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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI MONOGRAFIA PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO E GESTÃO DE ESTOQUES DE UMA INDÚSTRIA MADEIREIRA DE PEQUENO PORTE MARCELLE MOTA MORAIS São João del-Rei, 15 de Setembro de 2014.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI

MONOGRAFIA

PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO E

GESTÃO DE ESTOQUES DE UMA

INDÚSTRIA MADEIREIRA DE

PEQUENO PORTE

MARCELLE MOTA MORAIS

São João del-Rei, 15 de Setembro de 2014.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI

PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO E

GESTÃO DE ESTOQUES DE UMA

INDÚSTRIA MADEIREIRA DE

PEQUENO PORTE

Autora: Marcelle Mota Morais

Orientador: Wilson Trigueiro de Sousa Júnior

Monografia apresentada

como parte dos requisitos

necessários para a

conclusão do curso de

Engenharia de Produção da

Universidade Federal de

São João Del Rei – UFSJ.

São João del-Rei, 15 de Setembro de 2014.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI

DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia a todas as pessoas que direta ou indiretamente me

auxiliaram e deram incentivo ao meu desenvolvimento intelectual. Dedico principalmente

aos meus pais, que sempre me apoiaram e que dedicaram suas vidas aos filhos, fazendo

com que crescêssemos apaixonados por conhecimento e com valores inestimáveis. À

minha falecida vó Jeny, a melhor pessoa que já conheci, meu exemplo de bondade e

caráter. À minha tia Lucy, pelo amor e doação incondicional à família. Espero ser motivo

de orgulho para todos vocês.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI

AGRADECIMENTOS

À minha família, pelo amor, carinho e incentivo.

Aos meus amigos, pelo companheirismo e apoio nos momentos difíceis.

À Universidade Federal de São João del-Rei, pela oportunidade oferecida.

Aos funcionários da UFSJ.

Ao meu orientador prof. Wilson Trigueiro Júnior, pelos ensinamentos, paciência,

atenção e dedicação.

Ao criador do curso de Engenharia de Produção da UFSJ, prof. Lincoln Cardoso

Brandão.

À empresa que disponibilizou os dados para a confecção deste trabalho.

Aos professores que ensinam com brilho nos olhos, que inspiram, motivam e

honram a profissão mais bonita do mundo. Um agradecimento especial a alguns dos que

mais marcaram a minha história: Andréa Delfino, Marcos Oliveira, Daniela Ramires,

Arnaldo Pereira, Magda Lombardi, Beth Olinto, Flávio Napolitano e Nei Brito.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI

RESUMO

MORAIS, Marcelle Mota, Planejamento da Produção e Gestão de Estoques de uma

indústria madeireira de pequeno porte, São João del-Rei: Coordenadoria de

Engenharia de Produção, Universidade Federal de São João del-Rei, 2014. 61 p.

Monografia.

A satisfação do cliente é fundamental para a sobrevivência de uma empresa e, no mercado

de madeira para a construção civil, uma das exigências dos clientes é a pronta-entrega. A

Indústria Madeireira Baggio Ltda., empresa localizada no município de Jumirim - São

Paulo, produz para repor o estoque consumido, tendo um valor de estoque regular que

não foi definido por meio de análise numérica criteriosa, mas apenas pelo julgamento

pessoal de um dos administradores da empresa. Analisando-se os dados disponibilizados

pela empresa, foi identificado um problema de superdimensionamento do estoque de

madeira para construção civil. Esta monografia apresenta uma proposta de Planejamento

da Produção e Gestão de Estoques da empresa em questão. Ao final deste trabalho, são

apresentados os resultados econômicos esperados, que incluem redução de 33,79% de

gastos com estoque e 42,07% de gastos com produção no período de um ano. Uma Gestão

de Estoques que teve por base a previsão de demanda, juntamente com seu respectivo

estoque de segurança, permite reduzir a quantidade de produtos acabados estocados

mantendo um bom nível de serviço. Além da diminuição dos custos, a redução do estoque

tem como vantagens o aumento da liquidez, liberação de espaço (armazéns, fábricas, etc.)

e pessoal (manipulação, controle), facilitação de operações e melhor visualização de

ineficiências.

Palavras Chave: Gestão de Estoques, Madeireira, Previsão de Demanda, Planejamento

da Produção, Nível de Serviço.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI

ABSTRACT

MORAIS, Marcelle Mota, Production Planning and Inventory Management of a small-

sized Timber Industry. São João del-Rei: Coordination of Production Engeneering,

Federal University of São João del-Rei, 2014. 61 p. Senior Thesis.

Customer satisfaction is the key to the survival of a company and, in the market of wood

for civil construction, one of the requirements of customers is the immediate delivery.

The Baggio Timber Industry Ltd., located in the municipality of Jumirim - São Paulo,

produces to replenish the consumed stock, having a value of regular stock that has not

been defined by judicious numerical analysis, but only by the personal judgment of one

of the directors of the company. Analyzing the data provided by the company, an

oversizing problem of the stock of wood for civil construction was identified. This thesis

presents a proposal of Production Planning and Inventory Management for the company

in question. At the end of this thesis, the expected economic results are presented,

including a reduction of 33.79% of stock expenses and 42.07% of production expenses

within one year. An Inventory Management which was based on demand forecast, along

with its respective safety stock, reduces the stocked amount of finished products

maintaining a good level of service. Besides lowering costs, the reduction of inventory

has advantages as the increase of liquidity, release of space (warehouses, factories, etc.)

and personal (manipulation, control), facilitation of operations and better visualization of

inefficiencies.

Key Words: Inventory management, timber Company, demand forecasting, production

planning, service level.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI

ÍNDICE

Lista de figuras ........................................................................................................................ ix

Lista de tabelas ..........................................................................................................................x

Lista de siglas e abreviaturas .................................................................................................. xi

1. Introdução .....................................................................................................................1

2. Revisão Bibliográfica ....................................................................................................4

2.1 Previsão de Demanda ................................................................................................ 4

2.1.1 Etapas de um modelo de previsão de demanda ............................................................... 5

2.1.2 Previsibilidade da demanda ............................................................................................ 7

2.1.3 Métodos de previsão da demanda ................................................................................... 8

2.2 Planejamento da Produção ......................................................................................... 9

2.2.1 Planejamento Agregado e de Capacidade ..................................................................... 11

2.2.2 Planejamento Mestre ..................................................................................................... 14

2.3 Gestão de Estoques.................................................................................................. 15

2.3.1 Estoques ........................................................................................................................ 15

2.3.2 Custos de Estoque ......................................................................................................... 18

2.3.3 A Gestão de Estoques ................................................................................................... 20

2.3.4 ABC .............................................................................................................................. 23

2.3.5 Nível de serviço ............................................................................................................ 26

2.3.6 Estoque de segurança .................................................................................................... 27

2.4 5S .......................................................................................................................... 28

2.5 Sistemas de informação ........................................................................................... 30

3. Metodologia ................................................................................................................32

4. Resultados ...................................................................................................................34

4.1 Apresentação da empresa ......................................................................................... 34

4.1.1 Produtos e serviços ....................................................................................................... 34

4.1.2 Descrição do processo de produção de madeira para construção civil ......................... 37

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4.2 A Gestão de Estoque e Armazém de produtos terminados .......................................... 37

4.3 Proposta ................................................................................................................. 39

4.3.1 Premissas....................................................................................................................... 39

4.3.2 Curto Prazo ................................................................................................................... 41

4.3.2.1 Previsão da Demanda ................................................................................................. 41

4.3.2.2 ABC ........................................................................................................................... 43

4.3.2.3 Planejamento Agregado ............................................................................................. 44

4.3.2.4 Plano Mestre .............................................................................................................. 46

4.3.2.5 5S ............................................................................................................................... 49

4.3.2.6 Registro informatizado de informações desagregadas ............................................... 50

4.3.3 Longo Prazo .................................................................................................................. 50

4.3.4 Impactos econômicos e comentários ...................................................................... 51

5. Considerações finais .......................................................................................... 53

6. Referências Bibliográficas ..........................................................................................55

7. Apêndices ....................................................................................................................59

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Etapas do modelo de previsão da demanda 6

Figura 2. Uma definição de planejamento e controle da capacidade produtiva 12

Figura 3. Falta em virtude do aumento repentino da demanda 18

Figura 4. Falta em virtude do atraso nas entregas 18

Figura 5. Interesses conflitantes entre as áreas de uma empresa 22

Figura 6. Curva ABC 25

Figura 7. Estoque de segurança 28

Figura 8. Viga 35

Figura 9. Sarrafo 35

Figura 10. Tábua 35

Figura 11. Caibro 36

Figura 12. Ripa 36

Figura 13. Bitolinha 36

Figura 14. Etapas da produção de madeira para construção 37

Figura 15. Vista de parte do armazém 38

Figura 16. Fluxo do armazém 38

Figura 17. Gráfico da demanda real do período de 01/2011 a 12/2013 42

Figura 18. Gráfico da demanda sem Sazonalidade do período de 01/2011 a 12/2013 42

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Limite de classes 24

Tabela 2. Fator de serviço (Z) ou (k) 26

Tabela 3. Quantidade de madeira consumida nos períodos de 2011 a 2013 40

Tabela 4. Dados fornecidos pela empresa 40

Tabela 5. Previsão da Demanda para os trimestres de 2014 43

Tabela 6. Parte dos cálculos para o estoque de segurança 44

Tabela 7. Cálculo da produção regular proposta 45

Tabela 8. Planejamento Agregado da Produção proposto para o período de um ano 46

Tabela 9. Planejamento Agregado da Produção de acordo com a política atual da empresa

para o período de um ano 46

Tabela 10. Plano Mestre de Produção proposto da família de produtos do tipo Viga 47

Tabela 11. Plano Mestre de Produção atual da família de produtos do tipo Viga 47

Tabela 12. Demanda mensal prevista de cada produto 47

Tabela 13. Plano Mestre de Produção dos produtos do tipo Viga 48

Tabela 14. Plano Mestre de Produção dos produtos do tipo Sarrafo 48

Tabela 15. Plano Mestre de Produção dos produtos do tipo Tábua 48

Tabela 16. Plano Mestre de Produção dos produtos do tipo Caibro 48

Tabela 17. Plano Mestre de Produção dos produtos do tipo Ripa 48

Tabela 18. Plano Mestre de Produção dos produtos do tipo Bitolinha 49

Tabela 19. Custos dos itens da família de produtos do tipo Viga 51

Tabela 20. Custos associados aos itens de todas as famílias de produtos 52

Tabela 21. Custos totais para todas as famílias de produtos em um ano 52

Tabela 22. Demanda Real agregada em trimestres 59

Tabela 23. Demanda Real sem sazonalidade 59

Tabela 24. Análise pelo método das Médias Móveis 59

Tabela 25. Análise do método Suavização Exponencial 60

Tabela 26. Análise do método Regressão Linear 60

Tabela 27. Dados complementares para a análise pelo método da Regressão Linear 61

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ERP Enterprise Resource Planning

ETO Engineer to Order

FIFO First-in-first-out

JIT Just in Time

k Número de desvios padrões

MAD Desvio médio absoluto

MTO Make to Order

MTS Make to Stock

PCP Planejamento e Controle da Produção

PMP Plano-Mestre de Produção

QS Estoque de segurança

SCM Supply Chain Management

SKU Stock Keeping Unit

WCM World Class Manufacturing

WIP Work In Process

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1. Introdução

Um dos instrumentos imprescindíveis para eficiência da cadeia produtiva nas

organizações modernas é a gestão de estoque, que constitui um tema clássico na

engenharia de produção (MOREIRA, 2008; CORRÊA; GIANESI; CAON, 2007;

STEVENSON, 2001; DAVIS; AQUILANO; CHASE, 2000).

Se por um lado estoques em excesso podem onerar os custos da empresa, por outro,

sua falta pode ocasionar tanto paradas na produção como redução do nível de serviço aos

clientes, conforme destacam Belfiore, Costa e Fávero (2006). Em muitos casos, a

satisfação do cliente torna-se um elemento fundamental no mercado atual e engloba

disponibilidade do produto, agilidade e eficiência na entrega, entre outros elementos.

Para que metas e estratégias possam ser atingidas pelas empresas, é necessário que

sejam definidos planos, a partir dos quais são administrados os recursos humanos e

físicos. Neste cenário se encontra a função do Planejamento e Controle da Produção

(PCP). Slack et al (1997, p. 322) afirmam que “planejamento e controle é o processo de

conciliar demanda e fornecimento”.

Tubino (2000) ressalta que um bom planejamento estratégico da produção deve

preocupar-se em balancear os recursos produtivos de forma a atender à demanda com

uma carga adequada para os recursos da empresa. É sempre importante analisar a

necessidade futura de capacidade e confrontá-la com a capacidade atual.

Caso os recursos disponíveis e previstos da empresa não sejam suficientes, mais

recursos deverão ser planejados, ou o plano reduzido. Por outro lado, caso os recursos

sejam excessivos e gerem ociosidade, a demanda planejada poderá ser aumentada ou os

recursos excessivos poderão ser dispensados e transformados em capital.

Raposo (2011) afirma que melhorias em todo sistema produtivo são buscadas pelas

empresas através da minimização dos impactos que as impedem de alcançar melhores

resultados. De acordo com Tubino (2000), hoje as empresas devem possuir um sistema

flexível de produção, com rapidez no projeto e implantação de novos produtos, com

baixos lead times e estoques no atendimento das necessidades dos clientes. A forma como

se planeja, programa e controla esses sistemas produtivos tem função primordial nesse

contexto.

A Gestão de Estoques é uma ferramenta da administração que planeja, controla e

replaneja todo fluxo de material, de acordo com a demanda, baseando-se nas necessidades

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dos clientes, de forma rápida e com eficiência, mantendo o foco na redução de custos e o

aumento da rentabilidade da empresa (ROCHA, 2010).

Nara et al (2012) afirmam que o planejamento, assim como o dimensionamento dos

estoques das empresas, está ligado a Políticas de Estoques. O estoque destaca-se como

alvo na redução de custos e, ademais, possui um grande impacto sobre o retorno do capital

investido. A Gestão de Estoques é de grande importância para as empresas e, por essa

razão, representa uma conta muitas vezes alta de alocação dos recursos, mas necessária

para o bom atendimento e a satisfação dos clientes.

Assim, como é necessário ter estoques para determinadas finalidades, em casos

como o do presente trabalho, é preciso minimizá-los ao máximo buscando o equilíbrio

entre atendimento ao cliente e desembolso no fluxo de caixa.

De acordo com Montanheiro e Fernandes (2008), uma eficiente Gestão de Estoques

possibilita à organização obter melhorias significativas na sua administração, uma vez

que repercute em uma melhora na eficiência da realização da produção planejada, traz

maior segurança nas tomadas de decisões, além de prevenir possíveis atrasos na entrega

de pedidos.

O estudo de modelos de gestão de estoques não é simples, dada a presença de

incertezas, isto é, variáveis que não podem ser preditas e que precisam ser estimadas de

alguma forma. Saber trabalhar com incertezas é uma importante habilidade para o sucesso

de quaisquer profissionais ou empresas (GAITHER e FRAZIER, 2001).

