universidade estadual de santa cruz mestrado em letras: linguagens e representaÇÕes euclides neto:...

49
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco das Roças de Cacau e Arredores e O Tempo é Chegado ─ Linha de pesquisa: Literatura e Cultura: Representações em perspectiva Discente: Rita Lírio de Oliveira Orientadora: Profa. Dra. Maria de Lourdes Netto Simões

Upload: internet

Post on 22-Apr-2015

105 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZMESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES

EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco das Roças de Cacau e Arredores e O Tempo é Chegado ─

Linha de pesquisa: Literatura e Cultura: Representações em perspectiva

Discente: Rita Lírio de OliveiraOrientadora: Profa. Dra. Maria de Lourdes Netto Simões

Page 2: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

A ciência é grosseira, a vida é sutil, e é para corrigir essa distância que a literatura nos importa.

Roland Barthes

Page 3: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

PROBLEMATIZAÇÃOPROBLEMATIZAÇÃO

Há elementos que sublinham um possível perfil identitário da região cacaueira do Sul da Bahia nas obras euclidianas O tempo é chegado e o Dicionareco das roças de cacau e arredores?

Page 4: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

OBJETIVO GERALOBJETIVO GERAL

Investigar elementos caracterizadores do perfil identitário da Região Cacaueira do Sul da Bahia, presentes na obra de Euclides Neto: O Tempo é Chegado (contos) e Dicionareco das Roças do Cacau e arredores.

Page 5: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

OBJETIVOS ESPECÍFICOSOBJETIVOS ESPECÍFICOS

Analisar aspectos de hibridação cultural, como marcadores do caráter identitário regional grapiúna, em O Tempo é Chegado e Dicionareco das Roças do Cacau e arredores, enfatizando a linguagem utilizada pelo autor;

Analisar aspectos da identidade cultural, por meio da memória e imaginário, presentes nos contos de O Tempo é Chegado.

Page 6: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

METODOLOGIAMETODOLOGIA

Pesquisa bibliográfica: comparativismo;

Diálogo estabelecido entre texto cultural e ficcional;

Processo de análise metalinguística.

Page 7: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

SUPORTE TEÓRICOSUPORTE TEÓRICO

HIBRIDAÇÃO CULTURALHIBRIDAÇÃO CULTURAL

Processo sociocultural em que as estruturas e práticas se combinam para gerar novas estruturas e práticas, diferentemente ao tempo em que existiam em formas separadas.

(CANCLINI, 2000)

Page 8: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

CULTURACULTURA

Ciência interpretativa à procura do significado;

Teia de significados que os homens tecem e a ela se prendem;

(GEERTZ, 1989)

Page 9: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

LINGUAGEMLINGUAGEM

Propriedade do ser humano de representar o pensamento por meio de sinais codificados com o intuito de comunicar-se com outro ser humano.

(SARMENTO, 2005)

Page 10: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

MEMÓRIAMEMÓRIA

Reconstrução do passado, tomando por base os quadros sociais do presente.

(HALBWACHS, 2006)

Page 11: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

IMAGINÁRIOIMAGINÁRIO

O signo do fingimento: o mundo ficcionalizado deve ser apenas visto e entendido com uma representação do real;

A interação entre o fictício e o imaginário produz continuamente outros mundos.

(ISER, 1996)

Page 12: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

IDENTIDADEIDENTIDADE

A identidade de um indivíduo é dinâmica, haja vista que se encontra em constante construção, formada e transformada continuamente.

(HALL, 2005)

Page 13: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

SUMÁRIOSUMÁRIO

INTRODUÇÃO

1 PROCESSOS DE HIBRIDAÇÃO CULTURAL NA OBRA DE EUCLIDES NETO.

1.1 Dicionareco: a linguagem híbrida das roças de cacau e arredores;

1.2 O tempo é chegado: a formação sociocultural híbrida da gente grapiúna.

Page 14: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

2 MEMÓRIA E IMAGINÁRIO SOCIAL: CONSTRUINDO IDENTIDADES COM O FOCO N’O TEMPO É CHEGADO .

2.1 A memória e o imaginário social como construtos de identidade;

2.2 A identidade cultural grapiúna – a diferença

CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS

Page 15: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

CAPÍTULO ICAPÍTULO I

PROCESSOS DE PROCESSOS DE HIBRIDAÇÃO CULTURAL HIBRIDAÇÃO CULTURAL NA OBRA DE EUCLIDES NA OBRA DE EUCLIDES

NETONETO

Page 16: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

1.1 Dicionareco: a linguagem híbrida das roças de cacau e arredores

O dicionário é a palavra – a alma do povo.Euclides Neto

Dicionário de uso;

