universidade estadual de campinasrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/reposip/... · quÍmica da...

155
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Química Departamento de Físico-Química Dissertação de Mestrado “Vídeos Experimentais para o Ensino de Química” Aluno: Manoel Henrique Francisco Orientador: José de Alencar Simoni Campinas – SP Agosto/2006 i

Upload: others

Post on 27-Oct-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Instituto de Química

Departamento de Físico-Química

Dissertação de Mestrado

“Vídeos Experimentais para o Ensino de Química” Aluno: Manoel Henrique Francisco Orientador: José de Alencar Simoni

Campinas – SP Agosto/2006

i

Page 2: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DO INSTITUTO DE QUÍMICA DA UNICAMP

Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de química /

Manoel Henrique Francisco. -- Campinas, SP: [s.n] , 2006.

Orientador: José de Alencar Simoni Dissertação - Universidade Estadual de Campinas,

Instituto de Química. 1. Química. 2. Ensino médio. 3. Vídeos. I. Simoni,

José de Alencar. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Química. III. Título.

Título em inglês: Experimental videos for teaching chemistry Palavras-chaves em inglês: Chemistry, Middle teaching, Videos Área de concentração: Físico-Química Titulação: Mestre em Química na área de Físico-Química Banca examinadora: José de Alencar Simoni (orientador), Ricardo Belchior Torres, Nelson Henrique Morgon Data de defesa: 31/08/06

Page 3: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

DEDICATÓRIA

A toda minha família, em especial à minha esposa Carla, e aos meus pais Manuel e Célia.

Page 4: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador José de Alencar Simoni, que além de proporcionar a

mim crescimento na minha carreira docente sempre se mostrou solicito,

paciente e principalmente amigo.

Aos meus colegas, pelas várias vezes que trocamos idéias sobre o

ensino de Química.

Aos Companheiros de laboratório, pela amizade, ajuda e sugestões

oferecidas.

As técnicas de laboratório Neusa, Egle e Mara pela ajuda e

disponibilidade oferecida.

Ao pessoal da CPG, pela eficiência no desenvolvimento de suas

funções.

Ao Colégio Notre Dame de Campinas, Mantenedora, Diretora,

Orientador Pedagógico e principalmente o pessoal da informática, pela

permissão para eu utilizar o laboratório de informática na etapa de edição dos

filmes.

Page 5: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

RESUMO

Com o objetivo de oferecer ao professor uma alternativa para que ele

possa fazer um trabalho, um pouco, mais próximo do “Fazer Química” foi

desenvolvido um conjunto de seis filmes-experimentos que comtemplam

conceitos fundamentais no ensino da físico-química. Os conceitos abordados

são: solubilidade, entalpia de solução, eletrólise, titulação condutométrica,

propriedades coligativas e condutância elétrica de soluções.

Entendemos que não podendo, o aluno, realizar o seu próprio

experimento, não podendo, o professor, realizar esse experimento na forma

de demonstração, resta a possibilidade de utilização de vídeos de

experimentos, que além de utilizar os recursos já existentes nas escolas não

expõe os alunos a possíveis riscos, exigindo um gasto mínimo de tempo e

dinheiro.

Esses vídeos são apropriados para o ensino médio e contemplam, mais

intensamente, aspectos quantitativos dos tópicos listados anteriormente.

Todos os experimentos filmados foram paralelamente realizados no

laboratório, dentro dos rigores necessários à determinação científica e os

procedimentos e materiais utilizados nas filmagens foram adaptados de

forma a contemplar os aspectos científicos, didáticos e visuais.

A escolha do tema central, “soluções”, foi norteada pelo aspecto

central que este tema desempenha nas atividades humanas e no

“funcionamento” da natureza, entendendo a natureza como os processos

vitais em nosso planeta.

Page 6: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

Os vídeos foram idealizados, realizados e editados nos laboratórios do

IQ-Unicamp, sem a ajuda de quaisquer outros profissionais da área de mídia

e apresentam duração média de 8 minutos.

O trabalho escrito também contempla uma apresentação da

fundamentação teórica, uma discussão sobre os resultados da bancada e dos

filmes e um roteiro, para o professor, de como aplicar e como obter os

resultados a partir das informações presentes nos vídeos.

Page 7: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

ABSTRACT The main concern of this work is offer the chemistry teacher an

alternative way for his classes activities, next to “true making Chemistry”. A

set of six film-experiments focusing the basic Chemistry concepts were

developed in the Physical Chemistry field. These concepts are: solubility,

solution enthalpy changes, electrolysis, conductometry titration, colligative

properties and electric conductance of solutions.

We understand that if the student can not carry out his (her) proper

experiment, and if the teacher doesn´t have the opportunity to demonstrate it

front of his (her) classes. There is the possibility to use the video-

experiments, which requires less preparation of the professor. In addition

videos make use of spare material resources (available), don´t expose the

pupil to dangerous chemicals and demands a minimum expense of time and

money.

These videos are appropriate for teaching chemistry at the high school

level and mainly exploring the quantitative aspects of the previously listed

topics. All the film-experiments were independently carried out in the

laboratory using the appropriated scientific procedures, apparatus and

chemical materials. The supplies and apparatus used in the films were

adapted or conceived in order to fulfill the scientific, didactic and visual

aspects.

The choice of solutions as a “generating theme” was guided by the

central aspect that subject plays in the human being activities and in the

“nature functioning”.

Page 8: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

The videos have been idealized, carried out and edited in the

laboratories of the IQ-Unicamp, without the aid of any other professionals of

the media area. The videos last around 8 minutes each.

The written work also presents the theoretical aspects of the subjects,

a discussion on the laboratory results and a script for the application of the

films, especially helpful for the teacher and it also shows how to get the

results from the videos.

Page 9: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

[email protected]

Manoel Henrique Francisco EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL 2001 Colégio Notre Dame Campinas- SP

Professor de Química do Ensino Médio

2001–2002 Cursinho do Sindicato Campinas - SPCoordenador Administrativo

2000–2001 COC – Mogi Guaçu Mogi Guaçu - SPProfessor de Química do Ensino médio e curso Pré - Vestibular

2000–2001 Cursinho do Sindicato Campinas - SPProfessor de Química do curso Pré - Vestibular

1999-2000 Med Vestibulares Campinas - SPProfessor de Química do curso Pré - Vestibular

FORMAÇÃO 2006 Universidade Estadual de Campinas Mestrado em Físico-Química

1997–2001 Universidade Estadual de Campinas Bacharel e Licenciatura em Química

1992–1995 Fundação Bradesco Técnico em Eletrônica

TRABALHOS Autor do material didático do Cursinho do Sindicato.

Autor do material de Laboratório do Colégio Notre Dame de Campinas.

Autor de vídeos didáticos para o Ensino de Química.

ix

Page 10: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

Iniciação Científica em Química Analítica com os projetos: “Otimização do sistema FIA para Determinação de Carbonato” e “Dosagem de Nitrogênio e de Carbonatos em Solução Nutritiva para Cultivo Hidropônico”. Orientador: Prof. Dr João Carlos de Andrade.

CONGRESSOS VII Congresso de Iniciação Científica da Unicamp 21 e 22 de setembro de 1999

1° Encontro de Professores de Química do Ensino Médio de Campinas 21 de julho de 2001

1° e 2° Simpósio de Profissionais do Ensino de Química – Instituto de Química Unicamp. 10 e 11 de novembro de 2001 e 9 e 10 de novembro de 2002

x

Page 11: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Constante dielétrica de alguns solventes a 298 K. ...........................30

Tabela 2: Valores de constantes de dissociação de ácidos em soluções aquosas

a 298 K e 1 bar de pressão.........................................................................32

Tabela 3: Valores de constantes de dissociação das bases em soluções aquosas

a 298 K e 1 bar de pressão.........................................................................33

Tabela 4: Condições experimentais em que foram realizadas as eletrólises

testes, antes da filmagem...........................................................................42

Tabela 5: Resultados experimentais para a determinação da carga do elétron

em coulombs..............................................................................................44

Tabela 6: Volumes esperados e obtidos para o gás hidrogênio em quatro

experimentos. ............................................................................................45

Tabela 7: Resultados experimentais obtidos na dissolução exotérmica dos sais

avaliados. Cada experimento foi realizado em triplicata.(valor médio ±

desvio médio). ...........................................................................................51

Tabela 8: Resultados experimentais obtidos na dissolução endotérmica dos

sais avaliados. Cada experimento foi realizado em triplicata. (valor médio

± desvio médio). ........................................................................................51

Tabela 9: Resultados experimentais obtidos na dissolução do carbonato de

sódio anidro. (valor médio ± desvio médio). ............................................53

Tabela 10: Resultados experimentais obtidos na dissolução do cloreto de

amônio. (valor médio ± desvio médio). ....................................................54

Tabela 11: Resultados calorimétricos para a dissolução de carbonato de sódio

anidro em água. (valor médio ± desvio médio).........................................55

Tabela 12: Resultados calorimétricos para a dissolução de cloreto de amônio

em água. (valor médio ± desvio médio)....................................................55

Page 12: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

Tabela 13: Resultados obtidos nos experimentos testes para a avaliação do

potencial uso de algumas substâncias como solventes em estudos

crioscópicos.(valor médio ± desvio médio, para triplicatas). As soluções

possuem molalidades diferentes................................................................60

Tabela 14: Estudo do efeito da adição de sacarose e glicose no abaixamento da

temperatura de fusão da água, para uma concentração de 1,1 mol kg .

(valor médio ± desvio médio, para triplicatas)

-1

..........................................61

Tabela 15: Estudo do efeito da adição de cloreto de sódio puro e do sal de

cozinha no abaixamento da temperatura de fusão da água. (valor médio ±

desvio médio, para triplicatas) ..................................................................62

Tabela 16: Resultados da solubilidade de cloreto de potássio e dicromato de

potássio em água, à temperatura de 20 °C.(valor médio ± desvio médio)69

Tabela 17: Resultados da solubilidade de cloreto de potássio e dicromato de

potássio em água, à temperatura de 50 °C. (valor médio ± desvio médio)

...................................................................................................................70

Tabela 18: Resultados da solubilidade de cloreto de potássio e dicromato de

potássio em água, à temperatura de 20 °C, pela eliminação da água por

aquecimento direto em placa de aquecimento.(valor médio ± desvio

médio)........................................................................................................70

Tabela 19: Resultados da solubilidade de cloreto de potássio e dicromato de

potássio em água, à temperatura de 50 °C, pela eliminação da água por

aquecimento direto em placa de aquecimento. (valor médio ± desvio

médio)........................................................................................................71

Tabela 20: Resultados da titulação condutométrica de uma solução de ácido

sulfúrico com uma solução saturada de hidróxido de bário......................78

Page 13: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

Tabela 21: Resultados da titulação de uma solução de ácido sulfúrico com

uma solução saturada de hidróxido de bário, utilizando-se fenolftaleína

como indicador. .........................................................................................78

Page 14: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Tema central e sub-temas dos filmes-experimentos escolhidos. …...7

Figura 2: Calorímetro desenvolvido para avaliar a entalpia de solução de dois

sais. ............................................................................................................12

Figura 3:Eletrodos construídos para o filme-experimento sobre eletrólise. ....12

Figura 4: Dispositivos criados para avaliar a condutividade de soluções........13

Figura 5: Dispositivo utilizado na titulação condutométrica. ..........................14

Figura 6: Etapas envolvidas na edição não-linear............................................21

Figura 7: Dispositivo desenvolvido para avaliar a condutância elétrica de

soluções. ....................................................................................................26

Figura 8:Teste de condutância utilizado para avaliar a força relativa de alguns

ácidos em solução aquosa. ........................................................................32

Figura 9: Intensidade de luz na avaliação da condutividade, utilizada para se

comparar a força relativa de NaOH e NH em solução aquosa.3 ...............34

Figura 10: Aparato experimental utilizado na eletrólise da solução de KI......39

Figura 11: Diferentes formatos de eletrodos testados neste experimento. ......40

Figura 12: Calorímetro utilizado neste filme-experimento..............................49

Figura 13: Aparato utilizado no filme-experimento do estudo sobre o

abaixamento crioscópico da água na presença de açúcar e sal de cozinha.

...................................................................................................................58

Figura 14: Ciclo de Born-Haber para o processo de dissolução de um sal MX

em água......................................................................................................64

Figura 15: Dispositivo utilizado para monitorar a condutividade da solução no

filme-experimento. ....................................................................................75

Page 15: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

ÍNDICE

1-Introdução .......................................................................................................1

2 – Etapas de criação dos filmes-experimentos .................................................6

2.1-Definição do tema central e sub-temas ........................................................6

2.2- Execução dos experimentos selecionados e adaptação para as condições

de filmagem ..................................................................................................11

2.3-Filmagens ...................................................................................................14

2.4 - Roteiro de filmagem para o filme-experimento: Propriedades Coligativas

.......................................................................................................................19

2.5 – Edição dos filmes-experimentos .............................................................21

3- Filmes-Experimentos ...................................................................................24

3.1 – Condutividade .........................................................................................24

3.1.1 – Introdução.............................................................................................24

3.1.2 – Parte experimental................................................................................26

3.1.3 - Resultados .............................................................................................28

3.2 – Eletrólise..................................................................................................35

3.2.1 – Introdução.............................................................................................35

3.2.2 – Parte Experimental ...............................................................................38

3.2.3 - Resultados .............................................................................................39

3.3 – Calorimetria.............................................................................................46

3.3.1 – Introdução.............................................................................................46

3.3.2 – Parte Experimental ...............................................................................49

3.3.3 – Resultados ............................................................................................50

3.4 – Propriedades Coligativas.........................................................................56

3.4.1 – Introdução.............................................................................................56

3.4.2 – Parte experimental................................................................................58

Page 16: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

3.4.3 – Resultados ............................................................................................59

3.5 – Solubilidade.............................................................................................63

3.5.1 – Introdução.............................................................................................63

3.5.2 – Parte experimental................................................................................68

3.5.3 – Resultados ............................................................................................68

3.6 – Titulação Condutométrica.......................................................................72

3.6.1 - Introdução .............................................................................................72

3.6.2 – Parte experimental................................................................................74

3.6.3 - Resultados .............................................................................................76

4 – Considerações finais...................................................................................80

5 – Bibliografia.................................................................................................83

ANEXOS..........................................................................................................86

Roteiros de aplicação dos filmes-experimentos...............................................87

1 - Condutividade .............................................................................................87

1.1 – Objetivo...................................................................................................87

1.2 - Introdução ................................................................................................87

1.3 – Discussão.................................................................................................88

2– Eletrólise......................................................................................................98

2.1 – Objetivo...................................................................................................98

2.2 – Introdução................................................................................................98

2.3 - Discussão .................................................................................................99

2.4 - Dados experimentais e cálculos.............................................................103

2.4.1 - Determinação da carga do elétron ......................................................104

2.4.2 - Determinação do volume esperado de gás hidrogênio ao final da

eletrólise......................................................................................................105

3 – Calorimetria..............................................................................................107

3.1 – Objetivo.................................................................................................107

Page 17: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

3.2 – Introdução..............................................................................................107

3.3 – Discussão...............................................................................................109

3.4 - Dados experimentais e cálculos.............................................................111

3.4.1 - Determinação da energia envolvida na dissolução do carbonato de

sódio............................................................................................................112

3.4.2 - Determinação da energia envolvida na dissolução do cloreto de amônio

.....................................................................................................................113

4- Propriedades coligativas ............................................................................114

4.1 - Objetivo..................................................................................................114

4.2 - Introdução ..............................................................................................114

4.3 – Discussão...............................................................................................115

4.4 - Dados experimentais e cálculos.............................................................118

4.4.1 - Cálculo do efeito crioscópico esperado para o soluto molecular

(sacarose) ....................................................................................................119

4.4.2 - Cálculo do efeito crioscópico esperado para o soluto iônico (cloreto de

sódio)...........................................................................................................119

5 – Solubilidade..............................................................................................121

5.1 – Objetivo.................................................................................................121

5.2- Introdução ...............................................................................................121

5.3 – Discussão...............................................................................................122

5.4 - Dados experimentais e cálculos.............................................................125

5.4.1 - Determinação da solubilidade do K2Cr2O7 à temperatura ambiente ..126

5.4.2 - Determinação da solubilidade do KCl na temperatura ambiente .......127

5.4.3 - Determinação da solubilidade do K2Cr2O7 à 50 °C............................127

5.4.4 - Determinação da solubilidade do KCl à 50 °C...................................128

6 – Titulação condutométrica.........................................................................129

6.1 – Objetivo.................................................................................................129

Page 18: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

6.2 – Introdução..............................................................................................129

6.3 – Discussão...............................................................................................131

6.4 – Dados experimentais e cálculos ............................................................136

Page 19: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

1

1-Introdução

A prática docente no ensino médio, nos últimos anos, tem levado os

professores de Química a frustrações bastante desanimadoras. Isto é uma

constatação factual, que dispensa maiores verificações.

Seja pela precariedade da infra-estrutura das escolas - principalmente

daquelas públicas -, seja pela redução da carga horária atribuída à disciplina

de Química, torna-se extremamente difícil encontrar uma rotina em que a

relação professor-aluno leve a que este último adquira uma visão realista e

crítica da Química. Isto tudo, somado ao fato de que o profissional deve

dedicar 100% do seu tempo de exercício docente em sala de aula, para atingir

uma remuneração aceitável, desenha-se um quadro preocupante e desafiador,

dificultando a implementação da reforma de ensino pretendida pela Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).

O conceito de currículo proposto pela LDB se afasta da idéia de grade,

sendo considerado como um conjunto de processos que objetivam a

aprendizagem significativa, gerando no aluno a capacidade de compreender e

intervir na realidade. Um dos princípios que constituem essa estrutura

curricular é a oposição à repetição e à padronização, buscando motivar o

professor a trabalhar formas não convencionais como metodologia de ensino.

Os conteúdos abordados podem assumir a forma de atividades, onde o ponto

de partida é uma situação que requer interpretação e conduz ao conteúdo

teórico.1

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)2 foram elaborados para

oferecer aos professores subsídios para a implementação da reforma proposta

pela LDB, destacando como eixos norteadores da construção do conhecimento

a interdisciplinaridade e a contextualização, e oferecendo um rol de

Page 20: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

2

competências e habilidades a serem trabalhadas em cada área do

conhecimento e disciplina.

A aprendizagem na área das Ciências da Natureza deve ter pretensões

formativas e não simplesmente o acúmulo de conhecimento, e isto se alcança

ao se propiciar situações que tenham significado para os alunos.

Dentro desse quadro, faz-se necessário criar alternativas e ferramentas

que auxiliem o professor, promovendo ao máximo o crescimento cognitivo do

aluno.

A reforma do Ensino Médio, pretendida pela LDB, pode ser

implementada com o auxílio de professores bem informados, atualizados e

com recursos disponíveis para tal, já que é necessário que haja, além de uma

atualização curricular, uma mudança nas abordagens de ensino adotadas.

É preciso então produzir materiais que possam ser diretamente

utilizados pelos professores, que motivem os alunos, que possibilitem o uso de

recursos disponíveis nas escolas e que contribuam com a reforma do ensino de

Química no Brasil.

Com este objetivo, foi desenvolvido neste trabalho um conjunto de seis

filmes (que acompanham um guia de aplicação) que contemplam alguns

conteúdos trabalhados no Ensino Médio de Química.

O uso do filmes como recurso pedagógico aparece como uma tentativa

de introduzir uma ação pouco comum no cotidiano escolar. Essa prática traz a

possibilidade de se utilizar, não somente palavras, mas também imagens,

muitas vezes bem mais atrativas e persuasivas do que a fala do Professor,

podendo trazer um impacto muito maior do que a de um livro ou a de uma

aula expositiva.3

Embora a difusão de videocassetes, e mais recentemente de aparelhos

de DVD s, no âmbito escolar já tenha sido constatada, alguns fatores podem

Page 21: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

3

ter contribuído para a pouca utilização desse recurso como elemento

curricular, tais como: a inadequação dos filmes disponíveis no mercado às

necessidades dos Professores, a falta de preparo destes profissionais e a falta

de infra-estrutura das escolas.

O filme traz uma forma multilinguística de superposição de códigos e

significações, predominantemente audiovisuais, apoiada no discurso verbal-

escrito, partindo do concreto, do visível, do imediato.4 A linguagem

audiovisual desenvolve múltiplas atitudes perceptivas, pois solicita

constantemente a imaginação do espectador.3

A atividade em vídeo pode exercer funções diversificadas no processo

de ensino-aprendizagem, como: informativa, motivadora, expressiva,

avaliativa, conceitual, documental, investigadora, lúdica, metalingüística e

atitudinal.4

Existe atualmente uma variedade de filmes de caráter educativo que

podem ser utilizados para fins didáticos. Levando-se em conta o conteúdo, o

objetivo e o tipo de produção, teríamos filmes de diferentes designações:

ocupacional, industrial, técnico, científico, documentário, etc. Poderíamos

classificar estes filmes como educativos apenas para diferenciá-los do filme

didático, que está diretamente relacionado com o currículo escolar5.

O filme didático tem como característica fundamental estar ligado a um

conteúdo específico de um currículo escolar. Utiliza recursos próprios do

cinema (movimento, som, cor, etc.) e efeitos especiais (edição, câmera lenta,

transições, fusão, etc.) caso tais técnicas sejam necessárias para a

compreensão do estudante5.

Há muitas formas de se conceber um filme didático. O que mais se vê

são filmes devotados à apresentação de um fenômeno químico com alto poder

de imagem, ou seja, a exibição de um fenômeno com grande visual de cores

Page 22: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

4

associado a efeitos sonoros. Nesse caso insere-se uma infinidade de filmagens

que, inclusive, se encontram disponíveis gratuitamente na rede mundial.

Um outro tipo de filme didático muito comum é a apresentação de um

conceito ou assunto, de forma que se substitui a fala do professor pela fala do

narrador que pode ser, inclusive, o próprio professor.

Nos filmes tipo documentário o que se faz é mostrar cenas externas com

forte apelo visual, que podem ser da natureza, de atividades industriais ou da

sociedade em geral, acompanhadas de uma entrevista com algum “expert” no

assunto principal.

Particularmente na área do ensino de Química o filme didático pode,

também, mostrar um fenômeno ou experiência, facilitando a compreensão de

um conceito. A maioria dos conceitos de Química é abstraída ou seu

entendimento pode ser reforçado por experimentos, daí a importância da

experimentação e da observação nessa Ciência. Nesse caso, a função mais

obvia de um filme didático de Química seria mostrar um fenômeno ou

experiência. O filme substitui, nesse caso, uma experiência ou demonstração.

A realização da experimentação é altamente desejável, mas nem sempre é

possível, por limitações de tempo - muitos Professores tem carga de trabalho

muito extensa, faltando-lhes tempo para o preparo das atividades

experimentais - pelo elevado custo dos experimentos, pela periculosidade

envolvida, pela ausência de local apropriado e de equipamentos necessários.

