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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO CUIDADOS CLÍNICOS EM ENFERMAGEM E SAÚDE DOUTORADO EM CUIDADOS CLÍNICOS EM ENFERMAGEM E SAÚDE ROBERTA MENESES OLIVEIRA COMPORTAMENTO DESTRUTIVO NO TRABALHO EM SAÚDE: ANÁLISE DE CONCEITO FORTALEZA CEARÁ 2015

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO CUIDADOS CLÍNICOS EM ENFERMAGEM

E SAÚDE

DOUTORADO EM CUIDADOS CLÍNICOS EM ENFERMAGEM E SAÚDE

ROBERTA MENESES OLIVEIRA

COMPORTAMENTO DESTRUTIVO NO TRABALHO EM SAÚDE:

ANÁLISE DE CONCEITO

FORTALEZA – CEARÁ

2015

1

ROBERTA MENESES OLIVEIRA

COMPORTAMENTO DESTRUTIVO NO TRABALHO EM SAÚDE:

ANÁLISE DE CONCEITO

Tese apresentada ao Curso de Doutorado do

Programa de Pós-Graduação Cuidados

Clínicos em Enfermagem e Saúde da

Universidade Estadual do Ceará, como

requisito parcial à obtenção do título de

Doutor em Cuidados Clínicos em Enfermagem

e Saúde. Área de Concentração: Cuidados

Clínicos em Enfermagem e Saúde.

Orientadora: Prof.ª Ph. D. Lucilane Maria

Sales da Silva.

FORTALEZA – CEARÁ

2015

2

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Universidade Estadual do Ceará

Sistema de Bibliotecas

Oliveira, Roberta Meneses.

Comportamento destrutivo no trabalho em saúde:

análise de conceito [recurso eletrônico] / Roberta

Meneses Oliveira. – 2015.

1 CD-ROM: il. ; 4 ¾ pol.

CD-ROM contendo o arquivo no formato PDF do

trabalho acadêmico com 221 folhas, acondicionado em

caixa de DVD Slim (19 x 14 cm x 7 mm).

Tese (doutorado) – Universidade Estadual do Ceará,

Programa de Pós-Graduação Cuidados Clínicos em

Enfermagem e Saúde, Doutorado em Cuidados Clínicos em

Enfermagem e Saúde, Fortaleza, 2015.

Área de Concentração: Cuidados Clínicos em

Enfermagem e Saúde.

Orientação: Prof.ª Ph.D. Lucilane Maria Sales da

Silva.

1. Comportamento destrutivo. 2. Enfermagem. 3.

Trabalho. 4. Atitude do pessoal de saúde. 5. Relações

interpessoais. I. Título.

3

ROBERTA MENESES OLIVEIRA

COMPORTAMENTO DESTRUTIVO NO TRABALHO EM SAÚDE:

ANÁLISE DE CONCEITO

Tese apresentada ao Curso de Doutorado em

Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde do

Programa de Pós-Graduação Cuidados

Clínicos em Enfermagem e Saúde da

Universidade Estadual do Ceará, como

requisito parcial à obtenção do título de

Doutora em Cuidados Clínicos em

Enfermagem e Saúde. Área de Concentração:

Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde.

Aprovada em: 30 de março de 2015.

BANCA EXAMINADORA

4

Dedico esta tese ao meu inesquecível Tio

Carlinhos (in memorian) e à minha amada

vovó Zilma (in memorian), por terem sido os

maiores incentivadores dessa pesquisa, e por

me fazerem acreditar nas relações

profissionais humanizadas e na segurança do

paciente.

5

AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo dom da vida, equilíbrio, paciência e saúde para superar os obstáculos que

apareceram nesta caminhada.

Aos meus pais, Carla e Mundinho, pela força e ajuda em todos os momentos da minha vida,

sobretudo naqueles mais difíceis. Por acreditarem em todos os meus projetos, principalmente

me dando o maior incentivo para meu crescimento pessoal e profissional.

Aos meus irmãos Germano e Samuel, e cunhadas Adriana e Michelli, pelos momentos

compartilhados nesta caminhada.

A Walter, meu namorado, pelo companheirismo, paciência e compreensão, e por cada palavra

de amor e incentivo.

Ao meu avô Chico Luiz, fonte de sabedoria e inspiração.

À Profª. Dra. Lucilane Maria Sales da Silva, pela sua orientação e por toda a contribuição

dada a este trabalho, e pelos momentos compartilhados durante a pós-graduação.

Aos Membros da Banca Examinadora, por terem aceitado o convite e disponibilizado o seu

tempo para contribuir com o aperfeiçoamento deste trabalho.

À professora Adriana Catarina, minha gratidão pela cuidadosa acolhida em Murcia, Espanha,

e pela amizade, trocas de experiências e de saberes e importantes sugestões para este trabalho.

À professora Rosario Gómez Sanchéz, por todo o ensinamento, o apoio e as valiosas

orientações na UCAM, as quais contribuíram para superar os obstáculos da língua e criar um

profundo respeito e admiração pelo campo teórico da Inteligência Emocional.

À professora Vilani Guedes, pelos momentos compartilhados desde a Graduação, e pelas

orientações fundamentais quanto à metodologia da pesquisa, pelo carinho e disponibilidade

com que aceitou fazer parte da banca examinadora desta tese, meus sinceros agradecimentos.

À Dra. Miriam Nóbrega, pelos ensinamentos sobre análise conceitual e pela disponibilidade

em fazer parte da banca examinadora.

Ao professor José Luiz Dias, pelos ensinamentos transmitidos sobre a Simulação Realística e

a Segurança do Paciente, e pela disponibilidade em gravar um vídeo para o caso modelo.

Aos professores da Simulação Realística da UCAM, por aceitarem participar na gravação do

caso modelo e pelos maravilhosos momentos compartilhados, meus sinceros agradecimentos.

Ao professores e funcionários da Pós-Graduação em Ciências Sócio-Sanitárias da UCAM,

pela generosa acolhida, pelos ensinamentos repassados e troca de experiências.

6

Aos meus tios e tias, em especial a Tia Penha, Tio Sérgio, Tia Vaninha, Tio Roberto, Tia

Valquíria, Tia Josélia e Tio Bira por sempre acreditarem em meu potencial e me incentivarem

da melhor forma.

Aos docentes, funcionários e colaboradores do Programa de Pós-Graduação Cuidados

Clínicos em Enfermagem e Saúde da Universidade Estadual do Ceará, por todo o suporte

dado durante esses três anos de Doutorado.

Aos meus queridos colegas da 1ª turma do Doutorado Acadêmico Cuidados Clínicos em

Enfermagem e Saúde, pela amizade construída, palavras de otimismo, pelos momentos felizes

e momentos difíceis que conseguimos superar juntos.

À minha amiga Renata Sampaio, por todo o suporte nos últimos três anos, pela amizade

traduzida em carinho e atenção constantes, principalmente nos momentos mais difíceis dessa

trajetória.

Às minhas amigas, em especial a Ilse, Aurora e Wladia, que sempre me incentivaram e

acompanharam nesta caminhada.

Aos membros do Laboratório de Pesquisas e Práticas Coletivas em Saúde – LAPPRACS, e do

Grupo de Pesquisa Políticas, Saberes e Práticas em Saúde Coletiva e Enfermagem, pelos

momentos e discussões compartilhadas ao longo dos últimos anos.

Aos acadêmicos de enfermagem Idalina, Luana, Yane, Mayula, Suzana, Perla, Bruno e

Hudson, e demais integrantes do Grupo de Estudos sobre Segurança do Paciente, pelo

envolvimento e incentivo nas pesquisas realizadas.

Aos médicos, enfermeiros e técnicos de Enfermagem do HGF, que colaboraram como sujeitos

desta pesquisa, através de seus depoimentos, suas experiências, me recebendo de forma

atenciosa, minha eterna gratidão.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, pelo apoio e

financiamento à pesquisa.

Àqueles que, porventura, eu tenha esquecido de citar o nome, minhas desculpas e meus

sinceros agradecimentos.

7

A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém

viu, mas pensar o que ninguém ainda pensou

sobre aquilo que todo mundo vê.

Arthur Shopenhauer

8

RESUMO

O processo de trabalho em saúde tem sido analisado sob diferentes perspectivas, e nesta

pesquisa foi abordado a partir da dimensão relacionada ao comportamento humano. Dentre os

vários comportamentos apresentados pelo trabalhador da saúde no ambiente de trabalho,

destaca-se o comportamento destrutivo, um conceito recentemente introduzido na literatura da

saúde. No Brasil, são escassos os estudos que se reportam a este assunto, apesar de ser um

fenômeno recorrente na prática diária dos trabalhadores de saúde. Em pesquisas

internacionais, este conceito tem sido utilizado como sinônimo de bullying, assédio moral,

violência lateral, comportamento abusivo, dentre outros. O objetivo deste estudo foi analisar o

conceito comportamento destrutivo no trabalho em saúde de acordo com a literatura e a

percepção de trabalhadores, com base no Modelo Híbrido de Desenvolvimento de Conceitos.

Para tanto, realizou-se pesquisa qualitativa fundamentada pelo referencial teórico-

metodológico do modelo híbrido em suas três fases: teórica, de campo e analítica final. A fase

teórica foi realizada mediante revisão integrativa da literatura nas bases de dados CINAHL,

LILACS, PsycINFO, PubMed e SciVerse Scopus, possibilitando identificar 70 artigos

científicos que responderam à questão norteadora e que favoreceram a identificação dos

atributos, antecedentes e consequentes do conceito. Em seguida, deu-se início à fase de

campo, que ocorreu no período de março a julho de 2014, no maior hospital da rede pública

de saúde do Ceará, com aplicação de entrevistas em profundidade e observação sistemática.

Foram entrevistados 29 trabalhadores de saúde de diferentes unidades assistenciais, incluindo

médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem. Os textos produzidos a partir da transcrição

das entrevistas e dos diários de campo foram submetidos à Técnica da Análise de Conteúdo

Temática, possibilitando as discussões dos resultados em duas categorias. Com base nas

convergências e divergências encontradas nos relatos dos entrevistados, nas observações e nos

achados da literatura, foram descritos um caso modelo e um caso contrário de comportamento

destrutivo no trabalho em saúde, e proposta uma definição para o conceito na fase analítica

final. A análise deste conceito permitiu evidenciar, na literatura e na prática, os pressupostos

da pesquisa, de que se trata de um problema real vivenciado pelos trabalhadores de saúde no

contexto hospitalar, com repercussões negativas e significativas sobre o desempenho e a

saúde da equipe, bem como sobre a segurança do paciente, ao deixá-lo mais susceptível a

riscos, erros e eventos adversos. Foi possível identificar seus principais atributos: incivilidade,

violência psicológica e violência física/sexual; com base na análise de condutas características

deste comportamento na prática. A falta de colaboração entre os colegas de trabalho; o não

9

cumprimento de normas, rotinas e protocolos organizacionais; a grosseria cotidiana; o

desrespeito sistêmico; as humilhações e as intimidações frequentes configuraram as condutas

características que representam o espectro de comportamentos destrutivos no trabalho em

saúde. Como antecedentes, destacaram-se as características de personalidade, o estresse e a

sobrecarga de trabalho. Como consequentes, sobressaíram-se o sofrimento moral e psíquico

dos trabalhadores, o comprometimento significativo da segurança do paciente, os prejuízos

laborais e o rompimento da comunicação, da colaboração e do trabalho em equipe.

Palavras-chave: Comportamento destrutivo. Enfermagem. Trabalho. Atitude do pessoal de

saúde. Relações interpessoais. Segurança do paciente.

10

ABSTRACT

The work process in healthcare has been analyzed from different perspectives, and this

research was approached from the dimension related to human behavior. Among the various

behaviors presented by the health workers in the workplace, it is evident the disruptive

behavior, a concept recently introduced in the literature of healthcare. In Brazil, there are few

studies related to this subject, although it is a recurring phenomenon in the daily practice of

health workers. In international research, this concept has been used as a synonym for

bullying, moral harassment, lateral violence, abusive behavior, among others. The objective

of this study was to analyze the concept of disruptive behavior in healthcare work according

to the literature and the perception of workers, based on the Hybrid Model of Concept

Development. Therefore, a qualitative study was developed based on the theoretical and

methodological framework of the hybrid model in its three phases: theoretical, fieldwork and

final analytic. The theoretical phase was carried out through integrative literature review in

CINAHL, LILACS, PsycINFO, PubMed and SciVerse Scopus databases, allowing identify 70

scientific articles that answered the guiding question and favored the identification of

attributes, antecedents and consequences. Then was started the field phase, which took place

from March to July 2014 in the largest public hospital of Ceará, with application of in-depth

interviews and systematic observation. Were interviewed 29 health workers of different health

care units, including doctors, nurses and nursing technicians. The texts produced from the

interview transcript and fieldwork diaries were submitted to the Thematic Content Analysis

Technic, enabling discussions of the results into two categories. Based on the similarities and

differences found in the reports of respondents in the observations and findings in the

literature, have been described a model case and an contrary case of disruptive behavior in

healthcare work, and proposed a definition for the concept in the final analytic phase. The

analysis of this concept has highlighted in the literature and in practice, the assumptions of the

research, that this is a real problem experienced by health workers in the hospital context,

with negative and significant effect on the performance and health of staff and on patient

safety, to make patients more susceptible to risks, errors and adverse events. It was possible to

identify the most important attributes: incivility, psychological violence and physical / sexual

violence; based on the analysis of the characteristics conducts of the disruptive behavior in

practice. The lack of collaboration between co-workers; non-compliance with norms, routines

and organizational protocols; everyday rudeness; systemic disrespect; humiliation and

intimidation frequently shaped the behavior characteristics that represent the broad spectrum

11

of disruptive behaviors in healthcare work. As background, stood out the personality traits,

stress and overwork. As consequential, highlights were the moral and psychological suffering

of workers, significant impairment of patient safety, labor losses and disruption of

communication, collaboration and teamwork.

Keywords: Disruptive behavior. Nursing. Work. Attitude of health personnel. Interpersonal

relationships. Patient safety.

12

RESUMEN

El proceso de trabajo de la salud ha sido analizado desde distintas perspectivas, y esta

investigación se aborda desde la dimensión relacionada con el comportamiento humano. Entre

los diversos comportamientos presentados por el trabajador de la salud en el trabajo, se

destaca el comportamiento destructivo, un concepto introducido recientemente en la literatura

de salud. En Brasil, hay pocos estudios que se refieren a este tema, a pesar de que es un

fenómeno que se repite en la práctica diaria de los trabajadores de salud. En la investigación

internacional, este concepto se ha utilizado como sinónimo de acoso moral, intimidación,

violencia lateral, comportamiento abusivo, entre otros. El objetivo de este estudio fue analizar

el concepto comportamiento destructivo en el trabajo sanitario de acuerdo con la literatura y

la percepción de los trabajadores, basado en el Modelo Híbrido de Desarrollo de Concepto.

Por lo tanto, se realizó estudio cualitativo con el marco teórico y metodológico del modelo

híbrido en sus tres fases: teórica, campo y análisis final. La fase teórica se llevó a cabo

mediante la revisión integradora de la literatura en las bases de datos CINAHL, LILACS,

PsycINFO, PubMed y SciVerse Scopus, lo que permitió identificar 70 artículos científicos

que respondieron a la pregunta guía y favorecieron la identificación de atributos, antecedentes

y consecuentes. Entonces se inició la fase de campo, que se llevó a cabo entre marzo y julio

de 2014 en el mayor hospital público de salud de Ceará, con aplicación de entrevistas en

profundidad y observación sistemática. Entrevistamos a 29 trabajadores de la salud de las

diferentes unidades de salud, incluyendo médicos, enfermeras y técnicos de enfermería. Los

textos producidos a partir de la transcripción de las entrevistas y de los diarios de campo

fueron sometidos a la técnica de análisis de contenido temática, lo que permitió la discusión

de los resultados en dos categorías. Con base en las similitudes y diferencias encontradas en

los informes de los encuestados en las observaciones y en la literatura, se han descrito un caso

modelo y un caso contrario del comportamiento destructivo en el trabajo de salud, y propuso

una definición para el concepto en la fase de análisis final. El análisis de este concepto

permitió evidenciar, en la literatura y en la práctica, las hipótesis de la investigación, que se

trata de un verdadero problema experimentado por los trabajadores de salud en el contexto del

hospital, con un efecto negativo y significativo sobre el rendimiento y la salud del personal y

la seguridad del paciente, por hacerlo más susceptible a los riesgos, errores y eventos

adversos. Fue posible identificar los atributos más importantes: incivilidad, violencia

psicológica y violencia física/sexual; basado en el análisis de las conductas características de

comportamiento destructivo en la práctica. La falta de colaboración entre los compañeros de

13

trabajo; el incumplimiento de las normas, rutinas y protocolos de la organización; rudeza

cotidiana; falta de respeto sistémica; la humillación y la intimidación frecuente representaran

el amplio espectro de comportamientos destructivos en el trabajo de salud. Como

antecedentes, se destacaron los rasgos de personalidad, el estrés y el exceso de trabajo. Como

consecuencias, se destacaron el sufrimiento moral y psicológico de los trabajadores, el

deterioro significativo de la seguridad del paciente, las pérdidas laborales y la interrupción de

la comunicación, de la colaboración y del trabajo en equipo.

Palabras clave: Comportamiento destructivo. Enfermería. Trabajo. Actitud del personal de

salud. Relaciones interpersonales. Seguridad del paciente.

14

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Principais referenciais teórico-metodológicos das pesquisas de

análise de conceito na Enfermagem....................................................... 33

Figura 2 – Principais componentes do modelo híbrido de análise

conceitual............................................................................................... 36

Figura 3 – Sumário do processo de levantamento nas bases de dados.................... 46

Figura 4 – Distribuição do total de artigos encontrados nas bases de dados

conforme o entrecruzamento dos descritores......................................... 48

Figura 5 – Problemas sistêmicos não resolvidos segundo os artigos

analisados............................................................................................... 66

Figura 6 – Principais prejuízos laborais gerados pelo comportamento destrutivo

no trabalho em saúde.............................................................................. 72

Figura 7 – Consequências do comportamento destrutivo para a segurança do

paciente segundo os artigos analisados.................................................. 74

Figura 8 – Estrutura conceitual do comportamento destrutivo no trabalho em

saúde: fase teórica.................................................................................. 76

Figura 9 – Sistemas de código gerados pela análise de conteúdo realizada no

software MAXQDA® e sua representatividade.................................... 96

Figura 10 – Estrutura conceitual do comportamento destrutivo no trabalho em

saúde: fase de campo.............................................................................. 160

Figura 11 – Estrutura conceitual do comportamento destrutivo no trabalho em

saúde: fase analítica final....................................................................... 169

15

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Atributos e condutas características do comportamento destrutivo no

trabalho em saúde segundo número de referências e artigos

analisados............................................................................................... 54

Quadro 2 – Características ou adjetivos atribuídos ao comportamento destrutivo

segundo número de referências e artigos analisados............................. 61

Quadro 3 – Antecedentes do comportamento destrutivo no trabalho em saúde

segundo número de referências e artigos analisados............................. 63

Quadro 4 – Consequentes do comportamento destrutivo no trabalho em saúde

segundo número de referências e artigos analisados............................. 70

Quadro 5 – Definições de comportamento destrutivo encontradas nos artigos

analisados, segundo autores, ano e variáveis enfatizadas...................... 78

Quadro 6 – Distribuição dos entrevistados segundo dados sóciodemográficos e

ocupacionais. Fortaleza, CE, mar-jul. 2014........................................... 90

16

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Distribuição das variáveis do estudo e sua frequência segundo

evidenciadas nos artigos analisados. n=70...................................

49

Tabela 2 – Distribuição dos temas centrais dos artigos analisados e sua

frequência.....................................................................................

51

Tabela 3 – Distribuição dos conceitos relacionados ao comportamento

destrutivo no trabalho em saúde e sua frequência de ocorrência

nos artigos analisados. n=70........................................................

52

Tabela 4 – Atributos e condutas características de comportamento

destrutivo relatadas pelos entrevistados. Fortaleza, CE, mar-jul

2014. n=29...................................................................................

114

Tabela 5 – Antecedentes do comportamento destrutivo no trabalho em

saúde segundo os entrevistados. Fortaleza, CE, mar-jul 2014.

n=29.............................................................................................

134

Tabela 6 – Consequentes do comportamento destrutivo no trabalho em

saúde segundo os entrevistados. Fortaleza, CE, mar-jul 2014.

n=29.............................................................................................

147

Tabela 7 – Distribuição dos atributos e condutas características de

comportamento destrutivo no trabalho em saúde segundo os 70

artigos científicos e as 29 entrevistas. Fortaleza, CE, 2013-

2014..............................................................................................

163

Tabela 8 – Distribuição dos antecedentes do comportamento destrutivo no

trabalho em saúde segundo os 70 artigos científicos e as 29

entrevistas. Fortaleza, CE, 2013-2014.........................................

164

Tabela 9 – Distribuição dos principais adjetivos atribuídos ao trabalhador

que adota comportamento destrutivo, segundo os 70 artigos

científicos e as 29 entrevistas. Fortaleza, CE, 2013-2014............

165

Tabela 10 – Distribuição dos consequentes do comportamento destrutivo no

trabalho em saúde segundo os 70 artigos científicos e as 29

entrevistas. Fortaleza, CE, 2013-2014.........................................

166

17

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AHRQ Agência de Pesquisa e Qualidade dos Cuidados em Saúde

AMA Associação Médica Americana

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

CINAHL Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature

EUA Estados Unidos da América

LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde

MESH Medical Subject Headings

OMS Organização Mundial de Saúde

SESA Secretaria de Saúde

SUS Sistema Único de Saúde

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UC Unidade de Contexto

UR Unidade de Registro

UTI Unidade de Terapia Intensiva

18

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................. 21

2 OBJETIVOS.................................................................................................. 31

2.1 OBJETIVO GERAL........................................................................................ 31

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.......................................................................... 31

3 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO.................................... 32

3.1 PRESSUPOSTOS DA ANÁLISE DE CONCEITO....................................... 32

3.2 MODELO HÍBRIDO DE ANÁLISE DE CONCEITO.................................. 35

3.2.1 Fase teórica..................................................................................................... 36

3.2.1.1 Seleção do conceito......................................................................................... 36

3.2.1.2 Revisão de literatura........................................................................................ 37

3.2.1.3 Aproximação do significado............................................................................ 38

3.2.1.4 Escolha de uma definição do conceito a ser trabalhada.................................. 38

3.2.2 Fase do trabalho de campo........................................................................... 38

3.2.2.1 Escolha do cenário........................................................................................... 38

3.2.2.2 Negociação da entrada..................................................................................... 39

3.2.2.3 Seleção dos casos............................................................................................ 39

3.2.2.4 Coleta e Análise dos Dados............................................................................. 40

3.2.3 Fase analítica final......................................................................................... 40

4 ANÁLISE DE CONCEITO: FASE TEÓRICA.......................................... 43

4.1 SELEÇÃO DO CONCEITO.......................................................................... 43

4.2 REVISÃO DE LITERATURA....................................................................... 43

4.2.1 Atributos do Comportamento Destrutivo no Trabalho em Saúde........... 53

4.2.2 Antecedentes do Comportamento Destrutivo no Trabalho em Saúde.... 62

4.2.3 Consequentes do Comportamento Destrutivo no Trabalho em Saúde.... 68

4.3 APROXIMAÇÃO DO SIGNIFICADO.......................................................... 77

4.4 ESCOLHA DE UMA DEFINIÇÃO DO CONCEITO A SER

TRABALHADA..............................................................................................

80

5 ANÁLISE DE CONCEITO: FASE DO TRABALHO DE CAMPO........ 82

19

5.1 ESCOLHA DO CENÁRIO............................................................................. 83

5.2 NEGOCIAÇÃO DA ENTRADA.................................................................... 83

5.3 SELEÇÃO DOS CASOS................................................................................ 84

5.4 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS............................................................ 85

5.4.1 Resultados...................................................................................................... 89

5.4.1.1 Perfil dos participantes.................................................................................... 89

5.4.1.2 Análise de conteúdo das entrevistas e das observações realizadas no

campo.............................................................................................................. 95

5.4.1.2.1 Categoria 1. Considerações sobre o trabalho em saúde: o dia a dia, os

dilemas éticos e os conflitos interpessoais....................................................... 96

5.4.1.2.2 Categoria 2. Comportamento destrutivo do trabalhador de saúde: condutas

características (casos), atributos, antecedentes e consequentes..................... 113

5.4.1.2.2.1 Condutas características e atributos do comportamento destrutivo no

trabalho em saúde........................................................................................... 113

5.4.1.2.2.2 Características ou adjetivos atribuídos ao comportamento destrutivo do

trabalhador de saúde....................................................................................... 132

5.4.1.2.2.3 Antecedentes do Comportamento Destrutivo.................................................. 133

5.4.1.2.2.4 Consequentes do comportamento destrutivo no trabalho em saúde............... 146

6 ANÁLISE DE CONCEITO: FASE ANALÍTICA FINAL........................ 162

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................ 174

REFERÊNCIAS............................................................................................ 178

APÊNDICES.................................................................................................. 190

APÊNDICE A – INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS: FASE

TEÓRICA........................................................................................................ 191

APÊNDICE B – QUADRO DE DISTRIBUIÇÃO DOS ARTIGOS

ANALISADOS SEGUNDO TÍTULO, AUTOR, ANO DE PUBLICAÇÃO,

TIPO DE ESTUDO, ENFOQUE E VARIÁVEIS CONTEMPLADAS........ 192

APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIDO (TCLE)............................................................................. 203

APÊNDICE D – ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA.............. 204

APÊNDICE E – ROTEIRO DE ENTREVISTA............................................ 205

APÊNDICE F – SÍNTESE DOS CASOS RELATADOS DE

COMPORTAMENO DESTRUTIVO NO TRABALHO EM SÁUDE

SEGUNDO EXEMPLOS, ANTECEDENTES, CONSEQUENTES E

20

TERMOS DEFINIDORES............................................................................ 206

ANEXO........................................................................................................... 217

ANEXO A – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA............ 218

21

1 INTRODUÇÃO

O interesse em pesquisar o comportamento destrutivo no trabalho em saúde surgiu

em 2010, ao iniciar os estudos sobre a segurança do paciente nas organizações de saúde, mas

também foi instigado ao longo da nossa trajetória acadêmica e profissional na Enfermagem.

A introdução nos campos de prática e a experiência do estágio supervisionado, no

último ano do curso de Graduação em Enfermagem, permitiram uma aproximação às questões

gerenciais e aos conflitos éticos envolvidos no processo de trabalho, em que determinadas

posturas de médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem causavam constragimento.

Tais posturas e relações interpessoais negativas foram também evidenciadas na

atividade profissional como enfermeira assistencial e na experiência como docente do Curso

de Graduação em Enfermagem de uma universidade pública, ao lançar um olhar crítico sobre

o processo de trabalho em saúde e, particularmente, na Enfermagem.

Esta avaliação crítica do processo de trabalho foi aprimorada ao longo da

realização do Curso de Mestrado em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde, e pela

inserção no Laboratório de Práticas Coletivas em Saúde (LAPRACS) e no Grupo de Pesquisa

Políticas, Saberes e Práticas em Saúde Coletiva, vinculados ao Curso de Graduação em

Enfermagem da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Esta atuação culminou com a

dissertação de Mestrado com enfoque no Gerenciamento do Cuidado, além de algumas

publicações nesta área e na área de Segurança do Paciente (BARROS et al., 2015;

OLIVEIRA et al., 2015; OLIVEIRA et al., 2014; OLIVEIRA et al., 2013).

Em 2009, durante a coleta de dados da dissertação, foram realizadas entrevistas

com médicos e enfermeiros cujos depoimentos sobre as dificuldades vivenciadas no

cotidiano da prática quanto às inter-relações e ao trabalho em equipe marcaram o interesse

em iniciar os estudos sobre o trabalho em saúde, o comportamento humano e suas

implicações para a segurança do paciente.

Paralelamente, ao desenvolver atividades profissionais como enfermeira

assistencial em hospital privado, eram observadas, diariamente, a negligência de alguns

profissionais, a intimidação frequente, o abuso verbal perante colegas de trabalho e pacientes,

bem como a subestimação de diagnósticos e cuidados necessários, o que parecia repercutir na

qualidade do atendimento.

Assim, determinados comportamentos claramente mostravam-se associados à

ocorrência de eventos adversos. Profissionais que se dedicavam aos seus pacientes, que

22

realizavam suas anamneses e destinavam um tempo ao contato com eles, eram mais

reconhecidos pelas suas habilidades técnicas e humanas, tanto pelo paciente, quanto pela

equipe de saúde. Por outro lado, havia profissionais que geravam desconforto na equipe, que

somente pelo fato de adentrar à unidade já causavam mal-estar, instabilidade psíquica e

insatisfação em muitos trabalhadores e pacientes. Esses profissionais assumiam uma postura

autoritária diante de todos à sua volta, falavam em tom agudo, arremessavam prontuários,

gritavam com os profissionais que ocupavam cargos inferiores aos deles, bem como

hostilizavam e ignoravam quaisquer oportunidades de comunicação efetiva.

A realidade mencionada gerou inúmeras inquietações. No trabalho e na pesquisa

era notável a necessidade de estudar as relações interprofissionais e a segurança do paciente

no serviço de saúde. Associava os discursos dos profissionais à prática diária e, finalmente,

às queixas dos pacientes e de colegas de trabalho sobre a negligência diante de aspectos

inerentes ao nosso exercício profissional.

A inquietação em investigar os comportamentos destrutivos no trabalho em saúde

surgiu, também, da experiência como enfermeira docente na área do gerenciamento. Nos

campos de prática, é comum os alunos questionarem as atitudes inapropriadas de médicos,

enfermeiros e trabalhadores de nível médio entre si e perante os pacientes nas ações de

cuidado.

Nesse contexto, foi possível iniciar os estudos sobre o processo de trabalho em

saúde, a qualidade da assistência e a segurança do paciente. Durante três anos (2010 a 2012),

a participação em simpósios internacionais fez crescer o interesse pela temática, e, em um

destes simpósios, chamou a atenção uma palestra intitulada: ―O fator humano e a segurança

em saúde‖. E foi a partir das reflexões geradas nesta palestra, aliadas à prática profissional e

acadêmica supracitada, que emergiu o interesse em analisar o conceito comportamento

destrutivo no trabalho em saúde.

Na busca de estudos sobre o tema, inicialmente, evidenciou-se uma problemática:

a grande maioria das pesquisas era internacional, desenvolvida por médicos norte-

americanos, havendo poucas referências nacionais que se aproximavam do objeto de estudo,

mas não abordavam o conceito de comportamento destrutivo propriamente dito.

Além disso, constatamos que havia inúmeras referências na literatura que

utilizam conceitos cujas características assemelhavam-se àquelas do comportamento

destrutivo no trabalho em saúde, tais como violência institucional, bullying e assédio moral.

Assim, consideramos uma dificuldade inicial: esclarecer e refinar o conceito. Surgiu,

23

portanto, a necessidade de analisá-lo de forma aprofundada, pela sua natureza

multidimensional e complexa.

A primeira e importante característica deste conceito, e que o distingue dos

demais, é a sua relação intrínseca com a grande área de estudos hoje reconhecida como

Segurança do Paciente. Até então, os estudos na área de violência no trabalho ou de assédio

moral no trabalho, além de serem escassos nas pesquisas sobre o processo de trabalho em

saúde, não faziam alusão à repercussão para o paciente, quando da ocorrência de violência

manifestada por trabalhadores de saúde.

Ademais, os estudos sobre violência institucional envolvem a violência perpetrada

pelo trabalhador contra o usuário dos serviços de saúde ou vice-versa. Diferentemente, o

comportamento destrutivo abrange as condutas adotadas pelo trabalhador e manifestadas

contra colegas de trabalho ou contra a organização de saúde em que atua.

A análise deste conceito possibilita, portanto, reconhecer causas, características e

consequências do fenômeno em estudo. Desse modo, é possível elucidar como o

comportamento destrutivo se manifesta; e suas repercussões para todos os envolvidos:

trabalhadores, pacientes e organizações.

Nesse contexto, o processo de trabalho em saúde configura-se como o cenário

propício para o estudo do conceito comportamento destrutivo, por envolver interações

multiprofissionais complexas. Trabalhadores que atuam em situações extremas de

morbimortalidade, de carência de estrutura adequada para funcionamento e resolução dos

casos, em um espaço de multipoderes estabelecidos.

Necessitou-se, portanto, aprofundar o estudo do comportamento humano no

trabalho, o que foi possível mediante a aproximação a alguns referenciais teóricos, como o da

Psicodinâmica do Trabalho. Esta disciplina se propõe a estudar o espaço que separa um

comportamento livre de um estereotipado, atentanto para o campo do sofrimento e do

conteúdo, da significação e das formas desse sofrimento no contexto do trabalho (DEJOURS,

1993).

O autor traz à tona a reflexão sobre as transformações ocorridas na relação homem

e trabalho, as quais, nos últimos anos, favoreceram e impulsionaram a compreensão das

diferentes formas de organização e de produção dos processos de trabalho em todos os

segmentos.

Na área da saúde, garantir um ambiente mais seguro e favorável ao trabalho e à

assistência, tanto para pacientes quanto para profissionais; melhorar o uso de recursos e

24

investir no desenvolvimento de uma gestão compartilhada são os maiores desafios das

políticas públicas.

O trabalho, como ação transformadora, tem sido analisado de diferentes modos,

considerando que se modificou, ao longo dos tempos, quanto às formas de trabalhar, à sua

conceituação, às formas de remuneração e aos sentidos que assume. Tomamos o trabalho

como um vetor complexo que exige analisá-lo de acordo com o que em nosso tempo o

presentifica, um misto que assume diferentes intensidades, nuances, formas, lógicas, a partir

das transformações sociais que o interpelam (MORSHEL; BARROS, 2014).

Conforme ensinou Marx, o trabalho se efetiva na condição do homem de

transformar sua natureza para atender a suas necessidades por meio de uma organização social

deste trabalho, a qual é historicamente determinada. Para o autor, o processo de trabalho:

é atividade orientada a um fim para produzir valores de uso, apropriação do natural

para satisfazer as necessidades humanas, condição universal do metabolismo entre o

homem e a natureza, condição eterna da vida humana e, portanto, independente de

qualquer forma dessa vida, sendo antes igualmente comum a todas as suas formas

sociais (MARX, 1985, Tomo I, p.153).

Por sua vez, autores afirmam que a reflexão crítica e contínua sobre o processo de

trabalho e sua transformação é característica marcante da humanidade e constitui parte central

do processo de desenvolvimento humano. O grau de dificuldade dessa reflexão aumenta com

a complexidade e com a indeterminação dos processos de trabalho: quanto mais complexo o

processo de trabalho e quanto menos sistematizado ele for, mais difícil será refletir sobre ele

(FARIA et al., 2009).

Na saúde, o processo de trabalho difere da prestação de serviços em geral, pois o

usuário não se porta como um consumidor comum diante da mercadoria. Desse modo, muitas

vezes é desprovido de conhecimentos técnicos e não detém informações necessárias para a

tomada de decisão sobre o que irá consumir: o cuidado (FRANCO; MERHY, 2012).

Pela sua natureza relacional, os produtos da saúde se realizam em ato, na relação

entre produtor e consumidor, caracterizando a centralidade do trabalho vivo. Mesmo que o

trabalhador desenvolva seu trabalho com altos graus de liberdade, exercendo efetivamente um

autogoverno do seu processo de trabalho, há também a adoção de práticas com base em

modelos de assistência que se constituíram como dispositivos de realização do mercado, e,

por este motivo, centrado no ato prescritivo, alto consumo de insumos e procedimentos

(FRANCO; MERHY, 2012).

Paralelamente, o processo de trabalho em saúde compartilha características

comuns com outros setores da economia, por estar marcado por uma direcionalidade técnica e

25

envolver o uso de instrumentos, tecnologias e força de trabalho. Em relação à incorporação

tecnológica, tem ocorrido outro diferencial no setor saúde, ou seja, a inclusão de tecnologia

avançada sem a redução dos postos de trabalho, diferentemente dos demais setores da

economia (MALTA; MERHY, 2003).

A rigor, afirma-se que, quanto mais tecnologia se incorpora às intervenções em

saúde, lançando mão de equipamentos sofisticados que atendam à lógica da maximização da

lucratividade, mais desvalorizado fica o trabalho humano, da escuta, do atendimento

personalizado, da interação entre quem adoece e quem cuida. Ademais, sabe-se que a atenção

à saúde é uma atividade complexa que exige a atuação de diversos agentes que agregam

diferentes formas de organização do processo de trabalho, de uso de tecnologias, de espaços e

ambientes de trabalho e de formas de interação com os usuários (SOUZA, 2010).

Nessa perspectiva, o agir em saúde depende do trabalho coletivo, e garantir a

articulação dos diversos profissionais na prestação da assistência é um grande desafio ao se

repensar o processo de trabalho em saúde a partir das competências exigidas e, dentre elas, as

relacionais.

As diretrizes curriculares nacionais dos cursos da área da saúde reiteram a

importância da formação superior propiciar competências e habilidades relacionais para o

trabalho em equipe multiprofissional e para garantir a integralidade da assistência. O trabalho

em equipe, necessidade colocada tão em evidência nas diretrizes curriculares dos cursos da

área da saúde, é um nó crítico encontrado nos serviços, pois os estudantes em formação

aprendem, com ênfase, uma prática predominantemente individualizada (ROSSONI;

LAMPERT, 2004).

Por outro lado, o processo de trabalho em saúde e na Enfermagem tem sido

avaliado e criticado em aspectos relativos a: gerenciamento do cuidado (CHRISTOVAM;

PORTO; OLIVEIRA, 2012); competências gerenciais (CUNHA; XIMENES NETO, 2006;

PERES; LOURENÇÃO; BENITO, 2010); qualidade da assistência e segurança do paciente

(OLIVEIRA et al., 2014; BELELA; PETERLINI; PEDREIRA, 2010; CLARO et al., 2011;

GOLVEIA; TRAVASSOS, 2010; QUES; MONTORO; GONZÁLEZ, 2010; RADUENZ et

al., 2010; YURI; TRONCHIN, 2010).

Existe, ainda, uma preocupação crescente em desmistificar a dicotomia entre o

gerenciar e o cuidar, devendo os profissionais de saúde, e, em específico, os enfermeiros,

serem formados e capacitados para a gerência do cuidado em sua prática clínica, o qual

envolve uma concepção teórica e dialética entre o saber-fazer gerenciar e o saber-fazer cuidar.

As ações de gerência do cuidado caracterizam-se por ações expressivas e instrumentais de

26

cuidado direto e indireto, pela articulação e interface dos aspectos técnicos, políticos e da

politicidade social; comunicativos; de desenvolvimento da cidadania e organizacionais

(CHRISTOVAM; PORTO; OLIVEIRA, 2012).

Em consonância a estas ações, acredita-se que a gerência do cuidado pode ser

utilizada como uma ferramenta de gestão para a garantia da segurança do paciente, definida

como a redução do risco de danos desnecessários associados aos cuidados de saúde a um

mínimo aceitável (RUNCIMAN et al., 2009).

Os estudos sobre segurança do paciente surgiram nos Estados Unidos da América

(EUA) a partir da publicação do relatório denominado ―To Err is Human: Building a Safer

Health System”, em 1999, que estimava 44 a 98 mil mortes de americanos em decorrência de

erros associados aos cuidados em saúde. A partir de então, a segurança do paciente tornou-se

o foco de uma política a ser implementada nos serviços de saúde, em todo o mundo, e um

aspecto primordial inserido nas discussões sobre a temática tratou-se do fator humano, bem

como do processo de comunicação e relacionamento interpessoal (WACHTER, 2013).

No Brasil, apesar da divulgação de que a prestação do cuidado em saúde é

insegura, os estudos sobre o tema somente surgiram nas duas últimas décadas. Divulga-se que

os principais motivos dessa insegurança diz respeito à falta de investimento na formação e no

preparo dos trabalhadores quanto a aspectos relativos a: gerência do cuidado, trabalho em

equipe, liderança, comunicação, pensamento crítico, práticas diárias de solução de problemas,

falta de valorização dos aspectos interacionais entre a equipe de saúde e desta com o usuário,

e prestação de cuidados sem embasamento teórico e/ou científico apropriado (HADDAD;

ÉVORA, 2008; RADUENZ et al., 2010).

Além disso, na prática, a abordagem tradicional dos erros associados aos cuidados

em saúde tem sido a de culpar o profissional que oferece atendimento direto ao paciente,

atuando no que, às vezes, é chamado de ―ponta‖ do cuidado. Durante a última década, tem

sido reconhecido que essa abordagem ignora o fato de que a maioria dos erros é cometida por

seres humanos, e que tais erros provavelmente não são prevenidos, advertindo as pessoas a ter

mais cuidado, envergonhando-as, demitindo-as, ou processando-as (WACHTER, 2013).

Estes aspectos também estão intimamente relacionados à satisfação do

profissional no trabalho, considerada, hoje, um indicador de qualidade na gestão de pessoas

(SIQUEIRA; KURCGANT, 2012).

Ao analisar criticamente a disposição dos trabalhadores de saúde para a realização

do trabalho e os aspectos que geravam satisfação e insatisfação no seu desempenho, autoras

encontraram que a insatisfação estava ligada às condições estruturais do serviço, aos

27

privilégios e à supervalorização do modelo biomédico da saúde. Concluíram que existem

fatores que estimulam o trabalho e outros que geram conflitos, tornando mais difícil a atenção

integral à saúde e comprometendo a autonomia e a satisfação dos trabalhadores (SILVA;

FRAGA, 2003).

Neste sentido, vê-se que o trabalho em saúde ocorre a partir de uma intensa

interação social que incorpora uma complexa gama de necessidades que envolvem o

trabalhador de saúde, os gestores e os usuários do serviço. Certamente, essa interação é

determinada pelas condições objetivas e subjetivas de trabalho que podem facilitar ou

dificultar os resultados da prestação dos serviços (SOUZA, 2010).

A força de trabalho em saúde tem a evidência da sua desvalorização traduzida

pelo processo de desregulamentação do trabalho que se expressa em problemas como: a

precarização, a desestruturação no planejamento dos serviços, a descontinuidade dos

programas assistenciais, a intensificação da jornada de trabalho pela adoção dos múltiplos

vínculos, as baixas remunerações, a alta rotatividade, a inadequação de pessoal e as precárias

condições de trabalho que comprometem uma intervenção qualificada e põem em risco a vida

dos usuários (SOUZA, 2010).

Ao analisar o trabalho de médicos e enfermeiros, pesquisadores constataram

relação significativa entre comportamentos inapropriados e traços comportamentais e

psicológicos preocupantes. Estas condutas levaram ao prejuízo nas relações de trabalho

evidenciado por intimidação, hostilidade, estresse, frustração, perda de foco, pobreza na

comunicação e redução de transferência de informação. Identificaram, ainda, que estes

atributos afetaram diretamente os resultados da assistência prestada ao paciente

(ROSENSTEIN; O‘DANIEL, 2005; ROSENSTEIN; O‘DANIEL, 2006).

Devido ao modelo biomédico hegemônico, tanto nas escolas de formação

profissional, quanto nas instituições hospitalares, os enfermeiros tendem a valorizar o

tecnicismo durante a assistência, desconsiderando, na maioria das vezes, os aspectos

individuais e emocionais do usuário (ANDRADE; VIEIRA, 2005), bem como de sua equipe.

Nos currículos médicos, por sua vez, a formação profissional humanista e

generalista não tem sido eficazmente estimulada, tampouco formando sujeitos crítico-

reflexivos. Necessita-se, então, além das mudanças pedagógicas e metodológicas na formação

do profissional em saúde, diversificar os cenários de ensino-aprendizagem na construção de

novos currículos e sujeitos (FERREIRA; SILVA; AGUER, 2007).

Portanto, percebe-se que há muito a ser feito para que haja uma formação que

permita maior aproximação e comunicação entre a equipe de saúde e o usuário. Sendo assim,

28

um dos desafios para os profissionais, no processo de trabalho em saúde, é aprender a escutar

o diferente, o singular, o dissenso e, também, a possibilidade de exercer um protagonismo.

Mas, ao mesmo tempo, reconhecer a sua relação com uma complexa rede de instituídos que

teima em reproduzir modos de construir relações que julgamos tão necessário e urgente mudar

(BERNARDES et al., 2007).

Diante destas considerações e no cerne das situações supracitadas, encontra-se o

comportamento destrutivo no trabalho em saúde. Rosenstein (2002, p.27) define

comportamento destrutivo como ―qualquer comportamento inapropriado, confronto ou

conflito, que vai desde o abuso verbal (gritos, intimidação, repreensão, desrespeito,

comportamento abusivo) ao assédio físico ou sexual, que pode impactar negativamente nas

relações de trabalho, na eficácia da comunicação, na transferência de informações e no

processo e resultados do atendimento‖.

Por sua vez, a Associação Médica Americana (AMA) define comportamento

médico destrutivo como "conduta, seja verbal ou física, que afeta ou que, potencialmente,

pode afetar negativamente o atendimento ao paciente‖. Explosões de raiva, comentários ou

opiniões por outros membros de uma equipe de saúde que são suprimidos pelo

comportamento intimidador, retaliação contra um membro da equipe de saúde que informou

uma violação de um código de conduta, e os comentários que enfraquecem a auto-confiança

de um profissional de saúde na assistência ao paciente são outros exemplos de

comportamentos destrutivos (JERICHO; MAYER; MCDONALD, 2011).

Rosenstein (2011), médico pioneiro no estudo da temática, identificou inúmeros

fatores relacionados a esse comportamento: fatores arraigados, como idade/geração, sexo,

cultura, etnia, experiências de vida, personalidade; fatores situacionais, experiências recentes

de vida, pressões ambientais, estresse/frustração, fadiga/burnout, depressão, abuso de

substâncias, distúrbios psiquiátricos; e respostas provocadas por discussões conflituosas.

Como consequências, comportamentos destrutivos podem gerar falta de

comunicação e causar eventos adversos. Estes são definidos como complicações indesejadas

decorrentes do cuidado prestado aos pacientes, não atribuídas à evolução natural da doença de

base, afetando em média 10% das admissões hospitalares e constituindo um dos maiores

desafios para o aprimoramento da qualidade na área da saúde atualmente (GALLOT, 2004).

Além disso, pesquisa do Instituto de Práticas Seguras em Medicação revelou que

7% dos mais de 2.000 profissionais de saúde foram envolvidos em um erro de medicação em

que a intimidação desempenhou um papel crucial (ISMP, 2004). Além disso, Rosenstein e

O'Daniel mostraram, em 2006, que a ocorrência de eventos adversos, erros médicos,

29

comprometimento da segurança do paciente e da qualidade, e mortalidade do paciente estão

ligados ao comportamento destrutivo.

Os resultados adversos do comportamento destrutivo também estão associados a

menor satisfação do paciente, falta de trabalho em equipe, aumento da rotatividade de pessoal

e redução da eficácia dos registros de saúde. Os gestores dos sistemas de saúde, por sua vez,

conhecem esta problemática, mas o comportamento destrutivo ainda é predominante nos

serviços (PASCAL, 2011).

Em se tratando de comportamento destrutivo na equipe de saúde, existem

publicações referentes ao bullying, à violência lateral (lateral violence), ao assédio moral e à

violência institucional, as quais, embora se aproximem do objeto de estudo, não retratam o

conceito de comportamento destrutivo a ser analisado nesta tese (FELBLINGER; 2008;

JOHNSTON; PHANHTHARATH; JACKSON, 2009; RCN, 2005; WALRATH; DANG;

NYBERG, 2010).

Diante das considerações apresentadas, delimitaram-se as seguintes questões

norteadoras do estudo:

a) Quais são os atributos do conceito comportamento destrutivo no trabalho em

saúde?

b) Que eventos contribuem para a ocorrência do comportamento destrutivo no

processo de trabalho em saúde no contexto hospitalar?

c) Existem implicações geradas diante da ocorrência do comportamento

destrutivo para o trabalhador de saúde, sua equipe e para a segurança do

paciente?

Percebe-se que o comportamento destrutivo é um conceito que articula o

comportamento humano, o processo de trabalho em saúde e a segurança do paciente. No

entanto, a existência de outros conceitos que são tratados como sinônimos de comportamento

destrutivo leva a dificuldades de abordagem e compreensão do fenômeno na prática.

Acrescentando-se às referidas questões, justifica-se a realização desta pesquisa

com a constatação de que a maioria dos estudos encontrados é proveniente de pesquisas norte-

americanas e de que inexistem publicações brasileiras abordando a análise do conceito

comportamento destrutivo no trabalho em saúde, principalmente devido à inconsistência ou

ao desconhecimento dos atributos relacionados a este conceito e, também, à dificuldade de

abordar o tema entre os envolvidos na prática.

30

Trata-se de um fenômeno multidimensional visto como temática proeminente do

ponto de vista do processo de trabalho em saúde, do gerenciamento do cuidado e da segurança

do paciente. Desse modo, a análise desse conceito, com elucidação de seus antecedentes e

consequentes, pode permitir a gestores e trabalhadores adotar estratégias que viabilizem o

progresso do cuidado em saúde, instituir critérios de avaliação de desempenho das equipes,

elaborar ferramentas para melhoria da comunicação e do trabalho em equipe, tendo como

foco o ideal ético no ambiente de trabalho.

A análise do conceito comportamento destrutivo no trabalho em saúde favorece,

ainda, uma ampla compreensão das características essenciais desse comportamento no

contexto da equipe de saúde, principalmente em nossa cultura e País, podendo viabilizar

novas formas de refletir e solucionar o problema na prática. Nesse contexto, conformaram-se

os seguintes pressupostos para esta pesquisa:

a) A adoção de comportamento destrutivo por profissionais de saúde, no

cotidiano do trabalho, põe em risco o cuidado prestado, pode provocar erros na

assistência ao paciente e comprometer o reconhecimento dos profissionais

diante deste e da equipe de saúde;

b) No ambiente de trabalho, o comportamento destrutivo ocasiona estresse,

frustração dos membros da equipe e, principalmente, prejuízo na qualidade da

assistência prestada;

c) São inúmeros os fatores associados (antecedentes) à adoção desse

comportamento por parte do profissional, dos quais muitos são visualizados no

cenário da prática, mas que merecem ser confrontados e elucidados;

d) Diante do estudo dos fatores associados ao comportamento destrutivo e de suas

implicações para o trabalho em saúde, concretizado ainda pela análise e

validação do conceito, é possível compreender o fenômeno na atual conjuntura

da saúde no Brasil, aprimorar o processo de trabalho, pensar propostas para

solucionar conflitos, considerar medidas para promover segurança no

atendimento, prover ações para aumentar a satisfação dos profissionais de

saúde e, consequentemente, melhorar a qualidade do atendimento.

e) Ao elucidar este conceito no contexto hospitalar os profissionais de saúde e

gestores poderão utilizá-lo para gerar reflexões, no processo de tomada de

decisão e na proposição de ações que possam promover diálogos e a boa

convivência dos profissionais no trabalho em saúde.

31

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Analisar o conceito comportamento destrutivo no trabalho em saúde de acordo

com a literatura e a percepção de trabalhadores, com base no Modelo Híbrido de

Desenvolvimento de Conceitos.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Identificar, na literatura, os atributos essenciais, os antecedentes e os

consequentes do conceito comportamento destrutivo no trabalho em saúde;

b) Verificar, em pesquisa de campo, se os elementos essenciais deste conceito

representam o fenômeno em análise, conforme vivenciado por trabalhadores de

saúde;

c) Comparar os resultados das etapas teórica e de campo, buscando convergências

e divergências no modo de se reproduzir o comportamento destrutivo no

processo de trabalho em saúde;

d) Conhecer as implicações do comportamento destrutivo no trabalho em saúde

para a segurança do paciente;

e) Propor uma definição para o conceito comportamento destrutivo no trabalho

em saúde;

f) Descrever um caso-modelo e um caso-contrário com o conceito de

comportamento destrutivo.

32

3 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

3.1 PRESSUPOSTOS DA ANÁLISE DE CONCEITO

Os conceitos são a base da ciência, considerados os menores elementos com os

quais se constroem as teorias científicas. Desse modo, definem os fenômenos a serem

estudados, bem como diferem uma ciência de outra; por isso, cada ciência tem seu próprio

conjunto de conceitos, que determina os campos de ação, os métodos, os temas, os objetivos e

os objetos de pesquisa (DAU, 2006).

É através do conhecimento dos conceitos fundamentais de uma ciência que se

pode compreendê-la, ou seja, sem conhecê-los é impossível entender com o que se está

trabalhando. Assim, a definição dos conceitos é fundamental na discussão científica, visto que

aquele que afirma e aquele que pergunta devem ter bem claro qual o significado do conceito

empregado (DAU, 2006).

Um conceito é uma palavra, porém não é como as utilizadas no cotidiano, cujo

significado é passageiro, móvel. No âmbito da Ciência, caracteriza-se por ter um único

significado claro, preciso e abstrato, que não resulta de preferências, de gostos e de anseios

individuais. O conceito pode ser compreendido a partir do próprio contexto em que se

encontra, não necessitando que o leitor invoque o auxílio de qualquer elemento extrínseco ao

texto (DAU, 2006).

