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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA GRAZIELA GONÇALVES SOUSA E SILVA INDÚSTRIAS E SEGURANÇA AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE MARACANAÚ- CE. FORTALEZA - CEARÁ 2015

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEAR

CENTRO DE CINCIAS E TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA

MESTRADO ACADMICO EM GEOGRAFIA

GRAZIELA GONALVES SOUSA E SILVA

INDSTRIAS E SEGURANA AMBIENTAL NO MUNICPIO DE MARACANA-

CE.

FORTALEZA - CEAR

2015

1

GRAZIELA GONALVES SOUSA E SILVA

INDSTRIAS E SEGURANA AMBIENTAL NO MUNICPIO DE MARACANA-

CE.

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

Graduao em Geografia do Centro de Cincias e

Tecnologia da Universidade Estadual do Cear,

como requisito parcial para obteno do grau de

mestre em Geografia. rea de Concentrao:

Anlise Geoambiental e Ordenao do Territrio

nas Regies Semiridas e Litorneas.

Orientador: Prof. Dr. Daniel Rodriguez de

Carvalho Pinheiro.

FORTALEZA - CEAR

2015

2

3

4

minha famlia, meu marido e ao meu amado

filho Pietro.

5

AGRADECIMENTOS

Mais um ciclo que se encerra em minha vida e este o espao que dedico para agradecer a

todos aqueles que fizeram parte dele. Sou grata a Deus por ter me dado foras para prosseguir

e vencer os desafios que apareceram, e que foram muitos, durante o perodo do mestrado.

Agradeo minha famlia pelo apoio, em especial ao meu marido pelo companheirismo e

minha sobrinha Rebeca que com seu sorriso inocente me fazia sentir paz em meio aos

problemas. Agradeo aos meus irmos em Cristo, pelo apoio em orao.

CAPES agradeo pelo auxlio financeiro que possibilitou a realizao desta pesquisa.

Agradeo aos que fazem parte do Programa de Ps-Graduao em Geografia da UECE.

Agradeo em especial ao Prof. Dr. Daniel Rodriguez de Carvalho Pinheiro pela orientao.

Agradeo ao Prof. Dr. Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Jnior pelas contribuies

durante a qualificao.

Agradeo aos amigos da turma de Mestrado 2013.1. Agradeo aos amigos que muito me

ajudaram, ouviram-me desabafos e que me aconselharam, em especial: Lizabeth, Otvio,

Evelize e Sarah.

Agradeo aos amigos Sarah, Gleison e Rafael que estiveram comigo na realizao das

atividades de campo.

Meu muito obrigado ao Cacique Daniel por ter nos recebido em sua casa. Agradeo tambm

professora Gildnia Moura e ao professor Marcos Vieira pela ateno e materiais

disponibilizados.

Agradeo aos funcionrios da Secretaria de Meio Ambiente de Maracana pelas informaes

que me foram passadas. Agradeo Indstria Brasileira de Artefatos Plsticos (IBAP) por ter

aberto suas portas para apresentar seu processo de produo.

Enfim, agradeo a todos que contriburam para que este trabalho acontecesse.

6

RESUMO

Os danos ao ambiente em Maracana acumularam-se ao longo dos anos e atualmente

possvel constatar um quadro de degradao ambiental no municpio. de extrema

importncia garantir populao que tenha um ambiente com condies adequadas para

usufru-lo com certa segurana no somente em nvel militar, mas tambm ambiental. O

objetivo geral desta pesquisa discutir a segurana ambiental como desafio gesto de

Maracana, cidade industrial. O mtodo sistmico utilizado no desenvolvimento desta

dissertao por possibilitar uma viso holstica integradora do ambiente estudado. De acordo

com os objetivos traados, esta anlise se classifica como de natureza explicativa ou analtica.

Esta pesquisa tambm vem a ser um estudo de caso. Como resultado, foi possvel perceber

que quando se fala em segurana ambiental como desafio gesto de Maracana, a situao

de muitas lagoas, os problemas enfrentados pelos ndios Pitaguarys e a crescente poluio do

ar so pontos que devem ser destacados. A populao perdeu o vnculo com o ambiente

natural: se outrora usufrua o que a natureza tinha para oferecer, agora sofre as conseqncias

da poluio e do descaso com os componentes ambientais. Percebe-se que o que diz o

conceito de segurana ambiental no ocorre na prtica em Maracana: a populao no tem

acesso garantindo aos elementos naturais, como gua e ar de qualidade.

Palavras-chave: Geografia; Indstrias; Segurana Ambiental; Maracana.

7

ABSTRACT

The damage to the environment in Maracana has accumulated itself all over the years and it

is currently possible to see one picture of environmental degradation in the city. It is of

extreme importance to guarantee to the population that has an environment with suitable

conditions for it enjoys with a certain security not only militarily, but also environmental. The

objective of this research is to discuss environmental security as a challenge to Maracana

management, industrial city. The systemic method used in the development of this work by

enabling an integrative holistic view of the environment studied. According to the goals set,

this analysis has classified as explanatory or analytical nature. This research is also a case

study. As a result, it has revealed that when it comes to environmental security as a challenge

to Maracana management, the situation of many lakes, the problems faced by Indians

Pitaguarys and increasing air pollution are points that have to be highlight. The population has

lost the link with the natural environment: if once it enjoyed what nature had to offer, now

suffers the consequences of pollution and neglect of environmental components. It has noticed

that says the concept of environmental security does not occur in practice in Maracana: the

population has no access guaranteeing natural elements such as water and air quality.

Key-words: Geography; Industries; Environmental Security; Maracana.

8

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Interligao viria de Maracana. .................................................................. 33

Figura 2 - Zoneamento do Distrito Industrial. ................................................................ 35

Figura 3 - Localizao de Maracana............................................................................. 47

Figura 4 - Sistemas ambientais de Maracana. .............................................................. 51

Figura 5 - Mapa de solos do municpio de Maracana................................................... 56

Figura 6 - Mapa com a delimitao da Reserva Indgena dos Pitaguarys. ..................... 70

9

LISTA DE FOTOS

Foto 1 - Marco histrico na Reserva Indgena dos Pitaguarys. ................................................ 31

Foto 2 - Pedreira prxima Lagoa do Jaana. ....................................................................... 39

Foto 3 - Pedreira prxima Reserva Indgena dos Pitaguarys. ................................................ 40

Foto 4 - Indstria de corte de rochas decorativas. .................................................................... 41

Foto 5 - Lagoa do Acaracuzinho............................................................................................... 65

Foto 6 - Degradao na Lagoa do Jaana. .............................................................................. 67

Foto 7 - Remanescente de vegetao prximo fbrica de refrigerantes. ............................... 68

Foto 8 - Reserva Indgena dos Pitaguarys. ............................................................................... 69

Foto 9 - Entrada da Reserva Indgena dos Pitaguarys. ............................................................. 73

Foto 10 - Aude Santo Antnio do Pitaguary. .......................................................................... 75

Foto 11 - Instalaes da IBAP. ................................................................................................. 79

Foto 12 - Cadeiras de plstico a serem recicladas. ................................................................... 80

10

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Atividades de campo realizadas durante a pesquisa ............................................... 18

Quadro 2 - Informaes tcnicas dos produtos cartogrficos................................................... 21

Quadro 3 - Perguntas feitas a cada entrevistado ....................................................................... 22

Quadro 4 - Extrativismo mineral em Maracana ..................................................................... 38

Quadro 5 - Indstrias presentes no I Distrito Industrial ........................................................... 42

Quadro 6 - Antiga nomenclatura e Classificao da EMBRAPA (1999) ................................. 57

Quadro 7 - Sntese das vulnerabilidades percebidas e no percebidas pelas lideranas .......... 81

11

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AEDI Associao das Empresas do Distrito Industrial de Maracana.

BNH Banco Nacional da Habitao.

CAGECE Companhia de gua e Esgoto do Cear.

CCM Complexos Convectivos de Mesoescala.

CEASA Central de Abastecimento do Cear S/A.

CETREDE Centro de Treinamento em Desenvolvimento Econmico e Regional.

COHAB Companhia da Habitao.

CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais.

FAPEMA Frente de Apoio e Promoo a Emancipao de Maracana.

FIEP Federao das Indstrias do Estado do Paran.

IBAP Indstria Brasileira de Artefatos Plsticos.

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica.

ICMS Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios.

IFCE Instituto Federal do Cear.

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

IPECE Instituto de Pesquisas e Estratgia Econmica do Cear.

LI Linhas de Instabilidade.

MIDEMA Movimento de Integrao e Desenvolvimento de Maracana.

MMA Ministrio do Meio Ambiente.

MONTOR Montreal Organizao Industrial e Econmica S/A.

MP Ministrio Pblico.

PDDU Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano.

PIB Produto Interno Bruto.

REMAR Rede Maracanauense de Educao Ambiental.

SEMACE Superintendncia Estadual do Meio Ambiente.

SEMAM Secretaria de Meio Ambiente de Maracana.

SESA Secretaria de Sade do Estado do Cear.

SUDENE Superintendncia de Desenvolvimento do Nordeste.

SUS Sistema nico de Sade.

UFC Universidade Federal do Cear.

12

VCAN Vrtice Ciclnico de Altos Nveis.

ZCIT Zona de Convergncia Intertropical.

13

SUMRIO

1 INTRODUO ......................................................................................................... 14

2 MTODOS E TCNICAS DA PESQUISA ............................................................ 16

3 DEFINIO DE DISTRITO INDUSTRIAL ......................................................... 22

4 CARACTERIZAO SOCIOECONMICA DE MARACANA ..................... 30

5 CARACTERIZAO AMBIENTAL ..................................................................... 46

6 DESAFIOS SEGURANA AMBIENTAL DE MARACANA ........................ 62

7 CONCLUSO ............................................................................................................ 82

REFERNCIAS ........................................................................................................... 84

14

1 INTRODUO

Juscelino Kubistchek, presidente do Brasil, de 1956 a 1960, viu, na

industrializao uma forma de proporcionar crescimento econmico para o pas e,

principalmente, para as regies com economia estagnada. Considerada a regio menos

desenvolvida do pas, o Nordeste foi contemplado pelos projetos de industrializao do

governo.

Nesse governo, implantou-se, no Brasil, projeto desenvolvimentista, com o lema

50 anos em 5. O Brasil, pas com economia essencialmente agrrio-exportadora, tem a

industrializao como um dos pontos principais do projeto. Alm disso, o projeto

contemplava investimentos nos setores energticos e de transporte, com destaque para a

abertura de rodovias, investimentos que estavam diretamente ligados industrializao, sendo

necessrios para o desenvolvimento da atividade industrial.

