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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA
BRUNA NOGUEIRA FERREIRA DE SOUSA
REESTRUTURAÇÃO SOCIOESPACIAL DA AVICULTURA NO CEARÁ
FORTALEZA – CEARÁ
2017
BRUNA NOGUEIRA FERREIRA DE SOUSA
REESTRUTURAÇÃO SOCIOESPACIAL DA AVICULTURA NO CEARÁ
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
Acadêmico em Geografia do Programa de Pós-
Graduação em Geografia do Centro de
Ciências e Tecnologia da Universidade
Estadual do Ceará, como requisito parcial para
obtenção do grau de mestre em Geografia.
Orientador: Prof. Dr. Luiz Cruz Lima.
FORTALEZA – CEARÁ
2017
À minha mãe, Dina, em quem
miro a mulher que sou.
À minha bisa, Raimunda, in
memoriam, dedico.
AGRADECIMENTOS
Expresso meu imenso agradecimento a todos que, à sua maneira, colaboraram para que a
realização deste trabalho fosse possível.
Agradeço à minha mãe, Dina, por sua força e determinação inspiradoras que incessantemente
me fazem lembrar que é preciso continuar na caminhada.
Ao meu pai José (in memoriam) e aos meus irmãos Bruno, Breno e Marcelo.
À minha bisavó Raimunda (in memoriam). Sua humanidade, bravura, esperança e
perseverança permanecem vivas nas minhas lembranças.
À minha tia Cledna, meu tio Erodite Júnior e ao meu pequeno primo Ismael, por todo o
acalanto e alegria que suas companhias trazem para minha vida quando estamos em convívio.
A Raimundo e Denilde Lopes, por todo o apoio desde o momento em que os conheci, pelos
encontros sempre tão acolhedores e pelas palavras do mais amistoso carinho e incentivo.
À Julio Lira e Lúcia Ferreira, pelas conversas de incentivo pessoal, por todo aprendizado que
obtive, pelas novas e poéticas experiências que me ajudaram também a reunir as energias
necessárias para continuar esse percurso.
A Tônio, Hermínia e Frida, pela alegre presença que sempre se propagava pelos quatro cantos
da casa e que tanto me ajudou a ganhar ânimo e prosseguir na pesquisa.
À Universidade Estadual do Ceará, aos seus professores e servidores, por todo o suporte
acadêmico oferecido durante o processo de formação na Geografia.
À Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP),
pelo apoio financeiro à pesquisa no período do mestrado.
À professora Denise Elias, a quem devo o incentivo à pesquisa acadêmica e a oportunidade
das vivências no Laboratório de Estudos Agrários (LEA).
Ao professor Luiz Cruz Lima, por toda a ajuda necessária na reta final do mestrado.
Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual do Ceará, pelo
aprofundamento do conhecimento geográfico que pude ter por meio dos professores durante
aulas, palestras e seminários.
Aos professores que durante o mestrado contribuíram para a minha formação acadêmica em
disciplinas e discussões acerca da pesquisa: Claudia Grangeiro (in memoriam), Zenilde
Baima, Otávio Lemos, José Meneleu, Juscelino Bezerra, Andrea Cavalcante, Lúcia Brito,
Rogério Haesbaert, Valter Cruz, Maria Tereza Paes, Marina Faccioli e Eduardo Chagas.
Às professoras Alexsandra Muniz e Iara Gomes, pelos apontamentos feitos à pesquisa no
processo de qualificação. Aos professores Camila Dura e João César Abreu, por terem
aceitado participar do momento de defesa da dissertação.
Agradeço por ter tido o privilégio de conhecer pessoas muito queridas na Universidade, com
quem pude dividir grandes momentos de convívio acadêmico, descobertas, aflições,
superações, alegrias e aprendizados: Leandro, Kassia (e Ester também), Edivania, Camila,
Gilda, Érica, Elane, Beatriz, Thainá, Lucenir, Sidney, André e Fábio. Devo toda a gratidão
principalmente ao apoio e à amizade incondicionais de Leandro, que, com suas contribuições,
afetos e sua pura e até imoderada confiança neste trabalho, fizeram-me acreditar que era
possível e preciso prosseguir.
Agradeço especialmente a Leonardo Bruno, cuja afetuosa companhia foi sustento e superação
das pequenas e grandes dificuldades cotidianas neste percurso, sempre lembrando que era
preciso permanecer na perseverança. Sua paciência e carinho foram alentos para o difícil
processo de pesquisa científica e seguem sendo a força que move os meus dias em direção ao
porvir.
Os homens não são máquinas, mas muitas
vezes, pela força das circunstâncias, são
obrigados a imitá-las, em seus gestos
automáticos, rotinas, comportamentos vazios.
Chegando mais perto, [...] o que vemos,
porém, são almas que se agitam, cheias de
vida, nas carcaças em que estão presas. Seres
apaixonados, para quem o sentido da vida é a
esperança.
(José Castello, em apresentação do livro O
apocalipse dos trabalhadores, de Valter Hugo
Mãe).
RESUMO
A reestruturação produtiva pela qual as atividades agropecuárias vêm passando nas últimas
décadas, em que a ciência, a tecnologia e a informação são tidas como importantes forças
produtivas, provoca profundas transformações na produção do espaço brasileiro. Diante disso,
a produção avícola também ganha relevância como atividade que se insere nessa lógica da
reestruturação dos sistemas de produção, tornando-se lócus de reprodução do agronegócio e
do capital comercial ligado ao capital financeiro. Dessa forma, o objetivo desta pesquisa foi
discorrer sobre a nova configuração geográfica da avicultura no Ceará, a partir da
reestruturação produtiva em curso, caracterizando a configuração produtiva e socioespacial da
avicultura no Brasil, indicando os impactos da reestruturação produtiva na avicultura
cearense, evidenciando a reestruturação socioespacial da avicultura e a territorialização do
capital avícola no Ceará, analisando as novas dinâmicas territoriais observadas a partir da
reestruturação produtiva avícola e apresentando a configuração das relações sociais de
produção da avicultura cearense. Nossa metodologia esteve centrada na formação de bancos
de dados por meio de seleção de variáveis e indicadores; formação de hemeroteca; pesquisa
bibliográfica e trabalhos de campo. Destaca-se que a atividade avícola se desenvolve de
maneira sistemática nas últimas décadas no Estado do Ceará, que apresenta uma importante
expressividade no âmbito da região Nordeste. A produção estadual ainda é praticada de forma
preponderante nos municípios localizados na Região Metropolitana de Fortaleza, onde se
concentra grande parte dos fixos e fluxos relacionados ao setor. Através da análise das
relações socioespaciais de produção da avicultura cearense, observamos um conjunto de
novas dinâmicas territoriais ligadas a essa atividade, percebendo a rede de relações entre os
agentes sociais inseridos no processo produtivo avícola. Com a pesquisa, constatou-se que o
crescimento da atividade no Ceará vem trazendo consigo novas formas de reprodução do
capital a partir das mudanças na base tecnológica da produção avícola, as quais propiciaram
um maior controle do processo produtivo, e com isso uma maior produtividade,
proporcionando também um maior controle das relações de trabalho. Além disso, a avicultura
no Ceará se concentra cada vez mais nas grandes empresas especializadas na produção de
aves e ovos, que buscam ampliar seus investimentos e diversificar suas atividades, passando a
exercer um significativo controle da produção e do mercado avícolas. Esse quadro vem sendo
consideravelmente ampliado sobretudo em virtude da reestruturação produtiva do setor, que
eleva essas empresas a outros patamares de competitividade e de racionalização da produção
avícola, especialmente porque a avicultura cearense deixou de ser praticada somente em
moldes tradicionais e passou a ser realizada também em escala industrial, denotando o
advento na avicultura empresarial.
Palavras-chave: Avicultura. Relações sociais de produção. Reestruturação produtiva da
agropecuária. Dinâmicas territoriais.
RÉSUMÉ
Le processus de restructuration que les activités agricoles ont subi au cours des dernières
décennies, dans lequel la science, la technologie et l’information sont considérés comme des
forces productives importantes, provoque des profonds changements dans l'organisation du
territoire brésilien. Par conséquent, la production de volailles gagne aussi importance comme
une activité qui s’insère dans la logique de restructuration des systèmes de production, ce qui
fait d’elle un locus de reproduction du capital agroalimentaire et commercial. Ainsi, l’objectif
de cette recherche est de discuter sur la nouvelle configuration géographique de la production
de volailles au Ceará, à partir du processus de restructuration en cours. Notre méthodologie a
été axée sur la formation de bases de données; formation d’une hemeroteca; recherche
bibliographique et le travail sur le terrain. Il est à noter que l'activité de la volaille est
développée de façon systématique au cours des dernières décennies dans l’État de Ceará, qui
présente une expression importante dans le Nord-Est. La production du Ceará est encore
pratiquée de façon prépondérante dans les municipalités situées dans la région métropolitaine
de Fortaleza, où la plupart des fixes et des flux liés au secteur sont localisés. A partir de
l’analyse des relations socio-spatiales de la production de la volaille au Ceará, on observe un
ensemble de nouvelles dynamiques territoriales liées à cette activité, à travers lequel, il est
possible de comprendre le réseau de relations entre les agents sociaux inserés dans le
processus de production de volaille. Grâce à cette recherche, il a été constaté que la croissance
de l'activité en Ceará apporte avec elle de nouvelles formes de reproduction du capital à partir
des changements dans la base technologique de la production de volaille, qui ont fourni un
meilleur contrôle du processus de production, et donc une plus grande productivité, en offrant
une plus grande maîtrise des relations de travail. En outre, la volaille au Ceará est de plus en
plus concentrée dans les grandes entreprises spécialisées dans la production de volaille et
d'oeufs, qui cherchent à élargir leurs investissements et de diversifier ses activités, en
commençant à exercer un contrôle important sur la production et le marché de la volaille. Ce
cadre a été considérablement élargi principalement en raison de la restructuration du secteur
de la production, ce qui soulève ces entreprises à d’autres niveaux de compétitivité et de
rationalisation de la production de volaille, en particulier car la volaille cearense a cessé d’être
pratiquée que par des moyens traditionnels et a commencé à opérer aussi au niveau industriel,
ce qui indique un changement technologique dans la volaille commerciale.
Mots-clés: Volaille. Rapports sociaux de production. Restructuration productive agricole.
Dynamiques territoriales.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Quadro 1 – Síntese do referencial teórico ......................................................................... 23
Quadro 2 – Produtores associados à Aceav – 2016 .......................................................... 88
Quadro 3 – Síntese das informações acerca das empresas avícolas cearenses ............ 127
Gráfico 1– Exportações brasileiras de carne de frango por produto – 2015 ................. 45
Gráfico 2 – Exportações brasileiras de carne de frango. Série histórica (2004-2015)... 46
Gráfico 3 – Consumo per capita de carne de frango no Brasil (kg). 2000 – 2015 ......... 70
Gráfico 4 – Evolução da produção brasileira de carne de frango (milhões de ton.) ..... 71
Gráfico 5 – Ceará. Série histórica do efetivo total de galináceos (cabeças).
1995-2015 ......................................................................................................... 93
Gráfico 6 – Ceará. Série histórica da produção de ovos de galinha (mil dúzias).
1995-2015 ......................................................................................................... 95
Figura 1 – Mercado mundial de carne de frango (milhões de toneladas) – 2015 .......... 47
Figura 2 – Relação dos países importadores de carne de frango brasileira ................... 48
Figura 3 – Empresas associadas à Brazilian Chicken ...................................................... 51
Figura 4 – Concentração do total abatido de frango no Brasil, por Unidades da
Federação – 2015.............................................................................................. 78
Figura 5 – Exportações de carne de frango no Brasil, por Unidades da Federação
2015 .................................................................................................................... 79
Figura 6 – Empresas do Grupo Regina ........................................................................... 109
Figura 7 – Localização das unidades produtivas Cialne ................................................ 112
Figura 8 – Circuito espacial produtivo da avicultura cearense .................................... 140
Foto 1 – Produção de frangos de corte pela Cialne ....................................................... 114
Foto 2 – Granja da Cialne no município de Guaiuba/CE .............................................. 115
Foto 3 – Aviário automatizado da Cialne em Guaiuba/CE ........................................... 115
Foto 4 – Fábrica da Dudico (Cialne) ................................................................................ 116
Foto 5 – Fábrica de ração da Avine em Aquiraz/CE...................................................... 119
Foto 6 – Granja automatizada da Avine em Aquiraz/CE .............................................. 119
Foto 7 – Classificação de ovos da Avine em Cascavel/CE ............................................. 120
Foto 8 – Galpão convencional de galinhas da Emape em Maracanaú/CE ................... 122
Foto 9 – Sede do Grupo Haisa em Horizonte/CE ........................................................... 124
Foto 10 – Galpões de classificação de ovos do Grupo Haisa ............................................ 125
Foto 11 – Seleção automatizada de ovos da empresa Tijuca ........................................... 126
Foto 12 – Aviário automatizado Cialne ............................................................................. 134
Foto 13 – Aviário automatizado da Cialne em Guaiuba/CE ........................................... 134
Foto 14 – Sistema de ventilação em aviário automatizado da Cialne em
Guaiuba/CE ........................................................................................................ 135
Foto 15 – Bebedouro automatizado em fazenda da Cialne em Guaiuba/CE ................. 135
Foto 16 – Barreira de biossegurança na entrada de fazenda da Cialne em
Guaiuba/CE ....................................................................................................... 136
Foto 17– Lagoa localizada no interior da fazenda da Cialne em Guaiuba/CE ............. 149
Foto 18 – Aviários da fazenda da Cialne em Guaiuba/CE .............................................. 149
Foto 19 – Manutenção de galpão em fazenda da Cialne em Guaíba/CE ....................... 167
Foto 20 – Manutenção de galpão em fazenda da Cialne em Guaiuba/CE ..................... 168
Foto 21 – Retirada de pintos “fora do padrão” em fazenda da Cialne em
Guaiuba/CE ........................................................................................................ 169
Cartograma 1 – Produção de ovos de galinha no Brasil por Unidades da Federação
– 2015 ........................................................................................................... 68
Cartograma 2 – Efetivo total de galináceos no Brasil, por Unidades da Federação
– 2015 ........................................................................................................... 74
Cartograma 3 – Efetivo de galinhas no Brasil, por Unidades da Federação – 2015 ........ 76
Mapa 1 – Municípios da Região Metropolitana de Fortaleza ............................................ 27
Mapa 2 – Efetivo de aves por municípios do Ceará ......................................................... 103
LISTA DE TABELAS
Tabela 1– Principais produtores mundiais de carne de frango. Quantidade
produzida (milhões de toneladas) / Percentual da produção mundial –
2015 ................................................................................................................ 43
Tabela 2 – Importação mundial de carne de frango brasileira. Quantidade
produzida (mil toneladas) / Percentual da importação mundial –
2015 ................................................................................................................ 47
Tabela 3 – Evolução da produtividade na avicultura de corte, 1940/2005 ................. 59
Tabela 4 – Evolução dos coeficientes de produção da avicultura de postura,
1940/2005 ....................................................................................................... 60
Tabela 5 – Produção e valor da produção de ovos de galinha no Brasil, por
grande região – 2015 .................................................................................... 67
Tabela 6 – Produção e valor da produção de ovos de galinha, por Unidades da
Federação – 2015 .......................................................................................... 67
Tabela 7 – Ranking do efetivo total de galináceos entre as Grandes Regiões –
2015 ................................................................................................................ 71
Tabela 8 – Ranking do efetivo de galinhas entre as Grandes Regiões – 2015 ............ 71
Tabela 9 – Ranking do efetivo total de galináceos entre as Unidades da
Federação – 2015 .......................................................................................... 72
Tabela 10 – Ranking do efetivo total de galinhas entre as Unidades da
Federação – 2015 .......................................................................................... 75
Tabela 11 – Abate de frangos por número de informantes – 2015 ............................... 77
Tabela 12 – Ceará. Efetivo dos rebanhos, por tipo. 1995-2015 ..................................... 92
Tabela 13 – Ceará. Variação absoluta e relativa dos efetivos dos rebanhos,
por tipo. 1995-2015 ....................................................................................... 92
Tabela 14 – Efetivo total dos galináceos (cabeças) por mesorregiões do Ceará .......... 96
Tabela 15 – Variação absoluta e relativa do efetivo total dos galináceos por
mesorregiões do Ceará ................................................................................. 96
Tabela 16 – Produção de ovos de galinha (mil dúzias) por mesorregiões do Ceará ... 97
Tabela 17 – Variação absoluta e relativa da produção de ovos de galinha
(mil dúzias) por mesorregião do Ceará ...................................................... 97
Tabela 18 – Produção de ovos de galinha (mil dúzias) por microrregiões do Ceará
que apresentaram produção acima de 10 mil dúzias ................................ 98
Tabela 19 – Variação absoluta e relativa da produção de ovos de galinha por
microrregiões do Ceará que apresentaram produção acima de 10 mil
dúzias ............................................................................................................. 98
Tabela 20 – Efetivo total dos galináceos por microrregiões do Ceará que
apresentaram produção acima de 1 milhão de cabeças ............................ 99
Tabela 21 – Efetivo total dos galináceos por microrregiões do Ceará que
apresentaram produção acima de 1 milhão de cabeças ............................ 99
Tabela 22 – Ranking descendente da produção de ovos de galinha (mil dúzias) no
Ceará, por municípios – 1995, 2005, 2015 ................................................ 100
Tabela 23 – Ranking descendente dos efetivos totais de galináceos (cabeças) no
Ceará, por municípios – 1995, 2005, 2015 ................................................ 101
Tabela 24 – Produção de ovos de galinha (mil dúzias), por municípios da RMF ...... 104
Tabela 25 – Variação absoluta e relativa da produção de ovos de galinha
(mil dúzias), por municípios da RMF ....................................................... 105
Tabela 26 – Efetivo total dos galináceos (cabeças), por municípios da RMF ............ 106
Tabela 27 – Variação absoluta e relativa do efetivo total dos galináceos
(cabeças) ...................................................................................................... 106
Tabela 28 – Ranking dos empregos formais na criação de aves no Ceará – 2015 ..... 160
Tabela 29 – Quantidade de estabelecimentos com criação de aves na RMF ............. 161
Tabela 30 – Variações absoluta e relativa da quantidade de estabelecimentos com
criação de aves na RMF ............................................................................. 161
Tabela 31 – Número de empregos formais na criação de aves na RMF..................... 162
Tabela 32 – Variações absoluta e relativa do número de empregos formais na
criação de aves na RMF ............................................................................. 163
Tabela 33 – Quantidade de estabelecimentos de abate de aves na RMF ................... 164
Tabela 34 – Número de empregos formais no abate de aves na RMF ........................ 165
Tabela 35 – Variações absoluta e relativa do número de empregos formais no
abate de aves na RMF. 2010-2015 ............................................................. 165
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABIPECS Associação Brasileira de Produtores e Importadores de Carne Suína
ABPA Associação Brasileira de Proteína Animal
ACEAV Associação Cearense de Avicultura
BNB Banco do Nordeste do Brasil
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CEAG Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Estado do Ceará
CNPSA Centro Nacional de Pesquisa em Suínos e Aves
CEPA Comissão Estadual de Planejamento Agrícola
CNA Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
CADE Conselho Administrativo de Defesa Econômica
FAVET Faculdade de Veterinária
FAEC Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará
FACIC Federação das Associações de Indústria, Comércio e Agropecuária do
Estado do Ceará
FIEC Federação das Indústrias do Estado do Ceará
FNE Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste
FDNE Fundo de Desenvolvimento do Nordeste
FINOR Fundo de Investimentos do Nordeste
GEAVI Grupo de Estudos em Avicultura Industrial
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
TEM Ministério do Trabalho e Emprego
PNCRC Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes
PPM Produção Agrícola Municipal
PIB Produto Interno Bruto
RMF Região Metropolitana de Fortaleza
RAIS Relação Anual de Informações Sociais
SECEX Secretaria de Comércio Exterior
SIF Serviço de Inspeção Federal
SINDIAVES Sindicado dos Trabalhadores na Avicultura no Estado do Ceará
SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
UBABEF União Brasileira da Avicultura
UBA União Brasileira de Avicultura
ANA União Nordestina de Avicultura
UECE Universidade Estadual do Ceará
UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFC Universidade Federal do Ceará
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 17
2 A AVICULTURA NO CONTEXTO DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA 31
2.1 PANORAMA DA AVICULTURA MUNDIAL E BRASILEIRA ................................ 31
2.2 REESTRUTURAÇÃO SOCIOESPACIAL DA AVICULTURA BRASILEIRA ....... 54
2.3 A DINÂMICA ESPACIAL DA AVICULTURA NO BRASIL ..................................... 64
3 A CONFIGURAÇÃO SOCIOESPACIAL DA AVICULTURA NO CEARÁ ..... 82
3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E HISTÓRICO DA AVICULTURA CEARENSE ............ 82
3.2 A ESPACIALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO AVÍCOLA CEARENSE ............................ 91
3.3 PRINCIPAIS EMPRESAS AVÍCOLAS NO CEARÁ .................................................. 107
4 RELAÇÕES SOCIAIS DE PRODUÇÃO E DINÂMICAS TERRITORIAIS ... 130
4.1 TRANSFORMAÇÕES RECENTES NA DINÂMICA PRODUTIVA AVÍCOLA .. 130
4.2 USO CORPORATIVO DO TERRITÓRIO E REDES DE PODER ............................ 142
4.3 MUDANÇA NAS RELAÇÕES DE TRABALHO NA AVICULTURA ................... 157
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 172
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 176
APÊNDICES ......................................................................................................................... 185
APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA - EMPRESAS.... 186
APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA - SINDICATOS 188
APÊNDICE C – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA -
TRABALHADORES ........................................................................................ 189
17
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho se propõe a fazer uma análise geográfica da avicultura1 no Ceará,
partindo do pressuposto básico de que toda atividade produtiva é responsável por dotar o
espaço de novas características, fomentando seu processo de (re)produção e dando origem a
importantes novas dinâmicas socioespaciais que agem remodelando a dinâmica espacial e
configuração territorial, conforme defendem autores como Lefebvre (1973, 1991) e Santos
(1985, 2008, 2009). Nesse sentido, estamos considerando o espaço enquanto algo em
constante transformação, especialmente a partir da sua produção capitalista, como se referem
Harvey (2005) e Moreira (2009), evocando o papel que a dinâmica produtiva exerce sobre o
processo de produção do espaço, tal qual pode ser observado a partir da análise da produção
avícola e de alguns de seus principais rebatimentos territoriais, como pretendemos demonstrar
ao longo da pesquisa aqui apresentada.
Dessa forma, a partir das reflexões lançadas sobretudo por Lefebvre (1973, 1991)
e Santos (1985, 2008, 2009), entendemos que o espaço geográfico, objeto central de estudo da
ciência geográfica, é um produto social, compreendendo as relações sociais para além da
concepção física de espaço. É a partir da intrínseca relação sociedade-natureza que se
configura o espaço geográfico, e, por isso, de acordo como Santos (2008, p. 120), devemos
conceber o espaço geográfico enquanto um espaço social. Com isso, tem-se também que a
própria sociedade é produto dessa relação do homem com o espaço que o cerca, não sendo o
espaço um mero receptáculo das relações sociais, pois ao passo que o espaço é condicionado
pela sociedade, ele também a condiciona, uma vez que “[...] o espaço, além de produto da
existência humana, é também, condição e meio de processo de reprodução geral da
sociedade” (CARLOS, 1992, p. 19).
Nessa relação entre sociedade-natureza e produção do espaço geográfico,
observam-se múltiplos usos do espaço, dentre os quais destacamos seu uso produtivo,
destinado especialmente à produção agropecuária. A partir disso, Santos (1985, 1999, 2008)
considera que produzir e produzir espaço são dois atos indissociáveis, haja vista que o ato de
produzir é, ao mesmo tempo, o ato de produzir espaço. “[...] Como produzir e produzir espaço
são sinônimos, a cada novo modo de produção (ou a cada novo momento do mesmo modo de
produção) mudam a estrutura e o funcionamento do espaço” (SANTOS, 1999, p. 06). Para
Santos (1985), o espaço sempre foi o lócus da produção, já que sem produção não há espaço e
1 A avicultura se refere à atividade de criação de aves, em especial frangos e galinhas, destinadas sobretudo à
produção de carne e ovos voltados para a alimentação humana.
18
vice-versa. Além disso, Santos (2008) afirma que essa produção supõe uma intermediação
entre o homem e a natureza, através das técnicas e dos instrumentos de trabalho inventados
para o exercício desse intermédio.
A partir dessas considerações, defende-se que a avicultura também é uma
atividade que exerce seu papel na produção do espaço, especialmente nos locais onde ela
apresenta um maior dinamismo, sendo responsável também por influenciar no processo de
reestruturação socioespacial do Ceará. Nesse sentido, analisar como se configura a atividade
avícola no Ceará é atentar ao mesmo tempo para a produção e uso do espaço e para a
organização das relações sociais de produção, revelando também as intrínsecas dinâmicas
territoriais associadas ao processo de produção avícola e, consequentemente, de produção do
espaço. Desse modo, e por essa razão, defendemos que se faz importante estudar a avicultura
sob o olhar da Geografia, voltando-se para o componente espacial que reside nessa atividade
produtiva.
Em nosso trabalho, pretendemos abarcar essa dimensão espacial a partir da
relação entre reestruturação produtiva e dinâmicas territoriais, inseridas no debate atual acerca
da nova composição técnica e social da avicultura no Brasil. Acerca disso, é sabido que a
avicultura brasileira tem passado por grandes transformações nas últimas décadas,
impulsionada pela reestruturação de seus tradicionais sistemas de produção, corroborando a
reorganização produtiva e a expansão do modo de produção capitalista nesse setor. Tais
processos engendram novas formas de uso do território com a produção do espaço a partir de
novas dinâmicas territoriais, onde os fatores de ordem técnica e econômica são condizentes
com a atual configuração produtiva da avicultura.
Assim, a partir do processo de reestruturação produtiva da atividade avícola em
curso, percebe-se o desenrolar de novas dinâmicas territoriais, advindas do próprio
movimento dialético e uníssono entre espaço e sociedade, conforme afirma Soja (1993), que
pode ser expresso territorialmente, isso porque é no território onde podemos perceber os
impactos gerados no espaço pela reestruturação produtiva capitalista, que vem se processando
de maneira acelerada na avicultura brasileira. Esse debate nos remete, pois, à discussão entre
produção do espaço, mudança técnica produtiva e divisão territorial do trabalho, segundo
discutem geógrafos como Lima (2002), Elias (2003) e Bernardes (2006), entre outros, ao
destacarem as recentes transformações observadas no campo brasileiro, especialmente a partir
da reestruturação produtiva em curso, que vem remodelando as tradicionais formas de
produção agropecuária e originando dinâmicas territoriais distintas das observadas em
períodos anteriores.
19
Nesse sentido, Gomes (2011, p. 68) considera que cabe à “[...] ciência geográfica
fazer uma análise do processo de reestruturação produtiva e seus impactos na dinâmica
espacial, buscando mostrar as manifestações territoriais deste processo”, intentando revelar
quais os novos espaços produtivos daí advindos e quais os seus reflexos, especificamente no
mundo do trabalho, na classe trabalhadora. Dessa forma, ainda segundo a autora, caberia a
nós, geógrafos, “[...] desvendar a dinâmica espacial, as manifestações dessas transformações
no espaço através dos arranjos espaciais que o processo de reestruturação produtiva vem
conduzindo” (GOMES, 2011, p. 70). Além dessas manifestações territoriais, destaca a autora,
é preciso compreender os impactos da reestruturação produtiva na dinâmica do mercado de
trabalho.
É nessa perspectiva que pretendemos prosseguir na análise da atividade avícola
cearense, considerando os rebatimentos territoriais resultantes da reestruturação em curso,
responsáveis por alterar a configuração produtiva e socioespacial desse setor. Assim, temos
como objetivo principal compreender a nova configuração geográfica da avicultura no Ceará,
a partir da reestruturação produtiva em curso. Diante disso, nossos objetivos específicos são:
i) Caracterizar a configuração produtiva e socioespacial da avicultura no Brasil; ii) Indicar os
impactos da reestruturação produtiva na avicultura cearense; iii) Evidenciar a organização
espacial da avicultura e a territorialização do capital avícola no Ceará; v) Analisar as novas
dinâmicas territoriais observadas a partir da reestruturação produtiva avícola; iv) Apresentar
como se configuram as relações sociais de produção da avicultura cearense.
A partir disso, é importante indicar que a atividade avícola se desenvolve de
maneira sistemática nas últimas três décadas no Estado do Ceará, que apresenta uma
importante expressividade no âmbito da região Nordeste. Tal crescimento vem trazendo
consigo novas formas de reprodução do capital a partir das mudanças na base tecnológica da
produção avícola, que propiciaram um maior controle do processo produtivo, e com isso uma
maior produtividade, proporcionando também um maior domínio das relações de trabalho que
se dão nesse setor. Além disso, a avicultura no Ceará se concentra cada vez mais nas grandes
empresas especializadas na produção de aves e ovos, as quais buscam ampliar seus
investimentos e diversificar suas atividades, passando a exercer um significativo comando da
produção e do mercado avícola.
Tal quadro vem sendo consideravelmente ampliado sobretudo porque a avicultura
cearense deixa de ser praticada somente em moldes tradicionais e passa a ser realizada
também em escala comercial, denotando o advento da avicultura em modelo industrial ou
empresarial. Assim, cada vez mais são as grandes empresas do setor que passam a controlar a
20
atividade avícola cearense, isso em virtude da reestruturação produtiva do setor, que coloca
essas empresas em outros patamares de competitividade e de racionalização da produção
avícola, ocasionando consideráveis rebatimentos territoriais e para a reprodução das relações
sociais de produção da avicultura.
Essas empresas se consolidam como o principal vetor de concentração do capital
avícola, ao passo que a região Nordeste tem um grande potencial de aumento de consumo de
carne de frango e ovos em relação ao Brasil, o que abre margem para novos investimentos e
para a expansão da atividade no Ceará. Esse processo tem demonstrado o rápido avanço e o
atual domínio do mercado no controle do atual modelo hegemônico de produção de
alimentos, a cargo de grandes empresas agrícolas e agroindustriais associadas às redes de
supermercados. Além disso, as principais empresas cearenses, que são de capital local, já se
inserem no contexto da reestruturação produtiva da avicultura verticalizada2, diferente do
modelo de integração mais característico dos maiores produtores nacionais, apesar de que aos
poucos essa situação vem sendo modificada.
Sendo assim, é possível constatar que o setor avícola vem se configurando
enquanto um importante vetor de dinamização do território. Desse modo, os investimentos na
avicultura empresarial são cada vez mais ampliados para atender principalmente à demanda
local, no caso cearense, o que vem promovendo novas dinâmicas territoriais constitutivas do
processo de inserção desta atividade no modelo de produção da economia globalizada. Assim,
é preciso sublinhar que a escolha do nosso objeto de estudo deu-se com a necessidade de
compreender as dinâmicas territoriais atribuídas a este setor, haja vista que a avicultura não se
pauta apenas na produção de aves e ovos propriamente dita, mas sim em um circuito espacial
produtivo (SANTOS; SILVEIRA, 2001) altamente dinâmico, que abrange e interliga
segmentos industriais e setores de distribuição, comercialização e consumo relacionados à
atividade avícola.
Com isso, faz-se necessário entender como se dá a configuração geográfica da
avicultura no Estado do Ceará e atentar para suas novas dinâmicas territoriais, advindas com a
reestruturação produtiva dessa atividade. Nesse sentido, alguns questionamentos surgiram
enquanto norteadores do nosso estudo, os quais procuramos responder ao longo de toda a
dissertação a partir da explanação dos resultados obtidos com a pesquisa. Nossas principais
questões norteadoras são:
2 Na produção verticalizada, a empresa tem o controle interno do processo produtivo desde a matéria-prima até o
produto final. Isso quer dizer, na avicultura, que as próprias empresas se encarregam da produção – desde
pintinhos até aves para corte, poedeiras e ovos –, não os adquirindo com produtores “integrados”, como ocorre
com a maioria das empresas instaladas no Brasil.
21
Quais são os rebatimentos da reestruturação da agropecuária brasileira na avicultura?
Como se dá a reestruturação da produção avícola?
Como está organizada a produção avícola no Brasil?
Como se posiciona a produção avícola do Ceará em relação à produção brasileira e nordestina?
Como a reestruturação da avicultura reorganiza a produção avícola cearense?
Como se configura a distribuição espacial da avicultura no Ceará?
Como se dá a territorialização do capital avícola no Ceará?
Quais as principais agroindústrias avícolas localizadas no Ceará?
Como se organiza o circuito espacial produtivo das principais empresas avícolas?
Quais são as novas dinâmicas territoriais advindas com a reestruturação produtiva avícola?
Como são produzidas as relações sociais de produção da avicultura?
Nossa pesquisa parte da hipótese de que a nova configuração da produção avícola
no Estado do Ceará, impulsionada pela reestruturação produtiva da agropecuária, tem
modificado as relações sociais de produção e redefinido as dinâmicas territoriais desse setor.
Acreditamos também que está em curso um processo de territorialização do capital avícola em
território cearense, representado pela crescente participação de grandes empresas no setor,
aprofundando a racionalidade capitalista nessa atividade e impondo um modelo produtivo
cada vez mais interligado com a forma de produção agropecuária globalizada, centrada nos
moldes do agronegócio. Com isso, defendemos que há uma reconfiguração das relações
sociais de produção associadas à avicultura no Estado do Ceará, na qual sobretudo as relações
de trabalho vêm sendo modificadas a partir da reconfiguração da estrutura produtiva
impulsionada pelas principais empresas do setor.
Infere-se que a pesquisa aqui apresentada resulta de uma investigação iniciada
ainda no âmbito da iniciação científica, que culminou com a formulação de um trabalho
monográfico sobre o circuito espacial da produção avícola na Região Metropolitana de
Fortaleza (RMF), e que foi continuada com a nossa entrada no mestrado, a partir de uma outra
perspectiva. Naquele primeiro momento, optamos por analisar a avicultura na RMF
justamente pela sua representatividade no sistema avícola cearense e nordestino, tendo como
contexto uma atividade agropecuária realizada em uma região metropolitana, originada de um
modelo empresarial que despontou a partir de Fortaleza e de municípios vizinhos. Na
monografia descrevemos e analisamos todo o movimento produtivo da avicultura na região,
caracterizando desde a produção propriamente dita, passando pela comercialização,
22
distribuição e consumo dos produtos avícolas, conforme pode ser consultado em Sousa
(2013).
Como nos apontam Santos e Silveira (2001), para compreender o território3 e seu
funcionamento, é preciso apreender as dinâmicas de seu movimento, o que é possível por
meio da análise dos circuitos espaciais da produção, “[...] definidos pela circulação de bens e
produtos e, por isso, oferecem uma visão dinâmica, apontando a maneira como os fluxos
perpassam o território” (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p. 143). Tal estudo realizado em
processo monográfico anterior nos auxiliou bastante na compreensão das dinâmicas
territoriais ensejadas pela atividade avícola tanto no Brasil, de um modo geral, quanto no
Ceará, mais especificamente. Dessa forma, o trabalho aqui apresentado parte de alguns dos
resultados obtidos com a elaboração da monografia, resgatados com um novo olhar e
acrescidas novas informações e análises tecidas a partir da consecução da pesquisa do
mestrado, que considera objetivos diferentes dos quais foram privilegiados no trabalho
anterior, e que por essa razão os resultados aos quais chegamos também são distintos dos já
apresentados anteriormente.
Ressalta-se que, para dar conta do debate teórico necessário para o entendimento
da reestruturação produtiva da avicultura e das dinâmicas territoriais daí advindas, recorremos
a uma série de obras e autores que trabalham com alguns dos conceitos e noções privilegiados
no decorrer da pesquisa, os quais foram essenciais para fomentar as reflexões tomadas acerca
do nosso objeto de estudo. Nesse sentido, concordamos com Moreira (2007), para quem os
conceitos e as noções são elementos fundamentais para a construção científica, já que são eles
que guiam teoricamente a análise e a reflexão acerca do problema que está sendo estudado.
Nosso referencial teórico está composto por autores, sobretudo geógrafos, assim como
economistas, sociólogos, zootecnistas, administradores de empresas, entre outros, que se
dedicam a trabalhar temas com os quais privilegiamos no decorrer da pesquisa.
Dentre os principais conceitos, noções e temas trabalhados ao longo da
dissertação, destacamos: reestruturação produtiva; modo de produção capitalista; globalização
econômica; reestruturação produtiva e relações de trabalho; mundo do trabalho; produção do
espaço; relação entre espaço e atividades produtivas; dinâmicas socioespaciais e territoriais;
reestruturação produtiva da agropecuária; modernização da agricultura; modo de produção
capitalista no campo; contexto produtivo da avicultura no Brasil; reestruturação produtiva da
3 O conceito de território está sendo tomado aqui sob o ponto de vista da Geografia Econômica, que para
Haesbaert e Limonad (2007) abarca sobretudo a divisão territorial do trabalho, as classes sociais e as relações de
produção, e tem como principais agentes as empresas, os trabalhadores e os Estados.
23
avicultura; modernização da produção avícola; relações sociais de produção na avicultura;
avicultura e dinâmicas territoriais; contexto produtivo da avicultura no Ceará; e organização
da avicultura cearense. Na sequência, organizamos um quadro-síntese com a indicação dos
principais autores e obras que foram privilegiados para o entendimento de cada um desses
conceitos, noções e temas.
Quadro 1 – Síntese do referencial teórico
Conceitos, noções e temas Principais autores e obras
Reestruturação produtiva; Modo de produção
capitalista; Globalização econômica
Alves (2008); Benko (2002, 2006); Gomes
(2011); Harvey (1992, 2005, 2004, 2014);
Santos (2003); Soja (1993)
Reestruturação produtiva e relações de
trabalho; Mundo do trabalho; Relações
sociais de produção
Alves (2007); Antunes (1999); Bezerra e
Elias (2011); Lefebvre (1973); Leite (2005);
Tomaz Júnior (2002, 2005)
Produção do espaço; Relação entre espaço e
atividades produtivas; Dinâmicas
socioespaciais e territoriais
Corrêa (1991ab); Lefebvre (1973, 1991);
Moreira (2009); Santos (1985, 1994, 1996,
2008, 2009); Harvey (2005); Santos e
Silveira (2001);
Reestruturação produtiva da agropecuária;
Modernização da agricultura; Modo de
produção capitalista no campo
Aracri (2012); Bernardes (2006); Delgado
(1985); Elias (2003, 2006, 2007b);
Gonçalves Neto (1997); Martins (1995);
Mazzali (2000); Oliveira (1999, 2007, 2010,
2015); Silva (1988, 1996, 2003); Silveira
(2005)
Contexto produtivo da avicultura no Brasil;
Reestruturação produtiva da avicultura;
Modernização da produção avícola
Arashiro (1989); Canever et al.(1997); Díaz
(2007); Evangelista et al.(2008); França
(2000); Godoy (1999); Martins (1996);
Oliveira et al.(2008); Oliveira (2007); Ortega
(1988, 2000); Rizzi (1993, 2004); Santini
(2004); Silva (2016); Sorj, Pompermayer e
Coradini (1982); Vieira (2005).
Relações sociais de produção na avicultura;
Avicultura e dinâmicas territoriais
Belusso (2010); Belusso e Hespanhol (2010);
Espíndola (1999); Mizusaki (2003, 2009);
Oliveira (2010); Paulino (2012);
Tsukamoto (2000);
Contexto produtivo da avicultura no Ceará;
Organização da avicultura cearense;
Produção agropecuária e agroindustrial no
Ceará
Ceag (1978); Bomtempo (2013); Elias (2002,
2005, 2007a); Evangelista et al.(2008); Lima
(2002); Oliveira (2005); Sousa (2013)
Fonte: Autoria própria (2016).
No âmago do processo de produção do conhecimento científico, faz-se necessário
a construção dos caminhos a serem percorridos pela pesquisa, o seu planejamento e
operacionalização, para se garantir o alcance dos objetivos propostos. Para tanto, uma série de
procedimentos metodológicos foram realizados para que fosse possível a compreensão do
nosso objeto de estudo. Com isso, para atingirmos os objetivos propostos com a realização da
24
pesquisa, nossa pesquisa foi operacionalizada a partir de dois temas basilares que estão
assentados em categorias analíticas e conceitos que deram a sustentação teórica ao estudo,
apresentados anteriormente. Os temas que guiaram nosso percurso metodológico foram:
reestruturação produtiva da agropecuária e relações sociais de produção. A partir da definição
prévia desses dois temas, tivemos como nos organizar para a operacionalização metodológica
da pesquisa, composta por levantamento bibliográfico e documental, levantamento de dados,
organização de hemeroteca e realização de trabalhos de campo, descritos na sequência.
O levantamento de material bibliográfico e documental, tais como livros, artigos,
monografias, dissertações, teses, documentos, periódicos, relatórios, teve como objetivo a
organização do banco de bibliografias que abordam assuntos e temas relacionados direta e
indiretamente com o temário do estudo. Na busca do material foram consideradas as seguintes
palavras-chave: agroindústria, complexos agroindustriais, redes agroindustriais, agronegócio,
industrialização da avicultura, reestruturação produtiva da agropecuária, avicultura, produção
avícola, agroindústria avícola, mercado avícola, comércio avícola, comércio de ovos,
comércio de frango, consumo de carne, produção de ovos, consumo de ovos, produção de
frango, consumo de frango, uso corporativo do território, circuitos espaciais da produção,
círculos de cooperação, globalização, pesquisa científica agropecuária, mercado de trabalho
agropecuário, sistemas de movimento, entre muitos outros.
Pesquisas foram realizadas em bibliotecas localizadas em Fortaleza, tais como a
biblioteca do Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB), da Universidade Estadual do
Ceará (UECE) e da Universidade Federal do Ceará (UFC), além das bibliotecas da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Biblioteca Nacional, durante missão de
estudos no Estado do Rio de Janeiro. Em outro momento, foram realizadas pesquisas na
internet em sites como Google Acadêmico, Portal do Domínio Público, Portal de Periódicos
da CAPES4, Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), Diretórios de
Grupos de Pesquisa do CNPq, entre outros bancos de trabalhos científicos disponíveis.
Já o levantamento de dados foi uma atividade de suma importância e que foi
executado durante todo o decorrer da pesquisa. A seleção de variáveis e indicadores de
interesse colaborou para a coleta de dados primários e secundários. Procedemos com a
sistematização dos dados quantitativos em séries estatísticas e posteriormente com a
organização de gráficos, tabelas e quadros, muitos dos quais inseridos ao longo de toda a
4 No Portal de Periódicos da CAPES foram encontrados 701 trabalhos relacionados com a palavra-chave
“avicultura”, dentre os quais 47 trabalhos sobre a avicultura a partir de uma abordagem geográfica.
25
dissertação, contribuindo para a análise de nosso objeto. As variáveis levantadas se referem à
organização produtiva da avicultura no Brasil e no Ceará, apresentando dados tais como
quantidade de ovos e carne de frango produzida, total de efetivos de aves, exportações de
ovos e carne de frangos, mercado de trabalho avícola, entre muitos outros dados. Dessa
forma, através dos levantamentos realizados nas fontes secundárias, pudemos dimensionar o
lugar da avicultura na produção agropecuária cearense e brasileira.
Obtivemos dados os quantitativos principalmente junto ao Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), através dos Censos Agropecuários de 1985, 1995-1996 e 2006
e da Produção Agrícola Municipal (PPM). Nos Censos Agropecuários obtivemos dados com
relação ao efetivo de galinhas, galos, frangas, frangos e pintos nos estabelecimentos
agropecuários; número de estabelecimentos agropecuários com galinhas; produção, valor da
produção e venda de ovos de galinhas; compra de ovos para incubação. Já na Pesquisa
Pecuária Municipal, levantamos dados sobre efetivos de aves e produção de ovos por
municípios, Estados, regiões e país. Ainda no IBGE, através da Pesquisa Trimestral do Abate
de Animais, captamos informações sobre o número de estabelecimentos que abatem frangos,
quantidade e peso total das carcaças dos frangos abatidos, e da Produção de Ovos de Galinha
conseguimos dados mais específicos quanto ao número de estabelecimentos com galinhas
poedeiras, número de galinhas poedeiras e quantidade de ovos produzidos.
Além do IBGE, nossa busca de dados também se concentrou no Ministério do
Trabalho e Emprego (MTE), através da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), que
fornece informações sobre o mercado de trabalho formal no setor avícola, bem como o
número de estabelecimentos voltados para o setor; e no Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior (MDIC), através da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX),
que fornece dados sobre as exportações da produção avícola. Além desses, os relatórios
anuais da Associação Brasileira de Proteína Animal (APBA) e da Associação Cearense de
Avicultura (ACEAV) também foram igualmente importantes para a obtenção de dados,
especialmente acerca de variáveis não trabalhadas pelos órgãos oficiais de pesquisa.
A partir dessas fontes e da disponibilidade de dados, alguns municípios foram
priorizados na análise da totalidade do Estado do Ceará, tendo em vista a escala do recorte
espacial como estratégia de apreensão e representação da realidade. Tal escolha não abandona
a importância de uma análise multiescalar. Assim, foram priorizados os municípios que
apresentam algumas características capazes de justificar a realização dos trabalhos de campo
nestes. A priori, foram considerados alguns indicativos como fundamentais para a seleção dos
municípios: efetivo de galinhas, galos, frangas, frangos e pintos; variação relativa dos efetivos
26
em um período de 20 anos; número de galinhas poedeiras e quantidade de ovos produzidos;
localização dos principais fixos relacionados à atividade avícola, sobretudo das principais
empresas do setor, entre outros.