Por outro lado, um experimento filmado está disponível para o

Professor e para os alunos e, a qualquer momento, pode ser repetido várias

vezes, não gera resíduos, não exige a habilidade manual do aluno (o que seria

desejável), mas não pode e não deve ser comparado a um experimento

realizado ou a uma demonstração ao vivo. Também, é claro, um experimento

filmado não retrata as condições normalmente vividas num experimento real,

Page 23: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

5

quando se erra alguma medida, o equipamento falha, o reagente está impuro, a

propriedade avaliada fica fora da sensibilidade do experimentador ou do

instrumento etc.

Nesse trabalho tomamos a linha de filmar experimentos reais,

privilegiando os aspectos quantitativos desses experimentos, a manipulação

correta de reagentes, o uso correto de instrumental simples de laboratório e de

procedimentos. O assistir ao filme associado à anotação de grandezas e

quantidades que o mesmo oferece, permitem, não só, ter contato com o

conteúdo específico como também auxiliar no processo ensino aprendizagem

do assunto tratado. Os filmes foram concebidos de modo que o espectador

pode e deve anotar as informações que o mesmo oferece, podendo elaborar

um relatório sobre o experimento, efetuar cálculos e discutir os resultados.

Como pode ser visto nas páginas subseqüentes dessa dissertação, os

filmes foram realizados com procedimentos previamente testados em bancada

e em condições cientificamente corretas e também nas condições das

filmagens.

Todo o trabalho de tomadas de cenas, cortes, atuações, cortes, direção

de filmagem, montagem, mixagem, gravação de vozes e produção final dos

filmes foram efetuadas pelo autor dessa dissertação e seu orientador, sem usar

recursos ou serviços de outros profissionais.

Page 24: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

6

2 – Etapas de criação dos filmes-experimentos

2.1-Definição do tema central e sub-temas

No início do trabalho, a idéia era realizar alguns filmes-experimentos

que contemplassem assuntos que fazem parte do currículo do ensino de

química no nível médio. Inicialmente a escolha foi aleatória e após algumas

discussões, constatamos que seria mais interessante, do ponto de vista

didático, que fosse eleito um tema central e a partir daí, selecionar os assuntos

para a produção dos filmes-experimentos.

Quando se escolhe um tema central ou unificador, a idéia principal é

que a associação entre os conteúdos, sendo feita através de conceitos

unificadores, evidencie a existência de procedimentos comuns a toda a

Química e reforça, não só a potencialidade dos mesmos, mas também as

próprias vantagens em se adotar tal enfoque unificador. Isso facilita, também,

a desejável superação da compartimentalização por áreas (Eletroquímica,

Termoquímica, etc.), normalmente presente nos enfoques tradicionais de

ensino. De fato, a função dos conceitos unificadores é a de evidenciar o

caráter supra disciplinar dos conteúdos, permitindo uma melhor ligação entre

as partes de um todo6.

O tema central escolhido foi “Soluções” por sua importância e aspecto

central no ensino de Química seja no nível médio ou em qualquer outro nível.

A partir da escolha do tema central, foram analisados livros didáticos7,8,9

utilizados no ensino médio e os PCN’s2 para a escolha dos assuntos que

seriam trabalhados nos filmes-experimentos. O tema central e os sub-temas

estão mostrados na figura 1.

Page 25: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

7

Figura 1: Tema central e sub-temas dos filmes-experimentos escolhidos.

A seguir serão descritos, brevemente, um resumo de cada filme-

experimento. A abordagem conceitual escolhida nessa dissertação não é a

única possível, outras leituras poderão ser feitas, devido à riqueza conceitual

que envolve cada sub-tema.

Entalpia de Solução: neste filme-experimento, é estudado que o processo de

dissolução de uma substância em água envolve uma variação de energia, e que

esta pode ser quantificada através de um método simples. Para quantificar a

energia envolvida nos processos de dissolução, foram escolhidos dois sais: o

carbonato de sódio (processo exotérmico) e o cloreto de amônio (processo

endotérmico). Durante o filme-experimento os alunos poderão obter os dados

para o cálculo da energia envolvida em cada dissolução. O filme permite que

sejam observadas as principais grandezas necessárias para esse cálculo:

variação de temperatura, massa de água, massa adicionada de sólido, além dos

detalhes experimentais da medida em si, tais como: como funciona e o que

compõe o calorímetro, como se medem as várias grandezas, o uso do

termômetro etc.

Page 26: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

8

Propriedades Coligativas: o objetivo deste filme-experimento é demonstrar

quantitativamente o abaixamento do ponto de fusão da água na presença de

um soluto, procurando evidenciar que esse comportamento está relacionado

exclusivamente ao número de partículas de soluto presentes (independente de

sua natureza química) em uma quantidade de solvente. São estudados os

efeitos coligativos quando se adiciona um soluto molecular (açúcar refinado) e

um soluto iônico (sal de cozinha). Nesse filme observa-se, também o

fenômeno do super-congelamento, assunto que é raramente abordado no

ensino médio. O filme permite ao aluno a observação das várias grandezas

necessárias aos cálculos de concentração (massa do solvente, massa do soluto)

e também a variação de temperatura para cada solução obtida, permitindo

obter, por exemplo, o valor da constante crioscópica, ou verificar a questão da

dissociação ou não do soluto no processo de dissolução etc. Também permite

verificar como se efetua uma pesagem em laboratório, como se pode medir

uma temperatura e como se pode obter um banho refrigerante para

temperaturas abaixo de 0 ºC.

Solubilidade: o filme-experimento mostra que a solubilidade em um

determinado solvente é uma característica própria do soluto, a qual pode ser

influenciada pela temperatura em que ocorre o equilíbrio de solubilidade.

Trata-se de um experimento simples para a determinação da solubilidade de

dicromato de potássio e o cloreto de potássio, em água, à temperatura

ambiente (conhecida) e a 50 ºC. No filme, o espectador pode ver como são

feitas as pesagens em um laboratório, como se pode medir a temperatura,

como se efetua um aquecimento e secagem de um sólido, como se

acondiciona o mesmo para transportar e pesar, entre outros. Como objetivo

Page 27: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

9

central, o filme permite calcular a solubilidade dos dois sólidos mencionados,

em duas temperaturas diferentes.

Eletrólise: o objetivo desse filme-experimento é mostrar que processos

químicos ocorrem quando a corrente elétrica atravessa o meio. No caso aqui

específico, realiza-se a eletrólise de uma solução aquosa de iodeto de potássio

em água. Observam-se a formação de iodo em solução e o desprendimento de

gás hidrogênio, a substância mais importante para o objetivo central do

experimento. Como observações secundárias, o filme mostra como se pode

fazer uma coleta de gases, mostra que a solução de iodo é castanha e que o

iodo pode ser identificado por amido e que essa identificação é caracterizada

pela coloração azul escura do complexo formado, mostra como se pode medir

uma corrente elétrica e também como se faz para medir o volume de gás

desprendido. Ao final o experimento permite o cálculo de grandezas como: a

carga do elétron, a constante de Avogadro e a estequiometria da redução do

íon H+ pelo elétron.

Condutividade: esse filme tem como foco principal a demonstração do

fenômeno da condutividade elétrica e sua relação com a presença de íons em

solução. O filme mostra, por exemplo, que a água e o etanol líquidos não

conduzem a corrente elétrica quando puros. Também mostra que um sólido

iônico como o cloreto de sódio em água conduz a corrente elétrica enquanto

que um molecular, a sacarose, em solução aquosa não conduz a corrente. Em

um outro momento, o filme permite ao espectador, a observação de que um

líquido solvente tem influência na condutância elétrica de uma solução,

permite observar que uma solução de iodeto de potássio conduz bem a

corrente elétrica em água, e não conduz tão bem em etanol. O filme também

Page 28: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

10

permite que sejam feitas comparações entre as condutâncias elétricas de

soluções de ácidos com diferentes constantes de ionização e também entre

bases em uma mesma concentração. O filme não possibilita nenhuma

determinação quantitativa dessas condutâncias, mas permite, por exemplo,

observar como se constrói um dispositivo simples para se estudar o fenômeno

da condutância elétrica em solução.

Titulação Condutométrica: neste filme-experimento, o objetivo é a

determinação da concentração de uma solução de ácido sulfúrico, pela

titulação com uma solução aquosa saturada em hidróxido de bário. O filme

mostra que essa titulação pode ser conseguida pelo uso da condutância elétrica

do meio reacional, utilizando-se um dispositivo simples, onde a variação da

condutância do meio reacional é monitorada pela intensidade de luz de uma

lâmpada incandescente. O experimento reforça o conceito do filme anterior

(condutância elétrica) e ainda permite cálculos com concentração de soluções,

sem dispensar um olhar mais profundo sobre a propriedade de condução

elétrica de eletrólitos, quando evidencia vários momentos da titulação

monitorada conforme dito anteriormente. Na versão do filme, o objetivo é a

determinação da concentração do ácido sulfúrico em solução, entretanto,

outras narrativas poderiam permitir o estudo de muitos outros fundamentos ou

conceitos, sem se alterar o filme produzido.

Page 29: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

11

2.2- Execução dos experimentos selecionados e adaptação para as condições

de filmagem

Para se obter os filmes-experimentos presentes neste trabalho, muitos

experimentos foram executados no laboratório de pesquisa em condições

cientificamente mais controladas. É importante ressaltar, que os resultados

obtidos e mostrados nos filmes se referem às condições adotadas para a

execução da filmagem. Mesmo adotando estas condições, que muitas vezes

não foram as mais adequadas (por exemplo, no filme-experimento sobre a

solubilidade, onde o recomendado era conduzir o aquecimento para eliminar a

água das soluções em um banho termostatizado e no filme-experimento isto

foi feito em uma placa de aquecimento), os resultados obtidos foram

satisfatórios, se considerado o objetivo desse trabalho.

Em todos os experimentos houve a necessidade de se adaptar ou criar

dispositivos para a realização dos filmes-experimentos. Isto ocorreu com o

objetivo de se:

- Obter as melhores condições para a filmagem, evitando reflexos

luminosos que poderiam prejudicar a leitura de alguma medida,

eliminando a perda de foco que poderia ocorrer dependendo da forma

do objeto filmado, obtendo seqüências para proporcionar harmonia na

cena, dando “closes” para destacar algum fenômeno, etc.

- Suprir a inexistência do dispositivo para a execução dos filmes-

experimentos, desenvolvendo esses dispositivos, já que muitos deles

não são disponíveis comercialmente, ou não são compatíveis com o

estágio acadêmico em que os alunos se encontram (a utilização de um

dispositivo muito sofisticado pode desviar a atenção do aluno do

Page 30: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

12

fenômeno que se deseja mostrar). As figuras 2, 3, 4 e 5 mostram alguns

dispositivos criados.

Figura 2: Calorímetro desenvolvido para avaliar a entalpia de solução de dois sais.

Figura 3:Eletrodos construídos para o filme-experimento sobre eletrólise.

Page 31: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

13

Figura 4: Dispositivos criados para avaliar a condutividade de soluções.

Page 32: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

14

Figura 5: Dispositivo utilizado na titulação condutométrica.

2.3-Filmagens

Para iniciar as filmagens foi necessário definir a composição da cena,

isto é, a disposição dos elementos de modo a revelar aos espectadores a idéia

do experimento, de um modo eficaz e, ao mesmo tempo, apresentar uma

imagem harmoniosa, agradável e bem equilibrada.

A composição em vídeo tem características diferentes da fotografia e

outras artes visuais.10

Na fotografia, a composição pode ser feita dispondo os elementos na

horizontal ou na vertical. Em vídeo, só são possíveis enquadramentos na

horizontal. Se fossem feitos na vertical, seria necessário alterar a posição do

televisor, o que na prática é pouco viável.10

Em vídeo, o enquadramento tem posição e proporções fixas. A imagem

é sempre apresentada na horizontal numa proporção, cuja relação é,

Page 33: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

15

geralmente, de 4 para 3 (4:3), ou seja, quatro partes para a largura e três para a

altura.10

O enquadramento deve conter todos os elementos do plano (curvas,

verticais, horizontais e diagonais). A dimensão do plano varia de acordo com

o tamanho do objeto, com a distância do objeto à objetiva e principalmente

com o que se quer mostrar. Se o plano for muito distante, poderá incluir

elementos supérfluos que poderão desviar a atenção do tema central, e se for

muito próximo, as mudanças bruscas do que se quer mostrar irão se tornar

difíceis de serem registradas durante a filmagem.11

Nas filmagens dos experimentos não foi utilizado um único plano, pois

em determinados momentos nosso objetivo era propiciar ao expectador uma

visão global do experimento, e em outro momento, era mostrar o objeto de

perto, eliminando parte da cena e levando o espectador a concentrar-se naquilo

que de fato interessava (como uma medida que é importante ter conhecimento

e fazer sua anotação ou constatação de um fenômeno).

O melhor enquadramento se consegue fazendo variar a distância da

objetiva aos objetos por meio do zoom. A objetiva é o conjunto de lentes que

permitem a captura das imagens e deve ser encarada como uma extensão dos

próprios olhos, que permite armazenar na fita tudo aquilo que se procura

mostrar. O zoom é o sistema que possibilita variar a distância focal

proporcionando vistas panorâmicas ou aproximadas.

O enquadramento depende daquilo que se pretende mostrar, e por isso,

não há fórmulas fixas. Há, todavia, um conjunto de conhecimentos que devem

ser levados em consideração. Um deles é o da noção dos pontos fortes da

cena.

Os pontos fortes são as áreas da imagem que constituem passagens

obrigatórias durante a observação das imagens. Eles estão relacionados com a

Page 34: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

16

chamada regra dos terços, conhecimento fundamental para uma boa

composição da imagem em vídeo.11

A regra dos terços consiste em dividir a área da imagem, que se observa

no monitor de vídeo ou no visor da câmera, em três faixas horizontais e três

verticais.10

Os elementos fundamentais da imagem devem ser equilibrados ao

longo das linhas ou nos pontos onde se cruzam, o que garante que os

elementos horizontais e/ou verticais fiquem perfeitamente alinhados.11

De acordo com a angulação ou posicionamento da câmera, em relação

ao que é registrado, podem ser considerados diferentes ângulos de visão. O

ângulo de visão ou angulação é o ponto de vista ou de observação a partir do

qual uma determinada cena é captada pela objetiva da câmera.10

Em nossas filmagens procuramos utilizar uma angulação, que além de

propiciar uma visão descritiva do experimento, proporcionasse ao espectador

uma situação de interatividade, isto é, como se ele estivesse realizando o

experimento. Para isso, o eixo óptico da câmara foi posicionado em linha reta

com o objeto a ser registrado e em outras cenas utilizamos a câmera em uma

posição um pouco superior aquilo que se filmava. A alternância destas duas

angulações proporcionava os efeitos desejados. Se fossem utilizadas outras

angulações, como, por exemplo, posicionando-se a câmera de baixo para

cima, o efeito conseguido seria um aumento nas dimensões do que é filmado,

criando uma sensação de grandiosidade do objeto e de pequenez do

observador face ao observado.

A composição também dependente do tipo e da forma de iluminação

utilizada. A luz é um elemento fundamental. Sem ela não é possível ver as

imagens. Estas variam de acordo com o posicionamento da fonte luminosa. O

Page 35: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

17

grau de incidência e a intensidade da luz geram diferentes contrastes,

permitindo ao cérebro humano perceber a noção de relevo e profundidade.12

A utilização de focos de luz, cuidadosamente colocados, permite alterar

o grau de plasticidade e a aparência dos objetos. É a alternância das zonas de

sombra e de luz que nos permite avaliar o grau de concavidade ou de

convexidade dos objetos, o qual depende do ângulo de incidência da luz.12

A luz utilizada pode ser obtida a partir da iluminação solar ou através de

uma fonte artificial. Em filmagens profissionais é comum utilizar-se uma

fonte artificial 13. Esta iluminação é proporcionada por diferentes lâmpadas e

focos de projeção, estando as tonalidades dependentes dos tipos de lâmpadas.

Em nossas filmagens utilizamos a luz natural e a luz artificial que

existia no ambiente escolhido para as filmagens. As filmagens foram

conduzidas no próprio laboratório de pesquisa. A forma, como os objetos

eram iluminados, dependia da hora, do dia e da sua posição relativa à fonte de

luz e das condições de luminosidade do próprio local. Algumas vezes, o

momento do dia em que foram efetuados os registros das imagens podia não

ser o mais conveniente do ponto de vista da iluminação. Em filmagens

profissionais, a luz natural é reforçada ou alterada por meio de diferentes

recursos, tais como, iluminadores ou focos de luz, refletores, espelhos, filtros,

etc.

Nossas cenas recebiam iluminação direta, e a principal conseqüência era

o aparecimento de sombras mais ou menos intensas, de acordo com o

posicionamento e a intensidade do foco de luz.

Em fotografia é possível obter boas imagens em locais muito

contrastados onde a luz solar produz zonas profundas de sombra, mas em

vídeo torna-se impossível uma captura equilibrada das imagens, tornando-se

necessário alterar as condições de iluminação do local13. Como, em nosso

Page 36: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

18

caso, não era possível modificar o posicionamento do foco de luz, na tentativa

de minimizar estes indesejados efeitos, algumas vezes, anteparos foram

colocados nas janelas por onde entrava a iluminação natural, e em outras

vezes a luz artificial do ambiente era apagada, além de modificações no

posicionamento da câmera e dos objetos que constituíam a cena.

Vale lembrar que estes ajustes consumiam muito tempo, porque

tínhamos que levar em conta tudo aquilo que queríamos privilegiar. Se os

elementos importantes estavam na zona de sombra, as áreas claras ficavam

muito iluminadas, se o que interessava se encontrava na zona iluminada pelo

sol, as zonas de sombra ficavam muito escurecidas.

Para proceder à filmagem de cada filme-experimento, foi necessário

criar um roteiro de filmagem onde foi definida a seqüência mais conveniente

para a execução da filmagem. Dependendo do experimento, a seqüência de

filmagem das cenas não é a mesma que é mostrada no vídeo. Isto ocorre

porque algumas cenas foram filmadas em ambientes diferentes, como por

exemplo, as pesagens. Em nosso trabalho, houve a necessidade de se definir,

em uma mesma cena, qual seria o fenômeno a ser filmado, pois como

realizamos estes filmes com uma única câmera, não era possível, por exemplo,

destacar um determinado aspecto do experimento ao mesmo tempo que outro,

também importante. Nesse caso, um mesmo experimento teve que ser repetido

diversas vezes para que tudo que foi julgado importante pudesse ser visto na

edição final, inclusive a fala, que teve que ser colocada após as filmagens.

A seguir é mostrado um exemplo de roteiro utilizado nas filmagens.

Page 37: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

19

2.4 - Roteiro de filmagem para o filme-experimento: Propriedades Coligativas

1° Parte: Determinação do ponto de fusão da água pura

1. Mostrar o sistema montado (placa de agitação, suporte universal, tubo

de ensaio fixo no suporte, recipiente para o banho, termômetro, gelo

picado e sal grosso).

2. Adicionar gelo e o sal grosso sobre o mesmo.

3. Adicionar água ao tubo de ensaio.

4. Colocar a barra de agitação magnética no tubo de ensaio.

5. Colocar o termômetro dentro do tubo de ensaio.

6. Mostrar o sistema montado.

7. Mostrar a temperatura inicial da água.

8. Focar no termômetro e mostrar a diminuição da temperatura.

9. Mostrar a solidificação e a temperatura.

2° Parte: Abaixamento do ponto de fusão pela adição de um soluto molecular

1. Mostrar o sistema montado.

2. Colocar o tubo de ensaio com a massa conhecida de água.

3. Colocar a barra de agitação magnética no tubo de ensaio.

4. Adicionar a massa conhecida de sacarose.

5. Focar no termômetro e seguir a diminuição da temperatura.

6. Mostrar a solidificação e a temperatura.

3° Parte: Abaixamento do ponto de fusão pela adição de um soluto iônico

Roteiro igual ao anterior, utilizando sal de cozinha como soluto.

Page 38: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

20

4° Parte: Pesagens

4.1 – pesagens das massas de água. Repetir o roteiro duas vezes.

1. Colocar na balança, béquer contendo o tubo de ensaio dentro.

2. Fechar a balança e zerar.

3. Zoom no display da balança zerada para mostrar como se pesa.

4. Adição, com pisseta, de cerca de 10 g de água destilada ao tubo de

ensaio.

5. Fechar a balança.

6. Zoom no display da balança e dar tempo para a leitura da massa.

7. Retirar da balança, fechá-la e zerar para evidenciar a técnica de sua

utilização.

4.2 – pesagens dos solutos

1. Colocar na balança, com o auxílio de uma pinça, uma navícula.

2. Fechar a balança e zerar.

3. Zoom no display da balança e tempo de filmagem e observação.

4. Adicionar, com uma espátula, cerca de 3,7 g de açúcar refinado.

8. Fechar a balança.

9. Zoom no display da balança e tempo de leitura.

Repetir o mesmo procedimento, utilizando-se cerca de 0,7 g de sal de

cozinha.

Page 39: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

21

2.5 – Edição dos filmes-experimentos

Após a etapa de filmagem dos vários seguimentos dos experimentos, o

conteúdo de cada fita foi transferido para um computador onde foi feita a

edição de cada filme-experimento. O computador utilizado é do tipo PC,

equipado com uma placa de captura de vídeo, processador Pentium® 4 com 1

GB de memória ram e 160 GB de disco rígido. Na maioria dos filmes a

câmera utilizada foi uma Sony DCR-HC 40. O programa de edição utilizado

foi um Pinnacle Studio Version 9.0 que acompanha a placa de captura.

A edição feita neste trabalho é do tipo não-linear, pois as imagens foram

acessadas de modo aleatório (ao contrário de uma fita de vídeo, onde o acesso

é seqüencial), uma vez que se encontravam gravadas no disco rígido do

computador (que possibilita este tipo de acesso, denominado randômico)12.

A figura 6 mostra as principais etapas envolvidas na edição não-linear.

Figura 6: Etapas envolvidas na edição não-linear.

O primeiro passo na edição, conhecido como decupagem12, consistiu na

avaliação de todo o material gravado (todas as cenas produzidas foram

filmadas por mais de uma vez, para que proporcionassem um volume razoável

Page 40: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

22

de material) e para se ter uma visão geral das possibilidades de edição. Após

essa análise, foi criado um plano de edição, que é um documento que fornece

a descrição das cenas selecionadas e o seu respectivo tempo na edição.

Seguindo as informações contidas nos planos de edição, foram gerados

novos arquivos com as cenas selecionadas, que posteriormente foram

organizadas de acordo com a seqüência que é apresentada nos filmes.

