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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM PAULA FERNANDA LOPES ACOLHIMENTO DO PACIENTE PSIQUIÁTRICO EM UNIDADE DE EMERGÊNCIA REFERENCIADA DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CAMPINAS 2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENFERMAGEM

PAULA FERNANDA LOPES

ACOLHIMENTO DO PACIENTE PSIQUIÁTRICO EM UNIDADE DE EMERGÊNCIA

REFERENCIADA DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

CAMPINAS

2016

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PAULA FERNANDA LOPES

ACOLHIMENTO DO PACIENTE PSIQUIÁTRICO EM UNIDADE DE EMERGÊNCIA

REFERENCIADA DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

Dissertação apresentada à Faculdade de Enfermagem da Universidade

Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a

obtenção do título de Mestra em Ciências da Saúde na área de

concentração Enfermagem e Trabalho.

ORIENTADORA: PROF. DRA. VANESSA PELLEGRINO TOLEDO

Este exemplar corresponde à versão final da

dissertação defendida pela aluna Paula Fernanda

Lopes, e orientada pela prof(a). Dr(a). Vanessa

Pellegrino Toledo.

CAMPINAS

2016

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BANCA EXAMINADORA DA DEFESA DE MESTRADO

PAULA FERNANDA LOPES

ORIENTADORA: PROF. DRA. VANESSA PELLEGRINO TOLEDO

MEMBROS:

1. PROF. DRA. VANESSA PELLEGRINO TOLEDO

2. PROF. DRA. LUCIANA LIONE DE MELO

3. PROF. DRA. VANIA MORENO

Programa de Pós-Graduação em [PROGRAMA] da Faculdade de Enfermagem da

Universidade Estadual de Campinas.

A ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros da banca examinadora

encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

Data: DATA DA DEFESA [05/12/2016]

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Dedicatória

Dedico essa dissertação àquela que utilizou suas férias repentinas e sem pretensões

turísticas para a transcrição de uma preocupação, que só ocupava um espaço em

seus pensamentos, em um singelo projeto de pesquisa. Àquela que tirou forças de

algum lugar para romper com uma situação de comodidade, conformismo e

infelicidade profissional, dando lugar a novas perspectivas e conhecimentos.

Foram muitos plantões trocados, almoços transformados em “shakes instantâneos”,

cochilos durante a tarde dando lugar a aulas sobre metodologias de pesquisa, livros

de ficção substituídos por artigos científicos em português, inglês e espanhol.

Concluindo, dedico essa dissertação a mim, a pessoa que mais batalhou e mais

ganhou com esse processo, uma nova enfermeira, uma nova pessoa, uma nova

pesquisadora e, enfim, mestre!

“É possível encontrar a felicidade mesmo nas horas mais sombrias,

se você lembrar de acender a luz.” (JK Rowling)

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Agradecimentos

A Deus, por me dar força de vontade, sabedoria e discernimento para seguir esse

caminho.

Aos meus pais, Ligia Morasco Lopes e Edson Lopes, que, mesmo sem compreender

de início as possibilidades que o mestrado me traria, me apoiaram

incondicionalmente.

A minha irmã, Jéssica Fernanda Lopes, que me proporcionou os momentos de

descontração indispensáveis nesse período eufórico.

Ao meu marido, André Luis Silva Ambrósio, por sempre me apoiar e nunca me

deixar pensar em desistir dos meus sonhos e de fazer o que gosto.

A minha querida orientadora Professora Doutora Vanessa Pellegrino Toledo, por,

muitas vezes, acreditar mais em mim do que eu mesma e por suas contribuições

essenciais para o desenvolvimento desse projeto e dessa nova mestre. Obrigada por

suas orientações, que se mostraram um exemplo de que o acolhimento acontece em

todas as relações que fazemos na vida!

À Professora Doutora Luciana de Lione Melo, pelas contribuições, na participação

das bancas de qualificação e defesa, com seu conhecimento e experiência sobre

fenomenologia e por sua empatia com os pacientes psiquiátricos. Obrigada!

À Professora Doutora Vânia Moreno, por se deslocar de outra cidade para prestigiar

meu trabalho e contribuir com todo seu conhecimento e experiência em saúde

mental, nas bancas de qualificação e defesa. Obrigada!

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À Secretaria de Pós-Graduação da Faculdade de Enfermagem da Unicamp, em

especial ao Saulo Saad Nogueira Benevides, por estar sempre à disposição para me

socorrer nos momentos de dúvida.

Aos enfermeiros que participaram deste estudo, pela disponibilidade em compartilhar

suas experiências e expectativas.

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RESUMO

Todos os dias, pessoas com alguma desordem de saúde mental procuram as

unidades de emergência e tem o primeiro contato com um profissional de saúde na

ação do acolhimento, realizada pelo enfermeiro. Neste contexto, tal ação pode se

tornar um desafio, considerando que o acolhimento deve ser rápido e seguir um

protocolo, o que dificulta o desenvolvimento de um relacionamento interpessoal

terapêutico, a partir de uma abordagem humanizada, essencial para a realização do

cuidado ao paciente psiquiátrico. Neste contexto, o objetivo deste estudo foi

compreender como o enfermeiro realiza o acolhimento do paciente psiquiátrico em

uma unidade de emergência referenciada de um hospital universitário e o que espera

desta ação. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, com base no referencial teórico-

metodológico da fenomenologia social de Alfred Schütz. Estudo realizado em um

Hospital Universitário do interior paulista. A coleta se deu por meio de entrevistas

fenomenológicas com 13 enfermeiros que acolhem os pacientes psiquiátricos e que

concederam sua anuência por meio do termo de consentimento livre esclarecido, e foi

guiada pelas seguintes questões norteadoras: Conte-me como você realiza a triagem

de pacientes psiquiátricos na Unidade de Emergência Referenciada. Como você

gostaria que fosse a realização desta triagem? Os discursos foram gravados em áudio

digital na íntegra e transcritos. A análise dos dados seguiu os passos indicados pelos

métodos de análise de dados qualitativos e pela fenomenologia social, que

possibilitaram a compreensão dos discursos sobre o acolhimento de pacientes

psiquiátricos no serviço citado. Os resultados foram agrupados em cinco categorias:

A ação do enfermeiro no acolhimento do paciente psiquiátrico, Como o enfermeiro se

sente ao acolher o paciente psiquiátrico agitado e agressivo, Espero ter mais tempo

para acolher o paciente psiquiátrico, Acredito que a UER não é o ambiente adequado

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para o paciente psiquiátrico e Espero ser qualificado para acolher o paciente

psiquiátrico, que mostraram o enfermeiro como àquele que, por muitas vezes, não

realiza o acolhimento do paciente psiquiátrico por questões institucionais e que,

quando o faz, sua ação mostra-se pautada no modelo biomédico, perpetuando a

imagem de profissional subordinado, não reconhecendo o acolhimento como uma

ação de enfermagem, estagnando-se na conduta de encaminhar esses pacientes para

avaliação médica. Outro fator que influencia o enfermeiro a não acolher o paciente

psiquiátrico está relacionado aos sentimento gerados por esses pacientes, baseados

em experiências prévias negativas dos enfermeiros, como preocupação com sua

segurança e integridade física. Ainda foi possível compreender que o enfermeiro

espera ter mais tempo para acolher o paciente psiquiátrico, assim como melhorias de

estrutura e oferecimento de treinamentos para o desenvolvimento da ação. O

acolhimento não é visto pelo enfermeiro como uma ação de enfermagem e este

reconhecimento é apresentado neste estudo como uma possibilidade para que se

aproprie e desenvolva a ação com confiança e qualidade.

Palavras-chaves: Enfermagem, Enfermagem Psiquiátrica, Enfermagem em

Emergência, Acolhimento, Saúde Mental.

Linha de Pesquisa: Processo de Cuidar em Saúde e Enfermagem

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ABSTRACT

Everyday, people with any mental health disorder seek Emergency Departments and

has his first contact with a health professional in user embracement carried out by a

nurse. In this context, such an action can become a challenge, whereas the reception

should be fast and follow a protocol, which hinders the development of a therapeutic

interpersonal relationship, from humanized approach, is essential to the achievement

of the management of the patient. The aim of this study is to understand how the nurse

performs the user embracement of the psychiatric patient in a referral emergency unit

from a university hospital and what do you expect of this action. It is a qualitative

research based on theoretical-methodology of social phenomenology of Alfred Schütz.

The study took place in a University Hospital of São Paulo. The data-collection

occurred through phenomenological interviews with 13 nurses that welcome the

psychiatric patients and which granted their permission to the consent form free,

guided by the following guiding questions: Tell me how do you perform the user

embracement of psychiatric patients in the referral emergency unit. How would you like

it to be performing this user embracement? The speeches were recorded in full digital

audio and transcripted. The analysis of the data followed the steps indicated by

qualitative data analysis methods and the social Phenomenology, which made it

possible to understand the speeches about the welcoming of psychiatric patients in the

service. The results were grouped into five categories: The action of the nurse in the

psychiatric patient user embracement, How the nurse feels in welcoming the psych

patient agitated and aggressive, Expect to have more time to welcome the psychiatric

patient, Believe that the ERU is not the proper environment for the psychiatric patient

and Expect to be qualified to welcome the psychiatric patient and showed the nurse as

the one who often does do the welcoming of the psych patient for institutional issues

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and that, when it does, its action is based on the biomedical model, perpetuating the

image of subordinate professional, not recognizing the user embracement as an action

of nursing, stagnating in conduct of forward these patients for medical evaluation.

Another factor that influences the nurse not to welcome the psychiatric patient is

related to the feeling generated by these patients, based on previous negative

experiences of nurses, as concern about their safety and physical integrity. It was still

possible to understand that the nurses expect to have more time to receive the

psychiatric patient, as well as improvements to structure and providing training for the

development of the action. The user embracement is not seen by a nurse as an action

of nursing and this recognition is presented in this study as a possibility to take

ownership and develop the action with reliability and quality.

Keywords: Nursing, Psychiatric Nursing, Emergency Nursing, User Embracement,

Mental health.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Esquema das categorias que expressam o resultado deste estudo. Campinas,

2016 ...................................................................................................................................................... 50

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

UE - Unidades de Emergência

PNH – Programa Nacional de Humanização

STM - Sistema de Triagem de Manchester

UER - Unidade de Emergência Referenciada

SUS - Sistema Único de Saúde

CAPS – Centros de Atenção Psicossocial

CNS - Conselho Nacional de Saúde

Unicamp – Universidade Estadual de Campinas

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SUMÁRIO

1. Pré-reflexivo ................................................................................................................................ 15

2. Introdução .................................................................................................................................... 18

3. Objetivo ........................................................................................................................................ 24

4. Caminho Metodológico .............................................................................................................. 24

4.1 Cenário de pesquisa ............................................................................................................... 28

4.2 Participantes ............................................................................................................................. 29

4.3 Acesso aos participantes ........................................................................................................ 29

4.3.1 Obtenção dos depoimentos ............................................................................................ 29

4.3.2 Aspectos éticos ................................................................................................................. 30

4.4 Análise dos dados ................................................................................................................... 31

5. Compreendendo o fenômeno ................................................................................................... 32

5.1 Categorias concretas do vivido .............................................................................................. 33

5.1.1 Categoria A: “motivos por que” – A ação do enfermeiro no acolhimento do

paciente psiquiátrico em uma UER ......................................................................................... 33

5.1.2 Categoria B: “motivos por que” – Como o enfermeiro se sente ao acolher o

paciente psiquiátrico agitado e agressivo ............................................................................... 40

5.1.3 Categoria A: “motivos para” – Espero ter mais tempo para acolher o paciente em

sofrimento psiquiátrico ............................................................................................................... 42

5.1.4 Categoria B: “motivos para” – Acredito que a UER não é um ambiente adequado

para o paciente em sofrimento psiquiátrico ............................................................................ 43

5.1.5 Categoria C: “motivos para” –Espero ser qualificado para acolher o paciente em

sofrimento psiquiátrico ............................................................................................................... 44

5.2 Tipo vivido: “Enfermeiro que realiza o acolhimento do paciente psiquiátrico na UER” 48

6. Discussão .................................................................................................................................... 51

7. Considerações finais .................................................................................................................. 70

8. Referências bibliográficas ......................................................................................................... 73

9. Apêndice A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .............................................. 84

10. Anexo A – Aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Unicamp .............................. 86

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1. Pré-reflexivo

Minha inquietação se desenvolveu ao longo dos últimos três anos no ambiente

hospitalar. Atuando como enfermeira em sala de acolhimento de pronto-socorro de

um hospital do interior de São Paulo, em várias situações estive em dúvida sobre o

papel a ser desenvolvido pelo enfermeiro naquele momento. Atingi um ponto em que

me via acolhendo os pacientes de maneira mecânica e superficial, já que nós,

enfermeiros de acolhimento, somos instruídos a ser rápidos e sucintos, a fim de

atender à grande procura da população neste serviço.

Esse hospital, assim como muitos no Brasil, utiliza o Protocolo de Manchester

como guia na sala de acolhimento, que propõe a classificação das pessoas atendidas

por níveis de urgência e o tempo estimado para o atendimento médico. O processo

então deve ser rápido, geralmente dois minutos por paciente, já que a demanda é

grande. O enfermeiro acaba baseando-se no exposto, e prosseguindo, como em linha

de produção, à verificação dos sinais vitais, da queixa sintomática e dos

medicamentos em utilização. Porém, com essa classificação que deve ser rápida e

eficiente, baseada em uma lista de sinais e sintomas, sinto que vamos perdendo a

noção de individualidade e deixamos de nos questionar sobre essas situações. Os

médicos, quase sempre se baseiam na descrição prévia feita pelo enfermeiro na ficha

de atendimento, então o atendimento passa a ser de acordo com o escrito.

