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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA KAREN PRISCILA DE LIMA AVALIAÇÃO DA POTENCIALIDADE DA CROMATOGRAFIA COM FLUÍDO SUPERCRÍTICO DE ULTRA ALTA EFICIÊNCIA (UHPSFC) ALIADA À MÉTODOS QUIMIOMÉTRICOS PARA A QUANTIFICAÇÃO DE RESÍDUOS DE AGROTÓXICOS APLICADOS EM ALFACE CAMPINAS 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE QUÍMICA

KAREN PRISCILA DE LIMA

AVALIAÇÃO DA POTENCIALIDADE DA CROMATOGRAFIA COM FLUÍDO

SUPERCRÍTICO DE ULTRA ALTA EFICIÊNCIA (UHPSFC) ALIADA À MÉTODOS

QUIMIOMÉTRICOS PARA A QUANTIFICAÇÃO DE RESÍDUOS DE

AGROTÓXICOS APLICADOS EM ALFACE

CAMPINAS

2017

KAREN PRISCILA DE LIMA

AVALIAÇÃO DA POTENCIALIDADE DA CROMATOGRAFIA COM FLUÍDO

SUPERCRÍTICO DE ULTRA ALTA EFICIÊNCIA (UHPSFC) ALIADA À MÉTODOS

QUIMIOMÉTRICOS PARA A QUANTIFICAÇÃO DE RESÍDUOS DE AGROTÓXICOS

APLICADOS EM ALFACE

Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto de

Química da Universidade Estadual de Campinas como

parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de

Mestra em Química, na área de Química Analítica

Orientadora: Profa. Dra. Marcia Cristina Breitkreitz

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO

DEFENDIDA PELA ALUNA KAREN PRISCILA DE LIMA, E ORIENTADA PELA

PROFA. DRA. MARCIA CRISTINA BREITKREITZ.

CAMPINAS

2017

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por todas as coisas boas que acontecem diariamente.

Aos meus pais, Antonio e Eleni, pelo carinho, paciência e incentivo.

À Professora Dra. Márcia Cristina Breitkreitz pela orientação e aprendizado.

À Profa. Dra. Isabel Cristina Sales Fontes Jardim pelas contribuições a este trabalho.

A todos os familiares que sempre me apoiaram.

Aos colegas de laboratório de cromatografia, Fabi, Leandro, Hery, Luciana, Paula,

Fernando e Claudio.

Agradeço especialmente a Luana Macedo por ter me ajudado muito com a parte de

validação de métodos. Agradeço também a Lucilia por ser uma pessoa especial e que

sempre me ajudou, em tudo.

As boas amizades que eu fiz em Campinas – Na, Jordana e Tati.

À Patrícia Valderrama por sempre ter acreditado em mim e por ter me ajudado a

chegar até aqui.

Enfim, obrigada a todos que de certa forma contribuíram com a minha formação

pessoal e acadêmica, porque todo aprendizado é válido!

RESUMO

A Cromatografia com Fluido Supercrítico de Ultra Alta Eficiência (UHPSFC) é uma

técnica recente, que vem despertando interesse na Química Analítica por promover

separações rápidas, eficientes e com a mínima geração de resíduos, porém seu uso

ainda é limitado, principalmente para a análise de agrotóxicos. Nesse contexto, foi

avaliada a potencialidade da técnica para quantificação multirresíduo de 10 agrotóxicos

que podem ser aplicados em cultura da alface, em comparação com um método usando

Cromatografia Líquida de Ultra Alta Eficiência (UHPLC). Para efeito de comparação,

buscou-se usar alguns fatores comuns aos métodos, como o mesmo modificador

orgânico da fase móvel e diluente da amostra, por exemplo. Em UHPSFC, devido a

quantidade de variáveis experimentais inter-relacionadas, o desenvolvimento e a

otimização do método para separação completa dos analitos com resolução igual ou

maior que 2 foram obtidos com o uso de um planejamento fatorial 24 com ponto central,

envolvendo os fatores pressão, temperatura, fase estacionária e porcentagem de

modificador orgânico na fase móvel. Para preparo das amostras de alface foi utilizado

o método QuEChERS Citrato. Os métodos desenvolvidos em ambas técnicas

cromatográficas foram validados de acordo com as figuras de mérito seletividade,

linearidade, limite de quantificação (LQ), exatidão (em termos de recuperação) e

precisão (repetibilidade e precisão intermediária). Dos 10 agrotóxicos estudados,

obteve-se seletividade para sete analitos em UHPSFC e para oito em UHPLC. A curva

analítica para cada analito foi linear na faixa de concentração de 0,2-1,5 mg kg-1

(UHPSFC) e de 0,1-1,2 mg kg-1 (UHPLC) com coeficientes de correlação na faixa de

0,991-1,000 para UHPSFC e 0,991-0,997 para UHPLC. Os valores médios de

recuperação obtidos para três níveis de fortificação (0,8, 1,0 e 1,1 mg kg-1) foram 72-

122% para UHPSFC e 76-140% para UHPLC, com precisão menor que 20% em ambas

as técnicas. Comparando a UHPSFC com a UHPLC, que é uma técnica já estabelecida

no campo da ciência de separação, percebe-se que os limites de quantificação,

exatidão e precisão em ambas foram similares nos métodos desenvolvidos. Além disso,

na técnica de UHPSFC foi utilizado um volume reduzido de solvente orgânico (0,975

mL x 2,100 mL para UHPLC) e o tempo de análise foi menor do que o obtido em UHPLC

(5,1 min x 16,1 min em UHPLC), gerando menor quantidade de resíduos.

ABSTRACT

Ultra High Performance Supercritical Fluid Chromatography (UHPSFC) is a recent

technique that has risen interest in Analytical Chemistry for promoting rapid and efficient

separations and minimum residue generation, but it is not largely used up to the

moment, especially in the analysis of pesticides. In this context, the potential of the

technique for multiresidue quantification of 10 pesticides that can be applied to the

lettuce culture was evaluated in comparison to a method using Ultra High Performance

Liquid Chromatography (UHPLC). For the purpose of comparison, common parameters

were used in both methods, such as the same organic modifier in mobile phase and

injection solvent. In UHPSFC, due to the number of interrelated experimental variables,

the development and optimization of the method for complete separation of the analytes

with resolution equal or higher than to 2 were obtained with the use of a 24 factorial

design with central point in triplicate to study the factors pressure, temperature,

stationary phase and percentage of organic modifier in the mobile phase. To prepare

the lettuce samples, the QuEChERS Citrate method was used. The methods developed

using both chromatographic techniques were validated according to the figures of merit:

selectivity, linearity, quantification limit (LQ), accuracy (in terms of recovery) and

precision (repeatability and intermediate precision). Selectivity was obtained for seven

pesticides in UHPSFC and eight in UHPLC, out of the 10 analyzed. The analytical curve

for each analyte was linear over the concentration range of 0.2–1.5 mg/kg (UHPSFC)

and of 0.1–1.2 mg/kg (UHPLC) with correlation coefficients in the range of 0.991-1.000

for UHPSFC and 0.991-0.997 for UHPLC. The average recoveries obtained for the three

fortification levels (0.8, 1.0 and 1.1 mg/kg) were 72-118% for UHPSFC and 76-140% for

UHPLC, with RSD < 20% for precision in both techniques. Comparing UHPSFC with

UHPLC, which is a technique already established in the field of the separation sciences,

it is possible to conclude that the limits of quantification, accuracy and precision in both

were similar for the developed method. In addition, in UHPSFC it was used a reduced

volume of organic solvent (0.975 mL x 2.100 mL for UHPLC), and the method was faster

than in UHPLC (5.1 min x 16.1 min in UHPLC), generating lower amounts of residues.

Lista de Figuras

Figura 1: Representações das mudas de alfaces atingidas pela doença tombamento. ........... 26

Figura 2: Representações de folhas de alfaces atingidas pela doença míldio. ......................... 27

Figura 3: Representações de alfaces atingidas pela doença septoriose. ................................... 27

Figura 4: Representações de alfaces atingidas pela doença podridão-de-esclerotínia. .......... 28

Figura 5: Fluxograma representativo do método QuEChERS Original. ...................................... 30

Figura 6: Estrutura do sorvente PSA. ............................................................................................... 33

Figura 7. Fluxograma representativo do método QuEChERS Acetato. ...................................... 34

Figura 8. Fluxograma representativo do método QuEChERS Citrato. ........................................ 35

Figura 9. Gráfico mostrando o aumento de pressão e temperatura com o aumento da

porcentagem do modificador orgânico, MeOH, na FM. Adaptado da referência 12. ................. 40

Figura 10. Curvas de van Deemter obtidas para o butilparabeno utilizando sistemas para

cromatografia líquida (HPLC e UHPLC) e cromatografia com fluido supercrítico (SFC e

UHPSFC). Adaptado da referência 87. .............................................................................................. 42

Figura 11. Diagrama de aranha para classificação das FE em UHPSFC. Adaptado da

referência 12. ......................................................................................................................................... 46

Figura 12. Representação esquemática de um cromatógrafo de ultra alta eficiência com fluido

supercrítico. Adaptado de Waters Corporation. ............................................................................... 47

Figura 13. Estruturas químicas dos agrotóxicos selecionados para estudo. .............................. 60

Figura 14. Curvas usadas em eluição por gradiente ...................................................................... 62

Figura 15. Cromatogramas obtidos por UHPSFC na separação dos agrotóxicos estudados

usando eluição isocrática. Condições cromatográficas: pressão:1500 psi, temperatura: 40 °C,

FM: constituída por solvente A, como CO2, e solvente B, como metanol, na proporção de

92,5:7,5 (v/v de A:B), eluição isocrática, volume de injeção: 1,0 µL, vazão: 1,5 mL min-1.

Detecção UV em 220 nm ..................................................................................................................... 74

Figura 16. Cromatogramas obtidos por UHPSFC na separação dos agrotóxicos estudados

usando gradiente linear, com variação de porcentagem de solvente B de 0 a 20%. Condições

cromatográficas: pressão:1500 psi, temperatura: 40 °C, FM: CO2 como solvente A e MeOH

como solvente B, volume de injeção: 1,0 µL, vazão: 1,5 mL min-1. Detecção: 220 nm.

Identificação dos picos: 1. Lambda-Cialotrina, 2. Fluopicolida, 3. Atrazina, 4. Fenarimol, 5.

Mandipropamida, 6. Azoxistrobina, 7. Difenoconazol, 8. Clorantraniliprole, 9. Tiametoxam e 10.

Imidacloprido. ......................................................................................................................................... 76

Figura 17. Cromatogramas obtidos com a coluna Fluorofenil para ilustrar a falta de

repetibilidade no tR e mudança no formato dos picos. Condições cromatográficas: pressão:1500

psi, temperatura: 40 °C, FM: CO2:MeOH, eluição por gradiente, volume de injeção: 1,0 µL,

vazão: 1,5 mL min-1. Detecção UV: 220 nm. ..................................................................................... 77

Figura 18. Equação química da reação entre os silanóis com o metanol com formação do silil

éter, e eliminação de uma molécula de água. .................................................................................. 78

Figura 19. Cromatogramas obtidos na separação dos agrotóxicos estudados usando 5 % de

água como aditivo da FM. Condições cromatográficas: pressão:1500 psi, temperatura: 40 °C,

FM: constituída de CO2 solvente A e MeOH:H2O 95:5 (v/v) solvente B, eluição por gradiente,

programação do gradiente: variação do solvente B de 0 a 20%, volume de injeção: 1,0 µL,

vazão: 1,5 mL min-1. Detecção UV: 220 nm. Identificação dos picos: 1. Lambda-Cialotrina, 2.

Fluopicolida, 3. Atrazina, 4. Fenarimol, 5. Mandipropamida, 6. Azoxistrobina, 7. Difenoconazol,

8. Clorantraniliprole, 9. Tiametoxam e 10. Imidacloprido. ............................................................... 79

Figura 20. Comparação dos cromatogramas obtidos nas colunas Fluorofenil, 2-PIC e C18 com

e sem a adição de água ao modificador orgânico (solvente B) da FM. Condições

cromatográficas: pressão: 1500 psi, temperatura: 40 °C, FM: modificador orgânico:CO2, eluição

por gradiente linear, com variação da porcentagem de modificador orgânico de 0 a 20%, volume

de injeção: 1,0 µL, vazão: 1,5 mL min-1. Detecção UV: 220 nm. ................................................... 82

Figura 21. Cromatogramas da mistura de agrotóxicos estudados, na concentração de 0,05 mg

mL-1, mostrando a influência do volume de injeção, usando como diluente a ACN. Coluna:

ACQUITY UPC2 Torus 2-PIC (2-Picolylamine) 1,7 µm, 2,1 mm X 50 mm. Condições

cromatográficas: pressão:1500 psi, temperatura: 40 °C, FM: CO2, solvente A e MeOH:H2O 95:5

(v/v), solvente B, eluição por gradiente, vazão: 1,5 mL min-1. Detecção UV: 220 nm. ............. 84

Figura 22. Cromatogramas da mistura de agrotóxicos estudados, na concentração de 0,05 mg

mL-1, mostrando a influência da variação do diluente. Condições cromatográficas: coluna:

ACQUITY UPC2 Torus 2-PIC (2-Picolylamine) 1,7 µm, 2,1 mm X 50 mm, pressão:1500 psi,

temperatura: 40 °C, FM: CO2 como solvente A e MeOH:H2O 95:5 (v/v) como solvente B, eluição

por gradiente, volume de injeção: 1,5 µL, vazão: 1,5 mL min-1. Detecção UV: 220 nm. .......... 86

Figura 23. Cromatogramas mostrando as mudanças na retenção e na seletividade quando se

altera o modificador orgânico utilizado na fase móvel. Diluente da amostra: ACN. A) coluna

Fluorofenil. B) coluna 2-PIC. C) coluna C18. Condições cromatográficas: pressão:1500 psi,

temperatura: 40 °C, FM: CO2,solvente A e modificador orgânico:H2O (95:5 v/v), solvente B,

eluição por gradiente linear (0 a 20% de solvente B), vazão: 1,5 mL min-1. Detecção UV: 220

nm. ........................................................................................................................................................... 91

Figura 24. Gráfico de probabilidade normal para o agrotóxico lambda-cialotrina. ..................... 94

Figura 25. Gráfico de probabilidade normal para o agrotóxico mandipropamida. ..................... 94

Figura 26. Gráfico de probabilidade normal para o agrotóxico imidacloprido. ............................ 95

Figura 27. Gráfico de valores previstos pelo modelo vs valores reais para o agrotóxico

mandipropamida. ................................................................................................................................... 96

Figura 28. Gráficos de resíduos padronizados para o analito mandipropamida: A) gráfico de

valores previstos vs resíduos padronizados e B) gráfico de experimento vs resíduos

padronizados. ......................................................................................................................................... 97

Figura 29. Superfícies de resposta para a retenção do agrotóxico mandipropamida em função

da temperatura, pressão, modificador orgânico e FE. .................................................................... 98

Figura 30. Gráfico de valores previstos pelo modelo vs valores reais para resolução do par

atrazina e fluopicolida. .......................................................................................................................... 99

Figura 31. Gráfico de valores previstos pelo modelo vs valores reais para resolução do par

fenarimol e azoxistrobina. .................................................................................................................. 100

Figura 32. Gráfico de valores previstos pelo modelo vs valores reais para resolução do par

fenarimol e mandipropamida. ............................................................................................................ 100

Figura 33. Gráfico de valores previstos pelo modelo vs valores reais para resolução do par

difenoconazol e azoxistrobina. .......................................................................................................... 101

Figura 34. Gráficos de sobreposição. Resolução simultânea para os pares fenarimol e

mandipropamida e atrazina e fluopicolida. A) Coluna Fluorofenil com variação da temperatura

de 25 para 50 °C. B) Coluna 2-PIC com variação da temperatura de 25 para 50 °C. ............. 103

Figura 35. Superfícies de desejabilidade para a região compreendida entre resolução mínima

de 2 e o maior valor de resolução observado para cada par de compostos na coluna 2-PIC. A)

25 °C. B) 50 °C. ................................................................................................................................... 104

Figura 36. Superfícies de desejabilidade para a região compreendida entre resolução mínima

de 2 e o maior valor de resolução observado para cada par de compostos na coluna Flourfenil.

A) 25 °C. B) 50 °C ............................................................................................................................... 105

Figura 37. Superfícies de resposta para a resolução dos quatro pares críticos na coluna 2-PIC,

com temperatura de 50 °C e resolução maior que 2. .................................................................... 106

Figura 38. Gráfico de valores previstos pelo modelo vs valores reais para o agrotóxico

clorantraniliprol. .................................................................................................................................... 107

Figura 39. Gráfico de valores previstos pelo modelo vs valores reais para o agrotóxico

Imidacloprido. ....................................................................................................................................... 107

Figura 40. Cromatograma obtido na melhor condição de separação fornecida pelo

planejamento experimental, na separação da mistura de agrotóxicos estudados, na

concentração de 0,05 mg mL-1. Condições cromatográficas: diluente da amostra: ACN, coluna:

2-PIC, pressão:1500 psi, temperatura: 50 °C, FM: CO2 como solvente A e EtOH:H2O 95:5 (v/v)

como solvente B, eluição por gradiente com variação do solvente B de 0 a 25%, volume de

injeção: 1,5 µL, vazão: 1,5 mL min-1. Detecção UV: 220 nm. 1. Lambda-Cialotrina, 2.

Fluopicolida, 3. Atrazina, 4. Fenarimol, 5. Mandipropamida, 6. Azoxistrobina, 7. Difenoconazol,

8. Clorantraniliprole, 9. Tiametoxam e 10. Imidacloprido. ............................................................. 108

Figura 41. Cromatogramas obtidos na separação dos agrotóxicos estudados empregando

UHPLC e 2 tipos de colunas, fluorofenil e C18 com variação de porcentagem de etanol de 15 a

70%. Condições cromatográficas: temperatura: 40 °C, FM: água como solvente A e etanol como

solvente B, eluição por gradiente com variação da porcentagem do solvente B (etanol) de 15 a

70% de 0 a 10 minutos, volume de injeção: 1,0 µL, vazão: 0,3 mL min-1. Solvente de injeção:

ACN. Detecção em 220 nm. 1. Lambda-Cialotrina, 2. Fluopicolida, 3. Atrazina, 4. Fenarimol, 5.

Mandipropamida, 6. Azoxistrobina, 7. Difenoconazol, 8. Clorantraniliprole, 9. Tiametoxam e 10.

Imidacloprido ........................................................................................................................................ 110

Figura 42. UHPSFC-DAD. A) ____ Cromatogramas dos extratos do método de extração

QuEChERS Citrato, obtidos usando UHPSFC-DAD. ____ Cromatograma da mistura de

agrotóxicos em solvente. B) Extrato da matriz isenta de agrotóxicos (branco de referência).

Condições cromatográficas semelhantes à Figura 40. Identificação dos picos: 1. Lambda-

Cialotrina, 2. Fluopicolida, 3. Atrazina, 4. Fenarimol, 5. Mandipropamida, 6. Azoxistrobina, 7.

Difenoconazol, 8. Clorantraniliprole, 9. Tiametoxam e 10. Imidacloprido. λ = 220 nm. (*)

Interferente. .......................................................................................................................................... 112

Figura 43. UHPLC-DAD. A) ____ Cromatogramas dos extratos do método de extração

QuEChERS Citrato, obtidos usando UHPSFC-DAD. ____ Cromatograma da mistura de

agrotóxicos em solvente. B) Extrato da matriz isenta de agrotóxicos (branco de referência).

Condições cromatográficas semelhantes à Figura 41. Identificação dos picos: 1. Lambda-

Cialotrina, 2. Fluopicolida, 3. Atrazina, 4. Fenarimol, 5. Mandipropamida, 6. Azoxistrobina, 7.

Difenoconazol, 8. Clorantraniliprole, 9. Tiametoxam e 10. Imidacloprido. λ = 220 nm. (*)

Interferente. .......................................................................................................................................... 113

Figura 44. Percentual do efeito matriz (%) empregando QuEChERS Citrato para extração dos

agrotóxicos em cultura de alface, utilizando UHPSFC-DAD. 1. Atrazina; 2. Azoxistrobina; 3.

Difenoconazol; 4. Fluopicolida; 5. Imidacloprido; 6. Mandipropamida e 7. Tiametoxam. ........ 114

Figura 45. Efeito matriz dos analitos utilizando a UHPSFC-DAD. Curvas analíticas construídas

a partir de soluções padrão de agrotóxicos no extrato da matriz e em solvente. ..................... 116

Figura 46. Percentual do efeito matriz (%) empregando QuEChERS Citrato para extração dos

agrotóxicos em cultura de alface utilizando UHPLC-DAD. 1. Azoxistrobina; 2. Clorantraniliprol;

3. Difenoconazol; 4. Fenarimol; 5. Fluopicolida; 6. Imidacloprido; 7. Mandipropamida e 8.

Tiametoxam. ......................................................................................................................................... 116

Figura 47. Efeito matriz dos analitos utilizando UHPLC-DAD. Curvas analíticas construídas a

partir de soluções padrão de agrotóxicos no extrato da matriz e em solvente. ........................ 118

Figura 48. Cromatograma da FM usando UHPLC-DAD na avaliação da seletividade. Condições

cromatográficas idênticas a da Figura 41. ...................................................................................... 120

Figura 49. Gráfico dos resíduos estatísticos, apresentado em termos de erros relativos, para o

agrotóxico Mandipropamida. ............................................................................................................. 122

Lista de Tabelas

Tabela 1. Classificação e efeitos e/ou sintomas agudos e crônicos decorrentes da intoxicação

por agrotóxicos. ..................................................................................................................................... 20

Tabela 2. Valores nutricionais para cada 100 g da parte comestível da alface.......................... 22

Tabela 3. Agrotóxicos usados na cultura da alface e seus valores de LMR quando autorizados.

