades para que ainda que as poliacuteticas tenham sido em sua

elaboraccedilatildeo sem discussatildeo com as escolas no momento em que se inicia na

praacutetica pode ser ressignificada Aleacutem disso faz-se necessaacuterio maior estreitamento

com a instituiccedilatildeo responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo do PEIF pois conforme a fala das

professoras entrevistas eacute importante a formaccedilatildeo dos professores envolvidos no

projeto

Tacircnia quando questionada se ela conhecia o processo de elaboraccedilatildeo em que

surgiu o PEIF embora goste do projeto deixa claro que a iniciativa na sua

concepccedilatildeo foi arbitraacuteria

Noacutes bdquoengolimos goela a baixo‟ Soacute que natildeo tem apoio nenhum () assim eacute uma coisa muito bonita eacute um projeto maravilhoso Na verdade para ser um projeto mesmo tinha que ter a integraccedilatildeo tanto de noacutes professores funcionaacuterios e tudo mas principalmente das crianccedilas Conhecer a realidade um do outro soacute que isso noacutes nunca conseguimos (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Uma das criacuteticas evidenciadas no decorrer desta dissertaccedilatildeo eacute que o

processo histoacuterico de elaboraccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais tem origem

distante dos interesses dos grupos interessados por elas Mesmo quando eacute fruto das

demandas sociais elas passam por um confronto de interesses cujo resultado

culmina em leis projetos programas e curriacuteculos que nascem ambiacuteguos

(FRIGOTTO 2002)

122

Santos (et al 2015) em artigo sobre a construccedilatildeo de conhecimento em

Linguiacutestica Aplicada com foco no letramento considerando os conflitos entre o

conhecimento local o campo acadecircmico e os programas governamentais

descrevem as experiecircncias vivenciadas em um processo de formaccedilatildeo de

professores em uma escola puacuteblica na Triacuteplice Fronteira (Brasil Paraguai e

Argentina) As autoras chamam atenccedilatildeo para a resistecircncia de alguns professores

que podem interpretar a interferecircncia externa natildeo como uma cooperaccedilatildeo mas como

ameaccedila pela ldquoimposiccedilatildeo de um conhecimento considerado superior e

consequumlentemente tambeacutem uma desqualificaccedilatildeo do trabalho ali construiacutedordquo

(SANTOS et al 2015p 51) No caso do PEIF a criacutetica da professora Tacircnia

encontra-se na ausecircncia da participaccedilatildeo dos professores diretamente envolvidos no

programa e da falta de integraccedilatildeo entre os alunos dos dois paiacuteses envolvidos

355 As fronteiras do projeto

Quando perguntado agraves professoras quais satildeo as possiacuteveis sugestotildees para

melhorias para o projeto elas sugerem que os alunos possam fazer parte do cruce

No entendimento delas seria importante a integraccedilatildeo entre esses alunos Poreacutem a

rigidez das aduanas com relaccedilatildeo agrave documentaccedilatildeo e agrave travessia de crianccedilas na

ausecircncia dos pais somadas a toda responsabilidade que isso acarretaria torna

difiacutecil imaginar essa possibilidade Com isso o intercacircmbio dos alunos se reduz ao

envio de viacutedeos cartas e fotografias

Tacircnia acrescenta ainda que os proacuteprios professores correm um certo risco ao

fazer a travessia Em caso de acidente natildeo haacute nada que possa comprovar que elas

estavam em horaacuterio de trabalho

A gente vai pra laacute com a cara e a coragem noacutes natildeo temos nada que nos assegure Que Deus o livre se acontece uma desgraccedila Natildeo sei como que vai ficar porque natildeo tem nada que nos assegure Noacutes natildeo temos um seguro de vida nada que nos ampare legalmente (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Quando perguntadas sobre as dificuldades referentes ao bilinguumlismo as

professoras expressam que os alunos argentinos compreendem bem o portuguecircs e

alguns falam portunhol Satildeo curiosos conhecem as novelas os jornais e muacutesicas

123

brasileiras Este fato eacute atribuiacutedo ao intenso contato com os meios de comunicaccedilatildeo

brasileiro principalmente a televisatildeo explica Tacircnia

No comeccedilo eu achei que ia ter dificuldade de entendimento eacute claro que a gente natildeo entende cem por cento mas eu natildeo vi dificuldade nenhuma porque laacute eles satildeo muito receptivos Laacute as crianccedilas participam muito mais do que aqui e assim quanto agrave liacutengua natildeo tem dificuldade nenhuma porque as crianccedilas falam o portunhol e muitos o portuguecircs perfeitamente e eles nos entendem perfeitamente Laacute eles seguem as nossas programaccedilotildees da TV falam que aprendem o portuguecircs na TV na tela Eles amam o portuguecircs eles amam a programaccedilatildeo nossa aqui a gente chega laacute pelo menos nas salas que eu entrava eles querem falar sobre a novela eles querem conversar sobre as nossas programaccedilotildees e quando eu os questiono sobre onde eles aprenderam tudo aquilo eles respondem na tela professora na tela (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Os alunos brasileiro tecircm muita dificuldade com o espanhol Tacircnia explica que

geralmente as professoras brasileiras tecircm que permanecer em sala de aula para

auxiliar as professoras argentinas Retomo os aspectos histoacutericos da cidade para

explicar que o espanhol foi uma liacutengua presente no ensino do municiacutepio mas que foi

retirada do curriacuteculo acrescentando a importacircncia de se promover novamente a

inserccedilatildeo do espanhol nos curriacuteculos baacutesicos para as escolas situadas em fronteira

ou que pelo menos as escolas que integram PEIF

Creio eu que pra nossa cidade aqui () noacutes vivemos em uma fronteira aonde convivemos com dois paiacuteses que fala espanhol entatildeo natildeo que o inglecircs natildeo seja importante mas pelo menos na rede puacuteblica ou ateacute mesmo na particular o espanhol deve fazer parte da grade ou pelo menos nas escolas que tem esse projeto (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

356 PEIF Uma alternativa na fronteira

Com base na literatura que destaca a importacircncia de se analisar as poliacuteticas

puacuteblicas foi possiacutevel verificar que o Programa Escolas Interculturais Biliacutengues

possui algumas falhas advindas de seu processo de implementaccedilatildeo Dos atores

envolvidos nesse processo os principais satildeo oriundos dos Ministeacuterios da Educaccedilatildeo

a partir de acordos bilaterais Nesse sentido a verticalizaccedilatildeo da implementaccedilatildeo

originou alguns problemas como resistecircncia em aderir ao projeto divergecircncias de

turnos e conflitos de carga horaacuteria das escolas envolvidas Esses problemas talvez

124

pudessem ser amenizados caso os professores e demais membros da equipe

pedagoacutegica das escolas fizessem parte do processo de estruturaccedilatildeo do programa e

natildeo apenas da execuccedilatildeo

A inserccedilatildeo do Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles na cidade de Foz do

Iguaccedilu enquanto uma poliacutetica linguumliacutestica e ao mesmo tempo integracionista

demonstrou alguns ranccedilos Primeiro os documentos de 2008 sobre os primeiros

impactos do programa trata do tema resistecircncia do professor ao aderir ao programa

tambeacutem constado na fala da professora entrevistada que criticou o caraacuteter arbitraacuterio

das poliacuteticas educacionais e de como elas chegam agraves escolas

Eacute importante assinalar que do processo de implementaccedilatildeo o PEIF comeccedilou

sem um marco oficial para a sua institucionalizaccedilatildeo Segundo o ldquoPrograma de

Promoccedilatildeo do Desenvolvimento da Faixa de Fronteirardquo (2010) de 2004 ateacute 2010

ainda natildeo havia as bases legais para implementaccedilatildeo do Programa Isso deu

margem para que em vaacuterias anaacutelises o Programa fosse descrito como projeto pois

natildeo havia um estatuto ou algo que delimitasse o que caracterizava essa poliacutetica

Arbitraacuteria tambeacutem eacute a ausecircncia de discussotildees mais profundas sobre a

implementaccedilatildeo de uma poliacutetica linguiacutestica em regiatildeo de fronteira Nas entrevistas

constatou-se que os alunos argentinos possuem mais proximidade com a liacutengua

portuguesa e em contrapartida os alunos brasileiros demonstraram pouca

intimidade com a liacutengua portuguesa Sturza (2006) explica que enquanto no campo

internacional o espanhol deteacutem certo status se comparado ao portuguecircs na

fronteira esse papel eacute invertido pois argentinos da regiatildeo consideram o portuguecircs

como liacutengua de mais valor

Como pano de fundo desta discussatildeo encontra-se o Estado-naccedilatildeo O Brasil eacute

uma potecircncia regional36 o que pode contribuir tanto para o imaginaacuterio dos brasileiros

quanto de argentinos da regiatildeo ao considerarem os aspectos de nossa cultura isso

inclui nossa liacutengua oficial como superior ao espanhol Outro aspecto relevante eacute a

expressiva presenccedila dos meios de comunicaccedilatildeo por meio dos sinais de raacutedio e TV

que chegam aos lares argentinos o que faz com que eles tenham um contato mais

36

Ver Moniz Bandeira (2008) Texto para o seminaacuterio sobre ldquoA poliacutetica exterior do Brasil em sua

proacutepria visatildeo e na dos parceirosrdquo No artigo o autor cita os aspectos teoacutericos e histoacutericos que permitem caracterizar o Brasil enquanto uma potecircncia regional desde o seacuteculo XIX O que inclui sua dimensatildeo territorial seu poderio econocircmico e militar Disponiacutevel emlt httpwwwespacoacademicocombr09191bandeirapdf gt Acesso em 17112015

125

intenso com a liacutengua por meio dos programas de TV como as novelas citadas pela

professora entrevistada

O programa possui outras lacunas Eacute preciso estabelecer um consenso sobre

o orccedilamento para o programa a fim de fomentar a formaccedilotildees dos professores

manter uma estrutura que possibilite o transporte dos professores com seus

materiais didaacuteticos Contudo em termos de poliacutetica educacional para fronteira eacute a

primeira destinada para regiotildees de fronteira o que significa um certo avanccedilo para a

regiatildeo Eacute importante destacar que o PEIF eacute uma poliacutetica multilateral envolve outros

paiacuteses do Mercosul o que pode ser um exemplo de cooperaccedilatildeo para a promoccedilatildeo de

outras poliacuteticas educacionais

Eacute pioneirismo do Programa por meio da poliacutetica educacional para fronteira

internacional possuir como eixo a funccedilatildeo integradora onde o Mercosul tornou-se a

instituiccedilatildeo que fomentou a ideia a fim de promover programas que ultrapassam as

relaccedilotildees meramente econocircmicas entre os paiacuteses-membros A avaliaccedilatildeo inicial do

Programa mostrou que alguns pontos devem ser repensados Dos relatoacuterios

analisados constam poucos registros por parte dos professores sobre o processo de

aprendizado da liacutengua por parte dos alunos brasileiros Seria fundamental que o

mecanismo de avaliaccedilatildeo do Programa fosse aprimorado com instrumentos capazes

de captar como se daacute o programa em sala de aula mas conforme expresso aqui no

Brasil satildeo poucos os estudos e metodologias de avaliaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

126

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A relaccedilatildeo Estado-naccedilatildeo fronteira e poliacuteticas educacionais foram agraves palavras-

chave que nortearam esta dissertaccedilatildeo A hipoacutetese inicial eacute de que as poliacuteticas

educacionais principalmente as direcionadas para todo o ensino em niacutevel nacional

natildeo contempla as especificidades presentes na fronteira de Foz do Iguaccedilu Desse

modo para o desenvolvimento da hipoacutetese de trabalho buscou-se compreender um

pouco da histoacuteria da educaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu e suas particularidades por ser

uma cidade de fronteira

No primeiro capiacutetulo buscamos apresentar os principais conceitos que

norteiam a palavra fronteira Segundo a etimologia a palavra eacute de origem latina Foi

utilizada pela primeira vez no seacuteculo XVIII para estabelecer limites entre exeacutercitos

em conflito deslizando para as definiccedilotildees de fronteira do ponto de vista geograacutefico

geopoliacutetico e socioloacutegico (BECKER 2007 ALBUQUERQUE 2010 SILVA 2010)

Um dos principais objetivos deste capiacutetulo foi de apresentar a fronteira enquanto

uma regiatildeo em que eacute possiacutevel observar os principais instrumentos do Estado para o

construto da naccedilatildeo tais como a imprensa a escola e o exeacutercito

Dentro deste estudo a instituiccedilatildeo escolar foi o centro da pesquisa Com isso

foram apresentadas resultados de pesquisas anteriores (PEREIRA 2009 SOUZA

RODRIGUES 2009 TERENCIANI 2011) que destacam a relaccedilatildeo da escola na

fronteira sob diferentes perspectivas principalmente o da inserccedilatildeo do aluno oriundo

de outro paiacutes que faz fronteira com o Brasil e os principais desafios encontrados por

ele e para a escola Os dados apresentados neste capiacutetulo apontam que quando se

trata de investimentos em poliacuteticas puacuteblicas para regiatildeo de fronteira internacional o

Brasil tem priorizado as poliacuteticas de seguranccedila conforme os trabalhos de Franccedila e

Dorfman (2014) Trata-se de informaccedilotildees que vatildeo em direccedilatildeo aos aspectos

histoacutericos da funccedilatildeo do Estado e das concepccedilotildees de soberania e territoacuterio que

foram apresentadas no iniacutecio deste capiacutetulo

O segundo capiacutetulo apresentou a gecircnese das primeiras escolas na cidade de

Foz do Iguaccedilu sempre vinculadas aos outros aspectos como os fatores econocircmicos

e sociais Demonstrou-se que a formaccedilatildeo das escolas de Foz do Iguaccedilu antes

mesmo da fundaccedilatildeo da municipalidade contou com a presenccedila de estrangeiros que

na ausecircncia de um ensino formal criavam as suas proacuteprias escolas (WACHOWICZ

127

1984 SBARDELOTTO 2009) Essas escolas foram fechadas no periacuteodo

nacionalista momento em o governo brasileiro buscava a conformaccedilatildeo de uma

identidade e integraccedilatildeo nacional para tal conforme Lemiechek (2014) a criaccedilatildeo do

Territoacuterio Federal do Iguaccedilu em 1943 possibilitou maior controle das escolas

principalmente das escolas estrangeiras

Identificou-se ainda que em meados da deacutecada de 1970 nos relatoacuterios

sobre a situaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu no campo educacional havia uma tendecircncia em

depositar no aluno a culpa do fracasso escolar Nesse caso os alunos oriundos do

Paraguai e da Argentina eram considerados os mais fracos e ldquoatrapalhavamrdquo o

desenvolvimento do restante da turma ou seja a diferenccedila interpretada como um

problema para escola a liacutengua do outro como um entrave

O capiacutetulo trecircs sobre as poliacuteticas puacuteblicas para educaccedilatildeo apresenta um

breve histoacuterico das poliacuteticas educacionais brasileiras evidenciando que elas satildeo

fruto do contexto ao qual se inserem o periacuteodo ditatorial evidenciou a ausecircncia da

populaccedilatildeo no processo criaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais que por sua vez eram

controladas pelo Estado A partir do periacuteodo de abertura democraacutetica ateacute os dias

atuais as poliacuteticas educacionais passaram por inuacutemeras mudanccedilas Muitas

nasceram a partir das discussotildees oriundas de movimentos sociais das discussotildees

acadecircmicas etc Conforme Das e Poe (2004) o ldquoEstado eacute constantemente

refundado em suas formas de ordenar e fazer leis sugerindo que as margens satildeo

ldquodecorrecircncia e implicaccedilatildeo necessaacuteria do Estado assim como a exceccedilatildeo eacute um

componente necessaacuterio da regrardquo (DAS e POE 2004 p4)

Nesta premissa ao se analisar as principais poliacuteticas educacionais brasileiras

identificou-se que a questatildeo da diversidade cultural presente nos documentos tende

a generalizaccedilatildeo e homogeneizaccedilatildeo dada agrave superficialidade dos documentos Ainda

que represente um grande avanccedilo ao tornar obrigatoacuterio o ensino da cultura afro-

brasileira histoacuteria da Aacutefrica e indiacutegena nas escolas puacuteblicas e privadas brasileiras

quando chegamos agrave fronteira identificamos diversidades para aleacutem dessas duas

poliacuteticas

Tais princiacutepios de universalizaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais satildeo o espelho

de um Estado que se formou tentando ter como princiacutepio legal o tratamento igual da

populaccedilatildeo algo que soacute acentua as desigualdades existentes na medida em que o

diferente eacute tratado como um problema a ser solucionado Com esta noccedilatildeo o Estado

128

deixa de ser reconhecido como um importante ator na reproduccedilatildeo das

desigualdades para ser considerado a uacutenica soluccedilatildeo para os problemas sociais

Algumas pesquisas realizadas em escolas presentes em regiotildees de fronteira

constataram a erronia praacutetica de culpabilizar os alunos e professores pelo sucesso

ou fracasso escolar satildeo os professores que natildeo tem formaccedilatildeo satildeo os brasiguaios

argentinos e paraguaios com sua bdquohibridizaccedilatildeo linguiacutestica‟ satildeo os aacuterabes (colocados

em uma uacutenica caixa como se todos viessem do mesmo paiacutes) satildeo os alunos

indiacutegenas que chegam nas escola falando bdquoapenas‟ o guarani As pessoas tornam-se

problema

No caso de Foz do Iguaccedilu o perfil dos alunos que frequumlenta as instituiccedilotildees

escolares demonstra que os conceitos de cidadania natildeo satildeo riacutegidos se (des)fazem

na fronteira Os alunos que chegam aos espaccedilos escolares fronteiriccedilos natildeo

necessariamente assimilaratildeo a liacutengua portuguesa como uacutenica e oficial Ao mesmo

tempo estes alunos trazem consigo conhecimentos adquiridos de seu paiacutes de

origem mas o processo de equivalecircncia de estudos acaba por negar esses

conhecimentos que para serem validados devem ser bdquotraduzidos‟ para o portuguecircs

Para aleacutem do problema linguiacutestico temos a questatildeo da integraccedilatildeo desse

aluno no ambiente escolar que eacute ao mesmo tempo permeada por tensotildees mas

tambeacutem pela aproximaccedilatildeo com o outro Essas relaccedilotildees merecem atenccedilatildeo da escola

a fim de evitar manifestaccedilotildees xenofoacutebicas preconceituosas estigmatizadas e de

inferiorizaratildeo

A primeira hipoacutetese do trabalho me levou a pensar apenas na relaccedilatildeo Estado

Nacional e poliacuteticas educacionais para regiatildeo de fronteira Poreacutem os vazios

encontrados ao se analisar essas poliacuteticas e o modo como o Estado se faz presente

e ao mesmo distante da fronteira levou-me a refletir sobre a emergecircncia de outras

pedagogias

Para outros sujeitos outras pedagogias (ARROYO 2015) Paulo Freire em

sua obra a Pedagogia do Oprimido fala aos educadores que eacute preciso ter ldquoum

profundo respeito pela identidade cultural dos alunos e das alunas () implica

respeito pela linguagem do outro pela cor do outro o gecircnero do outro outrordquo

(FREIRE 2001 p60)

Conhecer de perto uma poliacutetica educacional para a fronteira do ponto de vista

institucional e das poliacuteticas de governo possibilitou-me a constatar contradiccedilotildees e

complexidades de uma poliacutetica que envolve natildeo apenas o campo das relaccedilotildees

129

internacionais mas o diaacutelogo na construccedilatildeo de um curriacuteculo as implicaccedilotildees legais

para o tracircnsito de pessoas na fronteira os questionamentos sobre as reais intenccedilotildees

do programa PEIF e de como esse programa foi concebido Pode-se considerar que

o PEIF foi a uacutenica poliacutetica puacuteblica analisada a partir dos dois eixos propostos no

iniacutecio do capiacutetulo terceiro Mainardes (2006) Assim traccedilamos os aspectos que

envolveu o papel do Estado na elaboraccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica e buscamos por meio

da anaacutelise dos documentos e entrevistas demonstrar os principais aspectos

impactos que a poliacutetica exerceu na escola envolvida considerando principalmente

as experiecircncia dos atores envolvidos neste caso das professoras entrevistadas

Dos caminhos possiacuteveis para uma poliacutetica educacional na fronteira a

perspectiva intercultural ldquoreconhece e assume a multiplicidade de praacuteticas culturais

que se encontram e se confrontam na interaccedilatildeo entre diferentes sujeitosrdquo (FLEURI

2003 p12)

Por fim ao considerar a fronteira uma regiatildeo que engloba as cidades de Foz

do Iguaccedilu Puerto Iguazuacute e Ciudad del Este a proposiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em

conjunto com os paiacuteses envolvidos satildeo importantes para atender as demandas

locais

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Page 4: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CENTRO …tede.unioeste.br/bitstream/tede/3593/5/Aline_Cristina_Paiva_2016.pdfSociedade, Cultura e Fronteiras e aprovada em sua forma final

ALINE CRISTINA PAIVA

POLIacuteTICAS EDUCACIONAIS PARA DIVERSIDADE E ESCOLAS NAS FRONTEIRAS O CASO DE FOZ DO IGUACcedilU COM A ARGENTINA E O

PARAGUAI

Esta dissertaccedilatildeo foi julgada adequada para a obtenccedilatildeo do Tiacutetulo de Mestre em

Sociedade Cultura e Fronteiras e aprovada em sua forma final pelo Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo Stricto Sensu em Sociedade Cultura e Fronteiras ndash Niacutevel de

Mestrado aacuterea de Concentraccedilatildeo em Linguagem Cultura e Identidade da

Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute ndash UNIOESTE

COMISSAtildeO EXAMINADORA

______________________________________________________

Profa Dra Neiva Maria Jung

Universidade Estadual de Maringaacute (UEM)

Membro Efetivo convidado

_______________________________________________________

ProfDr Fernando Joseacute Martins

Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute (UNIOESTE)

Membro Efetivo da Instituiccedilatildeo

______________________________________________________

ProfaDra Regina Coeli Machado e Silva

Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute (UNIOESTE)

Orientadora

Foz do Iguaccedilu 15 de marccedilo de 2016

Dedico este trabalho

Aos meus pais Joatildeo e Maria

Aos meus irmatildeos William e Joatildeo Victor

Ao meu namorado Eduardo

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agrave Professora Dra Regina Coeli Machado pela compreensatildeo pelas

saacutebias orientaccedilotildees que natildeo se limitaram agraves paacuteginas desta dissertaccedilatildeo

Ao professor Dr Fernando Joseacute Martins e agrave professora Dra Neiva Maria Jung pela

participaccedilatildeo na banca de defesa

Aos meus pais Maria Aparecida e Joatildeo Bosco e irmatildeos Joatildeo Victor e William que me

deram o suporte necessaacuterio para essa jornada foi pensando neles que nos

momentos mais difiacuteceis tive forccedila para prosseguir

A todos os meus amigos que me apoiaram com as leituras de meus rascunhos

correccedilotildees e pelo incentivo que de modo direto ou indireto contribuiacuteram para a

conclusatildeo deste trabalho

Ao Eduardo Eliana e Baacuterbara que me deram o suporte emocional apoio e carinho

em toda essa trajetoacuteria

A primeira condiccedilatildeo para modificar a realidade consiste

em conhececirc-la

Eduardo Galeano (1985)

PAIVA Aline Cristina Poliacuteticas Educacionais para a diversidade e escolas nas fronteiras O caso de Foz do Iguaccedilu na fronteira com a Argentina e o Paraguai 2016 149 paacuteginas Dissertaccedilatildeo (Mestrado Interdisciplinar em Sociedade Cultura e Fronteiras)- Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute- UNIOESTE Foz do Iguaccedilu

RESUMO

O objetivo desta dissertaccedilatildeo eacute investigar as relaccedilotildees entre poliacuteticas educacionais e a diversidade cultural presente na fronteira de Foz do Iguaccedilu localizada no estado do Paranaacute A cidade brasileira juntamente com Ciudad del Este no Paraguai e Puerto Iguazuacute na Argentina formam a triacuteplice fronteira que dentre outras caracteriacutesticas eacute conhecida pelo turismo e pelas intensas relaccedilotildees comerciais O processo de formaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu foi marcado pela influecircncia dos paiacuteses da fronteira e pela presenccedila de outras nacionalidades e etnias Trata-se portanto de uma cidade natildeo apenas diversa pela presenccedila dos paraguaios e argentinos mas que tambeacutem eacute compartilhada por libaneses chineses coreanos chilenos bolivianos italianos dentre outros A escola e as poliacuteticas educacionais para esse contexto eacute o centro desta pesquisa na medida em que a instituiccedilatildeo escolar eacute um importante espaccedilo de socializaccedilatildeo A histoacuteria da educaccedilatildeo em Foz do Iguaccedilu e a histoacuteria das poliacuteticas educacionais no Brasil revelam como a escola eacute uma instituiccedilatildeo importante na formaccedilatildeo da identidade nacional e como estas afetam a relaccedilatildeo com o bdquooutro‟ Nesse sentido foram analisados documentos de poliacuteticas educacionais para a diversidade implementadas apoacutes a Constituiccedilatildeo de 1988 sendo elas a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional de 1996 os Paracircmetros Curriculares Nacionais para a pluralidade cultural de 1997 o Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute de 2015 e o curriacuteculo baacutesico para a escola puacuteblica municipal do oeste do Paranaacute feita pela Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oeste do Paranaacute (AMOP) em 2007 Por uacuteltimo buscou-se analisar o Programa Escola Intercultural Biliacutengue iniciativa do Mercosul que tem como objetivo integrar as regiotildees fronteiriccedilas por meio da educaccedilatildeo Com base nas analises das poliacuteticas educacionais para a diversidade principalmente a partir de 1988 verificou-se uma tendecircncia universalista dessas poliacuteticas para a diversidade que difere da diversidade particular vivida em Foz do Iguaccedilu PALAVRAS-CHAVE poliacuteticas educacionais escola estado fronteira

PAIVA Aline Cristina Educational policies for diversity and schools in the boundaries the case of Foz do Iguaccedilu on the border with Argentina and Paraguay 2016 149 pages Dissertation (Masters in Interdisciplinary Society Culture and Borders) - State University of Western Paranaacute-UNIOESTE Foz do Iguaccedilu

ABSTRACT

The objective of this study is from the relationship school and state investigate educational policies and consider whether they make it possible to work with diversity on the border of Foz do Iguaccedilu in the state of Paranaacute The Brazilian city along with Ciudad del Este in Paraguay and Puerto Iguazu in Argentina form the triple border which among other characteristics is known for tourism and the intense trade relations The process of formation of Foz do Iguaccedilu was marked by the influence of the border countries and the presence of other nationalities and ethnicities It is therefore a city not only different by the presence of Paraguayan and Argentinean neighbors but that is also shared by Lebanese Chinese Korean Chilean Bolivian Italian among others The school and educational policies in this context become the center of this research since the school is a major means of training and socialization of individuals and may contribute to the integration process the intercultural bias or other hand being a border to disregard the existence of ethnic and cultural diversity that makes up the school environment The reasons for the discussions in this work pass necessarily by the nation-state relationship with schoolThe history of education in Foz do Iguaccedilu and the history of educational policies in Brazil reveal how the school is an important institution in the national identity formation and how they impact relations in border schools To analyze the educational policies for diversity policies were analyzed educational documents from the Constitution of 1988 it derived the Law of Guidelines and Bases of National Education in 1996 and the National Curriculum Guidelines for cultural plurality in 1997 These two policies along with the State Plan for 2015 Paranaacute Education and basic curriculum for public school in western Paranaacute made by the Association of western Paranaacute Cities (AMOP) in 2007 to discuss public policies in the border region implies think of the region as a whole An example of an educational policy for border is the Intercultural Bilingual School Program the Mercosur initiative which passed through discussions with other countries in the border region In the city of Foz do the program takes place at the Municipal School Adele Zanotto Scalco and aims to contribute to the integral formation of children adolescents and young people through the articulation of actions aimed at regional integration through intercultural education by offering the bilingual educationIn order to get to know an educational policy there were two interviews with Brazilian teachers one former member of the program and the other which entered the year 2015 with the interviews it was possible to collect the first impressions of the program in Foz do Iguaccedilu its challenges and its importance as an educational policy in the field of linguistics integrationist content to influence future public policy KEYWORDS educational policies school state border

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Figura 01 - A Triacuteplice Fronteira- Argentina Brasil e Paraguai26

Figura 02- Favela Paraisoacutepolis em contraste com o bairro de classe alta Morumbi

em Satildeo Paulo capital27

Figura 03-Faixa de Fronteira do Brasil com os paiacuteses da regiatildeo28

Figura 04- Mapa da regiatildeo da Triacuteplice Fronteira- Argentina Brasil e Paraguai52 Figura 05-- Grupo Escolar Bartolomeu Mitre60

Figura 06- Escola Jorge Schimmelpfeng com crianccedilas carentes sob os cuidados do Capitatildeo Cyriacuteaco e de Joseacute Vicente Ferreira (os dois adultos agrave direta da foto rara)64

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AGB- Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros

ANPUH- Associaccedilatildeo Nacional de Histoacuteria

AMOP ndash Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oeste do Paranaacute

CEEPR- Conselho Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute

CF- Constituiccedilatildeo Federal

COEF- Coordenaccedilatildeo Geral de Ensino Fundamental

CONAE- Conferecircncia Nacional de Educaccedilatildeo

CMC- Conselho do Mercado Comum

CRUTACS- Centros Rurais Universitaacuterios de Treinamento e Accedilatildeo Comunitaacuteria

DCE ndash Diretrizes Curriculares da Educaccedilatildeo Baacutesica do Estado do Paranaacute

DICEI- Diretoria de Curriacuteculos e Educaccedilatildeo Integral

EBN- Empresa Brasileira de Notiacutecias

GEREI- Gerecircncia Regional de Educaccedilatildeo e Inovaccedilatildeo

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IPOL- Instituto de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento em Poliacutetica Linguiacutestica

ISEB- Instituto Superior de Estudos Brasileiros

PNC ndash Paracircmetros Curriculares Nacionais

IMS- Instituto Mercosul Social

LDB- Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional

MEC- Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

MEC Y T- Ministeacuterio de la Educaciacuteon Ciencia y Tecnologia

MERCOSUL- Mercado Comum do Sul

MOBRAL- Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo

MST- Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

NRE- Nuacutecleo Regional de Educaccedilatildeo

OMS- Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede

PPA- Plano Pluri Anual

PEIF- Programa Escolas Interculturais Biliacutengues

PEIBF- Programa Escolas Interculturais Biliacutengues de Fronteira

PCN- Paracircmetros Curriculares Nacionais

PDI- Plano de Desenvolvimento Integrado

PEEPR- Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute

PF- Poliacutecia Federal

PME- Plano Municipal de Educaccedilatildeo

PNE- Plano Nacional de Educaccedilatildeo

PNLD- Plano Nacional do Livro Didaacutetico

PP- Poliacutetica Puacuteblica

MERCOSUL- Mercado Comum do Sul

RME- Reuniatildeo de Ministros da Educaccedilatildeo

SEB- Secretaria da Educaccedilatildeo Baacutesica

SECAD- Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade

SEEDPR- Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

SENAC- Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Comercial

SEM- Setor Educacional do Mercosul

SISFRON- Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras

SIS-MERCOSUL- Sistema Integrado de Sauacutede do Mercosul

SUED- Superintendecircncia da Educaccedilatildeo

SUS- Sistema Uacutenico de Sauacutede

TEC- Tarifa Externa Comum

UFF- Universidade da Fronteira Sul

UNESCO- Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura

UNILA- Universidade Federal da Integraccedilatildeo Latino-Americana

UNIOESTE- Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 15

I Caminhos da pesquisa o percurso metodoloacutegico 20 II Estrutura da dissertaccedilatildeo 21

CAPIacuteTULO 1 Eacute PRECISO FALAR DA ESCOLA NA FRONTEIRA 25 11 Fronteira- Primeiras aproximaccedilotildees 25 12 Fronteira e a educaccedilatildeo como construto da naccedilatildeo 29 13 Reatualizaccedilatildeo de naccedilatildeo por deslizamentos em seus limites fronteiriccedilos 32 14 A porosidade do Estado sob a forma de poliacuteticas puacuteblicas 36 15 O contexto escolar vivido entre fronteiras a escola como reguladora do Estado 41

CAPIacuteTULO II A HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO EM FOZ DO IGUACcedilU CONSTRUTOS 50

21 Contexto histoacuterico 51 21Colocircnia Militar de Foz do Iguaccedilu e as primeiras escolas da regiatildeo 53 22 O projeto nacionalista do Estado Novo e a lsquonacionalizaccedilatildeo da fronteirarsquo61 23 Da construccedilatildeo de Itaipu agrave lsquoondarsquo de migraccedilatildeo e imigraccedilatildeo seus impactos na educaccedilatildeo 64 24 A Educaccedilatildeo a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 O direito agrave diversidade nas escolas 69

CAPIacuteTULO III POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS PARA A EDUCACcedilAtildeO NA FRONTEIRA ENTRE ARGENTINA BRASIL E PARAGUA 71

31 Poliacuteticas Puacuteblicas conceitos e abordagens 71 32 Caminhos das poliacuteticas educacionais no Brasil 74 33 Poliacuteticas educacionais a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 83 34 Escola e diversidade O que temos em termos de poliacuteticas educacionais 84

341 A LDB96 - A primeira lei originaacuteria da iniciativa civil e do legislativo 86 342 Os Paracircmetros Curriculares Nacionais 91 343 O Tema Transversal Pluralidade Cultural 94 344 O Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute 98 345 O Curriacuteculo da AMOP 100 346 Algumas consideraccedilotildees 103

35 O Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles um exemplo de poliacutetica educacional para a fronteira 104

351 Do processo de elaboraccedilatildeo 107 352 Do processo para implementaccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica 108 353 Avaliaccedilatildeo da Poliacutetica Puacuteblica- Primeiros impactos do PEIBF 110 354 O PEIF em Foz do Iguaccedilu 116 355 As fronteiras do projeto 122 356 PEIF Uma alternativa na fronteira 123

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 126

5 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 130

15

INTRODUCcedilAtildeO

Esta dissertaccedilatildeo apresenta um estudo sobre as poliacuteticas educacionais e

diversidade em regiatildeo de fronteira internacional Os estudos fronteiriccedilos perpassam

por diversas aacutereas do conhecimento como a Geografia Sociologia Antropologia

Ciecircncia Poliacutetica que tem apresentado inuacutemeras pesquisas a partir das mais

variadas formas de conceituar e abordar a temaacutetica (FRANCcedilA DORFMAN 2013)

No que se refere aos estudos sobre a regiatildeo de fronteira na aacuterea da educaccedilatildeo a

produccedilatildeo ainda eacute tiacutemida no Brasil (FEDATTO 1995 CITRINOVITZ 1996

ROSSATO 2003)

Para Pereira (2009) isso se reflete no processo de desenvolvimento das

poliacuteticas puacuteblicas que ateacute recentemente estavam sendo tratadas de forma

homogecircnea e unilateral ou seja sem levar em consideraccedilatildeo as particularidades de

cada regiatildeo fronteiriccedila No que tange agrave poliacutetica educacional brasileira esta deve ser

pensada em contexto amplo onde fatores como a Constituiccedilatildeo Federal a poliacutetica

nacional de direitos humanos e os acordos e tratados internacionais devem ser

considerados assim como os fatores sociais e culturais da sociedade brasileira

(SILVA MOURA MELLO 2013) Segundo Azevedo e Aguiar (2001) os estudos

sobre as poliacuteticas educacionais para regiatildeo de fronteira no Brasil satildeo recentes mas

encontra-se em processo de construccedilatildeo e crescimento

Por outro lado grupos como a Rede RETIS do Departamento de Geografia da

Universidade Federal do Rio de Janeiro atuam desde 1994 com pesquisa de limites

e fronteiras internacionais Com uma ampla rede de associados o grupo conta com

um acervo digital1 com diversas notiacutecias artigos teses e dissertaccedilotildees sobre

fronteiras internacionais incluindo trabalhos sobre educaccedilatildeo e fronteira

internacional Existe tambeacutem o acervo digital2 do Instituto de Investigaccedilatildeo e

Desenvolvimento em Poliacutetica Linguumliacutestica fundado em 1999 com sede em

Florianoacutepolis Santa Catarina Brasil que desenvolve projetos de apoio teacutecnico agraves

comunidades agraves comunidades de falantes de liacutenguas e variedads linguiacutesticas

1Site oficial do Retis lt httpwwwretisigeoufrjbr gt Acesso em 23062015

2Site Oficial do Ipol lthttpe-ipolorgpublicacoesgt Acesso em 23062015

16

minoritaacuterias do Brasil e do Mercosul objetivando a manutenccedilatildeo e divulgaccedilatildeo da

diversidade linguumliacutestica braseleira O instituto aleacutem de publicaccedilotildees proacuteprias divulga

inuacutemeros trabalhos que tratam do tema das poliacuteticas lingustiacutecas sendo um important

mecanismo de busca para pesquisa relacionadas agrave educaccedilatildeo e fronteira

internacional divulgando trabalhos como o de Sagaz (2013) e Pereira (2014) que

apresentam em suas dissertaccedilotildees o tema das escolas interculturais biliacutenguumles de

fronteira

As universidades localizadas nas regiotildees de fronteira internacional tem se

constituiacutedo enquanto importantes centros de investigaccedilatildeo sobre educaccedilatildeo e

fronteira a citar a Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute (UNIOESTE) que

possui o programa de poacutes-graduaccedilatildeo strictu sensu em Sociedade Cultura e

Fronteira que conforme as especificaccedilotildees em sua paacutegina oficial3 tem entre outros

objetivos ldquoqualificar profissionais que desenvolvam durante o processo de formaccedilatildeo

capacidades para coordenar estudos e pesquisas transfronteiriccedilos na perspectiva

de ultrapassar as fronteiras geopoliacuteticardquo Nos uacuteltimos anos tambeacutem foram criadas

outras universidades em regiotildees de fronteiriccedilas como a Universidade Federal da

Fronteira Sul (UFF) criada em 2009 localizada na Mesorregiatildeo Grande Fronteira

Mercosul e a Universidade Federal da Integraccedilatildeo Latino-Americana (UNILA) criada

em 2010 na cidade de Foz do Iguaccedilu no Paranaacute Dentre outros objetivos estas

instituiccedilotildees buscam o desenvolvimento de pesquisa em regiotildees fronteiriccedilas

contribuindo assim para o crescimento de estudos no campo das poliacuteticas

educacionais em regiatildeo de fronteira internacional

O interesse em tratar do tema da fronteira e poliacuteticas educacionais comeccedilou

em 2011 momento em que saiacute de uma pequena cidade do interior de Minas Gerais

para chegar agrave cidade de fronteira Foz do Iguaccedilu no Oeste paranaense com o

objetivo de cursar uma segunda graduaccedilatildeo pois sou licenciada em Pedagogia pela

Universidade Federal de Viccedilosa em Minas gerais e agora bacharel em Ciecircncia

Poliacutetica e Sociologia pela Universidade Federal da Integraccedilatildeo Latino-Americana As

duas graduaccedilotildees foram fundamentais para despertar o interesse pela pesquisa e

pelo mestrado interdisciplinar em Sociedade Cultura e Fronteiras o que resultou

nesta dissertaccedilatildeo

3Paacutegina virtual do Mestrado em Sociedade Cultura e Fronteiras da Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute lt

httpwwwunioestebrpossociedadeeculturagt Acesso em 13082014

17

Quando fiz a graduaccedilatildeo em Pedagogia meu interesse em poliacuteticas

educacionais para a diversidade nasceu em disciplinas de Sociologia da Educaccedilatildeo e

principalmente na disciplina que discutia as relaccedilotildees eacutetnicos e raciais nas escolas e

a formaccedilatildeo do professor A partir das reflexotildees sobre a funccedilatildeo da escola e do

professor em lidar com a diversidade eacutetica e racial em sala de aula meu problema

de pesquisa para a elaboraccedilatildeo do trabalho de conclusatildeo de curso foi de trabalhar a

formaccedilatildeo dos professores para desenvolver o trabalho com a Lei 1063903 que

tornou obrigatoacuterio o ensino da histoacuteria e da cultura afro-brasileira e africana em todas

as escolas puacuteblicas e particulares Ao teacutermino do curso senti a necessidade de

realizar outra graduaccedilatildeo a fim de me aprofundar melhor no campo da sociologia e

da educaccedilatildeo Conheci o curso da Unila e ingressei no curso de Ciecircncia Poliacutetica e

Sociologia no ano de 2011 O interesse por estudar na referida instituiccedilatildeo era

despertado pela curiosidade em viver em uma cidade de fronteira e pela proposta de

integraccedilatildeo latino-americana que a universidade propotildee

Finalizei a graduaccedilatildeo em Ciecircncia Poliacutetica e Sociologia e meu objeto de

pesquisa foi as poliacuteticas educacionais no contexto do neoliberalismo a partir dos

anos de 1990 em comparaccedilatildeo com as poliacuteticas educacionais propostas pelos

movimentos sociais Seguindo a proposta de integraccedilatildeo da Unila optei por um

estudo comparado com as propostas oriundas do Movimento dos Trabalhadores

Rurais Sem Terra (MST) no Brasil e dos Movimentos Indiacutegenas na Boliacutevia

Entretanto minhas indagaccedilotildees sobre a vivecircncia de escolas na fronteira natildeo

puderam ser respondidas Durante estes anos em Foz do Iguaccedilu meu olhar sobre

as relaccedilotildees em meio agrave diversidade de etnias e nacionalidades mudou

significativamente e segue em transformaccedilatildeo

Meus primeiros contatos com a populaccedilatildeo e com os meios de comunicaccedilatildeo

local e as imagens que eles tinham sobre o lugar em que moravam logo contrastou

com meu imaginaacuterio sobre o que eacute uma fronteira A violecircncia diaacuteria presente nos

jornais televisivos e impressos fadava a fronteira como o inevitaacutevel caminho para

entrada do traacutefico de drogas e armas A ponte da Amizade que liga a cidade de Foz

do Iguaccedilu agrave Ciudad del Este como o limbo entre o legal e o ilegal A passagem dos

trabalhadores caracterizados como informais era uma constante nos jornais A frase

ldquotinha que ser paraguaiordquo chegou aos meus ouvidos algumas vezes como tambeacutem

as noccedilotildees de que a Ciudad del Este era suja e desorganizada e o paiacutes de um modo

geral atrasado e pobre Tambeacutem eram perceptiacutevel as imagens referentes aos

18

aacuterabes caracterizados como ricos e isolados do restante da populaccedilatildeo aleacutem da

falta de distinccedilatildeo da comunidade aacuterabe pelo paiacutes de origem ou pela divisatildeo religiosa

que haacute entre xiitas e sunitas dentro do islamismo Exemplos como esses me

provocaram Ingenuamente pensava apenas no lado positivo dessa integraccedilatildeo entre

diferentes nacionalidades e etnias mas a vivecircncia na cidade permitiu-me ampliar

essas referecircncias do que era fronteira para outras bdquofronteiras‟ e mais ainda

deslocou minha atenccedilatildeo para as escolas brasileiras que recebem diferentes perfis

de imigrantes o que torna a regiatildeo fronteiriccedila tatildeo peculiar

Meus primeiros questionamentos eram de como a escola recebia esses

alunos estrangeiros como era organizada a documentaccedilatildeo escolar como era

realizado o diagnoacutestico de alunos que haviam comeccedilado seus estudos em seu paiacutes

de origem e como eram as relaccedilotildees professor - aluno aluno-aluno e escola-aluno

Essas primeiras inquietaccedilotildees me levaram a outras como a questatildeo do curriacuteculo

escolar em cidades de fronteira uma vez que haacute uma tendecircncia nos curriacuteculos

oficiais agrave homogeneizaccedilatildeo como ao monolinguismo Outro ponto eacute sobre como a

escola lida natildeo apenas com a questatildeo do idioma mas tambeacutem como ela se

posiciona diante dos conflitos como estigmas negativos relacionados agrave origem dos

alunos que podem se revelar muitas vezes como praacuteticas xenofoacutebicas Na tentativa

de inferiorizar o outro eacute comum escutar brasileiros que tratam os paraguaios como

ldquoxiruacute4rdquo e preguiccediloso natildeo aprende porque ldquoa escola laacute eacute fracardquo Esses comentaacuterios

foram constantes em sala de aula durante o periacuteodo em que lecionei sociologia para

jovens e adultos em um cursinho popular entre os anos de 2011 e 2013 em Foz do

Iguaccedilu Nas ocasiotildees em que se abordava o tema da fronteira a imagem que se

tinha do paraguaio era carregada de valores negativos

Tantas inquietaccedilotildees impossiacuteveis de serem abarcadas em uma mesma

pesquisa pois estudar uma realidade fronteiriccedila exige bdquoolhares demorados‟ para o

objeto em estudo tiveram que ser delimitadas na seguinte proposta pensar as

poliacuteticas educacionais para a diversidade nas escolas de fronteira internacional

nesse caso nas escolas de Foz do Iguaccedilu cidade que faz divisa com a cidade

Argentina de Puerto Iguazuacute e Ciudad del Este no Paraguai

4O termo xiru eacute de origem guarani Che ldquoeu meurdquo e iru ldquocompanheiro amigordquo que traduzindo para o

portuguecircs significa ldquomeu amigordquo ldquomeu companheirordquo mas para os brasileiros tomou a conotaccedilatildeo de falsificado (TRISTONE 2011)

19

Ao delinear parte do percurso insiro parte de meus valores e visatildeo de mundo

que concordando com Ludke e Andreacute (1986) iratildeo influenciar a maneira como a

pesquisa eacute proposta ldquoem outras palavras os pressupostos que orientam seu

pensamento vatildeo tambeacutem nortear sua abordagem de pesquisardquo (LUDKE ANDREacute

1986 p03)

A justificativa da delimitaccedilatildeo empiacuterica passa pela relaccedilatildeo fronteira entre o

Estado nacional e a escola O espaccedilo escolar eacute visto como um espaccedilo de tensotildees e

contradiccedilotildees em que se manifestam as mais distintas formas de relaccedilotildees sociais

onde o preconceito o racismo a xenofobia e a exclusatildeo ocorrem ao mesmo tempo

em que se ldquocombate essas formas de violecircnciardquo A escola nesta dissertaccedilatildeo natildeo eacute

uma entidade a parte uma maacutequina do Estado Eacute tambeacutem instrumento do Estado

ao mesmo tempo que perpassa pela vida de diferentes sujeitos como os

professores alunos diretores pesquisadores que podem criar condiccedilotildees de

resistecircncia a fim de construiacuterem outros curriacuteculos a margem do Estado e adaptaacute-los

agrave realidade local e natildeo universal

Nesse sentido estudar as poliacuteticas puacuteblicas educacionais a partir da

diversidade nas escolas de fronteira parte da hipoacutetese de que o Estado ao mesmo

tempo em que se faz presente na fronteira a deixa agraves margens quando natildeo

consegue a partir das poliacuteticas educacionais nacionais direcionadas ou natildeo para a

diversidade lidar com as diferenccedilas proacuteprias de uma realidade fronteiriccedila

O objetivo desta dissertaccedilatildeo eacute investigar as poliacuteticas educacionais e as

relaccedilotildees com a diversidade na fronteira A diversidade qual nos referimos reside na

presenccedila de muacuteltiplas nacionalidades e etnias presentes nas escolas e o que essa

presenccedila e suas manifestaccedilotildees a partir das relaccedilotildees entre os diferentes sujeitos

acarretam para a escola Embora os questionamentos desta pesquisa envolva as

escolas o objeto principal da pesquisa satildeo os documentos e as poliacuteticas

educacionais para a diversidade para as escolas situadas em regiatildeo de fronteira

internacional

A fim de desenvolver a hipoacutetese de trabalho o primeiro capiacutetulo aborda o

tema da fronteira Eacute preciso compreender a polissemia e as diferentes abordagens

no acircmbito da pesquisa Albuquerque (2009) apresenta os novos enfoques

socioloacutegicos historiograacuteficos e antropoloacutegicos que tem dado acesso a pesquisas no

campo das praacuteticas culturais e sociais para aleacutem da visatildeo tradicional de fronteira

poliacutetico-juriacutedica Na concepccedilatildeo de Joseacute de Souza Martins (1997) a fronteira se faz

20

de muitas e diferentes coisas fronteiras espaciais fronteira do pensamento fronteira

da civilizaccedilatildeo etc Conforme essa citaccedilatildeo a concepccedilatildeo de fronteira ultrapassa a

visatildeo tradicional pois para o referido autor fronteira pressupotildee diferentes

significados sejam eles poliacuteticos econocircmicos sociais ou culturais

A partir do enfoque da fronteira enquanto limite juriacutedico e de espaccedilo de

relaccedilotildees sociais busca-se relacionaacute-los partindo do pressuposto de que o

nascimento da fronteira enquanto limite juriacutedico estabelecido para demarcar os

territoacuterios entre os Estado nacionais desencadeou em outros processos no campo

social que devem ser analisados a fim de desmistificar a cristalizaccedilatildeo das fronteiras

como um espaccedilo naturalizado

I Caminhos da pesquisa o percurso metodoloacutegico

Metodologicamente fizemos levantamentos de dados em fontes histoacutericas e

documentais para ldquoinvestigar os acontecimentos processos e instituiccedilotildees do

passadordquo (LAKATOS MARKONI 2003 p106) Compreende-se que para entender

as atuais formas de organizaccedilatildeo social na fronteira eacute fundamental refazer a histoacuteria

dessas instituiccedilotildees e costumes desde sua origem Desse modo foi possiacutevel no

momento da contextualizaccedilatildeo do objeto de estudo perceber quais foram os fatos

que influenciaram sua atual estrutura Assim o primeiro e segundo capiacutetulo centrou-

se principalmente na pesquisa bibliograacutefica que consistiu no levantamento de

dados por meio de livro artigos e perioacutedicos impressos e online

O terceiro capiacutetulo apresenta a anaacutelise das poliacuteticas educacionais Na

primeira parte da investigaccedilatildeo utilizou-se da pesquisa documental que difere da

pesquisa bibliograacutefica pela natureza das fontes de dados que satildeo ricas e estaacuteveis

(GIL 2010) Satildeo considerados documentos ldquoquaisquer materiais escritos que

possam ser usados como fonte de informaccedilatildeo sobre o comportamento humanordquo

(LUDKE ANDREacute 1986 p38)

Os documentos analisados foram a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo

Nacional (LDB96) os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN‟S) de 1997 o

curriacuteculo baacutesico para a escola puacuteblica municipal do Oeste do Paranaacute (2007)

produzido por iniciativa da Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oeste do Paranaacute (AMOP)

e o Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute (PEEPR)

21

Utilizamos como referencial analiacutetico a abordagem de poliacuteticas puacuteblicas de

Leite e Flexor (2006) e Secchi (2013) para anaacutelise do Programa Escola Intercultural

Biliacutenguumle de Fronteira

As entrevistas semiestruturadas tambeacutem fizeram parte do arcabouccedilo

metodoloacutegico da pesquisa Conforme Ludke e Andreacute (1986) as entrevistas natildeo

estruturadas onde natildeo haacute a determinaccedilatildeo e uma ordem riacutegida de questotildees

permitem com que o entrevistado fale do tema proposto com base nas informaccedilotildees

que ele possui Os benefiacutecios da entrevista sobre outras teacutecnicas ldquoeacute que ela permite

a captaccedilatildeo imediata e corrente da informaccedilatildeo desejada praticamente com qualquer

tipo de informante e sobre os mais variados toacutepicosrdquo (LUDKE ANDREacute 1986 p33-

34)

As entrevistas foram realizadas com duas professoras da escola brasileira

que recebem o Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumle de Fronteira Uma das

entrevistadas participa do desenvolvimento do programa desde seu iniacutecio e a outra

professora passou a acompanhar o projeto em 2015 Essa escolha permitiu

conhecer as diferentes fases da inserccedilatildeo do programa na escola O principal

objetivo da entrevista foi o de analisar os impactos do PEIF na praacutetica a partir das

experiecircncias relatadas O PEIF foi a uacutenica poliacutetica analisada a partir de entrevistas

aos atores diretamente envolvidos pois ateacute o momento da redaccedilatildeo desta

dissertaccedilatildeo constatou-se que este programa eacute a uacutenica poliacutetica educacional oficial do

Estado direcionada especificamente para escolas em regiatildeo de fronteira

internacional

II Estrutura da dissertaccedilatildeo

Esta dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em trecircs capiacutetulos juntamente com a

introduccedilatildeo e consideraccedilotildees finais No primeiro capiacutetulo- Eacute preciso falar de escola na

fronteira- buscou-se a revisatildeo de literatura sobre a temaacutetica fronteira Em seguida a

Fronteira o Territoacuterio e Estado-naccedilatildeo satildeo abordados partindo do princiacutepio de que

no processo de consolidaccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo o territoacuterio representou o espaccedilo

onde o Estado exerce a sua soberania (BOBBIO MATTEUCIA PASQUINO 2004)

A fronteira se insere na condiccedilatildeo de limite poliacutetico fundamental para delimitar o

territoacuterio que por sua vez seraacute o espaccedilo onde o imaginaacuterio da naccedilatildeo eacute construiacutedo

22

(ANDERSON 1993) A seccedilatildeo seguinte apresenta os aspectos da cidade fronteiriccedila

de Foz do Iguaccedilu que permite dizer que ela juntamente com Ciudad del Este e

Puerto Iguazuacute conformam uma regiatildeo fortemente interligada em que fatores como

os econocircmicos e sociais afetam as trecircs cidades

A premissa da triacuteplice fronteira enquanto uma regiatildeo conectada eacute observada nos

exemplos apresentados na seccedilatildeo 14 A porosidade do Estado na fronteira Um deles

demonstra a necessidade de se criar accedilotildees conjuntas para resolver questotildees como

a regulamentaccedilatildeo do trabalhador que atravessa de um paiacutes para o outro na busca

por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e que ao natildeo possuir os documentos que o

regularize natildeo possui direitos de trabalho garantidos Os dois uacuteltimos toacutepicos deste

mesmo capiacutetulo abordam identidade e as escolas na fronteira respectivamente As

diferenccedilas que tem como um dos marcadores a identidade satildeo evidenciadas nas

escolas que se apresenta neste contexto enquanto reguladora a partir de padrotildees

universalistas construiacutedos sem um diaacutelogo com a alteridade (ARROYO 2007)

O capiacutetulo II- A Histoacuteria da Educaccedilatildeo em Foz do Iguaccedilu construtos e

contradiccedilotildees para a consolidaccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo concentrou-se no processo de

formaccedilatildeo das escolas no contexto em que a cidade de Foz do Iguaccedilu foi formada

como tambeacutem sua relaccedilatildeo com a fronteira A Colocircnia Militar criada para proteccedilatildeo e

colonizaccedilatildeo do territoacuterio marca o iniacutecio das demandas pela criaccedilatildeo de escolas que

na ausecircncia do poder puacuteblico eram improvisadas pelos setores da sociedade

(EMER 1991) A influecircncia dos paiacuteses vizinhos no iniacutecio do seacuteculo XX eacute evidenciada

em relatoacuterios que explicam que a ausecircncia de escolas eacute um fator preocupante pois

as crianccedilas brasileiras estavam indo estudar na Argentina Essa influecircncia estaacute nos

relatoacuterios do Plano de desenvolvimento integrado (PDI) da deacutecada de 1970 que ao

analisar a escola e os motivos do fracasso escolar culpabiliza os alunos

estrangeiros que natildeo falam o portuguecircs A deacutecada de 1930 e o projeto de

nacionalizaccedilatildeo de Getuacutelio Vargas satildeo abordados para analisar a importacircncia que a

escola tinha para a construccedilatildeo do projeto de naccedilatildeo

O uacuteltimo capiacutetulo Poliacuteticas Puacuteblicas para a educaccedilatildeo na fronteira entre

Argentina Brasil e Paraguai teve como objetivo analisar as poliacuteticas puacuteblicas

educacionais para a diversidade Apoacutes traccedilar a trajetoacuteria das poliacuteticas educacionais

no Brasil verificou-se seu viacutenculo direto com as condiccedilotildees histoacutericas de cada eacutepoca

No Brasil colocircnia as necessidades estavam voltadas para a catequizaccedilatildeo do

indiacutegena e na instruccedilatildeo dos filhos dos proprietaacuterios de terra e da elite colonial como

23

um todo (MARCILIO 2005) A chegada da coroa portuguesa em 1808 marca o

periacuteodo das reformas pombalinas Marques de Pombal criou uma seacuterie de cursos

profissionalizantes escolas militares tanto de niacutevel meacutedio como superior

(GHIRALDELLI JR 2001)

As primeiras deacutecadas de 1930 marcam o iniacutecio do predomiacutenio das reformas

educacionais de teor nacionalista Ateacute 1930 a estrutura econocircmica brasileira estava

voltada para o modelo agraacuterio-exportador principalmente no campo da cafeicultura

Com a crise do modelo oligaacuterquico e a entrada de Getuacutelio Vargas no poder um novo

modelo de produccedilatildeo se configura mas a dependecircncia do capital estrangeiro

permanece Eacute o modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees iniciado em 1930

caracterizado pela intervenccedilatildeo estatal na economia e no incentivo agrave criaccedilatildeo de

induacutestrias (IANNI 1994)

No campo educacional eacute criado o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e da Sauacutede e com

ele importantes poliacuteticas educacionais como a reforma Francisco Campos em 1931

que regulamentou as escolas superiores secundaacuterias e primaacuterias incorporando

algumas concepccedilotildees pedagoacutegicas inovadoras (SAVIANI 2008)

O fim do Estado Novo com a nova constituinte proporcionou algumas

mudanccedilas na educaccedilatildeo Em 1946 o Ensino Primaacuterio e o Ensino Normal foram

regulamentados foi criado o Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Comercial-SENAC

As principais reformas educacionais aconteceram no governo de Juscelino

Kubitschek (1956-1960) A construccedilatildeo de Brasiacutelia a abertura ao capital estrangeiro

e o investimento em tecnologia marcaram um periacuteodo em que a naccedilatildeo eacute mobilizada

para superar seu atraso No campo da educaccedilatildeo o programa de metas do governo

priorizou a formaccedilatildeo teacutecnica dos trabalhadores

Na deacutecada de 1950 inicia-se o debate sobre a Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos

e sua funccedilatildeo ateacute entatildeo destinada agrave mera transmissatildeo de conteuacutedos Eacute o comeccedilo do

debate em torno da educaccedilatildeo popular que incluiacuteam vaacuterios adeptos educadores

liacutederes comunitaacuterios intelectuais e estudantes de todo o paiacutes A liberdade de

expressatildeo nos primeiros anos da deacutecada de 1960 permitiu que houvesse a criaccedilatildeo

de diversos espaccedilos para promoccedilatildeo das massas e da educaccedilatildeo popular Inspirado

nesse movimento de base o Plano de Nacional Alfabetizaccedilatildeo de 1964 no governo

de Joatildeo Goulart criou o meacutetodo que alfabetizava em 40 horas guiado pelo meacutetodo

de Paulo Freire Contudo com o golpe militar em 1964 o plano mal chegou a ser

implantado (PAIVA 1984)

24

A partir do governo dos militares em termos educacionais presencia-se a

repressatildeo exclusatildeo das camadas populares do ensino profissionalizante e o

desmantelamento da organizaccedilatildeo docente (GHIRALDELLI JR 2001)

A Constituinte de 1988 marca a retomada da participaccedilatildeo de diferentes

grupos organizados da sociedade como os movimentos sociais nas proposiccedilotildees de

poliacuteticas puacuteblicas A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional de 96 eacute nesse

sentido considerada um grande avanccedilo ao incluir em 2003 e 2008 a Lei 1063903

que torna o ensino de histoacuteria da Aacutefrica e da cultura afro-brasileira como obrigatoacuterio

no curriacuteculo das escola puacuteblicas e brasileiras Os Paracircmetros Curriculares Nacionais

com o tema transversal pluralidade cultural tambeacutem satildeo outros dispositivos que

buscam abordar a diversidade eacutetnico-racial nas escolas brasileiras (BRASIL 2003)

Apesar dos avanccedilos das poliacuteticas educacionais para diversidade algumas

anaacutelises apontam para a sua tendecircncia homogeneizadora (ABG 1996) As poliacuteticas

em niacutevel estadual natildeo satildeo muito diferentes dos pressupostos nacionais na medida

em que estatildeo subordinados agrave LDB96 e isso inclui o curriacuteculo baacutesico para a escola

puacuteblica municipal do Oeste do Paranaacute feito pela Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oe

ste do Paranaacute (AMOP)

Dentre as poliacuteticas educacionais estudadas o Programa Escolas

Interculturais Biliacutenguumles de Fronteira eacute um programa que nasceu com o objetivo de

promover o processo intercultural por meio do ensino biliacutengue nas escolas

pertencentes a regiotildees de fronteira internacional Os primeiros paiacuteses que aderiram

ao programa foram a Argentina e o Brasil mediante acordos assinados dentro do

bloco econocircmico Mercosul por meio do Setor Educacional do Mercosul (SEM)

responsaacutevel por desenvolver as propostas para implementaccedilatildeo de poliacuteticas

educacionais dentre essas a poliacutetica linguiacutestica

25

CAPIacuteTULO 1 Eacute PRECISO FALAR DA ESCOLA NA FRONTEIRA

11 Fronteira- Primeiras aproximaccedilotildees

Etimologicamente a palavra fronteira deriva do latim Fron e quer dizer ldquode

frenterdquo Ela foi utilizada pela primeira vez no seacuteculo XIII para estabelecer o limite

temporaacuterio e flutuante que separava dois exeacutercitos de poder no momento de conflito

(FEgraveBVRE 1962 apud SILVA 2008 p8) Foi a partir da formaccedilatildeo e expansatildeo do

Estado-naccedilatildeo que a fronteira passou a ser sinocircnimo de limite de soberania O termo

linha de fronteira por sua vez representa os limites internacionais Tal expressatildeo

acompanhou estreitamente os avanccedilos do pensamento moderno sobre territoacuterio

Hoje assim como inuacutemeras palavras que mudam ou assumem outros

sentidos de acordo com o tempo e espaccedilo a palavra fronteira assume outros

sentidos e significados No dicionaacuterio de liacutengua portuguesa Aureacutelio5 a definiccedilatildeo de

fronteira eacute apresentada enquanto limite ou divisa de um dado territoacuterio No entanto

esta palavra natildeo se resume agrave noccedilatildeo de separaccedilatildeo De acordo com Becker (2007) a

fronteira eacute concebida como parte das relaccedilotildees humanas em suas mais distintas

formas sejam elas econocircmicas poliacuteticas sociais religiosas culturais ou simboacutelicas

Os novos enfoques socioloacutegicos historiograacuteficos e antropoloacutegicos tecircm ampliado as

possibilidades de estudos diferenciados acerca do tema fronteira Um exemplo disto

satildeo as anaacutelises sobre praacuteticas culturais e accedilotildees sociais Para Albuquerque (2010) a

fronteira apresenta-se como um cenaacuterio de relaccedilotildees sociais

As fronteiras podem ser vistas como um campo singular de relaccedilotildees sociais entrelaccediladas com os atuais processos de globalizaccedilatildeo e de redefiniccedilatildeo do papel dos limites entre os Estados nacionais A fronteira eacute geralmente percebida por esses estudiosos como um lugar de passagem de contato e traduccedilatildeo cultural (ALBUQUERQUE 2010 p48)

Nesse sentido a palavra fronteira natildeo eacute neutra ao contraacuterio eacute carregada de

inuacutemeros sentidos como exemplifica Faacutebio Reacutegio Bento ldquopara o contrabandista

fronteira significa afliccedilatildeo para o exilado poliacutetico passar a fronteira significa

libertaccedilatildeordquo (BENTO 2012 p2)

5Ver Dicionaacuterio Aureacutelio Online Disponiacutevel em lthttpwwwdicionariodoaureliocomfronteiragt Acesso

em 01102014

26

Na perspectiva durkhiemiana Fronteira eacute definida enquanto um fato social

Em As Regras do Meacutetodo Socioloacutegico (1865) Eacutemile Durkheim busca trata-la como

coisa ou seja algo possiacutevel de ser estudado Sendo coisa social a fronteira eacute

exterior ao indiviacuteduo assim torna-se passiacutevel de ser compreendida e explicada

racionalmente Regina Coeli Machado e Silva (2015) citando Strathern (2014)

aponta entretanto que a ldquofronteira eacute um dos conceitos menos sutis da anaacutelise

socioloacutegica como reificaccedilatildeo de uma abstraccedilatildeo socialrdquo Eacute a partir dessa mesma

abstraccedilatildeo que obtemos efeitos sociais tanto de exclusatildeo e quanto de participaccedilatildeo

social demonstrado as ldquoambiguidades do Estado-Naccedilatildeo brasileiro e das suas

fronteiras geopoliacuteticasrdquo (STRATHERN 2014 apud SILVA 2015 p1)

De maneira geral os estudos referentes agrave fronteira apresentam-se tanto no

sentido Stricto - a noccedilatildeo tradicional onde fronteira eacute a divisa entre estados no

acircmbito nacional ou internacional6 - como tambeacutem no sentido Lato - neste caso as

fronteiras do pensamento sendo elas nocircmades e sociais A respeito deste uacuteltimo

pode-se mencionar o exemplo de uma cidade marcada pela desigualdade social

Nela a fronteira manifesta-se por meio da disposiccedilatildeo das residecircncias estatildeo

dispostas a cidade de Satildeo Paulo demonstra estas fronteiras de um lado

comunidades carentes de outro casas luxuosas7

Imagem 1 - A Triacuteplice Fronteira- Argentina Brasil e Paraguai Fonte wwwoiguassucom

6Vide imagem 1

7Vide imagem 2

27

Imagem 2 - Favela Paraisoacutepolis em contraste com o bairro de classe alta Morumbi em Satildeo Paulo capital

Fonte e foto Tuca Vieira- httpwwwtucavieiracombrA-foto-da-favela-de-Paraisopolis

Desse modo nesta dissertaccedilatildeo ao tratarmos a fronteira em seu sentido

geograacutefico estaremos buscando a localizaccedilatildeo no tempo e espaccedilo de onde

estamos falando Quando ampliarmos a noccedilatildeo deste termo para os sentidos poliacutetico

e social estaremos buscando responder a questotildees que dizem respeito agraves

consequecircncias de um processo histoacuterico em que os Estados nacionais mesmo

tendo realizado as demarcaccedilotildees de seus limites natildeo conseguiram impedir que o

mesmo ocorresse entre as populaccedilotildees que transitam em seu interior Eacute o que afirma

Albuquerque (2010) para o qual

A reflexatildeo sobre identidades nacionais e os conflitos sociais nas aacutereas de delimitaccedilotildees dos Estados-Nacionais produzem novas abordagens sobre as fronteiras e desnaturalizam as bdquofronteiras naturais‟ das naccedilotildees (ALBUQUERQUE 2010 p 45)

Em artigo publicado na obra ldquoDilemas e Diaacutelogos Platinos Fronteirasrdquo

Machado (2010) aponta que os estudos entre as fronteiras dos Estados-Nacionais

satildeo uacutenicos No caso do Brasil a Constituiccedilatildeo de 1988 confirmou a delimitaccedilatildeo de

150 km a partir do limite internacional como faixa de fronteira Desse modo natildeo

apenas a cidade que faz divisa com outro paiacutes eacute considerada fronteiriccedila mas

tambeacutem as outras cidades que ficam dentro desta faixa de 150 km

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014)

o Brasil possui uma fronteira mariacutetima de 7367 quilocircmetros e 16886 quilocircmetros de

fronteira terrestre com nove paiacuteses da Ameacuterica do Sul sendo eles Argentina

Boliacutevia Colocircmbia Guiana Peru Suriname Venezuela Paraguai Uruguai e com o

Departamento Ultramarino Francecircs da Guiana conforme observa-se na Figura 3

28

Imagem 3 - Faixa de Fronteira do Brasil com os paiacuteses da regiatildeo

Fonte Jornal Tribuna wwwjornaltribunacombr

Como os dados assinalam a dimensatildeo da fronteira do Brasil com os paiacuteses

da Ameacuterica Latina eacute expressiva e natildeo apenas no sentido de extensatildeo territorial

visto que o contato direto e diaacuterio entre as populaccedilotildees inseridas neste contexto torna

a fronteira expressiva tambeacutem no que se refere agrave dimensatildeo das relaccedilotildees sociais

Desse modo ao estudar as poliacuteticas puacuteblicas no contexto de fronteira

internacional natildeo eacute apenas a conjuntura nacional que estaacute sendo considerada mas

tambeacutem o plano externo -em sentido transnacional - considerando-se os fluxos da

populaccedilatildeo brasileira paraguaia e argentina que circulam de um paiacutes para o outro

Fernand Brauduel (1989) ao abordar as fronteiras afirma que elas

incorporam aleacutem da dimensatildeo espacial tambeacutem a ldquodimensatildeo temporalrdquo (BRAUDEL

1989 apud Heinsfeld 2014 281) Como exemplo o autor cita as divisotildees territoriais

da Ameacuterica colonial feitas por Portugal e Espanha delimitaccedilotildees essas que foram

incorporadas antes mesmo da independecircncia das colocircnias Braudel chama atenccedilatildeo

para este fato afirmando que a histoacuteria tem a tendecircncia de cristalizar as fronteiras

como se fossem ldquoacidentes naturaisrdquo (BRAUDEL 1989 p 147) Albuquerque (2010)

tambeacutem compartilha desse raciociacutenio Segundo este autor haacute uma tendecircncia

disseminada no senso comum em se conceber a fronteira enquanto algo dado

pronto e natural como se natildeo houvesse nenhum conflito de fronteira Para aleacutem

disto a fronteira tambeacutem eacute percebida preconceituosamente pela imprensa e o

imaginaacuterio popular como uma terra de ningueacutem perigosa e violenta ou seja espaccedilo

da ilegalidade e da transgressatildeo

Para Albuquerque estas representaccedilotildees satildeo construiacutedas principalmente a

partir de notiacutecias negativas associadas a conflitos violentos Como exemplo temos a

29

imigraccedilatildeo clandestina dos mexicanos para os Estados Unidos ou a disputa territorial

na faixa de Gaza entre Israel e a Palestina Cabe ressaltar que nesta perspectiva

os Estados nacionais desempenham um papel fundamental na construccedilatildeo destas

concepccedilotildees e noccedilotildees acerca da fronteira satildeo eles que legitimam tais imaginaacuterios

por meio de estrateacutegias de proteccedilatildeo do territoacuterio No caso da fronteira com os

Estados Unidos e Meacutexico a poliacutetica de seguranccedila eacute extremamente violenta natildeo

apenas no sentido fiacutesico por meio da construccedilatildeo de muros com arames farpados e

redes de alta tensatildeo mas por meio de um monitoramento que existe com a

utilizaccedilatildeo de tecnologias de ponta A natildeo obediecircncia aos limites pode levar aqueles

(natildeo apenas mexicanos) que queiram atravessar a fronteira ilegalmente agrave morte

Segundo Kearney (apud MONTIEL 2007) esta representaccedilatildeo dos problemas

fronteiriccedilos tem estado muito presente na imprensa norte-americana e tem resultado

na justificativa e defensiva do que ele denomina de ldquonacionalismo dos brancosrdquo

(KEARNEY 1991 apud MONTIEL 2007 p10) Isto explicaria o atual endurecimento

da poliacutetica do governo estadunidense que resulta natildeo apenas na militarizaccedilatildeo da

mesma mas no polecircmico projeto de construccedilatildeo de um muro ao longo da faixa de

fronteira remetendo ao modelo da ldquocortina de ferrordquo dos paiacuteses europeus no periacuteodo

da Guerra Fria que dividia de um lado os paiacuteses do leste europeu sob a influecircncia

da Uniatildeo Sovieacutetica e de outro os paiacuteses pertencentes agraves zonas de influecircncia dos

Estados Unidos

12 Fronteira e a educaccedilatildeo como construto da naccedilatildeo

Segundo o Dicionaacuterio de Poliacutetica o Estado Moderno tal qual o conhecemos

tem suas origens nas transformaccedilotildees ocorridas ao final da Idade Meacutedia que

resultaram em tratados como a Paz de Vestfaacutelia que simbolizou ldquoo momento em

que se reconhece formalmente de modo geral a soberania absoluta do Estado no

plano internacionalrdquo (BOBBIO MATTEUCIA PASQUINO 1998 p1090) Mas eacute a

definiccedilatildeo de Max Weber sobre o Estado Moderno uma das mais conhecidas Para

ele o Estado faz o uso legiacutetimo da violecircncia numa relaccedilatildeo entre homens que

dominam seus iguais em um determinado territoacuterio

Estado eacute uma relaccedilatildeo de homens dominando homens relaccedilatildeo mantida por meio da violecircncia legiacutetima (isto eacute considerada como

30

legiacutetima) Ele eacute uma comunidade humana que pretende com ecircxito o monopoacutelio do uso legiacutetimo da forccedila fiacutesica dentro de um determinado territoacuterio (WEBER 1998 p98-99)

Destaca-se aqui a questatildeo do territoacuterio uma vez que sua relaccedilatildeo com a

fronteira eacute inerente Logo falar de fronteira fiacutesica em sua definiccedilatildeo claacutessica

pressupotildee que haja um territoacuterio que fora delimitado a partir de tratados acordos ou

mesmo a venda do territoacuterio em disputa O geoacutegrafo Rogeacuterio Haesbaert afirma que o

territoacuterio estaacute mergulhado em

() relaccedilotildees de dominaccedilatildeo eou de apropriaccedilatildeo sociedade-espaccedilo desdobra-se ao longo de um continuum que vai da dominaccedilatildeo poliacutetico-econocircmica mais bdquoconcreta‟ e bdquofuncional‟ agrave apropriaccedilatildeo mais subjetiva eou bdquocultural-simboacutelica (HAESBAERT 2004 p95-96)

O autor chega a esta conclusatildeo apoacutes realizar uma analise histoacuterico-social do termo

quando a palavra territoacuterio surgiu com duas conotaccedilotildees material e simboacutelica ldquopois

etimologicamente aparece tatildeo proacuteximo de terra-territorium quanto de terreo-territor

(terror aterrorizar)rdquo (HAESBAERT 2004 p 2) O autor afirma que as duas

conotaccedilotildees tem a ver com poder natildeo somente no significado tradicional de bdquopoder

poliacutetico‟ ldquoEle diz respeito tanto ao poder no sentido mais concreto de dominaccedilatildeo

quanto ao poder no sentido mais simboacutelico de apropriaccedilatildeordquo (HAESBAERT 2004 p

2)

Portanto todo territoacuterio eacute ao mesmo tempo e obrigatoriamente em diferentes combinaccedilotildees funcional e simboacutelico pois exercemos domiacutenio sobre o espaccedilo tanto para realizar ldquofunccedilotildeesrdquo quanto para produzir bdquosignificados‟ (HAESBART 2004 p67)

Hoje o modelo de Estado territorial eacute definido como aquele que organiza este

territoacuterio que por sua vez eacute delimitado por uma fronteira cuja populaccedilatildeo estaacute unida

pelo sentimento de naccedilatildeo Por naccedilatildeo Benedict Anderson (1993) entende que ldquoseja

uma comunidade imaginada como sendo intrinsecamente limitada e ao mesmo

tempo soberanardquo (ANDERSON 1993 p24)

Utilizando a definiccedilatildeo de Anderson para naccedilatildeo tendo em vista que haacute outras

definiccedilotildees para o termo o autor explica que a naccedilatildeo eacute imaginada pois nem todos

aqueles que fazem parte dela se reconhecem ainda que tenham consciecircncia que

haja uma comunhatildeo entre eles Desse modo o sentido de pertenccedila agrave naccedilatildeo existe

somente quando os sujeitos partilham de certo imaginaacuterio social mesmo que natildeo se

conheccedilam mutuamente Entretanto esta imaginaccedilatildeo eacute limitada uma vez que seu

31

campo de abrangecircncia eacute limitado Eacute soberano assim o anseio de qualquer naccedilatildeo

ser livre da subordinaccedilatildeo de outros poderes8ou de outras naccedilotildees

Por fim a naccedilatildeo eacute imaginada como uma comunidade tendo em vista que

independentemente das desigualdades que existam entre as pessoas - sociais

poliacuteticas ou econocircmicas - o senso de companheirismo extrapola as diferenccedilas

sociais que haacute entre elas Para Anderson eacute este sentimento de unicidade que fez

com que tantas pessoas morressem em nome da defesa da naccedilatildeo nos uacuteltimos

seacuteculos

A fim de explicar como se deu este processo de construccedilatildeo da naccedilatildeo nos

paiacuteses europeus Benedict Anderson menciona os jornais impressos que quando

popularizados tornaram-se um dos meios mais eficazes de inculcar valores na

sociedade servindo entatildeo de instrumento para a construccedilatildeo de uma naccedilatildeo Se

partirmos da afirmaccedilatildeo de Durkheim segundo a qual a educaccedilatildeo tem como funccedilatildeo

coletiva adaptar a crianccedila ao meio social faz-se necessaacuterio para isto que se

estabeleccedila entre a sociedade e a escola uma ldquocomunhatildeo de ideias e sentimentos

suficientes entre os cidadatildeos comunhatildeo sem a qual qualquer sociedade eacute

impossiacutevelrdquo (DURKHIEM 2011 p63) podemos perceber como a escola e o modo

com que o Estado designa o que deve ou natildeo conter como base comum a todo

curriacuteculo nacional torna a educaccedilatildeo escolar um mecanismo de constructo da naccedilatildeo

seguindo portanto a mesma premissa de Anderson

Na cidade fronteiriccedila durante o periacuteodo de instalaccedilatildeo e funcionamento da

Colocircnia Militar da Foz de Iguaccedilu entre 1889 e 1912 jaacute havia uma preocupaccedilatildeo com

o fato de as crianccedilas brasileiras estudarem na Argentina Afinal estavam

assimilando a cultura e os valores nacionais do paiacutes vizinho o que ameaccedilava o

territoacuterio Mais tarde na Era Vargas o projeto nacionalista de unificar o paiacutes passou

pela educaccedilatildeo Neste periacuteodo escolas como as construiacutedas por estrangeiros eram

fechadas caso natildeo se adaptassem agraves poliacuteticas nacionais que tinham entre outros

objetivos

() homogeneizar a populaccedilatildeo dando a cada nova geraccedilatildeo o instrumento do idioma os rudimentos da geografia e da histoacuteria paacutetria os elementos da arte popular e do folclore as bases da formaccedilatildeo ciacutevica e moral a feiccedilatildeo dos sentimentos e ideias coletivos em que afinal o senso de unidade e de comunhatildeo nacional repousam

8Eacute tambeacutem imaginada como soberana porque nasceu numa eacutepoca em que o Iluminismo e a

Revoluccedilatildeo destruiacuteram a legitimidade do domiacutenio dinaacutestico e ordenado por Deus (ANDERSON 1993)

32

(PALMEIRA 1943 apud SCHWARTZMAN BOMENY COSTA 2000 p 93)

Diante das estrateacutegias que o Estado Moderno desenvolveu para construir a

ideia de naccedilatildeo a proacutepria fronteira poliacutetica requer quase sempre a justificaccedilatildeo

ideoloacutegica da comunidade nacional Fora preciso estabelecer na fronteira natildeo

apenas a delimitaccedilatildeo em termos juriacutedicos e fiacutesicos mas tambeacutem no social a partir

da separaccedilatildeo entre o ldquonoacutesrdquo e os ldquooutrosrdquo

A preocupaccedilatildeo com a construccedilatildeo de um senso de unidade e de comunhatildeo

nacional pela educaccedilatildeo escolar portanto acompanhou a histoacuteria de Foz do Iguaccedilu

Pois eacute importante descrever na proacutexima seccedilatildeo como ela aparece retomando como

ideacuteia a fronteira na histoacuteria da cidade

13 Reatualizaccedilatildeo de naccedilatildeo por deslizamentos em seus limites fronteiriccedilos

A cidade de Foz do Iguaccedilu eacute reconhecida por ser uma importante cidade

turiacutestica Nela encontram-se uma das ldquosete maravilhas da naturezardquo as Cataratas do

Iguaccedilu e a maior usina geradora de energia do mundo9 a hidreleacutetrica Itaipu

Binacional Por fazer fronteira com o Paraguai a cidade brasileira torna-se ainda

mais atrativa devido ao comeacutercio com Ciudad del Este Os meios de comunicaccedilatildeo

que costumam divulgar os atrativos turiacutesticos de Foz do Iguaccedilu exaltam o fato da

cidade possuir diferentes etnias e nacionalidades convivendo em um mesmo

territoacuterio Na ocasiatildeo do centenaacuterio da cidade foi composta a muacutesica bdquoIsso eacute Foz do

Iguaccedilu‟ que evidecircncia esse bdquoolhar‟ multicultural

Cidade de todas as raccedilas Que aceita o negro que aceita o branco

Iacutendio cafuzo amarelo e mamelucoCidade cosmopolitaTem brasileiro tem

argentinoAacuterabe chinecircs paraguaio e palestino Isso eacute Foz do IguaccediluDa

triacuteplice fronteira do sul Onde o ceacuteu eacute mais que azulTerra das cataratas do

Iguaccedilu (COPETTI 2014)

Nos versos verifica-se que uma das principais caracteriacutesticas atribuiacutedas agrave

cidade eacute ser multicultural com diferentes nacionalidades e etnias convivendo

pacificamente neste territoacuterio rico por suas belezas naturais No entanto existe

tambeacutem uma narrativa que caracteriza a cidade como perigosa marginal rota para

9 Dados obtidos no site oficial da Usina Hidreleacutetrica de Itaipu Binacional Disponiacutevel em

lthttpswwwitaipugovbrgt Acesso em 12122015

33

o grande traacutefico de armas e drogas espaccedilo de corrupccedilatildeo e lavagem de dinheiro

representada principalmente pela imprensa argentina de Puerto Iguazuacute e de Foz do

Iguaccedilu (ALBUQUERQUE 2010) conforme os enunciados abaixo sugerem

-PF10 estoura quadrilha que envolvia empresas-fantasmas de Foz do Iguaccedilu e traficantes do Paraguai Operaccedilatildeo Sustenido desmantelou organizaccedilatildeo criminosa suspeita de movimentar R$ 300 milhotildees (PORTAL R7 22052015)

-Contrabando ldquoempregardquo 15 mil em Foz do Iguaccedilu (GAZETA DO POVO 03032015) -Policia Federal apreende cigarros contrabandeados e um veiacuteculo (JT TRIBUNA 29012016)

Na perspectiva de Lorenzo Macagno (2011) esta visatildeo tatildeo dicotocircmica e

oposta ldquose produz e se reproduz justamente num espaccedilo peculiar e contraditoacuterio

Ali nos confins da naccedilatildeo nos espaccedilos liminares e de tracircnsito eacute onde esta conciliaccedilatildeo parece impor a necessidade de uma perpeacutetua reatualizaccedilatildeo de si mesma Sob este aparente paradoxo reside uma tensatildeo iminente entre o bdquonacional‟ e o transnacional (MACAGNO 2011 p25)

Para conhecer a dinacircmica de Foz do Iguaccedilu enquanto cidade de fronteira eacute

preciso primeiramente localizaacute-la no contexto da Triacuteplice Fronteira que recebeu

essa denominaccedilatildeo a partir de 1992 momento em que se levantavam suspeitas da

presenccedila de terroristas islacircmicos na regiatildeo A partir de 1996 o termo foi oficialmente

adotado pelo governo dos trecircs paiacuteses Utilizo-me da tese de Fernando Lima (2011)

o qual defende e argumenta que esta Triacuteplice Fronteira pode ser considerada uma

regiatildeo por possuir caracteriacutesticas proacuteprias diferente assim de outras regiotildees do

estado do Paranaacute e do sul do Brasil (LIMA 2011)

Ao tratar da origem do termo Triacuteplice Fronteira Rabossi (2004) aponta que

antes dos anos de 1990 para se referir agrave regiatildeo em seu conjunto se falava zona

regiatildeo ou trecircs fronteiras Em alguns jornais do final dos anos de 1980 o termo

bdquotriacuteplice fronteira‟ aparece para nomear a regiatildeo entretanto esse uso era geneacuterico

nunca substantivo proacuteprio Para exemplificar a constataccedilatildeo da dificuldade que era

pensar os paiacuteses fronteiriccedilos enquanto uma unidade Rabossi (2004) cita o trecho

texto do jornalista Bojunga de 1978 que diz

10

PF - abreviaccedilatildeo para Poliacutecia Federal

34

Em IguaccediluIguazuPuerto Presidente Strossneressa atividade [o contrabando] atinge caracteriacutesticas delirantes Nesse ponto em que as fronteiras da Argentina do Brasil e do Paraguai se encontram nada se perde tudo se trafica (BOJUNGA 1978 p 202 apud RABOSSI 2004 p 24)

A apariccedilatildeo do substantivo proacuteprio bdquoTriacuteplice Fronteira‟ surge a partir das

suspeitas de que havia terroristas islacircmicos na regiatildeo apoacutes os atentados na

embaixada de Israel na capital argentina Buenos Aires em 1992 Esta suspeita

aumentou apoacutes o atentado agrave Asociaciacuteon de Mutuales Israelitas Argentinas [AMIA]

em 1994 (RABOSSI 2004) Deste modo o termo Triacuteplice Fronteira surge

relacionado agraves questotildees de seguranccedila que envolve os trecircs paiacuteses ldquoEssa

denominaccedilatildeo pressupotildee a existecircncia de uma aacuterea singular e participa de sua

criaccedilatildeo a partir de uma praacutetica de nominaccedilatildeo que possibilita a emergecircncia

conceitual de um lugar onde estatildeo relacionadas agraves trecircs cidadesrdquo (RABOSSI 2004

p24) Rabossi (2004) considera a Triacuteplice Fronteira uma regiatildeo singular como Lima

(2011) afirma que Foz do Iguaccedilu possui caracteriacutesticas distintas das demais cidades

brasileiras cuja distinccedilatildeo se daacute por essa localizaccedilatildeo

Lima fala da integraccedilatildeo comercial seja por meio do turismo como a visitaccedilatildeo

agraves cataratas no Brasil e na Argentina seja por meio das compras em Ciudad del

Este que tornam a situaccedilatildeo econocircmica das cidades dependentes uma das outras O

autor chama atenccedilatildeo para a relaccedilatildeo entre as cidades de Foz do Iguaccedilu e Ciudad del

Este Ele chega agrave conclusatildeo de que a relaccedilatildeo de trabalho entre brasileiros e

paraguaios natildeo se reduz agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos aos sacoleiros que pagam aos

paraguaios para atravessarem a ponte com a mercadoria que excede a cota

permitida ldquoTrata-se de uma verdadeira extensatildeo do mercado de trabalho de Foz do

Iguaccedilurdquo (LIMA 2011 p142)

Lima aponta que embora a Itaipu seja de suma importacircncia econocircmica para

o Brasil e o Paraguai a hidreleacutetrica eacute uma ldquoinduacutestria deslocalizadardquo (LIMA 2011 p

143) Isto significa que o que ela movimenta em termos econocircmicos fica longe da

cidade Os benefiacutecios para a cidade se encontram nos pagamentos de royalties e

nos salaacuterios dos trabalhadores que por sua vez eacute um grupo relativamente pequeno

o que ldquoimpede que se forme uma massa salarial grande o suficiente para gerar uma

dinacircmica endoacutegena de crescimentordquo (LIMA 2011 p142) Ateacute mesmo o expressivo

nuacutemero de funcionaacuterios puacuteblicos existente em Foz do Iguaccedilu em decorrecircncia da

35

Aduana e da Poliacutecia Federal natildeo eacute capaz de juntamente com a Itaipu estimular o

mercado de serviccedilos local Uma das maiores movimentaccedilotildees econocircmicas da cidade

encontra-se no turismo motivado pelas Cataratas do Iguaccedilu No entanto esta aacuterea

apresenta inuacutemeras fragilidades sobretudo no que diz respeito agraves flutuaccedilotildees do

cacircmbio brasileiro e argentino aleacutem da questatildeo sazonal e a proacutepria dinacircmica do

mercado que gera a competiccedilatildeo com outros destinos turiacutesticos Com estas

caracteriacutesticas Fernando Lima afirma que tanto no acircmbito econocircmico como no

social Foz do Iguaccedilu articula-se aos fatos econocircmicos da fronteira conformando

uma economia regional Neste sentido o autor sugere a formulaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas que possam oferecer maior liberdade ao comeacutercio da regiatildeo em relaccedilatildeo agraves

poliacuteticas nacionais

Devido agrave falta desse tipo de poliacutetica de fronteira que Machado (2010) afirma

que tem sido difiacutecil para os Estados-Nacionais lidarem com a real ldquofluidez dos

agrupamentos humanosrdquo e mais ainda com o ajustamento de redes poliacuteticas

identitaacuterias econocircmicas e sociais superpostas aos limites dos estados territoriais

(MACHADO 2010 p71) Torna-se necessaacuterio avanccedilar na concepccedilatildeo de Estado

para aleacutem da esfera juriacutedica e poliacutetica para compreender que a fronteira eacute um

espaccedilo permeado por vidas e com relaccedilotildees que ultrapassam os seus limites

territoriais A Triacuteplice Fronteira ldquoeacute o espaccedilo de trocas culturais onde o local e o

internacional se articulam estabelecendo viacutenculos e dinacircmicas especiacuteficasrdquo

(MULLER 2005 p03)

Cury e Fraga (2013) consideram que a especificidade da Triacuteplice Fronteira

manifesta-se a partir das experiecircncias que se realizam nos espaccedilos e unem povos

e culturas distintas sociedades que apresentam princiacutepios sociais de forma

integrada na sua diversidade ldquosem que se dispense o fato de que os brasileiros satildeo

brasileiros paraguaios satildeo paraguaios e argentinos satildeo argentinosrdquo (CURY e

FRAGA 2013 p 52)

Estes fluxos intensos fazem com que haja encontros e desencontros De um

lado as trocas interculturais a sociabilidade e a relaccedilatildeo amistosa de outro e ao

mesmo tempo as tensotildees de ordem cultural

A vida na fronteira passa constantemente pela afirmaccedilatildeo do eu e consequumlentemente pelo reconhecimento do outro Os de laacute e os de

36

caacute constroem a relaccedilatildeo estruturam o espaccedilo como sendo de ambos (MULLER 200311)

Neste sentido ocorre uma reatualizaccedilatildeo da naccedilatildeo na fronteira pois eacute um

espaccedilo que ao mesmo tempo une e separa nas palavras de Clemente de Souza

(2009 p106) ldquoSatildeo espaccedilos nos quais o local e o internacional se articula

estabelecendo viacutenculos e dinacircmicas proacuteprias construiacutedas e reforccediladas pelos povos

fronteiriccedilosrdquo Para Souza (2009) as identidades e as culturas nacionais de cada um

dos paiacuteses fronteiriccedilos satildeo construiacutedas e reelaboradas por meio da interaccedilatildeo entre a

populaccedilatildeo desta regiatildeo assim acabam por constituir ldquooutra cultura e identidade

diferenciada capaz de recriar um novo lugar com aspectos regionaisrdquo (SOUZA

2009 p106)

14 A porosidade do Estado sob a forma de poliacuteticas puacuteblicas

Natildeo eacute apenas a educaccedilatildeo um tema delicado ao se abordar poliacuteticas puacuteblicas

para a fronteira Os exemplos das pesquisas tratadas nessa seccedilatildeo demonstram que

a particularidade da fronteira faz com que as poliacuteticas nacionais para o trabalho e a

sauacutede natildeo alcancem todos na fronteira

Na regiatildeo da Triacuteplice Fronteira a relaccedilatildeo que se estabelece principalmente entre

o Brasil e o Paraguai chama a atenccedilatildeo por seus laccedilos comerciais que fazem com

que o fluxo de pessoas seja intenso nos dois lados da fronteira Eacute comum a

premissa um morador passar o dia de trabalho em paiacutes vizinho onde sua renda eacute

obtida e viver parte do tempo em seu paiacutes de origem Eacute o caso dos trabalhadores

que satildeo contratados para atravessar mercadorias de Ciudad del Este para Foz do

Iguaccedilu de brasileiros que possuem alguma atividade comercial na Argentina ou

Paraguai ou das trabalhadoras domeacutesticas conhecidas como diaristas De modo

direto ou indireto satildeo trabalhadores (as) que contribuem com a economia da regiatildeo

fronteiriccedila mas que do ponto de vista dos direitos trabalhistas eacute um grupo que

acaba ficando agrave margem desses direitos por diferentes justificativas No caso das

11 Documento eletrocircnico sem paginaccedilatildeo MULLER K M O estudo Miacutedia e fronteira jornais locais em Uruguaiana-Libres e Livramento-Rivera Tese de doutorado defendida na Universidade do Vale dos

Sinos Satildeo Leopoldo fev 2003

17112015

37

diaristas paraguaias dada sua situaccedilatildeo de imigrantes encontram dificuldades para

a comprovaccedilatildeo de documentos necessaacuterios para exercer tal atividade no paiacutes Com

isso acabam na informalidade abrindo brechas para a desvalorizaccedilatildeo de seus

salaacuterios podendo ateacute mesmo virem a trabalhar sob condiccedilotildees insalubres e

exaustivas O delegado da Poliacutecia Federal Rodrigo Perin em uma reportagem

concedida ao site G1 fez a seguinte observaccedilatildeo sobre essa situaccedilatildeo

Na realidade se a pessoa estiver regularizada em territoacuterio nacional e estiver apta para trabalhar como ela vai ter todos os direitos trabalhistas ela natildeo vai poder receber um salaacuterio menor do que o piso fixado para aquela categoria bdquoA partir do momento que ela se encontra em situaccedilatildeo irregular ela vai receber um salaacuterio muito iacutenfimo agraves vezes varia de R$ 150 a R$ 200‟ afirmou o delegado A pessoa que contratar uma empregada domeacutestica ilegal pode ser multado em R$ 2500 Aleacutem disso o patratildeo pode responder criminalmente por manter o trabalhador em condiccedilatildeo similar a de escravo A empregada pode ser deportada para o paiacutes de origem (PORTAL DE NOTIacuteCIAS G1 2011)

Como exemplo de uma possiacutevel soluccedilatildeo ao problema da informalidade o

Ministeacuterio Puacuteblico de Foz do Iguaccedilu apoacutes receber denuacutencias acerca das

trabalhadoras domeacutesticas em regime irregular de trabalho passou a notificar os

siacutendicos de condomiacutenios da cidade a prestar contas sobre o nuacutemero de funcionaacuterios

(as) e empregados(as) contratados pelos moradores Entretanto os proacuteprios

trabalhadores temendo a demissatildeo optaram por seguirem na informalidade Tal

medida explica Hofling (2001) ldquofoi puramente repressiva e unilateral por parte do

governo brasileiro sem planejamento ou conexatildeo com outras poliacuteticas integradas

com os paiacuteses vizinhosrdquo (HOFLING 2001 p 177)

No que confere agrave questatildeo entre o legal e o ilegal este uacuteltimo eacute tatildeo

frequumlentemente associado agrave fronteira que quase vira seu sinocircnimo Esta noccedilatildeo fora

criticada por Rabossi (2011) o qual considera que o modelo de ordem e de lei

vigente natildeo se aplica para pensar ldquoo funcionamento efetivo da lei nem as atividades

que se desenvolvem naquele espaccedilordquo (RABOSSI 2011 p64) Segundo Silva (2015)

a vida dessas pessoas que vivem na ilegalidade equivaleria ao que ela denomina

de ldquoprotocidadania em direccedilatildeo inversa ou a uma forma de vida ambiacutegua e

paradoxal diante do Estado-Naccedilatildeordquo Para a autora haacute uma cidadania que eacute rompida

em sua continuidade entre o nascimento e a nacionalidade onde o sujeito encontra-

se dentro e fora da lei imersos em uma bdquozona de inderteminaccedilatildeo‟ (SILVA 2015

p3)

38

Quanto agrave questatildeo da violecircncia do traacutefico de drogas da exploraccedilatildeo sexual do

trabalho infantil que satildeo intensas na regiatildeo Rosana Pinheiro Machado (2011) em

seu artigo ldquoCaminhos do descaminho Etnografia da fiscalizaccedilatildeo na Ponte da

Amizade e seus efeitos no cotidiano da Triacuteplice Fronteira aponta que apenas ldquouma

fiscalizaccedilatildeo unilateral sem amparo de poliacuteticas puacuteblicas natildeo parece extinguir tais

problemas mas apenas deslocaacute-losrdquo (MACHADO 2011 p145)

Quando se trata de poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para a regiatildeo de fronteira

internacional o tema da seguranccedila e defesa nacional aparecem como destaque no

processo de elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica Albuquerque explica que a

ldquofronteira geralmente eacute uma zona onde as forccedilas repressoras e fiscalizadoras do

Estado tecircm dificuldade em exercer o monopoacutelio das armas e das leisrdquo

(ALBUQUERQUE 2005 p67) Essa suposta ausecircncia de controle acaba

legitimando a imagem de que a fronteira eacute uma terra de ningueacutem

O mesmo autor explica que a triacuteplice fronteira a partir de meados da deacutecada

de 1990 passou a ser representada principalmente pela imprensa brasileira e

argentina juntamente com os organismos oficiais de inteligecircncia dos Estados

Unidos como um local de traacutefico de armas e drogas de lavagem de dinheiro dentre

outros sendo portanto caracterizada como ldquosantuaacuterio da corrupccedilatildeo impunidade e

delinquumlecircnciardquo (ALBUQUERQUE 2010 p39)

Seja pelas imagens incansaacuteveis divulgadas pelos meios de comunicaccedilatildeo de

que a fronteira requer maior atenccedilatildeo no quesito seguranccedila ou pelas pressotildees

internacionais ou mesmo pelo interesse do Estado em querer legitimar o uso da

forccedila na regiatildeo demonstrando sua soberania perante os paiacuteses vizinhos a

seguranccedila na fronteira eacute o tema mais visiacutevel no sentido de poliacutetica puacuteblica

Certamente a securitizaccedilatildeo processo pelo qual a seguranccedila puacuteblica torna-se o argumento central nas relaccedilotildees entre sociedade e Estado (Gruszczac 2010) marca a gestatildeo estatal das fronteiras no globo com ecircnfases e significados ligados agrave seguranccedila puacuteblica nacional e internacional (Machado Novaes Monteiro 2009 Dorfman Franccedila 2013) O governo brasileiro mobiliza suas instituiccedilotildees como decorrecircncia dos processos securitizatoacuterios poacutes 11-S mas tambeacutem o faz dentro de um projeto maior e mais antigo de construccedilatildeo do Brasil potecircncia (FRANCcedilA DORFMAN 2014 p11)

Um exemplo desses projetos eacute o receacutem criado Sistema Integrado de

Monitoramento de Fronteiras (SISFRON) um conjunto de sistemas integrados do

39

exeacutercito brasileiro para o monitoramento e controle das fronteiras terrestres

Segundo o site oficial do SISFRON trata-se de um dos maiores projetos de

seguranccedila e defesa em execuccedilatildeo do mundo De acordo com o Ministeacuterio da Defesa

seu propoacutesito eacute ldquofortalecer a presenccedila e a capacidade de accedilatildeo do Estado na faixa de

fronteira terrestre contribuindo para a maior efetividade no combate aos delitos

transfronteiriccedilos e praticados na faixa de fronteirardquo (BRASIL 2014 p1) Dorfman e

Franccedila (2014) citam outros programas como o Plano Estrateacutegico de Fronteiras em

2011 promovido pelo Ministeacuterio da Justiccedila

Estes e outros programas nacionais de proteccedilatildeo ao territoacuterio representam a

materializaccedilatildeo da claacutessica definiccedilatildeo de Estado o exerciacutecio do uso legiacutetimo da forccedila

tendo como pano de fundo dessa legitimidade o consenso da populaccedilatildeo que em

tese aceita em troca da proteccedilatildeo do Estado (WEBER 1998)

Aleacutem da seguranccedila a sauacutede eacute um setor delicado em regiatildeo de fronteira que

ao contraacuterio das poliacuteticas para seguranccedila da fronteira natildeo recebe recursos

diferenciados das demais regiotildees do paiacutes

Relatoacuterios do ldquoEstudo da Rede de Serviccedilos de Sauacutede na Regiatildeo de

Fronteirardquo referentes a 2001 e 2002 produzidos para a Organizaccedilatildeo Mundial da

Sauacutede (OMS) ao estudar a situaccedilatildeo da sauacutede puacuteblica nas cidades de Puerto

Iguazuacute Foz do Iguaccedilu e Ciudad Del Este verificaram a existecircncia de uma

dificuldade no processo de contabilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo que necessita de

atendimento pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) haja vista que parte dessa

populaccedilatildeo eacute flutuante Deste modo os repasses de verba para o SUS acabam natildeo

abarcando a realidade total da populaccedilatildeo atendida

Neste estudo as informaccedilotildees indicaram ainda que a maior transferecircncia de

atenccedilatildeo existe entre Ciudad Del Este e Foz do Iguaccedilu Este fenocircmeno pode ser

explicado basicamente pela acessibilidade geograacutefica somadas agraves condiccedilotildees

sociais e comerciais manifestado no tracircnsito entre Ciudad del Este e Foz do Iguaccedilu

Nesse sentido Luis Astorga (2004) responsaacutevel pelo estudo da sauacutede nas trecircs

cidades completa

A atenccedilatildeo que os cidadatildeos do Paraguai solicitam em Foz equivale a algo entre 5 e 55 dos serviccedilos produzidos em Cidade do Leste sendo o Atenccedilatildeo Primaacuteria e de Especialidade os mais procurados pela populaccedilatildeo paraguaia Os serviccedilos mais demandados pela populaccedilatildeo paraguaia satildeo aqueles onde haacute maior diferenccedila entre Cidade do Leste e Foz que satildeo precisamente os serviccedilos

40

ambulatoriais de especialidade Segundo os estudos de Foz aparentemente o maior fluxo de paraguaios concentra-se nos centros de sauacutede proacuteximos ao rio e agrave ponte dado que a populaccedilatildeo pode se deslocar a peacute desde Ciudad del Este (ASTORGA etal 2004 p88)

Cabe aqui a ressalva de que em regiotildees de fronteira internacional assim

como em outras regiotildees do paiacutes o problema da sauacutede eacute resultado de uma

conjuntura de fatores sendo que os mais citados para justificar a ineficiecircncia do

sistema eacute a falta de recursos humanos especializados as distacircncias entre os

municiacutepios e os grandes centros de referecircncia e a insuficiecircncia de equipamentos

para realizaccedilatildeo de tratamentos e procedimentos de meacutedia e alta complexidade

(GADELHA 2007 p216)

Na tentativa de amenizar essa situaccedilatildeo nas cidades de fronteira tendo o

MERCOSUL como propositor dessa poliacutetica criou-se o Sistema Integrado de Sauacutede

do Mercosul (SIS-MERCOSUL) Instituiacutedo em julho de 2005 e lanccedilado em

novembro do mesmo ano na cidade de Uruguaiana ndash RS ndash por meio do ministeacuterio

da sauacutede e dos Estados-membros do Mercosul seu objetivo eacute criar uma agenda

com propostas de Cooperaccedilatildeo Teacutecnica entre os paiacuteses do referido bloco e garantir

o atendimento para a populaccedilatildeo da regiatildeo por meio de estrateacutegias que melhorassem

a sauacutede local dos paiacuteses envolvidos

Costa e Gadelha (2007) explicam que ldquoa ideacuteia eacute iniciar uma poliacutetica de

incentivo agrave gestatildeo a partir do repasse de recursos financeiros para os municiacutepios de

fronteirardquo (COSTA e GADELHA 2007 p218) Estas municipalidades por outra via

devem participar ativamente da elaboraccedilatildeo de um diagnoacutestico da realidade da sauacutede

local e realizar o cadastro da populaccedilatildeo no cartatildeo do SUS A complexidade do

diagnoacutestico reside no fato de que momento em que o Estado natildeo considera como

usuaacuterios do sistema uacutenico cidadatildeos advindos dos paiacuteses vizinhos Neste caso eacute

fundamental que haja investimento integrado com os demais paiacuteses

Alguns avanccedilos tecircm sido alcanccedilados no tocante agrave elaboraccedilatildeo de diagnoacutesticos de sauacutede para municiacutepios da linha de fronteira mas ainda natildeo se consegue verificar o relacionamento deste diagnoacutestico da infra-estrutura instalada e real utilizaccedilatildeo do sistema por parte da populaccedilatildeo flutuante que o utiliza Para reverter essa situaccedilatildeo muito haacute que se avanccedilar na coordenaccedilatildeo de poliacuteticas de fronteiras no Brasil assim como em sua articulaccedilatildeo com as dos paiacuteses vizinhos (COSTA CADELHA 2007 p217)

41

Como podemos observar nos dados apresentados autores que tratam das

poliacuteticas puacuteblicas direcionadas para regiotildees fronteiriccedilas insistem em uma melhor

articulaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses com poliacuteticas para a fronteira de modo

que estas possam ser executadas com sucesso

15 O contexto escolar vivido entre fronteiras a escola como reguladora do

Estado

Albuquerque (2010) apresenta alguns trabalhos histoacutericos e antropoloacutegicos

acerca do Estado e dos agentes locais fronteiriccedilos ldquonas redefiniccedilotildees das identidades

nacionais regionais e locaisrdquo (ALBUQUERQUE 2010 p 46) Dentre estes estudos

o autor descreve aqueles referentes agrave fronteira dos Estados Unidos com o Meacutexico

em que a loacutegica de um hibridismo cultural de uma integraccedilatildeo cultural na fronteira

entre os dois paiacuteses eacute questionada Disto decorre o fortalecimento das identidades

nacionais Inspirados pelos estudos referentes agraves fronteiras entre os paiacuteses

Europeus e Meacutexico e Estados Unidos Albuquerque aponta que os antropoacutelogos do

cone sul em destaque os argentinos tecircm realizado inuacutemeras etnografias nas

fronteiras entres os paiacuteses da Ameacuterica do Sul

O que haacute de comum eacute a tentativa de pensar a tensatildeo entre naccedilatildeo e processos de integraccedilatildeo supranacionais e as maneiras como as identidades nacionais se fortalecem nestes espaccedilos de fronteiras apesar do visiacutevel hibridismo de liacutenguas e outras expressotildees culturais (GRIMSON 2003 KARASIK 2000 VIDAL 2000 apud ALBUQUERQUE 2010 p 27)

A complexidade das relaccedilotildees sociais existentes na fronteira nos permite dizer

que seria leviano rotular as pessoas que nelas transitam Conforme Laclau

(1996)ldquonatildeo se pode afirmar uma identidade diferencial sem distingui-la de um

contexto e no processo de fazer a distinccedilatildeo afirma-se o contexto simultaneamenterdquo

(LACLAU 1996 apud HALL 2003 p 85) No contexto da fronteira nos deparamos

com um sujeito que possui sua identidade nacional negociada o tempo todo atraveacutes

do encontro com os ldquooutrosrdquo

Em Foz do Iguaccedilu como mencionado eacute comum a presenccedila de outras etnias

e nacionalidades que buscam preservar seus costume e tradiccedilotildees mas ao entrar em

contato com outros costumes e valores acabam por adquirir parte de seus haacutebitos

Machado (2006) aponta que uma vez que a identidade sendo cultural e portanto

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social e historicamente construiacuteda ela pode ser reconstruiacuteda ou reinventada

conforme as circunstancias temporais e espaciais (MACHADO 2006 p 93)

Figueiredo (2005) afirma que a questatildeo da identidade vai para aleacutem da construccedilatildeo

para a negociaccedilatildeo

Se anteriormente as identidades apareciam como construccedilotildees ainda que percebidas como processos simboacutelicos hoje em dia aleacutem dessa noccedilatildeo pode-se pensar e discutir a identidade como negociaccedilatildeo tanto como nas fronteiras culturais como nas linguumliacutesticas e territoriais (FIGUEIREDO 2005 p546)

Deste modo estes encontros relaccedilotildees e negociaccedilotildees entre diferentes

costumes haacutebitos liacutenguas se fazem presentes em Foz do Iguaccedilu e tambeacutem se

manifestam em diferentes espaccedilos como o escolar A escola eacute considerada um

espaccedilo plural principalmente com a globalizaccedilatildeo que provocou dentre outras

mudanccedilas ldquoum redimensionamento de grupos e movimentos migratoacuteriosrdquo (VIERA

2010 p10) Grandes metroacutepoles como Satildeo Paulo possui um grande nuacutemero de

estrangeiros Em reportagem feita para o Jornal bdquoO Estado de Satildeo Paulo‟ a

jornalista Isabela Palhares foi agrave uma escola na capital paulista Os dados fornecidos

pela direccedilatildeo da escola indica que ela possui mais de 55 de alunos estrangeiros

Trata-se da Escola Estadual Marechal Deodoro no Bom Retiro regiatildeo central de

Satildeo Paulo Dos 772 estudantes matriculados 55 satildeo de outro paiacutes ou satildeo filhos

de pais que vieram recentemente para o Brasil ldquoA maioria desses alunos

estrangeiros eacute de bolivianos peruanos e paraguaios mas ainda haacute coreanos

argentinos chilenos e um camaronecircsrdquo (PALHARES 2015)

Embora natildeo seja uma grande cidade em termos populacionais12 como as

capitais ou metroacutepoles brasileiras Foz do Iguaccedilu possui uma diversidade notaacutevel

quanto agrave presenccedila de imigrantes de diferentes nacionalidades e etnias que

possibilita transformaccedilatildeo e reconfiguraccedilatildeo da cultura e do cenaacuterio local Essa

presenccedila de imigrantes como explica Maria Eta Viera (2010) nem sempre eacute

percebida pelo brasileiro como algo valorativo A autora descreve a reaccedilatildeo de

algumas pessoas em transportes puacuteblicos e nas ruas que ao perceberem a

12

Conforme o censo realizado pelo IBGE em 2010 Foz do Iguaccedilu possui cerca de 260 mil

habitantesDisponiacutevel

emlthttpcidadesibgegovbrpainelpainelphplang=ampcodmun=410830ampsearch=||infogrE1ficos-

dados-gerais-do-municEDpiogt Acesso em 14062015

43

presenccedila do estrangeiro com traccedilos fiacutesicos diferentes e falando outro idioma

reagem com repulsa e redobram os cuidados com seus pertences (bolsa celular

carteira etc) (VIERA 2010)

Tradicionalmente tido como um paiacutes hospitaleiro receptivo ao extremo e que valoriza - agraves vezes ateacute de forma exagerada- o que eacute estrangeiro causam estranheza algumas atitudes que tecircm sido observadas com relaccedilatildeo a imigrantes de determinados paiacuteses (VIERA 2010 p61)

O imigrante que deixa seu paiacutes leva consigo a sua histoacuteria cultura valores e

ao chegar a outro paiacutes deve readequar a sua vida a este novo cenaacuterio Esse

encontro pode dar-se de modos diferentes ldquoprovocando desde uma coexistecircncia e

convivecircncia paciacuteficas entre os valores e costumes das comunidades envolvidas ateacute

repulsa e marginalizaccedilatildeo do estrangeiro (VIERA 2010 p63)

Conforme apresenta Homik Babha (1998) natildeo devemos concentrar nossas

atenccedilotildees seja em um lado ou em outro - neste caso o brasileiro em relaccedilatildeo aos

outros Ele critica esta noccedilatildeo binaacuteria entre totalidades Ao observar praacuteticas comuns

tiacutepicas de uma cultura assimiladas por outras eacute possiacutevel sugerir alguns exemplos

passiacuteveis de ocorrer em Foz do Iguaccedilu a saber o mesmo sujeito brasileiro que

chama o paraguaio de xiruacute a fim de ofendecirc-lo eacute o que adquiriu o haacutebito comum aos

paraguaios de tomar o tererecirc13 Isto vale tambeacutem para os apelidos pejorativos e

estigmas que tentam associar ao aacuterabe que reside em Foz do Iguaccedilu como

terrorista14 atraveacutes da denominaccedilatildeo de ldquohomens-bombardquo Aquele que os ofende eacute o

mesmo que fuma o narguile15 consome o shawarma e a esfiha Deste modo Babha

entende que a diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ocorre ao mesmo tempo em que

haacute incorporaccedilatildeo do outro dentro de si mesmo

1313Terereacute ou tererecirc eacute uma bebida tiacutepica feita com a infusatildeo de ervas em aacutegua fria Sua origem eacute atribuiacuteda aos Paraguai tendo suas raiacutezes na cultura dos indiacutegenas guaranis 14A partir do dia 11 de setembro de 2001 uma seacuterie de alegaccedilotildees sobre viacutenculos terroristas na Triacuteplice Fronteira entre Brasil Paraguai e Argentina cruzou as Ameacutericas Essa teoria circulada nos meios de comunicaccedilatildeo combinou com duas correntes imperialistas da poliacutetica externa dos Estados Unidos por um lado a imagem do aacuterabe ou do mulccedilumano como terrorista e por outro a representaccedilatildeo da Ameacuterica do Sul como uma ldquoterra sem leirdquo (MONTENEGRO GIMEacuteNEZ BEacuteLIVEAU 2006 apud KARAN 2011 p203) 15Espeacutecie de cachimbo muito usado por hindus persas e turcos constituiacutedo de um fornilho um tubo longo e um pequeno recipiente contendo aacutegua perfumada pelo qual passa a fumaccedila antes de chegar agrave boca (Dicionaacuterio online Disponiacutevel em lthttpwwwdiciocombrnarguilegtAcesso em 23112015

44

Nas escolas puacuteblicas de Foz do Iguaccedilu este ldquooutrordquo satildeo representados em

sua maioria por paraguaios e argentinos ou seja as diferenccedilas tecircm como marcador

principal a identidade nacional Trata-se de um problema histoacuterico jaacute que a escola

foi um dos instrumentos que permitiu ao Estado tentar iniciar o processo de

homogeneizaccedilatildeo cultural Logo conforme Pereira (2009) a escola deste o iniacutecio foi

considerada um espaccedilo negaccedilatildeo da diversidade O nacional torna-se assim fator

de diferenciaccedilatildeo de tensotildees de abertura para preconceitos e estigmas

Na dissertaccedilatildeo sobre a presenccedila de brasiguaios nas escolas brasileiras

Cirlani Terenciani (2011) menciona o trabalho de Joseacute Carlos de Souza (2001)

sobre as representaccedilotildees que os brasileiros fazem em relaccedilatildeo aos paraguaios

() que se tomar dinheiro emprestado natildeo gosta de pagar e natildeo quer que lembre da diacutevida Eacute vingativo para as pessoas que lhe traem a confianccedila () costuma-se dizer que trecircs coisas o paraguaio natildeo daacute a mulher o cavalo e a arma (SOUZA 2001 p 55 apud TERENCIANI 2011 p56)

Tratam-se de afirmaccedilotildees preconceituosas que contribuem para que a imagem do

paraguaio seja associada agrave ldquofalsidade ilegalidade desconfianccedilardquo (TERENCIANI

2011p 57)

Durkheim em Educaccedilatildeo e Sociologia (2011) descreve a escola enquanto

uma instituiccedilatildeo que natildeo estaacute alheia aos fatos sociais presentes na sociedade Logo

a representaccedilatildeo do ldquooutrordquo tanto em seus aspectos positivos quanto negativos eacute

reproduzido no acircmbito escolar sendo portanto um espaccedilo de negociaccedilotildees das

identidades-diferenccedilas

A educaccedilatildeo eacute inseparaacutevel da sociedade em seus momentos histoacutericos Para

Durkhiem (2011) cada sociedade em determinado momento de seu

desenvolvimento teve um sistema de educaccedilatildeo que se impocircs aos indiviacuteduos com

uma forccedila geralmente irresistiacutevel Isto significa que a educaccedilatildeo tem uma relaccedilatildeo

muito estreita com as necessidades e os conflitos que a sociedade vivencia em

determinado momento histoacuterico A funccedilatildeo social da escola estaria na socializaccedilatildeo da

crianccedila Joseacute Carlos Martins (2010) partindo da teoria sociointeracionista de

Vygotsky cuja visatildeo de desenvolvimento humano se baseia na premissa de que o

pensamento eacute constituiacutedo em um espaccedilo histoacuterico e cultural afirma que ldquoa crianccedila

reconstroacutei internamente uma atividade externa como resultado de processos

interativos que se datildeo ao longo do tempordquo (MARTINS 2010 p114) Com isso o

45

professor e os demais constituintes da comunidade escolar acabam fazendo parte

do processo formativo da crianccedila Logo as ideias valores e conhecimentos desta

instituiccedilatildeo e de outros organismos da sociedade vatildeo influir diretamente na formaccedilatildeo

desta crianccedila

No que confere agraves escolas situadas em regiatildeo de fronteira o grande desafio eacute

lidar com situaccedilotildees que envolvem tanto os aspectos formais quanto os transversais

que se passam em sala de aula como exemplo a funccedilatildeo mediadora do professor e

demais responsaacuteveis pela formaccedilatildeo do aluno ao lidar com diferenccedilas eacutetnicas e

linguumliacutesticas o que eacute comum nas escolas de fronteira internacional Em artigo

publicado sobre a diversidade cultural em sala de aula intitulado de ldquoFronteira

Diversidade Cultural e Cotidiana Escolar na cidade de Ponta Poratilderdquo Nunes e

Terenciani (2010) analisaram as manifestaccedilotildees da diversidade cultural social e

poliacutetica vivida diariamente nas aulas de geografia As autoras constataram que os

alunos oriundos do Paraguai tinham muita dificuldade com a liacutengua portuguesa

() estes alunos principalmente os das seacuteries iniciais muitas vezes chegam agrave escola sem saber falar a Liacutengua Portuguesa e em alguns casos natildeo sabem falar sequer a Liacutengua Espanhola comunicando-se apenas atraveacutes da Liacutengua Guarani o que dificulta o processo de aprendizagem bem como a relaccedilatildeo dos professores com seus alunos (NUNES TERENCIANI 2010 p04)

Nunes e Terenciani (2010) consideram que a escola e o formalismo no qual

ela se fundamenta reforccedila as fronteiras simboacutelicas o que impede a integraccedilatildeo entre

os paiacuteses fronteiriccedilos

Por sua vez na pesquisa com alunos bolivianos que estudam em redes

puacuteblicas e privadas na cidade de fronteira Corumbaacute ndash MS as autoras Ruth Souza e

Aline Rodrigues (2009) em entrevista a coordenadores professores e diretores das

escolas por elas analisadas chegaram agrave conclusatildeo de que os alunos bolivianos

apresentam dificuldades para ler e escrever o que dificulta ateacute mesmo o processo

de integraccedilatildeo dos alunos com os demais (no caso os brasileiros) aleacutem de se

sentirem tiacutemidos pela estranheza daquele universo escolar Ao analisarem o Projeto

Poliacutetico Pedagoacutegico das escolas visitadas as responsaacuteveis pela pesquisa deram o

seguinte parecer

Observa-se entatildeo que a escola brasileira natildeo eacute preparada para atender o aluno estrangeiro nem mesmo em aacutereas de fronteira onde

46

essa realidade eacute cada vez mais frequumlente Os PPP‟s satildeo engessados nas diretrizes gerais da educaccedilatildeo e desconsideram as especificidades locais natildeo oferecendo subsiacutedios adequados para as escolas atenderem os alunos estrangeiros e buscarem a inserccedilatildeo do mesmo no ambiente escolar e garantir o seu aprendizado (SOUZA RODRIGUES 2009 p10)

Outro estudo referente agrave presenccedila de migrantes fronteiriccedilos realizado na

fronteira do Brasil com o Uruguai na cidade de Sant‟Ana do Livramento ndash RS por

Geovana Bardesio e Paulo Cassanego (2013) apontou que as diferenccedilas

relacionadas ao idioma principalmente a expressatildeo escrita da liacutengua portuguesa

foram assinaladas pelos gestores entrevistados como um dos maiores desafios a

serem superados para o melhor desenvolvimento do aluno migrante Os mesmos

quando questionados sobre as atividades desempenhadas com vistas agrave promoccedilatildeo

da socializaccedilatildeo entre os alunos das escolas natildeo relataram nenhuma atividade

direcionada especificamente para o acolhimento de alunos migrantes ldquotambeacutem natildeo

foram verificados incentivos a promoccedilatildeo de discussotildees entre os professores sobre o

tema migraccedilatildeo e sobre a situaccedilatildeo de acolher estudantes nesta condiccedilatildeo na escolardquo

(CASSANEGO E BARDESIO 2013 p7)

Jacira Pereira (2003) apresenta o resultado de sua pesquisa referente agraves

identidades eacutetnico-culturais e sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo de escolas situadas em

regiatildeo de fronteira A pesquisa foi realizada na fronteira entre Brasil e Paraguai nas

cidades de Ponta Poratilde e Pedro Juan Caballero Buscou entrevistar duas geraccedilotildees

de migrantes presentes nas cidades oriundos de diferentes etnias e nacionalidades

Dentre as questotildees presentes na entrevista encontra-se uma referente a

atitudes preconceituosas nas escolas devido agrave origem eacutetnica do aluno Pereira

destacou a seguinte resposta de uma estudante paraguaia quando perguntada se

sofria algum tipo de preconceito

Preconceito assim natildeo mas tem aquelas brincadeirinhas de mau gosto Cala boca sua paraguaia [] Isto acontecia desde pequena agora parou um pouco Mas acontecia sempre e eu ficava brava brava Eu tinha vergonha (Luciana Assunccedilatildeo ndash 2ordf geraccedilatildeo) (PEREIRA 2003 p7)

Em relaccedilatildeo a possiacuteveis apelidos dados pelos colegas de turma a autora

destaca as seguintes falas

Natildeo ligo de ser descendente de libanecircs eu gosto [] Eu natildeo tenho mas os amigos do meu irmatildeo me chamam de turquinho Mas eu natildeo tenho um apelido que todo mundo me chama (Rames Husseinndash 2ordm geraccedilatildeo)

47

Tenho vaacuterios entre eles o de japonecircs porque me confundem com japonecircs [] Natildeo gosto disso (KyoLinndash 2ordf geraccedilatildeo) (PEREIRA 2003 p8)

Pode-se inferir com base nos relatos que nas relaccedilotildees no interior da escola

natildeo se discrimina o sujeito apenas por sua nacionalidade como tambeacutem pela

aparecircncia Ainda com relaccedilatildeo aos preconceitos e agrave discriminaccedilatildeo que sofrem os

migrantes a pesquisadora constatou que a minoria migrante paraguaia eacute a que mais

demonstra ser alvo de tratamento diferenciado expresso nas zombarias e nas

chacotas o que eacute possiacutevel captar nas relaccedilotildees tensas e conflitantes entre as

diferentes etnias na fronteira Eis alguns dos relatos dessas manifestaccedilotildees

Tem alguns soacute mas natildeo falam de verdade eacute soacute de brincadeira os paraguaios natildeo levam muito a seacuterio Tem amigo do meu irmatildeo que chama de chipeiro porque eacute do Paraguai soacute que esse apelido pegou e todo mundo soacute chama assim os paraguaios (KyoLinndash 2ordf geraccedilatildeo) Jaacute vi colocar apelido Um rapaz que tem na minha sala o chamam de chipa de paraguaio Mas eacute coisa de amigo ele leva na brincadeira Natildeo leva a mal (Rames Husseinndash 2ordf geraccedilatildeo) Assim natildeo eacute que tira sarro Chama assim de chipa (Latiffe Nasserndash 2ordf geraccedilatildeo) (PEREIRA 2003 p8)

Com estes dados a pesquisadora aponta que eacute comum em escolas da

fronteira a reproduccedilatildeo do imaginaacuterio negativo que se tem do ldquooutrordquo e conclui ldquoque a

comunicaccedilatildeo entre os colegas eacute carregada de hostilidade o que marca a diferenccedila

eacutetnica como uma caracteriacutestica negativardquo (PEREIRA 2003 p7)

A professora Maria Elena Pires dos Santos (2010) em pesquisa realizada

sobre o cenaacuterio sociolinguiacutestico na fronteira e sua relaccedilatildeo com as poliacuteticas

educacionais e pedagoacutegicas ao realizar um estudo com alunos brasiguaios em uma

escola de Foz do Iguaccedilu percebe que haacute diferentes olhares para a escrita hiacutebrida do

aluno brasiguaio Para a autora ldquoa leitura e a escrita processos mais valorizados na

escola eacute justamente o que evidencia a visibilizaccedilatildeo do aluno brasiguaio

constituindo fonte de estigmatizaccedilatildeo e preconceitordquo (PIRES-SANTOS 2010 p 46)