A criao da Superintendncia de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), em

1959, foi estratgica para a efetivao do projeto aliada atuao de governos dos estados

nordestinos (CARVALHO, 2009). Cabe ressaltar que o governo teve papel decisivo no

planejamento e implantao de indstrias, bem como em subsdios oferecidos, mas as

indstrias no eram de domnio estatal, ou seja, no eram controladas pelo governo.

nesse contexto, em 1964, que ocorre a criao do I Distrito Industrial do estado

do Cear. Um distrito industrial pode ser definido como espao geogrfico delimitado,

povoado de indstrias, criao de iniciativa do poder pblico que destina reas, dentro do

territrio, para instalao das indstrias.

Para a constituio do distrito industrial, necessria a existncia de infra-

estrutura que atenda as demandas cuja criao est atrelada a presena de conjuntos

habitacionais nos arredores.

O I Distrito Industrial do Cear foi implantado em rea vizinha capital,

Fortaleza, mais precisamente em Maracana, nas coordenadas 3 52' 36" latitude S e 38 37'

32" longitude WGr. Maracana tem os municpios limtrotofes: Fortaleza, Caucaia,

Maranguape e Pacatuba (CEAR, 2012).

Segundo Almeida (2005), a inaugurao do distrito industrial d-se no ano de

1967 com poucas indstrias, tendo ocupao efetiva a partir da dcada de 1980. Nas dcadas

seguintes, implantaram-se o DIF-III e o DI 2000; DIF-III, em 1990 e DI 2000 no ano 2000

15

com intuito de absorver a mo de obra presente no municpio. H indstrias que se localizam

fora da rea dos distritos, distribudas em outras reas.

A implantao de distritos industriais, sobretudo a instalao do I Distrito

Industrial, promoveu uma srie de mudanas importantes em Maracana, no meio fsico,

social e econmico. O ritmo acelerado em que ocorreram no possibilitou uma ao bem

planejada, na minimizao das conseqncias sobre os componentes do meio fsico e sobre a

estruturao urbana, o que repercutiria nas dcadas seguintes.

Os danos ao ambiente acumularam-se ao longo de dcadas, atualmente possvel

constatar o quadro de degradao ambiental no Municpio, principalmente no que se refere a

corpos hdricos e progressiva supresso da vegetao. Diante disso, garantia de ambiente

com condies adequadas para a populao usufruir de certa segurana no somente no nvel

militar, mas tambm ambiental, de suma importncia. Esse o conceito de segurana

ambiental utilizado neste trabalho.

Assim sendo, o objetivo geral da pesquisa discutir a segurana ambiental como

desafio gesto de Maracana, como cidade industrial. Para tanto, delinearam-se quatro

objetivos especficos:

a. Rever o conceito de distrito industrial diferenciando-o de outros tipos de reas

concentradoras de indstrias;

b. Descrever os principais aspectos socioeconmicos de Maracana;

c. Caracterizar o municpio em estudo tendo em vista suas caractersticas fsicas,

ou seja, enquanto ambiente;

d. Investigar os desafios segurana ambiental de Maracana do ponto de vista de

atores sociais do municpio.

16

2 MTODOS E TCNICAS DA PESQUISA

Coutinho e Cunha (2004) afirmam que a pesquisa o termo empregado para

caracterizar diferentes atividades. Porm, somente se considera pesquisa de cunho cientfico a

que visa construo de conhecimento novo ou procura rever conhecimento j construdo. As

autoras definem a pesquisa como

[] uma coleta sistematizada de informaes relativas a algum acontecimento ou

fenmeno particular para fins de sua explorao, sua descrio e respectiva

explicao. o estabelecimento de relaes entre as informaes transformadas em

dados e em fatos, de modo que possam ser explanados, compreendidos e

incorporados num sistema terico (COUTINHO; CUNHA, 2004, pg. 40).

Pedro Demo (1985, p. 19) entende que pesquisa a atividade bsica da cincia,

definindo-a como [] a atividade cientfica pela qual descobrimos a realidade. Para Demo

(1985), no se pode desvendar a realidade na superfcie: preciso aprofundamento na busca

para conhec-la.

Para o desenvolvimento satisfatrio da pesquisa, necessrio definir pontos de

importncia para sua realizao, e o interessante que a prpria pesquisa auxilia o

pesquisador no momento de definio, pois, de acordo com o que se prope realizar, que se

traa o caminho a seguir, que se traa a metodologia.

Toda pesquisa de cunho cientfico precisa de mtodo para direcionar o seu

desenvolvimento e, para alcance dos objetivos, faz-se necessrio o emprego de tcnicas

adequadas ao que se prope o trabalho. Deste modo, neste captulo delineia-se o percurso

metodolgico da pesquisa.

2.1 OS PROCEDIMENTOS

Esta pesquisa um estudo de caso que, para Antnio Raimundo dos Santos

(2007), constitui importante variao de procedimentos de coleta de dados, em que se renem

as informaes necessrias construo de raciocnios acerca do que se est estudando. O

autor afirma ainda que estudar um caso selecionar um objeto de pesquisa restrito, com o

objetivo de aprofundar-lhe os aspectos caractersticos (SANTOS, 2007, pg. 30).

Para a realizao deste estudo, seguiram-se as seguintes etapas:

Anamnese Anlise Diagnose Prescrio

17

A anamnese corresponde fase na qual so feitas as perguntas que ajudam a

identificar os problemas solucionveis e se constroem hipteses de soluo. Corresponde ao

momento de ouvir as queixas dos elementos de relevncia da pesquisa, que podem ser pessoa,

empresa, rgo pblico, organizaes no governamentais, entre outros. Todas as situaes

descritas anteriormente se do mediante entrevistas.

Posteriormente anamnese, faz-se a anlise, etapa na qual as informaes obtidas

na fase anterior, bem como documentos e dados coletados so analisados, corroborando ou

no hipteses de soluo.

Diagnose e prescrio so as duas ltimas etapas que compem o estudo de caso e

correspondem respectivamente sntese do problema a ser resolvido ou descrito e a

prescrever aes que precisam ser realizadas para que o problema seja sanado.

O objetivo desta pesquisa discutir a segurana ambiental como desafio

gesto de Maracana, cidade que apresenta quantidade considervel de indstrias. Para

alcance do objetivo, delinearam-se quatro objetivos especficos, correspondendo cada um a

captulo deste trabalho. Os objetivos especficos foram apresentados na introduo, no

havendo necessidade de exposio no momento.

A motivao para o aprofundamento da discusso, neste trabalho, sobre

segurana ambiental como desafio gesto de Maracana, o crescimento da atividade

industrial, nas ltimas dcadas, que implica aumento do quadro de degradao ambiental, em

reas onde as atividades se desenvolvem.

O quadro de degradao ambiental se manifesta pela poluio de corpos hdricos,

pela supresso da vegetao e crescente poluio do ar. A crescente urbanizao do

municpio, que est ligada atividade industrial, ocasiona presso sobre reas que guardam

resqucios de vegetao conservada, inclusive reas protegidas pela lei. Como exemplo cita-se

a Reserva Indgena dos Pitaguarys, que possui considervel rea verde bem conservada e

aude de importncia histrica e ambiental para o municpio.

O mtodo sistmico utilizado no desenvolvimento da pesquisa por possibilitar

uma viso holstica integradora do ambiente estudado, composto no somente de elementos

naturais, mas tambm pelos elementos resultantes da relao desenvolvida entre sociedade e

natureza, ambiente composto por elementos sociais, econmicos, polticos, entre outros.

Nesta anlise, os dados levantados so qualitativos e as fontes, campo e

bibliografia. Aqui se apresentam as duas fontes na ordem estabelecida da pesquisa. Primeiro,

18

fez-se o levantamento bibliogrfico, posteriormente, pesquisa de campo.

O levantamento bibliogrfico etapa importante da pesquisa em que se entra em

contato com todo o material bibliogrfico produzido ou, no mnimo, tem-se contato com que

h de mais relevante sobre o tema estudado. Em Demo (1985), encontram-se algumas

indicaes para a formao do quadro terico de referncia. Inicialmente, importante

conhecer os clssicos do tema estudado para, posteriormente, entrar em contato com a

bibliografia fundamental do tema.

Intrnseco etapa est o levantamento documental. So fontes do levantamento

documental: tabela; relatrio; arquivo de rgos pblicos, foto; entre outros.

No campo ocorrem os fatos, fenmenos e processos. onde o pesquisador extrai

os dados primrios e entra em contato com a realidade estudada. A pesquisa de campo, etapa

importante deste trabalho, realizou-se com o intuito de aprofundar o conhecimento emprico

do objeto estudado. A etapa foi vivenciada em seis momentos distintos, nos anos de 2013,

2014 e 2015, nos quais foram conhecidas diferentes reas do municpio de Maracana.

Num primeiro momento, conheceu-se a rea ocupada pelo Distrito Industrial I.

Em momento posterior, visitou-se a Secretaria do Meio Ambiente de Maracana, SEMAM. A

lagoa do Jaana e regio prxima pedreira, que se localiza entre Maracana e Caucaia,

foram visitadas numa terceira oportunidade. A Aldeia dos Pitaguarys foi o destino da

atividade de campo. Depois, a Indstria Brasileira de Artefatos Plsticos (IBAP) autorizou a

realizao da pesquisa de campo em suas instalaes. Por fim, conversou-se com

representante da liderana local de Maracana (Quadro 1).

Quadro 1 - Atividades de campo realizadas durante a pesquisa

Local visitado Data Objetivo

Campo 1 Distrito Industrial I Out/2013 Conhecer a rea industrial.

Campo 2 SEMAM Maracana Mai/2014 Colher informaes sobre o quadro

ambiental do municpio.

Campo 3 SEMAM Maracana Mai/2014 Visitar o setor de licenciamento

ambiental do municpio.

Campo 4 Lagoa do Jaana Dez/2014 Explorar as partes mais rurais do

municpio.

19

Campo 5 Aldeia dos Pitaguarys e

Indstria Brasileira de

Artefatos Plsticos

Mar/2015 Entrevistar o cacique Daniel e

conhecer o processo de produo da

IBAP.

Campo 6 Centro de Maracana Mar/2015 Entrevistar representante da

liderana local.

Fonte: Elaborada pela autora.

O levantamento dos dados primrios desta pesquisa se deu no campo, mediante

realizao de entrevista. Nessa etapa, tambm se procedeu s visitas s instituies pblicas,

s empresas privadas e s organizaes no governamentais, o que possibilitou maior

aproximao da realidade. Nos trabalhos de campo, fizeram-se registros fotogrficos,

distribudos ao longo deste trabalho.

O primeiro contato com o objeto emprico da pesquisa realizou-se com o intuito

de conhecer o local, desencadeador do vultoso processo de urbanizao de Maracana, o I

Distrito Industrial do Cear. No campo, em 2013, objetivou-se conhecer a principal rea

industrial do Municpio e verificar o estado de degradao/conservao das reas prximas s

indstrias. Devido ao tipo de produto fabricado, as indstrias foram previamente selecionadas.

Na oportunidade, tentou-se sem sucesso obter acesso ao interior de algumas indstrias, com o

intuito de conhecer instalaes e processo de produo, atentando para a postura adotada

quanto proteo ambiental.

