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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ ANA LÚCIA PEREIRA DE ALBUQUERQUE CUIDADO INTEGRAL DE ENFERMAGEM A VÍTIMAS DE LESÃO MEDULAR: interpretação das experiências de pacientes no contexto hospitalar Fortaleza – Ceará 2007

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

ANA LÚCIA PEREIRA DE ALBUQUERQUE

CUIDADO INTEGRAL DE ENFERMAGEM A VÍTIMAS DE LESÃO MEDULAR: interpretação das experiências de pacientes no

contexto hospitalar

Fortaleza – Ceará 2007

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ANA LÚCIA PEREIRA DE ALBUQUERQUE

CUIDADO INTEGRAL DE ENFERMAGEM A VÍTIMAS DE LESÃO MEDULAR: interpretação das experiências de pacientes no

contexto hospitalar

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos em Saúde, Área de Concentração em Enfermagem do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual do Ceará, como requisito para obtenção do Título de Mestre. Orientadora: Profª. Drª. Consuelo Helena Aires de Freitas Lopes

Fortaleza - Ceará

2007

Universidade Estadual do Ceará

Curso de Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos em Saúde

Área de Concentração: Enfermagem

Título do Trabalho: CUIDADO INTEGRAL DE ENFERMAGEM A VÍTIMAS DE LESÃO MEDULAR: interpretação das experiências de pacientes no contexto hospitalar

Autora: Ana Lúcia Pereira de Albuquerque Aprovada: 26/12/2007

Banca Examinadora

___________________________________________________________

Profª. Drª. Consuelo Helena Aires de Freitas Lopes Universidade Estadual do Ceará

Presidente e Orientadora

_____________________________________________________________ Profª. Drª. Luiza Jane Eyre de Souza Vieira

Universidade de Fortaleza 1º Membro

____________________________________________________________ Profª. Drª. Maria Salete Bessa Jorge

Universidade Estadual do Ceará 2º Membro

____________________________________________________________ Profª. Drª. Maria Veraci Oliveira Queiroz

Universidade Estadual do Ceará Membro Suplente

DEDICATÓRIA

Dedico esta dissertação a minha família, em especial aos meus pais, Antonio e

Ambrosina, por tudo o que sou hoje, pelo aconchego da vida familiar e pelo exemplo de

dedicação, carinho, compreensão e perseverança que souberam me transmitir, ao longo

da vida.

Ao meu esposo, Daniel por ser um companheiro compreensivo e amoroso, acreditando

em meu potencial e sempre me incentivando e apoiando em tudo o que faço, dando-me

forças e tranqüilidade para construção e formatação desse trabalho.

A minha filha, Letícia que surgiu na minha vida como um presente abençoado de Deus,

trazendo-me força, alegria, esperança e incentivo para seguir em frente na construção

desse estudo.

Aos meus irmãos Antonio e Carlos, pelas demonstrações de carinho que sempre

dispensaram a mim em diversos momentos de convivência familiar.

A minha sogra Vera, meu sogro Hamilfon e minha cunhada Renata que em muitos

momentos, através de palavras de incentivo e otimismo, me estimularam a seguir em

frente.

AGRADECIMENTOS

A Deus, autor e senhor da minha vida, pois sem a sua condução nos meus caminhos, eu

com certeza não teria chegado até aqui.

A minha Orientadora Profª Drª Consuelo Helena Aires de Freitas Lopes, por ter me

adotado como filha, contribuindo intensamente em todas as etapas de construção desse

estudo, onde após cada orientação aprendi a conhecer, admirar e respeitar cada vez mais

essa docente, não só pela sua gama de conhecimentos científicos, mas também por

todos os ensinamentos de vida, humildade, respeito e otimismo que ela repassava a cada

encontro. Diante de tudo isso só me resta dizer: MUITO OBRIGADO.

A Profª Drª Maria Salete Bessa Jorge pela disponibilidade e generosidade em colaborar

com suas ricas experiências e ensinamentos.

As Profª que fazem parte do CMACCLIS um local de crescimento pessoal e

profissional, com ensinamentos éticos, humanitários e solidários.

A querida Rafaela, secretária do CMACCLIS, sempre dedicada e disposta a ajudar,

mantendo um jeito sorridente e meigo, transmitindo a todos tranqüilidade e conforto nos

momentos de aflição.

Aos companheiros de sala de aula, onde juntos mantivemos um convívio de construção

harmonioso e agradável, no qual cada um teve sua parcela de contribuição para o meu

crescimento profissional e pessoal.

Aos funcionários da Unidade de Neurologia do Instituto Dr. José Frota, que foram

sempre solícitos e acolhedores em meu processo de coleta de dados.

Aos pacientes vítimas de lesão medular do Instituto Dr. José Frota, assim como seus

familiares que confiaram em mim e partilharam comigo suas experiências e emoções

naqueles momentos de sofrimento, tornando possível a realização desse trabalho.

RESUMO

ALBUQUERQUE, ALP. CUIDADO INTEGRAL DE ENFERMAGEM A VÍTIMAS DE LESÃO MEDULAR: interpretação das experiências de pacientes no contexto hospitalar. 2007. f. Dissertação (Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos em Saúde. Área de Concentração em Enfermagem) – Centro de Ciências da Saúde – Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, Ceará, 2007. A compreensão da produção do cuidado a saúde de pessoas vítimas de lesão medular nos remete antes de tudo a compreender o contexto social e de saúde existente no cotidiano das pessoas. Atualmente as doenças crônicas não transmissíveis vêm se apresentando com aumento gradativo e significante, dentre elas destacam-se as lesões raquimedulares. O estudo buscou compreender os significados das experiências vivenciadas pelo ser vítima de lesão medular no const-0.293142(u7(a)378(u)-0.293142(i))-2.193142(e)3.74122,8((a)507564-0)540.465t(a)

RELAÇÃO DE FLUXOGRAMAS

Fluxograma 1 Percurso metodológico para a análise das narrativas

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AVC - Acidente Vascular Cerebral

TCE - Traumatismo Crânio Encefálico

TRM - Traumatismo Raquimedular

LM - Lesão Medular

SNC - Sistema Nervoso Central

LME - Lesão Medular Espinhal

SUS - Sistema Único de Saúde

UTI - Unidade Terapia Intensiva

MMII - Membros Inferiores

MMSS - Membros Superiores

MID - Membro Inferior Direito

CNS - Conselho Nacional Saúde

SUMÁRIO

RESUMO

ABSTRACT

LISTA DE FLUXOGRAMA

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

1. A TRAJETÓRIA DE PESSOAS VÍTIMAS DE LESÃO MEDULAR NO CONTEXTO

HOSPITALAR 11

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA-METODOLÓGICA 19

2.1 Referencial Teórico: Interacionismo Interpretativo de Norman Denzim 19

2.2 O Caminhar Metodológico 22

2.2.1 A Pesquisa Qualitativa Interpretativa e o Ponto de Encontro com o Objeto do Estudo 22

2.2.2 O Cenário da Investigação 23

2.2.3 Os Sujeitos da Pesquisa 26

2.2.4 Estratégias para Obtenção de Dados 27

2.2.5 Aspectos Éticos Legais 31

2.2.6 O Método para Análise Interpretativa 32

3. A VIVÊNCIA DE PACIENTES VÍTIMAS DE TRM NO CONTEX TO HOSPITALAR 35

3.1 Descrição dos Sujeitos da Pesquisa 35

3.2 Ser Lesionado Medular 37

3.2.1 Relembrar é Viver o Inesperado 41

3.3 O Cuidado Recebido no Hospital 44

3.4 A Tecnologia das Relações Afetivas 52

4. CONSIDERAÇÕS FINAIS 56

5. REFERÊNCIAS 59

APÊNDICES 64

Apêndice I - Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP 64

Apêndice II - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 65

Apêndice III - Observações Participantes 66 Apêndice IV - Entrevistas 67

ANEXOS 68

Anexo IV - Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa 68

1 A TRAJETÓRIA DE PESSOAS VÍTIMAS DE LESÃO

MEDULAR NO CONTEXTO HOSPITALAR

A compreensão da produção do cuidado a saúde de pessoas vítimas de lesão

medular nos remete antes de tudo a compreender o contexto social e de saúde existente

no cotidiano das pessoas. Quando nos reportamos à determinada situação problema de

saúde, no âmbito da pesquisa e assistência, torna-se necessário olhar a problemática nos

diversos espaços da sociedade, considerando as causas, dados epidemiológicos,

intervenção, prevenção e controle, assistência dos serviços de saúde, cuidado dos

profissionais de saúde como segmentos do processo saúde-doença.

Na sociedade atual as doenças crônicas não transmissíveis vêm se apresentando

com aumento gradativo e significante. Estudos revelam que a urbanização desenfreada

tem contribuído para determinação deste quadro, visto que a violência urbana e o

crescente índice de acidentes de trânsito e de trabalho traduzem elevação do número de

acidentes com lesões traumáticas, em especial as lesões raquimedulares, no qual deixam

um grande número de indivíduos, em plena fase produtiva ou não, vítimas de alguma

deficiência, como a paraplegia ou tetraplegia, passando para o perfil de pessoas inativas,

deficientes e dependentes do Estado e família. Este cenário pertence também a outros

países, sendo um problema de ordem mundial.

Estatísticas norte-americanas mostraram uma população de aproximadamente

200 mil indivíduos, com uma incidência anual de aproximadamente 10 mil casos.

Durante os últimos 20 anos, nos Estados Unidos persistiram ainda como principais

causas, os acidentes automobilísticos (45%), as quedas (22%), os atos de violência

(16%) e a participação em esportes (13%). No Brasil, na maioria dos casos, essas lesões

são de origem traumática, sendo que as causas externas mais freqüentes são os acidentes

automobilísticos, seguidos por ferimentos por arma de fogo e quedas (SANTOS, 1989).

Os acidentes de trânsito se destacam representando em nosso país um grande

problema de saúde pública. Anualmente milhares de pessoas morrem ou se ferem em

acidentes de trânsito, e mais da metade dos feridos ficam com lesão ou seqüelas

permanentes. Campanhas educativas com vistas a prevenção de acidentes no trânsito

parecem não obter controle das ocorrências, observa-se que a ingestão de bebidas

alcoólicas associada ao ato de dirigir é fator muito presente.

Dados da Unidade de Vigilância Epidemiológica de instituição hospitalar

especializada em emergências da cidade de Fortaleza, Ceará apontam que no ano de

2005 foram registrados 7.893 atendimentos a pessoas vítimas de lesão medular, sendo

5.390 homens e 2.503 mulheres, na faixa etária entre 19 a 28 anos. A maioria de origem

traumática, com registros de 12.146 atendimentos decorrentes de acidentes

automobilísticos, sendo 6.053 acidentes de moto, 3.581 atropelamentos e 2.512 colisões

automobilísticas. Em seguida constatamos 6.668 casos de violência, sendo 5.154

agressões físicas em geral e 1.514 casos de lesão por arma de fogo. Por último foram

registrados 3.544 casos de quedas, sendo 2.783 quedas de bicicleta e 761 quedas de

carro.

Os dados registrados são preocupantes, não somente pelo quantitativo das

ocorrências, mas, sobretudo pela ocorrência diária registrada neste serviço, mostrando

ineficácia de medidas preventivas nos diversos setores da sociedade, retratando

problemas de ordem macroestrutural movidos pela violência e desinformação

pertencente a todas as camadas sociais. A preocupação dos dirigentes e profissionais da

saúde é centrada não somente no atendimento de emergência a população, que embora

seja de alta complexidade, envolvendo atenção especializada de vários profissionais da

saúde, requer a manutenção de custos e tecnologia avançada, mas principalmente

devido à gravidade e permanência do estado de saúde que as pessoas passam a adquirir,

que em fase posterior a situação de emergência, este passa a condição crônica

requerendo assistência permanente dos serviços de saúde, fato que além dos danos do

indivíduo, acomete a família, instituição de saúde e Estado.