A próxima etapa na edição de cada filme-experimento, foi a colocação

de transições entre as cenas. A transição é um recurso utilizado, por exemplo,

para possibilitar a continuidade entre cenas ou para proporcionar ao

telespectador uma sensação temporal, que muitas vezes é importante em um

experimento, mas que não pode ser obtido diretamente das cenas. Esta idéia

temporal foi utilizada, por exemplo, no filme-experimento sobre as

propriedades coligativas, a cena onde ocorreu o super-congelamento durou

cerca de 8 minutos, tempo demasiadamente grande para aparecer no filme.

Neste caso, foi utilizada uma transição para diminuir o tempo de espera e

deixar o filme mais dinâmico. Esse recurso foi utilizado, pois o programa de

edição não permite a colocação de uma imagem sobre a outra, por exemplo,

de um relógio marcando o tempo.

Concluída a colocação das transições entre as cenas, cada filme-

experimento recebeu as falas (que foram utilizadas apenas para alertar sobre

determinado fenômeno ou medida) previamente criadas com base nas cenas

que foram filmadas.

A gravação das falas foi feita utilizando-se um microfone comum (que

acompanha muitos microcomputadores) e posteriormente fizeram-se as

adequações das falas às cenas, já que as falas foram gravadas em outro

momento e sem obedecer à seqüência de cenas apresentadas no filme.

Page 41: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

23

A última etapa do processo de edição foi a escolha da trilha sonora

adequada para cada filme experimento. A trilha sonora permite realçar

determinada cena ou ação, mas não deve se sobrepor, em nível de

importância, ao que se pretende mostrar. Com este objetivo, foi solicitado a

um profissional, a produção de um material que se adequasse aos filmes

produzidos. Após a seleção das trilhas sonoras, estas foram editadas e depois

inseridas em cada filme, de modo a formar um conjunto harmonioso entre as

imagens e as falas presentes em cada cena.

Finalizado o processo de edição, os arquivos criados pelo programa de

edição não são ainda arquivos de vídeo e sim arquivos particulares do

programa. Para a conversão do arquivo, em um arquivo de vídeo foi

necessário executar um processo chamado renderização (realizado pelo

próprio programa de edição) que consiste em consolidar as diversas trilhas

sobrepostas, efeitos e transições de áudio e vídeo em um único arquivo. Ao

término deste processo, as transições e os efeitos incluídos no vídeo não

podem mais ser alterados. Neste processo é possível determinar o formato

final do arquivo gerado, como por exemplo ".avi". Arquivos desse tipo podem

ser armazenados no micro para uso em outros processos de edição ou até

mesmo dentro do mesmo processo. Outros formatos podem ser escolhidos

para geração do arquivo final, como MPEG1 (para gravação de VCD-

compact disc video), MPEG2 (para gravação de DVD- digital vídeo disc),

Quick Time, RealMedia, Windows Media ou MPEG4 e outros para

visualização através de computadores e Internet. O formato escolhido para a

gravação dos filmes-experimentos foi o DVD, devido à qualidade das imagens

proporcionadas pelo uso deste formato e pela disponibilidade de aparelhos de

DVD nas escolas. Ao término do processo de geração do arquivo final, o

vídeo foi gravado em disco (através de um gravador de DVD).

Page 42: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

24

3- Filmes-Experimentos

3.1 – Condutividade

3.1.1 – Introdução

Em relação á condutividade elétrica, os líquidos podem ser classificados

como isolantes ou não condutores, como por exemplo o óleo de silicone;

maus condutores, como ácido clorídrico líquido e água pura; fracos

condutores, como soluções aquosas de ácido acético ou amônia; e excelentes

condutores, como soluções aquosas de sais, ácidos e bases fortes e sais

fundidos.14

A facilidade de condução da corrente elétrica se deve às características

da substância em questão, tipos de ligações intra e intermoleculares,

polaridade, etc. Líquidos que conduzem a corrente elétrica são denominados

de eletrólitos; nesses casos a corrente elétrica flui quando um campo elétrico é

aplicado.14,15 Os eletrólitos obedecem à lei de Ohm, mas como estão

susceptíveis à eletrólise, as medidas de condutância são feitas utilizando-se

corrente alternada.

A resistência, R, de um material qualquer é diretamente proporcional ao

seu comprimento l, e inversamente proporcional à sua área de seção

transversal A:

AlR ρ= (1)

Page 43: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

25

onde ρ é uma constante de proporcionalidade denominada de resistividade do

material, e é definida como a resistência de uma amostra do material de

comprimento 1 metro e área de seção transversal de 1 metro quadrado (a

unidade da ρ é Ω m). A condutância (G) de um material é definida como o

inverso de sua resistência, R-1, e a sua condutividade especifica como o

inverso de sua resistividade, ρ-1, e é representada por κ,14,16

AR111 ==

ρκ (2)

A medida de condutividade de uma solução pode ser realizada com um

condutivímetro acoplado a um dispositivo específico, denominado cela de

condutância. Nessa cela há duas placas metálicas, normalmente de platina, de

área A, mantidas a uma distância fixa, l. A razão l / A é denominada de

constante da cela, e é uma característica da mesma15:

R1cela da constante=κ (3)

No laboratório a constante de cela pode ser obtida pela medida da

condutância (ou resistência) de uma solução padrão de condutividade

conhecida, normalmente em 298 K. O conhecimento dessa constante

associado à medida de condutância do líquido (puro ou solução) permite o

conhecimento das propriedades de condução elétrica do sistema sob

estudo14,15.

Page 44: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

26

3.1.2 – Parte experimental

Para avaliar a condutância de algumas soluções, foi desenvolvido o

dispositivo mostrado na figura 7. Esse dispositivo é constituído por uma placa

de acrílico onde são fixados soquetes para lâmpadas incandescentes. Os

terminais elétricos dos soquetes estão ligados a dois fios rígidos de cobre que

são imersos na solução que se deseja avaliar a condutividade. Esses terminais

de cobre desempenham papel semelhante aos eletrodos da cela de

condutância. Os soquetes são ligados em paralelo, através de fios de cobre, e

são conectados a uma tomada ligada à rede elétrica. A voltagem utilizada

neste experimento foi de 110 V.

Figura 7: Dispositivo desenvolvido para avaliar a condutância elétrica de soluções.

As lâmpadas utilizadas neste experimento eram para uma tensão de 220

V e potência de 40 W. Outras lâmpadas, como, 110 V/40 W, 110 V/60 W, 220

Terminais de cobre

Condutor metálico

Page 45: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

27

V/60 W foram testadas, e a escolha recaiu naquela que proporcionou melhores

resultados para visualização em vídeo, para o efeito estudado. A intensidade

de luz e a sensibilização da câmara de vídeo foram os atributos utilizados na

escolha da lâmpada mais adequada.

Antes do primeiro teste com soluções, o filme-experimento mostra

como as lâmpadas acendem quando se permite que haja passagem de corrente

pelo dispositivo. Isso é feito conectando-se os terminais de cobre a um fio

condutor e mostrando-se que a lâmpada acende. Antes do primeiro teste com

soluções, a condutividade elétrica da água destilada é testada.

No primeiro teste de condutância, são utilizados dois béqueres de 250

cm3 com cerca de 200 cm3 de água destilada. Em um béquer, são adicionados

5 gramas de sal de cozinha, e no outro, 5 gramas de açúcar refinado. Como se

vê no filme-experimento, as quantidades de sólido foram transferidas com

uma colher; os verdadeiros valores de massa foram estimados fora do filme, e

propositadamente foram omitidos da filmagem, pois o objetivo central desse

filme-experimento, como o próprio texto introdutório evidencia, é fazer uma

comparação semiquantitativa das propriedades condutoras de eletricidade de

alguns líquidos. O objetivo desse filme é, simplesmente, mostrar que algumas

soluções não conduzem, outras conduzem pouco e outras conduzem bem a

eletricidade.

No segundo teste são comparadas as condutâncias de duas soluções de

concentração 1 grama de iodeto de sódio / 100 cm3 em água e em álcool

etílico comercial (96°GL). Anteriormente ao teste descrito, a condutância dos

solventes puros também é mostrada.

Para avaliar a força relativa de alguns ácidos em solução aquosa, são

utilizadas soluções aquosas de concentração 1 mol dm-3 de ácido clorídrico,

ácido acético e ácido fórmico. Um mesmo volume, 100 cm3, de cada solução é

Page 46: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

28

utilizado. Nesse caso o dispositivo de demonstração é constituído de três

lâmpadas ao invés de duas.

No último teste, sobre a força relativa de bases em solução aquosa, são

comparadas as condutâncias de soluções aquosas, na concentração 1 mol dm-3,

de hidróxido de sódio e de amônia.

Para avaliar a condutância de cada solução, os fios de cobre devem ficar

dentro da solução. Logo em seguida, o dispositivo é conectado à rede elétrica;

sendo verificado o acendimento ou não da lâmpada. Após cada teste, os

contatos elétricos (fio de cobre) são lavados com água destilada e, em seguida,

secos.

3.1.3 - Resultados

No início do filme-experimento, procurou-se mostrar que a lâmpada só

acende se há um fluxo de elétrons pelos terminais. Assim, um fio condutor é

colocado entre os terminais provocando o acendimento da lâmpada. Logo em

seguida, a conexão entre os terminais é desfeita, e os terminais são imersos em

água destilada observando-se que, a lâmpada não acende. Para que haja a

condução de corrente elétrica, existe a necessidade de que íons façam o

transporte da carga elétrica entre os terminais, e na água destilada, essa

quantidade é pequena, conforme mostra o valor de Kw à 25°C, que é de 1,008

x 10-14, mostrando que existem somente poucas moléculas de água

dissociadas.16

2 H2O(l) = H3O+(aq) + OH-(aq) ; Kw = [H3O+(aq)] [OH-(aq)] (5)

Page 47: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

29

Na segunda parte do experimento, o objetivo é mostrar que existem

substâncias que, em água, formam íons, e que a evidência da presença destes

íons é o acendimento da lâmpada. Para isto, optou-se por utilizar quantidades

iguais de duas substâncias presentes no dia-dia dos alunos, o sal de cozinha e

o açúcar. É importante notar que a distinção de comportamento entre essas

duas substâncias é feita de uma forma semiquantitativa nesse filme, o que

justifica o uso de uma colher e não de uma balança ou de soluções de mesma

concentração; seria um rigor desnecessário e prejudicial.

O sal de cozinha, considerado como cloreto de sódio puro (o que na

realidade não o é), em água sofre dissociação, formando os íons Na+(aq) e Cl-

(aq)

que são responsáveis pelo transporte de carga elétrica entre os eletrodos

permitindo o acendimento da lâmpada.

NaCl(s) + H2O(l) = Na+(aq) + Cl-(aq) (6)

O açúcar refinado, considerado como sacarose pura (o que não o é),

torna-se solúvel, devido a interações do tipo ligação de hidrogênio com a

água, mas não forma íons.

C12H22O11(aq) + H2O(l) = C12H22O11(aq) (7)

Não existindo íons em solução, a lâmpada (o indicador de condutância

elétrica) permanece apagada.

A terceira parte do experimento procura mostrar a influência do

solvente em relação à condutância da solução. Neste ensaio, são utilizadas

quantidades iguais de uma mesma substância, o iodeto de sódio, em água e em

álcool etílico comercial (96°GL).

Page 48: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

30

A intensidade de luz superior na água é esperada devido à sua constante

dielétrica superior, o que leva a uma maior dissociação do sal dissolvido. A

constante dielétrica não é o único fator responsável pelo fenômeno, mas é um

dos fatores que influenciam a formação de íons em solução17 (cf. Tabela 1).

Tabela 1: Constante dielétrica de alguns solventes a 298 K.17

Solvente Constante dielétrica

água 78,3

metanol 32,6

etanol 24,3

propanol 20,4

No experimento seguinte avaliam-se as forças relativas de ácidos. São

utilizadas três soluções ácidas de mesma concentração, contendo

separadamente, ácido clorídrico, ácido acético e ácido fórmico. Estes ácidos

foram escolhidos, pois revelaram a melhor distinção entre as intensidades de

luz da lâmpada e a força do ácido. Outros ácidos foram testados, como o

fosfórico, o bórico, o propanóico e o carbônico, no entanto, eles não

mostraram bons resultados na avaliação por comparação entre sua força e a

intensidade de luz, ou seja, a diferença entre as forças relativas não era

claramente refletida pela intensidade de luz.

A intensidade de luz produzida pela lâmpada é proporcional à

quantidade de íons em solução e também a outros fatores como: tamanho dos

íons e viscosidade do solvente14, mas, nesse nível não se fala sobre esses

aspectos no fenômeno da condutância.

Page 49: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

31

O equilíbrio iônico, no caso dos ácidos pode ser equacionado

simplificadamente por:

HA(aq) + H2O(l) = H3O+(aq) + A-(aq) (8)

onde HA representa a forma não ionizada e A- a base conjugada do ácido.

Sendo a expressão da constante de equilíbrio representada por:

OHHA

AOHa aa

aaK

2

3−+

= (9)

Como, por convenção, a atividade da água é igual a 1 (para soluções

diluídas), a equação 9 pode ser escrita como:

HA

AOHa a

aaK

−+

= 3 (10)

No ensino médio o que se faz é aproximar a atividade da concentração e

eliminar as grandezas padrão da referida expressão, de modo que a equação 10

se transforma em:

HA][]A[]OH[ -

3+

≈aK (11)

A magnitude da constante de dissociação (Ka), revela o quanto esse

ácido se encontra dissociado, em outras palavras, dá informações sobre a sua

Page 50: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

32

força relativa. A tabela 2 fornece as constantes de dissociação dos ácidos

selecionados para o filme-experimento.

Tabela 2: Valores de constantes de dissociação de ácidos em soluções aquosas a 298 K e 1 bar de pressão.16

Ácido Constante de dissociação (Ka)

clorídrico 1 x 107

fórmico 1,8 x 10-4

acético 1,4 x 10-5

A intensidade de luz produzida pelas lâmpadas reflete o que é mostrado

na tabela 2, ou seja, a intensidade de luz guarda uma relação de

proporcionalidade direta com o valor de Ka de cada ácido e conseqüentemente

à sua força relativa. A figura 8 mostra uma cena do filme-experimento em que

se testam as condutâncias para as soluções aquosas dos ácidos.

Figura 8:Teste de condutância utilizado para avaliar a força relativa de alguns ácidos em solução aquosa.

Ácido Acético

Ácido Fórmico

Ácido Clorídrico

Page 51: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

33

O propósito do último experimento é analisar a força de bases em

solução aquosa. As soluções de concentração 1 mol dm-3 selecionadas para o

filme–experimento foram o hidróxido de sódio e o hidróxido de amônio.

Como no experimento anterior, outras bases foram avaliadas, com o objetivo

de se obter a melhor relação entre a força relativa da base e a intensidade de

luz da lâmpada. Dentre as bases testadas e que não proporcionaram bons

resultados, estão o hidróxido de cálcio, hidróxido de potássio e o hidróxido de

lítio.

No caso das bases o mesmo tratamento de equilíbrio pode ser feito, só

que agora se chega à expressão para a constante de equilíbrio para uma base.

A intensidade de luz observada, figura 9, é diretamente proporcional a

quantidade de íons em solução (é importante reafirmar que, neste nível, outros

fatores que influenciam a condutância da solução não são considerados, como

mostrado anteriormente para os ácidos), assim, quanto maior o valor da

constante de dissociação, maior é a intensidade de luz. A lâmpada na solução

de NaOH mostra uma intensidade de luz superior à da solução de NH3. A

tabela 3, mostra as constantes de dissociação das bases utilizadas:

Tabela 3: Valores de constantes de dissociação das bases em soluções aquosas a 298 K e 1 bar de pressão.18

Base Constante de dissociação (Kb)

hidróxido de sódio 4

hidróxido de amônio 1,71 x 10-5

Page 52: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

34

Figura 9: Intensidade de luz na avaliação da condutividade, utilizada para se comparar a força relativa de NaOH e NH3 em solução aquosa.

Observando-se os resultados que o filme permite obter, é razoável

imaginar que o filme poderá auxiliar os alunos na compreensão do fenômeno

da condutância de soluções e a sua relação com à força de ácidos e bases e

também ajudar a aclarar questões sobre equilíbrio químico do ponto de vista

semiquantitativo. As imagens captadas são claras no que diz respeito a

evidenciar os diferentes comportamentos. O filme foi concebido de forma a

conduzir o espectador a um raciocínio lógico e numa seqüência pedagógica já

consagrada em diversos livros-textos.

Hidróxido de amônio

Hidróxido de sódio

Page 53: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

35

3.2 – Eletrólise 3.2.1 – Introdução Quando se mergulha um condutor elétrico em um líquido, sempre

aparece uma distribuição de cargas elétricas entre esse condutor (denominado

eletrodo) e o líquido (mais freqüentemente uma solução de um eletrólito em

um solvente) e essa distribuição de cargas leva à formação de um potencial

elétrico na interface entre esses dois sistemas.14

A magnitude dessa diferença de potencial se deve às próprias

características dos dois sistemas (eletrodo e solução) e também é uma função

da temperatura e da pressão. Essa diferença de potencial não pode ser

determinada por método algum, a menos que esse eletrodo esteja conectado a

um outro eletrodo em condições semelhantes (um referencial)18. Essa

diferença de potencial entre os dois eletrodos, além de ser uma indicação das

cargas que aparecem em cada um deles, também mostra que se os dois

estiverem conectados por um condutor elétrico, sob determinadas condições, é

possível que uma corrente elétrica flua entre os dois. Ao arranjo experimental

simplificadamente descrito na frase anterior dá-se o nome de cela

eletroquímica.

Numa cela eletroquímica a corrente elétrica, de uma forma simplificada,

corresponde à transferência de carga elétrica de um ponto a outro, e nesse caso

é efetuada pelo trânsito de elétrons. Em algumas condições esse fluxo de

elétrons se dá de maneira espontânea, isto é, sem ajuda de qualquer fonte

externa e tem-se o que se denomina cela galvânica. A força eletromotriz (fem)

de uma pilha eletroquímica, que é uma diferença dos potenciais elétricos dos

dois eletrodos, quando em condições padrão, pode ser calculada pela diferença

Page 54: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

36

entre os respectivos potenciais padrões dos dois eletrodos, sendo esses valores

tabelados para a atmosfera padrão de 1 bar e para uma atividade do eletrólito

igual a 116. Nas tabelas termodinâmicas esses valores são tabelados para 298 K

e concentração 1 molal. Uma cela eletroquímica funcionando

espontaneamente significa que o sistema está reagindo no sentido de formação

de substâncias e consumo de outras, de forma que, com o passar do tempo, as

concentrações estão cada vez mais próximas da condição de equilíbrio16.

Quando a corrente elétrica flui em sentido não espontâneo e for preciso

a ajuda de uma fonte de tensão externa, diz-se tratar de uma cela eletrolítica16.

Em ambos os casos, celas galvânicas ou eletrolíticas, a existência de corrente

elétrica pressupõe uma ou mais reações químicas.

A existência de uma corrente elétrica fluindo por uma cela eletrolítica

significa que o potencial elétrico externo é superior ao potencial elétrico

espontâneo, pois quando ambos são iguais e em sentidos opostos, não há

passagem de corrente pelo circuito16. Observe-se que esta é a condição

termodinamicamente correta para se medir um potencial elétrico16. Na prática,

muitas vezes, para se proceder a uma reação eletrolítica, o potencial da pilha

deve ser superado pelo externo e isso acontece porque um ou mais dos

seguintes fenômenos podem estar ocorrendo: queda ôhmica, polarização por

concentração e polarização cinética.14

As celas eletroquímicas, assim como os condutores metálicos, resistem

ao fluxo de elétrons14. Em ambos os casos, a lei de Ohm descreve esse efeito.

O produto da resistência R de uma cela pela corrente i, é denominado de

potencial ôhmico ou queda ôhmica.14

O efeito da polarização surge quando uma cela eletroquímica não

obedece a relação linear que a lei de ohm descreve. Celas que apresentam este

Page 55: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

37

comportamento são classificadas como polarizadas e o grau de polarização é

dado pelo sobrepotencial ou sobrevoltagem.14

A polarização é um fenômeno que pode afetar um ou os dois eletrodos.

O grau de polarização de um eletrodo varia largamente. Em alguns casos, se

aproxima de zero e em outros pode ser tão grande que a corrente torna-se

independente do potencial. Nestas condições a polarização é completa. O

fenômeno da polarização é dividido em polarização por concentração e

polarização cinética.14

A polarização por concentração ou sobrepotencial de concentração

ocorre quando as espécies que se reduzem ou se oxidam não deixam a

superfície do eletrodo em tempo suficiente para que seja mantida a corrente

desejada. Quando isto acontece, a corrente é menor que a prevista.15

Os produtos e reagentes são transportados da, ou para a, superfície do

eletrodo por três mecanismos: difusão, migração e convecção. A difusão

ocorre quando existe uma diferença na concentração entre duas regiões de

uma solução. Íons e moléculas movem-se da região mais concentrada para a

menos concentrada levando a uma diminuição da diferença de concentração.

Na migração, os íons se movem pela influência de um campo elétrico, e a sua

velocidade, geralmente, aumenta com o aumento do potencial. No processo de

convecção, a transferência de reagentes para o eletrodo ou a saída de produtos,

pode ser influenciada por meios mecânicos como, por exemplo, a agitação.

Esta agitação, tende a diminuir a camada difusa na superfície do eletrodo. A

convecção pode ainda surgir por gradientes de temperatura ou de

densidade.14,15

Na polarização cinética, a magnitude da corrente é limitada pela taxa de

uma ou de ambas as reações de eletrodo, isto é, a taxa de transferência de

elétrons entre reagentes e eletrodos. No sentido de atenuar a polarização

Page 56: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

38

cinética, um potencial adicional deve ser aplicado. Este potencial é chamado

de sobrepotencial de ativação.14,15

Posto esse breve conhecimento sobre algumas particularidades do

conhecimento eletroquímico, o objetivo deste experimento é mostrar que

processos químicos podem ocorrer quando a corrente elétrica atravessa uma

solução. No caso aqui específico, a solução escolhida para tal, foi a de iodeto

de potássio que, quando eletrolisada, forma um produto colorido (I2), o que é

desejado quando se realiza a filmagem, e gás hidrogênio. Espera-se, também,

que este experimento forneça subsídios para o entendimento de processos de

oxidação e redução, facilite os possíveis cálculos estequiométricos, possibilite

a aplicação da equação de estado do gás ideal ou a determinação da constante

de Avogadro.

3.2.2 – Parte Experimental O aparato experimental construído para a realização da eletrólise da

solução de iodeto de potássio 0,25 mol dm-3, é constituído de um par de

eletrodos de fios de níquel-crômio, rigidamente mantidos a uma distância fixa

em um cilindro de Teflon®. Esses dois eletrodos estão ligados entre si e em

série com um amperímetro. Todo esse circuito em série é alimentado por uma

fonte de corrente contínua. A eletrólise se processa em uma solução de iodeto

de potássio contida em uma bureta. Os eletrodos estão imersos nessa solução,

tampando a extremidade da bureta oposta à torneira, deixando uma pequena

abertura para a saída de solução quando a eletrólise está ocorrendo. A figura

10 mostra a aparelhagem utilizada.