A Secretaria do Meio Ambiente (SEMAM) de Maracana foi visitada em dois

momentos. Primeiramente, conheceu-se a estrutura fsica da SEMAM, bem como programas

e projetos, tambm colhidas informaes a respeito do quadro ambiental do municpio. Na

ocasio, foi solicitada reunio com o senhor secretrio de Meio Ambiente, negada pela

indisponibilidade de tempo. Porm foi possvel conversar com o funcionrio responsvel pelo

setor de Licenciamento Ambiental do Municpio e agendar segunda visita SEMAM.

Em segundo momento, o foco da visita foi o setor de Licenciamento Ambiental

com a finalidade de inteirar-se da situao de indstrias em termos do potencial de poluio.

Obtiveram-se informaes relevantes para a pesquisa. Por exemplo, conseguiu-se contato com

a Indstria Brasileira de Artefatos Plsticos (IBAP), que se apresenta dentro dos padres

estabelecidos com baixo potencial de poluio.

Com os nmeros de telefone de contato e indicao do nome de funcionrio da

20

IBAP, obtidos durante visita SEMAM, foi possvel marcar data para conhecimento do

processo de produo, com a finalidade de averiguao de preocupao com a segurana

ambiental do municpio. Foi realizada visita guiada dentro das normas de segurana. No

captulo 5, aborda-se detalhadamente a visita.

No mesmo dia da visita IBAP, conheceu-se a Reserva Indgena dos Pitaguarys, a

finalidade da visita foi conhecer esta rea que apresenta vegetao to bem conservada, bem

com os principais desafios/problemas enfrentados pelos ndios Pitaguarys, em relao

segurana ambiental. O Cacique Daniel forneceu as informaes verbalmente.

Optou-se por entrevistar lideranas, devido ao fato de possibilitarem conhecer o

tema pesquisado sobre diferentes pontos de vista, pelo vnculo das pessoas com Maracana.

Realizaram-se entrevistas com ex-funcionrio da Secretaria de Meio Ambiente, com o cacique

dos ndios Pitaguarys e com funcionria pblica moradora do Conjunto Novo Maracana,

engajada em movimentos sociais do Municpio. As entrevistas foram abertas, com o mnimo

de interveno possvel na fala dos entrevistados para no induzi-los ou cortar seu raciocnio.

Aps as entrevistas, procedeu-se transcrio e anlise de cada uma. Nessa fase,

identificaram-se mais informaes importantes para a pesquisa, o que no foi possvel

perceber somente com a realizao da entrevista.

A finalidade da entrevista realizada com ex-funcionrio da Secretaria de Meio

Ambiente de Maracana foi inicialmente saber da preocupao com segurana ambiental e o

que vem sendo feito em termos de segurana ambiental e quais os desafios ambientais em

Maracana.

Na conversa com o Cacique Daniel, conheceram-se os desafios enfrentados pelos

Pitaguarys, falta de assistncia e desrespeito cultura, costumes e terras. Na fala do cacique, a

principal queixa que a populao no respeita o fato de o acesso rea da reserva ser restrito

e a principal motivao a utilizao do aude dos Pitaguarys para lazer, o que proibido.

A entrevista com funcionria pblica engajada em movimentos sociais do

Municpio possibilitou conhecimento dos desafios segurana ambiental, percebidos pela

populao. Com a entrevista percebeu-se que a principal queixa a qualidade do ar em

Maracana e supresso da vegetao. A poluio do ar tem motivado a mobilizao da

populao em busca de melhora do ar no Municpio. Pela fala dos entrevistados, que

ficaram perceptveis de fato os desafios segurana ambiental. A transcrio e anlise da

entrevistas deixaram isso mais claro.

21

Para esta pesquisa, produziram-se trs mapas: Mapa Hidrogrfico/Hidrolgico do

municpio de Maracana, CE; Mapa do Distrito Industrial de Maracana, CE; Mapa do

Distrito Industrial de Jundia, SP. Abaixo, quadro 2 com informaes detalhadas dos mapas

(QUADRO 2).

Quadro 2 - Informaes tcnicas dos produtos cartogrficos

Mapas Informaes tcnicas

Mapa Hidrogrfico/Hidrolgico do municpio de

Maracana, CE.

Shapefile - Limite territorial dos municpios - SEMACE

(2009), IPECE (2010); Shapefile Bacias hidrogrficas -

CPRM (2003/2011) e RADAMBRASIL (1981);

Shapefile hidrologia- Modelos de Elevao (SRTM) do

INPE (2012).

Mapa do Distrito Industrial de Maracana, CE. Shapefile dos conjuntos (Elaborao prpria); Shapefile

limite territorial do Brasil (Ministrio do Meio Ambiente,

MMA, 2007) e Imagem do Google Earth, 2009.

Mapa do Distrito Industrial de Jundia, SP. Shapefile dos conjuntos (Elaborao prpria); Shapefile

limite territorial do Brasil (Ministrio do Meio Ambiente,

MMA, 2007) e Imagem do Google Earth, 2012.

Fonte: Elaborada pela autora.

2.2 A PAUTA DAS ENTREVISTAS

As entrevistas realizadas no decorrer da pesquisa no seguiram uma pauta rgida,

sendo classificadas como entrevistas do tipo semi-estruturadas. Logo no incio da conversa, a

pesquisa foi apresentada de maneira bastante objetiva e antes que fosse feita a primeira

pergunta, os entrevistados iniciaram sua fala.

As perguntas foram elaboradas com o intuito de se ter conhecimento de quais so

os desafios para a segurana ambiental em Maracana do ponto de vista dos atores sociais do

municpio.

Durante a fala inicial dos entrevistados, a maioria das perguntas que haviam sido

traadas era respondida antes mesmo de serem feitas e outras indagaes surgiam enquanto os

entrevistados falavam.

22

Para cada entrevistado foram elaboradas perguntas distintas, mas a pergunta que

foi feita a todos foi esta: Quais os principais desafios para a segurana ambiental do

municpio?. Adequou-se a pergunta de acordo com o nvel de entendimento de cada

entrevistado.

A realizao destas entrevistas foi importante para esta pesquisa, como j foi

colocado anteriormente. Abaixo quadro com as perguntas feitas (QUADRO 3).

Quadro 3 - Perguntas feitas a cada entrevistado

ENTREVISTADO 1

(Ex-funcionrio da SEMAM)

ENTREVISTADO 2

(Cacique Daniel)

ENTREVISTADO 3

(Moradora do Conjunto Novo

Maracana)

Quais os projetos

socioambientais desenvolvidos

em Maracana?

Quais as principais dificuldades

enfrentadas pelos Pitaguarys na

luta pela preservao do

ambiente?

Do ponto de vista da populao, h

realmente uma preocupao com a

segurana ambiental?

Quais os principais desafios na

rea ambiental enfrentados

pelos gestores municipais?

Quais so as principais

reivindicaes do povo

Pitaguary?

Quais so os principais problemas

ambientais percebidos pela populao?

Qual seria o maior desafio

ambiental para Maracana?

Quais foram as ltimas aes do

governo em prol da

comunidade?

Quais so as principais reclamaes

feitas pela populao aos gestores

municipais?

Fonte: Elaborada pela autora.

23

3 DEFINIO DE DISTRITO INDUSTRIAL

O distrito industrial pode ser definido como espao geogrfico delimitado e

povoado pelas indstrias. A criao de distrito industrial iniciativa do poder pblico que

destina reas, no seu territrio, s indstrias. O intuito da empreitada trazer maior

dinamizao para a economia local, bem como gerar mais postos de emprego para a

populao.

Para instalao de distrito industrial necessria a existncia de infra-estrutura

que atenda demandas das indstrias. Alm dos incentivos fiscais, a disponibilidade de

servios como energia eltrica, gua, sistema de esgoto, telefone, internet, malha viria, entre

outros, atua como importante fator de escolha da localizao de indstria, por isso

importante que os governos garantam a disponibilidade de aparato, nos distritos industriais.

A criao dos distritos industriais brasileiros tambm est atrelada presena de

conjuntos habitacionais nos arredores do distrito. A justificativa de existncia desses

conjuntos prximos aos distritos industriais que, desta forma, a mo de obra necessria s

indstrias estaria localizada bem prxima s indstrias, diminuindo custos com deslocamento

de funcionrios. Em outras palavras, a criao dos distritos industriais s faria sentido se

houvesse fora de trabalho nas proximidades. O mapa do Distrito Industrial de Jundia,

municpio localizado no estado de So Paulo, evidencia a lgica da presena de conjuntos

habitacionais, nos arredores de distritos industriais (Mapa 1).

24

Mapa 1 - Mapa do Distrito Industrial de Jundia, SP

Organizao: Prpria autora.

Fonte: Ministrio do Meio Ambiente, MMA, 2007.

25

No municpio de Maracana, os conjuntos habitacionais, desde a construo, no

foram ocupados exclusivamente pelas pessoas que trabalhavam nas indstrias. Isso ocorreu

devido ao fato da mo de obra, nos conjuntos habitacionais, possuir baixo nvel de

qualificao, muito aqum do exigido pelas indstrias do distrito.

A maioria dos funcionrios das indstrias reside em municpios vizinhos,

sobretudo Fortaleza. Inicialmente, os residentes nos conjuntos habitacionais de Maracana

eram famlias vindas do interior que estavam fugindo da seca e famlias atingidas pelo dficit

habitacional da capital Fortaleza.

Ento, ainda que os conjuntos habitacionais prximos a distritos industriais no

sejam ocupados pelas pessoas que trabalham nas indstrias dos distritos, ainda assim a

presena dos conjuntos habitacionais elemento que caracteriza e diferencia o distrito

industrial das demais formas de aglomerados industriais. Desta feita, pode-se dizer que o

distrito industrial um tipo de aglomerao industrial planejada pelo poder pblico e que

aparece casado com habitaes populares em seu entorno. O mapa 2 do Distrito Industrial de

Maracana, CE, mostra a presena de vrios conjuntos habitacionais ao redor do principal

distrito industrial do Municpio.

26

Mapa 2 - Mapa do Distrito Industrial de Maracana, CE

Organizao: Prpria autora.

Fonte: MMA (2007), GOOGLE EARTH (2009).

27

Os pargrafos anteriores apresentam as principais caractersticas do distrito

industrial que o diferencia de outros tipos de reas que concentram expressivo nmero de

indstrias. Cluster industrial, rea industrial, zona industrial, distrito industrial marshalliano,

condomnios industriais e condomnios empresariais so tipos de reas concentradoras de

indstrias. Na literatura, encontra-se a definio de cada uma das reas. Apresentar-se-o

definies, diferenciando as reas do distrito industrial, que vem a ser um dos objetivos

especficos deste trabalho.

