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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ADRIANA DOS SANTOS REIS LEMOS
ANÁLISE DO AGENCIAMENTO DOS ROTEIROS TURÍSTICOS CULTURAIS EM ILHÉUS – BA: Uma abordagem econômica e sócio-cultural
ILHÉUS - BA
2005
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ADRIANA DOS SANTOS REIS LEMOS
ANÁLISE DO AGENCIAMENTO DOS ROTEIROS TURÍSTICOS CULTURAIS EM ILHÉUS – BA: Uma abordagem econômica e sócio-cultural
Dissertação apresentada, para obtenção do título de Mestre em Cultura & Turismo, à Universidade Estadual de Santa Cruz. Área de Concentração: Política, planejamento e configuração de produtos e serviços turísticos. Orientador: Prof. Dr. Henrique Tomé da Costa Mata.
ILHÉUS – BA
2005
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ADRIANA DOS SANTOS REIS LEMOS
ANÁLISE DO AGENCIAMENTO DOS ROTEIROS TURÍSTICOS CULTURAIS EM ILHÉUS – BA: Uma abordagem econômica e sócio-cultural
Dissertação apresentada, para obtenção do título de Mestre em Cultura & Turismo, à Universidade Estadual de Santa Cruz.
Área de Concentração: Política, planejamento e configuração de produtos e serviços turísticos.
Orientador: Prof. Dr. Henrique Tomé da Costa Mata.
Ilhéus/ BA 27/09/2005
___________________________________________________________________ Henrique Tomé da Costa Mata – Dr.
UESC Orientador
___________________________________________________________________ Ada de Freitas Maneti Dencker – Drª.
USP
___________________________________________________________________ Jorge de Souza Araújo – Dr.
UEFS
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho às pessoas mais importantes da minha vida: minha mãe, Antonia, meus irmãos Luciano e Júnior, minha sobrinha, Letícia, meu marido Adriano e ao meu bebê.
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AGRADECIMENTOS
A Deus, meu orientador maior.
À minha mãe, pelas orações e pela torcida.
Ao meu amigo irmão, Cleverson Suzart, pelo exemplo, incentivo e dedicação de sempre.
Ao meu Orientador Henrique Tomé, pela compreensão e demonstração de respeito.
À professora Odaléia Queiroz, pela orientação e apoio nos primeiros momentos da pesquisa.
Ao professor Jorge Araújo, pela disponibilidade em todos os momentos.
Aos professores do curso, em especial aos professores Hélio Barroco e Odilon Pinto.
Aos meus colegas de turma que se tornaram grandes amigos, Adailson, Ana Paula, Cíntia Paula e Moabe, pelos momentos maravilhosos que passamos nesse período.
Mais uma vez a Adailson, pelo companheirismo nos momentos finais.
Ao meu irmão Júnior, que me ajudou nas pesquisas de campo.
À funcionária Graça Argolo, pela eterna paciência e solicitude.
À NV turismo, especialmente a Márcia, Rodrigo Victório e todos os guias turísticos, pelo apoio e disposição em ajudar.
Aos turistas que colaboraram com a pesquisa.
À Universidade Estadual de Santa Cruz, por ser a minha casa desde a graduação.
À Coordenadora do Mestrado em Cultura e Turismo, professora Sandra Sacramento.
Enfim, a todos que torceram por mim.
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AGRADECIMENTO ESPECIAL
Ao grande amor da minha vida, companheiro de todas as horas,
Adriano Lemos.
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ANÁLISE DO AGENCIAMENTO DOS ROTEIROS TURÍSTICOS CULTURAIS EM ILHÉUS – BA: Uma abordagem econômica e sócio-cultural
Autor: ADRIANA DOS SANTOS REIS LEMOS
Orientador: Prof. Dr. Henrique Tomé da Costa Mata
RESUMO
Analisa-se o serviço de roteiros turísticos culturais prestados pelo setor de agenciamento turístico receptivo da cidade de Ilhéus-Ba. Objetiva-se abordar os aspectos econômicos e sócio-culturais envolvidos na prestação desse serviço, com base no estudo do perfil do cliente. Especificamente, busca-se descrever os roteiros turísticos culturais agenciados no município, identificar o perfil geral dos turistas e analisar suas preferências e atitudes através do estudo de algumas variáveis psicográficas. Para o desenvolvimento da pesquisa, adota-se o estudo descritivo aliado ao método quantitativo. Utilizam-se como técnicas de pesquisa o questionário e a observação sistemática. A amostra é do tipo probabilística e foi estimada com base nas informações passadas pelo agente receptivo. Quanto ao levantamento do perfil geral do turista, ratificam-se as tendências apontadas pelos autores da área em relação às características predominantes dos demandantes pela atividade turística. No que concerne ao perfil psicográfico, observam-se como características mais importantes e preponderantes: que os turistas têm de moderado a muito interesse por cultura; que os gostos são diversificados quanto aos atrativos culturais oferecidos pela cidade de Ilhéus; que existe a preferência por um percurso mais lento, voltado à qualidade da visita; que os turistas desejam uma interação com a comunidade local e requerem que essa interação tenha uma intensidade moderada; que priorizam a qualidade e o aprofundamento das informações transmitidas durante o roteiro, com a interpretação do guia turístico; e que desejam uma monitoração moderada por parte da agência de receptivo no decorrer do percurso. Demonstra-se, através dos resultados obtidos e do cruzamento dos dados do perfil geral com os dados do perfil psicográfico, que os turistas estudados, de uma forma geral, estão dispostos a realizar uma atividade turística cultural mais integrativa com o local e com a sua comunidade e que desejam uma atividade menos estandardizada, que considere as preferências individuais e permita mais possibilidades de escolha. As informações obtidas e as discussões efetuadas sinalizam possíveis adequações a serem consideradas por parte do agenciamento receptivo da cidade de Ilhéus-Ba.
Palavras-chave: Turismo; Agenciamento receptivo; Roteiros turísticos culturais; Perfil do turista.
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ANALYSIS OF THE AGENCY OF THE CULTURAL TOURIST SCRIPT-WAYS IN ILHÉUS - BA: A economic and social-cultural boarding
Author: ADRIANA DOS SANTOS REIS LEMOS
Person who orientates: Prof. Dr. Henrique Tomé da Costa Mata
ABSTRACT
The service of cultural tourist ways-scripts given by the sector of receptive tourist agency of the city of Ilhéus-Ba is analyzed. It objective to approach involved the economic and social-cultural aspects in the installment of this service, on the basis of the study of the profile of the customer. Specifically, it searchs to describe the cultural tourist ways-scripts of the agencies in the city, to identify the general profile of the tourists and to analyze its preferences and attitudes through the study of some psicografics variables. For the development of the research, the descriptive study is adopted ally to the quantitative method. The questionnaire and the systematic comment are used as research techniques. The sample is of the probabilist type and was esteem on the basis of the information passed for the receptive agent. About the survey of the general profile of the tourist, the trends pointed for the authors of the area in relation to the predominant characteristics of the plaintiffs for the tourist activity are ratified. About the psicografic profile, they are observed as characteristic more important and preponderant: that the tourists have of moderate the much interest for culture; that the preferences are diversified about the cultural attractive offered for the city of Ilhéus; that the preference for a slower passage exists, come back to the quality of the visit; that the tourists desire an interaction with the local community and require that this interaction has a moderate intensity; that they prioritize the quality and the deepening of the information transmitted during the script, with the interpretation of the tourist guide; e that desires that the agency of receptive monitorns moderately in elapsing of the passage. It demonstrates, through the gotten results and of the crossing of the data of the general profile with the data of the psicografic profile, that the studied tourists, of a form generality, want to realize a integrative cultural tourist activity with the place and its community and that they less desire an activity standard, that considers the individual preferences and allows more possibilities of choice. The gotten information and the effected quarrels signal possible adequacies to be considered on the part of the receptive agency of the city of Ilhéus-Ba. Word-key: Tourism; Receptive agency; Cultural tourist scripts; Profile of the tourist.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1
Igreja de Nossa Senhora da Escada Olivença
p.49
Figura 2
Cristo Redentor de Ilhéus
p.50
Figura 3
Ilhéos Hotel
p.51
Figura 4
O Bataclã
p. 52
Figura 5
Igreja de Nossa Senhora da Vitória
p. 53
Figura 6
Palacete que pertenceu ao Coronel Misael Tavares
p. 55
Figura 7
Igreja Matriz de São Jorge
p. 56
Figura 8
Rua Antonio Lavigne de Lemos
p. 56
Figura 9
Loja de artesanato da Vovó Aidil
p. 57
Figura 10
Casa dos Artistas
p. 58
Figura 11
Atriz representando Gabriela
p. 58
Figura 12
Entrada Lateral da Casa de Cultura Jorge Amado
p. 59
Figura 13
Sala de Vídeo da Casa de Cultura Jorge Amado
p. 60
Figura 14
Teatro Municipal de Ilhéus
p. 61
Figura 15
Catedral de São Sebastião
p. 62
10
Figura 16
Bar Vesúvio
p. 63
Figura 17
Visita a uma plantação de cacau
p. 65
Figura 18
Entrada da Fazenda Primavera
p. 66
Figura 19
Turistas Conhecendo a Barcaça
p. 68
Figura 20
Casa Sede da Fazenda Primavera
p. 68
Figura 21
Museu da Fazenda Primavera
p. 70
Figura 22
Museu Casa Verde
p. 71
Figura 23
Interior do Museu Casa Verde
p. 72
Figura 24
Opinião do turista quanto à qualidade do atendimento da agência de receptivo
p. 83
Figura 25
Demonstração gráfica do interesse dos turistas por atrativos culturais
p. 85
Figura 26
Demonstração gráfica da opinião dos turistas em relação à velocidade dos roteiros
p. 91
Figura 27
Demonstração gráfica da importância atribuída pelo turista à interação com a comunidade local no decorrer do roteiro
p. 95
Figura 28
Avaliação do turista quanto à intensidade da interação com a comunidade local durante o roteiro
p. 98
Figura 29
Preferência dos turistas quanto à velocidade das informações passadas durante o roteiro
p. 102
Figura 30
Demonstração da distribuição percentual da preferência dos turistas em relação aos intérpretes das informações passadas durante o roteiro
p.107
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1
Demonstração da distribuição percentual dos meios que influenciaram a escolha dos turistas pela agência de receptivo
p.79
Tabela 2
Demonstração da distribuição percentual do interesse do turista pelos atrativos culturais da cidade de Ilhéus
p.88
Tabela 3
Grau de monitoração da agência desejado pelos turistas durante o percurso
p.111
Tabela 4
Avaliação dos turistas sobre a importância dos serviços prestados pelo receptivo durante a realização de roteiros
p.115
12
LISTA DE QUADROS
Quadro 1
Demonstração simplificada do perfil geral dos turistas pesquisados
p.74
13
SUMÁRIO RESUMO ...................................................................................................................... vi
ABSTRACT vii
LISTA DE FIGURAS viii
LISTA DE TABELAS .................................................................................................. x LISTA DE QUADROS ................................................................................................ xi 1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 1 1.1 O problema e a sua importância ................................................................................ 3 1.2 Objetivos................................................................................................................... 4 2 METODOLOGIA ...................................................................................................... 6 2.1 Procedimentos de coleta e análise de dados ............................................................... 7 2.2 População e amostragem ........................................................................................... 9 3 O AGENCIAMENTO TURÍSTICO DE ROTEIROS CULTURAIS 3.1 Turismo e agenciamento: Aspectos conceituais ......................................................... 12 3.2 Novos posicionamentos do setor de agenciamento turístico frente aos desafios do mercado ..................................................................................................................... 18 3.3 A importância do estudo do cliente no mercado de serviços ...................................... 23 3.4.Roteiros turísticos culturais: Abordagens conceituais e estruturais............................. 30 3.5 As responsabilidades dos agentes envolvidos na interface entre a cultura e o turismo..................................................................................................................... 36 4 ROTEIROS CULTURAIS AGENCIADOS EM ILHÉUS/BA 4.1 Ilhéus: Da agricultura ao turismo............................................................................... 42 4.2 Descrição dos roteiros culturais agenciados em Ilhéus/Ba ......................................... 47 4.2.1 Roteiro City Tour histórico..................................................................................... 47 4.2.2 Roteiro fazenda de cacau........................................................................................ 64 5 ANÁLISE DO PERFIL DO TURISTA CULTURAL AGENCIADO EM ILHÉUS/BA 5.1 Análise do perfil geral do turista................................................................................ 73 5.2 Análise do perfil psicográfico do turista .................................................................... 78 5.2.1 A influência dos meios de informação na escolha dos turistas pela agência ........... 79 5.2.2 A satisfação dos turistas em relação os serviços prestados pela agência ................. 83 5.2.3 O interesse por atrativos culturais pelos turistas agenciados em Ilhéus................... 84 5.2.4 Atrativos culturais da cidade de Ilhéus que despertam o interesse dos turistas agenciados ..................................................................................................................... 88 5.2.5 Opinião dos turistas quanto à velocidade dos roteiros agenciados ......................... 91 5.2.6 A importância dada pelo turista à interação com a comunidade local durante os roteiros.......................................................................................................................... 95
14
5.2.7 A preferência dos turistas quanto ao grau de interação com a comunidade local durante os roteiros........................................................................................................ 97 5.2.8 A opinião dos turistas quanto à quantidade de informações passadas durante os roteiros ..................................................................................................................... 102 5.2.9 A escolha dos turistas quanto ao intérprete das informações passadas durante os roteiros .................................................................................................................... 106 5.2.10 A preferência dos turistas em relação ao grau de monitoração da agência durante o roteiro............................................................................................................. 111 5.2.11 A avaliação dos turistas sobre a importância de alguns serviços prestados durante a realização de roteiros ..................................................................................... 115 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 118 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 122 APÊNDICE A ........................................................................................................ ......... 129 APÊNDICE B .................................................................................................................. 131 APÊNDICE C ....................................................................................................... .......... 132 ANEXO
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1 INTRODUÇÃO
A atividade turística possui características tão dinâmicas e peculiares que a tornam
uma atividade econômica e também sócio-cultural. Econômica, porque envolve todo um
complexo de serviços estruturados para atender às necessidades daquele que se desloca com
a finalidade de fazer turismo, gerando investimentos, renda e emprego. Sócio-cultural, já que
contempla deslocamento de pessoas, integração entre povos, troca de conhecimento, vivência
de novos costumes e fazeres1.
Diante desse contexto, qualquer análise sobre o turismo não pode desconsiderar a
dinâmica da atividade, nem dissociar os aspectos econômicos e sócio-culturais envolvidos.
Na presente pesquisa analisa-se a prestação dos serviços de roteiros de turismo cultural
realizados pelas agências de viagens em Ilhéus, cidade localizada no litoral Sul do Estado da
Bahia, tendo como parâmetro o perfil geral (geográfico, demográfico, social e econômico) e
psicográfico do turista que viaja em busca de cultura.
A análise considera o turismo do ponto de vista econômico, já que tem como foco a
apreciação sistemática de aspectos mercadológicos que compreendem a prestação de um
serviço turístico específico, mas também contempla discussões acerca dos fatores sócio-
culturais existentes na atividade estudada. Nesse sentido, foi escolhida a área de
agenciamento turístico em virtude das transformações que estão ocorrendo no setor e da
importância dessa atividade para o turismo que, junto às transportadoras e meio de
hospedagem, compõe o chamado “tripé” do turismo.
1 Conforme as concepções de Moesch (2002) e De La Torre (1992).
16
O desenvolvimento da análise se efetivou em torno do serviço receptivo das agências,
mais especificamente, dos roteiros culturais realizados por essas prestadoras de serviço, pois
interessa à pesquisa a identificação do perfil geral e de alguns aspectos do perfil psicográfico
(preferências, comportamentos, atitudes) dos turistas agenciados que buscam conhecer os
atrativos históricos e culturais da cidade. Por outro turno, a cidade de Ilhéus foi eleita como
área de estudo pelo fato de possuir grande potencial para o desenvolvimento do turismo
cultural, tendo importantes atrativos culturais, como o patrimônio arquitetônico, o legado da
cultura cacaueira e a literatura, representada por escritores como Jorge Amado e Adonias
Filho.
O trabalho está estruturado em tópicos, onde, introdutoriamente são apresentados o
tema, o problema e a sua importância, e os objetivos. No tópico 2, são traçados os
procedimentos metodológicos que subsidiaram o estudo. No tópico 3, para uma melhor
compreensão do processo de agenciamento turístico, recorre-se aos aspectos conceituais
dessa atividade e se discute, a seguir, o atual posicionamento e as novas possibilidades para
esse setor no mercado turístico. Depois são apresentadas as características especiais do
setor de serviços, enfocando-se também a importância do estudo do cliente para este
segmento da economia. Logo após, apresenta-se a base conceitual dos elementos que
compõem um roteiro turístico cultural. E, por fim, analisa-se o papel dos agentes envolvidos
na realização dessa modalidade de turismo.
No tópico 4, é feita uma breve exposição da evolução histórico-econômica do
município de Ilhéus para, em seguida, se descreve os roteiros culturais agenciados na cidade.
No tópico 5, os resultados da pesquisa são analisados onde, além do estudo do perfil geral do
turista, são demonstradas e discutidas as variáveis que formaram a base para análise do seu
perfil psicográfico. Por fim, delineiam-se as considerações finais do trabalho, onde também
são expostas as sugestões propostas com base nos resultados encontrados. Na seqüência do
trabalho, encontram-se os apêndices e anexos.
1.1 O problema e a sua importância
A importância de se estudar o perfil dos clientes relaciona-se diretamente ao conceito
de qualidade na área de serviços, considerando que a intangibilidade inerente à prestação de
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um serviço atrela a mensurabilidade de um atendimento eficaz à percepção do serviço pelo
cliente, ou seja, ao grau de atendimento de desejos e expectativas. Karl Albrecht (1992, p. 254)
diz que um serviço de qualidade relaciona-se “à capacidade que uma experiência ou qualquer
outro fator tenha para satisfazer uma necessidade, resolver um problema ou fornecer
benefícios a alguém”.
Las Casas (1995, p. 16), por sua vez, chama a atenção para a importância do
sentimento do cliente em relação ao atendimento de suas necessidades: “O produto final de
um serviço é sempre um sentimento. Os clientes ficam satisfeitos ou não, conforme as suas
expectativas”. Cunha (1997), por outro lado, afirma que a satisfação das expectativas dos
consumidores torna dinâmico o conceito de qualidade dos serviços, pois exige um
acompanhamento das preferências, o que no turismo assume relevância peculiar, pois a
procura turística reflete as mudanças da sociedade que, por sua vez, está em constante
mudança. As transformações na sociedade definem e redefinem gostos, comportamentos e
atitudes.
“Olhar para o cliente” tornou-se uma diretriz organizacional, e todo esse processo
reflete uma exacerbada competitividade entre as organizações e se acelera com o movimento
de globalização e o desenvolvimento tecnológico que, aliados a outros fatores, dinamizaram
as transformações ocorridas nas últimas décadas. Além disso, a dinâmica globalizante e
tecnológica foram capazes de impor, de forma irreversível, uma busca constante da
construção de um referencial de necessidades por parte dos consumidores a serem
conhecidas e satisfeitas pelos prestadores de serviço das diversas áreas.
Para o setor de agenciamento turístico, como fundamentalmente prestador de serviço,
já que atua com o planejamento de viagens, realiza a intermediação entre o consumidor e as
empresas turísticas, assume o papel de consultor e facilitador dos processos burocráticos da
viagem, além de prestar serviços de receptivo, o conhecimento das preferências dos
consumidores turísticos se torna essencial para balizar as ações mercadológicas dessas
empresas e possibilitar novos posicionamentos frente às mudanças impostas pelo ambiente
de mercado. Atenta a esse contexto e considerando a área de atuação previamente
estabelecida, esta pesquisa estuda o perfil geral e psicográfico do turista que participa de
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roteiros culturais agenciados e discute possíveis adequações mercadológicas que surgem a
partir do levantamento dessas informações.
As formulações aqui apresentadas representaram o problema que norteou as
investigações da pesquisa. As discussões propostas permitem uma investigação acerca das
possibilidades de adaptação da prestação de um serviço específico – os roteiros culturais – à
dinâmica inerente à atividade turística. Por considerar a importância dessas informações para
o setor analisado e para a atividade turística da área escolhida para estudo, tornou-se
relevante realizar esse trabalho.
1.2 Objetivos
Este trabalho teve como objetivo geral a análise da prestação do serviço de
agenciamento do turismo cultural em Ilhéus, atentando aos aspectos econômicos e sócio-
culturais envolvidos, e tomando como base a análise do perfil do turista que participa de
roteiros culturais. Especificamente, procurou-se descrever os roteiros estudados, definir
o perfil geral do turista agenciado e, em seguida, identificar as preferências e atitudes
dos turistas em relação à atividade turística cultural representada pelos roteiros em
questão.
Para possibilitar o alcance dos objetivos propostos, foram estudadas as condutas
metodológicas mais adequadas para a realização da pesquisa. No tópico seguinte, são
apresentados o método e as técnicas de coleta e análise dos dados utilizados, como
também é demonstrado o procedimento usado para o levantamento da amostragem.
20
2 METODOLOGIA
De acordo com Dencker (1998, p. 121) a metodologia “é a maneira de realizar a busca
do conhecimento desejado de forma racional e eficiente”, sendo esse processo o “fio
condutor” da pesquisa, orientando “como” e “o que” fazer para responder aos objetivos e
chegar aos resultados esperados. O estudo descritivo se mostrou o mais adequado para a
pesquisa, por ser, segundo Oliveira (2002), um estudo que possibilita ao pesquisador um
maior entendimento sobre os diversos fatores que influenciam um dado fenômeno.
A pesquisa teve como foco o agenciamento turístico dos roteiros culturais, pela qual
se buscou ter uma maior compreensão acerca do perfil dos turistas praticantes dessa
modalidade de turismo, bem como estudar e relacionar algumas variáveis importantes para a
compreensão das preferências e atitudes do público estudado, como subsídio para uma
análise da condução dessa atividade pelas agências locais. De acordo com Gil (2002), é
peculiar às pesquisas descritivas o estudo das características de um grupo, como sua
distribuição por idade, sexo, procedência, nível de escolaridade, estado de saúde física e
mental etc. Além disso, o autor salienta que são incluídas neste grupo de pesquisas as que
buscam levantar as opiniões, atitudes e crenças de uma população.
O método quantitativo se mostrou apropriado para auxiliar no desenvolvimento da
pesquisa com os turistas, já que sua característica descritiva impõe a necessidade de
estabelecer a relação entre variáveis e solicita um método mais objetivo. Esse método,
conforme o próprio termo indica, quantifica opiniões, dados, nas formas de coleta de
21
informações. Oliveira (2002) explica que o método quantitativo é muito empregado no
desenvolvimento das pesquisas de âmbito social, econômico, de comunicação,
mercadológicas, de opinião, de administração e representa, em linhas gerais, uma forma de
garantir a precisão dos resultados, evitando com isso distorções de análise e interpretações.
2.1 Procedimentos de coleta e análise de dados
Os dados são as informações obtidas a partir do momento em que o pesquisador entra
na fase operacional da pesquisa. Para que a coleta desses dados seja possível, são utilizadas
as técnicas de pesquisa que são os instrumentos de auxílio ao pesquisador na busca de um
determinado resultado: ensino, descoberta, aprendizado, invenção, investigação (OLIVEIRA,
2002). Nas pesquisas descritivas, que têm como objetivo primordial a descrição das
características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de
relações entre variáveis, uma das características mais significativas, está na utilização de
técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário e a observação
sistemática (GIL, 2002).
Para atender aos objetivos propostos, a coleta de dados foi dividida em dois
procedimentos que se realizaram de forma concomitante: 1) a observação sistemática, que
ofereceu suporte para a descrição dos roteiros culturais realizados pelos turistas agenciados;
e 2) a aplicação de questionários aos turistas agenciados, que geraram os dados que deram
suporte à identificação do perfil geral dos turistas e das suas preferências e atitudes.
Conforme Lakatos e Marconi (2001), a observação sistemática se caracteriza pela
intencionalidade, planejamento prévio, e realização em condições controladas, com a
utilização de instrumentos para coleta dos dados ou fenômenos estudados. Na observação
sistemática, o observador sabe o que procura e o que carece de importância em determinada
situação. Para auxiliar a observação sistemática, foram utilizados como instrumentos de
pesquisa anotações ordenadas durante todo o percurso dos roteiros estudados e uma
máquina fotográfica para registrar os atrativos turísticos visitados.
Já na pesquisa com os turistas, como se tratou de uma avaliação de fatores
preferenciais e atitudinais, a técnica de questionário se apresentou mais apropriada. Sobre a
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aplicação dessa técnica em pesquisas na área do turismo, Dencker (1998) afirma que é uma
maneira sistemática e ordenada de obter informações em relação a uma população ou amostra
determinada. Essas informações, ainda segundo a autora, podem dizer respeito, por exemplo,
a quem são os turistas, o que fazem, o que pensam, suas opiniões, sentimentos, crenças,
esperanças, desejos etc., o que se aplica aos propósitos dessa pesquisa. Gil (1994) corrobora
a afirmação de Dencker, quando assegura que o objetivo do questionário é o conhecimento de
opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas e situações vivenciadas.
Com relação à apreciação dos resultados, inicialmente, os dados foram codificados2 e
tabulados3. Em seguida, deu-se início ao procedimento de análise interpretativa, onde se
procurou estabelecer as relações existentes entre as variáveis, bem como efetivar vinculações
com os conhecimentos teóricos que embasaram a pesquisa. De acordo com Oliveira (2002), a
interpretação é a atividade intelectual que procura dar um significado mais amplo às
respostas, vinculando-as a outros conhecimentos. Ainda de acordo com esse autor, a
interpretação esclarece não só o significado do material, mas também faz ilações mais amplas
dos dados discutidos. Para Dencker (1998), nessa fase, compete ao pesquisador realizar
ligações lógicas e comparações, bem como enunciar princípios e fazer generalizações.
2.2 População e amostragem
O universo ou população é definido por Oliveira (2002, p.160) como “conjunto de seres
animados ou inanimados que apresentam pelo menos uma característica em comum”. No
estudo em questão, a pesquisa para se determinar o perfil dos turistas foi realizada de forma
seccional e diacrônica4. O universo correspondeu ao número de visitantes que realizaram
roteiros de turismo cultural agenciados na cidade de Ilhéus em dois períodos de alta estação:
jan/fev 2004 e jan/fev 2005.
2 Divisão em categorias. 3 Contagem para determinar o número de casos que estão nas várias categorias. 4 Seccional, pois se realizou em dois momentos (Jan/Fev 2004 e Jan/Fev 2005), e diacrônica, porque os períodos foram consecutivos.
23
Após estudo de campo preliminar, foi constatado que a única agência que realizava de
forma constante o serviço de receptivo na cidade de Ilhéus era a NV turismo que, no período
do estudo, absorvia quase a totalidade da demanda por roteiros turísticos locais, competindo
com os agentes informais (vans e agências não-cadastradas) e serviços intermitentes de
receptivo realizados por outras agências, que atrelam normalmente esses serviços a
solicitações esporádicas de clientes das companhias aéreas com as quais trabalham.
A NV turismo trabalha em parceria com a CVC, operadora turística que atua em todo o
país, o que justifica a sua demanda consideravelmente elevada e constante. As demais
agências trabalham essencialmente com turismo emissivo e serviços de câmbio. Diante dessa
conjuntura, a pesquisa concentrou-se nos roteiros culturais realizados pela NV turismo. Os
dois roteiros estudados, City Tour Histórico e Fazenda de cacau, foram escolhidos por serem
os únicos que possuíam o foco nos atrativos culturais da cidade. Os demais roteiros estavam
voltados para atividades ecológicas e de turismo de aventura.
Para a realização da pesquisa com os turistas, através de informações passadas pela
agência estudada, a população foi estimada e a amostra extraída através da fórmula
demonstrada a seguir:
212
2
)( )2/( .
)2/.
εσ
σ
−
+
=
Nzqp
p.q (zNn
Onde:
n = Tamanho da amostra;
N = Tamanho da população;
p = Proporção de ocorrência na amostra, considerando o valor de 50%, aceito
geralmente para população com distribuição normal;
q = Proporção de não ocorrência na amostra, assumindo o valor (1 – p);
σσσσ = Desvio padrão da população;
Z = Valor da variável z para o nível de confiabilidade adotado;
εεεε = Erro amostral.
Com base na fórmula adotada, foi estimado um tamanho amostral de aproximadamente
92 turistas, que representam em torno de 1,5% do total de turistas que realizam roteiros
culturais na agência estudada. Gil (1994, p. 92) define amostra como “subconjunto do universo
24
ou da população, por meio do qual se estabelecem ou se estimam as características desse
universo ou população”.
A amostra utilizada foi do tipo probabilística e aleatória. De acordo com Oliveira (2002,
p. 161), “a probabilidade significa um conjunto de regras por meio das quais se calcula o
número de casos que devem ocorrer para que aconteça um fato ou fenômeno”. As datas de
acesso do pesquisador aos passeios foram estabelecidas pela agência pesquisada e o critério
de aleatoriedade adotado foi a aplicação do questionário a todos os passageiros que estavam
sentados em poltronas ímpares do veículo condutor dos turistas aos roteiros. Quanto ao nível
de confiança, ficou estabelecido para a pesquisa 95%. Gil (1994, p. 99) explica que “o nível de
confiança de uma amostra refere-se à curva normal definida a partir dos desvios-padrão em
relação à sua média”. O erro máximo permitido, ou seja, o percentual de erro de medição
tolerado foi de 10%.