Com base nisso, temos um recorte que engloba sobremodo a Região
Metropolitana de Fortaleza (RMF), que compreende atualmente os municípios de Aquiraz,
Cascavel, Caucaia, Chorozinho, Eusébio, Fortaleza, Guaiuba, Horizonte, Itaitinga,
Maracanaú, Maranguape, Pacajus, Pacatuba, Paracuru, Paraipaba, Pindoretama, São Gonçalo
do Amarante, São Luís do Curu e Trairi, representada no mapa a seguir. Tal recorte espacial
tem como justificativa a representatividade da produção avícola da RMF no Estado no Ceará,
especialmente no que tange aos processos de controle da produção avícola estadual e dada a
origem da atividade nos moldes praticados atualmente ter despontado a partir da capital
cearense e de cidades circunvizinhas. Nesse sentido, nossa análise se refere a todo o Estado do
Ceará, de um modo geral, mas volta-se sobremodo para a Região Metropolitana de Fortaleza,
em razão desta ser a principal região de produção avícola no contexto cearense, onde
concentramos nossos trabalhos de campo.
Optamos como recorte temporal especialmente as duas últimas décadas, o período
que compreende o ano de 1995 até 2015, como forma de compreender os processos atuais que
envolvem as dinâmicas territoriais dentro do panorama geral da avicultura. Porém, tal análise
procura não esquecer o conteúdo temporal, histórico do processo, uma vez que “[...] o ato de
produzir é concomitantemente o ato de produção do espaço, é nesse sentido que o geógrafo
analisará o processo de produção: enquanto processo social e histórico, produtor do espaço
geográfico” (ROSSINI, 2009, p. 09). Assim, nossa reflexão não vem se resumindo apenas no
período mais recente, já que temos a intenção de fazer um resgate histórico da produção
avícola no Estado, uma vez que já nos anos 1950 o setor avícola dava indícios de seu
desenvolvimento no Ceará, conforme será explanado ao longo da dissertação.
27
Fonte: IPECE, 20155.
Outra atividade importante e que contribuiu para a obtenção de dados, e sobretudo
de informações acerca das empresas que atuam na avicultura cearense, foi a organização de
uma hemeroteca, que consistiu no agrupamento de matérias jornalísticas divulgadas na mídia
acerca de temas de interesse para a pesquisa. A hemeroteca foi realizada a partir de buscas nos
sites de jornais (especialmente dos principais jornais cearenses O Povo e Diário do Nordeste),
revistas e portais de notícias especializadas, associações, instituições públicas, por meio de
palavras-chaves como: agroindústria, avicultura cearense, produção avícola, agroindústria
avícola, mercado avícola, comércio avícola, comércio de ovos, comércio de frango, consumo
de carne, produção de ovos, consumo de ovos, produção de frango, consumo de frango, além
dos nomes das empresas avícolas. Muitas das informações obtidas com a hemeroteca estão
inseridas ao longo do corpo do texto da dissertação.
Por fim, outra atividade fundamental foi a realização dos trabalhos de campo.
Durante o reconhecimento empírico do objeto, através do planejamento e da execução de
5 IPECE. Disponível em: <http://www2.ipece.ce.gov.br/atlas/>. Acesso em: 13 jul. 2016.
Mapa 1– Municípios da Região Metropolitana de Fortaleza
28
trabalhos de campo, com visitas técnicas em agroindústrias, instituições de administração
pública, associações, cooperativas e sindicatos ligados ao setor, foram aplicados questionários
e realizadas entrevistas semiestruturadas no intuito de obter dados primários que auxiliaram
na compreensão empírica dos agentes envolvidos na atividade, das etapas do circuito espacial
produtivo avícola, da divisão do trabalho no setor, das relações socioespaciais de produção
envolvidas na atividade avícola cearense, entre outros. Através do campo, pudemos ampliar
consideravelmente nosso conhecimento acerca do objeto, e com isso fomentar a discussão
acerca da reestruturação produtiva da avicultura e seus principais rebatimentos territoriais. Foi
possível também montar acervo fotográfico, que facilitou a análise de alguns processos.
Durante os trabalhos de campo pudemos visitar efetivamente duas unidades
produtivas do Grupo Cialne, incluindo a sede da empresa e uma fazenda localizada no
município de Guaiuba, as unidades produtivas da empresa Emape no município de
Maracaraú, o Sindicado dos Trabalhadores na Avicultura no Estado do Ceará (SINDIAVES) e
algumas pequenas produções avícolas dispersas pela RMF (Aquiraz, Cascavel, Eusébio,
Fortaleza, Guaiuba, Maracanaú e Maranguape). Além disso, participamos de eventos
relacionados ao setor, como a PecNordeste6, onde pudemos entrevistar alguns produtores,
visitamos algumas instituições também relacionadas ao setor, como o Banco do Nordeste e
Secretaria do Desenvolvimentos Agrário.
Nos municípios onde foram realizados os trabalhos de campo, aplicamos
entrevistas semiestruturadas com agentes representantes de empresas avícolas, associações,
sindicatos, pequenos produtores avícolas e aplicação de questionários a trabalhadores do
setor. No total, realizamos duas entrevistas com agentes representantes de empresas, uma
entrevista com representantes da associação dos produtores avícolas, duas entrevistas com o
representante do sindicato de trabalhadores na avicultura, treze entrevistas com pequenos
produtores avícolas, doze entrevistas com moradores residentes próximos às unidades
produtivas e aplicamos sete questionários a trabalhadores do setor avícola. Nos apêndices,
incluímos alguns dos modelos das entrevistas que realizamos.
Todavia, nosso trabalho deparou-se com o problema sobretudo de obtenção de
dados primários junto às empresas do setor avícola cearense e à associação representante
desses produtores, dificultando o levantamento de informações diretamente nas fontes de
produção através de visitas às empresas consideradas mais importantes na produção avícola
6 A PecNordeste é mais tradicional e mais importante feira agropecuária realizada Ceará e voltada também para
o setor avícola. A feira é realizada anualmente em Fortaleza, sendo organizada pela Federação da Agricultura e
Pecuária do Estado do Ceará (FAEC) e pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Em 2016,
a PecNordeste chegou a sua 20ª edição.
29
local. Esta dificuldade geralmente enfrentada pelos pesquisadores torna-se mais séria quando
necessita-se de dados primários a serem colhidos diretamente e posteriormente sistematizados
no estudo. Tornou-se, portanto, difícil apresentar parâmetros que pudessem demonstrar a
relevância da avicultura na economia agropecuária do Ceará de forma mais precisa, bem
como o papel que as grandes empresas do setor têm no controle da atividade avícola cearense.
Nesse sentido, resgatamos Bomtempo (2011, p. 37) ao dizer que
[...] fazer pesquisa de campo no Brasil, sobretudo na área industrial, é um tanto
difícil, ainda mais se a mesma for realizada em ambientes onde predominam
empresas de um mesmo ramo produtivo e que não têm embutida a ideologia da
cooperação, pelo contrário, o que predominam são acirradas competições por
disputas de mercado.
Apesar dessa dificuldade de obter dados juntamente com as empresas e realizar
trabalhos de campo nestas, ainda assim conseguimos uma série de informações, obtidas
sobretudo na internet e com as poucas entrevistas que pudemos realizar com os representantes
do setor.
Em termos de estruturação, esta dissertação se divide em três capítulos, além desta
introdução e das considerações finais, ao longo dos quais apreendemos elementos que
fundamentaram a discussão sobre a configuração geográfica da avicultura cearense,
destacando o processo de reestruturação produtiva avícola e as principais dinâmicas
territoriais observadas no setor. Ao longo do trabalho, acreditamos ser possível evidenciar a
forma pela qual o espaço é organizado em prol da atividade avícola, mediante a nova
configuração socioespacial observada no setor a partir da reestruturação produtiva em curso,
responsável por dinamizar os usos do espaço e modificar a configuração territorial já
previamente estabelecida antes do desenvolvimento dessa atividade.
No segundo capítulo, sentimos a necessidade de apresentar novamente, assim
como fizemos na pesquisa monográfica, o panorama da produção avícola brasileira de forma
mais atualizada, tendo como embasamento a configuração da economia mundial a partir da
reestruturação produtiva do capital e a relação com a reestruturação produtiva da agropecuária
no âmbito nacional. Também retornamos ao debate acerca da reestruturação socioespacial da
agropecuária brasileira em relação com o processo de reestruturação produtiva do capital
devido à importância para a pesquisa da discussão acerca da produção do espaço agropecuário
por meio da reprodução do capital e do próprio modo capitalista de produção, que ensejam,
através das ações hegemônicas, mudanças no espaço e na sociedade. Apresentamos também
um panorama sobre a avicultura no mundo e no Brasil, no qual debatemos as dinâmicas
30
socioespaciais envolvidas na produção avícola e como se dá a sua espacialização atualmente,
observando as principais transformações no setor e evolução da produção. Indicamos ainda os
processos que ensejaram a reestruturação da produção avícola, como a modernização da
produção e a expansão do consumo, além dos agentes envolvidos no setor, destacando o papel
das grandes empresas avícolas.
O terceiro capítulo traz uma explanação sobre a configuração socioespacial da
avicultura cearense. Foi importante fazer uma contextualização histórica do desenvolvimento
da produção avícola do Estado do Ceará e a sua inserção no panorama de reestruturação
produtiva da agropecuária brasileira, além de demonstrar qual o papel dessa atividade na
composição geral do espaço agropecuário cearense. Além disso, demonstramos como a
avicultura cearense vem se reorganizado e se espacializando no território cearense, através da
análise sobre o contexto metropolitano em que se estabelece a produção avícola no Ceará,
uma vez que a atividade ocorre de forma preponderante em municípios que constituem a
Região Metropolitana de Fortaleza. Procurou-se também discutir acerca do processo de
territorialização do capital avícola cearense, mediante a caracterização das principais
empresas do setor, refletindo acerca do seu papel e seu poder na regulação da avicultura
cearense.
Já no quarto capítulo, dissertamos sobre como se dá a reorganização das relações
sociais de produção a partir da produção avícola e as relações de poder envolvidas nesse
processo. O objetivo foi discutir como o uso e a organização do espaço da produção e da
reprodução do capital avícola modificaram as relações de produção. Nesse contexto,
analisamos a reconfiguração das relações sociais de produção a partir da reestruturação
produtiva da atividade no Ceará. Com isso, demonstramos como as mudanças na base técnica
e científica da produção, provenientes do processo de aprofundamento da globalização da
economia, transformaram as formas gerais de organização da produção avícola cearense. A
partir disso, pudemos discutir sobre como os agentes hegemônicos da produção avícola fazem
o uso corporativo do território, por meio de uma alta seletividade espacial, e monopolizam a
produção através das redes de produção do conhecimento e das relações de poder. Diante
dessa configuração, também pudemos refletir sobre relações de trabalho associadas às novas
formas de produção na avicultura cearense e as perspectivas diante do atual quadro de
progressivas modificações que poderão ensejar ainda novas dinâmicas territoriais nesse setor
produtivo.
31
2 A AVICULTURA NO CONTEXTO DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA
2.1 PANORAMA DA AVICULTURA MUNDIAL E BRASILEIRA
Historicamente, a produção de aves, ou vulgarmente a “criação de galinhas”,
sempre teve papel de grande importância para a sociedade. Há relatos de que as primeiras
criações foram originárias do continente asiático, onde os animais tinham papel sobretudo de
ornamentação das residências, cujo consumo ainda não era muito difundido tal qual é
observado atualmente. É apenas somente a partir do século XIX que os ovos e a carne
passaram a ser amplamente consumidos pela população, e, a partir disso, a atividade de
criação de aves passou a ter maior relevância no contexto produtivo mundial, sendo inserida
diretamente nos “[...] circuitos globalizados da produção e consumo de produtos
agropecuários” (ELIAS, 2003, 2006), quando a produção e o consumo de aves se difundiu por
todos os continentes do planeta, passando a ser produzidas em moldes industriais e
empresariais7 e se distanciando de um cultivo mais tradicional, que mesmo assim ainda
assumia um significativo destaque.
Rizzi (1993) ressalta que o desenvolvimento da indústria avícola se intensificou
sobremodo a partir de 1940, quando vários países do mundo se envolveram na II Guerra
Mundial (1939-1945). Conforme aponta, até então a produção de frangos era uma atividade
basicamente artesanal, pois os criadores não tinham conhecimento dos cuidados necessários
quanto à nutrição de aves e os procedimentos técnicos voltados para a criação destas. Nesse
sentido, apesar de a atividade avícola já ser praticada anteriormente, foi somente durante a II
Guerra Mundial que se deu o desenvolvimento da avicultura com o incentivo necessário para
sua definitiva consolidação, realizada atualmente também sob os moldes industriais, com uma
intensa utilização de técnica, capital e trabalho, através de uma significativa racionalização do
processo produtivo avícola.
Até então, a avicultura era uma atividade basicamente artesanal e de pouca
importância. Os produtores não tinham conhecimento técnico quanto à sanidade, nutrição e
manejo das aves e, portanto, a atividade apresentava baixa produtividade, com uma elevada
mortandade dos animais. Com a Guerra, destaca Rizzi (1993), houve a necessidade de
7 Dando origem ao que se conhece hoje como “avicultura industrial” ou “avicultura empresarial”, que é aquela
praticada com uma utilização intensiva de capital, trabalho e tecnologias, sobretudo produzindo carne e ovos em
larga escala, diferentemente da “avicultura tradicional”, que ainda persiste.
32
aumentar a produção de carnes alternativas e de baixo custo, de preferência pequenos animais,
que estivessem prontos para o consumo, em um curto espaço de tempo, destinados aos
soldados em combate e às populações refugiadas nos campos e nas cidades afetadas pela
guerra. Desta maneira, nos Estados Unidos, começou-se o desenvolvimento de pesquisas para
obter novas linhagens de frangos, medicamentos específicos para a avicultura e novas
fórmulas de rações que atendessem aos requerimentos nutricionais das aves, haja vista o
grande potencial para o seu consumo especialmente nos países europeus, prontamente
atendido por produtores e industriais estadunidenses. O mesmo ocorreu no pós-guerra, em
outros países da Europa, segundo uma publicação do BNDES (1995).
Desta maneira, o consumo de aves tem evoluído de forma expressiva e a produção
de carne e ovos aumentou rapidamente, uma vez que os avanços tecnológicos que foram
obtidos a partir dos resultados das pesquisas científicas deram impulso para uma rápida
expansão industrial da avicultura em vários países ao redor do mundo, mas especialmente nos
Estados Unidos. O encurtamento do ciclo de produção, a maior eficiência produtiva e a
consequente redução do custo da carne de aves, o ativismo de consciência alimentar
privilegiando as carnes brancas, a diversidade de produtos derivados e o crescente uso dessas
carnes no preparo e processamento industrial de outros produtos explicam essa evolução da
produção e do consumo mundial da avicultura (FAO apud BNDES, 1995, p. 03).
A substituição das carnes vermelhas pelas brancas, principalmente pelo frango,
nos países mais desenvolvidos, decorreu de uma forte queda de seu preço relativo, resultado
da aplicação de técnicas na avicultura para obtenção de maior eficiência do seu sistema
produtivo, ainda segundo o BNDES (1995). Além disso, mais recentemente, em função da
busca por uma dieta teoricamente mais saudável e equilibrada, com base em valores atrelados
a um novo enfoque sobre saúde, as carnes brancas e os ovos têm sido mais valorizados,
conforme indicam Ribeiro e Corção (2013), o que também fez aumentar a produção e o
consumo desses produtos. Desse modo, o consumo de carne de frango e ovos vem sendo
responsável por mudanças nos hábitos alimentares ao redor do mundo, alavancando
consideravelmente sua produção.
Sorj, Pompermayer e Coradini (1982) informam que a carne de frango industrial
era consumida por uma pequena quantidade de pessoas, geralmente de classe média. Mais
tarde, segundo os autores, com o movimento decrescente dos preços em relação aos da carne
bovina e uma oferta eficiente do produto, viabilizou-se a elevação do consumo de carne de
frango, tornando-se a mais popular. As empresas avícolas conseguiram tirar proveito das
mudanças nos hábitos de consumo, lançando produtos de preparo rápido e embalagens com
33
diferentes quantidades, além do preço mais baixo em relação ao da carne bovina e suína, e da
diversidade e praticidade dos produtos oferecidos, associados ao conceito de um produto
“saudável”.
Assim, mesmo no mercado doméstico, o consumo de cortes elaborados vem
tirando espaço do frango inteiro. Nesse sentido, segundo Díaz (2007), a caracterização do
consumo da carne de frango, em alguns países, é vista de forma que as camadas de renda mais
baixas são os consumidores que expandem seu consumo pelo fator renda. Nessas camadas, as
carnes, cuja produção oferece condições de reduzir seu custo e, consequentemente, o preço
final do produto, levam grande vantagem. Um exemplo disso é o da carne de frango, que teve
uma considerável expansão do consumo per capita nas últimas décadas, como já indicamos.
Associado a isso, o consumo do frango industrial produziu modificações nos
hábitos de consumo popular. Anteriormente, o frango caipira era o preferido pelo consumidor,
que considerava o frango industrial inferior. Sorj, Pompermayer e Coradini (1982) destacam
que o frango industrial se impõe primeiro nos supermercados, e com um público
fundamentalmente de classe média. Com o tempo, seja por oferta sistemática na maioria dos
centros de vendas de carnes, seja pelo preço relativamente inferior à carne de boi, ou mesmo
pelo marketing relacionado à maior saudabilidade, a carne de frango terminou por ingressar
inclusive no consumo popular, impulsionando o crescimento no número de empresas voltadas
para atender à demanda do consumo avícola, como observado atualmente no Ceará, por
exemplo, conforme será demonstrado no capítulo seguinte.
Nesse sentido, a carne de frango vem conquistando grande espaço na alimentação,
especialmente da população brasileira, uma vez que tal produto apresenta cotação de preço
menor em relação à carne suína e bovina, apresenta bons aspectos nutricionais como a baixa
porcentagem de gordura, rico teor de proteína e contém baixa taxa de colesterol. De acordo
com Silva (2016), também é notado que nos últimos anos a indústria vem procurando elaborar
novos meios de consumo da carne de frango através de produtos semiprontos. A partir disso,
é observado que ano após ano há crescentes incrementos no consumo per capita da carne de
frango. O consumo per capita é crescente no Brasil. A média per capita de consumo de carne
de frango atingiu índice de 43,25 quilos em 2015, saldo 1,1% maior que o obtido no ano
anterior, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA)8.
Ainda segundo Silva (2016), espera-se que, com o aumento da população mundial
e a crescente urbanização nos países emergentes, o consumo de proteína animal aumente,
8 ABPA. Disponível em: <http://abpa-br.com.br/>. Acesso em: 13 jul. 2016.
34
principalmente a carne de frango. No entanto já se observa a crescente preocupação das
empresas em agregar valor ao produto final na tentativa de alcançar maiores ganhos, através
de novas técnicas comerciais como cortes selecionados, food service, desossa, produtos
semiprontos, etc. Além disso, mudanças no estilo de vida da sociedade impulsionaram a
adaptação da agroindústria avícola às novas necessidades e preferências dos consumidores. E,
assim, novos mercados foram conquistados com a disponibilidade de produtos mais
elaborados, com maior valor agregado, possibilitando ainda mais o aumento do consumo de
frango. A esse respeito, Ortega (2000, p. 39) afirma que
[...] esse aumento no consumo de frango, nas últimas décadas, é decorrente de
diversos fatores: de um lado, as estruturas produtivas e de distribuição vêm
possibilitando elevadas taxas de conversão de proteína vegetal em animal, a custos
cada vez mais baixos. De outro, do ponto de vista da demanda, há vários fatores,
como: a) mudanças nos hábitos alimentares, em virtude da preocupação com a
redução do consumo de carnes de elevados teores de gordura, o que favorece a
avicultura; b) motivos religiosos, dado o crescimento do número de adeptos de
religiões e seitas que restringem o consumo de proteína animal a poucos animais; e
c) produto com baixo preço e produzido em larga escala, capaz de atender mercados
gigantescos.
Para Rizzi (1999), as alterações no consumo e aumento relativo do mercado de
carnes de frango, devem-se à ampliação da escala de produção e inovações tecnológicas em
sua cadeia produtiva, enquanto as outras carnes permanecem ainda, com raras exceções,
relativamente atrasadas em termos de tecnologia de processo e de matérias-primas. Portanto, a
reestruturação da indústria avícola permitiu reduzir substancialmente custos e preços, bem
como criar variedades de produtos com maior potencial de difusão e ampliação de mercados.
Assim, associado a essa alteração dos hábitos alimentares, especialmente nas últimas décadas,
verificamos uma reestruturação de diversos sistemas de produção, principalmente para
atender à forma de produção da agropecuária globalizada, tanto no plano mundial como no
nacional, segundo afirma Elias (2003). Dentre eles estão os voltados à produção avícola, que
vêm se desenvolvendo de forma acelerada.
Nesse sentido, as mudanças ocorridas no plano global quanto às formas de
produção, industrialização e comercialização, bem como no consumo de produtos de origem
animal, acarretaram no forte dinamismo que a produção avícola fomentou nos seus fatores
produtivos e comerciais desde a década de 1970. Com o tempo, a avicultura tornou-se uma
das maiores indústrias do setor de carnes em todo o mundo, e a indústria do ovo é igualmente
robusta, haja vista que tanto a produção de carne quanto a produção de ovos integram o
35
seguimento da avicultura industrial, e ambas vêm passando por transformações, como
aprofundaremos melhor no subcapítulo que se segue a este.
A abertura do mercado com o neoliberalismo, impulsionada não só por forças
políticas, mas também por um movimento dinâmico global, como se refere Harvey (2014),
colocou as empresas da avicultura sob pressão de novas forças competitivas. Esse processo
estabeleceu um novo ambiente, em que a adequação contínua às mudanças apresentava-se
como condição essencial para manutenção da capacidade de sobrevivência e desenvolvimento
das organizações. O progresso tecnológico acentuado e os próprios fatores competitivos
existentes, como aspectos culturais, sociais e ambientais, impuseram a movimentação das
indústrias para uma adaptação estratégica permanente, conforme asseguram Sorj,
Pompermayer e Coradini (1982) e Martins (1996), indicando as grandes transformações
observadas no setor.
Nesse contexto, segundo indicam os autores citados, a indústria avícola passou a
empregar estratégias que possibilitaram a implementação de competência técnica e
operacional, envolvendo produto, processo e distribuição, para enfrentar a competição dentro
do novo mercado global e assegurar sua capacidade de permanência e expansão. A
agroindústria avícola apresenta uma integração vertical nos elos do seu “[...] circuito espacial
produtivo” (SANTOS, 1994, 1996) e grande difusão tecnológica em termos de técnicas de
manejo e produtos-insumos, uma vez que a avicultura vem experimentando significativas
mudanças estruturais e incorporando novas tecnologias, alterando as características e o
movimento da geografia da produção avícola ao redor do mundo, trazendo rebatimentos até
mesmo para o contexto produtivo observado no Brasil, de uma maneira geral, conforme
descreveremos na sequência, e no Ceará, mais especificamente, conforme demonstraremos
nos capítulos seguintes.
Nesse sentido, faz-se importante compreender a evolução da produção avícola no
Brasil, destacando sua contextualização histórica, seu papel frente ao circuito global de
produção e consumo avícola, seu comportamento da avicultura industrial, entre ouros. Para
isso, baseamo-nos sobretudo nos trabalhos de Arashiro (1989), Sorj, Pompermayer e Coradini
(1982), Rizzi (1993, 1999) e Ortega (2000), que estão entre os principais autores que discutem
a evolução e a contextualização histórica da avicultura brasileira. São apresentados, ainda,
alguns dados que permitem compreender o lugar que o Brasil ocupa no contexto mundial da
avicultura industrial, especialmente no que tange às quantidades produzida e exportada.
Segundo consta, as primeiras aves domesticadas foram trazidas ao Brasil pelos
portugueses que aqui começaram a chegar a partir de 1500. De acordo com Arashiro (1989, p.
36
18), “[...] ainda na época colonial, foram introduzidas no Brasil as raças orientais e asiáticas,
que os portugueses trouxeram de suas viagens às Índias e ao Oriente. Estas, cruzando-se com
as aves aqui existentes, modificaram completamente seu tipo, dando origem à galinha
crioula”. Por muito tempo, a avicultura praticada no Brasil possuía apenas caráter ornamental,
objetivando a participação em concursos e exposições, para venda ou permuta entre criadores.
Nem se pensava na quantidade ou mesmo qualidade de ovos, tampouco no frango para abate.
Ainda segundo Arashiro (1989), posteriormente, tais aves foram criadas de
maneira mais extensiva em fazendas com o intuito de produzir carnes e ovos para os
moradores especialmente da zona rural, bem como da zona urbana, em crescimento. Dessa
forma, os primeiros passos da avicultura brasileira foram dados por produtores familiares,
presentes até hoje em várias regiões do país. A atividade praticada no país, e por um longo
tempo, era composta até então principalmente por animais rústicos, como os das linhagens
“caipiras”, não sendo conhecido ainda o “frango de granja”. A produção avícola, juntamente
com outras atividades (como leite, ovos, carnes bovina e suína), era inicialmente voltada à
subsistência, fazendo a comercialização apenas dos excedentes, sendo assim responsável pela
geração de renda das propriedades.
A avicultura de postura, voltada para a produção em larga escala de ovos, iniciou-
se em São Paulo, com a chegada dos primeiros imigrantes japoneses. Entre 1900 e 1930
foram importadas as primeiras galinhas de raça pura e depois disso a avicultura tornou-se
rapidamente comercial, e já na década de 1930 havia informações sobre exportação de ovos
brasileiros (ARASHIRO, 1989). A partir disso, a avicultura organizada pelo “Estado Novo”
evidenciava o interesse político na estruturação e ampliação da atividade no Brasil, por meio
de decretos e investimentos no setor. Assim, em 1933, a partir de providências tomadas pelo
então presidente Getúlio Vargas, conseguiu-se alavancar a exportação de ovos, por exemplo.
Em 1938, Vargas assinou o decreto-lei n. 3.467, de 17 de dezembro de 1939, instituindo o
regulamento de inspeção sanitária, classificação, conservação e embalagem de ovos
destinados ao comércio exterior, o que se constituiu em uma das medidas de mais largo
alcance, posta em prática pelo Estado Novo, em favor da avicultura brasileira até então
(ARASHIRO, 1989, p. 132).
Segundo informa Arashiro (1989, p. 132-133), de acordo com esse decreto, só
poderiam ser exportados ovos com um certificado de sanidade expedido pela Divisão de
Inspeção de Produtos de Origem Animal, do Ministério da Agricultura, comprovando a
qualidade e a frescura destes, requisitos essenciais para que o produto pudesse despertar o
interesse dos centros consumidores e para manter alguma estabilidade das exportações. O
37
espírito do decreto assinado por Getúlio Vargas foi, principalmente, de garantir uma larga
expansão do produto no exterior, através de um rigoroso controle comercial e sanitário por
parte do Governo Federal, exigência de grande importância para os mercados importadores.
Ainda segundo o autor citado, como resultados obtidos a partir dessa direta
intervenção no Estado no desenvolvimento da avicultura brasileira, as exportações de ovos
atingiram altas cotações no mercado de Londres, apenas pouco abaixo das cotações dos ovos
da Dinamarca, já largamente conceituada naquela época pela sua excelência em qualidade.
Em 1937, foram exportados 102.100 quilos de ovos. Em 1938, esse total subiu para 193.360
quilos, reflexo da ação do decreto do Estado Novo. Em 1939, embora a exportação total desse
produto decrescesse em virtude do início da II Guerra Mundial, foram enviados para o
exterior 167.861 quilos de ovos (ARASHIRO, 1989, p. 134).
Tal aprovação abriu novas possibilidades ao comércio exportador de ovos no
Brasil, garantindo o apoio de Governo Federal e, ao mesmo tempo, assegurou aos mercados
estrangeiros a perfeita integridade do produto brasileiro, o que demonstra como desde o
princípio da subordinação da avicultura nacional ao capital comercial, esta já se voltava em
termos de produção a atender aos padrões do mercado internacional. Fica nítido, nesse
sentido, a expressiva vinculação do Estado com o setor produtivo, especialmente a avicultura
industrial, evidenciando a intrínseca intervenção que o Estado sempre desempenhou no
desenvolvimento da agropecuária brasileira, conforme analisado por Gonçalves Neto (1997).
Depois disso, já entre 1940 e 1950, teve início a avicultura industrial de abate em
Santa Catarina, com a instalação das empresas Sadia e Perdigão, voltadas para a produção
especialmente de carne de frango, como descreve Arashiro (1989). Depois disso, houve uma
difusão da produção avícola, com a expansão da atividade para o Centro-Oeste e o Norte. Já
em meados de 1959, as aves estavam sendo abatidas, comumente, em estabelecimentos
industriais e em postos de abate anexos às granjas. Os abatedouros de aves funcionavam
também como matadouros de pequenos animais como suínos, caprinos, ovinos e coelhos. As
instalações, ainda muito simplórias e precárias, compreendiam depósito ou curral, sala de
matança, sistema de refrigeração e sistema de distribuição (ARASHIRO, 1989, p. 154).
Assim, o complexo avícola brasileiro começou com a introdução de raças híbridas
no país, na década de 1940, que se intensificou somente no início da década de 1960, com a
implantação de galpões de mil frangos e a instalação de filiais de empresas estadunidenses e
canadenses produtoras de avós matrizeiras9. Para a produção local de matrizes, essas
9 As matrizes são as aves que produzem os híbridos, os pintinhos de um dia, resultantes de diversos cruzamentos,
e que são utilizados na criação comercial de frangos de corte e de galinhas poedeiras, formando, assim, os
38
empresas trouxeram ao Brasil suas linhagens de avós e intensificaram sua distribuição no
país, que estava restrita a poucas regiões e atendia à demanda de criação de “fundo de
quintal”. Estas empresas ofereciam também todo um pacote tecnológico para viabilização da
produção avícola a partir das suas linhagens, como observa Ortega (1988). Com isso,
começava-se a viabilizar a produção avícola em larga escala no Brasil para a produção seja de
ovos, seja de carne.
Assim, de acordo com Sorj, Pompermayer e Coradini (1982), a avicultura no
modelo industrial no Brasil pode ter como marco inicial o final da década de 1950, quando
houve a substituição da forma antiga da avicultura comercial estabelecida anteriormente, nos
anos 1920 e 1930. A atividade se desenvolve, de forma inicial, principalmente no Estado de
São Paulo, de forma independente, na qual os produtores granjeiros adquiriam os insumos
diretamente no mercado, engordavam as aves e as vendiam para um frigorífico abatê-las. Foi
quando os reflexos dos avanços tecnológicos externos começaram a chegar no Brasil, segundo
Ortega (1988), quando tiveram início as importações das linhagens híbridas americanas de
frangos, mais resistentes e produtivas. Junto com as aves vieram também novos padrões de
manejo e alimentação das aves, que com o passar do tempo foram sendo gradativamente
incorporados pelos produtores brasileiros, reestruturando de maneira considerável o setor.
Os autores citados afirmam que a avicultura brasileira era, até o final da década de
1950, uma atividade de subsistência, preponderantemente, sendo desenvolvida em bases não
empresariais, como fonte de renda alternativa e subsistência familiar. Todavia, de acordo com
esses autores, já na década de 1960 foram instaladas as primeiras fábricas de ração, as
primeiras associações avícolas e cooperativas e o início da importação de equipamentos
avícolas, além do início dos preparos das primeiras vacinas. Mas foi no início de 1970,
período em que houve profunda reorganização do circuito espacial da produção de carnes no
Brasil, que se verificou a consolidação de um novo modelo de produção avícola, engendradas
pelas transformações econômicas e técnicas ocorridas em nível mundial no sistema de
produção avícola, iniciando um processo contínuo e gradativo de transformações que
mudariam totalmente a concepção inicial da avicultura praticada no país, resultando na
configuração atualmente predominante.
rebanhos comerciais. Explicando de uma outra forma e remontando aos processos genético da sua produção, as
matrizes são os rebanhos multiplicadores produzidos nas granjas de avós, que, por sua vez, são produzidas pelas
aves bisavoseiras, produzidas nas granjas de rebanhos núcleo, onde é realizada a seleção genética para a criação
de linhas puras para a produção de aves bisavós, que é um processo altamente tecnológico, restrito a poucas
empresas multinacionais. Fonte das informações: http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/frango_de_corte.
39
A industrialização da carne de frango se estabelece como um moderno segmento
na indústria agroalimentar no Brasil nos anos 1970, quando se dá a instalação de frigoríficos e
relacionamento dos grupos nacionais ligados à atividade avícola e empresas estrangeiras
fornecedoras de linhagens, conforme destaca Rizzi (1993). A década de 1970, portanto,
entrou para a história como sendo a época da consolidação da avicultura industrial no Brasil.
Para Belusso e Hespanhol (2010), isso só foi possível devido às políticas setoriais para o
desenvolvimento da avicultura brasileira, haja vista que o estabelecimento das indústrias de
frango como um segmento moderno se deu devido à política agropecuária de crédito
subsidiado, instalação de frigoríficos e articulação entre grupos nacionais e empresas
estrangeiras produtoras de linhagens.
Além disso, na década de 1970, com a inserção da agropecuária no comércio
internacional (composição da produção, crescimento das atividades ligadas à exportação e
aumento do grau de processamento industrial dos produtos) e com a crescente urbanização e o
aumento do êxodo rural, a atividade foi sofrendo inúmeros processos de intensificação, a fim
de conseguir suprir a demanda por alimentos dos grandes centros urbanos, como também
asseguram Belusso e Hespanhol (2010). Desse modo, o desenvolvimento da avicultura de fato
se efetivou na década de 1970, com a integração entre agropecuária e a indústria processadora
no Brasil, e, assim, a entrada de empresas processadoras no mercado e especialistas no
processo de produção do frango. Transformações tecnológicas, técnicas de produção intensiva
e o desenvolvimento de genética adaptada contribuíram para o avanço da atividade.
Assim, a atividade cujo desenvolvimento ocorreu a partir do final da década de
1950 nos estados do Sudeste, especialmente em São Paulo, se deslocou na década de 1970
para a região Sul, sendo Santa Catarina o estado de maior destaque.
Empresas que já possuíam negócios na produção de suínos e outras em cereais
diversificaram-se para uma atividade nova; a produção e comercialização de carnes
de frango, impulsionadas pela oferta de créditos para investimentos de longo prazo,
associadas à utilização de tecnologias importadas, no que se refere à genética e às
técnicas ambientais, sanitárias, nutricionais, de abate e processamento. Outros
fatores, como a pujança do setor empresarial, a evolução da renda per capita
brasileira e a estrutura fundiária regional, também contribuíram para a consolidação
da agroindústria de aves no Sul do Brasil (CANEVER et al., 1997, p. 07-08).
De acordo com Canever et al. (1997), ainda em 1960, no estado de Santa
Catarina, surgiu o sistema de integração vertical na avicultura, um modo de produção, de
forma contratual, entre a indústria (frigoríficos) e os produtores, a exemplo do que já ocorria
nos Estados Unidos. Tal processo se deu de forma concomitante com o processo de
40
diversificação dos frigoríficos de suínos. Nesse novo modelo, o avicultor integrado passou a
ser subordinado pelos interesses da indústria, que fornece os principais insumos da atividade,
como ração e medicamentos, além de assistência técnica e reposição de lotes (pintinhos) para
que os avicultores produzam de acordo com as demandas industriais. Assim, no sistema de
integração, que reúne hoje milhares de pequenos produtores rurais no país, os avicultores são
encarregados da engorda do frango. A produção é, então, repassada à indústria, que garante a
remuneração ao avicultor. Na Geografia, autores como Espíndola (1999), Tsukamoto (2000),
Mizusaki (2003), Belusso (2010) e Paulino (2012), entre outros, discutem esse processo de
integração na avicultura, destacando sobretudo a dependência dos produtores face às
empresas.
Dessa forma, o processo de criação de frangos de corte no Brasil, que inicialmente
consistia em uma grande variedade de produtores independentes, atualmente vem
gradativamente sendo substituído pelas grandes empresas verticalizadas. Para Belusso e
Hespanhol (2010), foi nesse ambiente que ocorreu a emergência do sistema de integração, no
qual o mercado dinâmico é oligopolizado, representado pelas grandes empresas integradoras,
pelas cooperativas abatedoras de frangos e pelas empresas que começaram a adotar recursos
tecnológicos nas áreas de nutrição, sanidade, mecânica e genética. Esse conjunto de empresas
tem induzido os integrados a adotarem novas tecnologias, e tem procurado novas regiões para
instalar unidades de produção com incentivos fiscais e matérias-primas de menor custo.
Tal sistema produtivo representado pela integração entre produtores e empresas,
considerado mais verticalizado e intensivo, possibilitou o rápido desenvolvimento da
avicultura nacional, principalmente nos quesitos relacionados à biosseguridade, sanidade,
qualidade dos animais e da carne de frango. A presença da integradora (a empresa), por sua
vez, tornou a atividade mais organizada, estabelecendo padrões de manejo e de “boas
práticas” e fornecendo assistência técnica para os produtores para que sua demanda fosse
amplamente atendida. Todavia, tem levado a uma insensitiva exploração do trabalho
camponês ao capital avícola, como analisam Mizusaki (2003) e Paulino (2012).
Estas transformações tiveram impactos significativos em termos de exigência de
capital mínimo para o produtor se tornar integrado, em termos de número de empregos
gerados por galpões e/ou milhares de frangos produzidos. Além disso, a integração vertical
garantiu um custo de produção reduzido para as grandes processadoras da carne de frango,
qualidade do produto e grande escala de produção, viabilizando o incremento das vendas para
o mercado externo e a diversificação do produto destinado a abastecer a demanda do mercado
interno. Isso permitiu uma considerável expansão horizontal (no espaço, com a incorporação
41
de novas áreas) e vertical (no tempo, com o aumento da produtividade), nos termos de Aracri
(2012), da avicultura no território brasileiro.
Cabe mencionar que o rápido desenvolvimento da avicultura brasileira, a partir da
década de 1970, através da reestruturação do complexo avícola, se deu de forma concomitante
com os demais segmentos da agropecuária nacional, segundo apresenta Elias (2003, 2007b).
Além disso, a industrialização da avicultura brasileira passou a ser um marco para a adoção de
novas tecnologias no processo de produção avícola, a qual passou a se integrar com outros
grandes setores produtivos, como a indústria de ração (dependente da produção de grãos,
especialmente soja), de química farmacêutica, de máquinas e de equipamentos, adotando
formas industriais em seus processos produtivos, tendo como característica e objetivo a
produção em larga escala, fomentando uma grande integração de capitais (DELGADO, 1985)
também no setor avícola.
Com isso, já na década de 1970, com a atuação do Governo Federal, por meio de
subsídios financeiros, a avicultura de corte havia alcançado um excedente de produção em
relação à demanda, iniciando-se as exportações nacionais. As primeiras exportações de
frangos foram realizadas também em meados dessa década, o que contribuiu para uma maior
expansão desta atividade. Segundo Rizzi (1993), a internacionalização da indústria brasileira
de frangos, via exportações, que se iniciaram em 1975, foi baseada nas estratégias das
empresas líderes do setor avícola em expandir sua atuação no mercado externo. Foi nesse ano
que a empresa Perdigão construiu o primeiro abatedouro exclusivo para aves, em Videira
(SC), tornando-se também uma das pioneiras na exportação de carne de frango do Brasil, cujo
destino na época era a Arábia Saudita10
. Assim, a ampliação do mercado do setor baseou-se,
de um lado, nas condições tecnológicas de algumas empresas no mercado interno, e de outro
nas vantagens específicas do país, relacionadas à abundância de matérias-primas, políticas de
subsídios, câmbio favorecido e mão de obra a custos mais baixos.
É preciso ressaltar que a avicultura brasileira avançou consideravelmente a partir
dos anos 1970, ao ser inserida no processo de modernização agropecuária, tendo o Estado
atuado de forma relevante para o seu desenvolvimento por meio de subsídios públicos, seja
com crédito, custeio ou investimento mediante os recursos de bancos públicos, fundos de
desenvolvimento e programas nacionais. A avicultura empresarial, em tal contexto, surgiu no
Brasil de maneira planejada, tanto pelo Estado como pelas próprias indústrias processadoras,
uma vez que as empresas foram se localizando de forma estratégica próximas das regiões
10
BRF. Disponível em: <https://www.brf-global.com/brasil/sobre-brf/quem-somos-nossa-historia>. Acesso em:
15 ago. 2016.
42
produtoras de grãos e, especialmente, em lugares onde havia a possibilidade de ser efetuar e
ampliar o sistema de integração entre produtor rural e agroindústria, e ampliando ainda mais o
sistema de integração.
Ao caracterizar a atividade avícola em relação aos outros setores agropecuários,
Sorj, Pompermayer e Coradini (1982, p. 10) afirmam que avicultura apresenta um altíssimo
grau de subordinação da produção rural à moderna tecnologia produzida pelo complexo
agroindustrial, fazendo com que o complexo avícola seja um campo privilegiado para análise
das transformações das relações sociais no espaço agrário sob a liderança do capital
industrial11. Ainda segundo os autores, o setor passava ao longo dos anos 1980 por um
crescimento vertiginoso, no bojo da expansão do conjunto do setor agroindustrial, baseado,
em boa parte, em tecnologia estrangeira, possibilitando, desse modo, esclarecer a inserção do
Brasil no mercado mundial de produtos alimentícios; além de permitir a análise dos
problemas da representação política das novas camadas sociais de produtores rurais ligados ao
complexo agroindustrial e que se distinguem claramente dos antigos produtores agrícolas.
Já nos anos 1990, com a abertura da economia, a agroindústria avícola adentra os
tempos da competitividade, quando a reestruturação produtiva, com base nas inovações
tecnológicas e científicas, associada a uma significativa reorganização administrativa das
empresas, transformaram-se em estratégias de sobrevivência para o setor, segundo argumenta
Mazzali (2000). Além disso, a produção de frango incrementou-se significativamente no país
a partir de 1990. Grande parte desse aumento foi devido às exportações, visto que o Brasil se
posicionou como um dos maiores produtores e exportadores no mercado internacional, graças
tanto à abertura da economia quanto à ampliação e contínua presença do Estado com
incentivos no setor agropecuário.
Godoy (1999, p. 03) defende que o desenvolvimento mais recente da indústria
avícola brasileira é resultado direto do processo de urbanização ocorrido no Brasil nas últimas
décadas, no qual essa urbanização atuou de duas maneiras distintas na criação de um novo e
amplo mercado consumidor, primeiro ao transferir do campo para as cidades grandes parcelas
da população, aqui inclusos os que produziam frangos e poedeiras para a própria subsistência
e/ou para o atendimento, eventual ou contínuo, de terceiros; e segundo ao valorizar os espaços
urbanos, eliminando não só os “cinturões verdes” que cercavam os grandes centros urbanos,
mas, sobretudo, as criações domésticas. Nesse sentido, há de se considerar o importante
processo de urbanização da sociedade e do território brasileiro, conforme indica Santos
11
Acerca da associação entre agricultura e indústria no Brasil, ver especialmente Oliveira (2010).
43
(2005), responsável por alavancar o consumo urbano e, por sua vez, o consumo de aves e
ovos.
Vieira e Dias (2005) afirmam que a adoção de novas tecnologias, em especial na
genética e na automação do abate e processamento, bem como no desenvolvimento de novos
produtos, associadas a uma melhor coordenação das etapas de produção, determinada pela
relação contratual entre produtores e indústria processadora, proporcionam maior
competitividade ao setor. Os autores destacam também que o alto nível tecnológico alcançado
pela avicultura de corte nacional colocou a atividade em posição privilegiada em relação a
outras atividades desenvolvidas no Brasil, alcançando um nível de produtividade e destaque
internacionais. Em um ambiente de enorme concorrência, o setor avícola, principalmente o
setor de frango de corte, ainda apresenta uma dinâmica expansionista impulsionada
especialmente pela exigência do mercado consumidor. Comprovando esse dinamismo, infere-
se que, atualmente, o Brasil ocupa um lugar de destaque no contexto produtivo mundial de
aves e ovos, tanto em produção quanto em exportações.
Para se compreender como tais processos compuseram o cenário atual da
avicultura tanto no Brasil quanto no mundo, em 2015 a produção mundial de carne de frango
foi de 87.944 milhões de toneladas, apresentando os Estados Unidos, Brasil e China,
respectivamente, como os principais produtores, como pode ser observado na tabela seguinte,
adaptada do Relatório Anual da ABPA (2016). Entre 2005 e 2015, essa produção mundial
aumentou pouco mais de 40%. Em 2015, ainda que com uma diferença inferior a meio por
cento, o Brasil superou a China, tornando-se o segundo maior produtor de carne de frango do
mundo. Apesar do Brasil ter superado a China por uma margem mínima, na tríade de
produtores líderes – Estados Unidos, China e Brasil –, só este último registrou expansão
acima da média no espaço de tempo da última década, cujo volume produzido se expandiu a
uma média pouco superior a 3,5% ao ano, ou 44% em 10 anos. Com isso, o Brasil se encontra
com 14,87% da produção de carne de frango no mundo, sendo um dos grandes produtores de
frangos de corte, ocupando a segunda posição a nível mundial, sendo superado apenas pelos
Estados Unidos, o líder do setor, com 20,42% da produção mundial, e à frente da China, que
concentrava, em 2015, 14,81% da produção.