A característica principal do conceito é a identificação dos elementos centrais do

que é estudado. Além disso, é preciso dizer que um conceito se refere não a um indivíduo, a

um caso único, a um fenômeno, mas a classes, a grupos, a relações. Pode-se afirmar que é

uma palavra que tem como características: universalidade (seu significado é válido, de igual

maneira, para todos os componentes da comunidade científica); necessidade (sua definição

não pode mudar de significado de acordo com os interesses dos cientistas); e objetividade (seu

sentido não depende das preferências individuais de quem fala) (DAU, 2006).

Por sua vez, autoras afirmam que ―a análise, o desenvolvimento, a síntese de

conceito e outros termos referem-se ao processo rigoroso de trazer clareza à definição dos

conceitos usados na ciência. A análise de conceito e o desenvolvimento de conceito são os

termos usados mais comumente na Enfermagem e são, em geral, aplicados ao processo de

pesquisa que examina os conceitos quanto ao seu nível de desenvolvimento revelado por

estrutura interna, uso, representatividade e relacionamento com outros conceitos‖ (WILLS;

MCEWEN, 2009, p.79).

33

Para Wilson (2005), a análise conceitual é, de pleno direito, um saber

especializado, com técnicas próprias, sem as quais não se podem abordar questões gerais – e,

de fato, nenhuma das perguntas que envolvam conceitos abstratos -, senão de modo confuso e

ineficaz; e que as técnicas podem ser ensinadas e facilmente aprendidas.

Certas disciplinas desenvolveram ou formularam seus métodos de análise de

conceito. Estes métodos são destinados ao esclarecimento e desenvolvimento dos próprios

conceitos, pois compartilham uma visão acadêmica de problemas conceituais e metodologia,

mas uma vez que são disciplina específica, eles também podem precisar de modificação antes

de se tornar aplicáveis a outros campos. Além disso, estes métodos não parecem ter

desenvolvido um aparato conceitual tão detalhado e uma abordagem sistemática para a

resolução de problemas conceituais como o trabalho de terminologia e a ciência tem fornecido

(NUOPPONEN, 2010).

A seguir, a Figura 1 reúne os principais referenciais teórico-metodológicos das

pesquisas de análise de conceito na área da Enfermagem.

Figura 1 – Principais referenciais teórico-metodológicos das pesquisas de análise de

conceito na Enfermagem

Fonte: Elaborada pela autora.

PRINCIPAIS REFERENCIAIS DE

ANÁLISE DE CONCEITO

Análise de Conceito

(Walker & Avant)

Modelo Híbrido de Desenvolvimento

de Conceito (Schwartz-Barcott

& Kim)

Desenvolvimento de Conceito

(Meleis)

Análise Evolutiva de

Conceitos (Rodgers)

Comparação de conceito

(Morse)

34

O Método de Análise Conceitual de Walker e Avant é o mais usado na

Enfermagem. Para as autoras, a análise de conceito é definida como um exame cauteloso e a

descrição de uma palavra ou termo, e seus usos, associada a uma explicação de outra palavra ou

termos relacionados. Inclui oito passos que servem para esclarecer o significado dos termos,

identificar os referentes empíricos e os atributos definidores, delinear os antecedentes e as

consequências. São casos construídos: modelo, limítrofe, relacionado e contrário (WALKER;

AVANT, 2005).

O Modelo da Análise Evolutiva de Conceito de Rodgers tem a finalidade de

refinar e esclarecer conceitos para uso na pesquisa e na prática. Para a autora, três distintos

aspectos de desenvolvimento de conceito são aparentes, e incluem a significância, o uso e a

aplicação do conceito. O método envolve cinco passos e a construção de um caso modelo,

apenas. Identifica-se um domínio apropriado (cenário e amostra), analisam-se os dados sobre as

características, são conduzidas comparações interdisciplinares ou temporais e identificam-se

hipóteses e implicações para estudo posterior (RODGERS, 1989).

Afaf Ibrahin Meleis (1997), uma enfermeira e socióloga proeminente, é uma

reconhecida teórica, pesquisadora e palestrante sobre os temas da saúde da mulher e

desenvolvimento, saúde imigrante, cuidados de saúde internacional e conhecimento e

desenvolvimento teórico. Descreveu três estratégias para desenvolver o significado conceitual

para uso na teoria, pesquisa e prática de enfermagem: a exploração, o esclarecimento e a

análise de conceito.

Seu modelo é intitulado Desenvolvimento de Conceito e tem por finalidades:

definição de conceitos teórica e operacionalmente, esclarecimento das ambiguidades e

relacionamento dos conceitos com os referentes empíricos. Realiza-se em sete etapas, com a

construção de casos modelos iguais ou semelhantes e modelos contrários (MELEIS, 1997).

Por sua vez, Janice Morse estabeleceu o Método de Utilidade Pragmática, com o

qual o pesquisador utiliza questões analíticas decorrentes da compreensão em profundidade da

literatura para sintetizar dados, para ir além dos limites de achados isolados e disciplinas

individuais, para identificar o conhecimento compartilhado, e para obter novos insights, linhas

de questionamento, e direção (MORSE, 2000).

Finalmente, descreve-se o Modelo Híbrido de Desenvolvimento de Conceito,

cujas finalidades e etapas configuram-se como as mais apropriadas à consecução dos objetivos

desta tese. A seguir, apresenta-se, com detalhes, o referencial adotado.

35

3.2 MODELO HÍBRIDO DE ANÁLISE CONCEITUAL

O Modelo Híbrido de Análise Conceitual, ou de Desenvolvimento de Conceitos,

foi apresentado por Swartz-Barcott e Kim (2000) e interliga análise teórica e observação

empírica, sendo composto de três fases que podem ser operacionalizadas de forma

progressiva, fase a fase, ou de forma simultânea:

a) Fase teórica (seleção do conceito, busca e revisão da literatura, definição

conceitual e operacional do conceito - instrumento de medida);

b) Fase de campo (integração da análise teórica às observações empíricas

referentes ao fenômeno no contexto em que se manifesta), que envolve o

estabelecimento do cenário do estudo, a seleção de casos, a coleta e a análise de

dados;

c) Fase analítica final, que compreende o cotejamento entre os dados resultantes

da fase teórica inicial e as observações empíricas, sendo o produto final a

apresentação da definição do conceito, bem como a identificação de lacunas

conceituais que direcionam o desenvolvimento de outras pesquisas.

Considerando, de modo particular, esse cotejamento entre os dados teóricos e

empíricos, Swartz-Barcott e Kim ressaltam que o seguinte questionamento pode orientar o

pesquisador: em que extensão a análise teórica e os achados empíricos apoiam a presença e a

frequência do conceito na população investigada?

Vários resultados podem ser obtidos a partir dessa análise: o significado atual do

conceito pode ser apoiado ou melhorado; uma definição diferente daquela previamente usada

pode emergir; o conceito pode ser completamente definido, incluindo seu modo de

mensuração.

O Modelo Híbrido surgiu em resposta às exigências, excitações e complexidades

por trás do desenvolvimento de cursos específicos para teoria e sua aplicabilidade prática na

Enfermagem (SWARTZ-BARCOTT; KIM, 2000).

A abordagem foi criada para garantir que:

a) Os conceitos selecionados para análise fossem integrais para a prática de

enfermagem;

b) A literatura revisada fosse ampla o suficiente para captar as semelhanças e

diferenças na conceitualização e uso do conceito entre as disciplinas;

36

c) O foco de análise seria os aspectos essenciais de definição e mensuração;

d) A análise de revisão de literatura seria fortemente integrada com a coleta de

dados empíricos da pesquisa na prática clínica.

Desse modo, o modelo desenvolvido faz uma interface entre a análise teórica e a

observação empírica, com enfoque nos aspectos essenciais de definição e mensuração.

O modelo híbrido envolve passos para identificar, analisar e refinar conceitos na

fase inicial do desenvolvimento de teorias e é mais aplicável às ciências aplicadas em geral e,

especificamente, à Enfermagem.

A Figura 2 apresenta os principais componentes do modelo híbrido.

Figura 2 – Principais componentes do modelo híbrido de análise conceitual

Fonte: Schwartz-Barcott; Kim (2000).

3.2.1 Fase teórica

Nesta fase, o principal foco é desenvolver uma base ou fundamento para as fases

subsequentes de análise em profundidade e refinamento do conceito. Desse modo, inclui as

seguintes etapas: a. seleção do conceito; b. revisão de literatura; c. aproximação do

significado; e d. escolha de uma definição do conceito a ser trabalhada.

Esta fase termina quando identifica uma definição de trabalho para a fase de

campo.

3.2.1.1 Seleção do conceito

O uso mais produtivo do modelo Híbrido tem sido aquele que inicia pelo uso de

um conflito procedente diretamente da prática clínica. Este conflito é usado, então, como uma

base para selecionar um conceito, o qual é fortemente associado à realidade empírica.

II

FASE

DE CAMPO

1. Escolha do cenário.

2. Negociação da entrada.

3. Seleção dos casos.

4. Coleta e análise dos

dados.

III

FASE

ANALÍTICA FINAL

Escrita dos resultados.

I

FASE TEÓRICA

1. Seleção do conceito.

2. Procura na literatura.

3. Aproximação do significado.

4. Escolha de uma definição do

conceito a ser trabalhada.

37

Os autores acrescentam que alguns dos melhores conflitos são aqueles

inesperados e que deixam a enfermeira sentindo-se frustrada, horrorizada, com raiva,

envergonhada ou aturdida.

Desse modo, considera-se o método aplicável ao desenvolvimento deste estudo,

por envolver o conceito de comportamento destrutivo no trabalho em saúde, o qual envolve

um fenômeno que emergiu da nossa prática clínica profissional e docente, configurando o que

as autoras determinam como conflito que advém da prática e da realidade empírica.

3.2.1.2 Revisão de literatura

Esta etapa inicia na fase teórica e continua na fase do trabalho de campo, quando é

expandida. Seu objetivo é obter um domínio e um conhecimento completo da literatura sobre

o conceito, adquirir uma compreensão profunda e entendimento de como tem sido usado em

torno das disciplinas e ao longo do tempo (SWARTZ-BARCOTT; KIM, 2000).

Tal entendimento exige ampla pesquisa sistemática, interdisciplinar, dirigida

inicialmente para compreender o significado do conceito e, em segundo lugar, para as várias

maneiras já medidas ou que possam vir a serem medidas.

Os autores sugerem algumas perguntas que promovem um direcionamento inicial

na busca:

1. Qual é a natureza essencial de um conceito?

2. Como pode a sua essência ser claramente definida?

3. Como o conceito pode ser desenvolvido de forma a melhorar a sua

mensurabilidade?

Como essas questões sugerem, a revisão inicial da literatura precisa ser focada em

questões centrais de definição e mensuração. O importante é captar os extremos de

conceitualização e o uso do conceito selecionado em torno das disciplinas. Em seguida,

depois que o pesquisador está na fase do trabalho de campo, o foco se desloca para os

elementos mais sutis de definição e mensuração.

Para identificar os diversos usos do conceito de comportamento destrutivo na

literatura científica, foi realizada uma revisão integrativa, descrita de forma detalhada, em

todos os seus passos, no capítulo referente à Fase Teórica.

38

3.2.1.3 Aproximação do significado

Uma vez que algumas definições são dadas, é preciso que o pesquisador volte o

olhar para os principais pontos de contraste e semelhança entre elas, em busca de uma

definição operacional do conceito, que deve ser trabalhada na fase de campo.

3.2.1.4 Escolha de uma definição do conceito a ser trabalhada

Uma vez que os principais pontos de acordo e desacordo entre as definições

existentes e entre estas e sua definição inicial tornam-se aparentes, uma definição é

selecionada ou gerada para posterior exame detalhado.

A seleção de uma definição que parece congruente com pensamentos iniciais

ajudará a manter uma perspectiva de Enfermagem. No entanto, a manutenção de uma postura

hesitante em relação a uma definição selecionada é necessária se o pesquisador permanecer de

mente aberta no processo de refinamento.

Para Wilson (2005), uma definição correta requer critérios rigorosos. Portanto,

deve ser mais clara que o que é definido, ser positiva e breve. Além disso, é preciso que a

definição se refira, se possível, à essência e não a propriedades ou características mais

superficiais; não retome o termo a definir (exemplo: um sistema linear é um sistema...); E não

seja negativa, ou seja, a definição deve, tanto quanto possível, delimitar afirmativamente a

realidade a definir.

3.2.2 Fase do trabalho de campo

Esta fase visa corroborar e refinar um conceito, estendendo e interagindo a análise

iniciada na primeira fase com observações empíricas.

No modelo híbrido, o foco está em um único conceito, identificado antes do início

do trabalho de campo e em uma definição e mensuração, ao invés da explicação. O prazo

mínimo para coleta de dados é de dois a três meses.

3.2.2.1 Escolha do cenário

O foco desta etapa é a seleção do local do trabalho de campo e a identificação das

questões principais para guiar essa fase de coleta de dados.

A seleção de um local é algo crítico para garantir uma perspectiva de

Enfermagem. Ao listar o espectro potencial da população ou situações de atendimento ao

paciente em que o conceito é esperado que ocorra, o pesquisador pode esclarecer elementos

39

centrais do estudo, bem como aumentar a generalização provável do conceito dentro da

Enfermagem.

Existem três critérios essenciais que devem guiar a seleção de uma população e

um cenário:

1. A probabilidade de observações frequentes do fenômeno em estudo;

2. A adequação da observação como método de coleta de dados empíricos;

3. A probabilidade de que o pesquisador será capaz de criar e manter um papel

de observador no cenário.

Em contraste com as fases anteriores e subsequentes deste modelo, uma

familiaridade extensa com um local específico pode atuar como um forte impedimento para

sustentar o papel de observador.

São aspectos a serem observados na fase de trabalho de campo: 1. Os elementos

definidores essenciais do conceito; 2. Os elementos diferenciadores que separam o conceito

central de conceitos semelhantes; 3. Os critérios de mensuração que podem ser desenvolvidos

para o conceito.

3.2.2.2 Negociação da entrada

Swartz-Barcott e Kim (2000) ressaltam a necessidade dos pesquisadores

considerarem a complexidade desse tipo de negociação, especialmente com organizações

altamente formais e complexas, como um hospital.

Os procedimentos metodológicos e resultados desta etapa encontram-se descritos

no capítulo referente à Fase do Trabalho de Campo.

3.2.2.3 Seleção dos casos

As decisões relativas a quem o pesquisador deve abordar e como concentrar

observações no campo dependem da unidade de análise em estudo e do grau de clareza e da

intersubjetividade encontrada na revisão inicial de literatura.

Um grande número de casos é desnecessário e indesejável com este modelo de

desenvolvimento de conceito. Cabe ressaltar que encontros únicos não permitem tempo

suficiente para reflexão e sondagem. A seleção de cada indivíduo, grupo ou unidade vai

depender do grau de clareza das definições adquiridas na fase teórica. Se os aspectos do

conceito estão relativamente claros, um ou dois indicadores podem servir como a base para a

seleção.

40

A partir daí, devem-se selecionar um caso modelo e um caso contrário referente

ao conceito analisado.

Segundo Wilson (2005), um caso modelo é ―...uma ocorrência que nos pareça,

sem dúvida alguma, exemplar; um caso daqueles em que se pensa ―Bem, se isso não é bom

exemplo de x...nada mais será‖ (WILSON, 2005, p.27). Já o caso contrário se pode definir

utilizando-se o método oposto, ou seja, considerando os casos e, que se possa dizer: ―bem,

seja lá o que for tal conceito, isto eu sei que não é.‖ (WILSON, 2005, p.29).

3.2.2.4 Coleta e Análise dos Dados

É indicado seguir um sistema de coleta, transcrição e análise dos dados para essa

etapa, com a combinação de observação e entrevista em profundidade. Isto facilita múltiplas

observações e reflexões aprofundadas, assim como proporciona um diálogo com os

participantes ao longo do tempo (SWARTZ-BARCOTT; KIM, 2000).

A coleta de dados inclui notas observacionais, notas teóricas e notas

metodológicas que guiam o pesquisador entre distintas possibilidades analíticas no momento

da transcrição (SWARTZ-BARCOTT; KIM, 2000).

As notas observacionais são frases sobre eventos experienciados principalmente

por meio de visão e escuta. Elas contém a menor e a mais confiável interpretação possível por

parte do observador. É o quem, o quê, quando, como e onde se deu o fenômeno e

identificação de quem disse ou fez o que sobre determinadas circunstâncias. Tais notas foram

descritas em um diário de campo.

As notas teóricas são usadas para ir além dos fatos. O pesquisador pode

interpretar, conscientemente, inferir ou especular sobre o possível significado da observação.

No modelo Híbrido, pode-se usar uma nota teórica para trazer definições e mensurações da

literatura para comparar e contrastar com os dados descritos nas notas observacionais. Já as

notas metodológicas incluem instruções ao pesquisador durante o processo de coleta dos

dados.

3.2.3 Fase analítica final

Nesta fase, as questões a seguir devem ser respondidas: Quão aplicável e

importante é o conceito para a Enfermagem?; A seleção inicial do conceito parece

justificada?; Em que extensão a revisão de literatura, a análise teórica e os achados

empíricos apoiam a presença e a frequência deste conceito na população selecionada para o

estudo empírico?

41

Relatar os resultados de uma análise segundo o modelo híbrido requer a

integração de duas tradições distintas de escrita: análise de conceito e trabalho de campo. A

melhor e única abordagem para a integração destas tradições tem sido a de enquadrar a

introdução e revisão inicial da literatura de acordo com o formato clássico de análise de

conceito e, em seguida, desenhar sobre estilos de escrita usados no trabalho de campo para

apresentar e integrar as observações empíricas com a revisão da literatura (SWARTZ-

BARCOTT; KIM, 2000).

42

―Há uns que nos falam e não ouvimos; há uns

que nos tocam e não sentimos; há aqueles que

nos ferem e nem cicatrizes deixam, mas há

aqueles que simplesmente vivem e nos

marcam por toda a vida.‖

(Hannah Arendt)

43

4 ANÁLISE DE CONCEITO: FASE TEÓRICA

Esta fase objetiva obter um domínio compreensivo da literatura ao lidar com o

conceito e adquirir um profundo alcance e entendimento deste, sobre como tem sido utilizado

em torno das disciplinas e ao longo do tempo. Tal compreensão requer uma busca sistemática

e interdisciplinar dirigida inicialmente ao entendimento do significado do conceito e,

secundariamente, às várias formas de ter sido ou poder ser medido (SCHWARTZ-

BARCOTT; KIM, 2000).

A seguir, apresenta-se os resultados desta fase inicial da análise de conceito

segundo o modelo híbrido, em suas respectivas etapas: seleção do conceito; revisão de

literatura; aproximação do significado; e escolha de uma definição do conceito a ser

trabalhada.

4.1 SELEÇÃO DO CONCEITO

Comportamento destrutivo é um constructo complexo, considerado um termo

abrangente aplicado a uma ampla gama de "maus comportamentos" que são relatados na

literatura de saúde.

Autores afirmam que a literatura recente reflete numerosos comportamentos

destrutivos, a maioria dos quais tem definições inconsistentes ou imprecisas. Assim, relataram

esta dificuldade conceitual, afirmando que não encontrararam nenhuma estrutura conceitual

na literatura de saúde que englobasse estes conceitos inter-relacionados de forma significativa

(WALRATH; DANG; NYBERG, 2010).

Portanto, selecionou-se este conceito para compor o objeto de estudo dessa tese,

diante de sua relevância para a compreensão do comportamento destrutivo de trabalhadores

de saúde e suas implicações para equipe, paciente e organização.

A análise deste conceito foi iniciada com uma ampla revisão de literatura, descrita

a seguir.

4.2 REVISÃO DE LITERATURA

A revisão inicial da literatura precisa ser focada em questões centrais de definição

e medição, com o objetivo de capturar os extremos na conceituação e o uso do conceito

selecionado em todas as disciplinas. Mais tarde, após o investigador ir para a fase de trabalho

44

de campo, o foco se desloca para elementos mais sutis de definição e medição (SCHWARTZ-

BARCOTT; KIM, 2000).

A referência de Ganong (1987) é sugerida pelas autoras do método para proceder

à revisão integrativa nesta etapa do estudo. Segundo este autor, revisões integrativas de

pesquisa são uma parte importante do processo de criação e organização de um corpo de

literatura, devendo ser realizadas com os mesmos padrões de clareza, rigor e replicação de

uma pesquisa primária. Para tanto, definiram-se alguns métodos para a realização de uma

revisão integrativa.

Embora estes métodos variem tanto quanto os métodos de uma pesquisa primária,

é possível intensificar etapas-padrão no processo de revisão. Estes passos são:

a) Formular o propósito da revisão e desenvolver questões relacionadas a serem

respondidas pela revisão ou hipóteses a serem testadas;

b) Estabelecer critérios preliminares para inclusão de estudos na revisão de tal

forma que, conforme os dados são recolhidos, critérios podem ser alterados

por razões de mérito ou metodológicas;

c) Realizar pesquisa bibliográfica tomando decisões de amostragem, se o número

de estudos localizados for grande;

d) Desenvolver um questionário com o qual se recolha dados a partir dos

estudos;

e) Identificar regras de interferência para serem usadas em análises de dados e

interpretação;

f) Revisar critérios para inclusão no questionário, conforme necessário;

g) Ler os estudos utilizando o questionário para coleta de dados;

h) Analisar dados de forma sistemática;

i) Discutir e interpretar dados;

j) Preparar um relatório da revisão da forma mais clara e completa possível.

A seguir, descreve-se a revisão integrativa realizada em seus passos.

Inicialmente, elaborou-se a seguinte questão norteadora para a busca dos

documentos nas bases de dados: Quais são os atributos, antecedentes e consequentes do

conceito de comportamento destrutivo no trabalho em saúde?

Para esta etapa de revisão, foram considerados na busca textos provenientes de

artigos de pesquisa original, revisão, reflexão teórica, teses e dissertações.

45

As palavras-chave para o levantamento dos artigos foram devidamente

identificadas no Portal Brasileiro de Informação Científica CAPES, por meio de acesso ao site

<http://periodicos.capes.gov.br>, nas bases da dados das terminologias em saúde: Descritores

em Ciências da Saúde (DeCS), através da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS-BIREME),

disponível em <http://decs.bvs.br>, e Medical Subject Heading (MeSH), através da

MEDLINE/PUBMED (via National Library of Medicine), disponível em:

<http://ncbi.nlm.nih.gov/mesh>.

No período de agosto a dezembro de 2013, a busca dos artigos foi realizada nas

seguintes bases de dados eletrônicas:

a) LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde): o

mais importante e abrangente índice da literatura científica e técnica da

América Latina e Caribe. Há 27 anos contribuindo para o aumento da

visibilidade, acesso e qualidade da informação em saúde na Região;

b) PubMed (serviço da U.S National Library of Medicine do National Institute of

Health): composta por mais de 23 milhões de citações para a literatura

biomédica do MEDLINE, revistas de ciências da vida, e livros on-line;

c) PsycINFO: base de dados extensa que reúne mais de três milhões de registros

de literatura revisada por pares em ciências do comportamento e saúde mental,

tornando-se uma descoberta ideal e ligando ferramenta para a pesquisa

acadêmica em uma série de disciplinas;

d) SciVerse Scopus: maior banco de dados de citações de literatura revisada por

parte do mundo, incluindo resumos e citações de artigos para jornais/revistas

acadêmicos. Abrange cerca de 18 mil títulos de mais de 5.000 editoras

internacionais, incluindo a cobertura de 16.500 revistas revisadas por pares nos

campos científico, técnico e de ciências médicas e sociais;

e) CINAHL (Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature): fornece

indexação de 2.928 periódicos científicos nos campos da enfermagem e

relacionados à saúde. Oferece cobertura completa de periódicos de

enfermagem em inglês e publicações da National League for Nursing e da

American Nurses‘ Association, abrangendo enfermagem, biomedicina,

biblioteconomia de ciências da saúde, medicina alternativa/complementar,

saúde do consumidor e 17 disciplinas ligadas à saúde;

46

Considerando o conceito em estudo, foram selecionadas as seguintes palavras

chave: Disruptive Behavior; Nursing (Enfermagem); Social Behavior (Comportamento

Social); Delivery of Health Care (Assistência à Saúde); Attitude of Health Personnel (Atitude

do Pessoal de Saúde); Interpersonal Relations (Relações Interpessoais); Interdisciplinary

Communication (Comunicação Interdisciplinar); Organizational Culture (Cultura

organizacional); Burnout, Professional (Burnout); Bullying; Workload (Carga de Trabalho); e

Patient Safety (Segurança do Paciente).

Tais palavras foram combinadas em suas diversas possibilidades de

entrecruzamento nos campos título, resumo e assunto, sempre considerando disruptive

behavior como o descritor-chave.

Como critérios de inclusão, definiram-se: (1) manuscritos publicados em língua

inglesa, portuguesa ou espanhola; (2) artigos que abordassem o conceito de comportamento

destrutivo no contexto do trabalho em saúde, sem delimitação de período de publicação ou do

tipo de estudo, e que respondessem à questão norteadora.

O fato de não delimitar o tipo de estudo justifica-se pela necessidade de

compreensão do fenômeno de forma abrangente, havendo interesse da pesquisadora em ter

acesso ao máximo de estudos que abordassem o conceito, seja do ponto de vista teórico-

conceitual, ou reflexivo, seja do ponto de vista empírico.

Os resultados desta busca encontram-se ilustrados na figura a seguir:

Figura 3 – Sumário do processo de levantamento nas bases de dados

Fonte: Elaborada pela autora.

Artigos identificados por meio de

triagem nas bases de dados

(n = 1730)

Excluídos da revisão após leitura dos resumos (n=1660)

Não examinava ou abordava especificamente o comportamento

destrutivo no trabalho em saúde = 1573

Duplicidade de artigo = 59

Resumo ou texto completo indisponíveis ou com resultados não

inclusos no artigo = 28

Artigos incluídos na revisão (n=70)

47

Dos 1730 artigos identificados, apenas 70 foram incluídos na amostra. Os artigos

que não respondiam à questão norteadora abordavam o conceito de comportamento destrutivo

em outras áreas, tais como gerontologia, saúde do adolescente e pediatria. Trata-se de outro

conceito utilizado nessas áreas para abordar comportamentos inapropriados de idosos com

demência em instituições de longa permanência, bem como as condutas destrutivas de

crianças e adolescentes no ambiente familiar ou escolar. Assim, esses artigos foram excluídos

da amostra no momento em que eram lidos seus resumos e identificadas suas áreas temáticas.

A Figura 4 apresenta os resultados do quantitativo de artigos localizados em cada

base de dados, conforme o intercruzamento dos descritores selecionados.

48

Figura 4 – Distribuição do total de artigos encontrados nas bases de dados conforme o

entrecruzamento dos descritores

Fonte: Elaborada pela autora.

Após selecionados, os estudos foram submetidos a uma leitura exaustiva e

compreensiva. Em seguida, informações relevantes foram extraídas para formar o corpus de

análise do conceito.

Elaborou-se, para tanto, um instrumento de coleta de dados (APÊNDICE A) com

o intuito de reunir as seguintes informações a serem extraídas dos artigos: Título, Objetivo (s),

Disruptive behavior

Burnout

1 PubMed

1 Scopus

0 PsycINFO

0 Lilacs

0 Cinahl

Disruptive behavior

Interpersonal Relations

11 PubMed

1 Scopus

0 PsycINFO

0 Lilacs

0 Cinahl

Disruptive behavior

Nursing

14 PubMed

6 Scopus

0 PsycINFO

0 Lilacs

0 Cinahl

Disruptive behavior

Organizational Culture

3 PubMed

3 Scopus

0 PsycINFO

0 Lilacs

0 Cinahl

Disruptive behavior

Social behavior

21 PubMed

2 Scopus

0 PsycINFO

0 Lilacs

0 Cinahl

Disruptive behavior

Bullying

0 PubMed

8 Scopus

0 PsycINFO

0 Lilacs

0 Cinahl

12 artigos

20 artigos

6 artigos

23 artigos

8 artigos

2 artigos

49

Autor (es), Tipo de publicação e método, Referência, Palavras-chave ou descritores (MESH) e

Área de concentração. Além disso, o instrumento continha um quadro em que as variáveis de

análise de conceito eram apreendidas dos artigos e reunidas de forma detalhada.

Em seguida, um quadro ilustrativo foi construído para distribuição e organização

dos 70 artigos segundo código (A1, A2, A3, ...), título, autor/ano de publicação, tema central

da pesquisa e variável de análise de conceito contemplada (APÊNDICE B).

Constatou-se que os artigos inseridos nesta revisão foram publicados no período

de 1999 a 2013, com um quantitativo expressivo de manuscritos sobre o tema no período de

2009 a 2013 (46 artigos). Este resultado demonstra que os estudos sobre comportamento

destrutivo cresceram de forma considerável a partir do ano 2000, o que coincide com o

mesmo período em que se iniciaram as pesquisas sobre segurança do paciente.

Em recente estudo que analisou pesquisas sobre assédio moral na Enfermagem, os

autores também identificaram um salto quantitativo em relação às publicações sobre o tema,

pois se observou que nos primeiros oito anos (2003 a 2010), foram encontradas apenas seis

publicações, contra doze nos últimos três anos (2008 a 2010). Estes dados evidenciaram o

aumento do interesse dos pesquisadores acerca do tema (FONTES; PELLOSO;

CARVALHO, 2011).

No que diz respeito às variáveis em estudo, a Tabela 1 representa o quantitativo

de artigos que abordaram definição, antecedentes, atributos e consequentes do conceito de

comportamento destrutivo no trabalho em saúde.

Tabela 1 – Distribuição das variáveis do estudo e sua frequência segundo evidenciadas

nos artigos analisados. n=70

Fonte: Elaborada pela autora.

Além das variáveis de análise de conceito segundo o modelo híbrido, foi possível

identificar exemplos de condutas destrutivas, categorias (padrões de comportamento

destrutivo) e estratégias para lidar com estes comportamentos por parte de gestores, líderes,

Variáveis f (%)

1. Estratégias para lidar com o comportamento destrutivo 63 (90,0)

2. Consequentes 59 (84,3)

3. Exemplos (casos e condutas características) de comportamento destrutivo 50 (71,4)

4. Atributos 49 (70,0)

5. Antecedentes 41 (58,6)

6. Definição 31 (44,3)

50

trabalhadores e organização. Tais variáveis estão analisadas ao longo das fases teórica e de

campo.

Percebe-se que a ênfase dos estudos esteve dirigida, em sua maioria, às estratégias

para lidar com o comportamento destrutivo (90%), seguida das consequências desse

comportamento para trabalhadores, pacientes e organizações (84,3%).

Um dado que chamou a atenção diz respeito ao fato de apenas 44,3% dos estudos

apresentarem alguma definição do conceito de comportamento destrutivo, o que justifica a

necessidade de sua análise.

Desse modo, verifica-se que muitos artigos abordaram o tema ao apresentar

causas, consequências e exemplos de comportamento destrutivo no trabalho em saúde, porém

não definindo este conceito.

No que se refere ao tipo de estudo, houve predominância de artigos de reflexão

teórica (24) e de atualização (21), seguidos dos estudos analíticos e transversais (14), estudos

qualitativos (4), relatos de experiência (3), pesquisa de intervenção/avaliação (2), revisão

sistemática (1) e estudo de caso (1).

Este é mais um dado que demonstra a necessidade de refinamento do conceito.

Evidencia-se como importante os estudos de revisão e atualização sobre o tema, pois chamam

a atenção para um conceito ainda pouco discutido na prática, mas de prevalência significativa

e de relevância no que diz respeito à cultura de segurança e à qualidade nas organizações de

saúde.

Quanto à categoria profissional dos autores dos artigos, predominaram estudos

desenvolvidos por médicos e enfermeiros publicados em periódicos médicos (38), seguidos de

Enfermagem (23) e outros (9) (Gestão em Saúde, Qualidade da assistência à Saúde, Tópicos

hospitalares, Segurança do Paciente).

Os periódicos médicos, por sua vez, eram das áreas de Obstetrícia e Ginecologia,

Medicina acadêmica, Medicina executiva, Gestão, Radiologia e Neurologia.

No que diz respeito aos enfoques temáticos, a Tabela 2 representa os resultados:

51

Tabela 2 – Distribuição dos temas centrais dos artigos analisados e sua frequência.

Tema central f (%)

1. Comportamento destrutivo e seu impacto na segurança do paciente e na qualidade

da assistência.

19 (27,1)

2. Comportamento médico destrutivo. 18 (25,7)

3. Gestão de comportamentos destrutivos. 11 (15,7)

4. Comportamento destrutivo na Enfermagem. 9 (12,9)

5. Comportamento destrutivo e relacionamento médico-enfermeiro no hospital. 8 (11,5)

6. Comportamento destrutivo no centro cirúrgico. 5 (7,1)

Total 70 (100,0)

Fonte: Elaborada pela autora.

Constata-se que os temas centrais permearam o impacto do comportamento

destrutivo na segurança do paciente, bem como a problemática em torno desse

comportamento entre médicos, trabalhadores de enfermagem e o relacionamento estabelecido

entre estas categorias profissionais. Ressaltam-se os estudos sobre a gestão desse

comportamento na prática, em que foram abordadas as estratégias adotadas por lideranças

para lidar com trabalhadores destrutivos.

Para análise do conceito, também foi imprescindível identificar os conceitos

utilizados, na literatura, como sinônimos de comportamento destrutivo. Tais conceitos

caracterizam-se como elementos diferenciadores, termo utilizado pelo modelo híbrido, que

significa aqueles conceitos que são utilizados como sinônimos ou confundidores do conceito

em análise.

A Tabela 3 apresenta estes conceitos relacionados segundo frequência de

ocorrência nos estudos incluídos na revisão.

52

Tabela 3 – Distribuição dos conceitos relacionados ao comportamento destrutivo no

trabalho em saúde e sua frequência de ocorrência nos artigos analisados. n=70

Fonte: Elaborada pela autora.

Verifica-se que diferentes terminologias e conceitos tem sido utilizados como

sinônimo de comportamento destrutivo, não havendo uma definição única que reúna um

conjunto de atributos específicos que a distingua dos demais conceitos. Foram frequentes os

estudos que utilizaram os conceitos de Bullying, Intimidação, Violência Horizontal/Lateral e

Comportamento Abusivo como sinônimos de Comportamento Destrutivo, o que justifica,

mais uma vez, a necessidade de análise deste conceito.

A seguir, apresentam-se os resultados da fase teórica que dizem respeito às

variáveis de análise de conceito estudadas: antecedentes, consequentes, atributos, definições;

além da variável que emergiu da revisão e que foi considerada de relevância para a análise

Conceito f (%)

1. Bullying 19 (27,1)

2. Intimidação 17 (24,3)

3. Violência Lateral/Horizontal 15 (21,4)

4. Comportamento Abusivo 14 (20,0)

5. Incivilidade 12 (17,1)

6. Comportamento Inapropriado 12 (17,1)

7. Comportamento Não-profissional 10 (14,3)

8. Mau comportamento 7 (10,0)

9. Assédio moral 6 (8,6)

10. Comportamento Hostil 6 (8,6)

11. Comportamento Negativo 5 (7,1)

12. Comportamento Desrespeitoso 3 (4,3)

13. Comportamento Grosseiro 3 (4,3)

14. Violência no ambiente de trabalho 3 (4,3)

15. Comportamento inaceitável 3 (4,3)

16. Comportamento agressivo 3 (4,3)

17. Comportamento passivo-agressivo 3 (4,3)

18. Destruição no ambiente de trabalho 3 (4,3)

19. Comportamento ameaçador 2 (2,8)

20. Comportamento problemático 2 (2,8)

21. Comportamento prejudicial 1 (1,4)

22. Comportamento revoltante/escandaloso 1 (1,4)

23. Reputação destrutiva 1 (1,4)

24. Sofrimento moral 1 (1,4)

25. Comportamento maladaptativo 1 (1,4)

26. Comportamento não emocionalmente inteligente 1 (1,4)

27. Comportamento passivo 1 (1,4)

28. Conduta destrutiva 1 (1,4)

29. Drama no ambiente de trabalho 1 (1,4)

30. Comportamento descortês 1 (1,4)

31. Comportamento divisível 1 (1,4)

32. Comportamento depreciativo 1 (1,4)

33. Comportamento disfuncional 1 (1,4)

34. Impairment 1 (1,4)

35. Comportamento anormal 1 (1,4)

53

final do conceito: categorias e condutas características de comportamento destrutivo no

trabalho em saúde.

4.2.1 Atributos do Comportamento Destrutivo no Trabalho em Saúde

Os atributos são palavras ou expressões utilizadas com frequência pelos autores

para descrever as características do conceito (RODGERS, 1989).

Esta revisão integrativa possibilitou realizar um estudo aprofundado sobre as

características e os elementos essenciais do conceito de comportamento destrutivo, na medida

em que eram apresentados em cada artigo analisado. Para este estudo, as condutas destrutivas

relatadas na literatura foram submetidas à categorização e análise minuciosa, que

possibilitaram a classificação dos atributos do comportamento destrutivo em três padrões:

Violência Psicológica, Incivilidade e Violência Física/Sexual.

Com esta categorização, é possível afirmar que o conceito Comportamento

Destrutivo no Trabalho em Saúde representa um constructo teórico, ou seja, uma construção

mental ou síntese feita a partir da combinação de vários atributos, que representam um

espectro de comportamentos que vão desde o menos grave (incivilidade) ao mais grave

(violência física e sexual).

O Quadro 1 apresenta as condutas características do comportamento destrutivo

adotado por trabalhadores de saúde, segundo sua classificação e ocorrência nos artigos

analisados. Ao todo, foram encontradas 321 referências destas condutas nos 70 artigos

analisados, sendo 198 de Violência Psicológica, 94 de Incivilidade e 29 de Violência

Física/Sexual.

54

Quadro 1 – Atributos e condutas características do comportamento destrutivo no

trabalho em saúde segundo número de referências e artigos analisados

Fonte: Elaborado pela autora.

ATRIBUTOS/

Condutas características de

comportamento destrutivo

NÚMERO DE

REFERÊNCIAS

ARTIGOS

VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA

Humilhar o colega de trabalho

publicamente. 47

A4, A11, A15, A18, A23, A32, A36,

A39, A40, A42, A43, A47, A48, A51,

A53, A56, A60, A61, A62, A64, A69

Agir ou falar com grosseria/Gritar. 31

A2, A3, A4, A5, A7, A10, A11, A13,

A15, A18, A23, A32, A36, A42, A47,

A49, A53, A64, A65, A69

Intimidar. 26

A3, A7, A11, A15, A21, A22, A23,

A35, A40, A42, A43, A52, A53, A56,

A57, A61, A65

Usar linguagem abusiva. 22

A15, A22, A23, A25, A32, A35, A39,

A40, A42, A49, A50, A52, A54, A58,

A60, A61, A65, A69

Arremessar objetos, instrumentais

ou prontuários. 17

A1, A7, A13, A18, A30, A32,

A40, A43, A48, A50, A52, A53,

A65, A69

Gerar fofocas, brigas, sabotagem,

traição. 16

A6, A15, A18, A2 A31, A32, A45,

A60, A61

Fazer observações e exibir atitudes

discriminatórias. 13

A13, A14, A23, A25, A31, A32,

A35, A40, A48, A52, A69

Reter informações para prejudicar o

colega. 6

A15, A18, A51, A52, A61, A69

Ameaçar. 6 A18, A23, A61, A69

Outras. 14 A13, A15, A18, A31, A32, A40,

A45, A64, A69

INCIVILIDADE

Manifestar explosões de raiva. 16 A1, A10, A14, A15, A18, A30, A32,

A40, A42, A49, A52, A69, A70

Desrespeitar o colega de trabalho. 14 A3, A4, A7, A15, A18, A24, A40,

A51, A52, A56, A69

Fazer comentários hipercríticos ou

depreciativos acerca da

organização.

13

A6, A7, A8, A13, A15, A23, A30,

A35, A40, A48, A52, A56

Relutar ou recusar-se a responder a

perguntas e/ou retornar ligações. 12

A7, A10, A13, A15, A18, A23, A30,

A35, A40, A48

Descumprir normas, rotinas e

protocolos organizacionais. 12

A13, A15, A18, A36, A40, A48, A56,

A63

Recusar-se a executar tarefas

atribuídas ou exibir atitudes que

não cooperam durante as atividades

de rotina.

10

A10, A18, A30, A40, A47, A51, A52,

A69

Agir indelicadamente, não ouvir,

ignorar o colega de trabalho. 5

A14, A18, A23, A56, A69

Outras. 12 A18, A40, A52, A61, A64, A69

VIOLÊNCIA FÍSICA OU SEXUAL

Assédio Sexual. 15 A13, A15, A23, A25, A30, A32, A35,

A40, A48, A52, A64, A65, A69

Violência física. 14 A13, A15, A21, A23, A25, A30, A32,

A35, A47, A48, A51

55

Verifica-se que a maior parte das condutas características de comportamento

destrutivo, segundo os artigos analisados, esteve concentrada nos atributos Violência

Psicológica e Incivilidade, o que também foi encontrado em outras pesquisas sobre o tema

(KAPLAN; MESTEL; FELDMAN, 2010; WALRATH; DANG; NYBERG, 2010).

Analisando as experiências de enfermeiras assistenciais com comportamento

destrutivo nos EUA, pesquisadores encontraram a ocorrência deste comportamento em todos

os contextos de prática e entre uma grande variedade de profissionais de saúde. Um total de

168 comportamentos destrutivos diferentes foram identificados e, em seguida, sintetizado em

21 categorias. Dentro destas categorias, três temas ou padrões de comportamento destrutivo

surgiram: incivilidade, agressão psicológica e violência (WALRATH; DANG; NYBERG,

2010). Tais padrões são os mesmos trabalhados nesta tese.

Dentro desses três temas, a maioria dos comportamentos destrutivos descritos

pelos participantes dos grupos focais, no estudo dos referidos autores, foi categorizada como

agressão psicológica; e menos comportamentos foram categorizados como incivilidade ou

violência.

Para os autores (WALRATH; DANG; NYBERG, 2010), estes conceitos estão

assim descritos:

a) Incivilidade no ambiente de trabalho: comportamento desviante de baixa

intensidade, que viola normas do ambiente de trabalho para o respeito mútuo,

podendo ou não ter a intenção de prejudicar o alvo, não ameaça fisicamente o

alvo, e pode transcender a hierarquia organizacional.

b) Agressão psicológica: comportamentos ativos ou passivos que

intencionalmente infligem danos psicológicos ao alvo. Três categorias de

comportamentos destrutivos, neste tema, foram: fofocas, intimidação e

comportamento passivo-agressivo. Um participante informou que "a

bisbilhotice é enorme. . . [Ele] pode ser bastante maligno e muito vingativo. As

pessoas querem sair e correr para longe por causa da intensidade. Você não

pode desfazer o impacto da fofoca na unidade.‖

c) Violência: formas físicas, ativas e diretas de comportamento agressivo. Uma

enfermeira descreveu um incidente "em rondas em uma manhã, quando o

[médico assistente] ficou tão excitado e jogou uma caneta que saltou fora do

prontuáro e por pouco não atingiu o rosto de outro médico. [Desde então] tem

uma história tão longa deste [tipo de comportamento] que as rondas

continuaram. Foi como se nada tivesse acontecido. Outro exemplo de violência

56

física incluía uma situação em que dois membros da equipe começaram uma

briga na unidade, sobre quais eram suas responsabilidades de trabalho,

resultando em empurrões a tal ponto que foi preciso chamar a segurança.

Em outra pesquisa, Kaplan, Mestel e Feldman (2010) categorizaram o

comportamento destrutivo em três tipos:

a) Comportamento desrespeitoso: incivilidade, adotando a mesma definição do

estudo anterior (comportamento desviante de baixa intensidade que viola normas

do ambiente de trabalho para o respeito mútuo), caracterizada por grosseria,

constrangimento público, sarcasmo, impaciência com perguntas, comentários

inapropriados sobre a atuação na frente dos outros, demorar ou recusar a atender

ligações ou responder a mensagens baseadas em questões de relacionamento

interpessoal, e insinuar acusações ao invés de ser direto;

b) Comportamento desrespeitoso (intimidação ou bullying): bullying definido

como forma persistente de hostilidade. Caracterizado por linguagem abusiva,

ameaças de retribuição ou litígio, insultos persistentes sobre a atuação do colega,

repreensão dos colegas, humilhar subordinados, ameaçar arruinar a carreira se o

comportamento for relatado, e atacar os outros aleatoriamente;

c) Mau comportamento: comportamento inaceitável que requer políticas e

procedimentos formais. Demonstrado por meio de ameaças de violência ou

violência atual, abuso físico, assédio sexual incluindo comentários vulgares ou

sexuais sugestivos ou explícitos, observações discriminatórias incluindo insultos

raciais, étnicos ou religiosos, risco imediato à segurança, saúde ou bem-estar dos

pacientes e atividade criminal.

O Bullying, conceito tão comumente empregado para designar os comportamentos

destrutivos no trabalho, foi definido por estudo como comportamento repetitivo, que ocorre a

um mínimo de duas vezes por semana; comportamento a longo prazo, que continua para uma

mínimo de seis meses; e que ocorre em situações onde a pessoa(s)-alvo(s) acha difícil de se

defender e parar o abuso (GROGAN; KNECHTGES, 2013).

Para os autores, o bullying é manifestado por aqueles profissionais que batem de

frente com os colegas, rompendo com a harmonia dos membros da equipe, menosprezando os

pacientes nas suas caras, berrando alto, ameaçando a todos, espalhando sarcasmo e

insinuações sarcásticas, chegando atrasado dia após dia, furiosos, mau humorados,

arremessando instrumentos cirúrgicos, sabotando compromissos, reuniões, zombando dos

57

administradores, insultando seus colegas, recusando-se a responder chamadas, estragando-se

com bebida ou drogas, violando limites sexuais (GROGAN; KNECHTGES, 2013).

Observa-se que esta definição abrange uma ampla gama de condutas

características de violência psicológica, pondendo, portanto, ser inserida neste padrão de

comportamento destrutivo.

Outro estudo abordou o comportamento destrutivo como uma modalidade de

desrespeito no ambiente de trabalho (LEAPE et al., 2012). A pesquisa classificou o

comportamento desrespeitoso nos seguintes padrões:

a) Comportamento destrutivo;

b) Tratamento humilhante de enfermeiros, residentes e estudantes;

c) Comportamento passivo-agressivo;

d) Desrespeito passivo;

e) Tratamento desdenhoso de pacientes; e

f) Desrespeito sistêmico.

Para os autores, ações características de comportamento destrutivo incluem

ataques de raiva, ameaças verbais, gritar, berrar, e a ameaça ou imposição de força física

injustificada. Ter um acesso de raiva, jogar objetos e quebrar coisas, assim como qualquer

contato físico indesejado de natureza sexual. Pode ser dirigido a qualquer um - enfermerias,

colegas médicos, residentes, estudantes de medicina, técnicos de enfermagem,

administradores hospitalares e membros de sua família.

Comportamento destrutivo inclui, ainda: linguagem profana, desrespeitosa,

ofensiva ou abusiva; argumentos altos ou inapropriados; comentários depreciativos ou

intimidaçao; expor/envergonhar os outros por resultados negativos, e grosseria simples

(LEAPE et al., 2012).

As violações dos limites físicos e assédio sexual estão nesta categoria, assim

como os comentários negativos gratuitos sobre os cuidados de outros médicos e julgamentos

graves ou censura dos colegas ou pessoal da equipe na frente dos pacientes, visitantes, ou

outros funcionários. Também estão incluídos o bullying; comentários insensíveis sobre a

condição médica, aparência ou situação de um paciente; e piadas ou comentários sobre raça,

etnia, religião, orientação sexual, idade, aparência física, ou status socioeconômico ou

educacional (LEAPE et al., 2012).

Quanto ao tratamento humilhante de enfermeiros, residentes e estudantes,

discutiu-se que muito mais comum do que as formas brutais de comportamento destrutivo são

58

estes padrões de tratamento degradante ou humilhante dos subordinados, em particular dos

enfermeiros, residentes e estudantes de medicina (LEAPE et al., 2012).

Os estudantes de medicina, na parte inferior da hierarquia de equipe de

atendimento ao paciente, são muito vulneráveis ao desrespeito do corpo docente, funcionários

do serviço, enfermeiros e outros, por meio de agressões verbais ou físicas, rebaixamento,

humilhação, assédio, intimidação e exploração, ou simplesmente por serem ignorados

(LEAPE et al., 2012).

Desrespeito também pode ocorrer na sala de aula pré-clínica ou laboratório, mas é

mais comum na prática clínica, como serviços hospitalares ou clínicas. Estudantes mulheres

são mais vulneráveis do que os homens (LEAPE et al., 2012).

O Comportamento passivo-agressivo inclui recusar a cumprir tarefas ou fazê-las

numa intenção de incomodar os outros. Indivíduos passivo-agressivos saem de seu caminho

para fazer os outros parecerem mal, fingindo inocência, não obedecem/seguem acordos, e

deliberadamente atrasam em responder a chamadas, cobrindo os atrasos com desculpas. Eles

costumam fazer comentários negativos sobre sua instituição, hospital, grupo ou colegas. As

características definidoras de agressão passiva são raiva oculta, negativismo, e intenção de

causar dano psicológico (LEAPE et al., 2012).

Já o Desrespeito Passivo é mais comum. Consiste em uma série de

comportamentos não cooperativos que não são malévolos ou enraizados em raiva reprimida.

Seja por causa da apatia, esgotamento, frustração situacional, ou por outros motivos,

indivíduos passivamente desrespeitosos estão cronicamente atrasados nas reuniões,

respondem lentamente às chamadas, não conseguem prescrever ou fazer notas operacionais

em tempo hábil, e não trabalham colaborativamente ou cooperativamente com os outros. Eles

resistem a seguir práticas de segurança, tais como a desinfecção das mãos, listas de

verificação, e "time-outs", mesmo quando a lógica tem sido suficientemente descrita. Eles

podem recusar-se a participar nos esforços de melhoria da qualidade, ou, se o fizerem, eles

são jogadores da equipe indiferentes ou fracos. Todos estes comportamentos são

manifestações de desrespeito para os outros, para a instituição, e para pareceres de

especialistas.

No que diz respeito ao Tratamento desdenhoso de pacientes, os dados de

incidência são escassos, mas as evidências crescem na forma de histórias de pacientes em

relação ao tratamento degradante e desrespeitoso pelos médicos. Os pacientes podem

descrever esse tratamento em diversas maneiras: "Ele me trata como um idiota", "Ele me faz

sentir como se eu estivesse tomando o tempo dele", "Ela não retorna minhas ligações", "Eles

59

me ignoram nas visitas. ―Eles falam sobre mim, mas não para mim ", ou," Era claro que ele

não gosta de pessoas que fazem perguntas‖. Não só tal comportamento viola a obrigação

fundamental do médico para dar apoio e cura, como também pode ser devastador para o

paciente já apreensivo (LEAPE et al., 2012).

Tratamento de desprezo e humilhações não se limitam aos pacientes. Alguns

médicos tratam os enfermeiros, estudantes, residentes e até mesmo colegas com desdém,

tornando a comunicação e a colaboração impossível. No entanto, devido os pacientes serem

tão dependentes do médico para o seu bem-estar, eles são especialmente vulneráveis ao

tratamento desdenhoso (LEAPE et al., 2012).

Finalmente, o desrespeito sistêmico manifesta-se por meio da aceitação do

desrespeito como algo estabelecido e inerente às características do sistema de saúde. Os

hospitais demonstram falta de respeito com os enfermeiros e outros trabalhadores quando eles

não conseguem garantir a sua segurança física, tomando as medidas adequadas para evitar

ferimentos, como acidentes com agulha e tensão nas costas. O fato de que estas são muitas

vezes aceitas como riscos do trabalho ilustra até que ponto a falta de respeito é

institucionalizada em hospitais (LEAPE et al., 2012).

Não se conhecem estudos realizados para quantificar esses tipos de

comportamentos, mas foi encontrado na pesquisa um amplo acordo entre os médicos de que

tais comportamentos não são raros (LEAPE et al., 2012).

Em outro estudo (MARTIN, 2008), o comportamento destrutivo foi dividido em

três tipos:

a) Comportamento destrutivo;

b) Comportamento comprometido/arruinado;

c) Comportamento incompetente.

O autor afirma que a habilidade de distinguir os três tipos é crítica porque as

estratégias usadas para prevenir e resolver essas questões são específicas para cada tipo. Tal

distinção entre comportamento destrutivo, comprometido e incompetente não é puramente

acadêmica. E é crítica por duas razões. Primeiro, para atender aos padrões de liderança,

administradores hospitalares devem formular definições. Segundo, um plano de tratamento é

limitado pela acurácia do diagnóstico, e a intervenção gerencial e organizacional é limitada

pela acurácia da avaliação e da causa raiz do problema (MARTIN, 2008).