O tópico e sub-tópicos seguintes sistematizam os elementos teóricos necessários à
condução das discussões propostas pela pesquisa, onde inicialmente, são apresentados os
aspectos conceituais da atividade turística e do setor de agenciamento turístico.
25
3. O AGENCIAMENTO TURÍSTICO DE ROTEIROS CULTURAIS
3.1 Turismo e agenciamento: Aspectos conceituais
Antes de iniciar a abordagem conceitual sobre o setor de agenciamento turístico, é
importante discorrer um pouco sobre a atividade que o abarca, o turismo, apresentando seu
conceito e delimitando sua abrangência neste trabalho. Existem diversas definições para a
atividade turística, que têm como pontos comuns, a característica temporária da atividade, o
caráter não-lucrativo da viagem e a espontaneidade da busca pelo prazer, ou seja, da
satisfação de desejos. Os conceitos de Moesch e de La Torre mostraram-se mais apropriados
ao estudo, pois dá ao turismo um conceito amplo e abrangente:
O turismo é uma combinação complexa de inter-
relacionamentos entre produção e serviços, em cuja
composição integram-se uma prática social com base cultural,
com herança histórica, a um meio ambiente diverso, cartografia
natural, relações sociais de hospitalidade, troca de informações
interculturais (MOESCH, 2002, p. 09)
O turismo é um fenômeno social que consiste no deslocamento
voluntário e temporário de indivíduos ou grupo de pessoas que,
fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura
ou saúde, saem do seu local de residência habitual para outro,
no qual não exercem atividade lucrativa nem remunerada,
gerando múltiplas inter-relações de importância social,
econômica e cultural (DE LA TORRE, 1992, p.19).
26
Denota-se, portanto, que seria simplista classificar o turismo como atividade
puramente econômica, tendo em vista que a complexidade de fatos que estão enredados no
27
processo, o torna também uma atividade sociocultural, que se utiliza de elementos culturais e
naturais para a formação da sua prestação de serviço. Ainda de acordo com Moesch (2002), a
soma desta dimensão sociocultural gera um fenômeno, recheado de
objetividade/subjetividade, consumido por milhões de pessoas: o produto turístico que,
segundo Lage e Milone (2001), deve ser analisado em termos de suas atrações, facilidades e
acessibilidade.
As atrações são definidas como elementos do produto que são determinantes da
escolha do turista (praias, rios, cachoeiras, patrimônio arquitetônico). As facilidades não são
determinantes do fluxo turístico, mas podem comprometer a procura por atrações, se
ausentes (acomodações, restaurantes, farmácias, postos de gasolina etc.). E a acessibilidade
abrange o transporte para as atrações e as vias de comunicação que possibilitam o turismo
(aeroportos, auto-estradas, túneis, pontes).
As atrações ou atrativos são aqui entendidos como sinônimos de recursos,
embasando-se em Barretto (2001) que considera um recurso turístico “a matéria-prima com a
qual se pode planejar o turismo num determinado local”, a exemplo de praias, montanhas,
cataratas, entre outros atrativos. As facilidades e a acessibilidade, por sua vez, compõem
juntamente com a infra-estrutura básica urbana (ruas, iluminação pública, saneamento básico)
a chamada infra-estrutura turística. Sendo as facilidades formadas por equipamentos
turísticos (alojamentos, agências e transportadores), equipamentos de apoio (rede de atenção
médico-hospitalar, rede de entretenimento, rede de atenção ao automóvel etc.) e a
acessibilidade constituída pela infra-estrutura de acesso (estradas, aeroportos, portos
rodoviárias, estações de trem).
A existência de uma infra-estrutura turística condiciona, portanto, a validade da
atividade turística e do produto turístico, que deve ter todo um aporte organizacional e
governamental para assim ser considerado. Essa acepção moderna do turismo, apoiado em
bases infra-estruturais, surgiu no século XIX, após a revolução industrial, com as primeiras
viagens planejadas por agências, tendo tomado impulso apenas depois da segunda guerra
mundial, no século XX, o que, de acordo com Ruschmann (1997, p.13), foi “conseqüência dos
aspectos relacionados à produtividade empresarial, ao poder de compra das pessoas e ao
bem estar resultante da reestruturação da paz no mundo”.
28
Rejowski e Solha (2002) também citam acontecimentos intervenientes e facilitadores
da expansão da atividade turística a partir de 1950, acrescentando aos motivos apontados por
Ruschmann (1997) outros fatores de ordem política, econômica, educacional, cultural,
sociológica e trabalhista, como: a consolidação da classe média, com aumento do tempo livre
e mais dias de férias; a expansão da educação e da cultura e maior interesse em conhecer
povos e civilizações; os desejos de evasão para ambientes naturais, em oposição à
industrialização e ao crescimento da população; a redução da jornada de trabalho e criação
das férias anuais remuneradas; os avanços tecnológicos nas comunicações e transporte
(automóvel, avião), com redução progressiva dos preços; aplicação de técnicas de marketing e
publicidade.
Segundo Trigo (1993, p.19), “os fatores que levaram ao desenvolvimento do turismo
nestas três últimas décadas foram os mesmos que transformaram profundamente o planeta,
seja ao âmbito das relações econômicas e políticas, seja no das relações sociais e culturais”.
Parafraseando Rejowski e Solha (2002), as últimas décadas do século XX mostraram o caráter
complexo e abrangente do turismo num mundo de mudanças contínuas, onde tudo é
questionado, inovado, recriado e reformatado. Diante desse cenário, impõem-se a
sustentabilidade e a globalização. Esses desafios conduzem à importância do planejamento e
gestão estratégica, à formação e capacitação de recursos humanos de qualidade e ao
desenvolvimento de pesquisas e estudos científicos.
Essas transformações que impulsionam o turismo também dinamizam, modificam e
propõem novos posicionamentos às atividades básicas deste setor. A atividade de
agenciamento turístico, um dos componentes do chamado “tripé” do turismo, também
composto por hotéis e transportadoras, é uma das atividades que mais sentiram os impactos
dos avanços tecnológicos e de outras mudanças que afetaram a atividade turística. Mas, antes
de analisar esses impactos e novas possibilidades para o setor de agenciamento, é necessário
recorrer aos aspectos históricos e conceituais, como também entender a sua classificação.
A história do agenciamento turístico começa em 1941, na Inglaterra, quando um
vendedor de bíblias chamado Thomas Cook organiza uma viagem de ida e volta de trem (11
29
milhas) para 570 pessoas, incluindo lanches, jogos, dança e bilhete para participação em um
congresso de alcoolismo (MONTEJANO, 2001). A partir desse momento, surge a noção da
viagem organizada, como também a pessoa do agente de viagens, um profissional que planeja
e organiza viagens.
O planejamento de viagens por agências, como dito anteriormente, marca o
surgimento do turismo moderno, onde o pacote turístico, viagem com tudo incluído
(hospedagem, transporte, alimentação) a um preço único, surge como marca essencial do
trabalho desse setor, que utiliza a informação como matéria-prima e entremeia a relação entre
os turistas e os fornecedores de serviços turísticos. Esse papel de intermediação, desde o
surgimento das agências, se constitui uma importante função do setor e está presente, de
forma implícita ou explícita, nas abordagens conceituais sobre as agências de viagens, apesar
da possibilidade de reconfiguração do setor em virtude de mudanças proporcionadas no seu
ambiente mercadológico, que serão depois discutidas.
Montejano (2001) conceitua agências como sendo empresas mercantis que, de posse
do correspondente título-licença outorgado pela Administração Pública, se dedicam
profissional e comercialmente em exclusividade ao exercício das atividades de
assessoramento, mediação e organização de serviços turísticos, podendo utilizar meios
próprios na prestação destes ou sendo, na maioria dos casos, agente intermediário entre os
prestadores de serviços e os clientes. Para Oliveira (2000, p.109):
As agências de viagens são sociedades comerciais com
personalidade jurídica de direito privado e regidas por
legislação própria, prestadoras de serviços turísticos dedicadas
à organização de viagens, atuando como intermediárias entre
os prestadores de serviços e os usuários finais, com o objetivo
de obter lucros financeiros.
30
Beni (1998, p.182), por sua vez, define que “agências de turismo são empresas
comerciais com a finalidade de realizar viagens. Por conseguinte, são prestadoras de serviços,
que informam, organizam e tomam todas as medidas necessárias, em nome de uma ou mais
pessoas que desejam viajar”. Andrade (1999, p.189), por outro turno, entende as agências
como “pontos de planejamento, de organização, de venda e de difusão sistemática e técnica
dos produtos turísticos”.
Os prestadores ou provedores de serviços, aqui rotulados, são as empresas que
fornecem os serviços de que as pessoas necessitam para a realização da sua viagem e
estadia, como as transportadoras aéreas, marítimas, fluviais e rodoviárias, a indústria hoteleira
e demais provedores/fornecedores de produtos e serviços receptivos (restaurantes, museus,
casas de espetáculo, entre outros). Os usuários finais, por sua vez, são os turistas,
compreendidos como pessoas que se deslocam para um lugar diferente do seu local de
moradia, com finalidades e motivações diversas (lazer, cultura, negócio, visita a parentes etc.),
e que requerem um suporte em termos de serviços durante a sua permanência.
As agências são, portanto, empresas prestadoras de serviços que fazem um papel de
intermediadoras entre os turistas e os diversos produtos e serviços que compõem a atividade
turística, usando a informação como fator essencial para realizar as atividades de
planejamento e organização da viagem. Para entender melhor os papéis exercidos pelas
agências, é indispensável recorrer à sua classificação. Conforme o decreto nº 84.934/80, as
agências brasileiras são classificadas em duas categorias: Agências de Viagens e Turismo e
Agências de Viagens (OLIVEIRA, 2000, p.111).
As agências de viagens e turismo também são conhecidas como operadoras de
turismo. São aquelas que, além dos serviços que prestam ao cliente, atuam no planejamento e
organização de produtos para as agências de viagens, ou seja, são produtoras de pacotes
turísticos. De acordo com Beni (1998, p.183):
As operadoras turísticas, além de intermediárias, são também
produtoras de serviços turísticos, o que requer um perfeito
conhecimento do mercado, tanto da oferta quanto da demanda,
para poder compor os pacotes a preços competitivos e de
acordo com o desejo dos consumidores.
31
As agências de viagens e turismo, servindo como intermediárias e distribuidoras na
prestação de serviços entre a oferta e a demanda, ou seja, entre aqueles que desejam viajar e
aqueles que desejam receber os turistas, tornam-se ícones principais na distribuição do
produto até o consumidor final. Caracterizam-se fortemente como componentes do setor de
viagens que se preocupam com a atividade pelo tipo e segmento de mercado responsável pelo
atendimento das necessidades finais dos turistas (TOMELIN, 2001).
As agências de viagens, por sua vez, atuam apenas como intermediárias na relação
entre os clientes e os diversos produtos e serviços turísticos, com a “função de facilitar e
resolver todos os problemas dos turistas a fim de que possam realizar suas viagens da
maneira mais satisfatória possível” (BENI, 1988, p.183). Integram o mercado intermediário,
constituindo um canal de distribuição dos produtos turísticos para o mercado final
(PETROCCHI e BONA, 2003). São empresas pequenas, cuja principal função é a mediação de
serviços turísticos avulsos ou de pacotes elaborados por operadoras de turismo
(MONTEJANO, 2001).
As agências de viagens, desta forma, não elaboram seus próprios produtos. Revendem
viagens com “pacotes” preestabelecidos que são organizados por operadoras de turismo.
Essas agências, entretanto, podem oferecer os serviços de receptivo (ACERENZA, 1992).
Assim, as agências de viagens de receptivo prestam serviços para as operadoras de
turismo e as demais agências de viagens por meio do oferecimento ao turista de uma gama
variada de serviços, como transporte entre o aeroporto e o hotel (e vice-versa), city tour
(passeio pela cidade) e assessoria ao turista enquanto ele estiver no destino da viagem. Além
de prestarem serviços e serem pagas pelas operadoras e pelas agências, as agências de
receptivo obtêm receitas pela montagem de passeios e programas que são oferecidos ao
turista e cobrados à parte do pacote turístico.
Apesar da clareza distintiva entre os conceitos das diversas categorias de agência,
elas têm como ponto comum o processo de mediação entre os prestadores de serviços
turísticos e os consumidores finais, o que se configura, como dito anteriormente, na essência
do seu serviço. Essa atuação como elemento integrador entre oferta e demanda de serviços
turísticos suscetibiliza esse setor às diversas mudanças que influenciam o mercado turístico,
32
exigindo muitas vezes reposicionamentos de ordem estrutural e funcional, como será
abordado no tópico a seguir.
3.2 Novos posicionamentos do setor de agenciamento turístico frente aos desafios do mercado
O setor de agenciamento turístico é muito afetado por influências externas, tais como desempenho dos sistemas de turismo, os cenários socioeconômicos, as mudanças tecnológicas, as regulamentações governamentais, o câmbio, a disponibilidade de mão-de-obra, a preservação do meio ambiente etc. Daí a necessidade de uma gestão estratégica, que direcione novos posicionamentos frente às novas realidades.
Em relação às influências do ambiente externo, Tomelin (2001) aponta que a realidade
do mercado de agências de viagens e turismo vem interagindo com fenômenos que
revolucionaram a atividade, onde se destacam a guerra de tarifas entre as companhias aéreas,
a desvalorização cambial, a desregulamentação do transporte aéreo, a Internet e o
aperfeiçoamento dos sistemas globais de distribuição (GDS5).
A guerra de tarifas entre as companhias aéreas provocou impactos diferenciados no
setor de viagens. A competitividade entre as companhias promoveu a queda dos preços, o que
beneficiou o cenário turístico em geral e o próprio negócio das agências de viagens e turismo,
mas reduziu o comissionamento, impactando negativamente o mercado das agências de
viagens e turismo. A desregulamentação do transporte aéreo, por sua vez, reduziu o controle
do governo sobre esse mercado, já que a regulamentação determinava rotas, as companhias
que podiam servir tais rotas, o número de vôos, os terminais disponíveis nos aeroportos para
pousos e decolagens, a capacidade de assentos de cada rota, os preços cobrados
(MIDDLETON, 2002).
A eliminação de regulamentação governamental reduz ou minimiza muitas restrições
sobre a atividade competitiva das empresas. Em muitos casos, a desregulamentação derruba
barreiras ao ingresso de empresas novas, restrições geográficas à prestação de serviços, dá
mais liberdade para competir em termos de preço e faz com que as empresas existentes
possam se expandir para novos mercados ou novas linhas de negócios (LOVELOCK e
WRIGHT, 2004). Esse processo de desregulamentação do tráfego aéreo ocorreu antes da
redução do comissionamento provocado pela guerra de tarifas, tendo inclusive influenciado
essa redução, já que possibilitou acordos e alianças entre diferentes companhias, diminuindo
5 Global Distribution System.
33
os custos de operação, padronizando os serviços e redimensionando o quadro de recursos
humanos (TOMELIN, 2001).
No que tange às influências da Internet sobre o setor de agenciamento, existe uma
relação dialética. Ao mesmo tempo em que se configura num ambiente com novas
possibilidades de negócios para o setor, em virtude da agilidade e da disponibilidade de
informações, pode representar uma grande ameaça, tendo em vista que o usuário final, ou o
turista pode ter acesso direto aos programas e, portanto, dispensar a participação de
intermediários.
Em relação a esse processo, Barretto (2001) comenta que os computadores em rede
permitem que o consumidor realize suas próprias reservas, de operadoras ligadas à Internet
ou similares, e que se informe por meios de serviços, como o Dialog, sobre onde fazer melhor
suas compras ou quais os eventos que estão acontecendo no mundo, sem intermediários.
Tomelin (2001, p.76) reitera os comentários de Barreto (2001), apontando novas possibilidades
para o setor de agenciamento:
[...] a própria Internet constitui-se no mais novo tipo de
distribuidor dos serviços diretamente ao consumidor,
desafiando a existência da agência convencional rumo a novos
paradigmas, tais como novos diferenciais de serviço para se
manter competitivo no mercado e fidelizar seus clientes pela
vantagem da personalização dos serviços, compensando a
impessoalidade como limitação na utilização da Internet.
A Internet tem se configurado, portanto, num desafio do ponto de vista comercial para
as agências de turismo. Se, por um lado, o comércio eletrônico faculta um maior número de
informações e possibilidades de negócio e reduz consideravelmente os custos operacionais
das agências, promovendo o enxugamento da sua estrutura burocrática tradicional, por outro
lado, a maior autonomia do consumidor, proporcionada pelo acesso direto aos serviços
intermediados pelas agências, pressiona o setor para um novo posicionamento competitivo,
que leve em conta a prestação de serviços diferenciados e direcionados à preferência pessoal
do cliente.
34
Outra tendência de ordem tecnológica que tem afetado o mercado de agenciamento
turístico é o aperfeiçoamento e expansão dos sistemas globais de reserva. Os GDSs são bases
de dados de abrangência mundial que, além de servir para a escolha de vôos, são utilizados
também para a reserva de hotéis, locação de veículos, emissão de bilhetes, cálculo de tarifas,
câmbio e outros. Esses sistemas, que foram a princípio impulsionados pelas companhias
aéreas e hoteleiras como ferramentas de resolução dos problemas operacionais e de
comercialização, passaram de um simples meio facilitador para uma efetiva ferramenta de
ajuda às empresas turísticas e aos canais padronizados, através do qual se efetua um grande
número de operações ligadas à distribuição (TOMELIN, 2001).
Os GDSs foram precursores dos desenvolvimentos subseqüentes do uso da Internet
para as reservas de viagens e hoje estão integrados às opções de informações e comércio
eletrônico (MIDDLETON, 2002). É justamente a integração desses sistemas de distribuição à
Internet, que possibilita ao consumidor final um acesso direto a reservas e pagamentos, o que,
por sua vez culmina na redução da comissão dos intermediários, apesar do aumento em
volume de vendas proporcionado pela agilidade do sistema.
Diante de todo esse contexto de mudanças apresentado para o mercado de agência de
viagens, surge o que Tomelin (2001) chama de tendência da desintermediação e
reintermediação. A tendência da desintermediação, para esse autor, seria o oposto à
intermediação, ou seja, de deixar de praticar a ação convencional de uma agência de viagens,
que seria a mediação na negociação do produto turístico colocando-se como prestadora de
serviços entre os provedores de transporte/hospedagem/serviços receptivos complementares
e os consumidores de viagens – seus clientes para, enfim, atuar adquirindo definições
próprias para a sobrevivência e readaptação no mercado, em forma de fusão, redes, franquias
ou agências virtuais, como processos de reintermediação.
A fusão com outras agências ajudaria as empresas a enfrentarem a concorrência do
mercado como uma sociedade mais competitiva e com maior poder de negociação; A
configuração em redes e franquias viria possibilitar a redução dos custos sem comprometer
as vendas nem diminuir a qualidade dos serviços, o que seria possível através de uma central
única de operações e a compra de produtos em grande volume. A atuação no ambiente virtual
seria a possibilidade de adaptação das agências a uma nova forma de demanda, em um
35
ambiente de negócios novo, cujo tempo real de duração das negociações é diferenciado, já
que parte de uma operação on-line proveniente do ambiente Internet.
Esses novos posicionamentos seriam, portanto, alternativas de recolocação do setor de
agenciamento frente às mudanças apresentadas, representando possibilidades de
reintermediação. É importante, entretanto, considerar que todo o processo de busca por um
novo posicionamento no mercado por parte do setor de agenciamento turístico não pode se
dar apenas através de alterações na estrutura funcional ou logística dos produtos/serviços
ofertados, devendo passar também por alterações essenciais na condução do negócio, levando
em consideração as transformações de ordem social e cultural que afetam a demanda e,
consequentemente, também devem se constituir como parâmetros na condução do negócio.
Sobre esse aspecto, são sinalizadas mudanças na estrutura demográfica e social das
populações, configurando a volatilidade dos fluxos, anteriormente mais tradicionais e
estáveis, a diminuição da duração das viagens e a maior freqüência das mesmas, o que estaria
propiciando alterações graduais no perfil dos turistas. A expectativa por melhor qualidade, a
valorização do dinheiro e o interesse pela satisfação ambiental, também estariam se
configurando como novos e importantes fatores que afetam a demanda como um todo
(REJOWSKI e SOLHA, 2002).
Além desses fatores, aponta-se para a diversificação de interesses, o que para o setor
de agenciamento turístico, particularmente, implicaria na necessidade de especialização da
atividade, através da organização de viagens para uma finalidade específica. A necessidade de
se conhecer as individualidades dos grupos e o atendimento personalizado de interesses seria
a base para a condução de um negócio competitivo. Para uma melhor compreensão desses
aspectos, no tópico a seguir serão abordadas as características peculiares do setor de serviços
e será ampliada a discussão acerca da importância do conhecimento do cliente por parte das
empresas frente a um cenário em constante mudança.
36
3.3 A importância do estudo do cliente no mercado de serviços
O entendimento dos aspectos conceituais e distintivos do setor de serviços se torna
relevante para a pesquisa, ao passo que o conhecimento das características peculiares a esse
setor é essencial para a compreensão dos processos que envolvem a prestação de um serviço
e da atuação diferenciada que as empresas desse setor devem ter em relação aos seus
clientes. Gronroos (2002) define serviço como um processo que consiste em uma série de
atividades mais ou menos intangíveis que, normalmente, mas não necessariamente sempre,
ocorrem nas interações entre o cliente e os funcionários de serviço e/ou recursos ou bens
físicos e/ou sistemas do fornecedor de serviços e que são fornecidas como soluções para
problemas do cliente.
Para Dias (2004, p.04), “Serviço é um bem intangível, uma ação ou um desempenho
que cria valor por meio de uma mudança desejada no cliente ou em benefício dele”.
Lovelock e Wright (2004), por sua vez, afirmam que os serviços são atividades econômicas
que criam valor e fornecem benefícios para clientes em tempos ou lugares específicos, como
decorrência da realização de uma mudança desejada no – ou em nome do – destinatário do
serviço. Kotler (1998, p.142) diz que “serviço é qualquer ato ou desempenho que uma
pessoa possa oferecer a outra e que seja essencialmente intangível e não resulte na
propriedade de nada. Sua produção pode ou não estar vinculada a um produto físico”.
É importante notar, que os conceitos apresentados formam um consenso acerca da
finalidade de um serviço, que tem sempre como resultado algum valor agregado para o
cliente, seja através de uma solução, um benefício ou uma mudança esperada. “Criar valor”
para o cliente através da prestação de um serviço se configura um desafio para as empresas
desse setor, tendo em vista a subjetividade implícita nessa idéia. Como cada cliente é único
37
e possui expectativas e preferências diferenciadas, o valor criado pela empresa terá
percepções também diferenciadas por cada cliente.
Além disso, é importante considerar que o setor de serviços possui ainda outras
características que o identificam e tornam seu processo de consecução diferenciado em
relação à produção de bens físicos. De acordo com Dias (2004) e Lovelock e Wright (2004)
as principais características dos serviços são:
1. a intangibilidade, que se refere à impossibilidade de os serviços serem tocados;
2. a envolvimento do cliente no processo, o que implica em sua participação na
consecução do serviço;
3. a perecibilidade, que está diretamente ligada ao fato de o serviço não poder ser
estocado, já que é produzido e consumido simultaneamente;
4. as pessoas como parte do serviço, uma vez que experiências são vividas entre
clientes e funcionários e, em muitos casos, entre os próprios clientes;
5. a dificuldade de avaliação dos serviços por parte dos clientes, que decorre da
subjetividade dos serviços e da conseqüente complexidade em se criar fatores
objetivos para julgamento dos clientes;
6. a não obtenção de propriedade por parte do cliente, que reside no fato de o
serviço consistir numa ação em torno da realização de um benefício, que não
implica na aquisição de elementos tangíveis;
7. a importância relativa exercida pelo tempo, tendo em conta que a velocidade
da prestação do serviço em muitos casos é fundamental para uma boa
percepção do serviço por parte do cliente;
8. a distribuição por diferentes canais, que está relacionada à possibilidade de os
serviços serem entregues em meio físico, eletrônico, ou através da combinação
de ambos.
38
Diferente dos autores citados, Gronroos (2002) prefere destacar três características
identificadas na maioria dos serviços: a natureza de processo; a produção e o consumo
simultâneos e a participação do cliente no decorrer da produção. Gronroos (2002) explica
que serviços são processos porque consistem em uma série de atividades nas quais vários
tipos diferentes de recursos – pessoas, bem como outros tipos de recursos – são utilizados,
muitas vezes em interações diretas com o cliente, de modo a encontrar uma solução para o
problema deste. Destaca ainda que, como processos, são produzidos e consumidos
simultaneamente, o que também é caracterizado como inseparabilidade.
Em relação à participação do cliente, Gronroos (2002) afirma que este não é apenas
um recebedor do serviço, ao passo que também participa do processo de serviço como um
recurso de produção. Por causa disso e das outras características, não é possível manter os
serviços em estoque do mesmo modo que as mercadorias. Gronroos (2002) não descarta a
intangibilidade como característica dos serviços, entretanto, não confere a esse atributo o
grau de importância dado por outros autores, com base no argumento de que os bens físicos
também são percebidos subjetivamente pelos clientes, o que não tornaria a intangibilidade
um atributo distintivo do setor de serviços.
Outro fator questionado por esse autor é a característica de não propriedade dos
serviços. Para Gronroos (2002), existem situações em que a prestação do serviço culmina
com a entrega de um bem físico. Nessas situações, os produtos se constituem partes do
serviço oferecido, a exemplo da prestação de serviços de vendas no varejo, onde o consumo
do serviço prestado pela empresa resulta na propriedade de um bem tangível.
Lovelock e Wright (2004) discordam de Gronroos e argumentam que o serviço é um
ato oferecido por uma parte à outra e, embora o processo possa estar ligado a um produto
físico, o desempenho é essencialmente intangível e normalmente não resulta em propriedade
de nenhum dos fatores de produção. Mas, independente das divergências de classificação
39
estabelecidas, denota-se que as peculiaridades atribuídas ao setor devem ter considerada
relevância pelos prestadores comprometidos com a qualidade do serviço que fornecem,
tendo em conta que essas características distintivas são imbuídas de forte abstratividade, o
que impossibilita fácil controle ou mensurabilidade, como no caso dos bens físicos.
As empresas turísticas, incluindo as agências de turismo, têm a prestação de serviço
como essência das suas atividades e, embora existam também fatores tangíveis a serem
avaliados pelos consumidores, o resultado final da prestação do serviço turístico será
sempre um sentimento, já que as pessoas viajam por motivos eminentemente subjetivos,
como descansar, conhecer, se divertir ou socializar idéias. E é esse caráter subjetivo
apresentado, que torna o cliente o elemento central do processo de prestação de qualquer
serviço, incluindo o turístico, considerando que além da sua participação e interatividade
exercida no decorrer da entrega do serviço, é das suas expectativas, preferências e
percepções que depende a avaliação sobre a qualidade do que está sendo ofertado.
É determinante, portanto, que as análises ou discussões acerca da oferta de um serviço
turístico atentem para o cliente e suas aspirações, como fonte para o entendimento dos
fatores que determinam comportamentos e atitudes e que, portanto, poderão balizar
adequações na concepção desse serviço por parte do prestador. Ao buscar a compreensão do
comportamento de um público demandante de um dado serviço, é preciso considerar vários
fatores que o determinam, onde se faz mister analisar variáveis de ordem geográfica,
demográfica, econômica, social e psicográfica.
Os estudos geográficos dividem o mercado em variáveis como localização e densidade
populacional. Segundo Michael J. Weiss (1988) apud Dias (2004, p.21), “o lugar onde se
vive determina a maneira como se vive. Conhecendo onde e como as pessoas vivem, fica
mais fácil atender às suas necessidades com mais chance de sucesso”. Os critérios
geográficos podem ser: países, Estados, municípios, comarcas, bairros e microrregiões. A
40
seleção do critério será sempre em função dos objetivos de penetração e/ou ocupação de
mercado pretendida (DIAS, 2004).
No caso do turismo, em especial, é de salutar importância saber a origem dos
indivíduos já que essa informação delineará os principais pólos emissores, como também
pode apontar novas possibilidades de mercado, através da detecção de regiões ainda não
atingidas, mas que podem ter potencialidade para se tornarem emissoras. Além disso, como
fora aludido, a partir da proveniência das pessoas, é possível se conhecer hábitos e costumes
e, portanto, facilitar as relações com o cliente.
A demografia, por sua vez, estuda estatisticamente as populações e suas
características. Algumas de suas principais variáveis são: faixa etária, sexo, tamanho médio
das famílias, estado civil, número de unidades domiciliares, nacionalidade, religião, raça e
genealogia (DIAS, 2004). Para Mattar (2001), a faixa etária é um elemento muito
importante para o estudo da demanda, uma vez que as exigências das pessoas, assim como
suas expectativas, diferem conforme a idade. Pesquisar o gênero também é fundamental,
pois, ao formatar um produto, “é preciso levar em consideração o caráter das motivações
tanto femininas como masculinas” (MATTAR, 2001, p.197).
Para os estudos sobre demanda turística, a faixa etária e o gênero são essenciais, pois
ambos os fatores determinam as preferências por atividades turísticas específicas. O turismo
de aventura ou desportivo é geralmente preferido pelos jovens, ao passo que atividades mais
amenas, como as culturais, são normalmente escolhidas pelos mais velhos. Da mesma
maneira, homens e mulheres têm particularidades preferenciais que os tornam, em algumas
ocasiões, público de atividades distintas. A pesquisa de identificação das variáveis
demográficas conduz, portanto, a informações bastante relevantes para a meta de
identificação e qualificação de mercado, bem como fornece dados relevantes sobre a
dimensão de mercados potenciais (DIAS, 2004).