.................................................................................................................................................................. 24

Tabela 4. Produtos fitossanitários registrados no MAPA para o controle de doenças da alface

e de insetos-vetores de vírus38. ........................................................................................................... 25

Tabela 5. Agrotóxicos selecionados para o estudo em amostra de alface e seus respectivos log

P, pKa, quiralidade, grupo químico, classe agrônoma e LMR. ....................................................... 58

Tabela 6. Fatores e níveis empregados no planejamento experimental. .................................... 64

Tabela 7. Valores máximos de absorção para os agrotóxicos estudados .................................. 72

Tabela 8. Avaliação da variação do tempo de retenção após sete dias de uso da FE, com adição

de 5% de água ao metanol. ................................................................................................................. 80

Tabela 9. Volumes máximos que podem ser injetados para cada diluente avaliado. ............... 87

Tabela 10. Valores previstos para o modelo vs valores obtidos experimentalmente para dois

pontos dentro da região amarela da Figura 34-B, para a coluna 2-PIC. ................................... 102

Tabela 11. Valores de assimetria previstos para o modelo vs valores obtidos experimentalmente

para dois pontos dentro da região amarela da Figura 34-B, para a coluna 2-PIC. ................. 108

Tabela 12. Resultados dos parâmetros de validação do método desenvolvido utilizando

UHPSFC-DAD ...................................................................................................................................... 120

Tabela 13. Resultados dos parâmetros de validação do método desenvolvido utilizando

UHPLC-DAD ........................................................................................................................................ 121

Tabela 14. Equação da reta das curvas analíticas para os agrotóxicos estudados usando

UHPSFC-DAD e valores dos erros relativos (%) obtidos através dos cálculos dos resíduos

estatísticos. ........................................................................................................................................... 122

Tabela 15. Equação da reta das curvas analíticas para os agrotóxicos estudados usando

UHPLC-DAD e valores dos erros relativos (%) obtidos através dos cálculos de resíduos

estatísticos. ........................................................................................................................................... 123

Lista de Abreviaturas

ABCSEM - Associação Brasileira de Comércio de Sementes e Mudas

ABPR - regulador automático de contra pressão (Automatic Back Pressure Regulator)

ANOVA - análise da variância

Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária

AOAC - Association of Offical Analytical Chemists

A-QbD - Analytical Quality by Design

BPR - regulador de contra pressão

C18 – octadecilsilano

CEN - Comité Européen de NormalisationCO2 – Dióxido de Carbono

CV – Coeficiente de variação

DAD – detector por arranjo de diodos (Diode Array Detector)

D – Desejabilidade global

DOE - Planejamento Experimental (Design of Experiments)

DPR – Desvio padrão relativo

d-SPE - Extração em Fase Sólida Dispersiva (Dispersive Solid Phase Extraction)

ELSD - detector por espalhamento evaporativo de luz (Evaporative Light Scattering

Detector)

Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias

FDA - Food and Drug Administration

FE – Fase estacionária

FM - Fase móvel

GAP - Boas Práticas Agrícolas (Good Agricultural Practices)

GBC - carbono grafitizado

GC - Cromatografia Gasosa (Gas Chromatogaphy)

HPLC - Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (High Performance Liquid

Chromatography)

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICH - Comitê Internacional de Harmonização (International Conference on

Harmonization of Technical Requirements for Pharmaceuticals for Human Use)

LC - Cromatografia líquida (Liquid chromatography)

LD – Limite de detecção

LMR – Limite máximo de resíduo

LQ - Limite de Quantificação (Limit of Quantification)

LSER - relação de energia linear de solvatação (Linear solvation energy relationships)

MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MQExp – Média quadrática do erro puro

MQfaj – Média quadrática da falta de ajuste

MQR – Média quadrática da regressão

MQr – Média quadrática dos resíduos

MRM - métodos multirresíduos (Multiresidue Methods)

MS - Espectrometria de Massas (Mass Spectrometry)

PARA - Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos

POPs - poluentes orgânicos persistentes (Persistent Organic Pollutants)

PSA - amina primária e secundária

QbD - Quality by Design

QuEChERS - Método rápido, fácil, barato, efetivo, robusto e seguro (Quick, Easy,

Cheap, Effective and Rugged and Safe)

RLM - Regressão Linear Múltipla

SFC - Cromatografia com Fluido Supercrítico

SQ – Somas quadráticas

UHPLC - Cromatografia Líquida de Ultra Alta Eficiência (Ultra High Performance Liquid

Chromatography)

UHPSFC - Cromatografia Com Fluído Supercrítico de Ultra Alta Eficiência (Ultra High

Performance Supercritical Fluid Chromatography)

UPC2 - Cromatografia de Convergência de Ultra Eficiência (Ultra Performance

Convergence Chromatography)

Sumário

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 17

1.1 Uso, Impacto e Monitoramento de Agrotóxicos no Brasil ....................................... 18

1.2 Cultura da Alface ................................................................................................................. 21

1.3 Doenças e Pragas na Cultura de Alface e o Emprego de Agrotóxicos em seu

Controle ............................................................................................................................................. 25

1.3.1 Tombamento ................................................................................................................. 26

1.3.2 Míldio .............................................................................................................................. 26

1.3.3 Septoriose ..................................................................................................................... 27

1.3.4 Podridão-de-esclerotínia ........................................................................................... 28

1.4 Métodos Analíticos para Determinação Multirresíduo de Agrotóxicos ................ 28

1.4.1 Preparo de amostras .................................................................................................. 29

1.4.2 O método de extração QuEChERS ......................................................................... 30

1.4.3 Cromatografia como técnica analítica para determinação multirresíduo de

agrotóxicos em alimentos ......................................................................................................... 35

1.4.4 Cromatografia com fluido supercrítico de ultra alta eficiência (UHPSFC) .. 36

1.4.5 Instrumentação em UHPSFC .................................................................................... 46

1.5 Análise de agrotóxicos empregando UHPSFC ........................................................ 49

1.6 Planejamento Experimental .............................................................................................. 51

1.7 Validação de Métodos Analíticos .................................................................................... 54

2. OBJETIVOS ................................................................................................................................... 55

2.1 Objetivo Geral ...................................................................................................................... 55

2.2 Objetivos Específicos ........................................................................................................ 55

3. PARTE EXPERIMENTAL ............................................................................................................ 56

3.1 Materiais e métodos ........................................................................................................... 56

3.1.1 Reagentes e padrões analíticos .............................................................................. 56

3.1.2 Equipamentos e colunas cromatográficas ........................................................... 57

3.1.3 Amostras de alface ..................................................................................................... 57

3.2 Método .................................................................................................................................... 58

3.2.1 Seleção dos agrotóxicos a serem analisados ..................................................... 58

3.2.2 Preparo e armazenamento das soluções analíticas dos agrotóxicos .......... 61

3.2.3 Confirmação dos agrotóxicos .................................................................................. 61

3.2.4 Seleção do modo de eluição dos agrotóxicos e da fase estacionária em

UHPSFC ......................................................................................................................................... 62

3.2.5 Seleção do diluente e volume de injeção em UHPSFC ..................................... 63

3.2.6 Seleção da fase móvel em UHPSFC ....................................................................... 63

3.2.7 Planejamento experimental em UHPSFC .............................................................. 64

3.2.8 Separação dos agrotóxicos em UHPLC ................................................................ 64

3.2.9 Armazenamento das amostras de alface .............................................................. 65

3.2.10 Extração dos agrotóxicos da alface usando o método QuEChERS .............. 65

3.2.11 Quantificação e validação do método ................................................................... 66

3.2.11.1 Efeito matriz .............................................................................................................. 66

3.3 Aplicação do método desenvolvido em amostras de alface obtidas no comércio

72

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................................. 72

4.1 Seleção do modo de eluição dos agrotóxicos e da fase estacionária em

UHPSFC ............................................................................................................................................. 73

4.2 Seleção do volume de injeção em UHPSFC e do diluente ....................................... 83

4.3 Seleção da fase móvel em UHPSFC ............................................................................... 88

4.4 Planejamento experimental em UHPSFC ...................................................................... 92

4.4.1 Resultados para a modelagem dos fatores de retenção .................................. 93

Resultados para resolução ....................................................................................................... 99

4.4.2 Assimetria ................................................................................................................... 106

4.5 Separação dos agrotóxicos usando UHPLC .............................................................. 109

4.6 Extração dos agrotóxicos da alface usando o método QuEChERS .................... 111

4.7 Efeito Matriz ........................................................................................................................ 114

4.7.1 Efeito matriz em UHPSFC-DAD .............................................................................. 114

4.7.2 Efeito matriz em UHPLC-DAD ................................................................................ 116

4.8 Quantificação e Validação dos Métodos ..................................................................... 118

4.9 Aplicação do método desenvolvido em amostras de alface ................................. 123

5. CONCLUSÃO .............................................................................................................................. 124

6. REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 127

17

1. INTRODUÇÃO

O cultivo de alface é bastante suscetível ao ataque direto de pragas, que

precisam ser controladas, o que exige o emprego de agrotóxicos. Agrotóxicos são

compostos usados no controle de doenças, pragas e plantas daninhas com a intenção

de reduzir perdas na plantação e aumentar a produtividade. Entretanto, se os

agrotóxicos forem aplicados de maneira exacerbada e/ou equivocada podem gerar

contaminantes ao meio ambiente e resíduos cumulativos capazes de prejudicar a saúde

do consumidor e do agricultor.1,2,3 Por isso, monitorar os resíduos de agrotóxicos em

alimentos, águas e solos é de importância fundamental para avaliar adequadamente o

impacto destes compostos sobre o ecossistema.

As diversas classes de agrotóxicos utilizadas apresentam características

variadas, como ampla faixa de polaridade, diferentes constantes de ionização e baixa

estabilidade térmica.4 Atualmente, as análises qualitativa e quantitativa de agrotóxicos

são realizadas empregando-se técnicas como Cromatografia Líquida de Alta Eficiência

(High Performance Liquid Chromatography, HPLC), Cromatografia Líquida de Ultra Alta

Eficiência (Ultra High Performance Liquid Chromatography, UHPLC) ou Cromatografia

Gasosa (Gas Chromatogaphy, GC), todas acopladas com a Espectrometria de Massas

(Mass Spectrometry, MS).5,6 Todavia, é preciso considerar que o volume de resíduos

gerado na cromatografia líquida é considerável e a cromatografia gasosa permite

analisar somente compostos voláteis e termicamente estáveis, sem que se faça a

derivatização.7,8

Diante da necessidade mundial por métodos analíticos rápidos, eficientes e

com a mínima geração de resíduos para a determinação de agrotóxicos, uma

alternativa interessante é a Cromatografia Com Fluído Supercrítico de Ultra Alta

Eficiência (Ultra High Performance Supercritical Fluid Chromatography, UHPSFC) que

vem despertando interesse na Química Analítica, devido às suas vantagens. A

UHPSFC, também chamada de Cromatografia de Convergência de Ultra Eficiência

(Ultra Performance Convergence Chromatography, UPC2, termo patenteado pela

empresa Waters), é uma técnica recente que emprega como fase móvel (FM) um fluido

supercrítico, sendo o CO2 o mais usado devido às suas vantagens de ser um gás inerte,

não tóxico, com valores moderados de pressão e temperatura crítica (72,9 atm e 31,3

°C), o que reduz o aquecimento instrumental e permite a análise de compostos

18

termicamente instáveis, e de modificação de polaridade fácil quando combinado com

uma pequena porcentagem de solvente orgânico (tipicamente 5-25 %). Devido à

quantidade reduzida de solvente orgânico na fase móvel e ao tempo de análise curto,

esta técnica apresenta baixa geração de resíduos e está, portanto, de acordo com os

preceitos da Química Verde9. Devido à possibilidade de usar diferentes solventes

orgânicos na fase móvel, o que permite uma grande variação na seletividade, a técnica

tem demonstrado potencialidade para a análise de uma ampla variedade de

compostos.10,11,12,13

No entanto, nesta técnica existem muitas variáveis experimentais que estão

intimamente relacionadas, tais como diluente da amostra, fase estacionária,

temperatura, pressão, porcentagem e tipo de modificador orgânico, sendo que os três

últimos determinam a densidade do fluído, fator importante na retenção e,

consequentemente, na separação dos compostos. Devido às interações entre estas

variáveis é interessante o uso de métodos de planejamento e otimização experimental

para o desenvolvimento do método cromatográfico de maneira mais eficiente e robusta.

Com o emprego da Quimiometria, é possível, com um mínimo de experimentos,

construir superfícies de resposta e obter informações relevantes sobre a separação dos

agrotóxicos, com economia de tempo e de reagentes.14

1.1 Uso, Impacto e Monitoramento de Agrotóxicos no Brasil

Atualmente, a produção agrícola no Brasil está cada vez mais sujeita ao uso

de agrotóxicos e fertilizantes15 com o intuito de combater perdas e aumentar a

produção. Segundo o Decreto n° 4.074, de 4 janeiro de 2002, são considerados

agrotóxicos:

“produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de outros ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como as substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento;” 16

19

O mercado de agrotóxicos no país teve um crescimento significativo17, de

modo que, atualmente, o Brasil ocupa a posição de maior consumidor mundial de

agrotóxicos.18 Esse aumento no consumo de herbicidas, inseticidas e fungicidas pode

estar relacionado a fatores como ampliação da monocultura; resistência de insetos,

fungos e ervas daninhas, o que exige o emprego de maior quantidade de agrotóxicos.19

No que diz respeito à cultura de hortaliças no Brasil, a aplicação de

fungicidas por área cultivada pode chegar entre oito e 12 vezes a quantia aplicada por

hectare nas plantações de soja, o que equivale a cerca de quatro a oito litros de

agrotóxico por hectare de hortaliça (enquanto a lavoura de soja demanda

aproximadamente 0,5 litros).20 Apesar do uso de agrotóxicos ser regulamentado e ser

vantajoso para o desenvolvimento agrícola, seu emprego de forma indiscriminada, sem

obedecer às recomendações das Boas Práticas Agrícolas (Good Agricultural Practices

– GAP), pode trazer efeitos indesejáveis, no que diz respeito à contaminação do meio

ambiente e à sua acumulação em alimentos, o que prejudica e põe em risco a saúde

humana e animal.21

Os agrotóxicos, em grande parte, são compostos químicos nocivos à saúde

humana e de outros animais, pois, devido às suas elevadas lipoficilidades, se

acumulam nos tecidos dos organismos, podendo ocasionar diversos sintomas

negativos à saúde humana, como pode ser visto na Tabela 1. Além disso, alguns deles

pertencem ao grupo de poluentes orgânicos persistentes (Persistent Organic Pollutants

– POPs) por apresentarem elevado tempo de meia vida, alta toxidade decorrente da

resistência a degradação e bioacumulação, através de alimentos contaminados.22

Devido a essas características, é importante um monitoramento completo e cuidadoso

dos resíduos de agrotóxicos em alimentos.

20

Tabela 1. Classificação e efeitos e/ou sintomas agudos e crônicos decorrentes da intoxicação por agrotóxicos.15

Classe

agronômica

Grupo químico Sintomas de

intoxicação aguda

Sintomas de

intoxicação crônica

Inseticidas

Organofosforados

e carbamatos

Fraqueza, cólicas

abdominais, vômitos,

espasmos

musculares e

convulsões

Efeitos neurotóxicos

retardados, alterações

cromossomiais e

dermatites de contato

Organoclorados

Náuseas, vômitos,

contrações

musculares

involuntárias

Lesões hepáticas,

arritmias cardíacas,

lesões renais e

neuropatias periféricas

Piretroides

sintéticos

Irritações das

conjuntivas, espirros,

excitação, convulsões

Alergias, asma

brônquica, irritações

nas mucosas,

hipersensibilidade

Fungicidas

Ditiocarbamatos

Tonteiras, vômitos,

tremores musculares,

dor de cabeça

Alergias respiratórias,

dermatites, doença de

Parkinson, cânceres

Fentalamidas - Teratogeneses

Herbicidas

Dinitroferóis e

pentaciclorofenol

Difculdade

respiratória,

hipertermia,

convulsões

Cânceres (PCP-

formação de dioxinas),

cloroacnes

Fenoxiacéticos

Perda de apetite,

enjôo, vômitos,

fasciculação

muscular

Indução da produção

de

enzimas hepáticas,

cânceres,

teratogeneses

Dipiridilos

Sangramento nasal,

fraqueza, desmaios,

conjuntivites

Lesões hepáticas,

dermatites de contato,

fibrose pulmonar

21

Com o intuito de promover e avaliar a segurança dos alimentos consumidos

pela população brasileira em relação aos resíduos de agrotóxicos, a Agência Nacional

de Vigilância Sanitária (Anvisa) criou, em 2001, o Programa de Análise de Resíduos de

Agrotóxicos em Alimentos (PARA). O PARA monitora a qualidade dos alimentos

vendidos nos 27 estados brasileiros, em culturas distintas, com a intenção de verificar

se os níveis de resíduos de agrotóxicos estão dentro do limite máximo de resíduo (LMR)

estabelecido pela Anvisa, conferir se os agrotóxicos empregados nas culturas estão

registrados no país e se foram aplicados nos alimentos para os quais têm autorização;

além de avaliar o risco decorrente à exposição de resíduos de agrotóxicos em alimentos

de origem vegetal. Tais informações fornecem ao Poder Público subsídios para

executar ações regulatórias, fiscalizatórias e educativas.23

Das 12.051 amostras analisadas pelo PARA 201623, de um total de 25 tipos

diferentes de alimentos, 2.371 (19,7%) apresentaram resultados considerados

insatisfatórios por apresentarem resíduos acima do LMR permitido ou por conterem

resíduos de agrotóxicos não autorizados para a cultura. Quanto a cultura da alface, de

acordo com os resultados dos últimos anos, cerca de 40% das amostras analisadas

apresentaram irregularidades.

1.2 Cultura da Alface

As hortaliças compõem um grupo de plantas usadas para alimentação, que

se destacam pela qualidade nutritiva. Entre estas, a alface (Lactuca sativa), hortaliça

folhosa, é a mais consumida no Brasil; além de ser uma das mais cultivadas no território

nacional, devido ao seu curto ciclo de produção e rápido retorno financeiro.24,25

Na alimentação humana, a alface tem papel de destaque por ser fonte de

vitaminas (A, B1, B2, E e C), sais minerais (como cálcio e ferro)21,26, antioxidantes27 e

por possuir reduzido valor calórico, como pode ser observado na Tabela 2. Atualmente,

a alface crespa é a mais consumida no país, representando cerca de 70% do

mercado25, porém outros tipos da hortaliça, como americana, lisa, mimosa, romana,

roxa e vermelha, são cultivados no Brasil e no mundo28 com o intuito de atender todos

os paladares e satisfazer as condições climáticas vigentes.

22

Tabela 2. Valores nutricionais para cada 100 g da parte comestível da alface.29

Componente Quantidade

Água (%) 96,00

Energia (kcal) 15,00

Proteína (g) 1,36

Lipídios totais (g) 0,15

Carboidratos (g) 2,79

Fibra alimentar total (g) 1,30

Açúcar total (g) 0,79

Cálcio (mg) 36,00

Magnésio (mg) 13,00

Manganês (mg) 0,25

Fósforo (mg) 29,00

Ferro (mg) 0,86

Sódio (mg) 28,00

Potássio (mg) 194,00

Cobre (mg) 0,03

Zinco (mg) 0,18

Selênio (mcg) 0,6

Vitamina A (mcg) 370,25

Vitamina B1 (mg) 0,07

Vitamina B2 (mg) 0,08

Vitamina E (mg) 0,31

Vitamina C (mg) 18,00

Segundo o Manual de Boas Práticas Agrícolas na Produção de Alface25 a

cultura desta folhosa se limitava, até o final da década de 70, às regiões de clima

temperado, todavia o desenvolvimento de espécies resistentes ao calor, à alguns vírus

e ao apodrecimento e florescimento precoce30, propiciou o cultivo da alface por todo o

território nacional. Apesar das melhorias genéticas, o tempo de vida pós-colheita da

alface é relativamente curto, de modo que as regiões produtoras estão situadas

próximas ao perímetro urbano ou nos cinturões verdes de grandes cidades.31

23

Os estabelecimentos agropecuários produziram juntos, em 2011, cerca de

1,276 milhões de tonelada de alface31 e, nos últimos anos, a produção ultrapassou 1,5

milhões de toneladas, sendo responsável pela movimentação de 8 bilhões de reais no

varejo.32 As regiões Sudeste e Sul são as maiores produtoras de hortaliças. O estado

de São Paulo se sobressai como maior mercado produtor e consumidor de olerícolas

do Brasil, sendo capaz de produzir cerca de 207.060 toneladas da alface. O cinturão

verde do estado de São Paulo, que compreende as regiões da Grande São Paulo, Mogi

das Cruzes, Sorocaba e Campinas, cultivam verduras e legumes o ano todo e a alface

se destaca como a folhosa de maior área plantada (10.508 hectares).31

Como a alface é uma espécie sensível, bastante suscetível ao ataque de

pragas e doenças26 e possui um tempo de vida curto após a colheita, são aplicados

agrotóxicos, algumas vezes em quantidades acima do recomendado, com o propósito

de manter a boa aparência da folha, de maneira a garantir o valor comercial da hortaliça

e de inibir os danos ocasionados por insetos e/ou micro-organismos patogênicos.33

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)34, 70% dos

produtores empregam agrotóxicos de origem química ou orgânica no plantio da alface.

De acordo com o levantamento de dados socioeconômicos da cadeia

produtiva de hortaliças no Brasil, referente ao ano de 2012, publicado pela Associação

Brasileira de Comércio de Sementes e Mudas (ABCSEM)32, a produção da alface

movimentou cerca de 57,4 milhões de reais em agrotóxicos. Embora o uso de

agrotóxicos seja considerado importante no modelo de desenvolvimento da agricultura

nacional35 por demonstrar vantagens em relação ao aumento da produtividade e

combate às doenças e pragas, a aplicação destes, de maneira desmedida e

indiscriminada, põe em risco a saúde do trabalhador rural, do consumidor e do meio

ambiente.

Segundo dados do monitoramento de resíduos realizado pelo Programa de

Análise de Resíduos de Agrotóxicos (PARA)36, referente a 2012, das 240 amostras de

alface recolhidas em diferentes estados e analisadas, 45% apresentaram

irregularidades, sendo que 93 amostras continham princípios ativos não autorizado, 2

amostras com quantidade de agrotóxicos acima do limite máximo de resíduos permitido

(LMR – quantidade máxima de resíduo de agrotóxico aceita no alimento em mg kg-1) e

12 com agrotóxicos não autorizados e acima do LMR. O PARA23, relativo ao período

de 2013 a 2015, analisou 448 amostras e constatou que 42% delas apresentaram

24

irregularidades nos resultados (153 amostras tinham agrotóxicos não autorizados para

a cultura de alface e 37 possuíam agrotóxicos em quantidades acima do LMR). Na

Tabela 3 podem ser vistos os agrotóxicos encontrados na cultura da alface e seus

respectivos valores de LMR, quando autorizados, de acordo com o relatório PARA

publicado em 2016.

Tabela 3. Agrotóxicos usados na cultura da alface e seus valores de LMR quando autorizados.23

Agrotóxico LMR (mg/kg)

Azoxistrobina 1,00

Clorotalonil 6,00

Clotianidina 0,100

Difenoconazol 0,500

Fenamidona 2,00

Imidacloprido 0,50

Indoxacarbe 0,02

Iprodiona 1,00

Lambda-cialotrina 1,00

Malationa 8,00

Procimidona 5,00

Tiametoxam 1,00

Abamectina, Acefato, Acetamiprido, Atrazina, Boscalida,

Buprofenzina, Carbendazim, Carbofurano, Ciromazina,

Clorfenapir, Clorpirifos, Cresoxim-metilico, Deltametrina,

Dimetoato, Ditiocarbamato (CS2), Espinosade, Espiromesifeno,

Etofenproxi, Fenarimol, Linurom, Metalaxil-m, Metamidofós,

Metconazol, Metomil, Pendimetalina, Piraclostrobina, Pirifenoxi,

Piriproxifem, Tebuconazol, Trifloxistrobina

NA

NA – não autorizado

Como muitos agrotóxicos são considerados potencialmente tóxicos para os

seres humanos e, por possuírem alta lipofilicidade, podem se acumular nos tecidos dos

organismos vivos37, torna-se necessário o desenvolvimento de métodos analíticos

multirresíduos (Multiresidue Methods – MRM) rápidos, eficientes, com a mínima

geração de resíduos9 e com baixos limites de quantificação para avaliar e quantificar

25

resíduos de agrotóxicos em alface, de modo a promover a segurança alimentar da

população.

1.3 Doenças e Pragas na Cultura de Alface e o Emprego de Agrotóxicos em seu

Controle

Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), já

foram relatadas no mundo mais de 75 doenças causadas por parasitas, como bactérias,

fungos, nematoides e vírus, que afetam a cultura da alface. Para evitar os prejuízos

causados por esses micro-organismos e insetos, garantir boa formação das plantas e

manter a boa aparência das folhas o produtor aplica agrotóxicos. A seguir serão

descritas as principais doenças da alface controladas por agrotóxicos.

A Tabela 4 apresenta os agrotóxicos registrados no Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento (MAPA) e autorizados para serem aplicados no controle de

doenças na cultura da alface e de insetos-vetores de vírus.38

Tabela 4. Produtos fitossanitários registrados no MAPA para o controle de doenças da alface e de insetos-vetores de vírus38.

Doença Patógeno Princípios Ativos

Tombamento Rhizoctonia solani Pencicurom

Míldio Bremia lactucae Fenamidona e Mandipropamida

Septoriose Septoria lactucae Azoxistrobina e Difenoconazol

Podridão-de-

esclerotínia

Sclerotinia

sclerotiorum

Procimidona e Iprodiona

Insetos-vetores Nome Científico Princípios Ativos

Pulgão-verde Myzus persicae Imidacloprido, Tiacloprido,

Clotianidina, Tiametoxam e

Azadiractina

Tripes Frankliniella schulzei Imidacloprido

Lagarta-rosca Agrotis ipsilon Beta-ciflutrina

Mosca-branca Bemisia tabaci raça B Imidacloprido

Pulgão-da-alface Dactynotus sonchi Imidacloprido

Tripes do fumo Thrips tabaci Imidacloprido e Tiacloprido

26

1.3.1 Tombamento

O tombamento é uma doença causada por fungos e é altamente dependente

do excesso de umidade no solo. No campo, a incidência dessa doença está associada

aos solos encharcados e/ou mal preparados. Seu principal sintoma é a destruição dos

tecidos jovens, causando apodrecimento antes ou após a emergência da alface, o que

afeta a produção de mudas e provoca perdas em grandes escalas quando a doença

não é controlada. Já em culturas hidropônicas o aparecimento desta doença é raro.38

Pode-se observar na Figura 1 o aspecto da alface quando atingida pelo

tombamento.

Figura 1: Representações das mudas de alfaces atingidas pela doença tombamento.38

1.3.2 Míldio

Esta é uma das principais doenças que atinge a alface cultivada tanto no

solo quanto em hidroponia, em todos os estágios de desenvolvimento e está associada

à alta umidade e à baixa temperatura. O míldio é causado por fungos e ocasiona

manchas amareladas ou verde-claras nas folhas da planta, todavia, o ataque severo à

invasão sistêmica do fungo causa escurecimento do tecido interno do caule.38

O aspecto da alface quando acometida pelo míldio pode ser observado na

Figura 2.

27

Figura 2: Representações de folhas de alfaces atingidas pela doença míldio.39

1.3.3 Septoriose

A septoriose é uma doença ocasionada por fungos e é relevante em cultivos

irrigados por aspersão e em períodos chuvosos, porém, em localidades cujas

temperaturas são elevadas, o aparecimento da doença é raro. Essa doença acomete a

parte aérea da alface e os sintomas são observados primeiramente em folhas mais

velhas. Existe, também, a formação de lesões marrom-claras com bordas pouco

definidas que podem se expandir formando lesões maiores.38

Na Figura 3 é possível visualizar a aparência da alface atingida pela

septoriose.

Figura 3: Representações de alfaces atingidas pela doença septoriose.38

28

1.3.4 Podridão-de-esclerotínia

A podridão-de-esclerotínia, doença causada por fungos, é bastante comum

em ambientes frios e úmidos. Os sintomas da doença surgem nas plantas próxima da

colheita, em que as folhas mais velhas que estão em contato com o solo murcham e

apodrecem. A doença evolui para as folhas internas da alface promovendo a murcha

de toda a planta que, antes de apodrecer completamente, pode se tornar amarelada.38

Pode-se observar, na Figura 4, o aspecto da alface quando atingida pela

podridão-de-esclerotínia.