O comportamento destrutivo é muitas vezes chamado de disfuncional, mas

considerado um termo vago e emocionalmente carregado. Quanto ao comportamento

60

comprometido/arruinado, este também abrange aspectos pessoais, sendo visto como uma falta

de habilidade resultante de desordens psiquiátricas, alcoolismo ou dependência de drogas. Já a

definição de comportamento incompetente dá ênfase ao comportamento profissional

relacionado a padrões, guidelines e normas profissionais. Competência pode ser definida

como possuir as habilidades requisitadas e qualidades para desempenhar funções

profissionais, efetivamente, de acordo com padrões éticos e profissionais específicos

(MARTIN, 2008).

Foi possível pereceber que o comportamento destrutivo, comprometido e

incompetente não são mutuamente exclusivos. Qualquer profissional pode apresentar todos os

três comportamentos concomitantemente.

Diante das considerações apresentadas sobre os atributos do comportamento

destrutivo, esta análise inicial possibilitou reconhecer como este comportamento se apresenta

no ambiente de trabalho em saúde, e incluir as condutas mais características dentro de cada

atributo evidenciado: incivilidade, violência psicológica e violência física/sexual.

Optou-se por esta categorização por considerar os elementos diferenciais nas

definições destes padrões e, ainda, por reconhecer que o comportamento destrutivo pode

surgir diante de uma incivilidade subjacente, quando o trabalhador adota condutas não-

profissionais, mas que podem não ter a intenção de gerar consequências negativas à

organização ou ao colega de trabalho. Havendo esta incivilidade subjacente, o trabalhador

pode acostumar-se ao desrespeito institucional, ao não cumprimento de normas, e chegar a

adotar condutas mais desrespeitosas, hostis ou agressivas, como aquelas características de

violência psicológica, física ou sexual.

Portanto, é imprescindível enfatizar que os padrões de comportamento

destrutivos, nesta análise de conceito, podem permitir melhor compreensão de suas

manifestações nos três tipos, os quais deverão ser abordados de forma distinta por parte das

lideranças dos serviços, e associados a uma série de elementos essenciais e fatores

relacionados, ou seja, de seus antecedentes.

Além dos atributos e condutas características de comportamento destrutivo,

identificaram-se todos os adjetivos/características definidoras citadas pelos autores dos

estudos para caracterizar os indivíduos destrutivos, conforme evidenciados no Quadro 2.

61

Quadro 2 – Características ou adjetivos atribuídos ao comportamento destrutivo

segundo número de referências e artigos analisados

Fonte: Elaborado pela autora.

Constata-se a existência de um grande número de diferentes adjetivos utilizados

pelos autores para caracterizar o comportamento destrutivo no trabalho em saúde. Tais

características/adjetivos tem relação com falta de cortesia, grosseria e intimidação, além de

muitos serem sinônimos uns dos outros.

CARACTERÍSTICAS/ADJETIVOS NÚMERO DE

REFERÊNCIAS ARTIGOS

1. Intimidante 19 A6, A8, A10, A15, A18, A21, A23, A28, A30, A37,

A38, A40, A43, A48, A49, A56, A66, A69, A71

2. Hostil 18 A4, A8, A14, A15, A17, A19, A20, A21, A25, A32,

A39, A42, A43, A49, A50, A51, A57, A70

3. Grosseiro/Rude 15 A4, A15, A17, A18, A23, A25, A26, A30, A41, A49,

A50, A51, A52, A56, A57

4. Abusivo 13 A4, A6, A14, A17, A19, A23, A25, A41, A49, A52,

A54, A57, A58

5. Inadequado/inapropriado 9 A6, A28, A36, A37, A41, A49, A66, A69, A70

6. Não-profissional 8 A8, A10, A31, A33, A36, A49, A49, A55

7. Ameaçador 7 A8, A15, A23, A37, A41, A43, A49

8. Incivil 7 A6, A17, A51, A52, A57, A58, A60

9. Bullying 7 A17, A51, A52, A55, A57, A58, A63

10. Desrespeitoso 5 A23, A4, A18, A32, A58

11. Ofensivo 4 A14, A43, A49, A57

12. Arrogante 3 A26, A28, A57

13. Intolerável 3 A10, A40, A53

14. Negativo 3 A23, A52, A56,

15. Persistente 3 A37, A56, A68

16. Condescendente 2 A8, A41

17. Estressante 2 A8, 22

18. Degradante 2 A32, A58

19. Disfuncional 2 A43, A65

20. Explosivo 2 A34, A41

21. Humilhante 2 A32, A58

22. Irritante 2 A21, A49

23. Violento 2 A25, A52

24. Vergonhoso 2 A32, A52

25. Anormal 1 A65

26. Baixo 1 A64

27. Brusco/seco 1 A4

28. Controlador 1 A37

29. Controverso 1 A49

30. Crítico 1 A49

31. Depreciativo 1 A60

32. Desagradável 1 A7

33. Descortês 1 A52

34. Desmoralizante 1 A25

35. Duradouro 1 A4

62

No entanto, verifica-se preponderância dos adjetivos intimidante, hostil,

grosseiro/rude e abusivo. Assim, buscaram-se seus sinônimos em dicionário para melhor

interpretá-los e inseri-los nesta análise conceitual.

Segundo o dicionário Aurélio (FERREIRA, 2010), rude é sinônimo de

grosseiro/descortês; intimidante é aquele que inspira receio, medo ou temor; hostil é aquele

que hostiliza, sinônimo de agressivo, provocador; e abusivo é aquele que faz por abuso;

inconveniente; qualificativo dos atos que a moral condena mas que o uso tolera.

Compreendendo estas definições, considera-se que o profissional destrutivo pode,

inicialmente, ser rude ou abusivo, quando adota condutas características de incivilidade; mas

pode ser, também, intimidante, hostil e abusivo, quando adota condutas mais violentas, seja

de violência psicológica, seja de violência física ou sexual.

Mais adiante, são apresentados antecedentes e consequentes deste conceito,

possibilitando a escolha de uma definição operacional do conceito para a etapa seguinte, do

trabalho de campo.

4.2.2 Antecedentes do Comportamento Destrutivo no Trabalho em Saúde

Os antecedentes do conceito são situações, eventos ou fenômenos que precedem o

conceito de interesse, auxiliando na compreensão do contexto social no qual o conceito é

geralmente utilizado, bem como favorecendo o seu refinamento (RODGERS, 1989).

Recentes estudos utilizaram o termo gatilho para designar tais antecedentes. Para

os autores, o gatilho é um traço, evento anterior ou condição que contribui para a ocorrência

de um evento de comportamento destrutivo. Ocorrem em três níveis: intrapessoal

(características ou condições que ocorrem dentro do indivíduo, tais como características

pessoais, falta de competência, ou fadiga); interpessoal (relação entre as pessoas); e

organizacional (sistemas, processos, ou culturas que inibem a interação ou o trabalho)

(WALRATH; DANG; NYBERG, 2010; WALRATH; DANG; NYBERG, 2013).

Esta categorização foi utilizada, também, no presente estudo, pois garante uma

abordagem multidimensional dos inúmeros fatores envolvidos nos casos de comportamento

destrutivo no trabalho em saúde.

A seguir, o Quadro 3 apresenta os antecedentes do comportamento destrutivo no

trabalho em saúde, os quais foram referidos em 191 citações nos 70 artigos analisados.

63

Quadro 3 – Antecedentes do comportamento destrutivo no trabalho em saúde segundo

número de referências e artigos analisados

Fonte: Elaborado pela autora.

Observa-se uma predominância de antecedentes intrapessoais na origem de

comportamentos destrutivos, os quais foram referidos em 90 citações dos 70 artigos

analisados.

Os antecedentes intrapessoais são considerados traços ou condições que envolvem

o indivíduo, tais como características pessoais, falta de competência, ou fadiga. Envolvem

ANTECEDENTES NÚMERO DE

REFERÊNCIAS ARTIGOS

INTRAPESSOAIS

Estresse/situações críticas, ansiedade, fadiga e

depressão. 28

A14, A24, A25, A26, A27, A31,

A32, A35, A42, A53, A56, A67,

A68

Características/traços de personalidade. 20

A1, A5, A7, A11, A24, A25,

A27, A31, A32, A35, A36, A40,

A49, A67, A69

Falta de competência, de autonomia e de

inteligência emocional no trabalho. 14

A1, A11, A14, A17, A25, A31,

A67

Crenças e valores pessoais arraigados. 10 A20, A24, A24, A27, A30, A42,

A68

Abuso de substâncias. 4 A1, A27, A31, A63

Conflitos/problemas pessoais ou familiares. 4 A27, A31, A36, A49

Desordens psiquiátricas. 4 A1, A14, A49, A65

Formação acadêmica. 3 A24, A42, A54

Experiências prévias com comportamento

destrutivo. 3

A32, A34, A35

ORGANIZACIONAIS

Problemas sistêmicos não resolvidos. 16 A5, A7, A32, A40, A42, A49,

A61, A68

Sobrecarga de trabalho. 13 A3, A11, A17, A18, A21, A23,

A27, A32, A42, A68, A69, A70

Cultura organizacional disfuncional. 9 A18, A31, A32, A56, A59, A61,

A68

Áreas/especialidades de alta tensão. 9 A1, A13, A23, A24, A27, A32,

A49, A54, A61

Dimensionamento de pessoal inadequado. 6 A5, A21, A42, A54, A61

Falta de suporte organizacional. 5 A11, A42, A59, A61

Demandas de atendimento dos usuários. 4 A1, A13, A42

Conflitos de papel e de poder. 3 A14, A15 A17, A31, A61

Outros. 3 A21, A25, A32, A54

INTERPESSOAIS

Comunicação ineficaz. 9 A17, A21, A25, A31, A42, A49,

A64, A68

Divergência de opiniões/pensamentos. 8 A5, A7, A11, A15, A17, A20,

A42, A59

Ausência de trabalho em equipe/colaboração. 6 A3, A5, A59, A68

Autoritarismo. 5 A18, A32, A33, A49

Questionamento de ordens médicas. 5 A22, A68

64

personalidades controladoras e agressivas, que inibem a comunicação efetiva (WALRATH;

DANG; NYBERG, 2010).

Em seguida, foram destaque os antecedentes organizacionais, os quais foram

encontrados em 68 citações dos 70 artigos analisados. Estes referem-se a sistemas, processos,

cultura ou clima que inibem as interações ou o trabalho. A ameaça organizacional mais

frequentemente identificada tem sido a elevada pressão da carga de trabalho, volume e

demanda de pacientes (WALRATH; DANG; NYBERG, 2010; WALRATH; DANG;

NYBERG, 2013).

Por último, tem-se os antecedentes interpessoais, que envolvem relações entre

duas pessoas. O uso do status para controlar outros é um exemplo (WALRATH; DANG;

NYBERG, 2010). Observou-se que apenas 33 citações abordaram tais antecedentes,

considerando os 70 artigos analisados.

Estudo afirma que médicos e enfermeiros não iniciam o dia planejando serem

destrutivos, referindo a existência de uma série de eventos profundamente arraigados, sub-

agudos e agudos que podem desencadear uma resposta destrutiva (ROSENSTEIN, 2008).

Desse modo, acredita-se que as causas de comportamento destrutivo não são

idiossincráticas e não surgem durante a noite. Em vez disso, elas tem um desenvolvimento

gradual. Porém, considera-se que as causas mais comuns de comportamento destrutivo são

intrapessoais, incluindo problemas médicos, privação do sono/ fadiga, transtorno de

ajustamento e, por último, traços/desordens de personalidade que são caracteristicamente

duradouras (SAMENOW et al., 2007).

No que diz respeito aos antecedentes intrapessoais, nesta revisão, houve

predominância de referências que abordaram o crescente estresse, as situações críticas

vivenciadas no ambiente de cuidados de saúde, a ansiedade, a fadiga e a depressão como

as principais causas relacionadas ao indivíduo que adota um comportamento destrutivo no

trabalho.

Em seguida, preponderaram as características ou desordens de personalidade

dos indivíduos destrutivos, que podem incluir desde posturas defensivas, como incapacidade

de enfrentar os outros ou assumir intenções negativas (LUX; HUTCHENSON; PEDEN,

2013); a desordens de personalidade, problemas psicológicos e narcisismo.

No que diz respeito aos antecedentes organizacionais, houve destaque para os

problemas sistêmicos não resolvidos e sobrecarga de trabalho. Em um estudo, enfermeiros e

médicos identificaram a elevada pressão da demanda, volume e fluxo de paciente; a

65

sobrecarga ambiental; e os problemas sistêmicos não resolvidos como os gatilhos

organizacionais que ocorrem mais frequentemente (WALRATH; DANG; NYBERG, 2013).

A presença de "pressão de produção", como a exigência de ver um grande volume

de pacientes, é considerado o maior contribuinte para o estresse no ambiente de trabalho

(LEAPE et al., 2012).

Desse modo, a elevada demanda de pacientes a serem atendidos em um curto

espaço de tempo e a consequente sobrecarga de trabalho, principalmente para médicos e

enfermeiros, tem configurado os maiores problemas enfrentados pelas organizações de saúde,

os quais ameaçam a segurança do paciente e favorecem a ocorrência de comportamentos

destrutivos.

O problema é ainda maior nas áreas ou especialidades de alta tensão, consideradas

antecedentes organizacionais de comportamento destrutivo. Estudioso do assunto afirma que

os eventos destrutivos são mais fáceis de ocorrer em áreas ou especialidades de elevada

intensidade, considerados ambientes de cuidado estressantes, tais como centro cirúrgico e

emergência (LEAPE et al., 2012; ROSENSTEIN, 2008); unidades de terapia intensiva; e

especialidades como cirurgia geral, cardiologia, neurocirurgia e ortopedia (BREWER et al.,

2013).

O ambiente cirúrgico, devido ao estresse inerente à cirurgia (BIGONY et al.,

2009; ROSENSTEIN; O‘DANIEL, 2008a); o ambiente hospitalar, comparado com unidades

não hospitalares (GROGAN; KNECHTGES, 2013); e os ambientes de trabalho com

interrupções frequentes (BROWN; GOSKE; JOHNSON, 2009), ou ambientes de trabalho

disfuncionais (GROGAN; KNECHTGES, 2013).

A Figura 5 apresenta uma dos problemas sistêmicos não resolvidos, conforme

discutidos pelos artigos analisados.

66

Figura 5 – Problemas sistêmicos não resolvidos segundo os artigos analisados

Fonte: Elaborada pela autora.

Dentre os problemas sistêmicos não resolvidos, estudiosos do assunto

identificaram a falta de equipamentos, de suprimentos, de itens de dieta, de horários para

procedimentos; bem como expectativas irrealísticas, medicações não entregues, falta de

confiança nos sistemas de suporte, condições de trabalho hostis ou precárias, suporte

inadequado da equipe, escalas ineficientes, dentre outros (LEAPE et al., 2012;

ROSENSTEIN, 2008; ROSENSTEIN; NAYLOR, 2012; WALRATH; DANG; NYBERG,

2010).

Quanto à contribuição de fatores conjunturais que podem contribuir para a

comunicação ineficaz e, consequentemente, resultar em comportamentos destrutivos,

ressaltam-se: pessoal inadequado (40,0%), pobres habilidades de comunicação (40,2%),

ferramentas ou equipamentos inadequados (31,4%), funções e responsabilidades pouco claras

(29,1%), atrasos de rendimento (24,0%) e problemas de escala (15,5%) (ROSENSTEIN;

NAYLOR, 2012).

Quanto aos antecedentes interpessoais, destacaram-se a comunicação ineficaz e

as divergências de opiniões e pensamentos, que geram conflitos entre os colegas de trabalho.

A questão das falhas de comunicação bem como falhas de trabalho em equipe

advindos de intimidação e hierarquia foi recentemente enfatizado pela Joint Comission,

organização acreditadora internacional. Comportamentos destrutivos ou intimidantes podem

Problemas sistêmicos

não resolvidos

Atrasos no rendimento Condições de

trabalho hostis ou precárias

Desvalorização do trabalho da Enfermagem

Problemas de escalas

Métodos tradicionais de resolução de

conflitos Pressão

para controlar

custos

Hierarquias

variáveis

Falta de cumprimento das políticas hospitalares

Pressão pela elevada demanda

de pacientes

Barreiras técnicas e operacionais

67

contribuir para erros e resultados adversos diretamente por meio da inibição de comunicação

entre os membros da equipe de saúde, diminuindo a vontade de questionar e discutir ordens e

planos de tratamento, ou dando voltas nos corredores para evitar o contato e discussões com

profissionais que adotam esses comportamentos (VELTMAN, 2007).

Lux, Hutcheson e Peden (2013) afirmam, ainda, que a má comunicação pode levar

a conflitos de personalidade, os quais resultam em comportamento destrutivo. Ou seja, a falta

geral de habilidades de comunicação efetiva pode influenciar nos demais antecedentes do

comportamento destrutivo, sendo, portanto, considerada um dos mais importantes fatores

associados.

Outros antedecentes interpessoais incluíram as críticas constantes entre

profissionais de saúde, o que torna o ambiente da prática improdutivo (HICKSON et al.,

2007), além de valores sociais e culturais conflitantes (WLODY, 2007) e da diversidade da

equipe (ROSENSTEIN, 2012). Cabe destacar que a ansiedade intrapessoal aumenta a tensão

interpessoal e leva a um comportamento destrutivo dentro das organizações (THOMAS;

HYNES, 2007).

Acrescenta-se a questão de gênero envolvida nos conflitos interpessoais,

principalmente quando se trata de trabalhadores de enfermagem.

A ocorrência de comportamento destrutivo entre os enfermeiros é frequentemente

explicada como o resultado de mulheres que trabalham juntas, tendo certos traços de

personalidade, ciúmes entre colegas, ou uma falta de respeito umas pelas outras. Autores

afirmam que tal comportamento ocorre porque enfermeiras são um grupo oprimido e

participam de comportamentos opressores. Justificam afirmando que a posição subordinada

da Enfermagem no sistema de saúde pode resultar em sentimentos de impotência que levam

enfermeiras a agirem contra outras (LUX; HUTCHESON; PEDEN, 2012).

Desde os tempos de Florence Nightingale, a Enfermagem tem sido e continua

sendo uma profissão predominantemente feminina. Felizmente, algumas das primeiras

pesquisas sobre inteligência emocional demonstra que isto atravessa a questão de gênero. Em

testes de diferentes componentes, homens ou mulheres podem marcar maior escore, que

depende do componente ou constructo que está sendo medido (LITTLEJOHN, 2012).

Alunos de enfermagem já relataram que farpas relacionados a gênero, raça ou

orientação sexual são ouvidas mais comumente em áreas de alta tensão, como a sala de

cirurgia e o departamento de emergência. Muitas vezes, estes alunos afirmaram que, quando

tal comportamento desrespeitoso era relatado, as medidas corretivas não eram aparentes,

68

enviando a mensagem de que o comportamento desrespeitoso era tolerado, se não

comemorado (LEAPE et al., 2012).

As pesquisas reafirmam que as questões de gênero influenciam nos

comportamentos inapropriados, por gerar conflitos interpessoais. Homens são

tradicionalmente orientados para a tarefa, prosperam em ter poder e controle, e quando estão

estressados, preferem trabalhar de forma independente. As mulheres são geralmente um grupo

mais orientado, são melhores em escuta e partilha, e quando estão estressadas, tendem a

procurar o consenso do grupo para apoiar o seu ponto de vista. Cultura e diversidade étnica

também desempenham um papel importante nesses comportamentos (ROSENSTEIN;

NAYLOR, 2012).

Dos 1.503 entrevistados em estudo transversal, 47% (702) disseram que o gênero

influenciou a tendência a apresentar um comportamento destrutivo. Dos 950 entrevistados que

responderam à pergunta sobre se os médicos homens ou mulheres tiveram maior tendência a

apresentar um comportamento destrutivo, 57% (543) relataram uma maior tendência em

médicos, e 2% (17) relataram uma maior tendência em médicas, e 41% (390) disseram que

sexo não faz diferença. Feita a mesma pergunta em relação aos enfermeiros, 40% (372) dos

935 entrevistados relataram uma maior tendência em enfermeiras, 7% (63) uma maior

tendência em enfermeiros, e 53% (500) disseram sexo não faz diferença (ROSENSTEIN;

O‘DANIEL, 2005).

Residentes mulheres podem ser mais prováveis de encontrar preconceito de

pacientes, membros da equipe médica e enfermeiros (BROWN; GOSKE; JOHNSON, 2009).

Reconhecer os antecedentes de comportamento destrutivo são importantes para

compreender os motivos que levam aos trabalhadores adotar condutas destrutivas, e, ainda,

para analisar o contexto de trabalho. No entanto, para a análise de conceito se faz necessário

conhecer seus consequentes.

A seguir, apresentam-se os consequentes do comportamento destrutivo segundo a

análise dos artigos inseridos na revisão.

4.2.3 Consequentes do Comportamento Destrutivo no Trabalho em Saúde

Os consequentes são eventos ou situações resultados da utilização do conceito

(RODGERS, 1989).

Embora a incidência de comportamento destrutivo no local de trabalho pode ser

baixa, tal comportamento é considerado uma força extremamente destrutiva que enfraquece a

69

moral dos funcionários, aumenta o estresse e a frustração, estimula a rotatividade de pessoal e

leva a resultados adversos para os pacientes (ROSENSTEIN; O‘DANIEL, 2005).

Nesta análise, foi possível identificar consequências de três ordens: para o

trabalhador de saúde, para o paciente e para a organização de saúde. O Quadro 4 reúne as

principais consequências do comportamento destrutivo, conforme identificado em 344

citações dos 70 artigos analisados.

70

Quadro 4 – Consequentes do comportamento destrutivo no trabalho em saúde segundo

número de referências e artigos analisados

a. Poderia haver mais de uma citação em um mesmo artigo sobre as consequências do comportamento

destrutivo para a segurança do paciente, como erros de medicação, infecção, procedimento em local errado,

morte, dentre outros.

Fonte: Elaborado pela autora.

Destacaram-se as consequências para o trabalhador e a equipe de saúde,

preponderantes nesta revisão integrativa, e encontradas em 207 citações.

No que diz respeito ao sofrimento moral e psíquico, estudo com 1500

trabalhadores de saúde e administradores de 50 hospitais, nos EUA, encontrou o

comportamento destrutivo como fator contribuinte para o aumento do estresse no trabalho e

CONSEQUENTES NÚMERO DE

REFERÊNCIAS ARTIGOS

Para o trabalhador/equipe de saúde

Sofrimento moral e psíquico: da

ansiedade ao Burnout. 48

A1, A5, A8, A11, A13, A15, A16, A20,

A21, A22, A24, A25, A32, A40, A42, A43,

A49, A52, A57, A61, A62, A67, A70

Rompimento da comunicação, da

colaboração e do trabalho em

equipe.

41

A3, A4, A5, A6, A7, A8, A9, A10, A11,

A14, A15, A18, A21, A22, A25, A30, A32,

A35, A41, A43, A48, A49, A57, A61, A64,

A67, A68, A69, A70

Prejuízos laborais: demissão,

rotatividade/mudança de unidade e

intenção de deixar o emprego.

40

A1, A5, A11, A15, A20, A28, A30, A32,

A33, A38, A42, A49, A55, A61, A64, A65,

A66, A67, A70

Hostilidade no ambiente de

trabalho. 23

A8, A14, A15, A18, A19, A21, A30,

A32, A33, A35, A41, A49, A53, A54,

A60, A64, A65, A70

Insatisfação, diminuição da moral e

do engajamento no trabalho 22

A3, A4, A5, A9, A25, A28, A30, A32,

A34, A35, A48, A49, A52, A54, A56,

A67, A69, A70

Medo, tensão, perda de foco. 18 A8, A9, A11, A13, A14, A21, A24,

A26, A32, A36, A61, A67

Afastamento/Isolamento. 15 A6, A8, A15, A21, A23, A26, A32,

A33, A52, A64, A65, A70

Para o paciente

Comprometimento da segurança do

paciente e da qualidade dos

cuidados. 73

a

A1, A3, A4, A5, A6, A7, A9, A10, A11,

A14, A15, A18, A21, A22, A25, A30, A32,

A35, A41, A43, A48, A49, A57, A61, A64,

A67, A68, A69, A70

Insatisfação. 15

A1, A3, A6, A7, A10, A20, A23, A28, A41,

A42, A43, A48, A66, A67, A68

Para a organização de saúde

Custos com processos legais,

recrutamento de novos

profissionais e tratamento de

eventos adversos.

25

A6, A8, A9, A10, A14, A21, A22, A28,

A30, A34, A41, A45, A49, A64, A66, A68,

A69, A70

Impacto na dinâmica e na cultura

organizacional. 14

A9, A17, A31, A32, A33, A43, A54, A70

Ameaça à imagem da

instituição/equipe. 10

A7, A30, A34, A52, A65, A66, A67

71

Burnout, além de influenciar fortemente a satisfação no trabalho das enfermeiras e as decisões

de deixar a profissão (ROSENSTEIN; O‘DANIEL, 2005).

Um ambiente de trabalho hostil reduz a moral, cria insegurança, e é uma das

causas de Burnout. Além disso, gera ansiedade e depressão e leva os indivíduos a se

concentrarem internamente, acentuando a auto-absorção e diminuindo a empatia e a

disposição para cooperar. Além da raiva, humilhação, vergonha e frustração que qualquer um

sente como resultado de um tratamento humilhante, os que ainda estão em processo de

formação podem experimentar sentimentos de insegurança e perda de auto-estima

(FELBLINGER, 2008; LEAPE et al., 2012).

Ressalta-se que qualquer desafio emocional durante a vida de trabalho tem um

impacto potencialmente negativo sobre o desempenho, as ações, a saúde do trabalhador e,

consequentemente, sobre a segurança do paciente (LITTLEJOHN, 2012).

Desse modo, este consequente pode ser considerado o mais relevante na análise

das repercussões do comportamento destrutivo no trabalho em saúde. Considera-se que o

sofrimento moral e psíquico tem forte impacto nos demais consequentes, formando o círculo

vicioso dos fatores envolvidos no surgimento e nas repercussões dos comportamentos

destrutivos na vida e no trabalho dos profissionais de saúde.

Pode-se afirmar que o impacto gerado sobre a moral e o estado emocional dos

trabalhadores é fator determinante para o esgotamento profissional e para a grande maioria

dos resultados adversos nos serviços de saúde, para as manifestações de insatisfação e de

hostilidade, para a busca por novos empregos e até para o abandono da profissão.

No entanto, em muitos casos os enfermeiros permanecem na categoria,

vivenciando esses problemas com frequência, mas pouco denunciando ou comentando a

respeito com seus pares ou gerentes. Casos de abandono da profissão são mais comuns entre

enfermeiros norteamericanos, conforme relatados pelos estudos dessa fase teórica.

A Figura 6 apresenta os principais prejuízos gerados pelo comportamento

destrutivo do trabalhador para a saúde organizacional, bem como para a estabilidade e o

engajamento no emprego. Estes prejuízos foram encontrados em 40 citações nos artigos

analisados.

72

Figura 6 – Principais prejuízos laborais gerados pelo comportamento destrutivo no

trabalho em saúde

Fonte: Elaborada pela autora.

O comportamento destrutivo cultiva um ambiente de trabalho hostil, aumenta o

risco de litígio e de responsabilidade compartilhada, danifica o local de trabalho ou os

colegas, e desvia recursos humanos e financeiros para longe do serviço de qualidade ao

paciente (PFIFFERLING, 2008).

Nesse contexto, o comportamento desrespeitoso tem sido abordado como a

principal causa de desejo das pessoas de deixarem seus trabalhos (GRENNY, 2009). Autora

afirma que, quando este comportamento existe no cuidado à saúde, a satisfação do paciente

cai, a rotatividade de profissionais aumenta e a prosperidade da prática ou do hospital é

ameaçada (CHISM, 2012b).

Apesar da proporção de profissionais que adotam comportamento destrutivo ser

desconhecida, independentemente do seu quantitativo, eles representam uma ameaça para a

qualidade e para a segurança do paciente (HICKSON et al., 2007). As consequências do

comportamento destrutivo para o paciente foram relatadas pela grande maioria dos estudos

analisados e encontradas em 88 citações.

O comprometimento da segurança do paciente mais relatado tem sido o aumento

da ocorrência de erros médicos, que contribuem para a menor satisfação do paciente e outros

resultados adversos evitáveis (BROWN; GOSKE; JOHNSON, 2009).

Pedido de demissão/

intenção de deixar o emprego

A4, A5, A6, A9, A10, A14, A18, A22, A25, A41, A43, A65, A67

Abandono da profissão

A6, A14, A21, A25, A43, A61, A57

Rotatividade aumentada

A3, A7, A11, A18, A21, A30, A32, A41, A48, A49, A68, A69, A70

73

Mais de 20% dos profissionais de saúde tem observado dano real a pacientes

como resultado de um comportamento desrespeitoso e abusivo entre médicos e funcionários.

Estatisticamente, a cada ano, 1 em cada 20 pacientes internados em hospitais receberá uma

medicação errada, 3,5 milhões terão uma infecção de alguém que não lavou as mãos ou não

tomou outras precauções apropriadas, e milhares morrerão por causa de erros cometidos

enquanto estiverem no hospital (GRENNY, 2009).

Destes trabalhadores negligentes, imprudentes ou que não cumprem as políticas e

protocolos organizacionais, destacam-se os médicos, enfermeiros e demais membros da

equipe de saúde que adotam comportamentos destrutivos.

Pfifferling (2008) aponta os motivos pelos quais o comportamento destrutivo

aumenta o risco de cuidados ineficazes ou abaixo do padrão:

a) O trabalho colaborativo necessário é diminuído, o que prejudica os pacientes,

especialmente ao lidar com casos complexos que exigem comunicação respeitosa;

b) Erros aumentam por causa da ansiedade em torno de comentários hipercríticos

(por exemplo, os instrumentos não estão disponíveis ou "desaparecem" para que o

médico destrutivo fique em problemas);

c) Outros profissionais de saúde se recusam a trabalhar com os pacientes do médico

destrutivo: sua contribuição é perdida;

d) Desaparecimento cognitivo (funcionários estão fisicamente lá, mas não estão

presentes) aumenta devido ao médico destrutivo.

A Figura 7 resume as consequências do comportamento destrutivo para a

segurança do paciente.

74

Figura 7 – Consequências do comportamento destrutivo para a segurança do paciente

segundo os artigos analisados

Fonte: Elaborada pela autora.

O comportamento destrutivo é uma ameaça à segurança do paciente, pois pode ter

ambos os efeitos negativos imediatos e de longo prazo sobre a vítima. Esta experimenta uma

mistura de sentimentos intensos: medo, raiva, vergonha, confusão, incerteza, isolamento,

insegurança, frustração e depressão. Estes sentimentos afetam significativamente a capacidade

da pessoa de pensar claramente, cometer um erro na tomada de decisões ou desempenho mais

provável. Além disso, a intimidação pode estimular uma pessoa a cometer um ato inseguro

(LEAPE et al., 2012).

As consequências tem efeito rebote. Erros médicos podem resultar de

comportamento destrutivo, o que leva a falhas de comunicação na equipe de cuidados ao

paciente e novas ocorrências de erros (GRAY, 2009a).

A frequência e sutileza dos comportamentos insidiosos resultam em destruição

contínua do cuidado ao paciente e das interações da equipe em todos os níveis do sistema

(ZIMMERMAN; AMORI, 2011).

Tal comportamento constitui uma violação da cultura de segurança do paciente,

pois interfere com a comunicaçao efetiva entre profissionais de saúde, e, consequentemente,

destrói pouco a pouco a prestação segura do cuidado ao paciente (BIGONY et al., 2009).

75

Nesta revisão, houve destaque, também, para as consequências para a

organização de saúde, com impacto sobre as despesas financeiras e sociais decorrentes do

comportamento destrutivo (PFIFFERLING, 2008).

Como uma das principais consequências para a organização de saúde, destacam-

se: aumento dos custos do cuidado ao paciente, custos com advogados, despesas financeiras e

sociais, risco de litígio empregado, risco financeiro e de processo (CHISM, 2012a;

FELBLINGER, 2009; GALLUP, 2006; GLUCK, 2010; GROGAN; KNECHTGES, 2013;

GUGLIELMI, 2010; HOFMANN, 2010; JACOBS; WILLE, 2012; LEIKER, 2009;

PFIFFERLING, 2008; PFIFFERLING, 1999; PIPER, 2003; ROSENSTEIN, 2002;

ROSENSTEIN, 2011a; ROSENSTEIN, 2012; SAMENOW; SWIGGART; SPICKARD,

2008; WLODY, 2007). Tais processos podem ser de ordem clínica, financeira e de reputação

pública (FELBLINGER, 2009).

Lidar com o comportamento destrutivo dos médicos é esgotador. Funcionários,

colegas, gerentes e administradores médicos e não médicos estão envolvidos em tentativas

para corrigir o comportamento. As despesas financeiras e sociais decorrem conforme o

comportamento destrutivo continua, incluindo o tempo e os custos com advogados, membros

de comitês médicos, treinadores externos, conselheiros, programas de saúde médica, e

conselhos de licenciamento. Uma enorme quantidade de esforço e despesa é frequentemente

associada a parar, neutralizar, ou corrigir o comportamento destrutivo (PFIFFERLING, 2008).

De um lado, trabalhadores eficientes em silêncio, se comunicando somente

quando estritamente necessário, com medo de retaliações ou ansiosos por mudanças, porém

com pouca força ou poder para iniciá-las; por outro lado, subculturas, grupos que favorecem a

disseminação de condutas inapropriadas e desrespeitosas, ao aceitar o comportamento

destrutivo como regra, e construindo um ambiente de trabalho hostil e inseguro.

Percebe-se, portanto, que o comportamento destrutivo tem um efeito cascata, pois

suas consequências negativas afetam tanto o indivíduo como a organização (MARTIN, 2008).

Tal conduta inibe o cumprimento e a implementação de novas práticas, e ameaça a cultura

organizacional de diferentes formas (LEAPE et al., 2012).

A seguir, apresenta-se um mapa conceitual elaborado pela pesquisadora no

programa examtime®, o qual representa os resultados da fase teórica.

76

Figura 8 - Estrutura conceitual do comportamento destrutivo no trabalho em saúde: fase teórica

Fonte: Elaborada pela autora.

RUDE/GROSSEIRO Intimidante

Hostil Abusivo

ATRIBUTOS/CONDUTAS CARACTERÍSTICAS

DO COMPORTAMENTO DESTRUTIVO NO

TRABALHO EM SAÚDE

CONSEQUÊNCIAS DO

COMPORTAMENTO DESTRUTIVO ANTECEDENTES DO COMPORTAMENTO

DESTRUTIVO

Características

77

4.3 APROXIMAÇÃO DO SIGNIFICADO

Embora não exista nenhuma definição universal de comportamento destrutivo

entre os prestadores de cuidados de saúde, várias definições comparáveis foram publicadas.

Estas geralmente incluíram abuso verbal, assédio sexual, insultos raciais, ameaças físicas e

blasfêmia (SAXTON, 2012).

Estudiosos afirmam que definições vagas de comportamento destrutivo podem ser

sujeitas a mau uso por hospitais. Apesar da Joint Comission ter descrito comportamento

destrutivo e inapropriado, a organização acreditora não estabeleceu uma definição obrigatória

de tais comportamentos. Como resultado, hospitais e equipes são capazes de construir

definições que atendam às suas necessidades (LEIKER, 2009).

A lógica do padrão de comportamento destrutivo se refere ao uso de "linguagem

grosseira" e "condutas ameaçadoras". No entanto, ambos os termos gerais podem ser

interpretados de várias maneiras diferentes (HPR, 2007).

O Quadro 5 apresenta as definições encontradas nos artigos analisados, sua

autoria e variáveis enfatizadas.

78

Quadro 5 – Definições de comportamento destrutivo encontradas nos artigos analisados,

segundo autores, ano e variáveis enfatizadas

(continua)

ARTIGO (S) DEFINIÇÃO DO CONCEITO AUTORIA VARIÁVEIS

ENFATIZADAS

A10, A12, A13,

A18, A33, A35,

A36, A37, A40,

A49, A50, A65,

A66

Qualquer conduta abusiva, incluindo o assédio

sexual e/ou outras formas de assédio, ou outras

formas de conduta verbal ou não verbal, que

prejudicam ou intimidam outros, na medida em

que a qualidade dos cuidados ou a segurança do

paciente pode ser comprometida.

American

Medical

Association

(AMA) (2002,

2009, 2012)

Manifestação do

comportamento

(exemplos)

Consequências para

a qualidade dos

cuidados e

segurança do

paciente

A11, A17, A20,

A22, A42, A43,

A48, A52, A66,

A67

Qualquer comportamento inapropriado, confronto

ou conflito – variando desde o abuso verbal

(comportamentos abusivos, intimidantes,

desrespeitosos, ameaçadores), ao assédio físico ou

sexual – que pode impactar negativamente nas

relações de trabalho, na eficácia da comunicação,

na transferência de informações, e no processo e

resultados do cuidado.

Rosenstein

(2002; 2011)

Rosenstein;

O‘Daniel

(2002, 2008)

Rosenstein;

Naylor (2011)

Rosenstein;

Russel; Lave

(2002)

Manifestação do

comportamento

(exemplos)

Consequências para

pacientes, equipe e

organização

A1

Comportamento destrutivo no ambiente médico é

definido como aquele que interfere com o cuidado

ao paciente ou que pode razoavelmente ser

esperado para interferir com o processo de

prestação de cuidados de qualidade.

Leape; Fromson

(2006)

Consequências para

os pacientes

A8

Um médico destrutivo é alguém que mina a

prática da moral, aumenta a rotatividade na prática

ou organização, tira o foco de atividades

produtivas, aumenta o risco de prática inefetiva ou

pobre, intimida ou ameaça causar dano aos outros,

e desproporcionalmente causa estresse para os

outros no ambiente de trabalho.

Pfifferling

(1997)

Consequências para

a organização

A15

Comportamento destrutivo foi definido por incluir

explosões de raiva, grosseria ou ataques verbais;

ameaças físicas; intimidação; não cumprimento

das políticas existentes; assédio sexual; ordens

idiossincráticas, inconsistentes ou passivo-

agressivas; comentários humilhantes sobre a

organização; e destruição da função regular da

equipe de saúde.

Veltman (2007)

Manifestação do

comportamento

(exemplos)

A19

Qualquer comportamento que cria um ambiente

de trabalho hostil.

OR Manager

(2005)

Consequências para

a organização

A30

Forma de prejuízo médico que tem se tornado um

foco de atenção na saúde pública devido ao seu

impacto destrutivo na equipe hospitalar, nas

instituições e no cuidado ao paciente.

Samenow;

Swiggart;

Spickard (2008)

Consequências para

pacientes, equipe e

organização

A32 É a causa raiz da cultura disfuncional que permeia

o cuidado à saúde, que dificulta o progresso em

segurança e que também é produto daquela

cultura.

College of

Physicians and

Surgeons of

Ontario;

Hickson; Pickert

(2010)

Consequências para

a organização

79

ARTIGO (S) DEFINIÇÃO DO CONCEITO AUTORIA VARIÁVEIS

ENFATIZADAS

A34

Qualquer tipo de interação interpessoal que pode

levar a um cuidado inadequado ao paciente e

impacta negativamente na habilidade da

organização de operar de uma forma ordenada

para cumprir sua missão.

Piper (2003) Consequências para

pacientes e

organização

A48

Pode ser definido de diversas formas. São

tradicionalmente vistos como comportamento

destrutivo: blasfêmia; jogar objetos; atraso crônico

ou recusa em seguir políticas; comportamento

passivo-agressivo como cair no sono em reuniões

ou não participar na discussão.

Rawson et al.

(2013)

Manifestação do

comportamento

(exemplos)

A64

É uma forma de prejuízo médico que pode

aumentar o risco de erros médicos, prejudicar

programas de retenção de enfermeiros, e às vezes

destruir a operação do hospital.

Gallup (2006)

Consequências para

pacientes, equipe e

organização

A67

É um problema impregnado e intratável que mina

a cultura de segurança para pacientes e médicos.

Esses comportamentos reduzem o trabalho em

equipe e comunicação, prejudicam pacientes,

equipe e a organização pela destruição da

confiança, do respeito mútuo, e coleguismo.

Walrath; Dang;

Nyberg (2013)

Consequências para

pacientes e

organização

A69

Bullying, incivilidade e seus comportamentos

destrutivos associados são forças destrutivas e

insidiosas com consequências negativas que

requerem identificação e intervenção ao nível

individual e organizacional.

Felblinger (2009) Exemplos e

Consequências

Fonte: Elaborado pela autora.

(conclusão)

80

Dentre as definições do conceito identificadas, foi observada uma ênfase às

consequências do comportamento destrutivo para pacientes, equipe e organização. No

entanto, os atributos, que configuram características essenciais do comportamento, não foram

abordados de forma consistente.

Assim, selecionou-se, inicialmente, uma definição mais ampla e, ao mesmo

tempo, característica do comportamento destrutivo no trabalho em saúde, para que, ao longo

da fase empírica, fosse possível abordar o problema com os trabalhadores e tentar renuir

informações relevantes favoráveis ao refinamento deste conceito na etapa final.

4.4 ESCOLHA DE UMA DEFINIÇÃO DO CONCEITO A SER TRABALHADA

Considerando as definições citadas, observou-se uma predominância de estudos

que utilizaram as referências da AMA (13) e de Rosenstein (10). Esta última foi considerada

mais clara e abrangente, por abordar não somente a manifestação do comportamento

destrutivo e seus exemplos, mas também as consequências para pacientes, equipe e

organização.

Desse modo, optou-se por trabalhar com a seguinte definição na fase de de

campo:

“Qualquer comportamento inapropriado, confronto ou conflito – variando

desde o abuso verbal (comportamentos abusivos, intimidantes, desrespeitosos,

ameaçadores), ao assédio físico ou sexual – que pode impactar negativamente nas relações

de trabalho, na eficácia da comunicação, na transferência de informações, e no processo e

resultados do atendimento”.

Esta definição foi abordada durante as entrevistas com enfermeiros, médicos e

técnicos de enfermagem, com o intuito de levantar esta problemática no contexto de trabalho

desses profissionais e selecionar um caso modelo.

A partir de então, procedeu-se à revisão dos casos relatados, bem como dos

atributos, antecedentes e consequentes do conceito, possibilitando a análise final do conceito

de comportamento destrutivo no trabalho em saúde.

81

"A psicodinâmica vai bem, mas temos um

paradoxo: o trabalho vai mal".

(Christophe Dejours)

82

5 ANÁLISE DE CONCEITO: FASE DO TRABALHO DE CAMPO

Esta fase visa corroborar e refinar o conceito, estendendo e interagindo a análise

iniciada na primeira fase com observações empíricas. Inclui os passos básicos encontrados em

qualquer pesquisa qualitativa que se baseia fortemente na observação, localização do cenário,

negociação da entrada, seleção de casos, coleta e análise dos dados (SCHWARTZ-

BARCOTT; KIM, 2000).

Para a escolha da abordagem e do método de investigação, considerou-se a

natureza do problema, os objetivos traçados e a questão de pesquisa. São características do

objeto de estudo: (1) uma realidade humana complexa que engloba um sistema de relações,

(2) uma estrutura dinâmica, e (3) um fenômeno de natureza comportamental e processual.

Desse modo, considerou-se que a natureza do fenômeno em estudo enquadrava-se

no método qualitativo, reconhecido por ser centrado no processo e dirigido à descoberta de

estruturas psicológicas ou sociais, de sistemas dinâmicos ou rede de relações (FLICK, 2009).

Em geral, a pesquisa qualitativa é frequentemente descrita como uma abordagem

naturalista, interpretativa, preocupada em explorar fenômenos do interior e tendo as

perspectivas e as histórias dos participantes da pesquisa como um ponto de partida (RITCHIE

et al., 2013).

São características comuns deste tipo de pesquisa: objetivos direcionados a uma

compreensão profunda e interpretada do mundo social dos participantes, aprendendo sobre o

sentido que eles fazem de suas condições sociais e materiais, experiências, perspectivas e

histórias; uso de métodos não-padronizados e adaptáveis de produção de dados, sensíveis ao

contexto social do estudo e adaptados para cada participante ou caso que permita a exploração

de questões emergentes; dados detalhados, ricos e complexos; análise que retém

complexidade e nuance e respeita a singularidade de cada participante ou caso; abertura para

categorias emergentes e teorias na etapa de análise e interpretação; produção que inclui

descrições detalhadas do fenômeno pesquisado, fundamentado nas perspectivas e nas histórias

dos participantes; e abordagem reflexiva, em que o papel e perspectiva do pesquisador no

processo de pesquisa é reconhecido (RITCHIE et al., 2013).

Além disso, na pesquisa qualitativa, os conceitos que se estudam são

desenvolvidos e refinados no processo de pesquisa. Desse modo, leva-se a sério o contexto e

os casos para entender uma questão em estudo (FLICK, 2009).

83

A seguir, estão descritas as etapas da fase de trabalho de campo e seus resultados,

segundo o Modelo Híbrido de Análise de Conceito.

5.1 ESCOLHA DO CENÁRIO

Considerando as determinações de Schwartz-Barcott e Kim (2000) quanto à

escolha do cenário, conforme exposto no referencial teórico-metodológico, decidiu-se realizar

a pesquisa em uma instituição de referência, considerada o maior hospital da rede pública

estadual de saúde do Ceará, que atende à população do Estado e, também, aos estados

vizinhos, em diferentes áreas de saúde.

Além do atendimento de emergência, nas áreas de cirurgia geral e vascular;

clínica médica, obstetrícia e neurologia; o hospital conta com 525 leitos de internação e possui

63 especialidades e sub-especialidades médicas e outros serviços de saúde – Enfermagem,

Fisioterapia, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional, Nutrição, Farmácia, Bioquímica,

Psicologia e Serviço Social.

É também um dos maiores centros de treinamento do país, certificado por portaria

interministerial como hospital de ensino, atuando na formação de profissionais de saúde,

incluindo 24 especialidades médicas.

Trata-se, portanto, de um hospital que possibilitou a observação do fenômeno em

análise, além da obtenção de uma perspectiva de enfermagem, conforme é requerida pelo

método.

5.2 NEGOCIAÇÃO DA ENTRADA

O projeto de tese foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do

referido hospital, sob número de protocolo: 479.384/2013 (ANEXO A).

Antes de ser encaminhado ao CEP, durante três meses (setembro a novembro de

2013), o projeto esteve sob avaliação da Gerência de Enfermagem e da Direção Geral do

serviço para emitirem um termo de anuência para a realização da pesquisa nas unidades

assistenciais. Junto ao projeto na íntegra, foi encaminhado documento solicitando a

permissão para a execução do projeto, especificando os objetivos do estudo e os riscos

envolvidos, destacando-se que os possíveis benefícios da pesquisa seriam mais amplos, como

a reflexão por parte da equipe de saúde frente às situações de seu cotidiano, possibilitando

ganho de qualidade na equipe, na instituição e no atendimento ao paciente.

84

Após autorizada a entrada no campo por parte do CEP, solicitamos nossa inserção

nas unidades assistenciais, para início das entrevistas e observações. Para cada gerente de

unidade, foi entregue uma cópia do projeto e esclarecida a intenção de não expor a instituição

e seus trabalhadores, mediante a garantia do caráter confidencial das informações, do

anonimato dos participantes envolvidos na coleta de dados, e de que tanto a instituição como

os profissionais poderiam retirar seu consentimento a qualquer momento, sem prejuízos ou

danos.

A inclusão dos participantes na pesquisa somente foi iniciada mediante a

assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE C),

elaborado em duas vias, assinado pelo trabalhador entrevistado, assim como pela

pesquisadora. Em ambas as vias, constavam o contato telefônico da pesquisadora e do CEP

local.

Também foi assegurado que as informações coletadas somente seriam utilizadas

para os fins dessa pesquisa. Respeitamos a condição humana e cumprimos todos os requisitos

de autonomia, não-maleficência, justiça e equidade, dentre as outras exigências explícitas na

Resolução 466/2012 do Ministério da Saúde (BRASIL, 2012). Segundo a referida resolução:

A eticidade da pesquisa implica em: a) respeito ao participante da pesquisa em sua

dignidade e autonomia, reconhecendo sua vulnerabilidade, assegurando sua vontade

de contribuir e permanecer, ou não, na pesquisa, por intermédio de manifestação

expressa, livre e esclarecida; b) ponderação entre riscos e benefícios, tanto

conhecidos como potenciais, individuais ou coletivos, comprometendo-se com o

máximo de benefícios e o mínimo de danos e riscos; c) garantia de que danos

previsíveis serão evitados; e d) relevância social da pesquisa, o que garante a igual

consideração dos interesses envolvidos, não perdendo o sentido de sua destinação

sócio-humanitária (BRASIL, 2012, p.3).

Convém ressaltar que os resultados aqui apresentados serão devolvidos aos

entrevistados por meio de relatórios enviados ao hospital envolvido, deixando uma cópia dos

artigos científicos resultantes da pesquisa junto à Gerência de Enfermagem. As entrevistas

gravadas e demais materiais utilizados serão guardados em arquivos específicos para esse

fim, por um período de cinco anos após a publicação desta tese.

5.3 SELEÇÃO DOS CASOS

Considerando os dados da revisão integrativa, em que se constatou uma maior

prevalência de comportamentos destrutivos nas unidades críticas (unidade de terapia

intensiva, emergência, unidades de internação obstétrica e neurológica, sala de parto, centro

85

cirúrgico, centro obstétrico, dentre outras), optamos por incluir o pessoal de saúde dessas

diferentes unidades.

Uma ênfase foi dada aos trabalhadores das unidades de terapia intensiva, devido

sua característica de ambiente crítico associado à presença de elevada tensão. Estas unidades

foram consideradas favoráveis às observações e análise do conceito de comportamento

destrutivo, pois permitem interação de diferentes atores em trabalho multiprofissional diário e

contínuo. Além disso, pelas observações, seria possível encontrar os indícios dos

comportamentos destrutivos e as suas repercussões para a segurança do paciente.

Portanto, os profissionais foram convidados a relatar experiências com

comportamento destrutivo, no intuito de levantar fatos/eventos e, após análise, selecionar um

caso modelo e um caso contrário de comportamento destrutivo no trabalho em saúde.

5.4 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

Conforme descrito no referencial teórico-metodológico, nesta etapa, é indicada a

combinação de observação e entrevista em profundidade (SWARTZ-BARCOTT; KIM,

2000).

Desse modo, considerou-se que, para o objeto deste estudo, a melhor abordagem

de observação seria a não-participante, tendo em vista que possibilitava uma melhor

apreensão do fenômeno comportamental, e, ao mesmo tempo, não envolveria a intervenção da

pesquisadora.

Um roteiro de observação sistemática foi elaborado (APÊNDICE D), contendo

condutas a serem observadas que correspondiam a comportamentos destrutivos, incluindo

intimidação, desrespeito, incivilidade e outras atitudes relacionadas. O roteiro abrangia, ainda,

os trabalhadores envolvidos (agentes e receptores); as consequências geradas para os

trabalhadores e os pacientes; além do período da observação, que constou dos turnos da

manhã, da tarde e da noite, em dias alternados. Os resultados do roteiro foram transcritos em

um diário de campo, o qual era preenchido a cada turno em que eram realizadas as

observações.

Antes do início das observações, era explicado aos trabalhadores (membros da

equipe médica e de enfermagem) que a pesquisadora iria passar um período na unidade

fazendo observações sobre seu processo de trabalho, a comunicação e o cuidado em saúde.

Por sua vez, para levantar os casos de comportamento destrutivo vivenciados

pelos profissionais, na prática, foi utilizado um roteiro de questões para entrevista em

profundidade (APÊNDICE E). Esta entrevista abordou o trabalho dos profissionais na

86

unidade; conflitos e dilemas do dia a dia; e a definição do conceito de comportamento

destrutivo no trabalho em saúde, em que cada participante foi solicitado a relatar sua

percepção e experiência com as características do comportamento abordado.

A entrada dos participantes no estudo foi estabelecida por conveniência. Para

responder às entrevistas, foram convidados a participar trabalhadores de saúde, incluindo

médicos, enfermeiros assistenciais e técnicos/auxiliares de enfermagem. Estes foram eleitos

pelo fato de manterem contato mais próximo com o paciente: os médicos responsabilizando-

se pela terapêutica prescrita e evolução diária; e os trabalhadores de enfermagem por

promoverem o cuidado direto e indireto nas 24 horas, intervindo e gerenciando em suas

dimensões clínicas, administrativas, sociais, ambientais, educativas ou de outras ordens.

Como critério de inclusão, participaram trabalhadores em cargo assistencial,

atuantes na instituição há, pelo menos, um ano. Este tempo foi definido por proporcionar à

pesquisadora abordar trabalhadores mais integrados ao cotidiano do serviço e, assim, em

condições de discutir e criticar o seu processo de trabalho e as relações instituídas nesse

ambiente.

Como critérios de exclusão, aqueles que estavam afastados no período da coleta

dos dados por quaisquer motivos, seja férias, atestado médico ou licenças de quaisquer

naturezas.

A coleta de dados foi realizada no período de março a julho de 2014. Ao todo,

foram entrevistados vinte e nove (29) trabalhadores de saúde, sendo onze técnicos de

enfermagem, dez enfermeiros, dois auxiliares de enfermagem e seis médicos.