Muitas vezes, realizando uma breve, mas produtiva, consulta de enfermagem,

conseguia fazer com que pacientes dissessem realmente o que estavam sentindo, o

que no caso não era uma dor física, mas sim inquietações que diziam respeito à saúde

mental, que os incapacitavam até mesmo de trabalhar. Pacientes depressivos, com

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ideias suicidas e dependentes químicos, por exemplo, buscam hoje os serviços de

urgência à procura de uma solução, porém, encontram apenas uma equipe disposta

a lhes fornecer alívio imediato para uma dor física e mensurável.

Deparei-me com o dilema de encaminhá-los para o médico plantonista, que,

muitas vezes, não é preparado, ou não aceita o caso como algo a ser investigado,

tratado ou encaminhado ao especialista, encarando o fato como “frescura”, ou, então,

encaminhando-os para algum serviço de saúde mental que, muitas vezes, não existe

ou que é ineficaz.

Como em meu trabalho de conclusão de curso sobre o processo de

enfermagem nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) mostrou que o enfermeiro

com frequência não realiza seu papel corretamente, sinto-me insegura ao encaminhar

pacientes para esse serviço(1). Acredito que se a equipe hospitalar fosse capacitada

para acolher esses pacientes corretamente, esses poderiam aderir ao tratamento,

entendendo sua importância, pois, quase sempre, esses pacientes me dizem que não

procuram um serviço de saúde mental porque têm a concepção de ser ineficaz ou

porque “não estão loucos”, então não haveria motivos para tal ação.

Percebo, também, que grande parte da equipe não se interessa por esse tipo

de paciente, querendo o mais rápido possível dispensá-lo.

Após ter passado por todas as esferas de atendimento (unidade básica de

saúde, unidade de pronto atendimento e hospital geral) percebo, também, que o

paciente sempre recorre ao hospital primeiramente, no caso, ao pronto-socorro. Por

facilidade de acesso, por ignorância quanto aos outros serviços, ou por saberem que,

bem ou mal, ele terá ao menos sua queixa escutada. É nesse momento que surge

minha inquietação.

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Após a recepção, o enfermeiro é o primeiro profissional com quem o indivíduo

tem contato no hospital e tudo depende dessa abordagem, para classificá-lo e orientá-

lo. Dessa maneira, minha inquietação baseia-se em compreender como os

enfermeiros agem nessas situações e o que é possível se fazer diante das limitações

presentes. Considerando minhas experiências como enfermeira que realiza o

acolhimento e como pesquisadora na área de saúde mental, percebo como é difícil

seguir um protocolo e, ao mesmo tempo, atender às singularidades do paciente

psiquiátrico, e que, frequentemente, não é realizada uma consulta de enfermagem

efetiva, fato este que pode contribuir para que a pessoa não tenha seu problema

resolvido e, consequentemente, retorne várias vezes ao pronto-socorro.

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2. Introdução

Os serviços de urgência e emergência vêm apresentando mudança de

cenário em nível global, presenciando aumento explosivo da demanda de

pacientes, seja com queixas de urgências reais ou quanto às questões passíveis

de serem resolvidas na atenção básica(2).

No contexto histórico, isso se deve a mudança na prática médica, ocorrida

no final dos anos 50, primeiramente nos Estados Unidos e, posteriormente, em

outros países, como no Brasil: os médicos particulares e os de família passaram

a ser raros, as visitas se transformaram em consultas agendadas em

consultórios e a população passou, então, a utilizar mais as Unidades de

Emergência (UE), especialmente porque os consultórios estavam fechados em

feriados e fins de semana(3). Além disso, mais médicos se tornaram

especialistas, com poucos generalistas(3).

No Brasil, esse problema é acentuado pela baixa resolubilidade no setor

primário de saúde e pelo fato de a população acreditar que procurar uma UE

pode ser a maneira mais fácil de obter atendimento, sobrecarregando ainda mais

esse serviço(2,4). O hospital torna-se, então, a principal porta de entrada do

sistema de saúde, sendo necessária a reestruturação do atendimento, para que

todos possam ser atendidos em ordem, de acordo com sua a complexidade, e

não por ordem de chegada, não ferindo assim os princípios de universalidade,

equidade e integralidade(4-5).

A fim de administrar o fluxo de pacientes, muitas instituições implantaram

o acolhimento com classificação de risco, que é um serviço de enfermagem e

possui a finalidade de acolher o indivíduo que procura a UE(6).

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Tradicionalmente, a noção de acolhimento no campo de saúde tem sido

identificada pelo termo triagem, fato que pôde ser observado ao se realizar uma

revisão integrativa sobre o tema, em que se obtiveram artigos pertinentes

somente ao utilizar o descritor “triagem”(7-11). A revisão foi iniciada com o intuito

de conhecer o estado da arte e como essa ação se encontra no cenário

internacional, o que favoreceu a compreensão entre os termos “triagem” e

“acolhimento”. Está-se na fase de elaboração do relatório final da revisão

integrativa para posterior submissão a periódico.

Contudo, retornando ao contexto brasileiro, a Política Nacional de

Humanização (PNH), implementada pelo Ministério da Saúde, descreve a

triagem como ação administrativa que, na maior parte das vezes, pratica a

exclusão social, na medida em que “escolhe” quem deve ser atendido(5). O

acolhimento, nesse sentido, diferencia-se da triagem, pois ele não se constitui

como uma etapa do processo, mas como uma ação que deve ocorrer em todos

os locais e momentos do serviço de saúde(6).

Como este estudo é realizado no Brasil, o termo utilizado para se referir à

ação, referente à inquietação da autora, contextualiza-se como acolhimento.

No acolhimento, o enfermeiro é responsável por avaliar o paciente logo

na sua chegada à unidade, humanizando, dessa forma, a assistência já que é

determinada a área de atendimento primário e o tempo de espera para a

avaliação médica, de acordo com a gravidade do paciente. Com isso, é possível

descongestionar a unidade e fornecer aos pacientes e familiares a ajuda e as

informações necessárias(4,6).

Para sistematizar a classificação de risco, existem protocolos

internacionais, e o mais utilizado, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos,

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União Europeia e Reino Unido, é o Sistema de Triagem de Manchester (STM).

O STM foi criado a partir dos estudos do Grupo de Triagem de Manchester

(Manchester Triage Group) com o objetivo de estabelecer consenso entre os

médicos e enfermeiros de emergência, em relação às normas de classificação,

para assegurar consistência e confiabilidade na identificação da gravidade do

paciente, no momento em que chega à UE(12).

O STM estabelece uma classificação de risco em cinco categorias que

consideram a história clínica, os sinais e sintomas, que levam a um fluxograma

de apresentação, composto por discriminadores, nos quais as respostas

positivas ou negativas são direcionadas à prioridade clínica e ao tempo de

atendimento, definidos por cores: emergente – atendimento imediato (vermelho),

muito urgente – 10 minutos (laranja), urgente – 60 minutos (amarelo), pouco

urgente – 120 minutos (verde) e não urgente – 240 minutos (azul). Assim, é

organizado o atendimento de forma que pacientes que apresentem sinais de

gravidade tenham prioridade no atendimento(4,12).

Apesar de ser uma ferramenta sensível e acurada para detectar aqueles

que precisam de cuidado crítico, esse sistema de classificação, originalmente,

não previu o acesso ao serviço de emergência por outros motivos, além dos

descritos nos fluxogramas, como, por exemplo, as questões psiquiátricas(7,12).

Todos os dias, pessoas com alguma desordem de sua saúde mental

procuram as UEs(8). Apesar de não serem os locais ideais para seu atendimento,

é preciso entender os fatores por trás dessa procura. Geralmente pacientes

psiquiátricos podem se sentir isolados e receosos, relutando em não procurar

ajuda especializada até que se sintam em uma situação de emergência(12).

Ainda, quando procuram ajuda em unidades de saúde da família, nem sempre

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conseguem a garantia da resolubilidade para seu problema, o que pode ser

explicado pela indisponibilidade de profissionais especializados na rede(14).

Sendo assim, a UE pode ser uma opção para que o paciente tenha sua queixa

ouvida por um médico, o que, em sua concepção, pode encurtar o processo de

busca pela assistência (14). Porém, quando chegam ao hospital e encontram um

profissional despreparado para atender suas queixas, essa pode se tornar uma

experiência traumática(14).

Pacientes entrevistados em um estudo canadense relataram que, quando

chegam às UEs apresentando sinais e sintomas de cunho psíquico, têm sua

queixa subestimada e sua classificação de risco fica fora das prioridades, o que

é evidenciado na fala de um participante: “As pessoas estão sempre me dizendo

que não estou doente o bastante. Eu sei quando eu estou ficando doente,

quando eu preciso de ajuda, mas eles me dizem ‘Você não é o único aqui’”(15).

O paciente, então, necessita aguardar na sala de espera, o que pode levar

horas até que seja avaliado clinicamente. Com o sentimento de abandono, esse

ambiente se torna assustador, o que pode promover quadros de agitação,

indicando que tanto o ambiente quanto a falta de habilidade da equipe

contribuem para a qualidade inferior do serviço de acolhimento(15).

A abordagem ao paciente psiquiátrico é de suma importância, uma vez

que o sucesso no acolhimento pode determinar a aceitação e a adesão dessa

pessoa ao tratamento, se necessário(16). De fato, o tratamento não será realizado

na UE, entretanto, cabe ao enfermeiro oferecer atendimento com resolubilidade

e responsabilidade para o indivíduo e sua família(16).

Considerando o acolhimento uma atividade que vai além da classificação

de risco, que visa facilitar o vínculo entre equipe e paciente, fundamentada no

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cuidado humanizado, é importante que o enfermeiro assuma postura

acolhedora, apresentando habilidades de comunicação, verbal e não verbal. A

primeira impressão possui significativa influência, assim como o modo como a

pessoa é recebida, a atenção que o profissional dispensa e a demonstração de

preocupação com o paciente quando ele chega à instituição(14,16).

É necessária abordagem terapêutica do enfermeiro que, partindo de

avaliação humanizada e singular, tenha habilidade e rapidez para tomada de

conduta durante a realização do acolhimento ao paciente psiquiátrico na UE(16).

Nesse sentido, a literatura enfoca a importância do aprendizado do

relacionamento interpessoal terapêutico para o estabelecimento do

relacionamento terapêutico entre enfermeiro e paciente, o que pode ser uma

relevante ferramenta para impulsionar o acolhimento(16-17).

Para muitos enfermeiros, entretanto, acolher o paciente psiquiátrico pode

ser um desafio(18). A necessidade de a ação do acolhimento ser executada de

forma rápida se contrapõe à necessidade da provisão de um cuidado de

qualidade, e o enfermeiro se encontra em um dilema em que a responsabilidade

de se envolver com os pacientes é ofuscada por tarefas operacionais e

burocráticas(10,14). Além disso, outro fator que influencia a má qualidade de

atendimento é o estigma que acompanha os indivíduos com transtorno mental,

assim, é frequente o profissional assumir atitude defensiva e de negligência de

cuidados(16).

Sendo assim, um dilema se apresenta à medida em que é necessário unir

o acolhimento, uma ação teoricamente humanizada, na qual é preciso permitir

que o paciente expresse suas preocupações e angústias, que tem como base o

estabelecimento de uma relação empática, a um modelo biomédico de

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classificação de risco, em que se preconiza seguir um fluxograma que se resume

à queixa e à conduta e que, mais importante, deve ser rápido e eficaz.

Entendendo que o tratamento do paciente psiquiátrico se inicia no

momento em que é acolhido e que a abordagem correta pode ser fundamental

para sua adesão, é importante que o enfermeiro compreenda que sua atuação

nas UEs não se restringe a problemas físicos e que deve expandir essa visão

para todos os pacientes acolhidos considerando-os como seres biopsicossociais

que são.

Apesar de existir vasta literatura sobre o campo de saúde mental e

atitudes a serem tomadas, há poucos artigos sobre ferramentas de assistência

ao paciente psiquiátrico no acolhimento de UE, especialmente no Brasil, sendo

a maioria desses provenientes da Austrália e do Canadá(7-11,15,18). Entretanto,

mesmo com a aplicação de uma escala de triagem para saúde mental em

hospitais desses países, a literatura ainda não reporta grandes melhorias e

avanços em sua utilização. Ainda se faz necessária abordagem mais ampla e

uniforme, com enfermeiros devidamente treinados, para que se possa oferecer

atendimento que produza o mesmo nível de resultados que aquele obtido com

pacientes com doenças ou lesões físicas(11).

Por fim, este estudo justifica-se pela necessidade de oferecer respostas

das UEs ao paciente psiquiátrico, considerando que ele não encontra suporte na

atenção básica. A realização desse estudo se propõe a responder a inquietação

da autora que se baseia numa necessidade de compreender as possibilidades

de condução do acolhimento ao paciente psiquiátrico, uma vez que se mostra

delicada a agregação de um protocolo biomédico à consulta de enfermagem,

que é fundamentada pela atenção humanizada. A ampliação desse

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entendimento se apresenta, então, como caminho para, posteriormente,

repensar e sugerir novas formas de realizar esta ação.