O presente trabalho foi desenvolvido na Indústria Madeireira Baggio Ltda., a qual

localiza-se no município de Jumirim, São Paulo. Foi observado que a empresa planeja

sua produção com base no consumo de estoque de produtos acabados, ou seja, produz

para repor as quantidades consumidas. Contudo, as quantidades de estoque regular não

estão relacionadas com nenhuma metodologia técnica de previsão de demanda, sendo

fruto apenas do julgamento pessoal de um dos administradores da empresa.

Ademais, as atividades de elaboração da Previsão da Demanda, do Planejamento

Agregado e do Plano Mestre de Produção são feitas com base na experiência e opinião

dos proprietários da empresa, sem análise numérica rigorosa ou uso de programas

computacionais, os quais são amplamente utilizados por empresas do porte da madeireira.

Observando-se os dados disponibilizados pela madeireira, foi identificado um

problema de superdimensionamento do estoque de madeira para construção civil, que

inclusive foi reconhecido pela empresa como uma necessidade de melhoria.

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Perante o cenário supra descrito, a presente monografia tem por objetivo

apresentar uma proposta para melhorar o planejamento da produção e gestão de estoques

de madeiras destinadas para construção civil da Indústria Madeireira Baggio Ltda. A

proposta desenvolvida envolve técnicas como a de previsão da demanda, sistema de

classificação ABC, nível de serviço, estoque de segurança, 5S e sistema informatizado de

informações desagregadas.

Por fim, apresentam-se os resultados esperados, incluindo o impacto nos níveis de

estoque na empresa em estudo, mantendo-se o nível de serviço, bem como os resultados

financeiros.

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2. Revisão Bibliográfica

2.1 Previsão de Demanda

De acordo com Francischini e Gurgel (2004), a administração de estoque está

intimamente relacionada com a possibilidade de estimar qual será o consumo esperado

de determinado item, num dado período de tempo futuro. Quanto mais precisa for a

previsão de consumo, mais informações o administrador de materiais terá para tomar suas

decisões sobre qual nível de estoque deverá manter e quanto deverá comprar ou fabricar

para atender às necessidades de seus clientes internos e externos.

Ainda segundo Francischini e Gurgel (2004), o consumo real de determinado item

possui dois componentes:

Padrões básicos de comportamento ao longo do tempo, que podem ser

estimados por métodos de previsão;

Variáveis aleatórias, cujas causas são tão variadas que se torna virtualmente

impossível prevê-las.

Quanto à natureza, há dois métodos para se estimar a demanda:

Métodos qualitativos - baseados em opiniões e estimativas de diretores,

gerentes, vendedores e consultores especializados (feeling);

Métodos quantitativos - baseados em ferramentas estatísticas e de

programação da produção, pressupondo a utilização de cálculos

matemáticos.

Ferramentas estatísticas são muito úteis para estimar os padrões básicos do

comportamento do consumo, tendo por base o consumo passado e formulando

determinadas hipóteses para um período futuro. Quanto às variáveis aleatórias, são

tratadas pela Estatística sob a forma de erros de estimação. (FRANCISCHINI, GURGEL,

2004)

Martins (2009) define previsão como: “processo metodológico para a determinação

de dados futuros baseado em modelos estatísticos, matemáticos ou econométricos ou

ainda em modelos subjetivos apoiados em uma metodologia de trabalho clara e

previamente definida”. As previsões têm uma função muito importante nos processos de

planejamento dos sistemas de produção, pois permitem que os administradores destes

sistemas antevejam o futuro e planejem adequadamente suas ações.

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Tubino (2000) ressalta que a previsão de demanda é a base para o planejamento

estratégico da produção, vendas e finanças de qualquer empresa. Partindo desse ponto, as

empresas podem desenvolver os planos de capacidade, de fluxo de caixa, de vendas, de

produção, de estoques, de mão-de-obra, de compras etc.

Neste sentido, as previsões são usadas pelo setor de Planejamento e Controle da

Produção (PCP) em dois momentos distintos: para planejar o sistema produtivo e para

planejar o uso deste sistema produtivo.

Para planejar o sistema produtivo, previsões de longo prazo são usadas para

elaborar estrategicamente o plano de produção definindo que produtos e serviços oferecer

ao mercado, de que instalações e equipamentos dispor, em que nível de atividade

trabalhar, que qualificação de mão-de-obra buscar etc.

Para planejar o uso do sistema produtivo, previsões de médio e curto prazo são

empregadas para o planejamento-mestre e programação da produção no sentido de

utilizar os recursos disponíveis, envolvendo a definição de planos de produção e

armazenagem, planos de compra e reposição de estoques, planos de cargas de mão-de-

obra e sequenciamento da produção.

Tubino (2000) diz ainda que, apesar da evolução dos recursos computacionais e da

sofisticação matemática das técnicas de projeção, a previsão da demanda dos produtos

não é uma ciência exata; envolve uma boa dose de experiência e julgamento pessoal do

planejador. A única coisa que se pode garantir é que o valor previsto será sempre uma

aproximação do valor real. Porém, quanto mais apurada for a técnica empregada, melhor

a base sobre a qual o planejador decidirá.

A avaliação do erro de previsão servirá de base para o estabelecimento dos estoques

de segurança do sistema, assim como para a atualização dos parâmetros de decisão.

2.1.1 Etapas de um modelo de previsão de demanda

Segundo Tubino (2000), um modelo de previsão de demanda pode ser dividido em

cinco etapas básicas, apresentadas na Figura 1. Inicialmente, define-se o objetivo do

modelo, com base no qual coletam-se e analisam-se os dados, seleciona-se a técnica de

provisão mais apropriada, calcula-se a previsão da demanda e, como forma de feedback,

monitoram-se e atualizam-se os parâmetros empregados no modelo por meio da análise

do erro de previsão.

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Figura 1. Etapas do modelo de previsão da demanda. Fonte: Adaptado de Tubino (2000).

Tubino (2000) explica que a primeira etapa consiste em definir a razão pela qual se

necessita de previsões. Que produto (ou família de produtos) será previsto, com que grau

de acuracidade e detalhe a previsão trabalhará, e que recursos estarão disponíveis para

esta previsão.

A sofisticação e o detalhamento do modelo dependem da importância relativa do

produto (ou família de produtos) a ser previsto e do horizonte ao qual a previsão se

destina. Itens pouco significativos podem ser previstos com maior margem de erro,

empregando-se técnicas simples, assim como admite-se margem de erro maior para

previsões de longo prazo, empregando-se dados agregados de famílias de produtos.

Definido o objetivo do modelo de previsão, o passo seguinte consiste em coletar e

analisar os dados históricos do produto, no sentido de identificar e desenvolver a técnica

de previsão que melhor se adapte.

Com a definição da técnica de previsão e a aplicação dos dados passados para

obtenção dos parâmetros necessários, pode-se obter as projeções futuras da demanda.

Quanto maior for o horizonte pretendido, menor a confiabilidade na demanda prevista.

Segundo Arnold (2008) e Tubino (2000), à medida que as previsões forem sendo

alcançadas pela demanda real, deve-se monitorar a extensão do erro entre a demanda real

e a prevista, para verificar se a técnica e os parâmetros empregados ainda são válidos.

Em situações normais, um ajuste nos parâmetros do modelo, para que reflita as

tendências mais recentes, é suficiente. Em situações críticas, um reestudo desde o

Objetivo do modelo

Coleta e análise dos dados

Obtenção das previsões

Monitoração do modelo

Seleção da técnica de previsão

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primeiro passo (o objetivo do modelo) pode incluir um novo exame dos dados e a escolha

de uma nova técnica de previsão.

2.1.2 Previsibilidade da demanda

De acordo com Zaccarelli (1990), para tornar mais clara a natureza da previsão,

convém enunciar três conceitos básicos:

1. A previsão de vendas é uma avaliação sujeita a erro e caseada em informações

incompletas, do que acontecerá no futuro. Uma previsão sem uma estimativa do seu erro

é incompleta. Nem todos os administradores conhecem as características, as hipóteses, as

qualidades e as limitações dos métodos utilizados para prever. Daí a explicação para a

frequência com que a previsão é feita informalmente.

2. A previsão de vendas é importante pelo fornecimento de informações para

decisões administrativas. Daí a importância do conhecimento do erro, das hipóteses e

limitações da previsão.

3. Toda previsão de vendas deve ser sujeita a controle. A previsão deve ser

considerada até o dia em que representa a realidade com aproximação razoável, e deve

ser gradualmente estendida ao futuro.

Tristão e Wilhelm (2013) afirmam que, para estabelecer os níveis desejados de

estoques, é imprescindível ter previsibilidade da demanda dos produtos ofertados.

Dependendo do nível de vendas previsto pela empresa para um determinado período,

serão determinados os níveis de estoque. Embora a previsibilidade possa ser considerada

um elemento intangível e aproximado, a eficiência das técnicas utilizadas pode ser

considerada como um importante bem para a empresa.

Ballou (2010) aponta que se a demanda for previsível, não é necessário manter

estoques, isto é, quanto mais precisa for a previsão de demanda, mais simples de controlar

os estoques. No entanto, como praticamente não existe previsão de demanda exata, as

empresas utilizam estoques para reduzir os efeitos causados pelas variações de oferta e

procura.

Há diversos erros de previsão, como os que são originados pelo próprio mercado,

que é instável muitas vezes e também pouco previsível, e pelo próprio sistema de

previsão, que se utiliza de informações coletadas do mercado e de dados históricos.

A abordagem de Viana (2006) diz que ainda existem diversos fatores que podem

alterar o comportamento do consumo e influenciar na previsão como: influências

políticas, influências conjunturais, influências sazonais, alterações no comportamento dos

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clientes, preços competitivos, entre outros que sofrem variações conforme o segmento de

mercado da empresa.

2.1.3 Métodos de previsão da demanda

Corrêa (2007) afirma que, para a previsão de demanda, deve-se escolher um método

que leve em consideração diversos fatores como a natureza do produto, horizonte de

previsão e disponibilidade de dados. O primeiro passo a ser dado na modelagem

matemática dos dados históricos é a análise destes e a escolha de uma hipótese que mais

se assemelhe ao seu comportamento.

Ainda segundo Corrêa (2007), os tipos de hipóteses são: hipótese de permanência,

hipótese sazonal com permanência, hipótese de trajetória e hipótese sazonal com

trajetória. Uma vez escolhida a hipótese de comportamento, deve-se escolher o modelo

mais adequado.

Para o cálculo do índice de sazonalidade e da demanda sem sazonalidade,

considera-se as Equações (1) e (2).

Í𝒏𝒅𝒊𝒄𝒆 𝒅𝒆 𝒔𝒂𝒛𝒐𝒏𝒂𝒍𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 =𝑑𝑒𝑚𝑎𝑛𝑑𝑎 𝑅𝑒𝑎𝑙

𝑚é𝑑𝑖𝑎𝑠 𝑑𝑎𝑠 𝑑𝑒𝑚𝑎𝑛𝑑𝑎𝑠 𝑟𝑒𝑎𝑖𝑠 (1)

𝑫𝒆𝒎𝒂𝒏𝒅𝒂 𝒔𝒆𝒎 𝒔𝒂𝒛𝒐𝒏𝒂𝒍𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 = 𝑑𝑒𝑚𝑎𝑛𝑑𝑎 𝑟𝑒𝑎𝑙

í𝑛𝑑𝑖𝑐𝑒 𝑑𝑒 𝑠𝑎𝑧𝑜𝑛𝑎𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 (2)

A seguir serão apresentados os principais métodos de previsão de demanda,

segundo Corrêa (2007).

• Média Móvel: este modelo é adequado para quem adota a hipótese de

permanência, neste caso assume-se que a melhor previsão das vendas no próximo período

(𝑃𝑡+1) é a média dos últimos N valores das vendas (At). Tal modelo está representado na

Equação 3.

𝑃𝑡+1 = 𝐴𝑡+𝐴𝑡−1+𝐴𝑡−2+⋯+𝐴𝑡−𝑁

𝑁 (3)

em que: Pt+1 : Previsão de vendas para cada período t.

At : Demanda real de cada período t.

Quanto maior for N, isto é, quanto maior o nº de períodos passados utilizados no

cálculo da média móvel, maior será a suavização das variações aleatórias e menor será a

sensibilidade do modelo a mudanças.

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• Suavização Exponencial: este modelo utiliza todos os valores históricos, com

coeficientes de ponderação que decrescem exponencialmente. Este modelo foi

representado na Equação 4.

𝑃𝑡+1 = ∝ × 𝐴𝑡 + ( 1−∝) × 𝑃𝑡 (4)

em que: α = Constante de suavização.

A constante de suavização varia entre 0 e 1. Quanto maior a constante, maior será

o peso dado ao valor das vendas do período mais recente, em detrimento da última

previsão.

• Regressão Linear: Sempre que as demandas históricas se apresentarem de

forma alongada, tendo tendência crescente, decrescente ou estacionária, pode-se

encontrar a equação de uma linha reta que goze da propriedade de ter a somatória das

distâncias dos pontos de demandas a si como a mínima possível. Uma suposição básica

na análise de regressão é que para um ponto dado no tempo, a demanda é uma variável

aleatória distribuída normalmente, cuja média é um ponto sobre a reta de regressão.

A equação da regressão linear tem o seguinte formato apresentado nas Equações

(5), (6) e (7):

�̂� = 𝑎 . 𝑋 + 𝑏 (5)

b = ∑x2∑y – ∑x ∑xy

𝑛∑x2− (∑x)² (6)

a =n(∑ 𝑥𝑦)−(∑ x)(∑y)

n(∑x2)−(∑x)² (7)

sendo: x: Período

y: Demanda real

a: Coeficiente linear

b: Coeficiente angular

2.2 Planejamento da Produção

Conforme Zaccarelli (1990), em uma indústria, onde várias dezenas de pessoas

trabalham conjuntamente, não é mais possível contentar-se com um tipo de programação

informal da produção. A programação é o principal elemento de coordenação das

atividades de vários departamentos de uma indústria. Essa coordenação é particularmente

importante entre os departamentos de vendas, de produção e de compras. Uma

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programação feita sem os necessários cuidados impossibilita essa coordenação. Além

disso, é importante ter um procedimento organizado para programação, que possibilite

controlar a execução da agenda de produção.

Robison (2001) afirma que muitas empresas ainda utilizam giro agregado de

estoques e cobertura agregada de estoques como parâmetros de avaliação. Gerou-se uma

prática de gestão de estoques que privilegiava o tratamento uniforme de todos ou quase

todos os itens; isto é, em vez de determinar parâmetros de gestão individualizados para

cada item, utilizando técnicas quantitativas eficazes, os responsáveis tendiam a utilizar

regras uniformes para tratar todos os itens da mesma forma.