Figura 4: Representações de alfaces atingidas pela doença podridão-de-esclerotínia.38

1.4 Métodos Analíticos para Determinação Multirresíduo de Agrotóxicos

Um método analítico para separação, identificação e quantificação de

multirresíduos deve ser capaz de analisar, concomitantemente, ingredientes ativos

distintos em uma mesma amostra, de forma rápida, eficiente, seletiva, de fácil

execução, além de demandar pequenas quantidades de amostra e solventes, de modo

a reduzir tempo, custo e impacto ambiental decorrente do seu emprego. 23, 40

Usualmente, o desenvolvimento de metodologias de análise multirresíduos

de agrotóxicos contempla etapas de preparo de amostra, que são realizadas para

extrair os analitos de matrizes complexas, eliminar os interferentes e concentrar ou diluir

29

os analitos, quando necessário, de determinação qualitativa e quantitativa empregando

uma técnica instrumental de análise e de validação41.

1.4.1 Preparo de amostras

Com o propósito de aumentar a seletividade e a detectabilidade de

agrotóxicos presentes nas amostras em nível de traços são realizados alguns

tratamentos antes da análise instrumental.

Por volta da década de 1960, foi desenvolvida a primeira técnica de preparo

de amostra para extração multirresíduo de agrotóxicos apolares de alimentos

gordurosos42. Porém, com o surgimento e emprego de agrotóxicos polares esta

precisou ser substituída por outras que englobassem compostos de diferentes

polaridades. Apesar da grande contribuição para o ramo da ciência de separações,

essas técnicas de extração, que envolvem os métodos de Mills e Luke, por exemplo,

requerem grande quantidade de amostra e solvente.

Com a propagação da Química Verde no início dos anos de 1990, houve a

introdução de valores e conceitos que buscavam desenvolver processos industriais e

atividades científicas de modo sustentável e ambientalmente correto.43 Diante disso,

nos últimos anos, desenvolveram-se métodos alternativos para o preparo de amostra

que se baseiam em técnicas que reduzem o emprego de solventes orgânicos usados

na etapa de extração dos agrotóxicos.

De acordo com dados da literatura, os métodos mais aplicados para extração

de agrotóxicos em água, frutas e verduras são o método QuEChERS (do inglês Quick,

Easy, Cheap, Effective and Rugged and Safe)44,45,46, extração líquido-líquido47,

extração em fase sólida48, microextração em fase sólida48,49 , dispersão da matriz em

fase sólida, extração em fase sólida dispersiva50 e extração por micro-ondas51.

Neste trabalho, o método QuEChERS foi usado para extração dos resíduos

de agrotóxicos da alface e para remoção dos interferentes, por ser rápido, robusto e

garantir recuperações satisfatórias para os analitos estudados.

30

1.4.2 O método de extração QuEChERS

O método QuEChERS para extração multirresíduo de agrotóxicos foi

proposto em 2003 por Anastassiades et al.52. Este método, como mostrado na Figura

5, se baseia na extração, em uma única fase, com acetonitrila, seguido de partição

líquido-líquido ocasionada pela adição de sulfato de magnésio (MgSO4) anidro e cloreto

de sódio (NaCl) e posterior etapa de limpeza e remoção de água usando extração em

fase sólida dispersiva (d-SPE), na qual se emprega uma mistura de MgSO4 e amina

primária e secundária (PSA) para remover os componentes polares da matriz.

Figura 5: Fluxograma representativo do método QuEChERS Original.53

Atualmente, o método QuEChERS tem sido usado por órgãos oficiais como

Anvisa23, Association of Official Analytical Chemists54 e o European Committee for

Standardization55, para extração dos resíduos de agrotóxicos das matrizes alimentícias,

por apresentar diversas vantagens. Entre os pontos positivos, pode-se destacar a

extração de agrotóxicos em ampla faixa de polaridade, obtenção de maiores

porcentagens de recuperação para agrotóxicos de polaridade e volatilidade distintas

31

em matrizes de diversas naturezas, geração de poucos resíduos devido ao baixo

consumo de solventes orgânicos e emprego de equipamentos simples, de baixo custo

e de fácil operação, como balança analítica, vórtex e centrifuga.52

Geralmente, a versão original do método QuEChERS fornece resultados

satisfatórios para diferentes tipos de amostras, contudo, dependendo do pH da matriz,

alguns compostos apresentam problemas de estabilidade e/ou recuperação. Diante

disso, podem ser propostas modificações em variáveis como massa da amostra,

solvente extrator (acetato de etila, acetona, acetonitrila), tipos e quantidades de sais

empregados na etapa de partição (MgSO4 e NaCl, tampão acetato, citrato), modo e

velocidade de agitação, ajuste do pH da amostra e composição do sorvente usado na

etapa de limpeza, de modo a otimizar o preparo de amostra e remover a maior quantia

de interferentes da matriz estudada.21,56

1.1.1.1 Etapa de extração: seleção do solvente

A escolha do solvente de extração é de fundamental importância no

desenvolvimento de métodos de extração multirressíduo.53 O solvente selecionado

deve ser compatível com a técnica cromatográfica que será utilizada, ser capaz de

extrair analitos com ampla faixa de polaridade, ser seletivo, seguro e,

preferencialmente, ter baixo custo. Para a extração de agrotóxicos empregando o

método QuEChERS, acetonitrila, acetona e acetato de etila são os solventes mais

usados.21, 40

O acetato de etila é um solvente parcialmente miscível com a água que

apresenta a vantagem de extrair agrotóxicos de várias classes, em diversos tipos de

amostras, no entanto, analitos de caráter básico (pKa ˃ 4) podem sofrer degradação e

apresentar baixa recuperação57. Acetona e acetonitrila são miscíveis em água e

propiciam a extração dos agrotóxicos em uma única fase, porém quando se emprega

acetona na etapa de extração torna-se necessário a adição de solventes apolares para

separar a fase orgânica da fase aquosa e quando se usa acetonitrila, a adição de sais

ao extrato é suficientemente capaz de causar a separação das fases. Apesar da

considerável toxidade da acetonitrila, a utilização desta como solvente extrator no

método QuEChERS permite a extração de baixas quantidades de coextrativos

32

lipofílicos da amostra, como gorduras e ceras, além de possibilitar a obtenção de altas

porcentagens de recuperação de agrotóxicos de polaridades distintas e ser compatível

com a cromatografia líquida.58

1.1.1.2 Etapa de partição: adição dos sais

Na etapa de partição do método QuEChERS, a adição de sais, como NaCl,

tem sido usada para promover o efeito salting-out53 que diminui a solubilidade dos

analitos na fase aquosa e, consequentemente, aumenta a distribuição dos mesmos na

fase orgânica. Além disso, a adição de sais secantes reduz a quantidade de água na

fase orgânica e melhora a recuperação dos agrotóxicos.59

Andersson e Pâlsheden60 descreveram o emprego de sulfato de sódio

(Na2SO4) para aumentar a recuperação de agrotóxicos polares, todavia a maior parte

dos trabalhos encontrados na literatura usa sulfato de magnésio (MgSO4), devido a sua

capacidade de remoção de água ser superior à de outros sais, uma vez que sua

hidratação é exotérmica e causa aquecimento da amostra entre 40 e 45 °C, o que

favorece a extração dos compostos, principalmente daqueles de menor polaridade.59

1.1.1.3 Etapa de limpeza da amostra

O método QuEChERS emprega a Extração em Fase Sólida Dispersiva (d-

SPE) para obtenção de extratos mais limpos para análise multirresíduo de

agrotóxicos.61 Esta etapa consiste na agitação vigorosa do extrato com o sorvente. O

sorvente serve como filtro químico para retenção dos coextrativos da matriz, como

pigmentos e gorduras, por exemplo, e a agitação auxilia na completa interação do

sorvente com a matriz, de modo a tornar o processo de limpeza eficiente.

Dependendo do tipo de matriz analisada, diversas combinações de

sorventes podem ser usadas, sendo que os principais sorventes utilizados são amina

primária secundária (PSA), octadecilsilano (C18) e carbono grafitizado (GBC). Nesta

etapa de clean-up, também se adiciona MgSO4 juntamente com o sorvente com o intuito

33

de remover a água residual e facilitar a precipitação de coextrativos polares, resultando

em um extrato final de menor polaridade.52, 53

O PSA é um sorvente trocador aniônico com elevado efeito quelante que,

conforme a Figura 6, apresenta uma estrutura bidentada devido aos grupos

etilenodiamina-N-propil ligados à sílica. Graças ao efeito quelante e a capacidade de

realizar ligações de hidrogênio ou dipolo-dipolo, o PSA pode interagir com os

componentes da matriz e remover, eficazmente, vários coextrativos, como açúcares e

ácidos graxos livres. Por outro lado, o PSA não é eficiente para remoção de gorduras.53,

61 Visando uma limpeza mais eficiente do extrato final, C18 e GCB têm sido usados

associados ao PSA.

Figura 6: Estrutura do sorvente PSA.

Matrizes que contêm mais que 2% de gordura em sua composição são

limpas de forma mais efetiva com a adição de C18.62 Esse sorvente de fase reversa

com base de sílica interage bem com lipídios ou outras substâncias apolares.

Para matrizes que contêm elevada quantidade de pigmentos, como

carotenoides e clorofila, o uso de GCB permite a remoção satisfatória destes compostos

do extrato final, devido à sua grande área superficial e à presença de grupos altamente

polares em sua superfície, que possuem potencial para formação de ligação de

hidrogênio. Apesar de auxiliar positivamente na etapa de clean up, devido às

características do carbono grafitizado, este pode interferir na recuperação de analitos

planares que apresentem grupos ativos em sua estrutura.63, 64

34

1.1.1.4 Modificações no método QuEChERS: efeito do tamponamento

Como o pH de extração também influencia diretamente na porcentagem de

recuperação dos agrotóxicos e na sua capacidade de degradação, o uso de tampões

salinos pode tornar o processo de extração mais eficiente. Com o intuito de garantir boa

recuperação e estabilidade para os agrotóxicos de caráter ácido e/ou básico se

recomenda um pH de extração na faixa de 4 a 5. Frente a isso, Lehotay et al.65 e

Anastassiades et al.66 propuseram modificações no método QuEChERS Original

(Figura 7 e Figura 8) e avaliaram o efeito do tamponamento das amostras durante a

etapa de extração.

O método QuEChERS Acetato foi desenvolvido por Lehotay e

colaboradores65. Este promove o tamponamento do extrato em pH 4,8 e se tornou o

método oficial da AOAC (Association of Offical Analytical Chemists) para a

determinação de agrotóxicos em alimentos em 2007.54 Já o método QuEChERS Citrato

foi proposto por Anastassiades e colaboradores66 e ajusta o pH da amostra em 5,0 e

se tornou o método oficial da comunidade europeia em 2008, pelo Comité Européen de

Normalisation (CEN).55

Figura 7. Fluxograma representativo do método QuEChERS Acetato.

35

Figura 8. Fluxograma representativo do método QuEChERS Citrato.

1.4.3 Cromatografia como técnica analítica para determinação multirresíduo de

agrotóxicos em alimentos

A cromatografia é uma técnica de separação baseado na migração

diferencial dos analitos na fase móvel e na fase estacionária. Ela é amplamente usada

em diversas áreas para identificação e quantificação dos componentes de uma

mistura.67 Para determinação de multirresíduos de agrotóxicos, a Cromatografia

Gasosa (GC) acoplada a diversos detectores foi bastante utilizada, todavia, com o

surgimento e uso de agrotóxicos polares e instáveis termicamente, o uso da

Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (HPLC) ganhou destaque.

Atualmente, a Cromatografia Líquida de Ultra Alta Eficiência (UHPLC) tem

sido empregada para determinação de resíduos de agrotóxicos em alimentos por

apresentar vantagens em relação à HPLC. Devido a introdução de partículas de FE

com tamanho inferior a 2 µm, redução do diâmetro interno e comprimento da coluna e

emprego de um sistema robusto de bombeamento capaz de suportar pressões de até

36

15000 psi, houve redução significativa no tempo de análise, graças à maior velocidade

linear de fase móvel que pode ser alcançada, maior resolução, eficiência e

detectabilidade dos analitos, decorrentes da formação de picos mais estreitos e

simétricos e menor consumo de solventes se comparada à HPLC.8, 68

Apesar da técnica de UHPLC representar o estado da arte em termos de

cromatografia líquida, ser muito robusta e apresentar vários pontos positivos, no campo

da ciência de separações, sempre há a necessidade de desenvolvimentos de métodos

analíticos rápidos, eficientes e com a mínima geração de resíduos. Frente a isso, a

Cromatografia Com Fluído Supercrítico de Ultra Alta Eficiência (UHPSFC) vem

despertando interesse na Química Analítica pelas vantagens que apresenta.

1.4.4 Cromatografia com fluido supercrítico de ultra alta eficiência (UHPSFC)

1.4.4.1 Evolução da técnica de UHPSFC

O fluido supercrítico é o estado que ocorre quando qualquer substância que

teve sua pressão e temperatura elevadas acima do ponto crítico passa a ter

propriedades intermediárias entre um gás e um líquido. Na condição crítica, a interface

gás-líquido deixa de existir e as propriedades do gás e do líquido convergem para o

mesmo ponto, de modo que o fluido supercrítico passa a ter densidade e poder de

solvatação semelhantes ao de um líquido e viscosidade e difusividade de um gás.13, 69,

70

Devido ao fato de o fluido supercrítico ter propriedades intermediárias a de

um gás e de um líquido, ele propicia boa solubilidade e bom transporte dos analitos13,

o que cromatograficamente, o caracteriza como uma fase móvel (FM) com potencial

para fornecer o melhor da Cromatografia Líquida e da Cromatografia Gasosa. Ao utilizar

a Cromatografia com Fluido Supercrítico de Ultra Alta Eficiência (UHPSFC), a geração

de resíduos é minimizada, pois a quantidade de solventes orgânicos utilizada é muito

pequena uma vez que se emprega CO2 como maior constituinte da FM, sendo possível

analisar compostos de ampla faixa de polaridade, sejam eles estáveis ou instáveis

termicamente sem a necessidade de derivação, como em GC.

37

A elevada capacidade de solvatação dos fluidos supercríticos foi descoberta

a partir de um estudo sobre a solubilidade de cloretos metálicos em etanol no estado

supercrítico, por Hannay e Hogarth, em 1879.71 Em 1962 Klesper, Corwin e Turner

demonstraram o uso de fluido supercrítico como FM para separar uma mistura de

porfirinas.72 Sie e Rijnders, em 1967, realizaram um estudo para avaliar parâmetros

como o efeito da pressão no coeficiente de partição e a permeabilidade e eficiência de

colunas, em sistemas cromatográficos usando fluido supercrítico como FM.73, 74, 75

Com a introdução das colunas capilares em 1981 por Novotny e

colaboradores76, 77 houve um incremento nas vendas de equipamentos de SFC que

eram semelhantes aos cromatógrafos a gás. A principal vantagem do uso de colunas

capilares era a possibilidade de fazer um gradiente de pressão, porém, nesse sistema,

não era possível alterar a pressão sem modificar a vazão da FM, o que poderia

ocasionar deformações nos picos. Como esses sistemas não eram muito robustos e se

limitavam ao uso de CO2 puro, que permitia basicamente a análise de compostos

lipofílicos, entre as décadas de 1980 e 1990 houve diminuição drástica no uso da

técnica13, que só sobreviveu a esse declínio devido à eficiência na separação de

enantiômeros, com alta resolução e rapidez, quando comparada à HPLC.12

Gere et al.78, em 1982, contribuíram imensamente para o ressurgimento da

SFC, pois, ao modificarem um equipamento de HPLC em laboratório, adicionando um

regulador de contra-pressão e usando colunas recheadas, tornaram possível o controle

individual da pressão e da vazão da FM, de modo a obter um gradiente de pressão,

sem alteração da vazão da FM, permitindo o emprego de modificadores orgânicos e

aditivos na FM, o que propiciou a análise de compostos com ampla faixa de polaridade.

Trabalhos como este e os de Cui e Olesik79, que estudaram os efeitos da mistura CO2,

metanol e água como FM, e de Lee e Olesik80, que avaliaram o uso de n-hexano e CO2,

em 1995, auxiliaram a impulsionar a técnica e conduzir o desenvolvimento de novos

equipamentos.

Atualmente, a Cromatografia com Fluido Supercrítico de Ultra Alta Eficiência

(UHPSFC) e o cromatógrafo Waters ACQUITY UPC2 (Ultra Performance Convergence

Chromatography) representam o estado da arte em termos de técnica e equipamento,

respectivamente. O UPC2 foi inserido comercialmente em 2012 pela Waters

Corporation juntamente com fases estacionárias (FE) com partículas de diâmetro sub-

2 µm que, associadas ao uso de modificadores orgânicos e de aditivos, permitem a

38

separação de uma vasta gama de compostos, de forma rápida e eficiente. Além disso,

este equipamento garante repetibilidade das análises por meio do resfriamento da

cabeça das bombas de CO2 – que aumenta a eficácia de compressão da FM,

removendo o calor produzido, e do controle efetivo da pressão de retorno do sistema,

com um novo regulador de contra pressão (BPR), que mantém a pressão constante

mesmo usando gradiente.13, 69

1.4.4.2 Fatores que influenciam a análise empregando UHPSFC

Fase móvel e modificadores

Atualmente, o CO2 é a FM mais empregada em UHPSFC por ser inerte, não

tóxico, ter ponto crítico em 74 bar e 31 °C, o que permite obter o fluido com um

aquecimento instrumental mínimo, evitando o desgaste do sistema e a degradação de

compostos instáveis termicamente, ser miscível com muitos solventes orgânicos e ter

baixa absorção no UV.

Quando o CO2 é usado puro, como FM, a densidade do fluido é o principal

fator que afeta a solubilidade do analito81 e, consequentemente, sua separação na

coluna cromatográfica. Modificações na temperatura e pressão com o intuito de

aumentar a densidade da FM permitem maior contato entre as moléculas, o que

favorece a solubilidade e diminui o tempo de retenção dos compostos. Mantendo a

temperatura constante, o aumento da pressão aumenta a densidade, e em pressões

menores que 150 bar (ou 2175 psi) a diminuição da temperatura também aumenta a

densidade. Em valores de densidade entre 0,2 e 0,5 g mL-1, que caracterizam uma

proximidade com o estado gasoso, diminuir a temperatura reduz o tempo de retenção.

Já em valores de densidade entre 0,6 e 0,9 g mL-1, ao abaixar a temperatura tem-se

um aumento na retenção, porque com esses valores de densidade a FM se comporta

como líquido e, portanto, a solubilidade dos compostos tende a diminuir com a

diminuição da temperatura.

Considerando que o uso de CO2 puro na FM permite apenas a separação

de analitos apolares, boa parte das análises é realizada utilizando um modificador

orgânico ou cossolvente, que além permitir a eluição de compostos polares também

39

ajuda a melhorar a solubilidade dos analitos, evitando a precipitação dos mesmos na

coluna. Estes modificadores alteram a densidade e a polaridade da FM, gerando picos

com melhor formato e reduzindo interações indesejadas entre os analitos e os grupos

silanóis residuais da FE.12 Metanol (MeOH), etanol (EtOH), isopropanol (IPA),

acetonitrila (ACN) e tetraidrofurano (THF) são os modificadores de alta a média força

de eluição mais empregados em UHPSFC. No entanto, é preferível, quando possível,

que etanol seja escolhido como modificador, uma vez que este é considerado um

solvente que pode ser obtido de fontes renováveis e é menos tóxico para o analista

quando comparado aos demais.69, 82

Com a adição de um modificador à FM, o tempo de retenção e a separação

de um composto não são afetados apenas pela densidade, é necessário considerar

também as interações dipolo-dipolo e ligações de hidrogênio causadas pelo

cossolvente.83 Empregar modificador orgânico, mesmo em quantidade pequena, afeta

de forma significativa a retenção dos compostos, sendo que quanto menor a quantidade

de cossolvente na FM, maior é a retenção, visto que a energia de adsorção do soluto

nos silanóis livres recobertos por CO2 é maior do que nos silanóis recobertos pelo

modificador.69, 84

Estado subcrítico

O aumento da porcentagem de modificador na fase móvel causa um

aumento na geração de resíduos e também altera os valores críticos de temperatura e

pressão necessários para atingir o estado supercrítico, aumentando a probabilidade de

ocorrer separação de fases se o ponto crítico não for alcançado.85, 86 Isso pode ser

confirmado pelos diagramas de fase, mostrado na Figura 9, onde o aumento da quantia

de modificador na FM eleva a pressão e temperatura críticas. Todavia, apesar de o

equipamento suportar pressões de até 413,7 bar (6000 psi), as fases estacionárias

podem ser danificadas em temperaturas acima de 60 °C (fases estacionárias em que

grupos polares ou apolares estão quimicamente ligados à sílica pura, através dos

grupos silanóis, sofrem rápida degradação em temperaturas elevadas), assim, a maior

parte das separações acontece no modo subcrítico.12, 13

40

Figura 9. Gráfico mostrando o aumento de pressão e temperatura com o aumento da porcentagem do modificador orgânico, MeOH, na FM. Adaptado da referência 12.12

No estado subcrítico, quando se trabalha em temperatura abaixo do valor

crítico e pressão acima deste valor nunca se observou separação de fases83 e, com a

vantagem de se evitar os inconvenientes dos fluidos compressíveis, como variações de

densidade.12 Por isso, alguns autores acreditam que pressão e temperatura não devem

ser empregados como parâmetros para modificar a retenção, o que acarretaria na

simplificação no desenvolvimento de um método.12 No entanto, esses fatores e outros,

como diluente da amostra, volume de injeção, FE, vazão, aditivos e modificadores

orgânicos, afetam a separação e devem ser considerados, uma vez que o efeito

conjunto deles é complexo e não está bem elucidado. Uma forma de otimizar o

desenvolvimento do método é usar técnicas quimiométricas de planejamento

experimental.

Na condição subcrítica, o fluido tem densidade maior que 1 g mL-1 e

propriedades próximas das de um líquido em termos de força de eluição e de coeficiente

de difusão.83 No entanto, mesmo com esse comportamento, os princípios da CL não

podem ser usados para a compreensão dos fenômenos que ocorrem em UHPSFC,

devido aos mecanismos distintos de retenção nas duas técnicas. Além disto, os

mecanismos envolvidos nas separações quando o fluído está no estado subcrítico

ainda não estão bem compreendidos.

41

Embora não se conheça muito profundamente sobre o mecanismo de

separação e retenção, sabe-se que as separações usando o estado subcrítico são

muito mais eficientes que as no estado líquido. Isso pode ser justificado pela equação

de van Deemter (Equação 1):

H = A + (B/u) + (C.u) (1)

na qual o termo A se refere ao alargamento dos picos devido aos diferentes caminhos

seguidos pelas moléculas do analito. Este pode ser minimizado com o uso de colunas

de tamanho reduzido, com diâmetros internos menores, com enchimentos eficientes e

partículas pequenas e uniformes. O termo B está relacionado à difusão longitudinal do

soluto na FM e este, pode ser minimizado com o emprego de altas velocidades lineares

da FM. O termo C descreve a transferência de massa do analito entre a FM e a FE e

pode ser reduzido com o uso de vazões menores da FM.67

Como a elevada densidade do fluido subcrítico é responsável pela redução

da difusibilidade dos analitos na FM o que, consequentemente, favorece maior

interação molecular, e a baixa viscosidade do fluido propicia um aumento da velocidade

linear da FM, verifica-se, através da equação de van Deemter, uma redução nos valores

dos termos B e C que resulta em eficiências mais elevadas e análises mais rápidas.

Como dito anteriormente, em termos de eficiência, a cromatografia com

fluido supercrítico (SFC) se sobressai à cromatografia líquida (HPLC). Isto pode estar

relacionado ao tamanho das partículas usadas na FE e com as diferentes propriedades

entre o estado líquido e o estado supercrítico/subcrítico e podem ser confirmadas na

Figura 10. Examinando a mesma, percebe-se que a HPLC apresenta um desempenho

muito inferior às demais, devido à baixa velocidade linear ideal e alto valor de prato;

enquanto a SFC se mostrou mais vantajosa que esta. A superioridade de SFC sobre

HPLC se dá devido à redução significativa da densidade do fluido em comparação com

a FM líquida, que melhora os coeficientes de difusão, levando a um aumento da

velocidade linear. Confrontado as curvas de van Deemter para HPLC e UHPLC, é nítida

a redução da altura do prato e aumento da velocidade linear por causa da diminuição

do tamanho da partícula da FE. Avaliando a curva relativa ao UHPSFC nota-se que

esta apresenta a maior velocidade linear ótima e um dos menores valores de prato; isso

resulta da combinação das vantagens das técnicas de SFC e UHPLC, que são o uso

42

de fluido supercrítico/subcrítico e de FE com partículas de tamanho reduzido (sub-2

µm).

