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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA Maianne Larry Lopes Costa ANALISE COMPARATIVA ENTRE O MÉTODO SIMPLIFICADO E O MODELO DE ANALOGIA DE GRELHA, PARA O DIMENSIONAMENTO DE ESTRUTURAS EM CONCRETO ARMADO DE EDIFÍCIO, SEGUNDO A NBR 6118:2003 Orientador: Professor Clodoaldo Pereira Freitas Feira de Santana Bahia 2010

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA

Maianne Larry Lopes Costa

ANALISE COMPARATIVA ENTRE O MÉTODO SIMPLIFICADO E O

MODELO DE ANALOGIA DE GRELHA, PARA O DIMENSIONAMENTO

DE ESTRUTURAS EM CONCRETO ARMADO DE EDIFÍCIO, SEGUNDO

A NBR 6118:2003

Orientador: Professor Clodoaldo Pereira Freitas

Feira de Santana – Bahia 2010

Maianne Larry Lopes Costa

ANALISE COMPARATIVA ENTRE O MÉTODO SIMPLIFICADO E O

MODELO DE ANALOGIA DE GRELHA, PARA O DIMENSIONAMENTO

DE ESTRUTURAS EM CONCRETO ARMADO DE EDIFÍCIO, SEGUNDO

A NBR 6118:2003

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à disciplina Projeto Final II do curso de graduação em Engenharia Civil da Universidade Estadual de Feira de Santana.

Orientador: Professor Clodoaldo Pereira Freitas

Feira de Santana – Bahia 2010

Maianne Larry Lopes Costa

ANALISE COMPARATIVA ENTRE O MÉTODO SIMPLIFICADO E O

MODELO DE ANALOGIA DE GRELHA, PARA O DIMENSIONAMENTO

DE ESTRUTURAS EM CONCRETO ARMADO DE EDIFÍCIO, SEGUNDO

A NBR 6118:2003

Trabalho Final de Curso para obtenção do Título de Bacharel em Engenharia Civil.

Feira de Santana, 17 de dezembro de 2010

Banca Examinadora:

________________________________________

Clodoaldo Pereira Freitas – Orientador

Universidade Estadual de Feira de Santana

______________________________________

Geraldo Barros Rios

Universidade Estadual de Feira de Santana

______________________________________

Luciano de Santana Rocha

Aos meus pais, pelo grande

amor e carinho transmitido ao

longo da minha vida, e por tornar

possível a realização dos meus

sonhos. A vocês eu dedico este

trabalho com todo o meu amor e

gratidão.

AGRADECIMENTOS

Todos os desafios que a vida nos impõe se torna mais fácil de superar quando

não estamos sozinhos. Para desenvolver este trabalho, pude contar com a ajuda de

pessoas especiais, que de algum modo me apoiaram e merecem o meu agradecimento.

Primeiramente a Deus por estar sempre comigo.

Ao meu orientador, Clodoaldo Freitas, pelas diretrizes e oportunidade de

aprofundar meus conhecimentos na área.

Aos meus irmãos, Laissa e Heverton, pelo apoio incondicional, apesar da

distância.

Aos meus tios Paulo e Rosana, pelo acolhimento e meus primos Paula e

Leonardo por todo carinho.

As minhas amigas Tiara, Nara e Beth, pelo apoio, acolhimento, cobranças,

incentivo e amizade.

A todos do escritório Clodoaldo Feitas Projetos Estruturais, pelo apoio, em

especial ao Engenheiro Luciano Rocha pela ajuda na escolha do tema, incentivo,

colaboração intelectual e por valiosas horas que cedeu para me ensinar a utilizar o

programa, o meu muito obrigado.

RESUMO

No presente trabalho faz-se uma comparação entre dois métodos de

dimensionamento de lajes maciças convencionais apoiadas sobre vigas, o método das

charneiras plásticas e método de analogia de grelha, ambos modelos aceitos pela NBR

6118 (2003). Utilizou-se como ferramentas computacionais dois programas conhecidos

no mercado, SISTRUT e TQS, respectivamente. Para isso discorre sobre os

conhecimentos técnicos necessários a esta análise comparativa, noções de ações e

segurança em estruturas, os métodos das charneiras plásticas e analogia de grelha,

dimensionamento de lajes e vigas. É modelado o mesmo pavimento tipo para ambos os

métodos, com o objetivo de encontrar parâmetros que possibilitem a comparação:

aspectos estruturais e econômicos. Por fim, os resultados obtidos foram comparados e

discutidos.

Palavras Chave: Lajes, Vigas, Dimensionamento, Charneiras Plásticas, Analogia de

Grelha

ABSTRACT

This work presents a comparison between two methods of structural

dimensioning of conventional slabs supported on beams , plastic hinge method and grill

analogy, both of them are accepted by the NBR 6118 (2003). Using as tools two known

software’s, SISTRUT and TQS, respectively. To accomplish the objective, it must be

demonstrate the technical knowledge for the comparative analysis, notions of loading

and security in structures, the methods of plastic hinges and grill analogy, dimensioning

of slabs and beams. The model is made with the same type floors for both methods, with

the objective of finding the parameters that make the comparison: structural and

economic aspects. At ending, the results were compared and discussed.

Key words: Slabs, Beans, Dimensioning, Plastic Hinges, Grill Analogy.

SUMÁRIO

1.1 JUSTIFICATIVAS ............................................................................................................. 14

1.2 OBJETIVOS .................................................................................................................... 14

1.2.1 Objetivo Geral .......................................................................................................................14

1.2.2 Objetivos Específicos ..........................................................................................................14

1.3 METODOLOGIA .............................................................................................................. 15

1.4 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA......................................................................................... 15

2.1 ESTADO LIMITE ÚLTIMO OU DE RUÍNA (ELU) ................................................................... 18

2.2 ESTADO LIMITE DE SERVIÇO OU DE UTILIZAÇÃO (ELS) ..................................................... 18

2.3 AÇÕES .......................................................................................................................... 19

2.3.1 Classificação .........................................................................................................................19

2.3.2 Valores e Combinações .......................................................................................................21

2.4 RESISTÊNCIA ................................................................................................................. 26

2.5 SEGURANÇA .................................................................................................................. 27

4.1 ISOTROPIA, ANISOTROPIA E ORTOTROPIA........................................................................ 41

4.2 CONFIGURAÇÕES DAS CHARNEIRAS ................................................................................ 43

4.3 REAÇÕES DE APOIO ....................................................................................................... 46

RESUMO.......................................................................................................................... 4

ABSTRACT ...................................................................................................................... 5

LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................ 8

LISTA DE TABELAS ..................................................................................................... 10

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 11

2 NOÇÕES DE AÇÕES E SEGURANÇA EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO .................................................................................................................... 17

3 GENERALIDADES E DIMENSIONAMENTO DAS LAJES E VIGAS ......................... 29

4 MÉTODO DAS CHARNEIRAS PLÁSTICAS .............................................................. 39

6.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA OBRA .............................................................................. 52

6.2 ANALISE DOS RESULTADOS OBTIDOS DAS LAJES ............................................................. 54

6.3 ANALISE DOS RESULTADOS OBTIDOS DAS VIGAS ............................................................. 65

6.4 ANALISE DOS CUSTOS .................................................................................................... 68

7.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ........................................................................ 72

5 ANALOGIA DE GRELHA ........................................................................................... 47

6 MODELAGEM E RESULTADOS OBTIDOS .............................................................. 51

7 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 71

REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 74

ANEXOS ........................................................................................................................ 77

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Carregamento das lajes ................................................................................. 12

Figura 2 - Tipos mais comuns de lajes ........................................................................... 12

Figura 3 - Esquema dos métodos probabilísticos ........................................................... 28

Figura 4 - Esquema do método dos coeficientes parciais de segurança ....................... 28

Figura 5 - Gráfico dos domínios ..................................................................................... 30

Figura 6 – Comportamento do concreto armado na flexão pura (Estádios I, II e III) ...... 31

Figura 7 - Equilíbrio da Seção Transversal .................................................................... 32

Figura 8 – Vão efetivo .................................................................................................... 38

Figura 9 - Relação momento-curvatura para seções subarmadas ou normalmente

armadas ........................................................................................................ 40

Figura 10 - Modelo rígido-plástico idealizado ................................................................. 41

Figura 11 - Momento fletor em uma seção inclinada ...................................................... 42

Figura 12 - Configuração das charneiras ....................................................................... 44

Figura 13 - Configuração das charneiras que passam pelos pontos isolados ............... 45

Figura 14 - Configuração das charneiras com contorno curvilíneo ................................ 45

Figura 15 - Inclinação das linhas de ruptura para cálculo das reações de apoio ........... 46

Figura 16 - Lajes planas discretizada em uma grelha plana .......................................... 47

Figura 17 - (a) Laje Maciça; (b) Grelha Equivalente ....................................................... 48

Figura 18 - Graus de liberdade em um nó de grelha. δz representa a translação, θ1 e θ2

representam as rotações em torno dos eixos X e Y. ..................................... 49

Figura 19 - Carregamento uniformemente distribuído nas barras (carga p) e

carregamento concentrado nos nós (carga P1) e nas barras (carga P2) ...... 50

Figura 20 - Planta de formas do pavimento tipo ............................................................. 51

Figura 21 - Planta baixa pavimento tipo ......................................................................... 52

Figura 22 - Carregamento distribuído linearmente no pavimento tipo ............................ 53

Figura 23 - Deslocamentos das lajes gerados TQS ....................................................... 55

Figura 24 - Momentos na direção X obtidos pelo SISTRUT ........................................... 56

Figura 25 - Momentos na direção X obtidos pelo TQS ................................................... 57

Figura 26 - Momentos na direção Y obtidos pelo SISTRUT ........................................... 58

Figura 27 - Momentos na direção Y obtidos pelo TQS ................................................... 59

Figura 28 - Armaduras positivas na direção Y obtidas pelo SISTRUT ........................... 60

Figura 29 - Armaduras positivas na direção Y obtidas pelo TQS ................................... 61

Figura 30 - Armaduras negativas na direção Y obtidas pelo SISTRUT .......................... 63

Figura 31 - Armaduras negativas na direção Y obtidas pelo TQS .................................. 64

Figura 32 – Momentos na V101 = V114 – SISTRUT ..................................................... 65

Figura 33 – Momentos na V101 = V114 - TQS .............................................................. 66

Figura 34 – Detalhamento das armaduras das vigas V101 = V114 – SISTRUT ............ 66

Figura 35 - Detalhamento das armaduras das vigas V101 = V114 - TQS ...................... 67

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Coeficientes γf1 x γf3 para ponderação de ações ........................................... 22

Tabela 2 - Coeficientes γf2 para ponderação de ações .................................................. 23

Tabela 3 - Combinações últimas .................................................................................... 24

Tabela 4 - Combinações de serviço ............................................................................... 25

Tabela 5 - Valores dos Coeficientes e ................................................................... 26

Tabela 6 - Taxas mínimas de armaduras ....................................................................... 33

Tabela 7 – Valores mínimos para armaduras de lajes ................................................... 34

Tabela 8 -Coeficientes ξ em função do tempo ............................................................... 36

Tabela 9 - Resumo de aço das lajes .............................................................................. 62

Tabela 10 - Resumo de aço das vigas V101 e V114 ..................................................... 67

Tabela 11 - Resumo de aço das vigas ........................................................................... 68

Tabela 12 - Resumo de aço do pavimento tipo (lajes e vigas) ....................................... 68

Tabela 13 – Custo da montagem de armadura para lajes maciças convencionais ........ 69

Tabela 14 – Custo da montagem de armadura para vigas ............................................ 69

11

1 INTRODUÇÃO

O concreto utilizado atualmente para a construção dos mais diversos tipos de

estrutura é fruto do trabalho de inúmeros homens, que durante anos observaram a

natureza e se esmeraram por aperfeiçoar materiais, técnicas, teorias e formas

estruturais.