Exemplos dessas políticas são: produzir todos os itens uma vez por mês sem

considerar os custos de preparação de equipamentos (setups) versus os custos de

manutenção dos estoques característicos de cada item, manter estoque de segurança de

um mês de demanda para todos os itens sem considerar as incertezas de demanda e

fornecimento específicas de cada item, entre outros.

Segundo Gianesi e Biazzi (2011), o fato é que a prática atual, na qual muitas vezes

predominam os métodos empíricos, esconde um enorme potencial de melhoria de gestão

que as empresas estão cada vez mais ansiosas por alcançar. Aparentemente, a solução é

relativamente simples, principalmente considerando-se que a falta de conhecimento das

técnicas pode ser resolvida a partir de programas de educação específicos, nos quais as

técnicas disponíveis de gestão de estoques seriam apresentadas, e, a partir da

disponibilidade de ferramentas computacionais, novos processos de gestão poderiam ser

desenhados e implementados.

Entretanto, o problema não parece ser tão simples, há outras dificuldades inerentes

ao processo de gestão de estoques, em particular na definição dos objetivos de gestão,

que pedem uma abordagem estratégica que não tem estado presente nessa atividade.

Ao contrário, essa atividade de gestão tem sido tratada de forma bastante

operacional, ainda que sob pressões conflitantes vindas de diversas áreas da empresa que

buscam maximizar seus objetivos, os quais, ainda que em parte, dependem do

desempenho da gestão dos estoques.

A não ser que haja alguma urgência, empresas que fazem para estoque relutam em

“desperdiçar as valiosas capacidades dos recursos”, optando pela alternativa de se

produzir sempre, nivelando a carga ao longo do ano, estocando itens nos períodos de

demanda mais baixa para serem consumidos quando a demanda superar a capacidade de

produção (SCHRAGENHEIM; DETTMER; PATTERSON, 2009).

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Para Schragenheim, Dettmer e Patterson (2009) e Schragenheim (2010), existem

algumas situações que exigem que se produza para estoque. A primeira é quando há

períodos de pico de venda em que o Recurso com Restrição de Capacidade (RRC) não

tem capacidade de atendê-los. Se a empresa optar pela alternativa MTO (Make-to-Order),

os prazos de entrega ficariam excessivamente longos durante esses períodos.

Uma segunda situação na qual a opção MTS (Make-to-Stock) é realmente

necessária e benéfica é quando o tempo de tolerância dos clientes é menor que o lead time

de produção. Nesse caso, o sistema MTS torna-se uma necessidade para se evitar a perda

de vendas, especialmente quando competidores já oferecem entregas imediatas de seus

produtos.

De acordo com Slack (2008), as limitações às quais as atividades de planejamento

e controle estão sujeitas genericamente são:

Limitações de custos: os produtos e serviços devem ser produzidos dentro

de custos determinados.

Limitações de capacidade: os produtos e serviços devem ser produzidos

dentro de limites de capacidade projetados para a operação.

Limite de tempo: os produtos e serviços devem ser produzidos dentro de um

intervalo de tempo, no qual eles ainda têm valor para o consumidor.

Limitações de qualidade: os produtos e serviços devem ter conformidade

aos dados limites de tolerância projetados para o produto ou serviço.

2.2.1 Planejamento Agregado e de Capacidade

Slack (2008) diz que prover a capacitação de satisfazer a demanda atual e futura é

uma responsabilidade fundamental da administração da produção. Um equilíbrio

adequado entre capacidade e demanda pode gerar altos lucros e clientes satisfeitos,

enquanto o equilíbrio “errado” pode ser potencialmente desastroso.

Para Corrêa, Gianesi, Caon (2007) e Slack (2008), embora planejar e controlar a

capacidade seja uma das principais responsabilidades dos gerentes de produção, também

deveria envolver outros gerentes funcionais. Há razões para isso. A primeira é que as

decisões de capacidade têm um impacto em toda a empresa. A segunda é que todas as

outras funções fornecem entradas (inputs) vitais para o processo de planejamento. A

terceira é que cada função do negócio normalmente deverá planejar e controlar a

capacidade de suas próprias “microoperações” para atender à função produção principal.

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Planejamento e Controle de Capacidade é a tarefa de determinar a capacidade

efetiva da operação produtiva, de forma que ela possa responder à demanda. Isto

normalmente significa decidir como a operação deve reagir às flutuações na demanda.

Planejamento e Controle de Capacidade pode ser também chamado de

Planejamento e Controle Agregados. A razão disto é que no “mais alto nível” do processo

de planejamento e controle, os cálculos de demanda e capacidade normalmente são

realizados de forma agregada, que não discrimina entre os diferentes produtos e serviços

que uma operação produtiva pode fazer. A essência da tarefa é conciliar, no nível geral e

agregado, a existência de capacidade com o nível de demanda que deve ser satisfeita,

evitando excesso ou falta de produtos.

Segundo Moreira (2008) e Slack (2008), na etapa do Planejamento Agregado,

conforme ilustrado na Figura 2, definem-se quais serão as medidas tomadas para

influenciar a demanda e a produção e, também, já são considerados os respectivos custos.

Para influenciar a demanda utiliza-se de propagandas, promoções e outros meios a

fim de alcançar a demanda previamente planejada. Quanto a influenciar a produção, as

medidas adotadas são muitas vezes contratar/demitir funcionários, uso de horas extras ou

redução da jornada de trabalho, uso de estoques ou subcontratação.

Os custos considerados no Planejamento Agregado são os de demissão e

contratação de funcionários, de horas normais de trabalho, horas extras, manutenção de

estoques e outros custos advindos da produção.

Figura 2. Uma definição de planejamento e controle da capacidade produtiva. Fonte: Adaptado

de Slack (2008).

Muitas organizações operam abaixo de sua capacidade máxima de processamento,

conforme afirma Slack (2008), seja porque a demanda é insuficiente para “preencher”

completamente sua capacidade, seja por uma política deliberada, de forma que a operação

possa responder rapidamente a cada novo pedido.

Fornecimento

de produtos e

serviços

Recursos de

produção

Demanda de

produtos e serviços

Consumidores

da operação

produtiva

PLANEJAMENTO E

CONTROLE DA

CAPACIDADE

PRODUTIVA

Conciliação da

capacidade agregada

da produção com sua

demanda agregada

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Ainda de acordo com Slack (2008), tendo definido a capacidade de longo prazo, os

gerentes de produção devem decidir como ajustar a capacidade da operação no médio

prazo. Isto normalmente envolve uma avaliação da demanda futura em um período de 6

a 18 meses, durante o qual o volume de produção pode ser variado, por exemplo,

alterando o número de horas que os equipamentos são usados na prática.

Usualmente, o horizonte de planejamento é anual com revisão mensal dos planos.

Entretanto, poucas previsões são exatas e a maioria das operações também precisa

responder a mudanças na demanda que ocorrem em um período de tempo menor. Desta

forma, os gerentes de produção também devem fazer ajustes de capacidade de curto prazo,

que lhes permitam flexibilizar o volume produzido por um curto período, seja com base

em previsões ou sem aviso.

Em uma política de capacidade constante, a capacidade de processamento é

estabelecida em um nível constante durante todo o período de planejamento, sem

considerar as flutuações da previsão de demanda.

Slack (2008) afirma que com frequência um método bastante utilizado para ajustar

a capacidade é variando o número de horas produtivas trabalhadas pelo pessoal da

produção. Quando a demanda é mais alta do que a capacidade nominal, o dia de trabalho

pode ser estendido e quando a demanda é menor do que a capacidade nominal o tempo

despendido pelo pessoal em trabalho produtivo pode ser reduzido. No último caso, o

pessoal pode engajar-se em outras atividades como limpeza ou manutenção. Este método

somente é útil se a programação da capacidade produtiva extra coincide com a da

demanda.

Chiavenato (2005) e Slack (2008) sugerem que, na prática, a gestão de capacidade

é um processo muito dinâmico, que envolve controlar e reagir à demanda real e à

capacidade real à medida que ocorrem. O processo de controle de capacidade pode ser

visto como uma sequência de processos de decisão de capacidade parcialmente reativos.

No início de cada período, a gerencia de produção considera suas previsões da

demanda, sua compreensão da capacidade atual e quanto estoque foi criado no período

anterior. Baseados em todas essas informações, fazem planos para a capacidade do

período seguinte.

Durante o próximo período a demanda pode, ou não, ser como revisada e a

capacidade real da operação pode, ou não, revelar-se como planejado. No entanto,

quaisquer que sejam as condições reais durante esse período, no início do próximo o

mesmo tipo de decisão deverá ser tomado, mas em novas circunstâncias.

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2.2.2 Planejamento Mestre

De acordo com Tubino (2000), o planejamento-mestre da produção está

encarregado de desmembrar os planos produtivos estratégicos de longo prazo em planos

específicos de produtos acabados para o médio prazo, no sentido de direcionar as etapas

de programação e execução das atividades operacionais da empresa.

O programa-mestre de produção, segundo Slack (2008), é constituído de registros

com escala de tempo que contem, para cada produto final, as informações de demanda e

estoque disponível atual. Usando esta informação, o estoque disponível é projetado à

frente no tempo.

Como resultado do planejamento-mestre da produção tem-se o Plano-Mestre de

Produção (PMP), que formalizará as decisões tomadas quanto à necessidade de produtos

acabados para cada período analisado. O PMP é obtido por um processo de tentativa e

erro, em que a partir de um PMP inicial busca-se verificar a disponibilidade de recursos

para sua execução.

Caso o PMP inicial seja viável, autoriza-se o plano, porém, se forem encontrados

problemas, deve-se refazer o PMP, podendo-se inclusive chegar ao ponto de ter que

retornar ao nível do plano de produção e reconsiderar as questões estratégicas.

Conforme afirma Corrêa (2007), Planejamento Mestre de Produção é um plano

operacional que parte de um plano amplo e abrangente que é o plano de vendas e

operações (ou Plano Agregado). Trata-se de uma declaração de quantidades planejadas

que dirigem os sistemas de gestão detalhada de materiais e capacidade. Embora similar,

há diferenças substanciais em gerenciar um processo de Planejamento Mestre, conforme

o tipo de produção, principalmente quanto a usar estoque ou não nos vários estágios do

processo produtivo.

Em produção make-to-stock (MTS), segundo Corrêa (2007), os produtos são feitos

para serem estocados e só então consumidos. A questão fundamental é que a empresa tem

uma linha de produtos definida e, se decidir, pode ter estoques de seus produtos acabados,

e/ou semiacabados. Na produção de montagem sob encomenda, o que ocorre é que as

empresas conhecem seus componentes até o nível de submontagens, que podem ser bem

definidos. Entretanto, o produto acabado em si depende de definições específicas de cada

cliente.

Já na produção make-to-order (MTO), manufatura sob encomenda, o pedido do

cliente tem que ser aguardado porque traz especificações de manufatura dos componentes

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em si. Portanto, a empresa não pode armazenar produtos acabados ou semiacabados, pois

não se sabe quais são as especificações do cliente. No entanto, pode armazenar a matéria-

prima.

Na produção engineer to order (ETO) tanto o projeto quanto a manufatura de

componentes e a montagem final são feitos a partir de uma solicitação do cliente, pois

como a variedade do que pode vir a ser solicitado por ele é muito grande, muitas empresas

consideram que não pode armazenar nada, devendo esperar os pedidos entrarem para

então disparar suas primeiras compras.

Dado um certo número de produtos que utilizam a mesma linha, o problema de

programação não envolve a etapa de alocação de carga, que já está pré-definida. Há, no

entanto, duas questões a responder: quanto produzir de cada produto e em que ordem

devem ser produzidos os produtos.

2.3 Gestão de Estoques

2.3.1 Estoques

De acordo com Moreira (2008, p. 447), entende-se por estoque “quaisquer

quantidades de bens físicos que sejam conservados, de forma improdutiva, por algum

intervalo de tempo; constituem estoques tanto os produtos acabados que aguardam a

venda ou despacho, como matérias-primas e componentes que aguardam utilização na

produção”.

Para Slack et al. (2008), “o nível de estoque de uma organização é diretamente

proporcional à diferença do ritmo ou taxa entre o fornecimento e a demanda”, ou seja, se

um determinado produto fosse fornecido exatamente no momento de sua demanda, o

produto nunca seria estocado.

Tubino (2000) afirma que é possível identificar uma série de funções para as quais

estes estoques são criados, entre elas, as principais são:

• Garantir a independência entre etapas produtivas: a colocação de estoques

amortecedores entre etapas de produção ou distribuição da cadeia produtiva permite que

estas etapas possam ser encaradas como independentes das demais. Qualquer problema

que uma destas etapas tenha não será transferido para as demais.

• Permitir uma produção constante: sistemas produtivos que possuem variações

sazonais em sua demanda ou em suas matérias-primas estocam produtos acabados ou

matérias-primas para evitar que o ritmo de produção sofra grandes saltos nestes períodos.

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Logo, nos períodos de demanda baixa, procura-se manter um ritmo de produção, gerando-

se estoques. Quando a demanda se aquece, vende-se este material estocado, sem alterar o

ritmo da produção. No caso de matérias-primas sazonais, procura-se estocá-las nos

períodos de alta oferta para que a produção continue a trabalhar quando esta oferta cair.

• Possibilitar o uso de lotes econômicos: algumas etapas do sistema produtivo só

permitem a produção ou a movimentação econômica de lotes maiores do que a

necessidade de consumo imediata, gerando um excedente que precisa ser administrado.

• Reduzir os lead times produtivos: a manutenção de estoques intermediários dentro

dos sistemas produtivos permite que os prazos de entrega dos produtos possam ser

reduzidos, pois ao invés de se esperar pela produção ou compra de um item, podem-se

retirá-lo do estoque e usá-lo imediatamente.

• Como fator de segurança: variações aleatórias da demanda são administradas pela

colocação de estoques de segurança baseados no erro do modelo de previsão. Outros

problemas como a quebra de maquinas, o absenteísmo, a má qualidade do que é

produzido, uma programação de produção ineficiente, entregas de fornecedores fora do

prazo et. também são administrados com a colocação de estoques protetores.

• Para obter vantagens de preço: algumas empresas incrementam seus níveis de

estoques para se prevenir de possíveis aumentos de preços, normalmente dos materiais

comprados, ou ainda, compram em quantidade superiores às necessárias visando obter

desconto no preço unitário. De outro modo, as empresas também aumentam os níveis de

estoques dos produtos acabados quando sentem que seus preços no mercado irão subir.

Em qualquer um dos casos, a decisão por especular com estoques deve ser tomada pela

área financeira, que administra os recursos financeiros da empresa, e não pelo PCP.

Segundo Tubino (2000), como os estoques não agregam valor aos produtos, quanto

menor o nível de estoques com que um sistema produtivo conseguir trabalhar, mais

eficiente este sistema será. A administração não tem dado a devida importância a este

fato, e o que se vê comumente são sistemas produtivos desregulados e abarrotados de

estoques protetores, com altos custos de produção.

Outro fator muito importante associado à manutenção de estoques, e de difícil

quantificação, é a questão de envolvimento e motivação da mão-de-obra no trabalho.