Um cluster industrial pode ser definido como

[...] aglomeraes de empresas de um mesmo ramo que so encontradas

geograficamente prximas umas das outras, mantendo suas relaes atravs do

desenvolvimento e uso de tecnologias para sistemas de produo comuns,

compartilhando tecnologia, conhecimento (experincias), informao, mo-de-obra

especializada, fornecedores, clientes, etc., isto , sua principal finalidade unir

esforos para alcanar objetivos tambm considerados comuns (SOUZA &

FERNANDES, 2001, pg. 02).

No cluster industrial, as indstrias possuem alto nvel de entrosamento entre si,

com o intuito de aumentar o valor agregado dos produtos, obter o mximo aproveitamento de

matrias-primas, dividir custos, entre outros fatores. Diferentemente, no distrito industrial, as

empresas atuam de modo independente umas das outras, no comum haver cooperao entre

indstrias do mesmo distrito. Hissa (2008) apud Carvalho (2009) afirma que a cooperao

uma caracterstica pouco encontrada na maioria dos distritos industriais brasileiros.

Segundo o Guia Tcnico para Implantao de Distritos Industriais, elaborado pela

Federao das Indstrias do Estado do Paran (FIEP), no ano de 2013, a formao de rea

Industrial acontece de modo espontneo, entendendo-se por espontneo o fato de a instalao

das indstrias ocorrer sem planejamento e sem definio prvia de determinada rea, como

resultado do crescimento natural da economia local. Este processo totalmente oposto ao

processo de implantao de distrito industrial que tem etapas planejadas pelo poder pblico.

O guia anteriormente mencionado assevera que Zona Industrial assegurada por

instrumentos jurdicos, sendo rea reservada para fins industriais. Na Lei de Uso do Solo ou

no Plano Diretor do Municpio, tais reas so delimitadas. Trata-se to somente de destinar

reas para fins industriais sem nenhuma garantia de que as reas atrairo ou sero ocupadas

pelas indstrias.

O conceito de distrito industrial marshalliano sugere processo de descentralizao

industrial em que se forma rede composta essencialmente por pequenas e mdias indstrias.

28

Os distritos industriais marshallianos encontram o seu expoente mximo em alguns

territrios, onde se privilegiam a iniciativa local e a interaco entre as empresas e entre estas

e as instituies locais, sempre com fortes ligaes ao meio local (MELO, 20??, pg. 31). Os

distritos industriais italianos so exemplo de rea de concentrao de indstrias.

Nos distritos industriais tradicionais, comumente encontrados no Brasil, pode

haver indstrias de todos os portes, no sendo necessariamente formados por pequenas e

mdias indstrias, e pode haver ou no interao destas com o poder pblico. Tambm no

muito comum haver fortes ligaes das indstrias com o local no qual ela est instalada, fato

que pode ser corroborado analisando-se o perodo de permanncia das indstrias nos

municpios.

Muitas indstrias instalam-se em determinadas localidades por conta das

vantagens e subsdios que lhes so oferecidos, quando acabam ou surge outra oferta mais

interessante, as indstrias fecham unidades nesses municpios, transferindo-as para o

municpio que lhes ofereceu mais vantagens. Em Maracana, recorte espacial desta pesquisa,

possvel verificar galpes industriais fechados.

Por fim, falar-se- de condomnios industriais e condomnios empresariais. Dias e

Salerno (1999), em estudo sobre a indstria automobilstica brasileira, faz anlise sobre os

condomnios industriais que so a configurao produtiva presente nas plantas das

montadoras de veculos no Brasil. Na perspectiva de seu estudo, os autores asseveram o

seguinte acerca de condomnios industriais:

Denominamos condomnio industrial a configurao onde alguns fornecedores,

escolhidos pela montadora, estabelecem suas instalaes nas adjacncias da planta

da montadora e passam a fornecer componentes ou subconjuntos completos. Assim,

uma caracterstica fundamental do condomnio industrial a presena da montadora

como diretora de todo o projeto. Isso significa que ela quem decide que produtos

sero fornecidos atravs do condomnio, que empresas devem fornecer esses

produtos, onde elas se localizaro no condomnio (DIAS; SALERNO, 1999, pg.

03).

Generalizando, pode-se dizer que os condomnios industriais correspondem rea

concentradora de indstrias na qual uma indstria gerencia todo o condomnio, decidindo

quais empresas podem se instalar, onde se localizaro no condomnio e outras especificidades.

Todas as indstrias que se instalam no condomnio esto ligadas ao processo de produo da

indstria principal. Nos distritos industriais, no h indstria principal gerenciando todo o

distrito, sendo este ponto principal de diferenciao entre distritos e condomnios industriais.

29

Finatti (2013) debrua-se sobre o estudo dos condomnios empresariais, definidos

pelo autor como empreendimentos imobilirios voltados localizao de atividades

econmicas, principalmente unidades industriais e de servios (FINATTI, 2013, pg. 02).

Para o autor, os condomnios empresariais representam mais um dos vrios produtos

imobilirios. Neste caso, a forma de concentrao industrial resultado da ao de agentes

imobilirios, sendo ao de iniciativa privada, o que o diferencia dos distritos indstrias, de

iniciativa do poder pblico.

Os condomnios empresariais so fechados em relao rea ao redor e no so

ocupados somente pelas indstrias, mas tambm pelos estabelecimentos de servios e

comrcio, no havendo necessidade de deslocamento para fora dos limites do condomnio,

como o autor coloca no trecho abaixo, extrado da dissertao:

Os objetos tcnicos relacionados prestao de servios compreendem estruturas

que so assumidas pela administradora do condomnio ou por empresas contratadas

como terceirizadas para estes fins: restaurante, lanchonete, hotel, central de

fotocpias, estabelecimentos comerciais diversos, central de correio, posto bancrio,

posto de gasolina, odontologia e creche. Estas funcionalidades tm o propsito de

servir como elementos atrativos para as empresas, mas tambm para consolidar o

fechamento do condomnio empresarial em relao ao entorno e desestimular que

deslocamentos sejam feitos fora do empreendimento, uma vez que estes servios

podem ser encontrados em seu interior (FINATTI, 2013, pg. 05).

De acordo com o autor supracitado, os condomnios empresariais podem ser

apresentados sob outras denominaes: condomnio de galpes, condomnio de escritrios,

centro logstico, parque industrial, business centers, business parks, entre outros.

A etapa de definio das formas mais importantes e expressivas de concentrao

industrial de suma importncia para elucidar as caractersticas do tipo de concentrao

industrial, que est presente em Maracana, sob forma de distrito industrial. Conhecer as

caractersticas que definem e diferenciam os distritos industriais das demais formas de

concentrao relevante para o processo de delineamento do que vem a representar a

segurana ambiental para o municpio.

30

4 CARACTERIZAO SOCIOECONMICA DE MARACANA

O objetivo deste captulo descrever os principais aspectos socioeconmicos de

Maracana. Para tanto, feito um breve relato da histria do Municpio e se apresentam de

forma concisa os aspectos socioeconmicos.

4.1 NOTAS DA HISTRIA LOCAL

A palavra Maracana uma expresso tupi cuja traduo significa lugar onde

bebem as maracans. A expresso faz referncia lagoa de mesmo nome e s araras

maracans, que eram aves tpicas e abundantes na regio (ALMEIDA, 2005).

Os ndios Potiguaras (atuais Pitaguarys) habitavam o sop das serras de

Maranguape e Aratanha, por volta do ano de 1640. Maracana (1998) assevera que:

Nesse vale mido pontilhado por lagoas, riachos e cortado por rios que levam ao

litoral, habitavam os ndios potiguaras, tambm denominados potiguares,

pitigoares ou pitiguaras, pertencentes ao galho tupinamb, do grande tronco tnico

tupi. Inicialmente se firmaram s margens da Lagoa do Jaana e posteriormente nas

de Maracana e Pajuara (MARACANA, 1998, pg. 8).

Entre 1649 e 1654, os holandeses chegaram a Maracana objetivando tornar a

regio possesso de seu pas e explorar as possveis minas de prata nas serras de Aratanha e

Maranguape (Serra da Mucun) (ALMEIDA, 2005).

Segundo Carvalho (2009), no sculo XVIII, a regio se tornou Sesmaria Aldeia

Nova, mediante regime de capitanias hereditrias, concedida ao aldeamento indgena dos

Pitaguaris, em 1722. Acontecimento importante para a histria do Municpio foi a construo

do Aude e da Capela de Santo Antnio do Pitaguary. A foto 1 destaca monumento erguido

pela prefeitura na Reserva Indgena dos Pitaguarys que contm a sua histria grafada. A

prefeitura deu nfase somente relevncia histrica dos Pitagaurys, no considerando a

importncia ambiental que a reserva possui.

31

Foto 1 - Marco histrico na Reserva Indgena dos Pitaguarys

Fonte: Prpria autora.

No intuito de assegurar o domnio portugus, por volta de 1760, tem-se a primeira

iniciativa para ocupar essas terras com a construo do primeiro ncleo de povoamento s

margens do Rio Maranguapinho e da Lagoa do Jaana.

Marco importante para a histria do municpio que contribuiu para o seu

povoamento foi a inaugurao, em 1875, da estao ferroviria. A linha frrea que passava por

Maracana ligava Fortaleza a Baturit. Sua inaugurao ocasionou acrscimo quantidade de

moradores devido ao fato de a regio estar agora ligada a outros municpios.

Em 1882, Maracana foi elevado condio de vila, nomeada Vila de Santo

Antnio dos Pitaguaris. Em 1906, torna-se distrito de Maranguape e passa a ser chamado pelo

nome de Maracana, atual nome (CARVALHO, 2009).

32

4.1.1 Criao do Distrito Industrial

A poltica dos distritos industriais surge na dcada de 1960, implantada no Cear

na mesma dcada. O trabalho sobre o Distrito Industrial como fator de expanso urbana

realizado pelo CETREDE (Centro de Treinamento em Desenvolvimento Econmico

Regional), no ano de 1983, apresenta informaes sobre a implantao do distrito industrial

no Cear.

Dentro do Plano de Metas do primeiro Governo Virglio Tvora, a CODEC

(Companhia de Desenvolvimento Econmico do Cear), contratou em 1964 a

MONTOR Montreal Organizao Industrial e Econmica S.A. que por sua vez

utilizou os servios profissionais do Escritrio de Planejamento Fsico e Consultoria

H.J. Cole, para estudar a implantao de reas industriais no municpio de Fortaleza,

ou em suas reas limtrofes (CETREDE, 1983, pg. 14).

De acordo com o CETREDE (1983), a MONTOR, aps a realizao de todas as

etapas de estudo, indicou o eixo Fortaleza-Maranguape rea mais propcia para a implantao

do Distrito Industrial. Na figura a seguir, evidencia-se interligao da regio a vrios

municpios (Figura 1).

33

Figura 1 - Interligao viria de Maracana

Fonte: CETREDE, 1983.

34

Vale salientar que, na poca da realizao deste estudo, Maracana era distrito de

Maranguape. O estudo fez alerta sobre a importncia das reas se localizarem a uma distncia

mnima de 12 km do mar e a oeste de Fortaleza, em virtude de ventos dominantes.