Figura 10. Curvas de van Deemter obtidas para o butilparabeno utilizando sistemas para cromatografia líquida (HPLC e UHPLC) e cromatografia com fluido supercrítico (SFC e UHPSFC). Adaptado da referência 87.87

Aditivos

Quando a adição de um modificador orgânico na FM não é suficiente para

garantir a eluição com bom formato de pico é necessário adicionar um aditivo. Estes,

geralmente, são adicionados em menores quantidades, diretamente no modificador

orgânico e são bombeados juntos como uma fase única capaz de revestir a FE, devido

a sua forte adsorção a esta, e atuar como parte dela.88

De acordo com Berger e Deye89 os aditivos apresentam pelo menos cinco

funções na cromatografia com fluido supercrítico: 1) cobrir os sítios ativos (silanóis

residuais) do suporte sólido, 2) mudar a polaridade da FM, 3) suprimir a ionização do

analito, 4) aumentar a formação do par iônico com o analito e 5) aumentar o poder de

solvatação da FM.

43

Os aditivos possuem caráter polar e os mais comuns incluem ácidos, bases

e compostos iônicos90, 91, que são adicionados à FM para melhorar o formato dos picos

e a seletividade de compostos ácidos, básicos e iônicos, respectivamente. Assim, a

eluição de ácidos orgânicos pode ser melhorada com adição de ácido fórmico, ácido

trifluoracético ou ácido cítrico, enquanto que a eluição de compostos básicos pode ser

aperfeiçoada com a adição de aminas alifáticas, como isopropilamina, dietilamina,

etildimetilamina ou trietilamina. Em alguns casos, são adicionados compostos iônicos,

como acetato de lítio, acetato de tetrametilamônio ou cloreto de amônio. Amônia e

tampões voláteis, como formato, acetato e carbonato de amônio, são utilizados, com

sucesso, como aditivos em análise de compostos básicos, com a vantagem de serem

compatíveis com a técnica de espectrometria de massas. Atenção especial deve ser

dada à adição de aditivos na fase móvel quando se emprega o espectrômetro de

massas, pois, de um modo geral, os aditivos além de influenciar na retenção e no

formato do pico cromatográfico, também afetam a ionização e detectabilidade de

determinados compostos.

O uso de água como aditivo ressurgiu nos últimos anos graças a sua

habilidade para eluir e melhorar o formato de picos de analitos polares. Ela deve ser

sempre utilizada em conjunto com algum solvente orgânico, que a torna, então, miscível

em CO2. Ela é mais polar que o metanol e possui dois grupamentos que realizam

ligações de hidrogênio, o que aumenta o poder de solvatação da fase móvel, causa

pequenas mudanças na seletividade, favorece a separação de misturas complexas12 e

é compatível com a espectrometria de massas.

Apesar do mecanismo de ação dos aditivos não estar bem elucidado, alguns

compostos usados como aditivos cancelam interações entre os solutos e os grupos

silanóis, reduzindo o tempo de análise, enquanto outros podem criar sítios de interação

suplementar que causam aumento na retenção.12, 13, 69 Os trabalhos de Khorassani e

Taylor92, Nováková et al.13, Samimi et al.91, ilustram bem o que ocorre quando se

acrescentam aditivos ácidos, básicos, iônicos e água. A partir deles pode-se verificar

que alguns aditivos sozinhos podem aumentar o tempo de retenção para alguns

compostos, mas o uso de água (solvente anfiprótico, capaz de atuar como ácido ou

base) combinado com algum sal de amônio (composto iônico, volátil quando

solubilizado na FM) pode propiciar melhora na simetria dos picos, boa seletividade e

44

redução do tempo de análise. Somado a isto a água é um solvente que não causa

impactos negativos ao ambiente.

Embora os aditivos tenham seus benefícios, eles devem ser usados em

quantidades muito baixas na FM, como cerca de 1 a 5%, e com prudência, pois mesmo

com a lavagem do sistema cromatográfico, a retirada dos aditivos nem sempre é

assegura, uma vez que eles podem interagir de forma muito intensa e por tempo

prolongado, saturando a FE, o que pode alterar a repetibilidade dos resultados. Alguns

aditivos também podem eluir durante a análise, causando um aumento no ruído da linha

de base.89

Diluente da amostra

A escolha do diluente da amostra também é importante para análise a fim de

evitar distorções nos picos, desse modo, o ideal é solubilizar os analitos na própria FM.

Todavia, isso é impossível em UHPSFC, porque a FM é constituída majoritariamente

por dióxido de carbono. Uma alternativa é empregar um solvente de força igual ou

menor que a FM.93 Solventes com polaridade semelhante ao CO2 originam picos com

formato adequado, porém limitam a solubilidade para alguns compostos e evaporam

com facilidade, ocasionando concentração da amostra no vial de injeção. Uma opção

para esse problema é misturar solventes polares e apolares, contudo, isso deve ser

feito com cautela para evitar problemas de imiscibilidade entre os diluentes.13

Segundo Fairchild et al.93, o emprego de diluentes muito polares, como o

metanol e dimetilsulfóxido, ocasionam deformações nos picos, mesmo em pequenos

volumes de injeção, devido ao efeito do solvente forte. Abrahamssom e Sandahl94

mostraram em seu trabalho que o diluente não interage apenas como a amostra, mas

também com a FE, dessa forma, os diluentes se comportam de maneira distinta em

fases polares (sílica pura) e em fases apolares (C18). Em colunas polares, o emprego

de diluentes com alta constante dielétrica, elevado momento de dipolo e capacidade de

realizar ligação de hidrogênio, está relacionado com eficiência baixa, principalmente na

análise de compostos polares, visto que o solvente minimiza as interações entre analito

e grupos silanóis. Em colunas apolares, solventes com estas características favorecem

a análise. O uso de solventes apróticos, como a acetonitrila, em diferentes FE, tem-se

45

mostrado vantajoso, já que fornece bom formato de pico, permite solubilizar grande

variedade de compostos e não é retido em UHPSFC, o que não interfere nos compostos

analisados.13

Volume de injeção

A literatura sugere que o volume de injeção a ser utilizado em UHPSFC para

evitar alargamento e/ou distorção do pico cromatográfico seja em torno de 0,1 a 0,5%

do volume da coluna, valores estes inferiores aos utilizados em UHPLC, na qual,

geralmente são injetados volumes na faixa de cerca de 1,0% do volume da coluna

cromatográfica.13, 93

Fases estacionárias

As fases estacionárias (FE) para Cromatografia com Fluído Supercrítico têm

se assemelhado bastante àquelas empregadas em cromatografia líquida95, de modo

que todas as FE para HPLC, sejam elas polares ou apolares, podem ser usadas em

UHPSFC com a mesma FM, devido à ausência de água. Desde que todos os

compostos analisados sejam solúveis na FM rica em CO2, as possibilidades de FE a

serem empregadas são praticamente ilimitadas.13

Uma maneira de comparar as FE e determinar qual é a coluna com maior

seletividade para a separação desejada é o “diagrama de aranha” (Spyder diagram),

que é um sistema de classificação baseado no modelo de parâmetro de solvatação,

também denominado de relação de energia linear de solvatação (LSER). Este modelo

usa cinco descritores [E (transferência de carga), S (dipolo-dipolo), a (ligação aceptora

de hidrogênio), b (ligação doadora de hidrogênio), v (dispersão)], que estão

relacionados com o tipo de interação do soluto com a FE e projeta estas cinco

dimensões em um plano. Neste plano, cada ponto é colocado na extremidade do vetor

de solvatação descrito pelos cinco coeficientes LSER e o tamanho do ponto

(representação da interação FE – soluto) está relacionado com as forças das

interações.13 Desse modo, quando se tem uma FE apolar, como C18, compostos

46

aromáticos e hidrofóbicos são mais retidos (E e v são positivos), enquanto os polares

são menos retidos (s, a e b são negativos), quando se tem uma FE polar, sílica pura ou

sílica ligada à ligantes polares, as espécies mais polares são mais retidas (E, S, a e b

são positivo), enquanto as espécies hidrofóbicas vão eluir primeiro (v é negativo), o que

se assemelham com os padrões de retenção em HPLC com fase normal. Quando se

emprega FE de polaridade mista (que contém grupos polares e apolares), os padrões

de retenção não são de fase reversa e nem de fase normal, eles são exclusivos da

UHPSFC, com todos os cinco coeficientes positivos.12 Na Figura 11 pode ser

visualizado o diagrama de aranha.

Figura 11. Diagrama de aranha para classificação das FE em UHPSFC. Adaptado da referência 12.12

1.4.5 Instrumentação em UHPSFC

Os sistemas cromatográficos empregados em UHPSFC, devido ao pequeno

tamanho das partículas, operam sob condições de pressão elevada, devendo serem

capazes de suportar as mesmas, apresentam rápida resposta aos comandos de

alteração de pressão, se mantêm em níveis constantes com baixas flutuações no

bombeamento do eluente e garantem introdução reprodutível e conveniente da amostra

por meio de injetores automáticos, entre outros.

47

Na Figura 12 pode-se visualizar o esquema de um cromatógrafo com fluido

supercrítico.

Figura 12. Representação esquemática de um cromatógrafo de ultra alta eficiência com

fluido supercrítico. Adaptado de Waters Corporation.96

1.4.5.1 Sistemas de pressurização e bombeamento

Em UHPSFC se emprega um sistema de bombeamento binário de solventes,

um para o CO2 e outro para o modificador orgânico, que pode ou não conter aditivos,

sendo que eles são combinados no misturador. Isso possibilita a operação com fases

móveis de diferentes polaridades e, consequentemente, permite que analitos com

polaridades variadas sejam eluídos.

Embora ambas as bombas sejam semelhantes às de UHPLC, uma delas

sofreu modificação para bombear especificamente CO2 líquido e possui refrigeração de

dois estágios. A remoção do calor produzido aumenta a eficácia da compressão da fase

48

móvel. Além disso, o sistema de bombeamento é capaz de medir com a mesma

precisão a quantidade tanto de CO2 líquido, que é compressível, quanto do cossolvente

não compressível, que entram no misturador.97

Os sistemas de UHPSFC também contam com um controle efetivo da

pressão de retorno pela introdução de um regulador de contrapressão, denominado

BPR (Back Pressure Regulator). Tal dispositivo é colocado após o detector para manter

a uniformidade do fluido através de todo sistema cromatográfico, controlando a

densidade do fluido e garantindo repetibilidade nos tempos de retenção e baixo nível

de ruído. Recentemente, um novo design de BPR, denominado ABPR (Automatic Back

Pressure Regulator) foi introduzido nos sistemas de UHPSFC (Fabricantes Waters e

Agilent) com intuito de aumentar ainda mais a repetibilidade da técnica.97, 98

O sistema de bombeamento com capacidade de refrigeração para CO2

aliado ao controle eficaz da pressão de retorno garantem repetibilidade das análises,

desempenho confiável e robustez da técnica.

1.4.5.2 Sistema de injeção

As válvulas de amostragem utilizadas em UHPSFC com colunas recheadas

são as mesmas usadas em UHPLC, sendo empregada a válvula de seis portas. Este

tipo de injetor apresenta alto desempenho em pressões elevadas, além de exatidão,

precisão e boa reprodutibilidade de amostragem na faixa de volume de 0,1 a 50 μL.97

1.4.5.3 Forno da coluna

O controle da temperatura é um parâmetro muito importante nesta técnica,

pois a variação da temperatura acarreta mudança na densidade do fluido e,

consequentemente, influencia na partição, na volatilização dos analitos e na

seletividade na região próxima ao ponto crítico. Nesta região, o controle de temperatura

deve ser mais eficiente possível para manter a densidade do fluido constante. Nos

equipamentos mais recentes de UHPSFC, consegue-se elevado controle térmico no

forno, de modo que estes podem chegar até 90 °C com incrementos de 0,1 °C. O forno

49

pode conter número variado de colunas, de 2, 4, 6, 8 e 15, o que facilita o

desenvolvimento de métodos, minimizando o tempo gasto na troca e no reequilíbrio das

mesmas.97

1.4.5.4 Sistema de detecção

Devido às características do fluido supercrítico, qualquer detector

convencional utilizado em cromatografia líquida ou cromatografia gasosa pode ser

usado em UHPSFC sem que, para isso, seja necessária significativa modificação

instrumental. Atualmente, os detectores mais empregados em técnicas que utilizam

cromatografia com fluido supercrítico são: utravioleta-vísivel (UV-Visible), por arranjo

de diodos (DAD – Diode Array Detector), por espalhamento de luz (ELSD – Evaporative

Light Scattering Detector) e, mais recentemente, por espectrometria de massas (MS –

Mass Spectrometry).

Em especial, o detector por arranjo de diodos possui uma lente de sílica de

alta resistência que compensa as diferenças nos índices de refração entre o CO2 e o

modificador orgânico, resultando em redução significativa do ruído da linha de base.97

A cela de detecção de baixo volume apresenta alta sensibilidade e garante picos

estreitos, de modo a manter desempenho espectral ideal.97

1.5 Análise de agrotóxicos empregando UHPSFC

Atualmente, estudos empregando a técnica de UHPSFC para a análise de

agrotóxicos ainda são limitados, porém, devido às vantagens já discutidas, espera-se

que a técnica se popularize no monitoramento de resíduos de agrotóxicos. Os estudos

encontrados até o momento são referentes às análises de compostos quirais, não tendo

sido encontrados trabalhos para separação de multirresíduo de agrotóxicos em

matrizes diversas.

Liu et al.99 desenvolveram um método para determinação enantiosseletiva

de enantiômeros do fungicida tebuconazol em água e em peixes-zebra usando UPC2-

MS. As melhores separações foram obtidas usando coluna quiral do tipo Chiralpak IA-

50

3, fase móvel CO2:MeOH 83:17, pressão de 2200 psi, temperatura de 30 °C, vazão de

2 mL min-1 e volume de injeção de 1 µL. Nestas condições, o tempo de retenção foi de

3,26 minutos para o isômero S e 3,60 minutos para o R, os limites de detecção (LD)

foram de 0,3-0,4 µg kg-1 e os limites de quantificação (LQ) foram de 1,0-1,32 µg kg-1.

Tao et al.100 separaram os enantiômeros do fungicida flutriafol em vegetais (tomate e

pepino), frutas (maçã e uva) e solos empregando como detector o espectrômetro de

massas. As condições experimentais usadas foram semelhantes às empregadas por

Liu et al.99, com exceção da porcentagem de modificador na FM CO2:MeOH 88:12. O

tempo de retenção para o isômero R foi de 2,95 minutos e para o S foi de 3,32 minutos

e os LD foram de 0,12-0,35 µg kg-1 e os LQ foram de 0,41-1,18 µg kg-1.

Twohig et al.101 fizeram a separação enantiomérica e diastoisomérica de 12

agrotóxicos da classe dos triazóis empregando detecção UV-Vis e colunas quirais

Trefoil AMY1 e CEL1. Triadimefom, tetraconazol, fenbuconazol, diniconazol,

tebuconazol, flutriafol e propiconazol foram separados usando coluna Trefoil AMY1 e

gradiente de metanol. Uniconazol, penconazol, hexaconazol ciproconazol e

bromuconazol foram resolvidos usando a coluna Trefoil AMY1 e gradiente de 2-

propanol:etanol 50:50 (v/v).

Chen et al.102 também fizeram a separação e a determinação quiral dos

estereoisomêros de sulfoxaflor em vegetais (tomate e pepino) e em solo usando UPC2-

MS/MS. Foi utilizada uma coluna Chiralpak IA-3 com isopropanol:acetonitrila 2:3 (v/ v)

como cossolventes, a 40 °C e a pressão de 2500 psi. Os LQ foram de 1,28-1,68 µg kg-

1 para o pepino, 1,34-1,83 µg kg-1 para o tomate e 1,21-1,58 µg kg-1 para as amostras

de solo.

Atualmente, a avaliação tradicional de risco de agrotóxicos quirais não

discrimina entre os enantiômeros, levando à subestimação dos seus efeitos no

ambiente.99 Assim, a rápida separação enantiomérica, propiciada pelo uso da

cromatografia de convergência, é importante para o controle de resíduos de agrotóxicos

quirais, pois se pode conhecer individualmente a atividade de um enantiômero em

termos de bioatividade, toxicidade, metabolismo ou excreção quando submetidos a um

sistema químico ou biológico assimétrico102, de modo que essa informação possa

ajudar na redução parcial ou total da aplicação do mesmo.101

51

Li-Ting et al.103 determinaram a presença de bifentrina em amostras de chá

empregando as técnicas de UHPSFC-UV e CG-MS. Nesta análise, foi empregada uma

coluna ACQUITY UPC2 TM BEH, acetonitrila como modificador e vazão de 1,5 mL min-

1. A técnica de UHPSFC se mostrou mais rápida (tR UPC2 = 0,95 minutos e tR CG = 18

minutos), porém apresentou pior limite de detecção (LDUPC2 = 20 µg L-1 e LD CG = 10 µg

L-1), visto que o detector MS possui melhor detectabilidade, informa a massa molar e a

estrutura dos analitos, mesmo em pequenas concentrações, e possui maior

seletividade que o UV.104

Salvatierra-Stamp et al.105 usaram UPC2-DAD para separação de sete

contaminantes emergentes em amostras de água, dentre eles o agrotóxico diuron. A

separação dos compostos foi feita em 10 minutos, usando a coluna Viridis BEH 2-EP,

40° C, eluição por gradiente, acetonitrila como modificador, 2000 psi, e vazão de 1,4

mL min-1. Os limites de detecção foram de 0,1-1,59 µg L-1 e os LQ foram de 0,31-4,83

µg L-1. A partir destes dados, conclui-se que o detector por arranjo de diodos (DAD) é

mais eficiente que o UV, onde a leitura é feita em um único cumprimento de onda, pois

possibilita menores LD e LQ, no entanto, o espectrômetro de massas é ainda mais

eficiente que o DAD.

Twohig et al.106 analisaram estereoisomêros de propiconazol usando UPC2

– DAD/MS. Eles também comparam a eficiência de uma coluna quiral (Amylose Chiral)

e uma aquiral (ACQUITY UPC2 BEH) na separação dos compostos. A coluna aquiral

possibilitou a separação do propiconazol, todavia, a coluna quiral se mostrou mais

seletiva. Os autores também mostraram que a combinação dos detectores DAD e MS

permitiu a determinação de uma gama de analitos em uma única corrida, com elevado

nível de confiança.

1.6 Planejamento Experimental

O Planejamento Experimental (Design of Experiments, DOE) é uma vertente

da Quimiometria que engloba diversas ferramentas multivariadas que permitem a

otimização das condições de um método, processo ou produto, por meio do

entendimento da relação que existe entre as variáveis experimentais e as propriedades

de interesse do sistema.14, 107, 108

52

Basicamente, o procedimento multivariado consiste em estabelecer e

conduzir o menor número de experimentos necessários para extrair o máximo de

informação dos dados coletados, de modo a avaliar e/ou otimizar um produto ou

processo, alterando-se todos os fatores relevantes de forma simultânea em um

conjunto de experimentos pré-determinados. Os resultados são tratados

estatisticamente e utilizados para a construção de modelos matemáticos que

descrevem o comportamento do sistema dentro do domínio experimental investigado.

Além de permitir ao pesquisador sistematizar seu trabalho de forma mais objetiva, este

procedimento apresenta diversas vantagens em relação ao método univariado, tais

como a possibilidade de detecção de interações entre as variáveis experimentais, muito

comuns na maioria dos sistemas, e a capacidade de previsão da propriedade de

interesse por meio dos modelos matemáticos construídos. No método univariado são

obtidas informações apenas nos pontos onde os experimentos foram de fato realizados,

não havendo informações sobre o sistema como um todo.107

Existem diferentes métodos de planejamento experimental e a seleção do

mais apropriado depende do objetivo do pesquisador e do tipo de variáveis envolvidas.

Se os níveis das variáveis podem ser ajustados de forma independente, podem ser

utilizados planejamentos fatoriais em dois ou mais níveis e também planejamentos do

tipo Composto Central (Central Composite Design, CCD) ou Box-Behnken. Caso os

níveis das variáveis não possam ser ajustados de forma independente, como por

exemplo, no estudo da proporção dos componentes de uma formulação, devem ser

utilizados preferencialmente planejamentos de misturas.108

O Planejamento fatorial em dois níveis para avaliação do sistema permite a

avaliação de vários fatores experimentais (x) que afetam o sistema por meio de

modelos lineares que relacionam os mesmos às variáveis dependentes ou respostas

(y), que são as propriedades de interesse. Os modelos lineares são obtidos por

Regressão Linear Múltipla (RLM) e devem ser avaliados quanto à significância da

regressão e adequação para representação dos resultados experimentais (falta de

ajuste) e então podem ser empregados para construir superfícies de resposta, as quais

permitem avaliar de forma visual como se dá a variação das respostas dentro do

domínio experimental e encontrar condições ótimas para uma ou mais respostas.

Uma das maneiras mais usuais de avaliar a significância da regressão (isto

é, se existe de fato variação nas respostas conforme são alterados os níveis das

53

variáveis experimentais) é por meio da utilização da análise da variância (ANOVA).108

Na análise da variância, divide-se a variabilidade total das observações em seus

componentes. Então, são calculadas as Somas Quadráticas (SQ), que representam a

variabilidade atribuída à regressão e, também, aquela devida aos resíduos. Para

verificação da significância estatística da regressão, realiza-se um teste F por meio da

comparação do valor da razão da Média Quadrática da Regressão (MQR) com a Média

Quadrática dos resíduos (MQr), gerando o valor de Fcalc, que é comparado com o valor

da distribuição F tabelada (Ftab), com (p-1, n-p) graus de liberdade, sendo p o número

de parâmetros no modelo e n o número total de experimentos. Se Fcalc > Ftab conclui-

se que de fato as variações experimentais causam variação na resposta. Neste caso,

deve-se avaliar todos os fatores de forma individual para identificar qual deles é

responsável pela significância da regressão.

Após confirmada a significância da regressão, deve-se avaliar a adequação

do modelo proposto para representar os dados experimentais. Isto pode ser feito

empregando-se o teste F de falta de ajuste, o qual é feito pela comparação da razão da

Média Quadrática de Falta de Ajuste (MQfaj) com a Média Quadrática do Erro Puro

(MQep), gerando o valor de Fcalc, o qual é comparado com o valor da distribuição F

tabelada (Ftab), com (m-p, n-m) graus de liberdade, sendo m o número de níveis do

planejamento. Se Fcalc > Ftab conclui-se que o modelo proposto não é adequado para

representar os resultados experimentais. Este teste pode, no entanto, apresentar

resultados falhos, no caso da MQep ser muito pequena.109 Por este motivo, normalmente

são utilizadas outras ferramentas de diagnóstico, como a análise dos resíduos e

comparação dos valores previstos pelo modelo com os valores obtidos

experimentalmente.

Nos últimos anos, metodologias multivariadas de Planejamento

Experimental vêm ganhando destaque em várias áreas da pesquisa e da indústria,

especialmente após o órgão regulador de medicamentos e alimentos dos Estados

Unidos, o Food and Drug Administration (FDA) e o Comitê Internacional de

Harmonização (International Conference on Harmonization of Technical Requirements

for Pharmaceuticals for Human Use, ICH) terem lançado a abordagem para o

desenvolvimento de produtos e processos, denominada “Quality by Design” (QbD) a

qual foi, posteriormente, adaptada para o desenvolvimento de métodos analíticos nos

laboratórios de indústrias farmacêuticas e recebeu o nome de Analytical Quality by

54

Design (A-QbD). Este conceito baseia-se em uma abordagem científica que busca

identificar os riscos envolvidos em cada etapa do desenvolvimento e compreendê-

los/quantificá-los empregando ferramentas multivariadas de planejamento de

experimentos.110, 111, 112

Devido à técnica de UHPSFC apresentar muitos fatores (diluente da

amostra, volume de injeção, FE, vazão, aditivos tipo e porcentagem de modificadores

orgânicos, tipo de fase estacionária, pressão e temperatura), cujo efeito conjunto é

complexo, não está completamente elucidado e interferem significativamente na

obtenção de uma separação cromatográfica adequada, o uso ferramentas

quimiométricas de planejamento experimental pode auxiliar bastante no

desenvolvimento e otimização do método. Não existem muitos trabalhos na área de

UHPSFC que utilizam a metodologia multivariada. Dispas et al.113 estudaram a

influência de condições cromatográficas e de natureza solvente de injeção no âmbito

da determinação quantitativa de produtos farmacêuticos por UHPSFC-PDA. Para isso,

realizaram a combinação de diferentes fases estacionárias, diferentes composições de

fase móvel e diferentes solventes para injeção a fim de refletir a prática atual dos

analistas utilizando-se a ferramenta quimiométrica de planejamento experimental

(DoE). Além desta, para interpretação dos dados também foi empregada a análise de

clusters (HCA). A partir do uso da Quimiometria os autores destacaram que tal

abordagem forneceu objetivamente algumas condições ideais para separação dos

analitos e sublinharam os altos desempenhos cromatográficos que podem ser obtidos

quando se trabalha em condições contraintuitivas, como no caso do solvente de injeção

em que, independentemente da FE ou analito, o uso de acetonitrila apresentou os

melhores formatos de picos.