Nosso interesse pela temática teve início ainda no processo de formação

acadêmica onde tivemos a oportunidade de entrar em contato com pessoas vítimas de

lesões neurológicas variadas, sendo mais freqüentes as lesões do tipo acidente vascular

cerebral - AVC, traumatismo crânio-encefálico - TCE e traumatismo raquimedular -

TRM. Dentre essas, os pacientes portadores de TRM, despertaram em nós o interesse de

conhecer toda a complexibilidade que envolve as pessoas vítimas desse trauma.

Percebemos que essa clientela era composta, na sua maioria de pessoas jovens, do sexo

masculino, vítimas de lesão medular de origem traumática.

A lesão medular (LM) pode ser provocada por diversas causas e ocorre como

conseqüência da morte dos neurônios da medula e da quebra de comunicação entre os

axônios que se originam no cérebro e suas conexões. Esse rompimento interrompe a

comunicação entre o cérebro e todas as partes do corpo que ficam abaixo da lesão,

determinando as diferentes alterações observadas nas pessoas com seqüela de LM, pois

é de acordo com a altura do trauma na medula e a gravidade da lesão que é definido o

comprometimento, entre outros, dos movimentos, da sensibilidade, do controle dos

esfíncteres, do funcionamento dos órgãos internos, da circulação sangüínea e do

controle da temperatura (POLIT; HUNGLER, 1995).

Sabe-se que a gravidade desse trauma deve-se ao fato de que a medula espinhal

localiza-se dentro da coluna vertebral, sendo uma parte do Sistema Nervoso Central -

SNC, que conecta o cérebro aos nervos responsáveis pela condução das respostas

motoras e sensitivas. A lesão da medula espinhal (LME) é uma lesão traumática ou não,

que pode variar desde discreta concussão medular, com dormência transitória, até a

tetraplegia imediata e completa, trazendo conseqüências que alteram a rotina familiar

determinando um novo estilo de vida para todos os membros da família. As lesões

traumáticas podem ser originadas em acidentes automobilísticos, quedas de alturas,

mergulhos em águas rasas, ferimentos por armas brancas, ferimentos por armas de fogo

(projétil). As lesões de origem não-traumáticas podem ser geradas por acidente vascular

cerebral - AVC, hérnias de disco, entre outros (POLIT; HUNGLER, 1995).

Ao adquirir essa deficiência, a pessoa sofre limitações para exercer o controle

sobre as suas condições de vida, acesso à escola, trabalho, lazer, bem como satisfação

de suas necessidades básicas. A sociedade parece também ser responsável pelas

deficiências que essas pessoas enfrentam ao tentar exercer o direito de ir e vir,

deficiências desencadeadas pela organização da cidade, pelas barreiras arquitetônicas,

transportes inadequados, falta de acessibilidade aos recursos (trabalho, educação, lazer).

A constatação de uma deficiência gera ainda, uma situação de crise na vida

familiar. Dela decorrem alterações psicológicas e sociais, sentimentos de negação,

culpa, vergonha, medo, pena e rejeição que podem levar ao isolamento social.

Devemos pensar no cuidado integral a saúde desses sujeitos, considerando a sua

condição de lesionado medular e contexto, levando em consideração distúrbios,

sofrimentos, dor, risco de vida, bem como outros aspectos. Do ponto de vista da relação

usuário-profissional de saúde, a atenção integral supõe tanto o oferecimento de todo

recurso técnico disponível para o restabelecimento e preservação da saúde quanto o

oferecimento de qualidade nos vínculos usuário-profissional. Essa qualidade nos

vínculos é aqui entendida como atenção à maneira pelas quais as relações se

estabelecem, pelo respeito às singularidades e pela boa comunicação interpessoal. A

realização de qualquer ação técnica acontece sempre a partir de uma relação

intersubjetiva e provoca repercussões em todos os envolvidos. O reconhecimento destas

repercussões é um importante fator para conhecimento e atendimento das necessidades

ali expressas, no entanto, esta tarefa é bastante complexa (RIBAS, 2002).

O que geralmente acontece é a priorização de aspectos biológicos e relativos à

doença em detrimento de aspectos subjetivos, sociais e culturais. Esta priorização,

comum à lógica dos serviços de saúde, tem implicações tanto para o usuário quanto para

o profissional de saúde. Para o atendimento do usuário, traz uma dificuldade de

compreensão da amplitude e da singularidade de seu sofrimento e do alto grau de

imprevisibilidade que caracteriza os acontecimentos nos processos de saúde-doença, de

cura e de morte. Para o profissional de saúde, a quase ausência de consideração de

aspectos de sua subjetividade traz implicações tanto para a qualidade da oferta de

cuidado ao usuário quanto para o reconhecimento das suas próprias demandas no

exercício de seu trabalho (RIBAS, 2002)

No dia a dia, as pessoas parecem que não se chamam à atenção de olhar e

verificar a gravidade da problemática, a maioria das situações pode ser prevenível, e que

passam a constituir a condição do ser portador de deficiência física. Diante desse

conhecimento, acreditamos que o período inicial de hospitalização de uma pessoa

vítima de lesão medular apresenta-se repleta de sentimentos contraditórios, dentre eles,

a incerteza sobre as seqüelas que aquele trauma pode ocasionar.

Observamos a questão da assistência prestada pelos diversos profissionais de

saúde às pessoas vítimas de lesão medular, pessoas essas, que muitas vezes diante de

uma fatalidade, em questão de segundos, tiveram suas vidas modificadas, tendo agora,

alterações biológicas, sociais e espirituais, significativas. Faro (1999) comenta que a

pessoa com lesão medular apresenta alterações significativas de motricidade e

sensibilidade, dentre tantas outras, ocorrendo, muitas vezes, dependência de terceiros

para atividades antes tidas como corriqueiras e outras mais íntimas, como a higiene após

as eliminações. Portanto, esse tipo de paciente é caracterizado como dependente dos

cuidados da enfermagem e família para desenvolver atividades básicas da vida diária,

como alimentar-se, vestir-se, despir-se, posicionar-se na cama ou na cadeira e

higienizar-se.

Observando que os cuidados realizados diariamente, pelos diversos profissionais

de saúde, cada um dentro da sua competência, aconteciam de forma rotineira, tecnicista

e desvinculada de uma visão holística do paciente, pois eram priorizadas apenas as

necessidades biológicas como: verificação de sinais vitais, higienização, curativos,

administração de medicação, dieta e sondagens, assim como a individualidade de cada

ser não era considerada, a partir do momento que eles tinham que se adequar a uma

rotina programada e muitas vezes, sem nenhuma possibilidade de alteração.

O cuidado da enfermagem constitui um eixo na condução das disciplinas e

organização das práticas de enfermagem. E na perspectiva de concretizar a integralidade

do cuidado na saúde é necessário pensar esse cuidado em todos os cenários onde ele se

encontra, seja na formação dos profissionais, nos serviços, na gestão e nos espaços de

participação da sociedade civil. É preciso criar formas de sentir, falar e fazer nossa

prática de modo compartilhado no campo da saúde.

A integralidade, como um dos princípios do SUS que exige novos padrões de

relacionamento entre serviços, profissionais e usuários, se efetiva através da relação

entre os diversos atores com suas diferentes perspectivas e interesses, no interior das

instituições, nos vários níveis de atenção do sistema de saúde.

Tendo esta concepção como ponto de partida, o exercício da integralidade

pressupõe um olhar atencioso às diversas perspectivas que compõem o processo de

produção de saúde: dos usuários, dos grupos de profissionais, das instituições e serviços

e do sistema de saúde. No processo de inter-relação destas perspectivas estão presentes

demandas e ofertas que revelam uma pluralidade de diferenças que, muitas vezes, se

apresentam de forma desarticulada e contraditória (PINHEIRO, MATOS, 2001).

Diante de tais observações surgiu a necessidade de buscarmos compreender os

significados das experiências vivenciadas por vítimas de lesão medular, dentro daquele

contexto hospitalar, pensando no cuidado integral a saúde daquelas pessoas que se

encontravam em momento de crise.

Tínhamos a lucidez da difícil tarefa de buscar esta subjetividade. Assim

identificamos o Interacionismo Interpretativo de Norman Denzin (1989) como

perspectiva teórica que se atem a tentativa de fazer o mundo da experiência da

problemática vivida, diretamente acessível, por meio da interpretação do pesquisador

Andrade, Tanaka (2000). De acordo com Denzin (1989), o ato de interpretar dá

significado a uma experiência, mesmo quando expressada simbolicamente e que, a

pesquisa evolui em torno de interações humanas, com organização da conduta, tomando

por base eventos negociados e não previstos.

Pensando assim, buscamos elaborar questionamentos que nos proporcionasse

maior aproximação com o fenômeno em estudo, ou seja a vivência do TRM no âmbito

hospitalar com vistas a apreender a maior necessidade desses sujeitos no

desenvolvimento do cuidado integral a saúde. Sendo eles os seguintes: Fale da sua

experiência no hospital. Como está a sua assistência aqui no hospital? O que você sabe

sobre o seu estado de saúde? O que você sabe sobre o seu tratamento? O que poderia

melhorar nesse momento? Como você está se sentindo?

Acreditamos que compreender os significados das experiências vivenciadas pelo

ser vítima de lesão medular no contexto hospitalar de um serviço de urgência e

emergência, trará uma contribuição significativa no processo de cuidar integral da saúde

dessas pessoas, no estabelecimento de vínculo com o paciente, e prestação de cuidado

mais humanizado, direcionado as reais necessidades do ser vítima de lesão medular.

Durante esse período percebemos que a assistência hospitalar ainda estava muito

voltada para as necessidades biológicas e para o “ser-doente”, no qual as necessidades

sociais e espirituais são colocadas em segundo plano. Concordamos também que neste

momento é prioridade o atendimento das necessidades biológicas dada a busca de

melhores condições clínicas do estado de saúde e que estas deveriam ser desenvolvidas

levando em consideração as demais dimensões do ser humano, em destaque as

psicológicas e sociais.

Outro aspecto identificado foi à assistência prestada aos familiares do paciente,

assistência essa, muitas vezes repleta de desinformação e descaso, observado

principalmente durante as visitas das equipes de saúde, onde as discussões eram

direcionadas aos aspectos técnicos e biológicos da lesão medular e a família, muitas

vezes presente, não era vista, nem comunicada. Isso retrata que o paciente não era

tratado como um ser possuidor de um mundo, de uma família, que estava ali

acompanhando passo a passo o tratamento do seu ente querido.

O estudo também virá a contribuir no campo da pesquisa, pois a partir da

divulgação dos resultados obtidos, um número maior de profissionais terá acesso a essas

informações podendo utilizá-las para repensar sua prática profissional, assim como,

incentivar esses profissionais para a realização de novas pesquisas sobre essa temática.

Proporcionará importância especial para os profissionais de saúde que trabalham

na Instituição, no qual a pesquisa será desenvolvida, pois a partir dos resultados obtidos

e divulgados em meios científicos, esses profissionais que direta ou indiretamente

prestam cuidados a essa clientela, terão conhecimentos de informações relevantes sobre

os mesmos, podendo a partir daí desenvolver um trabalho mais direcionado as

necessidades não só biológicas mais psicológicas e sociais daquele ser vítima de lesão

medular, trazendo benefícios para os pacientes em questão, assim como para a

instituição como um todo, portanto pretendemos desenvolver a socialização dos

resultados dessa pesquisa junto aos profissionais de saúde que cuidam do paciente

vítima de lesão medular apresentando a pesquisa e disponibilizando a mesma na

instituição como forma de contribuir para a melhoria do cuidado a esta clientela.

