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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA BRUNA NOGUEIRA FERREIRA DE SOUSA REESTRUTURAÇÃO SOCIOESPACIAL DA AVICULTURA NO CEARÁ FORTALEZA CEARÁ 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA

BRUNA NOGUEIRA FERREIRA DE SOUSA

REESTRUTURAÇÃO SOCIOESPACIAL DA AVICULTURA NO CEARÁ

FORTALEZA – CEARÁ

2017

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BRUNA NOGUEIRA FERREIRA DE SOUSA

REESTRUTURAÇÃO SOCIOESPACIAL DA AVICULTURA NO CEARÁ

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado

Acadêmico em Geografia do Programa de Pós-

Graduação em Geografia do Centro de

Ciências e Tecnologia da Universidade

Estadual do Ceará, como requisito parcial para

obtenção do grau de mestre em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Luiz Cruz Lima.

FORTALEZA – CEARÁ

2017

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À minha mãe, Dina, em quem

miro a mulher que sou.

À minha bisa, Raimunda, in

memoriam, dedico.

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AGRADECIMENTOS

Expresso meu imenso agradecimento a todos que, à sua maneira, colaboraram para que a

realização deste trabalho fosse possível.

Agradeço à minha mãe, Dina, por sua força e determinação inspiradoras que incessantemente

me fazem lembrar que é preciso continuar na caminhada.

Ao meu pai José (in memoriam) e aos meus irmãos Bruno, Breno e Marcelo.

À minha bisavó Raimunda (in memoriam). Sua humanidade, bravura, esperança e

perseverança permanecem vivas nas minhas lembranças.

À minha tia Cledna, meu tio Erodite Júnior e ao meu pequeno primo Ismael, por todo o

acalanto e alegria que suas companhias trazem para minha vida quando estamos em convívio.

A Raimundo e Denilde Lopes, por todo o apoio desde o momento em que os conheci, pelos

encontros sempre tão acolhedores e pelas palavras do mais amistoso carinho e incentivo.

À Julio Lira e Lúcia Ferreira, pelas conversas de incentivo pessoal, por todo aprendizado que

obtive, pelas novas e poéticas experiências que me ajudaram também a reunir as energias

necessárias para continuar esse percurso.

A Tônio, Hermínia e Frida, pela alegre presença que sempre se propagava pelos quatro cantos

da casa e que tanto me ajudou a ganhar ânimo e prosseguir na pesquisa.

À Universidade Estadual do Ceará, aos seus professores e servidores, por todo o suporte

acadêmico oferecido durante o processo de formação na Geografia.

À Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP),

pelo apoio financeiro à pesquisa no período do mestrado.

À professora Denise Elias, a quem devo o incentivo à pesquisa acadêmica e a oportunidade

das vivências no Laboratório de Estudos Agrários (LEA).

Ao professor Luiz Cruz Lima, por toda a ajuda necessária na reta final do mestrado.

Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual do Ceará, pelo

aprofundamento do conhecimento geográfico que pude ter por meio dos professores durante

aulas, palestras e seminários.

Aos professores que durante o mestrado contribuíram para a minha formação acadêmica em

disciplinas e discussões acerca da pesquisa: Claudia Grangeiro (in memoriam), Zenilde

Baima, Otávio Lemos, José Meneleu, Juscelino Bezerra, Andrea Cavalcante, Lúcia Brito,

Rogério Haesbaert, Valter Cruz, Maria Tereza Paes, Marina Faccioli e Eduardo Chagas.

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Às professoras Alexsandra Muniz e Iara Gomes, pelos apontamentos feitos à pesquisa no

processo de qualificação. Aos professores Camila Dura e João César Abreu, por terem

aceitado participar do momento de defesa da dissertação.

Agradeço por ter tido o privilégio de conhecer pessoas muito queridas na Universidade, com

quem pude dividir grandes momentos de convívio acadêmico, descobertas, aflições,

superações, alegrias e aprendizados: Leandro, Kassia (e Ester também), Edivania, Camila,

Gilda, Érica, Elane, Beatriz, Thainá, Lucenir, Sidney, André e Fábio. Devo toda a gratidão

principalmente ao apoio e à amizade incondicionais de Leandro, que, com suas contribuições,

afetos e sua pura e até imoderada confiança neste trabalho, fizeram-me acreditar que era

possível e preciso prosseguir.

Agradeço especialmente a Leonardo Bruno, cuja afetuosa companhia foi sustento e superação

das pequenas e grandes dificuldades cotidianas neste percurso, sempre lembrando que era

preciso permanecer na perseverança. Sua paciência e carinho foram alentos para o difícil

processo de pesquisa científica e seguem sendo a força que move os meus dias em direção ao

porvir.

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Os homens não são máquinas, mas muitas

vezes, pela força das circunstâncias, são

obrigados a imitá-las, em seus gestos

automáticos, rotinas, comportamentos vazios.

Chegando mais perto, [...] o que vemos,

porém, são almas que se agitam, cheias de

vida, nas carcaças em que estão presas. Seres

apaixonados, para quem o sentido da vida é a

esperança.

(José Castello, em apresentação do livro O

apocalipse dos trabalhadores, de Valter Hugo

Mãe).

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RESUMO

A reestruturação produtiva pela qual as atividades agropecuárias vêm passando nas últimas

décadas, em que a ciência, a tecnologia e a informação são tidas como importantes forças

produtivas, provoca profundas transformações na produção do espaço brasileiro. Diante disso,

a produção avícola também ganha relevância como atividade que se insere nessa lógica da

reestruturação dos sistemas de produção, tornando-se lócus de reprodução do agronegócio e

do capital comercial ligado ao capital financeiro. Dessa forma, o objetivo desta pesquisa foi

discorrer sobre a nova configuração geográfica da avicultura no Ceará, a partir da

reestruturação produtiva em curso, caracterizando a configuração produtiva e socioespacial da

avicultura no Brasil, indicando os impactos da reestruturação produtiva na avicultura

cearense, evidenciando a reestruturação socioespacial da avicultura e a territorialização do

capital avícola no Ceará, analisando as novas dinâmicas territoriais observadas a partir da

reestruturação produtiva avícola e apresentando a configuração das relações sociais de

produção da avicultura cearense. Nossa metodologia esteve centrada na formação de bancos

de dados por meio de seleção de variáveis e indicadores; formação de hemeroteca; pesquisa

bibliográfica e trabalhos de campo. Destaca-se que a atividade avícola se desenvolve de

maneira sistemática nas últimas décadas no Estado do Ceará, que apresenta uma importante

expressividade no âmbito da região Nordeste. A produção estadual ainda é praticada de forma

preponderante nos municípios localizados na Região Metropolitana de Fortaleza, onde se

concentra grande parte dos fixos e fluxos relacionados ao setor. Através da análise das

relações socioespaciais de produção da avicultura cearense, observamos um conjunto de

novas dinâmicas territoriais ligadas a essa atividade, percebendo a rede de relações entre os

agentes sociais inseridos no processo produtivo avícola. Com a pesquisa, constatou-se que o

crescimento da atividade no Ceará vem trazendo consigo novas formas de reprodução do

capital a partir das mudanças na base tecnológica da produção avícola, as quais propiciaram

um maior controle do processo produtivo, e com isso uma maior produtividade,

proporcionando também um maior controle das relações de trabalho. Além disso, a avicultura

no Ceará se concentra cada vez mais nas grandes empresas especializadas na produção de

aves e ovos, que buscam ampliar seus investimentos e diversificar suas atividades, passando a

exercer um significativo controle da produção e do mercado avícolas. Esse quadro vem sendo

consideravelmente ampliado sobretudo em virtude da reestruturação produtiva do setor, que

eleva essas empresas a outros patamares de competitividade e de racionalização da produção

avícola, especialmente porque a avicultura cearense deixou de ser praticada somente em

moldes tradicionais e passou a ser realizada também em escala industrial, denotando o

advento na avicultura empresarial.

Palavras-chave: Avicultura. Relações sociais de produção. Reestruturação produtiva da

agropecuária. Dinâmicas territoriais.

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RÉSUMÉ

Le processus de restructuration que les activités agricoles ont subi au cours des dernières

décennies, dans lequel la science, la technologie et l’information sont considérés comme des

forces productives importantes, provoque des profonds changements dans l'organisation du

territoire brésilien. Par conséquent, la production de volailles gagne aussi importance comme

une activité qui s’insère dans la logique de restructuration des systèmes de production, ce qui

fait d’elle un locus de reproduction du capital agroalimentaire et commercial. Ainsi, l’objectif

de cette recherche est de discuter sur la nouvelle configuration géographique de la production

de volailles au Ceará, à partir du processus de restructuration en cours. Notre méthodologie a

été axée sur la formation de bases de données; formation d’une hemeroteca; recherche

bibliographique et le travail sur le terrain. Il est à noter que l'activité de la volaille est

développée de façon systématique au cours des dernières décennies dans l’État de Ceará, qui

présente une expression importante dans le Nord-Est. La production du Ceará est encore

pratiquée de façon prépondérante dans les municipalités situées dans la région métropolitaine

de Fortaleza, où la plupart des fixes et des flux liés au secteur sont localisés. A partir de

l’analyse des relations socio-spatiales de la production de la volaille au Ceará, on observe un

ensemble de nouvelles dynamiques territoriales liées à cette activité, à travers lequel, il est

possible de comprendre le réseau de relations entre les agents sociaux inserés dans le

processus de production de volaille. Grâce à cette recherche, il a été constaté que la croissance

de l'activité en Ceará apporte avec elle de nouvelles formes de reproduction du capital à partir

des changements dans la base technologique de la production de volaille, qui ont fourni un

meilleur contrôle du processus de production, et donc une plus grande productivité, en offrant

une plus grande maîtrise des relations de travail. En outre, la volaille au Ceará est de plus en

plus concentrée dans les grandes entreprises spécialisées dans la production de volaille et

d'oeufs, qui cherchent à élargir leurs investissements et de diversifier ses activités, en

commençant à exercer un contrôle important sur la production et le marché de la volaille. Ce

cadre a été considérablement élargi principalement en raison de la restructuration du secteur

de la production, ce qui soulève ces entreprises à d’autres niveaux de compétitivité et de

rationalisation de la production de volaille, en particulier car la volaille cearense a cessé d’être

pratiquée que par des moyens traditionnels et a commencé à opérer aussi au niveau industriel,

ce qui indique un changement technologique dans la volaille commerciale.

Mots-clés: Volaille. Rapports sociaux de production. Restructuration productive agricole.

Dynamiques territoriales.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 – Síntese do referencial teórico ......................................................................... 23

Quadro 2 – Produtores associados à Aceav – 2016 .......................................................... 88

Quadro 3 – Síntese das informações acerca das empresas avícolas cearenses ............ 127

Gráfico 1– Exportações brasileiras de carne de frango por produto – 2015 ................. 45

Gráfico 2 – Exportações brasileiras de carne de frango. Série histórica (2004-2015)... 46

Gráfico 3 – Consumo per capita de carne de frango no Brasil (kg). 2000 – 2015 ......... 70

Gráfico 4 – Evolução da produção brasileira de carne de frango (milhões de ton.) ..... 71

Gráfico 5 – Ceará. Série histórica do efetivo total de galináceos (cabeças).

1995-2015 ......................................................................................................... 93

Gráfico 6 – Ceará. Série histórica da produção de ovos de galinha (mil dúzias).

1995-2015 ......................................................................................................... 95

Figura 1 – Mercado mundial de carne de frango (milhões de toneladas) – 2015 .......... 47

Figura 2 – Relação dos países importadores de carne de frango brasileira ................... 48

Figura 3 – Empresas associadas à Brazilian Chicken ...................................................... 51

Figura 4 – Concentração do total abatido de frango no Brasil, por Unidades da

Federação – 2015.............................................................................................. 78

Figura 5 – Exportações de carne de frango no Brasil, por Unidades da Federação

2015 .................................................................................................................... 79

Figura 6 – Empresas do Grupo Regina ........................................................................... 109

Figura 7 – Localização das unidades produtivas Cialne ................................................ 112

Figura 8 – Circuito espacial produtivo da avicultura cearense .................................... 140

Foto 1 – Produção de frangos de corte pela Cialne ....................................................... 114

Foto 2 – Granja da Cialne no município de Guaiuba/CE .............................................. 115

Foto 3 – Aviário automatizado da Cialne em Guaiuba/CE ........................................... 115

Foto 4 – Fábrica da Dudico (Cialne) ................................................................................ 116

Foto 5 – Fábrica de ração da Avine em Aquiraz/CE...................................................... 119

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Foto 6 – Granja automatizada da Avine em Aquiraz/CE .............................................. 119

Foto 7 – Classificação de ovos da Avine em Cascavel/CE ............................................. 120

Foto 8 – Galpão convencional de galinhas da Emape em Maracanaú/CE ................... 122

Foto 9 – Sede do Grupo Haisa em Horizonte/CE ........................................................... 124

Foto 10 – Galpões de classificação de ovos do Grupo Haisa ............................................ 125

Foto 11 – Seleção automatizada de ovos da empresa Tijuca ........................................... 126

Foto 12 – Aviário automatizado Cialne ............................................................................. 134

Foto 13 – Aviário automatizado da Cialne em Guaiuba/CE ........................................... 134

Foto 14 – Sistema de ventilação em aviário automatizado da Cialne em

Guaiuba/CE ........................................................................................................ 135

Foto 15 – Bebedouro automatizado em fazenda da Cialne em Guaiuba/CE ................. 135

Foto 16 – Barreira de biossegurança na entrada de fazenda da Cialne em

Guaiuba/CE ....................................................................................................... 136

Foto 17– Lagoa localizada no interior da fazenda da Cialne em Guaiuba/CE ............. 149

Foto 18 – Aviários da fazenda da Cialne em Guaiuba/CE .............................................. 149

Foto 19 – Manutenção de galpão em fazenda da Cialne em Guaíba/CE ....................... 167

Foto 20 – Manutenção de galpão em fazenda da Cialne em Guaiuba/CE ..................... 168

Foto 21 – Retirada de pintos “fora do padrão” em fazenda da Cialne em

Guaiuba/CE ........................................................................................................ 169

Cartograma 1 – Produção de ovos de galinha no Brasil por Unidades da Federação

– 2015 ........................................................................................................... 68

Cartograma 2 – Efetivo total de galináceos no Brasil, por Unidades da Federação

– 2015 ........................................................................................................... 74

Cartograma 3 – Efetivo de galinhas no Brasil, por Unidades da Federação – 2015 ........ 76

Mapa 1 – Municípios da Região Metropolitana de Fortaleza ............................................ 27

Mapa 2 – Efetivo de aves por municípios do Ceará ......................................................... 103

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1– Principais produtores mundiais de carne de frango. Quantidade

produzida (milhões de toneladas) / Percentual da produção mundial –

2015 ................................................................................................................ 43

Tabela 2 – Importação mundial de carne de frango brasileira. Quantidade

produzida (mil toneladas) / Percentual da importação mundial –

2015 ................................................................................................................ 47

Tabela 3 – Evolução da produtividade na avicultura de corte, 1940/2005 ................. 59

Tabela 4 – Evolução dos coeficientes de produção da avicultura de postura,

1940/2005 ....................................................................................................... 60

Tabela 5 – Produção e valor da produção de ovos de galinha no Brasil, por

grande região – 2015 .................................................................................... 67

Tabela 6 – Produção e valor da produção de ovos de galinha, por Unidades da

Federação – 2015 .......................................................................................... 67

Tabela 7 – Ranking do efetivo total de galináceos entre as Grandes Regiões –

2015 ................................................................................................................ 71

Tabela 8 – Ranking do efetivo de galinhas entre as Grandes Regiões – 2015 ............ 71

Tabela 9 – Ranking do efetivo total de galináceos entre as Unidades da

Federação – 2015 .......................................................................................... 72

Tabela 10 – Ranking do efetivo total de galinhas entre as Unidades da

Federação – 2015 .......................................................................................... 75

Tabela 11 – Abate de frangos por número de informantes – 2015 ............................... 77

Tabela 12 – Ceará. Efetivo dos rebanhos, por tipo. 1995-2015 ..................................... 92

Tabela 13 – Ceará. Variação absoluta e relativa dos efetivos dos rebanhos,

por tipo. 1995-2015 ....................................................................................... 92

Tabela 14 – Efetivo total dos galináceos (cabeças) por mesorregiões do Ceará .......... 96

Tabela 15 – Variação absoluta e relativa do efetivo total dos galináceos por

mesorregiões do Ceará ................................................................................. 96

Tabela 16 – Produção de ovos de galinha (mil dúzias) por mesorregiões do Ceará ... 97

Tabela 17 – Variação absoluta e relativa da produção de ovos de galinha

(mil dúzias) por mesorregião do Ceará ...................................................... 97

Tabela 18 – Produção de ovos de galinha (mil dúzias) por microrregiões do Ceará

que apresentaram produção acima de 10 mil dúzias ................................ 98

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Tabela 19 – Variação absoluta e relativa da produção de ovos de galinha por

microrregiões do Ceará que apresentaram produção acima de 10 mil

dúzias ............................................................................................................. 98

Tabela 20 – Efetivo total dos galináceos por microrregiões do Ceará que

apresentaram produção acima de 1 milhão de cabeças ............................ 99

Tabela 21 – Efetivo total dos galináceos por microrregiões do Ceará que

apresentaram produção acima de 1 milhão de cabeças ............................ 99

Tabela 22 – Ranking descendente da produção de ovos de galinha (mil dúzias) no

Ceará, por municípios – 1995, 2005, 2015 ................................................ 100

Tabela 23 – Ranking descendente dos efetivos totais de galináceos (cabeças) no

Ceará, por municípios – 1995, 2005, 2015 ................................................ 101

Tabela 24 – Produção de ovos de galinha (mil dúzias), por municípios da RMF ...... 104

Tabela 25 – Variação absoluta e relativa da produção de ovos de galinha

(mil dúzias), por municípios da RMF ....................................................... 105

Tabela 26 – Efetivo total dos galináceos (cabeças), por municípios da RMF ............ 106

Tabela 27 – Variação absoluta e relativa do efetivo total dos galináceos

(cabeças) ...................................................................................................... 106

Tabela 28 – Ranking dos empregos formais na criação de aves no Ceará – 2015 ..... 160

Tabela 29 – Quantidade de estabelecimentos com criação de aves na RMF ............. 161

Tabela 30 – Variações absoluta e relativa da quantidade de estabelecimentos com

criação de aves na RMF ............................................................................. 161

Tabela 31 – Número de empregos formais na criação de aves na RMF..................... 162

Tabela 32 – Variações absoluta e relativa do número de empregos formais na

criação de aves na RMF ............................................................................. 163

Tabela 33 – Quantidade de estabelecimentos de abate de aves na RMF ................... 164

Tabela 34 – Número de empregos formais no abate de aves na RMF ........................ 165

Tabela 35 – Variações absoluta e relativa do número de empregos formais no

abate de aves na RMF. 2010-2015 ............................................................. 165

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIPECS Associação Brasileira de Produtores e Importadores de Carne Suína

ABPA Associação Brasileira de Proteína Animal

ACEAV Associação Cearense de Avicultura

BNB Banco do Nordeste do Brasil

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CEAG Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Estado do Ceará

CNPSA Centro Nacional de Pesquisa em Suínos e Aves

CEPA Comissão Estadual de Planejamento Agrícola

CNA Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil

CADE Conselho Administrativo de Defesa Econômica

FAVET Faculdade de Veterinária

FAEC Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará

FACIC Federação das Associações de Indústria, Comércio e Agropecuária do

Estado do Ceará

FIEC Federação das Indústrias do Estado do Ceará

FNE Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste

FDNE Fundo de Desenvolvimento do Nordeste

FINOR Fundo de Investimentos do Nordeste

GEAVI Grupo de Estudos em Avicultura Industrial

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

TEM Ministério do Trabalho e Emprego

PNCRC Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes

PPM Produção Agrícola Municipal

PIB Produto Interno Bruto

RMF Região Metropolitana de Fortaleza

RAIS Relação Anual de Informações Sociais

SECEX Secretaria de Comércio Exterior

SIF Serviço de Inspeção Federal

SINDIAVES Sindicado dos Trabalhadores na Avicultura no Estado do Ceará

SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

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UBABEF União Brasileira da Avicultura

UBA União Brasileira de Avicultura

ANA União Nordestina de Avicultura

UECE Universidade Estadual do Ceará

UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

UFC Universidade Federal do Ceará

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 17

2 A AVICULTURA NO CONTEXTO DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA 31

2.1 PANORAMA DA AVICULTURA MUNDIAL E BRASILEIRA ................................ 31

2.2 REESTRUTURAÇÃO SOCIOESPACIAL DA AVICULTURA BRASILEIRA ....... 54

2.3 A DINÂMICA ESPACIAL DA AVICULTURA NO BRASIL ..................................... 64

3 A CONFIGURAÇÃO SOCIOESPACIAL DA AVICULTURA NO CEARÁ ..... 82

3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E HISTÓRICO DA AVICULTURA CEARENSE ............ 82

3.2 A ESPACIALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO AVÍCOLA CEARENSE ............................ 91

3.3 PRINCIPAIS EMPRESAS AVÍCOLAS NO CEARÁ .................................................. 107

4 RELAÇÕES SOCIAIS DE PRODUÇÃO E DINÂMICAS TERRITORIAIS ... 130

4.1 TRANSFORMAÇÕES RECENTES NA DINÂMICA PRODUTIVA AVÍCOLA .. 130

4.2 USO CORPORATIVO DO TERRITÓRIO E REDES DE PODER ............................ 142

4.3 MUDANÇA NAS RELAÇÕES DE TRABALHO NA AVICULTURA ................... 157

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 172

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 176

APÊNDICES ......................................................................................................................... 185

APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA - EMPRESAS.... 186

APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA - SINDICATOS 188

APÊNDICE C – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA -

TRABALHADORES ........................................................................................ 189

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho se propõe a fazer uma análise geográfica da avicultura1 no Ceará,

partindo do pressuposto básico de que toda atividade produtiva é responsável por dotar o

espaço de novas características, fomentando seu processo de (re)produção e dando origem a

importantes novas dinâmicas socioespaciais que agem remodelando a dinâmica espacial e

configuração territorial, conforme defendem autores como Lefebvre (1973, 1991) e Santos

(1985, 2008, 2009). Nesse sentido, estamos considerando o espaço enquanto algo em

constante transformação, especialmente a partir da sua produção capitalista, como se referem

Harvey (2005) e Moreira (2009), evocando o papel que a dinâmica produtiva exerce sobre o

processo de produção do espaço, tal qual pode ser observado a partir da análise da produção

avícola e de alguns de seus principais rebatimentos territoriais, como pretendemos demonstrar

ao longo da pesquisa aqui apresentada.

Dessa forma, a partir das reflexões lançadas sobretudo por Lefebvre (1973, 1991)

e Santos (1985, 2008, 2009), entendemos que o espaço geográfico, objeto central de estudo da

ciência geográfica, é um produto social, compreendendo as relações sociais para além da

concepção física de espaço. É a partir da intrínseca relação sociedade-natureza que se

configura o espaço geográfico, e, por isso, de acordo como Santos (2008, p. 120), devemos

conceber o espaço geográfico enquanto um espaço social. Com isso, tem-se também que a

própria sociedade é produto dessa relação do homem com o espaço que o cerca, não sendo o

espaço um mero receptáculo das relações sociais, pois ao passo que o espaço é condicionado

pela sociedade, ele também a condiciona, uma vez que “[...] o espaço, além de produto da

existência humana, é também, condição e meio de processo de reprodução geral da

sociedade” (CARLOS, 1992, p. 19).

Nessa relação entre sociedade-natureza e produção do espaço geográfico,

observam-se múltiplos usos do espaço, dentre os quais destacamos seu uso produtivo,

destinado especialmente à produção agropecuária. A partir disso, Santos (1985, 1999, 2008)

considera que produzir e produzir espaço são dois atos indissociáveis, haja vista que o ato de

produzir é, ao mesmo tempo, o ato de produzir espaço. “[...] Como produzir e produzir espaço

são sinônimos, a cada novo modo de produção (ou a cada novo momento do mesmo modo de

produção) mudam a estrutura e o funcionamento do espaço” (SANTOS, 1999, p. 06). Para

Santos (1985), o espaço sempre foi o lócus da produção, já que sem produção não há espaço e

1 A avicultura se refere à atividade de criação de aves, em especial frangos e galinhas, destinadas sobretudo à

produção de carne e ovos voltados para a alimentação humana.

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vice-versa. Além disso, Santos (2008) afirma que essa produção supõe uma intermediação

entre o homem e a natureza, através das técnicas e dos instrumentos de trabalho inventados

para o exercício desse intermédio.

A partir dessas considerações, defende-se que a avicultura também é uma

atividade que exerce seu papel na produção do espaço, especialmente nos locais onde ela

apresenta um maior dinamismo, sendo responsável também por influenciar no processo de

reestruturação socioespacial do Ceará. Nesse sentido, analisar como se configura a atividade

avícola no Ceará é atentar ao mesmo tempo para a produção e uso do espaço e para a

organização das relações sociais de produção, revelando também as intrínsecas dinâmicas

territoriais associadas ao processo de produção avícola e, consequentemente, de produção do

espaço. Desse modo, e por essa razão, defendemos que se faz importante estudar a avicultura

sob o olhar da Geografia, voltando-se para o componente espacial que reside nessa atividade

produtiva.

Em nosso trabalho, pretendemos abarcar essa dimensão espacial a partir da

relação entre reestruturação produtiva e dinâmicas territoriais, inseridas no debate atual acerca

da nova composição técnica e social da avicultura no Brasil. Acerca disso, é sabido que a

avicultura brasileira tem passado por grandes transformações nas últimas décadas,

impulsionada pela reestruturação de seus tradicionais sistemas de produção, corroborando a

reorganização produtiva e a expansão do modo de produção capitalista nesse setor. Tais

processos engendram novas formas de uso do território com a produção do espaço a partir de

novas dinâmicas territoriais, onde os fatores de ordem técnica e econômica são condizentes

com a atual configuração produtiva da avicultura.

Assim, a partir do processo de reestruturação produtiva da atividade avícola em

curso, percebe-se o desenrolar de novas dinâmicas territoriais, advindas do próprio

movimento dialético e uníssono entre espaço e sociedade, conforme afirma Soja (1993), que

pode ser expresso territorialmente, isso porque é no território onde podemos perceber os

impactos gerados no espaço pela reestruturação produtiva capitalista, que vem se processando

de maneira acelerada na avicultura brasileira. Esse debate nos remete, pois, à discussão entre

produção do espaço, mudança técnica produtiva e divisão territorial do trabalho, segundo

discutem geógrafos como Lima (2002), Elias (2003) e Bernardes (2006), entre outros, ao

destacarem as recentes transformações observadas no campo brasileiro, especialmente a partir

da reestruturação produtiva em curso, que vem remodelando as tradicionais formas de

produção agropecuária e originando dinâmicas territoriais distintas das observadas em

períodos anteriores.

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Nesse sentido, Gomes (2011, p. 68) considera que cabe à “[...] ciência geográfica

fazer uma análise do processo de reestruturação produtiva e seus impactos na dinâmica

espacial, buscando mostrar as manifestações territoriais deste processo”, intentando revelar

quais os novos espaços produtivos daí advindos e quais os seus reflexos, especificamente no

mundo do trabalho, na classe trabalhadora. Dessa forma, ainda segundo a autora, caberia a

nós, geógrafos, “[...] desvendar a dinâmica espacial, as manifestações dessas transformações

no espaço através dos arranjos espaciais que o processo de reestruturação produtiva vem

conduzindo” (GOMES, 2011, p. 70). Além dessas manifestações territoriais, destaca a autora,

é preciso compreender os impactos da reestruturação produtiva na dinâmica do mercado de

trabalho.

É nessa perspectiva que pretendemos prosseguir na análise da atividade avícola

cearense, considerando os rebatimentos territoriais resultantes da reestruturação em curso,

responsáveis por alterar a configuração produtiva e socioespacial desse setor. Assim, temos

como objetivo principal compreender a nova configuração geográfica da avicultura no Ceará,

a partir da reestruturação produtiva em curso. Diante disso, nossos objetivos específicos são:

i) Caracterizar a configuração produtiva e socioespacial da avicultura no Brasil; ii) Indicar os

impactos da reestruturação produtiva na avicultura cearense; iii) Evidenciar a organização

espacial da avicultura e a territorialização do capital avícola no Ceará; v) Analisar as novas

dinâmicas territoriais observadas a partir da reestruturação produtiva avícola; iv) Apresentar

como se configuram as relações sociais de produção da avicultura cearense.

A partir disso, é importante indicar que a atividade avícola se desenvolve de

maneira sistemática nas últimas três décadas no Estado do Ceará, que apresenta uma

importante expressividade no âmbito da região Nordeste. Tal crescimento vem trazendo

consigo novas formas de reprodução do capital a partir das mudanças na base tecnológica da

produção avícola, que propiciaram um maior controle do processo produtivo, e com isso uma

maior produtividade, proporcionando também um maior domínio das relações de trabalho que

se dão nesse setor. Além disso, a avicultura no Ceará se concentra cada vez mais nas grandes

empresas especializadas na produção de aves e ovos, as quais buscam ampliar seus

investimentos e diversificar suas atividades, passando a exercer um significativo comando da

produção e do mercado avícola.

Tal quadro vem sendo consideravelmente ampliado sobretudo porque a avicultura

cearense deixa de ser praticada somente em moldes tradicionais e passa a ser realizada

também em escala comercial, denotando o advento da avicultura em modelo industrial ou

empresarial. Assim, cada vez mais são as grandes empresas do setor que passam a controlar a

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atividade avícola cearense, isso em virtude da reestruturação produtiva do setor, que coloca

essas empresas em outros patamares de competitividade e de racionalização da produção

avícola, ocasionando consideráveis rebatimentos territoriais e para a reprodução das relações

sociais de produção da avicultura.

Essas empresas se consolidam como o principal vetor de concentração do capital

avícola, ao passo que a região Nordeste tem um grande potencial de aumento de consumo de

carne de frango e ovos em relação ao Brasil, o que abre margem para novos investimentos e

para a expansão da atividade no Ceará. Esse processo tem demonstrado o rápido avanço e o

atual domínio do mercado no controle do atual modelo hegemônico de produção de

alimentos, a cargo de grandes empresas agrícolas e agroindustriais associadas às redes de

supermercados. Além disso, as principais empresas cearenses, que são de capital local, já se

inserem no contexto da reestruturação produtiva da avicultura verticalizada2, diferente do

modelo de integração mais característico dos maiores produtores nacionais, apesar de que aos

poucos essa situação vem sendo modificada.

Sendo assim, é possível constatar que o setor avícola vem se configurando

enquanto um importante vetor de dinamização do território. Desse modo, os investimentos na

avicultura empresarial são cada vez mais ampliados para atender principalmente à demanda

local, no caso cearense, o que vem promovendo novas dinâmicas territoriais constitutivas do

processo de inserção desta atividade no modelo de produção da economia globalizada. Assim,

é preciso sublinhar que a escolha do nosso objeto de estudo deu-se com a necessidade de

compreender as dinâmicas territoriais atribuídas a este setor, haja vista que a avicultura não se

pauta apenas na produção de aves e ovos propriamente dita, mas sim em um circuito espacial

produtivo (SANTOS; SILVEIRA, 2001) altamente dinâmico, que abrange e interliga

segmentos industriais e setores de distribuição, comercialização e consumo relacionados à

atividade avícola.

Com isso, faz-se necessário entender como se dá a configuração geográfica da

avicultura no Estado do Ceará e atentar para suas novas dinâmicas territoriais, advindas com a

reestruturação produtiva dessa atividade. Nesse sentido, alguns questionamentos surgiram

enquanto norteadores do nosso estudo, os quais procuramos responder ao longo de toda a

dissertação a partir da explanação dos resultados obtidos com a pesquisa. Nossas principais

questões norteadoras são:

2 Na produção verticalizada, a empresa tem o controle interno do processo produtivo desde a matéria-prima até o

produto final. Isso quer dizer, na avicultura, que as próprias empresas se encarregam da produção – desde

pintinhos até aves para corte, poedeiras e ovos –, não os adquirindo com produtores “integrados”, como ocorre

com a maioria das empresas instaladas no Brasil.

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Quais são os rebatimentos da reestruturação da agropecuária brasileira na avicultura?

Como se dá a reestruturação da produção avícola?

Como está organizada a produção avícola no Brasil?

Como se posiciona a produção avícola do Ceará em relação à produção brasileira e nordestina?

Como a reestruturação da avicultura reorganiza a produção avícola cearense?

Como se configura a distribuição espacial da avicultura no Ceará?

Como se dá a territorialização do capital avícola no Ceará?

Quais as principais agroindústrias avícolas localizadas no Ceará?

Como se organiza o circuito espacial produtivo das principais empresas avícolas?

Quais são as novas dinâmicas territoriais advindas com a reestruturação produtiva avícola?

Como são produzidas as relações sociais de produção da avicultura?

Nossa pesquisa parte da hipótese de que a nova configuração da produção avícola

no Estado do Ceará, impulsionada pela reestruturação produtiva da agropecuária, tem

modificado as relações sociais de produção e redefinido as dinâmicas territoriais desse setor.

Acreditamos também que está em curso um processo de territorialização do capital avícola em

território cearense, representado pela crescente participação de grandes empresas no setor,

aprofundando a racionalidade capitalista nessa atividade e impondo um modelo produtivo

cada vez mais interligado com a forma de produção agropecuária globalizada, centrada nos

moldes do agronegócio. Com isso, defendemos que há uma reconfiguração das relações

sociais de produção associadas à avicultura no Estado do Ceará, na qual sobretudo as relações

de trabalho vêm sendo modificadas a partir da reconfiguração da estrutura produtiva

impulsionada pelas principais empresas do setor.

Infere-se que a pesquisa aqui apresentada resulta de uma investigação iniciada

ainda no âmbito da iniciação científica, que culminou com a formulação de um trabalho

monográfico sobre o circuito espacial da produção avícola na Região Metropolitana de

Fortaleza (RMF), e que foi continuada com a nossa entrada no mestrado, a partir de uma outra

perspectiva. Naquele primeiro momento, optamos por analisar a avicultura na RMF

justamente pela sua representatividade no sistema avícola cearense e nordestino, tendo como

contexto uma atividade agropecuária realizada em uma região metropolitana, originada de um

modelo empresarial que despontou a partir de Fortaleza e de municípios vizinhos. Na

monografia descrevemos e analisamos todo o movimento produtivo da avicultura na região,

caracterizando desde a produção propriamente dita, passando pela comercialização,

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distribuição e consumo dos produtos avícolas, conforme pode ser consultado em Sousa

(2013).

Como nos apontam Santos e Silveira (2001), para compreender o território3 e seu

funcionamento, é preciso apreender as dinâmicas de seu movimento, o que é possível por

meio da análise dos circuitos espaciais da produção, “[...] definidos pela circulação de bens e

produtos e, por isso, oferecem uma visão dinâmica, apontando a maneira como os fluxos

perpassam o território” (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p. 143). Tal estudo realizado em

processo monográfico anterior nos auxiliou bastante na compreensão das dinâmicas

territoriais ensejadas pela atividade avícola tanto no Brasil, de um modo geral, quanto no

Ceará, mais especificamente. Dessa forma, o trabalho aqui apresentado parte de alguns dos

resultados obtidos com a elaboração da monografia, resgatados com um novo olhar e

acrescidas novas informações e análises tecidas a partir da consecução da pesquisa do

mestrado, que considera objetivos diferentes dos quais foram privilegiados no trabalho

anterior, e que por essa razão os resultados aos quais chegamos também são distintos dos já

apresentados anteriormente.

Ressalta-se que, para dar conta do debate teórico necessário para o entendimento

da reestruturação produtiva da avicultura e das dinâmicas territoriais daí advindas, recorremos

a uma série de obras e autores que trabalham com alguns dos conceitos e noções privilegiados

no decorrer da pesquisa, os quais foram essenciais para fomentar as reflexões tomadas acerca

do nosso objeto de estudo. Nesse sentido, concordamos com Moreira (2007), para quem os

conceitos e as noções são elementos fundamentais para a construção científica, já que são eles

que guiam teoricamente a análise e a reflexão acerca do problema que está sendo estudado.

Nosso referencial teórico está composto por autores, sobretudo geógrafos, assim como

economistas, sociólogos, zootecnistas, administradores de empresas, entre outros, que se

dedicam a trabalhar temas com os quais privilegiamos no decorrer da pesquisa.

Dentre os principais conceitos, noções e temas trabalhados ao longo da

dissertação, destacamos: reestruturação produtiva; modo de produção capitalista; globalização

econômica; reestruturação produtiva e relações de trabalho; mundo do trabalho; produção do

espaço; relação entre espaço e atividades produtivas; dinâmicas socioespaciais e territoriais;

reestruturação produtiva da agropecuária; modernização da agricultura; modo de produção

capitalista no campo; contexto produtivo da avicultura no Brasil; reestruturação produtiva da

3 O conceito de território está sendo tomado aqui sob o ponto de vista da Geografia Econômica, que para

Haesbaert e Limonad (2007) abarca sobretudo a divisão territorial do trabalho, as classes sociais e as relações de

produção, e tem como principais agentes as empresas, os trabalhadores e os Estados.

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avicultura; modernização da produção avícola; relações sociais de produção na avicultura;

avicultura e dinâmicas territoriais; contexto produtivo da avicultura no Ceará; e organização

da avicultura cearense. Na sequência, organizamos um quadro-síntese com a indicação dos

principais autores e obras que foram privilegiados para o entendimento de cada um desses

conceitos, noções e temas.

Quadro 1 – Síntese do referencial teórico

Conceitos, noções e temas Principais autores e obras

Reestruturação produtiva; Modo de produção

capitalista; Globalização econômica

Alves (2008); Benko (2002, 2006); Gomes

(2011); Harvey (1992, 2005, 2004, 2014);

Santos (2003); Soja (1993)

Reestruturação produtiva e relações de

trabalho; Mundo do trabalho; Relações

sociais de produção

Alves (2007); Antunes (1999); Bezerra e

Elias (2011); Lefebvre (1973); Leite (2005);

Tomaz Júnior (2002, 2005)

Produção do espaço; Relação entre espaço e

atividades produtivas; Dinâmicas

socioespaciais e territoriais

Corrêa (1991ab); Lefebvre (1973, 1991);

Moreira (2009); Santos (1985, 1994, 1996,

2008, 2009); Harvey (2005); Santos e

Silveira (2001);

Reestruturação produtiva da agropecuária;

Modernização da agricultura; Modo de

produção capitalista no campo

Aracri (2012); Bernardes (2006); Delgado

(1985); Elias (2003, 2006, 2007b);

Gonçalves Neto (1997); Martins (1995);

Mazzali (2000); Oliveira (1999, 2007, 2010,

2015); Silva (1988, 1996, 2003); Silveira

(2005)

Contexto produtivo da avicultura no Brasil;

Reestruturação produtiva da avicultura;

Modernização da produção avícola

Arashiro (1989); Canever et al.(1997); Díaz

(2007); Evangelista et al.(2008); França

(2000); Godoy (1999); Martins (1996);

Oliveira et al.(2008); Oliveira (2007); Ortega

(1988, 2000); Rizzi (1993, 2004); Santini

(2004); Silva (2016); Sorj, Pompermayer e

Coradini (1982); Vieira (2005).

Relações sociais de produção na avicultura;

Avicultura e dinâmicas territoriais

Belusso (2010); Belusso e Hespanhol (2010);

Espíndola (1999); Mizusaki (2003, 2009);

Oliveira (2010); Paulino (2012);

Tsukamoto (2000);

Contexto produtivo da avicultura no Ceará;

Organização da avicultura cearense;

Produção agropecuária e agroindustrial no

Ceará

Ceag (1978); Bomtempo (2013); Elias (2002,

2005, 2007a); Evangelista et al.(2008); Lima

(2002); Oliveira (2005); Sousa (2013)

Fonte: Autoria própria (2016).

No âmago do processo de produção do conhecimento científico, faz-se necessário

a construção dos caminhos a serem percorridos pela pesquisa, o seu planejamento e

operacionalização, para se garantir o alcance dos objetivos propostos. Para tanto, uma série de

procedimentos metodológicos foram realizados para que fosse possível a compreensão do

nosso objeto de estudo. Com isso, para atingirmos os objetivos propostos com a realização da

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pesquisa, nossa pesquisa foi operacionalizada a partir de dois temas basilares que estão

assentados em categorias analíticas e conceitos que deram a sustentação teórica ao estudo,

apresentados anteriormente. Os temas que guiaram nosso percurso metodológico foram:

reestruturação produtiva da agropecuária e relações sociais de produção. A partir da definição

prévia desses dois temas, tivemos como nos organizar para a operacionalização metodológica

da pesquisa, composta por levantamento bibliográfico e documental, levantamento de dados,

organização de hemeroteca e realização de trabalhos de campo, descritos na sequência.

O levantamento de material bibliográfico e documental, tais como livros, artigos,

monografias, dissertações, teses, documentos, periódicos, relatórios, teve como objetivo a

organização do banco de bibliografias que abordam assuntos e temas relacionados direta e

indiretamente com o temário do estudo. Na busca do material foram consideradas as seguintes

palavras-chave: agroindústria, complexos agroindustriais, redes agroindustriais, agronegócio,

industrialização da avicultura, reestruturação produtiva da agropecuária, avicultura, produção

avícola, agroindústria avícola, mercado avícola, comércio avícola, comércio de ovos,

comércio de frango, consumo de carne, produção de ovos, consumo de ovos, produção de

frango, consumo de frango, uso corporativo do território, circuitos espaciais da produção,

círculos de cooperação, globalização, pesquisa científica agropecuária, mercado de trabalho

agropecuário, sistemas de movimento, entre muitos outros.

Pesquisas foram realizadas em bibliotecas localizadas em Fortaleza, tais como a

biblioteca do Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB), da Universidade Estadual do

Ceará (UECE) e da Universidade Federal do Ceará (UFC), além das bibliotecas da

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade Federal do Rio de Janeiro

(UFRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Biblioteca Nacional, durante missão de

estudos no Estado do Rio de Janeiro. Em outro momento, foram realizadas pesquisas na

internet em sites como Google Acadêmico, Portal do Domínio Público, Portal de Periódicos

da CAPES4, Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), Diretórios de

Grupos de Pesquisa do CNPq, entre outros bancos de trabalhos científicos disponíveis.

Já o levantamento de dados foi uma atividade de suma importância e que foi

executado durante todo o decorrer da pesquisa. A seleção de variáveis e indicadores de

interesse colaborou para a coleta de dados primários e secundários. Procedemos com a

sistematização dos dados quantitativos em séries estatísticas e posteriormente com a

organização de gráficos, tabelas e quadros, muitos dos quais inseridos ao longo de toda a

4 No Portal de Periódicos da CAPES foram encontrados 701 trabalhos relacionados com a palavra-chave

“avicultura”, dentre os quais 47 trabalhos sobre a avicultura a partir de uma abordagem geográfica.

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dissertação, contribuindo para a análise de nosso objeto. As variáveis levantadas se referem à

organização produtiva da avicultura no Brasil e no Ceará, apresentando dados tais como

quantidade de ovos e carne de frango produzida, total de efetivos de aves, exportações de

ovos e carne de frangos, mercado de trabalho avícola, entre muitos outros dados. Dessa

forma, através dos levantamentos realizados nas fontes secundárias, pudemos dimensionar o

lugar da avicultura na produção agropecuária cearense e brasileira.

Obtivemos dados os quantitativos principalmente junto ao Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), através dos Censos Agropecuários de 1985, 1995-1996 e 2006

e da Produção Agrícola Municipal (PPM). Nos Censos Agropecuários obtivemos dados com

relação ao efetivo de galinhas, galos, frangas, frangos e pintos nos estabelecimentos

agropecuários; número de estabelecimentos agropecuários com galinhas; produção, valor da

produção e venda de ovos de galinhas; compra de ovos para incubação. Já na Pesquisa

Pecuária Municipal, levantamos dados sobre efetivos de aves e produção de ovos por

municípios, Estados, regiões e país. Ainda no IBGE, através da Pesquisa Trimestral do Abate

de Animais, captamos informações sobre o número de estabelecimentos que abatem frangos,

quantidade e peso total das carcaças dos frangos abatidos, e da Produção de Ovos de Galinha

conseguimos dados mais específicos quanto ao número de estabelecimentos com galinhas

poedeiras, número de galinhas poedeiras e quantidade de ovos produzidos.

Além do IBGE, nossa busca de dados também se concentrou no Ministério do

Trabalho e Emprego (MTE), através da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), que

fornece informações sobre o mercado de trabalho formal no setor avícola, bem como o

número de estabelecimentos voltados para o setor; e no Ministério do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio Exterior (MDIC), através da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX),

que fornece dados sobre as exportações da produção avícola. Além desses, os relatórios

anuais da Associação Brasileira de Proteína Animal (APBA) e da Associação Cearense de

Avicultura (ACEAV) também foram igualmente importantes para a obtenção de dados,

especialmente acerca de variáveis não trabalhadas pelos órgãos oficiais de pesquisa.

A partir dessas fontes e da disponibilidade de dados, alguns municípios foram

priorizados na análise da totalidade do Estado do Ceará, tendo em vista a escala do recorte

espacial como estratégia de apreensão e representação da realidade. Tal escolha não abandona

a importância de uma análise multiescalar. Assim, foram priorizados os municípios que

apresentam algumas características capazes de justificar a realização dos trabalhos de campo

nestes. A priori, foram considerados alguns indicativos como fundamentais para a seleção dos

municípios: efetivo de galinhas, galos, frangas, frangos e pintos; variação relativa dos efetivos

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em um período de 20 anos; número de galinhas poedeiras e quantidade de ovos produzidos;

localização dos principais fixos relacionados à atividade avícola, sobretudo das principais

empresas do setor, entre outros.