Aps escolha definitiva de Maranguape, a MONTOR partiu para a criao do

Plano Diretor do Distrito Industrial, com a implantao de 16 indstrias-tipo em

conformidade com as potencialidades do mercado local e tamanho de cada unidade industrial

que deveria variar de 1000 m (0,10 ha) at 20.000 m (2,00 ha). Conforme pode ser

observado na figura 2, o Distrito Industrial compe-se pelas seguintes reas: faixa de domnio

da EAC (Estrada do Anel de Contorno); faixa de domnio da CE-1 (CE-021); subestao de

fora; zona industrial 1 etapa; zona industrial 2 etapa; zona residencial. Essa proposta de

zoneamento desconsiderou o padro de drenagem dos cursos hdricos, o que implica maior

poluio hdrica devida contribuio das guas residurias industriais.

35

Figura 2 - Zoneamento do Distrito Industrial

Fonte: CETREDE, 1983.

36

Pelo Decreto N 6740 de 31/12/1964, o governo do estado do Cear desapropriou

rea de 1013 ha, em Maracana, ento distrito de Maranguape, para a implantao do

primeiro Distrito Industrial de Fortaleza DIF I, iniciada em 1966, com inaugurao no ano

de 1967 (ALMEIDA, 2005). Porm, somente na dcada de 1980, a instalao das indstrias

se deu efetivamente, o que ratificado pela CETREDE (1983:24): O Distrito Industrial de

Fortaleza s veio se concretizar de fato no segundo Governo Virglio Tvora como parte

integrante da poltica de industrializao contida no II PLAMEG.

O Distrito Industrial propiciou grande aumento populacional, em Maracana, que,

em 1970, apresentava populao de 15.685 habitantes. O governo apresenta a construo dos

conjuntos habitacionais como soluo para os problemas relacionados moradia.

Segundo Maracana (1998), os conjuntos habitacionais foram financiados pelo

BNH (Banco Nacional da Habitao) e lastro, Fundo de Garantia Por Tempo de Servio dos

trabalhadores assalariados, que gerenciados e contratados pela COHAB (Companhia de

Habitao) estadual:

Maracana surge como cenrio ideal para a implantao desses conjuntos,

justificado ainda, pelo fato de que o Distrito Industrial necessitava de mo-de-obra.

Foram, ento, projetados os conjuntos habitacionais: Distrito Industrial I e II (1978)

compostos de 418 e 858 unidades; Timb (1979) composto de 2870 unidades

residenciais e 30 mistas, comrcio e residncia; Acaracuzinho (1980) composto de

1952 unidades residenciais e 24 comerciais; Jereissati I e II composto de 6814

unidades. Foram projetados tambm os conjuntos Novo Maracana, e Novo Oriente,

de iniciativa do INOCOOP. A configurao urbana assume ento feio diferenciada

de sua origem passando a conter em sua estrutura lotes populares com rea variando

entre 150,00m2 a 200,00m2 (MARACANA, 1998, pg. 10).

De acordo com CETREDE (1983), foram fatores que influenciaram na localizao

dos conjuntos habitacionais: proximidade do Distrito Industrial, potencial plo gerador de

postos de trabalho; baixo valor de terreno na rea do Distrito Industrial; facilidade de acesso

pelas rodovias CE 004 e CE 021 e anel ferrovirio de Maracana.

Os grandes conjuntos habitacionais construdos a partir de 1979 totalizaram mais

de 20.000 residncias, com aumento do nmero de habitantes e acelerao do processo de

expanso urbana. Em 1980, contabilizava-se um total de 37.844 habitantes; em 1991, 157.150

habitantes, configurando aumento expressivo da populao.

A criao do Distrito Industrial trouxe tal dinamizao que, em 1984, Maracana

se emancipa e passa a municpio, integrando a Regio Metropolitana de Fortaleza.

37

importante destacar que a emancipao de Maracana foi objetivo que, por dcadas, seu povo

buscou realizar.

A primeira tentativa de se tornar municpio aconteceu em 1953, pelo Movimento

dos Tenentes, liderado pelo militar Mrio de Paula Lima e pelo tambm militar Raimundo de

Paula Lima, sem xito. Em 1958, houve nova tentativa frustrada encabeada pelos vereadores

eleitos com votos da populao do Distrito (ALMEIDA, 2005).

Conforme Pereira (2011), houve terceira investida, na busca pela emancipao,

em 19 de dezembro de 1963, pelo decreto n 6.964, porm o golpe militar de 1964 extinguiu

todos os municpios criados no perodo, ficando o decreto de criao de Maracana

suprimido, antes mesmo de instalao, segundo lei n 8.339, de 14 de dezembro de 1965.

CETREDE (1983) relata tentativa de emancipao no ano de 1975, que foi novamente

derrotada.

Os grupos MIDEMA (Movimento de Integrao e Desenvolvimento de

Maracana) e FAPEMA (Frente de Apoio e Promoo a Emancipao de Maracana)

surgiram em 1980, no centro da busca da autonomia de Maracana, na gesto dos recursos

gerados nas atividades econmicas desenvolvidas no distrito (PEREIRA, 2011).

A atuao dos grupos MIDEMA e FAPEMA garante o resultado positivo por meio

de plebiscito, realizado em 06 de maro de 1983, no qual populao optou pelo seu

desmembramento, e finalmente Maracana foi reconhecido como municpio pela Lei N

10.811, de 04 de julho de 1983, instalado em 31 de janeiro de 1985. Adiante, de forma

concisa, atual situao de Maracana, no que diz respeito aos aspectos econmicos e sociais.

4.2 ECONOMIA

O Distrito Industrial, em Maracana, impulsiona o desenvolvimento e

crescimento econmico, bem como aumento considervel de sua participao na arrecadao

de impostos para o estado do Cear. Apesar de a indstria ter sido responsvel por

impulsionar a economia local, a economia do municpio analisada de acordo com os setores

da Agropecuria e extrativismo, Indstria, Comrcio e Servios.

4.2.1 Agropecuria e Extrativismo mineral

38

As atividades do setor primrio possuem pouca expresso no contexto econmico.

Segundo Maracana (1998), o setor pode ser considerado quase extinto, devido ao processo

de ocupao geoeconmica e social que ocasionou desestruturao das atividades primrias,

tradicionalmente estabelecidas.

As reas destinadas ao desenvolvimento da agropecuria esto localizadas nos

pontos afastados do ncleo urbano, ao sul da cidade. Almeida (2005) informa que agricultura

e pecuria desenvolvidas no municpio so para subsistncia, principalmente na regio do

Olho Dgua, onde as caractersticas naturais e a comunidade indgena dos Pitaguaris impem

o tipo de ocupao.

O fato de Maracana ser municpio onde quase a totalidade da populao reside

na rea urbana ratifica o mencionado anteriormente. De acordo com Gomes (2013),

[] a taxa de urbanizao de Maracana uma das mais altas do estado, com

99,30% da populao residindo na cidade, o que impulsiona os efeitos de

aglomerao e densidade urbana, acentuando os fenmenos responsveis pela

dinamizao de sua economia (GOMES, 2013, pg 11).

Segundo dados do Censo Agropecurio do ano de 2006 de Maracana, h 180

estabelecimentos agropecurios cadastrados. H a criao de bovinos, equinos, asininos,

caprinos, sunos e aves. Tambm cultivo de lavouras de banana, cana-de-acar, feijo de cor

em gro, mandioca e milho em gro.

No que diz respeito ao extrativismo mineral, as atividades concentram-se na

explorao, sobretudo, ilegal cuja principal destinao a construo civil. O quadro abaixo

apresenta informaes sobre a extrao mineral (Quadro 4). Segundo Almeida (2005), a

atividade tem ocasionado problemas ambientais:

A demanda por material de construo, devido expanso de loteamentos, ocasionando o fenmeno da autoconstruo, acarreta a abertura de diversas lavras

clandestinas de areia ao longo dos leitos fluviais, provocando desequilbrio do

ambiente, com o desmatamento da vegetao ciliar de Carnaba, o avano de

ravinas, assoreamento dos rios, entre outros (ALMEIDA, 2005, pg. 49).

Quadro 4 - Extrativismo mineral em Maracana

Natureza da atividade Localizao Responsvel

39

Explorao de rochas

granticas para produo

de brita.

Poro noroeste da Serra

de Aratanha/Pacatuba.

Empresa Britaset.

Extrao de granito. Poro nordeste da Serra

de Maranguape.

Realizada ilegalmente por

moradores do bairro de Mucun.

Extrao de areia dos

leitos e margens de rios.

Rios locais,

principalmente o Rio

Maranguapinho.

Realizada ilegalmente por

moradores do bairro de Mucun.

Extrao de argila (barro

vermelho sedimentos

da Formao Barreiras).

Tabuleiro de Pajuara. Realizada ilegalmente por

moradores do bairro de Mucun.

Organizao: Prpria autora.

Fonte: Almeida (2005).

Identificaram-se, na pesquisa a existncia de duas pedreiras: uma prxima

Lagoa do Jaana e outra nas proximidades da Reserva Indgena dos Pitaguarys. Foto 2: a

pedreira em rea considervel degradada. Apesar da distncia do ponto de captura da foto 3,

em relao pedreira, visvel o contraste entre a rea ocupada pela pedreira e rea com

vegetao (Foto 3).

Foto 2 - Pedreira prxima Lagoa do Jaana

Fonte: Prpria autora.

40

Foto 3 - Pedreira prxima Reserva Indgena dos Pitaguarys

Fonte: Prpria autora.

4.2.2 Indstria

A inaugurao do Distrito Industrial ocorre no ano de 1967, com poucas

indstrias, e ocupao efetiva a partir da dcada de 1980. Sua instalao trouxe uma srie de

mudanas importantes, no meio fsico, social e econmico.

Nas dcadas seguintes, implantaram-se o DIF-III e o DI 2000: o DIF-III, em 1990

e o DI 2000, no ano 2000, com o intuito de absorver mo de obra do municpio. Sobre os

distritos industriais, Maracana (1998) afirma que

[] um distrito industrial consolidado, ocupando a posio de maior do estado do

Cear []. A sua produo destina-se tanto para o prprio estado, como para outros

estados brasileiros e o exterior. O segundo distrito industrial, ainda com

caractersticas de distrito industrial de Fortaleza (DIF III), ainda um distrito em

consolidao []. O terceiro, denominado de DI 2000, um distrito de iniciativa

municipal (MARACANA, 1998, pg. 17).

41

Atualmente, a atividade industrial representa 55,43% do PIB (Produto Interno

Bruto) do municpio (CEAR, 2012). Segundo Almeida (2005), a vocao industrial induzida

destaca Maracana como um dos municpios mais importantes do estado do Cear, em termos

econmicos e financeiros, possuindo a segunda maior arrecadao de ICMS (Imposto sobre

Circulao de Mercadorias e Servios) do Estado, tendo-se em vista deter o maior Distrito

Industrial do Cear. O 1 lugar em termos de arrecadao de ICMS pertence capital

Fortaleza.

