universidade estadual de campinas instituto de … · 2019. 10. 29. · científico para descobrir...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE BIOLOGIA
ANDRESSA BRUSCATO
ANÁLISE PROTEÔMICA DO METABOLISMO DE CARBOIDRATOS DE ISOLADOS
DE TRYPANOSOMA CRUZI DE PACIENTES PORTADORES DE DIFERENTES FORMAS
CLÍNICAS DA DOENÇA DE CHAGAS
PROTEOMIC ANALYSIS OF CARBOHYDRATE METABOLISM OF
TRYPANOSOMA CRUZI ISOLATES FROM PATIENTS BEARING DISTINCT CHAGAS
DISEASE CLINICAL FORMS
CAMPINAS
2018
ANDRESSA BRUSCATO
ANÁLISE PROTEÔMICA DO METABOLISMO DE CARBOIDRATOS DE ISOLADOS
DETRYPANOSOMA CRUZI DE PACIENTES PORTADORES DE DIFERENTES FORMAS
CLÍNICAS DADOENÇA DE CHAGAS
PROTEOMIC ANALYSIS OF CARBOHYDRATE METABOLISM OF
TRYPANOSOMA CRUZI ISOLATES FROM PATIENTS BEARING DISTINCT CHAGAS
DISEASE CLINICAL FORMS
Dissertação apresentada ao Instituto de Biologia da
Universidade Estadual de Campinas como parte dos
requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestra
em Biologia Funcional e Molecular, na área de
Bioquímica
Dissertation presented to the Institute of Biology of the
University of Campinas in partial fulfillment of the
requirements for the degree of Functional and
Molecular Biology, Biochemistry area
Orientador: Prof.ª Drª Fernanda Ramos Gadelha
CAMPINAS
2018
ESTE ARQUIVO DIGITAL CORRESPONDE À
VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA
PELA ALUNA ANDRESSA BRUSCATO E
ORIENTADA PELA PROFª. DRª. FERNANDA
RAMOS GADELHA
Campinas, 03 de Agosto de 2018.
COMISSÃO EXAMINADORA
Prof.ª Drª Fernanda Ramos Gadelha
Prof.ª Drª Beatriz Simonsen Stolf Carboni
Prof.ª Drª Helena Cristina de Lima Barbosa Sampaio
Os membros da Comissão Examinadora acima assinaram a Ata de Defesa, que se encontra no
processo de vida acadêmica do aluno.
AGRADECIMENTOS
Chegar até aqui não foi um caminho fácil. Ninguém disse que seria, entretanto, nunca
imaginei tantas curvas sinuosas. Mas, durante tal trajeto houve muito aprendizado,
autoconhecimento, superação e companheiros que, já levava, levarei para toda vida.
Sabe-se que toda criança por si é um cientista, afinal realiza todas as etapas do método
científico para descobrir o mundo a sua volta. Observa algo novo, fica intrigado sobre o que pode ser,
literalmente, experimenta seu questionamento e, rapidamente, tem uma resposta para aquilo. Os
principais responsáveis por esse texto de dissertação são meu apoio e incentivo, aqueles que nunca
deixaram a criança presente em mim morrer, meus pais.
Já dizia o ditado que “se uma maritaca sozinha faz barulho, imagine um bando?” (sempre
achei andorinhas supervalorizadas). Aqui não me caberão agradecimentos e gratidão pela presença,
apoio e paciência. Vocês nem imaginam o que um simples “vai ficar tudo bem” impactou na minha
caminhada. Aos amigos, que independente do tempo que os conheço, estão comigo por uma vida:
Amanda, Ana, Aline, André, Atos, César, Felipe, Guilherme, Giulia, Isabella, Juliana, Karen,
Marianne, minhas Natálias: Gomes e Moncks, Patrícia e Rodrigo, Tabata. Muito obrigada, mesmo.
Aqui soarei repetitiva, porém, dizia outro ditado: “Lab partners has no end”, ô Isabel(la),
Giu(lia), Karen(zitcha), Stephanie e Tab(s)ata. Apenas agradecimentos por todas as calorias ingeridas
seja em um café da manhã, seja na feirinha e tudo o que pude aprender com cada uma de vocês. Giu
com quem dividi o período de altas emoções, em ambas dissertações. Karen, você sabe né, o que é
seu é meu e o que é nosso é nosso. Isabella e Tabata, a cada dia que passou eu vi o quanto vocês
cresceram e o quanto se tornaram incríveis profissionais, vocês nem imaginam o orgulho imenso que
tenho de vocês. Stephanie, com quem cruzei o caminho por diversas vezes durante meu tempo de
Unicamp, agradeço muito pelas palavras de conforto e sapiência técnica, em todas as ocasiões, tack.
À Drª Daianne e Melina, por ajudarem a reencontrar a motivação e o desejo de sempre ir
em frente. A retomar a confiança em meu trabalho e que adversidades ocorrem para nos deixar mais
fortes e não o contrário.
Ao professor Daniel Martins-de-Souza e seu aluno de pós-doc, Adriano Aquino, não
tenho palavras para agradecer todo o suporte e apoio durante o primeiro ano do mestrado.
À Adriana Paes Leme e Bianca Alves Pauletti, é imensurável o quanto sou grata a vocês.
Todo o apoio, esclarecimentos e cuidado com as amostras e conosco. Não tenho palavras para
agradecer, esse projeto não seria possível sem vocês.
E por último, porém não menos importante, à orientadora, professora Fernanda. Obrigada
pelo apoio, pelos dias na bancada, pelas oportunidades e por sempre estimular o cientista interior e
sempre incentivar que o ambiente (afinal, sou bióloga), seja questionado.
À Unicamp pelo espaço cedido.
À CAPES pela bolsa concedida e FAPESP pelo financiamento do projeto.
“Passe adiante o que aprendeu. Força, domínio. Mas fraqueza, tolice e fracasso também.
Fracasso, o mais importante. O maior professor, o fracasso é. Nós somos o que eles superam. Este
é o verdadeiro fardo de todos os Mestres”.
Mestre Yoda, para Luke Skywalker, Star Wars: The Last Jedi, 2017
RESUMO
A doença de Chagas, cujo agente etiológico é o Trypanosoma cruzi, apresenta diferentes
manifestações clínicas, isto é, indeterminada, cardíaca, digestiva e cardiodigestiva. A distribuição
geográfica da doença de Chagas sugere que a diversidade genética do parasita, associada ou não à do
hospedeiro, é importante para o estabelecimento das diferentes manifestações clínicas. Visando
esclarecer a contribuição do parasita para a patogênese, o objetivo desse trabalho foi comparar a
proteômica de oito isolados de pacientes portadores de diferentes formas clínicas (dois de cada forma)
com foco nas proteínas envolvidas no metabolismo de carboidratos e bioenergético. Os extratos
proteicos dos isolados foram obtidos, processados e, posteriormente, analisados em espectrômetro de
massas Orbitrap Velos. Os resultados foram tratados estatisticamente a partir de testes t-student e
ANOVA e as proteínas identificadas pelos softwares DAVID, KEGG e UNIPROT. As curvas de
proliferação desses isolados mostram um perfil semelhante entre aqueles da mesma forma clínica e,
em alguns casos, a história pregressa do paciente foi importante para explicar o comportamento do
isolado. No geral, comparando isolados dos pacientes indeterminados com as formas sintomáticas,
nota-se que há diferença na abundância das proteínas envolvidas no metabolismo bioenergético
(relacionadas à cadeia respiratória) e à estruturação das cristas mitocondriais. Interessantemente há
também diferença na abundância da anidrase carbônica e de um membro da família dos carreadores
mitocondriais, que aparentemente está relacionado ao transporte de glicose no glicossomo. Este fato
é corroborado pela análise das curvas de proliferação onde os isolados que apresentam uma queda
abrupta na fase estacionária, i.e. indeterminados e cardíacos, mostraram maior prevalência dessas
proteínas. Isso conferiria à célula uma maior dependência de glicose e maior utilização do piruvato
pelo Ciclo de Krebs. Com relação aos isolados das formas sintomáticas, quando comparados aos da
forma indeterminada, há prevalência de proteínas envolvidas no metabolismo da glicose, como a
gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase, uma enzima que já foi apontada como alvo para
desenvolvimento de fármacos. Foram encontradas, também, diferentes isoformas da trans-sialidase.
Em conjunto, os resultados apontam uma diferença no metabolismo dos isolados que podem estar
associados às diferentes formas clínicas da doença de Chagas.
ABSTRACT
Chagas disease, whose etiologic agent is Trypanosoma cruzi, presents different clinical
manifestations, that is, indeterminate, cardiac, digestive and cardiodigestive. The geographic
distribution of Chagas disease suggests that the genetic diversity of the parasite, associated or not to
that of the host, is important for the establishment of different clinical manifestations. In order to
clarify the contribution of the parasite to the pathogenesis, the objective of this work was to compare
the proteomics of eight isolates of patients with different clinical forms (two of each form) focusing
on proteins involved in carbohydrate and bioenergetic metabolism. Protein extracts from the isolates
were obtained, processed and later analyzed in Orbitrap Velos mass spectrometer. The results were
treated statistically from t-student and ANOVA tests and the proteins identified by the DAVID,
KEGG and UNIPROT software. The proliferation curves of these isolates show a similar profile
among those in the same clinical form and, in some cases, the patient's previous history was important
to explain the behavior of the isolate. In general, comparing isolates from indeterminate patients with
symptomatic forms, there is a difference in the abundance of proteins involved in bioenergetic
metabolism (related to the respiratory chain) and in the structure of mitochondrial ridges.
Interestingly, there is also a difference in the abundance of carbonic anhydrase and a member of the
mitochondrial carrier family, which is apparently related to the transport of glucose in the glycosome.
This fact is corroborated by the analysis of the proliferation curves where the isolates that show an
abrupt drop in the stationary phase, i.e. indeterminate and cardiac, showed a higher prevalence of
these proteins. This would give the cell increased glucose dependence and increased use of pyruvate
by the Krebs Cycle. Regarding the isolates of the symptomatic forms, when compared to those of the
indeterminate form, there is a prevalence of proteins involved in glucose metabolism, such as
glyceraldehyde-3-phosphate dehydrogenase, an enzyme that has already been targeted as a drug
development target. Different isoforms of trans-sialidase have also been found. Together, the results
point to a difference in the metabolism of the isolates that may be associated with the different clinical
forms of Chagas' disease.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 12
1.1. Doença de Chagas e seu agente etiológico .................................................................................... 12
1.2. Metabolismo de carboidratos em Trypanosoma cruzi ................................................................... 18
1.3. Proteômica ..................................................................................................................................... 20
2. OBJETIVO E JUSTIFICATIVA ............................................................................................................ 21
3. MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................................................... 22
3.1. Seleção dos Pacientes .................................................................................................................... 22
3.2. Coleta de sangue dos pacientes ..................................................................................................... 22
3.3. Transformação das formas tripomastigotas para as epimastigotas ................................................ 22
3.4. Cultura de células .......................................................................................................................... 23
3.5. Determinação dos parâmetros de proliferação .............................................................................. 23
3.6. Determinação da EC50 dos parasitos para o benzonidazole (BNZ) ............................................... 23
3.7. Preparo do extrato proteico............................................................................................................ 24
3.8. Digestão in solution e dessalting ................................................................................................... 24
3.9. Análise de espectrometria de massa .............................................................................................. 25
3.10. Análise estatística .......................................................................................................................... 29
3.11. Análise das proteínas a partir dos softwares .................................................................................. 30
4. RESULTADOS ......................................................................................................................................... 31
Parte I: Uma história contada de trás para frente: o histórico dos pacientes .................................................. 31
Parte II: “Pois aqui, como vê, você tem que correr o mais que pode para continuar no mesmo lugar”: a
estratégia do parasita para se adaptar ao ambiente de seu hospedeiro. ............................................................ 33
Parte III: “Um doce” questionamento: seria o metabolismo de carboidratos o protagonista? ...................... 37
4.1. Isolados da forma indeterminada vs os da forma Cardíaca .......................................................... 38
4.2. Isolados da forma indeterminada vs os da forma Digestiva ......................................................... 46
4.3. Isolados da forma indeterminada vs os da forma Cardiodigestiva ............................................... 51
4.4. Isolados da forma Cardíaca vs os da forma Cardiodigestiva ........................................................ 54
4.5. Isolados da forma Digestiva vs os da forma Cardiodigestiva ....................................................... 56
5. DISCUSSÃO ............................................................................................................................................. 59
Parte I: Uma história contada de trás para frente: o histórico dos pacientes .................................................. 59
Parte II: “Pois aqui, como vê, você tem que correr o mais que pode para continuar no mesmo lugar”: a
estratégia do parasita para se adaptar ao ambiente de seu hospedeiro. ............................................................ 60
Parte III: Um doce questionamento: seria o metabolismo de carboidratos o protagonista? .......................... 63
6. CONCLUSÃO .......................................................................................................................................... 74
7. IMPLICAÇÕES DOS ACHADOS NO PRESENTE TRABALHO .................................................... 74
ANEXO I ........................................................................................................................................................ 85
ANEXO II .......................................................................................................................................................88
ANEXO III ..................................................................................................................................................... 89
12
1. INTRODUÇÃO
1.1. Doença de Chagas e seu agente etiológico
No continente americano, mais precisamente na América do Sul (Argentina, Brasil, Chile,
Uruguai e Venezuela), a doença de Chagas causada pelo Trypanosoma cruzi (CHAGAS, 1909),
constitui um grave problema de saúde pública (SCHMUNIS, 2000). Segundo dados da Organização
Mundial da Saúde, a doença de Chagas atinge entre 6 e 7 milhões de pessoas no mundo e causa
aproximadamente 10 mil mortes (WHO, 2018; SOPRANO et al., 2018)
Em relação ao perfil epidemiológico, a transmissão do T.cruzi pode ocorrer por via
vetorial, oral, transfusão de sangue, transplantes de órgãos, congênita, ou acidentalmente em
laboratórios (COURA; VIÑAS, 2010; MANNE-GOEHLER, 2017; MEYMANDI et al., 2017). Com
relação à transmissão vetorial, países como Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Brasil, que
fazem parte do habitat natural dos vetores insetos apresentam quadros epidemiológicos mais graves.
Em regiões não endêmicas, como Estados Unidos, Canadá, Japão, Austrália e Europa, estima-se que
em decorrência da migração dos indivíduos, cerca de 400 mil estejam infectados (COURA; VIÑAS,
2010). Nessas regiões, as vias de transmissão independentes do vetor tem maior importância
(COURA; VIÑAS, 2010; MANNE-GOEHLER, 2017; MEYMANDI et al., 2017).
O perfil epidemiológico da doença de Chagas sofreu alterações ao longo dos anos e
atualmente em países como Brasil, Colômbia e Venezuela, a via de transmissão oral tem sido
responsável por surtos de infecção e, em alguns casos, óbito (PEREIRA et al., 2009; SHIKANAI-
YASUDA; CARVALHO, 2012; SILVA-DOS-SANTOS et al., 2017). A transmissão oral ocorre
devido à falta de higienização dos frutos utilizados para consumo, que podem encontrar-se
contaminados com material fecal de insetos triatomíneos infectados, bem como pela trituração dos
próprios insetos no processamento do alimento. O consumo direto dos frutos contaminados ou o
preparo de sucos ou polpas desses frutos sem higienização pode levar à ingestão de alta carga
parasitária, desencadeando crise aguda da doença de Chagas, podendo até levar a óbito (SANCHES
et al., 2014; TOSO M; VIAL U; GALANTI, 2011; VAZQUEZ et al., 2015) (Figura 1). Em 2005, no
Brasil, houve um surto em Santa Catarina pela ingestão de caldo de cana contaminado, em virtude da
presença de vetores infectados durante a moagem (ANDRADE et al., 2011; STEINDEL et al., 2008)
13
e recentemente, em 2015, no Amazonas pela ingestão de suco de açaí contaminado (BARBOSA et
al., 2015). Entre os anos de 2009 e 2010, também foram reportados surtos na Colômbia e Venezuela
relacionados com a ingestão de sucos de frutas como laranja, tangerina e caldo de cana contaminados
(SHIKANAI-YASUDA; CARVALHO, 2012).
Figura 1. Mecanismos de transmissão oral da doença de Chagas. A. Vetor
triatomíneo em seu habitat natural, próximo aos frutos. B. Frutos recolhidos para
produção de polpas, quando não higienizados corretamente podem conter material
fecal do inseto vetor contendo os parasitas; ou até mesmo o vetor ser moído durante
o preparo de sucos (ex: caldo de cana) C. O consumidor ingere o alimento
contaminado levando à infecção com o T. cruzi.
O ciclo de vida do T. cruzi é heteroxeno, ocorrendo entre um hospedeiro vertebrado
(homem, animais domésticos e silvestres) e um hospedeiro invertebrado insetos triatomíneos (tais
como Triatoma infestans, Triatoma sordida, Triatoma brasiliensis e Panstrongylus megistus)
(BERN, 2015; STEVENS et al., 2011). Durante o ciclo de vida, há quatro formas do parasita que
diferem morfologicamente e bioquimicamente (STEVENS et al., 2011). Conforme observado na
Figura 2, a transmissão do T. cruzi se dá quando um inseto triatomíneo ingere sangue contaminado
com T. cruzi. Em seu estômago, os tripomastigotas sanguíneos que estavam presentes na circulação
sanguínea do hospedeiro mamífero se diferenciam em epimastigotas. No intestino posterior, os
epimastigotas aderem às membranas perimicroviliares e multiplicam-se. Na porção retal do inseto,
os epimastigotas associam-se à camada serosa do tecido, interação essa que pode contribuir para
diferenciação na forma tripomastigota metacíclica (GARCIA et al., 2010).
14
Figura 2. Ciclo de vida do Trypanosoma cruzi (BERN, 2015)
No momento do repasto sanguíneo, os insetos defecam devido à pressão gerada pela
entrada do sangue no intestino. Ao defecar, os parasitas, epimastigotas e tripomastigotas metacíclicos,
presentes no reto, são excretados juntamente com as fezes. O hospedeiro mamífero ao coçar as
proximidades da “picada” acaba por empurrar as fezes ao local da ferida, permitindo, assim, que o T.
cruzi entre em contato com o sangue (BERN, 2015; STEVENS et al., 2011). As formas epimastigotas
possuem proteínas de membrana (como associadas a mucina), que são identificadas pelo sistema
complemento do hospedeiro mamífero, sendo destruídas (NORRIS; SCHRIMPF, 1994). Entretanto,
as formas tripomastigotas possuem a trans-sialidase em sua membrana que catalisa a transferência de
resíduos de ácido siálico do hospedeiro para glicoconjugados do parasita, auxiliando-o a não ser
reconhecido pelo sistema imune inato (NARDY et al., 2016). Assim, as formas tripomastigotas
invadem células nucleadas onde iniciam sua diferenciação para a forma amastigota, não flagelada e
replicativa (BERN, 2015).
15
No hospedeiro humano, após a infecção (período entre sete e quinze dias), há alta
parasitemia e sintomas semelhantes a uma gripe comum, caracterizando assim a chamada fase aguda
da doença. Nas 4 a 8 semanas seguintes, o paciente tem uma queda brusca na parasitemia e apresenta-
se assintomático, encontrando-se na fase crônica da doença. Alguns pacientes permanecem
assintomáticos (ou na forma indeterminada) pelo resto da vida, enquanto outros (10-40%), após vários
anos de início da fase crônica, podem apresentar quadros clínicos cardíacos, digestivos ou
cardiodigestivos, caracterizando, assim, as quatro formas clínicas conhecidas da doença de Chagas
(uma assintomática e três sintomáticas) (BERN, 2015).
Os pacientes assintomáticos (forma indeterminada) são diagnosticados pela sorologia,
que deve ser realizada utilizando-se dois testes com princípios metodológicos diferentes
(MESSENGER; MILES; BERN, 2015). Tal fato deve ser levado em consideração devido a uma única
análise não possuir alta sensibilidade e/ou especificidade (MESSENGER; MILES; BERN, 2015). Em
geral é realizada a detecção sorológica de IgG por ELISA, ou imunofluorescência indireta ou
hemaglutinação (WHO, 2015). Em contrapartida, pacientes acometidos pelas formas sintomáticas
têm seu diagnóstico a partir dos acometimentos clínicos. Mais da metade dos pacientes é
diagnosticada a partir de eletrocardiogramas, radiografias da região peitoral e exame de contraste de
bário para lesões no esôfago e cólon (ALVES et al., 2016). O diagnóstico cardíaco é acompanhado
por lesões no miocárdio que desestabilizam a estrutura celular, bem como arquitetura histológica, ao
passo que os ninhos parasitários geram lesões teciduais que, posteriormente, são substituídas por
fibroses levando a arritmias e cardiomegalias (CASTELLANI; RIBEIRO; FERNANDES, 1967;
RIBEIRO et al., 2012). Casos de morte súbita são raros, porém presentes quando o paciente passa a
apresentar arritmias e extrassístoles ventriculares mais frequentes. Para os pacientes portadores da
forma digestiva da doença, há o aumento das vísceras, principalmente do esôfago (megaesôfago) e
do cólon (megacólon). Tais acometimentos comprometem principalmente a capacidade de deglutição
dos pacientes, disfagia e megaesôfago, e podem contribuir para constipação e inflamações intestinais,
devido ao distúrbio da movimentação visceral (megacólon) (PINAZO et al., 2014).