Ela ainda aponta que os professores ficavam insatisfeitos quando tinham que

receber alunos ldquobrasiguaiosrdquo sendo uma das possiacuteveis explicaccedilotildees o fato deste

aluno possuir uma linguagem hiacutebrida e pelo fato do ldquoportunholrdquo ser um grande fator

de preconceito na fronteira

48

Em pesquisa realizada sobre a presenccedila de alunos brasiguaios em escolas

de fronteira BrasilParaguai na cidade de Ponta Poratilde Ione Dalinghaus (2009)

observou que mesmo em uma escola onde 90 dos alunos satildeo paraguaios ou

ldquobrasiguaiosrdquo eacute proibido o uso de outra liacutengua que natildeo o portuguecircs evidenciando

assim o mito16 do monolinguismo Tambeacutem Cerliani Terenciani (2011) em sua

dissertaccedilatildeo tratou de estudar a presenccedila de alunos oriundos do Paraguai nas

escolas de Ponta Poratilde Ao entrevistar uma professora cujos pais satildeo paraguaios

mas ela fora registrada no Brasil relata sua experiecircncia na escola

Eu sofri hien ixi Me chamavam de paraguaia Falavam que eu era uma iacutendia que natildeo sabia falar o portuguecircs e essas coisas tipo de deboche assim sabe que eacute ()(Entrevista concedida agrave CERLIANI 2011 p102)

Outra percepccedilatildeo da dificuldade de adaptaccedilatildeo do(a) aluno(a) paraguaio(a) em

escolas brasileiras agora na cidade de Santa Terezinha de Itaipu17 encontra-se na

pesquisa de Marli Schlosser e Margarete Frasson (2012) sobre a imigraccedilatildeo de

alunos da educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Baacutesica do Paraguai para escolas brasileiras da rede

municipal de ensino entre os anos de 2007 e 2011 Segundo as autoras a fronteira

pode se apresentar como um espaccedilo de vivecircncia e possibilidades que seria por

exemplo o aluno migrante aprender um novo idioma No entanto quando os novos

conhecimentos que este aluno tem que adquirir na escola natildeo eacute em sua liacutengua

materna o processo de travessia na fronteira torna-se doloroso para o mesmo

ldquoobrigando-o a fazer uso de atitudes de silenciamento ou seja ele passa a se

apresentar reservado e em bdquoinvisibilidade‟ retraiacutedo para natildeo ser visto pelo olhar

hegemocircnico da escolardquo (GENTILI 2004 apud SCHLOSSER E FRASSON 2012

p4)

As pesquisas realizadas em diferentes escolas de fronteira apontam para a

necessidade de discussotildees que passem pelo campo das poliacuteticas linguumliacutesticas e

educacionais para a diversidade Ataiacutede e Moraes (2003) discorrem sobre a

tendecircncia de homogeneizaccedilatildeo curricular que aliena a escola de seu contexto O

Brasil como um todo ldquoproduz um projeto pedagoacutegico exoacutegeno e xenoacutefobordquo (ATAIacuteDE

16

Aleacutem do portuguecircs satildeo faladas hoje mais de 222 liacutenguas no Brasil Dessas liacutenguas explica Maher

mais de 180 satildeo indiacutegenas cerca de 40 satildeo liacutenguas de imigraccedilatildeo e duas satildeo liacutenguas de sinais LIBRAS-a Liacutengua Brasileira de Sinais-e a Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira Aleacutem das liacutenguas africanas Assim o Brasil pode ser considerado como um paiacutes multiliacutenguumle (MAHER 2013 p117) 17

Cidade localizada na zona de fronteira entre Brasil e Paraguai

49

e MORAES 2003 p83) Jurjo Santomeacute (1995) fala sobre o silenciamento que existe

nos curriacuteculos nacionais referentes agraves minorias no ambiente escolar sendo que no

caso da presenccedila de estrangeiros nas escolas fronteiriccedilas ela natildeo eacute nem negada e

tampouco silenciada tecircm se a impressatildeo de sua inexistecircncia Albuquerque e Souza

(2014) utilizam a expressatildeo ldquotrincheiras culturaisrdquo para se referirem agraves escolas em

aacutereas de fronteiras que tem por funccedilatildeo ldquonacionalizar as crianccedilasrdquo e combater o

idioma estrangeiro (ALBUQUERQUE 2014 p02)

Embora a expressatildeo ldquonacionalizar as crianccedilasrdquo seja reducionista ao limitar a

funccedilatildeo da escola agrave nacionalizaccedilatildeo um fato ocorrido em 1999 na fronteira entre

Brasil e Uruguai na cidade de Rivera natildeo tira em alguma medida este caraacuteter

ldquonacionalizadorrdquo o qual o Estado busca desempenhar atraveacutes da escola Trata-se de

uma reportagem publicada nos dois principais jornais da capital uruguaia

Montevideacuteu em que o ministro da educaccedilatildeo do paiacutes demonstrou sua indignaccedilatildeo

pelo fato do idioma portuguecircs ter invadido as escolas do Uruguai localizadas em

regiotildees de fronteira senti verguenza del estado de nuestras escuelas () Hasta

queacute punto el idioma portuguecircs habiacutea penetrado em nuestro paiacutes (Jornal El Paiacutes

1999 p6 apud SAacuteNCHEZ 2002p 115) A posiccedilatildeo do Conselho Diretivo Central de

Ensino natildeo foi muito diferente do ministro

por la expasiacuteon del idioma portugueacutes y el portunhol em aacutereas fronterizas y las acertadas medidas que adoptaraacute-fortalecimiento de la ensentildeanza del espanotildel formaacuteciacuteon de docentes de esa a signatura y maacutes centros educativosrdquo (Jornal El Observador 1999 p10 apud SAacuteNCHEZ 2002 p116)

A escola apresenta-se neste contexto enquanto reguladora seja de valores

culturas memoacuterias identidades a partir de padrotildees universalistas construiacutedos sem

um diaacutelogo com a alteridade (ARROYO 2007 p119) Uma possiacutevel tentativa de

transformar estas questotildees em estudo nas regiotildees fronteiriccedilas eacute o Programa das

Escolas Interculturais de Fronteira (PEIF) que conforme o documento oficial do

programa busca discutir a ldquoidentidade regional biliacutengue e intercultural no marco de

uma cultura de paz e cooperaccedilatildeo interfronteiriccedilardquo (ARGENTINABRASIL 2007 p 2)

Esta proposta seraacute analisada no proacuteximo capiacutetulo

Este capiacutetulo teve como objetivo traccedilar algumas perspectivas possiacuteveis de

abordar o tema de fronteira a comeccedilar com a etimologia da palavra utilizada pela

primeira vez no seacuteculo XIII como separaccedilatildeo entre Estados Hoje a fronteira eacute

estudada a partir de diferentes dimensotildees social simboacutelica cultural etc Desse

50

modo rompemos com a ideia de fronteira apenas como o limite entre estados e com

a tendecircncia de se cristalizaccedilatildeo da mesma pois eacute fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica

Outro aspecto levantado foi o papel da educaccedilatildeo escolar na construccedilatildeo do

imaginaacuterio e do sentimento de pertenccedila agrave naccedilatildeo (ANDERSON 1993) O Estado

utilizou as escolas para propagaccedilatildeo dos ideais nacionais na cidade de Foz do

Iguaccedilu com o objetivo de demarcar e proteger o territoacuterio dos paiacuteses vizinhos dos

imigrantes e seus descendentes

Na relaccedilatildeo entre fronteira e poliacuteticas puacuteblicas a bibliografia levantada sobre

estudos sobre fronteira e relaccedilotildees trabalhistas fronteira e o Sistema Uacutenico de Sauacutede

e das escolas em regiatildeo de fronteira demonstraram que os paiacuteses convivem como

naccedilotildees diferentes entre si embora os problemas que o afetem extrapolam a questatildeo

nacional de cada paiacutes A fronteira eacute um lugar o Estado se faz presente eacute notaacutevel

pelo processo de securitizaccedilatildeo da fronteira brasileira mas eacute tambeacutem o lugar onde o

Estado-naccedilatildeo se enfraquece dada a fluidez dos agrupamentos humanos

(MACHADO 2010)

CAPIacuteTULO II A HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO EM FOZ DO IGUACcedilU CONSTRUTOS

E CONTRADICcedilOtildeES PARA A CONSOLIDACcedilAtildeO DO ESTADO-NACcedilAtildeO

51

Este capiacutetulo tem como objetivo principal apresentar o processo pelo qual a

educaccedilatildeo na cidade de Foz do Iguaccedilu se desenvolveu com a finalidade de

demonstrar que neste trajeto a escola foi um dos principais instrumentos do

Estado junto com a militarizaccedilatildeo da fronteira para bdquonacionalizar‟ e proteger o

territoacuterio brasileiro Para isto primeiramente apresentamos o contexto ao qual a

cidade de Foz do Iguaccedilu foi fundada destacando que o territoacuterio desde a fundaccedilatildeo

da Colocircnia Militar em 1889 contava com a presenccedila de estrangeiros

Ao mesmo tempo abordamos a trajetoacuteria da formaccedilatildeo das escolas em Foz do

Iguaccedilu a partir da histoacuteria da educaccedilatildeo do Paranaacute O capiacutetulo destaca os principais

fatos histoacutericos que ocorreu no Estado paranaense e na regiatildeo Oeste do Paranaacute que

marcaram a criaccedilatildeo das escolas Destaca-se aqui os anos de 1930-1945 periacuteodo

em que ocorreu a Marcha para o Oeste e a fundaccedilatildeo do Territoacuterio Federal do

Iguaccedilu que estimulou o desenvolvimento do Oeste do Paranaacute e com isto a criaccedilatildeo

de escolas ao mesmo tempo em que a poliacutetica nacionalista do governo varguista

aplicou uma poliacutetica de vigilacircncia sobre as escolas dos imigrantes ou mesmo o seu

fechamento Delineamos ainda os principais aspectos educacionais a partir dos

anos de 1990 ateacute os dias atuais para destacar os resquiacutecios e as transformaccedilotildees da

educaccedilatildeo na cidade de fronteira ao longo deste periacuteodo

21 Contexto histoacuterico

A regiatildeo da chamada triacuteplice fronteira eacute composta pela Argentina Brasil e

Paraguai com suas respectivas cidades Puerto Iguazuacute Foz do Iguaccedilu e Ciudad del

Este como pode ser observado no mapa abaixo

52

Imagem VI- Mapa da regiatildeo da Triacuteplice Fronteira- Argentina Brasil e Paraguai Fonte httpgeouel2009blogspotcombr201207triplice-fronteira-apontamentoshtml

A presenccedila de imigrantes europeus na regiatildeo onde hoje eacute a cidade de Foz do

Iguaccedilu data do ano de 1542 com os relatos da chegada de Aacutelvaro Nunes Cabeza

de Vaca agraves cataratas Este relato faz parte da histoacuteria de construccedilatildeo da cidade

brasileira e se funde agrave histoacuteria das cataratas do Iguaccedilu - uma das sete maravilhas da

natureza Foz do Iguaccedilu tem como marco fundador a criaccedilatildeo da colocircnia militar em

1889 e a data de 1930 como iniacutecio de seu processo modernizador (SOUZA 2009)

Portanto eacute a partir da fundaccedilatildeo da colocircnia militar que buscamos conhecer o

processo de formaccedilatildeo das primeiras escolas da regiatildeo oeste paranaense e

portanto de Foz do Iguaccedilu

Compreender o processo de desenvolvimento da cidade de Foz do Iguaccedilu

bem como o de suas instituiccedilotildees de ensino implica na contextualizaccedilatildeo dos

acontecimentos e transformaccedilotildees no Brasil e tambeacutem das mudanccedilas ocorridas

nesta regiatildeo fronteiriccedila

A educaccedilatildeo brasileira do seacuteculo XIX foi reflexo das transformaccedilotildees no acircmbito

da produccedilatildeo da vida social ocorridas no Brasil poacutes-independecircncia No Paranaacute as

atividades econocircmicas tinham como base as fazendas de gado A criaccedilatildeo de gado e

o comeacutercio foram fundamentais para a o povoamento do territoacuterio nesse periacuteodo

Segundo Maria Ceciacutelia Oliveira (1986) com o crescimento das lavouras de

cafeacute em Satildeo Paulo o comeacutercio interno de escravos cresceu significativamente Do

mesmo modo no Paranaacute que por volta de 1865 viu o nuacutemero de escravos

diminuiacuterem significativamente na Proviacutencia A falta de matildeo-de-obra refletiu na

agricultura paranaense direcionada para o abastecimento de gecircneros alimentiacutecios

53

Para solucionar a falta de matildeo-de-obra o governo provincial ldquoque jaacute vinha

promovendo a imigraccedilatildeo de grupos de estrangeiros intensificou a poliacutetica

imigratoacuteria objetivando a atender o problema da matildeo-de-obra na produccedilatildeo agriacutecolardquo

(OLIVEIRA 1986 p34) A mesma autora aponta que a Proviacutencia do Paranaacute criou

escolas em diversas colocircnias estrangeiras situadas proacuteximas dos nuacutecleos urbanos

sobretudo de Curitiba Ao mesmo tempo os imigrantes criaram suas proacuteprias

escolas para manutenccedilatildeo da cultura de seus respectivos paiacuteses de origem

As escolas e o conjunto de sua estrutura eram precaacuterios ldquofaltava preacutedio

escolares ausecircncia e deficiecircncia de professores baixa frequumlecircncia escolar aleacutem dos

parcos recursos disponiacuteveisrdquo (OLIVEIRA 1986 p35) No Brasil como um todo

seguia sem diretrizes que pudessem organizar melhor o ensino no paiacutes

A ausecircncia de um plano definido de educaccedilatildeo que atendesse agraves necessidades brasileiras pode ser verificada pelas inuacutemeras reformas e projetos apresentados na Corte que marcam o Segundo Impeacuterio e influiacuteram na organizaccedilatildeo do ensino Entre eles podem ser

destacados (OLIVEIRA 1986 p35)

No Paranaacute apoacutes sua emancipaccedilatildeo em 1853 a instruccedilatildeo puacuteblica encontrava-

se em condiccedilotildees de precariedade e natildeo atingia toda a populaccedilatildeo Trindade (2001)

aponta que em meio a uma populaccedilatildeo de 620000 habitantes haviam apenas 615

alunos nos cursos de primeiras letras ldquoo ensino secundaacuterio era praticamente

inexistente e o pouco que havia em Curitiba buscava atender agrave demanda local e do

interior da Proviacutenciardquo (TRINDADE 2001 p 61)

21 Colocircnia Militar de Foz do Iguaccedilu e as primeiras escolas da regiatildeo

A colocircnia militar que marcou o iniacutecio da atuaccedilatildeo do Estado na regiatildeo de Foz do

Iguaccedilu foi criada a partir da lei imperial nordm 601 de 18 de setembro de 1850

regulamentada pelo decreto nordm 1318 de 30 de janeiro de 1854 que determinava o

registro das terras no territoacuterio brasileiro Desse modo o entatildeo presidente da

Proviacutencia do Paranaacute recebeu em 1854 o pedido para implementaccedilatildeo da colocircnia

militar e junto ao pedido seguiam as atividades a ser desenvolvidas pela colocircnia

1ordm Conceder o governo terras e fazer o sacrifiacutecio pecuniaacuterio annual

de 30 contos por certo numero de annos para pagar os juros de capital que se tomasse emprestado e se houvesse de applicar as

54

despezas de viagem e sustento de 500-600 familias 2ordm Estar a

direcccedilatildeo agrave cargo de pessoas responsaacuteveis pelo capital sob a

vigilacircncia o governo 3ordm Serem os lotes de terras divididos e vendidos

conforme hum preccedilo determinado destinando-se o producto a

construccedilatildeo de igrejas escolas etc etc 4ordm Incumbir a direcccedilatildeo a

procura de colonos e fornecimento de casas sementes animaes

viveres roupa bom mercado ao seus productos ampc 5ordm Cultivarem

as colocircnias de serra-acima cereais crearem animaes fazerem manteiga e queijo ao passo que as de serra-abaixo devem entregar-

se aacute cultura de generos coloneaes 6ordm Fazer o governo com as

despezas com padres e mestres de escola (RIIT 2011 p51 apud VASCONCELOS 1854 p 56)

Desse modo a ocupaccedilatildeo da regiatildeo por parte do Brasil foi consolidada no ano

de 1889 com a colocircnia militar O objetivo consistia em proteger o territoacuterio brasileiro

principalmente apoacutes a Guerra da Triacuteplice Alianccedila18 (1864-1870) Segundo Valdir

Gregory (2012) as intencionalidades em estabelecer um posto militar avanccedilado eacute

apenas uma justificativa que tinha ldquocomo pano de fundo a necessidade da

construccedilatildeo da nacionalidade () os sucessos na guerra motivaram a presenccedila fiacutesica

e ideoloacutegica na triacuteplice fronteirardquo (GREGORY 2012 p 50) Escreve Silveira Neto

(1939) em seus relatos de viagem que havia naquele periacuteodo de implementaccedilatildeo da

colocircnia militar 324 habitantes ldquosendo 188 paraguaios 33 argentinos 93 brasileiros

5 franceses 2 espanhoacuteis 1 inglecircs 2 orientais Destes 220 homens e 104 mulheresrdquo

(NETO 1939 p 52)

Estabelecida a colocircnia os militares se preocuparam com a necessidade da

instruccedilatildeo escolar Assim em 1895 foi criada uma escola informal que no iniacutecio

contou com vinte alunos matriculados

Em Foz do Iguaccedilu nuacutecleo pioneiro da ocupaccedilatildeo nacional regional desde os tempos da Colocircnia Militar existiu por parte dos militares e funcionaacuterios do fisco a preocupaccedilatildeo com a escolarizaccedilatildeo de seus filhos Esse segmento social resolveu o problema da instruccedilatildeo a partir de seu proacuteprio grupo social Essa instruccedilatildeo era quantitativamente muito restrita soacute para filhos de funcionaacuterios dos postos mais importantes na modalidade de Escola Particular Domiciliar (EMER 2012 p 37)

18 Na eacutepoca do Brasil imperial toda essa fronteira foi assegurada com a vitoacuteria da Guerra da Triacuteplice

Alianccedila (1865-1870) que derivou no aniquilamento de capacidade econocircmica e beacutelica paraguaia A vitoacuteria brasileira argentina e uruguaia impocircs ao Paraguai a assinatura do Tratado de Limites de 1872 que anexava ao territoacuterio brasileiro terras paraguaias agrave leste do Rio Paranaacute (ROSEIRA 2006 p 38)

55

Segundo o mesmo autor entre os anos de 1889 ateacute 1912 ano de extinccedilatildeo da

Colocircnia Militar as crianccedilas de famiacutelias brasileiras com boas condiccedilotildees financeiras

que natildeo eram filhas de funcionaacuterios do governo buscavam escolarizaccedilatildeo nos paiacuteses

vizinhos Para o autor a instruccedilatildeo particular domiciliar ficava restrita a filhos de

funcionaacuterios que ocupavam cargos importantes Durante o periacuteodo de vigecircncia da

Colocircnia Militar prevaleceu a modalidade de instruccedilatildeo sem instituiccedilatildeo Natildeo existiu

escola ou casa escolar em Foz do Iguaccedilu (EMER 1991 p 28)

Destacam-se os argentinos que nesse periacuteodo dominavam a regiatildeo pois as

companhias ervateiras e madeireiras eram daquele paiacutes ldquoSe a produccedilatildeo local era

estrangeira a moeda a liacutengua e os bens de primeira necessidade tambeacutem o eramrdquo

(ROSEIRA 2006 p41) No que se refere ao idioma o guarani e o espanhol eram

predominantes nesta regiatildeo Em relaccedilatildeo agrave moeda o dinheiro que circulava era o

peso argentino e as propriedades eram em sua maioria pertencentes agraves Obrages

(WACHOWICZ 1985 p 140 apud ROSEIRA 2006 p 51)

Segundo o historiador Ruy Wachowicz (2010) este processo de aproximaccedilatildeo

com a Argentina fez com que a regiatildeo oeste ficasse mais exposta agrave penetraccedilatildeo

argentina do que com o restante do Brasil (WACHOWICZ 2010 p 275) A

proximidade entre os dois paiacuteses fez com que o oeste paranaense fosse

culturalmente influenciado e economicamente dependente da Argentina Wachowicz

aponta que por volta de 1881 os argentinos comeccedilaram a exploraccedilatildeo da erva-mate

em Misiones e mais tarde no Brasil na regiatildeo oeste do Paranaacute

Otiacutellia Schimmelpfeng (1991) em seu livro ldquoRetrospectos iguaccedilusensesrdquo fala

acerca desta singularidade ldquoA moeda argentina circulava com domiacutenio absoluto na

praccedila Pouco ou nada se fala em ldquomil reacuteisrdquo naquele tempordquo (SCHIMMELPFENG

1991 p 28) O ldquopesordquo se introduzia ateacute nas reparticcedilotildees puacuteblicas Em entrevista ao

historiador Ruy Cristovatildeo Wachowicz Otiacutellia eacute mais detalhista sobre a influecircncia

argentina

Eu sentia aqui como se natildeo tivesse no Brasil Me sentia aqui isolada parecia que eu estava em outro paiacutes ateacute Porque todos os haacutebitos a liacutengua falada aqui era mais que predominava era o espanhol o castelhano como se dizia Parece que as pessoas quando vinham pra caacute no Brasil se achavam na obrigaccedilatildeo de aprender o castelhano pra ser entendido Parecia E todo mundo se interessava em falar o castelhano porque a convivecircncia aqui era muito maior com os argentinos Paraguai natildeo tanto porque noacutes natildeo tiacutenhamos Paraguai nessa regiatildeo aqui natildeo era muito habitada Mas tinha o Porto Aguirre que hoje eacute Porto Iguaccedilu que jaacute era um porto de grande movimento de turismo jaacute jaacute tava sendo legalizado entatildeo jaacute tinha mais

56

desenvolvimento e mais recurso tambeacutem pra atender Foz do Iguaccedilu entatildeo noacutes tiacutenhamos mais contacto com os argentinos [] Entatildeo a gente tinha aqui um contacto mesmo constante com os argentinos E se falava soacute quase o castelhano a moeda era soacute o peso argentino (SCHIMMELPFENG 1980 apud SBARDELOTTO 2009 p 91)

O contato de Foz de Iguaccedilu era muito mais intenso com os paiacuteses fronteiriccedilos

do que com o restante do paiacutes Sbardelotto (2008) explica que havia tambeacutem um

grande nuacutemero de paraguaios que adentravam no Oeste do Paranaacute para trabalhar

nas empresas de erva-mate e posteriormente de madeira Contudo a presenccedila

argentina se destaca uma vez que eram o grupo que ldquodetinham os meios de

produzir e comercializar a principal atividade produtiva da regiatildeo e que atraveacutes

deste controle econocircmico determinavam os costumes a cultura e tambeacutem a

educaccedilatildeo neste territoacuteriordquo (SBARDELOTTO 2008 p5)

Dessas companhias madeireiras que se estabeleceram na regiatildeo muitas

faziam parte do modelo de exploraccedilatildeo denominado de Obrage ldquoO obragero era o

proprietaacuterio desse tipo de latifuacutendio () o obragero argentino explorava a erva-mate

e a madeira em torosrdquo (WACHOWICZ 2010 p 276) Em poucas deacutecadas a regiatildeo

que compreende a costa paranaense foi ocupada por inuacutemeras obrages e

consequentemente povoada em sua maioria por paraguaios argentinos e guaranis

modernos19 que trabalhavam como mensus20 Em 1930 a populaccedilatildeo estimada nas

obrages passava dos 10000 habitantes em sua maioria estrangeira

Naquele contexto a intensidade das relaccedilotildees fez com que a Argentina se

tornasse o principal prestador de serviccedilos agrave cidade de Foz do Iguaccedilu Segundo

Sbardelotto (2009) muitas crianccedilas eram escolarizadas no sistema argentino

absorvendo a liacutengua a histoacuteria e os costumes do paiacutes vizinho (SBARDELOTTO

2009 p 92)

Durante o periacuteodo em que seguia o desenvolvimento da Colocircnia Militar os

ldquopioneirosrdquo responsaacuteveis por sua construccedilatildeo diante da ausecircncia de um sistema de

ensino institucionalizado passaram a organizar e estruturar uma educaccedilatildeo natildeo-

formal

Em Foz do Iguaccedilu nuacutecleo pioneiro da ocupaccedilatildeo nacional regional desde os tempos da Colocircnia Militar existiu por parte dos militares e

19

Termo empregado aos indiacutegenas guaranis miscigenados do Paraguai (PRIORI A et al 2012p79) 20 A expressatildeo vem do espanhol da palavra bdquomensual‟ ou seja mensalista (GREGORY 2002 p 89 apud PRIORI A et al 2012p79)

57

funcionaacuterios do fisco a preocupaccedilatildeo com a escolarizaccedilatildeo de seus filhos Esse segmento social resolveu o problema da instruccedilatildeo a partir de seu proacuteprio grupo social Essa instruccedilatildeo era quantitativamente muito restrita soacute para filhos de funcionaacuterios dos postos mais importantes na modalidade de Escola Particular Domiciliar (EMER 2012 p37)

No ano de 1910 a Colocircnia Militar passou a ser distrito de Guarapuava e

denominada de Vila do Iguassuacute Em 1912 o Ministeacuterio da Guerra emancipou a

colocircnia que passou a ser administrada pelos civis sob o governo do Estado do

Paranaacute Em 1914 com a lei nordm 1383 foi criada a municipalidade de Vila do Iguassuacute e

em 1918 o nome Foz do Iguaccedilu foi adotado como oficial Conforme Lima (2001) no

periacuteodo compreendido entre 1914 a 1930 aleacutem do estabelecimento das primeiras

famiacutelias brasileiras argentinas e paraguaias houve a colonizaccedilatildeo por parte dos

imigrantes descendentes de alematildees poloneses e italianos (LIMA 2001 p 31)

De acordo com Emer (1991) a partir de 1914 o governo do Estado do

Paranaacute instituiu um novo modelo de escola o Grupo Escolar Estes grupos

escolares dirigiam-se ao ensino de quatro seacuteries com conteuacutedos progressivos Estas

escolas estavam localizadas nos principais centros urbanos e nas regiotildees mais

afastadas do centro seguiam sem escolas ou com muita precariedade de escolas

Os grupos de migrantes na ausecircncia de escolas construiacuteam as suas proacuteprias

A falta de escolas no Paranaacute fazia sentir-se especialmente fora dos nuacutecleos coloniais dos imigrantes que ao contraacuterio dos demais nuacutecleos populacionais natildeo esperavam pela iniciativa do governo mas construiacuteam suas proacuteprias escolas e providenciavam o professor Quando muito solicitavam algum tipo de subvenccedilatildeo do governo estadual A escola dos imigrantes natildeo se desenvolveu mais porque o Estado desde 1901 apenas subvencionava os professores que ensinassem em liacutengua portuguesa Esse natildeo era o interesse dos imigrantes Pretendiam repassar agraves novas geraccedilotildees sua noccedilatildeo de nacionalidade de origem que incluiacutea a liacutengua a religiatildeo e os costumes Se o ensino fosse apenas na liacutengua portuguesa os colonos retiravam seus filhos e organizavam uma nova escola particular Em diversas localidades a escola puacuteblica foi desativada e removido o professor por absoluta falta de alunos (EMER 1991 p 207)

Emer destaca as modalidades de ensino que foram criadas neste periacuteodo

tanto no acircmbito formal quanto na esfera institucionalizada satildeo elas (1) Instruccedilatildeo

sem instituiccedilatildeo - ldquoSimplesmente algumas crianccedilas reuniam-se ao redor da mesa de

refeiccedilotildees de uma residecircncia para aprender ler escrever e calcular - curriacuteculo e

58

objetivos educacionais estabelecidos pelos paisrdquo (referecircncia) - que consistia em que

a educaccedilatildeo era dada pelo grupo social sem nenhuma institucionalizaccedilatildeo (2) casa

escolar - construiacuteda e mantida pelos pioneiros - ldquo() do professor era exigida uma

melhor qualificaccedilatildeo isto eacute deveria ensinar mais que na escolarizaccedilatildeo Domiciliar a

Casa Escolar deveria funcionar tecnicamente bemrdquo (EMER 2012 p 36) (3) casa

escolar puacuteblica criada e regulamentada pelo Municiacutepio- ldquoComo uma escola oficial

os alunos das Casas Escolares Puacuteblicas eram submetidos aos exames puacuteblicos

elaborados pelos oacutergatildeos educacionais puacuteblicos para comprovaccedilatildeo da escolaridaderdquo

Neste modelo ficava a cargo do governo contratar e remunerar o professor

cabendo a este alugar uma sala ou casa e formar o grupo de aluno de primeiras

letras Por uacuteltimo o Grupo Escolar Puacuteblico (4) ndash que se diferencia das demais

modalidades por ter sido construiacuteda em nuacutecleos de povoamento mais desenvolvidos

e pela forma de funcionamento Nas modalidades anteriores o objetivo era aprender

a ler escrever e calcular Posteriormente com a oficializaccedilatildeo da casa escolar a

comprovaccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo passou a ser feita por meio de avaliaccedilotildees No grupo

escolar a preocupaccedilatildeo era de bdquoaprovar‟ o aluno para a seacuterie seguinte ldquonum processo

gradual de comprovaccedilatildeo de conhecimentos dos conteuacutedos definidos pelo ldquosistemardquo

educacional como requisito de cada seacuterie (EMER 2012 p 36)

A partir da fundaccedilatildeo da municipalidade em 1914 a populaccedilatildeo passou a

reivindicar um modelo de educaccedilatildeo subsidiado pelo poder puacuteblico Naquele

momento Foz do Iguaccedilu desenvolvia planos para combater o contrabando da

fronteira o que demandou a contrataccedilatildeo de agentes fiscais Esse processo fez com

que o grupo de escolarizados que chegavam agrave cidade passassem a requerer

escolas para seus filhos aleacutem do fato do crescimento da populaccedilatildeo e por

consequecircncia o aumento de crianccedilas (EMER 2012 p 37)

Conforme Emer (1991) entre os anos de 1915 e 1916 ldquoa Prefeitura Municipal

teria construiacutedo e mantido uma casa escolar puacuteblica embora precaacuteria e insuficienterdquo

(EMER 1991 apud Sbardelotto 2009 p 96) Wachowicz afirma que a necessidade

da criaccedilatildeo de escolas por parte da populaccedilatildeo soacute surgiu quando a populaccedilatildeo

urbana cresceu significativamente organizando assim a vida social (WACHOWICZ

1984 p 19) Apesar da iniciativa de dar acesso ao ensino puacuteblico de forma gratuita

a todos Sbardelotto aponta que apenas a populaccedilatildeo masculina foi contemplada

aleacutem do caraacuteter eminentemente elitista uma vez que os filhos de trabalhadores por

terem que optar pela subsistecircncia da famiacutelia abandonavam as escolas

59

Outros fatores contribuiacuteram para o desenvolvimento da educaccedilatildeo em Foz do

Iguaccedilu dentre eles a presenccedila da Igreja Catoacutelica Anterior a fundaccedilatildeo do

municiacutepio em decorrecircncia da localizaccedilatildeo e da dificuldade de deslocamento a

populaccedilatildeo da cidade soacute recebia assistecircncia religiosa uma vez por ano Isso

perdurou ateacute 1918 quando a Igreja optou em criar uma Paroacutequia na cidade desde

que contasse com a ajuda do governo Nesse sentido o acordo entre Igreja e

governo do Estado foi firmado com a condiccedilatildeo de que a Igreja construiacutesse e

dirigisse um grupo escolar

Em 1923 foi instalada a paroacutequia e nomeado o primeiro vigaacuterio um sacerdote alematildeo da Congregaccedilatildeo do Verbo Divino Padre Guilherme Maria Tilecks Para cumprimento do acordo com o Estado mesmo antes da construccedilatildeo do Grupo Escolar o Padre Guilherme passou a lecionar na Casa Escolar Para o desempenho de suas atividades recebeu a ajuda de outros dois padres e de um irmatildeo de sua congregaccedilatildeo (Padre Joatildeo Progzeba Padre Paulo Schneider e Irmatildeo Bianchi) (EMER 2012 p 38)

Por meio do Decreto nordm 1326 do dia 27 de agosto de 1928 surge o Grupo

Escolar Caetano Munhoz da Rocha que posteriormente passou a ser chamado de

Grupo Bartolomeu Mitre primeiro grupo escolar da mesorregiatildeo Oeste do Paranaacute

Em 1930 o grupo escolar passou a ser administrado pelo governo do Paranaacute sob a

direccedilatildeo de professores nomeados pelo Estado Segundo o Plano Municipal de

Educaccedilatildeo (PME) de 2015 ldquoa funccedilatildeo da escola no municiacutepio na eacutepoca era a de

cooperar com a nacionalizaccedilatildeo de um espaccedilo que era submetido por argentinos e

paraguaiosrdquo (PME 2015 p 4) Desse modo a criaccedilatildeo da escola passa a ser

reconhecido pelo Estado como instrumento necessaacuterio para a nacionalizaccedilatildeo da

triacuteplice fronteira O plano municipal utiliza a palavra bdquosubmetido‟ indicando que

naquele periacuteodo havia certa preocupaccedilatildeo com a presenccedila e influecircncia dos paiacuteses

fronteiriccedilos como uma ameaccedila ao territoacuterio e a necessidade de construccedilatildeo da

naccedilatildeo

60

Imagem V- Grupo Escolar Bartolomeu Mitre Fonte Site da Secretaria Estadual do Paranaacute

httpwwwfozbartolomeumitreseedprgovbrmodulesconteudoconteudophpconteudo=9

O fato de o Brasil homenagear um general argentino ao nomear uma escola

em seu nome levou Emer a questionar os motivos que levariam o Estado brasileiro a

tomar essa atitude ou se ela foi apenas uma homenagem despretensiosa ao general

argentino Os interesses do Brasil naquele periacuteodo era dar seguimento agrave poliacutetica

integracionista do territoacuterio com uma campanha nacionalista e o Grupo Escolar Mitre

eacute o marco da institucionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo no oeste paranaense Por isso as

motivaccedilotildees natildeo ficaram tatildeo claras (SBARDELOTTO 2007)

A partir da deacutecada de 1930 a cidade de Foz do Iguaccedilu passou a receber

imigrantes descendentes de italianos e alematildees aleacutem de inuacutemeros agricultores do

Rio Grande do Sul Neste mesmo periacuteodo o governo do Estado do Paranaacute fez

algumas reformas educacionais de teor nacionalista conivente com as mudanccedilas do

governo como aponta o Plano Municipal de Educaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu (2015)

Algumas mudanccedilas comeccedilam acontecer na educaccedilatildeo do paiacutes Uma delas eacute a manifestaccedilatildeo do Estado entre os anos de 1917 e 1919 o governo federal delibera verba para as escolas que ensinavam em liacutengua portuguesa e as escolas de imigrantes que ensinavam em outra liacutengua eram vigiadas e fechadas (PME 2015 p 5)

Durante o Estado Novo essas escolas passaram a ser alvo do governo

principalmente apoacutes a Marcha para o Oeste ldquoque defendia a ocupaccedilatildeo efetiva e a

nacionalizaccedilatildeo das fronteiras nacionais brasileiras de Norte a Sul do paiacutesrdquo (PRIORI

et al 2012 p 65) O projeto explica Priori (etal 2012) buscava despertar o

sentimento de nacionalidade e brasilidade na populaccedilatildeo que vivia na fronteira

No caso da fronteira de Foz do Iguaccedilu despertar na populaccedilatildeo esse

sentimento de nacionalidade era combater agrave ameaccedila que paraguaios argentinos e

61

os descendentes de alematildees italianos poloneses dentre outros imigrantes que se

fixaram na regiatildeo representavam ao projeto de integraccedilatildeo nacional do governo

22 O projeto nacionalista do Estado Novo e a lsquonacionalizaccedilatildeo da fronteirarsquo

A ldquoMarcha para o Oesterdquo foi um importante processo que contribuiu para o

projeto de nacionalizaccedilatildeo da fronteira Segundo Lenharo (1986 apud Lopes 2004)

o discurso de Vargas justificava a ldquoMarcha para o Oesterdquo pautando-se na conquista

da brasilidade que se daria por meio da interiorizaccedilatildeo do paiacutes ldquoPara ele a

construccedilatildeo da ldquoMarcha para Oesterdquo lembra a imagem da naccedilatildeo em movimento agrave

procura de si mesma de sua integraccedilatildeo e acabamentordquo (LENHARO 1986 p56

apud LOPES 2004 p 4)

Como uma das consequumlecircncias da ldquoMarcha para o Oesterdquo foram criados os

territoacuterios federais ldquonas regiotildees do Amapaacute Guaporeacute (atual Rondocircnia) Rio Branco

(atual Roraima) Iguaccedilu e Ponta Poratilde no Estado de Mato Grosso do Sulrdquo (PRIORI et

al 2012p66) Por meio do Decreto-Lei nordm 58124 no ano de 1943 o Territoacuterio

Federal do Iguaccedilu foi criado abrangendo o Oeste e Sudoeste do Paranaacute e Oeste de

Santa Catarina

Segundo Seacutergio Lopes (2004) dentro do espiacuterito de nacionalizaccedilatildeo o

Territoacuterio Federal do Iguaccedilu deveria atender urgentemente o estabelecimento de

condiccedilotildees miacutenimas para organizaccedilatildeo econocircmica social e de seguranccedila das regiotildees

fronteiriccedilas e dos sertotildees Desse modo a criaccedilatildeo do territoacuterio pode ser entendida

como um ato de ocupaccedilatildeo definitiva da faixa de fronteira ldquopara assim romper o

isolamento e afastar definitivamente o perigo estrangeiro para a soberania nacional

que rondava a regiatildeordquo (LOPES 2004 p16)

O primeiro governador a administraacute-lo o Major Joatildeo Garcez do Nascimento

em relatoacuterio enviado ao Ministro da Justiccedila e Negoacutecios Anteriores fez inuacutemeras

consideraccedilotildees sobre a situaccedilatildeo do transporte comeacutercio sauacutede seguranccedila e

educaccedilatildeo na regiatildeo que abrangia o Territoacuterio Federal do Iguaccedilu No aspecto

educacional ele aponta

Haacute no Territoacuterio regular nuacutemero de escolas primaacuterias Satildeo elas

em nuacutemero de setenta Aleacutem disso contam‐se quatro grupos escolares sediados em Pato Branco Clevelacircndia Foz do Iguassuacute e Guaiacutera Quanto ao nuacutemero de escolas pode-se afirmar que atende

62

ainda as necessidades locais quanto as suas instalaccedilotildees poreacutem haacute muito o que providenciar A maioria delas funciona em preacutedios improacuteprios outras em simples salas cedidas a tiacutetulo precaacuterio e por empreacutestimo Em sua maioria natildeo atende aos rudimentares princiacutepios de higiene e didaacutetica O professorado salvo honrosas exceccedilotildees constitui-se de pessoas bem intencionadas e dedicadas mas de niacutevel cultural bastante abaixo do que seria estimaacutevel (RELATOacuteRIO DE 1944 apud LEMIECHEK 2014 p 06)

A criaccedilatildeo do Territoacuterio Federal do Iguaccedilu fez com que o processo de

urbanizaccedilatildeo crescesse e com ele a demanda por qualidade nos serviccedilos puacuteblicos

como a escola Enquanto as escolas natildeo eram ampliadas a classe mais favorecida

economicamente assegurava o acesso agrave educaccedilatildeo para seus filhos por meio da

contrataccedilatildeo de professores que se ldquodeslocavam ateacute as moradias em casas

escolares ou nuacutecleos urbanos mais distantes como Guarapuava Curitiba Posadas

Corrientes etcrdquo (PME 2015 p9) Para as classes menos favorecidas como aqueles

que viviam em Foz do Iguaccedilu e trabalhavam nas obrages e no cultivo da terra havia

acesso ao ensino aleacutem delas viverem em situaccedilotildees insalubres sem acesso a

higiene alimentaccedilatildeo e sauacutede

A partir desse periacuteodo escolas como as construiacutedas por estrangeiros eram

fechadas caso natildeo se adaptassem agraves poliacuteticas nacionais Era necessaacuterio que essa

populaccedilatildeo na regiatildeo se identificasse com o Brasil enquanto uma paacutetria para

constituiccedilatildeo de um Estado-Naccedilatildeo forte Segundo Helena Bomeny (1999) natildeo havia

no projeto do governo intenccedilotildees para inclusatildeo e aceitaccedilatildeo de convivecircncia com os

grupos culturais estrangeiros nas regiotildees de colonizaccedilatildeo

Em relatoacuterio sobre a nacionalizaccedilatildeo do ensino datado de 1940 o Instituto

Nacional de Estudos e Pedagoacutegicos (INEP) sob a direccedilatildeo do educador Lourenccedilo

Filho ao analisar a trajetoacuteria dos imigrantes e sua fixaccedilatildeo no Brasil constatou com

base nos relatoacuterios e depoimentos de historiadores pensadores poliacuteticos e

escritores que desde o seacuteculo XIX a presenccedila de estrangeiros no paiacutes era fator de

preocupaccedilatildeo (BOMENY 1999) Segundo a mesma autora a precariedade da

educaccedilatildeo nos estados da regiatildeo sul do paiacutes em destaque o Rio Grande do Sul

levava os colonos a optarem pelos coleacutegios privados alematildees Segundo o relatoacuterio

do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Sauacutede essa opccedilatildeo pelas escolas estrangeiras era

compreensiacutevel sendo culpa do Estado por permitir a criaccedilatildeo destas instituiccedilotildees sem

a vinculaccedilatildeo com os centros nacionais de cultura

63

A escola natildeo eacute um oacutergatildeo abstrato mas um centro de coordenaccedilatildeo da proacutepria accedilatildeo educativa da comunidade Tendo-se cometido o erro de permitir o nucleamento de estrangeiros sem maior vinculaccedilatildeo ou disciplina aos centros nacionais de cultura as instituiccedilotildees educativas que aiacute deveriam surgir seriam as que ensinassem em liacutengua estrangeira (BOMENY 1999 p154 apud INEP 1999 p8)

A preocupaccedilatildeo com a nacionalizaccedilatildeo do ensino eacute anterior ao Estado Novo

Em Foz do Iguaccedilu a educaccedilatildeo escolar das crianccedilas estava presente desde o

periacuteodo de instalaccedilatildeo da Colocircnia Militar em 1889 Na ausecircncia de escolas muitas

crianccedilas frequumlentavam o sistema educacional da Argentina cuja influecircncia

preocupava o governo da eacutepoca Em 1906 Siacutelvio Romero alertava sobre as

ameaccedilas em haver diferentes nacionalidades no Brasil Como soluccedilatildeo ele propocircs

que se ldquoaproveitasse de modo extensivo o proletariado nacional como elemento

colonizador perto do estrangeiro para educar-se com ele no trabalho e em troca

contribuir para o seu abrasileiramentordquo (BOMENY 1999 p154)

Na conferecircncia interestadual de Ensino Primaacuterio de 1921 encontra-se a fala

de Milton C A Cruz que justifica a deficiecircncia do ensino devido aos inuacutemeros

nuacutecleos estrangeiros isolados ldquoO espiacuterito dessas crianccedilas brasileiras formado em

liacutengua nos costumes nas tradiccedilotildees dos paiacutes soacute poderia tender para a paacutetria de

origem constituindo um empecilho agrave coesatildeo nacionalrdquo (BOMENY 1999 p154 apud

INEP 1999 p8)

Por determinaccedilatildeo do Estado Novo a prefeitura de Foz do Iguaccedilu passou a

promover uma administraccedilatildeo que visasse agrave ocupaccedilatildeo do territoacuterio brasileiro

valorizaccedilatildeo da liacutengua oficial e das moedas nacionais (SPERANCcedilA 1992 apud

LOPES 2004 p 49) Teve ainda que despachar suas documentaccedilotildees criar

anuacutencios comerciais listas de preccedilos ou avisos somente em liacutengua portuguesa

aleacutem da obrigatoriedade do uso da moeda brasileira Essas medidas foram tomadas

pois havia na regiatildeo grande influecircncia dos argentinos no lado brasileiro

Segundo Lopes (2004) a principal preocupaccedilatildeo do Estado Novo em relaccedilatildeo a

essa fronteira era a influecircncia Argentina Como outra medida de contenccedilatildeo dessa

influecircncia estrangeira o governo federal por meio do Decreto nordm 19842 de 1930

tornou obrigatoacuterio a contrataccedilatildeo de no miacutenimo dois terccedilos de trabalhadores nas

empresas estrangeiras presentes dentro do territoacuterio nacional

Diante das estrateacutegias que o Estado Novo desenvolveu para construir a ideacuteia

de naccedilatildeo a fronteira poliacutetica requeria a justificaccedilatildeo ideoloacutegica da comunidade

64

nacional Nessa premissa a escola enquanto instrumento de nacionalizar as

fronteiras foi fundamental

23 Da construccedilatildeo de Itaipu agrave lsquoondarsquo de migraccedilatildeo e imigraccedilatildeo seus

impactos na educaccedilatildeo

Com a queda de Getuacutelio Vargas em 1945 quando o paiacutes entrou por um

pequeno periacuteodo na fase de redemocratizaccedilatildeo os Territoacuterios do Iguaccedilu e Ponta

Poratilde foram extintos No campo da educaccedilatildeo a pedagoga Lucimara Lemiechek

aponta que vaacuterias foram agraves mudanccedilas em detrimento da promulgaccedilatildeo das Leis

Orgacircnicas e a ampliaccedilatildeo dos Cursos Normais (LEMIECHEK 2014 p 9) Nessa

mesma deacutecada em Foz do Iguaccedilu teve iniacutecio a primeira escola21 particular Jorge

Schimmelpfeng nas dependecircncias do primeiro Centro Espiacuterita fundado no

municiacutepio

Imagem VI - Escola Jorge Schimmelpfeng com crianccedilas carentes sob os cuidados do Capitatildeo Cyriacuteaco e de Joseacute Vicente Ferreira (os dois adultos agrave direta da foto rara)

Fonte Centro Espiacuterita Lidelfonso Correia

A deacutecada de 1950 e 1960 seguiu com um programa de escola de cunho

nacionalista e dualista em um periacuteodo marcado pelo programa desenvolvimentista

Cada vez mais os trabalhadores requeriam educaccedilatildeo diferenciada de um lado a

necessidade de matildeo de obra especializada e de outro a busca pelo status que a

educaccedilatildeo proporcionaria No ano de 1959 a Lei Municipal nordm 234 de 29 de outubro

de 1959 adota o programa de aboliccedilatildeo do analfabetismo

21

Vide imagem IV

65

Art 1ordm A Prefeitura de Foz do Iguaccedilu empreenderaacute uma campanha sistemaacutetica para aboliccedilatildeo do analfabetismo desde as crianccedilas de sete anos feitos aos adultos de qualquer idade (LEI 2341959) Art 2ordm Toda a crianccedila que completar sete anos de 1ordm de janeiro a 31 de dezembro deveraacute obrigatoriamente no comeccedilo do ano letivo imediato ser matriculada em escola puacuteblica ou particular cumprindo-lhes frequumlenta-la com assiduidade durante cinco anos na cidade e trecircs anos letivos nas zonas rurais (PME 2015 p 11)

Eacute nesse momento que chegam a Foz do Iguaccedilu as primeiras populaccedilotildees de

origem aacuterabe que saiacuteram de seus paiacuteses em decorrecircncia dos intensos conflitos

regionais e atraiacutedos pela oportunidade de explorar um mercado com grande

potencial de crescimento (RABOSSI 2007 p 292) Segundo Rabossi a primeira

cidade da Triacuteplice Fronteira em que eles se estabeleceram foi Foz do Iguaccedilu

principalmente na regiatildeo proacutexima da Ponte da Amizade inaugurada em 1965

passando a ligar a cidade brasileira a Ciudad del Este no Paraguai dando iniacutecio ao

comeacutercio na regiatildeo Em 1975 no contexto da Guerra do Liacutebano o comeacutercio dos

aacuterabes na fronteira estava consolidado fazendo com que atraiacutedos pelo comeacutercio e

fugindo da guerra outros grupos oriundos do Oriente Meacutedio imigrassem para a

regiatildeo da fronteiriccedila Segundo Silva (2008 p367) os uacuteltimos 30 anos recebeu um

grande nuacutemero de imigrantes de origem ldquoaacuterabe libaneses palestinos siacuterios

jordanianos bem como chineses coreanos e em nuacutemero bem menor hindus e

portugueses

A mesma autora aponta que duas escolas pertencem agrave comunidade aacuterabe

uma de ensino fundamental que ensina a liacutengua aacuterabe e a religiatildeo sunita vinculada

ao Centro Beneficente Islacircmico de Foz do Iguaccedilu uma organizaccedilatildeo cultural e

cientiacutefica A segunda escola Escola Aacuterabe Brasileira oferta ensino para o ensino

fundamental e meacutedio de acordo com as exigecircncias do Estado A especificidade

desta escola em relaccedilatildeo agraves demais do municiacutepio eacute a oferta do ensino da liacutengua

aacuterabe (SILVA 2008)

Na deacutecada de 1970 tambeacutem chegam a Foz do Iguaccedilu os primeiros imigrantes

chineses atraiacutedos pelo comeacutercio na regiatildeo Segundo Miao Shen Chen a regiatildeo da

triacuteplice fronteira abriga uma comunidade chinesa com aproximadamente quatro mil

indiviacuteduos Em Foz do Iguaccedilu haacute pelo menos mil chineses e descendentes Os

imigrantes tecircm agecircncias de turismo imobiliaacuterias construtoras especializadas em

atender os clientes orientais (CHEN 2010)

66

Apesar da implementaccedilatildeo da Lei Municipal nordm 234 de 1959 que estabelecia a

obrigatoriedade da educaccedilatildeo para aboliccedilatildeo do analfabetismo a escola seguia sendo

para poucos ao menos no que diz respeito agrave permanecircncia dos estudantes Os

alunos mais pobres abandonavam a escola muito cedo pois tinham que optar entre

estudar ou trabalhar para ajudar na subsistecircncia da famiacutelia (PME 2015 p 11)

Para Emer (1991) os colonos que aqui se encontravam diante da

precariedade das escolas mobilizaram-se para criar escolas para seus filhos

contribuindo para construccedilatildeo de inuacutemeros coleacutegios confessionais entre os anos de

1955 e 1965 (EMER 1991 p 125) Quanto agrave contrataccedilatildeo dos professores estes

deveriam ter o perfil que atendesse o grupo social

Destaca-se a criaccedilatildeo da primeira Escola Normal Colegial da regiatildeo Oeste do

Paranaacute a Escola Normal Iguaccedilu criada em 1957 em Foz do Iguaccedilu em um

contexto em que a populaccedilatildeo da cidade crescia e a demanda pelo ensino em

diversos niacuteveis aumentava havendo a necessidade de habilitar os professores para

o trabalho docente Ateacute o ano de 1957 Foz do Iguaccedilu contava com um Grupo

Escolar o Bartolomeu Mitre que atendia aproximadamente 400 crianccedilas uma Casa

Escolar com aproximadamente 80 alunos e cinco escolas rurais isoladas que

tinham capacidade para atender 250 alunos Foz do Iguaccedilu tinha capacidade para

atender aproximadamente 730 alunos no ensino primaacuterio o que era pouco diante da

crescente demanda sobretudo dos nuacutecleos urbanos e das aacutereas rurais aleacutem das

aacutereas distritais22

Ainda que tenha havido a criaccedilatildeo dos coleacutegios normais o relatoacuterio do plano

de desenvolvimento de Foz do Iguaccedilu de 1972 apontava que o corpo docente do

municiacutepio era constituiacutedo em sua maioria por professores sem habilitaccedilatildeo tanto

nas redes municipais e estaduais quanto nas privadas A justificativa para esta

qualificaccedilatildeo segundo o relatoacuterio estava no baixo niacutevel salarial que impedia os

qualificados de se dedicarem ao magisteacuterio Na zona rural a porcentagem era ainda

maior Cerca de 80 do pessoal natildeo qualificado atende ao ensino primaacuterio que

funcionava em 41 escolas isoladas e duas casas escolares Segundo o PDI

22 Dentre os distritos que ficavam sob a jurisdiccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu encontram-se Santa Terezinha

de Itaipu Itacoreacute Alvorada Medianeira dentre outros (SBARDELLOTO 2009 p 146)

67

O Estado que paga os melhores salaacuterios (Cr$ 41600) natildeo faz nomeaccedilotildees e a Prefeitura possuindo apenas 3 elementos em seu quadro efetivo percebendo Cr$ 28000 contrata os professores normalistas por apenas Cr$ 28000 e a professora leiga por 60 do salaacuterio miacutenimo (PDI 1972 p 114)

Quanto agrave estrutura do periacuteodo o relatoacuterio aponta que ateacute 1971 havia cinco

grupos escolares estaduais um privado uma casa escolar municipal e duas escolas

isoladas que segundo o relatoacuterio natildeo eram suficientes para atender a demanda

Quanto agrave estrutura o relatoacuterio aponta

Somente na Zona Urbana vamos encontrar preacutedios escolares de alvenaria com luz aacutegua encanada e instalaccedilotildees sanitaacuterias regulares Natildeo quer isto dizer que sejam instalaccedilotildees satisfatoacuterias pois deixam muito a desejar havendo falta de aacutegua e os miacutenimos requisitos agrave boa higiene dos escolares () Na zona rural os preacutedios satildeo todos de madeira sem as menores condiccedilotildees indispensaacuteveis agrave higiene escolar notando-se ausecircncia de atendimento sanitaacuterio e de sauacutede (PDI 1972 p 118)

No mesmo relatoacuterio o problema da evasatildeo eacute justificado com o argumento da

localizaccedilatildeo da cidade que por estar em uma regiatildeo de fronteira eacute caracterizada por

possuir uma populaccedilatildeo flutuante As escolas rurais por exemplo em periacuteodos de

colheita eram fechadas pois natildeo havia frequecircncia alguma uma vez que os alunos

estavam trabalhando nas lavouras Outro exemplo eacute a justificativa do baixo

rendimento escolar atribuiacutedo ao alto iacutendice de crianccedilas argentinas e paraguaias que

estudavam no lado brasileiro com a alegaccedilatildeo do problema do idioma que gerava

atraso em toda turma ldquoNo 1ordm ano o periacuteodo de preacute-alfabetizaccedilatildeo que normalmente

eacute feito em trecircs meses (no maacuteximo) chega a durar quase um anordquo (PDI 1972 p

125)

Este argumento que culpabiliza o aluno estrangeiro pelo atraso da turma natildeo

mudou muito Em pesquisa com professores da rede puacuteblica de Foz do Iguaccedilu

sobre a presenccedila de alunos brasiguaios nas escolas brasileiras citado no capiacutetulo

anterior Pires-Santos (2010) fala que alguns professores vecirc a presenccedila deste perfil

de aluno como um entrave um bdquocastigo‟ pois no seu entendimento seraacute difiacutecil

ensinaacute-los Outro destaque reside no fato de que estes relatoacuterios feitos em 1972

foram produzidos em nome do Estado que vivia sob o regime dos militares cuja

preocupaccedilatildeo com o estrangeiro no paiacutes se restringia nas questotildees de seguranccedila

nacional

68

No decorrer da deacutecada de 1970 a pauta da educaccedilatildeo segue em discussatildeo na

regiatildeo sobretudo com a reforma do ensino promulgada pela Lei 569271 Foz do

Iguaccedilu vivia nessa deacutecada os impactos da construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica de

Itaipu A cidade recebeu aproximadamente 40000 operaacuterios com suas respectivas

famiacutelias oriundas de vaacuterios estados do paiacutes para a construccedilatildeo da hidreleacutetrica O

aumento populacional gerado pela chegada dos trabalhadores na cidade fez com

que todas as obras de infraestrutura fossem feitas apressadamente dentre essas

os hospitais as moradias e escolas subsidiados pela Itaipu Um exemplo foi o

convecircnio entre a Prefeitura por meio da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo e

Cultura com a Itaipu que resultou na construccedilatildeo da escola Prof Parigot de Souza

no ano de 1975

() Fica o Chefe do Executivo Municipal autorizado a firmar convecircnio com a Empresa ITAIPU ndashBINACIONAL objetivando a aplicaccedilatildeo de recursos para pagamento de professores e demais servidores para o setor administrativo bem como da manutenccedilatildeo da nova unidade escolar preacute-fabricada construiacuteda na sede municipal onde seraacute instalada uma extensatildeo do Ginaacutesio Estadual bdquoDom Manoel Konnerrdquode Foz do Iguaccedilu‟

(Foz do Iguaccedilu Lei Municipal nordm 8821975 Art1ordm)

Com a construccedilatildeo da hidreleacutetrica o nuacutemero de escolas em Foz do Iguaccedilu

aumentou significativamente Na deacutecada de 1960 havia cerca de oito escolas

municipais na cidade na deacutecada de 1980 mais nove escolas e hoje segundo dados

da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo (2011) a cidade conta com 83 escolas

municipais e 82 estaduais 43 privadas e 04 filantroacutepicas

O periacuteodo que se estende da Colocircnia Militar de 1889 ateacute o fim da Era Vargas

(1930-1954) demonstrou que as raiacutezes pela qual as escolas foram criadas passou

pela construccedilatildeo de valores que satildeo constitutivos de uma ideal de naccedilatildeo Wachowicz

(1984) cita o ofiacutecio do general comandante da 5ordf Regiatildeo Militar em 1925 que

expressava a urgecircncia de se construir escolas nas zonas de fronteira haja vista que

a uacutenica soluccedilatildeo era enviar as crianccedilas para frequentar escola na Argentina O

incocircmodo do general se baseia na busca pelo estabelecimento de uma identidade

nacional ao Brasil pois a presenccedila de alunos brasileiros em escolas argentinas

representava um perigo A escola eacute um dos espaccedilos em que se bdquoimagina‟ se

constroacutei um identidade nacional ldquoNascida na ficccedilatildeo agrave identidade precisava de muita

coerccedilatildeo e convencimento para se consolidar e se concretizar numa realidaderdquo

(BAUMAN 2005 p 27)

69

Em siacutentese a escola natildeo eacute neutra mas perpassam tambeacutem outros interesses

que natildeo satildeo apenas os de ideais nacionalistas Ela eacute um espaccedilo marcado por

contradiccedilotildees Eacute o que o educador brasileiro Paulo Freire (1987) sugere ao natildeo

negar a influecircncia que determinado modo de se propor um modelo educativo pode

causar na sociedade Justamente por saber do potencial transformador da educaccedilatildeo

eacute que ele propunha um modelo para de educaccedilatildeo a partir da base da realidade na

qual o sujeito estaacute inserido

Em Foz do Iguaccedilu haacute a constataccedilatildeo de que o Estado esteve preocupado em

criar escolas a fim de bdquonacionalizar‟ a fronteira Braduel (2009) ao refletir acerca da

relaccedilatildeo entre Estado e territoacuterio e a ocupaccedilatildeo do espaccedilo afirma que ldquoEstados agem

como indiviacuteduos obstinando-se em delimitar seu domiciacutelio da mesma forma que

todo animal livre defende aquilo que ele considera ser o seu territoacuteriordquo (BRAUDEL

2009 p 262 apud Heinsfiel 2014 p 17)

Nessa perspectiva o Estado tem como foco a necessidade de delimitar seus

domiacutenios Domiacutenios estes que satildeo reforccedilados por instituiccedilotildees capazes de legitimar

essa loacutegica tais como as escolas Segundo Bourdieu (2008) um dos principais

poderes do Estado eacute impor categorias de pensamento categorias que noacutes

assumimos como naturais aparentemente espontacircneas mas que na verdade satildeo

impostas pelo Estado (BOURDIEU 2008 p 91)

24 A Educaccedilatildeo a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 O direito agrave diversidade nas

escolas

Com o processo de redemocratizaccedilatildeo e da nova Constituiccedilatildeo Federal

promulgada em 1988 houve um grande avanccedilo em termos de direitos civis No

caso da presenccedila de estrangeiros no paiacutes a Carta Magna assegura a todas as

pessoas brasileiras ou estrangeiras estando em situaccedilatildeo migratoacuteria regular ou

irregular o direito agrave educaccedilatildeo escolar Os princiacutepios escolares passaram a ter

como base a igualdade de condiccedilotildees para o acesso e permanecircncia nas escolas

da liberdade e do pluralismo de ideacuteias e concepccedilotildees pedagoacutegicas

Art 206 O ensino seraacute ministrado com base nos seguintes princiacutepios I - igualdade de condiccedilotildees para o acesso e permanecircncia na escola II - liberdade de aprender ensinar pesquisar e divulgar o pensamento a arte e o saber III - pluralismo de ideacuteias e de concepccedilotildees pedagoacutegicas e coexistecircncia de instituiccedilotildees puacuteblicas e

70

privadas de ensino IV - gratuidade do ensino puacuteblico em estabelecimentos oficiais (CF 1998)

Waldman (2012) destaca que a nova constituiccedilatildeo tem pela primeira vez o

princiacutepio da dignidade da pessoa humana como fundamental e afirmou como

objetivos fundamentais a ldquopromoccedilatildeo do bem para todos sem preconceitos de

origem raccedila sexo cor idade e quaisquer outras formas de discriminaccedilatildeordquo

(WALDMAN 2012 p63)

No campo das relaccedilotildees internacionais o Brasil se comprometeu pela

prevalecircncia dos direitos humanos pela cooperaccedilatildeo entre os povos e pela atenccedilatildeo

agrave integraccedilatildeo poliacutetica social e cultural da Ameacuterica Latina23 Estes pontos

apresentados satildeo importantes a serem considerados pois satildeo com base na CF

que a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional de 1996 seraacute elaborada e a

partir dela outros documentos importantes que toca agrave questatildeo da diversidade

eacutetnicas cultural e racial na educaccedilatildeo Alguns destes documentos satildeo o Curriacuteculo

da Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oeste do Paranaacute o Plano Estadual de Educaccedilatildeo

do Paranaacute e os Paracircmetros Curriculares Nacionais que seratildeo analisados no

proacuteximo capiacutetulo

23

Art 4ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes

princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos humanos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV - natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitosVIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismoIX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidadeX - concessatildeo de asilo poliacuteticoParaacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

71

CAPIacuteTULO III POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS PARA A EDUCACcedilAtildeO NA FRONTEIRA

ENTRE ARGENTINA BRASIL E PARAGUAI

31 Poliacuteticas Puacuteblicas conceitos e abordagens

O campo de estudos de poliacuteticas puacuteblicas avanccedilou nos uacuteltimos sessenta

anos tendo conformado uma literatura instrumental analiacutetica que contribuiu para a

compreensatildeo dos processos de natureza poliacutetico- administrativo (SECCHI 2013)

No Brasil segundo Faria (2003) a aacuterea de anaacutelise de poliacuteticas puacuteblicas ainda eacute

escassa Isso se comprova pela falta de anaacutelises mais sistemaacuteticas no que tange

aos processos de implementaccedilatildeo aleacutem da carecircncia em estudos que tratam de

metodologias e instrumentos de avaliaccedilatildeo destas poliacuteticas pelos trecircs niacuteveis de

governo legislativo executivo e judiciaacuterio

A fim de apresentar a analise de algumas poliacuteticas puacuteblicas (PP) que tratam

da questatildeo da educaccedilatildeo e diversidade cultural faz-se necessaacuterio apresentar o que

se compreende enquanto uma PP Teoacutericos apontam que seu significado natildeo

apresenta uma definiccedilatildeo uacutenica (SECCHI 2010 BONETI 2011) Assim utilizaremos

como definiccedilatildeo de PP as concepccedilotildees de Tamayo Saacuteez (1997) que a entende como

ldquoum conjunto de objetivos decisotildees e accedilotildees que levam a cabo um governo para

solucionar os problemasrdquo (TAMAYO SAEacuteZ 1997 p 2) Complementando esta

definiccedilatildeo citamos Lindomar Boneti (2006) e seu entendimento do que sejam

poliacuteticas puacuteblicas

Accedilatildeo que nasce do contexto social mas que passa pela esfera estatal como uma decisatildeo de intervenccedilatildeo puacuteblica numa realidade social determinada quer seja ela econocircmica ou social Ainda esclarece que as poliacuteticas puacuteblicas representam [] o resultado da dinacircmica do jogo de forccedilas que se estabelece no acircmbito das relaccedilotildees de poder relaccedilotildees estas constituiacutedas pelos grupos econocircmicos e poliacuteticos classes sociais e demais organizaccedilotildees da sociedade civil (BONETI 2006 p 76)

Eacute importante assinalar que as PPs mudam com o tempo e em consonacircncia

com o modelo de Estado vigente como as transformaccedilotildees que ocorrem em uma PP

dentro de um Estado autoritaacuterio para um Estado democraacutetico A criaccedilatildeo de uma PP

natildeo depende somente das decisotildees emanadas do poder puacuteblico Esse jogo de

72

forccedilas ao qual Boneti se refere satildeo concernentes agraves correlaccedilotildees realizadas com

agentes privados e da sociedade civil No entanto no sentido de responsabilizaccedilatildeo

por sua implementaccedilatildeo e permanecircncia compreende-se aqui que uma PP eacute

responsabilidade do Estado24

Dentre os aspectos a serem considerados no momento de escolher uma PP

os fatores culturais satildeo de fundamental importacircncia para a sua implementaccedilatildeo O

sucesso ou o fracasso de uma PP pode estar diretamente ligado ao contexto no qual

se insere

No que confere agrave anaacutelise de uma PP a mais aceita eacute aquela que busca

compreender como os formuladores de poliacutetica (policymakers) lidam com os

problemas com que se defrontam Nas palavras de Wildavsky

() o papel de Anaacutelise de Poliacutetica eacute encontrar problemas onde soluccedilotildees podem ser tentadas ou seja bdquoo analista deve ser capaz de redefinir problemas de uma forma que torne possiacutevel alguma melhoria‟ Portanto a Anaacutelise de Poliacutetica estaacute preocupada tanto com o planejamento como com a poliacutetica (politics) (WILDAVSKY 1979 apud RUA 2009 p 23)

Segundo Tamayo Saacuteez (1997) a anaacutelise de PP possui um caraacuteter

multidisciplinar Trata-se de um conjunto de teacutecnicas conceitos e estrateacutegias

oriundas de diferentes disciplinas - ciecircncia poliacutetica antropologia sociologia

psicologia e da teoria da organizaccedilatildeo - cujo objetivo eacute interpretar as causas e

consequumlecircncias das accedilotildees do governo Conforme este argumento eacute importante

ressaltar que os atores que analisam determinada PP o fazem a partir de seus

valores sua capacidade teacutecnica seus interesses e o grau de informaccedilatildeo Tais

fatores satildeo fundamentais para compreensatildeo destas anaacutelises

Por poliacuteticas puacuteblicas educacionais compreende-se tudo aquilo que um

governo faz ou deixa de fazer em mateacuteria de educaccedilatildeo No que tange agrave poliacutetica

educacional brasileira esta deve ser pensada em contexto amplo onde fatores

como a constituiccedilatildeo federal a poliacutetica nacional de direitos humanos e os acordos e

tratados internacionais devem ser considerados assim como os fatores sociais e

culturais da sociedade (SILVA MOURA MELLO 2013)

24

Mas vale dizer que natildeo necessariamente uma poliacutetica puacuteblica eacute apenas estatal

73

Segundo Azevedo e Aguiar (2001) os estudos sobre as poliacuteticas

educacionais no Brasil satildeo recentes mas encontram-se em processo de construccedilatildeo

e crescimento As pesquisas e publicaccedilotildees sobre as poliacuteticas educacionais possuem

dois eixos de estudos o primeiro refere-se aos de caraacuteter teoacuterico com questotildees

mais amplas acerca do processo de formulaccedilatildeo de poliacuteticas abarcando mudanccedilas

no papel do Estado das redes de influecircncia no desenvolvimento de formulaccedilatildeo de

poliacuteticas o segundo trata da anaacutelise e avaliaccedilatildeo de poliacuteticas e programas

(MAINARDES 2006) Quanto ao primeiro eixo ao destacar a funccedilatildeo do Estado na

definiccedilatildeo e implementaccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica Mainardes (2006) explica que

natildeo se trata de defender que o Estado ou os governos decidam por implementar as

poliacuteticas puacuteblicas mas isso reflete as pressotildees de diferentes grupos de interesse

Citando Evans Rueschmeyer e Skocpol (1985) Souza (2006) se aproxima da

perspectiva teoacuterica que defende uma autonomia relativa do Estado ldquoque faz com

que o mesmo tenha um espaccedilo proacuteprio de atuaccedilatildeo embora permeaacutevel a influecircncias

externas e internasrdquo (SOUZA 2006 p27 apud Evans Rueschmeyer e Skocpol

1985)

Os dois eixos foram abordados nesta dissertaccedilatildeo pois considera-se

importante conhecer os principais aspectos histoacutericos das poliacuteticas educativas no

Brasil e sua relaccedilatildeo com o Estado para posteriormente tratar da anaacutelise das

poliacuteticas escolhidas O modelo denominado de ciclo de poliacuteticas puacuteblicas seraacute o

recurso utilizado para analise das poliacuteticas educacional

O ciclo de poliacutetica tem adquirido importacircncia progressiva nos estudos sobre a

elaboraccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica principalmente por consistir em uma serie de etapas

que envolve o processo poliacutetico-administrativo os atores suas relaccedilotildees recursos de

poder as relaccedilotildees poliacuteticas sociais e as praacuteticas Saravia e Ferrarezi (2006p32)

descrevem sete etapas deste ciclo primeiro uma agenda poliacutetica que eacute a

necessidade social de elaborar determinada poliacutetica puacuteblica em segundo a

elaboraccedilatildeo propriamente dita da poliacutetica puacuteblica para identificar e delimitar um

problema seja ele atual ou que pode vir a ser necessaacuterio Com isto determinam-se

as alternativas para a soluccedilatildeo a partir das possiacuteveis soluccedilotildees para o problema

formula-se a alternativa mais cabiacutevel pra sua implementaccedilatildeo que deve ser

constituiacuteda por meio do ldquoplanejamento e organizaccedilatildeo do aparelho administrativo e

dos recursos humanos financeiros materiais e tecnoloacutegicos necessaacuterios para

executar uma poliacuteticardquo (SARAVIA p34) A proacutexima etapa eacute a execuccedilatildeo destinada a

74

atingir os objetivos traccedilados pela poliacutetica ldquoEssa etapa inclui o estudo dos

obstaacuteculos que normalmente se opotildeem agrave transformaccedilatildeo de enunciados em

resultados e especialmente a anaacutelise da burocraciardquo (SARAVIA 2006 p 34) A

sexta etapa reside no acompanhamento que eacute o processo de supervisatildeo da

execuccedilatildeo de uma atividade a fim de fornecer a ldquoinformaccedilatildeo necessaacuteria para

introduzir eventuais correccedilotildees a fim de assegurar a consecuccedilatildeo dos objetivos

estabelecidosrdquo (SARAVIA 2006 p34) Por uacuteltimo temos a avaliaccedilatildeo que consiste

em analisar os impactos das poliacuteticas implementadas para a sociedade

Saravia (2006) explica que esta sequecircncia eacute mais uma esquematizaccedilatildeo

teoacuterica do que ocorre na praacutetica Nem sempre essas etapas satildeo consideradas Eacute o

caso de muitos paiacuteses da Ameacuterica Latina onde os programas de ajuste estrutural

natildeo consideraram as primeiras etapas iniciais de sua elaboraccedilatildeo os resultados

sociais possiacuteveis Como consequumlecircncia os indicadores da educaccedilatildeo da sauacutede da

previdecircncia social da habitaccedilatildeo do emprego e de outros setores sociais mostram a

existecircncia de uma situaccedilatildeo difiacutecil que se agrava com o tempo (SARAVIA 2006

p35-36)

32 Caminhos das poliacuteticas educacionais no Brasil

No Brasil por muito tempo as poliacuteticas puacuteblicas para educaccedilatildeo ficaram

aqueacutem do esperado Valle (2009) aponta que no decorrer do periacuteodo colonial ou do

Impeacuterio natildeo haacute registros de uma real preocupaccedilatildeo com as poliacuteticas puacuteblicas de

Educaccedilatildeo (VALLE 2009) Arauacutejo (2011) explica que eacute recente a ideia de um ldquoEstado

em accedilatildeordquo no sentido de promover poliacuteticas para educaccedilatildeo (ARAUacuteJO 2011 p236)

Em um contexto onde sociedade e economia fundamentaram suas bases em um

modelo econocircmico agroexportador e na matildeo-de-obra escrava a preocupaccedilatildeo com a

educaccedilatildeo surgiu muito tarde

Maria Luisa Ribeiro (1992) escreve que no periacuteodo colonial a poliacutetica

educacional esteve vinculada agrave poliacutetica colonizadora dos portugueses (RIBEIRO

1992 p 20) A historiadora Maria Luiza Marciacutelio (2005) acrescenta estes dados ao

traccedilar as principais caracteriacutesticas do sistema educacional brasileiro no periacuteodo que

se estende de 1554 a 1759 ao explicar que o uacutenico ensino formal presente ateacute

meados do seacuteculo XVIII era oferecido pela Companhia de Jesus que era

75

basicamente elitista atendendo em grande parcela ldquojovens brancos proprietaacuterios

de terras famiacutelias da elite colonial aleacutem de introduzir nas primeiras letras do

catecismo elementar as crianccedilas iacutendias das aldeias jesuiacutetasrdquo (MARCIacuteLIO 2005

p42)

Saviani (2008) aponta que o primeiro documento de poliacutetica educacional foi

editado em 1548 e encontrado nos ldquoRegimentosrdquo de DJoatildeo III com a finalidade de

orientar as accedilotildees do governador geral do Brasil Tomeacute de Souza que veio com a

companhia de mais quatro padres e dois irmatildeos jesuiacutetas liderados por Manuel da

Noacutebrega

Nesse mesmo ano os jesuiacutetas receacutem-chegados deram iniacutecio agrave obra educativa centrada na catequese guiados pela orientaccedilatildeo contida nos referidos bdquoRegimentos‟ cumprindo pois um mandato que lhes fora delegado pelo rei de Portugal Nessa condiccedilatildeo cabia agrave coroa manter o ensino mas o rei enviava verbas para a manutenccedilatildeo e a vestimenta dos jesuiacutetas natildeo para construccedilotildees (SAVIANI 2008 p8)

No que se refere agrave inclusatildeo da populaccedilatildeo na instituiccedilatildeo jesuiacutetica Marciacutelio

(2005) aponta que no periacuteodo da expulsatildeo dos jesuiacutetas em 1759 a soma de todos

os alunos natildeo atingia 01 da populaccedilatildeo brasileira Em um cenaacuterio que contava

com 50 da populaccedilatildeo constituiacuteda por mulheres e 40 de escravizados aleacutem de

negros livres pardos filhos ilegiacutetimos e crianccedilas abandonadas todos estes ficavam

agrave margem do sistema de ensino Ao todo os jesuiacutetas ficaram agrave frente da educaccedilatildeo

brasileira por mais de dois seacuteculos ateacute a expulsatildeo (MARCIacuteLIO 2005 p3)

A segunda fase de poliacuteticas educacionais no Brasil foi marcada pelas

reformas pombalinas para instruccedilatildeo puacuteblica Com a instalaccedilatildeo da coroa portuguesa

no Brasil Colonial em 1808 a educaccedilatildeo ganhou novos significados Uma ldquoseacuterie de

cursos tanto profissionalizantes em niacutevel meacutedio como em niacutevel superior bem como

militares foram criados para fazer do local algo realmente parecido com uma Corterdquo

(GHIRALDELLI JR 2001 p 16) Deste modo o periacuteodo compreendido como

pedagogia pombalina (1759-1827) corresponde agraves primeiras tentativas de se instituir

uma escola puacuteblica estatal

As reformas pombalinas contrapotildeem-se ao predomiacutenio das ideacuteias religiosas e com base nas ideacuteias laicas inspiradas no Iluminismo institui o privileacutegio do Estado em mateacuteria de instruccedilatildeo surgindo assim a nossa versatildeo da bdquoeducaccedilatildeo puacuteblica estatal‟ (LUZURIAGA 1959 p23-39 apud SAVIANE 2008 p9)

76

Quando Dom Pedro I assume o poder no periacuteodo Regencial a maioria da

populaccedilatildeo seguia analfabeta A independecircncia poliacutetica natildeo alterou o quadro da

situaccedilatildeo de ensino ao menos de imediato Para Joatildeo Cruz Costa citado por

Romanelli (1985) o processo de independecircncia significava ldquosimples transferecircncia de

poderes dentro de uma mesma classe [a independecircncia] entregaria a direccedilatildeo da

nova accedilatildeo aos proprietaacuterios de terras de engenhos e aos letradosrdquo (COSTA 1980

apud ROMANELLI 1985 p 39)

Eacute neste contexto que comeccedila uma nova fase no campo da educaccedilatildeo tendo

como marco inicial a lei das Escolas das Primeiras letras de 1827 com o objetivo de

ensinar toda a populaccedilatildeo brasileira conforme o artigo de nuacutemero 6 presente na Lei

de 15 de outubro de 1827

() Art 6ordm - Os professores ensinaratildeo a ler escrever as quatro operaccedilotildees de aritmeacutetica praacutetica de quebrados decimais e proporccedilotildees as noccedilotildees mais gerais de geometria praacutetica a gramaacutetica de liacutengua nacional e os princiacutepios de moral cristatilde e da doutrina da religiatildeo catoacutelica e apostoacutelica romana proporcionados agrave compreensatildeo dos meninos preferindo para as leituras a Constituiccedilatildeo do Impeacuterio e a Histoacuteria do Brasil (BRASIL 1827)

No final do seacuteculo XIX marcado pelas influecircncias do positivismo25 comeccedilou no paiacutes

um movimento pela desoficializaccedilatildeo do ensino no Estado defendendo a liberdade

das profissotildees Com isso foram surgindo escolas privadas de benemerecircncia que se

propunham a ofertar ensino gratuito Essa tendecircncia de desoficializaccedilatildeo culminou

com a Reforma Leocircncio de Carvalho em 1879 (SAVIANI 2008) Saviani chama

atenccedilatildeo para este fato ao criticar o fato de que desde iniacutecio das primeiras poliacuteticas

educacionais brasileiras houve certa ldquopromiscuidaderdquo na relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o

privado A comeccedilar com a educaccedilatildeo jesuiacutetica que em alguma medida era puacuteblica

mas a entidade que o ofertava natildeo

Conforme Santos (2011) somente a partir do final do seacuteculo XIX e iniacutecio do

XX periacuteodo de transiccedilatildeo para um modelo de desenvolvimento moderno

25

Por Positivismo compreende-se agora de modo mais amplo a filosofia desenvolvida por Augusto Comte que se caracteriza conjuntamente pela expressa confianccedila nos benefiacutecios da industrializaccedilatildeo no otimismo em relaccedilatildeo ao progresso capitalista no culto agrave ciecircncia e a valorizaccedilatildeo do meacutetodo cientiacutefico voltados a uma reforma intelectual da sociedade (COTRIM 1993 p 189)

77

intervencionista foi que a educaccedilatildeo passou a ser reclamada como um condicionante

necessaacuterio para o desenvolvimento do paiacutes Conforme Romanelli (1985) o seacuteculo

XIX fora marcado pelo surgimento de uma nova camada intermediaacuteria tambeacutem

chamada de pequena burguesia Esta classe explica a autora foi fundamental para

a evoluccedilatildeo poliacutetica no Brasil monaacuterquico e para mudanccedilas pelas quais passou o

regime no final do seacuteculo (ROMANELLI 1985 p37)

No periacuteodo republicano outra modalidade de poliacuteticas educacionais se

desenvolveu por volta de 1890 com a implantaccedilatildeo progressiva das escolas

graduadas apoiadas nas escolas normais que comeccedilaram a ser consolidadas sob o

fluxo do iluminismo republicano

Esse periacuteodo abrange de 1890 quando se daacute no estado de Satildeo Paulo a organizaccedilatildeo da escola normal graduada ateacute 1931 quando eacute promulgada a reforma Francisco Campos dando iniacutecio ao processo de regulamentaccedilatildeo ao sistema de ensino em acircmbito nacional (SAVIANI 2004a p20-21)

Somente a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX eacute que podemos

encontrar registros das primeiras lutas por uma educaccedilatildeo e escola de qualidade

puacuteblica e gratuita Valle (2009) aponta que a poliacutetica educacional brasileira foi

marcada pela criaccedilatildeo da Universidade do Rio de Janeiro em 1920 hoje

Universidade Federal do Rio de Janeiro ndash UFRJ ndash pelas organizaccedilotildees colegiadas

como a Associaccedilatildeo Brasileira de Educaccedilatildeo fundada em 1924 liderada pelos

reformadores do movimento Escola Nova cujo marco encontra-se no lanccedilamento do

Manifesto dos Pioneiros da Educaccedilatildeo na deacutecada de 1930 (VALLE 2009 p22)

Acerca deste Manifesto escreve Santos (2011)

Lanccedilado em 1932 o Manifesto foi sobretudo um documento de poliacutetica educativa no qual para aleacutem da defesa da Escola Nova estava a causaluta maior dapela escola puacuteblica laica sendo esta responsabilidade do Estado Ressalto que as diretrizes desse manifesto influenciaram a Constituiccedilatildeo de 1934 (FREITAS 2005 SAVIANI 2005 apud SANTOS 2011 p2)

Em 1930 ano em que tecircm iniacutecio a Era Vargas eacute criado o Ministeacuterio dos

Negoacutecios da Educaccedilatildeo e Sauacutede Este periacuteodo eacute considerado por Saviani (2008) o

iniacutecio da sexta modalidade de poliacuteticas educacionais marcado pela reforma

Francisco Campos em 1931 e caracterizada pela regulamentaccedilatildeo em acircmbito

nacional das escolas superiores secundaacuterias e primaacuterias incorporando

78

crescentemente as concepccedilotildees pedagoacutegicas renovadoras ateacute a criaccedilatildeo da LDB em

1961

As propostas de poliacuteticas educacionais dos reformadores dentre eles Aniacutesio

Teixeira e Lourenccedilo Filho natildeo foram bem recebidas pelo movimento de 1930

Apesar das controveacutersias houve marcos importantes como aponta Santos (2011)

com os seguintes decretos

1) Decreto 19850 de 11 de abril de 1931 que criou o Conselho Nacional de Educaccedilatildeo 2) Decreto 19851 de 11 de abril de 1931 que dispocircs sobre a organizaccedilatildeo do ensino superior no Brasil e adotou o regime universitaacuterio 3) Decreto 19852 de 11 de abril de 1931 que dispocircs sobre a organizaccedilatildeo da Universidade do Rio de janeiro 4) Decreto 19890 de 18 de abril de 1931 que dispocircs sobre a organizaccedilatildeo do ensino secundaacuterio 5) Decreto 19941 de 30 de abril de 1931 que instituiu o ensino religioso como mateacuteria facultativa nas escolas puacuteblicas do paiacutes 6) Decreto 20158 de 30 de junho de 1931 que organizou o ensino comercial e regulamentou a profissatildeo de contador 7) Decreto 21241 de 14 de abril de 1932 que consolidou as disposiccedilotildees sobre a organizaccedilatildeo do ensino secundaacuterio (SANTOS 2011 p 2)

De acordo com Ribeiro (1992) de 1931 a 1937 foram realizados inuacutemeros

congressos e conferecircncias nos quais se discutiam os caminhos possiacuteveis para a

elaboraccedilatildeo de um plano nacional para educaccedilatildeo Nestes debates haviam duas

vertentes

Uma jaacute era tradicional representada pelos educadores catoacutelicos que defendiam a educaccedilatildeo subordinada agrave doutrina religiosa (catoacutelica) a educaccedilatildeo em separado e portanto diferenciadas pelos sexos masculino e feminino o ensino particular a responsabilidade da famiacutelia quanto agrave educaccedilatildeo etc Outra era representada pelos educadores influenciados pelas bdquoideacuteias novas‟ e que defendiam a laicidade a co- educaccedilatildeo a gratuidade a responsabilidade puacuteblica em educaccedilatildeo etc (RIBEIRO 1992 p99)

Em um contexto onde o mundo presenciava as experiecircncias de paiacuteses com

ideologias fascistas e comunistas os grupos de educadores que debatiam a

educaccedilatildeo agrave eacutepoca diziam ser contraacuterios agrave monopolizaccedilatildeo do ensino por parte do

Estado Com isto o movimento escola novista e sua ideia da educaccedilatildeo ser de

responsabilidade puacuteblica passam a ser assimiladas agraves ideias comunistas

79

Em 1934 eacute outorgada uma nova Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica que segundo

Ribeiro (1992) apesar de seu caraacuteter contraditoacuterio ao atender as reivindicaccedilotildees

sobretudo dos reformadores catoacutelicos conseguiu destacar a educaccedilatildeo dedicando-

lhe um capiacutetulo especiacutefico para o assunto Entatildeoldquoa reivindicaccedilatildeo catoacutelica quanto ao

ensino religioso eacute atendida assim como outras ligadas aos representantes das

ldquoideacuteias novasrdquo (CapI art 5ordmXIV 1934 apud RIBEIRO 1992 p104)

A partir de 1937 quando o golpe militar instaura o Estado Novo algumas

premissas satildeo mantidas como a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino primaacuterio

Institui-se como obrigatoacuterio o ensino de trabalhos manuais nas escolas primaacuterias

normais e secundaacuterias Tambeacutem fica estabelecido o programa escolar em termos de

ensino preacute-vocacional orientado agraves classes menos favorecidas No artigo 129 o

regime de cooperaccedilatildeo entre a induacutestria e o Estado eacute fixado (RIBEIRO 1992 p114-

115)

O periacuteodo do Estado Novo que durou sessenta anos foi um periacuteodo

marcante para a educaccedilatildeo pois traduziu o que aquele regime poliacutetico pretendeu

executar no Brasil Nas palavras de Helena Bomeny (1999)

Formar um bdquohomem novo‟ para um Estado Novo conformar mentalidades e criar o sentimento de brasilidade fortalecer a identidade do trabalhador ou por outra forjar uma identidade positiva no trabalhador brasileiro tudo isso fazia parte de um grande empreendimento cultural e poliacutetico para o sucesso do qual contava-se estrategicamente com a educaccedilatildeo por sua capacidade universalmente reconhecida de socializar os indiviacuteduos nos valores que as sociedades atraveacutes de seus segmentos organizados querem ver internalizados (BOMENY1999p139)

Bomeny apresenta quatro decretos que remetem ao fechamento das escolas

estrangeiras

O Decreto lei ndeg 383 de 18 de abril de 1938 que proibia aos

estrangeiros o exerciacutecio de atividades poliacuteticas no Brasil o Decreto ndeg 406 de 4 de maio 1938 que regulamentava o ingresso e a permanecircncia de estrangeiros ditando providecircncias para sua assimilaccedilatildeo e criando o Conselho de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo como oacutergatildeo executor de suas disposiccedilotildees o Decreto ndeg 868 de 18 de novembro de 1938 que instituiu a Comissatildeo Nacional de Ensino Primaacuterio que possuiacutea entre suas atribuiccedilotildees a nacionalizaccedilatildeo do ensino nos nuacutecleos estrangeiros e o Decreto ndeg 948 de 13 de dezembro do mesmo ano que considerando a complexidade das medidas para promover a assimilaccedilatildeo dos colonos e completa nacionalizaccedilatildeo dos filhos de imigrantes estabelecia que as medidas fossem tomadas pelo Conselho de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo (BOMENY 1999 p 158)

80

Em documento dirigido a Getuacutelio Vargas em 1939 o entatildeo Ministro de

Guerra Eurico Gaspar Dutra apontou a educaccedilatildeo como um dos setores

intimamente ligados agrave seguranccedila nacional ldquoO problema da educaccedilatildeo apreciado em

toda a sua amplitude natildeo pode deixar de constituir uma das mais graves

preocupaccedilotildees das autoridades militaresrdquo (Arquivo Osvaldo Aranha AO 390418

FGVCPDOC apud BOMENY 1999 p139)

Com o fim do Estado Novo a nova constituiccedilatildeo caracterizada por seu caraacuteter

liberal e democraacutetico possibilitou algumas mudanccedilas na educaccedilatildeo O novo Ministro

da Educaccedilatildeo regulamentou em 1946 o Ensino Primaacuterio e o Ensino Normal aleacutem do

Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC Neste contexto o Brasil

passou a viver o que se denominou como periacuteodo nacional-desenvolvimentista No

plano internacional o mundo vivia o poacutes-guerra momento marcado pela

reconstruccedilatildeo dos paiacuteses envolvidos o que levou a uma grande fase de crescimento

econocircmico em niacutevel mundial conhecida como a ldquoa era de ourordquo acarretando no que

ficou conhecido como Estado de Bem-Estar Social

O Estado de bem-estar social era um projeto cogente para recuperar o vigor e a capacidade de expansatildeo dos paiacuteses capitalistas apoacutes a tensatildeo social econocircmica e poliacutetica do periacuteodo entre guerras Tanto que o estabelecimento do Estado de bem-estar social entre as deacutecadas de 1940 e 1960 ficou conhecido como bdquoera dourada do capitalismo‟ por ser um momento de desenvolvimento econocircmico com garantias sociais e oferecimento praticamente de emprego pleno para a maioria da populaccedilatildeo nos paiacuteses mais desenvolvidos (VICENTE 2009 p124)

Apoacutes a reconstruccedilatildeo dos paiacuteses envolvidos na guerra ocorreu o processo de

internacionalizaccedilatildeo do capital O avanccedilo do capitalismo para paiacuteses como o Brasil

implicou em uma nova forma de desenvolvimento As ideacuteias por uma poliacutetica

nacional-desenvolvimentista foram propagadas principalmente pelo Instituto

Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) criado em 1955 durante o governo interino

de Cafeacute Filho No governo de Juscelino Kubitschek o ISEB passa a ser o braccedilo do

governo no sentido de propagar a mentalidade nacional para o desenvolvimento

A deacutecada de 1960 eacute caracterizada por uma sociedade brasileira marcada pelo

processo crescente de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo e pelas mudanccedilas nas

relaccedilotildees de trabalho no campo Na mesma intensidade aumentavam as

81

desigualdades sociais o que mobilizou setores da sociedade em lutas por reformas

de base com vistas agrave reduccedilatildeo dessas desigualdades sociais (NASCIMENTO 2006)

No que se refere ao perfil que tomam as poliacuteticas educacionais nesse periacuteodo

Saviani (2005) aponta que

[] se o periacuteodo situado entre 1930 e 1945 pode ser considerado como marcado pelo equiliacutebrio entre as influecircncias das concepccedilotildees humanista tradicional (representada pelos catoacutelicos) e humanista moderna (representada pelos pioneiros da educaccedilatildeo nova) a partir de 1945 jaacute se delineia como nitidamente predominante a concepccedilatildeo humanista moderna (SAVIANI 2005 p14)

Para o autor o foco no desenvolvimento econocircmico do paiacutes que por sua vez geraria

o desenvolvimento em outras instacircncias da sociedade acabou por gerar uma

inversatildeo do ensino puacuteblico A escola passou a ser instrumento para servir agrave loacutegica

do mercado por meio da pedagogia tecnicista26

No periacuteodo que se estende de 1964-1984 periacuteodo da ditadura militar todo o

aparelho estatal fora reformulado em nome da seguranccedila interna

Definindo a seguranccedila interna como accedilatildeo-resposta a um processo subversivo devendo ser conduzida em termos de aplicaccedilatildeo global do Poder Nacional dentro de uma Estrateacutegia Nacional especiacutefica A Escola Superior de Guerra considerava que essa accedilatildeo-resposta se delineava atraveacutes de trecircs atitudes estrateacutegicas preventiva repressiva e operativa (MIRANDA 1970 p18 apud SAVIANI 2004 p119)

Desse modo as accedilotildees preventivas procuravam evitar aquilo que era

entendido como subversivo As accedilotildees repressivas procuravam impedir a praacutetica

subversiva e as accedilotildees operativas destinavam-se a eliminar esses focos mediante a

accedilatildeo armada Em outras palavrasldquoo Poder Nacional tal como concebido pela

ideologia da interdependecircncia eacute acionado para destruir a autonomia nacional nos

termos da ideologia nacional-desenvolvimentistardquo (SAVIANI 2004 p120)

26

A partir do pressuposto da neutralidade cientiacutefica e inspirada nos princiacutepios de racionalidade eficiecircncia e produtividade a pedagogia tecnicista advogou a reordenaccedilatildeo do processo educativo de maneira a tornaacute-lo objetivo e operacional De modo semelhante ao que ocorreu no trabalho fabril pretendeu-se a objetivaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico Buscou-se entatildeo com base em justificativas teoacutericas derivadas da corrente filosoacutefico-psicoloacutegica do behaviorismo planejar a educaccedilatildeo de modo a dotaacute-la de uma organizaccedilatildeo racional capaz de minimizar as interferecircncias subjetivas que pudessem pocircr em risco sua eficiecircncia (SAVIANI 2009 p11-12)

82

Eacute neste contexto que eacute possiacutevel compreender todas as poliacuteticas educacionais

durante o regime militar Destaca-se o Mobral27 seguido das reformas de ensino de

primeiro segundo e terceiros graus a criaccedilatildeo dos Centros Rurais Universitaacuterios de

Treinamento e Accedilatildeo Comunitaacuteria (CRUTACS) os Centros Sociais Urbanos o

Projeto Rondon a Empresa Brasileira de Notiacutecias (EBN) etc (SAVIANI 2004)

O periacuteodo ditatorial ao longo de duas deacutecadas que serviram de palco para o revezamento de cinco generais na presidecircncia da repuacuteblica se pautou em termos educacionais pela repressatildeo privatizaccedilatildeo de ensino exclusatildeo de boa parcela das classes populares do ensino profissionalizante tecnicismo pedagoacutegico e desmobilizaccedilatildeo do magisteacuterio atraveacutes de abundante e confusa legislaccedilatildeo educacional Soacute uma visatildeo otimistaingecircnua poderia encontrar indiacutecios de saldo positivo na heranccedila deixada pela ditadura militar (GHIRALDELLI 1990 p163)

Em 1979 o Brasil dava iniacutecio ao lento e gradual processo de abertura

democraacutetica que teve iniacutecio no governo de General Geisel (1974-1979) A transiccedilatildeo

democraacutetica se fez seguindo a estrateacutegia de conciliaccedilatildeo pelo alto a fim de dar

prosseguimento agrave ordem socioeconocircmica vigente Naquele momento o mundo vivia

as consequumlecircncias da chamada crise do petroacuteleo que teve seu iniacutecio na deacutecada de

1970 As implicaccedilotildees da crise levaram os paiacuteses a tomarem medidas de

desregulamentaccedilatildeo da economia privatizaccedilotildees e destituiccedilatildeo do Estado de bem-

estar social Nesse contexto nasce o chamado neoliberalismo Neo quer dizer novo

e liberalismo refere-se ao pensamento claacutessico que serviu de base ao capitalismo

Segundo Anderson (1995) ldquoo neoliberalismo nasceu logo depois da II Guerra

Mundial como uma reaccedilatildeo teoacuterica e poliacutetica veemente contra o Estado

intervencionista e de bem-estarrdquo (ANDERSON 1995 p 9)

Na Ameacuterica Latina o efeito da crise fez com que os paiacuteses adotassem os

ajustes neoliberais orientados pelo Banco Mundial Fundo Monetaacuterio Internacional e

o governo dos Estados Unidos apoacutes o ldquoConsenso de Washingtonrdquo28 Os impactos

27

O Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo foi criado pela Lei Nordm 5379 de 15121967 e tinha como

prioridade promover a alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo continuada para jovens e adultos analfabetos Esteve embasada nas proposiccedilotildees de educaccedilatildeo funcional presente nos documentos da UNESCO em 1958 durante o Congresso Mundial de Ministros O MOBRAL teve iniacutecio em 1970 e foi caracterizado do ponto de vista teacutecnico como proacuteximo aos meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo de Paulo Freire que partia das palavras-chaves mas suas orientaccedilotildees pedagoacutegicas eram controladas e supervisionadas pelo governo 28

Em novembro de 1989 reuniram-se na capital dos Estados Unidos funcionaacuterios do governo norte-americano e dos organismos financeiros internacionais ali sediados - FMI Banco Mundial e BID - especializados em assuntos latino-americanos O objetivo do encontro convocado pelo Institute for

83

de tais ajustes perpassam pelo campo das reformas educacionais que devem estar

condicionadas agrave loacutegica do mercado bem como da sauacutede da alimentaccedilatildeo do

trabalho e do salaacuterio (SOARES 2000)

Nesse novo contexto as poliacuteticas educacionais satildeo marcadas por um

neoconservadorismo recheado de contradiccedilotildees e ambiguumlidades presentes nas

principais poliacuteticas educacionais que por sua vez foram resultado do debate entre

diversos setores da sociedade que queriam ver seus interesses contemplados nas

poliacuteticas educacionais somadas agraves deliberaccedilotildees dos organismos multilaterais para

a educaccedilatildeo

33 Poliacuteticas educacionais a partir da Constituiccedilatildeo de 1988

Segundo Gabriele Sapio (2010) a Constituiccedilatildeo Federal (CF) eacute ldquouma das

cartas constitucionais mais adiantadas e progressistas do mundo em mateacuteria de

proteccedilatildeo dos direitos sociais fundamentais coletivos e individuaisrdquo (SAPIO 2010

sn) No Brasil a Constituiccedilatildeo de 1988 eacute considerada um avanccedilo no sentido de

assegurar direitos sociais dentre eles o acesso agrave educaccedilatildeo

No que concerne agrave educaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo tem uma seccedilatildeo especiacutefica

destinada agrave mesma Seccedilatildeo I do capiacutetulo III Da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto

A constituiccedilatildeo de 1988 marca o retorno do Brasil para a democracia No contexto de

sua elaboraccedilatildeo houve inuacutemeros debates por parte dos setores da sociedade de

movimentos sociais a grupos dominantes que queriam ver seus interesses

contemplados na Carta Magna afirma Ghiraldelli Jr (2001 p 169) O mesmo autor

ao analisar a Carta de 1988 onde se discute a educaccedilatildeo informa que este aspecto

natildeo eacute soacute tratado em um artigo especiacutefico mas perpassa por outros toacutepicos

Na Carta de 1988 a educaccedilatildeo natildeo veio contemplada apenas no seu local proacuteprio no toacutepico especiacutefico destinada a ela mas veio tambeacutem espalhada em outros toacutepicos Assim no tiacutetulo sobre direitos e

International Economics sob o tiacutetulo Latin American Adjustment How Much Has Happened era proceder a uma avaliaccedilatildeo das reformas econocircmicas empreendidas nos paiacuteses da regiatildeo Para relatara experiecircncia de seus paiacuteses tambeacutem estiveram presentes diversos economistas latino-americanos Agraves conclusotildees dessa reuniatildeo eacute que se daria subsequentemente a denominaccedilatildeo informal de Consenso de Washingtonrdquo (BATISTA 1994 p 5)

84

garantias fundamentais a educaccedilatildeo apareceu como um direito social junto da sauacutede do trabalho do lazer da seguranccedila da previdecircncia social da proteccedilatildeo agrave maternidade e agrave infacircncia da assistecircncia aos desamparados (artigo 6deg) Tambeacutem no capiacutetulo sobre a famiacutelia a crianccedila o adolescente e o idoso a educaccedilatildeo foi incluiacuteda A Constituiccedilatildeo determinou ser dever da famiacutelia da sociedade e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente o direito agrave educaccedilatildeo como uma prioridade em relaccedilatildeo ao outros direitos (GHIRALDELLI JR 2001 p169)

Diante das mudanccedilas que a CF trouxe agrave Educaccedilatildeo houve tambeacutem a

necessidade de se elaborar uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo

Nacional Em dezembro de 1988 o deputado Octaacutevio Eliacutesio apresentou um projeto

que fixava as diretrizes e bases nacionais da educaccedilatildeo diante da nova realidade

brasileira Apoacutes oitos ano de tramitaccedilatildeo debates e discussotildees a nova LDB foi

aprovada em 1996 Atualmente eacute a diretriz que rege o curriacuteculo nacional Assim eacute a

partir dela que iremos iniciar a anaacutelise propostas das poliacuteticas educacionais para a

diversidade

34 Escola e diversidade O que temos em termos de poliacuteticas educacionais

Seraacute que a escola pode ser a mesma quando os educandos satildeo outros Seraacute que o curriacuteculo pode ser o mesmo quando os alunos satildeo outros Seraacute que a pedagogia deva ser a mesmaA docecircncia deva ser a mesma (Miguel Arroyo 2014-Em entrevista concedida ao Portal Dia a Dia Educaccedilatildeo)

As perguntas acima foram feitas pelo poacutes-doutor em educaccedilatildeo Miguel

Arroyo em entrevista concedida a TV Paulo Freire no ano de 2013 Quando

questionado sobre como a escola deve trabalhar o tema da diversidade ele aponta

que natildeo eacute o aluno quem deve se adaptar agrave escola mas a escola quem deve se

adaptar ao aluno Nesse sentido adaptando o questionamento de Arroyo sobre as

poliacuteticas educacionais para a realidade fronteiriccedila a pergunta ficaria a seguinte seraacute

que a escola situada em regiatildeo de fronteira internacional pode ser a mesma quando

os educandos satildeo outros

E este bdquooutro‟ na fronteira eacute o argentino o aacuterabe o paraguaio o brasiguaio o

indiacutegena que estatildeo imersos em meio a tantas outras diversidades que natildeo foram

tratadas aqui mas que complexificam ainda mais a realidade das escolas de

85

fronteira Nela tambeacutem nos deparamos com as questotildees de gecircnero de raccedila de

classes etc Pensando nestes aspectos o que as principais poliacuteticas educacionais

nacionais podem ou natildeo oferecer quando o assunto eacute a diversidade nas escolas de

fronteira internacional

Por diversidade Elvira de Souza Lima (2011) entende que a mesma eacute a

norma da espeacutecie humana pois ldquoos seres humanos satildeo diversos em suas

experiecircncias culturais satildeo uacutenicos em suas personalidades e satildeo diversos em suas

formas de perceber o mundordquo Segundo Gurgel (LIMA 2011 p1) a ideia de

diversidade relaciona-se diretamente com os conceitos de pluralidade multiplicidade

que indicam diferentes valores costumes vivecircncias de diferentes grupos da

sociedade

Nas concepccedilotildees de Gurgel do ponto de vista da Antropologia compreender

os elementos constitutivos da diversidade nos leva a entender diferentes ldquohaacutebitos

costumes comportamentos crenccedilas e valores e a aceitaccedilatildeo da diferenccedila no outro

chamada de alteridaderdquo (GURGEL 2011 p 4)

Nilma Lino Gomes (2008) ao discorrer sobre o que eacute diversidade busca seu

significado no dicionaacuterio apontando que as palavras que traduzem seu sentido satildeo

diferenccedila e dessemelhanccedila Em uma primeira interpretaccedilatildeo Nilma explica que a

diversidade pode se referir a fatos observaacuteveis a olho nu Contudo se ampliarmos a

noccedilatildeo sobre o que sejam diferenccedilas e incluir essas discussotildees no acircmbito cultural eacute

possiacutevel compreendecirc-la de duas formas

1)As diferenccedilas podem ser empiricamente observaacuteveis 2) as diferenccedilas tambeacutem satildeo construiacutedas ao longo do processo histoacuterico nas relaccedilotildees sociais e nas relaccedilotildees de poder Muitas vezes os grupos humanos tornam o outro diferente para fazecirc-lo inimigo para dominaacute-lo Por isso falar sobre a diversidade cultural natildeo diz respeito apenas ao reconhecimento do outro Significa pensar a relaccedilatildeo entre o eu e o outro (GOMES 2008 p2)

Na aacuterea de estudos das poliacuteticas educacionais o tema diversidade eacute recente

Somente a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 e da implementaccedilatildeo da LDB96 eacute que as

poliacuteticas educacionais para diversidade ganharam espaccedilo no campo das poliacuteticas

puacuteblicas

86

341 A LDB96 - A primeira lei originaacuteria da iniciativa civil e do legislativo

A atual LDB96 eacute fruto do novo quadro poliacutetico que se instaurou no Brasil com

o processo de abertura democraacutetica Como jaacute mencionado foram oito anos de

tramitaccedilatildeo ateacute que em 1996 ela fosse fixada com a aprovaccedilatildeo da redaccedilatildeo proposta

pelo entatildeo Deputado Federal e antropoacutelogo Darcy Ribeiro

Ao analisar a LDB96 eacute possiacutevel encontrar alguns artigos que reconhecem a

diversidade existente no paiacutes No Capiacutetulo II referente agrave Educaccedilatildeo Baacutesica o artigo

26 prescreve o seguinte

Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade da cultura da economia e da clientela (BRASIL 1996)

Com base neste artigo compreende-se que dadas as diferenccedilas culturais presentes

em cada regiatildeo cabe agrave instituiccedilatildeo escolar realizar as adaptaccedilotildees necessaacuterias agrave

realidade local Logo a lei daacute margem para que um trabalho diferenciado possa ser

realizado em aacutereas de fronteira internacional O inciso de nuacutemero cinco do mesmo

artigo torna obrigatoacuterio o ensino de uma liacutengua estrangeira moderna cuja escolha

fica a criteacuterio da comunidade escolar a partir da quinta seacuterie (hoje sexto ano)

Em 2005 foi criada a Lei de no 11161 que tornou obrigatoacuterio o ensino da

Liacutengua Espanhola para o Ensino Meacutedio

Art 1o O ensino da liacutengua espanhola de oferta obrigatoacuteria pela escola e de matriacutecula facultativa para o aluno seraacute implantado gradativamente nos curriacuteculos plenos do ensino meacutedio sect 1o O processo de implantaccedilatildeo deveraacute estar concluiacutedo no prazo de cinco anos a partir da implantaccedilatildeo desta Lei sect 2o Eacute facultada a inclusatildeo da liacutengua espanhola nos curriacuteculos plenos do ensino fundamental de 5a a 8a seacuteries Art 2o A oferta da liacutengua espanhola pelas redes puacuteblicas de ensino deveraacute ser feita no horaacuterio regular de aula dos alunos (BRASIL 2005)

Esta uacuteltima lei expressa o contexto da eacutepoca Primeiro pelo crescimento do poder

econocircmico da Espanha e o crescente aumento do espanhol nos EUA (CELADA

1991 apud AMARAL E MAZZARO 2006) Em segundo o entatildeo presidente Luis

Inaacutecio Lula da Silva tinha como plano de governo a aproximaccedilatildeo com os demais

87

paiacuteses da Ameacuterica Latina haja vista que historicamente a relaccedilatildeo do Brasil com os

paiacuteses da regiatildeo tanto no acircmbito econocircmico como social era pequena Com essa

proposta de integraccedilatildeo em um de seus discursos ele diz

A grande prioridade da poliacutetica externa durante o meu governo seraacute a construccedilatildeo de uma Ameacuterica do Sul politicamente estaacutevel proacutespera e unida com base em ideais democraacuteticos e de justiccedila social Para isso eacute essencial uma accedilatildeo decidida de revitalizaccedilatildeo do MERCOSUL enfraquecido pelas crises de cada um de seus membros e por visotildees muitas vezes estreitas e egoiacutestas do significado da integraccedilatildeo O MERCOSUL assim como a integraccedilatildeo da Ameacuterica do Sul em seu conjunto eacute sobretudo um projeto poliacutetico Mas esse projeto repousa em alicerces econocircmico-comerciais que precisam ser urgentemente reparados e reforccedilados Cuidaremos tambeacutem das dimensotildees social cultural e cientiacutefico-tecnoloacutegica do processo de integraccedilatildeo (LULA DA SILVA 2003)

A partir de entatildeo outras iniciativas aleacutem do ensino do espanhol foram

implementadas como a criaccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino superior em aacutereas

fronteiriccedilas entre elas a Universidade Federal da Fronteira Sul (Santa Catarina)

criada em outubro de 2009 a Universidade Federal do Pampa (Rio Grande do Sul)

fundada em janeiro de 2008 a Universidade Federal de Grande Dourados (Mato

Grosso do Sul) fundada em agosto de 2005 a Universidade Federal da Integraccedilatildeo

Latino-Americana (Paranaacute) criada em janeiro de 2010 e a Universidade da

Integraccedilatildeo Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira tambeacutem criada em 2010 Esta

uacuteltima que conforme o nome sugere orienta-se para o desenvolvimento cientiacutefico

educacional e cultural da Ameacuterica Latina No acircmbito da educaccedilatildeo baacutesica temos o

Programa Escola Intercultural Biliacutenguumle de iniciativa do Mercosul que objetiva a

integraccedilatildeo regional por meio da educaccedilatildeo biliacutengue em escolas puacuteblicas do ensino

fundamental presentes em cidades da faixa de fronteira

Nesse sentido ainda que as estrateacutegias dessas instituiccedilotildees estejam

relacionadas ao projeto de integraccedilatildeo na regiatildeo de faixa de fronteira a presenccedila de

instituiccedilotildees de ensino superior contribui para o desenvolvimento de pesquisas

criaccedilatildeo de projetos e programas tanto no acircmbito nacional com as cidades e as

instituiccedilotildees locais como no acircmbito internacional em parceira com instituiccedilotildees dos

paiacuteses com as quais essas instituiccedilotildees fazem fronteira Isso por consequecircncia

pode contribuir para debates e mudanccedilas na educaccedilatildeo nas escolas de fronteira

No que confere agrave obrigatoriedade do ensino de espanhol algumas pesquisas

sobre sua implementaccedilatildeo identificaram algumas fragilidades Nos resultados

88

parciais da pesquisa de doutorado sobre o ensino do espanhol no Brasil realizada

por Maria Fernanda Lisboa (2011) a autora identificou que o discurso de integraccedilatildeo

linguiacutestico-cultural que justifica a lei ldquoeacute apenas uma fachada para desviar a atenccedilatildeo

dos reais interesses por traacutes dessa poliacutetica natildeo soacute linguumliacutesticardquo (LISBOA 2011 p

213) A autora faz referecircncia aos interesses da Espanha que estaacute agrave frente dessa

poliacutetica ldquoinvestindo em assessorias linguumliacutesticas na criaccedilatildeo de vaacuterias sedes do

Instituto Cervantes e ainda disseminando cursos de capacitaccedilatildeo para professoresrdquo

(LISBOA 2011 p 213) Estes cursos satildeo vistos pelas associaccedilotildees de professores

pelos formadores de professores e por Universidades de modo negativo Na

avaliaccedilatildeo daqueles que satildeo contraacuterios a essas formaccedilotildees encontra-se a duacutevida na

real qualidade da mesma visto que eacute um curso inteiramente agrave distacircncia sem

maiores reflexotildees relacionados agrave metodologia

Aleacutem disso haacute outras questotildees como a demanda de professores oferta de

materiais didaacuteticos interesse por parte dos alunos que satildeo desafios a serem

superados nesse processo de implementaccedilatildeo Entretanto mesmo diante das

contradiccedilotildees e lacunas que a sua obrigatoriedade significou a lei que completou dez

anos de sua criaccedilatildeo e cinco do prazo final para sua execuccedilatildeo nas escolas em 2015

abre possibilidades para maiores discussotildees e provocaccedilotildees se pensarmos a partir

da integraccedilatildeo dos paiacuteses fronteiriccedilos ou mesmo em niacutevel de poliacuteticas linguumliacutesticas

para essa regiatildeo Afinal conforme Marcuschi (2005) ldquonatildeo se pode reduzir a

linguagem ao seu papel de ferramenta social tampouco reduzi-la ao caraacuteter formal

pois liacutengua natildeo eacute forma nem funccedilatildeo e sim atividade significante e constitutivardquo

(MARCUSCHI 2005 p 3)

Em 2003 foi criada a lei 1063903 que tornou obrigatoacuteria a inclusatildeo do ensino

da Histoacuteria da Aacutefrica e da Cultura Afro-Brasileira nos curriacuteculos dos estabelecimentos

de ensino puacuteblicos e particulares da educaccedilatildeo baacutesica E em 2008 foi criada a lei

1164508 que acrescenta o estudo da histoacuteria e cultura indiacutegena nas escolas

puacuteblicas e privadas da educaccedilatildeo baacutesica

1ordm O conteuacutedo programaacutetico a que se refere este artigo incluiraacute diversos aspectos da histoacuteria e da cultura que caracterizam a formaccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira a partir desses dois grupos eacutetnicos tais como o estudo da histoacuteria da Aacutefrica e dos africanos a luta dos negros e dos povos indiacutegenas no Brasil a cultura negra e indiacutegena brasileira e o negro e o iacutendio na formaccedilatildeo da sociedade

89

nacional resgatando as suas contribuiccedilotildees nas aacutereas social econocircmica e poliacutetica pertinentes agrave histoacuteria do Brasil sect 2ordm Os conteuacutedos referentes agrave histoacuteria e cultura afro-brasileira e dos povos indiacutegenas brasileiros seratildeo ministrados no acircmbito de todo o curriacuteculo escolar em especial nas aacutereas de educaccedilatildeo artiacutestica e de literatura e histoacuteria brasileira (BRASIL 2008)

No acircmbito estadual o Paranaacute emitiu a seguinte nota sobre a obrigatoriedade

da lei 1063903

No curriacuteculo oficial da Rede de Educaccedilatildeo do Paranaacute a obrigatoriedade da temaacutetica Histoacuteria e Cultura Afro-Brasileira e seus desencadeamentos tem efetivado accedilotildees para a formaccedilatildeo das equipes multidisciplinares nos Nuacutecleos Regionais de Educaccedilatildeo e nas escolas A medida eacute um dos objetivos para valorizar a histoacuteria da populaccedilatildeo negra no Estado do Paranaacute e orientar a comunidade escolar para o enfrentamento do preconceito da discriminaccedilatildeo do racismo (SEED 2013)

Assim a fim de atender tanto a lei 1063903 quanto a 1164508 a Secretaria

Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute instituiu as Equipes Multidisciplinares validadas

pelo artigo 26 da LDB Lei nordm 939496 pela Deliberaccedilatildeo nordm 0406 CEEPR pela

Instruccedilatildeo nordm 01706 SUEDSEED pela Resoluccedilatildeo nordm 339910 SEEDSEED e a

Instruccedilatildeo nordm 0101 SUESSEED As equipes multidisciplinares satildeo compostas por

professores de diferentes aacutereas pedagogos diretores e agentes educacionais e

representantes da comunidade externa (pais movimentos sociais professores do

ensino superior representantes das Comunidades Remanescentes de Quilombos

lideranccedilas indiacutegenas dentre outros)

A equipe se encontra em espaccedilos para debater estrateacutegias e desenvolver

accedilotildees pedagoacutegicas que fortaleccedilam a implementaccedilatildeo das leis 1063903 e 1164508

no curriacuteculo escolar das instituiccedilotildees de ensino da rede puacuteblica estadual e escolas

conveniadas do Paranaacute Com isso nota-se a preocupaccedilatildeo em cumprir a legislaccedilatildeo

sendo uma das accedilotildees a criaccedilatildeo da Equipe Multidisciplinar que deixa claro que o

trabalho da equipe eacute destinado ao ensino da histoacuteria da Aacutefrica e da cultura negra e

indiacutegena nas escolas estaduais paranaenses conforme as atribuiccedilotildees presentes na

Instruccedilatildeo Nordm 0102010 ndash SUEDSEE da qual destacam

Compete agrave Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash SEED 1Garantir que todos os NREs e estabelecimentos de ensino na Rede Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute organizem suas Equipes Multidisciplinares para tratar da Educaccedilatildeo das Relaccedilotildees Eacutetnico-

90

Raciais e para o Ensino de Histoacuteria e Cultura Afrobrasileira Africana e Indiacutegena Compete agrave Equipe Multidisciplinar do Nuacutecleo Regional de Educaccedilatildeo

1Orientar e acompanhar o funcionamento e organizaccedilatildeo das Equipe Multidisciplinares dos estabelecimentos da Rede Estadual de Ensino para a efetivaccedilatildeo de accedilotildeesexperiecircncias em ERER subsidiando os profissionais da educaccedilatildeo em consonacircncia com as poliacuteticas puacuteblicas estabelecidas pela Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo 2Promover accedilotildees voltadas agrave formaccedilatildeo continuada e de pesquisa dos teacutecnicos do NRE sobre o Ensino de Histoacuteria e Cultura Afro brasileira Africana e Indiacutegena (SEED 2010)

Ao longo do documento natildeo haacute referecircncias que indiquem que o professor

deva trabalhar com outros temas referentes agrave diversidade Contudo a criaccedilatildeo da

equipe multidisciplinar eacute um exemplo de uma poliacutetica educativa criada para o

cumprimento da legislaccedilatildeo Com isso vem o seguinte questionamento no caso dos

desafios enfrentados pelas escolas e professores situados em regiatildeo de fronteira a

obrigatoriedade para demandas especiacuteficas dessas escolas teria um caminho

possiacutevel (deliberaccedilotildees especiacuteficas para as documentaccedilotildees dos alunos

estrangeiros a obrigatoriedade do ensino da histoacuteria da cultura dos paiacuteses com os

quais a cidade fronteiriccedila faz parte formaccedilatildeo de professores especiacuteficas em cidade

ou regiotildees como Foz do Iguaccedilu que apresenta uma quantidade expressiva de

estrangeiras nesse caso os aacuterabes a proposta de poliacuteticas linguumliacutesticas especiacuteficas

que facilitem o processo de inserccedilatildeo desses alunos em sala de aula etc)

Essas questotildees surgiram agrave medida que se tornou possiacutevel perceber que

quando um tema eacute reconhecido pelo Estado tem-se a impressatildeo de que ele passa a

existir oficialmente nas escolas e nas outras instituiccedilotildees Por exemplo a lei

1063903 discute a temaacutetica da histoacuteria da Aacutefrica e da cultura negra e possui dentre

outros objetivos o combate ao racismo Essa discussatildeo poreacutem sempre esteve

presente nas escolas pois a luta contra o racismo e discriminaccedilatildeo racial comeccedilou

ainda no periacuteodo escravocrata pelos primeiros movimentos de resistecircncia a citar os

quilombos

Desse modo natildeo eacute novidade o enfrentamento com o racismo nem eacute

novidade que os negros ficaram excluiacutedos da histoacuteria nacional e desde entatildeo

buscam a afirmaccedilatildeo de sua identidade Denota-se que satildeo questotildees que natildeo

passam despercebidas pela escola mas para que chegasse ateacute ela necessitou de

dispositivos legais para que fossem discutidas em sala de aula com o respaldo do

91

Estado Esses respaldos seriam accedilotildees criadas para dar condiccedilotildees de

implementaccedilatildeo agrave lei como a criaccedilatildeo em 2004 da Secretaria de Educaccedilatildeo

Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade (SECAD) com a finalidade de articular o

tema da diversidade nas poliacuteticas educacionais Tambeacutem foram criados alguns

programas e projetos Programa Diversidade na Universidade (2002 a 2007) os

Foacuteruns Estaduais e Foacuteruns Permanentes de Educaccedilatildeo e Diversidade Eacutetnico-Racial

a distribuiccedilatildeo do Kit didaacutetico-pedagoacutegico a Oficina Cartograacutefica sobre Geografia

Afro-brasileira e Africana (2005) o Projeto Educadores pela Diversidade

(20042005) o Curso Educaccedilatildeo e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais (2005) a Pesquisa

Nacional Diversidade nas Escolas (2006 a 2009) dentre outros (GOMES 2010)

Tudo isto foi possiacutevel explica Gomes (2010) devido ao longo processo de

lutas sociais e natildeo a ldquouma daacutediva do Estado pois enquanto uma poliacutetica de accedilatildeo

afirmativa ela ainda eacute vista com muitas reservas pelo ideaacuterio republicano brasileiro

que resiste em equacionar a diversidaderdquo (GOMES 2010 p 9) Diante das

prerrogativas contidas na LDB96 referentes agrave questatildeo da diversidades cultural

observou que elas por si soacute natildeo atingem a fronteira com suas diversidades que

estatildeo nas escolas que devem seguir as suas normas que por sua vez seguem uma

linha de poliacuteticas universalistas

342 Os Paracircmetros Curriculares Nacionais

Os Paracircmetros Curriculares Nacionais foram publicados apoacutes a

implementaccedilatildeo da Lei de Diretrizes e bases da Educaccedilatildeo Nacional de 1996 pela

Secretaria de Educaccedilatildeo do Ensino Fundamental do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do

Desporto O contexto de sua construccedilatildeo ocorreu apoacutes a Conferecircncia Mundial de

Educaccedilatildeo para Todos em Jomtien na Tailacircndia (1990) que teve como resultado

um documento que destaca a necessidade de uma educaccedilatildeo para todos sem

distinccedilatildeo Do compromisso assumido internacionalmente para com a Educaccedilatildeo

somados aos princiacutepios previstos na LDB de 1996 nascem os PCN‟S

Os PCN‟s satildeo um instrumento normativo que nasceu para cumprir o artigo

210 disposto no capiacutetulo III da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que institui a fixaccedilatildeo de

ldquoconteuacutedos miacutenimos para o ensino fundamental de maneira a assegurar formaccedilatildeo

baacutesica comum e respeito aos valores culturais e artiacutesticos nacionais e regionaisrdquo

Nasceu tambeacutem no contexto das implementaccedilotildees das poliacuteticas neoliberais o que

92

gerou muitas criacuteticas acerca de seus reais propoacutesitos Contaram com os subsiacutedios

de acordos e documentos elaborados por organismos internacionais tais como a

declaraccedilatildeo Mundial sobre a Educaccedilatildeo para Todos Declaraccedilatildeo de Nova Delhi

Relatoacuterio para a Unesco da Comissatildeo Internacional sobre a Educaccedilatildeo para o seacuteculo

XXI dentre outros acordos e documentos de organismos internacionais

(RODRIGUES 2001)

O processo de elaboraccedilatildeo dos Paracircmetros Curriculares Nacionais conforme o

documento comeccedilou a partir do estudo das

Propostas curriculares de Estados e Municiacutepios brasileiros do diagnoacutestico realizado pela Fundaccedilatildeo Carlos Chagas sobre curriacuteculos oficiais e do contato com informaccedilotildees referentes agraves experiecircncias de outros paiacuteses (BRASIL 1998 p15)

Com base nas orientaccedilotildees presentes no Plano Decenal de Educaccedilatildeo (1993-

2003) de pesquisas internas e externas de dados acerca do desempenho dos

estudantes do ensino fundamental aleacutem das experiecircncias de sala de aula

socializadas em seminaacuterios congressos encontros e publicaccedilotildees foi elaborada a

proposta inicial que passou por um processo de anaacutelise entre os anos de 1995 e

1996 Desta anaacutelise saiacuteram aproximadamente setecentos pareceres sobre a

proposta inicial que serviram de referecircncia para sua redaccedilatildeo final

Os PNC‟s de 1ordf a 4ordf seacuterie foram transformados em 10 livros lanccedilados no dia

15 de outubro de 1997 dia do professor na capital Brasiacutelia Estes dez volumes

apresentam os seguintes conteuacutedos introduccedilatildeo liacutengua portuguesa matemaacutetica

ciecircncias naturais histoacuteria e geografia arte educaccedilatildeo fiacutesica apresentaccedilatildeo dos

temas transversais meio ambiente e sauacutede pluralidade cultural e orientaccedilatildeo sexual

Desse modo estatildeo organizados em um documento introdutoacuterio seis documentos

que tratam das aacutereas de conhecimentos gerais e trecircs volumes referentes aos Temas

Transversais (MOTTA 2005)

Segundo o documento elaborado em 1997 com o objetivo de introduzir os

PCN‟s ao professor sua funccedilatildeo eacute de

() orientar e garantir a coerecircncia dos investimentos no sistema educacional socializando discussotildees pesquisas e recomendaccedilotildees subsidiando a participaccedilatildeo de teacutecnicos e professores brasileiros principalmente daqueles que se encontram mais isolados com

93

menor contato com a produccedilatildeo pedagoacutegica atual (BRASIL 1997 p13)

Trata-se portanto natildeo de um curriacuteculo mas de um suporte para que a escola

possa elaborar seu programa curricular dentro de sua realidade especiacutefica Os