Como critério para o número de entrevistas, foi utilizada a ferramenta de

saturação do tema. O roteiro investigou as experiências profissionais sobre o objeto do estudo,

bem como concepções e valores morais acerca do mesmo. As entrevistas foram gravadas e

transcritas, permitindo a leitura criteriosa do material produzido, o que possibilitou o

aprofundamento de temas que surgiam do material empírico e que se destacavam como

categorias para uma análise temática.

Assim, os textos produzidos a partir da transcrição das gravações ou dos diários de

campo foram analisados a partir da Técnica da Análise de Conteúdo Temática proposta por

Bardin (2010), definida como um conjunto de técnicas de análise das comunicações que

utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens em

três fases: Pré-análise; Exploração do material; Tratamento dos resultados, inferência e

interpretação.

87

A fase de pré-análise consiste na organização propriamente dita, momento em que

se organiza o material, escolhem-se os documentos a serem analisados, formulam-se hipóteses

ou questões norteadoras. No caso das entrevistas, estas foram devidamente transcritas e sua

reunião constituiu o corpus da pesquisa (BARDIN, 2010).

Procedeu-se, então, à preparação do material, a qual se fez pela "edição" das

entrevistas transcritas. O material foi organizado em colunas, para anotar e marcar

semelhanças e contrastes, fazendo uso da ferramenta ―cor de realce do texto‖, em arquivo do

Microsoft Word®, para sublinhar as semelhanças com a mesma cor (BARDIN, 2010).

A fase de exploração do material foi a etapa seguinte, considerada a mais longa e

cansativa. Trata-se do momento da codificação, em que os dados brutos foram transformados

de forma organizada e agregados em unidades, as quais permitiram uma descrição das

características pertinentes do conteúdo (BARDIN, 2010). A codificação compreendeu a

escolha de unidades de registro e de contexto, a seleção de regras de contagem e a escolha de

categorias. Unidade de registro (UR) é a unidade de significação a codificar, a qual pode ser o

tema, a palavra ou a frase. A frequência com que aparece uma UR denota-lhe importância.

Neste estudo, foi definida como unidade de registro a frase e, como unidade de

contexto (UC), o parágrafo. Esta, por sua vez, serve de unidade de compreensão para

codificar a unidade de registro e corresponde ao segmento da mensagem cujas dimensões

(superiores às da unidade de registro) são ótimas para que se possa compreender a

significação exata da unidade de registro.

Na transcrição das unidades de registro e de contexto apresentados ao longo dos

resultados, foram utilizados colchetes [ ] para indicação de acréscimos ou comentários que

favoreceriam a compreensão do contexto relatado (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO

CEARÁ, 2014).

Para garantir o anonimato dos entrevistados, médicos foram codificados com a

letra ‗M‘, enfermeiros com a letra ‗E‘, técnicos de enfermagem com ‗TE‘, e auxiliares de

enfermagem com ‗AE‘, seguida de numeral arábico conforme a ordem em que foram

entrevistados.

Ressaltamos que, para a construção do caso modelo, foram atribuídos nomes

fictícios aos profissionais envolvidos no caso, garantindo a confidencialidade das

informações. Além disso, nos registros do diário de campo realizados durante a observação,

apenas foram apontadas as condutas observadas e a categoria do profissional, preservando seu

anonimato.

88

A etapa seguinte consistiu na categorização. Categorias são rubricas ou classes que

reúnem um grupo de elementos (unidades de registro) em razão de características comuns. Na

atividade de agrupar elementos comuns, estabelecendo categorias, seguem-se duas etapas:

inventário (isolam-se os elementos comuns) e classificação (repartem-se os elementos e

impõem-se certa organização à mensagem).

Por último, foi realizado o tratamento dos resultados obtidos e interpretação. Nesse

momento, ao se descobrir um tema nos dados, é preciso comparar enunciados e ações entre si,

para ver se existe um conceito que os unifique; quando se encontram temas diferentes, é

necessário achar semelhanças que possa haver entre eles. Durante a interpretação dos dados, é

preciso voltar atentamente aos marcos teóricos, pertinentes à investigação, pois eles dão o

embasamento e as perspectivas significativas para o estudo. A relação entre os dados obtidos

e a fundamentação teórica é que dará sentido à interpretação.

O Apêndice F apresenta um quadro que reúne unidades de registro/contexto

extraídas das entrevistas, apresentando uma síntese dos casos relatados pelos entrevistados,

bem como antecedentes, consequentes e características do comportamento destrutivo no

trabalho em saúde.

Para efetivação da análise de conteúdo, os dados obtidos com as entrevistas foram

processados em um software para análise de texto profissional denominado MAXQDA®.

Trata-se de um software de análise qualitativa de dados que permite avaliar sistematicamente

dados qualitativos e interpretar dados textuais por meio da análise de conteúdos. É

considerada uma importante ferramenta para a gestão do conhecimento, desenvolvimento de

teorias e para testar as conclusões teóricas de uma análise. Esta ferramenta tem sido utilizada

em diferentes disciplinas e áreas de conhecimento, nomeadamente na sociologia, psicologia,

antropologia, educação, marketing, economia, entre outras.

O software possui funções amplas e diferenciadas, combinadas com uma

visualização única e avançada disponível para os processos de codificação, memo-escrita e

navegação, contando ainda com integração com MS Office e Internet Explorer.

No que concerne à análise de texto, este software permite a transcrição direta das

entrevistas realizadas pelos investigadores que desejam associar ao seu trabalho os registros

em áudio e/ou vídeo das suas entrevistas, permitindo sincronizar o texto com o registro áudio

e/ou vídeo, facilitando o processo de análise dos dados.

A análise de dados produzida pelo programa gera diversas visualizações que

facilitam a interpretação e a formulação de conclusões, e favorece a descrição dos resultados.

89

5.4.1 Resultados

5.4.1.1 Perfil dos participantes

O Quadro 6 apresenta os dados de identificação e as características laborais dos 29

entrevistados. Estes apresentaram médias de 33,8 anos de idade; 9,8 anos de formados; 5,3

anos de tempo médio de atuação no serviço; e 44,4 horas de trabalho semanal.

90

a. SESA: Secretaria de Saúde.

Fonte: Elaborado pela autora.

ENTREVISTA CÓDIGO IDADE

(ANOS) SEXO

CATEGORIA

PROFISSIONAL

ESPECIALIDADE

TEMPO DE FORMAÇÃO

(ANOS)

TEMPO DE

ATUAÇÃO NO

SERVIÇO (ANOS)

CARGA HORÁRIA DE

TRABALHO SEMANAL UNIDADE EM QUE ATUA

1 TE1 25 Fem Téc. Enf. - 3 2 48 Terapia Intensiva

2 E1 26 Fem Enfermeira - 3 3 42 Terapia Intensiva

3 TE2 43 Masc Téc. Enf. - 20 5 48 Terapia Intensiva

4 TE3 19 Fem. Tec. Enf. - 2 1 48 Terapia Intensiva

5 E2 26 Fem. Enfermeira Saúde Pública 4 1,5 42 Terapia Intensiva

6 E3 42 Fem. Enfermeira Emergência 11 1 42 Terapia Intensiva e Emergência

7 TE4 30 Fem. Téc. Enf. - 3 3 60 Terapia Intensiva

8 TE5 28 Fem. Téc. Enf. - 8 7 30 Terapia Intensiva

9 TE6 44 Fem. Téc. Enf. - 14 6 40 Terapia Intensiva

10 AE1 46 Masc. Aux. Enf. - 22 12 60 Terapia Intensiva

11 TE7 35 Fem. Téc. Enf. - 9 4 60 Terapia Intensiva

12 E4 27 Fem. Enfermeira Obstetrícia 3 3 45 Internação obstétrica

13 TE8 41 Fem. Téc. Enf. - 18 5 36 Internação obstétrica

14 E5 24 Fem. Enfermeira Enfermagem do Trabalho 2 1 48 Emergência Obstétrica

15 TE9 36 Fem. Téc. Enf. - 8 8 48 Emergência Obstétrica

16 E6 30 Fem. Enfermeira Saúde Pública

Gestão em Saúde

5 5 54 Emergência e Internação Obstétrica

17 E7 50 Fem. Enfermeira Terapia Intensiva 30 22 20 (SESAa) Internação Clínica: Neurocirurgia e

Endocrinologia

18 AE2 44 Fem. Aux. Enf. - 16 6 30 (SESA) Internação Clínica: Neurocirurgia e

Endocrinologia/ Emergência

19 E8 32 Fem. Enfermeira Obstetrícia 5 5 45 Sala de parto

20 TE10 32 Fem. Téc. Enf. - 8 8 60 Sala de parto

21 E9 36 Fem. Enfermeira Terapia Intensiva 14 3,5 20 (SESA) Terapia Intensiva

22 M1 29 Masc. Médico residente em

Terapia Intensiva

Clínica Geral 4 3 80 Terapia Intensiva

23 M2 30 Fem. Médica residente em Clínica

Médica

- 5 1 40 Terapia Intensiva e Emergência

24 M3 52 Fem. Médica plantonista: UTI Terapia Intensiva/

Envelhecimento saudável

26 13 60 (SESA + Serviço

prestado)

Terapia Intensiva

25 M4 27 Fem. Médica plantonista: clínica

médica

Clínica Médica 5 4 72 Internação Clínica Médica e Time

de Resposta Rápida/Emergência

26 TE11 29 Masc. Téc. Enf. - 10 6 30 (SESA) Terapia Intensiva

27

E10

41

Fem.

Enfermeira

Gestão do Sistema Local de

Saúde/ Educação em Saúde

Pública/ Saúde do Trabalhador

17

10

20 (SESA)

Internação clínica:

Nefrologia/Urologia/Ortopedia

28 M5 30 Fem. Médica plantonista: clínica

médica

Clínica Médica 6 2 20 Internação Clínica Médica e Time

de Resposta Rápida/Emergência

29 M6 28 Fem. Médica Plantonista: clínica

médica

Clínica Médica 3 3 40 Internação Clínica Médica e Time

de Resposta Rápida/Emergência

Quadro 6 – Distribuição dos entrevistados segundo dados sóciodemográficos e ocupacionais. Fortaleza, CE, mar/jul 2014

91

Analisando o perfil dos estrevistados, destaca-se o predomínio de mulheres, o que

se justifica pela maioria fazer parte da categoria de enfermagem, cuja característica histórica

marcante é a de ser predominantemente feminina. Chamam a atenção, também, o vínculo

empregatício e a carga horária de trabalho semanal, em que a maioria dos trabalhadores era

cooperada e exercia suas atividades em jornadas superiores a 40 horas por semana, chegando

alguns a assumirem mais de 60 horas de trabalho.

Este é um dos aspectos a serem considerados no estudo do comportamento

destrutivo em saúde: a precarização do trabalho no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

Esta difere sobremaneira do modelo de contratação e vínculo empregatício adotado em países

desenvolvidos, como os EUA.

Abordar esta diferença é fundamental, pois o estado da arte desta pesquisa, na fase

teórica, foi alcançado mediante a análise de estudos realizados, em sua maioria, nos EUA.

Apesar de aproximarem-se da problemática estudada sob o ponto de vista social, relacional e

organizacional, estas pesquisas não adentraram na essência das questões trabalhistas

implicadas no processo de trabalho em saúde, particularmente o brasileiro.

Quando os estudos internacionais abordavam aspectos objetivos e subjetivos do

processo de trabalho, havia um enfoque às hierarquias variáveis e ao modelo de gestão

punitiva, não considerando as variáveis como o vínculo empregatício, as condições e o

contexto de trabalho, com suas peculiaridades.

É notória a diferença da carga horária de trabalho semanal entre cooperados e

trabalhadores estáveis. Esta característica já chamou a atenção em outro estudo, em que, na

variável jornada de trabalho, foi possível identificar que 100% dos trabalhadores precarizados

assumiam carga horária semanal maior que daqueles estáveis ou efetivos. Além disso, foram

identificados trabalhadores ocupantes do mesmo cargo e atuantes num mesmo setor, porém

praticando jornadas de trabalho diferenciadas, a depender da natureza do vínculo (RIBEIRO;

SOUZA; SILVA, 2014).

A disponibilidade de oferta de mão-de-obra, associada a não ampliação dos postos

de trabalho, tem facilitado a ampliação do trabalho precário, visto que o trabalhador acaba se

submetendo às piores condições laborais como forma de garantir sua permanência no

emprego e renda (RIBEIRO; SOUZA; SILVA, 2014).

Os trabalhadores da enfermagem são submetidos a estes subcontratos, recebendo

salários bem abaixo do mercado, trabalhando em condições desfavoráveis, e sendo cobrados

sempre por mais produção. ―Como mecanismo de defesa diante das precárias condições em

que desenvolve o seu trabalho, o profissional pode passar a sentir-se orgulhoso de seu

92

trabalho, ao dar conta de suas tarefas, uma vez que o sistema reforça e reprisa a ideia de que o

trabalhador é o controlador de seu próprio processo de trabalho. Esse fato é providencial para

os gestores do sistema, pois, assim, não se discutem as próprias condições de trabalho a que

esse profissional está submetido‖ (SOUZA et al., 2014, p.249).

A acumulação flexível do capital e o neoliberalismo trouxeram estas mudanças

para o trabalho em saúde, acirrando, principalmente, a competitividade entre os trabalhadores

e aumentando a desumanização entre os pares. Os trabalhadores de enfermagem devem,

portanto, ter conhecimento acerca dos atuais cenários e relações de trabalho, para

compreender suas condições de trabalho, tentar alavancar mudanças em busca da preservação

de sua saúde e bem estar, além da constante procura da humanização de suas relações com

aqueles que recebem os seus cuidados (SOUZA et al., 2014).

Estudioso explica que a alteração dos princípios produtivos baseados no modelo

industrial possibilitou o surgimento de uma grande variedade de formas de trabalhos

assalariados, tal como se observa na área da saúde. Sendo assim, essa heterogeneidade

demarcada pela flexibilização – descentralização das unidades de produção, substituição da

força de trabalho pela utilização de novas tecnologias, subcontratação de obras e serviços,

novas formas de organização do trabalho - é responsável pela criação de novas formas de

exploração laboral (AQUINO, 2008).

Em recente estudo, as formas adotadas pelas secretarias de saúde para seleção,

contratação e remuneração dos profissionais de saúde foram associadas a um alto índice de

precarização dos serviços, perda de direitos trabalhistas e alta rotatividade. Os autores

afirmaram que a precarização pode levar ao descompromisso com a instituição e com a

qualidade da assistência prestada, com efeitos extremamente deletérios sobre os usuários. As

relações de trabalho também são precarizadas, porque os profissionais permanecem à mercê

da instabilidade político-partidária e das diferenças entre governos que se sucedem no poder,

desestabilizando, dessa forma, a natureza inovadora da reforma sanitária brasileira

(JUNQUEIRA et al., 2010).

Do ponto de vista legal, vale a pena destacar que a multiplicidade de vínculos

utilizados no interior do SUS nem sempre cumpre o que a legislação brasileira

estabelece como padrão de proteção ao trabalhador, mobilizando ações judiciais para

cumprimento desses dispositivos. O Ministério Público brasileiro tem sido vigilante

em relação a essa questão, buscando apropriar-se da dinâmica de funcionamento do

SUS por seus procuradores, para atuarem na mediação dessas e de outras questões

que integram a gestão do trabalho no SUS, na sua missão de preservação da saúde

da população brasileira, mas zelando pelo que preceituam as leis do país (BRASIL,

2007, p.25).

93

Além do vínculo, é preciso considerar que as cargas de trabalho são responsáveis

pelo desgaste emocional dos profissionais de saúde e enfermagem, e como consequência da

sobrecarga/excesso de cargas de trabalho, tem-se a ocorrência de acidentes e problemas de

saúde. Com isso, sugere-se que a prática gerencial do(a) enfermeiro(a) seja sustentada em

bases científicas para melhor fundamentar a defesa de quantitativo adequado de pessoal,

educação permanente, formulação de estratégias de promoção de melhores condições de

trabalho e de prevenção do adoecimento profissional (SCHMOELLER et al., 2011).

Este entendimento prévio do perfil laboral é imprescindível para compreender as

questões subjacentes ao comportamento destrutivo analisadas adiante, que serão discutidas

com base nos depoimentos dos entrevistados sobre o processo de trabalho, conflitos e dilemas

éticos existentes no cotidiano.

No entanto, além do perfil profissional propriamente dito, foi preciso aprofundar

as questões relacionadas ao processo de trabalho em saúde, buscando uma compreensão das

suas nuances, da estrutura hierárquica e organizacional, das culturas e subculturas existentes

no serviço, dos modos de se relacionar e de se produzir o cuidado, e, principalmente, das

condições de trabalho impostas aos profissionais.

As condições de trabalho da equipe de enfermagem, principalmente nos hospitais,

tem sido consideradas impróprias no que concerne às especificidades do ambiente gerador de

riscos à saúde. A remuneração inadequada, a acumulação de escalas de serviço, o aumento da

jornada de trabalho, as características tensiógenas dos serviços de saúde (tanto pela natureza

do cuidado prestado às pessoas em situações de risco quanto pela divisão social do trabalho),

a hierarquia presente na equipe de saúde e o desprestígio social, entre outros fatores,

associam-se às condições de trabalho da equipe de enfermagem e refletem-se na qualidade da

assistência prestada ao usuário e no sofrimento psíquico dos profissionais. Esse conjunto de

problemas tem levado diversos profissionais ao abandono da profissão, tendo como

consequência a diminuição do quantitativo de profissionais no mercado de trabalho

(MEDEIROS et al., 2006).

Posteriormente, serão abordados casos de comportamento destrutivo no hospital

analisado. Suas condutas características tem estreita relação e podem ser pensadas sob as

bases conceituais da Psicodinâmica do Trabalho. O principal mérito deste campo teórico é ter

exposto as possibilidades de agressão mental originadas na organização do trabalho e

identificáveis ainda em uma etapa pré-patológica, o que permite progredir-se na identificação

das consequências da organização taylorista do trabalho sobre o aparelho psíquico dos

indivíduos (MERLO, 2002).

94

A organização do trabalho em enfermagem ainda acompanha um modelo centrado

na tarefa, em que os profissionais dividem suas atividades com foco na produção. Desse

modo, ao receber o plantão, o enfermeiro divide a equipe de técnicos entre os que farão os

banhos e as higienes, os que ficarão com a administração de medicamentos, os outros com o

controle de materiais, dentre outras funções. Este modelo fragmenta o processo de cuidar,

despersonaliza o atendimento e enfraquece o trabalhador no desenvolvimento de suas

competências. Este se acostuma com o desempenho de tarefas extremamente técnicas e

específicas, e o fato de não realizarem cotidianamente outras atividades é utilizado, por eles,

como ―desculpa‖ para a não execução de determinadas atribuições a eles delegadas. Isto

resulta em conflitos com as enfermeiras, e pode gerar comportamentos de incivilidade e

violência psicológica, tais como encontrados na literatura.

Os enfermeiros vivenciam esse impasse diariamente. No entanto, é preciso

afirmar que muitos serviços evoluíram em seus modelos de gestão e assistência, ao longo dos

anos, adotando novas formas de produzir o cuidado, como o modelo de cuidado integral ou do

cuidado centrado no paciente. Estes modelos permitem que o trabalhador volte a sua atenção

para as necessidades do paciente, intervindo em suas peculiaridades, responsabilizando-se por

um grupo de pacientes em seu turno de trabalho, de forma integral.

Além do modelo assistencial e de gestão, inúmeros outros aspectos do ambiente

de trabalho podem implicar em favorecimento da ocorrência de comportamentos destrutivos,

os quais serão discutidos mais adiante. Portanto, precisamos nos debruçar sobre os aspectos

intrínsecos da categoria trabalho e sua psicodinâmica, para a compreensão desse fenômeno

em nossa prática.

Importa, para Dejours, conseguir compreender como os trabalhadores conseguem

manter um certo equilíbrio psíquico, mesmo estando submetidos a condições de trabalho

desestruturantes. Para o autor, o sofrimento é um espaço clínico intermediário que marca a

evolução de uma luta entre funcionamento psíquico e mecanismo de defesa por um lado, e

pressões organizacionais desestabilizantes por outro lado, com o objetivo de conjurar a

descompensação e conservar, apesar de tudo, um equilíbrio possível, mesmo se ele ocorre ao

preço de um sofrimento, com a condição que ele preserve o conformismo e satisfaça aos

critérios sociais de normalidade (DEJOURS, 1993).

A coletividade do trabalho também é característica marcante da Psicodinâmica do

Trabalho, e a reflexão sobre o processo de trabalho em saúde exige compreender que o

trabalho e o cuidado são produzidos por meio da interação frequente estre sujeitos, os quais

95

mantém e adotam diferentes formas de organização do trabalho, de assumir responsabilidades

e de estabelecer relações.

O sofrimento psíquico e moral dos trabalhadores de saúde é real, tendo sido

relatado por pesquisadores enfermeiros nos últimos anos (BARLEM et al., 2013; BARLEM

et al., 2012; DALMOLIN; LUNARDI; LUNARDI FILHO, 2009), e tem estreita relação com

o perfil histórico, social e político da categoria. Porém, sabemos que o tempo de formação, o

modelo de formação acadêmica, o tempo de serviço, a cultura, a educação prévia e outras

variáveis são fatores associados ao modo de desenvolver e de ser influenciado pelo trabalho.

Tal como evidenciado na fase teórica, este sofrimento pode ser uma consequência

de um comportamento destrutivo, mas, se não abordado dentro de um contexto, pode se tornar

um antecedente desse mesmo comportamento, que poderá ser adotado por outros

trabalhadores, de forma distinta, no mesmo ambiente laboral. A subjetividade e as

características de personalidade do trabalhador são importantes, mas as condições de trabalho

e a sua organização podem moldar, modificar e determinar o modo de agir e reagir do

trabalhador frente ao estresse, à sobrecarga de trabalho e às adversidades enfrentadas no dia a

dia.

5.4.1.2 Análise de conteúdo das entrevistas e das observações realizadas no campo

No que diz respeito ao tratamento analítico das 29 entrevistas, realizado com

auxílio do programa MAXQDA®, chegou-se a 355 unidades de registro/contexto distribuídas

nas seguintes categorias temáticas:

a) Categoria 1. Considerações sobre o trabalho em saúde: o dia a dia, os dilemas

éticos e os conflitos interpessoais (70);

b) Categoria 2. Comportamento destrutivo do trabalhador de saúde: condutas

características (casos), atributos, antecedentes e consequentes (285).

A Figura 9 representa graficamente um sistema de códigos, imagem gerada pelo

programa MAXQDA®, que permite identificar o grau de importância de cada código após

finalizado o tratamento dos dados A interpretação se dá ao identificar que, quanto maior o

quadrado, maior o grau de relevância da categoria ou subcategoria no escopo da análise.

96

Figura 9 – Sistemas de código gerados pela análise de conteúdo realizada no software

MAXQDA® e sua representatividade

Fonte: dados primários do estudo no programa estatístico MAXQDA®.

Verifica-se que houve maior distribuição de unidades de registro/contexto nos

subtópicos referente ao código Caso Modelo, que foi posteriormente categorizado com o

título de Comportamento destrutivo do trabalhador de saúde: condutas características

(casos), atributos, antecedentes e consequentes (Categoria 2).

Constatou-se, ainda, uma predominância de depoimentos a respeito dos exemplos

de comportamento destrutivo, ou seja, das suas condutas características; seguidos dos

consequentes e antecedentes. Portanto, são estes os que estão discutidos em maior

profundidade mais adiante.

A seguir, são apresentados os resultados desta fase de campo, nas duas grandes

categorias, com discussão e análise dos principais achados.

5.4.1.2.1 Categoria 1. Considerações sobre o trabalho em saúde: o dia a dia, os dilemas

éticos e os conflitos interpessoais

A propriedade simbólica do produto dos serviços está diretamente vinculada aos

significados de cada ato do processo de trabalho. Dessa forma, a compreensão que cada

trabalhador constrói, a partir da experiência vivida nele, se constitui como bem simbólico

daquele serviço. São as ―leituras‖ feitas dos processos vividos que podem ser diferentes ou

semelhantes para as pessoas participantes que as elaboram mentalmente. A propriedade

simbólica diz respeito à interpretação do trabalho no seu todo, portanto, à interpretação do

valor agregado ao serviço realizado e que, por isso, o diferencia de outro (KIRCHHOF,

2003).

Apreendeu-se, inicialmente, a percepção dos entrevistados sobre o seu processo

97

de trabalho e suas características. Desse modo, foi possível desvendar aspectos positivos e

negativos em 70 unidades de registro/contexto extraídas dos depoimentos dos participantes,

com destaque às dificuldades estruturais e organizacionais enfrentadas no dia a dia, como a

falta de recursos e a sobrecarga de trabalho, considerados antecedentes de comportamento

destrutivo, conforme evidenciado na fase teórica.

Meu trabalho é um pouco cansativo, exige muitos cuidados com os

pacientes, e é corrido, a gente trabalha direto! Não [conseguimos fazer tudo

que seria necessário], por conta de muitos procedimentos que são feitos, tipo

assim, tomografia, exames que tem no dia a dia, e a gente acaba deixando

algumas coisas de lado... [por exemplo] as mudanças de decúbito mesmo,

que a gente é para fazer de 3 em 3 horas e não dá tempo, por conta da carga

de trabalho! (TE2)

Aqui [na UTI] a gente pode realmente cuidar do paciente. A gente não é uma

enfermesa, que chamam..., a gente tem contato mesmo com o paciente, de

fazer tudo pelo paciente, assistencial mesmo! É puxado, porque, por ser um

hospital escola, são muitos procedimentos, mesmo sendo só 4 pacientes [por

enfermeiro]. Mas eu gosto, eu acho bem completo e interessante. É

gratificante para a gente, porque apesar de ser um trabalho árduo, você vê

resultados. (E1)

Eu vejo meu trabalho como uma ajuda... [mas] eu acho que, quando o

plantão está muito corrido, fica a desejar! Porque, às vezes, tem pacientes

que eles [os médicos] pedem: ah, molha a boca e tudo, e às vezes é tão

corrido que acontece de ter três traqueostomias ao mesmo tempo, passa para

um, vai para o outro, e a gente tem que auxiliar, e tem que evoluir os quatro

pacientes, tem que preparar droga vasoativa antes dela terminar. Não tem

como você parar e realmente ter aquela interação...Só na hora dos sinais

vitais, que você conversa, eu tento também toda vez que vou ao leito, tentar

fazer aquela comunicação... (E2)

Eu trabalho aqui no time de resposta rápida, prestando assistência aos

pacientes que apresentam alguma intercorrência...e também eu trabalho na

UTI daqui, então, assim, é um trabalho estressante alguns dias...a gente se

depara com muita burocracia, às vezes são coisas que vão além da nossa

capacidade de resolução, o que acaba frustrando um pouco. Mais por conta

da forma como a saúde está organizada atualmente, então são coisas que não

adianta a gente bater de frente. Tipo, se você quer internar um paciente que

você sabe que tem indicação e muitas vezes você não consegue porque a

emergência está lotada, então, assim, são coisas que [estão] além do nosso

poder administrativo e de médico e de tudo, até da parte administrativa do

hospital mesmo por conta da demanda. Então isso muitas vezes acontece

com uma certa frequência, às vezes o paciente vai a óbito, tem algum

desfecho desfavorável, que a gente sabe que não era para ter acontecido

assim, porque a demanda é muito grande, porque não se consegue assistência

a tempo para uma coisa besta, uma infecção, uma coisa do tipo, precisar de

uma abordagem cirúrgica e não é feita a tempo e o paciente vai a óbito.

Então você fica realmente com raiva do sistema, de como as coisas são!

(M6)

98

Os depoimentos apresentados retratam a complexidade do processo de trabalho no

atual contexto do SUS, agravada por uma série de questões estruturais, políticas, econômicas

e culturais que devem ser superadas para melhorar os ambientes de cuidado à saúde.

Os profissionais de Enfermagem, que representam a maior força de trabalho nas

organizações hospitalares, estão presentes em todas as fases do processo assistencial, de

forma direta ou indiretamente intervindo nos cuidados prestados ao paciente, mantendo

contato mais próximo deste durante sua permanência em uma unidade de saúde. Nesse

contexto, as nuances do processo de trabalho em Enfermagem refletem, consideravelmente,

na segurança do paciente no contexto hospitalar.

As queixas relacionadas à sobrecarga por parte dos profissionais foi constatada,

em seus discursos, ao afirmarem que o trabalho é: cansativo (TE1, TE2, M1, M4); tão corrido,

que não tem como parar! (E2); com muitos procedimentos, puxado! (E1); estressante e

frustrante (M6).

Além das evidências da prática, os meios de comunicação tem relatado as más

condições de trabalho enfrentadas pelos profissionais de saúde, além dos recursos limitados,

da superlotação e das longas esperas nos hospitais públicos, expondo o paciente a falhas na

assistência, que tem se tornado cada vez mais frequentes. Tais relatos podem alimentar a

percepção entre a população leiga a respeito dos profissionais da saúde como ineficientes

(MAGALHÃES; DALL‘AGNOL; MARCK, 2013).

A carga de trabalho enquanto ―sobrecarga de trabalho‖ interfere diretamente no

processo de desgaste laboral, tendo relação com as condições de trabalho. Ressalta-se o

crescente risco de sofrimento psíquico, devido à alta pressão social e psicológica a que estão

submetidos os profissionais tanto na esfera do trabalho quanto fora dela. As difíceis condições

de trabalho e de vida podem estar relacionadas a ocorrências de transtornos mentais, como

ansiedade e depressão (SCHMOELLER et al., 2011).

Conforme evidenciado na fase teórica desta pesquisa, a sobrecarga de trabalho foi

considerada o antecedente organizacional mais implicado na ocorrência de comportamentos

destrutivos no trabalho em saúde. Trata-se de um gatilho para inúmeros outros processos

disfuncionais e barreiras encontradas no cotidiano hospitalar, pois os profissionais, além de

trabalharem com equipes reduzidas em número de pessoal, acumulam funções e papeis muitas

vezes inconsistentes ou incoerentes com sua competência técnica.

Além disso, os enfermeiros precisam treinar, educar e supervisionar os técnicos de

enfermagem em suas atividades, além de cumprir tarefas que poderiam ser designadas a um

outro profissional que exercesse a função de secretário nas unidades assistenciais. Desse

99

modo, acumulam-se funções burocráticas, ao mesmo tempo em que os pacientes ficam sob a

―vigilância‖ e o ―cuidado integral‖ por parte de técnicos e auxiliares de enfermagem que,

muitas vezes, não detém a competência e as habilidades exigidas para um cuidado crítico,

reflexivo e cientificamente respaldado na cultura de segurança.

O tema é particularmente importante nas UTIs, devido ao impacto das novas

tecnologias no cuidado, às mudanças no perfil dos pacientes graves e às necessidades de

trabalhadores especializados, com aumento dos custos nesse setor (SCHMOELLER et al.,

2011).

Sabe-se que a sobrecarga de trabalho e o dimensionamento de pessoal inadequado

são fatores que tem estreita associação com a segurança do paciente e do profissional,

considerados temas amplamente discutidos na área da saúde, mobilizando recursos pela

Organização Mundial de Saúde (OMS) (MAGALHÃES, DALL‘AGNOL, MARCK, 2013).

Segundo alguns autores, a falta de profissionais de enfermagem no mercado, em alguns

países; a falta de qualificação e a carga de trabalho excessiva são problemas que

comprometem diretamente a segurança do paciente (O‘BRIEN-PALLAS et al., 2010;

HARLESS; MARK, 2010; NEEDLEMAN et al., 2011; INOUE, MATSUDA, 2010).

Quando a técnica de enfermagem (TE2) afirma que não há tempo suficiente para a

mudança de decúbito dos pacientes ser realizada de três em três horas, conforme preconiza os

protocolos de prevenção de lesões de pele e de úlceras por pressão, isso significa que a

sobrecarga de trabalho da enfermagem gera um risco significativo para os pacientes, os quais

podem ter seu tempo de internação prolongado, desenvolver lesões que requeiram tratamentos

de elevado custo, e até chegar a um desfecho mais negativo, como adquirir uma infecção ou

morrer.

Esta associação entre a carga de trabalho da equipe de Enfermagem e a ocorrência

de eventos adversos já foi comprovada, como quedas do leito e infecções relacionadas ao

cateter venoso central. Isto demonstra que o aumento do número de pacientes designados para

cada enfermeiro ou auxiliar/técnico de enfermagem pode aumentar a incidência desses

eventos, pois a elevada jornada de trabalho facilita a ocorrência de eventos adversos e erros

humanos ocasionados pela pressa (HARLESS, MARK, 2010; NEEDLEMAN et al., 2011).

Conforme a fala das enfermeiras, outras pesquisas também convergem com esta

questão da sobrecarga de trabalho, considerado um fator que merece ser discutido e ressaltado

no ambiente hospitalar, pois, frente às inúmeras demandas assistenciais, eleva-se a

possibilidade de ocorrência dos eventos adversos e de redução da qualidade do cuidado.

Estudo retrospectivo e observacional financiado pela Agência de Pesquisa e Qualidade dos

100

Cuidados em Saúde (AHRQ) mostrou que baixos níveis de pessoal de enfermagem foram

associados ao aumento do índice de mortalidade, o que reforça a necessidade de corresponder

o quantitativo de pessoal de enfermagem às necessidades de cuidados dos pacientes

(NEEDLEMAN et al., 2011).

Os enfermeiros, como gerentes do cuidado, precisam adotar posturas mais

protetoras de sua equipe no cenário de tomada de decisões em defesa de sua autonomia e

responsabilidade diante do paciente, assumindo uma posição política nas deliberações junto à

alta direção dos hospitais. Esta é representada por gestores da categoria médica, em sua

maioria, autoritários, ocupando o cargo por indicação política, muitas vezes sem a formação

ou o interesse na gestão pública e nos princípios do SUS.

Desse modo, nos espaços de discussão, os enfermeiros deveriam se utilizar desta

relação comprovada, na prática e nas evidências científicas, de que equipes reduzidas podem

sobrecarregar o serviço, os trabalhadores e gerar danos muitas vezes irreversíveis para os

pacientes, aumentando os custos e refletindo na imagem do serviço. Além disso, se o

ambiente de cuidados de saúde encontra-se sob a constante e elevada tensão de seus membros,

há uma probabilidade desses trabalhadores manifestarem condutas inapropriadas, que vão de

encontro às suas crenças, aos seus valores e aos preceitos éticos de sua categoria profissional.

Muitas vezes, as condutas adotadas são de incivilidade, como a recusa em ajudar

o colega de trabalho ou não cooperar com as atividades de rotina. Tais condutas podem não

ter intenção de prejudicar o colega ou o serviço, mas podem ser assumidas diante do cansaço,

do estresse físico e mental e da baixa motivação do profissional em contribuir para que as

coisas dêem certo.

Autores ressaltam que o número adequado de profissionais é indispensável para o

cuidado seguro, mas as instituições devem prover condições favoráveis de trabalhadores nas

unidades e a adequação quanti-qualitativa destes a fim de possibilitar não só menor risco para

a ocorrência de eventos adversos, como também menor incidência de agravos à sua saúde

(INOUE, MATSUDA, 2010).

A falta de profissionais nos hospitais públicos brasileiros tem gerado grandes

problemas e dificuldades para a assistência de Enfermagem, pois a elevada demanda de

pacientes só aumenta e a contratação de mais enfermeiros e técnicos de enfermagem não

acompanha essa crescente realidade, havendo sobrecarga de trabalho, prejudicando a

realização de um cuidado efetivo.

A superlotação em hospitais públicos se dá pela crescente demanda dos hospitais

de referência, como o hospital do presente estudo. A baixa resolutividade da atenção primária

101

e secundária de saúde também contribuem para esta elevada demanda. Desse modo, boa parte

dos hospitais públicos brasileiros sofrem com a falta de recursos e sentem-se obrigados a

realizar adaptações e improvisações, o que resulta em desgaste físico e psíquico para os

trabalhadores (GARLET et al., 2009).

O desgaste evidenciado nos depoimentos dos entrevistados também pode implicar

em outros antecedentes de comportamento destrutivo, assim como fora evidencido na fase

teórica: conflitos interpessoais; comunicação ineficaz; ausência de trabalho em

equipe/colaboração; autoritarismo; falta de suporte gerencial e conflitos de papel e de poder.

Trabalhadores sobrecarregados, cansados física e mentalmente, estressados e

fatigados, não se comunicando adequadamente, são mais propensos a desenvolver

comportamentos hostis no ambiente de trabalho, dos quais muitos se enquadram nos tipos de

comportamento destrutivo evidenciados na prática.

Trata-se de um círculo vicioso em que a falta de investimento na saúde e no

processo de trabalho dos profissionais implica em maior sobrecarga, estresse, erros e eventos

adversos. Estes, por sua vez, aumentam o tempo de internação dos pacientes e repercutem em

inúmeros outros indicadores estruturais e assistenciais da qualidade do serviço, exigindo

esforços contínuos de uma equipe com participação restrita no planejamento de mudanças

organizacionais.

Um outro aspecto relacionado à sobrecarga de trabalho, especialmente relatado

pelos enfermeiros, trata-se da burocracia, conforme designado como uma barreira enfrentada

diariamente na organização do processo de trabalho.

...no meu trabalho, a gente tem dificuldade como enfermeiros pela falta de

material, pela falta de pessoas...a gente não consegue fazer o que realmente é

para estar fazendo, o povo reclama: ah, você fica muito em balcão! ... mas

você tem que protocolar tudo, tem que dar conta de tudo, tem que atender

aos pacientes, tem que atender às outras categorias, tem que atender ao

telefone, tem que atender a tudo, tudo é a Enfermagem, até a parte da

limpeza é a Enfermagem que tem que resolver, tudo! Uma medicação é a

enfermeira, parte de farmácia, tudo, tudo, tudo é a Enfermagem tem que

resolver. Então assim, fica muito a desejar, porque o que era para a gente

realmente estar se dedicando, estar vendo o paciente, às vezes você deixa de

fazer, porque realmente o tempo não dá. Se tivesse uma secretária para estar

protocolando um exame, para estar encaminhando um exame, recebendo...

por exemplo, um paciente vai para a cirurgia hoje, está com um exame

pendente e, para ele não perder a cirurgia, você vai, corre atrás, telefona...já

hoje mesmo eu liguei para clínicas fora do hospital atrás de exame do

paciente que vai para cirurgia hoje, porque se não ele perderia, não iria fazer,

então assim, não deixa de ser uma ajuda ao paciente, mas não aquela ajuda

de você estar lá, né? cuidando, vendo, acompanhando o paciente em si, a

pessoa. (E7)

102

Na UTI, é um trabalho que você não pára um minuto, são muitas atividades

para os enfermeiros aqui nesse serviço. Eu acho que é até, assim, uma

dificuldade de ter qualidade da assistência por conta da quantidade de

serviço. Você não dá a assistência que é para dar, devido à burocracia que é

importante, mas ainda você tem que dar assistência porque você fica no

preparo das medicações, dos antibióticos, das drogas, é sedação, analgesia e

sai prescrição, é todos os impressos, os curativos e você tem que estar na

supervisão e ainda tem que acompanhar aluno, você tem que treinar os

técnicos porque a quantidade, a rotatividade do serviço é enorme! Então,

você não tem pessoas que já vem para o serviço com experiência, são

pessoas verdes, imaturas que vem para aprender... não vem para aprender, já

vem para trabalhar, e para trabalhar e aprender na mesma hora... e você tem

que estar em cima, porque se não os erros acontecem e a prejudicada vai ser

você, e daqui a pouco quando você treina já vão procurar outro serviço, que

tenha maior estabilidade porque aqui o serviço é cooperado, então a

sobrecarga é muito grande para o enfermeiro aqui na UTI. (E9)

É exigido muito das enfermeiras, principalmente da parte burocrática!

Assim, eu estou há uma hora e meia mais ou menos que começou o plantão e

uma hora e meia eu estava na burocracia, tentando organizar a burocracia e a

questão dos jejuns, dos exames, do senso, da ocorrência, a gente se perde

muito na burocracia e aí a assistência vai ficando um pouco de lado...mas

mesmo com essa dificuldade a gente consegue ver as prioridades dos

pacientes que estão mais graves, a gente consegue... Antes da burocracia,

visualizar o que é prioridade, chama o time, já avalia, mas eu sinto assim que

a gente poderia desburocratizar mais a Enfermagem, se a gente pudesse ter

uma secretária, uma pessoa para ficar atendendo o telefone... Porque a gente

fica como telefonista, para chamar maqueiro, chamar mensageiro, para

resolver as coisas da farmácia, a gente perde um tempo grandioso, que a

secretária poderia resolver isso, essa parte burocrática... A parte de

informação, de senso, também poderia ficar na parte de uma secretária, então

a gente poderia estar mais disponível para dar assistência ao paciente, então

na maioria dos plantões a gente não consegue fazer as evoluções de todos os

pacientes. São trinta e oito pacientes, é impossível fazer a evolução de 38

pacientes no plantão noturno, até porque é um plantão mais curto, às 22

horas eles estão dormindo, então fica a desejar a gente. Só evolui pacientes

mais crítico, com mais intercorrências... Então a gente poderia

desburocratizar mais e assistir melhor o paciente. (E10)

Os depoimentos retratam, mais uma vez, a avaliação crítica das enfermeiras

quanto ao processo de burocratização da assistência, o que gera frustração principalmente

nessas profissionais e na equipe de enfermagem. Dar conta ―de tudo‖ é uma queixa reiterada

entre as enfermeiras, pois elas acreditam que muitas tarefas poderiam ser designadas para

algum funcionário administrativo.

O papel do enfermeiro é oferecer um cuidado clínico ao paciente, ou seja, um

cuidado integral, baseado em evidências e atento à preservação da vida por meio da garantia

de segurança, bem estar e humanização para o sujeito em situação de adoecimento. Mas esse

profissional necessita de tempo, recursos materiais e condições de trabalho para conseguir

cuidar do paciente com qualidade e segurança. Estando responsável por questões que não

103

dizem respeito apenas à Enfermagem, os enfermeiros não conseguem atender às necessidades

dos pacientes, nem tampouco identificar os riscos e as intercorrências aos quais eles possam

estar submetidos, o que compromete a segurança do paciente.

Em resumo, há um paradoxo na assistência de enfermagem, pois existe, por um

lado, uma elevada demanda de pessoas a atender, em sua maioria graves e necessitando de

uma atenção mais individualizada, e, por outro lado, enfermeiros pouco disponíveis para este

cuidado por absorverem questões técnicas e operacionais.

É preciso considerar, nesse contexto, que a organização dos serviços de saúde

depende, em maior grau, do ambiente sociopolítico. Seu quadro de funcionamento é regulado

externamente à organização e está exposto à contaminação burocrática, fator importante no

estabelecimento de limites, por exemplo, ao desempenho gerencial, quando a norma a que

ficam submetidos os trabalhadores é emanada do poder público para o poder público em geral

(BRASIL, 2007).

Se, por um lado, o conhecimento informal da burocracia é importante, é desejável

também a aquisição de conhecimentos específicos para a superação dos entraves burocráticos

da administração pública e para o desenvolvimento e a adoção de processos de trabalho mais

ágeis, eficazes e eficientes (BRASIL, 2007).

A realidade declarada pela enfermeira E7 é a mesma encontrada na grande

maioria dos hospitais brasileiros. Enfermeiros correndo contra o tempo para localizar exames,

solicitar medicamentos atrasados à farmácia, contactar o serviço de limpeza para a higiene de

um leito, chamar a manutenção para trocar uma lâmpada quebrada, ou um equipamento com

defeito, dentre outras inúmeras tarefas que poderiam ser desempenhadas por um funcionário

da instituição designado, especificamente, para estas funções.

Durante as observações, esta problemática foi claramente observada. Enfermeiras

mal entravam nas enfermarias para ver seus pacientes, pois a intensificação do trabalho era

real, e isto implicava na adoção de comportamentos destrutivos, conforme constatado durante

a observaçãos em uma unidade de internação da clínica médica:

Enfermeira fala em voz alta: ―Não sei para quê tanto exame se não tem onde

colocar na folha [de solicitação]!‖. Em seguida, a funcionária do laboratório responde em

voz alta, do corredor: - ―Ei, a culpa não é minha não, não reclame!‖. A enfermeira responde

que sabe e que vai reclamar no laboratório.

Quando a enfermeira se queixa sobre a folha de solicitação de exames,

percebemos a impaciência desta profissional com o trabalho realizado. Ela queixava-se, de

forma estressada, sobre o quantitativo de exames a serem solicitados, mas que não daria para

104

transcrevê-los em uma folha apenas. Na verdade, ela estava se queixando do trabalho que

teria ao precisar de mais de uma folha de solicitação para registrar todo o pedido de exames

deixado pelo médico.

Percebe-se o estresse envolvido na origem desse comportamento, o que leva à

reflexão sobre a existência de um possível desinteresse dessa profissional pelo objetivo final

de seu trabalho: o cuidado ao paciente. Pois, se o paciente necessitava dos exames, esperava-

se que médico e enfermeira reunissem esforços para garantir que eles fossem realizados,

independentemente de haver espaço ou não na folha de requisição. Compreendemos que a

intensificação do trabalho pode gerar esta conduta manifestada pela enfermeira, mas é preciso

repensar atitudes e práticas em torno de um cuidado mais humano e comprometido.

É necessário refletir, portanto, sobre as questões envolvidas na intensificação do

trabalho na saúde, que corresponde ao aumento da intensidade da atividade em um mesmo

período de tempo.

Trata-se de um conceito que vem ganhando relevo no contexto do trabalho

precarizado e relaciona-se ao sujeito que trabalha e não aos meios e instrumentos laborais. O

desempenho avaliado não incide sobre o maquinário, mas sobre o trabalhador, em seus

aspectos físicos, intelectuais e psíquicos. Essa noção é essencial à categoria intensidade, pois

se refere à maneira como o sujeito realiza seu trabalho, e ao dispêndio de energia envolvido

na atividade (LIMA; BARROS; AQUINO, 2012).

É no âmbito da atividade que o processo de intensificação se expressa, pois cabe

ao trabalhador, ou aos seus superiores, regular os efeitos da ampliação da complexidade ou do

aumento do número de tarefas a serem realizadas na mesma unidade temporal por uma

mesma pessoa ou equipe (LIMA; BARROS; AQUINO, 2012).

Ou seja, neste atual contexto de intensificação do trabalho, uma estratégia que

poderia ser adotada pela enfermeira seria tentar desenvolver seus próprios métodos para lidar

com as atividades atribuídas, organizar o seu processo de trabalho, apesar da mesma

reconhecer que muitas atividades não são prioritárias. Para isto, são necessários autonomia e

tomada de decisão.

Por um lado, temos um trabalhador desgastado, que, diante da sobrecarga física e

mental, não utiliza sua criatividade e capacidade de resolução de problemas para lidar com o

enfrentamento de entraves simples, como a solicitação de um exame. Por outro lado, temos

líderes pouco implicados na mudança desse contexto de trabalho disfuncional, com pouca

compreensão dos efeitos negativos da organização e do ambiente de trabalho para a saúde e

satisfação do profissional e, consequentemente, do paciente.

105

A relação entre a intensificação e a estipulação de metas nas organizações é direta

e penosa ao trabalhador. Isso porque, em muitos casos, são estabelecidas metas praticamente

inatingíveis, fazendo com que o trabalhador utilize toda a sua capacidade física, intelectual,

emocional para alcançar o objetivo proposto. Ressalta-se que o estabelecimento de metas é

apresentado ao sujeito como um desafio a ser cumprido, e o fracasso desta meta resulta na

culpabilização do indivíduo (LIMA; BARROS; AQUINO, 2012).

Observou-se, ainda, que mesmo tentando resolver alguns problemas nas

prescrições, as enfermeiras se deparavam com a pouca colaboração dos médicos, em

realmente assumir suas responsabilidades nesse aspecto. O registro do diário de campo

representa esta afirmação:

Em certa ocasião, uma enfermeira chamou um médico (residente) para falar sobre

alguns erros na prescrição dele. Ele se aproximou, ela começou a falar que estava faltando a

folha de controle de medicamentos de alto custo, e, enquanto ela falava, ele respondia e pedia

que ela falasse rápido pois ele estava em visita. E, ao mesmo tempo que a enfermeira falava,

ele ia andando para trás e evitando a conversa. A enfermeira continuava a falar e o médico

andando... Ela disse que estava tudo errado, que tinha outras coisas para ajeitar, ele disse que

ia ajeitar tudo, entrou na sala de prescrições e fechou a porta. Alguns minutos depois, o

médico saiu com uma folha na mão e entregou à enfermeira, que disse que ainda estava

faltando a folha que ela havia dito e ele saiu andando enquanto ela falava e do corredor disse:

ah, então peça a outra pessoa! E foi embora...

Percebemos que a burocracia deixa as enfermeiras frustradas e pode impedir que

suas habilidades de criatividade, tomada de decisão, comunicação e liderança sejam

praticadas. Cobrar do médico as funções que cabem somente a eles, como prescrição e

solicitação de medicamentos, é mais uma atividade absorvida pelas enfermeiras, o que se

manifesta como um conflito de papeis e pode ser outro fator motivador de comportamentos

destrutivos.

A partir daí, as enfermeiras ficam insatisfeitas, desmotivadas, podendo,

consequentemente, desenvolver um comportamento destrutivo e favorecer a consolidação de

um ambiente de trabalho hostil, conforme evidenciado nos seguintes registros do diário de

campo:

Enfermeira olha as solicitações de exames e vê que tem solicitação de cultura de

ponta de cateter para um paciente. Ela pergunta à técnica se está prescrita a retirada do cateter

no prontuário do paciente, e a técnica responde que não tem na prescrição. Então a enfermeira

106

conclui: ―Se não está prescrito, então não vou fazer esse exame, não vou tirar esse cateter

sem prescrição!‖. E joga a folha do exame de lado...

Em outro momento, uma enfermeira recebe uma bolsa de plaquetas para

administrar em um paciente, aproximadamente às 10 horas e 40 minutos. Quase uma hora

depois, ela ainda não havia ido até o paciente administrar a bolsa de plaquetas, que ficou em

cima do balcão do posto de enfermagem, em temperatura ambiente. A médica que solicitou a

transfusão, apareceu, em seguida, e avisou que tinha pedido duas bolsas, 1 para ―agora‖ e

outra para o momento do procedimento. A enfermeira disse que ia instalar ―agora‖, mas não

foi. Ficou escrevendo a evolução de alguns pacientes...

Observa-se o desrespeito dessas enfermeiras com o paciente e com a organização.

A primeira decide por não realizar o procedimento no paciente simplesmente por não constar

na prescrição, apesar de estar com a solitação em mãos. Questionamos se ela não poderia

entrar em contato com o médico responsável para saber o motivo de não haver deixado

prescrito no prontuário. Portanto, a decisão tomada por esta enfermeira, que agiu de forma

incivil, repercutiu no paciente, que não teve seu procedimento realizado, além do que

favoreceu a ocorrência de novas condutas inapropriadas, tendo em vista que a enfermeira é

exemplo para sua equipe e, diante de comportamentos assim, as técnicas podem considerar

tais atitudes normais e manifestarem comportamentos semelhantes, favorecendo o desrespeito

às rotinas e ao bem estar organizacional.

Por sua vez, a segunda enfermeira ignora a necessidade de instalar a bolsa de

sangue em tempo hábil, para que não fosse perdida a estabilidade do hemocomponente, bem

como para que o paciente fosse hemotransfundido de forma segura. Percebemos uma atitude

desrespeitosa e não profissional, ainda, quando esta mesma enfermeira prefere manter-se

sentada escrevendo as evoluções dos pacientes, ao invés de assumir a responsabilidade da

administração do hemocomponente que somente cabe ao enfermeiro, na referida instituição.

Esta crítica ao processo de trabalho do enfermeiro nos leva a refletir sobre a

mudança nos modelos assistencial e gerencial. Urge a necessidade de um trabalho mais

centrado no paciente, integral, com profissionais treinados e formados adequadamente para

trabalhar em equipe, comunicando-se e compartilhando tarefas em consonância com objetivos

comuns, estabelecidos também em equipe. Esta colaboração só é permitida mediante a

reformulação dos processos de trabalho e com base em um modelo de gestão mais flexível,

em que haja maior garantia de autonomia do enfermeiro na efetiva execução dos seus

específicos papeis e maior responsabilização da equipe médica diante de suas reais

atribuições.

107

Quando uma inovação gerencial é implementada em determinada organização,

seu sucesso depende não só de seu desenho técnico, das normas instituídas ou da vontade dos

dirigentes, mas das condições que estes adquirem para conduzir processos produzidos pelas

interações entre pessoas concretas, os membros das organizações. Entender os caminhos — e

descaminhos — desses processos implica, ao mesmo tempo, entender como essas pessoas

concretas pensam e agem, seus valores, representações e práticas. Neste sentido, a abordagem

dessa dimensão simbólica, cultural, permite a identificação de parte dos fundamentos

subjetivos que orientam comportamentos no cotidiano organizacional, vinculam-se a

problemas concretos relativos aos processos de gestão e condicionam a produção dos

indicadores de eficiência, eficácia e qualidade (VAITSMAN, 2001).