Um grande avanço ocorreu com o desenvolvimento dos chamados

“aglomerantes”, que endurecem em contato com a água e tornaram possível a

fabricação de uma “pedra artificial”, denominada “concreto” com a adição de materiais

inertes. Os romanos já utilizavam um tipo de concreto, usando como aglomerante a cal

e pozolana. O seu uso se propagou a partir do estabelecimento de um processo de

fabricação industrial do cimento Portland, por Joseph Apsdin, em 1824, que passou a

ser produzido em todo mundo (CLIMACO, 2005, p. 33). Algum tempo depois surgiu a

idéia de associar o aço ao cimento, com o intuito de torná-lo mais resistente aos

esforços de tração. Sendo que apenas em 1920 esse novo material passou a chamar-

se concreto armado (STRAMANDINOLI, 2003, p. 2).

Em posse deste material, houve um impulso no desenvolvimento das

edificações. Com a evolução das técnicas construtivas, maiores e mais desafiadoras

tornaram-se as edificações, obrigando os engenheiros a empenharem-se na busca de

soluções estruturais para os diversos problemas encontrados. Foi com o surgimento de

tais edifícios de pisos múltiplos que apareceram as lajes em concreto armado.

As lajes são elementos bidimensionais planos, cuja espessura h é bem inferior

às outras duas dimensões, e que são solicitadas, predominantemente, por cargas

perpendiculares ao seu plano médio, conforme figura 1(ARAÚJO, 2003, v. 2, p.1).

12

Figura 1 - Carregamento das lajes Fonte: ARAÚJO, 2003

Conforme a natureza de seus apoios, as lajes podem ser classificadas como:

apoiada em vigas, nervurada, mista e cogumelo (Figura 2).

Figura 2 - Tipos mais comuns de lajes Fonte: CLIMACO, 2005

13

No caso de lajes sem vigas, os pilares podem ou não ter engrossamento de sua

seção transversal nas proximidades da ligação com a laje. Esse engrossamento é

definido como capitel, cuja finalidade principal é reduzir as tensões de cisalhamento,

evitando o puncionamento da laje. No Brasil convencionou-se chamar de laje cogumelo

qualquer sistema de laje sem vigas (HENNRICHS, 2003, p. 24)

As lajes nervuradas usualmente são empregadas para vencer grandes vãos,

geralmente superiores a 8 metros, sendo constituídas por nervuras, onde são colocadas

as armaduras longitudinais de tração (ARAÚJO, 2003, v. 2, p. 2). Assim, consegue-se

uma redução do peso próprio da laje, já que se elimina uma parte do concreto que

ficaria na zona tracionada, deixando apenas as nervuras que participam da biela de

compressão, equilibrando a seção transversal, e quando desejado, preenchendo o

espaço deixado com material inerte.

Lajes apoiadas sobre vigas é o sistema mais convencional. Usualmente

executadas em um processo único de moldagem. Quando é preciso aumentar os vãos

destas lajes também ocorre um aumento da espessura, para que esta seja capaz de

resistir às solicitações.

O avanço tecnológico, em especial o da computação, trouxe inúmeras

vantagens para o campo da engenharia. Os projetos das estruturas, em geral,

tornaram-se mais rápidos e dinâmicos nos escritórios especializados. Um dos grandes

desafios da engenharia moderna é encontrar o modelo mais adequado a ser utilizado.

O presente trabalho fará uma comparação entre dois métodos de

dimensionamento de lajes maciças em concreto armado com armadura passiva (não

protendida) apoiadas em vigas, charneiras plásticas e analogia de grelha, ambos

aceitos pela Norma Brasileira de Projeto de Estrutura de Concreto - Procedimento (NBR

6118:2003), utilizando o auxilio de programas computacionais, SISTRUT e TQS.

14

1.1 JUSTIFICATIVAS

A evolução tecnológica transformou a técnica de projetar estruturas, dentre elas

a de concreto armado. Tempos atrás se dimensionava utilizando métodos aproximados,

como o da ruptura. Com o advento da computação, métodos mais sofisticados foram

surgindo, a exemplo o de analogia de grelha.

Por isso faz-se a necessidade do engenheiro estruturalista saber quais as

vantagens e desvantagens dos métodos, para executar o melhor dimensionamento das

estruturas.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

O presente trabalho visa analisar comparativamente o dimensionamento de um

pavimento tipo do projeto de edifício entre os métodos das charneiras plásticas e de

analogia de grelha.

1.2.2 Objetivos Específicos

a) Modelar e dimensionar um pavimento do mesmo projeto utilizando o método

das Charneiras Plásticas;

b) Modelar e dimensionar um pavimento de um dado projeto utilizando Analogia

de Grelha;

15

c) Analisar os resultados obtidos nos dois momentos acima descritos, atentando

para variações do consumo da armadura.

1.3 METODOLOGIA

O estudo a ser desenvolvido, de caráter exploratório e descritivo, tem uma

natureza teórico-experimental em que os experimentos realizados serão numérico-

computacionais. Inicialmente será realizada uma revisão bibliografia baseada em livros,

teses, dissertações e normas. Em seguida será apresentada uma estrutura de caso

prático, na qual será modelada nos programas computacionais para dimensionamento

em concreto armado, SISTRUT e TQS.

1.4 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA

O Capítulo I contém a Introdução da Monografia onde tem uma abordagem

geral do trabalho, incluindo também a justificativa o objetivo e a metodologia utilizada.

No Capítulo II há a fundamentação teórica sobre Noções de Ações e

Seguranças em Estruturas de Concreto Armado, na qual apresenta tópicos da norma

NBR 8681 - Ações e Seguranças nas Estruturas, comentando sobre os estados limites

últimos e de serviço, bem como sobre as considerações dos carregamentos utilizados

nos cálculos.

Capitulo III, Generalidades e Dimensionamento das Lajes Maciças

16

Convencionais, discorre sobre as particularidades das lajes maciças convencionais e

vigas, destacando as considerações feitas na NBR 6118 (2003), mostrando como é

feito os cálculos de armadura e as análises dos mesmos.

Capítulo IV e Capítulo V, Método das Charneiras Plásticas e Analogia de

grelha, respectivamente, apresentam os modelos de análise estrutural, mostrando o

princípio de cálculo de ambos e os fundamentos teóricos que se baseiam.

Capitulo VI, Modelagem da Obra em Estudo, o pavimento do projeto em estudo

tem descritos: modelagem, processamento de dados, analise estrutural e detalhamento

de armaduras, dando atenção especial para os deslocamentos existentes e ao

consumo de materiais.

Capitulo VII são apresentadas as conclusões do trabalho e faz sugestões para

trabalhos futuros.

17

2 NOÇÕES DE AÇÕES E SEGURANÇA EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO

A noção intuitiva de segurança esta ligada à idéia de sobrevivência e, desta

forma, uma estrutura poderia ser considerada segura se houvesse alguma garantia de

que durante sua vida útil não seriam atingidos estados de desempenho patológico

(CLIMACO, 2005, p. 343). Segundo ARAÚJO (2003, v. 1, p. 51) além dos aspectos

econômicos e estéticos, uma estrutura de concreto armado deve ser projetada para

atender os requisitos de qualidade: segurança e bom desempenho em serviço.

Segundo CARVALHO e FIGUEIREDO FILHO (2004, p. 43), o dimensionamento

de uma estrutura deve garantir que ela suporte, de forma segura, estável e sem

deformações excessivas, todas as solicitações a que será submetida durante sua

execução e utilização. Entretanto, não se pode pretender que uma estrutura tenha

segurança total contra todos os fatores aleatórios que intervêm em uma edificação.

Basicamente, a segurança está relacionada às seguintes incertezas:

resistência dos materiais utilizados, pelas condições de execução da obra e pelos

ensaios, que não reproduzem fielmente as situações reais;

características geométricas da estrutura (falta de precisão na localização, na seção

transversal dos elementos e na posição das armaduras);

ações permanentes e variáveis;

valores calculados das solicitações, que podem ser diferentes dos reais em virtude

de todas as imprecisões inerentes ao processo de cálculo.

Desta forma, em função de tais requisitos foram definidos os estados limites que

segundo a NBR 8681 (2003) – Ações e Segurança nas Estruturas são aqueles a partir

dos quais a estrutura apresenta desempenho inadequado às finalidades da construção.

Estes estados limites podem ser últimos ou de serviço.

18

2.1 ESTADO LIMITE ÚLTIMO OU DE RUÍNA (ELU)

São aqueles relacionados ao colapso, ou a qualquer outra forma de ruína

estrutural, que determine a paralisação, no todo ou em parte, do uso da estrutura

(ARAÚJO, 2003, v. 1, p. 52). De acordo com a NBR 8681 (2003) e a NBR 6118 (2003)

– Projeto de Estruturas de Concreto, este estado deve ser verificado para as seguintes

situações:

estado limite último da perda do equilíbrio da estrutura, admitida como corpo rígido;

estado limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura, no seu

todo ou em parte, devido às solicitações normais e tangenciais, admitindo-se a

redistribuição de esforços internos, desde que seja respeitada a capacidade de

adaptação plástica definida as verificações separadas das solicitações normais e

tangenciais;

estado limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura, no seu

todo ou em parte, considerando os efeitos de segunda ordem;

estado limite último provocado por solicitações dinâmicas;

estado limite último de colapso progressivo;

outros estados limites últimos que eventualmente possam ocorrer em casos

especiais.