Portanto, pontuamos como objetivos:

� Compreender os significados das experiências vivenciadas pelo ser

vítima de lesão medular no contexto hospitalar;

� Descrever as narrativas no âmbito das experiências vividas.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA - METODOLÓGICA

2.1 REFERENCIAL TEÓRICO: Interacionismo Interpretat ivo de Norman Denzin

O presente estudo foi fundamentado na perspectiva teórica do Interacionismo

Interpretativo de Norman Denzin (1989). É uma perspectiva teórico-metodológica

denominada interacionista porque parte do pressuposto de que as ações do ser humano

se dão em direção ao outro, com o outro, a partir do outro, num processo mútuo, sendo

que essas ações resultam em experiências interacionais mediadas por símbolos e pela

linguagem. É denominada interpretativa porque busca a atribuição de significados e sua

tradução em termos que levam a compreensão do fenômeno que se pretende estudar

(ANDRADE e TANAKA, 2000).

O Interacionismo Interpretativo tem suas raízes na teoria crítica, teoria feminista,

pragmatismo, estudos culturais ou etnometodologia, teoria de conflito e interacionismo

simbólico, cuja natureza auto-reflexiva e política da conduta diária e científica

percebem o ato da pesquisa nela mesma, sendo em instância da interação interpretativa

simbólica.

Vale salientar que o interacionismo simbólico teve sua origem no fim do século

dezenove, onde reuniu estudos de CHARLES HORTON COOLEY (1864-1929), W.I.

THOMAS (1863 – 1947) e GEORGE HERBERT MEAD (1863 – 1931). MEAD

colocou os fundamentos da abordagem do interacionismo simbólico na academia, tendo

sido disseminador deste conhecimento enquanto professor na Escola de Chicago no

período de 1893 a 1931.

Denzin, professor de pesquisas em comunicação, de sociologia, de estudos de

cinemas, de críticas e teorias interpretativas, entretanto sua área primária de interesse

são os estudos culturais e pesquisas interpretativas, cinema e teoria da raça crítica,

estudos de desempenho e etnografia. A pesquisa de Denzin cobre a extensa teoria da

prática institucional. Seus livros The Alcoolic Self e The Recovering Alcoolic o fizeram

ganhar o prestígio de Charles H. Cooley Award e da sociedade para o estudo da

interação de símbolos e foi designado para o C. Wrighr Mills Awara.

Suas recentes publicações incluem : Screening Race: Hollywood and a Cinema

of Racial Violence, Interpretive Ethnography, The Cinematic Society, Images of

Postmodern Society, The Research Act, Interpretive Interactionism e Hollywood Shot by

Shot. Em 1997 ele foi premiado por George Herbert Award pelo estudo do

Interacionismo Simbólico, sendo também PHD em Sociologia na Universidade de Iowa.

Denzin (1989) apresenta uma abordagem de Interacionismo Interpretativo sob o

ponto de vista de que os sociólogos devem diminuir a lacuna que existe entre os

métodos e suas teorias, adotando um modelo interpretativo comum no julgamento de

que método e teoria devem ter a mesma perspectiva.

O Autor defende a idéia de que papéis recíprocos devem ser claramente

definidos e que devemos encarar a vida humana como um vasto processo interpretativo

em que pessoas sozinhas ou coletivamente definem objetos e vivem situações que

encontram. É nesta perspectiva que afirma que as teorias são interpretações do mundo

social.

Uma tese básica direciona o Interacionismo Interpretativo: a importância da

interpretação e compreensão de um fenômeno ou questão chave da vida social. Afirma

que na vida social há apenas interpretação, isto é, a vida cotidiana gira em torno da

interpretação e julgamento que as pessoas fazem sobre os comportamentos e

experiência de si mesmo e dos outros (DENZIN, 1989).

O foco da pesquisa interpretativa é centrado nas experiências da vida que

radicalmente afetam e moldam o significado que as pessoas dão a elas próprias e aos

seus projetos de vida. Seu foco centra-se nas epifanias, que nada mais são que

experiências que deixam marcas na vida das pessoas.

Sob esta perspectiva a pesquisa interpretativa apresenta algumas características,

sendo elas: é ideográfica, porque trata cada indivíduo como um universo singular; é

normotética, porque pretende certa generalização; é progressivo-regressiva, porque

remete a dimensão futura, temporal do interpretativismo (progressivo) e trabalha com

retornos no tempo (regressiva); é naturalística, porque está localizada na experiência do

mundo cotidiano; é permeada pela história; traz a marca da emoção, impregnada no

humor e nos sentimentos das pessoas; cria condições para a compreensão, pois emoção

e experiência compartilhada propiciam as condições para a compreensão profunda e

autêntica; é crítica, pois deve prover uma minuciosa análise das estruturas e processos

que estão sendo investigados.

De acordo com Denzin (1989) o Interacionismo Simbólico repousa em 3

suposições básicas:

- Como a realidade social é sentida, conhecida e compreendida, é uma produção social, indivíduos interagem, produzem e definem suas próprias definições de situações; - Os seres humanos são considerados capazes de se engajar em comportamentos pensados e auto-reflexivos, sendo capazes de mudar e dirigir seu próprio comportamento e de outros; - No decorrer de tomar seu próprio ponto de vista e adaptar esse ponto de vista aos comportamentos dos outros, os humanos interagem uns com os outros.

Essa perspectiva define que o mundo social dos seres humanos não constituem-

se de objetos com significados intrínsecos, ou seja o significado dos objetos está nas

ações que seres humanos tomam em relação a eles, onde essas definições dos objetos

podem sofrer alterações de acordo com a experiência humana.

Denzin (1989) coloca que o comportamento humano é observado em dois

níveis: simbólico e interacional, então central a compreensão de tal comportamento está

à variação e variedade de símbolos e significados simbólicos compartilhados,

comunicados, manipulados por “eus” ou “egos interagentes” em condições sociais, onde

a sociedade contribui com elementos sociais que refletem diretamente nas interações

completas, através de símbolos ou linguagem, fornecidas ou comunicadas, através do

processo de socialização, ou ainda, os cenários comportamentais concretos em que

ocorrem as interações.

O objetivo das atividades interpretativas é criar um corpo de material que

forneça os elementos para a interpretação e compreensão. A interpretação é a tentativa

de explicar o significado de algo, de tomar o não familiar e torná-lo familiar.

A interpretação objetiva descobrir os conteúdos, expressos na forma de relatos,

que estruturam as experiências das pessoas, experiências estas vividas em um contexto

com significados culturais.

Baseado nas colocações apresentadas fizemos a opção em desenvolver este

estudo, utilizando como referencial teórico, o Interacionismo Interpretativo de Norman

Denzin (1989), em busca da compreensão da interpretação de pacientes vítimas de lesão

medular sobre a sua experiência no contexto hospitalar.

2.2 O CAMINHAR METODOLÓGICO

2.2.1 A pesquisa qualitativa interpretativa e o ponto de encontro com o objeto do

estudo

Fizemos a opção pelo estudo qualitativo com eixo teórico no Interacionismo

Simbólico Interpretativo de Denzin (1989), por acreditar na perspectiva teórico-

metodológica que se propõe a interpretar o mundo da experiência da problemática

vivida. Neste estudo, trata-se da vivência de pacientes vítimas de lesão medular no

contexto hospitalar, que por meio da compreensão do fenômeno, a identificação de

ações para o cuidado integral de enfermagem fosse desveladas. Neste intuito, sabemos

que várias são as questões que permeiam a construção do cuidado.

Este tipo de abordagem qualitativa se ampara fortemente na descrição e

interpretação da experiência direta das pessoas com relação ao fenômeno em questão,

porque tenta tornar o mundo da experiência vivida compreensível. A compreensão do

fenômeno estudado foi obtida pela interpretação e entendimento do significado que é

sentido, pretendido e expresso pelas pessoas (ANDRADE E TANAKA, 2000).

A matéria prima da pesquisa interpretativa é a experiência da vida, visto que

estudos interpretativos são organizados em termos de eventos ou momentos

significativos na vida de uma pessoa. Este evento, como é vivido, como é definido e

como é conformado na vida do sujeito, constitui o foco da pesquisa interpretativa.

Para Denzin (1989) estudos sob esta perspectiva podem ter implicações em

políticas publicas como respostas a determinados problemas, a partir da perspectiva

primeira das pessoas que experimentam tais problemas. Tais respostas, dizem respeito

às questões de mudança de comportamento que no campo de pesquisas sociais em saúde

requerem descrições detalhadas, em profundidades, que as pessoas apresentam a partir

de suas experiências.

Assim, percebemos identificação da perspectiva teórica-metodológica do

Interacionismo Interpretativo com o objeto do estudo que busca a compreensão da

vivência do ser vítima de lesão raquimedular no contexto hospitalar.

2.2.2 O Cenário da Investigação

O presente estudo foi realizado em uma das Unidades de Neurologia de um

Hospital Público de Urgência e Emergência de Fortaleza-CE-Brasil, o mesmo é

referência no atendimento terciário na rede Sistema Único de Saúde (SUS) para o

Estado do Ceará e municípios adjacentes. A equipe é multiprofissional, composta por

Médicos, Enfermeiros, Auxiliares de enfermagem, Fisioterapeutas, Nutricionistas e

Psicólogos. Constitui-se de um hospital de ensino, sendo campo de estágio para

discentes de graduação e pós-graduação de diversos cursos como Enfermagem,

Medicina, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição, Farmácia, Serviço Social e

Psicologia.

Ao iniciar nossa aproximação com o campo de pesquisa e os pacientes

lesionados, pudemos presenciar situações cruéis e inaceitáveis de pessoas simples que

se amontoavam sobre macas frias nos corredores intermináveis da emergência do

Instituto Dr. José Frota - IJF, cada ser daquele tinha sido vítima de algum trauma ou de

alguma patologia, que os levaram para aquela emergência, não poderiam imaginar,

assim como seus familiares, que ao chegar ao hospital seriam novamente vítimas, agora

de um enorme problema de Saúde Pública, problema esse previsto e anunciado há

tempos, por profissionais de saúde, pela população, pela imprensa escrita, falada e

televisionada.

Deveríamos seguir para o nosso campo específico de observação que era a

unidade de Neurologia, contudo não conseguimos sair daquela emergência sem

observar com total indignação à realidade cruel que aquelas pessoas enfrentavam

naquele momento. Ao passar pelas macas que se aglomeram nos corredores,

percebíamos em cada olhar um pedido de socorro e uma história de sofrimento para

contar, alguns gemiam de dor, outros vomitavam no chão e alguns ficavam em silêncio

com a sua dor, todos do seu jeito e da forma que dava para agüentar esperavam por

alguém que pudesse amenizar aqueles momentos intermináveis de sofrimento.

Identificamos naqueles momentos de observação outra vítima de gestões

ineficientes e incapazes que permeiam os níveis macro e micro-estruturais, os

profissionais de saúde. Médicos e equipe de enfermagem, profissionais que andavam de

um lado para outro sem saber por onde iniciar ou a quem primeiro atender. Para a

sociedade, a mídia e o senso comum, esses profissionais parecem ser algozes, entretanto

avaliando a real situação enfrentada pela saúde em nosso país, percebemos que aqueles

profissionais são tão vítimas quanto aquelas pessoas deitadas nas macas frias daquela

emergência, simbolicamente, estes estão deitados na impotência de suas ações diante de

um problema que tem raízes profundas na má efetivação das políticas públicas de saúde.

Naquele momento começamos a pensar sobre os pacientes vítimas de lesão

medular, pessoas que mantinham sua rotina de vida comum e que por algum

acontecimento de origem traumáticas, desenvolveram uma lesão medular e naquele

momento estavam ali entre aqueles pacientes, naquele instante era impossível identifica-

los. Começamos a refletir sobre o que passará na mente daquelas pessoas,

principalmente se a lesão sofrida deixará, inicialmente, algum tipo de paralisia dos

membros, o que aquele ser pensava ou sentia naqueles momentos de espera, com a

ausência de movimentos, o fantasma de uma cadeira de rodas e a incerteza do futuro,

certamente esses pensamentos tornavam-se muito mais assustadores e aterrorizantes

com toda aquela demora de horas ou até mesmo dias a espera de um atendimento.