A intenção de um melhor atendimento aos pacientes foi, portanto, percebida em

grande parte dos discursos dos entrevistados, mas, na prática, enfrentam-se sérios entraves

estruturais, organizacionais e comportamentais. As relações precisam ser mais horizontais,

trabalhadores necessitam se articular melhor em um trabalho interdisciplinar que favoreça um

cuidado mais seguro e satisfatório para ambos: paciente e profissional.

Autores afirmam que o investimento da qualificação do pessoal de saúde está

relacionado à oferta do melhor atendimento para os pacientes, devido à relação entre a

percepção dos trabalhadores de saúde e seus comportamentos no trabalho (YEPES-BALDÓ;

ROMEO; BERGER, 2012). Tal relação é considerada, hoje, aspecto fundamental para a

efetivação da segurança nas organizações de saúde (RONDEAU; WILLIAMS; WAGAR,

2009).

Nessa perspectiva, alguns entrevistados abordaram o ―lado positivo‖ do processo

de trabalho, considerando aspectos como responsabilidade e gratificação pelo trabalho

desempenhado. Por sua vez, estes aspectos podem favorecer a prevenção de que

comportamentos inapropriados e não profissionais surjam no dia a dia de trabalho.

Podemos constatar a relevância e a satisfação atribuídas ao trabalho nos

depoimentos a seguir:

Eu costumo avaliar que o meu trabalho é muito importante! Ele é de suma

importância para a continuidade da assistência, porque eu planejo, eu

executo, eu oriento. Então assim, nada entra, nada sai, sem que passe pelas

mãos do enfermeiro, desde um exame a uma alta, uma admissão, então tudo

tem que passar por nós. Nada acontece aqui que o enfermeiro não esteja

ciente. É como se eu fosse porta de entrada e porta de saída para finalizar

todo e qualquer procedimento realizado aqui na unidade. Eu acho que,

apesar das dificuldades que todos temos nos hospitais, não só aqui, mas

assim, no geral, eu acho que dá para realizar sim. Aqui nós temos bastantes

materiais para estar trabalhando, uma vez ou outra que falta alguma coisa,

mas é esporadicamente, então eu acredito que sim. (E3)

108

Eu acho que é um trabalho de complementariedade, sabe, é muita

responsabilidade, mas é como se fosse a maior articulação, o eixo central, se

não tiver o enfermeiro não tem articulação, auxiliar com o médico, não tem

tanta ação como também com o paciente, é como se fosse o centro.... (E5)

No hospital, a gente trabalha aqui já há algum tempo como cooperada e

como concursada. Por ter uma maior estabilidade, a gente acaba tendo uma

maior segurança e isso reflete no trabalho, né? Então a gente se tornou mais

segura ao longo do trabalho... Com relação ao ambiente de trabalho, a gente

tem um bom relacionamento entre a equipe, eu não tenho nenhum problema

com os profissionais, às vezes a gente encontra um mau relacionamento com

alguns profissionais da área médica, isso é uma coisa que já é crônica, a

gente não tem um bom relacionamento com a maioria, com alguns deles, e o

que tem de avanço na unidade melhorou bastante o trabalho da gente... E

com relação à equipe de enfermagem, eu já trabalho aqui há mais tempo,

antes como cooperada, eu já estou aqui há mais de dez anos no hospital, a

gente tem um bom relacionamento no hospital com a equipe como um todo,

com a chefia também e é muito prazeroso, é muito gratificante trabalhar

aqui, eu gosto muito! Quero passar o resto da minha vida aqui, quero me

aposentar, realmente não penso em sair, mesmo no concurso, quando a gente

foi chamada eu tive oportunidade de escolher outro hospital e não quis,

geralmente por ser um hospital escola, ter essa oportunidade de estar

aprendendo também, a gente sempre tem cursos, tem congressos, tem

jornadas, tem oportunidades, sempre assim... (E10)

Verificamos, nos depoimentos das enfermeiras E3 e E5, o quanto ambas

valorizam o principal aspecto da assistência de enfermagem hospitalar: a continuidade do

cuidado e a presença constante na assistência ao paciente. Diferentemente das queixas

anteriores, estas enfermeiras já veem o aspecto positivo de que nada sai nem entra sem o

conhecimento e a articulação do enfermeiro.

No discurso da enfermeira E10 identificamos o grau de satisfação com o trabalho,

apesar do relacionamento com a equipe médica não ser o mais satisfatório. A enfermeira

deixa clara a sua motivação para permanecer trabalhando na instituição, o que tem relação

com a satisfação com o trabalho desempenhado, com a chefia e com o aprendizado contínuo

que recebe da organização.

Diversos fatores contribuem para melhorar o nível de satisfação dos

trabalhadores, tais como a estabilidade no emprego; as condições de infraestrutura; a relação

chefia-funcionário; a capacitação técnica; a relação interpessoal entre os colegas de trabalho;

e a oportunidade de crescimento e segurança na organização. Dessa maneira, a questão da

satisfação do trabalhador é fundamental para o desempenho das atividades realizadas na

organização.

A partir daí, pode-se refletir sobre a relação entre profissionais satisfeitos e a

preservação de um ambiente de trabalho mais saudável e seguro. Acredita-se que esses

109

trabalhadores podem atuar como barreiras à hostilidade e à intimidação, pois controem um

empoderamento e uma autonomia profissional que servem como auto-proteção para colegas

que venham a demonstrar comportamentos destrutivos ou atitudes intimidantes, incivis e

violentas.

É preciso, portanto, investir na satisfação dos trabalhadores de saúde. Sabe-se que

as organizações que investem no desenvolvimento de seus trabalhadores podem ser capazes

de reduzir a rotatividade de profissionais e demais problemas relacionados à gestão de pessoas

por meio da criação de condições que, de forma mais eficaz, desenvolvem e utilizam seus

recursos humanos (RONDEAU; WILLIAMS; WAGAR, 2009).

É imprescindível, portanto, valorizar a abertura para o encontro entre o

profissional de saúde, o usuário e sua rede social, como liga fundamental no processo de

produção de saúde; reorganizar o serviço a partir da problematização dos processos de

trabalho, de modo a possibilitar a intervenção de toda a equipe multiprofissional encarregada

da escuta e da resolução do problema do usuário; elaborar projetos terapêuticos individuais e

coletivos com equipes de referência em atenção diária que sejam responsáveis e gestoras

desses projetos (horizontalização por linhas de cuidado); e promover mudanças estruturais na

forma de gestão do serviço, ampliando os espaços democráticos de discussão e decisão, de

escuta, trocas e decisões coletivas (BRASIL, 2009).

No que diz respeito aos dilemas éticos e conflitos interpessoais vivenciados no

ambiente de trabalho, os trabalhadores revelaram os conflitos de papeis, a falta de colaboração

entre os colegas de trabalho, a falta de reconhecimento e as condutas inapropriadas no

trabalho:

O meu maior dilema, o meu maior conflito é exatamente esse: de querer

mudar algumas atividades aqui que são exercidas pelo enfermeiro que eu

acho que deveriam ser realizadas pelo auxiliar; e a chefia imediata não achar

que deve ser assim. (E9)

Você tem um paciente ali, como foi o caso da emergência, deu o maior

conflito! Paciente tava passando mal e eu chamei o médico por duas vezes,

mas ele tinha que atender outro paciente que também estava complicando.

Para ele era difícil né? E o chefe de equipe não foi muito atencioso, porque

ele como chefe poderia sair lá da cadeirinha dele e vir prestar assistência

àquele paciente ou então chamar um outro médico né?! (AE2)

Já vi discussões, uma [auxiliar] pede para [a outra] fazer uma coisa, [e a

outra diz:] você não manda em mim, então ... aí vira aquela briga, aquele

conflito. (E6)

110

Enfermagem é completar o serviço do outro. Quando é plantão, você

encontra muitos casos de problemas na prescrição, alguma coisa do tipo, que

vem do plantão passado, então fica aquele clima chato entendeu? É a questão

mesmo de complementar, de continuidade, o diálogo...acaba que você vai

falar e o profissional não entende, você tá falando ali não como uma

reclamação, mas seria uma crítica que no final acaba sendo construtiva. Hoje

cheguei no plantão e tinha uma paciente para fazer um procedimento

cirúrgico desde o dia [da admissão], e não tinha o material na hora da

cirurgia, aí isso gera um conflito, você tenta explicar, por exemplo eu

procuro não colocar nada no livro, eu procuro falar com o colega justamente

para não passar para a chefia, mas mesmo assim ainda tem algumas que não

tem problema se desculpam, mas outras não, o principal problema é o colega

que não consegue aceitar uma crítica. (E5)

Eu acho que seria mais assim em relação à mudança constante da rotina.

Tipo, um dia o serviço está funcionando de um jeito, com uma rotina. No

outro dia que você chega, é a mudança constante de rotina. Como eu sou

cooperada, a gente fica até um pouco sem voz. Não adianta a gente colocar

nossas ideias, ou então opinião, porque normas são normas! (E4)

Questão de conduta mesmo, com o paciente. Há muitas vezes entre

enfermeiros e técnicos, que a gente sabe que tem que fazer uma coisa e eles

[os técnicos] continuam dizendo que não vão fazer. Então muitas vezes a

gente tem que tomar a frente e fazer. E também questão que a gente discute

de uma forma profissional com os médicos, algumas condutas que eles vão

fazer, que a gente acha que não vai ser benefício para o paciente, a gente

chega para eles e comenta, discute, e eles dão o ponto de vista deles e a

gente dá o nosso. E isso algumas vezes gera conflitos. (E1)

Verifica-se que os conflitos tem origens e características diferentes, abrangendo

desde condutas desrespeitosas, como não realizar as tarefas atribuídas ou aceitar a crítica

construtiva de um colega; a comportamentos mais preocupantes, como discutir com o colega

na frente dos pacientes, o médico que não reuniu esforços para atender ao paciente da

emergência, dentre outros.

Esta queixa de quebra na continuidade da assistência é maior entre os membros da

equipe de enfermagem. No entanto, sabemos que a coletividade é a essência do cuidado de

enfermagem, e sem esta compreensão as pessoas replicam práticas individualistas,

fragmentadas e alienantes. Nesse contexto, cabe ao enfermeiro evitar a reprodução destas

condutas negativas, já que é de sua competência legal coordenar as atividades realizadas pela

equipe de enfermagem. Além disso, estes problemas repercutem em posturas inadequadas e,

até no negligenciamento do cuidado aos pacientes (AMESTOY et al., 2014).

A dificuldade do trabalhador em dar continuidade às ações da equipe que o

precedeu também emergiu, em outro estudo, como problema no ambiente hospitalar. Deixar

alguma atividade para outro horário, tornando-se frequente, é visto como falta de

111

comprometimento e responsabilidade, negligenciando o bom andamento das atividades de

enfermagem, e por consequência, o cuidado prestado (AMESTOY et al., 2014).

Em outra pesquisa, que abordou a psicodinâmica do reconhecimento no contexto

dos trabalhadores de enfermagem, constatou-se que estes tem um nível de responsabilidade

que transcende as horas normais de trabalho, assumindo também as responsabilidades de

outros e levando preocupações para casa, para além dos muros do hospital. Assim, os

pesquisadores inferiram que a questão afetiva que atravessa o trabalho na enfermagem é

repleta de contradições, pois a doação ilimitada para o outro pode trazer efeitos nocivos para

sua própria saúde (TRAESEL; MERLO, 2009).

Os problemas relatados e evidenciados, na prática, além de trazerem efeitos

negativos à saúde do trabalhador, tem interferência direta na satisfação com o trabalho e, por

consequência, gera conflitos, dificultando o exercício da liderança e interferindo na qualidade

do cuidado. Destaca-se, ainda, que a sobrecarga de trabalho costuma gerar cansaço e exaustão

no profissional e pode levar a situações extremas como o descuidado ao paciente,

problemática importante no gerenciamento do cuidado.

Pensar os dilemas éticos do trabalho significa, outrossim, enfrentar situações

embaraçosas, qualquer que seja o campo de atuação profissional. A verdade é que o dilema

nos coloca diante da dificuldade de escolher a solução ideal, diante de um raciocínio que parte

de premissas contraditórias e mutuamente excludentes, em relação a uma determinada

situação, ambas ingratas ou mesmo contárias ao nosso sentir. Daí a importância de

construirmos uma cultura ética no cotidiano do exercício profissional para não nos perdermos

pelo viés do utilitarismo. Neste, decidem aqueles que tem o poder de decisão, tem autonomia

sobre outros que vivem à margem, terminando por ser penalizados. Na sociedade em que

vivemos, com profunda desigualdade social, cresce e se fortalece um cenário desumano, do

descuido e do abandono (GERMANO, 2013).

―O conflito existe. Ele é inerente às relações sociais e está presente o tempo todo

nos diversos aspectos da vida (familiares, sociais e organizacionais)‖ (SPAGNOL;

L‘ABBATE, 2010, p.822).

Analisar conflitos de forma coletiva não é tarefa fácil, visto que se trata de

questões que dependem da situação em foco, das pessoas envolvidas e do contexto em que

essa situação ocorreu. Assim, são vários os fatores que interferem nesse processo complexo e

dinâmico das relações interpessoais, sendo necessário investir na formação dos futuros

enfermeiros e demais profissionais de saúde de forma a capacitá-los a lidar com essas

situações (SPAGNOL; L‘ABBATE, 2010, p.822).

112

Os conflitos e dilemas éticos emergem das ações humanas que vão de encontro

aos princípios, normas ou regras de comportamento de uma determinada comunidade. No

momento da decisão, os indivíduos se vêem defronte a opções desejáveis ou não, e esta

situação pode causar dúvida e desconforto, especialmente, quando a decisão é tomada. Vale

ressaltar que a solução encontrada pode levar a novas situações conflituosas (OLIVEIRA,

2011).

Em busca de compreender os significados de conflitos e dilemas éticos

vivenciados pela enfermeira, em sua prática profissional, pesquisadora encontrou o dilema do

argumento de sentimento moral como o mais expressivo, seguido de conflito de esforço,

conflito de interesse e conflito de consciência. Compreendeu-se, portanto, que elas

expressaram ambiguidade, quanto aos significados do fenômeno; os conflitos são intrínsecos

à prática profissional e gerados devido a dificuldades no relacionamento interpessoal; o

ambiente de trabalho é estressante; há desgaste da equipe; há deficiência de recursos e leitos

de unidade de terapia intensiva, além do desrespeito à autonomia da enfermeira (OLIVEIRA,

2011).

O dilema ético ocorreu diante de escassez de recursos; demanda de paciente;

atitudes não-éticas de profissionais na assistência. Concluiu-se que, embora com dificuldade

para reconhecer os conflitos e dilemas éticos, as enfermeiras tomam decisões, e essas são

fundamentadas na moral e na bioética. Ao fazê-lo, procuram manter o equilíbrio emocional da

equipe e a harmonia no ambiente de trabalho (OLIVEIRA, 2011).

É preciso considerar esta conjuntura do processo de trabalho revelada pelos

trabalhadores entrevistados, pois favorecem a compreensão dos fenômenos, das situações e

dos casos de comportamento destrutivo no trabalho em saúde.

Pode-se apreender, previamente, que o contexto estudado revela trabalhadores

capazes de criticar e refletir sobre o seu processo de trabalho, comunicando a respeito de seus

dilemas e conflitos e vislumbrando mudanças estruturais e relacionais no seu ambiente

laboral. Para tanto, ainda se fez necessário conhecer como o comportamento destrutivo se

manifestava nesse cenário, a fim de que o constructo pudesse ser melhor analisado e

compreendido.

113

5.4.1.2.2 Categoria 2. Comportamento destrutivo do trabalhador de saúde: condutas

características (casos), atributos, antecedentes e consequentes

Dos 29 entrevistados, a maioria (22) descreveu alguma situação vivenciada ou que

já havia ouvido falar a respeito do comportamento destrutivo no trabalho.

Após relatarem os casos (exemplos de condutas destrutivas) que permitiam

identificar os atributos do comportamento destrutivo, os entrevistados eram indagados sobre

suas causas (antecedentes) e consequências (consequentes). Estes resultados encontram-se

sintetizados no Apêndice F, que permite um melhor entendimento da situação relatada.

A seguir, apresentam-se os resultados relacionados às variáveis de análise de

conceito estudadas, todas apreendidas das entrevistas, em que os participantes realataram

casos de comportamento destrutivo vivenciados na prática.

5.4.1.2.2.1 Condutas características e atributos do comportamento destrutivo no trabalho em

saúde

A Tabela 4 reúne os exemplos de condutas destrutivas relatadas pelos

entrevistados, os quais foram encontradas em 89 unidades de contexto (UC) e distribuídas

dentro dos padrões dos três atributos que emergiram na fase teórica: Incivilidade, Violência

Psicológica e Violência Física/Sexual. Cabe destacar que os entrevistados relataram várias

histórias e diferentes condutas de comportamento destrutivo adotadas por colegas de trabalho.

Em muitas vezes, os casos relatados apresentaram tanto condutas características de

incivilidade quanto de violência psicológica.

114

Tabela 4 – Atributos e condutas características de comportamento destrutivo relatados

pelos entrevistados. Fortaleza, CE, mar-jul 2014. n=29

a. poderia haver referência de mais de uma conduta em cada entrevista.

Fonte: Elaborada pela autora.

Enquanto que, na fase teórica, as condutas mais características de comportamento

destrutivo foram de violência psicológica, na fase de campo os entrevistados descreveram

casos reais vivenciados no trabalho, em que a maioria das condutas destrutivas foi

característica de incivilidade, identificadas em 59 unidades de contexto.

Dentre estas condutas, aquela mais característica do comportamento destrutivo,

segundo os participantes, principalmente os membros da equipe de Enfermagem, trata-se da

recusa em executar tarefas atribuídas ou exibir atitudes que não cooperam durante as

atividades de rotina, conforme evidenciado nos depoimentos: ―Tem gente individualista, que

não ajuda o outro, principalmente na equipe de enfermagem.‖ (TE4)

Assim, todos os meses a gente pega um par diferente, uma parceira diferente,

aí geralmente, a gente gosta de todo mundo, mas tem umas pessoas que a

gente fica por ficar, aí às vezes a gente tem alguns [conflitos]. Gente que

gosta de trabalhar só, individual, sozinha. (TE7)

Assim, comigo foi mais a história de [colegas] não ajudarem. Porque você

entra, você precisa de ajuda, e aí eu fui falar para ela [a chefe] que eu não

tava aguentando... (E2)

Alguém quer mostrar que não precisa do outro, que quer trabalhar só...tem

algumas técnicas, auxiliares que parecem não querer aceitar, não ajudar na

hora que o outro precisa. Eu acho o pessoal um pouco desunido! (TE8)

ATRIBUTOS/CONDUTAS CARACTERÍSTICAS f (%)

Incivilidade

Recusar-se a executar tarefas atribuídas ou exibir atitudes que não cooperam durante as

atividades de rotina.

Manifestar comportamento antiético.

Desrespeitar o colega de trabalho.

Praticar uma gestão punitiva, autoritária.

15 (51,7)

10 (34,5)

9 (31,0)

7 (24,1)

Descumprir normas, rotinas e protocolos organizacionais. 6 (20,7)

Gerar discussões conflituosas. 6 (20,7)

Agir com negligência. 3 (10,3)

Totala 59

Violência Psicológica

Intimidar. 14 (48,3)

Agir ou falar com grosseria/gritar. 13 (44,8)

Humilhar o colega de trabalho publicamente. 1 (3,4)

Arremessar objetos, instrumentais ou prontuários. 1 (3,4)

Totala 29

Violência Física ou Sexual

Abusar fisicamente. 1 (3,4)

Total 1

115

O conflito mais frequente é quando um dos membros da equipe não

compreende qual é o seu papel no cuidado do paciente. A gente precisa de

um exame, o técnico do laboratório foi jantar e o outro, que não está no

horário, acha que, como não está no horário dele, ele não tem que vir! (M4)

É o desrespeito com o trabalho do próprio colega! Muitas vezes o colega não

respeita o trabalho do outro, quer encostar, quer assim, por acaso você

trabalha de uma forma e a pessoa quer que seja dessa forma, dela, da pessoa,

não respeitando o colega... (TE6)

Não tem acolhimento à noite, então elas [as técnicas de enfermagem da

noite] não fazem parte das oficinas, não acompanham, então é um

crescimento que para quem tá no dia e ver a paciente dizer que é um

atendimento bom, que as pessoas são atenciosas, é bom para quem está no

dia, mas para quem está a noite é indiferente, ajudar então, desconstruir o

que foi feito, para ela [técnica da noite], é indiferente. (E5)

As falas apontam para uma problemática real visualizada no ambiente de trabalho

em saúde e, particularmente, no contexto hospitalar: a falta de colaboração com o colega de

trabalho. No dia a dia hospitalar, a indisponibilidade de um trabalhador para ajudar ou

colaborar com as atividades de rotina se manifesta como um desrespeito e implica na

fragmentação do trabalho em equipe, gerando um desconforto para todos os envolvidos no

processo de cuidar.

Cabe ressaltar que esse tipo de conduta pode ser identificado como

comportamento destrutivo do tipo incivilidade, mas é preciso ressaltar que pode ter ou não a

intenção de prejudicar o colega de trabalho ou a organização. Às vezes, o fato de um

trabalhador não ajudar o colega pode ser justificado pela sobrecarga ou pelas inúmeras

atividades que precisam dar conta em um curto espaço de tempo. Mas os relatos mostram a

insatisfação dos trabalhadores, principalmente da equipe de enfermagem, quando não obtém a

ajuda dos colegas em situações realmente necessárias, como os banhos, as higienes, as

mudanças de decúbito dos pacientes, dentre outras, que somente podem ser realizadas por, no

mínimo, duas pessoas.

Auxiliares e técnicos de enfermagem precisam desenvolver a habilidade de

trabalhar em equipe, e esta pode ser influenciada pelos enfermeiros, que são os líderes dessa

equipe e os responsáveis pela organização da unidade, distribuição das tarefas e elaboração da

escala diária de atividades.

Quando não há condições de trabalho favoráveis, nem um modelo de gestão

flexível, enfermeiros não conseguem administrar o tempo e as funções básicas que o

competem, o que implica em dificuldades de supervisionar e contribuir com o melhor

desempenho dos técnicos de enfermagem.

116

O não seguimento de rotinas ou protocolos também é uma característica de

incivilidade, conforme evidenciado na literatura, e também constatado na observação. O

registro do diário de campo revela a atitude incivil adotada por uma enfermeira ao saber que

participaria de um treinamento em serviço:

Chega à unidade uma comissão de médicos para fazer uma simulação do

Protocolo de Sepse. Eles iriam testar o tempo de resposta da farmácia e do laboratório a uma

chamada da unidade. O médico explica para a enfermeira que é uma simulação e o que ela

deve fazer. A enfermeira pergunta em quanto tempo ele quer que tudo termine. O médico

responde que em, no máximo, 1 hora. A enfermeira ri e pergunta onde está a varinha mágica

dele para fazer essa mágica acontecer...

A atitude da enfermeira pode ser pensada sob diferentes pontos de vista.

Dependendo do relacionamento dela com o colega médico, esse tipo de comentário poderia

não ser interpretado de forma negativa e não ter influenciado no desenvolvimento do trabalho,

pois poderia ser visto como uma ―brincadeira‖. No entanto, acreditamos que atitudes como

esta vão de encontro à ética profissional, podendo dificultar a adesão da equipe ao protocolo e

repercutir, negativamente, nos pacientes. Esse comentário pode demonstrar, ainda, a má

vontade da enfermeira em contribuir para que novos protocolos fossem implementados,

característica comum da incivilidade no trabalho, e citado em vários estudos da fase teórica.

Portanto, é preciso estabelecer as bases para o trabalho em equipe, para a ajuda

mútua e para um ambiente de trabalho interdisciplinar, em que os diferentes trabalhadores,

independentemente da formação, consigam se articular em torno de um trabalho profissional,

que atenda aos objetivos da organização, mas que sejam realizados sob condições favoráveis,

o que inclui um quantitativo suficiente de trabalhadores, escalas mais flexíveis, estrutura

física e material suficiente para atender à demanda em qualidade e quantidade.

O reconhecimento da necessidade de formação direcionada ao trabalho em equipe

não ocorre de forma linear com todas as profissões. Pesquisa revelou a existência de alguns

profissionais, especificamente da categoria médica, que apesar de buscarem sua capacitação

contínua, não se mostram sensíveis ao exercício do trabalho em equipe. Os discursos

sinalizaram que o trabalho em equipe ainda não ocorre como desejado, mas tem no processo

de formação uma possibilidade de avanço em sua prática e na proposta de novas formas de

fazer (DUARTE et al., 2012)

Autores justificam afirmando, ainda, que as universidades formam,

separadamente, profissionais que necessitam trabalhar juntos. Nessa perspectiva, há

necessidade de se redirecionar a formação inicial, colocando em questão os modelos e valores

117

a serem construídos. Para atender a esta reorganização, pautando-se pela ética nos processos

de intervenção, é necessário construir e re-construir os processos de trabalho e competências

profissionais, integrando a formação à realidade dos serviços da comunidade com a presença

de todos os profissionais necessários na equipe (AGUILAR-DA-SILVA; SCAPIN;

BATISTA, 2011).

O principal aspecto positivo da atuação em equipe é a possibilidade de

colaboração de várias especialidades que denotam conhecimentos e qualificações distintas.

Esse mesmo aspecto, entretanto, pode dificultar a compreensão mútua e a possibilidade de

uma tarefa uniforme, pelas diferenças próprias de cada área, tanto em nível do conhecimento

em si, como da própria tarefa (AGUILAR-DA-SILVA; SCAPIN; BATISTA, 2011).

Estudando o comportamento desrespeitoso de médicos, pesquisadores

evidenciaram o comportamento passivo-agressivo como uma modalidade de desrespeito

profissional, que inclui recusar a cumprir tarefas ou fazê-las numa intenção de incomodar os

outros. Indivíduos passivo-agressivos saem de seu caminho para fazer os outros parecerem

mal, fingindo inocência, não obedecem/seguem acordos, e deliberadamente atrasam em

responder a chamadas, cobrindo os atrasos com desculpas. Eles costumam fazer comentários

negativos sobre sua instituição, hospital, grupo ou colegas. As características definidoras de

agressão passiva são raiva oculta, negativismo, e intenção de causar dano psicológico

(LEAPE et al., 2012).

Outra conduta característica do comportamento destrutivo, citada pelos

entrevistados, diz respeito ao comportamento antiético, conforme se verifica a seguir:

[Auxiliares de enfermagem] ficam conversando sobre a vida pessoal, e aos

poucos, ficam passando uns para os outros, e isso acaba atingindo a equipe

todinha. (TE1)

Tem determinados auxiliares de enfermagem que às vezes ficam falando

alto, e falam coisas que não devem, até nós médicos mesmo às vezes em

visita médica fica comentando caso do paciente na frente dele, ele fica

escutando, às vezes a gente não se dá conta que isso não deveria acontecer...

(M3)

Tem profissionais e profissionais, os com muito compromisso e outros sem

compromisso. Então assim, indigna a gente chegar em um plantão e saber

que o paciente teve uma falha na assistência por uma simples

irresponsabilidade do profissional, que o plantão estava calmo, mas

simplesmente ela estava no whatsapp conversando... (E10)

A postura não profissional pode ser evidenciada em diferentes contextos de

trabalho, pois tem relação com crenças, cultura, educação, formação acadêmica e valores

118

construídos ao longo da vida. Em oposição à postura desrespeitosa e não-profissional, no

ambiente de trabalho em saúde, as dimensões intrínsecas incluem a atenção, a empatia e a

disponibilidade para o atendimento aos usuários dos serviços. Mas, nos serviços hospitalares,

o que se tem percebido é uma despersonalização do trabalho humano, desempenhado por

indivíduos cujo ideal ético encontra-se perdido ou esquecido.

Tais posturas também foram evidenciadas durante as observações, conforme

registros do diário de campo: técnica de enfermagem lendo revista no horário do trabalho;

técnica de enfermagem falando sobre assuntos pessoais no telefone da unidade; técnicas de

enfermagem reunidas em torno do celular de uma delas, olhando fotos e fazendo comentários

sobre a foto [―muito bonito!‖]...

Ainda foi observado, em um plantão diurno na UTI, durante a passagem de

plantão, uma médica plantonista utilizando o celular de modo a interferir o trabalho. À beira

do leito, a médica participava da passagem de plantão, mas se afastava do grupo e não

prestava atenção na passagem, enviando e respondendo mensagens no celular, sorrindo e

interagindo com o aparelho telefônico. Como consequências, pode-se pensar que esta

profissional perdeu informações relevantes sobre o paciente, e os demais colegas perceberam

sua falta de interação, o que pode repercutir no desenvolvimento do trabalho da equipe como

um todo.

A falta de ética no ambiente de trabalho pode não ser reconhecida como um

comportamento inapropriado ou não receber a atenção merecida, caso a organização favoreça

a adoção de comportamentos indesejáveis, não abordando os profissionais com a seriedade

necessária.

A perda da ética conduz ao fracasso técnico e prático, podendo engendrar a

violência (transformando sujeito em objeto), em função da dependência e legitimidade do

saber e prática envolvidos (AGUIAR; D‘OLIVEIRA; SCHRAIBER, 2013).

O comportamento ético se origina das estruturas psicológicas profundas, que são,

em parte, uma predisposição e, em parte, resultado de um cultivo. Quando nos comportamos

eticamente como cuidadores, não estamos obedecendo a princípios morais – embora,

certamente, eles possam guiar nosso pensamento -, mas estamos nos reunindo ao outro em

encontros em que há compromisso e há escolha (NODDINGS, 2003).

Nesse sentido, a falta de ética favorece os casos de desrespeito, conforme se pode

ver a seguir:

119

O comportamento assim que eu mais abomino aqui são dos cirurgiões,

porque eles não respeitam a Enfermagem. Não adianta nenhuma informação

que a gente passe para eles, que parece que não tem importância nenhuma!

Eles se sentem acima de tudo e de qualquer coisa, não sei porque eles tem

essa postura. Desprezam o trabalho da gente da Enfermagem. (E3)

Estudo sobre sofrimento moral na enfermagem encontrou resultado semelhante.

Este sofrimento estava mais associado ao enfrentamento de situações diretamente

relacionadas ao modo de agir de alguns médicos, o que pode estar ligado à percepção de um

aparente descaso e indiferença frente às queixas e manifestações referidas pelos pacientes, à

demora nos atendimentos às solicitações das enfermeiras, a ausências e falta de

comprometimento com a integralidade da atenção, prescrições médicas incompletas, com

erros e/ou atrasadas (BARLEM et al., 2012).

Outros depoimentos representaram o desrespeito entre os membros da equipe de

enfermagem:

Eu tive um problema com uma [auxiliar da noite]. Fui fazer uma transfusão,

aí calculei o gotejamento em horas [e disse:] olha daqui a tantas horas você

pode pedir a segunda bolsa [de sangue]. [E ela respondeu]: olha, eu vou

trazer e vou instalar, e eu: você não vai instalar, quem instala bolsa de

sangue é o enfermeiro; e a técnica: eu instalo até no plantão da chefe, porque

que eu não instalo no seu? eu disse: instale no dela, mas no meu você não

vai instalar, entendeu? Tem essa questão, aí ela diz: eu tenho mais tempo do

que você aqui, e se acha! As meninas da noite são assim, se eu digo: eu não

quero Antibiótico em vinte [ml] de soro, mas elas fazem... (E5)

[As auxiliares da noite dizem assim:] eu não vou receber o plantão, eu vou

trocar de roupa, vou comer... e a auxiliar do dia esperando [para passar o

plantão e ir embora], entendeu? (E5)

Assim, [exemplo de comportamento destrutivo envolve] a questão de

receber o paciente ou não. A enfermeira lá embaixo [na emergência] decidia

quando ela ia receber o paciente, ela queria decidir que paciente vinha, o

médico falava uma coisa e ela decidia por outra, entendeu? Por algum

motivo assim que ela acha que é a chefe do serviço. (M2)

[Comportamento destrutivo] tem relação com a chefia impor, dizer: olha é

assim, pronto acabou, trabalhe com o que tem, dessa forma e fique calada! É

a falta de respeito com o colega que exerce a mesma função que a sua só que

ele tem um cargo de chefia que eu acho que são coisas que tem que ser

explicadas de uma forma mais tranquila e não com agressão, com falta de

respeito... com autoridade a pessoa se sente mais... (E9)

O desrespeito sistêmico também foi abordado pelos estudos analisados na fase

teórica. Acredita-se que existe uma tolerância aos comportamentos inapropriados e ao

desrespeito na sociedade contemporânea, como se o ser humano estivesse se acostumando a

viver em um ambiente hostil, dentro e fora do trabalho. Essa tolerância manifesta-se no fato

120

de considerar que tais atitudes são normais, inerentes à pessoa desrespeitosa, acreditando que

não há o que fazer.

Este desrespeito foi observado no comportamento adotado por um maqueiro na

unidade de internação da clínica médica, quando uma enfermeira solicitou que levasse um

paciente urgente para um exame. A médica do paciente reforçou que era urgente e que ela

mesma iria acompanhando o paciente. O maqueiro respondeu que não tinha cadeira de rodas

disponível e a enfermeira perguntou se poderia, então, levá-lo em uma maca. Ele respondeu

que não tinha nem maca nem cadeira. A médica perguntou, então, se não poderia levar o

paciente na sua própria cama, pois o exame era realmente urgente, e o maqueiro perguntou:

por que é tão urgente? e disse que não ia levar na cama, ia procurar por uma cadeira... [Recusa

pedido da médica e da enfermeira].

Vê-se que a postura do maqueiro é desrespeitosa mas, ao mesmo tempo,

imprevista, pois, na prática, é incomum ver esses trabalhadores questionarem as atividades a

eles delegadas. Em geral, respeitam as normas do serviço e atuam como colaboradores no

processo de trabalho em saúde, apesar de não serem profissionais desta categoria.

No entanto, essa atitude desrespeitosa pode revelar um comportamento de

retaliação por parte do maqueiro, ao enfrentar em seu cotidiano as dificuldades de falta de

instrumentos básicos de trabalho, como a cadeira de rodas ou a maca para o transporte de

pacientes, sua única atribuição. Ou seja, remete-se à problemática da organização e das

condições de trabalho e de suas repercussões para o comportamento dos trabalhadores.

Em outra perspectiva, pode-se pensar que o maqueiro agiu dessa forma porque

estava sobrecarregado e sob pressão das inúmeras chamadas das unidades assistenciais, o que

não justifica, mas pode ter relação com a adoção de comportamento destrutivos.

Acrescenta-se, ainda, à reflexão exposta, a banalização da injustiça, quando o

sistema organizacional produz e agrava as desigualdades, fazendo com que as injustiças

pareçam boas e justas (DEJOURS, 2001). Segundo o autor, há uma tolerância social cada vez

maior com as injustiças sociais, os sofrimentos infligidos a outrem em nossas sociedades. Esta

tolerância não resultaria somente da resignação dos indivíduos ou de um sentimento de

impotência diante de processos que julgam inevitáveis, mas funcionaria também como defesa

contra a consciência dolorosa da própria cumplicidade e responsabilidade no agravamento da

adversidade social.

Além disso, as estratégias de defesa contra o próprio sofrimento psíquico também

podem tornar tolerável o que o autor denomina ―sofrimento ético‖ – entendido como o que o

121

sujeito pode experimentar ao cometer, por causa de seu trabalho, atos que condena

moralmente (DEJOURS, 1999).

O desrespeito sistêmico manifesta-se por meio desta aceitação do desrespeito

como algo estabelecido e inerente às características do sistema de saúde. Os hospitais

demonstram falta de respeito com os enfermeiros e outros trabalhadores quando eles não

conseguem garantir a sua segurança física, tomando as medidas adequadas para evitar

ferimentos, como acidentes com agulha e tensão nas costas. O fato de que estas são muitas

vezes aceitas como riscos do trabalho ilustra até que ponto a falta de respeito é

institucionalizada em hospitais (LEAPE et al., 2012).

Paralelamente ao desrespeito sistêmico, alguns entrevistados citaram profissionais

cujas condutas eram manifestadas pelo abuso de poder, ao praticarem uma gestão autoritária e

punitiva:

Agora recentemente umas colegas foram advertidas, de assinar advertência,

porque elas estavam fora da unidade e o chefe não queria saber porque elas

estavam lá. Elas estavam lá porque o rapaz do raio X disse ―tá na hora do

raio X‖, e elas saíram da unidade pra não receber uma radiação. E, por conta

disso, o chefe deu uma advertência assinada, que eu acho errado. (AE2)

Teve uma vez que estava faltando um manguito para um doente. Todo

paciente em terapia intensiva cada um tem seu manguito, o seu monitor, tudo

separado. Aí quando eu cheguei no plantão, estava um manguito sendo

usado para dois pacientes, tirava de um e daqui a pouco puxava no outro...Aí

eu fui direto na pessoa responsável, minha superior, falar que não tinha

condições daquele jeito, tinha que ser providenciado um manguito da forma

correta. Aí ela disse: não, mantém desse jeito mesmo! Não tem, pronto e

acabou! Aí a gente tem que aceitar aquilo ali e trabalhar daquela forma, sem

ser da forma certa, a pessoa chega e impõe a autoridade dela. (E10)

Tem uma enfermeira que eu acho que ela é assim agressiva, fica prestando

conta de tudo, querendo mostrar serviço, assim, geral... (M2)

Estava faltando médico na UTI e o chefe, o coordenador atual da UTI, se

posicionou de uma maneira que eu não concordei. O médico plantonista já

estava há mais de 36 horas de plantão, chegou a hora de ele sair, mas tinha

um colega que tinha saído de férias, todo mundo sabia e o coordenador não

providenciou ninguém para ficar no lugar dele. Aí quando o colega

plantonista disse que ia embora e ia deixar o plantão com o residente que é

capaz, que também é plantonista, é intensivista, o chefe não concordou e

disse que o médico seria obrigado a ficar no plantão. Isso é uma coisa

incoerente! Ninguém em sã consciência obriga ninguém a dar mais de 36

horas de plantão, nem 24 horas a gente poderia!... Também vejo muita

pressão da chefia da enfermagem com os auxiliares. 99% dos que são

subordinados a ela [chefe] reclamam. (M3)

122

Essas manifestações de gestão autoritária e punitiva também foram visualizadas

durante o período de observação, principalmente entre a chefia e os ―subordinados‖ em uma

unidade de internação, como se lê nos registros do diário de campo:

Chefe de enfermagem veio ao posto e perguntou para duas técnicas sobre uma

troca de plantão, chamando a atenção das duas na frente de todos no posto de enfermagem, e

usando um tom de voz elevado.

Chefe de enfermagem, ao mexer no computador do posto de enfermagem, disse

em voz alta: - Isso aqui tá errado!! [instrumento de passagem de plantão]. Em seguida,

reclamou com um funcionário [secretário] e disse que ele tinha que dar um jeito naquele

instrumento, pois a palavra ―mobilidade‖ não deveria estar numa linha sozinha. O secretário

respondeu que já havia tentado mas não conseguia. E a chefe respondeu em tom de voz

elevado na frente de todos: - Tem que dar um jeito. Vamos gastar papel até sair do jeito que

eu quero! [E bateu a mão com força na bancada].

Enfermeira chefe falava alto com todos, inclusive com os membros da equipe

médica. Queixava-se de todos e da unidade como um todo [desorganização]. Abria portas e

gavetas em busca de identificar falhar/erros. Se reportava a todos com arrogância. Aparentava

gerar intrigas na equipe, sempre chamando os trabalhadores para responder pelos ―erros‖

identificados. A maioria relacionada à guarda de material e à organização da unidade.

Vê-se que a maior parte das atitudes desrespeitosas era adotada pela chefe do

serviço, uma enfermeira rude, que adotava inúmeras condutas características de

comportamento destrutivo no trabalho, tais como: usar poder para gerenciar; intimidar a

equipe médica e de enfermagem; criar um ambiente de medo; dominar ou controlar os outros

por posição; fazer ataques verbais altos; gritar; promover blasfêmia e romper com a harmonia

da equipe.

Esta vigilância hierárquica se constitui num jogo de olhares que se efetua na rede

de relações múltiplas e entrecruzadas, mesmo quando a organização possui uma forma

piramidal, como num hospital de ensino, de forma que se instituem “fiscais perpetuamente

fiscalizados”. Os efeitos de poder desta vigilância hierarquizada se realizam de forma

integrada, ou seja, ela se insere na essência da prática seja no ensino ou na produção, como

um mecanismo que, tornando-se inerente a essa prática, multiplica sua eficiência (SOUZA,

1998).

Particularmente na Enfermagem, o processo gerencial, como meio para a

efetivação da assistência, é realizado privativamente por enfermeiros, que participam nos

órgãos decisórios institucionais, reproduzindo a política institucional de produtividade,

123

utilizando como instrumento a hierarquia e o autoritarismo. Esses processos expõem os

trabalhadores de enfermagem a cargas de trabalho, que são obstáculos para a saúde (ROCHA;

FELLI, 2004).

Autores acrescentam que a ação de controlar exerce um caráter punitivo, atribui

autoridade e poder, pois os enfermeiros possuem a necessidade profissional de controlar como

parte de exercício de suas ações, em seu processo de trabalho (VAGHETTI et al., 2004).

Nesse sentido, em estudo de etnoenfermagem, foi possível identificar situações de

autoritarismo, de humilhações e ofensas a que esses trabalhadores ainda são submetidos pelas

chefias, optando por se calar, por não dialogar ou tentar o consenso, por medo de serem

penalizados (DALMOLIN; LUNARDI; LUNARDI FILHO, 2009).

É preciso ressaltar que o poder pode ser utilizado de forma positiva quando

beneficia a todos, mas seu abuso, no caso da Enfermagem, pode oprimir os trabalhadores a

ponto de prejudicar o cuidado aos pacientes. Os profissionais de enfermagem devem

compartilhar esse poder no processo de empoderamento das pessoas, não para dominá-las,

coagi-las ou controlá-las (RIBEIRO et al., 2011).

As possibilidades de transformação estão postas em novas formas de organizar o

trabalho, privilegiando o desenvolvimento das quatro dimensões da gerência, no

exercício gerencial. Para tal, torna-se imprescindível a adoção de processos mais

participativos de gestão e o investimento em educação continuada centrada na

emancipação dos sujeitos. A gerência, pela forma como se insere no processo de

trabalho de enfermagem, incorpora tanto obstáculos para a melhoria da saúde dos

trabalhadores como detém possibilidade de transferência dessa realidade (ROCHA;

FELLI, 2004, p.458).

Enquanto as mudanças não ocorrem, o cenário de punição, desrespeito e

hostilidade é perpetuado, podendo surgir os casos de violência, a qual vem sendo manifestada

no contexto laboral de diferentes formas: física, sexual ou psicológica.

A violência é favorecida pelo ambiente no qual não existem regras internas, nem

para os comportamentos nem para os métodos; tudo parece permitido. O poder dos chefes não

tem limites, assim como o que pedem aos subordinados. Quanto mais uma organização é

hierarquizada, mais forte é a dependência e mais aumenta o risco de assédio moral. Em

consequência, o que aparece claramente é que, se um dirigente ou alguém da direção tem

atitudes perversas, isto provocará comportamentos perversos ao longo de toda a escala

hierárquica. Os relacionamentos perdem as regras, e todas as atitudes passam a ser permitidas.

O sistema torna-se então perverso por ele mesmo, uma vez que não existe um padrão ético de

conduta (CLDF, 2008).

124

Na categoria violência psicológica, houve destaque para as condutas

características de intimidação e assédio moral:

Tem um caso aqui de uma auxiliar de enfermagem pegar o prontuário

daquela paciente, que [outra auxiliar de enfermagem, novata] estava

responsável, olhar, bater foto para ver o erro e mostrar para a chefia. Fotos

de trabalho, de procedimentos que ela fez errado. Então ela espalha para

todo mundo. Então o que que acontece... É uma falta de postura enorme! E o

pior: a colega que errou tinha mais de anos de experiência e, a outra, cinco

meses de enfermagem na vida! E influenciar toda a equipe da noite... A

pessoa trabalhar sob pressão, sair de casa e saber que vai ser vigiada 24

horas... As meninas [mais antigas] cismaram com ela. (TE10)

Antes tinha muito conflito, principalmente na emergência... Era assim, muito

estresse, muito estresse mesmo, de colegas... Agredir, assim... Até mesmo o

modo de falar, quando por exemplo, se tivesse um colega que estava

chegando, não tivesse segurança para fazer [o procedimento], uma

experiência maior...Aí chegava e falava assim: você não sabe fazer isso?!...É

muito tempo te agredindo! (TE6)

Tinha a lei do silêncio. Toda semana ela [a chefe] determinava uma pessoa

para fazer a lei do silêncio: não pode conversar! Aí, assim, ela colocava a

gente uma contra as outras! Ela [a chefe] trabalhava em forma de ditadura!

(E4)

Gritos, intimidação, repreensão tem quase todo dia, né? E ser repreendido

pelos próprios colegas da enfermagem mesmo, da sua própria categoria né?

De uma coisa que não foi dado continuidade, de um erro e um senso, de

alguma coisa desse tipo... (E7)

Tem caso aqui de três funcionários que iriam sair do hospital porque, por

ocasião da avaliação que é feita [de desempenho], a chefia julgou muito

abaixo do [padrão]... por motivos pessoais, deu uma nota inferior e isso

gerou problema para eles. Os problemas daqui geralmente são [entre]

auxiliares de enfermagem e a chefia deles. E a chefia direta. Seriam

devolvidos para a secretaria de saúde porque não atingiram o perfil, mas não

foi... Foi assim, injustamente, porque na verdade eles eram capazes e foi

mais uma questão pessoal. (M3)

A intimidação envolve comportamentos ativos ou passivos que intencionalmente

infligem danos psicológicos ao alvo. Desse modo, os depoimentos supracitados são retratos

da intimidação no hospital em estudo, sendo necessário lembrar que os trabalhadores

entrevistados não exerciam suas atividades na mesma unidade.

A intimidação no trabalho em saúde também foi abordada por diversos estudos na

fase teórica, destacando-se condutas características desse tipo de agressão psicológica:

a) Usar força ou poder para gerenciar (CHISM, 2012b);

b) Dar muita responsabilidade sem supervisionar adequadamente (LUX;

HUTCHESON; PEDEN, 2012);

125

c) Intimidar a equipe de enfermagem, sempre que ela questiona ou pede

esclarecimentos sobre a condição do paciente, ou quando documentação

necessária está faltando no prontuário do paciente antes da cirurgia de rotina

(VELTMAN, 2007);

d) Um médico intimidante no posto de enfermagem ou nas salas cirúrgicas,

repreendendo o pessoal verbalmente, jogando instrumentos cirúrgicos,

humilhando o pessoal de anestesiologia (WLODY, 2007);

e) Insinuar acusações ao invés de ser direto; ameaçar arruinar a carreira se o

comportamento for relatado (KAPLAN; MESTEL; FELDMAN, 2010);

f) Repreender os colegas de trabalho (KAPLAN; MESTEL; FELDMAN, 2010;

ROSENSTEIN; NAYLOR, 2012);

g) Suprimir a entrada de outros membros da equipe de saúde no cuidado ao

paciente (SPRINGER, 2008);

h) Ameaçar a segurança psicológica dos membros da equipe (WINLAW et al.,

2011);

i) Agir com sarcasmo, gestos não-verbais ou comportamento passivo-agressivo

(ROSENSTEIN, 2011b);

j) Fazer fofocas; olhar fixamente, suspirar, gritar, fazer gestos, caretas, e

posicionar o corpo para excluir outros de uma conversa (ZIMMERMAN;

AMORI, 2011);

k) Fazer fofocas negativas, comentários intimidantes, e exclusão de atividades

sociais na unidade (CLARCK; AHTENS; MACY, 2013);

l) Enfermeiras repreendendo colegas menos experientes (MARTIN, 2008);

m) Ameaçar membros da equipe com retribuição, processos, violência ou perda de

emprego (FELBLINGER, 2008);

n) Adotar comportamento que pode ignorar ou minimizar outra enfermeira, tais

como rolamento de olho ou levantar a sobrancelha (BIGONY et al., 2009);

Em estudo norte-americano sobre as experiências de enfermeiras assistenciais

com comportamento destrutivo, os relatos das participantes evidenciaram comportamentos

destrutivos incluindo comportamento rude e desrespeitoso, desrespeito profissional quando na

defesa de um paciente, engajar-se em fofocas, microgerenciamento excessivo de seu trabalho,

intimidação e agressão verbal (WALRATH; DANG; NYBERG, 2010).

126

Qualquer comportamento que influencia o desejo do pessoal de saúde de reduzir,

limitar ou eliminar qualquer interação com um determinado indivíduo porque ele ou ela

espera que o encontro seja desagradável se encaixa na definição de intimidação insidiosa, a

qual se manifesta em três categorias principais de comportamento: passivo-agressivo, verbal

e não-verbal. A agressão passiva é um comportamento em que um indivíduo faz comentários

que parecem cooperativa e complacente mas eles se comportam de maneira que minam essas

declarações (ZIMMERMAN; AMORI, 2011).

Pessoas passivo-agressivas podem, tranquilamente, sabotar indivíduos no

processo por não concluírem o seu trabalho ao nível exigido para uma passagem de plantão

segura (eu não tenho tempo para completar esse formulário. Deixe-os descobrir.). O seu

cumprimento pode atender à letra da lei, mas outros podem vê-lo como resistentes ou talvez

até rancorosos. Se a pessoa é um supervisor, ela pode delegar regularmente tarefas

indesejáveis aos indivíduos que ele não gosta (ZIMMERMAN; AMORI, 2011).

Como formas de intimidação não-verbal, destacam-se: olhar fixamente, suspirar,

gritar, gesticular, fazer caretas, e posicionar o corpo de modo a excluir outros de uma

conversa (ZIMMERMAN; AMORI, 2011).

Já a intimidação verbal pode caminhar lado a lado com os outros dois tipos. Pelo

menos direta, volitiva, e, mais importante, potencialmente ouvida pelos outros e, portanto,

pode mais facilmente ser documentada como prova. O praticante de intimidação verbal

insidiosa frequentemente fofoca, comunica-se com sarcasmo, e em alguns casos até mesmo

reconhece o efeito deletério do seu comportamento. Alguns podem exercê-lo como uma arma

para garantir sua posição de autoridade ou posição desejada de autoridade. Alguns podem ser

experientes e sobreviver a anos de mudanças. Estas pessoas podem criticar abertamente os

colegas, políticas, mudanças, ou a administração, enquanto reclamam que as outras partes

estão desrespeitando os seus próprios sentimentos ou pensamentos. Eles podem queixar-se

aos pacientes, bem como a outros funcionários sobre recursos humanos, administração ou

políticas. Eles podem insultar colegas mais jovens ou fazer comentários maldosos sobre eles.

Podem acusar as pessoas de ser responsável por erros que ocorrem. Eles podem se gabar de

suas realizações ou esforços para instituir a mudança, comentando que o processo "nunca

funciona" ou "já foi tentado antes e não funcionou, então, por que trabalhar agora?" O mais

importante, gerentes e supervisores precisam perceber que a experiência desses indivíduos

particulares dá peso a suas palavras e que os profissionais mais jovens e menos experientes

podem aprovar seus pontos de vista e ações (ZIMMERMAN; AMORI, 2011).

127

Esta intimidação também foi evidenciada nas observações, conforme os registros

do diário de campo:

Chefe de enfermagem abre armário, retira dali uma conexão para oxigênio e diz

que ali não é lugar para guardar aquilo. E coloca o objeto em cima da bancada do posto de

enfermagem. Em seguida, a enfermeira assistencial chega, pega a conexão, levanta e mostra

para a chefe, como se questionasse o que aquilo estava fazendo em cima das coisas dela. A

chefe responde: ―Você sabe que o lugar disso não é ali‖. Enfermeira responde: - ―e é aqui?‖.

Chefe responde de novo: ―Você sabe onde é o lugar!‖.

Técnica de enfermagem pede para a enfermeira solicitar máscara de oxigênio para

aerossol. Ela liga para o setor responsável, mas ninguém atende. Depois de um tempo a chefe

fica sabendo que está faltando máscara e diz em voz alta: ―Eu vou deixar é faltar máscara,

para ver se as pessoas aprendem a ser mais responsáveis, tem um monte de kit aí

incompleto!‖.

As condutas observadas são consideradas manifestações de mobbing,

caracterizado por situações de assédio moral, coação psicológica e violência emocional, ou

seja, uma severa forma de stress psicológico resultante de comunicações hostis ou atos

dirigidos de forma sistemática a um indivíduo, com dificuldades em defender-se (SARAIVA;

PINTO, 2011).

O tema assédio moral ainda é considerado novo. As pesquisas voltadas para essa

área temática encontram-se, em sua maioria, no campo do Direito, deixando um vasto campo

social e emocional a ser pesquisado. Assim, tem despertado interesse dos estudiosos de outras

áreas, porém, no Brasil, discussões e pesquisas sobre ele ainda precisam de maior visibilidade

(SOUSA, 2012).

Uma recente análise do conceito de assédio moral foi realizada por pesquisadoras

brasileiras, que o definiram como ―violência psicológica, sutil, dissimulada, intencional, de

caráter repetitivo e prolongado, com a intenção de humilhar e excluir socialmente uma pessoa

no contexto da atividade laboral, provocando-lhe estresse psicossocial e prejuízos à sociedade

e à organização” (CAHÚ et al., 2012, p.559).