Quando se está produzindo um item que será estocado, como não existe uma ligação

direta entre quem produz e quem consome o item, problemas de qualidade, de

sincronismo, de identificação de potenciais melhorias nos processos e produtos não são

considerados de imediato.

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De acordo com Dias (2009), o processo de desenvolvimento industrial, aumentando

a concorrência em todas as áreas, faz com que as organizações busquem decididamente a

minimização de custos. Entre os tipos de custos que afetam de perto o resultado, é o custo

da estocagem e armazenamento, que, sem dúvida, merece muita atenção.

Segundo Tadeu et al. (2011), os estoques podem ser classificados em diferentes

conjuntos, sendo os mais comuns:

• Estoque de matéria-prima – Estocagem de insumos básicos que servirão como

material necessário para o processo de transformação e consequentemente à fabricação

do produto final.

• Estocagem de produtos em processo – Estoques de peças em processo ou WIP

(Work in Process).

• Estoque de materiais auxiliares – Relativo a estocagem daqueles materiais que

não são destinados à produção diretamente, ou seja, materiais que não são incorporados

fisicamente ao produto final, embora imprescindíveis ao processo de fabricação.

• Estoques de produtos acabados – É a estocagem dos produtos já prontos e

disponibilizados ao comércio.

Visto que não é possível trabalhar com um fluxo contínuo de suprimento do estoque

devido ao fornecimento e a demanda não serem algo totalmente previsíveis, além do

estoque mínimo necessário para as operações da empresa, Arnold (1999) afirma que os

administradores do estoque tendem a utilizar de duas outras modalidades de estoque que

podem ser classificados de acordo com a sua função:

• Estoque de antecipação – É utilizado para antecipar diferenças de ritmo da

demanda ou fornecimento significativas, previamente conhecidas, podendo ser utilizado

antes de uma promoção, antes de um pico de vendas, período de férias ou datas

comemorativas.

• Estoque de segurança – Este estoque é utilizado para lidar com as incertezas

existentes na demanda, atrasos na entrega de pedidos, atrasos na produção, flutuações da

demanda, entre outros, garantindo a diminuição dos riscos do não atendimento das

solicitações dos clientes. As Figuras 3 e 4 mostram a falta de material em estoque em

virtude de aumento repentino de demanda e do atraso nas entregas, respectivamente.

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Figura 3. Falta em virtude do aumento repentino da demanda. Fonte: Francischini e Gurgel

(2010).

Figura 4. Falta em virtude do atraso nas entregas. Fonte: Francischini e Gurgel (2010).

Segundo Ching (2006), existem características que são comuns a todos os

problemas de controle de estoque, não importa se eles são matérias-primas, produtos

acabados ou em processo, é preciso o entendimento dos traços básico como: custos

associados aos estoques, objetivos dos estoques e previsões de incertezas.

2.3.2 Custos de Estoque

O armazenamento de qualquer tipo de material gera custo às empresas, os quais

aumentam em função da quantidade estocada e do tempo de permanência em estoque. De

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acordo com Dias (2009, p. 36) os custos poderiam ser agrupados nas seguintes

modalidades:

• custos de capital (juros, depreciação);

• custos com pessoal (salários, encargos sociais);

• custos com edificação (aluguéis, impostos, energia elétrica, conservação); e

• custos de manutenção (deterioração, obsolescência, equipamento).

Os custos dos estoques devem ser analisados pelo administrador do estoque, na

tomada de decisão de quando e quanto comprar. Dentre esses custos, segundo Slack et al.

(2008), pode-se também destacar:

• Custo de colocação do pedido - O custo de pedido está diretamente ligado aos

custos administrativos e operacionais do setor de compras, como gastos com mão-de-

obra, equipamentos necessários para atividade de compra e toda a documentação

associada com isso, o arranjo para que se faça a entrega, o arranjo de pagar o fornecedor

pela entrega e os custos gerais de manter todas as informações para fazer isso.

• Custo de descontos de preço – O custo associado a um pedido em maior ou menor

quantidade de um determinado produto, em virtude do desconto cedido por fornecedores,

proporcional ao volume de compras, sobre o preço normal do produto.

• Custo por falta de estoque – A imprecisão ou erro no dimensionamento do pedido

de materiais ou produtos representa a perda de oportunidade de venda ou produção, e por

consequência, a não entrada de capital no caixa, e a insatisfação ou até perda de clientes

devido à falha com o fornecimento. Arnold (1999) afirma que, “um esvaziamento de

estoque pode ser potencialmente caro por causa dos custos de pedidos não atendidos, de

vendas perdidas e de clientes possivelmente perdidos”.

• Custo de capital de giro – Após a realização de um novo pedido para o

ressuprimento de determinado produto, os fornecedores irão demandar um prazo para o

pagamento de seus bens. Por sua vez, ao fornecer o produto final aos seus clientes a

empresa também irá demandar um prazo ou uma data para o pagamento do produto pelos

clientes. A diferença de tempo existente entre o pagamento dos fornecedores e o

recebimento das vendas, exigirá que a empresa tenha fundos suficientes, também

conhecidos como capital de giro, para arcar com suas obrigações para com os

fornecedores, bem como para a compra de novos pedidos, e estes então poderão ter custos

decorridos de juros bancários ou custo de oportunidade.

• Custo de armazenagem – São os custos relativos à armazenagem física dos

produtos ou materiais, e são diretamente proporcionais à quantidade armazenada. Slack

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et al. (2008) ainda acrescentam que a locação, climatização e iluminação do armazém

podem ser caras, especialmente quando forem requeridas condições especiais, como

baixa temperatura ou armazenagem de segurança.

• Custo de obsolescência – São os custos associados a itens que, devido ao tamanho

do lote do pedido, ficam um longo tempo armazenado, correndo o risco de se tornarem

obsoletos devido a mudanças do mercado ou deteriorar-se com a idade.

Para Slack et al. (2008) para melhor gerenciar os estoques, os gerentes devem

realizar duas tarefas: primeiramente, precisam discriminar todos os diferentes itens

estocados, de maneira que possam aplicar um grau de controle em cada item, de acordo

com sua importância e, posteriormente a esta distinção, necessitam realizar um

investimento em um sistema de processamento de informação que tenha capacidade de

gerenciar o controle dos estoques.

O estoque de uma empresa deve estar de acordo com a sua estrutura, sempre pronto

a oferecer o serviço desejado pelo cliente, mantendo o mínimo de estoque, vislumbrando

um menor custo possível.

2.3.3 A Gestão de Estoques

Segundo Pagotto (2005, p.20) a gestão de estoques “é o gerenciamento dos

estoques, por meio de técnicas que permitam manter o equilíbrio com o consumo,

definindo parâmetros e níveis de ressuprimento e acompanhando sua evolução”. Bertaglia

(2010) afirma que o objetivo é otimizar o investimento em estoques, aumentando o uso

eficiente dos meios internos da empresa, minimizando as necessidades de capital

investido.

De acordo com Rocha (2010), atualmente a gestão de estoque inclui a função

compras, acompanhamento, gestão de armazém, planejamento e controle de produção e

gestão de distribuição, ou seja, ela tem um conceito bastante amplo. Ressalta-se que a

gestão estoques originou-se na função compras, em empresas que sentiram a necessidade

de integrar o fluxo de materiais com as funções de suporte. Ainda em sua criação, foi

vista como meio de redução de custos totais.

A meta principal de uma empresa é maximizar o lucro sobre o capital investido e,

para atingir mais lucro, ela deve usar o capital para que este não permaneça inativo. Para

Dong, Zheng e Ping (2011), no planejamento da cadeia de suprimentos é muito

importante prever as mudanças no mercado a fim de manter um nível de estoques que

seja apenas suficiente para satisfazer a demanda.

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21

Para White e Censlive (2013), o clima econômico global fez as consequências

financeiras de controle de inventário ainda mais importantes do que antes dos atuais

problemas econômicos.

Martins (2009) afirma que a Gestão de Estoques tem sido grande preocupação de

gerentes, engenheiros, administradores e de todas as pessoas envolvidas direta ou

indiretamente às áreas produtivas. Seefeld et al (2009) defendem que ela deve garantir

que a quantidade de materiais esteja disponível quando necessário, para manutenção do

ritmo de produção ao mesmo tempo em que os custos de encomenda e manutenção de

estoques sejam minimizados.

Uma empresa com elevada quantidade de estoque pode ter inúmeros problemas e

perda de capital. O contrário também é prejudicial, ou seja, a falta de matéria-prima para

a produção pode acarretar em paradas da produção desnecessárias e ainda levar até ao

cancelamento de pedidos, o que é um grande problema (RODRIGUES, 2011).

Para Dias (2009), um dos pontos a serem observados pela Gestão de Estoques são

as relações de consumo, especialmente a demanda efetivada pela clientela, as ações da

concorrência, além dos fatores relacionados aos estoques e às aquisições solicitadas aos

fornecedores, tendo como objetivo a melhoria da qualidade dos serviços e produtos

recebidos e entregues.

Segundo Radke e Tseng (2012), a alta volatilidade da demanda e da oferta na

turbulenta indústria manufatureira de hoje complica ainda mais as dificuldades do

planejamento de estoque. As empresas muitas vezes recorrem ao uso de inventário

adicional para atingir o nível de satisfação dos clientes-alvo. O custo de fazer isso pode

esgotar rapidamente os recursos financeiros da empresa.

Francischini e Gurgel (2004) sugerem que, além de significar a utilização indevida

de recursos financeiros, uma Gestão de Estoques inadequada é um forte sintoma de uma

Administração Geral ineficaz. O relacionamento entre a área produtiva e a financeira

inclui interesses conflitantes, e a Administração de Materiais torna-se a atividade

conciliadora desses interesses conflitantes, porém sempre se posicionando a favor da

economia e da parcimônia. A Figura 5 ilustra esse ponto.

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Figura 5. Interesses conflitantes entre as áreas de uma empresa. Fonte: Adaptado de

Francischini e Gurgel (2004).

Lira et al (2013) afirmam que o ideal seria a perfeita sincronização entre a oferta e

a demanda, de maneira a tornar a manutenção de estoques desnecessária. Entretanto,

como é impossível conhecer exatamente a demanda futura e como nem sempre os

suprimentos estão disponíveis a qualquer momento, acumula-se estoque para assegurar a

disponibilidade de mercadorias e minimizar os custos totais de produção e distribuição.

Uma boa gestão de estoques também necessita de um sistema de informações para coletar,

manter e manipular os dados da empresa, de forma que a tomada de decisão seja coerente.

Pong e Mitchell (2012) defendem que, desde os anos 1980, vários dos

desenvolvimentos mais proeminentes na gestão (ou seja, Just in Time (JIT), World Class

Manufacturing (WCM), Supply Chain Management (SCM) e Enterprise Resource

Planning (ERPs)) têm destacado a redução de estoque como benéfica e viável. No

entanto, enquanto estes desenvolvimentos recentes de gestão parecem ter encontrado

considerável favorecimento na prática, a sua aplicação também se mostrou desafiadora,

especialmente porque depende das circunstâncias de cada empresa.

Alega-se que a redução de estoques, por levar embora o conveniente amortecedor

oferta/demanda, coloca pressão sobre as operações internas para que melhorem. Por

PRODUÇÃO: PRODUZIR

QUANTIDADES CONFORME

PLANEJAMENTO E

PROGRAMAÇÃO

VENDAS: OFERECER, TIRAR

PEDIDOS E ENTREGAR OS

PRODUTOS VENDIDOS

ADMINISTRAÇÃO DE

MATERIAIS

ADMINISTRAÇÃO

FINANCEIRA E CONTROLE

DO RESULTADO

ESTOQUE ELEVADO PARA

100% DE NÍVEL DE

ATENDIMENTO DOS

PEDIDOS

OFERECIMENTO DE

PRODUTOS ACABADOS DE

QUALIDADE ELEVADA

PRAZOS URGENTES NO

ATENDIMENTO E

INFORMAÇÕES PRECISAS

AOS CLIENTES

DESENVOLVER TÉCNICAS DE

PLANEJAMENTO E

PROGRAMAÇÃO PARA

GARANTIR NÍVEL DE SERVIÇO

DE 100% NO AVIAMENTO DOS

PEDIDOS, SEM PORÉM MANTER

ESTOQUES ELEVADOS

DESENVOLVER TÉCNICAS

DE ABASTECIMENTO PARA

SEMPRE TER MATERIAIS DE

ELEVADA QUALIDADE E A

PREÇO CONTROLADO

DESENVOLVER E IMPLEMENTAR

SISTEMAS DE INFORMAÇÕES

INDUSTRIAIS SEGUROS, NOS

QUAIS SE POSSA CONTROLAR A

APLICACAÇÃO CORRETA DE

CADA UNIDADE MONETÁRIA

PARA SE CRIAR VALOR

PROCURA-SE IMOBILIZAR

POUCOS RECURSOS

FINANCEIROS

RECONDUZINDO AO CAIXA

DINHEIRO APLICADO NOS

EXCESSOS DE ESTOQUES

SEMPRE É NECESSÁRIO

ADQUIRIR MATERIAIS DE

BOA QUALIDADE, PORÉM

COM PREÇO BAIXO E COM

FACILIDADES DE

PAGAMENTO

TODA A OPERAÇÃO

DEVERÁ SOMENTE

AGREGAR VALOR PARA

CADA UNIDADE

MONETÁRIA DE CUSTO OU

DESPESA

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exemplo, qualidade, logística, programação, flexibilidade de produção e eficiência

operacional, tudo tem que melhorar, a fim de garantir o abastecimento oportuno e de

qualidade quando o conforto de atender a demanda do cliente com inventário existente é

eliminado ou reduzido. Se melhorias como estas podem ser realizadas com sucesso, então

elas podem ter uma influência positiva sobre o desempenho da empresa.

De acordo com Tubino (2000), para administrar os estoques, há necessidade de

diferenciá-los quanto a suas importâncias relativas, definir tamanhos de lotes de

reposição, estabelecer modelos que permitam operacionalizar seus controles e

dimensionar estoques de segurança. A diferenciação dos estoques será obtida

empregando-se a classificação ABC de Pareto.

2.3.4 ABC

Segundo Slack (2008), em qualquer estoque que contenha mais de um item, alguns

itens serão mais importantes para a organização do que outros. Alguns itens, por exemplo,

podem ter uma taxa de uso muito alta, de tal forma que, se faltassem, muitos

consumidores ficariam desapontados. Outros itens podem ter valores particularmente

altos, de modo que níveis de estoque excessivos seriam particularmente caros.

Uma forma comum de discriminar diferentes itens de estoque é fazer uma lista

deles, de acordo com suas movimentações de valor (sua taxa de uso multiplicada por seu

valor individual). Os itens com movimentação de valor particularmente alta demandam

forte controle e cuidados, enquanto aqueles com baixas movimentações de valor não

precisam ser controlados tão rigorosamente. Geralmente uma pequena proporção dos

itens totais contidos em estoque vão representar uma grande proporção do valor total em

estoque.