Page 57: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

39

Figura 10: Aparato experimental utilizado na eletrólise da solução de KI.

3.2.3 - Resultados

Nos processos eletrolíticos a escolha do material para confecção do

eletrodo, bem como a sua geometria, é de suma importância. A escolha no

material adequado pode reduzir o sobrepotencial necessário para manter uma

dada corrente ou evitar reações indesejáveis no eletrodo (por exemplo, a

própria oxidação do eletrodo) e, em outros casos, a alteração na geometria do

eletrodo pode induzir ou minimizar os efeitos de polarização.14,19

Para a realização da eletrólise foi necessário um eletrodo inerte frente às

espécies em solução. A eletrólise deveria liberar um grande volume de

hidrogênio gasoso em um tempo curto. O primeiro eletrodo utilizado foi o de

grafite e não se mostrou eficiente porque possuía uma pequena área superficial

Fonte Multímetro

Cronômetro

Bureta

Eletrodos

Page 58: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

40

resultando em uma lenta formação de hidrogênio gasoso além de sofrer um

processo de desgaste conforme a eletrólise ia se processando. Em seguida, foi

utilizado níquel-cromo como material, pois é um material de fácil manuseio e

inerte nesta eletrólise19. Os eletrodos foram confeccionados em forma de

espiral e depois achatados, proporcionando uma grande área superficial e

produzindo um maior volume de gás por tempo. Esse aspecto da cinética da

reação era importante para o visual da filmagem, já que o aparecimento de

bolhas e a concomitante formação do volume. A figura 11 mostra o desenho

dos dois eletrodos utilizados.

Figura 11: Diferentes formatos de eletrodos testados neste experimento.

Durante a eletrólise da solução de iodeto de potássio as possíveis semi-

reações que poderiam ocorrer seriam:

Cátodo (redução)

K+(aq) + e- → K(s) (14)

2H+(aq) + 2e- → H2(g) (15)

2H2O(l) + 2e- → H2(g) + 2OH-(aq) (16)

Page 59: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

41

Como o potencial padrão de redução do cátion potássio (Eθ= -2,93 V) é

muito baixo esta reação não ocorre, nas condições do experimento. A espécie

com o maior potencial padrão de redução é o íon H+(Eθ= 0 V), no entanto,

como ele está em concentração muito pequena na solução, a reação que ocorre

preferencialmente é a redução da água (equação 16) (Eθ= -0,83 V).

Ânodo (oxidação)

4OH-(aq) → O2(g) + 2H2O(l) + 4e- (17)

2H2O(l) → O2(g) + 4H+(aq) + 4e- (18)

2I-(aq) → I2(s) + 2e- (19)

Analisando os potenciais padrão de oxidação das espécies envolvidas, a

que possui o menor potencial de oxidação é o ânion OH-(Eθ= -0,40 V),

portanto, a mais fácil de ser oxidada. No entanto, sua concentração é muito

baixa. Comparando a oxidação da água (Eθ= -1,23 V) e do iodeto (Eθ= -0,54

V), esta é favorecida devido ao seu menor valor.

A equação global, fica:

2I-(aq) + 2H2O(l) → H2(g) + I2(s) + 2OH-(aq) (20)

Uma possibilidade de uso deste experimento é na determinação da carga

do elétron, para isso a solução de iodeto de potássio foi eletrolisada durante

tempo suficiente para formação de um volume apreciável de gás. A corrente

Page 60: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

42

foi monitorada, e as flutuações foram compensadas pelo ajuste da fonte de

tensão regulável. Ao término da eletrólise o volume de gás hidrogênio foi

monitorado, em função do tempo, pela escala da bureta. A tabela 4 indica o

volume de hidrogênio obtido, a corrente e o tempo utilizado em quatro

repetições, para experimentos realizados na bancada.

Tabela 4: Condições experimentais em que foram realizadas as eletrólises testes, antes da filmagem.

Experimento 1

Experimento 2

Experimento 3

Experimento 4

Corrente/mA 49 51 50 54

Tempo/s 960 965 950 960 Volume/cm3 6,40 6,60 6,40 7,00

O volume de gás produzido é diretamente proporcional ao tempo e à

corrente que flui pelo sistema, portanto, proporcional ao número de elétrons

consumidos na formação do gás. Assim, a carga do elétron pode ser

encontrada, fazendo-se uso da estequiometria da reação e da equação de

estado de um gás ideal.

O número de moles de hidrogênio gasoso é dado pela equação de estado

de um gás ideal como

TRVPn =

2H (21)

onde P,V e T são a pressão, o volume e a temperatura do gás coletado,

respectivamente.

Page 61: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

43

A quantidade de elétrons que flui pelo circuito em um dado tempo, é

dada por

eNtIn

A

=-e (22)

onde I, t, NA e e representam a corrente elétrica, o tempo, a constante de

Avogadro (6,022 x 1023 mol-1) e a carga do elétron, respectivamente.

A relação estequiométrica, dada pela equação de redução da água,

indica que

2- He 2 nn = (23)

Combinando as três expressões, fica

VPNTRtI

A2e = (24)

Considerando os objetivos deste trabalho, foi considerado a pressão de

hidrogênio, PH2, como sendo

atmH PP =2

(25)

Com maior rigor, deve-se considerar a pressão de vapor da água e a

pressão da coluna de água. E a expressão ficaria da seguinte maneira:

águacoluna de guavapor de áatmH PPPP −−=2

(26)

Page 62: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

44

Aplicando-se a equação 25, para cada experimento, obtiveram-se os resultados da tabela 5.

Tabela 5: Resultados experimentais para a determinação da carga do elétron em coulombs.

Experimento Carga do elétron / C 1 1,61 x 10-19 2 1,64 x 10-19 3 1,63 x 10-19 4 1,63 x 10-19

Valor médio de 1,63 x 10-19 C e um desvio médio de 0,01 x 10-19 C.

Outra possibilidade de utilização deste experimento é a comparação

entre o volume formado de gás hidrogênio e o volume esperado. Para isto,

utiliza-se a equação 25, substituindo-se o valor da carga do elétron (1,6 x 10-19

C)16. A comparação entre os valores observados e os esperados é vista na

tabela 6.

Os resultados obtidos nos experimentos de bancada garantem o seu uso

como filme-experimento com propósitos didáticos. Dessa forma, acreditamos

que a utilização do filme, em conjunto com a explanação teórica dos conceitos

envolvidos, possa facilitar o aprendizado deste importante, fundamental e

fascinante fenômeno eletroquímico. Ressalte-se aqui a grande dificuldade que

um professor de química teria na montagem e execução desse experimento.

Seria importante lembrar que esse foi o primeiro filme a ser executado nesse

trabalho de dissertação. A primeira filmagem, que não é a que está neste

trabalho, foi feita no estúdio de rádio e televisão da Unicamp. Na

oportunidade, com toda a boa vontade dos técnicos e funcionários daquele

centro, foi necessário parar o estúdio por dois dias, envolvendo mais de 10

técnicos e uma grande quantidade de material. Ao final da filmagem

observamos que um sobrepotencial havia sido aplicado, para melhorar o visual

Page 63: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

45

da eletrólise, o que havia levado à formação de gás oxigênio num eletrodo,

inviabilizando todo o processo de filmagem efetuado.

Tabela 6: Volumes esperados e obtidos para o gás hidrogênio em quatro experimentos.

Volume de H2/

cm3

Experimento

1

Experimento

2

Experimento

3

Experimento

4

Esperado 6,50 6,80 6,50 7,10

Observado 6,40 6,60 6,40 7,00

Erro relativo(%) 1,6 3,0 1,6 1,6

Page 64: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

46

3.3 – Calorimetria 3.3.1 – Introdução

A primeira lei da termodinâmica (PLT) diz respeito às variações de

energia que acompanham um processo qualquer quando um sistema sai de um

estado inicial, caracterizado por certas propriedades, atingindo um estado final

caracterizado por propriedades diferentes daquelas do estado inicial. Já a

segunda lei (SLT) diz respeito à espontaneidade dos processos. Assim, pela

primeira lei podemos saber quanta energia foi absorvida ou liberada quando o

processo ocorreu ou vai ocorrer, enquanto que a segunda nos permite saber se

um dado processo irá ocorrer ou não, espontaneamente, numa dada direção.16

Ambas as leis são resultados de experimentos com a matéria e são

independentes de qualquer modelo que leve em conta a estrutura microscópica

da matéria. Entretanto, podemos interpretar ambas as leis em termos de

modelos baseados no comportamento dos átomos e moléculas, e assim

aprofundar nossa compreensão sobre as propriedades da matéria.20

A termodinâmica esta baseada em experimentos onde a energia é

transformada de uma forma para outra e transferida de um lugar para outro.

Para obter informações sobre a energia, o todo é dividido em duas partes. A

região de interesse, tal como um recipiente com um gás, um copo com água ou

uma mistura reacional, é chamada de sistema. Tudo, excluindo o sistema, é

chamado de vizinhança. É na vizinhança que são feitas as observações sobre a

energia transferida ou absorvida pelo sistema.16

A grandeza fundamental em termodinâmica, que se relaciona ao

processo e não aos estados dos sistemas, no sentido de que fornece uma base

para a definição de seu principal conceito, é o trabalho.20 Em termodinâmica, a

Page 65: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

47

capacidade total de um sistema realizar trabalho é chamada de energia interna,

U.16 Não é possível medir a energia total de um sistema, mas sim as suas

variações num processo ou transformação. A variação de energia interna de

um sistema pode ser calculada conhecendo-se o trabalho realizado e o calor

trocado com o ambiente. Assim, de uma forma geral a primeira lei pode ser

genericamente apresentada pela equação (considerando as energias cinéticas e

potencial constantes):

∆U = q + w (28)

A primeira lei da termodinâmica implica que a energia é conservada em

qualquer processo, o que significa que um aumento na energia do sistema

implica, necessariamente, na diminuição dessa mesma quantidade na

vizinhança. Essas transferências de energia podem ser medidas

experimentalmente por instrumentos denominados calorímetros.

Essencialmente o calorímetro se constitui de um vaso, onde o processo

se desenrola, e seu envoltório ou jaqueta. Algumas vezes a fronteira que

separa o vaso e a vizinhança é feita de tal maneira que não permite a troca de

calor entre o sistema e a vizinhança (calorímetro adiabático), outras vezes,

faz-se justamente o contrário, a parede é construída de forma a fazer com que

a troca de calor seja a máxima possível (calorímetro isotérmico ou de fluxo de

calor).21

Um calorímetro muito simples, nem por isso ineficiente, constitui-se de

um vaso contendo uma mistura reacional, um agitador e um termômetro,

isolado (não muito bem) da vizinhança por uma camada de isopor. Para esse

calorímetro, se uma reação libera energia (exotérmica), essa energia, quase

que totalmente (lembre-se que a parede não é adiabática ideal) serve para

Page 66: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

48

aquecer todo o seu conteúdo interno ao vaso. A quantidade de energia é

diretamente proporcional à variação de temperatura, e a constante de

proporcionalidade, chamada de constante do calorímetro ou simplesmente

capacidade calorífica do calorímetro20, Ccal:

E = m Ccal ∆T (29)

A equação 29 é uma forma genérica de se representar como se calcula

essa energia E, pois, dependendo de como o calorímetro funciona; a volume

constante ou à pressão constante, essa função pode ser designada por U ou H,

respectivamente.16

Para se determinar a capacidade calorífica do calorímetro, normalmente

se utiliza um sistema de calibração elétrica e sua construção e uso são

relativamente simples.24 Onde não se possui um equipamento elétrico, a

calibração pode ser feita através de uma reação química.23,24

Entretanto, no ensino médio e na literatura disponível em livros-

textos8,9,10 para o ensino médio, a capacidade calorífica do calorímetro Ccal é

calculada de uma forma mais simples considerando-se o calor específico e a

massa de cada uma das partes que constituem o vaso calorimétrico. Mais

simplificadamente, embora se incorra em erros, essa grandeza é obtida

levando-se em conta, apenas as contribuições dos reagentes (geralmente

soluções), deixando-se de lado as contribuições do próprio vaso, do

termômetro e também de outros dispositivos internos ao vaso de reação.

A proposta deste filme-experimento é mostrar que o processo de

dissolução de uma substância em água envolve uma troca de energia, e que

esta pode ser quantificada através de um método bem simples. Para não

introduzir elementos muito novos aos alunos e, quiçá, aos professores,

Page 67: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

49

adotamos nesse filme o cálculo da constante do calorímetro considerando

apenas os reagentes. Pretende-se, também, que o experimento forneça

subsídios para possibilitar ao aluno, o entendimento da grandeza

termodinâmica: entalpia de reação, a qual é, realmente, medida

experimentalmente nesse filme, e não o “calor da reação”.

3.3.2 – Parte Experimental

Com o propósito de avaliar quantitativamente a energia envolvida em

um processo de dissolução, foi desenvolvido um simples calorímetro que é

mostrado na figura 12.

Figura 12: Calorímetro utilizado neste filme-experimento.

Este dispositivo foi construído utilizando-se um bloco de isopor (15 cm x 15

cm x 15 cm) onde em seu centro foi feita uma cavidade para acomodar um

copo de policarbonato de 200 cm3. A tampa do vaso calorimétrico foi feita de

Page 68: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

50

isopor e possui um pequeno orifício para a passagem do termômetro e outra

para a colocação do sólido a ser dissolvido.

Para realizar cada determinação, foi utilizada água destilada e a mistura

reacional foi mantida sob agitação magnética constante.

Todos os reagentes utilizados eram de pureza analítica e foram secos em

estufa conforme descrito na literatura.25

3.3.3 – Resultados

Após consulta à literatura,22-24,26,27, alguns sais foram experimentados.

No primeiro conjunto de experimentos, as dissoluções exotérmicas e no

segundo as endotérmicas. No processo de seleção dos sais para a realização

dos experimentos, o primeiro aspecto observado foi à velocidade de

hidratação dos sais durante a pesagem e a sua transferência, o que não é

desejável, pois os valores de entalpia de solução variam consideravelmente

dependendo do grau de hidratação do sal27 e que também não seria apropriado

do ponto de vista de uma metodologia experimental adequada. Todos os sais

avaliados não apresentaram este comportamento indesejável, no intervalo de

tempo em que foram realizados os experimentos.

Um outro aspecto importante é a rapidez da dissolução, que deve ser

adequada para o tempo de espera do espectador e para se evitar transferências

indesejáveis de energia entre o sistema e as vizinhanças. Uma variação

gradual da temperatura e um valor razoável de ∆T são os requisitos para

despertar a atenção dos alunos.

A análise dos resultados dos experimentos testes, tabelas 7 e 8,

indicaram que o melhor compromisso entre as variações de temperatura,

massas adicionadas de sal e tempo de dissolução eram válidas para o cloreto

Page 69: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

51

de amônio (processo endotérmico) e pelo carbonato de sódio (processo

exotérmico).

Tabela 7: Resultados experimentais obtidos na dissolução exotérmica dos sais avaliados. Cada experimento foi realizado em triplicata.(valor médio ± desvio

médio). Sal ∆T / °C (∆T /massa sal) / °C g-1 Tempo de dissolução /s

Na2SO4 0,6 ± 0,1 0,06 ± 0,01 81 ± 3 Na2CO3 3,6 ± 0,1 0,61 ± 0,06 72 ± 2

NaI 1,1 ± 0,1 0,12 ± 0,01 85 ± 3

Tabela 8: Resultados experimentais obtidos na dissolução endotérmica dos sais avaliados. Cada experimento foi realizado em triplicata. (valor médio ±

desvio médio). Sal ∆T / °C (∆T /massa sal) / °C g-1 Tempo de dissolução /s

NH4Cl 3,6 ± 0,1 0,69 ± 0,06 65 ± 3 NaHCO3 4,3 ± 0,1 0,51 ± 0,06 90 ± 4

NaCl 0,9 ± 0,1 0,15 ± 0,02 65 ± 2

Para se determinar a entalpia de solução dos sais selecionados, será

considerado que o calorímetro é adiabático (o que não é). Em um calorímetro

adiabático, as paredes do sistema não permitem o fluxo de calor, isto é

conseguido variando-se a temperatura do ambiente da mesma forma que a

temperatura do sistema varia. As temperaturas de ambas as partes são

monitoradas simultaneamente e esta diferença é corrigida.21

Como os experimentos foram conduzidos à pressão ambiente, a função

termodinâmica mais adequada é a entalpia, e a variação desta grandeza pode

ser representada por 16:

nHH ∆∆ sol = (30)

Page 70: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

52

onde ∆H é a variação de entalpia envolvida no processo de dissolução e n é a

quantidade de sólido (mol) adicionado ao calorímetro. A variação de entalpia,

∆H, foi calculada pela equação 31:

∫=∆Tf

Ti

dTCH cal (31)

onde Tf e Ti são as temperaturas após e antes da dissolução, respectivamente e

Ccal é a capacidade calorífica do sistema como um todo. O valor de Ccal é

obtido pelo somatório das capacidades caloríficas de tudo que faz parte do

sistema:

Ccal = C(água) + C(copo) + C(agitador) + C(termômetro) +... (32)

Sendo:

C = m c (33)

onde m é a massa e c o calor especifico de cada material.

Considerando o objetivo do experimento e o nível escolar que os alunos

se encontram, a capacidade calorífica total foi calculada como as

contribuições da água e do sólido adicionado, ou seja:

Ccal = C(água)+ C(sólido) (34)

As equações químicas que representam os processos de dissolução dos sais são as seguintes:

Page 71: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

53

Na2CO3(s) + x H2O(l) = (Na2CO3.x H2O)(sol) (35)

NH4Cl(s) + x H2O(l) = (NH4Cl.x H2O)(sol) (36)

onde x representa a quantidade estequiométrica de água envolvida na

dissolução de um mol de soluto.

Com o objetivo de encontrar as melhores condições experimentais e

também adequadas para o processo de filmagem, foram realizados

experimentos para se encontrar a melhor relação entre a quantidade de água e

de sal que proporcionasse rápida dissolução e apreciável variação de

temperatura. Os resultados destes experimentos estão na tabela 9 e 10, sendo

que cada ensaio foi realizado em triplicata. O tempo de dissolução foi

computado como aquele entre a adição do sólido e a estabilização da

temperatura.

Tabela 9: Resultados experimentais obtidos na dissolução do carbonato de sódio anidro. (valor médio ± desvio médio).

Ensaio nágua /nsoluto ∆T / °C Tempo de

dissolução / s

1 23,16 16,5 ± 0,1 228 ± 6

2 46,30 7,6 ± 0,1 120 ± 4

3 92,67 3,6 ± 0,1 72 ± 4

4 138,9 2,2 ± 0,1 61 ± 3

Page 72: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

54

Tabela 10: Resultados experimentais obtidos na dissolução do cloreto de amônio. (valor médio ± desvio médio).

Ensaio nágua /nsoluto - ∆T / °C Tempo de

dissolução / s

5 27,78 7,1 ± 0,1 125 ± 5

6 55,56 3,6 ± 0,1 67 ± 4

7 83,34 2,4 ± 0,1 55 ± 3

8 111,12 1,8 ± 0,1 50 ± 3

Nos experimentos foram utilizados 100 cm3 de água, por ser um volume

de fácil visualização no processo de filmagem.

No estudo da dissolução do carbonato de sódio, a relação

estequiométrica escolhida para realizar o filme foi a correspondente ao ensaio

3, que mostrou uma boa variação de temperatura e um tempo de dissolução

adequado à filmagem. No caso dos ensaios 1 e 2 as variações de temperatura

foram boas, mas a estabilização foi lenta, além de consumir grande quantidade

de sólido. No ensaio 4 a dissolução foi mais rápida, mas a variação de

temperatura foi pequena.

Já para o cloreto de amônio, o ensaio escolhido para o filme foi o de

número 6, pois apresentou uma variação de temperatura adequada e um bom

intervalo de tempo. A estabilização da temperatura neste ensaio também foi

rápida. O ensaio 5 proporcionou maior variação de temperatura, mas o

processo de estabilização foi mais lento. Nos ensaios 7 e 8 a temperatura

estabilizou rapidamente, mas a sua variação foi pequena.

Todos os valores de entalpia de solução para os dois sais, foram

calculados fazendo-se uso das equações 30, 31 e 33, estão apresentados nas

tabelas 11 e 12.

Page 73: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

55

Tabela 11: Resultados calorimétricos para a dissolução de carbonato de sódio anidro em água. (valor médio ± desvio médio).

nágua /nsoluto ∆solH experimental / kJ mol-1 ∆solH literatura29 / kJ mol-1

23,2 -30,2 ± 0,2 -31,86

46,3 -27,8 ± 0,2 -29,15

92,7 -26,4 ± 0,5 -26,93

139 -24,2 ± 0,7 -26,04

Tabela 12: Resultados calorimétricos para a dissolução de cloreto de amônio em água. (valor médio ± desvio médio).

nágua /nsoluto ∆solH experimental / kJ mol-1 ∆solH literatura29 / kJ mol-1

27,8 15,6 ± 0,1 15,29

55,6 15,9 ± 0,3 15,34

83,3 15,7 ± 0,4 15,34

111 15,8 ± 0,6 15,32

Comparando-se os resultados obtidos com os da literatura27, e

considerando-se a simplicidade do dispositivo utilizado, além das

aproximações feitas, conclui-se que o experimento atingiu os objetivos

propostos. Os resultados obtidos no experimento filmado também foram

iguais ao da literatura, dentro da incerteza experimental. Há que se acrescentar

que o termômetro utilizado tem uma sensibilidade de 0,1 K e os valores de ∆T

foram obtidos como descrito anteriormente, conforme se faz no ensino médio.

Page 74: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

56

3.4 – Propriedades Coligativas

3.4.1 – Introdução

Historicamente, as propriedades coligativas foram ferramentas

poderosas para o entendimento da química de soluções e, especialmente, para

a determinação de massas molares.28

As propriedades coligativas referem-se a quatro propriedades

características de soluções diluídas (abaixamento crioscópico, pressão

osmótica, elevação do ponto de ebulição e abaixamento da pressão de vapor),

cujos comportamentos são correlacionados e unidos pelo fato de dependerem

do número de partículas de soluto presente, independentemente de sua

natureza química, em uma dada quantidade de solvente. Todas as propriedades

têm em comum o fato do potencial químico do solvente no estado líquido ser

diminuído na presença de um soluto (solução no estado líquido), de tal forma

que o equilíbrio com a fase pura se estabelece em outras condições.28

O abaixamento crioscópico do solvente ocorre porque o seu potencial

químico na solução é menor que o do líquido puro, enquanto que o da fase

sólida (se ela for constituída somente do solvente puro) permanece o mesmo.