Em nossa pesquisa, um caso de assédio moral foi relatado por uma enfermeira:

128

A gente não podia conversar umas com as outras, não podíamos almoçar

juntas...eu era obrigada a fazer pesquisas para colocar o nome da pessoa. Ela

[a chefe] usa os fracos, que não verdade não são fracos intelectualmente, não

são fracos de desenvolver atividades, são fracos apenas de poder, no sentido

de hierarquia, aí ela mostra os serviços deles como se fosse serviço dela..ela

trabalhava em forma de ditadura!e vivia dizendo também: - uma vez

trabalhando comigo, se você sair, você não pode mais voltar! Porque eu

tenho pleno apoio da direção. Entrevistada: - que eu não sei se tem mesmo

esse apoio, mas ela vivia dizendo: a direção já disse: se eu quiser demitir

todo mundo eu posso demitir! Então vocês tomem cuidado! Uma vez

trabalhando comigo, não trabalha mais em outro setor! (E4)

Trata-se de uma situação cuja prevalência é muito mais frequente do que se

imagina, e com tendência a aumentar progressivamente, acarretando efeitos devastadores na

vida dos indivíduos, mas também nas organizações e na sociedade (SARAIVA; PINTO,

2011).

Estudo revisou pesquisas sobre assédio moral na Enfermagem, em todo mundo, e

identificou que são comuns os comportamentos manifestados por meio de relações

hierárquicas e abusivas, e também sob a forma de discriminação racial. Os autores

evidenciaram que existem evidências de que enfermeiros, além de alvos, também tem sido

autores de violência no ambiente de trabalho (FONTES; PELLOSO; CARVALHO, 2011).

―O trabalho tem um papel central na estruturação da identidade, e ser apreciado,

estimado ou amado ajuda a garantir uma boa imagem de si mesmo. Inversamente, ser

rejeitado, criticado ou humilhado desperta um sentimento de insegurança‖ (CLDF, 2008, p.9).

Além da intimidação, houve relatos de grosseria e abuso verbal por parte de

médicos, segundo os relatos dos entrevistados: ―O anestesista começou a gritar comigo,

dizendo que a enfermeira era incompetente, que não tinha ligado para avisar.‖ (E1)

O médico começou a gritar! Ele tava nervosinho com alguma outra coisa e

se estressou. Eu presenciei o nervosismo dele depois em exigir minha

presença lá e que eu não saísse de lá enquanto ele não terminasse o

procedimento. (E3)

Médico estrela gritando com a enfermeira, porque queria descer o paciente

para uma tomografia. O médico queria descer o paciente para fazer uma

tomografia, aí aqui tá reduzido [o pessoal de enfermagem] ... e aí ele disse

que não queria saber se tava reduzido, queria saber se descia o paciente.

(TE4)

Tem muitas histórias assim de cirurgião, de ser grosseiro com residente, com

a técnica, de jogar material... aqui na chefia da enfermagem tem algumas

histórias também. (M5)

129

Em relação a assédio físico, sexual, nunca sofri, nunca ouvi falar; em relação

a gritos, intimidação, isso aí eu já ouvi, já ouvi nos corredores, a pessoa que

fala mais alto, às vezes, médico com enfermeiro, médico com

fisioterapeuta... Reclamando, aí fala mais alto. Tem internos, residentes que

às vezes chegam com uns gritos... tem pessoas que gritam e saem correndo,

não escutam, não querem lhe escutar também, não esperam nem para escutar

sua resposta... (E7)

Os depoimentos evidenciam o abuso verbal dos médicos e sofrido,

principalmente, pelas enfermeiras e técnicas de enfermagem do serviço. Cabe ressaltar que

nenhum dos médicos entrevistados relatou sofrer abuso verbal de um colega da mesma

categoria ou da categoria de enfermagem, apenas M5 comentou que sabia de histórias

envolvendo cirurgiões.

Segundo os artigos analisados na fase teórica, a grosseria pode envolver

comentários grosseiros (HPR, 2007; PFIFFERLING, 1999; GRENNY, 2009); linguagem

condescendente ou entonação de voz (LEIKER, 2009); linguagem profana, ofensiva,

depreciativa (SAXTON, 2012, JACOBS; WILLE, 2012; linguagem corporal ameaçadora

(SAXTON, 2012); condescendência (152 citaram, 52,6%) (ROSENSTEIN; NAYLOR, 2012);

e uso de linguagem alta, chula e com raiva (GALLUP, 2006).

A lógica do padrão de comportamento destrutivo se refere ao uso de "linguagem

grosseira" e "condutas ameaçadoras" - ambos os termos gerais podem ser interpretados de

várias maneiras diferentes. O que uma pessoa considera rude ou ameaçador, outro pode não

considerar. Então, uma das coisas que as organizações precisam fazer é levar isso para fora do

subjetivo, e torná-lo muito específico. Pode ficar fora de controle, a menos que este esteja

claramente definido (HPR, 2007).

Em qualquer ambiente de cuidados em saúde, mas principalmente em hospitais,

não é difícil encontrar esse padrão de comportamento em profissionais médicos. Segundo

Gallup (2006), médicos acreditam que estão acima das regras, dos padrões de comportamento

e de etiqueta social aos quais os demais profissionais são submetidos.

Tem sido relatado, também, que os médicos abusivos que geram muito dinheiro

para os hospitais são relativamente imunes à punição e, em grandes cidades, com vários

hospitais, esses profissionais são ''permitidos'' a serem destrutivos. Autor explica que este tipo

de situação é cada vez mais comum na ―Geração X‖ (de indivíduos em seus primeiros 20 a 40

anos), pois ela pode ser menos disposta a aceitar a autoridade e hierarquia em comparação

com gerações anteriores (pessoas com mais de 40 anos) (GALLUP, 2006).

130

Trata-se de um sistema de privilégios instituído e imbricado na estrutura

hierárquica de muitos hospitais e instituições de saúde cuja organização sofreu influência do

militarismo (BITTAR, 2004), o que nos remete à necessidade de aproximação ao estudo de

sua natureza histórica.

Na idade contemporância (de 1789 em diante), a medicina convergiu para o

hospital e experimentou reformulações na orientação pragmática, o que fez com que ela se

convertesse em atividades eminentemente hospitalares. Assim, o saber médico proclamou a

necessidade de estabelecer um rígido controle sobre tudo o que envolvesse o doente internado

e, para que isso se tornasse viável, foram necessários que todos os recursos hospitalares se

destinassem expressamente às finalidades terapêuticas, ficando então submetidos ao comando

funcional e administrativo da classe médica (MOREIRA, 2007).

Desse modo, o papel que o hospital e as demais instituições de saúde

desempenham tem como palco o poder médico, sobretudo depois de 1920, e a generalização

dos sistemas públicos e privados de seguro-saúde e seguro-doença. Hoje, o hospital é um

sistema de poder e de autoridade diferente de outras organizações, assim como apresenta uma

estrutura técnica e organizacional de trabalho e uma cultura muito próprias (MOREIRA,

2007).

Segundo Pedrosa e Couto (2007), para o cumprimento de suas funções e para o

atendimento da alta regulamentação desse setor, as instituições hospitalares modernas se

organizam internamente em estruturas hierárquicas e de poder, compostas de diversas áreas e

subáreas, em que um grande número de profissionais técnicos e não-técnicos executa

atividades extremamente diversificadas.

Por suas características complexas, os autores afirmam que o hospital é uma

organização cada vez mais regida por leis, normas, regulamentações e portarias, onde existe

uma diversudade de anseios e objetivos específicos de cada categoria profissional atuante na

organização que é campo de conflito e disputas (PEDROSA; COUTO, 2007).

Assim, médicos alcançam um sistema de privilégios de diversas espécies, e um

destes tem sido a ―aceitação‖ de suas condutas inapropriadas e hostis, principalmente por

parte de cirurgiões, staffs (chefes de equipe), dentre outros que ocupam o topo da hierarquia.

Assim, seus maus comportamentos não são abordados pelos pares ou pelos gestores,

perpetuando o que se pode chamar de hostilidade institucionalizada.

A problemática do abuso verbal e dos maus comportamentos não é exclusiva da

categoria médica. Budin et al. (2013) estudaram o abuso verbal sofrido por enfermeiras em

início de carreira pelos colegas da mesma categoria, concluindo que este continua a ser um

131

grande problema, apesar da atenção dada a ele ao longo dos últimos cinco anos. Os dados do

estudo apoiam a noção de que enfermeiras assistenciais, em início de carreira, são

potencialmente vulneráveis aos efeitos do abuso verbal dos colegas de enfermagem. Como

esses dados são provenientes de uma grande amostra representativa (1.544 enfermeiras), os

autores tem mais confiança na generalização dos resultados em comparação com estudos

anteriores.

No mesmo estudo, as enfermeiras que trabalhavam em ambientes hospitalares, em

comparação com outros ambientes de trabalho, foram as mais propensas a relatar níveis

moderados ou elevados níveis de abuso verbal dos colegas enfermeiros, enquanto enfermeiros

que trabalham em UTI‘s foram os menos propensos a relatar altos níveis de verbal abuso de

colegas de enfermagem (BUDIN et al., 2013).

Enfermeiras que trabalhavam pela manhã também experimentaram uma maior

proporção de abuso verbal do que as que trabalhavam à tarde ou à noite. As que trabalhavam

em turnos de 8 horas eram menos propensas a experimentar o abuso verbal, e aquelas que

trabalham em turnos de 12 horas sofreram abuso mais moderado do que aquelas que

trabalharam em outros turnos. Enfermeiras que relataram menor número de profissionais na

equipe do que o previsto em sua unidade, na maioria ou a cada um dos seus turnos, eram mais

propensas a experimentar níveis moderados a elevados de abuso verbal, em comparação com

aquelas que não experimentaram carências de pessoal. E aquelas que relataram nenhum

abuso verbal por parte dos colegas de enfermagem eram menos propensas a deixar a sua

posição nos próximos 3 anos, e aquelas que sofreram abuso verbal moderado a alto foram

mais propensas a deixar a profissão nos próximos 12 meses (BUDIN et al., 2013).

Em outra pesquisa, os participantes foram solicitados a descrever o impacto do

comportamento destrutivo em si mesmos e nos outros. Foram sintetizados 90 descrições em

três temas: impacto no enfermeiro assistencial, no paciente e no ambiente da prática do

enfermeiro. Uma enfermeira descreveu os efeitos significativos de incivilidade

experimentados com "grosseria cotidiana... o impacto disso é grande! afeta a sua moral, o seu

investimento, o tempo que você está disposto a trabalhar, e a sua vontade de vir trabalhar.‖

(WALRATH; DANG; NYBERG, 2010).

Quanto à violência física, apenas um caso foi relatado, em nosso estudo, por uma

técnica de enfermagem da sala de parto, que envolvia dois profissionais de categorias

distintas. Apesar de ser importante a violência física para aquele contexto, esta não foi uma

prática frequente evidenciada no cotidiano do serviço.

132

5.4.1.2.2.2 Características ou adjetivos atribuídos ao comportamento destrutivo do

trabalhador de saúde

As características do comportamento destrutivo são aquelas evidências ou

adjetivos específicos que permitem identificar o profissional destrutivo no âmbito da prática

clínica e da pesquisa. Estas foram identificadas em 27 unidades de registro, nas quais os

entrevistados desceveram os profissionais que adotavam comportamento destrutivo como:

grosseiro/ignorante (13), desrespeitoso (3), desagradável (2), constrangedor, inapropriado,

chato, desumano, explosivo, confuseiro, pedante, arrogante e agressivo.

Nos depoimentos identificam-se tais adjetivos: ―[Os indivíduos destrutivos] ficam

vistos como o estúpido, o ignorante, e que desprezam o trabalho da gente, em si, da

enfermagem no geral.‖ (E3); ―[O indivíduo destrutivo é uma] pessoa grosseira mesmo,

ignorante...‖ (TE4); ―Ela [a médica destrutiva] é tão grossa! Porque ela é uma médica tão

profissional, tão boa, e assim tão ignorante!‖ (TE7); ―Ele [o cirurgião destrutivo] é uma

pessoa arrogante!‖ (E1); ―[O comportamento destrutivo é] inapropriado e desrespeitoso com o

paciente, e também com o profissional...‖ (M2); ―[As técnicas de enfermagem da noite] são

conhecidas como explosivas, confuseiras, desde a portaria, brigam até com o porteiro...‖ (E5);

Tem uma colega que o jeito dela ser grosseirona, ela era grosseira com os pacientes... então

isso me agredia também, só que eu não podia interferir, senão ia gerar conflito. (TE6)

Percebe-se que os trabalhadores trouxeram em suas definições termos

culturalmente arraigados, que caracterizam os sujeitos que adotam comportamento destrutivo,

em sua maioria, como grosseiros ou ignorantes. No domínio local da língua, a palavra

ignorante tem, além do significado de pessoa sem instrução e educação formal, um sentido de

pessoa grosseira, rude, que age de forma desrespeitosa.

Analisando as narrativas da experiência de 13 pacientes durante a internação em

um hospital geral público de Fortaleza-Ceará, pesquisadoras constataram que o paciente

avalia os gestos e expressões dos cuidadores durante todo o percurso. No contexto

pesquisado, foi criticada a atitude distante, fria e bruta dos profissionais de saúde,

metaforicamente comparada a um cavalo batizado por parte dos pacientes (NATIONS;

GOMES, 2007).

As autoras afirmaram, ainda, que há uma assimetria na relação, parte de uma

complexa rede de representações conflituosas com disparidades de classe, status,

escolaridade, condições de vida etc. Quando o profissional, o cavalo batizado, maltrata –

soltando grosserias, falando brutalmente ou tratando de modo ignorante –, o paciente é

impotente para denunciá-lo abertamente.

133

Ademais, vê-se que não só o paciente reconhece estes atributos e sofre nessas

circunstâncias. Os trabalhadores que adotam uma conduta respeitosa, fundamentada em uma

atitude de generosidade, estabelecendo uma relação de trabalho justa e equilibrada, também

criticam seus colegas de trabalho, vivenciando um sofrimento moral nessa atmosfera de

hostilidade e desrespeito.

Assim, os adjetivos enunciados pelos entrevistados demonstram essa percepção

crítica sobre o profissional destrutivo, considerando-o grosseiro e incapaz de tratar os outros

de forma ética e profissional.

5.4.1.2.2.3 Antecedentes do Comportamento Destrutivo no Trabalho em Saúde

Após relatarem os casos vivenciados ou presenciados de comportamento

destrutivo no trabalho, os entrevistados foram interrogados sobre o que consideravam fatores

relacionados ou causas desses comportamentos.

Os antecedentes do comportamento destrutivo foram encontrados, portanto, em 84

unidades de contexto extraídas dos depoimentos analisados, tendo sido categorizados

conforme o padrão estabelecido na fase teórica: antecedentes intrapessoais, interpessoais e

organizacionais. Ressaltamos que o entrevistado poderia citar mais de um antecedente em seu

depoimento.

A Tabela 5 representa os resultados, com a frequência de ocorrência das unidades

de registro/contexto sobre cada antecedente.

134

Tabela 5 – Antedecentes do comportamento destrutivo no trabalho em saúde segundo os

entrevistados. Fortaleza, CE, mar-jul 2014. n=29

a. poderia haver citação de mais de um antecedente em cada entrevista.

Fonte: Elaborada pela autora.

Assim como evidenciado na fase teórica, os antecedentes intrapessoais foram

citados como mais prevalentes na origem dos comportamentos destrutivos evidenciados no

cotidiano dos trabalhadores entrevistados.

Destes, as características de personalidade foram referidas por quase todos os

entrevistados que relataram ter vivenciado comportamentos destrutivos, havendo alguns que

referiram este antecedente mais de uma vez ao longo da entrevista. Os depoimentos

representam tal achado: ―A personalidade mesmo [é o que influencia]. Pessoa mais arredia,

né? Aquela história do pavio mais curto, mais irritada.‖ (E6); ―[Comportamento destrutivo

tem relação com] prepotência, falta de amor e falta de preocupação com o paciente também.‖

(M5).

Eu acho que [comportamento destrutivo] é da característica da pessoa,

personalidade muito forte, pessoa grosseira mesmo, ignorante. Mais

[comum] em médico, mas também tem enfermeiros da personalidade muito

forte! (TE4)

[Comportamento destrutivo é] da própria característica da pessoa mesmo...

que ela parece ser um pouco mais desequilibrada, não sei, ou

emocionalmente desequilibrada, eu não sei se pode dizer isso... ou que está

sendo levado ao estresse do trabalho dele mesmo. (TE10)

Os entrevistados avaliaram seus colegas de trabalho, criticaram e apontaram as

possíveis causas, segundo suas percepções, sobre o que antecede a adoção de comportamentos

ANTECEDENTES f (%)

Intrapessoais

Características/traços de personalidade. 30a

Estresse. 12 (41,4)

Falta de competência e de compromisso. 7 (24,1)

Má educação. 6 (20,7)

Maior idade e tempo de serviço. 4 (13,8)

Falta de humanização/ética profissional. 3 (10,3)

Total 62a

Organizacionais

Sobrecarga de trabalho. 13 (44,8)

Conflitos de papel e de poder. 3 (10,3)

Problemas sistêmicos não resolvidos. 2 (6,9)

Total 18 (62,0)

Interpessoais

Divergência de opiniões/pensamentos. 2 (6,9)

Falta de respeito entre colegas. 2 (6,9)

Total 4 (13,8)

135

destrutivos. Destacaram, dentre outros, os traços característicos de personalidades mais

agressivas, emocionalmente desequilibradas, como apontam TE4 e TE10.

Autoras afirmam que os traços de personalidade podem ser usados para resumir,

prever e explicar a conduta de um indivíduo, de forma a indicar que a explicação para o

comportamento da pessoa será encontrada nela, e não na situação, sugerindo, assim, algum

tipo de processo ou mecanismo interno que produza o comportamento (SILVA; NAKANO,

2011).

Em estudo sobre violência institucional, autoridade médica e poder nas

maternidades sob a ótica dos profissionais de saúde, a maioria dos entrevistados também

associou a violência institucional ao caráter pessoal de quem a pratica. Ser violento seria uma

questão de ―natureza rude‖, de índole, de ―falha de caráter‖ ou uma questão de formação

pessoal, falta de ―berço‖, ou seja, em função do grupo social em que está inserido. Esse tipo

de justificativa naturaliza a violência, limita as possibilidades de questionamento crítico,

contribuindo para a banalização da violência institucional e sua maior invisibilização. E, não

por acaso, alguns profissionais entrevistados tenderam a ser mais compassivos com a

grosseria de seus colegas do que das pacientes, o que expressa a hierarquia de valores que

regula as relações interpessoais entre profissionais, e destes com as pacientes (AGUIAR;

D‘OLIVEIRA; SCHRAIBER, 2013).

Uma pesquisa atribuiu o comportamento destrutivo àquele manifestado por

personalidades controladoras e agressivas, que inibem a comunicação efetiva geralmente

afirmando e exigindo que ―é desta forma!‖, ―eu estou certo!‖, ―você faz o que eu digo!‖

(LITTLEJOHN, 2012).

Do mesmo modo, uma entrevistada ressaltou este traço de personalidade

controladora:

[Comportamento destrutivo tem relação com] o caráter da pessoa, que se

julga um ser superior e não sabe chegar e tentar resolver as coisas como

pessoas humanamente civilizadas. (AE2)

Estudo bibliográfico sobre a síndrome de Burnout, um dos consequentes de

comportamento destrutivo segundo os artigos analisados, identificou fatores individuais

(características de personalidade) associados a índices superiores desta síndrome em

trabalhadores, tais como: padrão de personalidade (indivíduos competitivos, esforçados,

impacientes, com excessiva necessidade de controle das situações, dificuldade em tolerar

frustração); lócus de controle externo (consideram que suas possibilidades e acontecimentos

de vida são consequentes à capacidade de outros, à sorte ou ao destino); superenvolvimento

136

(sujeitos empáticos, sensíveis, humanos, com dedicação profissional, altruístas, obsessivos,

entusiastas, suscetíveis a se identificarem com os demais); indivíduos pessimistas (costumam

destacar os aspectos negativos, prevêem insucesso, sofrendo por antecipação); indivíduos

perfeccionistas (são bastante exigentes consigo mesmos e com os outros, não tolerando erros

e dificilmente se satisfazendo com os resultados das tarefas realizadas); indivíduos com

grande expectativa e idealismo em relação à profissão (podem deixar de ser realistas, tendo

grandes chances de se decepcionarem. se associado ao otimismo, pode levar a baixos índices

de burnout); indivíduos controladores (são inseguros, preocupam-se excessivamente, têm

dificuldade em delegar tarefas e em trabalhar em grupo); indivíduos passivos (mantêm-se na

defensiva e tendem à evitação diante das dificuldades); gênero (as mulheres apresentam maior

pontuação em exaustão emocional; e os homens, em despersonalização); nível educacional

(indivíduos com nível mais elevado); estado civil (maior risco em solteiros, viúvos ou

divorciados) ou o oposto (TRIGO; TENG; HALLAK, 2007).

A adoção de comportamentos destrutivos também tem sido relacionada a

características de personalidade como o narcisismo, o perfeccionismo (manejo inadequado de

seus sentimentos de culpa ou vergonha quando as coisas não vão perfeitamente), ou o

egoísmo (HICKSON et al., 2007).

A personalidade narcisística inclui um sentimento exagerado de auto-importância,

exigências descabidas de tratamento especial ou conformidade automática, uma falta de

consideração dos sentimentos dos outros e conduta arrogante e altiva (WINLAW et al., 2011).

Na microfísica de uma instituição médica de ensino, os futuros médicos

encontram apoio no narcisismo dos professores médicos expresso coletivamente no seu desejo

de certeza e de onipotência, levando à prática a ser o que é, normalizada apesar do discurso

parecer sempre ambivalente em relação à tensão doente/doença. E a solução de compromisso

ou o "sintoma" está nos próprios médicos, quando apreendem, em seu discurso, um ideal

romântico, apesar da desvalorização do ato na clínica como um ato simbólico e, em sua

prática, o exercício de uma prática normalizada sem romantismo (SOUZA, 1998).

Além disso, médicos que mostram comportamento destrutivo muitas vezes se

vêem como clinicamente superiores (LITTLEJOHN, 2012; SAMENOW et al., 2007). Assim,

podem considerar outros membros da equipe de saúde como menos competentes, ou talvez

até mesmo incompetentes, fracos e vulneráveis, vendo-se como campeões para seus pacientes,

apenas porque eles foram para a faculdade de medicina (LITTLEJOHN, 2012).

Algumas entrevistadas referiram-se a esta personalidade de alguns médicos: ―Tem

médicos que, [para eles], Enfermagem e nada é a mesma coisa né? É só eles e pronto!‖ (E1);

137

―Acha que porque é médico, pode gritar, abusar assim, tanto pelo status como pela

educação...‖ (TE7)

O investimento de tempo e energia necessários para ter sucesso profissionalmente

na Medicina requer um alto grau de auto-envolvimento, que em alguns indivíduos podem

acentuar os traços de caráter narcisista. Indivíduos altamente narcisistas acreditam que eles e

suas ideias são especiais; tem dificuldade em tolerar pessoas que vêem como comuns,

ordinárias; tem um senso de direito a um tratamento favorável por outros, e são insensíveis

aos sentimentos e necessidades de outras pessoas. Para alguns, essas características podem ser

essenciais para dominar as demandas de alta complexidade de prática e alcançar a auto-

preservação em um ambiente estressante (LEAPE et al., 2012).

No trabalho em saúde, essa sensação de privilégio e de status pode levar médicos

a tratarem os enfermeiros com desrespeito, criando uma barreira para a comunicação aberta e

o feedback que são essenciais para o atendimento seguro. A sensação de autonomia pode estar

subjacente à resistência em seguir práticas de segurança, resultando em danos ao paciente. A

ausência de respeito mina o trabalho em equipe necessário para melhorar a prática (LEAPE et

al., 2012).

Esta postura, por parte de um cirurgião, foi constatada em um dia de observação

no Centro Cirúrgico, em que o neurocirurgião chegou à sala de cirurgia, o paciente já estava

na mesa cirúrgica, ainda acordado, sendo preparado pela equipe de anestesia. Em voz alta e

tom rude, o cirurgião perguntou à enfermeira onde estava o fio cirúrgico. E a enfermeira

respondeu, educadamente, que estava faltando aquele tipo de fio, mas que se ele quisesse

tinha outro de uma outra marca. Antes dela terminar, ele interrompeu com grosseria e afirmou

em tom elevado: ―Eu quero saber se tem o fio que eu uso! Basta dizer que não tem, não

precisa ficar enrolando não! Agora você me diz como eu vou operar sem esse fio?‖

A grosseria, a falta de educação e de ética deste profissional deixou a sala de

operações tensa. Havia em torno de sete profissionais na sala, entre membros da equipe

cirúrgica, de anestesia e de enfermagem. A enfermeira saiu cabisbaixa, em silêncio, enquanto

os outros continuaram realizando suas atividades, sem nenhuma abertura para a comunicação.

O paciente, que ainda estava acordado, presenciou a cena de desrespeito e isto pode ter

aumentado a tensão inerente a um procedimento cirúrgico de grande porte, como a

neurocirurgia.

Certas características de personalidade estão associadas, ainda, com ameaças à

autoestima, a qual é especialmente importante para os médicos, pois está intimamente ligada à

percepção de sua própria competência e reputação. Por investir uma quantidade substancial de

138

tempo e energia para alcançar competência e sucesso profissional, médicos podem ser

sensíveis a quaisquer ameaças à autoestima. Quando sua autoestima está ameaçada, podem

reagir com comportamento interpessoal destrutivo como uma forma de restabelecer o domínio

profissional (LEAPE et al., 2012).

Outras características de personalidades destrutivas incluem uma tendência, em

algumas circunstâncias, a exteriorizar as razões do fracasso quando existem, em vez de tomar

uma quota de responsabilidade ou reconhecer a dificuldade associada como resultado de

fatores relacionados ao paciente (WINLAW et al., 2011).

Autores reiteram que o comportamento desrespeitoso está enraizado, em parte,

nas características do indivíduo, como a insegurança ou a agressividade, mas também é

aprendida, tolerada, e reforçada na cultura hierárquica da organização (LEAPE et al., 2012).

Sabe-se que pessoas altamente agressivas desfrutam de combate e de confronto,

tem temperamentos-gatilho, e encontram segurança em serem capazes de intimidar os outros

como uma defesa contra o desamparo. Contratempos profissionais podem ser experimentados

como desamparo, desencadeando uma resposta agressiva (LEAPE et al., 2012).

Outro registro do diário de campo retrata a personalidade autoritária e agressiva

da chefe de enfermagem na unidade de internação: enfermeira chefe aproximou-se da

enfermeira assistencial com um tom de voz alto e entregou uma papelada dizendo que a

enfermeira levasse para casa para estudar e que depois assinasse o documento. Tratava-se de

um material da internet sobre uma doença rara que acometia um paciente internado na

unidade. A chefe falava alto e mandava a enfermeira ler, afirmando que iria controlar todos os

que trabalham na unidade para ler o documento. A enfermeira assistencial olhou para mim, eu

me encontrava na situação de pesquisadora, e em tom baixo disse: ―Valente nossa chefe! Ela é

terrível! Já inventou até história a meu respeito aqui dentro!‖

Percebeu-se que o comportamento agressivo dessa chefe de enfermagem parece

estar associado a traços de personalidade, quando demonstra uma necessidade de controlar

tudo e todos na unidade, adotando posturas com base em um modelo de gestão impregnado

por punição e autoritarismo.

Há, ainda, casos de comportamento destrutivo associados à vitimização prévia.

Nestes, médicos que sofreram experiências ruins, como a intimidação durante seus anos de

formação, podem ser tão traumatizados que o comportamento imitativo fica enraizado em seu

inconsciente. Sua reação ao estresse é intimidar, refletindo suas experiências anteriores

(LEAPE et al., 2012).

139

Não obstante, algumas pessoas podem se referir a um indivíduo com

personalidade forte e assertiva como "intimidante", mas o seu comportamento pode ser

apropriado para uma dada situação e destina-se a ser cooperativo. Esses indivíduos podem

estar em posições de liderança reais ou virtuais por causa de seu conhecimento, perícia e

experiência. Eles podem ser opressores para determinados tipos de personalidade ou para

aqueles com menos experiência. Por outro lado, alguns indivíduos tem sensibilidade refinada

a um comportamento que eles percebem como julgador, opressivo ou agressivo. Sua

calibração excessiva pode levá-los a concluir que os indivíduos com personalidades fortes são

intimidantes (ZIMMERMAN; AMORI, 2011).

Pode-se afirmar, desse modo, que os traços de personalidade moldam o

comportamento, inicialmente, mas existem condições internas e externas que irão influenciar

ou potencializar o desenvolvimento de uma personalidade destrutiva, como o estresse.

O crescente estresse também foi relatado como antecedente de comportamento

destrutivo segundo os entrevistados, conforme as unidades de contexto identificadas:

Ele [o médico plantonista] estava só, ligando não sei para quem tentando

conseguir uma ajuda. Ele viu que a paciente estava afundando [piorando], eu

acho que também o desespero dele foi em perder a paciente...Devido ao

nervosismo, devido ter que ser rápido [ele agiu de forma destrutiva]...,

porque era uma hora de sufoco! (E8)

Às vezes, acontece com a gente também, enquanto profissional ele não está

isento disso, assim o dia a dia, o estresse, o cansaço, acontece [esses

comportamentos] quando tem um plantão muito estressante, com muitas

intercorrências, com muita parada [cardiorrespiratória]; já teve duas paradas

num plantão, a gente está cansada, esgotada, chega assim uma hora da

manhã e você ainda não foi para o repouso e aí acaba passando, querendo

exigir mais de você... (E10)

Estresse, problemas particulares que [as pessoas] não sabem direito separar...

Estresse acho que é um dos principais [aspecto envolvidos no

comportamento destrutivo] (TE5)

O grau de estresse é crescente entre trabalhadores de saúde, o que pode estar

associado às condições e características do ambiente de trabalho, mas também às

características pessoais e aos traços de personalidade. Quanto maior o nível de estresse, maior

a probabilidade de desenvolver comportamentos inapropriados e desrespeitosos no trabalho.

Ao abordar as naturezas e as causas de comportamento desrespeitoso por parte de

médicos, estudo destacou que um dos principais contribuintes é o ambiente de cuidados de

saúde estressante, especialmente a presença de "pressão de produção‖ (LEAPE et al., 2012).

Essa pressão para manter os pacientes que se deslocam através do sistema de cuidados

140

contribui para o estresse tanto do profissional quanto do sistema (WALRATH; DANG;

NYBERG, 2013).

Com relação aos médicos, estes são particularmente propensos a insegurança e

ansiedade decorrentes da preocupação sobre se estão à altura dos desafios de praticar a

medicina. Especialmente quando estão sobrecarregados ou estressados, aqueles que não estão

confiantes sobre suas habilidades podem reagir ao estresse culpando os outros quando as

coisas dão errado ou fazendo comentários humilhantes e hipócritas (LEAPE et al., 2012).

Essas pessoas ficam deprimidas por ameaças à sua competência profissional,

culpando-se por insuficiência real ou imaginária. Além de serem excessivamente críticos

consigo mesmos, os indivíduos deprimidos podem lidar com a situação sendo

demasiadamente críticos com os outros (LEAPE et al., 2012).

Na Enfermagem, sabemos que muitos enfermeiros não tem controle suficiente

sobre seu ambiente de trabalho. Estes profissionais tem um elevado grau de prestação de

contas e um local de trabalho tecnológico altamente complicado, que estão acoplados a um

baixo grau de autonomia.

Embora sejam cuidadores compassivos, enfermeiros também lidam com uma

variedade de estressores no local de trabalho, muitos dos quais podem levá-los a demonstrar

menos respostas emocionais eficazes em um determinado momento. Eles estão, muitas vezes,

cansados e irritados devido a longos turnos e horas extras, estando sempre de plantão e com

demandas elevadas de pacientes cada vez mais doentes (LITTLEJOHN, 2012).

Como enfermeiros, é comum lidar diariamente com a realidade de que a saúde é

uma atividade inerentemente estressante; vive-se em um ambiente mutável rapidamente e

complexo, onde existem muitos possíveis gatilhos e causas desse estresse (LITTLEJOHN,

2012).

Também houve depoimentos sobre a falta de competência e de compromisso de

alguns trabalhadores, que também contribui para comportamentos destrutivos: ―Muitas

meninas jovens tem esse tipo de atitude sem compromisso...falta de maturidade de uma ou

outra pessoa...‖ (E3).

[Comportamento destrutivo tem relação com] inexperiência, as recém-

formadas, o pouco compromisso, baixo compromisso com a profissão, com a

unidade. Pouco compromisso! (E10)

Alguns entrevistados ressaltaram a falta de competência e de compromisso dos

trabalhadores mais jovens, que chegam ao mercado de trabalho muitas vezes inexperientes e

com baixa percepção sobre o desempenho de suas funções. Já na fase teórica, houve destaque

141

para a falta de competência do ponto de vista da ausência de formação apropriada, de

treinamentos e de habilidades para o trabalho, atrelada à baixa autonomia e inteligência

emocional (BROWN; GOSKE; HICKSON et al., 2007; JACOBS; WILLE, 2012; JOHNSON,

2009; LITTLEJOHN, 2012; LUX; HUTCHESON; PEDEN, 2012; LUX; HUTCHENSON;

PEDEN, 2013; WALRATH; DANG; NYBERG, 2013).

Um estudo demonstrou que as enfermeiras apresentavam maior percepção de

intensidade de vivência de sofrimento moral associada à falta de competência na equipe de

trabalho, seguida da negação do papel da enfermeira como advogada do paciente, enquanto

que a maior frequência de vivência de sofrimento moral relacionava-se também à falta de

competência na equipe de trabalho, seguida da obstinação terapêutica (BARLEM et al.,

2012).

Particularmente na Enfermagem, os enfermeiros estão presos em uma dicotomia -

pouca autonomia, porém grande responsabilidade (LITTLEJOHN, 2012). Desse modo,

autores justificam que a posição subordinada da Enfermagem no sistema de saúde pode

resultar em sentimentos de impotência que levam enfermeiros a atuarem uns contra os outros

(LUX; HUTCHESON; PEDEN, 2012).

Como prática social, a Enfermagem transita no campo da saúde em meio a

contingência de conflitos, disputas, interesses e coerções que constituem o cotidiano, este

profundamente enraizado nos contextos sociais, culturais, históricos e políticos, onde os seres

humanos vivem e se relacionam (WALDOW; MEYER; LOPES, 1998).

Devido às suas pobres respostas e interações relacionadas à inteligência

emocional, muitos enfermeiros se tornaram marcados emocionalmente de fofocas, traições,

rumores e outros atos hostis, abusivos e desmoralizantes que enfermeiros provocaram uns

contra os outros. Existe, ainda, uma relação significativa entre competência emocional e

insegurança pessoal em enfermeiros (LITTLEJOHN, 2012).

Por sua vez, esta falta de competência emocional e de autonomia no trabalho

revertem-se em ambientes mais estressantes e propensos a erros e a comportamentos

destrutivos.

Nestes ambientes, os trabalhadores tem baixa autonomia pessoal ou falta de

participação na tomada de decisão, percebem pouco controle sobre o fluxo de trabalho,

possuem habilidades que são incongruentes com as tarefas esperadas, vivenciam conflito de

papel e ambiguidade, tem sentimentos de serem mal gerenciados/administrados ou

recompensados, ou experimentam interrupções frequentes (BROWN; GOSKE; JOHNSON,

2009).

142

Na Enfermagem, os trabalhadores que manifestam comportamento destrutivo são,

ainda, reconhecidos como improdutivos, segundo a opinião dos colegas de trabalho. Recente

estudo encontrou descrições desses profissionais, que utilizaram os termos "enfermeira sem

força" ou "preguiçosa" para descrever as colegas destrutivas, afirmando que elas tinham

problemas pessoais que afetaram sua vida profissional. Uma agressora foi descrita como

"vivendo em um ambiente negativo" e outro como sendo uma enfermeira ineficaz (LUX;

HUTCHESON; PEDEN, 2012).

No contexto do centro cirúrgico, uma pesquisa afirmou que o comportamento

destrutivo também é resultado, dentre outros fatores, de mau planejamento para a cirurgia,

bem como de pobres habilidades sociais individuais - um problema relacionado com a má

seleção de pessoas para se tornarem médicas (JACOBS; WILLE, 2012).

Assim, percebe-se que autonomia, empoderamento e inteligência emocional são

essenciais para o desenvolvimento de habilidades e competências para lidar com

comportamentos destrutivos e, ao mesmo tempo, evitar a adoção desta conduta no ambiente

de trabalho. Para tanto, faz-se necessário reconhecer estes fatores nos processos de admissão,

treinamento e avaliação de desempenho do pessoal de saúde, com foco no empoderamento do

trabalhador, assim como na segurança e na qualidade dos cuidados.

Quanto aos antecedentes organizacionais, a sobrecarga de trabalho também foi

lembrada pelos entrevistados, assim como na fase teórica.

Eu atribuo [o comportamento destrutivo] à sobrecarga de trabalho. Eu acho

que, na saúde, as pessoas acabam trabalhando mais do que o que seria

aceitável. Aí, com esse cansaço, a relação interpessoal fica complicada. Eu

atribuo a isso. (M4)

Você já vem de outro emprego, já vem cansado, às vezes não vem com a

mesma disposição que outro, às vezes não estava num dia bom, às vezes

você vem trabalhar doente! (E7)

Eu tenho colegas que trabalham durante um mês 20, 25 plantões, então

assim, chega num ponto que a gente chega esgotado, não consegue render o

que deveria, então pela baixa remuneração salarial você tem que procurar

outras formas de trabalho, outras fontes de renda, aí em virtude disso você

chega muito cansada e não rende no plantão, a sobrecarga atrapalha também

na assistência. (E10)

Conforme já abordado, o trabalho em saúde tem sido marcado pelo fenômeno da

precarização, e os trabalhadores são cobrados pelo atendimento de uma elevada demanda de

pacientes, associada ao dimensionamento de pessoal inadequado e ao baixo investimento no

pessoal de saúde. Assim, trabalhadores de saúde, principalmente os de enfermagem, estão

143

cada vez mais cansados, pouco produtivos e estressados, o que pode levá-los a adotar

condutas inapropriadas e atitudes retaliatórias no ambiente organizacional.

Autores afirmam que a organização e a divisão do trabalho no hospital estão

subordinadas ao processo de trabalho médico, e este processo tem definido o ritmo, o volume

e o tipo de trabalho a ser executado no hospital. Assim, o modelo gerencial adotado para a

produção em saúde determina sobrecarga para os trabalhadores (ROCHA; FELLI, 2004)

Estudo sobre comportamento destrutivo e relacionamento médico-enfermeiro no

contexto hospitalar evidenciou que os principais fatores associados diziam respeito à

indisponibilidade de pessoal, ao dimensionamento inadequado de enfermagem, ao excesso de

trabalho e à fadiga (ROSENSTEIN; O‘DANIEL, 2005). A fadiga por excesso de trabalho

entre médicos e enfermeiros foram consideradas as maiores ameaças à segurança do paciente,

por favorecerem a adoção de comportamentos destrutivos e a ocorrência de erros (CHISM,

2012b).

Analisando os tênues limites entre autoridade e violência em maternidades

brasileiras, pesquisadores encontraram que a sobrecarga de demandas, as condições

estruturais e a precariedade de recursos materiais e humanos foram apontadas pelos

entrevistados como dificuldades enfrentadas cotidianamente. As consequências dessas

dificuldades vão desde a falta de anestesistas de plantão para realização de analgesias de parto

até a proibição de acompanhantes homens na sala de pré-parto, sob a alegação de falta de

espaço físico que garanta a privacidade para as demais pacientes (AGUIAR; D‘OLIVEIRA;

SCHRAIBER, 2013).

Comportamento destrutivo é uma das influências mais importantes sobre a

qualidade das relações em equipe. Ter o número certo de funcionários, a combinação de

pessoal ideal, e forte comunicação e colaboração podem ter enormes efeitos sobre a prestação

de cuidados de saúde e os seus resultados (ROSENSTEIN; O‘DANIEL, 2005).

Outra estudiosa reflete sobre a sobrecarga de trabalho dos enfermeiros, afirmando

que jornadas de trabalho superiores a 12,5 horas aumenta em três vezes a chance de cometer

erros (CHISM, 2012b).

Sabe-se que os indivíduos são responsáveis por seu próprio comportamento; no

entanto, é raro aquele que irá reverter o ambiente em que atua e dizer: "Eu não posso trabalhar

16 horas. Eu tenho que dormir!" Se a cultura organizacional não garante um suporte para o

indivíduo manter-se em pé para suas necessidades físicas, é improvável que algo vai mudar.

Enquanto a cultura tiver uma lacuna na integridade de dizer que está comprometida com a

segurança do paciente, apesar de não olhar para a raiz mais simples das questões energéticas

144

dentro da organização, nada vai mudar. Enquanto for encorajado que estagiários sejam

privados de sono, como parte de seu treinamento; assim como que os enfermeiros trabalhem

em turnos de 16 horas ou mais; e que a privação do sono fique em segundo plano, haverá mais

comportamento destrutivo do que paz (CHISM, 2012b).

A elevada demanda de pacientes a serem atendidos em um curto espaço de tempo

e a consequente sobrecarga de trabalho, principalmente para médicos e enfermeiros, tem

configurado os maiores problemas enfrentados pelas organizações de saúde, os quais

ameaçam a segurança do paciente e favorecem a ocorrência de comportamentos destrutivos.

Espaço restrito, superlotado, com profissionais de saúde diferentes, além do ritmo

acelerado que exige uma forte confiança interdisciplinar e colaboração eficaz, também foram

citados como fatores predisponentes da violência lateral no ambiente perioperatório

(BIGONY et al., 2009).

As horas extras e as inúmeras demandas do plantão também são fatores

contribuintes para a sobrecarga de trabalho. No ambiente cirúrgico, por exemplo, o estresse

inerente de realizar a cirurgia, a elevada gravidade do paciente, a escassez de profissionais

experientes, as horas extras e demandas de plantão, e o isolamento desta unidade do restante

da organização, são fatores que permitem que comportamentos negativos sejam omitidos mais

facilmente (BIGONY et al., 2009).

Quando ocultadas, tais condutas facilitam a ocorrência de outros comportamentos

inapropriados e negativos, sendo os perpetradores muitas vezes recompensados por suas

atitudes.

Os conflitos de papel e de poder e o desrespeito com o colega de trabalho também

foram lembrados por alguns entrevistados: ―Com os médicos ela [a médica] se relaciona

muito bem. O problema é com os subordinados! (M3)‖

...usar do seu poder, da sua autoridade e impor à pessoa. A pressão do chefe,

porque eles querem mostrar uma coisa que não é real dentro do hospital.

Você quer mostrar um serviço que, na real, ele é mentiroso! (TE10)

É a falta de respeito com o colega que exerce a mesma função que a sua, só

que ele tem um cargo, uma chefia, que eu acho que são coisas que tem que

ser explicadas de uma forma mais tranquila e não com agressão, com falta de

respeito. Assim, com autoridade a pessoa se sente mais... (E9)

A equipe de enfermagem necessita manter boas relações no trabalho, uma vez que

lida com diferentes profissionais, o que pode deixá-la susceptível a conflitos e choque de

ideias, pelas diferenças de pensamentos e interesses, principalmente com as chefias, com a

145

administração e com aqueles que representam o poder na instituição. Segundo os participantes

em um estudo de etnoenfermagem em dois hospitais, estas situações implicam sofrimento,

pela percepção da impossibilidade de expressar ideias e dificuldades vividas, sugerir

mudanças na organização do trabalho, enfim, expressar-se como um trabalhador com direito e

condições de participar e exercer sua cidadania (DALMOLIN; LUNARDI; LUNARDI

FILHO, 2009).

O abuso de poder, a pressão da chefia e a ambiguidade de papeis são temas

relevantes no estudo do comportamento organizacional. É preciso considerar que estruturas

hierárquicas rígidas e tradicionais, associadas à indeterminação dos processos de trabalho,

vem favorecendo a ascensão de ―líderes‖ cada vez mais autoritários e com pouco ou nenhum

reconhecimento por parte dos trabalhadores.

Saxton (2012) afirma que os conflitos de poder, papel e personalidade podem

levar a falhas de comunicação. No estudo de Rosenstein e Naylor (2011), papeis e

responsabilidades não-claras foram citadas por 29,1% dos 370 trabalhadores entrevistados

como fatores situacionais contribuintes para a comunicação inefetiva e, consequentemente,

para a ocorrência de comportamentos destrutivos.

Atrelado aos conflitos de papel, tem-se o desrespeito com o colega de trabalho. A

ascensão da mídia social tem expandido o alcance do discurso insultuoso e depreciativo que,

em épocas anteriores, teria sido melhor controlado e abordado. Não inesperadamente, um

pouco dessa tolerância de toda a sociedade para o desrespeito transborda para os cuidados de

saúde (LEAPE et al., 2012).

No cotidiano da prática dos profissionais de saúde, há amplo reconhecimento de

maus-tratos e desrespeitos, que em alguns momentos são percebidos e nomeados como

violência e, em outros, como condutas necessárias ao trabalho; como parte do exercício da

autoridade profissional (AGUIAR; D‘OLIVEIRA; SCHRAIBER, 2013).

Além dessa aceitação social de desrespeito, a cultura de saúde contemporânea é

caracterizada por recursos que estimulam o comportamento desrespeitoso. Uma dessas

características é a sua natureza hierárquica. Desrespeito, que está intimamente ligada ao

status, geralmente flui para baixo, não para cima. Os estudantes raramente são exteriormente

desrespeitosos para com os seus professores, ou enfermeiras com seus supervisores, por causa

da probabilidade de repercussões. Por outro lado, alunos e residentes muitas vezes fazem

comentários desrespeitosos e depreciativos sobre seus superiores quando estão fora do alcance

da voz (LEAPE et al., 2012).

146

Organizações cuja cultura há muitos anos desencoraja comunicações

interpessoais, culturas organizacionais não-produtivas, aceitação do mau comportamento e

inércia clínica e administrativa são alguns termos utilizados nos estudos para abordar o

envolvimento da cultura organizacional disfuncional na ocorrência de comportamento

destrutivo no trabalho em saúde. (HARTUNG; MILLER, 2013; HICKSON et al., 2007;

ZIMMERMAN; AMORI, 2011).

Como ninguém relata o comportamento não-profissional, isto leva os outros a se

comportarem de maneira similar. Assim, o comportamento torna-se normal e aceito pelos

indivíduos (HICKSON et al., 2007).

Os especialistas concordam que o ambiente perioperatório é uma área em que as

enfermeiras geralmente são vítimas de bullying e violência lateral. Quer perpetrado por

médicos, administradores ou colegas, comportamentos de bullying foram identificados como

parte da rotina da cultura da sala de operações (BIGONY et al., 2009).

Este comportamento desrespeitoso pode realmente afirmar status, ao premiar a

pessoa quando se comporta de maneira desrespeitosa, que normalmente é altamente sensível à

hierarquia e tem plena consciência das consequências do desrespeito dirigido ao gradiente de

status. Em um ambiente hierárquico, a capacidade de desrespeitar os outros com a impunidade

é uma medida de status. O cirurgião cardíaco chefe de departamento pode, muitas vezes, sair

ileso de uma conduta que não é tolerada para os que estão mais abaixo da hierarquia (LEAPE

et al., 2012).

Embora as características de personalidade predispõem algumas pessoas a um

comportamento desrespeitoso, em sua maior parte, o desrespeito é um comportamento

aprendido, apoiado e reforçado pela cultura, baseada no estado autoritário encontrado na

maioria dos hospitais (LEAPE et al., 2012).

A seguir, apresentam-se as consequências do comportamento destrutivo relatadas

pelos entrevistados, categorizadas conforme a fase teórica.

5.4.1.2.2.4 Consequentes do comportamento destrutivo no trabalho em saúde

Semelhante aos resultados da fase teórica, as maiores consequências do

comportamento destrutivo relatadas nas entrevistas incidiram sobre o trabalhador, sua equipe

e a segurança do paciente, conforme se pode ver na Tabela 6.

147

Tabela 6 – Consequentes do comportamento destrutivo no trabalho em saúde segundo

os entrevistados. Fortaleza, CE, mar-jul 2014. n=29

a. poderia haver citação de mais de um consequente em cada entrevista. Fonte: Elaborada pela autora.

Quanto às consequências para o trabalhador, o sofrimento moral e psíquico foi

referido pela maioria dos entrevistados:

...na época que teve uma greve, que ia entrar uma nova cooperativa, alguns

profissionais batiam no peito mesmo dizendo: - ah, as pessoas que vão entrar

agora, a gente não vai treinar!...aí teve gente que chorou..., e teve momento

assim que eu pensei até em desistir por causa disso. Você percebia no olhar,

não falava com você...Eu cheguei a chorar. Sofri viu? (E2)

... [o médico] disse que não queria saber se [o pessoal] estava reduzido,

queria saber se descia o paciente! Isso [repercute para a] própria equipe

mesmo, trabalhar, vamos dizer assim, desgostosa, não vai trabalhar

motivada... (TE4)

...aquilo ali ia mexer comigo como até hoje mexe. Eu fico até chateada

[choro] pela situação, eu não gosto nem de falar disso... super chateada. Ela

me deixa traumatizada! Foi um conflito que eu acabei levando para dentro

de casa. E repercute até hoje. Que só em falar, eu me desestruturo! (E4)

A médica agrediu a enfermeira...Empurrou. A enfermeira também, não

pensou duas vezes, no que foi a mão, foi nas costas da médica. ... [Como

consequência...] a enfermeira perdeu a estrutura! Ela, literalmente, não

conseguiu voltar para o setor. Ela passou o resto do plantão todinho no

repouso. (TE10)

Isso [comportamento destrutivo] acontece muito e, assim, é motivo de muito

descontentamento, de muita insatisfação do ponto de vista deles, dos

auxiliares. (M3)

Dependendo da conduta adotada pelo indivíduo destrutivo, a consequência para os

colegas de trabalho pode variar desde impedimentos à colaboração em equipe e à

CONSEQUENTES f (%)

Para o trabalhador/equipe de saúde

Sofrimento moral e psíquico.

Prejuízos laborais: demissão, rotatividade/mudança de unidade e intenção de

deixar o emprego.

Rompimento da comunicação, da colaboração e do trabalho em equipe.

Afastamento e isolamento.

25 (86,2)

10 (34,5)

8 (27,6)

8 (27,6)

Totala 51

Para o paciente

Comprometimento da segurança e da qualidade dos cuidados.

Insatisfação.

25 (86,2)

5 (17,2)

Totala 30

Para a organização de saúde

Ameaça à imagem da instituição/equipe. 4 (13,8)

Total 4 (13,8)

148

comunicação ineficaz, ao isolamento e às manifestações de sofrimento moral e psíquico, com

sérias repercussões na vida individual, social e familiar.

O sofrimento moral é definido como uma resposta enfrentada quando, após uma

decisão de um conflito ético, reconhecem uma ação pessoal dificultada por barreiras

individual, institucional ou social (KOPALA; BURKHART, 2005). Compreendê-lo permite ir

além do enfrentamento dos problemas morais dos próprios trabalhadores, chegando a

configurar, de maneira mais ampla e reflexiva, a situação da própria instituição e do sistema

de saúde. Esses podem estar imperceptivelmente dificultando os cuidados e a atenção integral

na saúde, provocando, consequentemente, a necessidade da elaboração de uma ética de

sujeitos ativos e de amplas possibilidades, definidas principalmente pelas relações consigo

mesmos (BARLEM et al., 2013).

A submissão dos trabalhadores a situações constrangedoras e geradoras de

sofrimento moral, como as relatadas, associada às condições de trabalho como um todo, são

responsáveis pela emergência dos sintomas do burnout, mais do que as características isoladas

dos trabalhadores ou do ambiente de trabalho (MOREIRA et al., 2009).

O termo burnout foi primeiramente descrito por Freudenberger (1974), o qual o

definiu como um ―incêndio interno" resultante da tensão produzida pela vida moderna,

afetando negativamente a relação subjetiva com o trabalho. A síndrome de burnout, por sua

vez, caracteriza-se por uma tríade de dimensões (exaustão emocional, despersonalização e

redução da realização pessoal) e é uma condição relacionada à organização do trabalho

(VIEIRA et al., 2006).

Os efeitos do burnout podem prejudicar o profissional em três níveis: individual

(físico, mental, profissional e social), profissional (atendimento negligente e lento ao cliente,

contato impessoal com colegas de trabalho e/ou pacientes/clientes) e organizacional (conflito

com os membros da equipe, rotatividade, absenteísmo, diminuição da qualidade dos serviços)

(TRIGO; TENG; HALLAK, 2007).

Os efeitos são semelhantes aos discutidos nesta análise de conceito, considerando

que o burnout, além de ser consequente de comportamento destrutivo, atua como potencial

antecedente, na medida em que o profissional que sofre desta síndrome pode adotar conduta

negligente e entrar em conflito com os colegas de trabalho, renovando o círculo vicioso do

comportamento destrutivo no trabalho.