No cenário brasileiro, a forma indeterminada é predominante (60-70%), seguida pelas
manifestações cardíacas (20-30%) e digestivas (8-10%), respectivamente, enquanto a forma
cardiodigestiva é rara (MACEDO et al., 2004). Na região central do Brasil e no Chile a forma
digestiva é prevalente, enquanto na Argentina corresponde a 3,5% (DIAS, 1992). A razão para essa
distribuição geográfica heterogênea e o porquê de os pacientes desenvolverem diferentes formas
16
clínicas ainda não foi totalmente elucidada, mas a variação genética do parasita e o sistema imune do
hospedeiro têm sido considerados protagonistas nessa questão (MACEDO et al., 2004).
Com o intuito de caracterizar e agrupar os isolados de T. cruzi, os zimodemas foram
determinados a partir de isoenzimas, que permitiram a classificação dos parasitas em três grupos
principais, sendo os chamados Z1 e Z3 associados ao ciclo selvagem (aquele que inclui o inseto vetor
e mamíferos silvestres) e Z2 ao ciclo doméstico (que inclui o hospedeiro humano no ciclo biológico)
(BRISSE; BARNABÉ; TIBAYRENC, 2000). Com os avanços nas técnicas de análises moleculares,
tais como o PCR e de éxons e DNAs satélites, novas caracterizações foram propostas. Em 2009,
durante a comemoração do centenário da descoberta da doença de Chagas chegou-se a um consenso
que agrupou os parasitos em seis diferentes grupos (ZINGALES et al., 2009). Essa abordagem mais
recente é feita a partir das DTUs (discrete typing units), nas quais os grupos são diferenciados por
marcadores moleculares (genes conservados como 24SrDNA, sequência líder (SL) e 18S rDNA) e
fatores ecoepidemiológicos (distribuição geográfica, vetor, hospedeiro silvestre, ecótopo e
associações da doença) (ZINGALES et al., 2012) (Figura 3).
Figura 3: Distribuição geográfica dos grupos de classificação de
Trypanosoma cruzi na América do Sul (ZINGALES, 2011).
Há dois grupos bem definidos TcI e TcII, que correspondem aos grupos Z1 e Z2. O TcII
é mais comumente associado ao ciclo doméstico e leva a quadros mais patogênicos. A distribuição
17
geográfica, demonstrada na Figura 3, dos grupos associados aos casos relatados reforça a teoria de
que diferentes genótipos conferem determinadas formas clínicas (ZINGALES, 2011). Dentre os
grupos, apenas nos grupos TcI, TcII e TcV é possível estabelecer uma correlação com a manifestação
clínica da doença. O grupo TcI, presente na porção acima da linha do Equador da América Latina, é
associado às formas indeterminada e cardíaca. TcII, juntamente com o TcV, tem maior notoriedade
mais ao sul da América Latina, sendo principalmente associados à forma digestiva (BUSCAGLIA;
DI NOIA, 2003; CARRANZA et al., 2009). Além destes, há também TcBat, originalmente
encontrada apenas em morcegos no Panamá e na Colômbia (LIMA et al., 2015). Era considerada
uma DTU rara e irrelevante até que em 2013, foram encontrados vestígios de seu DNA em corpos
mumificados no Chile (GUHL; AUDERHEIDE; RAMÍREZ, 2014) e no diagnóstico de uma criança
colombiana de 5 anos de idade (RAMÍREZ et al., 2013). No Brasil, a localização desta DTU é
bastante restrita (LIMA et al., 2015).
Com relação ao tratamento da doença de Chagas este é baseado em dois compostos
nitroheterocíclicos (caracterizados por possuírem um grupo nitro ligado a um anel aromático):
benzonidazol (BNZ) e o nifurtimox (NF). Ambos foram introduzidos na clínica nas décadas de 60-
70 do século passado, sendo que o último teve sua produção descontinuada na década de 80, tendo
sido reintroduzido na clínica e distribuído pela Organização Mundial de Saúde em casos de resistência
ao BNZ (URBINA; DOCAMPO, 2003; WHO, 2011). Embora o BNZ seja eficiente contra a fase
aguda da doença, com taxas de 50-80% de cura (RASSI; RASSI; MARIN-NETO, 2010), tem pouca
eficiência na fase crônica, para a qual as taxas de cura perfazem 20-50% (RASSI; RASSI; MARIN-
NETO, 2010). Especula-se que devido à farmacocinética do BNZ, ele seja pouco eficaz no alcance
das formas amastigotas presentes em tecidos na forma crônica da doença (URBINA, 2002). Este
fármaco atua como um pró-fármaco, ou seja, há necessidade de sua ativação para que ocorra o efeito
esperado. No hospedeiro mamífero, a ativação é feita pelo citocromo P450 (HALL; WILKINSON,
2012), com a formação de um composto nitroso e a hidroxilamina, que exercem interação direta com
moléculas, como o DNA, lipídios e proteínas. No parasita, essa ativação é feita pela nitroredutase,
levando a formação do glioxal que parece ser responsável pelas interações anteriormente descritas
para o hospedeiro mamífero (HALL; WILKINSON, 2012). Vários compostos já foram testados para
o tratamento para doença de Chagas, entretanto, o BNZ continua sendo o fármaco de escolha, tendo
como grande avanço uma nova formulação pediátrica (DNDi, 2016).
Pode-se observar que um grande desafio no tratamento da doença de Chagas é a
inespecifidade das drogas de escolha. A fim de desenvolver terapias mais específicas, portanto, menos
18
tóxicas ao hospedeiro, as enzimas do metabolismo do T. cruzi tornam-se interessantes candidatas a
alvos de tratamento.
Nesse sentido, a busca por alvos específicos no metabolismo de carboidratos como os
glicomarcadores torna-se interessante (VERLINDE et al., 2001). Sabe-se que a Gliceraldeído-3-
fosfato desidrogenase (GAPDH) do T. cruzi possui diferenças estruturais quando comparada a de
humanos (MERCALDI et al., 2016), e assim tem sido apontada como um alvo para o
desenvolvimento de uma terapia mais específica para o tratamento da doença de Chagas..
1.2. Metabolismo de carboidratos em Trypanosoma cruzi
O complexo ciclo de vida do T. cruzi demanda uma adaptação aos nutrientes encontrados
no meio (SILBER et al., 2009). A disponibilidade de carboidratos irá variar conforme o meio e, desse
modo, a adaptação metabólica, por exemplo: epimastigotas e tripomastigotas encontram-se em
ambiente abundante em glicose e frutose, desse modo apresentam transportadores para essas
macromoléculas (SILBER et al., 2009). Já os amastigotas, confinados ao interior da célula de seu
hospedeiro mamífero , estão expostos à escassez de glicose no meio, o que pode justificar a ausência
de transportadores de glicose, levando ao favorecimento do metabolismo de aminoácidos
(MAUGERI; CANNATA; CAZZULO, 2011).
Diferentemente do encontrado nos hospedeiros mamíferos, há compartimentalização da
glicólise em T. cruzi (MICHELS et al., 2006). As 6 primeiras enzimas da glicólise (Hexoquinase
(HK) e glicoquinase (GK); Fosfoglico isomerase; Fosfofrutoquinase (PFK); Aldolase; Triose fosfato
isomerase e a GAPDH) encontram-se em uma organela semelhante ao peroxissomo, denominada
glicossomo (MAUGERI; CANNATA; CAZZULO, 2011). No glicossomo também se encontram as
enzimas da via das pentoses fosfato, presentes também no citosol, relacionada com o metabolismo de
carboidratos. O restante do metabolismo da glicose ocorre no citosol, até piruvato, que é encaminhado
à mitocôndria para o ciclo do ácido tricarboxílico e subsequente envio de seus equivalentes reduzidos
à cadeia transportadora de elétrons para a produção de ATP pela fosforilação oxidativa (MAUGERI;
CANNATA; CAZZULO, 2011).
Diferentemente do encontrado no metabolismo humano, no qual há três enzimas
regulatórias da via glicolítica, HK, PFK e a Fosfoenolpiruvato quinase (PEP), em T. cruzi, a HK não
19
é modulada negativamente pelo aumento de seu substrato (glicose-6-fosfato) e a PFK não é
fortemente inibida pela presença de ATP, sendo regulada pela Frutose-6-fosfato (MAUGERI;
CANNATA; CAZZULO, 2011). Outra molécula que exerce regulação diferente, cuja influência
aparece nas etapas iniciais da glicólise é a frutose-2,6-bisfosfato. Em humanos ela atua como
modulador positivo da PFK, porém no parasita ela atua como moduladora apenas da piruvato quinase
(PK). A frutose-2,6-bisfosfato exerce uma influência moduladora positiva sobre a PK, enquanto o
ATP e o Pi modulam negativamente essa enzima. (MAUGERI; CANNATA; CAZZULO, 2011).
A falta de modulação negativa na HK/GK e PFK faz com que a hipóxia não interfira no
consumo de oxigênio do parasita, causando o efeito Pasteur reverso, ou seja o consumo de glicose
mantêm-se menor em condições anaeróbias quando comparado com condições aeróbias (MAUGERI;
CANNATA; CAZZULO, 2011).
Uma outra diferença em relação ao hospedeiro mamífero é que em T. cruzi há excreção
de metabólitos não totalmente reduzidos, ou seja, essas moléculas ainda possuem potencial redutor
(energético) (MAUGERI; CANNATA; CAZZULO, 2011). Tal fato pode justificar o succinato ser o
substrato preferencial para cadeia respiratória mitocondrial. Esse argumento ganha destaque quando
observamos que o complexo I da cadeia respiratória aparenta não contribuir para a produção de ATP,
podendo atuar como um suporte supramolecular para os outros complexos (MAUGERI; CANNATA;
CAZZULO, 2011; SILVA et al., 2011). Esses metabólitos não reduzidos podem contribuir para o
balanço do NADH+H+ glicolítico através de outros processos metabólicos, como a fermentação ou
como atividade diferenciada de enzimas que utilizam a coenzima em sua reação, como a GAPDH
(MAUGERI; CANNATA; CAZZULO, 2011).
A via das pentoses fosfato, que se encontra no citosol e compartimentada no glicossomo,
além da produção de ribose-5-fosfato, é importante para produção de NADPH+H+ que, por sua vez,
é essencial para detoxificação de hidroperóxidos centrada na tripanotiona (DIAS et al., 2018).
Durante o ciclo de vida, nos diferentes ambientes: intestino do inseto triatomíneo, fagossomo e
interior da célula hospedeira, o parasito estará exposto a estresse oxidativo (além do produzido por
seu próprio metabolismo) (SILBER et al., 2009).
Há ainda a síntese de galactose, que é produzida a partir da glicose-6-fosfato intracelular,
que será utilizada como UDP-glalactose para a síntese de vitamina C. A gliconeogênese não é muito
estudada nesse parasito, porém, a sequência para o gene da Frutose-2,6-bifosfatase está anotada no
genoma do mesmo (MAUGERI; CANNATA; CAZZULO, 2011).
20
Como mencionado acima, o metabolismo de carboidratos do parasita apresenta diferenças
significativas em relação ao hospedeiro mamífero. Assim, a partir de análises proteômicas, é possível
obter informações de expressão, concentração relativa e alterações pós- traducionais das proteínas.
Dessa maneira, as técnicas de proteômica auxiliam na montagem de um perfil metabólico, de
sinalização e regulação de amostras vinda de organismos variados (WILKINS et al., 1996, 2006).
1.3. Proteômica
O termo "proteoma" foi criado por Marc Wilkins, em 1994 (WILKINS et al., 1996) E
corresponde ao conteúdo proteico expresso em um organismo. Diferentemente do genoma, que
permanece predominantemente estável durante o tempo de vida do indivíduo, o proteoma é variável.
Variações do ambiente podem levar à respostas adaptativas imediatas, como a alteração nos padrões
de expressão gênica e perfil protéico (WILKINS et al., 1996, 2006).
Além disso, a melhor compreensão da proteômica do T. cruzi pode auxiliar na
identificação de padrões determinantes para o aparecimento de cada forma clínica. Jaime Paba e
colaboradores foram pioneiros na demonstração da diferença no perfil proteico e metabólico entre as
três fases biológicas do ciclo de vida do tripanossomatídeo (PABA et al., 2004).
Não só a genética do parasita, mas também sua epigenética, pode ter características
diferenciadas de acordo com a adaptação ao ambiente fisiológico do hospedeiro (ELIAS; FARIA,
2009; GALVANI, 2003; MCCALL et al., 2015). Essas adaptações, a partir de diferenças proteicas e,
consequentemente, metabólicas, podem favorecer a colonização de tecidos cardíacos e/ou de tecidos
do trato digestório ou até mesmo a ausência de sintomatologia. Porém, até o momento não está claro
qual(is) marcador(es) do parasita ou do hospedeiro humano poderiam ser utilizados para estimar qual
forma clínica um paciente infectado com o T. cruzi virá a desenvolver.
21
2. OBJETIVO E JUSTIFICATIVA
Realizar a análise proteômica comparativa de oito isolados de T. cruzi provenientes de
pacientes portadores de formas clínicas distintas da doença de Chagas (indeterminada, cardíaca,
digestiva e cardiodigestiva).
Um estudo comparativo do perfil proteômico visando o perfil metabólico dos parasitas
causadores das diversas manifestações clínicas da doença de Chagas poderá levar a uma melhor
compreensão das características bioquímicas dos mesmos e ao estabelecimento de uma correlação
dessas com cada forma clínica da doença.
22
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. Seleção dos Pacientes
Foram selecionados, junto ao GEDoCh (Grupo de Estudos em Doença de Chagas) no
Hospital de Clínicas da UNICAMP, oito pacientes portadores de diferentes formas clínicas da doença
de Chagas (indeterminada, cardíaca, digestiva e cardiodigestiva), sendo dois pacientes de cada forma
clínica. Esse projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética (CAAE: 30843714.0.0000.5404) (Anexo I -
TCLE).
3.2. Coleta de sangue dos pacientes
O sangue dos pacientes foi coletado no momento da realização de exames de rotina. Uma
amostra do sangue foi encaminhada para os procedimentos de obtenção das formas epimastigotas de
T.cruzi.
3.3. Transformação das formas tripomastigotas para as epimastigotas
O sangue coletado foi adicionado ao meio LIT (NaCl 76 mM, KCl 5,9 mM, glicose 12,3
mM, Na2HPO4 78,5 mM, triptose 0,56%, infusão de fígado 0,56%, hemina 20 mg.L-1, pH 7,4)
(CASTELLANI; RIBEIRO; FERNANDES, 1967), suplementado com 10% soro fetal bovino e 0,02
U.I/mLpencilina/streptomicina (LIT completo), e mantido à 28ºC em um período de 8 a 30 dias. A
cultura foi submetida à análise por microscopia ótica, a cada 3 dias, para confirmação da
transformação.
23
3.4. Cultura de células
Epimastigotas de T .cruzi (5,2 x 106/ml) foram cultivados em meio LIT completo, a 28ºC
(CASTELLANI; RIBEIRO; FERNANDES, 1967). Ao atingir o início da fase estacionária, específica
para cada isolado, as células foram coletadas por centrifugação (1,000 g a 4ºC por 5 minutos), lavadas
e ressuspensas em PBS (NaCl 137 mM, Fosfato 10 mM, KCl 2,7 mM, pH 7,4). O número de células
foi determinado utilizando-se uma câmara de Neübauer.
3.5. Determinação dos parâmetros de proliferação
Alíquotas da cultura de células de cada isolado foram retiradas diariamente durante sete
dias, e o número de células foi determinado utilizando-se uma câmara de Neübauer. O tempo de
duplicação (TD) e o tempo de crescimento (TC) foram determinados utilizando as seguintes
equações, conforme descrito em (FINZI et al., 2004):
Nas quais, T2: tempo (horas) relativo para o final da fase log; T1: tempo (h) relativo
para o início da fase log; N1: número de células em T2 e N0: número de células em T1. Número
final de células no último dia da contagem e Número inicial de células no primeiro dia da contagem
3.6. Determinação da EC50 dos parasitos para o benzonidazole (BNZ)
Para determinação da EC50, os parasitas foram centrifugados à 1,000 g 4°C por 5 minutos,
e ressupensos em meio LIT completo. Em placas de 96 orifícios, foram incubadas 5,2 x 106céls/mL
na presença de diferentes concentrações de BNZ e no início da fase estacionária de cada isolado foi
adicionado 50μL MTT (5 mg/mL). Após 3 horas de incubação a 28°C, adicionou-se 50 μL SDS 20%
e, após 30 min, a absorbância foi determinada em espectrofotômetro (Biotek® Cytation™5)
(MIGUEL et al., 2011). A EC50 foi determinada no software Mathematica 11.1.
24
3.7. Preparo do extrato proteico
Os parasitas em início de fase estacionária foram centrifugados a 1000 g, 4°C por 5
minutos, lavados 3x com PBS pH 7,4 e o pellet foi congelado a -80°C, até o dia de realização do
experimento. O pellet foi ressuspenso em tampão de lise (ureia 8M, NaCl 75mM, Tris-HCl 50mM
pH 8,2, 5% coquetel inibidor de proteases (Sigma P8340), NaF 1mM, β-glicerofosfato 1mM,
ortovanadato de sódio 1mM, pirofosfato 10mM e PMSF 1mM. As amostras foram sonicadas em
banho de gelo por 10 ciclos a 50% de energia, com pausas de 1 minuto (Bandelin Sonoplus HD2200).
Em seguida, foram centrifugadas a 1,000 g, 10 minutos a 4ºC. O sobrenadante foi reservado para
dosagem de proteínas a partir do método de Bradford (BioRad), conforme descrito em (BRADFORD,
1976), utilizando soro de albumina bovina (Sigma) como padrão (Figura 4).
3.8. Digestão in solution e dessalting
Após a dosagem proteica (50 μg), as amostras foram preparadas para digestão com
tripsina, de acordo com o descrito abaixo (VILLÉN; GYGI, 2008) (Figura 4):
a. Redução: adicionou-se 5 mM ditiotreitol (DTT) e incubou-se as amostras durante 25
minutos a 56°C.
b. Alquilação: adicionou-se iodoacetamida (IAA) 14 mM e as amostras foram incubadas
durante 30 minutos a temperatura ambiente e protegidas da luz. O quench da IAA, foi
feito adicionando-se DTT 5 mM, incubado-se por 15 minutos, temperatura ambiente
(protegidas da luz).
c. As amostras foram diluídas na proporção de 1:5 em 50 mM de bicarbonato de sódio, afim
de reduzir a concentração de ureia para 1,6M.
d. Em seguida adicionou-se a solução CaCl2 1mM e a solução de tripsina (10ng/uL), na
proporção 1:20. A digestão ocorreu por 17 horas a 37°C.
e. A parada da reação enzimática foi feita com 0,4% de ácido trifluoroacético (TFA), Em
seguida, centrifugou-se as amostras a 2500 g, por 10 minutos a temperatura ambiente. Os
25
sobrenadantes, com os peptídeos diluídos, foram reservados e separados em três alíquotas
por amostra.
Os peptídeos em solução foram dessalinizados com colunas de dessalinização SepPack
(Waters, C18) (RAPPSILBER; MANN; ISHIHAMA, 2007):
a. Preparo da StageTip C18: 100μL de metanol puro.
b. Ajuste de pH da coluna: 0,1% de ácido fórmico.
c. As colunas foram carregadas com as amostras após digestão proteica. Por dois ciclos
foram centrifugadas a 1,000 g, 2 minutos a temperatura ambiente. O conteúdo filtrado
foi reservado. As colunas foram lavadas (e centrifugadas sob as mesmas condições
anteriormente descritas) 10 vezes com 0,1% de ácido fórmico para retirar algum
peptídeo que ainda estivesse preso ao filtro.
d. Os peptídeos resultantes foram eluídos em 100 μL de solução de 80% acetonitrila e
0,1% de ácido fórmico. As amostras foram secas em speedvac e congeladas a -80°C
até o momento de análise no espectrômetro de massas.