Tabela 1 – Principais produtores mundiais de carne de frango. Quantidade produzida
(milhões de toneladas) / Percentual da produção mundial – 2015
País Quantidade
produzida
Percentual da
produção mundial Estados Unidos 17.966 20,41%
44
Brasil 13.146 14,93%
China 13.025 14,79%
União Europeia 10.600 12,04%
Índia 3.900 4,43%
Outros países 29.373 33,37%
Total 88.010 100%
Fonte: USDA/ABPA (2016). Organização da autora.
No que se refere à exportação mundial, o Brasil ainda garante a primeira
colocação como principal exportador de carne de frango em 2015, tendo participação de
39,87% no mercado internacional, seguido dos Estados Unidos e da União Europeia, como
indicado na tabela 2. Em 2015, as exportações acumularam mais de 4 milhões de toneladas
(maior valor registrado no histórico nacional); para se ter ideia da evolução das exportações
brasileiras nos últimos anos, em 2002 o volume exportado não passava de 1,625 milhões de
toneladas, em 10 anos o país conseguiu aumentar em 246% o volume exportado. Embora a
exportação seja muito importante para o setor avícola nacional, não se pode desconsiderar o
crescimento do consumo interno, especialmente com a melhoria da renda da população na
última década, que acompanhou o movimento percebido na esfera da produção. O
consumidor brasileiro ainda é o principal consumidor da carne de frango produzida pela
avicultura nacional, haja vista que, em 2015, 67,3% da produção foi destinada ao mercado
interno, e 32,7% ao mercado externo, segundo o relatório da ABPA (2016).
Tabela 2 – Exportação mundial de carne de frango.
Quantidade exportada (mil toneladas) / Percentual da exportação mundial – 2015
País Quantidade
exportada
Percentual da
exportação mundial
Brasil 4.304 39,87%
Estados Unidos 2.990 27,69%
União Europeia 1.150 10,65%
Tailândia 580 5,37%
China 395 3,65%
Outros países 1.376 12,74%
Total 10.795 100%
Fonte: USDA/ABPA (2016). Organização da autora.
O mix das exportações brasileiras em 2015 foi composto por 52,4% de frango em
cortes, 38,1% de frango inteiro, 4,9% de frango salgado e 4,6% de frango processado, como
se pode observar no gráfico 1, confeccionado a partir dos dados divulgados pela ABPA
(2016). Nos últimos anos, o Brasil ampliou a participação do frango em cortes, processado e
salgado no total das vendas. A crescente expansão nas vendas do frango inteiro (griller) é
45
explicada, por sua vez, por ser a preferência de um dos principais mercados dos exportadores
brasileiros, o Oriente Médio. Os maiores compradores do produto brasileiro estão no Oriente
Médio, na Ásia e na Europa. As exigências desses consumidores por uma carne de qualidade
são crescentes, na mesma proporção da performance do mercado. Independentemente do tipo
de produto, as exportações brasileiras de carne de frango se destacam por sua enorme
agregação de valor, conforme analisam Silva et al. (2011).
Fonte: Secex/ABPA (2016) – Adaptado.
Em 2015, o Brasil se consolidou na posição de maior exportador mundial de carne
de frango, conforme dados da SECEX divulgados pela ABPA (2016), apresentando um
crescimento praticamente constante no decorrer das últimas décadas, como visto no gráfico 2.
Em 2015, a exportação de frango em cortes aumentou em 18,5%, de frango inteiro em 7%, e o
maior aumento foi do frango industrializado, em 86%. A Rússia acrescentou seus embarques
de frango brasileiro em 34%, o Oriente Médio em 12%, a Ásia aumentou seu volume em
20%, a África em 6%, e a União Europeia em 21%. Uma característica importante para que o
Brasil mantivesse seu status de maior exportador mundial foi a garantia da sanidade do
plantel avícola, adotando medidas necessárias tanto em qualidade quanto em sanidade
(prevenção, controle), os quais são decisivos para ampliar, manter e proteger as exportações e
o importante mercado interno.
[NOME DA
CATEGORIA]
[PORCENTAGE
M]
Cortes 57,7% Inteiros
32,6%
Salgado 4,2%
Industrializados 3,7%
Embutidos 1,8%
Gráfico 1– Exportações brasileiras de carne de frango por
produto – 2015
46
Gráfico 2 – Exportações brasileiras de carne de frango. Série histórica (2004-2015)
Fonte: Secex/ABPA (2016). Organização da autora.
Mais de 150 países importam a carne de frango do Brasil, no entanto os 10
maiores importadores são responsáveis por 63,7% do total das exportações do Brasil. Dentre
os principais países importadores de carne de frango, principal produto das exportações
avícolas brasileiras, destacam-se o Japão, que em 2015 importou 900 milhões de toneladas, e
a Arábia Saudita, que em 2015 igualou-se ao Japão em volume de importação. Logo atrás,
México, União Europeia e Iraque compõem o ranking dos cinco maiores importadores, como
apresentado na Tabela 3. Com esse desempenho, a carne de frango brasileira aumentou ainda
mais sua presença na mesa dos consumidores no Brasil e no mundo.
2469,7 2846,0 2717,5
3286,8 3645,5 3634,5 3819,7 3942,6 3917,6 3891,7 4099,0 4304,1
2594,9
3508,6 3213,2
4975,6
6949,8
5814,1
6807,8
8253,0 7703,0 7966,5 8084,9
7167,8
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2001 2012 2013 2014 2015
Exportações brasileiras de carne de frango - Série histórica
Volume (milhões de toneladas) Receita (milhões US$)
47
Tabela 2 – Importação mundial de carne de frango brasileira. Quantidade produzida
(mil toneladas) / Percentual da importação mundial – 2015
País Quantidade
importada
Percentual da
importação mundial Japão 900 10%
Arábia Saudita 900 9%
México 760 9%
União Europeia 710 7%
Iraque 690 7%
Outros países 4.679 58%
Total 8.639 100%
Fonte: USDA/ABPA. Organização da autora.
A figura 1 resume bem a configuração atual do mercado mundial de carne de
frango. Através dela, é possível perceber a hegemonia exercida pelo Brasil no que tange à
quantidade produzida e, especialmente, à quantidade exportada. Um dos principais fatores que
explicam esse destaque brasileiro no contexto mundial da avicultura industrial é a presença de
grandes empresas em nosso país, com destaque para as gigantes Sadia e Perdigão (BRF),
responsáveis por produzir e exportar uma grande quantidade de carne diariamente. Somam-se
a isso as condições técnicas dos produtores brasileiros, superiores às de outros países ao redor
do mundo. Na figura 2, na sequência, há a relação de todos os países que importaram frango
do Brasil em 2015, sendo marcante a onipresença do frango brasileiro ao redor do mundo, já
que a produção nacional é exportada para mais de 150 países.
Figura 1 – Mercado mundial de carne de frango (milhões de toneladas) – 2015
Fonte: ABPA (2016).
48
Fonte: ABPA (2016).
Figura 2 – Relação dos países importadores de carne de frango brasileira
49
Conforme dados da ABPA (2016), a produção avícola movimenta a economia
brasileira e chega a faturar R$ 50 bilhões por ano no país. A carne de frango é a mais presente
nos pratos dos brasileiros e mais de 150 países consomem o frango produzido no Brasil,
conforme apontado anteriormente. Em 2015, a indústria do frango movimentou US$ 6 bilhões
em exportações. Além disso, a produção de carne de frango dinamiza outras áreas do
agronegócio, como a produção de milho e soja, que são usados para alimentação dos animais
nas granjas. A avicultura emprega mais de 3,6 milhões de pessoas, direta e indiretamente, e
responde por quase 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional12
. O setor é representado
por dezenas de milhares de produtores integrados, centenas de empresas beneficiadoras e
dezenas de empresas exportadoras. A relevância socioespacial da avicultura no Brasil se
verifica também pela sua presença maciça no interior do país, principalmente nos estados do
Sul e Sudeste, e em muitas cidades dessas regiões a produção de frangos é a principal
atividade econômica, em função da grande quantidade de produtores e de empresas lá
instaladas.
De acordo com uma publicação da União Brasileira da Avicultura (UBABEF,
2012), a alta produtividade e rentabilidade da avicultura brasileira é fruto de características
próprias de produção, que têm justamente no sistema de integração entre produtores e
frigoríficos um dos fatores preponderantes para manter a média de crescimento de quase 10%
desde o ano 2000 e ser um dos mais importantes setores do agronegócio nacional. Conforme o
discurso dos representantes do setor, via ABPA (2016), o sistema de integração implantado
ainda nos anos 1960 viabilizou a consolidação da produção em cadeia, ajustando a atividade
dos criadores com a dos abatedouros. Esse processo foi aperfeiçoado ao longo dos anos,
inclusive com apoio do governo federal, por intermédio de órgãos como a Embrapa.
Ainda de acordo com essa publicação, estima-se que 90% da avicultura industrial
brasileira esteja atualmente sob o sistema de integração entre avicultores e agroindústrias, o
que representa cerca de 130 mil famílias de integrados na base da produção. No caso de aves,
a agroindústria geralmente participa com o fornecimento de pintos de um dia, rações,
medicamentos, transporte de animais e insumos, e a assistência técnica necessária à produção
(com o assessoramento de agrônomos, veterinários, técnicos rurais); enquanto que o produtor
geralmente participa com instalações, equipamentos, água e energia elétrica, bem como se
responsabiliza pelo manejo (criação e engorda) dos animais até que estes atinjam a idade de
abate. Tais regras são monitoradas de perto pelas empresas integradoras, garantindo a
12
BRAZILIAN CHICKEN. Disponível em: <http://www.brazilianchicken.com.br/pt/poultry-
industry/background>. Acesso em: 28 ago. 2016.
50
rastreabilidade do produto da granja e o total controle de todo o processo produtivo, bem
como do trabalho executado normalmente por pequenos agricultores familiares.
Assim, para alcançar tais resultados no cenário mundial, a avicultura brasileira,
dentro do contexto da produção animal, tem se caracterizado como o setor que mais se
organizou em termos empresariais, pela formação de grandes empresas verticalizadas e em
termos associativos pela representação de interesses através de diversas federações, segundo
acrescenta França (2000). A esse respeito, de acordo com Ortega (2000, p. 07), a
especialização da avicultura nacional resultou na emergência de formas de representação de
interesses mais especializadas e coordenadas, dando origem a uma poderosa rede de poder
que atua no suporte ao desenvolvimento do setor, representada especialmente pela Associação
Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
A ABPA é a instituição que representa os interesses da avicultura nacional junto
ao Governo Federal. A ABPA passou a representar, desde o início de 2014, os interesses da
indústria de suínos e aves após a fusão entre a União Brasileira da Avicultura (UBABEF) e a
Associação Brasileira de Produtores e Importadores de Carne Suína (ABIPECS)13
. À
UBABEF estavam ligadas diversas associações de atuação nacional e estaduais, associações
setoriais, empresas produtoras de frango de corte e ovos, as granjas de multiplicação genética,
os frigoríficos, os produtores de perus, os fornecedores de insumos e as prestadoras de
serviço14
.
A UBABEF e ABIPECS, antes da fusão, já tinham um histórico de parceria com a
Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) de mais de 10
anos. A parceria continuou após a fusão, com objetivo de aumentar ainda mais os volumes
exportados e as receitas das empresas associadas da ABPA participantes do projeto, assim
como recuperar e aumentar o número de mercados para os quais o Brasil atualmente exporta
carne de frango. Tal projeto institucional foi desenvolvido para promover, principalmente ao
mercado externo, um conceito de alta qualidade da carne de frango brasileira, que a Apex-
Brasil denominou “Brazilian Chicken”15
. Atualmente, são beneficiadas diretamente 30
empresas exportadoras participantes deste projeto, as quais são indicadas na figura 3, que são
as principais exportadoras de frango do país. Essa congregação representa no setor a formação
de um oligopólio e monopólio das grandes corporações da avicultura brasileira.
13
CANAL RURAL. Disponível em: <http://www.canalrural.com.br/noticias/pecuaria/fusao-ubabef-abipecs-
origem-associacao-brasileira-proteina-animal-23798>. Acesso em: 17 nov. 2015. 14
UBABEF. Disponível em: <http://www.ubabef.com.br/>. Acesso em: 23 mar. 2013. 15
BRAZILIAN CHICKEN. Disponível em: <http://www.brazilianchicken.com.br/pt>. Acesso em: 23 mar.
2013.
51
Figura 3 – Empresas associadas à Brazilian Chicken
Fonte: Brazilian Chicken (2016).
52
Com essa fusão, a ABPA tornou-se a maior entidade representativa do setor de
proteína animal do Brasil, com mais de 135 associados. Assim, além de congregar várias
empresas e outras associações, a ABPA tem como foco o fortalecimento institucional dos
setores, encaminhando, no plano político, as reivindicações dos associados que representa ao
Governo; a expansão das produções através do desenvolvimento econômico, técnico e
científico dos setores, desempenhando importante papel de difusor de tecnologias na
atividade; além de fomentar o consumo no mercado interno; trabalhar para a ampliação das
exportações de cada segmento por meio de negociações internacionais, promoção de eventos,
abertura de mercados, defesa comercial e outras iniciativas16
. Com isso, a ampliação de tal
forma de associativismo na avicultura proporcionou à atividade ganhos políticos e
econômicos consideráveis nas últimas décadas, principalmente às grandes empresas, tanto no
que se refere ao apoio institucional e público para desenvolvimento técnico e científico da
produção como no que tange à ampliação de mercados. Essa é uma pequena prova do poderio
das associações setoriais que assumem o comando da difusão do agronegócio no Brasil, com
uma forte e importante articulação com o poder público e com os políticos, como afirma
Bruno (2009).
Um bom exemplo disso é a BRF, um conglomerado brasileiro do ramo
alimentício que surgiu através da fusão das ações da Sadia S.A. ao capital social da Perdigão
S.A, e que faz parte da ABPA, inclusive na sua gerência. Em 2009, as empresas Perdigão e
Sadia anunciaram o início do processo de associação para unificar as operações das duas
companhias, resultando assim na BRF – Brasil Foods S.A. Antes mesmo disso ocorrer, em
2001, as duas empresas, Perdigão e Sadia, criaram a BRF Trading, uma empresa destinada a
comercializar produtos avícolas e alimentos em geral produzidos por ambas as companhias,
em mercados emergentes. Em 2008, além de adquirir uma das mais tradicionais indústrias do
segmento de laticínios do Estado de Minas Gerais, a empresa Cotochés, a Perdigão comprou a
totalidade das ações detidas pelos acionistas da empresa Eleva (antiga Avipal), o que
possibilitou, já naquele ano, a formação de um dos maiores conglomerados de alimentos da
América Latina, com forte atuação na exportação de carnes e laticínios. Já em 2010, a BRF
alcançou a marca de 22,7 bilhões de reais em vendas, sendo 40% delas destinadas ao mercado
16
Brazilian Chicken. Disponível em: <http://www.brazilianchicken.com.br/pt/abpa-apexbrazil/abpa> (Acesso
em 28/08/2016)
53
exterior. No mesmo ano foi a terceira empresa exportadora do Brasil e líder na produção
global de proteínas, com 9% da comercialização mundial e maior exportadora de aves17
.
Mas foi só em 2011 que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade),
órgão regulador da concorrência no país, aprovou a fusão entre Sadia e Perdigão, que deu
origem à Brasil Foods (BRF). No mesmo ano, a BRF atingiu 4,2 mil toneladas em produção
de carnes. Desde então, o conglomerado passou a lançar-se cada vez mais no mercado
alimentício exterior, seja ampliando sua exportação, constituindo sociedade com empresas
estrangeiras ou adquirindo empresas ou ativos de empresas e grandes marcas tanto nacionais
quanto estrangeiras, como na Argentina, no Oriente Médio, na Holanda e em outros países
europeus, ou mesmo instalando indústrias processadoras de alimentos fora do país, como vem
fazendo no Oriente Médio desde 2011, demonstrando, assim, sua estratégia de expansão de
atuação global18
. Isso comprova o grande dinamismo que possui a avicultura industrial
brasileira, ao ponto de gestar uma das principais empresas mundiais voltadas para a produção
e exportação de aves, com uma expressiva participação no mercado internacional.
A BRF tem em seu portfólio mais de 30 marcas, entre elas, Sadia, Perdigão,
Qualy, Paty, Dánica, Bocatti e Confidence. Seus produtos são comercializados nos cinco
continentes, em mais de 150 países. Conta atualmente com mais de 105 mil funcionários,
mantendo 54 fábricas em sete países (Argentina, Brasil, Emirados Árabes Unidos, Holanda,
Malásia, Reino Unido e Tailândia). Nos últimos três anos, a BRF investiu mais de US$ 1
bilhão na aquisição e construção de unidades e marcas. Tal investimento alterou o perfil da
empresa de “grande exportadora de aves” para “multinacional do setor de alimentos”.
Anualmente, a companhia comercializa mais de 4 milhões de toneladas de alimentos19
. A
BRF é uma gigante do setor alimentício, sendo uma das maiores de alimentos do mundo, com
alto poder de mercado.
A fusão responsável pela criação da BRF demonstra a atual fase do monopolista
do capitalismo (HARVEY, 2014), em que as grandes empresas buscam ampliar cada vez mais
a participação no mercado, monopolizando este com um objetivo claro, que é fomentar ainda
mais a concentração de capital nas mãos de poucas pessoas. A esse respeito, Oliveira (2015)
destaca que os impactos da atuação monopolista na regulação da atividade agropecuária e nas
relações sociais de produção são bastante consideráveis, resultando em um processo no qual o
17
BRF. Disponível em: <https://www.brf-global.com/brasil/sobre-brf/quem-somos-nossa-historia>. Acesso em:
28 ago. 2016. 18
BRF. Disponível em: <https://www.brf-global.com/brasil/sobre-brf/quem-somos-nossa-historia>. Acesso em:
28 ago. 2016. 19
BRF. Disponível em: < https://www.brf-global.com/brasil/sobre-brf/quem-somos-nossa-historia>. Acesso em:
28 ago. 2016.
54
autor chama de “monopolização do território”, que passa a ser controlado por um punhado de
empresas representantes da nova aliança da burguesia brasileira. Dessa forma, “[...] o
capitalismo monopolista mundializado, portanto, não está centrado apenas nos países ricos; o
centro do capitalismo tornou-se difuso: está em todos os lugares do mundo onde estão as
empresas monopolistas mundiais” (OLIVEIRA, 2015, p. 239).
Nesse sentido, e em linhas gerais, a atividade avícola no Brasil alcançou elevado
grau de organização, com empresas que mantêm um coeso sincronismo entre os diversos elos
da produção, distribuição e comercialização, além de uma forte congregação representativa e
estratégias políticas e econômicas para ampliação de sua atuação. Outras grandes empresas
com forte atuação no território nacional, como a Seara e a Aurora, além da BRF, apresentam
uma grande variedade de produtos, processados, cozidos, embalados a vácuo e temperados,
com vistas a atender o crescente mercado consumidor com hábitos alimentares cada vez
inseridos na lógica da rapidez e da fluidez do capital, reproduzindo uma mais-valia agora
mundializada, conforme assegura Santos (2003). Tais empresas do setor avícola nacional
seguem com estratégias de ampliação, cada vez mais rápida, da atuação tanto no mercado
nacional quando no mercado externo, através da ampliação de investimentos em outros
setores do ramo alimentício, agregação de outras empresas e marcas, além da ampliação de
investimentos para atender à crescente demanda interna domiciliar, além de cadeias de fast
food, restaurantes, hospitais, redes hoteleiras e a própria demanda externa.
É nesse contexto que se insere o debate acerca da reestruturação produtiva da
avicultura brasileira, haja vista que, nas últimas décadas, o setor avícola do Brasil conseguiu
suprir as necessidades do mercado interno e ganhou cada vez mais destaque no mercado
internacional com a sua alta produtividade e qualidade, como demonstrado anteriormente. E
isso só foi possível, dentre outros inúmeros fatores, às diversas transformações técnicas e
científicas pelas quais o setor passou, conforme analisaremos brevemente no tópico seguinte,
dotando a atividade de uma racionalidade sem precedentes na história da produção avícola
realizada no país, reestruturando por completo esse setor.
2.2 REESTRUTURAÇÃO SOCIOESPACIAL DA AVICULTURA BRASILEIRA
A acentuação do processo de internacionalização do capital tem acelerado o ritmo
das transformações no âmbito da produção de bens e serviços e na forma como estes são
consumidos, caracterizando, conforme Elias (2003), um novo momento do capitalismo
marcado por modificações de diversas naturezas na sociedade contemporânea, indo de
55
encontro à ideia de Becker (1999, p. 11) em que “[...] não se trata da substituição da ordem
capitalista por alguma outra, mas sim de uma nova fase de sua expansão, a que tende a
substituir o industrialismo pela ordem – ou desordem – do poder financeiro”. Isso tem
resultado em um regime no qual Harvey (1992) denomina “acumulação flexível do capital”20
,
caracterizado por uma flexibilização dos processos produtivos e dos mercados de trabalho,
dos produtos e dos padrões de consumo, e ainda pelo surgimento de novos setores de
produção, advindos da reestruturação em curso.
Esse fenômeno, caracterizado pelo intenso e incessante desejo pelo aumento de
acumulação do capital, intensificando assim a competitividade e o consumismo exacerbado,
trouxe transformações produtivas e socioeconômicas a nível global, que adentraram em vários
aspectos da vida cotidiana. Dessa forma, “[...] a globalização se tornou uma palavra-chave
para a organização de nossos pensamentos no que respeita ao funcionamento do mundo”
(HARVEY, 2004, p. 79), uma vez que a globalização da economia sinaliza justamente os
avanços do modo de produção capitalista na sociedade cristalizados nas novas tecnologias da
informação e dos meios de produção, além dos progressos científicos, que alteram todas as
esferas da sociedade contemporânea. “O sistema capitalista é, portanto, muito dinâmico e
inevitavelmente expansível; esse sistema cria uma força permanentemente revolucionária,
que, incessante e constantemente, reforma o mundo em que vivemos” (HARVEY, 2005, p.
41).
Dessa forma, vivemos em um período que tem na globalização da produção e do
consumo suas bases, em que a ciência, a técnica e a informação são as principais forças
produtivas, transformando diversos setores da economia, incluindo a agropecuária (ELIAS,
2003, 2007b). Tal período foi denominado por Santos (2003, 2009) de técnico-científico-
informacional. Nesse período, organizou-se um novo modelo econômico que impulsionou
uma intensa reestruturação do território e da produção em nível global, e a economia tornou-
se mundializada diante do apogeu do capital financeiro, engendrando modificações de ordem
econômica, política, cultural e na organização social e territorial de todos os países,
promovendo significativos impactos no modo como a produção agropecuária vinha até então
sendo realizada, por exemplo, como se referem Santos e Silveira (2001).
20
Nesse sistema, as empresas procuram flexibilizar as relações de produção por meio da subcontratação e
diversificação da produção através das fusões de empresas para quebrar com a rigidez existente no fordismo e,
assim, garantir maiores taxas de lucro. Além disso, as empresas diminuem a quantidade de vínculos
empregatícios fixos contratando mão de obra qualificada para desenvolver diferentes atividades em tempo
integral, o que faz com que um único profissional substitua grandes quantidades de trabalhadores sem
qualificação.
56
Dentre as características principais desse novo momento, podemos considerar o
uso da ciência, da tecnologia e da informação como importantes forças produtivas. A
reestruturação dos sistemas de produção se dá a partir do desenvolvimento tecnológico, que
também corrobora a organização desse novo momento da economia e expandiu o modo de
produção capitalista, além de metamorfosear o espaço. Com isso, podemos observar também
o dinamismo das transformações do espaço através da intensa reestruturação produtiva pela
qual vem passando a agropecuária brasileira desde esse período, isso decorrente da sua
inserção na economia globalizada (ELIAS, 2003, 2006, 2007b). A partir disso, evidenciam-se
profundas transformações no espaço agrário brasileiro através de modificações no processo
produtivo provocadas pela expansão capitalista no campo, com a difusão de inovações
mecânicas, biológicas e físico-químicas, resultando em alterações nas relações sociais de
produção.
Com a globalização, a especialização agrícola baseada na ciência e na técnica inclui
o campo modernizado em uma lógica competitiva que acelera a entrada da
racionalidade em todos os aspectos da atividade produtiva, desde a reorganização do
território aos modelos de intercâmbio e invade até mesmo as relações interpessoais
(SANTOS, 2009, p. 304).
De acordo com Elias (2002), as mudanças na base técnica, decorrentes das
transformações no sistema produtivo interligadas à dinâmica global, é um dos vetores da
reestruturação produtiva da agropecuária. Tais modificações propiciaram um maior controle
do processo de produção no que concerne especialmente à intervenção humana nas dinâmicas
da natureza, fomentando o aumento da produtividade no setor agrícola e reprodução ampliada
do capital no setor agrícola. Assim, esse processo de intensificação e expansão do modo
capitalista de produção no campo inaugurou novas formas de se produzir ao afetar
radicalmente as forças produtivas envolvidas nas atividades agropecuárias, remetendo a novas
configurações nas dinâmicas territoriais e ampliação do processo de acumulação capitalista
dentro do processo de mudança do espaço e da sociedade diante da reestruturação
socioespacial (LIMA, 2006).
Ainda de acordo com Elias (2006), essa reestruturação produtiva pela qual vem
passando a agricultura do país atinge tanto a base técnica quanto a econômica e social do
setor, exercendo profundos impactos sobre os espaços rurais, que passam por um acelerado
processo de reorganização, mostrando-se extremamente abertos à forma capitalista de
produzir. Nota-se que são evidentes os rebatimentos socioespaciais advindos da reestruturação
produtiva da agropecuária. Nesse sentido, ressalta-se que, conforme assegura Benko (2002),
57
toda reestruturação produtiva induz, obrigatoriamente, a uma reestruturação do espaço e da
sociedade, que dão respostas imediatas a quaisquer que sejam as modificações introduzidas na
estrutura produtiva. Alves (2008) também alerta que a reestruturação produtiva não envolve
apenas a produção propriamente dita, ultrapassando o processo produtivo em si e atingindo
diversos setores, entre eles o avícola.
O processo de reestruturação da agropecuária, tendo como foco as transformações
da base produtiva a partir do avanço tecnológico, provocaram mutações na organização
socioespacial de diversas atividades agropecuárias, incluindo a atividade avícola. Portanto, tal
modelo de produção agropecuária se amplia cada vez mais no espaço rural brasileiro,
inclusive nos espaços de produção avícola, e atende muitas vezes a determinações exógenas
ao local da produção, e, com isso, o território passa a ser um reflexo desse sistema de
produção, que impõe formas de produção baseadas no lucro e na exploração do trabalho e do
meio ambiente.
A reestruturação produtiva da avicultura pode ser constatada pela enorme rede de
atividades ligadas à produção avícola e suas inovações tecnológicas, incluindo atividades de
beneficiamento, prestação de serviços, distribuição e intermediação na comercialização,
dinamizando outros setores produtivos do país, especialmente a produção de soja e de milho.
Assim, o setor avícola passou a movimentar cada vez mais uma série de outras atividades e
agentes que envolvem as indústrias de rações; de equipamentos para granjas, incubatórios,
matadouros e frigoríficos; de equipamentos de classificação, beneficiamento e transformação
dos produtos avícolas; de laboratórios na produção de vacinas, medicamentos e desinfetantes;
a produção de matérias-primas para rações como compostos vitamínicos, elementos minerais
e subprodutos industriais; a rede de intermediários entre o produtor e o consumidor
responsáveis pela comercialização, pelo beneficiamento, pela prestação de serviços e
industrialização de produtos avícolas; emprego de profissionais como veterinários,
agrônomos, zootecnistas; pesquisas elaboradas por universidades e centros de pesquisas, entre
outras.
Santini e Souza Filho (2004) destacam que o sistema de criação intensiva de
frango provocou uma revolução na organização da produção, permitindo a consolidação de
estruturas produtivas em moldes industriais, que levou a contínuos avanços nas economias de
escala, e, por conseguinte, houve uma queda nos preços relativos do frango, tanto em relação
a outros tipos de carne como em relação aos índices gerais de preços. Do ponto de vista
técnico-científico, indicam os autores, a produção de frango é superior à dos suínos e bovinos
por apresentar um ciclo de vida bem mais curto, com características típicas de animal de
58
laboratório, sendo muito mais apto ao desenvolvimento de experimentos. Isso tem
proporcionado ganhos extraordinários ao setor, seja no ganho de peso, na redução do período
de criação, no mais eficiente controle de doenças e na melhor conversão alimentar,
evidenciando o crescente papel da técnica, ciência e informação ao processo produtivo
agropecuário, segundo demonstra Elias (2003).
Conforme uma publicação especializada (UBABEF, 2012), o setor produtor
avícola ainda destaca o fato de a carne de frango ser a proteína animal que consome menos
água em seu processo produtivo, o que favorece a racionalização de tal recurso no sistema de
produção avícola e a diminuição de custos efetivos. Para a produção de um quilo de carne do
produto são necessários aproximadamente 3.000 mil litros em toda sua cadeia, da produção
dos grãos até o produto final, enquanto a produção de bovino consome cerca de 16 mil litros e
a de suínos 6.000 litros – e o consumo de energia elétrica na cadeia produtiva do frango seria
cerca de metade do que é consumido para a produção de outras carnes e devido à seleção de
linhagens específicas para a produção de carne. Além disso, comprovando o avanço técnico
no setor, hoje são necessários menos de 45 dias para produzir um frango inteiro para corte, tal
grande é o atual estágio de desenvolvimento das técnicas produtivas na avicultura, enquanto
que na criação caipira o frango pode levar de 4 a 9 meses para estar pronto para o abate,
dependendo do sistema de criação.
A produção industrial de frangos, como já discutido anteriormente, evoluiu da
criação doméstica e utilização de abatedores com plantas rústicas para sistemas produtivos
integrados, dotados de frigoríficos com grande capacidade e processos flexíveis, ágeis e
capazes de atender a diferentes segmentos de mercado, buscando taxas de lucro cada vez
maiores. Com o passar dos anos, a atividade avícola foi se consolidando cada vez mais no
país, alcançando recordes sucessivos de produção com base nos avanços tecnológicos e
científicos no setor, os quais tinham como premissa a redução da conversão alimentar e a
redução da idade das aves para o abate, diminuindo os custos da produção e aumentando a
lucratividade.
Isso pôde ser possível, entre outros fatores, pelo avanço da seleção genética das
aves, ampliando consideravelmente a produtividade e diminuindo a mortandade dos animais.
Para Silva (1988, p. 35), a seleção genética é um método de se obter em alguns anos aquilo
que as forças da natureza levariam milênios para fazer e que jamais chegariam a um resultado
tão perfeito, do ponto de vista do processo de produção capitalista. De acordo com o autor,
59
[...] algumas aves, como por exemplo, a galinha poedeira, a codorna japonesa e o
peru americano, após anos de seleção genética, encontram-se tão distantes dos seus
ancestrais nativos, que parecem novas espécies, e a reprodução não é mais possível a
não ser quando conduzida artificialmente, dado que essas raças já perderam todos os
instintos que não aqueles que se destinem à missão de fabricar ovos e carne (SILVA,
1988, p. 35).
A esse respeito, em um breve resumo acerca da evolução técnica no setor, o autor
aponta que “[...] na agricultura devido ao fato do período produtivo estar condicionado por
processos biológicos, dificilmente se consegue reduzi-los significativamente através de
inovações que não as biológicas; e ainda assim com resultados bastante limitados” (SILVA,
1988, p. 16). Um exemplo histórico disso é o caso da marca Chester, da empresa Perdigão,
que, em 1979, com a finalidade de diversificar a produção e oferecer ao mercado uma
alternativa de consumo de carne de aves, começou a importar dos Estados Unidos as
primeiras matrizes da espécie Gallus Gallus e deu início a um programa de melhoramento
genético com o objetivo de desenvolver uma ave especial com 70% de suas carnes
concentradas no peito e nas coxas, nascendo assim a marca Chester21
, comprovando o avanço
da seleção genética na avicultura, produzindo animais em laboratórios nos moldes impostos
pelo capital.
Dessa maneira, as mudanças na área da genética permitiram a substituição de
raças puras de aves por híbridos sintéticos de alta performance produzidos pela indústria da
área genética, denominados no meio técnico por “avozeiros”. Tais modificações resultaram no
desenvolvimento do popular “frango de granja”, que desde sua constituição encontra-se em
um dinâmico processo de “melhoramento” em termos de índices zootécnicos. A inserção da
genética permitiu a diminuição da idade de abate, a redução na conversão alimentar e o
aumento do peso do frango no abate, conforme podemos observar na tabela a seguir.
Tabela 3 – Evolução da produtividade na avicultura de corte, 1940/2005
Anos
Índices
Peso Vivo ao
Abate (kg)
Idade de
Abate (dias)
Conversão
Alimentar22
Ganho Médio
Diário (g)
1940
1950
1960
1970
1980
1990
2000
2005
1,55
1,60
1,76
1,80
1,95
2,05
2,25
2,50
100
84
77
56
49
45
43
42
3,5
3,2
2,9
2,5
2,3
2,0
1,9
1,8
16
19
23
32
40
46
52
59
21
Fonte: BRF. Disponível em: <https://www.brf-global.com/brasil/sobre-brf/quem-somos-nossa-historia>.
Acesso em: 15 ago. 2016. 22
Consumo de ração/peso de abate.
60
Fonte: Oliveira et al. (2008).
Como visto na tabela 4, enquanto que em 1940 o peso de uma ave em condições
de abate girava em torno de 1,55 kg, em 2005 observa-se o ganho de mais de um quilo no
peso das aves. O mesmo se pode dizer do tempo no qual as aves são abatidas, passando de
100 dias em 1940 e chegando apenas aos 42 dias em 2005, comprovando o avanço no
progresso técnico nesse setor. Ainda como resultado dessas mudanças no sistema produtivo,
pode-se citar também o ganho de produtividade percebido na avicultura de postura no
decorrer dos anos, conforme demostrado na tabela abaixo, que indica um aumento
considerável da quantidade de ovos postos pelas aves durante o intervalo de um ano, passando
de 182 em 1940 para 320 ovos em 2005.
Tabela 4 – Evolução dos coeficientes de produção da avicultura de postura, 1940/2005
Anos Índices
Quantidade de ovos/poedeiras/ano Peso médio do ovo (g) Conversão Alimentar23
1940
1950
1960
1970
1980
1990
2000
2005
182
219
237
255
292
304
318
320
53
54
56
57
58
57
57
57
2,50
2,06
1,92
1,77
1,58
1,50
1,40
1,40
Fonte: Oliveira et al. (2008).
Nesse sentido, a atuação da ciência, por meio da produção de conhecimento
técnico-científico, tem contribuído para o atendimento das exigências do mercado quanto à
qualidade sanitária e padronização dos produtos agropecuários. O que se pode observar, por
meio de diversos estudos, é que o desenvolvimento da atividade avícola está fundamentado
nos investimentos da área técnico-científica, envolvendo, especialmente, segmentos de
genética, nutrição e sanidade, a partir do objetivo de gerar novos produtos que colaborem com
maior eficiência e qualidade no processo produtivo. Assim, duas etapas se destacam no que
concerne ao processo tecnológico: a produção e a industrialização. Contudo, tal
desenvolvimento das forças produtivas do setor ocorre muitas vezes em detrimento do
aumento da exploração animal, da mão de obra e do ambiente como um todo.
Ao longo das últimas décadas, a evolução das pesquisas científicas tem levado a
atividade a obter, de forma crescente, melhores índices de eficiência, tanto na avicultura de
23
Quilograma de ração por dúzia de ovos.
61
corte, em que os indicadores mais eficazes para análise da produtividade são o peso ao abate,
a idade no abate e a conversão alimentar, como no segmento de produção de ovos, que
também obtém ganhos significativos de produtividade, conforme asseguram Oliveira et al.
(2008). Assim, para otimizar a produção com a redução de custos, são realizadas as pesquisas
tecnológicas, em que, nesse processo, o desenvolvimento de linhagens híbridas constituiu-se
em elemento impulsionador no melhoramento genético.
Nesse contexto, é importante ressaltar a importância do Centro Nacional de
Pesquisa em Suínos e Aves (CNPSA-Embrapa), localizado em Concórdia, Santa Catarina,
que é o principal órgão nacional de estudos e pesquisas sobre a avicultura, e desenvolve
pesquisa na área da genética, obtendo frangos comerciais de abate, atendendo ao mercado
interno e também nas outras áreas de nutrição, sanidade, sendo um aporte importante para o
desenvolvimento do setor. Diante disso, Oliveira et al. (2008, p. 57) asseguram que
[...] a instalação daquele centro em Santa Catarina orientou-se pela concentração das
atividades suinícola e avícola nos Estados do Paraná e de Santa Catarina, raciocínio
utilizado também para a localização de outros centros. Entretanto, as atividades
econômicas – especialmente aquelas de maior sucesso – não costumam ficar
restritas a determinadas localidades, como vem sendo o caso da avicultura, na qual
se observa um espalhamento pelo território nacional, em primeiro lugar para o
Centro-Oeste e, secundariamente, para o Nordeste. Com isso, aumenta o
distanciamento – apesar dos esforços em contrário – entre as áreas de produção e
pesquisa.
Cabe destacar que, apesar de o Brasil ser o maior exportador de frango, é
totalmente dependente da avicultura praticada nos chamados países desenvolvidos, uma vez
que somente eles detêm as bisavós das aves industriais, cuja origem remonta aos diversos
cruzamentos a partir de aves caipiras, cuja composição genética somente é do conhecimento
dos detentores das marcas de bisavós. Muitos países, como é o caso do Brasil, importam as
avós que produzem reprodutores e matrizes destinados às granjas de matrizes. As produtoras
de matrizes, por sua vez, abastecem os criadores com pintos de um dia para corte (frango) e
para postura (poedeira comercial). De acordo com Oliveira et al. (2008, p. 44), é oportuno
esclarecer que, a partir destas duas últimas gerações (frangos de corte e poedeiras comerciais),
acontece a degeneração genética dos descendentes, razão pela qual sempre há a necessidade
de se importar as avós dos países produtores, gerando uma dependência genética e técnica em
relação aos fornecedores.
Assim, o país é dependente do fornecimento de material genético de empresas
estrangeiras, como a Hybro (estadunidense), a Agroceres-Ross (capital brasileiro e capital
escocês) e a Cobb-Vantress Brasil (subsidiária da Cobb-Vantres Inc.). O desenvolvimento de
62
linhagens puras é realizado no Brasil de forma conjunta com a matriz das empresas, porém as
atividades em cruzamentos e melhoramentos são predominantes, mas ainda é grande a
dependência de importações (OLIVEIRA et al., 2008). Isso coloca em xeque a
monopolização do conhecimento científico advindo com a reestruturação produtiva da
avicultura, especialmente no Brasil, revelando que
[...] O acesso ao conhecimento científico e técnico sempre teve importância na luta
competitiva; mas, também aqui, podemos ver uma renovação de interesse e de
ênfase, já que, num mundo de rápidas mudanças de gostos e necessidades e de
sistemas de produção flexíveis (em oposição ao mundo relativamente estável do
fordismo padronizado), o conhecimento da última técnica, do mais novo produto, da
mais recente descoberta científica, implica a possibilidade de alcançar uma
importante vantagem competitiva. O próprio saber se torna uma mercadoria-chave, a
ser produzida e vendida a quem pagar mais, sob condições que são elas mesmas
cada vez mais organizadas em bases competitivas (HARVEY, 1992, p. 151).
Além disso, os principais insumos requeridos pela avicultura industrial são: pintos
de um dia; equipamentos e utensílios; ingredientes para ração, como milho, soja e compostos
de nutrientes; maquinário e equipamentos específicos para o processamento industrial da
carne de frango, máquinas para classificação de ovos; medicamentos e vacinas; camas de
aviário; embalagens; entre outros. Tal demanda fomenta no setor avícola o que Santos (1996,
2009) denominou consumo produtivo. Assim, a utilização desses insumos materiais, que
anteriormente inexistia na forma de produção tida como doméstica, de “fundo de quintal”, se
tornou fundamental para a manutenção atual da atividade e ampliação de ganhos de
produtividade por parte das empresas avícolas. A partir disso, tem-se as granjas produtoras de
frango e de ovos, que compram pintos de um dia de empresas que produzem matrizes pesadas
(carne) ou leves (ovos), além de rações, medicamentos, vacinas, equipamentos, material de
embalagem, entre outros. E o que se pode observar é que grande parte desses insumos ou dos
seus componentes são também importados, de forma que a dependência do setor não se
restringe somente à questão genética.
Com relação a outro importante insumo, a participação da ração no custo de
produção da avicultura é dependente do abastecimento dos produtos que a compõem,
basicamente o milho e o farelo de soja; portanto, a política agrícola que afeta a produção e o
abastecimento de grãos influencia fortemente o desempenho do setor avícola. Como apontam
Oliveira et al.(2008, p. 52), a ração participa com cerca de 66% na composição de custos,
sendo o elemento mais importante na diferença entre as principais regiões produtoras.
Apesar disso, o melhor desempenho da avicultura brasileira ainda provém,
sobretudo, dos investimentos em pesquisas nas áreas de genética, manejo, nutrição e sanidade,
63
investimentos muitas vezes realizados pelo setor público, a cargo, sobretudo, da Embrapa
Suínos e Aves. Com isso, as empresas do setor possuem seus próprios programas de controle
ambiental, os quais estão sempre sob o olhar atento dos principais mercados consumidores,
em que elas aproveitam a cama dos aviários, como adubo na agricultura e a pele e gordura
para produção de biodiesel e ração para animais domésticos, otimizando os recursos utilizados
na produção e diminuindo os custos.
Todavia, sabe-se que a gestão dos resíduos da atividade avícola muitas vezes não
é realizada da forma mais ideal para diminuir os impactos da produção no meio ambiente,
justamente por gerar significativa quantidade de resíduos poluentes no seu processo
produtivo, apesar de estudos mais recentes demonstrarem que a produção de carne de aves é a
que emite menos gases de efeito estufa e tem menor impacto sobre o solo, comparado com a
produção de bovinos e suínos. Além disso, a avicultura demanda uma grande utilização de
água e energia, embora em menor quantidade se comparada com a bovinocultura.
O Brasil passou a possuir também rígido controle de resíduos e contaminantes em
produtos de origem animal, incluindo a carne de frango, a partir da implantação do Plano
Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC) pelo Ministério da Agricultura.
O PNCRC leva em consideração as recomendações do Codex Alimentarius e é reconhecido
pelas autoridades sanitárias dos diversos países importadores. Também se destaca o fato de o
Brasil não ter registrado um único caso de Influenza Aviária de alta patogenicidade, devido ao
rígido sistema de controle do PNCRC e das empresas do setor para garantir a segurança dos
plantéis. Além disso, o setor avícola brasileiro possui acordos internacionais para aplicação
dos princípios de bem-estar animal, visando o enquadramento nas normas estabelecidas pelos
principais mercados consumidores.
Ainda assim, a sanidade é uma das grandes questões de discussão quanto se trata
da produção avícola. No Brasil, o uso de hormônios é proibido na produção de aves e, além
disso, toda a produção é submetida a um rigoroso controle de resíduos de medicamentos, o
qual está dentro do PNRC. Os produtores e técnicos envolvidos na produção garantem que os
pilares para a produção das aves, o que sustenta esse tipo de atividade, é genética, nutrição e
manejo. O uso da tecnologia da genética faz com que os frangos sejam grandes, não havendo
assim, teoricamente, o uso de hormônios. Mesmo diante de tais colocações dos órgãos oficiais
e dos grandes produtores, muito ainda se discute sobre essa questão do uso de hormônios na
produção avícola, segundo argumentam Ribeiro e Corção (2013).
O Brasil nunca registrou um caso de Influenza Aviária. Mesmo assim, o governo
brasileiro implementou, em 2006, o Plano Nacional de Prevenção de Influenza Aviária e o de
64
Controle e Prevenção da Doença de Newcastle, modernizando laboratórios, criando barreiras
sanitárias e fornecendo treinamento. Os frigoríficos inspecionados pelo Serviço de Inspeção
Federal (SIF) têm certificações e processos internacionais de qualidade, demonstrando como a
produção avícola nacional busca inserir-se no modo globalizado de produção. Os frigoríficos
brasileiros têm certificações internacionais, como Global G.A.P. (Boas Práticas Agrícolas),
ISO (Organização Internacional para Padronização) e BRC (British Retail Council), e seguem
processos de qualidade reconhecidos e utilizados em todo o mundo, tais como HACCP
(Análise de Risco de Pontos Críticos de Controle), GMP (Boas Práticas de Produção) e SSOP
(Procedimento Padrão de Higiene Operacional), entre outros. Além disso, hoje a maioria dos
frigoríficos brasileiros está certificada para fazer o abate Halal, voltado para o consumo de
muçulmanos – todo esse trabalho é acompanhado por certificadoras reconhecidas pelas
autoridades muçulmanas, bem como inspecionadas por auditores das entidades religiosas dos
países que importam as aves brasileiras24
.
Acerca disso, cabe-nos fazer uma consideração importante, haja vista que quando
analisamos os produtos de origem animal, vemos que o Estado, através do seu serviço
sanitário, se incumbiu de viabilizar o monopólio do capital industrial sobre esse setor. É assim
que, ao nos depararmos com a avicultura de corte, sabemos que o capital multinacional desde
o início do século participa da prática do monopólio, porém tem sabido dividir o bolo com os
emergentes industriais nacionais do setor (OLIVEIRA, 2010, p. 29). Percebe-se que o Estado,
as empresas nacionais e as empresas internacionais articulam-se entre si para viabilizar a
continuidade da atividade avícola no país, trabalhando juntos para se sobreporem às
adversidades que porventura possam aparecer, a exemplo de enfermidades que ameaçam o
retorno do capital despendido para investir no setor, como a Influenza Aviária.