Então, o equilíbrio que se estabelece entre as duas fases (solução e sólida)

ocorre em temperatura menor do que aquela para o solvente puro29. Quando a

temperatura de equilíbrio é atingida ocorre a igualdade entre os potenciais

químicos das duas fases (solução e sólida):

µA*(s) = µA

* (l) + RT ln aA (37)

Page 75: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

57

O lado direito da equação representa o potencial químico do solvente na

solução e o esquerdo o do sólido puro, sendo que o asterisco indica as espécies

puras e aA representa a atividade do solvente na solução. A diferença de

potenciais químicos que aparece nessa equação (entre o líquido e o sólido),

como se refere às espécies puras, identifica-se com a energia de Gibbs de

fusão do solvente.16

A partir dessa equação (que supõe que somente o solvente congela a

partir da solução), e supondo-se que o abaixamento crioscópico seja bem

menor que a temperatura de fusão do solvente puro, e que as capacidades

caloríficas do solvente nos dois estados (sólido e líquido) são independentes

da temperatura (nessa pequena faixa) e que soluções diluídas de não-

eletrólitos comportam-se como soluções idealmente diluídas (ou seja, o

coeficiente de atividade do solvente é igual a um), obtêm-se16,28,29:

mKT f =∆

HTRK

fus

2*

f ∆=

(38)

onde ∆T, m, Kf, T* e ∆fusH são, respectivamente, o abaixamento crioscópico, a

molalidade do soluto, a constante crioscópica do solvente, a temperatura de

fusão do solvente puro e a entalpia de fusão.

O objetivo deste experimento é demonstrar quantitativamente o

abaixamento do ponto de fusão da água na presença de um soluto, procurando

evidenciar que esse comportamento está relacionado exclusivamente ao

número de partículas de soluto presente por uma quantidade de solvente.

Page 76: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

58

3.4.2 – Parte experimental

Para demonstrar quantitativamente o abaixamento do ponto de fusão da

água na presença de solutos iônicos e moleculares foi utilizado o aparato

experimental mostrado na figura 13.

Figura 13: Aparato utilizado no filme-experimento do estudo sobre o abaixamento crioscópico da água na presença de açúcar e sal de cozinha.

Em essência o filme mostra a pesagem do solvente e do soluto

adicionado e um registro da variação da temperatura da solução obtida, desde

a adição do soluto até o congelamento da mesma. O banho refrigerante foi

obtido com gelo picado e sal grosso e a variação de temperatura foi detectada

utilizando-se um termômetro digital. Para garantir uma agitação constante e

uniforme da solução, foi utilizado um agitador magnético.

Para a determinação do ponto de fusão da água pura e das soluções foi

utilizada água destilada. O açúcar e o sal de cozinha utilizados são produtos

comerciais e foram utilizados como se apresentavam (refinados).

Banho refrigerante Termômetro

Sensor de temperatura

Page 77: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

59

3.4.3 – Resultados

Antes da realização do filme, o primeiro passo foi avaliar qual seria o

melhor aparato para se determinar o ponto de fusão da água pura. A literatura

consultada24,30, indica o aparato de Beckmann, entretanto, com o objetivo de

simplificar o experimento e facilitar o aprendizado do fenômeno , optou-se

pelo sistema representado na figura 13.

O banho refrigerante foi feito com gelo picado e sal grosso que fornece

uma temperatura suficientemente baixa para efetuar o esfriamento

necessário31. A variação de temperatura foi detectada utilizando-se um

termômetro digital, devido à sua precisão e boa visualização.

Para garantir uma agitação constante e uniforme da solução, foi

utilizado um agitador magnético, já que uma agitação ineficiente pode levar a

resultados equivocados30. A agitação manual, como no aparato de Beckmann,

prejudicaria o trabalho de filmagem, pois poderia atrapalhar a visualização do

experimento.

A escolha do solvente é muito importante para se obter uma variação

mensurável de temperatura. Por outro lado, escolher a água significa

privilegiar o líquido mais importante que possuímos e, provavelmente, o único

solvente importante para o ensino de química no nível médio. Uma constante

crioscópica, Kf,, elevada, como no caso da água, favorece a verificação

variações significativas de temperatura.28

Três solventes foram avaliados: água, benzeno, e naftaleno, estes dois

últimos sendo freqüentemente utilizados nos experimentos descritos na

literatura26,30,31. Para proporcionar a diminuição do ponto de fusão dos

solventes, foi adicionada sacarose à água, naftaleno ao benzeno, e enxofre ao

Page 78: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

60

naftaleno. Os valores esperados foram calculados utilizando-se a equação 38.

Os resultados experimentais e os esperados são mostrados na tabela 13.

De acordo com a literatura28, seria mais adequado utilizar o naftaleno

como solvente, já que ele possui a maior constante crioscópica entre os três

solventes avaliados. Considerando-se a simplicidade do experimento e os

resultados obtidos, optou-se pela água, pois os outros solventes, além de serem

tóxicos e voláteis (os experimentos não foram filmados em uma capela)

precisariam estar rigorosamente puros e secos30.

Tabela 13: Resultados obtidos nos experimentos testes para a avaliação do potencial uso de algumas substâncias como solventes em estudos

crioscópicos.(valor médio ± desvio médio, para triplicatas). As soluções possuem molalidades diferentes.

Solvente Kf /(°C kg mol-1) 18 - ∆T / °C

experimental

- ∆T / °C

esperado

Água 1,86 0,9 ± 0,1 1,1

Benzeno 5,12 1,9 ± 0,1 2,0

Naftaleno 6,94 2,3 ± 0,1 2,6

Escolhido o solvente, a etapa seguinte foi escolher o soluto não-

eletrólito que poderia ser utilizado. Os solutos experimentados foram a glicose

e a sacarose. Os resultados de tais experimentos estão na tabela 14. Os

experimentos foram realizados em triplicata e para soluções de mesma

concentração (1,1 mol kg-1).

Como os efeitos coligativos só dependem da quantidade de partículas

em solução, soluções de não-eletrólitos, de mesma molalidade, devem mostrar

Page 79: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

61

comportamentos iguais. Tal comportamento foi observado nesse experimento,

já que as variações de temperatura observadas, nos dois casos, foram iguais

dentro do desvio experimental.

Tabela 14: Estudo do efeito da adição de sacarose e glicose no abaixamento da temperatura de fusão da água, para uma concentração de 1,1 mol kg-1. (valor

médio ± desvio médio, para triplicatas) Soluto - ∆T / °C

experimental

- ∆T / °C

esperado

Glicose 1,8 ± 0,1 -2,04

Sacarose 1,9 ± 0,1 -2,04

A variação de temperatura esperada, pela adição de um não-eletrólito,

nas condições deste experimento era de -2,04 °C, considerando-se um

comportamento ideal20. Este valor foi calculado utilizando a equação

crioscópica válida para soluções diluídas16.

Com o objetivo de aproximar o experimento ao cotidiano dos alunos,

novos experimentos foram realizados utilizando-se açúcar refinado, e os

resultados obtidos, dentro do desvio experimental, foram os mesmos.

A última etapa consistiu em avaliar a diminuição do ponto de fusão,

pela adição de um eletrólito. O eletrólito empregado para tal, foi o sal de

cozinha. A escolha deveu-se ao fato de ser, também, um material presente no

cotidiano dos alunos. Para efeito de comparação, foi testado, também, o

cloreto de sódio puro. Cada experimento foi realizado em triplicata e para

soluções de mesma concentração (1 mol kg-1 ). Ressalta-se, aqui, que para o

sal de cozinha considerou-se o mesmo como NaCl puro no cálculo da

concentração . Os resultados dos experimentos estão na tabela 15.

Page 80: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

62

Tabela 15: Estudo do efeito da adição de cloreto de sódio puro e do sal de cozinha no abaixamento da temperatura de fusão da água. (valor médio ±

desvio médio, para triplicatas) Soluto - ∆T / °C

experimental

- ∆T / °C

esperado

Cloreto de sódio puro 3,2 ± 0,1 3,72

Sal de cozinha 3,3 ± 0,2 3,72

Quando se utiliza um eletrólito forte como o cloreto de sódio ou o sal de

cozinha, espera-se que este produza um efeito coligativo duas vezes maior que

o causado pela adição de um não eletrólito na mesma concentração molal,

desde que se usem soluções diluídas. Em soluções concentradas, os íons não

se movem livremente e podem se unir para formar pares iônicos e agregados

com pequeno número de íons20 e, portanto, os efeitos coligativos são menores

que os esperados.

Considerando-se os objetivos desse trabalho, o filme-experimento e os

resultados obtidos a partir do mesmo, poderão acrescentar ingredientes novos

e importantes no aprendizado do aluno, já que deverão ser objetos de

observação e explicação. Nos três experimentos filmados, apesar da elevada

agitação empregada, apareceram efeitos de super congelamento, nos três casos

a variação de temperatura superou o valor esperado e no momento da

solidificação, ela repentinamente voltou a subir para depois permanecer

constante. O fenômeno do super congelamento é raramente citado em livros

para o ensino médio.

Page 81: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

63

3.5 – Solubilidade

3.5.1 – Introdução

Uma substância se dissolve em um solvente sempre com uma

diminuição da energia livre. Essa variação de energia livre tem uma

contribuição entálpica e uma entrópica, como mostra a equação 39:16

∆Gsol = ∆Hsol - T∆Ssol (39)

A variação de entalpia na dissolução de um sólido iônico em água é

resultante da energia absorvida para o rompimento do retículo cristalino

(entalpia reticular), um processo endotérmico e a energia liberada na

solvatação dos íons (entalpia de solvatação), um processo exotérmico32.

Quando essa variação de entalpia é menor que zero, significa que as interações

dos íons com a água (solvatação) é maior que a energia de quebra do reticulo.

Num processo endotérmico prevalece o valor da entalpia reticular.

No processo de solvatação, um outro olhar pode ser feito para o

solvente, nesse caso há que se levar em conta à energia envolvida na formação

dos “buracos no solvente” para a acomodação dos íons. As perturbações nas

interações solvente-solvente acontecem, modificando consideravelmente a sua

estrutura nas adjacências do íon. Solventes que possuem intensas forças

intermoleculares, tais como interações dipolo-dipolo e ligações de hidrogênio,

interagem fortemente com íons. Todavia, se forem confrontadas as

intensidades das interações entre as moléculas do solvente (dipolo-dipolo), do

solvente com o soluto (íon-dipolo) e entre soluto (íon-íon), sabe-se que a

última é a mais intensa. No entanto, existe um grande número de interações

Page 82: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

64

íon-dipolo atuando em cada íon. Como resultado, a energia de interação

soluto-solvente torna-se aproximadamente da mesma ordem de grandeza da

energia de atração entre cátions e ânions, enquanto que as interações solvente-

solvente tornam-se desprezíveis nas adjacências dos íons comparadas à

magnitude das outras.32

A figura 14 mostra um ciclo de Born-Haber, para o processo de

dissolução de um sal em termos de variação de entalpia.

Figura 14: Ciclo de Born-Haber para o processo de dissolução de um sal MX em água.

Considerando que as interações solvente-solvente, neste caso, sejam

desprezíveis, a energia resultante do processo de dissolução será o somatório

das energias envolvidas em duas etapas:

-separação dos íons do retículo que corresponde à entalpia de rede

(∆Hrede), definida como a entalpia de formação de um gás de íons a partir do

sólido cristalino16,33-35. Esta etapa está relacionada a um aumento de entalpia

(processo endotérmico),

MX(s) → M+(g) + X-(g) (40)

Page 83: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

65

- solvatação dos íons (∆Hsolv), etapa que libera energia (processo

exotérmico),

M+(g) + X-(g) + H2O(l) → M(H2O)+ + X(H2O)- (41)

Desse modo, a variação de entalpia na dissolução de um sal pode ser

obtida teoricamente empregando-se o ciclo de Born-Haber.

Como a dissolução combina etapas endotérmicas e exotérmicas, a

entalpia de dissolução (∆Hsol) pode ser tanto positiva (∆Hsol>0) quanto

negativa (∆Hsol<0).

O conhecimento apenas da entalpia de dissolução não fornece

informações suficientes para a previsão da solubilidade de uma substância. É

necessário, também, avaliar a contribuição entrópica envolvida neste processo,

que para muitos sais, é comparável à entalpia de solvatação32.

Em relação à parcela entrópica, há dois fatores opostos que governam o

processo de dissolução: a dispersão do soluto no solvente, que é acompanhada

por um aumento da entropia (∆Ssol>O), e o aumento no grau de ordenamento

do solvente nas proximidades do soluto (∆Ssol<O)16,33-35.

Em soluções ideais, consideram-se todas as interações existentes em

solução como sendo idênticas, de modo que os efeitos entálpicos não

cumprem um papel muito relevante na dissolução, somente os efeitos

entrópicos.16

Por essa razão, a Termodinâmica trata do equilíbrio de solubilidade, isto

é, soluto sólido em equilíbrio com a solução saturada, da mesma maneira que

trata o equilíbrio de solidificação, na qual o solvente sólido está em equilíbrio

com o solvente liquido16. Portanto em uma solução saturada o potencial

Page 84: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

66

químico do soluto sólido puro, µ*(s), é igual ao potencial do soluto em

solução, µ(aq). O potencial químico do soluto em solução é dado por:

µ*(s) = µ(aq) + R T ln χ (42)

que, no equilíbrio, fica:

µ*(s) = µ*(aq) + R T ln χ (43)

a determinação da fração em mol do soluto,χ, fornece a solubilidade ideal

(fração em mol do soluto em uma solução saturada em uma temperatura T).

Reordenando a equação 43, obtém-se:

TRG

TRfus

** aq)(s)(ln

∆−=

−=

µµχ

RS

TRH fusfus ∆

+∆

−= (44)

No ponto de fusão do soluto, T*, ∆fusG = 0, de modo que ∆fusG/ R T*= 0, então

se pode somar essa parcela ao membro direito da equação 44 e chegar a:

RS

TRH

RS

TRHn f

*usfusfusfus ∆∆∆∆

l −−++−=χ

*TRH

TRH fusfus ∆∆

+−= (45)

Page 85: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

67

que reordenada,fica:

−=TTR

Hn *

11∆l fusχ (46)

A equação 46 fornece apenas uma estimativa da solubilidade de uma

substância em determinada temperatura T, isso porque é baseada em

aproximações bastante questionáveis como, por exemplo, a desconsideração

de propriedades do solvente18. Quando os efeitos do solvente são

considerados, existem aproximações como o modelo de Scatchard-

Hildebrand, que considera que o soluto e o solvente possuem tamanho

comparável e não há efeitos de ordenamento do solvente em torno do soluto.

Além disso, assumiu-se que a variação de entropia de dissolução é igual à de

uma solução ideal, isto é, sempre positiva. Este modelo exclui, portanto,

efeitos de associação e interações fortes do tipo ligação de hidrogênio. O

modelo de Scatchard-Hildebrand, que considera o efeito entálpico associado à

dissolução, leva a uma modificação da equação de solubilidade ideal, e é

representado por36,37:

TRH

TTRH

χ *solfus ∆11∆

ln −

−= (47)

O objetivo desse filme-experimento é mostrar, através de um método

experimental simples, que a solubilidade de dois sólidos em água varia em

função da temperatura.

Page 86: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

68

3.5.2 – Parte experimental

Nos experimentos anteriores à filmagem e no filme-experimento foram

utilizados reagentes de pureza analítica e água destilada. Os sais escolhidos

para os experimentos foram o cloreto de potássio e o dicromato de potássio.

Na primeira etapa do experimento, foram utilizados dois béqueres de

150 cm3 onde, em cada béquer, foram adicionados cerca de 100 cm3 de água

destilada e quantidade suficiente dos sais para que houvesse sólido no

fundo.Os béqueres foram tampados com vidro relógio e a suspensão mantida

sob agitação magnética em um banho termostatizado à 20 °C, por cerca de

quatro horas e posteriormente mais seis horas, para certificar-se do equilíbrio

de dissolução.

Após o equilíbrio de dissolução ter sido estabelecido, encerrou-se o

processo de agitação e cerca de 15 cm3 de cada solução sobrenadante foi

transferida para outros béqueres previamente secos e pesados. Os conjuntos,

béquer mais solução saturada, foram pesados e colocados novamente no

banho termostatizado para eliminar toda a água presente. O aquecimento foi

realizado de maneira lenta e gradual, para evitar possíveis perdas de sólido.

Após a eliminação de toda a água, os béqueres com os sólidos foram secos em

estufa à 120 °C por 1 hora, colocados em um dessecador e posteriormente

pesados. Utilizando o mesmo procedimento descrito, foram determinadas as

solubilidades dos sais a 50 °C.

3.5.3 – Resultados

Para a escolha dos sólidos que seriam utilizados no filme, os seguintes

critérios foram adotados: formação de uma solução colorida por uma das

Page 87: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

69

substâncias (para haver diferenciação visual entre as mesmas); sólidos com

diferentes solubilidades; formação de soluções transparentes para propiciar a

visualização do processo de dissolução; não formação de hidratos ou soluções

supersaturadas38; variação pronunciada da solubilidade com a temperatura e

valor mensurável dessa grandeza.

Após consulta a tabelas39, e levando-se em consideração a existência de

curvas de solubilidades em livros textos, os sais selecionados foram o cloreto

de potássio e o dicromato de potássio.

A partir dos resultados obtidos utilizando-se o método descrito

anteriormente, as solubilidades dos sais foram determinadas em experimentos

em triplicata. Os resultados estão na tabela 16.

Tabela 16: Resultados da solubilidade de cloreto de potássio e dicromato de potássio em água, à temperatura de 20 °C.(valor médio ± desvio médio)

Substância Solubilidade obtida

(g / 100 g H2O)

Valor da literatura39

(g / 100 g H2O)

KCl 33,548 ± 0,169 34,0

K2Cr2O7 12,668 ± 0,377 12,2

Utilizando-se o mesmo procedimento descrito, foram determinadas as

solubilidades dos sais à 50°C. Cada experimento foi realizado em triplicata e

os resultados estão na tabela 17.

Page 88: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

70

Tabela 17: Resultados da solubilidade de cloreto de potássio e dicromato de potássio em água, à temperatura de 50 °C. (valor médio ± desvio médio)

Substância Solubilidade obtida

(g / 100 g H2O)

Valor da literatura39

(g / 100 g H2O)

KCl 43,105 ± 0,210 42,6

K2Cr2O7 36,004 ± 0,419 37,2

Comparando os resultados obtidos e os da literatura para o KCl e para o

K2Cr2O7, tanto à 20 °C como à 50 °C, verifica-se que eles são muito próximos.

Para realizar as filmagens, optou-se por não utilizar o banho termostatizado

para eliminar a água presente na solução, pois a presença o mesmo

prejudicaria a observação dos aspectos fundamentais da experimentação.

Dessa forma novos experimentos foram realizados para se testar essa

modificação. Para eliminar a água foi utilizada uma placa de aquecimento,

com o aquecimento sendo foi feito de maneira lenta e gradual. Após essa

modificação os experimentos foram novamente repetidos em triplicata e os

resultados obtidos estão nas tabela 18 e 19.

Tabela 18: Resultados da solubilidade de cloreto de potássio e dicromato de potássio em água, à temperatura de 20 °C, pela eliminação da água por

aquecimento direto em placa de aquecimento.(valor médio ± desvio médio) Substancia Solubilidade obtida

(g / 100 g H2O)

Valor da literatura39

(g / 100 g H2O)

Erro relativo

(%)

KCl 34,894 ± 0,242 34,0 2,6

K2Cr2O7 12,821 ± 0,505 12,2 4,8

Page 89: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

71

Tabela 19: Resultados da solubilidade de cloreto de potássio e dicromato de potássio em água, à temperatura de 50 °C, pela eliminação da água por

aquecimento direto em placa de aquecimento. (valor médio ± desvio médio) Substancia Solubilidade obtida

(g / 100 g H2O)

Valor da literatura39

(g / 100 g H2O)

Erro relativo(%)

KCl 43,536 ± 0,288 42,6 2,2

K2Cr2O7 36,344 ± 0,463 37,2 2,4

Os resultados obtidos experimentalmente mostraram erros relativos

inferiores a 5 %, o que é muito bom considerando-se a simplicidade do arranjo

experimental e os objetivos desse trabalho. O filme foi, então, realizado

utilizando-se essa última técnica. Os resultados obtidos utilizando-se o filme-

experimento estão também com essa pequena margem de erro aceitável. O

filme mostra todas as etapas do experimento, com muita clareza, o que, sem

dúvida alguma, deverá servir como uma boa ferramenta na compressão do

fenômeno da solubilidade, já que o mesmo evidencia aspectos experimentais

dessa determinação, além de permitir ao aluno o cálculo dessas grandezas a

partir dos dados experimentais mostrados.

Page 90: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

72

3.6 – Titulação Condutométrica

3.6.1 - Introdução

A análise volumétrica ou titulometria abrange um grande grupo de

métodos que possuem larga tradição na análise quntitativa40. Devido a

inúmeras características, elas são usadas em laboratórios como métodos

consagrados, especialmente quando são utilizadas com dispositivos

instrumentais para detecção do ponto final da titulação.

A titulação, basicamente, é um processo que envolve a adição de

pequenas quantidades de um reagente, com o auxílio de um medidor de

volume (bureta), a uma quantidade conhecida de um outro reagente. A

mudança de uma propriedade particular do meio reacional serve para

identificar o momento em que se pode determinar a quantidade (concentração)

do reagente “desconhecido”.

Quando se pretende encontrar uma concentração, geralmente são feitas

medidas de volume ou massa, e a propriedade monitorada pode ser muito

variada, como por exemplo: a mudança da cor, o pH, a variação de

temperatura, da condutividade elétrica, etc...41

A determinação da concentração de uma solução (solução problema) a

partir de sua reação quantitativa com uma quantidade conhecida de uma

substância que é pura (padrão primário) é chamada de titulação de

padronização, ou simplesmente padronização. Neste caso, após ter sua

concentração determinada, a solução problema passa a ser uma solução

padronizada42,43

Page 91: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

73

A volumetria tem sido usada em análises quantitativas há mais de 200

anos. Sendo tradicionalmente considerada como um método primário de

análise, e também muito utilizada para validar outros métodos secundários44.

Nos séculos XVIII e XIX, as análises químicas eram realizadas quase

que exclusivamente por processos gravimétricos e volumétricos. Entretanto, a

partir de 1920, a análise quantitativa foi se enriquecendo com a introdução de

métodos baseados na medida de propriedades físicas (ópticas, elétricas,

térmicas, entre outras) com o uso de instrumentos apropriados, mais

complexos que os requeridos pela gravimetria e/ou volumetria.41

Um ponto importante em uma titulação, é a detecção do ponto final ou

ponto onde a estequiometria da reação se estabelece. Esta detecção é feita

utilizando-se, indicadores instrumentais ou visuais.