É preciso pensar, portanto, que os efeitos gerados por comportamentos destrutivos

podem, consequentemente, fazer emergir os antecedentes, numa retroalimentação do

fenômeno no contexto laboral.

149

A percepção da vivência de sofrimento moral pelas enfermeiras reforça a

necessidade de constantes indagações, reflexões e discussões nas equipes de trabalho,

enfocando os problemas morais e o sofrimento moral enfrentados pelos diferentes

trabalhadores, considerando-se, especialmente, sua possível relação com o cuidado dos

pacientes e o respeito aos seus direitos (BARLEM et al., 2012).

Além do sofrimento moral e psíquico, os entrevistados referiram que, após um

comportamento destrutivo, ocorre o rompimento da comunicação, da colaboração e do

trabalho em equipe, evidenciado nos seguintes depoimentos: ―A ajuda mútua e a interação

entre a equipe é completamente ameaçada!‖ (E1).

Acaba que afeta um pouco o relacionamento da equipe. Tem colega que

chega e sabe que é aquele médico, e já diz ―Ah! Droga! É o médico tal que

está de plantão?‖ Aí já fica meio receoso, fica mais na dele. Já trata tudo

profissionalmente, não conversa abertamente. (TE11)

O outro resultado potencial da opressão e do comportamento desrutivo é o

silêncio. Neste caso, os oprimidos não exercem sua voz ao falar, compartilhando seus

pensamentos, percepções e experiências, defendendo os seus pacientes, ou defendendo-se.

Este silêncio leva à submissão e à falta de autonomia percebida, resultando em perda de

criatividade e de iniciativa (LONGO; SMITH, 2011).

Os usuários dos serviços de saúde reconhecem que o atendimento seguro ao

paciente e de alta qualidade exige trabalho em equipe eficaz, comunicação aberta e um

ambiente de trabalho colaborativo (PATEL et al., 2011). No entanto, uma outra consequência

do comportamento destrutivo é a decomposição do trabalho em equipe (ROSENSTEIN,

2011b). Tal resultado tem relação com o comprometimento na comunicação entre os

membros da equipe, e é geralmente aceito que a falha na comunicação é uma das mais

proeminentes causas de erro médico (GUGLIELMI, 2010).

Além do prejuízo na comunicação e na eficácia individual e da equipe, ocorre

aumento do custo do cuidado, o que leva médicos, administradores e gestores a buscarem

novas posições em ambientes mais profissionais (BROWN; GOSKE; JOHNSON, 2009).

Estudos já confirmaram o impacto do comportamento destrutivo no aumento do

estresse e da frustração, na perda de concentração, na diminuição de coordenação de equipe,

na falta de compartilhamento de informação; na comunicação ineficaz, no aumento de erros

médicos; na diminuição da qualidade da assistência ao paciente, e até mesmo no aumento da

mortalidade do paciente (LUX; HUTCHESON; PATEL et al., 2011; PEDEN, 2012;

ROSENSTEIN, 2011b; ROSENSTEIN; O‘DANIEL, 2008b; VELTMAN, 2007).

150

No ambiente cirúrgico, embora a prevalência de transtornos de comportamento

tem diminuído, os episódios de comportamento destrutivo de cirurgiões persistem e afetam

negativamente a dinâmica da equipe e os resultados dos pacientes, porque eles diminuem a

comunicação, a colaboração e a troca de informações com o paciente e a equipe (PATEL et

al., 2011).

O fato do comportamento destrutivo ou intimidante contribuir para quase-erros e

resultados adversos nos serviços tem relação direta com a comunicação entre os membros da

equipe de saúde, que se encontra inibida. Esta ineficácia na comunicação diminui a vontade

de questionar e discutir planos de tratamento, ou faz com que os profissionais os contornem

para evitar contato e discussões com os colegas destrutivos (VELTMAN, 2007).

Em pesquisa sobre comportamento médico destrutivo e relacionamento da equipe

de saúde, embora tenha havido muitos comentários sobre as relações de trabalho positivas

entre enfermeiros e médicos, a maioria dos comentários incidiram sobre as consequências

negativas de intimidação e da má comunicação (ROSENSTEIN; O‘DANIEL, 2008b).

Para estes trabalhadores, o comportamento destrutivo provoca estresse, ansiedade,

frustração e raiva, o que pode dificultar a comunicação e a colaboração, e resultar em erros

médicos evitáveis, eventos adversos e outros comprometimentos em cuidados de qualidade

(ROSENSTEIN; O‘DANIEL, 2008b).

No que diz respeito ao trabalho em equipe, sabe-se que este é consideravelmente

afetado pela falha na comunicação. Nos estudos analisados, autores referiram que o

comportamento destrutivo gera redução da eficácia da equipe (GLUCK, 2010), por inibir o

coleguismo e a cooperação essencial para o trabalho em equipe (LEAPE et al., 2012).

Falta de respeito envenena o bem do coleguismo e da cooperação, prejudica a

moral, e inibe a transparência e o feedback. É uma grande barreira para as organizações de

saúde se tornarem centros de colaboração, integrados, suportes de cuidado centrado no

paciente (LEAPE et al., 2012).

Além de seu impacto tóxico sobre a segurança do paciente, o comportamento

desrespeitoso afeta muitos outros aspectos de cuidados de saúde. A qualidade sofre quando os

profissionais não trabalham em equipe (LEAPE et al., 2012).

Em pesquisa sobre comportamento destrutivo no serviço de emergência, o

comportamento destrutivo causou impacto negativo significativo sobre a colaboração em

equipe, considerando que 43,8% dos profissionais relataram prejuízo na colaboração entre

enfermeiros e médicos, 42% relataram fluxo de informações prejudicado, 55,6% menor

151

comunicação, e 46,7% prejuízo das relações enfermeiro-médico (ROSENSTEIN; NAYLOR,

2012).

Outro estudo aponta que o médico destrutivo pode ter um aumento da carga de

trabalho porque colegas nao irão assisti-lo (DISRUPTIVE, 2011).

Desse modo, as consequências para a comunicação e o trabalho em equipe afetam

não somente as vítimas de comportamento destrutivo, mas também o próprio indivíduo

destrutivo. Este, ao retornar ao ambiente de trabalho, vivencia o impacto da falta de

colaboração por parte dos colegas e este clima favorece novas ocorrências de condutas

desrespeitosas e inapropriadas no serviço, o que se transforma em hostilidade no ambiente de

trabalho.

Houve também relatos de afastamento e isolamento, os quais ocorrem devido ao

rompimento da ajuda mútua e da comunicação.

Eu tento fazer o percurso que ela [a chefe] não faz. Eu tento chegar na hora

que ela não chega. Ela trabalha em outra unidade. Eu tento não passar em

frente à sala dela, não andar no mesmo andar que é o setor dela. Eu evito.

Porque não dá para eu bater de frente, aqui no hospital, com ela. (E4)

Aí o profissional faz a coisa com mau gosto, aí o profissional se cansa, aí o

profissional não gosta daquela pessoa quando vem dar o plantão com ela

entendeu? Se afasta, se isola... (AE2)

Existem certas pessoas que se acham que por ser concursado, por trabalhar

aqui por mais tempo e por eventualmente você, embora capacitado, seja uma

pessoa nova no serviço, elas se sentem aptas a se sentir dono do lugar e fazer

confusão mesmo com uma coisa que ela julga ser errado sem apurar ou saber

a verdade. Mas isso foi uma coisa pontual de uma pessoa. É uma enfermeira

[destrutiva]. É a única pessoa que eu não gosto, que eu evito até conversar!

(M1)

Você tem medo de perguntar alguma coisa à pessoa [destrutiva]... (TE7)

Os depoimentos demonstram o quanto o comportamento destrutivo implica na

deteoriração da harmonia da equipe, favorecendo o aumento da hostilidade, da frustração e da

insatisfação com o trabalho.

Autores afirmam que a intimidação da equipe de enfermagem pode impedi-la de

questionar o médico sobre os aspectos do atendimento ao paciente ou esclarecer um

tratamento ou ordem de medicação (WLODY, 2007).

Além de diminuir a vontade de questionar e discutir ordens e planos de

tratamento, este ambiente de tensão e de pouca colaboração pode fazer com que o enfermeiro

modifique ou contorne as orientações mal esclarecidas, para evitar o contato e discussões com

colegas destrutivos (VELTMAN, 2007).

152

Individualmente, essas questões não costumam levar as pessoas a revidar, mas o

efeito cumulativo pode resultar na percepção de que certos comentários são ataques pessoais,

causando uma reação de luta ou de fuga (KAPLAN; MESTEL; FELDMAN, 2010).

Além disso, pode ocorrer uso indiscriminado de atestado médico e isolamento do

paciente e dos profissionais, no intuito de evitar o médico destrutivo (MCLEMORE, 2006;

MCLEMORE, 2006), além da busca por tratamentos com psicólogos ou psiquiatras.

Evitar a pessoa impõe o comportamento danoso. Para um enfermeiro ou residente,

este pode ser expresso por relutância em chamar um médico assistente desrespeitoso com

perguntas para esclarecimento de uma ordem, ou por preocupações clínicas que não estão

claras. Nesses casos, os profissionais podem desviar a atenção do paciente para auto-proteção.

Quando a comunicação na equipe de cuidados de saúde é limitada ao que é absolutamente

necessário, o perdedor é o paciente, que pode sofrer de diagnósticos ou tratamentos tardios ou

errados (LEAPE et al., 2012).

As vítimas dos comportamentos destrutivos não são reconhecidas como tal; não

há reconhecimento ou apoio para as ações contra elas, e estas podem se tornar complacentes

ou sofrerem em silêncio. Este silêncio põe em perigo a saúde e a segurança do paciente e do

trabalhador (LONGO; SMITH, 2011).

Comportamento intimidante no local de trabalho pode incluir ameaças à situação

pessoal, isolamento, excesso de trabalho e desestabilização (FELBLINGER, 2008).

Ultimamente, o tem sido relacionado a um efeito negativo na segurança do paciente e na

qualidade da assistência por levar os outros a evitarem o médico destrutivo. Os profissionais

podem evitar de questioná-lo para pedir ajuda ou esclarecimento e hesitar de fazer sugestões

relacionadas ao cuidado do paciente (ROSENSTEIN, 2011b).

Alguns médicos podem ser isolados dos colegas, da equipe e administração do

hospital (DISRUPTIVE, 2011). Vítimas tendem a reter informações por medo de serem

criticadas ou menosprezadas; encobrem os erros médicos para não ter que pedir ajuda ou

servirem de bode expiatório; e a equipe torna-se mais isolada, defensiva ou disfuncional

(PFIFFERLING, 1999).

A partir daí, o ambiente de trabalho torna-se hostil, e surgem os prejuízos laborais,

também lembrados por alguns entrevistados: ―Ela [a auxiliar que sofreu intimidação] perdeu a

escala, simplesmente perdeu a escala! Ela saiu daqui por causa de conflito de

relacionamento.‖ (TE10); ―O que eles [os técnicos de enfermagem] fazem é, às vezes, não vir

pro plantão, ou sair daqui e procurar outro hospital...‖ (M3); ―...demissão não, mas [já soube

de casos em que houve] transferência sim, de setor...‖ (TE1)

153

Muitas pessoas já perderam o emprego, foram intimidadas, principalmente

os meninos da cooperativa. Por chefia, por diretores, por médicos, e eu acho

isso errado, muito errado! (AE2)

Estudo afirma que, quando este comportamento existe no cuidado à saúde, a

satisfação do paciente cai, a rotatividade de profissionais aumenta e a prosperidade da prática

ou do hospital é ameaçada (CHISM, 2012b). Assim, há aumento da carga de trabalho e da

despesa, e impedimento da retenção de profissionais na organização, pois a equipe sai

prematuramente ou abusa de dias doentes para se distanciar do profissional destrutivo. O

recrutamento também sofre consequências, devido às histórias em torno do médico destrutivo.

Existe, ainda, apoio limitado por parte das lideranças, então mais erros são cometidos por

aqueles que permanecem na instituição (PFIFFERLING, 2008).

Tempo extra e esforço são gastos em defesa dos fatos hostis no ambiente de

trabalho. Os custos sobem enquanto médicos intimidam colegas que se defendem por,

obrigatoriamente ou compulsivamente, documentarem ou detalharem episódios destrutivos.

Nos EUA, estes custos médicos defensivos são conservadoramente estimados em bilhões de

dólares (PFIFFERLING, 2008).

Colegas de trabalho chegam mais tarde, saem mais cedo, e não contribuem para

reuniões clínicas da equipe, de modo a evitar a interação com o colega destrutivo. A

capacidade de criatividade e de inovação declina por causa do ambiente "tóxico". Médicos de

consultório fogem de participarem na assistência ao paciente hospitalizado por causa do

estresse associado à interação com o médico destrutivo (PFIFFERLING, 2008).

No contexto acadêmico, quando comportamentos destrutivos surgem, há também

um desconforto gerado no ambiente de trabalho. Este se manifesta por meio de dores de

cabeça administrativas e necessidade de acalmar os membros do corpo docente e funcionários

que foram submetidos aos comportamentos destrutivos (FRANKEN, 2011).

Eventualmente, há baixa moral, principalmente entre os residentes, técnicos,

funcionários e membros da equipe de apoio; surgem problemas sutis, mas definidos em

recrutar e manter professores e funcionários (FRANKEN, 2011). Além disso, administradores

e gestores tendem a buscar novas posições em ambientes mais profissionais (LEIKER, 2009).

O comportamento destrutivo também leva a uma maior rotatividade de

funcionários dentro e fora das organizações. Os trabalhadores individuais que são afetados por

este comportamento relatam aumento do sofrimento psicológico e maior insatisfação com sua

154

vida pessoal e trabalho, e são, portanto, mais propensos a abandonar o emprego (PATEL et

al., 2011).

Um dos principais objetivos de uma pesquisa foi identificar o impacto do

comportamento destrutivo sobre a retenção de enfermeiros. Os participantes foram solicitados

a descrever o impacto do comportamento destrutivo em si mesmos e nos outros. Descrições

de 90 trabalhadores foram sintetizadas em três temas: impacto no enfermeiro assistencial, no

paciente e no ambiente da prática. Uma enfermeira descreveu os efeitos significativos da

incivilidade experimentada como "grosseria cotidiana‖, com grande impacto na moral, no

investimento, no tempo que estava disposto a trabalhar e na vontade de ir trabalhar

(WALRATH; DANG; NYBERG, 2010).

No mesmo estudo, cada grupo de participantes foi perguntado se sabia de algum

caso em que um enfermeiro tinha sido transferido para outra unidade ou departamento devido

ao comportamento destrutivo. Quarenta e seis enfermeiros (48%) responderam que sim. Além

disso, 33 (34%) afirmaram que sabiam que os enfermeiros deixaram a organização por causa

do comportamento destrutivo.

Esta descoberta tem implicações significativas para o recrutamento, a retenção e o

treinamento de enfermeiros, para a prestação do cuidado ao paciente, e para os custos

associados (WALRATH; DANG; NYBERG, 2010).

No contexto cirúrgico, os trabalhadores temem que os cirurgiões sejam poderosos

e, se eles relatá-los, podem ser demitidos (OR MANAGER, 2005). Em outra pesquisa,

verificou-se uma média de 2,4 enfermeiros que deixaram a instituição a cada ano devido a

esses comportamentos. Enfermeiros que deixaram o hospital devido sofrerem

comportamentos destrutivos fizeram outras alterações – como rever horários, alternar turnos,

ou mudança de unidades, a fim de evitar o contato com certos médicos (ROSENSTEIN,

2002).

Mais importante ainda, o fato de perder apenas um empregado, particularmente

um enfermeiro, pode afetar profundamente a capacidade do hospital de operar e pode

adicionar os custos já elevados de recrutamento e substituição (ROSENSTEIN, 2002).

Quanto às consequências para o paciente, os entrevistados referiram o

comprometimento da segurança e da qualidade dos cuidados, assim como na fase teórica:

[Após um episódio de comportamento destrutivo], o paciente, em vez de ter

um dia de plantão com o funcionário descansado, ele estaria com um

funcionário que estava com a escala bem sobrecarregada! E isso pode

ocasionar vários erros na assistência, que a gente vê por aí. Por sobrecarga

de trabalho... erros de medicações. (E4)

155

[Comportamento destrutivo] traz o prejuízo porque você tem que parar, o

serviço já não flui, você tem que parar, voltar para ajeitar aquilo ali, para dar

continuidade... (E6)

[Após um episódio de comportamento destrutivo], todo mundo vai ficar

chateado, então ele [o trabalhador] não vai dar uma qualidade [no

atendimento]. Porque é uma pessoa que está estressada, ela está cobrada, ela

pode fazer uma medicação errada, ela pode deixar de fazer [a medicação]...

(AE2)

No meio do plantão tinha uma paciente grave, que tinha que ser sondada, e a

enfermeira não foi. A sonda... a assistência total ao paciente deixou de ser

feita pela enfermeira. A enfermeira, eu acredito, que não teve foi estrutura,

depois da confusão, para dar assistência, sendo que ela tinha que dar

assistência, era paciente, entendeu? Talvez por não conseguir enxergar a

equipe, pelo que a médica falou em relação à vida pessoal dela... Então

assim... ela não deu assistência!‖ (TE10)

[Devido ao comportamento destrutivo do profissional de saúde], o paciente

se enquadra no lugar errado, num lugar pouco apropriado, com pouca

assistência, ele vai piorar e até voltar pra UTI. Pode ter uma recaída! (M2)

[Um episódio destrutivo] tira a concentração ali, do paciente, tira o foco do

paciente e coloca em outra coisa e acaba que, imagino que prejudique o

resultado final. (M5)

Além dos entrevistados relatarem, por meio de sua experiência, que o

comportamento destrutivo traz prejuízos à segurança do paciente, também foi possível

evidenciar esta consequência na prática.

Quando a equipe estava sobrecarregada, conforme relato de algumas técnicas, os

pacientes que não tiveram sua mudança de decúbito realizada podem ter desenvolvido uma

úlcera por pressão. O paciente que ia para exame e o maqueiro relutou em levá-lo também

pode ter sofrido uma consequência negativa em seu tratamento, pois sua condição clínica

estava realmente agravada e o exame seria extremamente necessário para confirmar a

gravidade do caso e para a tomada de decisão da médica assistente. A paciente que não foi

sondada, porque a enfermeira não teve condições psicológicas para continuar trabalhando

após discussão com uma médica no centro cirúrgico, pode ter sofrido danos também. No

entanto, seria preciso informações mais acuradas e maior tempo de observação e

acompanhamento de cada caso para comprovar sua relação com o comportamento destrutivo.

No entanto, foi possível perceber, em muitos momentos, que quando a chefe de

enfermagem adotava um comportamento destrutivo, toda a equipe manifestava insatisfação e

tensão, e isso poderia implicar em erros e eventos adversos.

Assim, identificar as repercussões de condutas destrutivas para a qualidade da

assistência pode ser uma das ações a serem desenvolvidas com maior propriedade por parte de

156

gestores, gerentes e lideranças dos serviços de saúde. Tratar o comportamento destrutivo

como indicador de qualidade no ambiente hospitalar seria uma estratégia para abordar como e

quando os fatores humanos estão envolvidos na ocorrência de erros, falhas de comunicação e

resultados negativos para o paciente, como os eventos adversos.

Estudo afirma que o comportamento destrutivo ou intimidante demonstrado pelos

profissionais no ambiente de saúde é uma das maiores ameaças à segurança do paciente

(VELTMAN, 2007), pois leva à distração e coloca em risco a qualidade e a segurança do

paciente. Isto porque este comportamento tem um efeito cascata nos pacientes: "os pacientes

são destinatários de comportamento destrutivo também!‖. Alguém que é destrutivo no

ambiente de trabalho não vai ser desligado quando entrar no quarto do paciente."

(WALRATH; DANG; NYBERG, 2010).

Na mesma pesquisa, enfermeiros expressaram preocupações de que o

comportamento destrutivo pode diminuir a qualidade do atendimento, criar riscos para a

segurança do paciente, retardar a prestação de cuidados, e perturbar as relações de trabalho

entre os membros da equipe.

Estudo reitera que a consequência mais importante do comportamento destrutivo

de médicos é o risco aumentado de erros médicos e a segurança do paciente comprometida

(BROWN; GOSKE; JOHNSON, 2009). Este aspecto foi ressaltado pela maioria dos artigos

inseridos na fase teórica.

Em recente pesquisa com 1500 profissionais de diversas categorias, entre 53% e

75% dos entrevistados disseram que viram uma forte ligação entre comportamento destrutivo

e resultados clínicos negativos (com exceção de mortalidade dos pacientes, apenas um quarto

dos entrevistados viu tal associação) (ROSENSTEIN; O‘DANIEL, 2005).

Os resultados também mostraram uma forte percepção de associação entre

comportamento destrutivo e a ocorrência de eventos adversos e erros, bem como os efeitos

negativos deste comportamento sobre a segurança do paciente, a qualidade dos cuidados, a

mortalidade e a satisfação do paciente (ROSENSTEIN; O‘DANIEL, 2005).

A questão mais crítica de uma pesquisa foi a percepção do entrevistado sobre a

relação entre interações destrutivas e eventos adversos na assistência ao paciente. Usando a

estrutura de questão nunca, ocasionalmente, às vezes, frequente e constante, os entrevistados

foram convidados a avaliar a relação entre comportamentos destrutivos e eventos adversos,

erros médicos, segurança do paciente, qualidade do cuidado, mortalidade do paciente e

satisfação. Se combinarmos as respostas às vezes, freqüentes e constantes como motivo de

preocupação, 66% dos participantes consideraram que havia uma ligação entre

157

comportamentos destrutivos e eventos adversos, 71% com erros médicos, 53% com o

comprometimento da segurança do paciente, 72% com efeitos prejudiciais sobre a qualidade

do atendimento, 25% com a mortalidade dos pacientes, e 75% com a piora da satisfação

pessoal. Acrescenta-se que 14% dos entrevistados relataram estar ciente de um evento

adverso específico que ocorreu por causa de um episódio de comportamento destrutivo

(ROSENSTEIN; O‘DANIEL, 2008b).

No ambiente cirúrgico, estudo multicêntrico registrou que a pobre comunicação

pós-operatória por causa de uma reputação destrutiva resultou em atraso no tratamento,

broncoaspiração, e a eventual morte do paciente (ROSENSTEIN; O‘DANIEL, 2008a).

A grande preocupação é o impacto no atendimento ao paciente. Os resultados de

estudo com 4530 participantes de 2004 a 2007 nos EUA, entre enfermeiros, médicos,

administradores e outros, indicam que mais de 70% dos inquiridos consideraram que havia

uma ligação entre comportamentos destrutivos, erros médicos e atendimento de má qualidade.

Mais do que dois terços sentiu que comportamentos destrutivos estavam ligados a eventos

adversos, mais de 50% sentia que havia uma ligação com, e mais de um quarto dos

entrevistados sentia que havia uma ligação com a mortalidade dos pacientes (ROSENSTEIN;

O‘DANIEL, 2008a).

Os resultados da pesquisa mostraram que o comportamento destrutivo ocasiona

erros (71%), eventos adversos potencialmente evitáveis (67%), comprometimento em matéria

de segurança do paciente (51%) e qualidade do cuidado (71%), e mortalidade dos pacientes

(27%) (ROSENSTEIN; O‘DANIEL, 2008a).

Em outro estudo, dos 1131 entrevistados, 10,1% (n=114) responderam que um

dano ocorreu e 19,6% (n=222) relataram que não tinham certeza se o evento destrutivo havia

resultado em dano. Para aqueles que referiram dano aos pacientes, foram relatados 189

incidentes de danos como resultado de comportamento destrutivo: 77,2% (n=146)

temporários, 10% (n=19) permanentes, e 12,7% (n=24) requeriram intervenções para garantir

a vida (ROSENSTEIN, 2012).

A insatisfação do paciente também foi considerada uma consequência do

comportamento destrutivo do trabalhador: ―[As pessoas destrutivas] são vistas com maus

olhos... gera um transtorno!‖ (E6).

De paciente, a gente tem problemas demais de reclamação, e eles não sabem

diferenciar o que é enfermeiro e o que é auxiliar, acontece muito de o

paciente chegar da noite pra vim falar com a ouvidoria durante o dia e fala

que foi a enfermeira [que agiu de forma destrutiva]... (E5)

158

Já ouvi relato de paciente [após presenciar um comportamento destrutivo]...,

de subir pressão de paciente, de ficar tenso...Eu acho que o paciente fica

tenso! (E7)

É possível perceber, na prática, que os pacientes percebem, sentem e criticam as

atitudes manifestadas por profissionais de saúde, principalmente quando eles presenciam

situações constrangedoras e inapropriadas. Muitos deles apenas observam, comentam a

respeito com o acompanhante ou com os outros pacientes, manifestando indignação ou

insatisfação. No entanto, está cada vez mais comum aqueles pacientes que buscam denunciar

os profissionais, talvez por reunirem mais informações e terem maior conhecimento de seus

direitos e dos deveres dos trabalhadores de saúde. Desse modo, seguem adiante e fazem

queixas à ouvidoria do serviço ou aos órgãos de classe.

Autoras afirmam que o paciente é capaz de visualizar e criticar a falta de um

cuidado ético que honre sua dignidade humana, tratando-o como se fosse gente. Deseja, em

contrapartida, uma conduta profissional que integre a alteridade e o respeito. O paciente-

cidadão é observador, reflexivo e crítico, capaz de avaliar minuciosamente o menor gesto e

interpretar a expressão mais sutil do profissional, seja do cavalo batizado, seja do coração

bondoso. É essa a voz legítima, comprometida com a defesa da vida, que poderá revolucionar

a conduta profissional, remoralizar o paciente e humanizar o cuidado (NATIONS; GOMES,

2007).

Outro estudo apontou a insatisfação e o descontentamento dos pacientes quanto às

ações e atitudes da equipe de enfermagem, compreendidas como ―não cuidado‖, tais como

não informação, atenção e assistência devida; transferência de responsabilidade entre os

profissionais; demasiado tempo para o atendimento de suas necessidades; não valorização dos

sinais e comunicação não verbal como cuidado, como pouco contato, mais mecânico que

humano; não prioridade de atendimento aos idosos; calma e respeito esgotados e, por vezes,

tratamento grosseiro, frio e insensível (BAGGIO; CALLEGARO; ERDMANN, 2011).

Finalmente, foram relatadas as consequências quanto à ameaça à imagem da

equipe e da organização: ―Aquilo ali [a intimidação] fica uma visão péssima para toda a

equipe da UTI!‖ (E1); ―[As pessoas destrutivas] ficam mal vistas...[pelo] mal estar que gera, a

pessoa já fica trabalhando com má vontade, tenso e se sentindo mal mesmo.‖ (E7); ―[as

pessoas destrutivas ficam] muito mal vistas!‖ (AE2)

159

A satisfação do paciente é influenciada por experiências com profissionais da

equipe e médicos e relatos de insatisfaçaão podem negativamente afetar a reputação do

hospital (WALRATH; DANG; NYBERG, 2013).

Pacientes que presenciam o comportamento destrutivo podem perder a confiança

no médico assim como na instituição (ROSENSTEIN, 2011a). Quando testemunham eventos

destrutivos ou encontram comportamentos não-profissionais desagradáveis, pacientes são

mais predispostos a expressar respostas negativas nos questionários de satisfação, a contar às

suas famílias ou escrever a respeito em um número de diferenctes redes sociais, todos os quais

podem afetar a impressão pública e a imagem da instituição (WALRATH; DANG; NYBERG,

2013).

Desse modo, há ameaça à imagem do hospital (CHISM, 2012b; PIPER, 2003);

redução da imagem pública do hospital (GROGAN; KNECHTGES, 2013; SAMENOW;

SWIGGART; SPICKARD, 2008); e influência negativa na imagem, confiança e moral da

equipe (PIPER, 2003).

O comportamento médico destrutivo pode resultar em consequências médicas,

econômicas e emocionais significativas (GROGAN; KNECHTGES, 2013); em ameaça ao

status profissional (FELBLINGER, 2008); e em perda de confiança do paciente na equipe de

cuidados (ROSENSTEIN, 2012).

Nota-se, portanto, que o comportamento destrutivo gera uma ―destruição‖ no

ambiente de trabalho, o que podemos atribuir ao desrespeito organizacional instituído e

enraizado nas condutas de muitos trabalhadores. Uma sucessão de condutas hostis,

intimidantes, abusivas e grosseiras podem favorecer a aceitação do desrespeito como algo

normal, seguido do estabelecimento de um ambiente de trabalho hostil, em que as pessoas se

encontram doentes e cansadas, os pacientes pioram seus quadros clínicos e correm mais riscos

de desenvolver danos e outras doenças, e estes resultados implicam na imagem da

organização perante a sociedade, que não acredita na garantia de qualidade dos trabalhadores

que ali labutam. Além disso, comportamento destrutivo implica em maior sobrecarga de

trabalho e outros problemas de comunicação, colaboração e trabalho em equipe, renovando o

círculo vicioso do comportamento destrutivo no trabalho em saúde.

A seguir, apresenta-se a Figura 10, que representa um mapa conceitual elaborado

pela pesquisadora no programa examtime®, sintetizando os achados da fase de campo, inter-

relacionando antecedentes, atributos e consequentes do comportamento destrutivo.

160

Figura 10 – Estrutura conceitual do comportamento destrutivo no trabalho em saúde: fase do trabalho de campo

Fonte: Elaborada pela autora.

Características GROSSEIRO/IGNORANTE DESRESPEITOSO

Desagradável

Abusivo

Constrangedor

Desumano Confuseiro

Pedante

Arrogante Agressivo

Inapropriado

Explosivo

ATRIBUTOS/CONDUTAS CARACTERÍSTICAS

DO COMPORTAMENTO DESTRUTIVO NO

TRABALHO EM SAÚDE

CONSEQUÊNCIAS DO COMPORTAMENTO

DESTRUTIVO ANTECEDENTES DO COMPORTAMENTO

DESTRUTIVO

161

―A lei de ouro do comportamento é a

tolerância mútua, já que nunca pensaremos

todos da mesma maneira, já que nunca

veremos senão uma parte da verdade e sob

ângulos diversos.‖

(Mahatma Gandhi)

162

6 ANÁLISE DE CONCEITO: FASE ANALÍTICA FINAL

Esta fase compreende a comparação entre os dados resultantes da fase teórica e as

observações empíricas, sendo o produto final a apresentação da definição do conceito, bem

como a identificação de lacunas conceituais que direcionam o desenvolvimento de outras

pesquisas.

Respondendo aos questionamentos iniciais propostos pelo modelo híbrido,

compreendemos que o conceito é igualmente aplicável e importante não só para a

Enfermagem, mas para a área da saúde como um todo. Assim, a seleção do conceito se

justifica, pois possibilitou conhecer o fenômeno em toda a sua complexidade, considerando

aspectos envolvidos, manifestações e consequências. A revisão de literatura, por sua vez,

permitiu o aprofundamento teórico, e os achados empíricos possibilitaram apoiar a sua

presença no grupo e no contexto social dos trabalhadores selecionados, com divergências e

convergências abordadas em todo o processo de análise dos dados na fase de campo.

Constatou-se que o comportamento destrutivo no trabalho em saúde se manifesta

por meio de condutas características de violência psicológica, incivilidade ou violência

física/sexual, estas últimas consideradas os três principais atributos do comportamento

estudado. Na Fase teórica, as evidências científicas levantadas identificaram, como principais

condutas destrutivas: humilhar o colega de trabalho publicamente, agir ou falar com

grosseria, intimidar e usar linguagem abusiva, todas características de Violência

Psicológica. Já na Fase do trabalho de campo, predominaram, nas entrevistas e nas

observações, condutas características de Incivilidade, como recusar-se a executar as tarefas

atribuídas ou exibir atitudes que não cooperam durante as atividades de rotina; seguidas

de condutas de violência psicológica, como intimidar e agir ou falar com grosseria.

Este resultado pode ser visualizado, com clareza, na Tabela 7, onde estão reunidos

e confrontados os resultados das fases téorica e de campo quanto às categorias e condutas

características de comportamento destrutivo, com suas frequências em relação ao número

total de artigos analisados (70) e de entrevistas (29).

163

Tabela 7 – Distribuição dos atributos e condutas características de comportamento

destrutivo no trabalho em saúde segundo os 70 artigos científicos e as 29 entrevistas.

Fortaleza, CE, 2013-2014

a. poderia haver citação de mais de um atributo/conduta característica em cada artigo/entrevista.

Fonte: Elaborada pela autora.

No que diz respeito aos antecedentes do comportamento destrutivo, em ambas as

fases predominaram os intrapessoais. Na Fase Teórica, destacaram-se o estresse/situações

críticas, ansiedade, fadiga e depressão; e as características ou traços de personalidade.

Na Fase do trabalho de campo, estes dois antecedentes também foram preponderantes, e

ATRIBUTOS/CONDUTAS CARACTERÍSTICAS Teóricos

f (%)

Empíricos

f (%)

Total

f (%)

Violência Psicológica

Humilhar o colega de trabalho publicamente. 47 (67,1) 1 (3,4) 48 (48,5)

Agir ou falar com grosseria/ gritar.

Intimidar.

31 (44,3)

26 (37,1)

13 (44,8)

14 (48,3)

44 (44,4)

40 (40,4)

Usar linguagem abusiva. 22 (31,4) - 22 (22,2)

Arremessar objetos, instrumentais ou prontuários. 17 (24,3) 1 (3,4) 18 (18,2)

Gerar fofocas, brigas, sabotagem, traição. 16 (22,9) - 16 (16,2)

Fazer observações e exibir atitudes discriminatórias. 13 (18,6) - 13 (13,1)

Reter informações para prejudicar o colega. 6 (8,6) - 6 (6,1)

Ameaçar. 6 (8,6) - 6 (6,1)

Outras. 14 (20,0) - 14 (14,1)

Totala 198 29 227

Incivilidade

Recusar-se a executar tarefas atribuídas ou exibir

atitudes que não cooperam durante as atividades de

rotina.

Desrespeitar o colega de trabalho.

Descumprir normas, rotinas e protocolos

organizacionais.

Manifestar explosões de raiva.

10 (14,3)

14 (20,0)

12 (17,1)

16 (22,9)

15 (51,7)

9 (31,0)

6 (20,7)

-

25 (25,3)

23 (23,2)

18 (18,2)

16 (16,2)

Fazer comentários hipercríticos ou depreciativos acerca

da organização.

13 (18,6) - 13 (13,1)

Relutar ou recusar-se a responder a perguntas e/ou

retornar ligações.

12 (17,1) - 12 (12,1)

Manifestar comportamento antiético.

Praticar uma gestão punitiva, autoritária

Gerar discussões conflituosas

-

-

-

10 (34,5)

7 (24,1)

6 (20,7)

10 (10,1)

7 (7,1)

6 (6,1)

Agir indelicadamente, não ouvir, ignorar o colega de

trabalho.

Fazer cobranças.

5 (7,1)

-

-

3 (10,3)

5 (5,1)

3 (3,0)

Agir com negligência. - 3 (10,3) 3 (3,0)

Outras. 12 (17,1) - 12 (12,1)

Totala 94 59 153

Violência Física ou Sexual

Abusar Fisicamente 14 (20,0) 1 (3,4) 15 (15,2)

Assediar Sexualmente 15 (21,4) - 15 (15,2)

Totala 29 1 30

164

evidenciados em boa parte das entrevistas, mas a sobrecarga de trabalho, antecedente

organizacional, também mereceu destaque, conforme se pode constatar na Tabela 8.

Tabela 8 – Distribuição dos antecedentes do comportamento destrutivo no trabalho em

saúde segundo os 70 artigos científicos e as 29 entrevistas. Fortaleza, CE, 2013-2014

a. poderia haver citação de mais de um antecedente em cada artigo/entrevista.

Fonte: Elaborada pela autora.

As principais características/adjetivos atribuídos ao trabalhador que adota o

comportamento destrutivo, na Fase teórica, foram intimidante, hostil, rude/grosseiro e

abusivo. Já na Fase de campo, os termos utilizados pelos trabalhadores para definir colega

destrutivo convergiram para determinar o adjetivo rude/grosseiro, sinônimo de ignorante, na

ANTECEDENTES Teóricos

f (%)

Empíricos

f (%)

Total

f (%)

Intrapessoais

Características/traços de personalidade. 20 (28,5) 30a 50 (50,5)

Estresse/situações críticas, ansiedade, fadiga e

depressão.

28 (40,0) 12 (41,4) 40 (40,4)

Falta de competência, autonomia, inteligência

emocional no trabalho.

14 (20,0) 7 (24,1) 21 (21,2)

Crenças e valores pessoais arraigados. 10 (14,3) - 10 (10,1)

Má educação. - 6 (20,7) 6 (6,1)

Abuso de substâncias. 4 (5,7) - 4 (4,1)

Maior idade e tempo de serviço. - 4 (13,8) 4 (4,1)

Conflitos/problemas pessoais ou familiares 4 (5,7) - 4 (4,1)

Desordens psiquiátricas. 4 (5,7) - 4 (4,1)

Formação acadêmica. 3 (4,3) - 3 (3,0)

Experiências prévias com comportamento destrutivo. 3 (4,3) - 3 (3,0)

Falta de humanização/ética profissional. - 3 (10,3) 3 (3,0)

Totala 89 62 151

Organizacionais

Sobrecarga de trabalho. 13 (18,6) 13 (44,8) 26 (26,3)

Problemas sistêmicos não resolvidos. 16 (22,8) 2 (6,9) 18 (18,2)

Cultura organizacional disfuncional. 9 (12,8) - 9 (9,1)

Áreas/especialidades de alta tensão. 9 (12,8) - 9 (9,1)

Dimensionamento de pessoal inadequado. 6 (8,6) - 6 (6,1)

Conflitos de papel e de poder. 3 (4,3) 3 (10,3) 6 (6,1)

Falta de suporte organizacional. 5 (7,1) - 5 (5,1)

Demandas de atendimento dos usuários. 4 (5,7) - 4 (4,1)

Outros. 3 (4,3) - 3 (3,0)

Totala 68 18 86

Interpessoais

Divergência de opiniões/pensamentos. 8 (11,4) 2 (6,9) 10 (10,1)

Comunicação ineficaz. 9 (12,8) - 8 (8,1)

Ausência de trabalho em equipe/colaboração. 6 (8,6) - 6 (6,1)

Autoritarismo. 5 (7,1) - 5 (5,1)

Questionamento de ordens médicas. 5 (7,1) - 5 (5,1)

Falta de respeito entre os colegas. - 2 (6,9) 2 (2,0)

Totala 33 4 37

165

linguagem cearense, termo mais referido pelos entrevistados. Este resultado é constatado na

Tabela 9.

Tabela 9 – Distribuição dos principais adjetivos atribuídos ao trabalhador que adota

comportamento destrutivo, segundo os 70 artigos científicos e as 29 entrevistas.

Fortaleza, CE, 2013-2014

a. poderia haver citação de mais de um adjetivo em cada artigo/ entrevista.

Fonte: Elaborada pela autora.

Na avaliação dos consequentes do comportamento destrutivo, verificou-se que

esta variável foi a mais convergente ao se compararem os dados teóricos e os dados do

trabalho de campo. Ou seja, em ambas as etapas, predominaram os seguintes consequentes:

comprometimento da segurança do paciente e da qualidade dos cuidados e sofrimento

moral e psíquico dos trabalhadores, seguidos do rompimento da comunicação, da

colaboração e do trabalho em equipe e dos prejuízos laborais. Isto pode ser confirmado na

Tabela 10.

ADJETIVOS Teóricos

f (%)

Empíricos

f (%)

Total

f (%)

Rude/grosseiro 15 (21,4) 13 (44,8) 28 (28,3)

Intimidante 19 (27,1) - 19 (19,2)

Hostil 18 (25,7) - 18 (18,2)

Abusivo 13 (18,6) - 13 (13,1)

Totala 65 13 78

166

Tabela 10 – Distribuição dos consequentes do comportamento destrutivo no trabalho em

saúde segundo os 70 artigos científicos e as 29 entrevistas. Fortaleza, CE, 2013-2014

a. poderia haver citação de mais de um consequente em cada artigo.

Fonte: Elaborada pela autora.

Analisando as tabelas, e observando as frequências das variáveis analisadas,

conseguimos identificar os elementos definidores essenciais do conceito Comportamento

Destrutivo no Trabalho em Saúde, seus principais antecedentes, condutas

características/atributos e consequentes.

A pessoa que adota este comportamento, dependendo da conduta, é, geralmente,

rude, intimidante, hostil ou abusiva, o que tem relação com características/traços de

personalidade como narcisismo, perfeccionismo, intolerância, mas também com o estresse e

a sobrecarga de trabalho enfrentadas no cotidiano da prática. Em consequência, a segurança

do paciente é comprometida de forma considerável, pois o paciente sofre as repercussões do

sofrimento moral e psíquico dos trabalhadores, que tendem a se afastar do colega destrutivo,

se isolar e não questionar dúvidas sobre o cuidado, ocasionando erros e posteriores eventos

adversos.

Além desses consequentes, ocorrem sérios prejuízos laborais e rompimento da

comunicação, da colaboração e do trabalho em equipe, gerando uma ―destruição‖ da

CONSEQUENTES Teóricos

f (%)

Empíricos

f (%)

Total

f (%)

Para o trabalhador/equipe de saúde

Sofrimento moral e psíquico: da ansiedade ao Burnout.

Prejuízos laborais: demissão, rotatividade/mudança de

unidade e intenção de deixar o emprego.

Rompimento da comunicação, da colaboração e do

trabalho em equipe.

Afastamento/Isolamento.

Hostilidade no ambiente de trabalho.

Insatisfação, diminuição da moral e do engajamento no

trabalho.

Medo, tensão, perda de foco.

48 (68,6)

40 (57,1)

41 (58,6)

15 (21,4)

23 (32,8)

22 (31,4)

18 (25,7)

25 (86,2)

10 (34,5)

8 (27,6)

8 (27,6)

-

-

-

73 (73,7)

50 (50,5)

49 (47,5)

23 (23,2)

23 (23,2)

22 (22,2)

18 (18,2)

Totala 207 51 258

Para o paciente

Comprometimento da segurança do paciente e da

qualidade dos cuidados.

Insatisfação.

73d

15 (21,4)

25 (86,2)

5 (17,2)

98 (98,9)

20 (20,2)

Totala 88 30 118

Para a organização de saúde

Custos com processos legais, recrutamento de novos

profissionais e tratamento de eventos adversos.

Impacto na dinâmica e na cultura organizacional.

Ameaça à imagem da instituição/equipe.

25 (35,7)

14 (20,0)

10 (14,3)

-

-

4 (13,8)

25 (25,2)

14 (14,1)

14 (14,1)

Totala 49 4 53

167

harmonia entre os membros da equipe e da saúde organizacional, com todos os trabalhadores

podendo sofrer repercussões a curto, médio ou longo prazo. A organização também é

prejudicada, tendo sua imagem comprometida e aumentando os custos com processos,

recrutamento de novos profissionais, pagamento de indenizações, dentre outros.

Diante desta análise conceitual, podemos considerar que, em nítido contraste ao

trabalho honesto e respeitoso centrado no paciente, está o trabalhador destrutivo, preocupado

principalmente em afirmar a sua própria vontade. Estes indivíduos buscam levar a melhor não

pela lógica de seus argumentos, mas por seu comportamento arrogante (GLUCK, 2010).

Infelizmente, os vários estudos analisados e as evidências da prática mostraram que o

comportamento destrutivo é comum no contexto hospitalar.

A análise do conceito, ao final deste estudo, permitiu esclarecer suas causas,

consequências e manifestações. Desse modo, possibilitou uma maior clareza e especificidade

em sua definição, descrita a seguir:

Comportamento destrutivo no trabalho em saúde é um espectro de condutas

desrespeitosas adotadas por trabalhadores de saúde no ambiente de sua prática, podendo se

manifestar por meio de incivilidade, violência psicológica ou violência física/sexual, e

repercutindo em comprometimento da segurança do paciente, sofrimento moral e psíquico,

prejuízos laborais para os trabalhadores, rompimento da comunicação, da colaboração e

do trabalho em equipe.

O termo espectro foi escolhido por envolver situações e apresentações muito

diferentes umas das outras, numa gradação que vai da mais leve à mais grave. Ou seja, o

trabalhador pode ser destrutivo adotando condutas incivis, que podem não ter intenção de

prejudicar os colegas ou a organização, mas que não correspondem às expectativas das

organizações e à ética profissional. Por outro lado, pode ser intimidante, abusivo, hostil e

agressivo, características daquele comportamento destrutivo manifestado como violência

psicológica, física ou sexual.

Diante desta definição, pode-se avaliar criticamente a atual problemática do

comportamento destrutivo no trabalho em saúde e constatar a instrumentalização do ato

médico que, associado à ilusão, muito presente em certos meios pragmatistas e positivistas, de

que os fatos falam por si sós, vem levando a uma desvalorização mais intensa da atividade de

interpretação dos sujeitos implicados na prática clínica. A oposição subjetivo/objetivo é

tomada como uma oposição exclusiva e o campo da prática é reduzido a um conjunto de

relações necessárias, de tal forma que o singular, o contingente, o histórico, apesar de estarem

sempre a instigar, não encontram facilmente um espaço de reflexão (SOUZA, 1998)

168

Esta análise final encontra-se apoiada, portanto, na reflexão de outras autoras, que

afirmam ser necessário refletir sobre a possibilidade de mudar as condutas profissionais

inseridas em estruturas de iniquidade. Há, ainda, a necessidade de incorporar, na formação,

além dos conhecimentos técnico-instrumentais, outras formas de saber: significados e sentidos

da realidade dos cidadãos, sua cultura, emoções e condições de vida. Edificar uma nova

relação terapêutica, não de dominação, mas de respeito, afeto e vínculo, é um grande desafio,

entre muitos, para uma conduta profissional solidária e uma gestão ética a fim de construir o

hospital humano (NATIONS; GOMES, 2007).

Em suma, a Figura 11 foi elaborada pela pesquisadora no programa examtime® e

apresenta os resultados desta análise conceitual na etapa final.

169

Figura 11 – Estrutura conceitual do comportamento destrutivo no trabalho em saúde:

fase analítica final

Fonte: Elaborada pela autora.

170

Com a definição de comportamento destrutivo no trabalho em saúde, tornou-se

mais fácil selecionar o caso modelo, dentre os inúmeros casos relatados pelos trabalhadores

entrevistados. Este caso, relatado pela enfermeira E3, na UTI, apresenta os elementos

essenciais do conceito, tais como o antecedente relacionado ao estresse do profissional, a

conduta rude, intimidante, hostil e grosseira de um cirurgião, bem como as repercussões

para o paciente, os trabalhadores envolvidos e a equipe de saúde.

Lê-se, a seguir, o Caso Modelo de comportamento destrutivo no trabalho em

saúde:

Em um plantão diurno na Unidade de Terapia Intensiva de um Hospital

Universitário, o cirurgião Dr. Dias era esperado para iniciar um procedimento invasivo

(punção de acesso para uma P.A.I – pressão arterial invasiva) em um paciente em estado

vigil, sob ventilação mecânica. A enfermeira Angélica havia separado todo o material e

deixado sob a responsabilidade da técnica de enfermagem Maria auxiliá-lo. Esta, apesar de

jovem e recém-admitida no serviço, tinha habilidades e conhecimento para acompanhar o

procedimento. No geral, naquela UTI, os cirurgiões não solicitam a presença da enfermeira à

beira do leito para fazer este procedimento, o máximo que ela providencia é a sedação e

deixa todo o material preparado para o procedimento acontecer. Os cirurgiões, como sempre

aparecem à unidade acompanhados de vários estudantes e residentes, na maioria das vezes

dispensam a ajuda da Enfermagem.

Naquele dia, o cirurgião chegou sozinho à unidade e não conseguiu puncionar o

acesso. Estava nervoso, gritava e exigia a presença da enfermeira ao lado dele, para auxiliá-

lo. A enfermeira Angélica, que no momento estava ocupada atendendo a outro paciente, foi

ao encontro do médico e indagou: o que o Senhor quer doutor? Dr. Dias respondeu: olha,

você tem que ficar aqui do meu lado! E ela responde: mas eu já deixei uma técnica e todo o

material aí, de que o senhor precisa mais? E ele responde: „Esse é o único procedimento em

que eu exijo a presença da enfermeira do meu lado!‟ Nesse momento, a técnica de

enfermagem saiu constrangida, porque o Dr. Dias disse que ela não sabia fazer o

procedimento, que consiste em abrir o material e zerar o monitor no momento em que ele

conseguisse conectar o cateter. Então, a enfermeira Angélica tranquilizou a técnica, que

estava demasiadamente constrangida, e permaneceu ao lado do cirurgião até o final do

procedimento.

O cirurgião demorou várias horas, e a todo momento deixava claro que queria a

enfermeira ao seu lado, exigindo que ela não saísse dali! E a enfermeira falava: Dr., eu estou

171

atendendo outra intercorrência... E o cirurgião: „Fala que você não pode ir, você tem que

ficar aqui comigo!‟ O cirurgião parecia inseguro, ou com pressa para terminar o

procedimento, e precisava ir embora. A enfermeira permaneceu de pé ao lado dele, não fez

mais nenhum atendimento, e o cirurgião continuava nervoso e estressado.

O cirurgião, estressado durante o procedimento, demorou muito mais do que o

habitual para fazê-lo. É um profissional extremamente hábil, no entanto, naquele dia, ele

demorou, e em uma das múltiplas tentativas de punção, chegou a “respingar” sangue no

rosto do cirurgião. A enfermeira Angélica indagou: „o senhor sabe o diagnóstico daqui?‟ (o

paciente era portador do vírus HIV), e o cirurgião respondeu: „Sei, claro que sei, pegou no

meu olho?‟ E a enfermeira respondeu: não pegou no seu olho porque estava de óculos! E

continuou: o senhor quer que eu limpe? Dr. Dias. responde: Não, não precisa não, não

precisa! Apenas quando terminou o procedimento ele foi lavar o rosto, tamanho o estresse

em que se encontrava. Se ele não estivesse com os óculos, teria penetrado sangue em seu

olho. E o paciente ficou exposto ao procedimento durante um tempo consideravelmente

maior, por diversas vezes sendo puncionado, sofrendo múltiplos procedimentos e até

ocasionando uma perda de sangue importante no local da punção, o que se associa a um

maior risco de infecção. Por fim, após um longo período de tensão e tentativas de punção

sem êxito, o cirurgião desistiu da punção e resolveu fazer a dissecção venosa. E a enfermeira

separou novamente todo o material para ele realizar o novo procedimento.

Depois deste acontecimento, quando o Dr. Dias adentra à unidade, ninguém mais

quer auxiliá-lo, os técnicos evitam, tem medo, a imagem dele ficou péssima, visto como o

estúpido, o ignorante, e que despreza o trabalho da Enfermagem, no geral. A equipe ficou

restrita, ninguém agiliza mais nada, ninguém quer auxiliar, fica todo mundo fugindo, já que

não quer passar por uma situação constrangedora.

Em seguida, desenhamos um Caso Contrário, fictício, relacionado ao caso

modelo apresentado, com condutas que seriam favoráveis à construção de uma relação

interprofissional saudável, pautada na ética e no respeito mútuo, no incentivo à comunicação e

na garantia de segurança para o paciente. Ou seja, o comportamento respeitoso e ético,

contrário ao comportamento destrutivo no trabalho em saúde:

Na unidade de terapia intensiva, em um plantão diurno, o médico cirurgião Dr.

Alfredo chega à unidade e dirige-se ao posto de Enfermagem. Cumprimenta a todos com um

bom dia, senta-se e busca o prontuário do paciente que aguarda se submeter a um

procedimento invasivo. Tira suas dúvidas no prontuário, interage com os profissionais da

172

equipe e se coloca à disposição para que, no momento mais apropriado, inicie o

procedimento com o auxílio de um membro da equipe de enfermagem. Enquanto isso, vai em

direção ao paciente, o examina e explica sobre o procedimento ao qual será submetido.

Quando a enfermeira Ana termina um procedimento em outro paciente, vai em

direção ao leito em que se encontrava o Dr. Alfredo e este a cumprimenta: - Bom dia

enfermeira Ana, como está o plantão? E a enfermeira gentilmente responde: - Bom dia Dr.,

está um pouco atribulado, mas tudo conforme o esperado. Bem, como de rotina, preciso

passar-lhe o caso do paciente e separar o material necessário. Alguém de sua equipe virá

auxiliá-lo? E o médico responde: Não, hoje não. A enfermeira então questiona: o senhor

conhece a técnica de Enfermagem Francisca? Ela poderá auxiliá-lo. O médico responde: que

bom Ana, já dei uma olhada no prontuário, chequei exames e vejo que o paciente está em

condições de realizar o procedimento. Quanto à Francisca, não a conheço, mas certamente

irá me auxiliar com presteza. E se dirige à técnica dizendo: Muito prazer Francisca! Vamos

iniciar nosso procedimento? A técnica responde: Prazer Dr., quando quiser iniciar, estou à

disposição. E a enfermeira deixa o leito, fecha as cortinas e comunica ao cirurgião: Doutor,

para o que precisar ou caso surja alguma dúvida, é só me chamar!