Considera a riqueza semântica e o contexto vivido;

Não hierarquiza a língua;

Resgata e conserva a linguagem popular sul-baiana;Obra ideológica;

Representa o patrimônio sociocultural da região cacaueira por meio da linguagem;

Serve como apoio para a análise de processos de hibridação cultural;

Page 17: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

Caso o leitor encontre alguma palavra estrambótica, vá tolerando o linguajar. É o nosso cá de fora – crueira grossa de pancaré. No arrasto, topará falação já aposentada lá pelas capitais, porém vivinhas-da-silva por aqui, como se tivessem apeado agora, na fumaça do gongo, das descobridoras caravelas. Ou antes. Também dará com a focinheira em outras, ainda beliscando a casca do ovo, nascendo. Toda palavra leva uma carga emocional e uma intenção. É a intenção que lhe dá sentido. O povo da roça gosta do palavreado (NETO, 2002, p. 16).

Page 18: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

ASPECTOS LINGUÍSTICOSASPECTOS LINGUÍSTICOS

Arcaísmos: cuma (como), óie (olhe), relampo (relâmpago), perjuizo (prejuízo), soidade (saudade), oje (hoje), sprito (espírito);

Neologismos: calanguear (andar como o calango), zabear (correr a notícia, como o zumbido das abelhas), vintar (completar 20 anos), saborar (saborear), encaprichar (formar opinião);

Page 19: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

Termos e expressões peculiares: “burro de cacau mole” (animal forte, próprio para ser cargueiro), “quebrar-o-cabresto” (perda da virgindade masculina), “cacau gude” (cacau de qualidade intermediária), “cuspir no chão” (tempo mínimo que se tem pra realizar uma tarefa), “dar a testa” (enfrentar);

Hibridação: o polêmico termo GRAPIÚNA.

Page 20: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

1.2 O tempo é chegado: a formação sociocultural híbrida da gente grapiúna

Contempla o painel sociocultural híbrido sul-baiano;

Narra o ciclo do cacau, sem considerar a ordem cronológica dos fatos;

A experimentação da linguagem: jocosidade e metalinguagem.

“Todo caso, romance ou conto, cobra o tempero da presença da mulher e violência”

(NETO, 2001, p. 66)

Page 21: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

CONTOSCONTOS

O tempo é chegado: a formação sociocultural híbrida grapiúna.

Os nativos;

Os imigrantes internos (trabalhadores braçais, caçadores, bodegueiros, os sem-terras, ciganos);

Os imigrantes externos (comerciantes e proprietários de terras).

Page 22: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

Os Ciganos: um grupo étnico no meio do povo grapiúna.

“Os do lugar” x “aquela gente”;

A esperteza – dado cultural cigano e elemento central da narrativa:

“Os gajões são capazes de tudo para enganar”

(NETO, 2001, p. 65).

O conceito de tradução (HALL, 2005): a cultura cigana se inova dentro da própria tradição.

Page 23: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

A descoberta: interação entre o urbano e o rural

A descoberta do “outro mundo” por meio de processos de hibridação;

“– Quero brincar de ser pobre, mamãe!”

(NETO, 2001, p. 131).

Page 24: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

CAPÍTULO IICAPÍTULO II

MEMÓRIA E IMAGINÁRIO MEMÓRIA E IMAGINÁRIO SOCIAL: CONSTRUINDO SOCIAL: CONSTRUINDO

IDENTIDADES COM O FOCO IDENTIDADES COM O FOCO N’N’O TEMPO É CHEGADOO TEMPO É CHEGADO

Page 25: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

2.1. A memória e o imaginário social como construtos de identidade

O tempo é chegado é uma rememoração do passado, partindo do presente crítico de Euclides Neto;

Memória Coletiva x Memória Histórica;

O tempo e o espaço;

A “redescoberta do passado é parte do processo de construção de identidade” (WOODWARD, 2008, p. 12);

Page 26: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

A memória: sentimento de continuidade e de coerência de um sujeito ou de um grupo em sua reconstrução de si (POLAK, 1992).