3. Objetivo

Compreender como o enfermeiro realiza o acolhimento do paciente

psiquiátrico em uma Unidade de Emergência Referenciada (UER), de um

hospital universitário do interior paulista, e o que espera dessa ação.

4. Caminho Metodológico

Trata-se de pesquisa qualitativa, com base no referencial teórico-

metodológico da fenomenologia social de Alfred Schütz.

Entendendo que o acolhimento é um processo de escuta qualificada, que

demanda um relacionamento entre enfermeiro e paciente para atingir seus

objetivos, faz-se necessária abordagem qualitativa para alcançar a

compreensão dos acontecimentos que cercam a realidade de forma mais

abrangente, havendo compreensão holística do sujeito(19).

Essa ação pressupõe mudança da relação enfermeiro/paciente e sua rede

social por meio de parâmetros técnicos, éticos, humanitários e de solidariedade,

reconhecendo o usuário como participante ativo no processo de produção da

saúde(6).

Para que se possa compreender como acontece a relação entre

enfermeiro e paciente psiquiátrico no momento do acolhimento na UE, optou-se

pela abordagem teórico-metodológica da fenomenologia social de Alfred Schütz,

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considerando que o sociólogo trabalha a relação social como elemento

fundamental na interpretação dos significados das ações dos sujeitos no seu

mundo cotidiano(20-21). Tal conceito refere-se ao cenário onde o ser humano

vive, o qual já se encontra estruturado previamente, anterior ao seu

nascimento(20-21).

Para Schütz, a primeira tarefa da fenomenologia social consiste em

descrever os processos de estabelecimento e interpretação de significado tal

como os realizam as pessoas que vivem no mundo social, ou seja, o cenário em

que o ser humano vive, que existia muito antes de seu nascimento(21-22). Nesse

sentido, seus trabalhos baseiam-se no pressuposto inicial de que o homem vive

no mundo do senso comum ou da vida, relacionando-se com outros homens e

utilizando métodos e materiais oferecidos por esses para construir seu próprio

mundo(21-22).

O homem vive neste mundo em constante atitude natural, ou seja,

assume uma postura que reconhece os fatos objetivos, as condições para ações

de acordo com os objetos à volta, a vontade e as intenções de outros com quem

tem de cooperar ou lidar, as imposições dos costumes e as proibições da lei, e

assim por diante(20-21). Percebe a existência material de semelhantes, sua vida

consciente e a possibilidade de intercomunicação. Devido a isso, Schütz afirma

que o mundo da vida é essencialmente intersubjetivo, comum a todos os

homens(21-23).

O indivíduo se encontra numa situação biográfica determinada, assim,

duas pessoas jamais poderiam vivenciar a mesma situação da mesma forma e

cada uma chegou a essa situação tendo em mente seus propósitos que são

enraizados na história singular de sua vida, de acordo com seu acervo de

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conhecimentos(22). Quando os membros de uma comunidade compartilham

suas concepções de mundo, essa é a auto interpretação coletiva que representa

o conjunto individual das concepções de cada um(22). Desse modo, o grupo de

enfermeiros pode apresentar uma interpretação coletiva sobre a percepção do

paciente psiquiátrico que procura atendimento na UE, que é composta pelas

interpretações de cada um.

Schütz interessou-se pela linguagem cotidiana das pessoas no contexto

de seus grupos e comunidades, considerando seus conteúdos de significados

mais amplos(22). Tal interesse leva a se pensar que o depoimento dos

enfermeiros pode permitir à pesquisadora analisar a linguagem dos sujeitos e

seus significados, além do conhecimento da percepção do grupo sobre sua ação

no acolhimento.

Ao relacionar-se, o homem confere significado à sua ação e, então, o foco

muda dos aspectos cognitivos para os dinâmicos e ativos do seu mundo

cotidiano. A ação intencional, dirigida ao sujeito, a partir de vivências

conscientes, é chamada ação social. Para realizá-la, é necessário que as

próprias vivências do sujeito acompanhem suas ações e que as vivências dos

outros também sejam consideradas(24). Assim, o momento do acolhimento pode

ser considerado uma ação social, em que ocorre uma relação face a face, na

qual enfermeiro e paciente estão conscientes da presença do outro, constituindo

uma participação geralmente simpática nas vida de um e do outro, mesmo que

só por um determinado período de tempo(21-22).

Por trás da ação humana, pode-se encontrar a teoria da motivação de

Schütz, que revela o duplo caráter da motivação. Por um lado, os homens

agem em função de motivações dirigidas a objetivos, que apontam para o futuro.

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Schütz as denominou “motivos para”. Por outro lado, os homens têm “razões”

para as suas ações e preocupam-se com elas. Essas razões estão enraizadas

em experiências passadas, na personalidade que um homem desenvolveu

durante sua vida. Schütz as denominou “motivos por que”. Ao desenvolver uma

ação, o ator vivencia diretamente seus “motivos para”, a intenção de criar um

estado de coisas, de alcançar um fio preconcebido, sendo essencialmente

subjetivo. Ao contrário, enquanto age, ele não está consciente de seus “motivos

por que”, só podendo entender esses motivos em retrospectiva(22).

De posse do conjunto de depoimentos dos enfermeiros entrevistados, é

possível compreender sua experiência, identificando os motivos que o levaram

a agir de tal modo ao realizar (ou não) o acolhimento do paciente psiquiátrico

(motivos por que) e quais são suas perspectivas sobre essa ação (motivos para).

A transcendência dessa compreensão requer que o pesquisador se distancie do

sujeito para observá-lo e elabore um esquema conceitual, a partir da objetivação

da matriz subjetiva de sentido, agrupando as informações acerca do mundo do

senso comum – a tipificação. O que caracteriza determinado grupo social é a

expressão de uma estrutura vivida na dimensão social – o tipo vivido(20).

Neste estudo, busca-se compreender a experiência do enfermeiro que

vive uma situação típica, a realização do acolhimento do paciente psiquiátrico,

utilizando alguns dos conceitos de Alfred Schütz e, a partir dos “motivos para” e

“motivos por que”, construir o tipo vivido: “Enfermeiro que realiza o acolhimento

do paciente psiquiátrico em uma unidade de emergência referenciada”(23).

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4.1 Cenário de pesquisa

O estudo aconteceu na UER de um hospital universitário, no interior do

Estado de São Paulo. O hospital é de grande porte, nível terciário, com

capacidade instalada para 403 leitos. Todos os atendimentos realizados são

integralmente pagos pelo Sistema Único de Saúde (SUS)(25).

A UER fornece serviços de saúde de alta complexidade para a área

metropolitana da cidade, cobrindo população de, aproximadamente, 5.000.000

de habitantes. Seu principal objetivo é oferecer tratamento especializado para

casos de urgência e emergência, no qual pacientes que apresentam as mais

graves condições têm prioridade de cuidados médicos(25).

Antes da consulta médica, os pacientes passam por acolhimento com

classificação de risco realizado por enfermeiros, e aqueles com condições

potencialmente mais graves têm prioridade de atendimento. Há, também, os

pacientes que procuram o serviço espontaneamente e, mais uma vez, o critério

da gravidade do caso, conforme avaliado por meio do acolhimento, é respeitado

na determinação da ordem de atendimento(25).

A UER realiza, em média, 200 atendimentos por dia, dos quais 2,6%, ou

5 atendimentos, correspondem a consultas psiquiátricas. O cuidado psiquiátrico

é administrado por médicos pertencentes ao Programa de Residência em

Psiquiatria, supervisionados por um psiquiatra, todos os dias, 24 horas por dia(25).

A UER conta com 18 enfermeiros assistenciais, divididos entre quatro

plantões: manhã, tarde, noite par e ímpar, que atuam em forma de escala de

setores, havendo assim rotatividade dos espaços nos quais irão trabalhar. Desse

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modo, todos eles exercem suas atividades na sala de acolhimento, em algum

momento da escala, então todos estavam aptos para participar do estudo.

4.2 Participantes

O conjunto de sujeitos em estudo foi composto por 13 enfermeiros que

atuavam na sala de acolhimento da UER. Critérios de inclusão: possuir

graduação em enfermagem, estar presente na UER no momento da coleta de

dados. Critérios de exclusão: enfermeiros que estavam em período de férias e

afastamento no período da realização da coleta de dados.

4.3 Acesso aos participantes

4.3.1 Obtenção dos depoimentos

A obtenção das descrições experienciais foi realizada por meio de uma

entrevista, permitindo que o fenômeno fosse descrito pelo próprio sujeito que o

vivencia(26).

Na abordagem fenomenológica a principal fonte de dados é o diálogo

entre pesquisador e informante, que é provocado a descrever as experiências

vividas em seu mundo cotidiano em uma relação de proximidade e de interação

face a face, favorecendo o acesso aos sintomas do pensamento do outro

através dos gestos, do corpo, das expressões faciais, o que é denominado

por Schütz como relação nós(21). Durante a entrevista, buscou-se uma

linguagem que fosse “fala originária”, possibilitando a mediação com o outro e a

comunicação com o mundo(26).

Para se iniciar os procedimentos, primeiramente o projeto desta pesquisa

foi apresentado ao coordenador da UER e à Superintendência de Enfermagem

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do hospital. Tendo o aceite, o coordenador atuou apresentando a pesquisadora

a todos os enfermeiros, comentando sobre o objetivo da pesquisa. Todos os

enfermeiros presentes consentiram em participar do estudo.

As entrevistas, com duração de aproximadamente 20 minutos,

aconteceram nas dependências da UER, durante o horário de trabalho dos

enfermeiros. Assim que se sentiam aptos para pausar suas atividades,

sinalizavam para a pesquisadora para dar início ao procedimento. As falas foram

gravadas em áudio digital e transcritas na íntegra, guiadas pelas seguintes

questões norteadoras: conte-me como você realiza o acolhimento de pacientes

psiquiátricos na Unidade de Emergência Referenciada. Como você gostaria que

fosse a realização desse acolhimento? Posteriormente, foram transcritas, na

íntegra, utilizando o próprio vocabulário dos sujeitos da pesquisa para a

formação dos textos.

A coleta de dados foi encerrada mediante a saturação teórica, após a

realização de entrevistas com treze enfermeiros, quando os dados mostraram

sinais de desvelamento do fenômeno, as inquietações da pesquisadora foram

respondidas e o objetivo do estudo atingido(27).

4.3.2 Aspectos éticos

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade

de Ciências Médicas – Universidade Estadual de Campinas, Unicamp, sob

Parecer nº 1.314.538 (ANEXO A) em atendimento à Resolução 466/2012, do

Conselho Nacional de Saúde (CNS), que estabelece as normas para pesquisa

envolvendo seres humanos. Em consonância, também foi obtida a autorização

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do hospital para realização do estudo em suas dependências, com seus

funcionários.

As entrevistas só foram iniciadas após o esclarecimento sobre o objetivo

do estudo e a aceitação do participante, mediante sua anuência ao Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE A).

Para garantir o anonimato dos participantes, eles foram identificados com

a letra “E”, inicial da palavra “enfermeiro”, seguido de números arábicos, de

acordo com a ordem em que se realizaram as entrevistas.

4.4 Análise dos dados

A análise do conteúdo das entrevistas seguiu os momentos

metodológicos definidos por autores da fenomenologia: descrição, redução e

compreensão(28).

Na descrição, o pesquisador preocupa-se em conseguir o sentido geral

das proposições, prendendo-se à capacidade de compreender a linguagem do

sujeito.

Na redução, o pesquisador seleciona, mediante leituras cuidadosas das

descrições conseguidas, aquelas unidades que mais chamaram sua atenção.

Essas unidades, agora selecionadas, constituirão as Unidades de Significado,

que representam o sentido das ideias dos sujeitos pesquisados.

A interpretação é constituída pelo momento em que o pesquisador realiza

as duas análises finais na tentativa de conhecer o fenômeno estudado: a Análise

Ideográfica, desvelando as ideias dos sujeitos individualmente, e a Análise

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Nomotética, onde se buscam, sem a preocupação de generalizações, os pontos

de convergência e/ou divergência entre as ideias dos vários participantes da

pesquisa(28-29).

Assim, foram identificados os “motivos para” e os “motivos por que” nas

experiências dos enfermeiros e esses foram agrupados em categorias que,

posteriormente, foram discutidas à luz da fenomenologia social de Alfred Schütz,

utilizando alguns dos conceitos propostos pelo sociólogo(30)

5. Compreendendo o fenômeno

Os depoimentos obtidos a partir da relação-nós construída nas entrevistas

realizadas com os enfermeiros da UER, foram organizadas em dois grupos: no

primeiro, aquelas que traduziam suas trajetórias biográficas, que se referem ao

estoque de conhecimento como conjunto de habilidades, receitas, modelos para

realização da ação do acolhimento do paciente psiquiátrico na UER, ou seja, os

motivos por que; e no segundo, aquelas que se relacionam ao alcance dos

objetivos, expectativas, projetos, o que é idealizado por eles para a construção

de um acolhimento ideal, ou seja, os motivos para(20,23).

Essas categorias são denominadas concretas e constituem sínteses

objetivas dos diferentes significados da ação do acolhimento do paciente

psiquiátrico que emergiram das experiências dos enfermeiros, expressando os

aspectos relevantes de ações que implicam os fenômenos sociais e envolvem

tanto a reflexão dos sujeitos como a visão da pesquisadora(20,23).