Com base nisso, temos um recorte que engloba sobremodo a Região

Metropolitana de Fortaleza (RMF), que compreende atualmente os municípios de Aquiraz,

Cascavel, Caucaia, Chorozinho, Eusébio, Fortaleza, Guaiuba, Horizonte, Itaitinga,

Maracanaú, Maranguape, Pacajus, Pacatuba, Paracuru, Paraipaba, Pindoretama, São Gonçalo

do Amarante, São Luís do Curu e Trairi, representada no mapa a seguir. Tal recorte espacial

tem como justificativa a representatividade da produção avícola da RMF no Estado no Ceará,

especialmente no que tange aos processos de controle da produção avícola estadual e dada a

origem da atividade nos moldes praticados atualmente ter despontado a partir da capital

cearense e de cidades circunvizinhas. Nesse sentido, nossa análise se refere a todo o Estado do

Ceará, de um modo geral, mas volta-se sobremodo para a Região Metropolitana de Fortaleza,

em razão desta ser a principal região de produção avícola no contexto cearense, onde

concentramos nossos trabalhos de campo.

Optamos como recorte temporal especialmente as duas últimas décadas, o período

que compreende o ano de 1995 até 2015, como forma de compreender os processos atuais que

envolvem as dinâmicas territoriais dentro do panorama geral da avicultura. Porém, tal análise

procura não esquecer o conteúdo temporal, histórico do processo, uma vez que “[...] o ato de

produzir é concomitantemente o ato de produção do espaço, é nesse sentido que o geógrafo

analisará o processo de produção: enquanto processo social e histórico, produtor do espaço

geográfico” (ROSSINI, 2009, p. 09). Assim, nossa reflexão não vem se resumindo apenas no

período mais recente, já que temos a intenção de fazer um resgate histórico da produção

avícola no Estado, uma vez que já nos anos 1950 o setor avícola dava indícios de seu

desenvolvimento no Ceará, conforme será explanado ao longo da dissertação.

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Fonte: IPECE, 20155.

Outra atividade importante e que contribuiu para a obtenção de dados, e sobretudo

de informações acerca das empresas que atuam na avicultura cearense, foi a organização de

uma hemeroteca, que consistiu no agrupamento de matérias jornalísticas divulgadas na mídia

acerca de temas de interesse para a pesquisa. A hemeroteca foi realizada a partir de buscas nos

sites de jornais (especialmente dos principais jornais cearenses O Povo e Diário do Nordeste),

revistas e portais de notícias especializadas, associações, instituições públicas, por meio de

palavras-chaves como: agroindústria, avicultura cearense, produção avícola, agroindústria

avícola, mercado avícola, comércio avícola, comércio de ovos, comércio de frango, consumo

de carne, produção de ovos, consumo de ovos, produção de frango, consumo de frango, além

dos nomes das empresas avícolas. Muitas das informações obtidas com a hemeroteca estão

inseridas ao longo do corpo do texto da dissertação.

Por fim, outra atividade fundamental foi a realização dos trabalhos de campo.

Durante o reconhecimento empírico do objeto, através do planejamento e da execução de

5 IPECE. Disponível em: <http://www2.ipece.ce.gov.br/atlas/>. Acesso em: 13 jul. 2016.

Mapa 1– Municípios da Região Metropolitana de Fortaleza

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trabalhos de campo, com visitas técnicas em agroindústrias, instituições de administração

pública, associações, cooperativas e sindicatos ligados ao setor, foram aplicados questionários

e realizadas entrevistas semiestruturadas no intuito de obter dados primários que auxiliaram

na compreensão empírica dos agentes envolvidos na atividade, das etapas do circuito espacial

produtivo avícola, da divisão do trabalho no setor, das relações socioespaciais de produção

envolvidas na atividade avícola cearense, entre outros. Através do campo, pudemos ampliar

consideravelmente nosso conhecimento acerca do objeto, e com isso fomentar a discussão

acerca da reestruturação produtiva da avicultura e seus principais rebatimentos territoriais. Foi

possível também montar acervo fotográfico, que facilitou a análise de alguns processos.

Durante os trabalhos de campo pudemos visitar efetivamente duas unidades

produtivas do Grupo Cialne, incluindo a sede da empresa e uma fazenda localizada no

município de Guaiuba, as unidades produtivas da empresa Emape no município de

Maracaraú, o Sindicado dos Trabalhadores na Avicultura no Estado do Ceará (SINDIAVES) e

algumas pequenas produções avícolas dispersas pela RMF (Aquiraz, Cascavel, Eusébio,

Fortaleza, Guaiuba, Maracanaú e Maranguape). Além disso, participamos de eventos

relacionados ao setor, como a PecNordeste6, onde pudemos entrevistar alguns produtores,

visitamos algumas instituições também relacionadas ao setor, como o Banco do Nordeste e

Secretaria do Desenvolvimentos Agrário.

Nos municípios onde foram realizados os trabalhos de campo, aplicamos

entrevistas semiestruturadas com agentes representantes de empresas avícolas, associações,

sindicatos, pequenos produtores avícolas e aplicação de questionários a trabalhadores do

setor. No total, realizamos duas entrevistas com agentes representantes de empresas, uma

entrevista com representantes da associação dos produtores avícolas, duas entrevistas com o

representante do sindicato de trabalhadores na avicultura, treze entrevistas com pequenos

produtores avícolas, doze entrevistas com moradores residentes próximos às unidades

produtivas e aplicamos sete questionários a trabalhadores do setor avícola. Nos apêndices,

incluímos alguns dos modelos das entrevistas que realizamos.

Todavia, nosso trabalho deparou-se com o problema sobretudo de obtenção de

dados primários junto às empresas do setor avícola cearense e à associação representante

desses produtores, dificultando o levantamento de informações diretamente nas fontes de

produção através de visitas às empresas consideradas mais importantes na produção avícola

6 A PecNordeste é mais tradicional e mais importante feira agropecuária realizada Ceará e voltada também para

o setor avícola. A feira é realizada anualmente em Fortaleza, sendo organizada pela Federação da Agricultura e

Pecuária do Estado do Ceará (FAEC) e pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Em 2016,

a PecNordeste chegou a sua 20ª edição.

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local. Esta dificuldade geralmente enfrentada pelos pesquisadores torna-se mais séria quando

necessita-se de dados primários a serem colhidos diretamente e posteriormente sistematizados

no estudo. Tornou-se, portanto, difícil apresentar parâmetros que pudessem demonstrar a

relevância da avicultura na economia agropecuária do Ceará de forma mais precisa, bem

como o papel que as grandes empresas do setor têm no controle da atividade avícola cearense.

Nesse sentido, resgatamos Bomtempo (2011, p. 37) ao dizer que

[...] fazer pesquisa de campo no Brasil, sobretudo na área industrial, é um tanto

difícil, ainda mais se a mesma for realizada em ambientes onde predominam

empresas de um mesmo ramo produtivo e que não têm embutida a ideologia da

cooperação, pelo contrário, o que predominam são acirradas competições por

disputas de mercado.

Apesar dessa dificuldade de obter dados juntamente com as empresas e realizar

trabalhos de campo nestas, ainda assim conseguimos uma série de informações, obtidas

sobretudo na internet e com as poucas entrevistas que pudemos realizar com os representantes

do setor.

Em termos de estruturação, esta dissertação se divide em três capítulos, além desta

introdução e das considerações finais, ao longo dos quais apreendemos elementos que

fundamentaram a discussão sobre a configuração geográfica da avicultura cearense,

destacando o processo de reestruturação produtiva avícola e as principais dinâmicas

territoriais observadas no setor. Ao longo do trabalho, acreditamos ser possível evidenciar a

forma pela qual o espaço é organizado em prol da atividade avícola, mediante a nova

configuração socioespacial observada no setor a partir da reestruturação produtiva em curso,

responsável por dinamizar os usos do espaço e modificar a configuração territorial já

previamente estabelecida antes do desenvolvimento dessa atividade.

No segundo capítulo, sentimos a necessidade de apresentar novamente, assim

como fizemos na pesquisa monográfica, o panorama da produção avícola brasileira de forma

mais atualizada, tendo como embasamento a configuração da economia mundial a partir da

reestruturação produtiva do capital e a relação com a reestruturação produtiva da agropecuária

no âmbito nacional. Também retornamos ao debate acerca da reestruturação socioespacial da

agropecuária brasileira em relação com o processo de reestruturação produtiva do capital

devido à importância para a pesquisa da discussão acerca da produção do espaço agropecuário

por meio da reprodução do capital e do próprio modo capitalista de produção, que ensejam,

através das ações hegemônicas, mudanças no espaço e na sociedade. Apresentamos também

um panorama sobre a avicultura no mundo e no Brasil, no qual debatemos as dinâmicas

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socioespaciais envolvidas na produção avícola e como se dá a sua espacialização atualmente,

observando as principais transformações no setor e evolução da produção. Indicamos ainda os

processos que ensejaram a reestruturação da produção avícola, como a modernização da

produção e a expansão do consumo, além dos agentes envolvidos no setor, destacando o papel

das grandes empresas avícolas.

O terceiro capítulo traz uma explanação sobre a configuração socioespacial da

avicultura cearense. Foi importante fazer uma contextualização histórica do desenvolvimento

da produção avícola do Estado do Ceará e a sua inserção no panorama de reestruturação

produtiva da agropecuária brasileira, além de demonstrar qual o papel dessa atividade na

composição geral do espaço agropecuário cearense. Além disso, demonstramos como a

avicultura cearense vem se reorganizado e se espacializando no território cearense, através da

análise sobre o contexto metropolitano em que se estabelece a produção avícola no Ceará,

uma vez que a atividade ocorre de forma preponderante em municípios que constituem a

Região Metropolitana de Fortaleza. Procurou-se também discutir acerca do processo de

territorialização do capital avícola cearense, mediante a caracterização das principais

empresas do setor, refletindo acerca do seu papel e seu poder na regulação da avicultura

cearense.

Já no quarto capítulo, dissertamos sobre como se dá a reorganização das relações

sociais de produção a partir da produção avícola e as relações de poder envolvidas nesse

processo. O objetivo foi discutir como o uso e a organização do espaço da produção e da

reprodução do capital avícola modificaram as relações de produção. Nesse contexto,

analisamos a reconfiguração das relações sociais de produção a partir da reestruturação

produtiva da atividade no Ceará. Com isso, demonstramos como as mudanças na base técnica

e científica da produção, provenientes do processo de aprofundamento da globalização da

economia, transformaram as formas gerais de organização da produção avícola cearense. A

partir disso, pudemos discutir sobre como os agentes hegemônicos da produção avícola fazem

o uso corporativo do território, por meio de uma alta seletividade espacial, e monopolizam a

produção através das redes de produção do conhecimento e das relações de poder. Diante

dessa configuração, também pudemos refletir sobre relações de trabalho associadas às novas

formas de produção na avicultura cearense e as perspectivas diante do atual quadro de

progressivas modificações que poderão ensejar ainda novas dinâmicas territoriais nesse setor

produtivo.

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2 A AVICULTURA NO CONTEXTO DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA

2.1 PANORAMA DA AVICULTURA MUNDIAL E BRASILEIRA

Historicamente, a produção de aves, ou vulgarmente a “criação de galinhas”,

sempre teve papel de grande importância para a sociedade. Há relatos de que as primeiras

criações foram originárias do continente asiático, onde os animais tinham papel sobretudo de

ornamentação das residências, cujo consumo ainda não era muito difundido tal qual é

observado atualmente. É apenas somente a partir do século XIX que os ovos e a carne

passaram a ser amplamente consumidos pela população, e, a partir disso, a atividade de

criação de aves passou a ter maior relevância no contexto produtivo mundial, sendo inserida

diretamente nos “[...] circuitos globalizados da produção e consumo de produtos

agropecuários” (ELIAS, 2003, 2006), quando a produção e o consumo de aves se difundiu por

todos os continentes do planeta, passando a ser produzidas em moldes industriais e

empresariais7 e se distanciando de um cultivo mais tradicional, que mesmo assim ainda

assumia um significativo destaque.

Rizzi (1993) ressalta que o desenvolvimento da indústria avícola se intensificou

sobremodo a partir de 1940, quando vários países do mundo se envolveram na II Guerra

Mundial (1939-1945). Conforme aponta, até então a produção de frangos era uma atividade

basicamente artesanal, pois os criadores não tinham conhecimento dos cuidados necessários

quanto à nutrição de aves e os procedimentos técnicos voltados para a criação destas. Nesse

sentido, apesar de a atividade avícola já ser praticada anteriormente, foi somente durante a II

Guerra Mundial que se deu o desenvolvimento da avicultura com o incentivo necessário para

sua definitiva consolidação, realizada atualmente também sob os moldes industriais, com uma

intensa utilização de técnica, capital e trabalho, através de uma significativa racionalização do

processo produtivo avícola.

Até então, a avicultura era uma atividade basicamente artesanal e de pouca

importância. Os produtores não tinham conhecimento técnico quanto à sanidade, nutrição e

manejo das aves e, portanto, a atividade apresentava baixa produtividade, com uma elevada

mortandade dos animais. Com a Guerra, destaca Rizzi (1993), houve a necessidade de

7 Dando origem ao que se conhece hoje como “avicultura industrial” ou “avicultura empresarial”, que é aquela

praticada com uma utilização intensiva de capital, trabalho e tecnologias, sobretudo produzindo carne e ovos em

larga escala, diferentemente da “avicultura tradicional”, que ainda persiste.

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aumentar a produção de carnes alternativas e de baixo custo, de preferência pequenos animais,

que estivessem prontos para o consumo, em um curto espaço de tempo, destinados aos

soldados em combate e às populações refugiadas nos campos e nas cidades afetadas pela

guerra. Desta maneira, nos Estados Unidos, começou-se o desenvolvimento de pesquisas para

obter novas linhagens de frangos, medicamentos específicos para a avicultura e novas

fórmulas de rações que atendessem aos requerimentos nutricionais das aves, haja vista o

grande potencial para o seu consumo especialmente nos países europeus, prontamente

atendido por produtores e industriais estadunidenses. O mesmo ocorreu no pós-guerra, em

outros países da Europa, segundo uma publicação do BNDES (1995).

Desta maneira, o consumo de aves tem evoluído de forma expressiva e a produção

de carne e ovos aumentou rapidamente, uma vez que os avanços tecnológicos que foram

obtidos a partir dos resultados das pesquisas científicas deram impulso para uma rápida

expansão industrial da avicultura em vários países ao redor do mundo, mas especialmente nos

Estados Unidos. O encurtamento do ciclo de produção, a maior eficiência produtiva e a

consequente redução do custo da carne de aves, o ativismo de consciência alimentar

privilegiando as carnes brancas, a diversidade de produtos derivados e o crescente uso dessas

carnes no preparo e processamento industrial de outros produtos explicam essa evolução da

produção e do consumo mundial da avicultura (FAO apud BNDES, 1995, p. 03).

A substituição das carnes vermelhas pelas brancas, principalmente pelo frango,

nos países mais desenvolvidos, decorreu de uma forte queda de seu preço relativo, resultado

da aplicação de técnicas na avicultura para obtenção de maior eficiência do seu sistema

produtivo, ainda segundo o BNDES (1995). Além disso, mais recentemente, em função da

busca por uma dieta teoricamente mais saudável e equilibrada, com base em valores atrelados

a um novo enfoque sobre saúde, as carnes brancas e os ovos têm sido mais valorizados,

conforme indicam Ribeiro e Corção (2013), o que também fez aumentar a produção e o

consumo desses produtos. Desse modo, o consumo de carne de frango e ovos vem sendo

responsável por mudanças nos hábitos alimentares ao redor do mundo, alavancando

consideravelmente sua produção.

Sorj, Pompermayer e Coradini (1982) informam que a carne de frango industrial

era consumida por uma pequena quantidade de pessoas, geralmente de classe média. Mais

tarde, segundo os autores, com o movimento decrescente dos preços em relação aos da carne

bovina e uma oferta eficiente do produto, viabilizou-se a elevação do consumo de carne de

frango, tornando-se a mais popular. As empresas avícolas conseguiram tirar proveito das

mudanças nos hábitos de consumo, lançando produtos de preparo rápido e embalagens com

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diferentes quantidades, além do preço mais baixo em relação ao da carne bovina e suína, e da

diversidade e praticidade dos produtos oferecidos, associados ao conceito de um produto

“saudável”.

Assim, mesmo no mercado doméstico, o consumo de cortes elaborados vem

tirando espaço do frango inteiro. Nesse sentido, segundo Díaz (2007), a caracterização do

consumo da carne de frango, em alguns países, é vista de forma que as camadas de renda mais

baixas são os consumidores que expandem seu consumo pelo fator renda. Nessas camadas, as

carnes, cuja produção oferece condições de reduzir seu custo e, consequentemente, o preço

final do produto, levam grande vantagem. Um exemplo disso é o da carne de frango, que teve

uma considerável expansão do consumo per capita nas últimas décadas, como já indicamos.

Associado a isso, o consumo do frango industrial produziu modificações nos

hábitos de consumo popular. Anteriormente, o frango caipira era o preferido pelo consumidor,

que considerava o frango industrial inferior. Sorj, Pompermayer e Coradini (1982) destacam

que o frango industrial se impõe primeiro nos supermercados, e com um público

fundamentalmente de classe média. Com o tempo, seja por oferta sistemática na maioria dos

centros de vendas de carnes, seja pelo preço relativamente inferior à carne de boi, ou mesmo

pelo marketing relacionado à maior saudabilidade, a carne de frango terminou por ingressar

inclusive no consumo popular, impulsionando o crescimento no número de empresas voltadas

para atender à demanda do consumo avícola, como observado atualmente no Ceará, por

exemplo, conforme será demonstrado no capítulo seguinte.

Nesse sentido, a carne de frango vem conquistando grande espaço na alimentação,

especialmente da população brasileira, uma vez que tal produto apresenta cotação de preço

menor em relação à carne suína e bovina, apresenta bons aspectos nutricionais como a baixa

porcentagem de gordura, rico teor de proteína e contém baixa taxa de colesterol. De acordo

com Silva (2016), também é notado que nos últimos anos a indústria vem procurando elaborar

novos meios de consumo da carne de frango através de produtos semiprontos. A partir disso,

é observado que ano após ano há crescentes incrementos no consumo per capita da carne de

frango. O consumo per capita é crescente no Brasil. A média per capita de consumo de carne

de frango atingiu índice de 43,25 quilos em 2015, saldo 1,1% maior que o obtido no ano

anterior, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA)8.

Ainda segundo Silva (2016), espera-se que, com o aumento da população mundial

e a crescente urbanização nos países emergentes, o consumo de proteína animal aumente,

8 ABPA. Disponível em: <http://abpa-br.com.br/>. Acesso em: 13 jul. 2016.

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principalmente a carne de frango. No entanto já se observa a crescente preocupação das

empresas em agregar valor ao produto final na tentativa de alcançar maiores ganhos, através

de novas técnicas comerciais como cortes selecionados, food service, desossa, produtos

semiprontos, etc. Além disso, mudanças no estilo de vida da sociedade impulsionaram a

adaptação da agroindústria avícola às novas necessidades e preferências dos consumidores. E,

assim, novos mercados foram conquistados com a disponibilidade de produtos mais

elaborados, com maior valor agregado, possibilitando ainda mais o aumento do consumo de

frango. A esse respeito, Ortega (2000, p. 39) afirma que

[...] esse aumento no consumo de frango, nas últimas décadas, é decorrente de

diversos fatores: de um lado, as estruturas produtivas e de distribuição vêm

possibilitando elevadas taxas de conversão de proteína vegetal em animal, a custos

cada vez mais baixos. De outro, do ponto de vista da demanda, há vários fatores,

como: a) mudanças nos hábitos alimentares, em virtude da preocupação com a

redução do consumo de carnes de elevados teores de gordura, o que favorece a

avicultura; b) motivos religiosos, dado o crescimento do número de adeptos de

religiões e seitas que restringem o consumo de proteína animal a poucos animais; e

c) produto com baixo preço e produzido em larga escala, capaz de atender mercados

gigantescos.

Para Rizzi (1999), as alterações no consumo e aumento relativo do mercado de

carnes de frango, devem-se à ampliação da escala de produção e inovações tecnológicas em

sua cadeia produtiva, enquanto as outras carnes permanecem ainda, com raras exceções,

relativamente atrasadas em termos de tecnologia de processo e de matérias-primas. Portanto, a

reestruturação da indústria avícola permitiu reduzir substancialmente custos e preços, bem

como criar variedades de produtos com maior potencial de difusão e ampliação de mercados.

Assim, associado a essa alteração dos hábitos alimentares, especialmente nas últimas décadas,

verificamos uma reestruturação de diversos sistemas de produção, principalmente para

atender à forma de produção da agropecuária globalizada, tanto no plano mundial como no

nacional, segundo afirma Elias (2003). Dentre eles estão os voltados à produção avícola, que

vêm se desenvolvendo de forma acelerada.

Nesse sentido, as mudanças ocorridas no plano global quanto às formas de

produção, industrialização e comercialização, bem como no consumo de produtos de origem

animal, acarretaram no forte dinamismo que a produção avícola fomentou nos seus fatores

produtivos e comerciais desde a década de 1970. Com o tempo, a avicultura tornou-se uma

das maiores indústrias do setor de carnes em todo o mundo, e a indústria do ovo é igualmente

robusta, haja vista que tanto a produção de carne quanto a produção de ovos integram o

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seguimento da avicultura industrial, e ambas vêm passando por transformações, como

aprofundaremos melhor no subcapítulo que se segue a este.

A abertura do mercado com o neoliberalismo, impulsionada não só por forças

políticas, mas também por um movimento dinâmico global, como se refere Harvey (2014),

colocou as empresas da avicultura sob pressão de novas forças competitivas. Esse processo

estabeleceu um novo ambiente, em que a adequação contínua às mudanças apresentava-se

como condição essencial para manutenção da capacidade de sobrevivência e desenvolvimento

das organizações. O progresso tecnológico acentuado e os próprios fatores competitivos

existentes, como aspectos culturais, sociais e ambientais, impuseram a movimentação das

indústrias para uma adaptação estratégica permanente, conforme asseguram Sorj,

Pompermayer e Coradini (1982) e Martins (1996), indicando as grandes transformações

observadas no setor.

Nesse contexto, segundo indicam os autores citados, a indústria avícola passou a

empregar estratégias que possibilitaram a implementação de competência técnica e

operacional, envolvendo produto, processo e distribuição, para enfrentar a competição dentro

do novo mercado global e assegurar sua capacidade de permanência e expansão. A

agroindústria avícola apresenta uma integração vertical nos elos do seu “[...] circuito espacial

produtivo” (SANTOS, 1994, 1996) e grande difusão tecnológica em termos de técnicas de

manejo e produtos-insumos, uma vez que a avicultura vem experimentando significativas

mudanças estruturais e incorporando novas tecnologias, alterando as características e o

movimento da geografia da produção avícola ao redor do mundo, trazendo rebatimentos até

mesmo para o contexto produtivo observado no Brasil, de uma maneira geral, conforme

descreveremos na sequência, e no Ceará, mais especificamente, conforme demonstraremos

nos capítulos seguintes.

Nesse sentido, faz-se importante compreender a evolução da produção avícola no

Brasil, destacando sua contextualização histórica, seu papel frente ao circuito global de

produção e consumo avícola, seu comportamento da avicultura industrial, entre ouros. Para

isso, baseamo-nos sobretudo nos trabalhos de Arashiro (1989), Sorj, Pompermayer e Coradini

(1982), Rizzi (1993, 1999) e Ortega (2000), que estão entre os principais autores que discutem

a evolução e a contextualização histórica da avicultura brasileira. São apresentados, ainda,

alguns dados que permitem compreender o lugar que o Brasil ocupa no contexto mundial da

avicultura industrial, especialmente no que tange às quantidades produzida e exportada.

Segundo consta, as primeiras aves domesticadas foram trazidas ao Brasil pelos

portugueses que aqui começaram a chegar a partir de 1500. De acordo com Arashiro (1989, p.

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18), “[...] ainda na época colonial, foram introduzidas no Brasil as raças orientais e asiáticas,

que os portugueses trouxeram de suas viagens às Índias e ao Oriente. Estas, cruzando-se com

as aves aqui existentes, modificaram completamente seu tipo, dando origem à galinha

crioula”. Por muito tempo, a avicultura praticada no Brasil possuía apenas caráter ornamental,

objetivando a participação em concursos e exposições, para venda ou permuta entre criadores.

Nem se pensava na quantidade ou mesmo qualidade de ovos, tampouco no frango para abate.

Ainda segundo Arashiro (1989), posteriormente, tais aves foram criadas de

maneira mais extensiva em fazendas com o intuito de produzir carnes e ovos para os

moradores especialmente da zona rural, bem como da zona urbana, em crescimento. Dessa

forma, os primeiros passos da avicultura brasileira foram dados por produtores familiares,

presentes até hoje em várias regiões do país. A atividade praticada no país, e por um longo

tempo, era composta até então principalmente por animais rústicos, como os das linhagens

“caipiras”, não sendo conhecido ainda o “frango de granja”. A produção avícola, juntamente

com outras atividades (como leite, ovos, carnes bovina e suína), era inicialmente voltada à

subsistência, fazendo a comercialização apenas dos excedentes, sendo assim responsável pela

geração de renda das propriedades.

A avicultura de postura, voltada para a produção em larga escala de ovos, iniciou-

se em São Paulo, com a chegada dos primeiros imigrantes japoneses. Entre 1900 e 1930

foram importadas as primeiras galinhas de raça pura e depois disso a avicultura tornou-se

rapidamente comercial, e já na década de 1930 havia informações sobre exportação de ovos

brasileiros (ARASHIRO, 1989). A partir disso, a avicultura organizada pelo “Estado Novo”

evidenciava o interesse político na estruturação e ampliação da atividade no Brasil, por meio

de decretos e investimentos no setor. Assim, em 1933, a partir de providências tomadas pelo

então presidente Getúlio Vargas, conseguiu-se alavancar a exportação de ovos, por exemplo.

Em 1938, Vargas assinou o decreto-lei n. 3.467, de 17 de dezembro de 1939, instituindo o

regulamento de inspeção sanitária, classificação, conservação e embalagem de ovos

destinados ao comércio exterior, o que se constituiu em uma das medidas de mais largo

alcance, posta em prática pelo Estado Novo, em favor da avicultura brasileira até então

(ARASHIRO, 1989, p. 132).

Segundo informa Arashiro (1989, p. 132-133), de acordo com esse decreto, só

poderiam ser exportados ovos com um certificado de sanidade expedido pela Divisão de

Inspeção de Produtos de Origem Animal, do Ministério da Agricultura, comprovando a

qualidade e a frescura destes, requisitos essenciais para que o produto pudesse despertar o

interesse dos centros consumidores e para manter alguma estabilidade das exportações. O

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espírito do decreto assinado por Getúlio Vargas foi, principalmente, de garantir uma larga

expansão do produto no exterior, através de um rigoroso controle comercial e sanitário por

parte do Governo Federal, exigência de grande importância para os mercados importadores.

Ainda segundo o autor citado, como resultados obtidos a partir dessa direta

intervenção no Estado no desenvolvimento da avicultura brasileira, as exportações de ovos

atingiram altas cotações no mercado de Londres, apenas pouco abaixo das cotações dos ovos

da Dinamarca, já largamente conceituada naquela época pela sua excelência em qualidade.

Em 1937, foram exportados 102.100 quilos de ovos. Em 1938, esse total subiu para 193.360

quilos, reflexo da ação do decreto do Estado Novo. Em 1939, embora a exportação total desse

produto decrescesse em virtude do início da II Guerra Mundial, foram enviados para o

exterior 167.861 quilos de ovos (ARASHIRO, 1989, p. 134).

Tal aprovação abriu novas possibilidades ao comércio exportador de ovos no

Brasil, garantindo o apoio de Governo Federal e, ao mesmo tempo, assegurou aos mercados

estrangeiros a perfeita integridade do produto brasileiro, o que demonstra como desde o

princípio da subordinação da avicultura nacional ao capital comercial, esta já se voltava em

termos de produção a atender aos padrões do mercado internacional. Fica nítido, nesse

sentido, a expressiva vinculação do Estado com o setor produtivo, especialmente a avicultura

industrial, evidenciando a intrínseca intervenção que o Estado sempre desempenhou no

desenvolvimento da agropecuária brasileira, conforme analisado por Gonçalves Neto (1997).

Depois disso, já entre 1940 e 1950, teve início a avicultura industrial de abate em

Santa Catarina, com a instalação das empresas Sadia e Perdigão, voltadas para a produção

especialmente de carne de frango, como descreve Arashiro (1989). Depois disso, houve uma

difusão da produção avícola, com a expansão da atividade para o Centro-Oeste e o Norte. Já

em meados de 1959, as aves estavam sendo abatidas, comumente, em estabelecimentos

industriais e em postos de abate anexos às granjas. Os abatedouros de aves funcionavam

também como matadouros de pequenos animais como suínos, caprinos, ovinos e coelhos. As

instalações, ainda muito simplórias e precárias, compreendiam depósito ou curral, sala de

matança, sistema de refrigeração e sistema de distribuição (ARASHIRO, 1989, p. 154).

Assim, o complexo avícola brasileiro começou com a introdução de raças híbridas

no país, na década de 1940, que se intensificou somente no início da década de 1960, com a

implantação de galpões de mil frangos e a instalação de filiais de empresas estadunidenses e

canadenses produtoras de avós matrizeiras9. Para a produção local de matrizes, essas

9 As matrizes são as aves que produzem os híbridos, os pintinhos de um dia, resultantes de diversos cruzamentos,

e que são utilizados na criação comercial de frangos de corte e de galinhas poedeiras, formando, assim, os

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empresas trouxeram ao Brasil suas linhagens de avós e intensificaram sua distribuição no

país, que estava restrita a poucas regiões e atendia à demanda de criação de “fundo de

quintal”. Estas empresas ofereciam também todo um pacote tecnológico para viabilização da

produção avícola a partir das suas linhagens, como observa Ortega (1988). Com isso,

começava-se a viabilizar a produção avícola em larga escala no Brasil para a produção seja de

ovos, seja de carne.

Assim, de acordo com Sorj, Pompermayer e Coradini (1982), a avicultura no

modelo industrial no Brasil pode ter como marco inicial o final da década de 1950, quando

houve a substituição da forma antiga da avicultura comercial estabelecida anteriormente, nos

anos 1920 e 1930. A atividade se desenvolve, de forma inicial, principalmente no Estado de

São Paulo, de forma independente, na qual os produtores granjeiros adquiriam os insumos

diretamente no mercado, engordavam as aves e as vendiam para um frigorífico abatê-las. Foi

quando os reflexos dos avanços tecnológicos externos começaram a chegar no Brasil, segundo

Ortega (1988), quando tiveram início as importações das linhagens híbridas americanas de

frangos, mais resistentes e produtivas. Junto com as aves vieram também novos padrões de

manejo e alimentação das aves, que com o passar do tempo foram sendo gradativamente

incorporados pelos produtores brasileiros, reestruturando de maneira considerável o setor.

Os autores citados afirmam que a avicultura brasileira era, até o final da década de

1950, uma atividade de subsistência, preponderantemente, sendo desenvolvida em bases não

empresariais, como fonte de renda alternativa e subsistência familiar. Todavia, de acordo com

esses autores, já na década de 1960 foram instaladas as primeiras fábricas de ração, as

primeiras associações avícolas e cooperativas e o início da importação de equipamentos

avícolas, além do início dos preparos das primeiras vacinas. Mas foi no início de 1970,

período em que houve profunda reorganização do circuito espacial da produção de carnes no

Brasil, que se verificou a consolidação de um novo modelo de produção avícola, engendradas

pelas transformações econômicas e técnicas ocorridas em nível mundial no sistema de

produção avícola, iniciando um processo contínuo e gradativo de transformações que

mudariam totalmente a concepção inicial da avicultura praticada no país, resultando na

configuração atualmente predominante.

rebanhos comerciais. Explicando de uma outra forma e remontando aos processos genético da sua produção, as

matrizes são os rebanhos multiplicadores produzidos nas granjas de avós, que, por sua vez, são produzidas pelas

aves bisavoseiras, produzidas nas granjas de rebanhos núcleo, onde é realizada a seleção genética para a criação

de linhas puras para a produção de aves bisavós, que é um processo altamente tecnológico, restrito a poucas

empresas multinacionais. Fonte das informações: http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/frango_de_corte.

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A industrialização da carne de frango se estabelece como um moderno segmento

na indústria agroalimentar no Brasil nos anos 1970, quando se dá a instalação de frigoríficos e

relacionamento dos grupos nacionais ligados à atividade avícola e empresas estrangeiras

fornecedoras de linhagens, conforme destaca Rizzi (1993). A década de 1970, portanto,

entrou para a história como sendo a época da consolidação da avicultura industrial no Brasil.

Para Belusso e Hespanhol (2010), isso só foi possível devido às políticas setoriais para o

desenvolvimento da avicultura brasileira, haja vista que o estabelecimento das indústrias de

frango como um segmento moderno se deu devido à política agropecuária de crédito

subsidiado, instalação de frigoríficos e articulação entre grupos nacionais e empresas

estrangeiras produtoras de linhagens.

Além disso, na década de 1970, com a inserção da agropecuária no comércio

internacional (composição da produção, crescimento das atividades ligadas à exportação e

aumento do grau de processamento industrial dos produtos) e com a crescente urbanização e o

aumento do êxodo rural, a atividade foi sofrendo inúmeros processos de intensificação, a fim

de conseguir suprir a demanda por alimentos dos grandes centros urbanos, como também

asseguram Belusso e Hespanhol (2010). Desse modo, o desenvolvimento da avicultura de fato

se efetivou na década de 1970, com a integração entre agropecuária e a indústria processadora

no Brasil, e, assim, a entrada de empresas processadoras no mercado e especialistas no

processo de produção do frango. Transformações tecnológicas, técnicas de produção intensiva

e o desenvolvimento de genética adaptada contribuíram para o avanço da atividade.

Assim, a atividade cujo desenvolvimento ocorreu a partir do final da década de

1950 nos estados do Sudeste, especialmente em São Paulo, se deslocou na década de 1970

para a região Sul, sendo Santa Catarina o estado de maior destaque.

Empresas que já possuíam negócios na produção de suínos e outras em cereais

diversificaram-se para uma atividade nova; a produção e comercialização de carnes

de frango, impulsionadas pela oferta de créditos para investimentos de longo prazo,

associadas à utilização de tecnologias importadas, no que se refere à genética e às

técnicas ambientais, sanitárias, nutricionais, de abate e processamento. Outros

fatores, como a pujança do setor empresarial, a evolução da renda per capita

brasileira e a estrutura fundiária regional, também contribuíram para a consolidação

da agroindústria de aves no Sul do Brasil (CANEVER et al., 1997, p. 07-08).

De acordo com Canever et al. (1997), ainda em 1960, no estado de Santa

Catarina, surgiu o sistema de integração vertical na avicultura, um modo de produção, de

forma contratual, entre a indústria (frigoríficos) e os produtores, a exemplo do que já ocorria

nos Estados Unidos. Tal processo se deu de forma concomitante com o processo de

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diversificação dos frigoríficos de suínos. Nesse novo modelo, o avicultor integrado passou a

ser subordinado pelos interesses da indústria, que fornece os principais insumos da atividade,

como ração e medicamentos, além de assistência técnica e reposição de lotes (pintinhos) para

que os avicultores produzam de acordo com as demandas industriais. Assim, no sistema de

integração, que reúne hoje milhares de pequenos produtores rurais no país, os avicultores são

encarregados da engorda do frango. A produção é, então, repassada à indústria, que garante a

remuneração ao avicultor. Na Geografia, autores como Espíndola (1999), Tsukamoto (2000),

Mizusaki (2003), Belusso (2010) e Paulino (2012), entre outros, discutem esse processo de

integração na avicultura, destacando sobretudo a dependência dos produtores face às

empresas.

Dessa forma, o processo de criação de frangos de corte no Brasil, que inicialmente

consistia em uma grande variedade de produtores independentes, atualmente vem

gradativamente sendo substituído pelas grandes empresas verticalizadas. Para Belusso e

Hespanhol (2010), foi nesse ambiente que ocorreu a emergência do sistema de integração, no

qual o mercado dinâmico é oligopolizado, representado pelas grandes empresas integradoras,

pelas cooperativas abatedoras de frangos e pelas empresas que começaram a adotar recursos

tecnológicos nas áreas de nutrição, sanidade, mecânica e genética. Esse conjunto de empresas

tem induzido os integrados a adotarem novas tecnologias, e tem procurado novas regiões para

instalar unidades de produção com incentivos fiscais e matérias-primas de menor custo.

Tal sistema produtivo representado pela integração entre produtores e empresas,

considerado mais verticalizado e intensivo, possibilitou o rápido desenvolvimento da

avicultura nacional, principalmente nos quesitos relacionados à biosseguridade, sanidade,

qualidade dos animais e da carne de frango. A presença da integradora (a empresa), por sua

vez, tornou a atividade mais organizada, estabelecendo padrões de manejo e de “boas

práticas” e fornecendo assistência técnica para os produtores para que sua demanda fosse

amplamente atendida. Todavia, tem levado a uma insensitiva exploração do trabalho

camponês ao capital avícola, como analisam Mizusaki (2003) e Paulino (2012).

Estas transformações tiveram impactos significativos em termos de exigência de

capital mínimo para o produtor se tornar integrado, em termos de número de empregos

gerados por galpões e/ou milhares de frangos produzidos. Além disso, a integração vertical

garantiu um custo de produção reduzido para as grandes processadoras da carne de frango,

qualidade do produto e grande escala de produção, viabilizando o incremento das vendas para

o mercado externo e a diversificação do produto destinado a abastecer a demanda do mercado

interno. Isso permitiu uma considerável expansão horizontal (no espaço, com a incorporação

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41

de novas áreas) e vertical (no tempo, com o aumento da produtividade), nos termos de Aracri

(2012), da avicultura no território brasileiro.

Cabe mencionar que o rápido desenvolvimento da avicultura brasileira, a partir da

década de 1970, através da reestruturação do complexo avícola, se deu de forma concomitante

com os demais segmentos da agropecuária nacional, segundo apresenta Elias (2003, 2007b).

Além disso, a industrialização da avicultura brasileira passou a ser um marco para a adoção de

novas tecnologias no processo de produção avícola, a qual passou a se integrar com outros

grandes setores produtivos, como a indústria de ração (dependente da produção de grãos,

especialmente soja), de química farmacêutica, de máquinas e de equipamentos, adotando

formas industriais em seus processos produtivos, tendo como característica e objetivo a

produção em larga escala, fomentando uma grande integração de capitais (DELGADO, 1985)

também no setor avícola.

Com isso, já na década de 1970, com a atuação do Governo Federal, por meio de

subsídios financeiros, a avicultura de corte havia alcançado um excedente de produção em

relação à demanda, iniciando-se as exportações nacionais. As primeiras exportações de

frangos foram realizadas também em meados dessa década, o que contribuiu para uma maior

expansão desta atividade. Segundo Rizzi (1993), a internacionalização da indústria brasileira

de frangos, via exportações, que se iniciaram em 1975, foi baseada nas estratégias das

empresas líderes do setor avícola em expandir sua atuação no mercado externo. Foi nesse ano

que a empresa Perdigão construiu o primeiro abatedouro exclusivo para aves, em Videira

(SC), tornando-se também uma das pioneiras na exportação de carne de frango do Brasil, cujo

destino na época era a Arábia Saudita10

. Assim, a ampliação do mercado do setor baseou-se,

de um lado, nas condições tecnológicas de algumas empresas no mercado interno, e de outro

nas vantagens específicas do país, relacionadas à abundância de matérias-primas, políticas de

subsídios, câmbio favorecido e mão de obra a custos mais baixos.

É preciso ressaltar que a avicultura brasileira avançou consideravelmente a partir

dos anos 1970, ao ser inserida no processo de modernização agropecuária, tendo o Estado

atuado de forma relevante para o seu desenvolvimento por meio de subsídios públicos, seja

com crédito, custeio ou investimento mediante os recursos de bancos públicos, fundos de

desenvolvimento e programas nacionais. A avicultura empresarial, em tal contexto, surgiu no

Brasil de maneira planejada, tanto pelo Estado como pelas próprias indústrias processadoras,

uma vez que as empresas foram se localizando de forma estratégica próximas das regiões

10

BRF. Disponível em: <https://www.brf-global.com/brasil/sobre-brf/quem-somos-nossa-historia>. Acesso em:

15 ago. 2016.

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produtoras de grãos e, especialmente, em lugares onde havia a possibilidade de ser efetuar e

ampliar o sistema de integração entre produtor rural e agroindústria, e ampliando ainda mais o

sistema de integração.

Ao caracterizar a atividade avícola em relação aos outros setores agropecuários,

Sorj, Pompermayer e Coradini (1982, p. 10) afirmam que avicultura apresenta um altíssimo

grau de subordinação da produção rural à moderna tecnologia produzida pelo complexo

agroindustrial, fazendo com que o complexo avícola seja um campo privilegiado para análise

das transformações das relações sociais no espaço agrário sob a liderança do capital

industrial11. Ainda segundo os autores, o setor passava ao longo dos anos 1980 por um

crescimento vertiginoso, no bojo da expansão do conjunto do setor agroindustrial, baseado,

em boa parte, em tecnologia estrangeira, possibilitando, desse modo, esclarecer a inserção do

Brasil no mercado mundial de produtos alimentícios; além de permitir a análise dos

problemas da representação política das novas camadas sociais de produtores rurais ligados ao

complexo agroindustrial e que se distinguem claramente dos antigos produtores agrícolas.

Já nos anos 1990, com a abertura da economia, a agroindústria avícola adentra os

tempos da competitividade, quando a reestruturação produtiva, com base nas inovações

tecnológicas e científicas, associada a uma significativa reorganização administrativa das

empresas, transformaram-se em estratégias de sobrevivência para o setor, segundo argumenta

Mazzali (2000). Além disso, a produção de frango incrementou-se significativamente no país

a partir de 1990. Grande parte desse aumento foi devido às exportações, visto que o Brasil se

posicionou como um dos maiores produtores e exportadores no mercado internacional, graças

tanto à abertura da economia quanto à ampliação e contínua presença do Estado com

incentivos no setor agropecuário.

Godoy (1999, p. 03) defende que o desenvolvimento mais recente da indústria

avícola brasileira é resultado direto do processo de urbanização ocorrido no Brasil nas últimas

décadas, no qual essa urbanização atuou de duas maneiras distintas na criação de um novo e

amplo mercado consumidor, primeiro ao transferir do campo para as cidades grandes parcelas

da população, aqui inclusos os que produziam frangos e poedeiras para a própria subsistência

e/ou para o atendimento, eventual ou contínuo, de terceiros; e segundo ao valorizar os espaços

urbanos, eliminando não só os “cinturões verdes” que cercavam os grandes centros urbanos,

mas, sobretudo, as criações domésticas. Nesse sentido, há de se considerar o importante

processo de urbanização da sociedade e do território brasileiro, conforme indica Santos

11

Acerca da associação entre agricultura e indústria no Brasil, ver especialmente Oliveira (2010).

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(2005), responsável por alavancar o consumo urbano e, por sua vez, o consumo de aves e

ovos.

Vieira e Dias (2005) afirmam que a adoção de novas tecnologias, em especial na

genética e na automação do abate e processamento, bem como no desenvolvimento de novos

produtos, associadas a uma melhor coordenação das etapas de produção, determinada pela

relação contratual entre produtores e indústria processadora, proporcionam maior

competitividade ao setor. Os autores destacam também que o alto nível tecnológico alcançado

pela avicultura de corte nacional colocou a atividade em posição privilegiada em relação a

outras atividades desenvolvidas no Brasil, alcançando um nível de produtividade e destaque

internacionais. Em um ambiente de enorme concorrência, o setor avícola, principalmente o

setor de frango de corte, ainda apresenta uma dinâmica expansionista impulsionada

especialmente pela exigência do mercado consumidor. Comprovando esse dinamismo, infere-

se que, atualmente, o Brasil ocupa um lugar de destaque no contexto produtivo mundial de

aves e ovos, tanto em produção quanto em exportações.

Para se compreender como tais processos compuseram o cenário atual da

avicultura tanto no Brasil quanto no mundo, em 2015 a produção mundial de carne de frango

foi de 87.944 milhões de toneladas, apresentando os Estados Unidos, Brasil e China,

respectivamente, como os principais produtores, como pode ser observado na tabela seguinte,

adaptada do Relatório Anual da ABPA (2016). Entre 2005 e 2015, essa produção mundial

aumentou pouco mais de 40%. Em 2015, ainda que com uma diferença inferior a meio por

cento, o Brasil superou a China, tornando-se o segundo maior produtor de carne de frango do

mundo. Apesar do Brasil ter superado a China por uma margem mínima, na tríade de

produtores líderes – Estados Unidos, China e Brasil –, só este último registrou expansão

acima da média no espaço de tempo da última década, cujo volume produzido se expandiu a

uma média pouco superior a 3,5% ao ano, ou 44% em 10 anos. Com isso, o Brasil se encontra

com 14,87% da produção de carne de frango no mundo, sendo um dos grandes produtores de

frangos de corte, ocupando a segunda posição a nível mundial, sendo superado apenas pelos

Estados Unidos, o líder do setor, com 20,42% da produção mundial, e à frente da China, que

concentrava, em 2015, 14,81% da produção.