2.2 ESTADO LIMITE DE SERVIÇO OU DE UTILIZAÇÃO (ELS)

Segundo a NBR 6118 (2003) e a NBR 8681 (2003), o estado limite de serviço

relaciona-se à durabilidade das estruturas, aparência, conforto do usuário e à boa

utilização funcional das mesmas, seja em relação aos usuários, seja em relação às

máquinas e aos equipamentos utilizados. Este estado deve ser verificado para as

seguintes situações:

19

Estado limite de abertura das fissuras, onde as fissuras se apresentam com

aberturas iguais ou menores aos valores máximos especificados pela normatização,

para não comprometer a durabilidade ou o aspecto estético da estrutura;

Estado limite de deformações excessivas, onde as deformações respeitam os

limites estabelecidos conforme normatização para a utilização normal da

construção, não afetando o aspecto estético e funcional;

Estado limite de vibrações excessivas, onde as vibrações não ultrapassem os

limites estabelecidos para a utilização normal da construção gerando desconforto.

2.3 AÇÕES

As ações são influências capazes de produzirem estados de tensão e

deformação nas estruturas. Segundo a NBR 6118 (2003), na análise estrutural deve ser

considerada a influência de todas as ações que possam produzir efeitos significativos

para a segurança da estrutura em exame, levando-se em conta os possíveis estados

limites últimos e os de serviço. De acordo com a NBR 8681 (2003), para o

estabelecimento das regras de combinações as ações são classificadas segundo sua

variabilidade no tempo, sendo: permanentes, variáveis ou excepcionais.

2.3.1 Classificação

2.3.1.1 Ações Permanentes

São as que ocorrem com valores praticamente constantes durante toda a vida

da construção. Também são consideradas como permanentes as ações que crescem

no tempo, tendendo a um valor limite constante. De acordo com a NBR 8681(2003),

consideram-se como ações permanentes:

20

a) Ações permanentes diretas: São constituídas pelos pesos próprios dos

elementos da construção, incluindo-se o peso próprio da estrutura e de todos os

elementos construtivos permanentes, os pesos dos equipamentos fixos e os

empuxos devidos ao peso próprio de terras não removíveis e de outras ações

permanentes sobre elas aplicadas.

b) Ações permanentes indiretas: Podem ser os recalques de apoio, a retração e a

fluência do concreto, a protensão (no caso do concreto protendido) e

imperfeições geométricas nos pilares.

2.3.1.2 Ações Variáveis

De acordo com a NBR 8681 (2003) são as cargas acidentais das construções,

bem como efeitos, tais como forças de frenação, de impacto e centrífugas, os efeitos do

vento, das variações de temperatura, do atrito nos aparelhos de apoio e, em geral, as

pressões hidrostáticas e hidrodinâmicas. Em função de sua probabilidade de ocorrência

durante a vida da construção, as ações variáveis são classificadas em normais ou

especiais.

a) Ações variáveis normais: Ações variáveis com probabilidade de ocorrência

suficientemente grande para que sejam obrigatoriamente consideradas no

projeto das estruturas de um dado tipo de construção.

b) Ações variáveis especiais: Nas estruturas em que devam ser consideradas

certas ações especiais, como ações sísmicas ou cargas acidentais de natureza

ou de intensidade especiais, elas também devem ser admitidas como ações

variáveis. As combinações de ações em que comparecem ações especiais

devem ser especificamente definidas para as situações especiais consideradas.

21

2.3.1.3 Ações Excepcionais

As ações denominadas excepcionais são aquelas que têm uma duração muito

curta e uma probabilidade de ocorrência muito pequena durante a vida da construção,

mas que devem se consideradas no projeto de determinados tipos de estruturas

(ARAÚJO, 2003, v. 1, p. 56). De acordo com a NBR 8681 (2003), são as ações

decorrentes de causas tais como explosões, choques de veículos, incêndios, enchentes

ou sismos excepcionais. Os incêndios, ao invés de serem tratados como causa de

ações excepcionais também pode ser levada em conta por meio de uma redução da

resistência dos materiais constitutivos da estrutura.

2.3.2 Valores e Combinações

Segundo a NBR 8681 (2003) as ações são quantificadas por seus valores

representativos, podendo ser valores característicos, valores reduzidos e valores de

cálculo.

Os valores característicos das ações (Fk) são estabelecidos em função de suas

variabilidades. Os valores característicos das cargas variáveis são aqueles que

correspondem a valores que tem de 25% a 35% de probabilidade de serem

ultrapassados no sentido desfavorável, durante um período de 50 anos (CARVALHO e

FIGUEIREDO FILHO, 2004, p. 53). Para ações permanentes estes valores encontram-

se estabelecidos em normas específicas, como na NBR 6120 (1980) – Cargas para o

Cálculo de Estruturas de Edificações.

Os valores reduzidos são dados em função da combinação de ações para a

verificação dos estados limites último e de serviço. Para a combinação de ações a NBR

8681 (2003) estabelece um coeficiente de segurança, γf, pode ser considerado como o

22

produto de dois outros, γf1 e γf3 (o coeficiente de combinação ψ0 faz o papel do terceiro

coeficiente, que seria indicado por γf2). O coeficiente parcial γf1 leva em conta a

variabilidade das ações e o coeficiente γf3 considera os possíveis erros de avaliação

dos efeitos das ações, seja por problemas construtivos, seja por deficiência do método

de cálculo empregado. O desdobramento do coeficiente de segurança γf em

coeficientes parciais permite que os valores gerais especificados para γf possam ser

discriminados em função de peculiaridades dos diferentes tipos de estruturas e de

materiais de construção considerados.

Na NBR 6118 (2003) encontram-se duas tabelas de coeficientes de ponderação

de ações, que considera muito baixa a probabilidade de ocorrerem simultaneamente

duas ou mais ações variáveis de natureza diferente. A tabela 1 apresenta os

coeficientes γf1 x γf3. A tabela 2 apresenta os coeficientes de ponderação γf2.

Tabela 1 - Coeficientes γf1 x γf3 para ponderação de ações Fonte: NBR 6118 (2003)

Combinações de ações

Ações

Permanentes (g) Variáveis (q) Propensão (p) Recalques de

apoio e retração

D 1) F G T D F D F

Normais 1,4 1,0 1,4 1,2 1,2 0,9 1,2 0

Especiais ou de

construção 1,3 1,0 1,2 1,0 1,2 0,9 1,2 0

Excepcionais 1,2 1,0 1,0 0 1,2 0,9 0 0

Onde: D é desfavorável, F é favorável, G é geral e T é temporária. 1) Para as cargas permanentes de pequena variabilidade, como o peso próprio das estruturas, especialmente as pré-moldadas, esse coeficiente pode ser reduzido para 1,3.

23

Tabela 2 - Coeficientes γf2 para ponderação de ações Fonte: NBR 6118 (2003)

Ações γ f2

Ψ0 Ψ1 1) Ψ2

Cargas acidentais de

edifícios

Locais em que não há predominância de pesos de equipamentos que permanecem fixos por longos períodos de tempo, nem de elevadas concentrações de pessoas 2)

0,5 0,4 0,3

Locais em que há predominância de pesos de equipamentos que permanecem fixos por longos períodos de tempo, ou de elevada concentração de pessoas 3)

0,7 0,6 0,4

Biblioteca, arquivos, oficinas e garagens 0,8 0,7 0,6

Vento Pressão dinâmica do vento nas estruturas em geral

0,6 0,3 0

Temperatura Variações uniformes de temperatura em relação à média anual local

0,6 0,5 0,3

1) Para os valores de ψ relativos às pontes e principalmente aos problemas de fadiga, ver seção 23. 2) Edifícios residenciais. 3) Edifícios comerciais, de escritórios, estações e edifícios públicos.

As combinações são feitas de modo que as ações permanentes sejam tomadas

em sua totalidade, enquanto que as ações variáveis são tomadas apenas as parcelas

que surtam efeitos desfavoráveis para a segurança (CARVALHO e FIGUEIREDO

FILHO, 2004, p. 56). Segundo a NBR 6118 (2003), as ações variáveis são separadas

por naturezas, e em cada combinação é definido uma delas como sendo a principal,

sendo as demais secundárias e, portanto, minoradas segundo os coeficientes de

ponderação γf2.

Um carregamento é definido pela combinação das ações que têm probabilidades

não desprezíveis de atuarem simultaneamente sobre a estrutura, durante um período

preestabelecido. A combinação das ações deve ser feita de forma que possam ser

determinados os efeitos mais desfavoráveis para a estrutura. A verificação da

segurança em relação aos estados limites últimos e aos estados limites de serviço deve

ser realizada em função de combinações últimas e combinações de serviço,

24

respectivamente (NBR 6118, 2003).

Em função das combinações últimas admitidas, são definidos três tipos de

carregamento, como disposto na tabela 3, conforme a NBR 6118 (2003).

Tabela 3 - Combinações últimas Fonte: NBR 6118 (2003)

Combinações últimas (ELU)

Descrição Cálculo das solicitações

Normais

Esgotamento da capacidade resistente para elementos estruturais de concreto armado1)

Fd = γgFgk + γεgFεgk + γq (Fq1k + Σ ψojFqjk) + γεq ψoε Fqk

Esgotamento da capacidade resistente para elementos estruturais de concreto protendido

Deve ser considerada, quando necessário, a força de

protensão como carregamento externo com os valores Pkmáx

e Pkmin para a força desfavorável e favorável, respectivamente, conforme definido na seção 9

Perda do equilíbrio como corpo rígido

S (Fsd) ≥ S (Fnd)

Fsd = γgs Gsk + Rd

Fnd = γgn Gnk + γq Qnk - γqs Qs,min, onde: Qnk = Q1k + Σ ψoj Qjk

Especiais ou de construção 2)

Fd = γg Fgk + γεg Fεgk + γq (Fq1k + Σ ψoj Fqjk) + γεq ψoε Fεqk

Excepcionais 2) Fd = γg Fgk + γεg Fεgk + Fq1exc + γq Σ ψoj Fqjk + γεq ψoε Fεqk

Onde:

Fd é o valor de cálculo das ações para combinação última;

Fgk representa as ações permanentes diretas;

Fεk representa as ações indiretas permanentes como a retração Fεgk e variáveis como a temperatura Fεqk;

Fqk representa as ações variáveis diretas das quais Fq1k é escolhida principal;

γg, γεg, γq, γεq – ver tabela 11.1;

ψoj, ψoε - ver tabela 11.2;

Fsd representa as ações instabilizantes;

Fnd representa as ações não instabilizantes;

Gsk é o valor característico da ação permanente instabilizante;

Rd é o esforço resistente considerado como instabilizante, quando houver;

Gnk é o valor característico da ação permanente instabilizante;

Qnk = Q1k + ∑ ;

Qnk é o valor característico das ações variáveis instabilizantes;

Q1k é o valor característico da ação variável instabilizante considerada como principal;

ψ oj e Qjq são as demais ações variáveis instabilizantes, consideradas com seu valor reduzido;

Qs,min é o valor característico mínimo da ação variável estabilizante que acompanha obrigatoriamente uma ação variável instabilizante.