3.9. Análise de espectrometria de massa
NanoflownLC-MS / MS
Uma alíquota de 4,5 μL (aproximadamente 2 μg) de mistura de peptídeos foi analisada
no espectrômetro de massa Orbitrap Velos habilitado para ETD (Thermo Fisher Scientific, Waltham,
MA, EUA) conectado ao sistema EASY-nLC (ProxeonBiosystem, West Palm Beach, EUA) através
de uma fonte de íons nano electrospray Proxeon. Os peptídeos foram separados por um gradiente de
acetonitrila de 2-30% em ácido fórmico a 0,1% usando uma coluna analítica (20 cm x ID75 μm,
tamanho de partícula de 5 μm, New Objective) a um caudal de 300 nL /min ao longo de 173 minutos.
A tensão de nano electrospray foi ajustada para 2,2 kV e a temperatura da fonte foi de 275 ° C. Todos
os métodos do instrumento foram configurados no modo de aquisição dependente de dados. Os
espectros de MS de varredura completa (m/z 300-1.600) foram adquiridos no analisador Orbitrap
após acumulação para um valor alvo de 1 × 106. A resolução no Orbitrap foi ajustada para r = 60.000
26
e os 20 íons peptídicos mais intensos com carga. Os estados ≥2 foram isolados sequencialmente para
um valor alvo de 5.000 e fragmentados na armadilha de íons linear usando CID de baixa energia
(energia de colisão normalizada de 35%). O limite de sinal para desencadear um evento MS/MS foi
definido para 1.000 contagens. A exclusão dinâmica foi ativada com uma lista de tamanho de
exclusão de 500, duração de exclusão de 60 s e uma contagem de repetição de 1. Foi utilizada uma
ativação q = 0,25 e tempo de ativação de 10 ms (KAWAHARA et al., 2014). Para evitar o viés durante
as medições, os dados foram randomizados para todos os grupos, conforme descrito no estudo
anterior (OBERG; VITEK, 2009) usando o ambiente R (v3.4.0). A randomização foi aplicada para
cada conjunto das três repetições técnicas usando os mesmos parâmetros do instrumento como
descrito acima.
Figura 4: Esquema da extração e digestão de proteínas para análise
proteômica
27
Análise de dados LC-MS/MS Raw
A identificação de proteínas foi realizada em MaxQuant v.1.3.0.3 (COX; MANN, 2008)
contra o banco de dados Uniprot contendo sequências canônicas e isoformas (liberação de sequências
de maio de 2017, 29737, 14784122 resíduos, concatenada com T. cruzi marinkellei e T. cruzi CL
Brener) usando o motor de busca Andromeda (COX et al., 2011). Os parâmetros de busca, uma
tolerância de 6 ppm foi considerada para íons precursores (MS search) e 0,5 Da para íons
fragmentados (pesquisa MS/MS), com um máximo de 2 clivagens perdidas. A carbamidometilação
da cisteína foi considerada a modificação fixa e oxidação da metionina e acetilação N-terminal como
modificações variáveis. O máximo de 1% da taxa de descoberta falsa (FDR) foi definido para a
identificação de proteínas e peptídeos. Uma quantificação foi realizada usando o algoritmo de
quantificação livre de etiqueta (LFQ) implementado no ambiente MaxQuant, com 1 contagem de
razão mínima e uma janela de 2 minutos para correspondência entre corridas.
A análise estatística foi realizada com o software Perseus v1.2.7.4 (COX; MANN, 2008),
disponível no pacote MaxQuant. Primeiro, as entradas reversas e "apenas identificadas pelo site"
foram excluídas da análise posterior. A quantificação livre de rótulos foi realizada utilizando as
intensidades de proteína espectral (LFQ). As proteínas exclusivas e comuns de cada fase clínica são
representadas pelo diagrama de Venn realizado pela ferramenta InteractiVenn (HEBERLE et al.,
2015). O critério de seleção dos peptídeos encontra-se representado na figura 5. A interpretação dos
resultados obtidos foi feita de acordo com o esquema representado na Figura 6.
28
Figura 6: Esquema de análise das proteínas e seleção das proteínas abundantes
de cada isolado. Para cada duplicata amostral, foram realizas triplicatas técnicas.
Após análise dos resultados provenientes do MS/MS, foram consideradas proteínas
abundantes da forma clínica apenas aquelas que aparecerem em pelo menos 5 das 6
corridas.
29
Figura 5: Esquema de análise das proteínas encontradas. As proteínas
encontradas de cada isolado formaram um padrão relativo às formas clínicas. Os
padrões das formas clínicas foram analisados, tendo a forma Indeterminada
(Assintomática) como “controle” a fim de observar-se as particularidades de cada
forma clínica, independentemente do hospedeiro.
3.10. Análise estatística
O teste t de Student foi aplicado (p<0,05) para a análise de proteínas diferencialmente
expressas, no mínimo 5 (Figura 6) valores válidos em cada grupo. A anotação de processos biológicos
utilizando Gene Ontology (GO) para proteoma de grupos de pacientes foi realizada utilizando Enrichr
(CHEN et al., 2013; KULESHOV et al., 2016) com um limiar significativo definido em p<0,05.
30
3.11. Análise das proteínas a partir dos softwares
A primeira análise para a determinação das proteínas foi realizada pelo software DAVID
(https://david.ncifcrf.gov). As análises para determinação das proteínas em suas respectivas vias
metabólicas foram realizadas pelo software KEGG (http://www.kegg.jp/). Apesar de ser uma ótima
ferramenta, o software não foi capaz de alocar todas as proteínas. A tabela de comparação entre
formas clínicas encontradas na Parte III, refere-se aos dados encontrados pelo KEGG e apuração das
proteínas não encontradas por este primeiro software. As proteínas não alocadas em metabolismos,
de acordo com o KEGG, ou dadas como hipotéticas, foram analisadas com o software UniProt.
31
4. RESULTADOS
Parte I: Uma história contada de trás para frente: o histórico dos pacientes
Para alcançar nosso objetivo, o primeiro passo foi isolar os parasitas de pacientes
portadores da doença de Chagas selecionados aleatoriamente. Oito isolados foram estudados: MFS e
MJFL representam pacientes com a forma indeterminada; MAMA e MHBL forma cardíaca, MSLS
e MAB forma digestiva e AP e SAO forma cardiodigestiva da doença de Chagas. Em seguida, as
informações do prontuário desses pacientes no Hospital de Clínicas da Unicamp foram analisadas
juntamente com a equipe do GEDoCH (Tabela I). MFS contraiu a doença com apenas três dias de
idade, a partir de uma transfusão de sangue tendo passado por vários ciclos de tratamento com o BNZ,
cetoconazol e o itraconazol. O paciente mostrou-se resistente ao fármaco de escolha, o BNZ. Até o
momento da análise de dados, contrariando o descrito em clínica, o paciente, na época com 27 anos,
não apresentou cura da doença e permanece na forma indeterminada da doença (Tabela I).
Ainda sobre tratamentos, observou-se que nem todos os pacientes relataram a
administração de BZN. Nos registros analisados apenas três pacientes confirmaram tratamento: MFS
(indeterminado), MAMA (cardíaco) e MSLS (digestivo). Apenas para um paciente, SAO
(cardiodigestivo), foi possível traçar o histórico de evolução da doença. Em seu prontuário, o paciente
relata as datas de diagnóstico, fato que foi interessante para traçar paralelos entre as formas clínicas
(Tabela I). Três pacientes provenientes das áreas endêmicas de Minas Gerais e Pernambuco podem
ter contraído a doença a partir da transmissão vetorial e relataram ter outros familiares com a doença.
A existência de casos na família levanta um ponto interessante na divergência de forma clínica
apresentada pelos integrantes, como acontece nos casos dos pacientes: MHBL (indeterminado) e
MAB (digestivo) (Tabela I).
Analisando a sorologia e tratamento, temos os exames comumente realizados,
imunoflorescência e ELISA, com um achado interessante no paciente MSLS (digestivo) cujos exames
não são reativos. Em tratamento, não foi considerado nenhum medicamento de uso contínuo ou para
comorbidades, apenas se o paciente fez uso específico de algum fármaco para tratamento, exclusivo,
da doença de Chagas.
32
Tabela I: Histórico dos pacientes dos quais os isolados de Trypanosoma cruzi foram obtidos
Prontuários dos pacientes dos quais os isolados de Trypanosoma cruzi foram obtidos. F e M: Feminino e Masculino, respectivamente; SD: sem dado
encontrado no prontuário, BNZ: Paciente relatou tratamento prévio com Benzonidazol. Não Relevante: o paciente não relatou uso de fármacos
específicos para o tratamento da doença de Chagas.
Isolado Sexo Cidade Natal Forma Clínica Evolução Sorologia Histórico Familiar Transmissão Tratamento BNZ
MFS F Campinas - SP Indeterminada SDELISA reagente; IFI 1/40 e
XenodiagnósticoSD Transfusional
Benzonidazol
(Resistente); Itraconazol e
Ketoconazol
Sim
MJFL F Ibimirin - Pernambuco IndeterminadaHá suspeita de evolução para
forma Digestiva
ELISA reagente e
IFI 1/360
Irmã (sorologia não
reagente)
Área rural e agente
etiológico encontrado
na residência
SD SD
MAMA F Bambuí - Minas Gerais Cardíaca SD IFI 1/40 Irmão
Provável contato com
agente etiológico na
residência, vive em área
endêmica
Não relevante Não
MHBL F Uberaba - Minas Gerais Cardíaca SD IFI 1/640Mãe e irmão
(digestivos)
Provável contato com
agente etiológico na
residência, vive em área
endêmica
Benzonidazol (33 dias) Sim
MSLS F Banzae - Bahia Digestiva SD ELISA e IFI não reagentes SD SD Benzonidazol Sim
MAB F Luz - Minas Gerais Digestiva SD ELISA reagente e IFI 1/80Pai (cardíaco) e irmã
(cardíaca)SD Não relevante SD
AP M Caraponga - São Paulo Cardiodigestivo SD ELISA reagente e IFI 1/40 SD SD Não relevante SD
SAO M Tanabi - São Paulo Cardiodigestivo
Antes de 1990 - Indeterminado;
1990 - Cardíaco;
2013 - Cardiodigestivo
IFI 1/40 Irmão e Irmã SD Não relevante SD
33
Parte II: “Pois aqui, como vê, você tem que correr o mais que pode para continuar no mesmo
lugar”1: a estratégia do parasita para se adaptar ao ambiente de seu hospedeiro.
Após a coleta do sangue dos pacientes, os parasitas foram isolados e diferenciados da
forma tripomastigota (forma infectiva, não replicativa) para a epimastigota (forma não infectiva e
replicativa). Essa diferenciação demorou em média cerca de três semanas. Após a diferenciação, as
formas epimastigotas foram mantidas em meio de cultura por no máximo 3 meses. É importante
ressaltar que esse procedimento foi feito para que as células não se adaptassem ao meio de cultura e
assim, possuíssemos amostras com características mais próximas de parasitas isolados dos pacientes.
Para sobreviverem, os parasitas têm que se adaptar ao hospedeiro no qual se encontram.
Isso pode refletir em sua proliferação e até mesmo em sua estrutura morfológica (MESQUITA et al.,
2015). Assim, o primeiro parâmetro analisado foi a curva de proliferação desses isolados (Figura 7).
Os isolados das formas indeterminadas (Figura 7 – A), cardíacas (Figura 7 – B) e o isolado SAO
(Figura 7 – D – linha mais escura), apresentaram queda abrupta no número de parasitas no meio por
volta do dia 3 ou 4, não apresentando a fase estacionária comumente observada em cepas mantidas
em laboratório (Y e Tulahuen) (SILVA et al., 2011). Entretanto, os isolados da forma digestiva
(Figura 7 – C) e AP (Figura 7 – D – linha mais clara) apresentaram um período de fase estacionária
após o dia 4, perdurando até os últimos dias da contagem. Em um olhar geral a todas as curvas, temos
que o perfil de proliferação dos isolados apresenta similaridades de acordo com a forma clínica
manifestada. A genotipagem dos parasitas também foi realizada, onde todos os isolados, com exceção
de MJFL, pertencem à DTU TcII e MJFL à TcIII (Nakamura et al, em preparação).
1 “Now here, you see, it takes all the running you can do, to keep in the same place” (Lewis Carroll – Alice Trough the Looking Glass)
34
Figura 7: Curvas de proliferação dos isolados de Trypanosoma cruzi. Os isolados
foram cultivados conforme descrito em Material e Métodos, e, diariamente durante 7
dias, foi retirada uma alíquota e o número de células determinado a partir de contagem
em câmara de Neübauer. Isolados das formas A – Indeterminada; B – Cardíaca, C –
Digestiva e D – Cardiodigestiva.
35
Um outro fato interessante que observamos foram diferenças na mobilidade (velocidade
no batimento do flagelo), sendo o isolado MHBL com células mais ativas. Quanto à coloração do
precipitado após sedimentação, MJFL apresentou-se mais escuro que outros isolados (coloração
castanho claro) (dados não mostrados).
Na Tabelas II está representado o parâmetro obtido da análise das curvas de proliferação
(Figura 7), tais como o número de dias para os parasitas atingirem o início da fase estacionária,
importante para que todos eles sejam avaliados em um mesmo período. Assim, o isolado MFS em 3
dias atinge o início da fase estacionária, enquanto o isolado MSLS leva 5 dias para atingir a mesma
fase.
Tabela II: Número de dias para cada isolado atingir o início da fase estacionária
Epimastigotas (5,2 x 106céls/ml) foram incubados em meio de cultura e diariamente foram
removidas alíquotas para contagem do número de células em câmara de Neübauer. Dados obtidos
da Figura 7. A partir da Figura 7, o tempo de duplicação e o tempo de crescimento (proliferação)
foram calculados conforme descrito no material e métodos. Análise estatística: *teste-t, no qual
p<0,05 foi considerado significativo entre os isolados do mesmo grupo.
O tempo de duplicação entre os isolados de mesma forma clínica foi estatisticamente
diferente (Tabela II). Porém, para o tempo de proliferação, os isolados das formas indeterminada e
digestiva apresentam diferença significativa. Em contrapartida, não há diferença entre os isolados da
forma cardíaca e cardiodigestiva (Tabela II).
Isolado Forma Clínica Dias TD (hs) TC
MFS Indeterminado 3 22.48 ± 1.00* 9.30 ± 0.92*
MJFL Indeterminado 4 20.92±0.14* 10.90 ± 0.18*
MAMA Cardíaco 4 28.47 ± 0.36* 10.38 ± 0.30
MHBL Cardíaco 3 21.80 ± 1.02* 9.98 ± 1.06
MSLS Digestivo 5 27.28 ± 1.04* 11.56 ± 1.10*
MAB Digestivo 5 53.98 ± 1.96* 4.69 ± 0.26*
AP Cardiodigestivo 4 39.05 ± 1.89* 8.50 ± 0.88
SAO Cardiodigestivo 4 32.68 ± 1.33* 7.72 ± 0.65
36
Um questionamento que surgiu a partir da Tabela I foi se o tratamento prévio de pacientes
com BNZ influenciaria na sensibilidade dos parasitas ao medicamento in vitro. Assim, as EC50s dos
isolados para esse medicamento foram determinadas. De acordo com a Figura 8, pode-se observar
que apenas um isolado clínico, MJFL (proveniente de paciente na forma indeterminada) apresentou-
se resistente ao BNZ. Interessantemente, não há relatos em seu prontuário se houve, em algum
momento, tratamento com o fármaco. O paciente MSLS, que possui relato de tratamento, apresentou
maior sensibilidade ao fármaco. O restante dos isolados, independentemente ou não de tratamento
prévio, apresentou sensibilidade com valores semelhantes. Analisando os dados da MFS, MAMA,
MHBL, MAB, AP e SAO, a partir do teste ANOVA, a diferença entre eles é considerada não
significativa (p>0.05).
Figura 8: EC50 para determinação da resistência ao BZN. Apenas os
pacientes MFS, MHBL e MSLS relataram ter realizado tratamento como
fármaco de escolha. Análise estatística *t-teste no qual p<0,05 foi considerado
significante.
37
Parte III: “Um doce” questionamento: seria o metabolismo de carboidratos o protagonista?
A partir de experimentos previamente realizados no laboratório, notou-se que esses
isolados, diferentemente de outras cepas já adaptadas ao meio LIT, possuíam grande dependência de
glicose (Nakamura et al, em preparação). Nos experimentos de consumo de oxigênio, onde utilizou-
se um meio que mimetiza o meio intracelular e que não contém glicose, não foi possível observar
estimulação pelo ADP e pelo protonóforo CCCP. Assim, um novo experimento foi realizado,
utilizando o meio IB, que contém glicose. Conseguimos, assim, observar a estimulação por esses
compostos (Nakamura et al, em preparação).
Nesse sentido, decidimos concentrar nossas análises da proteômica no metabolismo de
carboidratos que aparentou ter relevância para os isolados clínicos. Além disso, enzimas do
metabolismo de carboidratos têm sido apontadas como alvos para uma terapia mais específica para
doença de Chagas. Por ser a primeira forma clínica nos hospedeiros humanos após o estabelecimento
da forma crônica da doença, e, uma vez que as outras manifestações clínicas derivam dessa, os
isolados da forma indeterminada foram utilizados como referência para nossas análises comparativas.
Os dados gerais dessas análises encontram-se sintetizados na Tabela IV. Seguindo o mesmo
raciocínio, os isolados das formas cardíaca e digestiva foram comparados com os da cardiodigestiva,
dado que esta última deriva de uma dessas formas.
38
Tabela IV: Relação das proteínas encontradas na análise proteômica dos isolados de
Trypanosoma cruzi
Forma clínica Isolados
Número de proteínas identificadas
Total Características
dos Isolados
Comuns
aos
Isolados
Indeterminada MFS 3.303 725
2.578 MJFL 3.263 685
Cardíaca MAMA 3.312 302
3.010 MHBL 3.230 220
Digestiva MSLS 3.131 328
2.860 MAB 3.162 359
Cardiodigestiva AP 3.127 267
2.803 SAO 3.163 303
Número de proteínas encontradas pelo DAVID. Características dos Isolados: proteínas
encontradas de maneira diferentemente expressa de maneira exclusiva em cada isolado, podendo
referenciar características selecionadas pelo ambiente do hospedeiro. Comuns aos Isolados:
proteínas encontradas na intersecção das análises, que podem referenciar características inerentes
àquela forma clínica.
4.1. Isolados da forma indeterminada vs os da forma Cardíaca
Quando comparadas, nos isolados da forma indeterminada foram identificadas pelo
DAVID 206 proteínas, das quais 38 proteínas (18,5%) não estão anotadas e todas são de T. cruzi
marinkelli.
Convertendo 168 proteínas no software KEGG (KEGG ID), 67 (39,9%) foram
identificadas e 101 (60,1%) foram agrupadas em hipotéticas (3) e não caracterizadas (98). Quando a
lista de 168 proteínas foi analisada pelo KEGG Pathway, 17 proteínas foram vinculadas a uma via
metabólica e o restante foi dado como não encontrado. Das proteínas não encontradas, uma nova
busca foi realizada, utilizando outro software, o UNIPROT, a fim de identificar essas proteínas. O
39
quadro geral após as duas análises e distribuição nos diferentes processos metabólicos encontra-se
representado na Figura 9 (coluna preta).
O mesmo procedimento foi realizado para as proteínas abundantes dos isolados da forma
cardíaca, onde 539 foram encontradas pelo DAVID, das quais 99 não estão anotadas. Das proteínas
encontradas, 224 (41,6%) identificadas e 315 (58,4%) consideradas hipotéticas pelo KEGG ID. 78
proteínas foram correlacionadas em metabolismo pelo KEGG e aquelas não encontradas foram
analisadas pelo UNIPROT (Figura 9, coluna cinza). Observa-se que para os isolados da forma
indeterminada o metabolismo energético, proteínas estruturais e relacionadas à atividade nuclear
encontram-se em evidência. E para os da forma cardíaca, proteínas relacionadas à infecção, fator de
virulência e apoptose.
A partir desses dados, as proteínas dos metabolismos de carboidratos e energético foram
selecionadas e organizadas na Tabela V. Na Tabela V é possível observar que após análise
comparativa entre os isolados da forma indeterminada e cardíaca, encontram-se 8 proteínas
abundantes nos primeiros.