Tabela 1 – Principais produtores mundiais de carne de frango. Quantidade produzida

(milhões de toneladas) / Percentual da produção mundial – 2015

País Quantidade

produzida

Percentual da

produção mundial Estados Unidos 17.966 20,41%

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Brasil 13.146 14,93%

China 13.025 14,79%

União Europeia 10.600 12,04%

Índia 3.900 4,43%

Outros países 29.373 33,37%

Total 88.010 100%

Fonte: USDA/ABPA (2016). Organização da autora.

No que se refere à exportação mundial, o Brasil ainda garante a primeira

colocação como principal exportador de carne de frango em 2015, tendo participação de

39,87% no mercado internacional, seguido dos Estados Unidos e da União Europeia, como

indicado na tabela 2. Em 2015, as exportações acumularam mais de 4 milhões de toneladas

(maior valor registrado no histórico nacional); para se ter ideia da evolução das exportações

brasileiras nos últimos anos, em 2002 o volume exportado não passava de 1,625 milhões de

toneladas, em 10 anos o país conseguiu aumentar em 246% o volume exportado. Embora a

exportação seja muito importante para o setor avícola nacional, não se pode desconsiderar o

crescimento do consumo interno, especialmente com a melhoria da renda da população na

última década, que acompanhou o movimento percebido na esfera da produção. O

consumidor brasileiro ainda é o principal consumidor da carne de frango produzida pela

avicultura nacional, haja vista que, em 2015, 67,3% da produção foi destinada ao mercado

interno, e 32,7% ao mercado externo, segundo o relatório da ABPA (2016).

Tabela 2 – Exportação mundial de carne de frango.

Quantidade exportada (mil toneladas) / Percentual da exportação mundial – 2015

País Quantidade

exportada

Percentual da

exportação mundial

Brasil 4.304 39,87%

Estados Unidos 2.990 27,69%

União Europeia 1.150 10,65%

Tailândia 580 5,37%

China 395 3,65%

Outros países 1.376 12,74%

Total 10.795 100%

Fonte: USDA/ABPA (2016). Organização da autora.

O mix das exportações brasileiras em 2015 foi composto por 52,4% de frango em

cortes, 38,1% de frango inteiro, 4,9% de frango salgado e 4,6% de frango processado, como

se pode observar no gráfico 1, confeccionado a partir dos dados divulgados pela ABPA

(2016). Nos últimos anos, o Brasil ampliou a participação do frango em cortes, processado e

salgado no total das vendas. A crescente expansão nas vendas do frango inteiro (griller) é

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45

explicada, por sua vez, por ser a preferência de um dos principais mercados dos exportadores

brasileiros, o Oriente Médio. Os maiores compradores do produto brasileiro estão no Oriente

Médio, na Ásia e na Europa. As exigências desses consumidores por uma carne de qualidade

são crescentes, na mesma proporção da performance do mercado. Independentemente do tipo

de produto, as exportações brasileiras de carne de frango se destacam por sua enorme

agregação de valor, conforme analisam Silva et al. (2011).

Fonte: Secex/ABPA (2016) – Adaptado.

Em 2015, o Brasil se consolidou na posição de maior exportador mundial de carne

de frango, conforme dados da SECEX divulgados pela ABPA (2016), apresentando um

crescimento praticamente constante no decorrer das últimas décadas, como visto no gráfico 2.

Em 2015, a exportação de frango em cortes aumentou em 18,5%, de frango inteiro em 7%, e o

maior aumento foi do frango industrializado, em 86%. A Rússia acrescentou seus embarques

de frango brasileiro em 34%, o Oriente Médio em 12%, a Ásia aumentou seu volume em

20%, a África em 6%, e a União Europeia em 21%. Uma característica importante para que o

Brasil mantivesse seu status de maior exportador mundial foi a garantia da sanidade do

plantel avícola, adotando medidas necessárias tanto em qualidade quanto em sanidade

(prevenção, controle), os quais são decisivos para ampliar, manter e proteger as exportações e

o importante mercado interno.

[NOME DA

CATEGORIA]

[PORCENTAGE

M]

Cortes 57,7% Inteiros

32,6%

Salgado 4,2%

Industrializados 3,7%

Embutidos 1,8%

Gráfico 1– Exportações brasileiras de carne de frango por

produto – 2015

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Gráfico 2 – Exportações brasileiras de carne de frango. Série histórica (2004-2015)

Fonte: Secex/ABPA (2016). Organização da autora.

Mais de 150 países importam a carne de frango do Brasil, no entanto os 10

maiores importadores são responsáveis por 63,7% do total das exportações do Brasil. Dentre

os principais países importadores de carne de frango, principal produto das exportações

avícolas brasileiras, destacam-se o Japão, que em 2015 importou 900 milhões de toneladas, e

a Arábia Saudita, que em 2015 igualou-se ao Japão em volume de importação. Logo atrás,

México, União Europeia e Iraque compõem o ranking dos cinco maiores importadores, como

apresentado na Tabela 3. Com esse desempenho, a carne de frango brasileira aumentou ainda

mais sua presença na mesa dos consumidores no Brasil e no mundo.

2469,7 2846,0 2717,5

3286,8 3645,5 3634,5 3819,7 3942,6 3917,6 3891,7 4099,0 4304,1

2594,9

3508,6 3213,2

4975,6

6949,8

5814,1

6807,8

8253,0 7703,0 7966,5 8084,9

7167,8

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2001 2012 2013 2014 2015

Exportações brasileiras de carne de frango - Série histórica

Volume (milhões de toneladas) Receita (milhões US$)

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Tabela 2 – Importação mundial de carne de frango brasileira. Quantidade produzida

(mil toneladas) / Percentual da importação mundial – 2015

País Quantidade

importada

Percentual da

importação mundial Japão 900 10%

Arábia Saudita 900 9%

México 760 9%

União Europeia 710 7%

Iraque 690 7%

Outros países 4.679 58%

Total 8.639 100%

Fonte: USDA/ABPA. Organização da autora.

A figura 1 resume bem a configuração atual do mercado mundial de carne de

frango. Através dela, é possível perceber a hegemonia exercida pelo Brasil no que tange à

quantidade produzida e, especialmente, à quantidade exportada. Um dos principais fatores que

explicam esse destaque brasileiro no contexto mundial da avicultura industrial é a presença de

grandes empresas em nosso país, com destaque para as gigantes Sadia e Perdigão (BRF),

responsáveis por produzir e exportar uma grande quantidade de carne diariamente. Somam-se

a isso as condições técnicas dos produtores brasileiros, superiores às de outros países ao redor

do mundo. Na figura 2, na sequência, há a relação de todos os países que importaram frango

do Brasil em 2015, sendo marcante a onipresença do frango brasileiro ao redor do mundo, já

que a produção nacional é exportada para mais de 150 países.

Figura 1 – Mercado mundial de carne de frango (milhões de toneladas) – 2015

Fonte: ABPA (2016).

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Fonte: ABPA (2016).

Figura 2 – Relação dos países importadores de carne de frango brasileira

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Conforme dados da ABPA (2016), a produção avícola movimenta a economia

brasileira e chega a faturar R$ 50 bilhões por ano no país. A carne de frango é a mais presente

nos pratos dos brasileiros e mais de 150 países consomem o frango produzido no Brasil,

conforme apontado anteriormente. Em 2015, a indústria do frango movimentou US$ 6 bilhões

em exportações. Além disso, a produção de carne de frango dinamiza outras áreas do

agronegócio, como a produção de milho e soja, que são usados para alimentação dos animais

nas granjas. A avicultura emprega mais de 3,6 milhões de pessoas, direta e indiretamente, e

responde por quase 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional12

. O setor é representado

por dezenas de milhares de produtores integrados, centenas de empresas beneficiadoras e

dezenas de empresas exportadoras. A relevância socioespacial da avicultura no Brasil se

verifica também pela sua presença maciça no interior do país, principalmente nos estados do

Sul e Sudeste, e em muitas cidades dessas regiões a produção de frangos é a principal

atividade econômica, em função da grande quantidade de produtores e de empresas lá

instaladas.

De acordo com uma publicação da União Brasileira da Avicultura (UBABEF,

2012), a alta produtividade e rentabilidade da avicultura brasileira é fruto de características

próprias de produção, que têm justamente no sistema de integração entre produtores e

frigoríficos um dos fatores preponderantes para manter a média de crescimento de quase 10%

desde o ano 2000 e ser um dos mais importantes setores do agronegócio nacional. Conforme o

discurso dos representantes do setor, via ABPA (2016), o sistema de integração implantado

ainda nos anos 1960 viabilizou a consolidação da produção em cadeia, ajustando a atividade

dos criadores com a dos abatedouros. Esse processo foi aperfeiçoado ao longo dos anos,

inclusive com apoio do governo federal, por intermédio de órgãos como a Embrapa.

Ainda de acordo com essa publicação, estima-se que 90% da avicultura industrial

brasileira esteja atualmente sob o sistema de integração entre avicultores e agroindústrias, o

que representa cerca de 130 mil famílias de integrados na base da produção. No caso de aves,

a agroindústria geralmente participa com o fornecimento de pintos de um dia, rações,

medicamentos, transporte de animais e insumos, e a assistência técnica necessária à produção

(com o assessoramento de agrônomos, veterinários, técnicos rurais); enquanto que o produtor

geralmente participa com instalações, equipamentos, água e energia elétrica, bem como se

responsabiliza pelo manejo (criação e engorda) dos animais até que estes atinjam a idade de

abate. Tais regras são monitoradas de perto pelas empresas integradoras, garantindo a

12

BRAZILIAN CHICKEN. Disponível em: <http://www.brazilianchicken.com.br/pt/poultry-

industry/background>. Acesso em: 28 ago. 2016.

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rastreabilidade do produto da granja e o total controle de todo o processo produtivo, bem

como do trabalho executado normalmente por pequenos agricultores familiares.

Assim, para alcançar tais resultados no cenário mundial, a avicultura brasileira,

dentro do contexto da produção animal, tem se caracterizado como o setor que mais se

organizou em termos empresariais, pela formação de grandes empresas verticalizadas e em

termos associativos pela representação de interesses através de diversas federações, segundo

acrescenta França (2000). A esse respeito, de acordo com Ortega (2000, p. 07), a

especialização da avicultura nacional resultou na emergência de formas de representação de

interesses mais especializadas e coordenadas, dando origem a uma poderosa rede de poder

que atua no suporte ao desenvolvimento do setor, representada especialmente pela Associação

Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

A ABPA é a instituição que representa os interesses da avicultura nacional junto

ao Governo Federal. A ABPA passou a representar, desde o início de 2014, os interesses da

indústria de suínos e aves após a fusão entre a União Brasileira da Avicultura (UBABEF) e a

Associação Brasileira de Produtores e Importadores de Carne Suína (ABIPECS)13

. À

UBABEF estavam ligadas diversas associações de atuação nacional e estaduais, associações

setoriais, empresas produtoras de frango de corte e ovos, as granjas de multiplicação genética,

os frigoríficos, os produtores de perus, os fornecedores de insumos e as prestadoras de

serviço14

.

A UBABEF e ABIPECS, antes da fusão, já tinham um histórico de parceria com a

Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) de mais de 10

anos. A parceria continuou após a fusão, com objetivo de aumentar ainda mais os volumes

exportados e as receitas das empresas associadas da ABPA participantes do projeto, assim

como recuperar e aumentar o número de mercados para os quais o Brasil atualmente exporta

carne de frango. Tal projeto institucional foi desenvolvido para promover, principalmente ao

mercado externo, um conceito de alta qualidade da carne de frango brasileira, que a Apex-

Brasil denominou “Brazilian Chicken”15

. Atualmente, são beneficiadas diretamente 30

empresas exportadoras participantes deste projeto, as quais são indicadas na figura 3, que são

as principais exportadoras de frango do país. Essa congregação representa no setor a formação

de um oligopólio e monopólio das grandes corporações da avicultura brasileira.

13

CANAL RURAL. Disponível em: <http://www.canalrural.com.br/noticias/pecuaria/fusao-ubabef-abipecs-

origem-associacao-brasileira-proteina-animal-23798>. Acesso em: 17 nov. 2015. 14

UBABEF. Disponível em: <http://www.ubabef.com.br/>. Acesso em: 23 mar. 2013. 15

BRAZILIAN CHICKEN. Disponível em: <http://www.brazilianchicken.com.br/pt>. Acesso em: 23 mar.

2013.

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Figura 3 – Empresas associadas à Brazilian Chicken

Fonte: Brazilian Chicken (2016).

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Com essa fusão, a ABPA tornou-se a maior entidade representativa do setor de

proteína animal do Brasil, com mais de 135 associados. Assim, além de congregar várias

empresas e outras associações, a ABPA tem como foco o fortalecimento institucional dos

setores, encaminhando, no plano político, as reivindicações dos associados que representa ao

Governo; a expansão das produções através do desenvolvimento econômico, técnico e

científico dos setores, desempenhando importante papel de difusor de tecnologias na

atividade; além de fomentar o consumo no mercado interno; trabalhar para a ampliação das

exportações de cada segmento por meio de negociações internacionais, promoção de eventos,

abertura de mercados, defesa comercial e outras iniciativas16

. Com isso, a ampliação de tal

forma de associativismo na avicultura proporcionou à atividade ganhos políticos e

econômicos consideráveis nas últimas décadas, principalmente às grandes empresas, tanto no

que se refere ao apoio institucional e público para desenvolvimento técnico e científico da

produção como no que tange à ampliação de mercados. Essa é uma pequena prova do poderio

das associações setoriais que assumem o comando da difusão do agronegócio no Brasil, com

uma forte e importante articulação com o poder público e com os políticos, como afirma

Bruno (2009).

Um bom exemplo disso é a BRF, um conglomerado brasileiro do ramo

alimentício que surgiu através da fusão das ações da Sadia S.A. ao capital social da Perdigão

S.A, e que faz parte da ABPA, inclusive na sua gerência. Em 2009, as empresas Perdigão e

Sadia anunciaram o início do processo de associação para unificar as operações das duas

companhias, resultando assim na BRF – Brasil Foods S.A. Antes mesmo disso ocorrer, em

2001, as duas empresas, Perdigão e Sadia, criaram a BRF Trading, uma empresa destinada a

comercializar produtos avícolas e alimentos em geral produzidos por ambas as companhias,

em mercados emergentes. Em 2008, além de adquirir uma das mais tradicionais indústrias do

segmento de laticínios do Estado de Minas Gerais, a empresa Cotochés, a Perdigão comprou a

totalidade das ações detidas pelos acionistas da empresa Eleva (antiga Avipal), o que

possibilitou, já naquele ano, a formação de um dos maiores conglomerados de alimentos da

América Latina, com forte atuação na exportação de carnes e laticínios. Já em 2010, a BRF

alcançou a marca de 22,7 bilhões de reais em vendas, sendo 40% delas destinadas ao mercado

16

Brazilian Chicken. Disponível em: <http://www.brazilianchicken.com.br/pt/abpa-apexbrazil/abpa> (Acesso

em 28/08/2016)

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exterior. No mesmo ano foi a terceira empresa exportadora do Brasil e líder na produção

global de proteínas, com 9% da comercialização mundial e maior exportadora de aves17

.

Mas foi só em 2011 que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade),

órgão regulador da concorrência no país, aprovou a fusão entre Sadia e Perdigão, que deu

origem à Brasil Foods (BRF). No mesmo ano, a BRF atingiu 4,2 mil toneladas em produção

de carnes. Desde então, o conglomerado passou a lançar-se cada vez mais no mercado

alimentício exterior, seja ampliando sua exportação, constituindo sociedade com empresas

estrangeiras ou adquirindo empresas ou ativos de empresas e grandes marcas tanto nacionais

quanto estrangeiras, como na Argentina, no Oriente Médio, na Holanda e em outros países

europeus, ou mesmo instalando indústrias processadoras de alimentos fora do país, como vem

fazendo no Oriente Médio desde 2011, demonstrando, assim, sua estratégia de expansão de

atuação global18

. Isso comprova o grande dinamismo que possui a avicultura industrial

brasileira, ao ponto de gestar uma das principais empresas mundiais voltadas para a produção

e exportação de aves, com uma expressiva participação no mercado internacional.

A BRF tem em seu portfólio mais de 30 marcas, entre elas, Sadia, Perdigão,

Qualy, Paty, Dánica, Bocatti e Confidence. Seus produtos são comercializados nos cinco

continentes, em mais de 150 países. Conta atualmente com mais de 105 mil funcionários,

mantendo 54 fábricas em sete países (Argentina, Brasil, Emirados Árabes Unidos, Holanda,

Malásia, Reino Unido e Tailândia). Nos últimos três anos, a BRF investiu mais de US$ 1

bilhão na aquisição e construção de unidades e marcas. Tal investimento alterou o perfil da

empresa de “grande exportadora de aves” para “multinacional do setor de alimentos”.

Anualmente, a companhia comercializa mais de 4 milhões de toneladas de alimentos19

. A

BRF é uma gigante do setor alimentício, sendo uma das maiores de alimentos do mundo, com

alto poder de mercado.

A fusão responsável pela criação da BRF demonstra a atual fase do monopolista

do capitalismo (HARVEY, 2014), em que as grandes empresas buscam ampliar cada vez mais

a participação no mercado, monopolizando este com um objetivo claro, que é fomentar ainda

mais a concentração de capital nas mãos de poucas pessoas. A esse respeito, Oliveira (2015)

destaca que os impactos da atuação monopolista na regulação da atividade agropecuária e nas

relações sociais de produção são bastante consideráveis, resultando em um processo no qual o

17

BRF. Disponível em: <https://www.brf-global.com/brasil/sobre-brf/quem-somos-nossa-historia>. Acesso em:

28 ago. 2016. 18

BRF. Disponível em: <https://www.brf-global.com/brasil/sobre-brf/quem-somos-nossa-historia>. Acesso em:

28 ago. 2016. 19

BRF. Disponível em: < https://www.brf-global.com/brasil/sobre-brf/quem-somos-nossa-historia>. Acesso em:

28 ago. 2016.

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autor chama de “monopolização do território”, que passa a ser controlado por um punhado de

empresas representantes da nova aliança da burguesia brasileira. Dessa forma, “[...] o

capitalismo monopolista mundializado, portanto, não está centrado apenas nos países ricos; o

centro do capitalismo tornou-se difuso: está em todos os lugares do mundo onde estão as

empresas monopolistas mundiais” (OLIVEIRA, 2015, p. 239).

Nesse sentido, e em linhas gerais, a atividade avícola no Brasil alcançou elevado

grau de organização, com empresas que mantêm um coeso sincronismo entre os diversos elos

da produção, distribuição e comercialização, além de uma forte congregação representativa e

estratégias políticas e econômicas para ampliação de sua atuação. Outras grandes empresas

com forte atuação no território nacional, como a Seara e a Aurora, além da BRF, apresentam

uma grande variedade de produtos, processados, cozidos, embalados a vácuo e temperados,

com vistas a atender o crescente mercado consumidor com hábitos alimentares cada vez

inseridos na lógica da rapidez e da fluidez do capital, reproduzindo uma mais-valia agora

mundializada, conforme assegura Santos (2003). Tais empresas do setor avícola nacional

seguem com estratégias de ampliação, cada vez mais rápida, da atuação tanto no mercado

nacional quando no mercado externo, através da ampliação de investimentos em outros

setores do ramo alimentício, agregação de outras empresas e marcas, além da ampliação de

investimentos para atender à crescente demanda interna domiciliar, além de cadeias de fast

food, restaurantes, hospitais, redes hoteleiras e a própria demanda externa.

É nesse contexto que se insere o debate acerca da reestruturação produtiva da

avicultura brasileira, haja vista que, nas últimas décadas, o setor avícola do Brasil conseguiu

suprir as necessidades do mercado interno e ganhou cada vez mais destaque no mercado

internacional com a sua alta produtividade e qualidade, como demonstrado anteriormente. E

isso só foi possível, dentre outros inúmeros fatores, às diversas transformações técnicas e

científicas pelas quais o setor passou, conforme analisaremos brevemente no tópico seguinte,

dotando a atividade de uma racionalidade sem precedentes na história da produção avícola

realizada no país, reestruturando por completo esse setor.

2.2 REESTRUTURAÇÃO SOCIOESPACIAL DA AVICULTURA BRASILEIRA

A acentuação do processo de internacionalização do capital tem acelerado o ritmo

das transformações no âmbito da produção de bens e serviços e na forma como estes são

consumidos, caracterizando, conforme Elias (2003), um novo momento do capitalismo

marcado por modificações de diversas naturezas na sociedade contemporânea, indo de

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encontro à ideia de Becker (1999, p. 11) em que “[...] não se trata da substituição da ordem

capitalista por alguma outra, mas sim de uma nova fase de sua expansão, a que tende a

substituir o industrialismo pela ordem – ou desordem – do poder financeiro”. Isso tem

resultado em um regime no qual Harvey (1992) denomina “acumulação flexível do capital”20

,

caracterizado por uma flexibilização dos processos produtivos e dos mercados de trabalho,

dos produtos e dos padrões de consumo, e ainda pelo surgimento de novos setores de

produção, advindos da reestruturação em curso.

Esse fenômeno, caracterizado pelo intenso e incessante desejo pelo aumento de

acumulação do capital, intensificando assim a competitividade e o consumismo exacerbado,

trouxe transformações produtivas e socioeconômicas a nível global, que adentraram em vários

aspectos da vida cotidiana. Dessa forma, “[...] a globalização se tornou uma palavra-chave

para a organização de nossos pensamentos no que respeita ao funcionamento do mundo”

(HARVEY, 2004, p. 79), uma vez que a globalização da economia sinaliza justamente os

avanços do modo de produção capitalista na sociedade cristalizados nas novas tecnologias da

informação e dos meios de produção, além dos progressos científicos, que alteram todas as

esferas da sociedade contemporânea. “O sistema capitalista é, portanto, muito dinâmico e

inevitavelmente expansível; esse sistema cria uma força permanentemente revolucionária,

que, incessante e constantemente, reforma o mundo em que vivemos” (HARVEY, 2005, p.

41).

Dessa forma, vivemos em um período que tem na globalização da produção e do

consumo suas bases, em que a ciência, a técnica e a informação são as principais forças

produtivas, transformando diversos setores da economia, incluindo a agropecuária (ELIAS,

2003, 2007b). Tal período foi denominado por Santos (2003, 2009) de técnico-científico-

informacional. Nesse período, organizou-se um novo modelo econômico que impulsionou

uma intensa reestruturação do território e da produção em nível global, e a economia tornou-

se mundializada diante do apogeu do capital financeiro, engendrando modificações de ordem

econômica, política, cultural e na organização social e territorial de todos os países,

promovendo significativos impactos no modo como a produção agropecuária vinha até então

sendo realizada, por exemplo, como se referem Santos e Silveira (2001).

20

Nesse sistema, as empresas procuram flexibilizar as relações de produção por meio da subcontratação e

diversificação da produção através das fusões de empresas para quebrar com a rigidez existente no fordismo e,

assim, garantir maiores taxas de lucro. Além disso, as empresas diminuem a quantidade de vínculos

empregatícios fixos contratando mão de obra qualificada para desenvolver diferentes atividades em tempo

integral, o que faz com que um único profissional substitua grandes quantidades de trabalhadores sem

qualificação.

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56

Dentre as características principais desse novo momento, podemos considerar o

uso da ciência, da tecnologia e da informação como importantes forças produtivas. A

reestruturação dos sistemas de produção se dá a partir do desenvolvimento tecnológico, que

também corrobora a organização desse novo momento da economia e expandiu o modo de

produção capitalista, além de metamorfosear o espaço. Com isso, podemos observar também

o dinamismo das transformações do espaço através da intensa reestruturação produtiva pela

qual vem passando a agropecuária brasileira desde esse período, isso decorrente da sua

inserção na economia globalizada (ELIAS, 2003, 2006, 2007b). A partir disso, evidenciam-se

profundas transformações no espaço agrário brasileiro através de modificações no processo

produtivo provocadas pela expansão capitalista no campo, com a difusão de inovações

mecânicas, biológicas e físico-químicas, resultando em alterações nas relações sociais de

produção.

Com a globalização, a especialização agrícola baseada na ciência e na técnica inclui

o campo modernizado em uma lógica competitiva que acelera a entrada da

racionalidade em todos os aspectos da atividade produtiva, desde a reorganização do

território aos modelos de intercâmbio e invade até mesmo as relações interpessoais

(SANTOS, 2009, p. 304).

De acordo com Elias (2002), as mudanças na base técnica, decorrentes das

transformações no sistema produtivo interligadas à dinâmica global, é um dos vetores da

reestruturação produtiva da agropecuária. Tais modificações propiciaram um maior controle

do processo de produção no que concerne especialmente à intervenção humana nas dinâmicas

da natureza, fomentando o aumento da produtividade no setor agrícola e reprodução ampliada

do capital no setor agrícola. Assim, esse processo de intensificação e expansão do modo

capitalista de produção no campo inaugurou novas formas de se produzir ao afetar

radicalmente as forças produtivas envolvidas nas atividades agropecuárias, remetendo a novas

configurações nas dinâmicas territoriais e ampliação do processo de acumulação capitalista

dentro do processo de mudança do espaço e da sociedade diante da reestruturação

socioespacial (LIMA, 2006).

Ainda de acordo com Elias (2006), essa reestruturação produtiva pela qual vem

passando a agricultura do país atinge tanto a base técnica quanto a econômica e social do

setor, exercendo profundos impactos sobre os espaços rurais, que passam por um acelerado

processo de reorganização, mostrando-se extremamente abertos à forma capitalista de

produzir. Nota-se que são evidentes os rebatimentos socioespaciais advindos da reestruturação

produtiva da agropecuária. Nesse sentido, ressalta-se que, conforme assegura Benko (2002),

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57

toda reestruturação produtiva induz, obrigatoriamente, a uma reestruturação do espaço e da

sociedade, que dão respostas imediatas a quaisquer que sejam as modificações introduzidas na

estrutura produtiva. Alves (2008) também alerta que a reestruturação produtiva não envolve

apenas a produção propriamente dita, ultrapassando o processo produtivo em si e atingindo

diversos setores, entre eles o avícola.

O processo de reestruturação da agropecuária, tendo como foco as transformações

da base produtiva a partir do avanço tecnológico, provocaram mutações na organização

socioespacial de diversas atividades agropecuárias, incluindo a atividade avícola. Portanto, tal

modelo de produção agropecuária se amplia cada vez mais no espaço rural brasileiro,

inclusive nos espaços de produção avícola, e atende muitas vezes a determinações exógenas

ao local da produção, e, com isso, o território passa a ser um reflexo desse sistema de

produção, que impõe formas de produção baseadas no lucro e na exploração do trabalho e do

meio ambiente.

A reestruturação produtiva da avicultura pode ser constatada pela enorme rede de

atividades ligadas à produção avícola e suas inovações tecnológicas, incluindo atividades de

beneficiamento, prestação de serviços, distribuição e intermediação na comercialização,

dinamizando outros setores produtivos do país, especialmente a produção de soja e de milho.

Assim, o setor avícola passou a movimentar cada vez mais uma série de outras atividades e

agentes que envolvem as indústrias de rações; de equipamentos para granjas, incubatórios,

matadouros e frigoríficos; de equipamentos de classificação, beneficiamento e transformação

dos produtos avícolas; de laboratórios na produção de vacinas, medicamentos e desinfetantes;

a produção de matérias-primas para rações como compostos vitamínicos, elementos minerais

e subprodutos industriais; a rede de intermediários entre o produtor e o consumidor

responsáveis pela comercialização, pelo beneficiamento, pela prestação de serviços e

industrialização de produtos avícolas; emprego de profissionais como veterinários,

agrônomos, zootecnistas; pesquisas elaboradas por universidades e centros de pesquisas, entre

outras.

Santini e Souza Filho (2004) destacam que o sistema de criação intensiva de

frango provocou uma revolução na organização da produção, permitindo a consolidação de

estruturas produtivas em moldes industriais, que levou a contínuos avanços nas economias de

escala, e, por conseguinte, houve uma queda nos preços relativos do frango, tanto em relação

a outros tipos de carne como em relação aos índices gerais de preços. Do ponto de vista

técnico-científico, indicam os autores, a produção de frango é superior à dos suínos e bovinos

por apresentar um ciclo de vida bem mais curto, com características típicas de animal de

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laboratório, sendo muito mais apto ao desenvolvimento de experimentos. Isso tem

proporcionado ganhos extraordinários ao setor, seja no ganho de peso, na redução do período

de criação, no mais eficiente controle de doenças e na melhor conversão alimentar,

evidenciando o crescente papel da técnica, ciência e informação ao processo produtivo

agropecuário, segundo demonstra Elias (2003).

Conforme uma publicação especializada (UBABEF, 2012), o setor produtor

avícola ainda destaca o fato de a carne de frango ser a proteína animal que consome menos

água em seu processo produtivo, o que favorece a racionalização de tal recurso no sistema de

produção avícola e a diminuição de custos efetivos. Para a produção de um quilo de carne do

produto são necessários aproximadamente 3.000 mil litros em toda sua cadeia, da produção

dos grãos até o produto final, enquanto a produção de bovino consome cerca de 16 mil litros e

a de suínos 6.000 litros – e o consumo de energia elétrica na cadeia produtiva do frango seria

cerca de metade do que é consumido para a produção de outras carnes e devido à seleção de

linhagens específicas para a produção de carne. Além disso, comprovando o avanço técnico

no setor, hoje são necessários menos de 45 dias para produzir um frango inteiro para corte, tal

grande é o atual estágio de desenvolvimento das técnicas produtivas na avicultura, enquanto

que na criação caipira o frango pode levar de 4 a 9 meses para estar pronto para o abate,

dependendo do sistema de criação.

A produção industrial de frangos, como já discutido anteriormente, evoluiu da

criação doméstica e utilização de abatedores com plantas rústicas para sistemas produtivos

integrados, dotados de frigoríficos com grande capacidade e processos flexíveis, ágeis e

capazes de atender a diferentes segmentos de mercado, buscando taxas de lucro cada vez

maiores. Com o passar dos anos, a atividade avícola foi se consolidando cada vez mais no

país, alcançando recordes sucessivos de produção com base nos avanços tecnológicos e

científicos no setor, os quais tinham como premissa a redução da conversão alimentar e a

redução da idade das aves para o abate, diminuindo os custos da produção e aumentando a

lucratividade.

Isso pôde ser possível, entre outros fatores, pelo avanço da seleção genética das

aves, ampliando consideravelmente a produtividade e diminuindo a mortandade dos animais.

Para Silva (1988, p. 35), a seleção genética é um método de se obter em alguns anos aquilo

que as forças da natureza levariam milênios para fazer e que jamais chegariam a um resultado

tão perfeito, do ponto de vista do processo de produção capitalista. De acordo com o autor,

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[...] algumas aves, como por exemplo, a galinha poedeira, a codorna japonesa e o

peru americano, após anos de seleção genética, encontram-se tão distantes dos seus

ancestrais nativos, que parecem novas espécies, e a reprodução não é mais possível a

não ser quando conduzida artificialmente, dado que essas raças já perderam todos os

instintos que não aqueles que se destinem à missão de fabricar ovos e carne (SILVA,

1988, p. 35).

A esse respeito, em um breve resumo acerca da evolução técnica no setor, o autor

aponta que “[...] na agricultura devido ao fato do período produtivo estar condicionado por

processos biológicos, dificilmente se consegue reduzi-los significativamente através de

inovações que não as biológicas; e ainda assim com resultados bastante limitados” (SILVA,

1988, p. 16). Um exemplo histórico disso é o caso da marca Chester, da empresa Perdigão,

que, em 1979, com a finalidade de diversificar a produção e oferecer ao mercado uma

alternativa de consumo de carne de aves, começou a importar dos Estados Unidos as

primeiras matrizes da espécie Gallus Gallus e deu início a um programa de melhoramento

genético com o objetivo de desenvolver uma ave especial com 70% de suas carnes

concentradas no peito e nas coxas, nascendo assim a marca Chester21

, comprovando o avanço

da seleção genética na avicultura, produzindo animais em laboratórios nos moldes impostos

pelo capital.

Dessa maneira, as mudanças na área da genética permitiram a substituição de

raças puras de aves por híbridos sintéticos de alta performance produzidos pela indústria da

área genética, denominados no meio técnico por “avozeiros”. Tais modificações resultaram no

desenvolvimento do popular “frango de granja”, que desde sua constituição encontra-se em

um dinâmico processo de “melhoramento” em termos de índices zootécnicos. A inserção da

genética permitiu a diminuição da idade de abate, a redução na conversão alimentar e o

aumento do peso do frango no abate, conforme podemos observar na tabela a seguir.

Tabela 3 – Evolução da produtividade na avicultura de corte, 1940/2005

Anos

Índices

Peso Vivo ao

Abate (kg)

Idade de

Abate (dias)

Conversão

Alimentar22

Ganho Médio

Diário (g)

1940

1950

1960

1970

1980

1990

2000

2005

1,55

1,60

1,76

1,80

1,95

2,05

2,25

2,50

100

84

77

56

49

45

43

42

3,5

3,2

2,9

2,5

2,3

2,0

1,9

1,8

16

19

23

32

40

46

52

59

21

Fonte: BRF. Disponível em: <https://www.brf-global.com/brasil/sobre-brf/quem-somos-nossa-historia>.

Acesso em: 15 ago. 2016. 22

Consumo de ração/peso de abate.

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60

Fonte: Oliveira et al. (2008).

Como visto na tabela 4, enquanto que em 1940 o peso de uma ave em condições

de abate girava em torno de 1,55 kg, em 2005 observa-se o ganho de mais de um quilo no

peso das aves. O mesmo se pode dizer do tempo no qual as aves são abatidas, passando de

100 dias em 1940 e chegando apenas aos 42 dias em 2005, comprovando o avanço no

progresso técnico nesse setor. Ainda como resultado dessas mudanças no sistema produtivo,

pode-se citar também o ganho de produtividade percebido na avicultura de postura no

decorrer dos anos, conforme demostrado na tabela abaixo, que indica um aumento

considerável da quantidade de ovos postos pelas aves durante o intervalo de um ano, passando

de 182 em 1940 para 320 ovos em 2005.

Tabela 4 – Evolução dos coeficientes de produção da avicultura de postura, 1940/2005

Anos Índices

Quantidade de ovos/poedeiras/ano Peso médio do ovo (g) Conversão Alimentar23

1940

1950

1960

1970

1980

1990

2000

2005

182

219

237

255

292

304

318

320

53

54

56

57

58

57

57

57

2,50

2,06

1,92

1,77

1,58

1,50

1,40

1,40

Fonte: Oliveira et al. (2008).

Nesse sentido, a atuação da ciência, por meio da produção de conhecimento

técnico-científico, tem contribuído para o atendimento das exigências do mercado quanto à

qualidade sanitária e padronização dos produtos agropecuários. O que se pode observar, por

meio de diversos estudos, é que o desenvolvimento da atividade avícola está fundamentado

nos investimentos da área técnico-científica, envolvendo, especialmente, segmentos de

genética, nutrição e sanidade, a partir do objetivo de gerar novos produtos que colaborem com

maior eficiência e qualidade no processo produtivo. Assim, duas etapas se destacam no que

concerne ao processo tecnológico: a produção e a industrialização. Contudo, tal

desenvolvimento das forças produtivas do setor ocorre muitas vezes em detrimento do

aumento da exploração animal, da mão de obra e do ambiente como um todo.

Ao longo das últimas décadas, a evolução das pesquisas científicas tem levado a

atividade a obter, de forma crescente, melhores índices de eficiência, tanto na avicultura de

23

Quilograma de ração por dúzia de ovos.

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61

corte, em que os indicadores mais eficazes para análise da produtividade são o peso ao abate,

a idade no abate e a conversão alimentar, como no segmento de produção de ovos, que

também obtém ganhos significativos de produtividade, conforme asseguram Oliveira et al.

(2008). Assim, para otimizar a produção com a redução de custos, são realizadas as pesquisas

tecnológicas, em que, nesse processo, o desenvolvimento de linhagens híbridas constituiu-se

em elemento impulsionador no melhoramento genético.

Nesse contexto, é importante ressaltar a importância do Centro Nacional de

Pesquisa em Suínos e Aves (CNPSA-Embrapa), localizado em Concórdia, Santa Catarina,

que é o principal órgão nacional de estudos e pesquisas sobre a avicultura, e desenvolve

pesquisa na área da genética, obtendo frangos comerciais de abate, atendendo ao mercado

interno e também nas outras áreas de nutrição, sanidade, sendo um aporte importante para o

desenvolvimento do setor. Diante disso, Oliveira et al. (2008, p. 57) asseguram que

[...] a instalação daquele centro em Santa Catarina orientou-se pela concentração das

atividades suinícola e avícola nos Estados do Paraná e de Santa Catarina, raciocínio

utilizado também para a localização de outros centros. Entretanto, as atividades

econômicas – especialmente aquelas de maior sucesso – não costumam ficar

restritas a determinadas localidades, como vem sendo o caso da avicultura, na qual

se observa um espalhamento pelo território nacional, em primeiro lugar para o

Centro-Oeste e, secundariamente, para o Nordeste. Com isso, aumenta o

distanciamento – apesar dos esforços em contrário – entre as áreas de produção e

pesquisa.

Cabe destacar que, apesar de o Brasil ser o maior exportador de frango, é

totalmente dependente da avicultura praticada nos chamados países desenvolvidos, uma vez

que somente eles detêm as bisavós das aves industriais, cuja origem remonta aos diversos

cruzamentos a partir de aves caipiras, cuja composição genética somente é do conhecimento

dos detentores das marcas de bisavós. Muitos países, como é o caso do Brasil, importam as

avós que produzem reprodutores e matrizes destinados às granjas de matrizes. As produtoras

de matrizes, por sua vez, abastecem os criadores com pintos de um dia para corte (frango) e

para postura (poedeira comercial). De acordo com Oliveira et al. (2008, p. 44), é oportuno

esclarecer que, a partir destas duas últimas gerações (frangos de corte e poedeiras comerciais),

acontece a degeneração genética dos descendentes, razão pela qual sempre há a necessidade

de se importar as avós dos países produtores, gerando uma dependência genética e técnica em

relação aos fornecedores.

Assim, o país é dependente do fornecimento de material genético de empresas

estrangeiras, como a Hybro (estadunidense), a Agroceres-Ross (capital brasileiro e capital

escocês) e a Cobb-Vantress Brasil (subsidiária da Cobb-Vantres Inc.). O desenvolvimento de

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linhagens puras é realizado no Brasil de forma conjunta com a matriz das empresas, porém as

atividades em cruzamentos e melhoramentos são predominantes, mas ainda é grande a

dependência de importações (OLIVEIRA et al., 2008). Isso coloca em xeque a

monopolização do conhecimento científico advindo com a reestruturação produtiva da

avicultura, especialmente no Brasil, revelando que

[...] O acesso ao conhecimento científico e técnico sempre teve importância na luta

competitiva; mas, também aqui, podemos ver uma renovação de interesse e de

ênfase, já que, num mundo de rápidas mudanças de gostos e necessidades e de

sistemas de produção flexíveis (em oposição ao mundo relativamente estável do

fordismo padronizado), o conhecimento da última técnica, do mais novo produto, da

mais recente descoberta científica, implica a possibilidade de alcançar uma

importante vantagem competitiva. O próprio saber se torna uma mercadoria-chave, a

ser produzida e vendida a quem pagar mais, sob condições que são elas mesmas

cada vez mais organizadas em bases competitivas (HARVEY, 1992, p. 151).

Além disso, os principais insumos requeridos pela avicultura industrial são: pintos

de um dia; equipamentos e utensílios; ingredientes para ração, como milho, soja e compostos

de nutrientes; maquinário e equipamentos específicos para o processamento industrial da

carne de frango, máquinas para classificação de ovos; medicamentos e vacinas; camas de

aviário; embalagens; entre outros. Tal demanda fomenta no setor avícola o que Santos (1996,

2009) denominou consumo produtivo. Assim, a utilização desses insumos materiais, que

anteriormente inexistia na forma de produção tida como doméstica, de “fundo de quintal”, se

tornou fundamental para a manutenção atual da atividade e ampliação de ganhos de

produtividade por parte das empresas avícolas. A partir disso, tem-se as granjas produtoras de

frango e de ovos, que compram pintos de um dia de empresas que produzem matrizes pesadas

(carne) ou leves (ovos), além de rações, medicamentos, vacinas, equipamentos, material de

embalagem, entre outros. E o que se pode observar é que grande parte desses insumos ou dos

seus componentes são também importados, de forma que a dependência do setor não se

restringe somente à questão genética.

Com relação a outro importante insumo, a participação da ração no custo de

produção da avicultura é dependente do abastecimento dos produtos que a compõem,

basicamente o milho e o farelo de soja; portanto, a política agrícola que afeta a produção e o

abastecimento de grãos influencia fortemente o desempenho do setor avícola. Como apontam

Oliveira et al.(2008, p. 52), a ração participa com cerca de 66% na composição de custos,

sendo o elemento mais importante na diferença entre as principais regiões produtoras.

Apesar disso, o melhor desempenho da avicultura brasileira ainda provém,

sobretudo, dos investimentos em pesquisas nas áreas de genética, manejo, nutrição e sanidade,

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investimentos muitas vezes realizados pelo setor público, a cargo, sobretudo, da Embrapa

Suínos e Aves. Com isso, as empresas do setor possuem seus próprios programas de controle

ambiental, os quais estão sempre sob o olhar atento dos principais mercados consumidores,

em que elas aproveitam a cama dos aviários, como adubo na agricultura e a pele e gordura

para produção de biodiesel e ração para animais domésticos, otimizando os recursos utilizados

na produção e diminuindo os custos.

Todavia, sabe-se que a gestão dos resíduos da atividade avícola muitas vezes não

é realizada da forma mais ideal para diminuir os impactos da produção no meio ambiente,

justamente por gerar significativa quantidade de resíduos poluentes no seu processo

produtivo, apesar de estudos mais recentes demonstrarem que a produção de carne de aves é a

que emite menos gases de efeito estufa e tem menor impacto sobre o solo, comparado com a

produção de bovinos e suínos. Além disso, a avicultura demanda uma grande utilização de

água e energia, embora em menor quantidade se comparada com a bovinocultura.

O Brasil passou a possuir também rígido controle de resíduos e contaminantes em

produtos de origem animal, incluindo a carne de frango, a partir da implantação do Plano

Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC) pelo Ministério da Agricultura.

O PNCRC leva em consideração as recomendações do Codex Alimentarius e é reconhecido

pelas autoridades sanitárias dos diversos países importadores. Também se destaca o fato de o

Brasil não ter registrado um único caso de Influenza Aviária de alta patogenicidade, devido ao

rígido sistema de controle do PNCRC e das empresas do setor para garantir a segurança dos

plantéis. Além disso, o setor avícola brasileiro possui acordos internacionais para aplicação

dos princípios de bem-estar animal, visando o enquadramento nas normas estabelecidas pelos

principais mercados consumidores.

Ainda assim, a sanidade é uma das grandes questões de discussão quanto se trata

da produção avícola. No Brasil, o uso de hormônios é proibido na produção de aves e, além

disso, toda a produção é submetida a um rigoroso controle de resíduos de medicamentos, o

qual está dentro do PNRC. Os produtores e técnicos envolvidos na produção garantem que os

pilares para a produção das aves, o que sustenta esse tipo de atividade, é genética, nutrição e

manejo. O uso da tecnologia da genética faz com que os frangos sejam grandes, não havendo

assim, teoricamente, o uso de hormônios. Mesmo diante de tais colocações dos órgãos oficiais

e dos grandes produtores, muito ainda se discute sobre essa questão do uso de hormônios na

produção avícola, segundo argumentam Ribeiro e Corção (2013).

O Brasil nunca registrou um caso de Influenza Aviária. Mesmo assim, o governo

brasileiro implementou, em 2006, o Plano Nacional de Prevenção de Influenza Aviária e o de

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Controle e Prevenção da Doença de Newcastle, modernizando laboratórios, criando barreiras

sanitárias e fornecendo treinamento. Os frigoríficos inspecionados pelo Serviço de Inspeção

Federal (SIF) têm certificações e processos internacionais de qualidade, demonstrando como a

produção avícola nacional busca inserir-se no modo globalizado de produção. Os frigoríficos

brasileiros têm certificações internacionais, como Global G.A.P. (Boas Práticas Agrícolas),

ISO (Organização Internacional para Padronização) e BRC (British Retail Council), e seguem

processos de qualidade reconhecidos e utilizados em todo o mundo, tais como HACCP

(Análise de Risco de Pontos Críticos de Controle), GMP (Boas Práticas de Produção) e SSOP

(Procedimento Padrão de Higiene Operacional), entre outros. Além disso, hoje a maioria dos

frigoríficos brasileiros está certificada para fazer o abate Halal, voltado para o consumo de

muçulmanos – todo esse trabalho é acompanhado por certificadoras reconhecidas pelas

autoridades muçulmanas, bem como inspecionadas por auditores das entidades religiosas dos

países que importam as aves brasileiras24

.