1.7 Validação de Métodos Analíticos

Depois do desenvolvimento e otimização de um método analítico e avaliação

do efeito matriz, o mesmo deve passar por uma etapa de estudo experimental

denominada validação, que serve para avaliar a confiabilidade dos resultados obtidos

e sua aplicabilidade na análise de amostras reais. A validação pode ser feita com base

em resoluções, que são documentos com poder de lei, cujas recomendações devem

55

ser seguidas, ou em guias, que são documentos capazes de conferir maior flexibilidade

ao analista visto que sugerem uma linha a ser seguida.114

O guia SANTE / 11945/2015115 foi elaborado pela comunidade europeia e

descreve os requisitos para validação e aceitação de um método analítico para análise

de agrotóxicos em alimentos, visando garantir a saúde dos consumidores. Os principais

parâmetros analíticos ou figuras de méritos a serem utilizados serão seletividade, faixa

linear, linearidade, limite de quantificação, exatidão (em termos de recuperação),

precisão (repetibilidade e precisão intermediária) e robustez.

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

O objetivo deste trabalho é a avaliação da potencialidade da Cromatografia

com Fluído Supercrítico de Ultra Alta Eficiência no desenvolvimento e validação de um

método para a determinação de multirresíduos de agrotóxicos comumente aplicados

em alface, fazendo uso de ferramentas quimiométricas de planejamento e otimização

experimental, e comparação com o método desenvolvido e validado empregando a

Cromatografia Líquida de Ultra Alta Eficiência.

2.2 Objetivos Específicos

Estabelecer um método de separação cromatográfica empregando

Cromatografia com Fluído Supercrítico de Ultra Alta Eficiência a partir do estudo dos

parâmetros: volume de injeção, diluente da amostra, tipo de coluna cromatográfica, tipo

de eluição (isocrática ou por gradiente, tipo e porcentagem de modificador orgânico na

FM, uso de aditivos, pressão e temperatura;

Otimização do método de separação desenvolvido usando planejamento

experimental;

Avaliação do método QuEChERS citrato, para extração dos agrotóxicos

estudados da alface;

56

Validação do método desenvolvido usando UHPSFC;

Aplicação do método desenvolvido e validado na análise de amostras de alface

adquiridas no mercado local;

Desenvolvimento e validação de um método por UHPLC para determinação dos

mesmos analitos;

Comparação e avaliação crítica dos resultados em relação à um método

desenvolvido por UHPLC para a quantificação dos mesmos analitos.

3. PARTE EXPERIMENTAL

3.1 Materiais e métodos

3.1.1 Reagentes e padrões analíticos

Foram utilizados os padrões Atrazina (98,0% m/m) da Chem Service,

Azoxistrobina (99,4% m/m) e Clorantraniliprol (99,2%) da Sigma-Aldrich, Fenarimol

(99,8% m/m) da Riedelde-Haën e Difenoconazol (97,0% m/m), Fluopicolida (99,9%

m/m), Imidacloprido (99,9% m/m), Lambda-Cialotrina (97,8% m/m), Mandipropamida

(99,1% m/m), Tiametoxam (99,7% m/m) da Fluka.

Para diluição das soluções estoques, foram empregados acetonitrila,

isopropanol e hexano da Panreac, metanol da J. T. Baker e tetraidrofurano da Tédia,

todos de grau HPLC.

Para a fase móvel, foram empregados CO2 (99,9% de pureza), fornecido

pela Air Products, acetonitrila e etanol da Panreac e metanol, todos de grau HPLC,

água purificada pelo sistema Milli-Q, Millipore.

Para realização do preparo de amostras com o método QuEChERS, foi

empregado sulfato de magnésio, do fornecedor J. T. Baker, cloreto de sódio da Synth,

hidrogenocitrato dissódico sesquiidratado e PSA da Sigma Aldrich, citrato trissódio

diidratado da Vetec Quimica fina e carbono grafitizado da Agilent Technologies.

57

3.1.2 Equipamentos e colunas cromatográficas

Para realização das separações cromatográficas, foram empregados os

equipamentos UPC2 (para separações por UHPSFC) e UPLC (para separações por

UHPLC), ambos da empresa Waters Corporation. Ambos os sistemas são equipados

com injetores automáticos de amostras, sistema binário de bombeamento da fase

móvel e detector por arranjo de diodos (DAD). Para obtenção e tratamento dos dados

foi empregado o software Empower Pro.

Foi empregado também um sistema de filtração de fase móvel (Millipore),

membrana de polietileno (0,22 µm), balança analítica (Sartorius CP225D), bomba a

vácuo (Vacuubrand1C), banho ultrassom (Ultrasonic Cleaner – LS Logen Scientific),

centrífuga (Fisher Scientific, modelo 225), tubos do tipo Falcon (50 mL) para

centrifugação, vórtex (Phoenex, modelo AP56) e micropipetas (volumes: 10 - 100 µL,

100-1000 µL e 1 - 5 mL (Eppendorf Research).

Para a separação dos agrotóxicos no UPC2 foram avaliadas as colunas

ACQUITY UPC2 BEH 1,7µm 2,1 mm X 100 mm, ACQUITY UPC2 HSS C18 SB, 1,8 µm,

2,1 mm X 50 mm, ACQUITY UPC2 Torus 2-PIC (2-Picolylamine) 1,7 µm, 2,1 mm X 50

mm e ACQUITY UPC2 CSH FluoroPhenyl, 1,7 µm, 2,1 mm X 50 mm. Para separação

no UPLC foram empregadas as colunas ACQUITY UPLC HSS C18 SB, 1,8 µm, 2,1 mm

X 100 mm e ACQUITY UPLC CSH Fluoro-Phenyl, 1,7 µm, 2,1 mm X 50 mm. Todas

precedidas por suas respectivas colunas de guarda e adquiridas da Waters

Corporation.

3.1.3 Amostras de alface

Para a validação do método de determinação por UHPSFC-DAD e UHPLC-

DAD, foi utilizada alface orgânica (amostra branco de referência) crespa obtida no

comércio de Campinas/SP, que foi fortificada com os agrotóxicos estudados em

diferentes concentrações para o preparo de amostra.

58

3.2 Método

3.2.1 Seleção dos agrotóxicos a serem analisados

No presente trabalho, foram selecionados 5 agrotóxicos permitidos para

aplicação em cultivo da alface, de acordo com a ANVISA. Também foram avaliados 5

agrotóxicos não permitidos, contudo encontrados em amostras de alface analisadas

pelo PARA. Os agrotóxicos selecionados, seus valores de log P, pKa, quiralidade, grupo

químico aos quais pertencem, classe agrônoma e seus respectivos valores de LMR

aceitos pela ANVISA estão apresentados na Tabela 5.

Tabela 5. Agrotóxicos selecionados para o estudo em amostra de alface e seus respectivos log P, pKa, quiralidade, grupo químico, classe agrônoma e LMR.

pKa: cologaritmo da constante de acidez (temperatura = 25 ºC);

LMR: limite máximo de resíduo;

NA: Não autorizada à utilização do agrotóxico em cultura de alface.

Agrotóxicos

Log P

pka

Quiral

Grupo Químico

Classe

Agrônoma

LMR

(PARA

2016)

mg kg-1

Atrazina 2,7 1,7 Não Triazina Herbicida NA

Azoxistrobina 2,5 ND Não Estrobilurina Fungicida 1

Clorantraniliprol 2,86 10,88 Não Antranilamida Inseticida NA

Difenoconazol 4,36 1,07 Sim Triazol Fungicida 0,5

Fenarimol 3,69 ND Sim Pirimidinil

carbinol

Fungicida NA

Fluopicolida 2,9 ND Não Benzamida

piridina

Fungicida NA

Imidacloprido 0,57 ND Não Neonicotinóide Inseticida 0,5

ʎ-Cialotrina 5,5 ND Não Piretróide Inseticida 1

Mandipropamida 3,2 ND Sim Éter

mandelamida

Fungicida NA

Tiametoxam -0,13 ND Não Neonicotinóide Inseticida 1

59

Na Figura 13 podem ser vistas as estruturas químicas dos agrotóxicos

selecionados para estudo.

Atrazina

Azoxistrobina

Difenoconazol

Clorantraniliprol

60

Fluopicolida

Fenarimol

Imidacloprido

Lambda- Cialorina

Tiametoxam

Mandipropamida

Figura 13. Estruturas químicas dos agrotóxicos selecionados para estudo.

61

3.2.2 Preparo e armazenamento das soluções analíticas dos agrotóxicos

As soluções estoques, na concentração de 1 mg mL-1, foram preparadas

individualmente empregando solventes de grau HPLC, nos quais os compostos

apresentassem alta solubilidade, sendo eles: acetona (Clorantraniliprol,

Mandipropamida, Tiametoxam), acetonitrila (Atrazina, Fenarimol, Fluopicolida,

Imidacloprido), etanol (Difenoconazol) e metanol (Azoxistrobina, Lambda-Cialotrina).

Considerando-se o grau de pureza dos agrotóxicos de trabalho, foram

pesados cerca de 10,0 mg de cada analito, em balança de alta precisão, com o auxílio

de navículas, e a massa pesada foi transferida para um balão volumétrico de 10 mL,

utilizando-se o solvente no qual o composto apresenta maior solubilidade.

As soluções estoque foram armazenadas em freezer, em frascos âmbar,

envoltos por papel alumínio, durante um período máximo de 6 meses.

A partir das soluções estoque foram feitas diluições em concentrações

adequadas para preparar as soluções de trabalho empregadas nos testes realizados.

As soluções mais diluídas também foram armazenadas em freezer, porém foram

usadas em um curto período de tempo, cerca de 7 dias.

3.2.3 Confirmação dos agrotóxicos

Os agrotóxicos estudados foram identificados a partir da comparação do

tempo de retenção do analito com seu padrão analítico e dos espectros de absorção

no ultravioleta, com o emprego do detector por arranjo de diodos, na faixa espectral de

200 a 500 nm, obtidos em três pontos distintos do pico cromatográfico (início, meio e

fim).

62

3.2.4 Seleção do modo de eluição dos agrotóxicos e da fase estacionária em

UHPSFC

Preparou-se uma mistura, na concentração de 0,05 mg mL-1, contendo os

10 agrotóxicos selecionados, usando acetonitrila como diluente. Esta mistura foi

injetada, em triplicata, tanto no modo de eluição isocrática quanto por gradiente em

todas as fases estacionárias (FE) escolhidas. As condições de análise foram baseadas

em dados da literatura.

As condições cromatográficas empregadas na eluição no modo isocrático

foram: fase móvel (FM) constituída por solvente A, CO2, e solvente B, metanol, na

proporção de 92,5:7,5 (v/v de A:B), pressão de 1500 psi, temperatura de 40,0 °C, vazão

de 1,5 mL min-1, volume de injeção de 1,0 µL, detecção em 220 nm e tempo de corrida

de 6,0 minutos. Para a eluição no modo gradiente, foi empregado um gradiente linear

(inclinação 6 da Figura 14), com programação da fase móvel variando de 0 a 20% do

solvente B (metanol neste caso) de 0 a 3 minutos e de 20 a 0% de 3 a 5 minutos,

pressão de 1500 psi, temperatura de 40,0 °C, vazão de 1,5 mL min-1, volume de injeção

de 1,0 µL, detecção em 220 nm e tempo de corrida de 5,1 minutos. Entre cada injeção

foi feito um equilíbrio de 5,0 minutos na condição inicial do gradiente.

Figura 14. Curvas usadas em eluição por gradiente

63

Como após aproximadamente uma semana de uso da FE sempre havia

variação no tempo de retenção dos compostos para valores menores, foi adicionado

5% de água ao frasco de metanol (solvente B) e repetiram-se as injeções no modo

gradiente, empregando as colunas que apresentaram as melhores separações para os

compostos estudados (colunas ACQUITY UPC2 HSS C18 SB, ACQUITY UPC2 Torus

2-PIC e ACQUITY UPC2 CSH FluoroPhenyl).

3.2.5 Seleção do diluente e volume de injeção em UHPSFC

Preparou-se uma mistura, na concentração de 0,05 mg mL-1, contendo os

10 agrotóxicos estudados, usando como diluente os solventes acetonitrila (ACN),

isopropanol (IPA), metanol (MeOH), hexano e tetraidrofurano (THF). Injetaram-se no

cromatógrafo, em triplicata, os volumes de 0,5, 1,0, 1,5, 2,5, 3,5 e 5,0 µL das misturas

preparadas, para verificar o volume de injeção e o diluente que proporcionassem

formato de pico adequado. Para isto, foi empregada eluição por gradiente, conforme as

condições descritas no item 3.2.4, com as colunas ACQUITY UPC2 HSS C18 SB,

ACQUITY UPC2 Torus 2-PIC e ACQUITY UPC2 CSH FluoroPhenyl e adição de

5% de água no metanol, usado como cossolvente na fase móvel.

3.2.6 Seleção da fase móvel em UHPSFC

Usando uma mistura contendo os 10 agrotóxicos, na concentração de 0,05

mg mL-1, preparada em ACN, foram avaliadas as fases móveis constituídas por solvente

A (CO2) e B (o solvente B pode ser composto por metanol:água 95:5 (v/v) ou acetonitrila

ou etanol:água 95:5 (v/v)). A escolha da fase móvel mais apropriada foi feita usando

eluição por gradiente, segundo as condições descritas no item 3.2.4, com as colunas

ACQUITY UPC2 HSS C18 SB, ACQUITY UPC2 Torus 2-PIC e ACQUITY UPC2 CSH

FluoroPhenyl.

64

3.2.7 Planejamento experimental em UHPSFC

Realizou-se um planejamento fatorial 24 com os fatores: porcentagem de

etanol na FM ao final do gradiente, pressão, temperatura e tipo de FE. As três primeiras

variáveis são contínuas e a última é discreta. Foi realizada triplicata no ponto central

para a combinação das variáveis contínuas, em cada nível da variável discreta. Os

níveis dos fatores são mostrados na Tabela 6. para determinar as melhores condições

para separação cromatográfica e a coluna mais adequada. O planejamento continha

22 pontos que foram injetados em triplicata.

Tabela 6. Fatores e níveis empregados no planejamento experimental.

Fator Nível - Nível +

EtOH:H2O (%) 15 25

Pressão (psi) 1500 2500

Temperatura (°C) 25 50

Fase estacionária Fluorofenil 2-PIC

3.2.8 Separação dos agrotóxicos em UHPLC

Com o intuito de comparar a UHPSFC com a UHPLC (uma técnica

cromatográfica bem consolidada), foram desenvolvidos e validados, em cada técnica,

métodos analíticos para separação da mistura de agrotóxicos selecionados.

Empregando UHPLC, estudaram-se as colunas ACQUITY UPLC HSS C18

SB e ACQUITY UPLC CSH Fluoro-Phenyl e optou-se pela eluição por gradiente.

As condições cromatográficas empregadas foram: gradiente linear

(inclinação 6 da Figura 14), fase móvel H2O:EtOH (sendo água solvente A e etanol o

B), programação do gradiente com porcentagem de solvente B variando de 15 a 70%

de 0 a 10 minutos e de 70 a 15% de 10 a 16 minutos, temperatura de 40,0 °C, vazão

de 0,3 mL min-1, volume de injeção de 1,0 µL, detecção em 220 nm e tempo de corrida

de 16,1 minutos. Entre cada injeção foi realizado um equilíbrio de 10 minutos na

65

condição inicial do gradiente. As injeções foram feitas em triplicatas utilizando

acetonitrila como diluente.

Após a seleção da coluna ACQUITY UPLC CSH Fluoro-Phenyl como FE,

avaliaram-se os volumes de injeção de 1,0, 1,2 e 1,5 µL.

3.2.9 Armazenamento das amostras de alface

As amostras de alface isentas de agrotóxicos foram obtidas no comércio

local da região de Campinas - SP e processadas adequadamente, para evitar possíveis

contaminações. As amostras de alface, lavadas com água da torneira e secas em

temperatura ambiente, foram homogeneizadas em multiprocessador doméstico e

mantidas em frascos de vidro em freezer, a baixa temperatura (aproximadamente 4°C),

a fim de assegurar suas características.

3.2.10 Extração dos agrotóxicos da alface usando o método QuEChERS

Para preparo da amostra e extração dos agrotóxicos estudados foi utilizado

o método QueChERS Citrato, conforme as condições otimizadas e descritas no

trabalho de Konatu, 2017.21, 116

A amostra de alface crespa triturada foi diluída em 10,0 mL de acetonitrila,

solvente usado na etapa de extração. Após agitação em vortex por 1,0 minuto, foram

adicionados 4,000 g de sulfato de magnésio (MgSO4), 1,000 g de cloreto de sódio

(NaCl), 1,000 g de citrato trissódico diidratado (C6H5Na3O7.2H2O) e 0,500 g de

hidrogenocitrato sesquiidratado (C6H5Na2O7.1,5H2O), que são os sais responsáveis

pela etapa de partição e pelo ajuste do pH. A mistura foi agitada em vortex por 1,0

minuto e centrifugada a 5000 rpm por 5,0 minutos. Posteriormente, 7,0 mL do

sobrenadante foram transferidos para um frasco contendo 0,175 g de PSA, 0,035 g de

carbono grafitizado (GCB) – sorventes para limpeza da amostra e 1,050 g de MgSO4,

66

e agitados em vortex por 1,0 minuto e centrifugados a 5000 rpm por 5,0 minutos. Após

a etapa de limpeza, 5,0 mL do sobrenadante foram submetidos ao fluxo de gás

nitrogênio até a secura, ressuspendido em 0,5 mL de ACN, agitado em vortex por 1,0

minuto, sonicado em banho de ultrassom por 10 segundos, filtrado com filtro de seringa

0,22 µm e armazenado em frasco de vidro, no freezer, até o momento da análise. As

injeções foram realizadas em triplicata.

3.2.11 Quantificação e validação do método

A padronização externa com superposição na matriz foi usada para a

quantificação dos analitos. Este se fundamenta na adição de soluções padrões de

concentração conhecida, em diferentes níveis, na matriz branco, abrangendo os limites

máximos de resíduos (LMR) estabelecidos pela Anvisa.

A validação dos métodos desenvolvidos por UHPSFC e UHPLC se baseou

nas normas do guia SANTE 11945/2015115, determinando o efeito matriz e as principais

figuras de mérito: seletividade, faixa linear, linearidade, limite de quantificação, exatidão

(em termos de recuperação), precisão (repetibilidade e precisão intermediária) e

robustez.

3.2.11.1 Efeito matriz

Avaliar o efeito matriz é uma etapa importante durante o desenvolvimento e

validação de um método analítico, porque componentes da matriz presentes no extrato

final podem causar aumento ou diminuição da resposta cromatográfica, de modo a

interferir significativamente na exatidão e precisão da metodologia.21, 117 Apesar do

mecanismo envolvido no aumento ou diminuição da intensidade do sinal não estar bem

elucidado, sabe-se que o efeito matriz depende das propriedades físico-químicas dos

analitos estudados, das características dos componentes da matriz, como polaridade e

tamanho das moléculas118, por exemplo, e até mesmo do tipo de detector empregado

na análise.

O efeito matriz na quantificação de resíduos de agrotóxicos pode ser

minimizado com o emprego de algumas estratégias como preparo de amostra, diluição

67

da amostra, uso de protetores de analitos, adição padrão ou padronização externa com

superposição na matriz.117, 119

Durante a etapa de validação, ao realizar o teste para avaliar a linearidade

do método, é possível fazer a determinação da interferência da matriz nos resultados,

a partir da sobreposição de curvas obtidas no solvente e na matriz, por padronização

externa.

O efeito matriz foi avaliado empregando o método de adição dos agrotóxicos

após realizar o procedimento de extração. Obtiveram-se os valores de efeito matriz (%)

por meio da comparação das inclinações das curvas analíticas dos analitos no extrato

da matriz (amostra branco fortificada) e em solvente, como mostra a Equação 2. As

curvas analíticas para cada analito foram construídas usando cinco níveis de

concentração.

𝐸𝑓𝑒𝑖𝑡𝑜 𝑀𝑎𝑡𝑟𝑖𝑧 (%) = (𝐶𝑜𝑒𝑓𝑖𝑐𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑎𝑛𝑔𝑢𝑙𝑎𝑟 𝑑𝑎 𝑐𝑢𝑟𝑣𝑎 𝑜𝑏𝑡𝑖𝑑𝑎 𝑛𝑎 𝑚𝑎𝑡𝑟𝑖𝑧

𝐶𝑜𝑒𝑓𝑖𝑐𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑎𝑛𝑔𝑢𝑙𝑎𝑟 𝑑𝑎 𝑐𝑢𝑟𝑣𝑎 𝑜𝑏𝑡𝑖𝑑𝑎 𝑛𝑜 𝑠𝑜𝑙𝑣𝑒𝑛𝑡𝑒− 1) × 100 (2)

Os valores do efeito matriz indicam como os componentes intrínsecos da

alface influenciam na resposta do detector. Resultados negativos indicam que

há redução do sinal analítico e resultados positivos mostram aumento do sinal analítico

dos analitos estudados. Se os valores observados estão próximos de zero não há efeito

matriz.120

O efeito matriz também foi avaliado pela sobreposição das curvas obtidas na

matriz e no solvente. Se as retas obtidas são paralelas não existe interferência da matriz

no sinal do analito, contudo, se as retas se cruzam a matriz interfere na quantificação

do analito.

3.2.11.2 Seletividade

A seletividade consiste na capacidade do método em avaliar de maneira

inequívoca os analitos de interesse na presença dos componentes da amostra, como

impurezas e produtos de degradação, por exemplo, que possam interferir na análise.

68

Em cromatografia, a seletividade garante que o pico de resposta em um determinado

tempo de retenção seja estritamente do composto de interesse e não de outros

constituintes da amostra.114

A seletividade pode ser avaliada pela comparação dos cromatogramas

obtidos com injeções da amostra branco, matriz sem os analitos estudados, dos

padrões dos compostos de interesse ou da amostra branco fortificada com os padrões.

Para que o método cromatográfico seja classificado com seletivo, não devem existir

picos de componentes da matriz no mesmo tempo de retenção (tR) dos analitos, ou se

existirem, estes devem possuir área inferior a 30% da área do analito de interesse.

Quando pertinente, é interessante realizar estudos de degradação forçada do analito

para garantir que possíveis produtos de degradação não coeluam com o analito.121

Neste trabalho, se avaliou a seletividade através da comparação dos

cromatogramas obtidos pela injeção da FM, do solvente de injeção, da matriz branco e

dos analitos individuais.

3.2.11.3 Linearidade

A linearidade representa a habilidade de o método prover respostas (como

área do pico, volume de titulante, absorbância, entre outros) diretamente proporcionais

à concentração do analito de interesse na amostra, dentro de um intervalo específico,

que pode ser entendido como o intervalo entre o nível superior e inferior em que as

concentrações dos analitos possam ser determinadas com exatidão, precisão e

linearidade.

A correlação entre a concentração do analito e o sinal medido pode ser

determinada de forma experimental através de uma curva analítica, representada pela

equação da reta (Equação 3):

y = ax + b (3)

Usando-se um conjunto de medidas experimentais (y) e o método de

regressão linear baseado em Mínimos Quadrados, pode-se estimar o valor dos

69

coeficientes da equação 1 por meio da equação matricial (XtX)-1Xty, onde a matriz X

contém os níveis da variável dependente x.14

Como a linearidade e faixa linear são determinados a partir da curva

analítica, é importante que, após a elaboração da mesma, sua qualidade seja avaliada

pelo gráfico dos resíduos (gráfico que representa a diferença entre valor previsto pela

curva analítica e valor experimental) e pelo coeficiente de correlação (valor que mostra

o quanto uma variável dependente (x) está correlacionada com uma variável

independente (y)).

A linearidade do método foi avaliada pela análise de amostras de

alface branco de referência fortificadas com soluções padrões de agrotóxicos em cinco

níveis de concentrações. Usando cálculos de regressão linear das curvas obtiveram-se

os valores dos coeficientes angular (termo a) e linear (termo b) da equação da reta. A

figura de mérito linearidade foi avaliada pelo coeficiente de correlação (r ≥ 0,9900) e

pela distribuição dos resíduos (dados em termos de erro relativo).