PCN‟s estatildeo organizados em dois grupos 1) composto por aacutereas tradicionais

(Portuguecircs Matemaacutetica Histoacuteria Geografia Ciecircncias Naturais Educaccedilatildeo Fiacutesica

Liacutengua Estrangeira e Arte) 2) composto pelos temas transversais que vai tratar das

seguintes questotildees Eacutetica do Meio Ambiente da Pluralidade Cultural da Sauacutede da

Orientaccedilatildeo Sexual e do Trabalho e Consumo (BRASIL 1998 p17) A justificativa

para a escolha de tais temaacuteticas pauta-se no fato de serem assuntos urgentes e que

fazem parte das preocupaccedilotildees e do cotidiano da sociedade brasileira

A finalidade uacuteltima dos Temas Transversais se expressa neste criteacuterio que os alunos possam desenvolver a capacidade de posicionar-se diante das questotildees que interferem na vida coletiva superar a indiferenccedila e intervir de forma responsaacutevel Assim os temas eleitos em seu conjunto devem possibilitar uma visatildeo ampla e consistente da realidade brasileira e sua inserccedilatildeo no mundo aleacutem de desenvolver um trabalho educativo que possibilite uma participaccedilatildeo social dos alunos (BRASIL 1998 p26)

Por temas transversais compreende-se um conjunto de conteuacutedos que natildeo

ldquoquerendo desbancar os previamente fixados pelas disciplinas acadecircmicas

claacutessicas se apresentam como temas transversais no curriacuteculo e portanto comuns

a todas as aacutereas e disciplinasrdquo (RAMOS 1998 p 2) Neste sentido como explica o

volume 10 dos Paracircmetros Curriculares Nacionais que trata dos temas transversais

os conteuacutedos convencionais devem receber as questotildees dos Temas Transversais

de modo que seus conteuacutedos os explicitem e os objetivos sejam considerados

(BRASIL 1998) Em seguida o documento apresenta o seguinte exemplo para

ilustrar essa transversalidade

() aacuterea de Ciecircncias Naturais inclui a comparaccedilatildeo entre os principais oacutergatildeos e funccedilotildees do aparelho reprodutor masculino e feminino relacionando seu amadurecimento agraves mudanccedilas no corpo e no comportamento de meninos e meninas durante a puberdade e respeitando as diferenccedilas individuais Dessa forma o estudo do corpo humano natildeo se restringe agrave dimensatildeo bioloacutegica mas coloca esse conhecimento a serviccedilo da compreensatildeo da diferenccedila de gecircnero (conteuacutedo de Orientaccedilatildeo Sexual ) e do respeito agrave diferenccedila (conteuacutedo de Eacutetica) Assim natildeo se trata de que os professores das

94

diferentes aacutereas devam ldquopararrdquo sua programaccedilatildeo para trabalhar os temas mas sim de que explicitem as relaccedilotildees entre ambos e as incluam como conteuacutedos de sua aacuterea articulando a finalidade do estudo escolar com as questotildees sociais possibilitando aos alunos o uso dos conhecimentos escolares em sua vida extra-escolar Natildeo se trata portanto de trabalhaacute-los paralelamente mas de trazer para os conteuacutedos e para a metodologia da aacuterea a perspectiva dos temas

(BRASIL 1998 p27)

Fernanda Motta (2005) explica que as discussotildees sobre os temas

transversais no campo da educaccedilatildeo surgem em um momento onde diversos grupos

sociais politicamente organizados em diferentes paiacuteses comeccedilaram a questionar

qual seria o papel da escola em meio a uma sociedade plural e globalizada e quais

assuntos que deveriam ser tratados na educaccedilatildeo escolar (MOTTA 2005 p20)

Neste sentido continua

Esses grupos comeccedilaram a pressionar os Estados para que incluiacutessem na estrutura curricular escolar temas mais vinculados ao cotidiano da maioria da populaccedilatildeo possibilitando que as disciplinas passassem a se relacionar com a realidade contemporacircnea Parte-se do princiacutepio de que a escola natildeo pode ser vista como uma instituiccedilatildeo isolada Sua accedilatildeo deve ser norteada tomando como paracircmetro a cultura na qual estaacute inserida (MOTTA 2005 p28)

Assim podemos compreender a educaccedilatildeo como um tipo de poliacutetica social

pensada natildeo somente a partir do Estado mas por atores da sociedade civil

As poliacuteticas sociais ndash e a educaccedilatildeo ndash se situam no interior de um tipo particular de Estado Satildeo formas de interferecircncia do Estado visando agrave manutenccedilatildeo das relaccedilotildees sociais de determinada formaccedilatildeo social Portanto assumem bdquofeiccedilotildees‟ diferentes em diferentes sociedades e diferentes concepccedilotildees de Estado (HOFLING 2001 p31)

343 O Tema Transversal Pluralidade Cultural

No PCN de nuacutemero dez que trata especificamente dos temas transversais

no capiacutetulo referente agrave pluralidade cultural a justificativa pela pertinecircncia do tema eacute

dada pela diversidade cultural presente no paiacutes

Convivem hoje no territoacuterio nacional cerca de 210 etnias indiacutegenas cada uma co identidade proacutepria e representando riquiacutessima diversidade sociocultural junto a uma imensa populaccedilatildeo formada pelos descendentes dos povos africanos e um grupo numeroso de

95

imigrantes e descendentes de povos de vaacuterios continentes com diferentes tradiccedilotildees culturais e religiosas (BRASIL 1997 p125)

O documento chama atenccedilatildeo para o fato de que essa pluralidade cultural que natildeo

foge agrave realidade das escolas eacute ignorada ou mesmo silenciada sendo inuacutemeras as

justificativas para tal silenciamento Um exemplo citado pelos PCN‟s foi o periacuteodo de

nacionalismo dos governos autoritaacuterios que ldquoem diferentes momentos da histoacuteria

valeu-se da accedilatildeo homogeneizadora veiculada na escolardquo (BRASIL 1997 p125) A

deacutecada de 1930 foi um periacuteodo em que a poliacutetica oficial estava preocupada com a

quantidade de imigrantes e buscava formas de fazer com que essa populaccedilatildeo

assimilasse a cultura brasileira Enquanto isso a populaccedilatildeo negra era

marginalizada explica o PCN acerca da pluralidade cultural

O trabalho com o tema transversal propotildee o desenvolvimento das seguintes

capacidades

conhecer a diversidade do patrimocircnio etnocultural brasileiro cultivando atitude de respeito para com pessoas e grupos que a compotildeem reconhecendo a diversidade cultural como um direito dos povos e dos indiviacuteduos e elemento de fortalecimento da democracia

compreender a memoacuteria como construccedilatildeo conjunta elaborada como tarefa de cada um e de todos que contribui para a percepccedilatildeo do campo de possibilidades individuais coletivas comunitaacuterias e nacionais

valorizar as diversas culturas presentes na constituiccedilatildeo do Brasil como naccedilatildeo reconhecendo sua contribuiccedilatildeo no processo de constituiccedilatildeo da identidade brasileira

reconhecer as qualidades da proacutepria cultura valorando-as criticamente enriquecendo a vivecircncia de cidadania

desenvolver uma atitude de empatia e solidariedade para com aqueles que sofrem discriminaccedilatildeo

repudiar toda discriminaccedilatildeo baseada em diferenccedilas de raccedilaetnia classe social crenccedila religiosa sexo e outras caracteriacutesticas individuais ou sociais

exigir respeito para si e para o outro denunciando qualquer atitude de discriminaccedilatildeo que sofra ou qualquer violaccedilatildeo dos direitos de crianccedila e cidadatildeo

valorizar o conviacutevio paciacutefico e criativo dos diferentes componentes da diversidade cultural

compreender a desigualdade social como um problema de todos e como uma realidade passiacutevel de mudanccedilas

analisar com discernimento as atitudes e situaccedilotildees fomentadoras de todo tipo de discriminaccedilatildeo e injusticcedila social (BRASIL1998p147)

96

Diante dessas capacidades apresentadas pelo PCN eacute possiacutevel perceber que

o documento natildeo aborda especificamente a questatildeo da diversidade em regiatildeo de

fronteira internacional pois trata-se de orientaccedilotildees a serem desenvolvidas em todas

as escolas do paiacutes e natildeo em determinada regiatildeo especiacutefica cabendo entatildeo agrave

instituiccedilatildeo escolar realizar as adaptaccedilotildees necessaacuterias conforme o contexto no qual

estaacute inserida

Eacute importante lembrar que o estreito viacutenculo entre os conteuacutedos selecionados e a realidade local a partir mesmo das caracteriacutesticas culturais locais faz com que este trabalho possa incluir e valorizar questotildees da comunidade imediata agrave escola Contudo a proposta levanta tambeacutem a necessidade de referenciais culturais voltados para a pluralidade caracteriacutestica do Brasil como forma de compreender a complexidade do paiacutes bem como de ampliar horizontes para o trabalho da escola como um todo Lembra-se ainda que os conteuacutedos aqui definidos destinam-se ao trabalho com o terceiro e o quarto ciclos do ensino fundamental (BRASIL 1998 p148)

Em uma primeira leitura os temas transversais para a pluralidade cultural

conseguem abordar as principais pautas que a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e a

LDB96 estabelecem ao propor um ensino que valorize e incorpore o debate da

diversidade cultural na escolas mas que se apresentaram de modo muito superficial

e ao mesmo tempo amplo

Dentre algumas consideraccedilotildees acerca dos PCN‟S encontra-se a do professor

Antocircnio Cunha que na ocasiatildeo do lanccedilamento dos documentos questionou-os em

relaccedilatildeo ao o seu processo de elaboraccedilatildeo uma vez que o governo preferiu criar

propostas novas para os PCN‟s desconsiderando totalmente as anteriores

Em vez de se partir das propostas curriculares existentes para se chegar aos PCN‟s o que se fez foi apresentar aos estupefactos assistentes os paracircmetros jaacute elaborados Esse procedimento insoacutelito serviu para desestimular docentes e pesquisadores a darem seu parecer sobre os documentos quando solicitados pela Secretaria do Ensino Fundamental Parece que mais uma vez a administraccedilatildeo puacuteblica tem da pesquisa uma visatildeo apenas justificatoacuteria das opccedilotildees tomadas pelos dirigentes quando natildeo de algo apresentado tatildeo-somente para efeito propagandiacutestico (CUNHA 1996 p61)

Deste modo algumas das criacuteticas direcionadas aos PCN‟s encontram-se em

sua concepccedilatildeo O Parecer da Agecircncia Nacional dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB)

em consonacircncia com a posiccedilatildeo da Associaccedilatildeo Nacional de Histoacuteria (ANPUH)

97

realizado a pedido Secretaria do Ensino Fundamental do MEC na ocasiatildeo de seu

processo de elaboraccedilatildeo deu a seguinte resposta

Os bdquoParacircmetros‟ apresentam-se hoje como um retrocesso Apresentam-se organizados de forma semelhante aos antigos Guias Curriculares divididos em objetivos conteuacutedos avaliaccedilatildeo orientaccedilotildees didaacuteticas (em lugar das estrateacutegias) Apoacutes uma tentativa de explicitaccedilatildeo de conteuacutedos elenca-se para cada ciclo uma lista que pretende sintetizaacute-los Mesmo que no documento introdutoacuterio e nos documentos de aacuterea apareccedila registrada a natildeo intencionalidade da parte do MEC no sentido da obrigatoriedade de conteuacutedos determinados a real intenccedilatildeo jaacute patente a partir da escolha do termo bdquoparacircmetros‟ e a forma da organizaccedilatildeo dos mesmos eacute de molde a constituir em modelos uacutenicos a serem popularizadas e vulgarizadas em novos manuais didaacuteticos ()- O documento intitulado bdquoTemas Transversais‟ homogeneizar para a totalidade do paiacutes a definiccedilatildeo de bdquoconviacutevio social e eacutetica‟ meio ambiente e sauacutederdquo(AGB 1996p 62)

No parecer dos geoacutegrafos a construccedilatildeo de modelos uacutenicos e vulgarizados

bem como a tentativa de universalizar temas como a de conviacutevio social e eacutetico para

todo o paiacutes satildeo objetos de criacuteticas na medida em que a reflexatildeo sobre pluralidade

que haacute no paiacutes deve-se primeiramente ao seguinte questionamento destes temas

transversais - e em destaque o que trata da pluralidade cultural - quando adentra

em realidades como a de Foz do Iguaccedilu satildeo passiacuteveis de considerar as condiccedilotildees

locais Na mesma perspectiva Calllai (1997) fez o seguinte questionamento e

reflexatildeo

Os temas transversais propostos de certa forma homogeinizam tanto os problemas como o curriacuteculo a niacutevel nacional Eacute possiacutevel articular-se questotildees como pluralidade cultural exclusatildeo social e proposiccedilatildeo uacutenica de curriacuteculo As desigualdades sociais satildeo tambeacutem regionalizadas e como tal diferenciadas na sua expressatildeo localizada E eacute no local que o sujeito encara os problemas do seu cotidiano embora eles sejam o mais das vezes globais Poreacutem o global estaacute concretizado no lugar em que se vive e como tal eacute a partir daiacute que se precisa consideraacute-lo (CALLAI 1997 p 10)

Por outro lado aqueles (SILVEIRA MARQUES 2004) que vecircem os Temas

Transversais como uma novidade facilitadora para que haja debates em sala sobre

cultura diversidade e voltada para a interculturalidade possuem a consciecircncia de

que haacute alguma dificuldades seja pela falta de bibliografia pelas poucas experiecircncias

desenvolvidas e ateacute mesmo pela falta de formaccedilatildeo adequada de professores

Para que o trabalho com os temas transversais seja de fato efetivo torna-se

necessaacuterio a construccedilatildeo de uma proposta pedagoacutegica que envolva toda a

98

comunidade escolar Eacute necessaacuterio considerar que os temas ultrapassem os muros

da escola incluindo o contexto social envolvente Com relaccedilatildeo aos PCN‟s ainda que

haja criacuteticas referentes agrave sua elaboraccedilatildeo ainda que eles tendam agrave homogeneizaccedilatildeo

e por isso apresentem certa incoerecircncia teoacuterica a problemaacutetica maior eacute se esse

documento por meio dos temas transversais conseguiu inserir o debate sobre a

diversidade na comunidade escolar e como esse debate foi inserido

De modo geral os PCN‟s representam um avanccedilo no modo como trata do

tema pluralidade cultural No entanto as anaacutelises demonstraram que as tendecircncias

agrave homogeneizaccedilatildeo do curriacuteculo nacional ficam impliacutecitas no documento logo ele

recai em contradiccedilotildees pois reconhece a diversidade que existe no paiacutes mas insiste

em direcionar o trabalho da pluralidade a grupos especiacuteficos Neste caso negros e

indiacutegenas natildeo alcanccedilando realidades como a fronteiriccedila Assim acaba por deixar

de lado outros grupos

344 O Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute

O Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute (PEE-PR) de 2015 eacute fruto de um

processo que tem iniacutecio na Constituiccedilatildeo de 1988 que por meio do Art 22 inciso

XXIV estabelecia a elaboraccedilatildeo de uma Nova Lei de Diretrizes e Bases para

Educaccedilatildeo Sendo entatildeo criada em 1996 a LDB96 que delegou para estados

municiacutepios Uniatildeo e Distrito Federal ldquoaos entes federados fica a responsabilidade de

garantir os meios necessaacuterios para o acesso e permanecircncia de todos agrave educaccedilatildeo

puacuteblica e gratuitardquo (BRASIL 2014a)

Deste modo conforme o PEE-PR do Paranaacute a educaccedilatildeo foi estruturada em

planos decenais com o objetivo de

Articular o sistema nacional de educaccedilatildeo em regime de colaboraccedilatildeo e definir diretrizes objetivos metas e estrateacutegias de implementaccedilatildeo para assegurar a manutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensino em seus diversos niacuteveis etapas e modalidades por meio de accedilotildees integradas dos poderes puacuteblicos das diferentes esferas federativas (BRASIL 2014a p 15 apud PEE-PR 2015 p23)

As primeiras discussotildees do PNE comeccedilaram nas Conferecircncias Brasileiras de

Educaccedilatildeo (CBEs) nas deacutecadas de 1980 e 1990 Posteriormente estas conferecircncias

99

foram dando lugar para os Seminaacuterios Brasileiros de Educaccedilatildeo e as Conferecircncias

Nacionais de Educaccedilatildeo datadas da deacutecada de 1920 (PEE-PR 2015 p24) As

CBEs entre os anos de 1996 e 2004 foram substituiacutedas pelos Congressos

Nacionais de Educaccedilatildeo (Coned)(PARANAacute 2015)

O Plano Nacional de Educaccedilatildeo (PNE) foi aprovado pela primeira vez em 2001

pelo Congresso Nacional Brasileiro Em 2009 foi estabelecida a Conferecircncia

Nacional de Educaccedilatildeo (Conae) sendo um de seus objetivos o de mobilizar os

diversos setores da educaccedilatildeo brasileira a elaborarem um PNE correspondente ao

periacuteodo de 2011-2020 Assim apoacutes quatro anos de debates e de reelaboraccedilatildeo do

PNE a Lei Federal nordm 13005 de junho de 2014 instituiu o novo Plano composto

por 14 artigos e um anexo contendo 20 metas e estrateacutegias nacionais a serem

atingidas no periacuteodo de dez anos (PEE-PR 2015)

O documento base do PEE-PR na introduccedilatildeo apresenta as caracteriacutesticas

gerais da populaccedilatildeo paranaense Nela eacute destacada a presenccedila de diversas etnias e

nacionalidades que fazem parte da histoacuteria do estado e dada essa presenccedila a

educaccedilatildeo eacute uma instacircncia automaticamente atingida por essa diversidade

A populaccedilatildeo eacute formada por descendentes de povos europeus africanos ameriacutendios e indiacutegenas das etnias Guarani Kaingang e Xetaacute e por imigrantes procedentes principalmente dos estados do Rio Grande do Sul Santa Catarina Satildeo Paulo e Minas Gerais () Dessa forma esses grupos participaram na construccedilatildeo da cultura paranaense e muitos costumes oriundos dessas diferentes etnias ainda satildeo preservados em determinadas comunidades e se refletem na educaccedilatildeo paranaense (PEE-PR2015p 26)

Refletindo sobre estas caracteriacutesticas e atendendo agraves leis nordm 1063908 e

1164508 sobre a obrigatoriedade do ensino de histoacuteria e cultura afro-brasileira

africana e indiacutegena no curriacuteculo oficial dos estabelecimentos de ensino puacuteblico o

plano base possui as seguintes estrateacutegias

13 Orientar as instituiccedilotildees educacionais que atendem crianccedilas de zero a cinco anos a agregarem ou ampliarem em suas praacuteticas pedagoacutegicas cotidianas accedilotildees que visem ao enfrentamento da violecircncia sexual e a outros tipos de violecircncia agrave inclusatildeo e ao respeito agraves diversidades de toda ordem gecircnero eacutetnico-racial religiatildeo entre outros agrave promoccedilatildeo da sauacutede e dos cuidados agrave convivecircncia escolar saudaacutevel e ao estreitamento da relaccedilatildeo famiacutelia-crianccedila-instituiccedilatildeo ()18 Estabelecer programas em parceria com os municiacutepios para a oferta da educaccedilatildeo inclusiva nas comunidades indiacutegenas

100

quilombolas do campo e ciganas de acordo com suas especificidades (PEE-PR 2015 p64)

Conforme a finalidade no Plano este estabelece metas e estrateacutegias a serem

implementadas e consonacircncia com o Art8ordm contido no plano de educaccedilatildeo que

estabeleceu as seguintes estrateacutegias

I - asseguram a articulaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais com as demais poliacuteticas sociais particularmente as culturais II - consideram as necessidades especiacuteficas das populaccedilotildees do campo e das comunidades indiacutegenas quilombolas e demais grupos sociais singulares asseguradas a equidade educacional e a diversidade cultural (PEE-PR 2015 p2)

Chama atenccedilatildeo a especificidade do artigo oitavo que visa agrave articulaccedilatildeo das

poliacuteticas educacionais com as demais poliacuteticas sociais destacando principalmente a

questatildeo cultural Ao pensar nas particularidades educacionais encontradas em

regiotildees de fronteira internacional em Foz do Iguaccedilu onde a presenccedila de alunos

oriundos de outros paiacuteses eacute comum nas escolas seria pertinente que o tema

diversidade fosse ampliado Por exemplo no caso da presenccedila de alunos aacuterabes

(principalmente libaneses siacuterios e palestinos) nas escolas as diferenccedilas

manifestadas natildeo satildeo apenas linguiacutesticas Neste caso abarca tambeacutem a religiatildeo

(predominante o islatilde) os haacutebitos costumes vestuaacuterio alimentaccedilatildeo etc Neste

sentido propor poliacuteticas puacuteblicas que possibilitem a inclusatildeo desses alunos e natildeo a

exclusatildeo ou a desconsideraccedilatildeo das origens deste aluno eacute sem duacutevidas um grande

desafio

345 O Curriacuteculo da AMOP

Reduzindo o campo de anaacutelise da poliacutetica educativa para a regiatildeo oeste do

Paranaacute onde estaacute localizada a cidade de Foz do Iguaccedilu encontramos o curriacuteculo

baacutesico da Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do oeste do Paranaacute (AMOP) que na

introduccedilatildeo do documento baacutesico afirma que houve uma confusatildeo por parte das

escolas municipais que ao implementarem os PCN‟s nas escolas natildeo o utilizaram

como um paracircmetro Muitas o adotaram como curriacuteculo ou tornaram sua proposta

pedagoacutegica como ecleacutetica Assim os educadores da regiatildeo Oeste do Paranaacute

101

sentiram a necessidade de se rediscutir o curriacuteculo Para tal adotaram a seguinte

metodologia

Inicialmente a metodologia adotada nos colocou limites que avaliada apontou para uma nova organizaccedilatildeo Reorganizado um cronograma de trabalho coletivamente com as redes municipais de Ensino chegamos a este documento que eacute resultado de dois anos de intensos estudos de reflexotildees de embates teoacutericos de sistematizaccedilotildees de leituras de discussotildees e de anaacutelises do coletivo dos educadores os quais respeitando o movimento proacuteprio de cada rede e por sua vez de cada escola partiram de contribuiccedilotildees teoacutericas de alguns autores das experiecircncias e compreensotildees do que jaacute se fez ou se faz em nossas escolas (AMOP 2007 p07)

Os trabalhos para elaboraccedilatildeo de diretrizes curriculares para o oeste

paranaense comeccedilaram em 2005 juntamente com secretaacuterios municipais de

educaccedilatildeo do Oeste do Paranaacute Na primeira etapa foram organizados grupos de

trabalho para elaboraccedilatildeo de propostas para as disciplinas de Liacutengua

PortuguesaAlfabetizaccedilatildeo Matemaacutetica Histoacuteria Geografia e Ciecircncias Assim as

atividades comeccedilaram a partir de seminaacuterio com representantes das equipes de

ensino das secretarias municipais de educaccedilatildeo

No qual se discutiu sobre a concepccedilatildeo de homem de sociedade de conhecimento e sobre a funccedilatildeo da escola Participaram do evento aproximadamente 380 representantes (AMOP 2007 p25)

Os trabalhos seguiram no decorrer do ano de 2005 mediante reuniotildees dos

grupos junto aos profissionais da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo (SEED) que

atuaram na elaboraccedilatildeo das diretrizes para as escolas estaduais do Paranaacute O

Departamento Pedagoacutegico da AMOP integrou-se ao grupo como tambeacutem os

educadores da educaccedilatildeo baacutesica e instituiccedilotildees de ensino superior Posteriormente

abriram-se as discussotildees para toda regiatildeo a fim de compreender as primeiras

impressotildees da versatildeo preliminar do documento

A partir desse processo houve a reelaboraccedilatildeo desse documento que reelaborado a partir das contribuiccedilotildees dos educadores dos municiacutepios envolvidos tornou-se o ponto de partida para a elaboraccedilatildeo do curriacuteculo A construccedilatildeo do curriacuteculo foi feita por meio de um processo que desencadeou discussotildees preacutevias com os representantes dos municiacutepios sistematizaccedilatildeo dessas discussotildees por um grupo menor discussatildeo e anaacutelise dessa sistematizaccedilatildeo pelo conjunto de educadores de cada municiacutepio que tinha suas

102

contribuiccedilotildees registradas pelos seus representantes (AMOP 2007 p26)

A partir de entatildeo elaborado o curriacuteculo no que confere agraves questotildees da

diversidade a partir da realidade em Foz do Iguaccedilu foram identificados nas

diretrizes propostas para o ensino de Geografia e Histoacuteria componentes que

trabalham com a questatildeo da diversidade nas escolas Os conteuacutedos referentes ao

ensino da Geografia estatildeo nas seguintes proposiccedilotildees para o 5ordm ano

Caracteriacutesticas sociais ndash diversidades eacutetnicas e culturais do Paranaacute

Movimentos da populaccedilatildeo paranaense crescimento da populaccedilatildeo

Divisatildeo poliacutetica (formaccedilatildeo do conceito de distritomuniciacutepioestadopaiacutes)

A industrializaccedilatildeo e o crescimento urbano do Paranaacute ndash malha urbana

Tracircnsito - circulaccedilatildeo no estado ndash ligaccedilatildeo rodoviaacuteria ferroviaacuteria aeacuterea - vias pedagiadas ndash Fiscalizaccedilatildeo Poliacutecia Rodoviaacuteria e pesagem

Organizaccedilatildeo dos espaccedilos urbanos ndash problemas urbanos - centro e periferia Impostos e taxas pagamentos que financiam a infra-estrutura dos bens puacuteblicos (AMOPE 2007 p252-253)

Sobre os conteuacutedos propostos no AMOP (2007) o ensino de geografia propotildee que

as diversidades eacutetnicas e culturais presentes no Paranaacute sejam parte do conteuacutedo a

ser desenvolvido em sala de aula Tambeacutem a histoacuteria dos processos migratoacuterios

para o estado e a presenccedila dos diferentes grupos eacutetnicos que formam parte da

histoacuteria de formaccedilatildeo do Paranaacute (AMOP 2007)

Neste sentido a proposta da AMOP se aproxima da LDB96 e dos proacuteprios

PCN‟s que tratam da diversidade cultural com a diferenccedila de que ele eacute destinado

para a rede municipal de educaccedilatildeo do Oeste paranaense Nesta perspectiva haacute um

vieacutes positivo na medida em que delimita o oeste paranaense adotando o enfoque da

diversidade eacutetnico-racial o que permite maior aproximaccedilatildeo com a realidade do

aluno

103

346 Algumas consideraccedilotildees

Diante do exposto considerando os documentos analisados percebe-se que

haacute uma induccedilatildeo clara para que o trabalho pedagoacutegico com a temaacutetica da

diversidade esteja fundada na noccedilatildeo29 presente na Constituiccedilatildeo de 1988 de que o

Brasil sendo formado por trecircs raccedilas - o iacutendio o branco e o negro- deve considerar

essas e reconhececirc-las nos espaccedilos educacionais A LDB96 reafirma esses

propoacutesitos no artigo 26 Os PCN‟spor sua vez se adequa a LDB06 principalmente

com a criaccedilatildeo dos Temas Transversais

No plano estadual as poliacuteticas educacionais para diversidade natildeo ficam

distantes das propostas em niacutevel nacional pois devem obrigatoriamente seguir os

componentes das diretrizes nacionais Desse modo natildeo foi evidenciado nessas

poliacuteticas mecanismos que subsidiassem as escolas presentes em fronteira neste

caso Foz do Iguaccedilu com estrateacutegias para criar programas e projetos para a

diversidade Do mesmo modo podemos falar dos planos nacionais e estaduais de

educaccedilatildeo Por mais que enfatizem o trabalho pedagoacutegico conforme a realidade

local eles natildeo deixam de pensar no nacional Outro problema eacute a imposiccedilatildeo dessas

poliacuteticas puacuteblicas e os PCN‟s satildeo um exemplo de uma proposta vertical assim

como inuacutemeros projetos que chegam agrave escola sem uma preacutevia discussatildeo com as

bases que seriam as comunidades escolares

Desse modo o que pode ser feito nas escolas eacute uma adaptaccedilatildeo agrave realidade

local Todas essas poliacuteticas educativas chegam agrave regiatildeo da fronteira mas natildeo

atingem suas especificidades Por especificidades recordamos tratar-se da

presenccedila dos alunos estrangeiros nas escolas de Foz do Iguaccedilu a saber

paraguaios argentinos e brasiguaios que satildeo grupos que fizeram e fazem parte da

histoacuteria da cidade desde o seu iniacutecio mas ao mesmo tempo natildeo satildeo preocupaccedilatildeo

do Estado brasileiro devendo ser uma preocupaccedilatildeo de seus Estados Nacionais

Nesta loacutegica as escolas da regiatildeo natildeo foram criadas a partir da realidade

fronteiriccedila O multilinguismo eacute desconsiderado O Estado por meio da legislaccedilatildeo

impotildee o portuguecircs enquanto liacutengua oficial Falar de diversidade eacute possiacutevel desde

29

Pires-Santos e Cavalcanti (2008) definem o monolinguismo como um a adoccedilatildeo de uma

liacutengua homogecircnea pura uma liacutengua para um povo Trata-se na concepccedilatildeo das autoras de um mito ligado a interesses e investida de ideologia e que estaacute relacionado agrave nacionalidade

104

que seja referente aos grupos presentes no territoacuterio brasileiro que foram

historicamente colocados agrave margem da sociedade Logo 1) Seraacute que as nossas

escolas disponibilizam de tempo espaccedilo e interesse para desenvolver trabalhos de

combate ao preconceito contra o paraguaio chamado em momentos de ofensas de

xiru 2) E quanto agrave presenccedila aacuterabe na regiatildeo ela eacute discutida Como eacute a acolhida

destes na escola 3) O professor se sente preparado para lidar com estas questotildees

em sala de aula

Tais perguntas apresentadas acima foram motivadas a partir do pressuposto

de que temos um curriacuteculo nacional com raiacutezes eurocecircntricas conforme Tomaz

Tadeu da Silva (2007 p7) o curriacuteculo natildeo eacute neutro este ldquotransmite visotildees sociais

particulares e interessadas o curriacuteculo produz identidades individuais e sociais

particularesrdquo Por muito tempo a histoacuteria dos negros e indiacutegenas eram abordadas de

modo superficial por outro lado a histoacuteria antiga e recente da Europa sempre se fez

presente em nossos livros didaacuteticos Desconhecemos a Ameacuterica Latina seus povos

e histoacuteria logo desconhecemos os que fazem fronteira com o Brasil Squinelo

(2011) no artigo ldquoRevisotildees Historiograacuteficas A Guerra do Paraguai nos livros

didaacuteticos brasileiros-PNLD 2011rdquo ao analisar a histoacuteria da Guerra da Triacuteplice Alianccedila

presente nos livros didaacuteticos do Brasil aponta que pouco se discute considera a

versatildeo falha tendenciosa e conclui seu artigo com os seguintes questionamentos

Resta-me ainda algumas duacutevidas em relaccedilatildeo ao porquecirc entatildeo estudamos a Guerra do Paraguai na medida em que a) natildeo procuramos entender o sentido para os paiacuteses nela envolvidos b) natildeo buscamos a compreensatildeo de nosso desenvolvimento histoacuterico-soacutecio-cultural e econocircmico c) natildeo realizamos as conexotildees necessaacuterias ao entendimento das questotildees relacionadas ao Mercosul e finalmente d) natildeo propiciamos ao educando a compreensatildeo dos eventos histoacutericos de nosso passado latino-americano o que nos levaria a nos conhecer e a conhecer o outro e tambeacutem responderia muitas questotildees postas em nosso presente (SQUINELO 2011p 36)

35 O Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles um exemplo de poliacutetica

educacional para a fronteira

Dentro das poliacuteticas educacionais encontram-se outras variaacuteveis de poliacuteticas

dentre elas a poliacutetica linguiacutestica definida por Oliveira (2004 p38) como ldquoum o

conjunto de decisotildees que um grupo de poder sobretudo um Estado (mas tambeacutem

105

uma Igreja ou outros tipos de instituiccedilotildees de poder menos totalizantes) toma sobre o

lugar e a forma das liacutenguas na sociedade e a implementaccedilatildeo destas decisotildeesrdquo

Para Maher (2013 p 119) as poliacuteticas linguiacutesticas se referem aos objetivos e

agraves intervenccedilotildees que de uma forma ou outra visam ldquoafetarrdquo tanto o modo como as

liacutenguas se constituem quanto os modos como elas satildeo utilizadas eou transmitidas

A autora chama atenccedilatildeo para o equiacutevoco comumente difundido de que as poliacuteticas

lingusticas seriam apenas criadas por meio do governo ldquoPoliacuteticas linguumliacutesticas podem

ser arquitetadas e colocadas em accedilatildeo localmente uma escola ou uma famiacutelia pode

colocar em praacutetica ou estabelecer certa situaccedilatildeo sociolinguumliacutesticardquo (MAHER 2013

p120)

Essa perspectiva vai ao encontro da abordagem30 multicecircntrica ou policecircntrica

de poliacuteticas puacuteblicas que aleacutem de considerar o Estado inclui outras instacircncias como

protagonistas no estabelecimento de poliacuteticas puacuteblicas tais como as organizaccedilotildees

natildeo governamentais organizaccedilotildees privadas e organismos (DROS 1971

KOOIMAN 1993 RHODES 1997 HAJER 2003 apud SECCHI 2013) Nessa

premissa o PEIBF se enquadra na visatildeo multicecircntrica dos estudos de poliacuteticas

puacuteblicas uma vez que foi fruto de acordos bilaterais iniciados pela Argentina e o

Brasil no acircmbito do Mercado Comum do Sul (Mercosul)

O Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles de Fronteira (PEIBF) surgiu

dentro do oacutergatildeo pertencente ao Mercosul denominado Setor Educacional do

Mercosul (SEM) Segundo o documento ldquoEscolas de Fronteirardquo (BRASIL 2008) dos

antecedentes desse projeto encontra-se a oficializaccedilatildeo da criaccedilatildeo do MERCOSUL

em 1991 instituiccedilatildeo intergovernamental que nasceu com a assinatura do Tratado de

Assunccedilatildeo acordados inicialmente entre Argentina Brasil Paraguai e Uruguai

O bloco econocircmico Mercosul apresenta-se em um contexto de globalizaccedilatildeo

da economia O projeto teve como base as negociaccedilotildees entre Brasil e Argentina

30

Dentro das analises de poliacuteticas puacuteblicas Secchi (2013) discorre sobre o noacute conceitual que haacute na

literatura especializada nos estudos de poliacuteticas puacuteblicas Alguns pesquisadores defendem a abordagem estatista que considera as PP analiticamente monopoacutelio de atores estatais Outros a abordagem multicecircntrica que aleacutem de considerar o Estado inclui outras instacircncias como protagonistas no estabelecimento de poliacuteticas puacuteblicas

106

para a integraccedilatildeo de suas economias e os resultados positivos dessa integraccedilatildeo

levaram o Paraguai e o Uruguai a fazerem parte do projeto integracionista

O objetivo inicial do Mercosul fora a integraccedilatildeo dos quatros Estados

membros em termos de circulaccedilatildeo de bens e serviccedilos e de fatores produtivos da

formulaccedilatildeo de poliacutetica comercial comum da afirmaccedilatildeo de uma Tarifa Externa

Comum (TEC) e da busca por poliacuteticas legislativas comum aos paiacuteses membros Em

2012 a Venezuela tornou-se oficialmente mais um paiacutes membro do bloco e a Boliacutevia

caminha para o processo de ordenamento juriacutedico para oficializar sua participaccedilatildeo

Aleacutem disso o mercado comum conta com a participaccedilatildeo de paiacuteses associados

Chile Peru Colocircmbia Equador Guiana e Suriname

No final do seacuteculo passado o Mercosul passava por outro lado por crises do

ponto de vista comercial as dimensotildees poliacutetica sociocultural e educacional foram

ganhando relevacircncia (ALMEIDA 2015) Este periacuteodo de crise refere-se aos

impactos das poliacuteticas neoliberais implantadas na regiatildeo no decorrer das deacutecadas

de 1980 e 1990 O nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de pobreza passou de 136

milhotildees em 1980 para 222 milhotildees em 2004 (ESTAY 2007) Neste contexto de crise

econocircmica e aumento das desigualdades sociais que foi assinada a ldquoCarta de

Buenos Aires sobre o Compromisso Social no Mercosul Boliacutevia e Chile31rdquo no dia 30

de junho de 2000 A carta reconhece a importacircncia da dimensatildeo sociocultural do

Mercosul

Com a entrada de governos progressistas como a eleiccedilatildeo de Luiacutes Inaacutecio Lula

da Silva em 2003 e de Neacutestor Kircher na Argentina a funccedilatildeo do Mercosul enquanto

bloco meramente de integraccedilatildeo econocircmica foi revista e acrescida pelas dimensotildees

sociais para a integraccedilatildeo regional Desse modo a aacuterea social do Mercosul que

havia sido abordada na ldquoCarta de Buenos Airesrdquo e pela criaccedilatildeo da Reuniatildeo de

Ministros e Autoridades de Desenvolvimento Social do Mercosul foi expandida e

institucionalizada com a criaccedilatildeo do Instituto Mercosul Social (IMS) em 2007

(ALMEIDA 2015)

31

Em junho de 2000 os presidentes aprovaram a Carta de Buenos Aires com o Compromisso

Social no Mercosul Boliacutevia e Chile O documento estimula as autoridades competentes a ldquofortalecer o trabalho conjunto entre os seis paiacuteses assim como o intercacircmbio de experiecircncias e informaccedilotildees a fim de contribuir para a superaccedilatildeo dos problemas sociais mais agudos que os afetam e para definir os temas ou aacutereas onde seja viaacutevel uma accedilatildeo coordenada ou complementar para solucionaacute-los (BRASIL 2007 p25) Dentre as accedilotildees promovidas a partir da Carta encontra-se a criaccedilatildeo da Reuniatildeo de Ministros e Autoridades de Desenvolvimento Social do Mercosul instituiacuteda pela Decisatildeo n 612000 do CMC (ALMEIDA 2015p24)

107

A estrutura organizacional do Mercosul eacute composta pelo Conselho Mercado

Comum (CMC) Grupo Mercado Comum Comissatildeo Parlamentar Foro Consultivo

Econocircmico-Social Comissatildeo de Comeacutercio do Mercosul e Secretaria Administrativa

do Mercosul O CMC eacute responsaacutevel pela criaccedilatildeo da Reuniatildeo de Ministros da

Educaccedilatildeo (RME) principal responsaacutevel pela estrutura do Setor educacional do

Mercosul (SEM) (MERCOSUL EDUCACIONAL 2013) Dentre os objetivos

estrateacutegicos para a educaccedilatildeo do SEM estaacute agrave integraccedilatildeo e formaccedilatildeo de uma

identidade regional Tem como objetivo ser um espaccedilo regional no qual a educaccedilatildeo

seja de qualidade fundada no ldquoconhecimento intercultural o respeito agrave diversidade e

agrave cooperaccedilatildeo solidaacuteriardquo de modo a contribuir para a democratizaccedilatildeo dos sistemas

educacionais da regiatildeo (MERCOSUL 2011 p15) Da missatildeo definida pelo SEM

encontra-se a de

Formar um espaccedilo educacional comum por meio da coordenaccedilatildeo de poliacuteticas que articulem a educaccedilatildeo com o processo de integraccedilatildeo do MERCOSUL estimulando a mobilidade o intercacircmbio e a formaccedilatildeo de uma identidade e cidadania regional com o objetivo de alcanccedilar uma educaccedilatildeo de qualidade para todos com atenccedilatildeo especial aos setores mais vulneraacuteveis em um processo de desenvolvimento com justiccedila social e respeito agrave diversidade cultural dos povos da regiatildeo (MERCOSUL EDUCACIONAL 2011 p10)

No acircmbito do SEM encontra-se o Comitecirc Coordenador Regional cuja funccedilatildeo eacute

propor poliacuteticas de integraccedilatildeo e cooperaccedilatildeo da aacuterea educacional Uma vez

estabelecidas como liacutenguas oficiais do MERCOSUL o espanhol guarani e

portuguecircs coube ao setor educativo do bloco enfatizar em seu plano de accedilatildeo a

necessidade de difundir o ensino de portuguecircs e do espanhol por meio dos

sistemas educativos formais e informais

Como parte desse processo o Setor Educacional do Mercosul ndash SEM aponta nos seus planos de accedilatildeo a necessidade de difundir o aprendizado do portuguecircs e do espanhol por meio dos sistemas educacionais formais e natildeo formais considerando como aacutereas prioritaacuterias o fortalecimento da identidade regional levando dessa forma ao conhecimento muacutetuo a uma cultura de integraccedilatildeo e agrave promoccedilatildeo de poliacuteticas regionais de formaccedilatildeo de recursos humanos visando agrave melhoria da qualidade da educaccedilatildeo (BRASIL 2008 p 6)

351 Do processo de elaboraccedilatildeo

Conforme Secchi (2013) a tomada de decisatildeo no momento de se propor uma

poliacutetica puacuteblica eacute uma etapa em que os interesses dos atores satildeo equacionados

108

onde as razotildees de um problema puacuteblico satildeo explicitadas Nessa fase a equipe

bilateral de teacutecnicos e linguistas argentinos e brasileiros foram requeridos para

formular o projeto a fim de atender agraves expectativas dos dois paiacuteses Assim o projeto

proposto pela equipe teve como intuito promover as liacutenguas espanhola e portuguesa

atraveacutes do ensino biliacutengue e atraveacutes de intercacircmbios culturais entre Argentina e

Brasil

352 Do processo para implementaccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica

Para O‟Tolle Jr (2003 apud Secchi 2003p55 ) ldquoa fase de implementaccedilatildeo eacute

aquela em que regras rotinas e processos sociais satildeo convertidos de intenccedilotildees em

accedilotildeesrdquo Dos elementos baacutesicos para anaacutelise desse processo encontram-se

() pessoas e organizaccedilotildees com interesses competecircncias e comportamentos variados () tambeacutem fazem parte de processo as relaccedilotildees existentes entre as pessoas as instituiccedilotildees vigentes (regras formais e informais) os recursos financeiros materiais informativos e poliacuteticos (capacidade de influecircncia) (SECCHI 2013 p57)

Nesta perspectiva o Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles de Fronteira

foi implementado inicialmente em 2005 nas cidades brasileiras de Dioniacutesio

Cerqueira no estado de Santa Catarina e Uruguaiana no Rio Grande do Sul Do

lado argentino as cidades que aderiram ao programa foram Bernado de Irogoyen

em Misiones e Paso de los Libres em Corrientes O programa foi implantado pelo

Governo Federal brasileiro por meio da Coordenaccedilatildeo de Formaccedilatildeo Continuada do

Departamento de Poliacuteticas de Educaccedilatildeo Infantil e do Ensino Fundamental da

Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica32 em conjunto com o Ministeacuterio de la Educaciacuteon

Ciencia y Tecnologia (MEC y T) da Argentina A partir de 2006 o programa

estendeu-se para outras regiotildees de fronteira sendo elas Puerto Iguazuacute em

Misiones e Santo Tomeacute e La Cru e Corrrientes na Argentina e Foz do Iguaccedilu no

Paranaacute e Satildeo Borja e Itaqui no Rio Grande do Sul

Desde o primeiro momento algumas questotildees sobre sua origem foram

criticadas Sagaz (2013) aponta que o MEC natildeo apresentou o PEIBF oficialmente

como um Programa Temaacutetico ou um Projeto proposto e aprovado em Plano Pluri

32

O PEIF eacute de responsabilidade da Coordenaccedilatildeo Geral de Ensino Fundamental (COEF) na Diretoria

de Curriacuteculos e Educaccedilatildeo Integral - (DICEI) da Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica (SEB) no MEC

109

Anual (PPA) Para o autor natildeo era intenccedilatildeo do poder legislativo discutir os

orccedilamentos ldquotampouco eacute uma accedilatildeo de governo no que diz respeito agraves suas

diretrizes poliacuteticas uma vez que o oacutergatildeo competente natildeo solicitou a formalizaccedilatildeo

dos recursos junto ao PPArdquo (SAGAZ 2013 p 43) Isto manteve o PEIBF ateacute 2010

distante da prioridade e discussatildeo por parte do governo se comparado a outros

Programas e Projetos

O processo de implementaccedilatildeo comeccedilou no ano de 2004 com a primeira

reuniatildeo de planejamento No mesmo ano na cidade de Dioniacutesio Cerqueira ocorreu

uma reuniatildeo para instituir o programa na escola eleita Dentre as instituiccedilotildees

presentes encontravam-se o Instituto de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento em

Poliacutetica Linguiacutestica (IPOL) a 30ordf Gerecircncia Regional de Educaccedilatildeo e Inovaccedilatildeo

(GEREI) e o MECyT

A escola brasileira escolhida para a implementaccedilatildeo do projeto foi a Dr

Theodureto Carlos de Faria Souto A escola possui uma localizaccedilatildeo estrateacutegica pois

estaacute a aproximadamente dois quilocircmetros do posto da Receita Federal na fronteira

BrasilArgentina ldquoPode-se ir caminhando da escola ateacute o outro paiacutes sem nenhum

impedimento em relaccedilatildeo agraves vias de acesso e em relaccedilatildeo ao posto alfandegaacuteriordquo

(SAGAZ 2013 p77) Nela ocorreu a primeira reuniatildeo com os pais dos estudantes

em fevereiro de 2005 De acordo com a equipe teacutecnica a implementaccedilatildeo do PEIBF

deveria ser gradual a comeccedilar com a inclusatildeo das seacuteries iniciais do ensino

fundamental no projeto para posteriormente incluir as demais seacuteries A ampliaccedilatildeo

do projeto para todas as seacuteries da educaccedilatildeo baacutesica de uma soacute vez poderia causar

transtornos dada a necessidade de adequaccedilatildeo dos sistemas locais de educaccedilatildeo agrave

sua estrutura (BRASIL 2008)

As seacuteries escolhidas para o projeto foram o primeiro e segundo ano do ensino

fundamental A estrutura operacional e a tentativa de avanccedilar nas seacuteries iniciais do

ensino fundamental para os anos finais segundo a relatoria tornaram-se inviaacuteveis

pela falta de entendimento pedagoacutegico entre Argentina e Brasil (BRASIL 2008) Em

2006 os ministeacuterios dos paiacuteses envolvidos no PEIBF comeccedilaram a formular um

documento com diretrizes para todas as escolas em zonas de fronteiras envolvidas

no projeto intitulado ldquoModelo de ensino comum em escolas de zona de fronteira a

partir do desenvolvimento de um programa para a educaccedilatildeo intercultural com

ecircnfase no ensino do portuguecircs e do espanholrdquo Em 2012 o documento baacutesico foi

reelaborado contando com a contribuiccedilatildeo do Uruguai e Paraguai O nome do

110

documento passou a ser Modelo de ensentildeanza comuacuten em escuelas de zona de

frontera a partir del desarrollo de un programa para la educacioacuten intercultural com

eacutenfasis em la ensentildeanza de latildes lenguas predominantes en la regioacuten (MERCOSUL

EDUCACIONAL 2014)

Segundo o documento inicial do programa a projeccedilatildeo pretendida era de que

a cada ano fosse ampliado o nuacutemero de turmas envolvidas e que se avanccedilasse para

as proacuteximas seacuteries de modo que os alunos que fazera parte do programa pudesse

adquirir a familiarizaccedilatildeo com a cultura do paiacutes vizinho

O Programa tem por metodologia o intercacircmbio docente e as escolas satildeo as

responsaacuteveis por organizar os quadros dos professores que iratildeo fazer parte das

chamadas escolasespelhos (unidades baacutesicas de trabalho atuando como uma

unidade operacional)

Esta forma permite aos docentes dos paiacuteses envolvidos vivenciarem eles mesmos na sua atuaccedilatildeo e nas suas rotinas semanais praacuteticas de bilinguumlismo e de interculturalidade semelhantes agraves que querem construir com os alunos na medida em que se expotildeem agrave vivecircncia com seus colegas do outro paiacutes e com as crianccedilas das vaacuterias seacuteries com as quais atuam (BRASIL 2008 p21)

353 Avaliaccedilatildeo da Poliacutetica Puacuteblica- Primeiros impactos do PEIBF

De acordo com Leite e Flexor (2006) a avaliaccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica

consiste em verificar os efeitos atribuiacutedos agrave accedilatildeo do governo tendo portanto um

caraacuteter normativo Os autores afirmam que os avaliadores agem em funccedilatildeo de

quadros de referecircncia com valores e normas incluindo a percepccedilatildeo que devem ser

considerados nesse processo

A dificuldade dessa fase reside tambeacutem no fato de que os resultados efetivos satildeo relativamente independentes das expectativas iniciais Aleacutem disso as aspiraccedilotildees podem mudar no decorrer do percurso outros problemas podem surgir os objetivos satildeo geralmente ambiacuteguos e causas externas podem explicar os resultados Em outras palavras natildeo existe causalidade uniacutevoca (LEITE FLEXOR 2006 p 11)

Para Secchi (2013) existem alguns modelos diferenciados de avaliaccedilatildeo Haacute

aquelas que ocorrem anterior agrave implementaccedilatildeo (ex ante) e a avaliaccedilatildeo posterior agrave

implementaccedilatildeo (ex post) Existe tambeacutem a avaliaccedilatildeo que ocorre durante o processo

de implementaccedilatildeo cujo objetivo eacute a busca de ajustes imediatos O referido autor

111

elenca os principais criteacuterios utilizados para avaliaccedilotildees sendo eles economicidade

produtividade eficiecircncia econocircmica eficiecircncia administrativa eficaacutecia e equidade

O documento preliminar -Programa Escolas Biliacutenguumles de Fronteira - Modelo

de ensino comum em escolas de zona de fronteira a partir do desenvolvimento de

um programa para a educaccedilatildeo intercultural com ecircnfase no ensino do portuguecircs e

do espanholrdquo ( MEC y T MEC2008) busca analisar os primeiras experiecircncias do

projeto Nesse sentido trata-se de uma avaliaccedilatildeo que ocorreu durante o processo

de implementaccedilatildeo Dentre as consideraccedilotildees feitas nessa primeira etapa encontram-

se

- Do repertoacuterio linguumliacutestico das crianccedilas Apoacutes alguns meses do estabelecimento do

programa as professoras envolvidas evidenciaram que as crianccedilas argentinas

tinham maior familiaridade com a liacutengua portuguesa enquanto as crianccedilas

brasileiras tiveram dificuldades para assimilar o espanhol

As crianccedilas argentinas jaacute satildeo em algum niacutevel biliacutengues entendem razoavelmente bem a liacutengua portuguesa e muitas a falam com facilidade Isso se deve ao fato de que muitos satildeo descendentes de brasileiros Aleacutem disso tecircm uma maior exposiccedilatildeo agrave liacutengua atraveacutes da miacutedia maior frequecircncia de estadia no Brasil e eventualmente em consequecircncia destes fatores nota-se uma maior disponibilidade da populaccedilatildeo argentina de fronteira para o aprendizado do portuguecircs (MECy T MEC 2008 p 13)

Neste periacuteodo identificou-se uma necessidade de promover uma ldquosensibilizaccedilatildeo

linguumliacutesticardquo de modo que as crianccedilas brasileiras pudessem querer aprender a liacutengua

espanhola Para tal sensibilizaccedilatildeo a praacutetica intercultural eacute fundamental assinala o

documento

Da necessidade de Intercacircmbio entre alunos Verificou-se que aleacutem do

intercacircmbio entre professores houve a demanda por intercacircmbio entre os alunos

No entanto esse processo eacute mais complexo de ser executado haja vista que haacute

empecilhos como a documentaccedilatildeo das crianccedilas para entrada em outro paiacutes As

crianccedilas brasileiras e argentinas soacute podem realizar a travessia com uma

documentaccedilatildeo assinada pelos pais autorizando sua travessia

Da carga horaacuteria das escolas Como satildeo secretarias educacionais e paiacuteses

distintos um modelo uacutenico para sua execuccedilatildeo eacute praticamente improvaacutevel Essa

112

pauta foi discutida na equipe quando foram elaborados trecircs modelos de

organizaccedilatildeo das escolas envolvidas

Escola em Tempo Integral (Jornada Completa) Nesse modelo os alunos

possuem pelo menos dois dias de aula de liacutengua estrangeira e uma carga

horaacuteria total de 6 horas semanais Como a escola eacute de tempo integral os

alunos podem ter outras atividades destinados agrave educaccedilatildeo biliacutengue

Escola em Contra-Turno eacute semelhante agrave escola de Tempo Integral mas

neste caso apenas em um dos turnos haacute o ensino biliacutengue

Escola em Turno Uacutenico em dois dias da semana os trabalhos do programa

escolas biliacutengues satildeo realizados dentro do proacuteprio turno num total de cinco

horas semanais

Entre os modelos apresentados acima o primeiro eacute o da escola Dioniacutesio

Cerqueira e Bernado Yrigoyen o segundo aplica-se a Foz do Iguaccedilu e Puerto

Iguazuacute o terceiro modelo encontra-se presente em Uruguaina Verificou-se que o

trabalho desenvolvido nas escolas de turno uacutenico possui em sua base curricular o

segundo idioma enquanto o trabalho em contra-turno jaacute assimila as atividades do

programa como atividade extra-curricular o que natildeo eacute o objetivo do PEIBF O

melhor turno para se desenvolver o programa eacute o Turno Uacutenico pois natildeo interfere na

rotina da escola nem na estrutura fiacutesica ou mesmo na contrataccedilatildeo de mais

funcionaacuterios ou aumento da carga horaacuteria dos professores envolvidos (BRASIL

2008)

A escola em contra-turno amplia o periacuteodo de permanecircncia do aluno na

instituiccedilatildeo uma estrateacutegia vaacutelida e uacutetil para o processo de aprendizagem do aluno

Conforme o documento de implantaccedilatildeo as experiecircncias aqui expostas somadas

aos debates nas reuniotildees das equipes de trabalho bilaterais e no decorrer dos

encontros de formaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo requerem a formulaccedilatildeo de um novo modelo

para o Programa para que se possa refletir e dar respostas as peculiaridades das

escolas interculturais biliacutenguumles (BRASIL 2008)

A partir de 2012 o PEIBF por meio da Portaria nordm 798 de 19 de junho de

2012 do Diaacuterio Oficial da Uniatildeo passou a se chamar Programa Escolas

Interculturais de Fronteira (PEIF)

113

Art 1ordm Fica instituiacutedo o Programa Escolas Interculturais de Fronteira (PEIF) com o objetivo de contribuir para a formaccedilatildeo integral de crianccedilas adolescentes e jovens por meio da articulaccedilatildeo de accedilotildees que visem agrave integraccedilatildeo regional por meio da educaccedilatildeo intercultural das escolas puacuteblicas de fronteira alterando o ambiente escolar e ampliando a oferta de saberes meacutetodos processos e conteuacutedos educativos sect 1ordm As Escolas Interculturais de Fronteira satildeo as escolas puacuteblicas Estaduais e Municipais situadas na faixa de fronteira e instruiacutedas pelo Modelo de ensino comum de zona de fronteira a partido desenvolvimento de um Programa para a educaccedilatildeo interculturalcom ecircnfase no ensino do portuguecircs e do espanhol da Declaraccedilatildeo Conjunta de Brasiacutelia firmada em 23 de novembro de 2003 pela Argentina e pelo Brasil e do Plano de Accedilatildeo do Setor Educativo do MERCOSUL (BRASIL 2012)

Pela mesma portaria criou-se o documento ldquoMarco Referencial de Desenvolvimento

Curricularrdquo o qual tem como objetivo central apresentar orientaccedilotildees comuns a serem

desenvolvidos pelas escolas envolvidas Entre os eixos organizadores encontram-

se

Eixo 1 - Funcionamento do Programa na escola

a) o envolvimento de toda a escola b) a definiccedilatildeo de metodologias dos projetos de aprendizagem c) a construccedilatildeo do projeto poliacutetico pedagoacutegico da escola intercultural (planejamento conjunto das accedilotildees) e regimento escolar d) considerar as especificidades curriculares e socioculturais das comunidades do campo indiacutegena e quilombola e) dinamizaccedilatildeo do relacionamento com escola do paiacutes vizinho definindo um plano de accedilatildeo conjunto para a realizaccedilatildeo do intercacircmbio docente aleacutem de outras accedilotildees que promovam a interculturalidade estendendo-se a todos os anos de escolarizaccedilatildeo da escola f) utilizaccedilatildeo das tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo disponiacuteveis e necessaacuterias Eixo 3 - Formaccedilatildeo continuada dos profissionais da educaccedilatildeo baacutesica sob a coordenaccedilatildeo das Universidades

a) compor o grupo local formado por Coordenador-geral do PEIF Coordenador-adjunto de Educaccedilatildeo Integral Supervisor de Articulaccedilatildeo e Acompanhamento Pedagoacutegico (secretaria de educaccedilatildeo) Pesquisadores Professores Formadores (universidade) Professor Formador (coordenador pedagoacutegico ou diretor da escola) Tutor agrave distacircncia (universidade) Tutor presencial eou PIBID (universidade para acompanhamento pedagoacutegico na escola) b) promover a articulaccedilatildeo no espaccedilo da Universidade entre educaccedilatildeo integral e interculturalidade c) articular-se com o comitecirc gestor de recursos financeiros de sua

114

instituiccedilatildeo d) ofertar accedilotildeescursos de aperfeiccediloamento e) contribuir para o repositoacuterio dos materiais de formaccedilatildeo f) agilizar os procedimentos de afastamento do paiacutes (tracircmite interno das IES) g) definir arranjos que permitam realizar formaccedilotildees dentro das regiotildees de fronteira nos municiacutepios h) elaborar produtos finais resultantes de cada moacutedulo de formaccedilatildeo conjunta com outros paiacuteses i) articular as accedilotildees do PEIF com o Programa Institucional de Bolsa de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia (PIBIDCAPESMEC) e com o Programa Novos Talentos (CAPESMEC) j) induzir a inclusatildeo da temaacutetica interculturalidade na perspectiva da educaccedilatildeo integral na formaccedilatildeo inicial dos cursos de licenciatura e poacutes-graduaccedilatildeo e na pesquisa acadecircmica k) promover o uso das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo realizar o diagnoacutestico sociolinguiacutestico das comunidades participantes do PEIF

Dentre os princiacutepios expostos acima destaca-se a participaccedilatildeo das

universidades o que abre espaccedilo para o desenvolvimento de pesquisas da criaccedilatildeo

de novas metodologias e de avaliaccedilotildees do projeto e da formaccedilatildeo docente numa

perspectiva intercultural O entendimento de interculturalidade do Programa eacute

() nesse caso ativa a escola seraacute intercultural na medida em que haja a participaccedilatildeo efetiva de profissionais e de alunos das diversas culturas envolvidas na comunidade educacional (e que natildeo satildeo soacute bdquoduas‟ a cultura argentina e a cultura brasileira o que corresponderia a pensaacute-las como unidades homogecircneas) em todas as instacircncias de convivecircncia que satildeo proacuteprias da instituiccedilatildeo escolar (BRASIL ARGENTINA 2008 p 26)

O Boletim produzido pela publicaccedilatildeo Salto para o Futuro que complementa

as ediccedilotildees televisivas da TV Escola do Ministeacuterio da educaccedilatildeo em sua primeira

ediccedilatildeo de 2014 apresentou o tema das Escolas Interculturais Biliacutenguumles de Fronteira

A professora Eliana Rosa Sturza coordenadora do Programa das Escolas

Interculturais de Fronteira na Universidade Federal de Santa Maria e do Laboratoacuterio

Entre liacutenguas da Universidade Federal de Sergipe relata as experiecircncias e

aprendizados do programa em diferentes cidades localizadas na fronteira

A proposta metodoloacutegica foi analisada por Sturza (2010 2014) enfocando a

experiecircncia das crianccedilas brasileiras em Uruguaiana no Rio Grande do Sul cuja

aprendizagem eacute dentro e fora de sala de aula Em uma das escolas as crianccedilas

confundiram as professoras argentinas com enfermeiras do posto meacutedico pois

115

estas usam avental branco costume que natildeo eacute habitual no Brasil As professoras

argentinas por sua vez estranharam as manifestaccedilotildees inicialmente constantes dos

alunos brasileiros que queriam abraccedilaacute-las tocaacute-las beijaacute-las ldquoEste eacute um traccedilo

cultural do comportamento brasileiro muito identificado pelo bdquoestrangeiro‟ Neste

caso nem tatildeo estrangeiro mas um vizinho do outro lado do riordquo (STURZA 2014

p26)

A experiecircncia dos professores brasileiros no projeto possibilitou que eles

tivessem contato direto com o sistema educacional do vizinho e esse contato gerou

novos espaccedilos de discussatildeo sobre o trabalho docente mediante as comparaccedilotildees

sobre os conteuacutedos relaccedilatildeo aluno-professor da infraestrutura das escolas e ateacute a

autonomia da gestatildeo escolar

Nesta experiecircncia os professores foram conhecendo o funcionamento e a estrutura do sistema educacional do paiacutes vizinho e percebendo como sistema brasileiro eacute autocircnomo em relaccedilatildeo ao sistema uruguaio ou argentino mais centralizado O aprendizado eacute de toda ordem ocorrendo entre os professores da escola e os das escolas parceiras ou seja argentinos e brasileiros debatem a educaccedilatildeo trocam ideias e fazem planejamento de projetos em conjunto (STURZA 2014 p25)

A metodologia tem como norte o ensino por Projetos de Aprendizagem (EPA)

modo de organizaccedilatildeo que permite o desenvolvimento de projetos localmente

envolvendo a participaccedilatildeo de toda a comunidade escolar ou outros grupos a

depender da necessidade do projeto

Ensino via Projetos de Aprendizagem (EPA) faz com que as crianccedilas participem de projetos biliacutengues que prevecircem tarefas a serem realizadas em portuguecircs e em espanhol Satildeo coordenadas respectivamente pela docente brasileira ou argentina de acordo com o niacutevel de conhecimento do idioma que possuam e de acordo com o planejamento conjunto realizado periodicamente por professoras argentinas e brasileiras com suas respectivas assessorias pedagoacutegicas (BRASIL 2008 p 28)

Nesta perspectiva os temas das aulas e os projetos de aprendizagem a

serem desenvolvidos parte dos interesses dos alunos Cabe agraves professoras

argentinas e brasileiras o desenvolvimento do programa em conjunto Sturza (2014)

ilustra alguns temas que surgiram da curiosidade dos alunos e que por sua vez

podem ser trabalhadas em conjunto Um exemplo nasce da pergunta porque os

dentes caem Curiosidade comum entre crianccedilas de 7 anos por estarem vivenciado

a troca dos dentes A fim de explicar esse processo as atividades partiram da leitura

116

da histoacuteria ldquoFada dos Dentesrdquo ou do ldquoRaacuteton Peacuterezrdquo a primeira contada no Brasil e a

segunda no Uruguai As tarefas realizadas satildeo como um ldquopasso a passordquo a partir de

um mapa conceitual33

Do ponto de vista normativo todos os trabalhos desenvolvidos devem estar

em acordo com as diretrizes curriculares de cada paiacutes juntamente com a proposta

curricular do projeto Sobre as formas de avaliaccedilatildeo dos alunos o documento da

versatildeo preliminar do programa visa agrave metodologia de bdquoportifoacutelio‟ ldquodefinido como o

acompanhamento realizado a partir de evidecircncias de variadas naturezas do trabalho

realizado pelos alunos individual e coletivamenterdquo (BRASIL 2008 p29) O portifoacutelio

eacute uma forma de organizar o conjunto de memoacuterias de obras realizadas pelo aluno

podendo ser realizadas individualmente ou em grupo O objetivo eacute mostrar a

trajetoacuteria de cada estudante no decorrer de um projeto permitindo que o professor

possa avaliar esse aluno atraveacutes das informaccedilotildees contidas no portfoacutelio

354 O PEIF em Foz do Iguaccedilu

O PEIF teve iniacutecio na cidade de Foz do Iguaccedilu em abril de 2006 a partir do

encontro com todos os envolvidos na cidade de Puerto Iguazuacute A primeira instituiccedilatildeo

responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo do projeto foi a Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo

Em 2014 a Universidade Federal da Integraccedilatildeo Latino-Americana (UNILA) passou a

coordenar o programa

As escolas escolhidas para realizaccedilatildeo do projeto foram a Escola municipal

Adele Zanotto Scalco em Foz do Iguaccedilu e a Escuela 164 em Puerto Iguazuacute As

escolas foram escolhidas pela localizaccedilatildeo estrateacutegica ambas ficam proacuteximas da

regiatildeo da Ponte Tancredo Neves ligaccedilatildeo entre os dois paiacuteses (CARVALHO 2012)

33

Mapas conceituais satildeo ferramentas graacuteficas para a organizaccedilatildeo e representaccedilatildeo do conhecimento Eles incluem conceitos geralmente dentro de ciacuterculos ou quadros de alguma espeacutecie e relaccedilotildees entre conceitos que satildeo indicadas por linhas que os interligam As palavras sobre essas linhas que satildeo palavras ou frases de ligaccedilatildeo especificam os relacionamentos entre dois conceitos Noacutes definimos conceito como uma regularidade percebida em eventos ou objetos designada por um roacutetulo Na maioria dos conceitos o roacutetulo eacute uma palavra embora algumas vezes usemos siacutembolos como + ou e em outras usemos mais de uma palavra Proposiccedilotildees satildeo enunciaccedilotildees sobre algum objeto ou evento no universo seja ele natural ou artificial Elas contecircm dois ou mais conceitos conectados por palavras de ligaccedilatildeo ou frases para compor uma afirmaccedilatildeo com sentido Por vezes satildeo chamadas de unidades semacircnticas ou unidades de sentido (CANAtildeS NOVAK 2010 p10)

117

Cabe destacar que a escola de Foz do Iguaccedilu eacute a uacutenica que participa do projeto no

Paranaacute conforme informaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (2015)

Sobre a estrutura do programa o relatoacuterio produzido pela Secretaria

Municipal da Educaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu na ocasiatildeo da primeira reuniatildeo entre a

equipe dos dois paiacuteses em abril de 2006 destaca os principais acordos para a

implementaccedilatildeo do programa nas escolas

Inicialmente o projeto atenderia duas turmas do ensino fundamental de cada

instituiccedilatildeo no turno da tarde todas as quartas-feiras

As aulas biliacutenguumles seriam ministradas no periacuteodo contra turno

A metodologia escolhida foi a de projetos pedagoacutegicos interculturais

A cada quinze dias os planejamentos das aulas seriam feitos com os

professores envolvidos no projeto com alternacircncia dos turnos de encontro e

das escolas

No mesmo relatoacuterio constam as comparaccedilotildees quanto agrave estrutura fiacutesica das

escolas A escola brasileira possui melhor estrutura fiacutesica pois possui videoteca

centro de esportes biblioteca sala de computaccedilatildeo e ar condicionado dentro das

salas de aula A escola argentina natildeo dispotildee desta estrutura Apesar destas

diferenccedilas as crianccedilas da escola brasileira e argentina natildeo possuem maiores

diferenccedilas quanto ao conhecimento pedagoacutegico

No iniacutecio do programa seu objetivo estava voltado para trabalhar com os

aspectos histoacutericos e culturais do paiacutes vizinhos tais como as muacutesicas roupas e as

comidas tiacutepicas de cada naccedilatildeo Depois por meio da assessoria do Instituto de

Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento de Poliacuteticas Linguiacutesticas (IPOL) no Brasil e

do Ministerio de Cultura Educacioacuten Ciencia y Tecnologiacutea de la Provincia de

Misiones (MCECyT) na Argentina passaram a adotar a pedagogia de projetos

(ALBUQUERQUE SOUSA 2014) O tema eacute escolhido pelos alunos e planejado

pelas professoras dos dois paiacuteses

Com a finalidade de conhecer o histoacuterico do PEIF a partir da experiecircncia

daqueles que estatildeo envolvidos diretamente no programa foram realizadas

entrevistas com duas professoras brasileiras ligadas ao programa e que ministram

aulas na argentina As entrevistadas tiveram seus nomes preservados A fim de

118

identificaacute-las adotamos os seguintes nomes fictiacutecios Tacircnia que participou do

projeto por cinco anos e Clara que entrou no programa em 2015

A professora Tacircnia que permaneceu no projeto por cinco anos na ocasiatildeo de

sua entrada relata que o programa na Argentina passava por um processo de

transiccedilatildeo Em 2009 eles inauguraram a Escuela Intercultural Biliacutengue 2 para atender

o PEIF Hoje o cruce (termo utilizado pelas professoras que realizam a travessia

para lecionar no paiacutes vizinho) eacute realizado duas vezes na semana sendo que o

nuacutemero de turmas para as duas escolas envolvidas satildeo as mesmas

Ateacute 2013 o nuacutemero de turmas atendidas por escola eram oito distribuiacutedas

entre quatro professoras com carga- horaacuteria correspondente a 2 horas As seacuteries

atendidas eram do 1ordm ao 4ordm ano No Brasil as professoras argentinas fazem o cruce

duas vezes na semana enquanto as brasileiras todas as quartas-feiras pela manhatilde

A partir de 2014 o nuacutemero de professoras brasileiras a participarem do projeto foi

reduzido pela metade

Assim como Sturza (2014) apontou esse processo de travessia possui um

significado aleacutem de ir ateacute uma escola estrangeira e colocar em praacutetica o programa

Trata-se de um processo de aprendizagem que vai desde as reflexotildees referentes

aos diferentes aspectos educacionais presentes nos dois paiacuteses ateacute os significados

que o programa exerce nos aspectos pessoais

Se eu tiver oportunidade eu volto porque eu gosto do projeto E o projeto eacute uma das minhas paixotildees eu gostei Eacute uma coisa super interessante eacute diferente acho que eacute um crescimento na profissatildeo da gente (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

As comparaccedilotildees em relaccedilatildeo agraves diferentes infraestruturas das escolas dos

dois paiacuteses satildeo inevitaacuteveis Tacircnia aponta que apesar da estrutura fiacutesica da escola

argentina ser muito boa os recursos didaacuteticos satildeo precaacuterios percebendo entatildeo os

contrastes que haacute nas poliacuteticas educacionais

A estrutura da escola laacute eacute muito boa eacute maravilhosa mas assim eacute tudo muito burocraacutetico no sentido de organizaccedilatildeo da escola Laacute eacute totalmente diferente aqui a gente tem fartura de material opccedilatildeo de coisa de tudo laacute bdquofarta‟ As salas satildeo uma penumbra com pouca iluminaccedilatildeo e tudo porque o governo natildeo daacute apoio nenhum como aqui tambeacutem (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

119

Outro ponto de comparaccedilatildeo satildeo os salaacuterios A professora Tacircnia aponta que o salaacuterio

da professoras argentinas eacute o dobro enquanto no Brasil o incentivo aos professores

eacute uma especulaccedilatildeo

Uma remuneraccedilatildeo diferente () ah isso aiacute jaacute foi questionado vaacuterias vezes que noacutes teriacuteamos um diferencial no salaacuterio a escola como um todo teria Se tivesse algum incentivo eu duvido que haveria resistecircncia em estar participando (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Quando a professora diz que ldquoeu duvido que haveria resistecircncia em estar

participandordquo ela se refere agrave resistecircncia de alguns professores em aderir ao PEIF

Quando questionada sobre o processo de escolha dos professores para o projeto

ela descreve que o correto eacute a rotatividade A cada um ou dois anos uma professora

ou professor deve assumir o projeto mas na praacutetica a direccedilatildeo eacute quem escolhe

A intenccedilatildeo do projeto eacute que se faccedila rodiacutezio soacute que aqui eacute por indicaccedilatildeo mesmo ldquoEsse ano vai ser vocecirc e ponto finalrdquo Porque por um bom tempo ficaram praticamente as mesmas pessoas igual eu permaneci por muito tempo (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

No iniacutecio do PEIF natildeo havia na carga horaacuteria oficial da escola a

disponibilidade para o preparo das aulas do programa O grupo que fazia parte do

projeto deveria encontrar uma brecha para organizar suas aulas

() depois do almoccedilo eu ia conciliando assim ia preparando a aula para as minhas turmas daqui para laacute e depois no ano passado34 quando entraram as outras professoras que melhorou comeccedilou a melhorar A prefeitura reduziu para dois professores e liberou a manhatilde para o projeto daiacute a escola se organizava como fosse possiacutevel Soacute que aumentou o nuacutemero de dias laacute (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Quando perguntada sobre a receptividade do projeto por parte dos

professores Tacircnia responde que havia outros motivos para resistecircncia

Tanto laacute quanto caacute haacute resistecircncia de professores tanto para trabalhar no projeto tanto para receber o projeto na escola Algumas coisas

34

Referente ao ano de 2014 tendo em vista que as entrevistas foram realizadas julho de 2015

120

avanccedilaram algumas estacionaram e muitas tecircm que melhorar ainda Porque ateacute agora o uacutenico objetivo () eacute um projeto lindo maravilhoso muito bom soacute que natildeo eacute feito na iacutentegra Poliacuteticos criam essas coisas e jogam e natildeo datildeo apoio Criam esses projetos porque foi na eacutepoca do Mercosul que foi criado soacute que natildeo datildeo apoio E aiacute a cada mudanccedila de governo eacute aquela burocracia porque um Ministro entra o outro sai o que entra natildeo sabe de nada do que estaacute acontecendo o que saiu deixa tudo engavetado natildeo passa pro outro () eacute aquela coisa (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Evidencia-se aiacute a criacutetica da professora Tacircnia agrave falta de acompanhamento por

parte do Estado em dar continuidade aos projetos O mesmo ocorre quanto aos

repasses de verba Do ponto de vista legal somente apoacutes a criaccedilatildeo da Portaria nordm

798 de 19 de junho de 2012 quando instituiu o Programa Escolas Interculturais de

Fronteira se pode falar em repasses de verba Em 2014 o Fundo Nacional de

Desenvolvimento da Educaccedilatildeo publicou como seriam feitos os repasses a escolas

de educaccedilatildeo baacutesica do Brasil para promover atividades em periacuteodo integral Dentro

desse grupo35 encontram-se os valores destinados agraves escolas que fazem parte do

Programa Escolas Interculturais de Fronteira no entanto a distribuiccedilatildeo de recursos

segue confusa

Segundo as professoras Tacircnia e Clara houve tambeacutem alguns retrocessos no

decorrer do projeto As duas destacam o processo de formaccedilatildeo dos professores

para atuarem no PEIF Em Foz do Iguaccedilu a universidade que coordena a formaccedilatildeo

para os professores eacute a UNILA entretanto as professoras entrevistadas se

queixam da ausecircncia da instituiccedilatildeo no ano de 2015

No ano passado acho que soacute teve uma formaccedilatildeo que ela (UNILA) proporcionou Mas nem foi a Unila quem acabou dando essa formaccedilatildeo foram as nossas supervisoras aqui Eu arrumei o material com as professoras que jaacute nem estatildeo mais aqui () eu nunca mais tive essas formaccedilotildees no comeccedilo noacutes tivemos vaacuterias (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

35

O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo publicou por meio da Resoluccedilatildeo nordm 14 de

2014 os detalhes de como seratildeo feito os repasses de verba para as escolas de educaccedilatildeo baacutesica a fim de promover atividades em periacuteodo integral e aos finais de semana De acordo com a Resoluccedilatildeo os montantes repassados seguiratildeo os moldes do Programa Dinheiro Direto na Escola As escolas envolvidas satildeo aquelas que desenvolveratildeo atividades em periacuteodo integral podendo ser urbanas rurais ou no caso das escolas do PEIF a promoccedilatildeo do ensino biliacutenguumle (BRASIL 2016) Disponiacutevel em lthttpwwwbrasilgovbreducacao201406fundo-destina-verba-para-garantir-atividades-da-educacao-integralgt Acesso em 14102015

121

A professora Clara quando questionada se jaacute passou por alguma formaccedilatildeo

responde que em 2015 teve uma que partiu da iniciativa dos professores da escola

Foi para os professores novos que trabalham aqui para conhecerem o projeto pois muitos professores sabem que existe o projeto sabe mais ou menos como ele funciona sabe assim que tem professoras de laacute que vem pra caacute e professoras daqui que vai pra laacute e soacute Mas o funcionamento mesmo tinha bastante professor que natildeo conhecia Daiacute agrave escola tomou iniciativa de fazer um dia todo de formaccedilatildeo Foram levantadas as dificuldades que cada um sentia ou no que poderia mudar mas ateacute agora ningueacutem deu um parecer daquilo ficou no papel (Entrevista realizada com a professora Clara em julho de 2015)

O que chama atenccedilatildeo na fala da professora Clara eacute a iniciativa local A

comunidade escolar organizou um curso de formaccedilatildeo para os professores Nesse

sentido abre possibilidades para que ainda que as poliacuteticas tenham sido em sua

elaboraccedilatildeo sem discussatildeo com as escolas no momento em que se inicia na

praacutetica pode ser ressignificada Aleacutem disso faz-se necessaacuterio maior estreitamento

com a instituiccedilatildeo responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo do PEIF pois conforme a fala das

professoras entrevistas eacute importante a formaccedilatildeo dos professores envolvidos no

projeto

Tacircnia quando questionada se ela conhecia o processo de elaboraccedilatildeo em que

surgiu o PEIF embora goste do projeto deixa claro que a iniciativa na sua

concepccedilatildeo foi arbitraacuteria

Noacutes bdquoengolimos goela a baixo‟ Soacute que natildeo tem apoio nenhum () assim eacute uma coisa muito bonita eacute um projeto maravilhoso Na verdade para ser um projeto mesmo tinha que ter a integraccedilatildeo tanto de noacutes professores funcionaacuterios e tudo mas principalmente das crianccedilas Conhecer a realidade um do outro soacute que isso noacutes nunca conseguimos (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Uma das criacuteticas evidenciadas no decorrer desta dissertaccedilatildeo eacute que o

processo histoacuterico de elaboraccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais tem origem

distante dos interesses dos grupos interessados por elas Mesmo quando eacute fruto das

demandas sociais elas passam por um confronto de interesses cujo resultado

culmina em leis projetos programas e curriacuteculos que nascem ambiacuteguos

(FRIGOTTO 2002)

122

Santos (et al 2015) em artigo sobre a construccedilatildeo de conhecimento em

Linguiacutestica Aplicada com foco no letramento considerando os conflitos entre o

conhecimento local o campo acadecircmico e os programas governamentais

descrevem as experiecircncias vivenciadas em um processo de formaccedilatildeo de

professores em uma escola puacuteblica na Triacuteplice Fronteira (Brasil Paraguai e

Argentina) As autoras chamam atenccedilatildeo para a resistecircncia de alguns professores

que podem interpretar a interferecircncia externa natildeo como uma cooperaccedilatildeo mas como

ameaccedila pela ldquoimposiccedilatildeo de um conhecimento considerado superior e

consequumlentemente tambeacutem uma desqualificaccedilatildeo do trabalho ali construiacutedordquo

(SANTOS et al 2015p 51) No caso do PEIF a criacutetica da professora Tacircnia

encontra-se na ausecircncia da participaccedilatildeo dos professores diretamente envolvidos no

programa e da falta de integraccedilatildeo entre os alunos dos dois paiacuteses envolvidos

355 As fronteiras do projeto

Quando perguntado agraves professoras quais satildeo as possiacuteveis sugestotildees para

melhorias para o projeto elas sugerem que os alunos possam fazer parte do cruce

No entendimento delas seria importante a integraccedilatildeo entre esses alunos Poreacutem a

rigidez das aduanas com relaccedilatildeo agrave documentaccedilatildeo e agrave travessia de crianccedilas na

ausecircncia dos pais somadas a toda responsabilidade que isso acarretaria torna

difiacutecil imaginar essa possibilidade Com isso o intercacircmbio dos alunos se reduz ao

envio de viacutedeos cartas e fotografias

Tacircnia acrescenta ainda que os proacuteprios professores correm um certo risco ao

fazer a travessia Em caso de acidente natildeo haacute nada que possa comprovar que elas

estavam em horaacuterio de trabalho

A gente vai pra laacute com a cara e a coragem noacutes natildeo temos nada que nos assegure Que Deus o livre se acontece uma desgraccedila Natildeo sei como que vai ficar porque natildeo tem nada que nos assegure Noacutes natildeo temos um seguro de vida nada que nos ampare legalmente (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Quando perguntadas sobre as dificuldades referentes ao bilinguumlismo as

professoras expressam que os alunos argentinos compreendem bem o portuguecircs e

alguns falam portunhol Satildeo curiosos conhecem as novelas os jornais e muacutesicas

123

brasileiras Este fato eacute atribuiacutedo ao intenso contato com os meios de comunicaccedilatildeo

brasileiro principalmente a televisatildeo explica Tacircnia

No comeccedilo eu achei que ia ter dificuldade de entendimento eacute claro que a gente natildeo entende cem por cento mas eu natildeo vi dificuldade nenhuma porque laacute eles satildeo muito receptivos Laacute as crianccedilas participam muito mais do que aqui e assim quanto agrave liacutengua natildeo tem dificuldade nenhuma porque as crianccedilas falam o portunhol e muitos o portuguecircs perfeitamente e eles nos entendem perfeitamente Laacute eles seguem as nossas programaccedilotildees da TV falam que aprendem o portuguecircs na TV na tela Eles amam o portuguecircs eles amam a programaccedilatildeo nossa aqui a gente chega laacute pelo menos nas salas que eu entrava eles querem falar sobre a novela eles querem conversar sobre as nossas programaccedilotildees e quando eu os questiono sobre onde eles aprenderam tudo aquilo eles respondem na tela professora na tela (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Os alunos brasileiro tecircm muita dificuldade com o espanhol Tacircnia explica que

geralmente as professoras brasileiras tecircm que permanecer em sala de aula para

auxiliar as professoras argentinas Retomo os aspectos histoacutericos da cidade para

explicar que o espanhol foi uma liacutengua presente no ensino do municiacutepio mas que foi

retirada do curriacuteculo acrescentando a importacircncia de se promover novamente a

inserccedilatildeo do espanhol nos curriacuteculos baacutesicos para as escolas situadas em fronteira

ou que pelo menos as escolas que integram PEIF

Creio eu que pra nossa cidade aqui () noacutes vivemos em uma fronteira aonde convivemos com dois paiacuteses que fala espanhol entatildeo natildeo que o inglecircs natildeo seja importante mas pelo menos na rede puacuteblica ou ateacute mesmo na particular o espanhol deve fazer parte da grade ou pelo menos nas escolas que tem esse projeto (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

356 PEIF Uma alternativa na fronteira

Com base na literatura que destaca a importacircncia de se analisar as poliacuteticas

puacuteblicas foi possiacutevel verificar que o Programa Escolas Interculturais Biliacutengues

possui algumas falhas advindas de seu processo de implementaccedilatildeo Dos atores

envolvidos nesse processo os principais satildeo oriundos dos Ministeacuterios da Educaccedilatildeo

a partir de acordos bilaterais Nesse sentido a verticalizaccedilatildeo da implementaccedilatildeo

originou alguns problemas como resistecircncia em aderir ao projeto divergecircncias de

turnos e conflitos de carga horaacuteria das escolas envolvidas Esses problemas talvez

124

pudessem ser amenizados caso os professores e demais membros da equipe

pedagoacutegica das escolas fizessem parte do processo de estruturaccedilatildeo do programa e

natildeo apenas da execuccedilatildeo

A inserccedilatildeo do Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles na cidade de Foz do

Iguaccedilu enquanto uma poliacutetica linguumliacutestica e ao mesmo tempo integracionista

demonstrou alguns ranccedilos Primeiro os documentos de 2008 sobre os primeiros

impactos do programa trata do tema resistecircncia do professor ao aderir ao programa

tambeacutem constado na fala da professora entrevistada que criticou o caraacuteter arbitraacuterio

das poliacuteticas educacionais e de como elas chegam agraves escolas

Eacute importante assinalar que do processo de implementaccedilatildeo o PEIF comeccedilou

sem um marco oficial para a sua institucionalizaccedilatildeo Segundo o ldquoPrograma de

Promoccedilatildeo do Desenvolvimento da Faixa de Fronteirardquo (2010) de 2004 ateacute 2010

ainda natildeo havia as bases legais para implementaccedilatildeo do Programa Isso deu

margem para que em vaacuterias anaacutelises o Programa fosse descrito como projeto pois

natildeo havia um estatuto ou algo que delimitasse o que caracterizava essa poliacutetica

Arbitraacuteria tambeacutem eacute a ausecircncia de discussotildees mais profundas sobre a

implementaccedilatildeo de uma poliacutetica linguiacutestica em regiatildeo de fronteira Nas entrevistas

constatou-se que os alunos argentinos possuem mais proximidade com a liacutengua

portuguesa e em contrapartida os alunos brasileiros demonstraram pouca

intimidade com a liacutengua portuguesa Sturza (2006) explica que enquanto no campo

internacional o espanhol deteacutem certo status se comparado ao portuguecircs na

fronteira esse papel eacute invertido pois argentinos da regiatildeo consideram o portuguecircs

como liacutengua de mais valor

Como pano de fundo desta discussatildeo encontra-se o Estado-naccedilatildeo O Brasil eacute

uma potecircncia regional36 o que pode contribuir tanto para o imaginaacuterio dos brasileiros

quanto de argentinos da regiatildeo ao considerarem os aspectos de nossa cultura isso

inclui nossa liacutengua oficial como superior ao espanhol Outro aspecto relevante eacute a

expressiva presenccedila dos meios de comunicaccedilatildeo por meio dos sinais de raacutedio e TV

que chegam aos lares argentinos o que faz com que eles tenham um contato mais

36

Ver Moniz Bandeira (2008) Texto para o seminaacuterio sobre ldquoA poliacutetica exterior do Brasil em sua

proacutepria visatildeo e na dos parceirosrdquo No artigo o autor cita os aspectos teoacutericos e histoacutericos que permitem caracterizar o Brasil enquanto uma potecircncia regional desde o seacuteculo XIX O que inclui sua dimensatildeo territorial seu poderio econocircmico e militar Disponiacutevel emlt httpwwwespacoacademicocombr09191bandeirapdf gt Acesso em 17112015

125

intenso com a liacutengua por meio dos programas de TV como as novelas citadas pela

professora entrevistada

O programa possui outras lacunas Eacute preciso estabelecer um consenso sobre

o orccedilamento para o programa a fim de fomentar a formaccedilotildees dos professores

manter uma estrutura que possibilite o transporte dos professores com seus

materiais didaacuteticos Contudo em termos de poliacutetica educacional para fronteira eacute a

primeira destinada para regiotildees de fronteira o que significa um certo avanccedilo para a

regiatildeo Eacute importante destacar que o PEIF eacute uma poliacutetica multilateral envolve outros

paiacuteses do Mercosul o que pode ser um exemplo de cooperaccedilatildeo para a promoccedilatildeo de

outras poliacuteticas educacionais

Eacute pioneirismo do Programa por meio da poliacutetica educacional para fronteira

internacional possuir como eixo a funccedilatildeo integradora onde o Mercosul tornou-se a

instituiccedilatildeo que fomentou a ideia a fim de promover programas que ultrapassam as

relaccedilotildees meramente econocircmicas entre os paiacuteses-membros A avaliaccedilatildeo inicial do

Programa mostrou que alguns pontos devem ser repensados Dos relatoacuterios

analisados constam poucos registros por parte dos professores sobre o processo de

aprendizado da liacutengua por parte dos alunos brasileiros Seria fundamental que o

mecanismo de avaliaccedilatildeo do Programa fosse aprimorado com instrumentos capazes

de captar como se daacute o programa em sala de aula mas conforme expresso aqui no

Brasil satildeo poucos os estudos e metodologias de avaliaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

126

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A relaccedilatildeo Estado-naccedilatildeo fronteira e poliacuteticas educacionais foram agraves palavras-

chave que nortearam esta dissertaccedilatildeo A hipoacutetese inicial eacute de que as poliacuteticas

educacionais principalmente as direcionadas para todo o ensino em niacutevel nacional

natildeo contempla as especificidades presentes na fronteira de Foz do Iguaccedilu Desse

modo para o desenvolvimento da hipoacutetese de trabalho buscou-se compreender um

pouco da histoacuteria da educaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu e suas particularidades por ser

uma cidade de fronteira

No primeiro capiacutetulo buscamos apresentar os principais conceitos que

norteiam a palavra fronteira Segundo a etimologia a palavra eacute de origem latina Foi

utilizada pela primeira vez no seacuteculo XVIII para estabelecer limites entre exeacutercitos

em conflito deslizando para as definiccedilotildees de fronteira do ponto de vista geograacutefico

geopoliacutetico e socioloacutegico (BECKER 2007 ALBUQUERQUE 2010 SILVA 2010)

Um dos principais objetivos deste capiacutetulo foi de apresentar a fronteira enquanto

uma regiatildeo em que eacute possiacutevel observar os principais instrumentos do Estado para o

construto da naccedilatildeo tais como a imprensa a escola e o exeacutercito

Dentro deste estudo a instituiccedilatildeo escolar foi o centro da pesquisa Com isso

foram apresentadas resultados de pesquisas anteriores (PEREIRA 2009 SOUZA

RODRIGUES 2009 TERENCIANI 2011) que destacam a relaccedilatildeo da escola na

fronteira sob diferentes perspectivas principalmente o da inserccedilatildeo do aluno oriundo

de outro paiacutes que faz fronteira com o Brasil e os principais desafios encontrados por

ele e para a escola Os dados apresentados neste capiacutetulo apontam que quando se

trata de investimentos em poliacuteticas puacuteblicas para regiatildeo de fronteira internacional o

Brasil tem priorizado as poliacuteticas de seguranccedila conforme os trabalhos de Franccedila e

Dorfman (2014) Trata-se de informaccedilotildees que vatildeo em direccedilatildeo aos aspectos

histoacutericos da funccedilatildeo do Estado e das concepccedilotildees de soberania e territoacuterio que

foram apresentadas no iniacutecio deste capiacutetulo

O segundo capiacutetulo apresentou a gecircnese das primeiras escolas na cidade de

Foz do Iguaccedilu sempre vinculadas aos outros aspectos como os fatores econocircmicos

e sociais Demonstrou-se que a formaccedilatildeo das escolas de Foz do Iguaccedilu antes

mesmo da fundaccedilatildeo da municipalidade contou com a presenccedila de estrangeiros que

na ausecircncia de um ensino formal criavam as suas proacuteprias escolas (WACHOWICZ

127

1984 SBARDELOTTO 2009) Essas escolas foram fechadas no periacuteodo

nacionalista momento em o governo brasileiro buscava a conformaccedilatildeo de uma

identidade e integraccedilatildeo nacional para tal conforme Lemiechek (2014) a criaccedilatildeo do

Territoacuterio Federal do Iguaccedilu em 1943 possibilitou maior controle das escolas

principalmente das escolas estrangeiras

Identificou-se ainda que em meados da deacutecada de 1970 nos relatoacuterios

sobre a situaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu no campo educacional havia uma tendecircncia em

depositar no aluno a culpa do fracasso escolar Nesse caso os alunos oriundos do

Paraguai e da Argentina eram considerados os mais fracos e ldquoatrapalhavamrdquo o

desenvolvimento do restante da turma ou seja a diferenccedila interpretada como um

problema para escola a liacutengua do outro como um entrave

O capiacutetulo trecircs sobre as poliacuteticas puacuteblicas para educaccedilatildeo apresenta um

breve histoacuterico das poliacuteticas educacionais brasileiras evidenciando que elas satildeo

fruto do contexto ao qual se inserem o periacuteodo ditatorial evidenciou a ausecircncia da

populaccedilatildeo no processo criaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais que por sua vez eram

controladas pelo Estado A partir do periacuteodo de abertura democraacutetica ateacute os dias

atuais as poliacuteticas educacionais passaram por inuacutemeras mudanccedilas Muitas

nasceram a partir das discussotildees oriundas de movimentos sociais das discussotildees

acadecircmicas etc Conforme Das e Poe (2004) o ldquoEstado eacute constantemente

refundado em suas formas de ordenar e fazer leis sugerindo que as margens satildeo

ldquodecorrecircncia e implicaccedilatildeo necessaacuteria do Estado assim como a exceccedilatildeo eacute um

componente necessaacuterio da regrardquo (DAS e POE 2004 p4)

Nesta premissa ao se analisar as principais poliacuteticas educacionais brasileiras

identificou-se que a questatildeo da diversidade cultural presente nos documentos tende

a generalizaccedilatildeo e homogeneizaccedilatildeo dada agrave superficialidade dos documentos Ainda

que represente um grande avanccedilo ao tornar obrigatoacuterio o ensino da cultura afro-

brasileira histoacuteria da Aacutefrica e indiacutegena nas escolas puacuteblicas e privadas brasileiras

quando chegamos agrave fronteira identificamos diversidades para aleacutem dessas duas

poliacuteticas

Tais princiacutepios de universalizaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais satildeo o espelho

de um Estado que se formou tentando ter como princiacutepio legal o tratamento igual da

populaccedilatildeo algo que soacute acentua as desigualdades existentes na medida em que o

diferente eacute tratado como um problema a ser solucionado Com esta noccedilatildeo o Estado

128

deixa de ser reconhecido como um importante ator na reproduccedilatildeo das

desigualdades para ser considerado a uacutenica soluccedilatildeo para os problemas sociais

Algumas pesquisas realizadas em escolas presentes em regiotildees de fronteira

constataram a erronia praacutetica de culpabilizar os alunos e professores pelo sucesso

ou fracasso escolar satildeo os professores que natildeo tem formaccedilatildeo satildeo os brasiguaios

argentinos e paraguaios com sua bdquohibridizaccedilatildeo linguiacutestica‟ satildeo os aacuterabes (colocados

em uma uacutenica caixa como se todos viessem do mesmo paiacutes) satildeo os alunos

indiacutegenas que chegam nas escola falando bdquoapenas‟ o guarani As pessoas tornam-se

problema

No caso de Foz do Iguaccedilu o perfil dos alunos que frequumlenta as instituiccedilotildees

escolares demonstra que os conceitos de cidadania natildeo satildeo riacutegidos se (des)fazem

na fronteira Os alunos que chegam aos espaccedilos escolares fronteiriccedilos natildeo

necessariamente assimilaratildeo a liacutengua portuguesa como uacutenica e oficial Ao mesmo

tempo estes alunos trazem consigo conhecimentos adquiridos de seu paiacutes de

origem mas o processo de equivalecircncia de estudos acaba por negar esses

conhecimentos que para serem validados devem ser bdquotraduzidos‟ para o portuguecircs

Para aleacutem do problema linguiacutestico temos a questatildeo da integraccedilatildeo desse

aluno no ambiente escolar que eacute ao mesmo tempo permeada por tensotildees mas

tambeacutem pela aproximaccedilatildeo com o outro Essas relaccedilotildees merecem atenccedilatildeo da escola

a fim de evitar manifestaccedilotildees xenofoacutebicas preconceituosas estigmatizadas e de

inferiorizaratildeo

A primeira hipoacutetese do trabalho me levou a pensar apenas na relaccedilatildeo Estado

Nacional e poliacuteticas educacionais para regiatildeo de fronteira Poreacutem os vazios

encontrados ao se analisar essas poliacuteticas e o modo como o Estado se faz presente

e ao mesmo distante da fronteira levou-me a refletir sobre a emergecircncia de outras

pedagogias

Para outros sujeitos outras pedagogias (ARROYO 2015) Paulo Freire em

sua obra a Pedagogia do Oprimido fala aos educadores que eacute preciso ter ldquoum

profundo respeito pela identidade cultural dos alunos e das alunas () implica

respeito pela linguagem do outro pela cor do outro o gecircnero do outro outrordquo

(FREIRE 2001 p60)

Conhecer de perto uma poliacutetica educacional para a fronteira do ponto de vista

institucional e das poliacuteticas de governo possibilitou-me a constatar contradiccedilotildees e

complexidades de uma poliacutetica que envolve natildeo apenas o campo das relaccedilotildees

129

internacionais mas o diaacutelogo na construccedilatildeo de um curriacuteculo as implicaccedilotildees legais

para o tracircnsito de pessoas na fronteira os questionamentos sobre as reais intenccedilotildees

do programa PEIF e de como esse programa foi concebido Pode-se considerar que

o PEIF foi a uacutenica poliacutetica puacuteblica analisada a partir dos dois eixos propostos no

iniacutecio do capiacutetulo terceiro Mainardes (2006) Assim traccedilamos os aspectos que

envolveu o papel do Estado na elaboraccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica e buscamos por meio

da anaacutelise dos documentos e entrevistas demonstrar os principais aspectos

impactos que a poliacutetica exerceu na escola envolvida considerando principalmente

as experiecircncia dos atores envolvidos neste caso das professoras entrevistadas

Dos caminhos possiacuteveis para uma poliacutetica educacional na fronteira a

perspectiva intercultural ldquoreconhece e assume a multiplicidade de praacuteticas culturais

que se encontram e se confrontam na interaccedilatildeo entre diferentes sujeitosrdquo (FLEURI

2003 p12)

Por fim ao considerar a fronteira uma regiatildeo que engloba as cidades de Foz

do Iguaccedilu Puerto Iguazuacute e Ciudad del Este a proposiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em

conjunto com os paiacuteses envolvidos satildeo importantes para atender as demandas

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Page 5: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CENTRO …tede.unioeste.br/bitstream/tede/3593/5/Aline_Cristina_Paiva_2016.pdfSociedade, Cultura e Fronteiras e aprovada em sua forma final

Dedico este trabalho

Aos meus pais Joatildeo e Maria

Aos meus irmatildeos William e Joatildeo Victor

Ao meu namorado Eduardo

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agrave Professora Dra Regina Coeli Machado pela compreensatildeo pelas

saacutebias orientaccedilotildees que natildeo se limitaram agraves paacuteginas desta dissertaccedilatildeo

Ao professor Dr Fernando Joseacute Martins e agrave professora Dra Neiva Maria Jung pela

participaccedilatildeo na banca de defesa

Aos meus pais Maria Aparecida e Joatildeo Bosco e irmatildeos Joatildeo Victor e William que me

deram o suporte necessaacuterio para essa jornada foi pensando neles que nos

momentos mais difiacuteceis tive forccedila para prosseguir

A todos os meus amigos que me apoiaram com as leituras de meus rascunhos

correccedilotildees e pelo incentivo que de modo direto ou indireto contribuiacuteram para a

conclusatildeo deste trabalho

Ao Eduardo Eliana e Baacuterbara que me deram o suporte emocional apoio e carinho

em toda essa trajetoacuteria

A primeira condiccedilatildeo para modificar a realidade consiste

em conhececirc-la

Eduardo Galeano (1985)

PAIVA Aline Cristina Poliacuteticas Educacionais para a diversidade e escolas nas fronteiras O caso de Foz do Iguaccedilu na fronteira com a Argentina e o Paraguai 2016 149 paacuteginas Dissertaccedilatildeo (Mestrado Interdisciplinar em Sociedade Cultura e Fronteiras)- Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute- UNIOESTE Foz do Iguaccedilu

RESUMO

O objetivo desta dissertaccedilatildeo eacute investigar as relaccedilotildees entre poliacuteticas educacionais e a diversidade cultural presente na fronteira de Foz do Iguaccedilu localizada no estado do Paranaacute A cidade brasileira juntamente com Ciudad del Este no Paraguai e Puerto Iguazuacute na Argentina formam a triacuteplice fronteira que dentre outras caracteriacutesticas eacute conhecida pelo turismo e pelas intensas relaccedilotildees comerciais O processo de formaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu foi marcado pela influecircncia dos paiacuteses da fronteira e pela presenccedila de outras nacionalidades e etnias Trata-se portanto de uma cidade natildeo apenas diversa pela presenccedila dos paraguaios e argentinos mas que tambeacutem eacute compartilhada por libaneses chineses coreanos chilenos bolivianos italianos dentre outros A escola e as poliacuteticas educacionais para esse contexto eacute o centro desta pesquisa na medida em que a instituiccedilatildeo escolar eacute um importante espaccedilo de socializaccedilatildeo A histoacuteria da educaccedilatildeo em Foz do Iguaccedilu e a histoacuteria das poliacuteticas educacionais no Brasil revelam como a escola eacute uma instituiccedilatildeo importante na formaccedilatildeo da identidade nacional e como estas afetam a relaccedilatildeo com o bdquooutro‟ Nesse sentido foram analisados documentos de poliacuteticas educacionais para a diversidade implementadas apoacutes a Constituiccedilatildeo de 1988 sendo elas a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional de 1996 os Paracircmetros Curriculares Nacionais para a pluralidade cultural de 1997 o Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute de 2015 e o curriacuteculo baacutesico para a escola puacuteblica municipal do oeste do Paranaacute feita pela Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oeste do Paranaacute (AMOP) em 2007 Por uacuteltimo buscou-se analisar o Programa Escola Intercultural Biliacutengue iniciativa do Mercosul que tem como objetivo integrar as regiotildees fronteiriccedilas por meio da educaccedilatildeo Com base nas analises das poliacuteticas educacionais para a diversidade principalmente a partir de 1988 verificou-se uma tendecircncia universalista dessas poliacuteticas para a diversidade que difere da diversidade particular vivida em Foz do Iguaccedilu PALAVRAS-CHAVE poliacuteticas educacionais escola estado fronteira

PAIVA Aline Cristina Educational policies for diversity and schools in the boundaries the case of Foz do Iguaccedilu on the border with Argentina and Paraguay 2016 149 pages Dissertation (Masters in Interdisciplinary Society Culture and Borders) - State University of Western Paranaacute-UNIOESTE Foz do Iguaccedilu

ABSTRACT

The objective of this study is from the relationship school and state investigate educational policies and consider whether they make it possible to work with diversity on the border of Foz do Iguaccedilu in the state of Paranaacute The Brazilian city along with Ciudad del Este in Paraguay and Puerto Iguazu in Argentina form the triple border which among other characteristics is known for tourism and the intense trade relations The process of formation of Foz do Iguaccedilu was marked by the influence of the border countries and the presence of other nationalities and ethnicities It is therefore a city not only different by the presence of Paraguayan and Argentinean neighbors but that is also shared by Lebanese Chinese Korean Chilean Bolivian Italian among others The school and educational policies in this context become the center of this research since the school is a major means of training and socialization of individuals and may contribute to the integration process the intercultural bias or other hand being a border to disregard the existence of ethnic and cultural diversity that makes up the school environment The reasons for the discussions in this work pass necessarily by the nation-state relationship with schoolThe history of education in Foz do Iguaccedilu and the history of educational policies in Brazil reveal how the school is an important institution in the national identity formation and how they impact relations in border schools To analyze the educational policies for diversity policies were analyzed educational documents from the Constitution of 1988 it derived the Law of Guidelines and Bases of National Education in 1996 and the National Curriculum Guidelines for cultural plurality in 1997 These two policies along with the State Plan for 2015 Paranaacute Education and basic curriculum for public school in western Paranaacute made by the Association of western Paranaacute Cities (AMOP) in 2007 to discuss public policies in the border region implies think of the region as a whole An example of an educational policy for border is the Intercultural Bilingual School Program the Mercosur initiative which passed through discussions with other countries in the border region In the city of Foz do the program takes place at the Municipal School Adele Zanotto Scalco and aims to contribute to the integral formation of children adolescents and young people through the articulation of actions aimed at regional integration through intercultural education by offering the bilingual educationIn order to get to know an educational policy there were two interviews with Brazilian teachers one former member of the program and the other which entered the year 2015 with the interviews it was possible to collect the first impressions of the program in Foz do Iguaccedilu its challenges and its importance as an educational policy in the field of linguistics integrationist content to influence future public policy KEYWORDS educational policies school state border

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Figura 01 - A Triacuteplice Fronteira- Argentina Brasil e Paraguai26

Figura 02- Favela Paraisoacutepolis em contraste com o bairro de classe alta Morumbi

em Satildeo Paulo capital27

Figura 03-Faixa de Fronteira do Brasil com os paiacuteses da regiatildeo28

Figura 04- Mapa da regiatildeo da Triacuteplice Fronteira- Argentina Brasil e Paraguai52 Figura 05-- Grupo Escolar Bartolomeu Mitre60

Figura 06- Escola Jorge Schimmelpfeng com crianccedilas carentes sob os cuidados do Capitatildeo Cyriacuteaco e de Joseacute Vicente Ferreira (os dois adultos agrave direta da foto rara)64

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AGB- Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros

ANPUH- Associaccedilatildeo Nacional de Histoacuteria

AMOP ndash Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oeste do Paranaacute

CEEPR- Conselho Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute

CF- Constituiccedilatildeo Federal

COEF- Coordenaccedilatildeo Geral de Ensino Fundamental

CONAE- Conferecircncia Nacional de Educaccedilatildeo

CMC- Conselho do Mercado Comum

CRUTACS- Centros Rurais Universitaacuterios de Treinamento e Accedilatildeo Comunitaacuteria

DCE ndash Diretrizes Curriculares da Educaccedilatildeo Baacutesica do Estado do Paranaacute

DICEI- Diretoria de Curriacuteculos e Educaccedilatildeo Integral

EBN- Empresa Brasileira de Notiacutecias

GEREI- Gerecircncia Regional de Educaccedilatildeo e Inovaccedilatildeo

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IPOL- Instituto de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento em Poliacutetica Linguiacutestica

ISEB- Instituto Superior de Estudos Brasileiros

PNC ndash Paracircmetros Curriculares Nacionais

IMS- Instituto Mercosul Social

LDB- Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional

MEC- Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

MEC Y T- Ministeacuterio de la Educaciacuteon Ciencia y Tecnologia

MERCOSUL- Mercado Comum do Sul

MOBRAL- Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo

MST- Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

NRE- Nuacutecleo Regional de Educaccedilatildeo

OMS- Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede

PPA- Plano Pluri Anual

PEIF- Programa Escolas Interculturais Biliacutengues

PEIBF- Programa Escolas Interculturais Biliacutengues de Fronteira

PCN- Paracircmetros Curriculares Nacionais

PDI- Plano de Desenvolvimento Integrado

PEEPR- Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute

PF- Poliacutecia Federal

PME- Plano Municipal de Educaccedilatildeo

PNE- Plano Nacional de Educaccedilatildeo

PNLD- Plano Nacional do Livro Didaacutetico

PP- Poliacutetica Puacuteblica

MERCOSUL- Mercado Comum do Sul

RME- Reuniatildeo de Ministros da Educaccedilatildeo

SEB- Secretaria da Educaccedilatildeo Baacutesica

SECAD- Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade

SEEDPR- Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

SENAC- Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Comercial

SEM- Setor Educacional do Mercosul

SISFRON- Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras

SIS-MERCOSUL- Sistema Integrado de Sauacutede do Mercosul

SUED- Superintendecircncia da Educaccedilatildeo

SUS- Sistema Uacutenico de Sauacutede

TEC- Tarifa Externa Comum

UFF- Universidade da Fronteira Sul

UNESCO- Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura

UNILA- Universidade Federal da Integraccedilatildeo Latino-Americana

UNIOESTE- Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 15

I Caminhos da pesquisa o percurso metodoloacutegico 20 II Estrutura da dissertaccedilatildeo 21

CAPIacuteTULO 1 Eacute PRECISO FALAR DA ESCOLA NA FRONTEIRA 25 11 Fronteira- Primeiras aproximaccedilotildees 25 12 Fronteira e a educaccedilatildeo como construto da naccedilatildeo 29 13 Reatualizaccedilatildeo de naccedilatildeo por deslizamentos em seus limites fronteiriccedilos 32 14 A porosidade do Estado sob a forma de poliacuteticas puacuteblicas 36 15 O contexto escolar vivido entre fronteiras a escola como reguladora do Estado 41

CAPIacuteTULO II A HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO EM FOZ DO IGUACcedilU CONSTRUTOS 50

21 Contexto histoacuterico 51 21Colocircnia Militar de Foz do Iguaccedilu e as primeiras escolas da regiatildeo 53 22 O projeto nacionalista do Estado Novo e a lsquonacionalizaccedilatildeo da fronteirarsquo61 23 Da construccedilatildeo de Itaipu agrave lsquoondarsquo de migraccedilatildeo e imigraccedilatildeo seus impactos na educaccedilatildeo 64 24 A Educaccedilatildeo a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 O direito agrave diversidade nas escolas 69

CAPIacuteTULO III POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS PARA A EDUCACcedilAtildeO NA FRONTEIRA ENTRE ARGENTINA BRASIL E PARAGUA 71

31 Poliacuteticas Puacuteblicas conceitos e abordagens 71 32 Caminhos das poliacuteticas educacionais no Brasil 74 33 Poliacuteticas educacionais a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 83 34 Escola e diversidade O que temos em termos de poliacuteticas educacionais 84

341 A LDB96 - A primeira lei originaacuteria da iniciativa civil e do legislativo 86 342 Os Paracircmetros Curriculares Nacionais 91 343 O Tema Transversal Pluralidade Cultural 94 344 O Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute 98 345 O Curriacuteculo da AMOP 100 346 Algumas consideraccedilotildees 103

35 O Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles um exemplo de poliacutetica educacional para a fronteira 104

351 Do processo de elaboraccedilatildeo 107 352 Do processo para implementaccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica 108 353 Avaliaccedilatildeo da Poliacutetica Puacuteblica- Primeiros impactos do PEIBF 110 354 O PEIF em Foz do Iguaccedilu 116 355 As fronteiras do projeto 122 356 PEIF Uma alternativa na fronteira 123

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 126

5 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 130

15

INTRODUCcedilAtildeO

Esta dissertaccedilatildeo apresenta um estudo sobre as poliacuteticas educacionais e

diversidade em regiatildeo de fronteira internacional Os estudos fronteiriccedilos perpassam

por diversas aacutereas do conhecimento como a Geografia Sociologia Antropologia

Ciecircncia Poliacutetica que tem apresentado inuacutemeras pesquisas a partir das mais

variadas formas de conceituar e abordar a temaacutetica (FRANCcedilA DORFMAN 2013)

No que se refere aos estudos sobre a regiatildeo de fronteira na aacuterea da educaccedilatildeo a

produccedilatildeo ainda eacute tiacutemida no Brasil (FEDATTO 1995 CITRINOVITZ 1996

ROSSATO 2003)

Para Pereira (2009) isso se reflete no processo de desenvolvimento das

poliacuteticas puacuteblicas que ateacute recentemente estavam sendo tratadas de forma

homogecircnea e unilateral ou seja sem levar em consideraccedilatildeo as particularidades de

cada regiatildeo fronteiriccedila No que tange agrave poliacutetica educacional brasileira esta deve ser

pensada em contexto amplo onde fatores como a Constituiccedilatildeo Federal a poliacutetica

nacional de direitos humanos e os acordos e tratados internacionais devem ser

considerados assim como os fatores sociais e culturais da sociedade brasileira

(SILVA MOURA MELLO 2013) Segundo Azevedo e Aguiar (2001) os estudos

sobre as poliacuteticas educacionais para regiatildeo de fronteira no Brasil satildeo recentes mas

encontra-se em processo de construccedilatildeo e crescimento

Por outro lado grupos como a Rede RETIS do Departamento de Geografia da

Universidade Federal do Rio de Janeiro atuam desde 1994 com pesquisa de limites

e fronteiras internacionais Com uma ampla rede de associados o grupo conta com

um acervo digital1 com diversas notiacutecias artigos teses e dissertaccedilotildees sobre

fronteiras internacionais incluindo trabalhos sobre educaccedilatildeo e fronteira

internacional Existe tambeacutem o acervo digital2 do Instituto de Investigaccedilatildeo e

Desenvolvimento em Poliacutetica Linguumliacutestica fundado em 1999 com sede em

Florianoacutepolis Santa Catarina Brasil que desenvolve projetos de apoio teacutecnico agraves

comunidades agraves comunidades de falantes de liacutenguas e variedads linguiacutesticas

1Site oficial do Retis lt httpwwwretisigeoufrjbr gt Acesso em 23062015

2Site Oficial do Ipol lthttpe-ipolorgpublicacoesgt Acesso em 23062015

16

minoritaacuterias do Brasil e do Mercosul objetivando a manutenccedilatildeo e divulgaccedilatildeo da

diversidade linguumliacutestica braseleira O instituto aleacutem de publicaccedilotildees proacuteprias divulga

inuacutemeros trabalhos que tratam do tema das poliacuteticas lingustiacutecas sendo um important

mecanismo de busca para pesquisa relacionadas agrave educaccedilatildeo e fronteira

internacional divulgando trabalhos como o de Sagaz (2013) e Pereira (2014) que

apresentam em suas dissertaccedilotildees o tema das escolas interculturais biliacutenguumles de

fronteira

As universidades localizadas nas regiotildees de fronteira internacional tem se

constituiacutedo enquanto importantes centros de investigaccedilatildeo sobre educaccedilatildeo e

fronteira a citar a Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute (UNIOESTE) que

possui o programa de poacutes-graduaccedilatildeo strictu sensu em Sociedade Cultura e

Fronteira que conforme as especificaccedilotildees em sua paacutegina oficial3 tem entre outros

objetivos ldquoqualificar profissionais que desenvolvam durante o processo de formaccedilatildeo

capacidades para coordenar estudos e pesquisas transfronteiriccedilos na perspectiva

de ultrapassar as fronteiras geopoliacuteticardquo Nos uacuteltimos anos tambeacutem foram criadas

outras universidades em regiotildees de fronteiriccedilas como a Universidade Federal da

Fronteira Sul (UFF) criada em 2009 localizada na Mesorregiatildeo Grande Fronteira

Mercosul e a Universidade Federal da Integraccedilatildeo Latino-Americana (UNILA) criada

em 2010 na cidade de Foz do Iguaccedilu no Paranaacute Dentre outros objetivos estas

instituiccedilotildees buscam o desenvolvimento de pesquisa em regiotildees fronteiriccedilas

contribuindo assim para o crescimento de estudos no campo das poliacuteticas

educacionais em regiatildeo de fronteira internacional

O interesse em tratar do tema da fronteira e poliacuteticas educacionais comeccedilou

em 2011 momento em que saiacute de uma pequena cidade do interior de Minas Gerais

para chegar agrave cidade de fronteira Foz do Iguaccedilu no Oeste paranaense com o

objetivo de cursar uma segunda graduaccedilatildeo pois sou licenciada em Pedagogia pela

Universidade Federal de Viccedilosa em Minas gerais e agora bacharel em Ciecircncia

Poliacutetica e Sociologia pela Universidade Federal da Integraccedilatildeo Latino-Americana As

duas graduaccedilotildees foram fundamentais para despertar o interesse pela pesquisa e

pelo mestrado interdisciplinar em Sociedade Cultura e Fronteiras o que resultou

nesta dissertaccedilatildeo

3Paacutegina virtual do Mestrado em Sociedade Cultura e Fronteiras da Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute lt

httpwwwunioestebrpossociedadeeculturagt Acesso em 13082014

17

Quando fiz a graduaccedilatildeo em Pedagogia meu interesse em poliacuteticas

educacionais para a diversidade nasceu em disciplinas de Sociologia da Educaccedilatildeo e

principalmente na disciplina que discutia as relaccedilotildees eacutetnicos e raciais nas escolas e

a formaccedilatildeo do professor A partir das reflexotildees sobre a funccedilatildeo da escola e do

professor em lidar com a diversidade eacutetica e racial em sala de aula meu problema

de pesquisa para a elaboraccedilatildeo do trabalho de conclusatildeo de curso foi de trabalhar a

formaccedilatildeo dos professores para desenvolver o trabalho com a Lei 1063903 que

tornou obrigatoacuterio o ensino da histoacuteria e da cultura afro-brasileira e africana em todas

as escolas puacuteblicas e particulares Ao teacutermino do curso senti a necessidade de

realizar outra graduaccedilatildeo a fim de me aprofundar melhor no campo da sociologia e

da educaccedilatildeo Conheci o curso da Unila e ingressei no curso de Ciecircncia Poliacutetica e

Sociologia no ano de 2011 O interesse por estudar na referida instituiccedilatildeo era

despertado pela curiosidade em viver em uma cidade de fronteira e pela proposta de

integraccedilatildeo latino-americana que a universidade propotildee

Finalizei a graduaccedilatildeo em Ciecircncia Poliacutetica e Sociologia e meu objeto de

pesquisa foi as poliacuteticas educacionais no contexto do neoliberalismo a partir dos

anos de 1990 em comparaccedilatildeo com as poliacuteticas educacionais propostas pelos

movimentos sociais Seguindo a proposta de integraccedilatildeo da Unila optei por um

estudo comparado com as propostas oriundas do Movimento dos Trabalhadores

Rurais Sem Terra (MST) no Brasil e dos Movimentos Indiacutegenas na Boliacutevia

Entretanto minhas indagaccedilotildees sobre a vivecircncia de escolas na fronteira natildeo

puderam ser respondidas Durante estes anos em Foz do Iguaccedilu meu olhar sobre

as relaccedilotildees em meio agrave diversidade de etnias e nacionalidades mudou

significativamente e segue em transformaccedilatildeo

Meus primeiros contatos com a populaccedilatildeo e com os meios de comunicaccedilatildeo

local e as imagens que eles tinham sobre o lugar em que moravam logo contrastou

com meu imaginaacuterio sobre o que eacute uma fronteira A violecircncia diaacuteria presente nos

jornais televisivos e impressos fadava a fronteira como o inevitaacutevel caminho para

entrada do traacutefico de drogas e armas A ponte da Amizade que liga a cidade de Foz

do Iguaccedilu agrave Ciudad del Este como o limbo entre o legal e o ilegal A passagem dos

trabalhadores caracterizados como informais era uma constante nos jornais A frase

ldquotinha que ser paraguaiordquo chegou aos meus ouvidos algumas vezes como tambeacutem

as noccedilotildees de que a Ciudad del Este era suja e desorganizada e o paiacutes de um modo

geral atrasado e pobre Tambeacutem eram perceptiacutevel as imagens referentes aos

18

aacuterabes caracterizados como ricos e isolados do restante da populaccedilatildeo aleacutem da

falta de distinccedilatildeo da comunidade aacuterabe pelo paiacutes de origem ou pela divisatildeo religiosa

que haacute entre xiitas e sunitas dentro do islamismo Exemplos como esses me

provocaram Ingenuamente pensava apenas no lado positivo dessa integraccedilatildeo entre

diferentes nacionalidades e etnias mas a vivecircncia na cidade permitiu-me ampliar

essas referecircncias do que era fronteira para outras bdquofronteiras‟ e mais ainda

deslocou minha atenccedilatildeo para as escolas brasileiras que recebem diferentes perfis

de imigrantes o que torna a regiatildeo fronteiriccedila tatildeo peculiar

Meus primeiros questionamentos eram de como a escola recebia esses

alunos estrangeiros como era organizada a documentaccedilatildeo escolar como era

realizado o diagnoacutestico de alunos que haviam comeccedilado seus estudos em seu paiacutes

de origem e como eram as relaccedilotildees professor - aluno aluno-aluno e escola-aluno

Essas primeiras inquietaccedilotildees me levaram a outras como a questatildeo do curriacuteculo

escolar em cidades de fronteira uma vez que haacute uma tendecircncia nos curriacuteculos

oficiais agrave homogeneizaccedilatildeo como ao monolinguismo Outro ponto eacute sobre como a

escola lida natildeo apenas com a questatildeo do idioma mas tambeacutem como ela se

posiciona diante dos conflitos como estigmas negativos relacionados agrave origem dos

alunos que podem se revelar muitas vezes como praacuteticas xenofoacutebicas Na tentativa

de inferiorizar o outro eacute comum escutar brasileiros que tratam os paraguaios como

ldquoxiruacute4rdquo e preguiccediloso natildeo aprende porque ldquoa escola laacute eacute fracardquo Esses comentaacuterios

foram constantes em sala de aula durante o periacuteodo em que lecionei sociologia para

jovens e adultos em um cursinho popular entre os anos de 2011 e 2013 em Foz do

Iguaccedilu Nas ocasiotildees em que se abordava o tema da fronteira a imagem que se

tinha do paraguaio era carregada de valores negativos

Tantas inquietaccedilotildees impossiacuteveis de serem abarcadas em uma mesma

pesquisa pois estudar uma realidade fronteiriccedila exige bdquoolhares demorados‟ para o

objeto em estudo tiveram que ser delimitadas na seguinte proposta pensar as

poliacuteticas educacionais para a diversidade nas escolas de fronteira internacional

nesse caso nas escolas de Foz do Iguaccedilu cidade que faz divisa com a cidade

Argentina de Puerto Iguazuacute e Ciudad del Este no Paraguai

4O termo xiru eacute de origem guarani Che ldquoeu meurdquo e iru ldquocompanheiro amigordquo que traduzindo para o

portuguecircs significa ldquomeu amigordquo ldquomeu companheirordquo mas para os brasileiros tomou a conotaccedilatildeo de falsificado (TRISTONE 2011)

19

Ao delinear parte do percurso insiro parte de meus valores e visatildeo de mundo

que concordando com Ludke e Andreacute (1986) iratildeo influenciar a maneira como a

pesquisa eacute proposta ldquoem outras palavras os pressupostos que orientam seu

pensamento vatildeo tambeacutem nortear sua abordagem de pesquisardquo (LUDKE ANDREacute

1986 p03)

A justificativa da delimitaccedilatildeo empiacuterica passa pela relaccedilatildeo fronteira entre o

Estado nacional e a escola O espaccedilo escolar eacute visto como um espaccedilo de tensotildees e

contradiccedilotildees em que se manifestam as mais distintas formas de relaccedilotildees sociais

onde o preconceito o racismo a xenofobia e a exclusatildeo ocorrem ao mesmo tempo

em que se ldquocombate essas formas de violecircnciardquo A escola nesta dissertaccedilatildeo natildeo eacute

uma entidade a parte uma maacutequina do Estado Eacute tambeacutem instrumento do Estado

ao mesmo tempo que perpassa pela vida de diferentes sujeitos como os

professores alunos diretores pesquisadores que podem criar condiccedilotildees de

resistecircncia a fim de construiacuterem outros curriacuteculos a margem do Estado e adaptaacute-los

agrave realidade local e natildeo universal

Nesse sentido estudar as poliacuteticas puacuteblicas educacionais a partir da

diversidade nas escolas de fronteira parte da hipoacutetese de que o Estado ao mesmo

tempo em que se faz presente na fronteira a deixa agraves margens quando natildeo

consegue a partir das poliacuteticas educacionais nacionais direcionadas ou natildeo para a

diversidade lidar com as diferenccedilas proacuteprias de uma realidade fronteiriccedila

O objetivo desta dissertaccedilatildeo eacute investigar as poliacuteticas educacionais e as

relaccedilotildees com a diversidade na fronteira A diversidade qual nos referimos reside na

presenccedila de muacuteltiplas nacionalidades e etnias presentes nas escolas e o que essa

presenccedila e suas manifestaccedilotildees a partir das relaccedilotildees entre os diferentes sujeitos

acarretam para a escola Embora os questionamentos desta pesquisa envolva as

escolas o objeto principal da pesquisa satildeo os documentos e as poliacuteticas

educacionais para a diversidade para as escolas situadas em regiatildeo de fronteira

internacional

A fim de desenvolver a hipoacutetese de trabalho o primeiro capiacutetulo aborda o

tema da fronteira Eacute preciso compreender a polissemia e as diferentes abordagens

no acircmbito da pesquisa Albuquerque (2009) apresenta os novos enfoques

socioloacutegicos historiograacuteficos e antropoloacutegicos que tem dado acesso a pesquisas no

campo das praacuteticas culturais e sociais para aleacutem da visatildeo tradicional de fronteira

poliacutetico-juriacutedica Na concepccedilatildeo de Joseacute de Souza Martins (1997) a fronteira se faz