Com essa assustadora vivência inicial, seguimos em direção a unidade de

neurologia, no qual o estudo foi realizado, a mesma localizava-se no 2º andar, dispondo

de uma área de internação de 4.847,97m² destinados a receber pacientes da emergência,

centro cirúrgico, UTI e unidade de observação. Este setor específico dispõe de 38 leitos,

onde os pacientes hospitalizados, geralmente são vítimas de traumatismo crânio-

encefálico - TCE, lesão medular espinhal - LME, acidente vascular cerebral - AVC,

assim como outras afecções neurológicas.

Ao chegarmos visualizamos uma realidade mais amena, apesar de também

complexa. Ao passarmos pelos corredores das enfermarias, observamos todos os leitos

ocupados, percebíamos que os pacientes olhavam atentamente o movimento nos

corredores, como se esperassem algo de novo ou alguém que pudesse trazer alguma

notícia que os tirassem daquele leito hospitalar. Quando entrávamos nas enfermarias,

sempre éramos recebidos com sorrisos tímidos, olhares interrogativos e algumas vezes

perguntas sobre o prognóstico do paciente ou de alguma solicitação para mudança de

soro ou medicações para dor, por não trabalharmos na unidade, não tínhamos respostas

para muitas indagações e assim percebíamos que essa ausência ou incerteza nas

respostas causavam uma certa decepção por parte dos pacientes ou mesmo

acompanhante, entretanto conseguíamos amenizar essa deficiência com atenção, toque,

e conversas sobre assuntos referentes as diversas patologias que atingiam aqueles

pacientes.

Os profissionais de saúde daquela unidade, em especial os de enfermagem

trabalhavam de forma harmoniosa, pois como os pacientes hospitalizados naquele setor,

geralmente apresentavam seqüelas principalmente motoras, em decorrência de TCE,

AVC ou LM, os cuidados de enfermagem dispensados a eles exigiam muita técnica e

vigor, pela dificuldade na execução, devido a isso, os profissionais sempre procuravam

trabalhar em equipe, ajudando-se mutuamente. A relação com os pacientes durante a

execução dos cuidados como banho no leito, curativos, mudança de decúbito era

agradável, percebíamos que eles conversavam e se sentiam a vontade na presença

desses profissionais.

Em muitos momentos de conversa com a equipe de enfermagem percebíamos

que aquelas trágicas histórias de vida, não pareciam atingi-los, quando indagados sobre

alguns casos específicos de pacientes vítimas de lesão medular eles faziam relatos e

davam opiniões de forma fria, como se falassem sobre acontecimentos comuns,

entretanto em algumas frases e expressões não verbais conseguíamos perceber que essa

frieza não era devido a uma relação de indiferença com todos aqueles acontecimentos

trágicos vivenciados diariamente e sim pelo tempo de convivência com aquele

ambiente, talvez aquela aparente indiferença fosse a forma encontrada, até mesmo de

forma inconsciente por aqueles profissionais de não se envolverem emocionalmente

com tantas fatalidades, fatalidades essas muitas vezes evitáveis se as políticas públicas

de nosso País fossem realmente eficazes.

No que se refere ao ambiente físico observamos enfermarias pequenas, quase

sempre escuras e quentes, algumas tinham televisão outras não. Todas apresentavam

poluição visual, ou seja, as mesinhas de cabeceira estavam sempre ocupadas com

ventiladores, copos descartáveis, produtos de higiene pessoal ou bolsas. Muitas cadeiras

de plástico para os acompanhantes ficavam amontoadas entre os leitos ou

espreguiçadeiras abertas durante o dia, nas paredes figuras de santo, orações e até

mesmo fotos de familiares. O chão era lavado diariamente, entretanto em alguns dias,

essa lavagem era feita tardiamente, coincidindo com o almoço dos pacientes,

percebíamos que esse fato causava incômodo tanto para os pacientes quanto para os

acompanhantes.

Ao sair daquela unidade e daquele hospital e voltar para as nossas atividades

diárias normais, ficamos lembrando de cada detalhe observado durante aqueles dias

dentro daquela instituição, o simples fato de tomar banho, nos alimentar ou mesmo

andar nos faziam pensar em cada história de vida explorada no nosso estudo. Esses

pensamentos nos faziam valorizar cada uma dessas atividades que antes fazíamos de

forma comum, sem nenhum significado importante, naquele momento ficávamos

imaginando o que aquelas pessoas dariam, o quanto elas desejariam e agora

valorizariam se novamente tivessem a oportunidade de realizar essas atividades comuns

do dia a dia.

2.2.3 Os Sujeitos da Pesquisa

O estudo em questão contou com a participação de 07 (sete) pacientes vítimas de

lesão medular hospitalizados na Unidade 12 de Neurologia do Instituto Dr. José Frota –

IJF, sendo 6 (seis) do sexo masculino e 1 (um) do sexo feminino. Esses números vêm

confirmar os dados da Unidade de Vigilância Epidemiológica dessa mesma instituição

do ano de 2005, onde mostram que os homens são as maiores vítimas de traumas

resultando em lesão medular, podendo isso estar associado ao fato de que os homens se

expõem mais a situações de risco do que as mulheres, em decorrência da maior ingestão

de bebidas alcoólicas, um maior contato com armas de fogo ou de dirigirem motos ou

motocicletas com maior freqüência.

Investigamos pacientes que atendiam os seguintes critérios de inclusão:

pacientes vítimas de lesão medular de origem traumática, de ambos os sexos, que se

encontravam na faixa etária de 18 a 65 anos, hospitalizados a mais de uma semana em

uma Unidade de Neurologia do referido hospital, e que estivessem conscientes,

orientados, em condições hemodinamicamente estáveis, inclusive de verbalização. Tais

critérios foram definidos baseados em dados da Unidade de Vigilância Epidemiológicas

dessa Instituição que apresenta como faixa etária de maior freqüência pacientes entre 19

a 30 anos, no entanto ampliamos a faixa etária da pesquisa por existir também pacientes

com idade inferior a 18 anos, optamos por investigar assim os de maior idade. E ainda,

definimos que os pacientes estivessem internados a pelo menos uma semana nessa

unidade, por compreender ser este um tempo razoável, para que estes tenham tido

vivência com fatos concretos e significativos para relatar sobre suas experiências do seu

adoecimento e hospitalização.

Definimos como critérios de exclusão: pacientes com lesão medular de origem

não-traumática, de menor idade e idade superior a 65 anos, com tempo de

hospitalização inferior a uma semana, que se encontrem em estado de saúde

comprometendo suas funções vitais, desorientados e com dificuldade de verbalização.

2.2.4 Estratégias para a Obtenção de Dados

Esta fase da pesquisa nos causou de início certo receio e apreensão na busca dos

significados da vivência dos pacientes vítimas de TRM e que ainda se encontravam em

momento de crise após o trauma. Não podíamos perder de vista os objetivos a que nos

propusemos, pois tínhamos sempre em mente a questão norteadora do estudo: o que

significa para você está vivendo esta experiência?

Seguimos as recomendações metodológicas de Denzin (1989), baseado nos sete

princípios descritos pelo autor quando mostra ensinamentos para o pesquisador social

da conduta humana, tais princípios sugerem passos para que o pesquisador tenha um

direcionamento no desenvolvimento da pesquisa.

- Primeiro princípio metodológico: símbolos e interações devem ser combinados antes de uma pesquisa terminar, esse princípio sugere que símbolos, significados e definições são forjados em altas definições e atitudes, a natureza reflexiva do próprio eu deve ser capturada, isto é, o pesquisador deve indicar como definições variadas do eu, estão refletidos em padrões contínuos de comportamento. Pesquisadores devem, portanto ver a conduta humana do ponto de vista daqueles que está estudando.

No atendimento a este princípio, fizemos a investigação por meio da observação

de campo da pesquisa no período de 21 de junho a 02 de agosto de 2007, no qual

aconteceram em 7 sessões, nos turnos da manhã e tarde, tendo cada sessão uma duração

média de 80 minutos, perfazendo um total de 560 minutos. Inicialmente apresentamos e

explicamos aos profissionais de enfermagem, da unidade onde as observações foram

realizadas, a finalidade da nossa pesquisa. Posteriormente iniciamos um primeiro

contato com alguns pacientes que apresentavam lesão medular de origem traumática,

essa aproximação nos permitiu observar às ações e reações, os sentimentos, e as

relações que esses pacientes mantinham, junto aos profissionais e familiares diante dos

acontecimentos vivenciados naquela unidade hospitalar.

- Segundo princípio metodológico: o pesquisador deve tomar perspectiva ou papel de agir como o outro e ver o mundo do ponto de vista do sujeito, ao fazer isso o pesquisador deve manter a distinção entre concepção diária e científica da realidade, portando o modelo interpretativo deve está fundamentado no mundo das perspectivas vividas.

Durante aqueles momentos de aproximação com o campo e interação com aqueles

sujeitos vitimados por algum acontecimento traumático resultando em uma lesão

medular, buscamos enquanto pesquisadora a subjetividade enquanto ser lesionado,

procurando, contudo a neutralidade, evitando assim um envolvimento que pudesse

interferir nos resultados dos aspectos observados.

- Terceiro princípio metodológico: Esse princípio deriva definitivamente de uma concepção da sociologia que defende o impacto diante das estruturas sociais e individuais que devem ser explicadas.

Identificamos que muitas dessas lesões de origem traumática estavam associadas

ao álcool e o ato de dirigir, ao uso indiscriminado de armas de fogo, aos trabalhos sem o

uso de qualquer tipo de equipamentos de proteção individual, a violência, enfim esses

comportamentos adotados nos fazem refletir questões de ordem macroestruturais

relacionadas a políticas públicas de saúde e educação. Percebemos assim que a lesão

medular vem surgindo por causas que estão mais relacionadas a questões da promoção

da saúde.

Partindo de uma concepção ampla do processo saúde-doença e de seus

determinantes, a promoção da saúde propõe a articulação de saberes técnicos e

populares e a mobilização de recursos institucionai

Interacionismo Simbólico. Para esse estudo a pesquisa foi desenvolvida por meio da

observação participante, entrevista e dados contidos no prontuário.

- Sexto princípio metodológico: É o princípio que necessariamente torna-se mais abstrato e reflete diretamente os locais dos métodos em todo empreendimento sociológico. Coloca no próprio ato do engajado, uma pesquisa social que deve ser vista como um processo de interação simbólica.

Após os momentos iniciais da aproximação no campo, buscávamos interagir

com as pessoas que lá se encontravam, inicialmente profissionais de saúde e familiares

para que com maior envolvimento e apreensão da história de cada paciente, tivéssemos

pois preparados para a interação com estes.

- Sétimo princípio metodológico: Os métodos devem ser construídos de forma que contribuam para a teoria formal e interpretativa enquanto ao mesmo tempo permitem a análise do conceito sensibilizante e a descoberta de interpretações interativas universais.

A observação participante (Apêndice III) foi elaborada e realizada junto aos

pacientes no ambiente hospitalar, profissionais de saúde e familiares, com atenção

voltada para as relações sociais, expressões, ações e reações destes pacientes junto à

família, profissionais e ao ambiente, diante de todos os eventos ocorridos nesta vivência

na condição de vítima de lesão medular.