1) No caso geral, devem ser consideradas inclusive combinações onde o efeito favorável das cargas permanentes seja reduzido pela consideração de γg = 1,0. No caso de estruturas usuais de edifícios essas combinações que consideram γg reduzido (1,0) não precisam ser consideradas.

2) Quando Fg1k ou Fg1exc atuarem em tempo muito pequeno ou tiverem probabilidade de ocorrência muito baixa ψ 0j, pode ser substituído por ψ2j.

25

De acordo com NBR 6118 (2003), as combinações de serviço são classificadas

de acordo com sua permanência e devem ser verificadas com estabelecido a seguir:

a) quase permanentes: podem atuar durante grande parte do período de vida da

estrutura e sua consideração pode ser necessária na verificação do estado limite

de deformações excessivas;

b) freqüentes: se repetem muitas vezes durante o período de vida da estrutura e

sua consideração pode ser necessária na verificação dos estados limites e

formação de fissuras, abertura de fissuras e de vibrações excessivas. Podem

também ser consideradas para verificações de estados limites de deformações

excessivas decorrentes de vento ou temperatura que podem comprometer as

vedações;

c) raras: ocorrem algumas vezes durante o período de vida da estrutura e sua

consideração pode ser necessária na verificação do estado limite de formação de

fissuras.

Para as combinações de serviço, a NBR 6118 (2003) também fixou alguns

parâmetros (Tabela 4).

Tabela 4 - Combinações de serviço Fonte: NBR 6118 (2003)

Combinações de serviço (ELS) Descrição Cálculo das solicitações

Combinações quase permanentes de serviço (CQP)

Nas combinações quase permanentes de serviço, todas as ações variáveis são consideradas com seus valores quase permanentes ψ2 Fqk

Fd, ser = Σ Fgi,k + Σ ψ2j Fqj,k

Combinações freqüentes de serviço (CF)

Nas combinações freqüentes de serviço, a ação variável principal Fq1 é tomada com seu valor freqüente ψ1 Fq1k e todas as demais ações variáveis são tomadas com seus valores quase permanentes ψ2

Fqk

Fd,ser = Σ Fgik + ψ1 Fq1k + Σ ψ2j Fqjk

Combinações raras de serviço (CR)

Nas combinações raras de serviço, a ação variável principal Fq1 é tomada com seu valor característico Fq1k e todas as

demais ações são tomadas com seus

valores freqüentes Ψ1 Fqk

Fd,ser = Σ Fgik + Fq1k + Σ ψ1j Fqjk

Onde:

Fd,ser é o valor de cálculo das ações para combinações de serviço; Fq1k é o valor característico das ações variáveis principais diretas; ψ1 é o fator de redução de combinação freqüente para ELS;

ψ2 é o fator de redução de combinação quase permanente para ELS.

26

2.4 RESISTÊNCIA

De acordo com a NBR 8681 (2003), a resistência é a aptidão da matéria de

suportar tensões. Do ponto de vista prático, a medida dessa aptidão é considerada com

a própria resistência. A resistência é determinada convencionalmente pela máxima

tensão que pode ser aplicada a corpo-de-prova do material considerado, até o

aparecimento de fenômenos particulares de comportamento além dos quais há

restrições de emprego do material em elementos estruturais. De modo geral estes

fenômenos são os de ruptura ou de deformação específica excessiva.

As resistências de cálculo dos materiais, aço e concreto, são obtidas dividindo-

se a resistência característica por um coeficiente de segurança, ou seja, coeficiente de

minoração da resistência. Para o concreto usualmente adota-se a resistência de cálculo

à compressão fcd, dada por:

(2.4.1)

Para o aço, é dado por:

(2.4.2)

Os coeficientes de minoração para resistência de cálculo no estado limite último

é fornecido pela tabela 5.

Tabela 5 - Valores dos Coeficientes e Fonte: NBR 6118 (2003)

Combinações Concreto ( ) Aço )

Normais 1,4 1,15

Especiais ou de construção 1,2 1,15

Excepcionais 1,2 1,0

As verificações referentes aos estados limites de serviço não necessitam

27

minoração dos coeficientes dos materiais, adotando-se (NBR 6118, 2003).

2.5 SEGURANÇA

De acordo com a NBR 8681 (2003), a segurança das estruturas deve ser

verificada em relação a todos os possíveis estados que são admitidos como limites para

a estrutura considerada. A segurança em relação aos estados limites é verificada tanto

pelo respeito às condições analíticas quanto pela obediência às condições construtivas.

As condições analíticas de segurança estabelecem que as resistências não

devam ser menores que as solicitações e devem ser verificadas em relação a todos os

estados limites e todos os carregamentos especificados para o tipo de construção

considerado, ou seja, em qualquer caso deve ser respeitada a condição (NBR 6118,

2003):

(2.5.1)

Os valores representativos das variáveis envolvidas nos projetos são definidos a

partir de suas distribuições de probabilidade. Desta forma, as resistências dos materiais

e as ações são consideradas aleatórias. Este método é chamado de método

probabilístico, onde é baseado na probabilidade de ruína (Figura 3). O valor da

probabilidade de ruína é fixado pelas normas e embutido nos parâmetros especificados.

(PINHEIRO, 2003).

28

Figura 3 - Esquema dos métodos probabilísticos

Fonte: PINHEIRO (2003)

Segundo PINHEIRO (2003), no método semiprobabilístico ou método dos

coeficientes parciais de segurança, que pode ser representado no esquema da figura 4,

a idéia básica é:

a) Majorar ações e esforços solicitantes (valores representativos das ações),

resultando nas ações e solicitações de cálculo, de forma que a probabilidade

desses valores serem ultrapassados é pequena;

b) Reduzir os valores característicos das resistências (fk), resultando nas

resistências de cálculo, com pequena probabilidade dos valores reais atingirem

esse patamar;

c) Equacionar a situação de ruína, fazendo com que o esforço solicitante de cálculo

seja igual à resistência de cálculo.

Figura 4 - Esquema do método dos coeficientes parciais de segurança Fonte: PINHEIRO (2003)

29

3 GENERALIDADES E DIMENSIONAMENTO DAS LAJES E VIGAS

Para o dimensionamento de uma seção transversal de concreto armado,

submetida à flexão, é preciso estabelecer algumas hipóteses básicas. Embora o

concreto armado seja constituído de dois materiais, concreto e aço, para fins de

simplificação de cálculo, este pode ser considerado homogêneo. Admite-se aderência

perfeita entre os materiais, nenhum escorregamento da armadura é considerado. Outra

hipótese é que este é um material elástico, ou seja, quando solicitado, ele sofrerá

deformações, no entanto, cessada a solicitação, voltará a sua forma inicial. Será

considerado como material isótropo, que possui as mesmas propriedades em qualquer

uma das direções estudadas. Também será desprezada totalmente a resistência a

tração do concreto, desta forma, todo o esforço de tração será resistido pelas

armaduras (ARAÚJO, 2003, v.1, p. 75).

O dimensionamento é feito no estado limite último de ruína, impondo que na

seção mais solicitada sejam alcançadas as deformações especificas limites dos

materiais, ou seja, a ruptura do concreto ou deformação excessiva da armadura

(CARVALHO e FIGUEIREDO FILHO, 2004, p. 105). Segundo ARAÚJO (2003, v. 1, p.

79) admite-se a ocorrência da ruína, quando a distribuição das deformações ao longo

da altura de uma seção transversal se enquadrar em um dos domínios da figura 5, na

qual caracterizam os seguintes tipos de ruína:

a) deformação excessiva da armadura: quando a deformação na armadura mais

tracionada atingir o valor 10‰ (domínios 1 e 2)

b) esmagamento do concreto em seções parcialmente comprimidas: quando a

deformação na fibra mais comprimida atingir o valor 3,5‰ (domínios 3, 4 e4a)

c) esmagamento do concreto em seções totalmente comprimidas: quando a

deformação na fibra situada às 3h/7 da borda mais comprimida atingir o valor

2‰, sendo h a altura da seção (domínio 5)

30

Figura 5 - Gráfico dos domínios Fonte: NBR 6118 (2003)

Nos domínios 2, 3 e 4 ocorre a ruptura do concreto armado em peças

submetidas à flexão simples, que podem ser classificadas de acordo com o tipo de

ruptura como subarmadas, normalmente armadas e superarmadas, respectivamente.

Como o cálculo de dimensionamento das estruturas de concreto armado será

feito no estado limite último, cujo objetivo principal é de projetar estruturas que resistam

aos esforços sem chegar ao colapso, ou seja, no estádio III de deformação (Figura 6),

onde as ações são majoradas e a resistências minoradas. Neste estádio a zona

comprimida encontra-se plastificada e o concreto dessa região está na iminência da

ruptura. E são verificados para o estado limite de serviço, que corresponde ao estádio I,

no qual o concreto não se encontra fissurado, de modo que toda a seção colabora na

resistência aos esforços de tração existentes, e no estádio II, onde o concreto fissura,

não mais colaborando com a resistência à tração. Segundo CARVALHO e

FIGUEIREDO FILHO, (2004, p. 109) muitas vezes o próprio cálculo no estado limite

último e o bom detalhamento da armadura conduz ás verificações do estado limite de

serviço.

31

Figura 6 – Comportamento do concreto armado na flexão pura (Estádios I, II e III) Fonte: PINHEIRO (2007)

No cálculo da armadura longitudinal das vigas e lajes utiliza-se a teoria da

flexão. No caso de lajes, a largura tomada para o cálculo é uma faixa unitária

(geralmente um metro), devendo-se detalhar a armadura para cada unidade de faixa

padrão. A dedução da formula que se utiliza no cálculo das armaduras pode ser

32

encontrada em CARVALHO e FIGUEIREDO FILHO (2004, p. 120). A área de aço As

necessária para uma altura h ou espessura, no caso das lajes, e considerando uma

largura de um metro, submetida a um momento de cálculo Md é:

De posse do cálculo da armadura, pode-se verificar a posição da linha neutra

conferindo se esta de acordo com os parâmetros estabelecidos na NBR 6118 (2003).