Indicadores visuais são substâncias que mudam de cor dependendo das

características físico-químicas da solução, do pH do meio, do potencial

elétrico, da complexação com íons metálicos e da adsorção em sólidos. Os

indicadores podem ser classificados de acordo com o mecanismo de mudança

de cor ou os tipos de titulação onde são aplicados45.

Quando se utiliza um indicador instrumental, a detecção do ponto final

de uma titulação é feita, por exemplo, através de medidas de propriedades

elétricas como potenciais elétricos ou de condução da corrente elétrica, entre

outros.

No caso aqui presente, o experimento desenvolvido permite determinar

várias grandezas, entre as quais podem ser apontadas: a concentração de uma

solução de ácido sulfúrico, a constante de solubilidade do hidróxido de bário

em água ou a estequiometria da reação entre ácido sulfúrico e hidróxido de

bário. No caso específico do filme-experimento, realiza-se uma titulação entre

duas soluções: ácido sulfúrico e hidróxido de bário, utilizando-se como

Page 92: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

74

detector do ponto final um dispositivo que monitora a variação de condutância

elétrica do meio reacional através da gradual mudança na intensidade de luz

de uma lâmpada incandescente. Este experimento, além da riqueza

experimental e conceitual envolvidas, permite que o aluno se familiarize com

cálculos estequiométricos, reações químicas e que perceba que a variação de

uma propriedade específica de um meio, neste caso a condutância elétrica,

pode ser utilizada para diversas finalidades.

3.6.2 – Parte experimental

Para atingir os objetivos propostos neste experimento, foi desenvolvido

o dispositivo mostrado na figura 15. Esse dispositivo é constituído por um

béquer de 250 cm3 onde foram feitos dois orifícios para acomodar dois fios de

cobre que serviram como terminais para proporcionar o contato elétrico entre

a rede elétrica, a lâmpada e a solução. Os orifícios por onde passam os fios

foram vedados utilizando-se cola do tipo epóxi e, posteriormente, foi aplicada

cola à base de silicone para evitar possíveis vazamentos.

O aparato experimental tem ainda uma bureta de 50 cm3 e um agitador

magnético.

A soluções utilizadas foram preparadas com água destilada e reagentes

de pureza analítica.

A solução saturada de hidróxido de bário foi preparada colocando-se

uma porção do sólido em água destilada (isenta de CO2). Após contato de 24

horas com agitações esporádicas, a suspensão foi decantada por 12 horas e a

parte superior transferida para outro recipiente sob atmosfera de nitrogênio

para se evitar a entrada de CO2.

Page 93: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

75

Essa a solução foi padronizada com solução de ácido clorídrico de

concentração conhecida por padronização com carbonato de sódio seco por 1

hora à 200 °C.25

A solução de ácido sulfúrico foi obtida diluindo-se 5,4 cm3 do ácido

concentrado até o volume de 100 cm3.

Para iniciar o experimento, a bureta foi carregada com a solução de

hidróxido de bário e o dispositivo desenvolvido para monitorar a

condutividade, recebeu 2 cm3 da solução de ácido sulfúrico e cerca de 50 cm3

de água destilada, isenta de carbonato pela eliminação por ebulição e

resfriamento sob fluxo de nitrogênio gasoso.

Figura 15: Dispositivo utilizado para monitorar a condutividade da solução no filme-experimento.

Eletrodos de cobre

Page 94: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

76

3.6.3 - Resultados

A literatura consultada31,46 apresenta vários experimentos que utilizam a

medida da condutância elétrica para determinar o ponto final de uma titulação.

Nesses experimentos, utiliza-se uma célula para a medida da condutância que

é formada por dois eletrodos de platina (platinizada) encapsulados em um tubo

de vidro. Essa célula é conectada a um medidor de condutância, que ainda

pode ser ligado a um registrador. A utilização desse aparato permite

determinar com precisão o ponto final de reações entre eletrólitos. Nesse caso,

a adição de um eletrólito á solução de um outro eletrólito de concentração

desconhecida provoca uma variação na condutância, devido à diferença de

mobilidade dos íons, ou mudanças nas concentrações dos íons presentes. Essa

mudança de condutância é monitorada em função do volume de titulante

adicionado. A curva gerada no experimento, geralmente apresenta inclinações

que diferem de valor antes e após o ponto final da titulação. O tratamento

adequado dessa curva permite a determinação de grandezas associadas a

estequiometria da reação química (concentrações, constantes, relações

estequiométricas etc)46.

Com o objetivo de enfatizar os diversos princípios envolvidos nesse tipo

de experimento e tornar o experimento mais próximo do nível de escolaridade

do aluno, preferiu-se construir um dispositivo para monitorar a variação da

condutância da solução. Este dispositivo de fácil construção, que pode ser

construído pelos próprios alunos, é mostrado na figura 15.

A utilização de tal dispositivo destina-se ao estudo de reações onde a

variação da condutância elétrica da solução, em função do consumo de

reagentes ou formação de produtos é o ponto principal. Esse dispositivo não

permite avaliar quantitativamente o valor da condutância da solução, mas sim

Page 95: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

77

a sua variação gradual, observando-se a mudança intensidade da luz emitida

pela lâmpada. Tal limitação, no entanto, não é um empecilho ao estudo desse

caso: o ácido sulfúrico titulado por uma solução saturada de hidróxido de

bário.

A reação química entre essas substâncias produz água e sulfato de bário,

esse último muito pouco solúvel (Kps = 1 x 10-10)49.

Ba2+(aq) + 2 OH-(aq) + 2 H+(aq) + SO42+(aq) = BaSO4(s) + 2 H2O(l)

(48)

Devido à diminuição da concentração de íons para o transporte de carga

elétrica, conforme a reação procede, a condutância da solução vai diminuindo

até o apagamento completo da lâmpada, o que é tomado como indicador do

ponto final da titulação.

No filme-experimento, 2,00 cm3 de H2SO4 são diluídos com cerca de 50

cm3 de água destilada, e titulados com uma solução saturada de Ba(OH)2

(0,123 ± 0,002) mol dm-3 padronizada25 ( para quem assiste ao filme, a

concentração da solução deve ser calculada a partir do Kps do sulfato de

bário). Essa titulação foi realizada em triplicata, antes de se proceder ao

experimento filmado. Os resultados obtidos nessas titulações prévias estão na

tabela 20.

Page 96: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

78

Tabela 20: Resultados da titulação condutométrica de uma solução de ácido sulfúrico com uma solução saturada de hidróxido de bário.

Determinação Concentração H2SO4 / mol dm-3

I 1,107

II 1,115

III 1,101

Valor médio 1,108 ± 0,004

Para efeito de comparação, a mesma titulação foi realizada utilizando-se

fenolftaleína como indicador. Os resultados obtidos estão na tabela 21.

Tabela 21: Resultados da titulação de uma solução de ácido sulfúrico com uma solução saturada de hidróxido de bário, utilizando-se fenolftaleína como

indicador. Determinação Concentração H2SO4 /mol dm-3

I 1,113

II 1,113

III 1,119

Valor médio 1,115 ± 0,003

É importante ressaltar que o ponto em que ocorre a mudança de cor do

indicador não coincide com o ponto em que há a total neutralização dos íons

H+ presentes na solução, isto porque, a coloração rósea aparece com excesso

de íons OH- (pH>8)48. Se fossem utilizados, em conjunto, o indicador ácido-

base e a lâmpada (indicador de condutância), esta última apagaria antes da

mudança de cor do indicador. Mesmo havendo essa diferença no momento da

Page 97: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

79

detecção, os valores são aceitáveis considerando-se, por exemplo, o limite de

sensibilidade do olho humano à luz e o erro do indicador.

No filme produzido, após a determinação do ponto final da titulação, a

adição de hidróxido de bário é novamente iniciada para demonstrar que o

acendimento da lâmpada depende da presença de substâncias que podem

efetuar o transporte de carga entre os dois eletrodos, não sendo uma

característica exclusiva da substância que estava inicialmente em solução.

Page 98: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

80

4 – Considerações finais

O trabalho aqui desenvolvido exigiu o aprendizado de uma técnica, um

pouco afastada da formação inicial do autor desse trabalho e também de seu

orientador.

Inicialmente, entramos em contato com o departamento de Radio e

Televisão da Unicamp, que se mostrou interessado nas filmagens e também na

edição dos filmes. Dessa forma, estaríamos apenas preocupados com a criação

dos experimentos em laboratório, escolhendo apropriadamente os roteiros,

materiais e pontos importantes a serem filmados.

No entanto, essa parceria não funcionou bem, pois, como pudemos

constatar na primeira filmagem, estaríamos consumindo muito tempo do set

de filmagens, muitos profissionais, muitos equipamentos e não teríamos

condições de testar novas formas de apresentação de cada prática, já que as

mesmas deveriam ser feitas no departamento de Radio e Televisão.

O primeiro filme, por exemplo, depois de alocarmos o estúdio por dois

dias e envolver cerca de dez profissionais, verificamos que um pequeno erro

químico havia inviabilizado todo o trabalho. Diante desta dificuldade,

decidimos adquirir nossa própria câmera de vídeo e o computador com o

programa de edição. O aprendizado de como filmar, o que usar como

iluminação, o desenvolvimento dos materiais para as filmagens, a filmagem

com apenas duas pessoas, o autor e o orientador, ora funcionando como

atores, como contra-regras, diretor de câmera ou diretor de filmagem, editor

etc. foi um processo contínuo e desenvolvido conforme a necessidade.

Em relação aos filmes, os mesmos tiveram apenas uma versão final.

Dessa forma, mantendo-se a parte de vídeo e modificando-se a parte de áudio

Page 99: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

81

os filmes podem ser explorados de formas diversas. Deve ser acrescentado

que, no início desse trabalho, a idéia original era apresentar filmes que apenas

tivessem imagens e nada de som. Após ter feito uma primeira versão nessa

forma, aplicamos o filme para um grupo de professores de Ciências, porém o

resultado não foi satisfatório. Assim, resolvemos introduzir a fala e o som.

Um ponto importante, na maioria dos filmes, é a preocupação com

aspectos quantitativos. Apenas um dos filmes, o de condutância elétrica, tem

uma preocupação com aspectos semi-quantitativos. Devido a essa

característica, a preocupação quantitativa, foram necessárias várias filmagens

de um mesmo experimento, a cada momento focando um aspecto específico.

A tomada de algumas cenas com zoom completo, muitas vezes exigem

posições estáticas da câmera e também dos instrumentos filmados. Algumas

cenas só foram possíveis pelo recurso da câmera de dar zoom com controle

remoto. Essa característica de dar ênfase aos aspectos quantitativos da

experimentação é o diferencial desse projeto em relação aos vídeos

disponíveis para ensino.

Um aspecto que deve ser enfatizado, é que todos os resultados

experimentais obtidos nos experimentos filmados são verdadeiros e podem ser

repetidos em qualquer laboratório com equipamentos semelhantes. É

importante frisar que todas as operações de laboratório nos filmes têm o

propósito de mostrar como elas são feitas corretamente sem, no entanto,deixar

que elas ofusquem o objetivo central. As pesagens, por exemplo, fizemos

questão de apresentá-las com o experimentador fazendo a zeragem da balança,

abrindo a porta, colocando e tirando o material e, ao final, fechando a balança

e zerando novamente.

Page 100: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

82

Finalmente, resta lamentar que, devido aos diversos contratempos e a

conseqüente falta de tempo hábil, não foi possível aplicar os vídeos em sala de

aula e avaliar sua eficiência, o que deve ser o próximo passo.

Page 101: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

83

5 – Bibliografia

1. LDB - Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. LEI No. 9.394, 1996.

2. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. MEC/SEMT, 1999. 3. Marcelino C.A.C; Barbosa R.M.N.; Campos A.F.; Leão M.B.C.; Cunha

H.S.; Pavão A.C.; Quim. Nova Escola, 2004,5,19. 4. Moran, J.M. O vídeo na sala de aula. Comunicação & Educação, n. 2,

p. 27-35,1995. 5. Muramatsu, Mikiya. Produção, utilização e avaliação de filmes

didáticos de Física. São Paulo, Instituto de Física/Faculdade de Educação, USP, 1976. 131p. Dissertação de Mestrado.

6. http://www.sedis.ufrn.br/documentos/fisica.pdf acesso em 13/04/2005. 7. Lembo, A.;Química: Realidade e Contexto;3a.ed.;Editora Ática:São

Paulo,2004. 8. Bianchi,J.C.A.,Albrecht, C.H.,Maia,D.J; Universo da Química;1a.ed;

Editora FTD:São Paulo,2005. 9. Peruzzo, F.M.,Canto E.L.;Química:na abordagem do cotidiano;3a.ed;

Editora Moderna: São Paulo.2003. 10. http://www.videomaker.com/scripts/index.cfm acesso em 05/02/2006. 11. Watts, H.;Direção de Câmera;1a.ed.; Summus Editora:São Paulo;1992. 12. http://www.fazendovideo.com.br acesso em 05/02/2006. 13. http://www.pinnaclesys.com acesso em 05/02/2006. 14. Selley, N. J.; Experimental Approach to Electrochemistry, 1a ed; John

Wiley & Sons: New York,1977. 15. Robbins, J.; Ions in Solution 2: an Introduction to Electrochemistry, 1a

ed; Oxford University Press:Oxford,1986. 16. Atkins, P.;Paula, J.; Físico-Quimica, 7a ed.; LTC editora:Rio de

Janeiro,2003. 17. Wu, Y. C.; Berezansky, P. A.; J. Res. Natl. Inst. Stand. Technol.,

1995,100, 521. 18. Vogel, A.;Quimica Analitica Qualitativa;5a ed.;Editora Mestre Jou: São

Paulo;1981. 19. Hoffman, B.; Mitchell, E.; Roulhac, P.; Thomes, M.; Stumpo, V. M.;

J.Chem.Educ.2000,77,95. 20. Atkins, P.W; Jones, L.L.; Principios de Quimica; 1ed. Editora

Bookman,1999. 21. Chagas, A.P., Quím. Nova, 1992,15(1). 22. Simoni, J., Quím. Nova, 1989,14(4).

Page 102: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

84

23. Daniels, F.;Willians. J.W.;Bender, P.; alberty, R.A.; Cornwell, C.D.; Harrimen, J.E.;Experimental Physical Chemistry, McGraw-Hill Book Company, 7th ed.,(1970).

24. Shoemaker, D.P.;Garland, C.W.; Steinfeld, J.I.; Mibler, J.W.; Experiments in Physical Chemistry McGraw-Hill Book Company, 4th ed.,(1981).

25. Morita, T.;Assumpção R.M.V.; Manual de Soluções, Reagentes e Solventes, 3a ed.,ed. Edgard Blucher Ltda: São Paulo, 1968.

26. Sacks, L.J. Experimental Chemistry, The Macmillan Comapany, New York, 1st ed, (1971).

27. Wagman, D.D.;Evans, K.L.; Nuttal, R.L.; The NBS Tables of Chemical Thermodynamic Properties,J. Phys. Chem. Ref. Data, (1982),11,supplement n°2.

28. Santos, Anderson R. dos, Vidotti, Eliane C., Silva, Expedito L. et al. Quím. Nova, 2002, 25, 844.

29. Levine, I.N.; Physical Chemistry, Mc Graw-Hill International Book Company: London, 1981, ch. 12.

30. Salzberg, H.W.; Laboratory Course in Physical Chemistry Academic Press, 2ed,1966.

31. Findlay, A.; Practical Phisycal Chemistry, 8°ed.,Longmans,New York,1954.

32. Silva, L. A; Martins, C. R; Andrade, J. B.; Quím. Nova. 2004,27,1016. 33. Douglas, B.; McDaniel, D.; Alexander, J.; Concepts and Models of

Inorganic Chemistry, 3rd ed., John Wiley & Sons, Inc.: New York, 1994.

34. Atkins, P. W.; Jones, L. L.; Chemistry: molecules, matter and change, 3rd ed., Freeman: New York, 1997.

35. Russel, J. B.; Química Geral, 2ª ed., Makron Books: São Paulo, 1994, vol. 1.

36. Hildebrand J.H, Scott R.L.; The Solubility of Nonelectrolytes, 3rd ed., Dover Publications inc.: New York. 1950.

37. Hildebrand J.H., Prausnitz J.H., Scott R.L.; Regular and Related Solutions, Van Nostrand Reinhold company.:New York 1970.

38. Pacer, A.R; J.Chem.Educ. 1984,61,467. 39. Solubilities. Inorganic and metal-organic compounds. A compilation of

solubility data from the periodical literature. 4ed Americam Chemical Society.1965.

40. Beck II, C.M. Anal. Chem. 1994, 66, 224A - 239A. 41. Terra, J.;Rossi, A. V.; Quím. Nova; 2005,28,166.

Page 103: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

85

42. Skoog, A. D.; West, D. M.; Holler, F. J.; Fundamentals of Analytical Chemistry, 7ª ed., Saunders College Publishing: Orlando, 1997.

43. Sandell, E. B.; West, T. S.; Pure Appl. Chem. 1969, 18, 429. 44. King, B.; Metrologia, 1997, 34, 77. 45. Terci, D. B. L.;Rossi, A. V.; Quím. Nova, 2002, 25, 684. 46. James A.M.; Prichard, F.E.; Practical Phisical Chemistry, 3ª

ed.,Longman: New York, 1974. 47. Németh B.A.; Chemical Tables, 1a ed.,John Wiley & Sons: New

York,1978. 48. Baccan, N.; Andrade, J. C.; Godinho, O. E. S.; Barone, J. S.; Química

Analítica Quantitativa Elementar, 2a ed., Ed. Unicamp: Campinas, 1979.

Page 104: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

86

ANEXOS

Page 105: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

87

Roteiros de aplicação dos filmes-experimentos

1 - Condutividade

1.1 – Objetivo

O objetivo deste filme-experimento é fornecer ferramentas que possam

auxiliar os alunos na compreensão do fenômeno da condutância elétrica de

soluções e a sua relação, por exemplo, com a força de ácidos e bases e

questões semi-quantitativas sobre o equilíbrio químico.

1.2 - Introdução

Uma propriedade característica de soluções de eletrólitos é que elas

conduzem a corrente elétrica. Quando um circuito elétrico é feito conectando-

se dois terminais de uma bateria a dois eletrodos imersos em uma solução de

um eletrólito, os íons na solução se movem para os eletrodos de cargas opostas

às suas, e uma corrente elétrica flui pelo circuito. A magnitude do fluxo da

corrente elétrica que, em essência, é uma quantificação da condutância elétrica

da solução, depende do número de íons entre os eletrodos, da carga dos íons,

da velocidade com que eles se movem e da diferença de potencial entre esses

eletrodos.14,15

Os íons de hidrogênio, por exemplo, se movem mais rapidamente – de

cinco a sete vezes mais rápido que outros íons com carga positiva - então, para

um mesmo número de íons entre os eletrodos, a condutividade de ácidos é

muito maior do que a dos sais contendo o mesmo ânion.15

Page 106: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

88

Os íons hidroxila se movem de duas a três vezes mais rapidamente que

outros íons (exceto os íons hidrogênio) e o mesmo raciocínio pode ser

aplicado nesse caso, relativamente aos outros ânions.15

Em soluções concentradas essa condutividade aumenta, mas não

linearmente proporcional à concentração, já que interações iônicas começam a

existir, “atrapalhando” essa condutividade. Em solventes de baixa constante

dielétrica a condutividade também diminui devido às interações entre os

íons.14

Não será discutida aqui a influência do potencial elétrico aplicado e

também mudanças na geometria e posição relativa dos eletrodos, já que o

filme não trata desses aspectos.

1.3 – Discussão

Inicialmente o filme-experimento mostra que a lâmpada apenas acende

se houver contato elétrico entre os eletrodos que estão conectados á rede

elétrica. Como pode ser visto na figura 1, esse contato é feito com um

condutor metálico ligando os eletrodos. É interessante, neste momento, o

professor perguntar aos alunos se é possível fazer a lâmpada acender

utilizando-se outros materiais para fazer o contato.

A próxima cena, figura 2, mostra que a água pura não é capaz de

estabelecer uma conexão elétrica entre os eletrodos, suficiente para que a

lâmpada se acenda. Para que haja a condução de corrente elétrica, existe a

necessidade de íons façam o transporte da carga elétrica entre os terminais, e

na água pura a quantidade de íons é pequena. A concentração de íons pode ser

obtida pelo valor da constante de ionização da água16 pura, Kw, que à 25 °C é

Page 107: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

89

de 1,008 x 10-14, mostrando que existem somente poucas moléculas de água

dissociadas (1 x 10-7 moléculas dissociadas em 1 litro de água).

Figura 16: Cena que mostra o uso do condutor metálico, permitindo a passagem de corrente elétrica e o acendimento da lâmpada.

Neste momento, o professor pode fazer uma comparação entre as duas

situações e questionar alunos sobre a possibilidade de se adicionar alguma

substância à água que a faça conduzir a corrente elétrica e, conseqüentemente,

acender a lâmpada.

Na seqüência do filme-experimento, figura 3, é adicionado açúcar

refinado em um béquer e sal de cozinha em um outro, ambos contendo água

pura. O sal de cozinha, considerado como cloreto de sódio puro, em água sofre

uma dissociação formando os íons Na+(aq) e Cl-(aq), que são responsáveis

pelo transporte de carga elétrica entre os eletrodos levando ao acendimento da

lâmpada.

NaCl(s) + H2O(l) = Na+(aq) + Cl-(aq) (1)

Condutor elétrico

Page 108: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

90

Figura 17: Cena que mostra que apenas água não permite o acendimento da lâmpada.

O açúcar, considerado como sacarose pura, torna-se solúvel devido a

interações do tipo ligação de hidrogênio com a água, mas não forma íons. Sua

dissolução pode ser equacionada como:

C12H22O11(s) + H2O(l) = C12H22O11(aq) (2)

Não existindo íons em solução, a lâmpada essa solução permanece apagada.

Page 109: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

91

Figura 18:Teste de condutância envolvendo uma solução contendo sal de cozinha e outra, açúcar refinado.

Na próxima etapa, o filme-experimento mostra a influência do solvente

em relação à condutância da solução. Neste ensaio, são utilizadas quantidades

iguais de uma mesma substância, o iodeto de sódio, em dois solventes

distintos: água e álcool etílico comercial (96°GL).

Antes de proceder ao teste, são avaliadas as condutâncias da água pura e

do álcool, como mostra a figura 4. A lâmpada não acende em nenhum dos dois

líquidos.

Após a adição do iodeto de sódio aos dois solventes, a solução aquosa á

mostra uma intensidade de luz superior, que é esperado devido à elevada

constante dielétrica da água17, levando a uma maior dissociação do iodeto de

potássio. A constante dielétrica não é o único fator responsável pelo

fenômeno, mas é um dos fatores que influenciam a formação de íons em

solução. A tabela 1 mostra as constantes dielétricas para os dois solventes.