41
Os estudos dos fatores econômicos, por sua vez, são traçados com base no poder
aquisitivo e nível de renda dos indivíduos. Para a microeconomia, quanto mais alto o poder
de compra, maior será o montante de produtos demandados. Assim, a renda dos
consumidores é a mais importante variável econômica juntamente com os preços dos bens e
serviços (LAGE e MILONE, 2001).
O turismo é um exemplo típico de atividade não acessível a todas as camadas da
população. Apenas os indivíduos que possuem um poder aquisitivo mais elevado podem
realizar viagens de turismo. Além disso, o status do indivíduo exerce influência no padrão
de vida, interesses e preferências do consumidor de turismo (MATTAR, 2001).
Em relação aos fatores sociais, entre as variáveis mais importantes, estão a educação, a
ocupação, o estado familiar e até o estilo de vida dos indivíduos (LAGE e MILONE, 2001).
As diferenças de escolaridade afetam os tipos de experiências em viagens. Para as pessoas
com elevado nível de educação e conhecimento intelectual, em geral é de se esperar que
ganhem mais e possam assumir um status superior nas viagens do que os indivíduos com
menor escolaridade (LAGE e MILONE, 2001, p.107). Para Mattar (2001), o nível cultural
determina a escolha do destino, as atividades e as preferências do consumidor de turismo.
Os fatores psicográficos estão diretamente relacionados com o conceito de estilo de
vida e, consequentemente, com o que as pessoas estão dispostas a adquirir em termos de
produtos e serviços, se suas condições econômicas permitem (MATTAR, 2001). As
pesquisas psicográficas estudam o modo como as pessoas pensam e levam suas vidas.
Podem ser analisados estilos de vida, fatores psicológicos, antropológicos e sociológicos,
autoconceito, personalidade, valores, atividades, interesses e opiniões (DIAS, 2004).
O termo psico reflete o conjunto de idéias do comportamento, ou do estado mental
(personalidade) de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos. Em turismo, uma análise
psicográfica refere-se a uma análise psicológica dos indivíduos identificando preferências
42
diversas por um ou mais produtos turísticos (LAGE e MILONE, 2001). Além de apontar a
preferência por determinados produtos turísticos, um estudo psicográfico pode levantar
preferências e atitudes do turista em relação à prestação de um serviço específico,
sinalizando aspectos positivos e pontos a melhorar.
É com base nos estudos sobre demanda, e levando em consideração todas as
variáveis citadas de forma isolada ou conjunta, que determinadas atividades ou organizações
identificam grupos específicos de clientes e optam pela segmentação do seu mercado. De
acordo com Middleton (2002), segmentação de mercado é o processo onde as empresas
organizam seus conhecimentos sobre os grupos de clientes atuais e potenciais e voltam as
suas atenções àqueles cujas necessidades e desejos podem ser mais bem atendidos com
seus produtos/serviços, agora e no futuro.
No caso do turismo, existem várias possibilidades de segmentação, não havendo
inclusive consenso entre os autores sobre os segmentos básicos. Turismo de aventura,
turismo cultural, turismo para a terceira idade, turismo de negócios, são alguns dos
segmentos citados, mas que possibilitam novos desmembramentos. Sobre o setor de
agenciamento turístico, Middleton (2002) cita algumas possibilidades de segmentos – Jovens
solteiros e casais, dos 18 aos 30 anos; Famílias com crianças; Aposentados /idosos/ solteiros;
Participantes de esportes / atividades; Turistas em busca de cultura – mas evidencia que os
segmentos listados não estão completos, mas refletem a gama de possibilidades que existe
para cada setor.
Interessa aos objetivos desse estudo o segmento do turismo formado por pessoas que
estão em busca de cultura, já que o estudo tem como objeto os roteiros culturais agenciados.
No tópico a seguir, serão discutidos os principais conceitos ligados a esse segmento e ao
objeto de estudo, especificamente, como também serão fundamentadas as discussões
propostas pela pesquisa relativas à compreensão do turismo como atividade sócio-cultural.
3.4 Roteiros turísticos culturais: Abordagens conceituais e estruturais
43
Para uma melhor compreensão das atividades turísticas com interesses culturais, é
importante que se apresente o conceito de cultura, que nessa pesquisa segue a linha
antropológica. De acordo com Martins (2003), o conceito de Cultura é complementar ao
conceito de sociedade. A sociedade é definida como um conjunto de indivíduos que fazem
parte de um grupo social, constituído de homens e mulheres de diferentes gerações, ou uma
família realizando o processo social total, ou várias famílias nucleares no desenvolvimento de
relações dependentes e comuns. Já a Cultura relaciona-se ao fazer dos homens, portanto, às
suas obras, conteúdos e símbolos que governam estas relações da sociedade e que dão
significado e continuidade às mesmas.
Desta forma, a sociedade pode ser entendida como um processo em que existe
interdependência e troca de relações entre indivíduos que pertencem a grupos comuns. Já a
cultura, representa os significados, valores e objetos construídos e transmitidos por esses
indivíduos dentro da sociedade. Para Kroeber apud Martins (2003, p. 45):
O conceito de cultura constitui para a antropologia, uma
categoria de importância semelhante ao que teve e tem o
conceito de evolução para as ciências biológicas. Sua
importância está no fato de se tratar de uma categoria
empiricamente demonstrável e explicável. Demonstrável por
referir-se aos atos de pensamentos dos homens, e explicável
por seu sentido de significação presente nas finalidades e nas
funções de comportamento.
Outro conceito importante para o turismo voltado para os aspectos culturais é o de
patrimônio, já que os bens culturais se constituem os principais atrativos dessa atividade.
Interessa a esse estudo o conceito de patrimônio cultural entendido no seu sentido mais
amplo, incluindo “não apenas os bens tangíveis como também os intangíveis, não só as
manifestações artísticas, mas todo o fazer humano, e não só aquilo que representa a cultura
das classes mais abastadas, mas também o que representa a cultura dos menos favorecidos”
(BARRETTO, 2001, p.11).
A definição mais ampla de patrimônio cultural, considerando manifestações materiais e
imateriais do “fazer humano” e abrangendo a todas as classes sociais, se constitui um
44
parâmetro conceitual relativamente novo. O termo patrimônio cultural era, até a primeira
metade do século passado, atribuído a obras de arte consagradas, propriedades de grande
luxo, associadas às classes dominantes e pertencentes à sociedade política ou civil
(BARRETO, 2001). A consciência tardia do significado talvez explique o fato da permissividade
de destruição do patrimônio cultural, que só há algumas décadas vem sendo devidamente
considerado como elemento integrador do homem com a sua história e, por conseguinte,
despertado a necessidade de preservação.
Atualmente, o significado de patrimônio cultural é muito amplo, incluindo outros produtos do sentir, do pensar e do agir humanos – esculturas, pinturas, textos escritos (feitos à mão ou impressos), variadas peças de valor etnológico, arquivos e coleções bibliográficas, desenhos de sentido artístico ou científico, peças significativas para o estudo da ergologia6 de um povo ou de uma época; o que, no conjunto, se poderia definir como o meio ambiente artificial. (MACEDO e RIBEIRO, 1999, p. 14).
Como exemplo de bens culturais, Macedo e Ribeiro (1999) citam alguns casos: A
indumentária, túmulos; desenhos e fotografias documentais (de paisagens, de famílias, de
eventos), culinária regional, filmes, gravação de lendas, de músicas e de outras manifestações
orais documentando também a fala regional, coleção de jornais (espelhando a vida da
comunidade onde foram editados) e imagens religiosas. Também são citados bens imóveis:
igrejas, fortes militares, sedes de fazendas, conjuntos arquitetônicos, cidades inteiras – o que
importa, de acordo com os referidos autores, é a representatividade que cada um tem na
cultura em que estiveram ou estão inseridos.
A prática do turismo que tem como foco central a cultura, o chamado turismo cultural,
tem como característica o deslocamento de pessoas com a finalidade de presenciar
“manifestações artísticas, culturais, arqueológicas, monumentais e, em geral, qualquer
manifestação humana que signifique um enriquecimento cultural” (BALANZÁ e NADAL, 2003,
p. 159). Os autores supracitados afirmam que essa modalidade de turismo é muito flexível, já
que normalmente combina a cultura com outras motivações, o que representa um fácil manejo
da demanda sempre que for oferecido o que se procura. O turismo rural, por exemplo, pode se
6 A ergologia se constitui num ramo da etnologia que estuda a cultura material.
45
constituir numa modalidade de turismo cultural, tendo em conta que, além da interação com a
natureza a partir da convivência do dia-a-dia das propriedades rurais, conhecendo sua
atividade agropecuária produtiva, o turista pode conhecer as riquezas culturais existentes,
através do patrimônio arquitetônico rural, histórias regionais, saberes, lendas, cantigas,
objetos, entre outros, pertinentes à realidade local (CAIRO, 2003).
Quando o turista realiza um turismo organizado, ou seja, estruturado por agências,
normalmente, são elaborados percursos compostos por atrativos e serviços, com o objetivo
de melhorar a funcionalidade da visita e facilitar a compreensão das pessoas sobre os locais
visitados. No caso do turismo cultural, esses atrativos são geralmente monumentos com
significado cultural para o local visitado, onde os turistas, além da contemplação dos aspectos
arquitetônicos, têm a oportunidade de ter contato com bens imóveis de importante valor
cultural (esculturas, quadros, documentos etc). Além disso, em alguns casos, conhecer a
cultura imaterial, através da música, história oral ou outras manifestações culturais, como
podem também dispor de serviços, a exemplo da gastronomia, sempre baseados nos aspectos
culturais do lugar.
Esses percursos organizados normalmente tomam a forma de trilhas ou roteiros. Uma
trilha é uma rota, existente ou planejada, que liga pontos de interesses em ambientes urbanos
ou naturais. Além de funcionais, ligando e revitalizando espaços públicos do tecido urbano e
natural de uma cidade, são também educativas e de lazer valorizando marcos e atrações ao
longo de um percurso (GOODEY, 2002).
Os roteiros, por sua vez, são percursos mais amplos do que as trilhas e podem ser
realizados através de qualquer meio de locomoção: bicicleta, cavalo, carro, barco e até mesmo
a pé. Não importa a forma que tomem, sempre serão pontuados por atrações e serviços ao
longo do caminho, entre os quais certamente figurarão trilhas para caminhadas (GOODEY,
2002).
Conforme a classificação de Goodey (2002), as trilhas e roteiros podem ser temáticos,
espaciais ou gerais. São temáticos quando baseados em tópicos específicos, como arte,
arquitetura, música, literatura, geologia ou eventos históricos. Espaciais, se relacionados a
46
determinadas áreas residenciais e comerciais, a parques urbanos e naturais. E gerais, caso
sejam desenhados para apresentar áreas inteiras, como uma cidade, um parque, uma região
com sítios e vilarejos ligados por um tema comum.
Interessa ao estudo, especificamente, os roteiros que tenham como tema central a
cultura. Para Murta (2001, p.46), “os roteiros culturais prestam-se bem a integrar não apenas
circuitos de turismo histórico cultural, mas também as diferentes formas de turismo rural e de
natureza”.
Como já citado anteriormente, um dos elementos mais importantes que compõem os
roteiros de turismo cultural são os monumentos. A palavra latina monumentum remete à raiz
indo-européia men, que exprime uma das funções essenciais do espírito humano, a memória
(memini). De acordo com as suas origens filológicas7, o monumento é tudo o que pode evocar
o passado e perpetuar a recordação (MACEDO e RIBEIRO, 1999).
Os monumentos ditos intencionais, na acepção comum do termo, são as edificações ou
construções que pretendem perpetuar a memória de um fato, de uma pessoa, de um povo.
Elementos “co-memorativos”8, a exemplo dos obeliscos egípcios, os arcos de triunfo
romanos, as lápides tumulares, as estátuas de personagens etc. (CAMARGO, 2002). Já o
monumento histórico, conceito construído pelo patrimônio nacional, são bens patrimoniais.
Bens patrimoniais são aqueles que “têm uma importância reconhecida para um determinado
lugar, região, país ou mesmo para a humanidade” (CAMARGO, 2002, p.24).
A intencionalidade, entretanto, não descarta a historicidade do monumento. Alguns
monumentos intencionais têm uma característica simbólica que ultrapassa o seu significado
primeiro e intencional, sendo também monumentos históricos. Os obeliscos egípcios e os
7 Vale salientar que a filologia se constitui no estudo das sociedades e civilizações antigas através de documentos e textos legados por elas, privilegiando a língua escrita e literária como fonte de estudos. 8 Termo entendido como aquilo que comemora ou traz à memória; que envolve ou é digno de comemoração; comemorativo.
47
arcos de triunfo romanos também são monumentos intencionais históricos (CAMARGO,
2002).
A apresentação de monumentos históricos através de trilhas e/ou roteiros pode ser feita
com ou sem a presença de um intérprete. As trilhas são normalmente autoguiadas, já os
roteiros, como são mais amplos, normalmente dispõem da presença de um profissional que
direciona o percurso e interpreta os locais visitados para os turistas.
Quando as trilhas e roteiros são percorridos através de caminhadas e excursões guiadas, os visitantes são conduzidos por uma guia que os acompanha pessoalmente, e fornece explicações no local. O desenvolvimento da chamada interpretação ao vivo requer habilidades especiais e treinamento profissional do intérprete (GOODEY, 2002, p.77).
De acordo com a definição da International Association of Tour Managers e da
European Federation of Tourist Guide Associations (EFTGA), citadas por Valle (2003), o
guia é a pessoa responsável pela condução de grupos ou indivíduos, para outros países ou
dentro do seu país de origem, ao redor de monumentos, lugares e museus de uma cidade ou
região, para interpretar, de uma maneira inspiradora e divertida, na linguagem de escolha dos
turistas, os patrimônios cultural e natural.
Valle (2003) também referencia o conceito da Professional Tour Guide Association of
San Antonio, que afirma que, além dessa efetiva combinação de entusiasmo, conhecimentos e
qualidades pessoais, o guia deve possuir um alto padrão de conduta ética para liderar grupos a
lugares importantes, enquanto proporciona interpretação e comentários sobre o local visitado.
O sucesso do guia consiste em identificar-se, positivamente, com o que faz e com as pessoas
envolvidas no processo.
Destarte, é inegável a importância da qualificação desse profissional, já que lhe é
atribuída a responsabilidade de transmitir, durante o percurso dos roteiros turísticos culturais,
com autenticidade e entusiasmo, informações sobre lugares e fatos que representam a história
e a riqueza cultural de pessoas, cidades, ou até mesmo regiões inteiras. E é justamente a
48
complexidade que envolve a temática cultura que exige um tratamento diferenciado dessa
modalidade de turismo, não só por parte dos profissionais do setor, como também dos
organismos públicos competentes e da própria comunidade, que tem valores e interesses
importantes envolvidos, no sentido de estabelecer parâmetros éticos de conduta no momento
da “apropriação” econômica de elementos culturais cujo valor é inestimável.
Nesse sentido, considera-se importante ampliar a discussão acerca do compromisso
dos agentes relacionados na interconexão entre o patrimônio cultural e a atividade turística. O
tópico subseqüente trata de alguns aspectos importantes que devem ser considerados por
todos os agentes envolvidos, no momento em que uma localidade decide expor a sua cultura
como atrativo turístico.
3.5 As responsabilidades dos agentes envolvidos na interface entre cultura e turismo
Assim como são incontestáveis as conseqüências econômicas positivas do turismo,
essa atividade, quando praticada de forma desordenada e sem preocupações com a
sustentabilidade9, pode se constituir fator de ameaça aos núcleos receptores, na medida em
que essa falta de compromisso provoca impactos que, dependendo da maneira como são
controlados, podem ser bastante prejudiciais à sociedade, ao seu meio ambiente e à sua
cultura. O foco de discussão desse tópico está nas interações e possíveis impactos que a
utilização da cultura pelo turismo pode causar para uma localidade, levando-se em
consideração o papel dos agentes envolvidos na organização dessa atividade, como também
avaliar a posição dos agentes que sofrem os impactos.
Com base na perspectiva de Cooper (2001), a mercantilização da cultura material
(artesanato) e imaterial (cerimônias e rituais), com a conseqüente destruição do verdadeiro
significado, e a perda de autenticidade cultural, através da realização de encenações para
atender às necessidades dos turistas, são alguns exemplos de impactos negativos que podem
ser ocasionados pela exploração turística da cultura. De acordo com esse autor, as políticas
9 Minimização dos impactos negativos do turismo como forma de garantir o uso dos recursos pelas gerações futuras.
49
de preservação podem ser o meio mais ativo de manutenção do patrimônio cultural, porém,
para serem realmente eficazes e justas, devem ser representativas dos interesses de todos os
envolvidos. Na perspectiva de Barreto (2001, p.14):
Determinar o que é digno de preservação é uma decisão
político-ideológica, que reflete valores e opiniões sobre quais
são os símbolos que devem permanecer para retratar
determinada sociedade ou determinado momento, donde
surgem os grandes questionamentos sobre quem têm ou
deveria ter autoridade para decidir.
Dentro desse contexto, o conflito de interesses se torna latente. Por um lado, a
comunidade receptora dos pólos turísticos tem a intenção de manter sua herança cultural e o
seu meio ambiente, mas precisa aproveitar as possibilidades de melhoria de posição
econômica e social proporcionada pelo turismo. Por outro, os turistas querem sair de suas
regiões para mudar os horizontes, descobrir coisas novas e aumentar seus conhecimentos do
mundo. As empresas, instituições e o poder público, por sua vez, têm interferência direta no
sistema do turismo e possuem interesses de caráter profissional e mercadológico sobre o
mesmo (KRIPPENDORF, 2000).
Essas diferentes aspirações levam os agentes envolvidos com o turismo cultural a
exercer papéis distintos e, em alguns casos, contraditórios no seu envolvimento com essa
atividade. Um importante agente desse processo é o turista, pois, apesar da inegável
possibilidade de interação que o turismo cultural pode proporcionar aos povos, não se pode
desconsiderar que a relação do turista com comunidades frágeis e despreparadas em nível de
planejamento pode ocasionar transformações profundas e irreversíveis para os autóctones.
Goodey (2002) acredita que o estabelecimento do respeito imediato aos valores locais
e sua compreensão pelo visitante estão no cerne de qualquer desenvolvimento de um
ambiente turístico sustentável para a comunidade e para o visitante. Para o referido autor,
esse respeito se fundamenta na compreensão dos valores culturais e das crenças que levam
as pessoas a ter comportamentos distintos, onde é fundamental a comunicação – bem como
todos os outros meios de que a indústria do turismo pode hoje se valer – mas também requer
que a comunidade conheça a si própria.
50
Para Krippendorf (2000), o desenvolvimento natural dessa troca cultural entre os povos
parece estar passando por um processo evolutivo e um dia pode atingir o estado de
emancipação, porém, esse processo de aprendizado e maturação, que devem adotar os
turistas, não se realiza do dia para a noite. Uma evolução desse tipo deveria ser fomentada
pela população local e exigiria tempo, experiência e educação.
O poder público, outro importante agente no processo de uso do patrimônio cultural
como atrativo turístico, exerce um papel relevante e ao mesmo tempo conflitante, pois precisa
conciliar a atuação como representante legítimo das aspirações da comunidade local com os
interesses essencialmente econômicos na exploração da atividade turística. Apesar de não
excludentes, essas duas proposições exigem que governo local estabeleça prioridades. O
turismo é uma atividade que gera empregos e renda para a população local e os seus efeitos
econômicos são multiplicadores, mas a exploração meramente mercadológica da atividade
pode levar à destruição do patrimônio e à perda de identidade pela comunidade local. Sobre
esse aspecto, Simões (2001, p.2) comenta que:
A ousadia é que faz grandes idéias tornarem-se realidade. A
vontade política, o olhar lúcido e comprometido com o bem
estar social, também. Mas é necessário que isso esteja aliado à
idéia de um desenvolvimento comprometido com a cultura
local. Assim, é possível um turismo cultural garantidor da
preservação do patrimônio cultural e natural. Somente dessa
forma, a sustentabilidade não se restringirá a aspectos
econômicos, mas também atentará para o respeito aos
cidadãos e às comunidades locais.
É necessário mencionar também a relação entre o poder público e a iniciativa privada
no processo de condução do uso turístico do patrimônio cultural, já que a parceria entre essas
duas instâncias, com a devida delimitação de atribuições e responsabilidades, é cada vez mais
representativa no contexto turístico. Para Beni (2002), a participação da iniciativa privada no
desenvolvimento turístico tem se intensificado, o que pode diminuir o papel do governo no
sentido operacional, mas não no controle de gestão. Na concepção de Beni (2002), o governo
ainda é o responsável pela aceitação completa do turismo que desenvolve, assim como detém
51
a responsabilidade total de assegurar que os benefícios recebidos do turismo, inclusive os
econômicos, sejam obtidos mediante a satisfação prioritária das necessidades sociais,
culturais e ambientais.
Simões (2003), por sua vez, defende que as atuações públicas precisam ser revistas no
sentido de considerarem a inclusão social e a diferença, dando prioridade a ações educativas.
De acordo com essa autora, para a implementação de uma política justa se faz necessário
realizar, com ações práticas, os princípios da sustentabilidade cultural.
Para Silveira (2002), a sustentabilidade cultural implica na busca de soluções de âmbito
local, utilizando-se as potencialidades das culturas específicas, considerando a identidade
cultural e o modo de vida local, assim como a participação da população local nos processos
decisórios e na formulação e gestão de programas e planos de desenvolvimento turístico.
A comunidade local é certamente o segmento mais frágil de todos os “atores”
envolvidos na relação da cultura com o turismo, pois além de estar vulnerável aos diversos
tipos de impactos que a atividade turística pode causar, é a parte envolvida que possui menor
ou nenhuma representatividade junto às políticas de planejamento. De acordo com Goodey
(2002, p.48), existem alguns aspectos que caracterizam uma comunidade local:
1. um grupo mutável de pessoas que compartilha um território conhecido – um
vilarejo, um prédio de apartamentos, uma rua etc.;
2. um padrão de uso do solo, determinados marcos, símbolos, nomes e
percepções que estabelecem uma geografia particular do lugar;
3. um conjunto de opiniões compartilhadas – em geral parcialmente – sobre como
a área e sua população devem ser administradas;
4. uma visão parcialmente explicitada e compartilhada sobre como a região
poderá vir a ser no futuro, para além do tempo de vida da população que hoje
nela existe;
5. uma convicção de que a maioria dos esforços físicos e financeiros oriundos
daquela região deveriam ser investidos em infra-estrutura e serviços públicos;
52
6. certa relutância em aceitar gente de fora (visitantes ou imigrantes) e mudanças
(novas estradas ou desenvolvimentos) que impliquem em uma modificação
significativa no estilo de vida local.
O turismo, para muitas comunidades receptoras, principalmente aquelas com extrema
dificuldade econômica, representa a possibilidade de melhoria das condições de vida, ao
passo que implica na geração de renda, empregos, melhorias de infra-estrutura. Essa evidente
contribuição econômica do turismo, no entanto, às vezes vem acompanhada de uma série de
transformações na vida cotidiana da população nativa que, em longo prazo, podem causar
danos de ordem sócio-cultural, comprometendo inclusive a manutenção da atividade turística
no local.
Processos de perda de identidade, valores, costumes, significados, marginalização,
exclusão social, bem como o uso indevido e equivocado do patrimônio material, são alguns
exemplos de impactos que o turismo não sustentável sócio-culturalmente pode causar à
comunidade receptora. Sobre esses aspectos, Goodey (2002, p. 53) afirma que:
Pode-se observar uma gradual alienação dentro da comunidade, linhas distintas separando o visitante dos moradores, uma crescente degradação do produto que é oferecido ao visitante, o consumo dos recursos tangíveis e intangíveis, uma mudança fundamental de longo prazo para a comunidade, em troca de vantagens a curto prazo.
De acordo com Simões (2003), as políticas devem contemplar o cidadão enquanto
indivíduo atuante e enunciativo, transformando o processo de exclusão e marginalização em
contribuição participativa. Com base nessa concepção, a prática sustentável do turismo,
implicaria em ações políticas que privilegiassem os interesses da população, que deve ter um
papel importante no processo de planejamento.
Outro ponto muito importante que o processo de planejamento participativo deve
contemplar é a educação da população que, para conseguir uma legítima representatividade,
deve ter conhecimento dos seus “bens” e direitos. Para Goodey (2002), a essência do
planejamento turístico está no envolvimento da comunidade local que, em todos os seus
segmentos, precisa ter consciência de seu patrimônio, tanto do patrimônio material quanto do
53
imaterial, para que possa decidir sobre aquilo que deseja compartilhar e o que deseja mudar
só para si, e que escolha onde e como deseja que esta troca ocorra.
Nesse sentido, as comunidades locais precisam, portanto, mesmo em vista das
limitações políticas impostas pelo Estado, obter maior controle sobre seus recursos e seu
futuro, o que só pode ser possível a partir do momento em que tiverem acesso a uma
educação que considere prioritário o processo de resgate de valores identitários que foram se
perdendo através do processo de exclusão social (GOODEY, 2002).
Os entendimentos aqui discutidos fazem parte de todo o contexto turístico e devem ser
levados em consideração no estudo de qualquer atividade empresarial vinculada a esse setor
econômico. No momento da discussão dos resultados da pesquisa, algumas considerações
aqui abordadas darão subsídio às análises das variáveis estudadas.
O tópico seguinte dá início às abordagens mais específicas propostas pelos objetivos
da pesquisa, onde, inicialmente, se apresenta uma breve evolução histórico-econômica do
município de Ilhéus, para, depois, se efetivar a descrição dos roteiros culturais agenciados
nessa cidade.
54
4 ROTEIROS CULTURAIS AGENCIADOS EM ILHÉUS/BA
4.1 Ilhéus: da agricultura ao turismo
O município de Ilhéus, área de estudo deste trabalho, foi sede de momentos e
acontecimentos muito relevantes para a história da Região, do Estado e até mesmo do país.
De uma riqueza cultural inquestionável, Ilhéus tem um ciclo de vida que remonta à época das
capitanias hereditárias, passa pelo período próspero da civilização cacaueira, pelos momentos
de crise da lavoura, até chegar às novas possibilidades trazidas pelo turismo e outras
atividades econômicas.
É essencialmente esse caráter opulento e diverso de sua história que torna a cidade
uma área potencial de estudo, principalmente quando se trata de investigações das ciências
sociais que levam em conta elementos de ordem cultural. Como a pesquisa se dá em torno
dos roteiros turísticos culturais agenciados em Ilhéus, é importante conhecer um pouco da
trajetória da cidade através de uma breve descrição dos seus principais momentos históricos,
considerando que os períodos e fatos descritos serão a principal “matéria” explorada pelos
roteiros turísticos estudados.
Tudo começou no século XVI com a vinda do locotenente Francisco Romero que, sob
a ordem de Jorge Figueiredo Correia, veio tomar a posse da capitania recebida do Rei de
Portugal D. João III. O marco de fundação da cidade foi o outeiro de São Sebastião, onde
55
foram edificadas as primeiras casas, a primeira igreja e as primeiras fortificações. O período
de desbravamento das terras foi marcado por muitas lutas entre os colonizadores e os nativos,
os povos indígenas. Sesmarias foram doadas e começa-se a plantar e moer cana-de-açúcar
produzindo riquezas que despertavam cobiça em outros povos europeus, fazendo-os
desembarcar na região. Além dos colonos europeus, os jesuítas também desembarcaram com
o objetivo de evangelizar os índios e manter viva a religiosidade no país conquistado
(MACEDO e RIBEIRO, 1999).
Marcada por momentos de prosperidade e crise, a Capitania teve vários donatários,
sendo o último D. Antonio de Castro, quando foi extinto o sistema de capitanias, em 1761, e
as terras passaram a pertencer à coroa de Portugal. Em 1881, a vila de S. Jorge de Ilhéus
passou à categoria de cidade, tendo como primeiro Intendente o Dr. João Batista de Sá
Oliveira. Já após a proclamação da República, em 1889, a comarca de Ilhéus foi dividida em
municípios e, em 1890, foi criado o município de Ilhéus (ANDRADE, 2003).
De 1890 a 1989, a história de Ilhéus é a história dos coronéis do cacau. A história da
lavoura cacaueira em Ilhéus se confunde com a própria história da Região Sul da Bahia, pois
o cacau provocou desbravamento para o interior, fundação de cidades, formação de gerações.
O cacau propiciou uma “civilização”, um patrimônio, uma identidade histórico-cultural
(MACEDO e RIBEIRO, 1999).
De acordo com Andrade (2003), a história da lavoura do cacau pode ser dividida em
fases com características distintas. Nos parágrafos a seguir, tem-se uma sucinta descrição de
cada uma delas.
A primeira fase começa com a introdução das primeiras sementes, em 1746, passa por
períodos de conflitos pela posse da terra e se estende até 1930, quando o Brasil ocupava o
primeiro lugar na produção mundial. O Sul da Bahia, ainda sem conhecimento técnico
adequado, produziu mais de um milhão de sacas e ocupou o segundo lugar da produção
56
mundial, suplantado apenas por Gana, na África Ocidental. Nesta fase, começou a
industrialização do cacau, quando o suíço Hugo Kaufmanm criou a Cacau Industrial e
Comercial SA, pioneira em processamento de cacau no Brasil.