Observa-se na figura 7 uma representação da seção transversal da viga ou laje e do

diagrama de tensão destes, onde nota-se a representação da altura da linha neutra x,

das deformações do aço e do concreto εs e εc, respectivamente, do braço de alavanca

z, do momento de cálculo Md aplicado, além de outros dados da seção.

Figura 7 - Equilíbrio da Seção Transversal Fonte: SUSSEKIND (1989)

. As lajes podem ser armadas em duas ou em uma direção. As lajes armadas em

uma direção são aquelas em que a relação entre os vãos é superior a 2. Neste caso o

momento fletor na direção do maior vão é pequeno e sendo calculado para verificar se

armadura a ser adotada será uma armadura de distribuição ou equivalente ao esforço,

onde deve-se tomar o maior valor entre estes (ARAÚJO, 2003, v. 2, p. 7).

Segundo a NBR 6118 (2003) a armadura mínima de tração, em elementos

hd

x

z

Dd

Zdes

ec

Md

d'

var

33

estruturais armados ou protendidos deve ser determinada pelo dimensionamento da

seção a um momento fletor mínimo dado pela expressão (3.2), respeitando a taxa

mínima de absoluta de 0,15%.

(3.2)

Tabela 6 - Taxas mínimas de armaduras Fonte: NBR 6118 (2003)

Forma da seção

Valores de ρmin 1)

(As,min/Ac)

%

fck

mín 20 25 30 35 40 45 50

Retangular 0,035 0,150 0,150 0,173 0,201 0,230 0,259 0,288

T (mesa comprimida)

0,024 0,150 0,150 0,150 0,150 0,158 0,177 0,197

T (mesa tracionada)

0,031 0,150 0,150 0,153 0,178 0,204 0.229 0,255

Circular 0,070 0,230 0,288 0,345 0,403 0,460 0,518 0,575

1) Os valores de min estabelecidos nesta tabela pressupõem o uso de aço CA-50, γc = 1,4 e γs = 1,15. Caso esses fatores sejam

diferentes, min deve ser recalculado com base no valor de mín dado.

NOTA - Nas seções tipo T, a área da seção a ser considerada deve ser caracterizada pela alma acrescida da mesa colaborante.

Em elementos estruturais superdimensionados, pode-se utilizar armadura menor

que a mínima, com valor obtido a partir de um momento fletor igual ao dobro de ,

devendo considerar todas as combinações possíveis de carregamento e cuidado com o

diâmetro e espaçamento das armaduras de limitação de fissuração.

No caso de lajes, a norma estabelece uma tabela que oferece parâmetros para

escolha das armaduras. Como por exemplo, os critérios para armaduras de distribuição

(20% da armadura principal, 0,9 cm²/m ou 0,5ρmin, onde se deve tomar o maior valor

dentre estes), as armaduras positivas sofrem uma redução, para 67% da taxa de

armadura mínima, caso a laje seja armada em duas direções. Estas considerações

podem ser encontradas na tabela 7.

34

Tabela 7 – Valores mínimos para armaduras de lajes Fonte: NBR 6118 (2003)

Armadura Elementos estruturais sem

armaduras ativas

Elementos estruturais com armadura ativa

aderente

Elementos estruturais com armadura ativa

não aderente

Armaduras negativas s min s min – p 0,67min s min - 0,5p 0,67min

(ver item 19.3.3.2)

Armaduras positivas de lajes armadas nas duas direções

s 0,67min s 0,67min – p 0,5min s min - 0,5p 0,5 min

Armadura positiva (principal) de lajes armadas em uma direção

s min s min – p 0,5min s min - 0,5p 0,5min

Armadura positiva (secundária) de lajes armadas em uma direção

As/s 20 % da armadura principal

As/s 0,9 cm²/m

s 0,5 min

-

Onde:

s As/bw h e p Ap/bw h.

NOTA - Os valores de min constam na tabela 17.3.

Para o cálculo dos deslocamentos, que é uma verificação dos estados limites de

serviço, segundo a NBR 6118 (2003) deve ser feito utilizando modelos que levem em

consideração a rigidez efetiva da seção de concreto armado, ou seja, devem ser

levadas em consideração a presença da armadura, a existência de fissuras no concreto

e as deformações diferidas ao longo do tempo.

Segundo SANTOS (2009, p. 30) as deformações podem ser imediatas ou

diferidas. A deformação imediata é a que acontece no momento de aplicação do

carregamento, sendo que a diferida ocorre ao longo do tempo de atuação deste

carregamento, provocado pelos efeitos de fluência (fenômeno em que surgem

deformações em um elemento solicitado por uma tensão constante) e retração do

concreto (variação volumétrica existente em peças de concreto devido, principalmente,

à saída de água existente em seu interior).

Para o cálculo da deformação imediata, a NBR 6118 (2003) indica uma equação,

adaptada da equação de Branson, que leva em consideração que numa peça de

35

concreto armado submetida à flexão, existem trechos não fissurados e fissurados, ou

seja, no estádio I e trechos no estádio II. Assim, para o cálculo dos deslocamentos no

estádio II, esta seção de concreto é desprezada, sendo necessário um cálculo de

inércia equivalente, que leva em consideração o concreto da zona comprimida e o aço

da zona tracionada. A equação da NBR calcula a rigidez equivalente, sendo possível

encontrar o deslocamento do elemento estrutural em questão (Equação 3.3).

{(

)

[ (

)

] }

Onde:

Ic é o momento de inércia da seção bruta de concreto;

III é o momento de inércia da seção fissura de concreto no estádio II;

Ma é o momento fletor na seção crítica do vão considerado, momento máximo no

vão para elementos biapoiados ou contínuos e momento no apoio para balanços;

Mr é o momento de fissuração do elemento estrutural;

Ecs é o módulo de elasticidade secante do concreto.

No qual o momento de fissuração Mr é dado por:

Onde:

α = 1,2 para seções T ou duplo T;

α = 1,2 para seções retangulares;

α é o fator que correlaciona aproximadamente a resistência à tração na flexão com

36

a resistência à tração direta;

é a distância do centro de gravidade da seção à fibra mais tracionada;

é o momento de inércia da seção bruta de concreto;

é a resistência à tração direta do concreto.

A NBR 6118 (2003) utiliza para o cálculo da flecha diferida um método em que

tal deformação é calculada pela multiplicação da flecha imediata por um fator αf, obtido

pela equação (3.4).

Onde:

(o valor de ρ’ será ponderado no vão de maneira análoga ao cálculo da

inércia equivalente);

As’ é a área de armadura de compressão no trecho considerado;

ξ é um coeficiente em função do tempo, que pode ser obtido diretamente da tabela

7, retirada na NBR 6118 (2003), ou então calculada pelas equações (3.5).

{

Sendo ;

Tabela 8 -Coeficientes ξ em função do tempo Fonte: NBR 6118 (2003)

Tempo (t) Meses

0 0,5 1 2 3 4 5 10 20 40 ≥ 70

Coeficiente

0 0,54 0,68 0,84 0,95 1,04 1,12 1,36 1,64 1,89 2

37

Onde:

t é o tempo, em meses, quando se deseja o valor da flecha diferida;

t0 é a idade, em meses, relativa à data de aplicação da carga de longa duração. No

caso de parcelas de carga de longa duração serem aplicadas em idade diferente,

pode-se tomar, para t0, o valor ponderado a seguir (3.6).

Onde:

Pi representa as parcelas de carga;

t0i é a idade em que se aplicou cada parcela Pi.

O vão de cálculo ou vão efetivo é a distância entre os centros dos apoios.

Entretanto pela NBR 6118 (2003), não é necessário adotar valores maiores que

, onde h é a espessura da laje.

O vão efetivo de vigas pode ser calculado por , sendo que

e iguais ao menor valor entre (

⁄ e e

⁄ e , respectivamente (Figura

8).

38

a) Apoio de vão extremo b) Apoio de vão intermediário

Figura 8 – Vão efetivo Fonte: NBR 6118 (2003)

Quando a largura das vigas de apoio não é muito grande, as diferenças entre

centros dos apoios e os limites indicados anteriormente são pequenas. Assim nos

casos correntes dos edifícios é usual adotar como vão efetivo a distância entre os

centros dos apoios. Esta consideração também é aplicada as vigas.

Para os deslocamentos dos elementos estruturais a NBR 6118 (2003)

estabelece diversos limites determinados de modo a evitar que os deslocamentos da

estrutura causem sensações desagradáveis aos usuários, impeçam a utilização

adequada da construção e causem danos em elementos estruturais. Tais limites devem

garantir a validade de pequenos deslocamentos, usualmente admitida na analise

estrutural. Assim o limite a ser adotado para um deslocamento é em função do dano

que se quer evitar. A NBR estabelece que para lajes que não estejam em balanço à

flecha não deve ultrapassar o limite de onde é o menor vão da laje.

39

4 MÉTODO DAS CHARNEIRAS PLÁSTICAS

O método das charneiras plásticas, ou método de ruptura, para o cálculo das

lajes teve seu primeiro desenvolvimento no trabalho de K. W. Johansen, em artigo

publicado em 1932, nas memórias da Associação Internacional de Pontes e Estruturas,

baseando-se em experiências feitas por Hage Ingerlew, em 1921 (ROCHA, 1972, p.

91).

Em seu surgimento, o método teve uma grande aceitação pela possibilidade de

se calcular lajes de formas irregulares, o que era praticamente impossível à época.

Atualmente, a teoria das linhas de ruptura perdeu seu lugar, em virtude da

disponibilidade de recursos computacionais e métodos numéricos mais avançados

(ARAÚJO, 2003, v. 2, p. 74).

A finalidade da teoria das charneiras plásticas é a determinação dos momentos

de plastificação que se devem atribuir à laje em estudo para que a ruína não se dê sob

a ação de cargas inferiores às impostas pelo projetista, já multiplicadas pelos

respectivos coeficientes de segurança (LANGENDONCK, 1970, p. 5).

A teoria considera o equilíbrio da laje no momento que antecede a ruína, ou

seja, no estado limite último. Uma das suas desvantagens é não permitir analisar o

comportamento do elemento nas condições de utilização. (ARAÚJO, 2003, v. 2, p. 74).

Segundo GONZALEZ (1997, p. 14), as hipóteses fundamentais que constituem

as bases da teoria das charneiras plásticas são as seguintes:

a) o material é considerado rígido-plástico, ou seja, as deformações elásticas são

desprezadas em face das deformações plásticas;

b) as lajes devem ser subarmadas, isto é, taxas de armaduras devem ser pequenas

e suficientes para que não ocorra ruptura do concreto por compressão antes do

escoamento das armaduras, permitindo completo desenvolvimento das linhas de

40

plastificação e conseqüentemente do mecanismo de colapso;

c) ao longo e nas vizinhanças de cada charneira o momento fletor é considerado

constante e igual ao momento máximo que a laje pode resistir;

d) não deverá haver ruína prematura por cisalhamento ou por punção. A ruína da

estrutura deve ocorrer com formação de um mecanismo de colapso.