De acordo com Koch (2000), conhecida como curva ABC, princípio 80/20,

princípio de Pareto, lei de Pareto, regra 80/20, princípio do menor esforço e princípio do

desequilíbrio, o sistema ABC foi criado em 1897, por um economista italiano chamado

Vilfredo Pareto com a finalidade de analisar os padrões de riqueza e renda na Inglaterra

em meados do século XIX. É chamada assim pois tipicamente 80% do valor do estoque

de uma operação é responsável por somente 20% de todos os tipos de itens estocados e

porque separa os itens por classes de acordo com sua importância relativa.

A lei de Pareto também é usada em outros lugares em gerenciamento de produção.

A relação pode ser usada para classificar diferentes tipos de itens mantidos em estoque

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por sua movimentação de valor, o que permite que os gerentes de estoque concentrem

seus esforços no controle dos itens mais significativos do estoque.

Segundo Pozo (2008, p. 297), dentro da organização o sistema ABC irá auxiliar os

gerentes de estoque da seguinte forma: os itens classificados como A (20%) são de alto

valor e representam cerca de 80% do valor total do estoque, os itens classificados como

B (30%) são aqueles de valor médio e representam 10% do custo total de estoque e, por

fim, os itens classificados como C são aqueles que apresentam 10% do valor total do

estoque, porém representam 50% da quantidade total de itens estocados.

Tubino (2000) afirma que no âmbito da administração dos estoques, apesar de a

classificação ABC mais utilizada é a obtida pela demanda valorizada (quantidade de

demanda vezes o custo unitário do item).

Pode-se fazer outras classificações dos itens por qualquer parâmetro que se deseje

avaliar como, por exemplo, por peso, volume ou número de movimentações em estoque

para solucionar problemas de transporte e armazenagem dos itens. Ou, ainda, por volume

financeiro investido em estoques, ou por número de reposições por período, além de

outros.

O primeiro passo para separar e classificar os itens é realizar a coleta de dados de

consumo, para um período de um ano, efetuar a multiplicação das quantidades anuais

pelo valor unitário. Em seguida, classificar em ordem decrescente os itens pelo seu valor

total unitário. (BERTAGLIA, 2010)

Martins (2009) ressalta que não existe forma totalmente aceita de dizer qual o

percentual do total dos itens que pertencem à classe A, B ou C. Na Tabela 1, pode-se

visualizar algumas indicações para o critério ABC.

Tabela 1. Limite de classes.

Classe % itens Valor acumulado Importância

A 10 a 20 70 a 80% Grande

B 30 a 40 15 a 30% Intermediária

C 50 a 70 5 a 15% Pequena

Fonte: Adaptado de Francischini e Gurgel (2004).

Segundo Tubino (2000), a atenção especial sobre uma quantidade pequena de itens

deve abranger a determinação exata dos custos envolvidos no sistema de armazenagem e

reposição, uma atualização constante dos dados, inventários periódicos para conciliação

dos registros, apuro nos modelos de determinação da demanda e dos estoques de

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segurança, dentre outros. Isso porque sua falta poderá ocasionar perda significativa de

rentabilidade e insatisfação dos clientes.

De outro modo, na classe C, como tem-se muitos itens de pouca significação, não

é vantajosa a aplicação de um controle acurado, pois o custo do controle não compensa o

benefício das economias obtidas. Desta forma, procura-se controlar estes itens da maneira

mais simples possível. Na classe B, usa-se um meio termo entre os controles dos itens A

e C.

Pode-se elaborar a classificação ABC por demanda valorizada empregando a

seguinte rotina:

1. Calcula-se a demanda valorizada de cada item, multiplicando-se o valor da

demanda pelo custo unitário do item.

2. Colocam-se os itens em ordem decrescente de valor de demanda valorizada.

3. Calcula-se a demanda valorizada total dos itens.

4. Calculam-se as percentagens da demanda valorizada de cada item em relação

a demanda valorizada total, podendo-se calcular também as percentagens acumuladas.

5. Em função dos critérios de decisões, estabelecem-se as classes A, B e C (ou

quantas forem necessárias).

A Porcentagem de valor e a porcentagem de itens são frequentemente ilustradas na

forma de gráfico, como demonstra a Figura 6.

Figura 6. Curva ABC. Fonte: Adaptado de Arnold (2008).

Após a classificação da importância dos itens nos resultados da empresa e na

movimentação dos estoques, a atividade posterior é a de estipulação e definição dos

tamanhos dos lotes de reposição.

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2.3.5 Nível de serviço

Segundo Chase, Jacobs e Aquilano (2006), as organizações preocupadas com as

necessidades dos clientes e voltadas para eles utilizam o conceito de “serviço ao cliente”

para avaliar o conceito de controle de estoque. Precisam estar atentas à venda perdida e

ao fato de que eventualmente a procura de um produto e a ocorrência da ausência podem

levar o cliente a adquirir um produto do concorrente.

O nível de serviço complementa a definição de estoque de segurança, na medida

em que é usado para garantir o nível de atendimento pelas empresas aos seus clientes,

tendo disponibilidade imediata do produto demandado. (RESENDE, R. S.; NEVES, C.

T.; NIGRO, 2010)

Na Tabela 2, é resumida a distribuição normal com níveis de serviço desejado e o

fator de segurança (Z). Em uma distribuição normal, 3,09 desvios padrão correspondem

a uma probabilidade de 99,9% de que os pedidos sejam atendidos.

Tabela 2. Fator de serviço (Z) ou (k).

Nível de

serviço (%)

Fator de

segurança

(k ou Z)

50 0

75 0,67

80 0,84

85 1,04

90 1,28

93,32 1,50

95 1,65

96 1,75

97 1,88

98 2,05

99 2,33

99,5 2,57

99,6 2,65

99,7 2,75

99,8 2,88

99,9 3,09 Fonte: Adaptado de Resende et al (2010).

O nível de serviço conduz à probabilidade de não faltar material durante um ciclo

de abastecimento, onde ciclo de abastecimento é o intervalo compreendido entre duas

entregas. Sendo assim, o risco ou chance de faltar material será o complemento do nível

de serviço, equivalente à afirmação de que se 95% dos pedidos realizados por clientes

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poderiam ser atendidos de forma imediata pelos estoques, a probabilidade de falta seria

da ordem de 5%. (RESENDE, R. S.; NEVES, C. T.; NIGRO, 2010)

Um nível de serviço aceitável é aquele que vai satisfazer as necessidades dos

consumidores.

2.3.6 Estoque de segurança

De acordo com Ritzman, Krajewski e Malhotra (2010) e com Tubino (2000), o

estoque de segurança é o estoque excedente projetado para absorver as variações na

demanda durante o tempo de ressuprimento, ou variações no próprio tempo de

ressuprimento. Dias (1993) afirma que o estoque de segurança tem por objetivo a garantia

do funcionamento ininterrupto e eficiente do processo produtivo, sem riscos e faltas.

De acordo com Chase, Jacobs e Aquilano (2006), muitos critérios diferentes podem

determinar o estoque de segurança. Algumas empresas consideram simplesmente que

certo número de semanas de fornecimento seja mantido em um estoque de segurança,

porém é melhor utilizar de uma abordagem que capte a variabilidade na demanda.

Para Vollmann et al (2008), antes de definir-se o estoque de segurança, deve-se

estabelecer um critério para determinar qual a proteção contra faltas de estoque. A

probabilidade da falta de estoque num ciclo de reposição de pedidos considera o nível

desejado de serviço ao cliente para satisfazer imediatamente a demanda do produto,

conforme foi abordado anteriormente.

Segundo Bertaglia (2010), quanto maior é o objetivo de atender ao cliente ou

consumidor, maior é o cuidado que se deve ter para estabelecer os níveis de estoque de

segurança.

Tubino (2000) afirma que a determinação do risco que se quer correr, ou em outras

palavras, do nível de serviço do item, é função de quantas faltas admite-se durante o

período de planejamento como suportável para este item. Por exemplo, admitindo-se que

um item com frequência de reposição semanal (52 reposições) pode ter 4 faltas, imputa-

se um nível de serviço de 92%. Ou seja, subtraindo-se 4/52 de 1, tem-se 0,92, indicando

um nível de serviço de 92%.

Considerando que a demanda durante o tempo de ressuprimento segue uma

distribuição normal, pode-se relacionar os níveis de serviço com o número de desvios

padrões a serem cobertos pelos estoques de segurança. Em outras palavras, o estoque de

segurança (Qs) é a parcela adicional (k), expressa em termos de desvios padrões (σ)

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associado a determinado risco, que se deve manter de itens em estoque para suportar uma

demanda máxima (dmáx) superior a demanda média (d). Logo:

QS = k. σ (8)

em que: Qs = estoque de segurança.

K = número de desvios padrões.

σ = desvio padrão.

Figura 7. Estoque de segurança. Fonte: Tubino (2000).

Conforme o nível de serviço desejado para o item, tem-se um número de desvios

padrões a considerar, conforme exposto anteriormente na Tabela 2.

Em sistemas computacionais é mais simples trabalhar-se com o valor do desvio

médio absoluto (MAD) do que com o desvio padrão. O valor do desvio-padrão é de

aproximadamente 1,25 MAD. O valor do MAD é obtido através da formula:

𝑀𝐴𝐷 = ∑|𝐷𝑎𝑡𝑢𝑎𝑙−𝐷𝑝𝑟𝑒𝑣𝑖𝑠𝑡𝑎|

𝑛 (9)

em que: Datual = demanda ocorrida no período.

Dprevista = demanda prevista no período.

n = número de períodos.

2.4 5S

Werkema (2011) e Falconi (2004) afirmam que o programa 5S tem por objetivo

promover e manter a limpeza e a organização do ambiente de trabalho, é um sistema que

envolve todas as pessoas da organização e é visto como uma nova maneira de conduzir a

empresa com ganhos efetivos de produtividade. É um estilo participativo de

gerenciamento.

De acordo com Prates et al (2010), o entendimento do 5S é considerado como uma

filosofia, praticada todos os dias. Os princípios do 5S podem ser facilmente incluídos na

prática gerencial e contribuem para a maximização tanto em eficiência quanto eficácia.

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Segundo Werkema (2011), a sigla 5S se originou de cinco palavras japonesas Seiri,

Seiton, Seiso, Seiketsu e Shitsuke, que querem dizer respectivamente: senso de utilização,

senso de organização, senso de limpeza, senso padronização e senso de autodisciplina.

Seiri: O primeiro senso dos 5S visa, de acordo com Lapa (1998, p. 4),

“identificar materiais, equipamentos, ferramentas, utensílios, informações e

dados necessários e desnecessários, descartando ou dando a devida

destinação àquilo considerado desnecessário ao exercício das atividades”,

sendo assim, promove a simplificação e liberação de áreas ocupadas

desnecessariamente. Os benefícios do senso da utilização são citados por

Kalkmann (2002) como sendo, liberação de espaço, objetos e materiais para

outros usuários e redução de desperdícios.

Seiton: Este senso tem por objetivo, de acordo com Lapa (1998, p. 5),

“definir locais apropriados e critérios para estocar, guardar ou dispor

materiais, equipamentos, ferramentas, utensílios, informações e dados de

modo a facilitar a procura e localização” visando assim organização e

classificação dos materiais. Os benefícios deste senso citados por Kalkmann

(2002) estão relacionados a rapidez e agilidade na busca por materiais,

redução de acidentes e tempo perdido, melhorias na aparência do ambiente

além de facilitar a comunicação.

Seiso: Senso que visa segundo Kalkmann (2002) a eliminação de qualquer

tipo de sujeira no ambiente de trabalho, mantendo uma rotina de prevenção.

De acordo com Chiavenato (2005), este senso visa manter o ambiente de

trabalho limpo, melhorando as condições de trabalho, tornando o ambiente

mais seguro, através de ações preventivas, adequado o ambiente para o

desempenho das atividades. Kalkmann (2002) afirma que os benefícios

deste senso são em promover satisfação e motivação para os colaboradores

em trabalhar em um ambiente limpo, equilíbrio físico e mental, além de

proporcionar uma imagem positiva perante os clientes.

Seiketsu: Para utilizar este senso, segundo Kalkmann (2002) torna-se

necessário praticar os três sensos citados anteriormente, de acordo com o

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autor os princípios mantidos pelos sensos anteriores contribuem para a

prevenção das condições que podem ser prejudiciais à saúde, como a

eliminação de fontes de perigo e enfatizando as normas de segurança. Este

senso é caracterizado por Lapa (1998, p. 6) como também “ter um

comportamento ético, promover um ambiente saudável nas relações

interpessoais, sejam sociais familiares ou profissionais, cultivando um clima

de respeito mútuo nas diversas relações”. Os benefícios deste senso são

afirmados por Kalkmann (2002) como melhoria da qualidade,

produtividade e segurança do trabalho. Lapa (1998, p. 6) salienta também a

criação de um ambiente favorável à saúde física e mental.

Shitsuke: Este senso refere-se de acordo com Kalkmann (2002) ao

cumprimento dos padrões, procedimentos operacionais e da hierarquia

estabelecida pela organização. Kalkmann (2002, p. 51) enfatiza que este

senso “é o momento de conscientização para execução das tarefas como

hábito, sem contudo achar que já está tudo funcionando perfeitamente ou

que não há em que se envolver”. Desenvolver o senso de autodisciplina,

afirma Lapa (1998, p. 6), “é desenvolver o hábito de observar e seguir

normas, regras, procedimentos, atender especificações”. Os benefícios deste

senso podem ser descritos segundo Kalkmann (2002), como incentivo à

criatividade, autoanálise, cumprimento de normas e desenvolvimento de

espírito de equipe.

Werkema (2011) afirma que a implantação do programa 5S traz benefícios para as

empresas, tais como: aumento da produtividade, melhor atendimento aos prazos, defeitos

reduzidos, aumento da segurança no trabalho e diminuição de material perdido e uma

melhor capacidade para diferenciar condições normais e anormais de trabalho.

2.5 Sistemas de informação

Segundo Cano (2000) os sistemas de informação (SI) são sistemas que objetivam

fornecer informações para apoiar o processo de decisão. Um sistema de informação é

composto por um subsistema social e um subsistema automatizado para apoiar o processo

de decisão. O subsistema social é composto por pessoas, processos, informações e

documentos. Já o subsistema automatizado consiste nos meios como: máquinas,

computadores e redes de comunicação, que interligam os elementos do subsistema social.

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Tristão e Wilhelm (2013) sugerem que os sistemas de informação são escolhidos

de acordo com o propósito da organização e a área que será implantado, dependendo das

necessidades da organização e das necessidades específicas dos indivíduos que irão

utilizá-los.

Em relação à utilização de sistema de informação para a gestão de estoques, hoje

em dia, a maioria das empresas adota softwares para administrar suas mais diversas áreas,

já que a informação em tempo hábil pode trazer grandes benefícios para a organização.

Por isso, na gestão de estoques não foi diferente, muitas empresas passaram a adotar e

fazer uso dos softwares com o intuito de melhorar o controle e a administração dos

estoques da organização.

Um sistema de informação bem implantado e elaborado de acordo com as

necessidades da área da organização em que será utilizado pode trazer bons resultados

para empresa.