Imaginário: representações simbólicas e expressão de valores e formas de determinado grupo;

São nas narrativas que os vários sentidos e imaginários articulam memórias;

O contexto social, a ficção e o leitor;

Page 27: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

CONTOSCONTOS

A rica fazendeira de cacau: a época áurea e a ruína das roças de cacau grapiúnas nas reminiscências da viúva Agripina.

Agora voltava a lembrar dos derradeiros tempos. O enterro do marido, o inventário das fazendas, cacau afundando no preço, vassoura de bruxa comendo as roças. Os bancos, ciganos, exportadores levando o resto (NETO, 2001, p. 24).

O jogo de imaginários: narrador, personagem e leitor (punch line).

Page 28: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

O velho e os três meninos: o ambiente material próprio do indivíduo traz ao mesmo tempo a marca de tal indivíduo e dos outros com os quais convive.

“[...] nos lençóis de linho muito alvo deixaram a marca dos corpos magros e sujos – sudários da fome”

(NETO, 2001, p. 127).

A redescoberta do passado e suas conseqüências no presente.

Page 29: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

Conversão de Vigário: a memória e o imaginário como instrumentos de poder.

Chegava para ficar, casamentar as virgens, que ali ainda as havia, batizar os pagãos, levar os santos óleos às ovelhas do Senhor. Se possível, enxaguar aqueles miolos das palavras do perigoso Antônio Conselheiro e sua gentinha miúda, que morreram sem se entregar, lutando contra os graúdos, pois o beato-guerreiro era o próprio Satanás. O primeiro-cujo, aprendiz do segundo nas artes da escuridão (NETO, 2001, p.

25).

Page 30: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

Numa comunidade formada pela tradição oral, controlar a memória que constrói identidade, significa estabelecer e controlar o poder;

Para tal poder, “o domínio do imaginário e do simbólico é um importante lugar estratégico” (BACZKO,

1985, p. 297).

Page 31: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

Um fato grave sempre traz uma mudança nas relações entre o grupo e o lugar (HALBWACHS, 2006).

Se por onde corre veadinha arisca, passa onça feroz, assim, também, na trilha do homem virtuoso viaja o Esconjuro (NETO, 2001, p. 26).

A afirmação e a reafirmação da identidade.

Page 32: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

2.2 A identidade cultural grapiúna – a diferença

As identidades são fragmentadas, deslocadas e plurais (HALL, 2005);

A identidade é marcada pela diferença (SILVA, 2008);

“As identidades adquirem sentido por meio da linguagem e dos sistemas simbólicos pelos quais elas são representadas” (WOODWARD, 2008, p. 8).

Page 33: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

CONTOSCONTOS

Morreu de ciúme: A identidade e a diferença.

Toda a cidade se via ameaçada pelo perverso forasteiro, que vinha de um distrito, querendo colher a flor mais formosa da sede do município (NETO, 2001, p. 99).

Toda e qualquer identidade é construída socialmente num contexto marcado por relações do poder (CASTELLS, 2000).

Page 34: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

Retrato de general: A ruína econômica do cacau provocou uma dinâmica identitária na região.

Com a chegada da quase miséria, tudo parecia um tempo vencido, como sempre acontece na decadência das nobrezas (NETO, 2001, p. 16, adaptado).

Associação de significância entre a identidade da pessoa e as coisas que ela usa (WOODWARD, 2006).

Page 35: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

CONCLUSÃOCONCLUSÃO

A hibridação: o perfil sociocultural grapiúna foi formado a partir das mesclas interculturais entre diversos tipos humanos;

A linguagem: o Dicionareco das roças de cacau e arredores resgata e preserva a linguagem da sociedade cacaueira;

Page 36: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

A memória: reconstrói os fatos passados da história regional e apresenta as conseqüências socioculturais no presente;

O imaginário: é construto de identidade cultural grapiúna quando constitui representa-ções simbólicas regionais, tendo o cacau como referente e fato vivo de um momento histórico;

Page 37: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

Através dos construtos de identidade analisados, verificou-se que:

há uma relação direta e constante entre os sujeitos;

as características identitárias regionais foram mantidas, porém elas não são mais fixas;

O tempo é chegado é uma tradução dos registros das experiências retidas pelo sujeito grapiúna;

Page 38: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

O verdadeiro escritor é aquele que sabe transformar o comum ou o simples em riquezas literárias.