20

de muitas e diferentes coisas fronteiras espaciais fronteira do pensamento fronteira

da civilizaccedilatildeo etc Conforme essa citaccedilatildeo a concepccedilatildeo de fronteira ultrapassa a

visatildeo tradicional pois para o referido autor fronteira pressupotildee diferentes

significados sejam eles poliacuteticos econocircmicos sociais ou culturais

A partir do enfoque da fronteira enquanto limite juriacutedico e de espaccedilo de

relaccedilotildees sociais busca-se relacionaacute-los partindo do pressuposto de que o

nascimento da fronteira enquanto limite juriacutedico estabelecido para demarcar os

territoacuterios entre os Estado nacionais desencadeou em outros processos no campo

social que devem ser analisados a fim de desmistificar a cristalizaccedilatildeo das fronteiras

como um espaccedilo naturalizado

I Caminhos da pesquisa o percurso metodoloacutegico

Metodologicamente fizemos levantamentos de dados em fontes histoacutericas e

documentais para ldquoinvestigar os acontecimentos processos e instituiccedilotildees do

passadordquo (LAKATOS MARKONI 2003 p106) Compreende-se que para entender

as atuais formas de organizaccedilatildeo social na fronteira eacute fundamental refazer a histoacuteria

dessas instituiccedilotildees e costumes desde sua origem Desse modo foi possiacutevel no

momento da contextualizaccedilatildeo do objeto de estudo perceber quais foram os fatos

que influenciaram sua atual estrutura Assim o primeiro e segundo capiacutetulo centrou-

se principalmente na pesquisa bibliograacutefica que consistiu no levantamento de

dados por meio de livro artigos e perioacutedicos impressos e online

O terceiro capiacutetulo apresenta a anaacutelise das poliacuteticas educacionais Na

primeira parte da investigaccedilatildeo utilizou-se da pesquisa documental que difere da

pesquisa bibliograacutefica pela natureza das fontes de dados que satildeo ricas e estaacuteveis

(GIL 2010) Satildeo considerados documentos ldquoquaisquer materiais escritos que

possam ser usados como fonte de informaccedilatildeo sobre o comportamento humanordquo

(LUDKE ANDREacute 1986 p38)

Os documentos analisados foram a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo

Nacional (LDB96) os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN‟S) de 1997 o

curriacuteculo baacutesico para a escola puacuteblica municipal do Oeste do Paranaacute (2007)

produzido por iniciativa da Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oeste do Paranaacute (AMOP)

e o Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute (PEEPR)

21

Utilizamos como referencial analiacutetico a abordagem de poliacuteticas puacuteblicas de

Leite e Flexor (2006) e Secchi (2013) para anaacutelise do Programa Escola Intercultural

Biliacutenguumle de Fronteira

As entrevistas semiestruturadas tambeacutem fizeram parte do arcabouccedilo

metodoloacutegico da pesquisa Conforme Ludke e Andreacute (1986) as entrevistas natildeo

estruturadas onde natildeo haacute a determinaccedilatildeo e uma ordem riacutegida de questotildees

permitem com que o entrevistado fale do tema proposto com base nas informaccedilotildees

que ele possui Os benefiacutecios da entrevista sobre outras teacutecnicas ldquoeacute que ela permite

a captaccedilatildeo imediata e corrente da informaccedilatildeo desejada praticamente com qualquer

tipo de informante e sobre os mais variados toacutepicosrdquo (LUDKE ANDREacute 1986 p33-

34)

As entrevistas foram realizadas com duas professoras da escola brasileira

que recebem o Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumle de Fronteira Uma das

entrevistadas participa do desenvolvimento do programa desde seu iniacutecio e a outra

professora passou a acompanhar o projeto em 2015 Essa escolha permitiu

conhecer as diferentes fases da inserccedilatildeo do programa na escola O principal

objetivo da entrevista foi o de analisar os impactos do PEIF na praacutetica a partir das

experiecircncias relatadas O PEIF foi a uacutenica poliacutetica analisada a partir de entrevistas

aos atores diretamente envolvidos pois ateacute o momento da redaccedilatildeo desta

dissertaccedilatildeo constatou-se que este programa eacute a uacutenica poliacutetica educacional oficial do

Estado direcionada especificamente para escolas em regiatildeo de fronteira

internacional

II Estrutura da dissertaccedilatildeo

Esta dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em trecircs capiacutetulos juntamente com a

introduccedilatildeo e consideraccedilotildees finais No primeiro capiacutetulo- Eacute preciso falar de escola na

fronteira- buscou-se a revisatildeo de literatura sobre a temaacutetica fronteira Em seguida a

Fronteira o Territoacuterio e Estado-naccedilatildeo satildeo abordados partindo do princiacutepio de que

no processo de consolidaccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo o territoacuterio representou o espaccedilo

onde o Estado exerce a sua soberania (BOBBIO MATTEUCIA PASQUINO 2004)

A fronteira se insere na condiccedilatildeo de limite poliacutetico fundamental para delimitar o

territoacuterio que por sua vez seraacute o espaccedilo onde o imaginaacuterio da naccedilatildeo eacute construiacutedo

22

(ANDERSON 1993) A seccedilatildeo seguinte apresenta os aspectos da cidade fronteiriccedila

de Foz do Iguaccedilu que permite dizer que ela juntamente com Ciudad del Este e

Puerto Iguazuacute conformam uma regiatildeo fortemente interligada em que fatores como

os econocircmicos e sociais afetam as trecircs cidades

A premissa da triacuteplice fronteira enquanto uma regiatildeo conectada eacute observada nos

exemplos apresentados na seccedilatildeo 14 A porosidade do Estado na fronteira Um deles

demonstra a necessidade de se criar accedilotildees conjuntas para resolver questotildees como

a regulamentaccedilatildeo do trabalhador que atravessa de um paiacutes para o outro na busca

por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e que ao natildeo possuir os documentos que o

regularize natildeo possui direitos de trabalho garantidos Os dois uacuteltimos toacutepicos deste

mesmo capiacutetulo abordam identidade e as escolas na fronteira respectivamente As

diferenccedilas que tem como um dos marcadores a identidade satildeo evidenciadas nas

escolas que se apresenta neste contexto enquanto reguladora a partir de padrotildees

universalistas construiacutedos sem um diaacutelogo com a alteridade (ARROYO 2007)

O capiacutetulo II- A Histoacuteria da Educaccedilatildeo em Foz do Iguaccedilu construtos e

contradiccedilotildees para a consolidaccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo concentrou-se no processo de

formaccedilatildeo das escolas no contexto em que a cidade de Foz do Iguaccedilu foi formada

como tambeacutem sua relaccedilatildeo com a fronteira A Colocircnia Militar criada para proteccedilatildeo e

colonizaccedilatildeo do territoacuterio marca o iniacutecio das demandas pela criaccedilatildeo de escolas que

na ausecircncia do poder puacuteblico eram improvisadas pelos setores da sociedade

(EMER 1991) A influecircncia dos paiacuteses vizinhos no iniacutecio do seacuteculo XX eacute evidenciada

em relatoacuterios que explicam que a ausecircncia de escolas eacute um fator preocupante pois

as crianccedilas brasileiras estavam indo estudar na Argentina Essa influecircncia estaacute nos

relatoacuterios do Plano de desenvolvimento integrado (PDI) da deacutecada de 1970 que ao

analisar a escola e os motivos do fracasso escolar culpabiliza os alunos

estrangeiros que natildeo falam o portuguecircs A deacutecada de 1930 e o projeto de

nacionalizaccedilatildeo de Getuacutelio Vargas satildeo abordados para analisar a importacircncia que a

escola tinha para a construccedilatildeo do projeto de naccedilatildeo

O uacuteltimo capiacutetulo Poliacuteticas Puacuteblicas para a educaccedilatildeo na fronteira entre

Argentina Brasil e Paraguai teve como objetivo analisar as poliacuteticas puacuteblicas

educacionais para a diversidade Apoacutes traccedilar a trajetoacuteria das poliacuteticas educacionais

no Brasil verificou-se seu viacutenculo direto com as condiccedilotildees histoacutericas de cada eacutepoca

No Brasil colocircnia as necessidades estavam voltadas para a catequizaccedilatildeo do

indiacutegena e na instruccedilatildeo dos filhos dos proprietaacuterios de terra e da elite colonial como

23

um todo (MARCILIO 2005) A chegada da coroa portuguesa em 1808 marca o

periacuteodo das reformas pombalinas Marques de Pombal criou uma seacuterie de cursos

profissionalizantes escolas militares tanto de niacutevel meacutedio como superior

(GHIRALDELLI JR 2001)

As primeiras deacutecadas de 1930 marcam o iniacutecio do predomiacutenio das reformas

educacionais de teor nacionalista Ateacute 1930 a estrutura econocircmica brasileira estava

voltada para o modelo agraacuterio-exportador principalmente no campo da cafeicultura

Com a crise do modelo oligaacuterquico e a entrada de Getuacutelio Vargas no poder um novo

modelo de produccedilatildeo se configura mas a dependecircncia do capital estrangeiro

permanece Eacute o modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees iniciado em 1930

caracterizado pela intervenccedilatildeo estatal na economia e no incentivo agrave criaccedilatildeo de

induacutestrias (IANNI 1994)

No campo educacional eacute criado o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e da Sauacutede e com

ele importantes poliacuteticas educacionais como a reforma Francisco Campos em 1931

que regulamentou as escolas superiores secundaacuterias e primaacuterias incorporando

algumas concepccedilotildees pedagoacutegicas inovadoras (SAVIANI 2008)

O fim do Estado Novo com a nova constituinte proporcionou algumas

mudanccedilas na educaccedilatildeo Em 1946 o Ensino Primaacuterio e o Ensino Normal foram

regulamentados foi criado o Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Comercial-SENAC

As principais reformas educacionais aconteceram no governo de Juscelino

Kubitschek (1956-1960) A construccedilatildeo de Brasiacutelia a abertura ao capital estrangeiro

e o investimento em tecnologia marcaram um periacuteodo em que a naccedilatildeo eacute mobilizada

para superar seu atraso No campo da educaccedilatildeo o programa de metas do governo

priorizou a formaccedilatildeo teacutecnica dos trabalhadores

Na deacutecada de 1950 inicia-se o debate sobre a Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos

e sua funccedilatildeo ateacute entatildeo destinada agrave mera transmissatildeo de conteuacutedos Eacute o comeccedilo do

debate em torno da educaccedilatildeo popular que incluiacuteam vaacuterios adeptos educadores

liacutederes comunitaacuterios intelectuais e estudantes de todo o paiacutes A liberdade de

expressatildeo nos primeiros anos da deacutecada de 1960 permitiu que houvesse a criaccedilatildeo

de diversos espaccedilos para promoccedilatildeo das massas e da educaccedilatildeo popular Inspirado

nesse movimento de base o Plano de Nacional Alfabetizaccedilatildeo de 1964 no governo

de Joatildeo Goulart criou o meacutetodo que alfabetizava em 40 horas guiado pelo meacutetodo

de Paulo Freire Contudo com o golpe militar em 1964 o plano mal chegou a ser

implantado (PAIVA 1984)

24

A partir do governo dos militares em termos educacionais presencia-se a

repressatildeo exclusatildeo das camadas populares do ensino profissionalizante e o

desmantelamento da organizaccedilatildeo docente (GHIRALDELLI JR 2001)

A Constituinte de 1988 marca a retomada da participaccedilatildeo de diferentes

grupos organizados da sociedade como os movimentos sociais nas proposiccedilotildees de

poliacuteticas puacuteblicas A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional de 96 eacute nesse

sentido considerada um grande avanccedilo ao incluir em 2003 e 2008 a Lei 1063903

que torna o ensino de histoacuteria da Aacutefrica e da cultura afro-brasileira como obrigatoacuterio

no curriacuteculo das escola puacuteblicas e brasileiras Os Paracircmetros Curriculares Nacionais

com o tema transversal pluralidade cultural tambeacutem satildeo outros dispositivos que

buscam abordar a diversidade eacutetnico-racial nas escolas brasileiras (BRASIL 2003)

Apesar dos avanccedilos das poliacuteticas educacionais para diversidade algumas

anaacutelises apontam para a sua tendecircncia homogeneizadora (ABG 1996) As poliacuteticas

em niacutevel estadual natildeo satildeo muito diferentes dos pressupostos nacionais na medida

em que estatildeo subordinados agrave LDB96 e isso inclui o curriacuteculo baacutesico para a escola

puacuteblica municipal do Oeste do Paranaacute feito pela Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oe

ste do Paranaacute (AMOP)

Dentre as poliacuteticas educacionais estudadas o Programa Escolas

Interculturais Biliacutenguumles de Fronteira eacute um programa que nasceu com o objetivo de

promover o processo intercultural por meio do ensino biliacutengue nas escolas

pertencentes a regiotildees de fronteira internacional Os primeiros paiacuteses que aderiram

ao programa foram a Argentina e o Brasil mediante acordos assinados dentro do

bloco econocircmico Mercosul por meio do Setor Educacional do Mercosul (SEM)

responsaacutevel por desenvolver as propostas para implementaccedilatildeo de poliacuteticas

educacionais dentre essas a poliacutetica linguiacutestica

25

CAPIacuteTULO 1 Eacute PRECISO FALAR DA ESCOLA NA FRONTEIRA

11 Fronteira- Primeiras aproximaccedilotildees

Etimologicamente a palavra fronteira deriva do latim Fron e quer dizer ldquode

frenterdquo Ela foi utilizada pela primeira vez no seacuteculo XIII para estabelecer o limite

temporaacuterio e flutuante que separava dois exeacutercitos de poder no momento de conflito

(FEgraveBVRE 1962 apud SILVA 2008 p8) Foi a partir da formaccedilatildeo e expansatildeo do

Estado-naccedilatildeo que a fronteira passou a ser sinocircnimo de limite de soberania O termo

linha de fronteira por sua vez representa os limites internacionais Tal expressatildeo

acompanhou estreitamente os avanccedilos do pensamento moderno sobre territoacuterio

Hoje assim como inuacutemeras palavras que mudam ou assumem outros

sentidos de acordo com o tempo e espaccedilo a palavra fronteira assume outros

sentidos e significados No dicionaacuterio de liacutengua portuguesa Aureacutelio5 a definiccedilatildeo de

fronteira eacute apresentada enquanto limite ou divisa de um dado territoacuterio No entanto

esta palavra natildeo se resume agrave noccedilatildeo de separaccedilatildeo De acordo com Becker (2007) a

fronteira eacute concebida como parte das relaccedilotildees humanas em suas mais distintas

formas sejam elas econocircmicas poliacuteticas sociais religiosas culturais ou simboacutelicas

Os novos enfoques socioloacutegicos historiograacuteficos e antropoloacutegicos tecircm ampliado as

possibilidades de estudos diferenciados acerca do tema fronteira Um exemplo disto

satildeo as anaacutelises sobre praacuteticas culturais e accedilotildees sociais Para Albuquerque (2010) a

fronteira apresenta-se como um cenaacuterio de relaccedilotildees sociais

As fronteiras podem ser vistas como um campo singular de relaccedilotildees sociais entrelaccediladas com os atuais processos de globalizaccedilatildeo e de redefiniccedilatildeo do papel dos limites entre os Estados nacionais A fronteira eacute geralmente percebida por esses estudiosos como um lugar de passagem de contato e traduccedilatildeo cultural (ALBUQUERQUE 2010 p48)

Nesse sentido a palavra fronteira natildeo eacute neutra ao contraacuterio eacute carregada de

inuacutemeros sentidos como exemplifica Faacutebio Reacutegio Bento ldquopara o contrabandista

fronteira significa afliccedilatildeo para o exilado poliacutetico passar a fronteira significa

libertaccedilatildeordquo (BENTO 2012 p2)

5Ver Dicionaacuterio Aureacutelio Online Disponiacutevel em lthttpwwwdicionariodoaureliocomfronteiragt Acesso

em 01102014

26

Na perspectiva durkhiemiana Fronteira eacute definida enquanto um fato social

Em As Regras do Meacutetodo Socioloacutegico (1865) Eacutemile Durkheim busca trata-la como

coisa ou seja algo possiacutevel de ser estudado Sendo coisa social a fronteira eacute

exterior ao indiviacuteduo assim torna-se passiacutevel de ser compreendida e explicada

racionalmente Regina Coeli Machado e Silva (2015) citando Strathern (2014)

aponta entretanto que a ldquofronteira eacute um dos conceitos menos sutis da anaacutelise

socioloacutegica como reificaccedilatildeo de uma abstraccedilatildeo socialrdquo Eacute a partir dessa mesma

abstraccedilatildeo que obtemos efeitos sociais tanto de exclusatildeo e quanto de participaccedilatildeo

social demonstrado as ldquoambiguidades do Estado-Naccedilatildeo brasileiro e das suas

fronteiras geopoliacuteticasrdquo (STRATHERN 2014 apud SILVA 2015 p1)

De maneira geral os estudos referentes agrave fronteira apresentam-se tanto no

sentido Stricto - a noccedilatildeo tradicional onde fronteira eacute a divisa entre estados no

acircmbito nacional ou internacional6 - como tambeacutem no sentido Lato - neste caso as

fronteiras do pensamento sendo elas nocircmades e sociais A respeito deste uacuteltimo

pode-se mencionar o exemplo de uma cidade marcada pela desigualdade social

Nela a fronteira manifesta-se por meio da disposiccedilatildeo das residecircncias estatildeo

dispostas a cidade de Satildeo Paulo demonstra estas fronteiras de um lado

comunidades carentes de outro casas luxuosas7

Imagem 1 - A Triacuteplice Fronteira- Argentina Brasil e Paraguai Fonte wwwoiguassucom

6Vide imagem 1

7Vide imagem 2

27

Imagem 2 - Favela Paraisoacutepolis em contraste com o bairro de classe alta Morumbi em Satildeo Paulo capital

Fonte e foto Tuca Vieira- httpwwwtucavieiracombrA-foto-da-favela-de-Paraisopolis

Desse modo nesta dissertaccedilatildeo ao tratarmos a fronteira em seu sentido

geograacutefico estaremos buscando a localizaccedilatildeo no tempo e espaccedilo de onde

estamos falando Quando ampliarmos a noccedilatildeo deste termo para os sentidos poliacutetico

e social estaremos buscando responder a questotildees que dizem respeito agraves

consequecircncias de um processo histoacuterico em que os Estados nacionais mesmo

tendo realizado as demarcaccedilotildees de seus limites natildeo conseguiram impedir que o

mesmo ocorresse entre as populaccedilotildees que transitam em seu interior Eacute o que afirma

Albuquerque (2010) para o qual

A reflexatildeo sobre identidades nacionais e os conflitos sociais nas aacutereas de delimitaccedilotildees dos Estados-Nacionais produzem novas abordagens sobre as fronteiras e desnaturalizam as bdquofronteiras naturais‟ das naccedilotildees (ALBUQUERQUE 2010 p 45)

Em artigo publicado na obra ldquoDilemas e Diaacutelogos Platinos Fronteirasrdquo

Machado (2010) aponta que os estudos entre as fronteiras dos Estados-Nacionais

satildeo uacutenicos No caso do Brasil a Constituiccedilatildeo de 1988 confirmou a delimitaccedilatildeo de

150 km a partir do limite internacional como faixa de fronteira Desse modo natildeo

apenas a cidade que faz divisa com outro paiacutes eacute considerada fronteiriccedila mas

tambeacutem as outras cidades que ficam dentro desta faixa de 150 km

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014)

o Brasil possui uma fronteira mariacutetima de 7367 quilocircmetros e 16886 quilocircmetros de

fronteira terrestre com nove paiacuteses da Ameacuterica do Sul sendo eles Argentina

Boliacutevia Colocircmbia Guiana Peru Suriname Venezuela Paraguai Uruguai e com o

Departamento Ultramarino Francecircs da Guiana conforme observa-se na Figura 3

28

Imagem 3 - Faixa de Fronteira do Brasil com os paiacuteses da regiatildeo

Fonte Jornal Tribuna wwwjornaltribunacombr

Como os dados assinalam a dimensatildeo da fronteira do Brasil com os paiacuteses

da Ameacuterica Latina eacute expressiva e natildeo apenas no sentido de extensatildeo territorial

visto que o contato direto e diaacuterio entre as populaccedilotildees inseridas neste contexto torna

a fronteira expressiva tambeacutem no que se refere agrave dimensatildeo das relaccedilotildees sociais

Desse modo ao estudar as poliacuteticas puacuteblicas no contexto de fronteira

internacional natildeo eacute apenas a conjuntura nacional que estaacute sendo considerada mas

tambeacutem o plano externo -em sentido transnacional - considerando-se os fluxos da

populaccedilatildeo brasileira paraguaia e argentina que circulam de um paiacutes para o outro

Fernand Brauduel (1989) ao abordar as fronteiras afirma que elas

incorporam aleacutem da dimensatildeo espacial tambeacutem a ldquodimensatildeo temporalrdquo (BRAUDEL

1989 apud Heinsfeld 2014 281) Como exemplo o autor cita as divisotildees territoriais

da Ameacuterica colonial feitas por Portugal e Espanha delimitaccedilotildees essas que foram

incorporadas antes mesmo da independecircncia das colocircnias Braudel chama atenccedilatildeo

para este fato afirmando que a histoacuteria tem a tendecircncia de cristalizar as fronteiras

como se fossem ldquoacidentes naturaisrdquo (BRAUDEL 1989 p 147) Albuquerque (2010)

tambeacutem compartilha desse raciociacutenio Segundo este autor haacute uma tendecircncia

disseminada no senso comum em se conceber a fronteira enquanto algo dado

pronto e natural como se natildeo houvesse nenhum conflito de fronteira Para aleacutem

disto a fronteira tambeacutem eacute percebida preconceituosamente pela imprensa e o

imaginaacuterio popular como uma terra de ningueacutem perigosa e violenta ou seja espaccedilo

da ilegalidade e da transgressatildeo

Para Albuquerque estas representaccedilotildees satildeo construiacutedas principalmente a

partir de notiacutecias negativas associadas a conflitos violentos Como exemplo temos a

29

imigraccedilatildeo clandestina dos mexicanos para os Estados Unidos ou a disputa territorial

na faixa de Gaza entre Israel e a Palestina Cabe ressaltar que nesta perspectiva

os Estados nacionais desempenham um papel fundamental na construccedilatildeo destas

concepccedilotildees e noccedilotildees acerca da fronteira satildeo eles que legitimam tais imaginaacuterios

por meio de estrateacutegias de proteccedilatildeo do territoacuterio No caso da fronteira com os

Estados Unidos e Meacutexico a poliacutetica de seguranccedila eacute extremamente violenta natildeo

apenas no sentido fiacutesico por meio da construccedilatildeo de muros com arames farpados e

redes de alta tensatildeo mas por meio de um monitoramento que existe com a

utilizaccedilatildeo de tecnologias de ponta A natildeo obediecircncia aos limites pode levar aqueles

(natildeo apenas mexicanos) que queiram atravessar a fronteira ilegalmente agrave morte

Segundo Kearney (apud MONTIEL 2007) esta representaccedilatildeo dos problemas

fronteiriccedilos tem estado muito presente na imprensa norte-americana e tem resultado

na justificativa e defensiva do que ele denomina de ldquonacionalismo dos brancosrdquo

(KEARNEY 1991 apud MONTIEL 2007 p10) Isto explicaria o atual endurecimento

da poliacutetica do governo estadunidense que resulta natildeo apenas na militarizaccedilatildeo da

mesma mas no polecircmico projeto de construccedilatildeo de um muro ao longo da faixa de

fronteira remetendo ao modelo da ldquocortina de ferrordquo dos paiacuteses europeus no periacuteodo

da Guerra Fria que dividia de um lado os paiacuteses do leste europeu sob a influecircncia

da Uniatildeo Sovieacutetica e de outro os paiacuteses pertencentes agraves zonas de influecircncia dos

Estados Unidos

12 Fronteira e a educaccedilatildeo como construto da naccedilatildeo

Segundo o Dicionaacuterio de Poliacutetica o Estado Moderno tal qual o conhecemos

tem suas origens nas transformaccedilotildees ocorridas ao final da Idade Meacutedia que

resultaram em tratados como a Paz de Vestfaacutelia que simbolizou ldquoo momento em

que se reconhece formalmente de modo geral a soberania absoluta do Estado no

plano internacionalrdquo (BOBBIO MATTEUCIA PASQUINO 1998 p1090) Mas eacute a

definiccedilatildeo de Max Weber sobre o Estado Moderno uma das mais conhecidas Para

ele o Estado faz o uso legiacutetimo da violecircncia numa relaccedilatildeo entre homens que

dominam seus iguais em um determinado territoacuterio

Estado eacute uma relaccedilatildeo de homens dominando homens relaccedilatildeo mantida por meio da violecircncia legiacutetima (isto eacute considerada como

30

legiacutetima) Ele eacute uma comunidade humana que pretende com ecircxito o monopoacutelio do uso legiacutetimo da forccedila fiacutesica dentro de um determinado territoacuterio (WEBER 1998 p98-99)

Destaca-se aqui a questatildeo do territoacuterio uma vez que sua relaccedilatildeo com a

fronteira eacute inerente Logo falar de fronteira fiacutesica em sua definiccedilatildeo claacutessica

pressupotildee que haja um territoacuterio que fora delimitado a partir de tratados acordos ou

mesmo a venda do territoacuterio em disputa O geoacutegrafo Rogeacuterio Haesbaert afirma que o

territoacuterio estaacute mergulhado em

() relaccedilotildees de dominaccedilatildeo eou de apropriaccedilatildeo sociedade-espaccedilo desdobra-se ao longo de um continuum que vai da dominaccedilatildeo poliacutetico-econocircmica mais bdquoconcreta‟ e bdquofuncional‟ agrave apropriaccedilatildeo mais subjetiva eou bdquocultural-simboacutelica (HAESBAERT 2004 p95-96)

O autor chega a esta conclusatildeo apoacutes realizar uma analise histoacuterico-social do termo

quando a palavra territoacuterio surgiu com duas conotaccedilotildees material e simboacutelica ldquopois

etimologicamente aparece tatildeo proacuteximo de terra-territorium quanto de terreo-territor

(terror aterrorizar)rdquo (HAESBAERT 2004 p 2) O autor afirma que as duas

conotaccedilotildees tem a ver com poder natildeo somente no significado tradicional de bdquopoder

poliacutetico‟ ldquoEle diz respeito tanto ao poder no sentido mais concreto de dominaccedilatildeo

quanto ao poder no sentido mais simboacutelico de apropriaccedilatildeordquo (HAESBAERT 2004 p

2)

Portanto todo territoacuterio eacute ao mesmo tempo e obrigatoriamente em diferentes combinaccedilotildees funcional e simboacutelico pois exercemos domiacutenio sobre o espaccedilo tanto para realizar ldquofunccedilotildeesrdquo quanto para produzir bdquosignificados‟ (HAESBART 2004 p67)

Hoje o modelo de Estado territorial eacute definido como aquele que organiza este

territoacuterio que por sua vez eacute delimitado por uma fronteira cuja populaccedilatildeo estaacute unida

pelo sentimento de naccedilatildeo Por naccedilatildeo Benedict Anderson (1993) entende que ldquoseja

uma comunidade imaginada como sendo intrinsecamente limitada e ao mesmo

tempo soberanardquo (ANDERSON 1993 p24)

Utilizando a definiccedilatildeo de Anderson para naccedilatildeo tendo em vista que haacute outras

definiccedilotildees para o termo o autor explica que a naccedilatildeo eacute imaginada pois nem todos

aqueles que fazem parte dela se reconhecem ainda que tenham consciecircncia que

haja uma comunhatildeo entre eles Desse modo o sentido de pertenccedila agrave naccedilatildeo existe

somente quando os sujeitos partilham de certo imaginaacuterio social mesmo que natildeo se

conheccedilam mutuamente Entretanto esta imaginaccedilatildeo eacute limitada uma vez que seu

31

campo de abrangecircncia eacute limitado Eacute soberano assim o anseio de qualquer naccedilatildeo

ser livre da subordinaccedilatildeo de outros poderes8ou de outras naccedilotildees

Por fim a naccedilatildeo eacute imaginada como uma comunidade tendo em vista que

independentemente das desigualdades que existam entre as pessoas - sociais

poliacuteticas ou econocircmicas - o senso de companheirismo extrapola as diferenccedilas

sociais que haacute entre elas Para Anderson eacute este sentimento de unicidade que fez

com que tantas pessoas morressem em nome da defesa da naccedilatildeo nos uacuteltimos

seacuteculos

A fim de explicar como se deu este processo de construccedilatildeo da naccedilatildeo nos

paiacuteses europeus Benedict Anderson menciona os jornais impressos que quando

popularizados tornaram-se um dos meios mais eficazes de inculcar valores na

sociedade servindo entatildeo de instrumento para a construccedilatildeo de uma naccedilatildeo Se

partirmos da afirmaccedilatildeo de Durkheim segundo a qual a educaccedilatildeo tem como funccedilatildeo

coletiva adaptar a crianccedila ao meio social faz-se necessaacuterio para isto que se

estabeleccedila entre a sociedade e a escola uma ldquocomunhatildeo de ideias e sentimentos

suficientes entre os cidadatildeos comunhatildeo sem a qual qualquer sociedade eacute

impossiacutevelrdquo (DURKHIEM 2011 p63) podemos perceber como a escola e o modo

com que o Estado designa o que deve ou natildeo conter como base comum a todo

curriacuteculo nacional torna a educaccedilatildeo escolar um mecanismo de constructo da naccedilatildeo

seguindo portanto a mesma premissa de Anderson

Na cidade fronteiriccedila durante o periacuteodo de instalaccedilatildeo e funcionamento da

Colocircnia Militar da Foz de Iguaccedilu entre 1889 e 1912 jaacute havia uma preocupaccedilatildeo com

o fato de as crianccedilas brasileiras estudarem na Argentina Afinal estavam

assimilando a cultura e os valores nacionais do paiacutes vizinho o que ameaccedilava o

territoacuterio Mais tarde na Era Vargas o projeto nacionalista de unificar o paiacutes passou

pela educaccedilatildeo Neste periacuteodo escolas como as construiacutedas por estrangeiros eram

fechadas caso natildeo se adaptassem agraves poliacuteticas nacionais que tinham entre outros

objetivos

() homogeneizar a populaccedilatildeo dando a cada nova geraccedilatildeo o instrumento do idioma os rudimentos da geografia e da histoacuteria paacutetria os elementos da arte popular e do folclore as bases da formaccedilatildeo ciacutevica e moral a feiccedilatildeo dos sentimentos e ideias coletivos em que afinal o senso de unidade e de comunhatildeo nacional repousam

8Eacute tambeacutem imaginada como soberana porque nasceu numa eacutepoca em que o Iluminismo e a

Revoluccedilatildeo destruiacuteram a legitimidade do domiacutenio dinaacutestico e ordenado por Deus (ANDERSON 1993)

32

(PALMEIRA 1943 apud SCHWARTZMAN BOMENY COSTA 2000 p 93)

Diante das estrateacutegias que o Estado Moderno desenvolveu para construir a

ideia de naccedilatildeo a proacutepria fronteira poliacutetica requer quase sempre a justificaccedilatildeo

ideoloacutegica da comunidade nacional Fora preciso estabelecer na fronteira natildeo

apenas a delimitaccedilatildeo em termos juriacutedicos e fiacutesicos mas tambeacutem no social a partir

da separaccedilatildeo entre o ldquonoacutesrdquo e os ldquooutrosrdquo

A preocupaccedilatildeo com a construccedilatildeo de um senso de unidade e de comunhatildeo

nacional pela educaccedilatildeo escolar portanto acompanhou a histoacuteria de Foz do Iguaccedilu

Pois eacute importante descrever na proacutexima seccedilatildeo como ela aparece retomando como

ideacuteia a fronteira na histoacuteria da cidade

13 Reatualizaccedilatildeo de naccedilatildeo por deslizamentos em seus limites fronteiriccedilos

A cidade de Foz do Iguaccedilu eacute reconhecida por ser uma importante cidade

turiacutestica Nela encontram-se uma das ldquosete maravilhas da naturezardquo as Cataratas do

Iguaccedilu e a maior usina geradora de energia do mundo9 a hidreleacutetrica Itaipu

Binacional Por fazer fronteira com o Paraguai a cidade brasileira torna-se ainda

mais atrativa devido ao comeacutercio com Ciudad del Este Os meios de comunicaccedilatildeo

que costumam divulgar os atrativos turiacutesticos de Foz do Iguaccedilu exaltam o fato da

cidade possuir diferentes etnias e nacionalidades convivendo em um mesmo

territoacuterio Na ocasiatildeo do centenaacuterio da cidade foi composta a muacutesica bdquoIsso eacute Foz do

Iguaccedilu‟ que evidecircncia esse bdquoolhar‟ multicultural

Cidade de todas as raccedilas Que aceita o negro que aceita o branco

Iacutendio cafuzo amarelo e mamelucoCidade cosmopolitaTem brasileiro tem

argentinoAacuterabe chinecircs paraguaio e palestino Isso eacute Foz do IguaccediluDa

triacuteplice fronteira do sul Onde o ceacuteu eacute mais que azulTerra das cataratas do

Iguaccedilu (COPETTI 2014)

Nos versos verifica-se que uma das principais caracteriacutesticas atribuiacutedas agrave

cidade eacute ser multicultural com diferentes nacionalidades e etnias convivendo

pacificamente neste territoacuterio rico por suas belezas naturais No entanto existe

tambeacutem uma narrativa que caracteriza a cidade como perigosa marginal rota para

9 Dados obtidos no site oficial da Usina Hidreleacutetrica de Itaipu Binacional Disponiacutevel em

lthttpswwwitaipugovbrgt Acesso em 12122015

33

o grande traacutefico de armas e drogas espaccedilo de corrupccedilatildeo e lavagem de dinheiro

representada principalmente pela imprensa argentina de Puerto Iguazuacute e de Foz do

Iguaccedilu (ALBUQUERQUE 2010) conforme os enunciados abaixo sugerem

-PF10 estoura quadrilha que envolvia empresas-fantasmas de Foz do Iguaccedilu e traficantes do Paraguai Operaccedilatildeo Sustenido desmantelou organizaccedilatildeo criminosa suspeita de movimentar R$ 300 milhotildees (PORTAL R7 22052015)

-Contrabando ldquoempregardquo 15 mil em Foz do Iguaccedilu (GAZETA DO POVO 03032015) -Policia Federal apreende cigarros contrabandeados e um veiacuteculo (JT TRIBUNA 29012016)

Na perspectiva de Lorenzo Macagno (2011) esta visatildeo tatildeo dicotocircmica e

oposta ldquose produz e se reproduz justamente num espaccedilo peculiar e contraditoacuterio

Ali nos confins da naccedilatildeo nos espaccedilos liminares e de tracircnsito eacute onde esta conciliaccedilatildeo parece impor a necessidade de uma perpeacutetua reatualizaccedilatildeo de si mesma Sob este aparente paradoxo reside uma tensatildeo iminente entre o bdquonacional‟ e o transnacional (MACAGNO 2011 p25)

Para conhecer a dinacircmica de Foz do Iguaccedilu enquanto cidade de fronteira eacute

preciso primeiramente localizaacute-la no contexto da Triacuteplice Fronteira que recebeu

essa denominaccedilatildeo a partir de 1992 momento em que se levantavam suspeitas da

presenccedila de terroristas islacircmicos na regiatildeo A partir de 1996 o termo foi oficialmente

adotado pelo governo dos trecircs paiacuteses Utilizo-me da tese de Fernando Lima (2011)

o qual defende e argumenta que esta Triacuteplice Fronteira pode ser considerada uma

regiatildeo por possuir caracteriacutesticas proacuteprias diferente assim de outras regiotildees do

estado do Paranaacute e do sul do Brasil (LIMA 2011)

Ao tratar da origem do termo Triacuteplice Fronteira Rabossi (2004) aponta que

antes dos anos de 1990 para se referir agrave regiatildeo em seu conjunto se falava zona

regiatildeo ou trecircs fronteiras Em alguns jornais do final dos anos de 1980 o termo

bdquotriacuteplice fronteira‟ aparece para nomear a regiatildeo entretanto esse uso era geneacuterico

nunca substantivo proacuteprio Para exemplificar a constataccedilatildeo da dificuldade que era

pensar os paiacuteses fronteiriccedilos enquanto uma unidade Rabossi (2004) cita o trecho

texto do jornalista Bojunga de 1978 que diz

10

PF - abreviaccedilatildeo para Poliacutecia Federal

34

Em IguaccediluIguazuPuerto Presidente Strossneressa atividade [o contrabando] atinge caracteriacutesticas delirantes Nesse ponto em que as fronteiras da Argentina do Brasil e do Paraguai se encontram nada se perde tudo se trafica (BOJUNGA 1978 p 202 apud RABOSSI 2004 p 24)

A apariccedilatildeo do substantivo proacuteprio bdquoTriacuteplice Fronteira‟ surge a partir das

suspeitas de que havia terroristas islacircmicos na regiatildeo apoacutes os atentados na

embaixada de Israel na capital argentina Buenos Aires em 1992 Esta suspeita

aumentou apoacutes o atentado agrave Asociaciacuteon de Mutuales Israelitas Argentinas [AMIA]

em 1994 (RABOSSI 2004) Deste modo o termo Triacuteplice Fronteira surge

relacionado agraves questotildees de seguranccedila que envolve os trecircs paiacuteses ldquoEssa

denominaccedilatildeo pressupotildee a existecircncia de uma aacuterea singular e participa de sua

criaccedilatildeo a partir de uma praacutetica de nominaccedilatildeo que possibilita a emergecircncia

conceitual de um lugar onde estatildeo relacionadas agraves trecircs cidadesrdquo (RABOSSI 2004

p24) Rabossi (2004) considera a Triacuteplice Fronteira uma regiatildeo singular como Lima

(2011) afirma que Foz do Iguaccedilu possui caracteriacutesticas distintas das demais cidades

brasileiras cuja distinccedilatildeo se daacute por essa localizaccedilatildeo

Lima fala da integraccedilatildeo comercial seja por meio do turismo como a visitaccedilatildeo

agraves cataratas no Brasil e na Argentina seja por meio das compras em Ciudad del

Este que tornam a situaccedilatildeo econocircmica das cidades dependentes uma das outras O

autor chama atenccedilatildeo para a relaccedilatildeo entre as cidades de Foz do Iguaccedilu e Ciudad del

Este Ele chega agrave conclusatildeo de que a relaccedilatildeo de trabalho entre brasileiros e

paraguaios natildeo se reduz agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos aos sacoleiros que pagam aos

paraguaios para atravessarem a ponte com a mercadoria que excede a cota

permitida ldquoTrata-se de uma verdadeira extensatildeo do mercado de trabalho de Foz do

Iguaccedilurdquo (LIMA 2011 p142)

Lima aponta que embora a Itaipu seja de suma importacircncia econocircmica para

o Brasil e o Paraguai a hidreleacutetrica eacute uma ldquoinduacutestria deslocalizadardquo (LIMA 2011 p

143) Isto significa que o que ela movimenta em termos econocircmicos fica longe da

cidade Os benefiacutecios para a cidade se encontram nos pagamentos de royalties e

nos salaacuterios dos trabalhadores que por sua vez eacute um grupo relativamente pequeno

o que ldquoimpede que se forme uma massa salarial grande o suficiente para gerar uma

dinacircmica endoacutegena de crescimentordquo (LIMA 2011 p142) Ateacute mesmo o expressivo

nuacutemero de funcionaacuterios puacuteblicos existente em Foz do Iguaccedilu em decorrecircncia da

35

Aduana e da Poliacutecia Federal natildeo eacute capaz de juntamente com a Itaipu estimular o

mercado de serviccedilos local Uma das maiores movimentaccedilotildees econocircmicas da cidade

encontra-se no turismo motivado pelas Cataratas do Iguaccedilu No entanto esta aacuterea

apresenta inuacutemeras fragilidades sobretudo no que diz respeito agraves flutuaccedilotildees do

cacircmbio brasileiro e argentino aleacutem da questatildeo sazonal e a proacutepria dinacircmica do

mercado que gera a competiccedilatildeo com outros destinos turiacutesticos Com estas

caracteriacutesticas Fernando Lima afirma que tanto no acircmbito econocircmico como no

social Foz do Iguaccedilu articula-se aos fatos econocircmicos da fronteira conformando

uma economia regional Neste sentido o autor sugere a formulaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas que possam oferecer maior liberdade ao comeacutercio da regiatildeo em relaccedilatildeo agraves

poliacuteticas nacionais

Devido agrave falta desse tipo de poliacutetica de fronteira que Machado (2010) afirma

que tem sido difiacutecil para os Estados-Nacionais lidarem com a real ldquofluidez dos

agrupamentos humanosrdquo e mais ainda com o ajustamento de redes poliacuteticas

identitaacuterias econocircmicas e sociais superpostas aos limites dos estados territoriais

(MACHADO 2010 p71) Torna-se necessaacuterio avanccedilar na concepccedilatildeo de Estado

para aleacutem da esfera juriacutedica e poliacutetica para compreender que a fronteira eacute um

espaccedilo permeado por vidas e com relaccedilotildees que ultrapassam os seus limites

territoriais A Triacuteplice Fronteira ldquoeacute o espaccedilo de trocas culturais onde o local e o

internacional se articulam estabelecendo viacutenculos e dinacircmicas especiacuteficasrdquo

(MULLER 2005 p03)

Cury e Fraga (2013) consideram que a especificidade da Triacuteplice Fronteira

manifesta-se a partir das experiecircncias que se realizam nos espaccedilos e unem povos

e culturas distintas sociedades que apresentam princiacutepios sociais de forma

integrada na sua diversidade ldquosem que se dispense o fato de que os brasileiros satildeo

brasileiros paraguaios satildeo paraguaios e argentinos satildeo argentinosrdquo (CURY e

FRAGA 2013 p 52)

Estes fluxos intensos fazem com que haja encontros e desencontros De um

lado as trocas interculturais a sociabilidade e a relaccedilatildeo amistosa de outro e ao

mesmo tempo as tensotildees de ordem cultural

A vida na fronteira passa constantemente pela afirmaccedilatildeo do eu e consequumlentemente pelo reconhecimento do outro Os de laacute e os de

36

caacute constroem a relaccedilatildeo estruturam o espaccedilo como sendo de ambos (MULLER 200311)

Neste sentido ocorre uma reatualizaccedilatildeo da naccedilatildeo na fronteira pois eacute um

espaccedilo que ao mesmo tempo une e separa nas palavras de Clemente de Souza

(2009 p106) ldquoSatildeo espaccedilos nos quais o local e o internacional se articula

estabelecendo viacutenculos e dinacircmicas proacuteprias construiacutedas e reforccediladas pelos povos

fronteiriccedilosrdquo Para Souza (2009) as identidades e as culturas nacionais de cada um

dos paiacuteses fronteiriccedilos satildeo construiacutedas e reelaboradas por meio da interaccedilatildeo entre a

populaccedilatildeo desta regiatildeo assim acabam por constituir ldquooutra cultura e identidade

diferenciada capaz de recriar um novo lugar com aspectos regionaisrdquo (SOUZA

2009 p106)

14 A porosidade do Estado sob a forma de poliacuteticas puacuteblicas

Natildeo eacute apenas a educaccedilatildeo um tema delicado ao se abordar poliacuteticas puacuteblicas

para a fronteira Os exemplos das pesquisas tratadas nessa seccedilatildeo demonstram que

a particularidade da fronteira faz com que as poliacuteticas nacionais para o trabalho e a

sauacutede natildeo alcancem todos na fronteira

Na regiatildeo da Triacuteplice Fronteira a relaccedilatildeo que se estabelece principalmente entre

o Brasil e o Paraguai chama a atenccedilatildeo por seus laccedilos comerciais que fazem com

que o fluxo de pessoas seja intenso nos dois lados da fronteira Eacute comum a

premissa um morador passar o dia de trabalho em paiacutes vizinho onde sua renda eacute

obtida e viver parte do tempo em seu paiacutes de origem Eacute o caso dos trabalhadores

que satildeo contratados para atravessar mercadorias de Ciudad del Este para Foz do

Iguaccedilu de brasileiros que possuem alguma atividade comercial na Argentina ou

Paraguai ou das trabalhadoras domeacutesticas conhecidas como diaristas De modo

direto ou indireto satildeo trabalhadores (as) que contribuem com a economia da regiatildeo

fronteiriccedila mas que do ponto de vista dos direitos trabalhistas eacute um grupo que

acaba ficando agrave margem desses direitos por diferentes justificativas No caso das

11 Documento eletrocircnico sem paginaccedilatildeo MULLER K M O estudo Miacutedia e fronteira jornais locais em Uruguaiana-Libres e Livramento-Rivera Tese de doutorado defendida na Universidade do Vale dos

Sinos Satildeo Leopoldo fev 2003

17112015

37

diaristas paraguaias dada sua situaccedilatildeo de imigrantes encontram dificuldades para

a comprovaccedilatildeo de documentos necessaacuterios para exercer tal atividade no paiacutes Com

isso acabam na informalidade abrindo brechas para a desvalorizaccedilatildeo de seus

salaacuterios podendo ateacute mesmo virem a trabalhar sob condiccedilotildees insalubres e

exaustivas O delegado da Poliacutecia Federal Rodrigo Perin em uma reportagem

concedida ao site G1 fez a seguinte observaccedilatildeo sobre essa situaccedilatildeo

Na realidade se a pessoa estiver regularizada em territoacuterio nacional e estiver apta para trabalhar como ela vai ter todos os direitos trabalhistas ela natildeo vai poder receber um salaacuterio menor do que o piso fixado para aquela categoria bdquoA partir do momento que ela se encontra em situaccedilatildeo irregular ela vai receber um salaacuterio muito iacutenfimo agraves vezes varia de R$ 150 a R$ 200‟ afirmou o delegado A pessoa que contratar uma empregada domeacutestica ilegal pode ser multado em R$ 2500 Aleacutem disso o patratildeo pode responder criminalmente por manter o trabalhador em condiccedilatildeo similar a de escravo A empregada pode ser deportada para o paiacutes de origem (PORTAL DE NOTIacuteCIAS G1 2011)

Como exemplo de uma possiacutevel soluccedilatildeo ao problema da informalidade o

Ministeacuterio Puacuteblico de Foz do Iguaccedilu apoacutes receber denuacutencias acerca das

trabalhadoras domeacutesticas em regime irregular de trabalho passou a notificar os

siacutendicos de condomiacutenios da cidade a prestar contas sobre o nuacutemero de funcionaacuterios

(as) e empregados(as) contratados pelos moradores Entretanto os proacuteprios

trabalhadores temendo a demissatildeo optaram por seguirem na informalidade Tal

medida explica Hofling (2001) ldquofoi puramente repressiva e unilateral por parte do

governo brasileiro sem planejamento ou conexatildeo com outras poliacuteticas integradas

com os paiacuteses vizinhosrdquo (HOFLING 2001 p 177)

No que confere agrave questatildeo entre o legal e o ilegal este uacuteltimo eacute tatildeo

frequumlentemente associado agrave fronteira que quase vira seu sinocircnimo Esta noccedilatildeo fora

criticada por Rabossi (2011) o qual considera que o modelo de ordem e de lei

vigente natildeo se aplica para pensar ldquoo funcionamento efetivo da lei nem as atividades

que se desenvolvem naquele espaccedilordquo (RABOSSI 2011 p64) Segundo Silva (2015)

a vida dessas pessoas que vivem na ilegalidade equivaleria ao que ela denomina

de ldquoprotocidadania em direccedilatildeo inversa ou a uma forma de vida ambiacutegua e

paradoxal diante do Estado-Naccedilatildeordquo Para a autora haacute uma cidadania que eacute rompida

em sua continuidade entre o nascimento e a nacionalidade onde o sujeito encontra-

se dentro e fora da lei imersos em uma bdquozona de inderteminaccedilatildeo‟ (SILVA 2015

p3)

38

Quanto agrave questatildeo da violecircncia do traacutefico de drogas da exploraccedilatildeo sexual do

trabalho infantil que satildeo intensas na regiatildeo Rosana Pinheiro Machado (2011) em

seu artigo ldquoCaminhos do descaminho Etnografia da fiscalizaccedilatildeo na Ponte da

Amizade e seus efeitos no cotidiano da Triacuteplice Fronteira aponta que apenas ldquouma

fiscalizaccedilatildeo unilateral sem amparo de poliacuteticas puacuteblicas natildeo parece extinguir tais

problemas mas apenas deslocaacute-losrdquo (MACHADO 2011 p145)

Quando se trata de poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para a regiatildeo de fronteira

internacional o tema da seguranccedila e defesa nacional aparecem como destaque no

processo de elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica Albuquerque explica que a

ldquofronteira geralmente eacute uma zona onde as forccedilas repressoras e fiscalizadoras do

Estado tecircm dificuldade em exercer o monopoacutelio das armas e das leisrdquo

(ALBUQUERQUE 2005 p67) Essa suposta ausecircncia de controle acaba

legitimando a imagem de que a fronteira eacute uma terra de ningueacutem

O mesmo autor explica que a triacuteplice fronteira a partir de meados da deacutecada

de 1990 passou a ser representada principalmente pela imprensa brasileira e

argentina juntamente com os organismos oficiais de inteligecircncia dos Estados

Unidos como um local de traacutefico de armas e drogas de lavagem de dinheiro dentre

outros sendo portanto caracterizada como ldquosantuaacuterio da corrupccedilatildeo impunidade e

delinquumlecircnciardquo (ALBUQUERQUE 2010 p39)

Seja pelas imagens incansaacuteveis divulgadas pelos meios de comunicaccedilatildeo de

que a fronteira requer maior atenccedilatildeo no quesito seguranccedila ou pelas pressotildees

internacionais ou mesmo pelo interesse do Estado em querer legitimar o uso da

forccedila na regiatildeo demonstrando sua soberania perante os paiacuteses vizinhos a

seguranccedila na fronteira eacute o tema mais visiacutevel no sentido de poliacutetica puacuteblica

Certamente a securitizaccedilatildeo processo pelo qual a seguranccedila puacuteblica torna-se o argumento central nas relaccedilotildees entre sociedade e Estado (Gruszczac 2010) marca a gestatildeo estatal das fronteiras no globo com ecircnfases e significados ligados agrave seguranccedila puacuteblica nacional e internacional (Machado Novaes Monteiro 2009 Dorfman Franccedila 2013) O governo brasileiro mobiliza suas instituiccedilotildees como decorrecircncia dos processos securitizatoacuterios poacutes 11-S mas tambeacutem o faz dentro de um projeto maior e mais antigo de construccedilatildeo do Brasil potecircncia (FRANCcedilA DORFMAN 2014 p11)

Um exemplo desses projetos eacute o receacutem criado Sistema Integrado de

Monitoramento de Fronteiras (SISFRON) um conjunto de sistemas integrados do

39

exeacutercito brasileiro para o monitoramento e controle das fronteiras terrestres

Segundo o site oficial do SISFRON trata-se de um dos maiores projetos de

seguranccedila e defesa em execuccedilatildeo do mundo De acordo com o Ministeacuterio da Defesa

seu propoacutesito eacute ldquofortalecer a presenccedila e a capacidade de accedilatildeo do Estado na faixa de

fronteira terrestre contribuindo para a maior efetividade no combate aos delitos

transfronteiriccedilos e praticados na faixa de fronteirardquo (BRASIL 2014 p1) Dorfman e

Franccedila (2014) citam outros programas como o Plano Estrateacutegico de Fronteiras em

2011 promovido pelo Ministeacuterio da Justiccedila

Estes e outros programas nacionais de proteccedilatildeo ao territoacuterio representam a

materializaccedilatildeo da claacutessica definiccedilatildeo de Estado o exerciacutecio do uso legiacutetimo da forccedila

tendo como pano de fundo dessa legitimidade o consenso da populaccedilatildeo que em

tese aceita em troca da proteccedilatildeo do Estado (WEBER 1998)

Aleacutem da seguranccedila a sauacutede eacute um setor delicado em regiatildeo de fronteira que

ao contraacuterio das poliacuteticas para seguranccedila da fronteira natildeo recebe recursos

diferenciados das demais regiotildees do paiacutes

Relatoacuterios do ldquoEstudo da Rede de Serviccedilos de Sauacutede na Regiatildeo de

Fronteirardquo referentes a 2001 e 2002 produzidos para a Organizaccedilatildeo Mundial da

Sauacutede (OMS) ao estudar a situaccedilatildeo da sauacutede puacuteblica nas cidades de Puerto

Iguazuacute Foz do Iguaccedilu e Ciudad Del Este verificaram a existecircncia de uma

dificuldade no processo de contabilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo que necessita de

atendimento pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) haja vista que parte dessa

populaccedilatildeo eacute flutuante Deste modo os repasses de verba para o SUS acabam natildeo

abarcando a realidade total da populaccedilatildeo atendida

Neste estudo as informaccedilotildees indicaram ainda que a maior transferecircncia de

atenccedilatildeo existe entre Ciudad Del Este e Foz do Iguaccedilu Este fenocircmeno pode ser

explicado basicamente pela acessibilidade geograacutefica somadas agraves condiccedilotildees

sociais e comerciais manifestado no tracircnsito entre Ciudad del Este e Foz do Iguaccedilu

Nesse sentido Luis Astorga (2004) responsaacutevel pelo estudo da sauacutede nas trecircs

cidades completa

A atenccedilatildeo que os cidadatildeos do Paraguai solicitam em Foz equivale a algo entre 5 e 55 dos serviccedilos produzidos em Cidade do Leste sendo o Atenccedilatildeo Primaacuteria e de Especialidade os mais procurados pela populaccedilatildeo paraguaia Os serviccedilos mais demandados pela populaccedilatildeo paraguaia satildeo aqueles onde haacute maior diferenccedila entre Cidade do Leste e Foz que satildeo precisamente os serviccedilos

40

ambulatoriais de especialidade Segundo os estudos de Foz aparentemente o maior fluxo de paraguaios concentra-se nos centros de sauacutede proacuteximos ao rio e agrave ponte dado que a populaccedilatildeo pode se deslocar a peacute desde Ciudad del Este (ASTORGA etal 2004 p88)

Cabe aqui a ressalva de que em regiotildees de fronteira internacional assim

como em outras regiotildees do paiacutes o problema da sauacutede eacute resultado de uma

conjuntura de fatores sendo que os mais citados para justificar a ineficiecircncia do

sistema eacute a falta de recursos humanos especializados as distacircncias entre os

municiacutepios e os grandes centros de referecircncia e a insuficiecircncia de equipamentos

para realizaccedilatildeo de tratamentos e procedimentos de meacutedia e alta complexidade

(GADELHA 2007 p216)

Na tentativa de amenizar essa situaccedilatildeo nas cidades de fronteira tendo o

MERCOSUL como propositor dessa poliacutetica criou-se o Sistema Integrado de Sauacutede

do Mercosul (SIS-MERCOSUL) Instituiacutedo em julho de 2005 e lanccedilado em

novembro do mesmo ano na cidade de Uruguaiana ndash RS ndash por meio do ministeacuterio

da sauacutede e dos Estados-membros do Mercosul seu objetivo eacute criar uma agenda

com propostas de Cooperaccedilatildeo Teacutecnica entre os paiacuteses do referido bloco e garantir

o atendimento para a populaccedilatildeo da regiatildeo por meio de estrateacutegias que melhorassem

a sauacutede local dos paiacuteses envolvidos

Costa e Gadelha (2007) explicam que ldquoa ideacuteia eacute iniciar uma poliacutetica de

incentivo agrave gestatildeo a partir do repasse de recursos financeiros para os municiacutepios de

fronteirardquo (COSTA e GADELHA 2007 p218) Estas municipalidades por outra via

devem participar ativamente da elaboraccedilatildeo de um diagnoacutestico da realidade da sauacutede

local e realizar o cadastro da populaccedilatildeo no cartatildeo do SUS A complexidade do

diagnoacutestico reside no fato de que momento em que o Estado natildeo considera como

usuaacuterios do sistema uacutenico cidadatildeos advindos dos paiacuteses vizinhos Neste caso eacute

fundamental que haja investimento integrado com os demais paiacuteses

Alguns avanccedilos tecircm sido alcanccedilados no tocante agrave elaboraccedilatildeo de diagnoacutesticos de sauacutede para municiacutepios da linha de fronteira mas ainda natildeo se consegue verificar o relacionamento deste diagnoacutestico da infra-estrutura instalada e real utilizaccedilatildeo do sistema por parte da populaccedilatildeo flutuante que o utiliza Para reverter essa situaccedilatildeo muito haacute que se avanccedilar na coordenaccedilatildeo de poliacuteticas de fronteiras no Brasil assim como em sua articulaccedilatildeo com as dos paiacuteses vizinhos (COSTA CADELHA 2007 p217)

41

Como podemos observar nos dados apresentados autores que tratam das

poliacuteticas puacuteblicas direcionadas para regiotildees fronteiriccedilas insistem em uma melhor

articulaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses com poliacuteticas para a fronteira de modo

que estas possam ser executadas com sucesso

15 O contexto escolar vivido entre fronteiras a escola como reguladora do

Estado

Albuquerque (2010) apresenta alguns trabalhos histoacutericos e antropoloacutegicos

acerca do Estado e dos agentes locais fronteiriccedilos ldquonas redefiniccedilotildees das identidades

nacionais regionais e locaisrdquo (ALBUQUERQUE 2010 p 46) Dentre estes estudos

o autor descreve aqueles referentes agrave fronteira dos Estados Unidos com o Meacutexico

em que a loacutegica de um hibridismo cultural de uma integraccedilatildeo cultural na fronteira

entre os dois paiacuteses eacute questionada Disto decorre o fortalecimento das identidades

nacionais Inspirados pelos estudos referentes agraves fronteiras entre os paiacuteses

Europeus e Meacutexico e Estados Unidos Albuquerque aponta que os antropoacutelogos do

cone sul em destaque os argentinos tecircm realizado inuacutemeras etnografias nas

fronteiras entres os paiacuteses da Ameacuterica do Sul

O que haacute de comum eacute a tentativa de pensar a tensatildeo entre naccedilatildeo e processos de integraccedilatildeo supranacionais e as maneiras como as identidades nacionais se fortalecem nestes espaccedilos de fronteiras apesar do visiacutevel hibridismo de liacutenguas e outras expressotildees culturais (GRIMSON 2003 KARASIK 2000 VIDAL 2000 apud ALBUQUERQUE 2010 p 27)

A complexidade das relaccedilotildees sociais existentes na fronteira nos permite dizer

que seria leviano rotular as pessoas que nelas transitam Conforme Laclau

(1996)ldquonatildeo se pode afirmar uma identidade diferencial sem distingui-la de um

contexto e no processo de fazer a distinccedilatildeo afirma-se o contexto simultaneamenterdquo

(LACLAU 1996 apud HALL 2003 p 85) No contexto da fronteira nos deparamos

com um sujeito que possui sua identidade nacional negociada o tempo todo atraveacutes

do encontro com os ldquooutrosrdquo

Em Foz do Iguaccedilu como mencionado eacute comum a presenccedila de outras etnias

e nacionalidades que buscam preservar seus costume e tradiccedilotildees mas ao entrar em

contato com outros costumes e valores acabam por adquirir parte de seus haacutebitos

Machado (2006) aponta que uma vez que a identidade sendo cultural e portanto

42

social e historicamente construiacuteda ela pode ser reconstruiacuteda ou reinventada

conforme as circunstancias temporais e espaciais (MACHADO 2006 p 93)

Figueiredo (2005) afirma que a questatildeo da identidade vai para aleacutem da construccedilatildeo

para a negociaccedilatildeo

Se anteriormente as identidades apareciam como construccedilotildees ainda que percebidas como processos simboacutelicos hoje em dia aleacutem dessa noccedilatildeo pode-se pensar e discutir a identidade como negociaccedilatildeo tanto como nas fronteiras culturais como nas linguumliacutesticas e territoriais (FIGUEIREDO 2005 p546)

Deste modo estes encontros relaccedilotildees e negociaccedilotildees entre diferentes

costumes haacutebitos liacutenguas se fazem presentes em Foz do Iguaccedilu e tambeacutem se

manifestam em diferentes espaccedilos como o escolar A escola eacute considerada um

espaccedilo plural principalmente com a globalizaccedilatildeo que provocou dentre outras

mudanccedilas ldquoum redimensionamento de grupos e movimentos migratoacuteriosrdquo (VIERA

2010 p10) Grandes metroacutepoles como Satildeo Paulo possui um grande nuacutemero de

estrangeiros Em reportagem feita para o Jornal bdquoO Estado de Satildeo Paulo‟ a

jornalista Isabela Palhares foi agrave uma escola na capital paulista Os dados fornecidos

pela direccedilatildeo da escola indica que ela possui mais de 55 de alunos estrangeiros

Trata-se da Escola Estadual Marechal Deodoro no Bom Retiro regiatildeo central de

Satildeo Paulo Dos 772 estudantes matriculados 55 satildeo de outro paiacutes ou satildeo filhos

de pais que vieram recentemente para o Brasil ldquoA maioria desses alunos

estrangeiros eacute de bolivianos peruanos e paraguaios mas ainda haacute coreanos

argentinos chilenos e um camaronecircsrdquo (PALHARES 2015)

Embora natildeo seja uma grande cidade em termos populacionais12 como as

capitais ou metroacutepoles brasileiras Foz do Iguaccedilu possui uma diversidade notaacutevel

quanto agrave presenccedila de imigrantes de diferentes nacionalidades e etnias que

possibilita transformaccedilatildeo e reconfiguraccedilatildeo da cultura e do cenaacuterio local Essa

presenccedila de imigrantes como explica Maria Eta Viera (2010) nem sempre eacute

percebida pelo brasileiro como algo valorativo A autora descreve a reaccedilatildeo de

algumas pessoas em transportes puacuteblicos e nas ruas que ao perceberem a

12

Conforme o censo realizado pelo IBGE em 2010 Foz do Iguaccedilu possui cerca de 260 mil

habitantesDisponiacutevel

emlthttpcidadesibgegovbrpainelpainelphplang=ampcodmun=410830ampsearch=||infogrE1ficos-

dados-gerais-do-municEDpiogt Acesso em 14062015

43

presenccedila do estrangeiro com traccedilos fiacutesicos diferentes e falando outro idioma

reagem com repulsa e redobram os cuidados com seus pertences (bolsa celular

carteira etc) (VIERA 2010)

Tradicionalmente tido como um paiacutes hospitaleiro receptivo ao extremo e que valoriza - agraves vezes ateacute de forma exagerada- o que eacute estrangeiro causam estranheza algumas atitudes que tecircm sido observadas com relaccedilatildeo a imigrantes de determinados paiacuteses (VIERA 2010 p61)

O imigrante que deixa seu paiacutes leva consigo a sua histoacuteria cultura valores e

ao chegar a outro paiacutes deve readequar a sua vida a este novo cenaacuterio Esse

encontro pode dar-se de modos diferentes ldquoprovocando desde uma coexistecircncia e

convivecircncia paciacuteficas entre os valores e costumes das comunidades envolvidas ateacute

repulsa e marginalizaccedilatildeo do estrangeiro (VIERA 2010 p63)

Conforme apresenta Homik Babha (1998) natildeo devemos concentrar nossas

atenccedilotildees seja em um lado ou em outro - neste caso o brasileiro em relaccedilatildeo aos

outros Ele critica esta noccedilatildeo binaacuteria entre totalidades Ao observar praacuteticas comuns

tiacutepicas de uma cultura assimiladas por outras eacute possiacutevel sugerir alguns exemplos

passiacuteveis de ocorrer em Foz do Iguaccedilu a saber o mesmo sujeito brasileiro que

chama o paraguaio de xiruacute a fim de ofendecirc-lo eacute o que adquiriu o haacutebito comum aos

paraguaios de tomar o tererecirc13 Isto vale tambeacutem para os apelidos pejorativos e

estigmas que tentam associar ao aacuterabe que reside em Foz do Iguaccedilu como

terrorista14 atraveacutes da denominaccedilatildeo de ldquohomens-bombardquo Aquele que os ofende eacute o

mesmo que fuma o narguile15 consome o shawarma e a esfiha Deste modo Babha

entende que a diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ocorre ao mesmo tempo em que

haacute incorporaccedilatildeo do outro dentro de si mesmo

1313Terereacute ou tererecirc eacute uma bebida tiacutepica feita com a infusatildeo de ervas em aacutegua fria Sua origem eacute atribuiacuteda aos Paraguai tendo suas raiacutezes na cultura dos indiacutegenas guaranis 14A partir do dia 11 de setembro de 2001 uma seacuterie de alegaccedilotildees sobre viacutenculos terroristas na Triacuteplice Fronteira entre Brasil Paraguai e Argentina cruzou as Ameacutericas Essa teoria circulada nos meios de comunicaccedilatildeo combinou com duas correntes imperialistas da poliacutetica externa dos Estados Unidos por um lado a imagem do aacuterabe ou do mulccedilumano como terrorista e por outro a representaccedilatildeo da Ameacuterica do Sul como uma ldquoterra sem leirdquo (MONTENEGRO GIMEacuteNEZ BEacuteLIVEAU 2006 apud KARAN 2011 p203) 15Espeacutecie de cachimbo muito usado por hindus persas e turcos constituiacutedo de um fornilho um tubo longo e um pequeno recipiente contendo aacutegua perfumada pelo qual passa a fumaccedila antes de chegar agrave boca (Dicionaacuterio online Disponiacutevel em lthttpwwwdiciocombrnarguilegtAcesso em 23112015

44

Nas escolas puacuteblicas de Foz do Iguaccedilu este ldquooutrordquo satildeo representados em

sua maioria por paraguaios e argentinos ou seja as diferenccedilas tecircm como marcador

principal a identidade nacional Trata-se de um problema histoacuterico jaacute que a escola

foi um dos instrumentos que permitiu ao Estado tentar iniciar o processo de

homogeneizaccedilatildeo cultural Logo conforme Pereira (2009) a escola deste o iniacutecio foi

considerada um espaccedilo negaccedilatildeo da diversidade O nacional torna-se assim fator

de diferenciaccedilatildeo de tensotildees de abertura para preconceitos e estigmas

Na dissertaccedilatildeo sobre a presenccedila de brasiguaios nas escolas brasileiras

Cirlani Terenciani (2011) menciona o trabalho de Joseacute Carlos de Souza (2001)

sobre as representaccedilotildees que os brasileiros fazem em relaccedilatildeo aos paraguaios

() que se tomar dinheiro emprestado natildeo gosta de pagar e natildeo quer que lembre da diacutevida Eacute vingativo para as pessoas que lhe traem a confianccedila () costuma-se dizer que trecircs coisas o paraguaio natildeo daacute a mulher o cavalo e a arma (SOUZA 2001 p 55 apud TERENCIANI 2011 p56)

Tratam-se de afirmaccedilotildees preconceituosas que contribuem para que a imagem do

paraguaio seja associada agrave ldquofalsidade ilegalidade desconfianccedilardquo (TERENCIANI

2011p 57)

Durkheim em Educaccedilatildeo e Sociologia (2011) descreve a escola enquanto

uma instituiccedilatildeo que natildeo estaacute alheia aos fatos sociais presentes na sociedade Logo

a representaccedilatildeo do ldquooutrordquo tanto em seus aspectos positivos quanto negativos eacute

reproduzido no acircmbito escolar sendo portanto um espaccedilo de negociaccedilotildees das

identidades-diferenccedilas

A educaccedilatildeo eacute inseparaacutevel da sociedade em seus momentos histoacutericos Para

Durkhiem (2011) cada sociedade em determinado momento de seu

desenvolvimento teve um sistema de educaccedilatildeo que se impocircs aos indiviacuteduos com

uma forccedila geralmente irresistiacutevel Isto significa que a educaccedilatildeo tem uma relaccedilatildeo

muito estreita com as necessidades e os conflitos que a sociedade vivencia em

determinado momento histoacuterico A funccedilatildeo social da escola estaria na socializaccedilatildeo da

crianccedila Joseacute Carlos Martins (2010) partindo da teoria sociointeracionista de

Vygotsky cuja visatildeo de desenvolvimento humano se baseia na premissa de que o

pensamento eacute constituiacutedo em um espaccedilo histoacuterico e cultural afirma que ldquoa crianccedila

reconstroacutei internamente uma atividade externa como resultado de processos

interativos que se datildeo ao longo do tempordquo (MARTINS 2010 p114) Com isso o

45

professor e os demais constituintes da comunidade escolar acabam fazendo parte

do processo formativo da crianccedila Logo as ideias valores e conhecimentos desta

instituiccedilatildeo e de outros organismos da sociedade vatildeo influir diretamente na formaccedilatildeo

desta crianccedila

No que confere agraves escolas situadas em regiatildeo de fronteira o grande desafio eacute

lidar com situaccedilotildees que envolvem tanto os aspectos formais quanto os transversais

que se passam em sala de aula como exemplo a funccedilatildeo mediadora do professor e

demais responsaacuteveis pela formaccedilatildeo do aluno ao lidar com diferenccedilas eacutetnicas e

linguumliacutesticas o que eacute comum nas escolas de fronteira internacional Em artigo

publicado sobre a diversidade cultural em sala de aula intitulado de ldquoFronteira

Diversidade Cultural e Cotidiana Escolar na cidade de Ponta Poratilderdquo Nunes e

Terenciani (2010) analisaram as manifestaccedilotildees da diversidade cultural social e

poliacutetica vivida diariamente nas aulas de geografia As autoras constataram que os

alunos oriundos do Paraguai tinham muita dificuldade com a liacutengua portuguesa

() estes alunos principalmente os das seacuteries iniciais muitas vezes chegam agrave escola sem saber falar a Liacutengua Portuguesa e em alguns casos natildeo sabem falar sequer a Liacutengua Espanhola comunicando-se apenas atraveacutes da Liacutengua Guarani o que dificulta o processo de aprendizagem bem como a relaccedilatildeo dos professores com seus alunos (NUNES TERENCIANI 2010 p04)

Nunes e Terenciani (2010) consideram que a escola e o formalismo no qual

ela se fundamenta reforccedila as fronteiras simboacutelicas o que impede a integraccedilatildeo entre

os paiacuteses fronteiriccedilos

Por sua vez na pesquisa com alunos bolivianos que estudam em redes

puacuteblicas e privadas na cidade de fronteira Corumbaacute ndash MS as autoras Ruth Souza e

Aline Rodrigues (2009) em entrevista a coordenadores professores e diretores das

escolas por elas analisadas chegaram agrave conclusatildeo de que os alunos bolivianos

apresentam dificuldades para ler e escrever o que dificulta ateacute mesmo o processo

de integraccedilatildeo dos alunos com os demais (no caso os brasileiros) aleacutem de se

sentirem tiacutemidos pela estranheza daquele universo escolar Ao analisarem o Projeto

Poliacutetico Pedagoacutegico das escolas visitadas as responsaacuteveis pela pesquisa deram o

seguinte parecer

Observa-se entatildeo que a escola brasileira natildeo eacute preparada para atender o aluno estrangeiro nem mesmo em aacutereas de fronteira onde

46

essa realidade eacute cada vez mais frequumlente Os PPP‟s satildeo engessados nas diretrizes gerais da educaccedilatildeo e desconsideram as especificidades locais natildeo oferecendo subsiacutedios adequados para as escolas atenderem os alunos estrangeiros e buscarem a inserccedilatildeo do mesmo no ambiente escolar e garantir o seu aprendizado (SOUZA RODRIGUES 2009 p10)

Outro estudo referente agrave presenccedila de migrantes fronteiriccedilos realizado na

fronteira do Brasil com o Uruguai na cidade de Sant‟Ana do Livramento ndash RS por

Geovana Bardesio e Paulo Cassanego (2013) apontou que as diferenccedilas

relacionadas ao idioma principalmente a expressatildeo escrita da liacutengua portuguesa

foram assinaladas pelos gestores entrevistados como um dos maiores desafios a

serem superados para o melhor desenvolvimento do aluno migrante Os mesmos

quando questionados sobre as atividades desempenhadas com vistas agrave promoccedilatildeo

da socializaccedilatildeo entre os alunos das escolas natildeo relataram nenhuma atividade

direcionada especificamente para o acolhimento de alunos migrantes ldquotambeacutem natildeo

foram verificados incentivos a promoccedilatildeo de discussotildees entre os professores sobre o

tema migraccedilatildeo e sobre a situaccedilatildeo de acolher estudantes nesta condiccedilatildeo na escolardquo

(CASSANEGO E BARDESIO 2013 p7)

Jacira Pereira (2003) apresenta o resultado de sua pesquisa referente agraves

identidades eacutetnico-culturais e sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo de escolas situadas em

regiatildeo de fronteira A pesquisa foi realizada na fronteira entre Brasil e Paraguai nas

cidades de Ponta Poratilde e Pedro Juan Caballero Buscou entrevistar duas geraccedilotildees

de migrantes presentes nas cidades oriundos de diferentes etnias e nacionalidades

Dentre as questotildees presentes na entrevista encontra-se uma referente a

atitudes preconceituosas nas escolas devido agrave origem eacutetnica do aluno Pereira

destacou a seguinte resposta de uma estudante paraguaia quando perguntada se

sofria algum tipo de preconceito

Preconceito assim natildeo mas tem aquelas brincadeirinhas de mau gosto Cala boca sua paraguaia [] Isto acontecia desde pequena agora parou um pouco Mas acontecia sempre e eu ficava brava brava Eu tinha vergonha (Luciana Assunccedilatildeo ndash 2ordf geraccedilatildeo) (PEREIRA 2003 p7)

Em relaccedilatildeo a possiacuteveis apelidos dados pelos colegas de turma a autora

destaca as seguintes falas

Natildeo ligo de ser descendente de libanecircs eu gosto [] Eu natildeo tenho mas os amigos do meu irmatildeo me chamam de turquinho Mas eu natildeo tenho um apelido que todo mundo me chama (Rames Husseinndash 2ordm geraccedilatildeo)

47

Tenho vaacuterios entre eles o de japonecircs porque me confundem com japonecircs [] Natildeo gosto disso (KyoLinndash 2ordf geraccedilatildeo) (PEREIRA 2003 p8)

Pode-se inferir com base nos relatos que nas relaccedilotildees no interior da escola

natildeo se discrimina o sujeito apenas por sua nacionalidade como tambeacutem pela

aparecircncia Ainda com relaccedilatildeo aos preconceitos e agrave discriminaccedilatildeo que sofrem os

migrantes a pesquisadora constatou que a minoria migrante paraguaia eacute a que mais

demonstra ser alvo de tratamento diferenciado expresso nas zombarias e nas

chacotas o que eacute possiacutevel captar nas relaccedilotildees tensas e conflitantes entre as

diferentes etnias na fronteira Eis alguns dos relatos dessas manifestaccedilotildees

Tem alguns soacute mas natildeo falam de verdade eacute soacute de brincadeira os paraguaios natildeo levam muito a seacuterio Tem amigo do meu irmatildeo que chama de chipeiro porque eacute do Paraguai soacute que esse apelido pegou e todo mundo soacute chama assim os paraguaios (KyoLinndash 2ordf geraccedilatildeo) Jaacute vi colocar apelido Um rapaz que tem na minha sala o chamam de chipa de paraguaio Mas eacute coisa de amigo ele leva na brincadeira Natildeo leva a mal (Rames Husseinndash 2ordf geraccedilatildeo) Assim natildeo eacute que tira sarro Chama assim de chipa (Latiffe Nasserndash 2ordf geraccedilatildeo) (PEREIRA 2003 p8)

Com estes dados a pesquisadora aponta que eacute comum em escolas da

fronteira a reproduccedilatildeo do imaginaacuterio negativo que se tem do ldquooutrordquo e conclui ldquoque a

comunicaccedilatildeo entre os colegas eacute carregada de hostilidade o que marca a diferenccedila

eacutetnica como uma caracteriacutestica negativardquo (PEREIRA 2003 p7)

A professora Maria Elena Pires dos Santos (2010) em pesquisa realizada

sobre o cenaacuterio sociolinguiacutestico na fronteira e sua relaccedilatildeo com as poliacuteticas

educacionais e pedagoacutegicas ao realizar um estudo com alunos brasiguaios em uma

escola de Foz do Iguaccedilu percebe que haacute diferentes olhares para a escrita hiacutebrida do

aluno brasiguaio Para a autora ldquoa leitura e a escrita processos mais valorizados na

escola eacute justamente o que evidencia a visibilizaccedilatildeo do aluno brasiguaio

constituindo fonte de estigmatizaccedilatildeo e preconceitordquo (PIRES-SANTOS 2010 p 46)

Ela ainda aponta que os professores ficavam insatisfeitos quando tinham que

receber alunos ldquobrasiguaiosrdquo sendo uma das possiacuteveis explicaccedilotildees o fato deste

aluno possuir uma linguagem hiacutebrida e pelo fato do ldquoportunholrdquo ser um grande fator

de preconceito na fronteira

48

Em pesquisa realizada sobre a presenccedila de alunos brasiguaios em escolas

de fronteira BrasilParaguai na cidade de Ponta Poratilde Ione Dalinghaus (2009)

observou que mesmo em uma escola onde 90 dos alunos satildeo paraguaios ou

ldquobrasiguaiosrdquo eacute proibido o uso de outra liacutengua que natildeo o portuguecircs evidenciando

assim o mito16 do monolinguismo Tambeacutem Cerliani Terenciani (2011) em sua

dissertaccedilatildeo tratou de estudar a presenccedila de alunos oriundos do Paraguai nas

escolas de Ponta Poratilde Ao entrevistar uma professora cujos pais satildeo paraguaios

mas ela fora registrada no Brasil relata sua experiecircncia na escola

Eu sofri hien ixi Me chamavam de paraguaia Falavam que eu era uma iacutendia que natildeo sabia falar o portuguecircs e essas coisas tipo de deboche assim sabe que eacute ()(Entrevista concedida agrave CERLIANI 2011 p102)

Outra percepccedilatildeo da dificuldade de adaptaccedilatildeo do(a) aluno(a) paraguaio(a) em

escolas brasileiras agora na cidade de Santa Terezinha de Itaipu17 encontra-se na

pesquisa de Marli Schlosser e Margarete Frasson (2012) sobre a imigraccedilatildeo de

alunos da educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Baacutesica do Paraguai para escolas brasileiras da rede

municipal de ensino entre os anos de 2007 e 2011 Segundo as autoras a fronteira

pode se apresentar como um espaccedilo de vivecircncia e possibilidades que seria por

exemplo o aluno migrante aprender um novo idioma No entanto quando os novos

conhecimentos que este aluno tem que adquirir na escola natildeo eacute em sua liacutengua

materna o processo de travessia na fronteira torna-se doloroso para o mesmo

ldquoobrigando-o a fazer uso de atitudes de silenciamento ou seja ele passa a se

apresentar reservado e em bdquoinvisibilidade‟ retraiacutedo para natildeo ser visto pelo olhar

hegemocircnico da escolardquo (GENTILI 2004 apud SCHLOSSER E FRASSON 2012

p4)

As pesquisas realizadas em diferentes escolas de fronteira apontam para a

necessidade de discussotildees que passem pelo campo das poliacuteticas linguumliacutesticas e

educacionais para a diversidade Ataiacutede e Moraes (2003) discorrem sobre a

tendecircncia de homogeneizaccedilatildeo curricular que aliena a escola de seu contexto O

Brasil como um todo ldquoproduz um projeto pedagoacutegico exoacutegeno e xenoacutefobordquo (ATAIacuteDE

16

Aleacutem do portuguecircs satildeo faladas hoje mais de 222 liacutenguas no Brasil Dessas liacutenguas explica Maher

mais de 180 satildeo indiacutegenas cerca de 40 satildeo liacutenguas de imigraccedilatildeo e duas satildeo liacutenguas de sinais LIBRAS-a Liacutengua Brasileira de Sinais-e a Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira Aleacutem das liacutenguas africanas Assim o Brasil pode ser considerado como um paiacutes multiliacutenguumle (MAHER 2013 p117) 17

Cidade localizada na zona de fronteira entre Brasil e Paraguai

49

e MORAES 2003 p83) Jurjo Santomeacute (1995) fala sobre o silenciamento que existe

nos curriacuteculos nacionais referentes agraves minorias no ambiente escolar sendo que no

caso da presenccedila de estrangeiros nas escolas fronteiriccedilas ela natildeo eacute nem negada e

tampouco silenciada tecircm se a impressatildeo de sua inexistecircncia Albuquerque e Souza

(2014) utilizam a expressatildeo ldquotrincheiras culturaisrdquo para se referirem agraves escolas em

aacutereas de fronteiras que tem por funccedilatildeo ldquonacionalizar as crianccedilasrdquo e combater o

idioma estrangeiro (ALBUQUERQUE 2014 p02)

Embora a expressatildeo ldquonacionalizar as crianccedilasrdquo seja reducionista ao limitar a

funccedilatildeo da escola agrave nacionalizaccedilatildeo um fato ocorrido em 1999 na fronteira entre

Brasil e Uruguai na cidade de Rivera natildeo tira em alguma medida este caraacuteter

ldquonacionalizadorrdquo o qual o Estado busca desempenhar atraveacutes da escola Trata-se de

uma reportagem publicada nos dois principais jornais da capital uruguaia

Montevideacuteu em que o ministro da educaccedilatildeo do paiacutes demonstrou sua indignaccedilatildeo

pelo fato do idioma portuguecircs ter invadido as escolas do Uruguai localizadas em

regiotildees de fronteira senti verguenza del estado de nuestras escuelas () Hasta

queacute punto el idioma portuguecircs habiacutea penetrado em nuestro paiacutes (Jornal El Paiacutes

1999 p6 apud SAacuteNCHEZ 2002p 115) A posiccedilatildeo do Conselho Diretivo Central de

Ensino natildeo foi muito diferente do ministro

por la expasiacuteon del idioma portugueacutes y el portunhol em aacutereas fronterizas y las acertadas medidas que adoptaraacute-fortalecimiento de la ensentildeanza del espanotildel formaacuteciacuteon de docentes de esa a signatura y maacutes centros educativosrdquo (Jornal El Observador 1999 p10 apud SAacuteNCHEZ 2002 p116)

A escola apresenta-se neste contexto enquanto reguladora seja de valores

culturas memoacuterias identidades a partir de padrotildees universalistas construiacutedos sem

um diaacutelogo com a alteridade (ARROYO 2007 p119) Uma possiacutevel tentativa de

transformar estas questotildees em estudo nas regiotildees fronteiriccedilas eacute o Programa das

Escolas Interculturais de Fronteira (PEIF) que conforme o documento oficial do

programa busca discutir a ldquoidentidade regional biliacutengue e intercultural no marco de

uma cultura de paz e cooperaccedilatildeo interfronteiriccedilardquo (ARGENTINABRASIL 2007 p 2)

Esta proposta seraacute analisada no proacuteximo capiacutetulo

Este capiacutetulo teve como objetivo traccedilar algumas perspectivas possiacuteveis de

abordar o tema de fronteira a comeccedilar com a etimologia da palavra utilizada pela

primeira vez no seacuteculo XIII como separaccedilatildeo entre Estados Hoje a fronteira eacute

estudada a partir de diferentes dimensotildees social simboacutelica cultural etc Desse

50

modo rompemos com a ideia de fronteira apenas como o limite entre estados e com

a tendecircncia de se cristalizaccedilatildeo da mesma pois eacute fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica

Outro aspecto levantado foi o papel da educaccedilatildeo escolar na construccedilatildeo do

imaginaacuterio e do sentimento de pertenccedila agrave naccedilatildeo (ANDERSON 1993) O Estado

utilizou as escolas para propagaccedilatildeo dos ideais nacionais na cidade de Foz do

Iguaccedilu com o objetivo de demarcar e proteger o territoacuterio dos paiacuteses vizinhos dos

imigrantes e seus descendentes

Na relaccedilatildeo entre fronteira e poliacuteticas puacuteblicas a bibliografia levantada sobre

estudos sobre fronteira e relaccedilotildees trabalhistas fronteira e o Sistema Uacutenico de Sauacutede

e das escolas em regiatildeo de fronteira demonstraram que os paiacuteses convivem como

naccedilotildees diferentes entre si embora os problemas que o afetem extrapolam a questatildeo

nacional de cada paiacutes A fronteira eacute um lugar o Estado se faz presente eacute notaacutevel

pelo processo de securitizaccedilatildeo da fronteira brasileira mas eacute tambeacutem o lugar onde o

Estado-naccedilatildeo se enfraquece dada a fluidez dos agrupamentos humanos

(MACHADO 2010)

CAPIacuteTULO II A HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO EM FOZ DO IGUACcedilU CONSTRUTOS

E CONTRADICcedilOtildeES PARA A CONSOLIDACcedilAtildeO DO ESTADO-NACcedilAtildeO

51

Este capiacutetulo tem como objetivo principal apresentar o processo pelo qual a

educaccedilatildeo na cidade de Foz do Iguaccedilu se desenvolveu com a finalidade de

demonstrar que neste trajeto a escola foi um dos principais instrumentos do

Estado junto com a militarizaccedilatildeo da fronteira para bdquonacionalizar‟ e proteger o

territoacuterio brasileiro Para isto primeiramente apresentamos o contexto ao qual a

cidade de Foz do Iguaccedilu foi fundada destacando que o territoacuterio desde a fundaccedilatildeo

da Colocircnia Militar em 1889 contava com a presenccedila de estrangeiros

Ao mesmo tempo abordamos a trajetoacuteria da formaccedilatildeo das escolas em Foz do

Iguaccedilu a partir da histoacuteria da educaccedilatildeo do Paranaacute O capiacutetulo destaca os principais

fatos histoacutericos que ocorreu no Estado paranaense e na regiatildeo Oeste do Paranaacute que

marcaram a criaccedilatildeo das escolas Destaca-se aqui os anos de 1930-1945 periacuteodo

em que ocorreu a Marcha para o Oeste e a fundaccedilatildeo do Territoacuterio Federal do

Iguaccedilu que estimulou o desenvolvimento do Oeste do Paranaacute e com isto a criaccedilatildeo

de escolas ao mesmo tempo em que a poliacutetica nacionalista do governo varguista

aplicou uma poliacutetica de vigilacircncia sobre as escolas dos imigrantes ou mesmo o seu

fechamento Delineamos ainda os principais aspectos educacionais a partir dos

anos de 1990 ateacute os dias atuais para destacar os resquiacutecios e as transformaccedilotildees da

educaccedilatildeo na cidade de fronteira ao longo deste periacuteodo

21 Contexto histoacuterico

A regiatildeo da chamada triacuteplice fronteira eacute composta pela Argentina Brasil e

Paraguai com suas respectivas cidades Puerto Iguazuacute Foz do Iguaccedilu e Ciudad del

Este como pode ser observado no mapa abaixo

52

Imagem VI- Mapa da regiatildeo da Triacuteplice Fronteira- Argentina Brasil e Paraguai Fonte httpgeouel2009blogspotcombr201207triplice-fronteira-apontamentoshtml

A presenccedila de imigrantes europeus na regiatildeo onde hoje eacute a cidade de Foz do

Iguaccedilu data do ano de 1542 com os relatos da chegada de Aacutelvaro Nunes Cabeza

de Vaca agraves cataratas Este relato faz parte da histoacuteria de construccedilatildeo da cidade

brasileira e se funde agrave histoacuteria das cataratas do Iguaccedilu - uma das sete maravilhas da

natureza Foz do Iguaccedilu tem como marco fundador a criaccedilatildeo da colocircnia militar em

1889 e a data de 1930 como iniacutecio de seu processo modernizador (SOUZA 2009)

Portanto eacute a partir da fundaccedilatildeo da colocircnia militar que buscamos conhecer o

processo de formaccedilatildeo das primeiras escolas da regiatildeo oeste paranaense e

portanto de Foz do Iguaccedilu

Compreender o processo de desenvolvimento da cidade de Foz do Iguaccedilu

bem como o de suas instituiccedilotildees de ensino implica na contextualizaccedilatildeo dos

acontecimentos e transformaccedilotildees no Brasil e tambeacutem das mudanccedilas ocorridas

nesta regiatildeo fronteiriccedila

A educaccedilatildeo brasileira do seacuteculo XIX foi reflexo das transformaccedilotildees no acircmbito

da produccedilatildeo da vida social ocorridas no Brasil poacutes-independecircncia No Paranaacute as

atividades econocircmicas tinham como base as fazendas de gado A criaccedilatildeo de gado e

o comeacutercio foram fundamentais para a o povoamento do territoacuterio nesse periacuteodo

Segundo Maria Ceciacutelia Oliveira (1986) com o crescimento das lavouras de

cafeacute em Satildeo Paulo o comeacutercio interno de escravos cresceu significativamente Do

mesmo modo no Paranaacute que por volta de 1865 viu o nuacutemero de escravos

diminuiacuterem significativamente na Proviacutencia A falta de matildeo-de-obra refletiu na

agricultura paranaense direcionada para o abastecimento de gecircneros alimentiacutecios

53

Para solucionar a falta de matildeo-de-obra o governo provincial ldquoque jaacute vinha

promovendo a imigraccedilatildeo de grupos de estrangeiros intensificou a poliacutetica

imigratoacuteria objetivando a atender o problema da matildeo-de-obra na produccedilatildeo agriacutecolardquo

(OLIVEIRA 1986 p34) A mesma autora aponta que a Proviacutencia do Paranaacute criou

escolas em diversas colocircnias estrangeiras situadas proacuteximas dos nuacutecleos urbanos

sobretudo de Curitiba Ao mesmo tempo os imigrantes criaram suas proacuteprias

escolas para manutenccedilatildeo da cultura de seus respectivos paiacuteses de origem

As escolas e o conjunto de sua estrutura eram precaacuterios ldquofaltava preacutedio

escolares ausecircncia e deficiecircncia de professores baixa frequumlecircncia escolar aleacutem dos

parcos recursos disponiacuteveisrdquo (OLIVEIRA 1986 p35) No Brasil como um todo

seguia sem diretrizes que pudessem organizar melhor o ensino no paiacutes

A ausecircncia de um plano definido de educaccedilatildeo que atendesse agraves necessidades brasileiras pode ser verificada pelas inuacutemeras reformas e projetos apresentados na Corte que marcam o Segundo Impeacuterio e influiacuteram na organizaccedilatildeo do ensino Entre eles podem ser

destacados (OLIVEIRA 1986 p35)

No Paranaacute apoacutes sua emancipaccedilatildeo em 1853 a instruccedilatildeo puacuteblica encontrava-

se em condiccedilotildees de precariedade e natildeo atingia toda a populaccedilatildeo Trindade (2001)

aponta que em meio a uma populaccedilatildeo de 620000 habitantes haviam apenas 615

alunos nos cursos de primeiras letras ldquoo ensino secundaacuterio era praticamente

inexistente e o pouco que havia em Curitiba buscava atender agrave demanda local e do

interior da Proviacutenciardquo (TRINDADE 2001 p 61)

21 Colocircnia Militar de Foz do Iguaccedilu e as primeiras escolas da regiatildeo

A colocircnia militar que marcou o iniacutecio da atuaccedilatildeo do Estado na regiatildeo de Foz do

Iguaccedilu foi criada a partir da lei imperial nordm 601 de 18 de setembro de 1850

regulamentada pelo decreto nordm 1318 de 30 de janeiro de 1854 que determinava o

registro das terras no territoacuterio brasileiro Desse modo o entatildeo presidente da

Proviacutencia do Paranaacute recebeu em 1854 o pedido para implementaccedilatildeo da colocircnia

militar e junto ao pedido seguiam as atividades a ser desenvolvidas pela colocircnia

1ordm Conceder o governo terras e fazer o sacrifiacutecio pecuniaacuterio annual

de 30 contos por certo numero de annos para pagar os juros de capital que se tomasse emprestado e se houvesse de applicar as

54

despezas de viagem e sustento de 500-600 familias 2ordm Estar a

direcccedilatildeo agrave cargo de pessoas responsaacuteveis pelo capital sob a

vigilacircncia o governo 3ordm Serem os lotes de terras divididos e vendidos

conforme hum preccedilo determinado destinando-se o producto a

construccedilatildeo de igrejas escolas etc etc 4ordm Incumbir a direcccedilatildeo a

procura de colonos e fornecimento de casas sementes animaes

viveres roupa bom mercado ao seus productos ampc 5ordm Cultivarem

as colocircnias de serra-acima cereais crearem animaes fazerem manteiga e queijo ao passo que as de serra-abaixo devem entregar-

se aacute cultura de generos coloneaes 6ordm Fazer o governo com as

despezas com padres e mestres de escola (RIIT 2011 p51 apud VASCONCELOS 1854 p 56)

Desse modo a ocupaccedilatildeo da regiatildeo por parte do Brasil foi consolidada no ano

de 1889 com a colocircnia militar O objetivo consistia em proteger o territoacuterio brasileiro

principalmente apoacutes a Guerra da Triacuteplice Alianccedila18 (1864-1870) Segundo Valdir

Gregory (2012) as intencionalidades em estabelecer um posto militar avanccedilado eacute

apenas uma justificativa que tinha ldquocomo pano de fundo a necessidade da

construccedilatildeo da nacionalidade () os sucessos na guerra motivaram a presenccedila fiacutesica

e ideoloacutegica na triacuteplice fronteirardquo (GREGORY 2012 p 50) Escreve Silveira Neto

(1939) em seus relatos de viagem que havia naquele periacuteodo de implementaccedilatildeo da

colocircnia militar 324 habitantes ldquosendo 188 paraguaios 33 argentinos 93 brasileiros

5 franceses 2 espanhoacuteis 1 inglecircs 2 orientais Destes 220 homens e 104 mulheresrdquo

(NETO 1939 p 52)

Estabelecida a colocircnia os militares se preocuparam com a necessidade da

instruccedilatildeo escolar Assim em 1895 foi criada uma escola informal que no iniacutecio

contou com vinte alunos matriculados

Em Foz do Iguaccedilu nuacutecleo pioneiro da ocupaccedilatildeo nacional regional desde os tempos da Colocircnia Militar existiu por parte dos militares e funcionaacuterios do fisco a preocupaccedilatildeo com a escolarizaccedilatildeo de seus filhos Esse segmento social resolveu o problema da instruccedilatildeo a partir de seu proacuteprio grupo social Essa instruccedilatildeo era quantitativamente muito restrita soacute para filhos de funcionaacuterios dos postos mais importantes na modalidade de Escola Particular Domiciliar (EMER 2012 p 37)

18 Na eacutepoca do Brasil imperial toda essa fronteira foi assegurada com a vitoacuteria da Guerra da Triacuteplice

Alianccedila (1865-1870) que derivou no aniquilamento de capacidade econocircmica e beacutelica paraguaia A vitoacuteria brasileira argentina e uruguaia impocircs ao Paraguai a assinatura do Tratado de Limites de 1872 que anexava ao territoacuterio brasileiro terras paraguaias agrave leste do Rio Paranaacute (ROSEIRA 2006 p 38)

55

Segundo o mesmo autor entre os anos de 1889 ateacute 1912 ano de extinccedilatildeo da

Colocircnia Militar as crianccedilas de famiacutelias brasileiras com boas condiccedilotildees financeiras

que natildeo eram filhas de funcionaacuterios do governo buscavam escolarizaccedilatildeo nos paiacuteses

vizinhos Para o autor a instruccedilatildeo particular domiciliar ficava restrita a filhos de

funcionaacuterios que ocupavam cargos importantes Durante o periacuteodo de vigecircncia da

Colocircnia Militar prevaleceu a modalidade de instruccedilatildeo sem instituiccedilatildeo Natildeo existiu

escola ou casa escolar em Foz do Iguaccedilu (EMER 1991 p 28)

Destacam-se os argentinos que nesse periacuteodo dominavam a regiatildeo pois as

companhias ervateiras e madeireiras eram daquele paiacutes ldquoSe a produccedilatildeo local era

estrangeira a moeda a liacutengua e os bens de primeira necessidade tambeacutem o eramrdquo

(ROSEIRA 2006 p41) No que se refere ao idioma o guarani e o espanhol eram

predominantes nesta regiatildeo Em relaccedilatildeo agrave moeda o dinheiro que circulava era o

peso argentino e as propriedades eram em sua maioria pertencentes agraves Obrages

(WACHOWICZ 1985 p 140 apud ROSEIRA 2006 p 51)

Segundo o historiador Ruy Wachowicz (2010) este processo de aproximaccedilatildeo

com a Argentina fez com que a regiatildeo oeste ficasse mais exposta agrave penetraccedilatildeo

argentina do que com o restante do Brasil (WACHOWICZ 2010 p 275) A

proximidade entre os dois paiacuteses fez com que o oeste paranaense fosse

culturalmente influenciado e economicamente dependente da Argentina Wachowicz

aponta que por volta de 1881 os argentinos comeccedilaram a exploraccedilatildeo da erva-mate

em Misiones e mais tarde no Brasil na regiatildeo oeste do Paranaacute

Otiacutellia Schimmelpfeng (1991) em seu livro ldquoRetrospectos iguaccedilusensesrdquo fala

acerca desta singularidade ldquoA moeda argentina circulava com domiacutenio absoluto na

praccedila Pouco ou nada se fala em ldquomil reacuteisrdquo naquele tempordquo (SCHIMMELPFENG

1991 p 28) O ldquopesordquo se introduzia ateacute nas reparticcedilotildees puacuteblicas Em entrevista ao

historiador Ruy Cristovatildeo Wachowicz Otiacutellia eacute mais detalhista sobre a influecircncia

argentina

Eu sentia aqui como se natildeo tivesse no Brasil Me sentia aqui isolada parecia que eu estava em outro paiacutes ateacute Porque todos os haacutebitos a liacutengua falada aqui era mais que predominava era o espanhol o castelhano como se dizia Parece que as pessoas quando vinham pra caacute no Brasil se achavam na obrigaccedilatildeo de aprender o castelhano pra ser entendido Parecia E todo mundo se interessava em falar o castelhano porque a convivecircncia aqui era muito maior com os argentinos Paraguai natildeo tanto porque noacutes natildeo tiacutenhamos Paraguai nessa regiatildeo aqui natildeo era muito habitada Mas tinha o Porto Aguirre que hoje eacute Porto Iguaccedilu que jaacute era um porto de grande movimento de turismo jaacute jaacute tava sendo legalizado entatildeo jaacute tinha mais

56

desenvolvimento e mais recurso tambeacutem pra atender Foz do Iguaccedilu entatildeo noacutes tiacutenhamos mais contacto com os argentinos [] Entatildeo a gente tinha aqui um contacto mesmo constante com os argentinos E se falava soacute quase o castelhano a moeda era soacute o peso argentino (SCHIMMELPFENG 1980 apud SBARDELOTTO 2009 p 91)

O contato de Foz de Iguaccedilu era muito mais intenso com os paiacuteses fronteiriccedilos

do que com o restante do paiacutes Sbardelotto (2008) explica que havia tambeacutem um

grande nuacutemero de paraguaios que adentravam no Oeste do Paranaacute para trabalhar

nas empresas de erva-mate e posteriormente de madeira Contudo a presenccedila

argentina se destaca uma vez que eram o grupo que ldquodetinham os meios de

produzir e comercializar a principal atividade produtiva da regiatildeo e que atraveacutes

deste controle econocircmico determinavam os costumes a cultura e tambeacutem a

educaccedilatildeo neste territoacuteriordquo (SBARDELOTTO 2008 p5)

Dessas companhias madeireiras que se estabeleceram na regiatildeo muitas

faziam parte do modelo de exploraccedilatildeo denominado de Obrage ldquoO obragero era o

proprietaacuterio desse tipo de latifuacutendio () o obragero argentino explorava a erva-mate

e a madeira em torosrdquo (WACHOWICZ 2010 p 276) Em poucas deacutecadas a regiatildeo

que compreende a costa paranaense foi ocupada por inuacutemeras obrages e

consequentemente povoada em sua maioria por paraguaios argentinos e guaranis

modernos19 que trabalhavam como mensus20 Em 1930 a populaccedilatildeo estimada nas

obrages passava dos 10000 habitantes em sua maioria estrangeira

Naquele contexto a intensidade das relaccedilotildees fez com que a Argentina se

tornasse o principal prestador de serviccedilos agrave cidade de Foz do Iguaccedilu Segundo

Sbardelotto (2009) muitas crianccedilas eram escolarizadas no sistema argentino

absorvendo a liacutengua a histoacuteria e os costumes do paiacutes vizinho (SBARDELOTTO

2009 p 92)

Durante o periacuteodo em que seguia o desenvolvimento da Colocircnia Militar os

ldquopioneirosrdquo responsaacuteveis por sua construccedilatildeo diante da ausecircncia de um sistema de

ensino institucionalizado passaram a organizar e estruturar uma educaccedilatildeo natildeo-

formal

Em Foz do Iguaccedilu nuacutecleo pioneiro da ocupaccedilatildeo nacional regional desde os tempos da Colocircnia Militar existiu por parte dos militares e

19

Termo empregado aos indiacutegenas guaranis miscigenados do Paraguai (PRIORI A et al 2012p79) 20 A expressatildeo vem do espanhol da palavra bdquomensual‟ ou seja mensalista (GREGORY 2002 p 89 apud PRIORI A et al 2012p79)

57

funcionaacuterios do fisco a preocupaccedilatildeo com a escolarizaccedilatildeo de seus filhos Esse segmento social resolveu o problema da instruccedilatildeo a partir de seu proacuteprio grupo social Essa instruccedilatildeo era quantitativamente muito restrita soacute para filhos de funcionaacuterios dos postos mais importantes na modalidade de Escola Particular Domiciliar (EMER 2012 p37)

No ano de 1910 a Colocircnia Militar passou a ser distrito de Guarapuava e

denominada de Vila do Iguassuacute Em 1912 o Ministeacuterio da Guerra emancipou a

colocircnia que passou a ser administrada pelos civis sob o governo do Estado do

Paranaacute Em 1914 com a lei nordm 1383 foi criada a municipalidade de Vila do Iguassuacute e

em 1918 o nome Foz do Iguaccedilu foi adotado como oficial Conforme Lima (2001) no

periacuteodo compreendido entre 1914 a 1930 aleacutem do estabelecimento das primeiras

famiacutelias brasileiras argentinas e paraguaias houve a colonizaccedilatildeo por parte dos

imigrantes descendentes de alematildees poloneses e italianos (LIMA 2001 p 31)

De acordo com Emer (1991) a partir de 1914 o governo do Estado do

Paranaacute instituiu um novo modelo de escola o Grupo Escolar Estes grupos

escolares dirigiam-se ao ensino de quatro seacuteries com conteuacutedos progressivos Estas

escolas estavam localizadas nos principais centros urbanos e nas regiotildees mais

afastadas do centro seguiam sem escolas ou com muita precariedade de escolas

Os grupos de migrantes na ausecircncia de escolas construiacuteam as suas proacuteprias

A falta de escolas no Paranaacute fazia sentir-se especialmente fora dos nuacutecleos coloniais dos imigrantes que ao contraacuterio dos demais nuacutecleos populacionais natildeo esperavam pela iniciativa do governo mas construiacuteam suas proacuteprias escolas e providenciavam o professor Quando muito solicitavam algum tipo de subvenccedilatildeo do governo estadual A escola dos imigrantes natildeo se desenvolveu mais porque o Estado desde 1901 apenas subvencionava os professores que ensinassem em liacutengua portuguesa Esse natildeo era o interesse dos imigrantes Pretendiam repassar agraves novas geraccedilotildees sua noccedilatildeo de nacionalidade de origem que incluiacutea a liacutengua a religiatildeo e os costumes Se o ensino fosse apenas na liacutengua portuguesa os colonos retiravam seus filhos e organizavam uma nova escola particular Em diversas localidades a escola puacuteblica foi desativada e removido o professor por absoluta falta de alunos (EMER 1991 p 207)

Emer destaca as modalidades de ensino que foram criadas neste periacuteodo

tanto no acircmbito formal quanto na esfera institucionalizada satildeo elas (1) Instruccedilatildeo

sem instituiccedilatildeo - ldquoSimplesmente algumas crianccedilas reuniam-se ao redor da mesa de

refeiccedilotildees de uma residecircncia para aprender ler escrever e calcular - curriacuteculo e

58

objetivos educacionais estabelecidos pelos paisrdquo (referecircncia) - que consistia em que

a educaccedilatildeo era dada pelo grupo social sem nenhuma institucionalizaccedilatildeo (2) casa

escolar - construiacuteda e mantida pelos pioneiros - ldquo() do professor era exigida uma

melhor qualificaccedilatildeo isto eacute deveria ensinar mais que na escolarizaccedilatildeo Domiciliar a

Casa Escolar deveria funcionar tecnicamente bemrdquo (EMER 2012 p 36) (3) casa

escolar puacuteblica criada e regulamentada pelo Municiacutepio- ldquoComo uma escola oficial

os alunos das Casas Escolares Puacuteblicas eram submetidos aos exames puacuteblicos

elaborados pelos oacutergatildeos educacionais puacuteblicos para comprovaccedilatildeo da escolaridaderdquo

Neste modelo ficava a cargo do governo contratar e remunerar o professor

cabendo a este alugar uma sala ou casa e formar o grupo de aluno de primeiras

letras Por uacuteltimo o Grupo Escolar Puacuteblico (4) ndash que se diferencia das demais

modalidades por ter sido construiacuteda em nuacutecleos de povoamento mais desenvolvidos

e pela forma de funcionamento Nas modalidades anteriores o objetivo era aprender

a ler escrever e calcular Posteriormente com a oficializaccedilatildeo da casa escolar a

comprovaccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo passou a ser feita por meio de avaliaccedilotildees No grupo

escolar a preocupaccedilatildeo era de bdquoaprovar‟ o aluno para a seacuterie seguinte ldquonum processo

gradual de comprovaccedilatildeo de conhecimentos dos conteuacutedos definidos pelo ldquosistemardquo

educacional como requisito de cada seacuterie (EMER 2012 p 36)

A partir da fundaccedilatildeo da municipalidade em 1914 a populaccedilatildeo passou a

reivindicar um modelo de educaccedilatildeo subsidiado pelo poder puacuteblico Naquele

momento Foz do Iguaccedilu desenvolvia planos para combater o contrabando da

fronteira o que demandou a contrataccedilatildeo de agentes fiscais Esse processo fez com

que o grupo de escolarizados que chegavam agrave cidade passassem a requerer

escolas para seus filhos aleacutem do fato do crescimento da populaccedilatildeo e por

consequecircncia o aumento de crianccedilas (EMER 2012 p 37)

Conforme Emer (1991) entre os anos de 1915 e 1916 ldquoa Prefeitura Municipal

teria construiacutedo e mantido uma casa escolar puacuteblica embora precaacuteria e insuficienterdquo

(EMER 1991 apud Sbardelotto 2009 p 96) Wachowicz afirma que a necessidade

da criaccedilatildeo de escolas por parte da populaccedilatildeo soacute surgiu quando a populaccedilatildeo

urbana cresceu significativamente organizando assim a vida social (WACHOWICZ

1984 p 19) Apesar da iniciativa de dar acesso ao ensino puacuteblico de forma gratuita

a todos Sbardelotto aponta que apenas a populaccedilatildeo masculina foi contemplada

aleacutem do caraacuteter eminentemente elitista uma vez que os filhos de trabalhadores por

terem que optar pela subsistecircncia da famiacutelia abandonavam as escolas

59

Outros fatores contribuiacuteram para o desenvolvimento da educaccedilatildeo em Foz do

Iguaccedilu dentre eles a presenccedila da Igreja Catoacutelica Anterior a fundaccedilatildeo do

municiacutepio em decorrecircncia da localizaccedilatildeo e da dificuldade de deslocamento a

populaccedilatildeo da cidade soacute recebia assistecircncia religiosa uma vez por ano Isso

perdurou ateacute 1918 quando a Igreja optou em criar uma Paroacutequia na cidade desde

que contasse com a ajuda do governo Nesse sentido o acordo entre Igreja e

governo do Estado foi firmado com a condiccedilatildeo de que a Igreja construiacutesse e

dirigisse um grupo escolar

Em 1923 foi instalada a paroacutequia e nomeado o primeiro vigaacuterio um sacerdote alematildeo da Congregaccedilatildeo do Verbo Divino Padre Guilherme Maria Tilecks Para cumprimento do acordo com o Estado mesmo antes da construccedilatildeo do Grupo Escolar o Padre Guilherme passou a lecionar na Casa Escolar Para o desempenho de suas atividades recebeu a ajuda de outros dois padres e de um irmatildeo de sua congregaccedilatildeo (Padre Joatildeo Progzeba Padre Paulo Schneider e Irmatildeo Bianchi) (EMER 2012 p 38)

Por meio do Decreto nordm 1326 do dia 27 de agosto de 1928 surge o Grupo

Escolar Caetano Munhoz da Rocha que posteriormente passou a ser chamado de

Grupo Bartolomeu Mitre primeiro grupo escolar da mesorregiatildeo Oeste do Paranaacute

Em 1930 o grupo escolar passou a ser administrado pelo governo do Paranaacute sob a

direccedilatildeo de professores nomeados pelo Estado Segundo o Plano Municipal de

Educaccedilatildeo (PME) de 2015 ldquoa funccedilatildeo da escola no municiacutepio na eacutepoca era a de

cooperar com a nacionalizaccedilatildeo de um espaccedilo que era submetido por argentinos e

paraguaiosrdquo (PME 2015 p 4) Desse modo a criaccedilatildeo da escola passa a ser

reconhecido pelo Estado como instrumento necessaacuterio para a nacionalizaccedilatildeo da

triacuteplice fronteira O plano municipal utiliza a palavra bdquosubmetido‟ indicando que

naquele periacuteodo havia certa preocupaccedilatildeo com a presenccedila e influecircncia dos paiacuteses

fronteiriccedilos como uma ameaccedila ao territoacuterio e a necessidade de construccedilatildeo da

naccedilatildeo

60

Imagem V- Grupo Escolar Bartolomeu Mitre Fonte Site da Secretaria Estadual do Paranaacute

httpwwwfozbartolomeumitreseedprgovbrmodulesconteudoconteudophpconteudo=9

O fato de o Brasil homenagear um general argentino ao nomear uma escola

em seu nome levou Emer a questionar os motivos que levariam o Estado brasileiro a

tomar essa atitude ou se ela foi apenas uma homenagem despretensiosa ao general

argentino Os interesses do Brasil naquele periacuteodo era dar seguimento agrave poliacutetica

integracionista do territoacuterio com uma campanha nacionalista e o Grupo Escolar Mitre

eacute o marco da institucionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo no oeste paranaense Por isso as

motivaccedilotildees natildeo ficaram tatildeo claras (SBARDELOTTO 2007)

A partir da deacutecada de 1930 a cidade de Foz do Iguaccedilu passou a receber

imigrantes descendentes de italianos e alematildees aleacutem de inuacutemeros agricultores do

Rio Grande do Sul Neste mesmo periacuteodo o governo do Estado do Paranaacute fez

algumas reformas educacionais de teor nacionalista conivente com as mudanccedilas do

governo como aponta o Plano Municipal de Educaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu (2015)

Algumas mudanccedilas comeccedilam acontecer na educaccedilatildeo do paiacutes Uma delas eacute a manifestaccedilatildeo do Estado entre os anos de 1917 e 1919 o governo federal delibera verba para as escolas que ensinavam em liacutengua portuguesa e as escolas de imigrantes que ensinavam em outra liacutengua eram vigiadas e fechadas (PME 2015 p 5)

Durante o Estado Novo essas escolas passaram a ser alvo do governo

principalmente apoacutes a Marcha para o Oeste ldquoque defendia a ocupaccedilatildeo efetiva e a

nacionalizaccedilatildeo das fronteiras nacionais brasileiras de Norte a Sul do paiacutesrdquo (PRIORI

et al 2012 p 65) O projeto explica Priori (etal 2012) buscava despertar o

sentimento de nacionalidade e brasilidade na populaccedilatildeo que vivia na fronteira

No caso da fronteira de Foz do Iguaccedilu despertar na populaccedilatildeo esse

sentimento de nacionalidade era combater agrave ameaccedila que paraguaios argentinos e

61

os descendentes de alematildees italianos poloneses dentre outros imigrantes que se

fixaram na regiatildeo representavam ao projeto de integraccedilatildeo nacional do governo

22 O projeto nacionalista do Estado Novo e a lsquonacionalizaccedilatildeo da fronteirarsquo

A ldquoMarcha para o Oesterdquo foi um importante processo que contribuiu para o

projeto de nacionalizaccedilatildeo da fronteira Segundo Lenharo (1986 apud Lopes 2004)

o discurso de Vargas justificava a ldquoMarcha para o Oesterdquo pautando-se na conquista

da brasilidade que se daria por meio da interiorizaccedilatildeo do paiacutes ldquoPara ele a

construccedilatildeo da ldquoMarcha para Oesterdquo lembra a imagem da naccedilatildeo em movimento agrave

procura de si mesma de sua integraccedilatildeo e acabamentordquo (LENHARO 1986 p56

apud LOPES 2004 p 4)

Como uma das consequumlecircncias da ldquoMarcha para o Oesterdquo foram criados os

territoacuterios federais ldquonas regiotildees do Amapaacute Guaporeacute (atual Rondocircnia) Rio Branco

(atual Roraima) Iguaccedilu e Ponta Poratilde no Estado de Mato Grosso do Sulrdquo (PRIORI et

al 2012p66) Por meio do Decreto-Lei nordm 58124 no ano de 1943 o Territoacuterio

Federal do Iguaccedilu foi criado abrangendo o Oeste e Sudoeste do Paranaacute e Oeste de

Santa Catarina

Segundo Seacutergio Lopes (2004) dentro do espiacuterito de nacionalizaccedilatildeo o

Territoacuterio Federal do Iguaccedilu deveria atender urgentemente o estabelecimento de

condiccedilotildees miacutenimas para organizaccedilatildeo econocircmica social e de seguranccedila das regiotildees

fronteiriccedilas e dos sertotildees Desse modo a criaccedilatildeo do territoacuterio pode ser entendida

como um ato de ocupaccedilatildeo definitiva da faixa de fronteira ldquopara assim romper o

isolamento e afastar definitivamente o perigo estrangeiro para a soberania nacional

que rondava a regiatildeordquo (LOPES 2004 p16)

O primeiro governador a administraacute-lo o Major Joatildeo Garcez do Nascimento

em relatoacuterio enviado ao Ministro da Justiccedila e Negoacutecios Anteriores fez inuacutemeras

consideraccedilotildees sobre a situaccedilatildeo do transporte comeacutercio sauacutede seguranccedila e

educaccedilatildeo na regiatildeo que abrangia o Territoacuterio Federal do Iguaccedilu No aspecto

educacional ele aponta

Haacute no Territoacuterio regular nuacutemero de escolas primaacuterias Satildeo elas

em nuacutemero de setenta Aleacutem disso contam‐se quatro grupos escolares sediados em Pato Branco Clevelacircndia Foz do Iguassuacute e Guaiacutera Quanto ao nuacutemero de escolas pode-se afirmar que atende

62

ainda as necessidades locais quanto as suas instalaccedilotildees poreacutem haacute muito o que providenciar A maioria delas funciona em preacutedios improacuteprios outras em simples salas cedidas a tiacutetulo precaacuterio e por empreacutestimo Em sua maioria natildeo atende aos rudimentares princiacutepios de higiene e didaacutetica O professorado salvo honrosas exceccedilotildees constitui-se de pessoas bem intencionadas e dedicadas mas de niacutevel cultural bastante abaixo do que seria estimaacutevel (RELATOacuteRIO DE 1944 apud LEMIECHEK 2014 p 06)

A criaccedilatildeo do Territoacuterio Federal do Iguaccedilu fez com que o processo de

urbanizaccedilatildeo crescesse e com ele a demanda por qualidade nos serviccedilos puacuteblicos

como a escola Enquanto as escolas natildeo eram ampliadas a classe mais favorecida

economicamente assegurava o acesso agrave educaccedilatildeo para seus filhos por meio da

contrataccedilatildeo de professores que se ldquodeslocavam ateacute as moradias em casas

escolares ou nuacutecleos urbanos mais distantes como Guarapuava Curitiba Posadas

Corrientes etcrdquo (PME 2015 p9) Para as classes menos favorecidas como aqueles

que viviam em Foz do Iguaccedilu e trabalhavam nas obrages e no cultivo da terra havia

acesso ao ensino aleacutem delas viverem em situaccedilotildees insalubres sem acesso a

higiene alimentaccedilatildeo e sauacutede

A partir desse periacuteodo escolas como as construiacutedas por estrangeiros eram

fechadas caso natildeo se adaptassem agraves poliacuteticas nacionais Era necessaacuterio que essa

populaccedilatildeo na regiatildeo se identificasse com o Brasil enquanto uma paacutetria para

constituiccedilatildeo de um Estado-Naccedilatildeo forte Segundo Helena Bomeny (1999) natildeo havia

no projeto do governo intenccedilotildees para inclusatildeo e aceitaccedilatildeo de convivecircncia com os

grupos culturais estrangeiros nas regiotildees de colonizaccedilatildeo

Em relatoacuterio sobre a nacionalizaccedilatildeo do ensino datado de 1940 o Instituto

Nacional de Estudos e Pedagoacutegicos (INEP) sob a direccedilatildeo do educador Lourenccedilo

Filho ao analisar a trajetoacuteria dos imigrantes e sua fixaccedilatildeo no Brasil constatou com

base nos relatoacuterios e depoimentos de historiadores pensadores poliacuteticos e

escritores que desde o seacuteculo XIX a presenccedila de estrangeiros no paiacutes era fator de

preocupaccedilatildeo (BOMENY 1999) Segundo a mesma autora a precariedade da

educaccedilatildeo nos estados da regiatildeo sul do paiacutes em destaque o Rio Grande do Sul

levava os colonos a optarem pelos coleacutegios privados alematildees Segundo o relatoacuterio

do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Sauacutede essa opccedilatildeo pelas escolas estrangeiras era

compreensiacutevel sendo culpa do Estado por permitir a criaccedilatildeo destas instituiccedilotildees sem

a vinculaccedilatildeo com os centros nacionais de cultura

63

A escola natildeo eacute um oacutergatildeo abstrato mas um centro de coordenaccedilatildeo da proacutepria accedilatildeo educativa da comunidade Tendo-se cometido o erro de permitir o nucleamento de estrangeiros sem maior vinculaccedilatildeo ou disciplina aos centros nacionais de cultura as instituiccedilotildees educativas que aiacute deveriam surgir seriam as que ensinassem em liacutengua estrangeira (BOMENY 1999 p154 apud INEP 1999 p8)

A preocupaccedilatildeo com a nacionalizaccedilatildeo do ensino eacute anterior ao Estado Novo

Em Foz do Iguaccedilu a educaccedilatildeo escolar das crianccedilas estava presente desde o

periacuteodo de instalaccedilatildeo da Colocircnia Militar em 1889 Na ausecircncia de escolas muitas

crianccedilas frequumlentavam o sistema educacional da Argentina cuja influecircncia

preocupava o governo da eacutepoca Em 1906 Siacutelvio Romero alertava sobre as

ameaccedilas em haver diferentes nacionalidades no Brasil Como soluccedilatildeo ele propocircs

que se ldquoaproveitasse de modo extensivo o proletariado nacional como elemento

colonizador perto do estrangeiro para educar-se com ele no trabalho e em troca

contribuir para o seu abrasileiramentordquo (BOMENY 1999 p154)

Na conferecircncia interestadual de Ensino Primaacuterio de 1921 encontra-se a fala

de Milton C A Cruz que justifica a deficiecircncia do ensino devido aos inuacutemeros

nuacutecleos estrangeiros isolados ldquoO espiacuterito dessas crianccedilas brasileiras formado em

liacutengua nos costumes nas tradiccedilotildees dos paiacutes soacute poderia tender para a paacutetria de

origem constituindo um empecilho agrave coesatildeo nacionalrdquo (BOMENY 1999 p154 apud

INEP 1999 p8)

Por determinaccedilatildeo do Estado Novo a prefeitura de Foz do Iguaccedilu passou a

promover uma administraccedilatildeo que visasse agrave ocupaccedilatildeo do territoacuterio brasileiro

valorizaccedilatildeo da liacutengua oficial e das moedas nacionais (SPERANCcedilA 1992 apud

LOPES 2004 p 49) Teve ainda que despachar suas documentaccedilotildees criar

anuacutencios comerciais listas de preccedilos ou avisos somente em liacutengua portuguesa

aleacutem da obrigatoriedade do uso da moeda brasileira Essas medidas foram tomadas

pois havia na regiatildeo grande influecircncia dos argentinos no lado brasileiro

Segundo Lopes (2004) a principal preocupaccedilatildeo do Estado Novo em relaccedilatildeo a

essa fronteira era a influecircncia Argentina Como outra medida de contenccedilatildeo dessa

influecircncia estrangeira o governo federal por meio do Decreto nordm 19842 de 1930

tornou obrigatoacuterio a contrataccedilatildeo de no miacutenimo dois terccedilos de trabalhadores nas

empresas estrangeiras presentes dentro do territoacuterio nacional

Diante das estrateacutegias que o Estado Novo desenvolveu para construir a ideacuteia

de naccedilatildeo a fronteira poliacutetica requeria a justificaccedilatildeo ideoloacutegica da comunidade

64

nacional Nessa premissa a escola enquanto instrumento de nacionalizar as

fronteiras foi fundamental

23 Da construccedilatildeo de Itaipu agrave lsquoondarsquo de migraccedilatildeo e imigraccedilatildeo seus

impactos na educaccedilatildeo

Com a queda de Getuacutelio Vargas em 1945 quando o paiacutes entrou por um

pequeno periacuteodo na fase de redemocratizaccedilatildeo os Territoacuterios do Iguaccedilu e Ponta

Poratilde foram extintos No campo da educaccedilatildeo a pedagoga Lucimara Lemiechek

aponta que vaacuterias foram agraves mudanccedilas em detrimento da promulgaccedilatildeo das Leis

Orgacircnicas e a ampliaccedilatildeo dos Cursos Normais (LEMIECHEK 2014 p 9) Nessa

mesma deacutecada em Foz do Iguaccedilu teve iniacutecio a primeira escola21 particular Jorge

Schimmelpfeng nas dependecircncias do primeiro Centro Espiacuterita fundado no

municiacutepio

Imagem VI - Escola Jorge Schimmelpfeng com crianccedilas carentes sob os cuidados do Capitatildeo Cyriacuteaco e de Joseacute Vicente Ferreira (os dois adultos agrave direta da foto rara)

Fonte Centro Espiacuterita Lidelfonso Correia

A deacutecada de 1950 e 1960 seguiu com um programa de escola de cunho

nacionalista e dualista em um periacuteodo marcado pelo programa desenvolvimentista

Cada vez mais os trabalhadores requeriam educaccedilatildeo diferenciada de um lado a

necessidade de matildeo de obra especializada e de outro a busca pelo status que a

educaccedilatildeo proporcionaria No ano de 1959 a Lei Municipal nordm 234 de 29 de outubro

de 1959 adota o programa de aboliccedilatildeo do analfabetismo

21

Vide imagem IV

65

Art 1ordm A Prefeitura de Foz do Iguaccedilu empreenderaacute uma campanha sistemaacutetica para aboliccedilatildeo do analfabetismo desde as crianccedilas de sete anos feitos aos adultos de qualquer idade (LEI 2341959) Art 2ordm Toda a crianccedila que completar sete anos de 1ordm de janeiro a 31 de dezembro deveraacute obrigatoriamente no comeccedilo do ano letivo imediato ser matriculada em escola puacuteblica ou particular cumprindo-lhes frequumlenta-la com assiduidade durante cinco anos na cidade e trecircs anos letivos nas zonas rurais (PME 2015 p 11)

Eacute nesse momento que chegam a Foz do Iguaccedilu as primeiras populaccedilotildees de

origem aacuterabe que saiacuteram de seus paiacuteses em decorrecircncia dos intensos conflitos

regionais e atraiacutedos pela oportunidade de explorar um mercado com grande

potencial de crescimento (RABOSSI 2007 p 292) Segundo Rabossi a primeira

cidade da Triacuteplice Fronteira em que eles se estabeleceram foi Foz do Iguaccedilu

principalmente na regiatildeo proacutexima da Ponte da Amizade inaugurada em 1965

passando a ligar a cidade brasileira a Ciudad del Este no Paraguai dando iniacutecio ao

comeacutercio na regiatildeo Em 1975 no contexto da Guerra do Liacutebano o comeacutercio dos

aacuterabes na fronteira estava consolidado fazendo com que atraiacutedos pelo comeacutercio e

fugindo da guerra outros grupos oriundos do Oriente Meacutedio imigrassem para a

regiatildeo da fronteiriccedila Segundo Silva (2008 p367) os uacuteltimos 30 anos recebeu um

grande nuacutemero de imigrantes de origem ldquoaacuterabe libaneses palestinos siacuterios

jordanianos bem como chineses coreanos e em nuacutemero bem menor hindus e

portugueses

A mesma autora aponta que duas escolas pertencem agrave comunidade aacuterabe

uma de ensino fundamental que ensina a liacutengua aacuterabe e a religiatildeo sunita vinculada

ao Centro Beneficente Islacircmico de Foz do Iguaccedilu uma organizaccedilatildeo cultural e

cientiacutefica A segunda escola Escola Aacuterabe Brasileira oferta ensino para o ensino

fundamental e meacutedio de acordo com as exigecircncias do Estado A especificidade

desta escola em relaccedilatildeo agraves demais do municiacutepio eacute a oferta do ensino da liacutengua

aacuterabe (SILVA 2008)