A citocromo c (tcr:508959.4) possui função de agente redutor entre a ubiquinona e o
complexo IV, na cadeia transportadora de elétrons (GINGER; SAM; ALLEN, 2012; GNIPOVÁ et
al., 2012). Estudos em T. brucei indicam que, associada a uma má função do complexo IV,
(ocasionada pelo knockout dos genes responsáveis pela estruturação do complexo) há uma
ineficiência no transporte de elétrons, levando a formação de espécies reativas de oxigênio (EROs)
(GINGER; SAM; ALLEN, 2012; GNIPOVÁ et al., 2012). As EROs podem ter funções de sinalização
celular (entre a mitocôndria e a célula) e mediar processos de apoptose.
A glicosil transferase (tcr:504215.20) encontra-se envolvida com a produção de mucina.
A mucina é uma glicoproteína que contribui para proteção do parasita e estabelecimento da infecção
no hospedeiro (BUSCAGLIA et al., 2006). Há formação de uma superfície de membrana mosaica
cujas proteínas de membrana atuam na camuflagem do parasita (BUSCAGLIA et al., 2006). A
glicosil transferase, juntamente com a proteína hipotética (tcr:511279.60), cuja função é relacionada
à hidrolases de compostos O-glicosil, atuam na transferência dos resíduos de serina e treonina para
formação de âncoras GPI (glicosil fosfatidilinositol) associadas à proteção (BUSCAGLIA et al.,
2006).
40
A proteína de ligação ao GTP (tcr:508881.110), participa do sistema
de endomembranas Rab + ARF GTPases. As Rab funcionam como proteínas de direcionamento do
transporte endomembranas. Em amastigotas, atua juntamente com a ARF-6 para o transporte de
vesículas (VENKATESH et al., 2017).
A membrana do T.cruzi é recoberta com uma “capa” densa formada por moléculas da
família da trans-sialidase e de glicoproteínas contendo ácido siálico. Essa “capa” garante uma
interface com o ambiente do hospedeiro (OLIVEIRA et al., 2014). A trans-sialidase (tcr: 420293.20;
tcr: 510817.50) é responsável por transferir unidades de ácido siálico para moléculas contendo β-
galactopiranosil, sintetizando exclusivamente ligações α2-3 (OLIVEIRA et al., 2014; RUIZ DÍAZ et
al., 2015). A adição do ácido siálico juntamente com a mucina, confere resistência à lise pelo sistema
complemento do hospedeiro (OLIVEIRA et al., 2014; RUIZ DÍAZ et al., 2015).
41
Figura 9: Distribuição das proteínas diferentemente abundantes entre os isolados da
forma indeterminada (Indeterminated, Coluna Preta) quando comparados aos da forma
cardíaca (Cardiac, Coluna Cinza). Met – Metabolism; Signal – Signaling; CS&M – Cell
Structure and Motility; HP int – Host-parasite interaction; BP – Binding protein to e ND –
Not determinated.
42
Tabela IV: Comparação das proteínas do metabolismo de carboidratos diferentemente
abundantes entre os isolados da forma indeterminada quando comparados aos da forma
cardíaca e vice-versa.
*Nome da proteína e/ou função molecular determinada pelo UNIPROT. Met – metabolismo; C –
metabolismo de carboidrato e E – metabolismo energético. A cor branca refere-se a forma
assintomática da doença e cinza à sintomática (cardíaca).
A proteína não caracterizada (tcr:506977.60) tem função associada ao complexo MICOS
(mitochondrial contact site). Esse grupo de proteínas, descrito em humanos, bactérias e
proteobactérias, é responsável pela formação e manutenção das cristas mitocondriais (HUYNEN et
al., 2016). A manutenção das cristas está relacionada com a manutenção do espaço intermembranas
ID Protein Name MetUnique
peptides
Sequence
coverage
(%)
Molecular
weight
(kDa)
Indeterminate
tcr:504215.20 glycosyltransferase C 1 6.4 68,366
tcr:511279.60 hypothetical protein (hydrolase activity, hydrolyzing O-glycosyl compounds)* C 4 30.8 93,547
tcr:420293.20 C 8 25.5 79,632
tcr:510817.50 C 3 7.1 79,695
tcr:508959.4 cytochrome c E 1 40.4 12,239
tcr:504423.20 electon transport protein SCO1/SCO2 E 3 12.7 46,641
tcr:508881.110 GTP-binding protein E 2 6.3 72,175
tcr:506977.60 hypothetical protein (Uncharacterized protein - MICOS complex)* E 12 27 12,391
tcr:510265.10 quinone oxidoreductase E 3 51.5 36,021
Cardiac
tcr:408345.20 C 1 49.3 31,649
tcr:503793.10 C 2 43.3 38,021
tcr:508207.230 6-phosphofructo-2-kinase/fructose-2,6-biphosphatase C 2 3.8 78.68
tcr:505183.120 aldo/keto reductase C 6 23 35,922
tcr:503815.10 alkyl-dihydroxyacetone phosphate synthase C 2 29 69,316
tcr:506937.10 cytosolic malate dehydrogenase C 4 47.6 35,589
tcr:511025.110 dihydrolipoyl dehydrogenase C 2 67.3 50,588
tcr:510667.120 galactokinase C 3 46.2 51,335
tcr:506953.49 C 3 60.7 31,412
tcr:436535.19 C 4 59.9 31,142
tcr:506529.508 glucose-6-phosphate isomerase, glycosomal C 3 47 68,365
tcr:506885.413 glyceraldehyde-3-phosphate dehydrogenase C 1 22.8 37,262
tcr:503493.10 hypothetical protein (uridylyltransferase activity)* C 4 39.4 55,862
tcr:508741.170 hypothetical protein (Uncharacterized Protein - glycerate kinase activity)* C 3 53.3 56,114
tcr:506177.20 lectin, mannose-binding vacuolar ptn sorting-associated C 3 12.1 66,019
tcr:508647.270 malic enzyme C 2 32.3 63,626
tcr:511911.130 phosphoglucomutase C 4 56.3 65,856
tcr:503955.40 C 3 11.9 78,216
tcr:506471.30 C 4 14.1 83,287
tcr:503767.10 C 2 16.1 78,458
tcr:508673.20 UDP-Gal or UDP-GlcNAc-dependent glycosyltransferase C 1 6.4 42,547
tcr:508183.10 5-demethoxyubiquinone hydroxylase, mitochondrial E 3 23.9 22,936
tcr:509011.70 adrenodoxin precursor E 2 22.7 17,808
tcr:511751.120 aldehyde dehydrogenase family E 1 5.7 56,857
tcr:509445.30 farnesyl synthetase E 2 16 39,373
tcr:506825.140 hypothetical protein (COX assembly mithocondrial protein)* E 1 11.4 22,096
tcr:507993.10 hypothetical protein (Uncharacterized Protein - proton-transporting ATP synthase complex assembly)* E 2 6.4 43,613
trans-sialidase
2-oxoglutarate dehydrogenase subunit
glucose-6-phosphate dehydrogenase
trans-sialidase
43
e, assim, ao potencial de membrana mitocondrial, necessário para os processos de fosforilação
oxidativa (CHATZI; MANGANAS; TOKATLIDIS, 2016).
Com relação a SCO1/SCO2 (tcr: 504423.20, electron transport protein SCO1/SCO2), em
humanos, participam da via de maturação da citocromo c oxidase (COX) atuando como
metalochaperonas, responsáveis pela formação do sítio de cobre dessa enzima (AICH ET AL E LIFE
2018). Mudanças nos níveis de ATP podem ser relevantes para a sinalização da proteína SCO1, que
regula a homeostase mitocondrial do cobre. Quando os níveis de ATP estão baixos, ocorre a ativação
da AMP quinase que fosforila a p53 (proteína supressora de tumor), que por sua vez, ativa a expressão
da SCO2 para modular o balanço entre a utilização de vias respiratórias e glicolíticas (BAKER;
COBINE; LEARY, 2017). Não foram encontradas referências na literatura relacionadas a essas
chaperonas em tripanossomatídeos.
Não encontramos trabalhos relacionados à função da quinona oxidoredutase (tcr:
510265.10) em tripanossomatídeos e parasitos em geral. Entretanto, em ratos, a NAD(P)H quinona
oxidorredutase 1 (NQO1) e 2 (NQO2) conferem proteção contra o estresse oxidativo e carcinogênese.
O knockout da NQO1 leva à diminuição da p53 reduzida e menor taxa de apoptose. Dados na literatura
sugerem que a NQO2 funciona similarmente à NQO1 (LEE et al., 2013).
Dentre as proteínas diferentemente abundantes da forma cardíaca (23), encontram-se a 2-
oxoglutarato (tcr:408345.20 e tcr:503793.10), pertencentes ao complexo da piruvato desidrogenase
que catalisa a conversão de piruvato a acetil-coA e CO2, na mitocôndria (BUSCAGLIA et al., 1996;
HAUSER et al., 1996; ZHUO et al., 2017). Também presente no mesmo complexo há a dihidrolipil-
dehidrogenase (tcr:511025.110) envolvida na clivagem de glicina e componente de alpha-keto ácido
desidrogenases, tal como a piruvato desidrogenase (GUTIÉRREZ-CORREA, 2010).
Foram encontradas também em abundância a 6-fosfofruto-2-quinase/frutose 2,6
bisfosfato (tcr:508207.230), moduladora alostérica positiva da piruvato quinase e da
fosfofrutoquinase 1, sendo importante para a regulação do metabolismo de
carboidratos(CHEVALIER et al., 2005); família de proteínas aldeído desidrogenase
(tcr:511751.120) possuem papel importante na oxidação de aldeídos, estando presentes na via
glicolítica e no metabolismo de álcool. Em Entamoeba histolytica, estima-se que as proteínas desse
grupo estão associadas à formação de acetil-CoA (PINEDA et al., 2010).
44
Associada à resistência natural ao BNZ, encontramos a enzima Aldo-ceto redutase
(tcr:505183.120), que juntamente com a álcool desidrogenase apresentam papel de redutase
específica à naptoquinonas, sendo dependentes de NADPH (GARCÍA-HUERTAS et al., 2017).
Alquildihydroxicetona (tcr:503815.10), em Leishmania sp. atua na formação de éter
lipídios que participam em associações com âncoras GPI e glicoproteínas de membrana associadas
ao glicossomo (LUX et al., 2000).
Associada à cadeia transportadora de elétrons, encontra-se a proteína de agrupamento
mitocondrial COX1 (proteína hipotética, tcr:506825.140), responsável pela manutenção das proteínas
do complexo IV (em humanos) (CLEMENTE et al., 2013). A 5-demethoxiubiquinona hidrolase
(mitocondrial), proteína homóloga a COQ7 – biossíntese de ubiquinona (tcr: 508183.10), é a proteína
que intermedia a formação da ubiquinona, cofator responsável pelo transporte de elétrons entre o
complexo II e o III (STENMARK et al., 2001).
A malato desidrogenase citosólica (tcr:506937.10) é responsável pela conversão de
malato a piruvato e formação de NADPH. Em T.cruzi participa do catabolismo de aminoácidos
aromáticos, no citosol, tendo relevância metabólica no equilíbrio redox (LEROUX et al., 2011;
RONDÓN-MERCADO et al., 2017). Foi encontrada também a enzima málica (tcr:508647.270) que
possui duas isoenzimas, a citosólica e a mitocondrial. É responsável pela catálise de piruvato a malato
e é modulada positivamente na presença de L-aspartato e NADPH (RANZANI et al., 2017).
A galactoquinase (tcr:510667.120) atua na síntese da UDP galactose e formação de
glicoconjugados que, em T.cruzi, são importantes para sobrevivência do parasita(LOBO-ROJAS et
al., 2016). A fosfoglicomutase (tcr:511911.130) catalisa a interconversão de Glicose-6-fosfato e
Glicose-1-fosfato, sendo também um intermediador na síntese de galactose. O que justitifca o parasita
não possui transportador para esse açúcar tendo que o produzir endogenamente, (PENHA et al.,
2009). A proteína hipotética (tcr: 503493.10) tem possível função de uridilatransferase. Pode
participar do metabolismo de galactose, sendo a enzima responsável pela formação da UDP-galactose
(YUZYUK et al., 2018). A UDP-galactose (tcr:508673.20) participa na ativação dessa molécula de
galactose, a fim de torná-la energeticamente viável em suas reações de interconversão (ROPER;
FERGUSON, 2003).
Presente na via das pentoses,a glicose-6-desidrogenase (tcr:506953.49 e tcr:436535.19),
que realiza a conversão da β-d-glicose-6-fosfato à 6-fosfoglico-δlactona e tem como resultado a
45
redução do NADP+ a NADPH + H+ (coenzima importante para a detoxificação de hidroperóxidos do
parasita) e ribose-5-fosfato, utilizada na síntese de nucleotídeos (LIMA et al., 2015; MERCALDI et
al., 2016). Essa enzima está relacionada à resistência ao estresse oxidativo gerado pelo H2O2
(MIELNICZKI-PEREIRA et al., 2007).Em T.cruzi está presente tanto no glicossomo, quanto no
citosol.
A Glicose-6-fosfato isomerase (tcr:506529.508), localizada no glicossomo, realiza o
segundo passo da glicólise, na isomerização da glicose-6-fosfato a grutose-6-fosfato (BROUTIN et
al., 2006; IGOILLO-ESTEVE et al., 2007).
A Gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase (GAPDH) (tcr:506885.413) realiza a conversão
de gliceraldeído-3-fosfato para D-glicerato-1,3-bisfosfato e produção de NADH + H+. Além da
participação na via glicolítica, também há indícios que se encontra envolvida na regulação da
transcrição de DNA, sendo um provável indicador de modificações celulares (LEANDRO DE JESUS
et al., 2017).
A lectina (tcr:506177.20) é uma proteína que se associa a glicoproteínas em um sistema
de receptores envolvidos nos processos de endocitose. Em formas epimastigotas e tripomastigotas
são encontradas em compartimentos intracelulares, sendo expostas na membrana quando o parasita
se encontra na forma amastigota (ARROYO-OLARTE et al., 2018; BROSSAS et al., 2017). Neste
caso foi encontrada uma proteína ligante de manose, associada ao endereçamento para o lisossomo
(OLSON; DAHMS, 2015).
A proteína não caracterizada (proteína hipotética, tcr:507993.10) parece estar envolvida
na formação do complexo da ATP sintase. Em E.coli estudos apontam que há formação de
subcomplexos para evitar que qualquer alteração na proteína cause danos à permeabilidade da
membrana mitocondrial (DECKERS-HEBESTREIT, 2013).
Com relação as proteínas, precursor de adrenoredoxina (tcr:509011.70), farnesilsintetase
(tcr:509445.30) e a proteína não caracterizada (atividade sugerida de glicerato quinase) (tcr:
508741.170) não foram encontrados trabalhos relacionados suas funções em tripanosomatídeos e
parasitos em geral. Entretanto, essas proteínas encontram-se anotadas na análise proteômica total de
El-Sayed e colaboradores (EL-SAYED et al., 2005).No caso das trans-sialidases tcr:503955.40;
tcr:506471.30 e tcr:503767.10, podemos afirmar serem isoformas das proteínas de mesmo nome
descritas para forma indeterminada.
46
4.2. Isolados da forma indeterminada vs os da forma Digestiva
O mesmo procedimento foi realizado para as proteínas mais abundantes na análise dos
isolados da forma indeterminada vs. os da forma digestiva 266 foram encontradas pelo DAVID, das
quais 42 não estão anotadas. 26 proteínas predominantes da forma indeterminada foram identificadas
pelo KEGG.Contudo, 197 proteínas foram enquadradas por este software em não encontradas. Desse
modo, uma nova busca foi realizada utilizando outro software, o UNIPROT, a fim de identificar essas
proteínas. O quadro geral após as duas análises e distribuição nos diferentes processos metabólicos
encontra-se ilustrado na Figura 10 (coluna preta).
Para as proteínas mais abundantes nos isolados da forma digestiva, 453 foram
encontradas pelo DAVID, das quais 98 não estão anotadas.65 proteínas abundantes da forma
digestiva foram identificadas pelo KEGG.Porém, 385 proteínas foram enquadradas por este software
como não encontradas. Conforme mencionado anteriormente, uma nova busca foi realizada utilizando
o software UNIPROT. O quadro geral após as duas análises e distribuição nos diferentes processos
metabólicos encontra-se ilustrado na Figura 10 (coluna cinza).
A partir desses dados, as proteínas dos metabolismos de carboidratos e energético foram
selecionadas e organizadas conforme a Tabela VI. Os isolados da forma indeterminada, quando
comparada aos da digestiva, apresentaram 17 proteínas predominantes, das quais 6 foram comuns às
encontradas na análise desta forma com a forma cardíaca da doença: Proteína de transporte de elétrons
SCO1/SCO2 (tcr:504423.20); Proteina de ligação com GTP (tcr:508881.110); Trans-sialidase
(tcr:420293.20 e tcr:510817.50) e Proteína não caracterizada (proteínas hipotéticas, tcr:506977.60 e
tcr:511279.60).
47
Figura 10: Distribuição das proteínas diferentemente abundantes entre os isolados da
forma indeterminada (Indeterminated, Coluna Preta) quando comparados aos da forma
digestiva (Coluna Cinza). Met – Metabolism; Signal – Signaling; CS&M – Cell Structure
and Motility; HP int – Host-parasite interaction; BP – Binding protein to e ND – Not
determinated.
48
Tabela V: Comparação das proteínas do metabolismo de carboidratos diferentemente
abundantes entre a forma indeterminada quando comparados aos da forma digestiva e vice-
versa.
*Nome da proteína e/ou função molecular determinada pelo UNIPROT. Met – metabolismo; C –
metabolismo de carboidrato e E – metabolismo energético. A cor branca refere-se a forma
assintomática da doença e cinza à sintomática (digestiva).
ID Protein Name MetUnique
peptides
Sequence
coverage
(%)
Molecular
weight
(kDa)
Indeterminated
tcr:509875.50 beta galactofuranosyl glycosyltransferase C 2 17.3 50,751
tcr:506263.30 D-isomer specific 2-hydroxyacid dehydrogenase-protein C 2 41 39.15
tcr:511025.50 glucosamine-6-phosphate isomerase C 2 59.1 31,442
tcr:503823.40 glycosyl hydrolase-like protein C 1 7.4 118.62
tcr:505989.74 peroxisome biogenesis factor 1 C 5 10.6 100.68
tcr:511279.60 hypothetical protein (Uncharacterized - hydrolyzing O-glycosyl compounds)* C 4 30.8 93,547
tcr:420293.20 C 8 25.5 79,632
tcr:510817.50 C 3 7.1 79,695
tcr:508387.130 E 5 12.6 54,809
tcr:506297.110 E 3 3.6 138.97
tcr:509597.20 carbonic anhydrase-like protein E 3 13.3 71,129
tcr:504423.20 electon transport protein SCO1/SCO2 E 3 12.7 46,641
tcr:508881.110 GTP-binding protein E 2 6.3 72,175
tcr:510131.40 haloacid dehalogenase-like hydrolase E 3 39.9 34,722
tcr:506977.60 hypothetical protein (Uncharacterized - MICOS complex)* E 2 27 12,391
tcr:507807.10 hypothetical protein (Uncharacterized - ATPase activity)* E 2 1.2 160
tcr:509127.50 mitochondrial carrier protein E 2 20.4 36,462
tcr:509247.20 small GTPase E 3 18.9 30,597
tcr:509011.54 ubiquinol-cytochrome C reductase E 3 33.8 82,634
Digestive
tcr:503793.10 2-oxoglutarate dehydrogenase subunit C 2 43.3 38,021
tcr:503733.20 6-phosphofructo-2-kinase/fructose-2,6-biphosphatase C 1 1.7 83,957
tcr:505183.120 aldo/keto reductase C 6 23 35,922
tcr:503815.10 alkyl-dihydroxyacetone phosphate synthase C 2 29 69,316
tcr:506937.10 cytosolic malate dehydrogenase C 4 47.6 35,589
tcr:510667.120 galactokinase C 3 46.2 51,335
tcr:506953.49 C 3 60.7 31,412
tcr:436535.19 C 4 59.9 31,142
tcr:506529.508 glucose-6-phosphate isomerase, glycosomal C 3 47 68,365
tcr:506885.413 glyceraldehyde-3-phosphate dehydrogenase C 1 22.8 37,262
tcr:506177.20 lectin C 3 12.1 66,019
tcr:508647.270 malic enzyme C 2 32.3 63626
tcr:503641.19 peroxisome assembly protein C 1 16.8 30,927
tcr:511911.130 phosphoglucomutase C 4 56.3 65,856
tcr:503767.10 trans-sialidase C 2 16.1 78,458
tcr:508183.10 5-demethoxyubiquinone hydroxylase, mitochondrial E 3 23.9 22,936
tcr:509717.20 Acetyltransferase component of pyruvate dehydrogenase complex E 5 45.2 49,659
tcr:509011.70 adrenodoxin precursor E 2 22.7 17,808
tcr:507993.10hypothetical protein (Uncharacterized - proton-transporting ATP synthase
complex assembly)*E 2 6.4 43,613
tcr:506825.140 hypothetical ptn (COX assembly mithocondrial protein)* E 1 11.4 22,096
tcr:510647.60 small GTP-binding protein E 1 18.6 20,495
trans-sialidase
ATPase
glucose-6-phosphate dehydrogenase
49
Exclusivas para essa análise encontramos a ATPase (tcr:506297.110 e tcr:508387.130) e
a proteína hipotética com atividade ATPase (tcr:507807.10). Membros da família Na+-ATPases em
T.cruzi estão envolvidas na captação do mio-inositol que é importante para a proliferação do parasita
(SARAIVA et al., 2009).