Por fim, cabe reiterar, a partir do que foi aqui brevemente apresentado, que
avicultura é sem sombra de dúvidas um dos setores que tem apresentado nos últimos anos
transformações significativas, desenvolvidas ao sabor do capital comercial. Toda essa
reestruturação na produção do setor avícola brasileiro trouxe grandes modificações na
dinâmica produtiva da atividade no país no que diz respeito à sua espacialidade, uma vez que
o processo de reestruturação produtiva em curso se dá de forma seletiva.
2.3 A DINÂMICA ESPACIAL DA AVICULTURA NO BRASIL
24
BRAZILIAN CHICKEN. Disponível em: <http://www.brazilianchicken.com.br/pt/poultry-industry/animal-
health>. Acesso em: 10 fev. 2016.
65
O Brasil conseguiu alcançar uma significativa estabilidade na produção de carnes
e ovos nas últimas décadas, abastecendo o mercado interno e prosseguindo com grande
destaque no cenário mundial, isso por se tratar de um país com grande disponibilidade de
áreas destinadas à produção agropecuária, e devido aos grandes investimentos realizados no
setor avícola como um todo, especialmente a cargo das principais empresas do setor. Soma-se
a isso o fato de o país ser o 3° maior produtor mundial de milho e o 2° maior produtor
mundial de soja, e essa grande oferta de grãos no mercado interno tem possibilitado a
expansão da produção avícola como um todo, com custos produtivos mais baixos quando
comparados a países que não produzem grandes quantidades de grãos, que é o principal
insumo da produção de aves.
Atualmente, o setor avícola nacional vive um momento de grandes perspectivas
de crescimento mesmo no atual contexto de crise política e econômica, de acordo com órgãos
ligados ao setor. De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a
carne de frango já é a mais consumida no Brasil, com média de 43 quilos por habitante. Além
disso, as exportações brasileiras de carnes e miudezas de aves posicionam o Brasil como
principal exportador mundial do segmento desde 2005 e segundo maior produtor em 2015, o
que representou divisas de R$ 22,8 bilhões, em 2015, com embarque de 4,1 milhões de
toneladas para países de todos os continentes25
. Ainda conforme os dados apresentados pela
CNA, com um plantel de 5,79 bilhões de cabeças, o Brasil produz 13,14 milhões de toneladas
de carne de frango por ano, além de 2,9 bilhões de dúzias de ovos. Previsões da FAO (Fundo
das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) apontam para um crescimento de 22% na
produção avícola brasileira, em 10 anos26
.
O aumento da produção avícola no Brasil se dá principalmente devido à forte
demanda doméstica, movida pelas constantes altas dos preços da carne bovina, o que acaba
por forçar os consumidores a trocar o consumo dessa carne pela carne de frango. Além disso,
o próprio crescimento das exportações de carne de frango brasileira contribui com esse
contexto de crescimento da produção. Diante de todo esse dinamismo do setor, faz-se
importante analisarmos como se configura a geografia da produção avícola no Brasil,
revelando como essa atividade vem se espacializando pelo país a ponto de atribuir novos
conteúdos ao espaço e gerar novas e importantes dinâmicas territoriais.
25
CNA. Disponível em: <http://www.cnabrasil.org.br/noticias/ha-12-anos-avicultura-coloca-o-brasil-na-mais-
alta-posicao-em-exportacao-de-frango>. Acesso em: 15 set. 2016. 26
CNA. Disponível em: <http://www.cnabrasil.org.br/noticias/ha-12-anos-avicultura-coloca-o-brasil-na-mais-
alta-posicao-em-exportacao-de-frango>. Acesso em: 15 set. 2016.
66
Conforme já indicado anteriormente, a avicultura consolidou-se como uma das
mais importantes e eficientes atividades da agropecuária brasileira, o que levou o país a
transformar-se no maior exportador mundial de carne de frango. De acordo com Ipardes
(2002, p. 65), a relação entre a expansão das culturas de soja e milho e a expansão da
avicultura de corte, e, por conseguinte, a desconcentração espacial da indústria da carne de
frango, é muito estreita e explica, em partes, a viabilidade que a indústria processadora de
frango teve a partir de uma oferta abundante de grãos destinados à fabricação de ração,
principalmente nas regiões Sul e Sudeste do país, e, recentemente, a incorporação da região
Centro-Oeste no mapa da cadeia. Com isso, observa-se que a expansão das empresas do setor
avícola está ocorrendo em direção ao Centro-Oeste, grande produtor de grãos, e nos moldes
de alguns projetos já implantados, com um sistema de parceria e produção em alta escala.
Assim, a região Centro-Oeste constitui-se como mais recente área de expansão da produção
avícola.
Segundo Evangelista et al.(2008), inicialmente concentrada nas regiões Sul e
Sudeste, a atividade vem se espalhando pelo território nacional, aproximando-se não só das
regiões produtoras de matérias-primas – como é o caso do deslocamento de criatórios e
abatedouros para a região Centro-Oeste – mas também das regiões consumidoras, o que
explica em parte o seu crescimento na Região Nordeste. Nesse cenário, a avicultura
nordestina já se constitui em importante setor que provoca novas dinâmicas territoriais na
região, conforme vem sendo observado especialmente no Ceará, a partir de uma
especialização produtiva da avicultura localizada na Região Metropolitana de Fortaleza, como
será analisado no capítulo seguinte.
Conforme é possível observar no cartograma e nas tabelas a seguir, no que diz
respeito à produção de ovos, a região Nordeste já começa a ganhar algum destaque,
totalizando 632.941mil dúzias de ovos, atrás das regiões Sudeste e Sul, respectivamente, onde
se encontram os maiores produtores nacionais: São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul,
historicamente onde a produção de ovos primeiramente ganhou fôlego no país, sobretudo em
decorrência da influência exercida pelos imigrantes japoneses. Como podemos verificar nas
tabelas seguintes, a produção de ovos de galinha no Brasil atingiu 3,769 bilhões de dúzias em
2015, cujo valor da produção foi de 10,5 bilhões de reais. Os Estados de Pernambuco, Ceará e
Bahia eram, em 2015, os maiores produtores de ovos do Nordeste, respectivamente.
67
Tabela 5 – Produção e valor da produção de ovos de galinha no Brasil, por grande
região – 2015
Produção de ovos
(Mil dúzias)
Valor da produção
(Mil Reais)
Brasil 3.769.324 10.550.194 Norte 137.557 485.163
Nordeste 632.941 2.269.322
Sudeste 1.638.696 4.089.082
Sul 916.274 2.204.391
Centro-Oeste 443.856 1.502.236 Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
Tabela 6 – Produção e valor da produção de ovos de galinha, por Unidades da
Federação – 2015
Produção de ovos
(Mil dúzias)
Valor da produção
(mil reais)
Brasil 3.769.324 10.550.194
São Paulo
Paraná
Minas Gerais
Rio Grande do Sul
Espírito Santo
Pernambuco
Santa Catarina
Mato Grosso
Goiás
Ceará
Bahia
Amazonas
Mato Grosso do Sul
Rio Grande do Norte
Paraíba
Alagoas
Pará
Sergipe
Rondônia
993.213
360.599
349.939
331.079
285.821
241.559
224.595
193.751
187.966
144.122
84.869
64.306
43.251
42.112
35.001
34.542
32.168
24.095
21.280
2.513.833
814.750
959.406
835.383
580.021
767.800
554.258
771.039
601.881
636.278
245.711
172.033
110.428
198.037
141.486
91.726
112.226
83.936
97.949
Distrito Federal
Piauí
Tocantins
Rio de Janeiro
18.888
18.767
10.081
9.724
18.888
70.279
58.890
35.822
Maranhão 7.874 34.070
Acre 5.043 25.387
Roraima 4.624 18.525
Amapá 55 154 Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
68
Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
Segundo levantamentos realizados pela ABPA, em 2015 a produção brasileira de
ovos alcançou um recorde histórico ao totalizar 39,5 bilhões de unidades produzidas,
superando em 6,1% a produção registrada em 2014. O Brasil também atingiu o melhor índice
de consumo per capita já registrado no setor de ovos, isso devido ao maior incentivo ao
consumo por meio de campanhas publicitárias e ao cenário de mercado interno favorável a
essa proteína. Com o expressivo aumento da produção e o aquecimento do mercado interno, o
consumo de ovos no Brasil em 2015 chegou a 191,7 unidades per capita, número 5,2%
superior ao obtido em 2014, que era de 182 ovos. Em 2015, o alojamento de aves produtoras
Cartograma 1 – Produção de ovos de galinha no Brasil por Unidades da Federação –
2015
69
(poedeiras) chegou a 91,2 milhões de cabeças, número 2,5% inferior ao ano de 2014. São
Paulo seguiu como principal produtor de ovos, com 31,77% do alojamento total do Brasil27
.
Alguns Estados exportam ovos, apesar de cerca de 99% da produção nacional ser
destinada ao consumo interno (ABPA, 2016). Neste segmento, Minas Gerais participou com
mais da metade das exportações de ovos do Brasil em 2015 – com 58,87%. Outros Estados
exportadores são, em sequência, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, São Paulo, e com menor
representatividade, Rondônia e Paraná, que, somados à quantidade de ovos exportados, não
totalizam 1% de participação nas exportações de 2015. O relativo fraco dinamismo das
exportações brasileiras de ovos, se comparado às exportações de carne, pode ser explicado
pela grande e crescente demanda do mercado nacional interno, haja vista que cerca de 99% da
produção brasileira é consumida internamente.
Além do aumento do consumo de ovos, em 2015 o consumo de carne de frango
também subiu no Brasil com relação ao ano anterior. Segundo dados do relatório da ABPA
(2016), o consumo per capita da carne de frango aumentou de 42,78 quilos por habitante ao
ano em 2014, e para 43,25 quilos em 2015, continuando abaixo da média de 47,38 quilos
obtida em 2011. A queda no consumo de frango com relação ao ano de 2011 pode ser
explicada pelo recuo de 3% da produção, para 12,6 milhões de toneladas, devido à crise na
oferta de insumos, basicamente a soja e o milho, encarecendo os insumos de alimentação das
aves e consequentemente elevando os custos de produção.
27
ABPA. Disponível em: <http://abpa-br.com.br/noticia/producao-de-ovos-do-brasil-cresce-61-e-chega-a-395-
bilhoes-de-unidades-1550>. Acesso em: 10 fev. 2016.
70
Gráfico 3 – Consumo per capita de carne de frango no Brasil (kg). 2000 – 2015
Fonte: ABPA (2016). Organização: Bruna Nogueira (2016).
Associado ao crescimento do consumo de carne de frango no Brasil está o
aumento constante da sua produção. No gráfico a seguir, de acordo com os dados divulgados
pela ABPA (2016), podemos observar a evolução da produção brasileira de carne de frango
na última década. A produção teve um retorno ao crescimento com relação à queda sofrida
depois de 2011, em virtude de uma crise que afetou o setor, motivada sobretudo pela redução
de oferta de ração. Apesar disso, nota-se que a produção brasileira de carne de frango vem
apresentando um crescimento constante desde 2006, com perspectivas de manutenção desse
crescimento nas próximas décadas, motivado sobretudo pelo aquecimento do mercado
interno, em virtude do aumento da renda da população nos últimos 13 anos.
29,91
31,82
33,81
33,34
33,89
35,48
35,68
37,02
38,47
38,47
44,09
47,38
45,00
41,80
42,78
43,25
0 10 20 30 40 50
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
71
Fonte: ABPA (2016). Organização: Bruna Nogueira (2016).
.
Outra variável importante para se analisar a evolução da avicultura no Brasil, e
sua consequente espacialização, é a quantidade de galináceos, que se refere ao efetivo de
rebanho total de pintos, galos, frangos e galinhas, além da quantidade somente de galinhas,
voltadas para a produção de carne. Podemos observar, nas tabelas a seguir, que a região Sul
ainda lidera o cenário nacional quanto ao efetivo total de galináceos. Se contabilizado apenas
o efetivo de galinhas, a região Sudeste aparece na primeira posição. Em ambas as situações, a
região Nordeste se encontra em terceiro lugar, mesmo com a recente e rápida expansão da
atividade avícola para a região Centro-Oeste.
Tabela 7 – Ranking do efetivo total de galináceos entre as Grandes Regiões – 2015
Efetivo dos rebanhos
(cabeças)
# Brasil 1.332.078.050
1 Sul 604.937.587
2 Sudeste 368.250.500
3 Nordeste 158.295.760
4 Centro-Oeste 151.297.558
5 Norte 49.296.645
Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
Tabela 8 – Ranking do efetivo de galinhas entre as Grandes Regiões – 2015
Efetivo dos rebanhos
(cabeças)
9,34 10,31 10,94 10,98 12,23
13,06 12,65 12,31 12,69 13,14
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Evolução da produção brasileira de carne de frango (milhões de toneladas)
Gráfico 4 – Evolução da produção brasileira de carne de frango (milhões de
toneladas)
72
# Brasil 222.121.443
1 Sudeste 83.546.024
2 Sul 57.898.612
3 Nordeste 43.400.199
4 Centro-Oeste 26.594.450
5 Norte 10.682.158
Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
Ainda de acordo com dados referentes à Pesquisa Pecuária Municipal (IBGE,
2015), que podem ser verificados na tabela e no cartograma a seguir, o efetivo total de
galináceos no Brasil (galinhas, galos, frangos, frangas e pintos) alcançou quase 1,4 bilhão de
animais alojados em 2015. Os estados com maiores efetivos totais de galináceos foram,
respectivamente, Paraná, com participação de 24,32%, São Paulo, com 15%, e Santa Catarina,
com 10,89%. No Nordeste, o Estado da Bahia lidera o ranking desse efetivo, logo depois tem-
se Pernambuco e Ceará.
Tabela 9 – Ranking do efetivo total de galináceos entre as Unidades da Federação – 2015
Efetivo dos rebanhos
(cabeças)
# Brasil 1.332.078.050
1 Paraná 324.034.053
2 São Paulo 199.874.978
3 Santa Catarina 145.153.142
4 Rio Grande do Sul 135.750.392
5 Minas Gerais 124.929.454
6 Goiás 64.174.315
7 Mato Grosso 50.488.548
8 Bahia 42.141.497
9 Pernambuco 37.045.830
10 Espírito Santo 29.533.870
11 Ceará 28.258.791
73
12 Pará 26.020.054
13 Mato Grosso do Sul 25.539.719
14 Rio de Janeiro 13.912.198
15 Tocantins 11.713.038
16 Distrito Federal 11.094.976
17 Paraíba 10.647.748
18 Piauí 9.710.628
19 Maranhão 9.357.217
20 Sergipe 8.294.641
21 Alagoas 8.163.505
22 Rio Grande do Norte 4.675.903
23 Amazonas 4.357.501
24 Rondônia 3.757.136
25 Acre 2.877.012
26 Roraima 510.438
27 Amapá 61.466 Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
74
Cartograma 2 – Efetivo total de galináceos no Brasil, por Unidades da Federação – 2015
Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
No que se refere apenas ao efetivo total de galinhas, ainda de acordo com os
dados da Pesquisa Pecuária Municipal (IBGE, 2015) apresentados na tabela e cartograma a
seguir, os Estados das regiões Sul e Sudeste continuam assumindo a liderança no efetivo
desses animais, sobretudo São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Já em
relação à região Nordeste, o destaque vai para Pernambuco, Ceará e Bahia, respectivamente
os maiores produtores. São essas galinhas que, normalmente, são voltadas para o abate e para
a produção de carne que abastece tanto o mercado nacional quanto internacional.
75
Tabela 10 – Ranking do efetivo total de galinhas entre as Unidades da Federação – 2015
Efetivo dos rebanhos
(cabeças)
# Brasil 222.121.443
1 São Paulo 47.335.381
2 Paraná 23.076.233
3 Minas Gerais 21.064.506
4 Rio Grande do Sul 19.341.525
5 Santa Catarina 15.480.854 6 Espírito Santo 14.269.185
7 Pernambuco 13.504.293
8 Goiás 11.727.770
9 Mato Grosso 10.584.298
10 Ceará 9.493.978
11 Bahia 7.386.067
12 Mato Grosso do Sul 3.344.049
13 Amazonas 3.129.387
14 Pará 3.083.862
15 Rio Grande do Norte 2.529.955
16 Paraíba 2.268.931
17 Maranhão 2.223.811
18 Piauí 2.102.337
19 Alagoas 2.087.841
20 Rondônia 1.827.055
21 Sergipe 1.802.986
22 Tocantins 1.669.175
23 Distrito Federal 938.333
24 Rio de Janeiro 876.952
25 Acre 635.435
26 Roraima 325.288
27 Amapá 11.956 Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
76
Cartograma 3 – Efetivo de galinhas no Brasil, por Unidades da Federação – 2015
Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
Quanto ao abate de frango, os Estados do Sul do país prosseguiram com o
destaque (IBGE, 2015), haja vista que Paraná ficou em primeiro lugar no panorama nacional,
com 32,46% do total abatido no país; Santa Catarina participou com 16,24%, ficando na
segunda posição; e Rio Grande do Sul em terceiro, com 14,13%, conforme podemos observar
na tabela e figura seguintes. Essa hegemonia da região Sul decorre da concentração das
maiores empresas de avicultura do país, voltadas para o abate de frangos, localizadas
sobretudo no Paraná e em Santa Catarina, com destaque para a Sadia e a Perdigão (BRF).
Ainda de acordo com os dados do IBGE (2015), Bahia, Pernambuco e Ceará,
respectivamente, foram os Estados com maior número de animais abatidos no Nordeste.
77
Tabela 11 – Abate de frangos por número de informantes – 2015
Fonte: IBGE – Pesquisa Trimestral do Abate de Animais. Organização: Bruna Nogueira (2016).
Número de
informantes
(Unidades)
Animais
abatidos
(Cabeças)
Peso total das
carcaças
(Quilogramas)
Brasil
Rondônia
Acre
Amazonas
Roraima
Pará
Tocantins
Maranhão
Piauí
Ceará
Rio Grande do Norte
Paraíba
Pernambuco
Alagoas
Sergipe
Bahia
Minas Gerais
Espírito Santo
Rio de Janeiro
São Paulo
Paraná
Santa Catarina
Rio Grande do Sul
Mato Grosso do Sul
Mato Grosso
Goiás
Distrito Federal
1596
8
5
4
-
16
6
14
20
31
4
16
21
394
15
43
160
39
61
138
198
138
153
20
30
50
12
5.796.225.090
6.821.206
X
X
-
56.873.909
X
1.093.259
8.789.568
24.816.240
X
22.255.123
63.075.334
1.191.064
1.239.573
96.026.984
444.164.736
47.131.593
43.413.318
618.907.997
1.773.635.522
881.857.254
801.028.170
170.889.142
242.495.460
373.965.280
82.245.471
13.149.202.466
16.729.509
X
X
-
148.594.689
X
2.294.174
22.805.616
58.056.179
X
57.190.061
145.436.575
3.028.741
2.316.075
236.919.845
895.481.045
120.182.516
87.299.860
1.485.250.831
3.994.429.524
2.159.944.092
1.611.326.347
435.628.971
562.294.293
845.060.065
166.095.417
78
Figura 4 – Concentração do total abatido de frango no Brasil, por Unidades da
Federação. 2015
Fonte: ABPA (2016).
Além de dominarem a quantidade de abates, em 2015, conforme relatório da
ABPA (2016), os maiores exportadores de carne de frango também foram os estados do Sul
do país. Paraná exportou 35,7% do total de exportações brasileiras de carne de frango,
seguido de Santa Catarina, com 23,30% das exportações, e Rio Grande do Sul, com 17,66%.
Já a região Nordeste apresentou uma porcentagem ínfima no que se refere às exportações de
carne de frango, uma vez que a maior parte da produção nordestina é consumida na própria
região, não havendo a necessidade de exportar essa carne, além de não haver nenhuma
empresa instalada no Nordeste que tenha como foco principal o mercado internacional desse
produto. O Nordeste ainda não produz uma quantidade de carne de frango que possa abastecer
completamente o mercado interno, por conta disso o mercado nordestino absorve
79
completamente essa produção. As grandes empresas nacionais ainda se concentram nas
regiões Sul e Sudeste principalmente devido à forte estrutura da agricultura familiar nessas
regiões, ideal para o modelo de integração que essas empresas utilizam em seus processos
produtivos. Na figura seguinte, vemos quais foram os Estados que exportaram carne de frango
em 2015.
Fonte: ABPA (2016).
De um modo geral, podemos afirmar que a avicultura industrial está
espacialmente concentrada e apresentada sob maior dinamismo sobretudo nas regiões Sul e
Sudeste, com destaque para Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo. Todavia,
as regiões Centro-Oeste e Nordeste vêm apresentando um crescimento importante nas últimas
décadas. Como pudemos observar pela análise das variáveis aqui apresentadas, a região
Nordeste ainda apresenta pequenos volumes produzidos se comparados aos grandes
produtores, tendo uma pequena participação na produção nacional, isso devido aos custos
Figura 5 – Exportações de carne de frango no Brasil, por Unidades da Federação – 2015
80
mais elevados da alimentação de frangos devido à distância das principais áreas produtoras de
grãos, basicamente. Apesar disso, Oliveira et al.(2007) afirmam que a Região Nordeste
oferece condições ambientais e operacionais que estimulam o desenvolvimento dessa
atividade, especialmente em Pernambuco, Ceará e Bahia.
Atualmente, 160 empresas avícolas atuam no Nordeste, sendo os pequenos e
médios produtores a maioria e apenas 15 empresas são de maior porte28
. A região responde
por 8% da produção de frangos de corte e 15% da produção de ovos no país. Como visto
anteriormente, na região, o Estado de Pernambuco lidera a produção de frangos e ovos,
seguido pelo Ceará. O grande gargalo da produção nordestina tem sido a relação de custos
com a logística de milho e soja, e isso faz com que essa produção avícola seja menos viável
aos pequenos e médios produtores, o que futuramente poderá alargar a agregação deles em
uma forma de produção integrada com grandes empresas produtoras, como já acontece no
Estado da Bahia. Apesar disso, aos poucos a avicultura industrial passa a ganhar um grande
destaque no Nordeste, somando-se a uma produção mais tradicional de aves que ainda é muito
forte na região, principalmente no interior e a cargo de agricultores familiares.
A partir do que foi apresentado nesse capítulo, pudemos notar que a avicultura é
um dos componentes mais importantes do agronegócio brasileiro e um dos mais dinâmicos do
circuito espacial de produção de carnes, cenário confirmado pelo fato de o Brasil continuar se
mantendo, desde 2005, como maior exportador de carne de frango, tornando-se em 2015 o
segundo maior produtor. Tal desenvolvimento do sistema avícola nacional pode ser
considerado como símbolo e resumo da reestruturação produtiva da agropecuária no Brasil,
reunindo em sua estrutura funcional elementos primordiais da produção capitalista moderna
(tecnologia de ponta, eficiência na produção e diversificação no consumo) para ampliar cada
vez mais sua produção e lucratividade.
Além disso, o desenvolvimento das forças produtivas da avicultura no Brasil se dá
sob forma crescente se observarmos a ampliação do sistema produtivo avícola moderno para
além dos principais locais de produção, a exemplo do que é observado atualmente no Ceará.
Se anteriormente a produção avícola cearense não assumia nenhum destaque no cenário
nacional, hoje podemos afirmar que a reestruturação produtiva do setor atingiu fortemente a
avicultura praticada no Estado, reconfigurando as relações sociais de produção do setor e
dando origem a novas dinâmicas territoriais, sobretudo através da territorialização de grandes
28
DIÁRIO DO NORDESTE. Disponível em:
<http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1275076>. Acesso em: 02 mar. 2016.
81
empresas avícolas e da concentração dessa atividade especialmente na Região Metropolitana
de Fortaleza, conforme explanaremos na sequência.
82
3 A CONFIGURAÇÃO SOCIOESPACIAL DA AVICULTURA NO CEARÁ
3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E HISTÓRICO DA AVICULTURA CEARENSE
No Estado do Ceará, assim como no restante do país, até meados de 1900 a
produção de aves era unicamente artesanal. As aves caipiras eram criadas soltas nos quintais,
terreiros e unidades agrícolas familiares, sendo uma criação mais doméstica e tradicional. Os
produtos desse tipo de criação (carne e ovos) eram destinados ao consumo interno da família,
não sendo voltados a uma comercialização mais efetiva. Essa forma de criação, muito
presente ainda hoje, caracteriza-se pela sua forma de exploração mais extensiva, na qual
muitas vezes inexistem instalações específicas para abrigar as aves, bem como a adoção de
práticas de manejo no que se refere principalmente aos aspectos sanitários, reprodutivos e
nutricionais, o que resulta em índices de fertilidade e natalidade mais reduzidos.
Já avicultura industrial, que tem suas bases nos avanços técnicos e científicos do
processo de reestruturação produtiva dos vários setores da economia, passou a ser praticada
depois que a produção avícola começou a se tornar comercial, com implantação de
empreendimentos de capital local de pequeno e médio porte. Assim, a avicultura industrial do
Ceará teve seu início no final da década de 1950 e princípio da década subsequente, com a
implantação de pequenas granjas para produção de ovos e a criação de aves para corte em
Fortaleza e municípios circunvizinhos. Desta forma, o processo de implantação da atividade
avícola cearense já evidenciava uma situação locacional diferente da maioria das atividades
agropecuárias tipicamente rurais e espacialmente concentradas no interior cearense, como
informado no site da Associação Cearense de Avicultura (Aceav)29
.
Entre o final dos anos 1950 e início dos 1960, de acordo com um estudo realizado
pelo então Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Estado do Ceará (CEAG-CE,
1978, p. 09) – hoje Sebrae no Ceará – tinha início também a exploração de matrizes com a
simultânea instalação de um pequeno incubatório no Ceará. Nessa época, a produção de
frango tinha suas limitações, pois eram necessários 90 dias para alcançar o peso vivo de
1.300g, enquanto que hoje, no Brasil, devido aos avanços técnicos e científicos, com um
consumo de 1,8 kg de ração se obtém 2.500g com a idade de aproximadamente 43 dias, em
média, segundo a ABPA30
. Assim, nos primórdios da avicultura empresarial cearense, o setor
29
ACEAV. Disponível em: <http://www.aceav.com.br/index.php/2013-03-04-13-47-19/historico>. Acesso em:
24 mai. 2015. 30
EMBRAPA. Disponível em: <https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/10271064/ciencia-
impulsiona-avicultura-brasileira>. Acesso em: 13 jul. 2016.
83
enfrentou uma série de dificuldades inerentes ao baixo patrimônio genético das aves
exploradas e à falta de assistência técnica apropriada no sentido de evitar enfermidades e
garantir a sanidade da produção31
.
Ainda nessa época, as aves estavam sujeitas a doenças viróticas e outras
enfermidades que não contavam com tratamento nem preventivo, nem curativo. Além disso,
as rações não tinham suas formulações bem balanceadas, nem contavam com aditivos
protetores dos nutrientes e nem estimulantes da produção. A avicultura mundial, que vinha em
pleno desenvolvimento e com elevados investimentos em pesquisas genética e tecnológica,
necessitava participar de todos os mercados para obter maior lucratividade, a fim de fazer face
a tais despesas. Com efeito, o mercado cearense foi incorporado a esse contexto nos primeiros
anos da década de 1960, quando as granjas locais começaram a adotar novas técnicas na
produção e adquirir novas linhagens de aves com melhores propriedades genéticas,
proporcionando melhores condições na exploração e no desenvolvimento da atividade,
dotando o setor de um perfil ainda mais empresarial (CEAG-CE, 1978, p. 09).
Com isso, no campo da reprodução das aves, o Ceará já apresentava um
significativo desenvolvimento, pois foram implantadas granjas matrizes tanto para produção
de poedeiras comerciais como para frangos, com um melhor nível técnico, produzindo pintos
de um dia de qualidade igual aos dos grandes centros de incubação, localizados especialmente
nas regiões Sul e Sudeste do país. Com efeito, isso já revelava uma tendência de crescimento
do setor produtivo de pintos comerciais no Estado do Ceará já pouco dependente do
fornecimento de outros mercados, participando do abastecimento destes produtos para o
mercado nordestino, assumindo com isso um relativo destaque na avicultura da região.
A produção de ovos para o consumo também teve um grande desempenho tanto
em volume produzido quanto em infraestrutura técnica e operacional, pois, desde o início até
o presente momento, foram os granjeiros desse ramo que apresentaram maior crescimento de
seus plantéis32
, maior estabilidade econômica, melhor mecanização e melhor sistema de
comercialização (CEAG-CE, 1978). Isso explica porque hoje o Ceará é autossuficiente quanto
à produção de ovos, comercializando o seu excedente para mercados do Norte e Nordeste –
isso quer dizer que todo o ovo consumido no Ceará advém de produção realizada no próprio
estado. Mesmo naquela época já não se importavam ovos, salvo em raras ocasiões, e também
já havia uma comercialização desse produto para o mercado nordestino.
31
ACEAV. Disponível em: <http://www.aceav.com.br/index.php/2013-03-04-13-47-19/historico>. Acesso em:
24 mai. 2015. 32
Os plantéis se referem ao conjunto de aves, ao rebanho existente na criação.
84
Quanto à produção de frangos, o Ceará, entre as décadas de 1950 e 1960, ainda
não apresentava um desenvolvimento satisfatório que proporcionasse uma firme estrutura de
modo a garantir essa produção. Apesar disso, a atividade não tinha condição técnica de vender
seus produtos aos supermercados locais, ficando os produtores obrigados a vender seus
frangos vivos para serem abatidos na periferia de Fortaleza (CEAG-CE, 1978). Dessa
maneira, os supermercados, excelentes clientes, se obrigavam a adquirir frangos congelados
do Sul do país. Essa dependência entravou por um tempo a expansão da produção cearense,
que, ciclicamente, tinha seu mercado invadido por frangos congelados de outros mercados
que eram ofertados muitas vezes com preço inferior ao do custo de produção local, como
ainda acontece atualmente, uma vez que a produção cearense ainda não dá conta de atender à
demanda local.
Assim, a avicultura cearense, ganhando cada vez mais respaldo tecnológico e a
responsabilidade de abastecer a grande Fortaleza e outros eventuais mercados, principalmente
com a produção de ovos, teve um rápido crescimento, tornando-se um importante segmento
na produção agropecuária já a partir dos anos 1960. O apoio financeiro dado pelas instituições
de crédito estatais contribuiu bastante para isso – cenário observado no setor agropecuário
brasileiro como um todo, conforme indicam Delgado (1985) e Silva (1996). Além disso, os
incentivos financeiros concedidos por bancos e os incentivos fiscais administrados sobretudo
pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) também propiciaram a
implantação das grandes empresas avícolas, conforme indica o estudo do CEAG-CE (1978, p.
83).
Ainda de acordo com essa publicação, em 1963, o Banco do Brasil, através das
agências de Fortaleza e Maranguape, deu início a pesados financiamentos voltados para o
setor. No ano seguinte, o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) passou também a amparar essa
linha de atividade produtiva. E já em 1965, além desses bancos federais, começavam a operar
na avicultura o Banco do Estado do Ceará e a Cooperativa dos Agricultores de Maranguape.
Ressalta-se, ainda, que a Sudene, estendendo os incentivos fiscais à avicultura, favoreceu a
implantação de grandes granjas avícolas no Ceará33
. Com isso, outros setores apresentaram
um significativo desenvolvimento, como, por exemplo, fábricas de ração, fábricas de
implementos avícolas e vários frigoríficos para vendas de frangos vivos e ovos de granjas
(CEAG-CE, 1978).
33
Acerca da atuação da Sudene no desenvolvimento industrial e agrícola do Nordeste, através do planejamento
estatal voltado para dinamizar economicamente a região, ver sobretudo Oliveira (1993).
85
É importante ressaltar que alguns estudos de apoio à avicultura cearense foram
realizados desde os anos 1960 por instituições de crédito e órgãos estatais de planejamento.
Algumas dessas pesquisas sobre o setor avícola cearense foram desenvolvidas pelo
Departamento Rural do Banco do Nordeste e pela então Comissão Estadual de Planejamento
Agrícola (CEPA-CE). Os objetivos de tais estudos eram fornecer aos empresários sobretudo
informações técnicas e econômicas indispensáveis ao estabelecimento de explorações
avícolas, bem como ao dimensionamento do mercado de aves e ovos das capitais dos estados
do Nordeste, além de fornecer uma visão geral do estágio de desenvolvimento do setor
avícola no Ceará, como afirmam Oliveira et al.(2008).
Oliveira et al.(2008) indicam também que tais pesquisas foram fomentadas
especialmente porque a avicultura no Ceará era considerada pelos órgãos oficiais como
alternativa de investimento para o desenvolvimento econômico do Estado. Daí por que as
instituições diretas ou indiretamente ligadas àqueles órgãos tenham desenvolvido estudos
visando orientar técnica e economicamente os empresários, bem como as entidades
financeiras que atuam nesta atividade. Os governos Federal e Estadual, desde o início,
concederam incentivos fiscais e financeiros para o desenvolvimento da atividade no Ceará por
meio de dispositivos legais em favor da avicultura via Sudene e Fundo de Investimentos do
Nordeste (Finor), assim como ocorreu com inúmeras outras atividades produtivas em toda a
região, conforme demonstram os estudos de Lima (1994), Araújo (1997) e Pereira Júnior
(2003).
Assim, o desenvolvimento da atividade de pequenas criações avícolas iniciadas
nos anos de 1950 no Ceará acabou resultando, em 1965, na fundação da Granja Regina,
voltada na época para a comercialização de pintos de um dia, adquiridos pelas Granjas Branca
e Guanabara, situadas no Rio de Janeiro, além de ovos e frangos, dando início à fase semi-
industrial na avicultura cearense. Antes disso, em 1962, liderados pelo dono da Granja
Regina, um grupo de avicultores funda a Associação Cearense de Avicultura, a Aceav. Mais
tarde, surgiu a Cooperativa dos Proprietário de Granjas, com o objetivo de comercializar a
produção de ovos e vender insumos avícolas para os cooperados34
.
Já na década de 1970, a Aceav assume um forte papel institucional no cenário da
produção avícola local, enquanto que o empresário Roberto Soares Pessoa35
, dono da empresa
Emape, emerge como liderança do setor no Estado e se consolida em âmbito nacional durante
34
ACEAV. Disponível em: <http://www.aceav.com.br/>. Acesso em: 13 out. 2012. 35
Roberto Pessoa é um influente político cearense, e já ocupou cargos de deputado estadual, de deputado federal
por três mandatos consecutivos e de prefeito do município de Maracanaú.
86
a década de 1980, quando assume a presidência da União Brasileira de Avicultura, naquele
momento sob a sigla UBA. Ainda nos anos 1970, cerca de 98% do milho vendido na Bolsa de
Cereais de São Paulo é arrematado pelos avicultores cearenses por meio da Companhia de
Financiamento da Produção (CFP)36
, uma vez que as áreas de produção avícola no Ceará se
encontram distantes das regiões de produção de grãos no Brasil.
Diante disso, no final dos anos 1980 iniciou-se um ciclo de importações de milho
da Argentina e dos Estados Unidos pela Aceav para abastecer a produção avícola cearense. Já
na década de 1990, o setor passa a se abastecer com o milho adquirido nos Estados da Bahia,
Goiás e Mato Grosso (áreas de expansão da produção de grãos, especialmente de soja) por
meio de leilões de estoques do Governo Federal realizados pela Conab. Ainda assim, sob a
gestão de Carlos Matos Lima37
, a Aceav planejou alternativas para o abastecimento de milho
a médio e longo prazos para garantir a continuidade do desenvolvimento da avicultura no
Ceará. Assim surgiu a criação do Projeto Milhão, uma articulação institucional que objetivava
o incremento, através do uso de alta tecnologia, da produção de milho no Ceará38
.
Com isso, ainda na década de 1990, dez empresas avícolas, lideradas pela Aceav,
resolvem plantar experimentalmente 550 ha de milho na Chapada do Apodi, em Limoeiro do
Norte, em consórcio com as Cooperativas de Colonos e Irrigantes do Projeto Apodi. A
produção atingiu uma produtividade média de 6.700 Kg/ha, contra 2.500 Kg/ha média
registrada anteriormente na região e 850 Kg/ha, média obtida no Estado. O experimento foi
tecnicamente conduzido por uma empresa de consultoria especializada em plantio de grãos na
região de Barreiras (oeste do Estado da Bahia)39
. Observa-se, dessa forma, que a Aceav vem
assumindo papel de destaque no que concerne ao processo de abastecimento de milho para os
avicultores cearenses desde a sua criação, na década de 1960, garantindo o suprimento de
ração (milho e soja) para as grandes empresas avícolas instaladas no Ceará, reforçando
aparato institucional e também político que permeia as relações de produção da avicultura
cearense.
Atualmente, a associação também procura incentivar, através de campanhas e
palestras, o consumo dos produtos avícolas cearenses, principalmente dos ovos, para que as
36
ACEAV. Disponível em: <http://www.aceav.com.br/index.php/2013-03-04-13-47-19/historico>. Acesso em
24 mai. 2015. 37
Carlos Matos é outro influente político cearense e, além de ser atualmente deputado estadual, já assumiu
inúmeras vezes a Secretaria de Agricultura do Ceará, especialmente durante os governos de Tasso Jereissati. 38
ACEAV. Disponível em: <http://www.aceav.com.br/index.php/2013-03-04-13-47-19/historico>. Acesso em:
24 mai. 2015. 39
ACEAV. Disponível em: <http://www.aceav.com.br/index.php/2013-03-04-13-47-19/historico>. Acesso em:
24 mai. 2015.
87
empresas associadas ampliem cada vez mais seus mercados, além de atuar criando parcerias
com empresas fornecedoras de insumos para o setor avícola. Percebe-se, assim, que a
articulação exercida pela Aceav, ao agregar todas as principais empresas do setor em atuação
no Ceará, vem sendo fundamental para resguardar os interesses dos empresários que
controlam esse setor, que possuem também uma estreita articulação com o meio político,
dando origem ao que Silva (2011) vai chamar de “rede política territorial”, representada pela
articulação entre empresas e política que agem juntas regulando os usos do território.
Nota-se, de um modo geral, que entre as décadas de 1970 e 1990 há a
consolidação da avicultura industrial no Ceará, através da reestruturação e modernização do
setor. Nos últimos vinte anos, tendo a avicultura industrial já se consolidado no contexto
agropecuário cearense, observa-se uma concentração da atividade no que concerne aos
produtores, com redução em seu número, de acordo com o que observou o presidente do
Sindicato dos Trabalhadores na Avicultura no Estado do Ceará (SINDIAVE-CE), durante
entrevistas40
, o qual indicou que quando esse sindicato foi fundado, no final dos anos 1980,
existiam 102 empresas avícolas no Estado, sendo que atualmente existem apenas 22.
Evangelista et al.(2008) também destacam que nas últimas décadas houve uma concentração
da produção avícola cearense através da redução do número de produtores41
.
Em 2013, quando concluímos o estudo sobre os circuitos espaciais da produção
avícola da RMF, existiam 24 empresas associadas à Aceav, sendo que atualmente a entidade
congrega 22 produtores. Segundo o presidente do SINDIAVE, isso se deu pelo processo de
incorporação de pequenos empreendimentos avícolas pelas empresas maiores, fazendo com
que a atividade se concentre cada vez mais no Ceará e nas mãos de poucos produtores,
permanecendo no mercado apenas aquelas empresas mais competitivas e com maiores aportes
de capital, gerando um verdadeiro monopólio na avicultura cearense. No quadro a seguir
podemos verificar quais são os atuais produtores comerciais associados à Aceav, com
destaque para todas as grandes empresas avícolas cearenses e para algumas empresas
menores. Além disso, observamos também a concentração dessas empresas na RMF (15,
sendo 7 apenas em Fortaleza), além da existência de algumas no Sertão Central (4), no
Maciço de Baturité (2) e no Planalto da Ibiapaba (1).
40
Entrevistamos o presidente do SINDIAVE em duas diferentes ocasiões, uma em 2013 e outra em 2015. 41
Apesar da diminuição do número de produtores, a produção avícola cearense está em constante crescimento
devido ao crescente consumo no estado do Ceará, bem como na região Nordeste como um todo, e também
devido à expansão dos investimentos das grandes empresas do setor.
88
Quadro 2 – Produtores associados à Aceav – 2016
Produtores/Empresas Principais
produtos Localização
01 AVICULTURA INDUSTRIAL JOSIDITH
LTDA Ovos Pacajus/CE
02 AVINE COMERCIAL E AVÍCOLA DO
NORDESTE Frango Fortaleza/CE
03 CARNEIRO INDÚSTRIA AVÍCOLA
LTDA Frango Iguatu/CE
04 CIALNE – CIA. DE ALIMENTOS DO
NORDESTE
Frango
Pinto de um dia
Matrizes
Fortaleza/CE
05 EMAPE ALIMENTOS LTDA
Ovos
Pinto caipira
Pinto capote
Fortaleza/CE
06 DÉRCIO KLEIN Frango Fortaleza/CE
07 FLÁVIO SABINO DOS SANTOS Frango Barreira/CE
08 GRANJA ABRIGO LTDA Frango Quixadá/CE
09 GRANJA ALBUQUERQUE LTDA Frango Acopiara/CE
10 GRANJA FELIANA LTDA Frango Quixadá/CE
11 GRANJA SANTA LÚCIA S/A Ovos Aquiraz/CE
12 GRANJAS SÃO JOSÉ S/A Frango
Ovos Horizonte/CE
13 GRANJA SERJAL LTDA Ovos Pacatuba/CE
14 TIJUCA ALIMENTOS Frango
Ovos Fortaleza/CE
15 HAISA-HORIZONTE AVÍCOLA E
INDUSTRIAL S/A
Frango
Ovos
Pinto de um dia
Horizonte/CE
16 IRMÃOS PEREIRA Frango Ubajara/CE
17 J. REIS AVÍCOLA LTDA Ovos Fortaleza/CE
18 JOSÉ RICARDO DE MELO CARNEIRO Ovos Quixadá/CE
19 PACATUBA HORTIGRANJEIRA S/A Frango Pacatuba/CE
20 REGINA AGROINDUSTRIAL S/A Frango
Ovos Fortaleza/CE
21 SEBASTIÃO CAVALCANTE DE SOUZA Frango Itaitinga/CE
22 XEREZ AVÍCOLA LTDA Frango Maranguape/CE
Fonte: ACEAV (2016). Disponível em: <http://www.aceav.com.br/index.php/2013-03-04-13-47-19/associados>.
Acesso em: 20 fev. 2017.
Apesar de apresentar um considerável crescimento nas últimas décadas, a
avicultura cearense continua com um grande gargalo envolvendo o fornecimento de
89
insumos42
, especialmente dos componentes para a fabricação de ração, sobretudo o milho e a
soja, apesar de toda a articulação da Aceav no sentido de garantir o suprimento de grãos.
Nesse sentido, destaca-se que as grandes empresas avícolas dispõem de unidades de
fabricação de ração próprias. Quando o ano apresenta precipitações pluviométricas
satisfatórias e a safra é boa, o milho utilizado é proveniente do próprio Ceará. Porém, em anos
de precipitações insuficientes, prejudicando a safra, os avicultores cearenses adquirem o
milho de outros estados brasileiros, especialmente de Goiás e Mato Grosso, ou mesmo do
exterior, sobretudo da Argentina. Já a soja utilizada na ração é proveniente dos cerrados
nordestinos (Bahia, Maranhão e Piauí).
Assim, o fornecimento de insumos para a fabricação da ração representa um dos
maiores obstáculos ao desenvolvimento da atividade avícola no Ceará, nesse caso,
especialmente no que se refere à alimentação das aves. O suprimento de milho e soja enfrenta,
além dos problemas decorrentes das condições climáticas, problemas com a logística de
transporte, pois as áreas avícolas localizam-se distantes das áreas produtoras de grãos,
especialmente dos cerrados. O deslocamento da produção exige um sistema eficiente de
transporte que não eleve tanto seus custos. Como apontam Oliveira et al. (2008, p. 52), a
ração participa com cerca de 66% na composição de custos, sendo o elemento mais
importante na diferença entre as principais regiões produtoras.
Apesar disso, o funcionamento do setor avícola no Ceará apresenta singularidades
nos seus dois grandes segmentos: corte e postura. Para ambos, chama a atenção o fato de que
a produção integrada esteja ainda quase que totalmente ausente no Ceará. De acordo com a
Aceav, o modelo ainda não prosperou no estado devido à fragilidade da agricultura familiar
estadual. Com isso, no Ceará, o modelo de produção avícola existente é o independente, ou
seja, realizado pelas próprias grandes empresas do setor, diferentemente do que ocorre nos
estados do Sul e no Centro-Oeste, onde é mais comum o sistema de produção por meio da
integração. Nesse sistema de produção, o produtor se responsabiliza pela produção do frango
desde a compra de insumos para a ração, os pintinhos, até a venda de forma individual,
comercializando o frango vivo, além de realizar a contratação do pessoal (funcionários) para o
cuidado e manejo das aves, como demonstram os estudos de Mizusaki (2003), Belusso (2010)
e Paulino (2012), entre outros.