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5.1 Categorias concretas do vivido

Os “motivos por que” dos enfermeiros que realizam acolhimento do

paciente psiquiátrico na UER são expressados em duas categorias: a ação do

enfermeiro no acolhimento do paciente psiquiátrico e como eu me sinto ao

acolher o paciente agitado e agressivo. Os “motivos para” são expressados

em três categorias: espero ter mais tempo para acolher o paciente em

sofrimento psiquiátrico, acredito que a UER não é um ambiente adequado

para um paciente em sofrimento psiquiátrico e espero ser qualificado para

acolher o paciente em sofrimento psiquiátrico,

5.1.1 Categoria A: “motivos por que” – A ação do enfermeiro no

acolhimento do paciente psiquiátrico em uma UER

Ao serem questionados sobre o acolhimento do paciente psiquiátrico, os

enfermeiros disseram que, na maior parte das vezes, esses pacientes não são

acolhidos por eles. O paciente é quem decide por seu atendimento, como visto

nos depoimentos.

Ele vem sempre com o acompanhante, ou vem com a

ambulância, que já traz especifico para a psiquiatria (E1).

É assim: eles chegam aqui e se a queixa for psiquiátrica abre a

ficha para a psiquiatria e já aciona (E2).

Geralmente ele já vai pro psiquiatra mesmo. Dependendo do

quadro que ele chega, já é encaminhado direto pro psiquiatra

(E3).

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[...] o paciente chega, faz a ficha e não passa pela classificação

de risco (E4).

O paciente psiquiátrico chega e ele mesmo se direciona a

recepção pra fazer a ficha e ele mesmo já fala que quer abrir a

ficha pra psiquiatria. O pessoal da recepção faz a ficha,

discriminando que é psiquiatria, e deixa na caselinha da

psiquiatria. O Psiquiatra vem e chama o paciente para o

atendimento (E6).

Muitas vezes ele já vem e faz a ficha para o psiquiatra, então ele

nem passa com a gente (E9).

Esse paciente psiquiátrico, quando ele chega, ele não passa

comigo na triagem, a gente não faz classificação de risco dele

(E11).

Há situações, porém, em que o paciente não se apresenta como

“psiquiátrico” e sua ficha é encaminhada ao enfermeiro do acolhimento. Quando

isso acontece, nem todos os enfermeiros conseguem identificar questões

psiquiátricas, considerando que é esperado por eles que os pacientes a serem

acolhidos tenham uma queixa clínica. Também dizem que o protocolo existente

na unidade não os orienta nesse sentido. Assim, os pacientes são encaminhados

para o médico clínico e ele é quem determinará a necessidade de atendimento

especializado. Resumindo, quando acontece o acolhimento do paciente

psiquiátrico, geralmente é realizado pelo médico.

A classificação mesmo a gente não faz, a não ser que a queixa

seja clínica. Aí se for clínica, a primeira abordagem é nossa. Mas

a da doença psiquiátrica mesmo, geralmente é feita por eles no

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primeiro atendimento... a gente vai fazer o atendimento depois.

(E12)

Fazer a classificação do paciente de psiquiatria é uma coisa

assim, uma coisa que a gente não consegue... tipo assim, é uma

coisa que às vezes a gente não consegue identificar no primeiro

momento. Então como a ficha nossa já vem direcionada pra

clínica, às vezes você encaminha o paciente para a clínica, pra

dar continuidade, e muitas vezes a clínica pede uma intervenção

do psiquiatra. Então nem sempre a gente consegue identificar

que realmente ele tem uma necessidade de fazer uma

interconsulta ou passar com o psiquiatra. Então já teve situação

que eu acabei encaminhando o paciente pra clínica, não detectei

que ele tinha traços, e aí acabei encaminhando pra clínica, que

depois pediu uma interconsulta com a psiquiatria (E9).

Perguntar qual é a queixa principal que traz esse paciente ao

pronto-socorro... e quando a gente vai entregar a ficha pro clínico

a gente tem as classificações né, o verde, o azul, o amarelo e o

vermelho, aí geralmente eu sinalizo pro clínico “olha, o paciente

tá agitado, tá confuso, triei pra vocês mas aí vocês é quem vão

decidir se vai precisar de uma interconsulta para a psiquiatria”

(E6).

Alguns enfermeiros relatam conseguir identificar sinais e sintomas

psiquiátricos durante o acolhimento, como conversa desconexa, agitação,

ideação suicida e alucinações. Porém, a ação resultante dessa percepção é de

encaminhar esses pacientes para o psiquiatra.

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[...] a gente já avalia e fala “psiquiatria”. A gente não coloca na

caixinha deles, a gente vai lá primeiro e conversa, passa todo o

caso (E1).

[...] já chegou paciente com a queixa clínica e durante a

classificação de risco a gente entender que ele necessitava de

uma avaliação com a psiquiatria: conversa desconexa, agitação

na sala, choro, ideação, e um paciente que a gente avalia e

chega a uma conclusão que precisa passar pela psiquiatria (E4).

Mas acontece, eventualmente, que esse paciente chegue pra

gente. Uma vez a gente detectando essa demanda, ela não é

clínica, ou para outra especialidade, a gente conversa e aí busca

a equipe médica pra fazer esse atendimento com eles (E8).

Como a ficha dele vem para o clínico, quando ele fala alguma

coisa que é contundente e decisivo, aí eu passo pro psiquiatra.

Por exemplo, quando tem indícios, sinais de suicídio, aí eu nem

passo com a clínica [...] Então o paciente chega, a gente começa

a questionar o paciente, e ele fala que ouve vozes... então, se

ele tem alucinação auditiva, se ele tem alucinação visual, aí eu

acabo encaminhando para o psiquiatra também (E9).

Em algumas falas, os enfermeiros da UER demonstram não se

reconhecerem como profissionais adequados para acolher o paciente

psiquiátrico. A ação de enfermagem aparece então como sendo guiada pela

figura do médico, dependendo de ordens desses para realizar a sua função.

Também fica evidenciado que o psiquiatra não reconhece a ação do enfermeiro

no acolhimento, pois o profissional é orientado a encaminhar o paciente ao

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clínico que então irá decidir se o paciente necessita de intervenções psiquiátricas

ou não.

O paciente já chega em surto psiquiátrico, ele já tem a

abordagem do profissional adequado, é nesse sentido [...] é uma

sala fechada, que o enfermeiro não tem uma dinâmica adequada

e uma técnica adequada de abordagem desse paciente como o

psiquiatra tem, então quando ele vai direto pro psiquiatra, o

psiquiatra já consegue conduzir melhor a situação e já tomar

uma decisão do que fazer (E5).

Ninguém mais preparado do que eles (psiquiatras) pra fazer o

acolhimento e eles não fazem. E esse acolhimento muitas vezes

é feito por nós na avaliação, exatamente porque como eu falei

que às vezes chega lá e a gente nem sabe o que é isso ainda, e

mais principalmente é feito pela clínica médica. Lógico que a

gente também tem na formação, mas nada como o psiquiatra

(E10).

Às vezes o residente da psiquiatria fala: “mas o caso dele nesse

momento não é psiquiatria. Vai na clínica médica primeiro, vê

com eles o que eles acham e manda pra gente”, aí a gente

conversa (E1).

[...] depende de quem é o residente. É “Tá, deixa a fichinha ali

que eu já vou ver” e depende tipo “ó, passa lá na clínica”. Tipo,

o que você identificou não faz muito sentido, é melhor passar

com o clínico e se tiver mesmo necessidade... deixa o outro

profissional mais competente avaliar e vir falar comigo. Então se

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você é muito antigo da instituição isso não acontece muito, mas

quando você é recém-admitido na instituição, que você não tem

ainda aquela credibilidade, então pode acabar acontecendo

isso, lamentavelmente (E9).

[...] já chama o psiquiatra de imediato pra ficar com a gente, e

vai tentando conduzir, aí conforme o que o psiquiatra vai fazendo

a gente vai fazendo as coisas. A gente sempre procura o

psiquiatra, pra fazer qualquer conduta (E11).

Então, aqui na triagem a gente acaba não fazendo a

classificação de risco desse paciente, a gente fica sabendo do

paciente pelos médicos, que acabam nos chamando quando o

paciente tá em crise, em surto às vezes, porque às vezes ele já

atendeu o paciente... então a abordagem é por eles lá, na

maioria das vezes. Casos raros que o paciente chega muito

desorganizado, aí a gente tá aqui na frente e a gente vai abordar

esse paciente, senão a gente é chamada pelos médicos e

pedem pra gente fazer a contensão, medicação, e aí a gente fica

sabendo o que o paciente tem, qual é a patologia. (E12)

Os enfermeiros que atuam no acolhimento na UER disseram que possuir

experiência com esses pacientes, ter percepção e bom senso lhes serve de

embasamento para suas ações, utilizando seus conhecimentos prévios e

intuição para decidir a quem encaminhá-los.

[...] pela própria rotina, pela própria prática, as vezes a gente

consegue discernir um pouco (se o paciente é psiquiátrico) (E3).

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Vai depender da situação do momento e da avaliação clínica que

você faz. Da experiência que você tem com esse paciente

também. Muita coisa a gente acaba classificando pela

experiência por saber que aquela situação vai ter um problema

se você não resolver logo. Então você faz a avaliação também

de acordo com a sua experiência (E5).

No nosso critério de classificação de risco, por exemplo, o

paciente que tem um risco grande de fuga... assim, não tem

nada em protocolo, que a gente possa classificar “não, esse

paciente eu vou classificar como amarelo, porque ele tem um

risco de fuga”, não, a isso a gente não tem. Mas aqui, vai

depender muito do bom senso do profissional (E6).

Enfermeiros relataram que os pacientes psiquiátricos, na maioria das

vezes, chegam à unidade acompanhados de seus familiares. Quando isso

acontece, se faz necessário voltar o olhar para a família, pois ela pode ajudar

com mais informações, mantendo o paciente tranquilo, mas, às vezes, a

presença de outras pessoas na sala pode impedir que o paciente fale.

[...] durante parte das vezes também, ele vem acompanhado dos

familiares, então a gente tem ajuda do familiar, que traz

informações que às vezes o paciente não tá passando (E8).

É interessante porque, muitas vezes, o paciente esconde da

família a situação, então quando você tá fazendo a entrevista,

quando você tá examinando no consultório, você tem essa

percepção de que ele não quer falar as coisas na frente da

família, ai você precisa pedir para o acompanhante sair, mas

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depois você retorna com o acompanhante pro consultório e

explica porque você pediu pra ele sair... (E9).

[...] quando chega um paciente mais tranquilo, mas às vezes

com uma fala mais organizada, a gente até tenta. A gente tenta

colocar num lugar mais tranquilo, com a família, tenta deixar um

familiar junto, até chegar o psiquiatra pra fazer o atendimento

(E11).

5.1.2 Categoria B: “motivos por que” – Como o enfermeiro se sente

ao acolher o paciente psiquiátrico agitado e agressivo

Ao refletirem sobre a prática do acolhimento do paciente psiquiátrico, os

enfermeiros se mostram preocupados com a sua própria integridade, temendo

por sua segurança e se sentindo expostos, pois geralmente estão sozinhos na

sala de acolhimento e o paciente agitado pode agredi-los. Apontaram essa

agressividade e agitação como obstáculos para a realização da ação do

acolhimento, nem sempre conseguindo conversar ou realizar ações primordiais,

como a verificação de sinais vitais.

[...] quando o paciente chega agressivo, que está agredindo

todos e tudo fisicamente, dependendo do porte físico do

paciente, a equipe se machuca. Por mais que a gente tente fazer

o correto para evitar lesões físicas, não dá, porque a gente

apanha (E3).

Na maior parte das vezes o paciente chega agressivo né, e a

sala não comporta às vezes esse paciente agressivo e que

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acaba colocando em risco a vida do próprio profissional [...] a

gente vai trazer ele (paciente psiquiátrico) pra sala, só com o

profissional enfermeiro aqui na sala? (E4).

Quando eles chegam calmos, eles respondem tudo o que a

gente precisa, aí é tranquilo, mas quando ele tá agressivo aí não

tem nem como conversar (E3).

[...] é um desafio porque, justamente por essa alteração de

comportamento ele dispõe muito mais e dificulta até...Se você

vai fazer uma verificação de sinais vitais, o básico que a gente

faz na classificação de risco, nem sempre você consegue (E7).

Os enfermeiros se sentem desconfortáveis e acreditam não ter um

preparo pessoal para acolher o paciente psiquiátrico, pois isso exige tolerância,

maleabilidade ou “ter jeito” para lidar com eles. Um participante também aponta,

como causa de sua resistência, o pensamento de que pacientes psiquiátricos

são mais agressivos quando o enfermeiro é negro.

Eu acho que é preparo pessoal mesmo. E não é todo mundo que

tem aquela tolerância, aquela maleabilidade que serve pra

chegar até ele (E2).

Quando o paciente chega muito agitado é mais tenso... sempre

dá um pouquinho de desconforto, eu sinceramente não tenho

muito jeito, não consigo lidar muito bem com paciente

psiquiátrico, mas a gente tenta (E11).

Ainda tenho que amadurecer essa ideia de o enfermeiro

classificar o paciente psiquiátrico. Por essa questão, de agredir

o profissional negro. [...] acho que a demanda tá aí, várias

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questões para serem consideradas, tem que ser estudado, mas

eu, particularmente, não sei te dizer, não pensei nessa questão

sobre isso. Eu confesso que sou bastante resistente (E4).