Segundo Rezende (2000) e Diniz et al (2003) as empresas procuram obter

benefícios através da implantação dos sistemas de informação, tais como: atualização e

consolidação de dados, suporte à tomada de decisão, melhoria dos serviços, vantagem

competitiva, aumento da rentabilidade e da confiabilidade, rapidez na produção de

informação, carga de trabalho reduzida e redução de custos e desperdícios.

De acordo com Viana (2006), de forma geral, a introdução de sistemas

informatizados, qualquer que seja o setor alvo da empresa, tem a finalidade,

independentemente de se obterem as informações necessárias em tempo real, de

modernizar procedimentos por meio da implementação da primazia pela qualidade,

envolvendo a estrutura organizacional para assegurar a melhoria dos serviços.

Entre os benefícios advindos, segundo Viana (2006), ainda destacam-se:

a. Garantia do domínio tecnológico e melhoria dos serviços;

b. Ganho de produtividade, pois todas as decisões deixam de ser intuitivas e passam

a adotar critérios padronizados, obtendo-se economia de custos;

c. Informação disponível para gestores funcionários, clientes e fornecedores;

d. Agilização do processo de tomada de decisão;

e. Criação de um banco de dados, extremamente confiável;

f. Aumento da velocidade de localização das informações e diminuição da

manipulação de grande quantidade de documentos;

g. Controle efetivo de procedimentos e sistemas.

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3. Metodologia

De acordo com Cervo e Bervian (2004), o presente trabalho pode ser classificado,

quanto à sua natureza, como uma pesquisa aplicada de forma quantitativa, na qual o

investigador é movido pela vontade de contribuir para fins práticos, buscando soluções

para problemas concretos. Com base em seus objetivos gerais, a pesquisa é caracterizada

como exploratória, utilizando-se do método do estudo de caso.

As informações necessárias à execução do presente trabalho foram obtidas in loco

e por meio de análise de dados oriundos de registros históricos da Indústria Madeireira

Baggio Ltda., feitos pelo proprietário responsável Luiz Natale Baggio. Ele os tem

registrados, em sua maioria, em livros de registro/controle.

Os dados de madeiramento para construção civil obtidos junto à empresa foram:

demanda de janeiro a dezembro dos anos de 2011 a 2013; número de funcionários;

quantidade armazenada por trimestre; custo de produção; custo de armazenagem; custo

de hora extra; capacidade máxima de produção; capacidade máxima produtiva por

funcionário; custo de contratação e de demissão de funcionário.

Verificou-se que a empresa planeja sua produção com base no consumo de

estoque de produtos acabados, ou seja, produz para repor as quantidades consumidas.

Todos os dias um dos donos, que é o único responsável por esta tarefa, vai ao estoque,

faz o inventário e, com base nisso e em suas previsões, emite as ordens de produção.

Contudo, as quantidades de estoque regular não estão relacionadas com nenhuma

metodologia técnica de previsão de demanda, mas apenas com a experiência e opinião de

um dos administradores da empresa. Além disso, as atividades de elaboração da Previsão

da Demanda, do Planejamento Agregado e do Plano Mestre de Produção não são

efetivamente elaboradas pela empresa por meio de programas computacionais, os quais

são amplamente utilizados por empresas do porte da madeireira.

Analisando-se os dados disponibilizados pela empresa, foi identificado um

problema de superdimensionamento do estoque de madeira para construção civil, que

inclusive foi reconhecido pelos donos como uma necessidade urgente de melhoria.

Como o Planejamento da Produção e a Gestão de Estoques tem ligação direta, foi

possível aí definir uma linha específica para desenvolvimento de uma proposta de

melhoria, a qual tornou-se o objetivo desta monografia.

Posteriormente, foi realizada a pesquisa bibliográfica para a formação de uma base

teórica e a definição de como deveria ser realizado este trabalho. Tal pesquisa se deu

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através da busca em livros e também em periódicos, revistas, teses e artigos encontrados

nas bases: portal Capes, Scielo, Emerald, ScienceDirect e Web of Science.

A seguir, foi confeccionada a proposta de Planejamento da Produção e Gestão de

Estoques de madeiras destinadas para construção civil da madeireira, para curto e longo

prazo, visando uma significativa redução de custos. A proposta desenvolvida envolve

técnicas como a de Previsão da Demanda, sistema de classificação ABC, nível de serviço,

estoque de segurança, 5S e sistema informatizado de informações desagregadas.

A proposta desenvolvida se inicia com a realização da Previsão de Demanda, para

que a mesma sirva de base para a confecção do Planejamento Agregado, do Plano Mestre

de Produção e da Política de Gestão de Estoques. Utilizou-se do critério ABC, para

investigar quais produtos são de fato os mais representativos, e do estoque de segurança,

para que a produção fosse planejada de forma a gerar estoques necessários para manter o

alto nível de serviço ao consumidor porém de forma otimizada.

A implementação do programa 5S e de um sistema de registro informatizado de

informações desagregadas complementam a proposta, sendo que esta última embasa

estudos futuros e apresenta-se como necessidade de suma importância para a empresa.

Por fim, apresentam-se os resultados esperados, incluindo o impacto nos níveis de

estoque da madeireira, mantendo-se o nível de serviço, bem como os resultados

financeiros da redução de excessos de estoques e custos desnecessários à empresa.

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4. Resultados

4.1 Apresentação da empresa

A Indústria Madeireira Baggio foi fundada em 1925, por Luis Uliana, e é a mais

antiga em atividade da cidade de Jumirim, São Paulo. No início de suas atividades, a

companhia era especializada apenas em madeira nativa da região. Depois passou a tratar

também de madeira de reflorestamento, como o eucalipto e Pinus, com enfoque na

construção civil e destinada a fábricas de móveis.

No ano de 1978, passaram a ingressar na sociedade Luiz Natale Baggio e Paulo

César Baggio, atuais donos e administradores da empresa.

Em 1994, a madeireira se tornou provedora de serviços da IndusParquet, uma

empresa do segmento de pisos de madeira maciços. Assim, a madeireira se tornou

responsável pelos serviços de secagem, descascamento e desdobro de madeira para a

produção dos ditos pisos.

A fabricação de páletes e embalagens com madeira de eucalipto de

reflorestamento teve início no ano de 1998 e, em 2002, a companhia começou a cumprir

as Normas Internacionais mediante o estabelecimento de estufas de secagem a vapor para

o tratamento das madeiras, trazendo um grande diferencial para seus produtos, já que a

empresa se preocupa com o elevado nível de qualidade dos mesmos.

Atualmente, a empresa trabalha com a fabricação de páletes, de madeira para a

construção civil e presta serviço à empresa IndusParquet.

Quando iniciou suas atividades, a empresa produzia um volume de 52 m³/mês

de madeira serrada e possuía apenas três funcionários.

Hoje em dia conta com a participação de 50 funcionários e apresentou em 2013

um faturamento aproximado de R$3.000.000,00, sendo assim classificada como pequena

empresa pela Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006. A madeireira

apresenta uma produção mensal de 700 m³/mês, sendo 100 m³ destinados à construção

civil, 250 m³ à fabricação de páletes e 350 m³ destinados ao serviço subcontratado pela

IndusParquet. São produzidos ao redor de 15.000 páletes por mês, o que corresponde a

cerca de 35% da produção total da empresa.

4.1.1 Produtos e serviços

A Indústria Madeireira Baggio Ltda. opera no segmento de madeira para a

construção civil produzindo madeiras principalmente de tipo viga, que equivalem em

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35

média a 95% de sua produção total, enquanto os outros produtos: sarrafo, tábua, caibro,

ripa e bitolinha, equivalem cada um ao redor de 1%. A diferença entre cada um destes

produtos são as medidas de largura e espessura:

Viga: (espessura x largura) = (6x12 ou 6x16 ou 6x20) cm

Figura 8. Viga. Fonte: Madeireira Limoeiro (2014).

Sarrafo: (espessura =1,8), (largura= 5 ou 7) cm

Figura 9. Sarrafo. Fonte: Madeireira Limoeiro (2014).

Tábua: (espessura = 3), (largura= 12 ou 15) cm

Figura 10. Tábua. Fonte: Madeireira Limoeiro (2014).

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36

Caibro: (espessura = 5 ou 6), (largura = 6 ou 8) cm

Figura 11. Caibro. Fonte: Madeiras Girardi (2014).

Ripa: (espessura = 1,2), (largura= 5 ou 7) cm

Figura 12. Ripa. Fonte: Madeiras Girardi (2014).

Bitolinha: (espessura = 4,5), (largura= 9) cm

Figura 13. Bitolinha. Fonte: Madeireira Base Sólida (2014).

O comprimento da madeira utilizada para páletes pode variar de 0,5m a 3m,

enquanto que, para construção civil, a variação pode ser de 2m até 6m, de acordo com o

pedido do cliente e com base em uma tabela criada pela empresa que estabelece

aproximadamente 100 medidas possíveis.

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37

A madeira que é utilizada para a produção de páletes é chamada de madeira

secundária e a para a construção civil de primária, por ser considerada de melhor

qualidade.

4.1.2 Descrição do processo de produção de madeira para

construção civil

A produção da madeira para construção civil consiste nas seguintes etapas:

Figura 14. Etapas da produção de madeira para construção. Fonte: Elaborado pela autora.

Descascamento: O tronco passa por este primeiro processo, no qual é retirada toda

a casca, para facilitar o processo de desdobro.

Desdobro: Do processo de desdobro saem os produtos no formato de vigas e

caibros. O material que não pode ser aproveitado devido à qualidade e ao tamanho

passa para o processo na multilâmina.

Multilâmina: O material restante do processo anterior é transformado em sarrafos

e ripas.

Destopadeira: Ao final dos processos, todos os produtos têm que passar pela

destopadeira, que tem a função de retirar imperfeições e cortar ou a um

comprimento determinado ou as pontas.

4.2 A Gestão de Estoque e Armazém de produtos terminados

A empresa trabalha com o modelo MTS, ou seja, ela somente produz o que foi

vendido, a fim de repor a quantidade que saiu do estoque. Assim, todos os dias um dos

proprietários (o único responsável por esta tarefa) vai ao estoque, faz o inventário e emite

as ordens de produção.

O estoque tem uma rotação média de um trimestre, seguindo o modelo FIFO (first-

in-first-out), no qual o primeiro produto a entrar é o primeiro a sair.

A gestão de armazéns é um conceito ligado à gestão de estoques e trata-se da

gestão física dos produtos armazenados.

Descascamento Desdobro

Destopadeira

Multilâmina Destopadeira

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38

Figura 15. Vista de parte do armazém. Fonte: Arquivo da empresa.

A localização dos produtos no armazém:

O estoque de produtos terminados tem a identificação da localização de cada

produto e é dividido por famílias (vigas, sarrafos, caibros, etc.) e por SKU (Stock Keeping

Unit). Os produtos ficam em caixas, identificadas por seus tamanhos escritos com giz.

Os fluxos de materiais dentro do armazém e os métodos para a

movimentação de produtos:

O fluxo de materiais dentro do armazém não segue uma rota regular, mas pode-se

dizer que a configuração do fluxo assemelha-se à configuração em U.

Não há uma área específica para expedição, porém há um espaço localizado

próximo ao armazém que é destinado para utilização desta etapa, quando se faz

necessário. Na maioria dos casos é o cliente quem busca a mercadoria na empresa. Assim,

o operário retira a mercadoria do armazém e a leva diretamente para o veículo do cliente.

Porém, quando é necessário, utiliza-se um espaço ao lado do armazém.

Figura 16. Fluxo do armazém. Fonte: Elaborado pela autora.

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39

Para fazer a condução dos produtos é utilizada uma empilhadeira ou o trabalho é

feito de maneira manual. O picking (separação e preparação de pedidos) é feito pedido a

pedido e o movimento entre o operário e o produto é no sentido do operário até o produto.

A rastreabilidade dos produtos armazenados:

Os produtos acabados não possuem codificação para a rastreabilidade, mas isto

não faz tanta falta, uma vez que a comercialização é feita no mercado interno, o qual não

tem tal exigência.

Uso do critério ABC:

O método padronizado mais conhecido de gestão de armazéns, para dar atenção

seletiva a eles, é o método ABC. A empresa não faz uso do critério ABC para organizar

o armazém. A falta de uma análise ABC pode fazer com que um produto que tenha uma

alta margem de contribuição não receba a atenção adequada.

Registro contábil de estoque:

A Madeireira Baggio tem registros de maneira contábil do quanto foi vendido.

No entanto tais registros estão agregados, ou seja, sabe-se quanto foi vendido de madeira

para construção civil, mas não se sabe as quantidades de cada produto. Apenas se sabe

que as vigas correspondem a aproximadamente 95% do faturamento total de construção

civil. Isso faz com que a empresa trabalhe com dados pouco confiáveis em sua gestão e

acarreta uma atividade desnecessária, que é a contabilização diária do estoque.

A contabilização diária do estoque também é falha, pois a empresa a realiza

visualmente. Ela não sabe exatamente quantos metros cúbicos tem em estoque, mas sabe

sua capacidade máxima.

4.3 Proposta

4.3.1 Premissas

Com o objetivo de estabelecer a produção fundamentada na Previsão da Demanda

e não somente na reposição do estoque, propõe-se a confecção de uma Previsão da

Demanda baseada dados históricos facilitados pela empresa, a fim de reduzir esse

estoque. Estes dados se referem às quantidades de madeira para a construção civil

vendidas nos anos de 2011 a 2013. Os dados estão agregados por trimestres pois é assim

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que a empresa realiza seu registro e, portanto, é a maneira pela qual a informação

encontra-se disponível. Na Tabela 3 é possível verifica as quantidades consumidas

durante o período de 2011 a 2013.

Tabela 3. Quantidade de madeira consumida nos períodos de 2011 a 2013.

Demanda

(m³) 1º tri 2º tri 3º tri 4º tri

2011 241 315 278 250

2012 198 188 278 161

2013 239 215 223 180

É importante dizer que a previsão da demanda será referente a todo o período de

2014, pois os dados foram coletados no início do ano e até este ponto não havia dados do

primeiro trimestre, tampouco do segundo.

Abaixo encontram-se alguns dados facilitados pela empresa que serão utilizados

durante todo o decorrer deste trabalho, ajudando na formulação do Planejamento da

Produção e na melhoria do uso dos recursos produtivos, como o nível e volume de

ocupação dos armazéns de produtos terminados.

Tabela 4. Dados fornecidos pela empresa.

Informação Quantidade

Número de funcionários 12

Quantidade armazenada por trimestre (m³) 600

Custo de produção (R$/ m³) 850

Custo de armazenagem (R$/m³) 17

Custo de hora extra (R$/m³) 1340

Capacidade máxima de produção por trimestre (m³) 300

Capacidade máxima produtiva por funcionário/trimestre (m³) 25

Custo de contratação por funcionário (R$) 220

Custo de demissão por funcionário (R$) 3200

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A Madeireira busca manter um estoque mensal de 200 m³ de madeira processada

destinada à construção civil (600 m³ por trimestre). É válido ressaltar que este estoque

não ultrapassa nem se distancia muito desse valor no atual modelo de produção. De

acordo com a empresa, sua capacidade máxima de produção trimestral, com o emprego

de 12 funcionários, é de 300m³. Pode-se dizer, portanto, que cada operário é capaz de

produzir em média 25 m³ por trimestre.