Conforme apresentamos em Sousa (2013), no Ceará, assim como em grande parte
do Nordeste, com forte presença de granjas independentes e que não possuem frigorífico
42
AVEWORLD. Disponível em: <http://www.aveworld.com.br/noticia/pecnordeste-destaca-alta-de-aves-no-
ceara>. Acesso em: 17 nov. 2015.
90
próprio, a maior parte da comercialização é realizada, ainda, com o frango vivo. Apesar de ser
crescente o movimento de expansão do processamento e industrialização da carne de frango
pelas grandes empresas, no sistema atual de comercialização, preponderantemente, o frango
vivo é adquirido por intermediários junto aos grandes produtores e depois repassado a
varejistas diversos, distribuídos em pontos de concentração e venda que procedem ao abate
em abatedouros ainda muito rudimentares. Nesse caso, os frangos são comercializados sob a
forma de carcaça inteira quente ou resfriada, ou ainda em cortes.
A comercialização do frango vivo é realizada por intermédio de grande rede de
atacadistas, que fazem a distribuição com varejistas, constituídos por açougues, mercadinhos,
pequenos comércios, feirantes, pontos de venda de “frango quente” (abatido na hora). Esse
tipo de comercialização continua a representar um nicho importante para os avicultores no
Estado do Ceará como um todo. No mercado varejista predominam frangos oriundos de
outras regiões brasileiras, nesse caso, sobretudo, referente aos congelados. As únicas
empresas cearenses que processam frango no Ceará, atualmente, são a Granja Regina e a
Cialne, que ocupam espaço de destaque em supermercados, dividindo o mercado com as
marcas nacionais, tais como Sadia, Perdigão, Seara e Resende. De acordo com informações
repassadas pela Aceav, o consumo de carne de frango do Ceará é atendido 50% pela produção
local, no qual são abatidos cerca de dois milhões de frango por semana, e 50% pela produção
de outros Estados, que vem congelada principalmente do Sul do Brasil, onde estão localizadas
as maiores empresas do país.
Com relação à avicultura de postura, o Ceará é autossuficiente à oferta de ovos,
conforme indicam dados da Aceav, o que quer dizer que 100% dos ovos aqui consumidos são
produzidos em território cearense. Os criadores contam com sistema de distribuição próprios,
com carretas apropriadas ao transporte específico dos ovos, alcançando assim as grandes
redes de supermercados que atuam na Região Metropolitana de Fortaleza. Os demais
estabelecimentos, como mercadinhos, confeitarias, padarias, entre outros, geralmente também
efetuam a compra de ovos junto às empresas ou mesmo através dos supermercados, como
demonstramos em Sousa (2013). Além disso, a Aceav vem realizando campanhas
promocionais voltadas para ampliar ainda mais o consumo de ovos43
, que vem aumentando
nos últimos anos, conforme já indicado anteriormente.
Dessa forma, o consumo de ovos é crescente, e 90% do que é produzido no Ceará
é destinado para o consumo interno, segundo informações obtidas na Aceav. Todavia, o que
43
ACEAV. Disponível em: <http://www.aceav.com.br/index.php/noticias/clipping-diario/109-aceav/1211-
aceav-promove-o-consumo-do-ovo-em-simposio-de-nutricao-e-educacao-fisica>. Acesso em: 10 fev. 2015.
91
não é consumido no próprio Ceará, segue sobretudo para os demais Estados do Nordeste. O
Nordeste é apontado como uma região do Brasil com forte propensão para o aumento do
consumo de proteína animal, segundo Oliveira et al.(2008). O incremento da renda na região
nos últimos anos, o que inclui a importância dos programas de governo, a exemplo do Bolsa
Família, tem sido um fator essencial para o desenvolvimento da economia local. Especialistas,
a exemplo de Burlandy (2007), defendem que, com o incremento da renda, há melhorias na
dieta diária da população, pois o alimento se torna artigo de primeira necessidade,
favorecendo o aumento do consumo de carne de frango e de ovos, por serem mais acessíveis.
A partir de reportagens, entrevistas e leituras de trabalhos acerca da avicultura
cearense, pode-se verificar que Bahia, Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte e Paraíba são os
principais Estados que recebem a produção de ovos do Ceará (SOUSA, 2013). Entre os
fatores que contribuem para a expansão da avicultura cearense está o valor acessível cobrado
pelo frango e pelos ovos, associado às melhores condições de renda da população nordestina.
Esse aquecido mercado, especialmente aquele concentrado na Região Metropolitana de
Fortaleza, ajuda a entender, em partes, o constante crescimento da produção avícola cearense,
como será analisado no subcapítulo seguinte.
Através dessa análise dos fatores que influenciaram a implantação da avicultura
em escala industrial no Ceará, além da indicação do mercado avícola cearense, podemos
perceber que, através do processo histórico iniciado pelo domínio da avicultura pelo capital
comercial que se estabeleceu no Estado e sua consequente incorporação pelo capital
industrial, a atividade avícola cearense se desenvolveu muito com o passar do tempo,
utilizando-se de inovações técnicas e científicas próprias do processo de reestruturação
produtiva do setor para elevar sua produção, como poderemos verificar no item seguinte. A
produção segue crescendo apesar da crise do fornecimento de ração e da desaceleração da
economia nacional evidenciada nos últimos anos, associada a um mercado de carne e ovos
sempre aquecido.
3.2 A ESPACIALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO AVÍCOLA CEARENSE
O Ceará, que até a década de 1960 teve sua economia subordinada à agricultura de
subsistência, à pecuária extensiva e ao extrativismo vegetal, vem ganhando destaque com a
modernização das suas práticas agropecuárias incentivadas pelas ações planejadas do poder
governamental e de grandes agroindústrias e empresas associadas ao agronegócio que
passaram a se instalar em território cearense. Nesse contexto da reestruturação produtiva da
92
agropecuária do Ceará, analisado sobretudo por Elias (2002, 2005, 2007a), insere-se a
produção avícola, empreendida por importantes empresas locais, sendo uma das atividades
pecuárias com maior nível de automatização e incorporação de inovações técnico-científicas
advindas com o processo de reestruturação em curso.
Infere-se que a atividade avícola é um dos setores da economia cearense que vem
ganhando cada vez mais destaque nos últimos anos, constituindo-se em um segmento
dinâmico e competitivo do setor agropecuário. Além disso, a avicultura tem uma boa
participação na produção agropecuária cearense, apresentando os maiores efetivos de
rebanhos, em que o total do efetivo de galináceos (galos, frangas, frangos, pintos e galinhas)
apresentou a maior taxa de crescimento dos últimos 20 anos depois do efetivo de codornas,
conforme podemos observar nas tabelas seguintes. Da comparação dos dados de 1995 até
2015, foi estimada a evolução da população avícola das últimas décadas, sendo que o plantel
de aves em 1995 era de 18.718.058 aves, passando para 28.258.791 cabeças em 2015,
representando um crescimento de 51%.
Tabela 12 – Ceará. Efetivo dos rebanhos, por tipo. 1995-2015
Tipo de rebanho 1995 2005 2015
Galináceos
Bovino
18.718.058
2.266.278
22.118.707
2.299.233
28.258.791
2.516.197
Ovino
Suíno
Caprino
Codornas
1.368.841
1.210.735
1.116.173
27.681
1.909.182
1.089.530
931.634
64.607
2.304.996
1.268.342
1.115.888
821.301
Equino 223.984 139.782 135.046
Bubalino 1.486 1.186 1.424
Total 24.933.236 28.553.861 36.421.985
Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
Tabela 13 – Ceará. Variação absoluta e relativa dos efetivos dos rebanhos, por tipo.
1995-2015
Tipo de
rebanho
Variação absoluta Variação relativa
1995-2005 2005-2015 1995-2015 1995-2005 2005-2015 1995-2015
Galináceos
Bovino
Ovino
3.400.649
32.955
540.341
6.140.084
216.964
395.814
9.540.733
249.919
936.155
18%
1%
39%
28%
9%
21%
51%
11%
68%
Suíno -121.205 178.812 57.607 -10% 16% 5%
Caprino -184.539 184.254 -285 -17% 20% 0%
Codornas 36.926 756.694 793.620 133% 1171% 2867%
Equino -84.202 -4.736 -88.938 -38% -3% -40%
Bubalino -300 238 -62 -20% 20% -4% Total 3.620.625 7.868.124 11.488.749 15% 28% 46%
Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
93
No que tange especificamente ao rebanho de galináceos, os dados do IBGE indicam o
aumento da população avícola no Ceará de 1995 a 2015, com um crescimento superior até
mesmo dos rebanhos bovinos e caprinos, atividades muito importantes para o setor
agropecuário cearense. Inferimos que esse crescimento de galináceos no Ceará se deu tanto no
que se refere à avicultura tradicional, praticada nos quintais, sítios e fazendas pelo interior
cearense, quanto à avicultura industrial, representada pelas grandes empresas instaladas
sobretudo na RMF e que concentram uma quantidade muito grande de aves em suas granjas,
voltadas seja para a produção de carne, seja para a produção de ovos (galinhas poedeiras) –,
empresas essas que contam com um melhor acesso aos insumos e às inovações disponíveis
para alavancar a produtividade do setor. No gráfico 5 podemos visualizar a evolução do
plantel avícola cearense nos últimos 20 anos.
Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
A avicultura cearense vive um quadro de relativa estabilidade, segundo o
presidente da Aceav em entrevista ao Diário do Nordeste. Diariamente, são produzidos 5
0
5.000.000
10.000.000
15.000.000
20.000.000
25.000.000
30.000.000
19
95
19
96
19
97
19
98
19
99
20
00
20
01
20
02
20
03
20
04
20
05
20
06
20
07
20
08
20
09
20
10
20
11
20
12
20
13
20
14
20
15
Gráfico 5 – Ceará. Série histórica do efetivo total de galináceos (cabeças). 1995-
2015
94
milhões de ovos e mais 5 milhões de quilos de frango/semana44
. Ainda de acordo com o
representante da Aceav, mesmo nestes tempos em que muitos seguimentos da economia
reclamam quedas quanto à atual crise, o setor avícola continua crescendo, sendo uma
alternativa diante da falta de outras proteínas. O consumo de frango e de ovos é crescente e
90% dos ovos que são produzidos no Ceará são destinados para o consumo interno, como já
relatamos. O aumento da demanda estadual por ovos, a cada ano, está entre 4% e 5%,
segundo dirigente da Aceav45
.
Aumentando a demanda por esse produto sobretudo no mercado estadual, logo a
produção também passa a se adaptar para dar conta de atender os clientes, denotando o
crescente aumento da produção de ovos no Ceará, motivado também pelas inovações técnico-
científicas incorporadas pelas grandes empresas, que, a partir da racionalização do processo
produtivo avícola, passaram a produzir mais ovos em menos tempo. No gráfico a seguir,
podemos observar a evolução da produção de ovos de galinha no Ceará, que foi crescente nas
últimas duas décadas, e que em 2015 atingiu a maior quantidade produzida nessa série
histórica, apresentando um aumento de 41% desde 1995.
44
BLOG DO ELIOMAR. Disponível em: <http://blogdoeliomar.com.br/a-semana-santa-e-a-avicultura-
cearense/>. Acesso em: 05 abr. 2016. 45
O ESTADO. Disponível em: <http://www.oestadoce.com.br/economia/consumo-de-ovos-aumenta-na-
quaresma>. Acesso em: 06 fev. 2015.
95
Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
Diante desse aumento do efetivo de galináceos e da produção de ovos, é importante
compreender como a produção avícola está espacializada no Ceará, a partir da indicação da
distribuição geográfica dessa produção em território cearense, evidenciando a forma como o
espaço passa a ser incorporado pela atividade produtiva da avicultura. Demonstraremos isso a
partir da análise de dados referentes à dinâmica produtiva da avicultura por mesorregiões,
microrregiões e municípios do Ceará, através das variáveis de produção de ovos e de efetivo
de galináceos, com bases nos dados do IBGE (Produção Pecuária Municipal) a partir de uma
série histórica abarcando duas décadas, de 1995 a 2015.
No que se refere ao efetivo total de galináceos, percebemos um crescimento no
plantel de aves em praticamente todas as mesorregiões cearenses46
, como indicado nas tabelas
a seguir. Todavia, a partir da análise desses dados, notamos que o plantel de aves em 2005
diminuiu com relação ao ano de 1995 na RMF. Isso deve ter ocorrido devido ao processo de
expansão da urbanização, o que fez com que a produção avícola se dispersasse um pouco
mais para o interior, sobretudo em direção à região Norte. Mas comparando os anos de 2015 e
46
De acordo com a classificação do IBGE, o Ceará está subdividido em sete mesorregiões, a saber: Noroeste,
Norte, Metropolitana de Fortaleza, Sertões, Jaguaribe, Centro-Sul e Sul, cada qual apresentando uma
configuração geográfica própria.
0
20.000
40.000
60.000
80.000
100.000
120.000
140.000
160.000
19
95
19
96
19
97
19
98
19
99
20
00
20
01
20
02
20
03
20
04
20
05
20
06
20
07
20
08
20
09
20
10
20
11
20
12
20
13
20
14
20
15
Gráfico 6 – Ceará. Série histórica da produção de ovos de galinha (mil dúzias).
1995-2015
96
2005, notamos um novo aumento dos planteis, tendo uma taxa de crescimento de 28% nos
últimos 10 anos, provavelmente devido ao acréscimo de municípios que têm importante
produção avícola à RMF. Apesar disso, o Norte Cearense liderou quanto ao efetivo total de
galináceos em 2015, com quase 9 milhões de aves, e tendo o maior índice de crescimento dos
últimos 20 anos, com 206%, destacando-se aí sobretudo os municípios de Tianguá e Ubajara.
Tabela 14 – Efetivo total dos galináceos (cabeças) por mesorregiões do Ceará
1995 2005 2015
Ceará 18.718.058 22.118.707 28.258.791
Noroeste Cearense 2.965.218 2.598.265 3.071.394
Norte Cearense 2.845.131 5.494.373 8.717.314
Metropolitana de Fortaleza 8.195.847 5.461.173 7.014.190
Sertões Cearenses 1.810.922 4.875.552 5.027.946
Jaguaribe 763.369 639.801 805.351
Centro-Sul Cearense 568.160 1.115.403 1.091.212
Sul Cearense 1.569.411 1.934.140 2.531.384 Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
Tabela 15 – Variação absoluta e relativa do efetivo total dos galináceos por mesorregiões
do Ceará
Variação absoluta Variação relativa
1995-2005 2005-2015 1990-2015 1995-
2005
2005-
2015
1990-
2015
Ceará 3.400.649 6.140.084 9.540.733 18% 28% 51%
Noroeste Cearense -366.953 473.129 106.176 -12% 18% 4%
Norte Cearense 2.649.242 3.222.941 5.872.183 93% 59% 206%
Metropolitana de Fortaleza -2.734.674 1.553.017 -1.181.657 -33% 28% -14%
Sertões Cearenses 3.064.630 152.394 3.217.024 169% 3% 178%
Jaguaribe -123.568 165.550 41.982 -16% 26% 5%
Centro-Sul Cearense 547.243 -24.191 523.052 96% -2% 92%
Sul Cearense 364.729 597.244 961.973 23% 31% 61%
Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
Quanto à produção de ovos de galinha, de acordo com cada uma das mesorregiões
cearenses, podemos notar, através das tabelas a seguir, que em toda a série histórica, a
produção foi maior na RMF, apresentando um crescimento de 16% nos últimos 20 anos. O
Norte cearense foi a mesorregião que apresentou maior taxa de crescimento da produção de
ovos da série, com crescimento de 124%. Além disso, a RMF participou da produção estadual
de ovos de galinha com cerca de 47% em 2015, indicando que, apesar da diminuição do
efetivo de galináceos nos últimos anos, essa região ainda concentra a maior parte da produção
de ovos do Ceará, isso porque as maiores granjas cearenses estão localizadas em municípios
da RMF.
97
Tabela 16 – Produção de ovos de galinha (mil dúzias) por mesorregiões do Ceará
1995 2005 2015
Ceará 102.450 95.985 144.122
Noroeste Cearense 12.195 13.110 16.995
Norte Cearense 18.931 23.943 42.370
Metropolitana de Fortaleza 58.721 43.476 67.882
Sertões Cearenses 4.392 7.544 7.176
Jaguaribe 2.357 2.081 2.665
Centro-Sul Cearense 1.033 2.219 2.091
Sul Cearense 4.822 3.611 4.943 Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
Tabela 17 – Variação absoluta e relativa da produção de ovos de galinha (mil dúzias)
por mesorregião do Ceará
Variação absoluta Variação relativa
1995-
2005
2005-
2015
1990-
2015
1995-
2005
2005-
2015
1990-
2015
Ceará -6.465 48.137 41.672 -6% 50% 41%
Noroeste Cearense 915 3.885 4.800 8% 30% 39%
Norte Cearense 5.012 18.427 23.439 26% 77% 124%
Metropolitana de Fortaleza -15.245 24.406 9.161 -26% 56% 16%
Sertões Cearenses 3.152 -368 2.784 72% -5% 63%
Jaguaribe -276 584 308 -12% 28% 13%
Centro-Sul Cearense 1.186 -128 1.058 115% -6% 102%
Sul Cearense -1.211 1.332 121 -25% 37% 3%
Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
O Estado do Ceará apresenta 33 microrregiões, e por conta disso optamos por
analisar aquelas que apresentaram em 2015 uma produção acima de 10 mil dúzias de ovos.
Dessa forma, quanto à produção de ovos de galinha nas microrregiões, a de Fortaleza lidera o
ranking entre as 5 microrregiões cearense que apresentaram em 2015 uma produção de ovos
de galinha acima de 10 mil dúzias, seguida de Pacajus, Cascavel, Baixo Curu e Ibiapaba.
Dentre essas, a microrregião do Baixo Curu teve o maior crescimento dos últimos 20 anos
quanto à produção de ovos, com 203%, em decorrência da instalação recente de aviários
sobretudo em Paracuru. Por sua vez, dentre as principais microrregiões, a única que
apresentou uma redução na produção de ovos foi a de Fortaleza, indicando que, talvez,
possamos estar presenciando uma alteração da concentração espacial do setor avícola no
Ceará, apesar de a maior quantidade produzida ainda se concentrar nessa microrregião.
98
Tabela 18 – Produção de ovos de galinha (mil dúzias) por microrregiões do Ceará que
apresentaram produção acima de 10 mil dúzias
1995 2005 2015
Ceará 102.450 95.985 144.122
Ibiapaba 8.176 9.377 13.605
Baixo Curu 5.041 3.018 15.287
Cascavel 12.070 18.552 24.545
Fortaleza 42.421 25.702 34.699
Pacajus 16.299 17.774 33.183 Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
Tabela 19 – Variação absoluta e relativa da produção de ovos de galinha por
microrregiões do Ceará que apresentaram produção acima de 10 mil dúzias
Variação absoluta Variação relativa
1995-2005 2005-2015 1995-2015 1995-2005 2005-2015 1995-2015
Ceará -6.465 48.137 41.672 -6% 50% 41%
Ibiapaba 1.201 4.228 5.429 15% 45% 66%
Baixo Curu -2.023 12.269 10.246 -40% 407% 203%
Cascavel 6.482 5.993 12.475 54% 32% 103%
Fortaleza -16.719 8.997 -7.722 -39% 35% -18%
Pacajus 1.475 15.409 16.884 9% 87% 104% Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
Já quanto ao efetivo total de galináceos, dentre as 33 microrregiões cearenses, 7
apresentaram efetivo total de galináceos acima de 1 milhão de cabeças em 2015. Novamente a
microrregião de Fortaleza teve destaque, liderando com um efetivo de 4.141.418 de cabeças
em 2015. Logo depois, com uma diferença pequena, vem a microrregião de Cascavel com
3.962.354 milhões de cabeças. A microrregião que apresentou a maior taxa de crescimento do
efetivo nas últimas duas décadas foi a do Sertão de Quixeramobim, com 424%. A
microrregião de Fortaleza apresentou uma queda de 31% do efetivo de 1995 a 2015, o que
pode ser explicado mais uma vez pelo processo de expansão da urbanização nas cidades que
compõem a microrregião e, especialmente, pela desconcentração espacial das unidades de
produção das principais empresas do setor, as quais estão em processo de descentralização de
seus aviários, até bem pouco tempo concentrados sobretudo na RMF.
99
Tabela 20 – Efetivo total dos galináceos por microrregiões do Ceará que apresentaram
produção acima de 1 milhão de cabeças
1995 2005 2015
Ceará 18.718.058 22.118.707 28.258.791
Ibiapaba 1.043.172 928.871 1.100.224
Baixo Curu 742.337 781.495 2.345.571
Cascavel 925.852 2.671.636 3.962.354
Fortaleza 5.962.044 3.644.058 4.141.418
Pacajus 2.233.803 1.817.115 2.872.772
Sertão de Quixeramobim 657.055 3.190.882 3.440.310
Cariri 782.640 824.214 1.072.360 Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
Tabela 21 – Efetivo total dos galináceos por microrregiões do Ceará que apresentaram
produção acima de 1 milhão de cabeças
Variação absoluta Variação relativa
1995-2005 2005-2015 1995-2015 1995-
2005
2005-
2015
1995-
2015
Ceará 3.400.649 6.140.084 9.540.733 18% 28% 51%
Ibiapaba -114.301 171.353 57.052 -11% 18% 5%
Baixo Curu 39.158 1.564.076 1.603.234 5% 200% 216%
Cascavel 1.745.784 1.290.718 3.036.502 189% 48% 328%
Fortaleza -2.317.986 497.360 -1.820.626 -39% 14% -31%
Pacajus -416.688 1.055.657 638.969 -19% 58% 29%
Sertão de Quixeramobim 2.533.827 249.428 2.783.255 386% 8% 424%
Cariri 41.574 248.146 289.720 5% 30% 37%
Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
A seguir temos os rankings dos municípios cearenses quanto à produção de ovos e
ao efetivo total de galináceos nos anos de 1995, 2005 e 2015. A partir desse ranking, notamos
que, atualmente, os principais produtores de ovos do Ceará são Horizonte, Aquiraz, Beberibe
e Tianguá, e já os que possuem o maior efetivo de aves são Quixadá, Aquiraz, Horizonte,
Beberibe, Cascavel e Paracuru. Além disso, percebemos que, nos anos de 1995 e 2005, o
município de Fortaleza aparecia entre os 20 maiores produtores de ovos e com maiores
efetivos de aves no Ceará, não se configurando com uma relevada importância nos anos
seguintes – mais uma vez, isso pode ser explicado especialmente pela desconcentração das
unidades produtivas das principais empresas, que não mais possuem granjas instaladas em
Fortaleza.
100
Tabela 22 – Ranking descendente da produção de ovos de galinha (mil dúzias) no Ceará,
por municípios – 1995, 2005, 2015
1995 2005 2015
# Ranking Produção de
ovos Ranking
Produção de
ovos Ranking
Produção de
ovos
1 Aquiraz 16.761 Aquiraz 15.539 Horizonte 24.868
2 Fortaleza 11.026 Horizonte 13.918 Aquiraz 24.018
3 Horizonte 9.051 Pindoretama 9.873 Beberibe 13.125
4 Cascavel 8.525 Tianguá 8.124 Tianguá 10.246
5 Pacajus 7.248 Beberibe 4.932 São Gonçalo 9.124
6 Tianguá 6.860 Pacajus 3.856 Pacajus 8.315
7 Caucaia 5.167 Cascavel 3.746 Pindoretama 6.442
8 São Gonçalo 3.958 Caucaia 3.257 Paracuru 6.124
9 Pindoretama 3.442 Quixadá 3.063 Eusébio 5.310
10 Eusébio 3.296 São Gonçalo 2.554 Cascavel 4.977
11 Maranguape 2.803 Eusébio 2.237 Quixadá 3.164
12 Quixadá 1.705 Fortaleza 2.104 Caucaia 2.993
13 Guaiuba 1.439 Guaiuba 1.576 Ubajara 2.739
14 Maracanaú 1.367 Sobral 1.119 Itaitinga 947
15 Sobral 1.226 Ubajara 899 Guaiuba 701
16 Morada Nova 946 Maranguape 585 Mauriti 576
17 Crato 881 Itapipoca 477 Aurora 569
18 Barbalha 717 Acopiara 466 Pacatuba 516
19 Paracuru 692 Paracuru 436 Icó 482
20 Ubajara 546 Mauriti 432 Farias Brito 426
Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
101
Tabela 23 – Ranking descendente dos efetivos totais de galináceos (cabeças) no Ceará,
por municípios – 1995, 2005, 2015
1995 2005 2015
# Ranking Efetivo total
de galináceos Ranking
Efetivo total
de galináceos Ranking
Efetivo total
de galináceos
1 Fortaleza 1.755.207 Quixadá 2.648.500 Quixadá 2.930.000
2 Horizonte 1.513.956 Aquiraz 1.570.805 Aquiraz 2.217.702
3 Aquiraz 978.487 Horizonte 1.374.466 Horizonte 2.080.837
4 Caucaia 918.348 Beberibe 1.254.928 Beberibe 2.051.563
5 Maranguape 903.150 Cascavel 966.454 Cascavel 1.524.378
6 Pacajus 719.847 Maranguape 564.491 Paracuru 1.163.007
7 Cascavel 646.185 Caucaia 562.082 São Gonçalo 958.764
8 Guaiuba 600.130 Barreira 520.943 Pacajus 791.935
9 Tianguá 533.600 Tianguá 503.052 Maranguape 673.515
10 Quixadá 393.001 Pindoretama 450.254 Tianguá 592.000
11 Sobral 387.180 Pacajus 442.649 Caucaia 530.895
12 Maracanaú 343.400 Guaiuba 434.635 Aracoiaba 408.200
13 Crato 283.932 Paracuru 411.505 Barreira 400.000
14 Barreira 261.791 Iguatu 366.905 Pindoretama 386.413
15 Paraipaba 251.564 Acopiara 357.533 Crato 370.000
16 São Gonçalo 246.713 São Gonçalo 337.915 Iguatu 343.414
17 Paracuru 244.060 Itapipoca 329.058 Acopiara 329.301
18 Eusébio 209.697 Crato 273.409 Eusébio 300.286
19 Ubajara 207.100 Milagres 195.267 Itapipoca 267.120
20 Pindoretama 194.411 Pacatuba 174.650 Milagres 250.332
Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
Como podemos observar no mapa a seguir, referente ao efetivo total de aves no
ano de 2009, embora dispersamente distribuída por todo o território cearense, a atividade
avícola vem sendo realizada ainda com muita força nos municípios que compõem a Região
Metropolitana de Fortaleza (RMF), que, apesar dos decréscimos recentes, apresentou em 2015
participação de 41% no efetivo de rebanho do Ceará (onde se destacam municípios como
Aquiraz, Cascavel, Horizonte e Paracuru) e de quase 66% na produção de ovos de galinha em
relação ao total produzido no Estado. A Região Metropolitana de Fortaleza é formada
atualmente por 19 municípios, a saber: Aquiraz, Cascavel, Caucaia, Chorozinho, Eusébio,
Fortaleza, Guaiuba, Horizonte, Itaitinga, Maracanaú, Maranguape, Pacajus, Pacatuba,
Pindoretama, São Gonçalo do Amarante, São Luís do Curu, Paraipaba, Paracuru, Trairi.
É uma grande peculiaridade a produção avícola cearense se concentrar dessa
forma na RMF, o que pode ser explicado pela grande concentração das principais empresas
nessa região, onde também há a centralização de objetos, normas, fixos e fluxos importantes
102
para a manutenção da atividade. Além disso, foi na RMF onde surgiram as primeiras granjas
voltadas para uma produção avícola em larga escala no Ceará, ainda nos anos 1960, como
visto no início deste capítulo. Observamos também que outras áreas do Estado, além da
expressividade da RMF, se destacam na produção avícola, como o Sertão Central (com
destaque para Quixadá) e a Serrada da Ibiapaba (com destaque para Tianguá).
103
Mapa 2 – Efetivo de aves por municípios do Ceará
Fonte: IPECE (2010)
47.
Abrimos aqui um parêntese para explicar que a atividade avícola não é a única do
setor agroalimentar a se concentrar sobremaneira na Região Metropolitana de Fortaleza,
47
Disponível em: <http://www2.ipece.ce.gov.br/atlas/>. Acesso em: 12 abr. 2017.
104
segundo asseguram sobretudo Oliveira (2005) e Bomtempo (2013). Além da avicultura,
desenvolvem-se com muita força nessa região as atividades de processamento de castanha de
caju e de fabricação de derivados de trigo, com inúmeras fábricas aí instaladas já há bastante
tempo, conforme demonstram respectivamente os trabalhos de Rodrigues (2016) e Oliveira
(2002). Nesse sentido, e de acordo com Bomtempo (2013), diante do reconhecimento da
espacialidade da indústria de alimentos no Ceará, é possível constatar que esta atividade se
encontra em funcionamento principalmente no espaço metropolitano de Fortaleza, em razão
de sua centralidade sobretudo financeira e técnica diante do contexto cearense.
Voltando para a análise do setor avícola, na RMF, analisando os dados de 1995,
2005 e 2015, observamos um contínuo crescimento da produção de ovos de galinha nessa
região, como indicado nas tabelas seguintes, com um aumento de 25% nas últimas duas
décadas – aumento este que foi menor do que o observado no Ceará como um todo (que foi de
41%). Além disso, quando analisamos apenas os índices dos municípios, notamos que
Cascavel, Caucaia, Chorozinho, Fortaleza, Guaiuba, Maracanaú, Maranguape, Paraipaba e
Trairi tiveram uma queda em suas produções de 1995 a 2015, enquanto por outro lado o
município de Paracuru teve a maior alta, com aumento de 785%, além de Itaitinga e São Luís
do Curu, sobretudo, alavancando a produção da região.
Tabela 24 – Produção de ovos de galinha (mil dúzias), por municípios da RMF
1995 2005 2015
Aquiraz 16.761 15.539 24.018
Cascavel 8.525 3.746 4.977
Caucaia 5.167 3.257 2.993
Chorozinho 42 11 15
Eusébio 3.296 2.237 5.310
Fortaleza 11.026 2.104 70
Guaiuba 1.439 1.576 701
Horizonte 9.051 13.918 24.868
Itaitinga 141 38 947
Maracanaú 1.367 10 13
Maranguape 2.803 585 131
Pacajus 7.248 3.856 8.315
Pacatuba 422 358 516
Paracuru 692 436 6.124
Paraipaba 391 27 39
Pindoretama 3.442 9.873 6.442
São G. do Amarante 3.958 2.554 9.124
São Luís do Curu 4 18 24
Trairi 125 92 90 Total RMF 75.900 60.235 94.717
Ceará 102.450 95.985 144.122
Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
105
Tabela 25 – Variação absoluta e relativa da produção de ovos de galinha (mil dúzias),
por municípios da RMF
Variação absoluta Variação relativa
1995-2005 2005-2015 1990- 2015 1995-2005 2005-2015 1990-2015
Aquiraz -1.222 8.479 7.257 -7% 55% 43%
Cascavel -4.779 1.231 -3.548 -56% 33% -42%
Caucaia -1.910 -264 -2.174 -37% -8% -42%
Chorozinho -31 4 -27 -74% 36% -64%
Eusébio -1.059 3.073 2.014 -32% 137% 61%
Fortaleza -8.922 -2.034 -10.956 -81% -97% -99%
Guaiuba 137 -875 -738 10% -56% -51%
Horizonte 4.867 10.950 15.817 54% 79% 175%
Itaitinga -103 909 806 -73% 2392% 572%
Maracanaú -1.357 3 -1.354 -99% 30% -99%
Maranguape -2.218 -454 -2.672 -79% -78% -95%
Pacajus -3.392 4.459 1.067 -47% 116% 15%
Pacatuba -64 158 94 -15% 44% 22%
Paracuru -256 5.688 5.432 -37% 1305% 785%
Paraipaba -364 12 -352 -93% 44% -90%
Pindoretama 6.431 -3.431 3.000 187% -35% 87%
São G. do Amarante -1.404 6.570 5.166 -35% 257% 131%
São Luís do Curu 14 6 20 350% 33% 500%
Trairi -33 -2 -35 -26% -2% -28% Total RMF -15.665 34.482 18.817 -21% 57% 25%
Ceará -6.465 48.137 141.672 -6% 50% 41%
Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
Quanto ao efetivo de aves na RMF, observamos uma tendência do crescimento do
plantel na maioria dos municípios, como indicado nas tabelas seguintes. Nos últimos 20 anos,
o efetivo aumentou 17%, apesar de ter decrescido em 20% de 1995 a 2005. Alguns
municípios apresentaram decréscimos em seus planteis nos últimos 20 anos, como Fortaleza,
Caucaia, Guaiuba, Maracanaú, Fortaleza, Maranguape, Pacatuba e Paraipaba. Fortaleza
apresentou um decréscimo de 99% em 2015 com relação à 1995 em seus efetivos de galos,
frangas, frangos e pintos, e galinhas. Tal decréscimo pode se referir ao avanço do processo de
urbanização e aos novos usos do solo nesses municípios, ensejando o processo de
desconcentração e dispersão da criação para outras áreas. Comprovante esse processo em
trabalhos de campo realizados no município de Maranguape, em 2013, verificamos que
algumas granjas estavam sendo desmanchadas para que o terreno fosse utilizado para
construção de unidades de moradia, algo que vem sendo comum sobretudo nos municípios
limítrofes de Fortaleza.
106
Tabela 26 – Efetivo total dos galináceos (cabeças), por municípios da RMF
1995 2005 2015
Aquiraz 978.487 1.570.805 2.217.702
Cascavel 646.185 966.454 1.524.378
Caucaia 918.348 562.082 530.895
Chorozinho 71.452 131.330 164.950
Eusébio 209.697 156.555 300.286
Fortaleza 1.755.207 105.440 19.102
Guaiuba 600.130 434.635 205.800
Horizonte 1.513.956 1.374.466 2.080.837
Itaitinga 68.275 27.260 92.385
Maracanaú 343.400 48.140 56.233
Maranguape 903.150 564.491 673.515
Pacajus 719.847 442.649 791.935
Pacatuba 185.350 174.650 45.500
Paracuru 244.060 411.505 1.163.007
Paraipaba 251.564 32.075 223.800
Pindoretama 194.411 450.254 386.413
São G. do Amarante 246.713 337.915 958.764
São Luís do Curu 4.361 17.887 22.900
Trairi 52.261 112.092 98.958 Total RMF 9.906.854 7.920.685 11.557.360
Ceará 18.718.058 22.118.707 28.258.791
Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
Tabela 27 – Variação absoluta e relativa do efetivo total dos galináceos (cabeças)
Variação absoluta Variação relativa
1995-2005 2005-2015 1990- 2015 1995-2005 2005-2015 1990-2015
Aquiraz 592.318 646.897 1.239.215 61% 41% 127%
Cascavel 320.269 557.924 878.193 50% 58% 136%
Caucaia -356.266 -31.187 -387.453 -39% -6% -42%
Chorozinho 59.878 33.620 93.498 84% 26% 131%
Eusébio -53.142 143.731 90.589 -25% 92% 43%
Fortaleza -1.649.767 -86.338 -1.736.105 -94% -82% -99%
Guaiuba -165.495 -228.835 -394.330 -28% -53% -66%
Horizonte -139.490 706.371 566.881 -9% 51% 37%
Itaitinga -41.015 65.125 24.110 -60% 239% 35%
Maracanaú -295.260 8.093 -287.167 -86% 17% -84%
Maranguape -338.659 109.024 -229.635 -37% 19% -25%
Pacajus -277.198 349.286 72.088 -39% 79% 10%
Pacatuba -10.700 -129.150 -139.850 -6% -74% -75%
Paracuru 167.445 751.502 918.947 69% 183% 377%
Paraipaba -219.489 191.725 -27.764 -87% 598% -11%
Pindoretama 255.843 -63.841 192.002 132% -14% 99%
São G. do Amarante 91.202 620.849 712.051 37% 184% 289%
São Luís do Curu 13.526 5.013 18.539 310% 28% 425%
Trairi 59.831 -13.134 46.697 114% -12% 89% Total RMF -1.986.169 3.636.675 1.650.506 -20% 46% 17%
Ceará 3.400.649 6.140.084 9.540.733 18% 28% 51%
Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal. Organização: Bruna Nogueira (2016).
A partir do que foi apresentado, constatamos que a avicultura se consolida como
um vetor de dinamização do território cearense, a partir da sua espacialização no urbano,
dinamizando os seus usos. Desse modo, os investimentos na produção avícola empresarial são
107
cada vez mais ampliados para atender principalmente à demanda local, no caso cearense, o
que vem promovendo novas dinâmicas territoriais constitutivas do processo de inserção desta
atividade no modelo de produção da economia globalizada, conforme analisaremos com mais
vigor no capítulo seguinte. E isso é ainda mais intenso em virtude da territorialização e da
atuação das grandes empresas avícolas na regulação da atividade no Ceará, sendo importante,
pois, conhecer as principais características dessas empresas e, especialmente, entender como
elas fazem uso do território, como apresentaremos na sequência.
3.3 PRINCIPAIS EMPRESAS AVÍCOLAS NO CEARÁ
Conforme já relatamos, nos últimos vinte anos houve uma intensa concentração
de capitais na atividade avícola a partir do processo de incorporação de pequenas empresas
pelas empresas maiores, permanecendo nessa atividade somente aquelas mais competitivas e
com maiores recursos a serem investidos em tecnologia, infraestrutura e logística, sobretudo,
de modo a assegurar o retorno financeiro de seus investimentos. Isso acaba favorecendo a
atuação de grandes empresas hegemônicas no setor avícola cearense, as quais agem juntas
fomentando a territorialização do grande capital no setor, intensificando os usos do território e
remodelando as relações sociais de produção, dando origem a novas e importantes dinâmicas
territoriais.
Entre essas empresas, destacam-se: Granja Regina, Cialne, Avine, Emape, Grupo
Haisa e Tijuca Alimentos, que além de serem as principais empresas da avicultura no Ceará,
são também algumas das mais importantes do Nordeste, atuando especialmente nos
municípios da Região Metropolitana de Fortaleza através da instalação de suas granjas,
incubatórios, abatedouros, fábricas de rações, escritórios comerciais, centros de distribuição
etc. Com vistas a ampliar a compreensão das formas pelas quais essas empresas atuam,
descrevemos na sequência um conjunto de informações acerca de cada uma delas, a partir de
dados obtidos através dos trabalhos de campo, com a realização de entrevistas com os
diretores de algumas dessas empresas e outros representantes do setor, além da organização
da hemeroteca.
REGINA
A Regina Agroindustrial S/A é uma tradicional agroindústria do ramo de
avicultura no Ceará, sendo uma das maiores produtoras de frango de corte e ovos do
108
Nordeste. Faz parte do Grupo Regina, que congrega produção avícola, indústria processadora
de carnes, indústria de rações para animais de criação e pet e empresa de transportes. Foi
fundada em 1958, por um economista e sua esposa, em um sítio localizado no distrito de
Messejana, em Fortaleza, a partir de uma pequena criação de galinhas para produção de ovos,
inicialmente para consumo interno do próprio sítio. Com investimentos da família, aos poucos
a criação foi se ampliando e a produção da empresa aumentando, e com o passar dos anos se
diversificando.
Atualmente, o grupo atua em vários ramos do setor avícola, dedicando-se ao abate
de aves, criação de frangos para corte, produção de pintos de um dia, comércio atacadista de
carnes e derivados de outros animais, preparação de subprodutos do abate, produção de ovos,
comércio atacadista de aves abatidas e derivados, comércio atacadista de aves vivas e ovos,
além da fabricação de conservas de peixes, crustáceos e moluscos. Produz também ração para
alguns tipos de animais, sobretudo pets. Como se pode perceber, a área de atuação do Grupo
Regina é bastante diversificada.
A partir de 1995, a Granja Regina iniciou o processo de industrialização, com a
produção de alimentos processados, e, atualmente, o Grupo Regina conta com a produção de
frangos de corte, ovos comerciais, camarões, suínos e matrizes pesadas (Ross) e rações para
cavalos, peixes, camarões e pets por meio da indústria Integral Agroindustrial. Da
agroindústria derivam duas outras empresas: a Pole Alimentos e a Integral Mix. A primeira é
responsável pelos produtos processados da Granja Regina, e a segunda pela produção de
ração pronta para o mercado de produção animal, equinos e pet48
.
48
FEED FOOD. Disponível em: <http://www.revistafeedfood.com.br/pub/curuca/index.jsp?ipg=81694>. Acesso
em: 07 jun. 2013.
109
Fonte: REGINA. Disponível em: <http://www.granjaregina.com.br/index>. Acesso em: 02 mar. 2014.
A empresa inaugurou seu primeiro frigorífico de alimentos processados e
embutidos em 2000, com a implementação da Pole Alimentos, e, dessa forma, lançou sua
primeira linha de frangos e cortes resfriados e congelados. A Pole Alimentos é uma das
maiores indústrias e distribuidoras de alimentos processados do Ceará, com produtos
comercializados em inúmeras redes de supermercados, apresentando um crescimento médio
de 45% ao ano e com forte atuação regional. Assim, a criação da Pole Alimentos foi efetivada
para ser um dos elos da linha de produção da Granja Regina, visando garantir o seu
crescimento organizacional e a produção em escala industrial da empresa no âmbito da
expansão das operações e intensificação da produção e comercialização de ovos e frangos.
A Pole Alimentos recebe a matéria-prima (sobretudo carne de frango) da Granja
Regina e a transforma em alimentos processados derivados principalmente de aves, mas
também de suínos e bovinos. O mix de frangos e corte in natura responde por 60% da linha da
Granja Regina, a partir de um modelo de negócio que prioriza a operação de frangos
resfriados. A empresa conta hoje com 32% de market share49
no mercado cearense, o que
demonstra a importância do papel do marketing para alavancar o consumo dos produtos da
empresa50
.
49
Participação no mercado dominada, quase sempre, por um determinado produtor ou comerciante. 50
FEED FOOD. Disponível em: <http://www.revistafeedfood.com.br/pub/curuca/index.jsp?ipg=81694>. Acesso
em: 07 jun. 2013.
Figura 6 – Empresas do Grupo Regina
110
Em 2007, a Granja Regina inaugurou em Maracanaú a unidade industrial da Pole
Alimentos51
, e, em junho de 2011, inaugurou também o mais moderno abatedouro de frangos
do Ceará, localizado no município de Aquiraz, garantindo tecnologia de abate industrial. A
empresa possui 120 mil matrizes alojadas, produz 700 mil pintinhos por semana (criação
própria), e abate mais de 300 mil aves semanalmente. Comercializando e realizando uma
distribuição própria, tem um mercado de 14.000 pontos de venda no Estado do Ceará. Tem
uma produção de 650 mil ovos por dia da linhagem Hi-line, sendo 80% ovos brancos e 20%
ovos vermelhos. Cerca de 90% da produção de ovos é comercializada no Ceará e o restante é
enviado para os demais Estados das Regiões Norte e Nordeste do país.
Também no ano de 2000, o grupo decidiu investir na área de produção de rações
comerciais, com a criação da empresa Integral Mix, que atualmente conta com duas unidades,
uma em Fortaleza, localizada no bairro de Messejana, e outra no município baiano de Paulo
Afonso. Também existem investimentos em outra unidade industrial na capital cearense,
focada na produção de rações pet, de peixe e camarão; além de outro projeto em Paragominas,
no Estado do Pará, o que aumentará ainda mais a capacidade de produção da empresa. Além
dessa, a Integral Transportes é uma outra empresa do Grupo Regina, com experiência em
logística e gestão de transportes, atuando dentro do segmento de transportes de alimentos no
Norte e Nordeste, com uma frota própria de veículos52
.
Assim, a unidade produtiva que inicialmente estava na condição de produtora de
ração para consumo próprio da Granja Regina, com a expansão dos negócios do grupo,
tornou-se uma empresa sob a marca Integral Mix, que conta atualmente com um portfólio de
mais de 40 produtos, com ração para o mercado equino, que lidera em volume a produção da
empresa, e em segundo lugar as rações para peixes, sendo este o maior faturamento da
Integral Mix, que vem obtendo crescimento de 40% ao ano. Além disso, seguindo a estratégia
de diversificação da produção, nos últimos anos, a empresa vem produzindo camarão na
cidade de Barroquinha, no Noroeste cearense, em uma área de 180 hectares, com produção de
1,1 mil toneladas em 2012. A empresa também tem comercialização própria desse produto,
com a venda do camarão fresco e congelado para indústrias de processamento.
Dessa forma, o Grupo Regina, que teve início no setor avícola, na última década,
com a Granja Regina e suas empresas derivadas, Pole Alimentos e Integral Mix, vem se
espacializando através da ampliação e diversificação de seus investimentos, tanto no território
51
DIÁRIO DO NORDESTE. Disponível em:
<http://diariodonordeste.globo.com/m/materia.asp?codigo=468330>. Acesso em: 06 out. 2012). 52
INTEGRAL TRANSPORTES. Disponível em: <http://integraltransportes.com.br/>. Acesso em: 13 jul. 2016.
111
cearense como no nacional. A Granja Regina, que tem mais de 2 mil trabalhadores, contando
com 180 trabalhadores na área industrial, está em processo de expansão das operações e
intensificação da produção e comercialização de ovos e frangos, além de prosseguir
acompanhando as mudanças comportamentais dos consumidores, em que a empresa tem
mudado suas estratégias, optando pela praticidade de frangos em cortes e desossados,
diversificando a oferta de produtos.