Jorge Medauar

Page 39: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

REFERÊNCIASREFERÊNCIAS

ADONIAS FILHO. Sul da Bahia: chão de cacau (uma civilização regional). Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 1976.

ARAÚJO, J. de S. Floração de imaginários: o romance baiano no século 20. Itabuna/Ilhéus : Via Litteratum, 2008.

ASSIS BRASIL, L. A. de. Entre a universidade e o particular: a literatura ante as identidades regionais. In: SCHÜLER, F. L.; BORDINI, M. da G. (orgs.) Cultura e identidade regional. Porto Alegre : EDIPUCRS, 2004. (Coleção Memória das Letras 18).

BACZKO, B. Imaginação social. In: ROMANO, R. (org.). Enciclopédia Einaudi. Lisboa: Imprensa Nacional; Casa da Moeda, 1985. V. 5.

BARTHES, R. Elementos de Semiologia. Trad. de Izidoro Blikstein. 16.ed. São Paulo : Cultrix, 2006.

Page 40: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

BARTHES, R. Aula. Trad. de Leyla Perrone-Moisés. 7.ed. São Paulo : Cultrix, 1997.

BAUMAN, Z. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro : Jorge Zahar Ed., 2005.

BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução Sérgio Paulo Rouanet; prefácio Jeanne Marie Gagnebin. 7. ed. – São Paulo : Brasiliense, 1994. (Obras Escolhidas, v.1).

BIDERMAN, M. T. C. A estrutura mental do léxico. Estudos de filologia e lingüística. São Paulo : T. A. Queiroz, Edusp, 1981.

BOSI, E. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 3. ed. São Paulo : Companhia das Letras, 1994.

Page 41: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

CANCLINI, N. G. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. Trad. Maurício Santana Dias. Rio de Janeiro : Editora UFRJ, 2008.

_________. Leitores, espectadores e internautas. Trad. Ana Goldberg. São Paulo : Iluminuras, 2008.

_________. A globalização imaginada. Trad. Sérgio Molina. São Paulo: Iluminuras, 2003.

_________. Noticias recientes sobre La hibridación. VI Congreso de la SibE, Faro, julio de 2000. Disponível na Revista Transcultural de Música. www.sibetrans.com/ trans/trans7/canclini.htm. Acesso em 12/03/2009.

_________. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. Trad. Heloísa Pezza Cintrão, Ana Regina Lessa. 2.ed. São Paulo : Editora da Universidade de São Paulo, 1998. (Ensaios latino-americanos 1).

Page 42: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

CARDOSO, J. B. Literatura do Cacau: ficção, ideologia e realidade em Adonias Filho, Euclides Neto, James Amado e Jorge Amado. Ilhéus : Editus, 2006.

CASTELLS, M. O poder da identidade. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2000.

CESAR, E. O romance dos excluídos: terra e política em Euclides Neto. Ilhéus : Editus, 2003.

COUTINHO, I. L. Pontos de gramática histórica. 7. ed. Rio de Janeiro : Ao Livro Técnico, 1976.

DAMATTA, R. Nação e região: em torno do significado cultural de uma permanente dualidade brasileira. In: SCHÜLER, F. L.; BORDINI, M. da G. (orgs.) Cultura e identidade regional. Porto Alegre : EDIPUCRS, 2004. (Coleção Memória das Letras 18).

Page 43: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

DELGADO, L. de A. N. História oral: memória, tempo, identidades. Belo Horizonte : Autêntica, 2006. (Coleção Leitura, escrita, oralidade).

GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 1989.

GIARDINELLI, M. Cultura, identidade regional e globalização. In: SCHÜLER, F. L.; BORDINI, M. da G. (orgs.) Cultura e identidade regional. Porto Alegre : EDIPUCRS, 2004. (Coleção Memória das Letras 18).

HALBWACHS, M. A memória coletiva. Tradução de Beatriz Sidou. São Paulo : Centauro, 2006.

HALL, S. Quem precisa de identidade? In: SILVA, T. T. (org.) Identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais. Petrópolis : Vozes, 2008.

Page 44: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

HALL. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Tadeu Silva, Guaracira Lopes Louro. 10.ed. – Rio de Janeiro : DP&A, 2005.