3.2.11.4 Limite de quantificação (LQ)

O limite de quantificação (Limit of Quantification, LQ), também denominado

de limite de determinação, representa a menor concentração do analito que pode ser

quantificada usando as condições experimentais adotadas, com níveis de precisão e

exatidão aceitáveis.114

Determinou-se o limite de quantificação a partir de extrações de amostras de

alface fortificadas com soluções dos agrotóxicos em concentrações decrescentes. O

LQ foi considerado como a menor quantidade de um analito em uma amostra que pôde

ser determinada com precisão (CV ˂ 20%) e exatidão (recuperação entre 60 –

140%).131

70

3.2.11.5 Exatidão

A exatidão de um método representa o quanto os resultados individuais em

um conjunto de medições concordam com um valor de referência considerado como

verdadeiro. Os ensaios de recuperação representam uma maneira de se avaliar este

parâmetro. A porcentagem de recuperação pode ser entendida como a quantia da

substância de interesse, que foi adicionada a matriz estudada e foi extraída, sendo

passível de quantificação.114

A exatidão foi avaliada por meio de ensaios de recuperação, nos quais as

amostras foram fortificadas em três níveis de concentração, em triplicatas e os extratos

foram analisados. A exatidão foi estimada a partir de valores de concentração obtidos

após interpolação nas curvas analíticas e pela Equação 4 e o intervalo aceito na

literatura é de 60 - 140%.115

𝑅𝑒𝑐𝑢𝑝𝑒𝑟𝑎çã𝑜 (%) = (𝐶𝑜𝑛𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎çã𝑜 𝑑𝑜 𝑎𝑛𝑎𝑙𝑖𝑡𝑜 𝑜𝑏𝑡𝑖𝑑𝑎 𝑛𝑜 𝑒𝑥𝑡𝑟𝑎𝑡𝑜

𝐶𝑜𝑛𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎çã𝑜 𝑟𝑒𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝑎𝑛𝑎𝑙𝑖𝑡𝑜 𝑛𝑜 𝑒𝑥𝑡𝑟𝑎𝑡𝑜) × 100 (4)

3.2.11.6 Precisão

A precisão representa a proximidade entre resultados de testes que foram

independentemente repetidos para amostra, em condições de análise definidas, com

seu valor médio. A precisão é expressa como coeficiente de variação (CV) ou estimativa

de desvio padrão relativo (DPR). Durante a validação de um método a repetitividade e

precisão intermediária são empregadas para avaliar a precisão.

A repetitividade descreve o grau de concordância entre os resultados

obtidos nas mesmas condições de medição. A precisão intermediária avalia a precisão

do método em um mesmo laboratório considerando dias, analistas e equipamentos

diferentes ou uma combinação destes fatores.114

71

3.2.11.6.1 Repetibilidade

Avaliou-se a repetibilidade do método pelo preparo, injeção e análise, no

mesmo dia, de seis extratos de amostras de alface fortificadas com os agrotóxicos no

nível 100% de concentração (concentração intermediária). A precisão foi expressa pelo

coeficiente de variação (CV) calculado através da Equação 5:

𝐶𝑜𝑒𝑓𝑖𝑐𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑉𝑎𝑟𝑖𝑎çã𝑜 (%) = (𝐸𝑠𝑡𝑖𝑚𝑎𝑡𝑖𝑣𝑎 𝑑𝑜 𝐷𝑒𝑠𝑣𝑖𝑜 𝑃𝑎𝑑𝑟ã𝑜

𝐶𝑜𝑛𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎çã𝑜 𝑀é𝑑𝑖𝑎 𝑂𝑏𝑡𝑖𝑑𝑎) × 100 (5)

Não são admitidos valores de CV superiores a 20%.

3.2.11.6.2 Precisão intermediária

A precisão intermediária também foi expressa em termos de coeficientes de

variação (CV), que foram obtidos nas análises de extratos de seis amostras brancos de

alface, fortificadas com os agrotóxicos em estudo, no nível 100% de concentração, em

dois dias.

3.2.11.7 Robustez

A robustez mede a sensibilidade do método frente à pequenas variações

experimentais, passíveis de ocorrência no dia a dia de execução do método ou na

transferência do mesmo para outros laboratórios. Em Cromatografia Líquida, tal

parâmetro pode ser avaliado por pequenas e deliberadas variações de temperatura,

composição e pH da FM, lotes e fornecedores de colunas. Caso o método se mostre

insensível a estas pequenas mudanças o mesmo é considerado robusto.114

Em UHPSFC a robustez foi avaliada durante o desenvolvimento do método,

a partir dos resultados das variações realizadas no planejamento experimental e em

72

UHPLC avaliou-se este parâmetro apenas pelo aumento na variação da temperatura

da coluna de ± 2 °C para ± 5 °C.

3.3 Aplicação do método desenvolvido em amostras de alface obtidas no

comércio

Após a validação dos métodos desenvolvidos por UHPSFC-DAD e UHPLC-

DAD, os mesmos foram utilizados na análise multirresíduo em cinco amostras de alface

adquiridas no comércio de Campinas/São Paulo.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Inicialmente, foi realizado um levantamento das seguintes características

dos agrotóxicos selecionados para estudos: log P (uma medida da sua afinidade por

solventes lipofílicos e hidrofílicos) e pKa, cujos valores se encontram na Tabela 5; e

espectro de absorção no UV-vis, cujos máximos de absorção podem ser vistos na

Tabela 7.

Tabela 7. Valores máximos de absorção para os agrotóxicos estudados

Agrotóxicos Máximos de absorção (nm)

Atrazina 222,5 / 263,9

Azoxistrobina 202,6 / 242,7 / 295,0

Clorantraniliprol 202,0 / 290,0

Difenoconazol 215,0 / 235,0 / 275,0

Fenarimol 205,0 / 221,0

Fluopicolida 203,0 / 271,0

Imidacloprido 212,0 / 270,0

Lambda-Cialotrina 201,0 / 278,0

Mandipropamida 223,0 / 276,0

Tiametoxam 211,0 / 252,0

73

Analisando os valores da Tabela 5, verifica-se que os agrotóxicos

selecionados apresentam log P entre -2 e 9, que é um requisito para análise por

UHPSFC10, visto que esta técnica, devido a adição de um cossolvente à fase móvel

(metanol é o cossolvente polar de uso mais comum10), possibilita a análise de

compostos polares e apolares.122 O pKa pode ajudar verificar a necessidade de adição

de aditivos à fase móvel (FM), de modo a melhorar o formato do pico. Dos agrotóxicos

em estudo, a maioria (7 compostos) não sofre ionização, enquanto três deles variam

de caráter ácido a básico. Como o equipamento utilizado emprega um detector por

arranjo de diodos (DAD) é necessário que os agrotóxicos absorvam na região do UV-

Vis para que possam ser detectados e que apresentem espectros de absorção no UV-

Vis diferentes para poderem ser identificados, o que de fato ocorre para esta mistura.

4.1 Seleção do modo de eluição dos agrotóxicos e da fase estacionária em

UHPSFC

A Figura 15 mostra os cromatogramas obtidos com as quatro colunas avaliadas

no modo isocrático e indica que os analitos eluiram em região próxima do tempo de

retardamento, na forma de picos sobrepostos e mal resolvidos. Essa coeluição indica

que a forma isocrática não é apropriada e nem eficiente para a separação, devido à

grande diferença de polaridade entre os 10 agrotóxicos estudados.

AU

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

Minutes

0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00

Fluorofenil

Figura 15. Continua na página seguinte.

74

Figura 15. Cromatogramas obtidos por UHPSFC na separação dos agrotóxicos estudados usando eluição isocrática. Condições cromatográficas: pressão:1500 psi, temperatura: 40 °C, FM: constituída por solvente A, como CO2, e solvente B, como metanol, na proporção de 92,5:7,5 (v/v de A:B), eluição isocrática, volume de injeção: 1,0 µL, vazão: 1,5 mL min-1. Detecção UV em 220 nm

Devido à variação nos valores de log P, optou-se, então, pelo modo de

eluição por gradiente. Usando essa condição houve uma melhora significativa na

AU

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

0.16

0.18

Minutes

0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00 3.50 4.00

AU

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

0.40

Minutes

0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60

AU

0.00

0.10

0.20

0.30

0.40

Minutes

0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00 3.50 4.00

BEH

2-PIC

C18

75

separação dos analitos, como mostra a Figura 16, todavia, houve alteração na ordem

de eluição dos compostos, dependendo da FE empregada. A coluna C18 apresentou

separação de todos os compostos (inclusive apresentou separação completa para os

enantiômeros do difenoconazol, que estão representados pelo número 7); seguida pela

2-PIC, que apesar de não ter separado todos os compostos, resultou em um bom

formato de pico e resolução; seguida pela Fluorofenil. A coluna BEH forneceu os piores

resultados em termos de formato de pico e de separação dos compostos, logo, esta

coluna não foi utilizada para os testes posteriores.

AU

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

Minutes

0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00

1

2

3

45

6

7

8

910

AU

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

0.16

0.18

0.20

0.22

Minutes

0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40 2.60 2.80 3.00 3.20

1

3

2

4

7

5 e 6

810 9

Fluorofenil

BEH

Figura 16. Continua na página seguinte

76

Figura 16. Cromatogramas obtidos por UHPSFC na separação dos agrotóxicos estudados usando gradiente linear, com variação de porcentagem de solvente B de 0 a 20%. Condições cromatográficas: pressão:1500 psi, temperatura: 40 °C, FM: CO2 como solvente A e MeOH como solvente B, volume de injeção: 1,0 µL, vazão: 1,5 mL min-1. Detecção: 220 nm. Identificação dos picos: 1. Lambda-Cialotrina, 2. Fluopicolida, 3. Atrazina, 4. Fenarimol, 5. Mandipropamida, 6. Azoxistrobina, 7. Difenoconazol, 8. Clorantraniliprole, 9. Tiametoxam e 10. Imidacloprido.

Apesar dos bons resultados obtidos com estas colunas, começaram a

ocorrer variações nos tempos de retenção (tR) dos compostos, que passaram a não se

repetirem depois de um certo tempo de uso, assim como mudanças na seletividade da

FE. A Figura 17 mostra os cromatogramas obtidos com a coluna Fluorofenil, sendo que

os cromatogramas 1, 2 e 3 foram obtidos uma semana após aos cromatogramas 4, 5 e

6. Como pode ser visto nos cromatogramas 1, 2 e 3, na parte superior da Figura 17,

AU

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

0.40

0.45

Minutes

0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20

1

3

2 7

6

4 5

8 e 9

10

AU

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

0.40

0.45

0.50

Minutes

0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40 2.60 2.80 3.00

1

2

3

5

64

7 78

10 9

2-PIC

C18

77

após uma semana de uso, sempre ocorria uma diminuição no tR. Essa falta de

repetibilidade constitui em um problema relevante, pois impossibilita a validação de um

método, uma vez que confere falta de precisão. Além disso, houve alteração no formato

dos picos, como destacado com a elipse em vermelho na Figura 17, sendo que no início

havia separação dos isômeros da Lambda-Cialotrina, com picos pequenos, e, após

uma semana, houve junção dos picos.

Figura 17. Cromatogramas obtidos com a coluna Fluorofenil para ilustrar a falta de repetibilidade no tR e mudança no formato dos picos. Condições cromatográficas: pressão:1500 psi, temperatura: 40 °C, FM: CO2:MeOH, eluição por gradiente, volume de injeção: 1,0 µL, vazão: 1,5 mL min-1. Detecção UV: 220 nm.

Durante aproximadamente 17 meses essas variações, muitas vezes maiores

que 10% do tR, ocorreram sem causa determinada. Foram feitos vários testes para

solucionar esse problema, aumentou-se o tempo de condicionamento da FE, reduziu-

se a temperatura da sala onde estava alocado o equipamento, foram feitas limpezas no

sistema cromatográfico, não se usou aditivos nas colunas, aumentou-se o tempo de

78

equilíbrio entre as injeções, mas nenhuma dessas medidas foi capaz de resolver este

problema.

Após uma extensa pesquisa bibliográfica foi encontrado um artigo que

relatava que a adição de uma pequena porcentagem de água ao cossolvente minimiza

essas variações no tR e no formato dos picos.123 Segundo os autores, a passagem de

metanol através da FE acarreta alteração na estrutura da sílica e formação do silil éter

é o agente responsável pela variação nos tR e modificações na seletividade da FE. Em

cromatografia líquida, esse fenômeno não é observado devido ao uso de FM aquosa.

Assim, ao se acrescentar cerca de 5% de água ao metanol em UHPSFC, é possível

deslocar para esquerda o equilíbrio de formação do silil éter que ocorre entre os silanóis

e o metanol, como mostrado na Figura 18 123, causando a regeneração dos silanóis do

suporte cromatográfico, de modo a reduzir, ou até mesmo eliminar, a falta de

repetibilidade em cromatografia com fluido supercrítico.

Figura 18. Equação química da reação entre os silanóis com o metanol com formação do silil éter, e eliminação de uma molécula de água.123

Optou-se então por adicionar 5% de água ao metanol usado como FM e

repetiram-se os testes para seleção da FE usando as colunas Fluorofenil, 2-PIC e C18.

Conforme a Figura 19 e a Figura 20, o emprego de água alterou a seletividade e

aumentou o tempo de retenção na FE de alguns analitos. Além disso, comparando-se

a Figura 19 e a Figura 16 verifica-se que com a coluna Fluorofenil houve a separação,

com boa resolução, do fenarimol e mandipropamida (sem adição de água ao

modificador orgânico eles coeluiam), porém, houve a coeluição da azoxistrobina e

difenoconazol (sem água eles estavam separados). Com a coluna 2-PIC, tornou-se

possível a separação completa de todos os agrotóxicos (o que não acontecia sem a

adição de água ao modificador). A coluna C18 forneceu a melhor separação de todos

os compostos sem o uso de água no modificador orgânico da FM, porém com a adição

de água houve coeluição da azoxistrobina e do fenarimol.

79

Figura 19. Cromatogramas obtidos na separação dos agrotóxicos estudados usando 5 % de água como aditivo da FM. Condições cromatográficas: pressão:1500 psi, temperatura: 40 °C, FM: constituída de CO2 solvente A e MeOH:H2O 95:5 (v/v) solvente B, eluição por gradiente, programação do gradiente: variação do solvente B de 0 a 20%, volume de injeção: 1,0 µL, vazão: 1,5 mL min-1. Detecção UV: 220 nm. Identificação dos picos: 1. Lambda-Cialotrina, 2. Fluopicolida, 3. Atrazina, 4. Fenarimol, 5. Mandipropamida, 6. Azoxistrobina, 7. Difenoconazol, 8. Clorantraniliprole, 9. Tiametoxam e 10. Imidacloprido.

AU

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

Minutes

0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20

1

2

3

45

6 e 7

8

9 10

Fluorofenil A

U

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

Minutes

0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40 2.60

1

3

2 76 4

5 89

10

2-PIC

AU

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

Minutes

0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40 2.60 2.80

1

2

3

5

4 e 6

7 78

910

C 18

80

Com o intuito de averiguar se a adição de 5% de água ao modificador

orgânico realmente era eficiente para evitar variações maiores que ±10% no tR dos

analitos, após sete dias de uso da FE avaliou-se a repetibilidade e verificou-se que não

houve variações significativas após a adição de água ao modificador orgânico da FM,

conforme mostram os resultados da Tabela 8.

Tabela 8. Avaliação da variação do tempo de retenção após sete dias de uso da FE, com adição de 5% de água ao metanol.

Pico tR dia 1 (min) tR dia 7 (min) % de variação

1 0,413 0,416 0,73

2 0,980 0,970 1,0

3 1,123 1,087 3,2

4 1,270 1,215 4,3

5 1,352 1,281 5,3

6 1,398 1,323 5,4

7 1,681 1,573 6,4

8 2,270 2,181 3,9

9 2,337 2,249 3,8

Dados obtidos empregando-se as seguintes condições cromatográficas: coluna: ACQUITY UPC2 CSH FluoroPhenyl, 1,7 µm, 2,1 mm X 50 mm, eluição por gradiente linear, programação do gradiente: variação MeOH:H2O 95:5 (v/v) de 0 a 20%, pressão:1500 psi, temperatura: 40 °C, volume de injeção: 1,0 µL, vazão: 1,5 mL min-1. Detecção UV: 220 nm.

Sendo assim, seguiram-se os testes para seleção do volume de injeção e do diluente

da amostra usando as colunas Fluorofenil, 2-PIC e C 18 e 5% de água no modificador

orgânico da FM.

81

Figura 20. Continua na página seguinte

AU

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

Minutes

0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00 1.10 1.20 1.30 1.40 1.50 1.60 1.70 1.80 1.90 2.00 2.10 2.20

AU

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

0.40

0.45

Minutes

0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00 1.10 1.20 1.30 1.40 1.50 1.60 1.70 1.80 1.90 2.00 2.10 2.20 2.30 2.40 2.50 2.60

Fluorofenil

2-PIC _________ Modificador orgânico: MeOH:H2O 95:5 (v/v)

_________ Modificador orgânico: MeOH

_________ Modificador orgânico: MeOH:H2O 95:5 (v/v)

_________ Modificador orgânico: MeOH

82

Figura 20. Comparação dos cromatogramas obtidos nas colunas Fluorofenil, 2-PIC e C18 com e sem a adição de água ao modificador orgânico (solvente B) da FM. Condições cromatográficas: pressão: 1500 psi, temperatura: 40 °C, FM: modificador orgânico:CO2, eluição por gradiente linear, com variação da porcentagem de modificador orgânico de 0 a 20%, volume de injeção: 1,0 µL, vazão: 1,5 mL min-1. Detecção UV: 220 nm.

AU

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

0.40

0.45

Minutes

0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00 1.10 1.20 1.30 1.40 1.50 1.60 1.70 1.80 1.90 2.00 2.10 2.20 2.30 2.40 2.50 2.60 2.70 2.80 2.90

C 18 _________ Modificador orgânico: MeOH:H2O 95:5 (v/v)

_________ Modificador orgânico: MeOH

83

4.2 Seleção do volume de injeção em UHPSFC e do diluente

Um diluente adequado precisa ser mais fraco que a FM13, dessa forma,

como o metanol foi escolhido como modificador orgânico da FM, seguindo a série

eluotrópica, hexano, THF, ACN, IPA e o próprio metanol seriam bons candidatos a

diluentes das amostras de agrotóxicos. Dessa forma, testaram-se estes solventes no

preparo da mistura de agrotóxicos, na concentração de 0,05 mg mL-1.

A Figura 21 mostra a influência do volume de injeção utilizando a ACN

como diluente da amostra. Verifica-se que volumes de injeção muito grandes causam

distorção no formato dos picos, independente do diluente usado. Pode-se associar

isto ao efeito do solvente, em que o mesmo não é fraco o suficiente para manter os

analitos retidos na coluna. Por isso, para evitar deformações dos picos

cromatográficos, é interessante injetar sempre o menor volume possível,

considerando sempre a repetibilidade e os limites de detecção13, porém este volume

não pode ser muito baixo por se tratar de análises em níveis traços. Os resultados

obtidos confirmam a afirmação de que o volume máximo a ser injetado deve ser de

cerca de 0,1 a 0,5% do valor do volume da coluna. Dessa forma, para as colunas de

dimensão de 100 x 2,1 d.i. mm o volume de injeção deve ser de cerca de 1,73 µL e

para a coluna de 50 x 2,1 d.i. o volume é de aproximadamente 0,86 µL. Portanto,

devem ser estudados volumes de injeção próximos aos calculados.

A escolha do diluente da amostra é muito importante a fim de evitar

distorções nos picos. Desse modo, o ideal é solubilizar os analitos na própria FM.

Todavia, isso é praticamente impossível em UHPSFC, porque a FM é constituída

majoritariamente por dióxido de carbono. Uma alternativa é empregar um solvente de

força igual ou menor que a FM.124 Solventes com polaridade semelhante ao CO2

originam picos com formato adequado, porém limitam a solubilidade de alguns

compostos e evaporam com facilidade, ocasionando concentração da amostra no vial

de injeção. Uma opção para solucionar esse problema é misturar solventes polares e

apolares, contudo, isso deve ser feito com cautela para evitar problemas de

imiscibilidade entre os diluentes.13

84

AU

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

0.40

Minutes

0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00 1.10 1.20 1.30 1.40 1.50 1.60 1.70 1.80 1.90 2.00 2.10 2.20 2.30 2.40 2.50 2.60

AU

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

0.40

Minutes

0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00 1.10 1.20 1.30 1.40 1.50 1.60 1.70 1.80 1.90 2.00 2.10 2.20 2.30 2.40 2.50 2.60

____ 1,0 µL

____ 1,5 µL

____ 1,0 µL

____ 2,5 µL

Figura 21. Cromatogramas da mistura de agrotóxicos estudados, na concentração de 0,05 mg mL-1, mostrando a influência do volume de injeção, usando como diluente a ACN. Coluna: ACQUITY UPC2 Torus 2-PIC (2-Picolylamine) 1,7 µm, 2,1 mm X 50 mm. Condições cromatográficas: pressão:1500 psi, temperatura: 40 °C, FM: CO2, solvente A e MeOH:H2O 95:5 (v/v), solvente B, eluição por gradiente, vazão: 1,5 mL min-1. Detecção UV: 220 nm.

85

Segundo Fairchild et al.124, o emprego de diluentes muito polares, como o

metanol e dimetilsulfóxido, ocasionam deformações nos picos, mesmo com pequenos

volumes de injeção, devido ao efeito do solvente forte. Tal situação pode ser vista na

Figura 22, onde são comparados os resultados adquiridos usando a mesma FE e

variando o diluente da amostra, com volume de injeção de 1,5 µL.

Figura 22. Continua na página seguinte

AU

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

0.40

Minutes

0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40 2.60

ACN

AU

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

Minutes

0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40 2.60

IPA

AU

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

Minutes

0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40 2.60

MeOH

86

fgh

Abrahamsson e Sandahl125 mostraram em seu trabalho que o diluente não

interage apenas com a amostra, mas também com a FE, dessa forma, os diluentes se

comportam de maneiras distintas em fases polares (sílica pura) e em fases apolares

(C18). Em colunas polares, o emprego de diluentes com alta constante dielétrica,

elevado momento de dipolo e capacidade de formar ligação de hidrogênio resulta em

eficiência baixa, principalmente para análise de compostos polares, visto que o

solvente minimiza as interações entre analito e grupos silanóis. Em colunas apolares,

solventes com estas características favorecem a análise. O uso de solventes

apróticos, como a acetonitrila, em diferentes FE, tem-se mostrado vantajoso, já que

AU

0.00

0.10

0.20

0.30

0.40

0.50

0.60

0.70

Minutes

0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40 2.60

Hexano A

U

0.00

0.10

0.20

0.30

0.40

0.50

0.60

0.70

0.80

0.90

Minutes

0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40 2.60

THF

Figura 22. Cromatogramas da mistura de agrotóxicos estudados, na concentração de 0,05 mg mL-1, mostrando a influência da variação do diluente. Condições cromatográficas: coluna: ACQUITY UPC2 Torus 2-PIC (2-Picolylamine) 1,7 µm, 2,1 mm X 50 mm, pressão:1500 psi, temperatura: 40 °C, FM: CO2 como solvente A e MeOH:H2O 95:5 (v/v) como solvente B, eluição por gradiente, volume de injeção: 1,5 µL, vazão: 1,5 mL min-1. Detecção UV: 220 nm.

87

fornece bom formato de pico, permite solubilizar grande variedade de compostos e

não é retido em UHPSFC, o que não interfere nos compostos analisados.13

O volume de injeção depende diretamente do diluente e da FE. Isso pode

ser confirmado na Figura 22 e pelos dados da Tabela 9 que mostra o volume máximo

a ser injetado para cada diluente avaliado, em diferentes colunas.

Tabela 9. Volumes máximos que podem ser injetados para cada diluente avaliado.

Coluna Diluente Volume máximo que pode ser injetado

(µL)

Fluorofenil

ACN 1,0

IPA 1,0

MeOH 0,5

Hexano 1,0

THF 1,0

2-PIC

ACN 1,5

IPA 1,0

MeOH 0,5

Hexano 1,5

THF 1,5

C 18

ACN 1,5

IPA 1,0

MeOH 1,0

Hexano 1,5

THF 1,5

Assim, os volumes máximos de injeção escolhidos foram 1,5 µL para as

colunas 2-PIC e C18 e 1,0 µL para a Fluorofenil.

Quanto aos diluentes, o IPA foi descartado por permitir o volume máximo

de injeção de 1,0 uL e demandar a ressuspensão após o uso do método Quechers

O hexano, apesar de permitir a injeção do mesmo volume que a ACN, foi

rejeitado por ser muito volátil e concentrar a amostra no vial. O THF foi descartado

88

pelo fato do pico do solvente ser muito intenso independente do volume injetado. Além

disso, ele é considerado um solvente muito forte, cujo uso deve ser evitado para

preservar o sistema cromatográfico e a coluna. A ACN foi escolhida como diluente da

amostra pelas razões citadas, por ser o solvente usado na etapa de extração do

método QuEChERS e por possibilitar a injeção de um maior volume sem causar

distorções nos picos, já que para análise de compostos presentes em nível de traços

quanto maior o volume injetado melhor a detectabilidade.

4.3 Seleção da fase móvel em UHPSFC

Considerando que o uso de CO2 puro na FM permite apenas a separação

de analitos apolares, boa parte das análises é realizada utilizando um modificador

orgânico ou cossolvente, que além de permitir a resolução de compostos polares

também ajuda a melhorar a solubilidade dos analitos, evitando a precipitação dos

mesmos na coluna. Estes modificadores alteram a densidade e a polaridade da FM,

gerando picos com melhor formato e reduzindo as interações indesejadas entre os

analitos e os grupos silanóis residuais da FE.12 MeOH, etanol (EtOH), IPA, ACN e THF

são os modificadores de alta a média força de eluição mais empregados em UHPSFC.