5.1.3 Categoria A: “motivos para” – Espero ter mais tempo para

acolher o paciente em sofrimento psiquiátrico

Os enfermeiros acreditavam que tempo é essencial para acolher o

paciente psiquiátrico, pois, muitas vezes, é preciso conversar com mais calma

para tentar controlar a situação e para coletar todas as informações necessárias

para entender o caso e ganhar a confiança do paciente. Acham que os

psiquiatras têm mais tempo para fazer uma consulta mais elaborada, enquanto

que o enfermeiro faria uma consulta incompleta com os poucos minutos que lhe

cabem, não conseguindo destrinchar e ouvir adequadamente. Acreditam que,

com a reestruturação pela qual a unidade passou e com a consequente

diminuição do número de pacientes, poderia ser possível agir com mais tempo.

[...] se ele entrar em surto psicótico dentro da sala de

classificação de risco, além de dar uma demanda de atenção

muito maior até que você consiga que o psiquiatra avalie esse

paciente, e isto acaba demandando um tempo muito alto no

atendimento desse paciente, inviabiliza principalmente durante

o dia... porque você tem uma média de três minutos por

paciente, então se você recebe um paciente desses não dá pra

você simplesmente virar pra ele falar assim “olha, tá bom, já

entendi, você tá assim e vai esperar”. Você precisa conversar

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com ele, precisa acalmar o paciente, precisa controlar a

situação, pra depois passar pro atendimento de outro

profissional. Como você vai controlar a situação com 3 minutos?

Aí você precisaria, por mais preparo que você tenha, no mínimo

de uns 30 minutos com esse paciente (E5).

Eu acho que o pessoal da psiquiatria tem mais tempo pra fazer

uma consulta mais elaborada. A gente que é da classificação de

risco, que atende todos os pacientes, eu acho que, às vezes,

pode ser que fique uma consulta de enfermagem incompleta, no

caso da demanda desse paciente psiquiátrico, por exemplo (E6).

Eu acho que, pela especificidade mesmo do atendimento, a

gente precisaria de mais tempo pra esse tipo de atendimento. É

um paciente que demanda mais atenção, mais tempo pra que

você possa ouvir o que ele tem a dizer [...] às vezes ele chega

armado, assustado, com dificuldade às vezes de verbalizar,

então o tempo é essencial pra que a gente possa abordar,

ganhar a confiança do paciente, ter mais informação (E8).

5.1.4 Categoria B: “motivos para” – Acredito que a UER não é um

ambiente adequado para o paciente em sofrimento psiquiátrico

Os enfermeiros que realizam acolhimento na UER consideram que a

unidade não é adequada para esses pacientes, por ser um local com muito

barulho, com muita luminosidade e muita gente, o que provoca sua exposição.

Acreditam que os pacientes psiquiátricos deveriam ter um espaço reservado, em

ambiente mais calmo e isolado para que pudessem ser mais bem atendidos.

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Eu acho que eles teriam que ter uma área mais reservada. Eu

acho que o pronto-socorro da Unicamp não é um lugar bom pro

paciente psiquiátrico. Porque é um lugar agitado, é um lugar com

muito barulho, com muita luminosidade, com muita gente, então

isso deixa eles assustados, apreensivos, agressivos... os que

estão tranquilos, eles procurando até um refúgio, eles se sentem

até protegidos. Agora aqueles que estão mesmo em surto,

agressivos, isso tudo atrapalha (E3).

A dinâmica com esse paciente é especial. Precisa de um

ambiente adequado, não pode ficar no meio de um tumulto. Ele

precisa estar num ambiente mais calmo, mais isolado pra fazer

a abordagem... não dá pra fazer no meio de todo mundo (E5).

[...] não sei se você chegou a ver onde a gente faz a

classificação... geralmente ele é o centro das atenções, as

pessoas olham, as pessoas reparam, e você também acaba

ficando exposta (E7).

5.1.5 Categoria C: “motivos para” –Espero ser qualificado para

acolher o paciente em sofrimento psiquiátrico

Ao serem questionados sobre suas expectativas para o acolhimento do

paciente psiquiátrico na UER, os enfermeiros responderam que somente seria

possível realizar a ação caso fossem treinados para isso, enfatizando a

importância da criação do vínculo entre enfermeiro e paciente.

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Eu penso que as pessoas precisariam de um preparo pra isso,

até pra abordar né, e não é todo mundo que tem esse preparo

(E2).

Se você fizer de uma forma inadequada (o acolhimento), sem

preparo, você vai piorar a situação. Se você fizer uma

abordagem que não deveria ser feita, você pode piorar. Então

eu acho, assim, se a gente for fazer em algum momento a

avaliação dos pacientes psiquiátricos, eu acho que a gente

precisaria ter um treinamento adequado pra abordagem desses

pacientes, que hoje eu acho que não tem (E5).

[...] eu entendo que os enfermeiros da classificação de risco eles

poderiam receber uma orientação ou um treinamento de quem é

de direito, pra que assim, se você atender pacientes com essas

características, você tem a liberdade de conversar com o

residente, tem a liberdade de ir lá e discutir com o paciente (E9).

Será que o enfermeiro tá preparado pra identificar um quadro de

ansiedade, de síndrome do pânico, ou de tentativa de suicídio?

E será que ele foi treinado pra isso? Será que ele tá sendo

treinado pra fazer o vínculo com o paciente... porque muitas

vezes o paciente deixa a instituição por quebra do primeiro

vínculo, entendeu? E ai você faz a abordagem relacional de

fazer o primeiro vínculo com ele, e quando você fala pra ele

“aguarda lá na frente que depois o médico vai falar com você”,

com certeza ele foi embora (E9).

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Considerando a falta de preparo, os enfermeiros esperam que um

protocolo possa ajudá-los, observando que acolher o paciente psiquiátrico não é

simples e que uma orientação, um aconselhamento, sobre os sinais e sintomas

a serem observados os ampararia, e forneceria respaldo para suas ações.

Disseram ter dúvidas sobre o que fazer no primeiro momento e sobre como

compreender o que o paciente quer lhe dizer e então registrar corretamente.

[...] eu acho que todo paciente deveria ser classificado, inclusive

o psiquiátrico, mas a gente vai ter que ter o treinamento pra isso,

porque não faz parte do nosso protocolo. Não abrange

psiquiatria, nem ortopedia, mas ortopedia a gente já tá fazendo

a classificação. Talvez psiquiatria a gente precisasse de um

treinamento específico pra poder... porque a demanda deles é

uma demanda muito direcionada, então a gente não tem muito

contato... eles são bem direcionados (E12).

[...] eu acho que precisaria desse treinamento, que eles mesmo

poderiam fazer, que não é difícil, e também ter esse protocolo

realmente porque a gente precisa mesmo de um respaldo legal

pras nossas... é diferente quando você vai fazer a avaliação de

risco de um paciente que tem febre, sinais e sintomas... e o

paciente psiquiátrico precisa de um protocolo pra gente se

respaldar, específico, talvez, pra eles. O acolhimento tudo bem,

a gente pode fazer, mas o objetivo do acolhimento e da

classificação tem que tá junto. Atender o paciente psiquiátrico é

uma coisa complexa, até pra registrar o que ele diz não é

comum, não é queixa clínica “ah, dói meu pé”, não é assim (E10).

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Na minha opinião, os enfermeiros deveriam receber uma

orientação, sinais, sintomas, subjetivos, objetivos, de você

conseguir detectar essa alteração de comportamento e, em

seguida, conversar com o residente da psiquiatria e ele entender

que não tem que muitas vezes a necessidade de passar com a

clínica pra a clínica pedir a avaliação dele. Se você treinou um

profissional na porta pra fazer essa abordagem inicial, então isso

tem que ser respeitado (E9).

[...] seria até interessante um protocolo pra gente entender um

pouco a patologia mesmo, porque a gente acaba colocando tudo

num surto só, sabe, o que não é porque tem muita diferença de

uma doença pra outra e a gente acaba “ah tá com surto”, mas a

gente nem sabe o que é... se é esquizofrenia, se é outro tipo de

doença, o que é e a gente acaba não diferenciando... E até saber

como abordar, se a gente tem que ser direto, se tem que ser

firme... isso eu acho bem difícil, isso gera dúvidas entre a gente.

Se nesse primeiro momento é a hora da gente conversar, se não

é, se a medicação é mais importante, se não é... aí seria

interessante (E13).

Eu acho que falta a gente conversar... não é só conversar. Falta

fazer um roteiro. Algo em que a gente possa se basear igual ao

que a gente tem. Um protocolo na verdade, essa é a palavra que

eu queria usar. Eu acho que precisa (E1).

Eu acho assim, que é sempre importante a gente ter algo

documentado, pro nosso respaldo, ter um lugar onde a gente

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possa buscar orientações, por exemplo, eu acho importante isso

de você talvez elaborar um instrumento de classificação de risco

de pacientes psiquiátricos no caso de você saber identificar

demanda “poxa, qual classificação esse paciente precisa? Qual

é a urgência de atendimento que esse paciente precisa? Quais

são os sinais que eu preciso observar que se enquadram em

cada classificação?”. Eu acho que é importante, eu acho que

isso tem que ficar documentado (E6).

Eu precisaria de um treinamento, de um aconselhamento de

como fazer, e mediante ao treinamento então, com os

conhecimentos, talvez daria pra fazer. Mas hoje, sinceramente,

eu acho que não conseguiria fazer além do que o que eu já faço

(E11).

5.2 Tipo vivido: “Enfermeiro que realiza o acolhimento do

paciente psiquiátrico na UER”

Para Schütz, a compreensão da conduta dos outros é possível mediante

o exame do processo de tipificação. Ou seja, pode-se compreender as condutas

se forem descritos os esquemas de interpretação apreendidos e utilizados pelos

atores, para entender o significado do que estão fazendo, fazem ou fizeram(23,30).

Dessa forma, com a compreensão dos motivos por que e dos motivos

para, foi possível construir o tipo vivido “Enfermeiro que realiza o acolhimento do

paciente psiquiátrico na UER” como aquele que, por muitas vezes, não acolhe o

paciente psiquiátrico por questões institucionais e que, quando o faz, sua ação

é pautada no modelo biomédico, encaminhando o paciente psiquiátrico, seja ao

médico clínico ou ao médico psiquiatra, para a tomada de decisões. A ação de

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não acolher também se apresenta como resultado dos sentimentos gerados por

esses pacientes nos enfermeiros, como a preocupação com a sua própria

integridade e por sua segurança, sentindo-se expostos, pois, geralmente, estão

sozinhos na sala de acolhimento e o paciente agitado pode agredi-los.

Os “motivos para” ainda possibilitaram o entendimento de como o

enfermeiro da UER espera que o acolhimento psiquiátrico possa acontecer,

apontando quais seriam as questões primordiais para a realização da ação. A

primeira seria o oferecimento de treinamento para que estejam aptos a acolher

com qualidade, enfatizando a necessidade de aprender como abordar e criar

vínculo com esses pacientes. A segunda seria dispor de mais tempo para acolher

o paciente psiquiátrico, já que ele demanda uma ação de maior duração para

coletar os dados e, então, intervir corretamente. E a terceira seria ter uma

unidade específica para o atendimento desses pacientes, pois consideram a

UER como inapropriada, devido à sua superlotação, barulho e luminosidade

excessivos.

O esquema representativo dos resultados deste estudo está descrito na

Figura 1:

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Figura 1 - Esquema das categorias que expressam o resultado deste estudo. Campinas, 2016

TIPO VIVIDO

Enfermeiro que realiza acolhimento do paciente psiquiátrico na UER

Resultados

"Motivos por que"

Categoria A

A ação do enfermeiro no acolhimento do paciente psiquiátrico

em uma UER

Acolhimento do paciente psiquiátrico

não é realizado pelo enfermeiro na maioria das

vezes

Ação pautada no modelo

biomédico e subordinação

Categoria B

Como o enfermeiro se

sente ao acolher o paciente agitado e agressivo

Paciente psiquiátrico causa medo de agressão, insegurança e desconforto, o que dificulta o

manejo

"Motivos para"

Categoria A

Espero ser qualificado

para acolher o paciente em

sofrimento psiquiátrico

O acolhimento seria possível caso fossem

treinados para tal ação.

Importância da criação do

vínculo e da abordagem

correta

Categoria B

Espero ter mais tempo para acolher

o paciente em sofrimento psiquiátrico

O acolhimento seria possível

caso dispusessem

de mais tempo para tal ação

Importância de acalmar o paciente

psiquiátrico e coletar

informações

Categoria C

Acredito que a UER não é um ambiente

adequado para o

paciente em sofrimento psiquiátrico

O acolhimento seria possível se houvesse

um local específico para o atendimento dos pacientes psiquiátricos

Superlotação, luminosidade e

barulho são obstáculos

para o acolhimento

ideal

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6. Discussão

De acordo com os achados deste estudo, parece ter ficado difícil para o

enfermeiro que trabalha na UER desenvolver o acolhimento do paciente

psiquiátrico, caracterizado como uma ação que necessita de prática

fundamentada em teorias, protocolos e roteiros, em seu cotidiano. Tal ação trata-

se do primeiro contato entre enfermeiro e paciente, portanto marca o início de

um relacionamento interpessoal, independentemente do tipo de paciente a ser

acolhido, podendo ser psiquiátrico ou não(14,17).