-galactofuranosil glicosiltransferase (tcr:509875.50), descrita em Trypanosoma
rangelli, está envolvida na produção de gliconjugados para a síntese de proteinas de membrana. Em
T.cruzi a galactofuranose é encontrada na “capa” de lipopeptideosglicanos que estão envolvidos na
adesão à célula mamífera e na internalização do parasita (STOCO et al., 2012).
A glucosamina-6-fosfato isomerase (tcr:511025.50) é descrita como uma proteína de
membrana importante no encistamento em Giardi aintestinalis (ELIGIO-GARCÍA et al., 2011).
Hidrolase ácida dehalogenase-like – HAD-like - (tcr:510131.40) em Leishmania sp.
participa da homeostase de fatores oxidorredutores e detoxificação celular. Participa também da
resposta ao estresse podendo ser responsável pela supressão de genes e utilização de compostos de
reserva, indicando um papel na diferenciação celular (ALCOLEA, 2011).
Com relação ao Fator de biogênese de peroxissomo (tcr:505989.74), estudos realizados
em Leishmania sp. indicam que o peroxissomo e o glicossomo possuem estruturação a partir dos
mesmos genes (PAF1 e PEX2). Essa proteína é responsável pela formação de éteres de lipídios,
fatores relacionados à virulência. Por ser o centro da organização das enzimas responsáveis pela
glicólise e síntese de lipídios nos parasitas, o glicossomo torna-se um importante alvo para o
desenvolvimento de novos fármacos específicos (FLASPOHLER et al., 1997).
Small GTPase (tcr:509247.20) atua juntamente com o transporte por RAB11, associando-
se à âncora GPI com a trans-sialidase, formando o CVC (contractile vacuole complex - rico em
lipídios estruturais), que controla o tráfego de proteínas para a âncora GPI, sendo relacionado à fatores
de invasão (NIYOGI et al., 2015).
A glicosil hidrolase-like (tcr:503823.40) pertence à classe de proteínas responsáveis por
retirar a energia presente nas ligações de carboidratos complexos. São principalmente lisoenzimas, as
quais diminuem significativamente a energia de ativação das reações de hidrólise (DAVIES;
HENRISSAT, 1995).
50
Importante para comunicação entre o citosol e a mitocondria, encontra-se a proteína
carreadora mitocondrial (tcr:509127.50). Essa intercomunicação permite a troca de intermediários
metabólicos, bem como a manutenção do equilíbrio redox da célula. Há relatos dessa família de
carreadores nas funções de transportador de oxoglutarato, bem como na funcionalidade da lançadeira
oxalato/malato em T. brucei, (COLASANTE et al., 2018).
Atuando na cadeia transportadora de elétrons, no core do complexo III, a ubiquinol-
citocromo c redutase (tcr:509011.54) é repsonável pela transferência de elétrons entre a ubiquinona
(complexos I e II) e o complexo-FeS da terceira unidade proteíca da cadeia (LEE, 2014).
A anidrase carbônica proteína-like (tcr: 509597.20) atua na regulação das concentrações
de CO2 celulares e nas taxas de proliferação e virulência dos parasitos (NOCENTINI et al., 2018) e
D-isômero específico 2-hidroxiácido desidrogenase (tcr:506263.30) possui função semelhante a uma
lactato desidrogenase, atuando em processos de fermentação (DIAS et al., 2018).
A forma digestiva apresentou 20 proteínas diferentemente abundantes, sendo 17 comuns
às encontradas na análise da forma indeterminada com a forma cardíaca da doença. Sendo comuns à
forma cardíaca: 2-oxoglutarato desidrogenase (tcr:503793.10); 5-demetoxiubiquinona hidrolase
(tcr:508183.10); 6-fosfofructo-2-kinase/frutose-2,6-bifosfatase (tcr:503733.20); precursor de
adrenodoxina (tcr:509011.70); aldo-ceto redutase (tcr:505183.120); alquil dihidroxicetona fosfato
sintase (tcr:503815.10); proteína hipotética (tcr:506825.140 e tcr:507993.10); malato desidrogenase
citosólica (tcr:506937.10); galactoquinase (tcr:510667.120); glicose-6-fosfato desidrogenase
(tcr:506953.40 e tcr:436535.19); glicose-6-fosfato isomerase – glicossomal (tcr:506529.508);
gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase (tcr:506885.413); lectina (tcr:506177.20); enzima málica
(tcr:508647.270); fosfoglicomutase (tcr:511911.130), trans-sialidade – mesma isoforma –
(tcr:503767.10). Interessantemente, quanto à forma indeterminada da análise anterior, foram
encontradas diferentes isoformas da trans-sialidase.
A acetiltransferase – componente do complexo piruvato desidrogenase (tcr:509717.20)
catalisa a conversão de piruvato a acetil-CoA e CO2 na mitocôndria(WANG et al., 2014).
O peroxissomo encontra-se co-relacionado ao glicossomo, e o fator de formação do
peroxissomo (tcr:503641.19) atua na biogênese da matriz glicossomal, bem como à sua membrana
(FLASPOHLER et al., 1997).
51
Por fim, small GTP de ligação (tcr:510647.60), assim como as GTPs descritas
anteriormente, parecem estar correlacionadas ao sistema de vesículas associado à Rab11
(VENKATESH et al., 2017).
4.3. Isolados da forma indeterminada vs os da forma Cardiodigestiva
Comparando-se as proteínas abundantes nos isolados da forma indeterminada com os da
forma cardiodigestiva, 240 foram encontradas pelo DAVID, das quais 46 não estão anotadas pelo
software. 27 proteínas abundantes da forma indeterminada foram identificadas pelo KEGG.
Entretanto, 212 proteínas foram enquadradas por este software em não encontradas. Desse modo,
uma nova busca foi realizada utilizando o software UNIPROT. O quadro geral após as duas análises
e distribuição nos diferentes processos metabólicos encontra-se ilustrado na Figura 11 (coluna preta).
Para as proteínas abundantes nos isolados da forma cardiodigestiva, 417 foram
encontradas pelo DAVID, das quais 93 não estão anotadas. 56 proteínas abundantes da forma
indeterminada foram identificadas pelo KEGG e 361 proteínas foram enquadradas por este software
como não encontradas. Desse modo, uma nova busca foi realizada, utilizando o software UNIPROT.
O quadro geral após as duas análises e distribuição nos diferentes processos metabólicos encontra-se
ilustrado na Figura 11 (coluna preta).
52
Figura 11: Distribuição das proteínas diferentemente abundantes entre os isolados da
forma indeterminada (Indeterminated, Coluna Preta) quando comparados aos da forma
cardiodigestiva (Coluna Cinza). Met – Metabolism; Signal – Signaling; CS&M – Cell
Structure and Motility; HP int – Host-parasite interaction; BP – Binding protein to e ND –
Not determinated.
A partir desses dados, as proteínas dos metabolismos de carboidratos e energético foram
selecionadas e organizadas conforme a Tabela VII.
53
Os isolados da forma indeterminada, quando comparados aos da cardiodigestiva,
apresentaram 12 proteínas mais abundantes, nas quais apenas três foram não foram anteriormente
descritas: ATP sintase, cadeia alfa – precursor mitocondrial (tcr:510395.10) e ATP sintase vacuolar
(tcr:511145.50), que participam de processos de produção de energia.
Tabela VI: Comparação das proteínas do metabolismo de carboidratos diferentemente
abundantes entre a forma indeterminada quando comparados aos da forma cardiodigestiva e
vice-versa.
Proteínas identificadas com*Nome da proteína e/ou função molecular determinada pelo UNIPROT.
Met – metabolismo; C – metabolismo de carboidrato e E – metabolismo energético. A cor branca
refere-se a forma assintomática da doença e cinza à sintomática cardiodigestiva).
ID Protein Name MetUnique
peptides
Sequence
coverage
(%)
Molecular
weight
(kDa)
Indeterminated
tcr:511279.60 hypothetical protein (Uncharacterized - hydrolyzing O-glycosyl compounds)* C 4 30.8 93,547
tcr:505989.74 peroxisome biogenesis factor 1 C 5 10.6 100.68
tcr:420293.20 C 8 25.5 79,632
tcr:510817.50 C 3 7.1 79,695
tcr:510395.10 ATP synthase, alpha chain, mitochondrial precursor E 1 36.4 25,857
tcr:508959.4 cytochrome c E 1 9.6 12,239
tcr:504423.20 electon transport protein SCO1/SCO2 E 3 12.7 46,641
tcr:508881.110 GTP-binding protein E 2 6.3 72,175
tcr:506977.60 hypothetical protein (Uncharacterized - MICOS complex)* E 3 8.3 108.6
tcr:510877.120 NADPH-dependent FMN/FAD containing oxidoreductase E 7 17.5 68,631
tcr:503809.20 E 2 14.1 45,092
tcr:508479.190 E 5 21 33,814
tcr:509247.20 small GTPase E 3 18.9 30,597
tcr:511145.50 vacuolar ATP synthase E 1 7.7 19,781
Cardiodigestive
tcr:408345.20 C 1 49.3 31,649
tcr:503793.10 C 2 43.3 38,021
tcr:506937.10 cytosolic malate dehydrogenase C 4 47.6 35,589
tcr:506953.49 C 3 60.7 31,412
tcr:436535.19 C 4 59.9 31,142
tcr:506529.508 glucose-6-phosphate isomerase, glycosomal C 3 47 68,365
tcr:506885.413 glyceraldehyde-3-phosphate dehydrogenase C 1 22.8 37,262
tcr:503493.10 hypothetical protein (Uncharacterized - uridylyltransferase activity)* C 4 39.4 55,862
tcr:506177.20 lectin C 3 12.1 66,019
tcr:508647.270 malic enzyme C 2 32.3 63,626
tcr:511911.130 phosphoglucomutase C 4 56.3 65,856
tcr:503767.10 C 2 16.1 78,458
tcr:503955.40 C 3 11.9 78,216
tcr:509281.20 C 1 6.7 79,272
tcr:508183.10 5-demethoxyubiquinone hydroxylase, mitochondrial E 3 23.9 22,936
tcr:509011.70 adrenodoxin precursor E 2 22.7 17,808
tcr:506825.140 hypothetical protein (COX assemble mithocondrial protein)* E 1 11.4 22,096
tcr:507993.10 hypothetical protein (Uncharacterized - proton-transporting ATP synthase complex assembly)* E 2 27 12,391
tcr:506401.50 malonyl-CoA decarboxylase, mitochondrial E 3 7 80,297
tcr:503999.70 ras-family member, GTP-binding protein E 4 15.6 42,984
tcr:510647.60 small GTP-binding protein E 1 18.6 20,495
2-oxoglutarate dehydrogenase subunit
glucose-6-phosphate dehydrogenase
peroxisome assembly protein
trans-sialidase
trans-sialidase
54
A proteína NADPH dependente FMN/FAD – com atividade de oxidorredutase
(tcr:510877.120) atua na redução de ERNs (espécies reativas de nitrogênio) e EROs, provenientes do
metabolismo do parasita (PORTAL et al., 2008).
Os isolados da forma cardiodigestiva apresentaram 16 proteínas mais abundantes, das
quais 16 foram comuns às análises anteriormente analisadas, destacando-se as isoformas da trans-
silidase, nas quais a tcr:503767.10 é comum aos isolados das formas cardíaca e digestiva e a
tcr:509281.20 apenas aos da forma cardíaca. A proteína hipotética (tcr:503493.10) exclusiva apenas
aos isolados da forma cardíaca e as outras 14 proteínas foram comuns aos isolados das duas formas
sintomáticas. A trans-sialidase (isoformas diferentes), foram comuns às análises dos isolados das
formas indeterminadas.
4.4. Isolados da forma Cardíaca vs os da forma Cardiodigestiva
Comparando-se as proteínas abundantes desses dois grupos de isolados, para os isolados
da forma cardíaca, 360 proteínas foram encontradas pelo software DAVID conforme ilustrado na
Figura 12 (coluna preta). Para os isolados da manifestação cardiodigestiva, foram identificadas 166
proteínas abundantes, classificadas na Figura 12 (coluna cinza).
Para esta análise, todas as proteínas relacionadas ao metabolismo energético e de
carboidratos, Tabela VIII, encontradas foram anteriormente descritas.
55
Figura 12: Distribuição das proteínas diferentemente abundantes entre os isolados da
forma indeterminada (Indeterminated, Coluna Preta) quando comparados aos da forma
cardiodigestiva (Coluna Cinza). Met – Metabolism; Signal – Signaling; CS&M – Cell
Structure and Motility; HP int – Host-parasite interaction; BP – Binding protein to e ND – Not
determinated.
56
Tabela VII: Comparação das proteínas do metabolismo de carboidratos diferentemente
abundantes entre a forma cardíaca quando comparados aos da forma cardiodigestiva e vice-
versa.
Proteínas identificadas com*Nome da proteína e/ou função molecular determinada pelo UNIPROT.
Met – metabolismo; C – metabolismo de carboidrato e E – metabolismo energético. A cor branca
refere-se a forma cardiodigestiva da doença e cinza à cardíaca).
4.5. Isolados da forma Digestiva vs os da forma Cardiodigestiva
Quando comparadas as proteínas abundantes nos isolados da forma digestiva vs os da
forma cardiodigestiva 270 foram encontradas pelo DAVID para os isolados da forma digestiva,
conforme ilustrado na Figura 13 (coluna preta). Para os isolados da manifestação cardiodigestiva,
foram identificadas 217 proteínas abundantes (Figura 13, coluna cinza).
ID Gene Name MetUnique
peptides
Sequence
coverage (%)
Molecular
weight
Cardiodigestive
tcr:504867.90 glycerol-3-phosphate acyltransferase C 5 10.1 79,402
tcr:504215.20 glycosyltransferase C 1 6.4 68,366
tcr:504147.180 hypothetical protein E 2 7.4 41,256
tcr:506401.50 malonyl-CoA decarboxylase, mitochondrial precursor E 3 7 80,297
tcr:503999.70 ras-family member, GTP-binding protein E 4 15.6 42,984
Cardiac
tcr:508207.230 6-phosphofructo-2-kinase/fructose-2,6-biphosphatase C 2 3.8 78.68
tcr:505183.120 aldo/keto reductase C 6 23 35,922
tcr:503815.10 alkyl-dihydroxyacetone phosphate synthase C 2 29 69,316
tcr:511025.110 dihydrolipoyl dehydrogenase C 2 67.3 50,588
tcr:510667.120 galactokinase C 3 46.2 51,335
tcr:508741.170 hypothetical protein C 3 53.3 56,114
tcr:397937.5 N-acetylglucosamine-6-phosphate deacetylase-like protein C 1 47.7 14,348
tcr:506471.30 trans-sialidase C 4 14.1 83,287
tcr:508673.20 UDP-Gal or UDP-GlcNAc-dependent glycosyltransferase C 1 6.4 42,547
tcr:511751.120 aldehyde dehydrogenase family E 1 5.7 56,857
tcr:510395.10 ATP synthase, alpha chain, mitochondrial precursor E 1 36.4 25,857
tcr:509445.30 farnesyl synthetase E 2 16 39,373
tcr:503811.50 hypothetical protein E 1 9.9 46,783
tcr:506579.110 hypothetical protein E 3 8.3 108.6
tcr:509169.30 hypothetical protein E 1 28 45,439
tcr:510877.120 NADPH-dependent FMN/FAD containing oxidoreductase E 7 17.5 68,631
tcr:503809.20 peroxisome assembly protein E 2 14.1 45,092
tcr:511145.50 vacuolar ATP synthase E 1 7.7 19,781
57
Figura 13: Distribuição das proteínas diferentemente abundantes entre os isolados da
forma indeterminada (Indeterminated, Coluna Preta) quando comparados aos da forma
cardiodigestiva (Coluna Cinza). Met – Metabolism; Signal – Signaling; CS&M – Cell
Structure and Motility; HP int – Host-parasite interaction; BP – Binding protein to e ND –
Not determinated.
58
Para esta análise, todas as proteínas relacionadas ao metabolismo energético e de
carboidratos encontradas, Tabela IX, foram descritas anteriormente.
Tabela VIII: Comparação das proteínas do metabolismo de carboidratos diferentemente
abundantes entre a forma digestiva quando comparados aos da forma cardiodigestiva e vice-
versa.
Proteínas identificadas com*Nome da proteína e/ou função molecular determinada pelo UNIPROT.
Met – metabolismo; C – metabolismo de carboidrato e E – metabolismo energético. A cor branca
refere-se a forma cardiodigestiva da doença e cinza à digestiva).
ID Gene Name MetUnique
peptides
Sequence
coverage (%)
Molecular
weight
Cardiodigestive
tcr:408345.20 2-oxoglutarate dehydrogenase subunit C 1 49.3 31,649
tcr:509875.50 beta galactofuranosyl glycosyltransferase C 2 17.3 50,751
tcr:511025.50 glucosamine-6-phosphate isomerase C 2 59.1 31,442
tcr:503823.40 glycosyl hydrolase-like protein C 1 7.4 118.62
tcr:503955.40 C 3 11.9 78,216
tcr:509281.20 C 1 6.7 79,272
tcr:506297.110 E 3 3.6 138.97
tcr:508387.130 E 5 12.6 54,809
tcr:509597.20 carbonic anhydrase-like protein E 3 13.3 71,129
tcr:509649.59 hypothetical protein (GTP binding) E 1 10 46,901
tcr:509127.50 mitochondrial carrier protein E 2 20.4 36,462
tcr:503999.70 ras-family member, GTP-binding protein E 4 15.6 42,984
tcr:509011.54 ubiquinol-cytochrome C reductase E 3 33.8 82,634
Digestive
tcr:503733.20 6-phosphofructo-2-kinase/fructose-2,6-biphosphatase C 1 1.7 83,957
tcr:505183.120 aldo/keto reductase C 6 23 35,922
tcr:503815.10 alkyl-dihydroxyacetone phosphate synthase C 2 29 69,316
tcr:510667.120 galactokinase C 3 46.2 51,335
tcr:510395.10 ATP synthase, alpha chain, mitochondrial precursor E 1 36.4 25,857
tcr:508959.4 cytochrome c E 1 40.4 12,239
tcr:510877.120 NADPH-dependent FMN/FAD containing oxidoreductase E 7 17.5 68,631
tcr:503641.19 E 1 16.8 30,927
tcr:503809.20 E 2 14.1 45,092
tcr:510265.10 quinone oxidoreductase E 3 51.5 36,021
tcr:511145.50 vacuolar ATP synthase E 1 7.7 19,781
ATPase
trans-sialidase
peroxisome assembly protein
59
5. DISCUSSÃO
Parte I: Uma história contada de trás para frente: o histórico dos pacientes
A história dos isolados de T. cruzi a partir do histórico dos pacientes
A maioria dos pacientes que chega ao GEDoCh reside ou passou parte da vida em área
endêmica para doença de Chagas. O mesmo padrão pode ser observado em sete dos oito históricos
dos pacientes dos quais se originaram os isolados clínicos utilizados no presente estudo. nica exceção
é o paciente MFS que será descrito adiante. Além disso, é registrado que, em sua maioria, os pacientes
possuem casos de doença de Chagas na família. É interessante observar a variedade de formas clínicas
de uma mesma região. Como observado na Tabela I, os pacientes MHBL e MAB relatam, em seus
prontuários, que há parentes com a doença de Chagas, porém com formas clínicas diferentes daquelas
que possuem.