Acerca disso, cabe-nos fazer uma consideração importante, haja vista que quando

analisamos os produtos de origem animal, vemos que o Estado, através do seu serviço

sanitário, se incumbiu de viabilizar o monopólio do capital industrial sobre esse setor. É assim

que, ao nos depararmos com a avicultura de corte, sabemos que o capital multinacional desde

o início do século participa da prática do monopólio, porém tem sabido dividir o bolo com os

emergentes industriais nacionais do setor (OLIVEIRA, 2010, p. 29). Percebe-se que o Estado,

as empresas nacionais e as empresas internacionais articulam-se entre si para viabilizar a

continuidade da atividade avícola no país, trabalhando juntos para se sobreporem às

adversidades que porventura possam aparecer, a exemplo de enfermidades que ameaçam o

retorno do capital despendido para investir no setor, como a Influenza Aviária.

Por fim, cabe reiterar, a partir do que foi aqui brevemente apresentado, que

avicultura é sem sombra de dúvidas um dos setores que tem apresentado nos últimos anos

transformações significativas, desenvolvidas ao sabor do capital comercial. Toda essa

reestruturação na produção do setor avícola brasileiro trouxe grandes modificações na

dinâmica produtiva da atividade no país no que diz respeito à sua espacialidade, uma vez que

o processo de reestruturação produtiva em curso se dá de forma seletiva.

2.3 A DINÂMICA ESPACIAL DA AVICULTURA NO BRASIL

24

BRAZILIAN CHICKEN. Disponível em: <http://www.brazilianchicken.com.br/pt/poultry-industry/animal-

health>. Acesso em: 10 fev. 2016.

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65

O Brasil conseguiu alcançar uma significativa estabilidade na produção de carnes

e ovos nas últimas décadas, abastecendo o mercado interno e prosseguindo com grande

destaque no cenário mundial, isso por se tratar de um país com grande disponibilidade de

áreas destinadas à produção agropecuária, e devido aos grandes investimentos realizados no

setor avícola como um todo, especialmente a cargo das principais empresas do setor. Soma-se

a isso o fato de o país ser o 3° maior produtor mundial de milho e o 2° maior produtor

mundial de soja, e essa grande oferta de grãos no mercado interno tem possibilitado a

expansão da produção avícola como um todo, com custos produtivos mais baixos quando

comparados a países que não produzem grandes quantidades de grãos, que é o principal

insumo da produção de aves.

Atualmente, o setor avícola nacional vive um momento de grandes perspectivas

de crescimento mesmo no atual contexto de crise política e econômica, de acordo com órgãos

ligados ao setor. De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a

carne de frango já é a mais consumida no Brasil, com média de 43 quilos por habitante. Além

disso, as exportações brasileiras de carnes e miudezas de aves posicionam o Brasil como

principal exportador mundial do segmento desde 2005 e segundo maior produtor em 2015, o

que representou divisas de R$ 22,8 bilhões, em 2015, com embarque de 4,1 milhões de

toneladas para países de todos os continentes25

. Ainda conforme os dados apresentados pela

CNA, com um plantel de 5,79 bilhões de cabeças, o Brasil produz 13,14 milhões de toneladas

de carne de frango por ano, além de 2,9 bilhões de dúzias de ovos. Previsões da FAO (Fundo

das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) apontam para um crescimento de 22% na

produção avícola brasileira, em 10 anos26

.

O aumento da produção avícola no Brasil se dá principalmente devido à forte

demanda doméstica, movida pelas constantes altas dos preços da carne bovina, o que acaba

por forçar os consumidores a trocar o consumo dessa carne pela carne de frango. Além disso,

o próprio crescimento das exportações de carne de frango brasileira contribui com esse

contexto de crescimento da produção. Diante de todo esse dinamismo do setor, faz-se

importante analisarmos como se configura a geografia da produção avícola no Brasil,

revelando como essa atividade vem se espacializando pelo país a ponto de atribuir novos

conteúdos ao espaço e gerar novas e importantes dinâmicas territoriais.

25

CNA. Disponível em: <http://www.cnabrasil.org.br/noticias/ha-12-anos-avicultura-coloca-o-brasil-na-mais-

alta-posicao-em-exportacao-de-frango>. Acesso em: 15 set. 2016. 26

CNA. Disponível em: <http://www.cnabrasil.org.br/noticias/ha-12-anos-avicultura-coloca-o-brasil-na-mais-

alta-posicao-em-exportacao-de-frango>. Acesso em: 15 set. 2016.

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66

Conforme já indicado anteriormente, a avicultura consolidou-se como uma das

mais importantes e eficientes atividades da agropecuária brasileira, o que levou o país a

transformar-se no maior exportador mundial de carne de frango. De acordo com Ipardes

(2002, p. 65), a relação entre a expansão das culturas de soja e milho e a expansão da

avicultura de corte, e, por conseguinte, a desconcentração espacial da indústria da carne de

frango, é muito estreita e explica, em partes, a viabilidade que a indústria processadora de

frango teve a partir de uma oferta abundante de grãos destinados à fabricação de ração,

principalmente nas regiões Sul e Sudeste do país, e, recentemente, a incorporação da região

Centro-Oeste no mapa da cadeia. Com isso, observa-se que a expansão das empresas do setor

avícola está ocorrendo em direção ao Centro-Oeste, grande produtor de grãos, e nos moldes

de alguns projetos já implantados, com um sistema de parceria e produção em alta escala.

Assim, a região Centro-Oeste constitui-se como mais recente área de expansão da produção

avícola.

Segundo Evangelista et al.(2008), inicialmente concentrada nas regiões Sul e

Sudeste, a atividade vem se espalhando pelo território nacional, aproximando-se não só das

regiões produtoras de matérias-primas – como é o caso do deslocamento de criatórios e

abatedouros para a região Centro-Oeste – mas também das regiões consumidoras, o que

explica em parte o seu crescimento na Região Nordeste. Nesse cenário, a avicultura

nordestina já se constitui em importante setor que provoca novas dinâmicas territoriais na

região, conforme vem sendo observado especialmente no Ceará, a partir de uma

especialização produtiva da avicultura localizada na Região Metropolitana de Fortaleza, como

será analisado no capítulo seguinte.

Conforme é possível observar no cartograma e nas tabelas a seguir, no que diz

respeito à produção de ovos, a região Nordeste já começa a ganhar algum destaque,

totalizando 632.941mil dúzias de ovos, atrás das regiões Sudeste e Sul, respectivamente, onde

se encontram os maiores produtores nacionais: São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul,

historicamente onde a produção de ovos primeiramente ganhou fôlego no país, sobretudo em

decorrência da influência exercida pelos imigrantes japoneses. Como podemos verificar nas

tabelas seguintes, a produção de ovos de galinha no Brasil atingiu 3,769 bilhões de dúzias em

2015, cujo valor da produção foi de 10,5 bilhões de reais. Os Estados de Pernambuco, Ceará e

Bahia eram, em 2015, os maiores produtores de ovos do Nordeste, respectivamente.

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67

Tabela 5 – Produção e valor da produção de ovos de galinha no Brasil, por grande

região – 2015

Produção de ovos

(Mil dúzias)

Valor da produção

(Mil Reais)

Brasil 3.769.324 10.550.194 Norte 137.557 485.163

Nordeste 632.941 2.269.322

Sudeste 1.638.696 4.089.082

Sul 916.274 2.204.391

Centro-Oeste 443.856 1.502.236 Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

Tabela 6 – Produção e valor da produção de ovos de galinha, por Unidades da

Federação – 2015

Produção de ovos

(Mil dúzias)

Valor da produção

(mil reais)

Brasil 3.769.324 10.550.194

São Paulo

Paraná

Minas Gerais

Rio Grande do Sul

Espírito Santo

Pernambuco

Santa Catarina

Mato Grosso

Goiás

Ceará

Bahia

Amazonas

Mato Grosso do Sul

Rio Grande do Norte

Paraíba

Alagoas

Pará

Sergipe

Rondônia

993.213

360.599

349.939

331.079

285.821

241.559

224.595

193.751

187.966

144.122

84.869

64.306

43.251

42.112

35.001

34.542

32.168

24.095

21.280

2.513.833

814.750

959.406

835.383

580.021

767.800

554.258

771.039

601.881

636.278

245.711

172.033

110.428

198.037

141.486

91.726

112.226

83.936

97.949

Distrito Federal

Piauí

Tocantins

Rio de Janeiro

18.888

18.767

10.081

9.724

18.888

70.279

58.890

35.822

Maranhão 7.874 34.070

Acre 5.043 25.387

Roraima 4.624 18.525

Amapá 55 154 Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

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68

Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

Segundo levantamentos realizados pela ABPA, em 2015 a produção brasileira de

ovos alcançou um recorde histórico ao totalizar 39,5 bilhões de unidades produzidas,

superando em 6,1% a produção registrada em 2014. O Brasil também atingiu o melhor índice

de consumo per capita já registrado no setor de ovos, isso devido ao maior incentivo ao

consumo por meio de campanhas publicitárias e ao cenário de mercado interno favorável a

essa proteína. Com o expressivo aumento da produção e o aquecimento do mercado interno, o

consumo de ovos no Brasil em 2015 chegou a 191,7 unidades per capita, número 5,2%

superior ao obtido em 2014, que era de 182 ovos. Em 2015, o alojamento de aves produtoras

Cartograma 1 – Produção de ovos de galinha no Brasil por Unidades da Federação –

2015

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69

(poedeiras) chegou a 91,2 milhões de cabeças, número 2,5% inferior ao ano de 2014. São

Paulo seguiu como principal produtor de ovos, com 31,77% do alojamento total do Brasil27

.

Alguns Estados exportam ovos, apesar de cerca de 99% da produção nacional ser

destinada ao consumo interno (ABPA, 2016). Neste segmento, Minas Gerais participou com

mais da metade das exportações de ovos do Brasil em 2015 – com 58,87%. Outros Estados

exportadores são, em sequência, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, São Paulo, e com menor

representatividade, Rondônia e Paraná, que, somados à quantidade de ovos exportados, não

totalizam 1% de participação nas exportações de 2015. O relativo fraco dinamismo das

exportações brasileiras de ovos, se comparado às exportações de carne, pode ser explicado

pela grande e crescente demanda do mercado nacional interno, haja vista que cerca de 99% da

produção brasileira é consumida internamente.

Além do aumento do consumo de ovos, em 2015 o consumo de carne de frango

também subiu no Brasil com relação ao ano anterior. Segundo dados do relatório da ABPA

(2016), o consumo per capita da carne de frango aumentou de 42,78 quilos por habitante ao

ano em 2014, e para 43,25 quilos em 2015, continuando abaixo da média de 47,38 quilos

obtida em 2011. A queda no consumo de frango com relação ao ano de 2011 pode ser

explicada pelo recuo de 3% da produção, para 12,6 milhões de toneladas, devido à crise na

oferta de insumos, basicamente a soja e o milho, encarecendo os insumos de alimentação das

aves e consequentemente elevando os custos de produção.

27

ABPA. Disponível em: <http://abpa-br.com.br/noticia/producao-de-ovos-do-brasil-cresce-61-e-chega-a-395-

bilhoes-de-unidades-1550>. Acesso em: 10 fev. 2016.

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70

Gráfico 3 – Consumo per capita de carne de frango no Brasil (kg). 2000 – 2015

Fonte: ABPA (2016). Organização: Bruna Nogueira (2016).

Associado ao crescimento do consumo de carne de frango no Brasil está o

aumento constante da sua produção. No gráfico a seguir, de acordo com os dados divulgados

pela ABPA (2016), podemos observar a evolução da produção brasileira de carne de frango

na última década. A produção teve um retorno ao crescimento com relação à queda sofrida

depois de 2011, em virtude de uma crise que afetou o setor, motivada sobretudo pela redução

de oferta de ração. Apesar disso, nota-se que a produção brasileira de carne de frango vem

apresentando um crescimento constante desde 2006, com perspectivas de manutenção desse

crescimento nas próximas décadas, motivado sobretudo pelo aquecimento do mercado

interno, em virtude do aumento da renda da população nos últimos 13 anos.

29,91

31,82

33,81

33,34

33,89

35,48

35,68

37,02

38,47

38,47

44,09

47,38

45,00

41,80

42,78

43,25

0 10 20 30 40 50

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

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71

Fonte: ABPA (2016). Organização: Bruna Nogueira (2016).

.

Outra variável importante para se analisar a evolução da avicultura no Brasil, e

sua consequente espacialização, é a quantidade de galináceos, que se refere ao efetivo de

rebanho total de pintos, galos, frangos e galinhas, além da quantidade somente de galinhas,

voltadas para a produção de carne. Podemos observar, nas tabelas a seguir, que a região Sul

ainda lidera o cenário nacional quanto ao efetivo total de galináceos. Se contabilizado apenas

o efetivo de galinhas, a região Sudeste aparece na primeira posição. Em ambas as situações, a

região Nordeste se encontra em terceiro lugar, mesmo com a recente e rápida expansão da

atividade avícola para a região Centro-Oeste.

Tabela 7 – Ranking do efetivo total de galináceos entre as Grandes Regiões – 2015

Efetivo dos rebanhos

(cabeças)

# Brasil 1.332.078.050

1 Sul 604.937.587

2 Sudeste 368.250.500

3 Nordeste 158.295.760

4 Centro-Oeste 151.297.558

5 Norte 49.296.645

Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

Tabela 8 – Ranking do efetivo de galinhas entre as Grandes Regiões – 2015

Efetivo dos rebanhos

(cabeças)

9,34 10,31 10,94 10,98 12,23

13,06 12,65 12,31 12,69 13,14

2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Evolução da produção brasileira de carne de frango (milhões de toneladas)

Gráfico 4 – Evolução da produção brasileira de carne de frango (milhões de

toneladas)

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72

# Brasil 222.121.443

1 Sudeste 83.546.024

2 Sul 57.898.612

3 Nordeste 43.400.199

4 Centro-Oeste 26.594.450

5 Norte 10.682.158

Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

Ainda de acordo com dados referentes à Pesquisa Pecuária Municipal (IBGE,

2015), que podem ser verificados na tabela e no cartograma a seguir, o efetivo total de

galináceos no Brasil (galinhas, galos, frangos, frangas e pintos) alcançou quase 1,4 bilhão de

animais alojados em 2015. Os estados com maiores efetivos totais de galináceos foram,

respectivamente, Paraná, com participação de 24,32%, São Paulo, com 15%, e Santa Catarina,

com 10,89%. No Nordeste, o Estado da Bahia lidera o ranking desse efetivo, logo depois tem-

se Pernambuco e Ceará.

Tabela 9 – Ranking do efetivo total de galináceos entre as Unidades da Federação – 2015

Efetivo dos rebanhos

(cabeças)

# Brasil 1.332.078.050

1 Paraná 324.034.053

2 São Paulo 199.874.978

3 Santa Catarina 145.153.142

4 Rio Grande do Sul 135.750.392

5 Minas Gerais 124.929.454

6 Goiás 64.174.315

7 Mato Grosso 50.488.548

8 Bahia 42.141.497

9 Pernambuco 37.045.830

10 Espírito Santo 29.533.870

11 Ceará 28.258.791

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73

12 Pará 26.020.054

13 Mato Grosso do Sul 25.539.719

14 Rio de Janeiro 13.912.198

15 Tocantins 11.713.038

16 Distrito Federal 11.094.976

17 Paraíba 10.647.748

18 Piauí 9.710.628

19 Maranhão 9.357.217

20 Sergipe 8.294.641

21 Alagoas 8.163.505

22 Rio Grande do Norte 4.675.903

23 Amazonas 4.357.501

24 Rondônia 3.757.136

25 Acre 2.877.012

26 Roraima 510.438

27 Amapá 61.466 Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

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74

Cartograma 2 – Efetivo total de galináceos no Brasil, por Unidades da Federação – 2015

Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

No que se refere apenas ao efetivo total de galinhas, ainda de acordo com os

dados da Pesquisa Pecuária Municipal (IBGE, 2015) apresentados na tabela e cartograma a

seguir, os Estados das regiões Sul e Sudeste continuam assumindo a liderança no efetivo

desses animais, sobretudo São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Já em

relação à região Nordeste, o destaque vai para Pernambuco, Ceará e Bahia, respectivamente

os maiores produtores. São essas galinhas que, normalmente, são voltadas para o abate e para

a produção de carne que abastece tanto o mercado nacional quanto internacional.

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75

Tabela 10 – Ranking do efetivo total de galinhas entre as Unidades da Federação – 2015

Efetivo dos rebanhos

(cabeças)

# Brasil 222.121.443

1 São Paulo 47.335.381

2 Paraná 23.076.233

3 Minas Gerais 21.064.506

4 Rio Grande do Sul 19.341.525

5 Santa Catarina 15.480.854 6 Espírito Santo 14.269.185

7 Pernambuco 13.504.293

8 Goiás 11.727.770

9 Mato Grosso 10.584.298

10 Ceará 9.493.978

11 Bahia 7.386.067

12 Mato Grosso do Sul 3.344.049

13 Amazonas 3.129.387

14 Pará 3.083.862

15 Rio Grande do Norte 2.529.955

16 Paraíba 2.268.931

17 Maranhão 2.223.811

18 Piauí 2.102.337

19 Alagoas 2.087.841

20 Rondônia 1.827.055

21 Sergipe 1.802.986

22 Tocantins 1.669.175

23 Distrito Federal 938.333

24 Rio de Janeiro 876.952

25 Acre 635.435

26 Roraima 325.288

27 Amapá 11.956 Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

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76

Cartograma 3 – Efetivo de galinhas no Brasil, por Unidades da Federação – 2015

Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

Quanto ao abate de frango, os Estados do Sul do país prosseguiram com o

destaque (IBGE, 2015), haja vista que Paraná ficou em primeiro lugar no panorama nacional,

com 32,46% do total abatido no país; Santa Catarina participou com 16,24%, ficando na

segunda posição; e Rio Grande do Sul em terceiro, com 14,13%, conforme podemos observar

na tabela e figura seguintes. Essa hegemonia da região Sul decorre da concentração das

maiores empresas de avicultura do país, voltadas para o abate de frangos, localizadas

sobretudo no Paraná e em Santa Catarina, com destaque para a Sadia e a Perdigão (BRF).

Ainda de acordo com os dados do IBGE (2015), Bahia, Pernambuco e Ceará,

respectivamente, foram os Estados com maior número de animais abatidos no Nordeste.

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77

Tabela 11 – Abate de frangos por número de informantes – 2015

Fonte: IBGE – Pesquisa Trimestral do Abate de Animais. Organização: Bruna Nogueira (2016).

Número de

informantes

(Unidades)

Animais

abatidos

(Cabeças)

Peso total das

carcaças

(Quilogramas)

Brasil

Rondônia

Acre

Amazonas

Roraima

Pará

Tocantins

Maranhão

Piauí

Ceará

Rio Grande do Norte

Paraíba

Pernambuco

Alagoas

Sergipe

Bahia

Minas Gerais

Espírito Santo

Rio de Janeiro

São Paulo

Paraná

Santa Catarina

Rio Grande do Sul

Mato Grosso do Sul

Mato Grosso

Goiás

Distrito Federal

1596

8

5

4

-

16

6

14

20

31

4

16

21

394

15

43

160

39

61

138

198

138

153

20

30

50

12

5.796.225.090

6.821.206

X

X

-

56.873.909

X

1.093.259

8.789.568

24.816.240

X

22.255.123

63.075.334

1.191.064

1.239.573

96.026.984

444.164.736

47.131.593

43.413.318

618.907.997

1.773.635.522

881.857.254

801.028.170

170.889.142

242.495.460

373.965.280

82.245.471

13.149.202.466

16.729.509

X

X

-

148.594.689

X

2.294.174

22.805.616

58.056.179

X

57.190.061

145.436.575

3.028.741

2.316.075

236.919.845

895.481.045

120.182.516

87.299.860

1.485.250.831

3.994.429.524

2.159.944.092

1.611.326.347

435.628.971

562.294.293

845.060.065

166.095.417

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78

Figura 4 – Concentração do total abatido de frango no Brasil, por Unidades da

Federação. 2015

Fonte: ABPA (2016).

Além de dominarem a quantidade de abates, em 2015, conforme relatório da

ABPA (2016), os maiores exportadores de carne de frango também foram os estados do Sul

do país. Paraná exportou 35,7% do total de exportações brasileiras de carne de frango,

seguido de Santa Catarina, com 23,30% das exportações, e Rio Grande do Sul, com 17,66%.

Já a região Nordeste apresentou uma porcentagem ínfima no que se refere às exportações de

carne de frango, uma vez que a maior parte da produção nordestina é consumida na própria

região, não havendo a necessidade de exportar essa carne, além de não haver nenhuma

empresa instalada no Nordeste que tenha como foco principal o mercado internacional desse

produto. O Nordeste ainda não produz uma quantidade de carne de frango que possa abastecer

completamente o mercado interno, por conta disso o mercado nordestino absorve

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79

completamente essa produção. As grandes empresas nacionais ainda se concentram nas

regiões Sul e Sudeste principalmente devido à forte estrutura da agricultura familiar nessas

regiões, ideal para o modelo de integração que essas empresas utilizam em seus processos

produtivos. Na figura seguinte, vemos quais foram os Estados que exportaram carne de frango

em 2015.

Fonte: ABPA (2016).

De um modo geral, podemos afirmar que a avicultura industrial está

espacialmente concentrada e apresentada sob maior dinamismo sobretudo nas regiões Sul e

Sudeste, com destaque para Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo. Todavia,

as regiões Centro-Oeste e Nordeste vêm apresentando um crescimento importante nas últimas

décadas. Como pudemos observar pela análise das variáveis aqui apresentadas, a região

Nordeste ainda apresenta pequenos volumes produzidos se comparados aos grandes

produtores, tendo uma pequena participação na produção nacional, isso devido aos custos

Figura 5 – Exportações de carne de frango no Brasil, por Unidades da Federação – 2015

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80

mais elevados da alimentação de frangos devido à distância das principais áreas produtoras de

grãos, basicamente. Apesar disso, Oliveira et al.(2007) afirmam que a Região Nordeste

oferece condições ambientais e operacionais que estimulam o desenvolvimento dessa

atividade, especialmente em Pernambuco, Ceará e Bahia.

Atualmente, 160 empresas avícolas atuam no Nordeste, sendo os pequenos e

médios produtores a maioria e apenas 15 empresas são de maior porte28

. A região responde

por 8% da produção de frangos de corte e 15% da produção de ovos no país. Como visto

anteriormente, na região, o Estado de Pernambuco lidera a produção de frangos e ovos,

seguido pelo Ceará. O grande gargalo da produção nordestina tem sido a relação de custos

com a logística de milho e soja, e isso faz com que essa produção avícola seja menos viável

aos pequenos e médios produtores, o que futuramente poderá alargar a agregação deles em

uma forma de produção integrada com grandes empresas produtoras, como já acontece no

Estado da Bahia. Apesar disso, aos poucos a avicultura industrial passa a ganhar um grande

destaque no Nordeste, somando-se a uma produção mais tradicional de aves que ainda é muito

forte na região, principalmente no interior e a cargo de agricultores familiares.

A partir do que foi apresentado nesse capítulo, pudemos notar que a avicultura é

um dos componentes mais importantes do agronegócio brasileiro e um dos mais dinâmicos do

circuito espacial de produção de carnes, cenário confirmado pelo fato de o Brasil continuar se

mantendo, desde 2005, como maior exportador de carne de frango, tornando-se em 2015 o

segundo maior produtor. Tal desenvolvimento do sistema avícola nacional pode ser

considerado como símbolo e resumo da reestruturação produtiva da agropecuária no Brasil,

reunindo em sua estrutura funcional elementos primordiais da produção capitalista moderna

(tecnologia de ponta, eficiência na produção e diversificação no consumo) para ampliar cada

vez mais sua produção e lucratividade.

Além disso, o desenvolvimento das forças produtivas da avicultura no Brasil se dá

sob forma crescente se observarmos a ampliação do sistema produtivo avícola moderno para

além dos principais locais de produção, a exemplo do que é observado atualmente no Ceará.

Se anteriormente a produção avícola cearense não assumia nenhum destaque no cenário

nacional, hoje podemos afirmar que a reestruturação produtiva do setor atingiu fortemente a

avicultura praticada no Estado, reconfigurando as relações sociais de produção do setor e

dando origem a novas dinâmicas territoriais, sobretudo através da territorialização de grandes

28

DIÁRIO DO NORDESTE. Disponível em:

<http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1275076>. Acesso em: 02 mar. 2016.

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81

empresas avícolas e da concentração dessa atividade especialmente na Região Metropolitana

de Fortaleza, conforme explanaremos na sequência.

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82

3 A CONFIGURAÇÃO SOCIOESPACIAL DA AVICULTURA NO CEARÁ

3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E HISTÓRICO DA AVICULTURA CEARENSE

No Estado do Ceará, assim como no restante do país, até meados de 1900 a

produção de aves era unicamente artesanal. As aves caipiras eram criadas soltas nos quintais,

terreiros e unidades agrícolas familiares, sendo uma criação mais doméstica e tradicional. Os

produtos desse tipo de criação (carne e ovos) eram destinados ao consumo interno da família,

não sendo voltados a uma comercialização mais efetiva. Essa forma de criação, muito

presente ainda hoje, caracteriza-se pela sua forma de exploração mais extensiva, na qual

muitas vezes inexistem instalações específicas para abrigar as aves, bem como a adoção de

práticas de manejo no que se refere principalmente aos aspectos sanitários, reprodutivos e

nutricionais, o que resulta em índices de fertilidade e natalidade mais reduzidos.

Já avicultura industrial, que tem suas bases nos avanços técnicos e científicos do

processo de reestruturação produtiva dos vários setores da economia, passou a ser praticada

depois que a produção avícola começou a se tornar comercial, com implantação de

empreendimentos de capital local de pequeno e médio porte. Assim, a avicultura industrial do

Ceará teve seu início no final da década de 1950 e princípio da década subsequente, com a

implantação de pequenas granjas para produção de ovos e a criação de aves para corte em

Fortaleza e municípios circunvizinhos. Desta forma, o processo de implantação da atividade

avícola cearense já evidenciava uma situação locacional diferente da maioria das atividades

agropecuárias tipicamente rurais e espacialmente concentradas no interior cearense, como

informado no site da Associação Cearense de Avicultura (Aceav)29

.

Entre o final dos anos 1950 e início dos 1960, de acordo com um estudo realizado

pelo então Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Estado do Ceará (CEAG-CE,

1978, p. 09) – hoje Sebrae no Ceará – tinha início também a exploração de matrizes com a

simultânea instalação de um pequeno incubatório no Ceará. Nessa época, a produção de

frango tinha suas limitações, pois eram necessários 90 dias para alcançar o peso vivo de

1.300g, enquanto que hoje, no Brasil, devido aos avanços técnicos e científicos, com um

consumo de 1,8 kg de ração se obtém 2.500g com a idade de aproximadamente 43 dias, em

média, segundo a ABPA30

. Assim, nos primórdios da avicultura empresarial cearense, o setor

29

ACEAV. Disponível em: <http://www.aceav.com.br/index.php/2013-03-04-13-47-19/historico>. Acesso em:

24 mai. 2015. 30

EMBRAPA. Disponível em: <https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/10271064/ciencia-

impulsiona-avicultura-brasileira>. Acesso em: 13 jul. 2016.

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83

enfrentou uma série de dificuldades inerentes ao baixo patrimônio genético das aves

exploradas e à falta de assistência técnica apropriada no sentido de evitar enfermidades e

garantir a sanidade da produção31

.

Ainda nessa época, as aves estavam sujeitas a doenças viróticas e outras

enfermidades que não contavam com tratamento nem preventivo, nem curativo. Além disso,

as rações não tinham suas formulações bem balanceadas, nem contavam com aditivos

protetores dos nutrientes e nem estimulantes da produção. A avicultura mundial, que vinha em

pleno desenvolvimento e com elevados investimentos em pesquisas genética e tecnológica,

necessitava participar de todos os mercados para obter maior lucratividade, a fim de fazer face

a tais despesas. Com efeito, o mercado cearense foi incorporado a esse contexto nos primeiros

anos da década de 1960, quando as granjas locais começaram a adotar novas técnicas na

produção e adquirir novas linhagens de aves com melhores propriedades genéticas,

proporcionando melhores condições na exploração e no desenvolvimento da atividade,

dotando o setor de um perfil ainda mais empresarial (CEAG-CE, 1978, p. 09).

Com isso, no campo da reprodução das aves, o Ceará já apresentava um

significativo desenvolvimento, pois foram implantadas granjas matrizes tanto para produção

de poedeiras comerciais como para frangos, com um melhor nível técnico, produzindo pintos

de um dia de qualidade igual aos dos grandes centros de incubação, localizados especialmente

nas regiões Sul e Sudeste do país. Com efeito, isso já revelava uma tendência de crescimento

do setor produtivo de pintos comerciais no Estado do Ceará já pouco dependente do

fornecimento de outros mercados, participando do abastecimento destes produtos para o

mercado nordestino, assumindo com isso um relativo destaque na avicultura da região.

A produção de ovos para o consumo também teve um grande desempenho tanto

em volume produzido quanto em infraestrutura técnica e operacional, pois, desde o início até

o presente momento, foram os granjeiros desse ramo que apresentaram maior crescimento de

seus plantéis32

, maior estabilidade econômica, melhor mecanização e melhor sistema de

comercialização (CEAG-CE, 1978). Isso explica porque hoje o Ceará é autossuficiente quanto

à produção de ovos, comercializando o seu excedente para mercados do Norte e Nordeste –

isso quer dizer que todo o ovo consumido no Ceará advém de produção realizada no próprio

estado. Mesmo naquela época já não se importavam ovos, salvo em raras ocasiões, e também

já havia uma comercialização desse produto para o mercado nordestino.

31

ACEAV. Disponível em: <http://www.aceav.com.br/index.php/2013-03-04-13-47-19/historico>. Acesso em:

24 mai. 2015. 32

Os plantéis se referem ao conjunto de aves, ao rebanho existente na criação.

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84

Quanto à produção de frangos, o Ceará, entre as décadas de 1950 e 1960, ainda

não apresentava um desenvolvimento satisfatório que proporcionasse uma firme estrutura de

modo a garantir essa produção. Apesar disso, a atividade não tinha condição técnica de vender

seus produtos aos supermercados locais, ficando os produtores obrigados a vender seus

frangos vivos para serem abatidos na periferia de Fortaleza (CEAG-CE, 1978). Dessa

maneira, os supermercados, excelentes clientes, se obrigavam a adquirir frangos congelados

do Sul do país. Essa dependência entravou por um tempo a expansão da produção cearense,

que, ciclicamente, tinha seu mercado invadido por frangos congelados de outros mercados

que eram ofertados muitas vezes com preço inferior ao do custo de produção local, como

ainda acontece atualmente, uma vez que a produção cearense ainda não dá conta de atender à

demanda local.

Assim, a avicultura cearense, ganhando cada vez mais respaldo tecnológico e a

responsabilidade de abastecer a grande Fortaleza e outros eventuais mercados, principalmente

com a produção de ovos, teve um rápido crescimento, tornando-se um importante segmento

na produção agropecuária já a partir dos anos 1960. O apoio financeiro dado pelas instituições

de crédito estatais contribuiu bastante para isso – cenário observado no setor agropecuário

brasileiro como um todo, conforme indicam Delgado (1985) e Silva (1996). Além disso, os

incentivos financeiros concedidos por bancos e os incentivos fiscais administrados sobretudo

pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) também propiciaram a

implantação das grandes empresas avícolas, conforme indica o estudo do CEAG-CE (1978, p.

83).

Ainda de acordo com essa publicação, em 1963, o Banco do Brasil, através das

agências de Fortaleza e Maranguape, deu início a pesados financiamentos voltados para o

setor. No ano seguinte, o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) passou também a amparar essa

linha de atividade produtiva. E já em 1965, além desses bancos federais, começavam a operar

na avicultura o Banco do Estado do Ceará e a Cooperativa dos Agricultores de Maranguape.

Ressalta-se, ainda, que a Sudene, estendendo os incentivos fiscais à avicultura, favoreceu a

implantação de grandes granjas avícolas no Ceará33

. Com isso, outros setores apresentaram

um significativo desenvolvimento, como, por exemplo, fábricas de ração, fábricas de

implementos avícolas e vários frigoríficos para vendas de frangos vivos e ovos de granjas

(CEAG-CE, 1978).

33

Acerca da atuação da Sudene no desenvolvimento industrial e agrícola do Nordeste, através do planejamento

estatal voltado para dinamizar economicamente a região, ver sobretudo Oliveira (1993).

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85

É importante ressaltar que alguns estudos de apoio à avicultura cearense foram

realizados desde os anos 1960 por instituições de crédito e órgãos estatais de planejamento.

Algumas dessas pesquisas sobre o setor avícola cearense foram desenvolvidas pelo

Departamento Rural do Banco do Nordeste e pela então Comissão Estadual de Planejamento

Agrícola (CEPA-CE). Os objetivos de tais estudos eram fornecer aos empresários sobretudo

informações técnicas e econômicas indispensáveis ao estabelecimento de explorações

avícolas, bem como ao dimensionamento do mercado de aves e ovos das capitais dos estados

do Nordeste, além de fornecer uma visão geral do estágio de desenvolvimento do setor

avícola no Ceará, como afirmam Oliveira et al.(2008).

Oliveira et al.(2008) indicam também que tais pesquisas foram fomentadas

especialmente porque a avicultura no Ceará era considerada pelos órgãos oficiais como

alternativa de investimento para o desenvolvimento econômico do Estado. Daí por que as

instituições diretas ou indiretamente ligadas àqueles órgãos tenham desenvolvido estudos

visando orientar técnica e economicamente os empresários, bem como as entidades

financeiras que atuam nesta atividade. Os governos Federal e Estadual, desde o início,

concederam incentivos fiscais e financeiros para o desenvolvimento da atividade no Ceará por

meio de dispositivos legais em favor da avicultura via Sudene e Fundo de Investimentos do

Nordeste (Finor), assim como ocorreu com inúmeras outras atividades produtivas em toda a

região, conforme demonstram os estudos de Lima (1994), Araújo (1997) e Pereira Júnior

(2003).

Assim, o desenvolvimento da atividade de pequenas criações avícolas iniciadas

nos anos de 1950 no Ceará acabou resultando, em 1965, na fundação da Granja Regina,

voltada na época para a comercialização de pintos de um dia, adquiridos pelas Granjas Branca

e Guanabara, situadas no Rio de Janeiro, além de ovos e frangos, dando início à fase semi-

industrial na avicultura cearense. Antes disso, em 1962, liderados pelo dono da Granja

Regina, um grupo de avicultores funda a Associação Cearense de Avicultura, a Aceav. Mais

tarde, surgiu a Cooperativa dos Proprietário de Granjas, com o objetivo de comercializar a

produção de ovos e vender insumos avícolas para os cooperados34

.

Já na década de 1970, a Aceav assume um forte papel institucional no cenário da

produção avícola local, enquanto que o empresário Roberto Soares Pessoa35

, dono da empresa

Emape, emerge como liderança do setor no Estado e se consolida em âmbito nacional durante

34

ACEAV. Disponível em: <http://www.aceav.com.br/>. Acesso em: 13 out. 2012. 35

Roberto Pessoa é um influente político cearense, e já ocupou cargos de deputado estadual, de deputado federal

por três mandatos consecutivos e de prefeito do município de Maracanaú.

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86

a década de 1980, quando assume a presidência da União Brasileira de Avicultura, naquele

momento sob a sigla UBA. Ainda nos anos 1970, cerca de 98% do milho vendido na Bolsa de

Cereais de São Paulo é arrematado pelos avicultores cearenses por meio da Companhia de

Financiamento da Produção (CFP)36

, uma vez que as áreas de produção avícola no Ceará se

encontram distantes das regiões de produção de grãos no Brasil.

Diante disso, no final dos anos 1980 iniciou-se um ciclo de importações de milho

da Argentina e dos Estados Unidos pela Aceav para abastecer a produção avícola cearense. Já

na década de 1990, o setor passa a se abastecer com o milho adquirido nos Estados da Bahia,

Goiás e Mato Grosso (áreas de expansão da produção de grãos, especialmente de soja) por

meio de leilões de estoques do Governo Federal realizados pela Conab. Ainda assim, sob a

gestão de Carlos Matos Lima37

, a Aceav planejou alternativas para o abastecimento de milho

a médio e longo prazos para garantir a continuidade do desenvolvimento da avicultura no

Ceará. Assim surgiu a criação do Projeto Milhão, uma articulação institucional que objetivava

o incremento, através do uso de alta tecnologia, da produção de milho no Ceará38

.

Com isso, ainda na década de 1990, dez empresas avícolas, lideradas pela Aceav,

resolvem plantar experimentalmente 550 ha de milho na Chapada do Apodi, em Limoeiro do

Norte, em consórcio com as Cooperativas de Colonos e Irrigantes do Projeto Apodi. A

produção atingiu uma produtividade média de 6.700 Kg/ha, contra 2.500 Kg/ha média

registrada anteriormente na região e 850 Kg/ha, média obtida no Estado. O experimento foi

tecnicamente conduzido por uma empresa de consultoria especializada em plantio de grãos na

região de Barreiras (oeste do Estado da Bahia)39

. Observa-se, dessa forma, que a Aceav vem

assumindo papel de destaque no que concerne ao processo de abastecimento de milho para os

avicultores cearenses desde a sua criação, na década de 1960, garantindo o suprimento de

ração (milho e soja) para as grandes empresas avícolas instaladas no Ceará, reforçando

aparato institucional e também político que permeia as relações de produção da avicultura

cearense.

Atualmente, a associação também procura incentivar, através de campanhas e

palestras, o consumo dos produtos avícolas cearenses, principalmente dos ovos, para que as

36

ACEAV. Disponível em: <http://www.aceav.com.br/index.php/2013-03-04-13-47-19/historico>. Acesso em

24 mai. 2015. 37

Carlos Matos é outro influente político cearense e, além de ser atualmente deputado estadual, já assumiu

inúmeras vezes a Secretaria de Agricultura do Ceará, especialmente durante os governos de Tasso Jereissati. 38

ACEAV. Disponível em: <http://www.aceav.com.br/index.php/2013-03-04-13-47-19/historico>. Acesso em:

24 mai. 2015. 39

ACEAV. Disponível em: <http://www.aceav.com.br/index.php/2013-03-04-13-47-19/historico>. Acesso em:

24 mai. 2015.

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empresas associadas ampliem cada vez mais seus mercados, além de atuar criando parcerias

com empresas fornecedoras de insumos para o setor avícola. Percebe-se, assim, que a

articulação exercida pela Aceav, ao agregar todas as principais empresas do setor em atuação

no Ceará, vem sendo fundamental para resguardar os interesses dos empresários que

controlam esse setor, que possuem também uma estreita articulação com o meio político,

dando origem ao que Silva (2011) vai chamar de “rede política territorial”, representada pela

articulação entre empresas e política que agem juntas regulando os usos do território.

Nota-se, de um modo geral, que entre as décadas de 1970 e 1990 há a

consolidação da avicultura industrial no Ceará, através da reestruturação e modernização do

setor. Nos últimos vinte anos, tendo a avicultura industrial já se consolidado no contexto

agropecuário cearense, observa-se uma concentração da atividade no que concerne aos

produtores, com redução em seu número, de acordo com o que observou o presidente do

Sindicato dos Trabalhadores na Avicultura no Estado do Ceará (SINDIAVE-CE), durante

entrevistas40

, o qual indicou que quando esse sindicato foi fundado, no final dos anos 1980,

existiam 102 empresas avícolas no Estado, sendo que atualmente existem apenas 22.

Evangelista et al.(2008) também destacam que nas últimas décadas houve uma concentração

da produção avícola cearense através da redução do número de produtores41

.

Em 2013, quando concluímos o estudo sobre os circuitos espaciais da produção

avícola da RMF, existiam 24 empresas associadas à Aceav, sendo que atualmente a entidade

congrega 22 produtores. Segundo o presidente do SINDIAVE, isso se deu pelo processo de

incorporação de pequenos empreendimentos avícolas pelas empresas maiores, fazendo com

que a atividade se concentre cada vez mais no Ceará e nas mãos de poucos produtores,

permanecendo no mercado apenas aquelas empresas mais competitivas e com maiores aportes

de capital, gerando um verdadeiro monopólio na avicultura cearense. No quadro a seguir

podemos verificar quais são os atuais produtores comerciais associados à Aceav, com

destaque para todas as grandes empresas avícolas cearenses e para algumas empresas

menores. Além disso, observamos também a concentração dessas empresas na RMF (15,

sendo 7 apenas em Fortaleza), além da existência de algumas no Sertão Central (4), no

Maciço de Baturité (2) e no Planalto da Ibiapaba (1).

40

Entrevistamos o presidente do SINDIAVE em duas diferentes ocasiões, uma em 2013 e outra em 2015. 41

Apesar da diminuição do número de produtores, a produção avícola cearense está em constante crescimento

devido ao crescente consumo no estado do Ceará, bem como na região Nordeste como um todo, e também

devido à expansão dos investimentos das grandes empresas do setor.

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88

Quadro 2 – Produtores associados à Aceav – 2016

Produtores/Empresas Principais

produtos Localização

01 AVICULTURA INDUSTRIAL JOSIDITH

LTDA Ovos Pacajus/CE

02 AVINE COMERCIAL E AVÍCOLA DO

NORDESTE Frango Fortaleza/CE

03 CARNEIRO INDÚSTRIA AVÍCOLA

LTDA Frango Iguatu/CE

04 CIALNE – CIA. DE ALIMENTOS DO

NORDESTE

Frango

Pinto de um dia

Matrizes

Fortaleza/CE

05 EMAPE ALIMENTOS LTDA

Ovos

Pinto caipira

Pinto capote

Fortaleza/CE

06 DÉRCIO KLEIN Frango Fortaleza/CE

07 FLÁVIO SABINO DOS SANTOS Frango Barreira/CE

08 GRANJA ABRIGO LTDA Frango Quixadá/CE

09 GRANJA ALBUQUERQUE LTDA Frango Acopiara/CE

10 GRANJA FELIANA LTDA Frango Quixadá/CE

11 GRANJA SANTA LÚCIA S/A Ovos Aquiraz/CE

12 GRANJAS SÃO JOSÉ S/A Frango

Ovos Horizonte/CE

13 GRANJA SERJAL LTDA Ovos Pacatuba/CE

14 TIJUCA ALIMENTOS Frango

Ovos Fortaleza/CE

15 HAISA-HORIZONTE AVÍCOLA E

INDUSTRIAL S/A

Frango

Ovos

Pinto de um dia

Horizonte/CE

16 IRMÃOS PEREIRA Frango Ubajara/CE

17 J. REIS AVÍCOLA LTDA Ovos Fortaleza/CE

18 JOSÉ RICARDO DE MELO CARNEIRO Ovos Quixadá/CE

19 PACATUBA HORTIGRANJEIRA S/A Frango Pacatuba/CE

20 REGINA AGROINDUSTRIAL S/A Frango

Ovos Fortaleza/CE

21 SEBASTIÃO CAVALCANTE DE SOUZA Frango Itaitinga/CE

22 XEREZ AVÍCOLA LTDA Frango Maranguape/CE

Fonte: ACEAV (2016). Disponível em: <http://www.aceav.com.br/index.php/2013-03-04-13-47-19/associados>.

Acesso em: 20 fev. 2017.

Apesar de apresentar um considerável crescimento nas últimas décadas, a

avicultura cearense continua com um grande gargalo envolvendo o fornecimento de

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89

insumos42

, especialmente dos componentes para a fabricação de ração, sobretudo o milho e a

soja, apesar de toda a articulação da Aceav no sentido de garantir o suprimento de grãos.

Nesse sentido, destaca-se que as grandes empresas avícolas dispõem de unidades de

fabricação de ração próprias. Quando o ano apresenta precipitações pluviométricas

satisfatórias e a safra é boa, o milho utilizado é proveniente do próprio Ceará. Porém, em anos

de precipitações insuficientes, prejudicando a safra, os avicultores cearenses adquirem o

milho de outros estados brasileiros, especialmente de Goiás e Mato Grosso, ou mesmo do

exterior, sobretudo da Argentina. Já a soja utilizada na ração é proveniente dos cerrados

nordestinos (Bahia, Maranhão e Piauí).

Assim, o fornecimento de insumos para a fabricação da ração representa um dos

maiores obstáculos ao desenvolvimento da atividade avícola no Ceará, nesse caso,

especialmente no que se refere à alimentação das aves. O suprimento de milho e soja enfrenta,

além dos problemas decorrentes das condições climáticas, problemas com a logística de

transporte, pois as áreas avícolas localizam-se distantes das áreas produtoras de grãos,

especialmente dos cerrados. O deslocamento da produção exige um sistema eficiente de

transporte que não eleve tanto seus custos. Como apontam Oliveira et al. (2008, p. 52), a

ração participa com cerca de 66% na composição de custos, sendo o elemento mais

importante na diferença entre as principais regiões produtoras.

Apesar disso, o funcionamento do setor avícola no Ceará apresenta singularidades

nos seus dois grandes segmentos: corte e postura. Para ambos, chama a atenção o fato de que

a produção integrada esteja ainda quase que totalmente ausente no Ceará. De acordo com a

Aceav, o modelo ainda não prosperou no estado devido à fragilidade da agricultura familiar

estadual. Com isso, no Ceará, o modelo de produção avícola existente é o independente, ou

seja, realizado pelas próprias grandes empresas do setor, diferentemente do que ocorre nos

estados do Sul e no Centro-Oeste, onde é mais comum o sistema de produção por meio da

integração. Nesse sistema de produção, o produtor se responsabiliza pela produção do frango

desde a compra de insumos para a ração, os pintinhos, até a venda de forma individual,

comercializando o frango vivo, além de realizar a contratação do pessoal (funcionários) para o

cuidado e manejo das aves, como demonstram os estudos de Mizusaki (2003), Belusso (2010)

e Paulino (2012), entre outros.