CIALNE
Outra importante empresa que atua no setor avícola cearense é a Companhia de
Alimentos do Nordeste (Cialne), fundada em 1966 por um empresário local, que começou
com uma pequena granja na capital cearense. Assim como ocorre com o Grupo Regina, a
empresa ainda é gerida pela família fundadora, registrada como sociedade anônima, mas sem
nenhum acionista investidor e totalmente controlada pela família, sendo que os filhos e netos
do fundador exercem cargos na direção da empresa. É uma empresa que atua no ramo da
agroindústria, tanto na avicultura quanto na pecuária leiteira e ovinocultura, gerando
aproximadamente mais de 4.000 empregos em todas as suas operações53
.
Atualmente, a Cialne é tida como a maior empresa avícola do Nordeste e está entre as
cinco maiores produtoras de leite do país, com um ritmo de crescimento de 17% ao ano entre
2011 e 201454
. O negócio familiar faturou, em 2014, 380 milhões de reais e possui 500
milhões de reais em patrimônio imobiliário. Além disso, a empresa figurou em 2015 entre as
21 empresas cearenses citadas dentre as 1.000 maiores empresas do Brasil no levantamento
realizado pela Revista Exame55
. Com um montante de vendas de U$ 122,6 milhões em 2015,
a Cialne teve um crescimento de 19% e um lucro de U$ 0,5 milhões56
.
Nesses 50 anos de existência, a Cialne cresceu no setor avícola e ampliou seus
ramos de atuação, conquistando novos mercados. Com sede em Fortaleza, é do bairro
Mondubim de onde saem diariamente as ordens para que funcionem as 53 unidades
produtivas da empresa, entre unidades de produção de ovos férteis, pintos de um dia,
matrizes, frangos vivos, frangos abatidos, bovinos, leite e ovinos, granjas, fazendas,
incubatórios, fábrica de ração e frigorífico, espalhadas pelo interior do Ceará, Piauí, Paraíba e
53
CIALNE. Disponível em: <http://www.cialne.com.br/>. Acesso em: 17 mar. 2016. 54
DINHEIRO RURAL. Disponível em: <http://www.dinheirorural.com.br/secao/capa/sem-tempo-para-
descansar>. Acesso em: 17 mar. 2015. 55
PORTAL 180 GRAUS. Disponível em: <http://180graus.com/noticias/das-1000-maiores-empresas-do-brasil-
21-estao-no-ce-ma-tem-6-e-pi-2>. Acesso em: 13 jul. 2016. 56
REVISTA EXAME. Disponível em: <http://mm.exame.abril.com.br/empresas/buscar/cialne>. Acesso em: 06
out. 2016.
112
Maranhão57
, conforme indicamos na figura 7. Para manter a saúde e alta qualidade dos
animais, a Cialne investe em tecnologias e soluções para a nutrição animal, implementando
fábricas de ração para alimentação de aves, gado leiteiro e ovinos.
Fonte: CIALNE. Disponível em: <http://www.cialne.com.br/>. Acesso em: 17 mar. 2016.
Além do polo corporativo sediado em Fortaleza, no Estado do Ceará estão
localizados granjas de avós, granjas de matrizes, granjas de frangos, incubatórios, fábricas de
ração, fazendas de cria e recria de gado, produção de leite, criação de ovinos e também uma
unidade industrial de abate de frangos. Ao todo são 36 unidades produtivas localizadas em
diversos municípios do Ceará, como Aquiraz, Cascavel, Guaiuba, Irauçuba, Maranguape,
Ubaraja, Paracuru, Umirim e São Gonçalo do Amarante. Já no Estado do Maranhão, a Cialne
mantém granjas de frango e uma fábrica de ração, as quais abastecem as unidades da região.
Na Paraíba, a Cialne também se faz presente com grande força, contando com instalações de
granjas de frangos, fábrica de ração, incubatório e granja de matrizes. Já no Piauí, a Cialne
obtém números elevados na produção e abate de frangos, contando com um abatedouro
próprio, fábrica de ração e granja de frangos. Com todas essas unidades produtivas, a empresa
57
DINHEIRO RURAL. Disponível em: <http://www.dinheirorural.com.br/secao/capa/sem-tempo-para-
descansarr>. Acesso em: 17 mar. 2015.
Figura 7 – Localização das unidades produtivas Cialne
113
abastece todo o Norte e Nordeste do país com seus produtos processados (carne, ovos e
ração).
Segundo um perfil da empresa divulgado pela revista Dinheiro Rural, somente de
ovos férteis a produção da Cialne chega a 132 milhões de unidades por ano. A criação de aves
soma 46,8 milhões de unidades e 96 milhões de pintinhos de um dia. Em 2013, o abate de
frangos em frigorífico próprio foi de 20 milhões de unidades58
. Os demais são vendidos ainda
vivos para um mercado que ainda é tradição no Nordeste, o da criação dos animais nos
quintais e pequenas propriedades rurais, ou comprar os frangos já adultos para abatê-los em
casa.
No final da década de 1990, a empresa começou a investir em matrizes e ovos
férteis e partiu para a verticalização total da cadeia produtiva, indo das galinhas-avós, que são
o berço da genética de todo processo de produção avícola, até o consumidor final para a carne
de frango, tornando-se uma das poucas empresas do setor que detêm todo o processo avícola,
igualando-se ao modelo de empresas como a BRF e a Seara. Diante disso, a Cialne é a única
empresa do Norte e Nordeste que possui granjas de avós especializadas na geração de
pintinhos matrizes. Entre os anos de 1960 e a década de 1990, a Cialne passou de algumas
dúzias a 600 mil ovos comerciais por mês produzidos em granjas próprias, no interior do
Estado. Hoje são 11 milhões de ovos comerciais por mês59
.
Segundo entrevista com um diretor de produção da empresa60
, em visita técnica
em unidades produtivas localizadas em Fortaleza e em Guaiuba, as aves avozeiras vêm de São
Paulo e são alojadas em uma granja especializada, localizada no município de Paracuru.
Dessa forma, a empresa acompanha todos os processos de manejo e mantém um rígido
controle sanitário, cuidando assim da saúde e da qualidade dos animais. Os ovos férteis, que
dão origem aos pintos matrizes, são alojados para o Incubatório de Matrizes, que conta com
ar-condicionado e climatização computadorizada, dispondo da monitoração, em tempo real,
das máquinas e do ambiente. Funcionários fazem uma seleção rigorosa dos animais para
serem comercializados ou para serem incubados pela própria Cialne, gerando assim novos
pintinhos, os quais são vendidos com um dia ou são encaminhados para a produção de frangos
vivos.
58
DINHEIRO RURAL. Disponível em: <http://www.dinheirorural.com.br/secao/capa/sem-tempo-para-
descansarr>. Acesso em: 17 mar. 2015. 59
DINHEIRO RURAL. Disponível em: <http://www.dinheirorural.com.br/secao/capa/sem-tempo-para-
descansarr>. Acesso em: 17 mar. 2015. 60
Entrevista realizada em 2015, durante visita técnica às unidades da empresa.
114
Foto 1 – Produção de frangos de corte pela Cialne
Fonte: Sousa (2015). Acervo da autora.
As matrizes da Cialne são oriundas da própria empresa, as quais permanecem
alojadas na granja de Paracuru. Parte das matrizes resultantes desses ovos são vendidas para
clientes do Norte e Nordeste do país, os quais contam com sua própria produção de ovos,
pintos e frangos. A outra parte é alojada nas Granjas Matrizes da própria Cialne, dando
prosseguimento à cadeia produtiva da empresa. Para que os pintos cheguem aos clientes com
aproximadamente um dia de nascidos, dentro do peso ideal, na temperatura indicada, a Cialne
conta com uma frota própria de caminhões adaptados para o transporte dos animais. Além
disso, a equipe técnica também presta serviços de suporte aos clientes, caso estes venham a ter
algum problema com o manejo, o que demonstra uma dependência dos compradores em
relação à empresa. Todos os processos nas granjas e abatedouros atualmente são mecanizados
e contam com tecnologia de ponta, o que facilita e aumenta a produção e qualidade sanitária
dos produtos, diminuindo, assim, os custos de produção, representando dessa forma a
materialização da reestruturação produtiva avícola em território cearense.
115
Fonte: Sousa (2015). Acervo da autora.
Foto 3 – Aviário automatizado da Cialne em Guaiuba/CE
Fonte: Sousa (2015). Acervo da autora.
Foto 2 – Granja da Cialne no município de Guaiuba/CE
116
Além da produção própria, a empresa também fornece matéria-prima para a
Dudico, uma empresa do Grupo Cialne voltada apenas para o corte e a comercialização da
carne de frango, atuando nos mercados do Ceará, Piauí, Maranhão e Rio Grande do Norte. As
suas operações industriais tiveram início no Estado do Piauí, em 2010, através da aquisição e
ampliação do frigorífico da Cooperativa dos Avicultores Mista do Piauí (COAVE), situado
em Teresina, que poucos meses depois de inaugurado alcançou a capacidade para abater 80
mil frangos por dia e aumentou para 900 o número de empregos diretos.
Através dessa indústria, o grupo tem a sua produção de processados que é feita em
seu próprio abatedouro, nos padrões tecnológicos e na forma de produção globalizada do
setor, com maquinários modernos e rígido controle sanitário, possuindo certificado com o
Selo de Inspeção Federal (SIF). Hoje, os produtos da Cialne, como frango inteiro ou em
porções, além de embutidos como mortadela, linguiça, pizzas e massas produzidas de
forma terceirizada, chegam ao mercado com a marca Dudico. Em curto prazo, a Dudico
pretende expandir as suas unidades, aumentando assim a sua produção e exportando os seus
produtos para os Estados do Norte e Nordeste, e também para países da Europa e Ásia61
.
Foto 4 – Fábrica da Dudico (Cialne)
Fonte: CIALNE. Disponível em: <http://www.cialne.com.br/>. Acesso em: 17 mar. 2016.
61
DUDICO. Disponível em: <http://www.dudico.com.br/>. Acesso em: 20 jan. 2016.
117
Devido à diversificação que o Grupo Cialne fez no seu setor produtivo, a empresa
também conta com a criação de bezerros, gados de recria, gados de produção e ordenha, todos
das raças Girolando, Gir Leiteiro e Holandês. O desempenho dessas raças garante à empresa o
posto de líder do Norte e Nordeste na produção de leite (40 mil por dia), tornando-a uma das
maiores do Brasil62
. No gado leiteiro são oito mil bovinos girolando e cruzados de holandês,
e mais mil animais puros da raça gir leiteiro. Todos os dias, 2,7 mil vacas são ordenhadas63
. A
Cialne prosseguiu em 2015 entre as cinco maiores produtoras e leite do país, segundo o
ranking dos 100 maiores produtores de leite divulgado todos os anos pela consultoria paulista
Milkpoint, com uma produção total comercializada em 2015 de 12.661.485 litros e uma
produção média diária de 34.689 litros. Também ficou entre os 10 produtores com maior
aumento de produção em 2015. Segundo a própria Cialne, todas as vacas são ordenhadas
mecanicamente, sem a presença dos bezerros e sem o uso de medicamentos.
Com a expansão da sua produção leiteira, a empresa passou a fornecer leite para a
empresa Sabor & Vida, indústria pertencente ao grupo Cialne, que comercializa produtos
derivados do leite, como queijos, requeijões e iogurtes. Essa empresa foi adquirida em 2014 e
já exista há mais de 30 anos instalada em Maranguape64
. Assim, o grupo Cialne decidiu
ampliar suas atividades e entrou na área industrial de produção de lácteos. O grupo investiu na
ampliação e na modernização da fábrica da Sabor & Vida, reformulando e lançando novos
produtos no mercado, ampliando seu poder de concorrência principalmente na área de
queijos. Toda a matéria-prima dos produtos da Sabor & Vida tem origem nos próprios
rebanhos do Grupo Cialne, tendo permanente controle do processo produtivo65
. Com
instalações aptas a processar mais de 60 mil litros de leite por dia, a empresa ambiciona
atender aos principais Estados do Nordeste, através do aprimoramento de sua produção, com
agregação de novas máquinas e tecnologias à sua indústria.
A empresa também adentrou na produção de ovinos. Dessa forma, com o objetivo
de atender à alta demanda do consumo da carne de cordeiros, a Cialne investe na criação de
ovinos cruzados da raça Santa Inês com Dorper, que se destacam pela rusticidade e
produtividade66
. Com oito mil animais, o abate de cordeiros de até quatro meses de idade
rende 2,4 mil toneladas de carne por ano, o que é um número de grande
62
CIALNE. Disponível em: <http://www.cialne.com.br/>. Acesso em: 17 mar. 2016. 63
DINHEIRO RURAL. Disponível em: <http://www.dinheirorural.com.br/secao/capa/sem-tempo-para-
descansarr>. Acesso em: 17 mar. 2015. 64
SITE FCDL-CE. Disponível em: <http://site.fcdlce.com.br/coluna-egidio-serpa-12/>. Acesso em 01 fev. 2015. 65
DIÁRIO DO NORDESTE. Disponível em: <http://blogs.diariodonordeste.com.br/egidio/agronegocio/calne-
amplia-e-moderniza-a-sabor-vida/>. Acesso em: 05 abr. 2016. 66
CIALNE. Disponível em: <http://www.cialne.com.br/>. Acesso em: 17 mar. 2016.
118
expressividade quando comparado ao que ocorre no Nordeste67
. Isso demonstra ainda mais a
estratégia do grupo no que concerne à diversificação da sua atuação no ramo alimentício, já
consolidada no setor avícola, voltando-se também para os setores bovino e ovino,
demostrando a grande capacidade produtiva e o capital acumulado que a empresa possui.
AVINE
A Avine Comercial e Avícola do Nordeste (Avine) é uma outra empresa avícola
com destacada atuação no território cearense. De capital local e fundada em 1992, a empresa,
inicialmente voltada para a produção de ovos de galinha, atua também nos mercados de ovos
de codorna, frango de corte e incubação de ovos férteis68
. A Avine produz e comercializa
ovos de galinha pequenos, médios, grandes, extra e super-extra, além de ovos enriquecidos
com ômega 3 e 6 e vitamina E, ovos brancos, ovos vermelhos e ovos de codorna. A empresa
se situa entre as maiores produtoras de ovos de galinha do Ceará e a maior em produção de
ovos de codorna, operando com cerca de 500 funcionários e uma produção mensal de 11
milhões de ovos, 400 toneladas de frango e 2,3 milhões de ovos de codorna69
.
Em Fortaleza, localiza-se o escritório e o centro de distribuição da empresa. No
município de Aquiraz, a empresa conta com unidades produtivas, como granjas de produção
de ovos de galinha, fábrica de ração, granja de ovos de codorna, incubatório e granja de
frango. Em Horizonte, também existe uma unidade produtiva da empresa, com granja de
produção de frango. Em Cascavel, a empresa também possui uma granja de produção de ovos
de galinha, granjas de ovos de codorna e granja de frango. Sua área de distribuição cresce ano
após ano, abrangendo a toda a Região Nordeste e parte da Região Norte (Amapá e Pará),
distribuindo seus produtos para 11 Estados.
67
DINHEIRO RURAL. Disponível em: <http://www.dinheirorural.com.br/secao/capa/sem-tempo-para-
descansarr>. Acesso em: 07 mai. 2013. 68
AVINE. Disponível em: <http://www.avine.com.br/institucional/>. Acesso em: 07 mai. 2013. 69
AVINE. Disponível em: <http://www.avine.com.br/institucional/>. Acesso em: 07 mai. 2013.
119
Foto 5 – Fábrica de ração da Avine em Aquiraz/CE
Fonte: AVINE. Disponível em: <http://www.avine.com.br/institucional/>. Acesso em: 05 jul. 2015.
Foto 6 – Granja automatizada da Avine em Aquiraz/CE
Fonte: AVINE. Disponível em: <http://www.avine.com.br/institucional/>. Acesso em: 05 jul. 2015.
Inferimos que a Avine possui tanto granjas no sistema de criação convencional,
como é o caso das galinhas e capotes, quanto granjas de criação de galinhas automatizadas,
além de moderno sistema de classificação de ovos na unidade localizada no município de
120
Cascavel, como podemos ver nas figuras a seguir, incorporando as inovações técnicas
disponíveis para o setor, seja na parte da produção das aves propriamente dita, seja na parte de
classificação dos ovos, que é o carro-chefe da empresa.
Foto 7 – Classificação de ovos da Avine em Cascavel/CE
Fonte: AVINE. Disponível em: <http://www.avine.com.br/institucional/>. Acesso em: 07 jul. 2015.
Em termos de segurança alimentar, a produção da Avine possui certificação do
Programa de Alimento Seguro (PAS) do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
(SENAI), que atende às Boas Práticas de Fabricação (BPF) e Análise de Perigos e Pontos
Críticos de Controle (APPCC), tendo sido a terceira granja do país e a primeira do Nordeste a
receber tal certificação70
. Atualmente, além de comercializar produtos com a marca Avine, a
empresa também fornece seus produtos com marca de grandes redes, como Pão de Açúcar
(Qualitá), G. Barbosa, Super Rede, Nordestão, Comercial Carvalho, Y. Yamada, Fortaleza,
Rede Parceria, Uniforça, Super Nossa, Rede Amigos, entre outras, consolidando-se no
mercado nordestino de ovos de galinha, sobretudo.
EMAPE
70
AVINE. Disponível em: <http://www.avine.com.br/institucional/>. Acesso em: 05 jul. 2015.
121
A Emape, fundada em 1963 em Maracanaú pelo empresário e político Roberto
Pessoa, é dedicada à atividade de postura comercial, produção de pintos de um dia, de capotes
e galinha caipira de pescoço pelado, além de aves para corte. É uma das maiores empresas
produtoras de ovos do Norte e Nordeste, assim como a Avine. Em 2013, a empresa
empregava diretamente cerca de 600 pessoas, como nos foi informado em trabalho de
campo71
. No início, a empresa priorizou a criação de frango de corte em dois pequenos
aviários construídos na atual Granja São Francisco, em Mucunã, em Maracanaú. A Emape
começou com três mil cortes por dia, sendo que hoje a empresa realiza mais de um milhão.
Além das primeiras granjas e incubatórios localizados em Maracanaú, a empresa
instalou unidades em diversos municípios do Estado do Ceará, como Caucaia, Chorozinho,
Eusébio, Guaiuba, Pacajus e Tianguá. Na sua expansão, buscando desenvolver seu
crescimento em locais mais próximos da produção dos insumos básicos para a atividade
avícola, instalou unidades em Barreiras (BA) e Araguaína (TO)72
, importantes produtores
nacionais de soja, como também de milho. As unidades em Barreiras e Tianguá contam com
um plantel de 500.000 e 750.000 aves e uma produção de 320.000 e 500.000 ovos/dia,
respectivamente, totalizando 820.000 ovos/dia de produção73
. Ambas as granjas têm aviários
com distribuição automática de ração, coleta de ovos e de esterco por esteiras transportadoras,
as quais abrangem a transferência de ovos até o entreposto, onde são classificados e
embalados automaticamente.
Em entrevista com diretor executivo da Emape, nos foi informado que a empresa tem
uma distribuição semanal de pintinhos tanto para o interior do Ceará como para o Piauí. Em
Tianguá, a Emape tem a fábrica de ração, que tem veículos próprios que levam semanalmente
ração para as unidades de Maracanaú. Além disso, em Tianguá está localizada a granja de
produção de ovos comerciais e pontos de venda e distribuição dos ovos. Nas unidades de
Maracanaú o arrecadamento é menor, já que a produção é de pintinhos de um dia caipiras.
Ainda de acordo com o diretor da empresa, a maior arrecadação da Emape advém das
unidades de Tianguá e Barreiras, onde se localizam as produções de ovos comerciais.
71
Visitamos a unidade da Emape em Maracanaú em 2013, quando entrevistamos um de seus diretores. 72
EMAPE. Disponível em: <http://www.emape50anos.com.br/sobrenos.html. Acesso em: 29 set. 2013. 73
EMAPE. Disponível em: <http://www.emape50anos.com.br/sobrenos.html>. Acesso em: 29 set. 2013.
122
Fonte: Sousa (2013). Acervo da autora.
A empresa produz atualmente ovos comerciais e pintinhos de um dia. A Emape
dispõe de linhagem caipira com ou sem pescoço pelado. Os pintinhos de um dia da linhagem
de pescoço pelado são modificados geneticamente na França, conhecidos como Label Rouge.
Assim como acontece com os pintinhos de um dia da galinha d’angola, são comercializados
para pequenos produtores avicultores que são orientados sobre como deve ser a cria dessas
aves através de assistência veterinária e manuais entregues pela empresa. Essa linhagem
“pescoço pelado” com dupla aptidão (produção de carne e ovos), foi trazida para o Brasil e se
adaptou muito bem, graças ao nosso clima tropical. Essas aves atingem níveis de produção
bem mais elevados que as nossas tradicionais caipiras devido às modificações na sua genética.
Segundo o representante da empresa entrevistado, a produção da galinha caipira pescoço
pelado nunca poderá ser comparada com à da ave industrial, pois a galinha caipira pescoço
pelado apresenta mais resistência às doenças e carne e ovos bem mais saborosos e
pigmentados, permitindo comercialização a preços maiores do que os preconizados para os
produtos industriais.
A Emape também comercializa para pequenos produtores os pintinhos de um dia
da galinha d’angola, chamada também de capote, como é popularmente conhecida no
Nordeste. A empresa trouxe da França, país onde o capote é consumido com requinte, o
Foto 8 – Galpão convencional de galinhas da Emape em Maracanaú/CE
123
projeto completo de criação industrial desenvolvido pela GALOR, no mais alto padrão
tecnológico europeu e inseminação artificial, com exclusividade em todo continente sul-
americano. Assim, aproveitando o melhoramento genético dessa ave, a Emape passou a
importar as matrizes ou a importar os ovos férteis de avós que são incubados e geram as
matrizes de galinha d’angola. O plantel da empresa é resultado de inseminação artificial com
matrizes trazidas da França, país líder no seguimento. Nesse nicho de mercado, a empresa foi
pioneira na criação com melhoramento genético e comercialização da ave no Brasil. O capote
é destaque na cozinha regional, e, além da carne, pode ser criado para o comércio de aves
ornamentais74
Nesse sentido, a empresa vem testando inovações tecnológicas na área avícola por
meio de um projeto em parceria com o curso de Medicina Veterinária da UECE, na área de
produção de aves mais resistentes ao clima quente e seco, para habitar pequenas fazendas e
sítios, com exploração própria de economia familiar. A partir disso, a Emape passou a
produzir na sua granja de Maracanaú capote (galinha de angola) por inseminação artificial,
usando diluente de água de coco, desenvolvido pelo professor e sua equipe de pesquisadores
da Faculdade de Veterinária da UECE. Para tanto, a empresa importa da Grimaud (empresa
francesa especialista em genética animal) ovos férteis de aves avós de galinha de angola,
incubando-os e produzindo os pintinhos, que na granja são selecionados e formados em aves,
produção dos capotes de um dia e sua distribuição, juntamente com pinto caipira do pescoço
pelado, em todo o território nacional.
HAISA
O Grupo Haisa constitui-se de cinco empresas atuantes no mercado regional e
internacional, nas áreas de avicultura, fruticultura, carcinicultura e construção civil. A
empresa Horizonte Avícola Industrial S.A (HAISA) iniciou suas atividades em 1980.
Instalada no município de Horizonte, começou com a produção de pinto de corte, avançando
para ovos comerciais, e, logo após, frango de corte. Na época, o setor apresentava um
significativo crescimento no consumo, sendo assim propício o investimento nessa área de
negócios, visando o mercado regional75
.
74
DIÁRIO DO NORDESTE. Disponível em: <http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/ceara-e-pioneiro-no-
melhoramento-genetico-1.512596>. Acesso em: 20 jan. 2015. 75
HAISA. Disponível em: <http://haisa.com.br/>. Acesso em: 20 mar. 2016.
124
Foto 9 – Sede do Grupo Haisa em Horizonte/CE
Fonte: HAISA. Disponível em: <http://www.haisa.com.br/>. Acesso em: 20 mar. 2016.
Hoje, o Grupo Haisa diversifica suas atividades no agronegócio de um modo geral
e na construção civil. Na avicultura a empresa possui quase integração vertical, abrangendo as
seguintes áreas: fabricação de ração, incubação de ovos férteis, criação de frango de corte e
produção de ovos comerciais, que dão a ela um maior controle da produção e qualidade aos
seus produtos. Na fruticultura produz coco. Na carcinicultura, cultiva em cativeiro camarões
(Vanammei) de água salgada e água doce. Na construção civil atua como incorporadora, e na
construção de casas populares através da empresa Rochedo Construtora e Incorporadora
S/A76
.
O grupo iniciou as atividades na carcinicultura no ano de 2002, no litoral oeste do
Estado do Ceará, em Acaraú, e posteriormente no litoral leste, em Jaguaruana. Hoje a
atividade se estende por 900 hectares de áreas de cultivo, espalhadas pelos municípios de
Acaraú, Cruz, Itarema e Jijoca77
. Também em 2002, o grupo deu início à atividade de
fruticultura com a plantação de coqueiros em Acaraú, sendo que toda a produção é
direcionada para a indústria, onde é utilizado para fabricação de coco ralado e leite de coco.
Atualmente, a maior parte dos plantios é de coqueiros das variedades gigante e anã78
.
Na atividade avícola, a Granja Haisa produz ovos comerciais e frangos de corte.
Recebe os pintinhos com um dia de idade provenientes da região Sul e Sudeste, que são
produzidos com rígido controle sanitário. Todo processo de produção de ovos é acompanhado
por profissionais treinados e equipamentos adequados. Após sua coleta diária, são expedidos
76
HAISA. Disponível em: <http://haisa.com.br/>. Acesso em: 20 mar. 2016. 77
HAISA. Disponível em: <http://haisa.com.br/>. Acesso em: 20 mar. 2016. 78
HAISA. Disponível em: <http://haisa.com.br/>. Acesso em: 20 mar. 2016.
125
para classificação, a qual define os padrões dos ovos, que por sua vez são classificados por
peso e tamanho. Toda a produção de ovos é destinada ao mercado do Estado do Ceará79
.
Fonte: HAISA. Disponível em: <http://haisa.com.br/>. Acesso em: 20 mar. 2016.
A Granja Haisa tem parceria com os maiores produtores de ovos férteis da região
Sul, Sudeste e Nordeste para produção de frango de corte. A incubação dos seus ovos é
realizada em estrutura própria, esse processo garante a avaliação da qualidade do nascimento
dos pintos, o que é um grande diferencial dentro do mercado da avicultura. Quando chegam
aos aviários, são recebidos em ambiente climatizado, próprio para a idade, onde recebem
ração específica para cada fase de criação e são submetidos a um programa de vacinação e
controle de bioseguridade ambiental, com isolamento dos criatórios. No processo de criação
das aves, a Granja Haisa utiliza padrões específicos de qualidade, com pessoal treinado,
ambiente higienizado e acompanhamento técnico especializado80
.
TIJUCA ALIMENTOS
A Tijuca Alimentos Ltda, com sede em Beberibe e escritório no bairro de
Messejana, em Fortaleza, desde 1968 atua na produção e comercialização de frangos e ovos
no Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e Maranhão, estando entre as maiores do
Ceará. Para isso, dispõe de uma moderna fábrica de rações e com uma classificação dotada de
79
HAISA. Disponível em: <http://haisa.com.br/>. Acesso em: 20 mar. 2016. 80
HAISA. Disponível em: <http://haisa.com.br/>. Acesso em: 20 mar. 2016.
Foto 10 – Galpões de classificação de ovos do Grupo Haisa
126
modernos e automatizados equipamentos. Possui abatedouro próprio com capacidade de abate
de 100% de sua produção e logística que conta com uma frota também própria.
Tem forte atuação junto ao comércio varejista, supermercados, mercadinhos,
hotéis, restaurantes, padarias, hospitais e atacadistas. A empresa produz diariamente 1 milhão
de ovos. Toda essa produção é consumida pelo mercado interno cearense e pelo dos estados
vizinhos. Além disso, a Tijuca também produz 100 mil frangos por mês, e, ainda, 7 mil litros
de leite bovino por dia. A Tijuca comercializa ovos brancos, ovos vermelhos, produtos
congelados, produtos resfriados, água de coco e queijo coalho. Atualmente a empresa possui
1.100 funcionários 81
.
Fonte: TIJUCA ALIMENTOS. Disponível em: <http://www.tijucaalimentos.com/>. Acesso em: 13 jul. 2015.
No quadro a seguir organizamos uma síntese das informações mais relevantes
acerca das empresas que aqui analisamos, visando possibilitar uma visão geral do setor
empresarial avícola em atuação no Ceará. São empresas que, apesar de suas especificidades,
81
DIÁRIO DO NORDESTE. Disponível em:
<http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/negocios/coluna/egidio-serpa-1.209/egidio-serpa-tijuca-
um-milhao-de-ovos-1.1559666>. Acesso em: 07 jul. 2016.
Foto 11 – Seleção automatizada de ovos da empresa Tijuca
127
guardam muitas semelhanças entre si, a exemplo de serem empresas familiares, de capital
local, com destacada atuação no mercado nordestino de ovos e carnes, com uma significativa
diversificação da produção e atuando em outros setores produtivos.
Quadro 3 – Síntese das informações acerca das empresas avícolas cearenses
(continua)
Empresas avícolas Informações Avine Comercial e Avícola do
Nordeste
Grupo: Avine
Origem do capital: Ceará
Ano de instalação: Fundada em 1992
Atividades econômicas: Avicultura
Matriz e filiais: Fortaleza (escritório), Aquiraz, Cascavel, Horizonte.
Unidades produtivas: Aquiraz (Granja de Produção de ovos de
galinha, Fábrica de ração, Granja de ovos de codorna, Incubatório,
Granja de frango), Fortaleza (Escritório, Centro de Distribuição),
Cascavel (Granja de Produção de ovos de galinha, Granja de ovos de
codorna, Granja de frango), Horizonte (Granja de frango).
Número de funcionários: 500 empregos diretos.
Principais produtos: Ovos de galinha, ovos de codorna, frango de
corte e incubação de ovos férteis.
Comercialização: Distribui para 11 Estados, abrangendo toda a
Região Nordeste e parte da Região Norte.
Outras informações: Além de comercializar produtos com a marca
Avine, a empresa também oferece aos seus consumidores produtos
com marca de grandes redes de supermercados.
Granja Regina
Grupo: Grupo Regina
Empresas do grupo: Granja Regina,
Pole Alimentos, Integral
Agroindustrial (Fortaleza -
Messejana), Integral transporte
(Fortaleza – Messejana)
Origem do capital: Ceará
Ano de instalação: Fundada em 1958
Atividades econômicas: Avicultura, carcinicultura, produção de
ração, comércio atacadista de carnes e derivados de outros animais.
Unidades produtivas: Fortaleza, Maracanaú
Número de funcionários: Atualmente conta com mais de 2 mil
colaboradores distribuídos em mais de cem unidades de criação,
produção e incubação.
Principais produtos: Ovos de galinha, ovos de codorna, frangos
inteiros e cortes dos tipos nobre e tradicional, embutidos.
Comercialização: Norte e Nordeste
Companhia de Alimentos do
Nordeste – Cialne
Grupo: Cialne
Empresas do grupo: Cialne,
Indústria Dudico, Nutrimento
Indústria (Sabor&Vida)
Origem do capital: Ceará
Ano de instalação: 1966
Atividades econômicas: Avicultura, criação de bezerros, gado de
recria, gado de produção e ordenha.
Unidades produtivas: Sede em Fortaleza e mais de 50 unidades
divididas nos estados do Ceará, Piauí, Maranhão e Paraíba. São
unidades de produção de ovos férteis, pintos de um dia, matrizes,
frangos vivos, frangos abatidos, bovinos, leite e derivados, ovinos,
além de fábrica de ração. Indústria Sabor&Vida (Maranguape/CE),
Dudico (Fortaleza/CE e Teresina/PI).
Número de funcionários: Mais de 4.000 empregados.
Principais produtos: Pintinhos matrizes, pintinhos de 1 dia, leite e
derivados, ovinos, frango resfriado e congelado, embutidos.
Comercialização: A Dudico atua nos mercados do Ceará, Piauí e
Maranhão.
128
Quadro 4 – Síntese das informações acerca das empresas avícolas cearenses
(continuação)
Empresas avícolas Informações
Granja Haisa – Horizonte Avícola Industrial S.A
Grupo: Haisa
Origem do capital: Ceará
Ano de instalação: 1980
Atividades econômicas: Avicultura (Fabricação de
ração, incubação de ovos férteis, criação de frangos
de corte e produção de ovos.), construção civil
(Rochedo Construtora e Incorporadora S/A),
fruticultura (cultivo de coco) e carcinicultura
(produção de camarão em cativeiro).
Unidades produtivas: Produção avícola em
Horizonte e carcinicultura em Acaraú, Cruz, Itarema
e Jijoca.
Número de funcionários: 110 funcionários
Principais produtos: Ovos comerciais, frango de
corte.
Comercialização: Nordeste
Outras informações: O Grupo Haisa constitui-se de
cinco empresas atuantes no mercado regional e
internacional, nas áreas de avicultura, fruticultura,
carcinicultura e construção civil.
Emape
Origem do capital: Ceará
Ano de instalação: 1963
Atividades econômicas: Avicultura
Unidades produtivas: Fortaleza (CE) – escritório,
Maracanaú (CE), Tianguá (CE) e Barreiras (BA).
Número de funcionários: 600 funcionários
Principais produtos: Ovos comerciais, frango
caipira pescoço pelado, galinha d’angola.
Comercialização: Nordeste
Outras informações: A Emape produz na sua granja
de Maracanaú o capote (galinha de angola) por
inseminação artificial, importando da França ovos
férteis de aves avós.
Tijuca Alimentos LTDA
Origem do capital: Ceará
Ano de instalação: 1968
Atividades econômicas: Avicultura e produção de
água de coco e queijo coalho.
Unidades produtivas: Fortaleza (Escritório),
Beberibe (CE).
Número de funcionários: 1.100 funcionários
Principais produtos: Ovos comerciais, produtos
congelados, produtos resfriados, água de coco e
queijo coalho.
Comercialização: Comercialização de frangos e
ovos no Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e
Maranhão
Outras informações: Possui abatedouro próprio com
capacidade de abate de 100% de sua produção.
Fonte: Autoria própria82
.
82
Síntese elaborada com base em informações obtidas em trabalhos de campo, visitas técnicas, sites das
empresas e organização de hemeroteca com notícias sobre a avicultura no Estado do Ceará.
129
Depois de apresentadas todas essas informações acerca das principais empresas
avícolas do Ceará, ressaltamos o papel que elas têm, juntas, de fazer novos usos do território,
como se refere Santos (2006), implicando uma nova forma de regulação e organização do
espaço, segundo afirma Corrêa (1991a). Acerca disso, Bomtempo (2013) assegura que as
indústrias de alimentos (agroindústrias e de consumo final), a exemplo das empresas avícolas
aqui apresentadas, contribuem enormemente para o desenrolar de novas dinâmicas territoriais,
através dos usos do território e da reorganização espacial, a partir do que indicam Santos
(2006) e Corrêa (1991a). Ainda nesse sentido, Bomtempo (2013, p. 10) vai afirmar que essas
grandes empresas, na maioria das vezes,
[...] articulam novas tecnologias de produção ao uso disperso do território, sobre o
qual se montam arranjos estabelecidos em rede, capazes de aproveitar as vantagens
das verticalidades espaciais que passam a ser, no período atual, materializadas no
território cearense por meio dos complexos circuitos espaciais da produção que se
moldam, e da frequente mobilidade da força de trabalho atrelada a este setor
produtivo.
Com isso, é relevante o papel que essas empresas têm no desenrolar de novas
dinâmicas territoriais no espaço cearense, corroborando a reorganização das relações sociais
de produção avícola, conforme analisaremos no capítulo seguinte. Assim, fica evidente que o
processo de territorialização do capital da avicultura no Ceará, comandado pelas grandes
empresas aqui apresentadas, tem sido estruturado visando utilizar o território exclusivamente
em função de seus interesses corporativos, atribuindo novas lógicas de produção empresarial
ao setor e fomentando a proletarização da população do campo, que agora atua para essas
grandes empresas – processos esses que também analisaremos no próximo capítulo.
130
4 RELAÇÕES SOCIAIS DE PRODUÇÃO E DINÂMICAS TERRITORIAIS
4.1 TRANSFORMAÇÕES RECENTES NA DINÂMICA PRODUTIVA AVÍCOLA
No presente período histórico, chamado por Santos (1996, 2009) de técnico-
científico-informacional, defrontamo-nos com uma economia internacionalmente articulada
em várias escalas geográficas pelos interesses do capital, que, através das inovações técnicas,
científicas e informacionais, passa a comandar de forma coordenada o processo produtivo
agropecuário, inclusive na produção avícola, tamanha é a materialização das condições gerais
de reprodução do capital globalizado do agronegócio, como destaca Elias (2006). Ainda
segundo a autora, a difusão de novos sistemas técnicos agrícolas, fortemente alicerçados em
ciência, tecnologia e informação, promoveu transformações significativas nos elementos
técnicos e sociais da estrutura agrária, denotando assim significativas metamorfoses nas
possibilidades de uso e ocupação do espaço e na divisão territorial do trabalho agropecuário
(ELIAS, 2007).
A partir disso, a dinamização das relações de produção da agropecuária
modernizada em várias escalas geográficas é possível atualmente por conta dos sistemas de
objetos e de ações que intensificam cada vez mais a circulação dos fluxos materiais e
imateriais, difundindo a reestruturação produtiva para todos os lugares e setores possíveis.
Assim, os impactos da economia globalizada e da reestruturação da produção fazem-se notar
em diferentes escalas e espaços, segundo afirma Santos (2003), isso se pensarmos o contexto
de uma produção agropecuária ter grande expressividade em uma região metropolitana, como
é o caso da RMF. São essas dinâmicas que nos exigem um pensamento multiescalar, uma vez
que a combinação de múltiplas escalas nos revela também as especializações dos espaços,
uma vez que
[...] Esse meio técnico-científico (melhor será chamá-lo de meio técnico-científico-
informacional) é marcado pela presença da ciência e da técnica nos processos de
remodelação do território essenciais às produções hegemônicas, que necessitam
desse novo meio geográfico para sua realização. A informação, em todas as suas
formas, é o motor fundamental do processo social e o território é, também, equipado
para facilitar a sua circulação (SANTOS, 2009, p. 38).
Diante dessas transformações no sistema produtivo associadas à dinâmica global,
a profunda relação entre a atividade agropecuária e a indústria, favorecida pelas decorrentes
mudanças tecnológicas, também fez com que avicultura se tornasse uma das atividades
econômicas que mais vêm transformando seu processo produtivo, e, portanto, os usos do
131
território. Nesse sentido, a relação entre industrialização, agropecuária e reconfiguração
territorial fica evidenciada a partir da difusão do agronegócio, que redefine a forma de
produzir e o arranjo espacial das unidades de produção, acarretando alterações nas dinâmicas
territoriais nos espaços onde esse modelo produtivo se difunde. Com isso, evidenciamos que a
organização contemporânea do espaço agropecuário brasileiro reflete esse novo quadro das
relações internacionais do mundo globalizado.
Assim, a reestruturação de inúmeros sistemas de produção nas mais diversas
escalas geográficas, principalmente com vistas a atender às novas demandas da agropecuária
globalizada, também atinge de forma significativa a produção avícola cearense, como visto no
capítulo anterior. Notamos que, com a reestruturação produtiva avícola em curso, a atividade
passou a gerar uma demanda por insumos materiais e informacionais que se amplia e é cada
vez mais diferenciada, buscando atender a um modelo de produção difundido mundialmente,
uma vez que “[...] só a produção direta se dá localmente. Mas a garantia de participar de uma
lógica que é extralocal insere essas atividades em nexos cada vez mais extralocais”
(SANTOS, 1994, p. 57).
A criação de fixos e fluxos para atender às demandas dessa produção modificam
as dinâmicas dos espaços onde ela se insere, a exemplo daqueles localizados sobretudo na
Região Metropolitana de Fortaleza e nos novos locais para onde a produção avícola cearense
vem se difundindo, sobremodo em pequenos municípios do interior, como Quixadá e
Quixeramobim, por exemplo, que passam a ser inseridos diretamente nos circuitos
globalizados da avicultura moderna. A partir daí, como resultado da reestruturação produtiva,
observamos o desenrolar de processos como fragmentação e especialização dos espaços
agrícolas, difusão de inovações no processo produtivo e alterações nas relações sociais de
produção, conforme afirma Silveira (2005), reconfigurando os usos do território cearense a
partir do novo modo de produção avícola, propagado especialmente pelas grandes empresas
do setor, que se inserem cada vez mais nesse contexto da reestruturação produtiva.
Nesse sentido, a reestruturação produtiva da avicultura é alvo de nossas
preocupações sobretudo quando procuramos desvendar a dinâmica territorial do capital
avícola no Ceará, que age introduzindo uma nova racionalidade técnica ao espaço e atuando
de maneira cerrada no controle do processo produtivo das aves. E a busca pela maior
eficiência produtiva das principais empresas do setor em atuação no Ceará vem sendo
alcançada devido a vários fatores, como: melhoramento genético das linhagens das aves,
aprimoramento na produção de insumos, modernização na infraestrutura das granjas e
abatedouros, pesados investimentos em tecnologias de automatização do sistema produtivo
132
para o processamento da carne e dos ovos, maior controle das condições sanitárias de criação,
aperfeiçoamento de pessoal quanto ao manejo das aves, além de mudanças na divisão técnica
e social do trabalho, conforme será analisado no último tópico deste capítulo.
Com isso, percebemos que a produção avícola no Ceará vem cada vez mais se
inserindo nos circuitos globais de produção. As mudanças no padrão de consumo provocam e
são provocadas pelas mudanças nos modos produtivos e novos padrões espaciais dos grandes
produtores de alimentos, especialmente a indústria alimentícia. O alimento, nesse contexto de
estandardização dos sabores, deixa de ser um bem da humanidade para se tornar uma
mercadoria, em que não há só o crescimento do consumo, mas a diversificação deste por meio
da diversificação da própria forma de produzir, revelando, dessa forma, as mudanças não só
do consumo, mas também da produção83
. Assim, podemos concluir que a produção alimentar
é normatizada e normatizante em relação também ao consumo e à mudança dos hábitos
alimentares.
Isso demonstra os rebatimentos da reestruturação produtiva para além da
produção avícola em si, atingindo também o consumo, que foi significativamente alterado nas
últimas décadas. Conforme já relatamos, é notável que na região Nordeste, a partir do recente
aumento de renda implementado pelas políticas sociais dos últimos anos, houve uma relativa
mudança do padrão alimentar84
, o que provocou também o aumento dos gastos com produtos
avícolas e a necessidade de novos investimentos no setor, uma vez que a região tem um
grande potencial de aumento de consumo per capita de frango e ovos, o que aumenta a
possibilidade de ampliação do setor, especialmente das empresas cearenses, responsáveis por
atender parte da grande demanda desses produtos no mercado nordestino.
Dessa forma, até mesmo as novas formas de consumo também colaboram para
alterar as práticas socioespaciais e as dinâmicas territoriais, implicando na mudança no
próprio processo de produção do espaço, alterado sobretudo pelas grandes empresas do setor,
que passam por processos de reestruturações técnicas e operacionais com vistas a atender às
novas demandas do consumo, ampliando suas capacidades produtivas e suas formas cada vez
mais modernas de acumulação de capital, como observado atualmente com as principais
empresas em atuação no Ceará. Isso ocorre porque, de acordo com Martins (1995), a
tendência do capital é justamente tomar conta progressivamente de todos os ramos e setores
da produção, e pouco a pouco ele o faz.
83
Haja vista que não podemos dissociar a produção do consumo, como já alertava Marx (2008). 84
Acerca da recente mudança no padrão alimentar da população brasileira, e não somente a nordestina, ver
sobretudo Schlindwein e Kassouf (2007).
133
Nesse sentido, a maior parte das empresas cearenses vem passando por um
processo de transição, reestruturando aviários manuais para aviários automáticos e com
sistema climatizado, por exemplo, no intuito sobretudo de otimizar a produção e ampliar a
produtividade. Esse processo já é observado nos aviários da Cialne, uma vez que hoje todos
são completamente automatizados, conforme pode ser notado nas fotos seguintes, servindo de
exemplo de como a reestruturação produtiva avícola vem se materializando na avicultura
cearense. Isso significa, entre outras coisas, uma racionalização do processo produtivo
avícola, a partir da difusão de um moderno sistema técnico que colabora para uma
uniformização da produção das aves, que recebem água, ração, vacinas e fertilizantes de
forma automatizada e padronizada, além de que essas aves já passaram por sucessivos
procedimentos genéticos com vistas a crescessem e engordarem mais rápido, tornando-se
também mais resistentes às doenças que se propagam facilmente nos aviários.
Com isso, através do incremento da tecnologia, da ciência e da informação na
avicultura, cria-se um mundo rural praticamente sem mistério, como aponta Santos (2009, p.
304), onde “[...] cada gesto e cada resultado deve ser previsto de modo a assegurar a maior
produtividade e a maior rentabilidade possível”, a serviço da reprodução do capital.
Plantas e animais já não são herdados das gerações anteriores, mas são criaturas da
biotecnologia; as técnicas a serviço da produção, da armazenagem, do transporte, da
transformação dos produtos e da sua distribuição, respondem ao modelo mundial e
são calcados em objetivos pragmáticos, tanto mais provavelmente alcançados,
quanto mais claro for o cálculo na sua escolha e na sua implantação. (SANTOS,
2009, p. 304).