A NBR 6118 (2003) permite a utilização da teoria das charneiras plásticas

quando as deformações das seções das lajes estiverem no domínio 2 ou 3, ou seja,

peças subarmadas ou normalmente armadas (Figura 5). Tais seções apresentam uma

relação momento fletor-curvatura, de acordo com a figura 9.

Figura 9 - Relação momento-curvatura para seções subarmadas ou normalmente

armadas Fonte: ARAÚJO (2003)

Observa-se na figura 9 que a curvatura elástica, acumulada até o inicio do

escoamento da armadura, é pequena em relação à curvatura de ruína. Por serem

pequenas as deformações elásticas em face das plásticas, elas são desprezadas

adotando o comportamento rígido-plástico (Figura 10).

41

Figura 10 - Modelo rígido-plástico idealizado Fonte: ARAÚJO (2003)

4.1 ISOTROPIA, ANISOTROPIA E ORTOTROPIA

As lajes denominadas isótropas são as que apresentam mesma resistência a

flexão, independente da direção da seção transversal considerada. Para que uma laje

com armadura disposta ortogonalmente seja considerada isótropa basta que os

momentos de plastificação nas direções x e y sejam iguais.

Os momentos de plastificação da laje podem ser diferentes de acordo com a

direção da seção considerada (placas anisotrópicas), mas admite-se que para cada

direção sejam sempre os mesmos em toda a laje, ou seja, a distribuição das armaduras

se faz igualmente. Se uma laje anisotrópica possuir armaduras dispostas em direção

ortogonais e momentos de plastificação positivos e negativos, e se esses momentos

positivos mantiverem entre si uma relação idêntica à relação entre os momentos de

plastificação negativos correspondentes a laje será considerada ortótropa.

A ruína da laje só se dará com a formação de “linhas” de plastificação, onde o

momento de plastificação é atingido, constituindo as charneiras plásticas. Como a

direção dessas charneiras não é obrigatoriamente perpendicular às barras das

armaduras, há necessidade de se conhecer o momento de plastificação das seções que

fazem com a direção da armadura ângulo diferentes do ângulo reto (LANGENDONCK,

42

1970, p. 8).

Segundo ARAÚJO (2003, v. 2, p.76), representa-se um elemento de laje

submetido a momentos de fletores por unidade de comprimento Mx , My e uma seção

transversal com uma inclinação genérica α em relação ao eixo x, conforme figura 11.

Figura 11 - Momento fletor em uma seção inclinada Fonte: ARAÚJO (2003)

Os momentos resultantes nas direções x e y são dados por:

(4.1.1)

Já que o comprimento deste lado é igual a 1, o momento fletor resultante na

seção inclinada é igual ao próprio momento por unidade de comprimento, Mα.

Decompondo os momentos e na direção inclinada:

(4.1.2)

e substituindo (4.1.1):

43

(4.1.3)

Como se constata através da equação (4.1.3) o momento de ruína independe da

direção considerada, laje isotrópica. Se a laje é ortotrópica, tem-se:

(4.1.4)

O coeficiente k é o denominado coeficiente de ortotropia e deve ser escolhido

adequadamente, para evitar grandes desvios da solução elástica. Introduzindo (4.1.4)

em (4.1.3), obtém-se uma equação (4.1.5) que permite expressar o momento fletor em

uma seção genérica em função do momento e do coeficiente de ortotropia.

(4.1.5)

4.2 CONFIGURAÇÕES DAS CHARNEIRAS

A formação das charneiras que dão lugar à ruína da laje deve obedecer,

equivalentemente, a determinadas condições, para que a deformação da laje que

acompanha sua ruína seja geometricamente possível, tendo em vista que os elementos

da laje delimitados pelas charneiras permaneceram planos (LANGENDONCK, 1970, p.

10). Segundo GONZALEZ (1997, p. 16), alguns fatores que precisam ser considerados

nas diversas configurações das charneiras:

a) considerações de apoio: ao longo dos contornos formam-se charneiras

superiores ou negativas, pois correspondem aos momentos considerados

negativos. Cada charneira passa pelo ponto de intersecção dos eixos de rotação

das regiões adjacentes (Figura 12). Estes eixos coincidem com os lados

simplesmente apoiados, com lados engastados ou passam pelos pontos de

apoios isolados, sendo neste caso uma direção indeterminada (Figura 13);

44

b) natureza e distribuição das cargas: cargas distribuídas geralmente dão origem a

charneiras retilíneas, enquanto que as cargas concentradas podem acarretar

charneiras curvas;

c) disposição das armaduras: as condições de trabalho da laje serão definidas de

acordo com as disposições que se queria adotar para as armaduras.

Figura 12 - Configuração das charneiras Fonte: LANGENDONCK (1970)

45

Figura 13 - Configuração das charneiras que passam pelos pontos isolados

Fonte: LANGENDONCK (1970)

Quando em uma laje houver um contorno curvilíneo, de acordo com a figura 14,

o mesmo pode ser considerado como limite para o qual tende o contorno poligonal,

como lados cujos comprimentos tendem a zero. As charneiras que deveriam convergir

para os vértices do polígono ficarão encostadas umas nas outras, e formarão uma

superfície regrada não plana que se admite ser possível.

Figura 14 - Configuração das charneiras com contorno curvilíneo

Fonte: LANGENDONCK (1970)

46

4.3 REAÇÕES DE APOIO

As vigas de apoio da laje são consideradas suficientemente rígidas para que sua

deformação não altere os resultados obtidos e suficientemente resistentes para não

romperem junto com a laje (LANGENDONCK, 1970, p. 12).

De acordo com a NBR 6118 (2003), para o cálculo das reações de apoio das

lajes maciças retangulares com carga uniforme podem ser feitas as seguintes

aproximações:

a) as reações em cada apoio são as correspondentes às cargas atuantes nos

triângulos ou trapézios determinados através das charneiras plásticas, sendo que

essas reações podem ser, de maneira aproximada, consideradas uniformemente

distribuídas sobre os elementos estruturais que lhes servem de apoio;

b) quando a análise plástica não for efetuada, as charneiras podem ser

aproximadas por retas inclinadas, a partir dos vértices com os seguintes ângulos

(Figura 15):

45° entre dois apoios do mesmo tipo;

60° a partir do apoio considerado engastado, se o outro for considerado

simplesmente apoiado;

90° a partir do apoio, quando a borda vizinha for livre.

Figura 15 - Inclinação das linhas de ruptura para cálculo das reações de apoio Fonte: ARAÚJO (2003)

47

5 ANALOGIA DE GRELHA

O método de resolução numérica por Analogia de Grelha consiste em substituir

a placa por uma malha, formando uma grelha, a qual é composta por vigas ortogonais

entre si, sendo essas barras paralelas e transversais aos eixos principais da placa,

interconectadas nos seus nós ou pontos nodais, conforme figura 16 (HENNRICHS,

2003, p. 69).

Figura 16 - Lajes planas discretizada em uma grelha plana Fonte: HENNRICHS (2003)

Segundo STRAMANDINOLI (2003, p. 26), esta técnica foi inicialmente idealizada

por Marcus em 1932, que não dispunha, na época, de computadores e, portanto era

preciso se valer de processos aproximados para resolver as lajes. Em 1959, com a

constatação de que a análise de grelhas e pórticos planos pelo método dos

deslocamentos era bastante parecida, LIGHTFOOT e SAWKO adaptaram um programa

de cálculo de pórtico plano para o cálculo de grelhas. Mais tarde, HAMBLY (1976)

sistematizou este estudo para o cálculo de tabuleiros de pontes.

48

Mais recentemente, a técnica vem sendo utilizada como uma opção na analise

de lajes usuais de edifícios. Segundo COELHO e LORIGGIO (apud HAMBLY, 2002) os

avanços significativos feitos nos programas de Analogia de Grelha nos últimos anos

tornam esse procedimento mais versátil, mais rápido, e mais simples de compreender

do que os demais.

No processo de aplicação da técnica deve-se garantir que as rigidezes das

barras sejam tais que, ao submeterem-se as duas estruturas a um mesmo

carregamento (Figura 17), elas se deformem de maneira idêntica e que os esforços

solicitantes em qualquer barra de grelha sejam iguais as resultantes das tensões na

seção transversal da parte da laje que a barra representa (BUENO apud BARBOSA,

2008, p. 21).

Figura 17 - (a) Laje Maciça; (b) Grelha Equivalente

Fonte: STRAMANDINOLI, 2003 De acordo com CARVALHO e FIGUEIREDO FILHO (2004, p. 366), este

processo permite reproduzir o comportamento estrutural de pavimentos com

praticamente qualquer geometria, seja ele composto de lajes de concreto armado

maciças, com ou sem viga, ou de lajes nervuradas. Para que isto seja possível, divide-

se o pavimento em questão em faixas com larguras tais que possam representar do

melhor modo possível o pavimento. A resolução do problema é feita através de analise

matricial, sendo, portanto, um método de fácil elaboração e resolução rápida,

49

principalmente quando auxiliado por computador.

O método de Analogia de Grelha possui alguns inconvenientes tais como: a

rigidez de uma viga de seção retangular é dada por

, enquanto que na placa,

considerando uma faixa de largura b e com a mesma altura da viga, é dada por

,que leva em consideração o coeficiente de Poisson ν, o que mostra que

a placa é normalmente mais rígida que a viga; o momento em uma barra depende

apenas de sua curvatura, enquanto que em uma laje, o momento em qualquer direção

depende da curvatura naquela direção e na direção ortogonal. Entretanto, depois de

comparar os resultados das lajes maciças, obtidos através do processo de analogia de

grelha, com os resultados fornecidos através do cálculo como placa pela teoria da

elasticidade, pode-se dizer que os resultados obtidos com essa analogia são

satisfatórios (STRAMANDINOLI, 2003, p. 27).

Os deslocamentos que podem ocorrer nos nós de uma estrutura são,

basicamente, três translações e três rotações. Estes deslocamentos possíveis são

chamados de graus de liberdade, ou seja, cada deslocamento possível de um nó é um

grau de liberdade. Considera-se a grelha contida no plano XY, e as cargas externas

atuantes perpendicularmente a este plano, na direção Z, com sentido positivo

obedecendo à regra da mão direita. No caso da grelha existem três graus de liberdade

por nó, ou seja, duas rotações (θ1 e θ2) e uma translação no eixo z, conforme figura 18.