Conforme apresentamos em Sousa (2013), no Ceará, assim como em grande parte

do Nordeste, com forte presença de granjas independentes e que não possuem frigorífico

42

AVEWORLD. Disponível em: <http://www.aveworld.com.br/noticia/pecnordeste-destaca-alta-de-aves-no-

ceara>. Acesso em: 17 nov. 2015.

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90

próprio, a maior parte da comercialização é realizada, ainda, com o frango vivo. Apesar de ser

crescente o movimento de expansão do processamento e industrialização da carne de frango

pelas grandes empresas, no sistema atual de comercialização, preponderantemente, o frango

vivo é adquirido por intermediários junto aos grandes produtores e depois repassado a

varejistas diversos, distribuídos em pontos de concentração e venda que procedem ao abate

em abatedouros ainda muito rudimentares. Nesse caso, os frangos são comercializados sob a

forma de carcaça inteira quente ou resfriada, ou ainda em cortes.

A comercialização do frango vivo é realizada por intermédio de grande rede de

atacadistas, que fazem a distribuição com varejistas, constituídos por açougues, mercadinhos,

pequenos comércios, feirantes, pontos de venda de “frango quente” (abatido na hora). Esse

tipo de comercialização continua a representar um nicho importante para os avicultores no

Estado do Ceará como um todo. No mercado varejista predominam frangos oriundos de

outras regiões brasileiras, nesse caso, sobretudo, referente aos congelados. As únicas

empresas cearenses que processam frango no Ceará, atualmente, são a Granja Regina e a

Cialne, que ocupam espaço de destaque em supermercados, dividindo o mercado com as

marcas nacionais, tais como Sadia, Perdigão, Seara e Resende. De acordo com informações

repassadas pela Aceav, o consumo de carne de frango do Ceará é atendido 50% pela produção

local, no qual são abatidos cerca de dois milhões de frango por semana, e 50% pela produção

de outros Estados, que vem congelada principalmente do Sul do Brasil, onde estão localizadas

as maiores empresas do país.

Com relação à avicultura de postura, o Ceará é autossuficiente à oferta de ovos,

conforme indicam dados da Aceav, o que quer dizer que 100% dos ovos aqui consumidos são

produzidos em território cearense. Os criadores contam com sistema de distribuição próprios,

com carretas apropriadas ao transporte específico dos ovos, alcançando assim as grandes

redes de supermercados que atuam na Região Metropolitana de Fortaleza. Os demais

estabelecimentos, como mercadinhos, confeitarias, padarias, entre outros, geralmente também

efetuam a compra de ovos junto às empresas ou mesmo através dos supermercados, como

demonstramos em Sousa (2013). Além disso, a Aceav vem realizando campanhas

promocionais voltadas para ampliar ainda mais o consumo de ovos43

, que vem aumentando

nos últimos anos, conforme já indicado anteriormente.

Dessa forma, o consumo de ovos é crescente, e 90% do que é produzido no Ceará

é destinado para o consumo interno, segundo informações obtidas na Aceav. Todavia, o que

43

ACEAV. Disponível em: <http://www.aceav.com.br/index.php/noticias/clipping-diario/109-aceav/1211-

aceav-promove-o-consumo-do-ovo-em-simposio-de-nutricao-e-educacao-fisica>. Acesso em: 10 fev. 2015.

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91

não é consumido no próprio Ceará, segue sobretudo para os demais Estados do Nordeste. O

Nordeste é apontado como uma região do Brasil com forte propensão para o aumento do

consumo de proteína animal, segundo Oliveira et al.(2008). O incremento da renda na região

nos últimos anos, o que inclui a importância dos programas de governo, a exemplo do Bolsa

Família, tem sido um fator essencial para o desenvolvimento da economia local. Especialistas,

a exemplo de Burlandy (2007), defendem que, com o incremento da renda, há melhorias na

dieta diária da população, pois o alimento se torna artigo de primeira necessidade,

favorecendo o aumento do consumo de carne de frango e de ovos, por serem mais acessíveis.

A partir de reportagens, entrevistas e leituras de trabalhos acerca da avicultura

cearense, pode-se verificar que Bahia, Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte e Paraíba são os

principais Estados que recebem a produção de ovos do Ceará (SOUSA, 2013). Entre os

fatores que contribuem para a expansão da avicultura cearense está o valor acessível cobrado

pelo frango e pelos ovos, associado às melhores condições de renda da população nordestina.

Esse aquecido mercado, especialmente aquele concentrado na Região Metropolitana de

Fortaleza, ajuda a entender, em partes, o constante crescimento da produção avícola cearense,

como será analisado no subcapítulo seguinte.

Através dessa análise dos fatores que influenciaram a implantação da avicultura

em escala industrial no Ceará, além da indicação do mercado avícola cearense, podemos

perceber que, através do processo histórico iniciado pelo domínio da avicultura pelo capital

comercial que se estabeleceu no Estado e sua consequente incorporação pelo capital

industrial, a atividade avícola cearense se desenvolveu muito com o passar do tempo,

utilizando-se de inovações técnicas e científicas próprias do processo de reestruturação

produtiva do setor para elevar sua produção, como poderemos verificar no item seguinte. A

produção segue crescendo apesar da crise do fornecimento de ração e da desaceleração da

economia nacional evidenciada nos últimos anos, associada a um mercado de carne e ovos

sempre aquecido.

3.2 A ESPACIALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO AVÍCOLA CEARENSE

O Ceará, que até a década de 1960 teve sua economia subordinada à agricultura de

subsistência, à pecuária extensiva e ao extrativismo vegetal, vem ganhando destaque com a

modernização das suas práticas agropecuárias incentivadas pelas ações planejadas do poder

governamental e de grandes agroindústrias e empresas associadas ao agronegócio que

passaram a se instalar em território cearense. Nesse contexto da reestruturação produtiva da

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92

agropecuária do Ceará, analisado sobretudo por Elias (2002, 2005, 2007a), insere-se a

produção avícola, empreendida por importantes empresas locais, sendo uma das atividades

pecuárias com maior nível de automatização e incorporação de inovações técnico-científicas

advindas com o processo de reestruturação em curso.

Infere-se que a atividade avícola é um dos setores da economia cearense que vem

ganhando cada vez mais destaque nos últimos anos, constituindo-se em um segmento

dinâmico e competitivo do setor agropecuário. Além disso, a avicultura tem uma boa

participação na produção agropecuária cearense, apresentando os maiores efetivos de

rebanhos, em que o total do efetivo de galináceos (galos, frangas, frangos, pintos e galinhas)

apresentou a maior taxa de crescimento dos últimos 20 anos depois do efetivo de codornas,

conforme podemos observar nas tabelas seguintes. Da comparação dos dados de 1995 até

2015, foi estimada a evolução da população avícola das últimas décadas, sendo que o plantel

de aves em 1995 era de 18.718.058 aves, passando para 28.258.791 cabeças em 2015,

representando um crescimento de 51%.

Tabela 12 – Ceará. Efetivo dos rebanhos, por tipo. 1995-2015

Tipo de rebanho 1995 2005 2015

Galináceos

Bovino

18.718.058

2.266.278

22.118.707

2.299.233

28.258.791

2.516.197

Ovino

Suíno

Caprino

Codornas

1.368.841

1.210.735

1.116.173

27.681

1.909.182

1.089.530

931.634

64.607

2.304.996

1.268.342

1.115.888

821.301

Equino 223.984 139.782 135.046

Bubalino 1.486 1.186 1.424

Total 24.933.236 28.553.861 36.421.985

Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

Tabela 13 – Ceará. Variação absoluta e relativa dos efetivos dos rebanhos, por tipo.

1995-2015

Tipo de

rebanho

Variação absoluta Variação relativa

1995-2005 2005-2015 1995-2015 1995-2005 2005-2015 1995-2015

Galináceos

Bovino

Ovino

3.400.649

32.955

540.341

6.140.084

216.964

395.814

9.540.733

249.919

936.155

18%

1%

39%

28%

9%

21%

51%

11%

68%

Suíno -121.205 178.812 57.607 -10% 16% 5%

Caprino -184.539 184.254 -285 -17% 20% 0%

Codornas 36.926 756.694 793.620 133% 1171% 2867%

Equino -84.202 -4.736 -88.938 -38% -3% -40%

Bubalino -300 238 -62 -20% 20% -4% Total 3.620.625 7.868.124 11.488.749 15% 28% 46%

Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

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93

No que tange especificamente ao rebanho de galináceos, os dados do IBGE indicam o

aumento da população avícola no Ceará de 1995 a 2015, com um crescimento superior até

mesmo dos rebanhos bovinos e caprinos, atividades muito importantes para o setor

agropecuário cearense. Inferimos que esse crescimento de galináceos no Ceará se deu tanto no

que se refere à avicultura tradicional, praticada nos quintais, sítios e fazendas pelo interior

cearense, quanto à avicultura industrial, representada pelas grandes empresas instaladas

sobretudo na RMF e que concentram uma quantidade muito grande de aves em suas granjas,

voltadas seja para a produção de carne, seja para a produção de ovos (galinhas poedeiras) –,

empresas essas que contam com um melhor acesso aos insumos e às inovações disponíveis

para alavancar a produtividade do setor. No gráfico 5 podemos visualizar a evolução do

plantel avícola cearense nos últimos 20 anos.

Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

A avicultura cearense vive um quadro de relativa estabilidade, segundo o

presidente da Aceav em entrevista ao Diário do Nordeste. Diariamente, são produzidos 5

0

5.000.000

10.000.000

15.000.000

20.000.000

25.000.000

30.000.000

19

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19

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19

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19

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19

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00

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01

20

02

20

03

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20

08

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10

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11

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13

20

14

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15

Gráfico 5 – Ceará. Série histórica do efetivo total de galináceos (cabeças). 1995-

2015

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94

milhões de ovos e mais 5 milhões de quilos de frango/semana44

. Ainda de acordo com o

representante da Aceav, mesmo nestes tempos em que muitos seguimentos da economia

reclamam quedas quanto à atual crise, o setor avícola continua crescendo, sendo uma

alternativa diante da falta de outras proteínas. O consumo de frango e de ovos é crescente e

90% dos ovos que são produzidos no Ceará são destinados para o consumo interno, como já

relatamos. O aumento da demanda estadual por ovos, a cada ano, está entre 4% e 5%,

segundo dirigente da Aceav45

.

Aumentando a demanda por esse produto sobretudo no mercado estadual, logo a

produção também passa a se adaptar para dar conta de atender os clientes, denotando o

crescente aumento da produção de ovos no Ceará, motivado também pelas inovações técnico-

científicas incorporadas pelas grandes empresas, que, a partir da racionalização do processo

produtivo avícola, passaram a produzir mais ovos em menos tempo. No gráfico a seguir,

podemos observar a evolução da produção de ovos de galinha no Ceará, que foi crescente nas

últimas duas décadas, e que em 2015 atingiu a maior quantidade produzida nessa série

histórica, apresentando um aumento de 41% desde 1995.

44

BLOG DO ELIOMAR. Disponível em: <http://blogdoeliomar.com.br/a-semana-santa-e-a-avicultura-

cearense/>. Acesso em: 05 abr. 2016. 45

O ESTADO. Disponível em: <http://www.oestadoce.com.br/economia/consumo-de-ovos-aumenta-na-

quaresma>. Acesso em: 06 fev. 2015.

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95

Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

Diante desse aumento do efetivo de galináceos e da produção de ovos, é importante

compreender como a produção avícola está espacializada no Ceará, a partir da indicação da

distribuição geográfica dessa produção em território cearense, evidenciando a forma como o

espaço passa a ser incorporado pela atividade produtiva da avicultura. Demonstraremos isso a

partir da análise de dados referentes à dinâmica produtiva da avicultura por mesorregiões,

microrregiões e municípios do Ceará, através das variáveis de produção de ovos e de efetivo

de galináceos, com bases nos dados do IBGE (Produção Pecuária Municipal) a partir de uma

série histórica abarcando duas décadas, de 1995 a 2015.

No que se refere ao efetivo total de galináceos, percebemos um crescimento no

plantel de aves em praticamente todas as mesorregiões cearenses46

, como indicado nas tabelas

a seguir. Todavia, a partir da análise desses dados, notamos que o plantel de aves em 2005

diminuiu com relação ao ano de 1995 na RMF. Isso deve ter ocorrido devido ao processo de

expansão da urbanização, o que fez com que a produção avícola se dispersasse um pouco

mais para o interior, sobretudo em direção à região Norte. Mas comparando os anos de 2015 e

46

De acordo com a classificação do IBGE, o Ceará está subdividido em sete mesorregiões, a saber: Noroeste,

Norte, Metropolitana de Fortaleza, Sertões, Jaguaribe, Centro-Sul e Sul, cada qual apresentando uma

configuração geográfica própria.

0

20.000

40.000

60.000

80.000

100.000

120.000

140.000

160.000

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19

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19

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00

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15

Gráfico 6 – Ceará. Série histórica da produção de ovos de galinha (mil dúzias).

1995-2015

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96

2005, notamos um novo aumento dos planteis, tendo uma taxa de crescimento de 28% nos

últimos 10 anos, provavelmente devido ao acréscimo de municípios que têm importante

produção avícola à RMF. Apesar disso, o Norte Cearense liderou quanto ao efetivo total de

galináceos em 2015, com quase 9 milhões de aves, e tendo o maior índice de crescimento dos

últimos 20 anos, com 206%, destacando-se aí sobretudo os municípios de Tianguá e Ubajara.

Tabela 14 – Efetivo total dos galináceos (cabeças) por mesorregiões do Ceará

1995 2005 2015

Ceará 18.718.058 22.118.707 28.258.791

Noroeste Cearense 2.965.218 2.598.265 3.071.394

Norte Cearense 2.845.131 5.494.373 8.717.314

Metropolitana de Fortaleza 8.195.847 5.461.173 7.014.190

Sertões Cearenses 1.810.922 4.875.552 5.027.946

Jaguaribe 763.369 639.801 805.351

Centro-Sul Cearense 568.160 1.115.403 1.091.212

Sul Cearense 1.569.411 1.934.140 2.531.384 Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

Tabela 15 – Variação absoluta e relativa do efetivo total dos galináceos por mesorregiões

do Ceará

Variação absoluta Variação relativa

1995-2005 2005-2015 1990-2015 1995-

2005

2005-

2015

1990-

2015

Ceará 3.400.649 6.140.084 9.540.733 18% 28% 51%

Noroeste Cearense -366.953 473.129 106.176 -12% 18% 4%

Norte Cearense 2.649.242 3.222.941 5.872.183 93% 59% 206%

Metropolitana de Fortaleza -2.734.674 1.553.017 -1.181.657 -33% 28% -14%

Sertões Cearenses 3.064.630 152.394 3.217.024 169% 3% 178%

Jaguaribe -123.568 165.550 41.982 -16% 26% 5%

Centro-Sul Cearense 547.243 -24.191 523.052 96% -2% 92%

Sul Cearense 364.729 597.244 961.973 23% 31% 61%

Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

Quanto à produção de ovos de galinha, de acordo com cada uma das mesorregiões

cearenses, podemos notar, através das tabelas a seguir, que em toda a série histórica, a

produção foi maior na RMF, apresentando um crescimento de 16% nos últimos 20 anos. O

Norte cearense foi a mesorregião que apresentou maior taxa de crescimento da produção de

ovos da série, com crescimento de 124%. Além disso, a RMF participou da produção estadual

de ovos de galinha com cerca de 47% em 2015, indicando que, apesar da diminuição do

efetivo de galináceos nos últimos anos, essa região ainda concentra a maior parte da produção

de ovos do Ceará, isso porque as maiores granjas cearenses estão localizadas em municípios

da RMF.

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Tabela 16 – Produção de ovos de galinha (mil dúzias) por mesorregiões do Ceará

1995 2005 2015

Ceará 102.450 95.985 144.122

Noroeste Cearense 12.195 13.110 16.995

Norte Cearense 18.931 23.943 42.370

Metropolitana de Fortaleza 58.721 43.476 67.882

Sertões Cearenses 4.392 7.544 7.176

Jaguaribe 2.357 2.081 2.665

Centro-Sul Cearense 1.033 2.219 2.091

Sul Cearense 4.822 3.611 4.943 Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

Tabela 17 – Variação absoluta e relativa da produção de ovos de galinha (mil dúzias)

por mesorregião do Ceará

Variação absoluta Variação relativa

1995-

2005

2005-

2015

1990-

2015

1995-

2005

2005-

2015

1990-

2015

Ceará -6.465 48.137 41.672 -6% 50% 41%

Noroeste Cearense 915 3.885 4.800 8% 30% 39%

Norte Cearense 5.012 18.427 23.439 26% 77% 124%

Metropolitana de Fortaleza -15.245 24.406 9.161 -26% 56% 16%

Sertões Cearenses 3.152 -368 2.784 72% -5% 63%

Jaguaribe -276 584 308 -12% 28% 13%

Centro-Sul Cearense 1.186 -128 1.058 115% -6% 102%

Sul Cearense -1.211 1.332 121 -25% 37% 3%

Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

O Estado do Ceará apresenta 33 microrregiões, e por conta disso optamos por

analisar aquelas que apresentaram em 2015 uma produção acima de 10 mil dúzias de ovos.

Dessa forma, quanto à produção de ovos de galinha nas microrregiões, a de Fortaleza lidera o

ranking entre as 5 microrregiões cearense que apresentaram em 2015 uma produção de ovos

de galinha acima de 10 mil dúzias, seguida de Pacajus, Cascavel, Baixo Curu e Ibiapaba.

Dentre essas, a microrregião do Baixo Curu teve o maior crescimento dos últimos 20 anos

quanto à produção de ovos, com 203%, em decorrência da instalação recente de aviários

sobretudo em Paracuru. Por sua vez, dentre as principais microrregiões, a única que

apresentou uma redução na produção de ovos foi a de Fortaleza, indicando que, talvez,

possamos estar presenciando uma alteração da concentração espacial do setor avícola no

Ceará, apesar de a maior quantidade produzida ainda se concentrar nessa microrregião.

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Tabela 18 – Produção de ovos de galinha (mil dúzias) por microrregiões do Ceará que

apresentaram produção acima de 10 mil dúzias

1995 2005 2015

Ceará 102.450 95.985 144.122

Ibiapaba 8.176 9.377 13.605

Baixo Curu 5.041 3.018 15.287

Cascavel 12.070 18.552 24.545

Fortaleza 42.421 25.702 34.699

Pacajus 16.299 17.774 33.183 Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

Tabela 19 – Variação absoluta e relativa da produção de ovos de galinha por

microrregiões do Ceará que apresentaram produção acima de 10 mil dúzias

Variação absoluta Variação relativa

1995-2005 2005-2015 1995-2015 1995-2005 2005-2015 1995-2015

Ceará -6.465 48.137 41.672 -6% 50% 41%

Ibiapaba 1.201 4.228 5.429 15% 45% 66%

Baixo Curu -2.023 12.269 10.246 -40% 407% 203%

Cascavel 6.482 5.993 12.475 54% 32% 103%

Fortaleza -16.719 8.997 -7.722 -39% 35% -18%

Pacajus 1.475 15.409 16.884 9% 87% 104% Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

Já quanto ao efetivo total de galináceos, dentre as 33 microrregiões cearenses, 7

apresentaram efetivo total de galináceos acima de 1 milhão de cabeças em 2015. Novamente a

microrregião de Fortaleza teve destaque, liderando com um efetivo de 4.141.418 de cabeças

em 2015. Logo depois, com uma diferença pequena, vem a microrregião de Cascavel com

3.962.354 milhões de cabeças. A microrregião que apresentou a maior taxa de crescimento do

efetivo nas últimas duas décadas foi a do Sertão de Quixeramobim, com 424%. A

microrregião de Fortaleza apresentou uma queda de 31% do efetivo de 1995 a 2015, o que

pode ser explicado mais uma vez pelo processo de expansão da urbanização nas cidades que

compõem a microrregião e, especialmente, pela desconcentração espacial das unidades de

produção das principais empresas do setor, as quais estão em processo de descentralização de

seus aviários, até bem pouco tempo concentrados sobretudo na RMF.

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Tabela 20 – Efetivo total dos galináceos por microrregiões do Ceará que apresentaram

produção acima de 1 milhão de cabeças

1995 2005 2015

Ceará 18.718.058 22.118.707 28.258.791

Ibiapaba 1.043.172 928.871 1.100.224

Baixo Curu 742.337 781.495 2.345.571

Cascavel 925.852 2.671.636 3.962.354

Fortaleza 5.962.044 3.644.058 4.141.418

Pacajus 2.233.803 1.817.115 2.872.772

Sertão de Quixeramobim 657.055 3.190.882 3.440.310

Cariri 782.640 824.214 1.072.360 Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

Tabela 21 – Efetivo total dos galináceos por microrregiões do Ceará que apresentaram

produção acima de 1 milhão de cabeças

Variação absoluta Variação relativa

1995-2005 2005-2015 1995-2015 1995-

2005

2005-

2015

1995-

2015

Ceará 3.400.649 6.140.084 9.540.733 18% 28% 51%

Ibiapaba -114.301 171.353 57.052 -11% 18% 5%

Baixo Curu 39.158 1.564.076 1.603.234 5% 200% 216%

Cascavel 1.745.784 1.290.718 3.036.502 189% 48% 328%

Fortaleza -2.317.986 497.360 -1.820.626 -39% 14% -31%

Pacajus -416.688 1.055.657 638.969 -19% 58% 29%

Sertão de Quixeramobim 2.533.827 249.428 2.783.255 386% 8% 424%

Cariri 41.574 248.146 289.720 5% 30% 37%

Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

A seguir temos os rankings dos municípios cearenses quanto à produção de ovos e

ao efetivo total de galináceos nos anos de 1995, 2005 e 2015. A partir desse ranking, notamos

que, atualmente, os principais produtores de ovos do Ceará são Horizonte, Aquiraz, Beberibe

e Tianguá, e já os que possuem o maior efetivo de aves são Quixadá, Aquiraz, Horizonte,

Beberibe, Cascavel e Paracuru. Além disso, percebemos que, nos anos de 1995 e 2005, o

município de Fortaleza aparecia entre os 20 maiores produtores de ovos e com maiores

efetivos de aves no Ceará, não se configurando com uma relevada importância nos anos

seguintes – mais uma vez, isso pode ser explicado especialmente pela desconcentração das

unidades produtivas das principais empresas, que não mais possuem granjas instaladas em

Fortaleza.

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100

Tabela 22 – Ranking descendente da produção de ovos de galinha (mil dúzias) no Ceará,

por municípios – 1995, 2005, 2015

1995 2005 2015

# Ranking Produção de

ovos Ranking

Produção de

ovos Ranking

Produção de

ovos

1 Aquiraz 16.761 Aquiraz 15.539 Horizonte 24.868

2 Fortaleza 11.026 Horizonte 13.918 Aquiraz 24.018

3 Horizonte 9.051 Pindoretama 9.873 Beberibe 13.125

4 Cascavel 8.525 Tianguá 8.124 Tianguá 10.246

5 Pacajus 7.248 Beberibe 4.932 São Gonçalo 9.124

6 Tianguá 6.860 Pacajus 3.856 Pacajus 8.315

7 Caucaia 5.167 Cascavel 3.746 Pindoretama 6.442

8 São Gonçalo 3.958 Caucaia 3.257 Paracuru 6.124

9 Pindoretama 3.442 Quixadá 3.063 Eusébio 5.310

10 Eusébio 3.296 São Gonçalo 2.554 Cascavel 4.977

11 Maranguape 2.803 Eusébio 2.237 Quixadá 3.164

12 Quixadá 1.705 Fortaleza 2.104 Caucaia 2.993

13 Guaiuba 1.439 Guaiuba 1.576 Ubajara 2.739

14 Maracanaú 1.367 Sobral 1.119 Itaitinga 947

15 Sobral 1.226 Ubajara 899 Guaiuba 701

16 Morada Nova 946 Maranguape 585 Mauriti 576

17 Crato 881 Itapipoca 477 Aurora 569

18 Barbalha 717 Acopiara 466 Pacatuba 516

19 Paracuru 692 Paracuru 436 Icó 482

20 Ubajara 546 Mauriti 432 Farias Brito 426

Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

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101

Tabela 23 – Ranking descendente dos efetivos totais de galináceos (cabeças) no Ceará,

por municípios – 1995, 2005, 2015

1995 2005 2015

# Ranking Efetivo total

de galináceos Ranking

Efetivo total

de galináceos Ranking

Efetivo total

de galináceos

1 Fortaleza 1.755.207 Quixadá 2.648.500 Quixadá 2.930.000

2 Horizonte 1.513.956 Aquiraz 1.570.805 Aquiraz 2.217.702

3 Aquiraz 978.487 Horizonte 1.374.466 Horizonte 2.080.837

4 Caucaia 918.348 Beberibe 1.254.928 Beberibe 2.051.563

5 Maranguape 903.150 Cascavel 966.454 Cascavel 1.524.378

6 Pacajus 719.847 Maranguape 564.491 Paracuru 1.163.007

7 Cascavel 646.185 Caucaia 562.082 São Gonçalo 958.764

8 Guaiuba 600.130 Barreira 520.943 Pacajus 791.935

9 Tianguá 533.600 Tianguá 503.052 Maranguape 673.515

10 Quixadá 393.001 Pindoretama 450.254 Tianguá 592.000

11 Sobral 387.180 Pacajus 442.649 Caucaia 530.895

12 Maracanaú 343.400 Guaiuba 434.635 Aracoiaba 408.200

13 Crato 283.932 Paracuru 411.505 Barreira 400.000

14 Barreira 261.791 Iguatu 366.905 Pindoretama 386.413

15 Paraipaba 251.564 Acopiara 357.533 Crato 370.000

16 São Gonçalo 246.713 São Gonçalo 337.915 Iguatu 343.414

17 Paracuru 244.060 Itapipoca 329.058 Acopiara 329.301

18 Eusébio 209.697 Crato 273.409 Eusébio 300.286

19 Ubajara 207.100 Milagres 195.267 Itapipoca 267.120

20 Pindoretama 194.411 Pacatuba 174.650 Milagres 250.332

Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

Como podemos observar no mapa a seguir, referente ao efetivo total de aves no

ano de 2009, embora dispersamente distribuída por todo o território cearense, a atividade

avícola vem sendo realizada ainda com muita força nos municípios que compõem a Região

Metropolitana de Fortaleza (RMF), que, apesar dos decréscimos recentes, apresentou em 2015

participação de 41% no efetivo de rebanho do Ceará (onde se destacam municípios como

Aquiraz, Cascavel, Horizonte e Paracuru) e de quase 66% na produção de ovos de galinha em

relação ao total produzido no Estado. A Região Metropolitana de Fortaleza é formada

atualmente por 19 municípios, a saber: Aquiraz, Cascavel, Caucaia, Chorozinho, Eusébio,

Fortaleza, Guaiuba, Horizonte, Itaitinga, Maracanaú, Maranguape, Pacajus, Pacatuba,

Pindoretama, São Gonçalo do Amarante, São Luís do Curu, Paraipaba, Paracuru, Trairi.

É uma grande peculiaridade a produção avícola cearense se concentrar dessa

forma na RMF, o que pode ser explicado pela grande concentração das principais empresas

nessa região, onde também há a centralização de objetos, normas, fixos e fluxos importantes

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102

para a manutenção da atividade. Além disso, foi na RMF onde surgiram as primeiras granjas

voltadas para uma produção avícola em larga escala no Ceará, ainda nos anos 1960, como

visto no início deste capítulo. Observamos também que outras áreas do Estado, além da

expressividade da RMF, se destacam na produção avícola, como o Sertão Central (com

destaque para Quixadá) e a Serrada da Ibiapaba (com destaque para Tianguá).

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103

Mapa 2 – Efetivo de aves por municípios do Ceará

Fonte: IPECE (2010)

47.

Abrimos aqui um parêntese para explicar que a atividade avícola não é a única do

setor agroalimentar a se concentrar sobremaneira na Região Metropolitana de Fortaleza,

47

Disponível em: <http://www2.ipece.ce.gov.br/atlas/>. Acesso em: 12 abr. 2017.

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104

segundo asseguram sobretudo Oliveira (2005) e Bomtempo (2013). Além da avicultura,

desenvolvem-se com muita força nessa região as atividades de processamento de castanha de

caju e de fabricação de derivados de trigo, com inúmeras fábricas aí instaladas já há bastante

tempo, conforme demonstram respectivamente os trabalhos de Rodrigues (2016) e Oliveira

(2002). Nesse sentido, e de acordo com Bomtempo (2013), diante do reconhecimento da

espacialidade da indústria de alimentos no Ceará, é possível constatar que esta atividade se

encontra em funcionamento principalmente no espaço metropolitano de Fortaleza, em razão

de sua centralidade sobretudo financeira e técnica diante do contexto cearense.

Voltando para a análise do setor avícola, na RMF, analisando os dados de 1995,

2005 e 2015, observamos um contínuo crescimento da produção de ovos de galinha nessa

região, como indicado nas tabelas seguintes, com um aumento de 25% nas últimas duas

décadas – aumento este que foi menor do que o observado no Ceará como um todo (que foi de

41%). Além disso, quando analisamos apenas os índices dos municípios, notamos que

Cascavel, Caucaia, Chorozinho, Fortaleza, Guaiuba, Maracanaú, Maranguape, Paraipaba e

Trairi tiveram uma queda em suas produções de 1995 a 2015, enquanto por outro lado o

município de Paracuru teve a maior alta, com aumento de 785%, além de Itaitinga e São Luís

do Curu, sobretudo, alavancando a produção da região.

Tabela 24 – Produção de ovos de galinha (mil dúzias), por municípios da RMF

1995 2005 2015

Aquiraz 16.761 15.539 24.018

Cascavel 8.525 3.746 4.977

Caucaia 5.167 3.257 2.993

Chorozinho 42 11 15

Eusébio 3.296 2.237 5.310

Fortaleza 11.026 2.104 70

Guaiuba 1.439 1.576 701

Horizonte 9.051 13.918 24.868

Itaitinga 141 38 947

Maracanaú 1.367 10 13

Maranguape 2.803 585 131

Pacajus 7.248 3.856 8.315

Pacatuba 422 358 516

Paracuru 692 436 6.124

Paraipaba 391 27 39

Pindoretama 3.442 9.873 6.442

São G. do Amarante 3.958 2.554 9.124

São Luís do Curu 4 18 24

Trairi 125 92 90 Total RMF 75.900 60.235 94.717

Ceará 102.450 95.985 144.122

Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

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105

Tabela 25 – Variação absoluta e relativa da produção de ovos de galinha (mil dúzias),

por municípios da RMF

Variação absoluta Variação relativa

1995-2005 2005-2015 1990- 2015 1995-2005 2005-2015 1990-2015

Aquiraz -1.222 8.479 7.257 -7% 55% 43%

Cascavel -4.779 1.231 -3.548 -56% 33% -42%

Caucaia -1.910 -264 -2.174 -37% -8% -42%

Chorozinho -31 4 -27 -74% 36% -64%

Eusébio -1.059 3.073 2.014 -32% 137% 61%

Fortaleza -8.922 -2.034 -10.956 -81% -97% -99%

Guaiuba 137 -875 -738 10% -56% -51%

Horizonte 4.867 10.950 15.817 54% 79% 175%

Itaitinga -103 909 806 -73% 2392% 572%

Maracanaú -1.357 3 -1.354 -99% 30% -99%

Maranguape -2.218 -454 -2.672 -79% -78% -95%

Pacajus -3.392 4.459 1.067 -47% 116% 15%

Pacatuba -64 158 94 -15% 44% 22%

Paracuru -256 5.688 5.432 -37% 1305% 785%

Paraipaba -364 12 -352 -93% 44% -90%

Pindoretama 6.431 -3.431 3.000 187% -35% 87%

São G. do Amarante -1.404 6.570 5.166 -35% 257% 131%

São Luís do Curu 14 6 20 350% 33% 500%

Trairi -33 -2 -35 -26% -2% -28% Total RMF -15.665 34.482 18.817 -21% 57% 25%

Ceará -6.465 48.137 141.672 -6% 50% 41%

Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

Quanto ao efetivo de aves na RMF, observamos uma tendência do crescimento do

plantel na maioria dos municípios, como indicado nas tabelas seguintes. Nos últimos 20 anos,

o efetivo aumentou 17%, apesar de ter decrescido em 20% de 1995 a 2005. Alguns

municípios apresentaram decréscimos em seus planteis nos últimos 20 anos, como Fortaleza,

Caucaia, Guaiuba, Maracanaú, Fortaleza, Maranguape, Pacatuba e Paraipaba. Fortaleza

apresentou um decréscimo de 99% em 2015 com relação à 1995 em seus efetivos de galos,

frangas, frangos e pintos, e galinhas. Tal decréscimo pode se referir ao avanço do processo de

urbanização e aos novos usos do solo nesses municípios, ensejando o processo de

desconcentração e dispersão da criação para outras áreas. Comprovante esse processo em

trabalhos de campo realizados no município de Maranguape, em 2013, verificamos que

algumas granjas estavam sendo desmanchadas para que o terreno fosse utilizado para

construção de unidades de moradia, algo que vem sendo comum sobretudo nos municípios

limítrofes de Fortaleza.

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106

Tabela 26 – Efetivo total dos galináceos (cabeças), por municípios da RMF

1995 2005 2015

Aquiraz 978.487 1.570.805 2.217.702

Cascavel 646.185 966.454 1.524.378

Caucaia 918.348 562.082 530.895

Chorozinho 71.452 131.330 164.950

Eusébio 209.697 156.555 300.286

Fortaleza 1.755.207 105.440 19.102

Guaiuba 600.130 434.635 205.800

Horizonte 1.513.956 1.374.466 2.080.837

Itaitinga 68.275 27.260 92.385

Maracanaú 343.400 48.140 56.233

Maranguape 903.150 564.491 673.515

Pacajus 719.847 442.649 791.935

Pacatuba 185.350 174.650 45.500

Paracuru 244.060 411.505 1.163.007

Paraipaba 251.564 32.075 223.800

Pindoretama 194.411 450.254 386.413

São G. do Amarante 246.713 337.915 958.764

São Luís do Curu 4.361 17.887 22.900

Trairi 52.261 112.092 98.958 Total RMF 9.906.854 7.920.685 11.557.360

Ceará 18.718.058 22.118.707 28.258.791

Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

Tabela 27 – Variação absoluta e relativa do efetivo total dos galináceos (cabeças)

Variação absoluta Variação relativa

1995-2005 2005-2015 1990- 2015 1995-2005 2005-2015 1990-2015

Aquiraz 592.318 646.897 1.239.215 61% 41% 127%

Cascavel 320.269 557.924 878.193 50% 58% 136%

Caucaia -356.266 -31.187 -387.453 -39% -6% -42%

Chorozinho 59.878 33.620 93.498 84% 26% 131%

Eusébio -53.142 143.731 90.589 -25% 92% 43%

Fortaleza -1.649.767 -86.338 -1.736.105 -94% -82% -99%

Guaiuba -165.495 -228.835 -394.330 -28% -53% -66%

Horizonte -139.490 706.371 566.881 -9% 51% 37%

Itaitinga -41.015 65.125 24.110 -60% 239% 35%

Maracanaú -295.260 8.093 -287.167 -86% 17% -84%

Maranguape -338.659 109.024 -229.635 -37% 19% -25%

Pacajus -277.198 349.286 72.088 -39% 79% 10%

Pacatuba -10.700 -129.150 -139.850 -6% -74% -75%

Paracuru 167.445 751.502 918.947 69% 183% 377%

Paraipaba -219.489 191.725 -27.764 -87% 598% -11%

Pindoretama 255.843 -63.841 192.002 132% -14% 99%

São G. do Amarante 91.202 620.849 712.051 37% 184% 289%

São Luís do Curu 13.526 5.013 18.539 310% 28% 425%

Trairi 59.831 -13.134 46.697 114% -12% 89% Total RMF -1.986.169 3.636.675 1.650.506 -20% 46% 17%

Ceará 3.400.649 6.140.084 9.540.733 18% 28% 51%

Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).

A partir do que foi apresentado, constatamos que a avicultura se consolida como

um vetor de dinamização do território cearense, a partir da sua espacialização no urbano,

dinamizando os seus usos. Desse modo, os investimentos na produção avícola empresarial são

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107

cada vez mais ampliados para atender principalmente à demanda local, no caso cearense, o

que vem promovendo novas dinâmicas territoriais constitutivas do processo de inserção desta

atividade no modelo de produção da economia globalizada, conforme analisaremos com mais

vigor no capítulo seguinte. E isso é ainda mais intenso em virtude da territorialização e da

atuação das grandes empresas avícolas na regulação da atividade no Ceará, sendo importante,

pois, conhecer as principais características dessas empresas e, especialmente, entender como

elas fazem uso do território, como apresentaremos na sequência.

3.3 PRINCIPAIS EMPRESAS AVÍCOLAS NO CEARÁ

Conforme já relatamos, nos últimos vinte anos houve uma intensa concentração

de capitais na atividade avícola a partir do processo de incorporação de pequenas empresas

pelas empresas maiores, permanecendo nessa atividade somente aquelas mais competitivas e

com maiores recursos a serem investidos em tecnologia, infraestrutura e logística, sobretudo,

de modo a assegurar o retorno financeiro de seus investimentos. Isso acaba favorecendo a

atuação de grandes empresas hegemônicas no setor avícola cearense, as quais agem juntas

fomentando a territorialização do grande capital no setor, intensificando os usos do território e

remodelando as relações sociais de produção, dando origem a novas e importantes dinâmicas

territoriais.

Entre essas empresas, destacam-se: Granja Regina, Cialne, Avine, Emape, Grupo

Haisa e Tijuca Alimentos, que além de serem as principais empresas da avicultura no Ceará,

são também algumas das mais importantes do Nordeste, atuando especialmente nos

municípios da Região Metropolitana de Fortaleza através da instalação de suas granjas,

incubatórios, abatedouros, fábricas de rações, escritórios comerciais, centros de distribuição

etc. Com vistas a ampliar a compreensão das formas pelas quais essas empresas atuam,

descrevemos na sequência um conjunto de informações acerca de cada uma delas, a partir de

dados obtidos através dos trabalhos de campo, com a realização de entrevistas com os

diretores de algumas dessas empresas e outros representantes do setor, além da organização

da hemeroteca.

REGINA

A Regina Agroindustrial S/A é uma tradicional agroindústria do ramo de

avicultura no Ceará, sendo uma das maiores produtoras de frango de corte e ovos do

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108

Nordeste. Faz parte do Grupo Regina, que congrega produção avícola, indústria processadora

de carnes, indústria de rações para animais de criação e pet e empresa de transportes. Foi

fundada em 1958, por um economista e sua esposa, em um sítio localizado no distrito de

Messejana, em Fortaleza, a partir de uma pequena criação de galinhas para produção de ovos,

inicialmente para consumo interno do próprio sítio. Com investimentos da família, aos poucos

a criação foi se ampliando e a produção da empresa aumentando, e com o passar dos anos se

diversificando.

Atualmente, o grupo atua em vários ramos do setor avícola, dedicando-se ao abate

de aves, criação de frangos para corte, produção de pintos de um dia, comércio atacadista de

carnes e derivados de outros animais, preparação de subprodutos do abate, produção de ovos,

comércio atacadista de aves abatidas e derivados, comércio atacadista de aves vivas e ovos,

além da fabricação de conservas de peixes, crustáceos e moluscos. Produz também ração para

alguns tipos de animais, sobretudo pets. Como se pode perceber, a área de atuação do Grupo

Regina é bastante diversificada.

A partir de 1995, a Granja Regina iniciou o processo de industrialização, com a

produção de alimentos processados, e, atualmente, o Grupo Regina conta com a produção de

frangos de corte, ovos comerciais, camarões, suínos e matrizes pesadas (Ross) e rações para

cavalos, peixes, camarões e pets por meio da indústria Integral Agroindustrial. Da

agroindústria derivam duas outras empresas: a Pole Alimentos e a Integral Mix. A primeira é

responsável pelos produtos processados da Granja Regina, e a segunda pela produção de

ração pronta para o mercado de produção animal, equinos e pet48

.

48

FEED FOOD. Disponível em: <http://www.revistafeedfood.com.br/pub/curuca/index.jsp?ipg=81694>. Acesso

em: 07 jun. 2013.

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109

Fonte: REGINA. Disponível em: <http://www.granjaregina.com.br/index>. Acesso em: 02 mar. 2014.

A empresa inaugurou seu primeiro frigorífico de alimentos processados e

embutidos em 2000, com a implementação da Pole Alimentos, e, dessa forma, lançou sua

primeira linha de frangos e cortes resfriados e congelados. A Pole Alimentos é uma das

maiores indústrias e distribuidoras de alimentos processados do Ceará, com produtos

comercializados em inúmeras redes de supermercados, apresentando um crescimento médio

de 45% ao ano e com forte atuação regional. Assim, a criação da Pole Alimentos foi efetivada

para ser um dos elos da linha de produção da Granja Regina, visando garantir o seu

crescimento organizacional e a produção em escala industrial da empresa no âmbito da

expansão das operações e intensificação da produção e comercialização de ovos e frangos.

A Pole Alimentos recebe a matéria-prima (sobretudo carne de frango) da Granja

Regina e a transforma em alimentos processados derivados principalmente de aves, mas

também de suínos e bovinos. O mix de frangos e corte in natura responde por 60% da linha da

Granja Regina, a partir de um modelo de negócio que prioriza a operação de frangos

resfriados. A empresa conta hoje com 32% de market share49

no mercado cearense, o que

demonstra a importância do papel do marketing para alavancar o consumo dos produtos da

empresa50

.

49

Participação no mercado dominada, quase sempre, por um determinado produtor ou comerciante. 50

FEED FOOD. Disponível em: <http://www.revistafeedfood.com.br/pub/curuca/index.jsp?ipg=81694>. Acesso

em: 07 jun. 2013.

Figura 6 – Empresas do Grupo Regina

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110

Em 2007, a Granja Regina inaugurou em Maracanaú a unidade industrial da Pole

Alimentos51

, e, em junho de 2011, inaugurou também o mais moderno abatedouro de frangos

do Ceará, localizado no município de Aquiraz, garantindo tecnologia de abate industrial. A

empresa possui 120 mil matrizes alojadas, produz 700 mil pintinhos por semana (criação

própria), e abate mais de 300 mil aves semanalmente. Comercializando e realizando uma

distribuição própria, tem um mercado de 14.000 pontos de venda no Estado do Ceará. Tem

uma produção de 650 mil ovos por dia da linhagem Hi-line, sendo 80% ovos brancos e 20%

ovos vermelhos. Cerca de 90% da produção de ovos é comercializada no Ceará e o restante é

enviado para os demais Estados das Regiões Norte e Nordeste do país.

Também no ano de 2000, o grupo decidiu investir na área de produção de rações

comerciais, com a criação da empresa Integral Mix, que atualmente conta com duas unidades,

uma em Fortaleza, localizada no bairro de Messejana, e outra no município baiano de Paulo

Afonso. Também existem investimentos em outra unidade industrial na capital cearense,

focada na produção de rações pet, de peixe e camarão; além de outro projeto em Paragominas,

no Estado do Pará, o que aumentará ainda mais a capacidade de produção da empresa. Além

dessa, a Integral Transportes é uma outra empresa do Grupo Regina, com experiência em

logística e gestão de transportes, atuando dentro do segmento de transportes de alimentos no

Norte e Nordeste, com uma frota própria de veículos52

.

Assim, a unidade produtiva que inicialmente estava na condição de produtora de

ração para consumo próprio da Granja Regina, com a expansão dos negócios do grupo,

tornou-se uma empresa sob a marca Integral Mix, que conta atualmente com um portfólio de

mais de 40 produtos, com ração para o mercado equino, que lidera em volume a produção da

empresa, e em segundo lugar as rações para peixes, sendo este o maior faturamento da

Integral Mix, que vem obtendo crescimento de 40% ao ano. Além disso, seguindo a estratégia

de diversificação da produção, nos últimos anos, a empresa vem produzindo camarão na

cidade de Barroquinha, no Noroeste cearense, em uma área de 180 hectares, com produção de

1,1 mil toneladas em 2012. A empresa também tem comercialização própria desse produto,

com a venda do camarão fresco e congelado para indústrias de processamento.

Dessa forma, o Grupo Regina, que teve início no setor avícola, na última década,

com a Granja Regina e suas empresas derivadas, Pole Alimentos e Integral Mix, vem se

espacializando através da ampliação e diversificação de seus investimentos, tanto no território

51

DIÁRIO DO NORDESTE. Disponível em:

<http://diariodonordeste.globo.com/m/materia.asp?codigo=468330>. Acesso em: 06 out. 2012). 52

INTEGRAL TRANSPORTES. Disponível em: <http://integraltransportes.com.br/>. Acesso em: 13 jul. 2016.

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cearense como no nacional. A Granja Regina, que tem mais de 2 mil trabalhadores, contando

com 180 trabalhadores na área industrial, está em processo de expansão das operações e

intensificação da produção e comercialização de ovos e frangos, além de prosseguir

acompanhando as mudanças comportamentais dos consumidores, em que a empresa tem

mudado suas estratégias, optando pela praticidade de frangos em cortes e desossados,

diversificando a oferta de produtos.