Na deacutecada de 1970 tambeacutem chegam a Foz do Iguaccedilu os primeiros imigrantes

chineses atraiacutedos pelo comeacutercio na regiatildeo Segundo Miao Shen Chen a regiatildeo da

triacuteplice fronteira abriga uma comunidade chinesa com aproximadamente quatro mil

indiviacuteduos Em Foz do Iguaccedilu haacute pelo menos mil chineses e descendentes Os

imigrantes tecircm agecircncias de turismo imobiliaacuterias construtoras especializadas em

atender os clientes orientais (CHEN 2010)

66

Apesar da implementaccedilatildeo da Lei Municipal nordm 234 de 1959 que estabelecia a

obrigatoriedade da educaccedilatildeo para aboliccedilatildeo do analfabetismo a escola seguia sendo

para poucos ao menos no que diz respeito agrave permanecircncia dos estudantes Os

alunos mais pobres abandonavam a escola muito cedo pois tinham que optar entre

estudar ou trabalhar para ajudar na subsistecircncia da famiacutelia (PME 2015 p 11)

Para Emer (1991) os colonos que aqui se encontravam diante da

precariedade das escolas mobilizaram-se para criar escolas para seus filhos

contribuindo para construccedilatildeo de inuacutemeros coleacutegios confessionais entre os anos de

1955 e 1965 (EMER 1991 p 125) Quanto agrave contrataccedilatildeo dos professores estes

deveriam ter o perfil que atendesse o grupo social

Destaca-se a criaccedilatildeo da primeira Escola Normal Colegial da regiatildeo Oeste do

Paranaacute a Escola Normal Iguaccedilu criada em 1957 em Foz do Iguaccedilu em um

contexto em que a populaccedilatildeo da cidade crescia e a demanda pelo ensino em

diversos niacuteveis aumentava havendo a necessidade de habilitar os professores para

o trabalho docente Ateacute o ano de 1957 Foz do Iguaccedilu contava com um Grupo

Escolar o Bartolomeu Mitre que atendia aproximadamente 400 crianccedilas uma Casa

Escolar com aproximadamente 80 alunos e cinco escolas rurais isoladas que

tinham capacidade para atender 250 alunos Foz do Iguaccedilu tinha capacidade para

atender aproximadamente 730 alunos no ensino primaacuterio o que era pouco diante da

crescente demanda sobretudo dos nuacutecleos urbanos e das aacutereas rurais aleacutem das

aacutereas distritais22

Ainda que tenha havido a criaccedilatildeo dos coleacutegios normais o relatoacuterio do plano

de desenvolvimento de Foz do Iguaccedilu de 1972 apontava que o corpo docente do

municiacutepio era constituiacutedo em sua maioria por professores sem habilitaccedilatildeo tanto

nas redes municipais e estaduais quanto nas privadas A justificativa para esta

qualificaccedilatildeo segundo o relatoacuterio estava no baixo niacutevel salarial que impedia os

qualificados de se dedicarem ao magisteacuterio Na zona rural a porcentagem era ainda

maior Cerca de 80 do pessoal natildeo qualificado atende ao ensino primaacuterio que

funcionava em 41 escolas isoladas e duas casas escolares Segundo o PDI

22 Dentre os distritos que ficavam sob a jurisdiccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu encontram-se Santa Terezinha

de Itaipu Itacoreacute Alvorada Medianeira dentre outros (SBARDELLOTO 2009 p 146)

67

O Estado que paga os melhores salaacuterios (Cr$ 41600) natildeo faz nomeaccedilotildees e a Prefeitura possuindo apenas 3 elementos em seu quadro efetivo percebendo Cr$ 28000 contrata os professores normalistas por apenas Cr$ 28000 e a professora leiga por 60 do salaacuterio miacutenimo (PDI 1972 p 114)

Quanto agrave estrutura do periacuteodo o relatoacuterio aponta que ateacute 1971 havia cinco

grupos escolares estaduais um privado uma casa escolar municipal e duas escolas

isoladas que segundo o relatoacuterio natildeo eram suficientes para atender a demanda

Quanto agrave estrutura o relatoacuterio aponta

Somente na Zona Urbana vamos encontrar preacutedios escolares de alvenaria com luz aacutegua encanada e instalaccedilotildees sanitaacuterias regulares Natildeo quer isto dizer que sejam instalaccedilotildees satisfatoacuterias pois deixam muito a desejar havendo falta de aacutegua e os miacutenimos requisitos agrave boa higiene dos escolares () Na zona rural os preacutedios satildeo todos de madeira sem as menores condiccedilotildees indispensaacuteveis agrave higiene escolar notando-se ausecircncia de atendimento sanitaacuterio e de sauacutede (PDI 1972 p 118)

No mesmo relatoacuterio o problema da evasatildeo eacute justificado com o argumento da

localizaccedilatildeo da cidade que por estar em uma regiatildeo de fronteira eacute caracterizada por

possuir uma populaccedilatildeo flutuante As escolas rurais por exemplo em periacuteodos de

colheita eram fechadas pois natildeo havia frequecircncia alguma uma vez que os alunos

estavam trabalhando nas lavouras Outro exemplo eacute a justificativa do baixo

rendimento escolar atribuiacutedo ao alto iacutendice de crianccedilas argentinas e paraguaias que

estudavam no lado brasileiro com a alegaccedilatildeo do problema do idioma que gerava

atraso em toda turma ldquoNo 1ordm ano o periacuteodo de preacute-alfabetizaccedilatildeo que normalmente

eacute feito em trecircs meses (no maacuteximo) chega a durar quase um anordquo (PDI 1972 p

125)

Este argumento que culpabiliza o aluno estrangeiro pelo atraso da turma natildeo

mudou muito Em pesquisa com professores da rede puacuteblica de Foz do Iguaccedilu

sobre a presenccedila de alunos brasiguaios nas escolas brasileiras citado no capiacutetulo

anterior Pires-Santos (2010) fala que alguns professores vecirc a presenccedila deste perfil

de aluno como um entrave um bdquocastigo‟ pois no seu entendimento seraacute difiacutecil

ensinaacute-los Outro destaque reside no fato de que estes relatoacuterios feitos em 1972

foram produzidos em nome do Estado que vivia sob o regime dos militares cuja

preocupaccedilatildeo com o estrangeiro no paiacutes se restringia nas questotildees de seguranccedila

nacional

68

No decorrer da deacutecada de 1970 a pauta da educaccedilatildeo segue em discussatildeo na

regiatildeo sobretudo com a reforma do ensino promulgada pela Lei 569271 Foz do

Iguaccedilu vivia nessa deacutecada os impactos da construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica de

Itaipu A cidade recebeu aproximadamente 40000 operaacuterios com suas respectivas

famiacutelias oriundas de vaacuterios estados do paiacutes para a construccedilatildeo da hidreleacutetrica O

aumento populacional gerado pela chegada dos trabalhadores na cidade fez com

que todas as obras de infraestrutura fossem feitas apressadamente dentre essas

os hospitais as moradias e escolas subsidiados pela Itaipu Um exemplo foi o

convecircnio entre a Prefeitura por meio da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo e

Cultura com a Itaipu que resultou na construccedilatildeo da escola Prof Parigot de Souza

no ano de 1975

() Fica o Chefe do Executivo Municipal autorizado a firmar convecircnio com a Empresa ITAIPU ndashBINACIONAL objetivando a aplicaccedilatildeo de recursos para pagamento de professores e demais servidores para o setor administrativo bem como da manutenccedilatildeo da nova unidade escolar preacute-fabricada construiacuteda na sede municipal onde seraacute instalada uma extensatildeo do Ginaacutesio Estadual bdquoDom Manoel Konnerrdquode Foz do Iguaccedilu‟

(Foz do Iguaccedilu Lei Municipal nordm 8821975 Art1ordm)

Com a construccedilatildeo da hidreleacutetrica o nuacutemero de escolas em Foz do Iguaccedilu

aumentou significativamente Na deacutecada de 1960 havia cerca de oito escolas

municipais na cidade na deacutecada de 1980 mais nove escolas e hoje segundo dados

da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo (2011) a cidade conta com 83 escolas

municipais e 82 estaduais 43 privadas e 04 filantroacutepicas

O periacuteodo que se estende da Colocircnia Militar de 1889 ateacute o fim da Era Vargas

(1930-1954) demonstrou que as raiacutezes pela qual as escolas foram criadas passou

pela construccedilatildeo de valores que satildeo constitutivos de uma ideal de naccedilatildeo Wachowicz

(1984) cita o ofiacutecio do general comandante da 5ordf Regiatildeo Militar em 1925 que

expressava a urgecircncia de se construir escolas nas zonas de fronteira haja vista que

a uacutenica soluccedilatildeo era enviar as crianccedilas para frequentar escola na Argentina O

incocircmodo do general se baseia na busca pelo estabelecimento de uma identidade

nacional ao Brasil pois a presenccedila de alunos brasileiros em escolas argentinas

representava um perigo A escola eacute um dos espaccedilos em que se bdquoimagina‟ se

constroacutei um identidade nacional ldquoNascida na ficccedilatildeo agrave identidade precisava de muita

coerccedilatildeo e convencimento para se consolidar e se concretizar numa realidaderdquo

(BAUMAN 2005 p 27)

69

Em siacutentese a escola natildeo eacute neutra mas perpassam tambeacutem outros interesses

que natildeo satildeo apenas os de ideais nacionalistas Ela eacute um espaccedilo marcado por

contradiccedilotildees Eacute o que o educador brasileiro Paulo Freire (1987) sugere ao natildeo

negar a influecircncia que determinado modo de se propor um modelo educativo pode

causar na sociedade Justamente por saber do potencial transformador da educaccedilatildeo

eacute que ele propunha um modelo para de educaccedilatildeo a partir da base da realidade na

qual o sujeito estaacute inserido

Em Foz do Iguaccedilu haacute a constataccedilatildeo de que o Estado esteve preocupado em

criar escolas a fim de bdquonacionalizar‟ a fronteira Braduel (2009) ao refletir acerca da

relaccedilatildeo entre Estado e territoacuterio e a ocupaccedilatildeo do espaccedilo afirma que ldquoEstados agem

como indiviacuteduos obstinando-se em delimitar seu domiciacutelio da mesma forma que

todo animal livre defende aquilo que ele considera ser o seu territoacuteriordquo (BRAUDEL

2009 p 262 apud Heinsfiel 2014 p 17)

Nessa perspectiva o Estado tem como foco a necessidade de delimitar seus

domiacutenios Domiacutenios estes que satildeo reforccedilados por instituiccedilotildees capazes de legitimar

essa loacutegica tais como as escolas Segundo Bourdieu (2008) um dos principais

poderes do Estado eacute impor categorias de pensamento categorias que noacutes

assumimos como naturais aparentemente espontacircneas mas que na verdade satildeo

impostas pelo Estado (BOURDIEU 2008 p 91)

24 A Educaccedilatildeo a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 O direito agrave diversidade nas

escolas

Com o processo de redemocratizaccedilatildeo e da nova Constituiccedilatildeo Federal

promulgada em 1988 houve um grande avanccedilo em termos de direitos civis No

caso da presenccedila de estrangeiros no paiacutes a Carta Magna assegura a todas as

pessoas brasileiras ou estrangeiras estando em situaccedilatildeo migratoacuteria regular ou

irregular o direito agrave educaccedilatildeo escolar Os princiacutepios escolares passaram a ter

como base a igualdade de condiccedilotildees para o acesso e permanecircncia nas escolas

da liberdade e do pluralismo de ideacuteias e concepccedilotildees pedagoacutegicas

Art 206 O ensino seraacute ministrado com base nos seguintes princiacutepios I - igualdade de condiccedilotildees para o acesso e permanecircncia na escola II - liberdade de aprender ensinar pesquisar e divulgar o pensamento a arte e o saber III - pluralismo de ideacuteias e de concepccedilotildees pedagoacutegicas e coexistecircncia de instituiccedilotildees puacuteblicas e

70

privadas de ensino IV - gratuidade do ensino puacuteblico em estabelecimentos oficiais (CF 1998)

Waldman (2012) destaca que a nova constituiccedilatildeo tem pela primeira vez o

princiacutepio da dignidade da pessoa humana como fundamental e afirmou como

objetivos fundamentais a ldquopromoccedilatildeo do bem para todos sem preconceitos de

origem raccedila sexo cor idade e quaisquer outras formas de discriminaccedilatildeordquo

(WALDMAN 2012 p63)

No campo das relaccedilotildees internacionais o Brasil se comprometeu pela

prevalecircncia dos direitos humanos pela cooperaccedilatildeo entre os povos e pela atenccedilatildeo

agrave integraccedilatildeo poliacutetica social e cultural da Ameacuterica Latina23 Estes pontos

apresentados satildeo importantes a serem considerados pois satildeo com base na CF

que a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional de 1996 seraacute elaborada e a

partir dela outros documentos importantes que toca agrave questatildeo da diversidade

eacutetnicas cultural e racial na educaccedilatildeo Alguns destes documentos satildeo o Curriacuteculo

da Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oeste do Paranaacute o Plano Estadual de Educaccedilatildeo

do Paranaacute e os Paracircmetros Curriculares Nacionais que seratildeo analisados no

proacuteximo capiacutetulo

23

Art 4ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes

princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos humanos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV - natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitosVIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismoIX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidadeX - concessatildeo de asilo poliacuteticoParaacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

71

CAPIacuteTULO III POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS PARA A EDUCACcedilAtildeO NA FRONTEIRA

ENTRE ARGENTINA BRASIL E PARAGUAI

31 Poliacuteticas Puacuteblicas conceitos e abordagens

O campo de estudos de poliacuteticas puacuteblicas avanccedilou nos uacuteltimos sessenta

anos tendo conformado uma literatura instrumental analiacutetica que contribuiu para a

compreensatildeo dos processos de natureza poliacutetico- administrativo (SECCHI 2013)

No Brasil segundo Faria (2003) a aacuterea de anaacutelise de poliacuteticas puacuteblicas ainda eacute

escassa Isso se comprova pela falta de anaacutelises mais sistemaacuteticas no que tange

aos processos de implementaccedilatildeo aleacutem da carecircncia em estudos que tratam de

metodologias e instrumentos de avaliaccedilatildeo destas poliacuteticas pelos trecircs niacuteveis de

governo legislativo executivo e judiciaacuterio

A fim de apresentar a analise de algumas poliacuteticas puacuteblicas (PP) que tratam

da questatildeo da educaccedilatildeo e diversidade cultural faz-se necessaacuterio apresentar o que

se compreende enquanto uma PP Teoacutericos apontam que seu significado natildeo

apresenta uma definiccedilatildeo uacutenica (SECCHI 2010 BONETI 2011) Assim utilizaremos

como definiccedilatildeo de PP as concepccedilotildees de Tamayo Saacuteez (1997) que a entende como

ldquoum conjunto de objetivos decisotildees e accedilotildees que levam a cabo um governo para

solucionar os problemasrdquo (TAMAYO SAEacuteZ 1997 p 2) Complementando esta

definiccedilatildeo citamos Lindomar Boneti (2006) e seu entendimento do que sejam

poliacuteticas puacuteblicas

Accedilatildeo que nasce do contexto social mas que passa pela esfera estatal como uma decisatildeo de intervenccedilatildeo puacuteblica numa realidade social determinada quer seja ela econocircmica ou social Ainda esclarece que as poliacuteticas puacuteblicas representam [] o resultado da dinacircmica do jogo de forccedilas que se estabelece no acircmbito das relaccedilotildees de poder relaccedilotildees estas constituiacutedas pelos grupos econocircmicos e poliacuteticos classes sociais e demais organizaccedilotildees da sociedade civil (BONETI 2006 p 76)

Eacute importante assinalar que as PPs mudam com o tempo e em consonacircncia

com o modelo de Estado vigente como as transformaccedilotildees que ocorrem em uma PP

dentro de um Estado autoritaacuterio para um Estado democraacutetico A criaccedilatildeo de uma PP

natildeo depende somente das decisotildees emanadas do poder puacuteblico Esse jogo de

72

forccedilas ao qual Boneti se refere satildeo concernentes agraves correlaccedilotildees realizadas com

agentes privados e da sociedade civil No entanto no sentido de responsabilizaccedilatildeo

por sua implementaccedilatildeo e permanecircncia compreende-se aqui que uma PP eacute

responsabilidade do Estado24

Dentre os aspectos a serem considerados no momento de escolher uma PP

os fatores culturais satildeo de fundamental importacircncia para a sua implementaccedilatildeo O

sucesso ou o fracasso de uma PP pode estar diretamente ligado ao contexto no qual

se insere

No que confere agrave anaacutelise de uma PP a mais aceita eacute aquela que busca

compreender como os formuladores de poliacutetica (policymakers) lidam com os

problemas com que se defrontam Nas palavras de Wildavsky

() o papel de Anaacutelise de Poliacutetica eacute encontrar problemas onde soluccedilotildees podem ser tentadas ou seja bdquoo analista deve ser capaz de redefinir problemas de uma forma que torne possiacutevel alguma melhoria‟ Portanto a Anaacutelise de Poliacutetica estaacute preocupada tanto com o planejamento como com a poliacutetica (politics) (WILDAVSKY 1979 apud RUA 2009 p 23)

Segundo Tamayo Saacuteez (1997) a anaacutelise de PP possui um caraacuteter

multidisciplinar Trata-se de um conjunto de teacutecnicas conceitos e estrateacutegias

oriundas de diferentes disciplinas - ciecircncia poliacutetica antropologia sociologia

psicologia e da teoria da organizaccedilatildeo - cujo objetivo eacute interpretar as causas e

consequumlecircncias das accedilotildees do governo Conforme este argumento eacute importante

ressaltar que os atores que analisam determinada PP o fazem a partir de seus

valores sua capacidade teacutecnica seus interesses e o grau de informaccedilatildeo Tais

fatores satildeo fundamentais para compreensatildeo destas anaacutelises

Por poliacuteticas puacuteblicas educacionais compreende-se tudo aquilo que um

governo faz ou deixa de fazer em mateacuteria de educaccedilatildeo No que tange agrave poliacutetica

educacional brasileira esta deve ser pensada em contexto amplo onde fatores

como a constituiccedilatildeo federal a poliacutetica nacional de direitos humanos e os acordos e

tratados internacionais devem ser considerados assim como os fatores sociais e

culturais da sociedade (SILVA MOURA MELLO 2013)

24

Mas vale dizer que natildeo necessariamente uma poliacutetica puacuteblica eacute apenas estatal

73

Segundo Azevedo e Aguiar (2001) os estudos sobre as poliacuteticas

educacionais no Brasil satildeo recentes mas encontram-se em processo de construccedilatildeo

e crescimento As pesquisas e publicaccedilotildees sobre as poliacuteticas educacionais possuem

dois eixos de estudos o primeiro refere-se aos de caraacuteter teoacuterico com questotildees

mais amplas acerca do processo de formulaccedilatildeo de poliacuteticas abarcando mudanccedilas

no papel do Estado das redes de influecircncia no desenvolvimento de formulaccedilatildeo de

poliacuteticas o segundo trata da anaacutelise e avaliaccedilatildeo de poliacuteticas e programas

(MAINARDES 2006) Quanto ao primeiro eixo ao destacar a funccedilatildeo do Estado na

definiccedilatildeo e implementaccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica Mainardes (2006) explica que

natildeo se trata de defender que o Estado ou os governos decidam por implementar as

poliacuteticas puacuteblicas mas isso reflete as pressotildees de diferentes grupos de interesse

Citando Evans Rueschmeyer e Skocpol (1985) Souza (2006) se aproxima da

perspectiva teoacuterica que defende uma autonomia relativa do Estado ldquoque faz com

que o mesmo tenha um espaccedilo proacuteprio de atuaccedilatildeo embora permeaacutevel a influecircncias

externas e internasrdquo (SOUZA 2006 p27 apud Evans Rueschmeyer e Skocpol

1985)

Os dois eixos foram abordados nesta dissertaccedilatildeo pois considera-se

importante conhecer os principais aspectos histoacutericos das poliacuteticas educativas no

Brasil e sua relaccedilatildeo com o Estado para posteriormente tratar da anaacutelise das

poliacuteticas escolhidas O modelo denominado de ciclo de poliacuteticas puacuteblicas seraacute o

recurso utilizado para analise das poliacuteticas educacional

O ciclo de poliacutetica tem adquirido importacircncia progressiva nos estudos sobre a

elaboraccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica principalmente por consistir em uma serie de etapas

que envolve o processo poliacutetico-administrativo os atores suas relaccedilotildees recursos de

poder as relaccedilotildees poliacuteticas sociais e as praacuteticas Saravia e Ferrarezi (2006p32)

descrevem sete etapas deste ciclo primeiro uma agenda poliacutetica que eacute a

necessidade social de elaborar determinada poliacutetica puacuteblica em segundo a

elaboraccedilatildeo propriamente dita da poliacutetica puacuteblica para identificar e delimitar um

problema seja ele atual ou que pode vir a ser necessaacuterio Com isto determinam-se

as alternativas para a soluccedilatildeo a partir das possiacuteveis soluccedilotildees para o problema

formula-se a alternativa mais cabiacutevel pra sua implementaccedilatildeo que deve ser

constituiacuteda por meio do ldquoplanejamento e organizaccedilatildeo do aparelho administrativo e

dos recursos humanos financeiros materiais e tecnoloacutegicos necessaacuterios para

executar uma poliacuteticardquo (SARAVIA p34) A proacutexima etapa eacute a execuccedilatildeo destinada a

74

atingir os objetivos traccedilados pela poliacutetica ldquoEssa etapa inclui o estudo dos

obstaacuteculos que normalmente se opotildeem agrave transformaccedilatildeo de enunciados em

resultados e especialmente a anaacutelise da burocraciardquo (SARAVIA 2006 p 34) A

sexta etapa reside no acompanhamento que eacute o processo de supervisatildeo da

execuccedilatildeo de uma atividade a fim de fornecer a ldquoinformaccedilatildeo necessaacuteria para

introduzir eventuais correccedilotildees a fim de assegurar a consecuccedilatildeo dos objetivos

estabelecidosrdquo (SARAVIA 2006 p34) Por uacuteltimo temos a avaliaccedilatildeo que consiste

em analisar os impactos das poliacuteticas implementadas para a sociedade

Saravia (2006) explica que esta sequecircncia eacute mais uma esquematizaccedilatildeo

teoacuterica do que ocorre na praacutetica Nem sempre essas etapas satildeo consideradas Eacute o

caso de muitos paiacuteses da Ameacuterica Latina onde os programas de ajuste estrutural

natildeo consideraram as primeiras etapas iniciais de sua elaboraccedilatildeo os resultados

sociais possiacuteveis Como consequumlecircncia os indicadores da educaccedilatildeo da sauacutede da

previdecircncia social da habitaccedilatildeo do emprego e de outros setores sociais mostram a

existecircncia de uma situaccedilatildeo difiacutecil que se agrava com o tempo (SARAVIA 2006

p35-36)

32 Caminhos das poliacuteticas educacionais no Brasil

No Brasil por muito tempo as poliacuteticas puacuteblicas para educaccedilatildeo ficaram

aqueacutem do esperado Valle (2009) aponta que no decorrer do periacuteodo colonial ou do

Impeacuterio natildeo haacute registros de uma real preocupaccedilatildeo com as poliacuteticas puacuteblicas de

Educaccedilatildeo (VALLE 2009) Arauacutejo (2011) explica que eacute recente a ideia de um ldquoEstado

em accedilatildeordquo no sentido de promover poliacuteticas para educaccedilatildeo (ARAUacuteJO 2011 p236)

Em um contexto onde sociedade e economia fundamentaram suas bases em um

modelo econocircmico agroexportador e na matildeo-de-obra escrava a preocupaccedilatildeo com a

educaccedilatildeo surgiu muito tarde

Maria Luisa Ribeiro (1992) escreve que no periacuteodo colonial a poliacutetica

educacional esteve vinculada agrave poliacutetica colonizadora dos portugueses (RIBEIRO

1992 p 20) A historiadora Maria Luiza Marciacutelio (2005) acrescenta estes dados ao

traccedilar as principais caracteriacutesticas do sistema educacional brasileiro no periacuteodo que

se estende de 1554 a 1759 ao explicar que o uacutenico ensino formal presente ateacute

meados do seacuteculo XVIII era oferecido pela Companhia de Jesus que era

75

basicamente elitista atendendo em grande parcela ldquojovens brancos proprietaacuterios

de terras famiacutelias da elite colonial aleacutem de introduzir nas primeiras letras do

catecismo elementar as crianccedilas iacutendias das aldeias jesuiacutetasrdquo (MARCIacuteLIO 2005

p42)

Saviani (2008) aponta que o primeiro documento de poliacutetica educacional foi

editado em 1548 e encontrado nos ldquoRegimentosrdquo de DJoatildeo III com a finalidade de

orientar as accedilotildees do governador geral do Brasil Tomeacute de Souza que veio com a

companhia de mais quatro padres e dois irmatildeos jesuiacutetas liderados por Manuel da

Noacutebrega

Nesse mesmo ano os jesuiacutetas receacutem-chegados deram iniacutecio agrave obra educativa centrada na catequese guiados pela orientaccedilatildeo contida nos referidos bdquoRegimentos‟ cumprindo pois um mandato que lhes fora delegado pelo rei de Portugal Nessa condiccedilatildeo cabia agrave coroa manter o ensino mas o rei enviava verbas para a manutenccedilatildeo e a vestimenta dos jesuiacutetas natildeo para construccedilotildees (SAVIANI 2008 p8)

No que se refere agrave inclusatildeo da populaccedilatildeo na instituiccedilatildeo jesuiacutetica Marciacutelio

(2005) aponta que no periacuteodo da expulsatildeo dos jesuiacutetas em 1759 a soma de todos

os alunos natildeo atingia 01 da populaccedilatildeo brasileira Em um cenaacuterio que contava

com 50 da populaccedilatildeo constituiacuteda por mulheres e 40 de escravizados aleacutem de

negros livres pardos filhos ilegiacutetimos e crianccedilas abandonadas todos estes ficavam

agrave margem do sistema de ensino Ao todo os jesuiacutetas ficaram agrave frente da educaccedilatildeo

brasileira por mais de dois seacuteculos ateacute a expulsatildeo (MARCIacuteLIO 2005 p3)

A segunda fase de poliacuteticas educacionais no Brasil foi marcada pelas

reformas pombalinas para instruccedilatildeo puacuteblica Com a instalaccedilatildeo da coroa portuguesa

no Brasil Colonial em 1808 a educaccedilatildeo ganhou novos significados Uma ldquoseacuterie de

cursos tanto profissionalizantes em niacutevel meacutedio como em niacutevel superior bem como

militares foram criados para fazer do local algo realmente parecido com uma Corterdquo

(GHIRALDELLI JR 2001 p 16) Deste modo o periacuteodo compreendido como

pedagogia pombalina (1759-1827) corresponde agraves primeiras tentativas de se instituir

uma escola puacuteblica estatal

As reformas pombalinas contrapotildeem-se ao predomiacutenio das ideacuteias religiosas e com base nas ideacuteias laicas inspiradas no Iluminismo institui o privileacutegio do Estado em mateacuteria de instruccedilatildeo surgindo assim a nossa versatildeo da bdquoeducaccedilatildeo puacuteblica estatal‟ (LUZURIAGA 1959 p23-39 apud SAVIANE 2008 p9)

76

Quando Dom Pedro I assume o poder no periacuteodo Regencial a maioria da

populaccedilatildeo seguia analfabeta A independecircncia poliacutetica natildeo alterou o quadro da

situaccedilatildeo de ensino ao menos de imediato Para Joatildeo Cruz Costa citado por

Romanelli (1985) o processo de independecircncia significava ldquosimples transferecircncia de

poderes dentro de uma mesma classe [a independecircncia] entregaria a direccedilatildeo da

nova accedilatildeo aos proprietaacuterios de terras de engenhos e aos letradosrdquo (COSTA 1980

apud ROMANELLI 1985 p 39)

Eacute neste contexto que comeccedila uma nova fase no campo da educaccedilatildeo tendo

como marco inicial a lei das Escolas das Primeiras letras de 1827 com o objetivo de

ensinar toda a populaccedilatildeo brasileira conforme o artigo de nuacutemero 6 presente na Lei

de 15 de outubro de 1827

() Art 6ordm - Os professores ensinaratildeo a ler escrever as quatro operaccedilotildees de aritmeacutetica praacutetica de quebrados decimais e proporccedilotildees as noccedilotildees mais gerais de geometria praacutetica a gramaacutetica de liacutengua nacional e os princiacutepios de moral cristatilde e da doutrina da religiatildeo catoacutelica e apostoacutelica romana proporcionados agrave compreensatildeo dos meninos preferindo para as leituras a Constituiccedilatildeo do Impeacuterio e a Histoacuteria do Brasil (BRASIL 1827)

No final do seacuteculo XIX marcado pelas influecircncias do positivismo25 comeccedilou no paiacutes

um movimento pela desoficializaccedilatildeo do ensino no Estado defendendo a liberdade

das profissotildees Com isso foram surgindo escolas privadas de benemerecircncia que se

propunham a ofertar ensino gratuito Essa tendecircncia de desoficializaccedilatildeo culminou

com a Reforma Leocircncio de Carvalho em 1879 (SAVIANI 2008) Saviani chama

atenccedilatildeo para este fato ao criticar o fato de que desde iniacutecio das primeiras poliacuteticas

educacionais brasileiras houve certa ldquopromiscuidaderdquo na relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o

privado A comeccedilar com a educaccedilatildeo jesuiacutetica que em alguma medida era puacuteblica

mas a entidade que o ofertava natildeo

Conforme Santos (2011) somente a partir do final do seacuteculo XIX e iniacutecio do

XX periacuteodo de transiccedilatildeo para um modelo de desenvolvimento moderno

25

Por Positivismo compreende-se agora de modo mais amplo a filosofia desenvolvida por Augusto Comte que se caracteriza conjuntamente pela expressa confianccedila nos benefiacutecios da industrializaccedilatildeo no otimismo em relaccedilatildeo ao progresso capitalista no culto agrave ciecircncia e a valorizaccedilatildeo do meacutetodo cientiacutefico voltados a uma reforma intelectual da sociedade (COTRIM 1993 p 189)

77

intervencionista foi que a educaccedilatildeo passou a ser reclamada como um condicionante

necessaacuterio para o desenvolvimento do paiacutes Conforme Romanelli (1985) o seacuteculo

XIX fora marcado pelo surgimento de uma nova camada intermediaacuteria tambeacutem

chamada de pequena burguesia Esta classe explica a autora foi fundamental para

a evoluccedilatildeo poliacutetica no Brasil monaacuterquico e para mudanccedilas pelas quais passou o

regime no final do seacuteculo (ROMANELLI 1985 p37)

No periacuteodo republicano outra modalidade de poliacuteticas educacionais se

desenvolveu por volta de 1890 com a implantaccedilatildeo progressiva das escolas

graduadas apoiadas nas escolas normais que comeccedilaram a ser consolidadas sob o

fluxo do iluminismo republicano

Esse periacuteodo abrange de 1890 quando se daacute no estado de Satildeo Paulo a organizaccedilatildeo da escola normal graduada ateacute 1931 quando eacute promulgada a reforma Francisco Campos dando iniacutecio ao processo de regulamentaccedilatildeo ao sistema de ensino em acircmbito nacional (SAVIANI 2004a p20-21)

Somente a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX eacute que podemos

encontrar registros das primeiras lutas por uma educaccedilatildeo e escola de qualidade

puacuteblica e gratuita Valle (2009) aponta que a poliacutetica educacional brasileira foi

marcada pela criaccedilatildeo da Universidade do Rio de Janeiro em 1920 hoje

Universidade Federal do Rio de Janeiro ndash UFRJ ndash pelas organizaccedilotildees colegiadas

como a Associaccedilatildeo Brasileira de Educaccedilatildeo fundada em 1924 liderada pelos

reformadores do movimento Escola Nova cujo marco encontra-se no lanccedilamento do

Manifesto dos Pioneiros da Educaccedilatildeo na deacutecada de 1930 (VALLE 2009 p22)

Acerca deste Manifesto escreve Santos (2011)

Lanccedilado em 1932 o Manifesto foi sobretudo um documento de poliacutetica educativa no qual para aleacutem da defesa da Escola Nova estava a causaluta maior dapela escola puacuteblica laica sendo esta responsabilidade do Estado Ressalto que as diretrizes desse manifesto influenciaram a Constituiccedilatildeo de 1934 (FREITAS 2005 SAVIANI 2005 apud SANTOS 2011 p2)

Em 1930 ano em que tecircm iniacutecio a Era Vargas eacute criado o Ministeacuterio dos

Negoacutecios da Educaccedilatildeo e Sauacutede Este periacuteodo eacute considerado por Saviani (2008) o

iniacutecio da sexta modalidade de poliacuteticas educacionais marcado pela reforma

Francisco Campos em 1931 e caracterizada pela regulamentaccedilatildeo em acircmbito

nacional das escolas superiores secundaacuterias e primaacuterias incorporando

78

crescentemente as concepccedilotildees pedagoacutegicas renovadoras ateacute a criaccedilatildeo da LDB em

1961

As propostas de poliacuteticas educacionais dos reformadores dentre eles Aniacutesio

Teixeira e Lourenccedilo Filho natildeo foram bem recebidas pelo movimento de 1930

Apesar das controveacutersias houve marcos importantes como aponta Santos (2011)

com os seguintes decretos

1) Decreto 19850 de 11 de abril de 1931 que criou o Conselho Nacional de Educaccedilatildeo 2) Decreto 19851 de 11 de abril de 1931 que dispocircs sobre a organizaccedilatildeo do ensino superior no Brasil e adotou o regime universitaacuterio 3) Decreto 19852 de 11 de abril de 1931 que dispocircs sobre a organizaccedilatildeo da Universidade do Rio de janeiro 4) Decreto 19890 de 18 de abril de 1931 que dispocircs sobre a organizaccedilatildeo do ensino secundaacuterio 5) Decreto 19941 de 30 de abril de 1931 que instituiu o ensino religioso como mateacuteria facultativa nas escolas puacuteblicas do paiacutes 6) Decreto 20158 de 30 de junho de 1931 que organizou o ensino comercial e regulamentou a profissatildeo de contador 7) Decreto 21241 de 14 de abril de 1932 que consolidou as disposiccedilotildees sobre a organizaccedilatildeo do ensino secundaacuterio (SANTOS 2011 p 2)

De acordo com Ribeiro (1992) de 1931 a 1937 foram realizados inuacutemeros

congressos e conferecircncias nos quais se discutiam os caminhos possiacuteveis para a

elaboraccedilatildeo de um plano nacional para educaccedilatildeo Nestes debates haviam duas

vertentes

Uma jaacute era tradicional representada pelos educadores catoacutelicos que defendiam a educaccedilatildeo subordinada agrave doutrina religiosa (catoacutelica) a educaccedilatildeo em separado e portanto diferenciadas pelos sexos masculino e feminino o ensino particular a responsabilidade da famiacutelia quanto agrave educaccedilatildeo etc Outra era representada pelos educadores influenciados pelas bdquoideacuteias novas‟ e que defendiam a laicidade a co- educaccedilatildeo a gratuidade a responsabilidade puacuteblica em educaccedilatildeo etc (RIBEIRO 1992 p99)

Em um contexto onde o mundo presenciava as experiecircncias de paiacuteses com

ideologias fascistas e comunistas os grupos de educadores que debatiam a

educaccedilatildeo agrave eacutepoca diziam ser contraacuterios agrave monopolizaccedilatildeo do ensino por parte do

Estado Com isto o movimento escola novista e sua ideia da educaccedilatildeo ser de

responsabilidade puacuteblica passam a ser assimiladas agraves ideias comunistas

79

Em 1934 eacute outorgada uma nova Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica que segundo

Ribeiro (1992) apesar de seu caraacuteter contraditoacuterio ao atender as reivindicaccedilotildees

sobretudo dos reformadores catoacutelicos conseguiu destacar a educaccedilatildeo dedicando-

lhe um capiacutetulo especiacutefico para o assunto Entatildeoldquoa reivindicaccedilatildeo catoacutelica quanto ao

ensino religioso eacute atendida assim como outras ligadas aos representantes das

ldquoideacuteias novasrdquo (CapI art 5ordmXIV 1934 apud RIBEIRO 1992 p104)

A partir de 1937 quando o golpe militar instaura o Estado Novo algumas

premissas satildeo mantidas como a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino primaacuterio

Institui-se como obrigatoacuterio o ensino de trabalhos manuais nas escolas primaacuterias

normais e secundaacuterias Tambeacutem fica estabelecido o programa escolar em termos de

ensino preacute-vocacional orientado agraves classes menos favorecidas No artigo 129 o

regime de cooperaccedilatildeo entre a induacutestria e o Estado eacute fixado (RIBEIRO 1992 p114-

115)

O periacuteodo do Estado Novo que durou sessenta anos foi um periacuteodo

marcante para a educaccedilatildeo pois traduziu o que aquele regime poliacutetico pretendeu

executar no Brasil Nas palavras de Helena Bomeny (1999)

Formar um bdquohomem novo‟ para um Estado Novo conformar mentalidades e criar o sentimento de brasilidade fortalecer a identidade do trabalhador ou por outra forjar uma identidade positiva no trabalhador brasileiro tudo isso fazia parte de um grande empreendimento cultural e poliacutetico para o sucesso do qual contava-se estrategicamente com a educaccedilatildeo por sua capacidade universalmente reconhecida de socializar os indiviacuteduos nos valores que as sociedades atraveacutes de seus segmentos organizados querem ver internalizados (BOMENY1999p139)

Bomeny apresenta quatro decretos que remetem ao fechamento das escolas

estrangeiras

O Decreto lei ndeg 383 de 18 de abril de 1938 que proibia aos

estrangeiros o exerciacutecio de atividades poliacuteticas no Brasil o Decreto ndeg 406 de 4 de maio 1938 que regulamentava o ingresso e a permanecircncia de estrangeiros ditando providecircncias para sua assimilaccedilatildeo e criando o Conselho de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo como oacutergatildeo executor de suas disposiccedilotildees o Decreto ndeg 868 de 18 de novembro de 1938 que instituiu a Comissatildeo Nacional de Ensino Primaacuterio que possuiacutea entre suas atribuiccedilotildees a nacionalizaccedilatildeo do ensino nos nuacutecleos estrangeiros e o Decreto ndeg 948 de 13 de dezembro do mesmo ano que considerando a complexidade das medidas para promover a assimilaccedilatildeo dos colonos e completa nacionalizaccedilatildeo dos filhos de imigrantes estabelecia que as medidas fossem tomadas pelo Conselho de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo (BOMENY 1999 p 158)

80

Em documento dirigido a Getuacutelio Vargas em 1939 o entatildeo Ministro de

Guerra Eurico Gaspar Dutra apontou a educaccedilatildeo como um dos setores

intimamente ligados agrave seguranccedila nacional ldquoO problema da educaccedilatildeo apreciado em

toda a sua amplitude natildeo pode deixar de constituir uma das mais graves

preocupaccedilotildees das autoridades militaresrdquo (Arquivo Osvaldo Aranha AO 390418

FGVCPDOC apud BOMENY 1999 p139)

Com o fim do Estado Novo a nova constituiccedilatildeo caracterizada por seu caraacuteter

liberal e democraacutetico possibilitou algumas mudanccedilas na educaccedilatildeo O novo Ministro

da Educaccedilatildeo regulamentou em 1946 o Ensino Primaacuterio e o Ensino Normal aleacutem do

Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC Neste contexto o Brasil

passou a viver o que se denominou como periacuteodo nacional-desenvolvimentista No

plano internacional o mundo vivia o poacutes-guerra momento marcado pela

reconstruccedilatildeo dos paiacuteses envolvidos o que levou a uma grande fase de crescimento

econocircmico em niacutevel mundial conhecida como a ldquoa era de ourordquo acarretando no que

ficou conhecido como Estado de Bem-Estar Social

O Estado de bem-estar social era um projeto cogente para recuperar o vigor e a capacidade de expansatildeo dos paiacuteses capitalistas apoacutes a tensatildeo social econocircmica e poliacutetica do periacuteodo entre guerras Tanto que o estabelecimento do Estado de bem-estar social entre as deacutecadas de 1940 e 1960 ficou conhecido como bdquoera dourada do capitalismo‟ por ser um momento de desenvolvimento econocircmico com garantias sociais e oferecimento praticamente de emprego pleno para a maioria da populaccedilatildeo nos paiacuteses mais desenvolvidos (VICENTE 2009 p124)

Apoacutes a reconstruccedilatildeo dos paiacuteses envolvidos na guerra ocorreu o processo de

internacionalizaccedilatildeo do capital O avanccedilo do capitalismo para paiacuteses como o Brasil

implicou em uma nova forma de desenvolvimento As ideacuteias por uma poliacutetica

nacional-desenvolvimentista foram propagadas principalmente pelo Instituto

Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) criado em 1955 durante o governo interino

de Cafeacute Filho No governo de Juscelino Kubitschek o ISEB passa a ser o braccedilo do

governo no sentido de propagar a mentalidade nacional para o desenvolvimento

A deacutecada de 1960 eacute caracterizada por uma sociedade brasileira marcada pelo

processo crescente de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo e pelas mudanccedilas nas

relaccedilotildees de trabalho no campo Na mesma intensidade aumentavam as

81

desigualdades sociais o que mobilizou setores da sociedade em lutas por reformas

de base com vistas agrave reduccedilatildeo dessas desigualdades sociais (NASCIMENTO 2006)

No que se refere ao perfil que tomam as poliacuteticas educacionais nesse periacuteodo

Saviani (2005) aponta que

[] se o periacuteodo situado entre 1930 e 1945 pode ser considerado como marcado pelo equiliacutebrio entre as influecircncias das concepccedilotildees humanista tradicional (representada pelos catoacutelicos) e humanista moderna (representada pelos pioneiros da educaccedilatildeo nova) a partir de 1945 jaacute se delineia como nitidamente predominante a concepccedilatildeo humanista moderna (SAVIANI 2005 p14)

Para o autor o foco no desenvolvimento econocircmico do paiacutes que por sua vez geraria

o desenvolvimento em outras instacircncias da sociedade acabou por gerar uma

inversatildeo do ensino puacuteblico A escola passou a ser instrumento para servir agrave loacutegica

do mercado por meio da pedagogia tecnicista26

No periacuteodo que se estende de 1964-1984 periacuteodo da ditadura militar todo o

aparelho estatal fora reformulado em nome da seguranccedila interna

Definindo a seguranccedila interna como accedilatildeo-resposta a um processo subversivo devendo ser conduzida em termos de aplicaccedilatildeo global do Poder Nacional dentro de uma Estrateacutegia Nacional especiacutefica A Escola Superior de Guerra considerava que essa accedilatildeo-resposta se delineava atraveacutes de trecircs atitudes estrateacutegicas preventiva repressiva e operativa (MIRANDA 1970 p18 apud SAVIANI 2004 p119)

Desse modo as accedilotildees preventivas procuravam evitar aquilo que era

entendido como subversivo As accedilotildees repressivas procuravam impedir a praacutetica

subversiva e as accedilotildees operativas destinavam-se a eliminar esses focos mediante a

accedilatildeo armada Em outras palavrasldquoo Poder Nacional tal como concebido pela

ideologia da interdependecircncia eacute acionado para destruir a autonomia nacional nos

termos da ideologia nacional-desenvolvimentistardquo (SAVIANI 2004 p120)

26

A partir do pressuposto da neutralidade cientiacutefica e inspirada nos princiacutepios de racionalidade eficiecircncia e produtividade a pedagogia tecnicista advogou a reordenaccedilatildeo do processo educativo de maneira a tornaacute-lo objetivo e operacional De modo semelhante ao que ocorreu no trabalho fabril pretendeu-se a objetivaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico Buscou-se entatildeo com base em justificativas teoacutericas derivadas da corrente filosoacutefico-psicoloacutegica do behaviorismo planejar a educaccedilatildeo de modo a dotaacute-la de uma organizaccedilatildeo racional capaz de minimizar as interferecircncias subjetivas que pudessem pocircr em risco sua eficiecircncia (SAVIANI 2009 p11-12)

82

Eacute neste contexto que eacute possiacutevel compreender todas as poliacuteticas educacionais

durante o regime militar Destaca-se o Mobral27 seguido das reformas de ensino de

primeiro segundo e terceiros graus a criaccedilatildeo dos Centros Rurais Universitaacuterios de

Treinamento e Accedilatildeo Comunitaacuteria (CRUTACS) os Centros Sociais Urbanos o

Projeto Rondon a Empresa Brasileira de Notiacutecias (EBN) etc (SAVIANI 2004)

O periacuteodo ditatorial ao longo de duas deacutecadas que serviram de palco para o revezamento de cinco generais na presidecircncia da repuacuteblica se pautou em termos educacionais pela repressatildeo privatizaccedilatildeo de ensino exclusatildeo de boa parcela das classes populares do ensino profissionalizante tecnicismo pedagoacutegico e desmobilizaccedilatildeo do magisteacuterio atraveacutes de abundante e confusa legislaccedilatildeo educacional Soacute uma visatildeo otimistaingecircnua poderia encontrar indiacutecios de saldo positivo na heranccedila deixada pela ditadura militar (GHIRALDELLI 1990 p163)

Em 1979 o Brasil dava iniacutecio ao lento e gradual processo de abertura

democraacutetica que teve iniacutecio no governo de General Geisel (1974-1979) A transiccedilatildeo

democraacutetica se fez seguindo a estrateacutegia de conciliaccedilatildeo pelo alto a fim de dar

prosseguimento agrave ordem socioeconocircmica vigente Naquele momento o mundo vivia

as consequumlecircncias da chamada crise do petroacuteleo que teve seu iniacutecio na deacutecada de

1970 As implicaccedilotildees da crise levaram os paiacuteses a tomarem medidas de

desregulamentaccedilatildeo da economia privatizaccedilotildees e destituiccedilatildeo do Estado de bem-

estar social Nesse contexto nasce o chamado neoliberalismo Neo quer dizer novo

e liberalismo refere-se ao pensamento claacutessico que serviu de base ao capitalismo

Segundo Anderson (1995) ldquoo neoliberalismo nasceu logo depois da II Guerra

Mundial como uma reaccedilatildeo teoacuterica e poliacutetica veemente contra o Estado

intervencionista e de bem-estarrdquo (ANDERSON 1995 p 9)

Na Ameacuterica Latina o efeito da crise fez com que os paiacuteses adotassem os

ajustes neoliberais orientados pelo Banco Mundial Fundo Monetaacuterio Internacional e

o governo dos Estados Unidos apoacutes o ldquoConsenso de Washingtonrdquo28 Os impactos

27

O Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo foi criado pela Lei Nordm 5379 de 15121967 e tinha como

prioridade promover a alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo continuada para jovens e adultos analfabetos Esteve embasada nas proposiccedilotildees de educaccedilatildeo funcional presente nos documentos da UNESCO em 1958 durante o Congresso Mundial de Ministros O MOBRAL teve iniacutecio em 1970 e foi caracterizado do ponto de vista teacutecnico como proacuteximo aos meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo de Paulo Freire que partia das palavras-chaves mas suas orientaccedilotildees pedagoacutegicas eram controladas e supervisionadas pelo governo 28

Em novembro de 1989 reuniram-se na capital dos Estados Unidos funcionaacuterios do governo norte-americano e dos organismos financeiros internacionais ali sediados - FMI Banco Mundial e BID - especializados em assuntos latino-americanos O objetivo do encontro convocado pelo Institute for

83

de tais ajustes perpassam pelo campo das reformas educacionais que devem estar

condicionadas agrave loacutegica do mercado bem como da sauacutede da alimentaccedilatildeo do

trabalho e do salaacuterio (SOARES 2000)

Nesse novo contexto as poliacuteticas educacionais satildeo marcadas por um

neoconservadorismo recheado de contradiccedilotildees e ambiguumlidades presentes nas

principais poliacuteticas educacionais que por sua vez foram resultado do debate entre

diversos setores da sociedade que queriam ver seus interesses contemplados nas

poliacuteticas educacionais somadas agraves deliberaccedilotildees dos organismos multilaterais para

a educaccedilatildeo

33 Poliacuteticas educacionais a partir da Constituiccedilatildeo de 1988

Segundo Gabriele Sapio (2010) a Constituiccedilatildeo Federal (CF) eacute ldquouma das

cartas constitucionais mais adiantadas e progressistas do mundo em mateacuteria de

proteccedilatildeo dos direitos sociais fundamentais coletivos e individuaisrdquo (SAPIO 2010

sn) No Brasil a Constituiccedilatildeo de 1988 eacute considerada um avanccedilo no sentido de

assegurar direitos sociais dentre eles o acesso agrave educaccedilatildeo

No que concerne agrave educaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo tem uma seccedilatildeo especiacutefica

destinada agrave mesma Seccedilatildeo I do capiacutetulo III Da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto

A constituiccedilatildeo de 1988 marca o retorno do Brasil para a democracia No contexto de

sua elaboraccedilatildeo houve inuacutemeros debates por parte dos setores da sociedade de

movimentos sociais a grupos dominantes que queriam ver seus interesses

contemplados na Carta Magna afirma Ghiraldelli Jr (2001 p 169) O mesmo autor

ao analisar a Carta de 1988 onde se discute a educaccedilatildeo informa que este aspecto

natildeo eacute soacute tratado em um artigo especiacutefico mas perpassa por outros toacutepicos

Na Carta de 1988 a educaccedilatildeo natildeo veio contemplada apenas no seu local proacuteprio no toacutepico especiacutefico destinada a ela mas veio tambeacutem espalhada em outros toacutepicos Assim no tiacutetulo sobre direitos e

International Economics sob o tiacutetulo Latin American Adjustment How Much Has Happened era proceder a uma avaliaccedilatildeo das reformas econocircmicas empreendidas nos paiacuteses da regiatildeo Para relatara experiecircncia de seus paiacuteses tambeacutem estiveram presentes diversos economistas latino-americanos Agraves conclusotildees dessa reuniatildeo eacute que se daria subsequentemente a denominaccedilatildeo informal de Consenso de Washingtonrdquo (BATISTA 1994 p 5)

84

garantias fundamentais a educaccedilatildeo apareceu como um direito social junto da sauacutede do trabalho do lazer da seguranccedila da previdecircncia social da proteccedilatildeo agrave maternidade e agrave infacircncia da assistecircncia aos desamparados (artigo 6deg) Tambeacutem no capiacutetulo sobre a famiacutelia a crianccedila o adolescente e o idoso a educaccedilatildeo foi incluiacuteda A Constituiccedilatildeo determinou ser dever da famiacutelia da sociedade e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente o direito agrave educaccedilatildeo como uma prioridade em relaccedilatildeo ao outros direitos (GHIRALDELLI JR 2001 p169)

Diante das mudanccedilas que a CF trouxe agrave Educaccedilatildeo houve tambeacutem a

necessidade de se elaborar uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo

Nacional Em dezembro de 1988 o deputado Octaacutevio Eliacutesio apresentou um projeto

que fixava as diretrizes e bases nacionais da educaccedilatildeo diante da nova realidade

brasileira Apoacutes oitos ano de tramitaccedilatildeo debates e discussotildees a nova LDB foi

aprovada em 1996 Atualmente eacute a diretriz que rege o curriacuteculo nacional Assim eacute a

partir dela que iremos iniciar a anaacutelise propostas das poliacuteticas educacionais para a

diversidade

34 Escola e diversidade O que temos em termos de poliacuteticas educacionais

Seraacute que a escola pode ser a mesma quando os educandos satildeo outros Seraacute que o curriacuteculo pode ser o mesmo quando os alunos satildeo outros Seraacute que a pedagogia deva ser a mesmaA docecircncia deva ser a mesma (Miguel Arroyo 2014-Em entrevista concedida ao Portal Dia a Dia Educaccedilatildeo)

As perguntas acima foram feitas pelo poacutes-doutor em educaccedilatildeo Miguel

Arroyo em entrevista concedida a TV Paulo Freire no ano de 2013 Quando

questionado sobre como a escola deve trabalhar o tema da diversidade ele aponta

que natildeo eacute o aluno quem deve se adaptar agrave escola mas a escola quem deve se

adaptar ao aluno Nesse sentido adaptando o questionamento de Arroyo sobre as

poliacuteticas educacionais para a realidade fronteiriccedila a pergunta ficaria a seguinte seraacute

que a escola situada em regiatildeo de fronteira internacional pode ser a mesma quando

os educandos satildeo outros

E este bdquooutro‟ na fronteira eacute o argentino o aacuterabe o paraguaio o brasiguaio o

indiacutegena que estatildeo imersos em meio a tantas outras diversidades que natildeo foram

tratadas aqui mas que complexificam ainda mais a realidade das escolas de

85

fronteira Nela tambeacutem nos deparamos com as questotildees de gecircnero de raccedila de

classes etc Pensando nestes aspectos o que as principais poliacuteticas educacionais

nacionais podem ou natildeo oferecer quando o assunto eacute a diversidade nas escolas de

fronteira internacional

Por diversidade Elvira de Souza Lima (2011) entende que a mesma eacute a

norma da espeacutecie humana pois ldquoos seres humanos satildeo diversos em suas

experiecircncias culturais satildeo uacutenicos em suas personalidades e satildeo diversos em suas

formas de perceber o mundordquo Segundo Gurgel (LIMA 2011 p1) a ideia de

diversidade relaciona-se diretamente com os conceitos de pluralidade multiplicidade

que indicam diferentes valores costumes vivecircncias de diferentes grupos da

sociedade

Nas concepccedilotildees de Gurgel do ponto de vista da Antropologia compreender

os elementos constitutivos da diversidade nos leva a entender diferentes ldquohaacutebitos

costumes comportamentos crenccedilas e valores e a aceitaccedilatildeo da diferenccedila no outro

chamada de alteridaderdquo (GURGEL 2011 p 4)

Nilma Lino Gomes (2008) ao discorrer sobre o que eacute diversidade busca seu

significado no dicionaacuterio apontando que as palavras que traduzem seu sentido satildeo

diferenccedila e dessemelhanccedila Em uma primeira interpretaccedilatildeo Nilma explica que a

diversidade pode se referir a fatos observaacuteveis a olho nu Contudo se ampliarmos a

noccedilatildeo sobre o que sejam diferenccedilas e incluir essas discussotildees no acircmbito cultural eacute

possiacutevel compreendecirc-la de duas formas

1)As diferenccedilas podem ser empiricamente observaacuteveis 2) as diferenccedilas tambeacutem satildeo construiacutedas ao longo do processo histoacuterico nas relaccedilotildees sociais e nas relaccedilotildees de poder Muitas vezes os grupos humanos tornam o outro diferente para fazecirc-lo inimigo para dominaacute-lo Por isso falar sobre a diversidade cultural natildeo diz respeito apenas ao reconhecimento do outro Significa pensar a relaccedilatildeo entre o eu e o outro (GOMES 2008 p2)

Na aacuterea de estudos das poliacuteticas educacionais o tema diversidade eacute recente

Somente a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 e da implementaccedilatildeo da LDB96 eacute que as

poliacuteticas educacionais para diversidade ganharam espaccedilo no campo das poliacuteticas

puacuteblicas

86

341 A LDB96 - A primeira lei originaacuteria da iniciativa civil e do legislativo

A atual LDB96 eacute fruto do novo quadro poliacutetico que se instaurou no Brasil com

o processo de abertura democraacutetica Como jaacute mencionado foram oito anos de

tramitaccedilatildeo ateacute que em 1996 ela fosse fixada com a aprovaccedilatildeo da redaccedilatildeo proposta

pelo entatildeo Deputado Federal e antropoacutelogo Darcy Ribeiro

Ao analisar a LDB96 eacute possiacutevel encontrar alguns artigos que reconhecem a

diversidade existente no paiacutes No Capiacutetulo II referente agrave Educaccedilatildeo Baacutesica o artigo

26 prescreve o seguinte

Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade da cultura da economia e da clientela (BRASIL 1996)

Com base neste artigo compreende-se que dadas as diferenccedilas culturais presentes

em cada regiatildeo cabe agrave instituiccedilatildeo escolar realizar as adaptaccedilotildees necessaacuterias agrave

realidade local Logo a lei daacute margem para que um trabalho diferenciado possa ser

realizado em aacutereas de fronteira internacional O inciso de nuacutemero cinco do mesmo

artigo torna obrigatoacuterio o ensino de uma liacutengua estrangeira moderna cuja escolha

fica a criteacuterio da comunidade escolar a partir da quinta seacuterie (hoje sexto ano)

Em 2005 foi criada a Lei de no 11161 que tornou obrigatoacuterio o ensino da

Liacutengua Espanhola para o Ensino Meacutedio

Art 1o O ensino da liacutengua espanhola de oferta obrigatoacuteria pela escola e de matriacutecula facultativa para o aluno seraacute implantado gradativamente nos curriacuteculos plenos do ensino meacutedio sect 1o O processo de implantaccedilatildeo deveraacute estar concluiacutedo no prazo de cinco anos a partir da implantaccedilatildeo desta Lei sect 2o Eacute facultada a inclusatildeo da liacutengua espanhola nos curriacuteculos plenos do ensino fundamental de 5a a 8a seacuteries Art 2o A oferta da liacutengua espanhola pelas redes puacuteblicas de ensino deveraacute ser feita no horaacuterio regular de aula dos alunos (BRASIL 2005)

Esta uacuteltima lei expressa o contexto da eacutepoca Primeiro pelo crescimento do poder

econocircmico da Espanha e o crescente aumento do espanhol nos EUA (CELADA

1991 apud AMARAL E MAZZARO 2006) Em segundo o entatildeo presidente Luis

Inaacutecio Lula da Silva tinha como plano de governo a aproximaccedilatildeo com os demais

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paiacuteses da Ameacuterica Latina haja vista que historicamente a relaccedilatildeo do Brasil com os

paiacuteses da regiatildeo tanto no acircmbito econocircmico como social era pequena Com essa

proposta de integraccedilatildeo em um de seus discursos ele diz

A grande prioridade da poliacutetica externa durante o meu governo seraacute a construccedilatildeo de uma Ameacuterica do Sul politicamente estaacutevel proacutespera e unida com base em ideais democraacuteticos e de justiccedila social Para isso eacute essencial uma accedilatildeo decidida de revitalizaccedilatildeo do MERCOSUL enfraquecido pelas crises de cada um de seus membros e por visotildees muitas vezes estreitas e egoiacutestas do significado da integraccedilatildeo O MERCOSUL assim como a integraccedilatildeo da Ameacuterica do Sul em seu conjunto eacute sobretudo um projeto poliacutetico Mas esse projeto repousa em alicerces econocircmico-comerciais que precisam ser urgentemente reparados e reforccedilados Cuidaremos tambeacutem das dimensotildees social cultural e cientiacutefico-tecnoloacutegica do processo de integraccedilatildeo (LULA DA SILVA 2003)

A partir de entatildeo outras iniciativas aleacutem do ensino do espanhol foram

implementadas como a criaccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino superior em aacutereas

fronteiriccedilas entre elas a Universidade Federal da Fronteira Sul (Santa Catarina)

criada em outubro de 2009 a Universidade Federal do Pampa (Rio Grande do Sul)

fundada em janeiro de 2008 a Universidade Federal de Grande Dourados (Mato

Grosso do Sul) fundada em agosto de 2005 a Universidade Federal da Integraccedilatildeo

Latino-Americana (Paranaacute) criada em janeiro de 2010 e a Universidade da

Integraccedilatildeo Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira tambeacutem criada em 2010 Esta

uacuteltima que conforme o nome sugere orienta-se para o desenvolvimento cientiacutefico

educacional e cultural da Ameacuterica Latina No acircmbito da educaccedilatildeo baacutesica temos o

Programa Escola Intercultural Biliacutenguumle de iniciativa do Mercosul que objetiva a

integraccedilatildeo regional por meio da educaccedilatildeo biliacutengue em escolas puacuteblicas do ensino

fundamental presentes em cidades da faixa de fronteira

Nesse sentido ainda que as estrateacutegias dessas instituiccedilotildees estejam

relacionadas ao projeto de integraccedilatildeo na regiatildeo de faixa de fronteira a presenccedila de

instituiccedilotildees de ensino superior contribui para o desenvolvimento de pesquisas

criaccedilatildeo de projetos e programas tanto no acircmbito nacional com as cidades e as

instituiccedilotildees locais como no acircmbito internacional em parceira com instituiccedilotildees dos

paiacuteses com as quais essas instituiccedilotildees fazem fronteira Isso por consequecircncia

pode contribuir para debates e mudanccedilas na educaccedilatildeo nas escolas de fronteira

No que confere agrave obrigatoriedade do ensino de espanhol algumas pesquisas

sobre sua implementaccedilatildeo identificaram algumas fragilidades Nos resultados

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parciais da pesquisa de doutorado sobre o ensino do espanhol no Brasil realizada

por Maria Fernanda Lisboa (2011) a autora identificou que o discurso de integraccedilatildeo

linguiacutestico-cultural que justifica a lei ldquoeacute apenas uma fachada para desviar a atenccedilatildeo

dos reais interesses por traacutes dessa poliacutetica natildeo soacute linguumliacutesticardquo (LISBOA 2011 p

213) A autora faz referecircncia aos interesses da Espanha que estaacute agrave frente dessa

poliacutetica ldquoinvestindo em assessorias linguumliacutesticas na criaccedilatildeo de vaacuterias sedes do

Instituto Cervantes e ainda disseminando cursos de capacitaccedilatildeo para professoresrdquo

(LISBOA 2011 p 213) Estes cursos satildeo vistos pelas associaccedilotildees de professores

pelos formadores de professores e por Universidades de modo negativo Na

avaliaccedilatildeo daqueles que satildeo contraacuterios a essas formaccedilotildees encontra-se a duacutevida na

real qualidade da mesma visto que eacute um curso inteiramente agrave distacircncia sem

maiores reflexotildees relacionados agrave metodologia

Aleacutem disso haacute outras questotildees como a demanda de professores oferta de

materiais didaacuteticos interesse por parte dos alunos que satildeo desafios a serem

superados nesse processo de implementaccedilatildeo Entretanto mesmo diante das

contradiccedilotildees e lacunas que a sua obrigatoriedade significou a lei que completou dez

anos de sua criaccedilatildeo e cinco do prazo final para sua execuccedilatildeo nas escolas em 2015

abre possibilidades para maiores discussotildees e provocaccedilotildees se pensarmos a partir

da integraccedilatildeo dos paiacuteses fronteiriccedilos ou mesmo em niacutevel de poliacuteticas linguumliacutesticas

para essa regiatildeo Afinal conforme Marcuschi (2005) ldquonatildeo se pode reduzir a

linguagem ao seu papel de ferramenta social tampouco reduzi-la ao caraacuteter formal

pois liacutengua natildeo eacute forma nem funccedilatildeo e sim atividade significante e constitutivardquo

(MARCUSCHI 2005 p 3)

Em 2003 foi criada a lei 1063903 que tornou obrigatoacuteria a inclusatildeo do ensino

da Histoacuteria da Aacutefrica e da Cultura Afro-Brasileira nos curriacuteculos dos estabelecimentos

de ensino puacuteblicos e particulares da educaccedilatildeo baacutesica E em 2008 foi criada a lei

1164508 que acrescenta o estudo da histoacuteria e cultura indiacutegena nas escolas

puacuteblicas e privadas da educaccedilatildeo baacutesica

1ordm O conteuacutedo programaacutetico a que se refere este artigo incluiraacute diversos aspectos da histoacuteria e da cultura que caracterizam a formaccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira a partir desses dois grupos eacutetnicos tais como o estudo da histoacuteria da Aacutefrica e dos africanos a luta dos negros e dos povos indiacutegenas no Brasil a cultura negra e indiacutegena brasileira e o negro e o iacutendio na formaccedilatildeo da sociedade

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nacional resgatando as suas contribuiccedilotildees nas aacutereas social econocircmica e poliacutetica pertinentes agrave histoacuteria do Brasil sect 2ordm Os conteuacutedos referentes agrave histoacuteria e cultura afro-brasileira e dos povos indiacutegenas brasileiros seratildeo ministrados no acircmbito de todo o curriacuteculo escolar em especial nas aacutereas de educaccedilatildeo artiacutestica e de literatura e histoacuteria brasileira (BRASIL 2008)

No acircmbito estadual o Paranaacute emitiu a seguinte nota sobre a obrigatoriedade

da lei 1063903

No curriacuteculo oficial da Rede de Educaccedilatildeo do Paranaacute a obrigatoriedade da temaacutetica Histoacuteria e Cultura Afro-Brasileira e seus desencadeamentos tem efetivado accedilotildees para a formaccedilatildeo das equipes multidisciplinares nos Nuacutecleos Regionais de Educaccedilatildeo e nas escolas A medida eacute um dos objetivos para valorizar a histoacuteria da populaccedilatildeo negra no Estado do Paranaacute e orientar a comunidade escolar para o enfrentamento do preconceito da discriminaccedilatildeo do racismo (SEED 2013)

Assim a fim de atender tanto a lei 1063903 quanto a 1164508 a Secretaria

Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute instituiu as Equipes Multidisciplinares validadas

pelo artigo 26 da LDB Lei nordm 939496 pela Deliberaccedilatildeo nordm 0406 CEEPR pela

Instruccedilatildeo nordm 01706 SUEDSEED pela Resoluccedilatildeo nordm 339910 SEEDSEED e a

Instruccedilatildeo nordm 0101 SUESSEED As equipes multidisciplinares satildeo compostas por

professores de diferentes aacutereas pedagogos diretores e agentes educacionais e

representantes da comunidade externa (pais movimentos sociais professores do

ensino superior representantes das Comunidades Remanescentes de Quilombos

lideranccedilas indiacutegenas dentre outros)

A equipe se encontra em espaccedilos para debater estrateacutegias e desenvolver

accedilotildees pedagoacutegicas que fortaleccedilam a implementaccedilatildeo das leis 1063903 e 1164508

no curriacuteculo escolar das instituiccedilotildees de ensino da rede puacuteblica estadual e escolas

conveniadas do Paranaacute Com isso nota-se a preocupaccedilatildeo em cumprir a legislaccedilatildeo

sendo uma das accedilotildees a criaccedilatildeo da Equipe Multidisciplinar que deixa claro que o

trabalho da equipe eacute destinado ao ensino da histoacuteria da Aacutefrica e da cultura negra e

indiacutegena nas escolas estaduais paranaenses conforme as atribuiccedilotildees presentes na

Instruccedilatildeo Nordm 0102010 ndash SUEDSEE da qual destacam

Compete agrave Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash SEED 1Garantir que todos os NREs e estabelecimentos de ensino na Rede Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute organizem suas Equipes Multidisciplinares para tratar da Educaccedilatildeo das Relaccedilotildees Eacutetnico-

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Raciais e para o Ensino de Histoacuteria e Cultura Afrobrasileira Africana e Indiacutegena Compete agrave Equipe Multidisciplinar do Nuacutecleo Regional de Educaccedilatildeo

1Orientar e acompanhar o funcionamento e organizaccedilatildeo das Equipe Multidisciplinares dos estabelecimentos da Rede Estadual de Ensino para a efetivaccedilatildeo de accedilotildeesexperiecircncias em ERER subsidiando os profissionais da educaccedilatildeo em consonacircncia com as poliacuteticas puacuteblicas estabelecidas pela Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo 2Promover accedilotildees voltadas agrave formaccedilatildeo continuada e de pesquisa dos teacutecnicos do NRE sobre o Ensino de Histoacuteria e Cultura Afro brasileira Africana e Indiacutegena (SEED 2010)

Ao longo do documento natildeo haacute referecircncias que indiquem que o professor

deva trabalhar com outros temas referentes agrave diversidade Contudo a criaccedilatildeo da

equipe multidisciplinar eacute um exemplo de uma poliacutetica educativa criada para o

cumprimento da legislaccedilatildeo Com isso vem o seguinte questionamento no caso dos

desafios enfrentados pelas escolas e professores situados em regiatildeo de fronteira a

obrigatoriedade para demandas especiacuteficas dessas escolas teria um caminho

possiacutevel (deliberaccedilotildees especiacuteficas para as documentaccedilotildees dos alunos

estrangeiros a obrigatoriedade do ensino da histoacuteria da cultura dos paiacuteses com os

quais a cidade fronteiriccedila faz parte formaccedilatildeo de professores especiacuteficas em cidade

ou regiotildees como Foz do Iguaccedilu que apresenta uma quantidade expressiva de

estrangeiras nesse caso os aacuterabes a proposta de poliacuteticas linguumliacutesticas especiacuteficas

que facilitem o processo de inserccedilatildeo desses alunos em sala de aula etc)

Essas questotildees surgiram agrave medida que se tornou possiacutevel perceber que

quando um tema eacute reconhecido pelo Estado tem-se a impressatildeo de que ele passa a

existir oficialmente nas escolas e nas outras instituiccedilotildees Por exemplo a lei

1063903 discute a temaacutetica da histoacuteria da Aacutefrica e da cultura negra e possui dentre

outros objetivos o combate ao racismo Essa discussatildeo poreacutem sempre esteve

presente nas escolas pois a luta contra o racismo e discriminaccedilatildeo racial comeccedilou

ainda no periacuteodo escravocrata pelos primeiros movimentos de resistecircncia a citar os

quilombos

Desse modo natildeo eacute novidade o enfrentamento com o racismo nem eacute

novidade que os negros ficaram excluiacutedos da histoacuteria nacional e desde entatildeo

buscam a afirmaccedilatildeo de sua identidade Denota-se que satildeo questotildees que natildeo

passam despercebidas pela escola mas para que chegasse ateacute ela necessitou de

dispositivos legais para que fossem discutidas em sala de aula com o respaldo do

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Estado Esses respaldos seriam accedilotildees criadas para dar condiccedilotildees de

implementaccedilatildeo agrave lei como a criaccedilatildeo em 2004 da Secretaria de Educaccedilatildeo

Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade (SECAD) com a finalidade de articular o

tema da diversidade nas poliacuteticas educacionais Tambeacutem foram criados alguns

programas e projetos Programa Diversidade na Universidade (2002 a 2007) os

Foacuteruns Estaduais e Foacuteruns Permanentes de Educaccedilatildeo e Diversidade Eacutetnico-Racial

a distribuiccedilatildeo do Kit didaacutetico-pedagoacutegico a Oficina Cartograacutefica sobre Geografia

Afro-brasileira e Africana (2005) o Projeto Educadores pela Diversidade

(20042005) o Curso Educaccedilatildeo e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais (2005) a Pesquisa

Nacional Diversidade nas Escolas (2006 a 2009) dentre outros (GOMES 2010)

Tudo isto foi possiacutevel explica Gomes (2010) devido ao longo processo de

lutas sociais e natildeo a ldquouma daacutediva do Estado pois enquanto uma poliacutetica de accedilatildeo

afirmativa ela ainda eacute vista com muitas reservas pelo ideaacuterio republicano brasileiro

que resiste em equacionar a diversidaderdquo (GOMES 2010 p 9) Diante das

prerrogativas contidas na LDB96 referentes agrave questatildeo da diversidades cultural

observou que elas por si soacute natildeo atingem a fronteira com suas diversidades que

estatildeo nas escolas que devem seguir as suas normas que por sua vez seguem uma

linha de poliacuteticas universalistas

342 Os Paracircmetros Curriculares Nacionais

Os Paracircmetros Curriculares Nacionais foram publicados apoacutes a

implementaccedilatildeo da Lei de Diretrizes e bases da Educaccedilatildeo Nacional de 1996 pela

Secretaria de Educaccedilatildeo do Ensino Fundamental do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do

Desporto O contexto de sua construccedilatildeo ocorreu apoacutes a Conferecircncia Mundial de

Educaccedilatildeo para Todos em Jomtien na Tailacircndia (1990) que teve como resultado

um documento que destaca a necessidade de uma educaccedilatildeo para todos sem

distinccedilatildeo Do compromisso assumido internacionalmente para com a Educaccedilatildeo

somados aos princiacutepios previstos na LDB de 1996 nascem os PCN‟S

Os PCN‟s satildeo um instrumento normativo que nasceu para cumprir o artigo

210 disposto no capiacutetulo III da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que institui a fixaccedilatildeo de

ldquoconteuacutedos miacutenimos para o ensino fundamental de maneira a assegurar formaccedilatildeo

baacutesica comum e respeito aos valores culturais e artiacutesticos nacionais e regionaisrdquo

Nasceu tambeacutem no contexto das implementaccedilotildees das poliacuteticas neoliberais o que

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gerou muitas criacuteticas acerca de seus reais propoacutesitos Contaram com os subsiacutedios

de acordos e documentos elaborados por organismos internacionais tais como a

declaraccedilatildeo Mundial sobre a Educaccedilatildeo para Todos Declaraccedilatildeo de Nova Delhi

Relatoacuterio para a Unesco da Comissatildeo Internacional sobre a Educaccedilatildeo para o seacuteculo

XXI dentre outros acordos e documentos de organismos internacionais

(RODRIGUES 2001)

O processo de elaboraccedilatildeo dos Paracircmetros Curriculares Nacionais conforme o

documento comeccedilou a partir do estudo das

Propostas curriculares de Estados e Municiacutepios brasileiros do diagnoacutestico realizado pela Fundaccedilatildeo Carlos Chagas sobre curriacuteculos oficiais e do contato com informaccedilotildees referentes agraves experiecircncias de outros paiacuteses (BRASIL 1998 p15)

Com base nas orientaccedilotildees presentes no Plano Decenal de Educaccedilatildeo (1993-

2003) de pesquisas internas e externas de dados acerca do desempenho dos

estudantes do ensino fundamental aleacutem das experiecircncias de sala de aula

socializadas em seminaacuterios congressos encontros e publicaccedilotildees foi elaborada a

proposta inicial que passou por um processo de anaacutelise entre os anos de 1995 e

1996 Desta anaacutelise saiacuteram aproximadamente setecentos pareceres sobre a

proposta inicial que serviram de referecircncia para sua redaccedilatildeo final

Os PNC‟s de 1ordf a 4ordf seacuterie foram transformados em 10 livros lanccedilados no dia

15 de outubro de 1997 dia do professor na capital Brasiacutelia Estes dez volumes

apresentam os seguintes conteuacutedos introduccedilatildeo liacutengua portuguesa matemaacutetica

ciecircncias naturais histoacuteria e geografia arte educaccedilatildeo fiacutesica apresentaccedilatildeo dos

temas transversais meio ambiente e sauacutede pluralidade cultural e orientaccedilatildeo sexual

Desse modo estatildeo organizados em um documento introdutoacuterio seis documentos

que tratam das aacutereas de conhecimentos gerais e trecircs volumes referentes aos Temas

Transversais (MOTTA 2005)

Segundo o documento elaborado em 1997 com o objetivo de introduzir os

PCN‟s ao professor sua funccedilatildeo eacute de

() orientar e garantir a coerecircncia dos investimentos no sistema educacional socializando discussotildees pesquisas e recomendaccedilotildees subsidiando a participaccedilatildeo de teacutecnicos e professores brasileiros principalmente daqueles que se encontram mais isolados com

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menor contato com a produccedilatildeo pedagoacutegica atual (BRASIL 1997 p13)

Trata-se portanto natildeo de um curriacuteculo mas de um suporte para que a escola

possa elaborar seu programa curricular dentro de sua realidade especiacutefica Os

PCN‟s estatildeo organizados em dois grupos 1) composto por aacutereas tradicionais

(Portuguecircs Matemaacutetica Histoacuteria Geografia Ciecircncias Naturais Educaccedilatildeo Fiacutesica

Liacutengua Estrangeira e Arte) 2) composto pelos temas transversais que vai tratar das

seguintes questotildees Eacutetica do Meio Ambiente da Pluralidade Cultural da Sauacutede da

Orientaccedilatildeo Sexual e do Trabalho e Consumo (BRASIL 1998 p17) A justificativa

para a escolha de tais temaacuteticas pauta-se no fato de serem assuntos urgentes e que

fazem parte das preocupaccedilotildees e do cotidiano da sociedade brasileira

A finalidade uacuteltima dos Temas Transversais se expressa neste criteacuterio que os alunos possam desenvolver a capacidade de posicionar-se diante das questotildees que interferem na vida coletiva superar a indiferenccedila e intervir de forma responsaacutevel Assim os temas eleitos em seu conjunto devem possibilitar uma visatildeo ampla e consistente da realidade brasileira e sua inserccedilatildeo no mundo aleacutem de desenvolver um trabalho educativo que possibilite uma participaccedilatildeo social dos alunos (BRASIL 1998 p26)

Por temas transversais compreende-se um conjunto de conteuacutedos que natildeo

ldquoquerendo desbancar os previamente fixados pelas disciplinas acadecircmicas

claacutessicas se apresentam como temas transversais no curriacuteculo e portanto comuns

a todas as aacutereas e disciplinasrdquo (RAMOS 1998 p 2) Neste sentido como explica o

volume 10 dos Paracircmetros Curriculares Nacionais que trata dos temas transversais

os conteuacutedos convencionais devem receber as questotildees dos Temas Transversais

de modo que seus conteuacutedos os explicitem e os objetivos sejam considerados

(BRASIL 1998) Em seguida o documento apresenta o seguinte exemplo para

ilustrar essa transversalidade

() aacuterea de Ciecircncias Naturais inclui a comparaccedilatildeo entre os principais oacutergatildeos e funccedilotildees do aparelho reprodutor masculino e feminino relacionando seu amadurecimento agraves mudanccedilas no corpo e no comportamento de meninos e meninas durante a puberdade e respeitando as diferenccedilas individuais Dessa forma o estudo do corpo humano natildeo se restringe agrave dimensatildeo bioloacutegica mas coloca esse conhecimento a serviccedilo da compreensatildeo da diferenccedila de gecircnero (conteuacutedo de Orientaccedilatildeo Sexual ) e do respeito agrave diferenccedila (conteuacutedo de Eacutetica) Assim natildeo se trata de que os professores das

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diferentes aacutereas devam ldquopararrdquo sua programaccedilatildeo para trabalhar os temas mas sim de que explicitem as relaccedilotildees entre ambos e as incluam como conteuacutedos de sua aacuterea articulando a finalidade do estudo escolar com as questotildees sociais possibilitando aos alunos o uso dos conhecimentos escolares em sua vida extra-escolar Natildeo se trata portanto de trabalhaacute-los paralelamente mas de trazer para os conteuacutedos e para a metodologia da aacuterea a perspectiva dos temas

(BRASIL 1998 p27)

Fernanda Motta (2005) explica que as discussotildees sobre os temas

transversais no campo da educaccedilatildeo surgem em um momento onde diversos grupos

sociais politicamente organizados em diferentes paiacuteses comeccedilaram a questionar

qual seria o papel da escola em meio a uma sociedade plural e globalizada e quais

assuntos que deveriam ser tratados na educaccedilatildeo escolar (MOTTA 2005 p20)

Neste sentido continua

Esses grupos comeccedilaram a pressionar os Estados para que incluiacutessem na estrutura curricular escolar temas mais vinculados ao cotidiano da maioria da populaccedilatildeo possibilitando que as disciplinas passassem a se relacionar com a realidade contemporacircnea Parte-se do princiacutepio de que a escola natildeo pode ser vista como uma instituiccedilatildeo isolada Sua accedilatildeo deve ser norteada tomando como paracircmetro a cultura na qual estaacute inserida (MOTTA 2005 p28)

Assim podemos compreender a educaccedilatildeo como um tipo de poliacutetica social

pensada natildeo somente a partir do Estado mas por atores da sociedade civil

As poliacuteticas sociais ndash e a educaccedilatildeo ndash se situam no interior de um tipo particular de Estado Satildeo formas de interferecircncia do Estado visando agrave manutenccedilatildeo das relaccedilotildees sociais de determinada formaccedilatildeo social Portanto assumem bdquofeiccedilotildees‟ diferentes em diferentes sociedades e diferentes concepccedilotildees de Estado (HOFLING 2001 p31)

343 O Tema Transversal Pluralidade Cultural

No PCN de nuacutemero dez que trata especificamente dos temas transversais

no capiacutetulo referente agrave pluralidade cultural a justificativa pela pertinecircncia do tema eacute

dada pela diversidade cultural presente no paiacutes

Convivem hoje no territoacuterio nacional cerca de 210 etnias indiacutegenas cada uma co identidade proacutepria e representando riquiacutessima diversidade sociocultural junto a uma imensa populaccedilatildeo formada pelos descendentes dos povos africanos e um grupo numeroso de

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imigrantes e descendentes de povos de vaacuterios continentes com diferentes tradiccedilotildees culturais e religiosas (BRASIL 1997 p125)

O documento chama atenccedilatildeo para o fato de que essa pluralidade cultural que natildeo

foge agrave realidade das escolas eacute ignorada ou mesmo silenciada sendo inuacutemeras as

justificativas para tal silenciamento Um exemplo citado pelos PCN‟s foi o periacuteodo de

nacionalismo dos governos autoritaacuterios que ldquoem diferentes momentos da histoacuteria

valeu-se da accedilatildeo homogeneizadora veiculada na escolardquo (BRASIL 1997 p125) A

deacutecada de 1930 foi um periacuteodo em que a poliacutetica oficial estava preocupada com a

quantidade de imigrantes e buscava formas de fazer com que essa populaccedilatildeo

assimilasse a cultura brasileira Enquanto isso a populaccedilatildeo negra era

marginalizada explica o PCN acerca da pluralidade cultural

O trabalho com o tema transversal propotildee o desenvolvimento das seguintes

capacidades

conhecer a diversidade do patrimocircnio etnocultural brasileiro cultivando atitude de respeito para com pessoas e grupos que a compotildeem reconhecendo a diversidade cultural como um direito dos povos e dos indiviacuteduos e elemento de fortalecimento da democracia

compreender a memoacuteria como construccedilatildeo conjunta elaborada como tarefa de cada um e de todos que contribui para a percepccedilatildeo do campo de possibilidades individuais coletivas comunitaacuterias e nacionais

valorizar as diversas culturas presentes na constituiccedilatildeo do Brasil como naccedilatildeo reconhecendo sua contribuiccedilatildeo no processo de constituiccedilatildeo da identidade brasileira

reconhecer as qualidades da proacutepria cultura valorando-as criticamente enriquecendo a vivecircncia de cidadania

desenvolver uma atitude de empatia e solidariedade para com aqueles que sofrem discriminaccedilatildeo

repudiar toda discriminaccedilatildeo baseada em diferenccedilas de raccedilaetnia classe social crenccedila religiosa sexo e outras caracteriacutesticas individuais ou sociais

exigir respeito para si e para o outro denunciando qualquer atitude de discriminaccedilatildeo que sofra ou qualquer violaccedilatildeo dos direitos de crianccedila e cidadatildeo

valorizar o conviacutevio paciacutefico e criativo dos diferentes componentes da diversidade cultural

compreender a desigualdade social como um problema de todos e como uma realidade passiacutevel de mudanccedilas

analisar com discernimento as atitudes e situaccedilotildees fomentadoras de todo tipo de discriminaccedilatildeo e injusticcedila social (BRASIL1998p147)

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Diante dessas capacidades apresentadas pelo PCN eacute possiacutevel perceber que

o documento natildeo aborda especificamente a questatildeo da diversidade em regiatildeo de

fronteira internacional pois trata-se de orientaccedilotildees a serem desenvolvidas em todas

as escolas do paiacutes e natildeo em determinada regiatildeo especiacutefica cabendo entatildeo agrave

instituiccedilatildeo escolar realizar as adaptaccedilotildees necessaacuterias conforme o contexto no qual

estaacute inserida

Eacute importante lembrar que o estreito viacutenculo entre os conteuacutedos selecionados e a realidade local a partir mesmo das caracteriacutesticas culturais locais faz com que este trabalho possa incluir e valorizar questotildees da comunidade imediata agrave escola Contudo a proposta levanta tambeacutem a necessidade de referenciais culturais voltados para a pluralidade caracteriacutestica do Brasil como forma de compreender a complexidade do paiacutes bem como de ampliar horizontes para o trabalho da escola como um todo Lembra-se ainda que os conteuacutedos aqui definidos destinam-se ao trabalho com o terceiro e o quarto ciclos do ensino fundamental (BRASIL 1998 p148)

Em uma primeira leitura os temas transversais para a pluralidade cultural

conseguem abordar as principais pautas que a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e a

LDB96 estabelecem ao propor um ensino que valorize e incorpore o debate da

diversidade cultural na escolas mas que se apresentaram de modo muito superficial

e ao mesmo tempo amplo

Dentre algumas consideraccedilotildees acerca dos PCN‟S encontra-se a do professor

Antocircnio Cunha que na ocasiatildeo do lanccedilamento dos documentos questionou-os em

relaccedilatildeo ao o seu processo de elaboraccedilatildeo uma vez que o governo preferiu criar

propostas novas para os PCN‟s desconsiderando totalmente as anteriores

Em vez de se partir das propostas curriculares existentes para se chegar aos PCN‟s o que se fez foi apresentar aos estupefactos assistentes os paracircmetros jaacute elaborados Esse procedimento insoacutelito serviu para desestimular docentes e pesquisadores a darem seu parecer sobre os documentos quando solicitados pela Secretaria do Ensino Fundamental Parece que mais uma vez a administraccedilatildeo puacuteblica tem da pesquisa uma visatildeo apenas justificatoacuteria das opccedilotildees tomadas pelos dirigentes quando natildeo de algo apresentado tatildeo-somente para efeito propagandiacutestico (CUNHA 1996 p61)

Deste modo algumas das criacuteticas direcionadas aos PCN‟s encontram-se em

sua concepccedilatildeo O Parecer da Agecircncia Nacional dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB)

em consonacircncia com a posiccedilatildeo da Associaccedilatildeo Nacional de Histoacuteria (ANPUH)

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realizado a pedido Secretaria do Ensino Fundamental do MEC na ocasiatildeo de seu

processo de elaboraccedilatildeo deu a seguinte resposta

Os bdquoParacircmetros‟ apresentam-se hoje como um retrocesso Apresentam-se organizados de forma semelhante aos antigos Guias Curriculares divididos em objetivos conteuacutedos avaliaccedilatildeo orientaccedilotildees didaacuteticas (em lugar das estrateacutegias) Apoacutes uma tentativa de explicitaccedilatildeo de conteuacutedos elenca-se para cada ciclo uma lista que pretende sintetizaacute-los Mesmo que no documento introdutoacuterio e nos documentos de aacuterea apareccedila registrada a natildeo intencionalidade da parte do MEC no sentido da obrigatoriedade de conteuacutedos determinados a real intenccedilatildeo jaacute patente a partir da escolha do termo bdquoparacircmetros‟ e a forma da organizaccedilatildeo dos mesmos eacute de molde a constituir em modelos uacutenicos a serem popularizadas e vulgarizadas em novos manuais didaacuteticos ()- O documento intitulado bdquoTemas Transversais‟ homogeneizar para a totalidade do paiacutes a definiccedilatildeo de bdquoconviacutevio social e eacutetica‟ meio ambiente e sauacutederdquo(AGB 1996p 62)

No parecer dos geoacutegrafos a construccedilatildeo de modelos uacutenicos e vulgarizados

bem como a tentativa de universalizar temas como a de conviacutevio social e eacutetico para

todo o paiacutes satildeo objetos de criacuteticas na medida em que a reflexatildeo sobre pluralidade

que haacute no paiacutes deve-se primeiramente ao seguinte questionamento destes temas

transversais - e em destaque o que trata da pluralidade cultural - quando adentra

em realidades como a de Foz do Iguaccedilu satildeo passiacuteveis de considerar as condiccedilotildees

locais Na mesma perspectiva Calllai (1997) fez o seguinte questionamento e

reflexatildeo

Os temas transversais propostos de certa forma homogeinizam tanto os problemas como o curriacuteculo a niacutevel nacional Eacute possiacutevel articular-se questotildees como pluralidade cultural exclusatildeo social e proposiccedilatildeo uacutenica de curriacuteculo As desigualdades sociais satildeo tambeacutem regionalizadas e como tal diferenciadas na sua expressatildeo localizada E eacute no local que o sujeito encara os problemas do seu cotidiano embora eles sejam o mais das vezes globais Poreacutem o global estaacute concretizado no lugar em que se vive e como tal eacute a partir daiacute que se precisa consideraacute-lo (CALLAI 1997 p 10)

Por outro lado aqueles (SILVEIRA MARQUES 2004) que vecircem os Temas

Transversais como uma novidade facilitadora para que haja debates em sala sobre

cultura diversidade e voltada para a interculturalidade possuem a consciecircncia de

que haacute alguma dificuldades seja pela falta de bibliografia pelas poucas experiecircncias

desenvolvidas e ateacute mesmo pela falta de formaccedilatildeo adequada de professores

Para que o trabalho com os temas transversais seja de fato efetivo torna-se

necessaacuterio a construccedilatildeo de uma proposta pedagoacutegica que envolva toda a

98

comunidade escolar Eacute necessaacuterio considerar que os temas ultrapassem os muros

da escola incluindo o contexto social envolvente Com relaccedilatildeo aos PCN‟s ainda que

haja criacuteticas referentes agrave sua elaboraccedilatildeo ainda que eles tendam agrave homogeneizaccedilatildeo

e por isso apresentem certa incoerecircncia teoacuterica a problemaacutetica maior eacute se esse

documento por meio dos temas transversais conseguiu inserir o debate sobre a

diversidade na comunidade escolar e como esse debate foi inserido

De modo geral os PCN‟s representam um avanccedilo no modo como trata do

tema pluralidade cultural No entanto as anaacutelises demonstraram que as tendecircncias

agrave homogeneizaccedilatildeo do curriacuteculo nacional ficam impliacutecitas no documento logo ele

recai em contradiccedilotildees pois reconhece a diversidade que existe no paiacutes mas insiste

em direcionar o trabalho da pluralidade a grupos especiacuteficos Neste caso negros e

indiacutegenas natildeo alcanccedilando realidades como a fronteiriccedila Assim acaba por deixar

de lado outros grupos

344 O Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute

O Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute (PEE-PR) de 2015 eacute fruto de um

processo que tem iniacutecio na Constituiccedilatildeo de 1988 que por meio do Art 22 inciso

XXIV estabelecia a elaboraccedilatildeo de uma Nova Lei de Diretrizes e Bases para

Educaccedilatildeo Sendo entatildeo criada em 1996 a LDB96 que delegou para estados

municiacutepios Uniatildeo e Distrito Federal ldquoaos entes federados fica a responsabilidade de

garantir os meios necessaacuterios para o acesso e permanecircncia de todos agrave educaccedilatildeo

puacuteblica e gratuitardquo (BRASIL 2014a)

Deste modo conforme o PEE-PR do Paranaacute a educaccedilatildeo foi estruturada em

planos decenais com o objetivo de

Articular o sistema nacional de educaccedilatildeo em regime de colaboraccedilatildeo e definir diretrizes objetivos metas e estrateacutegias de implementaccedilatildeo para assegurar a manutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensino em seus diversos niacuteveis etapas e modalidades por meio de accedilotildees integradas dos poderes puacuteblicos das diferentes esferas federativas (BRASIL 2014a p 15 apud PEE-PR 2015 p23)

As primeiras discussotildees do PNE comeccedilaram nas Conferecircncias Brasileiras de

Educaccedilatildeo (CBEs) nas deacutecadas de 1980 e 1990 Posteriormente estas conferecircncias

99

foram dando lugar para os Seminaacuterios Brasileiros de Educaccedilatildeo e as Conferecircncias

Nacionais de Educaccedilatildeo datadas da deacutecada de 1920 (PEE-PR 2015 p24) As

CBEs entre os anos de 1996 e 2004 foram substituiacutedas pelos Congressos

Nacionais de Educaccedilatildeo (Coned)(PARANAacute 2015)

O Plano Nacional de Educaccedilatildeo (PNE) foi aprovado pela primeira vez em 2001

pelo Congresso Nacional Brasileiro Em 2009 foi estabelecida a Conferecircncia

Nacional de Educaccedilatildeo (Conae) sendo um de seus objetivos o de mobilizar os

diversos setores da educaccedilatildeo brasileira a elaborarem um PNE correspondente ao

periacuteodo de 2011-2020 Assim apoacutes quatro anos de debates e de reelaboraccedilatildeo do

PNE a Lei Federal nordm 13005 de junho de 2014 instituiu o novo Plano composto

por 14 artigos e um anexo contendo 20 metas e estrateacutegias nacionais a serem

atingidas no periacuteodo de dez anos (PEE-PR 2015)

O documento base do PEE-PR na introduccedilatildeo apresenta as caracteriacutesticas

gerais da populaccedilatildeo paranaense Nela eacute destacada a presenccedila de diversas etnias e

nacionalidades que fazem parte da histoacuteria do estado e dada essa presenccedila a

educaccedilatildeo eacute uma instacircncia automaticamente atingida por essa diversidade

A populaccedilatildeo eacute formada por descendentes de povos europeus africanos ameriacutendios e indiacutegenas das etnias Guarani Kaingang e Xetaacute e por imigrantes procedentes principalmente dos estados do Rio Grande do Sul Santa Catarina Satildeo Paulo e Minas Gerais () Dessa forma esses grupos participaram na construccedilatildeo da cultura paranaense e muitos costumes oriundos dessas diferentes etnias ainda satildeo preservados em determinadas comunidades e se refletem na educaccedilatildeo paranaense (PEE-PR2015p 26)

Refletindo sobre estas caracteriacutesticas e atendendo agraves leis nordm 1063908 e

1164508 sobre a obrigatoriedade do ensino de histoacuteria e cultura afro-brasileira

africana e indiacutegena no curriacuteculo oficial dos estabelecimentos de ensino puacuteblico o

plano base possui as seguintes estrateacutegias

13 Orientar as instituiccedilotildees educacionais que atendem crianccedilas de zero a cinco anos a agregarem ou ampliarem em suas praacuteticas pedagoacutegicas cotidianas accedilotildees que visem ao enfrentamento da violecircncia sexual e a outros tipos de violecircncia agrave inclusatildeo e ao respeito agraves diversidades de toda ordem gecircnero eacutetnico-racial religiatildeo entre outros agrave promoccedilatildeo da sauacutede e dos cuidados agrave convivecircncia escolar saudaacutevel e ao estreitamento da relaccedilatildeo famiacutelia-crianccedila-instituiccedilatildeo ()18 Estabelecer programas em parceria com os municiacutepios para a oferta da educaccedilatildeo inclusiva nas comunidades indiacutegenas

100

quilombolas do campo e ciganas de acordo com suas especificidades (PEE-PR 2015 p64)

Conforme a finalidade no Plano este estabelece metas e estrateacutegias a serem

implementadas e consonacircncia com o Art8ordm contido no plano de educaccedilatildeo que

estabeleceu as seguintes estrateacutegias

I - asseguram a articulaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais com as demais poliacuteticas sociais particularmente as culturais II - consideram as necessidades especiacuteficas das populaccedilotildees do campo e das comunidades indiacutegenas quilombolas e demais grupos sociais singulares asseguradas a equidade educacional e a diversidade cultural (PEE-PR 2015 p2)

Chama atenccedilatildeo a especificidade do artigo oitavo que visa agrave articulaccedilatildeo das

poliacuteticas educacionais com as demais poliacuteticas sociais destacando principalmente a

questatildeo cultural Ao pensar nas particularidades educacionais encontradas em

regiotildees de fronteira internacional em Foz do Iguaccedilu onde a presenccedila de alunos

oriundos de outros paiacuteses eacute comum nas escolas seria pertinente que o tema

diversidade fosse ampliado Por exemplo no caso da presenccedila de alunos aacuterabes

(principalmente libaneses siacuterios e palestinos) nas escolas as diferenccedilas

manifestadas natildeo satildeo apenas linguiacutesticas Neste caso abarca tambeacutem a religiatildeo

(predominante o islatilde) os haacutebitos costumes vestuaacuterio alimentaccedilatildeo etc Neste

sentido propor poliacuteticas puacuteblicas que possibilitem a inclusatildeo desses alunos e natildeo a

exclusatildeo ou a desconsideraccedilatildeo das origens deste aluno eacute sem duacutevidas um grande

desafio

345 O Curriacuteculo da AMOP

Reduzindo o campo de anaacutelise da poliacutetica educativa para a regiatildeo oeste do

Paranaacute onde estaacute localizada a cidade de Foz do Iguaccedilu encontramos o curriacuteculo

baacutesico da Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do oeste do Paranaacute (AMOP) que na

introduccedilatildeo do documento baacutesico afirma que houve uma confusatildeo por parte das

escolas municipais que ao implementarem os PCN‟s nas escolas natildeo o utilizaram

como um paracircmetro Muitas o adotaram como curriacuteculo ou tornaram sua proposta

pedagoacutegica como ecleacutetica Assim os educadores da regiatildeo Oeste do Paranaacute

101

sentiram a necessidade de se rediscutir o curriacuteculo Para tal adotaram a seguinte

metodologia

Inicialmente a metodologia adotada nos colocou limites que avaliada apontou para uma nova organizaccedilatildeo Reorganizado um cronograma de trabalho coletivamente com as redes municipais de Ensino chegamos a este documento que eacute resultado de dois anos de intensos estudos de reflexotildees de embates teoacutericos de sistematizaccedilotildees de leituras de discussotildees e de anaacutelises do coletivo dos educadores os quais respeitando o movimento proacuteprio de cada rede e por sua vez de cada escola partiram de contribuiccedilotildees teoacutericas de alguns autores das experiecircncias e compreensotildees do que jaacute se fez ou se faz em nossas escolas (AMOP 2007 p07)

Os trabalhos para elaboraccedilatildeo de diretrizes curriculares para o oeste

paranaense comeccedilaram em 2005 juntamente com secretaacuterios municipais de

educaccedilatildeo do Oeste do Paranaacute Na primeira etapa foram organizados grupos de

trabalho para elaboraccedilatildeo de propostas para as disciplinas de Liacutengua

PortuguesaAlfabetizaccedilatildeo Matemaacutetica Histoacuteria Geografia e Ciecircncias Assim as

atividades comeccedilaram a partir de seminaacuterio com representantes das equipes de

ensino das secretarias municipais de educaccedilatildeo

No qual se discutiu sobre a concepccedilatildeo de homem de sociedade de conhecimento e sobre a funccedilatildeo da escola Participaram do evento aproximadamente 380 representantes (AMOP 2007 p25)

Os trabalhos seguiram no decorrer do ano de 2005 mediante reuniotildees dos

grupos junto aos profissionais da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo (SEED) que

atuaram na elaboraccedilatildeo das diretrizes para as escolas estaduais do Paranaacute O

Departamento Pedagoacutegico da AMOP integrou-se ao grupo como tambeacutem os

educadores da educaccedilatildeo baacutesica e instituiccedilotildees de ensino superior Posteriormente

abriram-se as discussotildees para toda regiatildeo a fim de compreender as primeiras

impressotildees da versatildeo preliminar do documento

A partir desse processo houve a reelaboraccedilatildeo desse documento que reelaborado a partir das contribuiccedilotildees dos educadores dos municiacutepios envolvidos tornou-se o ponto de partida para a elaboraccedilatildeo do curriacuteculo A construccedilatildeo do curriacuteculo foi feita por meio de um processo que desencadeou discussotildees preacutevias com os representantes dos municiacutepios sistematizaccedilatildeo dessas discussotildees por um grupo menor discussatildeo e anaacutelise dessa sistematizaccedilatildeo pelo conjunto de educadores de cada municiacutepio que tinha suas

102

contribuiccedilotildees registradas pelos seus representantes (AMOP 2007 p26)

A partir de entatildeo elaborado o curriacuteculo no que confere agraves questotildees da

diversidade a partir da realidade em Foz do Iguaccedilu foram identificados nas

diretrizes propostas para o ensino de Geografia e Histoacuteria componentes que

trabalham com a questatildeo da diversidade nas escolas Os conteuacutedos referentes ao

ensino da Geografia estatildeo nas seguintes proposiccedilotildees para o 5ordm ano

Caracteriacutesticas sociais ndash diversidades eacutetnicas e culturais do Paranaacute

Movimentos da populaccedilatildeo paranaense crescimento da populaccedilatildeo

Divisatildeo poliacutetica (formaccedilatildeo do conceito de distritomuniciacutepioestadopaiacutes)

A industrializaccedilatildeo e o crescimento urbano do Paranaacute ndash malha urbana

Tracircnsito - circulaccedilatildeo no estado ndash ligaccedilatildeo rodoviaacuteria ferroviaacuteria aeacuterea - vias pedagiadas ndash Fiscalizaccedilatildeo Poliacutecia Rodoviaacuteria e pesagem

Organizaccedilatildeo dos espaccedilos urbanos ndash problemas urbanos - centro e periferia Impostos e taxas pagamentos que financiam a infra-estrutura dos bens puacuteblicos (AMOPE 2007 p252-253)

Sobre os conteuacutedos propostos no AMOP (2007) o ensino de geografia propotildee que

as diversidades eacutetnicas e culturais presentes no Paranaacute sejam parte do conteuacutedo a

ser desenvolvido em sala de aula Tambeacutem a histoacuteria dos processos migratoacuterios

para o estado e a presenccedila dos diferentes grupos eacutetnicos que formam parte da

histoacuteria de formaccedilatildeo do Paranaacute (AMOP 2007)

Neste sentido a proposta da AMOP se aproxima da LDB96 e dos proacuteprios

PCN‟s que tratam da diversidade cultural com a diferenccedila de que ele eacute destinado

para a rede municipal de educaccedilatildeo do Oeste paranaense Nesta perspectiva haacute um

vieacutes positivo na medida em que delimita o oeste paranaense adotando o enfoque da

diversidade eacutetnico-racial o que permite maior aproximaccedilatildeo com a realidade do

aluno

103

346 Algumas consideraccedilotildees

Diante do exposto considerando os documentos analisados percebe-se que

haacute uma induccedilatildeo clara para que o trabalho pedagoacutegico com a temaacutetica da

diversidade esteja fundada na noccedilatildeo29 presente na Constituiccedilatildeo de 1988 de que o

Brasil sendo formado por trecircs raccedilas - o iacutendio o branco e o negro- deve considerar

essas e reconhececirc-las nos espaccedilos educacionais A LDB96 reafirma esses

propoacutesitos no artigo 26 Os PCN‟spor sua vez se adequa a LDB06 principalmente

com a criaccedilatildeo dos Temas Transversais

No plano estadual as poliacuteticas educacionais para diversidade natildeo ficam

distantes das propostas em niacutevel nacional pois devem obrigatoriamente seguir os

componentes das diretrizes nacionais Desse modo natildeo foi evidenciado nessas

poliacuteticas mecanismos que subsidiassem as escolas presentes em fronteira neste

caso Foz do Iguaccedilu com estrateacutegias para criar programas e projetos para a

diversidade Do mesmo modo podemos falar dos planos nacionais e estaduais de

educaccedilatildeo Por mais que enfatizem o trabalho pedagoacutegico conforme a realidade

local eles natildeo deixam de pensar no nacional Outro problema eacute a imposiccedilatildeo dessas

poliacuteticas puacuteblicas e os PCN‟s satildeo um exemplo de uma proposta vertical assim

como inuacutemeros projetos que chegam agrave escola sem uma preacutevia discussatildeo com as

bases que seriam as comunidades escolares

Desse modo o que pode ser feito nas escolas eacute uma adaptaccedilatildeo agrave realidade

local Todas essas poliacuteticas educativas chegam agrave regiatildeo da fronteira mas natildeo

atingem suas especificidades Por especificidades recordamos tratar-se da

presenccedila dos alunos estrangeiros nas escolas de Foz do Iguaccedilu a saber

paraguaios argentinos e brasiguaios que satildeo grupos que fizeram e fazem parte da

histoacuteria da cidade desde o seu iniacutecio mas ao mesmo tempo natildeo satildeo preocupaccedilatildeo

do Estado brasileiro devendo ser uma preocupaccedilatildeo de seus Estados Nacionais

Nesta loacutegica as escolas da regiatildeo natildeo foram criadas a partir da realidade

fronteiriccedila O multilinguismo eacute desconsiderado O Estado por meio da legislaccedilatildeo

impotildee o portuguecircs enquanto liacutengua oficial Falar de diversidade eacute possiacutevel desde

29

Pires-Santos e Cavalcanti (2008) definem o monolinguismo como um a adoccedilatildeo de uma

liacutengua homogecircnea pura uma liacutengua para um povo Trata-se na concepccedilatildeo das autoras de um mito ligado a interesses e investida de ideologia e que estaacute relacionado agrave nacionalidade

104

que seja referente aos grupos presentes no territoacuterio brasileiro que foram

historicamente colocados agrave margem da sociedade Logo 1) Seraacute que as nossas

escolas disponibilizam de tempo espaccedilo e interesse para desenvolver trabalhos de

combate ao preconceito contra o paraguaio chamado em momentos de ofensas de

xiru 2) E quanto agrave presenccedila aacuterabe na regiatildeo ela eacute discutida Como eacute a acolhida

destes na escola 3) O professor se sente preparado para lidar com estas questotildees

em sala de aula

Tais perguntas apresentadas acima foram motivadas a partir do pressuposto

de que temos um curriacuteculo nacional com raiacutezes eurocecircntricas conforme Tomaz

Tadeu da Silva (2007 p7) o curriacuteculo natildeo eacute neutro este ldquotransmite visotildees sociais

particulares e interessadas o curriacuteculo produz identidades individuais e sociais

particularesrdquo Por muito tempo a histoacuteria dos negros e indiacutegenas eram abordadas de

modo superficial por outro lado a histoacuteria antiga e recente da Europa sempre se fez

presente em nossos livros didaacuteticos Desconhecemos a Ameacuterica Latina seus povos

e histoacuteria logo desconhecemos os que fazem fronteira com o Brasil Squinelo

(2011) no artigo ldquoRevisotildees Historiograacuteficas A Guerra do Paraguai nos livros

didaacuteticos brasileiros-PNLD 2011rdquo ao analisar a histoacuteria da Guerra da Triacuteplice Alianccedila

presente nos livros didaacuteticos do Brasil aponta que pouco se discute considera a

versatildeo falha tendenciosa e conclui seu artigo com os seguintes questionamentos

Resta-me ainda algumas duacutevidas em relaccedilatildeo ao porquecirc entatildeo estudamos a Guerra do Paraguai na medida em que a) natildeo procuramos entender o sentido para os paiacuteses nela envolvidos b) natildeo buscamos a compreensatildeo de nosso desenvolvimento histoacuterico-soacutecio-cultural e econocircmico c) natildeo realizamos as conexotildees necessaacuterias ao entendimento das questotildees relacionadas ao Mercosul e finalmente d) natildeo propiciamos ao educando a compreensatildeo dos eventos histoacutericos de nosso passado latino-americano o que nos levaria a nos conhecer e a conhecer o outro e tambeacutem responderia muitas questotildees postas em nosso presente (SQUINELO 2011p 36)

35 O Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles um exemplo de poliacutetica

educacional para a fronteira

Dentro das poliacuteticas educacionais encontram-se outras variaacuteveis de poliacuteticas

dentre elas a poliacutetica linguiacutestica definida por Oliveira (2004 p38) como ldquoum o

conjunto de decisotildees que um grupo de poder sobretudo um Estado (mas tambeacutem

105

uma Igreja ou outros tipos de instituiccedilotildees de poder menos totalizantes) toma sobre o

lugar e a forma das liacutenguas na sociedade e a implementaccedilatildeo destas decisotildeesrdquo

Para Maher (2013 p 119) as poliacuteticas linguiacutesticas se referem aos objetivos e

agraves intervenccedilotildees que de uma forma ou outra visam ldquoafetarrdquo tanto o modo como as

liacutenguas se constituem quanto os modos como elas satildeo utilizadas eou transmitidas

A autora chama atenccedilatildeo para o equiacutevoco comumente difundido de que as poliacuteticas

lingusticas seriam apenas criadas por meio do governo ldquoPoliacuteticas linguumliacutesticas podem

ser arquitetadas e colocadas em accedilatildeo localmente uma escola ou uma famiacutelia pode

colocar em praacutetica ou estabelecer certa situaccedilatildeo sociolinguumliacutesticardquo (MAHER 2013

p120)

Essa perspectiva vai ao encontro da abordagem30 multicecircntrica ou policecircntrica

de poliacuteticas puacuteblicas que aleacutem de considerar o Estado inclui outras instacircncias como

protagonistas no estabelecimento de poliacuteticas puacuteblicas tais como as organizaccedilotildees

natildeo governamentais organizaccedilotildees privadas e organismos (DROS 1971

KOOIMAN 1993 RHODES 1997 HAJER 2003 apud SECCHI 2013) Nessa

premissa o PEIBF se enquadra na visatildeo multicecircntrica dos estudos de poliacuteticas

puacuteblicas uma vez que foi fruto de acordos bilaterais iniciados pela Argentina e o

Brasil no acircmbito do Mercado Comum do Sul (Mercosul)

O Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles de Fronteira (PEIBF) surgiu

dentro do oacutergatildeo pertencente ao Mercosul denominado Setor Educacional do

Mercosul (SEM) Segundo o documento ldquoEscolas de Fronteirardquo (BRASIL 2008) dos

antecedentes desse projeto encontra-se a oficializaccedilatildeo da criaccedilatildeo do MERCOSUL

em 1991 instituiccedilatildeo intergovernamental que nasceu com a assinatura do Tratado de

Assunccedilatildeo acordados inicialmente entre Argentina Brasil Paraguai e Uruguai

O bloco econocircmico Mercosul apresenta-se em um contexto de globalizaccedilatildeo

da economia O projeto teve como base as negociaccedilotildees entre Brasil e Argentina

30

Dentro das analises de poliacuteticas puacuteblicas Secchi (2013) discorre sobre o noacute conceitual que haacute na

literatura especializada nos estudos de poliacuteticas puacuteblicas Alguns pesquisadores defendem a abordagem estatista que considera as PP analiticamente monopoacutelio de atores estatais Outros a abordagem multicecircntrica que aleacutem de considerar o Estado inclui outras instacircncias como protagonistas no estabelecimento de poliacuteticas puacuteblicas

106

para a integraccedilatildeo de suas economias e os resultados positivos dessa integraccedilatildeo

levaram o Paraguai e o Uruguai a fazerem parte do projeto integracionista

O objetivo inicial do Mercosul fora a integraccedilatildeo dos quatros Estados

membros em termos de circulaccedilatildeo de bens e serviccedilos e de fatores produtivos da

formulaccedilatildeo de poliacutetica comercial comum da afirmaccedilatildeo de uma Tarifa Externa

Comum (TEC) e da busca por poliacuteticas legislativas comum aos paiacuteses membros Em

2012 a Venezuela tornou-se oficialmente mais um paiacutes membro do bloco e a Boliacutevia

caminha para o processo de ordenamento juriacutedico para oficializar sua participaccedilatildeo

Aleacutem disso o mercado comum conta com a participaccedilatildeo de paiacuteses associados

Chile Peru Colocircmbia Equador Guiana e Suriname

No final do seacuteculo passado o Mercosul passava por outro lado por crises do

ponto de vista comercial as dimensotildees poliacutetica sociocultural e educacional foram

ganhando relevacircncia (ALMEIDA 2015) Este periacuteodo de crise refere-se aos

impactos das poliacuteticas neoliberais implantadas na regiatildeo no decorrer das deacutecadas

de 1980 e 1990 O nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de pobreza passou de 136

milhotildees em 1980 para 222 milhotildees em 2004 (ESTAY 2007) Neste contexto de crise

econocircmica e aumento das desigualdades sociais que foi assinada a ldquoCarta de

Buenos Aires sobre o Compromisso Social no Mercosul Boliacutevia e Chile31rdquo no dia 30

de junho de 2000 A carta reconhece a importacircncia da dimensatildeo sociocultural do

Mercosul

Com a entrada de governos progressistas como a eleiccedilatildeo de Luiacutes Inaacutecio Lula

da Silva em 2003 e de Neacutestor Kircher na Argentina a funccedilatildeo do Mercosul enquanto

bloco meramente de integraccedilatildeo econocircmica foi revista e acrescida pelas dimensotildees

sociais para a integraccedilatildeo regional Desse modo a aacuterea social do Mercosul que

havia sido abordada na ldquoCarta de Buenos Airesrdquo e pela criaccedilatildeo da Reuniatildeo de

Ministros e Autoridades de Desenvolvimento Social do Mercosul foi expandida e

institucionalizada com a criaccedilatildeo do Instituto Mercosul Social (IMS) em 2007

(ALMEIDA 2015)

31

Em junho de 2000 os presidentes aprovaram a Carta de Buenos Aires com o Compromisso

Social no Mercosul Boliacutevia e Chile O documento estimula as autoridades competentes a ldquofortalecer o trabalho conjunto entre os seis paiacuteses assim como o intercacircmbio de experiecircncias e informaccedilotildees a fim de contribuir para a superaccedilatildeo dos problemas sociais mais agudos que os afetam e para definir os temas ou aacutereas onde seja viaacutevel uma accedilatildeo coordenada ou complementar para solucionaacute-los (BRASIL 2007 p25) Dentre as accedilotildees promovidas a partir da Carta encontra-se a criaccedilatildeo da Reuniatildeo de Ministros e Autoridades de Desenvolvimento Social do Mercosul instituiacuteda pela Decisatildeo n 612000 do CMC (ALMEIDA 2015p24)

107

A estrutura organizacional do Mercosul eacute composta pelo Conselho Mercado

Comum (CMC) Grupo Mercado Comum Comissatildeo Parlamentar Foro Consultivo

Econocircmico-Social Comissatildeo de Comeacutercio do Mercosul e Secretaria Administrativa

do Mercosul O CMC eacute responsaacutevel pela criaccedilatildeo da Reuniatildeo de Ministros da

Educaccedilatildeo (RME) principal responsaacutevel pela estrutura do Setor educacional do

Mercosul (SEM) (MERCOSUL EDUCACIONAL 2013) Dentre os objetivos

estrateacutegicos para a educaccedilatildeo do SEM estaacute agrave integraccedilatildeo e formaccedilatildeo de uma

identidade regional Tem como objetivo ser um espaccedilo regional no qual a educaccedilatildeo

seja de qualidade fundada no ldquoconhecimento intercultural o respeito agrave diversidade e

agrave cooperaccedilatildeo solidaacuteriardquo de modo a contribuir para a democratizaccedilatildeo dos sistemas

educacionais da regiatildeo (MERCOSUL 2011 p15) Da missatildeo definida pelo SEM

encontra-se a de

Formar um espaccedilo educacional comum por meio da coordenaccedilatildeo de poliacuteticas que articulem a educaccedilatildeo com o processo de integraccedilatildeo do MERCOSUL estimulando a mobilidade o intercacircmbio e a formaccedilatildeo de uma identidade e cidadania regional com o objetivo de alcanccedilar uma educaccedilatildeo de qualidade para todos com atenccedilatildeo especial aos setores mais vulneraacuteveis em um processo de desenvolvimento com justiccedila social e respeito agrave diversidade cultural dos povos da regiatildeo (MERCOSUL EDUCACIONAL 2011 p10)

No acircmbito do SEM encontra-se o Comitecirc Coordenador Regional cuja funccedilatildeo eacute

propor poliacuteticas de integraccedilatildeo e cooperaccedilatildeo da aacuterea educacional Uma vez

estabelecidas como liacutenguas oficiais do MERCOSUL o espanhol guarani e

portuguecircs coube ao setor educativo do bloco enfatizar em seu plano de accedilatildeo a

necessidade de difundir o ensino de portuguecircs e do espanhol por meio dos

sistemas educativos formais e informais

Como parte desse processo o Setor Educacional do Mercosul ndash SEM aponta nos seus planos de accedilatildeo a necessidade de difundir o aprendizado do portuguecircs e do espanhol por meio dos sistemas educacionais formais e natildeo formais considerando como aacutereas prioritaacuterias o fortalecimento da identidade regional levando dessa forma ao conhecimento muacutetuo a uma cultura de integraccedilatildeo e agrave promoccedilatildeo de poliacuteticas regionais de formaccedilatildeo de recursos humanos visando agrave melhoria da qualidade da educaccedilatildeo (BRASIL 2008 p 6)

351 Do processo de elaboraccedilatildeo

Conforme Secchi (2013) a tomada de decisatildeo no momento de se propor uma

poliacutetica puacuteblica eacute uma etapa em que os interesses dos atores satildeo equacionados

108

onde as razotildees de um problema puacuteblico satildeo explicitadas Nessa fase a equipe

bilateral de teacutecnicos e linguistas argentinos e brasileiros foram requeridos para

formular o projeto a fim de atender agraves expectativas dos dois paiacuteses Assim o projeto

proposto pela equipe teve como intuito promover as liacutenguas espanhola e portuguesa

atraveacutes do ensino biliacutengue e atraveacutes de intercacircmbios culturais entre Argentina e

Brasil

352 Do processo para implementaccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica

Para O‟Tolle Jr (2003 apud Secchi 2003p55 ) ldquoa fase de implementaccedilatildeo eacute

aquela em que regras rotinas e processos sociais satildeo convertidos de intenccedilotildees em

accedilotildeesrdquo Dos elementos baacutesicos para anaacutelise desse processo encontram-se

() pessoas e organizaccedilotildees com interesses competecircncias e comportamentos variados () tambeacutem fazem parte de processo as relaccedilotildees existentes entre as pessoas as instituiccedilotildees vigentes (regras formais e informais) os recursos financeiros materiais informativos e poliacuteticos (capacidade de influecircncia) (SECCHI 2013 p57)

Nesta perspectiva o Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles de Fronteira

foi implementado inicialmente em 2005 nas cidades brasileiras de Dioniacutesio

Cerqueira no estado de Santa Catarina e Uruguaiana no Rio Grande do Sul Do

lado argentino as cidades que aderiram ao programa foram Bernado de Irogoyen

em Misiones e Paso de los Libres em Corrientes O programa foi implantado pelo

Governo Federal brasileiro por meio da Coordenaccedilatildeo de Formaccedilatildeo Continuada do

Departamento de Poliacuteticas de Educaccedilatildeo Infantil e do Ensino Fundamental da

Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica32 em conjunto com o Ministeacuterio de la Educaciacuteon

Ciencia y Tecnologia (MEC y T) da Argentina A partir de 2006 o programa

estendeu-se para outras regiotildees de fronteira sendo elas Puerto Iguazuacute em

Misiones e Santo Tomeacute e La Cru e Corrrientes na Argentina e Foz do Iguaccedilu no

Paranaacute e Satildeo Borja e Itaqui no Rio Grande do Sul

Desde o primeiro momento algumas questotildees sobre sua origem foram

criticadas Sagaz (2013) aponta que o MEC natildeo apresentou o PEIBF oficialmente

como um Programa Temaacutetico ou um Projeto proposto e aprovado em Plano Pluri

32

O PEIF eacute de responsabilidade da Coordenaccedilatildeo Geral de Ensino Fundamental (COEF) na Diretoria

de Curriacuteculos e Educaccedilatildeo Integral - (DICEI) da Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica (SEB) no MEC

109

Anual (PPA) Para o autor natildeo era intenccedilatildeo do poder legislativo discutir os

orccedilamentos ldquotampouco eacute uma accedilatildeo de governo no que diz respeito agraves suas

diretrizes poliacuteticas uma vez que o oacutergatildeo competente natildeo solicitou a formalizaccedilatildeo

dos recursos junto ao PPArdquo (SAGAZ 2013 p 43) Isto manteve o PEIBF ateacute 2010

distante da prioridade e discussatildeo por parte do governo se comparado a outros

Programas e Projetos

O processo de implementaccedilatildeo comeccedilou no ano de 2004 com a primeira

reuniatildeo de planejamento No mesmo ano na cidade de Dioniacutesio Cerqueira ocorreu

uma reuniatildeo para instituir o programa na escola eleita Dentre as instituiccedilotildees

presentes encontravam-se o Instituto de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento em

Poliacutetica Linguiacutestica (IPOL) a 30ordf Gerecircncia Regional de Educaccedilatildeo e Inovaccedilatildeo

(GEREI) e o MECyT

A escola brasileira escolhida para a implementaccedilatildeo do projeto foi a Dr

Theodureto Carlos de Faria Souto A escola possui uma localizaccedilatildeo estrateacutegica pois

estaacute a aproximadamente dois quilocircmetros do posto da Receita Federal na fronteira

BrasilArgentina ldquoPode-se ir caminhando da escola ateacute o outro paiacutes sem nenhum

impedimento em relaccedilatildeo agraves vias de acesso e em relaccedilatildeo ao posto alfandegaacuteriordquo

(SAGAZ 2013 p77) Nela ocorreu a primeira reuniatildeo com os pais dos estudantes

em fevereiro de 2005 De acordo com a equipe teacutecnica a implementaccedilatildeo do PEIBF

deveria ser gradual a comeccedilar com a inclusatildeo das seacuteries iniciais do ensino

fundamental no projeto para posteriormente incluir as demais seacuteries A ampliaccedilatildeo

do projeto para todas as seacuteries da educaccedilatildeo baacutesica de uma soacute vez poderia causar

transtornos dada a necessidade de adequaccedilatildeo dos sistemas locais de educaccedilatildeo agrave

sua estrutura (BRASIL 2008)

As seacuteries escolhidas para o projeto foram o primeiro e segundo ano do ensino

fundamental A estrutura operacional e a tentativa de avanccedilar nas seacuteries iniciais do

ensino fundamental para os anos finais segundo a relatoria tornaram-se inviaacuteveis

pela falta de entendimento pedagoacutegico entre Argentina e Brasil (BRASIL 2008) Em

2006 os ministeacuterios dos paiacuteses envolvidos no PEIBF comeccedilaram a formular um

documento com diretrizes para todas as escolas em zonas de fronteiras envolvidas

no projeto intitulado ldquoModelo de ensino comum em escolas de zona de fronteira a

partir do desenvolvimento de um programa para a educaccedilatildeo intercultural com

ecircnfase no ensino do portuguecircs e do espanholrdquo Em 2012 o documento baacutesico foi

reelaborado contando com a contribuiccedilatildeo do Uruguai e Paraguai O nome do

110

documento passou a ser Modelo de ensentildeanza comuacuten em escuelas de zona de

frontera a partir del desarrollo de un programa para la educacioacuten intercultural com

eacutenfasis em la ensentildeanza de latildes lenguas predominantes en la regioacuten (MERCOSUL

EDUCACIONAL 2014)

Segundo o documento inicial do programa a projeccedilatildeo pretendida era de que

a cada ano fosse ampliado o nuacutemero de turmas envolvidas e que se avanccedilasse para

as proacuteximas seacuteries de modo que os alunos que fazera parte do programa pudesse

adquirir a familiarizaccedilatildeo com a cultura do paiacutes vizinho

O Programa tem por metodologia o intercacircmbio docente e as escolas satildeo as

responsaacuteveis por organizar os quadros dos professores que iratildeo fazer parte das

chamadas escolasespelhos (unidades baacutesicas de trabalho atuando como uma

unidade operacional)

Esta forma permite aos docentes dos paiacuteses envolvidos vivenciarem eles mesmos na sua atuaccedilatildeo e nas suas rotinas semanais praacuteticas de bilinguumlismo e de interculturalidade semelhantes agraves que querem construir com os alunos na medida em que se expotildeem agrave vivecircncia com seus colegas do outro paiacutes e com as crianccedilas das vaacuterias seacuteries com as quais atuam (BRASIL 2008 p21)

353 Avaliaccedilatildeo da Poliacutetica Puacuteblica- Primeiros impactos do PEIBF

De acordo com Leite e Flexor (2006) a avaliaccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica

consiste em verificar os efeitos atribuiacutedos agrave accedilatildeo do governo tendo portanto um

caraacuteter normativo Os autores afirmam que os avaliadores agem em funccedilatildeo de

quadros de referecircncia com valores e normas incluindo a percepccedilatildeo que devem ser

considerados nesse processo

A dificuldade dessa fase reside tambeacutem no fato de que os resultados efetivos satildeo relativamente independentes das expectativas iniciais Aleacutem disso as aspiraccedilotildees podem mudar no decorrer do percurso outros problemas podem surgir os objetivos satildeo geralmente ambiacuteguos e causas externas podem explicar os resultados Em outras palavras natildeo existe causalidade uniacutevoca (LEITE FLEXOR 2006 p 11)