Durante o percurso de investigação realizamos observação e aproximação com

15 (quinze) pacientes vítimas de lesão medular, entretanto foram realizadas entrevistas

semi-estruturadas (Apêndice IV) com sete pacientes, sendo esse um número satisfatório

para saturação dos dados. Segundo Denzin (1989) a produção de uma entrevista,

envolve interação simbólica e de gêneros, nesse sentido toda atividade de pesquisa pode

ser considerada uma produção interacional, dessa forma, o instrumento de investigação

foi utilizado, permitindo ao paciente um discurso aberto e satisfatório às suas

colocações e opiniões, mas com o devido cuidado para direcioná-lo ao roteiro do estudo

(Apêndice IV).

Na presente investigação seguimos estas etapas, cuja interpretação foi

fundamentada nas concepções de Norman Denzin. Para Denzin (1989) a hermenêutica

constitui em esclarecer o surgimento de um fenômeno em que a interpretação sólida se

dá de forma textualizada, historicamente embutida, processual e sensível ao gênero

incorporando compreensões e interpretações anteriores. Denzin evidencia que a

hermenêutica é considerada incompleta quando o pesquisador volta ao mesmo assunto

em outro momento, sendo assim inacabado. As observações participantes consistiram

na apreensão dos conteúdos de maior consistência, sendo estes complementados pelos

depoimentos obtidos por meio das entrevistas e informações contidas nos prontuários.

2.2.5 Aspectos Éticos e Legais

As questões éticas foram obedecidas as Diretrizes e Normas Reguladoras de

Pesquisa envolvendo seres humanos, conforme a Resolução Nº 196 de 10 de outubro

de 1996 do Conselho Nacional de Saúde – CNS (BRASIL, 1996).

O projeto de pesquisa foi encaminhado em maio de 2007 ao Comitê de Ética em

Pesquisa do Instituto Dr. José Frota localizado na cidade de Fortaleza-CE-Brasil, no

qual obteve parecer positivo (Anexo I).

As entrevistas foram gravadas, de acordo com a aceitação do paciente, onde foi

garantido o anonimato e o sigilo das respostas, mediante um termo de consentimento

livre e esclarecido (Apêndice II), conforme prevê a resolução 196/96 do Conselho

Nacional de Saúde, que envolve a pesquisa com seres humanos assegurando a

confidência e garantindo que nada será usado para desabonar a conduta dos

entrevistados, pelo contrário, queremos somente investigar, implementar e alertar os

mesmos para que coloquem em prática todas as respostas positivas que pudermos traçar

em prol da compreensão dos significados das experiências vivenciadas pelo ser vítima

de lesão medular, no contexto hospitalar, de um serviço de urgência e emergência.

O termo de consentimento livre e esclarecido foi assinado ou identificado por

impressão dactiloscópica, pelo sujeito da pesquisa ou por seu representante legal. O

mesmo foi elaborado em duas vias, onde uma ficou retida pelo sujeito da pesquisa ou

por seu representante legal e uma arquivada pelo pesquisador.

2.2.6 O método para a análise interpretativa

Para o presente estudo utilizamos a fenomenologia hermenêutica de Paul

Ricoeur como método que se coloca entre a linguagem e a vida vivenciada por meio de

uma série de conceitos interpretativos entre os quais o distanciamento, a apropriação, a

explicação e a compreensão (CAPRARA, 2005). Identificamos assim como método

para a análise interpretativa, pois nos estudos interpretativos, as descrições densas são

relatos detalhados, profundos e ricos das experiências dos indivíduos. Esses relatos

geralmente expõem as intenções e significados que organizam as ações. Mais do que

registrar a experiência de uma pessoa apresenta detalhes, contextos, emoções e rede de

relacionamentos sociais que une as pessoas umas às outras. Evoca emoção e sentimento,

insere a história na experiência, estabelece o significado da experiência.

Para melhor compreensão do processo de coleta das informações

elaboramos o fluxograma seguinte.

Fluxograma I: Percurso Metodológico para a Coleta das Informações.

PERCURSO METODOLÓGICO PARA A COLETA DAS INFORMAÇÕES

OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE

ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

PRONTUÁRIO

IDENTIFICAÇÃO DAS UNIDADES DE SIGNIFICADOS

ANÁLISE ESTRUTURAL DOS TEXTOS

LEITURA DE MATERIAL E IDENTIFICAÇÃO DE UNIDADES DE SENTIDO

GERAÇÃO DE TEXTOS NARRATIVOS

ETAPAS DO PROCESSO DE ANÁLISE DOS DADOS

O processo interpretativo pode ser representado por etapas principais como a

vida vivenciada expressa por meio da linguagem, recolhida mediante entrevista

transcrita em texto e interpretada (GEANELLOS, 2000).

À medida que o material ia sendo obtido e apreendido, o percurso para a

interpretação aconteceu da seguinte forma.

1 Os discursos transcritos foram transformados em textos narrativos.

2. Leitura simples dos textos para o entendimento do contexto.

3. Análise estrutural que examina o texto.

4. Compreensão do texto de forma abrangente.

Estas fases fazem parte de um processo estrutural da compreensão que é o

círculo hermenêutico em espiral e não vicioso porque se compreende no imediato,

sendo evidente, mas nem sempre garantido a certeza. A interpretação vai se tornando

evidente, fazendo-se maior distanciamento para a compreensão mais ampla e maior

aproximação da essência da interpretação (BARREIRA, MOREIRA, 1999).

3. A VIVÊNCIA DE PACIENTES VÍTIMAS DE TRM NO

CONTEXTO HOSPITALAR

3.1 Descrição dos sujeitos da pesquisa

A pesquisa contou com a participação de sete pessoas adultas, sendo seis

homens e uma mulher, que encontravam-se hospitalizados em decorrência de uma lesão

medular. A faixa etária variava entre 25 e 65 anos, isso representa que os traumas

atingem pessoas ainda na fase produtiva da vida, onde muitas vezes eles são os únicos

responsáveis pelo sustento da família, e a partir desse trauma poderá ocorrer um

desequilíbrio em todo o contexto familiar, podendo esse fato ser um agravante na

recuperação desse ser vítima da lesão medular.

O grupo de pessoas entrevistadas era bastante heterogênio no que se refere ao

estado civil, haviam cinco pessoas casadas, uma solteira, e uma viúva. A maioria dos

entrevistados, no total de cinco, viviam na companhia do conjugue e filhos, formando

família do tipo nuclear, um morava com os pais e um com os filhos. Dantas (2006)

reconhece a importância da família para o ser humano e esclarece que a pessoa na

condição de portador de alguma patologia necessita compartilhar este enfrentamento

com sua família ou pessoas próximas deste grupo social primário, buscando ajuda e

apoio, pois esta situação requer adaptação individual e familiar.

Dos sete entrevistados, cinco eram analfabetos, pois nunca tinham freqüentado

qualquer tipo de instituição escolar, relatando não saberem ler nem escrever, dois

relataram ter estudado, entretanto não sabiam informar até que série, e não quiseram

assinar o termo de consentimento livre e esclarecido (Apêndice II), onde um deles

justificou estar com a mão enfraquecida e o outro não apresentou qualquer justificativa.

Apresentaremos o perfil dos sujeitos do estudo, que na preservação do

anonimato denominamos com nomes bíblicos, como forma de homenagear suas crenças

religiosas, pois todos eram católicos, e neste momento de suas vidas a religião

apresentava um grande significado.

1. Maria: procedente e residente de Fortaleza, 64 anos, viúva, analfabeta, católica, dona

de casa, tem 5 filhos, sendo 2 homens e 3 mulheres. Estava hospitalizada a 15 dias em

decorrência de uma queda no banheiro, no qual resultou em uma lesão medular ao nível

da região lombar, não apresentava seqüelas motoras. Encontrava-se em repouso

absoluto por indicação médica, até que fosse decidida a necessidade ou não de uma

intervenção cirúrgica.

2. Josué, procedente de Canindé, residindo atualmente em Fortaleza, 41 anos, solteiro,

analfabeto, católico, jardineiro, tem 6 filhos, sendo 3 homens e 3 mulheres. Estava

hospitalizado a 9 dias em decorrência da uma queda de uma árvore, no qual resultou em

uma lesão medular ao nível da região cervical, não apresentava seqüelas motoras. Fazia

uso contínuo do colar cervical, sendo orientado a manter repouso absoluto.

3. Pedro, procedente e residente de Parambú, 53 anos, casado, analfabeto, católico,

desempregado, tem 4 filhos, sendo 2 homens e 2 mulheres. Estava hospitalizado há 14

dias em decorrência de um acidente de moto, no qual resultou em uma lesão medular ao

nível da região cervical, apresentava paralisia nos MMII e MMSS, fazia uso contínuo

do colar cervical e mantinha repouso absoluto no leito.

4. Simão, procedente e residente de Itapajé 51 anos, casado, analfabeto, católico,

agricultor, tem 23 filhos, sendo 12 mulheres e 11 homens. Estava hospitalizado a 12

dias em decorrência de uma queda de um muro, no qual resultou em uma lesão medular

ao nível da região torácica, apresentava paralisia dos MMII, fazia uso contínuo do colar

cervical e mantinha repouso absoluto no leito.

5. Abrão, procedente e residente de Guaraciaba do Norte, 29 anos, casado, ensino

fundamental incompleto, católico, agricultor, tem 1 filha. Estava hospitalizado a 18 dias

em decorrência de um acidente de moto, no qual resultou em uma lesão medular ao

nível da região lombar, apresentando inicialmente paralisia do MID, no qual foi

revertido após procedimento cirúrgico, encontra-se no 5º dia do pós-operatório.

6. Moisés, procedente do Piauí e residente de Fortaleza, 42 anos, casado, analfabeto,

católico, pedreiro, tem 2 filhos homens. Estava hospitalizado a 9 dias em decorrência de

uma queda de um muro, resultando em uma lesão medular ao nível da região lombar,

não apresentava seqüelas motoras, fazia uso contínuo do colar cervical, sendo orientado

a manter repouso absoluto no leito.

7. Abel, procedente e residente de Fortaleza, 25 anos, casado, ensino fundamental

incompleto, católico, reciclador, tem 1 filho. Estava hospitalizado a 20 dias em

decorrência de uma lesão por arma de fogo no pescoço, resultando em uma lesão

medular a nível da região cervical, apresentava paralisia no MID e encontrava-se no 9º

dia de pós-operatório.

Quadro I: Caracterização dos Sujeitos Entrevistados

Nome Fictício

Idade Natural/ Residente

Estado Civil

Grau de Instrução

Profissão/ Ocupação

Causa da Lesão

Maria 64 Fortaleza Viúva Analfabeto Dona de casa Queda no banheiro

Josué 41 Canindé/ Fortaleza

Solteiro Analfabeto Jardineiro Queda de árvore

Pedro 53 Parambú Casado Analfabeto Desempregado Acidente de moto

Simão 51 Itapajé Casado Analfabeto Agricultor Queda de muro

Abrão 29 Guaraciaba do Norte

Casado 1º grau incompleto

Agricultor Acidente de moto

Moisés 42 Piauí/ Fortaleza

Casado Analfabeto Pedreiro Queda de muro

Abel 25 Fortaleza Casado 1º grau incompleto

Reciclador Lesão por arma de fogo

3.2 SER LESIONADO MEDULAR A lesão medular é um trauma que, nos dias de hoje, acomete pessoas das

diversas faixas etárias e níveis sociais. Esta poderia ser comparada a outras patologias

clínicas, entretanto a lesão medular apresenta características que envolvem causas,

tratamento e prognóstico.

As causas podem ser percebidas por meio de dados estatísticos da Instituição em

questão, assim como da própria observação diária dos noticiários a grande ocorrência de

casos de acidentes automobilísticos, envolvendo principalmente os motociclistas, das

cenas de violência agravadas pelo uso indiscriminado de armas de fogo, assim como

casos de quedas e afogamentos, onde muitas vezes essas causas estão ligadas ao

consumo abusivo de bebidas alcoólicas, ou mesmo pela certeza que esses agressores

têm da falta de punição as pessoas que causam alguma injúria ao outro.