Figura 18 - Graus de liberdade em um nó de grelha. δz representa a translação, θ1 e θ2

representam as rotações em torno dos eixos X e Y. Fonte: HENNRICHS (2003)

50

As cargas atuantes na laje provenientes do peso-próprio, revestimentos, paredes

divisórias, cargas acidentais e outras que possam estar atuando na estrutura, atuam

perpendicularmente ao plano XY e podem ser representadas de duas maneiras: como

cargas distribuídas ao longo das barras e como cargas concentradas nos nós. Para

ambos os casos a carga deve ser calculada através da área de influência do elemento

(barra ou nó) como mostra a figura 19. Os efeitos de flexão são os mais importantes

para a analise da grelha, entretanto, os efeitos de torção também devem devam ser

considerados (HENNRICHS, 2003, p. 69).

Figura 19 - Carregamento uniformemente distribuído nas barras (carga p) e carregamento concentrado nos nós (carga P1) e nas barras (carga P2)

Fonte: HENNRICHS, 2003

51

6 MODELAGEM E RESULTADOS OBTIDOS

Para a comparação entre os métodos de dimensionamento de lajes maciças

convencionais apoiadas sobre vigas, foi escolhido um projeto, calculado pelo escritório

de Clodoaldo Freitas Projetos Estruturais Ltda, do pavimento tipo (Figura 20). O cálculo,

dos esforços e das flechas, e o detalhamento das lajes e vigas foram feitos por dois

softwares de cálculo estrutural, SISTRUT e TQS. Ambos conhecidos pelo mercado, que

utilizam como método de analise o das charneiras plásticas e de analogia de grelha,

respectivamente. A discretização utilizada das barras de grelha foi de 35 cm.

Figura 20 - Planta de formas do pavimento tipo

Ver Anexo A

52

6.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA OBRA

O projeto consiste em um pavimento tipo de edifício residencial, que possui dois

apartamentos, ambos com duas suítes, lavabo, sala, cozinha, área de serviço,

dependência e varanda, e área comum com dois elevadores, escada e hall de acesso

(Figura 21). No total de área construída de 219,22 m².

Figura 21 - Planta baixa pavimento tipo

53

Foi utilizado concreto com resistência característica de 30 MPa (fck). Para os

carregamentos distribuídos por área, além do peso próprio, calculado automaticamente

pelos softwares de cálculo estrutural, atribuiu-se para revestimento 120 kg/m² e carga

acidental 150 kg/m². Também foi considerado o carregamento distribuído linearmente

devido ao peso próprio das paredes, de acordo com a figura 22, na qual tal

carregamento esta identificado pela hachura em azul e rosa. A escada não foi

modelada conjuntamente com a estrutura, no entanto sua carga equivalente foi aplicada

nos apoios (Figura 22).

Figura 22 - Carregamento distribuído linearmente no pavimento tipo

54

Na modelagem do pavimento de lajes levou-se em consideração os limites

estabelecidos na NBR 6118 (2003) para as espessuras de lajes. Segundo esta NBR, a

espessura mínima para lajes maciças de piso é de 7 cm. No SISTRUT, fornecendo o

carregamento, o programa sugere espessuras mínimas necessárias para cada laje, de

posse destes dados foram estabelecidas as espessuras de 10 cm para as lajes L1, L5,

L11 e L17 e de 8 cm para as demais.

No pré-dimensionamento das vigas as dimensões foram estabelecidas levando

em consideração para a altura o tamanho dos vãos efetivos a serem vencidos (L/12

para vigas bi-apoiadas) e acabamento de esquadrias. Para as espessuras foram

levadas em conta as restrições arquitetônicas, devido a este motivo as vigas internas

são de largura 12 cm, em sua grande maioria, algumas vigas servirem de apoio para

outras vigas, recebendo assim cargas elevadas concentradas, necessitando uma

espessura maior, 20 cm, e as vigas externas de 14 cm.

6.2 ANALISE DOS RESULTADOS OBTIDOS DAS LAJES

No programa TQS verificaram-se os deslocamentos encontrados no pavimento,

no qual existe uma interação entre os elementos envolvidos no dimensionamento.

Foram encontrados maiores deslocamentos nas lajes grandes, como era de se esperar.

A laje L1 e a sua simétrica, L17 (Anexo A), apresentaram maiores deslocamentos, pois

uma de suas vigas (V101 = V114) de bordo possuía um vão efetivo grande (9,15 m),

sendo assim ambas as lajes deformavam junto com a viga. Sua deformação máxima foi

de 1,02 cm (Figura 23), abaixo dos 1,21 cm, que é o limite estabelecido na NBR 6118

(2003). Este limite é calculado como sendo L/250 do menor vão.

55

Figura 23 - Deslocamentos das lajes gerados TQS

O método das charneiras plásticas apresentou valores menores de momentos

em comparação ao de analogia de grelhas, principalmente no que diz respeito aos

momentos positivos das lajes com vãos maiores. Os valores dos momentos negativos

nessas lajes foram de mesma ordem de grandeza. As diferenças significativas se

devem as simplificações que o modelo de ruptura admite em sua analise, a saber, da

56

indeformabilidade das vigas de apoio das lajes, dos painéis de laje isolados uns dos

outros com aproximações de suas condições de vinculação. Para melhor visualização

seguem abaixo as plantas com os correspondentes valores obtidos a partir de cada

modelo, conforme figuras 24, 25, 26 e 27. No TQS obtemos não só os momentos

máximos, mas também os momentos em toda a laje, de acordo a distância de

discretização da grelha, neste caso tem-se momentos a cada 35 cm. Por este motivo foi

destacados os momentos máximos nas plantas obtidos no TQS.

Figura 24 - Momentos na direção X obtidos pelo SISTRUT

57

Figura 25 - Momentos na direção X obtidos pelo TQS

58

Figura 26 - Momentos na direção Y obtidos pelo SISTRUT

59

Figura 27 - Momentos na direção Y obtidos pelo TQS

Como era de se esperar, as lajes com maiores vãos e maiores momentos

possuem armaduras mais pesadas. As armaduras positivas encontradas pelo SISTRUT

foram menores que as encontradas pelo TQS (ver Anexos D e E), pois os momentos

encontrados foram menores. No programa TQS, devido ao fato dos momentos serem

dados por faixa e ter o recurso de obter uma media ponderada entre estas, pode-se

colocar armaduras não somente para o momento máximo, mas sim de acordo com os

esforços solicitantes, dividindo o pano de laje em faixas, para melhor distribuição e

60

economia das armaduras. Nas lajes L1 e L17 para o momento positivo na direção

principal, pois são lajes corredor, assim armadas em uma direção, pode ser verificada a

divisão em três partes das lajes que foram modeladas pelo TQS, no entanto devido aos

esforços do SISTRUT serem mais baixos não pode ser verificado a economia da

armadura (Figuras 28 e 29).

Figura 28 - Armaduras positivas na direção Y obtidas pelo SISTRUT

61

Ver Anexo D

Figura 29 - Armaduras positivas na direção Y obtidas pelo TQS Ver Anexo E

No caso das armaduras negativas pode-se verificar que nas lajes onde os

esforços máximos foram de mesma grandeza houve uma redução no consumo da

armadura gerado pelo TQS, pois foi dividido em três trechos o vão. Em ambos os

62

programas foi considerado armadura negativa em todos os bordos de laje para combate

a fissuração. No geral o SISTRUT consumiu menos aço que o TQS, cerca de 11,7%,

de acordo com a tabela 9, isto se deve ao fato de que o método utilizado pelo TQS

considera o deslocamento dos elementos, então existe armadura, por exemplo, perto

de pilares, no qual o método utilizado pelo SISTRUT não leva em consideração (Figuras

30 e 31).

Tabela 9 - Resumo de aço das lajes Ver Anexos D e E

RESUMO DE AÇO CA 50-60

Aço Bitola (mm) SISTRUT TQS

Peso (Kg) Peso (Kg)

60B 5 66 288

50A 6.3 724 269

50A 8 229 593

50A 10 63 106

Peso total 60B = 66 288

Peso total 50A = 1015 967

Total = 1081 1255

O programa computacional utilizado para o dimensionamento pelo método de

ruptura, o SISTRUT, é um programa que não está atualizado com os requisitos da NBR

6118:2003, no entanto foi verificado se o dimensionamento estava de acordo com os

padrões exigidos pela norma. As armaduras foram verificadas de acordo ao critério de

armadura mínima, como explicito no Capítulo 3, no que diz respeito à taxa mínima

absoluta de 0,15%. Todas as armaduras das lajes atenderam o critério de armadura

mínima. As armaduras mínimas para as lajes foram de 1,73 cm² e 1,16 cm², para as

alturas de 10 cm e 8 cm respectivamente.

O critério de comprimento da armadura negativa em ambos os projetos foi a de

estender a armadura sobre cada lado do apoio até ¼ do maior dos menores vãos das

lajes contíguas a ele. No entanto, o programa TQS através do gráfico de momentos,

indica a necessidade de ter armadura negativa, por isso algumas armaduras têm

comprimentos que não estão dentro deste critério.

Em ambos os projetos o critério para armadura de combate aos momentos

63

volventes foi adotada nas lajes com uma das dimensões maior que 5 m e no encontro

de lados simplesmente apoiados, considerando armadura negativa de canto, igual à

maior armadura positiva, com comprimento aproximadamente de , onde é o

menor vão da laje. No entanto, no TQS a armadura de canto nas lajes L1 e L17 (Figura

31 e Anexo E) estão cobrindo os momentos negativos que aparecem devido à presença

do pilar, que é um ponto rígido no qual “levanta” a laje.

Figura 30 - Armaduras negativas na direção Y obtidas pelo SISTRUT

Ver Anexo D

64

Figura 31 - Armaduras negativas na direção Y obtidas pelo TQS Ver Anexo E

65

6.3 ANALISE DOS RESULTADOS OBTIDOS DAS VIGAS

Como explicitado no item 6.2 o modelo das charneiras plásticas admite em sua

análise a indeformabilidade das vigas de apoio das lajes e dos painéis de laje isolados

uns dos outros com aproximações de suas condições de vinculação, analisando

separadamente os elementos envolvidos, transferindo o carregamento das lajes para as

vigas, destas para os pilares e dos pilares para o elemento de fundação, sendo o

modelo utilizado para o dimensionamento o modelo clássico de resistência dos

materiais de vigas contínuas. No TQS existe uma interação entre os elementos

envolvidos no dimensionamento, não considerando as vigas como elementos

indeformáveis. Nas vigas V101 e V114, que estão submetidas à mesma situação, onde

recebem o carregamento das lajes L1 e L17, respectivamente, foi observado no

dimensionamento pelo programa TQS a influência da rigidez dos pilares. Para avaliar

tal influência, o cálculo a ser realizado, utilizando o modelo clássico de viga continua

melhorado na qual é considerado a solidariedade dos pilares com a viga, mediante a

introdução da rigidez a flexão dos pilares extremos e intermediários, que consta no item

14.6.7 da NBR 6118 (2003), sendo assim o momento máximo positivo, no elemento em

questão, diminui cerca de 50% (Figuras 33 e 34), a armadura positiva para no

dimensionamento do método de ruptura é maior que no de analogia de grelha, como

pode ser observado nas figuras 34 e 35. No entanto a armadura para o negativo é

maior no TQS, mas o consumo de aço é maior no SISTRUT (Tabela 10).