Solução de sal de cozinha

Solução de açúcar

Page 110: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

92

Figura 19: Teste de condutividade elétrica da água pura e do álcool etílico comercial.

Tabela 22: Constante dielétrica para os solventes avaliados no filme-experimento.

Solvente Constante dielétrica

água 78,3

etanol 24,3

Água

Álcool

Page 111: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

93

Figura 20: Teste de condutância elétrica para soluções de iodeto de potássio em água e em etanol comercial, para a avaliação da influência do solvente na

formação de íons.

Na seqüência o filme mostra uma comparação da força de três ácidos

em meio aquoso, também baseado nas intensidades de luz das lâmpadas.

Foram utilizados três ácidos, na mesma concentração: ácido clorídrico, ácido

acético e ácido fórmico.

A intensidade de luz produzida pela lâmpada é proporcional à

quantidade de íons em solução. Neste nível não se fala no fenômeno da

condutância associado ao tamanho dos íons, por isso vamos ignorá-lo nessa

discussão.

Para os ácidos, genericamente, o seguinte equilíbrio pode ser escrito:

HA(aq) + H2O(l) = H3O+(aq) + A-(aq) (3)

Água Álcool

Page 112: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

94

onde HA é o ácido e A- sua base conjugada. Sendo a expressão da constante

de equilíbrio químico (simplificada), e em termos de concentração

representada por:

HA][]A][OH[ -

3a

+

=K (4)

O valor da constante de dissociação (Ka), revela a intensidade da

dissociação do ácido em água, em outras palavras, dá informações sobre a sua

força. A tabela 2 fornece os valores de constantes de dissociação dos ácidos

selecionados para o filme-experimento.

Tabela 23: Valores de constantes de dissociação dos ácidos, clorídrico, fórmico e acético em água a 298 K.18

Ácido Constante de dissociação (Ka)

clorídrico 1 x 107

fórmico 1,8 x 10-4

acético 1,4 x 10-5

A intensidade de luz produzida pelas lâmpadas, figura 6, reflete o que é

mostrado na tabela 2. Isto é, a intensidade de luz é diretamente proporcional

ao Ka de cada ácido e conseqüentemente à sua força.

Page 113: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

95

Figura 21: Teste de condutividade utilizado para avaliar a força dos ácidos: acético, fórmico e clorídrico em meio aquoso.

Na última etapa o filme mostra a força relativa de duas bases, hidróxido

de sódio e amônia aquosa, à mesma concentração (1 mol dm-3), em água, de

acordo com a intensidade de luz das lâmpadas.

Para as bases, a seguinte equação pode ser usada para descrever seu

comportamento, relativamente ao equilíbrio de ionização:

B(aq) + H2O(l) = HB+(aq) + OH-(aq) (5)

onde B é a base e HB+ o seu ácido conjugado. Sendo sua expressão de

equilíbrio:

B][]OH][[HB -

b

+

=K (6)

que é a constante de dissociação das bases (Kb).

Ácido Clorídrico

Ácido Fórmico

Ácido Acético

Page 114: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

96

Como descrito anteriormente, o valor da constante de ionização (ou

dissociação), indica o quanto a base está dissociada e conseqüentemente sua

força (entenda-se força aqui, como sinônimo de porcentagem de moléculas

dissociadas, expressão bastante comum em cursos introdutórios de química e

também no ensino médio).

A intensidade de luz que se observa nas lâmpadas, figura 7, é

proporcional a quantidade de íons em solução (é importante ressaltar, que

neste nível, outros fatores que influenciam a condutância da solução não são

considerados como, por exemplo, associações iônicas e o tamanho dos íons),

assim, quanto maior valor da constante de dissociação, mais intensa é a

intensidade da luz, o que está de acordo com o que mostra o filme: a lâmpada

relativa à solução de NaOH mostra uma intensidade de luz superior da solução

de NH3. A tabela 3, mostra as constantes de dissociação das bases analisadas.

Figura 22: Teste de condutividade utilizado para avaliar a força de bases.

Solução de amônia ou Hidróxido de amônio

Hidróxido de sódio

Page 115: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

97

Tabela 24: Constante de dissociação de bases em solução aquosa à 298 K.20

Base Constante de dissociação (Kb)

hidróxido de sódio(NaOH) 4

hidróxido de amônio(NH3)* 1,71 x 10-5

* O professor pode usar hidróxido de amônio sem problemas, mas deve

lembrar que não é forma correta, já que a molécula do hidróxido de amônio

nunca foi detectada.

Page 116: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

98

2– Eletrólise 2.1 – Objetivo

O objetivo deste experimento é mostrar que processos químicos

ocorrem quando a corrente elétrica atravessa uma solução. A solução

escolhida para tal, é a de iodeto de potássio que, quando eletrolisada, forma

um produto colorido (I2) em solução e o gás hidrogênio H2 que é coletado.

Espera-se, também, que esse experimento forneça subsídios para o

entendimento de processos de oxidação e redução, exemplifique cálculos

estequiométricos, possibilite a aplicação da equação de estado do gás ideal

além de possibilitar o cálculo da carga do elétron.

2.2 – Introdução

A eletrólise é um processo não espontâneo, que ocorre quando uma

reação química surge devido à passagem de corrente elétrica por uma

substância ou misturas de substâncias no estado líquido. Para se realizar uma

eletrólise, são necessários dois eletrodos, um positivo (ânodo) e um negativo

(cátodo), que são imersos no líquido que será eletrolisado, conectados a uma

fonte de corrente elétrica, geralmente contínua.16

A substância a ser eletrolisada deve ser um eletrólito, um líquido que

contém íons positivos e negativos para que a corrente elétrica possa fluir pelo

sistema.14

Existem dois tipos de eletrólitos: uma solução formada por um soluto

que produza íons quando em presença do solvente, como o iodeto de potássio

Page 117: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

99

em água - substância que foi utilizada nesse filme - e um outro tipo, onde o

líquido eletrólito é um composto iônico no estado líquido.

Durante a eletrólise, as espécies presentes se movem para os eletrodos,

onde sofrem reações de oxidação (perda de elétrons) e de redução (ganho de

elétrons).

2.3 - Discussão

No cátodo, na eletrólise que ocorre no filme-experimento, as possíveis

semi-reações, que poderiam ocorrer, são:

K+(aq) + e- → K(s) (8)

2H+(aq) + 2e- → H2(g) (9)

2H2O(l) + 2e- → H2(g) + 2OH-(aq) (10)

Para definir qual espécie será reduzida é necessário avaliar o potencial

de redução das substâncias em solução, nas concentrações em que se

encontram. Simplificadamente, podemos começar a raciocinar com o

potencial padrão de eletrodo de redução das várias espécies. Para o cátion

potássio (Eθ= -2,93 V) é muito baixo comparativamente ao do íon H+(Eθ= 0

V), no entanto como existe uma concentração muito pequena desse último em

solução, o que ocorre, preferencialmente, é a redução da água (Eθ= -0,83V).

Portanto, a semi-reação que ocorre no cátodo é:

Page 118: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

100

2H2O(l) + 2e- → H2(g) + 2OH-(aq) (11)

No ânodo, as possíveis semi-reações são:

4OH-(aq) → O2(g) + 2H2O(l) + 4e- (12)

2H2O(l) → O2(g) + 4H+(aq) + 4e- (13)

2I-(aq) → I2(s) + 2e- (14)

Analisando-se os potenciais padrão de eletrodo para a oxidação é o

ânion OH-(Eθ= - 0,40 V), portanto, a mais fácil de ser oxidada. No entanto,

sua concentração é muito baixa. Comparando-se a oxidação da água (Eθ= -

1,23 V) e a do iodeto (Eθ= - 0,54 V), a segunda é favorecida devido ao seu

menor valor.No ânodo a reação que ocorre é:

2I-(aq) → I2(s) + 2e- (15)

A equação global do processo é:

2I-(aq) + 2H2O(l) → H2(g) + I2(s) + 2OH-(aq) (16)

Observação: o raciocínio correto para se verificar que espécies estariam

sofrendo preferencialmente a eletrólise, deveria ser feito pelo cálculo do

potencial de cada espécie nas condições do experimento (concentração),

Page 119: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

101

utilizando-se a equação de Nernst, o que não é um assunto abordado no ensino

médio.

Uma possibilidade de uso desse experimento é a determinação da carga

do elétron, para isto a solução de iodeto de potássio foi eletrolisada durante

tempo suficiente para formação de um volume apreciável de gás. A figura 8

mostra o volume formado de gás hidrogênio no final do processo.

Figura 23: Volume final de hidrogênio formado na eletrólise da solução de KI.

O volume de gás produzido é diretamente proporcional ao tempo e à

corrente que flui pelo sistema, sendo, portanto, proporcional ao número de

elétrons que circularam pelo sistema, na formação do gás.

Conseqüentemente, a carga do elétron pode ser encontrada fazendo-se

uso da estequiometria da reação e da equação de estado de um gás ideal.

A quantidade de hidrogênio gasoso formada é dado pela equação de

estado:

TRVP

n 2

2

HH = (17)

Page 120: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

102

onde PH2 ,V e T é a pressão (Pa), o volume (m3) e temperatura (K) do gás

coletado.

Os moles de elétrons, que fluem pelo circuito em um dado tempo, é

dado por

eNtIn

Ae- = (18)

onde I,t, NA e e representam a corrente elétrica em ampère, e o tempo em

segundos, constante de Avogadro (6,022 x 1023 mol-1) e a carga do elétron (1,6

x 10-19 C), respectivamente.

A relação estequiométrica é:

2- He 2nn = (19)

Combinando-se as três expressões, fica

VPNTRtI

A 2H2e = (20)

Considerando os objetivos deste trabalho, foi considerado a pressão de

hidrogênio, PH2, como sendo

atmH PP =2

(21)

Com maior rigor, deve-se considerar a pressão de vapor da água e a

pressão da coluna de água. E a expressão ficaria da seguinte maneira:

Page 121: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

103

águacoluna de guavapor de áatmH PPPP −−=2

(22)

Outra possibilidade de utilização deste experimento é a comparação

entre o volume formado de gás hidrogênio e o volume esperado. Para isto,

utiliza-se a equação 66, substituindo-se o valor da carga do elétron (1,6 x 10-19

C)16.

Acreditamos que seja importante que o professor, no instante anterior à

aplicação do filme-experimento, alerte os alunos para anotarem possíveis

grandezas e os fenômenos que estão ocorrendo no decorrer do experimento,

como a mudança da cor da solução, a saída de solução pelo orifício da rolha.

O próximo tópico traz quais são os dados que deverão ser anotados pelos

alunos e qual o encaminhamento necessário para a determinação da carga do

elétron e do volume esperado de gás hidrogênio formado na eletrólise.

2.4 - Dados experimentais e cálculos

A tabela 4 apresenta as condições experimentais em que foi realizada a

eletrólise da solução de iodeto de potássio.

Tabela 25: Condições experimentais em que foi realizada a eletrólise da solução de iodeto de potássio.

Corrente elétrica média / mA 50

Tempo total / s 990

Volume de Hidrogênio / mL 7,0

O valor de corrente utilizado nos cálculos corresponde a um valor médio.

Durante o filme-experimento a corrente variou entre 48 e 51 mA.

Page 122: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

104

A figura 9 apresenta os equipamentos utilizados neste experimento.

Figura 24: Equipamento utilizado na eletrólise.

2.4.1 - Determinação da carga do elétron Para se calcular a carga do elétron a partir dos dados experimentais, será

utilizada a equação 20. Com os dados que podem ser observados no filme-

experimento tem-se:

C10 x 5,1)m 10 x (7 x Pa) (95192 x )10 x (6,022 x 2

K) (298,15 x )molKm Pa (8,314 x (990) x A)10 x (50e 19-36-23

-1-13-3

==

Neste cálculo foi considerado que a temperatura do gás é igual a ambiente

(298,15 K) e a pressão de hidrogênio (Pressão atmosférica) como sendo 95192

Pa. Como se trata de um roteiro para o professor do ensino médio, a pressão

parcial de hidrogênio foi considerada igual à atmosférica. Corretamente o seu

Amperímetro

Coletor de gás

Cronômetro

Fonte de corrente contínua

Eletrodos

Page 123: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

105

valor seria obtido considerando-se a pressão de vapor da solução e a pressão

da coluna de solução.

2.4.2 - Determinação do volume esperado de gás hidrogênio ao final da

eletrólise

Uma outra possibilidade de uso deste filme-experimento é calcular o

volume esperado de gás hidrogênio que deveria ser formado e compará-lo

com o volume obtido experimentalmente. Para realizar este cálculo, utiliza-se

a mesma equação 20, mas substituindo o valor da carga do elétron por 1,6 x

10-19 C. O volume esperado de gás hidrogênio, nestas condições, é:

3619-23

-1-13-3

m107,6)10 x (1,6 x Pa) (95192 x )10 x (6,022 x 2

K) (298,15 x )molKm Pa (8,314 x (990) x A)10 x (50V −== xC

Além das duas propostas de utilização do filme-experimento, o

professor pode utilizar a mesma equação 20, para calcular a constante de

Avogadro. Para isto, basta substituir os valores da tabela 4 e a valor da carga

do elétron.

O filme também possibilita obterem-se os volumes de gás em função do

tempo de eletrólise e as medidas de corrente. A construção de uma curva de

corrente em função do tempo e a correlação entre as áreas sob essa curva e a

relação com o volume de gás a cada intervalo, é uma possibilidade real de se

mostrar como os dados experimentais podem ser tratados.

Durante a eletrólise, a solução eletrolítica vai adquirindo uma coloração

castanha, isto ocorre porque está sendo formando o iodo (I2), que dissolvido

em água origina essa cor. O professor pode realçar este fato, mostrando aos

Page 124: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

106

alunos, através da cena mostrada na figura 10, que o iodo reage com o amido

presente no papel, formando uma substância de coloração azul.

Figura 25: Teste colorimétrico qualitativo para detectar a presença do iodo que se forma na eletrólise da solução de iodeto de potássio.

É comum no ensino médio realizarem-se os cálculos anteriores,

utilizando-se outras unidades de pressão e volume, a tabela 26 dá alguns

fatores de conversão entre essas unidades.

Tabela 26: Relação entre as unidades de pressão e volume utilizadas nos cálculos.

pressão 1 atm 101325 Pa

volume 1 mL 10-6 m3

Page 125: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

107

3 – Calorimetria 3.1 – Objetivo A proposta deste filme-experimento é mostrar que o processo de

dissolução de uma substância em água envolve uma troca de energia, e que

esta pode ser quantificada através de um método simples. Pretende-se,

também, que o experimento forneça subsídios para possibilitar ao aluno, o

entendimento da grandeza termodinâmica: entalpia de reação.

3.2 – Introdução

A termodinâmica esta baseada em experimentos onde a energia é

transformada de uma forma para outra e transferida de um lugar para outro.

Para obter informações sobre a energia, o todo é dividido em duas partes. A

região de interesse, tal como um recipiente com um gás, um copo com água ou

uma mistura reacional, é chamada de sistema. Tudo, excluindo o sistema, é

chamado de vizinhança. É na vizinhança que são feitas as observações sobre a

energia transferida ou absorvida pelo sistema.16

A grandeza fundamental em termodinâmica, que se relaciona ao

processo e não aos estados dos sistemas, no sentido de que fornece uma base

para a definição de seu principal conceito, é o trabalho.20 Em termodinâmica,

a capacidade total de um sistema realizar trabalho é chamada de energia

interna, U.16

Não é possível medir a energia total de um sistema, mas sim as suas

variações num processo ou transformação. A variação de energia interna de

um sistema pode ser calculada conhecendo-se o trabalho realizado e o calor

Page 126: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

108

trocado com a vizinhança. Assim, de uma forma geral a primeira lei pode ser

genericamente apresentada pela equação:

∆U = q + w (23)

onde as energias cinética e potencial permanecem constantes.

A energia interna de um sistema pode também ser alterada pela

transferência de energia de, ou para, o ambiente como calor.

A primeira lei da termodinâmica implica que a energia é conservada em

qualquer processo. Qualquer energia que deixa um sistema como calor precisa

terminar na vizinhança e vice-versa.16

As transferências de energia, como calor, são medidas em um

calorímetro, figura 11, um dispositivo que monitora as mudanças na

temperatura. Um calorímetro simples consiste de um recipiente contendo uma

mistura reacional, um agitador e um termômetro. Entretanto, versões mais

elaboradas e mais precisas estão disponíveis.20

Figura 26: Calorímetro utilizado no filme-experimento.

Page 127: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

109

3.3 – Discussão

Neste filme-experimento, são realizadas duas dissoluções. Uma

dissolução que libera energia (exotérmica), o que provoca um aumento de

temperatura e outra que absorve energia (endotérmica) resultando na

diminuição de temperatura do ambiente. A dissolução exotérmica é do

carbonato de sódio (Na2CO3) e a endotérmica do cloreto de amônio (NH4Cl),

ambos em água.

Nestas dissoluções, a variação na temperatura é proporcional à

transferência de energia e à constante de proporcionalidade, denominada de

capacidade calorífica do calorímetro.

Para calcular a energia liberada ou absorvida nestas dissoluções, utiliza-

se a seguinte relação:

q = C ∆T (24)

onde q é a quantidade de calor absorvida ou liberada, ∆T é a variação de

temperatura observada e C é uma constante daquilo que denominamos como

vizinhança. Para os propósitos do ensino médio, o que se faz é substituir essa

constante C por m c, onde m é a massa da água somada à massa do sólido

adicionado e c o calor específico da água. É importante observar que essa

substituição de valores leva a resultados próximos ao esperado, mas são

aproximações que só devem ser feitas para fazer a transposição do conteúdo

científico para o nível didático, sendo muito comum nos livros do ensino

médio.

Page 128: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

110

Como o processo ocorre à pressão constante, a quantidade de calor é

igual à variação de entalpia no processo de dissolução, porém com sinal

invertido:

∆H = - q (25)

Para encontrar a variação de entalpia para 1 mol, pode-se aplicar:

nHH ∆=∆ sol (26)

onde ∆H é a variação de entalpia envolvida no processo de dissolução e

calculada com a equação 24 e 25.

As equações químicas que representam os processos de dissolução dos sais são as seguintes:

Na2CO3(s) + x H2O(l) = (Na2CO3.x H2O)(sol) (27)

NH4Cl(s) + x H2O(l) = (NH4Cl.x H2O)(sol) (28)

onde x representa a quantidade estequiométrica de água envolvida na

dissolução de um mol de soluto. É importante lembrar que a energia liberada

ou absorvida nesses processos de dissolução varia em função da concentração

final da solução.

Acreditamos que seja importante que o professor, no instante anterior à

aplicação do filme, alerte seus alunos para anotarem os valores de grandezas e

as observações sobre os fenômenos que estão ocorrendo durante o

experimento.

Page 129: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

111

O próximo tópico relata que dados deverão ser anotados pelos alunos e

o tratamento matemático necessário para a determinação da energia envolvida

nos dois processos.

3.4 - Dados experimentais e cálculos

A figura 12 mostra todo o equipamento utilizado neste experimento.

Figura 27: Equipamentos utilizados no filme-experimento.

As tabelas 6 e 7 indicam os dados experimentais retirados do filme para as

duas dissoluções.

Bloco de isopor

Agitador magnético

Vaso calorimétrico

Termômetro

Page 130: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

112

Tabela 27: Dados experimentais retirados do filme para a dissolução do carbonato de sódio em água.

Volume de água destilada / mL 100

Temperatura inicial / °C 20,5

Temperatura final / °C 24,1

Massa de Na2CO3 / g 6,448

Tabela 28: Dados experimentais retirados do filme para a dissolução do cloreto de amônio em água.

Volume de água destilada / mL 100

Temperatura inicial / °C 18,6

Temperatura final / °C 15,0

Massa de Na2CO3 / g 5,357

3.4.1 - Determinação da energia envolvida na dissolução do carbonato de

sódio

Para determinar a energia envolvida neste processo utiliza-se, em

primeiro lugar, a equação 24. Substituído os valores experimentais presentes

na tabela 6, obtém-se:

∆H = - q = - (100 g + 6,448 g) x 4,184 J °C-1 g-1 x 3,6 °C = -1603,4 J ou -1,6034 kJ

Observe que a variação de entalpia é da reação e o calor é calculado pelo

aquecimento de todo o conteúdo do vaso da reação, por isso têm sinais

opostos. A reação é exotérmica o que é justificado pelo sinal do valor de ∆H a

ser calculado.

Page 131: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

113

Calculando para 1 mol de carbonato de sódio, utilizando a equação 26, fica:

1-sol mol kJ29,26

mol 0,061kJ 1,6034 −==∆ H

Para encontrar o valor de entalpia para 1 mol, o valor de energia, ∆H,

foi dividido quantidade de matéria (mol) de sal adicionado. A massa molar do

carbonato de sódio é de 105,99 g mol-1.

3.4.2 - Determinação da energia envolvida na dissolução do cloreto de amônio

Utilizando os dados da tabela 7 e procedendo como no cálculo anterior:

∆H = -q = (100 g + 5,357 g) x 4,184 J °C-1 g-1 x 3,6 °C = 1586,9 J ou 1,5869 kJ

1-sol mol kJ87,15

mol 0,1kJ 1,5869 ==H∆

O valor de 0,1 mol de cloreto de amônio foi encontrado dividindo-se a

massa adicionada do sal pela sua respectiva massa molar (53,49 g mol-1).

Nos cálculos envolvendo as duas dissoluções, considerou-se a

densidade da água como 1,0 g cm3-, de modo que o volume de água

adicionado equivale a 100 gramas, sendo o calor específico da solução, igual

ao da água pura (4,184 J °C-1 g-1).

Page 132: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

114

4- Propriedades coligativas 4.1 - Objetivo

O objetivo deste experimento é demonstrar quantitativamente o

abaixamento do ponto de fusão da água na presença de um soluto, procurando

evidenciar que esse comportamento está relacionado exclusivamente ao

número de partículas de soluto presente (independente de sua natureza

química) por uma quantidade de solvente.

4.2 - Introdução

Historicamente, as propriedades coligativas foram ferramentas

poderosas para o entendimento da química de soluções e, especialmente, para

a determinação de massas molares.28

As propriedades coligativas referem-se a quatro efeitos característicos

de soluções diluídas (abaixamento crioscópico, pressão osmótica, elevação do

ponto de ebulição e abaixamento da pressão de vapor), cujos comportamentos

são correlacionados e unidos pelo fato de dependerem do número de partículas

de soluto presente (independente de sua natureza química) em uma dada

quantidade de determinado solvente.16

Todos esses efeitos têm em comum o fato do potencial químico do

solvente no estado líquido ser diminuído na presença de um soluto (solução no

estado líquido), de tal forma que o equilíbrio com a fase vapor (para solutos

não-voláteis) ou com a fase sólida seja estabelecido em condições diferentes

daquele que se estabelece quando o solvente é puro.28

O abaixamento crioscópico do solvente ocorre porque o potencial

químico do líquido na solução é menor que o do líquido puro, enquanto que o

Page 133: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

115

da fase sólida (que está pura) permanece o mesmo. Dessa forma, para que o

equilíbrio entre as duas fases (solução e sólida) se estabeleça, a temperatura

deve ser menor do que aquela para a substância pura.16

A água pura congela a 0 °C à pressão de 1 bar. Se um mol de partículas

é adicionado a 1 kg de água, o ponto de fusão da água diminui para –1,86 °C,

na mesma pressão. Este valor é conhecido como constante crioscópica e é uma

característica da água. Cada substância tem o seu valor de constante.