De acordo com dados da prefeitura, o setor da economia gera 14.120 empregos,

entre os quais 9.010 destinados populao maracanauense. O restante de cargos ocupado

pelas pessoas de outras localidades, principalmente de Fortaleza.

Segundo dados obtidos no site Associao das Empresas do Distrito Industrial de

Maracana (AEDI), constam 79 estabelecimentos industriais cadastrados no I Distrito

Industrial. importante salientar, que entre 79 estabelecimentos, esto registrados

distribuidoras, armazns, transportadoras, entre outros. A seguir, foto de indstria de corte de

rochas decorativas do I Distrito Industrial de Maracana, na qual notvel a prtica da

queimada e a concentrao de lixo prximo cerca, indcios do descaso ambiental (Foto 4).

Foto 4 - Indstria de corte de rochas decorativas

Fonte: Prpria autora.

42

Em trabalho de campo no I Distrito Industrial possvel perceber indstrias e

galpes desocupados, bastante deteriorados. A seguir, quadro com indstrias do I Distrito

Industrial, bem como tipologias e quantidade (Quadro 5).

Quadro 5 - Indstrias presentes no I Distrito Industrial

TIPO DE

INDSTRIA

QUANTIDADE NOME DAS INDSTRIAS

Qumica 14 Agripec; Tecmix; Aganor Gases e Equipamentos; Asfaltos Nordeste LTDA; Big

Brilho; Cemec S/A; Ceras Johnson LTDA; CVC Cera Vegetal Cear LTDA;

Hidrotintas; Ipiranga Asfaltos SIA; Liquid. Carbonic do NE. SIA; M.M. Moreira

Ind.; Virkler do Brasil LTDA; Poliquimica S/A.

Txtil 13 Companhia Txtil do Nordeste; Cotece S/A.; Cotece S.A. (Ex Cotefor); Filati Txtil

SIA.; Fotex Industrial SAI.; Ibatex; T.B.M. S/A; Marcotex S/A; Tebasa Txtil

Baquit S/A; Txtil Unio S/A; Vicunha Nordeste Unidade V; Vicunha Nordeste

S/A; Pemalex SIA.

Metal-

Mecnica

12 Yoshida NE SIA; Armafer LTDA; Companhia Metalic do Nordeste; Companhia

Siderrgica belgo mineira (COOPERC); D.S.I. Irrigao, Indstria e Comrcio

LTDA; Daferro S/A; Durametal SIA; Gerdau SIA; Inapi; Metalrgica Bace Inox

Industrial LTDA; Tecnomecnica Esmaltec LTDA; Termsa Industrial SIA.

Confeco 7 BHS Nord LTDA; CiC Cia Indstria de Confeces (WEAVER); Diana

Paolucci; D.R. Langerie S/A; D.R. Lingerie Industria e Comrcio S/A; Norfabril;

Santista Txtil S/A.

Plsticos 7 Fortal Plast; Isoplast; C & L Ind. Com. Plsticos LTDA; Ceplal; Fort Line; New

plast Ind. Com Embalagens LTDA; IBAP S/A.

Alimentcia 5 Cotbs; Ibran; Noisa; Nordal; Pelgio Oliveira

Cermica 3 Cermica Santa Aliana do Cear; Companhia Eletrocermica do NE CELENE;

Cigrama.

Papel e

Celulose

3 Cobap; Facepa S/A; Pacel Papelo do Cear LTDA.

Bebida 2 Frevo; Norsa Refrigerantes.

Equip.

Eltricos

2 Inelsa; Vanroll S/A

Colches 1 Ind. Cearense de Colches

Couro 1 Bermas LTDA.

Raes 1 Agromix

Distribuidoras 9 Avon Cosmsticos LTDA; Capital Corporation; Celpex Pescado LTDA; Companhia

Nacional de Abastecimento Conab; Disbel LTDA; Frio Cear Armazns

Frigorficos; Linnix Cargo; I.T.C. LTDA; Lotran LTDA.

Organizao: Prpria autora.

Fonte: Associao das Empresas do Distrito Industrial de Maracana (AEDI).

De acordo com dados obtidos junto a funcionrios da Prefeitura de Maracana,

em maro de 2014 havia o total de 143 empresas em funcionamento, em trs distritos

industriais.

4.2.3 Comrcio e Servios

43

O setor de Comrcio e Servios o principal responsvel pela arrecadao de

ICMS no estado do Cear, porm, em Maracana aparece em segundo lugar, depois do setor

industrial.

Nos ltimos anos, a atividade terciria vem experimentando aumento de

importncia para a economia de Maracana, bem como para municpios vizinhos. Prova disto

a instalao no municpio do primeiro shopping Center da RMF, com exceo da metrpole

Fortaleza. A populao residente em municpios como Maranguape, Pacatuba, at mesmo de

bairros de Fortaleza faz compras em Maracana, movimentado assim o comrcio e dando-lhe

abrangncia e dinamismo (GOMES, 2013).

No obstante o crescimento e dinamismo, o setor encontra barreira no processo de

desenvolvimento: proximidade capital Fortaleza. Muitas pessoas continuam a se deslocar

at Fortaleza para compras.

Maracana (1998) assevera que, pelo fato de a expanso do setor tercirio

acontecer de maneira espontnea, no induzida como a atividade industrial, os entraves

impostos pela proximidade com Fortaleza podem ser superados. At mesmo porque em

Fortaleza vem ocorrendo o processo de descentralizao de atividades com o objetivo de

diminuio de gastos de tempo e dinheiro com deslocamento. Nos bairros perifricos, h

disponveis muitos servios antes s encontrados no centro da cidade. Maracana tambm se

encontrava na mesma situao de dependncia que os bairros, agora inserido no processo de

descentralizao.

Assim sendo, diz-se que o crescimento do setor de comrcio e servios reflexo

da atividade industrial. As indstrias dinamizam a economia de tal maneira que o setor

cresceu consideravelmente, diminuindo, assim, a grande dependncia da populao em

relao a Fortaleza.

4.3 ASPECTOS SOCIAIS

4.3.1 Caractersticas da populao

Maracana, quarto municpio mais populoso do Cear, possui caractersticas

singulares, no que diz respeito sua dinmica demogrfica, em virtude de vultoso

crescimento da populao que, nas dcadas (1970-1991), passou de 15.685 habitantes para

157.151. O considervel aumento populacional, em poucos anos, se deu devido construo

44

de grandes conjuntos habitacionais, fato detalhado anteriormente (MARACANA, 1998).

No ltimo Censo Demogrfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatstica), no ano de 2010, contabilizou-se um total de 209.057 habitantes, sendo 102.078

do sexo masculino e 106.979, do feminino. Quase a totalidade reside na rea urbana, o que

corresponde a 99,31% da populao, e somente 0,69% na rural.

O municpio apresenta populao predominantemente jovem, o que implica

ateno por parte do poder publico, na proposio e implementao de polticas capacitao

profissional e gerao de postos de emprego.

4.3.2 Sade

At 1996, o municpio apresentava um dos piores ndices do estado, no que diz

respeito a servios de sade: contava com apenas 17 unidades de sade a cada 100.000

habitantes, (MARACANA, 1998).

A partir de 1997, a Prefeitura Municipal de Maracana desenvolveu uma srie de

propostas e aes, no sentido de reverter a situao. O municpio vem, desde ento, tentando

desenvolver estratgia de Vigilncia Sade da Famlia, na perspectiva de melhoria da

qualidade de sade e de vida da populao.

A Secretaria da Sade do Estado do Cear (SESA), pelos dados divulgados pelo

IPECE no Perfil Bsico Municipal 2012- Maracana, informa haver 57 Unidades de Sade

Ligadas ao Sistema nico de Sade (SUS).

4.3.3 Educao

A 1 escola oficial de Maracana foi fundada em 1873, iniciando assim a histria

da educao. Nos primeiros anos de municpio oficial, o objetivo principal da prefeitura foi

investir no ensino fundamental: Em 1998, Maracana vislumbra a melhoria da qualidade do

ensino fundamental como garantia de uma cidadania plena e de uma elevao qualitativa da

educao (MARACANA, 1998, pg. 56).

Devido presena dos distritos industriais, h crescido a necessidade de maior

capacitao profissional da populao. A instalao do campus do Instituto Federal do Cear

(IFCE) e de faculdades importante para a qualificao profissional, proporcionando

melhoria, no que diz respeito ocupao de postos de trabalho e renda.

45

Quanto promoo da educao que propicie convivncia harmoniosa da

populao com o ambiente, destacam-se a aes e projetos das Secretarias de Educao e do

Meio Ambiente: Conferncia Infantojuvenil do Meio Ambiente voltada para alunos do Ensino

Fundamental do 6 ao 9 ano das escolas pblicas, povos indgenas, comunidades

quilombolas, povos de assentamentos, alm de crianas de rua; Projeto Cinema Ambiental

para estudantes da rede municipal de Ensino de Jovens e Adultos; Rede Maracanauense de

Educao Ambiental (REMAR); Poltica Ambiental de Educao Ambiental.

46

5 CARACTERIZAO AMBIENTAL

O municpio de Maracana integra a Regio Metropolitana de Fortaleza,

composta pelos municpios de Fortaleza, Caucaia, Pacatuba, Guaiba, Itaitinga, Aquiraz,

Eusbio, Maranguape, Cascavel, Chorozinho, Horizonte, So Gonalo do Amarante, Pacajus

e Pindoretama.

Maracana localiza-se nas coordenadas geogrficas:

Latitude: 34808 e 35612 S;

Longitude: 383239 e 384042 WGr.

Como se pode visualizar na figura 3: seus municpios limtrofes ao norte,

Fortaleza e Caucaia; ao sul, Maranguape e Pacatuba; ao leste, Pacatuba e Fortaleza e a oeste

municpios de Maranguape e Caucaia. Visualizam-se tambm locais importantes do

Municpio: Lagoa de Estabilizao, trs distritos industriais, CEASA (Central de

Abastecimento do Cear S/A), Aterro Metropolitano Sul, Centro Histrico, Colnia Antnia

Justa, Ptio Externo de Carga da Companhia Ferroviria do Nordeste e Maracana Shopping

Center.

47

Figura 3 - Localizao de Maracana

Fonte: Almeida (2005).

48

Maracana est prximo do litoral e de serras, com tnue diferenciao nas

caractersticas fsicas do restante da rea semirida do Cear. A caracterizao geoambiental

do municpio importante para conhecimento das dinmicas ambientais, bem como para

auxlio a gestores, no enfrentamento de desafios ambientais, decorrentes principalmente da

instalao e operao de indstrias, do grande adensamento populacional e da expanso da

rea urbana. Almeida (2005) assevera a importncia da realizao de tal caracterizao:

A caracterizao das condies geoambientais de determinada rea significativa no

sentido de proporcionar o reconhecimento dos processos de interao dos quadros

fsico, biolgico e cultural, de suas potencialidades e limitaes, revelando as

possibilidades de uso racional dos recursos naturais da referida regio (ALMEIDA,

2005, pg. 61).