Ficou claro que o tipo vivido do enfermeiro que realiza o acolhimento do

paciente psiquiátrico em uma UER é descrito como um profissional que, por

muitas vezes, não o acolhe porque é o próprio paciente quem se identifica, na

recepção, como sendo dessa especialidade e então é encaminhado diretamente

ao médico psiquiatra.

Em uma UE, pressupõe-se que todas as pessoas serão acolhidas por um

profissional da equipe de saúde, que vai escutar sua queixa, medos e

expectativas e vai se responsabilizar pela resposta a ela. Porém, a pessoa em

sofrimento mental é excluída desta ação quando, como dito por um enfermeiro,

o próprio paciente se direciona à recepção e exprime seu desejo em ser atendido

pelo psiquiatra e, então, não é encaminhado para o acolhimento, mas sim para

a consulta médica.

A pessoa em sofrimento mental precisa se sentir incluída no convívio social,

assim como os demais cidadãos, ou seja, ser respeitado no seu direito de ir e

vir, de dizer o que pensa, de ser ouvida e de não sofrer qualquer tipo de

discriminação em decorrência de suas condições de saúde como, por exemplo,

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nessa ação de acolhimento. Tais direitos foram legitimados com a aprovação da

Lei nº 10216, de 6 de abril de 2001(31-32).

Quando os enfermeiros relatam que normalmente não acolhem o paciente

psiquiátrico porque ele mesmo, o paciente, se identifica na recepção como sendo

da psiquiatria e assim é encaminhado para o atendimento médico, fica

evidenciada uma lógica perversa, na qual grande parte dos serviços de

emergência vem se apoiando para o desenvolvimento do trabalho cotidiano

focando a doença – e não o sujeito e suas necessidades – e repassando o

problema para outro, ao invés de assumir a responsabilidade por sua

resolução(6).

O mesmo pode ser constatado em um estudo canadense sobre as

experiências de pessoas em sofrimento mental ou dependentes de substâncias

psicoativas que procuram uma UE, no qual participantes dizem vivenciar ações

estigmatizantes, em que muitas vezes são vistos como “apenas um caso

psiquiátrico”(33).

Faz-se necessário o aumento da responsabilização dos enfermeiros em

relação aos pacientes e a elevação dos graus de vínculo e confiança entre eles.

O acolhimento como ato ou efeito de acolher expressa uma ação de

aproximação, um “estar com” e “perto de”, ou seja, uma atitude de inclusão, de

estar em relação com algo ou alguém(6).

Segundo Alfred Schütz, é no momento da relação face a face que se

apreende diretamente o outro, num ato de interação social, numa relação entre

nós, numa experiência direta entre pessoas, que só se realiza quando há

comunidade de espaço e de tempo. Essa relação face a face, então, possibilita

que o enfermeiro compreenda o paciente como uma pessoa, cujo corpo é um

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campo de expressões, orientando o cuidar para o "nós"(23,34). Tal conceito pode

ser aplicado se se tomar o acolhimento como uma ação que, para ser

desenvolvida, implica em uma relação face a face entre enfermeiro e paciente.

A relação face a face mostra sua importância no momento em que também

ocorrem situações nas quais uma pessoa em sofrimento mental pode não

conseguir explicar seus sintomas para que esses sejam transcritos pela

recepcionista. Assim, o enfermeiro do acolhimento recebe essa pessoa e precisa

desenvolver a relação face a face para identificar sua real demanda. Porém, nem

todos os enfermeiros entrevistados se dizem habilitados para identificar

questões psiquiátricas no primeiro momento, já que, supostamente, os pacientes

que eles acolhem apresentam, quase que exclusivamente, queixas físicas.

Um participante mencionou que já chegou a encaminhar um paciente para o

clínico, não identificando traços psiquiátricos, e que o médico então pediu uma

interconsulta com a psiquiatria. Outra diz que até identificou que o paciente

estava agitado e agressivo, porém encaminhou para o clínico, como o protocolo

manda, e ele é quem decidiu se existia a necessidade de cuidados psiquiátricos.

Assim como em outros estudos(35-38), fica evidente a valorização da coleta de

informações clínicas, pela interrogação das queixas, busca pelos sintomas e

classificação da gravidade. A enfermagem ainda apresenta um entendimento

fragmentado do seu processo de trabalho, desviando-se de seu foco, que é o

desenvolvimento de vínculo com o paciente e o atendimento de suas

necessidades(38-39).

A relação entre enfermeiro e paciente tem acontecido de forma mecânica e

superficial, principalmente em salas de acolhimento, resumindo sua ação a

seguir protocolos de classificação de risco, transformando o tão subjetivo

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“acolhimento” na tão objetiva “triagem”. Tal constatação corrobora os achados

de estudos anteriores(14,35,39), nos quais a ação é compreendida pelos

profissionais como triagem, transformando-a em um processo burocrático e

excludente fundamentada no formato em que o paciente apresenta uma queixa

e, a partir disso, estabelece-se uma conduta. Dessa forma, não parece possível

relacionar o acolhimento existente aos princípios de integralidade e

universalidade do SUS.

Apesar disso, alguns enfermeiros referem conseguir identificar sinais e

sintomas psiquiátricos ao realizar o acolhimento, como conversa desconexa,

agitação, ideação suicida, isolamento social e alucinações, o que de fato é um

bom sinal. Porém, a conduta que tomam é a de encaminhar esses pacientes

para o médico psiquiatra, que julgam ser os profissionais mais adequados para

atendê-los. O mesmo é evidenciado em estudos sobre o acolhimento do paciente

psiquiátrico na atenção básica(32,35,39), em que são encaminhados para os CAPS.

O problema é que, quando se trata de saúde mental, apenas providenciar um

atendimento especializado não é o bastante para melhorar o estado do paciente.

A pessoa em sofrimento mental tem várias necessidades além da assistência às

alterações das funções mentais. Ela precisa ser vista e percebida pela sociedade

como ser integral com direito à plena participação e inclusão em sua

comunidade, partindo de um cuidado humanizado que considere as

singularidades de cada um e as construções que cada sujeito faz a partir de suas

condições(32,40).

Segundo a Política Nacional de Humanização (PNH), o cuidado humanizado

é a premissa do acolhimento. É compreendido como as ações da equipe de

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saúde que consideram as necessidades dos cuidados físicos e psicossociais, do

paciente, até a atenção resolutiva de seus problemas(6).

Entendendo então a pessoa em sofrimento mental como um ser humano que

tem uma biografia e que vive um particular momento de sua vida, é importante

que o enfermeiro apreenda a ação desses sujeitos no mundo cotidiano. Segundo

Schütz, essa compreensão ocorre a partir da identificação dos motivos

existenciais, ou seja, questões que se referem a experiências vividas (motivos

por que) e também que se referem aos objetivos que a pessoa deseja atingir

(motivos para). Esses motivos, constituem a ação do sujeito no mundo cotidiano

que é permeado por uma estrutura que viabiliza a construção social dos sujeitos

e influencia as suas relações. Quando todo esse processo é instaurado, a partir

da relação face a face entre enfermeiro e paciente, há a possibilidade de

melhorar a compreensão desse Ser pelo enfermeiro(20,23,41).

Tal melhora da compreensão pode favorecer o empoderamento do

enfermeiro no que se refere à sua relação com o paciente. Porém, alguns dos

entrevistados não se consideram os profissionais mais preparados para acolher

o paciente psiquiátrico e tomar decisões, passando a responsabilidade para os

médicos da unidade e acatando a suas ordens, para a continuidade do

atendimento(34).

Um dos obstáculos para a afirmação do empoderamento da

Enfermagem é a apreensão, por parte de muitos dos enfermeiros, da profissão

como uma prática espontânea, isenta de planejamento e cientificidade(34).

Resgatando o percurso histórico da enfermagem, compreende-se que a

profissão se configurou como subordinada ao saber e fazer da medicina,

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desprovida de liberdade e tendo suas bases teóricas construídas sob os

ensinamentos médicos(42).

No século XIX, a necessidade de recuperação dos soldados feridos nas

guerras determinou a introdução do enfermeiro no ambiente hospitalar, momento

em que a profissão passa a ser construída pautada no modelo biomédico,

deixando o cuidado como uma prática secundária. Afinal, em um ambiente

medicalizado e disciplinado como o hospital, o propósito não era o cuidado, mas

sim, o desenvolvimento da clínica e a cura dos pacientes(42).

Só em 1955, com a criação do Código de Ética e, posteriormente, com a

implementação do Conselho Federal de Enfermagem, em 1976, acreditou-se na

idéia de liberdade profissional estabelecida, concebendo que não haviam

maiores possibilidades para sua atuação profissional. Entretanto, ainda se

praticava o modelo biomédico e a enfermagem vinha sendo apresentada como

auxiliar, complementar à ação médica(42).

Infelizmente não é possível afirmar que tal prática ficou no passado.

Observou-se, neste estudo, que o modelo biomédico ainda mostra grande

influência na ação do enfermeiro, quando os entrevistados dizem depender do

crivo médico para tomar decisões. Na atenção básica não é diferente, na qual

os esforços mostram-se insuficientes para superar a cultura de subordinação

inserida na profissão(35,39).

As profissões, em geral, são construções sociais, ou seja, são vistas e

valorizadas de acordo com seus contextos históricos(42). Assim, enaltecendo a

ação do médico, quando diz que ninguém é melhor que o psiquiatra para realizar

o acolhimento do paciente psiquiátrico, o enfermeiro perpetua a imagem de

pessoa caridosa e prestativa, executora de práticas provenientes de ordens

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médicas, estimulando essa escala hierárquica em que a categoria dispõe de

baixa autonomia, autoridade e prestígio(43).

Para tanto, é necessário reafirmar a prática da enfermagem, no caso deste

estudo, o acolhimento, como ação e não como conduta. Como explica Alfred

Schütz, a diferença entre ação e conduta é que a conduta se refere às

experiências espontâneas, já a ação é a execução de um ato previsto, projetado

anteriormente(23). Reconhecer o acolhimento como ação, então, traduz-se na

compreensão do poder como mecanismo de reconstrução, de resgate e de

reestruturação, que abrange, primeiramente, a conscientização dos

trabalhadores de Enfermagem, na perspectiva de sua emancipação como

sujeitos sociais e, posteriormente, sua defesa como categoria que tem

responsabilidades perante os projetos institucionais e com os usuários,

recuperando ou conquistando o direito de, efetivamente, ter um papel nas

decisões concernentes ao processo de trabalho em saúde, do qual é parte

indissociável(34).

Quando o enfermeiro minimiza o valor de seu trabalho, não desenvolvendo

sua própria prática, pode passar a imagem de um profissional que não tem os

conhecimentos necessários nas terapêuticas de saúde. Além disso, ao reafirmar

a postura de um profissional subordinado, dependente de ordens médicas, o

enfermeiro pode ter sua credibilidade profissional diminuída perante a equipe.

Como relatado por um participante, a não ser que trabalhe na instituição há muito

tempo, o enfermeiro não transmite confiança ao dizer ao médico que acolheu um

paciente e esse precisa de cuidados psiquiátricos. Em resposta, o psiquiatra

pede que o enfermeiro peça a opinião do médico clínico antes para que ele

decida se é necessária sua intervenção. Tais achados corroboram os resultados

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encontrados em um estudo brasileiro, no qual foi possível evidenciar que uma

das causas que fragiliza a imagem e credibilidade do enfermeiro está relacionada

à hegemonia médica e à valorização da medicina em detrimento da

Enfermagem(44).

Pode-se constatar, dessa forma, que a visibilidade da imagem do enfermeiro

está associada ao desconhecimento acerca de suas atribuições por parte dos

demais profissionais da saúde, especialmente dos médicos, e também da

dificuldade do próprio enfermeiro em reconhecer suas reais atribuições(34).

Nesse contexto, a realização de observação e interpretação minuciosas das

ações do paciente, em seu mundo cotidiano, tornam-se cada vez mais

necessárias, e não apenas para, simplesmente, descrever os fatos ocorridos

fielmente ao médico, como era preconizado por Florence Nightingale, à sua

época(45). Mais do que isso, o enfermeiro precisa se empoderar da essência da

prática da enfermagem, utilizando o conhecimento teórico, a experiência prática

e a habilidade intelectual para indicar as ações a serem executadas diante de

seu julgamento sobre as necessidades do paciente e da família no momento do

acolhimento(45). Uma possibilidade para que isso ocorra pode ser a utilização do

processo de enfermagem durante a realização do acolhimento.

Compreende-se, neste estudo, que o próprio enfermeiro reitera essa postura

de um profissional estagnado na conduta, ou seja, subordinado a ordens

médicas. Como contribuição para a enfermagem e possível solução para essa

situação é que o acolhimento precisa ser lido pelo enfermeiro como uma ação,

e não como uma conduta, que pode ser desenvolvida durante a consulta, tendo

como fundamentação teórica o processo de enfermagem, essência para o

processo de trabalho do enfermeiro(23,46).

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Apesar dos empecilhos impostos, percebe-se que os enfermeiros

entrevistados dispõem de outras ferramentas para conseguir desempenhar seu

papel no acolhimento ao paciente psiquiátrico. Alguns dos participantes apontam

que apesar de não possuirem o conhecimento necessário, fazem uso de suas

experiências prévias com pacientes em sofrimento mental, de suas percepções

da situação e do bom senso para a tomada de decisões. Como diz uma

participante, não existe a condição “risco de fuga” no protocolo, porém o bom

senso a faz dar mais atenção ao caso para evitar evasão.