Dentre os isolados há três casos que se destacam. MHBL é um paciente que teve
reativação, ou seja, a parasitemia foi detectável após tratamento de imunossupressão (LATTES;
LASALA, 2014; PINAZO et al., 2013). MFS, por sua vez, teve sua infecção a partir de transfusão
sanguínea ainda quando recém-nascida. Apesar do alto índice de cura relatado em crianças na fase
aguda tratadas com BNZ, a paciente não respondeu ao tratamento com o fármaco. Uma hipótese que
pode ser levantada é ter ocorrido uma seleção por pressão do BNZ no doador de sangue, selecionando
os parasitos resistentes ao fármaco. O terceiro caso é do paciente MSLS que possui diagnóstico
positivo para doença de Chagas, porém sorologia negativa. Tal fato, considerado um fator de risco
em áreas endêmicas, pode ser resultante de um déficit na resposta humoral do hospedeiro após a
infecção pelo parasito (FURUCHÓ et al., 2008; SALOMONE et al., 2003; ZINGALES, 2017).
60
Parte II: “Pois aqui, como vê, você tem que correr o mais que pode para continuar no mesmo
lugar”2: a estratégia do parasita para se adaptar ao ambiente de seu hospedeiro.
A Hipótese da Rainha Vermelha, proposta em 1973 por Leigh Van Halen (VALEN,
1973), serve como contexto interessante para analise dos parasitas estudados. De acordo com a
mesma, a co-evolução funciona como uma corrida armamentista entre parasitas e hospedeiros, já que
um encontra-se sob pressão do outro (DECAESTECKER et al., 2007; RABAJANTE et al., 2015;
STENSETH; SMITH, 1984; VALEN, 1973). Quaisquer vantagens ou desvantagens adquiridas pelos
parasitas em relação ao hospedeiro são passadas para as próximas gerações, bem como as adaptações
do hospedeiro para conter os avanços do parasita (RABAJANTE et al., 2015; STENSETH; SMITH,
1984). Desse modo, ambos evoluem para permanecer em um mesmo lugar, no qual o hospedeiro não
seja prejudicado pelo parasita, que por sua vez necessita sobreviver nesse hospedeiro hostil.
Com esse plano de fundo, podemos analisar o comportamento dos parasitas em seus
respectivos hospedeiros. O fator ambiental, ou seja, o hospedeiro, pode ser de grande ajuda para
compreendermos as diferenças entre isolados de mesma forma clínica e as diferenças entre as formas
clínicas. Como observado, isolados de mesma forma clínica possuem algumas características comuns,
porém há diferenças entre as quatro formas da doença de Chagas. Para tentarmos desvendar tal
questão é necessário um olhar no tecido no qual os parasitas se hospedam.
Os isolados clínicos podem ser um representativo daqueles que melhor se adaptaram ao
hospedeiro e prosseguem seu ciclo biológico escapando do controle do sistema imune do hospedeiro.
Após estabelecimento da fase crônica, há estudos em modelo animal que indicam que os parasitas
primeiramente criam ninhos nos tecidos intestinais e depois, sob influência do sistema imune do
hospedeiro, há migração para outros tecidos (FERREIRA et al., 2016; HENRIQUES et al., 2014;
LEWIS et al., 2014).
Uma hipótese, a partir dos resultados obtidos, para o tropismo do parasito pode ser a
alteração epigenética ocasionada por sinalizadores metabólicos. Tais sinalizadores podem resultar em
alterações na expressão de enzimas da glicólise tornando o parasito melhor adaptado para
determinado tecido, aumentando assim sua proliferação e dano celular, caracterizando as fibroses.
2 “Now here, you see, it takes all the running you can do, to keep in the same place” (Lewis Carroll – Alice Trough the Looking Glass)
61
A utilização de carboidratos pelo epitélio digestório como combustível energético precisa
ser secundária, já que é a partir daí que a glicose será absorvida e disponibilizada para tecidos
altamente dependentes de glicose (NEWSHOLME; CARRIE, 1994; ROEDIGER, 1982). Dessa
maneira, há maior disponibilidade de glicose para os tecidos musculares adjacentes. Tal fato pode
explicar a curva de proliferação das formas indeterminadas. De forma similar o tecido cardíaco utiliza
cerca de 35-40% de carboidratos como combustível principal (PINNELL; TURNER; HOWELL,
2007), favorecendo a via da β-oxidação para obtenção de energia (cerca de 60%) (PINNELL;
TURNER; HOWELL, 2007).
Em nossas condições experimentais, os isolados da forma indeterminada e cardíaca
apresentaram uma dependência significativa em relação a glicose (Figura 7). Para as formas
digestivas, é importante ser observado outro mecanismo: a presença da fase estacionária de
proliferação. Esses isolados, e o isolado AP, podem possuir um maquinário metabólico preparado
para utilização de aminoácidos, garantindo a presença da fase estacionária, mesmo com a depleção
de carboidratos no meio. Tal fato pode estar associado ao metabolismo de glutamina presente no
tecido intestinal. A glutamina será convertida a 2-oxoglutarato (NEWSHOLME; CARRIE, 1994;
ROEDIGER, 1982), que poderá ser utilizado para o ciclo de Krebs dos parasitos.
Curvas de Proliferação: como o histórico do paciente influencia o comportamento dos parasitas
A análise dos genótipos dos oito isolados clínicos foi realizada por nosso grupo. Fatores
como a distribuição geográfica dos diferentes genótipos de T. cruzi e casos clínicos relatados
contribuem para a teoria de que existe uma relação entre alguns dos genótipos e a forma clínica da
doença. Isso ocorre em três grupos: TcI - formas indeterminadas e cardíacas; TcII e TcV - forma
digestiva. Entretanto, diferentemente do esperado, sete isolados (independentemente da sua forma
clínica) pertencem à mesma DTU (TcII), enquanto apenas um isolado da forma indeterminada
pertence à TcIII (MJFL) (BUSCAGLIA; DI NOIA, 2003; CARRANZA et al., 2009; ZINGALES,
2011). No entanto, esse fato é explicado pela distribuição geográfica da DTU na América do Sul
(Figura 3) (ZINGALES, 2011).
Uma característica que nos chamou atenção nas culturas das formas epimastigotas foi a
coloração do precipitado celular que provavelmente reflete o conteúdo de heme (CAZZULO;
SUNDARAM; KORNBERG, 1969; HEALY et al., 1992). A hemina atua como fonte de heme para
62
os organismos (CUPELLO et al., 2011) e, no caso de T. cruzi, o parasito precisa captar essa molécula
a partir do meio, já que não a sintetiza (CUPELLO et al., 2011). O heme é importante fonte de ferro
para a célula, criando um ambiente redutor, principalmente na mitocôndria, compondo não apenas,
mas também, proteínas da cadeia respiratória (citocromo c, citocromo c oxidase e citocromo c
redutase (CUPELLO et al., 2011)).
Assim, o estudo dos isolados começou a dar relevância a um outro fator: a interferência
do meio ambiente (sistema fisiológico de cada paciente) no tropismo do parasita nos tecidos para a
manifestação clínica. Ao mudar o ambiente fisiológico dos parasitas para um comum a todos (meio
de cultura), foi possível observar que isolados provenientes das diferentes formas clínicas
apresentaram diferentes perfis de proliferação. No entanto, existem semelhanças quando comparadas
entre seus pares biológicos, ou seja, isolados da mesma forma clínica provenientes de pacientes
diferentes.
Conforme observado na Figura 7, os isolados de pacientes portadores da forma
indeterminada e cardíaca têm maior dependência da glicose. Pois, perto do terceiro ou quarto dia há
queda no número de parasitas encontrados na cultura. Os isolados da forma digestiva, no entanto,
parecem ter maior sobrevivência à falta de glicose no meio, apresentando na curva uma fase
estacionária duradoura. Curiosamente, nos isolados de formas cardiodigestivas, há uma diferença
entre o padrão das duas curvas. Essa diferença pode ser explicada a partir da análise do histórico da
doença nos pacientes. O isolado do paciente SAO, conforme descrito em seu registro médico,
permaneceu 40 anos na forma indeterminada da doença, quando houve mudança do diagnóstico para
a forma cardíaca e 13 anos depois, o paciente apresentou outra alteração, tornando-se cardiodigestivo.
A curva de proliferação da SAO quando comparada a curva do isolado da forma indeterminada,
MJFL, apresenta TC semelhante, mas não TD. O outro paciente cardiodigestivo, AP, entrou no
GEDoCh como um paciente digestivo. Da mesma forma, a curva AP se assemelha de forma
significativa quanto ao TC e não quanto ao TD, quando comparada ao isolado MSLS, também
digestivo.
Os achados da EC50 para o BNZ dos isolados clínicos (Figura 8) apresentam valores
próximos aos encontrados em outros estudos com cepas de mesma DTU (TcII e TcIII), sendo de
aproximadamente 2,4 μg/mL (BANDYOPADHYAY et al., 2018; MORENO et al., 2010; PÉREZ-
MOLINA et al., 2015; SABINO et al., 2013). Nos prontuários médicos apenas três pacientes
relataram o uso anterior do BNZ. O paciente MHBL interrompeu o uso devido a efeitos colaterais;
63
MFS não respondeu ao tratamento e MSLS concluiu o tratamento indicado. Apenas o isolado MJFL
apresentou alta resistência ao BNZ. Curiosamente, este é o único isolado caracterizado como TcIII,
o qual é predominante no ciclo silvestre da doença, parasitando principalmente tatus (HENRIQUE et
al., 2016; YEO et al., 2005). No Brasil e Paraguai tal DTU encontra-se principalmente em cachorros,
sendo rara em humanos (YEO et al., 2005). Vale a pena ressaltar que a ativação da droga pelo
hospedeiro mamífero e parasita (WILKINSON et al., 2012) é realizada por diferentes enzimas,
citocromo P450 e nitroredutase, respectivamente, que pode explicar a diferença encontrada.
Parte III: Um doce questionamento: seria o metabolismo de carboidratos o protagonista?
O metabolismo de carboidratos em T. cruzi apresenta diferenças significativas entre as
formas replicativas. A fase epimastigota encontra-se em um ambiente rico em carboidratos, o
intestino de seu inseto vetor (MAUGERI; CANNATA; CAZZULO, 2011), já a forma amastigota
intracelular, encontra-se um ambiente com carboidratos escassos. Essa diferença ambiental faz com
que haja mudança nos metabolismos das duas formas: os amastigotas aparentemente não possuem
transportadores para glicose, favorecendo a síntese de proteínas envolvidas no metabolismo de
aminoácidos (CAZZULO, 1992; MAUGERI; CANNATA; CAZZULO, 2011).
A forma epimastigota e a forma tripomastigota possuem metabolismos semelhantes,
apresentando alto consumo de glicose, podendo, além disso, utilizar aminoácidos como fonte de
energia. O metabolismo dessas formas é também conhecido como “fermentação aeróbia da glicose”
(MAUGERI; CANNATA; CAZZULO, 2011), uma vez que compostos não completamente reduzidos
são produzidos e excretados, como o succinato e a alanina, ao invés da completa oxidação da glicose
a CO2 e H2O. O balanço entre a produção de succinato e alanina é alterado a depender da concentração
de CO2, i.e., altas concentrações favorecem a produção de succinato pela fosfoenolpiruvato
carboxiquinase. Uma possível razão para esse fato seria a deficiência no conteúdo de citocromos da
cadeia respiratória mitocondrial que a torna incapaz de oxidar altas concentrações de succinato,
resultando assim na sua excreção (MAUGERI; CANNATA; CAZZULO, 2011). Outro fato
interessante é que ao contrário das leveduras, esses parasitos não estão sob o “efeito Pasteur”, ou seja,
a mudança de metabolismo anaeróbio para o aeróbio ser acompanhado de uma diminuição na
utilização da glicose. Pelo contrário, realizam o chamado “efeito Pasteur reverso”, onde o consumo
de glicose pode ser bem menor em condições anaeróbias. Esse comportamento ocorre devido à
ausência dos principais controles da via glicolítica (MAUGERI; CANNATA; CAZZULO, 2011).
64
A glicolise, diferentemente do que ocorre nas células humanas, tem seus seis primeiros
passos dentro de uma organela, o glicossomo. O transporte de glicose para o interior do glicossomo
ainda não está elucidado, podendo ocorrer através de poros de difusão, tal como ocorre nos
peroxissomos, ou a partir de proteínas de membrana com características de transportador ou carreador
(MULLER; CERDAN; RADULESCU, 2016). As outras 3 enzimas da glicólise encontram-se no
citosol e a fase oxidativa da quebra completa da glicose ocorre na mitocôndria. Dentro do glicossomo
também encontram-se as enzimas da via das pentoses fosfato e da β-oxidação (MAUGERI;
CANNATA; CAZZULO, 2011). Dando suporte a esses dados, nos experimentos de consumo de
oxigênio realizados com os isolados estudados, observou-se maior dependência de glicose quando
comparado com a cepa Y, que já está adaptada ao meio de cultura (Nakamura et al, em preparação).
O “doce metabolismo” em questão torna-se interessante quando se observa o ciclo
biológico do parasito. O T.cruzi passa por ambientes diversos durante seu desenvolvimento o que
exige uma plasticidade metabólica (LEANDRO DE JESUS et al., 2017). Essa plasticidade é obtida a
partir da modificação de sua cromatina, permitindo que regiões tornem-se mais ou menos expressas
(JANKE; DODSON; RINE, 2015). Estudos sugerem que para essa ação epigenética é importante a
presença da enzima treonina desidrogenase mitocondrial, responsável pela metabolização da treonina
levando a produção de Acetil-CoA (BRINGAUD; RIVIÈRE; COUSTOU, 2006), além da alteração
morfológica do parasita durante seu ciclo de vida (PARIONA-LLANOS et al., 2015). Alterações
epigenéticas também podem ser a chave para entender como pacientes portadores da forma
assintomática (indeterminada) da doença de Chagas evoluem para formas sintomáticas.
Comparando as proteínas encontradas relacionadas ao metabolismo de carboidratos e
energético entre os isolados da forma indeterminada e cardíaca, observa-se maior abundância
daquelas relacionadas à degradação de carboidratos (como a aldeído desidrogenase e aldoceto-
redutase) e relacionadas à estruturas de superfície (bem como as enzimas envolvidas na síntese de
galactose) e via glicolítica e cadeia transportadora de elétrons nos isolados da forma sintomática da
doença, que utiliza mais carboidratos em seu metabolismo (Figura 14).
Os isolados da forma cardíaca estudados apresentam maior abundância da glicose-6-
fosfato desidrogenase, presente na via das pentoses fosfato que pode ocorrer tanto no glicossomo
quanto no citosol. A presença dessa proteína confere maior poder redutor na forma de NADPH + H+
tanto no glicossomo, que poderá ser utilizado na β-oxidação de lipídios, quando no citosol, que poderá
65
ser utilizado para detoxificação de hidroperóxidos. Em relação à via glicolítica, há maior prevalência
do complexo fosfofrutoquinase 2,6 bifosfato/Frutose 2,6 bifosfatase, fato que representa a produção
do modulador alostérico positivo da Piruvato Quinase (PK), a frutose-2,6-bifosfato. A PK, caso esteja
modulada negativamente, levará ao aumento da concentração de fosfoenolpiruvato (PEP), que será
encaminhado ao glicossomo, onde poderá levar a formação de succinato ou L-alanina. A produção
desses dois compostos é uma forma de re-oxidar o NADH+H+ produzido nas etapas iniciais da via
glicolítica (MAUGERI; CANNATA; CAZZULO, 2011).
Outras enzimas da via glicolítica, GAPDH e a glicerato quinase contribuem para uma
maior eficiência dessa via. Como não há diferenças significativas no tempo de duplicação (Tabela
II) e na fase log de proliferação, onde há um intenso consumo desse carboidrato (Figura 7), os isolados
da forma indeterminada podem ter compensações, como fatores de estabilidade da crista mitocondrial
(MICOS), carreadores de elétrons como o citocromo c e a quinona oxidase. A maior abundância da
proteína de transporte de elétrons SCO1/SCO2, que é responsável pela estabilização da montagem da
citocromo c oxidase, pode tornar o complexo IV mais eficiente ao manter o centro redutor de cobre
mais estável. E assim, o consumo de glicose entre as formas clínicas aparenta ser semelhante de
acordo com o perfil de proliferação dessas células (Figura 7).
Um ponto a ser ressaltado é a maior abundância da GAPDH em todos os isolados
sintomáticos quando comparados aos indeterminados. Essa enzima da via glicolítica é apontada como
alvo para novos fármacos. Também relacionada com o remodelamento da cromatina dos parasitos
durante seu ciclo de vida, a GAPDH pode ser uma pista de como elucidar a mudança de forma clínica
nos pacientes. Mas, como correlacionar alterações de cromatina e a lise da glicose? Estudos sugerem
que a GAPDH pode estar associada ao telômero, sendo um sensor celular para as alterações
epigenéticas do organismo. Acredita-se que formas epimastigotas possuem associação entre a
GAPDH e o telômero a fim de proteger o material genético durante as divisões celulares (LEANDRO
DE JESUS et al., 2017; PARIONA-LLANOS et al., 2015). Além disso, a GAPDH está correlacionada
com o balanço entre NAD+/NADH+H+. Um aumento da concentração de NAD+, provoca a
dissociação da GAPDH dos telômeros, podendo ser o ponto inicial para diferenciação em
tripomastigotas, que não possuem tal interação (PARIONA-LLANOS et al., 2015; PINAZO et al.,
2014).
66
67
Figura 14 – Esquema representativo da via glicolítica, ciclo de Krebs e cadeia transportadora de elétrons
mitocondrial em T. cruzi evidenciando-se as proteínas abundantes nos isolados da forma indeterminada
(azul) e cardíaca (vermelha) – adaptado de (MAUGERI; CANNATA; CAZZULO, 2011): Cardiac Isolates (red):
1.galactokinase; 2.hypothetical protein (uridylyltransferase activity); 3.phosphoglucomutase; 4.UDP-Gal or UDP-
GlcNAc-dependent glycosyltransferase; 5. glucose-6- phosphate isomerase, glycosomal 6. glucose-6- phosphate
dehydrogenase; 7. 6-phosphofructo-2-kinase/fructose-2,6-biphosphatase; 8. glyceraldehyde-3- phosphate
dehydrogenase; 9. Hypotetical protein (unchariterized protein - glicerate kinase); 10. 2- oxoglutarate dehydrogenase
subunit; 11. dihydrolipoyl dehydrogenase; 12. cytosolic malate dehydrogenase; 13. malic enzyme; 14. hypothetical
protein (uncharacterized protein - proton-transporting ATP synthase complex assembly); 15.5-
demethoxyubiquinone hydrolase, mitochondrial; 16. hypothetical protein (COX assembly mitochondrial protein);
Indeterminated Isolates (blue): 17. hypothetical protein (uncharacterized protein - MICOS complex); 18.
citocrome c; 19. eletron transport protein SCO1/SCO2; 20. quinone oxirredutase; 21. Glycosyltransferase; 22.
hypotetical protein (hydrolase activity, hydrolizing O-glycosyl compounds).
Envolvidas no balanço de NADPH+H+ citosólico, encontram-se a malato desidrogenase
(MDH) e a enzima málica. Em condições onde a razão NAD+/NADH+H+ no glicossomo encontra-
se ideal, o malato vai para o citosol e através da MDH é convertido em piruvato e este por sua vez
em alanina, que é exportada da célula (Figura 14). Caso o balanço de NADP+/NADPH+H+, no citosol,
estiver baixa o piruvato será convertido em malato pela enzima málica, oxidando a coenzima. O
malato por sua vez, é transformado em fumarato que será encaminhado para o glicossomo, sendo
convertido em succinato e exportado da célula.
Comparando as proteínas com abundâncias diferentes relacionadas ao metabolismo de
carboidratos e energético entre os isolados da forma indeterminada e digestiva, observa-se várias
proteínas relacionadas à degradação de carboidratos, tal como na forma cardíaca explicada
anteriormente (como a aldeído desidrogenase e a aldoceto-redutase) e relacionadas à estruturas de
superfície (como as enzimas envolvidas na síntese de galactose, fator de organização glicossomo) e
proteínas envolvidas na via glicolítica e cadeia transportadora de elétrons nos isolados da forma
digestiva (Figura 15).
Com relação às enzimas descritas na via cardíaca da via glicolítica e via pentoses fosfato,
MDH e enzima málica, as mesmas foram encontradas na forma digestiva. Diferenças foram
encontradas em relação às proteínas da cadeia respiratória para qual, a forma digestiva possui mais
abundantes a 5-demetoxiubiquinone hidrolase (COQ7), COX assembly protein e ATP sintase.
Interessantemente, os isolados da forma assintomática quando comparados aos da forma
digestiva apresentaram prevalência da lactato desidrogenase e da anidrase carbônica, além das
proteínas de transporte de elétrons SCO1/SCO2 e ubiquinol da cadeia transportadora mitocondrial.