CIALNE

Outra importante empresa que atua no setor avícola cearense é a Companhia de

Alimentos do Nordeste (Cialne), fundada em 1966 por um empresário local, que começou

com uma pequena granja na capital cearense. Assim como ocorre com o Grupo Regina, a

empresa ainda é gerida pela família fundadora, registrada como sociedade anônima, mas sem

nenhum acionista investidor e totalmente controlada pela família, sendo que os filhos e netos

do fundador exercem cargos na direção da empresa. É uma empresa que atua no ramo da

agroindústria, tanto na avicultura quanto na pecuária leiteira e ovinocultura, gerando

aproximadamente mais de 4.000 empregos em todas as suas operações53

.

Atualmente, a Cialne é tida como a maior empresa avícola do Nordeste e está entre as

cinco maiores produtoras de leite do país, com um ritmo de crescimento de 17% ao ano entre

2011 e 201454

. O negócio familiar faturou, em 2014, 380 milhões de reais e possui 500

milhões de reais em patrimônio imobiliário. Além disso, a empresa figurou em 2015 entre as

21 empresas cearenses citadas dentre as 1.000 maiores empresas do Brasil no levantamento

realizado pela Revista Exame55

. Com um montante de vendas de U$ 122,6 milhões em 2015,

a Cialne teve um crescimento de 19% e um lucro de U$ 0,5 milhões56

.

Nesses 50 anos de existência, a Cialne cresceu no setor avícola e ampliou seus

ramos de atuação, conquistando novos mercados. Com sede em Fortaleza, é do bairro

Mondubim de onde saem diariamente as ordens para que funcionem as 53 unidades

produtivas da empresa, entre unidades de produção de ovos férteis, pintos de um dia,

matrizes, frangos vivos, frangos abatidos, bovinos, leite e ovinos, granjas, fazendas,

incubatórios, fábrica de ração e frigorífico, espalhadas pelo interior do Ceará, Piauí, Paraíba e

53

CIALNE. Disponível em: <http://www.cialne.com.br/>. Acesso em: 17 mar. 2016. 54

DINHEIRO RURAL. Disponível em: <http://www.dinheirorural.com.br/secao/capa/sem-tempo-para-

descansar>. Acesso em: 17 mar. 2015. 55

PORTAL 180 GRAUS. Disponível em: <http://180graus.com/noticias/das-1000-maiores-empresas-do-brasil-

21-estao-no-ce-ma-tem-6-e-pi-2>. Acesso em: 13 jul. 2016. 56

REVISTA EXAME. Disponível em: <http://mm.exame.abril.com.br/empresas/buscar/cialne>. Acesso em: 06

out. 2016.

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112

Maranhão57

, conforme indicamos na figura 7. Para manter a saúde e alta qualidade dos

animais, a Cialne investe em tecnologias e soluções para a nutrição animal, implementando

fábricas de ração para alimentação de aves, gado leiteiro e ovinos.

Fonte: CIALNE. Disponível em: <http://www.cialne.com.br/>. Acesso em: 17 mar. 2016.

Além do polo corporativo sediado em Fortaleza, no Estado do Ceará estão

localizados granjas de avós, granjas de matrizes, granjas de frangos, incubatórios, fábricas de

ração, fazendas de cria e recria de gado, produção de leite, criação de ovinos e também uma

unidade industrial de abate de frangos. Ao todo são 36 unidades produtivas localizadas em

diversos municípios do Ceará, como Aquiraz, Cascavel, Guaiuba, Irauçuba, Maranguape,

Ubaraja, Paracuru, Umirim e São Gonçalo do Amarante. Já no Estado do Maranhão, a Cialne

mantém granjas de frango e uma fábrica de ração, as quais abastecem as unidades da região.

Na Paraíba, a Cialne também se faz presente com grande força, contando com instalações de

granjas de frangos, fábrica de ração, incubatório e granja de matrizes. Já no Piauí, a Cialne

obtém números elevados na produção e abate de frangos, contando com um abatedouro

próprio, fábrica de ração e granja de frangos. Com todas essas unidades produtivas, a empresa

57

DINHEIRO RURAL. Disponível em: <http://www.dinheirorural.com.br/secao/capa/sem-tempo-para-

descansarr>. Acesso em: 17 mar. 2015.

Figura 7 – Localização das unidades produtivas Cialne

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abastece todo o Norte e Nordeste do país com seus produtos processados (carne, ovos e

ração).

Segundo um perfil da empresa divulgado pela revista Dinheiro Rural, somente de

ovos férteis a produção da Cialne chega a 132 milhões de unidades por ano. A criação de aves

soma 46,8 milhões de unidades e 96 milhões de pintinhos de um dia. Em 2013, o abate de

frangos em frigorífico próprio foi de 20 milhões de unidades58

. Os demais são vendidos ainda

vivos para um mercado que ainda é tradição no Nordeste, o da criação dos animais nos

quintais e pequenas propriedades rurais, ou comprar os frangos já adultos para abatê-los em

casa.

No final da década de 1990, a empresa começou a investir em matrizes e ovos

férteis e partiu para a verticalização total da cadeia produtiva, indo das galinhas-avós, que são

o berço da genética de todo processo de produção avícola, até o consumidor final para a carne

de frango, tornando-se uma das poucas empresas do setor que detêm todo o processo avícola,

igualando-se ao modelo de empresas como a BRF e a Seara. Diante disso, a Cialne é a única

empresa do Norte e Nordeste que possui granjas de avós especializadas na geração de

pintinhos matrizes. Entre os anos de 1960 e a década de 1990, a Cialne passou de algumas

dúzias a 600 mil ovos comerciais por mês produzidos em granjas próprias, no interior do

Estado. Hoje são 11 milhões de ovos comerciais por mês59

.

Segundo entrevista com um diretor de produção da empresa60

, em visita técnica

em unidades produtivas localizadas em Fortaleza e em Guaiuba, as aves avozeiras vêm de São

Paulo e são alojadas em uma granja especializada, localizada no município de Paracuru.

Dessa forma, a empresa acompanha todos os processos de manejo e mantém um rígido

controle sanitário, cuidando assim da saúde e da qualidade dos animais. Os ovos férteis, que

dão origem aos pintos matrizes, são alojados para o Incubatório de Matrizes, que conta com

ar-condicionado e climatização computadorizada, dispondo da monitoração, em tempo real,

das máquinas e do ambiente. Funcionários fazem uma seleção rigorosa dos animais para

serem comercializados ou para serem incubados pela própria Cialne, gerando assim novos

pintinhos, os quais são vendidos com um dia ou são encaminhados para a produção de frangos

vivos.

58

DINHEIRO RURAL. Disponível em: <http://www.dinheirorural.com.br/secao/capa/sem-tempo-para-

descansarr>. Acesso em: 17 mar. 2015. 59

DINHEIRO RURAL. Disponível em: <http://www.dinheirorural.com.br/secao/capa/sem-tempo-para-

descansarr>. Acesso em: 17 mar. 2015. 60

Entrevista realizada em 2015, durante visita técnica às unidades da empresa.

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Foto 1 – Produção de frangos de corte pela Cialne

Fonte: Sousa (2015). Acervo da autora.

As matrizes da Cialne são oriundas da própria empresa, as quais permanecem

alojadas na granja de Paracuru. Parte das matrizes resultantes desses ovos são vendidas para

clientes do Norte e Nordeste do país, os quais contam com sua própria produção de ovos,

pintos e frangos. A outra parte é alojada nas Granjas Matrizes da própria Cialne, dando

prosseguimento à cadeia produtiva da empresa. Para que os pintos cheguem aos clientes com

aproximadamente um dia de nascidos, dentro do peso ideal, na temperatura indicada, a Cialne

conta com uma frota própria de caminhões adaptados para o transporte dos animais. Além

disso, a equipe técnica também presta serviços de suporte aos clientes, caso estes venham a ter

algum problema com o manejo, o que demonstra uma dependência dos compradores em

relação à empresa. Todos os processos nas granjas e abatedouros atualmente são mecanizados

e contam com tecnologia de ponta, o que facilita e aumenta a produção e qualidade sanitária

dos produtos, diminuindo, assim, os custos de produção, representando dessa forma a

materialização da reestruturação produtiva avícola em território cearense.

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115

Fonte: Sousa (2015). Acervo da autora.

Foto 3 – Aviário automatizado da Cialne em Guaiuba/CE

Fonte: Sousa (2015). Acervo da autora.

Foto 2 – Granja da Cialne no município de Guaiuba/CE

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Além da produção própria, a empresa também fornece matéria-prima para a

Dudico, uma empresa do Grupo Cialne voltada apenas para o corte e a comercialização da

carne de frango, atuando nos mercados do Ceará, Piauí, Maranhão e Rio Grande do Norte. As

suas operações industriais tiveram início no Estado do Piauí, em 2010, através da aquisição e

ampliação do frigorífico da Cooperativa dos Avicultores Mista do Piauí (COAVE), situado

em Teresina, que poucos meses depois de inaugurado alcançou a capacidade para abater 80

mil frangos por dia e aumentou para 900 o número de empregos diretos.

Através dessa indústria, o grupo tem a sua produção de processados que é feita em

seu próprio abatedouro, nos padrões tecnológicos e na forma de produção globalizada do

setor, com maquinários modernos e rígido controle sanitário, possuindo certificado com o

Selo de Inspeção Federal (SIF). Hoje, os produtos da Cialne, como frango inteiro ou em

porções, além de embutidos como mortadela, linguiça, pizzas e massas produzidas de

forma terceirizada, chegam ao mercado com a marca Dudico. Em curto prazo, a Dudico

pretende expandir as suas unidades, aumentando assim a sua produção e exportando os seus

produtos para os Estados do Norte e Nordeste, e também para países da Europa e Ásia61

.

Foto 4 – Fábrica da Dudico (Cialne)

Fonte: CIALNE. Disponível em: <http://www.cialne.com.br/>. Acesso em: 17 mar. 2016.

61

DUDICO. Disponível em: <http://www.dudico.com.br/>. Acesso em: 20 jan. 2016.

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Devido à diversificação que o Grupo Cialne fez no seu setor produtivo, a empresa

também conta com a criação de bezerros, gados de recria, gados de produção e ordenha, todos

das raças Girolando, Gir Leiteiro e Holandês. O desempenho dessas raças garante à empresa o

posto de líder do Norte e Nordeste na produção de leite (40 mil por dia), tornando-a uma das

maiores do Brasil62

. No gado leiteiro são oito mil bovinos girolando e cruzados de holandês,

e mais mil animais puros da raça gir leiteiro. Todos os dias, 2,7 mil vacas são ordenhadas63

. A

Cialne prosseguiu em 2015 entre as cinco maiores produtoras e leite do país, segundo o

ranking dos 100 maiores produtores de leite divulgado todos os anos pela consultoria paulista

Milkpoint, com uma produção total comercializada em 2015 de 12.661.485 litros e uma

produção média diária de 34.689 litros. Também ficou entre os 10 produtores com maior

aumento de produção em 2015. Segundo a própria Cialne, todas as vacas são ordenhadas

mecanicamente, sem a presença dos bezerros e sem o uso de medicamentos.

Com a expansão da sua produção leiteira, a empresa passou a fornecer leite para a

empresa Sabor & Vida, indústria pertencente ao grupo Cialne, que comercializa produtos

derivados do leite, como queijos, requeijões e iogurtes. Essa empresa foi adquirida em 2014 e

já exista há mais de 30 anos instalada em Maranguape64

. Assim, o grupo Cialne decidiu

ampliar suas atividades e entrou na área industrial de produção de lácteos. O grupo investiu na

ampliação e na modernização da fábrica da Sabor & Vida, reformulando e lançando novos

produtos no mercado, ampliando seu poder de concorrência principalmente na área de

queijos. Toda a matéria-prima dos produtos da Sabor & Vida tem origem nos próprios

rebanhos do Grupo Cialne, tendo permanente controle do processo produtivo65

. Com

instalações aptas a processar mais de 60 mil litros de leite por dia, a empresa ambiciona

atender aos principais Estados do Nordeste, através do aprimoramento de sua produção, com

agregação de novas máquinas e tecnologias à sua indústria.

A empresa também adentrou na produção de ovinos. Dessa forma, com o objetivo

de atender à alta demanda do consumo da carne de cordeiros, a Cialne investe na criação de

ovinos cruzados da raça Santa Inês com Dorper, que se destacam pela rusticidade e

produtividade66

. Com oito mil animais, o abate de cordeiros de até quatro meses de idade

rende 2,4 mil toneladas de carne por ano, o que é um número de grande

62

CIALNE. Disponível em: <http://www.cialne.com.br/>. Acesso em: 17 mar. 2016. 63

DINHEIRO RURAL. Disponível em: <http://www.dinheirorural.com.br/secao/capa/sem-tempo-para-

descansarr>. Acesso em: 17 mar. 2015. 64

SITE FCDL-CE. Disponível em: <http://site.fcdlce.com.br/coluna-egidio-serpa-12/>. Acesso em 01 fev. 2015. 65

DIÁRIO DO NORDESTE. Disponível em: <http://blogs.diariodonordeste.com.br/egidio/agronegocio/calne-

amplia-e-moderniza-a-sabor-vida/>. Acesso em: 05 abr. 2016. 66

CIALNE. Disponível em: <http://www.cialne.com.br/>. Acesso em: 17 mar. 2016.

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expressividade quando comparado ao que ocorre no Nordeste67

. Isso demonstra ainda mais a

estratégia do grupo no que concerne à diversificação da sua atuação no ramo alimentício, já

consolidada no setor avícola, voltando-se também para os setores bovino e ovino,

demostrando a grande capacidade produtiva e o capital acumulado que a empresa possui.

AVINE

A Avine Comercial e Avícola do Nordeste (Avine) é uma outra empresa avícola

com destacada atuação no território cearense. De capital local e fundada em 1992, a empresa,

inicialmente voltada para a produção de ovos de galinha, atua também nos mercados de ovos

de codorna, frango de corte e incubação de ovos férteis68

. A Avine produz e comercializa

ovos de galinha pequenos, médios, grandes, extra e super-extra, além de ovos enriquecidos

com ômega 3 e 6 e vitamina E, ovos brancos, ovos vermelhos e ovos de codorna. A empresa

se situa entre as maiores produtoras de ovos de galinha do Ceará e a maior em produção de

ovos de codorna, operando com cerca de 500 funcionários e uma produção mensal de 11

milhões de ovos, 400 toneladas de frango e 2,3 milhões de ovos de codorna69

.

Em Fortaleza, localiza-se o escritório e o centro de distribuição da empresa. No

município de Aquiraz, a empresa conta com unidades produtivas, como granjas de produção

de ovos de galinha, fábrica de ração, granja de ovos de codorna, incubatório e granja de

frango. Em Horizonte, também existe uma unidade produtiva da empresa, com granja de

produção de frango. Em Cascavel, a empresa também possui uma granja de produção de ovos

de galinha, granjas de ovos de codorna e granja de frango. Sua área de distribuição cresce ano

após ano, abrangendo a toda a Região Nordeste e parte da Região Norte (Amapá e Pará),

distribuindo seus produtos para 11 Estados.

67

DINHEIRO RURAL. Disponível em: <http://www.dinheirorural.com.br/secao/capa/sem-tempo-para-

descansarr>. Acesso em: 07 mai. 2013. 68

AVINE. Disponível em: <http://www.avine.com.br/institucional/>. Acesso em: 07 mai. 2013. 69

AVINE. Disponível em: <http://www.avine.com.br/institucional/>. Acesso em: 07 mai. 2013.

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Foto 5 – Fábrica de ração da Avine em Aquiraz/CE

Fonte: AVINE. Disponível em: <http://www.avine.com.br/institucional/>. Acesso em: 05 jul. 2015.

Foto 6 – Granja automatizada da Avine em Aquiraz/CE

Fonte: AVINE. Disponível em: <http://www.avine.com.br/institucional/>. Acesso em: 05 jul. 2015.

Inferimos que a Avine possui tanto granjas no sistema de criação convencional,

como é o caso das galinhas e capotes, quanto granjas de criação de galinhas automatizadas,

além de moderno sistema de classificação de ovos na unidade localizada no município de

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Cascavel, como podemos ver nas figuras a seguir, incorporando as inovações técnicas

disponíveis para o setor, seja na parte da produção das aves propriamente dita, seja na parte de

classificação dos ovos, que é o carro-chefe da empresa.

Foto 7 – Classificação de ovos da Avine em Cascavel/CE

Fonte: AVINE. Disponível em: <http://www.avine.com.br/institucional/>. Acesso em: 07 jul. 2015.

Em termos de segurança alimentar, a produção da Avine possui certificação do

Programa de Alimento Seguro (PAS) do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

(SENAI), que atende às Boas Práticas de Fabricação (BPF) e Análise de Perigos e Pontos

Críticos de Controle (APPCC), tendo sido a terceira granja do país e a primeira do Nordeste a

receber tal certificação70

. Atualmente, além de comercializar produtos com a marca Avine, a

empresa também fornece seus produtos com marca de grandes redes, como Pão de Açúcar

(Qualitá), G. Barbosa, Super Rede, Nordestão, Comercial Carvalho, Y. Yamada, Fortaleza,

Rede Parceria, Uniforça, Super Nossa, Rede Amigos, entre outras, consolidando-se no

mercado nordestino de ovos de galinha, sobretudo.

EMAPE

70

AVINE. Disponível em: <http://www.avine.com.br/institucional/>. Acesso em: 05 jul. 2015.

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A Emape, fundada em 1963 em Maracanaú pelo empresário e político Roberto

Pessoa, é dedicada à atividade de postura comercial, produção de pintos de um dia, de capotes

e galinha caipira de pescoço pelado, além de aves para corte. É uma das maiores empresas

produtoras de ovos do Norte e Nordeste, assim como a Avine. Em 2013, a empresa

empregava diretamente cerca de 600 pessoas, como nos foi informado em trabalho de

campo71

. No início, a empresa priorizou a criação de frango de corte em dois pequenos

aviários construídos na atual Granja São Francisco, em Mucunã, em Maracanaú. A Emape

começou com três mil cortes por dia, sendo que hoje a empresa realiza mais de um milhão.

Além das primeiras granjas e incubatórios localizados em Maracanaú, a empresa

instalou unidades em diversos municípios do Estado do Ceará, como Caucaia, Chorozinho,

Eusébio, Guaiuba, Pacajus e Tianguá. Na sua expansão, buscando desenvolver seu

crescimento em locais mais próximos da produção dos insumos básicos para a atividade

avícola, instalou unidades em Barreiras (BA) e Araguaína (TO)72

, importantes produtores

nacionais de soja, como também de milho. As unidades em Barreiras e Tianguá contam com

um plantel de 500.000 e 750.000 aves e uma produção de 320.000 e 500.000 ovos/dia,

respectivamente, totalizando 820.000 ovos/dia de produção73

. Ambas as granjas têm aviários

com distribuição automática de ração, coleta de ovos e de esterco por esteiras transportadoras,

as quais abrangem a transferência de ovos até o entreposto, onde são classificados e

embalados automaticamente.

Em entrevista com diretor executivo da Emape, nos foi informado que a empresa tem

uma distribuição semanal de pintinhos tanto para o interior do Ceará como para o Piauí. Em

Tianguá, a Emape tem a fábrica de ração, que tem veículos próprios que levam semanalmente

ração para as unidades de Maracanaú. Além disso, em Tianguá está localizada a granja de

produção de ovos comerciais e pontos de venda e distribuição dos ovos. Nas unidades de

Maracanaú o arrecadamento é menor, já que a produção é de pintinhos de um dia caipiras.

Ainda de acordo com o diretor da empresa, a maior arrecadação da Emape advém das

unidades de Tianguá e Barreiras, onde se localizam as produções de ovos comerciais.

71

Visitamos a unidade da Emape em Maracanaú em 2013, quando entrevistamos um de seus diretores. 72

EMAPE. Disponível em: <http://www.emape50anos.com.br/sobrenos.html. Acesso em: 29 set. 2013. 73

EMAPE. Disponível em: <http://www.emape50anos.com.br/sobrenos.html>. Acesso em: 29 set. 2013.

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Fonte: Sousa (2013). Acervo da autora.

A empresa produz atualmente ovos comerciais e pintinhos de um dia. A Emape

dispõe de linhagem caipira com ou sem pescoço pelado. Os pintinhos de um dia da linhagem

de pescoço pelado são modificados geneticamente na França, conhecidos como Label Rouge.

Assim como acontece com os pintinhos de um dia da galinha d’angola, são comercializados

para pequenos produtores avicultores que são orientados sobre como deve ser a cria dessas

aves através de assistência veterinária e manuais entregues pela empresa. Essa linhagem

“pescoço pelado” com dupla aptidão (produção de carne e ovos), foi trazida para o Brasil e se

adaptou muito bem, graças ao nosso clima tropical. Essas aves atingem níveis de produção

bem mais elevados que as nossas tradicionais caipiras devido às modificações na sua genética.

Segundo o representante da empresa entrevistado, a produção da galinha caipira pescoço

pelado nunca poderá ser comparada com à da ave industrial, pois a galinha caipira pescoço

pelado apresenta mais resistência às doenças e carne e ovos bem mais saborosos e

pigmentados, permitindo comercialização a preços maiores do que os preconizados para os

produtos industriais.

A Emape também comercializa para pequenos produtores os pintinhos de um dia

da galinha d’angola, chamada também de capote, como é popularmente conhecida no

Nordeste. A empresa trouxe da França, país onde o capote é consumido com requinte, o

Foto 8 – Galpão convencional de galinhas da Emape em Maracanaú/CE

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projeto completo de criação industrial desenvolvido pela GALOR, no mais alto padrão

tecnológico europeu e inseminação artificial, com exclusividade em todo continente sul-

americano. Assim, aproveitando o melhoramento genético dessa ave, a Emape passou a

importar as matrizes ou a importar os ovos férteis de avós que são incubados e geram as

matrizes de galinha d’angola. O plantel da empresa é resultado de inseminação artificial com

matrizes trazidas da França, país líder no seguimento. Nesse nicho de mercado, a empresa foi

pioneira na criação com melhoramento genético e comercialização da ave no Brasil. O capote

é destaque na cozinha regional, e, além da carne, pode ser criado para o comércio de aves

ornamentais74

Nesse sentido, a empresa vem testando inovações tecnológicas na área avícola por

meio de um projeto em parceria com o curso de Medicina Veterinária da UECE, na área de

produção de aves mais resistentes ao clima quente e seco, para habitar pequenas fazendas e

sítios, com exploração própria de economia familiar. A partir disso, a Emape passou a

produzir na sua granja de Maracanaú capote (galinha de angola) por inseminação artificial,

usando diluente de água de coco, desenvolvido pelo professor e sua equipe de pesquisadores

da Faculdade de Veterinária da UECE. Para tanto, a empresa importa da Grimaud (empresa

francesa especialista em genética animal) ovos férteis de aves avós de galinha de angola,

incubando-os e produzindo os pintinhos, que na granja são selecionados e formados em aves,

produção dos capotes de um dia e sua distribuição, juntamente com pinto caipira do pescoço

pelado, em todo o território nacional.

HAISA

O Grupo Haisa constitui-se de cinco empresas atuantes no mercado regional e

internacional, nas áreas de avicultura, fruticultura, carcinicultura e construção civil. A

empresa Horizonte Avícola Industrial S.A (HAISA) iniciou suas atividades em 1980.

Instalada no município de Horizonte, começou com a produção de pinto de corte, avançando

para ovos comerciais, e, logo após, frango de corte. Na época, o setor apresentava um

significativo crescimento no consumo, sendo assim propício o investimento nessa área de

negócios, visando o mercado regional75

.

74

DIÁRIO DO NORDESTE. Disponível em: <http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/ceara-e-pioneiro-no-

melhoramento-genetico-1.512596>. Acesso em: 20 jan. 2015. 75

HAISA. Disponível em: <http://haisa.com.br/>. Acesso em: 20 mar. 2016.

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Foto 9 – Sede do Grupo Haisa em Horizonte/CE

Fonte: HAISA. Disponível em: <http://www.haisa.com.br/>. Acesso em: 20 mar. 2016.

Hoje, o Grupo Haisa diversifica suas atividades no agronegócio de um modo geral

e na construção civil. Na avicultura a empresa possui quase integração vertical, abrangendo as

seguintes áreas: fabricação de ração, incubação de ovos férteis, criação de frango de corte e

produção de ovos comerciais, que dão a ela um maior controle da produção e qualidade aos

seus produtos. Na fruticultura produz coco. Na carcinicultura, cultiva em cativeiro camarões

(Vanammei) de água salgada e água doce. Na construção civil atua como incorporadora, e na

construção de casas populares através da empresa Rochedo Construtora e Incorporadora

S/A76

.

O grupo iniciou as atividades na carcinicultura no ano de 2002, no litoral oeste do

Estado do Ceará, em Acaraú, e posteriormente no litoral leste, em Jaguaruana. Hoje a

atividade se estende por 900 hectares de áreas de cultivo, espalhadas pelos municípios de

Acaraú, Cruz, Itarema e Jijoca77

. Também em 2002, o grupo deu início à atividade de

fruticultura com a plantação de coqueiros em Acaraú, sendo que toda a produção é

direcionada para a indústria, onde é utilizado para fabricação de coco ralado e leite de coco.

Atualmente, a maior parte dos plantios é de coqueiros das variedades gigante e anã78

.

Na atividade avícola, a Granja Haisa produz ovos comerciais e frangos de corte.

Recebe os pintinhos com um dia de idade provenientes da região Sul e Sudeste, que são

produzidos com rígido controle sanitário. Todo processo de produção de ovos é acompanhado

por profissionais treinados e equipamentos adequados. Após sua coleta diária, são expedidos

76

HAISA. Disponível em: <http://haisa.com.br/>. Acesso em: 20 mar. 2016. 77

HAISA. Disponível em: <http://haisa.com.br/>. Acesso em: 20 mar. 2016. 78

HAISA. Disponível em: <http://haisa.com.br/>. Acesso em: 20 mar. 2016.

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125

para classificação, a qual define os padrões dos ovos, que por sua vez são classificados por

peso e tamanho. Toda a produção de ovos é destinada ao mercado do Estado do Ceará79

.

Fonte: HAISA. Disponível em: <http://haisa.com.br/>. Acesso em: 20 mar. 2016.

A Granja Haisa tem parceria com os maiores produtores de ovos férteis da região

Sul, Sudeste e Nordeste para produção de frango de corte. A incubação dos seus ovos é

realizada em estrutura própria, esse processo garante a avaliação da qualidade do nascimento

dos pintos, o que é um grande diferencial dentro do mercado da avicultura. Quando chegam

aos aviários, são recebidos em ambiente climatizado, próprio para a idade, onde recebem

ração específica para cada fase de criação e são submetidos a um programa de vacinação e

controle de bioseguridade ambiental, com isolamento dos criatórios. No processo de criação

das aves, a Granja Haisa utiliza padrões específicos de qualidade, com pessoal treinado,

ambiente higienizado e acompanhamento técnico especializado80

.

TIJUCA ALIMENTOS

A Tijuca Alimentos Ltda, com sede em Beberibe e escritório no bairro de

Messejana, em Fortaleza, desde 1968 atua na produção e comercialização de frangos e ovos

no Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e Maranhão, estando entre as maiores do

Ceará. Para isso, dispõe de uma moderna fábrica de rações e com uma classificação dotada de

79

HAISA. Disponível em: <http://haisa.com.br/>. Acesso em: 20 mar. 2016. 80

HAISA. Disponível em: <http://haisa.com.br/>. Acesso em: 20 mar. 2016.

Foto 10 – Galpões de classificação de ovos do Grupo Haisa

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modernos e automatizados equipamentos. Possui abatedouro próprio com capacidade de abate

de 100% de sua produção e logística que conta com uma frota também própria.

Tem forte atuação junto ao comércio varejista, supermercados, mercadinhos,

hotéis, restaurantes, padarias, hospitais e atacadistas. A empresa produz diariamente 1 milhão

de ovos. Toda essa produção é consumida pelo mercado interno cearense e pelo dos estados

vizinhos. Além disso, a Tijuca também produz 100 mil frangos por mês, e, ainda, 7 mil litros

de leite bovino por dia. A Tijuca comercializa ovos brancos, ovos vermelhos, produtos

congelados, produtos resfriados, água de coco e queijo coalho. Atualmente a empresa possui

1.100 funcionários 81

.

Fonte: TIJUCA ALIMENTOS. Disponível em: <http://www.tijucaalimentos.com/>. Acesso em: 13 jul. 2015.

No quadro a seguir organizamos uma síntese das informações mais relevantes

acerca das empresas que aqui analisamos, visando possibilitar uma visão geral do setor

empresarial avícola em atuação no Ceará. São empresas que, apesar de suas especificidades,

81

DIÁRIO DO NORDESTE. Disponível em:

<http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/negocios/coluna/egidio-serpa-1.209/egidio-serpa-tijuca-

um-milhao-de-ovos-1.1559666>. Acesso em: 07 jul. 2016.

Foto 11 – Seleção automatizada de ovos da empresa Tijuca

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guardam muitas semelhanças entre si, a exemplo de serem empresas familiares, de capital

local, com destacada atuação no mercado nordestino de ovos e carnes, com uma significativa

diversificação da produção e atuando em outros setores produtivos.

Quadro 3 – Síntese das informações acerca das empresas avícolas cearenses

(continua)

Empresas avícolas Informações Avine Comercial e Avícola do

Nordeste

Grupo: Avine

Origem do capital: Ceará

Ano de instalação: Fundada em 1992

Atividades econômicas: Avicultura

Matriz e filiais: Fortaleza (escritório), Aquiraz, Cascavel, Horizonte.

Unidades produtivas: Aquiraz (Granja de Produção de ovos de

galinha, Fábrica de ração, Granja de ovos de codorna, Incubatório,

Granja de frango), Fortaleza (Escritório, Centro de Distribuição),

Cascavel (Granja de Produção de ovos de galinha, Granja de ovos de

codorna, Granja de frango), Horizonte (Granja de frango).

Número de funcionários: 500 empregos diretos.

Principais produtos: Ovos de galinha, ovos de codorna, frango de

corte e incubação de ovos férteis.

Comercialização: Distribui para 11 Estados, abrangendo toda a

Região Nordeste e parte da Região Norte.

Outras informações: Além de comercializar produtos com a marca

Avine, a empresa também oferece aos seus consumidores produtos

com marca de grandes redes de supermercados.

Granja Regina

Grupo: Grupo Regina

Empresas do grupo: Granja Regina,

Pole Alimentos, Integral

Agroindustrial (Fortaleza -

Messejana), Integral transporte

(Fortaleza – Messejana)

Origem do capital: Ceará

Ano de instalação: Fundada em 1958

Atividades econômicas: Avicultura, carcinicultura, produção de

ração, comércio atacadista de carnes e derivados de outros animais.

Unidades produtivas: Fortaleza, Maracanaú

Número de funcionários: Atualmente conta com mais de 2 mil

colaboradores distribuídos em mais de cem unidades de criação,

produção e incubação.

Principais produtos: Ovos de galinha, ovos de codorna, frangos

inteiros e cortes dos tipos nobre e tradicional, embutidos.

Comercialização: Norte e Nordeste

Companhia de Alimentos do

Nordeste – Cialne

Grupo: Cialne

Empresas do grupo: Cialne,

Indústria Dudico, Nutrimento

Indústria (Sabor&Vida)

Origem do capital: Ceará

Ano de instalação: 1966

Atividades econômicas: Avicultura, criação de bezerros, gado de

recria, gado de produção e ordenha.

Unidades produtivas: Sede em Fortaleza e mais de 50 unidades

divididas nos estados do Ceará, Piauí, Maranhão e Paraíba. São

unidades de produção de ovos férteis, pintos de um dia, matrizes,

frangos vivos, frangos abatidos, bovinos, leite e derivados, ovinos,

além de fábrica de ração. Indústria Sabor&Vida (Maranguape/CE),

Dudico (Fortaleza/CE e Teresina/PI).

Número de funcionários: Mais de 4.000 empregados.

Principais produtos: Pintinhos matrizes, pintinhos de 1 dia, leite e

derivados, ovinos, frango resfriado e congelado, embutidos.

Comercialização: A Dudico atua nos mercados do Ceará, Piauí e

Maranhão.

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Quadro 4 – Síntese das informações acerca das empresas avícolas cearenses

(continuação)

Empresas avícolas Informações

Granja Haisa – Horizonte Avícola Industrial S.A

Grupo: Haisa

Origem do capital: Ceará

Ano de instalação: 1980

Atividades econômicas: Avicultura (Fabricação de

ração, incubação de ovos férteis, criação de frangos

de corte e produção de ovos.), construção civil

(Rochedo Construtora e Incorporadora S/A),

fruticultura (cultivo de coco) e carcinicultura

(produção de camarão em cativeiro).

Unidades produtivas: Produção avícola em

Horizonte e carcinicultura em Acaraú, Cruz, Itarema

e Jijoca.

Número de funcionários: 110 funcionários

Principais produtos: Ovos comerciais, frango de

corte.

Comercialização: Nordeste

Outras informações: O Grupo Haisa constitui-se de

cinco empresas atuantes no mercado regional e

internacional, nas áreas de avicultura, fruticultura,

carcinicultura e construção civil.

Emape

Origem do capital: Ceará

Ano de instalação: 1963

Atividades econômicas: Avicultura

Unidades produtivas: Fortaleza (CE) – escritório,

Maracanaú (CE), Tianguá (CE) e Barreiras (BA).

Número de funcionários: 600 funcionários

Principais produtos: Ovos comerciais, frango

caipira pescoço pelado, galinha d’angola.

Comercialização: Nordeste

Outras informações: A Emape produz na sua granja

de Maracanaú o capote (galinha de angola) por

inseminação artificial, importando da França ovos

férteis de aves avós.

Tijuca Alimentos LTDA

Origem do capital: Ceará

Ano de instalação: 1968

Atividades econômicas: Avicultura e produção de

água de coco e queijo coalho.

Unidades produtivas: Fortaleza (Escritório),

Beberibe (CE).

Número de funcionários: 1.100 funcionários

Principais produtos: Ovos comerciais, produtos

congelados, produtos resfriados, água de coco e

queijo coalho.

Comercialização: Comercialização de frangos e

ovos no Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e

Maranhão

Outras informações: Possui abatedouro próprio com

capacidade de abate de 100% de sua produção.

Fonte: Autoria própria82

.

82

Síntese elaborada com base em informações obtidas em trabalhos de campo, visitas técnicas, sites das

empresas e organização de hemeroteca com notícias sobre a avicultura no Estado do Ceará.

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129

Depois de apresentadas todas essas informações acerca das principais empresas

avícolas do Ceará, ressaltamos o papel que elas têm, juntas, de fazer novos usos do território,

como se refere Santos (2006), implicando uma nova forma de regulação e organização do

espaço, segundo afirma Corrêa (1991a). Acerca disso, Bomtempo (2013) assegura que as

indústrias de alimentos (agroindústrias e de consumo final), a exemplo das empresas avícolas

aqui apresentadas, contribuem enormemente para o desenrolar de novas dinâmicas territoriais,

através dos usos do território e da reorganização espacial, a partir do que indicam Santos

(2006) e Corrêa (1991a). Ainda nesse sentido, Bomtempo (2013, p. 10) vai afirmar que essas

grandes empresas, na maioria das vezes,

[...] articulam novas tecnologias de produção ao uso disperso do território, sobre o

qual se montam arranjos estabelecidos em rede, capazes de aproveitar as vantagens

das verticalidades espaciais que passam a ser, no período atual, materializadas no

território cearense por meio dos complexos circuitos espaciais da produção que se

moldam, e da frequente mobilidade da força de trabalho atrelada a este setor

produtivo.

Com isso, é relevante o papel que essas empresas têm no desenrolar de novas

dinâmicas territoriais no espaço cearense, corroborando a reorganização das relações sociais

de produção avícola, conforme analisaremos no capítulo seguinte. Assim, fica evidente que o

processo de territorialização do capital da avicultura no Ceará, comandado pelas grandes

empresas aqui apresentadas, tem sido estruturado visando utilizar o território exclusivamente

em função de seus interesses corporativos, atribuindo novas lógicas de produção empresarial

ao setor e fomentando a proletarização da população do campo, que agora atua para essas

grandes empresas – processos esses que também analisaremos no próximo capítulo.

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130

4 RELAÇÕES SOCIAIS DE PRODUÇÃO E DINÂMICAS TERRITORIAIS

4.1 TRANSFORMAÇÕES RECENTES NA DINÂMICA PRODUTIVA AVÍCOLA

No presente período histórico, chamado por Santos (1996, 2009) de técnico-

científico-informacional, defrontamo-nos com uma economia internacionalmente articulada

em várias escalas geográficas pelos interesses do capital, que, através das inovações técnicas,

científicas e informacionais, passa a comandar de forma coordenada o processo produtivo

agropecuário, inclusive na produção avícola, tamanha é a materialização das condições gerais

de reprodução do capital globalizado do agronegócio, como destaca Elias (2006). Ainda

segundo a autora, a difusão de novos sistemas técnicos agrícolas, fortemente alicerçados em

ciência, tecnologia e informação, promoveu transformações significativas nos elementos

técnicos e sociais da estrutura agrária, denotando assim significativas metamorfoses nas

possibilidades de uso e ocupação do espaço e na divisão territorial do trabalho agropecuário

(ELIAS, 2007).

A partir disso, a dinamização das relações de produção da agropecuária

modernizada em várias escalas geográficas é possível atualmente por conta dos sistemas de

objetos e de ações que intensificam cada vez mais a circulação dos fluxos materiais e

imateriais, difundindo a reestruturação produtiva para todos os lugares e setores possíveis.

Assim, os impactos da economia globalizada e da reestruturação da produção fazem-se notar

em diferentes escalas e espaços, segundo afirma Santos (2003), isso se pensarmos o contexto

de uma produção agropecuária ter grande expressividade em uma região metropolitana, como

é o caso da RMF. São essas dinâmicas que nos exigem um pensamento multiescalar, uma vez

que a combinação de múltiplas escalas nos revela também as especializações dos espaços,

uma vez que

[...] Esse meio técnico-científico (melhor será chamá-lo de meio técnico-científico-

informacional) é marcado pela presença da ciência e da técnica nos processos de

remodelação do território essenciais às produções hegemônicas, que necessitam

desse novo meio geográfico para sua realização. A informação, em todas as suas

formas, é o motor fundamental do processo social e o território é, também, equipado

para facilitar a sua circulação (SANTOS, 2009, p. 38).

Diante dessas transformações no sistema produtivo associadas à dinâmica global,

a profunda relação entre a atividade agropecuária e a indústria, favorecida pelas decorrentes

mudanças tecnológicas, também fez com que avicultura se tornasse uma das atividades

econômicas que mais vêm transformando seu processo produtivo, e, portanto, os usos do

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território. Nesse sentido, a relação entre industrialização, agropecuária e reconfiguração

territorial fica evidenciada a partir da difusão do agronegócio, que redefine a forma de

produzir e o arranjo espacial das unidades de produção, acarretando alterações nas dinâmicas

territoriais nos espaços onde esse modelo produtivo se difunde. Com isso, evidenciamos que a

organização contemporânea do espaço agropecuário brasileiro reflete esse novo quadro das

relações internacionais do mundo globalizado.

Assim, a reestruturação de inúmeros sistemas de produção nas mais diversas

escalas geográficas, principalmente com vistas a atender às novas demandas da agropecuária

globalizada, também atinge de forma significativa a produção avícola cearense, como visto no

capítulo anterior. Notamos que, com a reestruturação produtiva avícola em curso, a atividade

passou a gerar uma demanda por insumos materiais e informacionais que se amplia e é cada

vez mais diferenciada, buscando atender a um modelo de produção difundido mundialmente,

uma vez que “[...] só a produção direta se dá localmente. Mas a garantia de participar de uma

lógica que é extralocal insere essas atividades em nexos cada vez mais extralocais”

(SANTOS, 1994, p. 57).

A criação de fixos e fluxos para atender às demandas dessa produção modificam

as dinâmicas dos espaços onde ela se insere, a exemplo daqueles localizados sobretudo na

Região Metropolitana de Fortaleza e nos novos locais para onde a produção avícola cearense

vem se difundindo, sobremodo em pequenos municípios do interior, como Quixadá e

Quixeramobim, por exemplo, que passam a ser inseridos diretamente nos circuitos

globalizados da avicultura moderna. A partir daí, como resultado da reestruturação produtiva,

observamos o desenrolar de processos como fragmentação e especialização dos espaços

agrícolas, difusão de inovações no processo produtivo e alterações nas relações sociais de

produção, conforme afirma Silveira (2005), reconfigurando os usos do território cearense a

partir do novo modo de produção avícola, propagado especialmente pelas grandes empresas

do setor, que se inserem cada vez mais nesse contexto da reestruturação produtiva.

Nesse sentido, a reestruturação produtiva da avicultura é alvo de nossas

preocupações sobretudo quando procuramos desvendar a dinâmica territorial do capital

avícola no Ceará, que age introduzindo uma nova racionalidade técnica ao espaço e atuando

de maneira cerrada no controle do processo produtivo das aves. E a busca pela maior

eficiência produtiva das principais empresas do setor em atuação no Ceará vem sendo

alcançada devido a vários fatores, como: melhoramento genético das linhagens das aves,

aprimoramento na produção de insumos, modernização na infraestrutura das granjas e

abatedouros, pesados investimentos em tecnologias de automatização do sistema produtivo

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para o processamento da carne e dos ovos, maior controle das condições sanitárias de criação,

aperfeiçoamento de pessoal quanto ao manejo das aves, além de mudanças na divisão técnica

e social do trabalho, conforme será analisado no último tópico deste capítulo.

Com isso, percebemos que a produção avícola no Ceará vem cada vez mais se

inserindo nos circuitos globais de produção. As mudanças no padrão de consumo provocam e

são provocadas pelas mudanças nos modos produtivos e novos padrões espaciais dos grandes

produtores de alimentos, especialmente a indústria alimentícia. O alimento, nesse contexto de

estandardização dos sabores, deixa de ser um bem da humanidade para se tornar uma

mercadoria, em que não há só o crescimento do consumo, mas a diversificação deste por meio

da diversificação da própria forma de produzir, revelando, dessa forma, as mudanças não só

do consumo, mas também da produção83

. Assim, podemos concluir que a produção alimentar

é normatizada e normatizante em relação também ao consumo e à mudança dos hábitos

alimentares.

Isso demonstra os rebatimentos da reestruturação produtiva para além da

produção avícola em si, atingindo também o consumo, que foi significativamente alterado nas

últimas décadas. Conforme já relatamos, é notável que na região Nordeste, a partir do recente

aumento de renda implementado pelas políticas sociais dos últimos anos, houve uma relativa

mudança do padrão alimentar84

, o que provocou também o aumento dos gastos com produtos

avícolas e a necessidade de novos investimentos no setor, uma vez que a região tem um

grande potencial de aumento de consumo per capita de frango e ovos, o que aumenta a

possibilidade de ampliação do setor, especialmente das empresas cearenses, responsáveis por

atender parte da grande demanda desses produtos no mercado nordestino.

Dessa forma, até mesmo as novas formas de consumo também colaboram para

alterar as práticas socioespaciais e as dinâmicas territoriais, implicando na mudança no

próprio processo de produção do espaço, alterado sobretudo pelas grandes empresas do setor,

que passam por processos de reestruturações técnicas e operacionais com vistas a atender às

novas demandas do consumo, ampliando suas capacidades produtivas e suas formas cada vez

mais modernas de acumulação de capital, como observado atualmente com as principais

empresas em atuação no Ceará. Isso ocorre porque, de acordo com Martins (1995), a

tendência do capital é justamente tomar conta progressivamente de todos os ramos e setores

da produção, e pouco a pouco ele o faz.

83

Haja vista que não podemos dissociar a produção do consumo, como já alertava Marx (2008). 84

Acerca da recente mudança no padrão alimentar da população brasileira, e não somente a nordestina, ver

sobretudo Schlindwein e Kassouf (2007).

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Nesse sentido, a maior parte das empresas cearenses vem passando por um

processo de transição, reestruturando aviários manuais para aviários automáticos e com

sistema climatizado, por exemplo, no intuito sobretudo de otimizar a produção e ampliar a

produtividade. Esse processo já é observado nos aviários da Cialne, uma vez que hoje todos

são completamente automatizados, conforme pode ser notado nas fotos seguintes, servindo de

exemplo de como a reestruturação produtiva avícola vem se materializando na avicultura

cearense. Isso significa, entre outras coisas, uma racionalização do processo produtivo

avícola, a partir da difusão de um moderno sistema técnico que colabora para uma

uniformização da produção das aves, que recebem água, ração, vacinas e fertilizantes de

forma automatizada e padronizada, além de que essas aves já passaram por sucessivos

procedimentos genéticos com vistas a crescessem e engordarem mais rápido, tornando-se

também mais resistentes às doenças que se propagam facilmente nos aviários.

Com isso, através do incremento da tecnologia, da ciência e da informação na

avicultura, cria-se um mundo rural praticamente sem mistério, como aponta Santos (2009, p.

304), onde “[...] cada gesto e cada resultado deve ser previsto de modo a assegurar a maior

produtividade e a maior rentabilidade possível”, a serviço da reprodução do capital.

Plantas e animais já não são herdados das gerações anteriores, mas são criaturas da

biotecnologia; as técnicas a serviço da produção, da armazenagem, do transporte, da

transformação dos produtos e da sua distribuição, respondem ao modelo mundial e

são calcados em objetivos pragmáticos, tanto mais provavelmente alcançados,

quanto mais claro for o cálculo na sua escolha e na sua implantação. (SANTOS,

2009, p. 304).

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Foto 12 – Aviário automatizado Cialne

Fonte: CIALNE. Disponível em: <http://www.cialne.com.br/>. Acesso em: 20 jul. 2016.