Schütz define essas experiências como atitudes naturais, explicando que um

indivíduo se orienta nas situações da vida justamente pelas “experiências que

armazenou” e pelo “estoque de conhecimento que tem à mão”. Portanto, o

enfermeiro, no caso, não pode interpretar suas observações, definir a situação

em que se encontra, fazer planos, tomar atitudes, sem antes lançar mão do seu

próprio estoque de conhecimento(22-23).

O conceito de Schütz referente às atitudes naturais reforça os resultados

obtidos em estudos internacionais(8,47-48) que apontam que os enfermeiros que

trabalham em triagem (definição fora do Brasil) se baseiam totalmente em suas

experiências prévias para tomar decisões, uma vez que não receberam

treinamento formal para atender o paciente psiquiátrico. Em alguns países, como

Austrália, Canadá e Estados Unidos, existem protocolos que visam auxiliar na

triagem em saúde mental, porém, as limitações aparecem quando os

enfermeiros se deparam com um paciente que não fala ou que fala, mas

desorganizadamente, e então não é possível coletar as informações necessárias

para adequá-lo a uma das categorias. Nesses casos, tomam decisões

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60

influenciados por experiências prévias e observações de seu mundo

cotidiano(8,23).

Novamente, as atitudes naturais aparecem nas falas quando o assunto é o

manejo a ser realizado quando esse paciente se apresenta acompanhado, na

maioria das vezes, por familiares. Quando o enfermeiro está atuando no

acolhimento do paciente psiquiátrico, diz perceber a interferência da família,

tanto positiva quanto negativamente, o que não está escrito em nenhum

protocolo, mas sim presente nas experiências prévias com acompanhantes.

Essa interferência pode acontecer de maneira favorável, quando os

familiares auxiliam o enfermeiro fornecendo informações pertinentes ao caso, ou

quando tranquilizam o paciente em situações em que é preciso aguardar em

salas de espera para intervenções posteriores. Mas, também, pode ser um

empecilho, quando o enfermeiro entende que é necessário pedir que os

acompanhantes se retirem por alguns instantes para que o paciente possa falar

com mais segurança e privacidade, e então pede que retornem e explica o

porquê de sua conduta.

Com a proposta da desinstitucionalização, no contexto da reforma

psiquiátrica, a família, que antes era afastada do paciente psiquiátrico, por se

considerar que poderia ser ela a fonte ocasional da perturbação mental, passa

agora a assumir o papel de protagonista do cuidado(49).

Em um estudo realizado com os familiares de pacientes psiquiátricos, pôde-

se compreender que os participantes não reconhecem positivamente os

profissionais do serviço de saúde que os atenderam no início do tratamento(49).

Considerando que muitas vezes as unidades de emergência ou prontos-socorros

são as únicas opções em situações de crise psiquiátrica, é importante que o

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enfermeiro seja reconhecido positivamente pela família do paciente psiquiátrico,

já que é o responsável pelo seu acolhimento e terá como um dos objetivos do

cuidado conscientizá-la sobre a importância do vínculo em casa para a

reabilitação.

Retomando a questão inicial das atitudes naturais, é possível pensá-las

também sob o ponto de vista do paciente. Assim como o enfermeiro as utiliza

para a tomada de decisões, o paciente também o faz. Ele também vive nesse

mundo cotidiano que é considerado por Schütz como um mundo intersubjetivo,

portanto, vincula-se em diferentes relações sociais, como a que acontece em

sua casa, entre os membros da família, compreendendo e sendo compreendido

por meio deles(23).

Assim, dentre as ações que o enfermeiro precisa interpretar, durante a

relação face a face, estabelecida no acolhimento, apresentam-se também

aquelas que envolvem os relacionamentos existentes no mundo cotidiano dos

pacientes como, por exemplo, o convívio com a família e os cuidadores(23).

Outro ponto importante a ser discutido trata da preocupação dos enfermeiros

deste estudo com sua integridade física, pela possibilidade de serem agredidos

por esses pacientes. Muitas vezes as experiências prévias dos enfermeiros,

sobre o acolhimento do paciente psiquiátrico podem funcionar como

impedimentos para a realização da consulta.

Segundo estudos internacionais, realizados com enfermeiros de

departamentos de emergência, os participantes se mostraram relutantes,

evitando pacientes com alguma desordem de saúde mental, principalmente

devido à falta de conhecimento e por experiências prévias de medo e

intimidação(8,50-52). Além disso, esse limitado conhecimento da equipe e a falta

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de confiança para lidar com pacientes agressivos e com comportamentos

invasivos aumenta o risco iminente de lesões físicas e psicológicas(52).

Os enfermeiros deste estudo também associaram a dificuldade em lidar com

pacientes agressivos ao tamanho inapropriado da sala de acolhimento, o que

pode prejudicar o manejo com essas pessoas, assim como o fato de estarem

sozinhos para conduzir uma situação de risco.

Outros, ainda, acreditam que o acolhimento se torna um desafio à medida em

que se torna complicado até mesmo para verificar os sinais vitais desses

pacientes, o que impossibilita a classificação de risco segundo o protocolo

existente.

Ao contrário da concepção popular, pacientes psiquiátricos não são mais

violentos do que outros tipos de pacientes, entretanto, tentativas de agressão a

enfermeiros e outros funcionários estão ocorrendo com mais frequência(53). Em

um estudo norte-americano, realizado entre 2007 e 2013, foram observadas

14.877 agressões ocorridas por pacientes psiquiátricos em hospitais do país, e

enfermeiros foram as vítimas mais gravemente feridas(54). Ainda, um estudo

realizado na Turquia, mostrou que enfermeiros frequentemente se encontram

em situações em que as medidas de segurança são insuficientes(55).

Participantes de um estudo australiano identificaram que o maior problema

nos departamentos de emergência é o aumento exponencial de agressão e

violência por pacientes, em situação de abuso de substâncias químicas e

álcool(52). Discussões posteriores com o grupo focal revelaram que os

enfermeiros tinham conhecimento limitado do processo de manejo de pacientes

agressivos(52).

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Estudos, entretanto, também apontam que enfermeiros têm demonstrado

habilidades excepcionais para lidar com pacientes agressivos e irritados, como

por exemplo, uma situação em que um paciente fica com raiva, aparentemente

sem motivo, quando colocam açúcar em seu chá. A raiva foi tão volátil que a

equipe pensou em utilizar medidas de contenção física. Porém, a enfermeira

apenas se desculpou com o paciente e ele então se acalmou, evitando que

ocorresse um incidente de força e contenção, o que ilustra o manejo da relação

com o paciente psiquiátrico(56).

O medo causado por pacientes psiquiátricos, principalmente devido a

experiências prévias de situações em que pacientes apresentavam

comportamento instável, impulsiona o enfermeiro a reagir rapidamente com

medidas de contenção física ou mecânica, o que pode, muitas vezes, levar à

agressão em si pela falta de conhecimento sobre a abordagem correta(23,53). Faz-

se necessário o treinamento dos enfermeiros sobre os estilos de comunicação

quando se trabalha com as pessoas que estão demonstrando comportamentos

desafiadores, o que pode colaborar para o gerenciamento do potencial de

agressão na ação do acolhimento(53).

Mais uma vez, o conceito de Schütz de relação face a face, aplicado ao

acolhimento do paciente psiquiátrico, mostra sua importância, considerando que

as situações de agressões ocorrem com mais frequência no momento em que

os enfermeiros estão atuando no cuidado direto a esses pacientes, tornando-os

os principais alvos de lesões(23). Portanto, é imprescindível que o enfemeiro

mantenha relacionamento interpessoal terapêutico eficaz com o paciente

psiquiátrico, estabelecendo vínculos para um relacionamento baseado na

confiança e segurança. Assim, o paciente pode falar de si e de seus problemas

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com leveza e tranquilidade, depositando cada vez mais credibilidade na

assistência de enfermagem e, assim, diminuindo consideravelmente os riscos de

agressão(17,23).

Para se empoderar do acolhimento, por meio da comunicação e do

relacionamento interpessoal terapêutico, o enfermeiro precisa adotar um

referencial teórico que embase sua prática, reafirmando o acolhimento como

ação. Um referencial interessante para o desenvolvimento da relação é o

proposto por Rogers, cujo enfoque se dá a partir da relação constituída entre

duas pessoas, favorecendo a descoberta pelo paciente da capacidade de utilizar

essa relação para o seu crescimento, desenvolvendo a autoestima, a

flexibilidade, o respeito por si e pelos outros. Assim, a utilização de sua teoria

para a enfermagem, principalmente na realização do acolhimento, pode ser de

grande importância para que ocorra a humanização e a integralidade do cuidado

prestado ao paciente, tornando-o mais resolutivo(14,17,57).

Alguns dos enfermeiros entrevistados acreditam que sua dificuldade

ultrapassa os limites da falta de treinamento, relacionando-a à sua falta de

preparo pessoal, que pode ser lido como a falta de preparo para manter uma

relação terapêutica com o paciente psiquiátrico, desde o acolhimento. Porém,

considerando o que foi dito anteriormente, o enfermeiro pode sentir essa “falta

de preparo pessoal” devido, justamente, as experiências prévias negativas com

esses pacientes. Acuado e com medo, o enfermeiro não se sente à vontade em

acolher o paciente psiquiátrico, e sua falta de confiança em lidar com esses

pacientes pode aumentar o risco de lesões físicas e psicológicas(52).

Quando questionados sobre o que esperam da ação do acolhimento do

paciente psiquiátrico, a necessidade de mais tempo para acolhê-los teve ênfase.

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De acordo com os entrevistados, o paciente psiquiátrico demanda mais tempo,

pois é preciso “conversar” com tranquilidade, muitas vezes o enfermeiro precisa

acalmá-lo e tentar conquistar sua confiança a fim de controlar a situação.

Pacientes como esses, entretanto, que exigem acolhimento mais demorado,

podem romper com o fluxo normal das unidades de emergência, uma vez que

os profissionais que trabalham nesse setor são focados no atendimento rápido

de queixas agudas. O cuidado e o manejo desses pacientes psiquiátricos

requerem diferentes habilidades que focam a individualidade e isso pode

impactar a equipe, cuja especialidade é cuidar de emergências físicas, e pode,

consequentemente, levar a sentimentos de inadequação, como, por exemplo, a

fala de um enfermeiro entrevistado em um estudo australiano que diz ser

frustrante não ter tempo para atendê-los, pois é uma correria se a UE está

movimentada(58).

A natureza agitada das UEs pode dificultar, para alguns enfermeiros, que se

estabeleça relação face a face com os pacientes e, assim, considerando que o

relacionamento interpessoal terapêutico é a base para o cuidado ao paciente

psiquiátrico, compreende-se que a pouca interação com os pacientes, ditadas

pela restrição de tempo, não é favorável para atender as necessidades

emocionais requeridas pela pessoa em sofrimento mental(17,23,58).

De acordo com o mesmo estudo australiano, se as UEs continuarem a ser a

principal porta de entrada para pacientes psiquiátricos, então elas precisam ser

reestruturadas para que o enfermeiro possa fornecer o cuidado necessário em

um ambiente favorável. A questão da estrutura corrobora os achados deste

estudo, em que os enfermeiros entrevistados consideram que a UER não é

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adequada para os pacientes psiquiátricos, por ser um local com muito barulho,

muita luminosidade e muitas pessoas(58).

O ambiente das UEs em geral apresentam grandes estímulos, possui ritmo

rápido de avaliação e resposta às situações de emergência. Entretanto, o

paciente psiquiátrico demanda um manejo que é mais bem facilitado em um

ambiente tranquilo, com poucos estímulos e calmo. Assim como os entrevistados

neste estudo, os participantes do estudo australiano concordam que o ambiente

em que o cuidado ao paciente psiquiátrico acontece não é o mais favorável.

Ainda destacam que, de acordo com o Comitê do Senado Australiano sobre

Saúde Mental, a atmosfera altamente estimulante das UEs pode contribuir para

a alteração do comportamento e pode dificultar a realização de intervenções

preventivas e do próprio cuidado ao paciente psiquiátrico(58).

De fato, a atmosfera caótica das UEs não contribui para acalmar uma crise

psiquiátrica, o que é apresentado por estudos anteriores(58-59). Porém, segundo

um estudo americano, outro fator responsável pelo baixo desempenho no

acolhimento ao paciente psiquiátrico é a abordagem que, por muitas vezes,

mostra-se inadequada, devido, principalmente à falta de treinamento e

capacitação da equipe da UE em psiquiatria, o que corrobora com os achados

deste estudo em que houve unanimidade nas respostas obtidas ao serem

perguntados sobre suas expectativas sobre o acolhimento do paciente

psiquiátrico, a necessidade de treinamento e preparo mostram-se condições

imprescindíveis para a obtenção do sucesso na ação pelo enfermeiro(59).

Torna-se oportuno esclarecer a diferença entre treinamento e capacitação.

Enquanto o primeiro diz respeito ao aperfeiçoamento de uma técnica já

conhecida, a segunda trata de ensinar algo novo. Quando são necessárias

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tarefas repetitivas e burocráticas, são realizados treinamentos e quando se

busca um entendimento maior e com muitos conceitos, é preciso então capacitar

as pessoas via incorporação de raciocínio(60).

Tendo em vista o modelo biomédico existente, o conceito de “treinamento”

condiz com o pedido dos enfermeiros de protocolos para guiá-los e, portanto,

será utilizado na sequência do texto, para reiterar os depoimentos. Entretanto,

as dificuldades existentes no acolhimento do paciente psiquiátrico pedem a

“capacitação” desses profissionais, incitando-os a refletir sobre a ação como

humanizada e singular.