No entanto, é preferível, quando possível, que etanol seja escolhido como

modificador, uma vez que este é considerado um solvente que pode ser obtido de

fontes renováveis e é menos tóxico para o analista quando comparado aos

demais.69,126

Como a FM de partida era constituída de CO2 como solvente A e

MeOH:H2O 95:5 (v/v) como solvente B, esta foi usada para comparação com as

demais FM estudadas. Na Figura 23 podem ser visualizados os cromatogramas que

mostram a influência do modificador orgânico utilizado na fase móvel.

89

Figura 23. Continua na página seguinte. A) Coluna Fluorofenil.

AU

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

Minutes

0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40 2.60 2.80 3.00 3.20 3.40 3.60

____ MeOH:H2O

____ ACN

AU

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

Minutes

0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00 1.10 1.20 1.30 1.40 1.50 1.60 1.70 1.80 1.90 2.00 2.10 2.20 2.30 2.40

____ MeOH:H2O

____ EtOH:H2O

A)

90

AU

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

0.40

0.45

Minutes

0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40 2.60 2.80 3.00 3.20 3.40 3.60 3.80

Figura 23. Continua na página seguinte. B) Coluna 2-PIC

AU

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

0.40

0.45

Minutes

0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00 1.10 1.20 1.30 1.40 1.50 1.60 1.70 1.80 1.90 2.00 2.10 2.20 2.30 2.40 2.50 2.60 2.70 2.80

____ MeOH:H2O

____ ACN

B)

____ MeOH:H2O

____ EtOH:H2O

91

AU

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

0.40

0.45

0.50

0.55

Minutes

0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40 2.60 2.80 3.00 3.20 3.40 3.60 3.80

AU

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

0.40

0.45

0.50

0.55

Minutes

0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40 2.60 2.80 3.00 3.20 3.40 3.60

____ MeOH:H2O

____ ACN

C)

____ MeOH:H2O

____ EtOH:H2O

Figura 23. Cromatogramas mostrando as mudanças na retenção e na seletividade quando se altera o modificador orgânico utilizado na fase móvel. Diluente da amostra: ACN. A) coluna Fluorofenil. B) coluna 2-PIC. C) coluna C18. Condições cromatográficas: pressão:1500 psi, temperatura: 40 °C, FM: CO2,solvente A e modificador orgânico:H2O (95:5 v/v), solvente B, eluição por gradiente linear (0 a 20% de solvente B), vazão: 1,5 mL min-1. Detecção UV: 220 nm.

92

Analisando a Figura 23, verifica-se que a seletividade e a retenção foram

alteradas pela mudança do modificador orgânico usado na FM. Apesar de se ter

vantagens no uso de ACN como diluente da amostra, o mesmo quando empregado

como cossolvente apresentou os piores resultados (Figura 23-A e Figura 23-C), que

são corroborados pelos picos com cauda e pela incapacidade de separar a mistura

contendo os 10 analitos de interesse. Isso pode ser explicado pelo fato da ACN ser

um solvente aprótico dipolar (doa pares de elétrons)127, que gera forças direcionais

muito mais fracas que de solventes próticos. Dessa maneira, solventes apróticos

dipolares, neste caso, são incapazes de eluir os analitos apolares que interagem

fortemente com as FE que também são apolares. Na Figura 23-B, a ACN não mostrou

desempenho cromatográfico tão insatisfatório, porque foi capaz de eluir, mesmo com

cauda, analitos apolares. Isso demonstra que dependendo da polaridade da FE usada

e dos analitos a serem separados, a ACN pode fornecer bons resultados.

Para a mistura de agrotóxicos estudada, o uso de álcoois, que são

solventes próticos, altamente polares e com capacidade de formar ligação de

hidrogênio, como modificadores orgânicos, mostrou-se bastante satisfatório,

independente da FE empregada. Os resultados (Figura 23) revelaram ainda que é

possível substituir metanol por etanol, o que é interessante, por se tratar de um

solvente ambientalmente correto.69 Sendo assim, o etanol foi escolhido como

modificador orgânico da FM.

4.4 Planejamento experimental em UHPSFC

O planejamento experimental é uma ferramenta usada para verificar e

quantificar o efeito conjunto de algumas variáveis (fatores) passíveis de serem

controladas sobre uma resposta de interesse.14

No planejamento fatorial 24 com Ponto Central, foram consideradas as

seguintes respostas: fatores de retenção (k), na forma de log k128, resolução (Rs) e

fator de separação () entre os pares críticos atrazina/fluopicolida,

fenarimol/madipropamide e difenoconazol/azoxistrobina e assimetria dos compostos

clorantraniliprole, tiametoxan e imidacloprido.

93

Os efeitos significativos foram selecionados com base no gráfico de

probabilidade Normal e incluídos no modelo obtido por regressão linear múltipla, os

quais podem ser representados, de uma maneira geral, pela Equação 6. Vale

ressaltar que foram incluídos nos modelos apenas os coeficientes significativos e

aqueles necessários para manter a hierarquia, ou seja, nem todos os modelos

apresentaram todos os coeficientes mostrados na Equação 6.

43211234432234

431134421124321123433442243223

4114311321124433221104321 ),,,(ˆ

xxxxbxxxb

xxxbxxxbxxxbxxbxxbxxb

xxbxxbxxbxbxbxbxbbxxxxy

(6)

onde bi representa os coeficientes correspondentes aos efeitos dos fatores e bij, bijk e

bijkl os efeitos de interação binária, terciária e quaternária, respectivamente.

4.4.1 Resultados para a modelagem dos fatores de retenção

Os modelos construídos com os efeitos selecionados foram avaliados

empregando-se Análise da Variância (ANOVA), quanto à significância de regressão,

sendo que todos os modelos apresentaram regressão significativa, ou seja, a

alteração dos fatores experimentais acarreta de fato uma alteração nas respostas

estudadas.

Os fatores significativos foram identificados por meio do gráfico de

Probabilidade Normal.

São mostrados nas Figura 24, Figura 25 e Figura 26 os gráficos de

probabilidade Normal para a modelagem de retenção de três analitos: um composto

pouco retido (lambda-cialotrina), um com retenção intermediária (mandipropamida) e

um composto mais retido (imidacloprido).

94

Figura 24. Gráfico de probabilidade normal para o agrotóxico lambda-cialotrina.

Figura 25. Gráfico de probabilidade normal para o agrotóxico mandipropamida.

95

Figura 26. Gráfico de probabilidade normal para o agrotóxico imidacloprido.

No gráfico de Probabilidade Normal dos Efeitos, quanto mais longe da reta

centrada em zero mais significativo é o efeito. Desta maneira, como é possível

observar nas Figuras 24 a 26 para alguns analitos, apenas os efeitos principais foram

significativos, enquanto para outros as interações também se apresentaram

significativas, o que justifica o uso de métodos de planejamento experimental para a

otimização do sistema.

De uma maneira geral, o modificador orgânico apresentou um efeito

negativo, ou seja, diminui a retenção quando se aumenta a sua quantidade na fase

móvel (isso decorre do fato de que o modificador orgânico em grande quantidade

recobre os silanóis residuais reduzindo a energia de interação com os analitos e,

consequentemente, diminui a retenção), a temperatura apresentou um efeito positivo,

ou seja, a retenção é aumentada quando a temperatura é elevada (como em altas

temperaturas existe aproximação do estado gasoso, a densidade da FM é pequena,

o que reduz a solubilidade dos analitos e aumenta sua retenção na FE) e a pressão

apresentou um efeito negativo, ou seja, diminui a retenção, pois ao se elevar a pressão

mantendo a temperatura constante o fluído se torna mais denso e tende a favorecer

96

a solubilidade dos analitos na FM. Foi observado também que a fase estacionária

afetou de forma muito significativa a retenção da maioria dos compostos, devido à

alteração de seletividade.

A capacidade de previsão dos modelos foi avaliada pelos gráficos de

valores previstos vs valores reais, gráfico de resíduos e ajuste dos pontos às

superfícies de resposta. Tais gráficos servem para demonstrar a qualidade das

previsões e do ajuste na regressão. As Figuras 27 e 28 mostram, respectivamente,

os gráficos de valores previstos vs valores reais e os gráficos de resíduos para o

analito mandipropamida, de retenção intermediária, de forma a ilustrar como foi

realizada a avaliação dos modelos. De acordo com estas figuras o modelo tem boa

capacidade preditiva, além disso os resíduos apresentam uma distribuição aleatória

próxima do zero, o que demonstra ajuste do modelo e confirma que as previsões

realizadas pelo mesmo estimarão os coeficientes com variância mínima e

constante.129

Figura 27. Gráfico de valores previstos pelo modelo vs valores reais para o agrotóxico mandipropamida.

97

Figura 28. Gráficos de resíduos padronizados para o analito mandipropamida: A) gráfico de valores previstos vs resíduos padronizados e B) gráfico de experimento vs resíduos padronizados.

A Figura 29 mostra as superfícies de resposta para a retenção deste

analito em função das diversas variáveis experimentais.

A)

B)

98

A) Etanol: 15 %

Coluna 2-PIC

B) Etanol: 25 %

Coluna 2-PIC

C) Etanol: 15 %

Coluna Fluorofenil

D) Etanol: 25 %

Coluna Fluorofenil

Figura 29. Superfícies de resposta para a retenção do agrotóxico mandipropamida em função da temperatura, pressão, modificador orgânico e FE.

99

Comparando-se os gráficos A e B da Figura 29 é possível verificar que

conforme a porcentagem de modificador aumenta a retenção diminui, conforme já

discutido. Pela comparação dos gráficos A e C e de B e D da Figura 29 pode-se

verificar que também existe alteração na retenção causada pela mudança de fase

estacionária.

Resultados para resolução

Da mesma maneira que para a retenção dos analitos, também foram

construídos modelos para descrever a separação dos mesmos, por meio dos valores

de Resolução e Fator de Separação (α) dos pares críticos. A Análise da Variância

apresentou regressão significativa para todos os modelos. Os gráficos de valores

previstos vs valores reais são mostrados nas Figuras 30 a 33.

Figura 30. Gráfico de valores previstos pelo modelo vs valores reais para resolução do par atrazina e fluopicolida.

100

Figura 31. Gráfico de valores previstos pelo modelo vs valores reais para resolução do par fenarimol e azoxistrobina.

Figura 32. Gráfico de valores previstos pelo modelo vs valores reais para resolução do par fenarimol e mandipropamida.

101

Figura 33. Gráfico de valores previstos pelo modelo vs valores reais para resolução do par difenoconazol e azoxistrobina.

Os modelos para resolução apresentaram melhor ajuste do que aqueles

construídos com os fatores de separação (α) e, por este motivo os últimos não serão

mostrados. Após a avaliação dos modelos para a resolução dos pares críticos, foi

adotado o procedimento de otimização simultânea de mais de uma resposta, por meio

da sobreposição dos mapas de contorno e funções de desejabilidade de Derringer e

Suich para encontrar a condição experimental que levasse à separação necessária.

O procedimento de sobreposição de mapas de contorno baseia-se na

delimitação de regiões aceitáveis para cada resposta e na intersecção destas regiões

para todas as respostas de modo a gerar um mapa que indique as condições

experimentais que satisfaçam todas as respostas. Dependendo do objetivo do

experimento e do comportamento das respostas pode não ser possível encontrar uma

região comum. O procedimento de Derringer e Suich envolve o conceito de

desejabilidade para a otimização simultânea de várias respostas.130 Cada resposta yi

tem associado um valor de desejabilidade parcial, di. Este valor varia de 0 a 1 de

acordo com a proximidade com o valor desejado da resposta. Primeiramente o valor

de cada resposta é calculado a cada ponto do domínio experimental através das

equações dos modelos. Então, se empregando funções pré-determinadas de acordo

102

com o objetivo do experimento (maximização/minimização/região aceitável, alvo, etc)

o valor de desejabilidade parcial é calculado para todos os pontos do domínio

experimental. Finalmente, os valores individuais de desejabilidade são combinados

em uma função de desejabilidade global (D) através da média geométrica e o

problema torna-se então maximizar este número. É importante ressaltar que todo o

procedimento de busca do ótimo é realizado empregando-se as equações dos

modelos construídos para cada uma das respostas e, desta maneira, é importante que

eles tenham sido obtidos através de um planejamento estatisticamente fundamentado

e que tenham sido avaliados quanto à significância de regressão e falta de ajuste.

O gráfico de sobreposição é mostrado na Figura 34. Neste gráfico, a área

em cinza indica que a resolução simultânea de todos os pares de compostos não foi

alcançada. A região em amarelo indica que a resolução simultânea foi alcançada,

empregando as condições experimentais que delimitam a região. É possível verificar

que na coluna Fluorofenil não existe nenhuma condição que leve à separação

completa de todos os analitos. Na coluna 2-PIC, não existe uma região em amarelo

quando se trabalha a 25 ºC, e esta região aumenta conforme se aumenta a

temperatura, alcançando-se uma região ampla a 50 ºC e abaixo de 1900 psi. Dentro

desta região, a porcentagem final do modificador não causa diminuição da resolução

para valores inferiores a 2 e, portanto, pode ser considerada uma região robusta de

trabalho. A Tabela 10 mostra os valores previstos para o modelo vs valores obtidos

experimentalmente para dois pontos dentro da região amarela.

Tabela 10. Valores previstos para o modelo vs valores obtidos experimentalmente para dois pontos dentro da região amarela da Figura 34-B, para a coluna 2-PIC.

15% EtOH

1500 psi

25% EtOH

1500 psi

Resolução Previsto Experimental Previsto Experimental

Atrazina/fluopicolida 3,05 2,99 2,95 3,44

Fenarimol/azoxistrobina 2,25 2,16 2,37 2,34

Fenarimol/mandipropamide 4,91 5,14 4,02 4,24

Difenoconazol/azoxistrobina 4,46 4,41 4,17 4,13

103

A) Fluorofenil

B) 2-PIC

Figura 34. Gráficos de sobreposição. Resolução simultânea para os pares fenarimol e mandipropamida e atrazina e fluopicolida. A) Coluna Fluorofenil com variação da temperatura de 25 para 50 °C. B) Coluna 2-PIC com variação da temperatura de 25 para 50 °C.

25 °C

25 °C

50 °C

50 °C

104

As Figura 35 e 36 mostram as superfícies de desejabilidade, considerando

igual aceitação para a região compreendida entre resolução mínima de 2 e o maior

valor de resolução observado para cada par de compostos. Nestas figuras pode-se

inferir que para a coluna 2-PIC, com o aumento da temperatura para região de

aproximadamente 50 °C é possível alcançar separação com resolução maior que 2

para os pares críticos. Já para a coluna Fluorofenil, Figura 36, independentemente de

mudanças no fator temperatura, por exemplo, não é possível separação completa dos

pares críticos com resolução igual ou acima do determinado.

Figura 35. Superfícies de desejabilidade para a região compreendida entre resolução mínima de 2 e o maior valor de resolução observado para cada par de compostos na coluna 2-PIC. A) 25 °C. B) 50 °C.

A)

B)

105

A Figura 37 mostra as superfícies de resposta para a resolução dos quatro

pares de compostos na coluna 2-PIC, com temperatura de 50 °C, ilustrando que de

fato a resolução > 2 foi alcançada nestas condições.

Figura 36. Superfícies de desejabilidade para a região compreendida entre resolução mínima de 2 e o maior valor de resolução observado para cada par de compostos na coluna Flourfenil. A) 25 °C. B) 50 °C

106

4.4.2 Assimetria

Também se avaliou o parâmetro assimetria. Para isso foi considerado o

limite de até 1,25, que é um valor onde o Design Space não muda e existe assimetria

aceitável para os compostos clorantraniliprol e Imidacloprido, cujos valores reais

concordam com os previstos pelo modelo, como mostram as Figuras 38 e 39. Para o

tiametoxam a regressão não é significativa, de modo que ao variar dos fatores do

planejamento a assimetria não é afetada.

Figura 37. Superfícies de resposta para a resolução dos quatro pares críticos na coluna 2-PIC, com temperatura de 50 °C e resolução maior que 2.

107

Figura 38. Gráfico de valores previstos pelo modelo vs valores reais para o agrotóxico clorantraniliprol.

Figura 39. Gráfico de valores previstos pelo modelo vs valores reais para o agrotóxico Imidacloprido.

108

A Tabela 11 mostra os valores previstos para o modelo vs valores obtidos

experimentalmente para assimetria dos compostos clorantraniliprol e imidiclorido para

dois pontos dentro da região amarela da Figura 34-B.

Tabela 11. Valores de assimetria previstos para o modelo vs valores obtidos experimentalmente para dois pontos dentro da região amarela da Figura 34-B, para a coluna 2-PIC.

15% EtOH

1500 psi

25% EtOH

1500 psi

Fator de assimetria Previsto Experimental Previsto Experimental

Clorantraniliprol 1,21 1,20 1,20 1,20

Imidacloprido 1,12 1,10 1,19 1,18

Após a avaliação das respostas do planejamento experimental observa-se,

na Figura 40, o cromatograma com a separação completa dos analitos estudados.

Desta forma, está condição foi usada para a validação do método em UHPSFC.

AU

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

Minutes

0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40 2.60

2

3

7

6 4

5

8

9 10

1

Figura 40. Cromatograma obtido na melhor condição de separação fornecida pelo planejamento experimental, na separação da mistura de agrotóxicos estudados, na concentração de 0,05 mg mL-1. Condições cromatográficas: diluente da amostra: ACN, coluna: 2-PIC, pressão:1500 psi, temperatura: 50 °C, FM: CO2 como solvente A e EtOH:H2O 95:5 (v/v) como solvente B, eluição por gradiente com variação do solvente B de 0 a 25%, volume de injeção: 1,5 µL, vazão: 1,5 mL min-1. Detecção UV: 220 nm. 1. Lambda-Cialotrina, 2. Fluopicolida, 3. Atrazina, 4. Fenarimol, 5. Mandipropamida, 6. Azoxistrobina, 7. Difenoconazol, 8. Clorantraniliprole, 9. Tiametoxam e 10. Imidacloprido.

109

4.5 Separação dos agrotóxicos usando UHPLC

Com o intuito de verificar a potencialidade da técnica de UHPSFC, buscou-

se desenvolver um método de separação empregando a técnica de UHPLC, que

contemplasse as mesmas condições de análise, ou seja, o mesmo diluente da

amostra, o mesmo modificador orgânico e temperaturas de coluna próximas. Em

cromatografia líquida, os modificadores orgânicos mais utilizados são MeOH e ACN,

devido às suas altas purezas, disponibilidades comerciais e baixas viscosidades

quando misturados com a água. Todavia, outros solventes, como o EtOH, merecem

destaque e utilização como modificadores, porque são menos tóxicos e podem

promover separações eficientes e com boa resolução para diversos compostos.

Na Figura 41 podem ser visualizados os cromatogramas obtidos usando a

UHPLC e etanol como modificador orgânico. Observando-se esta figura verifica-se,

em ambas FE utilizadas, uma inversão na ordem de eluição de alguns picos em

relação às análises realizadas empregando UHPSFC. Além disso, empregando o

mesmo programa de gradiente, a coluna Fluorofenil apresentou um desempenho

cromatográfico superior ao da coluna C18, com resolução maior que 1,5 para todos

os agrotóxicos.

Em cromatografia líquida, tanto em fase normal quanto em fase reversa, é

possível prever a ordem de eluição dos compostos analisando os valores do log P, de

modo que quanto mais polar for o analito mais retido ele será em uma FE polar.

Entretanto, analisando a ordem de eluição dos agrotóxicos em UHPSFC, observa-se,

em todas as FE testadas, um comportamento contrário ao da CL. Em UHPSFC ocorre

primeiramente a separação dos compostos apolares, que provavelmente interagem

de maneira mais intensa com a FM rica em CO2, do que com a FE, seguida pela

separação dos agrotóxicos mais polares, capazes de interagir fortemente com a FE,

possivelmente devido à presença dos grupos silanóis residuais, demandando o

aumento da polaridade da FM para serem eluídos. Apesar de os agrotóxicos apolares

terem ficado menos retidos nas colunas testadas do que os polares, em UHPSFC não

é trivial determinar a ordem de eluição com base no log P (valores mostrados na

Tabela 5) da mesma maneira que em Cromatografia Líquida, visto que na

cromatografia com fluido supercrítico a separação é influenciada, principalmente, pela

110

densidade da FM, interações dipolo-dipolo e ligações de hidrogênio resultantes da

interação do cossolvente na FM com os analitos e com a FE.83

Figura 41. Cromatogramas obtidos na separação dos agrotóxicos estudados empregando UHPLC e 2 tipos de colunas, fluorofenil e C18 com variação de porcentagem de etanol de 15 a 70%. Condições cromatográficas: temperatura: 40 °C, FM: água como solvente A e etanol como solvente B, eluição por gradiente com variação da porcentagem do solvente B (etanol) de 15 a 70% de 0 a 10 minutos, volume de injeção: 1,0 µL, vazão: 0,3 mL min-1. Solvente de injeção: ACN. Detecção em 220 nm. 1. Lambda-Cialotrina, 2. Fluopicolida, 3. Atrazina, 4. Fenarimol, 5. Mandipropamida, 6. Azoxistrobina, 7. Difenoconazol, 8. Clorantraniliprole, 9. Tiametoxam e 10. Imidacloprido

Como a coluna Fluorofenil se mostrou mais adequada para a separação

dos 10 agrotóxicos, foram avaliados os volumes de injeção que poderiam ser

AU

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

0.40

0.45

Minutes

1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 7.00 8.00 9.00 10.00

9 10

3

8

6

27

14

5

AU

0.00

0.10

0.20

0.30

0.40

0.50

0.60

0.70

Minutes

1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 7.00 8.00 9.00 10.00

9 10

3

6

8 5

71

2 e 4

Fluorofenil

C18

111

utilizados e, baseado nos resultados obtidos, verificou-se que 1,2 µL é o volume

máximo que pode ser injetado na coluna sem causar distorção dos picos.

De modo geral, a técnica de UHPLC comprovou ser apta a empregar

modificadores orgânicos de baixa toxicidade e proporcionou uma excelente separação

para os compostos selecionados. No entanto, quando comparada com a técnica de

UHPSFC, a UHPLC apresentou maior tempo análise, praticamente o triplo, e gerou

volumes de resíduos maiores.

4.6 Extração dos agrotóxicos da alface usando o método QuEChERS

O método de extração descrito por Konatu21,116 e empregado no preparo

das amostras de alface apresentou um fator de concentração de 10 vezes, o que

possibilitou a quantificação dos resíduos de agrotóxicos em concentrações iguais ou

abaixo do LMR permitido.

Após a aplicação do método de extração, avaliou-se a seletividade do

mesmo em UHPSFC-DAD e UHPLC-DAD, a partir da comparação do cromatograma

obtido para uma amostra de alface fortificada com os 10 agrotóxicos estudados com

o do extrato da matriz isenta dos analitos (amostra branco).

Examinando os cromatogramas obtidos por UHPSFC (Figura 42), nota-se

a eluição de interferentes nos tempos de retenção da Lambda-Cialotrina, Fenarimol e

Clorantraniliprol. Para UHPLC (Figura 43), observa-se a eluição de interferentes no

tempo de retenção da Atrazina e também da Lambda-Cialotrina. Essa diferença de

interferentes em UHPSFC e UHPLC pode ser explica pela inversão na ordem de

eluição que ocorreu, de modo que em UHPSFC primeiramente eluiram os analitos

apolares e em UHPLC com fase reversa (FR) foi o contrário. Apesar do método

propiciar a extração de todos os analitos estudados e gerar extratos relativamente

limpos, o mesmo não foi capaz de eliminar completamente a interferência da matriz.

Sendo assim, os analitos Lambda-Cialotrina, Fenarimol e Clorantraniliprol

e Lambda-Cialotrina e Atrazina, analisados respectivamente por UHPSFC e UHPLC,

foram excluídos da etapa de avaliação do efeito matriz e validação do método, por

apresentarem interferências, oriundas da matriz, superiores a 30%.

112

AU

-0.06

-0.04

-0.02

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

0.16

Minutes

0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40 2.60 2.80 3.00 3.20 3.40 3.60 3.80

1*

2

3 7

2 4*5

8* 910

A)

AU

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

0.16

Minutes

0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00 3.50

B)

Figura 42. UHPSFC-DAD. A) ____ Cromatogramas dos extratos do método de extração QuEChERS Citrato, obtidos usando UHPSFC-DAD. ____ Cromatograma da mistura de agrotóxicos em solvente. B) Extrato da matriz isenta de agrotóxicos (branco de referência). Condições cromatográficas semelhantes à Figura 40. Identificação dos picos: 1. Lambda-Cialotrina, 2. Fluopicolida, 3. Atrazina, 4. Fenarimol, 5. Mandipropamida, 6. Azoxistrobina, 7. Difenoconazol, 8. Clorantraniliprole, 9. Tiametoxam e 10. Imidacloprido. λ = 220 nm. (*) Interferente.