Foto 13 – Aviário automatizado da Cialne em Guaiuba/CE

Fonte: Sousa (2015). Acervo da autora.

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Foto 14 – Sistema de ventilação em aviário automatizado da Cialne em Guaiuba/CE

Fonte: Sousa (2015). Acervo da autora.

Foto 15 – Bebedouro automatizado em fazenda da Cialne em Guaiuba/CE

Fonte: Sousa (2015). Acervo da autora.

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Além disso, chama atenção que na produção avícola das grandes empresas

cearenses vem sendo empregado o princípio da biossegurança, com vistas a resguardar os

investimentos realizados na produção das aves através da biotecnologia empregada na

uniformização do processo produtivo avícola. Todas as pessoas que adentram as áreas de

criação passam por barreiras sanitárias, seguindo vários procedimentos de biossegurança

exigidos pela empresa. No caso da Cialne, tem-se a higienização e utilização de roupas

adequadas, além da desinfecção obrigatória com produtos específicos dos veículos que

adentram essas áreas, conforme demonstrado na foto seguinte.

Foto 16 – Barreira de biossegurança na entrada de fazenda da Cialne em Guaiuba/CE

Fonte: Sousa (2015). Acervo da autora.

De acordo com Aracri (2012, p. 105), “[...] a difusão das inovações tecnológicas é

uma forma de territorialização do capital, uma vez que o espaço agrário local ou regional

passa a fazer parte do espaço do sistema agroalimentar globalizado e das grandes corporações

que nele atuam”. Desse modo, conforme defende Silva (2003), o modo de produção

capitalista passou a se apropriar da ciência e dos progressos tecnológicos para otimizar seus

lucros na produção agropecuária, tal qual vem sendo observado com as empresas cearenses da

avicultura, revelando que a atividade avícola se tornou um setor subordinado ao capital, que

cada vez mais passa a determinar o que, quanto, quando e como se deve produzir, trazendo

rebatimentos dos mais diversos.

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Como já visto anteriormente, ao longo das últimas décadas, a evolução das

pesquisas científicas tem levado a atividade avícola a obter, de forma crescente, melhores

índices de eficiência, tanto na avicultura de corte, em que os indicadores mais eficazes para

análise da produtividade são o peso ao abate, a idade no abate e a conversão alimentar, quanto

no segmento de produção de ovos, que também obtém ganhos significativos de produtividade

(OLIVEIRA et al., 2008, p. 48). Assim, a atuação da ciência, por meio da produção de

conhecimento técnico-científico, tem contribuído para o atendimento das exigências do

mercado quanto à qualidade, ao melhoramento e à padronização dos produtos avícolas.

O que podemos observar é que o desenvolvimento recente da atividade avícola

cearense, assim como no restante do país, está fundamentado nos investimentos da área

técnico-científica, envolvendo, especialmente, segmentos de genética, nutrição e sanidade, a

partir do objetivo de gerar novos produtos que colaborem com maior eficiência e qualidade no

processo produtivo. Assim, duas etapas se destacam no que concerne ao processo tecnológico

na avicultura: a criação e a industrialização. E no Ceará, um conjunto de tecnologias é

utilizado pelos grandes produtores empresariais, como vimos, o que lhes permitem alcançar

elevados índices de produtividade, corroborando o crescimento constante no plantel de aves e

na produção de ovos.

Além dos principais insumos técnico-científicos requeridos pela produção avícola,

o procedimento industrial para processamento da carne de frango inclui máquinas e

equipamentos específicos para os cortes e desossa automáticos, sistemas de embutir carnes,

tableamento (maciez) e sistemas de maturação, além de veículos fabricados especificamente

para o transporte de produtos processados da carne de frango. Assim, notamos que a atividade

avícola praticada no Ceará pelas grandes empresas requer equipamentos diversos para suas

diferentes fases: criação, produção de ração, abatedouros, processamentos e transporte.

Todavia, o que se pode observar, de um modo geral, é que grande parte desses insumos ou

dos seus componentes é importada de outros estados do Sul e Sudeste, ou mesmo de outros

países, de forma que a dependência do setor não se restringe somente à questão genética.

A provisão de todos esses insumos e a presença dos especialistas para realizar um

trabalho extremamente dividido aumenta a necessidade de movimento. Cresce a

espessura dos fluxos de produtos, insumos, pessoas, ordens e, sobretudo, dinheiro. E

esses fluxos exigem novamente uma importante infraestrutura para se

concretizarem. Cada pedaço do território, por menor que seja, exige um número

crescente de fluxos (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p. 132).

Tais demandas fomentam no setor avícola cearense o que Santos (1996, 2009)

denominou consumo produtivo, dinamizando os circuitos espaciais da produção avícola e

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138

seus respectivos círculos de cooperação. Destaca-se que esse consumo produtivo não inclui

apenas os produtos materiais (insumos, máquinas e ferramentas), mas também os serviços

(armazenagem, construção, infraestrutura, comunicação, distribuição) e o trabalho imaterial

(qualificação de mão de obra, pesquisa e desenvolvimento, assistência técnica), como afirma

Santos (2010, p. 53-54). Aqui, dessa forma, o consumo produtivo está relacionado à

reprodução dos meios de produção, que também está articulado ao processo de produção e

circulação do capital, através dos investimentos em tecnologia, ciência e informação,

sobretudo.

Nesse sentido, a utilização desses insumos materiais e imateriais, que

anteriormente inexistiam na forma de produção tida como doméstica, de “fundo de quintal”,

tornou-se indispensável para o desenvolvimento da moderna produção avícola cearense,

denotando um significativo processo de subordinação da avicultura à lógica do capital

industrial. Assim, no atual momento no qual nos encontramos, há uma dependência

considerável da produção agropecuária ao capital, sendo necessário, acima de tudo, dispor de

vastos recursos financeiros para adquirir as inovações disponíveis para o setor, conforme

destaca Martine (1991, p. 19). Além disso, destaca Aracri (2012, p. 31), esse processo de

difusão de inovações na atividade agropecuária serve, antes de mais nada, ao controle da

produção e do território, subordinando o espaço agrário à lógica do capital industrial, com a

indissociável colaboração dos capitais comercial e financeiro.

Chama atenção, nesse sentido, a intrínseca relação entre a produção avícola e o

provimento de insumos industriais realizado no setor, através da articulação entre

agropecuária e indústria, e consequentemente entre campo e cidade. A indústria está presente

tanto na etapa de processamento dos ovos e carnes como também no fornecimento dos

insumos agora indispensáveis para a continuidade da produção avícola, permitindo aos

capitalistas “[...] o domínio completo sobre o processo produtivo, do qual auferem tanto a

renda, extraída socialmente, quanto o lucro, extraído individualmente dos trabalhadores

envolvidos na produção” (PAULINO, 2012, p. 42). Ainda acerca disso, Oliveira (1999, p. 77)

destaca que

O processo de internacionalização da economia brasileira tem revelado, então, que o

desenvolvimento do capitalismo na agricultura em nossos dias está marcado,

sobretudo, pela sua industrialização. Essa industrialização deve ser entendida como

o processo de introdução do modo industrial de produzir no campo, desencadeando

um inter-relacionamento intenso entre a indústria e a agricultura.

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139

Com as mudanças na base técnica da agropecuária, provenientes do processo de

reestruturação econômica, houve uma profunda transformação nas formas gerais de

organização da produção avícola cearense, como visto anteriormente. E, com a globalização

da economia, há uma alta seletividade espacial por parte das grandes empresas e

especialização das unidades produtivas, em que “[...] a acentuação da especialização funcional

que a indústria provocou estendeu-se para o campo” (SPOSITO, 2012, p. 65). Assim, a

materialização dessa reestruturação produtiva se dá de forma seletiva, desigual e combinada

no espaço.

O processo contraditório e desigual de desenvolvimento da agricultura, sobretudo

pela via da industrialização, tem eliminado gradativamente a separação entre a

cidade e o campo, entre o rural e o urbano, unificando-os numa unidade dialética.

Isto quer dizer que campo e cidade, cidade e campo, formam uma unidade

contraditória (OLIVEIRA, 1999, p. 103).

Além disso, de maneira geral, as atividades econômicas dinamizam-se em áreas

que apresentam condições de atração locacional, ou seja, que contam com atributos

vantajosos de infraestrutura, com recursos humanos qualificados, mostrando-se adequadas à

instalação de empreendimentos e à geração de maiores lucros, como revela Santos (2011).

Para tanto, diversos agentes, em múltiplas escalas articuladas, intervêm na distribuição

espacial das atividades produtivas e consequentemente conformam novas territorialidades

(SANTOS, 1996; SANTOS, SILVEIRA, 2001), denotando um uso seletivo do território e dos

fixos e fluxos lá instalados.

A partir disso, é relevante a extensão da atividade avícola no Ceará como um todo

e a preponderância desta na Região Metropolitana de Fortaleza (como pudemos verificar nos

dados que espacializaram a produção avícola cearense), onde se encontram os pontos

referentes ao lócus da produção da avicultura e grande parte da produção e dos fixos e fluxos

relacionados à avicultura, como, por exemplo, indústrias processadoras, fábricas e silos de

armazenagem de rações, galpões de criações de aves e instalações de incubatórios para

produção de pitinhos de um dia, escritórios das grandes empresas do setor, além da

concentração dos trabalhadores formais, denotando a importância do espaço urbano para a

continuidade das atividades realizadas no campo. No organograma a seguir, figura 8,

podemos observar como se organiza o circuito espacial produtivo da avicultura cearense.

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140

Fonte: Bruna Nogueira (2016)85

.

85

A organização do organograma teve como base informações coletadas em trabalhos de campo e entrevistas.

INSUMOS PRODUÇÃO ABATE E

PROCESSAMENTO

DISTRIBUIÇÃO CONSUMO

Importação

de avós

Criação de

avós e de

matrizes

Fábrica

de

rações

Fábrica

de

embalagens

Indústria de

equipamentos

Vacinas

e

medicamentos

Ingredientes

para ração

Incubatórios

Frango

vivo

Poedeira

comercial

Abatedouros públicos ou artesanais

(1º processamento)

Frigoríficos com SIF e/ou SIE

(1º e 2º processamento)

Ovos comerciais

Exportação para outros estados do

Norte e Nordeste

Cortes Industrializados

Mercado

estadual

Frango inteiro Frango inteiro

(“frango quente”)

Feiras, açougues e

pequenas

mercearias

CONSUMIDOR FINAL

Mercado

estadual

Mercado

local

Açougues,

supermercados, e

restaurantes

Supermercados,

padarias, restaurantes e

pequenas mercearias

Figura 8 – Circuito espacial produtivo da avicultura cearense

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141

Isso nos faz ter em mente que “[...] o modo de produção não produz cidades de

um lado e campo do outro, mas ao contrário, esta produção compreende uma totalidade, com

uma articulação intensa entre estes dois espaços” (SPOSITO, 2005, p. 64). Além disso, no

campo, esse mesmo modelo de produção industrial aos poucos tem se tornado uma realidade

concreta no que diz respeito à reestruturação da atividade avícola no Estado do Ceará. Acerca

disso, Sposito (2005, p. 64) ainda assegura que “[...] este modo de produção também está no

campo e só é possível de se reproduzir através do aumento da articulação entre a cidade e o

campo”. Assim,

[…] Essa industrialização do campo é possível justamente pelo aumento da

produtividade, pela ampliação da capacidade agrícola, através da absorção de formas

de produção da indústria pelo campo – concentração dos meios de produção (neste

caso, especialmente a da propriedade da terra), especialização da produção e

mecanização. Estes mecanismos acentuam a articulação entre a cidade e o campo,

transformando o rural em espaço altamente dependente do urbano, inclusive porque

há um aumento do consumo da produção e dos serviços da cidade pelos moradores

do campo. Esta articulação acentuada coloca em dúvida a própria distinção entre a

cidade e o campo (SPOSITO, 2005, p. 65).

Desse modo, se pensarmos o território das regiões metropolitanas, trazendo a

observação para a Região Metropolitana de Fortaleza, ele incorpora toda uma lógica de

desenvolvimento de condições gerais de produção da atividade avícola, sobretudo no que

concerne aos meios de circulação referentes às grandes empresas, estabelecendo relações com

o intraurbano, uma vez que o consumo produtivo da avicultura praticada no Ceará engloba

tanto o comércio quanto o serviço, incrementando as trocas entre essa atividade agropecuária

e os demais setores da economia. Além disso, concentram-se na região metropolitana uma

grande diversidade de atividades comerciais e de serviços, além de formas de gestão do

capital e mão de obra especializada voltados às necessidades de tais empresas, como

demonstra Silva (2007). Dessa forma, “[…] é preciso considerar que a concentração do

capital e a concentração espacial das atividades possuem, no capitalismo, um nexo causal

comum” (SINGER, 1983, p. 35).

Nesse sentido, ao analisar a dinâmica geográfica da avicultura a partir da própria

produção avícola cearense e da melhor compreensão do contexto sob o qual houve a

territorialização das grandes empresas do setor no Estado, podemos notar que, ao ampliar os

espaços de acumulação de capital, essas empresas promovem importante processo de

ordenamento territorial como estratégia fundamental da dinâmica de expansão do capital

avícola no Ceará. Observa-se que os excedentes gerados no processo de produção são

invertidos na expansão da capacidade produtiva, por meio do investimento na aquisição de

novas máquinas e insumos, instalação de unidades produtivas, ou até mesmo na diversificação

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produtiva da empresa, com o empreendimento em outras atividades que também

reconfiguram dinâmicas territoriais, expandindo sua atuação para além da avicultura em si, a

exemplo do que faz sobretudo a Cialne.

De acordo com Bernardes (2010), resumindo muito bem esse processo, a cada

novo impulso de modernização, as forças produtivas agroindustriais vêm se reorganizando,

apresentando maior complexidade. Além disso, a cada novo impulso de modernização o

território é chamado a atender às novas exigências do capital e levado a atender aos novos

anseios do setor produtivo, sedento pela otimização dos lucros e pela redução dos custos.

Estamos diante, pois, da “[...] existência de uma relação direta entre reorganização territorial e

a coordenação de novos processos, procedimentos e ações que organizam e otimizam o

funcionamento de novos setores produtivos” (BERNARDES, 2010, p. 15), denotando, por

exemplo, um uso corporativo do território pelas grandes empresas avícolas, conforme será

analisado na sequência.

4.2 USO CORPORATIVO DO TERRITÓRIO E REDES DE PODER

Nas últimas décadas do século XX houve a solidificação do processo de

mundialização do capital, momento tido como o auge do processo de internacionalização do

capital, quando a ações que favorecem o acúmulo de capital também se globalizaram e

passaram a impor novas formas de regulação do território que envolvem tanto o Estado como

as grandes corporações, como bem destacam Santos (2003) e Harvey (2014), entre outros. A

reestruturação produtiva da agropecuária, decorrente desses processos globais e dos ajustes

econômicos e espaciais do capitalismo no Brasil, favoreceu a consolidação da produção

avícola empresarial no Ceará, criando um quadro de uso corporativo do território pelas

principais tais empresas do setor, que passaram a ver o território como um espaço no qual os

sistemas de objetos e os sistemas de ações são utilizados como recursos, com base em

investimentos públicos e privados, visando aumentar ainda mais a fluidez do espaço em prol

da circulação e reprodução de capital.

Assim, essa reestruturação do setor agropecuário implicou a ampliação da

produção e a necessidade de uma maior fluidez corporativa, exigindo investimentos,

principalmente por parte do Estado, em vários setores ligados aos circuitos espaciais

produtivos agropecuários, inclusive da avicultura. Isso acaba gerando, de acordo com Santos e

Silveira (2001, p. 291), um verdadeiro comando da vida econômica e social e da dinâmica

territorial por um número limitado de empresas, que passam a gerir os usos do território em

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143

prol de seus objetivos particulares e em detrimento dos anseios gerais da população. Com

isso, para Santos e Silveira (2001, p. 291), o território passa a ser adjetivado enquanto um

“território corporativo” comandando pela lógica empresarial.

Dessa forma, essas transformações na dinâmica do processo de acumulação do

capital ocorridas também no interior da atividade avícola praticada pelas grandes empresas no

Ceará, ordenadas de acordo com as mudanças na dinâmica econômica mundial, resultam na

reconfiguração do território para atender às demandas do próprio setor e dessas empresas

hegemônicas. A partir disso, aprofundam-se os desequilíbrios entre os agentes que atuam

nesse setor, uma vez que o território, ordenado também de acordo os mesmos interesses

privados, se estabelece como meio técnico-científico-informacional seletivamente funcional

às atividades hegemônicas do capital avícola e da política, que também são mundiais do ponto

de vista das suas ações (SANTOS, 2009).

Assim, esse novo meio técnico-científico-informacional é usado e serve

principalmente ao capital hegemônico das empresas da avicultura que se instala no território

para servir primordialmente aos seus próprios desígnios, pouco ou nada importando os

impactos advindos com o processo de territorialização do capital avícola. De acordo com

Santos e Silveira (2001, p. 293), o resultado dessa atuação hegemônica do capital no espaço é,

de novo, “[…] o exercício de um controle parcial de certos pontos por lógicas que se

interessam apenas por aspectos particularizados”, cujos reflexos são observados no território e

na organização das relações sociais de produção.

Dessa forma, no período atual, as grandes empresas fazem uso dos territórios de

acordo com seus interesses e demandas, balizados pelo mercado internacional. Assim, o uso

de pontos selecionados do território cearense pelo setor avícola fica submetido a uma lógica

que, por intermédio de uma empresa com prerrogativas do modo de produção capitalista,

acaba sendo uma lógica global, uma vez que “[...] o espaço geográfico reproduz-se, hoje,

tendo como objetivo o pleno desenvolvimento do capitalismo” (CARLOS, 1992, p. 42).

Alguns setores agropecuários nacionais, como é o caso da avicultura, participam de forma

intensa do processo de articulação com o modelo produtivo globalizado. Tal articulação,

forjada no contexto da globalização econômica, cria novas dinâmicas territoriais e uma

necessidade de nova regulação por parte dos agentes envolvidos.

Associado a esse movimento global de reestruturação produtiva e regulação

territorial, políticas públicas para acelerar o processo de industrialização do Ceará, dentro da

articulação nacional para a inserção produtiva do Nordeste na economia globalizada, vem

reconfigurando as práticas do uso do território cearense (PEREIRA JÚNIOR, 2011), mediante

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144

investimentos voltados para dinamizar o setor produtivo estadual, inclusive a avicultura.

Assim, o planejamento aparece não é só como uma ferramenta técnica, mas principalmente

política. Esse planejamento associado ao Estado está diretamente ligado à dinamização do

território e ao seu uso planejado sobretudo para o desenvolvimento econômico –

planejamento estatal este que passa a atender aos interesses particulares das grandes empresas

do setor produtivo.

Com isso, podemos perceber o papel do Estado como agente direto da abertura do

mercado nordestino à forma de produção globalizada em curso, através da sua intervenção

planejada na região. O objetivo dessa intervenção planejada era dinamizar a configuração

produtiva da região, através de investimentos em obras públicas e nos setores privados da

economia, reformulando a economia ao passo que as próprias relações sociais de produção e

políticas também foram sendo modificadas, como indicam Oliveira (1993) e Araújo (1997). É

nesse contexto que podemos inserir a atividade avícola do Ceará, que, como vimos

anteriormente, desde o início a articulação entre Estado-Empresa foi presente para a

estruturação da atividade, contando para isso com recursos da própria Sudene. Tais recursos

da Sudene e de órgãos financeiros como o BNB, a partir dos anos 1960, e os incentivos fiscais

da década de 1970, possibilitaram a expansão do setor avícola do Ceará. E desde esse tempo,

uma série de incentivos fiscais e linhas de crédito são ofertadas pelo Estado e disponibilizadas

para o setor.

Dessa forma, observamos que o Estado, através dessa política de modernização

conservadora que prioriza os interesses das grandes corporações, se converte em promotor e

financiador do capital privado, com o objetivo de inserir e articular a lógica estatal aos fluxos

globais da economia por meio do uso intensivo dos recursos disponíveis dos territórios pelas

corporações.

De tal forma o Estado acaba por ter menos recursos para tudo o que é social. Assim

o Estado atual, o Estado da globalização, caracteriza-se não por uma fragilidade,

mas, ao contrário, pela fortaleza no que toca ao serviço de uma economia não

humana, enquanto se esquece do social (SANTOS, 1997).

Há, dessa forma, uma influência do capital produtivo/empresarial nas redes

políticas, que sugam do Estado todo tipo de investimento e vantagens possíveis. Há, portanto,

uma série de relações não explícitas e não visíveis, às vezes, mas que são fundamentais,

inclusive, para caracterizar as relações de produção e as redes de poder que camuflam a

associação entre empresa-capital-Estado. Assim, de acordo com Santos (1977), nas condições

atuais, o que estamos assistindo é a política feita pelas empresas, sobretudo pelas grandes

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145

empresas. É uma política das empresas e para as empresas, cada vez mais poderosas e

indutoras de novos usos do território.

Para Santos e Silveira (2001, p. 291), o papel de comando do território é sempre

reservado às empresas dotadas de maior poder econômico e político. Tendo em vista que as

empresas são organizações cujas ações se dão de forma indissociável dos sistemas técnicos e

políticos que constituem o território, o uso corporativo deste frente à atual dinâmica dos

fluxos materiais, financeiros e informacionais revela as estratégias territoriais das empresas.

Cada empresa, cada ramo da produção produz, paralelamente, uma lógica territorial.

[...] esta é visível por meio do que se pode considerar uma topologia, isto é, a

distribuição no território dos pontos de interesse para a operação dessa empresa.

Esses pontos de interesse ultrapassam o âmbito da própria firma para se projetar

sobre as empresas fornecedoras, ou compradoras, ou distribuidoras. Para cada uma

delas, o território do seu interesse imediato é formado pelo conjunto dos pontos

essenciais ao exercício de sua atividade, nos seus aspectos mais fortes (SANTOS;

SILVEIRA, 2001, p. 292-293).

A ação das grandes empresas toma forma nos lugares, e aos investimentos

privados se somam as políticas públicas, que passam a ser guiadas pelos interesses

minoritários hegemônicos. As dinâmicas territoriais, empreendidas pelas novas relações

sociais de produção avícola, demonstram as articulações entre políticas públicas e interesses

corporativos, uma vez que, a partir de 1990, o Estado brasileiro como um todo passou a adotar

medidas para adaptar a economia e o território nacional aos desígnios e às ações

verticalizadas pelas forças globais e corporativas. Assim, é preciso ter em mente que vivemos

um período em que se dá a aceleração do acúmulo de capital com o auxílio do Estado, dentro

de um modelo tido como neoliberal, em que o papel do Estado seria mínimo, sendo, na

verdade, o contrário disso.

Esse discurso que ouvimos todos os dias, de cada vez haver menos Estado, está

ligado, de um lado, ao fato de que há porosidade e, de outro lado, ao fato de que os

que comandam a globalização necessitam de um Estado flexível aos seus interesses

para oferecer condições a uma produção devorante. [...] Além disso, são feitas

exigências para que ele [o capital] se instale - que em grande parte são feitas à

geografia, porque é preciso adaptá-la às necessidades das novas empresas [...]

(SANTOS, 1997).

A própria ampliação dos espaços de acumulação de capital, possível a partir da

recorrente e cerrada intervenção do Estado, ao promover um processo de ordenamento

territorial da produção, torna-se estratégia fundamental das empresas na dinâmica de

expansão do capital avícola no Ceará. Com isso, observa-se a formação de grandes

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146

corporações multifuncionais e multilocalizadas atuando na avicultura cearense, cujo caso da

Cialne é o mais emblemático e representa fielmente o debate aqui realizado.

Uma grande corporação multifuncional e multilocalizada possui, no que se refere a

sua espacialidade, não apenas diversas localizações, mas também intensas e

complexas interações espaciais, envolvendo, de um lado, suas próprias localizações

e, de outro, numerosas empresas e grupos. Em outras palavras, o espaço de atuação

da grande corporação é amplo, constituindo um meio vital para sua existência e

reprodução ampliada. Este espaço é, por outro lado, submetido à ação da

corporação, sendo diferencialmente alterado em suas dimensões e conteúdos social e

econômico (CORRÊA, 1991b, p. 62).

As empresas avícolas cearenses, através de recursos econômicos, tecnológicos,

científicos e informacionais, têm reorganizado sua produção sob a égide do mercado

internacionalizado. Assim, podemos dizer que a grande produção avícola no Ceará está cada

vez mais relacionada a uma demanda de agentes externos, seja tal demanda por quantidade ou

qualidade. Através da adoção de estratégias produtivas, espaciais e comerciais, estas empresas

organizam unidades produtivas sob seu comando, estimulando e utilizando os sistemas

técnico-científico-informacionais do meio geográfico cearense, incluindo, de forma seletiva e

excludente, o território cearense no movimento geral da globalização, especialmente a Região

Metropolitana de Fortaleza, onde se concentram fixos, presentes na forma de sistema de

objetos geográficos e animados por sistemas de ações, e fluxos de informações e decisões

políticas e econômicas com relação à atividade avícola.

Os rebatimentos territoriais gerados a partir desse processo podem ser

reconhecidos de forma empírica por meio das densidades técnico-políticas produzidas pela

atividade avícola, uma vez que “[...] o território mostra diferenças de densidades quanto às

coisas, aos objetos, aos homens, ao movimento das coisas, dos homens, das informações, do

dinheiro e também quanto às ações” (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p. 260), denotando assim

um uso seletivo do território por parte do Estado e das empresas. A partir da leitura de Santos

(2009), temos que os fixos, seletivamente instalados no território, e seus respectivos fluxos,

impõem novas dinâmicas ao território, cujo ritmo segue àqueles interesses e às novas

estratégias de uso do território pelas grandes empresas do setor avícola cearense. Dessa forma,

o uso do território se dá seletivamente, levando à imposição das normas dos grandes agentes

da economia mundial sobre os lugares.

Assim, como elementos de acumulação, as inovações técnicas e científicas

apropriadas apenas pelas grandes empresas com alto poder aquisitivo, também fazem parte do

processo de uso corporativo do território. Infelizmente, como nos coloca Santos (1997), “[...]

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quando esse progresso técnico alcança o nível superior, a globalização se realiza, não a

serviço da humanidade, mas contra”, uma vez que tais avanços são usufruídos por uma

parcela muito pequena da sociedade, que se utiliza desses avanços para prosseguir com o

processo de alienação do território. Um exemplo disso é o fato de algumas poucas empresas

cearenses terem capital suficiente para investir em técnicas e pacotes genéticos com as

principais empresas do setor ao redor do mundo.

A Cialne, por exemplo, é uma das únicas empresas brasileiras que detêm o

controle de todo o processo produtivo avícola, igualando-se ao modelo seguido por empresas

como a BRF e a Seara. Todavia, até mesmo a Cialne possui exclusividades que nem as

gigantes do setor detêm. Tem-se como exemplo disso a parceria de quase 20 anos da Cialne

com a Aviagem, do grupo escocês Erich Wesjohann, líder mundial em melhoramento

genético de aves e com subsidiárias em 130 países86

. A Cialne aloja linhagens específicas de

aves e produz matrizes para uso próprio e vendas no mercado desde 1998, além de fazer

pesquisa interna de qualidade da produção87

, tornando-se com isso líder de mercado na venda

de matrizes, ovos férteis e pintos de um dia no Nordeste88

. Assim, a Cialne passou a ser um

centro de testes de animais adaptados ao clima tropical, alojando as aves-avós, que são a base

da genética avícola, e colaborando com pesquisas para identificar quais tipos de aves mais se

adaptam ao contexto brasileiro89

.

A apropriação dessas inovações técnicas e científicas pelas empresas pode ser

considerada enquanto uma evidência de uso corporativo do território, uma vez que a partir

disso dá-se o controle do processo produtivo avícola, e por conseguinte no próprio espaço no

qual todas essas atividades são realizadas, através do controle das instâncias produtivas e da

mudança da composição técnica e orgânica do espaço. Diante disso, o uso corporativo do

território, especialmente pela Cialne, ganha destaque em virtude sobretudo das enormes

proporções dessa empresa e dos vultuosos investimentos que são realizados, haja vista que ela

controla sozinha mais de 50 unidades produtivas dispersas por Ceará, Piauí, Maranhão e

Paraíba, e possui aproximadamente 4 mil empregados, atuando em distintos ramos produtivos

86

DINHEIRO RURAL. Disponível em: <http://www.dinheirorural.com.br/secao/capa/sem-tempo-para-

descansarr>. Acesso em: 07 jul. 2015. 87

AVICULTURA INDUSTRIAL. Disponível em: <http://www.aviculturaindustrial.com.br/imprensa/aviagen-e-

cialne-15-anos-de-uma-bem-sucedida-parceria/20140114-093307-T248>. Acesso em: 07 jul. 2015. 88

AVIAGEN. Informe institucional da Aviagen. Disponível em:

<http://pt.aviagen.com/assets/Newsletters/Portuguese/Informe-AviagenPT-Julho2012.pdf>. Acesso em: 07 jul.

2015. 89

DINHEIRO RURAL. Disponível em: <http://www.dinheirorural.com.br/secao/capa/sem-tempo-para-

descansarr>. Acesso em: 07 jul. 2015.

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148

e detendo o controle do mercado de aves, carne e ovos do Nordeste, além de ser a única a

controlar também a base genética avícola nessa região.

A Cialne consegue, como nenhuma outra empresa da avicultura em atuação no

Ceará, gerir uma produção espacialmente dispersa e fragmentada, mas que é unificada pelos

comandos corporativos emanados por uma rígida estrutura organizacional que detém o

controle dessa empresa, e por sua vez do território no qual ela ocupa. Dessa forma, as 53

unidades produtivas da Cialne significam, além de sua grande capacidade produtiva, o

controle de diversas parcelas do território, que servem como base para o crescimento da

empresa – território esse que passa a ser explorado ao máximo com vistas a ampliar os

rendimentos e a produtividade, sendo utilizado apenas enquanto um recurso passível de ser

descartado deixe de oferecer as vantagens das quais a empresa tanto valoriza, a exemplo de

incentivos fiscais oferecidos pelos governos estaduais e municipais, garantia do abastecimento

hídrico e energético, infraestruturas voltadas para o escoamento e distribuição da produção,

garantia de uma mão de obra barata e qualificada, entre outros.

Tudo isso, segundo Santos (1997), sem contar que a presença no território de

empresas como a Cialne fomenta a mudança no esquema de emprego, nas relações

econômicas, sociais, culturais e morais dentro de cada lugar, e também no orçamento público,

esse último que age a serviço do imperativo do capital, como já é sabido. Muitas vezes essas

empresas também se apropriam dos recursos naturais, como espelhos d’água, que deveriam

permanecer como bens comuns a toda sociedade, conforme constatamos em uma das fazendas

da Cialne em Guaiuba. Nas fotos 23, 24, 25, 26 apresentamos um pequeno panorama dessa

fazenda da Cialne, na qual tivemos a oportunidade de visitar, sendo possível notar o modo

como a empresa estrutura o espaço em função de suas próprias demandas, alterando

sobremaneira a configuração territorial da localidade escolhida para receber algumas de suas

granjas, ao serem implantados modernos aviários em pleno semiárido, voltados para a

produção padronizada e em larga escala de frangos.

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Fonte: Sousa (2015). Acervo da autora.

Fonte: Sousa (2015). Acervo da autora.

Foto 17 – Lagoa localizada no interior da fazenda da Cialne em Guaiuba/CE

Foto 18 – Aviários da fazenda da Cialne em Guaiuba/CE

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Além disso, assim como as técnicas, as normas também se vinculam às ações dos

agentes hegemônicos. Assim, ações regulatórias constituídas pelo Estado fomentam novas

normas que passam a se impor no território para favorecer o uso corporativo deste pelas

empresas. É nesse sentido que o território se torna uma ampla arena de disputas pela

implantação e disseminação de técnicas e normas, provocadas pelo processo de ampliação da

acumulação de capital pelas empresas, com o aval do Estado. Além disso, o uso corporativo

do território pelas grandes empresas do setor avícola, a partir também da ação do Estado,

estão vinculadas aos interesses internacionais do período de acumulação flexível do capital,

tornando o território um campo de força de disputas dos mais variados interesses dos agentes

que nele exercem seu poder.

Não cabe ao território em si, mas ao território e seu uso, num momento dado, o que

supõe de um lado uma existência material de formas geográficas, naturais ou

transformadas pelo homem, formas atualmente usadas e, de outro lado, a existência

de normas de uso, jurídicas ou meramente costumeiras, formais ou simplesmente

informais. A utilização dos lugares pelas empresas, sobretudo as firmas gigantes,

depende desses dois dados e não apenas de um deles. Formas e normas, pois,

trabalham como um conjunto indissociável (SANTOS, 2009, p. 229).

A partir daí, a competitividade característica do atual período induz os lugares

ligados aos circuitos espaciais produtivos da produção avícola empresarial a entrarem em uma

acirrada competividade por recursos e mercados e a terem sistemas técnicos cada vez mais

modernos para vencerem a “guerra dos lugares”, em detrimento de locais que permanecem no

abandono e que se configuram apenas enquanto regiões do fazer, controladas pelas regiões do

mandar, como afirmam Santos e Silveira (2001).

Há uma disputa entre as empresas, porque território e mercado são sinônimos.

Então, as empresas brigam entre si pelo mercado. Se brigam pelo mercado, estão

brigando pelo território. Há uma disputa, entre o Estado e as empresas, pelo

território. As empresas, pela sua ação, mudam o território. O Estado, em certos

casos, tenta tornar óbvia essa evolução (SANTOS, 1997).

Associado a isso, há cada vez mais uma desconcentração das atividades

produtivas, em que as empresas possuem unidades de produção em diversos lugares em busca

da diminuição de custos com mão de obra e insumos, como ocorre sobretudo com a Cialne,

conforme já indicamos. Todavia, há a permanência da centralização dos comandos de decisão,

delineando movimentos contrários à desconcentração da base produtiva, e com isso a

fragmentação da produção e exploração do próprio território, associada a uma concentração

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espacial das decisões. A partir disso é preciso ter em mente que as práticas espaciais dessas

empresas não são isentas de conflitos, uma vez que, junto às suas práticas, soma-se a ação de

distintos agentes em múltiplas escalas articuladas, especialmente as ações hegemônicas.

Por outro lado, sendo o crescimento capitalista desigual e combinado, os espaços

sofrem sua atuação de maneira desigual embora, no conjunto, a lógica do

crescimento continue sendo a mesma e única de sempre. Assim, o problema

fundamental a ser enfrentado, aqui, constitui-se na identificação das funções que os

espaços desempenham no processo de acumulação e reprodução capitalista, no

rastreamento dos momentos e das razões históricas que deram origem a tal processo

e no papel que os agentes sociais, particularmente os grupos e as classes sociais,

jogam em relação à apropriação do excedente e à hegemonia política (PERRUCI,

1984, p. 14).

A instalação de grandes sistemas técnicos pelos agentes hegemônicos ligados ao

sistema produtivo avícola estadual faz com que o território cearense seja utilizado meramente

enquanto recurso, como exemplificado sobretudo no caso da Cialne. Este uso corporativo,

enquanto induz porções do território cearense a participarem do movimento da mais valia

global, exclui grande parte da forma de produção avícola tradicional dos benefícios gerados

pelo desenvolvimento das forças produtivas. Com isso, o território se vê à mercê dos

interesses do capital privado, que, muitas vezes mediado pelo Estado, impõe um uso do

território que exclui formas tradicionais e alternativas de produção e provoca vulnerabilidades

socioeconômicas e políticas. Os sistemas técnicos acabam por também definir o modo de vida

dos indivíduos, e com isso a própria forma da vida se modifica. Apesar disso, é preciso ter em

conta que “[...] a vida não é um produto da Técnica, mas da Política, a ação que dá sentido à

materialidade” (SANTOS, 1996, p. 21).

Assim, com o desenvolvimento técnico e a ampliação do capital investido, a

produção do capitalismo dá-se de forma mais intensa na avicultura cearense, especialmente

por meio das instituições que exercem o poder corporativo do território. O exemplo da Aceav,

já apresentado no capítulo anterior, é bastante elucidativo desse processo e evidencia a

articulação das redes de poder no território mediante a associação dos principais agentes

hegemônicos que detêm o controle do setor avícola, que dialogam entre si visando usufruir

conjuntamente das benesses do Estado e dos sistemas técnicos-científicos disponíveis. Além

da Aceav, alguns outros grupos merecem destaque, sobretudo aqueles destinados a dotar o

setor avícola do conhecimento técnico-científico advindo com o processo de reestruturação

produtiva.

No Ceará, a existência do Grupo de Estudos em Avicultura Industrial (GEAVI) da

Faculdade de Veterinária (FAVET) da Universidade Estadual do Ceará (UECE), localizada

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em Fortaleza, evidencia o papel da pesquisa científica nas redes de poder da avicultura a partir

da associação com as grandes empresas do setor. O grupo realiza estudos sobre a temática

avícola e todas as áreas pertinentes à atividade: nutrição, genética, ambiência e

biosseguridade, através de pesquisas teóricas e atividades práticas, com parceria das empresas

do setor privado90

, como no caso da pesquisa desenvolvida junto à Emape sobre utilização de

água de coco para a inseminação na avicultura. O GEAVI tem como linhas de atuação o

estudo em avicultura industrial nos segmentos de frangos de corte, poedeiras comerciais e

outras aves de interesse acadêmico e socioeconômico, além de nutrição, genética, ambiência e

biosseguridade de aves industriais, como também bem-estar animal avícola.

Assim, o objetivo do grupo é fazer com que a FAVET se torne uma fonte

referencial de soluções avícolas no estado do Ceará, por meio da extensão de suas atividades

em outros campi e no setor empresarial, com discussão de artigos, acompanhamento de

pesquisas de campo e coleta de dados reais em empresas locais, participação de eventos

relacionados à avicultura, produzindo, dessa maneira, conhecimento científico e profissionais

capacitados para a atuação na atividade avícola cearense91

. Tal situação fomenta o processo

de subordinação da técnica, ciência e informação às leis do mercado, corroborando para

acirrar a mercantilização e privatização do conhecimento científico gerado em instituições

públicas, segundo afirma Nascimento Júnior (2013), reafirmado por Santos (1997):

Pois bem, a globalização tem como uma das bases esse casamento entre ciência e

técnica, essa tecno-ciência, que depende da técnica, que depende do mercado. Por

conseguinte, trata-se de uma técnica e de uma ciência seletivas. A ciência

freqüentemente produz aquilo que interessa ao mercado, não à humanidade, de tal

maneira que o progresso técnico e científico não é sempre um progresso moral. E o

que poderemos ver se fizermos uma análise mais detalhada do que se passa na

própria universidade: a cada dia encontramo-la mais aplicada a servir ao mercado

[...].

Além disso, silos, fábricas, granjas, entre outros fixos, são construídos pelas

grandes empresas com o apoio institucional e financeiro do Estado para fomentar ainda mais

o desenvolvimento da atividade avícola no Ceará. Também são construídos e reordenados

pelo Estado bases materiais ricas em infraestruturas rodoviárias que funcionam como

importantes sistemas de engenharia por onde a produção cearense é escoada, garantindo

fluidez ao território (ARROYO, 2003), privilegiando os locais onde essas empresas se

90

YOUTUBE. Vídeo do programa institucional UECE na TV. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=Gjq-XN_wLs0>. Acesso em: 13 jan. 2015. 91

UECE. Disponível em: <http://www.uece.br/uece/index.php/noticias/90274-grupo-de-estudos-em-avicultura-

industrial-esta-em-funcionando>. Acesso em: 13 jan. 2015.

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instalam e onde a maior fatia do seu mercado consumidor se localiza. A viabilização dessa

fluidez territorial facilita a ação das grandes empresas, que passam assim a utilizar o território

como mais um de seus recursos.

Nesse sentido, a construção da ferrovia Transnordestina representa uma ação de

grande repercussão para a atividade avícola no Ceará no âmbito do processo produtivo, pois

contribuirá para ampliar a ligação das áreas de produção avícola com as áreas de produção de

milho e soja de outros estados nordestinos, tendo em vista a redução do custo dos insumos

vindos principalmente do Maranhão e do Piauí, além de facilitar a própria distribuição de

produtos avícolas. Dessa forma, trata-se de um grande fixo instalado pelo Estado e que servirá

também para atender aos anseios das grandes empresas da avicultura instaladas no Ceará,

possibilitando resolver um dos grandes gargalos do setor, que é o suprimento de ração para as

aves.

Sendo um dos grandes projetos de infraestruturação do território com o objetivo

de ampliar ainda mais o desenvolvimento econômico do Nordeste, o projeto implantado pela

concessionária Transnordestina Logística S/A ligará áreas do interior dos Estados de

Pernambuco e Piauí aos Portos de Suape (PE) e Pecém (CE), sendo que a ferrovia terá uma

extensão de 1.728 km (figura 7). Tal projeto presume uma integração intra e inter-regional e

se constitui como solução logística no sentido de incorporar e inserir partes importantes de

áreas agrícolas e de mineração aos mercados extra-regional e externo. O foco do projeto é o

transporte de carga de grãos, minérios, combustíveis e insumos agrícolas. Estima-se a

movimentação de cargas no entorno de 30 milhões de toneladas/ano, com predomínio de

grãos produzidos na nova fronteira agrícola do sul do Piauí (milho e soja – 16.300 mil t/ano) e

de gipsita/gesso (6.980 mil t/ano), além de fertilizantes (1.253 mil t/ano) e combustíveis (838

mil t/ano)92

.

No âmbito do Governo Federal, a obra é de responsabilidade de três ministérios:

Integração Nacional, Transportes e Planejamento. A Transnordestina contava, em 2013, com

investimentos totais de R$ 5,3 bilhões, com participação de R$ 2,67 bilhões do Fundo de

Desenvolvimento do Nordeste (50% do empreendimento)93

. A Sudene já procedeu a liberação

de R$ 1,4 bilhão, correspondendo a 56% dos recursos alocados a esse projeto. Com isso, o

Ministério da Integração Nacional passou a ser o responsável pelo financiamento de quase

70% da Ferrovia Transnordestina, uma vez que administra os recursos do Fundo

92

MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. Disponível em:

<http://www.integracao.gov.br/projeto_transnordestina>. Acesso em: 11 ago. 2013. 93

SUDENE. Disponível em: <http://www.sudene.gov.br/transnordestina-e-viabilizada-atraves-de-recursos-da-

sudene>. Acesso em: 11 ago. 2013.

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Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), do Fundo de Investimentos do Nordeste

(FINOR) e do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE)94

, em sua maioria voltados

para o financiamento de investimentos privados, sobretudo para os setores do agronegócio,

serviços e construção civil.

A partir desse exemplo, observa-se claramente que essa obra impactará

diretamente na ampliação da atividade avícola no Ceará, na qual investimentos de

tecnificação do território promovidos pelo Estado buscam integrar cada vez mais importantes

áreas produtoras da Região Nordeste, possibilitando a manutenção e ampliação de

investimentos em setores econômicos de destaque na região, demonstrando que o Estado “[...]

participa generosamente do financiamento necessário à criação de novos sistemas de

engenharia e de novos sistemas de movimento” (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p. 120). Disso

resulta uma nova organização do território e um uso mais corporativo, sobretudo quando se

trata da fluidez territorial voltada para atender às demandas do agronegócio, contribuindo para

uma importante fragmentação do território a serviço de grandes empresas que nele atuam

(CASTILLO, 2004).

Figura 8 – Traçado do projeto da Ferrovia Transnordestina

Fonte: EXAME. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/brasil/apos-10-anos-ferrovia-transnordestina-leva-a-

lugar-nenhum/>. Acesso em: 19 jan. 2017

94

Fonte: <http://www.integracao.gov.br/projeto_transnordestina>. Acesso em: 11 ago. 2013.

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Infere-se que o uso corporativo do território por parte das empresas avícolas no

Ceará tem se aprofundado cada vez mais com a crescente regulação dos circuitos espaciais da

produção pelos principais agentes hegemônicos do setor e pela crescente monopolização da

produção comercial. Quem controla os fluxos de capital, sobretudo, detém o controle dos

circuitos produtivos avícolas. A partir daí o controle da produção subjuga os pequenos

produtores, que se veem excluídos do processo de integração no mercado e do próprio

território, e concentra ainda mais a atividade avícola nas mãos de grandes empresas com

significativo poder de capital.

Já é sabido que as grandes empresas avícolas são privilegiadas através do apoio

institucional dispensado pelos órgãos governamentais por meio de incentivos fiscais, crédito

fácil e assistências técnicas. O aumento constante do lucro e as facilidades de crédito

permitiram que algumas dessas empresas aplicassem seus capitais em outras atividades

econômicas, permitindo também a formação de grupos econômicos que controlam várias

produções, como é o caso da Cialne, do Grupo Regina, da Tijuca Alimentos e do Grupo

Haisa, que investem em outros setores produtivos, além da avicultura, buscando novas

possibilidades de ampliação acumulada de capital.

Contudo, a dimensão econômica não é uma instância separada da política, uma

vez que há cada vez mais uma fusão entre capital e Estado, estando este aprisionado pelos

interesses capitalistas, conforme discutimos anteriormente. Nessa relação entre Estado e

empresas, o ordenamento do território acelera o processo de expansão do capital.