A segunda fase vai de 1930 até 1957, quando a lavoura ficou economicamente
organizada, o que proporcionou grande produção, comercialização e exportação de cacau. Foi
a fase da expansão e do apogeu, mas também de muitas crises, causadas pelo esgotamento da
terra e queda do preço do produto no mercado internacional.
A terceira fase começa em 1957 e vai até 1988, quando ocorreu a crise da
produtividade. Nesse período, o governo federal criou a CEPLAC (Comissão Executiva do
Plano de Recuperação da Lavoura Cacaueira) com o objetivo de recuperar e racionalizar a
lavoura. As crises cíclicas foram constantes: ora frio e chuvas excessivas provocavam uma
doença chamada podridão parda, ora o calor forte e a chuva reduziam a produção, ora os
preços do mercado caíam. Apesar da crise, a região ainda viveu um grande momento em
1970, quando a produção foi boa e os preços dispararam.
A quarta fase, da destruição e recuperação, teve início em 1988, quando a situação da
lavoura já era crítica em virtude da queda de produtividade, da expansão da cacaicultura no
Sudeste da Ásia (Indonésia e Malásia), da queda nos preços e do aparecimento da doença
vassoura-de-bruxa (Crinnipellis perniciosa), que fez reduzir a produção de 400 mil toneladas
/ano para 127 mil.
Após quatro anos do aparecimento da vassoura-de-bruxa, a CEPLAC apresentou os
primeiros resultados dos estudos para proteger a lavoura, através de medidas profiláticas para
retirada da vassoura e o emprego de fungicida, sem muito sucesso. Somente depois de várias
tentativas frustradas de proteção da lavoura, a CEPLAC desenvolveu o cacau clonado, que
possui material genético resistente à doença e se constitui hoje na principal esperança de
recuperação da lavoura.
57
Os fazendeiros que apostaram na lavoura do cacau, mesmo com dificuldades,
renovaram a plantação com clones de alta produtividade e resistentes à vassoura-de-bruxa e já
começaram a sentir o resultado com o aumento da produção. Entretanto, os cacauicultores de
hoje diferem muito dos de ontem. Eles estão se profissionalizando, procurando uma
transformação nessa atividade econômica, descobrindo novas técnicas.
Além disso, para sair da crise provocada pela monocultura do cacau, Ilhéus direciona
sua economia em busca de alternativas em outros setores como a pecuária, a indústria, a
piscicultura e, sobretudo, o turismo, que surge como grande alternativa de saída da crise,
considerando a vocação natural da cidade, que possui um ambiente natural exuberante, já que
é circundada pela mata atlântica, tem um litoral extenso, com belas praias, além de uma
riqueza cultural proveniente do seu movimento histórico, principalmente dos tempos
prósperos do cacau, que sempre foram retratados pelo escritor Jorge Amado, que nasceu na
região e, através das suas obras, difundiu o nome da cidade e criou personagens ilheenses que
“habitam” o imaginário dos turistas que visitam a cidade.
Ainda não se pensa em Ilhéus “sem associá-la à saga dos valentes e poderosos
Coronéis como Sinhô e Juca Badaró, ou à audácia e destemor de jagunços como Inuri e
Cajango, ou ainda a sensualidade e beleza da mulata Gabriela” (MACEDO e RIBEIRO, 1999,
p. 17). Todos esses personagens, retratados por Jorge Amado e Adonias Filho, viveram no
contexto da civilização cacaueira, o que dá a essa fase da história ilheense um papel de
destaque como fator de atratividade turística.
De acordo ainda com Macedo e Ribeiro (1999), a cidade de Ilhéus continua a sofrer
influências desse período, sendo fortemente marcada pelas presenças do coronel, do jagunço e
de imigrantes estrangeiros e nacionais na sua formação social, o que lhe proporcionaria uma
fantástica riqueza cultural. A reciclagem do poder oligárquico e a decadência da lavoura
58
cacaueira não modificaram, significativamente, segundo os autores, esses traços
predominantes.
Além da herança da lavoura cacaueira, a cidade de Ilhéus possui tradições populares e
folclóricas peculiares de uma cidade do interior que, aliadas a outros fatores, como o clima
quente e a localização litorânea, possibilitam a sua classificação na posição de terceiro pólo
turístico da Bahia, atrás apenas de Salvador e Porto Seguro.
De acordo com informações obtidas no último censo do IBGE (2000), a cidade de
Ilhéus possui hoje uma área de 1.841,03 quilômetros quadrados, com uma população de
221.883 pessoas, sendo 110.272 homens e 111.611 mulheres. O acesso rodoviário para o
município se dá através da BA- 261, pela cidade de Uruçuca, a BR-415, por Itabuna
utilizando-se a BR–101 como acesso, e a Rodovia Canavieiras / Ilhéus, passando por Una
(ANDRADE, 2003). Com relação à infra-estrtura turística, Ilhéus possui um aeroporto
habilitado a receber vôos nacionais; um porto internacional; 40 pontos de alimentação
entre bares, restaurantes e lanchonetes; 117 estabelecimentos de acomodação entre
resorts, hotéis, pousadas, campings e albergues; e cerca de 15 agências de viagens10.
Da infra-estrutura turística citada, interessam a esse estudo as agências de
viagens, segmento escolhido para a realização das análises propostas. Como já abordado
no tópico que trata da metodologia, apesar de a cidade de Ilhéus possuir em torno de
quinze agências de viagens, no período em que se realizou a pesquisa, apenas uma
agência trabalhava de forma regular com o turismo receptivo e mais especificamente
com a realização de roteiros turísticos culturais. Por atender à classificação de passeios
culturais, O CityTour histórico e a visita à fazenda de cacau, roteiros agenciados pela NV
turismo, foram escolhidos para o desenvolvimento desse estudo. O próximo tópico
apresenta a descrição de cada um dos roteiros citados, destacando as informações
transmitidas e obedecendo à cronologia do percurso.
10 Bahia. Salvador, 2005. Disponível em <http://www.bahia.com.br> Acesso em: 26/08/2005.
59
4.2 Descrição dos roteiros turísticos culturais agenciados em Ilhéus-BA
A descrição desses roteiros teve o objetivo de possibilitar uma noção geral do trajeto
percorrido pelos turistas, do tempo gasto no percurso como um todo e em cada parada, da
quantidade de monumentos visitados, das informações passadas, enfim, dos aspectos gerais
que envolvem os referidos passeios.
Com a finalidade de facilitar o entendimento, além da descrição, optou-se por
apresentar fotografias entremeando o texto, com vistas a melhor compor a produção textual e
facilitar a compreensão. Cabe ainda destacar que as referências bibliográficas das notas de
rodapé referem-se à confirmação das informações passadas pelo guia turístico, que é o
principal intérprete dos locais visitados durante o roteiro.
4.2.1 Roteiro City Tour histórico
A finalidade desse roteiro é apresentar aos turistas a cidade de Ilhéus, dando ênfase aos
aspectos históricos que envolvem o local. Durante o trajeto, o guia relata aos turistas o
período que se inicia com a fundação da Vila de São Jorge de Ilhéus, a fase em que a cidade
viveu o ciclo do cacau, até os dias atuais. As histórias do lugar, da gente e dos monumentos e
locais que simbolizam a história oficial, são contadas em consonância com a passagem do
veículo que conduz os turistas pelas regiões da cidade que simbolizam tais fatos, personagens
ou personalidades.
Em geral, os usuários de excursões a pé percorrem uma pequena parte da cidade de cada vez, embora possam também, conjugar as caminhadas com passeios de ônibus, cobrindo assim temas espalhados em uma grande área urbana, como aqueles ligados à evolução arquitetônica da cidade. Quando a
60
excursão é planejada como uma introdução geral à cidade, é normalmente feita de ônibus (MURTA e GOODEY, 2002, p.40/41).
O City Tour histórico tem início em Olivença, distrito de Ilhéus, situado no km 17 da
Rodovia Ilhéus/Canavieiras e caracterizado pela presença do mar, de águas minerais com
propriedades medicinais, além de uma rica história ligada à presença dos índios Tupinambás
nessa região e outras tradições populares típicas das pequenas cidades, como a puxada do
mastro de São Sebastião, festa que mistura o sagrado e o profano e se realiza todo ano no mês
de janeiro.
A Igreja de Nossa Senhora da Escada (Figura 1), construída pelos padres jesuítas e
pelos índios, situada na Praça Cláudio Magalhães, é o primeiro local onde o ônibus do roteiro
pára. Nesse ponto, o guia que comanda a excursão fornece aos turistas informações sobre a
construção do monumento, que é do século XVII.
Outro aspecto abordado é a localização estratégica da Igreja, que fica no ponto mais
alto do distrito e com vista para o mar, pelo fato de, na época da sua construção, ser a área
mais protegida em relação a ataques de povos inimigos vindos do oceano. Além disso, o guia
ainda relata a costume festivo da puxada do mastro de São Sebastião, descrevendo aos turistas
a tradição envolvida nessa festa popular local e, por fim, fala das águas ferruginosas do local e
cita seus componentes (Iodo, Ferro e Magnésio). Apesar de o ônibus do passeio realizar a sua
primeira parada, não há descida dos passageiros no distrito de Olivença e o tempo total gasto
nesse local é de 10 minutos.
A maioria das comunidades procura alcançar um entendimento de suas vidas por meio da referência de um sistema de crenças, que se expressa através de atividades regulares de reverência a um sistema de crenças, cerimônias, ritos de passagens e sacrifícios. Independentemente do tipo de religião, das indígenas às cristãs, a prova das crenças do lugar estará espalhada por toda a cidade. Por serem locais considerados sagrados, eles são os mais respeitados e os mais preservados de uma cidade. Além disto, é provável que sejam destacados pela altura, decoração, materiais construtivos ou localização (MURTA e GOODEY, 2002, p.79)
61
Figura 1 – Igreja de Nossa Senhora da Escada - Olivença
Fonte: www.ilhéus.com.br, 2004
Já a caminho da cidade de Ilhéus, na rodovia BA 001, o guia fala sobre a sua história
ainda como Capitania Hereditária e relata o conflito ocorrido entre índios Tupiniquins, antigos
habitantes da região, e colonos ligados ao governador Mem de Sá que, com tal ajuda,
conseguiram vencer os índios numa luta travada nas águas do mar da praia do Cururupe (entre
Ilhéus e Olivença), que ficou conhecida como “batalha dos nadadores11”. O trajeto
Olivença/Ilhéus tem uma duração aproximada de 15 minutos.
Na chegada ao perímetro urbano do município de Ilhéus, o guia informa a data de
fundação da cidade, sua localização geográfica, a quantidade atual de habitantes e passa a
enfatizar o período em que a cidade e a região viverem o ciclo do cacau. Na passagem pelo
bairro do Pontal, são destacados dois momentos da história local, o da fundação da Vila de
São Jorge de Ilhéus, no morro do Outeiro de São Sebastião, e os encontros dos Coronéis e
suas amantes que se davam nesse bairro na época em que a cidade vivia a civilização
cacaueira.
No centro da cidade, sempre com o ônibus em movimento, além do antigo porto,
são apontados aos turistas três importantes monumentos da cidade, o Cristo, o Ilhéos
Hotel e o Bataclã. Como não há a parada do veículo condutor, as informações são 11 FREITAS, Antonio Fernando G de. PARAISO, Maria Hilda Baqueiro. Caminhos ao Encontro do Mundo: A capitania, os frutos de ouro e a princesa do Sul – Ilhéus, 1534-1940. Ilhéus, Ba: Editus, 2001.
62
passadas de forma acelerada, destacando-se as principais características dos referidos
monumentos históricos da cidade. A estátua do Cristo (Figura 2), situada na Avenida 2
de Julho, foi inaugurada em 1942, no governo de Mário Pessoa, antigo prefeito que tinha
a intenção de tornar Ilhéus parecida com a cidade do Rio de Janeiro12. Além de dar
destaque a essa história, no momento da passagem, o guia fala sobre o tamanho da
estátua, que possui 7 metros.
Figura 2 – Cristo Redentor de Ilhéus Fonte: Aline Caldas, 2005
O Ilhéos Hotel (Figura 3), é uma construção da década de 1930 e pertencia ao Coronel
Misael Tavares, que foi considerado o maior produtor individual de cacau do mundo. Esse
prédio foi o primeiro a ser construído em cidades do interior do Norte e Nordeste do país e o
primeiro dentre os edifícios baianos a implantar elevador. Além do hotel, funcionavam no
local a Casa Bancária particular do Coronel e dois depósitos de cacau13. Todas essas
informações são relatadas aos turistas no instante da passagem do ônibus pelo local.
12 VINHÁES, José Carlos. São Jorge dos Ilhéus: da capitania ao fim do século XX. Ilhéus-Ba: Editus, 2001. 13 Fundação Cultural de Ilhéus. Ilhéus, 2004. Disponível em <http://www.fundaci.com.br>. Acesso em: 28/10/2004. Ilhéus: Bem vindo à terra de Jorge Amado. Folder promocional da Secretaria de Turismo de Ilhéus (em anexo).
63
Figura 3 – Ilhéos Hotel Fonte: www.ilhéus.com.br, 2004.
O Bataclã (Figura 4), localizado na Avenida 2 de Julho, é o prédio onde funcionava
um antigo cabaré, ponto de encontro de Coronéis do cacau e que ficou famoso ao ser narrado
no romance Gabriela cravo e canela, do escritor Jorge Amado, sendo a personagem Maria
Machadão a proprietária. Esse local hoje é um espaço turístico-cultural que, além de possuir
Ciber Café e sala para exposições e apresentações, exibe a reprodução do quarto da Maria
Machadão. Apesar da sua importância, o Bataclã também não é visitado internamente. Além
das informações básicas sobre o local, os turistas têm apenas a possibilidade de avistar a sua
fachada.
64
Figura 4 – O Bataclã Fonte: www.ilhéus.com.br, 2005.
Da entrada no perímetro urbano, incluindo a passagem pelos três monumentos citados,
até o primeiro ponto com descida dos turistas para visitação interna, o tempo gasto é de
aproximadamente 15 minutos.
O primeiro local do roteiro com descida para visitação é o conjunto arquitetônico da
Piedade, formado pelo Convento e Igreja Nossa Senhora da Vitória (Figura 5), que foi
fundado pelas irmãs ursulinas em 1916 e está localizado numa elevação da cidade chamada
Alto da Piedade. No local também funcionam um colégio dirigido pelas freiras e o Museu
Nossa Senhora da Piedade, que fica em duas salas do antigo Palácio Episcopal, doado às
freiras Ursulinas. O acervo do Museu é caracterizado pela presença de mobiliários antigos,
imagens sacras, peças de arte, indumentárias, louças, quadros e objetos diversos e de uso
pessoal de Madre Thais do Sagrado Coração Pillart, a sua fundadora14.
14 MACEDO, Janete Ruiz; RIBEIRO, André Luiz Rosa. Ilhéus: tempo, espaço e cultura. Itabuna: Agora Editora Gráfica, 1999.
65
Figura 5- Igreja de Nossa Senhora da Vitória Fonte: www.ilhéus.com.br, 2004.
Os turistas pagam um taxa para adentrar o monumento, cobrada pelas freiras para
manutenção do lugar. Na visita à Igreja, que tem estilo neogótico, o guia conta a história da
sua construção e fala da sua importância para a sociedade local, oferecendo também
oportunidade de reflexão e orações aos visitantes. Na visita ao Museu, não existe um
acompanhamento de pessoa vinculada ao monumento, nem do próprio guia, para explicar
sobre os bens históricos ali contidos.
O padrão especial e a idade das edificações religiosas, as rotas e caminhos religiosos são guias valiosos para se entender o padrão de crescimento urbano. Tanto o estilo arquitetônico quanto o simbolismo histórico tendem a ser pontos de interesse da atenção acadêmica. Isto não significa a impossibilidade de uma interpretação pessoal e acessível sobre esses lugares, não só como símbolos profundamente enraizados da comunidade, mas também como locais que ainda refletem a vitalidade de pelo menos uma parte dela (MURTA e GOODEY, 2002, p.80)
Ainda no Alto da Piedade, os turistas são levados ao mirante que tem acesso pelos
fundos do convento, onde podem avistar uma das principais avenidas da cidade, a Soares
Lopes, antiga Avenida Beira Mar, também construída no governo do prefeito Mário Pessoa
66
em homenagem à cidade do Rio de Janeiro, história que é relatada aos turistas pelo guia. Do
mirante é possível avistar, ainda, o atual porto da cidade e outros locais importantes. Essa
parada dura em torno de 20 minutos.
O próximo destino do roteiro é o Quarteirão Jorge Amado, circuito turístico idealizado
pela Setur (Secretaria de turismo do município de Ilhéus), que contempla dois roteiros (O
Cravo e o Canela) com nomes que homenageiam uma das principais personagens do escritor
Jorge Amado, a Gabriela, também representada no cinema e em novela televisiva. O
Quarteirão é formado por monumentos escolhidos pela prefeitura e que simbolizam,
principalmente, os tempos áureos da lavoura cacaueira, um dos principais temas explorados
pelo escritor Jorge Amado em seus romances.
No Quarteirão Jorge Amado, a agência não segue os roteiros formatados pela Setur,
destacando, apenas, alguns locais julgados mais importantes para a visita: a “Casa de Tonico
Bastos”, o “Palacete do Coronel Misael Tavares”, a Igreja Matriz de São Jorge, a Casa dos
Artistas, a Casa de Cultura Jorge Amado, o Teatro Municipal, o Bar Vesúvio e a Catedral de
São Sebastião.
Na Praça Ruy Barbosa, ponto inicial da visita, o guia turístico mostra ao grupo dois
importantes monumentos: o palacete do Coronel Misael Tavares (Figura 6), inaugurado em
189215, hoje sede da Maçonaria, e a casa do Coronel Tonico Bastos, dono de um antigo
cartório, transformado pelo escritor Jorge Amado em personagem importante no romance
Gabriela cravo e canela, onde atualmente funciona um Spa. Em ambos os monumentos, os
turistas só avistam as fachadas, que mantêm o aspecto original. A impossibilidade de visitas
ao interior se deve ao fato de esses prédios sediarem atividades que estão em funcionamento
normal, como já citado anteriormente, além do fato de não preservarem a originalidade do seu
ambiente interno, já totalmente reformado e sem as características da época da sua construção.
15 ANDRADE, Maria Palma. Ilhéus Passado e Presente. Ilhéus, Ba: Editus, 2003.
67
Figura 6 – Palacete que Pertenceu ao Coronel Misael Tavares
Fonte: Foto da autora, 2005
Algumas casas são com certeza especiais, e tiveram donos especais, mas a maioria das moradias de uma cidade, principalmente aquelas localizadas nas proximidades do centro, são menos visíveis. Levam tempo para se compreenderem os desenhos de plantas, os materiais e os detalhes construtivos que nos dão pistas sobre as origens e os diferentes períodos de uma cidade (MURTA e GOODEY, 2002, p.81)
O ponto seguinte é a Igreja Matriz de São Jorge (Figura 7), que está localizada na
esquina das ruas Conselheiro Dantas e Antonio Lavigne de Lemos e tem construção apurada
do final do século XVII. Além de ser uma construção com inegável valor histórico, essa Igreja
ainda possui um museu no seu interior com obras sacras muito valiosas, datadas dos séculos
XVI a XIX16. E apesar dessa importância cultural e histórica, os turistas nem sempre têm a
chance de conhecer melhor a Igreja e o museu, já que, por falta de segurança no local, os
religiosos responsáveis pelo monumento preferem mantê-lo fechado em boa parte do tempo,
visando a preservar a integridade das peças de grande valor contidas no seu interior. São
16 ANDRADE, Maria Palma. Ilhéus Passado e Presente. Ilhéus, Ba: Editus, 2003. MACEDO, Janete Ruiz; RIBEIRO, André Luiz Rosa. Ilhéus: tempo, espaço e cultura. Itabuna, Ba: Agora Editora Gráfica, 1999.
68
usados mais 15 minutos para apresentação da casa de Tonico Bastos, do Palacete do Coronel
Misael Tavares e da Igreja Matriz de São Jorge.
Figura 7 – Igreja Matriz de São Jorge Fonte: Foto da autora, 2005
Paralela à Igreja Matriz de São Jorge, fica a Rua Antonio Lavigne de Lemos (Figura
8), que tem um calçamento especial, feito com pedras importadas da Europa, que teriam sido
compradas especialmente para o casamento da filha de um Coronel no ano de 1907, de um
navio inglês que teria aportado em Ilhéus17.
Figura 8 – Rua Antonio Lavigne de Lemos
17 VINHÁES, José Carlos. São Jorge dos Ilhéus: da capitania ao fim do século XX. Ilhéus-Ba: Editus, 2001. Ilhéus: Bem vindo à terra de Jorge Amado. Folder promocional da Secretaria de Turismo de Ilhéus (em anexo).
69
Fonte: Foto da autora, 2005
Toda essa história é narrada pelo guia, que conduz o grupo de turistas através dessa
rua até o “artesanato da vovó Aidil” (Figuras 9 e 10), onde são oferecidos alguns produtos
artesanais (panos bordados, roupas, miniaturas de cacau em cerâmica, bolsas, entre outros),
cartões postais da cidade, além de licores, cachaças e doces como geléias, chocolates e
cocadas, tudo feito com o cacau da região. Nesse local, além de compras, os turistas podem
fazer a degustação das bebidas e dos doces e têm cerca de 15 minutos para permanecer no
lugar.
Figura 9 – Loja de Artesanato da Vovó Aidil Fonte: Foto da autora, 2005
Na Rua Jorge Amado, o primeiro local visitado é a Casa dos Artistas (Figura 10),
antiga residência do Coronel Adami de Sá, que também foi prefeito de Ilhéus no início do
século XX. Após a aquisição desse monumento por um empresário suíço, a casa, que ainda
preserva a fachada original, foi transformada num local de apoio aos artistas locais, que
expõem suas obras e realizam apresentações teatrais18.
18 Ilhéus: Bem vindo à terra de Jorge Amado. Folder promocional da Secretaria de Turismo de Ilhéus (em anexo).
70
Figura 10 – Casa dos Artistas Fonte: Foto da autora, 2005
Na Casa dos Artistas, os visitantes, além de apreciar e poder adquirir objetos de arte
local, como pinturas, esculturas e também literatura de cordel, presenciam um pequeno
espetáculo teatral, realizado por um grupo de teatro ilheense, onde os personagens Gabriela
(Figura 11) e Tonico Bastos contracenam entre si e interagem com o público. A visitação à
casa, incluindo a apresentação do espetáculo, dura em torno de 30 minutos.
Figura 11 – Atriz Representando Gabriela Fonte: Foto da autora, 2005
71
Ainda na Rua Jorge Amado, os turistas vistam a Casa de Cultura Jorge Amado
(Figuras 12 e 13), onde podem conhecer a história do monumento, do escritor, e ter contato
com alguns objetos pessoais de Jorge Amado, algumas fotos e capas de edições nacionais e
internacionais das suas publicações, além de capas de livros publicados por outros escritores
regionais, como Adonias Filho, Hélio Pólvora, Cyro de Mattos, Jorge Araújo e Telmo
Padilha. Também é possível a aquisição de algumas lembranças relacionadas ao escritor
homenageado, como livros e miniaturas em cerâmica, além de outros artesanatos locais.
Construída na década de 20 pelo pai de Jorge Amado, o Coronel João Amado Faria, a
casa foi o local onde o escritor redigiu alguns capítulos do romance O país do carnaval. Além
da Casa de Cultura, o prédio hoje é também a sede da Fundação Cultural de Ilhéus, mas, em
tempos anteriores, já foi sede do Clube dos Bancários, da Faculdade de Ilhéus, da Academia
de Letras e do Instituto Histórico de Ilhéus19.
Figura 12 – Entrada Lateral da Casa de Cultura Jorge Amado Fonte: Foto da autora, 2005
19 Fundação Cultural de Ilhéus. Ilhéus, 2004. Disponível em <http://www.fundaci.com.br>. Acesso em: 28/10/2004. Ilhéus: Bem vindo à terra de Jorge Amado. Folder promocional da Secretaria de Turismo de Ilhéus (em anexo).
72
A casa de Jorge Amado é o único monumento visitado onde o guia deixa de transmitir
as informações e passa a função para os funcionários e estagiários que trabalham na Casa de
Cultura, encarregados de contar a história do monumento, da passagem de Jorge Amado pela
casa, bem como apresentar um vídeo sobre a vida e a obra do escritor (Figura 18). A vista ao
local dura aproximadamente 20 minutos.
O turista cultural chega pedindo licença, e assim pode visitar a história não só conhecendo
as evidências materiais do passado, presentes em sítios, monumentos e objetos
consagrados como patrimônio, mas também escutando e lendo relatos e lembranças dos
que vivenciaram e fizeram a história do lugar (FREIRE e PEREIRA, 2002, p.128)
Figura 13 – Sala de Vídeo da Casa de Cultura Jorge Amado Fonte: Foto da autora, 2005
A próxima parada do roteiro é a Praça Dom Eduardo, em frente ao Teatro Municipal
de Ilhéus (Figura 14), antigo “Cine-Theatro de Ilheos”, onde os visitantes são apresentados ao
monumento inaugurado em 1932. O Teatro Municipal de Ilhéus foi palco de grandes
companhias líricas, atores, atrizes e cantores nacionais e internacionais nos tempos prósperos
73
do cacau. A partir de 1950 entrou em decadência em razão das crises do cacau. Em 1982 foi
doado, em ruínas, à prefeitura de Ilhéus pela família Rehem da Silva, à qual pertencia. No ano
de 1986 teve o seu interior recuperado, e, em 1997, após sofrer grande reforma, foi
reinaugurado20.
Formas organizadas de entretenimento foram igualmente importantes para o sucesso de uma cidade. [...] O legado cultural de encenações encontra-se nos teatros, nas salas de concerto, nas galerias e antigas salas de cinema. [...] Apesar das pressões do desenvolvimento tenderem a empurrar tais práticas para outros locais, é provável que a população local saiba os lugares onde tudo isso costumava acontecer (GOODEY, 2002, p.81).
Figura 14 – Teatro Municipal de Ilhéus Fonte: Foto da autora, 2005
Os turistas se restringem a conhecer e a tirar fotos apenas da fachada do Teatro, já que
nesse monumento os visitantes também não podem entrar para maior conhecimento. Ainda na
Praça Dom Eduardo, após a exibição do Teatro Municipal, são apresentados aos turistas a
Catedral de São Sebastião e o Bar Vesúvio.
20 ANDRADE, Maria Palma. Ilhéus passado e presente. Ilhéus, Ba: Editus, 2003. Ilhéus: Bem vindo à terra de Jorge Amado. Folder promocional da Secretaria de Turismo de Ilhéus (em anexo).
74
A Catedral de São Sebastião (Figura 15), um dos padroeiros da cidade, foi inaugurada
em 1967. É um monumento eclético, já que contempla o estilo neoclássico, possui vitrais
artísticos, colunas coríntias e abóbadas romanas. Foi construída sobre ruínas da primeira
igreja, demolida em 1926 por D. Manoel Paiva. Os Coronéis queriam abrir mão da
simplicidade da antiga igreja, para construir um monumento imponente, que estivesse à altura
da cultura cacaueira21.
Figura 15 – Catedral de São Sebastião Fonte: Aline Caldas, 2005
Já o bar Vesúvio (Figura 16), é uma atração que faz parte do imaginário dos turistas
pelo fato de ter sido um dos cenários do romance de Jorge Amado, transformado
posteriormente em novela. Representa também a história real da cidade de Ilhéus, já que nos
tempos áureos do cacau, era ponto de encontro de Coronéis, que lá discutiam assuntos
políticos, contavam histórias e falavam das suas lutas e conquistas.
21 ANDRADE, Maria Palma. Ilhéus Passado e Presente. Ilhéus, Ba: Editus, 2003. Ilhéus: Bem vindo à terra de Jorge Amado. Folder promocional da Secretaria de Turismo de Ilhéus (em anexo).
75
Figura 16 – Bar Vesúvio Fonte: Foto da autora, 2005
Nesse ponto, após explicar o significado de cada um desses monumentos para a cidade
de Ilhéus, o que dura cerca de 10 minutos, o guia anuncia aos visitantes o fim do roteiro e
estipula mais 30 minutos livres para que possam visitar a Igreja, ir ao Bar Vesúvio conhecer a
sua gastronomia, ou tomar sorvete na Ponto Chic Sorveteria. Após esse tempo, os turistas são
conduzidos de volta ao transporte para que retornem aos hotéis onde estão hospedados. O
roteiro completo tem duração aproximada de três horas.
É necessário salientar que o modelo de roteiro descrito considera a versão mais ampla
do passeio. Não existe uma padronização rígida em relação aos locais visitados e ao tempo de
visitação. O conjunto arquitetônico da Vitória, que era ponto certo de visitação, por exemplo,
em virtude de reforma do prédio, não está incluído no roteiro do verão de 2005. É necessária,
entretanto, sua citação no trabalho, pois sua exclusão é provisória. Outra importante
consideração é a inconstância da visitação a Olivença. A depender do hotel onde os turistas
estão hospedados e do dia da semana, nem sempre Olivença está incluída no roteiro.