68
Há também a proteína do complexo MICOS que auxilia na estabilização das cristas mitocondriais. O
fator de destaque para anidrase carbônica é a regulação da concentração e de dióxido de carbono na
célula. A variação dessa concentração pode influenciar no destino do piruvato produzido na glicólise.
Anidrase carbônica em maior abundância leva à diminuição na produção de CO2 e assim à menor
conversão de piruvato a oxalacetato (OAA) pela piruvato carboxilase, na mitocôndria. Nesse sentido
o piruvato é convertido em alanina no citosol ou no glicossomo dependendo do estado redox dos
compartimentos celulares. A alanina formada é excretada pelo parasita (MAUGERI; CANNATA;
CAZZULO, 2011).
Ainda não há elucidação de como ocorre o transporte de glicose para o interior do
glicossomo. Uma possível hipótese é a presença de complexos proteicos intermembrana pertencentes
à família dos carreadores mitocondriais. A presença dos carreadores mitocondriais pode fundamentar
a hipótese para o maior consumo de glicose nos isolados indeterminados, quando comparados aos
digestivos (Figura 7).
Nessa análise, (isolados da forma indeterminada vs os da digestiva), há também a
presença da D-isomer specific 2-hydroxyacid dehydrogenase protein, cuja atuação é de lactato
desidrogenase, em T.cruzi, que é indicada como uma das responsáveis pelo controle redox dos
parasitos (DIAS et al., 2018).
A análise entre os isolados da forma cardiodigestiva e os da indeterminada não apresentou
muitas diferenças em relação à análise anterior. De maneira geral há predominância da via glicolítica
nos isolados da forma sintomática da doença e do metabolismo energético para os da forma
assintomática.
As outras duas análises, levando em consideração a evolução das formas cardíaca e
digestiva para a forma cardiodigestiva não apresentaram muitas proteínas diferentemente abundantes
nas vias analisadas. Interessantemente, os isolados da forma cardiodigestiva apresentaram uma
característica semelhante aos da indeterminada, na qual prevalece maior abundância de proteínas
relacionadas ao metabolismo energético do parasita. A análise entre os isolados da forma digestiva e
os da cardiodigestiva novamente destacou a anidrase carbônica e o carreador mitocondrial. Tal fato
torna-se interessante se observamos tanto a evolução da doença quanto as curvas de proliferação
(Figura 7). Para o isolado SAO, o tempo de duplicação apresenta-se semelhante aos isolados
cardíacos e indeterminados, que também possuem tais enzimas. Em relação ao isolado AP, a
69
característica semelhante é uma fase estacionária, conforme observado nas curvas de isolados das
formas digestivas.
70
71
Figura 15 – Esquema representativo da via glicolítica, ciclo de Krebs e cadeia transportadora de elétrons
mitocondrial em T. cruzi evidenciando-se as proteínas abundantes nos isolados da forma indeterminada
(azul) e os da digestiva (laranja) – adaptado de (MAUGERI; CANNATA; CAZZULO, 2011): Digestive Isolates
(orange): 1.galactokinase; 3.phosphoglucomutase; 5. glucose-6- phosphate isomerase, glycosomal 6. glucose-6-
phosphate dehydrogenase; 7. 6-phosphofructo-2-kinase/fructose-2,6-biphosphatase; 8. glyceraldehyde-3-
phosphate dehydrogenase; 10. 2- oxoglutarate dehydrogenase subunit; 12. cytosolic malate dehydrogenase; 13.
malic enzyme; 14. hypothetical protein (uncharacterized protein - proton-transporting ATP synthase complex
assembly); 15.5-demethoxyubiquinone hydrolase, mitochondrial; 16. hypothetical protein (COX assembly
mitochondrial protein); 23. Acetyltransferase componente of pyruvate dehydrogenase complex; Indeterminated
Isolates (blue): 17. hypothetical protein (uncharacterized protein - MICOS complex); 19. eletron transport protein
SCO1/SCO2; 22. hypotetical protein (hydrolase activity, hydrolizing O-glycosyl compounds) 24. D-isomer specific
2-hydroxyacid dehydrogenase-protein (lactate dehydrogenase); 25. ATPase and hypothetical protein
(uncharacterized – ATPase activity); 26. carbonic anhydrase-like protein; 27. mitochondrial carrier protein; 28.
Ubiquinol-cytochrome c reductase.
72
.
73
Figura 16 – Esquema representativo da via glicolítica, ciclo de Krebs e cadeia transportadora de elétrons
mitocondrial em T. cruzi evidenciando-se as proteínas abundantes nos isolados da forma indeterminada
(azul) e os da cardiodigestiva (verde) – adaptado de (MAUGERI; CANNATA; CAZZULO, 2011):
Cardiodigestive Isolates (green): 2.hypothetical protein (uridylyltransferase activity); 3.phosphoglucomutase; 5.
glucose-6- phosphate isomerase, glycosomal 6. glucose-6- phosphate dehydrogenase; 8. glyceraldehyde-3-
phosphate dehydrogenase; 10. 2-oxoglutarate dehydrogenase subunit; 12. cytosolic malate dehydrogenase; 13.
malic enzyme; 14. hypothetical protein (uncharacterized protein - proton-transporting ATP synthase complex
assembly); 15.5-demethoxyubiquinone hydrolase, mitochondrial; 16. hypothetical protein (COX assembly
mitochondrial protein); Indeterminated Isolates (blue): 17.hypothetical protein (uncharacterized protein - MICOS
complex); 18. cytochrome c; 19. electron transport protein SCO1/SCO2; 22. hypothetical protein (hydrolase
activity, hydrolyzing O-glycosyl compounds) 29. ATP synthase, alpha chain, mitochondrial precursor; 30. NADPH-
dependent FMN/FAD containing oxorreductase; 31. vacuolar ATP synthase.
74
6. CONCLUSÃO
6.1. Características inerentes aos pacientes, que podem influenciar a evolução da doença,
aparentam refletir sobre a população de parasitos estudada em laboratório.
6.2. Há certo direcionamento das vias metabólicas de acordo com a plasticidade metabólica do
parasito. Os isolados das formas indeterminadas, quando comparadas aos das sintomáticas,
possuem metabolismo energético mais robusto, bem como maior abundância de proteínas
responsáveis pela estruturação da cadeia transportadora de elétrons. Tal característica também
é observada na análise das proteínas encontradas nos isolados das formas cardiodigestivas vs
os das formas cardíaca e digestiva. O parasito nesse caso encontra-se bem estabelecido em
mais de um tecido, podendo apresentar maior versatilidade quanto à obtenção de nutrientes,
bem como a adaptação ao estresse oxidativo proveniente do metabolismo da célula
hospedeira.
6.3. A GAPDH, apontada como responsável pela modulação nas características da cromatina
celular do parasito durante seu ciclo de vida, foi encontrada de forma abundante apenas nos
isolados das formas sintomáticas, quando comparadas aos das assintomáticas, fato que pode
sugerir uma possível participação dessa proteína na alteração do estabelecimento da forma
clínica do paciente.
6.4. A anidrase carbônica, carreadores mitocondriais e lactato desidrogenase tem abundância nos
isolados que apresentam maior consumo de glicose e não possuem a fase estacionária em seu
perfil proliferativo. A presença de uma fase estacionária garante maior tempo de infecção do
parasito.
7. IMPLICAÇÕES DOS ACHADOS NO PRESENTE TRABALHO
7.1. A partir das proteínas encontradas diferentemente entre os isolados das formas assintomáticas
e sintomáticas, principalmente a GAPDH, um possível rastreamento dos parasitas presentes
na circulação sanguínea possa indicar se um paciente assintomático passará a apresentar
sintomatologia e assim iniciar-se um pré-tratamento.
7.2. Servir de suporte para pesquisas de novos fármacos, cujos alvos enzimáticos, bem como o
metabolismo energético para os isolados assintomáticos e a glicólise para os sintomáticos
apresentaram maior destaque.
75
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
About Chagas Disease – DNDi. Disponível em: <https://www.dndi.org/diseases-projects/chagas/>.
Acesso em: 15 abr. 2018.
ALVES, C. et al. Pathogenicity of Chagas Disease Cardiopathy. JSM Atheroscler, v. 1, n. 2, 2016.
ANDRADE, S. G. et al. Biological, biochemical and molecular features of Trypanosoma cruzi strains
isolated from patients infected through oral transmission during a 2005 outbreak in the state of Santa
Catarina, Brazil: its correspondence with the new T. cruzi Taxonomy Consensus (2009). Memorias
do Instituto Oswaldo Cruz, v. 106, n. 8, p. 948–56, dez. 2011.
ARROYO-OLARTE, R. D. et al. Complement system contributes to modulate the infectivity of
susceptible TcI strains of Trypanosoma cruzi. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 113, n. 4,
p. e170332, 19 fev. 2018.
BAKER, Z. N.; COBINE, P. A.; LEARY, S. C. The mitochondrion: a central architect of copper
homeostasis. Metallomics, v. 9, n. 11, p. 1501–1512, 15 nov. 2017.
BANDYOPADHYAY, D. et al. A Practical Green Synthesis and Biological Evaluation of
Benzimidazoles Against Two Neglected Tropical Diseases: Chagas and Leishmaniasis. Current
Medicinal Chemistry, v. 24, n. 41, 11 jan. 2018.
BARBOSA, M. DAS G. V. et al. Chagas disease in the State of Amazonas: history, epidemiological
evolution, risks of endemicity and future perspectives. Revista da Sociedade Brasileira de
Medicina Tropical, v. 48, n. suppl 1, p. 27–33, jun. 2015.
BERN, C. Chagas’ Disease. New England Journal of Medicine, v. 373, n. 5, p. 456–466, 30 jul.
2015.
BRADFORD, M. M. A rapid and sensitive method for the quantitation of microgram quantities of
protein utilizing the principle of protein-dye binding. Analytical biochemistry, v. 72, p. 248–54, 7
maio 1976.
BRINGAUD, F.; RIVIÈRE, L.; COUSTOU, V. Energy metabolism of trypanosomatids: Adaptation
to available carbon sources. Molecular and Biochemical Parasitology, v. 149, n. 1, p. 1–9, 1 set.
2006.
BRISSE, S.; BARNABÉ, C.; TIBAYRENC, M. Identification of six Trypanosoma cruzi
phylogenetic lineages by random amplified polymorphic DNA and multilocus enzyme
electrophoresis. International journal for parasitology, v. 30, n. 1, p. 35–44, jan. 2000.
BROSSAS, J.-Y. et al. Secretome analysis of Trypanosoma cruzi by proteomics studies. PLOS ONE,
v. 12, n. 10, p. e0185504, 3 out. 2017.
BROUTIN, H. et al. Phylogenetic analysis of the glucose-6-phosphate isomerase gene in
Trypanosoma cruzi. Experimental Parasitology, v. 113, n. 1, p. 1–7, maio 2006.
BUSCAGLIA, C. A. et al. A putative pyruvate dehydrogenase alpha subunit gene from Trypanosoma
cruzi. Biochimica et biophysica acta, v. 1309, n. 1–2, p. 53–7, 11 nov. 1996.
BUSCAGLIA, C. A. et al. Trypanosoma cruzi surface mucins: host-dependent coat diversity. Nature
Reviews Microbiology, v. 4, n. 3, p. 229–236, 1 mar. 2006.
BUSCAGLIA, C. A.; DI NOIA, J. M. Trypanosoma cruzi clonal diversity and the epidemiology of
76
Chagas’ disease. Microbes and infection, v. 5, n. 5, p. 419–27, abr. 2003.
CARRANZA, J. C. et al. Trypanosoma cruzi maxicircle heterogeneity in Chagas disease patients
from Brazil. International journal for parasitology, v. 39, n. 9, p. 963–73, 15 jul. 2009.
CASTELLANI, O.; RIBEIRO, L. V.; FERNANDES, J. F. Differentiation of Trypanosoma cruzi in
Culture*. The Journal of Protozoology, v. 14, n. 3, p. 447–451, 1 ago. 1967.
CAZZULO, J. J. Energy Metabolism in Trypanosoma cruzi. In: [s.l.] Springer, Boston, MA, 1992. p.
235–257.
CAZZULO, J. J.; SUNDARAM, T. K.; KORNBERG, H. L. Regulation of pyruvate carboxylase
formation from the apo-enzyme and biotin in a thermophilic bacillus. Nature, v. 223, n. 5211, p.
1137–8, 13 set. 1969.
CHAGAS, C.; CHAGAS, C. Nova tripanozomiaze humana: estudos sobre a morfolojia e o ciclo
evolutivo do Schizotrypanum cruzi n. gen., n. sp., ajente etiolojico de nova entidade morbida do
homem. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 1, n. 2, p. 159–218, ago. 1909.
CHATZI, A.; MANGANAS, P.; TOKATLIDIS, K. Oxidative folding in the mitochondrial
intermembrane space: A regulated process important for cell physiology and disease. Biochimica et
Biophysica Acta (BBA) - Molecular Cell Research, v. 1863, n. 6, p. 1298–1306, 1 jun. 2016.
CHEN, E. Y. et al. Enrichr: interactive and collaborative HTML5 gene list enrichment analysis tool.
BMC Bioinformatics, v. 14, n. 1, p. 128, 15 abr. 2013.
CHEVALIER, N. et al. 6-Phosphofructo-2-kinase and fructose-2,6-bisphosphatase in
Trypanosomatidae. Molecular characterization, database searches, modelling studies and
evolutionary analysis. FEBS Journal, v. 272, n. 14, p. 3542–3560, jul. 2005.
CLEMENTE, P. et al. hCOA3 stabilizes cytochrome c oxidase 1 (COX1) and promotes cytochrome
c oxidase assembly in human mitochondria. The Journal of biological chemistry, v. 288, n. 12, p.
8321–31, 22 mar. 2013.
COLASANTE, C. et al. A plant-like mitochondrial carrier family protein facilitates mitochondrial
transport of di- and tricarboxylates in Trypanosoma brucei. Molecular and Biochemical
Parasitology, v. 221, p. 36–51, 1 abr. 2018.
COURA, J. R.; VIÑAS, P. A. Chagas disease: a new worldwide challenge. Nature, v. 465, n.
n7301_supp, p. S6–S7, 24 jun. 2010.
COX, J. et al. Andromeda: A Peptide Search Engine Integrated into the MaxQuant Environment.
Journal of Proteome Research, v. 10, n. 4, p. 1794–1805, 1 abr. 2011.
COX, J.; MANN, M. MaxQuant enables high peptide identification rates, individualized p.p.b.-range
mass accuracies and proteome-wide protein quantification. Nature Biotechnology, v. 26, n. 12, p.
1367–1372, 30 dez. 2008.
CUPELLO, M. P. et al. The heme uptake process in Trypanosoma cruzi epimastigotes is inhibited by
heme analogues and by inhibitors of ABC transporters. Acta Tropica, v. 120, n. 3, p. 211–218, dez.
2011.
DAVIES, G.; HENRISSAT, B. Structures and mechanisms of glycosyl hydrolases. Structure, v. 3,
n. 9, p. 853–859, 1 set. 1995.
77
DECAESTECKER, E. et al. Host–parasite ‘Red Queen’ dynamics archived in pond sediment.
Nature, v. 450, n. 7171, p. 870–873, 14 dez. 2007.
DECKERS-HEBESTREIT, G. Assembly of the Escherichia coli F o F 1 ATP synthase involves
distinct subcomplex formation. Biochemical Society Transactions, v. 41, n. 5, 2013.
DIAS, J. Epidemiology of Chagas disease. In: S WENDEL, Z BRENER, M S CAMARGO, A. R.
(Ed.). . Chagas Disease (American Trypanosomiasis): its Impact on Transfusion and Clinical
Medicine. São Paulo: [s.n.]. p. 49–80.
DIAS, L. et al. Trypanosoma cruzi tryparedoxin II interacts with different peroxiredoxins under
physiological and oxidative stress conditions. Experimental Parasitology, v. 184, p. 1–10, 1 jan.
2018.
EL-SAYED, N. M. et al. The Genome Sequence of Trypanosoma cruzi, Etiologic Agent of Chagas
Disease. Science, v. 309, n. 5733, p. 409–415, 15 jul. 2005.
ELIAS, M. C.; FARIA, M. Are There Epigenetic Controls in Trypanosoma cruzi? Annals of the New
York Academy of Sciences, v. 1178, n. 1, p. 285–290, 1 out. 2009.
ELIGIO-GARCÍA, L. et al. Giardia intestinalis: Expression of ubiquitin, glucosamine-6-phosphate
and cyst wall protein genes during the encystment process. Experimental Parasitology, v. 127, n. 2,
p. 382–386, fev. 2011.
FERREIRA, B. L. et al. Trypanosoma cruzi: single cell live imaging inside infected tissues. Cellular
microbiology, v. 18, n. 6, p. 779–83, jun. 2016.
FINZI, J. K. et al. Trypanosoma cruzi response to the oxidative stress generated by hydrogen
peroxide. Molecular and Biochemical Parasitology, v. 133, n. 1, p. 37–43, 1 jan. 2004.
FLASPOHLER, J. A. et al. Functional identification of a Leishmania gene related to the peroxin 2
gene reveals common ancestry of glycosomes and peroxisomes. Molecular and cellular biology, v.
17, n. 3, p. 1093–101, mar. 1997.
FURUCHÓ, C. R. et al. Inconclusive results in conventional serological screening for Chagas’
disease in blood banks: evaluation of cellular and humoral response. Tropical Medicine &
International Health, v. 13, n. 12, p. 1527–1533, dez. 2008.
GALVANI, A. P. Epidemiology meets evolutionary ecology. Trends in Ecology & Evolution, v.
18, n. 3, p. 132–139, mar. 2003.
GARCÍA-HUERTAS, P. et al. Transcriptome and Functional Genomics Reveal the Participation of
Adenine Phosphoribosyltransferase in Trypanosoma cruzi Resistance to Benznidazole. Journal of
Cellular Biochemistry, v. 118, n. 7, p. 1936–1945, jul. 2017.
GARCIA, E. S. et al. Interactions between intestinal compounds of triatomines and Trypanosoma
cruzi. Trends in Parasitology, v. 26, n. 10, p. 499–505, 1 out. 2010.
GINGER, M. L.; SAM, K. A.; ALLEN, J. W. A. Probing why trypanosomes assemble atypical
cytochrome c with an AxxCH haem-binding motif instead of CxxCH. The Biochemical journal, v.
448, n. 2, p. 253–60, 1 dez. 2012.
GNIPOVÁ, A. et al. Disparate phenotypic effects from the knockdown of various Trypanosoma
brucei cytochrome c oxidase subunits. Molecular and Biochemical Parasitology, v. 184, n. 2, p.
78
90–98, 1 ago. 2012.
GUHL, F.; AUDERHEIDE, A.; RAMÍREZ, J. D. From ancient to contemporary molecular eco-
epidemiology of Chagas disease in the Americas. International Journal for Parasitology, v. 44, n.
9, p. 605–612, 1 ago. 2014.
GUTIÉRREZ-CORREA, J. Trypanosoma cruzi dihydrolipoamide dehydrogenase as target of
reactive metabolites generated by cytochrome c/hydrogen peroxide (or linoleic acid
hydroperoxide)/phenol systems. Free Radical Research, v. 44, n. 11, p. 1345–1358, 6 nov. 2010.
HALL, B. S.; WILKINSON, S. R. Activation of benznidazole by trypanosomal type I nitroreductases
results in glyoxal formation. Antimicrobial agents and chemotherapy, v. 56, n. 1, p. 115–23, jan.
2012.
HAUSER, R. et al. In vitro import of proteins into mitochondria of Trypanosoma brucei and
Leishmania tarentolae. Journal of cell science, v. 109 ( Pt 2), p. 517–23, fev. 1996.
HEALY, N. et al. Detection of peptidases in Trypanosoma cruzi epimastigotes using chromogenic
and fluorogenic substrates. Parasitology, v. 104, n. 02, p. 315, 6 abr. 1992.
HEBERLE, H. et al. InteractiVenn: a web-based tool for the analysis of sets through Venn diagrams.
BMC Bioinformatics, v. 16, n. 1, p. 169, 22 dez. 2015.
HENRIQUE, P. M. et al. Correlation between the virulence of T. cruzi strains, complement regulatory
protein expression levels, and the ability to elicit lytic antibody production. Experimental
Parasitology, v. 170, p. 66–72, 1 nov. 2016.
HENRIQUES, C. et al. In vivo imaging of mice infected with bioluminescent Trypanosoma cruzi
unveils novel sites of infection. Parasites & vectors, v. 7, p. 89, 3 mar. 2014.