ISER, W. O Fictício e o Imaginário: perspectivas de uma antropologia literária. Tradução de Joahnnes Kretschmer, Rio de Janeiro : EdUERJ, 1996.

LE GOFF, J. História e Memória. Tradução de Bernardo Leitão [et al.]. 5ª ed. Campinas, SP : Editora da UNICAMP, 2003.

LEITE, M. Q. Variação Lingüística: Dialetos, Registros e Norma Lingüística. In: SILVA, L. A. da (org). A Língua que falamos: português: história, variação e discurso. São Paulo : Globo, 2005.

Page 45: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

MAFFESOLI, M. O tempo das tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massa. 2. ed. Rio de janeiro : Forense Universitária, 1998.

NETO, E. Dicionareco das roças de cacau e arredores. 2.ed. rev. e ampl. – Ilhéus : Editus, 2002.

_________. O tempo é chegado. Ilhéus : Editus, 2001.

_________. Literatura para o povo. In: Revista do Centro de Estudos Portugueses Hélio Simões/Universidade Estadual de Santa Cruz, Departamento de Letras e Artes – N.º 1 (1997/1998) – Ilhéus : Editus, 1998, pp. 219-222.

NOVO DICIONÁRIO AURÉLIO DA LÍNGUA PORTUGUESA, 3.ed. Curitiba: Editora Positivo, 2004.

PAZ, O. El arco y La lira. 2.ed. México : FCE, 2006.

Page 46: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

POLLAK, M. Memória e identidade social. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10, 1992, p. 200-212.

PÓLVORA, H. Itinerários do conto: interfaces críticas e teóricas da moderna short story. Ilhéus : Editus, 2002.

__________. A força da ficção. Petrópolis : Editora Vozes, 1971.

POLVORA, H. & PADILHA, T. Notícias sobre a civilização do cacau. Rio de Janeiro : Edições Antares Ltda. 1978. 

__________. Cacau em prosa e verso. Rio de Janeiro : Edições Antares Ltda. s/d.

PRETI, D. Sociolingüística: os níveis de fala: um estudo sociolingüístico do diálogo na literatura brasileira. São Paulo : EDUSP, 1994. 

Page 47: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

RIBEIRO, A. L. R. Identidade e Memória: Reformas urbanas e arquitetura cemiterial na Região Cacaueira (1880-1950). Ilhéus : Editus, 2005.

RICHTER, V. C. P. Híbrida, mas não caótica, a literatura brasileira é. Porto Alegre, 2004. (Dissertação de Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Disponível em http://hdl.handle.net/10183/7633. Acesso em 20/09/2009. 

RICOEUR. P. A memória, a história, o esquecimento. Tradução de Alain François [et al.]. Campinas, SP : Editora da UNICAMP, 2007.

SARMENTO, L. L. Gramática em textos. 2.ed. rev. São Paulo : Moderna, 2005.

Page 48: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

SCHMIDT, R. T. Em busca da história não contada ou: o que acontece quando o objeto começa a falar? In: INDURSKY, F. (org.). Discurso, memória e identidade. Porto Alegre : Editora Sagra Luzzatto, 2000.

SEIXAS, C. Dois momentos da obra de Euclides Neto. Seara / Revista Virtual, Seabra, v. 1, n. 1, 2004. Disponível em www.uneb.br/seara. Acesso em 20/03/2008.

SILVA, T. T. da. A produção social da identidade e da diferença. In: SILVA, Tomaz Tadeu (org.) Identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais. Petrópolis : Vozes, 2008.

SIMÕES, M. L. N. A Literatura da Região Cacaueira Baiana: questões identitárias. Revista do Centro de Estudos Portugueses Hélio Simões. Ilhéus : Editus, 1998. 119-127.

Page 49: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES EUCLIDES NETO: construtos de identidade cultural grapiúna – em O Dicionareco

SIMÕES, M. L. N. As razões do imaginário. 1. ed. Salvador/Ilhéus: Fundação Casa de Jorge Amado/Editus, 1998. 272 p.

SOARES, M., Linguagem e Escola. Rio de Janeiro : Ed. Ática, 1995.

TEYSSIER, P. História da língua portuguesa. Trad. de Celso Cunha. São Paulo : Martins Fontes, 1997.

WOODWARD, K. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: SILVA, T. T. (org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais. Petrópolis : Vozes, 2008.