76
4.2.2 Roteiro fazenda de cacau
Outro roteiro cultural realizado pela agência estudada, consiste na visitação a dois
locais: uma fazenda de cacau, a Fazenda Primavera, situada no km 22 da Rodovia Ilhéus-
Itabuna, de propriedade do Sr. Virgílio Amorim, e o Museu Casa Verde, situado na antiga
residência de um Coronel de Cacau, na cidade de Itabuna, administrado pela Universidade
Estadual de Santa Cruz. A finalidade desse roteiro é apresentar a saga da cultura cacaueira
para os turistas, dando ênfase à história dos coronéis, narrando a ostentação de riqueza do
período, como também as lutas pelo poder e pela terra.
A fazenda, como um dos principais símbolos dessa época, além de local escolhido
pela agência para relatar esse período, também atende a finalidade de demonstração do
processo de plantio, colheita e beneficiamento do cacau. O Museu Casa Verde, por sua vez,
retrata a antiga residência urbana de um coronel do cacau, o Cel. Henrique Alves, o que
complementa a visita e possibilita aos visitantes o conhecimento de hábitos do período,
demonstrados através dos diversos mobiliários, utensílios domésticos e objetos pessoais do
Coronel e da sua família.
O roteiro Fazenda de Cacau tem início com a saída dos veículos que conduzem os
turistas do hotel até a Fazenda Primavera. Durante o trajeto, o guia introduz, de forma
bastante generalista, a história do período em que a região viveu a saga do cacau, dando
destaque ao período áureo do ciclo. Esse percurso dura em torno de 40 minutos.
Com a chegada à fazenda, todos são recebidos pelo Sr. Virgílio Amorim que, a partir
desse momento, passa a ser o transmissor das informações para os turistas que, inicialmente,
adentram a plantação de cacau (Figura 17), onde são apresentados ao cacaueiro e ao fruto do
cacau, colhido na hora e aberto para que os visitantes tenham a oportunidade de prová-lo.
77
Figura 17 – Visita a uma Plantação de Cacau Fonte: Foto da autora, 2005
Nesse ponto da visita, o Sr. Virgílio relata a origem amazônica do cacau e a chegada
das primeiras sementes ao Sul da Bahia, trazidas pelo colono francês Frederico Warneau, em
1746. Uma fazenda do município de Canavieiras, que pertencia no período à Capitania de
Ilhéus, foi o primeiro local onde o cacau foi plantado na região. A semelhança de clima e solo
com a região amazônica favoreceu a expansão do cacau nessas terras. Mas, apesar de as
primeiras sementes terem chegado à região no século XVIII, somente no século XIX, a partir
de 1822 é que a cultura do cacau teve início na região 22.
O Sr. Virgílio fala da importância da Mata Atlântica, que proporciona a sombra
requerida pelo cacaueiro para um bom desempenho agrícola, da importância do clima quente
e úmido, do processo de plantio e dos períodos de colheita. Além disso, conta sobre a
expansão do cacau, a história dos coronéis, dos jagunços, da gente de outras regiões que veio
à procura de uma vida próspera, dos abusos de poder da riqueza vividos pelos cacauicultores,
até chegar ao período em que o cacau foi praticamente dizimado e a região viveu a crise com
conseqüências ainda hoje sentidas.
22 ANDRADE, Maria Palma. Ilhéus Passado e Presente. Ilhéus, Ba: Editus, 2003
78
O fazendeiro ainda relata as perspectivas do cacau clonado, explica sua origem e
evolução, inclusive citando o exemplo da sua propriedade, que já dispõe do fruto resistente à
vassoura-de-bruxa. Fala sobre a importância da diversificação da lavoura e de outras
atividades que foram agregadas e que surgiram como alternativas de superação da crise,
inclusive o turismo, caso da Fazenda Primavera.
Em seguida, é demonstrado ao grupo de turistas como se efetiva a colheita do fruto do
cacau, que se dá através da utilização de um instrumento de uso manual chamado podão, que
deve cortar o talo do fruto de cima para baixo, sem jamais ser empurrado em direção ao
tronco, pois assim poderá causar ferimento na almofada floral e no próprio tronco. Também é
explicado que, depois da colheita, os frutos são dispostos em “bandeiras” ou “rumas”, onde
em seguida inicia-se a quebra23. Essa parte da visita dura em torno de 20 minutos.
Figura 18 – Entrada da fazenda Primavera Fonte: Foto da autora, 2005
Depois de experimentarem os frutos colhidos, os visitantes são conduzidos pelo guia e
o fazendeiro até as instalações de beneficiamento do cacau. Nesse momento, são relatados
dois importantes procedimentos do processo de beneficiamento do fruto: a fermentação e a
23 GRAMACHO. I da C. P; MAGNO, A.E. S; MANDARINO, E. P e MATOS, A. Cultivo e Beneficiamento do Cacau na Bahia. Ilhéus, CEPLAC, 1992.
79
secagem das sementes. A importância da fermentação se deve ao fato desse procedimento ser
responsável pelo início da formação dos precursores do sabor e aroma do chocolate. Sr.
Virgílio explica que, para uma boa fermentação as sementes precisam ser originárias de frutos
maduros, já que as sementes de frutos verdes não possuem quantidade suficiente de açúcar
para uma fermentação adequada. O cocho é o local onde ocorre a fermentação24.
A secagem, por sua vez, é o processo de eliminação do excesso de água contida nas
sementes, visando à redução do seu teor de umidade. Além disso, durante a secagem
continuam e terminam as mudanças químicas que darão o sabor e aroma característicos ao
chocolate. A secagem, quando bem feita, permite a redução da acidez das amêndoas25. Os
visitantes têm a oportunidade de conhecer a barcaça, que é a mais tradicional instalação para
secagem natural de cacau. Esse processo proporciona um produto de qualidade superior,
tendo um ganho de 12% de peso a mais em relação aos processos artificiais de secagem26.
Os turistas são levados a conhecer a parte superior das barcaças (Figura 19), onde o
cacau é secado. Construídas de um vigamento que pode ser de madeira ou concreto armado,
as barcaças são sustentadas por pilares de madeira, tijolinhos ou pedra. Sobre o vigamento é
instalado o lastro de tábuas para a área de secagem do cacau. Nas vigas laterais, são instalados
trilhos e sobre estes correm rodas ou roldanas presas a uma cobertura móvel, cuja estrutura
pode ser feita de madeira, ferro ou alumínio, e coberta com telas de zinco ou alumínio. A
barcaça é amplamente utilizada por pequeno, médio e grande produtor; e é uma instalação de
imprescindível necessidade em qualquer fazenda de cacau27. A vista a barcaça dura
aproximadamente 20 minutos.
24 GRAMACHO. I da C. P; MAGNO, A.E. S; MANDARINO, E. P e MATOS, A. Cultivo e Beneficiamento do Cacau na Bahia. Ilhéus, CEPLAC, 1992 25 Ibidem. 26 Ibidem. 27 Ibidem.
80
Figura 19 – Turistas Conhecendo a Barcaça Fonte: Foto da autora, 2005
Depois de conhecerem um pouco mais do processo de plantio, colheita e
beneficiamento do cacau, os turistas são conduzidos até a sede da fazenda (Figura 20) para
tomar o suco do cacau e conhecer a casa, onde se encontra um pequeno museu organizado
pelo Sr.Virgílio. Nesse momento, na área externa da sede, os turistas, além de provarem o
suco, conhecem todos os instrumentos utilizados na colheita do cacau. Além disso, é
explicado pelo Sr. Virgílio o processo de preparação do chocolate artesanal, também feito na
fazenda.
Figura 20 – Casa Sede da Fazenda Primavera Fonte: Foto da autora, 2005
81
Ainda antes de conhecer o museu particular do fazendeiro (Figura 21), os visitantes
conhecem uma cobra criada em cativeiro pelo Sr. Virgílio, que também é responsável pela
extração do veneno dos ofídios e envio desse material para um instituto em Minas Gerais, que
o transforma em soro antiofídico, posteriormente doado pelo dono da fazenda aos hospitais
públicos das cidades de Ilhéus e Itabuna. O tempo gasto na visita à parte externa da sede tem
uma duração de 20 minutos.
Após as explicações, o grupo adentra a casa, onde conhece a história da família
Amorim, que já está na sétima geração, sendo descendente de alemães e portugueses que,
após casamento, uniram duas sesmarias que deram origem à atual Fazenda Primavera. Os
visitantes têm a oportunidade de ver fotos dos ascendentes do fazendeiro, além de diversos
objetos antigos e importantes documentos, alguns pertencentes à família e outros adquiridos
pelo Sr. Virgílio, que se interessa por antiguidades. Dentre os objetos, encontram-se louças e
outros utensílios domésticos, aparelho de rádio, máquinas de datilografia, quadros e objetos
de decoração, além de mobiliários.
Outro ponto abordado na visita que desperta a atenção dos turistas foi a utilização da
fazenda para gravação de algumas cenas da novela Renascer, da Rede Globo de televisão, que
teve como cenário o ambiente rural da região de Ilhéus. Na sede da fazenda, além da réplica
da cama utilizada pelo coronel da novela, representado pelo ator Antonio Fagundes, há um
facão utilizado pelo mesmo personagem e que, segundo o guia turístico, foi doado ao dono da
fazenda pelo ator.
82
Figura 21 – Museu da Fazenda Primavera Fonte: Foto da autora, 2005
Antes do encerramento da visita, o Sr. Virgílio enfatiza, ainda, a importância do
turismo para a fazenda e o reconhecimento de sua propriedade como ponto turístico pela
mídia. São apresentadas aos turistas algumas reportagens sobre o turismo na Fazenda
Primavera em importantes jornais como a Gazeta Mercantil e periódicos nacionais, a exemplo
das revistas Veja, da Editora Abril, e Isto é, da Editora Três, além de publicações periódicas
internacionais. No processo de visitação ao Museu são gastos mais 20 minutos.
Com a conclusão da visita à fazenda, os turistas entram novamente no ônibus da
agência para se deslocarem até a cidade de Itabuna, outro importante “cenário” da cultura
cacaueira, onde conhecerão o Museu Casa Verde (Figuras 22 e 23), um dos mais ricos acervos
regionais e que guarda a memória da cultura cacaueira do Sul da Bahia da primeira metade do
século XX. São gastos mais 15 minutos no deslocamento até o Museu.
83
Figura 22 –Museu Casa Verde – Itabuna-Ba Fonte: CEDOC/UESC, 2003
O Museu Casa Verde reúne mais de duas mil peças pertencentes à família do
comerciante, cacauicultor, político e "Coronel" Henrique Alves dos Reis, um dos fundadores
do município de Itabuna. Dentre os objetos mais preciosos da coleção, destacam-se os
aparelhos de jantar e café Limoges (franceses), cristais Bacarat (Bohemia, Sul da Alemanha),
móveis à moda Luís XV, fardas, espadas e moedas de prata, exemplares do primeiro jornal da
cidade "O Intransigente", além de vestidos, chapéus e leques de Dona Cordolina Loup Reis,
esposa do "Coronel"28.
O Museu,localizado à rua Miguel Calmon, 123, no centro da cidade de Itabuna, é
administrado pela Universidade Estadual de Santa Cruz que, através do CEDOC (Centro de
Documentação da Uesc), tem contribuído com o resgate e a manutenção de documentos, tanto
em nível municipal quanto estadual. Na chegada ao museu, os visitantes são recebidos pelo
funcionário responsável, que relata um pouco a história do coronel Henrique Alves e da sua
28 Itabuna- Ba. Itabuna, 2005. Disponível em <http://www.itabuna-ba.com.br/news-museu-casa-verde.htm> Acesso em: 22/05/2005.
84
família, conduzindo os turistas pelos cômodos da casa e explicando a origem das peças e
algumas características culturais da época.
O Museu é um importante empreendimento cultural da cidade de Itabuna, onde foram
reconstituídos os costumes e a época de uma das fases mais importantes da história regional.
De um tempo em que a riqueza proveniente da cacauicultura permitia a importação de objetos
e um requintado padrão de vida29. A vista ao Museu Casa Verde dura em torno de 20 minutos.
Figura 23 – Interior do Museu Casa Verde Fonte: CEDOC/UESC, 2003
Antes do retorno aos hotéis, os turistas ainda têm cerca de 20 minutos para tomar sorvete na sorveteria Danúbio Azul, na Avenida do Cinqüentenário, centro da cidade de Itabuna. Assim como o City Tour Histórico, o roteiro Fazenda de Cacau completo tem uma duração aproximada de três horas.
O tópico seguinte analisa os roteiros aqui descritos, discutindo os aspectos mercadológicos inerentes à atividade de agenciamento turístico receptivo, como também abordando os fatores de ordem sócio-culturais envolvidos nessa atividade. O estudo foi delineado a partir da determinação do perfil geral do turista, bem como de seu perfil psicográfico.
29 ANDRADE, Maria Palma; ROCHA, Lourdes Bertol. De Tabocas a Itabuna: um estudo histórico-geográfico. Ilhéus, Ba: Editus, 2005.
85
5 ANÁLSE DO PERFIL DO TURISTA CULTURAL AGENCIADO EM ILHÉUS/BA
5.1 Análise do perfil geral do turista
Para o levantamento do perfil geral dos turistas pesquisados, foram consideradas
variáveis geográficas, demográficas, sociais e econômicas. A partir da importância para a
atividade turística, foram consideradas relevantes as informações referentes a origem, gênero,
faixa etária, estado civil, nível de escolaridade e renda. Com referência a esse tipo de análise,
Middleton (2002, p.125) comenta:
No nível mais simples de análise, familiar à maioria dos
usuários, os segmentos de clientes podem ser definidos em
termos de descrições básicas de idade, sexo, ocupação, renda
e local de residência. Conhecidos, como perfis do cliente, esses
fatos, são, em geral, facilmente obtidos para os clientes
existentes na indústria de viagens e turismo, como subproduto
de registros de reservas, procedimentos de registros e
pesquisas regulares com clientes [...].
O Quadro 1 apresenta uma síntese do perfil dos turistas pesquisados30, onde se
considera, para efeito de discussão, os estratos da amostra que apresentaram percentuais
mais elevados. De acordo com a referida tabela, 73% dos turistas agenciados que visitam
Ilhéus com a finalidade de realizar roteiros culturais são do sexo feminino. As regiões de
origem desses turistas são o Sudeste e o Sul do país, principalmente o Estado de São Paulo,
responsável por 51% do total de visitantes pesquisados. Com relação a estado civil, os turistas
estão
30 As tabelas completas com os dados sobre o perfil geral do turista encontram-se no apêndice B, p. 132.
86
divididos de forma equilibrada entre solteiros e casados, numa abrangência de 75% da
amostra. A faixa etária de 31 a 45 anos se mostrou predominante, com 33%. Além disso, 63%
têm nível superior completo e 35% estão na faixa de renda entre 5 e 10 salários mínimos.
Quadro 1 – Demonstração Simplificada do Perfil Geral dos Turistas Pesquisados.
Em relação ao local de origem, as regiões do país economicamente mais
desenvolvidas, mais urbanizadas e, conseqüentemente, com maior poder aquisitivo, aparecem
como principais pólos emissores dos turistas agenciados. De acordo com dados do Instituto
Variável Geográfica
São Paulo 54%
Minas Gerais 17% Origem
Rio Grande do Sul 15%
Variáveis Demográficas
Gênero Feminino 73%
16 a 30 anos 24%
31 a 45 anos 33% Faixa Etária
46 a 60 anos 18%
Solteiro 35% Estado Civil
Casado 40%
Variáveis Sociais e Econômicas
Superior completo 63% Escolaridade
Ensino médio completo 16%
Funcionário de empresa pública 17%
Funcionário de empresa privada 38%
Aposentado 12%
Estudante 7%
Autônomo 7%
Ocupação
Profissional liberal 6%
Até 5 Salários Mínimos 13%
+5 até 10 Salários Mínimos 35%
+10 até 15 Salários Mínimos 16% Renda
+15 até 25 Salários Mínimos 12%
87
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)31, em pesquisa sobre a participação das grandes
regiões no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, as regiões Sudeste e Sul aparecem com os
maiores percentuais, 59,9% e 16,4%, respectivamente. A região Nordeste apresentou um
percentual de 12,5%, a região Centro-Oeste, 8,1% e a região Norte, 3,1%. Quando se considera
o PIB per capita, São Paulo e Rio Grande do Sul, que estão entre os principais Estados
emissores de turistas para o agenciamento receptivo em Ilhéus, se encontram entre os cinco
Estados que apresentaram os valores mais elevados.
É importante ter o PIB como indicador econômico, já que este se constitui na soma dos
valores monetários de todos os bens produzidos em um país, ao longo de determinado
período de tempo, adicionado das rendas recebidas do exterior e da diminuição das rendas
enviadas para o exterior e acrescido das depreciações dos bens de capital (LAGE e MILONE,
2001). De acordo com Middleton (2002) onde quer que os mercados de viagens e turismo
sejam estudados, as variáveis econômicas dos países ou regiões onde moram os turistas
reais e potenciais representam o conjunto de fatores mais importantes que influenciam o
volume da demanda gerada.
As regiões emissoras apontadas pela pesquisa também estão entre as mais populosas
e urbanizadas do país. Conforme o último censo realizado pelo IBGE, em 2002, as regiões
Sudeste, Nordeste e Sul são as mais populosas do Brasil e as regiões Norte e Centro-Oeste, as
que possuem menor população. Quanto aos Estados, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande
do Sul estão entre os cinco mais populosos do Brasil. No tocante à taxa de urbanização, as
regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul aparecem com mais de 70% de urbanização, ao passo que
o Norte e o Nordeste ainda apresentam um índice inferior ao mencionado.
De acordo com Middleton (2002), um importante fator geográfico é o tamanho da
comunidade em que vivem as populações. Cidades, lugarejos e suas comunidades periféricas,
que também refletem os fatores de poder aquisitivo e escolaridade, em geral geram mais
turismo per capita do que as populações de comunidades rurais menores.
Ainda no que concerne à origem, quando se leva em consideração a demanda geral, de
acordo com a Pesquisa de Demanda Consolidada, realizada pela Bahiatursa (2002)32, as
principais regiões emissoras de turistas para a cidade de Ilhéus são o Sudeste, o Centro-Oeste
31 Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais, Contas Regionais do Brasil 1999-2002. 32 Bahiatursa – Empresa de Turismo da Bahia S/A. – é o órgão oficial de turismo da Bahia.
88
e o Sul do país, com 51,8%, 32,5% e 7,6%, respectivamente. Com referência aos Estados
emissores, São Paulo, Minas Gerais e o Distrito Federal aparecem como principais
demandantes com 23,5%, 12,1% e 11,9%, respectivamente. Numa análise comparativa com os
dados da pesquisa entre os turistas agenciados, tem-se a confirmação da região Sudeste
como a mais importante emissora, através dos Estados de São Paulo e Minas Gerais. Nota-se,
porém, a existência de um não aproveitamento de demanda pela agência com relação à região
Centro-Oeste, principalmente quando se tem em conta o Distrito Federal, terceiro pólo emissor
quando se considera a demanda geral.
Na análise das variáveis demográficas, os dados demonstram uma grande
predominância do público feminino, como também apontam para a preponderância de um
público mais maduro, embora a presença dos jovens também seja marcante, o que desfaz a
suposição de que o interesse por cultura sempre parte de um público com idade mais
avançada. Além disso, na variável estado civil, as classes dos solteiros e casados são
hegemônicas em relação às demais.
O conhecimento de gênero e faixa etária das populações no estudo do perfil da
demanda, na perspectiva de Mattar (2001), se torna importante, uma vez que a idade e o
gênero das pessoas determinam diferentes expectativas e motivações, o que possibilita a
formatação de produtos segmentados, que atendam às distintas características dos grupos.
Com relação às variáveis socioeconômicas, quando se analisa a escolaridade, os
dados revelam que o público dos roteiros culturais realizados pelas agências é eminentemente
formado por pessoas bem escolarizadas. A influência da escolaridade como um determinante
importante das viagens, de acordo com Middleton (2002), não é facilmente desassociada das
mudanças relacionadas à renda, classe social e composição das famílias. Para fins comerciais
e de lazer, quanto maior o nível de escolaridade, maior o número de viagens feitas, o que é
reflexo, sobretudo, de um maior conhecimento das oportunidades de viagens disponíveis.
No que se refere à variável renda, predominaram os turistas com renda de 5 a 10
salários mínimos. Uma pesquisa realizada pelo IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas
Aplicadas), com dados de dezembro de 2003 a abril de 2005, sobre os rendimentos médios
reais efetivamente recebidos por posição na ocupação, demonstrou que, nos meses de janeiro
89
de 2004 e janeiro de 200533, respectivamente, a renda dos funcionários de empresa pública foi
de R$ 1.369,60 e R$ 1.478,60, dos funcionários de empresa privada, de 884,10 e R$ 887,50, dos
autônomos, de R$ 736,90 e R$ 742,20 e do total geral de ocupados, de R$ 966,10 e R$ 940,70.
Ao ter em conta os salários mínimos dos meses pesquisados - R$ 230,00 em 2004 e R$ 260,00
em 2005 - observa-se que a renda do limite inferior do estrato com maior representatividade
percentual é maior do que o valor do total geral de rendimentos médios recebidos pelos
brasileiros ocupados no mesmo período. A mesma observação pode ser feita se considerado
como parâmetro a renda dos funcionários de empresa privada, os maiores demandantes dos
estratos analisados na variável ocupação.
Tal constatação corrobora a vinculação da renda à possibilidade de realização de
viagens turísticas. Lage e Milone (2002) afirmam que, quanto mais alto o poder aquisitivo dos
turistas, maior será o volume de gastos demandados. Com referência à atividade turística,
muitas vezes considerada como um bem de luxo, só desfrutado por aqueles que já tenham
satisfeito às necessidades de consumo de bens e serviços de primeira necessidade, as
classes sociais com menor nível de renda dificilmente participarão da demanda por causa das
restrições orçamentárias.
Assim como na variável renda, o perfil predominante dos turistas agenciados, em
todas as variáveis estudadas, ratificaram as tendências apontadas pelos autores da área em
relação às características predominantes dos demandantes pela atividade turística. Todas as
informações levantadas com este estudo possibilitam às empresas atuantes na área, não
somente conhecerem as características reais e dimensão da sua demanda, como também
identificarem mercados potenciais.
Vale salientar, entretanto, que apesar de extremamente relevantes, essas informações,
quando aliadas ao estudo do perfil psicográfico, podem trazer contribuições ainda maiores
para o conhecimento da demanda. Dessa forma, o tópico seguinte busca retratar algumas
características consideradas proeminentes para o estudo do perfil psicográfico do turista
agenciado que realiza roteiros culturais na cidade de Ilhéus, com vistas a atribuir maior valor
às informações já levantadas.
5.2 Análise do perfil psicográfico do turista
33 Meses em que a pesquisa com os turistas agenciados se realizou.
90
Para o estudo psicográfico dos turistas pesquisados, foram abordadas informações
sobre fatores preferenciais e atitudinais da demanda com relação ao roteiro cultural realizado.
Para um maior detalhamento das informações, além dos dados gerais, foram levantados dados
estratificados, baseados no cruzamento dos dados obtidos com as variáveis estudadas no
perfil geral do turista e alguns dados das variáveis psicográficas. O objetivo desse cruzamento
foi identificar peculiaridades atitudinais e comportamentais nos grupos estratificados.
5.2.1 A influência dos meios de informação na escolha dos turistas pela agência
A Tabela 1 mostra que os turistas, de uma forma geral, escolhem a agência
principalmente através de operadoras (48%), o que demonstra uma forte vinculação da
comunicação ao canal de distribuição (ponto de venda), como também evidencia a existência
de uma parceria consolidada entre a operadora de turismo e a agência de viagens.
Tabela 1 – Demonstração da distribuição percentual dos meios que influenciaram a escolha
dos turistas pela agência de receptivo
Meio de escolha da agência %
Operadora 48
Internet 19
Amigos e parentes 22
Outros 11
Fonte: Dados da pesquisa
Em tempos de desintermediação e reintermediação34, essa união de forças pode
representar, assim como no caso das fusões, um fortalecimento frente à concorrência, através
da aquisição de maior competitividade e poder de negociação. No caso da parceria entre a
operadora CVC e a NV turismo, especificamente, essa conjectura pode ser corroborada
quando se constata que essa agência de receptivo detém quase a totalidade dos clientes que
buscam esse serviço na cidade de Ilhéus.
34 Conforme a compreensão de Tomelin (2000).
91
A informação de amigos e parentes surge como segundo meio determinante da
escolha da agência de receptivo. Sobre esse aspecto, Ikeda (1998) explica que, como as
agências de viagens vendem serviços que implicam em alto grau de envolvimento emocional,
deve dar especial atenção ao relacionamento direto com o cliente e à comunicação boca-a
boca, além das outras formas convencionais de divulgação. Em pesquisa realizada por esta
autora sobre o grau de participação de diversas mídias na escolha das agências de viagens,
ficou constatado que a comunicação informal é um meio bastante efetivo de influência, o que
fortalece a necessidade de atenção em relação ao relacionamento direto com o cliente por
parte dessas prestadoras de serviço.
Outro dado interessante é a presença da internet como elemento influenciador da
escolha para quase 20% dos turistas pesquisados, o que vem comprovar a elevada influência
da tecnologia da informação no oferecimento de opções para os clientes. De acordo com
Avighi (2000), atualmente, as redes globais de comunicação são fundamentais para todos os
setores de informação e têm acarretado mudanças no mundo contemporâneo, estabelecendo
também novas perspectivas do turista em relação às possibilidades de viagens.
Na opção sobre outros meios que influenciaram a escolha da agência de viagens, os
turistas apontaram os jornais e o próprio hotel onde estavam hospedados. A diversificação
dos canais de comunicação se constitui numa importante estratégia para a divulgação dos
serviços, sobretudo na atividade turística, quando se atende a um público com características
diferenciadas e instalado em qualquer parte do mundo.
Para efeito de cruzamento de dados entre as variáveis do perfil geral dos turistas e o
meio de influência na escolha da agência35, levou-se em consideração, quanto à origem, os
principais pólos emissores. O Estado de São Paulo teve, como principais determinantes na
escolha da agência, a operadora de turismo, com 56% e a internet, com 22%. No Rio Grande
do Sul, houve um equilíbrio na distribuição percentual dos turistas que escolheram a agência
através de operadora e por meio de informações dos amigos, 33% para cada estrato. O
mecanismo informacional através da internet influenciou apenas 8% das pessoas pesquisadas
nesse Estado. Em Minas Gerais, o que mais influenciou a escolha da agência por parte dos
turistas foi a opinião de amigos e parentes com 50%, seguido da operadora de turismo com
35 As tabelas completas sobre o cruzamento entre as variáveis do perfil geral dos turistas (geodemográficas e socioeconômicas) e o meio que influenciou a escolha da agência encontram-se no apêndice C, p. 133.
92
36%. Assim como no Rio Grande do Sul, o uso da internet em Minas foi bastante restrito, com
apenas 7% dos turistas se utilizando desse meio para escolha da agência.
Para complementar a análise sobre a origem, a amostra também foi dividida por
regiões emissoras (Sudeste e Sul do país). A região Sudeste teve uma maior adesão à
operadora na escolha da agência, com 52%, mais que a região Sul, com 39%. As outras
alternativas (internet e opinião de amigos e parentes) apresentaram índices percentuais
próximos nos dois Estados estudados. A região Sul, no entanto, apontou, de forma mais
significativa que a região Sudeste, 17% e 6%, respectivamente, outros meios alternativos
influenciando na escolha da agência.
Com relação ao gênero, os dados estratificados não apresentaram diferenças
percentuais significativas em relação aos dados gerais. É importante registrar apenas uma
leve diferença da influência dos amigos: sobre as mulheres , 24% e em relação aos homens,
17%.
Quanto à faixa etária, também foram considerados para efeito de cruzamento de dados,
os intervalos que apresentaram as maiores distribuições. Em todas as faixas de idade
estudadas, a operadora se mostrou como principal meio de influência na escolha da agência,
ocorrendo, no entanto, acentuadas diferenças percentuais entre as faixas. Para os turistas que
têm entre 16 e 30 anos, a operadora definiu a escolha em 50% dos casos, os amigos e parentes
em 29% e a internet em 21%. Para os turistas na faixa de 31 a 45 anos, as diferenças
percentuais se mostraram mais equilibradas, tendo a operadora de turismo determinado a
escolha em 35% dos casos, seguido da opinião de amigos e parentes, com 29%, e da internet,
com 26%. Já entre os que estão na faixa dos 46 aos 60 anos, a influência da operadora de
turismo, com 67%, foi maior do que para as demais faixas. Os amigos e parentes e a internet
influenciaram em apenas 5% dos casos. Essa faixa também demonstrou a peculiaridade de ser
significativamente influenciada por outros meios como jornais e o local de hospedagem.
Com referência ao estado civil, foi considerada a predominância percentual dos
estratos representados pelos solteiros e casados, não se observando relevantes diferenças na
proporção percentual entre os dados gerais e estratificados. É importante sinalizar, no
entanto, que o percentual de casados influenciados pela operadora de turismo na escolha da
agência (54%) foi maior que o percentual de solteiros (44%) e que a influência da internet sobre
93
os solteiros, com 23%, se mostrou suavemente maior em relação aos casados, que aderiram a
esse meio em 17%. Além disso, 12% dos casados tiveram outros fatores de influência.
Para efeito da análise cruzada dos dados gerais e da variável escolaridade, foi
considerado o total da amostra, dividida entre os turistas que têm do ensino fundamental até o
ensino médio e aqueles que são graduados ou pós-graduados. Apesar de os resultados não
apresentarem alterações em relação aos dados gerais, é importante destacar que os turistas
com até o ensino médio completo sofreram maior influência da operadora de viagens, com
56%, percentual maior que o de turistas com nível superior, com 46%, assim como os turistas
com nível superior foram mais influenciados pela internet, com 23%, do que os turistas com
até o ensino médio completo, com 11%.