Tais causas associadas ao trauma medular nos fazem refletir sobre a fatalidade

dessa lesão, pois percebemos que todas elas atingem o indivíduo de forma abrupta,

inesperada e trágica, tirando o mesmo de sua rotina de vida e trazendo-o para um mundo

desconhecido que envolve medo, dor e incertezas sobre o futuro, visto que a lesão

medular é uma alteração que pode deixar seqüelas graves e irreversíveis. Nas narrativas

de Pedro e Abel interpretamos as causas comuns que geram essa lesão.

Eu estava na moto voltando de uma festa da prefeitura ai me desequilibrei e caí, só que eu tinha bebido pouco. (Pedro) Foi um tiro no pescoço, mas eu não fiz nada não e nem sei quem foi (Abel).

A leitura das narrativas de Pedro e Abel permite-nos apreender que as causas

que levaram a ser lesionado medular vão além de acidentais expressas pelas vitimas,

pois, o acidente de moto parece estar associado a dirigir um motoveículo, que de

imediato não oferece segurança, estando este associado ao uso do álcool. Quanto à

causa de Abel, relacionada à exposição de ter sido atingido por arma de fogo, salienta-se

aqui o acesso de armas de fogo por pessoas de todas as camadas sociais, muitas vezes

de forma ilegal e sem preparo algum, fato que tem levado muitas pessoas inocentes ou

as mesmas causadoras de tragédias a sofrerem danos dos mais diversos níveis de

complexidade. Portanto, percebemos que tais situações que levaram estes dois homens a

paraplegia, são causas aparentemente acidentais, mas que mediante as circunstâncias

apresentadas, podemos considerar como causas pertencentes a questões de ordem

estrutural que envolve aspectos educacionais, de segurança, políticos e sociais.

O tratamento é outra fase que torna a lesão medular uma patologia grave e

temida, pois quase sempre esta etapa ocorre de forma demorada, dolorosa e cercada de

incertezas, onde os profissionais definem os tratamentos para a saúde baseada na

evolução diária de cada pessoa. Essa espera pode gerar no indivíduo vítima de lesão

medular, vários sentimentos conflitantes, visto que esse trauma atinge mais homens, em

plena fase produtiva, onde muitas vezes eles são os únicos ou os maiores responsáveis

pelo sustento da família, ou seja, além de toda a preocupação em relação à patologia em

si, ainda tem como fator estressor a problemática do sustento familiar.

Interpretamos que Simão e Moisés demonstravam grande preocupação com a

renda da família.

Eu tenho 23 filhos, e deixei todos lá, não sei como é que ele tão fazendo né, porque quem ajeita tudo lá na roça sou eu. Não sei não como é que vai ser. (Simão) Só quem trabalha sou eu, a minha mulher e meus filhos tão vivendo da caridade dos vizinhos, eu nem sei se vou poder trabalhar depois disso. (Moisés)

Percebemos que Simão e Moisés são homens de famílias humildes e numerosas,

cujo provedor de renda para o sustento familiar eram eles. Interpretamos que além do

momento de crise que estavam vivendo dada a fatalidade, os mesmos mostravam-se

preocupados com o sustento da família, a meio das incertezas, medos e

desconhecimento do futuro de suas vidas.

Tinham apenas uma certeza, que seria por meio do desenrolar no tratamento que

estavam sendo submetidos nesta fase de recuperação do trauma medular, que teriam as

afirmativas não tão exatas, mas perspectivas para o retorno familiar. Consideravam

sendo essa etapa fundamental em suas vidas, cheia de incertezas e ansiedades, onde ela

iria determinar a volta e continuidade da rotina diária normal ou a volta e adequação do

indivíduo e família a todas as mudanças das seqüelas que a lesão pode ocasionar,

seqüelas essas muitas vezes irreversíveis.

Nas narrativas de Simão, interpretamos o pânico que estava vivendo ao pensar

ou ter a certeza de ficar paralítico.

Se eu ficar paralítico o que é que eu vou fazer da minha vida. (Simão)

uma produção social, indivíduos interagem, produzem e definem suas próprias

definições de situações (DENZIN, 1989).

3.2.1 Relembrar é viver o inesperado

As pessoas ao sofrerem acidentes traumáticos de maior complexibilidade são

transportados para o Instituto Dr. José Frota – IJF, que é o hospital de referência em

trauma para o Estado do Ceará. Muitos municípios do Estado também transferem seus

pacientes por meio de ambulâncias, muitas vezes sucateadas, onde ali mesmo as vítimas

recebem os primeiros atendimentos.

A narrativa de Moisés demonstra que ele não esqueceu do percurso feito do local

do acidente até o hospital, revelando o despreparo, principalmente ético, dos

profissionais que prestam atendimento pré-hospitalar durante o transporte nas

ambulâncias, no qual realizam comentários pessoais, diante do paciente, sobre o

prognóstico do mesmo, sem nenhum embasamento científico.

Tinha medo de ficar paralítico, porque na ambulância os enfermeiros comentavam que o meu caso era perigoso e que poderia ficar em uma cadeira de rodas. (Moisés)

Essa fala demonstra uma grave problemática na Saúde Pública do nosso Estado,

sendo agravado nos municípios, no que se refere à falta de profissionais de saúde

qualificados para o atendimento a população, sendo essa qualificação fundamental para

o atendimento de emergência pré-hospitalar, onde a qualidade na prestação do socorro

poderá está diretamente relacionado com o quadro clínico futuro do paciente,

principalmente quando se trata de uma vítima de lesão medular.

Essa problemática é agravada pelo sucateamento ou até mesmo ausência de

ambulâncias para transportarem as vítimas até as instituições de saúde, visto que muitos

municípios não apresentam condições físicas, de aparelhagem e de profissionais para a

prestação do atendimento, sendo assim as ambulâncias tornam-se fundamentas para o

deslocamento rápido e de qualidade dessas pessoas.

Essa deficiência apresentada pelas instituições de saúde dos municípios aparece

como um dos fatores causadores da superlotação do Instituto Dr. José Frota – IJF,

gerando assim, demora no atendimento, sobrecarga de trabalho de todos os

profissionais, principalmente da emergência, espera por leitos da unidade de terapia

intensiva, aumento no número de infecções, assim como o deslocamento intermunicipal

para a realização do tratamento, constitui-se um problema que limita a convivência

familiar.

Essa realidade pode ser constatada na fala de Abrão e Abel.

Agora está bom, mas fiquei muito tempo esperando atendimento na emergência, passei 15 dias esperando uma cirurgia, se fosse mais rápido eu já estava em casa. (Abraão) Quando eu estava na emergência eu pensei que ia morrer, demoram muito para falar com a gente. (Abel)

Esse deslocamento intermunicipal pode também ser constatado nos dados

levantados pela pesquisa, onde das 7 (sete) pessoas que fizeram parte do estudo, 4

(quatro) eram procedentes da Capital , 1 (um) de Parambú, 1 (um) de Itapajé, 1 (um) de

Guaraciaba do Norte, sendo que os pacientes que vieram de Parambú e Guaraciaba do

Norte relataram ter recebido atendimentos inicial nos municípios de origem, entretanto a

falta de estrutura dessas instituições, assim como a gravidade da lesão os fizeram serem

transportados para o IJF.

Os sujeitos do estudo relataram possuir baixo poder aquisitivo, onde a maioria

ganhava 1 salário mínimo ou menos e apenas 2 (dois), que eram agricultores recebiam o

benefício de aposentadoria da Previdência Social, dos outros, 1 (um) era jardineiro, 1

(um) pedreiro, 1 (um) reciclador, 1 (um) desempregado e 1 (um) dona de casa, sendo

assim, identificamos que as dificuldades financeiras eram alvo de grande preocupação

por todos, e se constituíam de agente estressor aos pacientes e familiares, uma vez que

as atividades laborativas foram suspensas em virtude da lesão medular, e que muitos se

encontravam na posição de pais ou conjugues, assumindo as responsabilidades com seu

lar e com as condições de vida da família.

Deus é um bom pai né, eu espero só de Deus mesmo, sair daqui bem, andando. (Josué)

O perfil dos sujeitos do estudo, mostra que os portadores de lesão medular de

origem traumática vivenciam uma situação complexa em suas vidas, assim como de

muito, pois a ventilação vinha através de janelas de madeira, que muitas vezes

encontravam-se sujas e com aspecto envelhecido ou de ventiladores próprios dos

pacientes que ficavam localizados nas mesinhas de cabeceira. Cada enfermaria dispunha

de um banheiro, sendo este pequeno e muitas vezes inadequado para acomodar um

paciente em uma cadeira de rodas e até mesmo o fluxo de acompanhantes ao desprezar

nutricional, incontinência urinária e fecal, doenças metabólicas e idade avançada. Os

fatores externos são: medicamentos, higiene pessoal, falta ou mudanças de decúbito

insuficiente e o tipo de colchão (TIAGO, 1994).

De acordo com a profundidade e a extensão das feridas, podem ser classificadas

como de: grau 1, eritema na pele intacta; grau 2, úlceração superficial com perda da

camada epidérmica e derme, sem atingir o subcutâneo; grau 3, danos ao nível da

epiderme, derme e subcutâneo com proximidade da fáscia muscular que, embora possa

estar exposta, ainda não foi atingida; grau 4, extensiva destruição com necrose de

tecido, danos em estruturas musculares, tendões, ossos e até cápsula sinovial (FARO,

1996).

Dos 3 (três) pacientes que apresentavam úlceras, todas localizavam-se na região

sacra-coccígena, já sendo essas de 2º grau. Esse fato aparece como uma grande

problemática, visto que essas lesões representam uma porta de entrada para possíveis

microorganismos causadores de infecção, que podem evoluir para uma septicemia, e

que além da perda de substâncias, gerando desconforto, alterando a autoimagem, esta

poderá evoluir para a necessidade de cirurgias plásticas, prolongando o tempo de

internação do paciente e familiares.

Sabemos que à aplicação das medidas preventivas no surgimento dessas úlceras,

tornam-se complicadas quando nos referimos a pacientes vítimas de lesão medular com

seqüelas motoras, visto que a imobilização no leito aparece como um dos fatores de

risco principais para seu surgimento, imobilização essa necessária a esse tipo de

paciente. Desta forma a equipe de enfermagem deve intensificar o cuidado no que se

refere a inspeção cuidadosa da pele, manter o leito limpo e os lençóis esticados, higiene

adequada do períneo, utilização de sabonete neutro durante o banho, enxaguar a pele

delicadamente não friccionando a toalha contra a mesma e manter áreas sensíveis à

pressão bem lubrificadas e hidratadas pelo uso diário de creme umectante.

Diante de todas as mudanças ocorridas na rotina de vida daquelas pessoas a

questão da sondagem vesical, foi um dos procedimentos relatados pelos 3 (três)

pacientes do estudo que apresentavam seqüelas em decorrência da lesão medular, como

sendo um dos mais incômodos já que eles se sentiam constrangidos pela exposição de

seus corpos bem como pela frustração de não conseguirem realizar uma função que

outrora faziam sem nenhuma dificuldade.

A bexiga é controlada por mecanismos voluntários e involuntários, e,

imediatamente após um trauma medular, torna-se atônica e não pode contrair-se pela

atividade reflexa. A retenção urinária é o resultado imediato da lesão medular. Como o

paciente não sente a distensão vesical, o superestiramento da bexiga e do músculo

detrusor pode ocorrer e retardar o retorno da função vesical. Qualquer lesão nervosa que

interfira neste mecanismo origina uma bexiga neurogênica. Já quando a lesão do centro

miccional (ao nível das raízes S2, S3 e S4 que correspondem às vértebras T11 e T12)

isola a bexiga da medula, o paciente pode referir vontade de urinar, mas não há

esvaziamento vesical. Caso faça algum esforço, é possível que ocorra a drenagem de

urina da bexiga autônoma (FARO, 1996).