134
Foto 12 – Aviário automatizado Cialne
Fonte: CIALNE. Disponível em: <http://www.cialne.com.br/>. Acesso em: 20 jul. 2016.
Foto 13 – Aviário automatizado da Cialne em Guaiuba/CE
Fonte: Sousa (2015). Acervo da autora.
135
Foto 14 – Sistema de ventilação em aviário automatizado da Cialne em Guaiuba/CE
Fonte: Sousa (2015). Acervo da autora.
Foto 15 – Bebedouro automatizado em fazenda da Cialne em Guaiuba/CE
Fonte: Sousa (2015). Acervo da autora.
136
Além disso, chama atenção que na produção avícola das grandes empresas
cearenses vem sendo empregado o princípio da biossegurança, com vistas a resguardar os
investimentos realizados na produção das aves através da biotecnologia empregada na
uniformização do processo produtivo avícola. Todas as pessoas que adentram as áreas de
criação passam por barreiras sanitárias, seguindo vários procedimentos de biossegurança
exigidos pela empresa. No caso da Cialne, tem-se a higienização e utilização de roupas
adequadas, além da desinfecção obrigatória com produtos específicos dos veículos que
adentram essas áreas, conforme demonstrado na foto seguinte.
Foto 16 – Barreira de biossegurança na entrada de fazenda da Cialne em Guaiuba/CE
Fonte: Sousa (2015). Acervo da autora.
De acordo com Aracri (2012, p. 105), “[...] a difusão das inovações tecnológicas é
uma forma de territorialização do capital, uma vez que o espaço agrário local ou regional
passa a fazer parte do espaço do sistema agroalimentar globalizado e das grandes corporações
que nele atuam”. Desse modo, conforme defende Silva (2003), o modo de produção
capitalista passou a se apropriar da ciência e dos progressos tecnológicos para otimizar seus
lucros na produção agropecuária, tal qual vem sendo observado com as empresas cearenses da
avicultura, revelando que a atividade avícola se tornou um setor subordinado ao capital, que
cada vez mais passa a determinar o que, quanto, quando e como se deve produzir, trazendo
rebatimentos dos mais diversos.
137
Como já visto anteriormente, ao longo das últimas décadas, a evolução das
pesquisas científicas tem levado a atividade avícola a obter, de forma crescente, melhores
índices de eficiência, tanto na avicultura de corte, em que os indicadores mais eficazes para
análise da produtividade são o peso ao abate, a idade no abate e a conversão alimentar, quanto
no segmento de produção de ovos, que também obtém ganhos significativos de produtividade
(OLIVEIRA et al., 2008, p. 48). Assim, a atuação da ciência, por meio da produção de
conhecimento técnico-científico, tem contribuído para o atendimento das exigências do
mercado quanto à qualidade, ao melhoramento e à padronização dos produtos avícolas.
O que podemos observar é que o desenvolvimento recente da atividade avícola
cearense, assim como no restante do país, está fundamentado nos investimentos da área
técnico-científica, envolvendo, especialmente, segmentos de genética, nutrição e sanidade, a
partir do objetivo de gerar novos produtos que colaborem com maior eficiência e qualidade no
processo produtivo. Assim, duas etapas se destacam no que concerne ao processo tecnológico
na avicultura: a criação e a industrialização. E no Ceará, um conjunto de tecnologias é
utilizado pelos grandes produtores empresariais, como vimos, o que lhes permitem alcançar
elevados índices de produtividade, corroborando o crescimento constante no plantel de aves e
na produção de ovos.
Além dos principais insumos técnico-científicos requeridos pela produção avícola,
o procedimento industrial para processamento da carne de frango inclui máquinas e
equipamentos específicos para os cortes e desossa automáticos, sistemas de embutir carnes,
tableamento (maciez) e sistemas de maturação, além de veículos fabricados especificamente
para o transporte de produtos processados da carne de frango. Assim, notamos que a atividade
avícola praticada no Ceará pelas grandes empresas requer equipamentos diversos para suas
diferentes fases: criação, produção de ração, abatedouros, processamentos e transporte.
Todavia, o que se pode observar, de um modo geral, é que grande parte desses insumos ou
dos seus componentes é importada de outros estados do Sul e Sudeste, ou mesmo de outros
países, de forma que a dependência do setor não se restringe somente à questão genética.
A provisão de todos esses insumos e a presença dos especialistas para realizar um
trabalho extremamente dividido aumenta a necessidade de movimento. Cresce a
espessura dos fluxos de produtos, insumos, pessoas, ordens e, sobretudo, dinheiro. E
esses fluxos exigem novamente uma importante infraestrutura para se
concretizarem. Cada pedaço do território, por menor que seja, exige um número
crescente de fluxos (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p. 132).
Tais demandas fomentam no setor avícola cearense o que Santos (1996, 2009)
denominou consumo produtivo, dinamizando os circuitos espaciais da produção avícola e
138
seus respectivos círculos de cooperação. Destaca-se que esse consumo produtivo não inclui
apenas os produtos materiais (insumos, máquinas e ferramentas), mas também os serviços
(armazenagem, construção, infraestrutura, comunicação, distribuição) e o trabalho imaterial
(qualificação de mão de obra, pesquisa e desenvolvimento, assistência técnica), como afirma
Santos (2010, p. 53-54). Aqui, dessa forma, o consumo produtivo está relacionado à
reprodução dos meios de produção, que também está articulado ao processo de produção e
circulação do capital, através dos investimentos em tecnologia, ciência e informação,
sobretudo.
Nesse sentido, a utilização desses insumos materiais e imateriais, que
anteriormente inexistiam na forma de produção tida como doméstica, de “fundo de quintal”,
tornou-se indispensável para o desenvolvimento da moderna produção avícola cearense,
denotando um significativo processo de subordinação da avicultura à lógica do capital
industrial. Assim, no atual momento no qual nos encontramos, há uma dependência
considerável da produção agropecuária ao capital, sendo necessário, acima de tudo, dispor de
vastos recursos financeiros para adquirir as inovações disponíveis para o setor, conforme
destaca Martine (1991, p. 19). Além disso, destaca Aracri (2012, p. 31), esse processo de
difusão de inovações na atividade agropecuária serve, antes de mais nada, ao controle da
produção e do território, subordinando o espaço agrário à lógica do capital industrial, com a
indissociável colaboração dos capitais comercial e financeiro.
Chama atenção, nesse sentido, a intrínseca relação entre a produção avícola e o
provimento de insumos industriais realizado no setor, através da articulação entre
agropecuária e indústria, e consequentemente entre campo e cidade. A indústria está presente
tanto na etapa de processamento dos ovos e carnes como também no fornecimento dos
insumos agora indispensáveis para a continuidade da produção avícola, permitindo aos
capitalistas “[...] o domínio completo sobre o processo produtivo, do qual auferem tanto a
renda, extraída socialmente, quanto o lucro, extraído individualmente dos trabalhadores
envolvidos na produção” (PAULINO, 2012, p. 42). Ainda acerca disso, Oliveira (1999, p. 77)
destaca que
O processo de internacionalização da economia brasileira tem revelado, então, que o
desenvolvimento do capitalismo na agricultura em nossos dias está marcado,
sobretudo, pela sua industrialização. Essa industrialização deve ser entendida como
o processo de introdução do modo industrial de produzir no campo, desencadeando
um inter-relacionamento intenso entre a indústria e a agricultura.
139
Com as mudanças na base técnica da agropecuária, provenientes do processo de
reestruturação econômica, houve uma profunda transformação nas formas gerais de
organização da produção avícola cearense, como visto anteriormente. E, com a globalização
da economia, há uma alta seletividade espacial por parte das grandes empresas e
especialização das unidades produtivas, em que “[...] a acentuação da especialização funcional
que a indústria provocou estendeu-se para o campo” (SPOSITO, 2012, p. 65). Assim, a
materialização dessa reestruturação produtiva se dá de forma seletiva, desigual e combinada
no espaço.
O processo contraditório e desigual de desenvolvimento da agricultura, sobretudo
pela via da industrialização, tem eliminado gradativamente a separação entre a
cidade e o campo, entre o rural e o urbano, unificando-os numa unidade dialética.
Isto quer dizer que campo e cidade, cidade e campo, formam uma unidade
contraditória (OLIVEIRA, 1999, p. 103).
Além disso, de maneira geral, as atividades econômicas dinamizam-se em áreas
que apresentam condições de atração locacional, ou seja, que contam com atributos
vantajosos de infraestrutura, com recursos humanos qualificados, mostrando-se adequadas à
instalação de empreendimentos e à geração de maiores lucros, como revela Santos (2011).
Para tanto, diversos agentes, em múltiplas escalas articuladas, intervêm na distribuição
espacial das atividades produtivas e consequentemente conformam novas territorialidades
(SANTOS, 1996; SANTOS, SILVEIRA, 2001), denotando um uso seletivo do território e dos
fixos e fluxos lá instalados.
A partir disso, é relevante a extensão da atividade avícola no Ceará como um todo
e a preponderância desta na Região Metropolitana de Fortaleza (como pudemos verificar nos
dados que espacializaram a produção avícola cearense), onde se encontram os pontos
referentes ao lócus da produção da avicultura e grande parte da produção e dos fixos e fluxos
relacionados à avicultura, como, por exemplo, indústrias processadoras, fábricas e silos de
armazenagem de rações, galpões de criações de aves e instalações de incubatórios para
produção de pitinhos de um dia, escritórios das grandes empresas do setor, além da
concentração dos trabalhadores formais, denotando a importância do espaço urbano para a
continuidade das atividades realizadas no campo. No organograma a seguir, figura 8,
podemos observar como se organiza o circuito espacial produtivo da avicultura cearense.
140
Fonte: Bruna Nogueira (2016)85
.
85
A organização do organograma teve como base informações coletadas em trabalhos de campo e entrevistas.
INSUMOS PRODUÇÃO ABATE E
PROCESSAMENTO
DISTRIBUIÇÃO CONSUMO
Importação
de avós
Criação de
avós e de
matrizes
Fábrica
de
rações
Fábrica
de
embalagens
Indústria de
equipamentos
Vacinas
e
medicamentos
Ingredientes
para ração
Incubatórios
Frango
vivo
Poedeira
comercial
Abatedouros públicos ou artesanais
(1º processamento)
Frigoríficos com SIF e/ou SIE
(1º e 2º processamento)
Ovos comerciais
Exportação para outros estados do
Norte e Nordeste
Cortes Industrializados
Mercado
estadual
Frango inteiro Frango inteiro
(“frango quente”)
Feiras, açougues e
pequenas
mercearias
CONSUMIDOR FINAL
Mercado
estadual
Mercado
local
Açougues,
supermercados, e
restaurantes
Supermercados,
padarias, restaurantes e
pequenas mercearias
Figura 8 – Circuito espacial produtivo da avicultura cearense
141
Isso nos faz ter em mente que “[...] o modo de produção não produz cidades de
um lado e campo do outro, mas ao contrário, esta produção compreende uma totalidade, com
uma articulação intensa entre estes dois espaços” (SPOSITO, 2005, p. 64). Além disso, no
campo, esse mesmo modelo de produção industrial aos poucos tem se tornado uma realidade
concreta no que diz respeito à reestruturação da atividade avícola no Estado do Ceará. Acerca
disso, Sposito (2005, p. 64) ainda assegura que “[...] este modo de produção também está no
campo e só é possível de se reproduzir através do aumento da articulação entre a cidade e o
campo”. Assim,
[…] Essa industrialização do campo é possível justamente pelo aumento da
produtividade, pela ampliação da capacidade agrícola, através da absorção de formas
de produção da indústria pelo campo – concentração dos meios de produção (neste
caso, especialmente a da propriedade da terra), especialização da produção e
mecanização. Estes mecanismos acentuam a articulação entre a cidade e o campo,
transformando o rural em espaço altamente dependente do urbano, inclusive porque
há um aumento do consumo da produção e dos serviços da cidade pelos moradores
do campo. Esta articulação acentuada coloca em dúvida a própria distinção entre a
cidade e o campo (SPOSITO, 2005, p. 65).
Desse modo, se pensarmos o território das regiões metropolitanas, trazendo a
observação para a Região Metropolitana de Fortaleza, ele incorpora toda uma lógica de
desenvolvimento de condições gerais de produção da atividade avícola, sobretudo no que
concerne aos meios de circulação referentes às grandes empresas, estabelecendo relações com
o intraurbano, uma vez que o consumo produtivo da avicultura praticada no Ceará engloba
tanto o comércio quanto o serviço, incrementando as trocas entre essa atividade agropecuária
e os demais setores da economia. Além disso, concentram-se na região metropolitana uma
grande diversidade de atividades comerciais e de serviços, além de formas de gestão do
capital e mão de obra especializada voltados às necessidades de tais empresas, como
demonstra Silva (2007). Dessa forma, “[…] é preciso considerar que a concentração do
capital e a concentração espacial das atividades possuem, no capitalismo, um nexo causal
comum” (SINGER, 1983, p. 35).
Nesse sentido, ao analisar a dinâmica geográfica da avicultura a partir da própria
produção avícola cearense e da melhor compreensão do contexto sob o qual houve a
territorialização das grandes empresas do setor no Estado, podemos notar que, ao ampliar os
espaços de acumulação de capital, essas empresas promovem importante processo de
ordenamento territorial como estratégia fundamental da dinâmica de expansão do capital
avícola no Ceará. Observa-se que os excedentes gerados no processo de produção são
invertidos na expansão da capacidade produtiva, por meio do investimento na aquisição de
novas máquinas e insumos, instalação de unidades produtivas, ou até mesmo na diversificação
142
produtiva da empresa, com o empreendimento em outras atividades que também
reconfiguram dinâmicas territoriais, expandindo sua atuação para além da avicultura em si, a
exemplo do que faz sobretudo a Cialne.
De acordo com Bernardes (2010), resumindo muito bem esse processo, a cada
novo impulso de modernização, as forças produtivas agroindustriais vêm se reorganizando,
apresentando maior complexidade. Além disso, a cada novo impulso de modernização o
território é chamado a atender às novas exigências do capital e levado a atender aos novos
anseios do setor produtivo, sedento pela otimização dos lucros e pela redução dos custos.
Estamos diante, pois, da “[...] existência de uma relação direta entre reorganização territorial e
a coordenação de novos processos, procedimentos e ações que organizam e otimizam o
funcionamento de novos setores produtivos” (BERNARDES, 2010, p. 15), denotando, por
exemplo, um uso corporativo do território pelas grandes empresas avícolas, conforme será
analisado na sequência.
4.2 USO CORPORATIVO DO TERRITÓRIO E REDES DE PODER
Nas últimas décadas do século XX houve a solidificação do processo de
mundialização do capital, momento tido como o auge do processo de internacionalização do
capital, quando a ações que favorecem o acúmulo de capital também se globalizaram e
passaram a impor novas formas de regulação do território que envolvem tanto o Estado como
as grandes corporações, como bem destacam Santos (2003) e Harvey (2014), entre outros. A
reestruturação produtiva da agropecuária, decorrente desses processos globais e dos ajustes
econômicos e espaciais do capitalismo no Brasil, favoreceu a consolidação da produção
avícola empresarial no Ceará, criando um quadro de uso corporativo do território pelas
principais tais empresas do setor, que passaram a ver o território como um espaço no qual os
sistemas de objetos e os sistemas de ações são utilizados como recursos, com base em
investimentos públicos e privados, visando aumentar ainda mais a fluidez do espaço em prol
da circulação e reprodução de capital.
Assim, essa reestruturação do setor agropecuário implicou a ampliação da
produção e a necessidade de uma maior fluidez corporativa, exigindo investimentos,
principalmente por parte do Estado, em vários setores ligados aos circuitos espaciais
produtivos agropecuários, inclusive da avicultura. Isso acaba gerando, de acordo com Santos e
Silveira (2001, p. 291), um verdadeiro comando da vida econômica e social e da dinâmica
territorial por um número limitado de empresas, que passam a gerir os usos do território em
143
prol de seus objetivos particulares e em detrimento dos anseios gerais da população. Com
isso, para Santos e Silveira (2001, p. 291), o território passa a ser adjetivado enquanto um
“território corporativo” comandando pela lógica empresarial.
Dessa forma, essas transformações na dinâmica do processo de acumulação do
capital ocorridas também no interior da atividade avícola praticada pelas grandes empresas no
Ceará, ordenadas de acordo com as mudanças na dinâmica econômica mundial, resultam na
reconfiguração do território para atender às demandas do próprio setor e dessas empresas
hegemônicas. A partir disso, aprofundam-se os desequilíbrios entre os agentes que atuam
nesse setor, uma vez que o território, ordenado também de acordo os mesmos interesses
privados, se estabelece como meio técnico-científico-informacional seletivamente funcional
às atividades hegemônicas do capital avícola e da política, que também são mundiais do ponto
de vista das suas ações (SANTOS, 2009).
Assim, esse novo meio técnico-científico-informacional é usado e serve
principalmente ao capital hegemônico das empresas da avicultura que se instala no território
para servir primordialmente aos seus próprios desígnios, pouco ou nada importando os
impactos advindos com o processo de territorialização do capital avícola. De acordo com
Santos e Silveira (2001, p. 293), o resultado dessa atuação hegemônica do capital no espaço é,
de novo, “[…] o exercício de um controle parcial de certos pontos por lógicas que se
interessam apenas por aspectos particularizados”, cujos reflexos são observados no território e
na organização das relações sociais de produção.
Dessa forma, no período atual, as grandes empresas fazem uso dos territórios de
acordo com seus interesses e demandas, balizados pelo mercado internacional. Assim, o uso
de pontos selecionados do território cearense pelo setor avícola fica submetido a uma lógica
que, por intermédio de uma empresa com prerrogativas do modo de produção capitalista,
acaba sendo uma lógica global, uma vez que “[...] o espaço geográfico reproduz-se, hoje,
tendo como objetivo o pleno desenvolvimento do capitalismo” (CARLOS, 1992, p. 42).
Alguns setores agropecuários nacionais, como é o caso da avicultura, participam de forma
intensa do processo de articulação com o modelo produtivo globalizado. Tal articulação,
forjada no contexto da globalização econômica, cria novas dinâmicas territoriais e uma
necessidade de nova regulação por parte dos agentes envolvidos.
Associado a esse movimento global de reestruturação produtiva e regulação
territorial, políticas públicas para acelerar o processo de industrialização do Ceará, dentro da
articulação nacional para a inserção produtiva do Nordeste na economia globalizada, vem
reconfigurando as práticas do uso do território cearense (PEREIRA JÚNIOR, 2011), mediante
144
investimentos voltados para dinamizar o setor produtivo estadual, inclusive a avicultura.
Assim, o planejamento aparece não é só como uma ferramenta técnica, mas principalmente
política. Esse planejamento associado ao Estado está diretamente ligado à dinamização do
território e ao seu uso planejado sobretudo para o desenvolvimento econômico –
planejamento estatal este que passa a atender aos interesses particulares das grandes empresas
do setor produtivo.
Com isso, podemos perceber o papel do Estado como agente direto da abertura do
mercado nordestino à forma de produção globalizada em curso, através da sua intervenção
planejada na região. O objetivo dessa intervenção planejada era dinamizar a configuração
produtiva da região, através de investimentos em obras públicas e nos setores privados da
economia, reformulando a economia ao passo que as próprias relações sociais de produção e
políticas também foram sendo modificadas, como indicam Oliveira (1993) e Araújo (1997). É
nesse contexto que podemos inserir a atividade avícola do Ceará, que, como vimos
anteriormente, desde o início a articulação entre Estado-Empresa foi presente para a
estruturação da atividade, contando para isso com recursos da própria Sudene. Tais recursos
da Sudene e de órgãos financeiros como o BNB, a partir dos anos 1960, e os incentivos fiscais
da década de 1970, possibilitaram a expansão do setor avícola do Ceará. E desde esse tempo,
uma série de incentivos fiscais e linhas de crédito são ofertadas pelo Estado e disponibilizadas
para o setor.
Dessa forma, observamos que o Estado, através dessa política de modernização
conservadora que prioriza os interesses das grandes corporações, se converte em promotor e
financiador do capital privado, com o objetivo de inserir e articular a lógica estatal aos fluxos
globais da economia por meio do uso intensivo dos recursos disponíveis dos territórios pelas
corporações.
De tal forma o Estado acaba por ter menos recursos para tudo o que é social. Assim
o Estado atual, o Estado da globalização, caracteriza-se não por uma fragilidade,
mas, ao contrário, pela fortaleza no que toca ao serviço de uma economia não
humana, enquanto se esquece do social (SANTOS, 1997).
Há, dessa forma, uma influência do capital produtivo/empresarial nas redes
políticas, que sugam do Estado todo tipo de investimento e vantagens possíveis. Há, portanto,
uma série de relações não explícitas e não visíveis, às vezes, mas que são fundamentais,
inclusive, para caracterizar as relações de produção e as redes de poder que camuflam a
associação entre empresa-capital-Estado. Assim, de acordo com Santos (1977), nas condições
atuais, o que estamos assistindo é a política feita pelas empresas, sobretudo pelas grandes
145
empresas. É uma política das empresas e para as empresas, cada vez mais poderosas e
indutoras de novos usos do território.
Para Santos e Silveira (2001, p. 291), o papel de comando do território é sempre
reservado às empresas dotadas de maior poder econômico e político. Tendo em vista que as
empresas são organizações cujas ações se dão de forma indissociável dos sistemas técnicos e
políticos que constituem o território, o uso corporativo deste frente à atual dinâmica dos
fluxos materiais, financeiros e informacionais revela as estratégias territoriais das empresas.
Cada empresa, cada ramo da produção produz, paralelamente, uma lógica territorial.
[...] esta é visível por meio do que se pode considerar uma topologia, isto é, a
distribuição no território dos pontos de interesse para a operação dessa empresa.
Esses pontos de interesse ultrapassam o âmbito da própria firma para se projetar
sobre as empresas fornecedoras, ou compradoras, ou distribuidoras. Para cada uma
delas, o território do seu interesse imediato é formado pelo conjunto dos pontos
essenciais ao exercício de sua atividade, nos seus aspectos mais fortes (SANTOS;
SILVEIRA, 2001, p. 292-293).
A ação das grandes empresas toma forma nos lugares, e aos investimentos
privados se somam as políticas públicas, que passam a ser guiadas pelos interesses
minoritários hegemônicos. As dinâmicas territoriais, empreendidas pelas novas relações
sociais de produção avícola, demonstram as articulações entre políticas públicas e interesses
corporativos, uma vez que, a partir de 1990, o Estado brasileiro como um todo passou a adotar
medidas para adaptar a economia e o território nacional aos desígnios e às ações
verticalizadas pelas forças globais e corporativas. Assim, é preciso ter em mente que vivemos
um período em que se dá a aceleração do acúmulo de capital com o auxílio do Estado, dentro
de um modelo tido como neoliberal, em que o papel do Estado seria mínimo, sendo, na
verdade, o contrário disso.
Esse discurso que ouvimos todos os dias, de cada vez haver menos Estado, está
ligado, de um lado, ao fato de que há porosidade e, de outro lado, ao fato de que os
que comandam a globalização necessitam de um Estado flexível aos seus interesses
para oferecer condições a uma produção devorante. [...] Além disso, são feitas
exigências para que ele [o capital] se instale - que em grande parte são feitas à
geografia, porque é preciso adaptá-la às necessidades das novas empresas [...]
(SANTOS, 1997).
A própria ampliação dos espaços de acumulação de capital, possível a partir da
recorrente e cerrada intervenção do Estado, ao promover um processo de ordenamento
territorial da produção, torna-se estratégia fundamental das empresas na dinâmica de
expansão do capital avícola no Ceará. Com isso, observa-se a formação de grandes
146
corporações multifuncionais e multilocalizadas atuando na avicultura cearense, cujo caso da
Cialne é o mais emblemático e representa fielmente o debate aqui realizado.
Uma grande corporação multifuncional e multilocalizada possui, no que se refere a
sua espacialidade, não apenas diversas localizações, mas também intensas e
complexas interações espaciais, envolvendo, de um lado, suas próprias localizações
e, de outro, numerosas empresas e grupos. Em outras palavras, o espaço de atuação
da grande corporação é amplo, constituindo um meio vital para sua existência e
reprodução ampliada. Este espaço é, por outro lado, submetido à ação da
corporação, sendo diferencialmente alterado em suas dimensões e conteúdos social e
econômico (CORRÊA, 1991b, p. 62).
As empresas avícolas cearenses, através de recursos econômicos, tecnológicos,
científicos e informacionais, têm reorganizado sua produção sob a égide do mercado
internacionalizado. Assim, podemos dizer que a grande produção avícola no Ceará está cada
vez mais relacionada a uma demanda de agentes externos, seja tal demanda por quantidade ou
qualidade. Através da adoção de estratégias produtivas, espaciais e comerciais, estas empresas
organizam unidades produtivas sob seu comando, estimulando e utilizando os sistemas
técnico-científico-informacionais do meio geográfico cearense, incluindo, de forma seletiva e
excludente, o território cearense no movimento geral da globalização, especialmente a Região
Metropolitana de Fortaleza, onde se concentram fixos, presentes na forma de sistema de
objetos geográficos e animados por sistemas de ações, e fluxos de informações e decisões
políticas e econômicas com relação à atividade avícola.
Os rebatimentos territoriais gerados a partir desse processo podem ser
reconhecidos de forma empírica por meio das densidades técnico-políticas produzidas pela
atividade avícola, uma vez que “[...] o território mostra diferenças de densidades quanto às
coisas, aos objetos, aos homens, ao movimento das coisas, dos homens, das informações, do
dinheiro e também quanto às ações” (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p. 260), denotando assim
um uso seletivo do território por parte do Estado e das empresas. A partir da leitura de Santos
(2009), temos que os fixos, seletivamente instalados no território, e seus respectivos fluxos,
impõem novas dinâmicas ao território, cujo ritmo segue àqueles interesses e às novas
estratégias de uso do território pelas grandes empresas do setor avícola cearense. Dessa forma,
o uso do território se dá seletivamente, levando à imposição das normas dos grandes agentes
da economia mundial sobre os lugares.
Assim, como elementos de acumulação, as inovações técnicas e científicas
apropriadas apenas pelas grandes empresas com alto poder aquisitivo, também fazem parte do
processo de uso corporativo do território. Infelizmente, como nos coloca Santos (1997), “[...]
147
quando esse progresso técnico alcança o nível superior, a globalização se realiza, não a
serviço da humanidade, mas contra”, uma vez que tais avanços são usufruídos por uma
parcela muito pequena da sociedade, que se utiliza desses avanços para prosseguir com o
processo de alienação do território. Um exemplo disso é o fato de algumas poucas empresas
cearenses terem capital suficiente para investir em técnicas e pacotes genéticos com as
principais empresas do setor ao redor do mundo.
A Cialne, por exemplo, é uma das únicas empresas brasileiras que detêm o
controle de todo o processo produtivo avícola, igualando-se ao modelo seguido por empresas
como a BRF e a Seara. Todavia, até mesmo a Cialne possui exclusividades que nem as
gigantes do setor detêm. Tem-se como exemplo disso a parceria de quase 20 anos da Cialne
com a Aviagem, do grupo escocês Erich Wesjohann, líder mundial em melhoramento
genético de aves e com subsidiárias em 130 países86
. A Cialne aloja linhagens específicas de
aves e produz matrizes para uso próprio e vendas no mercado desde 1998, além de fazer
pesquisa interna de qualidade da produção87
, tornando-se com isso líder de mercado na venda
de matrizes, ovos férteis e pintos de um dia no Nordeste88
. Assim, a Cialne passou a ser um
centro de testes de animais adaptados ao clima tropical, alojando as aves-avós, que são a base
da genética avícola, e colaborando com pesquisas para identificar quais tipos de aves mais se
adaptam ao contexto brasileiro89
.
A apropriação dessas inovações técnicas e científicas pelas empresas pode ser
considerada enquanto uma evidência de uso corporativo do território, uma vez que a partir
disso dá-se o controle do processo produtivo avícola, e por conseguinte no próprio espaço no
qual todas essas atividades são realizadas, através do controle das instâncias produtivas e da
mudança da composição técnica e orgânica do espaço. Diante disso, o uso corporativo do
território, especialmente pela Cialne, ganha destaque em virtude sobretudo das enormes
proporções dessa empresa e dos vultuosos investimentos que são realizados, haja vista que ela
controla sozinha mais de 50 unidades produtivas dispersas por Ceará, Piauí, Maranhão e
Paraíba, e possui aproximadamente 4 mil empregados, atuando em distintos ramos produtivos
86
DINHEIRO RURAL. Disponível em: <http://www.dinheirorural.com.br/secao/capa/sem-tempo-para-
descansarr>. Acesso em: 07 jul. 2015. 87
AVICULTURA INDUSTRIAL. Disponível em: <http://www.aviculturaindustrial.com.br/imprensa/aviagen-e-
cialne-15-anos-de-uma-bem-sucedida-parceria/20140114-093307-T248>. Acesso em: 07 jul. 2015. 88
AVIAGEN. Informe institucional da Aviagen. Disponível em:
<http://pt.aviagen.com/assets/Newsletters/Portuguese/Informe-AviagenPT-Julho2012.pdf>. Acesso em: 07 jul.
2015. 89
DINHEIRO RURAL. Disponível em: <http://www.dinheirorural.com.br/secao/capa/sem-tempo-para-
descansarr>. Acesso em: 07 jul. 2015.
148
e detendo o controle do mercado de aves, carne e ovos do Nordeste, além de ser a única a
controlar também a base genética avícola nessa região.
A Cialne consegue, como nenhuma outra empresa da avicultura em atuação no
Ceará, gerir uma produção espacialmente dispersa e fragmentada, mas que é unificada pelos
comandos corporativos emanados por uma rígida estrutura organizacional que detém o
controle dessa empresa, e por sua vez do território no qual ela ocupa. Dessa forma, as 53
unidades produtivas da Cialne significam, além de sua grande capacidade produtiva, o
controle de diversas parcelas do território, que servem como base para o crescimento da
empresa – território esse que passa a ser explorado ao máximo com vistas a ampliar os
rendimentos e a produtividade, sendo utilizado apenas enquanto um recurso passível de ser
descartado deixe de oferecer as vantagens das quais a empresa tanto valoriza, a exemplo de
incentivos fiscais oferecidos pelos governos estaduais e municipais, garantia do abastecimento
hídrico e energético, infraestruturas voltadas para o escoamento e distribuição da produção,
garantia de uma mão de obra barata e qualificada, entre outros.
Tudo isso, segundo Santos (1997), sem contar que a presença no território de
empresas como a Cialne fomenta a mudança no esquema de emprego, nas relações
econômicas, sociais, culturais e morais dentro de cada lugar, e também no orçamento público,
esse último que age a serviço do imperativo do capital, como já é sabido. Muitas vezes essas
empresas também se apropriam dos recursos naturais, como espelhos d’água, que deveriam
permanecer como bens comuns a toda sociedade, conforme constatamos em uma das fazendas
da Cialne em Guaiuba. Nas fotos 23, 24, 25, 26 apresentamos um pequeno panorama dessa
fazenda da Cialne, na qual tivemos a oportunidade de visitar, sendo possível notar o modo
como a empresa estrutura o espaço em função de suas próprias demandas, alterando
sobremaneira a configuração territorial da localidade escolhida para receber algumas de suas
granjas, ao serem implantados modernos aviários em pleno semiárido, voltados para a
produção padronizada e em larga escala de frangos.
149
Fonte: Sousa (2015). Acervo da autora.
Fonte: Sousa (2015). Acervo da autora.
Foto 17 – Lagoa localizada no interior da fazenda da Cialne em Guaiuba/CE
Foto 18 – Aviários da fazenda da Cialne em Guaiuba/CE
150
Além disso, assim como as técnicas, as normas também se vinculam às ações dos
agentes hegemônicos. Assim, ações regulatórias constituídas pelo Estado fomentam novas
normas que passam a se impor no território para favorecer o uso corporativo deste pelas
empresas. É nesse sentido que o território se torna uma ampla arena de disputas pela
implantação e disseminação de técnicas e normas, provocadas pelo processo de ampliação da
acumulação de capital pelas empresas, com o aval do Estado. Além disso, o uso corporativo
do território pelas grandes empresas do setor avícola, a partir também da ação do Estado,
estão vinculadas aos interesses internacionais do período de acumulação flexível do capital,
tornando o território um campo de força de disputas dos mais variados interesses dos agentes
que nele exercem seu poder.
Não cabe ao território em si, mas ao território e seu uso, num momento dado, o que
supõe de um lado uma existência material de formas geográficas, naturais ou
transformadas pelo homem, formas atualmente usadas e, de outro lado, a existência
de normas de uso, jurídicas ou meramente costumeiras, formais ou simplesmente
informais. A utilização dos lugares pelas empresas, sobretudo as firmas gigantes,
depende desses dois dados e não apenas de um deles. Formas e normas, pois,
trabalham como um conjunto indissociável (SANTOS, 2009, p. 229).
A partir daí, a competitividade característica do atual período induz os lugares
ligados aos circuitos espaciais produtivos da produção avícola empresarial a entrarem em uma
acirrada competividade por recursos e mercados e a terem sistemas técnicos cada vez mais
modernos para vencerem a “guerra dos lugares”, em detrimento de locais que permanecem no
abandono e que se configuram apenas enquanto regiões do fazer, controladas pelas regiões do
mandar, como afirmam Santos e Silveira (2001).
Há uma disputa entre as empresas, porque território e mercado são sinônimos.
Então, as empresas brigam entre si pelo mercado. Se brigam pelo mercado, estão
brigando pelo território. Há uma disputa, entre o Estado e as empresas, pelo
território. As empresas, pela sua ação, mudam o território. O Estado, em certos
casos, tenta tornar óbvia essa evolução (SANTOS, 1997).
Associado a isso, há cada vez mais uma desconcentração das atividades
produtivas, em que as empresas possuem unidades de produção em diversos lugares em busca
da diminuição de custos com mão de obra e insumos, como ocorre sobretudo com a Cialne,
conforme já indicamos. Todavia, há a permanência da centralização dos comandos de decisão,
delineando movimentos contrários à desconcentração da base produtiva, e com isso a
fragmentação da produção e exploração do próprio território, associada a uma concentração
151
espacial das decisões. A partir disso é preciso ter em mente que as práticas espaciais dessas
empresas não são isentas de conflitos, uma vez que, junto às suas práticas, soma-se a ação de
distintos agentes em múltiplas escalas articuladas, especialmente as ações hegemônicas.
Por outro lado, sendo o crescimento capitalista desigual e combinado, os espaços
sofrem sua atuação de maneira desigual embora, no conjunto, a lógica do
crescimento continue sendo a mesma e única de sempre. Assim, o problema
fundamental a ser enfrentado, aqui, constitui-se na identificação das funções que os
espaços desempenham no processo de acumulação e reprodução capitalista, no
rastreamento dos momentos e das razões históricas que deram origem a tal processo
e no papel que os agentes sociais, particularmente os grupos e as classes sociais,
jogam em relação à apropriação do excedente e à hegemonia política (PERRUCI,
1984, p. 14).
A instalação de grandes sistemas técnicos pelos agentes hegemônicos ligados ao
sistema produtivo avícola estadual faz com que o território cearense seja utilizado meramente
enquanto recurso, como exemplificado sobretudo no caso da Cialne. Este uso corporativo,
enquanto induz porções do território cearense a participarem do movimento da mais valia
global, exclui grande parte da forma de produção avícola tradicional dos benefícios gerados
pelo desenvolvimento das forças produtivas. Com isso, o território se vê à mercê dos
interesses do capital privado, que, muitas vezes mediado pelo Estado, impõe um uso do
território que exclui formas tradicionais e alternativas de produção e provoca vulnerabilidades
socioeconômicas e políticas. Os sistemas técnicos acabam por também definir o modo de vida
dos indivíduos, e com isso a própria forma da vida se modifica. Apesar disso, é preciso ter em
conta que “[...] a vida não é um produto da Técnica, mas da Política, a ação que dá sentido à
materialidade” (SANTOS, 1996, p. 21).
Assim, com o desenvolvimento técnico e a ampliação do capital investido, a
produção do capitalismo dá-se de forma mais intensa na avicultura cearense, especialmente
por meio das instituições que exercem o poder corporativo do território. O exemplo da Aceav,
já apresentado no capítulo anterior, é bastante elucidativo desse processo e evidencia a
articulação das redes de poder no território mediante a associação dos principais agentes
hegemônicos que detêm o controle do setor avícola, que dialogam entre si visando usufruir
conjuntamente das benesses do Estado e dos sistemas técnicos-científicos disponíveis. Além
da Aceav, alguns outros grupos merecem destaque, sobretudo aqueles destinados a dotar o
setor avícola do conhecimento técnico-científico advindo com o processo de reestruturação
produtiva.
No Ceará, a existência do Grupo de Estudos em Avicultura Industrial (GEAVI) da
Faculdade de Veterinária (FAVET) da Universidade Estadual do Ceará (UECE), localizada
152
em Fortaleza, evidencia o papel da pesquisa científica nas redes de poder da avicultura a partir
da associação com as grandes empresas do setor. O grupo realiza estudos sobre a temática
avícola e todas as áreas pertinentes à atividade: nutrição, genética, ambiência e
biosseguridade, através de pesquisas teóricas e atividades práticas, com parceria das empresas
do setor privado90
, como no caso da pesquisa desenvolvida junto à Emape sobre utilização de
água de coco para a inseminação na avicultura. O GEAVI tem como linhas de atuação o
estudo em avicultura industrial nos segmentos de frangos de corte, poedeiras comerciais e
outras aves de interesse acadêmico e socioeconômico, além de nutrição, genética, ambiência e
biosseguridade de aves industriais, como também bem-estar animal avícola.
Assim, o objetivo do grupo é fazer com que a FAVET se torne uma fonte
referencial de soluções avícolas no estado do Ceará, por meio da extensão de suas atividades
em outros campi e no setor empresarial, com discussão de artigos, acompanhamento de
pesquisas de campo e coleta de dados reais em empresas locais, participação de eventos
relacionados à avicultura, produzindo, dessa maneira, conhecimento científico e profissionais
capacitados para a atuação na atividade avícola cearense91
. Tal situação fomenta o processo
de subordinação da técnica, ciência e informação às leis do mercado, corroborando para
acirrar a mercantilização e privatização do conhecimento científico gerado em instituições
públicas, segundo afirma Nascimento Júnior (2013), reafirmado por Santos (1997):
Pois bem, a globalização tem como uma das bases esse casamento entre ciência e
técnica, essa tecno-ciência, que depende da técnica, que depende do mercado. Por
conseguinte, trata-se de uma técnica e de uma ciência seletivas. A ciência
freqüentemente produz aquilo que interessa ao mercado, não à humanidade, de tal
maneira que o progresso técnico e científico não é sempre um progresso moral. E o
que poderemos ver se fizermos uma análise mais detalhada do que se passa na
própria universidade: a cada dia encontramo-la mais aplicada a servir ao mercado
[...].
Além disso, silos, fábricas, granjas, entre outros fixos, são construídos pelas
grandes empresas com o apoio institucional e financeiro do Estado para fomentar ainda mais
o desenvolvimento da atividade avícola no Ceará. Também são construídos e reordenados
pelo Estado bases materiais ricas em infraestruturas rodoviárias que funcionam como
importantes sistemas de engenharia por onde a produção cearense é escoada, garantindo
fluidez ao território (ARROYO, 2003), privilegiando os locais onde essas empresas se
90
YOUTUBE. Vídeo do programa institucional UECE na TV. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=Gjq-XN_wLs0>. Acesso em: 13 jan. 2015. 91
UECE. Disponível em: <http://www.uece.br/uece/index.php/noticias/90274-grupo-de-estudos-em-avicultura-
industrial-esta-em-funcionando>. Acesso em: 13 jan. 2015.
153
instalam e onde a maior fatia do seu mercado consumidor se localiza. A viabilização dessa
fluidez territorial facilita a ação das grandes empresas, que passam assim a utilizar o território
como mais um de seus recursos.
Nesse sentido, a construção da ferrovia Transnordestina representa uma ação de
grande repercussão para a atividade avícola no Ceará no âmbito do processo produtivo, pois
contribuirá para ampliar a ligação das áreas de produção avícola com as áreas de produção de
milho e soja de outros estados nordestinos, tendo em vista a redução do custo dos insumos
vindos principalmente do Maranhão e do Piauí, além de facilitar a própria distribuição de
produtos avícolas. Dessa forma, trata-se de um grande fixo instalado pelo Estado e que servirá
também para atender aos anseios das grandes empresas da avicultura instaladas no Ceará,
possibilitando resolver um dos grandes gargalos do setor, que é o suprimento de ração para as
aves.
Sendo um dos grandes projetos de infraestruturação do território com o objetivo
de ampliar ainda mais o desenvolvimento econômico do Nordeste, o projeto implantado pela
concessionária Transnordestina Logística S/A ligará áreas do interior dos Estados de
Pernambuco e Piauí aos Portos de Suape (PE) e Pecém (CE), sendo que a ferrovia terá uma
extensão de 1.728 km (figura 7). Tal projeto presume uma integração intra e inter-regional e
se constitui como solução logística no sentido de incorporar e inserir partes importantes de
áreas agrícolas e de mineração aos mercados extra-regional e externo. O foco do projeto é o
transporte de carga de grãos, minérios, combustíveis e insumos agrícolas. Estima-se a
movimentação de cargas no entorno de 30 milhões de toneladas/ano, com predomínio de
grãos produzidos na nova fronteira agrícola do sul do Piauí (milho e soja – 16.300 mil t/ano) e
de gipsita/gesso (6.980 mil t/ano), além de fertilizantes (1.253 mil t/ano) e combustíveis (838
mil t/ano)92
.
No âmbito do Governo Federal, a obra é de responsabilidade de três ministérios:
Integração Nacional, Transportes e Planejamento. A Transnordestina contava, em 2013, com
investimentos totais de R$ 5,3 bilhões, com participação de R$ 2,67 bilhões do Fundo de
Desenvolvimento do Nordeste (50% do empreendimento)93
. A Sudene já procedeu a liberação
de R$ 1,4 bilhão, correspondendo a 56% dos recursos alocados a esse projeto. Com isso, o
Ministério da Integração Nacional passou a ser o responsável pelo financiamento de quase
70% da Ferrovia Transnordestina, uma vez que administra os recursos do Fundo
92
MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. Disponível em:
<http://www.integracao.gov.br/projeto_transnordestina>. Acesso em: 11 ago. 2013. 93
SUDENE. Disponível em: <http://www.sudene.gov.br/transnordestina-e-viabilizada-atraves-de-recursos-da-
sudene>. Acesso em: 11 ago. 2013.
154
Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), do Fundo de Investimentos do Nordeste
(FINOR) e do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE)94
, em sua maioria voltados
para o financiamento de investimentos privados, sobretudo para os setores do agronegócio,
serviços e construção civil.
A partir desse exemplo, observa-se claramente que essa obra impactará
diretamente na ampliação da atividade avícola no Ceará, na qual investimentos de
tecnificação do território promovidos pelo Estado buscam integrar cada vez mais importantes
áreas produtoras da Região Nordeste, possibilitando a manutenção e ampliação de
investimentos em setores econômicos de destaque na região, demonstrando que o Estado “[...]
participa generosamente do financiamento necessário à criação de novos sistemas de
engenharia e de novos sistemas de movimento” (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p. 120). Disso
resulta uma nova organização do território e um uso mais corporativo, sobretudo quando se
trata da fluidez territorial voltada para atender às demandas do agronegócio, contribuindo para
uma importante fragmentação do território a serviço de grandes empresas que nele atuam
(CASTILLO, 2004).
Figura 8 – Traçado do projeto da Ferrovia Transnordestina
Fonte: EXAME. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/brasil/apos-10-anos-ferrovia-transnordestina-leva-a-
lugar-nenhum/>. Acesso em: 19 jan. 2017
94
Fonte: <http://www.integracao.gov.br/projeto_transnordestina>. Acesso em: 11 ago. 2013.
155
Infere-se que o uso corporativo do território por parte das empresas avícolas no
Ceará tem se aprofundado cada vez mais com a crescente regulação dos circuitos espaciais da
produção pelos principais agentes hegemônicos do setor e pela crescente monopolização da
produção comercial. Quem controla os fluxos de capital, sobretudo, detém o controle dos
circuitos produtivos avícolas. A partir daí o controle da produção subjuga os pequenos
produtores, que se veem excluídos do processo de integração no mercado e do próprio
território, e concentra ainda mais a atividade avícola nas mãos de grandes empresas com
significativo poder de capital.
Já é sabido que as grandes empresas avícolas são privilegiadas através do apoio
institucional dispensado pelos órgãos governamentais por meio de incentivos fiscais, crédito
fácil e assistências técnicas. O aumento constante do lucro e as facilidades de crédito
permitiram que algumas dessas empresas aplicassem seus capitais em outras atividades
econômicas, permitindo também a formação de grupos econômicos que controlam várias
produções, como é o caso da Cialne, do Grupo Regina, da Tijuca Alimentos e do Grupo
Haisa, que investem em outros setores produtivos, além da avicultura, buscando novas
possibilidades de ampliação acumulada de capital.
Contudo, a dimensão econômica não é uma instância separada da política, uma
vez que há cada vez mais uma fusão entre capital e Estado, estando este aprisionado pelos
interesses capitalistas, conforme discutimos anteriormente. Nessa relação entre Estado e
empresas, o ordenamento do território acelera o processo de expansão do capital.