O custo de produção contemplado neste trabalho, e fornecido pela própria

madeireira, tem como base todas as despesas provenientes do processo de produção dos

seus produtos comercializados, como a aquisição de matéria-prima, os salários dos seus

funcionários, os impostos e a manutenção dos seus equipamentos e das suas instalações.

Ainda de acordo com as mesmas considerações, o custo de estoque equivale,

aproximadamente, a 2% do custo de produção.

Quanto à questão das horas-extras, por mais que a empresa conheça o seu valor,

que é cerca de 60% mais cara que a da produção normal (regular), ela opta por não utilizar

este tipo de recurso, dado que sua produção baseia-se essencialmente na reposição do seu

estoque, não havendo, portanto, uma razão que justifique gastos a mais para repor algo

que é produzido MTS e não MTO.

O custo de demissão fornecido pela empresa baseia-se no custo que possui ao

demitir um funcionário que ganhe em torno de R$1000,00 e que tenha trabalhado durante

um ano na mesma. Já o custo de contratação está associado às despesas com exames

médicos e obrigações legais.

Como anteriormente mencionado, ainda que a empresa não utilize o critério ABC

para gerir sua produção e estoque, sabe que por volta de 95% de seu faturamento no setor

de produção de madeira para a construção civil corresponde aos itens que pertencem à

família de produtos do tipo Viga.

4.3.2 Curto Prazo

4.3.2.1 Previsão da Demanda

A partir dos dados da demanda (apresentados em forma de gráfico na Figura 17),

calculou-se a demanda sem sazonalidade (Figura 18). Posteriormente, analisou-se

distintos métodos de previsão: de médias móveis, suavização exponencial e regressão

linear, para determinar aquele que seria o mais indicado, nesse caso, para fazer a previsão

da demanda.

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Figura 17. Gráfico da demanda real do período de janeiro de 2011 a dezembro de 2013.

Figura 18. Gráfico da demanda sem Sazonalidade do período de jan. de 2011 a dez. de 2013.

Para os testes com os três métodos, foram utilizadas as equações de (1) a (7),

sendo que todos os cálculos se encontram no Anexo A. Devido ao fato de que o objetivo

é fazer uma previsão de demanda para um período mais longo, no caso de um ano, e que

o melhor método é o que tem o menor erro absoluto médio, constatou-se que a melhor

opção é por meio de regressão linear.

Na Tabela 5 encontram-se as quantidades de madeira previstas para os trimestres

de 2014 por meio do método de regressão linear. A partir da definição do uso deste

método, todos os dados de demanda prevista utilizados no presente trabalho são

provenientes do mesmo.

0

50

100

150

200

250

300

350

De

man

da

com

Saz

on

alid

ade

(m

³)

Demanda Real

Demanda

y = -6,4077x + 272,15

0,00

50,00

100,00

150,00

200,00

250,00

300,00

350,00

1ºt

ri/1

1

2ºt

ri/1

1

3ºt

ri/1

1

4ºt

ri/1

1

1ºt

ri/1

2

2ºt

ri/1

2

3ºt

ri/1

2

4ºt

ri/1

2

1ºt

ri/1

3

2ºt

ri/1

3

3ºt

ri/1

3

4ºt

ri/1

3De

man

da

sem

Saz

on

alid

ade

(m

³)

Demanda sem Sazonalidade

Demanda semSazonalidade

Linear (Demanda semSazonalidade)

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Tabela 5. Previsão da Demanda para os trimestres de 2014.

Período Demanda Prevista (m³)

1º tri 2014 185,16

2º tri 2014 189,43

3ºtri 2014 198,31

4ºtri 2014 144,97

4.3.2.2 ABC

Conforme anteriormente citado, os produtos do tipo Viga correspondem a

aproximadamente 95% do faturamento com as vendas de madeira para construção civil.

De acordo com o critério ABC, sabe-se que os produtos do tipo Viga correspondem à

classificação A. Contudo, como a empresa somente possui registro de dados agregados,

não é possível saber quais tipos de viga, ou seja, quais SKU’s fazem parte dos 20% mais

significativos.

Tampouco é possível afirmar quais são os produtos a serem classificados como B e

C. Dessa forma, reforça-se a importância de a empresa começar a fazer, urgentemente, o

registro de informações desagregadas, para possibilitar uma classificação ABC adequada

e um estudo mais acurados dos dados.

Quando da posse dos dados e consequente possibilidade de identificar os itens

pertencentes a cada classe (A, B e C), deve-se estabelecer um controle de estoques

condizente. Para os itens classe A, faz-se necessário um controle constante dos níveis de

estoque. Sempre que um item for retirado, determinará a reposição de estoque se

necessário. Cada revisão, que acontece de forma contínua, impactará na decisão acerca

do nível de estoque do produto.

Para os produtos classe B, o nível de estoque deverá ser verificado periodicamente.

É um sistema que estabelece uma rotina, tornando os processos de solicitação e

recebimento de pedidos mais simples. A realização de pedidos é feita sempre ao final de

cada revisão, em um intervalo de pedidos constantes enquanto que a demanda varia entre

as revisões.

Para os produtos classificados como C, há uma combinação das características dos

sistemas de revisão periódica e contínua, que também deve permitir a adoção de

estratégias diferenciadas para cada produto e cada cliente. A flexibilidade do sistema para

adaptar-se rapidamente às mudanças no mercado é a característica principal desse

sistema.

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4.3.2.3 Planejamento Agregado

A empresa analisada trabalha para manter seus estoques regulares em todos os

períodos, o qual é em média 600 m3 por trimestre. Este valor foi determinado pelo

proprietário da empresa há muitos anos e não tem fundamentação numérica/analítica,

assim como não passou por revisões recentes.

A opção pelo estoque regular foi feita em virtude do tipo de produto

comercializado, que requer maior disponibilidade dada à necessidade dos consumidores,

os quais avaliam, além do preço, o quesito de pronta entrega. Tal quesito é uma exigência

dos consumidores da madeireira.

A produção regular da empresa não considera o valor de estoque inicial, pois seu

objetivo é trabalhar para repor o estoque consumido, a fim de mantê-lo. Observa-se que

o valor da produção regular é inferior à capacidade máxima de produção (300 m³) da

empresa, concluindo-se, portanto, que atualmente os funcionários trabalham com uma

produtividade aquém daquela que poderiam supostamente operar.

Para cumprir com a proposta de reduzir o estoque, considerou-se que, a princípio,

a melhor alternativa seria propor a redução do estoque, ao final de um ano, de forma que

a capacidade total (nível de ocupação do armazém) seja o resultado da soma entre o maior

valor previsto para a demanda no ano de 2014 e o estoque de segurança.

Para calcular o estoque de segurança, foram utilizadas as Tabelas 2 e 6 e as

Equações (8) e (9).

Tabela 6. Parte dos cálculos para o estoque de segurança.

Período Demanda

Real

Demanda

Prevista |Erro|

1ºT/11 245,80 265,74 19,94

2ºT/11 303,37 259,33 44,04

3ºT/11 246,77 252,93 6,15

4ºT/11 292,51 246,52 45,99

1ºT/12 201,94 240,11 38,17

2ºT/12 181,06 233,70 52,64

3ºT/12 246,77 227,30 19,48

4ºT/12 188,38 220,89 32,51

1ºT/13 243,76 214,48 29,28

2ºT/13 207,06 208,07 1,01

3ºT/13 197,95 201,67 3,71

4ºT/13 210,61 195,26 15,35

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45

MAD = 25,69004

k = 3,09

σ = 32,11255

QS = 99,22777

Portanto, somando-se o valor do estoque de segurança (99,23), com o maior valor

da demanda prevista para o ano de 2014 (198,31), encontrou-se a quantidade média de

estoque de madeira para construção civil a ser proposta (297.54 ≅ 298 m³).

Ainda que esta nova quantidade seja superior à maior demanda prevista para os

próximos trimestres e que a tendência da demanda seja decrescente, devido à situação

atual do mercado de construção civil, não é conveniente propor que a empresa reduza

ainda mais seu estoque sabendo que não se tem muitos dados detalhados de suas famílias

de produtos e que, ao prazo de um ou mais anos, a tendência pode mudar.

Baseando-se neste novo valor encontrado e na previsão da demanda, elaborou-se a

Planificação Agregada pelo prazo de um ano a fim de reduzir a capacidade de

armazenamento e a quantidade de produtos finais em estoque por trimestre, de 600 a

298m³. Pode-se estimar que a redução do estoque proposta não compromete a capacidade

da empresa em atender à “pronta-entrega” do mercado e, ainda, viria acompanhada de

uma redução significativa de custos.

O objetivo também é estabelecer um nível de produção regular para garantir que a

madeireira continue operando inclusive quando não seja necessário, já que, neste caso,

não é conveniente que a empresa deixe de produzir por um ou mais trimestres. É

preferível produzir pouco a não produzir.

A seguir encontra-se o Planejamento Agregado referente a todos os produtos que

fazem parte do segmento de madeira para construção civil, o proposto e o que segue a

política atual da empresa (manter o estoque de 600 m3) para o prazo de um ano.

Tabela 7. Cálculo da produção regular proposta.

Informação Valor (m3)

Soma da demanda prevista para o ano de 2014 717,88

Demanda 2014 - Estoque inicial 117,88

Produção regular proposta (já que se objetiva ter

298m3 de estoque no prazo de um ano) 103,97

Produção atual (objetiva-se ter 600m3 de estoque ao

final de cada trimestre)

Produz o que é

vendido

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Tabela 8. Planejamento Agregado da Produção proposto para o período de um ano.

Período 1º tri 2014 2º tri 2014 3ºtri 2014 4ºtri 2014

Demanda prevista (m³) 185,16 189,43 198,31 144,97

Estoque inicial (m³) 600,00 518,81 433,34 339,00

Produção Regular (m³) 103,97 103,97 103,97 103,97

Número de funcionários 12 12 12 12

Estoque final (m³) 518,81 433,34 339,00 298,00

Tabela 9. Planejamento Agregado da Produção de acordo com a política atual da empresa para

o período de um ano.

Período 1º tri 2014 2º tri 2014 3ºtri 2014 4ºtri 2014

Demanda prevista (m³) 185,16 189,43 198,31 144,97

Estoque inicial (m³) 600,00 600,00 600,00 600,00

Produção Regular (m³) 185,16 189,43 198,31 144,97

Número de funcionários 12 12 12 12

Estoque final (m³) 600,00 600,00 600,00 600,00

De acordo com os dados fornecidos pela empresa da capacidade máxima produtiva

de cada funcionário, observa-se que tanto no Planejamento Agregado proposto como no

atual há funcionários supostamente inativos. Contudo, de acordo com a empresa, isso em

geral não ocorre porque há funcionários que são compartilhados com o setor de produção

de páletes.

Assim, não se pode propor a demissão desses funcionários sem uma análise mais

profunda da capacidade produtiva e da demanda atual na produção de páletes, além de

uma avaliação cuidadosa do mercado e das ações pretendidas pelo departamento de

marketing da empresa. Ademais, o proprietário da empresa manifestou o desejo de não

demitir nenhum funcionário, talvez pela forte relação de amizade que possui com a grande

maioria deles.

4.3.2.4 Plano Mestre

A princípio, propõe-se a curto prazo a formulação do Plano Mestre de Produção

para todos os produtos do tipo Viga, de maneira agregada, uma vez que a empresa não

tem os dados de quanto de cada tipo de Viga foi vendido nos últimos anos. Propõe-se

também que, a longo prazo, a empresa faça uso desta ferramenta para cada tipo de Viga,

juntamente com o uso do critério ABC para definir quais SKU’s realmente serão

classificados como itens A e merecem receber maior atenção.

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Na Tabela 10, encontra-se o Plano Mestre de Produção proposto para a família de

produtos do tipo Viga, ainda utilizando a agregação por trimestre. Na Tabela 11,

apresenta-se o Plano Mestre de Produção de acordo com a política atual da empresa, para

fins de comparação. É possível verificar já no primeiro trimestre uma redução

considerável do estoque.

Tabela 10. Plano Mestre de Produção proposto para a família de produtos do tipo Viga.

Período 1º tri 2014

Demanda prevista (m³) 175,91

Estoque inicial (m³) 570

Produção Regular (m³) 98,77

Número de funcionários 12

Estoque final (m³) 492,87

Tabela 11. Plano Mestre de Produção atual para a família de produtos do tipo Viga.

Período 1º tri 2014

Demanda prevista (m³) 175,91

Estoque inicial (m³) 570

Produção Regular (m³) 175,91

Número de funcionários 12

Estoque final (m³) 570,00

Para uma melhor análise do planejamento mestre de produção, utilizou-se de

proporcionalidade para possibilitar a desagregação dos itens com os quais a empresa

trabalha (viga, sarrafo, tábua, caibro, ripa e bitolinha) em meses. Considerou-se como

quantidade produzida e estoque ao final de cada trimestre os valores calculados

anteriormente no Planejamento Agregado da Produção. Apresenta-se também, para fins

de complementação, a demanda e o Plano Mestre de Produção para todos os produtos

para os três primeiros meses.

Tabela 12. Demanda mensal prevista de cada produto.

Produto Demanda Prevista

1ºmês 2014 (m³)

Demanda Prevista

2ºmês 2014 (m³)

Demanda Prevista

3ºmês 2014 (m³)

Viga 58,64 58,64 58,64

Sarrafo 0,62 0,62 0,62

Tábua 0,62 0,62 0,62

Caibro 0,62 0,62 0,62

Ripa 0,62 0,62 0,62

Bitolinha 0,62 0,62 0,62

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48

Tabela 13. Plano Mestre de Produção dos produtos do tipo Viga.

Período 01/2014 02/2014 03/2014

Estoque Inicial 570,00 544,29 518,58

Produção 32,92 32,92 32,92

Estoque Final 544,29 518,58 492,87

Custo de Armazenamento (R$) 3084,30 2938,61 2792,91

Custo Produção (R$) 27985,30 27985,30 27985,30

Tabela 14. Plano Mestre de Produção dos produtos do tipo Sarrafo.

Período 01/2014 02/2014 03/2014

Estoque Inicial 6,00 5,73 5,46

Produção 0,35 0,35 0,35

Estoque Final 5,73 5,46 5,19

Custo de Armazenamento (R$) 88,20 32,47 30,93

Custo de Produção (R$) 294,58 294,58 294,58

Tabela 15. Plano Mestre de Produção dos produtos do tipo Tábua.

Período 01/2014 02/2014 03/2014

Estoque Inicial 6,00 5,73 5,46

Produção 0,35 0,35 0,35

Estoque Final 5,73 5,46 5,19

Custo de Armazenamento (R$) 88,20 32,47 30,93

Custo de Produção (R$) 294,58 294,58 294,58

Tabela 16. Plano Mestre de Produção dos produtos do tipo Caibro.