Para Secchi (2013) existem alguns modelos diferenciados de avaliaccedilatildeo Haacute

aquelas que ocorrem anterior agrave implementaccedilatildeo (ex ante) e a avaliaccedilatildeo posterior agrave

implementaccedilatildeo (ex post) Existe tambeacutem a avaliaccedilatildeo que ocorre durante o processo

de implementaccedilatildeo cujo objetivo eacute a busca de ajustes imediatos O referido autor

111

elenca os principais criteacuterios utilizados para avaliaccedilotildees sendo eles economicidade

produtividade eficiecircncia econocircmica eficiecircncia administrativa eficaacutecia e equidade

O documento preliminar -Programa Escolas Biliacutenguumles de Fronteira - Modelo

de ensino comum em escolas de zona de fronteira a partir do desenvolvimento de

um programa para a educaccedilatildeo intercultural com ecircnfase no ensino do portuguecircs e

do espanholrdquo ( MEC y T MEC2008) busca analisar os primeiras experiecircncias do

projeto Nesse sentido trata-se de uma avaliaccedilatildeo que ocorreu durante o processo

de implementaccedilatildeo Dentre as consideraccedilotildees feitas nessa primeira etapa encontram-

se

- Do repertoacuterio linguumliacutestico das crianccedilas Apoacutes alguns meses do estabelecimento do

programa as professoras envolvidas evidenciaram que as crianccedilas argentinas

tinham maior familiaridade com a liacutengua portuguesa enquanto as crianccedilas

brasileiras tiveram dificuldades para assimilar o espanhol

As crianccedilas argentinas jaacute satildeo em algum niacutevel biliacutengues entendem razoavelmente bem a liacutengua portuguesa e muitas a falam com facilidade Isso se deve ao fato de que muitos satildeo descendentes de brasileiros Aleacutem disso tecircm uma maior exposiccedilatildeo agrave liacutengua atraveacutes da miacutedia maior frequecircncia de estadia no Brasil e eventualmente em consequecircncia destes fatores nota-se uma maior disponibilidade da populaccedilatildeo argentina de fronteira para o aprendizado do portuguecircs (MECy T MEC 2008 p 13)

Neste periacuteodo identificou-se uma necessidade de promover uma ldquosensibilizaccedilatildeo

linguumliacutesticardquo de modo que as crianccedilas brasileiras pudessem querer aprender a liacutengua

espanhola Para tal sensibilizaccedilatildeo a praacutetica intercultural eacute fundamental assinala o

documento

Da necessidade de Intercacircmbio entre alunos Verificou-se que aleacutem do

intercacircmbio entre professores houve a demanda por intercacircmbio entre os alunos

No entanto esse processo eacute mais complexo de ser executado haja vista que haacute

empecilhos como a documentaccedilatildeo das crianccedilas para entrada em outro paiacutes As

crianccedilas brasileiras e argentinas soacute podem realizar a travessia com uma

documentaccedilatildeo assinada pelos pais autorizando sua travessia

Da carga horaacuteria das escolas Como satildeo secretarias educacionais e paiacuteses

distintos um modelo uacutenico para sua execuccedilatildeo eacute praticamente improvaacutevel Essa

112

pauta foi discutida na equipe quando foram elaborados trecircs modelos de

organizaccedilatildeo das escolas envolvidas

Escola em Tempo Integral (Jornada Completa) Nesse modelo os alunos

possuem pelo menos dois dias de aula de liacutengua estrangeira e uma carga

horaacuteria total de 6 horas semanais Como a escola eacute de tempo integral os

alunos podem ter outras atividades destinados agrave educaccedilatildeo biliacutengue

Escola em Contra-Turno eacute semelhante agrave escola de Tempo Integral mas

neste caso apenas em um dos turnos haacute o ensino biliacutengue

Escola em Turno Uacutenico em dois dias da semana os trabalhos do programa

escolas biliacutengues satildeo realizados dentro do proacuteprio turno num total de cinco

horas semanais

Entre os modelos apresentados acima o primeiro eacute o da escola Dioniacutesio

Cerqueira e Bernado Yrigoyen o segundo aplica-se a Foz do Iguaccedilu e Puerto

Iguazuacute o terceiro modelo encontra-se presente em Uruguaina Verificou-se que o

trabalho desenvolvido nas escolas de turno uacutenico possui em sua base curricular o

segundo idioma enquanto o trabalho em contra-turno jaacute assimila as atividades do

programa como atividade extra-curricular o que natildeo eacute o objetivo do PEIBF O

melhor turno para se desenvolver o programa eacute o Turno Uacutenico pois natildeo interfere na

rotina da escola nem na estrutura fiacutesica ou mesmo na contrataccedilatildeo de mais

funcionaacuterios ou aumento da carga horaacuteria dos professores envolvidos (BRASIL

2008)

A escola em contra-turno amplia o periacuteodo de permanecircncia do aluno na

instituiccedilatildeo uma estrateacutegia vaacutelida e uacutetil para o processo de aprendizagem do aluno

Conforme o documento de implantaccedilatildeo as experiecircncias aqui expostas somadas

aos debates nas reuniotildees das equipes de trabalho bilaterais e no decorrer dos

encontros de formaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo requerem a formulaccedilatildeo de um novo modelo

para o Programa para que se possa refletir e dar respostas as peculiaridades das

escolas interculturais biliacutenguumles (BRASIL 2008)

A partir de 2012 o PEIBF por meio da Portaria nordm 798 de 19 de junho de

2012 do Diaacuterio Oficial da Uniatildeo passou a se chamar Programa Escolas

Interculturais de Fronteira (PEIF)

113

Art 1ordm Fica instituiacutedo o Programa Escolas Interculturais de Fronteira (PEIF) com o objetivo de contribuir para a formaccedilatildeo integral de crianccedilas adolescentes e jovens por meio da articulaccedilatildeo de accedilotildees que visem agrave integraccedilatildeo regional por meio da educaccedilatildeo intercultural das escolas puacuteblicas de fronteira alterando o ambiente escolar e ampliando a oferta de saberes meacutetodos processos e conteuacutedos educativos sect 1ordm As Escolas Interculturais de Fronteira satildeo as escolas puacuteblicas Estaduais e Municipais situadas na faixa de fronteira e instruiacutedas pelo Modelo de ensino comum de zona de fronteira a partido desenvolvimento de um Programa para a educaccedilatildeo interculturalcom ecircnfase no ensino do portuguecircs e do espanhol da Declaraccedilatildeo Conjunta de Brasiacutelia firmada em 23 de novembro de 2003 pela Argentina e pelo Brasil e do Plano de Accedilatildeo do Setor Educativo do MERCOSUL (BRASIL 2012)

Pela mesma portaria criou-se o documento ldquoMarco Referencial de Desenvolvimento

Curricularrdquo o qual tem como objetivo central apresentar orientaccedilotildees comuns a serem

desenvolvidos pelas escolas envolvidas Entre os eixos organizadores encontram-

se

Eixo 1 - Funcionamento do Programa na escola

a) o envolvimento de toda a escola b) a definiccedilatildeo de metodologias dos projetos de aprendizagem c) a construccedilatildeo do projeto poliacutetico pedagoacutegico da escola intercultural (planejamento conjunto das accedilotildees) e regimento escolar d) considerar as especificidades curriculares e socioculturais das comunidades do campo indiacutegena e quilombola e) dinamizaccedilatildeo do relacionamento com escola do paiacutes vizinho definindo um plano de accedilatildeo conjunto para a realizaccedilatildeo do intercacircmbio docente aleacutem de outras accedilotildees que promovam a interculturalidade estendendo-se a todos os anos de escolarizaccedilatildeo da escola f) utilizaccedilatildeo das tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo disponiacuteveis e necessaacuterias Eixo 3 - Formaccedilatildeo continuada dos profissionais da educaccedilatildeo baacutesica sob a coordenaccedilatildeo das Universidades

a) compor o grupo local formado por Coordenador-geral do PEIF Coordenador-adjunto de Educaccedilatildeo Integral Supervisor de Articulaccedilatildeo e Acompanhamento Pedagoacutegico (secretaria de educaccedilatildeo) Pesquisadores Professores Formadores (universidade) Professor Formador (coordenador pedagoacutegico ou diretor da escola) Tutor agrave distacircncia (universidade) Tutor presencial eou PIBID (universidade para acompanhamento pedagoacutegico na escola) b) promover a articulaccedilatildeo no espaccedilo da Universidade entre educaccedilatildeo integral e interculturalidade c) articular-se com o comitecirc gestor de recursos financeiros de sua

114

instituiccedilatildeo d) ofertar accedilotildeescursos de aperfeiccediloamento e) contribuir para o repositoacuterio dos materiais de formaccedilatildeo f) agilizar os procedimentos de afastamento do paiacutes (tracircmite interno das IES) g) definir arranjos que permitam realizar formaccedilotildees dentro das regiotildees de fronteira nos municiacutepios h) elaborar produtos finais resultantes de cada moacutedulo de formaccedilatildeo conjunta com outros paiacuteses i) articular as accedilotildees do PEIF com o Programa Institucional de Bolsa de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia (PIBIDCAPESMEC) e com o Programa Novos Talentos (CAPESMEC) j) induzir a inclusatildeo da temaacutetica interculturalidade na perspectiva da educaccedilatildeo integral na formaccedilatildeo inicial dos cursos de licenciatura e poacutes-graduaccedilatildeo e na pesquisa acadecircmica k) promover o uso das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo realizar o diagnoacutestico sociolinguiacutestico das comunidades participantes do PEIF

Dentre os princiacutepios expostos acima destaca-se a participaccedilatildeo das

universidades o que abre espaccedilo para o desenvolvimento de pesquisas da criaccedilatildeo

de novas metodologias e de avaliaccedilotildees do projeto e da formaccedilatildeo docente numa

perspectiva intercultural O entendimento de interculturalidade do Programa eacute

() nesse caso ativa a escola seraacute intercultural na medida em que haja a participaccedilatildeo efetiva de profissionais e de alunos das diversas culturas envolvidas na comunidade educacional (e que natildeo satildeo soacute bdquoduas‟ a cultura argentina e a cultura brasileira o que corresponderia a pensaacute-las como unidades homogecircneas) em todas as instacircncias de convivecircncia que satildeo proacuteprias da instituiccedilatildeo escolar (BRASIL ARGENTINA 2008 p 26)

O Boletim produzido pela publicaccedilatildeo Salto para o Futuro que complementa

as ediccedilotildees televisivas da TV Escola do Ministeacuterio da educaccedilatildeo em sua primeira

ediccedilatildeo de 2014 apresentou o tema das Escolas Interculturais Biliacutenguumles de Fronteira

A professora Eliana Rosa Sturza coordenadora do Programa das Escolas

Interculturais de Fronteira na Universidade Federal de Santa Maria e do Laboratoacuterio

Entre liacutenguas da Universidade Federal de Sergipe relata as experiecircncias e

aprendizados do programa em diferentes cidades localizadas na fronteira

A proposta metodoloacutegica foi analisada por Sturza (2010 2014) enfocando a

experiecircncia das crianccedilas brasileiras em Uruguaiana no Rio Grande do Sul cuja

aprendizagem eacute dentro e fora de sala de aula Em uma das escolas as crianccedilas

confundiram as professoras argentinas com enfermeiras do posto meacutedico pois

115

estas usam avental branco costume que natildeo eacute habitual no Brasil As professoras

argentinas por sua vez estranharam as manifestaccedilotildees inicialmente constantes dos

alunos brasileiros que queriam abraccedilaacute-las tocaacute-las beijaacute-las ldquoEste eacute um traccedilo

cultural do comportamento brasileiro muito identificado pelo bdquoestrangeiro‟ Neste

caso nem tatildeo estrangeiro mas um vizinho do outro lado do riordquo (STURZA 2014

p26)

A experiecircncia dos professores brasileiros no projeto possibilitou que eles

tivessem contato direto com o sistema educacional do vizinho e esse contato gerou

novos espaccedilos de discussatildeo sobre o trabalho docente mediante as comparaccedilotildees

sobre os conteuacutedos relaccedilatildeo aluno-professor da infraestrutura das escolas e ateacute a

autonomia da gestatildeo escolar

Nesta experiecircncia os professores foram conhecendo o funcionamento e a estrutura do sistema educacional do paiacutes vizinho e percebendo como sistema brasileiro eacute autocircnomo em relaccedilatildeo ao sistema uruguaio ou argentino mais centralizado O aprendizado eacute de toda ordem ocorrendo entre os professores da escola e os das escolas parceiras ou seja argentinos e brasileiros debatem a educaccedilatildeo trocam ideias e fazem planejamento de projetos em conjunto (STURZA 2014 p25)

A metodologia tem como norte o ensino por Projetos de Aprendizagem (EPA)

modo de organizaccedilatildeo que permite o desenvolvimento de projetos localmente

envolvendo a participaccedilatildeo de toda a comunidade escolar ou outros grupos a

depender da necessidade do projeto

Ensino via Projetos de Aprendizagem (EPA) faz com que as crianccedilas participem de projetos biliacutengues que prevecircem tarefas a serem realizadas em portuguecircs e em espanhol Satildeo coordenadas respectivamente pela docente brasileira ou argentina de acordo com o niacutevel de conhecimento do idioma que possuam e de acordo com o planejamento conjunto realizado periodicamente por professoras argentinas e brasileiras com suas respectivas assessorias pedagoacutegicas (BRASIL 2008 p 28)

Nesta perspectiva os temas das aulas e os projetos de aprendizagem a

serem desenvolvidos parte dos interesses dos alunos Cabe agraves professoras

argentinas e brasileiras o desenvolvimento do programa em conjunto Sturza (2014)

ilustra alguns temas que surgiram da curiosidade dos alunos e que por sua vez

podem ser trabalhadas em conjunto Um exemplo nasce da pergunta porque os

dentes caem Curiosidade comum entre crianccedilas de 7 anos por estarem vivenciado

a troca dos dentes A fim de explicar esse processo as atividades partiram da leitura

116

da histoacuteria ldquoFada dos Dentesrdquo ou do ldquoRaacuteton Peacuterezrdquo a primeira contada no Brasil e a

segunda no Uruguai As tarefas realizadas satildeo como um ldquopasso a passordquo a partir de

um mapa conceitual33

Do ponto de vista normativo todos os trabalhos desenvolvidos devem estar

em acordo com as diretrizes curriculares de cada paiacutes juntamente com a proposta

curricular do projeto Sobre as formas de avaliaccedilatildeo dos alunos o documento da

versatildeo preliminar do programa visa agrave metodologia de bdquoportifoacutelio‟ ldquodefinido como o

acompanhamento realizado a partir de evidecircncias de variadas naturezas do trabalho

realizado pelos alunos individual e coletivamenterdquo (BRASIL 2008 p29) O portifoacutelio

eacute uma forma de organizar o conjunto de memoacuterias de obras realizadas pelo aluno

podendo ser realizadas individualmente ou em grupo O objetivo eacute mostrar a

trajetoacuteria de cada estudante no decorrer de um projeto permitindo que o professor

possa avaliar esse aluno atraveacutes das informaccedilotildees contidas no portfoacutelio

354 O PEIF em Foz do Iguaccedilu

O PEIF teve iniacutecio na cidade de Foz do Iguaccedilu em abril de 2006 a partir do

encontro com todos os envolvidos na cidade de Puerto Iguazuacute A primeira instituiccedilatildeo

responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo do projeto foi a Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo

Em 2014 a Universidade Federal da Integraccedilatildeo Latino-Americana (UNILA) passou a

coordenar o programa

As escolas escolhidas para realizaccedilatildeo do projeto foram a Escola municipal

Adele Zanotto Scalco em Foz do Iguaccedilu e a Escuela 164 em Puerto Iguazuacute As

escolas foram escolhidas pela localizaccedilatildeo estrateacutegica ambas ficam proacuteximas da

regiatildeo da Ponte Tancredo Neves ligaccedilatildeo entre os dois paiacuteses (CARVALHO 2012)

33

Mapas conceituais satildeo ferramentas graacuteficas para a organizaccedilatildeo e representaccedilatildeo do conhecimento Eles incluem conceitos geralmente dentro de ciacuterculos ou quadros de alguma espeacutecie e relaccedilotildees entre conceitos que satildeo indicadas por linhas que os interligam As palavras sobre essas linhas que satildeo palavras ou frases de ligaccedilatildeo especificam os relacionamentos entre dois conceitos Noacutes definimos conceito como uma regularidade percebida em eventos ou objetos designada por um roacutetulo Na maioria dos conceitos o roacutetulo eacute uma palavra embora algumas vezes usemos siacutembolos como + ou e em outras usemos mais de uma palavra Proposiccedilotildees satildeo enunciaccedilotildees sobre algum objeto ou evento no universo seja ele natural ou artificial Elas contecircm dois ou mais conceitos conectados por palavras de ligaccedilatildeo ou frases para compor uma afirmaccedilatildeo com sentido Por vezes satildeo chamadas de unidades semacircnticas ou unidades de sentido (CANAtildeS NOVAK 2010 p10)

117

Cabe destacar que a escola de Foz do Iguaccedilu eacute a uacutenica que participa do projeto no

Paranaacute conforme informaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (2015)

Sobre a estrutura do programa o relatoacuterio produzido pela Secretaria

Municipal da Educaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu na ocasiatildeo da primeira reuniatildeo entre a

equipe dos dois paiacuteses em abril de 2006 destaca os principais acordos para a

implementaccedilatildeo do programa nas escolas

Inicialmente o projeto atenderia duas turmas do ensino fundamental de cada

instituiccedilatildeo no turno da tarde todas as quartas-feiras

As aulas biliacutenguumles seriam ministradas no periacuteodo contra turno

A metodologia escolhida foi a de projetos pedagoacutegicos interculturais

A cada quinze dias os planejamentos das aulas seriam feitos com os

professores envolvidos no projeto com alternacircncia dos turnos de encontro e

das escolas

No mesmo relatoacuterio constam as comparaccedilotildees quanto agrave estrutura fiacutesica das

escolas A escola brasileira possui melhor estrutura fiacutesica pois possui videoteca

centro de esportes biblioteca sala de computaccedilatildeo e ar condicionado dentro das

salas de aula A escola argentina natildeo dispotildee desta estrutura Apesar destas

diferenccedilas as crianccedilas da escola brasileira e argentina natildeo possuem maiores

diferenccedilas quanto ao conhecimento pedagoacutegico

No iniacutecio do programa seu objetivo estava voltado para trabalhar com os

aspectos histoacutericos e culturais do paiacutes vizinhos tais como as muacutesicas roupas e as

comidas tiacutepicas de cada naccedilatildeo Depois por meio da assessoria do Instituto de

Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento de Poliacuteticas Linguiacutesticas (IPOL) no Brasil e

do Ministerio de Cultura Educacioacuten Ciencia y Tecnologiacutea de la Provincia de

Misiones (MCECyT) na Argentina passaram a adotar a pedagogia de projetos

(ALBUQUERQUE SOUSA 2014) O tema eacute escolhido pelos alunos e planejado

pelas professoras dos dois paiacuteses

Com a finalidade de conhecer o histoacuterico do PEIF a partir da experiecircncia

daqueles que estatildeo envolvidos diretamente no programa foram realizadas

entrevistas com duas professoras brasileiras ligadas ao programa e que ministram

aulas na argentina As entrevistadas tiveram seus nomes preservados A fim de

118

identificaacute-las adotamos os seguintes nomes fictiacutecios Tacircnia que participou do

projeto por cinco anos e Clara que entrou no programa em 2015

A professora Tacircnia que permaneceu no projeto por cinco anos na ocasiatildeo de

sua entrada relata que o programa na Argentina passava por um processo de

transiccedilatildeo Em 2009 eles inauguraram a Escuela Intercultural Biliacutengue 2 para atender

o PEIF Hoje o cruce (termo utilizado pelas professoras que realizam a travessia

para lecionar no paiacutes vizinho) eacute realizado duas vezes na semana sendo que o

nuacutemero de turmas para as duas escolas envolvidas satildeo as mesmas

Ateacute 2013 o nuacutemero de turmas atendidas por escola eram oito distribuiacutedas

entre quatro professoras com carga- horaacuteria correspondente a 2 horas As seacuteries

atendidas eram do 1ordm ao 4ordm ano No Brasil as professoras argentinas fazem o cruce

duas vezes na semana enquanto as brasileiras todas as quartas-feiras pela manhatilde

A partir de 2014 o nuacutemero de professoras brasileiras a participarem do projeto foi

reduzido pela metade

Assim como Sturza (2014) apontou esse processo de travessia possui um

significado aleacutem de ir ateacute uma escola estrangeira e colocar em praacutetica o programa

Trata-se de um processo de aprendizagem que vai desde as reflexotildees referentes

aos diferentes aspectos educacionais presentes nos dois paiacuteses ateacute os significados

que o programa exerce nos aspectos pessoais

Se eu tiver oportunidade eu volto porque eu gosto do projeto E o projeto eacute uma das minhas paixotildees eu gostei Eacute uma coisa super interessante eacute diferente acho que eacute um crescimento na profissatildeo da gente (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

As comparaccedilotildees em relaccedilatildeo agraves diferentes infraestruturas das escolas dos

dois paiacuteses satildeo inevitaacuteveis Tacircnia aponta que apesar da estrutura fiacutesica da escola

argentina ser muito boa os recursos didaacuteticos satildeo precaacuterios percebendo entatildeo os

contrastes que haacute nas poliacuteticas educacionais

A estrutura da escola laacute eacute muito boa eacute maravilhosa mas assim eacute tudo muito burocraacutetico no sentido de organizaccedilatildeo da escola Laacute eacute totalmente diferente aqui a gente tem fartura de material opccedilatildeo de coisa de tudo laacute bdquofarta‟ As salas satildeo uma penumbra com pouca iluminaccedilatildeo e tudo porque o governo natildeo daacute apoio nenhum como aqui tambeacutem (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

119

Outro ponto de comparaccedilatildeo satildeo os salaacuterios A professora Tacircnia aponta que o salaacuterio

da professoras argentinas eacute o dobro enquanto no Brasil o incentivo aos professores

eacute uma especulaccedilatildeo

Uma remuneraccedilatildeo diferente () ah isso aiacute jaacute foi questionado vaacuterias vezes que noacutes teriacuteamos um diferencial no salaacuterio a escola como um todo teria Se tivesse algum incentivo eu duvido que haveria resistecircncia em estar participando (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Quando a professora diz que ldquoeu duvido que haveria resistecircncia em estar

participandordquo ela se refere agrave resistecircncia de alguns professores em aderir ao PEIF

Quando questionada sobre o processo de escolha dos professores para o projeto

ela descreve que o correto eacute a rotatividade A cada um ou dois anos uma professora

ou professor deve assumir o projeto mas na praacutetica a direccedilatildeo eacute quem escolhe

A intenccedilatildeo do projeto eacute que se faccedila rodiacutezio soacute que aqui eacute por indicaccedilatildeo mesmo ldquoEsse ano vai ser vocecirc e ponto finalrdquo Porque por um bom tempo ficaram praticamente as mesmas pessoas igual eu permaneci por muito tempo (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

No iniacutecio do PEIF natildeo havia na carga horaacuteria oficial da escola a

disponibilidade para o preparo das aulas do programa O grupo que fazia parte do

projeto deveria encontrar uma brecha para organizar suas aulas

() depois do almoccedilo eu ia conciliando assim ia preparando a aula para as minhas turmas daqui para laacute e depois no ano passado34 quando entraram as outras professoras que melhorou comeccedilou a melhorar A prefeitura reduziu para dois professores e liberou a manhatilde para o projeto daiacute a escola se organizava como fosse possiacutevel Soacute que aumentou o nuacutemero de dias laacute (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Quando perguntada sobre a receptividade do projeto por parte dos

professores Tacircnia responde que havia outros motivos para resistecircncia

Tanto laacute quanto caacute haacute resistecircncia de professores tanto para trabalhar no projeto tanto para receber o projeto na escola Algumas coisas

34

Referente ao ano de 2014 tendo em vista que as entrevistas foram realizadas julho de 2015

120

avanccedilaram algumas estacionaram e muitas tecircm que melhorar ainda Porque ateacute agora o uacutenico objetivo () eacute um projeto lindo maravilhoso muito bom soacute que natildeo eacute feito na iacutentegra Poliacuteticos criam essas coisas e jogam e natildeo datildeo apoio Criam esses projetos porque foi na eacutepoca do Mercosul que foi criado soacute que natildeo datildeo apoio E aiacute a cada mudanccedila de governo eacute aquela burocracia porque um Ministro entra o outro sai o que entra natildeo sabe de nada do que estaacute acontecendo o que saiu deixa tudo engavetado natildeo passa pro outro () eacute aquela coisa (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Evidencia-se aiacute a criacutetica da professora Tacircnia agrave falta de acompanhamento por

parte do Estado em dar continuidade aos projetos O mesmo ocorre quanto aos

repasses de verba Do ponto de vista legal somente apoacutes a criaccedilatildeo da Portaria nordm

798 de 19 de junho de 2012 quando instituiu o Programa Escolas Interculturais de

Fronteira se pode falar em repasses de verba Em 2014 o Fundo Nacional de

Desenvolvimento da Educaccedilatildeo publicou como seriam feitos os repasses a escolas

de educaccedilatildeo baacutesica do Brasil para promover atividades em periacuteodo integral Dentro

desse grupo35 encontram-se os valores destinados agraves escolas que fazem parte do

Programa Escolas Interculturais de Fronteira no entanto a distribuiccedilatildeo de recursos

segue confusa

Segundo as professoras Tacircnia e Clara houve tambeacutem alguns retrocessos no

decorrer do projeto As duas destacam o processo de formaccedilatildeo dos professores

para atuarem no PEIF Em Foz do Iguaccedilu a universidade que coordena a formaccedilatildeo

para os professores eacute a UNILA entretanto as professoras entrevistadas se

queixam da ausecircncia da instituiccedilatildeo no ano de 2015

No ano passado acho que soacute teve uma formaccedilatildeo que ela (UNILA) proporcionou Mas nem foi a Unila quem acabou dando essa formaccedilatildeo foram as nossas supervisoras aqui Eu arrumei o material com as professoras que jaacute nem estatildeo mais aqui () eu nunca mais tive essas formaccedilotildees no comeccedilo noacutes tivemos vaacuterias (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

35

O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo publicou por meio da Resoluccedilatildeo nordm 14 de

2014 os detalhes de como seratildeo feito os repasses de verba para as escolas de educaccedilatildeo baacutesica a fim de promover atividades em periacuteodo integral e aos finais de semana De acordo com a Resoluccedilatildeo os montantes repassados seguiratildeo os moldes do Programa Dinheiro Direto na Escola As escolas envolvidas satildeo aquelas que desenvolveratildeo atividades em periacuteodo integral podendo ser urbanas rurais ou no caso das escolas do PEIF a promoccedilatildeo do ensino biliacutenguumle (BRASIL 2016) Disponiacutevel em lthttpwwwbrasilgovbreducacao201406fundo-destina-verba-para-garantir-atividades-da-educacao-integralgt Acesso em 14102015

121

A professora Clara quando questionada se jaacute passou por alguma formaccedilatildeo

responde que em 2015 teve uma que partiu da iniciativa dos professores da escola

Foi para os professores novos que trabalham aqui para conhecerem o projeto pois muitos professores sabem que existe o projeto sabe mais ou menos como ele funciona sabe assim que tem professoras de laacute que vem pra caacute e professoras daqui que vai pra laacute e soacute Mas o funcionamento mesmo tinha bastante professor que natildeo conhecia Daiacute agrave escola tomou iniciativa de fazer um dia todo de formaccedilatildeo Foram levantadas as dificuldades que cada um sentia ou no que poderia mudar mas ateacute agora ningueacutem deu um parecer daquilo ficou no papel (Entrevista realizada com a professora Clara em julho de 2015)

O que chama atenccedilatildeo na fala da professora Clara eacute a iniciativa local A

comunidade escolar organizou um curso de formaccedilatildeo para os professores Nesse

sentido abre possibilidades para que ainda que as poliacuteticas tenham sido em sua

elaboraccedilatildeo sem discussatildeo com as escolas no momento em que se inicia na

praacutetica pode ser ressignificada Aleacutem disso faz-se necessaacuterio maior estreitamento

com a instituiccedilatildeo responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo do PEIF pois conforme a fala das

professoras entrevistas eacute importante a formaccedilatildeo dos professores envolvidos no

projeto

Tacircnia quando questionada se ela conhecia o processo de elaboraccedilatildeo em que

surgiu o PEIF embora goste do projeto deixa claro que a iniciativa na sua

concepccedilatildeo foi arbitraacuteria

Noacutes bdquoengolimos goela a baixo‟ Soacute que natildeo tem apoio nenhum () assim eacute uma coisa muito bonita eacute um projeto maravilhoso Na verdade para ser um projeto mesmo tinha que ter a integraccedilatildeo tanto de noacutes professores funcionaacuterios e tudo mas principalmente das crianccedilas Conhecer a realidade um do outro soacute que isso noacutes nunca conseguimos (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Uma das criacuteticas evidenciadas no decorrer desta dissertaccedilatildeo eacute que o

processo histoacuterico de elaboraccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais tem origem

distante dos interesses dos grupos interessados por elas Mesmo quando eacute fruto das

demandas sociais elas passam por um confronto de interesses cujo resultado

culmina em leis projetos programas e curriacuteculos que nascem ambiacuteguos

(FRIGOTTO 2002)

122

Santos (et al 2015) em artigo sobre a construccedilatildeo de conhecimento em

Linguiacutestica Aplicada com foco no letramento considerando os conflitos entre o

conhecimento local o campo acadecircmico e os programas governamentais

descrevem as experiecircncias vivenciadas em um processo de formaccedilatildeo de

professores em uma escola puacuteblica na Triacuteplice Fronteira (Brasil Paraguai e

Argentina) As autoras chamam atenccedilatildeo para a resistecircncia de alguns professores

que podem interpretar a interferecircncia externa natildeo como uma cooperaccedilatildeo mas como

ameaccedila pela ldquoimposiccedilatildeo de um conhecimento considerado superior e

consequumlentemente tambeacutem uma desqualificaccedilatildeo do trabalho ali construiacutedordquo

(SANTOS et al 2015p 51) No caso do PEIF a criacutetica da professora Tacircnia

encontra-se na ausecircncia da participaccedilatildeo dos professores diretamente envolvidos no

programa e da falta de integraccedilatildeo entre os alunos dos dois paiacuteses envolvidos

355 As fronteiras do projeto

Quando perguntado agraves professoras quais satildeo as possiacuteveis sugestotildees para

melhorias para o projeto elas sugerem que os alunos possam fazer parte do cruce

No entendimento delas seria importante a integraccedilatildeo entre esses alunos Poreacutem a

rigidez das aduanas com relaccedilatildeo agrave documentaccedilatildeo e agrave travessia de crianccedilas na

ausecircncia dos pais somadas a toda responsabilidade que isso acarretaria torna

difiacutecil imaginar essa possibilidade Com isso o intercacircmbio dos alunos se reduz ao

envio de viacutedeos cartas e fotografias

Tacircnia acrescenta ainda que os proacuteprios professores correm um certo risco ao

fazer a travessia Em caso de acidente natildeo haacute nada que possa comprovar que elas

estavam em horaacuterio de trabalho

A gente vai pra laacute com a cara e a coragem noacutes natildeo temos nada que nos assegure Que Deus o livre se acontece uma desgraccedila Natildeo sei como que vai ficar porque natildeo tem nada que nos assegure Noacutes natildeo temos um seguro de vida nada que nos ampare legalmente (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Quando perguntadas sobre as dificuldades referentes ao bilinguumlismo as

professoras expressam que os alunos argentinos compreendem bem o portuguecircs e

alguns falam portunhol Satildeo curiosos conhecem as novelas os jornais e muacutesicas

123

brasileiras Este fato eacute atribuiacutedo ao intenso contato com os meios de comunicaccedilatildeo

brasileiro principalmente a televisatildeo explica Tacircnia

No comeccedilo eu achei que ia ter dificuldade de entendimento eacute claro que a gente natildeo entende cem por cento mas eu natildeo vi dificuldade nenhuma porque laacute eles satildeo muito receptivos Laacute as crianccedilas participam muito mais do que aqui e assim quanto agrave liacutengua natildeo tem dificuldade nenhuma porque as crianccedilas falam o portunhol e muitos o portuguecircs perfeitamente e eles nos entendem perfeitamente Laacute eles seguem as nossas programaccedilotildees da TV falam que aprendem o portuguecircs na TV na tela Eles amam o portuguecircs eles amam a programaccedilatildeo nossa aqui a gente chega laacute pelo menos nas salas que eu entrava eles querem falar sobre a novela eles querem conversar sobre as nossas programaccedilotildees e quando eu os questiono sobre onde eles aprenderam tudo aquilo eles respondem na tela professora na tela (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Os alunos brasileiro tecircm muita dificuldade com o espanhol Tacircnia explica que

geralmente as professoras brasileiras tecircm que permanecer em sala de aula para

auxiliar as professoras argentinas Retomo os aspectos histoacutericos da cidade para

explicar que o espanhol foi uma liacutengua presente no ensino do municiacutepio mas que foi

retirada do curriacuteculo acrescentando a importacircncia de se promover novamente a

inserccedilatildeo do espanhol nos curriacuteculos baacutesicos para as escolas situadas em fronteira

ou que pelo menos as escolas que integram PEIF

Creio eu que pra nossa cidade aqui () noacutes vivemos em uma fronteira aonde convivemos com dois paiacuteses que fala espanhol entatildeo natildeo que o inglecircs natildeo seja importante mas pelo menos na rede puacuteblica ou ateacute mesmo na particular o espanhol deve fazer parte da grade ou pelo menos nas escolas que tem esse projeto (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

356 PEIF Uma alternativa na fronteira

Com base na literatura que destaca a importacircncia de se analisar as poliacuteticas

puacuteblicas foi possiacutevel verificar que o Programa Escolas Interculturais Biliacutengues

possui algumas falhas advindas de seu processo de implementaccedilatildeo Dos atores

envolvidos nesse processo os principais satildeo oriundos dos Ministeacuterios da Educaccedilatildeo

a partir de acordos bilaterais Nesse sentido a verticalizaccedilatildeo da implementaccedilatildeo

originou alguns problemas como resistecircncia em aderir ao projeto divergecircncias de

turnos e conflitos de carga horaacuteria das escolas envolvidas Esses problemas talvez

124

pudessem ser amenizados caso os professores e demais membros da equipe

pedagoacutegica das escolas fizessem parte do processo de estruturaccedilatildeo do programa e

natildeo apenas da execuccedilatildeo

A inserccedilatildeo do Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles na cidade de Foz do

Iguaccedilu enquanto uma poliacutetica linguumliacutestica e ao mesmo tempo integracionista

demonstrou alguns ranccedilos Primeiro os documentos de 2008 sobre os primeiros

impactos do programa trata do tema resistecircncia do professor ao aderir ao programa

tambeacutem constado na fala da professora entrevistada que criticou o caraacuteter arbitraacuterio

das poliacuteticas educacionais e de como elas chegam agraves escolas

Eacute importante assinalar que do processo de implementaccedilatildeo o PEIF comeccedilou

sem um marco oficial para a sua institucionalizaccedilatildeo Segundo o ldquoPrograma de

Promoccedilatildeo do Desenvolvimento da Faixa de Fronteirardquo (2010) de 2004 ateacute 2010

ainda natildeo havia as bases legais para implementaccedilatildeo do Programa Isso deu

margem para que em vaacuterias anaacutelises o Programa fosse descrito como projeto pois

natildeo havia um estatuto ou algo que delimitasse o que caracterizava essa poliacutetica

Arbitraacuteria tambeacutem eacute a ausecircncia de discussotildees mais profundas sobre a

implementaccedilatildeo de uma poliacutetica linguiacutestica em regiatildeo de fronteira Nas entrevistas

constatou-se que os alunos argentinos possuem mais proximidade com a liacutengua

portuguesa e em contrapartida os alunos brasileiros demonstraram pouca

intimidade com a liacutengua portuguesa Sturza (2006) explica que enquanto no campo

internacional o espanhol deteacutem certo status se comparado ao portuguecircs na

fronteira esse papel eacute invertido pois argentinos da regiatildeo consideram o portuguecircs

como liacutengua de mais valor

Como pano de fundo desta discussatildeo encontra-se o Estado-naccedilatildeo O Brasil eacute

uma potecircncia regional36 o que pode contribuir tanto para o imaginaacuterio dos brasileiros

quanto de argentinos da regiatildeo ao considerarem os aspectos de nossa cultura isso

inclui nossa liacutengua oficial como superior ao espanhol Outro aspecto relevante eacute a

expressiva presenccedila dos meios de comunicaccedilatildeo por meio dos sinais de raacutedio e TV

que chegam aos lares argentinos o que faz com que eles tenham um contato mais

36

Ver Moniz Bandeira (2008) Texto para o seminaacuterio sobre ldquoA poliacutetica exterior do Brasil em sua

proacutepria visatildeo e na dos parceirosrdquo No artigo o autor cita os aspectos teoacutericos e histoacutericos que permitem caracterizar o Brasil enquanto uma potecircncia regional desde o seacuteculo XIX O que inclui sua dimensatildeo territorial seu poderio econocircmico e militar Disponiacutevel emlt httpwwwespacoacademicocombr09191bandeirapdf gt Acesso em 17112015

125

intenso com a liacutengua por meio dos programas de TV como as novelas citadas pela

professora entrevistada

O programa possui outras lacunas Eacute preciso estabelecer um consenso sobre

o orccedilamento para o programa a fim de fomentar a formaccedilotildees dos professores

manter uma estrutura que possibilite o transporte dos professores com seus

materiais didaacuteticos Contudo em termos de poliacutetica educacional para fronteira eacute a

primeira destinada para regiotildees de fronteira o que significa um certo avanccedilo para a

regiatildeo Eacute importante destacar que o PEIF eacute uma poliacutetica multilateral envolve outros

paiacuteses do Mercosul o que pode ser um exemplo de cooperaccedilatildeo para a promoccedilatildeo de

outras poliacuteticas educacionais

Eacute pioneirismo do Programa por meio da poliacutetica educacional para fronteira

internacional possuir como eixo a funccedilatildeo integradora onde o Mercosul tornou-se a

instituiccedilatildeo que fomentou a ideia a fim de promover programas que ultrapassam as

relaccedilotildees meramente econocircmicas entre os paiacuteses-membros A avaliaccedilatildeo inicial do

Programa mostrou que alguns pontos devem ser repensados Dos relatoacuterios

analisados constam poucos registros por parte dos professores sobre o processo de

aprendizado da liacutengua por parte dos alunos brasileiros Seria fundamental que o

mecanismo de avaliaccedilatildeo do Programa fosse aprimorado com instrumentos capazes

de captar como se daacute o programa em sala de aula mas conforme expresso aqui no

Brasil satildeo poucos os estudos e metodologias de avaliaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

126

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A relaccedilatildeo Estado-naccedilatildeo fronteira e poliacuteticas educacionais foram agraves palavras-

chave que nortearam esta dissertaccedilatildeo A hipoacutetese inicial eacute de que as poliacuteticas

educacionais principalmente as direcionadas para todo o ensino em niacutevel nacional

natildeo contempla as especificidades presentes na fronteira de Foz do Iguaccedilu Desse

modo para o desenvolvimento da hipoacutetese de trabalho buscou-se compreender um

pouco da histoacuteria da educaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu e suas particularidades por ser

uma cidade de fronteira

No primeiro capiacutetulo buscamos apresentar os principais conceitos que

norteiam a palavra fronteira Segundo a etimologia a palavra eacute de origem latina Foi

utilizada pela primeira vez no seacuteculo XVIII para estabelecer limites entre exeacutercitos

em conflito deslizando para as definiccedilotildees de fronteira do ponto de vista geograacutefico

geopoliacutetico e socioloacutegico (BECKER 2007 ALBUQUERQUE 2010 SILVA 2010)

Um dos principais objetivos deste capiacutetulo foi de apresentar a fronteira enquanto

uma regiatildeo em que eacute possiacutevel observar os principais instrumentos do Estado para o

construto da naccedilatildeo tais como a imprensa a escola e o exeacutercito

Dentro deste estudo a instituiccedilatildeo escolar foi o centro da pesquisa Com isso

foram apresentadas resultados de pesquisas anteriores (PEREIRA 2009 SOUZA

RODRIGUES 2009 TERENCIANI 2011) que destacam a relaccedilatildeo da escola na

fronteira sob diferentes perspectivas principalmente o da inserccedilatildeo do aluno oriundo

de outro paiacutes que faz fronteira com o Brasil e os principais desafios encontrados por

ele e para a escola Os dados apresentados neste capiacutetulo apontam que quando se

trata de investimentos em poliacuteticas puacuteblicas para regiatildeo de fronteira internacional o

Brasil tem priorizado as poliacuteticas de seguranccedila conforme os trabalhos de Franccedila e

Dorfman (2014) Trata-se de informaccedilotildees que vatildeo em direccedilatildeo aos aspectos

histoacutericos da funccedilatildeo do Estado e das concepccedilotildees de soberania e territoacuterio que

foram apresentadas no iniacutecio deste capiacutetulo

O segundo capiacutetulo apresentou a gecircnese das primeiras escolas na cidade de

Foz do Iguaccedilu sempre vinculadas aos outros aspectos como os fatores econocircmicos

e sociais Demonstrou-se que a formaccedilatildeo das escolas de Foz do Iguaccedilu antes

mesmo da fundaccedilatildeo da municipalidade contou com a presenccedila de estrangeiros que

na ausecircncia de um ensino formal criavam as suas proacuteprias escolas (WACHOWICZ

127

1984 SBARDELOTTO 2009) Essas escolas foram fechadas no periacuteodo

nacionalista momento em o governo brasileiro buscava a conformaccedilatildeo de uma

identidade e integraccedilatildeo nacional para tal conforme Lemiechek (2014) a criaccedilatildeo do

Territoacuterio Federal do Iguaccedilu em 1943 possibilitou maior controle das escolas

principalmente das escolas estrangeiras

Identificou-se ainda que em meados da deacutecada de 1970 nos relatoacuterios

sobre a situaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu no campo educacional havia uma tendecircncia em

depositar no aluno a culpa do fracasso escolar Nesse caso os alunos oriundos do

Paraguai e da Argentina eram considerados os mais fracos e ldquoatrapalhavamrdquo o

desenvolvimento do restante da turma ou seja a diferenccedila interpretada como um

problema para escola a liacutengua do outro como um entrave

O capiacutetulo trecircs sobre as poliacuteticas puacuteblicas para educaccedilatildeo apresenta um

breve histoacuterico das poliacuteticas educacionais brasileiras evidenciando que elas satildeo

fruto do contexto ao qual se inserem o periacuteodo ditatorial evidenciou a ausecircncia da

populaccedilatildeo no processo criaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais que por sua vez eram

controladas pelo Estado A partir do periacuteodo de abertura democraacutetica ateacute os dias

atuais as poliacuteticas educacionais passaram por inuacutemeras mudanccedilas Muitas

nasceram a partir das discussotildees oriundas de movimentos sociais das discussotildees

acadecircmicas etc Conforme Das e Poe (2004) o ldquoEstado eacute constantemente

refundado em suas formas de ordenar e fazer leis sugerindo que as margens satildeo

ldquodecorrecircncia e implicaccedilatildeo necessaacuteria do Estado assim como a exceccedilatildeo eacute um

componente necessaacuterio da regrardquo (DAS e POE 2004 p4)

Nesta premissa ao se analisar as principais poliacuteticas educacionais brasileiras

identificou-se que a questatildeo da diversidade cultural presente nos documentos tende

a generalizaccedilatildeo e homogeneizaccedilatildeo dada agrave superficialidade dos documentos Ainda

que represente um grande avanccedilo ao tornar obrigatoacuterio o ensino da cultura afro-

brasileira histoacuteria da Aacutefrica e indiacutegena nas escolas puacuteblicas e privadas brasileiras

quando chegamos agrave fronteira identificamos diversidades para aleacutem dessas duas

poliacuteticas

Tais princiacutepios de universalizaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais satildeo o espelho

de um Estado que se formou tentando ter como princiacutepio legal o tratamento igual da

populaccedilatildeo algo que soacute acentua as desigualdades existentes na medida em que o

diferente eacute tratado como um problema a ser solucionado Com esta noccedilatildeo o Estado

128

deixa de ser reconhecido como um importante ator na reproduccedilatildeo das

desigualdades para ser considerado a uacutenica soluccedilatildeo para os problemas sociais

Algumas pesquisas realizadas em escolas presentes em regiotildees de fronteira

constataram a erronia praacutetica de culpabilizar os alunos e professores pelo sucesso

ou fracasso escolar satildeo os professores que natildeo tem formaccedilatildeo satildeo os brasiguaios

argentinos e paraguaios com sua bdquohibridizaccedilatildeo linguiacutestica‟ satildeo os aacuterabes (colocados

em uma uacutenica caixa como se todos viessem do mesmo paiacutes) satildeo os alunos

indiacutegenas que chegam nas escola falando bdquoapenas‟ o guarani As pessoas tornam-se

problema

No caso de Foz do Iguaccedilu o perfil dos alunos que frequumlenta as instituiccedilotildees

escolares demonstra que os conceitos de cidadania natildeo satildeo riacutegidos se (des)fazem

na fronteira Os alunos que chegam aos espaccedilos escolares fronteiriccedilos natildeo

necessariamente assimilaratildeo a liacutengua portuguesa como uacutenica e oficial Ao mesmo

tempo estes alunos trazem consigo conhecimentos adquiridos de seu paiacutes de

origem mas o processo de equivalecircncia de estudos acaba por negar esses

conhecimentos que para serem validados devem ser bdquotraduzidos‟ para o portuguecircs

Para aleacutem do problema linguiacutestico temos a questatildeo da integraccedilatildeo desse

aluno no ambiente escolar que eacute ao mesmo tempo permeada por tensotildees mas

tambeacutem pela aproximaccedilatildeo com o outro Essas relaccedilotildees merecem atenccedilatildeo da escola

a fim de evitar manifestaccedilotildees xenofoacutebicas preconceituosas estigmatizadas e de

inferiorizaratildeo

A primeira hipoacutetese do trabalho me levou a pensar apenas na relaccedilatildeo Estado

Nacional e poliacuteticas educacionais para regiatildeo de fronteira Poreacutem os vazios

encontrados ao se analisar essas poliacuteticas e o modo como o Estado se faz presente

e ao mesmo distante da fronteira levou-me a refletir sobre a emergecircncia de outras

pedagogias

Para outros sujeitos outras pedagogias (ARROYO 2015) Paulo Freire em

sua obra a Pedagogia do Oprimido fala aos educadores que eacute preciso ter ldquoum

profundo respeito pela identidade cultural dos alunos e das alunas () implica

respeito pela linguagem do outro pela cor do outro o gecircnero do outro outrordquo

(FREIRE 2001 p60)

Conhecer de perto uma poliacutetica educacional para a fronteira do ponto de vista

institucional e das poliacuteticas de governo possibilitou-me a constatar contradiccedilotildees e

complexidades de uma poliacutetica que envolve natildeo apenas o campo das relaccedilotildees

129

internacionais mas o diaacutelogo na construccedilatildeo de um curriacuteculo as implicaccedilotildees legais

para o tracircnsito de pessoas na fronteira os questionamentos sobre as reais intenccedilotildees

do programa PEIF e de como esse programa foi concebido Pode-se considerar que

o PEIF foi a uacutenica poliacutetica puacuteblica analisada a partir dos dois eixos propostos no

iniacutecio do capiacutetulo terceiro Mainardes (2006) Assim traccedilamos os aspectos que

envolveu o papel do Estado na elaboraccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica e buscamos por meio

da anaacutelise dos documentos e entrevistas demonstrar os principais aspectos

impactos que a poliacutetica exerceu na escola envolvida considerando principalmente

as experiecircncia dos atores envolvidos neste caso das professoras entrevistadas

Dos caminhos possiacuteveis para uma poliacutetica educacional na fronteira a

perspectiva intercultural ldquoreconhece e assume a multiplicidade de praacuteticas culturais

que se encontram e se confrontam na interaccedilatildeo entre diferentes sujeitosrdquo (FLEURI

2003 p12)

Por fim ao considerar a fronteira uma regiatildeo que engloba as cidades de Foz

do Iguaccedilu Puerto Iguazuacute e Ciudad del Este a proposiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em

conjunto com os paiacuteses envolvidos satildeo importantes para atender as demandas

locais

130

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Page 6: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CENTRO …tede.unioeste.br/bitstream/tede/3593/5/Aline_Cristina_Paiva_2016.pdfSociedade, Cultura e Fronteiras e aprovada em sua forma final

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agrave Professora Dra Regina Coeli Machado pela compreensatildeo pelas

saacutebias orientaccedilotildees que natildeo se limitaram agraves paacuteginas desta dissertaccedilatildeo

Ao professor Dr Fernando Joseacute Martins e agrave professora Dra Neiva Maria Jung pela

participaccedilatildeo na banca de defesa

Aos meus pais Maria Aparecida e Joatildeo Bosco e irmatildeos Joatildeo Victor e William que me

deram o suporte necessaacuterio para essa jornada foi pensando neles que nos

momentos mais difiacuteceis tive forccedila para prosseguir

A todos os meus amigos que me apoiaram com as leituras de meus rascunhos

correccedilotildees e pelo incentivo que de modo direto ou indireto contribuiacuteram para a

conclusatildeo deste trabalho

Ao Eduardo Eliana e Baacuterbara que me deram o suporte emocional apoio e carinho

em toda essa trajetoacuteria

A primeira condiccedilatildeo para modificar a realidade consiste

em conhececirc-la

Eduardo Galeano (1985)

PAIVA Aline Cristina Poliacuteticas Educacionais para a diversidade e escolas nas fronteiras O caso de Foz do Iguaccedilu na fronteira com a Argentina e o Paraguai 2016 149 paacuteginas Dissertaccedilatildeo (Mestrado Interdisciplinar em Sociedade Cultura e Fronteiras)- Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute- UNIOESTE Foz do Iguaccedilu

RESUMO

O objetivo desta dissertaccedilatildeo eacute investigar as relaccedilotildees entre poliacuteticas educacionais e a diversidade cultural presente na fronteira de Foz do Iguaccedilu localizada no estado do Paranaacute A cidade brasileira juntamente com Ciudad del Este no Paraguai e Puerto Iguazuacute na Argentina formam a triacuteplice fronteira que dentre outras caracteriacutesticas eacute conhecida pelo turismo e pelas intensas relaccedilotildees comerciais O processo de formaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu foi marcado pela influecircncia dos paiacuteses da fronteira e pela presenccedila de outras nacionalidades e etnias Trata-se portanto de uma cidade natildeo apenas diversa pela presenccedila dos paraguaios e argentinos mas que tambeacutem eacute compartilhada por libaneses chineses coreanos chilenos bolivianos italianos dentre outros A escola e as poliacuteticas educacionais para esse contexto eacute o centro desta pesquisa na medida em que a instituiccedilatildeo escolar eacute um importante espaccedilo de socializaccedilatildeo A histoacuteria da educaccedilatildeo em Foz do Iguaccedilu e a histoacuteria das poliacuteticas educacionais no Brasil revelam como a escola eacute uma instituiccedilatildeo importante na formaccedilatildeo da identidade nacional e como estas afetam a relaccedilatildeo com o bdquooutro‟ Nesse sentido foram analisados documentos de poliacuteticas educacionais para a diversidade implementadas apoacutes a Constituiccedilatildeo de 1988 sendo elas a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional de 1996 os Paracircmetros Curriculares Nacionais para a pluralidade cultural de 1997 o Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute de 2015 e o curriacuteculo baacutesico para a escola puacuteblica municipal do oeste do Paranaacute feita pela Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oeste do Paranaacute (AMOP) em 2007 Por uacuteltimo buscou-se analisar o Programa Escola Intercultural Biliacutengue iniciativa do Mercosul que tem como objetivo integrar as regiotildees fronteiriccedilas por meio da educaccedilatildeo Com base nas analises das poliacuteticas educacionais para a diversidade principalmente a partir de 1988 verificou-se uma tendecircncia universalista dessas poliacuteticas para a diversidade que difere da diversidade particular vivida em Foz do Iguaccedilu PALAVRAS-CHAVE poliacuteticas educacionais escola estado fronteira

PAIVA Aline Cristina Educational policies for diversity and schools in the boundaries the case of Foz do Iguaccedilu on the border with Argentina and Paraguay 2016 149 pages Dissertation (Masters in Interdisciplinary Society Culture and Borders) - State University of Western Paranaacute-UNIOESTE Foz do Iguaccedilu

ABSTRACT

The objective of this study is from the relationship school and state investigate educational policies and consider whether they make it possible to work with diversity on the border of Foz do Iguaccedilu in the state of Paranaacute The Brazilian city along with Ciudad del Este in Paraguay and Puerto Iguazu in Argentina form the triple border which among other characteristics is known for tourism and the intense trade relations The process of formation of Foz do Iguaccedilu was marked by the influence of the border countries and the presence of other nationalities and ethnicities It is therefore a city not only different by the presence of Paraguayan and Argentinean neighbors but that is also shared by Lebanese Chinese Korean Chilean Bolivian Italian among others The school and educational policies in this context become the center of this research since the school is a major means of training and socialization of individuals and may contribute to the integration process the intercultural bias or other hand being a border to disregard the existence of ethnic and cultural diversity that makes up the school environment The reasons for the discussions in this work pass necessarily by the nation-state relationship with schoolThe history of education in Foz do Iguaccedilu and the history of educational policies in Brazil reveal how the school is an important institution in the national identity formation and how they impact relations in border schools To analyze the educational policies for diversity policies were analyzed educational documents from the Constitution of 1988 it derived the Law of Guidelines and Bases of National Education in 1996 and the National Curriculum Guidelines for cultural plurality in 1997 These two policies along with the State Plan for 2015 Paranaacute Education and basic curriculum for public school in western Paranaacute made by the Association of western Paranaacute Cities (AMOP) in 2007 to discuss public policies in the border region implies think of the region as a whole An example of an educational policy for border is the Intercultural Bilingual School Program the Mercosur initiative which passed through discussions with other countries in the border region In the city of Foz do the program takes place at the Municipal School Adele Zanotto Scalco and aims to contribute to the integral formation of children adolescents and young people through the articulation of actions aimed at regional integration through intercultural education by offering the bilingual educationIn order to get to know an educational policy there were two interviews with Brazilian teachers one former member of the program and the other which entered the year 2015 with the interviews it was possible to collect the first impressions of the program in Foz do Iguaccedilu its challenges and its importance as an educational policy in the field of linguistics integrationist content to influence future public policy KEYWORDS educational policies school state border

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Figura 01 - A Triacuteplice Fronteira- Argentina Brasil e Paraguai26

Figura 02- Favela Paraisoacutepolis em contraste com o bairro de classe alta Morumbi

em Satildeo Paulo capital27

Figura 03-Faixa de Fronteira do Brasil com os paiacuteses da regiatildeo28

Figura 04- Mapa da regiatildeo da Triacuteplice Fronteira- Argentina Brasil e Paraguai52 Figura 05-- Grupo Escolar Bartolomeu Mitre60

Figura 06- Escola Jorge Schimmelpfeng com crianccedilas carentes sob os cuidados do Capitatildeo Cyriacuteaco e de Joseacute Vicente Ferreira (os dois adultos agrave direta da foto rara)64

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AGB- Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros

ANPUH- Associaccedilatildeo Nacional de Histoacuteria

AMOP ndash Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oeste do Paranaacute

CEEPR- Conselho Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute

CF- Constituiccedilatildeo Federal

COEF- Coordenaccedilatildeo Geral de Ensino Fundamental

CONAE- Conferecircncia Nacional de Educaccedilatildeo

CMC- Conselho do Mercado Comum

CRUTACS- Centros Rurais Universitaacuterios de Treinamento e Accedilatildeo Comunitaacuteria

DCE ndash Diretrizes Curriculares da Educaccedilatildeo Baacutesica do Estado do Paranaacute

DICEI- Diretoria de Curriacuteculos e Educaccedilatildeo Integral

EBN- Empresa Brasileira de Notiacutecias

GEREI- Gerecircncia Regional de Educaccedilatildeo e Inovaccedilatildeo

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IPOL- Instituto de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento em Poliacutetica Linguiacutestica

ISEB- Instituto Superior de Estudos Brasileiros

PNC ndash Paracircmetros Curriculares Nacionais

IMS- Instituto Mercosul Social

LDB- Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional

MEC- Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

MEC Y T- Ministeacuterio de la Educaciacuteon Ciencia y Tecnologia

MERCOSUL- Mercado Comum do Sul

MOBRAL- Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo

MST- Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

NRE- Nuacutecleo Regional de Educaccedilatildeo

OMS- Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede

PPA- Plano Pluri Anual

PEIF- Programa Escolas Interculturais Biliacutengues

PEIBF- Programa Escolas Interculturais Biliacutengues de Fronteira

PCN- Paracircmetros Curriculares Nacionais

PDI- Plano de Desenvolvimento Integrado

PEEPR- Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute

PF- Poliacutecia Federal

PME- Plano Municipal de Educaccedilatildeo

PNE- Plano Nacional de Educaccedilatildeo

PNLD- Plano Nacional do Livro Didaacutetico

PP- Poliacutetica Puacuteblica

MERCOSUL- Mercado Comum do Sul

RME- Reuniatildeo de Ministros da Educaccedilatildeo

SEB- Secretaria da Educaccedilatildeo Baacutesica

SECAD- Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade

SEEDPR- Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

SENAC- Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Comercial

SEM- Setor Educacional do Mercosul

SISFRON- Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras

SIS-MERCOSUL- Sistema Integrado de Sauacutede do Mercosul

SUED- Superintendecircncia da Educaccedilatildeo

SUS- Sistema Uacutenico de Sauacutede

TEC- Tarifa Externa Comum

UFF- Universidade da Fronteira Sul

UNESCO- Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura

UNILA- Universidade Federal da Integraccedilatildeo Latino-Americana

UNIOESTE- Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 15

I Caminhos da pesquisa o percurso metodoloacutegico 20 II Estrutura da dissertaccedilatildeo 21

CAPIacuteTULO 1 Eacute PRECISO FALAR DA ESCOLA NA FRONTEIRA 25 11 Fronteira- Primeiras aproximaccedilotildees 25 12 Fronteira e a educaccedilatildeo como construto da naccedilatildeo 29 13 Reatualizaccedilatildeo de naccedilatildeo por deslizamentos em seus limites fronteiriccedilos 32 14 A porosidade do Estado sob a forma de poliacuteticas puacuteblicas 36 15 O contexto escolar vivido entre fronteiras a escola como reguladora do Estado 41

CAPIacuteTULO II A HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO EM FOZ DO IGUACcedilU CONSTRUTOS 50

21 Contexto histoacuterico 51 21Colocircnia Militar de Foz do Iguaccedilu e as primeiras escolas da regiatildeo 53 22 O projeto nacionalista do Estado Novo e a lsquonacionalizaccedilatildeo da fronteirarsquo61 23 Da construccedilatildeo de Itaipu agrave lsquoondarsquo de migraccedilatildeo e imigraccedilatildeo seus impactos na educaccedilatildeo 64 24 A Educaccedilatildeo a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 O direito agrave diversidade nas escolas 69

CAPIacuteTULO III POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS PARA A EDUCACcedilAtildeO NA FRONTEIRA ENTRE ARGENTINA BRASIL E PARAGUA 71

31 Poliacuteticas Puacuteblicas conceitos e abordagens 71 32 Caminhos das poliacuteticas educacionais no Brasil 74 33 Poliacuteticas educacionais a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 83 34 Escola e diversidade O que temos em termos de poliacuteticas educacionais 84

341 A LDB96 - A primeira lei originaacuteria da iniciativa civil e do legislativo 86 342 Os Paracircmetros Curriculares Nacionais 91 343 O Tema Transversal Pluralidade Cultural 94 344 O Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute 98 345 O Curriacuteculo da AMOP 100 346 Algumas consideraccedilotildees 103

35 O Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles um exemplo de poliacutetica educacional para a fronteira 104

351 Do processo de elaboraccedilatildeo 107 352 Do processo para implementaccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica 108 353 Avaliaccedilatildeo da Poliacutetica Puacuteblica- Primeiros impactos do PEIBF 110 354 O PEIF em Foz do Iguaccedilu 116 355 As fronteiras do projeto 122 356 PEIF Uma alternativa na fronteira 123

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 126

5 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 130

15

INTRODUCcedilAtildeO

Esta dissertaccedilatildeo apresenta um estudo sobre as poliacuteticas educacionais e

diversidade em regiatildeo de fronteira internacional Os estudos fronteiriccedilos perpassam

por diversas aacutereas do conhecimento como a Geografia Sociologia Antropologia

Ciecircncia Poliacutetica que tem apresentado inuacutemeras pesquisas a partir das mais

variadas formas de conceituar e abordar a temaacutetica (FRANCcedilA DORFMAN 2013)

No que se refere aos estudos sobre a regiatildeo de fronteira na aacuterea da educaccedilatildeo a

produccedilatildeo ainda eacute tiacutemida no Brasil (FEDATTO 1995 CITRINOVITZ 1996

ROSSATO 2003)

Para Pereira (2009) isso se reflete no processo de desenvolvimento das

poliacuteticas puacuteblicas que ateacute recentemente estavam sendo tratadas de forma

homogecircnea e unilateral ou seja sem levar em consideraccedilatildeo as particularidades de

cada regiatildeo fronteiriccedila No que tange agrave poliacutetica educacional brasileira esta deve ser

pensada em contexto amplo onde fatores como a Constituiccedilatildeo Federal a poliacutetica

nacional de direitos humanos e os acordos e tratados internacionais devem ser

considerados assim como os fatores sociais e culturais da sociedade brasileira

(SILVA MOURA MELLO 2013) Segundo Azevedo e Aguiar (2001) os estudos

sobre as poliacuteticas educacionais para regiatildeo de fronteira no Brasil satildeo recentes mas

encontra-se em processo de construccedilatildeo e crescimento

Por outro lado grupos como a Rede RETIS do Departamento de Geografia da

Universidade Federal do Rio de Janeiro atuam desde 1994 com pesquisa de limites

e fronteiras internacionais Com uma ampla rede de associados o grupo conta com

um acervo digital1 com diversas notiacutecias artigos teses e dissertaccedilotildees sobre

fronteiras internacionais incluindo trabalhos sobre educaccedilatildeo e fronteira

internacional Existe tambeacutem o acervo digital2 do Instituto de Investigaccedilatildeo e

Desenvolvimento em Poliacutetica Linguumliacutestica fundado em 1999 com sede em

Florianoacutepolis Santa Catarina Brasil que desenvolve projetos de apoio teacutecnico agraves

comunidades agraves comunidades de falantes de liacutenguas e variedads linguiacutesticas

1Site oficial do Retis lt httpwwwretisigeoufrjbr gt Acesso em 23062015

2Site Oficial do Ipol lthttpe-ipolorgpublicacoesgt Acesso em 23062015

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minoritaacuterias do Brasil e do Mercosul objetivando a manutenccedilatildeo e divulgaccedilatildeo da

diversidade linguumliacutestica braseleira O instituto aleacutem de publicaccedilotildees proacuteprias divulga

inuacutemeros trabalhos que tratam do tema das poliacuteticas lingustiacutecas sendo um important

mecanismo de busca para pesquisa relacionadas agrave educaccedilatildeo e fronteira

internacional divulgando trabalhos como o de Sagaz (2013) e Pereira (2014) que

apresentam em suas dissertaccedilotildees o tema das escolas interculturais biliacutenguumles de

fronteira

As universidades localizadas nas regiotildees de fronteira internacional tem se

constituiacutedo enquanto importantes centros de investigaccedilatildeo sobre educaccedilatildeo e

fronteira a citar a Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute (UNIOESTE) que

possui o programa de poacutes-graduaccedilatildeo strictu sensu em Sociedade Cultura e

Fronteira que conforme as especificaccedilotildees em sua paacutegina oficial3 tem entre outros

objetivos ldquoqualificar profissionais que desenvolvam durante o processo de formaccedilatildeo

capacidades para coordenar estudos e pesquisas transfronteiriccedilos na perspectiva

de ultrapassar as fronteiras geopoliacuteticardquo Nos uacuteltimos anos tambeacutem foram criadas

outras universidades em regiotildees de fronteiriccedilas como a Universidade Federal da

Fronteira Sul (UFF) criada em 2009 localizada na Mesorregiatildeo Grande Fronteira

Mercosul e a Universidade Federal da Integraccedilatildeo Latino-Americana (UNILA) criada

em 2010 na cidade de Foz do Iguaccedilu no Paranaacute Dentre outros objetivos estas

instituiccedilotildees buscam o desenvolvimento de pesquisa em regiotildees fronteiriccedilas

contribuindo assim para o crescimento de estudos no campo das poliacuteticas

educacionais em regiatildeo de fronteira internacional

O interesse em tratar do tema da fronteira e poliacuteticas educacionais comeccedilou

em 2011 momento em que saiacute de uma pequena cidade do interior de Minas Gerais

para chegar agrave cidade de fronteira Foz do Iguaccedilu no Oeste paranaense com o

objetivo de cursar uma segunda graduaccedilatildeo pois sou licenciada em Pedagogia pela

Universidade Federal de Viccedilosa em Minas gerais e agora bacharel em Ciecircncia

Poliacutetica e Sociologia pela Universidade Federal da Integraccedilatildeo Latino-Americana As

duas graduaccedilotildees foram fundamentais para despertar o interesse pela pesquisa e

pelo mestrado interdisciplinar em Sociedade Cultura e Fronteiras o que resultou

nesta dissertaccedilatildeo

3Paacutegina virtual do Mestrado em Sociedade Cultura e Fronteiras da Universidade Estadual do Oeste do Paranaacute lt

httpwwwunioestebrpossociedadeeculturagt Acesso em 13082014

17

Quando fiz a graduaccedilatildeo em Pedagogia meu interesse em poliacuteticas

educacionais para a diversidade nasceu em disciplinas de Sociologia da Educaccedilatildeo e

principalmente na disciplina que discutia as relaccedilotildees eacutetnicos e raciais nas escolas e

a formaccedilatildeo do professor A partir das reflexotildees sobre a funccedilatildeo da escola e do

professor em lidar com a diversidade eacutetica e racial em sala de aula meu problema

de pesquisa para a elaboraccedilatildeo do trabalho de conclusatildeo de curso foi de trabalhar a

formaccedilatildeo dos professores para desenvolver o trabalho com a Lei 1063903 que

tornou obrigatoacuterio o ensino da histoacuteria e da cultura afro-brasileira e africana em todas

as escolas puacuteblicas e particulares Ao teacutermino do curso senti a necessidade de

realizar outra graduaccedilatildeo a fim de me aprofundar melhor no campo da sociologia e

da educaccedilatildeo Conheci o curso da Unila e ingressei no curso de Ciecircncia Poliacutetica e

Sociologia no ano de 2011 O interesse por estudar na referida instituiccedilatildeo era

despertado pela curiosidade em viver em uma cidade de fronteira e pela proposta de

integraccedilatildeo latino-americana que a universidade propotildee

Finalizei a graduaccedilatildeo em Ciecircncia Poliacutetica e Sociologia e meu objeto de

pesquisa foi as poliacuteticas educacionais no contexto do neoliberalismo a partir dos

anos de 1990 em comparaccedilatildeo com as poliacuteticas educacionais propostas pelos

movimentos sociais Seguindo a proposta de integraccedilatildeo da Unila optei por um

estudo comparado com as propostas oriundas do Movimento dos Trabalhadores

Rurais Sem Terra (MST) no Brasil e dos Movimentos Indiacutegenas na Boliacutevia

Entretanto minhas indagaccedilotildees sobre a vivecircncia de escolas na fronteira natildeo

puderam ser respondidas Durante estes anos em Foz do Iguaccedilu meu olhar sobre

as relaccedilotildees em meio agrave diversidade de etnias e nacionalidades mudou

significativamente e segue em transformaccedilatildeo

Meus primeiros contatos com a populaccedilatildeo e com os meios de comunicaccedilatildeo

local e as imagens que eles tinham sobre o lugar em que moravam logo contrastou

com meu imaginaacuterio sobre o que eacute uma fronteira A violecircncia diaacuteria presente nos

jornais televisivos e impressos fadava a fronteira como o inevitaacutevel caminho para

entrada do traacutefico de drogas e armas A ponte da Amizade que liga a cidade de Foz

do Iguaccedilu agrave Ciudad del Este como o limbo entre o legal e o ilegal A passagem dos

trabalhadores caracterizados como informais era uma constante nos jornais A frase

ldquotinha que ser paraguaiordquo chegou aos meus ouvidos algumas vezes como tambeacutem

as noccedilotildees de que a Ciudad del Este era suja e desorganizada e o paiacutes de um modo

geral atrasado e pobre Tambeacutem eram perceptiacutevel as imagens referentes aos

18

aacuterabes caracterizados como ricos e isolados do restante da populaccedilatildeo aleacutem da

falta de distinccedilatildeo da comunidade aacuterabe pelo paiacutes de origem ou pela divisatildeo religiosa

que haacute entre xiitas e sunitas dentro do islamismo Exemplos como esses me

provocaram Ingenuamente pensava apenas no lado positivo dessa integraccedilatildeo entre

diferentes nacionalidades e etnias mas a vivecircncia na cidade permitiu-me ampliar

essas referecircncias do que era fronteira para outras bdquofronteiras‟ e mais ainda

deslocou minha atenccedilatildeo para as escolas brasileiras que recebem diferentes perfis

de imigrantes o que torna a regiatildeo fronteiriccedila tatildeo peculiar

Meus primeiros questionamentos eram de como a escola recebia esses

alunos estrangeiros como era organizada a documentaccedilatildeo escolar como era

realizado o diagnoacutestico de alunos que haviam comeccedilado seus estudos em seu paiacutes

de origem e como eram as relaccedilotildees professor - aluno aluno-aluno e escola-aluno

Essas primeiras inquietaccedilotildees me levaram a outras como a questatildeo do curriacuteculo

escolar em cidades de fronteira uma vez que haacute uma tendecircncia nos curriacuteculos

oficiais agrave homogeneizaccedilatildeo como ao monolinguismo Outro ponto eacute sobre como a

escola lida natildeo apenas com a questatildeo do idioma mas tambeacutem como ela se

posiciona diante dos conflitos como estigmas negativos relacionados agrave origem dos

alunos que podem se revelar muitas vezes como praacuteticas xenofoacutebicas Na tentativa

de inferiorizar o outro eacute comum escutar brasileiros que tratam os paraguaios como

ldquoxiruacute4rdquo e preguiccediloso natildeo aprende porque ldquoa escola laacute eacute fracardquo Esses comentaacuterios

foram constantes em sala de aula durante o periacuteodo em que lecionei sociologia para

jovens e adultos em um cursinho popular entre os anos de 2011 e 2013 em Foz do

Iguaccedilu Nas ocasiotildees em que se abordava o tema da fronteira a imagem que se

tinha do paraguaio era carregada de valores negativos

Tantas inquietaccedilotildees impossiacuteveis de serem abarcadas em uma mesma

pesquisa pois estudar uma realidade fronteiriccedila exige bdquoolhares demorados‟ para o

objeto em estudo tiveram que ser delimitadas na seguinte proposta pensar as

poliacuteticas educacionais para a diversidade nas escolas de fronteira internacional

nesse caso nas escolas de Foz do Iguaccedilu cidade que faz divisa com a cidade

Argentina de Puerto Iguazuacute e Ciudad del Este no Paraguai

4O termo xiru eacute de origem guarani Che ldquoeu meurdquo e iru ldquocompanheiro amigordquo que traduzindo para o

portuguecircs significa ldquomeu amigordquo ldquomeu companheirordquo mas para os brasileiros tomou a conotaccedilatildeo de falsificado (TRISTONE 2011)

19

Ao delinear parte do percurso insiro parte de meus valores e visatildeo de mundo

que concordando com Ludke e Andreacute (1986) iratildeo influenciar a maneira como a

pesquisa eacute proposta ldquoem outras palavras os pressupostos que orientam seu

pensamento vatildeo tambeacutem nortear sua abordagem de pesquisardquo (LUDKE ANDREacute

1986 p03)

A justificativa da delimitaccedilatildeo empiacuterica passa pela relaccedilatildeo fronteira entre o

Estado nacional e a escola O espaccedilo escolar eacute visto como um espaccedilo de tensotildees e

contradiccedilotildees em que se manifestam as mais distintas formas de relaccedilotildees sociais

onde o preconceito o racismo a xenofobia e a exclusatildeo ocorrem ao mesmo tempo

em que se ldquocombate essas formas de violecircnciardquo A escola nesta dissertaccedilatildeo natildeo eacute

uma entidade a parte uma maacutequina do Estado Eacute tambeacutem instrumento do Estado

ao mesmo tempo que perpassa pela vida de diferentes sujeitos como os

professores alunos diretores pesquisadores que podem criar condiccedilotildees de

resistecircncia a fim de construiacuterem outros curriacuteculos a margem do Estado e adaptaacute-los

agrave realidade local e natildeo universal

Nesse sentido estudar as poliacuteticas puacuteblicas educacionais a partir da

diversidade nas escolas de fronteira parte da hipoacutetese de que o Estado ao mesmo

tempo em que se faz presente na fronteira a deixa agraves margens quando natildeo

consegue a partir das poliacuteticas educacionais nacionais direcionadas ou natildeo para a

diversidade lidar com as diferenccedilas proacuteprias de uma realidade fronteiriccedila

O objetivo desta dissertaccedilatildeo eacute investigar as poliacuteticas educacionais e as

relaccedilotildees com a diversidade na fronteira A diversidade qual nos referimos reside na

presenccedila de muacuteltiplas nacionalidades e etnias presentes nas escolas e o que essa

presenccedila e suas manifestaccedilotildees a partir das relaccedilotildees entre os diferentes sujeitos

acarretam para a escola Embora os questionamentos desta pesquisa envolva as

escolas o objeto principal da pesquisa satildeo os documentos e as poliacuteticas

educacionais para a diversidade para as escolas situadas em regiatildeo de fronteira

internacional

A fim de desenvolver a hipoacutetese de trabalho o primeiro capiacutetulo aborda o

tema da fronteira Eacute preciso compreender a polissemia e as diferentes abordagens

no acircmbito da pesquisa Albuquerque (2009) apresenta os novos enfoques

socioloacutegicos historiograacuteficos e antropoloacutegicos que tem dado acesso a pesquisas no

campo das praacuteticas culturais e sociais para aleacutem da visatildeo tradicional de fronteira

poliacutetico-juriacutedica Na concepccedilatildeo de Joseacute de Souza Martins (1997) a fronteira se faz

20

de muitas e diferentes coisas fronteiras espaciais fronteira do pensamento fronteira

da civilizaccedilatildeo etc Conforme essa citaccedilatildeo a concepccedilatildeo de fronteira ultrapassa a

visatildeo tradicional pois para o referido autor fronteira pressupotildee diferentes

significados sejam eles poliacuteticos econocircmicos sociais ou culturais

A partir do enfoque da fronteira enquanto limite juriacutedico e de espaccedilo de

relaccedilotildees sociais busca-se relacionaacute-los partindo do pressuposto de que o

nascimento da fronteira enquanto limite juriacutedico estabelecido para demarcar os

territoacuterios entre os Estado nacionais desencadeou em outros processos no campo

social que devem ser analisados a fim de desmistificar a cristalizaccedilatildeo das fronteiras

como um espaccedilo naturalizado

I Caminhos da pesquisa o percurso metodoloacutegico

Metodologicamente fizemos levantamentos de dados em fontes histoacutericas e

documentais para ldquoinvestigar os acontecimentos processos e instituiccedilotildees do

passadordquo (LAKATOS MARKONI 2003 p106) Compreende-se que para entender

as atuais formas de organizaccedilatildeo social na fronteira eacute fundamental refazer a histoacuteria

dessas instituiccedilotildees e costumes desde sua origem Desse modo foi possiacutevel no

momento da contextualizaccedilatildeo do objeto de estudo perceber quais foram os fatos

que influenciaram sua atual estrutura Assim o primeiro e segundo capiacutetulo centrou-

se principalmente na pesquisa bibliograacutefica que consistiu no levantamento de

dados por meio de livro artigos e perioacutedicos impressos e online

O terceiro capiacutetulo apresenta a anaacutelise das poliacuteticas educacionais Na

primeira parte da investigaccedilatildeo utilizou-se da pesquisa documental que difere da

pesquisa bibliograacutefica pela natureza das fontes de dados que satildeo ricas e estaacuteveis

(GIL 2010) Satildeo considerados documentos ldquoquaisquer materiais escritos que

possam ser usados como fonte de informaccedilatildeo sobre o comportamento humanordquo

(LUDKE ANDREacute 1986 p38)

Os documentos analisados foram a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo

Nacional (LDB96) os Paracircmetros Curriculares Nacionais (PCN‟S) de 1997 o

curriacuteculo baacutesico para a escola puacuteblica municipal do Oeste do Paranaacute (2007)

produzido por iniciativa da Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oeste do Paranaacute (AMOP)

e o Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute (PEEPR)

21

Utilizamos como referencial analiacutetico a abordagem de poliacuteticas puacuteblicas de

Leite e Flexor (2006) e Secchi (2013) para anaacutelise do Programa Escola Intercultural

Biliacutenguumle de Fronteira

As entrevistas semiestruturadas tambeacutem fizeram parte do arcabouccedilo

metodoloacutegico da pesquisa Conforme Ludke e Andreacute (1986) as entrevistas natildeo

estruturadas onde natildeo haacute a determinaccedilatildeo e uma ordem riacutegida de questotildees

permitem com que o entrevistado fale do tema proposto com base nas informaccedilotildees

que ele possui Os benefiacutecios da entrevista sobre outras teacutecnicas ldquoeacute que ela permite

a captaccedilatildeo imediata e corrente da informaccedilatildeo desejada praticamente com qualquer

tipo de informante e sobre os mais variados toacutepicosrdquo (LUDKE ANDREacute 1986 p33-

34)

As entrevistas foram realizadas com duas professoras da escola brasileira

que recebem o Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumle de Fronteira Uma das

entrevistadas participa do desenvolvimento do programa desde seu iniacutecio e a outra

professora passou a acompanhar o projeto em 2015 Essa escolha permitiu

conhecer as diferentes fases da inserccedilatildeo do programa na escola O principal

objetivo da entrevista foi o de analisar os impactos do PEIF na praacutetica a partir das

experiecircncias relatadas O PEIF foi a uacutenica poliacutetica analisada a partir de entrevistas

aos atores diretamente envolvidos pois ateacute o momento da redaccedilatildeo desta

dissertaccedilatildeo constatou-se que este programa eacute a uacutenica poliacutetica educacional oficial do

Estado direcionada especificamente para escolas em regiatildeo de fronteira

internacional

II Estrutura da dissertaccedilatildeo

Esta dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em trecircs capiacutetulos juntamente com a

introduccedilatildeo e consideraccedilotildees finais No primeiro capiacutetulo- Eacute preciso falar de escola na

fronteira- buscou-se a revisatildeo de literatura sobre a temaacutetica fronteira Em seguida a

Fronteira o Territoacuterio e Estado-naccedilatildeo satildeo abordados partindo do princiacutepio de que

no processo de consolidaccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo o territoacuterio representou o espaccedilo

onde o Estado exerce a sua soberania (BOBBIO MATTEUCIA PASQUINO 2004)

A fronteira se insere na condiccedilatildeo de limite poliacutetico fundamental para delimitar o

territoacuterio que por sua vez seraacute o espaccedilo onde o imaginaacuterio da naccedilatildeo eacute construiacutedo

22

(ANDERSON 1993) A seccedilatildeo seguinte apresenta os aspectos da cidade fronteiriccedila

de Foz do Iguaccedilu que permite dizer que ela juntamente com Ciudad del Este e

Puerto Iguazuacute conformam uma regiatildeo fortemente interligada em que fatores como

os econocircmicos e sociais afetam as trecircs cidades

A premissa da triacuteplice fronteira enquanto uma regiatildeo conectada eacute observada nos

exemplos apresentados na seccedilatildeo 14 A porosidade do Estado na fronteira Um deles

demonstra a necessidade de se criar accedilotildees conjuntas para resolver questotildees como

a regulamentaccedilatildeo do trabalhador que atravessa de um paiacutes para o outro na busca

por melhores condiccedilotildees de salaacuterio e que ao natildeo possuir os documentos que o

regularize natildeo possui direitos de trabalho garantidos Os dois uacuteltimos toacutepicos deste

mesmo capiacutetulo abordam identidade e as escolas na fronteira respectivamente As

diferenccedilas que tem como um dos marcadores a identidade satildeo evidenciadas nas

escolas que se apresenta neste contexto enquanto reguladora a partir de padrotildees

universalistas construiacutedos sem um diaacutelogo com a alteridade (ARROYO 2007)

O capiacutetulo II- A Histoacuteria da Educaccedilatildeo em Foz do Iguaccedilu construtos e

contradiccedilotildees para a consolidaccedilatildeo do Estado-naccedilatildeo concentrou-se no processo de

formaccedilatildeo das escolas no contexto em que a cidade de Foz do Iguaccedilu foi formada

como tambeacutem sua relaccedilatildeo com a fronteira A Colocircnia Militar criada para proteccedilatildeo e

colonizaccedilatildeo do territoacuterio marca o iniacutecio das demandas pela criaccedilatildeo de escolas que

na ausecircncia do poder puacuteblico eram improvisadas pelos setores da sociedade

(EMER 1991) A influecircncia dos paiacuteses vizinhos no iniacutecio do seacuteculo XX eacute evidenciada

em relatoacuterios que explicam que a ausecircncia de escolas eacute um fator preocupante pois

as crianccedilas brasileiras estavam indo estudar na Argentina Essa influecircncia estaacute nos

relatoacuterios do Plano de desenvolvimento integrado (PDI) da deacutecada de 1970 que ao

analisar a escola e os motivos do fracasso escolar culpabiliza os alunos

estrangeiros que natildeo falam o portuguecircs A deacutecada de 1930 e o projeto de

nacionalizaccedilatildeo de Getuacutelio Vargas satildeo abordados para analisar a importacircncia que a

escola tinha para a construccedilatildeo do projeto de naccedilatildeo

O uacuteltimo capiacutetulo Poliacuteticas Puacuteblicas para a educaccedilatildeo na fronteira entre

Argentina Brasil e Paraguai teve como objetivo analisar as poliacuteticas puacuteblicas

educacionais para a diversidade Apoacutes traccedilar a trajetoacuteria das poliacuteticas educacionais

no Brasil verificou-se seu viacutenculo direto com as condiccedilotildees histoacutericas de cada eacutepoca

No Brasil colocircnia as necessidades estavam voltadas para a catequizaccedilatildeo do

indiacutegena e na instruccedilatildeo dos filhos dos proprietaacuterios de terra e da elite colonial como

23

um todo (MARCILIO 2005) A chegada da coroa portuguesa em 1808 marca o

periacuteodo das reformas pombalinas Marques de Pombal criou uma seacuterie de cursos

profissionalizantes escolas militares tanto de niacutevel meacutedio como superior

(GHIRALDELLI JR 2001)

As primeiras deacutecadas de 1930 marcam o iniacutecio do predomiacutenio das reformas

educacionais de teor nacionalista Ateacute 1930 a estrutura econocircmica brasileira estava

voltada para o modelo agraacuterio-exportador principalmente no campo da cafeicultura

Com a crise do modelo oligaacuterquico e a entrada de Getuacutelio Vargas no poder um novo

modelo de produccedilatildeo se configura mas a dependecircncia do capital estrangeiro

permanece Eacute o modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees iniciado em 1930

caracterizado pela intervenccedilatildeo estatal na economia e no incentivo agrave criaccedilatildeo de

induacutestrias (IANNI 1994)

No campo educacional eacute criado o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e da Sauacutede e com

ele importantes poliacuteticas educacionais como a reforma Francisco Campos em 1931

que regulamentou as escolas superiores secundaacuterias e primaacuterias incorporando

algumas concepccedilotildees pedagoacutegicas inovadoras (SAVIANI 2008)

O fim do Estado Novo com a nova constituinte proporcionou algumas

mudanccedilas na educaccedilatildeo Em 1946 o Ensino Primaacuterio e o Ensino Normal foram

regulamentados foi criado o Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Comercial-SENAC

As principais reformas educacionais aconteceram no governo de Juscelino

Kubitschek (1956-1960) A construccedilatildeo de Brasiacutelia a abertura ao capital estrangeiro

e o investimento em tecnologia marcaram um periacuteodo em que a naccedilatildeo eacute mobilizada

para superar seu atraso No campo da educaccedilatildeo o programa de metas do governo

priorizou a formaccedilatildeo teacutecnica dos trabalhadores

Na deacutecada de 1950 inicia-se o debate sobre a Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos

e sua funccedilatildeo ateacute entatildeo destinada agrave mera transmissatildeo de conteuacutedos Eacute o comeccedilo do

debate em torno da educaccedilatildeo popular que incluiacuteam vaacuterios adeptos educadores

liacutederes comunitaacuterios intelectuais e estudantes de todo o paiacutes A liberdade de

expressatildeo nos primeiros anos da deacutecada de 1960 permitiu que houvesse a criaccedilatildeo

de diversos espaccedilos para promoccedilatildeo das massas e da educaccedilatildeo popular Inspirado

nesse movimento de base o Plano de Nacional Alfabetizaccedilatildeo de 1964 no governo

de Joatildeo Goulart criou o meacutetodo que alfabetizava em 40 horas guiado pelo meacutetodo

de Paulo Freire Contudo com o golpe militar em 1964 o plano mal chegou a ser

implantado (PAIVA 1984)

24

A partir do governo dos militares em termos educacionais presencia-se a

repressatildeo exclusatildeo das camadas populares do ensino profissionalizante e o

desmantelamento da organizaccedilatildeo docente (GHIRALDELLI JR 2001)

A Constituinte de 1988 marca a retomada da participaccedilatildeo de diferentes

grupos organizados da sociedade como os movimentos sociais nas proposiccedilotildees de

poliacuteticas puacuteblicas A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional de 96 eacute nesse

sentido considerada um grande avanccedilo ao incluir em 2003 e 2008 a Lei 1063903

que torna o ensino de histoacuteria da Aacutefrica e da cultura afro-brasileira como obrigatoacuterio

no curriacuteculo das escola puacuteblicas e brasileiras Os Paracircmetros Curriculares Nacionais

com o tema transversal pluralidade cultural tambeacutem satildeo outros dispositivos que

buscam abordar a diversidade eacutetnico-racial nas escolas brasileiras (BRASIL 2003)

Apesar dos avanccedilos das poliacuteticas educacionais para diversidade algumas

anaacutelises apontam para a sua tendecircncia homogeneizadora (ABG 1996) As poliacuteticas

em niacutevel estadual natildeo satildeo muito diferentes dos pressupostos nacionais na medida

em que estatildeo subordinados agrave LDB96 e isso inclui o curriacuteculo baacutesico para a escola

puacuteblica municipal do Oeste do Paranaacute feito pela Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oe

ste do Paranaacute (AMOP)

Dentre as poliacuteticas educacionais estudadas o Programa Escolas

Interculturais Biliacutenguumles de Fronteira eacute um programa que nasceu com o objetivo de

promover o processo intercultural por meio do ensino biliacutengue nas escolas

pertencentes a regiotildees de fronteira internacional Os primeiros paiacuteses que aderiram

ao programa foram a Argentina e o Brasil mediante acordos assinados dentro do

bloco econocircmico Mercosul por meio do Setor Educacional do Mercosul (SEM)

responsaacutevel por desenvolver as propostas para implementaccedilatildeo de poliacuteticas

educacionais dentre essas a poliacutetica linguiacutestica

25

CAPIacuteTULO 1 Eacute PRECISO FALAR DA ESCOLA NA FRONTEIRA

11 Fronteira- Primeiras aproximaccedilotildees

Etimologicamente a palavra fronteira deriva do latim Fron e quer dizer ldquode

frenterdquo Ela foi utilizada pela primeira vez no seacuteculo XIII para estabelecer o limite

temporaacuterio e flutuante que separava dois exeacutercitos de poder no momento de conflito

(FEgraveBVRE 1962 apud SILVA 2008 p8) Foi a partir da formaccedilatildeo e expansatildeo do

Estado-naccedilatildeo que a fronteira passou a ser sinocircnimo de limite de soberania O termo

linha de fronteira por sua vez representa os limites internacionais Tal expressatildeo

acompanhou estreitamente os avanccedilos do pensamento moderno sobre territoacuterio

Hoje assim como inuacutemeras palavras que mudam ou assumem outros

sentidos de acordo com o tempo e espaccedilo a palavra fronteira assume outros

sentidos e significados No dicionaacuterio de liacutengua portuguesa Aureacutelio5 a definiccedilatildeo de

fronteira eacute apresentada enquanto limite ou divisa de um dado territoacuterio No entanto

esta palavra natildeo se resume agrave noccedilatildeo de separaccedilatildeo De acordo com Becker (2007) a

fronteira eacute concebida como parte das relaccedilotildees humanas em suas mais distintas

formas sejam elas econocircmicas poliacuteticas sociais religiosas culturais ou simboacutelicas

Os novos enfoques socioloacutegicos historiograacuteficos e antropoloacutegicos tecircm ampliado as

possibilidades de estudos diferenciados acerca do tema fronteira Um exemplo disto

satildeo as anaacutelises sobre praacuteticas culturais e accedilotildees sociais Para Albuquerque (2010) a

fronteira apresenta-se como um cenaacuterio de relaccedilotildees sociais

As fronteiras podem ser vistas como um campo singular de relaccedilotildees sociais entrelaccediladas com os atuais processos de globalizaccedilatildeo e de redefiniccedilatildeo do papel dos limites entre os Estados nacionais A fronteira eacute geralmente percebida por esses estudiosos como um lugar de passagem de contato e traduccedilatildeo cultural (ALBUQUERQUE 2010 p48)

Nesse sentido a palavra fronteira natildeo eacute neutra ao contraacuterio eacute carregada de

inuacutemeros sentidos como exemplifica Faacutebio Reacutegio Bento ldquopara o contrabandista

fronteira significa afliccedilatildeo para o exilado poliacutetico passar a fronteira significa

libertaccedilatildeordquo (BENTO 2012 p2)

5Ver Dicionaacuterio Aureacutelio Online Disponiacutevel em lthttpwwwdicionariodoaureliocomfronteiragt Acesso

em 01102014

26

Na perspectiva durkhiemiana Fronteira eacute definida enquanto um fato social

Em As Regras do Meacutetodo Socioloacutegico (1865) Eacutemile Durkheim busca trata-la como

coisa ou seja algo possiacutevel de ser estudado Sendo coisa social a fronteira eacute

exterior ao indiviacuteduo assim torna-se passiacutevel de ser compreendida e explicada

racionalmente Regina Coeli Machado e Silva (2015) citando Strathern (2014)

aponta entretanto que a ldquofronteira eacute um dos conceitos menos sutis da anaacutelise

socioloacutegica como reificaccedilatildeo de uma abstraccedilatildeo socialrdquo Eacute a partir dessa mesma

abstraccedilatildeo que obtemos efeitos sociais tanto de exclusatildeo e quanto de participaccedilatildeo

social demonstrado as ldquoambiguidades do Estado-Naccedilatildeo brasileiro e das suas

fronteiras geopoliacuteticasrdquo (STRATHERN 2014 apud SILVA 2015 p1)

De maneira geral os estudos referentes agrave fronteira apresentam-se tanto no

sentido Stricto - a noccedilatildeo tradicional onde fronteira eacute a divisa entre estados no

acircmbito nacional ou internacional6 - como tambeacutem no sentido Lato - neste caso as

fronteiras do pensamento sendo elas nocircmades e sociais A respeito deste uacuteltimo

pode-se mencionar o exemplo de uma cidade marcada pela desigualdade social

Nela a fronteira manifesta-se por meio da disposiccedilatildeo das residecircncias estatildeo

dispostas a cidade de Satildeo Paulo demonstra estas fronteiras de um lado

comunidades carentes de outro casas luxuosas7

Imagem 1 - A Triacuteplice Fronteira- Argentina Brasil e Paraguai Fonte wwwoiguassucom

6Vide imagem 1

7Vide imagem 2

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Imagem 2 - Favela Paraisoacutepolis em contraste com o bairro de classe alta Morumbi em Satildeo Paulo capital

Fonte e foto Tuca Vieira- httpwwwtucavieiracombrA-foto-da-favela-de-Paraisopolis

Desse modo nesta dissertaccedilatildeo ao tratarmos a fronteira em seu sentido

geograacutefico estaremos buscando a localizaccedilatildeo no tempo e espaccedilo de onde

estamos falando Quando ampliarmos a noccedilatildeo deste termo para os sentidos poliacutetico

e social estaremos buscando responder a questotildees que dizem respeito agraves

consequecircncias de um processo histoacuterico em que os Estados nacionais mesmo

tendo realizado as demarcaccedilotildees de seus limites natildeo conseguiram impedir que o

mesmo ocorresse entre as populaccedilotildees que transitam em seu interior Eacute o que afirma

Albuquerque (2010) para o qual

A reflexatildeo sobre identidades nacionais e os conflitos sociais nas aacutereas de delimitaccedilotildees dos Estados-Nacionais produzem novas abordagens sobre as fronteiras e desnaturalizam as bdquofronteiras naturais‟ das naccedilotildees (ALBUQUERQUE 2010 p 45)

Em artigo publicado na obra ldquoDilemas e Diaacutelogos Platinos Fronteirasrdquo

Machado (2010) aponta que os estudos entre as fronteiras dos Estados-Nacionais

satildeo uacutenicos No caso do Brasil a Constituiccedilatildeo de 1988 confirmou a delimitaccedilatildeo de

150 km a partir do limite internacional como faixa de fronteira Desse modo natildeo

apenas a cidade que faz divisa com outro paiacutes eacute considerada fronteiriccedila mas

tambeacutem as outras cidades que ficam dentro desta faixa de 150 km

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014)

o Brasil possui uma fronteira mariacutetima de 7367 quilocircmetros e 16886 quilocircmetros de

fronteira terrestre com nove paiacuteses da Ameacuterica do Sul sendo eles Argentina

Boliacutevia Colocircmbia Guiana Peru Suriname Venezuela Paraguai Uruguai e com o

Departamento Ultramarino Francecircs da Guiana conforme observa-se na Figura 3

28

Imagem 3 - Faixa de Fronteira do Brasil com os paiacuteses da regiatildeo

Fonte Jornal Tribuna wwwjornaltribunacombr

Como os dados assinalam a dimensatildeo da fronteira do Brasil com os paiacuteses

da Ameacuterica Latina eacute expressiva e natildeo apenas no sentido de extensatildeo territorial

visto que o contato direto e diaacuterio entre as populaccedilotildees inseridas neste contexto torna

a fronteira expressiva tambeacutem no que se refere agrave dimensatildeo das relaccedilotildees sociais

Desse modo ao estudar as poliacuteticas puacuteblicas no contexto de fronteira

internacional natildeo eacute apenas a conjuntura nacional que estaacute sendo considerada mas

tambeacutem o plano externo -em sentido transnacional - considerando-se os fluxos da

populaccedilatildeo brasileira paraguaia e argentina que circulam de um paiacutes para o outro

Fernand Brauduel (1989) ao abordar as fronteiras afirma que elas

incorporam aleacutem da dimensatildeo espacial tambeacutem a ldquodimensatildeo temporalrdquo (BRAUDEL

1989 apud Heinsfeld 2014 281) Como exemplo o autor cita as divisotildees territoriais

da Ameacuterica colonial feitas por Portugal e Espanha delimitaccedilotildees essas que foram

incorporadas antes mesmo da independecircncia das colocircnias Braudel chama atenccedilatildeo

para este fato afirmando que a histoacuteria tem a tendecircncia de cristalizar as fronteiras

como se fossem ldquoacidentes naturaisrdquo (BRAUDEL 1989 p 147) Albuquerque (2010)

tambeacutem compartilha desse raciociacutenio Segundo este autor haacute uma tendecircncia

disseminada no senso comum em se conceber a fronteira enquanto algo dado

pronto e natural como se natildeo houvesse nenhum conflito de fronteira Para aleacutem

disto a fronteira tambeacutem eacute percebida preconceituosamente pela imprensa e o

imaginaacuterio popular como uma terra de ningueacutem perigosa e violenta ou seja espaccedilo

da ilegalidade e da transgressatildeo

Para Albuquerque estas representaccedilotildees satildeo construiacutedas principalmente a

partir de notiacutecias negativas associadas a conflitos violentos Como exemplo temos a

29

imigraccedilatildeo clandestina dos mexicanos para os Estados Unidos ou a disputa territorial

na faixa de Gaza entre Israel e a Palestina Cabe ressaltar que nesta perspectiva

os Estados nacionais desempenham um papel fundamental na construccedilatildeo destas

concepccedilotildees e noccedilotildees acerca da fronteira satildeo eles que legitimam tais imaginaacuterios

por meio de estrateacutegias de proteccedilatildeo do territoacuterio No caso da fronteira com os

Estados Unidos e Meacutexico a poliacutetica de seguranccedila eacute extremamente violenta natildeo

apenas no sentido fiacutesico por meio da construccedilatildeo de muros com arames farpados e

redes de alta tensatildeo mas por meio de um monitoramento que existe com a

utilizaccedilatildeo de tecnologias de ponta A natildeo obediecircncia aos limites pode levar aqueles

(natildeo apenas mexicanos) que queiram atravessar a fronteira ilegalmente agrave morte

Segundo Kearney (apud MONTIEL 2007) esta representaccedilatildeo dos problemas

fronteiriccedilos tem estado muito presente na imprensa norte-americana e tem resultado

na justificativa e defensiva do que ele denomina de ldquonacionalismo dos brancosrdquo

(KEARNEY 1991 apud MONTIEL 2007 p10) Isto explicaria o atual endurecimento

da poliacutetica do governo estadunidense que resulta natildeo apenas na militarizaccedilatildeo da

mesma mas no polecircmico projeto de construccedilatildeo de um muro ao longo da faixa de

fronteira remetendo ao modelo da ldquocortina de ferrordquo dos paiacuteses europeus no periacuteodo

da Guerra Fria que dividia de um lado os paiacuteses do leste europeu sob a influecircncia

da Uniatildeo Sovieacutetica e de outro os paiacuteses pertencentes agraves zonas de influecircncia dos

Estados Unidos

12 Fronteira e a educaccedilatildeo como construto da naccedilatildeo

Segundo o Dicionaacuterio de Poliacutetica o Estado Moderno tal qual o conhecemos

tem suas origens nas transformaccedilotildees ocorridas ao final da Idade Meacutedia que

resultaram em tratados como a Paz de Vestfaacutelia que simbolizou ldquoo momento em

que se reconhece formalmente de modo geral a soberania absoluta do Estado no

plano internacionalrdquo (BOBBIO MATTEUCIA PASQUINO 1998 p1090) Mas eacute a

definiccedilatildeo de Max Weber sobre o Estado Moderno uma das mais conhecidas Para

ele o Estado faz o uso legiacutetimo da violecircncia numa relaccedilatildeo entre homens que

dominam seus iguais em um determinado territoacuterio

Estado eacute uma relaccedilatildeo de homens dominando homens relaccedilatildeo mantida por meio da violecircncia legiacutetima (isto eacute considerada como

30

legiacutetima) Ele eacute uma comunidade humana que pretende com ecircxito o monopoacutelio do uso legiacutetimo da forccedila fiacutesica dentro de um determinado territoacuterio (WEBER 1998 p98-99)

Destaca-se aqui a questatildeo do territoacuterio uma vez que sua relaccedilatildeo com a

fronteira eacute inerente Logo falar de fronteira fiacutesica em sua definiccedilatildeo claacutessica

pressupotildee que haja um territoacuterio que fora delimitado a partir de tratados acordos ou

mesmo a venda do territoacuterio em disputa O geoacutegrafo Rogeacuterio Haesbaert afirma que o

territoacuterio estaacute mergulhado em

() relaccedilotildees de dominaccedilatildeo eou de apropriaccedilatildeo sociedade-espaccedilo desdobra-se ao longo de um continuum que vai da dominaccedilatildeo poliacutetico-econocircmica mais bdquoconcreta‟ e bdquofuncional‟ agrave apropriaccedilatildeo mais subjetiva eou bdquocultural-simboacutelica (HAESBAERT 2004 p95-96)

O autor chega a esta conclusatildeo apoacutes realizar uma analise histoacuterico-social do termo

quando a palavra territoacuterio surgiu com duas conotaccedilotildees material e simboacutelica ldquopois

etimologicamente aparece tatildeo proacuteximo de terra-territorium quanto de terreo-territor

(terror aterrorizar)rdquo (HAESBAERT 2004 p 2) O autor afirma que as duas

conotaccedilotildees tem a ver com poder natildeo somente no significado tradicional de bdquopoder

poliacutetico‟ ldquoEle diz respeito tanto ao poder no sentido mais concreto de dominaccedilatildeo

quanto ao poder no sentido mais simboacutelico de apropriaccedilatildeordquo (HAESBAERT 2004 p

2)

Portanto todo territoacuterio eacute ao mesmo tempo e obrigatoriamente em diferentes combinaccedilotildees funcional e simboacutelico pois exercemos domiacutenio sobre o espaccedilo tanto para realizar ldquofunccedilotildeesrdquo quanto para produzir bdquosignificados‟ (HAESBART 2004 p67)

Hoje o modelo de Estado territorial eacute definido como aquele que organiza este

territoacuterio que por sua vez eacute delimitado por uma fronteira cuja populaccedilatildeo estaacute unida

pelo sentimento de naccedilatildeo Por naccedilatildeo Benedict Anderson (1993) entende que ldquoseja

uma comunidade imaginada como sendo intrinsecamente limitada e ao mesmo

tempo soberanardquo (ANDERSON 1993 p24)

Utilizando a definiccedilatildeo de Anderson para naccedilatildeo tendo em vista que haacute outras

definiccedilotildees para o termo o autor explica que a naccedilatildeo eacute imaginada pois nem todos

aqueles que fazem parte dela se reconhecem ainda que tenham consciecircncia que

haja uma comunhatildeo entre eles Desse modo o sentido de pertenccedila agrave naccedilatildeo existe

somente quando os sujeitos partilham de certo imaginaacuterio social mesmo que natildeo se

conheccedilam mutuamente Entretanto esta imaginaccedilatildeo eacute limitada uma vez que seu

31

campo de abrangecircncia eacute limitado Eacute soberano assim o anseio de qualquer naccedilatildeo

ser livre da subordinaccedilatildeo de outros poderes8ou de outras naccedilotildees

Por fim a naccedilatildeo eacute imaginada como uma comunidade tendo em vista que

independentemente das desigualdades que existam entre as pessoas - sociais

poliacuteticas ou econocircmicas - o senso de companheirismo extrapola as diferenccedilas

sociais que haacute entre elas Para Anderson eacute este sentimento de unicidade que fez

com que tantas pessoas morressem em nome da defesa da naccedilatildeo nos uacuteltimos

seacuteculos

A fim de explicar como se deu este processo de construccedilatildeo da naccedilatildeo nos

paiacuteses europeus Benedict Anderson menciona os jornais impressos que quando

popularizados tornaram-se um dos meios mais eficazes de inculcar valores na

sociedade servindo entatildeo de instrumento para a construccedilatildeo de uma naccedilatildeo Se

partirmos da afirmaccedilatildeo de Durkheim segundo a qual a educaccedilatildeo tem como funccedilatildeo

coletiva adaptar a crianccedila ao meio social faz-se necessaacuterio para isto que se

estabeleccedila entre a sociedade e a escola uma ldquocomunhatildeo de ideias e sentimentos

suficientes entre os cidadatildeos comunhatildeo sem a qual qualquer sociedade eacute

impossiacutevelrdquo (DURKHIEM 2011 p63) podemos perceber como a escola e o modo

com que o Estado designa o que deve ou natildeo conter como base comum a todo

curriacuteculo nacional torna a educaccedilatildeo escolar um mecanismo de constructo da naccedilatildeo

seguindo portanto a mesma premissa de Anderson

Na cidade fronteiriccedila durante o periacuteodo de instalaccedilatildeo e funcionamento da

Colocircnia Militar da Foz de Iguaccedilu entre 1889 e 1912 jaacute havia uma preocupaccedilatildeo com

o fato de as crianccedilas brasileiras estudarem na Argentina Afinal estavam

assimilando a cultura e os valores nacionais do paiacutes vizinho o que ameaccedilava o

territoacuterio Mais tarde na Era Vargas o projeto nacionalista de unificar o paiacutes passou

pela educaccedilatildeo Neste periacuteodo escolas como as construiacutedas por estrangeiros eram

fechadas caso natildeo se adaptassem agraves poliacuteticas nacionais que tinham entre outros

objetivos

() homogeneizar a populaccedilatildeo dando a cada nova geraccedilatildeo o instrumento do idioma os rudimentos da geografia e da histoacuteria paacutetria os elementos da arte popular e do folclore as bases da formaccedilatildeo ciacutevica e moral a feiccedilatildeo dos sentimentos e ideias coletivos em que afinal o senso de unidade e de comunhatildeo nacional repousam

8Eacute tambeacutem imaginada como soberana porque nasceu numa eacutepoca em que o Iluminismo e a

Revoluccedilatildeo destruiacuteram a legitimidade do domiacutenio dinaacutestico e ordenado por Deus (ANDERSON 1993)

32

(PALMEIRA 1943 apud SCHWARTZMAN BOMENY COSTA 2000 p 93)

Diante das estrateacutegias que o Estado Moderno desenvolveu para construir a

ideia de naccedilatildeo a proacutepria fronteira poliacutetica requer quase sempre a justificaccedilatildeo

ideoloacutegica da comunidade nacional Fora preciso estabelecer na fronteira natildeo

apenas a delimitaccedilatildeo em termos juriacutedicos e fiacutesicos mas tambeacutem no social a partir

da separaccedilatildeo entre o ldquonoacutesrdquo e os ldquooutrosrdquo

A preocupaccedilatildeo com a construccedilatildeo de um senso de unidade e de comunhatildeo

nacional pela educaccedilatildeo escolar portanto acompanhou a histoacuteria de Foz do Iguaccedilu

Pois eacute importante descrever na proacutexima seccedilatildeo como ela aparece retomando como

ideacuteia a fronteira na histoacuteria da cidade

13 Reatualizaccedilatildeo de naccedilatildeo por deslizamentos em seus limites fronteiriccedilos

A cidade de Foz do Iguaccedilu eacute reconhecida por ser uma importante cidade

turiacutestica Nela encontram-se uma das ldquosete maravilhas da naturezardquo as Cataratas do

Iguaccedilu e a maior usina geradora de energia do mundo9 a hidreleacutetrica Itaipu

Binacional Por fazer fronteira com o Paraguai a cidade brasileira torna-se ainda

mais atrativa devido ao comeacutercio com Ciudad del Este Os meios de comunicaccedilatildeo

que costumam divulgar os atrativos turiacutesticos de Foz do Iguaccedilu exaltam o fato da

cidade possuir diferentes etnias e nacionalidades convivendo em um mesmo

territoacuterio Na ocasiatildeo do centenaacuterio da cidade foi composta a muacutesica bdquoIsso eacute Foz do

Iguaccedilu‟ que evidecircncia esse bdquoolhar‟ multicultural

Cidade de todas as raccedilas Que aceita o negro que aceita o branco

Iacutendio cafuzo amarelo e mamelucoCidade cosmopolitaTem brasileiro tem

argentinoAacuterabe chinecircs paraguaio e palestino Isso eacute Foz do IguaccediluDa

triacuteplice fronteira do sul Onde o ceacuteu eacute mais que azulTerra das cataratas do

Iguaccedilu (COPETTI 2014)

Nos versos verifica-se que uma das principais caracteriacutesticas atribuiacutedas agrave

cidade eacute ser multicultural com diferentes nacionalidades e etnias convivendo

pacificamente neste territoacuterio rico por suas belezas naturais No entanto existe

tambeacutem uma narrativa que caracteriza a cidade como perigosa marginal rota para

9 Dados obtidos no site oficial da Usina Hidreleacutetrica de Itaipu Binacional Disponiacutevel em

lthttpswwwitaipugovbrgt Acesso em 12122015

33

o grande traacutefico de armas e drogas espaccedilo de corrupccedilatildeo e lavagem de dinheiro

representada principalmente pela imprensa argentina de Puerto Iguazuacute e de Foz do

Iguaccedilu (ALBUQUERQUE 2010) conforme os enunciados abaixo sugerem

-PF10 estoura quadrilha que envolvia empresas-fantasmas de Foz do Iguaccedilu e traficantes do Paraguai Operaccedilatildeo Sustenido desmantelou organizaccedilatildeo criminosa suspeita de movimentar R$ 300 milhotildees (PORTAL R7 22052015)

-Contrabando ldquoempregardquo 15 mil em Foz do Iguaccedilu (GAZETA DO POVO 03032015) -Policia Federal apreende cigarros contrabandeados e um veiacuteculo (JT TRIBUNA 29012016)

Na perspectiva de Lorenzo Macagno (2011) esta visatildeo tatildeo dicotocircmica e

oposta ldquose produz e se reproduz justamente num espaccedilo peculiar e contraditoacuterio

Ali nos confins da naccedilatildeo nos espaccedilos liminares e de tracircnsito eacute onde esta conciliaccedilatildeo parece impor a necessidade de uma perpeacutetua reatualizaccedilatildeo de si mesma Sob este aparente paradoxo reside uma tensatildeo iminente entre o bdquonacional‟ e o transnacional (MACAGNO 2011 p25)

Para conhecer a dinacircmica de Foz do Iguaccedilu enquanto cidade de fronteira eacute

preciso primeiramente localizaacute-la no contexto da Triacuteplice Fronteira que recebeu

essa denominaccedilatildeo a partir de 1992 momento em que se levantavam suspeitas da

presenccedila de terroristas islacircmicos na regiatildeo A partir de 1996 o termo foi oficialmente

adotado pelo governo dos trecircs paiacuteses Utilizo-me da tese de Fernando Lima (2011)

o qual defende e argumenta que esta Triacuteplice Fronteira pode ser considerada uma

regiatildeo por possuir caracteriacutesticas proacuteprias diferente assim de outras regiotildees do

estado do Paranaacute e do sul do Brasil (LIMA 2011)

Ao tratar da origem do termo Triacuteplice Fronteira Rabossi (2004) aponta que

antes dos anos de 1990 para se referir agrave regiatildeo em seu conjunto se falava zona

regiatildeo ou trecircs fronteiras Em alguns jornais do final dos anos de 1980 o termo

bdquotriacuteplice fronteira‟ aparece para nomear a regiatildeo entretanto esse uso era geneacuterico

nunca substantivo proacuteprio Para exemplificar a constataccedilatildeo da dificuldade que era

pensar os paiacuteses fronteiriccedilos enquanto uma unidade Rabossi (2004) cita o trecho

texto do jornalista Bojunga de 1978 que diz

10

PF - abreviaccedilatildeo para Poliacutecia Federal

34

Em IguaccediluIguazuPuerto Presidente Strossneressa atividade [o contrabando] atinge caracteriacutesticas delirantes Nesse ponto em que as fronteiras da Argentina do Brasil e do Paraguai se encontram nada se perde tudo se trafica (BOJUNGA 1978 p 202 apud RABOSSI 2004 p 24)

A apariccedilatildeo do substantivo proacuteprio bdquoTriacuteplice Fronteira‟ surge a partir das

suspeitas de que havia terroristas islacircmicos na regiatildeo apoacutes os atentados na

embaixada de Israel na capital argentina Buenos Aires em 1992 Esta suspeita

aumentou apoacutes o atentado agrave Asociaciacuteon de Mutuales Israelitas Argentinas [AMIA]

em 1994 (RABOSSI 2004) Deste modo o termo Triacuteplice Fronteira surge

relacionado agraves questotildees de seguranccedila que envolve os trecircs paiacuteses ldquoEssa

denominaccedilatildeo pressupotildee a existecircncia de uma aacuterea singular e participa de sua

criaccedilatildeo a partir de uma praacutetica de nominaccedilatildeo que possibilita a emergecircncia

conceitual de um lugar onde estatildeo relacionadas agraves trecircs cidadesrdquo (RABOSSI 2004

p24) Rabossi (2004) considera a Triacuteplice Fronteira uma regiatildeo singular como Lima

(2011) afirma que Foz do Iguaccedilu possui caracteriacutesticas distintas das demais cidades

brasileiras cuja distinccedilatildeo se daacute por essa localizaccedilatildeo

Lima fala da integraccedilatildeo comercial seja por meio do turismo como a visitaccedilatildeo

agraves cataratas no Brasil e na Argentina seja por meio das compras em Ciudad del

Este que tornam a situaccedilatildeo econocircmica das cidades dependentes uma das outras O

autor chama atenccedilatildeo para a relaccedilatildeo entre as cidades de Foz do Iguaccedilu e Ciudad del

Este Ele chega agrave conclusatildeo de que a relaccedilatildeo de trabalho entre brasileiros e

paraguaios natildeo se reduz agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos aos sacoleiros que pagam aos

paraguaios para atravessarem a ponte com a mercadoria que excede a cota

permitida ldquoTrata-se de uma verdadeira extensatildeo do mercado de trabalho de Foz do

Iguaccedilurdquo (LIMA 2011 p142)

Lima aponta que embora a Itaipu seja de suma importacircncia econocircmica para

o Brasil e o Paraguai a hidreleacutetrica eacute uma ldquoinduacutestria deslocalizadardquo (LIMA 2011 p

143) Isto significa que o que ela movimenta em termos econocircmicos fica longe da

cidade Os benefiacutecios para a cidade se encontram nos pagamentos de royalties e

nos salaacuterios dos trabalhadores que por sua vez eacute um grupo relativamente pequeno

o que ldquoimpede que se forme uma massa salarial grande o suficiente para gerar uma

dinacircmica endoacutegena de crescimentordquo (LIMA 2011 p142) Ateacute mesmo o expressivo

nuacutemero de funcionaacuterios puacuteblicos existente em Foz do Iguaccedilu em decorrecircncia da

35

Aduana e da Poliacutecia Federal natildeo eacute capaz de juntamente com a Itaipu estimular o

mercado de serviccedilos local Uma das maiores movimentaccedilotildees econocircmicas da cidade

encontra-se no turismo motivado pelas Cataratas do Iguaccedilu No entanto esta aacuterea

apresenta inuacutemeras fragilidades sobretudo no que diz respeito agraves flutuaccedilotildees do

cacircmbio brasileiro e argentino aleacutem da questatildeo sazonal e a proacutepria dinacircmica do

mercado que gera a competiccedilatildeo com outros destinos turiacutesticos Com estas

caracteriacutesticas Fernando Lima afirma que tanto no acircmbito econocircmico como no

social Foz do Iguaccedilu articula-se aos fatos econocircmicos da fronteira conformando

uma economia regional Neste sentido o autor sugere a formulaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas que possam oferecer maior liberdade ao comeacutercio da regiatildeo em relaccedilatildeo agraves

poliacuteticas nacionais

Devido agrave falta desse tipo de poliacutetica de fronteira que Machado (2010) afirma

que tem sido difiacutecil para os Estados-Nacionais lidarem com a real ldquofluidez dos

agrupamentos humanosrdquo e mais ainda com o ajustamento de redes poliacuteticas

identitaacuterias econocircmicas e sociais superpostas aos limites dos estados territoriais

(MACHADO 2010 p71) Torna-se necessaacuterio avanccedilar na concepccedilatildeo de Estado

para aleacutem da esfera juriacutedica e poliacutetica para compreender que a fronteira eacute um

espaccedilo permeado por vidas e com relaccedilotildees que ultrapassam os seus limites

territoriais A Triacuteplice Fronteira ldquoeacute o espaccedilo de trocas culturais onde o local e o

internacional se articulam estabelecendo viacutenculos e dinacircmicas especiacuteficasrdquo

(MULLER 2005 p03)

Cury e Fraga (2013) consideram que a especificidade da Triacuteplice Fronteira

manifesta-se a partir das experiecircncias que se realizam nos espaccedilos e unem povos

e culturas distintas sociedades que apresentam princiacutepios sociais de forma

integrada na sua diversidade ldquosem que se dispense o fato de que os brasileiros satildeo

brasileiros paraguaios satildeo paraguaios e argentinos satildeo argentinosrdquo (CURY e

FRAGA 2013 p 52)

Estes fluxos intensos fazem com que haja encontros e desencontros De um

lado as trocas interculturais a sociabilidade e a relaccedilatildeo amistosa de outro e ao

mesmo tempo as tensotildees de ordem cultural

A vida na fronteira passa constantemente pela afirmaccedilatildeo do eu e consequumlentemente pelo reconhecimento do outro Os de laacute e os de

36

caacute constroem a relaccedilatildeo estruturam o espaccedilo como sendo de ambos (MULLER 200311)

Neste sentido ocorre uma reatualizaccedilatildeo da naccedilatildeo na fronteira pois eacute um

espaccedilo que ao mesmo tempo une e separa nas palavras de Clemente de Souza

(2009 p106) ldquoSatildeo espaccedilos nos quais o local e o internacional se articula

estabelecendo viacutenculos e dinacircmicas proacuteprias construiacutedas e reforccediladas pelos povos

fronteiriccedilosrdquo Para Souza (2009) as identidades e as culturas nacionais de cada um

dos paiacuteses fronteiriccedilos satildeo construiacutedas e reelaboradas por meio da interaccedilatildeo entre a

populaccedilatildeo desta regiatildeo assim acabam por constituir ldquooutra cultura e identidade

diferenciada capaz de recriar um novo lugar com aspectos regionaisrdquo (SOUZA

2009 p106)

14 A porosidade do Estado sob a forma de poliacuteticas puacuteblicas

Natildeo eacute apenas a educaccedilatildeo um tema delicado ao se abordar poliacuteticas puacuteblicas

para a fronteira Os exemplos das pesquisas tratadas nessa seccedilatildeo demonstram que

a particularidade da fronteira faz com que as poliacuteticas nacionais para o trabalho e a

sauacutede natildeo alcancem todos na fronteira

Na regiatildeo da Triacuteplice Fronteira a relaccedilatildeo que se estabelece principalmente entre

o Brasil e o Paraguai chama a atenccedilatildeo por seus laccedilos comerciais que fazem com

que o fluxo de pessoas seja intenso nos dois lados da fronteira Eacute comum a

premissa um morador passar o dia de trabalho em paiacutes vizinho onde sua renda eacute

obtida e viver parte do tempo em seu paiacutes de origem Eacute o caso dos trabalhadores

que satildeo contratados para atravessar mercadorias de Ciudad del Este para Foz do

Iguaccedilu de brasileiros que possuem alguma atividade comercial na Argentina ou

Paraguai ou das trabalhadoras domeacutesticas conhecidas como diaristas De modo

direto ou indireto satildeo trabalhadores (as) que contribuem com a economia da regiatildeo

fronteiriccedila mas que do ponto de vista dos direitos trabalhistas eacute um grupo que

acaba ficando agrave margem desses direitos por diferentes justificativas No caso das

11 Documento eletrocircnico sem paginaccedilatildeo MULLER K M O estudo Miacutedia e fronteira jornais locais em Uruguaiana-Libres e Livramento-Rivera Tese de doutorado defendida na Universidade do Vale dos

Sinos Satildeo Leopoldo fev 2003

17112015

37

diaristas paraguaias dada sua situaccedilatildeo de imigrantes encontram dificuldades para

a comprovaccedilatildeo de documentos necessaacuterios para exercer tal atividade no paiacutes Com

isso acabam na informalidade abrindo brechas para a desvalorizaccedilatildeo de seus

salaacuterios podendo ateacute mesmo virem a trabalhar sob condiccedilotildees insalubres e

exaustivas O delegado da Poliacutecia Federal Rodrigo Perin em uma reportagem

concedida ao site G1 fez a seguinte observaccedilatildeo sobre essa situaccedilatildeo

Na realidade se a pessoa estiver regularizada em territoacuterio nacional e estiver apta para trabalhar como ela vai ter todos os direitos trabalhistas ela natildeo vai poder receber um salaacuterio menor do que o piso fixado para aquela categoria bdquoA partir do momento que ela se encontra em situaccedilatildeo irregular ela vai receber um salaacuterio muito iacutenfimo agraves vezes varia de R$ 150 a R$ 200‟ afirmou o delegado A pessoa que contratar uma empregada domeacutestica ilegal pode ser multado em R$ 2500 Aleacutem disso o patratildeo pode responder criminalmente por manter o trabalhador em condiccedilatildeo similar a de escravo A empregada pode ser deportada para o paiacutes de origem (PORTAL DE NOTIacuteCIAS G1 2011)

Como exemplo de uma possiacutevel soluccedilatildeo ao problema da informalidade o

Ministeacuterio Puacuteblico de Foz do Iguaccedilu apoacutes receber denuacutencias acerca das

trabalhadoras domeacutesticas em regime irregular de trabalho passou a notificar os

siacutendicos de condomiacutenios da cidade a prestar contas sobre o nuacutemero de funcionaacuterios

(as) e empregados(as) contratados pelos moradores Entretanto os proacuteprios

trabalhadores temendo a demissatildeo optaram por seguirem na informalidade Tal

medida explica Hofling (2001) ldquofoi puramente repressiva e unilateral por parte do

governo brasileiro sem planejamento ou conexatildeo com outras poliacuteticas integradas

com os paiacuteses vizinhosrdquo (HOFLING 2001 p 177)

No que confere agrave questatildeo entre o legal e o ilegal este uacuteltimo eacute tatildeo

frequumlentemente associado agrave fronteira que quase vira seu sinocircnimo Esta noccedilatildeo fora

criticada por Rabossi (2011) o qual considera que o modelo de ordem e de lei

vigente natildeo se aplica para pensar ldquoo funcionamento efetivo da lei nem as atividades

que se desenvolvem naquele espaccedilordquo (RABOSSI 2011 p64) Segundo Silva (2015)

a vida dessas pessoas que vivem na ilegalidade equivaleria ao que ela denomina

de ldquoprotocidadania em direccedilatildeo inversa ou a uma forma de vida ambiacutegua e

paradoxal diante do Estado-Naccedilatildeordquo Para a autora haacute uma cidadania que eacute rompida

em sua continuidade entre o nascimento e a nacionalidade onde o sujeito encontra-

se dentro e fora da lei imersos em uma bdquozona de inderteminaccedilatildeo‟ (SILVA 2015

p3)

38

Quanto agrave questatildeo da violecircncia do traacutefico de drogas da exploraccedilatildeo sexual do

trabalho infantil que satildeo intensas na regiatildeo Rosana Pinheiro Machado (2011) em

seu artigo ldquoCaminhos do descaminho Etnografia da fiscalizaccedilatildeo na Ponte da

Amizade e seus efeitos no cotidiano da Triacuteplice Fronteira aponta que apenas ldquouma

fiscalizaccedilatildeo unilateral sem amparo de poliacuteticas puacuteblicas natildeo parece extinguir tais

problemas mas apenas deslocaacute-losrdquo (MACHADO 2011 p145)

Quando se trata de poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para a regiatildeo de fronteira

internacional o tema da seguranccedila e defesa nacional aparecem como destaque no

processo de elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica Albuquerque explica que a

ldquofronteira geralmente eacute uma zona onde as forccedilas repressoras e fiscalizadoras do

Estado tecircm dificuldade em exercer o monopoacutelio das armas e das leisrdquo

(ALBUQUERQUE 2005 p67) Essa suposta ausecircncia de controle acaba

legitimando a imagem de que a fronteira eacute uma terra de ningueacutem

O mesmo autor explica que a triacuteplice fronteira a partir de meados da deacutecada

de 1990 passou a ser representada principalmente pela imprensa brasileira e

argentina juntamente com os organismos oficiais de inteligecircncia dos Estados

Unidos como um local de traacutefico de armas e drogas de lavagem de dinheiro dentre

outros sendo portanto caracterizada como ldquosantuaacuterio da corrupccedilatildeo impunidade e

delinquumlecircnciardquo (ALBUQUERQUE 2010 p39)

Seja pelas imagens incansaacuteveis divulgadas pelos meios de comunicaccedilatildeo de

que a fronteira requer maior atenccedilatildeo no quesito seguranccedila ou pelas pressotildees

internacionais ou mesmo pelo interesse do Estado em querer legitimar o uso da

forccedila na regiatildeo demonstrando sua soberania perante os paiacuteses vizinhos a

seguranccedila na fronteira eacute o tema mais visiacutevel no sentido de poliacutetica puacuteblica