Nos tpicos a seguir, as principais caractersticas de Maracana enquanto

ambiente. Os aspectos geolgicos, geomorfolgicos, hidrogrficos, climticos, pedolgicos e

de vegetao do esto apresentados de maneira sucinta.

5.1 GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA

De acordo com Souza (1988), os domnios geolgicos no estado do Cear so:

Domnio dos depsitos sedimentares cenozicos;

Domnio das bacias sedimentares paleo-mesozicas;

Domnio dos escudos e macios antigos.

Em Maracana, tem-se o domnio de depsitos sedimentares cenozicos e o de

escudos e macios antigos. O de depsitos sedimentares cenozicos representado pelas

feies morfolgicas das plancies e terraos fluviais, formas litorneas e tabuleiros. O

domnio de escudos e macios antigos evidencia a relao da morfologia com fatores

litolgicos e evidncias de flutuaes climticas Cenozocas (SOUZA, 1988).

Existem rochas do Complexo Granitoide-Migmattico datadas do Pr-

Cambriano no diferenciado que exibe, na periferia rochas foliadas, desde gnaisses/gnaisses

migmatizados at migmatitos metatexticos, no interior, apresenta migmatitos diatexticos e

ncleos granitides em pores centrais (BRANDO, 1995).

Segundo Almeida (2005), 16% da rea de Maracana, aproximadamente 13 km,

correspondem ao Tercirio, representado por materiais da Formao Barreiras, com principais

ocorrncias na poro nordeste do municpio.

49

H, no municpio, coberturas colvio-eluviais distribudas de forma irregular,

apresentadas como manchas ou ilhas que se assentam diretamente sobre terrenos cristalinos,

resultantes do intemperismo in situ ou com pequeno deslocamento gravitacional.

Almeida (2005) faz relato detalhado dos sedimentos do Quaternrio:

O Quaternrio (Qa) caracterizado por sedimentos mais recentes, exibindo-se tanto

atravs de sedimentos coluviais no noroeste do municpio, cobrindo cerca de 7,3 km

(9% da rea total), quanto pelas aluvies dos rios Timb (Lameiro) e

Maranguapinho, representando 15% da rea municipal (aproximadamente 12,3

km). O rio Timb corta o municpio a partir da poro centro-sul, seguindo para

nordeste, formando a divisa com o municpio de Pacatuba. Na poro oeste e norte

do municpio, encontram-se as aluvies do rio Maranguapinho, atingindo o limite

com o municpio de Fortaleza. H, ainda, os audes e lagoas que ocupam em torno

de 2% (1,7 km) da rea do municpio. A litologia dessa unidade composta

predominantemente por argilas, areias argilosas, areias quartzosas e quartzo

feldspticas (ALMEIDA, 2005, pg. 65).

As rochas presentes em Maracana so: migmatito, gnaisse, granito, calcrio

cristalino, xisto, entre outras. Exploram-se areia, argila e brita para atender a demanda da

construo civil. Nos rios Maranguapinho e Timb, a extrao de areia e argila se realiza ao

longo de margens e leitos. Na Serra de Aratanha/Pacatuba, faz-se a extrao mineral para

produo de brita e pedras de alvenaria (MARACANA, 1998).

A extrao ilegal de areia uma das vulnerabilidades do municpio. Segundo

ex-funcionrio da Secretaria de Meio Ambiente de Maracana, a extrao ilegal representou

grande problema enfrentado por esta secretaria. Nos anos de 2010 a 2012, caminhes e

retroescavadeiras foram apreendidos e mais de cinquenta e quatro prises efetuadas. Houve

at registro de morte na Fazenda Raposa, devido constante retirada de areia resultando em

desmoronamento.

No tocante Geomorfologia, o municpio se insere na rea de abrangncia dos

seguintes domnios geomorfolgicos:

Glacis de Deposio Pr-Litorneos;

Depresso Sertaneja;

Macios Residuais.

Brando (1995) assevera que os limites, entre domnios se estabelecem com

base na homogeneidade das formas de relevo, posicionamento altimtrico, estrutura geolgica

(tipos litolgicos), atividade tectnica e nas caractersticas do solo e da vegetao.

De acordo com autor supracitado, os Glacis de Deposio Pr-Litorneos esto

50

subdivididos em Tabuleiros pr-litorneos e Plancies fluviais. Os Tabuleiros pr-litorneos se

estendem para o norte do municpio, aps o contato com a Depresso Sertaneja.

Souza (2000) elenca as principais caractersticas dos Tabuleiros pr-litorneos:

Os Tabuleiros pr-litorneos ficam situados retaguarda do cordo de dunas,

contactando, sem ruptura topogrfica, com as depresses sertanejas. So

constitudos por sedimentos da Formao Barreiras e penetram cerca de 40 km, em

mdia. [] Tm altitudes que variam, normalmente, entre 30-50 m, raramente

ultrapassando ao nvel de 80 m. O conjunto da rea pr-litornea comporta-se como

um glacis de acumulao com declives variveis entre 2-5. A rede de drenagem

conseqente entalha o glacis de modo pouco incisivo, isolando interflvios

tabuliformes (SOUZA, 2000, pg. 22).

As plancies fluviais ao longo dos rios Timb e Maranguapinho, abrigam os

melhores solos e apresentam maior disponibilidade hdrica, nos sertes semiridos. Vale

salientar, que conforme Souza (2000), o municpio tem parte da rea inserida nos Sertes do

Chor/Pacoti.

Segundo Almeida (2005), a Depresso Sertaneja compreende o setor centro-sul

com altitudes de 40-100 metros. A topografia predominantemente plana ou levemente

ondulada. Sua morfologia se expressa por pedimentos que se inclinam desde a base dos

macios, com caimento topogrfico no sentido dos fundos de vales e do litoral.

Litologicamente compem-se por rochas do Complexo TamborilSanta Quitria.

Os Macios Residuais esto presentes na parte sudeste e noroeste,

respectivamente, Serra de Pacatuba/Aratanha e Serra de Maranguape. Constituem-se de

rochas grantico-migmatticas dissecadas em feies de topos aguados, relevos tabulares e

em forma de inselbergs. Atingem nveis altimtricos entre 700-800 m (BRANDO, 1995).

A figura 4 dos sistemas ambientais de Maracana elaborada por Almeida (2005)

ilustra aqui as subdivises de seus domnios geomorfolgicos.

51

Figura 4 - Sistemas ambientais de Maracana

Fonte: Almeida (2005).

52

5.2 CONDIES HIDROCLIMTICAS

As caractersticas climticas so influenciadas pela proximidade do litoral e

serras midas. De acordo com Cear (2012), o clima se classifica como tropical quente

submido, ndice pluviomtrico de 1399,9 mm, de janeiro a maio, e temperatura mdia entre

26 a 28C.

Principais sistemas atmosfricos que atuam sobre a regio Nordeste do Brasil que

influenciam o clima de Maracana so: Zona de Convergncia Intertropical (ZCIT), Frente

Fria, Vrtice Ciclnico de Altos Nveis (VCAN), Linhas de Instabilidade (LI), Complexos

Convectivos de Mesoescala (CCM), Ondas de Leste e massa Equatorial atlntica (mEa).

Segundo Nimer (1989), a Zona de Convergncia Intertropical ou ZCIT a

descontinuidade trmica resultante da convergncia de alsios de dois hemisfrios. Para

determinao dos totais de precipitao, no setor norte do Nordeste brasileiro, a ZCIT o

fator mais importante. A abundncia ou escassez de chuvas esto diretamente relacionadas

atuao.

Fenmenos ocenico-atmosfricos, tambm conhecidos como fenmenos

internos, que influenciam a rea em estudo: El Nio, La Nia e Dipolo do Atlntico. Estes trs

fenmenos influenciam a variabilidade anual das precipitaes.

H, em Maracana, lagoas, rios e riachos que constituem as guas superficiais. H

tambm aquferos e aquitardos na Formao Barreiras que armazenam gua e configuram

hidrologia subterrnea. As lagoas podem ou no ter contato com rios e riachos. O Mapa

Hidrogrfico possibilita a visualizao dos corpos hdricos em Maracana, bem como a rea

de abrangncia das sub-bacias dos Rios Cear e Coc (Mapa 3).

53

Mapa 3 - Mapa Hidrogrfico/Hidrolgico do municpio de Maracana, CE

Organizao: Prpria autora.

Fonte: SEMACE (2009), IPECE (2010), CPRM (2003/2011), RADAMBRASIL (1981), INPE (2012).

54

Segundo Maracana (1998), o municpio o divisor de guas entre as bacias

hidrogrficas dos rios Cear e Coc. Os principais corpos hdricos da bacia do rio Cear, tm

nascentes na serra de Maranguape: Rio Maranguape, Rio Siqueira, Lagoa do Jari, Lagoa Seca,

Lagoa do Maracana, Lagoa do Cgado (Jupaba), Lagoa da Raposa e Lagoa do Jaana.

Os corpos hdricos da bacia do rio Coc, presentes no municpio e com nascentes

nas serras de Munguba e Aratanha: rio Timb (Lameiro), Riacho da Boa Vista, Lagoa da

Pajuara, Aude Furna da Ona, Aude olho d'agua dos Pratas, Riacho Joo de Barro, Aude

Sunguelo e Aude de Santo Antnio do Pitaguari (MARACANA, 1998).

Conforme Almeida (2005), os regimes fluviais so tpicos de regies tropicais

semiridas, classificados como de natureza intermitente sazonal, devido s deficincias de

alimentao pluvial.

As guas subterrneas so limitadas, devido ao fato de o municpio compreender

terrenos do escudo cristalino. A gua penetra regies onde h cizalhamento. No municpio,

existem 120 poos registrados, do tipo tubular profundo, 27 pblicos e 93 privados. Todos os

poos tubulares esto em rochas cristalinas (ALMEIDA, 2005).

Brando (1995) relata a existncia de aquitardo que uma formao geolgica

que, com porosidade e permeabilidade baixas, transmite gua lentamente. O aquitardo assim

denominado por localizar-se na Formao Barreiras, no considerado aqfero.

Ao norte de Maracana e em parte da regio leste, prximo ao rio Timb, existem

guas acumuladas nos solos mais espessos que se consideram aquferos. Possuem

caractersticas hidrodinmicas muito variadas, em funo da variedade original das litologias

que os compem (MARACANA, 1998).