As limitações permanentes desencadeadas pelo desenvolvimento da bexiga

neurogênica ressaltam o papel do enfermeiro como educador e facilitador da

reabilitação e reintegração do indivíduo e sua família na sociedade, buscando a

adaptação à sua condição de saúde e tornando-o, cada vez mais, independente e

responsável pelo autocuidado (MAGALHÃES, CHIOCHETTA, 2002)

Observamos atentamente que diariamente era realizado pela enfermeira o

esvaziamento vesical desses pacientes por meio do cateterismo intermitente, a cada 4 ou

6 horas, para evitar o superestiramento da bexiga e a infecção do trato urinário.

Percebíamos que esse era um momento de extremo constrangimento, visto nitidamente

pela expressão no rosto desses pacientes, constrangimento esse que poderia ser

amenizado pela profissional de enfermagem, visto que muitas vezes ela expunha a

região genital do paciente sem anteriormente manter nenhuma interação com o mesmo,

no sentido de prepará-lo para aquele momento.

A técnica utilizada para a realização do cateterismo vesical foi outro fator que

observamos com grande apreensão, uma vez que não era utilizada nesse procedimento a

bandeja específica para o cateterismo, bem como deixava a desejar a técnica utilizada

pela enfermeira, no que se refere à assepsia da região genital, aumentando assim o

potencial de infecção já tão presente nesse tipo de procedimento. A rejeição pelo

cateterismo diário foi interpretada pela forma como Pedro e Abrão expressaram os seus

sentimentos e comportamentos.

Eu sei que ela (enfermeira) vem e coloca um negócio (sonda vesical) aí pra eu urinar, mas é chato, eu quero ir embora logo. (Pedro) Depois de velho tenho que passar por isso, não poder nem urinar sozinho, eu só não sei por que eu não sinto vontade de urinar. (Abrão)

Tudo leva a crer que Pedro e Abraão não estavam informados acerca da perda de

suas funções de eliminação, ou seja, eles deveriam conhecer fisiologicamente a

condição que ali se encontravam. Tal desconhecimento parecia gerar grande

insatisfação e até revolta pela forma como estavam sendo submetidos ao procedimento.

Essa perspectiva define que o mundo social dos seres humanos não se constituem de

objetos com significados intrínsecos, ou seja o significado dos objetos está nas ações

que seres humanos tomam em relação a eles, onde essas definições dos objetos podem

sofrer alterações de acordo com a experiência humana.

Para Denzin (1989), o objetivo das atividades interpretativas é criar um corpo de

material que forneça os elementos para a interpretação e compreensão. A interpretação é

a tentativa de explicar o significado de algo, de tomar o não familiar e torná-lo familiar.

Outro fator que observamos foi à questão das eliminações intestinais, onde

percebemos que dos 7 (sete) pacientes vítimas de lesão medular, somente os 3 (três) que

apresentavam seqüelas motoras apresentavam constipação. Esse fato pode ser devido à

interrupção dos nervos da medula espinhal, onde as mensagens advindas da porção retal

para o cérebro não conseguem passar pelo bloqueio na altura da lesão, o que pode

resultar em movimentação intestinal insuficiente e acarretar constipação e impactação

fecal. Os efeitos da imobilidade dessa musculatura variam dependendo do nível e da

extensão da lesão (FARO, 1996).

Pudemos observar que a constipação tinha como fator contribuinte a posição de

decúbito dorsal contínua que esses pacientes eram obrigados a permanecer, posição essa

que não estimula a eliminação das fezes, assim como essa imobilização retarda a função

intestinal. Diante disso é fundamental que os profissionais de saúde, em especial a

nutricionista fosse informada sobre essa problemática para que medidas adequadas para

a necessidade e especificidade de cada paciente em questão fossem elaborada. Essa

dificuldade pode ser vista na fala de Abel.

É muito ruim fazer obra aqui deitado, desde que cheguei eu só fiz duas vezes, mais eu nem percebi que tinha feito, é muito ruim. (Abel)

Recomenda-se uma alimentação balanceada e uma hidratação adequada. Três

refeições por dia (café da manhã/almoço/jantar) são recomendadas para que se tenha

massa fecal suficientemente volumosa. A ingesta hídrica (aproximadamente de 2,5 a 3

litros) torna menos consistente o bolo fecal facilitando sua eliminação. Quando ocorre

constipação, devem-se ingerir mais líquidos, o que não se restringe somente à água, mas

também sucos de frutas, vitaminas, leite e iogurtes. Deve-se evitar chás e refrigerantes

porque são constipantes e provocam flatulência (FARO, 1996)

Sendo a alimentação e hidratação uma medida fundamental na prevenção e

tratamento das constipações, torna-se importante que os pacientes gostem e aceitem o

alimento oferecido na unidade hospitalar, para que a ingestão ocorra de forma

satisfatória surtindo o efeito desejado, entretanto não é isso que percebemos nos

discursos de Pedro e Josué, que comentam sobre o sabor, bem como a quantidade dos

alimentos.

A comida não é tão ruim o problema é a quantidade, pois é muito pouco para um homem como eu. (Pedro) A comida é sem sal e pouca, mas dá pra passar. (Josué)

Além de a alimentação ser importante como fator regulador das funções

intestinais ela também é essencial para a manutenção das funções normais de outros

órgãos, para o crescimento e reprodução, para a eficiência no trabalho, assim como para

a reparação de agressores que o organismo possa sofrer, como acidentes, infecções e

cirurgias.

Durante o tempo que permanecemos na unidade, observamos que algumas

vezes, no período da manhã a alimentação era distribuída no horário em que a

higienização dos pacientes estavam sendo realizadas, esse fato gerava certa rejeição dos

alimentos por parte dos mesmos, uma vez que o odor nas enfermarias era bastante

desagradável.

Outro aspecto que dificultava a ingestão adequada dos alimentos era percebido

junto aos pacientes que apresentavam seqüelas motoras, pois devido à posição de

decúbito dorsal era difícil realizar a deglutição, sendo esses os mesmos pacientes que

apresentavam problemas intestinais. Essa dificuldade foi relatada por Pedro.

A comida é pouca e mesmo assim não consigo comer toda, não sei como é que eu como deitado. (Pedro)

A higiene foi outro procedimento que identificamos como fator constrangedor

por parte dos pacientes, pelos mesmos motivos relatados no cateterismo vesical, ou seja

a exposição do corpo e a impossibilidade de realizar uma atividade que antes era

simples, somado a isso também percebemos a insatisfação por parte dos 3 (três)

pacientes que necessitavam receber o banho no leito, devido a impossibilidade de

deambulação, quanto a eficácia do procedimento. Essa insatisfação pode ser percebida

nas falas de Simão e Pedro.

É muito ruim ficar tomando banho assim, na frente de todo mundo, ó situação né. (Simão)

Eu não gosto desse banho, esse algodão no presta pra nada e é porque é ruim tomar banho assim né. (Pedro)

O banho no leito era realizado diariamente, no período da manhã, pelas

auxiliares e enfermagem. Dos 3 (três) pacientes que necessitavam desse procedimento,

todos homens, somente 2 (dois) tinham acompanhantes que eram seus filhos, entretanto

na hora do banho nenhum esboçava qualquer tipo de ajuda, pelo contrário, muitas vezes

se ausentavam da enfermaria, obrigando a auxiliar de enfermagem a realizar o

procedimento sozinha, sendo essa uma tarefa difícil, devido ao peso do paciente, bem

como restrição de movimentação.

O banho era realizado com algodão, água e sabão do próprio hospital, já que os

pacientes submetidos a esse procedimento não dispunham de nenhum material de

higiene pessoal, contudo sabemos que o algodão apresenta pouca eficácia, no que se

refere à retirada de sujidades, bem como o sabão hospitalar pode ressecar a pele,

propiciando o surgimento ou agravando das úlceras de pressão, no caso, já presentes nos

3 (três) pacientes em questão. Observamos também, que muitas partes do corpo do

paciente como axilas, mãos e pés ficavam sem ser higienizadas, visto que a preocupação

maior por parte da profissional era a limpeza da região perineal.

Outro aspecto que percebemos foi à ausência da higiene oral dos pacientes, que

não foi realizada nem após o banho no leito nem após as refeições. Sabemos da

impossibilidade da escovação normal por parte desses pacientes, contudo a limpeza da

cavidade oral com espátula, algodão e anti-séptico deveria ser feita, com a finalidade de

retirar sujidades, evitar halitoses, bem como promover um melhor bem estar ao

paciente.

Ao observar o dia a dia daqueles pacientes percebemos a relação do binômio

pacientes – profissionais, relação essa bastante intensa, principalmente junto aos

profissionais de enfermagem, que desenvolviam cuidados intensivos com os mesmos,

como a verificação dos sinais vitais, higienização, curativos, cateterismo vesical,

mudanças de decúbito, entre outros, todos esse cuidado no que se refere ao atendimento,

eram percebidas e elogiadas pelos pacientes do estudo, como narraram Maria e Moisés.

Não tenho do que reclamar, todo mundo me trata bem, as enfermeiras, os médicos todos são muitos bons. (Maria) Desde que cheguei até agora fui bem tratado, as meninas me dão banho, me dão remédio, ta tudo bom. (Moisés)

Percebemos que estava sendo determinante a mudança dos hábitos na vida

dessas pessoas. A imposição terapêutica associada às novas formas de higienização,

eliminações e alimentação estavam sendo desenvolvidas sem o devido cuidado de

orientação, comunicação e participação dos pacientes e familiares para a construção do

cuidado no atendimento as necessidades dessas pessoas. Interpretamos que as

necessidades psicológicas não eram vistas, e que muitas vezes identificamos momentos

de depressão, solidão, tristeza, arrependimento, entre outros sentimentos que

atormentavam aqueles pacientes já tão vitimados pela lesão medular.

Denzin (1989) coloca que o comportamento humano é simbólico e interacional,

então central a compreensão de tal comportamento está à variação e variedade de

símbolos e significados simbólicos compartilhados, comunicados, manipulados por

“eus” ou “egos interagentes” em condições sociais, onde a sociedade contribui com

elementos sociais que refletem diretamente nas interações completas, através de

símbolos ou linguagem, fornecidas ou comunicadas, através do processo de

socialização, ou ainda, os cenários comportamentais concretos em que ocorrem as

interações.

Ao pensar no cuidado integral, junto aos pacientes vítimas de lesão medular,

percebemos a importância do profissional ser preparado para o cuidado, pois a

realização de procedimentos não constitui cuidado ao ser humano mediante as

dimensões que fazem a sua existência.

3.4 A TECNOLOGIA NAS RELAÇÕES AFETIVAS

Ao falar em tecnologia é comum a associação a máquinas industriais, entretanto

quando falamos em tecnologia na saúde ocorre uma associação a máquinas de

diagnóstico, recursos laboratoriais e técnicas mais modernas. Neste sentido, Lalande

(p.1109 - 1993) coloca a tecnologia como o saber fazer de maneira estruturada,

universal e objetiva sem muito espaço para a subjetividade e particularidade, como

podemos perceber na seguinte definição: Conjunto de procedimentos bem definidos e

transmissíveis, destinados a produzir certos resultados considerados úteis.

Em contrapartida Santos et al (s.d.) ao parafrasear Mendes-Gonçalves(ANO: p.3)

define tecnologia como:

Um conjunto de saberes e instrumentos que expressa nos processos de produção dos serviços, a rede de relações sociais entre agentes e práticas, conformada em uma totalidade social, que é constituída não apenas pelo saber, mas também pelos seus desdobramentos materiais e não-materiais

Desta forma percebemos que a compreensão da subjetividade de cada ser é

fundamental no processo do cuidado integral, excedendo a objetividade do saber fazer,

daí a importância dos profissionais de saúde terem conhecimento dos significados das

experiências que os pacientes estão vivenciando dentro daquele processo de internação,

podendo assim, direcionar a assistência prestada visualizando o outro de forma

holística.