Isso resulta do fato de que a política agora é feita no mercado. O Estado se retira da

política. Ele expulsa os políticos da política. Ele entrega ao mercado a tarefa de fazer

política. Só que esse mercado global não existe como ator, ele existe como uma

ideologia, como símbolo. Os atores são as empresas globais. Elas não têm

preocupações éticas, nem finalísticas. Suas preocupações são individualistas por

natureza. (SANTOS, 1997).

Da mesma forma que a intervenção do Estado no espaço é seletiva, a ausência do

Estado também é intencional, sobretudo quando se pensa nas ações prioritárias para a

população como um todo, uma vez que a prioridade é a estruturação do território para o

desenvolvimento econômico e não social. O que salta aos olhos enquanto “prioridade” para o

Estado é a estruturação do território para o desenvolvimento econômico através das atividades

produtivas que geram mais divisas para este. Os custos dos investimentos que o Estado faz

nos setores privados até são socializados, mas os lucros são particularizados, acarretando o

acirramento das desigualdades sociais, uma vez que “[...] o Estado decide se retirar do social e

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156

as empresas passam a governar o território” (SANTOS, 1997), e fazem isso sem muitas

dificuldades.

Além disso, os agentes muitas vezes se confundem: o mesmo gestor, que é

prefeito ou deputado, é o empresário avícola e representante do setor em associações, por

exemplo, como é o caso do dono da Emape. O empresário do setor agroindustrial avícola,

Roberto Pessoa, já foi presidente da Aceav e assumiu importantes cargos como vice-

presidente da Federação das Associações de Indústria, Comércio e Agropecuária do Estado do

Ceará (FACIC), diretor da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) e diretor da

Federação da Agricultura do Estado do Ceará (FAEC)95

. Igualmente, já assumiu a presidência

do órgão máximo de representação do setor avícola no país, a então União Brasileira de

Avicultura (UBA), e também participou da fundação e presidiu a União Nordestina de

Avicultura (ANA). Como se não bastasse, adentrou na carreira político-partidária no início da

década de 1990, disputando e assumindo um mandato de deputado estadual, três mandatos de

deputado federal e dois mandatos de prefeito do município de Maracanaú, a segunda cidade

mais importante do ponto de vista econômico do Ceará, onde atualmente é vice-prefeito96

.

Isso demonstra muito bem que, além de haver, por parte das grandes empresas

avícolas, a propriedade dos meios de produção, há também a concentração e o controle do

poder político. Há, assim, uma completa imbricação do público com o privado que é até

mesmo difícil de saber onde começa um e termina o outro, haja vista que os interesses se

mesclam e se tornam um só. Dessa forma, instala-se na sociedade o que Santos (1997, s/p)

chamou de “democracia de mercado”:

A translação do poder do Estado para as empresas tem conseqüências

extraordinárias, já que se espera do Estado e dos municípios que façam um mínimo

de política, voltando-se para o bem-estar comum. Da empresa, não: a empresa

vangloria-se de dar um salário àquele que trabalha, mas ela não tem preocupações

gerais. Suas preocupações são obrigatoriamente particularistas, o que tem a ver com

a própria natureza do fenômeno empresarial, sobretudo no mundo da

competitividade. Na medida em que aquele instituto encarregado de cuidar do geral

é enfraquecido, estamos instalando, no território, uma fragmentação; estamos

instalando, no território, um abandono da noção de solidariedade; estamos, pelo

menos a médio prazo, produzindo as pré-condições da desordem (SANTOS, 1997,

s/p).

Dessa forma, o processo marcado pelo uso corporativo do território, realizado

pelas empresas avícolas cearenses, é configurado por uma relação intrínseca entre as empresas

95

CPDOC. Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/roberto-soares-

pessoa>. Acesso em: 07 jul. 2015). 96

EMAPE. Disponível em: <http://emape.com.br/a-emape/>. Acesso em: 07 jul. 2015.

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do sistema produtivo avícola e o Estado, de tal forma que essa relação atualmente segue as

diretrizes do modelo de desenvolvimento capitalista, onde as empresas utilizam o território de

acordo com seus interesses e demandas, sempre na busca pelo aumento dos lucros. Sendo

assim, conforme Santos (2003), cada empresa utiliza o território em função dos seus fins

próprios e exclusivamente em função desses fins, procurando pontos ou áreas específicas do

território que tem uma base técnica que possibilite a produção, a circulação e o consumo de

seus produtos. Isso também tem profundos rebatimentos nas relações sociais de produção,

remodelando, por exemplo, a dinâmica e a estrutura do mercado de trabalho, como veremos

na sequência.

4.3 MUDANÇA NAS RELAÇÕES DE TRABALHO NA AVICULTURA

Existem princípios ideológicos que norteiam o avanço do capitalismo na

sociedade contemporânea. A reestruturação produtiva inserida no contexto do toyotismo

engloba não somente as técnicas como também a inovação organizacional, isto é, a junção

entre as técnicas e o aprimoramento das formas de controle do trabalho. As mudanças na base

tecnológica e nas relações de produção propiciam um maior controle do processo produtivo.

A transfiguração da força de trabalho em mercadoria e a supressão de formas de produção e

consumo verdadeiramente alternativas seguem tais princípios ideológicos do capitalismo. A

partir disso, têm-se grandes modificações nas relações sociais de produção em diversos

setores da sociedade, conforme nos indica Limonad (2004, p. 54):

Três processos interligados, desencadeados e em curso nas últimas décadas (a

revolução tecnológica informacional, genética e energética; a formação de uma

economia global com a reestruturação dos processos econômicos em escala

planetária; a emergência de novas formas de produção e gerenciamento, com a

constituição de redes de interações que vão do local ao global) contribuíram para

uma alteração substantiva nas relações sociais de produção e na vida cotidiana em

todas as partes do país e do planeta. A informatização da sociedade e a emergência

de novas formas e processos produtivos marcam o ingresso no século XXI, no

terceiro milênio da civilização ocidental, de uma forma tal que ainda estamos a

buscar compreender o alcance de tais alterações.

Assim, no atual período histórico, verificamos que a busca pela reprodução

ampliada do capital pelas grandes empresas se faz também a partir do aprofundamento da

divisão territorial do trabalho, ou seja, da presença cada vez maior do seu circuito espacial

produtivo no território e nas reformulações das relações entre capital e trabalho, conforme

demonstram autores como Alves (2007), Antunes (1999), Bezerra e Elias (2011), Leite (2005)

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e Tomaz Júnior (2002, 2005), entre outros. Tal ampliação do capital se torna possível,

sobretudo, através da exploração sob formas precárias da força de trabalho.

Além disso, quando analisamos especificamente a avicultura empresarial, nota-se

que a significativa especialização e concentração da atividade em determinadas empresas

tende a excluir do processo produtivo os pequenos avicultores, contribuindo também para a

proletarização do homem do campo, através do assalariamento dos trabalhadores, que,

excluídos da reestruturação do setor, passam a ser incluídos nessa atividade com vistas a

ampliar os lucros das empresas avícolas através da exploração de sua força de trabalho. Dessa

forma, segundo Oliveira (2010, p. 06), “[...] o monopólio de classe exercido pelos

proprietários e pelos capitalistas é fundamental, no modo capitalista de produção, para

submeter o trabalho dos trabalhadores, para que produzam, porque é assim que o capital se

amplia”. Isso porque:

O capitalismo é, por necessidade, tecnológica e organizacionalmente dinâmico. Isso

decorre em parte das leis coercitivas, que impelem os capitalistas individuais a

inovações em sua busca do lucro. Mas a mudança organizacional e tecnológica

também tem papel-chave na modificação da dinâmica da luta de classes, movida por

ambos os lados, no domínio dos mercados de trabalho e do controle do trabalho.

Além disso, se o controle do trabalho é essencial para a produção de lucros e se

torna uma questão mais ampla do ponto de vista do modo de regulamentação, a

inovação organizacional e tecnológica no sistema regulatório (como o aparelho do

Estado, os sistemas políticos de incorporação e representação etc.) se torna crucial

para a perpetuação do capitalismo. Deriva em parte dessa necessidade a ideologia de

que o ‘progresso’ é tanto inevitável como bom (HARVEY, 1992, p. 169).

Assim, com o processo de reestruturação produtiva da agropecuária, tendo como

foco as transformações da base técnica produtiva a partir dos avanços tecnológicos e

científicos, empreendem-se grandes transformações nas relações sociais de produção que

atingem a organização do trabalho e a sua consequente materialização na reorganização

espacial. A partir de Lefebvre (1991, p. 59) compreende-se que as modificações das

condições de produção implicam diretamente na reconfiguração do espaço onde se processa a

reprodução das relações sociais de produção, da reprodução do capital e do próprio trabalho,

implicando em todas as esferas da vida social. Acerca disso, Mizusaki (2009, p. 48) afirma

que “[...] cada atividade produtiva possui sua própria especificidade, mas que compreendê-la

implica extrapolar a dimensão econômica imediatamente relacionada à atividade, o que

significa analisá-la a partir das relações sociais concretas”.

Com isso, faz-se possível tomar uma real dimensão da atual divisão social do

trabalho no setor avícola cearense, que traz à tona também a relação campo-cidade, uma vez

que, sendo uma atividade agropecuária, a avicultura se mostra de forma bastante

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preponderante nos municípios da RMF. Isso evidencia também a relação entre empresas,

produtores, trabalhadores e consumidores, além dos efeitos territoriais provenientes da

atividade, como o princípio de uma integração seletiva dos produtores às agroindústrias,

modificações na estrutura produtiva de frangos e ovos por meio da genética e nutrição animal,

automatização das atividades e elevação da escala, e, consequentemente, a modificação nas

relações socioespaciais de trabalho. “Esse modo dominante de organização do trabalho

imprime ao território novos usos e, portanto, novas dinâmicas” (SANTOS; SILVEIRA, 2001,

p. 98).

Faremos a análise da geografia do trabalho na avicultura cearense a partir dos

dados divulgados pela Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do

Trabalho e Emprego (MTE), que indicam o percentual referente ao trabalho formal nessa

atividade, ou seja, informações acerca dos trabalhadores que atuam com carteira assinada no

setor avícola. Através desses dados, percebemos a evolução do mercado de trabalho tanto no

tempo quanto no espaço, possibilitando compreender, por exemplo, a espacialização dos

trabalhadores formais, a quantidade de vínculos ativos, o total de estabelecimentos avícolas

etc. As informações obtidas acerca da geografia do trabalho na avicultura cearense são

apresentadas e analisadas na sequência97

.

Na tabela a seguir podemos observar a preponderância da atividade avícola na

Região Metropolitana de Fortaleza, uma vez que dentre os 10 municípios que apresentam

maiores quantitativos referentes ao emprego formal na criação de aves em 2015, 07 fazem

parte da RMF, sendo Fortaleza o município em que esse registro é maior. Os demais se

localizam no Litoral Leste (Beberibe), Planalto da Ibiapaba (Ubajara) e Sertão Central

(Quixadá), áreas em que também se observa uma relevante produção do setor, como

indicamos no capítulo anterior. De acordo com esses dados, a criação de aves gerou 25.710

vínculos empregatícios formais no Nordeste, em 2015, sendo 7.768 só no Ceará, respondendo

por 30,21% do total da região. Fortaleza registrou 1.684 empregos formais na criação de aves

no mesmo ano, com 21,67% do total do Ceará.

Além disso, observa-se que só na RMF foram registrados 5.147 empregos formais

na criação de aves, representando 66,25% do total do Ceará, o que evidencia ainda mais a

preponderância da atividade nos municípios da RMF. Como se sabe, a agropecuária ocupa

largo contingente de mão de obra familiar ou por ocupação temporária (diarista), que não

estão incluídos no levantamento da RAIS, o que poderia alavancar ainda mais esse

97

Todavia, a falta dos dados para alguns anos nos impediu de fazer uma análise apresentando uma série histórica

que permitisse ampliar nossa escala de análise.

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160

contingente de trabalhadores no setor avícola cearense. De qualquer modo, esses números

permitem afirmar que a avicultura, no que diz respeito à criação de aves, respondeu por

28,22% dos empregos formais da agropecuária estadual em 2015, que foi de 27.522.

Tabela 28 – Ranking dos empregos formais na criação de aves no Ceará – 2015

# Municípios Número de

empregos formais

1 Fortaleza 1.001

2 Aquiraz 702

3 Beberibe 592

4 Horizonte 567

5 Cascavel 484

6 Maranguape 410

7 Pacajus 409

8 Guaiuba 260

9 Ubajara 273

10 Quixadá 1.001

- Total do Ceará 1.684

- Total do Nordeste 7.768

Fonte: MTE/RAIS (2015) – Adaptado.

Quanto aos estabelecimentos com criação de aves, observamos que em relação ao

ano de 1995, o Ceará teve uma queda no quantitativo de 26%, o que pode representar uma

maior concentração da atividade, conforme nos havia indicado, em entrevista, o presidente do

Sindicato dos Trabalhadores na Avicultura no Estado do Ceará – possuindo em 2015 um total

de 197 estabelecimentos de criação de aves. Entre os municípios da RMF também se observa

uma grande queda de 42% na quantidade dessa tipologia de estabelecimentos. Entre os

municípios que apresentaram algum aumento nos últimos 20 anos estão Cascavel, Itaitinga,

Paracuru e Paraipaba. Até 2005 Fortaleza apresentava um aumento de 27%, mas com relação

a 2015 houve uma queda de 48%, reforçando o que já nos haviam apontado os dados do

IBGE acerca da desconcentração espacial da produção avícola no Ceará, anteriormente aí

concentrada.

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161

Tabela 29 – Quantidade de estabelecimentos com criação de aves na RMF

1995 2005 2015

Aquiraz 39 30 22

Cascavel 10 13 13

Caucaia 12 3 4

Chorozinho 3 2 1

Eusébio 11 6 3

Fortaleza 27 11 14

Guaiuba 8 6 4

Horizonte 16 12 12

Itaitinga - - 1

Maracanaú 21 9 6

Maranguape 25 11 12

Pacajus 11 5 8

Pacatuba 4 4 3

Paracuru 2 3 6

Paraipaba - 1 1

Pindoretama 3 3 2

São Gonçalo 2 3 2

São Luís do Curu - - -

Trairi 4 - -

Total RMF 198 122 114

Ceará 268 202 197

Nordeste 749 974 1.127

Fonte: MTE/RAIS (2015) – Adaptado.

Tabela 30 – Variações absoluta e relativa da quantidade de estabelecimentos com

criação de aves na RMF

Variação absoluta Variação relativa

1995-2005 2005-2015 1995-2015 1995-2005 2005-2015 1995-2015

Aquiraz -9 -8 -17 -23% -27% -44%

Cascavel 3 0 3 30% 0% 30%

Caucaia -9 1 -8 -75% 33% -67%

Chorozinho -1 -1 -2 -33% -50% -67%

Eusébio -5 -3 -8 -45% -50% -73%

Fortaleza -16 3 -13 -59% 27% -48%

Guaiuba -2 -2 -4 -25% -33% -50%

Horizonte -4 0 -4 -25% 0% -25%

Itaitinga 0 1 1 - - -

Maracanaú -12 -3 -15 -57% -33% -71%

Maranguape -14 1 -13 -56% 9% -52%

Pacajus -6 3 -3 -55% 60% -27%

Pacatuba 0 -1 -1 0% -25% -25%

Paracuru 1 3 4 50% 100% 200%

Paraipaba 1 0 1 - 0% -

Pindoretama 0 -1 -1 0% -33% -33%

São Gonçalo 1 -1 0 50% -33% 0%

São Luís do Curu 0 0 0 - - -

Trairi -4 0 -4 -100% - -100%

Total RMF -76 -8 -84 -38% -7% -42%

Ceará -66 -5 -71 -25% -2% -26%

Nordeste 225 153 378 30% 16% 50%

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162

Fonte: MTE/RAIS (2015) – Adaptado.

Quanto aos empregos formais na criação de aves, a RMF teve um aumento de

60% dos vínculos nas últimas duas décadas, totalizando 5.753 em 2015. O Estado do Ceará

como um todo também teve um significativo aumento de 75% dos vínculos formais de 1995 a

2015. É importante destacar o ainda importante papel da capital nesses quantitativos, com

1.684 empregos formais em 2015, representando no Ceará uma porção de 21,67% dos

vínculos ativos, comprovando que apesar de uma desconcentração espacial da atividade,

Fortaleza ainda tem um papel preponderante no setor. Além de Fortaleza, Aquiraz também

assume um significativo destaque no contexto da RMF.

Tabela 31 – Número de empregos formais na criação de aves na RMF

1995 2005 2015

Aquiraz 630 746 1.001

Cascavel 246 163 567

Caucaia 88 7 6

Chorozinho 9 17 8

Eusébio 116 38 15

Fortaleza 1.129 872 1.684

Guaiuba 21 277 409

Horizonte 492 323 592

Itaitinga - - 9

Maracanaú 149 152 45

Maranguape 254 313 484

Pacajus 149 238 410

Pacatuba 126 64 63

Paracuru 73 109 228

Paraipaba - 4 100

Pindoretama 50 160 29

São Gonçalo 52 95 103

São Luís do Curu - - -

Trairi 22 - -

Total RMF 3.606 3.578 5.753

Ceará 4.429 4.969 7.768

Nordeste 14145 18.898 25.710

Fonte: MTE/RAIS (2015) – Adaptado.

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163

Tabela 32 – Variações absoluta e relativa do número de empregos formais na criação de

aves na RMF

Variação absoluta Variação relativa

1995-2005 2005-2015 1995-2015 1995-2005 2005-2015 1995-2015

Aquiraz 116 255 371 18% 34% 59%

Cascavel -83 404 321 -34% 248% 130%

Caucaia -81 -1 -82 -92% -14% -93%

Chorozinho 8 -9 -1 89% -53% -11%

Eusébio -78 -23 -101 -67% -61% -87%

Fortaleza -257 812 555 -23% 93% 49%

Guaiuba 256 132 388 1219% 48% 1848%

Horizonte -169 269 100 -34% 83% 20%

Itaitinga 0 9 9 - - -

Maracanaú 3 -107 -104 2% -70% -70%

Maranguape 59 171 230 23% 55% 91%

Pacajus 89 172 261 60% 72% 175%

Pacatuba -62 -1 -63 -49% -2% -50%

Paracuru 36 119 155 49% 109% 212%

Paraipaba 4 96 100 - 2400% -

Pindoretama 110 -131 -21 220% -82% -42%

São Gonçalo 43 8 51 83% 8% 98%

São Luís do Curu 0 0 0 - - -

Trairi -22 0 -22 -100% - -100%

Total RMF -28 2.175 2.147 -1% 61% 60%

Ceará 540 2.799 3.339 12% 56% 75%

Nordeste 4.753 6.812 11.565 34% 36% 82%

Fonte: MTE/RAIS. Organização: Bruna Nogueira, 2016.

Já em relação aos estabelecimentos de abate de aves98

, o estado do Ceará

apresentou 10,10% dos estabelecimentos da região Nordeste, com 20 estabelecimentos.

Desses 20 estabelecimentos, oito se localizavam na RMF, sendo 4 em Cascavel, 2 em Aquiraz

e 1 em Maracanaú e Pacatuba. A partir dessa variável, fica claro que o foco da avicultura

cearense está mais voltado para a criação de aves, haja vista que o abate ainda vem aos

poucos se desenvolvendo, sobretudo em virtude da atuação da Regina e da Cialne, que são as

únicas empresas que atualmente processam a carne de frango no Ceará.

98

Essa variável da RAIS apresenta dados apenas para 2010 e 2015, impossibilitando ampliar a escala temporal

de análise.

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164

Tabela 33 – Quantidade de estabelecimentos de abate de aves na RMF

2010 2015

Aquiraz 1 2

Cascavel - 4

Caucaia - -

Chorozinho - -

Eusébio - -

Fortaleza - -

Guaiuba - -

Horizonte - -

Itaitinga - -

Maracanaú 1 1

Maranguape - -

Pacajus - -

Pacatuba - 1

Paracuru - -

Paraipaba - -

Pindoretama - -

São Gonçalo - -

São Luís do Curu - -

Trairi - -

Total RMF 2 8

Ceará 10 20

Nordeste 129 198

Fonte: MTE/RAIS. Organização: Bruna Nogueira, 2016.

No segmento de abate de aves, o total de empregos formais no Ceará foi de 527,

respondendo por 7,12% do Nordeste. Em seu conjunto, a atividade avícola registrava 20,6 mil

empregos no Nordeste. Nesse caso, é preciso destacar que o grupo empresarial cearense

Cialne possui uma unidade processadora de carne de frango no estado do Piauí que emprega

mais de 500 pessoas99, o que contribui para o quantitativo total da região Nordeste. Os

municípios da RMF somaram 484 empregos formais, respondendo por 91,84% dos empregos

no Ceará. Novamente o município de Aquiraz ganha destaque com 313 vínculos,

representando 59,39% dos empregos formais do estado, um aumento de 309 postos de

trabalho em cinco anos.

99

PORTAL 180 GRAUS. Disponível em: <http://180graus.com/campo-maior/o-empresario-heldernon-eugenio-

recebem-representantes-da-dudico>. Acesso em: 23 dez. 2016.

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165

Tabela 34 – Número de empregos formais no abate de aves na RMF

2010 2015

Aquiraz 4 313

Cascavel - 137

Caucaia - -

Chorozinho - -

Eusébio - -

Fortaleza - -

Guaiuba - -

Horizonte - -

Itaitinga - -

Maracanaú 1 22

Maranguape - -

Pacajus - -

Pacatuba - 12

Paracuru - -

Paraipaba - -

Pindoretama - -

São Gonçalo - -

São Luís do Curu - -

Trairi - -

Total RMF 5 484

Ceará 33 527

Nordeste 5448 7395

Fonte: MTE/RAIS (2015) – Adaptado.

Tabela 35 – Variações absoluta e relativa do número de empregos formais no abate de

aves na RMF. 2010-2015

Variação absoluta Variação relativa

Aquiraz 309 7725%

Cascavel 137 -

Caucaia 0 -

Chorozinho 0 -

Eusébio 0 -

Fortaleza 0 -

Guaiuba 0 -

Horizonte 0 -

Itaitinga 0 -

Maracanaú 21 2100%

Maranguape 0 -

Pacajus 0 -

Pacatuba 12 -

Paracuru 0 -

Paraipaba 0 -

Pindoretama 0 -

São Gonçalo 0 -

São Luís do Curu 0 -

Trairi 0 -

Total RMF 479 9580%

Ceará 494 1497%

Nordeste -1.947 -26%

Fonte: MTE/RAIS (2015) – Adaptado.

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166

De um modo geral, podemos dizer que as relações de trabalho que se dão no setor

avícola são das mais variadas, indo desde a base produtiva em si, nos aviários, até funções

administrativas. O setor tornou-se bastante dinâmico nas últimas décadas, e até 2010 gerava

em torno de 50 mil empregos diretos e indiretos no Ceará, segundo a Aceav100

. Os

trabalhadores na atividade avícola possuem um sindicato específico, o Sindicato dos

Trabalhadores na Avicultura no Estado do Ceará (SINDIAVE), que trata junto às empresas,

através da Aceav, sobre as questões ligadas às condições de trabalho. O sindicato realiza a

cada dois anos, juntamente com a Aceav, convenções coletivas para estabelecimento de

cláusulas que estabelecem essas condições de trabalho101

.

Em entrevista, o presidente do SINDIAVE nos informou da existência de cerca de

2.900 associados em todo o Ceará, mas estipulou em torno de 6.700 trabalhadores diretos na

avicultura, entre os quais se podem destacar aviaristas, galponistas, técnicos agropecuários,

veterinários, técnicos de segurança do trabalho, motoristas, carregadores, pessoas que

trabalham nos incubatórios, entre outros. Entre os empregos indiretos estariam os

relacionados a setores administrativos, secretariado, processamento de carne, classificação de

ovos em unidades produtivas específicas, transporte de produtos, promotores de vendas.

Trabalhadores com uma baixa escolaridade e que ocupam funções mais diretas ao manejo de

aves têm como média salarial estipulada pelas convenções anteriormente citadas o salário

mínimo.

No trabalho de campo que realizamos em uma das fazendas da Cialne, no

município de Guaiuba, em entrevista com o gerente, pudemos ter uma noção de como se dá a

divisão das atividades no ambiente de criação. Nessa fazenda de 281 ha existem 33 galpões de

criação de frangos para corte, com cerca de 16 mil pintos por galpão. Apenas 42 funcionários

trabalham nessa unidade, sendo 23 especificamente nos aviários: 5 manejadores e 17

aviaristas, além do gerente da unidade. O restante dos funcionários trabalha com o gado

existente na fazenda, com a manutenção da fazenda como um todo e com a alimentação dos

funcionários. A partir desse quantitativo, temos uma dimensão de como se dão as condições

de trabalho desses funcionários em termos da imensa quantidade de aves que poucos

trabalhadores devem cuidar, tendo atenção para as rígidas normas de produção da empresa no

que diz respeito à sanidade e principalmente à diminuição de perdas de animais.

100

O ESTADO. Disponível em: <http://www.oestadoce.com.br/economia/avicultura-emprega-50-mil-pessoas-

no-ceara>. Acesso em 12 out. 2015. 101

ACEAV. Disponível em: <http://www.aceav.com.br/index.php/2013-03-07-22-15-43/negociacao-coletiva-

2016>. Acesso em: 05 abr. 2016.

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167

Assim, com a reestruturação da produção dos setores agropecuários, as relações

de trabalho e produção advindas com essas transformações são impostas na avicultura,

aprofundamento da divisão do trabalho relacionada ao setor e acirrando a própria relação

entre capital e trabalho, com conformação de múltiplas especializações e ampliação da

diversidade de cargos com a ampliação das relações técnicas que envolvem especialmente a

criação de aves, produção de ovos, o abate das aves e a industrialização de suas carnes.

Foto 19 – Manutenção de galpão em fazenda da Cialne em Guaíba/CE

Fonte: Sousa, 2015. Acervo da autora.

O assalariamento de trabalhadores, tanto na base de produção quanto na área

administrativa, se dá de forma generalizada na atividade avícola cearense, segundo o

presidente do SINDIAVE, uma vez que o modelo produtivo avícola cearense é independente,

em que as empresas avícolas são responsáveis por todas as etapas do processo produtivo.

Assim, o mercado de trabalho agrícola formal (ELIAS, 2006; BEZERRA; ELIAS, 2011)

ligado à avicultura é amplamente característico do sistema de produção independente dos dois

grandes segmentos do setor: corte e postura. Elias (2006) considera ainda que o surgimento de

uma classe de trabalhadores agrícolas assalariados representa a materialização do movimento

do capital no campo. Contudo, apesar de ser uma atividade agropecuária, e, portanto, mais

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168

ligada ao campo, é preciso lembrar que a maior parte dos postos de trabalho relacionados à

criação de aves ainda se concentra na RMF, especialmente na capital cearense.

Foto 20 – Manutenção de galpão em fazenda da Cialne em Guaiuba/CE

Fonte: Sousa (2015). Acervo da autora.

Quanto às condições de trabalho, segundo relatado por trabalhadores durante

entrevista em trabalho de campo em uma fazenda da Cialne no município de Guaiuba, o

momento da captura ou apanha do frango é uma das etapas mais difíceis no trabalho em

aviários, pelo que pudemos constatar nos trabalhos de campo, tanto para as aves quanto para

os trabalhadores envolvidos. Essa etapa interfere diretamente na qualidade da carcaça do

frango e no seu custo final, pois esse é um momento em que as aves ficam mais propícias ao

estresse, podendo gerar hematomas e fraturas nas aves e consequentemente uma perda da

qualidade do produto final. Para os trabalhadores envolvidos nessa atividade, são exigidos

bastante treinamento, esforço físico e agilidade. O trabalho de captura dos frangos é muito

cansativo fisicamente, especialmente por se ter uma grande quantidade de frangos em um

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169

único galpão de criação, além do nível de poeira ser elevado devido ao movimento gerado no

interior do galpão, tornado as condições aí dentro muito desagradáveis.

Foto 21 – Retirada de pintos “fora do padrão” em fazenda da Cialne em Guaiuba/CE

Fonte: Sousa (2015). Acervo da autora.

Como já mencionamos anteriormente, o setor agropecuário ocupa largo

contingente de mão de obra familiar ou por ocupação temporária (diarista), que não se

incluem nos levantamentos apresentados. Tal contingente, que muitas vezes ainda produz de

uma forma tradicional, artesanal, fica à margem do processo de desenvolvimento das forças

produtivas do setor avícola, e pode representar, futuramente, um grupo de produtores que

pode ser subordinado pelas grandes empresas a uma forma de produção integrada, assim

como já acontece na Bahia e também no restante do país, que, de forma preponderante, tem

uma produção integrada. Isso poderá ampliar o processo de sujeição do trabalho no setor da

agropecuária, uma vez que a tendência da criação de aves, ainda concentrada na RMF, seja

levada cada vez mais para o interior com o avançar do processo de urbanização dos

municípios circunvizinhos à Fortaleza.

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170

Como a pequena produção é difundida em todo o interior do Ceará, e tais

mudanças representariam uma proletarização das relações de trabalho no campo, lembramos

que, para os pequenos produtores, tal atividade não representa a produção de lucro, mas a

reprodução das suas próprias vidas.

Hoje a unidade espaço-Sociedade traz implícita uma desigualdade, produto da

divisão social e técnica do trabalho, que se materializa na divisão espacial do

trabalho entre as parcelas do espaço. Tal desigualdade é produzida por relações de

dominação – subordinação que permeiam o processo produtivo capitalista na

acumulação e centralização do capital, do poder em poucas mãos e na propriedade

privada (CARLOS, 1992, p. 18-19).

Nesse sentido, se pode constatar que se inicia um processo de integração de pro

dutores menores com grandes empresas em pequena escala, como, por exemplo, a Cialne. Em

entrevista com um diretor do Grupo Cialne, obtivemos a informação de que a empresa deu

início ao processo de integração com outros produtores em Ubajara (CE) e também em

municípios da Paraíba. Nesse sistema de integração, que é regido por contrato entre empresas

e produtores, tal como acontece nas grandes áreas de produção avícola nacional, a empresa

fornece aos produtores os subsídios necessários para a produção como animais, rações,

medicamentos, transporte de animais e insumos, e a assistência técnica; enquanto que os

produtores geralmente participam com as instalações, equipamentos, água e energia elétrica,

bem como se responsabilizam pelo manejo (criação e engorda) dos animais até que eles

atinjam a idade de abate. Tal processo, se ampliado nos próximos anos, sinalizaria mais uma

grande modificação nas relações de trabalho no setor, e, assim, nas relações sociais de

produção da avicultura cearense como um todo, com uma maior sujeição dos produtores às

grandes empresas ao entregar parte da renda da terra em forma de produto. Dessa forma,

como já houve uma reestruturação com novas relações de produção no âmbito da avicultura

cearense, segue-se em curso uma recomposição dessas relações em um processo dinâmico que

pode acarretar uma nova reestruturação territorial do setor no Ceará e Nordeste.

A partir disso, quando nos aproximamos da análise da produção, temos de analisar

a exploração do trabalho pelo capital, consequência do desenvolvimento das forças produtivas

do modo de produção capitalista. Entendendo que os conflitos territoriais são a trama da luta

de classes, há, no processo de transformação das relações sociais de produção do trabalho na

avicultura, assim como em vários outros setores produtivos, uma desrealização do trabalho e

um processo de desubjetivação deste, uma vez que os trabalhadores deixam de se entender

enquanto classe, sendo estranhados do processo de trabalho, do produto de seu trabalho e são

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estranhados de si mesmos, sendo também sua força de trabalho transformada em mercadoria

no processo de acumulação de capital.

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172

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ponto de partida para a compreensão da nova realidade da produção avícola

cearense foram as estratégias adotadas pelas grandes empresas do setor a partir do processo de

reestruturação produtiva da avicultura, constituindo-se também em um recurso analítico

necessário para se compreender as dinâmicas territoriais ensejadas por esse movimento.

Compreender as relações que se dão no interior de uma atividade produtiva extremamente

marcada pelos avanços técnico-científicos e totalmente subordinada a processos econômicos e

políticos, como é o caso da avicultura praticada no Ceará, revela como o processo mundial de

reestruturação produtiva acarreta novas configurações territoriais e em como o processo de

modernização conservadora no Ceará se alinhou a esse fenômeno global.

Como visto, a crescente demanda interna por produtos avícolas em consonância

com a ação do Estado como elemento fomentador da atuação das empresas na atividade

avícola possibilitaram o crescimento do setor no Ceará e a ampliação dos investimentos das

grandes empresas em técnicas para modernização da produção, empresas essas que, além de

buscar atender o mercado local, procuram também novos mercados para expandir suas

atividades e comercializar seus produtos. O Estado, através de subsídios fiscais, implantação

de infraestrutura, estabelecimento de políticas para a fomentação do setor agropecuário, entre

outras medidas, tem colaborado de forma expressiva para a consolidação desse modelo de

produção avícola em escala industrial desde sobretudo a década de 1960.

A partir disso, as novas dinâmicas territoriais advindas através da territorialização

do capital das grandes empresas avícolas e do monopólio comercial exercido por estas, que

têm como base o modelo produtivo advindo da reestruturação produtiva da agropecuária, são

das mais variadas. Uma delas está relacionada ao próprio processo de modernização e

mecanização das unidades produtivas para aumentar a escala da produção e a utilização de

menos trabalhadores no processo produtivo, visando racionalizar o processo produtivo através

da redução de gastos.

Percebemos que está em curso também um processo de concentração da atividade

avícola em que alguns grandes grupos empresariais, com o passar dos anos, ampliaram seus

mercados e absorveram pequenas empresas que existiam anteriormente, além de

diversificarem sua base produtiva, adentrando em outros setores produtivos da agropecuária.

Além disso, há, também, por parte dessas empresas, uma concentração do uso das inovações

técnicas e científicas do setor avícola, e, como já havíamos mencionado, de subsídios por

parte do Estado.

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173

Tal situação provoca, entre outras coisas, a desarticulação da pequena produção

avícola praticada de forma mais tradicional – produção essa tida como artesanal, conhecida

como criação de “fundo de quintal”, muito popular ainda nos municípios cearenses –, uma

vez que o consumo de produtos advindos da grande produção empresarial é largamente

difundido e tido como mais seguro quanto a questões de sanidade animal. Também é preciso

destacar que esses pequenos produtores muitas vezes são deixados à margem do processo de

desenvolvimento das forças produtivas do setor, já que não têm capital suficiente para ter

acesso às inovações técnicas e científicas, devido também à falta de assistência por parte do

Estado, por exemplo. Apesar disso, a existência de criação de “fundo de quintal” ainda é uma

realidade bastante presente, principalmente como atividade não comercial, no Ceará como um

todo. Isso evidencia que, apesar das mudanças nas relações sociais de produção, ainda há

formas de resistência ao modelo de produção hegemônico, e consequentemente às formas de

consumo estandardizadas, com relação à avicultura.

A investigação empreendida neste trabalho demonstrou também, assim como em

trabalho anterior, que se organiza, de forma cada vez mais articulada, redes de produção do

conhecimento voltados à avicultura no Estado, quando observamos uma intrínseca relação

entre os cursos superiores, que buscam atender às necessidades do setor por meio do

desenvolvimento de suas pesquisas, e as empresas avícolas. Cursos de nível superior, tanto de

faculdades particulares como de instituições públicas, estão atentos às novas demandas de

mercado relacionadas à avicultura, e, assim, vêm assumindo papel ativo na produção de

conhecimento técnico-científico com vistas às inovações no setor avícola e ampliação de sua

atuação junto às empresas.

Além desses, instituições setoriais como a ABPA, no plano nacional, e a Aceav,

no contexto estadual, contribuem de forma precisa para a manutenção dos interesses do setor

avícola nacional e estadual, uma vez que ambas têm como objetivo congregar esforços dos

associados para fomentar o crescimento do atual modelo produtivo avícola, por meio de

negociações diretas com instituições públicas, empresas que fazem parte do circuito produtivo

avícola e fornecedores de outros insumos, como os grãos (milho, soja, sorgo), fundamentais

para o setor.

Além disso, as grandes empresas também empreendem vínculos importantes com

empresas estrangeiras de materiais genéticos para realização de pesquisas de adaptação de

animais geneticamente modificados ao ambiente brasileiro. Isso porque, com a expansão da

produção em grande escala na avicultura, houve, consequentemente, o aumento do uso de

biotecnologias na atividade, com inserção cada vez maior de animais geneticamente

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174

modificados e medicamentos, entre outros produtos, para controle de sanidade e aumento de

produtividade, criando-se uma grande dependência técnica e genética no setor.

Destacamos também, a partir do que observamos com os trabalhos de campo que

foram realizados, que é uma realidade a privatização de recursos hídricos em propriedades

particulares voltadas para a avicultura, o que se torna mais uma faceta perversa da produção

avícola no modelo capitalista de produção, uma vez que tal recurso se constitui em bem

comum da sociedade, não podendo ser espoliado dessa forma, principalmente em um local

que sofre também com a falta de água. Além disso, há a contaminação do solo e da água em

virtude dos rejeitos produzidos pela atividade, e, com isso, acirramento de conflitos entre

empresas e população residente próximo aos locais de criação, que reclamam sobretudo do

mau cheiro produzido. Com isso, por mais que as grandes empresas garantam que sua forma

de produzir se utilize dos avanços tecnológicos para minimizar os impactos socioambientais

da atividade, o que fomentaria, assim, uma forma de desenvolvimento sustentável, tal ação é

um processo muito mais atrelado ao ganho de uma eficiência produtiva e aumento da

lucratividade do setor do que realmente a uma proteção socioambiental, que fica, no máximo,

em segundo plano.

No que se refere ao mercado de trabalho, pudemos verificar que as relações de

trabalho que se dão no setor avícola são das mais variadas. Uma grande quantidade de

trabalhadores formais da avicultura cearense se concentra na Região Metropolitana de

Fortaleza, assim como acontece com a própria criação de aves e atividades relacionadas ao

abate destas. Assim, as relações de trabalho e produção advindas com a reestruturação da

produção agropecuária são impostas na avicultura pelo capital comercial das grandes

empresas, aprofundando a divisão do trabalho dentro do setor e acirrando a própria relação

entre capital e trabalho, uma vez que surgem múltiplas especializações através da diversidade

de cargos com a ampliação das relações técnicas que envolvem especialmente a criação de

aves, a produção de ovos, o abate das aves e a industrialização de suas carnes.

Dessa forma, o assalariamento de trabalhadores se dá de forma generalizada na

atividade avícola cearense. O uso de força de trabalho contratada realça a condição de

proletarização das relações de trabalho nesse setor essencialmente agropecuário,

especialmente daqueles trabalhadores da base produtiva. Os trabalhadores da base de

produção avícola propriamente dita (galponistas, aviários, por exemplo) são incorporados à

produção sem uma exigência específica mínima de escolarização, sendo muitas vezes

necessário apenas que saibam ler e escrever. São nas áreas administrativas e técnicas das

empresas que são feitas as exigências de níveis de capacitação cada vez mais específicas e que

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colaborem para o aprimoramento das áreas de produção e gestão; exigências próprias dos

nossos tempos de acumulação flexível (HARVEY, 1992).

Os trabalhadores assalariados, enquanto sujeitos inseridos no processo de

produção, se submentem a uma forte estrutura de gestão do trabalho e de controle de

produção nas granjas, fábricas de ração, incubatórios, unidades de processamento de carne,

que, por sua vez, têm também suas regras ditadas pela economia mundializada. Assim,

podemos notar a formação de um mercado de trabalho agropecuário formal associado também

às novas formas de exploração e estranhamento do trabalhador, do trabalho e dos produtos do

trabalho.

Destacamos também que o modelo de produção praticado no estado do Ceará

ainda é preponderantemente o independente, em que as empresas são responsáveis por todas

as etapas da produção, inclusive a criação das aves. Contudo, pudemos constatar o início de

um processo de integração de produtores menores com grandes empresas em pequena escala

nos últimos três anos. Tal processo, se ampliado nos próximos anos, sinaliza mais uma grande

modificação nas relações de trabalho no setor, e, assim, nas relações sociais de produção da

avicultura cearense como um todo. Assim como já houve uma reestruturação das relações de

produção no âmbito da avicultura cearense anteriormente, segue-se em curso uma

recomposição dessas relações em um processo dinâmico que pode acarretar em uma nova

reestruturação territorial do setor.

Por tudo isso, a partir do que foi apresentado ao longo deste trabalho, podemos

afirmar que tal reestruturação do setor avícola se deu no Ceará de forma seletiva,

concentradora e excludente, fomentada pela lógica territorial dos agentes hegemônicos,

demonstrando que a avicultura praticada na escala industrial pelas grandes empresas é

também lócus de reprodução do agronegócio e do capital comercial, e que, nos próximos

anos, poderá ainda provocar profundas novas transformações nas dinâmicas territoriais da

atividade, trazendo rebatimentos dos mais diversos.

Como visto anteriormente, as empresas avícolas cearenses buscam maior

representatividade do setor e inserção no mercado regional e nacional por meio de ampliação

de investimentos em novas tecnologias, permitindo a recorrente introdução e difusão de

inovações no setor. Com isso, a reestruturação produtiva da agropecuária reordena a produção

como um todo e, consequentemente, as relações sociais e espaciais de produção. A partir

disso, a avicultura cearense passou a se subordinar ao capital comercial, haja vista que se

observa que toda ação fica sob o controle das empresas avícolas que detêm esse capital

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comercial. A atividade avícola é garantida pelo monopólio de alguns poucos, sendo os demais

discriminados dos processos em favor de outros.

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APÊNDICES

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186

APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA - EMPRESAS

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA - EMPRESAS

Local:

Data:

Nome:

Cargo:

Contato:

1. Qual o ramo principal de atuação da empresa?

2. Qual o ano de instalação?

3. Quando se implantou na região? Quais foram os atrativos locais para essa

implantação? Como se deu esse processo de implantação?

4. Já teve acesso a financiamento por parte do governo (Federal, Estadual,

Municipal)? Se sim, qual o tipo de financiamento?

5. Localização das unidades de produção?

6. Como está configurada a cadeia produtiva da empresa?

7. Qual a área utilizada para criação e volume da produção das unidades atualmente?

8. Quais as perspectivas de evolução da produção da empresa?

9. Qual o papel da pesquisa e da tecnologia para a empresa?

10. Utiliza sistema de captação de água? Se sim, qual a importância do uso desses

sistemas técnicos?

11. Qual a área de abrangência do mercado da empresa? Quais os principais

mercados?

12. Quais os mercados consumidores? Quais as exigências do mercado consumidor

internacional?

13. Como ocorre o transporte da produção até os pontos de comercialização? Quais os

meios de transportes utilizados? Como se dá a logística da empresa?

14. A empresa detém algum selo de garantia de qualidade? Se sim, o que isso

representa para a empresa?

15. Qual tem sido o papel do estado (Governo Municipal, Estadual e Federal) na

promoção do setor? Houve algum incentivo específico para implantação da

empresa no local?

16. Quantos trabalhadores existem atualmente na empresa, propriedade? Quantos nas

unidades produtoras e quantos na parte administrativa?

17. Qual o número de trabalhadores com carteira assinada que trabalham no

estabelecimento?

18. Qual o perfil (sexo, faixa etária, escolaridade) e origem dos trabalhadores?

19. Quais as categorias de empregados apresentam vínculo empregatício?

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20. Existe uma mão de obra qualificada na cidade que atenda as necessidades da

empresa? Onde essa mão de obra é capacitada? Quais são as áreas de formação

que são demandadas pela empresa? Os cursos universitários e técnicos existentes

na região atendem essa demanda?

21. Qual a origem dos equipamentos e matérias-primas para atender a demanda da

produção? Quais são tais equipamentos e matérias-primas?

22. Quais são os tipos de serviços contratados para atender as demandas da produção?

Quais as suas origens?

23. Há projetos de expansão e novos investimentos em andamento? Quais? Como

estão sendo financiados?

24. Tem perspectivas de futuros mercados para a produção atual? Quais?

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APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA - SINDICATOS

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA - SINDICATOS

Local:

Data:

Nome:

Cargo:

Contato:

1. Qual a data de fundação do sindicato?

2. Quais as principais pautas do sindicato?

3. Quantos associados possui?

4. Qual o perfil dos trabalhadores associados?

5. Quantos trabalhadores há no setor como um todo?

6. Existem reuniões periódicas entre os associados? Qual a frequência?

7. Qual a ligação entre o sindicado e a associação de produtores?

8. Como vê o setor avícola no panorama estadual?

9. Quais são os principais entraves no setor no que tange as relações de trabalho?

10. Como é o mercado de trabalho no setor?

11. Há a ocorrência de conflitos trabalhistas?

12. Como avalia as condições de trabalho no setor avícola cearense?

13. Quais as perspectivas para o mercado de trabalho na avicultura?

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APÊNDICE C – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA -

TRABALHADORES

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA - TRABALHADORES

Local:

Data:

Nome:

Cargo:

Contato:

1. Quanto tempo trabalha na empresa?

2. Qual o vínculo com a empresa? Possui carteira assinada?

3. Já trabalhava no setor avícola anteriormente?

4. Quantas horas trabalha por dia?

5. Quais atividades realiza? Como se dão?

6. Há algum treinamento específico por parte da empresa para a atividade que

realiza?

7. É associado em algum sindicato? Participa das reuniões?

8. Qual a função do sindicato para os trabalhadores?

9. Qual a escolaridade?

10. Mora a que distância da unidade onde trabalha?

11. Recebe algum benefício além do salário?

12. Algum outro familiar trabalha na atividade avícola?

13. Perfil familiar

14. Quais as condições de trabalho?

15. Como avalia as condições de crescimento profissional na empresa?