HUYNEN, M. A. et al. Evolution and structural organization of the mitochondrial contact site
(MICOS) complex and the mitochondrial intermembrane space bridging (MIB) complex. Biochimica
et Biophysica Acta (BBA) - Molecular Cell Research, v. 1863, n. 1, p. 91–101, 1 jan. 2016.
IGOILLO-ESTEVE, M. et al. The pentose phosphate pathway in Trypanosoma cruzi: a potential
target for the chemotherapy of Chagas disease. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 79,
n. 4, p. 649–663, dez. 2007.
JANKE, R.; DODSON, A. E.; RINE, J. Metabolism and Epigenetics. Annual Review of Cell and
Developmental Biology, v. 31, n. 1, p. 473–496, 13 nov. 2015.
KAWAHARA, R. et al. Deciphering the Role of the ADAM17-Dependent Secretome in Cell
Signaling. Journal of Proteome Research, v. 13, n. 4, p. 2080–2093, 4 abr. 2014.
KULESHOV, M. V. et al. Enrichr: a comprehensive gene set enrichment analysis web server 2016
update. Nucleic Acids Research, v. 44, n. W1, p. W90–W97, 8 jul. 2016.
LATTES, R.; LASALA, M. B. Chagas disease in the immunosuppressed patient. Clinical
Microbiology and Infection, v. 20, n. 4, p. 300–309, abr. 2014.
LEANDRO DE JESUS, T. C. et al. Quantitative Proteomic Analysis of Replicative and
Nonreplicative Forms Reveals Important Insights into Chromatin Biology of Trypanosoma cruzi.
Molecular & cellular proteomics : MCP, v. 16, n. 1, p. 23–38, 1 jan. 2017.
LEE, C. P. (CHUAN-P. Structure, biogenesis, and assembly of energy transducing enzyme
79
systems. [s.l: s.n.].
LEE, J. et al. NAD(P)H: quinone oxidoreductase 1 and NRH:quinone oxidoreductase 2
polymorphisms in papillary thyroid microcarcinoma: correlation with phenotype. Yonsei medical
journal, v. 54, n. 5, p. 1158–67, set. 2013.
LEROUX, A. E. et al. Comparative studies on the biochemical properties of the malic enzymes
from Trypanosoma cruzi and Trypanosoma brucei. FEMS Microbiology Letters, v. 314, n. 1, p. 25–
33, jan. 2011.
LEWIS, M. D. et al. Bioluminescence imaging of chronic Trypanosoma cruzi infections reveals
tissue-specific parasite dynamics and heart disease in the absence of locally persistent infection.
Cellular microbiology, v. 16, n. 9, p. 1285–300, set. 2014.
LIMA, L. et al. Genetic diversity of Trypanosoma cruzi in bats, and multilocus phylogenetic and
phylogeographical analyses supporting Tcbat as an independent DTU (discrete typing unit). Acta
Tropica, v. 151, p. 166–177, 1 nov. 2015.
LOBO-ROJAS, Á. E. et al. Trypanosoma cruzi contains two galactokinases; molecular and
biochemical characterization. Parasitology International, v. 65, n. 5, p. 472–482, out. 2016.
LUX, H. et al. Ether–lipid (alkyl-phospholipid) metabolism and the mechanism of action of ether–
lipid analogues in Leishmania. Molecular and Biochemical Parasitology, v. 111, n. 1, p. 1–14, 1
nov. 2000.
MACEDO, A. M. et al. Trypanosoma cruzi: genetic structure of populations and relevance of genetic
variability to the pathogenesis of chagas disease. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 99, n. 1,
p. 1–12, fev. 2004.
MANNE-GOEHLER, J. Chagas Disease in the United States: Out of the Shadows. Clinical
Infectious Diseases, v. 64, n. 9, p. 1189–1190, 1 maio 2017.
MAUGERI, D. A.; CANNATA, J. J. B.; CAZZULO, J.-J. Glucose metabolism in Trypanosoma
cruzi. Essays in biochemistry, v. 51, p. 15–30, 24 out. 2011.
MCCALL, L.-I. et al. Adaptation of Leishmania donovani to Cutaneous and Visceral Environments:
in Vivo Selection and Proteomic Analysis. Journal of Proteome Research, v. 14, n. 2, p. 1033–
1059, 6 fev. 2015.
MERCALDI, G. F. et al. The structure of a Trypanosoma cruzi glucose-6-phosphate dehydrogenase
reveals differences from the mammalian enzyme. FEBS Letters, v. 590, n. 16, p. 2776–2786, ago.
2016.
MESQUITA, R. D. et al. Genome of Rhodnius prolixus, an insect vector of Chagas disease, reveals
unique adaptations to hematophagy and parasite infection. Proceedings of the National Academy
of Sciences of the United States of America, v. 112, n. 48, p. 14936–41, 1 dez. 2015.
MESSENGER, L. A.; MILES, M. A.; BERN, C. Expert Review of Anti-infective Therapy Between
a bug and a hard place: Trypanosoma cruzi genetic diversity and the clinical outcomes of Chagas
disease. Expert Rev. Anti Infect. Ther, v. 13, n. 8, p. 995–1029, 2015.
MEYMANDI, S. K. et al. Prevalence of Chagas Disease in the Latin American–born Population of
Los Angeles. Clinical Infectious Diseases, v. 64, n. 9, p. 1182–1188, 1 maio 2017.
80
MICHELS, P. A. M. et al. Metabolic functions of glycosomes in trypanosomatids. Biochimica et
Biophysica Acta (BBA) - Molecular Cell Research, v. 1763, n. 12, p. 1463–1477, 1 dez. 2006.
MIELNICZKI-PEREIRA, A. A. et al. Trypanosoma cruzi strains, Tulahuen 2 and Y, besides the
difference in resistance to oxidative stress, display differential glucose-6-phosphate and 6-
phosphogluconate dehydrogenases activities. Acta Tropica, v. 101, n. 1, p. 54–60, jan. 2007.
MIGUEL, D. C. et al. Clinical isolates of New World Leishmania from cutaneous and visceral
leishmaniasis patients are uniformly sensitive to tamoxifen. International journal of antimicrobial
agents, v. 38, n. 1, p. 93–4, 1 jul. 2011.
MORENO, M. et al. Trypanosoma cruzi benznidazole susceptibility in vitro does not predict the
therapeutic outcome of human Chagas disease. Mem Inst Oswaldo Cruz Rio de Janeiro, v. 105, n.
7, p. 918–924, 2010.
MULLER, S.; CERDAN, R.; RADULESCU, O. Comprehensive analysis of parasite biology :
from metabolism to drug discovery. [s.l: s.n.].
NARDY, A. F. F. R. et al. Role of Trypanosoma cruzi Trans-sialidase on the Escape from Host
Immune Surveillance. Frontiers in Microbiology, v. 7, p. 348, 23 mar. 2016.
NEWSHOLME, E. A.; CARRIE, A.-L. Quantitive aspects of glucose and glutamine metabolism by
intestinal cells. Gut, v. 1, p. 13–17, 1994.
NIYOGI, S. et al. Rab32 is essential for maintaining functional acidocalcisomes, and for growth and
infectivity of Trypanosoma cruzi. Journal of cell science, v. 128, n. 12, p. 2363–73, 15 jun. 2015.
NOCENTINI, A. et al. Carbonic anhydrases from Trypanosoma cruzi and Leishmania donovani
chagasi are inhibited by benzoxaboroles. Journal of Enzyme Inhibition and Medicinal Chemistry,
v. 33, n. 1, p. 286–289, 27 jan. 2018.
NORRIS, K. A.; SCHRIMPF, J. E. Biochemical analysis of the membrane and soluble forms of the
complement regulatory protein of Trypanosoma cruzi. Infection and immunity, v. 62, n. 1, p. 236–
43, jan. 1994.
OBERG, A. L.; VITEK, O. Statistical Design of Quantitative Mass Spectrometry-Based Proteomic
Experiments. Journal of Proteome Research, v. 8, n. 5, p. 2144–2156, maio 2009.
OLIVEIRA, I. A. et al. Trypanosoma cruzi Trans-Sialidase: Structural Features and Biological
Implications. In: [s.l.] Springer, Dordrecht, 2014. p. 181–201.
OLSON, L. J.; DAHMS, N. M. Mannose 6-Phosphate Receptors. In: Glycoscience: Biology and
Medicine. Tokyo: Springer Japan, 2015. p. 1037–1047.
PABA, J. et al. Proteomic analysis of the human pathogenTrypanosoma cruzi. PROTEOMICS, v.
4, n. 4, p. 1052–1059, 1 abr. 2004.
PAHO WHO | General Information - Chagas Disease. Disponível em:
<http://www.paho.org/hq/index.php?option=com_content&view=article&id=5856&Itemid=41506
&lang=en>. Acesso em: 17 abr. 2018.
PARIONA-LLANOS, R. et al. Glyceraldehyde 3-Phosphate Dehydrogenase-Telomere Association
Correlates with Redox Status in Trypanosoma cruzi. PLOS ONE, v. 10, n. 3, p. e0120896, 16 mar.
2015.
81
PEDRO J. ALCOLEA, ANA ALONSO, V. L. Genome-wide gene expression profile induced by
exposure to cadmium acetate in Leishmania infantum promastigotes. [s.d.].
PENHA, L. L. et al. Sorting of phosphoglucomutase to glycosomes in Trypanosoma cruzi is mediated
by an internal domain. Glycobiology, v. 19, n. 12, p. 1462–1472, 1 dez. 2009.
PEREIRA, K. S. et al. Chagas’ Disease as a Foodborne Illness. Journal of Food Protection, v. 72,
n. 2, p. 441–446, 2009.
PÉREZ-MOLINA, J. A. et al. Old and new challenges in Chagas disease. The Lancet Infectious
Diseases, v. 15, n. 11, p. 1347–1356, 1 nov. 2015.
PINAZO, M.-J. et al. Immunosuppression and Chagas Disease: A Management Challenge. PLoS
Neglected Tropical Diseases, v. 7, n. 1, p. e1965, 17 jan. 2013.
PINAZO, M.-J. et al. Characterization of Digestive Involvement in Patients with Chronic T. cruzi
Infection in Barcelona, Spain. PLoS Neglected Tropical Diseases, v. 8, n. 8, p. e3105, 21 ago. 2014.
PINEDA, E. et al. Pyruvate:ferredoxin oxidoreductase and bifunctional aldehyde-alcohol
dehydrogenase are essential for energy metabolism under oxidative stress in Entamoeba histolytica.
FEBS Journal, v. 277, n. 16, p. 3382–3395, ago. 2010.
PINNELL, J.; TURNER, S.; HOWELL, S. Cardiac muscle physiology. Continuing Education in
Anaesthesia Critical Care & Pain, v. 7, n. 3, p. 85–88, 1 jun. 2007.
PORTAL, P. et al. Multiple NADPH–cytochrome P450 reductases from Trypanosoma cruzi:
Suggested role on drug resistance. Molecular and Biochemical Parasitology, v. 160, n. 1, p. 42–51,
1 jul. 2008.
RABAJANTE, J. F. et al. Red Queen dynamics in multi-host and multi-parasite interaction system.
Scientific Reports, v. 5, n. 1, p. 10004, 22 set. 2015.
RAMÍREZ, J. D. et al. Validation of a Poisson-distributed limiting dilution assay (LDA) for a rapid
and accurate resolution of multiclonal infections in natural Trypanosoma cruzi populations. Journal
of Microbiological Methods, v. 92, n. 2, p. 220–225, 15 fev. 2013.
RANZANI, A. et al. Identification of Specific Inhibitors of Trypanosoma cruzi Malic Enzyme
Isoforms by Target-Based HTS. [s.d.].
RAPPSILBER, J.; MANN, M.; ISHIHAMA, Y. Protocol for micro-purification, enrichment, pre-
fractionation and storage of peptides for proteomics using StageTips. Nature Protocols, v. 2, n. 8, p.
1896–1906, ago. 2007.
RASSI, A.; RASSI, A.; MARIN-NETO, J. A. Chagas disease. The Lancet, v. 375, n. 9723, p. 1388–
1402, 17 abr. 2010.
RIBEIRO, A. L. et al. Diagnosis and management of Chagas disease and cardiomyopathy. Nature
Reviews Cardiology, v. 9, n. 10, p. 576–589, 31 jul. 2012.
ROEDIGER, W. E. W. Utilization of Nutrients by Isolated Epithelial Cells of the Rat Colon.
GASTROENTEROLOGY, v. 83, p. 424–9, 1982.
RONDÓN-MERCADO, R. et al. Subcellular localization of glycolytic enzymes and characterization
of intermediary metabolism of Trypanosoma rangeli. Molecular and Biochemical Parasitology, v.
216, p. 21–29, set. 2017.
82
ROPER, J. R.; FERGUSON, M. A. J. Cloning and characterisation of the UDP-glucose 4’-epimerase
of Trypanosoma cruzi. Molecular and biochemical parasitology, v. 132, n. 1, p. 47–53, nov. 2003.
RUIZ DÍAZ, P. et al. Trypanosoma cruzi trans-sialidase prevents elicitation of Th1 cell response via
interleukin 10 and downregulates Th1 effector cells. Infection and immunity, v. 83, n. 5, p. 2099–
108, maio 2015.
SABINO, E. C. et al. Antibody levels correlate with detection of Trypanosoma cruzi DNA by
sensitive polymerase chain reaction assays in seropositive blood donors and possible resolution of
infection over time. Transfusion, v. 53, n. 6, p. 1257–1265, 1 jun. 2013.
SALOMONE, O. A. et al. Trypanosoma cruzi in persons without serologic evidence of disease,
Argentina. Emerging infectious diseases, v. 9, n. 12, p. 1558–62, dez. 2003.
SANCHES, T. L. M. et al. The Use of a Heterogeneously Controlled Mouse Population Reveals a
Significant Correlation of Acute Phase Parasitemia with Mortality in Chagas Disease. PLoS ONE,
v. 9, n. 3, p. e91640, 20 mar. 2014.
SARAIVA, V. B. et al. Na+-ATPase and protein kinase C are targets to 1-O-hexadecylphosphocoline
(miltefosine) in Trypanosoma cruzi. Archives of Biochemistry and Biophysics, v. 481, n. 1, p. 65–
71, jan. 2009.
SCHMUNIS, G. A. SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros. [s.d.].
SHIKANAI-YASUDA, M. A.; CARVALHO, N. B. Oral Transmission of Chagas Disease. Clinical
Infectious Diseases, v. 54, n. 6, p. 845–852, 15 mar. 2012.
SILBER, A. M. et al. Glucose uptake in the mammalian stages of Trypanosoma cruzi. Molecular
and Biochemical Parasitology, v. 168, n. 1, p. 102–108, nov. 2009.
SILVA-DOS-SANTOS, D. et al. Unraveling Chagas disease transmission through the oral route:
Gateways to Trypanosoma cruzi infection and target tissues. PLOS Neglected Tropical Diseases, v.
11, n. 4, p. e0005507, 5 abr. 2017.
SILVA, T. M. et al. O2 consumption rates along the growth curve: new insights into Trypanosoma
cruzi mitochondrial respiratory chain. Journal of Bioenergetics and Biomembranes, v. 43, n. 4, p.
409–417, 6 ago. 2011.
SOPRANO, L. L. et al. Trypanosoma cruzi serinecarboxipeptidase is a sulfated glycoprotein and a
minor antigen in human Chagas disease infection. Medical Microbiology and Immunology, v. 207,
n. 2, p. 117–128, 22 abr. 2018.
STEINDEL, M. et al. Characterization of Trypanosoma cruzi isolated from humans, vectors, and
animal reservoirs following an outbreak of acute human Chagas disease in Santa Catarina State,
Brazil. Diagnostic microbiology and infectious disease, v. 60, n. 1, p. 25–32, jan. 2008.
STENMARK, P. et al. A new member of the family of di-iron carboxylate proteins. Coq7 (clk-1), a
membrane-bound hydroxylase involved in ubiquinone biosynthesis. The Journal of biological
chemistry, v. 276, n. 36, p. 33297–300, 7 set. 2001.
STENSETH, N. C.; SMITH, J. M. COEVOLUTION IN ECOSYSTEMS: RED QUEEN
EVOLUTION OR STASIS? Evolution, v. 38, n. 4, p. 870–880, 1 jul. 1984.
STEVENS, L. et al. Kissing Bugs. The Vectors of Chagas. In: Advances in parasitology. [s.l: s.n.].
83
v. 75p. 169–192.
STOCO, P. H. et al. Trypanosoma rangeli expresses a β-galactofuranosyl transferase. Experimental
Parasitology, v. 130, n. 3, p. 246–252, 1 mar. 2012.
TOSO M, A.; VIAL U, F.; GALANTI, N. [Oral transmission of Chagas’ disease]. Revista medica
de Chile, v. 139, n. 2, p. 258–66, fev. 2011.
URBINA, J. A. Chemotherapy of Chagas disease. Current pharmaceutical design, v. 8, n. 4, p.
287–95, 2002.
URBINA, J. A.; DOCAMPO, R. Specific chemotherapy of Chagas disease: controversies and
advances. Trends in parasitology, v. 19, n. 11, p. 495–501, 1 nov. 2003.
VALEN, L. VAN. A New Evolutionary Law. Evolutionary Theory, v. 1, p. 1–30, 1973.
VAZQUEZ, B. P. et al. Inflammatory responses and intestinal injury development during acute
Trypanosoma cruzi infection are associated with the parasite load. Parasites & Vectors, v. 8, n. 1, p.
206, 3 dez. 2015.
VENKATESH, D. et al. Evolution of the endomembrane systems of trypanosomatids - conservation
and specialisation. Journal of cell science, v. 130, n. 8, p. 1421–1434, 2017.
VERLINDE, C. L. M. J. et al. Glycolysis as a target for the design of new anti-trypanosome drugs.
Drug Resistance Updates, v. 4, n. 1, p. 50–65, 1 fev. 2001.
VILLÉN, J.; GYGI, S. P. The SCX/IMAC enrichment approach for global phosphorylation analysis
by mass spectrometry. Nature Protocols, v. 3, n. 10, p. 1630–1638, set. 2008.
WANG, J. et al. Structure and function of the catalytic domain of the dihydrolipoyl acetyltransferase
component in Escherichia coli pyruvate dehydrogenase complex. The Journal of biological
chemistry, v. 289, n. 22, p. 15215–30, 30 maio 2014.
WHO. Working to overcome the global impact of neglected tropical diseases. 2011.
WHO. Weekly epidemiological record Relevé épidémiologique hebdomadaire. 2015.
WILKINS, M. R. et al. From proteins to proteomes: large scale protein identification by two-
dimensional electrophoresis and amino acid analysis. Bio/technology (Nature Publishing
Company), v. 14, n. 1, p. 61–5, jan. 1996.
WILKINS, M. R. et al. Guidelines for the next 10 years of proteomics. PROTEOMICS, v. 6, n. 1,
p. 4–8, 1 jan. 2006.
YEO, M. et al. Origins of Chagas disease: Didelphis species are natural hosts of Trypanosoma cruzi
I and armadillos hosts of Trypanosoma cruzi II, including hybrids. International Journal for
Parasitology, v. 35, n. 2, p. 225–233, 1 fev. 2005.
YUZYUK, T. et al. Galactose-1-Phosphate Uridyltransferase Activities in Different Genotypes: A
Retrospective Analysis of 927 Samples. The Journal of Applied Laboratory Medicine, p.
jalm.2017.025536, 28 fev. 2018.
ZHUO, Y. et al. Dynamic nuclear polarization facilitates monitoring of pyruvate metabolism in
Trypanosoma brucei. Journal of Biological Chemistry, v. 292, n. 44, p. 18161–18168, 3 nov. 2017.
ZINGALES, B. et al. A new consensus for Trypanosoma cruzi intraspecific nomenclature: second
84
revision meeting recommends TcI to TcVI. Memorias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 104, n. 7, p.
1051–4, nov. 2009.
ZINGALES, B. Trypanosoma cruzi: um parasita, dois parasitas ou vários parasitas da doença de
chagas? Revista da Biologia, v. 6b, p. 44–48, jun. 2011.
ZINGALES, B. et al. The revised Trypanosoma cruzi subspecific nomenclature: Rationale,
epidemiological relevance and research applications. Infection, Genetics and Evolution, v. 12, n. 2,
p. 240–253, mar. 2012.
ZINGALES, B. Trypanosoma cruzi genetic diversity: Something new for something known about
Chagas disease manifestations, serodiagnosis and drug sensitivity. Acta Tropica, 21 set. 2017.
85
ANEXO I
86
87
88
ANEXO II
89
ANEXO III