Certamente a securitizaccedilatildeo processo pelo qual a seguranccedila puacuteblica torna-se o argumento central nas relaccedilotildees entre sociedade e Estado (Gruszczac 2010) marca a gestatildeo estatal das fronteiras no globo com ecircnfases e significados ligados agrave seguranccedila puacuteblica nacional e internacional (Machado Novaes Monteiro 2009 Dorfman Franccedila 2013) O governo brasileiro mobiliza suas instituiccedilotildees como decorrecircncia dos processos securitizatoacuterios poacutes 11-S mas tambeacutem o faz dentro de um projeto maior e mais antigo de construccedilatildeo do Brasil potecircncia (FRANCcedilA DORFMAN 2014 p11)

Um exemplo desses projetos eacute o receacutem criado Sistema Integrado de

Monitoramento de Fronteiras (SISFRON) um conjunto de sistemas integrados do

39

exeacutercito brasileiro para o monitoramento e controle das fronteiras terrestres

Segundo o site oficial do SISFRON trata-se de um dos maiores projetos de

seguranccedila e defesa em execuccedilatildeo do mundo De acordo com o Ministeacuterio da Defesa

seu propoacutesito eacute ldquofortalecer a presenccedila e a capacidade de accedilatildeo do Estado na faixa de

fronteira terrestre contribuindo para a maior efetividade no combate aos delitos

transfronteiriccedilos e praticados na faixa de fronteirardquo (BRASIL 2014 p1) Dorfman e

Franccedila (2014) citam outros programas como o Plano Estrateacutegico de Fronteiras em

2011 promovido pelo Ministeacuterio da Justiccedila

Estes e outros programas nacionais de proteccedilatildeo ao territoacuterio representam a

materializaccedilatildeo da claacutessica definiccedilatildeo de Estado o exerciacutecio do uso legiacutetimo da forccedila

tendo como pano de fundo dessa legitimidade o consenso da populaccedilatildeo que em

tese aceita em troca da proteccedilatildeo do Estado (WEBER 1998)

Aleacutem da seguranccedila a sauacutede eacute um setor delicado em regiatildeo de fronteira que

ao contraacuterio das poliacuteticas para seguranccedila da fronteira natildeo recebe recursos

diferenciados das demais regiotildees do paiacutes

Relatoacuterios do ldquoEstudo da Rede de Serviccedilos de Sauacutede na Regiatildeo de

Fronteirardquo referentes a 2001 e 2002 produzidos para a Organizaccedilatildeo Mundial da

Sauacutede (OMS) ao estudar a situaccedilatildeo da sauacutede puacuteblica nas cidades de Puerto

Iguazuacute Foz do Iguaccedilu e Ciudad Del Este verificaram a existecircncia de uma

dificuldade no processo de contabilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo que necessita de

atendimento pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) haja vista que parte dessa

populaccedilatildeo eacute flutuante Deste modo os repasses de verba para o SUS acabam natildeo

abarcando a realidade total da populaccedilatildeo atendida

Neste estudo as informaccedilotildees indicaram ainda que a maior transferecircncia de

atenccedilatildeo existe entre Ciudad Del Este e Foz do Iguaccedilu Este fenocircmeno pode ser

explicado basicamente pela acessibilidade geograacutefica somadas agraves condiccedilotildees

sociais e comerciais manifestado no tracircnsito entre Ciudad del Este e Foz do Iguaccedilu

Nesse sentido Luis Astorga (2004) responsaacutevel pelo estudo da sauacutede nas trecircs

cidades completa

A atenccedilatildeo que os cidadatildeos do Paraguai solicitam em Foz equivale a algo entre 5 e 55 dos serviccedilos produzidos em Cidade do Leste sendo o Atenccedilatildeo Primaacuteria e de Especialidade os mais procurados pela populaccedilatildeo paraguaia Os serviccedilos mais demandados pela populaccedilatildeo paraguaia satildeo aqueles onde haacute maior diferenccedila entre Cidade do Leste e Foz que satildeo precisamente os serviccedilos

40

ambulatoriais de especialidade Segundo os estudos de Foz aparentemente o maior fluxo de paraguaios concentra-se nos centros de sauacutede proacuteximos ao rio e agrave ponte dado que a populaccedilatildeo pode se deslocar a peacute desde Ciudad del Este (ASTORGA etal 2004 p88)

Cabe aqui a ressalva de que em regiotildees de fronteira internacional assim

como em outras regiotildees do paiacutes o problema da sauacutede eacute resultado de uma

conjuntura de fatores sendo que os mais citados para justificar a ineficiecircncia do

sistema eacute a falta de recursos humanos especializados as distacircncias entre os

municiacutepios e os grandes centros de referecircncia e a insuficiecircncia de equipamentos

para realizaccedilatildeo de tratamentos e procedimentos de meacutedia e alta complexidade

(GADELHA 2007 p216)

Na tentativa de amenizar essa situaccedilatildeo nas cidades de fronteira tendo o

MERCOSUL como propositor dessa poliacutetica criou-se o Sistema Integrado de Sauacutede

do Mercosul (SIS-MERCOSUL) Instituiacutedo em julho de 2005 e lanccedilado em

novembro do mesmo ano na cidade de Uruguaiana ndash RS ndash por meio do ministeacuterio

da sauacutede e dos Estados-membros do Mercosul seu objetivo eacute criar uma agenda

com propostas de Cooperaccedilatildeo Teacutecnica entre os paiacuteses do referido bloco e garantir

o atendimento para a populaccedilatildeo da regiatildeo por meio de estrateacutegias que melhorassem

a sauacutede local dos paiacuteses envolvidos

Costa e Gadelha (2007) explicam que ldquoa ideacuteia eacute iniciar uma poliacutetica de

incentivo agrave gestatildeo a partir do repasse de recursos financeiros para os municiacutepios de

fronteirardquo (COSTA e GADELHA 2007 p218) Estas municipalidades por outra via

devem participar ativamente da elaboraccedilatildeo de um diagnoacutestico da realidade da sauacutede

local e realizar o cadastro da populaccedilatildeo no cartatildeo do SUS A complexidade do

diagnoacutestico reside no fato de que momento em que o Estado natildeo considera como

usuaacuterios do sistema uacutenico cidadatildeos advindos dos paiacuteses vizinhos Neste caso eacute

fundamental que haja investimento integrado com os demais paiacuteses

Alguns avanccedilos tecircm sido alcanccedilados no tocante agrave elaboraccedilatildeo de diagnoacutesticos de sauacutede para municiacutepios da linha de fronteira mas ainda natildeo se consegue verificar o relacionamento deste diagnoacutestico da infra-estrutura instalada e real utilizaccedilatildeo do sistema por parte da populaccedilatildeo flutuante que o utiliza Para reverter essa situaccedilatildeo muito haacute que se avanccedilar na coordenaccedilatildeo de poliacuteticas de fronteiras no Brasil assim como em sua articulaccedilatildeo com as dos paiacuteses vizinhos (COSTA CADELHA 2007 p217)

41

Como podemos observar nos dados apresentados autores que tratam das

poliacuteticas puacuteblicas direcionadas para regiotildees fronteiriccedilas insistem em uma melhor

articulaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses com poliacuteticas para a fronteira de modo

que estas possam ser executadas com sucesso

15 O contexto escolar vivido entre fronteiras a escola como reguladora do

Estado

Albuquerque (2010) apresenta alguns trabalhos histoacutericos e antropoloacutegicos

acerca do Estado e dos agentes locais fronteiriccedilos ldquonas redefiniccedilotildees das identidades

nacionais regionais e locaisrdquo (ALBUQUERQUE 2010 p 46) Dentre estes estudos

o autor descreve aqueles referentes agrave fronteira dos Estados Unidos com o Meacutexico

em que a loacutegica de um hibridismo cultural de uma integraccedilatildeo cultural na fronteira

entre os dois paiacuteses eacute questionada Disto decorre o fortalecimento das identidades

nacionais Inspirados pelos estudos referentes agraves fronteiras entre os paiacuteses

Europeus e Meacutexico e Estados Unidos Albuquerque aponta que os antropoacutelogos do

cone sul em destaque os argentinos tecircm realizado inuacutemeras etnografias nas

fronteiras entres os paiacuteses da Ameacuterica do Sul

O que haacute de comum eacute a tentativa de pensar a tensatildeo entre naccedilatildeo e processos de integraccedilatildeo supranacionais e as maneiras como as identidades nacionais se fortalecem nestes espaccedilos de fronteiras apesar do visiacutevel hibridismo de liacutenguas e outras expressotildees culturais (GRIMSON 2003 KARASIK 2000 VIDAL 2000 apud ALBUQUERQUE 2010 p 27)

A complexidade das relaccedilotildees sociais existentes na fronteira nos permite dizer

que seria leviano rotular as pessoas que nelas transitam Conforme Laclau

(1996)ldquonatildeo se pode afirmar uma identidade diferencial sem distingui-la de um

contexto e no processo de fazer a distinccedilatildeo afirma-se o contexto simultaneamenterdquo

(LACLAU 1996 apud HALL 2003 p 85) No contexto da fronteira nos deparamos

com um sujeito que possui sua identidade nacional negociada o tempo todo atraveacutes

do encontro com os ldquooutrosrdquo

Em Foz do Iguaccedilu como mencionado eacute comum a presenccedila de outras etnias

e nacionalidades que buscam preservar seus costume e tradiccedilotildees mas ao entrar em

contato com outros costumes e valores acabam por adquirir parte de seus haacutebitos

Machado (2006) aponta que uma vez que a identidade sendo cultural e portanto

42

social e historicamente construiacuteda ela pode ser reconstruiacuteda ou reinventada

conforme as circunstancias temporais e espaciais (MACHADO 2006 p 93)

Figueiredo (2005) afirma que a questatildeo da identidade vai para aleacutem da construccedilatildeo

para a negociaccedilatildeo

Se anteriormente as identidades apareciam como construccedilotildees ainda que percebidas como processos simboacutelicos hoje em dia aleacutem dessa noccedilatildeo pode-se pensar e discutir a identidade como negociaccedilatildeo tanto como nas fronteiras culturais como nas linguumliacutesticas e territoriais (FIGUEIREDO 2005 p546)

Deste modo estes encontros relaccedilotildees e negociaccedilotildees entre diferentes

costumes haacutebitos liacutenguas se fazem presentes em Foz do Iguaccedilu e tambeacutem se

manifestam em diferentes espaccedilos como o escolar A escola eacute considerada um

espaccedilo plural principalmente com a globalizaccedilatildeo que provocou dentre outras

mudanccedilas ldquoum redimensionamento de grupos e movimentos migratoacuteriosrdquo (VIERA

2010 p10) Grandes metroacutepoles como Satildeo Paulo possui um grande nuacutemero de

estrangeiros Em reportagem feita para o Jornal bdquoO Estado de Satildeo Paulo‟ a

jornalista Isabela Palhares foi agrave uma escola na capital paulista Os dados fornecidos

pela direccedilatildeo da escola indica que ela possui mais de 55 de alunos estrangeiros

Trata-se da Escola Estadual Marechal Deodoro no Bom Retiro regiatildeo central de

Satildeo Paulo Dos 772 estudantes matriculados 55 satildeo de outro paiacutes ou satildeo filhos

de pais que vieram recentemente para o Brasil ldquoA maioria desses alunos

estrangeiros eacute de bolivianos peruanos e paraguaios mas ainda haacute coreanos

argentinos chilenos e um camaronecircsrdquo (PALHARES 2015)

Embora natildeo seja uma grande cidade em termos populacionais12 como as

capitais ou metroacutepoles brasileiras Foz do Iguaccedilu possui uma diversidade notaacutevel

quanto agrave presenccedila de imigrantes de diferentes nacionalidades e etnias que

possibilita transformaccedilatildeo e reconfiguraccedilatildeo da cultura e do cenaacuterio local Essa

presenccedila de imigrantes como explica Maria Eta Viera (2010) nem sempre eacute

percebida pelo brasileiro como algo valorativo A autora descreve a reaccedilatildeo de

algumas pessoas em transportes puacuteblicos e nas ruas que ao perceberem a

12

Conforme o censo realizado pelo IBGE em 2010 Foz do Iguaccedilu possui cerca de 260 mil

habitantesDisponiacutevel

emlthttpcidadesibgegovbrpainelpainelphplang=ampcodmun=410830ampsearch=||infogrE1ficos-

dados-gerais-do-municEDpiogt Acesso em 14062015

43

presenccedila do estrangeiro com traccedilos fiacutesicos diferentes e falando outro idioma

reagem com repulsa e redobram os cuidados com seus pertences (bolsa celular

carteira etc) (VIERA 2010)

Tradicionalmente tido como um paiacutes hospitaleiro receptivo ao extremo e que valoriza - agraves vezes ateacute de forma exagerada- o que eacute estrangeiro causam estranheza algumas atitudes que tecircm sido observadas com relaccedilatildeo a imigrantes de determinados paiacuteses (VIERA 2010 p61)

O imigrante que deixa seu paiacutes leva consigo a sua histoacuteria cultura valores e

ao chegar a outro paiacutes deve readequar a sua vida a este novo cenaacuterio Esse

encontro pode dar-se de modos diferentes ldquoprovocando desde uma coexistecircncia e

convivecircncia paciacuteficas entre os valores e costumes das comunidades envolvidas ateacute

repulsa e marginalizaccedilatildeo do estrangeiro (VIERA 2010 p63)

Conforme apresenta Homik Babha (1998) natildeo devemos concentrar nossas

atenccedilotildees seja em um lado ou em outro - neste caso o brasileiro em relaccedilatildeo aos

outros Ele critica esta noccedilatildeo binaacuteria entre totalidades Ao observar praacuteticas comuns

tiacutepicas de uma cultura assimiladas por outras eacute possiacutevel sugerir alguns exemplos

passiacuteveis de ocorrer em Foz do Iguaccedilu a saber o mesmo sujeito brasileiro que

chama o paraguaio de xiruacute a fim de ofendecirc-lo eacute o que adquiriu o haacutebito comum aos

paraguaios de tomar o tererecirc13 Isto vale tambeacutem para os apelidos pejorativos e

estigmas que tentam associar ao aacuterabe que reside em Foz do Iguaccedilu como

terrorista14 atraveacutes da denominaccedilatildeo de ldquohomens-bombardquo Aquele que os ofende eacute o

mesmo que fuma o narguile15 consome o shawarma e a esfiha Deste modo Babha

entende que a diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao outro ocorre ao mesmo tempo em que

haacute incorporaccedilatildeo do outro dentro de si mesmo

1313Terereacute ou tererecirc eacute uma bebida tiacutepica feita com a infusatildeo de ervas em aacutegua fria Sua origem eacute atribuiacuteda aos Paraguai tendo suas raiacutezes na cultura dos indiacutegenas guaranis 14A partir do dia 11 de setembro de 2001 uma seacuterie de alegaccedilotildees sobre viacutenculos terroristas na Triacuteplice Fronteira entre Brasil Paraguai e Argentina cruzou as Ameacutericas Essa teoria circulada nos meios de comunicaccedilatildeo combinou com duas correntes imperialistas da poliacutetica externa dos Estados Unidos por um lado a imagem do aacuterabe ou do mulccedilumano como terrorista e por outro a representaccedilatildeo da Ameacuterica do Sul como uma ldquoterra sem leirdquo (MONTENEGRO GIMEacuteNEZ BEacuteLIVEAU 2006 apud KARAN 2011 p203) 15Espeacutecie de cachimbo muito usado por hindus persas e turcos constituiacutedo de um fornilho um tubo longo e um pequeno recipiente contendo aacutegua perfumada pelo qual passa a fumaccedila antes de chegar agrave boca (Dicionaacuterio online Disponiacutevel em lthttpwwwdiciocombrnarguilegtAcesso em 23112015

44

Nas escolas puacuteblicas de Foz do Iguaccedilu este ldquooutrordquo satildeo representados em

sua maioria por paraguaios e argentinos ou seja as diferenccedilas tecircm como marcador

principal a identidade nacional Trata-se de um problema histoacuterico jaacute que a escola

foi um dos instrumentos que permitiu ao Estado tentar iniciar o processo de

homogeneizaccedilatildeo cultural Logo conforme Pereira (2009) a escola deste o iniacutecio foi

considerada um espaccedilo negaccedilatildeo da diversidade O nacional torna-se assim fator

de diferenciaccedilatildeo de tensotildees de abertura para preconceitos e estigmas

Na dissertaccedilatildeo sobre a presenccedila de brasiguaios nas escolas brasileiras

Cirlani Terenciani (2011) menciona o trabalho de Joseacute Carlos de Souza (2001)

sobre as representaccedilotildees que os brasileiros fazem em relaccedilatildeo aos paraguaios

() que se tomar dinheiro emprestado natildeo gosta de pagar e natildeo quer que lembre da diacutevida Eacute vingativo para as pessoas que lhe traem a confianccedila () costuma-se dizer que trecircs coisas o paraguaio natildeo daacute a mulher o cavalo e a arma (SOUZA 2001 p 55 apud TERENCIANI 2011 p56)

Tratam-se de afirmaccedilotildees preconceituosas que contribuem para que a imagem do

paraguaio seja associada agrave ldquofalsidade ilegalidade desconfianccedilardquo (TERENCIANI

2011p 57)

Durkheim em Educaccedilatildeo e Sociologia (2011) descreve a escola enquanto

uma instituiccedilatildeo que natildeo estaacute alheia aos fatos sociais presentes na sociedade Logo

a representaccedilatildeo do ldquooutrordquo tanto em seus aspectos positivos quanto negativos eacute

reproduzido no acircmbito escolar sendo portanto um espaccedilo de negociaccedilotildees das

identidades-diferenccedilas

A educaccedilatildeo eacute inseparaacutevel da sociedade em seus momentos histoacutericos Para

Durkhiem (2011) cada sociedade em determinado momento de seu

desenvolvimento teve um sistema de educaccedilatildeo que se impocircs aos indiviacuteduos com

uma forccedila geralmente irresistiacutevel Isto significa que a educaccedilatildeo tem uma relaccedilatildeo

muito estreita com as necessidades e os conflitos que a sociedade vivencia em

determinado momento histoacuterico A funccedilatildeo social da escola estaria na socializaccedilatildeo da

crianccedila Joseacute Carlos Martins (2010) partindo da teoria sociointeracionista de

Vygotsky cuja visatildeo de desenvolvimento humano se baseia na premissa de que o

pensamento eacute constituiacutedo em um espaccedilo histoacuterico e cultural afirma que ldquoa crianccedila

reconstroacutei internamente uma atividade externa como resultado de processos

interativos que se datildeo ao longo do tempordquo (MARTINS 2010 p114) Com isso o

45

professor e os demais constituintes da comunidade escolar acabam fazendo parte

do processo formativo da crianccedila Logo as ideias valores e conhecimentos desta

instituiccedilatildeo e de outros organismos da sociedade vatildeo influir diretamente na formaccedilatildeo

desta crianccedila

No que confere agraves escolas situadas em regiatildeo de fronteira o grande desafio eacute

lidar com situaccedilotildees que envolvem tanto os aspectos formais quanto os transversais

que se passam em sala de aula como exemplo a funccedilatildeo mediadora do professor e

demais responsaacuteveis pela formaccedilatildeo do aluno ao lidar com diferenccedilas eacutetnicas e

linguumliacutesticas o que eacute comum nas escolas de fronteira internacional Em artigo

publicado sobre a diversidade cultural em sala de aula intitulado de ldquoFronteira

Diversidade Cultural e Cotidiana Escolar na cidade de Ponta Poratilderdquo Nunes e

Terenciani (2010) analisaram as manifestaccedilotildees da diversidade cultural social e

poliacutetica vivida diariamente nas aulas de geografia As autoras constataram que os

alunos oriundos do Paraguai tinham muita dificuldade com a liacutengua portuguesa

() estes alunos principalmente os das seacuteries iniciais muitas vezes chegam agrave escola sem saber falar a Liacutengua Portuguesa e em alguns casos natildeo sabem falar sequer a Liacutengua Espanhola comunicando-se apenas atraveacutes da Liacutengua Guarani o que dificulta o processo de aprendizagem bem como a relaccedilatildeo dos professores com seus alunos (NUNES TERENCIANI 2010 p04)

Nunes e Terenciani (2010) consideram que a escola e o formalismo no qual

ela se fundamenta reforccedila as fronteiras simboacutelicas o que impede a integraccedilatildeo entre

os paiacuteses fronteiriccedilos

Por sua vez na pesquisa com alunos bolivianos que estudam em redes

puacuteblicas e privadas na cidade de fronteira Corumbaacute ndash MS as autoras Ruth Souza e

Aline Rodrigues (2009) em entrevista a coordenadores professores e diretores das

escolas por elas analisadas chegaram agrave conclusatildeo de que os alunos bolivianos

apresentam dificuldades para ler e escrever o que dificulta ateacute mesmo o processo

de integraccedilatildeo dos alunos com os demais (no caso os brasileiros) aleacutem de se

sentirem tiacutemidos pela estranheza daquele universo escolar Ao analisarem o Projeto

Poliacutetico Pedagoacutegico das escolas visitadas as responsaacuteveis pela pesquisa deram o

seguinte parecer

Observa-se entatildeo que a escola brasileira natildeo eacute preparada para atender o aluno estrangeiro nem mesmo em aacutereas de fronteira onde

46

essa realidade eacute cada vez mais frequumlente Os PPP‟s satildeo engessados nas diretrizes gerais da educaccedilatildeo e desconsideram as especificidades locais natildeo oferecendo subsiacutedios adequados para as escolas atenderem os alunos estrangeiros e buscarem a inserccedilatildeo do mesmo no ambiente escolar e garantir o seu aprendizado (SOUZA RODRIGUES 2009 p10)

Outro estudo referente agrave presenccedila de migrantes fronteiriccedilos realizado na

fronteira do Brasil com o Uruguai na cidade de Sant‟Ana do Livramento ndash RS por

Geovana Bardesio e Paulo Cassanego (2013) apontou que as diferenccedilas

relacionadas ao idioma principalmente a expressatildeo escrita da liacutengua portuguesa

foram assinaladas pelos gestores entrevistados como um dos maiores desafios a

serem superados para o melhor desenvolvimento do aluno migrante Os mesmos

quando questionados sobre as atividades desempenhadas com vistas agrave promoccedilatildeo

da socializaccedilatildeo entre os alunos das escolas natildeo relataram nenhuma atividade

direcionada especificamente para o acolhimento de alunos migrantes ldquotambeacutem natildeo

foram verificados incentivos a promoccedilatildeo de discussotildees entre os professores sobre o

tema migraccedilatildeo e sobre a situaccedilatildeo de acolher estudantes nesta condiccedilatildeo na escolardquo

(CASSANEGO E BARDESIO 2013 p7)

Jacira Pereira (2003) apresenta o resultado de sua pesquisa referente agraves

identidades eacutetnico-culturais e sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo de escolas situadas em

regiatildeo de fronteira A pesquisa foi realizada na fronteira entre Brasil e Paraguai nas

cidades de Ponta Poratilde e Pedro Juan Caballero Buscou entrevistar duas geraccedilotildees

de migrantes presentes nas cidades oriundos de diferentes etnias e nacionalidades

Dentre as questotildees presentes na entrevista encontra-se uma referente a

atitudes preconceituosas nas escolas devido agrave origem eacutetnica do aluno Pereira

destacou a seguinte resposta de uma estudante paraguaia quando perguntada se

sofria algum tipo de preconceito

Preconceito assim natildeo mas tem aquelas brincadeirinhas de mau gosto Cala boca sua paraguaia [] Isto acontecia desde pequena agora parou um pouco Mas acontecia sempre e eu ficava brava brava Eu tinha vergonha (Luciana Assunccedilatildeo ndash 2ordf geraccedilatildeo) (PEREIRA 2003 p7)

Em relaccedilatildeo a possiacuteveis apelidos dados pelos colegas de turma a autora

destaca as seguintes falas

Natildeo ligo de ser descendente de libanecircs eu gosto [] Eu natildeo tenho mas os amigos do meu irmatildeo me chamam de turquinho Mas eu natildeo tenho um apelido que todo mundo me chama (Rames Husseinndash 2ordm geraccedilatildeo)

47

Tenho vaacuterios entre eles o de japonecircs porque me confundem com japonecircs [] Natildeo gosto disso (KyoLinndash 2ordf geraccedilatildeo) (PEREIRA 2003 p8)

Pode-se inferir com base nos relatos que nas relaccedilotildees no interior da escola

natildeo se discrimina o sujeito apenas por sua nacionalidade como tambeacutem pela

aparecircncia Ainda com relaccedilatildeo aos preconceitos e agrave discriminaccedilatildeo que sofrem os

migrantes a pesquisadora constatou que a minoria migrante paraguaia eacute a que mais

demonstra ser alvo de tratamento diferenciado expresso nas zombarias e nas

chacotas o que eacute possiacutevel captar nas relaccedilotildees tensas e conflitantes entre as

diferentes etnias na fronteira Eis alguns dos relatos dessas manifestaccedilotildees

Tem alguns soacute mas natildeo falam de verdade eacute soacute de brincadeira os paraguaios natildeo levam muito a seacuterio Tem amigo do meu irmatildeo que chama de chipeiro porque eacute do Paraguai soacute que esse apelido pegou e todo mundo soacute chama assim os paraguaios (KyoLinndash 2ordf geraccedilatildeo) Jaacute vi colocar apelido Um rapaz que tem na minha sala o chamam de chipa de paraguaio Mas eacute coisa de amigo ele leva na brincadeira Natildeo leva a mal (Rames Husseinndash 2ordf geraccedilatildeo) Assim natildeo eacute que tira sarro Chama assim de chipa (Latiffe Nasserndash 2ordf geraccedilatildeo) (PEREIRA 2003 p8)

Com estes dados a pesquisadora aponta que eacute comum em escolas da

fronteira a reproduccedilatildeo do imaginaacuterio negativo que se tem do ldquooutrordquo e conclui ldquoque a

comunicaccedilatildeo entre os colegas eacute carregada de hostilidade o que marca a diferenccedila

eacutetnica como uma caracteriacutestica negativardquo (PEREIRA 2003 p7)

A professora Maria Elena Pires dos Santos (2010) em pesquisa realizada

sobre o cenaacuterio sociolinguiacutestico na fronteira e sua relaccedilatildeo com as poliacuteticas

educacionais e pedagoacutegicas ao realizar um estudo com alunos brasiguaios em uma

escola de Foz do Iguaccedilu percebe que haacute diferentes olhares para a escrita hiacutebrida do

aluno brasiguaio Para a autora ldquoa leitura e a escrita processos mais valorizados na

escola eacute justamente o que evidencia a visibilizaccedilatildeo do aluno brasiguaio

constituindo fonte de estigmatizaccedilatildeo e preconceitordquo (PIRES-SANTOS 2010 p 46)

Ela ainda aponta que os professores ficavam insatisfeitos quando tinham que

receber alunos ldquobrasiguaiosrdquo sendo uma das possiacuteveis explicaccedilotildees o fato deste

aluno possuir uma linguagem hiacutebrida e pelo fato do ldquoportunholrdquo ser um grande fator

de preconceito na fronteira

48

Em pesquisa realizada sobre a presenccedila de alunos brasiguaios em escolas

de fronteira BrasilParaguai na cidade de Ponta Poratilde Ione Dalinghaus (2009)

observou que mesmo em uma escola onde 90 dos alunos satildeo paraguaios ou

ldquobrasiguaiosrdquo eacute proibido o uso de outra liacutengua que natildeo o portuguecircs evidenciando

assim o mito16 do monolinguismo Tambeacutem Cerliani Terenciani (2011) em sua

dissertaccedilatildeo tratou de estudar a presenccedila de alunos oriundos do Paraguai nas

escolas de Ponta Poratilde Ao entrevistar uma professora cujos pais satildeo paraguaios

mas ela fora registrada no Brasil relata sua experiecircncia na escola

Eu sofri hien ixi Me chamavam de paraguaia Falavam que eu era uma iacutendia que natildeo sabia falar o portuguecircs e essas coisas tipo de deboche assim sabe que eacute ()(Entrevista concedida agrave CERLIANI 2011 p102)

Outra percepccedilatildeo da dificuldade de adaptaccedilatildeo do(a) aluno(a) paraguaio(a) em

escolas brasileiras agora na cidade de Santa Terezinha de Itaipu17 encontra-se na

pesquisa de Marli Schlosser e Margarete Frasson (2012) sobre a imigraccedilatildeo de

alunos da educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Baacutesica do Paraguai para escolas brasileiras da rede

municipal de ensino entre os anos de 2007 e 2011 Segundo as autoras a fronteira

pode se apresentar como um espaccedilo de vivecircncia e possibilidades que seria por

exemplo o aluno migrante aprender um novo idioma No entanto quando os novos

conhecimentos que este aluno tem que adquirir na escola natildeo eacute em sua liacutengua

materna o processo de travessia na fronteira torna-se doloroso para o mesmo

ldquoobrigando-o a fazer uso de atitudes de silenciamento ou seja ele passa a se

apresentar reservado e em bdquoinvisibilidade‟ retraiacutedo para natildeo ser visto pelo olhar

hegemocircnico da escolardquo (GENTILI 2004 apud SCHLOSSER E FRASSON 2012

p4)

As pesquisas realizadas em diferentes escolas de fronteira apontam para a

necessidade de discussotildees que passem pelo campo das poliacuteticas linguumliacutesticas e

educacionais para a diversidade Ataiacutede e Moraes (2003) discorrem sobre a

tendecircncia de homogeneizaccedilatildeo curricular que aliena a escola de seu contexto O

Brasil como um todo ldquoproduz um projeto pedagoacutegico exoacutegeno e xenoacutefobordquo (ATAIacuteDE

16

Aleacutem do portuguecircs satildeo faladas hoje mais de 222 liacutenguas no Brasil Dessas liacutenguas explica Maher

mais de 180 satildeo indiacutegenas cerca de 40 satildeo liacutenguas de imigraccedilatildeo e duas satildeo liacutenguas de sinais LIBRAS-a Liacutengua Brasileira de Sinais-e a Liacutengua de Sinais Kaapor Brasileira Aleacutem das liacutenguas africanas Assim o Brasil pode ser considerado como um paiacutes multiliacutenguumle (MAHER 2013 p117) 17

Cidade localizada na zona de fronteira entre Brasil e Paraguai

49

e MORAES 2003 p83) Jurjo Santomeacute (1995) fala sobre o silenciamento que existe

nos curriacuteculos nacionais referentes agraves minorias no ambiente escolar sendo que no

caso da presenccedila de estrangeiros nas escolas fronteiriccedilas ela natildeo eacute nem negada e

tampouco silenciada tecircm se a impressatildeo de sua inexistecircncia Albuquerque e Souza

(2014) utilizam a expressatildeo ldquotrincheiras culturaisrdquo para se referirem agraves escolas em

aacutereas de fronteiras que tem por funccedilatildeo ldquonacionalizar as crianccedilasrdquo e combater o

idioma estrangeiro (ALBUQUERQUE 2014 p02)

Embora a expressatildeo ldquonacionalizar as crianccedilasrdquo seja reducionista ao limitar a

funccedilatildeo da escola agrave nacionalizaccedilatildeo um fato ocorrido em 1999 na fronteira entre

Brasil e Uruguai na cidade de Rivera natildeo tira em alguma medida este caraacuteter

ldquonacionalizadorrdquo o qual o Estado busca desempenhar atraveacutes da escola Trata-se de

uma reportagem publicada nos dois principais jornais da capital uruguaia

Montevideacuteu em que o ministro da educaccedilatildeo do paiacutes demonstrou sua indignaccedilatildeo

pelo fato do idioma portuguecircs ter invadido as escolas do Uruguai localizadas em

regiotildees de fronteira senti verguenza del estado de nuestras escuelas () Hasta

queacute punto el idioma portuguecircs habiacutea penetrado em nuestro paiacutes (Jornal El Paiacutes

1999 p6 apud SAacuteNCHEZ 2002p 115) A posiccedilatildeo do Conselho Diretivo Central de

Ensino natildeo foi muito diferente do ministro

por la expasiacuteon del idioma portugueacutes y el portunhol em aacutereas fronterizas y las acertadas medidas que adoptaraacute-fortalecimiento de la ensentildeanza del espanotildel formaacuteciacuteon de docentes de esa a signatura y maacutes centros educativosrdquo (Jornal El Observador 1999 p10 apud SAacuteNCHEZ 2002 p116)

A escola apresenta-se neste contexto enquanto reguladora seja de valores

culturas memoacuterias identidades a partir de padrotildees universalistas construiacutedos sem

um diaacutelogo com a alteridade (ARROYO 2007 p119) Uma possiacutevel tentativa de

transformar estas questotildees em estudo nas regiotildees fronteiriccedilas eacute o Programa das

Escolas Interculturais de Fronteira (PEIF) que conforme o documento oficial do

programa busca discutir a ldquoidentidade regional biliacutengue e intercultural no marco de

uma cultura de paz e cooperaccedilatildeo interfronteiriccedilardquo (ARGENTINABRASIL 2007 p 2)

Esta proposta seraacute analisada no proacuteximo capiacutetulo

Este capiacutetulo teve como objetivo traccedilar algumas perspectivas possiacuteveis de

abordar o tema de fronteira a comeccedilar com a etimologia da palavra utilizada pela

primeira vez no seacuteculo XIII como separaccedilatildeo entre Estados Hoje a fronteira eacute

estudada a partir de diferentes dimensotildees social simboacutelica cultural etc Desse

50

modo rompemos com a ideia de fronteira apenas como o limite entre estados e com

a tendecircncia de se cristalizaccedilatildeo da mesma pois eacute fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica

Outro aspecto levantado foi o papel da educaccedilatildeo escolar na construccedilatildeo do

imaginaacuterio e do sentimento de pertenccedila agrave naccedilatildeo (ANDERSON 1993) O Estado

utilizou as escolas para propagaccedilatildeo dos ideais nacionais na cidade de Foz do

Iguaccedilu com o objetivo de demarcar e proteger o territoacuterio dos paiacuteses vizinhos dos

imigrantes e seus descendentes

Na relaccedilatildeo entre fronteira e poliacuteticas puacuteblicas a bibliografia levantada sobre

estudos sobre fronteira e relaccedilotildees trabalhistas fronteira e o Sistema Uacutenico de Sauacutede

e das escolas em regiatildeo de fronteira demonstraram que os paiacuteses convivem como

naccedilotildees diferentes entre si embora os problemas que o afetem extrapolam a questatildeo

nacional de cada paiacutes A fronteira eacute um lugar o Estado se faz presente eacute notaacutevel

pelo processo de securitizaccedilatildeo da fronteira brasileira mas eacute tambeacutem o lugar onde o

Estado-naccedilatildeo se enfraquece dada a fluidez dos agrupamentos humanos

(MACHADO 2010)

CAPIacuteTULO II A HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO EM FOZ DO IGUACcedilU CONSTRUTOS

E CONTRADICcedilOtildeES PARA A CONSOLIDACcedilAtildeO DO ESTADO-NACcedilAtildeO

51

Este capiacutetulo tem como objetivo principal apresentar o processo pelo qual a

educaccedilatildeo na cidade de Foz do Iguaccedilu se desenvolveu com a finalidade de

demonstrar que neste trajeto a escola foi um dos principais instrumentos do

Estado junto com a militarizaccedilatildeo da fronteira para bdquonacionalizar‟ e proteger o

territoacuterio brasileiro Para isto primeiramente apresentamos o contexto ao qual a

cidade de Foz do Iguaccedilu foi fundada destacando que o territoacuterio desde a fundaccedilatildeo

da Colocircnia Militar em 1889 contava com a presenccedila de estrangeiros

Ao mesmo tempo abordamos a trajetoacuteria da formaccedilatildeo das escolas em Foz do

Iguaccedilu a partir da histoacuteria da educaccedilatildeo do Paranaacute O capiacutetulo destaca os principais

fatos histoacutericos que ocorreu no Estado paranaense e na regiatildeo Oeste do Paranaacute que

marcaram a criaccedilatildeo das escolas Destaca-se aqui os anos de 1930-1945 periacuteodo

em que ocorreu a Marcha para o Oeste e a fundaccedilatildeo do Territoacuterio Federal do

Iguaccedilu que estimulou o desenvolvimento do Oeste do Paranaacute e com isto a criaccedilatildeo

de escolas ao mesmo tempo em que a poliacutetica nacionalista do governo varguista

aplicou uma poliacutetica de vigilacircncia sobre as escolas dos imigrantes ou mesmo o seu

fechamento Delineamos ainda os principais aspectos educacionais a partir dos

anos de 1990 ateacute os dias atuais para destacar os resquiacutecios e as transformaccedilotildees da

educaccedilatildeo na cidade de fronteira ao longo deste periacuteodo

21 Contexto histoacuterico

A regiatildeo da chamada triacuteplice fronteira eacute composta pela Argentina Brasil e

Paraguai com suas respectivas cidades Puerto Iguazuacute Foz do Iguaccedilu e Ciudad del

Este como pode ser observado no mapa abaixo

52

Imagem VI- Mapa da regiatildeo da Triacuteplice Fronteira- Argentina Brasil e Paraguai Fonte httpgeouel2009blogspotcombr201207triplice-fronteira-apontamentoshtml

A presenccedila de imigrantes europeus na regiatildeo onde hoje eacute a cidade de Foz do

Iguaccedilu data do ano de 1542 com os relatos da chegada de Aacutelvaro Nunes Cabeza

de Vaca agraves cataratas Este relato faz parte da histoacuteria de construccedilatildeo da cidade

brasileira e se funde agrave histoacuteria das cataratas do Iguaccedilu - uma das sete maravilhas da

natureza Foz do Iguaccedilu tem como marco fundador a criaccedilatildeo da colocircnia militar em

1889 e a data de 1930 como iniacutecio de seu processo modernizador (SOUZA 2009)

Portanto eacute a partir da fundaccedilatildeo da colocircnia militar que buscamos conhecer o

processo de formaccedilatildeo das primeiras escolas da regiatildeo oeste paranaense e

portanto de Foz do Iguaccedilu

Compreender o processo de desenvolvimento da cidade de Foz do Iguaccedilu

bem como o de suas instituiccedilotildees de ensino implica na contextualizaccedilatildeo dos

acontecimentos e transformaccedilotildees no Brasil e tambeacutem das mudanccedilas ocorridas

nesta regiatildeo fronteiriccedila

A educaccedilatildeo brasileira do seacuteculo XIX foi reflexo das transformaccedilotildees no acircmbito

da produccedilatildeo da vida social ocorridas no Brasil poacutes-independecircncia No Paranaacute as

atividades econocircmicas tinham como base as fazendas de gado A criaccedilatildeo de gado e

o comeacutercio foram fundamentais para a o povoamento do territoacuterio nesse periacuteodo

Segundo Maria Ceciacutelia Oliveira (1986) com o crescimento das lavouras de

cafeacute em Satildeo Paulo o comeacutercio interno de escravos cresceu significativamente Do

mesmo modo no Paranaacute que por volta de 1865 viu o nuacutemero de escravos

diminuiacuterem significativamente na Proviacutencia A falta de matildeo-de-obra refletiu na

agricultura paranaense direcionada para o abastecimento de gecircneros alimentiacutecios

53

Para solucionar a falta de matildeo-de-obra o governo provincial ldquoque jaacute vinha

promovendo a imigraccedilatildeo de grupos de estrangeiros intensificou a poliacutetica

imigratoacuteria objetivando a atender o problema da matildeo-de-obra na produccedilatildeo agriacutecolardquo

(OLIVEIRA 1986 p34) A mesma autora aponta que a Proviacutencia do Paranaacute criou

escolas em diversas colocircnias estrangeiras situadas proacuteximas dos nuacutecleos urbanos

sobretudo de Curitiba Ao mesmo tempo os imigrantes criaram suas proacuteprias

escolas para manutenccedilatildeo da cultura de seus respectivos paiacuteses de origem

As escolas e o conjunto de sua estrutura eram precaacuterios ldquofaltava preacutedio

escolares ausecircncia e deficiecircncia de professores baixa frequumlecircncia escolar aleacutem dos

parcos recursos disponiacuteveisrdquo (OLIVEIRA 1986 p35) No Brasil como um todo

seguia sem diretrizes que pudessem organizar melhor o ensino no paiacutes

A ausecircncia de um plano definido de educaccedilatildeo que atendesse agraves necessidades brasileiras pode ser verificada pelas inuacutemeras reformas e projetos apresentados na Corte que marcam o Segundo Impeacuterio e influiacuteram na organizaccedilatildeo do ensino Entre eles podem ser

destacados (OLIVEIRA 1986 p35)

No Paranaacute apoacutes sua emancipaccedilatildeo em 1853 a instruccedilatildeo puacuteblica encontrava-

se em condiccedilotildees de precariedade e natildeo atingia toda a populaccedilatildeo Trindade (2001)

aponta que em meio a uma populaccedilatildeo de 620000 habitantes haviam apenas 615

alunos nos cursos de primeiras letras ldquoo ensino secundaacuterio era praticamente

inexistente e o pouco que havia em Curitiba buscava atender agrave demanda local e do

interior da Proviacutenciardquo (TRINDADE 2001 p 61)

21 Colocircnia Militar de Foz do Iguaccedilu e as primeiras escolas da regiatildeo

A colocircnia militar que marcou o iniacutecio da atuaccedilatildeo do Estado na regiatildeo de Foz do

Iguaccedilu foi criada a partir da lei imperial nordm 601 de 18 de setembro de 1850

regulamentada pelo decreto nordm 1318 de 30 de janeiro de 1854 que determinava o

registro das terras no territoacuterio brasileiro Desse modo o entatildeo presidente da

Proviacutencia do Paranaacute recebeu em 1854 o pedido para implementaccedilatildeo da colocircnia

militar e junto ao pedido seguiam as atividades a ser desenvolvidas pela colocircnia

1ordm Conceder o governo terras e fazer o sacrifiacutecio pecuniaacuterio annual

de 30 contos por certo numero de annos para pagar os juros de capital que se tomasse emprestado e se houvesse de applicar as

54

despezas de viagem e sustento de 500-600 familias 2ordm Estar a

direcccedilatildeo agrave cargo de pessoas responsaacuteveis pelo capital sob a

vigilacircncia o governo 3ordm Serem os lotes de terras divididos e vendidos

conforme hum preccedilo determinado destinando-se o producto a

construccedilatildeo de igrejas escolas etc etc 4ordm Incumbir a direcccedilatildeo a

procura de colonos e fornecimento de casas sementes animaes

viveres roupa bom mercado ao seus productos ampc 5ordm Cultivarem

as colocircnias de serra-acima cereais crearem animaes fazerem manteiga e queijo ao passo que as de serra-abaixo devem entregar-

se aacute cultura de generos coloneaes 6ordm Fazer o governo com as

despezas com padres e mestres de escola (RIIT 2011 p51 apud VASCONCELOS 1854 p 56)

Desse modo a ocupaccedilatildeo da regiatildeo por parte do Brasil foi consolidada no ano

de 1889 com a colocircnia militar O objetivo consistia em proteger o territoacuterio brasileiro

principalmente apoacutes a Guerra da Triacuteplice Alianccedila18 (1864-1870) Segundo Valdir

Gregory (2012) as intencionalidades em estabelecer um posto militar avanccedilado eacute

apenas uma justificativa que tinha ldquocomo pano de fundo a necessidade da

construccedilatildeo da nacionalidade () os sucessos na guerra motivaram a presenccedila fiacutesica

e ideoloacutegica na triacuteplice fronteirardquo (GREGORY 2012 p 50) Escreve Silveira Neto

(1939) em seus relatos de viagem que havia naquele periacuteodo de implementaccedilatildeo da

colocircnia militar 324 habitantes ldquosendo 188 paraguaios 33 argentinos 93 brasileiros

5 franceses 2 espanhoacuteis 1 inglecircs 2 orientais Destes 220 homens e 104 mulheresrdquo

(NETO 1939 p 52)

Estabelecida a colocircnia os militares se preocuparam com a necessidade da

instruccedilatildeo escolar Assim em 1895 foi criada uma escola informal que no iniacutecio

contou com vinte alunos matriculados

Em Foz do Iguaccedilu nuacutecleo pioneiro da ocupaccedilatildeo nacional regional desde os tempos da Colocircnia Militar existiu por parte dos militares e funcionaacuterios do fisco a preocupaccedilatildeo com a escolarizaccedilatildeo de seus filhos Esse segmento social resolveu o problema da instruccedilatildeo a partir de seu proacuteprio grupo social Essa instruccedilatildeo era quantitativamente muito restrita soacute para filhos de funcionaacuterios dos postos mais importantes na modalidade de Escola Particular Domiciliar (EMER 2012 p 37)

18 Na eacutepoca do Brasil imperial toda essa fronteira foi assegurada com a vitoacuteria da Guerra da Triacuteplice

Alianccedila (1865-1870) que derivou no aniquilamento de capacidade econocircmica e beacutelica paraguaia A vitoacuteria brasileira argentina e uruguaia impocircs ao Paraguai a assinatura do Tratado de Limites de 1872 que anexava ao territoacuterio brasileiro terras paraguaias agrave leste do Rio Paranaacute (ROSEIRA 2006 p 38)

55

Segundo o mesmo autor entre os anos de 1889 ateacute 1912 ano de extinccedilatildeo da

Colocircnia Militar as crianccedilas de famiacutelias brasileiras com boas condiccedilotildees financeiras

que natildeo eram filhas de funcionaacuterios do governo buscavam escolarizaccedilatildeo nos paiacuteses

vizinhos Para o autor a instruccedilatildeo particular domiciliar ficava restrita a filhos de

funcionaacuterios que ocupavam cargos importantes Durante o periacuteodo de vigecircncia da

Colocircnia Militar prevaleceu a modalidade de instruccedilatildeo sem instituiccedilatildeo Natildeo existiu

escola ou casa escolar em Foz do Iguaccedilu (EMER 1991 p 28)

Destacam-se os argentinos que nesse periacuteodo dominavam a regiatildeo pois as

companhias ervateiras e madeireiras eram daquele paiacutes ldquoSe a produccedilatildeo local era

estrangeira a moeda a liacutengua e os bens de primeira necessidade tambeacutem o eramrdquo

(ROSEIRA 2006 p41) No que se refere ao idioma o guarani e o espanhol eram

predominantes nesta regiatildeo Em relaccedilatildeo agrave moeda o dinheiro que circulava era o

peso argentino e as propriedades eram em sua maioria pertencentes agraves Obrages

(WACHOWICZ 1985 p 140 apud ROSEIRA 2006 p 51)

Segundo o historiador Ruy Wachowicz (2010) este processo de aproximaccedilatildeo

com a Argentina fez com que a regiatildeo oeste ficasse mais exposta agrave penetraccedilatildeo

argentina do que com o restante do Brasil (WACHOWICZ 2010 p 275) A

proximidade entre os dois paiacuteses fez com que o oeste paranaense fosse

culturalmente influenciado e economicamente dependente da Argentina Wachowicz

aponta que por volta de 1881 os argentinos comeccedilaram a exploraccedilatildeo da erva-mate

em Misiones e mais tarde no Brasil na regiatildeo oeste do Paranaacute

Otiacutellia Schimmelpfeng (1991) em seu livro ldquoRetrospectos iguaccedilusensesrdquo fala

acerca desta singularidade ldquoA moeda argentina circulava com domiacutenio absoluto na

praccedila Pouco ou nada se fala em ldquomil reacuteisrdquo naquele tempordquo (SCHIMMELPFENG

1991 p 28) O ldquopesordquo se introduzia ateacute nas reparticcedilotildees puacuteblicas Em entrevista ao

historiador Ruy Cristovatildeo Wachowicz Otiacutellia eacute mais detalhista sobre a influecircncia

argentina

Eu sentia aqui como se natildeo tivesse no Brasil Me sentia aqui isolada parecia que eu estava em outro paiacutes ateacute Porque todos os haacutebitos a liacutengua falada aqui era mais que predominava era o espanhol o castelhano como se dizia Parece que as pessoas quando vinham pra caacute no Brasil se achavam na obrigaccedilatildeo de aprender o castelhano pra ser entendido Parecia E todo mundo se interessava em falar o castelhano porque a convivecircncia aqui era muito maior com os argentinos Paraguai natildeo tanto porque noacutes natildeo tiacutenhamos Paraguai nessa regiatildeo aqui natildeo era muito habitada Mas tinha o Porto Aguirre que hoje eacute Porto Iguaccedilu que jaacute era um porto de grande movimento de turismo jaacute jaacute tava sendo legalizado entatildeo jaacute tinha mais

56

desenvolvimento e mais recurso tambeacutem pra atender Foz do Iguaccedilu entatildeo noacutes tiacutenhamos mais contacto com os argentinos [] Entatildeo a gente tinha aqui um contacto mesmo constante com os argentinos E se falava soacute quase o castelhano a moeda era soacute o peso argentino (SCHIMMELPFENG 1980 apud SBARDELOTTO 2009 p 91)

O contato de Foz de Iguaccedilu era muito mais intenso com os paiacuteses fronteiriccedilos

do que com o restante do paiacutes Sbardelotto (2008) explica que havia tambeacutem um

grande nuacutemero de paraguaios que adentravam no Oeste do Paranaacute para trabalhar

nas empresas de erva-mate e posteriormente de madeira Contudo a presenccedila

argentina se destaca uma vez que eram o grupo que ldquodetinham os meios de

produzir e comercializar a principal atividade produtiva da regiatildeo e que atraveacutes

deste controle econocircmico determinavam os costumes a cultura e tambeacutem a

educaccedilatildeo neste territoacuteriordquo (SBARDELOTTO 2008 p5)

Dessas companhias madeireiras que se estabeleceram na regiatildeo muitas

faziam parte do modelo de exploraccedilatildeo denominado de Obrage ldquoO obragero era o

proprietaacuterio desse tipo de latifuacutendio () o obragero argentino explorava a erva-mate

e a madeira em torosrdquo (WACHOWICZ 2010 p 276) Em poucas deacutecadas a regiatildeo

que compreende a costa paranaense foi ocupada por inuacutemeras obrages e

consequentemente povoada em sua maioria por paraguaios argentinos e guaranis

modernos19 que trabalhavam como mensus20 Em 1930 a populaccedilatildeo estimada nas

obrages passava dos 10000 habitantes em sua maioria estrangeira

Naquele contexto a intensidade das relaccedilotildees fez com que a Argentina se

tornasse o principal prestador de serviccedilos agrave cidade de Foz do Iguaccedilu Segundo

Sbardelotto (2009) muitas crianccedilas eram escolarizadas no sistema argentino

absorvendo a liacutengua a histoacuteria e os costumes do paiacutes vizinho (SBARDELOTTO

2009 p 92)

Durante o periacuteodo em que seguia o desenvolvimento da Colocircnia Militar os

ldquopioneirosrdquo responsaacuteveis por sua construccedilatildeo diante da ausecircncia de um sistema de

ensino institucionalizado passaram a organizar e estruturar uma educaccedilatildeo natildeo-

formal

Em Foz do Iguaccedilu nuacutecleo pioneiro da ocupaccedilatildeo nacional regional desde os tempos da Colocircnia Militar existiu por parte dos militares e

19

Termo empregado aos indiacutegenas guaranis miscigenados do Paraguai (PRIORI A et al 2012p79) 20 A expressatildeo vem do espanhol da palavra bdquomensual‟ ou seja mensalista (GREGORY 2002 p 89 apud PRIORI A et al 2012p79)

57

funcionaacuterios do fisco a preocupaccedilatildeo com a escolarizaccedilatildeo de seus filhos Esse segmento social resolveu o problema da instruccedilatildeo a partir de seu proacuteprio grupo social Essa instruccedilatildeo era quantitativamente muito restrita soacute para filhos de funcionaacuterios dos postos mais importantes na modalidade de Escola Particular Domiciliar (EMER 2012 p37)

No ano de 1910 a Colocircnia Militar passou a ser distrito de Guarapuava e

denominada de Vila do Iguassuacute Em 1912 o Ministeacuterio da Guerra emancipou a

colocircnia que passou a ser administrada pelos civis sob o governo do Estado do

Paranaacute Em 1914 com a lei nordm 1383 foi criada a municipalidade de Vila do Iguassuacute e

em 1918 o nome Foz do Iguaccedilu foi adotado como oficial Conforme Lima (2001) no

periacuteodo compreendido entre 1914 a 1930 aleacutem do estabelecimento das primeiras

famiacutelias brasileiras argentinas e paraguaias houve a colonizaccedilatildeo por parte dos

imigrantes descendentes de alematildees poloneses e italianos (LIMA 2001 p 31)

De acordo com Emer (1991) a partir de 1914 o governo do Estado do

Paranaacute instituiu um novo modelo de escola o Grupo Escolar Estes grupos

escolares dirigiam-se ao ensino de quatro seacuteries com conteuacutedos progressivos Estas

escolas estavam localizadas nos principais centros urbanos e nas regiotildees mais

afastadas do centro seguiam sem escolas ou com muita precariedade de escolas

Os grupos de migrantes na ausecircncia de escolas construiacuteam as suas proacuteprias

A falta de escolas no Paranaacute fazia sentir-se especialmente fora dos nuacutecleos coloniais dos imigrantes que ao contraacuterio dos demais nuacutecleos populacionais natildeo esperavam pela iniciativa do governo mas construiacuteam suas proacuteprias escolas e providenciavam o professor Quando muito solicitavam algum tipo de subvenccedilatildeo do governo estadual A escola dos imigrantes natildeo se desenvolveu mais porque o Estado desde 1901 apenas subvencionava os professores que ensinassem em liacutengua portuguesa Esse natildeo era o interesse dos imigrantes Pretendiam repassar agraves novas geraccedilotildees sua noccedilatildeo de nacionalidade de origem que incluiacutea a liacutengua a religiatildeo e os costumes Se o ensino fosse apenas na liacutengua portuguesa os colonos retiravam seus filhos e organizavam uma nova escola particular Em diversas localidades a escola puacuteblica foi desativada e removido o professor por absoluta falta de alunos (EMER 1991 p 207)

Emer destaca as modalidades de ensino que foram criadas neste periacuteodo

tanto no acircmbito formal quanto na esfera institucionalizada satildeo elas (1) Instruccedilatildeo

sem instituiccedilatildeo - ldquoSimplesmente algumas crianccedilas reuniam-se ao redor da mesa de

refeiccedilotildees de uma residecircncia para aprender ler escrever e calcular - curriacuteculo e

58

objetivos educacionais estabelecidos pelos paisrdquo (referecircncia) - que consistia em que

a educaccedilatildeo era dada pelo grupo social sem nenhuma institucionalizaccedilatildeo (2) casa

escolar - construiacuteda e mantida pelos pioneiros - ldquo() do professor era exigida uma

melhor qualificaccedilatildeo isto eacute deveria ensinar mais que na escolarizaccedilatildeo Domiciliar a

Casa Escolar deveria funcionar tecnicamente bemrdquo (EMER 2012 p 36) (3) casa

escolar puacuteblica criada e regulamentada pelo Municiacutepio- ldquoComo uma escola oficial

os alunos das Casas Escolares Puacuteblicas eram submetidos aos exames puacuteblicos

elaborados pelos oacutergatildeos educacionais puacuteblicos para comprovaccedilatildeo da escolaridaderdquo

Neste modelo ficava a cargo do governo contratar e remunerar o professor

cabendo a este alugar uma sala ou casa e formar o grupo de aluno de primeiras

letras Por uacuteltimo o Grupo Escolar Puacuteblico (4) ndash que se diferencia das demais

modalidades por ter sido construiacuteda em nuacutecleos de povoamento mais desenvolvidos

e pela forma de funcionamento Nas modalidades anteriores o objetivo era aprender

a ler escrever e calcular Posteriormente com a oficializaccedilatildeo da casa escolar a

comprovaccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo passou a ser feita por meio de avaliaccedilotildees No grupo

escolar a preocupaccedilatildeo era de bdquoaprovar‟ o aluno para a seacuterie seguinte ldquonum processo

gradual de comprovaccedilatildeo de conhecimentos dos conteuacutedos definidos pelo ldquosistemardquo

educacional como requisito de cada seacuterie (EMER 2012 p 36)

A partir da fundaccedilatildeo da municipalidade em 1914 a populaccedilatildeo passou a

reivindicar um modelo de educaccedilatildeo subsidiado pelo poder puacuteblico Naquele

momento Foz do Iguaccedilu desenvolvia planos para combater o contrabando da

fronteira o que demandou a contrataccedilatildeo de agentes fiscais Esse processo fez com

que o grupo de escolarizados que chegavam agrave cidade passassem a requerer

escolas para seus filhos aleacutem do fato do crescimento da populaccedilatildeo e por

consequecircncia o aumento de crianccedilas (EMER 2012 p 37)

Conforme Emer (1991) entre os anos de 1915 e 1916 ldquoa Prefeitura Municipal

teria construiacutedo e mantido uma casa escolar puacuteblica embora precaacuteria e insuficienterdquo

(EMER 1991 apud Sbardelotto 2009 p 96) Wachowicz afirma que a necessidade

da criaccedilatildeo de escolas por parte da populaccedilatildeo soacute surgiu quando a populaccedilatildeo

urbana cresceu significativamente organizando assim a vida social (WACHOWICZ

1984 p 19) Apesar da iniciativa de dar acesso ao ensino puacuteblico de forma gratuita

a todos Sbardelotto aponta que apenas a populaccedilatildeo masculina foi contemplada

aleacutem do caraacuteter eminentemente elitista uma vez que os filhos de trabalhadores por

terem que optar pela subsistecircncia da famiacutelia abandonavam as escolas

59

Outros fatores contribuiacuteram para o desenvolvimento da educaccedilatildeo em Foz do

Iguaccedilu dentre eles a presenccedila da Igreja Catoacutelica Anterior a fundaccedilatildeo do

municiacutepio em decorrecircncia da localizaccedilatildeo e da dificuldade de deslocamento a

populaccedilatildeo da cidade soacute recebia assistecircncia religiosa uma vez por ano Isso

perdurou ateacute 1918 quando a Igreja optou em criar uma Paroacutequia na cidade desde

que contasse com a ajuda do governo Nesse sentido o acordo entre Igreja e

governo do Estado foi firmado com a condiccedilatildeo de que a Igreja construiacutesse e

dirigisse um grupo escolar

Em 1923 foi instalada a paroacutequia e nomeado o primeiro vigaacuterio um sacerdote alematildeo da Congregaccedilatildeo do Verbo Divino Padre Guilherme Maria Tilecks Para cumprimento do acordo com o Estado mesmo antes da construccedilatildeo do Grupo Escolar o Padre Guilherme passou a lecionar na Casa Escolar Para o desempenho de suas atividades recebeu a ajuda de outros dois padres e de um irmatildeo de sua congregaccedilatildeo (Padre Joatildeo Progzeba Padre Paulo Schneider e Irmatildeo Bianchi) (EMER 2012 p 38)

Por meio do Decreto nordm 1326 do dia 27 de agosto de 1928 surge o Grupo

Escolar Caetano Munhoz da Rocha que posteriormente passou a ser chamado de

Grupo Bartolomeu Mitre primeiro grupo escolar da mesorregiatildeo Oeste do Paranaacute

Em 1930 o grupo escolar passou a ser administrado pelo governo do Paranaacute sob a

direccedilatildeo de professores nomeados pelo Estado Segundo o Plano Municipal de

Educaccedilatildeo (PME) de 2015 ldquoa funccedilatildeo da escola no municiacutepio na eacutepoca era a de

cooperar com a nacionalizaccedilatildeo de um espaccedilo que era submetido por argentinos e

paraguaiosrdquo (PME 2015 p 4) Desse modo a criaccedilatildeo da escola passa a ser

reconhecido pelo Estado como instrumento necessaacuterio para a nacionalizaccedilatildeo da

triacuteplice fronteira O plano municipal utiliza a palavra bdquosubmetido‟ indicando que

naquele periacuteodo havia certa preocupaccedilatildeo com a presenccedila e influecircncia dos paiacuteses

fronteiriccedilos como uma ameaccedila ao territoacuterio e a necessidade de construccedilatildeo da

naccedilatildeo

60

Imagem V- Grupo Escolar Bartolomeu Mitre Fonte Site da Secretaria Estadual do Paranaacute

httpwwwfozbartolomeumitreseedprgovbrmodulesconteudoconteudophpconteudo=9

O fato de o Brasil homenagear um general argentino ao nomear uma escola

em seu nome levou Emer a questionar os motivos que levariam o Estado brasileiro a

tomar essa atitude ou se ela foi apenas uma homenagem despretensiosa ao general

argentino Os interesses do Brasil naquele periacuteodo era dar seguimento agrave poliacutetica

integracionista do territoacuterio com uma campanha nacionalista e o Grupo Escolar Mitre

eacute o marco da institucionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo no oeste paranaense Por isso as

motivaccedilotildees natildeo ficaram tatildeo claras (SBARDELOTTO 2007)

A partir da deacutecada de 1930 a cidade de Foz do Iguaccedilu passou a receber

imigrantes descendentes de italianos e alematildees aleacutem de inuacutemeros agricultores do

Rio Grande do Sul Neste mesmo periacuteodo o governo do Estado do Paranaacute fez

algumas reformas educacionais de teor nacionalista conivente com as mudanccedilas do

governo como aponta o Plano Municipal de Educaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu (2015)

Algumas mudanccedilas comeccedilam acontecer na educaccedilatildeo do paiacutes Uma delas eacute a manifestaccedilatildeo do Estado entre os anos de 1917 e 1919 o governo federal delibera verba para as escolas que ensinavam em liacutengua portuguesa e as escolas de imigrantes que ensinavam em outra liacutengua eram vigiadas e fechadas (PME 2015 p 5)

Durante o Estado Novo essas escolas passaram a ser alvo do governo

principalmente apoacutes a Marcha para o Oeste ldquoque defendia a ocupaccedilatildeo efetiva e a

nacionalizaccedilatildeo das fronteiras nacionais brasileiras de Norte a Sul do paiacutesrdquo (PRIORI

et al 2012 p 65) O projeto explica Priori (etal 2012) buscava despertar o

sentimento de nacionalidade e brasilidade na populaccedilatildeo que vivia na fronteira

No caso da fronteira de Foz do Iguaccedilu despertar na populaccedilatildeo esse

sentimento de nacionalidade era combater agrave ameaccedila que paraguaios argentinos e

61

os descendentes de alematildees italianos poloneses dentre outros imigrantes que se

fixaram na regiatildeo representavam ao projeto de integraccedilatildeo nacional do governo

22 O projeto nacionalista do Estado Novo e a lsquonacionalizaccedilatildeo da fronteirarsquo

A ldquoMarcha para o Oesterdquo foi um importante processo que contribuiu para o

projeto de nacionalizaccedilatildeo da fronteira Segundo Lenharo (1986 apud Lopes 2004)

o discurso de Vargas justificava a ldquoMarcha para o Oesterdquo pautando-se na conquista

da brasilidade que se daria por meio da interiorizaccedilatildeo do paiacutes ldquoPara ele a

construccedilatildeo da ldquoMarcha para Oesterdquo lembra a imagem da naccedilatildeo em movimento agrave

procura de si mesma de sua integraccedilatildeo e acabamentordquo (LENHARO 1986 p56

apud LOPES 2004 p 4)

Como uma das consequumlecircncias da ldquoMarcha para o Oesterdquo foram criados os

territoacuterios federais ldquonas regiotildees do Amapaacute Guaporeacute (atual Rondocircnia) Rio Branco

(atual Roraima) Iguaccedilu e Ponta Poratilde no Estado de Mato Grosso do Sulrdquo (PRIORI et

al 2012p66) Por meio do Decreto-Lei nordm 58124 no ano de 1943 o Territoacuterio

Federal do Iguaccedilu foi criado abrangendo o Oeste e Sudoeste do Paranaacute e Oeste de

Santa Catarina

Segundo Seacutergio Lopes (2004) dentro do espiacuterito de nacionalizaccedilatildeo o

Territoacuterio Federal do Iguaccedilu deveria atender urgentemente o estabelecimento de

condiccedilotildees miacutenimas para organizaccedilatildeo econocircmica social e de seguranccedila das regiotildees

fronteiriccedilas e dos sertotildees Desse modo a criaccedilatildeo do territoacuterio pode ser entendida

como um ato de ocupaccedilatildeo definitiva da faixa de fronteira ldquopara assim romper o

isolamento e afastar definitivamente o perigo estrangeiro para a soberania nacional

que rondava a regiatildeordquo (LOPES 2004 p16)

O primeiro governador a administraacute-lo o Major Joatildeo Garcez do Nascimento

em relatoacuterio enviado ao Ministro da Justiccedila e Negoacutecios Anteriores fez inuacutemeras

consideraccedilotildees sobre a situaccedilatildeo do transporte comeacutercio sauacutede seguranccedila e

educaccedilatildeo na regiatildeo que abrangia o Territoacuterio Federal do Iguaccedilu No aspecto

educacional ele aponta

Haacute no Territoacuterio regular nuacutemero de escolas primaacuterias Satildeo elas

em nuacutemero de setenta Aleacutem disso contam‐se quatro grupos escolares sediados em Pato Branco Clevelacircndia Foz do Iguassuacute e Guaiacutera Quanto ao nuacutemero de escolas pode-se afirmar que atende

62

ainda as necessidades locais quanto as suas instalaccedilotildees poreacutem haacute muito o que providenciar A maioria delas funciona em preacutedios improacuteprios outras em simples salas cedidas a tiacutetulo precaacuterio e por empreacutestimo Em sua maioria natildeo atende aos rudimentares princiacutepios de higiene e didaacutetica O professorado salvo honrosas exceccedilotildees constitui-se de pessoas bem intencionadas e dedicadas mas de niacutevel cultural bastante abaixo do que seria estimaacutevel (RELATOacuteRIO DE 1944 apud LEMIECHEK 2014 p 06)

A criaccedilatildeo do Territoacuterio Federal do Iguaccedilu fez com que o processo de

urbanizaccedilatildeo crescesse e com ele a demanda por qualidade nos serviccedilos puacuteblicos

como a escola Enquanto as escolas natildeo eram ampliadas a classe mais favorecida

economicamente assegurava o acesso agrave educaccedilatildeo para seus filhos por meio da

contrataccedilatildeo de professores que se ldquodeslocavam ateacute as moradias em casas

escolares ou nuacutecleos urbanos mais distantes como Guarapuava Curitiba Posadas

Corrientes etcrdquo (PME 2015 p9) Para as classes menos favorecidas como aqueles

que viviam em Foz do Iguaccedilu e trabalhavam nas obrages e no cultivo da terra havia

acesso ao ensino aleacutem delas viverem em situaccedilotildees insalubres sem acesso a

higiene alimentaccedilatildeo e sauacutede

A partir desse periacuteodo escolas como as construiacutedas por estrangeiros eram

fechadas caso natildeo se adaptassem agraves poliacuteticas nacionais Era necessaacuterio que essa

populaccedilatildeo na regiatildeo se identificasse com o Brasil enquanto uma paacutetria para

constituiccedilatildeo de um Estado-Naccedilatildeo forte Segundo Helena Bomeny (1999) natildeo havia

no projeto do governo intenccedilotildees para inclusatildeo e aceitaccedilatildeo de convivecircncia com os

grupos culturais estrangeiros nas regiotildees de colonizaccedilatildeo

Em relatoacuterio sobre a nacionalizaccedilatildeo do ensino datado de 1940 o Instituto

Nacional de Estudos e Pedagoacutegicos (INEP) sob a direccedilatildeo do educador Lourenccedilo

Filho ao analisar a trajetoacuteria dos imigrantes e sua fixaccedilatildeo no Brasil constatou com

base nos relatoacuterios e depoimentos de historiadores pensadores poliacuteticos e

escritores que desde o seacuteculo XIX a presenccedila de estrangeiros no paiacutes era fator de

preocupaccedilatildeo (BOMENY 1999) Segundo a mesma autora a precariedade da

educaccedilatildeo nos estados da regiatildeo sul do paiacutes em destaque o Rio Grande do Sul

levava os colonos a optarem pelos coleacutegios privados alematildees Segundo o relatoacuterio

do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Sauacutede essa opccedilatildeo pelas escolas estrangeiras era

compreensiacutevel sendo culpa do Estado por permitir a criaccedilatildeo destas instituiccedilotildees sem

a vinculaccedilatildeo com os centros nacionais de cultura

63

A escola natildeo eacute um oacutergatildeo abstrato mas um centro de coordenaccedilatildeo da proacutepria accedilatildeo educativa da comunidade Tendo-se cometido o erro de permitir o nucleamento de estrangeiros sem maior vinculaccedilatildeo ou disciplina aos centros nacionais de cultura as instituiccedilotildees educativas que aiacute deveriam surgir seriam as que ensinassem em liacutengua estrangeira (BOMENY 1999 p154 apud INEP 1999 p8)

A preocupaccedilatildeo com a nacionalizaccedilatildeo do ensino eacute anterior ao Estado Novo

Em Foz do Iguaccedilu a educaccedilatildeo escolar das crianccedilas estava presente desde o

periacuteodo de instalaccedilatildeo da Colocircnia Militar em 1889 Na ausecircncia de escolas muitas

crianccedilas frequumlentavam o sistema educacional da Argentina cuja influecircncia

preocupava o governo da eacutepoca Em 1906 Siacutelvio Romero alertava sobre as

ameaccedilas em haver diferentes nacionalidades no Brasil Como soluccedilatildeo ele propocircs

que se ldquoaproveitasse de modo extensivo o proletariado nacional como elemento

colonizador perto do estrangeiro para educar-se com ele no trabalho e em troca

contribuir para o seu abrasileiramentordquo (BOMENY 1999 p154)

Na conferecircncia interestadual de Ensino Primaacuterio de 1921 encontra-se a fala

de Milton C A Cruz que justifica a deficiecircncia do ensino devido aos inuacutemeros

nuacutecleos estrangeiros isolados ldquoO espiacuterito dessas crianccedilas brasileiras formado em

liacutengua nos costumes nas tradiccedilotildees dos paiacutes soacute poderia tender para a paacutetria de

origem constituindo um empecilho agrave coesatildeo nacionalrdquo (BOMENY 1999 p154 apud

INEP 1999 p8)

Por determinaccedilatildeo do Estado Novo a prefeitura de Foz do Iguaccedilu passou a

promover uma administraccedilatildeo que visasse agrave ocupaccedilatildeo do territoacuterio brasileiro

valorizaccedilatildeo da liacutengua oficial e das moedas nacionais (SPERANCcedilA 1992 apud

LOPES 2004 p 49) Teve ainda que despachar suas documentaccedilotildees criar

anuacutencios comerciais listas de preccedilos ou avisos somente em liacutengua portuguesa

aleacutem da obrigatoriedade do uso da moeda brasileira Essas medidas foram tomadas

pois havia na regiatildeo grande influecircncia dos argentinos no lado brasileiro

Segundo Lopes (2004) a principal preocupaccedilatildeo do Estado Novo em relaccedilatildeo a

essa fronteira era a influecircncia Argentina Como outra medida de contenccedilatildeo dessa

influecircncia estrangeira o governo federal por meio do Decreto nordm 19842 de 1930

tornou obrigatoacuterio a contrataccedilatildeo de no miacutenimo dois terccedilos de trabalhadores nas

empresas estrangeiras presentes dentro do territoacuterio nacional

Diante das estrateacutegias que o Estado Novo desenvolveu para construir a ideacuteia

de naccedilatildeo a fronteira poliacutetica requeria a justificaccedilatildeo ideoloacutegica da comunidade

64

nacional Nessa premissa a escola enquanto instrumento de nacionalizar as

fronteiras foi fundamental

23 Da construccedilatildeo de Itaipu agrave lsquoondarsquo de migraccedilatildeo e imigraccedilatildeo seus

impactos na educaccedilatildeo

Com a queda de Getuacutelio Vargas em 1945 quando o paiacutes entrou por um

pequeno periacuteodo na fase de redemocratizaccedilatildeo os Territoacuterios do Iguaccedilu e Ponta

Poratilde foram extintos No campo da educaccedilatildeo a pedagoga Lucimara Lemiechek

aponta que vaacuterias foram agraves mudanccedilas em detrimento da promulgaccedilatildeo das Leis

Orgacircnicas e a ampliaccedilatildeo dos Cursos Normais (LEMIECHEK 2014 p 9) Nessa

mesma deacutecada em Foz do Iguaccedilu teve iniacutecio a primeira escola21 particular Jorge

Schimmelpfeng nas dependecircncias do primeiro Centro Espiacuterita fundado no

municiacutepio

Imagem VI - Escola Jorge Schimmelpfeng com crianccedilas carentes sob os cuidados do Capitatildeo Cyriacuteaco e de Joseacute Vicente Ferreira (os dois adultos agrave direta da foto rara)

Fonte Centro Espiacuterita Lidelfonso Correia

A deacutecada de 1950 e 1960 seguiu com um programa de escola de cunho

nacionalista e dualista em um periacuteodo marcado pelo programa desenvolvimentista

Cada vez mais os trabalhadores requeriam educaccedilatildeo diferenciada de um lado a

necessidade de matildeo de obra especializada e de outro a busca pelo status que a

educaccedilatildeo proporcionaria No ano de 1959 a Lei Municipal nordm 234 de 29 de outubro

de 1959 adota o programa de aboliccedilatildeo do analfabetismo

21

Vide imagem IV

65

Art 1ordm A Prefeitura de Foz do Iguaccedilu empreenderaacute uma campanha sistemaacutetica para aboliccedilatildeo do analfabetismo desde as crianccedilas de sete anos feitos aos adultos de qualquer idade (LEI 2341959) Art 2ordm Toda a crianccedila que completar sete anos de 1ordm de janeiro a 31 de dezembro deveraacute obrigatoriamente no comeccedilo do ano letivo imediato ser matriculada em escola puacuteblica ou particular cumprindo-lhes frequumlenta-la com assiduidade durante cinco anos na cidade e trecircs anos letivos nas zonas rurais (PME 2015 p 11)

Eacute nesse momento que chegam a Foz do Iguaccedilu as primeiras populaccedilotildees de

origem aacuterabe que saiacuteram de seus paiacuteses em decorrecircncia dos intensos conflitos

regionais e atraiacutedos pela oportunidade de explorar um mercado com grande

potencial de crescimento (RABOSSI 2007 p 292) Segundo Rabossi a primeira

cidade da Triacuteplice Fronteira em que eles se estabeleceram foi Foz do Iguaccedilu

principalmente na regiatildeo proacutexima da Ponte da Amizade inaugurada em 1965

passando a ligar a cidade brasileira a Ciudad del Este no Paraguai dando iniacutecio ao

comeacutercio na regiatildeo Em 1975 no contexto da Guerra do Liacutebano o comeacutercio dos

aacuterabes na fronteira estava consolidado fazendo com que atraiacutedos pelo comeacutercio e

fugindo da guerra outros grupos oriundos do Oriente Meacutedio imigrassem para a

regiatildeo da fronteiriccedila Segundo Silva (2008 p367) os uacuteltimos 30 anos recebeu um

grande nuacutemero de imigrantes de origem ldquoaacuterabe libaneses palestinos siacuterios

jordanianos bem como chineses coreanos e em nuacutemero bem menor hindus e

portugueses

A mesma autora aponta que duas escolas pertencem agrave comunidade aacuterabe

uma de ensino fundamental que ensina a liacutengua aacuterabe e a religiatildeo sunita vinculada

ao Centro Beneficente Islacircmico de Foz do Iguaccedilu uma organizaccedilatildeo cultural e

cientiacutefica A segunda escola Escola Aacuterabe Brasileira oferta ensino para o ensino

fundamental e meacutedio de acordo com as exigecircncias do Estado A especificidade

desta escola em relaccedilatildeo agraves demais do municiacutepio eacute a oferta do ensino da liacutengua

aacuterabe (SILVA 2008)

Na deacutecada de 1970 tambeacutem chegam a Foz do Iguaccedilu os primeiros imigrantes

chineses atraiacutedos pelo comeacutercio na regiatildeo Segundo Miao Shen Chen a regiatildeo da

triacuteplice fronteira abriga uma comunidade chinesa com aproximadamente quatro mil

indiviacuteduos Em Foz do Iguaccedilu haacute pelo menos mil chineses e descendentes Os

imigrantes tecircm agecircncias de turismo imobiliaacuterias construtoras especializadas em

atender os clientes orientais (CHEN 2010)

66

Apesar da implementaccedilatildeo da Lei Municipal nordm 234 de 1959 que estabelecia a

obrigatoriedade da educaccedilatildeo para aboliccedilatildeo do analfabetismo a escola seguia sendo

para poucos ao menos no que diz respeito agrave permanecircncia dos estudantes Os

alunos mais pobres abandonavam a escola muito cedo pois tinham que optar entre

estudar ou trabalhar para ajudar na subsistecircncia da famiacutelia (PME 2015 p 11)

Para Emer (1991) os colonos que aqui se encontravam diante da

precariedade das escolas mobilizaram-se para criar escolas para seus filhos

contribuindo para construccedilatildeo de inuacutemeros coleacutegios confessionais entre os anos de

1955 e 1965 (EMER 1991 p 125) Quanto agrave contrataccedilatildeo dos professores estes

deveriam ter o perfil que atendesse o grupo social

Destaca-se a criaccedilatildeo da primeira Escola Normal Colegial da regiatildeo Oeste do

Paranaacute a Escola Normal Iguaccedilu criada em 1957 em Foz do Iguaccedilu em um

contexto em que a populaccedilatildeo da cidade crescia e a demanda pelo ensino em

diversos niacuteveis aumentava havendo a necessidade de habilitar os professores para

o trabalho docente Ateacute o ano de 1957 Foz do Iguaccedilu contava com um Grupo

Escolar o Bartolomeu Mitre que atendia aproximadamente 400 crianccedilas uma Casa

Escolar com aproximadamente 80 alunos e cinco escolas rurais isoladas que

tinham capacidade para atender 250 alunos Foz do Iguaccedilu tinha capacidade para

atender aproximadamente 730 alunos no ensino primaacuterio o que era pouco diante da

crescente demanda sobretudo dos nuacutecleos urbanos e das aacutereas rurais aleacutem das

aacutereas distritais22

Ainda que tenha havido a criaccedilatildeo dos coleacutegios normais o relatoacuterio do plano

de desenvolvimento de Foz do Iguaccedilu de 1972 apontava que o corpo docente do

municiacutepio era constituiacutedo em sua maioria por professores sem habilitaccedilatildeo tanto

nas redes municipais e estaduais quanto nas privadas A justificativa para esta

qualificaccedilatildeo segundo o relatoacuterio estava no baixo niacutevel salarial que impedia os

qualificados de se dedicarem ao magisteacuterio Na zona rural a porcentagem era ainda

maior Cerca de 80 do pessoal natildeo qualificado atende ao ensino primaacuterio que

funcionava em 41 escolas isoladas e duas casas escolares Segundo o PDI

22 Dentre os distritos que ficavam sob a jurisdiccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu encontram-se Santa Terezinha

de Itaipu Itacoreacute Alvorada Medianeira dentre outros (SBARDELLOTO 2009 p 146)

67

O Estado que paga os melhores salaacuterios (Cr$ 41600) natildeo faz nomeaccedilotildees e a Prefeitura possuindo apenas 3 elementos em seu quadro efetivo percebendo Cr$ 28000 contrata os professores normalistas por apenas Cr$ 28000 e a professora leiga por 60 do salaacuterio miacutenimo (PDI 1972 p 114)

Quanto agrave estrutura do periacuteodo o relatoacuterio aponta que ateacute 1971 havia cinco

grupos escolares estaduais um privado uma casa escolar municipal e duas escolas

isoladas que segundo o relatoacuterio natildeo eram suficientes para atender a demanda

Quanto agrave estrutura o relatoacuterio aponta

Somente na Zona Urbana vamos encontrar preacutedios escolares de alvenaria com luz aacutegua encanada e instalaccedilotildees sanitaacuterias regulares Natildeo quer isto dizer que sejam instalaccedilotildees satisfatoacuterias pois deixam muito a desejar havendo falta de aacutegua e os miacutenimos requisitos agrave boa higiene dos escolares () Na zona rural os preacutedios satildeo todos de madeira sem as menores condiccedilotildees indispensaacuteveis agrave higiene escolar notando-se ausecircncia de atendimento sanitaacuterio e de sauacutede (PDI 1972 p 118)

No mesmo relatoacuterio o problema da evasatildeo eacute justificado com o argumento da

localizaccedilatildeo da cidade que por estar em uma regiatildeo de fronteira eacute caracterizada por

possuir uma populaccedilatildeo flutuante As escolas rurais por exemplo em periacuteodos de

colheita eram fechadas pois natildeo havia frequecircncia alguma uma vez que os alunos

estavam trabalhando nas lavouras Outro exemplo eacute a justificativa do baixo

rendimento escolar atribuiacutedo ao alto iacutendice de crianccedilas argentinas e paraguaias que

estudavam no lado brasileiro com a alegaccedilatildeo do problema do idioma que gerava

atraso em toda turma ldquoNo 1ordm ano o periacuteodo de preacute-alfabetizaccedilatildeo que normalmente

eacute feito em trecircs meses (no maacuteximo) chega a durar quase um anordquo (PDI 1972 p

125)

Este argumento que culpabiliza o aluno estrangeiro pelo atraso da turma natildeo

mudou muito Em pesquisa com professores da rede puacuteblica de Foz do Iguaccedilu

sobre a presenccedila de alunos brasiguaios nas escolas brasileiras citado no capiacutetulo

anterior Pires-Santos (2010) fala que alguns professores vecirc a presenccedila deste perfil

de aluno como um entrave um bdquocastigo‟ pois no seu entendimento seraacute difiacutecil

ensinaacute-los Outro destaque reside no fato de que estes relatoacuterios feitos em 1972

foram produzidos em nome do Estado que vivia sob o regime dos militares cuja

preocupaccedilatildeo com o estrangeiro no paiacutes se restringia nas questotildees de seguranccedila

nacional

68

No decorrer da deacutecada de 1970 a pauta da educaccedilatildeo segue em discussatildeo na

regiatildeo sobretudo com a reforma do ensino promulgada pela Lei 569271 Foz do

Iguaccedilu vivia nessa deacutecada os impactos da construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica de

Itaipu A cidade recebeu aproximadamente 40000 operaacuterios com suas respectivas

famiacutelias oriundas de vaacuterios estados do paiacutes para a construccedilatildeo da hidreleacutetrica O

aumento populacional gerado pela chegada dos trabalhadores na cidade fez com

que todas as obras de infraestrutura fossem feitas apressadamente dentre essas

os hospitais as moradias e escolas subsidiados pela Itaipu Um exemplo foi o

convecircnio entre a Prefeitura por meio da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo e

Cultura com a Itaipu que resultou na construccedilatildeo da escola Prof Parigot de Souza

no ano de 1975

() Fica o Chefe do Executivo Municipal autorizado a firmar convecircnio com a Empresa ITAIPU ndashBINACIONAL objetivando a aplicaccedilatildeo de recursos para pagamento de professores e demais servidores para o setor administrativo bem como da manutenccedilatildeo da nova unidade escolar preacute-fabricada construiacuteda na sede municipal onde seraacute instalada uma extensatildeo do Ginaacutesio Estadual bdquoDom Manoel Konnerrdquode Foz do Iguaccedilu‟

(Foz do Iguaccedilu Lei Municipal nordm 8821975 Art1ordm)

Com a construccedilatildeo da hidreleacutetrica o nuacutemero de escolas em Foz do Iguaccedilu

aumentou significativamente Na deacutecada de 1960 havia cerca de oito escolas

municipais na cidade na deacutecada de 1980 mais nove escolas e hoje segundo dados

da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo (2011) a cidade conta com 83 escolas

municipais e 82 estaduais 43 privadas e 04 filantroacutepicas

O periacuteodo que se estende da Colocircnia Militar de 1889 ateacute o fim da Era Vargas

(1930-1954) demonstrou que as raiacutezes pela qual as escolas foram criadas passou

pela construccedilatildeo de valores que satildeo constitutivos de uma ideal de naccedilatildeo Wachowicz

(1984) cita o ofiacutecio do general comandante da 5ordf Regiatildeo Militar em 1925 que

expressava a urgecircncia de se construir escolas nas zonas de fronteira haja vista que

a uacutenica soluccedilatildeo era enviar as crianccedilas para frequentar escola na Argentina O

incocircmodo do general se baseia na busca pelo estabelecimento de uma identidade

nacional ao Brasil pois a presenccedila de alunos brasileiros em escolas argentinas

representava um perigo A escola eacute um dos espaccedilos em que se bdquoimagina‟ se

constroacutei um identidade nacional ldquoNascida na ficccedilatildeo agrave identidade precisava de muita

coerccedilatildeo e convencimento para se consolidar e se concretizar numa realidaderdquo

(BAUMAN 2005 p 27)

69

Em siacutentese a escola natildeo eacute neutra mas perpassam tambeacutem outros interesses

que natildeo satildeo apenas os de ideais nacionalistas Ela eacute um espaccedilo marcado por

contradiccedilotildees Eacute o que o educador brasileiro Paulo Freire (1987) sugere ao natildeo

negar a influecircncia que determinado modo de se propor um modelo educativo pode

causar na sociedade Justamente por saber do potencial transformador da educaccedilatildeo

eacute que ele propunha um modelo para de educaccedilatildeo a partir da base da realidade na

qual o sujeito estaacute inserido

Em Foz do Iguaccedilu haacute a constataccedilatildeo de que o Estado esteve preocupado em

criar escolas a fim de bdquonacionalizar‟ a fronteira Braduel (2009) ao refletir acerca da

relaccedilatildeo entre Estado e territoacuterio e a ocupaccedilatildeo do espaccedilo afirma que ldquoEstados agem

como indiviacuteduos obstinando-se em delimitar seu domiciacutelio da mesma forma que

todo animal livre defende aquilo que ele considera ser o seu territoacuteriordquo (BRAUDEL

2009 p 262 apud Heinsfiel 2014 p 17)

Nessa perspectiva o Estado tem como foco a necessidade de delimitar seus

domiacutenios Domiacutenios estes que satildeo reforccedilados por instituiccedilotildees capazes de legitimar

essa loacutegica tais como as escolas Segundo Bourdieu (2008) um dos principais

poderes do Estado eacute impor categorias de pensamento categorias que noacutes

assumimos como naturais aparentemente espontacircneas mas que na verdade satildeo

impostas pelo Estado (BOURDIEU 2008 p 91)

24 A Educaccedilatildeo a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 O direito agrave diversidade nas

escolas

Com o processo de redemocratizaccedilatildeo e da nova Constituiccedilatildeo Federal

promulgada em 1988 houve um grande avanccedilo em termos de direitos civis No

caso da presenccedila de estrangeiros no paiacutes a Carta Magna assegura a todas as

pessoas brasileiras ou estrangeiras estando em situaccedilatildeo migratoacuteria regular ou

irregular o direito agrave educaccedilatildeo escolar Os princiacutepios escolares passaram a ter

como base a igualdade de condiccedilotildees para o acesso e permanecircncia nas escolas

da liberdade e do pluralismo de ideacuteias e concepccedilotildees pedagoacutegicas

Art 206 O ensino seraacute ministrado com base nos seguintes princiacutepios I - igualdade de condiccedilotildees para o acesso e permanecircncia na escola II - liberdade de aprender ensinar pesquisar e divulgar o pensamento a arte e o saber III - pluralismo de ideacuteias e de concepccedilotildees pedagoacutegicas e coexistecircncia de instituiccedilotildees puacuteblicas e

70

privadas de ensino IV - gratuidade do ensino puacuteblico em estabelecimentos oficiais (CF 1998)

Waldman (2012) destaca que a nova constituiccedilatildeo tem pela primeira vez o

princiacutepio da dignidade da pessoa humana como fundamental e afirmou como

objetivos fundamentais a ldquopromoccedilatildeo do bem para todos sem preconceitos de

origem raccedila sexo cor idade e quaisquer outras formas de discriminaccedilatildeordquo

(WALDMAN 2012 p63)

No campo das relaccedilotildees internacionais o Brasil se comprometeu pela

prevalecircncia dos direitos humanos pela cooperaccedilatildeo entre os povos e pela atenccedilatildeo

agrave integraccedilatildeo poliacutetica social e cultural da Ameacuterica Latina23 Estes pontos

apresentados satildeo importantes a serem considerados pois satildeo com base na CF

que a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional de 1996 seraacute elaborada e a

partir dela outros documentos importantes que toca agrave questatildeo da diversidade

eacutetnicas cultural e racial na educaccedilatildeo Alguns destes documentos satildeo o Curriacuteculo

da Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do Oeste do Paranaacute o Plano Estadual de Educaccedilatildeo

do Paranaacute e os Paracircmetros Curriculares Nacionais que seratildeo analisados no

proacuteximo capiacutetulo

23

Art 4ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais pelos seguintes

princiacutepios I - independecircncia nacional II - prevalecircncia dos direitos humanos III - autodeterminaccedilatildeo dos povos IV - natildeo-intervenccedilatildeo V - igualdade entre os Estados VI - defesa da paz VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitosVIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismoIX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidadeX - concessatildeo de asilo poliacuteticoParaacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

71

CAPIacuteTULO III POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS PARA A EDUCACcedilAtildeO NA FRONTEIRA

ENTRE ARGENTINA BRASIL E PARAGUAI

31 Poliacuteticas Puacuteblicas conceitos e abordagens

O campo de estudos de poliacuteticas puacuteblicas avanccedilou nos uacuteltimos sessenta

anos tendo conformado uma literatura instrumental analiacutetica que contribuiu para a

compreensatildeo dos processos de natureza poliacutetico- administrativo (SECCHI 2013)

No Brasil segundo Faria (2003) a aacuterea de anaacutelise de poliacuteticas puacuteblicas ainda eacute

escassa Isso se comprova pela falta de anaacutelises mais sistemaacuteticas no que tange

aos processos de implementaccedilatildeo aleacutem da carecircncia em estudos que tratam de

metodologias e instrumentos de avaliaccedilatildeo destas poliacuteticas pelos trecircs niacuteveis de

governo legislativo executivo e judiciaacuterio

A fim de apresentar a analise de algumas poliacuteticas puacuteblicas (PP) que tratam

da questatildeo da educaccedilatildeo e diversidade cultural faz-se necessaacuterio apresentar o que

se compreende enquanto uma PP Teoacutericos apontam que seu significado natildeo

apresenta uma definiccedilatildeo uacutenica (SECCHI 2010 BONETI 2011) Assim utilizaremos

como definiccedilatildeo de PP as concepccedilotildees de Tamayo Saacuteez (1997) que a entende como

ldquoum conjunto de objetivos decisotildees e accedilotildees que levam a cabo um governo para

solucionar os problemasrdquo (TAMAYO SAEacuteZ 1997 p 2) Complementando esta

definiccedilatildeo citamos Lindomar Boneti (2006) e seu entendimento do que sejam

poliacuteticas puacuteblicas

Accedilatildeo que nasce do contexto social mas que passa pela esfera estatal como uma decisatildeo de intervenccedilatildeo puacuteblica numa realidade social determinada quer seja ela econocircmica ou social Ainda esclarece que as poliacuteticas puacuteblicas representam [] o resultado da dinacircmica do jogo de forccedilas que se estabelece no acircmbito das relaccedilotildees de poder relaccedilotildees estas constituiacutedas pelos grupos econocircmicos e poliacuteticos classes sociais e demais organizaccedilotildees da sociedade civil (BONETI 2006 p 76)

Eacute importante assinalar que as PPs mudam com o tempo e em consonacircncia

com o modelo de Estado vigente como as transformaccedilotildees que ocorrem em uma PP

dentro de um Estado autoritaacuterio para um Estado democraacutetico A criaccedilatildeo de uma PP

natildeo depende somente das decisotildees emanadas do poder puacuteblico Esse jogo de

72

forccedilas ao qual Boneti se refere satildeo concernentes agraves correlaccedilotildees realizadas com

agentes privados e da sociedade civil No entanto no sentido de responsabilizaccedilatildeo

por sua implementaccedilatildeo e permanecircncia compreende-se aqui que uma PP eacute

responsabilidade do Estado24

Dentre os aspectos a serem considerados no momento de escolher uma PP

os fatores culturais satildeo de fundamental importacircncia para a sua implementaccedilatildeo O

sucesso ou o fracasso de uma PP pode estar diretamente ligado ao contexto no qual

se insere

No que confere agrave anaacutelise de uma PP a mais aceita eacute aquela que busca

compreender como os formuladores de poliacutetica (policymakers) lidam com os

problemas com que se defrontam Nas palavras de Wildavsky

() o papel de Anaacutelise de Poliacutetica eacute encontrar problemas onde soluccedilotildees podem ser tentadas ou seja bdquoo analista deve ser capaz de redefinir problemas de uma forma que torne possiacutevel alguma melhoria‟ Portanto a Anaacutelise de Poliacutetica estaacute preocupada tanto com o planejamento como com a poliacutetica (politics) (WILDAVSKY 1979 apud RUA 2009 p 23)

Segundo Tamayo Saacuteez (1997) a anaacutelise de PP possui um caraacuteter

multidisciplinar Trata-se de um conjunto de teacutecnicas conceitos e estrateacutegias

oriundas de diferentes disciplinas - ciecircncia poliacutetica antropologia sociologia

psicologia e da teoria da organizaccedilatildeo - cujo objetivo eacute interpretar as causas e

consequumlecircncias das accedilotildees do governo Conforme este argumento eacute importante

ressaltar que os atores que analisam determinada PP o fazem a partir de seus

valores sua capacidade teacutecnica seus interesses e o grau de informaccedilatildeo Tais

fatores satildeo fundamentais para compreensatildeo destas anaacutelises

Por poliacuteticas puacuteblicas educacionais compreende-se tudo aquilo que um

governo faz ou deixa de fazer em mateacuteria de educaccedilatildeo No que tange agrave poliacutetica

educacional brasileira esta deve ser pensada em contexto amplo onde fatores

como a constituiccedilatildeo federal a poliacutetica nacional de direitos humanos e os acordos e

tratados internacionais devem ser considerados assim como os fatores sociais e

culturais da sociedade (SILVA MOURA MELLO 2013)

24

Mas vale dizer que natildeo necessariamente uma poliacutetica puacuteblica eacute apenas estatal

73

Segundo Azevedo e Aguiar (2001) os estudos sobre as poliacuteticas

educacionais no Brasil satildeo recentes mas encontram-se em processo de construccedilatildeo

e crescimento As pesquisas e publicaccedilotildees sobre as poliacuteticas educacionais possuem

dois eixos de estudos o primeiro refere-se aos de caraacuteter teoacuterico com questotildees

mais amplas acerca do processo de formulaccedilatildeo de poliacuteticas abarcando mudanccedilas

no papel do Estado das redes de influecircncia no desenvolvimento de formulaccedilatildeo de

poliacuteticas o segundo trata da anaacutelise e avaliaccedilatildeo de poliacuteticas e programas

(MAINARDES 2006) Quanto ao primeiro eixo ao destacar a funccedilatildeo do Estado na

definiccedilatildeo e implementaccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica Mainardes (2006) explica que

natildeo se trata de defender que o Estado ou os governos decidam por implementar as

poliacuteticas puacuteblicas mas isso reflete as pressotildees de diferentes grupos de interesse

Citando Evans Rueschmeyer e Skocpol (1985) Souza (2006) se aproxima da

perspectiva teoacuterica que defende uma autonomia relativa do Estado ldquoque faz com

que o mesmo tenha um espaccedilo proacuteprio de atuaccedilatildeo embora permeaacutevel a influecircncias

externas e internasrdquo (SOUZA 2006 p27 apud Evans Rueschmeyer e Skocpol

1985)

Os dois eixos foram abordados nesta dissertaccedilatildeo pois considera-se

importante conhecer os principais aspectos histoacutericos das poliacuteticas educativas no

Brasil e sua relaccedilatildeo com o Estado para posteriormente tratar da anaacutelise das

poliacuteticas escolhidas O modelo denominado de ciclo de poliacuteticas puacuteblicas seraacute o

recurso utilizado para analise das poliacuteticas educacional

O ciclo de poliacutetica tem adquirido importacircncia progressiva nos estudos sobre a

elaboraccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica principalmente por consistir em uma serie de etapas

que envolve o processo poliacutetico-administrativo os atores suas relaccedilotildees recursos de

poder as relaccedilotildees poliacuteticas sociais e as praacuteticas Saravia e Ferrarezi (2006p32)

descrevem sete etapas deste ciclo primeiro uma agenda poliacutetica que eacute a

necessidade social de elaborar determinada poliacutetica puacuteblica em segundo a

elaboraccedilatildeo propriamente dita da poliacutetica puacuteblica para identificar e delimitar um

problema seja ele atual ou que pode vir a ser necessaacuterio Com isto determinam-se

as alternativas para a soluccedilatildeo a partir das possiacuteveis soluccedilotildees para o problema

formula-se a alternativa mais cabiacutevel pra sua implementaccedilatildeo que deve ser

constituiacuteda por meio do ldquoplanejamento e organizaccedilatildeo do aparelho administrativo e

dos recursos humanos financeiros materiais e tecnoloacutegicos necessaacuterios para

executar uma poliacuteticardquo (SARAVIA p34) A proacutexima etapa eacute a execuccedilatildeo destinada a

74

atingir os objetivos traccedilados pela poliacutetica ldquoEssa etapa inclui o estudo dos

obstaacuteculos que normalmente se opotildeem agrave transformaccedilatildeo de enunciados em

resultados e especialmente a anaacutelise da burocraciardquo (SARAVIA 2006 p 34) A

sexta etapa reside no acompanhamento que eacute o processo de supervisatildeo da

execuccedilatildeo de uma atividade a fim de fornecer a ldquoinformaccedilatildeo necessaacuteria para

introduzir eventuais correccedilotildees a fim de assegurar a consecuccedilatildeo dos objetivos

estabelecidosrdquo (SARAVIA 2006 p34) Por uacuteltimo temos a avaliaccedilatildeo que consiste

em analisar os impactos das poliacuteticas implementadas para a sociedade

Saravia (2006) explica que esta sequecircncia eacute mais uma esquematizaccedilatildeo

teoacuterica do que ocorre na praacutetica Nem sempre essas etapas satildeo consideradas Eacute o

caso de muitos paiacuteses da Ameacuterica Latina onde os programas de ajuste estrutural

natildeo consideraram as primeiras etapas iniciais de sua elaboraccedilatildeo os resultados

sociais possiacuteveis Como consequumlecircncia os indicadores da educaccedilatildeo da sauacutede da

previdecircncia social da habitaccedilatildeo do emprego e de outros setores sociais mostram a

existecircncia de uma situaccedilatildeo difiacutecil que se agrava com o tempo (SARAVIA 2006

p35-36)

32 Caminhos das poliacuteticas educacionais no Brasil

No Brasil por muito tempo as poliacuteticas puacuteblicas para educaccedilatildeo ficaram

aqueacutem do esperado Valle (2009) aponta que no decorrer do periacuteodo colonial ou do

Impeacuterio natildeo haacute registros de uma real preocupaccedilatildeo com as poliacuteticas puacuteblicas de

Educaccedilatildeo (VALLE 2009) Arauacutejo (2011) explica que eacute recente a ideia de um ldquoEstado

em accedilatildeordquo no sentido de promover poliacuteticas para educaccedilatildeo (ARAUacuteJO 2011 p236)

Em um contexto onde sociedade e economia fundamentaram suas bases em um

modelo econocircmico agroexportador e na matildeo-de-obra escrava a preocupaccedilatildeo com a

educaccedilatildeo surgiu muito tarde

Maria Luisa Ribeiro (1992) escreve que no periacuteodo colonial a poliacutetica

educacional esteve vinculada agrave poliacutetica colonizadora dos portugueses (RIBEIRO

1992 p 20) A historiadora Maria Luiza Marciacutelio (2005) acrescenta estes dados ao

traccedilar as principais caracteriacutesticas do sistema educacional brasileiro no periacuteodo que

se estende de 1554 a 1759 ao explicar que o uacutenico ensino formal presente ateacute

meados do seacuteculo XVIII era oferecido pela Companhia de Jesus que era

75

basicamente elitista atendendo em grande parcela ldquojovens brancos proprietaacuterios

de terras famiacutelias da elite colonial aleacutem de introduzir nas primeiras letras do

catecismo elementar as crianccedilas iacutendias das aldeias jesuiacutetasrdquo (MARCIacuteLIO 2005

p42)

Saviani (2008) aponta que o primeiro documento de poliacutetica educacional foi

editado em 1548 e encontrado nos ldquoRegimentosrdquo de DJoatildeo III com a finalidade de

orientar as accedilotildees do governador geral do Brasil Tomeacute de Souza que veio com a

companhia de mais quatro padres e dois irmatildeos jesuiacutetas liderados por Manuel da

Noacutebrega

Nesse mesmo ano os jesuiacutetas receacutem-chegados deram iniacutecio agrave obra educativa centrada na catequese guiados pela orientaccedilatildeo contida nos referidos bdquoRegimentos‟ cumprindo pois um mandato que lhes fora delegado pelo rei de Portugal Nessa condiccedilatildeo cabia agrave coroa manter o ensino mas o rei enviava verbas para a manutenccedilatildeo e a vestimenta dos jesuiacutetas natildeo para construccedilotildees (SAVIANI 2008 p8)

No que se refere agrave inclusatildeo da populaccedilatildeo na instituiccedilatildeo jesuiacutetica Marciacutelio

(2005) aponta que no periacuteodo da expulsatildeo dos jesuiacutetas em 1759 a soma de todos

os alunos natildeo atingia 01 da populaccedilatildeo brasileira Em um cenaacuterio que contava

com 50 da populaccedilatildeo constituiacuteda por mulheres e 40 de escravizados aleacutem de

negros livres pardos filhos ilegiacutetimos e crianccedilas abandonadas todos estes ficavam

agrave margem do sistema de ensino Ao todo os jesuiacutetas ficaram agrave frente da educaccedilatildeo

brasileira por mais de dois seacuteculos ateacute a expulsatildeo (MARCIacuteLIO 2005 p3)

A segunda fase de poliacuteticas educacionais no Brasil foi marcada pelas

reformas pombalinas para instruccedilatildeo puacuteblica Com a instalaccedilatildeo da coroa portuguesa

no Brasil Colonial em 1808 a educaccedilatildeo ganhou novos significados Uma ldquoseacuterie de

cursos tanto profissionalizantes em niacutevel meacutedio como em niacutevel superior bem como

militares foram criados para fazer do local algo realmente parecido com uma Corterdquo

(GHIRALDELLI JR 2001 p 16) Deste modo o periacuteodo compreendido como

pedagogia pombalina (1759-1827) corresponde agraves primeiras tentativas de se instituir

uma escola puacuteblica estatal

As reformas pombalinas contrapotildeem-se ao predomiacutenio das ideacuteias religiosas e com base nas ideacuteias laicas inspiradas no Iluminismo institui o privileacutegio do Estado em mateacuteria de instruccedilatildeo surgindo assim a nossa versatildeo da bdquoeducaccedilatildeo puacuteblica estatal‟ (LUZURIAGA 1959 p23-39 apud SAVIANE 2008 p9)

76

Quando Dom Pedro I assume o poder no periacuteodo Regencial a maioria da

populaccedilatildeo seguia analfabeta A independecircncia poliacutetica natildeo alterou o quadro da

situaccedilatildeo de ensino ao menos de imediato Para Joatildeo Cruz Costa citado por

Romanelli (1985) o processo de independecircncia significava ldquosimples transferecircncia de

poderes dentro de uma mesma classe [a independecircncia] entregaria a direccedilatildeo da

nova accedilatildeo aos proprietaacuterios de terras de engenhos e aos letradosrdquo (COSTA 1980

apud ROMANELLI 1985 p 39)

Eacute neste contexto que comeccedila uma nova fase no campo da educaccedilatildeo tendo

como marco inicial a lei das Escolas das Primeiras letras de 1827 com o objetivo de

ensinar toda a populaccedilatildeo brasileira conforme o artigo de nuacutemero 6 presente na Lei

de 15 de outubro de 1827

() Art 6ordm - Os professores ensinaratildeo a ler escrever as quatro operaccedilotildees de aritmeacutetica praacutetica de quebrados decimais e proporccedilotildees as noccedilotildees mais gerais de geometria praacutetica a gramaacutetica de liacutengua nacional e os princiacutepios de moral cristatilde e da doutrina da religiatildeo catoacutelica e apostoacutelica romana proporcionados agrave compreensatildeo dos meninos preferindo para as leituras a Constituiccedilatildeo do Impeacuterio e a Histoacuteria do Brasil (BRASIL 1827)

No final do seacuteculo XIX marcado pelas influecircncias do positivismo25 comeccedilou no paiacutes

um movimento pela desoficializaccedilatildeo do ensino no Estado defendendo a liberdade

das profissotildees Com isso foram surgindo escolas privadas de benemerecircncia que se

propunham a ofertar ensino gratuito Essa tendecircncia de desoficializaccedilatildeo culminou

com a Reforma Leocircncio de Carvalho em 1879 (SAVIANI 2008) Saviani chama

atenccedilatildeo para este fato ao criticar o fato de que desde iniacutecio das primeiras poliacuteticas

educacionais brasileiras houve certa ldquopromiscuidaderdquo na relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o

privado A comeccedilar com a educaccedilatildeo jesuiacutetica que em alguma medida era puacuteblica

mas a entidade que o ofertava natildeo

Conforme Santos (2011) somente a partir do final do seacuteculo XIX e iniacutecio do

XX periacuteodo de transiccedilatildeo para um modelo de desenvolvimento moderno

25

Por Positivismo compreende-se agora de modo mais amplo a filosofia desenvolvida por Augusto Comte que se caracteriza conjuntamente pela expressa confianccedila nos benefiacutecios da industrializaccedilatildeo no otimismo em relaccedilatildeo ao progresso capitalista no culto agrave ciecircncia e a valorizaccedilatildeo do meacutetodo cientiacutefico voltados a uma reforma intelectual da sociedade (COTRIM 1993 p 189)

77

intervencionista foi que a educaccedilatildeo passou a ser reclamada como um condicionante

necessaacuterio para o desenvolvimento do paiacutes Conforme Romanelli (1985) o seacuteculo

XIX fora marcado pelo surgimento de uma nova camada intermediaacuteria tambeacutem

chamada de pequena burguesia Esta classe explica a autora foi fundamental para

a evoluccedilatildeo poliacutetica no Brasil monaacuterquico e para mudanccedilas pelas quais passou o

regime no final do seacuteculo (ROMANELLI 1985 p37)

No periacuteodo republicano outra modalidade de poliacuteticas educacionais se

desenvolveu por volta de 1890 com a implantaccedilatildeo progressiva das escolas

graduadas apoiadas nas escolas normais que comeccedilaram a ser consolidadas sob o

fluxo do iluminismo republicano

Esse periacuteodo abrange de 1890 quando se daacute no estado de Satildeo Paulo a organizaccedilatildeo da escola normal graduada ateacute 1931 quando eacute promulgada a reforma Francisco Campos dando iniacutecio ao processo de regulamentaccedilatildeo ao sistema de ensino em acircmbito nacional (SAVIANI 2004a p20-21)

Somente a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo XX eacute que podemos

encontrar registros das primeiras lutas por uma educaccedilatildeo e escola de qualidade

puacuteblica e gratuita Valle (2009) aponta que a poliacutetica educacional brasileira foi

marcada pela criaccedilatildeo da Universidade do Rio de Janeiro em 1920 hoje

Universidade Federal do Rio de Janeiro ndash UFRJ ndash pelas organizaccedilotildees colegiadas

como a Associaccedilatildeo Brasileira de Educaccedilatildeo fundada em 1924 liderada pelos

reformadores do movimento Escola Nova cujo marco encontra-se no lanccedilamento do

Manifesto dos Pioneiros da Educaccedilatildeo na deacutecada de 1930 (VALLE 2009 p22)

Acerca deste Manifesto escreve Santos (2011)

Lanccedilado em 1932 o Manifesto foi sobretudo um documento de poliacutetica educativa no qual para aleacutem da defesa da Escola Nova estava a causaluta maior dapela escola puacuteblica laica sendo esta responsabilidade do Estado Ressalto que as diretrizes desse manifesto influenciaram a Constituiccedilatildeo de 1934 (FREITAS 2005 SAVIANI 2005 apud SANTOS 2011 p2)

Em 1930 ano em que tecircm iniacutecio a Era Vargas eacute criado o Ministeacuterio dos

Negoacutecios da Educaccedilatildeo e Sauacutede Este periacuteodo eacute considerado por Saviani (2008) o

iniacutecio da sexta modalidade de poliacuteticas educacionais marcado pela reforma

Francisco Campos em 1931 e caracterizada pela regulamentaccedilatildeo em acircmbito

nacional das escolas superiores secundaacuterias e primaacuterias incorporando

78

crescentemente as concepccedilotildees pedagoacutegicas renovadoras ateacute a criaccedilatildeo da LDB em

1961

As propostas de poliacuteticas educacionais dos reformadores dentre eles Aniacutesio

Teixeira e Lourenccedilo Filho natildeo foram bem recebidas pelo movimento de 1930

Apesar das controveacutersias houve marcos importantes como aponta Santos (2011)

com os seguintes decretos

1) Decreto 19850 de 11 de abril de 1931 que criou o Conselho Nacional de Educaccedilatildeo 2) Decreto 19851 de 11 de abril de 1931 que dispocircs sobre a organizaccedilatildeo do ensino superior no Brasil e adotou o regime universitaacuterio 3) Decreto 19852 de 11 de abril de 1931 que dispocircs sobre a organizaccedilatildeo da Universidade do Rio de janeiro 4) Decreto 19890 de 18 de abril de 1931 que dispocircs sobre a organizaccedilatildeo do ensino secundaacuterio 5) Decreto 19941 de 30 de abril de 1931 que instituiu o ensino religioso como mateacuteria facultativa nas escolas puacuteblicas do paiacutes 6) Decreto 20158 de 30 de junho de 1931 que organizou o ensino comercial e regulamentou a profissatildeo de contador 7) Decreto 21241 de 14 de abril de 1932 que consolidou as disposiccedilotildees sobre a organizaccedilatildeo do ensino secundaacuterio (SANTOS 2011 p 2)

De acordo com Ribeiro (1992) de 1931 a 1937 foram realizados inuacutemeros

congressos e conferecircncias nos quais se discutiam os caminhos possiacuteveis para a

elaboraccedilatildeo de um plano nacional para educaccedilatildeo Nestes debates haviam duas

vertentes

Uma jaacute era tradicional representada pelos educadores catoacutelicos que defendiam a educaccedilatildeo subordinada agrave doutrina religiosa (catoacutelica) a educaccedilatildeo em separado e portanto diferenciadas pelos sexos masculino e feminino o ensino particular a responsabilidade da famiacutelia quanto agrave educaccedilatildeo etc Outra era representada pelos educadores influenciados pelas bdquoideacuteias novas‟ e que defendiam a laicidade a co- educaccedilatildeo a gratuidade a responsabilidade puacuteblica em educaccedilatildeo etc (RIBEIRO 1992 p99)

Em um contexto onde o mundo presenciava as experiecircncias de paiacuteses com

ideologias fascistas e comunistas os grupos de educadores que debatiam a

educaccedilatildeo agrave eacutepoca diziam ser contraacuterios agrave monopolizaccedilatildeo do ensino por parte do

Estado Com isto o movimento escola novista e sua ideia da educaccedilatildeo ser de

responsabilidade puacuteblica passam a ser assimiladas agraves ideias comunistas

79

Em 1934 eacute outorgada uma nova Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica que segundo

Ribeiro (1992) apesar de seu caraacuteter contraditoacuterio ao atender as reivindicaccedilotildees

sobretudo dos reformadores catoacutelicos conseguiu destacar a educaccedilatildeo dedicando-

lhe um capiacutetulo especiacutefico para o assunto Entatildeoldquoa reivindicaccedilatildeo catoacutelica quanto ao

ensino religioso eacute atendida assim como outras ligadas aos representantes das

ldquoideacuteias novasrdquo (CapI art 5ordmXIV 1934 apud RIBEIRO 1992 p104)

A partir de 1937 quando o golpe militar instaura o Estado Novo algumas

premissas satildeo mantidas como a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino primaacuterio

Institui-se como obrigatoacuterio o ensino de trabalhos manuais nas escolas primaacuterias

normais e secundaacuterias Tambeacutem fica estabelecido o programa escolar em termos de

ensino preacute-vocacional orientado agraves classes menos favorecidas No artigo 129 o

regime de cooperaccedilatildeo entre a induacutestria e o Estado eacute fixado (RIBEIRO 1992 p114-

115)

O periacuteodo do Estado Novo que durou sessenta anos foi um periacuteodo

marcante para a educaccedilatildeo pois traduziu o que aquele regime poliacutetico pretendeu

executar no Brasil Nas palavras de Helena Bomeny (1999)

Formar um bdquohomem novo‟ para um Estado Novo conformar mentalidades e criar o sentimento de brasilidade fortalecer a identidade do trabalhador ou por outra forjar uma identidade positiva no trabalhador brasileiro tudo isso fazia parte de um grande empreendimento cultural e poliacutetico para o sucesso do qual contava-se estrategicamente com a educaccedilatildeo por sua capacidade universalmente reconhecida de socializar os indiviacuteduos nos valores que as sociedades atraveacutes de seus segmentos organizados querem ver internalizados (BOMENY1999p139)

Bomeny apresenta quatro decretos que remetem ao fechamento das escolas

estrangeiras

O Decreto lei ndeg 383 de 18 de abril de 1938 que proibia aos

estrangeiros o exerciacutecio de atividades poliacuteticas no Brasil o Decreto ndeg 406 de 4 de maio 1938 que regulamentava o ingresso e a permanecircncia de estrangeiros ditando providecircncias para sua assimilaccedilatildeo e criando o Conselho de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo como oacutergatildeo executor de suas disposiccedilotildees o Decreto ndeg 868 de 18 de novembro de 1938 que instituiu a Comissatildeo Nacional de Ensino Primaacuterio que possuiacutea entre suas atribuiccedilotildees a nacionalizaccedilatildeo do ensino nos nuacutecleos estrangeiros e o Decreto ndeg 948 de 13 de dezembro do mesmo ano que considerando a complexidade das medidas para promover a assimilaccedilatildeo dos colonos e completa nacionalizaccedilatildeo dos filhos de imigrantes estabelecia que as medidas fossem tomadas pelo Conselho de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo (BOMENY 1999 p 158)

80

Em documento dirigido a Getuacutelio Vargas em 1939 o entatildeo Ministro de

Guerra Eurico Gaspar Dutra apontou a educaccedilatildeo como um dos setores

intimamente ligados agrave seguranccedila nacional ldquoO problema da educaccedilatildeo apreciado em

toda a sua amplitude natildeo pode deixar de constituir uma das mais graves

preocupaccedilotildees das autoridades militaresrdquo (Arquivo Osvaldo Aranha AO 390418

FGVCPDOC apud BOMENY 1999 p139)

Com o fim do Estado Novo a nova constituiccedilatildeo caracterizada por seu caraacuteter

liberal e democraacutetico possibilitou algumas mudanccedilas na educaccedilatildeo O novo Ministro

da Educaccedilatildeo regulamentou em 1946 o Ensino Primaacuterio e o Ensino Normal aleacutem do

Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC Neste contexto o Brasil

passou a viver o que se denominou como periacuteodo nacional-desenvolvimentista No

plano internacional o mundo vivia o poacutes-guerra momento marcado pela

reconstruccedilatildeo dos paiacuteses envolvidos o que levou a uma grande fase de crescimento

econocircmico em niacutevel mundial conhecida como a ldquoa era de ourordquo acarretando no que

ficou conhecido como Estado de Bem-Estar Social

O Estado de bem-estar social era um projeto cogente para recuperar o vigor e a capacidade de expansatildeo dos paiacuteses capitalistas apoacutes a tensatildeo social econocircmica e poliacutetica do periacuteodo entre guerras Tanto que o estabelecimento do Estado de bem-estar social entre as deacutecadas de 1940 e 1960 ficou conhecido como bdquoera dourada do capitalismo‟ por ser um momento de desenvolvimento econocircmico com garantias sociais e oferecimento praticamente de emprego pleno para a maioria da populaccedilatildeo nos paiacuteses mais desenvolvidos (VICENTE 2009 p124)

Apoacutes a reconstruccedilatildeo dos paiacuteses envolvidos na guerra ocorreu o processo de

internacionalizaccedilatildeo do capital O avanccedilo do capitalismo para paiacuteses como o Brasil

implicou em uma nova forma de desenvolvimento As ideacuteias por uma poliacutetica

nacional-desenvolvimentista foram propagadas principalmente pelo Instituto

Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) criado em 1955 durante o governo interino

de Cafeacute Filho No governo de Juscelino Kubitschek o ISEB passa a ser o braccedilo do

governo no sentido de propagar a mentalidade nacional para o desenvolvimento

A deacutecada de 1960 eacute caracterizada por uma sociedade brasileira marcada pelo

processo crescente de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo e pelas mudanccedilas nas

relaccedilotildees de trabalho no campo Na mesma intensidade aumentavam as

81

desigualdades sociais o que mobilizou setores da sociedade em lutas por reformas

de base com vistas agrave reduccedilatildeo dessas desigualdades sociais (NASCIMENTO 2006)

No que se refere ao perfil que tomam as poliacuteticas educacionais nesse periacuteodo

Saviani (2005) aponta que

[] se o periacuteodo situado entre 1930 e 1945 pode ser considerado como marcado pelo equiliacutebrio entre as influecircncias das concepccedilotildees humanista tradicional (representada pelos catoacutelicos) e humanista moderna (representada pelos pioneiros da educaccedilatildeo nova) a partir de 1945 jaacute se delineia como nitidamente predominante a concepccedilatildeo humanista moderna (SAVIANI 2005 p14)

Para o autor o foco no desenvolvimento econocircmico do paiacutes que por sua vez geraria

o desenvolvimento em outras instacircncias da sociedade acabou por gerar uma

inversatildeo do ensino puacuteblico A escola passou a ser instrumento para servir agrave loacutegica

do mercado por meio da pedagogia tecnicista26

No periacuteodo que se estende de 1964-1984 periacuteodo da ditadura militar todo o

aparelho estatal fora reformulado em nome da seguranccedila interna

Definindo a seguranccedila interna como accedilatildeo-resposta a um processo subversivo devendo ser conduzida em termos de aplicaccedilatildeo global do Poder Nacional dentro de uma Estrateacutegia Nacional especiacutefica A Escola Superior de Guerra considerava que essa accedilatildeo-resposta se delineava atraveacutes de trecircs atitudes estrateacutegicas preventiva repressiva e operativa (MIRANDA 1970 p18 apud SAVIANI 2004 p119)

Desse modo as accedilotildees preventivas procuravam evitar aquilo que era

entendido como subversivo As accedilotildees repressivas procuravam impedir a praacutetica

subversiva e as accedilotildees operativas destinavam-se a eliminar esses focos mediante a

accedilatildeo armada Em outras palavrasldquoo Poder Nacional tal como concebido pela

ideologia da interdependecircncia eacute acionado para destruir a autonomia nacional nos

termos da ideologia nacional-desenvolvimentistardquo (SAVIANI 2004 p120)

26

A partir do pressuposto da neutralidade cientiacutefica e inspirada nos princiacutepios de racionalidade eficiecircncia e produtividade a pedagogia tecnicista advogou a reordenaccedilatildeo do processo educativo de maneira a tornaacute-lo objetivo e operacional De modo semelhante ao que ocorreu no trabalho fabril pretendeu-se a objetivaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico Buscou-se entatildeo com base em justificativas teoacutericas derivadas da corrente filosoacutefico-psicoloacutegica do behaviorismo planejar a educaccedilatildeo de modo a dotaacute-la de uma organizaccedilatildeo racional capaz de minimizar as interferecircncias subjetivas que pudessem pocircr em risco sua eficiecircncia (SAVIANI 2009 p11-12)

82

Eacute neste contexto que eacute possiacutevel compreender todas as poliacuteticas educacionais

durante o regime militar Destaca-se o Mobral27 seguido das reformas de ensino de

primeiro segundo e terceiros graus a criaccedilatildeo dos Centros Rurais Universitaacuterios de

Treinamento e Accedilatildeo Comunitaacuteria (CRUTACS) os Centros Sociais Urbanos o

Projeto Rondon a Empresa Brasileira de Notiacutecias (EBN) etc (SAVIANI 2004)

O periacuteodo ditatorial ao longo de duas deacutecadas que serviram de palco para o revezamento de cinco generais na presidecircncia da repuacuteblica se pautou em termos educacionais pela repressatildeo privatizaccedilatildeo de ensino exclusatildeo de boa parcela das classes populares do ensino profissionalizante tecnicismo pedagoacutegico e desmobilizaccedilatildeo do magisteacuterio atraveacutes de abundante e confusa legislaccedilatildeo educacional Soacute uma visatildeo otimistaingecircnua poderia encontrar indiacutecios de saldo positivo na heranccedila deixada pela ditadura militar (GHIRALDELLI 1990 p163)

Em 1979 o Brasil dava iniacutecio ao lento e gradual processo de abertura

democraacutetica que teve iniacutecio no governo de General Geisel (1974-1979) A transiccedilatildeo

democraacutetica se fez seguindo a estrateacutegia de conciliaccedilatildeo pelo alto a fim de dar

prosseguimento agrave ordem socioeconocircmica vigente Naquele momento o mundo vivia

as consequumlecircncias da chamada crise do petroacuteleo que teve seu iniacutecio na deacutecada de

1970 As implicaccedilotildees da crise levaram os paiacuteses a tomarem medidas de

desregulamentaccedilatildeo da economia privatizaccedilotildees e destituiccedilatildeo do Estado de bem-

estar social Nesse contexto nasce o chamado neoliberalismo Neo quer dizer novo

e liberalismo refere-se ao pensamento claacutessico que serviu de base ao capitalismo

Segundo Anderson (1995) ldquoo neoliberalismo nasceu logo depois da II Guerra

Mundial como uma reaccedilatildeo teoacuterica e poliacutetica veemente contra o Estado

intervencionista e de bem-estarrdquo (ANDERSON 1995 p 9)

Na Ameacuterica Latina o efeito da crise fez com que os paiacuteses adotassem os

ajustes neoliberais orientados pelo Banco Mundial Fundo Monetaacuterio Internacional e

o governo dos Estados Unidos apoacutes o ldquoConsenso de Washingtonrdquo28 Os impactos

27

O Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo foi criado pela Lei Nordm 5379 de 15121967 e tinha como

prioridade promover a alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo continuada para jovens e adultos analfabetos Esteve embasada nas proposiccedilotildees de educaccedilatildeo funcional presente nos documentos da UNESCO em 1958 durante o Congresso Mundial de Ministros O MOBRAL teve iniacutecio em 1970 e foi caracterizado do ponto de vista teacutecnico como proacuteximo aos meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo de Paulo Freire que partia das palavras-chaves mas suas orientaccedilotildees pedagoacutegicas eram controladas e supervisionadas pelo governo 28

Em novembro de 1989 reuniram-se na capital dos Estados Unidos funcionaacuterios do governo norte-americano e dos organismos financeiros internacionais ali sediados - FMI Banco Mundial e BID - especializados em assuntos latino-americanos O objetivo do encontro convocado pelo Institute for

83

de tais ajustes perpassam pelo campo das reformas educacionais que devem estar

condicionadas agrave loacutegica do mercado bem como da sauacutede da alimentaccedilatildeo do

trabalho e do salaacuterio (SOARES 2000)

Nesse novo contexto as poliacuteticas educacionais satildeo marcadas por um

neoconservadorismo recheado de contradiccedilotildees e ambiguumlidades presentes nas

principais poliacuteticas educacionais que por sua vez foram resultado do debate entre

diversos setores da sociedade que queriam ver seus interesses contemplados nas

poliacuteticas educacionais somadas agraves deliberaccedilotildees dos organismos multilaterais para

a educaccedilatildeo

33 Poliacuteticas educacionais a partir da Constituiccedilatildeo de 1988

Segundo Gabriele Sapio (2010) a Constituiccedilatildeo Federal (CF) eacute ldquouma das

cartas constitucionais mais adiantadas e progressistas do mundo em mateacuteria de

proteccedilatildeo dos direitos sociais fundamentais coletivos e individuaisrdquo (SAPIO 2010

sn) No Brasil a Constituiccedilatildeo de 1988 eacute considerada um avanccedilo no sentido de

assegurar direitos sociais dentre eles o acesso agrave educaccedilatildeo

No que concerne agrave educaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo tem uma seccedilatildeo especiacutefica

destinada agrave mesma Seccedilatildeo I do capiacutetulo III Da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto

A constituiccedilatildeo de 1988 marca o retorno do Brasil para a democracia No contexto de

sua elaboraccedilatildeo houve inuacutemeros debates por parte dos setores da sociedade de

movimentos sociais a grupos dominantes que queriam ver seus interesses

contemplados na Carta Magna afirma Ghiraldelli Jr (2001 p 169) O mesmo autor

ao analisar a Carta de 1988 onde se discute a educaccedilatildeo informa que este aspecto

natildeo eacute soacute tratado em um artigo especiacutefico mas perpassa por outros toacutepicos

Na Carta de 1988 a educaccedilatildeo natildeo veio contemplada apenas no seu local proacuteprio no toacutepico especiacutefico destinada a ela mas veio tambeacutem espalhada em outros toacutepicos Assim no tiacutetulo sobre direitos e

International Economics sob o tiacutetulo Latin American Adjustment How Much Has Happened era proceder a uma avaliaccedilatildeo das reformas econocircmicas empreendidas nos paiacuteses da regiatildeo Para relatara experiecircncia de seus paiacuteses tambeacutem estiveram presentes diversos economistas latino-americanos Agraves conclusotildees dessa reuniatildeo eacute que se daria subsequentemente a denominaccedilatildeo informal de Consenso de Washingtonrdquo (BATISTA 1994 p 5)

84

garantias fundamentais a educaccedilatildeo apareceu como um direito social junto da sauacutede do trabalho do lazer da seguranccedila da previdecircncia social da proteccedilatildeo agrave maternidade e agrave infacircncia da assistecircncia aos desamparados (artigo 6deg) Tambeacutem no capiacutetulo sobre a famiacutelia a crianccedila o adolescente e o idoso a educaccedilatildeo foi incluiacuteda A Constituiccedilatildeo determinou ser dever da famiacutelia da sociedade e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente o direito agrave educaccedilatildeo como uma prioridade em relaccedilatildeo ao outros direitos (GHIRALDELLI JR 2001 p169)

Diante das mudanccedilas que a CF trouxe agrave Educaccedilatildeo houve tambeacutem a

necessidade de se elaborar uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo

Nacional Em dezembro de 1988 o deputado Octaacutevio Eliacutesio apresentou um projeto

que fixava as diretrizes e bases nacionais da educaccedilatildeo diante da nova realidade

brasileira Apoacutes oitos ano de tramitaccedilatildeo debates e discussotildees a nova LDB foi

aprovada em 1996 Atualmente eacute a diretriz que rege o curriacuteculo nacional Assim eacute a

partir dela que iremos iniciar a anaacutelise propostas das poliacuteticas educacionais para a

diversidade

34 Escola e diversidade O que temos em termos de poliacuteticas educacionais

Seraacute que a escola pode ser a mesma quando os educandos satildeo outros Seraacute que o curriacuteculo pode ser o mesmo quando os alunos satildeo outros Seraacute que a pedagogia deva ser a mesmaA docecircncia deva ser a mesma (Miguel Arroyo 2014-Em entrevista concedida ao Portal Dia a Dia Educaccedilatildeo)

As perguntas acima foram feitas pelo poacutes-doutor em educaccedilatildeo Miguel

Arroyo em entrevista concedida a TV Paulo Freire no ano de 2013 Quando

questionado sobre como a escola deve trabalhar o tema da diversidade ele aponta

que natildeo eacute o aluno quem deve se adaptar agrave escola mas a escola quem deve se

adaptar ao aluno Nesse sentido adaptando o questionamento de Arroyo sobre as

poliacuteticas educacionais para a realidade fronteiriccedila a pergunta ficaria a seguinte seraacute

que a escola situada em regiatildeo de fronteira internacional pode ser a mesma quando

os educandos satildeo outros

E este bdquooutro‟ na fronteira eacute o argentino o aacuterabe o paraguaio o brasiguaio o

indiacutegena que estatildeo imersos em meio a tantas outras diversidades que natildeo foram

tratadas aqui mas que complexificam ainda mais a realidade das escolas de

85

fronteira Nela tambeacutem nos deparamos com as questotildees de gecircnero de raccedila de

classes etc Pensando nestes aspectos o que as principais poliacuteticas educacionais

nacionais podem ou natildeo oferecer quando o assunto eacute a diversidade nas escolas de

fronteira internacional

Por diversidade Elvira de Souza Lima (2011) entende que a mesma eacute a

norma da espeacutecie humana pois ldquoos seres humanos satildeo diversos em suas

experiecircncias culturais satildeo uacutenicos em suas personalidades e satildeo diversos em suas

formas de perceber o mundordquo Segundo Gurgel (LIMA 2011 p1) a ideia de

diversidade relaciona-se diretamente com os conceitos de pluralidade multiplicidade

que indicam diferentes valores costumes vivecircncias de diferentes grupos da

sociedade

Nas concepccedilotildees de Gurgel do ponto de vista da Antropologia compreender

os elementos constitutivos da diversidade nos leva a entender diferentes ldquohaacutebitos

costumes comportamentos crenccedilas e valores e a aceitaccedilatildeo da diferenccedila no outro

chamada de alteridaderdquo (GURGEL 2011 p 4)

Nilma Lino Gomes (2008) ao discorrer sobre o que eacute diversidade busca seu

significado no dicionaacuterio apontando que as palavras que traduzem seu sentido satildeo

diferenccedila e dessemelhanccedila Em uma primeira interpretaccedilatildeo Nilma explica que a

diversidade pode se referir a fatos observaacuteveis a olho nu Contudo se ampliarmos a

noccedilatildeo sobre o que sejam diferenccedilas e incluir essas discussotildees no acircmbito cultural eacute

possiacutevel compreendecirc-la de duas formas

1)As diferenccedilas podem ser empiricamente observaacuteveis 2) as diferenccedilas tambeacutem satildeo construiacutedas ao longo do processo histoacuterico nas relaccedilotildees sociais e nas relaccedilotildees de poder Muitas vezes os grupos humanos tornam o outro diferente para fazecirc-lo inimigo para dominaacute-lo Por isso falar sobre a diversidade cultural natildeo diz respeito apenas ao reconhecimento do outro Significa pensar a relaccedilatildeo entre o eu e o outro (GOMES 2008 p2)

Na aacuterea de estudos das poliacuteticas educacionais o tema diversidade eacute recente

Somente a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 e da implementaccedilatildeo da LDB96 eacute que as

poliacuteticas educacionais para diversidade ganharam espaccedilo no campo das poliacuteticas

puacuteblicas

86

341 A LDB96 - A primeira lei originaacuteria da iniciativa civil e do legislativo

A atual LDB96 eacute fruto do novo quadro poliacutetico que se instaurou no Brasil com

o processo de abertura democraacutetica Como jaacute mencionado foram oito anos de

tramitaccedilatildeo ateacute que em 1996 ela fosse fixada com a aprovaccedilatildeo da redaccedilatildeo proposta

pelo entatildeo Deputado Federal e antropoacutelogo Darcy Ribeiro

Ao analisar a LDB96 eacute possiacutevel encontrar alguns artigos que reconhecem a

diversidade existente no paiacutes No Capiacutetulo II referente agrave Educaccedilatildeo Baacutesica o artigo

26 prescreve o seguinte

Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade da cultura da economia e da clientela (BRASIL 1996)

Com base neste artigo compreende-se que dadas as diferenccedilas culturais presentes

em cada regiatildeo cabe agrave instituiccedilatildeo escolar realizar as adaptaccedilotildees necessaacuterias agrave

realidade local Logo a lei daacute margem para que um trabalho diferenciado possa ser

realizado em aacutereas de fronteira internacional O inciso de nuacutemero cinco do mesmo

artigo torna obrigatoacuterio o ensino de uma liacutengua estrangeira moderna cuja escolha

fica a criteacuterio da comunidade escolar a partir da quinta seacuterie (hoje sexto ano)

Em 2005 foi criada a Lei de no 11161 que tornou obrigatoacuterio o ensino da

Liacutengua Espanhola para o Ensino Meacutedio

Art 1o O ensino da liacutengua espanhola de oferta obrigatoacuteria pela escola e de matriacutecula facultativa para o aluno seraacute implantado gradativamente nos curriacuteculos plenos do ensino meacutedio sect 1o O processo de implantaccedilatildeo deveraacute estar concluiacutedo no prazo de cinco anos a partir da implantaccedilatildeo desta Lei sect 2o Eacute facultada a inclusatildeo da liacutengua espanhola nos curriacuteculos plenos do ensino fundamental de 5a a 8a seacuteries Art 2o A oferta da liacutengua espanhola pelas redes puacuteblicas de ensino deveraacute ser feita no horaacuterio regular de aula dos alunos (BRASIL 2005)

Esta uacuteltima lei expressa o contexto da eacutepoca Primeiro pelo crescimento do poder

econocircmico da Espanha e o crescente aumento do espanhol nos EUA (CELADA

1991 apud AMARAL E MAZZARO 2006) Em segundo o entatildeo presidente Luis

Inaacutecio Lula da Silva tinha como plano de governo a aproximaccedilatildeo com os demais

87

paiacuteses da Ameacuterica Latina haja vista que historicamente a relaccedilatildeo do Brasil com os

paiacuteses da regiatildeo tanto no acircmbito econocircmico como social era pequena Com essa

proposta de integraccedilatildeo em um de seus discursos ele diz

A grande prioridade da poliacutetica externa durante o meu governo seraacute a construccedilatildeo de uma Ameacuterica do Sul politicamente estaacutevel proacutespera e unida com base em ideais democraacuteticos e de justiccedila social Para isso eacute essencial uma accedilatildeo decidida de revitalizaccedilatildeo do MERCOSUL enfraquecido pelas crises de cada um de seus membros e por visotildees muitas vezes estreitas e egoiacutestas do significado da integraccedilatildeo O MERCOSUL assim como a integraccedilatildeo da Ameacuterica do Sul em seu conjunto eacute sobretudo um projeto poliacutetico Mas esse projeto repousa em alicerces econocircmico-comerciais que precisam ser urgentemente reparados e reforccedilados Cuidaremos tambeacutem das dimensotildees social cultural e cientiacutefico-tecnoloacutegica do processo de integraccedilatildeo (LULA DA SILVA 2003)

A partir de entatildeo outras iniciativas aleacutem do ensino do espanhol foram

implementadas como a criaccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino superior em aacutereas

fronteiriccedilas entre elas a Universidade Federal da Fronteira Sul (Santa Catarina)

criada em outubro de 2009 a Universidade Federal do Pampa (Rio Grande do Sul)

fundada em janeiro de 2008 a Universidade Federal de Grande Dourados (Mato

Grosso do Sul) fundada em agosto de 2005 a Universidade Federal da Integraccedilatildeo

Latino-Americana (Paranaacute) criada em janeiro de 2010 e a Universidade da

Integraccedilatildeo Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira tambeacutem criada em 2010 Esta

uacuteltima que conforme o nome sugere orienta-se para o desenvolvimento cientiacutefico

educacional e cultural da Ameacuterica Latina No acircmbito da educaccedilatildeo baacutesica temos o

Programa Escola Intercultural Biliacutenguumle de iniciativa do Mercosul que objetiva a

integraccedilatildeo regional por meio da educaccedilatildeo biliacutengue em escolas puacuteblicas do ensino

fundamental presentes em cidades da faixa de fronteira

Nesse sentido ainda que as estrateacutegias dessas instituiccedilotildees estejam

relacionadas ao projeto de integraccedilatildeo na regiatildeo de faixa de fronteira a presenccedila de

instituiccedilotildees de ensino superior contribui para o desenvolvimento de pesquisas

criaccedilatildeo de projetos e programas tanto no acircmbito nacional com as cidades e as

instituiccedilotildees locais como no acircmbito internacional em parceira com instituiccedilotildees dos

paiacuteses com as quais essas instituiccedilotildees fazem fronteira Isso por consequecircncia

pode contribuir para debates e mudanccedilas na educaccedilatildeo nas escolas de fronteira

No que confere agrave obrigatoriedade do ensino de espanhol algumas pesquisas

sobre sua implementaccedilatildeo identificaram algumas fragilidades Nos resultados

88

parciais da pesquisa de doutorado sobre o ensino do espanhol no Brasil realizada

por Maria Fernanda Lisboa (2011) a autora identificou que o discurso de integraccedilatildeo

linguiacutestico-cultural que justifica a lei ldquoeacute apenas uma fachada para desviar a atenccedilatildeo

dos reais interesses por traacutes dessa poliacutetica natildeo soacute linguumliacutesticardquo (LISBOA 2011 p

213) A autora faz referecircncia aos interesses da Espanha que estaacute agrave frente dessa

poliacutetica ldquoinvestindo em assessorias linguumliacutesticas na criaccedilatildeo de vaacuterias sedes do

Instituto Cervantes e ainda disseminando cursos de capacitaccedilatildeo para professoresrdquo

(LISBOA 2011 p 213) Estes cursos satildeo vistos pelas associaccedilotildees de professores

pelos formadores de professores e por Universidades de modo negativo Na

avaliaccedilatildeo daqueles que satildeo contraacuterios a essas formaccedilotildees encontra-se a duacutevida na

real qualidade da mesma visto que eacute um curso inteiramente agrave distacircncia sem

maiores reflexotildees relacionados agrave metodologia

Aleacutem disso haacute outras questotildees como a demanda de professores oferta de

materiais didaacuteticos interesse por parte dos alunos que satildeo desafios a serem

superados nesse processo de implementaccedilatildeo Entretanto mesmo diante das

contradiccedilotildees e lacunas que a sua obrigatoriedade significou a lei que completou dez

anos de sua criaccedilatildeo e cinco do prazo final para sua execuccedilatildeo nas escolas em 2015

abre possibilidades para maiores discussotildees e provocaccedilotildees se pensarmos a partir

da integraccedilatildeo dos paiacuteses fronteiriccedilos ou mesmo em niacutevel de poliacuteticas linguumliacutesticas

para essa regiatildeo Afinal conforme Marcuschi (2005) ldquonatildeo se pode reduzir a

linguagem ao seu papel de ferramenta social tampouco reduzi-la ao caraacuteter formal

pois liacutengua natildeo eacute forma nem funccedilatildeo e sim atividade significante e constitutivardquo

(MARCUSCHI 2005 p 3)

Em 2003 foi criada a lei 1063903 que tornou obrigatoacuteria a inclusatildeo do ensino

da Histoacuteria da Aacutefrica e da Cultura Afro-Brasileira nos curriacuteculos dos estabelecimentos

de ensino puacuteblicos e particulares da educaccedilatildeo baacutesica E em 2008 foi criada a lei

1164508 que acrescenta o estudo da histoacuteria e cultura indiacutegena nas escolas

puacuteblicas e privadas da educaccedilatildeo baacutesica

1ordm O conteuacutedo programaacutetico a que se refere este artigo incluiraacute diversos aspectos da histoacuteria e da cultura que caracterizam a formaccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira a partir desses dois grupos eacutetnicos tais como o estudo da histoacuteria da Aacutefrica e dos africanos a luta dos negros e dos povos indiacutegenas no Brasil a cultura negra e indiacutegena brasileira e o negro e o iacutendio na formaccedilatildeo da sociedade

89

nacional resgatando as suas contribuiccedilotildees nas aacutereas social econocircmica e poliacutetica pertinentes agrave histoacuteria do Brasil sect 2ordm Os conteuacutedos referentes agrave histoacuteria e cultura afro-brasileira e dos povos indiacutegenas brasileiros seratildeo ministrados no acircmbito de todo o curriacuteculo escolar em especial nas aacutereas de educaccedilatildeo artiacutestica e de literatura e histoacuteria brasileira (BRASIL 2008)

No acircmbito estadual o Paranaacute emitiu a seguinte nota sobre a obrigatoriedade

da lei 1063903

No curriacuteculo oficial da Rede de Educaccedilatildeo do Paranaacute a obrigatoriedade da temaacutetica Histoacuteria e Cultura Afro-Brasileira e seus desencadeamentos tem efetivado accedilotildees para a formaccedilatildeo das equipes multidisciplinares nos Nuacutecleos Regionais de Educaccedilatildeo e nas escolas A medida eacute um dos objetivos para valorizar a histoacuteria da populaccedilatildeo negra no Estado do Paranaacute e orientar a comunidade escolar para o enfrentamento do preconceito da discriminaccedilatildeo do racismo (SEED 2013)

Assim a fim de atender tanto a lei 1063903 quanto a 1164508 a Secretaria

Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute instituiu as Equipes Multidisciplinares validadas

pelo artigo 26 da LDB Lei nordm 939496 pela Deliberaccedilatildeo nordm 0406 CEEPR pela

Instruccedilatildeo nordm 01706 SUEDSEED pela Resoluccedilatildeo nordm 339910 SEEDSEED e a

Instruccedilatildeo nordm 0101 SUESSEED As equipes multidisciplinares satildeo compostas por

professores de diferentes aacutereas pedagogos diretores e agentes educacionais e

representantes da comunidade externa (pais movimentos sociais professores do

ensino superior representantes das Comunidades Remanescentes de Quilombos

lideranccedilas indiacutegenas dentre outros)

A equipe se encontra em espaccedilos para debater estrateacutegias e desenvolver

accedilotildees pedagoacutegicas que fortaleccedilam a implementaccedilatildeo das leis 1063903 e 1164508

no curriacuteculo escolar das instituiccedilotildees de ensino da rede puacuteblica estadual e escolas

conveniadas do Paranaacute Com isso nota-se a preocupaccedilatildeo em cumprir a legislaccedilatildeo

sendo uma das accedilotildees a criaccedilatildeo da Equipe Multidisciplinar que deixa claro que o

trabalho da equipe eacute destinado ao ensino da histoacuteria da Aacutefrica e da cultura negra e

indiacutegena nas escolas estaduais paranaenses conforme as atribuiccedilotildees presentes na

Instruccedilatildeo Nordm 0102010 ndash SUEDSEE da qual destacam

Compete agrave Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo ndash SEED 1Garantir que todos os NREs e estabelecimentos de ensino na Rede Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute organizem suas Equipes Multidisciplinares para tratar da Educaccedilatildeo das Relaccedilotildees Eacutetnico-

90

Raciais e para o Ensino de Histoacuteria e Cultura Afrobrasileira Africana e Indiacutegena Compete agrave Equipe Multidisciplinar do Nuacutecleo Regional de Educaccedilatildeo

1Orientar e acompanhar o funcionamento e organizaccedilatildeo das Equipe Multidisciplinares dos estabelecimentos da Rede Estadual de Ensino para a efetivaccedilatildeo de accedilotildeesexperiecircncias em ERER subsidiando os profissionais da educaccedilatildeo em consonacircncia com as poliacuteticas puacuteblicas estabelecidas pela Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo 2Promover accedilotildees voltadas agrave formaccedilatildeo continuada e de pesquisa dos teacutecnicos do NRE sobre o Ensino de Histoacuteria e Cultura Afro brasileira Africana e Indiacutegena (SEED 2010)

Ao longo do documento natildeo haacute referecircncias que indiquem que o professor

deva trabalhar com outros temas referentes agrave diversidade Contudo a criaccedilatildeo da

equipe multidisciplinar eacute um exemplo de uma poliacutetica educativa criada para o

cumprimento da legislaccedilatildeo Com isso vem o seguinte questionamento no caso dos

desafios enfrentados pelas escolas e professores situados em regiatildeo de fronteira a

obrigatoriedade para demandas especiacuteficas dessas escolas teria um caminho

possiacutevel (deliberaccedilotildees especiacuteficas para as documentaccedilotildees dos alunos

estrangeiros a obrigatoriedade do ensino da histoacuteria da cultura dos paiacuteses com os

quais a cidade fronteiriccedila faz parte formaccedilatildeo de professores especiacuteficas em cidade

ou regiotildees como Foz do Iguaccedilu que apresenta uma quantidade expressiva de

estrangeiras nesse caso os aacuterabes a proposta de poliacuteticas linguumliacutesticas especiacuteficas

que facilitem o processo de inserccedilatildeo desses alunos em sala de aula etc)

Essas questotildees surgiram agrave medida que se tornou possiacutevel perceber que

quando um tema eacute reconhecido pelo Estado tem-se a impressatildeo de que ele passa a

existir oficialmente nas escolas e nas outras instituiccedilotildees Por exemplo a lei

1063903 discute a temaacutetica da histoacuteria da Aacutefrica e da cultura negra e possui dentre

outros objetivos o combate ao racismo Essa discussatildeo poreacutem sempre esteve

presente nas escolas pois a luta contra o racismo e discriminaccedilatildeo racial comeccedilou

ainda no periacuteodo escravocrata pelos primeiros movimentos de resistecircncia a citar os

quilombos

Desse modo natildeo eacute novidade o enfrentamento com o racismo nem eacute

novidade que os negros ficaram excluiacutedos da histoacuteria nacional e desde entatildeo

buscam a afirmaccedilatildeo de sua identidade Denota-se que satildeo questotildees que natildeo

passam despercebidas pela escola mas para que chegasse ateacute ela necessitou de

dispositivos legais para que fossem discutidas em sala de aula com o respaldo do

91

Estado Esses respaldos seriam accedilotildees criadas para dar condiccedilotildees de

implementaccedilatildeo agrave lei como a criaccedilatildeo em 2004 da Secretaria de Educaccedilatildeo

Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade (SECAD) com a finalidade de articular o

tema da diversidade nas poliacuteticas educacionais Tambeacutem foram criados alguns

programas e projetos Programa Diversidade na Universidade (2002 a 2007) os

Foacuteruns Estaduais e Foacuteruns Permanentes de Educaccedilatildeo e Diversidade Eacutetnico-Racial

a distribuiccedilatildeo do Kit didaacutetico-pedagoacutegico a Oficina Cartograacutefica sobre Geografia

Afro-brasileira e Africana (2005) o Projeto Educadores pela Diversidade

(20042005) o Curso Educaccedilatildeo e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais (2005) a Pesquisa

Nacional Diversidade nas Escolas (2006 a 2009) dentre outros (GOMES 2010)

Tudo isto foi possiacutevel explica Gomes (2010) devido ao longo processo de

lutas sociais e natildeo a ldquouma daacutediva do Estado pois enquanto uma poliacutetica de accedilatildeo

afirmativa ela ainda eacute vista com muitas reservas pelo ideaacuterio republicano brasileiro

que resiste em equacionar a diversidaderdquo (GOMES 2010 p 9) Diante das

prerrogativas contidas na LDB96 referentes agrave questatildeo da diversidades cultural

observou que elas por si soacute natildeo atingem a fronteira com suas diversidades que

estatildeo nas escolas que devem seguir as suas normas que por sua vez seguem uma

linha de poliacuteticas universalistas

342 Os Paracircmetros Curriculares Nacionais

Os Paracircmetros Curriculares Nacionais foram publicados apoacutes a

implementaccedilatildeo da Lei de Diretrizes e bases da Educaccedilatildeo Nacional de 1996 pela

Secretaria de Educaccedilatildeo do Ensino Fundamental do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do

Desporto O contexto de sua construccedilatildeo ocorreu apoacutes a Conferecircncia Mundial de

Educaccedilatildeo para Todos em Jomtien na Tailacircndia (1990) que teve como resultado

um documento que destaca a necessidade de uma educaccedilatildeo para todos sem

distinccedilatildeo Do compromisso assumido internacionalmente para com a Educaccedilatildeo

somados aos princiacutepios previstos na LDB de 1996 nascem os PCN‟S

Os PCN‟s satildeo um instrumento normativo que nasceu para cumprir o artigo

210 disposto no capiacutetulo III da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que institui a fixaccedilatildeo de

ldquoconteuacutedos miacutenimos para o ensino fundamental de maneira a assegurar formaccedilatildeo

baacutesica comum e respeito aos valores culturais e artiacutesticos nacionais e regionaisrdquo

Nasceu tambeacutem no contexto das implementaccedilotildees das poliacuteticas neoliberais o que

92

gerou muitas criacuteticas acerca de seus reais propoacutesitos Contaram com os subsiacutedios

de acordos e documentos elaborados por organismos internacionais tais como a

declaraccedilatildeo Mundial sobre a Educaccedilatildeo para Todos Declaraccedilatildeo de Nova Delhi

Relatoacuterio para a Unesco da Comissatildeo Internacional sobre a Educaccedilatildeo para o seacuteculo

XXI dentre outros acordos e documentos de organismos internacionais

(RODRIGUES 2001)

O processo de elaboraccedilatildeo dos Paracircmetros Curriculares Nacionais conforme o

documento comeccedilou a partir do estudo das

Propostas curriculares de Estados e Municiacutepios brasileiros do diagnoacutestico realizado pela Fundaccedilatildeo Carlos Chagas sobre curriacuteculos oficiais e do contato com informaccedilotildees referentes agraves experiecircncias de outros paiacuteses (BRASIL 1998 p15)

Com base nas orientaccedilotildees presentes no Plano Decenal de Educaccedilatildeo (1993-

2003) de pesquisas internas e externas de dados acerca do desempenho dos

estudantes do ensino fundamental aleacutem das experiecircncias de sala de aula

socializadas em seminaacuterios congressos encontros e publicaccedilotildees foi elaborada a

proposta inicial que passou por um processo de anaacutelise entre os anos de 1995 e

1996 Desta anaacutelise saiacuteram aproximadamente setecentos pareceres sobre a

proposta inicial que serviram de referecircncia para sua redaccedilatildeo final

Os PNC‟s de 1ordf a 4ordf seacuterie foram transformados em 10 livros lanccedilados no dia

15 de outubro de 1997 dia do professor na capital Brasiacutelia Estes dez volumes

apresentam os seguintes conteuacutedos introduccedilatildeo liacutengua portuguesa matemaacutetica

ciecircncias naturais histoacuteria e geografia arte educaccedilatildeo fiacutesica apresentaccedilatildeo dos

temas transversais meio ambiente e sauacutede pluralidade cultural e orientaccedilatildeo sexual

Desse modo estatildeo organizados em um documento introdutoacuterio seis documentos

que tratam das aacutereas de conhecimentos gerais e trecircs volumes referentes aos Temas

Transversais (MOTTA 2005)

Segundo o documento elaborado em 1997 com o objetivo de introduzir os

PCN‟s ao professor sua funccedilatildeo eacute de

() orientar e garantir a coerecircncia dos investimentos no sistema educacional socializando discussotildees pesquisas e recomendaccedilotildees subsidiando a participaccedilatildeo de teacutecnicos e professores brasileiros principalmente daqueles que se encontram mais isolados com

93

menor contato com a produccedilatildeo pedagoacutegica atual (BRASIL 1997 p13)

Trata-se portanto natildeo de um curriacuteculo mas de um suporte para que a escola

possa elaborar seu programa curricular dentro de sua realidade especiacutefica Os

PCN‟s estatildeo organizados em dois grupos 1) composto por aacutereas tradicionais

(Portuguecircs Matemaacutetica Histoacuteria Geografia Ciecircncias Naturais Educaccedilatildeo Fiacutesica

Liacutengua Estrangeira e Arte) 2) composto pelos temas transversais que vai tratar das

seguintes questotildees Eacutetica do Meio Ambiente da Pluralidade Cultural da Sauacutede da

Orientaccedilatildeo Sexual e do Trabalho e Consumo (BRASIL 1998 p17) A justificativa

para a escolha de tais temaacuteticas pauta-se no fato de serem assuntos urgentes e que

fazem parte das preocupaccedilotildees e do cotidiano da sociedade brasileira

A finalidade uacuteltima dos Temas Transversais se expressa neste criteacuterio que os alunos possam desenvolver a capacidade de posicionar-se diante das questotildees que interferem na vida coletiva superar a indiferenccedila e intervir de forma responsaacutevel Assim os temas eleitos em seu conjunto devem possibilitar uma visatildeo ampla e consistente da realidade brasileira e sua inserccedilatildeo no mundo aleacutem de desenvolver um trabalho educativo que possibilite uma participaccedilatildeo social dos alunos (BRASIL 1998 p26)

Por temas transversais compreende-se um conjunto de conteuacutedos que natildeo

ldquoquerendo desbancar os previamente fixados pelas disciplinas acadecircmicas

claacutessicas se apresentam como temas transversais no curriacuteculo e portanto comuns

a todas as aacutereas e disciplinasrdquo (RAMOS 1998 p 2) Neste sentido como explica o

volume 10 dos Paracircmetros Curriculares Nacionais que trata dos temas transversais

os conteuacutedos convencionais devem receber as questotildees dos Temas Transversais

de modo que seus conteuacutedos os explicitem e os objetivos sejam considerados

(BRASIL 1998) Em seguida o documento apresenta o seguinte exemplo para

ilustrar essa transversalidade

() aacuterea de Ciecircncias Naturais inclui a comparaccedilatildeo entre os principais oacutergatildeos e funccedilotildees do aparelho reprodutor masculino e feminino relacionando seu amadurecimento agraves mudanccedilas no corpo e no comportamento de meninos e meninas durante a puberdade e respeitando as diferenccedilas individuais Dessa forma o estudo do corpo humano natildeo se restringe agrave dimensatildeo bioloacutegica mas coloca esse conhecimento a serviccedilo da compreensatildeo da diferenccedila de gecircnero (conteuacutedo de Orientaccedilatildeo Sexual ) e do respeito agrave diferenccedila (conteuacutedo de Eacutetica) Assim natildeo se trata de que os professores das

94

diferentes aacutereas devam ldquopararrdquo sua programaccedilatildeo para trabalhar os temas mas sim de que explicitem as relaccedilotildees entre ambos e as incluam como conteuacutedos de sua aacuterea articulando a finalidade do estudo escolar com as questotildees sociais possibilitando aos alunos o uso dos conhecimentos escolares em sua vida extra-escolar Natildeo se trata portanto de trabalhaacute-los paralelamente mas de trazer para os conteuacutedos e para a metodologia da aacuterea a perspectiva dos temas

(BRASIL 1998 p27)

Fernanda Motta (2005) explica que as discussotildees sobre os temas

transversais no campo da educaccedilatildeo surgem em um momento onde diversos grupos

sociais politicamente organizados em diferentes paiacuteses comeccedilaram a questionar

qual seria o papel da escola em meio a uma sociedade plural e globalizada e quais

assuntos que deveriam ser tratados na educaccedilatildeo escolar (MOTTA 2005 p20)

Neste sentido continua

Esses grupos comeccedilaram a pressionar os Estados para que incluiacutessem na estrutura curricular escolar temas mais vinculados ao cotidiano da maioria da populaccedilatildeo possibilitando que as disciplinas passassem a se relacionar com a realidade contemporacircnea Parte-se do princiacutepio de que a escola natildeo pode ser vista como uma instituiccedilatildeo isolada Sua accedilatildeo deve ser norteada tomando como paracircmetro a cultura na qual estaacute inserida (MOTTA 2005 p28)

Assim podemos compreender a educaccedilatildeo como um tipo de poliacutetica social

pensada natildeo somente a partir do Estado mas por atores da sociedade civil

As poliacuteticas sociais ndash e a educaccedilatildeo ndash se situam no interior de um tipo particular de Estado Satildeo formas de interferecircncia do Estado visando agrave manutenccedilatildeo das relaccedilotildees sociais de determinada formaccedilatildeo social Portanto assumem bdquofeiccedilotildees‟ diferentes em diferentes sociedades e diferentes concepccedilotildees de Estado (HOFLING 2001 p31)

343 O Tema Transversal Pluralidade Cultural

No PCN de nuacutemero dez que trata especificamente dos temas transversais

no capiacutetulo referente agrave pluralidade cultural a justificativa pela pertinecircncia do tema eacute

dada pela diversidade cultural presente no paiacutes

Convivem hoje no territoacuterio nacional cerca de 210 etnias indiacutegenas cada uma co identidade proacutepria e representando riquiacutessima diversidade sociocultural junto a uma imensa populaccedilatildeo formada pelos descendentes dos povos africanos e um grupo numeroso de

95

imigrantes e descendentes de povos de vaacuterios continentes com diferentes tradiccedilotildees culturais e religiosas (BRASIL 1997 p125)

O documento chama atenccedilatildeo para o fato de que essa pluralidade cultural que natildeo

foge agrave realidade das escolas eacute ignorada ou mesmo silenciada sendo inuacutemeras as

justificativas para tal silenciamento Um exemplo citado pelos PCN‟s foi o periacuteodo de

nacionalismo dos governos autoritaacuterios que ldquoem diferentes momentos da histoacuteria

valeu-se da accedilatildeo homogeneizadora veiculada na escolardquo (BRASIL 1997 p125) A

deacutecada de 1930 foi um periacuteodo em que a poliacutetica oficial estava preocupada com a

quantidade de imigrantes e buscava formas de fazer com que essa populaccedilatildeo

assimilasse a cultura brasileira Enquanto isso a populaccedilatildeo negra era

marginalizada explica o PCN acerca da pluralidade cultural

O trabalho com o tema transversal propotildee o desenvolvimento das seguintes

capacidades

conhecer a diversidade do patrimocircnio etnocultural brasileiro cultivando atitude de respeito para com pessoas e grupos que a compotildeem reconhecendo a diversidade cultural como um direito dos povos e dos indiviacuteduos e elemento de fortalecimento da democracia

compreender a memoacuteria como construccedilatildeo conjunta elaborada como tarefa de cada um e de todos que contribui para a percepccedilatildeo do campo de possibilidades individuais coletivas comunitaacuterias e nacionais

valorizar as diversas culturas presentes na constituiccedilatildeo do Brasil como naccedilatildeo reconhecendo sua contribuiccedilatildeo no processo de constituiccedilatildeo da identidade brasileira

reconhecer as qualidades da proacutepria cultura valorando-as criticamente enriquecendo a vivecircncia de cidadania

desenvolver uma atitude de empatia e solidariedade para com aqueles que sofrem discriminaccedilatildeo

repudiar toda discriminaccedilatildeo baseada em diferenccedilas de raccedilaetnia classe social crenccedila religiosa sexo e outras caracteriacutesticas individuais ou sociais

exigir respeito para si e para o outro denunciando qualquer atitude de discriminaccedilatildeo que sofra ou qualquer violaccedilatildeo dos direitos de crianccedila e cidadatildeo

valorizar o conviacutevio paciacutefico e criativo dos diferentes componentes da diversidade cultural

compreender a desigualdade social como um problema de todos e como uma realidade passiacutevel de mudanccedilas

analisar com discernimento as atitudes e situaccedilotildees fomentadoras de todo tipo de discriminaccedilatildeo e injusticcedila social (BRASIL1998p147)

96

Diante dessas capacidades apresentadas pelo PCN eacute possiacutevel perceber que

o documento natildeo aborda especificamente a questatildeo da diversidade em regiatildeo de

fronteira internacional pois trata-se de orientaccedilotildees a serem desenvolvidas em todas

as escolas do paiacutes e natildeo em determinada regiatildeo especiacutefica cabendo entatildeo agrave

instituiccedilatildeo escolar realizar as adaptaccedilotildees necessaacuterias conforme o contexto no qual

estaacute inserida

Eacute importante lembrar que o estreito viacutenculo entre os conteuacutedos selecionados e a realidade local a partir mesmo das caracteriacutesticas culturais locais faz com que este trabalho possa incluir e valorizar questotildees da comunidade imediata agrave escola Contudo a proposta levanta tambeacutem a necessidade de referenciais culturais voltados para a pluralidade caracteriacutestica do Brasil como forma de compreender a complexidade do paiacutes bem como de ampliar horizontes para o trabalho da escola como um todo Lembra-se ainda que os conteuacutedos aqui definidos destinam-se ao trabalho com o terceiro e o quarto ciclos do ensino fundamental (BRASIL 1998 p148)

Em uma primeira leitura os temas transversais para a pluralidade cultural

conseguem abordar as principais pautas que a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e a

LDB96 estabelecem ao propor um ensino que valorize e incorpore o debate da

diversidade cultural na escolas mas que se apresentaram de modo muito superficial

e ao mesmo tempo amplo

Dentre algumas consideraccedilotildees acerca dos PCN‟S encontra-se a do professor

Antocircnio Cunha que na ocasiatildeo do lanccedilamento dos documentos questionou-os em

relaccedilatildeo ao o seu processo de elaboraccedilatildeo uma vez que o governo preferiu criar

propostas novas para os PCN‟s desconsiderando totalmente as anteriores

Em vez de se partir das propostas curriculares existentes para se chegar aos PCN‟s o que se fez foi apresentar aos estupefactos assistentes os paracircmetros jaacute elaborados Esse procedimento insoacutelito serviu para desestimular docentes e pesquisadores a darem seu parecer sobre os documentos quando solicitados pela Secretaria do Ensino Fundamental Parece que mais uma vez a administraccedilatildeo puacuteblica tem da pesquisa uma visatildeo apenas justificatoacuteria das opccedilotildees tomadas pelos dirigentes quando natildeo de algo apresentado tatildeo-somente para efeito propagandiacutestico (CUNHA 1996 p61)

Deste modo algumas das criacuteticas direcionadas aos PCN‟s encontram-se em

sua concepccedilatildeo O Parecer da Agecircncia Nacional dos Geoacutegrafos Brasileiros (AGB)

em consonacircncia com a posiccedilatildeo da Associaccedilatildeo Nacional de Histoacuteria (ANPUH)

97

realizado a pedido Secretaria do Ensino Fundamental do MEC na ocasiatildeo de seu

processo de elaboraccedilatildeo deu a seguinte resposta

Os bdquoParacircmetros‟ apresentam-se hoje como um retrocesso Apresentam-se organizados de forma semelhante aos antigos Guias Curriculares divididos em objetivos conteuacutedos avaliaccedilatildeo orientaccedilotildees didaacuteticas (em lugar das estrateacutegias) Apoacutes uma tentativa de explicitaccedilatildeo de conteuacutedos elenca-se para cada ciclo uma lista que pretende sintetizaacute-los Mesmo que no documento introdutoacuterio e nos documentos de aacuterea apareccedila registrada a natildeo intencionalidade da parte do MEC no sentido da obrigatoriedade de conteuacutedos determinados a real intenccedilatildeo jaacute patente a partir da escolha do termo bdquoparacircmetros‟ e a forma da organizaccedilatildeo dos mesmos eacute de molde a constituir em modelos uacutenicos a serem popularizadas e vulgarizadas em novos manuais didaacuteticos ()- O documento intitulado bdquoTemas Transversais‟ homogeneizar para a totalidade do paiacutes a definiccedilatildeo de bdquoconviacutevio social e eacutetica‟ meio ambiente e sauacutederdquo(AGB 1996p 62)

No parecer dos geoacutegrafos a construccedilatildeo de modelos uacutenicos e vulgarizados

bem como a tentativa de universalizar temas como a de conviacutevio social e eacutetico para

todo o paiacutes satildeo objetos de criacuteticas na medida em que a reflexatildeo sobre pluralidade

que haacute no paiacutes deve-se primeiramente ao seguinte questionamento destes temas

transversais - e em destaque o que trata da pluralidade cultural - quando adentra

em realidades como a de Foz do Iguaccedilu satildeo passiacuteveis de considerar as condiccedilotildees

locais Na mesma perspectiva Calllai (1997) fez o seguinte questionamento e

reflexatildeo

Os temas transversais propostos de certa forma homogeinizam tanto os problemas como o curriacuteculo a niacutevel nacional Eacute possiacutevel articular-se questotildees como pluralidade cultural exclusatildeo social e proposiccedilatildeo uacutenica de curriacuteculo As desigualdades sociais satildeo tambeacutem regionalizadas e como tal diferenciadas na sua expressatildeo localizada E eacute no local que o sujeito encara os problemas do seu cotidiano embora eles sejam o mais das vezes globais Poreacutem o global estaacute concretizado no lugar em que se vive e como tal eacute a partir daiacute que se precisa consideraacute-lo (CALLAI 1997 p 10)

Por outro lado aqueles (SILVEIRA MARQUES 2004) que vecircem os Temas

Transversais como uma novidade facilitadora para que haja debates em sala sobre

cultura diversidade e voltada para a interculturalidade possuem a consciecircncia de

que haacute alguma dificuldades seja pela falta de bibliografia pelas poucas experiecircncias

desenvolvidas e ateacute mesmo pela falta de formaccedilatildeo adequada de professores

Para que o trabalho com os temas transversais seja de fato efetivo torna-se

necessaacuterio a construccedilatildeo de uma proposta pedagoacutegica que envolva toda a

98

comunidade escolar Eacute necessaacuterio considerar que os temas ultrapassem os muros

da escola incluindo o contexto social envolvente Com relaccedilatildeo aos PCN‟s ainda que

haja criacuteticas referentes agrave sua elaboraccedilatildeo ainda que eles tendam agrave homogeneizaccedilatildeo

e por isso apresentem certa incoerecircncia teoacuterica a problemaacutetica maior eacute se esse

documento por meio dos temas transversais conseguiu inserir o debate sobre a

diversidade na comunidade escolar e como esse debate foi inserido

De modo geral os PCN‟s representam um avanccedilo no modo como trata do

tema pluralidade cultural No entanto as anaacutelises demonstraram que as tendecircncias

agrave homogeneizaccedilatildeo do curriacuteculo nacional ficam impliacutecitas no documento logo ele

recai em contradiccedilotildees pois reconhece a diversidade que existe no paiacutes mas insiste

em direcionar o trabalho da pluralidade a grupos especiacuteficos Neste caso negros e

indiacutegenas natildeo alcanccedilando realidades como a fronteiriccedila Assim acaba por deixar

de lado outros grupos

344 O Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute

O Plano Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute (PEE-PR) de 2015 eacute fruto de um

processo que tem iniacutecio na Constituiccedilatildeo de 1988 que por meio do Art 22 inciso

XXIV estabelecia a elaboraccedilatildeo de uma Nova Lei de Diretrizes e Bases para

Educaccedilatildeo Sendo entatildeo criada em 1996 a LDB96 que delegou para estados

municiacutepios Uniatildeo e Distrito Federal ldquoaos entes federados fica a responsabilidade de

garantir os meios necessaacuterios para o acesso e permanecircncia de todos agrave educaccedilatildeo

puacuteblica e gratuitardquo (BRASIL 2014a)

Deste modo conforme o PEE-PR do Paranaacute a educaccedilatildeo foi estruturada em

planos decenais com o objetivo de

Articular o sistema nacional de educaccedilatildeo em regime de colaboraccedilatildeo e definir diretrizes objetivos metas e estrateacutegias de implementaccedilatildeo para assegurar a manutenccedilatildeo e desenvolvimento do ensino em seus diversos niacuteveis etapas e modalidades por meio de accedilotildees integradas dos poderes puacuteblicos das diferentes esferas federativas (BRASIL 2014a p 15 apud PEE-PR 2015 p23)

As primeiras discussotildees do PNE comeccedilaram nas Conferecircncias Brasileiras de

Educaccedilatildeo (CBEs) nas deacutecadas de 1980 e 1990 Posteriormente estas conferecircncias

99

foram dando lugar para os Seminaacuterios Brasileiros de Educaccedilatildeo e as Conferecircncias

Nacionais de Educaccedilatildeo datadas da deacutecada de 1920 (PEE-PR 2015 p24) As

CBEs entre os anos de 1996 e 2004 foram substituiacutedas pelos Congressos

Nacionais de Educaccedilatildeo (Coned)(PARANAacute 2015)

O Plano Nacional de Educaccedilatildeo (PNE) foi aprovado pela primeira vez em 2001

pelo Congresso Nacional Brasileiro Em 2009 foi estabelecida a Conferecircncia

Nacional de Educaccedilatildeo (Conae) sendo um de seus objetivos o de mobilizar os

diversos setores da educaccedilatildeo brasileira a elaborarem um PNE correspondente ao

periacuteodo de 2011-2020 Assim apoacutes quatro anos de debates e de reelaboraccedilatildeo do

PNE a Lei Federal nordm 13005 de junho de 2014 instituiu o novo Plano composto

por 14 artigos e um anexo contendo 20 metas e estrateacutegias nacionais a serem

atingidas no periacuteodo de dez anos (PEE-PR 2015)

O documento base do PEE-PR na introduccedilatildeo apresenta as caracteriacutesticas

gerais da populaccedilatildeo paranaense Nela eacute destacada a presenccedila de diversas etnias e

nacionalidades que fazem parte da histoacuteria do estado e dada essa presenccedila a

educaccedilatildeo eacute uma instacircncia automaticamente atingida por essa diversidade

A populaccedilatildeo eacute formada por descendentes de povos europeus africanos ameriacutendios e indiacutegenas das etnias Guarani Kaingang e Xetaacute e por imigrantes procedentes principalmente dos estados do Rio Grande do Sul Santa Catarina Satildeo Paulo e Minas Gerais () Dessa forma esses grupos participaram na construccedilatildeo da cultura paranaense e muitos costumes oriundos dessas diferentes etnias ainda satildeo preservados em determinadas comunidades e se refletem na educaccedilatildeo paranaense (PEE-PR2015p 26)

Refletindo sobre estas caracteriacutesticas e atendendo agraves leis nordm 1063908 e

1164508 sobre a obrigatoriedade do ensino de histoacuteria e cultura afro-brasileira

africana e indiacutegena no curriacuteculo oficial dos estabelecimentos de ensino puacuteblico o

plano base possui as seguintes estrateacutegias

13 Orientar as instituiccedilotildees educacionais que atendem crianccedilas de zero a cinco anos a agregarem ou ampliarem em suas praacuteticas pedagoacutegicas cotidianas accedilotildees que visem ao enfrentamento da violecircncia sexual e a outros tipos de violecircncia agrave inclusatildeo e ao respeito agraves diversidades de toda ordem gecircnero eacutetnico-racial religiatildeo entre outros agrave promoccedilatildeo da sauacutede e dos cuidados agrave convivecircncia escolar saudaacutevel e ao estreitamento da relaccedilatildeo famiacutelia-crianccedila-instituiccedilatildeo ()18 Estabelecer programas em parceria com os municiacutepios para a oferta da educaccedilatildeo inclusiva nas comunidades indiacutegenas

100

quilombolas do campo e ciganas de acordo com suas especificidades (PEE-PR 2015 p64)

Conforme a finalidade no Plano este estabelece metas e estrateacutegias a serem

implementadas e consonacircncia com o Art8ordm contido no plano de educaccedilatildeo que

estabeleceu as seguintes estrateacutegias

I - asseguram a articulaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais com as demais poliacuteticas sociais particularmente as culturais II - consideram as necessidades especiacuteficas das populaccedilotildees do campo e das comunidades indiacutegenas quilombolas e demais grupos sociais singulares asseguradas a equidade educacional e a diversidade cultural (PEE-PR 2015 p2)

Chama atenccedilatildeo a especificidade do artigo oitavo que visa agrave articulaccedilatildeo das

poliacuteticas educacionais com as demais poliacuteticas sociais destacando principalmente a

questatildeo cultural Ao pensar nas particularidades educacionais encontradas em

regiotildees de fronteira internacional em Foz do Iguaccedilu onde a presenccedila de alunos

oriundos de outros paiacuteses eacute comum nas escolas seria pertinente que o tema

diversidade fosse ampliado Por exemplo no caso da presenccedila de alunos aacuterabes

(principalmente libaneses siacuterios e palestinos) nas escolas as diferenccedilas

manifestadas natildeo satildeo apenas linguiacutesticas Neste caso abarca tambeacutem a religiatildeo

(predominante o islatilde) os haacutebitos costumes vestuaacuterio alimentaccedilatildeo etc Neste

sentido propor poliacuteticas puacuteblicas que possibilitem a inclusatildeo desses alunos e natildeo a

exclusatildeo ou a desconsideraccedilatildeo das origens deste aluno eacute sem duacutevidas um grande

desafio

345 O Curriacuteculo da AMOP

Reduzindo o campo de anaacutelise da poliacutetica educativa para a regiatildeo oeste do

Paranaacute onde estaacute localizada a cidade de Foz do Iguaccedilu encontramos o curriacuteculo

baacutesico da Associaccedilatildeo dos Municiacutepios do oeste do Paranaacute (AMOP) que na

introduccedilatildeo do documento baacutesico afirma que houve uma confusatildeo por parte das

escolas municipais que ao implementarem os PCN‟s nas escolas natildeo o utilizaram

como um paracircmetro Muitas o adotaram como curriacuteculo ou tornaram sua proposta

pedagoacutegica como ecleacutetica Assim os educadores da regiatildeo Oeste do Paranaacute

101

sentiram a necessidade de se rediscutir o curriacuteculo Para tal adotaram a seguinte

metodologia

Inicialmente a metodologia adotada nos colocou limites que avaliada apontou para uma nova organizaccedilatildeo Reorganizado um cronograma de trabalho coletivamente com as redes municipais de Ensino chegamos a este documento que eacute resultado de dois anos de intensos estudos de reflexotildees de embates teoacutericos de sistematizaccedilotildees de leituras de discussotildees e de anaacutelises do coletivo dos educadores os quais respeitando o movimento proacuteprio de cada rede e por sua vez de cada escola partiram de contribuiccedilotildees teoacutericas de alguns autores das experiecircncias e compreensotildees do que jaacute se fez ou se faz em nossas escolas (AMOP 2007 p07)

Os trabalhos para elaboraccedilatildeo de diretrizes curriculares para o oeste

paranaense comeccedilaram em 2005 juntamente com secretaacuterios municipais de

educaccedilatildeo do Oeste do Paranaacute Na primeira etapa foram organizados grupos de

trabalho para elaboraccedilatildeo de propostas para as disciplinas de Liacutengua

PortuguesaAlfabetizaccedilatildeo Matemaacutetica Histoacuteria Geografia e Ciecircncias Assim as

atividades comeccedilaram a partir de seminaacuterio com representantes das equipes de

ensino das secretarias municipais de educaccedilatildeo

No qual se discutiu sobre a concepccedilatildeo de homem de sociedade de conhecimento e sobre a funccedilatildeo da escola Participaram do evento aproximadamente 380 representantes (AMOP 2007 p25)

Os trabalhos seguiram no decorrer do ano de 2005 mediante reuniotildees dos

grupos junto aos profissionais da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo (SEED) que

atuaram na elaboraccedilatildeo das diretrizes para as escolas estaduais do Paranaacute O

Departamento Pedagoacutegico da AMOP integrou-se ao grupo como tambeacutem os

educadores da educaccedilatildeo baacutesica e instituiccedilotildees de ensino superior Posteriormente

abriram-se as discussotildees para toda regiatildeo a fim de compreender as primeiras

impressotildees da versatildeo preliminar do documento

A partir desse processo houve a reelaboraccedilatildeo desse documento que reelaborado a partir das contribuiccedilotildees dos educadores dos municiacutepios envolvidos tornou-se o ponto de partida para a elaboraccedilatildeo do curriacuteculo A construccedilatildeo do curriacuteculo foi feita por meio de um processo que desencadeou discussotildees preacutevias com os representantes dos municiacutepios sistematizaccedilatildeo dessas discussotildees por um grupo menor discussatildeo e anaacutelise dessa sistematizaccedilatildeo pelo conjunto de educadores de cada municiacutepio que tinha suas

102

contribuiccedilotildees registradas pelos seus representantes (AMOP 2007 p26)

A partir de entatildeo elaborado o curriacuteculo no que confere agraves questotildees da

diversidade a partir da realidade em Foz do Iguaccedilu foram identificados nas

diretrizes propostas para o ensino de Geografia e Histoacuteria componentes que

trabalham com a questatildeo da diversidade nas escolas Os conteuacutedos referentes ao

ensino da Geografia estatildeo nas seguintes proposiccedilotildees para o 5ordm ano

Caracteriacutesticas sociais ndash diversidades eacutetnicas e culturais do Paranaacute

Movimentos da populaccedilatildeo paranaense crescimento da populaccedilatildeo

Divisatildeo poliacutetica (formaccedilatildeo do conceito de distritomuniciacutepioestadopaiacutes)

A industrializaccedilatildeo e o crescimento urbano do Paranaacute ndash malha urbana

Tracircnsito - circulaccedilatildeo no estado ndash ligaccedilatildeo rodoviaacuteria ferroviaacuteria aeacuterea - vias pedagiadas ndash Fiscalizaccedilatildeo Poliacutecia Rodoviaacuteria e pesagem

Organizaccedilatildeo dos espaccedilos urbanos ndash problemas urbanos - centro e periferia Impostos e taxas pagamentos que financiam a infra-estrutura dos bens puacuteblicos (AMOPE 2007 p252-253)

Sobre os conteuacutedos propostos no AMOP (2007) o ensino de geografia propotildee que

as diversidades eacutetnicas e culturais presentes no Paranaacute sejam parte do conteuacutedo a

ser desenvolvido em sala de aula Tambeacutem a histoacuteria dos processos migratoacuterios

para o estado e a presenccedila dos diferentes grupos eacutetnicos que formam parte da

histoacuteria de formaccedilatildeo do Paranaacute (AMOP 2007)

Neste sentido a proposta da AMOP se aproxima da LDB96 e dos proacuteprios

PCN‟s que tratam da diversidade cultural com a diferenccedila de que ele eacute destinado

para a rede municipal de educaccedilatildeo do Oeste paranaense Nesta perspectiva haacute um

vieacutes positivo na medida em que delimita o oeste paranaense adotando o enfoque da

diversidade eacutetnico-racial o que permite maior aproximaccedilatildeo com a realidade do

aluno

103

346 Algumas consideraccedilotildees

Diante do exposto considerando os documentos analisados percebe-se que

haacute uma induccedilatildeo clara para que o trabalho pedagoacutegico com a temaacutetica da

diversidade esteja fundada na noccedilatildeo29 presente na Constituiccedilatildeo de 1988 de que o

Brasil sendo formado por trecircs raccedilas - o iacutendio o branco e o negro- deve considerar

essas e reconhececirc-las nos espaccedilos educacionais A LDB96 reafirma esses

propoacutesitos no artigo 26 Os PCN‟spor sua vez se adequa a LDB06 principalmente

com a criaccedilatildeo dos Temas Transversais

No plano estadual as poliacuteticas educacionais para diversidade natildeo ficam

distantes das propostas em niacutevel nacional pois devem obrigatoriamente seguir os

componentes das diretrizes nacionais Desse modo natildeo foi evidenciado nessas

poliacuteticas mecanismos que subsidiassem as escolas presentes em fronteira neste

caso Foz do Iguaccedilu com estrateacutegias para criar programas e projetos para a

diversidade Do mesmo modo podemos falar dos planos nacionais e estaduais de

educaccedilatildeo Por mais que enfatizem o trabalho pedagoacutegico conforme a realidade

local eles natildeo deixam de pensar no nacional Outro problema eacute a imposiccedilatildeo dessas

poliacuteticas puacuteblicas e os PCN‟s satildeo um exemplo de uma proposta vertical assim

como inuacutemeros projetos que chegam agrave escola sem uma preacutevia discussatildeo com as

bases que seriam as comunidades escolares

Desse modo o que pode ser feito nas escolas eacute uma adaptaccedilatildeo agrave realidade

local Todas essas poliacuteticas educativas chegam agrave regiatildeo da fronteira mas natildeo

atingem suas especificidades Por especificidades recordamos tratar-se da

presenccedila dos alunos estrangeiros nas escolas de Foz do Iguaccedilu a saber

paraguaios argentinos e brasiguaios que satildeo grupos que fizeram e fazem parte da

histoacuteria da cidade desde o seu iniacutecio mas ao mesmo tempo natildeo satildeo preocupaccedilatildeo

do Estado brasileiro devendo ser uma preocupaccedilatildeo de seus Estados Nacionais

Nesta loacutegica as escolas da regiatildeo natildeo foram criadas a partir da realidade

fronteiriccedila O multilinguismo eacute desconsiderado O Estado por meio da legislaccedilatildeo

impotildee o portuguecircs enquanto liacutengua oficial Falar de diversidade eacute possiacutevel desde

29

Pires-Santos e Cavalcanti (2008) definem o monolinguismo como um a adoccedilatildeo de uma

liacutengua homogecircnea pura uma liacutengua para um povo Trata-se na concepccedilatildeo das autoras de um mito ligado a interesses e investida de ideologia e que estaacute relacionado agrave nacionalidade

104

que seja referente aos grupos presentes no territoacuterio brasileiro que foram

historicamente colocados agrave margem da sociedade Logo 1) Seraacute que as nossas

escolas disponibilizam de tempo espaccedilo e interesse para desenvolver trabalhos de

combate ao preconceito contra o paraguaio chamado em momentos de ofensas de

xiru 2) E quanto agrave presenccedila aacuterabe na regiatildeo ela eacute discutida Como eacute a acolhida

destes na escola 3) O professor se sente preparado para lidar com estas questotildees

em sala de aula

Tais perguntas apresentadas acima foram motivadas a partir do pressuposto

de que temos um curriacuteculo nacional com raiacutezes eurocecircntricas conforme Tomaz

Tadeu da Silva (2007 p7) o curriacuteculo natildeo eacute neutro este ldquotransmite visotildees sociais

particulares e interessadas o curriacuteculo produz identidades individuais e sociais

particularesrdquo Por muito tempo a histoacuteria dos negros e indiacutegenas eram abordadas de

modo superficial por outro lado a histoacuteria antiga e recente da Europa sempre se fez

presente em nossos livros didaacuteticos Desconhecemos a Ameacuterica Latina seus povos

e histoacuteria logo desconhecemos os que fazem fronteira com o Brasil Squinelo

(2011) no artigo ldquoRevisotildees Historiograacuteficas A Guerra do Paraguai nos livros

didaacuteticos brasileiros-PNLD 2011rdquo ao analisar a histoacuteria da Guerra da Triacuteplice Alianccedila

presente nos livros didaacuteticos do Brasil aponta que pouco se discute considera a

versatildeo falha tendenciosa e conclui seu artigo com os seguintes questionamentos

Resta-me ainda algumas duacutevidas em relaccedilatildeo ao porquecirc entatildeo estudamos a Guerra do Paraguai na medida em que a) natildeo procuramos entender o sentido para os paiacuteses nela envolvidos b) natildeo buscamos a compreensatildeo de nosso desenvolvimento histoacuterico-soacutecio-cultural e econocircmico c) natildeo realizamos as conexotildees necessaacuterias ao entendimento das questotildees relacionadas ao Mercosul e finalmente d) natildeo propiciamos ao educando a compreensatildeo dos eventos histoacutericos de nosso passado latino-americano o que nos levaria a nos conhecer e a conhecer o outro e tambeacutem responderia muitas questotildees postas em nosso presente (SQUINELO 2011p 36)

35 O Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles um exemplo de poliacutetica

educacional para a fronteira

Dentro das poliacuteticas educacionais encontram-se outras variaacuteveis de poliacuteticas

dentre elas a poliacutetica linguiacutestica definida por Oliveira (2004 p38) como ldquoum o

conjunto de decisotildees que um grupo de poder sobretudo um Estado (mas tambeacutem

105

uma Igreja ou outros tipos de instituiccedilotildees de poder menos totalizantes) toma sobre o

lugar e a forma das liacutenguas na sociedade e a implementaccedilatildeo destas decisotildeesrdquo

Para Maher (2013 p 119) as poliacuteticas linguiacutesticas se referem aos objetivos e

agraves intervenccedilotildees que de uma forma ou outra visam ldquoafetarrdquo tanto o modo como as

liacutenguas se constituem quanto os modos como elas satildeo utilizadas eou transmitidas

A autora chama atenccedilatildeo para o equiacutevoco comumente difundido de que as poliacuteticas

lingusticas seriam apenas criadas por meio do governo ldquoPoliacuteticas linguumliacutesticas podem

ser arquitetadas e colocadas em accedilatildeo localmente uma escola ou uma famiacutelia pode

colocar em praacutetica ou estabelecer certa situaccedilatildeo sociolinguumliacutesticardquo (MAHER 2013

p120)

Essa perspectiva vai ao encontro da abordagem30 multicecircntrica ou policecircntrica

de poliacuteticas puacuteblicas que aleacutem de considerar o Estado inclui outras instacircncias como

protagonistas no estabelecimento de poliacuteticas puacuteblicas tais como as organizaccedilotildees

natildeo governamentais organizaccedilotildees privadas e organismos (DROS 1971

KOOIMAN 1993 RHODES 1997 HAJER 2003 apud SECCHI 2013) Nessa

premissa o PEIBF se enquadra na visatildeo multicecircntrica dos estudos de poliacuteticas

puacuteblicas uma vez que foi fruto de acordos bilaterais iniciados pela Argentina e o

Brasil no acircmbito do Mercado Comum do Sul (Mercosul)

O Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles de Fronteira (PEIBF) surgiu

dentro do oacutergatildeo pertencente ao Mercosul denominado Setor Educacional do

Mercosul (SEM) Segundo o documento ldquoEscolas de Fronteirardquo (BRASIL 2008) dos

antecedentes desse projeto encontra-se a oficializaccedilatildeo da criaccedilatildeo do MERCOSUL

em 1991 instituiccedilatildeo intergovernamental que nasceu com a assinatura do Tratado de

Assunccedilatildeo acordados inicialmente entre Argentina Brasil Paraguai e Uruguai

O bloco econocircmico Mercosul apresenta-se em um contexto de globalizaccedilatildeo

da economia O projeto teve como base as negociaccedilotildees entre Brasil e Argentina

30

Dentro das analises de poliacuteticas puacuteblicas Secchi (2013) discorre sobre o noacute conceitual que haacute na

literatura especializada nos estudos de poliacuteticas puacuteblicas Alguns pesquisadores defendem a abordagem estatista que considera as PP analiticamente monopoacutelio de atores estatais Outros a abordagem multicecircntrica que aleacutem de considerar o Estado inclui outras instacircncias como protagonistas no estabelecimento de poliacuteticas puacuteblicas

106

para a integraccedilatildeo de suas economias e os resultados positivos dessa integraccedilatildeo

levaram o Paraguai e o Uruguai a fazerem parte do projeto integracionista

O objetivo inicial do Mercosul fora a integraccedilatildeo dos quatros Estados

membros em termos de circulaccedilatildeo de bens e serviccedilos e de fatores produtivos da

formulaccedilatildeo de poliacutetica comercial comum da afirmaccedilatildeo de uma Tarifa Externa

Comum (TEC) e da busca por poliacuteticas legislativas comum aos paiacuteses membros Em

2012 a Venezuela tornou-se oficialmente mais um paiacutes membro do bloco e a Boliacutevia

caminha para o processo de ordenamento juriacutedico para oficializar sua participaccedilatildeo

Aleacutem disso o mercado comum conta com a participaccedilatildeo de paiacuteses associados

Chile Peru Colocircmbia Equador Guiana e Suriname

No final do seacuteculo passado o Mercosul passava por outro lado por crises do

ponto de vista comercial as dimensotildees poliacutetica sociocultural e educacional foram

ganhando relevacircncia (ALMEIDA 2015) Este periacuteodo de crise refere-se aos

impactos das poliacuteticas neoliberais implantadas na regiatildeo no decorrer das deacutecadas

de 1980 e 1990 O nuacutemero de pessoas em situaccedilatildeo de pobreza passou de 136

milhotildees em 1980 para 222 milhotildees em 2004 (ESTAY 2007) Neste contexto de crise

econocircmica e aumento das desigualdades sociais que foi assinada a ldquoCarta de

Buenos Aires sobre o Compromisso Social no Mercosul Boliacutevia e Chile31rdquo no dia 30

de junho de 2000 A carta reconhece a importacircncia da dimensatildeo sociocultural do

Mercosul

Com a entrada de governos progressistas como a eleiccedilatildeo de Luiacutes Inaacutecio Lula

da Silva em 2003 e de Neacutestor Kircher na Argentina a funccedilatildeo do Mercosul enquanto

bloco meramente de integraccedilatildeo econocircmica foi revista e acrescida pelas dimensotildees

sociais para a integraccedilatildeo regional Desse modo a aacuterea social do Mercosul que

havia sido abordada na ldquoCarta de Buenos Airesrdquo e pela criaccedilatildeo da Reuniatildeo de

Ministros e Autoridades de Desenvolvimento Social do Mercosul foi expandida e

institucionalizada com a criaccedilatildeo do Instituto Mercosul Social (IMS) em 2007

(ALMEIDA 2015)

31

Em junho de 2000 os presidentes aprovaram a Carta de Buenos Aires com o Compromisso

Social no Mercosul Boliacutevia e Chile O documento estimula as autoridades competentes a ldquofortalecer o trabalho conjunto entre os seis paiacuteses assim como o intercacircmbio de experiecircncias e informaccedilotildees a fim de contribuir para a superaccedilatildeo dos problemas sociais mais agudos que os afetam e para definir os temas ou aacutereas onde seja viaacutevel uma accedilatildeo coordenada ou complementar para solucionaacute-los (BRASIL 2007 p25) Dentre as accedilotildees promovidas a partir da Carta encontra-se a criaccedilatildeo da Reuniatildeo de Ministros e Autoridades de Desenvolvimento Social do Mercosul instituiacuteda pela Decisatildeo n 612000 do CMC (ALMEIDA 2015p24)

107

A estrutura organizacional do Mercosul eacute composta pelo Conselho Mercado

Comum (CMC) Grupo Mercado Comum Comissatildeo Parlamentar Foro Consultivo

Econocircmico-Social Comissatildeo de Comeacutercio do Mercosul e Secretaria Administrativa

do Mercosul O CMC eacute responsaacutevel pela criaccedilatildeo da Reuniatildeo de Ministros da

Educaccedilatildeo (RME) principal responsaacutevel pela estrutura do Setor educacional do

Mercosul (SEM) (MERCOSUL EDUCACIONAL 2013) Dentre os objetivos

estrateacutegicos para a educaccedilatildeo do SEM estaacute agrave integraccedilatildeo e formaccedilatildeo de uma

identidade regional Tem como objetivo ser um espaccedilo regional no qual a educaccedilatildeo

seja de qualidade fundada no ldquoconhecimento intercultural o respeito agrave diversidade e

agrave cooperaccedilatildeo solidaacuteriardquo de modo a contribuir para a democratizaccedilatildeo dos sistemas

educacionais da regiatildeo (MERCOSUL 2011 p15) Da missatildeo definida pelo SEM

encontra-se a de

Formar um espaccedilo educacional comum por meio da coordenaccedilatildeo de poliacuteticas que articulem a educaccedilatildeo com o processo de integraccedilatildeo do MERCOSUL estimulando a mobilidade o intercacircmbio e a formaccedilatildeo de uma identidade e cidadania regional com o objetivo de alcanccedilar uma educaccedilatildeo de qualidade para todos com atenccedilatildeo especial aos setores mais vulneraacuteveis em um processo de desenvolvimento com justiccedila social e respeito agrave diversidade cultural dos povos da regiatildeo (MERCOSUL EDUCACIONAL 2011 p10)

No acircmbito do SEM encontra-se o Comitecirc Coordenador Regional cuja funccedilatildeo eacute

propor poliacuteticas de integraccedilatildeo e cooperaccedilatildeo da aacuterea educacional Uma vez

estabelecidas como liacutenguas oficiais do MERCOSUL o espanhol guarani e

portuguecircs coube ao setor educativo do bloco enfatizar em seu plano de accedilatildeo a

necessidade de difundir o ensino de portuguecircs e do espanhol por meio dos

sistemas educativos formais e informais

Como parte desse processo o Setor Educacional do Mercosul ndash SEM aponta nos seus planos de accedilatildeo a necessidade de difundir o aprendizado do portuguecircs e do espanhol por meio dos sistemas educacionais formais e natildeo formais considerando como aacutereas prioritaacuterias o fortalecimento da identidade regional levando dessa forma ao conhecimento muacutetuo a uma cultura de integraccedilatildeo e agrave promoccedilatildeo de poliacuteticas regionais de formaccedilatildeo de recursos humanos visando agrave melhoria da qualidade da educaccedilatildeo (BRASIL 2008 p 6)

351 Do processo de elaboraccedilatildeo

Conforme Secchi (2013) a tomada de decisatildeo no momento de se propor uma

poliacutetica puacuteblica eacute uma etapa em que os interesses dos atores satildeo equacionados

108

onde as razotildees de um problema puacuteblico satildeo explicitadas Nessa fase a equipe

bilateral de teacutecnicos e linguistas argentinos e brasileiros foram requeridos para

formular o projeto a fim de atender agraves expectativas dos dois paiacuteses Assim o projeto

proposto pela equipe teve como intuito promover as liacutenguas espanhola e portuguesa

atraveacutes do ensino biliacutengue e atraveacutes de intercacircmbios culturais entre Argentina e

Brasil

352 Do processo para implementaccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica

Para O‟Tolle Jr (2003 apud Secchi 2003p55 ) ldquoa fase de implementaccedilatildeo eacute

aquela em que regras rotinas e processos sociais satildeo convertidos de intenccedilotildees em

accedilotildeesrdquo Dos elementos baacutesicos para anaacutelise desse processo encontram-se

() pessoas e organizaccedilotildees com interesses competecircncias e comportamentos variados () tambeacutem fazem parte de processo as relaccedilotildees existentes entre as pessoas as instituiccedilotildees vigentes (regras formais e informais) os recursos financeiros materiais informativos e poliacuteticos (capacidade de influecircncia) (SECCHI 2013 p57)

Nesta perspectiva o Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles de Fronteira

foi implementado inicialmente em 2005 nas cidades brasileiras de Dioniacutesio

Cerqueira no estado de Santa Catarina e Uruguaiana no Rio Grande do Sul Do

lado argentino as cidades que aderiram ao programa foram Bernado de Irogoyen

em Misiones e Paso de los Libres em Corrientes O programa foi implantado pelo

Governo Federal brasileiro por meio da Coordenaccedilatildeo de Formaccedilatildeo Continuada do

Departamento de Poliacuteticas de Educaccedilatildeo Infantil e do Ensino Fundamental da

Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica32 em conjunto com o Ministeacuterio de la Educaciacuteon

Ciencia y Tecnologia (MEC y T) da Argentina A partir de 2006 o programa

estendeu-se para outras regiotildees de fronteira sendo elas Puerto Iguazuacute em

Misiones e Santo Tomeacute e La Cru e Corrrientes na Argentina e Foz do Iguaccedilu no

Paranaacute e Satildeo Borja e Itaqui no Rio Grande do Sul

Desde o primeiro momento algumas questotildees sobre sua origem foram

criticadas Sagaz (2013) aponta que o MEC natildeo apresentou o PEIBF oficialmente

como um Programa Temaacutetico ou um Projeto proposto e aprovado em Plano Pluri

32

O PEIF eacute de responsabilidade da Coordenaccedilatildeo Geral de Ensino Fundamental (COEF) na Diretoria

de Curriacuteculos e Educaccedilatildeo Integral - (DICEI) da Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica (SEB) no MEC

109

Anual (PPA) Para o autor natildeo era intenccedilatildeo do poder legislativo discutir os

orccedilamentos ldquotampouco eacute uma accedilatildeo de governo no que diz respeito agraves suas

diretrizes poliacuteticas uma vez que o oacutergatildeo competente natildeo solicitou a formalizaccedilatildeo

dos recursos junto ao PPArdquo (SAGAZ 2013 p 43) Isto manteve o PEIBF ateacute 2010

distante da prioridade e discussatildeo por parte do governo se comparado a outros

Programas e Projetos

O processo de implementaccedilatildeo comeccedilou no ano de 2004 com a primeira

reuniatildeo de planejamento No mesmo ano na cidade de Dioniacutesio Cerqueira ocorreu

uma reuniatildeo para instituir o programa na escola eleita Dentre as instituiccedilotildees

presentes encontravam-se o Instituto de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento em

Poliacutetica Linguiacutestica (IPOL) a 30ordf Gerecircncia Regional de Educaccedilatildeo e Inovaccedilatildeo

(GEREI) e o MECyT

A escola brasileira escolhida para a implementaccedilatildeo do projeto foi a Dr

Theodureto Carlos de Faria Souto A escola possui uma localizaccedilatildeo estrateacutegica pois

estaacute a aproximadamente dois quilocircmetros do posto da Receita Federal na fronteira

BrasilArgentina ldquoPode-se ir caminhando da escola ateacute o outro paiacutes sem nenhum

impedimento em relaccedilatildeo agraves vias de acesso e em relaccedilatildeo ao posto alfandegaacuteriordquo

(SAGAZ 2013 p77) Nela ocorreu a primeira reuniatildeo com os pais dos estudantes

em fevereiro de 2005 De acordo com a equipe teacutecnica a implementaccedilatildeo do PEIBF

deveria ser gradual a comeccedilar com a inclusatildeo das seacuteries iniciais do ensino

fundamental no projeto para posteriormente incluir as demais seacuteries A ampliaccedilatildeo

do projeto para todas as seacuteries da educaccedilatildeo baacutesica de uma soacute vez poderia causar

transtornos dada a necessidade de adequaccedilatildeo dos sistemas locais de educaccedilatildeo agrave

sua estrutura (BRASIL 2008)

As seacuteries escolhidas para o projeto foram o primeiro e segundo ano do ensino

fundamental A estrutura operacional e a tentativa de avanccedilar nas seacuteries iniciais do

ensino fundamental para os anos finais segundo a relatoria tornaram-se inviaacuteveis

pela falta de entendimento pedagoacutegico entre Argentina e Brasil (BRASIL 2008) Em

2006 os ministeacuterios dos paiacuteses envolvidos no PEIBF comeccedilaram a formular um

documento com diretrizes para todas as escolas em zonas de fronteiras envolvidas

no projeto intitulado ldquoModelo de ensino comum em escolas de zona de fronteira a

partir do desenvolvimento de um programa para a educaccedilatildeo intercultural com

ecircnfase no ensino do portuguecircs e do espanholrdquo Em 2012 o documento baacutesico foi

reelaborado contando com a contribuiccedilatildeo do Uruguai e Paraguai O nome do

110

documento passou a ser Modelo de ensentildeanza comuacuten em escuelas de zona de

frontera a partir del desarrollo de un programa para la educacioacuten intercultural com

eacutenfasis em la ensentildeanza de latildes lenguas predominantes en la regioacuten (MERCOSUL

EDUCACIONAL 2014)

Segundo o documento inicial do programa a projeccedilatildeo pretendida era de que

a cada ano fosse ampliado o nuacutemero de turmas envolvidas e que se avanccedilasse para

as proacuteximas seacuteries de modo que os alunos que fazera parte do programa pudesse

adquirir a familiarizaccedilatildeo com a cultura do paiacutes vizinho

O Programa tem por metodologia o intercacircmbio docente e as escolas satildeo as

responsaacuteveis por organizar os quadros dos professores que iratildeo fazer parte das

chamadas escolasespelhos (unidades baacutesicas de trabalho atuando como uma

unidade operacional)

Esta forma permite aos docentes dos paiacuteses envolvidos vivenciarem eles mesmos na sua atuaccedilatildeo e nas suas rotinas semanais praacuteticas de bilinguumlismo e de interculturalidade semelhantes agraves que querem construir com os alunos na medida em que se expotildeem agrave vivecircncia com seus colegas do outro paiacutes e com as crianccedilas das vaacuterias seacuteries com as quais atuam (BRASIL 2008 p21)

353 Avaliaccedilatildeo da Poliacutetica Puacuteblica- Primeiros impactos do PEIBF

De acordo com Leite e Flexor (2006) a avaliaccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica

consiste em verificar os efeitos atribuiacutedos agrave accedilatildeo do governo tendo portanto um

caraacuteter normativo Os autores afirmam que os avaliadores agem em funccedilatildeo de

quadros de referecircncia com valores e normas incluindo a percepccedilatildeo que devem ser

considerados nesse processo

A dificuldade dessa fase reside tambeacutem no fato de que os resultados efetivos satildeo relativamente independentes das expectativas iniciais Aleacutem disso as aspiraccedilotildees podem mudar no decorrer do percurso outros problemas podem surgir os objetivos satildeo geralmente ambiacuteguos e causas externas podem explicar os resultados Em outras palavras natildeo existe causalidade uniacutevoca (LEITE FLEXOR 2006 p 11)

Para Secchi (2013) existem alguns modelos diferenciados de avaliaccedilatildeo Haacute

aquelas que ocorrem anterior agrave implementaccedilatildeo (ex ante) e a avaliaccedilatildeo posterior agrave

implementaccedilatildeo (ex post) Existe tambeacutem a avaliaccedilatildeo que ocorre durante o processo

de implementaccedilatildeo cujo objetivo eacute a busca de ajustes imediatos O referido autor

111

elenca os principais criteacuterios utilizados para avaliaccedilotildees sendo eles economicidade

produtividade eficiecircncia econocircmica eficiecircncia administrativa eficaacutecia e equidade

O documento preliminar -Programa Escolas Biliacutenguumles de Fronteira - Modelo

de ensino comum em escolas de zona de fronteira a partir do desenvolvimento de

um programa para a educaccedilatildeo intercultural com ecircnfase no ensino do portuguecircs e

do espanholrdquo ( MEC y T MEC2008) busca analisar os primeiras experiecircncias do

projeto Nesse sentido trata-se de uma avaliaccedilatildeo que ocorreu durante o processo

de implementaccedilatildeo Dentre as consideraccedilotildees feitas nessa primeira etapa encontram-

se

- Do repertoacuterio linguumliacutestico das crianccedilas Apoacutes alguns meses do estabelecimento do

programa as professoras envolvidas evidenciaram que as crianccedilas argentinas

tinham maior familiaridade com a liacutengua portuguesa enquanto as crianccedilas

brasileiras tiveram dificuldades para assimilar o espanhol

As crianccedilas argentinas jaacute satildeo em algum niacutevel biliacutengues entendem razoavelmente bem a liacutengua portuguesa e muitas a falam com facilidade Isso se deve ao fato de que muitos satildeo descendentes de brasileiros Aleacutem disso tecircm uma maior exposiccedilatildeo agrave liacutengua atraveacutes da miacutedia maior frequecircncia de estadia no Brasil e eventualmente em consequecircncia destes fatores nota-se uma maior disponibilidade da populaccedilatildeo argentina de fronteira para o aprendizado do portuguecircs (MECy T MEC 2008 p 13)

Neste periacuteodo identificou-se uma necessidade de promover uma ldquosensibilizaccedilatildeo

linguumliacutesticardquo de modo que as crianccedilas brasileiras pudessem querer aprender a liacutengua

espanhola Para tal sensibilizaccedilatildeo a praacutetica intercultural eacute fundamental assinala o

documento

Da necessidade de Intercacircmbio entre alunos Verificou-se que aleacutem do

intercacircmbio entre professores houve a demanda por intercacircmbio entre os alunos

No entanto esse processo eacute mais complexo de ser executado haja vista que haacute

empecilhos como a documentaccedilatildeo das crianccedilas para entrada em outro paiacutes As

crianccedilas brasileiras e argentinas soacute podem realizar a travessia com uma

documentaccedilatildeo assinada pelos pais autorizando sua travessia

Da carga horaacuteria das escolas Como satildeo secretarias educacionais e paiacuteses

distintos um modelo uacutenico para sua execuccedilatildeo eacute praticamente improvaacutevel Essa

112

pauta foi discutida na equipe quando foram elaborados trecircs modelos de

organizaccedilatildeo das escolas envolvidas

Escola em Tempo Integral (Jornada Completa) Nesse modelo os alunos

possuem pelo menos dois dias de aula de liacutengua estrangeira e uma carga

horaacuteria total de 6 horas semanais Como a escola eacute de tempo integral os

alunos podem ter outras atividades destinados agrave educaccedilatildeo biliacutengue

Escola em Contra-Turno eacute semelhante agrave escola de Tempo Integral mas

neste caso apenas em um dos turnos haacute o ensino biliacutengue

Escola em Turno Uacutenico em dois dias da semana os trabalhos do programa

escolas biliacutengues satildeo realizados dentro do proacuteprio turno num total de cinco

horas semanais

Entre os modelos apresentados acima o primeiro eacute o da escola Dioniacutesio

Cerqueira e Bernado Yrigoyen o segundo aplica-se a Foz do Iguaccedilu e Puerto

Iguazuacute o terceiro modelo encontra-se presente em Uruguaina Verificou-se que o

trabalho desenvolvido nas escolas de turno uacutenico possui em sua base curricular o

segundo idioma enquanto o trabalho em contra-turno jaacute assimila as atividades do

programa como atividade extra-curricular o que natildeo eacute o objetivo do PEIBF O

melhor turno para se desenvolver o programa eacute o Turno Uacutenico pois natildeo interfere na

rotina da escola nem na estrutura fiacutesica ou mesmo na contrataccedilatildeo de mais

funcionaacuterios ou aumento da carga horaacuteria dos professores envolvidos (BRASIL

2008)

A escola em contra-turno amplia o periacuteodo de permanecircncia do aluno na

instituiccedilatildeo uma estrateacutegia vaacutelida e uacutetil para o processo de aprendizagem do aluno

Conforme o documento de implantaccedilatildeo as experiecircncias aqui expostas somadas

aos debates nas reuniotildees das equipes de trabalho bilaterais e no decorrer dos

encontros de formaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo requerem a formulaccedilatildeo de um novo modelo

para o Programa para que se possa refletir e dar respostas as peculiaridades das

escolas interculturais biliacutenguumles (BRASIL 2008)

A partir de 2012 o PEIBF por meio da Portaria nordm 798 de 19 de junho de

2012 do Diaacuterio Oficial da Uniatildeo passou a se chamar Programa Escolas

Interculturais de Fronteira (PEIF)

113

Art 1ordm Fica instituiacutedo o Programa Escolas Interculturais de Fronteira (PEIF) com o objetivo de contribuir para a formaccedilatildeo integral de crianccedilas adolescentes e jovens por meio da articulaccedilatildeo de accedilotildees que visem agrave integraccedilatildeo regional por meio da educaccedilatildeo intercultural das escolas puacuteblicas de fronteira alterando o ambiente escolar e ampliando a oferta de saberes meacutetodos processos e conteuacutedos educativos sect 1ordm As Escolas Interculturais de Fronteira satildeo as escolas puacuteblicas Estaduais e Municipais situadas na faixa de fronteira e instruiacutedas pelo Modelo de ensino comum de zona de fronteira a partido desenvolvimento de um Programa para a educaccedilatildeo interculturalcom ecircnfase no ensino do portuguecircs e do espanhol da Declaraccedilatildeo Conjunta de Brasiacutelia firmada em 23 de novembro de 2003 pela Argentina e pelo Brasil e do Plano de Accedilatildeo do Setor Educativo do MERCOSUL (BRASIL 2012)

Pela mesma portaria criou-se o documento ldquoMarco Referencial de Desenvolvimento

Curricularrdquo o qual tem como objetivo central apresentar orientaccedilotildees comuns a serem

desenvolvidos pelas escolas envolvidas Entre os eixos organizadores encontram-

se

Eixo 1 - Funcionamento do Programa na escola

a) o envolvimento de toda a escola b) a definiccedilatildeo de metodologias dos projetos de aprendizagem c) a construccedilatildeo do projeto poliacutetico pedagoacutegico da escola intercultural (planejamento conjunto das accedilotildees) e regimento escolar d) considerar as especificidades curriculares e socioculturais das comunidades do campo indiacutegena e quilombola e) dinamizaccedilatildeo do relacionamento com escola do paiacutes vizinho definindo um plano de accedilatildeo conjunto para a realizaccedilatildeo do intercacircmbio docente aleacutem de outras accedilotildees que promovam a interculturalidade estendendo-se a todos os anos de escolarizaccedilatildeo da escola f) utilizaccedilatildeo das tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo disponiacuteveis e necessaacuterias Eixo 3 - Formaccedilatildeo continuada dos profissionais da educaccedilatildeo baacutesica sob a coordenaccedilatildeo das Universidades

a) compor o grupo local formado por Coordenador-geral do PEIF Coordenador-adjunto de Educaccedilatildeo Integral Supervisor de Articulaccedilatildeo e Acompanhamento Pedagoacutegico (secretaria de educaccedilatildeo) Pesquisadores Professores Formadores (universidade) Professor Formador (coordenador pedagoacutegico ou diretor da escola) Tutor agrave distacircncia (universidade) Tutor presencial eou PIBID (universidade para acompanhamento pedagoacutegico na escola) b) promover a articulaccedilatildeo no espaccedilo da Universidade entre educaccedilatildeo integral e interculturalidade c) articular-se com o comitecirc gestor de recursos financeiros de sua

114

instituiccedilatildeo d) ofertar accedilotildeescursos de aperfeiccediloamento e) contribuir para o repositoacuterio dos materiais de formaccedilatildeo f) agilizar os procedimentos de afastamento do paiacutes (tracircmite interno das IES) g) definir arranjos que permitam realizar formaccedilotildees dentro das regiotildees de fronteira nos municiacutepios h) elaborar produtos finais resultantes de cada moacutedulo de formaccedilatildeo conjunta com outros paiacuteses i) articular as accedilotildees do PEIF com o Programa Institucional de Bolsa de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia (PIBIDCAPESMEC) e com o Programa Novos Talentos (CAPESMEC) j) induzir a inclusatildeo da temaacutetica interculturalidade na perspectiva da educaccedilatildeo integral na formaccedilatildeo inicial dos cursos de licenciatura e poacutes-graduaccedilatildeo e na pesquisa acadecircmica k) promover o uso das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo realizar o diagnoacutestico sociolinguiacutestico das comunidades participantes do PEIF

Dentre os princiacutepios expostos acima destaca-se a participaccedilatildeo das

universidades o que abre espaccedilo para o desenvolvimento de pesquisas da criaccedilatildeo

de novas metodologias e de avaliaccedilotildees do projeto e da formaccedilatildeo docente numa

perspectiva intercultural O entendimento de interculturalidade do Programa eacute

() nesse caso ativa a escola seraacute intercultural na medida em que haja a participaccedilatildeo efetiva de profissionais e de alunos das diversas culturas envolvidas na comunidade educacional (e que natildeo satildeo soacute bdquoduas‟ a cultura argentina e a cultura brasileira o que corresponderia a pensaacute-las como unidades homogecircneas) em todas as instacircncias de convivecircncia que satildeo proacuteprias da instituiccedilatildeo escolar (BRASIL ARGENTINA 2008 p 26)

O Boletim produzido pela publicaccedilatildeo Salto para o Futuro que complementa

as ediccedilotildees televisivas da TV Escola do Ministeacuterio da educaccedilatildeo em sua primeira

ediccedilatildeo de 2014 apresentou o tema das Escolas Interculturais Biliacutenguumles de Fronteira

A professora Eliana Rosa Sturza coordenadora do Programa das Escolas

Interculturais de Fronteira na Universidade Federal de Santa Maria e do Laboratoacuterio

Entre liacutenguas da Universidade Federal de Sergipe relata as experiecircncias e

aprendizados do programa em diferentes cidades localizadas na fronteira

A proposta metodoloacutegica foi analisada por Sturza (2010 2014) enfocando a

experiecircncia das crianccedilas brasileiras em Uruguaiana no Rio Grande do Sul cuja

aprendizagem eacute dentro e fora de sala de aula Em uma das escolas as crianccedilas

confundiram as professoras argentinas com enfermeiras do posto meacutedico pois

115

estas usam avental branco costume que natildeo eacute habitual no Brasil As professoras

argentinas por sua vez estranharam as manifestaccedilotildees inicialmente constantes dos

alunos brasileiros que queriam abraccedilaacute-las tocaacute-las beijaacute-las ldquoEste eacute um traccedilo

cultural do comportamento brasileiro muito identificado pelo bdquoestrangeiro‟ Neste

caso nem tatildeo estrangeiro mas um vizinho do outro lado do riordquo (STURZA 2014

p26)

A experiecircncia dos professores brasileiros no projeto possibilitou que eles

tivessem contato direto com o sistema educacional do vizinho e esse contato gerou

novos espaccedilos de discussatildeo sobre o trabalho docente mediante as comparaccedilotildees

sobre os conteuacutedos relaccedilatildeo aluno-professor da infraestrutura das escolas e ateacute a

autonomia da gestatildeo escolar

Nesta experiecircncia os professores foram conhecendo o funcionamento e a estrutura do sistema educacional do paiacutes vizinho e percebendo como sistema brasileiro eacute autocircnomo em relaccedilatildeo ao sistema uruguaio ou argentino mais centralizado O aprendizado eacute de toda ordem ocorrendo entre os professores da escola e os das escolas parceiras ou seja argentinos e brasileiros debatem a educaccedilatildeo trocam ideias e fazem planejamento de projetos em conjunto (STURZA 2014 p25)

A metodologia tem como norte o ensino por Projetos de Aprendizagem (EPA)

modo de organizaccedilatildeo que permite o desenvolvimento de projetos localmente

envolvendo a participaccedilatildeo de toda a comunidade escolar ou outros grupos a

depender da necessidade do projeto

Ensino via Projetos de Aprendizagem (EPA) faz com que as crianccedilas participem de projetos biliacutengues que prevecircem tarefas a serem realizadas em portuguecircs e em espanhol Satildeo coordenadas respectivamente pela docente brasileira ou argentina de acordo com o niacutevel de conhecimento do idioma que possuam e de acordo com o planejamento conjunto realizado periodicamente por professoras argentinas e brasileiras com suas respectivas assessorias pedagoacutegicas (BRASIL 2008 p 28)

Nesta perspectiva os temas das aulas e os projetos de aprendizagem a

serem desenvolvidos parte dos interesses dos alunos Cabe agraves professoras

argentinas e brasileiras o desenvolvimento do programa em conjunto Sturza (2014)

ilustra alguns temas que surgiram da curiosidade dos alunos e que por sua vez

podem ser trabalhadas em conjunto Um exemplo nasce da pergunta porque os

dentes caem Curiosidade comum entre crianccedilas de 7 anos por estarem vivenciado

a troca dos dentes A fim de explicar esse processo as atividades partiram da leitura

116

da histoacuteria ldquoFada dos Dentesrdquo ou do ldquoRaacuteton Peacuterezrdquo a primeira contada no Brasil e a

segunda no Uruguai As tarefas realizadas satildeo como um ldquopasso a passordquo a partir de

um mapa conceitual33

Do ponto de vista normativo todos os trabalhos desenvolvidos devem estar

em acordo com as diretrizes curriculares de cada paiacutes juntamente com a proposta

curricular do projeto Sobre as formas de avaliaccedilatildeo dos alunos o documento da

versatildeo preliminar do programa visa agrave metodologia de bdquoportifoacutelio‟ ldquodefinido como o

acompanhamento realizado a partir de evidecircncias de variadas naturezas do trabalho

realizado pelos alunos individual e coletivamenterdquo (BRASIL 2008 p29) O portifoacutelio

eacute uma forma de organizar o conjunto de memoacuterias de obras realizadas pelo aluno

podendo ser realizadas individualmente ou em grupo O objetivo eacute mostrar a

trajetoacuteria de cada estudante no decorrer de um projeto permitindo que o professor

possa avaliar esse aluno atraveacutes das informaccedilotildees contidas no portfoacutelio

354 O PEIF em Foz do Iguaccedilu

O PEIF teve iniacutecio na cidade de Foz do Iguaccedilu em abril de 2006 a partir do

encontro com todos os envolvidos na cidade de Puerto Iguazuacute A primeira instituiccedilatildeo

responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo do projeto foi a Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo

Em 2014 a Universidade Federal da Integraccedilatildeo Latino-Americana (UNILA) passou a

coordenar o programa

As escolas escolhidas para realizaccedilatildeo do projeto foram a Escola municipal

Adele Zanotto Scalco em Foz do Iguaccedilu e a Escuela 164 em Puerto Iguazuacute As

escolas foram escolhidas pela localizaccedilatildeo estrateacutegica ambas ficam proacuteximas da

regiatildeo da Ponte Tancredo Neves ligaccedilatildeo entre os dois paiacuteses (CARVALHO 2012)

33

Mapas conceituais satildeo ferramentas graacuteficas para a organizaccedilatildeo e representaccedilatildeo do conhecimento Eles incluem conceitos geralmente dentro de ciacuterculos ou quadros de alguma espeacutecie e relaccedilotildees entre conceitos que satildeo indicadas por linhas que os interligam As palavras sobre essas linhas que satildeo palavras ou frases de ligaccedilatildeo especificam os relacionamentos entre dois conceitos Noacutes definimos conceito como uma regularidade percebida em eventos ou objetos designada por um roacutetulo Na maioria dos conceitos o roacutetulo eacute uma palavra embora algumas vezes usemos siacutembolos como + ou e em outras usemos mais de uma palavra Proposiccedilotildees satildeo enunciaccedilotildees sobre algum objeto ou evento no universo seja ele natural ou artificial Elas contecircm dois ou mais conceitos conectados por palavras de ligaccedilatildeo ou frases para compor uma afirmaccedilatildeo com sentido Por vezes satildeo chamadas de unidades semacircnticas ou unidades de sentido (CANAtildeS NOVAK 2010 p10)

117

Cabe destacar que a escola de Foz do Iguaccedilu eacute a uacutenica que participa do projeto no

Paranaacute conforme informaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (2015)

Sobre a estrutura do programa o relatoacuterio produzido pela Secretaria

Municipal da Educaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu na ocasiatildeo da primeira reuniatildeo entre a

equipe dos dois paiacuteses em abril de 2006 destaca os principais acordos para a

implementaccedilatildeo do programa nas escolas

Inicialmente o projeto atenderia duas turmas do ensino fundamental de cada

instituiccedilatildeo no turno da tarde todas as quartas-feiras

As aulas biliacutenguumles seriam ministradas no periacuteodo contra turno

A metodologia escolhida foi a de projetos pedagoacutegicos interculturais

A cada quinze dias os planejamentos das aulas seriam feitos com os

professores envolvidos no projeto com alternacircncia dos turnos de encontro e

das escolas

No mesmo relatoacuterio constam as comparaccedilotildees quanto agrave estrutura fiacutesica das

escolas A escola brasileira possui melhor estrutura fiacutesica pois possui videoteca

centro de esportes biblioteca sala de computaccedilatildeo e ar condicionado dentro das

salas de aula A escola argentina natildeo dispotildee desta estrutura Apesar destas

diferenccedilas as crianccedilas da escola brasileira e argentina natildeo possuem maiores

diferenccedilas quanto ao conhecimento pedagoacutegico

No iniacutecio do programa seu objetivo estava voltado para trabalhar com os

aspectos histoacutericos e culturais do paiacutes vizinhos tais como as muacutesicas roupas e as

comidas tiacutepicas de cada naccedilatildeo Depois por meio da assessoria do Instituto de

Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento de Poliacuteticas Linguiacutesticas (IPOL) no Brasil e

do Ministerio de Cultura Educacioacuten Ciencia y Tecnologiacutea de la Provincia de

Misiones (MCECyT) na Argentina passaram a adotar a pedagogia de projetos

(ALBUQUERQUE SOUSA 2014) O tema eacute escolhido pelos alunos e planejado

pelas professoras dos dois paiacuteses

Com a finalidade de conhecer o histoacuterico do PEIF a partir da experiecircncia

daqueles que estatildeo envolvidos diretamente no programa foram realizadas

entrevistas com duas professoras brasileiras ligadas ao programa e que ministram

aulas na argentina As entrevistadas tiveram seus nomes preservados A fim de

118

identificaacute-las adotamos os seguintes nomes fictiacutecios Tacircnia que participou do

projeto por cinco anos e Clara que entrou no programa em 2015

A professora Tacircnia que permaneceu no projeto por cinco anos na ocasiatildeo de

sua entrada relata que o programa na Argentina passava por um processo de

transiccedilatildeo Em 2009 eles inauguraram a Escuela Intercultural Biliacutengue 2 para atender

o PEIF Hoje o cruce (termo utilizado pelas professoras que realizam a travessia

para lecionar no paiacutes vizinho) eacute realizado duas vezes na semana sendo que o

nuacutemero de turmas para as duas escolas envolvidas satildeo as mesmas

Ateacute 2013 o nuacutemero de turmas atendidas por escola eram oito distribuiacutedas

entre quatro professoras com carga- horaacuteria correspondente a 2 horas As seacuteries

atendidas eram do 1ordm ao 4ordm ano No Brasil as professoras argentinas fazem o cruce

duas vezes na semana enquanto as brasileiras todas as quartas-feiras pela manhatilde

A partir de 2014 o nuacutemero de professoras brasileiras a participarem do projeto foi

reduzido pela metade

Assim como Sturza (2014) apontou esse processo de travessia possui um

significado aleacutem de ir ateacute uma escola estrangeira e colocar em praacutetica o programa

Trata-se de um processo de aprendizagem que vai desde as reflexotildees referentes

aos diferentes aspectos educacionais presentes nos dois paiacuteses ateacute os significados

que o programa exerce nos aspectos pessoais

Se eu tiver oportunidade eu volto porque eu gosto do projeto E o projeto eacute uma das minhas paixotildees eu gostei Eacute uma coisa super interessante eacute diferente acho que eacute um crescimento na profissatildeo da gente (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

As comparaccedilotildees em relaccedilatildeo agraves diferentes infraestruturas das escolas dos

dois paiacuteses satildeo inevitaacuteveis Tacircnia aponta que apesar da estrutura fiacutesica da escola

argentina ser muito boa os recursos didaacuteticos satildeo precaacuterios percebendo entatildeo os

contrastes que haacute nas poliacuteticas educacionais

A estrutura da escola laacute eacute muito boa eacute maravilhosa mas assim eacute tudo muito burocraacutetico no sentido de organizaccedilatildeo da escola Laacute eacute totalmente diferente aqui a gente tem fartura de material opccedilatildeo de coisa de tudo laacute bdquofarta‟ As salas satildeo uma penumbra com pouca iluminaccedilatildeo e tudo porque o governo natildeo daacute apoio nenhum como aqui tambeacutem (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

119

Outro ponto de comparaccedilatildeo satildeo os salaacuterios A professora Tacircnia aponta que o salaacuterio

da professoras argentinas eacute o dobro enquanto no Brasil o incentivo aos professores

eacute uma especulaccedilatildeo

Uma remuneraccedilatildeo diferente () ah isso aiacute jaacute foi questionado vaacuterias vezes que noacutes teriacuteamos um diferencial no salaacuterio a escola como um todo teria Se tivesse algum incentivo eu duvido que haveria resistecircncia em estar participando (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Quando a professora diz que ldquoeu duvido que haveria resistecircncia em estar

participandordquo ela se refere agrave resistecircncia de alguns professores em aderir ao PEIF

Quando questionada sobre o processo de escolha dos professores para o projeto

ela descreve que o correto eacute a rotatividade A cada um ou dois anos uma professora

ou professor deve assumir o projeto mas na praacutetica a direccedilatildeo eacute quem escolhe

A intenccedilatildeo do projeto eacute que se faccedila rodiacutezio soacute que aqui eacute por indicaccedilatildeo mesmo ldquoEsse ano vai ser vocecirc e ponto finalrdquo Porque por um bom tempo ficaram praticamente as mesmas pessoas igual eu permaneci por muito tempo (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

No iniacutecio do PEIF natildeo havia na carga horaacuteria oficial da escola a

disponibilidade para o preparo das aulas do programa O grupo que fazia parte do

projeto deveria encontrar uma brecha para organizar suas aulas

() depois do almoccedilo eu ia conciliando assim ia preparando a aula para as minhas turmas daqui para laacute e depois no ano passado34 quando entraram as outras professoras que melhorou comeccedilou a melhorar A prefeitura reduziu para dois professores e liberou a manhatilde para o projeto daiacute a escola se organizava como fosse possiacutevel Soacute que aumentou o nuacutemero de dias laacute (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Quando perguntada sobre a receptividade do projeto por parte dos

professores Tacircnia responde que havia outros motivos para resistecircncia

Tanto laacute quanto caacute haacute resistecircncia de professores tanto para trabalhar no projeto tanto para receber o projeto na escola Algumas coisas

34

Referente ao ano de 2014 tendo em vista que as entrevistas foram realizadas julho de 2015

120

avanccedilaram algumas estacionaram e muitas tecircm que melhorar ainda Porque ateacute agora o uacutenico objetivo () eacute um projeto lindo maravilhoso muito bom soacute que natildeo eacute feito na iacutentegra Poliacuteticos criam essas coisas e jogam e natildeo datildeo apoio Criam esses projetos porque foi na eacutepoca do Mercosul que foi criado soacute que natildeo datildeo apoio E aiacute a cada mudanccedila de governo eacute aquela burocracia porque um Ministro entra o outro sai o que entra natildeo sabe de nada do que estaacute acontecendo o que saiu deixa tudo engavetado natildeo passa pro outro () eacute aquela coisa (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Evidencia-se aiacute a criacutetica da professora Tacircnia agrave falta de acompanhamento por

parte do Estado em dar continuidade aos projetos O mesmo ocorre quanto aos

repasses de verba Do ponto de vista legal somente apoacutes a criaccedilatildeo da Portaria nordm

798 de 19 de junho de 2012 quando instituiu o Programa Escolas Interculturais de

Fronteira se pode falar em repasses de verba Em 2014 o Fundo Nacional de

Desenvolvimento da Educaccedilatildeo publicou como seriam feitos os repasses a escolas

de educaccedilatildeo baacutesica do Brasil para promover atividades em periacuteodo integral Dentro

desse grupo35 encontram-se os valores destinados agraves escolas que fazem parte do

Programa Escolas Interculturais de Fronteira no entanto a distribuiccedilatildeo de recursos

segue confusa

Segundo as professoras Tacircnia e Clara houve tambeacutem alguns retrocessos no

decorrer do projeto As duas destacam o processo de formaccedilatildeo dos professores

para atuarem no PEIF Em Foz do Iguaccedilu a universidade que coordena a formaccedilatildeo

para os professores eacute a UNILA entretanto as professoras entrevistadas se

queixam da ausecircncia da instituiccedilatildeo no ano de 2015

No ano passado acho que soacute teve uma formaccedilatildeo que ela (UNILA) proporcionou Mas nem foi a Unila quem acabou dando essa formaccedilatildeo foram as nossas supervisoras aqui Eu arrumei o material com as professoras que jaacute nem estatildeo mais aqui () eu nunca mais tive essas formaccedilotildees no comeccedilo noacutes tivemos vaacuterias (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

35

O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo publicou por meio da Resoluccedilatildeo nordm 14 de

2014 os detalhes de como seratildeo feito os repasses de verba para as escolas de educaccedilatildeo baacutesica a fim de promover atividades em periacuteodo integral e aos finais de semana De acordo com a Resoluccedilatildeo os montantes repassados seguiratildeo os moldes do Programa Dinheiro Direto na Escola As escolas envolvidas satildeo aquelas que desenvolveratildeo atividades em periacuteodo integral podendo ser urbanas rurais ou no caso das escolas do PEIF a promoccedilatildeo do ensino biliacutenguumle (BRASIL 2016) Disponiacutevel em lthttpwwwbrasilgovbreducacao201406fundo-destina-verba-para-garantir-atividades-da-educacao-integralgt Acesso em 14102015

121

A professora Clara quando questionada se jaacute passou por alguma formaccedilatildeo

responde que em 2015 teve uma que partiu da iniciativa dos professores da escola

Foi para os professores novos que trabalham aqui para conhecerem o projeto pois muitos professores sabem que existe o projeto sabe mais ou menos como ele funciona sabe assim que tem professoras de laacute que vem pra caacute e professoras daqui que vai pra laacute e soacute Mas o funcionamento mesmo tinha bastante professor que natildeo conhecia Daiacute agrave escola tomou iniciativa de fazer um dia todo de formaccedilatildeo Foram levantadas as dificuldades que cada um sentia ou no que poderia mudar mas ateacute agora ningueacutem deu um parecer daquilo ficou no papel (Entrevista realizada com a professora Clara em julho de 2015)

O que chama atenccedilatildeo na fala da professora Clara eacute a iniciativa local A

comunidade escolar organizou um curso de formaccedilatildeo para os professores Nesse

sentido abre possibilidades para que ainda que as poliacuteticas tenham sido em sua

elaboraccedilatildeo sem discussatildeo com as escolas no momento em que se inicia na

praacutetica pode ser ressignificada Aleacutem disso faz-se necessaacuterio maior estreitamento

com a instituiccedilatildeo responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo do PEIF pois conforme a fala das

professoras entrevistas eacute importante a formaccedilatildeo dos professores envolvidos no

projeto

Tacircnia quando questionada se ela conhecia o processo de elaboraccedilatildeo em que

surgiu o PEIF embora goste do projeto deixa claro que a iniciativa na sua

concepccedilatildeo foi arbitraacuteria

Noacutes bdquoengolimos goela a baixo‟ Soacute que natildeo tem apoio nenhum () assim eacute uma coisa muito bonita eacute um projeto maravilhoso Na verdade para ser um projeto mesmo tinha que ter a integraccedilatildeo tanto de noacutes professores funcionaacuterios e tudo mas principalmente das crianccedilas Conhecer a realidade um do outro soacute que isso noacutes nunca conseguimos (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Uma das criacuteticas evidenciadas no decorrer desta dissertaccedilatildeo eacute que o

processo histoacuterico de elaboraccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais tem origem

distante dos interesses dos grupos interessados por elas Mesmo quando eacute fruto das

demandas sociais elas passam por um confronto de interesses cujo resultado

culmina em leis projetos programas e curriacuteculos que nascem ambiacuteguos

(FRIGOTTO 2002)

122

Santos (et al 2015) em artigo sobre a construccedilatildeo de conhecimento em

Linguiacutestica Aplicada com foco no letramento considerando os conflitos entre o

conhecimento local o campo acadecircmico e os programas governamentais

descrevem as experiecircncias vivenciadas em um processo de formaccedilatildeo de

professores em uma escola puacuteblica na Triacuteplice Fronteira (Brasil Paraguai e

Argentina) As autoras chamam atenccedilatildeo para a resistecircncia de alguns professores

que podem interpretar a interferecircncia externa natildeo como uma cooperaccedilatildeo mas como

ameaccedila pela ldquoimposiccedilatildeo de um conhecimento considerado superior e

consequumlentemente tambeacutem uma desqualificaccedilatildeo do trabalho ali construiacutedordquo

(SANTOS et al 2015p 51) No caso do PEIF a criacutetica da professora Tacircnia

encontra-se na ausecircncia da participaccedilatildeo dos professores diretamente envolvidos no

programa e da falta de integraccedilatildeo entre os alunos dos dois paiacuteses envolvidos

355 As fronteiras do projeto

Quando perguntado agraves professoras quais satildeo as possiacuteveis sugestotildees para

melhorias para o projeto elas sugerem que os alunos possam fazer parte do cruce

No entendimento delas seria importante a integraccedilatildeo entre esses alunos Poreacutem a

rigidez das aduanas com relaccedilatildeo agrave documentaccedilatildeo e agrave travessia de crianccedilas na

ausecircncia dos pais somadas a toda responsabilidade que isso acarretaria torna

difiacutecil imaginar essa possibilidade Com isso o intercacircmbio dos alunos se reduz ao

envio de viacutedeos cartas e fotografias

Tacircnia acrescenta ainda que os proacuteprios professores correm um certo risco ao

fazer a travessia Em caso de acidente natildeo haacute nada que possa comprovar que elas

estavam em horaacuterio de trabalho

A gente vai pra laacute com a cara e a coragem noacutes natildeo temos nada que nos assegure Que Deus o livre se acontece uma desgraccedila Natildeo sei como que vai ficar porque natildeo tem nada que nos assegure Noacutes natildeo temos um seguro de vida nada que nos ampare legalmente (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Quando perguntadas sobre as dificuldades referentes ao bilinguumlismo as

professoras expressam que os alunos argentinos compreendem bem o portuguecircs e

alguns falam portunhol Satildeo curiosos conhecem as novelas os jornais e muacutesicas

123

brasileiras Este fato eacute atribuiacutedo ao intenso contato com os meios de comunicaccedilatildeo

brasileiro principalmente a televisatildeo explica Tacircnia

No comeccedilo eu achei que ia ter dificuldade de entendimento eacute claro que a gente natildeo entende cem por cento mas eu natildeo vi dificuldade nenhuma porque laacute eles satildeo muito receptivos Laacute as crianccedilas participam muito mais do que aqui e assim quanto agrave liacutengua natildeo tem dificuldade nenhuma porque as crianccedilas falam o portunhol e muitos o portuguecircs perfeitamente e eles nos entendem perfeitamente Laacute eles seguem as nossas programaccedilotildees da TV falam que aprendem o portuguecircs na TV na tela Eles amam o portuguecircs eles amam a programaccedilatildeo nossa aqui a gente chega laacute pelo menos nas salas que eu entrava eles querem falar sobre a novela eles querem conversar sobre as nossas programaccedilotildees e quando eu os questiono sobre onde eles aprenderam tudo aquilo eles respondem na tela professora na tela (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

Os alunos brasileiro tecircm muita dificuldade com o espanhol Tacircnia explica que

geralmente as professoras brasileiras tecircm que permanecer em sala de aula para

auxiliar as professoras argentinas Retomo os aspectos histoacutericos da cidade para

explicar que o espanhol foi uma liacutengua presente no ensino do municiacutepio mas que foi

retirada do curriacuteculo acrescentando a importacircncia de se promover novamente a

inserccedilatildeo do espanhol nos curriacuteculos baacutesicos para as escolas situadas em fronteira

ou que pelo menos as escolas que integram PEIF

Creio eu que pra nossa cidade aqui () noacutes vivemos em uma fronteira aonde convivemos com dois paiacuteses que fala espanhol entatildeo natildeo que o inglecircs natildeo seja importante mas pelo menos na rede puacuteblica ou ateacute mesmo na particular o espanhol deve fazer parte da grade ou pelo menos nas escolas que tem esse projeto (Entrevista realizada com a professora Tacircnia em julho de 2015)

356 PEIF Uma alternativa na fronteira

Com base na literatura que destaca a importacircncia de se analisar as poliacuteticas

puacuteblicas foi possiacutevel verificar que o Programa Escolas Interculturais Biliacutengues

possui algumas falhas advindas de seu processo de implementaccedilatildeo Dos atores

envolvidos nesse processo os principais satildeo oriundos dos Ministeacuterios da Educaccedilatildeo

a partir de acordos bilaterais Nesse sentido a verticalizaccedilatildeo da implementaccedilatildeo

originou alguns problemas como resistecircncia em aderir ao projeto divergecircncias de

turnos e conflitos de carga horaacuteria das escolas envolvidas Esses problemas talvez

124

pudessem ser amenizados caso os professores e demais membros da equipe

pedagoacutegica das escolas fizessem parte do processo de estruturaccedilatildeo do programa e

natildeo apenas da execuccedilatildeo

A inserccedilatildeo do Programa Escolas Interculturais Biliacutenguumles na cidade de Foz do

Iguaccedilu enquanto uma poliacutetica linguumliacutestica e ao mesmo tempo integracionista

demonstrou alguns ranccedilos Primeiro os documentos de 2008 sobre os primeiros

impactos do programa trata do tema resistecircncia do professor ao aderir ao programa

tambeacutem constado na fala da professora entrevistada que criticou o caraacuteter arbitraacuterio

das poliacuteticas educacionais e de como elas chegam agraves escolas

Eacute importante assinalar que do processo de implementaccedilatildeo o PEIF comeccedilou

sem um marco oficial para a sua institucionalizaccedilatildeo Segundo o ldquoPrograma de

Promoccedilatildeo do Desenvolvimento da Faixa de Fronteirardquo (2010) de 2004 ateacute 2010

ainda natildeo havia as bases legais para implementaccedilatildeo do Programa Isso deu

margem para que em vaacuterias anaacutelises o Programa fosse descrito como projeto pois

natildeo havia um estatuto ou algo que delimitasse o que caracterizava essa poliacutetica

Arbitraacuteria tambeacutem eacute a ausecircncia de discussotildees mais profundas sobre a

implementaccedilatildeo de uma poliacutetica linguiacutestica em regiatildeo de fronteira Nas entrevistas

constatou-se que os alunos argentinos possuem mais proximidade com a liacutengua

portuguesa e em contrapartida os alunos brasileiros demonstraram pouca

intimidade com a liacutengua portuguesa Sturza (2006) explica que enquanto no campo

internacional o espanhol deteacutem certo status se comparado ao portuguecircs na

fronteira esse papel eacute invertido pois argentinos da regiatildeo consideram o portuguecircs

como liacutengua de mais valor

Como pano de fundo desta discussatildeo encontra-se o Estado-naccedilatildeo O Brasil eacute

uma potecircncia regional36 o que pode contribuir tanto para o imaginaacuterio dos brasileiros

quanto de argentinos da regiatildeo ao considerarem os aspectos de nossa cultura isso

inclui nossa liacutengua oficial como superior ao espanhol Outro aspecto relevante eacute a

expressiva presenccedila dos meios de comunicaccedilatildeo por meio dos sinais de raacutedio e TV

que chegam aos lares argentinos o que faz com que eles tenham um contato mais

36

Ver Moniz Bandeira (2008) Texto para o seminaacuterio sobre ldquoA poliacutetica exterior do Brasil em sua

proacutepria visatildeo e na dos parceirosrdquo No artigo o autor cita os aspectos teoacutericos e histoacutericos que permitem caracterizar o Brasil enquanto uma potecircncia regional desde o seacuteculo XIX O que inclui sua dimensatildeo territorial seu poderio econocircmico e militar Disponiacutevel emlt httpwwwespacoacademicocombr09191bandeirapdf gt Acesso em 17112015

125

intenso com a liacutengua por meio dos programas de TV como as novelas citadas pela

professora entrevistada

O programa possui outras lacunas Eacute preciso estabelecer um consenso sobre

o orccedilamento para o programa a fim de fomentar a formaccedilotildees dos professores

manter uma estrutura que possibilite o transporte dos professores com seus

materiais didaacuteticos Contudo em termos de poliacutetica educacional para fronteira eacute a

primeira destinada para regiotildees de fronteira o que significa um certo avanccedilo para a

regiatildeo Eacute importante destacar que o PEIF eacute uma poliacutetica multilateral envolve outros

paiacuteses do Mercosul o que pode ser um exemplo de cooperaccedilatildeo para a promoccedilatildeo de

outras poliacuteticas educacionais

Eacute pioneirismo do Programa por meio da poliacutetica educacional para fronteira

internacional possuir como eixo a funccedilatildeo integradora onde o Mercosul tornou-se a

instituiccedilatildeo que fomentou a ideia a fim de promover programas que ultrapassam as

relaccedilotildees meramente econocircmicas entre os paiacuteses-membros A avaliaccedilatildeo inicial do

Programa mostrou que alguns pontos devem ser repensados Dos relatoacuterios

analisados constam poucos registros por parte dos professores sobre o processo de

aprendizado da liacutengua por parte dos alunos brasileiros Seria fundamental que o

mecanismo de avaliaccedilatildeo do Programa fosse aprimorado com instrumentos capazes

de captar como se daacute o programa em sala de aula mas conforme expresso aqui no

Brasil satildeo poucos os estudos e metodologias de avaliaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

126

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A relaccedilatildeo Estado-naccedilatildeo fronteira e poliacuteticas educacionais foram agraves palavras-

chave que nortearam esta dissertaccedilatildeo A hipoacutetese inicial eacute de que as poliacuteticas

educacionais principalmente as direcionadas para todo o ensino em niacutevel nacional

natildeo contempla as especificidades presentes na fronteira de Foz do Iguaccedilu Desse

modo para o desenvolvimento da hipoacutetese de trabalho buscou-se compreender um

pouco da histoacuteria da educaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu e suas particularidades por ser

uma cidade de fronteira

No primeiro capiacutetulo buscamos apresentar os principais conceitos que

norteiam a palavra fronteira Segundo a etimologia a palavra eacute de origem latina Foi

utilizada pela primeira vez no seacuteculo XVIII para estabelecer limites entre exeacutercitos

em conflito deslizando para as definiccedilotildees de fronteira do ponto de vista geograacutefico

geopoliacutetico e socioloacutegico (BECKER 2007 ALBUQUERQUE 2010 SILVA 2010)

Um dos principais objetivos deste capiacutetulo foi de apresentar a fronteira enquanto

uma regiatildeo em que eacute possiacutevel observar os principais instrumentos do Estado para o

construto da naccedilatildeo tais como a imprensa a escola e o exeacutercito

Dentro deste estudo a instituiccedilatildeo escolar foi o centro da pesquisa Com isso

foram apresentadas resultados de pesquisas anteriores (PEREIRA 2009 SOUZA

RODRIGUES 2009 TERENCIANI 2011) que destacam a relaccedilatildeo da escola na

fronteira sob diferentes perspectivas principalmente o da inserccedilatildeo do aluno oriundo

de outro paiacutes que faz fronteira com o Brasil e os principais desafios encontrados por

ele e para a escola Os dados apresentados neste capiacutetulo apontam que quando se

trata de investimentos em poliacuteticas puacuteblicas para regiatildeo de fronteira internacional o

Brasil tem priorizado as poliacuteticas de seguranccedila conforme os trabalhos de Franccedila e

Dorfman (2014) Trata-se de informaccedilotildees que vatildeo em direccedilatildeo aos aspectos

histoacutericos da funccedilatildeo do Estado e das concepccedilotildees de soberania e territoacuterio que

foram apresentadas no iniacutecio deste capiacutetulo

O segundo capiacutetulo apresentou a gecircnese das primeiras escolas na cidade de

Foz do Iguaccedilu sempre vinculadas aos outros aspectos como os fatores econocircmicos

e sociais Demonstrou-se que a formaccedilatildeo das escolas de Foz do Iguaccedilu antes

mesmo da fundaccedilatildeo da municipalidade contou com a presenccedila de estrangeiros que

na ausecircncia de um ensino formal criavam as suas proacuteprias escolas (WACHOWICZ

127

1984 SBARDELOTTO 2009) Essas escolas foram fechadas no periacuteodo

nacionalista momento em o governo brasileiro buscava a conformaccedilatildeo de uma

identidade e integraccedilatildeo nacional para tal conforme Lemiechek (2014) a criaccedilatildeo do

Territoacuterio Federal do Iguaccedilu em 1943 possibilitou maior controle das escolas

principalmente das escolas estrangeiras

Identificou-se ainda que em meados da deacutecada de 1970 nos relatoacuterios

sobre a situaccedilatildeo de Foz do Iguaccedilu no campo educacional havia uma tendecircncia em

depositar no aluno a culpa do fracasso escolar Nesse caso os alunos oriundos do

Paraguai e da Argentina eram considerados os mais fracos e ldquoatrapalhavamrdquo o

desenvolvimento do restante da turma ou seja a diferenccedila interpretada como um

problema para escola a liacutengua do outro como um entrave

O capiacutetulo trecircs sobre as poliacuteticas puacuteblicas para educaccedilatildeo apresenta um

breve histoacuterico das poliacuteticas educacionais brasileiras evidenciando que elas satildeo

fruto do contexto ao qual se inserem o periacuteodo ditatorial evidenciou a ausecircncia da

populaccedilatildeo no processo criaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais que por sua vez eram

controladas pelo Estado A partir do periacuteodo de abertura democraacutetica ateacute os dias

atuais as poliacuteticas educacionais passaram por inuacutemeras mudanccedilas Muitas

nasceram a partir das discussotildees oriundas de movimentos sociais das discussotildees

acadecircmicas etc Conforme Das e Poe (2004) o ldquoEstado eacute constantemente

refundado em suas formas de ordenar e fazer leis sugerindo que as margens satildeo

ldquodecorrecircncia e implicaccedilatildeo necessaacuteria do Estado assim como a exceccedilatildeo eacute um

componente necessaacuterio da regrardquo (DAS e POE 2004 p4)

Nesta premissa ao se analisar as principais poliacuteticas educacionais brasileiras

identificou-se que a questatildeo da diversidade cultural presente nos documentos tende

a generalizaccedilatildeo e homogeneizaccedilatildeo dada agrave superficialidade dos documentos Ainda

que represente um grande avanccedilo ao tornar obrigatoacuterio o ensino da cultura afro-

brasileira histoacuteria da Aacutefrica e indiacutegena nas escolas puacuteblicas e privadas brasileiras

quando chegamos agrave fronteira identificamos diversidades para aleacutem dessas duas

poliacuteticas

Tais princiacutepios de universalizaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais satildeo o espelho

de um Estado que se formou tentando ter como princiacutepio legal o tratamento igual da

populaccedilatildeo algo que soacute acentua as desigualdades existentes na medida em que o

diferente eacute tratado como um problema a ser solucionado Com esta noccedilatildeo o Estado

128

deixa de ser reconhecido como um importante ator na reproduccedilatildeo das

desigualdades para ser considerado a uacutenica soluccedilatildeo para os problemas sociais

Algumas pesquisas realizadas em escolas presentes em regiotildees de fronteira

constataram a erronia praacutetica de culpabilizar os alunos e professores pelo sucesso

ou fracasso escolar satildeo os professores que natildeo tem formaccedilatildeo satildeo os brasiguaios

argentinos e paraguaios com sua bdquohibridizaccedilatildeo linguiacutestica‟ satildeo os aacuterabes (colocados

em uma uacutenica caixa como se todos viessem do mesmo paiacutes) satildeo os alunos

indiacutegenas que chegam nas escola falando bdquoapenas‟ o guarani As pessoas tornam-se

problema

No caso de Foz do Iguaccedilu o perfil dos alunos que frequumlenta as instituiccedilotildees

escolares demonstra que os conceitos de cidadania natildeo satildeo riacutegidos se (des)fazem

na fronteira Os alunos que chegam aos espaccedilos escolares fronteiriccedilos natildeo

necessariamente assimilaratildeo a liacutengua portuguesa como uacutenica e oficial Ao mesmo

tempo estes alunos trazem consigo conhecimentos adquiridos de seu paiacutes de

origem mas o processo de equivalecircncia de estudos acaba por negar esses

conhecimentos que para serem validados devem ser bdquotraduzidos‟ para o portuguecircs

Para aleacutem do problema linguiacutestico temos a questatildeo da integraccedilatildeo desse

aluno no ambiente escolar que eacute ao mesmo tempo permeada por tensotildees mas

tambeacutem pela aproximaccedilatildeo com o outro Essas relaccedilotildees merecem atenccedilatildeo da escola

a fim de evitar manifestaccedilotildees xenofoacutebicas preconceituosas estigmatizadas e de

inferiorizaratildeo

A primeira hipoacutetese do trabalho me levou a pensar apenas na relaccedilatildeo Estado

Nacional e poliacuteticas educacionais para regiatildeo de fronteira Poreacutem os vazios

encontrados ao se analisar essas poliacuteticas e o modo como o Estado se faz presente

e ao mesmo distante da fronteira levou-me a refletir sobre a emergecircncia de outras

pedagogias

Para outros sujeitos outras pedagogias (ARROYO 2015) Paulo Freire em

sua obra a Pedagogia do Oprimido fala aos educadores que eacute preciso ter ldquoum

profundo respeito pela identidade cultural dos alunos e das alunas () implica

respeito pela linguagem do outro pela cor do outro o gecircnero do outro outrordquo

(FREIRE 2001 p60)

Conhecer de perto uma poliacutetica educacional para a fronteira do ponto de vista

institucional e das poliacuteticas de governo possibilitou-me a constatar contradiccedilotildees e

complexidades de uma poliacutetica que envolve natildeo apenas o campo das relaccedilotildees

129

internacionais mas o diaacutelogo na construccedilatildeo de um curriacuteculo as implicaccedilotildees legais

para o tracircnsito de pessoas na fronteira os questionamentos sobre as reais intenccedilotildees

do programa PEIF e de como esse programa foi concebido Pode-se considerar que

o PEIF foi a uacutenica poliacutetica puacuteblica analisada a partir dos dois eixos propostos no

iniacutecio do capiacutetulo terceiro Mainardes (2006) Assim traccedilamos os aspectos que

envolveu o papel do Estado na elaboraccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica e buscamos por meio

da anaacutelise dos documentos e entrevistas demonstrar os principais aspectos

impactos que a poliacutetica exerceu na escola envolvida considerando principalmente

as experiecircncia dos atores envolvidos neste caso das professoras entrevistadas

Dos caminhos possiacuteveis para uma poliacutetica educacional na fronteira a

perspectiva intercultural ldquoreconhece e assume a multiplicidade de praacuteticas culturais

que se encontram e se confrontam na interaccedilatildeo entre diferentes sujeitosrdquo (FLEURI

2003 p12)

Por fim ao considerar a fronteira uma regiatildeo que engloba as cidades de Foz

do Iguaccedilu Puerto Iguazuacute e Ciudad del Este a proposiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em

conjunto com os paiacuteses envolvidos satildeo importantes para atender as demandas

locais

130

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