O cirurgião inicia, então, o procedimento. Tem uma certa dificuldade

inicialmente, tenta realizar a punção por três vezes, sem êxito. Ao concluir que não

conseguiria puncionar o acesso venoso profundo, decidiu-se por fazer uma dissecção venosa.

Solicitou, então, à técnica de Enfermagem que separasse o material para o novo

procedimento. Enquanto isso, explicava ao paciente a mudança de conduta, administrava

algum analgésico e se paramentava novamente para iniciar o segundo procedimento.

Após alguns minutos, o cirurgião realizou a dissecção da veia, com êxito. Em

seguida, medicamentos de rotina foram administrados. Ele lavou as mãos, foi ao prontuário

do paciente, deixou tudo registrado, cumprimentou a enfermeira e os demais membros da

equipe e se colocou à disposição para quaisquer procedimentos futuros. Além disso,

agradeceu e cumprimentou a técnica de Enfermagem pelo suporte durante todo o

procedimento. Este cirurgião, quando retorna à unidade, é sempre recebido com atenção e

respeito por parte da equipe, pois promove boa colaboração e comunicação efetiva,

garantindo segurança para o paciente e para a equipe de plantão.

173

Reconhecer os modos de se apresentar o comportamento destrutivo, seus

atributos, antecedentes e consequentes, proporciona gerar discussões sobre este fenômeno,

favorecendo às organizações de saúde uma maior apropriação do conceito para, a partir daí,

implementar estratégias e desenvolver políticas voltadas para a abordagem desse

comportamento e tratamento de suas consequências.

Quanto às lacunas encontradas nesse processo de análise, destaca-se o fato de não

ter sido possível comprovar como o comportamento destrutivo realmente impacta nos custos

hospitalares e nos eventos adversos graves, como a morte de pacientes. Portanto, um dos

desafios para as posteriores pesquisas em torno da temática será a realização de estudos de

avaliação econômica que possibilitem conhecer o impacto desses comportamentos nos custos

e na reputação organizacional, além de avaliar os reais danos gerados para os pacientes.

Também se fazem necessárias pesquisas com enfoque em intervenções para os

hospitais lidarem com esse fenômeno recorrente na prática, ensinando sobre gestão de

conflitos e inteligência emocional no trabalho, envolvendo todos os profissionais em um

planejamento voltado para prevenir e abordar casos de comportamento destrutivo, dando o

encaminhando necessário.

Finalmente, é preciso fortalecer a pesquisa, principalmente no contexto brasileiro,

quanto a três importantes fatores descobertos nesse estudo, e que são relacionados à

manutenção do comportamento destrutivo no trabalho em saúde: o desrespeito sistêmico, a

cultura punitiva e a banalização da injustiça.

Estas pesquisas podem ajudar a compreender e combater o desrespeito sistêmico

institucionalizado, fazendo com que os trabalhadores sejam reconhecidos como seres

humanos com necessidades e modos de trabalhar distintos, mas capazes de promover

melhorias naquelas características do processo de trabalho evidenciadas como prejuízos à sua

moral e ao seu desempenho, como a precarização e a sobrecarga de trabalho.

174

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa analisou o conceito comportamento destrutivo no trabalho

em saúde, com integração de revisão integrativa da literatura e pesquisa de campo,

possibilitada por meio de entrevistas e observações do comportamento de médicos,

enfermeiros e técnicos de enfermagem no trabalho em hospital público de grande porte da

cidade de Fortaleza, Ceará.

Trata-se de hospital de ensino, frequentemente superlotado, que atende a centenas

de pacientes tanto da capital quanto do interior do Estado, os quais necessitam de

procedimentos, tratamentos e cuidados especializados, num ambiente dotado de tecnologias.

Este hospital, assim como em muitas instituições públicas de saúde, apresenta deficiências de

estrutura para a elevada demanda, escassez de recursos e trabalhadores com diversos vínculos

empragatícios (terceirizados, cooperados, estatutários) submetidos a diferentes modelos de

gestão.

A análise do comportamento destrutivo permitiu evidenciá-lo como um problema

real vivenciado pelos trabalhadores de saúde desta instituição, com repercussões negativas e

significativas sobre o desempenho e a saúde da equipe, bem como sobre a segurança do

paciente, ao deixá-lo mais susceptível a riscos, erros e eventos adversos, incluindo a morte.

Trata-se de um constructo teórico, analisado e produzido mediante a interlocução

de referenciais teóricos e empíricos, que possibilitaram estudar este comportamento no que

diz respeito aos seus antecedentes, atributos e consequentes. Além disso, foi possível

identificar os atributos a partir das condutas características deste comportamento na prática:

incivilidade, violência psicológica e violência física/sexual.

A grosseria cotidiana, o desrespeito interpessoal e organizacional, a falta de

colaboração entre os colegas de trabalho, as humilhações e as intimidações frequentes

configuraram as condutas que representam o espectro de comportamentos destrutivos no

trabalho em saúde. Os perpretadores geralmente são aqueles que ocupam o topo da hierarquia:

médicos, enfermeiros, gerentes de unidades, bem como aqueles profissionais que estão há

mais tempo no serviço, com estabilidade no emprego e experiência clínica reconhecida.

Estes, por sua vez, carregam consigo traços de personalidades característicos,

como o narcisismo, além de sofrerem influência de fatores pessoais arraigados, como cultura,

crenças, educação, gênero e idade.

Os primeiros a serem atingidos são, na maioria das vezes, os trabalhadores que se

encontram na base da pirâmide organizacional, aqueles inseridos na assistência ao paciente,

175

no cumprimento de suas funções, os quais, segundo seus depoimentos, encontram-se

sobrecarregados, cansados, pouco valorizados pelas lideranças, atuando como fáceis

receptores das grosserias e dos ataques verbais de ―chefes‖ autoritários e punitivos

favorecidos pela hierarquia e pelos privilégios institucionais.

O ambiente de trabalho torna-se, a partir daí, hostil, perigoso e penoso.

Consequentemente, os trabalhadores fogem do encontro com o colega destrutivo, se isolam,

não participam da tomada de decisões, não questionam dúvidas, sofrem danos físicos, morais

e psíquicos, gastando com tratamentos medicamentosos e psicoterapia; faltando ao trabalho;

podendo chegar a mudar de unidade oum, em último caso, pedir demissão.

Isto repercute em maior insegurança para a organização e para o paciente. Este

sofre danos reais, com profissionais sobrecarregados, distraídos, desatentos, ansiosos,

propensos a erros e à oferta de um cuidado inseguro, que não atende aos protocolos e às

evidências de uma prática de qualidade. Tais danos envolvem os riscos clínicos, profissionais,

assistenciais, institucionais, além dos erros médicos e procedimentos em local ou paciente

errado, infecção e até a morte.

Assim, urge a necessidade de uma chamada para a ação por parte de líderes,

trabalhadores e usuários dos serviços de saúde, cuja atenção seja direcionada, inicialmente, a

aumentar a consciência dos profissionais sobre o comportamento destrutivo; garantir uma

comunicação interprofissional aberta e efetiva; e estabelecer as bases para o trabalho em

equipe, a colaboração e a corresponsabilização pela assistência segura.

Uma outra estratégia seria proporcionar educação e treinamento para os

profissionais, administradores e estudantes da área da saúde quanto às questões supracitadas e

à inteligência emocional; favorecer uma mudança cultural, cuja cultura punitiva seja

substituída, com a participação de todos, por uma cultura de segurança alicerçada na justiça,

no respeito mútuo, na paz e no conforto organizacional para trabalhadores e pacientes.

Faz-se necessário, ainda, que os hospitais elaborem políticas de conduta ética, as

quais estabeleçam a diferença entre comportamentos desejáveis e indesejáveis, e que todos os

trabalhadores consigam falar sobre o assunto sem medo de retaliação ou punição. Pois a

cultura de respeito mútuo favorece as comunicações horizontais, o estabelecimento de vínculo

e a valorização do ambiente de trabalho saudável.

Implementar procedimentos e ferramentas para identificação e abordagem ao

profissional destrutivo também se faz necessário, pois estes precisam reconhecer o problema,

suas repercussões e refletir sobre suas condutas. Nesse momento, profissionais devidamente

treinados podem atuar como mediadores de conflitos e restauradores do respeito e da

176

colaboração no ambiente de trabalho. Estes precisam conhecer a realidade do processo de

trabalho em suas particularidades, identificar fatores que intervenham de forma negativa no

trabalho em equipe e nas relações interpessoais, para propor as mudanças necessárias.

Outra ação importante seria realizar avaliações individuais e organizacionais

permanentes, para que os profissionais se autoavaliassem constantemente, favorecendo

reconhecer o clima, a satisfação e o comprometimento de todos com o trabalho e sua

segurança. Instituir estratégias de intervenção e encaminhamento; alcançar o

comprometimento da liderança; e conseguir gerenciar os conflitos são fundamentais nesse

processo.

Cabe ressaltar que todas estas estratégias somente obterão êxito se o processo de

trabalho em saúde sofrer as mudanças necessárias para a garantia de um trabalho mais

humano, de respeito mútuo e capaz de garantir segurança para os envolvidos. As condições de

trabalho insalubres, a precarização e a sobrecarga de trabalho, os múltiplos vínculos, a má

remuneração e os demais problemas estruturais e relacionais precisam ser repensados e

sanados, na medida do possível, com envolvimento de todos aqueles responáveis pela

construção e operacionalização do nosso sistema de saúde.

Assim, percebe-se como o tema é instigante e, nesta produção, muitas questões

discutidas mereceriam maior aprofundamento, tais como o levantamento sobre os custos

provenientes das consequências desse tipo de conduta, no próprio hospital e em outros

ambientes que sofram influência do comportamento destrutivo.

Além disso, os vários poderes e os sistemas de privilégios visualizados, no cenário

estudado, precisam ser melhor elucidados no sentido da influência que exercem sobre o

trabalhador que apresenta comportamento destrutivo.

Sugerem-se, ainda, estudos que esclareçam a relação entre as histórias de vida, os

processos de formação, as crenças e os aspectos culturais imbricados na origem de

comportamentos destrutivos no processo de trabalho em saúde, pois seriam grandes

contribuições para se pensar em ações direcionadas ao contexto em que tais comportamentos

se manifestam.

Dada a importância deste tema, é necessário discutir, junto ao hospital em que se

desenvolveu a pesquisa e à comunidade científica, de que forma este conceito pode ser

abordado junto aos trabalhadores e aos gestores como indicador relacionado à segurança do

paciente e à satisfação do trabalhador no ambiente laboral, podendo se configurar como um

indicador de qualidade da área de gestão de pessoas na saúde.

177

Somado a isto, é importante levar este conceito como pauta para os eventos da

área da saúde e, em especial, da Enfermagem, favorecendo aos profissionais e aos estudantes

da área discutirem este tema que está diretamente implicado no seu processo de trabalho.

178

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team. South Carolina nurse (Columbia, 1994), v. 19, n. 1, p. 6, 2011.

ZIMMERMAN, T.; AMORI, G. The silent organizational pathology of insidious

intimidation. Journal of healthcare risk management, v. 30, n. 3, p. 5-15, 2011.

190

APÊNDICES

191

APÊNDICE A - Instrumento de coleta de dados: fase teórica

BASE DE DADOS: _________________

ARTIGO: ______

Título: __________________________________________________________________________________________

Objetivo: ________________________________________________________________________________________

Autores: ________________________________________________________________________________________

Tipo de publicação e método: _______________________________________________________________________

Referência: ______________________________________________________________________________________

Palavras-chave/descritores: ________________________________________________________________________

Área de concentração: _____________________________________________________________________________

ANTECEDENTES DEFINIÇÃO ATRIBUTOS CONSEQUENTES CONCEITOS

RELACIONADOS EXEMPLOS ESTRATÉGIAS

FICHAMENTO:

Citação/Página:

192

APÊNDICE B – Distribuição dos artigos analisados segundo título, autor, ano de publicação, tipo de estudo, enfoque e variáveis contempladas

(continua)

193

(continuação)

194

(continuação)

195

(continuação)

196

(continuação)

197

(continuação)

198

(continuação)

199

(continuação)

200

(continuação)

201

(continuação)

202

(conclusão)

203

APÊNDICE C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

Caro (a) Trabalhador (a) de Saúde,

O (a) Sr. (a) está sendo convidado (a) a participar da pesquisa de tese de Doutorado intitulada

“Comportamento destrutivo no trabalho em saúde: análise de conceito”, que tem como objetivo analisar o

conceito de comportamento destrutivo no trabalho em saúde. Pedimos a sua colaboração nesta pesquisa,

respondendo a uma entrevista sobre seu cotidiano de trabalho, que poderá ser gravada se o (a) Sr. (a) concordar.

Garantimos que este estudo possui riscos mínimos, já que não envolve a realização de

procedimentos invasivos; mas poderá ocorrer insatisfação do entrevistado em decorrência de possíveis

lembranças de experiências anteriores com comportamentos destrutivos. Nesse caso, a pesquisadora estará

preparada para intervir sugerindo a suspensão da entrevista, deixando você à vontade para decidir sobre sua

participação no estudo posteriormente.

Por outro lado, benefícios potenciais decorrerão diante de sua participação: reflexão contínua sobre

o comportamento do profissional de saúde no ambiente de trabalho e suas repercussões para a comunicação e a

segurança do paciente; fortalecimento da pesquisa no campo da segurança em saúde e do gerenciamento do

cuidado; ampliação dos conhecimentos sobre o comportamento humano nas organizações de saúde; apresentação

das diversas propostas e sugestões a serem inseridas na realidade investigada.

Ressaltamos que todas as informações obtidas nesse estudo serão mantidas em sigilo e sua

identidade não será revelada. Vale lembrar que sua participação é voluntária e o (a) Sr. (a) poderá a qualquer

momento deixar de participar deste, sem qualquer prejuízo ou dano. Comprometemo-nos a utilizar os dados

coletados apenas para pesquisa e os resultados poderão ser veiculados em artigos científicos e congressos,

sempre resguardando sua identificação.

Todos os participantes poderão receber quaisquer esclarecimentos acerca da pesquisa. Em caso de

dúvidas relativas à pesquisa, pode entrar em contato com os pesquisadores responsáveis através dos seus

telefones: Doutoranda Roberta Meneses Oliveira: (85) 9936 6765; e Orientadora da pesquisa Profª. Dra.

Lucilane Maria Sales da Silva: (85) 9927 7421.

O Comitê de Ética do Hospital Geral de Fortaleza encontra-se disponível para esclarecimento pelo

telefone: (085) 3101.3344 – Endereço Rua. Ávila Goulart, 900 - Papicu, CEP: 60.175-295 – Fortaleza – Ceará.

Esse termo está elaborado em duas vias sendo uma para o sujeito participante da pesquisa e outro para o arquivo

do pesquisador.

Eu, _______________________________________________, tendo sido esclarecido (a) a

respeito da pesquisa, aceito participar da mesma.

Fortaleza, ____ de __________________ de ________.

______________________________ _______________________________

Assinatura do (a) participante Assinatura do (a) pesquisador (a)

204

APÊNDICE D – Roteiro de Observação Sistemática

Aspectos a serem observados:

Condutas Profissionais envolvidos:

agente (s) e receptor (es) Consequências

Período da

Observação

Número de vezes

observado

Recusa a executar as

tarefas atribuídas, não

colabora ou exibe atitudes

que não cooperam com as

atividades de rotina.

Manifesta comportamento

anti-ético. Ex. usa celular

de modo a interferir o

trabalho.

Pratica uma gestão

punitiva, autoritária.

Humilha o colega de

trabalho publicamente.

Intimida, exclui

intencionalmente outros do

grupo, usa força ou poder

para gerenciar.

Usa linguagem

grosseira/rude

Fala das pessoas pelas

costas.

Trata novatos

severamente.

Afirma que os outros são

incapazes.

Grita com outras pessoas.

Vira as costas antes de

uma conversa terminar.

Descumpre normas e

rotinas institucionais.

Retém informações para

prejudicar os colegas.

Falha ao responder

ligações telefônicas e/ou

solicitações.

Toca pessoas em formas

abertamente sexuais.

Faz comentários com

caráter de crítica quanto a

sexo, raça, religião e etnia.

Mostra agressão física

(agarrar, jogar, bater,

empurrar).

Outra:

205

APÊNDICE E – Roteiro de Entrevista

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO/OCUPACIONAIS:

1. Idade: __________

2. Sexo: __________

3. Categoria profissional:

a. Enfermeiro ( ) b. Técnico/auxiliar de enfermagem ( ) c. Médico ( )

4. Pós-graduação (médicos e enfermeiros): ___________________________________

5. Tempo de formação: __________

6. Tempo de atuação no serviço: __________

QUESTÕES NORTEADORAS

1. Como você vê o trabalho no seu dia a dia?

a. Consegue desenvolver aquilo que acredita que deve ser feito? Comente.

2. Existem conflitos e dilemas no cotidiano de trabalho? Se sim, exemplifique.

3. A respeito da seguinte definição:

“qualquer comportamento inapropriado, confronto ou conflito, que vai desde o abuso

verbal (gritos, intimidação, repreensão, desrespeito, comportamento abusivo) ao

assédio físico ou sexual, que pode impactar negativamente nas relações de trabalho,

na eficácia da comunicação, na transferência de informações e no processo e

resultados do atendimento‖.

a) Você considera já ter vivenciado esse tipo de comportamento em sua prática?

a. Se sim, teria algum caso a relatar? (exemplos/caso modelo)

b) Quais as características desta pessoa ou deste comportamento? (atributos)

c) O que você acha que tem relação com esse tipo de comportamento? O que leva uma

pessoa a agir dessa forma? (antecedentes)

d) Você acredita que há repercussões desse comportamento para o paciente ou para o

serviço? (consequentes)

a. Se sim, quais?

206

APÊNDICE F – Síntese dos casos relatados de comportameno destrutivo no trabalho em sáude segundo exemplos, antecedentes, consequentes e

termos definidores

(continua)

Entrevistado

Após a leitura da definição do conceito de comportamento

destrutivo, você teria algum caso a relatar da sua experiência?

(EXEMPLOS)

O que você acha que leva

uma pessoa a agir dessa

forma?

(ANTECEDENTES)

Você acredita que há

repercussões para o paciente

ou para o serviço? Se sim,

quais? (CONSEQUENTES)

Quais as

características desta

pessoa ou deste

comportamento?

(TERMOS

DEFINIDORES)

1. TE1

Já vivenciei colegas tratando uns aos outros com desrespeito...assim, eles

ficam conversando sobre a vida pessoal, e aos poucos, uns ficam

passando uns pros outros, e isso acaba atingindo a equipe todinha, e se

você expõe sua vida pessoal bastante, isso acaba, às vezes, até dando caso

de demissão. Vida pessoal, eu acho que viria ao caso, eles não relatarem

a vida pessoal aqui, acho que no caso, problema familiar, financeiro,

amoroso.

A relação que vem a ter é que

nós viemos trabalhar aqui, e

temos que saber diferenciar

uma coisa da outra, e a

maioria dos profissionais não

consegue diferenciar. Eu acho

que tudo parte de um

comportamento, de uma ética.

Implica sim, no tratamento do

paciente, eu acredito que sim.

Alguns [pacientes] referem que

quando saem da sedoanalgesia,

referem reconhecer algumas

vozes, não conhecem as faces,

mas reconhecem as vozes.

Sempre fica o formato

das panelinhas, uma

fala da outra...

2. E1

Aconteceu comigo em relação a outro profissional. Mas colocava em risco

a vida do paciente também. Quando a gente vai admitir um paciente, a

gente liga quando o leito tá completamente pronto ou o pessoal da outra

unidade liga e a gente diz se tá pronto ou não. Ligaram do Centro

Cirúrgico e vinha um paciente entubado, mas o ventilador mecânico ainda

não estava no leito. Eu disse que não poderia subir, porque o ventilador

não estava no leito. Com 5 minutos, o paciente estava aqui na porta.

[Sendo] ambuzado. Por quê? porque o anestesista queria sair mais cedo.

Aí começou a confusão! Ele começou a gritar comigo, o anestesista,

dizendo que a enfermeira era incompetente, que não tinha ligado para

avisar. Só que graças a Deus o meu plantonista estava ao meu lado

quando eu liguei! Então eu ia começar a falar e ele me defendeu: ele disse

que não precisava o anestesista falar comigo [daquela forma] e ele que

estava errado, por isso ele ficasse ambuzando o paciente até conseguir o

ventilador e assim foi feito. Ele ficou com o paciente aqui uns 15 minutos

ambuzando. Foi o tempo que chegou o ventilador. Porque não é a gente

que monta aqui, então a gente depende da central de material. E o

paciente correu risco. Vai que a bala de oxigênio acabava. E aí? Como é

que ele ia ambuzar? E1

Eu acho assim, que a falta de

humanização, principalmente

com o paciente... E também a

questão de desobediência...

Péssima. Porque corta a

comunicação entre a equipe e

isso vai gerar procedimentos

errados, coisas que eu vou fazer

sem chegar no médico, aí vai dar

errado pro paciente. Se o

paciente estiver sentido alguma

coisa, um médico desse eu não

posso chegar pra discutir uma

conduta pro paciente, ele tem que

ver. Então, assim, a ajuda mútua

e a interação entre a equipe é

completamente ameaçada!

Ele é uma pessoa

arrogante!

207

3. E2

Tem assim, na época que teve uma greve, que ia entrar uma nova

cooperativa, aí alguns profissionais batiam no peito mesmo dizendo: - ah,

as pessoas que vão entrar agora, a gente não vai treinar..., esquecendo

que eles também chegaram para serem treinados né? Ninguém chega aqui

[pronto]...aí aconteceu sim. Teve gente que chorou, da cooperativa. Eu

entrei um pouquinho antes, então eu ainda peguei um pouco da transição.

Eu vim da outra cooperativa e então, como eu entrei logo, alguns diziam:

- ah, é da outra cooperativa...era horrível assim...você tá entrando,

iniciando um trabalho super intensivo, que você precisa de ajuda, e teve

momento assim que eu pensei até em desistir por causa disso. Não chegou

a ser desrespeito e tal, comigo era mais assim, você percebia no olhar,

não falava com você...hoje eu falo com todo mundo, eu vejo a diferença

assim, pessoas que no começo nem olhavam nem na nossa cara, ou seja,

querendo dizer que não iam ajudar, não iam treinar... A gente foi coagido,

a gente usa esse termo mesmo, o pessoal da cooperativa que entrou foi

coagido pelo pessoal que já estava...

Eu acho que é pessoal! Não

sei nem explicar. Elas se

juntam, criam força...era

homem e mulher, era o

pessoal antigo mesmo.

Acho que o dilema maior é

esse: a sobrecarga na

enfermagem. É muita coisa

em cima da gente! Muita,

muita coisa! Até, assim, pra

ligar, agendar exames, que é

do interesse de todos, a equipe

meio que se acostumou a ser a

enfermeira que vai ligar...

A repercussão é direta! Quem

não entrou na rotina não

conseguiu desenvolver o

trabalho, porque não tinha como!

Porque aqui não funciona se não

tiver equipe...

[Para o paciente] eu acho que é

perigoso, porque vai que a pessoa

não ajuda, não liga, eu acho

perigoso.

...teve gente que chorou..., e teve

momento assim que eu pensei até

em desistir por causa disso. Você

percebia no olhar, não falava

com você...Eu cheguei a chorar.

Sofri viu?

Acho que é uma pessoa

cega, que ela não viu

que também cresceu, se

desenvolveu na

enfermagem, e nesse

momento esqueceu.

4. E3

Olha, o comportamento assim que eu mais abomino aqui são dos

cirurgiões, por que eles não respeitam a Enfermagem...parece que eles

são estéreis e não adianta nenhuma informação que a gente passe pra

eles, que pra eles parece que não têm importância nenhuma, só por parte

dos cirurgiões...

Uma vez o cirurgião X estava num procedimento invasivo, passando uma

P.A.I, e eu separei todo material, deixei tudo lá e deixei uma técnica

jovem, porém tinha conhecimento do que estava fazendo e assim, no geral

eles nunca pedem pra gente ficar lá do lado, o máximo que a gente faz é a

sedação deixa tudo pronto, dá certo, que ele sempre vem em bando né... E

dispensa totalmente a ajuda da enfermagem e a técnica ficou lá

auxiliando e ele não conseguiu puncionar, tava meio nervoso, começou a

gritar lá, que queria porque queria a enfermeira, sendo que eu estava

atendendo outro paciente, aí eu voltei e falei: o quê que o Senhor quer

doutor? „Ah você tem que ficar aqui do meu lado.‟ Ai eu falei assim: mas

eu te deixei todo o material ai o quê que você quer mais? „Esse é o único

procedimento que eu exijo a presença da enfermeira do meu lado!‟ E a

técnica saiu constrangida por causa que ela relatou que ele disse que ela

não sabia fazer o procedimento, isso não é verdade, lá todos eles sabem.

Tá? Que é abrir o material e zerar no monitor na hora que ele

conseguisse conectar. Então, tudo bem, depois eu conversei com ela, ela

se sentiu constrangida mas... E eu fiquei lá até o final, assim ele demorou

um século, como se eu não tivesse mais nada pra fazer e como se eu não

tivesse deixado uma pessoa lá pra auxiliá-lo, mas ele bateu o pé que

queria que eu ficasse ali. Eu falei: eu to atendendo outra intercorrência.

[E ele:] „Fala que você não pode ir, você tem que ficar aqui comigo!‟

Eu acho que foi, ele devia tá,

sei lá... inseguro, ou com

pressa pra terminar o

procedimento e precisava ir

embora, não que a minha

presença lá fosse modificar

alguma coisa, em relação ao

procedimento dele, porque eu

simplesmente fiquei de pé do

lado dele, eu não fiz mais

nada, a não ser ficar olhando

pra cara dele, eu... ah não sei,

o quê que ele, se ele errou e

quis jogar a culpa na

ausência da enfermeira, não

sei... Por que não estava

desassistido, o material estava

todo lá, tinha um técnico lá

habilitado auxiliando ele,

então não sei, eu acredito que

ele tava nervosinho com

alguma outra coisa e se

estressou.

Quando chega ninguém quer

auxiliar, fica péssimo a imagem

deles... A gente fica meio restrita,

assim „a vai vir o cirurgião

fulano de tal, fazem: iiii...‟ Então,

nossa, ninguém vai agilizar nada,

ninguém quer auxiliar, fica todo

mundo meio que fugindo...

O paciente fica exposto a ficar

muito mais tempo, e por diversas

vezes sendo puncionado,

puncionado, múltiplos

procedimentos...

Por conta do estresse dele, todo

nós acabamos passando muito

mais tempo em determinado

procedimento que ele já está

cansado de fazer em minutos e

expondo o paciente e a um risco

maior, inclusive a ele próprio,

que acabou se contaminando com

o sangue do paciente que era HIV

até então.

...ficam vistos como o

estúpido, ignorante, e

que desprezam o

trabalho da gente, em

si, da enfermagem no

geral...

208

5. TE4

Médico estrela gritando com a enfermeira, porque queria descer o

paciente para uma tomografia. O médico queria descer o paciente pra

fazer uma tomografia, aí aqui tá reduzido [o pessoal de enfermagem], (...)

e ele disse que não queria saber se estava reduzido, queria saber se descia

o paciente.

Eu acho que é da

característica da pessoa,

personalidade muito forte.

Mais em médico, mas também

tem enfermeiros da

personalidade muito forte.

Na frente de todo mundo, todo

mundo ficou com medo...

A própria equipe mesmo, vai

trabalhar, vamos dizer assim,

desgostosa, não vai trabalhar

motivada.

[Implica também] em geral em

uma assistência sem qualidade.

Pessoa grosseira

mesmo, ignorante, me

desrespeitou.

6. TE5

Bom já faz tempo, já faz tempo, eu não vejo mais tanto assim...Tipo

enfermeiro ficar gritando com o auxiliar, por um motivo x, motivos

corriqueiros, tipo uma bomba de infusão com antibiótico, às vezes

simplesmente tiram a hidratação que é o soro que coloca contínuo no

paciente pra colocar o antibiótico por que a enfermeira não quer ir

buscar e quer que você vá buscar, aí às vezes a pessoa diz assim: não, não

vou buscar e aí começa, tem que ir buscar e começa a... Agora grito, grito

assim não, mas esses conflitos perto, que não geram tanta zuada, pra

também não ficar correndo risco de chegar ao ouvido da chefia, coisa que

ninguém quer... E já ouvi comentários de briga entre enfermeiro do setor,

mas eu nunca vi.

Estresse, problemas

particulares que não sabem

direito separar... Estresse

acho que é um dos

principais...

Eu, particularmente, quando os

vejo, já crio uma resistência, eu

não vou dizer pra você que eu vou

tratar a pessoa com má

educação, por que eu não vou,

mas eu vou ficar na minha, eu

não vou querer conversa, não vou

falar... É estritamente

profissional, mais nada e querer

distância...

Chatas

7. TE6

...de começo eu fiquei horrorizada... tem uma colega que, talvez até

mesmo o jeito dela ser grosseirona, ela era grosseira com os pacientes,

entendeu? Grosseira, então isso me agredia também, só que não podia

interferir pra que... isso, se não ia gerar conflito, Mas...Ah... Antes, antes

tinha muito, principalmente na emergência, na emergência era mais... Era

assim, muito estresse, muito estresse mesmo, de colegas agredirem,

assim... Até mesmo o modo de falar, quando pro exemplo, se tivesse um

colega que estava chegando, num tivesse segurança pra fazer uma

experiência maior né? Aí chegava e falava assim: você não sabe fazer

isso? Ta entendendo? É muito tempo te agredindo...

Em vez de chegar e conversar: ó fulano, é não assim, assim, assim

assado... Ela, a pessoa, infringe a ética e fala na frente de todo mundo, aí

intimidava mais a pessoa né... isso acontecia muito, então via muito na

emergência, mas graças a Deus, aqui [na UTI] eu ainda não cheguei a

ver...

Eu acho que vem de dentro de

casa, é da educação da

própria pessoa... Acho que o

estresse que ela traz de fora

que gera... quer ser um ar de

superioridade... porque a

pessoa quando agride outra,

na minha concepção, é uma

pessoa que tem complexo de

inferioridade, acho que ela,

talvez pisando nos outros,

elacom isso se sente um pouco

mais lá em cima... Maior...

Melhor...

Estresse... Muito estresse! Tanto

que quando uma pessoa é

agredida nesse ponto... faz com

que ela piore, por que ela se sente

mais diminuída... Aí isso é, quando alguém me

agride, eu me desequilibro

todinha, até eu voltar o normal,

ta entendendo? Gera tempo, que

eu fico assim... Eu fico num

estresse, comigo mesma, num

estresse...

Grosseirona

8. TE7

Era uma médica, ela não sabia pedir sabe, era muito grossa tanto com a

gente como com os pacientes, então às vezes ela falava, e machucava as

pessoas, nem todo mundo né, o tom assim, dela falar.

Na minha opinião, eu acho

que a educação já vem do

berço, ou às vezes a pessoa

acha que porque é médico,

pode gritar, abusar assim,

tanto pelo status como pela

educação.

Com certeza, fica um clima meio

pesado, você tem medo assim de

perguntar alguma coisa à pessoa.

Ela é tão grossa,

porque ela é uma

medica tão

profissional, tão boa, e

assim tão ignorante.

209

9. E4

Assim, a gente trabalhava em um local que o serviço era super agradável,

e fácil, não exigia muito da gente, era um serviço tranquilo. Mas a gente

não podia conversar umas com as outras, não podíamos almoçar

juntas...eu era obrigada a fazer pesquisas pra colocar o nome da

pessoa...e como eu sempre fui de pesquisa, então isso aí eu não admitia!

Mas como eu precisava trabalhar, precisava daquele emprego, então ou

era aquilo ali ou não. Então, assim, eu tentava fazer o meu serviço, o que

era de obrigação do serviço. Mas o que era tarefa ditada por ela [a

chefe], que não era em uso do serviço, eu tentava não realizar... enquanto

a gente não fizesse o que ela queria, a gente era chamado em sala,

fechadinha, e ela sempre colocava nosso emprego em risco, sempre dizia

que – ah, eu tenho dois tetos, eu que mando aqui, a qualquer momento eu

posso demitir todos...e a gente ficava na mão dela! Consegui sair, mas em

compensação eu tenho uma denúncia no conselho.

Tinha a lei do silêncio....a gente tinha que trabalhar caladinha, caladinha

tinha que ficar. Toda semana ela determinava uma pessoa pra fazer a lei

do silêncio: não pode conversar! Aí, assim, ela colocava a gente uma

contra as outras!

Eu acho que é inveja...ela não

gostar de si própria, falta um

amor próprio. Ela não confia

nela mesma, não tem

autoconfiança...tem a ver com

a criação dela, só pode ser

uma criação com muitos

traumas!

Aquilo ali ia mexer comigo como

até hoje mexe. Eu coloquei ela na

justiça...eu fico até chateada

[choro] pela situação, eu não

gosto nem de falar disso, porque

você fica totalmente sem ajuda de

ninguém, sem ajuda de ninguém!

E isso me faz ficar super

chateada! E essa pessoa, até hoje,

eu fico assim só em falar dela, ela

me deixa traumatizada! Eu tento

fazer o percurso que ela não faz,

tento chegar na hora que ela não

chega, tento não andar no andar

que é o mesmo setor dela. Eu

evito!

Sobrecarregava outras pessoas,

outros profissionais. Acho que o

serviço perde com isso! Porque o

funcionário, o profissional não

vai trabalhar motivado, não vai

fazer aquilo ali 100%.

[O paciente] perde. Paciente

perde...como eu fazia fichas de

notificações, em vez de eu

notificar o paciente naquele dia,

eu ia notificar outro dia...ele não

pode perder agora, mas a

unidade que trabalhava, como

gera plano de ações, ele [o

paciente] poderia perder um

plano de ação.

O paciente, em vez de ter um dia

de plantão com o funcionário

descansado, ele estaria com um

funcionário que estava com a

escala bem sobrecarregada! E

isso pode ocasionar vários erros

na assistência, que a gente vê por

aí. Por sobrecarga de trabalho...

Erros de medicações...

Psicopata

210

10. E5

...é assim um problema muito sério com as meninas da noite, um sumário

de urina, exames coletados, a gente protocola tudo pra não perder, aí a

noite não protocola nada, os exames da paciente somem e são obrigados

passar 24 hs esperando o resultado, pra começar uma medicação... tive

um problema com uma [técnica de enfermagem da noite]: fui fazer uma

transfusão, aí eu calculei o gotejamento em horas [e disse] olha daqui a

tantas horas você pode pedir a segunda bolsa. [e a técnica]: olha eu vou

trazer e vou instalar, e eu, você não vai instalar, quem instala bolsa é o

enfermeiro; e a técnica: eu instalo até no plantão da chefe, porque que eu

não instalo no seu?, instale no dela, mas no meu você não vai instalar,

entendeu?, tem essa questão ai se ela diz, eu tenho mais tempo do que

você aqui, e se acha.

Se uma auxiliar no dia chega 7:15 ela é punida, eu anoto no livro e ela vai

ser chamada entendeu?, se ela chegar 7:15 ela vai ser a última a entregar

o plantão, entendeu? , ela vai ser a última a se ausentar do plantão, aqui

as meninas ficam até 7:15 da noite esperando, ela [técnica da noite]

chega, [e diz]: eu não vou receber o plantão, eu vou trocar de roupa, vou

comer... e a auxiliar do dia esperando.

Questão da segurança do

emprego, o tempo, porque são

funcionárias muito antigas, a

questão da idade... Acho que é uma pessoa que

precisa reconhecer o que tem

essa forma, esse gênio forte...

...acaba prejudicando o paciente,

os sinais vitais que é pra ser feito

às vinte e duas horas, e eu só vou

quando termina a novela,

entendeu?,

Os pacientes reclamam demais,

principalmente da forma como

falam com o paciente.

Explosivas,

confuseiras.

11. E6

Já ouvi auxiliar dizer: vamo logo, termina esse banho, por que num tomou

banho agora? Com os profissionais... é tipo quando acha que tá fazendo

mais a sua parte... Já vi discussões, uma pede para fazer uma coisa, você

não manda em mim, então ... aí vira aquela briga, aquele conflito.

É desinformação, até a

própria educação mesmo da

pessoa, o caráter, que ela

pode até não ter

conhecimento, mas ela não

vai querer tratar daquele

jeito, às vezes é da própria

pessoa mesmo! A

personalidade mesmo. Pessoa

mais arredia, aquela história

do pavio mais curto, mais

irritada.

Gera um transtorno né? No

momento que é um mal estar

tanto para o paciente como pro

serviço que tá acontecendo e se

tiver outro paciente do lado, já

acarreta pro lado.. Traz o

prejuízo porque você tem que

parar, o serviço já não flui, você

tem que parar, voltar pra quando

ajeitar aquilo ali, pra dar

continuidade.

Pessoa arredia, pavio

curto

211

12. E7

Gritos, intimidação, repreensão tem quase todo dia, né? E ser

repreendidos pelos próprios colegas da enfermagem mesmo, da sua

própria categoria. De uma coisa que não foi dado continuidade, de um

erro e um senso, de alguma coisa desse tipo. Em relação a assedio físico,

sexual, nunca sofri, nunca ouvi falar; em relação a gritos, intimidação,

isso aí eu já ouvi, já ouvi nos corredores, a pessoa que fala mais alto, às

vezes médico com enfermeiro, médico com fisioterapeuta... Reclamando,

aí fala mais alto, tem internos, residentes que às vezes chegam, acho que,

tem muita gente novinho que tá chegando, tá se achando né? e já chega

com uns grito às vezes, gritando...

Eu acho que é educação que

já não vem de casa. Por que

assim, principalmente, essas

pessoas mais novas, é o que a

gente percebe hoje, na

sociedade como um todo, é

que elas são muito mal

educadas, são muito cheias de

direito, muito respondona,

ninguém sabe mais o que é

uma hierarquia, ninguém

respeita mais as pessoas mais

velhas, então a pessoa já

chega do jeito que vem, do

jeito que vem da faculdade, já

vem trazendo aquela bagagem

e acha que está chegando e é

assim....

Com certeza! Eu acho que sim,

tanto o mal estar que gera, a

pessoa já fica trabalhando com

má vontade, tenso e se sentindo

mal mesmo. Como, quando é

apurado e chamado atenção, você

já fica sentindo...

Eu acho que de qualquer forma

influencia em relação ao paciente

sim, porque às vezes isso

acontece até dentro da

enfermaria, né? e o paciente está

ouvindo, ele está vendo. Se a

pessoa grita no corredor, o

paciente dentro da enfermaria

está ouvindo! Eu não gostaria de

estar internado num local e ter

uma pessoa no corredor gritando,

falando alto, brigando, tendo

discussão. Por que a pessoa pode

sair de uma confusão, sai tensa, a

pessoa sai, né? a pessoa não sai

normal, né? e ai você vai depois

atender o paciente, conversar

com o paciente, lógico que você

não vai misturar as coisas e não

vai levar, mais não deixa de você

estar com aquela tensão, né?

Então, eu acho que prejudica sim.

Eu acho que o paciente fica tenso.

Inclusive eu já ouvi relato de

paciente dizer, olhe, de subir

pressão de paciente, de ficar

tenso.

Os neurocirurgiões são

muito grosseiros, os

neurocirurgiões são

uns deuses.

212

13. AE2

Muitas pessoas foram intimidadas, principalmente os meninos da

cooperativa. Por chefia, por diretores, por médicos, e eu acho isso errado,

muito errado. Você não pode usar do seu poder, da sua autoridade e

impor a pessoa... Agora recentemente umas colegas foram advertidas, de assinar

advertência, porque elas estavam fora da unidade e o chefe não queria

saber porque, porque elas estavam lá. Elas estavam lá porque o rapaz do

raio X disse “ta na hora do raio X”, elas saíram da unidade pra não

receber uma radiação. E por conta disso o chefe deu uma advertência

assinada, que eu acho errado.

A pressão do chefe dele.

Porque eles querem mostrar

uma coisa que não é real

dentro do hospital, entendeu?

Não existe. Você quer mostrar

um serviço que na real ele é

mentiroso.

O caráter da pessoa diz, que

jugar um ser superior. E não

sabe chegar e tentar resolver

as coisas como pessoas

humanamente civilizadas. E

tentar compreender os lados

opostos, só sempre querer que

o seu lada seja compreendido

e jamais o lado do outro.

Ficam muito mal vistas. Aí o

profissional faz a coisa com mau

gosto, aí o profissional se cansa,

aí o profissional não gosta

daquela pessoa quando vem dar o

plantão com ela, se afasta, se isola...

Uma repercussão muito ruim.

Porque todo mundo vai ficar

desgastado! Todo mundo vai ficar

chateado, então ele não vai dar

uma qualidade [no atendimento].

Ele já vem, ele já vem com aquela

coisa, ”vixe hoje é dia de

fulana”, “vixe hoje eu não vou

produzir”. Muitas pessoas já perderam o

emprego!

Grosseiro, atrevido.

14. E8

Foi assim: a paciente começou com uma insuficiência respiratória,

colocamos oxímetro na paciente, a paciente estava dessaturando, tava

chegando a 84, 83, foi chamado a obstetrícia...[o médico chegou e disse:]

vamos gente, vamos ser mais rápido, estamos perdendo o paciente!!!E a

gente sendo rápido, mais sente que teve uma pressão, que não foi boa pra

equipe né? ...

Ele tava só, ele tava ligando

num sei pra quem tentando

conseguir uma ajuda, ele viu

que a paciente tava

afundando, eu acho também o

desespero dele em perder a

paciente. Um plantão noturno

dia 25/12, eu acho que tinha

poucos médicos no hospital.

Devido ao nervosismo, devido

ter que ser rápido... porque

era uma hora de sufoco.

Ficamos nervosos, mas graças a

Deus, o paciente foi pra UTI,

ficou tudo bem, o paciente foi pra

casa e ficou tudo bem.

Assim, depois que tudo

aconteceu, as meninas até

disseram..., teve muitos

comentários, as auxiliares

comentando que ele foi meio

grosseiro, ..., mas que as meninas

comentaram, comentaram dele,

achou ele muito bruto, né?

aquelas coisas, aí ele foi muito

bruto com a paciente, com a

gente, esses comentários

existiram, mais, depois.

No outro dia, era só o que se

comentavam, até no face

comentava (risos).

Ele foi muito bruto!

213

15. TE10

Uma enfermeira e uma obstetra quase iam no braço. A obstetra invadiu a

conduta da enfermeira. Faltou um pessoal. A enfermeira foi fazer um

sorteio da equipe para quem ia para outro setor. Ela sugeriu uma

auxiliar, mas a médica disse “ela não vai”, ela (enfermeira) disse “como

é que é, ela vai sim, a chefe dos técnicos de Enfermagem sou eu e ela vai”.

Para ela não afrontar a médica, ela fez um sorteio, e, coincidentemente, a

colega caiu também no sorteio. A briga foi grande, o paciente viu. Até

então a gente achou que naquela discussão ali, acabou ali. Mas não

acabou. Quando foi meia noite, no meio de um procedimento, de uma

cirurgia... a médica estava se escovando para entrar em outra cirurgia. A

outra sala estava arrumada com outra equipe. Quando a gente viu, os

gritos. O que foi? A médica agrediu a enfermeira...Empurrou. A

enfermeira também, não pensou duas vezes, no que foi a mão, foi nas

costas da médica. E a enfermeira... ninguém sabe... só há rumores de que

é homossexual. E o que aconteceu? A médica no meio da confusão falou

para ela assim “eu não tenho medo de homem, quiçá de gente metida a

homem”. Aquilo dali, assim, a vida pessoal dela foi exposta, foi uma falta

de postura fora do comum!

Essa enfermeira tem uma

fama de ser muito chata,

enfermeira desagradável...

...o problema entre o pessoal,

o caráter também. É uma

questão de caráter, porque teu

pai te ensinou como você deve

fazer, como você deve agir

quando se sentir ameaçada...

A sonda... a assistência total ao

paciente deixou de ser feita pela

enfermeira. A enfermeira, eu

acredito, que não teve foi

estrutura, depois da confusão,

para dar assistência, sendo que

ela tinha que dar assistência, era

paciente, entendeu? Talvez por

não conseguir enxergar a equipe,

pelo que a médica falou em

relação à vida pessoal dela...

Então assim... ela não deu

assistência.

Só sei de um termo:

falta de ética e postura!

16. M1

Com certeza! Sexual não, mas verbal, intimidação, repreensão

desrespeito, tem demais! Vou dar o exemplo aqui da UTI. Existem certas

pessoas que se acham que por ser concursado, por trabalhar aqui por

mais tempo e por eventualmente você, embora capacitado, seja uma

pessoa nova no serviço, elas se sentem aptas a se sentir dono do lugar e

fazer confusão mesmo com uma coisa que ela julga ser errado sem apurar

ou saber a verdade. Mas isso foi uma coisa pontual de uma pessoa.

Acho que são motivos

individuais de cada pessoa.

Acho que cada pessoa que age

dessa forma deve ter um

motivo, algumas devem agir

sem motivo porque é da índole

mesmo... [ou] problema em

casa, trazendo pro trabalho.

Eu evito até conversar [com a

pessoa].

-

17. M2

Assim, a questão de receber o paciente ou não. A enfermeira lá embaixo

decidia quando ela ia receber o paciente, ela queria decidir que paciente

vinha, o médico falava uma coisa e ela decidia por outra, entendeu? Por

algum motivo assim que ela acha que ela é a chefe do serviço né. E ai esse

problema viu. Eu já vi relatos de pessoas falando dessa barreira com a

entrada de paciente na emergência. O paciente dentro da observação.

Paciente vai ser admitido lá, aí determinados pacientes a pessoa não

recebe. Não quer receber ou fica botando muita banca para receber. É já

vi. Essas coisas. Tem muito disso aqui!

Falta de interesse!

O paciente se enquadra no lugar

errado, num lugar pouco

apropriado, com pouca

assistência ,ele vai piorar e até

voltar pra UTI. Pode ter uma

reca

É algo inapropriado e

desrespeitoso com o

paciente, e também com

o profissional.

214

18. M3

Tem determinados auxiliares de enfermagem que às vezes ficam falando

alto, e falam coisas que não devem, até nós médicos mesmo às vezes em

visita médica fica comentando caso do paciente na frente dele, ele fica

escutando, às vezes a gente não se dá conta que isso não deveria

acontecer. Termina falando e quando vê já falou na frente dele, e ele ta ali

escutando tudo, as vezes repercute. E outra coisa: como aqui é hospital

escola, tem muito estudante, muito residente, às vezes eles esquecem que

tão lidando com gente e acha que tá só estudando e termina... sei lá as

vezes eles esquecem, literalmente, esquecem que quem tá do outro lado é

um paciente, uma pessoa. Com relação a assédio nunca vi, com relação a

repreensão e pressões também não. Eu vejo muita pressão da chefia da

enfermagem com os auxiliares!

Tem caso aqui de três funcionários que iriam sair do hospital porque por

ocasião da avaliação que é feita [de desempenho], o pessoal julgou muito

abaixo do [padrão]... A chefia, por motivos pessoais, deu uma nota

inferior e isso gerou problema pra eles!

...acho que é mais uma

questão pessoal da chefe.

Talvez ela tenha problema

com ela mesma, consigo

mesma, que não consiga

resolver e ai termina

repercutindo das outras

pessoas. Acho que é mais uma

questão talvez de

personalidade ou talvez

alguma situação emocional

mal resolvida que ela tenha e

que não consiga resolver.

Isso acontece muito e assim é

motivo de muito

descontentamento, de muita

insatisfação do ponto de vista

deles, dos auxiliares. O que eles

fazem é as vezes não vir pro

plantão, ou sair daqui e procurar

outro hospital.

Eu acho isso

desumanidade,

desrespeito, má

vontade.

19. M4

Essa questão de gritos eu já vivenciei, mas, sinceramente, não aqui [na

unidade de internação]. Já vivenciei em ambientes mais estressantes

como, por exemplo, na emergência. Isso já aconteceu, por parte da equipe

de enfermagem e de alguns médicos também.

Eu atribuo à sobrecarga de

trabalho. Eu acho que na

saúde as pessoas acabam

trabalhando mais do que o

que seria aceitável. Aí, com

esse cansaço, a relação

interpessoal fica complicada.

Com certeza. Porque eu acho que

se não tiver harmonia entre os

membros da equipe, o

entrosamento é menor e o

resultado é menos eficaz, tem

menos eficiência para o

atendimento.

-

20. TE11

Comigo não, mas eu já vi com colegas. De um profissional, tipo assim, se

for um profissional técnico de Enfermagem, ou um enfermeiro, ou um

médico, que tem um tom de voz um pouco mais alto, por conta de algum

tipo de erro que foi cometido, certo, ou então uma opinião dele sobre o

tipo de assistência que está sendo dada. Basicamente isso, uma cobrança

em si do profissional, do técnico de Enfermagem. Ele é muito cobrado

para fazer o serviço certo. E a gente tem aquele impasse, a gente é

cobrado, mas também ele tem que fazer a parte dele, mas a gente não sabe

como cobrar da parte dele. Então a gente meio que... harmoniosa nesse

sentido, tipo, do técnico para o enfermeiro. A gente chega para conversar,

faz um tipo de indireta “olha, paciente tá sentindo tal coisa e está sendo

feito isso, ou não está sendo feito isso”, certo. Mas quando é ao contrário,

geralmente, é um pouquinho mais agressivo. Tem um médico da unidade

que quando ele se dirige ao profissional e que houve algum certo tipo de

falha, ele fala alto mesmo com o profissional. Chama atenção “ê, fulano,

o que isso que está acontecendo, que não era para acontecer isso”.

Da própria característica da

pessoa mesmo, que ele parece

ser um pouco mais

desequilibrado, não sei, ou

emocionalmente

desequilibrado... ou que está

sendo levado ao estresse do

trabalho dele mesmo.

Acaba que afeta um pouco o

relacionamento da equipe. Tem

colega que chega e sabe que é

aquele médico já diz “Ah! Droga!

É o médico tal que está de

plantão?” Aí já fica meio

receoso, fica mais na dele. Já

trata tudo profissionalmente, não

conversa abertamente. Como a

gente trabalha bastante, tem

muito tempo de serviço aqui no

hospital, a gente acaba ficando

com amizade entre os

profissionais, que tem bastante

tempo com a gente, que tem

afinidade com a equipe, então a

gente acaba levando na amizade.

E tem pessoas desse tipo de

comportamento mais estressante,

a gente leva no profissionalismo.

-

215

21. E11

Indigna a gente ter que chegar em um plantão e ter uma colega de

trabalho que o paciente teve uma falha da assistência por uma simples

irresponsabilidade do profissional, que o plantão estava calmo, porque

simplesmente ela estava no whatsapp, porque estava conversando, porque

teve que sair, então assim, acontece às vezes de chegar no plantão e ter

algo pendente, alguma coisa que interferiu na assistência do paciente por

irresponsabilidade do profissional, isso às vezes gera conflitos. A gente

discute, leva pra chefia,, gera conflitos...

A inexperiência, as recém-

formadas, o pouco

compromisso, que alguns tem

baixo compromisso mesmo

com a profissão, com unidade,

então aqui: muitas vezes „eu

to pelo dinheiro‟, „ah eu vou

trabalhar por que eu preciso

desse plantões‟, mas não vê

que pra trabalhar você

precisa ter responsabilidade

profissional, às vezes tem

alguns profissionais que se

posicionam dessa forma, aí

isso causa alguns conflitos em

reunião, que a gente repassa

pra equipe. É o pouco

compromisso, e também a

sobrecarga, porque assim, o

salário do enfermeiro ainda

não é suficiente pra

sobrevivência, então tem

colega da gente que trabalha

em três empregos né? eu já

me sinto muito cansada, eu

dou sete plantões aqui e eu

tenho outro emprego, já me

sinto muito cansada. Eu tenho

colegas que trabalham

durante um mês 20, 25

plantões, então assim, chega

num ponto que a gente chega

esgotado, não consegue

render o que deveria, então

pela baixa remuneração

salarial você tem que

procurar outras formas de

trabalho, outras fontes de

renda, aí em virtude disso

você chega muito cansada e

não rende no plantão, a

sobrecarga atrapalha também

na assistência.

Se eu tenho conflitos, se a equipe

não me orienta, se eu não tenho

segurança, se eu não confio, eu

não vou conseguir estar bem na

unidade, então a gente tem que

star realmente disponível, mais

relaxada, mais tranquila e mais

disponível pra ele [o paciente]...

[Para o paciente] com certeza!

100% tá relacionado. Se eu estou

cansada, esgotada, eu não

consigo oferecer a assistência ao

paciente.

-

216

22. M5

Olha, comigo eu não estou lembrando, mas tem muitas histórias assim de

cirurgião, de ser grosseiro com residente, com a técnica, de jogar

material... aqui na chefia da enfermagem tem algumas histórias também.

Eu acho que um pouco de

prepotência, um pouco de

falta de amor. Acho que um

pouco de falta de

preocupação com o paciente

também.

Numa cirurgia isso desestrutura

tudo,, acaba que tira a

concentração ali do paciente, tira

o foco do paciente e coloca em

outra coisa e acaba que, imagino

que prejudique o resultado final..

Grosseiro

217

ANEXO

218

ANEXO A - Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa

219

220