Isso resulta do fato de que a política agora é feita no mercado. O Estado se retira da
política. Ele expulsa os políticos da política. Ele entrega ao mercado a tarefa de fazer
política. Só que esse mercado global não existe como ator, ele existe como uma
ideologia, como símbolo. Os atores são as empresas globais. Elas não têm
preocupações éticas, nem finalísticas. Suas preocupações são individualistas por
natureza. (SANTOS, 1997).
Da mesma forma que a intervenção do Estado no espaço é seletiva, a ausência do
Estado também é intencional, sobretudo quando se pensa nas ações prioritárias para a
população como um todo, uma vez que a prioridade é a estruturação do território para o
desenvolvimento econômico e não social. O que salta aos olhos enquanto “prioridade” para o
Estado é a estruturação do território para o desenvolvimento econômico através das atividades
produtivas que geram mais divisas para este. Os custos dos investimentos que o Estado faz
nos setores privados até são socializados, mas os lucros são particularizados, acarretando o
acirramento das desigualdades sociais, uma vez que “[...] o Estado decide se retirar do social e
156
as empresas passam a governar o território” (SANTOS, 1997), e fazem isso sem muitas
dificuldades.
Além disso, os agentes muitas vezes se confundem: o mesmo gestor, que é
prefeito ou deputado, é o empresário avícola e representante do setor em associações, por
exemplo, como é o caso do dono da Emape. O empresário do setor agroindustrial avícola,
Roberto Pessoa, já foi presidente da Aceav e assumiu importantes cargos como vice-
presidente da Federação das Associações de Indústria, Comércio e Agropecuária do Estado do
Ceará (FACIC), diretor da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) e diretor da
Federação da Agricultura do Estado do Ceará (FAEC)95
. Igualmente, já assumiu a presidência
do órgão máximo de representação do setor avícola no país, a então União Brasileira de
Avicultura (UBA), e também participou da fundação e presidiu a União Nordestina de
Avicultura (ANA). Como se não bastasse, adentrou na carreira político-partidária no início da
década de 1990, disputando e assumindo um mandato de deputado estadual, três mandatos de
deputado federal e dois mandatos de prefeito do município de Maracanaú, a segunda cidade
mais importante do ponto de vista econômico do Ceará, onde atualmente é vice-prefeito96
.
Isso demonstra muito bem que, além de haver, por parte das grandes empresas
avícolas, a propriedade dos meios de produção, há também a concentração e o controle do
poder político. Há, assim, uma completa imbricação do público com o privado que é até
mesmo difícil de saber onde começa um e termina o outro, haja vista que os interesses se
mesclam e se tornam um só. Dessa forma, instala-se na sociedade o que Santos (1997, s/p)
chamou de “democracia de mercado”:
A translação do poder do Estado para as empresas tem conseqüências
extraordinárias, já que se espera do Estado e dos municípios que façam um mínimo
de política, voltando-se para o bem-estar comum. Da empresa, não: a empresa
vangloria-se de dar um salário àquele que trabalha, mas ela não tem preocupações
gerais. Suas preocupações são obrigatoriamente particularistas, o que tem a ver com
a própria natureza do fenômeno empresarial, sobretudo no mundo da
competitividade. Na medida em que aquele instituto encarregado de cuidar do geral
é enfraquecido, estamos instalando, no território, uma fragmentação; estamos
instalando, no território, um abandono da noção de solidariedade; estamos, pelo
menos a médio prazo, produzindo as pré-condições da desordem (SANTOS, 1997,
s/p).
Dessa forma, o processo marcado pelo uso corporativo do território, realizado
pelas empresas avícolas cearenses, é configurado por uma relação intrínseca entre as empresas
95
CPDOC. Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/roberto-soares-
pessoa>. Acesso em: 07 jul. 2015). 96
EMAPE. Disponível em: <http://emape.com.br/a-emape/>. Acesso em: 07 jul. 2015.
157
do sistema produtivo avícola e o Estado, de tal forma que essa relação atualmente segue as
diretrizes do modelo de desenvolvimento capitalista, onde as empresas utilizam o território de
acordo com seus interesses e demandas, sempre na busca pelo aumento dos lucros. Sendo
assim, conforme Santos (2003), cada empresa utiliza o território em função dos seus fins
próprios e exclusivamente em função desses fins, procurando pontos ou áreas específicas do
território que tem uma base técnica que possibilite a produção, a circulação e o consumo de
seus produtos. Isso também tem profundos rebatimentos nas relações sociais de produção,
remodelando, por exemplo, a dinâmica e a estrutura do mercado de trabalho, como veremos
na sequência.
4.3 MUDANÇA NAS RELAÇÕES DE TRABALHO NA AVICULTURA
Existem princípios ideológicos que norteiam o avanço do capitalismo na
sociedade contemporânea. A reestruturação produtiva inserida no contexto do toyotismo
engloba não somente as técnicas como também a inovação organizacional, isto é, a junção
entre as técnicas e o aprimoramento das formas de controle do trabalho. As mudanças na base
tecnológica e nas relações de produção propiciam um maior controle do processo produtivo.
A transfiguração da força de trabalho em mercadoria e a supressão de formas de produção e
consumo verdadeiramente alternativas seguem tais princípios ideológicos do capitalismo. A
partir disso, têm-se grandes modificações nas relações sociais de produção em diversos
setores da sociedade, conforme nos indica Limonad (2004, p. 54):
Três processos interligados, desencadeados e em curso nas últimas décadas (a
revolução tecnológica informacional, genética e energética; a formação de uma
economia global com a reestruturação dos processos econômicos em escala
planetária; a emergência de novas formas de produção e gerenciamento, com a
constituição de redes de interações que vão do local ao global) contribuíram para
uma alteração substantiva nas relações sociais de produção e na vida cotidiana em
todas as partes do país e do planeta. A informatização da sociedade e a emergência
de novas formas e processos produtivos marcam o ingresso no século XXI, no
terceiro milênio da civilização ocidental, de uma forma tal que ainda estamos a
buscar compreender o alcance de tais alterações.
Assim, no atual período histórico, verificamos que a busca pela reprodução
ampliada do capital pelas grandes empresas se faz também a partir do aprofundamento da
divisão territorial do trabalho, ou seja, da presença cada vez maior do seu circuito espacial
produtivo no território e nas reformulações das relações entre capital e trabalho, conforme
demonstram autores como Alves (2007), Antunes (1999), Bezerra e Elias (2011), Leite (2005)
158
e Tomaz Júnior (2002, 2005), entre outros. Tal ampliação do capital se torna possível,
sobretudo, através da exploração sob formas precárias da força de trabalho.
Além disso, quando analisamos especificamente a avicultura empresarial, nota-se
que a significativa especialização e concentração da atividade em determinadas empresas
tende a excluir do processo produtivo os pequenos avicultores, contribuindo também para a
proletarização do homem do campo, através do assalariamento dos trabalhadores, que,
excluídos da reestruturação do setor, passam a ser incluídos nessa atividade com vistas a
ampliar os lucros das empresas avícolas através da exploração de sua força de trabalho. Dessa
forma, segundo Oliveira (2010, p. 06), “[...] o monopólio de classe exercido pelos
proprietários e pelos capitalistas é fundamental, no modo capitalista de produção, para
submeter o trabalho dos trabalhadores, para que produzam, porque é assim que o capital se
amplia”. Isso porque:
O capitalismo é, por necessidade, tecnológica e organizacionalmente dinâmico. Isso
decorre em parte das leis coercitivas, que impelem os capitalistas individuais a
inovações em sua busca do lucro. Mas a mudança organizacional e tecnológica
também tem papel-chave na modificação da dinâmica da luta de classes, movida por
ambos os lados, no domínio dos mercados de trabalho e do controle do trabalho.
Além disso, se o controle do trabalho é essencial para a produção de lucros e se
torna uma questão mais ampla do ponto de vista do modo de regulamentação, a
inovação organizacional e tecnológica no sistema regulatório (como o aparelho do
Estado, os sistemas políticos de incorporação e representação etc.) se torna crucial
para a perpetuação do capitalismo. Deriva em parte dessa necessidade a ideologia de
que o ‘progresso’ é tanto inevitável como bom (HARVEY, 1992, p. 169).
Assim, com o processo de reestruturação produtiva da agropecuária, tendo como
foco as transformações da base técnica produtiva a partir dos avanços tecnológicos e
científicos, empreendem-se grandes transformações nas relações sociais de produção que
atingem a organização do trabalho e a sua consequente materialização na reorganização
espacial. A partir de Lefebvre (1991, p. 59) compreende-se que as modificações das
condições de produção implicam diretamente na reconfiguração do espaço onde se processa a
reprodução das relações sociais de produção, da reprodução do capital e do próprio trabalho,
implicando em todas as esferas da vida social. Acerca disso, Mizusaki (2009, p. 48) afirma
que “[...] cada atividade produtiva possui sua própria especificidade, mas que compreendê-la
implica extrapolar a dimensão econômica imediatamente relacionada à atividade, o que
significa analisá-la a partir das relações sociais concretas”.
Com isso, faz-se possível tomar uma real dimensão da atual divisão social do
trabalho no setor avícola cearense, que traz à tona também a relação campo-cidade, uma vez
que, sendo uma atividade agropecuária, a avicultura se mostra de forma bastante
159
preponderante nos municípios da RMF. Isso evidencia também a relação entre empresas,
produtores, trabalhadores e consumidores, além dos efeitos territoriais provenientes da
atividade, como o princípio de uma integração seletiva dos produtores às agroindústrias,
modificações na estrutura produtiva de frangos e ovos por meio da genética e nutrição animal,
automatização das atividades e elevação da escala, e, consequentemente, a modificação nas
relações socioespaciais de trabalho. “Esse modo dominante de organização do trabalho
imprime ao território novos usos e, portanto, novas dinâmicas” (SANTOS; SILVEIRA, 2001,
p. 98).
Faremos a análise da geografia do trabalho na avicultura cearense a partir dos
dados divulgados pela Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do
Trabalho e Emprego (MTE), que indicam o percentual referente ao trabalho formal nessa
atividade, ou seja, informações acerca dos trabalhadores que atuam com carteira assinada no
setor avícola. Através desses dados, percebemos a evolução do mercado de trabalho tanto no
tempo quanto no espaço, possibilitando compreender, por exemplo, a espacialização dos
trabalhadores formais, a quantidade de vínculos ativos, o total de estabelecimentos avícolas
etc. As informações obtidas acerca da geografia do trabalho na avicultura cearense são
apresentadas e analisadas na sequência97
.
Na tabela a seguir podemos observar a preponderância da atividade avícola na
Região Metropolitana de Fortaleza, uma vez que dentre os 10 municípios que apresentam
maiores quantitativos referentes ao emprego formal na criação de aves em 2015, 07 fazem
parte da RMF, sendo Fortaleza o município em que esse registro é maior. Os demais se
localizam no Litoral Leste (Beberibe), Planalto da Ibiapaba (Ubajara) e Sertão Central
(Quixadá), áreas em que também se observa uma relevante produção do setor, como
indicamos no capítulo anterior. De acordo com esses dados, a criação de aves gerou 25.710
vínculos empregatícios formais no Nordeste, em 2015, sendo 7.768 só no Ceará, respondendo
por 30,21% do total da região. Fortaleza registrou 1.684 empregos formais na criação de aves
no mesmo ano, com 21,67% do total do Ceará.
Além disso, observa-se que só na RMF foram registrados 5.147 empregos formais
na criação de aves, representando 66,25% do total do Ceará, o que evidencia ainda mais a
preponderância da atividade nos municípios da RMF. Como se sabe, a agropecuária ocupa
largo contingente de mão de obra familiar ou por ocupação temporária (diarista), que não
estão incluídos no levantamento da RAIS, o que poderia alavancar ainda mais esse
97
Todavia, a falta dos dados para alguns anos nos impediu de fazer uma análise apresentando uma série histórica
que permitisse ampliar nossa escala de análise.
160
contingente de trabalhadores no setor avícola cearense. De qualquer modo, esses números
permitem afirmar que a avicultura, no que diz respeito à criação de aves, respondeu por
28,22% dos empregos formais da agropecuária estadual em 2015, que foi de 27.522.
Tabela 28 – Ranking dos empregos formais na criação de aves no Ceará – 2015
# Municípios Número de
empregos formais
1 Fortaleza 1.001
2 Aquiraz 702
3 Beberibe 592
4 Horizonte 567
5 Cascavel 484
6 Maranguape 410
7 Pacajus 409
8 Guaiuba 260
9 Ubajara 273
10 Quixadá 1.001
- Total do Ceará 1.684
- Total do Nordeste 7.768
Fonte: MTE/RAIS (2015) – Adaptado.
Quanto aos estabelecimentos com criação de aves, observamos que em relação ao
ano de 1995, o Ceará teve uma queda no quantitativo de 26%, o que pode representar uma
maior concentração da atividade, conforme nos havia indicado, em entrevista, o presidente do
Sindicato dos Trabalhadores na Avicultura no Estado do Ceará – possuindo em 2015 um total
de 197 estabelecimentos de criação de aves. Entre os municípios da RMF também se observa
uma grande queda de 42% na quantidade dessa tipologia de estabelecimentos. Entre os
municípios que apresentaram algum aumento nos últimos 20 anos estão Cascavel, Itaitinga,
Paracuru e Paraipaba. Até 2005 Fortaleza apresentava um aumento de 27%, mas com relação
a 2015 houve uma queda de 48%, reforçando o que já nos haviam apontado os dados do
IBGE acerca da desconcentração espacial da produção avícola no Ceará, anteriormente aí
concentrada.
161
Tabela 29 – Quantidade de estabelecimentos com criação de aves na RMF
1995 2005 2015
Aquiraz 39 30 22
Cascavel 10 13 13
Caucaia 12 3 4
Chorozinho 3 2 1
Eusébio 11 6 3
Fortaleza 27 11 14
Guaiuba 8 6 4
Horizonte 16 12 12
Itaitinga - - 1
Maracanaú 21 9 6
Maranguape 25 11 12
Pacajus 11 5 8
Pacatuba 4 4 3
Paracuru 2 3 6
Paraipaba - 1 1
Pindoretama 3 3 2
São Gonçalo 2 3 2
São Luís do Curu - - -
Trairi 4 - -
Total RMF 198 122 114
Ceará 268 202 197
Nordeste 749 974 1.127
Fonte: MTE/RAIS (2015) – Adaptado.
Tabela 30 – Variações absoluta e relativa da quantidade de estabelecimentos com
criação de aves na RMF
Variação absoluta Variação relativa
1995-2005 2005-2015 1995-2015 1995-2005 2005-2015 1995-2015
Aquiraz -9 -8 -17 -23% -27% -44%
Cascavel 3 0 3 30% 0% 30%
Caucaia -9 1 -8 -75% 33% -67%
Chorozinho -1 -1 -2 -33% -50% -67%
Eusébio -5 -3 -8 -45% -50% -73%
Fortaleza -16 3 -13 -59% 27% -48%
Guaiuba -2 -2 -4 -25% -33% -50%
Horizonte -4 0 -4 -25% 0% -25%
Itaitinga 0 1 1 - - -
Maracanaú -12 -3 -15 -57% -33% -71%
Maranguape -14 1 -13 -56% 9% -52%
Pacajus -6 3 -3 -55% 60% -27%
Pacatuba 0 -1 -1 0% -25% -25%
Paracuru 1 3 4 50% 100% 200%
Paraipaba 1 0 1 - 0% -
Pindoretama 0 -1 -1 0% -33% -33%
São Gonçalo 1 -1 0 50% -33% 0%
São Luís do Curu 0 0 0 - - -
Trairi -4 0 -4 -100% - -100%
Total RMF -76 -8 -84 -38% -7% -42%
Ceará -66 -5 -71 -25% -2% -26%
Nordeste 225 153 378 30% 16% 50%
162
Fonte: MTE/RAIS (2015) – Adaptado.
Quanto aos empregos formais na criação de aves, a RMF teve um aumento de
60% dos vínculos nas últimas duas décadas, totalizando 5.753 em 2015. O Estado do Ceará
como um todo também teve um significativo aumento de 75% dos vínculos formais de 1995 a
2015. É importante destacar o ainda importante papel da capital nesses quantitativos, com
1.684 empregos formais em 2015, representando no Ceará uma porção de 21,67% dos
vínculos ativos, comprovando que apesar de uma desconcentração espacial da atividade,
Fortaleza ainda tem um papel preponderante no setor. Além de Fortaleza, Aquiraz também
assume um significativo destaque no contexto da RMF.
Tabela 31 – Número de empregos formais na criação de aves na RMF
1995 2005 2015
Aquiraz 630 746 1.001
Cascavel 246 163 567
Caucaia 88 7 6
Chorozinho 9 17 8
Eusébio 116 38 15
Fortaleza 1.129 872 1.684
Guaiuba 21 277 409
Horizonte 492 323 592
Itaitinga - - 9
Maracanaú 149 152 45
Maranguape 254 313 484
Pacajus 149 238 410
Pacatuba 126 64 63
Paracuru 73 109 228
Paraipaba - 4 100
Pindoretama 50 160 29
São Gonçalo 52 95 103
São Luís do Curu - - -
Trairi 22 - -
Total RMF 3.606 3.578 5.753
Ceará 4.429 4.969 7.768
Nordeste 14145 18.898 25.710
Fonte: MTE/RAIS (2015) – Adaptado.
163
Tabela 32 – Variações absoluta e relativa do número de empregos formais na criação de
aves na RMF
Variação absoluta Variação relativa
1995-2005 2005-2015 1995-2015 1995-2005 2005-2015 1995-2015
Aquiraz 116 255 371 18% 34% 59%
Cascavel -83 404 321 -34% 248% 130%
Caucaia -81 -1 -82 -92% -14% -93%
Chorozinho 8 -9 -1 89% -53% -11%
Eusébio -78 -23 -101 -67% -61% -87%
Fortaleza -257 812 555 -23% 93% 49%
Guaiuba 256 132 388 1219% 48% 1848%
Horizonte -169 269 100 -34% 83% 20%
Itaitinga 0 9 9 - - -
Maracanaú 3 -107 -104 2% -70% -70%
Maranguape 59 171 230 23% 55% 91%
Pacajus 89 172 261 60% 72% 175%
Pacatuba -62 -1 -63 -49% -2% -50%
Paracuru 36 119 155 49% 109% 212%
Paraipaba 4 96 100 - 2400% -
Pindoretama 110 -131 -21 220% -82% -42%
São Gonçalo 43 8 51 83% 8% 98%
São Luís do Curu 0 0 0 - - -
Trairi -22 0 -22 -100% - -100%
Total RMF -28 2.175 2.147 -1% 61% 60%
Ceará 540 2.799 3.339 12% 56% 75%
Nordeste 4.753 6.812 11.565 34% 36% 82%
Fonte: MTE/RAIS. Organização: Bruna Nogueira, 2016.
Já em relação aos estabelecimentos de abate de aves98
, o estado do Ceará
apresentou 10,10% dos estabelecimentos da região Nordeste, com 20 estabelecimentos.
Desses 20 estabelecimentos, oito se localizavam na RMF, sendo 4 em Cascavel, 2 em Aquiraz
e 1 em Maracanaú e Pacatuba. A partir dessa variável, fica claro que o foco da avicultura
cearense está mais voltado para a criação de aves, haja vista que o abate ainda vem aos
poucos se desenvolvendo, sobretudo em virtude da atuação da Regina e da Cialne, que são as
únicas empresas que atualmente processam a carne de frango no Ceará.
98
Essa variável da RAIS apresenta dados apenas para 2010 e 2015, impossibilitando ampliar a escala temporal
de análise.
164
Tabela 33 – Quantidade de estabelecimentos de abate de aves na RMF
2010 2015
Aquiraz 1 2
Cascavel - 4
Caucaia - -
Chorozinho - -
Eusébio - -
Fortaleza - -
Guaiuba - -
Horizonte - -
Itaitinga - -
Maracanaú 1 1
Maranguape - -
Pacajus - -
Pacatuba - 1
Paracuru - -
Paraipaba - -
Pindoretama - -
São Gonçalo - -
São Luís do Curu - -
Trairi - -
Total RMF 2 8
Ceará 10 20
Nordeste 129 198
Fonte: MTE/RAIS. Organização: Bruna Nogueira, 2016.
No segmento de abate de aves, o total de empregos formais no Ceará foi de 527,
respondendo por 7,12% do Nordeste. Em seu conjunto, a atividade avícola registrava 20,6 mil
empregos no Nordeste. Nesse caso, é preciso destacar que o grupo empresarial cearense
Cialne possui uma unidade processadora de carne de frango no estado do Piauí que emprega
mais de 500 pessoas99, o que contribui para o quantitativo total da região Nordeste. Os
municípios da RMF somaram 484 empregos formais, respondendo por 91,84% dos empregos
no Ceará. Novamente o município de Aquiraz ganha destaque com 313 vínculos,
representando 59,39% dos empregos formais do estado, um aumento de 309 postos de
trabalho em cinco anos.
99
PORTAL 180 GRAUS. Disponível em: <http://180graus.com/campo-maior/o-empresario-heldernon-eugenio-
recebem-representantes-da-dudico>. Acesso em: 23 dez. 2016.
165
Tabela 34 – Número de empregos formais no abate de aves na RMF
2010 2015
Aquiraz 4 313
Cascavel - 137
Caucaia - -
Chorozinho - -
Eusébio - -
Fortaleza - -
Guaiuba - -
Horizonte - -
Itaitinga - -
Maracanaú 1 22
Maranguape - -
Pacajus - -
Pacatuba - 12
Paracuru - -
Paraipaba - -
Pindoretama - -
São Gonçalo - -
São Luís do Curu - -
Trairi - -
Total RMF 5 484
Ceará 33 527
Nordeste 5448 7395
Fonte: MTE/RAIS (2015) – Adaptado.
Tabela 35 – Variações absoluta e relativa do número de empregos formais no abate de
aves na RMF. 2010-2015
Variação absoluta Variação relativa
Aquiraz 309 7725%
Cascavel 137 -
Caucaia 0 -
Chorozinho 0 -
Eusébio 0 -
Fortaleza 0 -
Guaiuba 0 -
Horizonte 0 -
Itaitinga 0 -
Maracanaú 21 2100%
Maranguape 0 -
Pacajus 0 -
Pacatuba 12 -
Paracuru 0 -
Paraipaba 0 -
Pindoretama 0 -
São Gonçalo 0 -
São Luís do Curu 0 -
Trairi 0 -
Total RMF 479 9580%
Ceará 494 1497%
Nordeste -1.947 -26%
Fonte: MTE/RAIS (2015) – Adaptado.
166
De um modo geral, podemos dizer que as relações de trabalho que se dão no setor
avícola são das mais variadas, indo desde a base produtiva em si, nos aviários, até funções
administrativas. O setor tornou-se bastante dinâmico nas últimas décadas, e até 2010 gerava
em torno de 50 mil empregos diretos e indiretos no Ceará, segundo a Aceav100
. Os
trabalhadores na atividade avícola possuem um sindicato específico, o Sindicato dos
Trabalhadores na Avicultura no Estado do Ceará (SINDIAVE), que trata junto às empresas,
através da Aceav, sobre as questões ligadas às condições de trabalho. O sindicato realiza a
cada dois anos, juntamente com a Aceav, convenções coletivas para estabelecimento de
cláusulas que estabelecem essas condições de trabalho101
.
Em entrevista, o presidente do SINDIAVE nos informou da existência de cerca de
2.900 associados em todo o Ceará, mas estipulou em torno de 6.700 trabalhadores diretos na
avicultura, entre os quais se podem destacar aviaristas, galponistas, técnicos agropecuários,
veterinários, técnicos de segurança do trabalho, motoristas, carregadores, pessoas que
trabalham nos incubatórios, entre outros. Entre os empregos indiretos estariam os
relacionados a setores administrativos, secretariado, processamento de carne, classificação de
ovos em unidades produtivas específicas, transporte de produtos, promotores de vendas.
Trabalhadores com uma baixa escolaridade e que ocupam funções mais diretas ao manejo de
aves têm como média salarial estipulada pelas convenções anteriormente citadas o salário
mínimo.
No trabalho de campo que realizamos em uma das fazendas da Cialne, no
município de Guaiuba, em entrevista com o gerente, pudemos ter uma noção de como se dá a
divisão das atividades no ambiente de criação. Nessa fazenda de 281 ha existem 33 galpões de
criação de frangos para corte, com cerca de 16 mil pintos por galpão. Apenas 42 funcionários
trabalham nessa unidade, sendo 23 especificamente nos aviários: 5 manejadores e 17
aviaristas, além do gerente da unidade. O restante dos funcionários trabalha com o gado
existente na fazenda, com a manutenção da fazenda como um todo e com a alimentação dos
funcionários. A partir desse quantitativo, temos uma dimensão de como se dão as condições
de trabalho desses funcionários em termos da imensa quantidade de aves que poucos
trabalhadores devem cuidar, tendo atenção para as rígidas normas de produção da empresa no
que diz respeito à sanidade e principalmente à diminuição de perdas de animais.
100
O ESTADO. Disponível em: <http://www.oestadoce.com.br/economia/avicultura-emprega-50-mil-pessoas-
no-ceara>. Acesso em 12 out. 2015. 101
ACEAV. Disponível em: <http://www.aceav.com.br/index.php/2013-03-07-22-15-43/negociacao-coletiva-
2016>. Acesso em: 05 abr. 2016.
167
Assim, com a reestruturação da produção dos setores agropecuários, as relações
de trabalho e produção advindas com essas transformações são impostas na avicultura,
aprofundamento da divisão do trabalho relacionada ao setor e acirrando a própria relação
entre capital e trabalho, com conformação de múltiplas especializações e ampliação da
diversidade de cargos com a ampliação das relações técnicas que envolvem especialmente a
criação de aves, produção de ovos, o abate das aves e a industrialização de suas carnes.
Foto 19 – Manutenção de galpão em fazenda da Cialne em Guaíba/CE
Fonte: Sousa, 2015. Acervo da autora.
O assalariamento de trabalhadores, tanto na base de produção quanto na área
administrativa, se dá de forma generalizada na atividade avícola cearense, segundo o
presidente do SINDIAVE, uma vez que o modelo produtivo avícola cearense é independente,
em que as empresas avícolas são responsáveis por todas as etapas do processo produtivo.
Assim, o mercado de trabalho agrícola formal (ELIAS, 2006; BEZERRA; ELIAS, 2011)
ligado à avicultura é amplamente característico do sistema de produção independente dos dois
grandes segmentos do setor: corte e postura. Elias (2006) considera ainda que o surgimento de
uma classe de trabalhadores agrícolas assalariados representa a materialização do movimento
do capital no campo. Contudo, apesar de ser uma atividade agropecuária, e, portanto, mais
168
ligada ao campo, é preciso lembrar que a maior parte dos postos de trabalho relacionados à
criação de aves ainda se concentra na RMF, especialmente na capital cearense.
Foto 20 – Manutenção de galpão em fazenda da Cialne em Guaiuba/CE
Fonte: Sousa (2015). Acervo da autora.
Quanto às condições de trabalho, segundo relatado por trabalhadores durante
entrevista em trabalho de campo em uma fazenda da Cialne no município de Guaiuba, o
momento da captura ou apanha do frango é uma das etapas mais difíceis no trabalho em
aviários, pelo que pudemos constatar nos trabalhos de campo, tanto para as aves quanto para
os trabalhadores envolvidos. Essa etapa interfere diretamente na qualidade da carcaça do
frango e no seu custo final, pois esse é um momento em que as aves ficam mais propícias ao
estresse, podendo gerar hematomas e fraturas nas aves e consequentemente uma perda da
qualidade do produto final. Para os trabalhadores envolvidos nessa atividade, são exigidos
bastante treinamento, esforço físico e agilidade. O trabalho de captura dos frangos é muito
cansativo fisicamente, especialmente por se ter uma grande quantidade de frangos em um
169
único galpão de criação, além do nível de poeira ser elevado devido ao movimento gerado no
interior do galpão, tornado as condições aí dentro muito desagradáveis.
Foto 21 – Retirada de pintos “fora do padrão” em fazenda da Cialne em Guaiuba/CE
Fonte: Sousa (2015). Acervo da autora.
Como já mencionamos anteriormente, o setor agropecuário ocupa largo
contingente de mão de obra familiar ou por ocupação temporária (diarista), que não se
incluem nos levantamentos apresentados. Tal contingente, que muitas vezes ainda produz de
uma forma tradicional, artesanal, fica à margem do processo de desenvolvimento das forças
produtivas do setor avícola, e pode representar, futuramente, um grupo de produtores que
pode ser subordinado pelas grandes empresas a uma forma de produção integrada, assim
como já acontece na Bahia e também no restante do país, que, de forma preponderante, tem
uma produção integrada. Isso poderá ampliar o processo de sujeição do trabalho no setor da
agropecuária, uma vez que a tendência da criação de aves, ainda concentrada na RMF, seja
levada cada vez mais para o interior com o avançar do processo de urbanização dos
municípios circunvizinhos à Fortaleza.
170
Como a pequena produção é difundida em todo o interior do Ceará, e tais
mudanças representariam uma proletarização das relações de trabalho no campo, lembramos
que, para os pequenos produtores, tal atividade não representa a produção de lucro, mas a
reprodução das suas próprias vidas.
Hoje a unidade espaço-Sociedade traz implícita uma desigualdade, produto da
divisão social e técnica do trabalho, que se materializa na divisão espacial do
trabalho entre as parcelas do espaço. Tal desigualdade é produzida por relações de
dominação – subordinação que permeiam o processo produtivo capitalista na
acumulação e centralização do capital, do poder em poucas mãos e na propriedade
privada (CARLOS, 1992, p. 18-19).
Nesse sentido, se pode constatar que se inicia um processo de integração de pro
dutores menores com grandes empresas em pequena escala, como, por exemplo, a Cialne. Em
entrevista com um diretor do Grupo Cialne, obtivemos a informação de que a empresa deu
início ao processo de integração com outros produtores em Ubajara (CE) e também em
municípios da Paraíba. Nesse sistema de integração, que é regido por contrato entre empresas
e produtores, tal como acontece nas grandes áreas de produção avícola nacional, a empresa
fornece aos produtores os subsídios necessários para a produção como animais, rações,
medicamentos, transporte de animais e insumos, e a assistência técnica; enquanto que os
produtores geralmente participam com as instalações, equipamentos, água e energia elétrica,
bem como se responsabilizam pelo manejo (criação e engorda) dos animais até que eles
atinjam a idade de abate. Tal processo, se ampliado nos próximos anos, sinalizaria mais uma
grande modificação nas relações de trabalho no setor, e, assim, nas relações sociais de
produção da avicultura cearense como um todo, com uma maior sujeição dos produtores às
grandes empresas ao entregar parte da renda da terra em forma de produto. Dessa forma,
como já houve uma reestruturação com novas relações de produção no âmbito da avicultura
cearense, segue-se em curso uma recomposição dessas relações em um processo dinâmico que
pode acarretar uma nova reestruturação territorial do setor no Ceará e Nordeste.
A partir disso, quando nos aproximamos da análise da produção, temos de analisar
a exploração do trabalho pelo capital, consequência do desenvolvimento das forças produtivas
do modo de produção capitalista. Entendendo que os conflitos territoriais são a trama da luta
de classes, há, no processo de transformação das relações sociais de produção do trabalho na
avicultura, assim como em vários outros setores produtivos, uma desrealização do trabalho e
um processo de desubjetivação deste, uma vez que os trabalhadores deixam de se entender
enquanto classe, sendo estranhados do processo de trabalho, do produto de seu trabalho e são
171
estranhados de si mesmos, sendo também sua força de trabalho transformada em mercadoria
no processo de acumulação de capital.
172
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ponto de partida para a compreensão da nova realidade da produção avícola
cearense foram as estratégias adotadas pelas grandes empresas do setor a partir do processo de
reestruturação produtiva da avicultura, constituindo-se também em um recurso analítico
necessário para se compreender as dinâmicas territoriais ensejadas por esse movimento.
Compreender as relações que se dão no interior de uma atividade produtiva extremamente
marcada pelos avanços técnico-científicos e totalmente subordinada a processos econômicos e
políticos, como é o caso da avicultura praticada no Ceará, revela como o processo mundial de
reestruturação produtiva acarreta novas configurações territoriais e em como o processo de
modernização conservadora no Ceará se alinhou a esse fenômeno global.
Como visto, a crescente demanda interna por produtos avícolas em consonância
com a ação do Estado como elemento fomentador da atuação das empresas na atividade
avícola possibilitaram o crescimento do setor no Ceará e a ampliação dos investimentos das
grandes empresas em técnicas para modernização da produção, empresas essas que, além de
buscar atender o mercado local, procuram também novos mercados para expandir suas
atividades e comercializar seus produtos. O Estado, através de subsídios fiscais, implantação
de infraestrutura, estabelecimento de políticas para a fomentação do setor agropecuário, entre
outras medidas, tem colaborado de forma expressiva para a consolidação desse modelo de
produção avícola em escala industrial desde sobretudo a década de 1960.
A partir disso, as novas dinâmicas territoriais advindas através da territorialização
do capital das grandes empresas avícolas e do monopólio comercial exercido por estas, que
têm como base o modelo produtivo advindo da reestruturação produtiva da agropecuária, são
das mais variadas. Uma delas está relacionada ao próprio processo de modernização e
mecanização das unidades produtivas para aumentar a escala da produção e a utilização de
menos trabalhadores no processo produtivo, visando racionalizar o processo produtivo através
da redução de gastos.
Percebemos que está em curso também um processo de concentração da atividade
avícola em que alguns grandes grupos empresariais, com o passar dos anos, ampliaram seus
mercados e absorveram pequenas empresas que existiam anteriormente, além de
diversificarem sua base produtiva, adentrando em outros setores produtivos da agropecuária.
Além disso, há, também, por parte dessas empresas, uma concentração do uso das inovações
técnicas e científicas do setor avícola, e, como já havíamos mencionado, de subsídios por
parte do Estado.
173
Tal situação provoca, entre outras coisas, a desarticulação da pequena produção
avícola praticada de forma mais tradicional – produção essa tida como artesanal, conhecida
como criação de “fundo de quintal”, muito popular ainda nos municípios cearenses –, uma
vez que o consumo de produtos advindos da grande produção empresarial é largamente
difundido e tido como mais seguro quanto a questões de sanidade animal. Também é preciso
destacar que esses pequenos produtores muitas vezes são deixados à margem do processo de
desenvolvimento das forças produtivas do setor, já que não têm capital suficiente para ter
acesso às inovações técnicas e científicas, devido também à falta de assistência por parte do
Estado, por exemplo. Apesar disso, a existência de criação de “fundo de quintal” ainda é uma
realidade bastante presente, principalmente como atividade não comercial, no Ceará como um
todo. Isso evidencia que, apesar das mudanças nas relações sociais de produção, ainda há
formas de resistência ao modelo de produção hegemônico, e consequentemente às formas de
consumo estandardizadas, com relação à avicultura.
A investigação empreendida neste trabalho demonstrou também, assim como em
trabalho anterior, que se organiza, de forma cada vez mais articulada, redes de produção do
conhecimento voltados à avicultura no Estado, quando observamos uma intrínseca relação
entre os cursos superiores, que buscam atender às necessidades do setor por meio do
desenvolvimento de suas pesquisas, e as empresas avícolas. Cursos de nível superior, tanto de
faculdades particulares como de instituições públicas, estão atentos às novas demandas de
mercado relacionadas à avicultura, e, assim, vêm assumindo papel ativo na produção de
conhecimento técnico-científico com vistas às inovações no setor avícola e ampliação de sua
atuação junto às empresas.
Além desses, instituições setoriais como a ABPA, no plano nacional, e a Aceav,
no contexto estadual, contribuem de forma precisa para a manutenção dos interesses do setor
avícola nacional e estadual, uma vez que ambas têm como objetivo congregar esforços dos
associados para fomentar o crescimento do atual modelo produtivo avícola, por meio de
negociações diretas com instituições públicas, empresas que fazem parte do circuito produtivo
avícola e fornecedores de outros insumos, como os grãos (milho, soja, sorgo), fundamentais
para o setor.
Além disso, as grandes empresas também empreendem vínculos importantes com
empresas estrangeiras de materiais genéticos para realização de pesquisas de adaptação de
animais geneticamente modificados ao ambiente brasileiro. Isso porque, com a expansão da
produção em grande escala na avicultura, houve, consequentemente, o aumento do uso de
biotecnologias na atividade, com inserção cada vez maior de animais geneticamente
174
modificados e medicamentos, entre outros produtos, para controle de sanidade e aumento de
produtividade, criando-se uma grande dependência técnica e genética no setor.
Destacamos também, a partir do que observamos com os trabalhos de campo que
foram realizados, que é uma realidade a privatização de recursos hídricos em propriedades
particulares voltadas para a avicultura, o que se torna mais uma faceta perversa da produção
avícola no modelo capitalista de produção, uma vez que tal recurso se constitui em bem
comum da sociedade, não podendo ser espoliado dessa forma, principalmente em um local
que sofre também com a falta de água. Além disso, há a contaminação do solo e da água em
virtude dos rejeitos produzidos pela atividade, e, com isso, acirramento de conflitos entre
empresas e população residente próximo aos locais de criação, que reclamam sobretudo do
mau cheiro produzido. Com isso, por mais que as grandes empresas garantam que sua forma
de produzir se utilize dos avanços tecnológicos para minimizar os impactos socioambientais
da atividade, o que fomentaria, assim, uma forma de desenvolvimento sustentável, tal ação é
um processo muito mais atrelado ao ganho de uma eficiência produtiva e aumento da
lucratividade do setor do que realmente a uma proteção socioambiental, que fica, no máximo,
em segundo plano.
No que se refere ao mercado de trabalho, pudemos verificar que as relações de
trabalho que se dão no setor avícola são das mais variadas. Uma grande quantidade de
trabalhadores formais da avicultura cearense se concentra na Região Metropolitana de
Fortaleza, assim como acontece com a própria criação de aves e atividades relacionadas ao
abate destas. Assim, as relações de trabalho e produção advindas com a reestruturação da
produção agropecuária são impostas na avicultura pelo capital comercial das grandes
empresas, aprofundando a divisão do trabalho dentro do setor e acirrando a própria relação
entre capital e trabalho, uma vez que surgem múltiplas especializações através da diversidade
de cargos com a ampliação das relações técnicas que envolvem especialmente a criação de
aves, a produção de ovos, o abate das aves e a industrialização de suas carnes.
Dessa forma, o assalariamento de trabalhadores se dá de forma generalizada na
atividade avícola cearense. O uso de força de trabalho contratada realça a condição de
proletarização das relações de trabalho nesse setor essencialmente agropecuário,
especialmente daqueles trabalhadores da base produtiva. Os trabalhadores da base de
produção avícola propriamente dita (galponistas, aviários, por exemplo) são incorporados à
produção sem uma exigência específica mínima de escolarização, sendo muitas vezes
necessário apenas que saibam ler e escrever. São nas áreas administrativas e técnicas das
empresas que são feitas as exigências de níveis de capacitação cada vez mais específicas e que
175
colaborem para o aprimoramento das áreas de produção e gestão; exigências próprias dos
nossos tempos de acumulação flexível (HARVEY, 1992).
Os trabalhadores assalariados, enquanto sujeitos inseridos no processo de
produção, se submentem a uma forte estrutura de gestão do trabalho e de controle de
produção nas granjas, fábricas de ração, incubatórios, unidades de processamento de carne,
que, por sua vez, têm também suas regras ditadas pela economia mundializada. Assim,
podemos notar a formação de um mercado de trabalho agropecuário formal associado também
às novas formas de exploração e estranhamento do trabalhador, do trabalho e dos produtos do
trabalho.
Destacamos também que o modelo de produção praticado no estado do Ceará
ainda é preponderantemente o independente, em que as empresas são responsáveis por todas
as etapas da produção, inclusive a criação das aves. Contudo, pudemos constatar o início de
um processo de integração de produtores menores com grandes empresas em pequena escala
nos últimos três anos. Tal processo, se ampliado nos próximos anos, sinaliza mais uma grande
modificação nas relações de trabalho no setor, e, assim, nas relações sociais de produção da
avicultura cearense como um todo. Assim como já houve uma reestruturação das relações de
produção no âmbito da avicultura cearense anteriormente, segue-se em curso uma
recomposição dessas relações em um processo dinâmico que pode acarretar em uma nova
reestruturação territorial do setor.
Por tudo isso, a partir do que foi apresentado ao longo deste trabalho, podemos
afirmar que tal reestruturação do setor avícola se deu no Ceará de forma seletiva,
concentradora e excludente, fomentada pela lógica territorial dos agentes hegemônicos,
demonstrando que a avicultura praticada na escala industrial pelas grandes empresas é
também lócus de reprodução do agronegócio e do capital comercial, e que, nos próximos
anos, poderá ainda provocar profundas novas transformações nas dinâmicas territoriais da
atividade, trazendo rebatimentos dos mais diversos.
Como visto anteriormente, as empresas avícolas cearenses buscam maior
representatividade do setor e inserção no mercado regional e nacional por meio de ampliação
de investimentos em novas tecnologias, permitindo a recorrente introdução e difusão de
inovações no setor. Com isso, a reestruturação produtiva da agropecuária reordena a produção
como um todo e, consequentemente, as relações sociais e espaciais de produção. A partir
disso, a avicultura cearense passou a se subordinar ao capital comercial, haja vista que se
observa que toda ação fica sob o controle das empresas avícolas que detêm esse capital
176
comercial. A atividade avícola é garantida pelo monopólio de alguns poucos, sendo os demais
discriminados dos processos em favor de outros.
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184
185
APÊNDICES
186
APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA - EMPRESAS
ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA - EMPRESAS
Local:
Data:
Nome:
Cargo:
Contato:
1. Qual o ramo principal de atuação da empresa?
2. Qual o ano de instalação?
3. Quando se implantou na região? Quais foram os atrativos locais para essa
implantação? Como se deu esse processo de implantação?
4. Já teve acesso a financiamento por parte do governo (Federal, Estadual,
Municipal)? Se sim, qual o tipo de financiamento?
5. Localização das unidades de produção?
6. Como está configurada a cadeia produtiva da empresa?
7. Qual a área utilizada para criação e volume da produção das unidades atualmente?
8. Quais as perspectivas de evolução da produção da empresa?
9. Qual o papel da pesquisa e da tecnologia para a empresa?
10. Utiliza sistema de captação de água? Se sim, qual a importância do uso desses
sistemas técnicos?
11. Qual a área de abrangência do mercado da empresa? Quais os principais
mercados?
12. Quais os mercados consumidores? Quais as exigências do mercado consumidor
internacional?
13. Como ocorre o transporte da produção até os pontos de comercialização? Quais os
meios de transportes utilizados? Como se dá a logística da empresa?
14. A empresa detém algum selo de garantia de qualidade? Se sim, o que isso
representa para a empresa?
15. Qual tem sido o papel do estado (Governo Municipal, Estadual e Federal) na
promoção do setor? Houve algum incentivo específico para implantação da
empresa no local?
16. Quantos trabalhadores existem atualmente na empresa, propriedade? Quantos nas
unidades produtoras e quantos na parte administrativa?
17. Qual o número de trabalhadores com carteira assinada que trabalham no
estabelecimento?
18. Qual o perfil (sexo, faixa etária, escolaridade) e origem dos trabalhadores?
19. Quais as categorias de empregados apresentam vínculo empregatício?
187
20. Existe uma mão de obra qualificada na cidade que atenda as necessidades da
empresa? Onde essa mão de obra é capacitada? Quais são as áreas de formação
que são demandadas pela empresa? Os cursos universitários e técnicos existentes
na região atendem essa demanda?
21. Qual a origem dos equipamentos e matérias-primas para atender a demanda da
produção? Quais são tais equipamentos e matérias-primas?
22. Quais são os tipos de serviços contratados para atender as demandas da produção?
Quais as suas origens?
23. Há projetos de expansão e novos investimentos em andamento? Quais? Como
estão sendo financiados?
24. Tem perspectivas de futuros mercados para a produção atual? Quais?
188
APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA - SINDICATOS
ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA - SINDICATOS
Local:
Data:
Nome:
Cargo:
Contato:
1. Qual a data de fundação do sindicato?
2. Quais as principais pautas do sindicato?
3. Quantos associados possui?
4. Qual o perfil dos trabalhadores associados?
5. Quantos trabalhadores há no setor como um todo?
6. Existem reuniões periódicas entre os associados? Qual a frequência?
7. Qual a ligação entre o sindicado e a associação de produtores?
8. Como vê o setor avícola no panorama estadual?
9. Quais são os principais entraves no setor no que tange as relações de trabalho?
10. Como é o mercado de trabalho no setor?
11. Há a ocorrência de conflitos trabalhistas?
12. Como avalia as condições de trabalho no setor avícola cearense?
13. Quais as perspectivas para o mercado de trabalho na avicultura?
189
APÊNDICE C – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA -
TRABALHADORES
ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA - TRABALHADORES
Local:
Data:
Nome:
Cargo:
Contato:
1. Quanto tempo trabalha na empresa?
2. Qual o vínculo com a empresa? Possui carteira assinada?
3. Já trabalhava no setor avícola anteriormente?
4. Quantas horas trabalha por dia?
5. Quais atividades realiza? Como se dão?
6. Há algum treinamento específico por parte da empresa para a atividade que
realiza?
7. É associado em algum sindicato? Participa das reuniões?
8. Qual a função do sindicato para os trabalhadores?
9. Qual a escolaridade?
10. Mora a que distância da unidade onde trabalha?
11. Recebe algum benefício além do salário?
12. Algum outro familiar trabalha na atividade avícola?
13. Perfil familiar
14. Quais as condições de trabalho?
15. Como avalia as condições de crescimento profissional na empresa?