A exemplo da variável escolaridade, para estudo dos resultados obtidos com o
cruzamento dos dados gerais e da variável renda, foi considerada a totalidade da amostra
(exceto aqueles que não declararam a renda), que foi dividida entre os que têm uma renda de
até 10 salários mínimos e os que possuem uma renda superior a esse valor. Além de não
ocorrerem discrepâncias entre os dados gerais e dos estratos analisados, os resultados se
mostraram bastante equilibrados em termos percentuais, ressalvando-se apenas a influência
de amigos e parentes na escolha da agência, que se apresentou maior entre os turistas com
renda de até 10 salários mínimos, com 29%, em relação àqueles que percebem salários
superiores, com 17%.
Os dados cruzados apresentaram como informações mais relevantes o maior uso da
internet pelos turistas originários do Estado de São Paulo em comparação com os demais
Estados; a importância da opinião dos amigos e parentes para os turistas mineiros, que já não
foram tão influenciados pela operadora quanto os demais Estados; e o maior uso da internet
pelos turistas jovens e mais escolarizados. Esses fatores podem subsidiar o planejamento de
ações mercadológicas específicas para os grupos por parte da agência de receptivo, como
também direcionar melhor o campo de atuação estratégica da operadora.
5.2.2 A satisfação dos turistas em relação aos serviços prestados pela agência de receptivo
94
A Figura 24 apresenta os dados relativos ao atendimento da agência de receptivo, onde
se nota um elevado índice de satisfação quanto à qualidade dos serviços prestados, visto que
52% dos entrevistados consideraram que os serviços estão entre os níveis ótimo e excelente.
18
34
39
5 4
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
excelente ótimo bom regular deficiente
Conceitos
Per
cen
tual
Figura 24 – Opinião dos turistas quanto à qualidade do atendimento da agência de receptivo.
Fonte: Dados da pesquisa
Na atual conjuntura turística, o termo qualidade, enquanto ferramenta de planejamento
estratégico da atividade, tem assumido alto grau de importância. Essa gradativa preocupação
com qualidade se deve ao fato de estar ocorrendo uma série de regulamentações de ações dos
diversos segmentos turísticos em direção à criação de métodos para se alcançar a melhoria
dos serviços, levando-se em conta a satisfação do turista.
Para Ikeda (1998), uma das principais formas de se diferenciar uma empresa de serviço
é a oferta de qualidade superior à dos seus concorrentes. Para tanto, faz-se necessário atingir
ou superar as expectativas de qualidade que os clientes desejam, onde cabe aos fornecedores
o conhecimento dessas expectativas a fim de projetarem serviços eficazes.
Com base na perspectiva de Cunha (1997), o acompanhamento das preferências, que já
é um processo dinâmico, na área turística assume a singularidade de também levar em
consideração as mudanças ocorridas na sociedade, esta também inserida num contexto de
imprevisibilidades. Nesse sentido, para as empresas que atuam no setor, como é o caso das
agências de turismo, torna-se ainda mais relevante a mensuração e a monitoração constante
95
da satisfação do cliente em relação à prestação dos seus serviços, bem como no que se refere
ao acompanhamento de possíveis alterações preferenciais e atitudinais refletidas pelas
mudanças sociais que atingem a atividade turística.
5.2.3 O interesse por atrativos culturais pelos turistas agenciados em Ilhéus
Com o objetivo de aprofundar a análise dos diversos fatores que influenciam
comportamentos e atitudes dos turistas em relação à realização de roteiros, essa pesquisa,
inicialmente, buscou saber o grau de interesse dos turistas por atrativos culturais. A Figura 25
expõe que 90% dos turistas pesquisados têm de moderado a muito interesse por conhecer
esses atrativos.
38
52
9
10
10
20
30
40
50
60
Muito interesse Moderadointeresse
Pouco interesse Sem resposta
Grau de interesse
Per
cen
tual
Figura 25 – Demonstração gráfica do interesse dos turistas por atrativos culturais.
Fonte: Dados da pesquisa
Esse resultado pode ser justificado se forem consideradas as vocações turísticas da
cidade de Ilhéus que, além dos atrativos naturais, detém considerável tradição histórica. Tal
afirmativa pode ser confirmada quando se tem em conta a opção voluntária dos turistas
pesquisados pela realização de roteiros que exploram os aspectos eminentemente culturais da
cidade.
Na concepção de Ikeda (1998), a opção pelo turismo cultural reflete a vontade de
realizar uma viagem voltada à experimentação ou participação em estilos de vida que estão
96
desaparecendo da memória das pessoas. Locais pitorescos e suas arquiteturas são
geralmente as principais atrações dessas viagens. As principais atividades turísticas dessa
modalidade de turismo incluem festas folclóricas, apreciação de comidas típicas e vistas a
feiras e artesanatos locais.
No que tange à interseção dos dados geodemográficos e socioeconômicos com o nível
de interesse dos turistas pesquisados por atrativos culturais36 observa-se, na consideração
dos dados relativos à origem, que os turistas vindos do Estado de São Paulo foram aqueles
que demonstraram um maior interesse por cultura e os turistas provenientes de Minas Gerais
os que demonstraram menor interesse. 45% dos turistas paulistas disseram ter muito
interesse por atrativos culturais, entre os gaúchos esse percentual cai para 33% e, entre os
mineiros, se apresenta em apenas 21%. Em um nível moderado de interesse encontram-se 52%
dos paulistas, 58% dos gaúchos e 36% dos mineiros. E, com pouco interesse por cultura,
aparecem 2% dos paulistas, 8% dos gaúchos e 36% dos mineiros.
Quando a análise da origem tem em conta as regiões emissoras (Sul e Sudeste), os
resultados obtidos se mostraram estáveis, tanto numa análise comparativa entre os estratos
estudados, quanto em relação aos dados gerais.
Com relação ao gênero, observa-se um maior interesse cultural por parte dos turistas
do sexo feminino, com 43% demonstrando ter muito interesse por atrativos culturais.Entre os
homens esse percentual foi consideravelmente menor, 23%. Corroborando com essa
tendência, entre os turistas que apresentaram pouco interesse por atrativos culturais, os
homens se sobressaíram, apresentando um percentual superior ao das mulheres, 18% e 5%,
respectivamente.
Na análise sobre a variável faixa etária, os turistas mais velhos apresentaram um maior
interesse por cultura. Na classe entre 41 e 60 anos, 44% disseram ter muito interesse por
atrativos culturais. Entre os turistas das demais faixas, esse percentual foi de 33%. No nível
moderado de interesse se encontraram 67% dos turistas entre 16 e 30 anos, 48% dos que
possuem entre 31 e 45 anos e 50% daqueles que estão entre 46 e 60 anos. A única faixa etária
que apresentou turistas com pouco interesse por cultura foi a de 31 a 45 anos, com 18%.
36 As tabelas completas sobre o cruzamento entre as variáveis do perfil geral dos turistas (geodemográficas e socioeconômicas) e o nível de interesse por atrativos culturais encontram-se no apêndice C, p. 134.
97
Com referência ao estado civil, os solteiros apresentaram maior interesse por cultura,
tendo em vista que 43% disseram ter muito interesse por atrativos culturais contra 33% dos
casados que fizeram essa opção. Com relação ao interesse moderado, os percentuais se
mantiveram equilibrados. E, por fim, demonstrando pouco interesse por cultura estão 13% das
pessoas casadas e apenas 5% das solteiras.
No que diz respeito à escolaridade, turistas com nível superior demonstraram ter maior
interesse por atrativos culturais, tendo em conta que 44% desses afirmaram ter muito
interesse por cultura, em contraponto a 26% dos que têm até o nível médio. Com interesse
moderado estão 67% dos que possuem até o ensino médio e 47% dos graduados. Entre os que
possuem pouco interesse por cultura observa-se um equilíbrio percentual entre os estratos
considerados na variável escolaridade e os dados gerais.
Sobre a variável renda, os que estão na faixa salarial de até 10 salários mínimos
demonstram maior interesse por atrativos culturais, já que 43% afirmaram ter muito interesse
por cultura, frente a 34% dos que recebem acima de 10 salários mínimos mensais. Afirmando
ter interesse moderado por cultura estão 59% dos turistas que ganham mais de 10 salários
mínimos e 45% dos que recebem até 10 salários mínimos. Com relação aos que disseram ter
pouco interesse por atrativos culturais, considerando a variável renda, os percentuais se
mantiveram em equilíbrio com os dados agregados para ambas as faixas salariais estudadas.
Em termos gerais, é relevante a constatação do maior interesse por cultura por parte
das mulheres, como também do previsível maior interesse por cultura pelos mais velhos e
mais escolarizados. Além disso, é importante saber que não existe uma relação positiva entre
rendimentos e interesse por cultura, já que esse interesse foi maior entre os que têm menor
renda. Assim como no caso da variável “meio de escolha da agência”, os resultados
apresentados possibilitam ao receptivo a condução de atitudes de marketing voltadas para um
público mais específico, identificado pelo perfil, como também pode suscitar o estudo de
métodos para atingir outros segmentos.
5.2.4 Atrativos culturais da cidade de Ilhéus que despertam o interesse dos turistas agenciados
98
Além do grau de interesse por atrativos culturais, a pesquisa buscou mensurar quais os
atrativos que mais despertam o interesse dos turistas que vêm a Ilhéus dispostos a realizar
roteiros culturais. A Tabela 2 mostra a existência de relativo equilíbrio em relação ao tipo de
atrativo cultural ilheense que desperta mais a atenção dos turistas. As informações sobre a obra
de Jorge Amado e o conhecimento do patrimônio arquitetônico, representado pelos casarões
dos coronéis do cacau e pelas igrejas da cidade, foram as opções que despertaram mais
interesse dos visitantes. As opções por visitas a fazendas de cacau e pela participação em
festas populares e religiosas aparecem com percentuais menores, 23% e 16%, respectivamente,
porém significativos, o que demonstra uma variedade de interesses por parte dos visitantes e
aponta para uma diversidade de elementos que as agências podem “explorar” no destino.
Tabela 2 – Demonstração da distribuição percentual do interesse do turista agenciado pelos
atrativos culturais da cidade de Ilhéus.
Atrativos culturais %
Literatura de Jorge Amado 29
Patrimônio Arquitetônico 32
Fazendas de Cacau 23
Festas Populares e Religiosas 16
Fonte: Dados da pesquisa
Nesse sentido, dentro do segmento trabalhado pela agência, ao considerar a
diversidade de interesses, surgem novas possibilidades de segmentação, que podem
proporcionar o atendimento de preferências específicas dos grupos e atender, de forma
customizada37 e voltada para a qualidade a partir da satisfação das necessidades dos clientes.
De acordo com Balanzá e Nadal (2003), a segmentação é conseqüência dos diferentes gostos,
necessidades e estilos de vida das pessoas. Como hoje não é possível falar de mercados
muito amplos, surge a possibilidade de microssegmentação, que demanda um estudo ainda
mais profundo do mercado.
37 Quando o produto/serviço é adequado ao gosto do cliente.
99
Ao transpor essa perspectiva para os dois roteiros culturais estudados (City Tour
Histórico e Fazenda de Cacau), denota-se uma clara delimitação de dois temas: a história de
Ilhéus e a saga do cacau. No entanto, essas duas abordagens temáticas e a quantidade de
atrativos “explorados” nos roteiros, sobretudo no City Tour, podem sofrer outros
desdobramentos temáticos que atendam a interesses de grupos específicos de turistas.
Na relação entre as variáveis do perfil geral dos turistas e os atrativos de interesse na
cidade de Ilhéus38, os resultados encontrados demonstram, quanto à variável origem, que os
turistas oriundos do Estado de São Paulo, com percentuais semelhantes aos dados gerais da
pesquisa, demonstraram maior interesse pela literatura e pelo patrimônio, com 29 % e 31%
respectivamente, seguido pelas fazendas de cacau com 22% e as festas populares com 18%.
Entre os turistas provenientes do Estado do Rio Grande do Sul, diferentemente dos dados
gerais, a preferência maior foi pelas fazendas de cacau, com 43%, e pelo patrimônio
arquitetônico, com 36%. A literatura e as festas populares apresentaram percentuais menores,
14% e 7%, respectivamente. Já entre os mineiros, a literatura teve maior adesão, 47%, com o
patrimônio em segundo lugar na preferência (29%) e as fazendas e festas populares com
menores percentuais, 18% e 6%, respectivamente.
Ainda em relação à variável origem, quando se analisam as regiões emissoras,
observa-se que a literatura teve maior adesão na região Sudeste (32%) do que na região Sul do
país (26%). Nos demais atrativos, os percentuais entre os estratos se apresentaram
semelhantes.
No tocante ao gênero dos turistas pesquisados, os visitantes do sexo masculino
demonstraram acentuada preferência pelo patrimônio arquitetônico, com 41%, mantendo um
equilibro percentual no interesse pelas demais opções, com uma média de 20%. Já entre o
sexo feminino houve um equilíbrio na preferência pela literatura e pelo patrimônio
arquitetônico, com 31% e 29%, respectivamente. As fazendas tiveram 24% da escolha feminina
e as festas populares um percentual menor, 16%.
Com referência à variável faixa etária, entre os mais jovens e a faixa etária
intermediária, as preferências entre os atrativos citados mantiveram percentuais bastante
38 As tabelas completas sobre o cruzamento entre as variáveis do perfil geral dos turistas (geodemográficas e socioeconômicas) e os atrativos de interesse em Ilhéus encontram-se no apêndice C, página 135.
100
semelhantes aos dados gerais, onde o patrimônio teve maior destaque, com 33% de adesão
dos turistas que estão na classe dos 15 aos 30 anos e 31% entre os que possuem de 31 a 45
anos . Já na a faixa etária mais avançada, de 46 a 60 anos, a preferência se deu pela literatura,
com 36%, seguida pelo patrimônio arquitetônico, com 32%. As fazendas e as festas populares
apresentaram percentuais menores, 21% e 11%, respectivamente.
Ao considerar a variável estado civil, entre os solteiros a preferência maior foi pela
literatura e pelo patrimônio arquitetônico, 31% e 29%, respectivamente. Já entre os casados
houve uma acentuada predileção pelo patrimônio arquitetônico (36%), seguido do interesse
pela literatura (24%). As fazendas de cacau e as festas populares tiveram percentuais
semelhantes aos dados gerais em ambos os estratos considerados na variável estado civil.
Em relação aos aspectos socioeconômicos, os estratos analisados na variável
escolaridade e os considerados na variável renda, se mantiveram com resultados equivalentes
aos obtidos nos dados gerais da pesquisa.
De uma forma geral, assim como na análise do total da amostra, os resultados
apresentados pelos estratos mostraram a diversidade de interesses existente e, de forma
interessante, em alguns momentos, os dados dos grupos analisados apresentaram
percentuais diferenciados quando comparados aos dados gerais. Na variável origem, por
exemplo, quando os turistas vindos do Rio Grande do Sul demonstram maior interesse pelas
fazendas de cacau do que pelo patrimônio e pela literatura, comprovam que os interesses não
só são diversificados, mas diferenciados, e que a apresentação de uma variedade de roteiros,
com o intuito de atender aos interesses de segmentos específicos, pode ser uma importante
estratégia para as agências de receptivo.
5.2.5 A opinião dos turistas quanto à velocidade dos roteiros culturais agenciados
Para dar seqüência ao levantamento das preferências dos turistas, a pesquisa abordou
a duração dos roteiros, em que a velocidade do percurso foi ponto de avaliação. A Figura 26
demonstra que a grande maioria dos turistas tem preferência por um percurso mais lento, que
priorize a qualidade da visita em detrimento da quantidade de locais visitados, o que revela
101
uma preocupação da maior parte dos turistas no aprofundamento da experiência turística e da
vivência no local.
Sem resposta9%
Lento 57%
Rápido34%
Figura 26 – Demonstração gráfica da opinião dos turistas em relação à velocidade dos roteiros
Fonte: Dados da pesquisa
Entre os turistas que optaram por um percurso mais rápido, a maioria alega, em suas
justificativas, que o tempo da estada é muito curto e por isso preferiam conhecer
simplificadamente tudo sobre a cultura da cidade. Alguns disseram que gostariam de ter a
oportunidade de conhecer vários locais diferenciados e outros afirmaram que um passeio
longo seria muito cansativo.
Os que optaram por um percurso mais lento embasaram suas justificativas,
principalmente, na possibilidade de avaliar, questionar e registrar os fatos, passear pelos
locais, apreciar melhor e com mais profundidade as belezas dos lugares visitados, aprender
mais sobre a cultura, a maneira de viver e fazer das pessoas da cidade. Alguns argumentos se
deram em torno da absorção maior das informações passadas pelo condutor do passeio, que
deveriam ser mais detalhadas.
As colocações corroboram a perspectiva de uma integração maior com o lugar por
grande parte do grupo pesquisado. Para Avighi (2000, p.102), transformações ocorridas na
sociedade contemporânea, impulsionadas, sobretudo, pela globalização e pelos avanços
tecnológicos, começam a definir um novo perfil de turismo e a induzir uma redefinição dos
modelos convencionais da ação turística. O turismo programado, direcionado,
homogeneizado, superficial e controlado, pode, de acordo com esse autor, ceder lugar ao
102
turismo caracterizado pelo conhecimento acerca da história do lugar e da identidade local.
Avighi (2000) usa o termo “novo turista”, para designar aqueles visitantes que buscam a
realização interior e dão ênfase ao meio ambiente e à compreensão da cultura e da história de
outros lugares.
A linha de pensamento do autor, independente de vir a se constituir uma tendência
universal e efetiva, chama a atenção do setor turístico para novas possibilidades de ação, que
levem em conta uma maior flexibilidade em relação às programações oferecidas, de forma a
permitir maior liberdade ao turista. No caso das agências, especificamente, que trabalham com
pacotes eminentemente estandardizados, além de abrir uma nova perspectiva de atuação
mercadológica, não exclui as atuações convencionais, já que muitos clientes ainda preferem
serviços homogêneos e controlados.
Com referência aos roteiros analisados, constatou-se, através da técnica de
observação que, em ambos os passeios, apesar de não haver uma padronização sistemática
em relação à seqüência com que os monumentos são apresentados, como já abordado na
descrição aqui, o controle do tempo e das atividades é bastante rigoroso, bem como a
passagem por alguns monumentos de valor histórico importante é feita de forma superficial, o
que demonstra que o modelo de ação ainda está pautado nos moldes convencionais de uma
agência de viagens. Esse modo de proceder impossibilitou uma apreciação mais profunda dos
lugares visitados por parte dos turistas, que dão prioridade a um percurso mais lento, o que
pode provocar a existência de uma lacuna entre o serviço esperado e o efetivamente prestado.
Na análise cruzada entre as variáveis do perfil geral do turista e a velocidade do
percurso dos roteiros culturais39, com relação à variável origem, observou-se que, nos três
Estados avaliados (São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul), a preferência por um
percurso mais lento, que priorize a qualidade da visita, foi acentuadamente maior, mantendo,
inclusive, uma grande semelhança com os resultados encontrados dos dados agregados.
Quando se avalia a variável origem levando em consideração as regiões emissoras,
também houve a predileção por um percurso mais lento em ambos os estratos, porém com um
maior intervalo percentual, 52% na região Sudeste e 67% na região Sul.. Diante disso, o
39 As tabelas completas sobre o cruzamento entre as variáveis do perfil geral dos turistas (geodemográficas e socioeconômicas) e a velocidade do percurso do roteiro cultural encontram-se no apêndice C, p. 137.
103
número de turistas da região Sudeste que optaram por um percurso mais rápido se mostrou
mais elevado, 38%, do que o apresentado pela região Sul, 28%.
No que se refere ao gênero, entre os homens houve um equilíbrio nas opiniões sobre a
velocidade do percurso, ocorrendo uma leve predominância daqueles que preferem um
percurso mais rápido, 50%, sobre os que preferem um percurso mais lento, 45%. Já entre os
turistas do sexo feminino, houve uma acentuada preponderância daquelas que preferem um
percurso mais lento, 60%, sobre as que priorizam a quantidade de locais visitados, optando
por um percurso mais rápido, 30%.
No quesito faixa etária, também predominou a preferência por um percurso mais lento
em todos os estratos considerados com uma média de aproximadamente 55%. No entanto, é
importante pontuar que entre os turistas de faixa etária mais avançada, 46 a 60 anos, a escolha
por um percurso mais rápido teve maior adesão, 44%, em comparação com os demais
estratos.
A mesma observação pode ser feita em relação à variável estado civil onde, entre os
casados, a adesão por um percurso mais rápido, com 40%, foi maior do que entre os solteiros,
com 31%, embora ainda tenha predominado nos dois estratos analisados a opção pela
qualidade da visita, através de um percurso mais lento, 60% para os solteiros e 50% para os
casados.
Assim como nas demais variáveis estudadas, os estratos socioeconômicos
considerados mantiveram, de uma forma geral, a preferência pela realização de um roteiro com
um percurso mais lento.
Com relação à variável escolaridade, os percentuais dos estratos analisados
demonstraram concordância com os dados gerais da pesquisa. Já no tocante à renda, é
importante citar apenas uma maior preferência pela rapidez do percurso do roteiro por parte
daqueles com renda de até 10 salários mínimos, com 43%, sobre aqueles que ganham um
valor superior a 10 salários mínimos, com 31%.
Apesar de não demonstrar grandes discrepâncias em relação aos dados gerais da
pesquisa, a análise dos dados cruzados mostrou, como informação relevante, a preferência
por um percurso mais rápido por parte dos homens, o que pode ser aludido ao menor
interesse demonstrado pela cultura por parte desse segmento, como também às
104
peculiaridades de gostos e atitudes dos gêneros. Além disso, a maior adesão dos mais velhos
ao percurso mais rápido pode sinalizar um certo receio de que o passeio se torne cansativo.
5.2.6 A importância dada pelo turista à interação com a comunidade local durante os roteiros
Outro aspecto abordado pela pesquisa foi a relação entre o turista e a comunidade
local. A Figura 27 ilustra que 93% dos turistas que realizam os roteiros culturais agenciados na
cidade de Ilhéus atribuem elevada importância à existência da interação com a comunidade
local durante o percurso do roteiro. O turista demonstrou que não quer só conhecer o local,
mas também deseja saber um pouco mais sobre as pessoas e o seu modo de vida.
Sim93%
Não6%
Sem resposta1%
Figura 27 – Demonstração gráfica da importância atribuída pelo turista à interação com a
comunidade local no decorrer do roteiro
Fonte: Dados da pesquisa
Os argumentos apresentados nas respostas abertas demonstraram que esse
desejo de integração parte, sobretudo, de uma necessidade de maior conhecimento, por
acreditar que os nativos, de forma mais simples e cotidiana, têm bastante a dizer e
conhecem as ”histórias reais” do lugar. Afirmaram, ainda, que é necessário saber o que
105
o nativo pensa, sente, seus hábitos, costumes, raízes, lamentando que nem sempre esse
contato seja possível.
Entre os poucos turistas que não se mostraram abertos a uma integração com a
comunidade local, as alegações partiram, mais uma vez, em torno da escassez de tempo
durante a viagem. Além disso, argumentaram que o conhecimento sobre o local pode ser
apreendido de outras maneiras.
Os resultados apresentados, mais uma vez, demonstram a aderência da maioria dos
turistas pesquisados a uma atitude mais integrativa em relação ao local e aos seus habitantes,
o que é ratificado nas respostas abertas, quando os turistas se mostraram interessados no
conhecimento cotidiano e simples passado pela pessoa do local. Para Goodey (2002), algumas
características centrais da comunidade local são exatamente o que o visitante quer ver,
experimentar, compartilhar e talvez levar consigo. O visitante gosta de entrar num mundo
diferente do seu e de experimentar coisas e produtos desconhecidos, até mesmo atitudes
diferentes em relação à sociedade a ao meio ambiente.
De acordo com Macedo e Ribeiro (1999), a imagem de uma cidade é construída,
também, por imagens que nascem de seus moradores e sua relação com o lugar habitado. E é
essa relação que facilita a abertura da percepção, da imaginação e da fantasia. Ainda de
acordo com esses autores, uma rua ou um prédio não são puramente funcionais. Esses
elementos urbanos abrigam a memória e as experiências humanas significativas, é a idéia do
espaço como uma marca, como uma expressão das relações sociais.
Para Goodey (2002), o que ocorre com mais freqüência é esse patrimônio ser retirado
da responsabilidade da comunidade local e passado para as mãos de especialistas e de
autoridades. A comunidade então se esforça como nunca para salvaguardar o que ela
considera como seu e assim o lugar passa a desenvolver duas culturas, a oficial e a local. Na
106
concepção do autor, o visitante eventual pode até pagar para ver a cultura oficial, mas jamais
perceberá a local, e é ela que possivelmente contém a essência do lugar.
Ao contrário do desejo despertado, durante a realização dos roteiros estudados os
turistas não têm a oportunidade de estabelecer contatos espontâneos, dentro do ambiente mais
cotidiano, com a comunidade ilheense. As poucas pessoas do local com quem os turistas
estabelecem contato fazem parte do contexto do roteiro e obedecem a uma programação
previamente estipulada para a apresentação dos atrativos onde trabalham ou da história oficial
do local. Essa constatação reafirma a tendência à padronização e homogeneização do serviço
prestado, que ainda não se mostra atento à flexibilidade e à atuação customizada.
Na análise estratificada, o estabelecimento da relação entre as variáveis do perfil geral
do turista - tanto as geodemográficas quanto as socioeconômicas - e a importância da
existência de interação entre turista e comunidade40 demonstraram lógica semelhança com os
dados gerais obtidos, apresentando percentuais sempre acima dos 80% para a alternativa de
interação com a comunidade local, em todos os estratos analisados.
5.2.7 A preferência dos turistas quanto ao grau de interação com a comunidade local durante os
roteiros
Ainda na investigação da relação do turista com a comunidade local, a pesquisa
buscou saber o grau de integração desejado pelos turistas. A Figura 28 mostra que, apesar de
existir o desejo de interação, a maioria dos turistas entrevistados prefere que esse
envolvimento seja moderado.
40 As tabelas completas sobre o cruzamento entre as variáveis do perfil geral dos turistas (geodemográficas e socioeconômicas) e a importância da interação do turista com a comunidade local encontram-se no apêndice C, p. 138.
107
15
67
117
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Muito intensa Intensidademoderada
Pouco intensa Sem resposta
Grau de interação
Po
rcen
tag
em
Figura 28 – Avaliação dos turistas quanto à intensidade da interação com a comunidade local
durante o roteiro.
Fonte: Dados da pesquisa
Os turistas que optaram por uma integração maior justificaram essa escolha por
acreditarem que, para ser verdadeira, a integração deve ser intensa. De acordo com os
depoimentos, só através de um contato mais próximo haveria a possibilidade de conhecer os
hábitos, o modo de falar e de vestir dos nativos, bem como conhecer as histórias locais
contadas por eles.
Entre os turistas que preferiram a alternativa de uma integração moderada com a
comunidade local, houve uma equilibrada divisão de opiniões, com cerca da metade alegando
escassez de tempo, necessidade de realizar outras atividades no local ou ainda um certo
receio de invasão de privacidade. A outra metade, apesar de ter escolhido uma integração
mais moderada, demonstrou, em suas justificativas, um desejo muito grande em conhecer a
cultura através do contato com a comunidade local. Houve ainda quem optasse por essa
alternativa por acreditar que uma integração mais profunda poderia causar danos para a
própria comunidade, que não deveria ter sua rotina atrapalhada, nem se sentir importunada
pelos visitantes.
Os resultados demonstram que o pouco tempo da estada tem sido apontado nas
justificativas como um dos principais fatores determinantes na opção por um roteiro mais
108
rápido e superficial. A própria natureza dos pacotes turísticos, que normalmente impõem uma
rotina muito cansativa, faz do tempo um fator importante a ser considerado nas escolhas dos
clientes. Para Goodey (2002), a maioria dos turistas procurará ter uma experiência bem
estruturada, que os entretenha, informe e acrescente lembranças positivas de sua viagem de
férias; somente uma minoria – geralmente bem informada, aberta e sensível, procurará ter um
contato mais próximo com os valores mais enraizados da comunidade. Goodey (2002) afirma,
ainda, que não se pode esquecer que as férias são apenas um breve afastamento do contexto
e dos valores familiares.
É importante destacar também, a preocupação por parte de alguns turistas
pesquisados em preservar a comunidade local de possíveis danos que uma interação mais
intensa pode causar.Em relação a esse aspecto, sob o prisma da sustentabilidade cultural e
social, o nível de interação requerido pela maioria dos turistas pode até ser mais benéfico para
a própria comunidade local, que fica mais resguardada de possíveis impactos negativos.
Sem contar que a própria comunidade é quem deve, sobretudo, estabelecer o nível de
contato adequado, levado em conta seus próprios interesses. Sobre esse aspecto, Goodey
(2002) diz que a comunidade, como portadora do conhecimento e da experiência do lugar, com
um planejamento adequado, pode administrar e controlar tudo isso de modo a alcançar um
resultado sustentável. Com alguma ajuda e com o apoio positivo de organizações regionais e
nacionais, a comunidade pode aprender a lidar com os visitantes que chegam, de forma a
equilibrar suas próprias necessidades e expectativas.