A relação entre a concentração de partículas do soluto e o abaixamento

crioscópico é dado por:16

mKT f =∆ (29)

onde ∆T, m e Kf são, respectivamente, o abaixamento crioscópico, a

molalidade da solução e a constante crioscópica do solvente. A molalidade é

definida como a quantidade de matéria (mol) do soluto em 1 quilograma do

solvente.

4.3 – Discussão

Neste filme-experimento, para demonstrar quantitativamente o

abaixamento do ponto de fusão da água na presença de solutos iônicos e

moleculares é utilizado o aparato experimental mostrado na figura 13.

Page 134: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

Figura 28: Aparat

O banho ref

variação de temper

uma agitação cons

agitação magnética.

Na primeira

congelamento da ág

do solvente pela ad

é o açúcar, que

constituído, apenas

experimento, é estu

caso foi escolhido o

sendo exclusivamen

Nos três exp

agitação mecânica

Nos três casos o d

Sensor de temperatura

Termômetro

Banho refrigerante

116

o utilizado no estudo do efeito coligativo do abaixamento crioscópico da água.

rigerante é constituído de gelo picado e sal grosso e a

atura é detectada por um termômetro digital. Para garantir

tante e uniforme da solução sob estudo, utiliza-se uma

parte do filme-experimento, é determinado o ponto de

ua pura. Logo em seguida a temperatura de congelamento

ição de um soluto molecular. O soluto utilizado neste caso

para efeitos de cálculo será considerado como sendo

, por sacarose (C12H22O11). Na última etapa do filme-

dado o efeito da adição de um soluto iônico à água, no

sal de cozinha que, nos cálculos, será considerado como

te cloreto de sódio (NaCl).

erimentos que se observam no filme, apesar da elevada

empregada, apareceram efeitos de super-congelamento.

ecréscimo da temperatura supera o valor esperado e no

Agitador magnético

Page 135: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

117

momento da solidificação, ela repentinamente volta a subir, permanecendo

constante nesse novo patamar. Esse fenômeno ocorre quando se retira energia

rapidamente de um líquido e este se resfria abaixo da sua temperatura de

fusão. Ocorre a formação de um estado metaestável, que se origina pelo fato

de o resfriamento ter sido muito rápido, não permitindo a formação de um

ponto de nucleação que irá dar início ao congelamento. Com a ocorrência do

fenômeno, o cristal inicial não se forma e as moléculas ficam em um estado de

equilíbrio semi-estável, até que ocorra uma perturbação do equilíbrio. Nesse

momento um cristal se forma e o líquido se congela rapidamente, aumentando

a sua temperatura e liberando energia. A figura 14, mostra o fenômeno do

super-congelamento que ocorreu para as soluções.

Figura 29: Cenas que mostram o fenômeno do super-congelamento, que ocorreu nas soluções.A figura superior corresponde à solução que continha sacarose como soluto. A inferior corresponde à solução contendo cloreto de

sódio.

Acreditamos que seja importante o professor, no instante anterior à

aplicação do filme, alertar os alunos para anotarem as variações de

Page 136: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

118

temperatura, principalmente quando esses valores começam a se aproximar do

zero e depois disso.

O próximo tópico traz os dados experimentais importantes de serem

anotados pelos alunos e como podem ser usados no estudo.

4.4 - Dados experimentais e cálculos

As tabelas 8 e 9 mostram alguns dados experimentais referentes às

determinações das temperaturas de congelamento das soluções presentes no

filme-experimento.

Tabela 29: Dados experimentais referentes à determinação da temperatura de congelamento de uma solução contendo um soluto molecular dissolvido.

Massa de água / g 10,020

Massa de açúcar / g 3,7559

Ponto de congelamento da água pura / °C 0,01

Ponto de congelamento da solução / °C -1,9

Tabela 30: Dados experimentais referentes à determinação da temperatura de congelamento de uma solução contendo um soluto iônico dissolvido.

Massa de água / g 10,178

Massa de sal de cozinha / g 0,7024

Ponto de congelamento da água pura / °C 0,01

Ponto de congelamento da solução / °C -3,7

Page 137: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

119

4.4.1 - Cálculo do efeito crioscópico esperado para o soluto molecular

(sacarose)

Para a previsão da temperatura de congelamento, utilizando os dados da

tabela 8, calcula-se a molalidade, m, da solução, e a substitui na equação 29. A

molalidade é encontrada dividindo-se a quantidade em mol de sacarose, por

quilograma de água. A constante crioscópica para água vale 1,86 °C kg mol-1.

1-3-

1-

kg mol 01,1kg 10 x 10,020

mol g 342,30g 3,7559

==m

C 1,9 )kg mol (1,01 x )mol kg C (1,86 -1-1 °° ==∆T

4.4.2 - Cálculo do efeito crioscópico esperado para o soluto iônico (cloreto de

sódio

Para a previsão da temperatura de congelamento para a solução iônica,

utiliza-se os dados presentes na tabela 9:

1-3-

1-

kg mol 38,2kg 10 x 10,178

mol g 58,440g 0,7024

2 ==m

C 4,42- )kg mol (1,19 x )mol kg C (1,86 T -1-1 °° ==∆

Os efeitos coligativos dependem exclusivamente do número de

partículas em solução. Quando se utiliza um eletrólito forte como o cloreto de

Page 138: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

120

sódio ou o sal de cozinha, espera-se que este produza um efeito coligativo

duas vezes maior que o soluto não dissociado, na mesma concentração molal.

Nesse experimento o valor esperado era de -4,42 °C, enquanto que para a

sacarose era de -1,9 °C, considerando-se as soluções como diluídas, onde a

equação 1 é válida. Para soluções concentradas, as interações entre partículas

são importantes, o que faz com que a equação 29 não seja totalmente válida.

Para o NaCl, essas interações são mais pronunciadas, tanto pela concentração

como pela natureza das partículas: os íons não se movem livremente e podem

se unir para formar pares iônicos e agregados com pequeno número de íons e,

portanto, a atividade desses íons é menor que a molalidade utilizada nos

cálculos e os efeitos coligativos calculados são menores que os esperados.

Isso também podia ser esperado para a sacarose, no entanto a diferença

entre a atividade e a molalidade nesse caso é menor, de modo que a diferença

entre os valores calculado e esperado, também é menor e a sensibilidade do

termômetro não foi suficiente para detectá-la.

Page 139: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

121

5 – Solubilidade

5.1 – Objetivo

O objetivo deste experimento é determinar, através de um método

experimental simples, a solubilidade de dois sólidos em água, e mostrar a

dependência dessa solubilidade em relação à temperatura.

5.2- Introdução

O conceito de solubilidade em química é extremamente importante, pois

trata-se da base de inúmeros processos laboratoriais e industriais que servem

para preparar, separar e purificar diversas substâncias químicas, sendo

também o fator de restrição em vários fenômenos geológicos e outros

processos naturais.

Quando o limite de solubilidade de um soluto em dado solvente é

atingido, diz-se que essa solução é saturada. O valor da concentração no

equilíbrio, ou seja, da concentração de saturação é chamado de solubilidade,

geralmente expressa em massa de soluto por 100 gramas do solvente a uma

determinada temperatura ou na forma de uma constante de equilíbrio

simbolizada por Kps ou Ks e permite-nos dizer, qualitativamente, se a

substância é muito solúvel, pouco solúvel ou insolúvel.

Essa solubilidade depende de vários fatores, tais como a natureza do

soluto e do solvente, o tipo de interações químicas que ocorre entre eles, a

forma da molécula, o pH do meio, temperatura, entre outros.

Vários fatores relacionados às forças de interação podem cumprir um

papel decisivo na solubilidade de solutos em solventes: a presença de dipolos

Page 140: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

122

nas moléculas do solvente, a constante dielétrica do solvente, sua capacidade

de formar ligações de hidrogênio. Uma constante dielétrica elevada, como

aquela encontrada em solventes polares, por exemplo, reduz as interações

atrativas entre íons de carga oposta no sólido. Já solventes apolares, de baixa

constante dielétrica, as interações atrativas iônicas do soluto não são superadas

pelas interações soluto-solvente, e o sólido iônico dissolve em pequena

extensão.

5.3 – Discussão

Neste filme-experimento, é avaliada a solubilidade do cloreto de

potássio (KCl) e do dicromato de potássio (K2Cr2O7) em água, à temperatura

ambiente e a 50 °C. Na primeira parte do filme soluções aquosas saturadas de

cloreto de potássio e de dicromato de potássio, são mantidas sob agitação

magnética por certo tempo como mostra a figura 15, para o cloreto de

potássio.

Após a saturação uma parte, cerca de 15 cm3, do sobrenadante de cada

uma das soluções é transferida para um béquer de 100 cm3 previamente

pesado, como, também mostra o filme. Os conjuntos, béqueres mais

sobrenadantes, são pesados e colocados sobre uma placa de aquecimento para

eliminar toda a água presente e secar os sólidos. A figura 16 mostra uma cena

do processo de eliminação da água presente nas duas soluções.

Page 141: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

123

Figura 30: Cena que mostra a solução aquosa saturada de cloreto de potássio.

Após a eliminação de toda a água, os béqueres são colocados em um

dessecador e posteriormente são pesados.

Há que se explicitar aqui que, na determinação da solubilidade à

temperatura de 50 °C, foram utilizados pesa-filtros no recebimento das

soluções sobrenadantes para evidenciar que o líquido quente deveria ser

resfriado antes da pesagem e que não se permitiu a vaporização da água. Esse

procedimento também deveria ser observado para as medidas à temperatura

ambiente, mas verificamos que a variação de massa, nesse caso não aparecia

na balança. Entretanto, como é preciso esperar o resfriamento da solução

durante um bom tempo antes da pesagem e pelo fato de que a vaporização da

água é mais pronunciada na temperatura de 50 °C, o uso do pesa-filtro,

apenas, nesses casos se justifica. Acreditamos que esse é um aspecto

importante que deve ser observado, mas pensamos que o professor deve deixar

que os estudantes percebam ou comentem essa diferença. O filme permite essa

observação já que procura mostrar a formação de sólido antes da pesagem.

Page 142: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

124

Acreditamos que seja importante o professor, no instante anterior da

aplicação do filme-experimento, alertar os alunos para anotarem as medidas

de massa e temperatura, observando também outros aspectos do experimento.

O próximo item traz os dados que deverão ser anotados pelos alunos e

como se fazem as determinações de solubilidade dos sais nas diferentes

temperaturas.

Figura 31: Cenas que mostram dois momentos do processo de eliminação da água para as duas soluções sobrenadantes na determinação de solubilidade à

temperatura ambiente.

Page 143: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

125

5.4 - Dados experimentais e cálculos

As tabelas 10, 11, 12 e 13 mostram os dados experimentais obtidos nos

experimentos presentes no filme.

Tabela 31: Dados experimentais para a determinação da solubilidade do K2Cr2O7 à temperatura ambiente.

Massa do béquer / g 51,4310

Massa do béquer + solução / g 64,0950

Massa do béquer + sólido / g 52,8910

Tabela 32: Dados experimentais para a determinação da solubilidade do KCl à temperatura ambiente.

Massa do béquer / g 56,2390

Massa do béquer + solução / g 73,5230

Massa do béquer + sólido / g 60,6130

Tabela 33: Dados experimentais para a determinação da solubilidade do K2Cr2O7 à 50 °C.

Massa do pesa-filtro / g 44,1760

Massa do pesa-filtro + solução / g 59,0860

Massa do béquer + sólido / g 47,9530

Page 144: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

126

Tabela 34: Dados experimentais para a determinação da solubilidade do KCl à 50 °C.

Massa do pesa-filtro / g 42,7730

Massa do pesa-filtro + solução / g 56,8800

Massa do béquer + sólido / g 47,0080

5.4.1 - Determinação da solubilidade do K2Cr2O7 à temperatura ambiente

Para encontrar a massa de sal presente na solução saturada basta subtrair

a massa do conjunto (béquer + sólido) da massa do béquer. Nesse caso obtém-

se 1,4600 g de dicromato de potássio. A segunda etapa do cálculo é encontrar

a massa de água presente na solução, e para isso subtrai-se a massa do béquer

da massa do conjunto (béquer + solução), que resulta em 12,6640 g de

solução. Essa massa corresponde à soma das massas do dicromato e da água.

Subtraindo-se a massa do dicromato da massa de solução, encontram-se

11,2040 g, que correspondem à massa de água na solução sobrenadante

saturada. É comum apresentar a solubilidade para 100 g de água. Fazendo-se

essa relação para 100 g de água, obtém-se 13,03 gramas de dicromato de

potássio para 100 gramas de água.

Page 145: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

127

5.4.2 - Determinação da solubilidade do KCl na temperatura ambiente

Utilizando-se raciocínio utilizado para o dicromato e os dados da tabela

11, relativos ao cloreto de potássio, obtêm-se os resultados da tabela 14.

Tabela 35: Resultados obtidos na determinação da solubilidade do KCl à temperatura ambiente.

Massa do sal / g 4,3740

Massa da solução / g 17,2840

Massa de água / g 12,9100

Solubilidade / g / 100 g água 33,88

5.4.3 - Determinação da solubilidade do K2Cr2O7 à 50 °C

Utilizando o mesmo raciocínio das determinações anteriores e

utilizando os dados relativos ao dicromato de potássio à 50 °C (tabela 12),

obtêm-se os resultados na tabela 15.

Tabela 36: Resultados obtidos na determinação da solubilidade do K2Cr2O7 à 50 °C.

Massa do sal / g 3,7770

Massa da solução / g 14,9100

Massa de água / g 11,1330

Solubilidade / g / 100 g água 33,93

Page 146: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

128

5.4.4 - Determinação da solubilidade do KCl à 50 °C

Utilizando o mesmo raciocínio da determinação anterior e utilizando os

dados relativos ao cloreto de potássio presentes na tabela 13, segue os

resultados na tabela 16.

Tabela 37: Resultados obtidos na determinação da solubilidade do KCl à 50 °C.

Massa do sal / g 4,2350

Massa da solução / g 14,1070

Massa de água / g 9,8720

Solubilidade / g / 100 g água 42,90

Caso o professor queira fazer uma comparação com os valores da literatura,

estes estão na tabela 17.

Tabela 38: Valores de solubilidade conforme literatura41 para os dois sais utilizados no filme-experimento.

Substância Solubilidades em

(g / 100 g H2O)

20°C

Solubilidades em

(g / 100 g H2O)

50°C

KCl 34,0 (33,88*) 42,6 (42,09*)

K2Cr2O7 12,2 (13,03*) 37,2 (33,93*)

* valores experimentais obtidos pelo filme.

Page 147: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

129

6 – Titulação condutométrica

6.1 – Objetivo

O filme tem por objetivo mostrar como se pode fazer a determinação da

concentração de uma solução de ácido sulfúrico através de uma titulação com

uma solução aquosa saturada em hidróxido de bário. A determinação do ponto

final desta titulação é realizada utilizando-se um detector de condutividade

elétrica. Esse experimento, além da riqueza experimental e conceitual

envolvidas, permite que o aluno se familiarize com cálculos estequiométricos,

reações químicas e que perceba que a variação de uma propriedade específica

de um meio, neste caso a condutância elétrica, pode ser utilizada para diversas

finalidades.

6.2 – Introdução

A análise volumétrica ou titulação abrange um grande grupo de

métodos que possuem larga tradição na análise quantitativa. Devido às suas

vantajosas características, elas são usadas em laboratórios como métodos

consagrados, especialmente quando são utilizadas com dispositivos

instrumentais para detecção do seu ponto final.

A titulação é um processo que envolve a adição de pequenas

quantidades de uma das soluções reagentes, com o auxílio de uma bureta, à

outra solução, para se determinar quantidades de uma ou de outra solução.

Dessa forma, para uma das soluções reagentes, a quantidade é conhecida e a

outra é a que se quer conhecer.

Page 148: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

130

Um ponto importante em uma titulação, é detecção do ponto final ou

ponto onde uma estequiometria conhecida é atingida. Esta detecção é feita

utilizando-se indicadores instrumentais ou visuais.

No caso específico desse filme, é possível obterem-se várias grandezas,

entre as quais se podem-se destacar: a concentração de uma solução de ácido

sulfúrico, a constante de solubilidade do hidróxido de bário em água ou a

estequiometria da reação entre ácido sulfúrico e hidróxido de bário. No filme

observa-se uma titulação entre duas soluções: ácido sulfúrico e hidróxido de

bário, utilizando-se como detector do ponto final um dispositivo que monitora

a variação de condutância elétrica do meio reacional através da mudança

gradual na intensidade de luz de uma lâmpada incandescente (figura 17).

Figura 32: Dispositivo utilizado na titulação condutométrica de solução de ácido sulfúrico com solução saturada de hidróxido de bário.

Lâmpada Eletrodos

Agitador magnético

Page 149: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

131

6.3 – Discussão

No início do filme-experimento, é enfatizado que a lâmpada só acende

se houver o contato elétrico entre os eletrodos que fazem parte do dispositivo

de detecção de condutividade. A figura 18, mostra a cena em que isso é

evidenciado.

Figura 33: Acendimento da lâmpada provocado pela colocação de um contato elétrico entre os eletrodos.

Logo em seguida, o condutor metálico é retirado, adicionando-se cerca de 50

mL de água pura ao béquer. A cena, figura 19, mostra que a lâmpada não

acende, o que indica que a água pura não propicia o contato elétrico entre os

eletrodos, suficiente para a passagem de corrente.

Page 150: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

132

Figura 19: Adição de água no detector de condutividade e a lâmpada

permanecendo apagada.

Em seguida, a bureta é preenchida com a solução saturada de hidróxido de

bário (0,123 mol dm-3) e o detector de condutividade recebe 2 mL de ácido

sulfúrico, cuja concentração é o que se quer determinar. No momento da

adição da solução de ácido sulfúrico, a lâmpada começa a acender. Neste

momento, o professor pode pedir aos alunos que proponham uma explicação

para tal observação.A figura 20 mostra tal cena.

Após a adição do ácido ao béquer e da base à bureta, a titulação é

iniciada. Quando o hidróxido de bário começa a gotejar na solução ácida

contida no detector a intensidade de luz da lâmpada diminui, figura 21. Seria

interessante o professor questionar os alunos sobre o porque da intensidade de

luz da lâmpada diminuir gradativamente devido à adição do hidróxido de

bário. Será que está ocorrendo uma reação química? E se estiver, por que

provoca o apagamento da lâmpada? É importante observa que, ao mesmo

tempo que a intensidade luminosa diminui a solução contida no béquer vai se

tornando turva, o que se deve à formação do sulfato de bário pouco solúvel.

Page 151: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

133

Figura 34: Adição de ácido sulfúrico no detector de condutividade e o acendimento da lâmpada.

A reação química entre estas substâncias produz água e sulfato de bário,

este último muito pouco solúvel (Kps =1 x 10-10).

Ba2+(aq) + 2OH-(aq) + 2H+(aq) + SO42-(aq) = BaSO4(s) + 2 H2O(l)

(30)

Devido à diminuição da quantidade de íons para o transporte de carga

elétrica, conforme a reação procede, a condutância da solução vai diminuindo

até o apagamento completo da lâmpada, o que é tomado como indicador do

ponto final da titulação.

Page 152: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

134

Figura 35: Diminuição da intensidade de luz da lâmpada causada pela adição de hidróxido de bário.

O ponto final da titulação ocorre quando o volume de hidróxido de

bário é de 18,0 mL, conforme mostra a figura 22. O professor pode alertar os

alunos sobre a correta maneira de ler um determinado volume na bureta, e que

o menisco da solução adquire esta forma côncava devido às interações entre as

moléculas da água presentes na solução e o vidro que constitui a bureta.

No filme, após a determinação do ponto final da titulação, a adição de

hidróxido de bário é novamente iniciada, figura 23, para demonstrar que o

acendimento da lâmpada depende da presença de substâncias que podem

efetuar o transporte de carga entre os dois eletrodos, e que essa condutividade

não é uma característica exclusiva da substância que estava inicialmente em

solução.

Page 153: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

135

Figura 36: Leitura do volume de hidróxido de bário utilizado na titulação.

Figura 37: Cena mostra que a lâmpada acende novamente devido à adição de solução de hidróxido de bário após o ponto final da titulação.

menisco

Page 154: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

136

6.4 – Dados experimentais e cálculos

A tabela 18 mostra os dados experimentais obtidos a partir do

experimento presente no filme.

Tabela 39: Dados experimentais e concentração do ácido sulfúrico, conforme obtidos pelo filme.

Concentração hidróxido de bário / mol dm-3 1,23 x 10-1 *

Volume da base / mL 18,00

Quantidade de base / mol 2,20 x 10-2

Volume do ácido / mL 2,00

Quantidade de ácido / mol 2,20 x 10-2

Concentração do ácido / mol dm-3 1,107

* o filme não mostra esse dado. Ele pode ser obtido usando-se a constante do

produto de solubilidade do hidróxido de bário.

Para calcular a concentração do ácido sulfúrico utiliza-se a proporção

estequiométrica definida pela equação química 30 e os dados experimentais

que estão na tabela 18. Como a proporção estequiométrica entre o ácido e a

base é de 1 mol para 1 mol, a quantidade de adicionada da base, em mols, é,

no ponto final, igual a do ácido.

n° de mols de Ba(OH)2 = n° de mols de H2SO4

[Ba(OH)2] x V Ba(OH)2 = [H2SO4] x V H2SO4 (31)

Os dados de concentração da base e os volumes de base e ácido são

obtidos do filme e a concentração de ácido sulfúrico pode ser calculada. Todas

essas grandezas encontram-se na tabela 40.

Page 155: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINASrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/... · QUÍMICA DA UNICAMP Francisco, Manoel Henrique. F847v Vídeos experimentais para o ensino de

137

Tabela 40: Dados experimentais e concentração do ácido sulfúrico, conforme obtidos pelo filme.

Concentração hidróxido de bário / mol dm-3 1,23 x 10-1

Volume da base / mL 18,00

Quantidade de base / mol 2,20 x 10-2

Volume do ácido / mL 2,00

Quantidade de ácido / mol 2,20 x 10-2

Concentração do ácido / mol dm-3 1,107 *

*obtidos pelos cálculos.