Mediante a necessidade de treinamento apresentada pelos participantes,

para a criação de vínculo e abordagem correta, faz-se importante, também,

repensar sobre os processos de formação profissional. No Brasil, os cursos de

graduação em enfermagem têm disciplinas e carga horária teórico-prática,

destinadas à saúde mental, reduzidas diante de toda a complexidade que a

envolve, além de limitações impostas pelo processo de formação que transita

entre o modelo biológico-tecnicista e a formação humanista(61).

Mudanças curriculares vêm ocorrendo, porém de maneira lenta,

considerando a persistência da hegemonia do modelo biomédico na saúde

mental, com enfoque voltado à doença e não à pessoa(61).Tais achados são

reafirmados por enfermeiros australianos que relatam acreditar que a educação

em saúde mental oferecida pela faculdade forneceu-lhes apenas capacidade e

confiança limitadas para aplicar os conhecimentos no contexto de unidades de

emergência(52).

A literatura tem demonstrado que enfermeiros que atuam em acolhimento ou

em triagem em UEs têm admitido a falta de conhecimento e de confiança no

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cuidado ao paciente psiquiátrico(18,62). Em consequência, também é apontado

que a educação desses enfermeiros obteve sucesso na prática da enfermagem

no cuidado ao paciente psiquiátrico, melhorando a comunicação entre a equipe

de emergência e a equipe de saúde mental, aumentando a confiança dos

enfermeiros ao acolher pacientes psiquiátricos e reduzindo o tempo de

intervenção, o que pode ser identificado uma possibilidade de trabalho a ser

desenvolvida com a equipe estudada, para que se possa qualificar o acolhimento

ao paciente psiquiátrico na UER(18,62).

Assim como neste estudo, em que os enfermeiros reconhecem precisar saber

como identificar sinais e sintomas psiquiátricos, um artigo australiano sugere

que, com a educação permanente, talvez os enfermeiros apresentassem melhor

percepção sobre os sinais e sintomas de psicose ou suicídio mais sutis e

pudessem ser capazes de melhor avaliarem esses pacientes. Tal sugestão parte

do resultado da aplicação de ações educativas com enfermeiros, considerando

que, antes disso, 50% dos pacientes psiquiátricos classificados como não

urgentes necessitaram de internação posterior. Após a intervenção, o número

caiu para 20%. Os enfermeiros, então, se sentiam mais confiantes após

receberem as orientações em saúde mental(62).

Em sua maioria, australianos e canadenses vêm trabalhando em escalas de

saúde mental que sejam úteis e relevantes para a identificação de sinais e

sintomas psiquiátricos, no momento do acolhimento realizado pelo enfermeiro, o

que corrobora os achados deste estudo, quando enfermeiros dizem que

protocolos os auxiliariam na ação do acolhimento ao paciente psiquiátrico(18,62-

63).

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Apesar de ser uma ferramenta um tanto quanto padronizadora, a inserção de

um protocolo, no qual é possível identificar sinais e sintomas psiquiátricos,

poderia acrescentar grandes melhorias ao acolhimento, uma vez que, aliado a

um treinamento que vise a compreensão do paciente psiquiátrico pelos

enfermeiros(18), considerando que tem sido pontuada, nessa discussão, a

importância da compreensão da subjetividade do paciente em sofrimento mental.

Tal compreensão tem como possibilidade o enfermeiro entender que

antes de mais nada, antes de saber identificar os sinais e sintomas apresentados

por um paciente psiquiátrico, faz-se necessário saber como abordá-lo.

Considerando a complexidade desse grupo de pacientes, seria ingenuidade

acreditar que apenas um checklist seria capaz de orientar o enfermeiro a acolher

o paciente.

A alternativa proposta por este estudo baseia-se nos seguintes fatores:

primeiramente, o enfermeiro precisa entender que o acolhimento é uma ação, ou

seja, execução de um ato previsto, projetado anteriormente, baseado em

conhecimentos científicos. Tal ação, pode ser compreendida como uma consulta

de enfermagem, que é proposta como exemplo de aplicação do Processo de

Enfermagem(35,39,46).

Para a realização do Processo de Enfermagem, a relação entre

enfermeiro e paciente - neste estudo entendida como relação face a face,

proposta por Schütz – torna-se seu pano de fundo(1,23). A relação exige

habilidades de comunicação e um referencial teórico para embasamento, o que

pode ser obtido através da proposta rogeriana, com o desenvolvimento da

empatia para que ocorra a humanização e a integralidade do cuidado prestado

ao paciente, tornando-o mais resolutivo(14,17,57).

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7. Considerações finais

A abordagem teórico-metodológica da fenomenologia social de Alfred

Schütz contribuiu para a compreensão de como o enfermeiro realiza o

acolhimento do paciente psiquiátrico em uma UER e o que ele espera dessa

ação, sob uma perspectiva que valorize a dimensão social circunscrita em suas

vivências cotidianas, portanto, o objetivo deste estudo foi atingido.

Tal compreensão favoreceu o delineamento do tipo vivido do enfermeiro

que realiza o acolhimento, muitas vezes não acolhe o paciente psiquiátrico por

questões institucionais, e que, quando o faz, sua ação mostra-se pautada no

modelo biomédico, perpetuando a imagem de profissional subordinado, não

reconhecendo o acolhimento como uma ação de enfermagem, estagnando-se

na conduta de encaminhar esses pacientes para avaliação médica. Outro fator

que influencia a ação de não acolher está relacionado aos sentimentos gerados

por esses pacientes, baseados em experiências prévias negativas dos

enfermeiros, como preocupação com sua segurança e integridade física.

Ainda foi possível compreender que o enfermeiro espera ter mais tempo

para acolher o paciente psiquiátrico, fato que é enfatizado na literatura

estrangeira, e que essa ação ocorra em um ambiente mais favorável, pois

acreditam que a estrutura da UER é inadequada para o processo, o que também

corrobora achados de estudos internacionais.

O enfermeiro ainda acredita que o acolhimento do paciente psiquiátrico

só poderia acontecer caso fossem treinados para a ação, o que é amplamente

estudado em países como Austrália e Canadá, reportando grandes melhorias na

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assistência a esses pacientes e também elevando os níveis de confiança dos

profissionais.

Por fim, este estudo permitiu apreender que a inquietação apresentada

ultrapassa a questão de falta de empatia, subjulgada pela pesquisadora, no

início, como a possível causa de o enfermeiro não acolher o paciente

psiquiátrico. Foi possível compreender a importância de o enfermeiro reconhecer

o acolhimento como uma ação de enfermagem, que pode ser caracterizada

como uma consulta de enfermagem, parte indissociável do processo de

enfermagem, ou seja, a essência dessa profissão. Apresenta-se como

possibilidade a utilização do relacionamento interpessoal com a proposta

rogeriana como base para o desenvolvimento da relação face a face, essencial

para o sucesso do acolhimento. Tomando o acolhimento para si, o enfermeiro

tem a possibilidade de acolher o paciente psiquiátrico com propriedade.

Considerando o cenário apresentado como um diagnóstico do tipo vivido

do enfermeiro que acolhe o paciente psiquiátrico, este estudo abre

possibilidades para intervenções. Observando a ênfase dada pelos enfermeiros

em relação ao pedido de educação permanente na área, este estudo proporciona

à pesquisadora a possibilidade de continuidade do assunto em sua futura tese

de doutorado, visando capacitar a equipe para utilizar uma técnica de manejo do

paciente psiquiátrico, que poderia ser a proposta por Rogers e, a partir dessa

capacitação, entrevistar os enfermeiros novamente para ver os efeitos. Também,

ressalta-se a necessidade de elaboração de outros estudos que atentem para

as necessidades dos enfermeiros envolvidos no acolhimento ao paciente

psiquiátrico.

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Também é importante salientar o desenvolvimento da autora como futura

enfermeira psiquiátrica a partir da elaboração dessa dissertação.

Compreendendo que as dificuldades se apresentam da mesma forma em um

hospital de cidade pequena e em um hospital universitário de referência, foi

possível entender que as limitações ultrapassam os problemas estruturais, mas

que tem suas raízes na formação do enfermeiro e na imposição do modelo

biomédico, com pouca abertura para a humanização. Então, a missão adquire

maior importância do que no início desse processo, a medida que é preciso

continuar lutando para a capacitação e conscientização dos profissionais – e aqui

se inclue toda a equipe de saúde - em acolher a todos os que buscam por auxilio,

seja por questões físicas ou mentais, integralmente, considerando que o ser

humano é um ser indivísivel, biopsicossocial.

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9. Apêndice A – Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Acolhimento do paciente psiquiátrico em uma unidade de emergência referenciada de um

hospital universitário

Pesquisadora: Paula Fernanda Lopes Orientadora: Vanessa Pellegrino Toledo

Número do CAAE: 49839215.5.0000.5404 Você está sendo convidado a participar como voluntário de uma pesquisa. Este documento, chamado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, visa assegurar seus direitos como participante e é elaborado em duas vias, uma que deverá ficar com você e outra com o pesquisador. Por favor, leia com atenção e calma, aproveitando para esclarecer suas dúvidas. Se houver perguntas antes ou mesmo depois de assiná-lo, você poderá esclarecê-las com o pesquisador. Se preferir, pode levar este Termo para casa e consultar seus familiares ou outras pessoas antes de decidir participar. Se você não quiser participar ou retirar sua autorização, a qualquer momento, não haverá nenhum tipo de penalização ou prejuízo. Justificativa e objetivos:

Entendendo a doença mental como uma condição que requer conhecimento e experiência para diagnóstico e tratamento, e também que a abordagem é o primeiro passo para cuidar destes pacientes, faz-se importante o desenvolvimento de estudos que explorem a atuação dos enfermeiros em salas de triagem, conhecendo suas habilidades e dificuldades, e assim contribuir para melhorar a qualidade do atendimento aos pacientes psiquiátricos.

Este estudo tem o objetivo de compreender como o enfermeiro realiza a triagem do paciente psiquiátrico em uma unidade de emergência referenciada de um hospital universitário e o que ele espera desta ação.

Procedimentos: Participando do estudo você está sendo convidado a participar de uma entrevista realizada pela pesquisadora, que será gravada em áudio, individualmente, composta por duas perguntas norteadoras: Conte-me como você realiza a triagem de pacientes psiquiátricos na Unidade de Emergência Referenciada. Como você gostaria que fosse a realização desta triagem? A entrevista terá duração de aproximadamente 30 minutos e será realizada em seu local de trabalho, mediante a acordo prévio quanto ao horário que melhor se adapte a sua rotina. Desconfortos e riscos: A participação nesta pesquisa não infringe as normas legais e éticas e não há riscos previsíveis para os participantes. Os procedimentos adotados nesta pesquisa obedecem aos critérios de ética em pesquisa com seres humanos conforme resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum dos procedimentos oferece risco a sua dignidade.

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Benefícios: Participando desta pesquisa você não terá nenhum benefício direto, entretanto espera-se que este estudo possa colaborar para a qualidade da atuação do enfermeiro no acolhimento do paciente psiquiátrico em unidades de emergência. Sigilo e privacidade: Você tem a garantia de que sua identidade será mantida em sigilo e nenhuma informação será dada a outras pessoas. Somente a pesquisadora e sua orientadora terão conhecimento de sua identidade. Na divulgação dos resultados desse estudo, seu nome não será citado. Ressarcimento: Deixo claro que o participante não terá despesas pessoais em qualquer fase do estudo, portanto não haverá nenhuma forma de ressarcimento em dinheiro, bem como nada será pago por sua participação. Contato:

Em caso de dúvidas sobre o estudo, você poderá entrar em contato com os pesquisadores:

Paula Fernanda Lopes, mestranda da Faculdade de Enfermagem – Unicamp. Telefone: (11) 97309-4478 E-mail: [email protected]

Profª Drª Vanessa Toledo, Docente da Faculdade de Enfermagem – Unicamp. Telefone: (19) 99884-1616 E-mail: [email protected]

Em caso de denúncias ou reclamações sobre sua participação e sobre questões éticas do

estudo, você pode entrar em contato com a secretaria do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UNICAMP das 08:30hs às 13:30hs e das 13:00hs as 17:00hs na Rua: Tessália Vieira de Camargo, 126; CEP 13083-887 Campinas – SP; telefone (19) 3521-8936; fax (19) 3521-7187; e-mail: [email protected] Consentimento livre e esclarecido:

Após ter recebido esclarecimentos sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo que esta possa acarretar, aceito participar:

Nome do(a) participante: ________________________________________________________ _______________________________________________________Data: ____/_____/______. (Assinatura do participante ou nome e assinatura do seu responsável LEGAL) Responsabilidade do Pesquisador:

Asseguro ter cumprido as exigências da resolução 466/2012 CNS/MS e complementares na elaboração do protocolo e na obtenção deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Asseguro, também, ter explicado e fornecido uma via deste documento ao participante. Informo que o estudo foi aprovado pelo CEP perante o qual o projeto foi apresentado. Comprometo-me a utilizar o material e os dados obtidos nesta pesquisa exclusivamente para as finalidades previstas neste documento ou conforme o consentimento dado pelo participante.

______________________________________________________Data: ____/_____/______.

(Assinatura do pesquisador)

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10. Anexo A – Aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa

da Unicamp

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