Quando nos referimos a uma lesão tão traumática, como a medular, é de extrema

importância às relações afetivas entre o paciente e seus familiares assim como os

pacientes e os profissionais de saúde, visto que essas relações promovem uma maior

interação entre as partes citadas, trazendo benefícios para todos que formam esse

contexto.

Durante a nossa observação percebemos que dos sete pacientes que compunham

o estudo, quatro tinham acompanhantes, sendo eles uma mulher que tinha a filha como

acompanhante e três homens, onde dois deles eram acompanhados pelos filhos e um

pela esposa. Os outros três relataram diferentes motivos por não terem acompanhantes,

um disse não ter ninguém disponível para permanecer no hospital, outro relatou que só a

mulher poderia ficar, entretanto tinha que cuidar dos quatro filhos e o último justificou

que era do interior e ficava difícil alguém ficar o tempo todo no hospital, devido a

distância.

Em um processo de hospitalização, principalmente se essa hospitalização está

associada a uma lesão traumática como a lesão medular, é fundamental que o paciente

tenha ao seu lado a presença de um membro da família, ou mesmo de uma pessoa que

independente do grau de parentesco seja importante para ele. O acompanhante aparece

como parte integral do tratamento, tendo a oportunidade de ser ensinado como pode

contribuir com o cuidado ao paciente, entretanto percebemos que muitas atribuições

profissionais estão sendo delegadas ao acompanhante, sendo esta uma questão que deve

ser pensada e discutida nas instituições de saúde.

A importância da presença de um acompanhante foi identificada nos discursos

de Maria e Moisés. Para Denzin (1989), no decorrer de tomar seu próprio ponto de vista

e adaptar esse ponto de vista aos comportamentos dos outros, os humanos interagem

uns com os outros.

A minha filha me ajuda no banho, penteia meu cabelo, reza comigo, Ave Maria se não fosse ela. (Maria)

Ela (esposa) fica o tempo todo comigo e só às vezes vai em casa ver o menino (filho). (Moisés)

À hora da visita também era percebida como momento de grande expectativa e

ansiedade por parte dos pacientes do estudo, onde dos sete, apenas dois, sendo eles

Josué e Abel, não recebiam visitas diariamente, no qual esse fato, aparentemente, não

lhes causava transtorno. Através dos discursos abaixo eles justificavam essa ausência.

A minha mulher não tem dinheiro pra ta vindo todo dia não, quando dá ela vem. (Josué). A minha mãe trabalha, pega coisa pra reciclar, mas ela já veio umas vezes me ver. (Abel)

Os outros cinco pacientes que recebiam constantemente familiares e amigos

durante as visitas, não escondiam a emoção desse momento, no qual conversavam sobre

o acidente, a hospitalização, faziam perguntas sobre o dia a dia da família, as

dificuldades, bem como a vontade de ir embora. Mesmo naquelas horas de

descontração, percebemos por parte de alguns familiares, momentos de silêncio, olhares

apreensivos e duvidosos, como se estivessem analisando a situação de seu ente querido.

Ao fim da visita percebemos que alguns pacientes enfrentavam momentos de

tristeza e solidão, onde uns choravam por alguns minutos, outros ficavam em silêncio

olhando para a janela ou para o teto. Isso era um acontecimento diário, no qual

apreendemos que o fim da visita significava uma despedida, um afastamento forçado

daquele paciente que se encontrava fragilizado com os membros de sua família. Esses

sentimentos foram identificados nas falas de Maria e Simão.

Quando eles vão embora (os filhos) e eu fico aqui, parece que estou sendo abandonada, me dá vontade de chorar. (Maria) Eu tenho pena deles (filhos), porque eles não têm ninguém, e eu to doente. (Simão)

Na visão de Merhy (2002), a tecnologia se divide em tecnologia dura, leve-dura

e leve, sendo elas classificadas da seguinte forma:

A tecnologia dura é o que envolve a compreensão mais comum do termo, ou

seja, é tudo aquilo que inclui a operacionalização de máquinas e equipamentos, assim

como normas e estruturas organizacionais que compõem o serviço de saúde.

A tecnologia leve-dura é a que compreende os saberes que atuam no processo de

trabalho em saúde. Ela é menos dura, por não se tratar de ferramentas e aparelhos, desta

forma, é considerada leve por se tratar de saberes que, a partir do momento que se

adquirem, fazem parte do indivíduo e de como ele atua sua prática. É ao mesmo tempo

dura, por se tratar de saberes estruturados, padronizados, normatizados e organizados. E

nessa classificação se encontram os saberes de profissionais como médico, psicólogo,

enfermeiro.

A tecnologia leve é aquela que considera as relações resultantes do trabalho em

saúde através da produção de vínculo, acolhimento e gestão. Essas relações vão surgir a

partir do cuidado implícito à produção do trabalho em saúde que se feito de forma

humanizadora, suscitará essa tecnologia não material tão importante para a satisfação do

serviço produzido. Desta forma ela acontece a partir de:

(...) um encontro entre duas pessoas, que atuam sobre a outra, e no qual opera um jogo de expectativas e produções, criando-se inter-subjetivamente alguns momentos interessantes, como os seguintes: momentos de falas, escutas e interpretações, no qual há a produção de uma acolhida ou não das intenções que estas pessoas colocam neste encontro; momentos de cumplicidade, nos quais há a produção de uma responsabilização em torno do problema que vai ser enfrentado; momentos de confiabilidade e esperança, nos quais se produzem relações de vínculo e aceitação. (MERHY, s.d:05)

Apreendemos que a produção do vínculo que surge através do encontro de dois

sujeitos que experienciam confiança e esperança aumentam a possibilidade dos

profissionais de saúde desenvolverem junto aos pacientes vítimas de lesão medular uma

assistência de melhor qualidade.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento do estudo em busca da interpretação dos significados das

experiências vivenciadas por pessoas vítimas de lesão medular no contexto hospitalar, a

partir dos ensinamentos de Norman Denzin, nos permitiu interpretar sentimentos e

comportamentos dos pacientes junto aos familiares mediante os cuidados recebidos dos

profissionais de saúde.

O perfil sócio-demográfico dos pacientes investigados constituiu-se de pessoas

jovens na sua maioria, em plena fase produtiva da vida, maior número de homens, e por

lesões de origem traumática ocasionadas por acidentes automobilísticos, muitas vezes

em situações de alcoolismo; e ainda lesões por arma de fogo e quedas. As situações

estudadas confirmam os dados apresentados pela Vigilância Epidemiológica da

Instituição nos últimos anos.

Interpretamos sentimentos de tristeza, solidão, incerteza e medo; situações de

choro e desabafos. A saudade da família e do trabalho, e dificuldades financeiras

enfrentadas pelas famílias foram predominantemente narradas, assim como o medo das

perdas funcionais, principalmente naqueles com lesões motoras.

Contudo, observamos que os profissionais de saúde direcionam os cuidados para

as necessidades biológicas do paciente de forma fragmentada e desintegrada das

dimensões psicológicas, sociais e econômicas, e que dentre o atendimento das

necessidades biológicas identificamos que as mais afetadas foram a alimentação,

eliminação e de higiene, em que interpretamos momentos de satisfação e de não

satisfação por parte dos pacientes ao serem cuidados.

As narrativas de desconforto durante a alimentação devido à posição de decúbito

dorsal em que permanecem no leito, por todos eles foram devido a disfagia, sabor

desagradável dos alimentos e insatisfação na quantidade da alimentação.

Os procedimentos realizados quanto ao cateterismo vesical, banho no leito e

higienização após as eliminações intestinais, que são cuidados necessários aos pacientes

imobilizados no leito, devido às seqüelas da lesão medular, foram interpretados por

constrangimento, desconforto e dificuldade de acomodação no leito. Entretanto,

percebemos que as condições físicas nas enfermarias não proporcionava o conforto aos

pacientes, sendo observado falta de materiais e equipamentos que permitissem a

adequada inndividualidade do paciente bem como leitos adequados para pacientes

imobilizados. Observamos ainda, o despreparo dos profissionais de saúde durante os

cuidados realizados, com vistas o conforto físico, social e psicológico.

Interpretamos que pessoas vítimas de lesão medular, situação que ocasiona o

processo de hospitalização de forma repentina, em que o enfrentamento das condições

de saúde mediante as alterações nos diversos sistemas orgânicos, com perdas de funções

básicas no atendimento de suas necessidades humanas, requer a prestação de cuidados

especializados por parte de profissionais que lidam com pacientes nesta situação. Faz-se

necessário preparo e competência no cuidado integral as vitimas e familiares que estão

vivenciando momentos de dificuldades, perdas, incertezas e impotência neste momento

de suas vidas.

E mediante a compreensão das experiências vivenciadas no contexto hospitalar,

recomendamos o desenvolvimento de estratégias para a melhoria da assistência a esta

clientela. Pontuamos, melhores condições de infra-estrutura nas enfermarias com vistas

a possibilitar maior conforto ao paciente e na qualidade dos cuidados realizados; melhor

qualificação dos profissionais ao lidar com os pacientes e familiares, no cuidado voltado

a orientação e realização de procedimentos, na identificação das necessidades

prioritárias para os mesmos.

No intuito de buscar a sensibilização dos profissionais de saúde em busca do

cuidado integral a esta clientela, propomos de inicio apresentar os resultados da

pesquisa a instituição e mediante a este momento, nos colocar com disponibilidade para

o desenvolvimento de ações educativas integradas ao processo de trabalho dos

profissionais de saúde. Em especial para a equipe de enfermagem, desenvolver junto a

coordenação de enfermagem oficinas de trabalho na interpretação do que seria “ser

lesionado medular”. Para Denzin (1989), o observador, papel que desenvolvemos de

forma enfocada durante a trajetória da pesquisa, pode decidir empregar uma relação

interativa como unidade de análise enfocando famílias, grupos de trabalho entre outros

com vistas a manter o compromisso interacionista de estudar atos conjuntos. Pois,

entendemos que o estudo não teve a pretensão de esgotar a compreensão das

experiências vivenciadas para o ser lesionado medular, no entanto, consideramos que as

interpretações aqui obtidas são de valiosa contribuição não somente para a instituição

que recebe esta e clientela, mas para a comunidade cientifica que tem enquanto foco de

atenção e estudo a tecnologia do cuidado integral da saúde de pessoas vitimas de lesão

medular.

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59. SMELTZER, S.C.; BARE, B.G.; BRUNNER e SUDDART. Tratado de

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60. TIAGO, F.; Feridas: etiologia e tratamento. 3ªed., Ribeirão Preto – SP, 1994.

61. TRIVIÑOS, A.N.S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: pesquisa

qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.

Sujeito da Pesquisa/Representante Legal

APÊNDICE III

ITENS DA OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE

Instituição:

Unidade:

Data: Horário:

N° de Enfermarias: F: M:

N° de pacientes com lesão medular:

Profissionais que compõem a equipe:

Atividades desenvolvidas pela equipe multiprofissional:

Condições clínicas do paciente:

Cuidados dispensados ao paciente:

Cuidados dispensados a família:

APENDICE IV

ROTEIRO DA ENTREVISTA

1. Dados de Identificação

Nome: Data de nascimento:

Estado civil: Procedência:

Profissão (trabalho, ocupação): Escolaridade:

Religião:

N. de filhos:

2. Dados da hospitalização

Data da internação.

Causa da internação.

Diagnóstico atual.

Acompanhante.

3. Questões Norteadoras

Fale sobre a sua experiência no hospital?

Como está a sua assistência aqui no hospital?

O que você sabe sobre o seu estado de saúde?

O que você sabe sobre o seu tratamento?

O que poderia melhorar nesse momento?

Como você está se sentindo?

ANEXO 1

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