Na interseção entre as variáveis geodemográficas e socioeconômicas e a intensidade
de interação entre o turista e a comunidade local durante o roteiro41, quanto à variável origem,
denota-se que os turistas provenientes do Estado de Minas Gerais, quando comparados aos
demais, demonstraram menor interesse na integração com a comunidade local, tendo em vista
que 50% disseram preferir uma interação com intensidade moderada e 21% optaram por uma
interação pouco intensa. Nos demais Estados analisados, o percentual dos que optaram por
uma intensidade moderada de interação foi maior, com uma média de 74%. A alternativa de
pouca intensidade na interação, nesses Estados, teve uma média de adesão em torno de 7%.
41 As tabelas completas sobre o cruzamento entre as variáveis do perfil geral dos turistas (geodemográficas e socioeconômicas) e a intensidade da interação do turista com a comunidade local encontram-se no apêndice C, p. 139.
109
Quanto à opção de uma interação muito intensa, os percentuais entre os estratos se
mantiveram semelhantes e também consoantes com os dados gerais.
Quando consideradas as regiões, os percentuais dos estratos não demonstraram
grandes discrepâncias entre si e em relação aos dados gerais da pesquisa. É necessário
sinalizar apenas que a região Sul teve um percentual maior de turistas que optaram por uma
interação pouco intensa com a comunidade local, 17%, quando comparada com a região
Sudeste, que obteve 10%.
Quanto à variável gênero, não foram observadas alterações entre os percentuais
obtidos nos estratos considerados e os dados agregados.
Em relação à variável faixa etária, os turistas com idade mais avançada demonstraram
maior interesse por uma interação mais intensa com a comunidade local, 28%, em comparação
com os percentuais dos demais estratos investigados, que tiveram uma média de 10%.
Afirmaram ter preferência por uma interação com intensidade moderada 79% dos turistas com
faixa etária entre 15 e 30 anos, 70% dos que estão na faixa de idade entre 31 e 45 anos e 44%
dos que se encontram entre 46 e 60 anos de idade. Já em relação à alternativa de pouca
intensidade na interação com a comunidade autóctone a faixa etária entre 31 e 45 anos obteve
maior percentual, 15%, em relação aos demais estratos estudados, que apresentaram 5% em
média.
Com referência à variável estado civil, não houve alterações significativas entre os
percentuais obtidos em cada estrato pesquisado, com a manutenção da proporção obtida nos
dados gerais da pesquisa.
Na análise da variável escolaridade, os dados mostram que a grande maioria dos
turistas com até o ensino médio, 85%, têm preferência por uma interação de intensidade
moderada com a comunidade local, com as demais alternativas (muita interação e pouca
interação) ficando com apenas 4% de adesão. Já entre os turistas de nível superior, a escolha
pelos limites mais extremos de intensidade na interação com a comunidade teve percentuais
maiores, 24% para muita interação e 15% para pouca interação, se comparados aos turistas de
até nível médio, apesar de a preferência por uma interação moderada ainda prevalecer, com
56%.
110
Já no que concerne à variável renda, a proporção percentual entre os estratos quando
se considera a preferência por uma interação com intensidade moderada se manteve
equilibrada, com 60% para os de renda menor e 62% para os que recebem uma renda superior
a 10 salários mínimos. O mesmo ocorreu com a opção de pouca intensidade de interação, que
obteve a adesão de 13% dos turistas que recebem até 10 salários mínimos e 14% dos que
ganham um valor maior. Já em relação à opção de uma intensidade maior na interação com a
comunidade, os turistas que recebem mais de 10 salários mínimos apresentaram um
percentual maior (21%) do que os turistas com até 10 salários mínimos (15%).
Na análise das informações mais relevantes sobre os dados cruzados, observa-se que,
entre os mineiros, assim como foi menor o interesse por cultura, também é menor o interesse
por uma integração com a comunidade local quando comparado com os outros segmentos
analisados. Outra constatação importante é que entre a faixa etária mais avançada, que
também demonstrou maior interesse por cultura do que as demais faixas analisadas, o
interesse pela integração é maior. Denota-se, portanto, a existência de um vínculo positivo
entre essas duas variáveis.
5.2.8 A opinião do turista agenciado quanto à quantidade das informações passadas durante o roteiro
Em relação à averiguação sobre a aquisição de conhecimento durante o percurso, a
pesquisa procurou saber se os turistas tinham preferência por uma transmissão mais rápida,
que priorizasse a quantidade de informações, ou se desejariam um aprofundamento do
conhecimento, através de explicações mais lentas e minuciosas. Sobre esse aspecto, a Figura
29 mostra que houve uma predominância da preferência da qualidade da informação em
prejuízo da quantidade.
111
Rápida39%
Lenta51%
Sem Resposta10%
Figura 29 – Preferência dos turistas quanto à velocidade das informações passadas durante o
roteiro.
Fonte: Dados da pesquisa
Entre os turistas que justificaram a opção por uma transmissão mais rápida, os
argumentos citados demonstraram, mais uma vez, uma preocupação com a escassez do
tempo e com a necessidade de visitar outros locais. Também houve alegações de que a
quantidade de informações deveria ser priorizada, como também de que as informações
passadas durante o percurso não são totalmente absorvidas, e por isso os guias deveriam
destacar as mais importantes e de interesse do grupo.
Já entre os que preferem informações mais aprofundadas, as argumentações
enfatizaram, sobretudo, a importância de uma maior assimilação do conhecimento, um
entendimento mais profundo, sem pressa, já que a cidade possui tantas riquezas históricas.
Também houve sugestões de aumento da quantidade de roteiros, com a formação de grupos
com interesses diferenciados.
Denota-se, portanto, que o desejo de conhecimento obtido através da interpretação do
local é comum, e para grande parte do grupo deve ser transmitido de forma mais aprofundada,
embora existam os que priorizem a utilização de outros meios para o aprofundamento dessas
informações, justificados pela escassez do tempo. Outro fator relevante é a sugestão pela
personalização da prestação do serviço através da formação de grupos com homogeneidade
de interesses.
112
Para Morales (1998) apud Miranda (2002, p.95), “a interpretação do patrimônio é a arte
de interpretar in situ o significado do legado natural, cultural, ou histórico, ao público que
visita esses lugares em seu tempo livre”. Para isso, é preciso, sobretudo, escolher a
metodologia mais adequada a esses usuários.
Sobre a importância da assimilação do conhecimento pelo grupo, Miranda (2002, p.100)
afirma que “um roteiro lógico é a linha do argumento, estruturada em seqüências lógicas, para
que a informação “encaixe” e seja assimilada em um contexto”. Esse autor defende que o
roteiro de qualquer conversa, audiovisual, caminho/rota, exibição etc. deveria se ater a cinco
ou menos idéias ou pontos a tratar, pois, se tiverem mais, as pessoas esquecerão.
Com referência a esse aspecto, quando se avaliam os roteiros estudados, percebe-se
duas configurações diferenciadas. No caso do City Tour, apesar de haver uma delimitação do
tema a ser tratado - a história da cidade de Ilhéus - , a própria grandeza temporal do
município, que viveu vários ciclos históricos, faz com que esse tema gere diversos
desdobramentos e uma infinidade de informações. Além disso, a quantidade de monumentos
visitados durante o roteiro torna a visita extremamente superficial, em função do tempo
destinado à realização do passeio. Em relação à visita à Fazenda de Cacau, o processo se dá
de forma diferente, pois se trabalha com um foco temático mais específico – a saga do cacau –
em ambientes também específicos, o que torna a vista mais substancial em termos de
aprofundamento de conhecimento.
No cruzamento das variáveis que formam o perfil geral dos turistas e a velocidade das
informações transmitidas durante o roteiro42, em relação à origem, tanto quando se analisam
os principais pólos emissores, ou quando se consideram as regiões, todos os estratos
estudados apresentaram percentuais equivalentes aos dados gerais da pesquisa.
Com alusão ao gênero, entre os homens, os percentuais obtidos pelas alternativas
sobre a velocidade com que as informações são passadas durante o percurso se mantiveram
em equilíbrio, ocorrendo um suave predomínio daqueles que preferem que as informações
sejam passadas de forma rápida, 45%, sobre os que preferem que as informações durante o
percurso sejam transmitidas de forma mais lenta, 41%. Já entre as mulheres, houve uma
42 As tabelas completas sobre o cruzamento entre as variáveis do perfil geral dos turistas (geodemográficas e socioeconômicas) e a velocidade das informações passadas durante o percurso encontram-se no apêndice C, página 141.
113
predominância bem maior daquelas que preferem que as informações sejam emitidas de forma
mais lenta, 58%, sobre as que priorizam a quantidade de informações passadas no decorrer do
trajeto, 35%.
No que tange à variável faixa etária, entre os turistas que possuem de 16 a 30 anos
houve um equilíbrio percentual na escolha das alternativas, com 39% tendo preferência por
uma transmissão mais rápida de informações durante o percurso e 46% optando por um maior
aprofundamento das informações. Entre os que estão numa faixa etária intermediária, os
percentuais também não foram muito discrepantes, com 48% dos pesquisados demonstrando
preferência pela transmissão mais lenta e detalhada das informações e 39% optando pela
quantidade e rapidez na passagem das informações durante o trajeto do roteiro. Na faixa entre
46 e 60 anos, no entanto, o intervalo percentual entre os que optaram por uma transmissão
mais lenta e dos que escolheram a rapidez na passagem de informações foi maior, 56% e 28%,
respectivamente.
Quando considerada a variável estado civil, houve uma equilibrada divisão de opiniões
entre os solteiros: 46% optaram pela condução mais lenta das informações e 43% pela rapidez
na transmissão de informações durante o percurso. Já entre os casados, os percentuais entre
as alternativas foram mais destoantes, com 53% dos pesquisados optando pela qualidade das
informações e 35% escolhendo a quantidade de informações.
Os estratos analisados na variável escolaridade demonstraram discordâncias
relevantes entre si e também em comparação com os dados gerais da pesquisa. Entre os que
têm até o ensino médio, a preferência por uma transmissão mais rápida das informações no
decorrer do roteiro foi maior, 48%, do que a escolha pela passagem mais lenta das
informações, 41%. Já entre os turistas que têm nível superior completo, a opção por uma
transmissão mais lenta foi bem maior, 56%, do que a preferência pela condução mais rápida
das informações durante o percurso do roteiro, 29%.
Na variável renda, no entanto, os percentuais entre as alternativas apresentadas se
mantiveram equilibrados quando considerados os estratos analisados, como também em
comparação com os dados gerais da pesquisa.
No que tange à análise do cruzamento de dados, as pessoas com mais idade, do sexo
feminino e com escolaridade maior, demonstraram maior interesse pelo aprofundamento das
114
informações. Ao recorrer às análises anteriores, mais uma vez, denota-se que o grau de
interesse por cultura se reflete nas demais escolhas, tendo em vista o perfil dos turistas que
priorizam a qualidade corresponder ao perfil dos que têm maior interesse por cultura.
5.2.9 A escolha dos turistas quanto ao intérprete das informações passadas durante o roteiro
Ainda no que se refere à aquisição de conhecimento, a pesquisa buscou saber a
preferência dos turistas entrevistados quanto ao responsável pelas informações durante o
percurso. A Figura 30 evidencia que 46% dos turistas dão prioridade à figura do guia turístico
e à sua capacidade técnica em repassar o conhecimento. Entretanto, 44% das pessoas
pesquisadas admitem a participação da comunidade local na interpretação das informações,
de forma independente ou acompanhada pelo guia turístico.
15
46
29
46
05
101520253035404550
Pessoa dolocal
Guia daagência
Ambos Outro Sem resposta
Intérprete preferencial
Per
cen
tual
Figura 30 – Demonstração da distribuição percentual da preferência dos turistas em relação
aos intérpretes das informações passadas durante o roteiro.
Fonte: Dados da pesquisa
A preferência pelo guia é facilmente justificável, quando se recorre à tradicional
importância que esse profissional tem no contexto turístico em geral. É salutar considerar o
caráter profissional desse intérprete, que tem sua prática laboral regulamentada e fiscalizada
pela Embratur.
Cabe destacar também que as habilidades e os valores requeridos para o guia turístico, embutidos nos conceitos elaborados pelas associações próprias dessa profissão, são suficientes para dar base à confiabilidade atribuída a esse profissional pelos turistas.
115
Interpretação, entusiasmo, conhecimentos, qualidades pessoais, liderança e conduta ética são algumas das características que qualificam o guia profissional43.
Quanto ao envolvimento da comunidade local na transmissão das informações, como
já foi discutido anteriormente, a participação da comunidade é importante, no entanto, requer
um planejamento prévio e embasado em critérios que levem em conta a sustentabilidade
cultural. Na perspectiva de Simões (2003), a comunidade não pode nem deve ter um papel
marginal, mas contribuir de forma mais efetiva. Para isso é necessário que haja um
planejamento, que contemple a educação da população, de forma a possibilitar uma legítima
representatividade através do conhecimento dos seus “bens” e direitos.
Como já abordado no tópico que descreve os roteiros estudados, o guia é o
transmissor das informações durante o percurso, quando exerce os papéis de condutor, líder
e entusiasta do grupo. No exercício de intérpretes do patrimônio cultural durante quase todo o
roteiro, os guias que acompanharam os turistas durante os passeios culturais demonstraram
ter conhecimento acerca da história local e preparação didática na transmissão dessas
informações. O preparo demonstrado é fundamental para reafirmar a credibilidade desse
profissional frente ao grupo, como também reflete, de forma positiva, na avaliação da agência
de receptivo pelos turistas.
Na análise cruzada dos dados do perfil geral dos turistas e a preferência sobre o
transmissor das informações44 durante o roteiro, sobre a variável origem, os dados apontam
que nos três Estados considerados no estudo, o guia foi transmissor preferencial das
informações no decorrer do roteiro, perfazendo uma média de 47%. A possibilidade de uma
pessoa local ser a propagadora das informações teve a adesão de 14% dos paulistas e 17%
dos gaúchos, não sendo votada entre os mineiros. Já a alternativa do guia e alguém do local
transmitirem juntos as informações necessárias durante o trajeto teve a aceitação de 32% dos
paulistas, 25% dos gaúchos e 43% dos mineiros.
No que se refere às regiões emissoras, os dados mostram que, na região Sudeste, 46%
dos turistas preferiram o guia como transmissor preferencial das informações, 34% optaram
pela transmissão conjunta do guia com alguém da comunidade local e 10% demonstraram
preferência pela interpretação realizada por uma pessoa do local. Já na região Sul, 50% dos
43 De acordo com o conceito Professional Tour Guide Association of San Antonio citado por Valle (2003). 44 As tabelas completas sobre o cruzamento entre as variáveis do perfil geral dos turistas (geodemográficas e socioeconômicas) e a preferência sobre o transmissor das informações durante o roteiro encontram-se no apêndice C, p. 142.
116
turistas escolheram o guia turístico, 17%, alguém do local, e 17%, o guia e um representante
do local.
Com relação à variável gênero, observa-se que entre os homens a preferência pelo guia
turístico como transmissor preferencial das informações adquiriu percentual bastante elevado,
68%, ao passo que as demais possibilidades não obtiveram muita adesão: pessoa do local,
5%, e o guia junto com uma pessoa do local, 18%. Já entre as mulheres, apesar de o guia
também ter sido apontado pela maioria, 38%, como condutor preferencial das informações
durante o percurso, foi dada grande importância à presença de uma pessoa do local em
conjunto com o guia nas interpretações, 32%. Além disso, o percentual de mulheres que
acreditam em alguém do local como o melhor repassador das informações foi de 15%.
Consideravelmente maior em relação aos homens, 5%.
Quanto à variável faixa etária, a preferência pelo guia como transmissor das
informações manteve percentual semelhante nos estratos estudados, com uma média
aproximada de 52%. Em relação à preferência por uma pessoa pertencente à comunidade
local, a faixa etária mais jovem teve uma adesão suavemente maior, 17%, em relação aos
demais estratos, que aderiram com 12%, em média. A aceitação da transmissão conjunta de
informações pelo guia e alguém da comunidade local foi maior entre os mais velhos, 33%, em
comparação com as outras faixas, que mantiveram percentuais equilibrados, com uma média
de 23%.
No que concerne à variável estado civil, a preferência pelo guia como condutor das
informações no decorrer do percurso prevalece em ambos os estratos, 43% para os solteiros e
48% para os casados. Porém, quando se avalia a aceitação da participação de uma pessoa da
comunidade local, entre os solteiros a preferência foi de 23% contra 10% dos casados.
Considerando a atuação conjunta do guia com alguém da comunidade, entre os solteiros a
adesão foi de 31% e, entre os casados, de 28%, o que evidencia uma maior aceitação do
envolvimento da comunidade na transmissão das informações por parte dos solteiros.
No estudo da variável escolaridade, houve equilíbrio percentual entre os estratos na
preferência pelo guia, 48% para os turistas com até o ensino médio e 45% para aqueles que
possuem nível superior. Quando se considera a preferência pela pessoa do local, a adesão das
pessoas com até ensino médio completo foi maior, 19%, do que a aceitação dos turistas com
117
nível superior completo, 11%. Já quando se analisa o envolvimento de alguém da comunidade
em interação com o guia, a adesão dos turistas que possuem nível superior completo foi mais
elevada, 33%, quando comparada àqueles que possuem até o ensino médio completo, 22%.
Quando se considera a variável renda, dos turistas que ganham até 10 salários
mínimos, 43% apontaram uma predileção pelo guia como condutor das informações durante o
roteiro, 20% afirmaram ter preferência por alguém da comunidade local e 28% demonstraram o
desejo de uma atuação conjunta da pessoa do local com o guia turístico. Com os turistas que
têm renda maior, a preferência pelo guia como responsável por passar as informações durante
o roteiro ficou em 48%. A possibilidade da condução das informações ser efetuada por uma
pessoal do local teve a adesão de apenas 7% do referido estrato, que deu uma maior
importância à interpretação conjunta do guia com alguém da comunidade local, 34%.
A análise dos dados, de uma forma geral, corrobora a preferência pelo guia como
transmissor preferencial das informações em todas as variáveis analisadas, embora, em
alguns casos, ocorra uma discrepância no percentual de turistas que admitem uma maior
participação da comunidade local no processo interpretativo.
5.2.10 A preferência dos turistas em relação ao grau de monitoração da agência durante o roteiro
Para avaliar o grau de liberdade desejado pelos turistas durante a realização dos
roteiros, a pesquisa investigou a opinião do turista sobre a monitoração pretendida durante o
percurso. Como demonstra a Tabela 4, os turistas, de uma forma geral, demonstraram desejo
de serem acompanhados pela agência, no entanto, esperam uma monitoração moderada, que
permita um certo grau de liberdade.
Tabela 4 - Grau de monitoração da agência desejado pelos turistas durante o roteiro.
Grau de monitoração %
Muito intenso 23
Intensidade moderada 63
118
Pouco intenso 2
Nenhuma monitoração 2
Sem Resposta 9
Fonte: Dados da pesquisa
Nas suas justificativas, os turistas que optaram por uma monitoração mais intensa,
deixaram evidente uma sensível preocupação com o fator segurança e com o conforto de um
atendimento imediato em caso de problemas. Em muitos casos, os turistas qualificaram a
monitoração como um indicador de qualidade, que assegura a prestação de um serviço
eficiente e preparado para satisfazer ao turista.
Entre os que preferem uma monitoração moderada, muitos disseram que acham
importante a monitoração em virtude da segurança, porém não querem se sentir “sufocados”
nem vigiados e também anseiam por privacidade e liberdade para satisfazer às suas
curiosidades e atender aos seus interesses pessoais. Os turistas que optaram por pouca ou
nenhuma monitoração, disseram que desejam conhecer o lugar no instante e na intensidade
de sua vontade, que não gostam de cumprir “obrigações” e preferem ter liberdade.
Os resultados obtidos apenas ratificam as constatações anteriormente estabelecidas
de que os turistas pesquisados anseiam de fato por um conhecimento mais profundo sobre o
local, o que, por sua vez, solicita mais tempo livre no decorrer do roteiro. Nesse sentido, pode-
se afirmar que o comportamento do grupo pesquisado se encontra em consonância com a
compreensão de Avighi (2000, p.104), do crescimento de um “novo turismo”, “realizado por
um turista que anseia pelo lugar que o recebe, pelas pessoas e seus estilos”.
A nova concepção de turismo, no entender de Avighi (2000, p.104), instala uma aliança
entre o planejamento econômico-financeiro e de infra-estrutura e a percepção mais ampla,
interessada em bens culturais, estilos de vida e que provoque a imaginação. Desse modo, não
se descarta a existência do aparato infra-estrutural, apenas se indica uma maior valorização da
privacidade de escolha dos turistas.
Ao aplicar essa perspectiva aos roteiros culturais agenciados em Ilhéus, pode-se
atestar que ainda existe uma monitoração bastante excessiva, tendo em vista que, nos dois
roteiros, o controle e a vigilância por parte da agência são intensos. Apenas no término dos
passeios os turistas têm tempo livre (cerca de 20 a 30 minutos apenas) para satisfazer a
119
curiosidades particulares. Denota-se, portanto, que a agência de receptivo ainda não está
atenta a essa nova possibilidade de serviço, que ofereça o aporte de segurança necessário,
sem “castrar” a imaginação e o desejo contemplativo do turista.
Com relação à análise cruzada entre os dados do perfil geral do turista e o grau de
monitoração da agência de turismo durante a realização do roteiro cultural45, a partir da
avaliação sobre a variável origem, percebe-se um equilíbrio entre os estratos estudados em
relação à preferência por uma intensidade moderada de monitoração da agência durante o
percurso do roteiro cultural. Entre os gaúchos, no entanto, houve um número maior de turistas
que escolheram a opção de uma monitoração mais intensa, 33%, em comparação aos demais
Estados, que tiveram uma média de 21%. Também entre os gaúchos houve uma parcela maior
de pessoas que não desejam monitoração, 8%, em comparação aos paulistas, 2%, e aos
mineiros, que não aderiram a essa opção.
Com referência à análise das regiões, percebe-se um relativo equilíbrio percentual
entre os estratos. Vale somente pontuar que os turistas vindos da região Sul apresentaram
uma adesão um pouco maior, tanto em relação a uma monitoração mais moderada, com 72%,
quanto em referência à opção por nenhuma monitoração, 6%, se comparada com a região
Sudeste, onde os turistas aderiram em 64% por uma monitoração moderada e em 2% por
nenhuma monitoração.
Na avaliação da variável gênero, observa-se que, tanto entre os homens quanto entre
as mulheres, existe a preferência por uma monitoração moderada por parte da agência de
turismo durante a realização do roteiro cultural, 73% e 60%, respectivamente. No entanto, nota-
se que, entre as mulheres a preocupação com uma monitoração mais intensa por parte da
agência de turismo é maior, com 25%, em relação aos homens, com 7%.
No que tange à variável faixa etária, apesar de a opção por uma monitoração moderada
ter obtido a preferência da maioria dos turistas em todos os estratos analisados - 58% para a
faixa dos 16 aos 30 anos, 73% para os que possuem entre 31 e 45 anos e 50% para os que
estão entre 46 e 60 anos - , quando consideradas as demais opções, os percentuais
apresentaram pequenas discrepâncias. As pessoas que compõem o estrato de idade mais
45 As tabelas completas sobre o cruzamento entre as variáveis do perfil geral dos turistas (geodemográficas e socioeconômicas) e o grau de monitoração da agência durante o roteiro encontram-se no apêndice C, página 143.
120
avançada, por exemplo, demonstraram uma maior preocupação com a monitoração intensa da
agência no decorrer do percurso, 39%, se efetivada uma análise comparativa com os demais
estratos, que apresentaram uma média de 20%. Quando avaliadas as alternativas de pouca e
nenhuma monitoração, os mais jovens aderiram em 4% e os turistas com idade intermediária
em 6%. Entre os mais velhos não houve adesão, o que confirma uma preocupação maior com
o aspecto monitoração por parte desse último.
Com referência à variável estado civil, entre solteiros e casados, a preferência por uma
monitoração moderada foi preponderante, 54% e 68%, respectivamente. Quando se analisa a
opção por uma intensidade maior de monitoração da agência durante o roteiro, os solteiros
apresentaram uma adesão maior, 29%, em relação aos casados, 20%. Já quando se considera
as opções pouca ou nenhuma monitoração, os solteiros aderiram em 6% e os casados em 3%.
Sobre a variável escolaridade, a opção dos turistas por uma monitoração moderada
por parte da agência de turismo prevaleceu, com uma preferência mais acentuada entre os que
têm até o ensino médio, 74%, em comparação aos turistas que possuem nível superior, 58%. A
discrepância percentual entre os estratos nesse item é entendida quando se analisa a opção
por uma intensidade maior de monitoração, que se mostrou muito mais elevada entre as
pessoas com nível superior, 31%, do que entre os que têm até o ensino médio, 7%. Nas demais
alternativas (pouca e nenhuma monitoração), os índices percentuais entre os estratos se
mantiveram em equilíbrio.
Com alusão à variável renda, os valores percentuais entre os estratos analisados
apresentaram semelhança entre todas as alternativas consideradas, bem como se comparados
com o resultado geral da pesquisa.
Com menção à análise dos dados cruzados, mostrou-se importante pontuar a
existência de uma maior preocupação por parte das mulheres e dos mais velhos em relação a
uma maior monitoração por parte da agência durante o roteiro. O principal argumento dos
turistas que optaram por esse grau de monitoração se deu em torno da necessidade de
segurança e da rápida resolução dos problemas. Os dois segmentos citados possuem
características fisiológicas mais frágeis, o que pode justificar essa preferência e apontar a
121
adaptação dos roteiros ao condicionamento físico dos participantes como fator a ser
considerado pelos agentes.
5.2.11 A avaliação dos turistas sobre a importância de alguns serviços prestados durante a realização
de roteiros
O último ponto abordado na pesquisa procurou avaliar a importância para os turistas
de alguns dos serviços que podem ser prestados pela agência de receptivo durante o roteiro.
Para isso, foram apresentadas algumas opções para avaliação dos turistas (numa escala de 0 a
10 pontos) quanto à importância atribuída à realização desses serviços.
A Tabela 5 demonstra que a segurança, o transporte e a interpretação foram os
serviços avaliados pelos turistas como os mais importantes. A segurança, inclusive, já havia
sido citada por alguns turistas como fator decisivo na opção por uma maior monitoração da
agência durante os roteiros. O transporte, de certa forma, também faz parte do contexto da
segurança, tendo em vista que, quando satisfatório, possibilita mais conforto e tranqüilidade
para os visitantes. Já a importância dada à interpretação, mais uma vez, ratifica o valor
atribuído à aquisição de conhecimento pelos turistas.
Tabela 5 – Avaliação dos turistas sobre a importância dos serviços prestados pelo receptivo
durante a realização de roteiros. (0 a 10 pontos).
Avaliação dos turistas %
Segurança 8,6
Transporte 8,5
Interpretação 8,3
Atividades culturais 7,9
Restaurantes e Lanchonetes 6,7
122
Lojas de souvenires 6,5
Fonte: Dados da pesquisa As atividades culturais também receberam grande importância na avaliação dos
turistas, o que pode sinalizar a necessidade de implantação de novas formas de prestação de
serviço pela agência de receptivo, que ainda não despertou para essa possibilidade. Quanto à
existência de restaurantes, lanchonetes e lojas de souvenirs, o interesse dos turistas não se
mostrou tão elevado, apesar da valorização desses aspectos pela agência que sempre inclui
esses serviços durante os roteiros.
Alguns turistas aproveitaram o espaço reservado para a apresentação de sugestões de
serviços e para fazer algumas solicitações e propostas. Entre as proposições mais citadas
estão: a apresentação das atrações noturnas da cidade; a melhoria dos serviços hoteleiros; a
criação de mais opções de roteiros; informações sobre acessibilidade dos locais para as
pessoas idosas; a caracterização do perfil do grupo por parte da agência; o conhecimento de
idiomas por parte dos profissionais de turismo; a visitação a uma maior variedade de lojas de
artesanato e a apresentação de mais lugares e programas.
Esse tipo de avaliação é importante porque, além de aproximar empresa e expectativas
dos clientes, pode mensurar alguns elementos tangíveis da prestação dos serviços e atenuar,
de certa forma, sua natureza intangível. Permite, ainda, analisar a possibilidade de inclusão de
novas estruturas e serviços que, na ótica do cliente, são considerados importantes.
Dias (2004) usa o termo “valor” para designar aquilo que é importante para o cliente.
De acordo com esse autor, valor é quanto valem para um determinado cliente os benefícios
técnicos, econômicos, de serviços e sociais de um produto ou serviço. Para identificar o valor
percebido por um consumidor, é preciso investir em conhecimento, o que significa levantar
informações que assegurem uma melhor tomada de decisão. Uma vez mensurado o valor
percebido pelo cliente, é possível estabelecer uma estratégia sobre o que realmente tem
significado e importância para esse cliente. Para a área de serviços, a identificação do que tem
123
valor para o cliente se torna ainda mais essencial, tendo em vista a participação do cliente na
produção do serviço e a intangibilidade do processo.
Todas as discussões realizadas no presente tópico imputam ao setor de agenciamento
turístico receptivo de Ilhéus a realização de uma revisão de algumas atitudes empresariais,
como também levantam outras questões de cunho mais filosófico. O tópico seguinte tece
reflexões últimas acerca dos resultados aqui demonstrados e discutidos, sinalizando para a
necessidade de novos posicionamentos por parte do setor estudado e projetando algumas
conjecturas que abrangem a atividade turística como um todo em relação aos aspectos
abordados.