Almeida (2005) alerta para a necessidade de estudos a fim de que se tenha o

aproveitamento racional dos recursos hdricos:

Sabendo-se que o potencial de recursos hdricos do municpio deficiente (tanto de

superfcie, quanto de sub-superfcie) para o atendimento de suas necessidades e que

seu abastecimento realizado pela CAGECE (Aude Acarape do Meio, Micro-

Regio de Baturit), necessria a realizao de estudos para o aproveitamento

racional dos recursos hdricos no municpio e na RMF, tendo em vista a crescente

demanda de gua em funo da expanso urbana e da crescente instalao de

indstrias nos Distritos Industriais em Maracana (ALMEIDA, 2005, pg.87).

H considervel quantidade de corpos hdricos em destaque, devido sua modesta

dimenso territorial com 105,7 Km. Apesar de muitos, os corpos hdricos apresentam

qualidade comprometida, o que torna invivel uso de guas presentes em Maracana pela

55

populao, o que configura situao de vulnerabilidade ambiental. O Aude de Santo Antnio

do Pitaguary exemplo de situao de poluio. Os ndios praticamente no utilizam as guas

do aude, devido poluio. Ao assunto, d-se-lhe nfase no captulo 5.

5.3 ASPECTOS PEDOLGICOS E COBERTURA VEGETAL

De acordo com o Perfil Bsico Municipal 2012 de Maracana publicado pelo

Instituto de Pesquisa e Estratgia Econmica do Cear (IPECE), existem somente duas classes

de solos: Planossolo Soldico e Podzlico Vermelho-Amarelo (CEAR, 2012).

Porm Maracana (1998) afirma que, nas principais classes de solos, h pequenas

manchas de outras classes de solos: Bruno-no-Clcicos, Litlicos, Planossolos Soldicos,

Vertissolos e variaes do Podzlico. Afirma ainda que as reas de ocorrncias podem ser

exclusivas, como no caso dos solos Aluviais nas calhas das drenagens, ou difusas, como em

relao aos demais e Podzlicos, que sem dvida fazem a dominncia em rea de

afloramento (MARACANA, 1998, pg. 87). Figura 5: mapa com os tipos de solos

elaborado pela Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuria (EMBRAPA) (Figura 5).

56

Figura 5 - Mapa de solos do municpio de Maracana

Fonte: EMBRAPA (19??).

57

A EMBRAPA fez reviso do Sistema Brasileiro de Classificao dos Solos, no

ano de 1999, com o que classes de solos foram extintas e outras tiveram nomenclatura

alterada. Diante disso, para melhor entendimento de tipos e caractersticas de solos se faz

necessrio quadro comparativo entre a antiga e a atual nomenclatura dos solos (QUADRO 6).

Quadro 6 - Antiga nomenclatura e Classificao da EMBRAPA (1999)

ANTIGA NOMENCLATURA CLASSIFICAO EMBRAPA (1999)

Podzlico Vermelho-Amarelo Argissolo Vermelho-Amarelo

Bruno No-clcico Luvissolo

Solo Litlico Neossolo Litlico

Planossolo Planossolo

Vertissolo Vertissolo

Solos Aluviais Neossolo Flvico

Fonte: Prpria autora.

Fonte: EMBRAPA (1999) e BRASIL (2007).

Argissolo Vermelho-Amarelo, antigo Podzlico Vermelho-Amarelo tm como

caractersticas principais aumento de argila do horizonte superficial A para o subsuperficial B

do tipo textural (Bt) e boa diferenciao de cores e caractersticas. A profundidade dos solos

varivel: em geral, pouco profundos e profundos (BRASIL, 2007). Segundo Almeida (2005),

localizado nas partes mais elevadas das Serras de Pacatuba/Aratanha e Maranguape.

Luvissolo, conhecido por Bruno No-Clcico, caracteriza-se por conter grande

participao de minerais primrios. Possui alta fertilidade natural, argilas de atividade alta e

no hidromrfico. Na rea em estudo, associa-se morfognese da rea dissecada na

Superfcie Sertaneja (MARACANA, 1998).

Neossolo Litlico, anteriormente denominado Solo Litlico, constitui-se de

material mineral ou orgnico pouco espesso (menos de 30 cm) e muito susceptvel eroso,

58

com fertilidade natural varivel, podendo apresentar-se pedregoso. Encontram-se em altitudes

intermedirias das Serras de Maranguape e Aratanha/Pacatuba (MARACANA, 1998).

Planossolo situado-se a nordeste do municpio, em relevo plano e suavemente

ondulado. um solo mineral de composio predominantemente argiloso, imperfeitamente ou

mal drenado, com fertilidade natural varivel. (BRASIL, 2007). De acordo com Maracana

(1998), sua distribuio principal ocorre nas margens do rio Maranguapinho.

O Vertissolo um solo mineral com horizonte vrtico que pode ser profundo ou

pouco profundo. Solo frtil e bastante expressivo no semirido (BRASIL, 2007), pode ocorrer

em:

Os fundos de lagoas e pequena parte dos leitos mal definidos dos riachos so

ocupados por Vertissolos. Esses solos tambm avolumam-se s margens de

transbordamento dos corpos dgua, gerando as condies adequadas para o

desenvolvimento das matas de carnabas, que podem ser consideradas as plantas

smbolo do Cear, e que tambm esto quase sempre em associao s lavras de

argilas para o fabrico de materiais como telhas e tijolos, normalmente nas pores de

montante nos cursos dgua citados e seus afluentes principais, sendo destes, mais

conhecido, o rio Maranguapinho (MARACANA, 1998, pg. 89).

Neossolo Flvico, antigo Solo Aluvial, margem de rios e riachos, constitudo

por camadas sucessivas de material aluvionar e recobertos por vegetao de mata ciliar de

Carnaba, presentes em 15% da rea total de Maracana, ou seja, em 12, 3 km do municpio

(ALMEIDA, 2005). Segundo Brando (1995), so os solos

[] medianamente profundos a muito profundos, de texturas variadas, moderada a

imperfeitamente drenados e com pH entre moderadamente cido e levemente

alcalino. [] Possuem alta fertilidade natural, representando um importante

potencial agrcola, desde que sejam considerados os problemas de inundaes nos

perodos chuvosos (BRANDO, 1995, pg. 35).

No tocante vegetao, o municpio apresenta as seguintes unidades

fitoecolgicas: Vegetao de Tabuleiros; Floresta Caduciflia; Floresta Subcaduciflia

Tropical Pluvial ou Mata Seca; Floresta Plvio-Nebular Subpereneflia; Mata Ciliar de

Carnaba. Brando (1995) e Maracana (1998) acrescenta a estas unidades, a Caatinga. A

seguir, as principais caractersticas destes tipos de vegetao.

A Vegetao de Tabuleiros est em pores noroeste e nordeste do municpio, em

cerca de 5,3 km, o que corresponde a 6,5 % de rea. A vegetao caracterizada por possuir

59

porte predominantemente arbustivo, com menor perda de folhas na estiagem que as espcies

de Caatinga (ALMEIDA, 2005). As principais espcies que a compem, de acordo com

Maracana (1998), so: pau darco roxo (Tabebuia avellanedae), caraba (Tabebuia caraba),

arapiroca (Pithecellobium foliolosum), freij (Cordia trichotoma), angelim (Andira retusa) e

cajueiro (Anacardium occidentale). Conforme Souza (2000), a vegetao de tabuleiros

encontra-se bastante descaracterizada em relao s condies originais.

A Floresta Caduciflia a formao vegetacional de maior expresso espacial,

ocupando cerca de 17,3 km, equivalentes a 21,1 % da rea do municpio. o tipo de

vegetao da Depresso Sertaneja. Sua caracterstica principal ser de tipologia de transio

entre Floresta Subcaduciflia e a Caatinga. Exemplos de espcies da Floresta Caduciflia:

brana (Schinopsis glabra), jurema (Mimosa tenuiflora) e juazeiro (Zizyphus joazeiro)

(ALMEIDA, 2005).

A Floresta Subcaduciflia Tropical Pluvial ou Mata Seca est em pequenas

reas dos macios residuais de Aratanha/Pacatuba e Maranguape, em nveis inferiores e

vertentes de sotavento, com cerca de 2,8 km equivalendo a 3,4 % da rea municipal. a

vegetao de transio entre ambientes submidos a midos, apresentando seguintes espcies:

pau-darco-roxo (Tabebuia impertiginosa), urtiga-de-cip (Dalechampia pernambucensis) e

timbaba (Enterolobium contortiliquum) (ALMEIDA, 2005).

Floresta Plvio-Nebular Subpereneflia somente em pores mais elevadas das

serras de Pacatuba/Aratanha e Maranguape, e cobre pequena rea de 1,5 km. Seu porte

predominantemente arbreo, com espcies de maior porte e espacialmente mais denso.

Principais exemplares: pau-darco-amarelo (Tabebuia serratifolia), blsamo (Myroxylon

peruiferum) e ing (Inga bahiensis) (ALMEIDA, 2005).

A Mata Ciliar de Carnaba recobre, em algumas reas, totalmente as plancies

aluviais dos principais rios e, em outras, apenas parcialmente, abrangendo rea aproximada de

2,2 km. Ocorre, ainda, no entorno de lagoas e audes. Associado Carnaba, encontra-se

mulungu (Erythrina velutina), juazeiro (Zizyphus joazeiro) e a oiticica (Licania rgida).

importante salientar que a mata ciliar encontra-se bastante degradada, principalmente nas

proximidades de reas urbanas (ALMEIDA, 2005).

A Caatinga est presente em reas com condies ambientais mais severas, reas

que apresentam solos mais rasos com perodo seco mais prolongado e de maior intensidade.

60

Pode ser classificada em arbrea ou arbustiva, densa ou aberta. Principais espcies: jurema

(Mimosa hostile), catingueira (Caesalpina bracteosa), sabi (Mimosa caesalpinifolia),

marmeleiro (Croton sonderianus) e mandacaru (Cereus jamacaru) (BRANDO, 1995).

A retirada da vegetao para dar lugar construo de residncias e indstrias tem

sido crescente nas ltimas dcadas. Alm da modificao da paisagem, a supresso da

vegetao tambm implica aumento da temperatura local e aumento da concentrao de

poluentes do ar.

Freire e Mendes (2012), em estudo de anlise da cobertura vegetal de Maracana,

nos anos de 1991 e 2006, concluram que houve aumento de perda da cobertura vegetal, rea

de cerca de 800 ha, evidenciando, assim, a ampliao do desmatamento. Segundo o estudo,

isso se deve ampliao da zona urbana com a construo de conjuntos habitacionais. A

seguir, nmeros da pesquisa sobre perda de cobertura vegetal para o recorte temporal de 15

anos:

[...] a rea alterada apresentou um incremento passando de 46,41% para 54,03%,

enquanto que as reas inalteradas apresentaram um decrscimo de 51,41% para

43,67%. Portanto, para um perodo de 15 anos, a cobertura vegetal diminuiu 7,74%,

passando de aproximadamente 55.455917 Km (51,41%) em 1991 para 47.104763

Km (43,67%) em 2006. Isso ocorreu devido ao crescimento urbano sofrido pelo

municpio e pela presso exercida com o aumento populacional devido ao

cresc