Figura 32 – Momentos na V101 = V114 – SISTRUT

Os momentos de engastamento em ambos os apoios foram de -12,72 tf.m.

66

Figura 33 – Momentos na V101 = V114 - TQS

Figura 34 – Detalhamento das armaduras das vigas V101 = V114 – SISTRUT Ver Anexo B

67

Figura 35 - Detalhamento das armaduras das vigas V101 = V114 - TQS Ver Anexo C

Tabela 10 - Resumo de aço das vigas V101 e V114 Ver Anexos B e C

RESUMO DE AÇO CA 50-60

Aço SISTRUT TQS

Peso (Kg) Peso (Kg)

Peso total 60B = 13 12

Peso total 50A = 101 76

Total = 114 88

No geral houve um consumo maior de aço nas vigas dimensionadas pelo

68

SISTRUT, conforme tabela 11. No entanto, considerando o dimensionamento de todos

os elementos, vigas e lajes, o SISTRUT obteve um menor consumo de aço, já que

foram consideradas as peças com as mesmas dimensões de concreto, pois no TQS o

consumo de aço foi bastante superior ao do SISTRUT (Tabela 10).

Tabela 11 - Resumo de aço das vigas

RESUMO DE AÇO CA 50-60

Aço SISTRUT TQS

Peso (Kg) Peso (Kg)

Peso total 60B = 161 199

Peso total 50A = 914 874

Total = 1075 1073

Taxa de Armadura (Kg/m³) = 84,65 84,49

Tabela 12 - Resumo de aço do pavimento tipo (lajes e vigas)

RESUMO DE AÇO CA 50-60

Aço SISTRUT TQS

Peso (Kg) Peso (Kg)

Peso total 60B = 227 487

Peso total 50A = 1928 1841

Total = 2155 2328

6.4 ANALISE DOS CUSTOS

Em relação a custo, como os elementos possuem as mesmas dimensões em

ambos os projetos, conseqüentemente o mesmo consumo de concreto e forma,

variando somente o custo referente à armadura, será feito apenas o levantamento da

execução e do material referente à armadura das lajes e vigas. O levantamento de tal

custo foi baseada na Tabela 13, para as lajes e para vigas a Tabela 14. O custo unitário

69

de cada elemento foi baseado no valor fornecido pela PINI, adotando o valor dos

encargos sociais para a mão-de-obra do armador de 124,6%.

Tabela 13 – Custo da montagem de armadura para lajes maciças convencionais Fonte: SANTOS

Armadura de aço para lajes, CA-50, corte e dobra industrial, fora da obra - unidade kg

Descrição Unidade Consumo Preço Total

Armador h 0,031 R$ 9,32 R$ 0,29

Espaçador circular de plástico para lajes uni 11,40 R$ 0,09 R$ 1,03

Serviço de corte/dobra industrializado para aço CA 50/60 kg 1,05 R$ 0,35 R$ 0,37

Barra de aço CA-50 kg 1,05 R$ 3,77 R$ 3,96

Arame recozido kg 0,02 R$ 6,05 R$ 0,12

Total geral do serviço kg R$ 5,77

Tabela 14 – Custo da montagem de armadura para vigas Fonte: TCPO - 13

Armadura de aço para vigas, CA-50, corte e dobra industrial, fora da obra - unidade kg

Descrição Unidade Consumo Preço Total

Armador h 0,1 R$ 9,32 R$ 0,93

Espaçador circular de plástico para lajes uni 7,29 R$ 0,09 R$ 0,66

Serviço de corte/dobra industrializado para aço CA 50/60 kg 1,05 R$ 0,35 R$ 0,37

Barra de aço CA-50 kg 1,05 R$ 3,77 R$ 3,52

Arame recozido kg 0,02 R$ 6,05 R$ 0,12

Total geral do serviço kg R$ 5,60

De posse desses valores unitários, o custo da montagem e da própria armadura,

sendo considerado para efeito de simplificação todo aço do tipo CA-50A, para o

pavimento dimensionado pelo método das charneiras plásticas as lajes custam

6.237,37 reais e as vigas 6.020,00 reais, no total de R$ 12.257,37. E para o modelo de

analogia de grelha o valor das lajes e vigas de 7.241,35 reais e 6.008,80 reais,

70

respectivamente, no total de R$ 13.250,15. Ou seja, como só houve variação no

consumo de aço na obra do pavimento em estudo, a obra dimensionada pelo TQS

custa em torno de 7% mais cara que o do SISTRUT.

Após o dimensionamento final das estruturas consideradas neste trabalho, lajes

e vigas, foi verificado que não adotou o mesmo critério de dimensionamento para as

vigas em ambos os métodos. No SISTRUT, que possui como modelo de

dimensionamento o método das charneiras plásticas, foi desprezada a colaboração da

mesa, ou seja, as vigas foram dimensionadas como seção I, isto significa que o

dimensionamento foi contra a economia, mas a favor da segurança, pois considerando

a viga como seção T haveria um menor consumo de aço, mas não influenciando no

dimensionamento das lajes. Já no TQS no primeiro instante, e ao que diz respeito a

todo dimensionamento e consumo explicitado acima, foi considerado a viga como seção

T, no entanto em um segundo momento foi verificado o dimensionamento desprezando

a colaboração da mesa e verificou-se que algumas vigas tinham sofrido redução no

consumo de armadura, isso se deve ao fato de ter reduzido a inércia das vigas, assim o

modelo de grelha redistribui os esforços, armando ainda mais as lajes, pois neste

modelo quanto maior a inércia da peça, maior a capacidade de absorver os esforços ela

terá.

71

7 CONCLUSÃO

O pavimento tipo do edifício residencial, tomado como exemplo nas analises

realizadas no presente trabalho, apresenta forma estrutural simples, com todas as lajes

retangulares. Os resultados fornecidos, entretanto, pelos modelos estruturais propostos

foram muito diferentes.

As diferenças observadas nos dois tipos de análises ocorreram devido às

considerações simplificadas que o método de ruptura admite, sendo as vigas apoios

indeformáveis e o cálculo dos painéis das lajes como placas isoladas. No modelo de

analogia de grelha, utilizado pelo TQS, existe uma interação entre os elementos,

considerando as vigas como elementos deformáveis e as lajes apoiadas sobre tais

deformam conjuntamente, levando em conta também a interferência da rigidez na

região em torno dos pilares, fazendo com que na laje apareçam momentos negativos,

os quais não são levados em consideração no método das charneiras plásticas.

No que diz respeito ao custo, levando em consideração apenas a execução e o

material referente à armadura, pois em ambos os projetos foram considerados a mesma

seção de concreto, conseqüentemente o mesmo consumo de concreto e forma, o

método das charneiras plásticas foi mais em conta que o de analogia de grelha, R$

11.954,93 e R$ 12.906,03, respectivamente, cerca de 7%, tal diferença pode ser

observada principalmente em relação às lajes, no qual a diferença foi em torno de 14%.

Isso foi devido às considerações simplificadas citadas acima que o modelo de ruptura

adota.

No entanto, afirmar que o método das charneiras plásticas é o melhor método

para o dimensionamento de lajes e vigas, por apresentar menor custo, é um equivoco,

pois tal modelo não permite analisar o comportamento do elemento nas condições de

utilização, o qual deve ser verificado para abertura de fissuras, para não comprometer a

durabilidade das estruturas e aparência, deformações e vibrações excessivas, que

72

garante ao usuário conforto e boa utilização funcional. As lajes posteriormente foram

submetidas ao cálculo de deformação no programa TQS, que utiliza o modelo de

analogia de grelha, o qual foi encontrado 1,02 cm, estando dentro do limite de 1,21 cm.

Em relação às vigas os custos foram bastante semelhantes, no entanto as vigas

dimensionadas no SISTRUT poderiam ter o consumo de armadura reduzido,

conseqüentemente o custo menor, devido à consideração da seção utiliza ser

retangular e não T, não levando em consideração a colaboração da mesa. Mas sendo a

favor da segurança. No programa TQS como foi observado que algumas vigas sofreram

redução no consumo de armadura após o processamento considerando a seção das

vigas sem a colaboração da mesa, o seu custo também seria reduzido, no entanto

devido o método de analogia de grelha distribuir os esforços de acordo com a rigidez

dos elementos, ou seja, quanto maior a rigidez da peça maiores esforços ela vai

absorver, acarretando em um aumento no consumo de armadura nas lajes,

conseqüentemente no aumento do custo das mesmas, deste modo não significando

uma redução no custo total do pavimento.

Por isso, apesar do modelo de ruptura consumir menos armadura, o método de

analogia de grelha é a ferramenta mais indicada para projetos de estruturas em

concreto armado, pois possibilita a verificação no estado limite de utilização, leva em

consideração a deformação dos elementos envolvidos, aproximando-se do

comportamento real que a estrutura terá, possibilitando um melhor dimensionamento. O

programa TQS para a verificação do estado limite de serviço calcula a deformação

considerando as fissuras que aparecem no concreto aramado de acordo com a NBR

6118 (2003).

7.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Seguem-se sugestões para trabalhos futuros, que poderão dar continuidade ao

73

estudo deste tema, pois os temas referentes ao estudo de lajes apoiadas sobre vigas

apresentam diversas opções.

Estudo comparativo dimensionando o mesmo pavimento de laje apoiado sobre

vigas pelo método simplificado utilizando o auxilio de tabelas, por exemplo, de

Czerny, alem dos dois métodos utilizados no presente trabalho, ruptura e

analogia de grelha;

Estudo comparativo dimensionando o mesmo pavimento de laje apoiado sobre

vigas pelo método simplificado utilizando o método de elementos finitos e método

de diferenças finitas além dos dois métodos utilizados no presente trabalho,

ruptura e analogia de grelha;

Estudo comparativo dimensionando o mesmo pavimento de laje apoiado sobre

vigas no TQS o primeiro levando em consideração a viga com a colaboração da

mesa e o segundo com seção retangular;

REFERÊNCIAS

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