113

AU

-0.10

-0.05

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

Minutes

0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00 3.50 4.00 4.50 5.00 5.50 6.00 6.50 7.00 7.50 8.00 8.50 9.00 9.50 10.00 10.50

9 10

3*

8

6 4

5 2

7 1*

A)

AU

-0.08

-0.06

-0.04

-0.02

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

Minutes

2.00 4.00 6.00 8.00 10.00 12.00 14.00 16.00

B)

Figura 43. UHPLC-DAD. A) ____ Cromatogramas dos extratos do método de extração QuEChERS Citrato, obtidos usando UHPSFC-DAD. ____ Cromatograma da mistura de agrotóxicos em solvente. B) Extrato da matriz isenta de agrotóxicos (branco de referência). Condições cromatográficas semelhantes à Figura 41. Identificação dos picos: 1. Lambda-Cialotrina, 2. Fluopicolida, 3. Atrazina, 4. Fenarimol, 5. Mandipropamida, 6. Azoxistrobina, 7. Difenoconazol, 8. Clorantraniliprole, 9. Tiametoxam e 10. Imidacloprido. λ = 220 nm. (*) Interferente.

114

4.7 Efeito Matriz

Posteriormente à etapa de otimização dos métodos empregando UHPSFC-

DAD e UHPLC-DAD, realizou-se a avaliação do efeito matriz. Obtiveram-se os valores

do efeito matriz (%) baseados na comparação das inclinações das curvas analíticas

dos analitos (Equação 2), construídas em cinco níveis de concentração, em solvente

e no extrato da matriz (branco fortificado).

4.7.1 Efeito matriz em UHPSFC-DAD

Conforme mostrado no gráfico da Figura 44, como os valores foram

inferiores a ±20%131 o efeito matriz pode ser considerado irrelevante.

Figura 44. Percentual do efeito matriz (%) empregando QuEChERS Citrato para extração dos agrotóxicos em cultura de alface, utilizando UHPSFC-DAD. 1. Atrazina; 2. Azoxistrobina; 3. Difenoconazol; 4. Fluopicolida; 5. Imidacloprido; 6. Mandipropamida e 7. Tiametoxam.

Ao se observar a sobreposição das curvas analíticas obtidas no solvente e

na matriz (Figura 45), percebe-se o efeito matriz em UHPSFC não foi relevante,

porém, as quantificações foram feitas com superposição na matriz, já que se usaram

as mesmas amostras em UHPLC.

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

Efe

ito

Mat

riz

(%)

Agrotóxicos

1 2 3 4 5 6

1

7

115

Figura 45. Continua na página seguinte

y = 72771x - 1758,5R² = 0,9999

y = 72929x + 6720,6R² = 0,9992

0

20000

40000

60000

80000

100000

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2

Áre

a

Concentração (mg kg-1)

Atrazina

y = 23244x - 149,93R² = 0,9977

y = 22331x + 416,07R² = 0,9968

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

0,3 0,5 0,7 0,9 1,1 1,3

Difenoconazol

y = 37190x - 862,67R² = 0,999

y = 38046x - 284,87R² = 0,9987

5000

15000

25000

35000

45000

55000

0,3 0,5 0,7 0,9 1,1 1,3

Áre

a

Concentração (mg kg-1)

Imidacloprida

y = 34773x - 1271,5R² = 0,9997

y = 32568x + 4883,1R² = 0,9825

0

12000

24000

36000

48000

60000

0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6

Áre

a

Concentração (mg kg-1)

Azoxistrobina

y = 18320x - 429,13R² = 0,9994

y = 17748x - 922,6R² = 0,9997

0

5000

10000

15000

20000

25000

0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4

Áre

a

Concentração (mg kg-1)

Fluopicolida

y = 18189x - 808,2R² = 0,9999

y = 17285x + 1675,2R² = 0,9867

0

5000

10000

15000

20000

25000

0,3 0,5 0,7 0,9 1,1 1,3

Áre

a

Concentração (mg kg-1)

Mandipropamida

Solvente

Matriz

Solvente

Matriz

Solvente

Matriz Solvente

Matriz

Solvente

Matriz

Solvente

Matriz

116

Figura 45. Efeito matriz dos analitos utilizando a UHPSFC-DAD. Curvas analíticas construídas a partir de soluções padrão de agrotóxicos no extrato da matriz e em solvente.

4.7.2 Efeito matriz em UHPLC-DAD

Para o UHPLC-DAD, os valores de efeito matriz também ficaram abaixo de

±20% (Figura 46), todavia foram mais pronunciados que em UHPSFC-DAD para os

compostos Azoxistrobina e Fenarimol.

Figura 46. Percentual do efeito matriz (%) empregando QuEChERS Citrato para extração dos agrotóxicos em cultura de alface utilizando UHPLC-DAD. 1. Azoxistrobina; 2. Clorantraniliprol; 3. Difenoconazol; 4. Fenarimol; 5. Fluopicolida; 6. Imidacloprido; 7. Mandipropamida e 8. Tiametoxam.

y = 22153x - 716,53R² = 0,9984

y = 24272x + 3735,5R² = 0,9981

500

8500

16500

24500

32500

40500

0,3 0,5 0,7 0,9 1,1 1,3

Áre

a

Concentração (mg kg-1)

Tiametoxam

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Efe

ito

Mat

riz

(%)

Agrotóxicos

Solvente

Matriz

1 2 3 4 5 6 7 8

117

Analisando a sobreposição das curvas analíticas obtidas no solvente e na

matriz (Figura 47), percebe-se que as curvas dos analitos Azoxistrobina, Fenarimol e

Imidacloprida se cruzam.

Figura 47. Continua na página seguinte

y = 179934x - 5511,7R² = 0,9992

y = 204305x - 18493R² = 0,9945

0

50000

100000

150000

200000

250000

0,3 0,5 0,7 0,9 1,1 1,3

Áre

a

Concentração (mg kg-1)

Azoxistrobina

y = 125464x - 2631,4R² = 0,9998

y = 128729x + 4444,5R² = 0,9818

0

30000

60000

90000

120000

150000

0,1 0,3 0,5 0,7 0,9 1,1

Áre

a

Concentração (mg kg-1)

Difenoconazol

Solvente

Matriz

y = 21046x - 676,4R² = 0,9987

y = 22753x - 1920,9R² = 0,9926

0

6000

12000

18000

24000

30000

0,3 0,5 0,7 0,9 1,1 1,3

Áre

a

Concentração (mg kg-1)

Fluopicolida

y = 180357x - 644,29R² = 0,9994

y = 197318x - 1928,5R² = 0,9944

0

35000

70000

105000

140000

175000

0 0,2 0,4 0,6 0,8

Áre

a

Concentração (mg kg-1)

Imidacloprida

y = 111596x - 1703,9R² = 0,9996

y = 115006x - 3950,8R² = 0,9905

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

0,1 0,3 0,5 0,7 0,9 1,1

Áre

a

Concentração (mg kg-1)

Clorantraniliprol

Solvente

Matriz

Solvente

Matriz

y = 34330x - 722,6R² = 0,9996

y = 39796x - 1359,3R² = 0,9848

0

12000

24000

36000

48000

60000

0,3 0,5 0,7 0,9 1,1 1,3

Áre

a

Concentração (mg kg-1)

Fenarimol

Solvente

Matriz

Solvente

Matriz

Solvente

Matriz

118

O cruzamento das retas confirma a existência de efeito matriz21 que foi

muito mais pronunciado em UHPLC-DAD que em UHPSFC-DAD, que leva a crer que

tal efeito não depende apenas do detector empregado (apesar de existirem poucos

estudos, sabe-se que não apenas o detector pode causar efeito matriz), mas também

da técnica cromatográfica empregada, da coluna e/ou das conexões entre coluna e

detector.132, 133

Apesar dos valores de efeito matriz tanto em UHPSFC como em UHPLC,

terem sido inferiores a ±20%131, decidiu-se realizar a quantificação dos agrotóxicos

usando o método por superposição da matriz em ambas as técnicas cromatográficas,

para maior confiabilidade nos resultados, uma vez que para três agrotóxicos em

UHPLC ocorreu o cruzamento das suas curvas analíticas feitas em solvente e na

matriz.

4.8 Quantificação e Validação dos Métodos

Os métodos de separação multirresíduos para quantificação de alguns

agrotóxicos aplicados na cultura da alface, empregando UHPSFC-DAD e a UHPLC-

DAD foram validados de acordo com os parâmetros sugeridos pelo guia internacional

de validação SANTE/11945/2015.115 Nesta etapa, avaliaram-se os parâmetros

y = 84720x - 642,6R² = 0,9996

y = 81136x + 23746R² = 0,9858

0

30000

60000

90000

120000

150000

0,3 0,5 0,7 0,9 1,1 1,3

Áre

a

Concentração (mg kg-1)

Tiametoxam

y = 20354x - 318,47R² = 0,9995

y = 20545x - 3795R² = 0,9924

0

6000

12000

18000

24000

30000

0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2

Áre

a

Concentração (mg kg-1)

Mandipropamida

Solvente

Matriz Solvente

Matriz

Figura 47. Efeito matriz dos analitos utilizando UHPLC-DAD. Curvas analíticas construídas a partir de soluções padrão de agrotóxicos no extrato da matriz e em solvente.

119

seletividade, linearidade, limite de quantificação (LQ), exatidão (dada em termos de

recuperação) e precisão (repetibilidade e precisão intermediária).

A seletividade foi avaliada em ambos os métodos, pela comparação dos

cromatogramas obtidos após análises da amostra branca de alface, da amostra

fortificada, dos analitos no solvente, da FM e do solvente de injeção.

Para UHPSFC-DAD, a presença de interferentes (Figura 42) com

intensidade superior a 30% ao LQ ocasionou a exclusão dos analitos Clorantraniliprol,

Fenarimol e Lambda-Cialotrina do processo de validação. Para os demais agrotóxicos

estudados não se observou interferência significativa, usando para detecção o

comprimento de onda de 220 nm. Todavia, o método para Imidacloprido foi validado

em 270 nm, uma vez que este comprimento de onda corresponde ao de maior

absorção.

Para UHPLC-DAD observou-se a presença de interferentes originários da

matriz no mesmo tempo de retenção dos agrotóxicos Atrazina e Lambda-Cialotrina

(Figura 43). Além disso, quando se injeta apenas FM percebe-se entre o tempo de

6,5 a 7,5 minutos um pico alargado, em 220 nm, com uma absorção igual ou maior

que a dos analitos que eluem neste tR, como mostra a Figura 48. Como em

comprimentos de onda maiores que 240 nm não se observou tal acontecimento, os

métodos para Fenarimol e Mandipropamida foram validados empregando-se o

comprimento de onda de 240 nm, e para Fluopicolida em 270 nm. Por uma maior

detectabilidade, Imidacloprido e Tiametoxam foram validados usando os

comprimentos de onda de 270 nm e 210 nm, respectivamente.

120

Figura 48. Cromatograma da FM usando UHPLC-DAD na avaliação da seletividade. Condições cromatográficas idênticas a da Figura 41.

A Tabela 12 e a Tabela 13 apresentam os resultados obtidos na validação

dos métodos desenvolvidos empregando UHPSFC e UHPLC, respectivamente.

Tabela 12. Resultados dos parâmetros de validação do método desenvolvido utilizando UHPSFC-DAD

Exatidão RRepetividade

Precisão

intermediária

Agrotóxicos

Faixa

linear* (mg

kg-1) Recuperação (%) CV (%) CV (%) r

Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 2 Nível 2

Atrazina 0,2 -1,0 86 91 100 4 5 1,000

Azoxistrobina 0,6 - 1,5 111 122 118 3 11 0,991

Difenoconazol 0,4 - 1,2 84 91 84 8 4 0,998

Fluopicolida 0,4 - 1,2 106 114 112 6 12 1,000

Imidacloprido 0,4 - 1,2 100 112 109 4 7 0,999

Mandipropamida 0,4 - 1,2 88 102 103 4 4 0,993

Tiametoxam 0,4 - 1,2 72 82 87 5 8 0,999

*curvas analíticas obtidas por padronização externa com superposição da matriz

AU

-0.005

0.000

0.005

0.010

0.015

0.020

0.025

0.030

0.035

Minutes

1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 7.00 8.00 9.00 10.00

121

Tabela 13. Resultados dos parâmetros de validação do método desenvolvido utilizando UHPLC-DAD

Exatidão RRepetividade

Precisão

intermediária

Agrotóxicos

Faixa

linear* (mg

kg-1) Recuperação (%) CV (%) CV (%) r

Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 2 Nível 2

Azoxistrobina 0,4 - 1,2 96 101 100 1 8 0,997

Clorantraniliprole 0,2 - 1,0 92 100 97 3 3 0,995

Difenoconazol 0,2 - 1,0 127 111 123 3 5 0,991

Fenarimol 0,4 - 1,2 76 79 77 5 6 0,992

Fluopicolida 0,4 - 1,2 88 93 93 3 5 0,996

Imidacloprido 0,1 - 0,8 94 104 104 3 3 0,997

Mandipropamide 0,4 - 1,2 105 104 99 2 3 0,996

Tiametoxam 0,4 - 1,2 140 94 115 5 3 0,993

*curvas analíticas obtidas por padronização externa com superposição da matriz

Nas Tabelas 12 e 13, o LQ equivale ao limite inferior da faixa linear. Os

níveis 1, 2 e 3 correspondem a fortificações no nível baixo, 0,8 mg kg-1, médio, 1,0 mg

kg-1 e alto, 1,1 mg kg-1.

Analisando a Tabela 12 e a Tabela 13 tem-se que as curvas analíticas para

cada analito foram lineares na faixa de concentração de 0,2-1,5 mg kg-1 (UHPSFC) e

de 0,1-1,2 mg kg-1 (UHPLC), com coeficientes de correlação na faixa de 0,991-1,000

para UHPSFC e 0,991-0,997 para UHPLC. As recuperações médias obtidas nos três

níveis de fortificação foram 72-122% para UHPSFC e 76-140% para UHPLC, com CV

<20% para precisão em ambas as técnicas.

Também foram feitos os cálculos dos resíduos estatísticos para as curvas

analíticas obtidas para os agrotóxicos avaliados por UHPSFC e UHPLC. Como

exemplificado na Figura 49 para o Mandipropamida, os resíduos estão distribuídos

aleatoriamente em torno do zero e com erro relativo menor que ±20%.131

122

Figura 49. Gráfico dos resíduos estatísticos, apresentado em termos de erros relativos, para o agrotóxico Mandipropamida.

A equação da reta das curvas analíticas empregadas e os valores de erro

relativo para todos os analitos avaliados por UHPSFC e UHPLC estão mostrados na

Tabela 14 e na Tabela 15.

Tabela 14. Equação da reta das curvas analíticas para os agrotóxicos estudados usando UHPSFC-DAD e valores dos erros relativos (%) obtidos através dos cálculos dos resíduos estatísticos.

Agrotóxicos Equação da reta Erro Relativo (%)

Atrazina y = 7292850,0x + 6720,6 -2,1 a 1,4

Azoxistrobina y = 3256771,9x + 4883,2 -7,3 a 3,5

Difenoconazol y = 2233100,0x + 416,1 -3,3 a 1,9

Fluopicolida y = 1774816, 7x - 922,6 -1,4 a 0,7

Imidacloprido y = 3804600,0x - 284,9 -2,6 a 2,2

Mandipropamida y = 1728516,7x + 1.675,2 -7,7 a 4,1

Tiametoxam y = 2427200,0x + 3735,5 -2,6 a 1,1

-10

-5

0

5

10

15

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4

Err

o R

ela

tivo (

%)

Concentração (mg kg-1)

123

Tabela 15. Equação da reta das curvas analíticas para os agrotóxicos estudados usando UHPLC-DAD e valores dos erros relativos (%) obtidos através dos cálculos de resíduos estatísticos.

Agrotóxicos Equação da reta Erro Relativo (%)

Azoxistrobina y = 20430450,0x - 18493,4 -3,7 a 4,1

Clorantraniliprole y = 11500600,0x - 3950,8 -9,0 a 15,0

Difenoconazol y = 12872850,0x + 4444,5 -12,6 a 8,1

Fenarimol y = 3979550,0x - 1359,3 -6,6 a 7,2

Fluopicolida y = 2275333,3x - 1920,9 -4,7 a 4,5

Imidacloprido y = 19731778,5x - 1928,5 -4,8 a 9,7

Mandipropamide y = 2054450,0x - 3795,0 -8,3 a 12,9

Tiametoxam y = 8113566,7x + 23745,7 -7,1 a 4,1

De modo geral, o uso do método QuEChERS Citrato com as condições

descritas por Konatu21,116 permitiu, tanto usando UHPSFC como UHPLC, a obtenção

de limites de quantificação abaixo do LMR para todos os agrotóxicos estudados que

tinham estes valores estabelecidos.

4.9 Aplicação do método desenvolvido em amostras de alface

O método desenvolvido foi utilizado para investigar a ocorrência de

agrotóxicos em cinco amostras de alface (duas cultivadas em solo e três cultivadas

em hidroponia) compradas nos mercados de Campinas/São Paulo.

Nas amostras de alface cultivadas no solo, nenhum dos analitos analisados

foi detectado. Já nas alfaces provenientes de cultura hidropônica, resíduo do

agrotóxico Imidacloprido foi detectado em apenas uma amostra e nas outras duas

amostras, os resíduos de Imidacloprido foram determinados na faixa de 0,8 a 2,6 mg

kg-1, que está acima do LMR de 0,5 mg kg-1, permitido para este agrotóxico.

124

5. CONCLUSÃO

A avaliação da potencialidade da Cromatografia com Fluido Supercrítico de

Ultra Alta Eficiência para quantificação multirresíduo de agrotóxicos aplicados à alface

foi feita comparando-se o método desenvolvido e validado por UHPSFC com aquele

desenvolvido por UHPLC, que é uma técnica estabelecida. Os resultados obtidos

mostraram que, tanto em UHPSFC quanto em UHPLC, devido às diferentes

polaridades dos agrotóxicos estudados, a eluição isocrática não foi adequada, sendo

mais indicado a eluição por gradiente.

Em UHPSFC, apesar do uso de grandes quantidades de água não ser

possível, devido à diferença da sua polaridade com o CO2, o emprego de uma

pequena porcentagem de água juntamente com o modificador orgânico foi de

fundamental relevância para obtenção de repetibilidade nos resultados. Devido a

utilização de água como componente da FM em UHPLC, o problema da formação do

silil éter que ocorre na ausência de água é evitado.

Em ambas as técnicas, solventes apróticos como a ACN se mostraram

adequados para serem usados como diluentes, porque permitiram a injeção de um

volume de amostra razoável, nem muito grande para distorcer os picos e nem muito

pequeno por se tratar de análise em nível de traços.

O emprego do planejamento experimental fatorial 24 com ponto central

permitiu compreender a influência dos fatores experimentais na retenção dos analitos

e obter as condições que levaram à separação completa dos mesmos na mistura por

UHPSFC. Além disso, possibilitou a avaliação da robustez do método durante seu

desenvolvimento.

Os resultados obtidos mostraram que a técnica de UHPSFC é promissora

para a separação da mistura de agrotóxicos estudada, pois se utilizou um volume

reduzido de solvente orgânico (0,975 mL x 2,100 mL para UHPLC), gerou-se baixa

quantidade de resíduos e o tempo de análise foi muito menor do que o obtido em

UHPLC (5,1 min x 16,1 min em UHPLC).

A técnica de UHPSFC opera a pressões muito inferiores à de UHPLC, o

que causa menor desgaste do sistema cromatográfico e pode aumentar a vida útil das

FE empregadas. Em UHPSFC, independentemente do tipo de coluna utilizada,

125

primeiramente eluem os compostos menos polares e depois os mais polares, ordem

de eluição contrária à obtida em UHPLC. Ademais, em UHPLC, tanto em fase normal

quanto em fase reversa, pode-se prever a ordem de eluição dos compostos

analisando os valores do log P, o que não se consegue em UHPSFC. Usando FR em

UHPLC, quanto mais polar for o analito menos retido ele será em uma FE apolar.

Os métodos de separação multirresíduo desenvolvidos empregando

UHPSFC e UHPLC foram validados de acordo com as figuras de mérito seletividade,

linearidade, limite de quantificação (LQ), exatidão (em termos de recuperação) e

precisão (repetibilidade e precisão intermediária). Dos 10 agrotóxicos estudados,

obteve-se seletividade para sete analitos em UHPSFC e para oito em UHPLC. A curva

analítica para cada analito foi linear na faixa de concentração de 0,2-1,5 mg kg-1

(UHPSFC) e de 0,1-1,2 mg kg-1 (UHPLC) com coeficientes de correlação na faixa de

0,991-1,000 para UHPSFC e 0,991-0,997 para UHPLC. As recuperações médias

obtidas para três níveis de fortificação (0,8, 1,0 e 1,1 mg kg-1) foram 72-122% para

UHPSFC e 76-140% para UHPLC, com precisão menor que 20% em ambas as

técnicas. Isso mostra que os limites de quantificação, exatidão e precisão de UHPSFC

são similares aos obtidos por UHPLC e ambas as técnicas podem ser empregadas na

análise multirresíduo de agrotóxicos em amostras de alface.

Após a validação dos métodos, os resultados obtidos na análise de cincos

amostras de alface adquiridas no comércio de Campinas/SP, usando a UHPSFC e a

UHPLC, foram concordantes e revelaram que das cinco amostras estudadas, duas

continham resíduos de Imidacloprido acima do LMR (na faixa de 0,8 a 2,6 mg kg-1).

Como os resíduos de agrotóxicos acima do LMR permitido podem causar efeitos

nocivos à saúde do consumidor em longo prazo, é imprescindível o monitoramento

dessas culturas, afim de que produtos de qualidade sejam disponibilizados e a

UHPSFC, devido ao seu rápido tempo de análise e baixa geração de resíduos pode

ser uma alternativa viável às técnicas de análise usuais.

Apesar dos avanços, é necessário expandir estudos envolvendo a técnica

de UHPSFC, visto que muitos mecanismos envolvidos nas separações ainda não

estão elucidados. O uso da ferramenta de planejamento experimental é muito

importante, pois permite a quantificação dos efeitos dos fatores e suas, gerando uma

ampla compreensão do sistema e sua otimização efetiva.

126

A UHPSFC se mostrou uma técnica com grande potencial de separação,

rápida, com baixa geração de resíduo e complementar às técnicas de cromatografia

líquida e gasosa. O método desenvolvido e validado atende a seis dos 12 princípios

da Química Analítica Verde134, pois dispensa a derivação, gera pouco resíduo, é um

método multirresíduo, emprega solventes de fontes renováveis, o uso de reagentes

tóxicos foi eliminado ou substituído e existe aumento da segurança do operador. Isto

reduz o impacto negativo da análise química e torna o método mais favorável ao meio

ambiente. Além disso, o método desenvolvido se mostrou inovador, uma vez que,

como descrito no item 1.5, não há relatos na literatura de separação multirresíduo de

agrotóxicos empregando a técnica de UHPSFC e nem da utilização de ferramentas

quimiométricas para sua otimização.

127

6. REFERÊNCIAS

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causa do uso intensivo. Dissertação. Universidade Federal de Goiás, 2002.

3Latorraca, A., Marques, G. J. G., Sousa, K. V., Fornés, N.S. Agrotóxicos utilizados na

produção do tomate em Goiânia e Goianápolis e efeitos na saúde humana.

Comunicação em Ciências Saúde, 19(4), 365-374, 2008.

4Sabin, G. P. Desenvolvimento e validação de método utilizando SPE e CG-MS para

determinação multirresíduo de pesticidas em água potável. Dissertação. Universidade

Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul, 2007.

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associada à espectrometria de massas acoplada à espectrometria de massas na

análise de compostos tóxicos em alimentos. Química Nova, 31 n°3, p. 623-636, 2008.

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7Skoog, A. D., West, D. M., Holler, F. J., Crouch, R. S. Fundamentos de Química

Analítica. Editora Thomson. 8ª edição. 2005.

8Maldaner L, Jardim ICSF. UHPLC – Uma abordagem atual: desenvolvimentos e

desafios recentes. Scientia Chromatographica, v. 4(3), p. 197-207, 2012.

9Lenardão, E. J, Freitag, R. A., Dabdoub, M. J., Batista, A. C. F, Silveira, C. C. “Green

Chemistry” – os 12 princípios da química verde e sua inserção nas atividades de

ensino e pesquisa. Química Nova, v. 26, n° 1, p. 123-129, 2003.

10Waters. Getting Started with UltraPerformance Convergence Chromatography. A

Practitioner’s Guide for Utilizing UPC2 in the Chromatographic Laboratory. 2013.

11Capello, C., Fischer, U., Hungerbühler, K. What is a green solvent? A comprehensive

framework for the environmental assessment of solvents. Green Chemistry, v. 9,

p927–934, 2007.

128

12Lesellier, E., West, C. The many faces of packed column supercritical fluid

chromatography – A critical review. Journal Chromatography A, v.1382, p. 2–46, 2015.

13Nováková, L., Perrenoud, A. G. G., Francois, I., West, C., Lesellier, E., Guillarme, D.

Modern analytical supercritical fluid chromatography using columns packed with sub-

2 µm particles: A tutorial. Analytica. Chimica. Acta, v. 824, p. 18–35, 2014.

14Neto, B. B., Scarminio, I. S., Bruns, R. E. Como fazer experimentos: pesquisa e

desenvolvimento na ciência e na indústria. Editora Unicamp. 2ª edição, 2001.

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