Período 01/2014 02/2014 03/2014

Estoque Inicial 6,00 5,73 5,46

Produção 0,35 0,35 0,35

Estoque Final 5,73 5,46 5,19

Custo de Armazenamento (R$) 88,20 32,47 30,93

Custo de Produção (R$) 294,58 294,58 294,58

Tabela 17. Plano Mestre de Produção dos produtos do tipo Ripa.

Período 01/2014 02/2014 03/2014

Estoque Inicial 6,00 5,73 5,46

Produção 0,35 0,35 0,35

Estoque Final 5,73 5,46 5,19

Custo de Armazenamento (R$) 88,20 32,47 30,93

Custo de Produção (R$) 294,58 294,58 294,58

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Tabela 18. Plano Mestre de Produção dos produtos do tipo Bitolinha.

Período 01/2014 02/2014 03/2014

Estoque Inicial 6,00 5,73 5,46

Produção 0,35 0,35 0,35

Estoque Final 5,73 5,46 5,19

Custo Armazenamento (R$) 88,20 32,47 30,93

Custo Produção (R$) 294,58 294,58 294,58

4.3.2.5 5S

Para permitir uma maior funcionalidade do espaço do armazém, assim como

estabelecer algumas regras para a organização do mesmo, considera-se a implementação

da metodologia 5S. O objetivo é desenvolver um plano sistemático para manter

continuamente a classificação, a ordem e a limpeza, o que permite melhorar a segurança,

o clima laboral, a motivação do pessoal, a qualidade e a eficiência.

A metodologia de implementação tem como primeira parte a coleta de informação

sobre o nível de 5S na área designada e sobre a cultura organizacional da Madeireira

Baggio. Posteriormente, estabelecer-se-á que classe de desperdícios são gerados e suas

possíveis causas. Logo se determinará o fluxo de processos da área designada, para sua

posterior análise.

A seguir serão descritas a título de proposta, para cada senso, as principais ações

vislumbradas na Indústria Madeireira Baggio Ltda.:

Classificação: Distinguir claramente entre o que é necessário e deve-se manter na área

de trabalho e o que é desnecessário e deve-se descartar ou retirar. No armazém há gavetas

e espaços vazios que não estão sendo utilizados. É preciso avaliar se todo o espaço

destinado ao armazém se faz realmente necessário.

Ordem: Organizar e manter o que é necessário de modo que qualquer pessoa possa

encontrar e usar o que precise facilmente. Deixar de identificar as gavetas com giz e criar

identificações claras dos produtos com etiquetas/cartazes acima de cada gaveta. Assim,

ficará mais fácil localizar os produtos durante o picking.

Limpeza: Limpar pisos e manter as coisas em ordem, além de identificar as fontes de

sujeira. As bases usadas no picking, enquanto não estão sendo utilizadas, devem ser

guardadas em um local específico. É perigoso deixá-las no chão pois podem ocasionar

acidentes.

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Padronização: Elaborar padrões de limpeza e de inspeção para realizar ações de

autocontrole permanente. Estabelecer padrões de etiquetas de identificação dos produtos

e elaborar um padrão/procedimento para fazer o picking.

Disciplina: Fazer apresentações para os colaboradores sobre a metodologia 5S e explicar

a nova organização e os novos padrões da empresa. Assegurar a manutenção da adesão à

metodologia 5S através de comunicação, formação e autodisciplina. Explicar a

importância da participação de todos para assegurar que isso se converta em um hábito

para todos os envolvidos.

4.3.2.6 Registro informatizado de informações desagregadas

A informação vem se colocando em um bom lugar como um dos principais

recursos que possuem as empresas atualmente. Para maximizar sua utilidade, é necessário

informatizar o registro de informação de entradas/saídas do estoque.

Para que a empresa trabalhe com dados mais confiáveis e exatos na sua gestão e

também evite a atividade de contabilização visual diária do estoque, é muito importante

que a informação seja registrada de forma desagregada, ou seja, por SKU.

O uso de computadores como ferramentas oferecerá a informação de forma

rápida, ordenada e concreta. Com os dados disponíveis no computador, facilitar-se-á o

controle, a análise, o planejamento e a tomada de decisões.

Agrupar todos os dados relevantes da empresa em um único lugar é formar um

banco de dados cujo propósito geral é manter informação relevante e consistente de forma

eficaz, para que esteja disponível em tempo, forma e lugar desejados. É compacto pois

não fazem falta arquivos de papéis que possam ocupar muito espaço, pode-se obter e

modificar dados com maior velocidade, diminuir as redundâncias e evitar inconsistência.

A informatização dos registros também melhorará o fluxo de informação dentro

da empresa e possibilitará a apresentação de resumos/relatórios para que a informação de

saída seja legível e fácil de manejar.

4.3.3 Longo Prazo

O registro informatizado dos dados desagregados permitirá que os mesmos sejam

obtidos com maior confiabilidade. À medida que isso ocorrer, deve-se revisar o

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dimensionamento do estoque, principalmente o de Viga. Para fazer tal revisão, sugere-se

utilizar a mesma metodologia, de uma maneira mais detalhada.

Com a posse dos dados desagregados, é de suma importância a replicação de todo

o estudo feito neste trabalho para todos os produtos da empresa, incluindo cada SKU. A

utilização do critério ABC para investigar de fato quais são os produtos pertencentes a

cada classe também terá considerável relevância, visto que é recomendável trabalhar com

atenção seletiva dos produtos.

Também será possível realizar o Planejamento e a Programação da produção de

forma singularizada para um horizonte menor de tempo, semanas e dias.

4.3.4 Impactos econômicos e comentários

A seguir, será feita uma comparação entre os custos do modelo atual de produção

adotado pela empresa e o modelo proposto nesta monografia.

Na Tabela 19 encontram-se os valores relacionados com os custos de produção e

de estoque para o primeiro trimestre. Verifica-se uma redução de 42% de custo total

(produção + estoque).

Tabela 19. Custos dos itens da família de produtos do tipo Viga.

Custos 1º tri 2014

Plan. Proposto

1º tri 2014

Plan. Atual Redução

Custo de Produção (R$) 81937,16 149519,25 44%

Custo de Estoque (R$) 8338,36 9690,00 14%

Custo Total (Prod. + Estoque) (R$) 90275,52 159209,25 42%

Na Tabela 20 observam-se os valores dos custos de produção e de estoque para

cada trimestre, durante um ano, nos casos do Planejamento Agregado da Produção

proposto e do atual. É possível ver uma redução bastante significativa dos custos.

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Tabela 20. Custos associados aos itens de todas as famílias de produtos.

Custo

1º tri 2014 2º tri 2014 3ºtri 2014 4ºtri 2014

Plan.

Atual

Plan.

Proposto

Plan.

Atual

Plan.

Proposto

Plan.

Atual

Plan.

Proposto

Plan.

Atual

Plan.

Proposto

Produção

(R$) 157.388,69 88.374,64 161.018,90 88.374,64 168.563,06 88.374,64 123.227,93 88.374,64

Estoque

(R$) 10.200,00 8.819,72 10.200,00 7.366,83 10.200,00 5.763,07 10.200,00 5.066,00

Produção

+

Estoque

(R$)

167.588,69 97.194,36 171.218,90 95.741,48 178.763,06 94.137,71 133.427,93 93.440,64

Por fim, verifica-se na tabela 21 a redução global esperada após o período de um

ano de aplicação da proposta desta monografia. Gastar-se-á 42,07% menos com a

produção e 33,79% menos com estoque.

Tabela 21. Custos totais para todas as famílias de produtos em um ano.

Custos

Planejamento

Agregado

Proposto

Planejamento

Agregado

Atual

Redução

Custo total da produção (R$) 353498,58 610198,58 42,07%

Custo total de estoque (R$) 27015,62 40800,00 33,79%

Custo total (Prod. + Estoque) (R$) 380514,20 650998,58 41,55%

No ano de 2013 o faturamento aproximado da empresa foi de R$3.000.000,00,

desses sendo R$600.000,00 de madeiramento para a construção civil. Uma economia de

R$ 270.484,38 no período de um ano, ou seja, o equivalente a quase metade do

faturamento anual do setor, além de todos os benefícios da redução do estoque e produção

nivelada, mostra-se extremamente interessante para a empresa.

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5. Considerações finais

A empresa busca manter um estoque regular em todos os períodos pois considera

que essa seja uma boa maneira de atender às necessidades dos consumidores, os quais

avaliam, além do preço, a questão da entrega rápida, imediata.

Mediante a existência de restrições em relação à alta competitividade neste

segmento de mercado, é aconselhável que a empresa, para ser competitiva, vincule sua

produção à existência de um estoque regular, garantindo que os produtos que demanda o

mercado sejam entregues no menor prazo possível, ou seja, estejam prontos para serem

entregues assim que solicitados. No entanto, é necessário haver uma gestão eficiente

desses estoques, para que se mantenha um bom nível de serviço acompanhado de

redução/otimização de custos.

A falta de dados desagregados foi a maior dificuldade enfrentada na formulação da

proposta aqui apresentada. Para um estudo mais detalhado e específico, é imprescindível

que a empresa passe a registrar os dados de forma desagregada e informatizada.

A análise realizada no presente trabalho permitiu avaliar que a redução dos estoques

da Indústria Madeireira Baggio Ltda. não alteraria a estratégia da empresa e a beneficiaria

economicamente ao proporcionar uma redução dos seus custos. O Planejamento da

Produção proposto também implica redução significativa de gastos com produção no

período de um ano, capital este que poderá ser melhor aplicado. Conclui-se, portanto, que

a metodologia aplicada foi satisfatória e que a proposta almejada foi alcançada.

Para a implantação de tal sistema é necessário um treinamento de 8h dos

funcionários responsáveis pela coleta de dados e expedição de ordens de compra e de

produção, em software de planilha eletrônica e nas técnicas de gestão de estoque,

totalizando um investimento de R$2.000,00 por pessoa.

Comprova-se que uma Gestão de Estoques baseada em uma previsão de demanda

permite reduzir a quantidade de unidades estocada. Além da diminuição dos custos, a

redução do estoque tem como vantagens o aumento da liquidez, liberação de espaço

(armazéns, fábricas, etc.) e pessoal (manipulação, controle), menos riscos frente às

flutuações de preços, facilitação de operações e melhor visualização de ineficiências.

Para trabalhos futuros, sugerem-se estudos do impacto: da adoção do registro

informatizado de dados desagregados; do ABC para classificar os produtos por SKU e

determinar o controle seletivo de estoque; das revisões do dimensionamento do estoque

de produtos do tipo Viga com base nos dados desagregados; dos benefícios da

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implementação da ferramenta 5S; da confecção e implementação do Planejamento e

Programação da Produção diária para cada tipo e dimensão de madeira para construção

civil.

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7. Apêndices

Apêndice A – Previsão de demanda

Tabela 22. Demanda Real agregada em trimestres.

Demanda (m³) 1º trim 2º trim 3º trim 4º trim Média

2011 241 315 278 250 271,00

2012 198 188 278 161 206,25

2013 239 215 223 180 214,25

Média 226,00 239,33 259,67 197,00 230,50

Índice de Sazonalidade 0,98 1,04 1,13 0,85

Tabela 23. Demanda Real sem sazonalidade.

Demanda sem

Sazonalidade (m³) 1º tri 2º tri 3º tri 4º tri

2011 245,80 303,37 246,77 292,51

2012 201,94 181,06 246,77 188,38

2013 243,76 207,06 197,95 210,61

Tabela 24. Análise pelo método das Médias Móveis.

Período Demanda sem

Sazonalidade (m³)

MM =

2

MM =

3

MM =

4 Dif n=2 Dif n=3 Dif n=4

1 245,80

2 303,37

3 246,77 274,59

4 292,51 275,07 265,32

5 201,94 269,64 280,89 272,11 67,70 78,94 70,17

6 181,06 247,23 247,08 261,15 66,17 66,02 80,09

7 246,77 191,50 225,17 230,57 55,27 21,60 16,20

8 188,38 213,92 209,93 230,57 25,54 21,55 42,19

9 243,76 217,58 205,40 204,54 26,18 38,35 39,22

10 207,06 216,07 226,30 214,99 9,00 19,24 7,93

11 197,95 225,41 213,07 221,49 27,46 15,12 23,54

12 210,61 202,51 216,26 209,29 8,10 5,65 1,32

Erro

absoluto 285,43 266,47 280,67

Erro

médio 35,68 33,31 35,08

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Tabela 25. Análise do método Suavização Exponencial.

Período

Demanda sem

Sazonalidade

(m³)

α = 0,1 α = 0,2 α = 0,3 Dif

α=0,1

Dif

α=0,2

Dif

α=0,3

1 245,80

2 303,37

3 246,77 274,59 274,59 274,59 27,81 27,81 27,81

4 292,51 271,81 269,02 266,24 20,71 23,49 26,27

5 201,94 273,88 273,72 274,12 71,93 71,78 72,18

6 181,06 266,68 259,37 252,47 85,62 78,30 71,41

7 246,77 258,12 243,70 231,05 11,35 3,07 15,73

8 188,38 256,99 244,32 235,77 68,61 55,94 47,39

9 243,76 250,12 233,13 221,55 6,37 10,63 22,21

10 207,06 249,49 235,26 228,21 42,42 28,19 21,15

11 197,95 245,25 229,62 221,87 47,29 31,67 23,92

12 210,61 240,52 223,28 214,69 29,91 12,68 4,08

Erro

absoluto 363,50 292,25 278,06

Erro

médio 45,44 36,53 34,76

Tabela 26. Análise do método Regressão Linear.

Período Período

(x)

Demanda sem

Sazonalidade (y) x*y x² Regressão

Diferença

regressão

1ºtri 2011 1 245,80 245,80 1 265,74 19,94

2ºtri 2011 2 303,37 606,75 4 259,33 44,04

3ºtri 2011 3 246,77 740,32 9 252,93 6,15

4ºtri 2011 4 292,51 1170,05 16 246,52 45,99

1ºtri 2012 5 201,94 1009,71 25 240,11 38,17

2ºtri 2012 6 181,06 1086,37 36 233,70 52,64

3ºtri 2012 7 246,77 1727,42 49 227,30 19,48

4ºtri 2012 8 188,38 1507,03 64 220,89 32,51

1ºtri 2013 9 243,76 2193,83 81 214,48 29,28

2ºtri 2013 10 207,06 2070,65 100 208,07 1,01

3ºtri 2013 11 197,95 2177,47 121 201,67 3,71

4ºtri 2013 12 210,61 2527,31 144 195,26 15,35

Erro

absoluto 192,15

Erro

médio 24,02

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Tabela 27. Dados complementares para a análise pelo método da Regressão Linear.

Dados Valor

Soma de x 78

Soma de y 2766,00

Soma de x*y 17062,70

Soma de x² 650

(Soma de x)² 6084,00

A -6,41

B 272,15