124
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do contexto de crise vivido pelo setor de agenciamento turístico, que tem sido
afetado pelo crescente avanço do processo de desintermediação, por sua vez gerado por
demandas ambientais que fogem ao controle dos agentes, as empresas do setor precisam
buscar novos posicionamentos e novas possibilidades de negócio.
Para as grandes operadoras, os meios que levam à reintermediação (fusões, redes,
franquias e agências virtuais) têm sido a grande saída para “driblar” a crise. No entanto, como
essas adaptações exigem investimentos, para as agências de viagens, empresas normalmente
de menor porte e sem grandes possibilidades financeiras, a busca por esses meios de
reintermediação nem sempre é a melhor saída.
De uma forma geral, dos serviços prestados pelas agências de viagens, os serviços de
receptivo são menos afetados pela crise, já que não estão diretamente vinculados ao processo
de intermediação, podendo ser realizados de forma independente, inclusive atendendo a
turistas que viajam de forma independente.
Nesse sentido, os serviços de receptivo, aí incluídos os roteiros turísticos, podem se
constituir a grande “válvula de escape” para as agências menores, especialmente aquelas
localizadas em cidades com potencial turístico.
125
Trazendo essas reflexões para o contexto do mercado de agências de viagens em
Ilhéus, denota-se que os empresários locais ainda não estão atentos a essa possibilidade, tendo
em vista que a grande maioria ainda insiste em trabalhar com o turismo emissivo. Uma cidade
como Ilhéus, possuidora de atrativos naturais, culturais e históricos, tem grande potencial para
o desenvolvimento de atividades de receptivo, o que representa oportunidade para empresas
que desejam atuar nesse segmento.
No entanto, é importante considerar que, nos serviços de agenciamento receptivo, a
relação existente entre a agência e o turista se torna ainda mais intensa, o que exige uma série
de conhecimentos e adaptações, que passam, de forma especifica, pelo estudo do mercado e,
de forma mais ampliada, pelo acompanhamento de mudanças de ordem econômica, social e
cultural, que se refletem no comportamento do próprio consumidor, como também nas formas
de organização das atividades turísticas.
Considerando esses fatores, este trabalho de pesquisa investigou, no contexto do
agenciamento receptivo da cidade de Ilhéus, os aspectos mercadológicos e sócio-econômicos
envolvidos numa atividade específica de receptivo, os roteiros culturais, com a finalidade de
vislumbrar, através do estudo do cliente, novas oportunidades de negócios.
A análise do perfil geral do turista demonstrou que as pessoas do sexo feminino têm maior
sensibilidade em relação aos aspectos culturais da viagem. Além disso, confirmou a vinculação do
poder econômico à possibilidade de se fazer turismo, tendo em vista que os Estados mais ricos e
as pessoas com renda acima da média nacional, foram os principais demandantes. Por fim,
também demonstrou a existência da relação entre instrução e idade e o gosto por atividades
culturais, já que os mais escolarizados e mais idosos foram maioria no grupo.
Os dados do perfil psicográfico, de uma forma geral, mostraram que os turistas
pesquisados têm de moderado a muito interesse por cultura e que são vários os atrativos da
cidade de Ilhéus que despertam esse interesse. Demonstraram, também, que a maioria prefere
126
realizar o roteiro de forma mais lenta, priorizando o maior aprofundamento do contato com o
lugar e que a interpretação das informações passadas pelo guia durante o percurso sejam mais
detalhadas . A maioria dos turistas acredita, ainda, que é importante ter contato com a
população local durante o passeio e deseja que essa interação se realize de forma moderada,
sem prejuízos para os setores envolvidos. Além disso, a maior parte do grupo deseja uma
monitoração moderada da agência durante o percurso do roteiro, optando por uma maior
liberdade de escolha e de ação.
Os resultados levantados a partir dos cruzamentos de dados evidenciaram que os
gêneros masculino e feminino têm perspectivas e interesses diferenciados em relação aos
aspectos culturais da viagem. Mostraram também que os Estados emissores apresentam
peculiaridades em relação a interesses e forma de informação em relação à viagem. Os dados
comprovaram, ainda, que a idade interfere nas preferências e escolhas e que a escolaridade
também define diferentes gostos e atitudes. Quanto à renda e ao estado civil, não foram
constatadas informações que permitam ilações.
Em relação aos aspectos abordados pela pesquisa, algumas reflexões podem ser
realizadas. Inicialmente, é importante considerar que o turismo cultural mostrou-se um
segmento consolidado, com um público com características bem definidas e atento à dinâmica
envolvida nessa atividade.
De uma forma geral, os resultados se mostraram consoantes com a perspectiva de um
“novo turismo”, realizado de forma mais consciente, preocupado com os valores culturais e
com a realização de experiências mais individualizadas e voltadas para o respeito às
diferenças. O desejo de interação com a comunidade local, demonstrado pela quase totalidade
do grupo pesquisado, evidencia, de forma irrefutável, essas constatações.
Todo esse processo induz à revisão do modelo tradicional de turismo agenciado, que
tende à padronização das atividades, à homogeneização de gostos e atitudes e à monitoração
127
rigorosa da ação do turista. Um maior entendimento dessas mudanças é necessário por parte
dos agentes, que devem buscar um maior conhecimento para propor soluções que melhor
atendam às novas demandas dos turistas.
Ainda em relação à homogeneização, é importante que os agentes considerem que os
grupos possuem características distintas e que os interesses também são diferenciados. A
atuação “pulverizada”, sem levar em conta as individualidades, já não cabe mais no atual
contexto de competitividade do mercado, que solicita a realização de serviços segmentados,
voltados às características específicas dos grupos e à prestação diferenciada de benefícios.
O agenciamento receptivo de Ilhéus, em conformidade com as análises, ainda não se
mostra preparado para essas exigências de mercado. Os serviços analisados obedecem aos
padrões comuns das demais agências e se mostram estandardizados e voltados à
homogeneização de gostos dos turistas. Essa constatação indica uma condução equivocada,
tendo em conta as considerações aqui efetuadas, e sinaliza para a necessidade de mudanças e
revisão dos conceitos tradicionais por parte dos agentes locais.
Por fim, é importante considerar que as empresas, de um modo geral e, sobretudo, as
turísticas, em função dos aspectos sócio-culturais envolvidos na atividade, não podem
desconsiderar o ambiente onde estão inseridas. Sobre esse aspecto, é relevante refletir sobre a
posição marginal da comunidade em relação à atividade empresarial turística estudada que, apesar
de “usar” a cultura como “produto”, ainda não se mostrou sensível em relação à necessidade do
envolvimento efetivo, autêntico e responsável das pessoas do lugar durante os roteiros.
A sustentabilidade de qualquer atividade passa, antes de tudo, pela estima ao lugar e às
pessoas que nele moram. O respeito ao meio ambiente e à cultura não podem ficar restritos ao
discurso empresarial e acadêmico, mas, antes de tudo, deve se refletir em ações práticas que
se revertam em vantagens reais para a comunidade local.
128
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APÊNDICE A
QUESTIONÁRIO PARA ANÁLISE DA QUALIDADE DOS ROTEIROS CULTURAIS REALIZADOS PELAS AGÊNCIAS DE TURISMO NA CIDADE DE ILHÉUS/BA
Pesquisa do Programa de Mestrado em Cultura e Turismo da UESC (Universidade Estadual de Santa Cruz) em convênio com a UFBA (Universidade Federal da Bahia)
01. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino 02. Cidade, Estado e País de origem: ......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ............... ....... ............
03. Faixa etária: ( ) Até 15 anos ( ) de 16 a30 anos ( ) de 31 a 45 anos ( ) de 46 a 60 anos ( ) acima de 60 anos 04. Estado civil: ( ) Solteiro (a) ( ) Casado (a) ( ) Viúvo (a) ( ) Divorciado (a)/Desquitado (a) ( ) Outros 05. Grau de escolaridade: ( ) Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino médio completo ( ) Especialização ( ) Ensino fundamental completo ( ) Superior incompleto ( ) Mestrado ( ) Ensino médio incompleto ( ) Superior completo ( ) Doutorado
06. Ocupação atual: ( ) Estudante ( ) Funcionário do setor Privado ( ) Autônomo ( ) Funcionário Público ( ) Profissional Liberal ( ) Aposentado 07. Nível de renda: ( ) Até 5 salários mínimos ( ) + de 15 até 25 salários mínimos ( ) + de 5 até 10 salários mínimos ( ) + de 25 salários mínimos ( ) + de 10 até 15 salários mínimos 08. Como escolheu esta agência de viagem? ( ) Através da operadora de viagem ( ) Pela Internet ( ) Informação de amigos e parentes ( ) Outros ......... ....... ........ ....... ............... .............. .............. ....... ........ ....... ........ ....... .............. .............. ......... 09. Como foi o atendimento na agência de viagem? ( ) Excelente ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim 10. Qual o seu grau de interesse por atrativos culturais? ( ) Muito interesse ( ) Moderado interesse ( ) Pouco interesse ( ) Nenhum interesse 11. Dentre os atrativos culturais oferecidos pela cidade de Ilhéus, quais os que mais despertam o seu
interesse? ( ) A literatura de Jorge Amado ( ) O patrimônio arquitetônico ( ) As fazendas de cacau ( ) As festas populares e religiosas ( ) Outros.......... ....... ........ ....... ............... .............. .............. ....... ........ ....... ........ ....... .............. .............. ............... .... 12. Na sua opinião, como deveria ser o percurso do roteiro? ( ) Rápido, priorizando a quantidade de atrativos visitados ( ) Mais lento, priorizando a qualidade da visita Por quê? ......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ............... ....... ....... ....... ........ .......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... ...... ........ ....... ....... ............... ....... ....... ....... ........ .......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... ...... ........ .............. ............... ....... ....... ....... ........ .
135
13. Você considera importante a interação do turista com a comunidade local durante a realização do roteiro? ( ) Sim ( ) Não Justifique a sua resposta: ......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... ...... ........ ....... ....... ............... ....... .............. ........ .......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ............... ....... ....... ....... ........ .......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ............... ....... ....... ....... ........ . 14. Em caso afirmativo, como deveria ser essa interação? ( ) Muito intensa ( ) Intensidade moderada ( ) Pouco intensa Por quê? ......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ............... ....... ....... ....... ........ .......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ....... .............. .................. ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... ...... ........ ....... ....... ............... ....... .............. ........ . 15. Como você acha que deveriam ser apresentadas as informações sobre os atrativos ao longo do percurso? ( ) De forma rápida e superficial, priorizado a quantidade de informações ( ) De forma mais lenta, priorizando um maior aprofundamento das informações Por quê? ......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ............... ....... ....... ....... ........ .......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ............... ....... ....... ....... ........ .......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... ...... ........ ....... ....... ............... ....... .............. ........ . 16. Quem deveria passar essas informações? ( ) Pessoa do local ( ) O guia da agência contratada ( ) Pessoa do local e o guia da agência contratada ( ) Outro ...... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ............... ....... ....... ....... ........ ....... ............... ............. ........ .. 17. Como você acha que deveria ser o grau de monitoração da agência durante o percurso? ( ) Muito intenso ( ) Intensidade moderada ( ) Pouco intenso ( ) Nenhuma monitoração Por quê? ......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ........ ....... ....... .............. .................. ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ............... ....... ....... ....... ........ .......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... ...... ........ .............. ............... ....... ....... ....... ........ . 18. Analise os serviços citados abaixo e atribua uma pontuação (1 a 10) que avalie o grau de importância desses serviços para a qualidade do roteiro turístico cultural na sua opinião: ( ) Interpretação e informações sobre local e atrativos ( ) Qualidade do transporte ( ) Apresentação de variedade de lanchonetes e restaurantes ( ) Segurança ( ) Apresentação de diversidade de lojas de souvenires ( ) Realização de atividades culturais Cite outros: ......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ............... ....... ....... ....... ........ .......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ............... ....... ....... ....... ........ .......... ............... ............... ...... ........ ....... ....... ........ ....... ...... ......... ....... .............. .............. ............... ....... ....... ....... ........ .
136
APÊNDICE B
Gênero dos turistas pesquisados Sexo % Masculino 27 Feminino 73 Origem dos turistas pesquisados Estado / País %
São Paulo 54 Rio G do Sul 15 Rio de Janeiro 4 Santa Catarina 1 Paraná 6 Catalúnia/Espanha 1 Minas Gerais 17 Sem Resposta 2 Faixa Etária dos turistas pesquisados Classes %
Até 15 anos 2 de 16 a 30 anos 29 de 31 a 45 anos 40 de 46 a 60 anos 22 acima de 60 anos 5 Sem Resposta 1 Estado Civil dos turistas pesquisados Estado Civil %
Solteiro 43 Casado 49 Viúvo 1 Divorciado 4 Outros 4
Escolaridade dos turistas pesquisados
Escolaridade % Ensino Fundamental Completo 1 Ensino Fundamental Incompleto 4 Ensino Médio Completo 16 Ensino Médio Incompleto 4 Superior Completo 63 Superior Incompleto 9 Especialização 4 Ocupação dos turistas pesquisados
Ocupação % Estudante 7 Funcionário do Setor Público 17 Funcionário do Setor Privado 38 Profissional Liberal 6 Autônomo 7 Aposentado 12 Não trabalha 2 Sem Resposta 10 Renda dos turistas pesquisados
Classes (salários mínimos) % Até 5 13 + 5 até 10 35 + 10 até 15 16 + 15 até 25 12 + 25 7 Sem Resposta 16
137
APÊNDICE C
Sexo / Meio que influenciou a escolha da agência
Sexo Escolha da agência
Masculino (%) Feminino (%) Operadora 48 48 Internet 22 19 Amigos e parentes 17 24 Outros 13 10 Origem por Estados / Meio que influenciou a escolha da agência
Origem (Estados) Escolha da agência
SP (%) RS (%) MG (%) Operadora 56 33 36 Internet 22 8 7 Amigos e parentes 18 33 50 Outros 4 25 7 Origem por Regiões / Meio que influenciou a escolha da agência
Origem (Regiões) Escolha da agência
Sudeste (%) Sul (%) Operadora 52 39 Internet 17 22 Amigos e parentes 24 22 Outros 6 17 Faixa Etária/ Meio que influenciou a escolha da agência
Faixa Etária Escolha da agência
16 a 30 (%) 31 a 45 (%) 46 a 60 (%) Operadora 50 35 63 Internet 21 26 5 Amigos e parentes 29 29 5 Outros 0 9 26
138
Estado Civil/ Meio que influenciou a escolha da agência
Estado Civil Escolha da agência
Solteiro (%) Casado (%) Operadora 54 44 Internet 23 17 Amigos e parentes 23 27 Outros 0 12 Escolaridade/ Meio que influenciou a escolha da agência
Escolaridade Escolha da agência
Até o Ensino Médio (%) Superior(%) Operadora 56 46 Internet 11 23 Amigos e parentes 19 25 Operadora 11 5 Sem resposta 4 0 Renda/ Meio que influenciou a escolha da agência
Renda (Salários Mínimos) Escolha da agência
Até 10 (%) Maior que 10 (%) Operadora 45 48 Internet 19 21 Amigos e parentes 29 17 Outros 7 10 Sem resposta 0 3 Sexo / Interesse dos turistas por atrativos culturais
Sexo Interesse por atrativos culturais
Masculino (%) Feminino (%) Muito 23 43 Moderado 59 50 Pouco 18 5 Nenhum 0 0 Sem resposta 0 2 Origem por Estados / Interesse dos turistas por atrativos culturais
Origem (Estados) Interesse por atrativos culturais
SP (%) RS (%) MG (%) Muito 45 33 21 Moderado 52 58 36 Pouco 2 8 36 Nenhum 0 0 0 Sem resposta 0 0 7
139
Origem por Regiões / Interesse dos turistas por atrativos culturais
Origem (Região) Interesse por atrativos culturais
Sudeste (%) Sul (%) Muito 38 39 Moderado 51 56 Pouco 10 6 Nenhum 0 0 Sem resposta 2 0 Faixa Etária / Interesse dos turistas por atrativos culturais
Faixa Etária Interesse por atrativos culturais
16 a 30 (%) 31 a 45 (%) 46 a 60 (%) Muito 33 33 44 Moderado 67 48 50 Pouco 0 18 0 Nenhum 0 0 0 Sem resposta 0 0 6 Estado Civil / Interesse dos turistas por atrativos culturais
Estado civil Interesse por atrativos culturais
Solteiro (%) Casado (%) Muito 43 33 Moderado 54 53 Pouco 3 13 Nenhum 0 0 Sem resposta 0 3 Escolaridade / Interesse dos turistas por atrativos culturais
Escolaridade Interesse por atrativos culturais
Até o Ensino Médio (%) Superior (%) Muito 26 44 Moderado 63 47 Pouco 7 9 Nenhum 0 0 Sem resposta 4 0 Renda / Interesse dos turistas por atrativos culturais
Renda (Salários Mínimos) Interesse dos turistas por atrativos culturais
Até 10 (%) Maior que 10 (%) Muito 45 34 Moderado 45 59 Pouco 8 7 Nenhum 0 0 Sem resposta 3 0
140
Sexo / Atrativos culturais de interesse na cidade de Ilhéus
Sexo Atrativos de Interesse
Masculino (%) Feminino (%) Literatura de Jorge Amado 22 31 Patrimônio arquitetônico 41 29 Fazendas de cacau 19 24 Festas populares e religiosas 19 16 Outros 0 0 Origem por Estados / Atrativos culturais de interesse na cidade de Ilhéus
Origem (Estados) Atrativos de Interesse
SP (%) RS (%) MG (%) Literatura de Jorge Amado 29 14 47 Patrimônio arquitetônico 31 36 29 Fazendas de cacau 22 43 18 Festas populares e religiosas 18 7 6 Outros 0 0 0 Origem por Regiões / Atrativos culturais de interesse na cidade de Ilhéus
Origem (Regiões) Atrativos de Interesse
Sudeste (%) Sul (%) Literatura de Jorge Amado 32 26 Patrimônio arquitetônico 30 30 Fazendas de cacau 21 26 Festas populares e religiosas 15 17 Outros 0 0 Faixa Etária / Atrativos culturais de interesse na cidade de Ilhéus
Faixa Etária Atrativos de interesse
16 a 30 (%) 31 a 45 (%) 46 a 60 (%) Literatura de Jorge Amado 26 27 36 Patrimônio arquitetônico 33 31 32 Fazendas de cacau 26 25 21 Festas populares e religiosas 14 17 11 Outros 0 0 0 Estado Civil / Atrativos culturais de interesse na cidade de Ilhéus
Estado Civil Atrativos de interesse
Solteiro (%) Casado (%) Literatura de Jorge Amado 31 24 Patrimônio arquitetônico 29 36 Fazendas de cacau 24 24 Festas populares e religiosas 17 16 Outros 0 0
141
Escolaridade / Atrativos culturais de interesse na cidade de Ilhéus
Escolaridade Atrativos de interesse
Até o Ensino Médio (%) Superior(%) Literatura de Jorge Amado 32 28 Patrimônio arquitetônico 32 32 Fazendas de cacau 21 23 Festas populares e religiosas 15 17 Outros 0 0 Renda / Atrativos culturais de interesse na cidade de Ilhéus
Renda (Salários Mínimos) Atrativos de interesse
Até 10 (%) Até 10 (%) Literatura de Jorge Amado 30 30 Patrimônio arquitetônico 33 33 Fazendas de cacau 20 23 Festas populares e religiosas 17 14 Outros 0 0 Sexo / Velocidade do percurso dos roteiros culturais
Sexo Percurso Masculino (%) Feminino (%)
Rápido 50 30 Lento 45 60 Sem resposta 5 10 Origem por Estados / Velocidade do percurso dos roteiros culturais
Origem (Estados) Percurso
SP (%) RS (%) MG (%) Rápido 36 33 29 Lento 52 58 64 Sem resposta 11 8 7 Origem por Regiões / Velocidade do percurso dos roteiros culturais
Origem (Regiões) Percurso
Sudeste (%) Sul (%) Rápido 38 28 Lento 52 67 Sem resposta 10 6
142
Faixa Etária / Velocidade do percurso dos roteiros culturais
Faixa Etária Percurso
16 a 30 (%) 31 a 45 (%) 46 a 60 (%) Rápido 29 39 44 Lento 58 58 50 Sem resposta 13 3 6 Estado Civil / Velocidade do percurso dos roteiros culturais
Estado Civil Percurso
Solteiro (%) Casado (%) Rápido 31 40 Lento 60 50 Sem resposta 9 10 Escolaridade / Velocidade do percurso dos roteiros culturais
Escolaridade Percurso
Até o Ensino Médio (%) Superior(%) Rápido 33 36 Lento 59 58 Sem resposta 7 5 Renda / Velocidade do percurso dos roteiros culturais
Renda (Salários Mínimos) Percurso
Até 10 (%) Até 10 (%) Rápido 43 31 Lento 50 62 Sem resposta 8 7 Sexo / Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro
Sexo Interação do turista com a comunidade local Masculino (%) Feminino (%)
Sim 95 92 Não 5 7 Sem resposta 0 2 Origem por Estados / Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro
Origem (Estados) Interação do turista com a comunidade local SP (%) RS (%) MG (%)
Sim 93 100 93 Não 5 0 7 Sem resposta 2 0 0
143
Origem por Regiões / Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro
Origem (Regiões) Interação do turista com a comunidade local
Sudeste (%) Sul (%) Sim 92 94 Não 7 6 Sem resposta 2 0 Faixa Etária / Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro
Faixa Etária Interação do turista com a comunidade local 16 a 30 (%) 31 a 45 (%) 46 a 60 (%) Sim 100 91 83 Não 0 9 11 Sem resposta 0 0 6 Estado Civil / Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro
Estado Civil Interação do turista com a comunidade local
Solteiro (%) Casado (%) Sim 97 90 Não 0 10 Sem resposta 3 0 Escolaridade / Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro
Escolaridade Interação do turista com a comunidade local Até o Ensino Médio (%) Superior(%) Sim 93 93 Não 7 5 Sem resposta 0 2 Renda / Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro
Renda (Salários Mínimos) Interação do turista com a comunidade local
Até 10 (%) Até 10 (%) Sim 90 97 Não 8 3 Sem resposta 3 0 Sexo / Intensidade da Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro
Sexo Intensidade de interação
Masculino (%) Feminino (%) Muito intensa 18 15 Intensidade moderada 68 67 Pouco intensa 9 12 Sem resposta 5 7
144
Origem por Estados / Intensidade da Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro
Origem (Estados) Intensidade de interação
SP (%) RS (%) MG (%) Muito intensa 16 17 14 Intensidade moderada 73 75 50 Pouco intensa 7 8 21 Sem resposta 5 0 14 Origem por Regiões / Intensidade da Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro
Origem (Região) Intensidade de interação
Sudeste (%) Sul (%) Muito intensa 15 17 Intensidade moderada 67 67 Pouco intensa 10 17 Sem resposta 8 0 Faixa Etária / Intensidade da Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro
Faixa Etária Intensidade de interação
16 a 30 (%) 31 a 45 (%) 46 a 60 (%) Muito intensa 8 12 28 Intensidade moderada 79 70 44 Pouco intensa 4 15 6 Sem resposta 8 3 22 Estado Civil / Intensidade da Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro
Estado civil Intensidade de interação
Solteiro (%) Casado (%) Muito intensa 14 15 Intensidade moderada 71 63 Pouco intensa 9 13 Sem resposta 6 10 Escolaridade / Intensidade da Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro
Escolaridade Intensidade de interação
Até o Ensino Médio (%) Superior(%) Muito intensa 4 24 Intensidade moderada 85 56 Pouco intensa 4 15 Sem resposta 7 5
145
Renda / Intensidade da Interação do turista com a comunidade local durante o roteiro
Renda (Salários Mínimos) Intensidade de interação
Até 10 (%) Até 10 (%) Muito intensa 15 21 Intensidade moderada 60 62 Pouco intensa 13 14 Sem resposta 13 3 Sexo / Velocidade das informações passadas durante o roteiro
Sexo Velocidade das informações
Masculino (%) Feminino (%) Rápida 45 35 Lenta 41 58 Sem resposta 14 7 Origem por Estados / Velocidade das informações passadas durante o roteiro
Origem (Estados) Velocidade das informações
SP (%) RS (%) MG (%) Rápida 36 42 36 Lenta 50 50 57 Sem resposta 14 8 7 Origem por Regiões / Velocidade das informações passadas durante o roteiro
Origem (Regiões) Velocidade das informações
%SUD %SUL Rápida 38 39 Lenta 51 50 Sem resposta 11 11 Faixa Etária / Velocidade das informações passadas durante o roteiro
Faixa Etária Velocidade das informações
16 a 30 (%) 31 a 45 (%) 46 a 60 (%) Rápida 42 39 28 Lenta 46 48 56 Sem resposta 13 12 17
146
Estado Civil / Velocidade das informações passadas durante o roteiro
Estado Civil Velocidade das informações
Solteiro (%) Casado (%) Rápida 43 35 Lenta 46 53 Sem resposta 11 13 Escolaridade / Velocidade das informações passadas durante o roteiro
Escolaridade Velocidade das informações
Até o Ensino Médio (%) Superior(%) Rápida 48 29 Lenta 41 56 Sem resposta 11 15 Renda / Velocidade das informações passadas durante o roteiro
Renda (Salários Mínimos) Velocidade das informações
Até 10 (%) Até 10 (%) Rápida 30 34 Lenta 55 52 Sem resposta 15 14 Sexo / Transmissor preferencial das informações durante o roteiro
Sexo Transmissão das informações
Masculino (%) Feminino (%) Pessoa do local 5 15 Guia da agência 68 38 Ambos 18 32 Outro 5 8 Sem resposta 5 7 Origem por Estados / Transmissor preferencial das informações durante o roteiro
Origem (Estados) Transmissão das informações
SP (%) RS (%) MG (%) Pessoa do local 14 17 0 Guia da agência 43 50 50 Ambos 32 25 43 Outro 5 8 7 Sem resposta 7 0 0
147
Origem por Regiões / Transmissor preferencial das informações durante o roteiro
Origem (Regiões) Transmissão das informações
Sudeste (%) Sul (%) Pessoa do local 10 17 Guia da agência 46 50 Ambos 34 17 Outro 5 11 Sem resposta 5 6 Renda / Transmissor preferencial das informações durante o roteiro
Faixa Etária Transmissão das informações
16 a 30 (%) 31 a 45 (%) 46 a 60 (%) Pessoa do local 17 12 11 Guia da agência 50 55 50 Ambos 25 21 33 Outro 4 9 0 Sem resposta 4 3 6 Estado Civil / Transmissor preferencial das informações durante o roteiro
Estado Civil Transmissão das informações
Solteiro (%) Casado (%) Pessoa do local 23 10 Guia da agência 43 48 Ambos 31 28 Outro 3 5 Sem resposta 0 10 Escolaridade / Transmissor preferencial das informações durante o roteiro
Escolaridade Transmissão das informações
Até o Ensino Médio (%) Superior(%) Pessoa do local 19 11 Guia da agência 48 45 Ambos 22 33 Outro 0 5 Sem resposta 11 5 Renda / Transmissor preferencial das informações durante o roteiro
Renda (Salários Mínimos) Transmissão das informações
Até 10 (%) Até 10 (%) Pessoa do local 20 7 Guia da agência 43 48 Ambos 28 34 Outro 3 3 Sem resposta 8 7
148
Sexo / Grau de monitoração da agência durante o roteiro
Sexo Monitoração
Masculino (%) Feminino (%) Muito intenso 7 25 Intensidade moderada 73 60 Pouco intenso 0 3 Nenhuma monitoração 5 2 Sem resposta 5 10 Origem por Estados / Grau de monitoração da agência durante o roteiro
Origem Monitoração
SP (%) RS (%) MG (%) Muito intenso 20 33 21 Intensidade moderada 64 58 64 Pouco intenso 0 0 0 Nenhuma monitoração 2 8 0 Sem resposta 14 0 14 Origem por regiões / Grau de monitoração da agência durante o roteiro
Origem Monitoração
Sudeste (%) Sul (%) Muito intenso 21 22 Intensidade moderada 64 72 Pouco intenso 0 0 Nenhuma monitoração 2 6 Sem resposta 13 0 Faixa Etária / Grau de monitoração da agência durante o roteiro
Faixa Etária Monitoração
16 a 30 (%) 31 a 45 (%) 46 a 60 (%) Muito intenso 25 15 39 Intensidade moderada 58 73 50 Pouco intenso 4 3 0 Nenhuma monitoração 0 3 0 Sem resposta 13 6 11 Estado Civil / Grau de monitoração da agência durante o roteiro
Estado Civil Monitoração
Solteiro (%) Casado (%) Muito intenso 29 20 Intensidade moderada 54 68 Pouco intenso 3 0 Nenhuma monitoração 3 3 Sem resposta 11 10
149
Escolaridade / Grau de monitoração da agência durante o roteiro
Escolaridade Monitoração
Até o Ensino Médio (%) Superior(%) Muito intenso 7 31 Intensidade moderada 74 58 Pouco intenso 7 2 Nenhuma monitoração 0 4 Sem resposta 11 5 Renda / Grau de monitoração da agência durante o roteiro
Renda (Salários Mínimos) Monitoração
Até 10 (%) Até 10 (%) Muito intenso 25 21 Intensidade moderada 63 62 Pouco intenso 3 3 Nenhuma monitoração 3 3 Sem resposta 8 10
151
Ilhéus: Bem vindo à terra de Jorge Amado. Folder promocional da Secretaria de Turismo de Ilhéus (Parte interna). Fonte: Setur