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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS
CAROLINE TAVARES DA SILVA
CONSUMO DE CARNE VERMELHA E CARNE PROCESSADA PELOS
ADOLESCENTES DE CAMPINAS, SÃO PAULO: ESTUDO ISACAMP
CAMPINAS
2017
CAROLINE TAVARES DA SILVA
CONSUMO DE CARNE VERMELHA E CARNE PROCESSADA PELOS
ADOLESCENTES DE CAMPINAS, SÃO PAULO: ESTUDO ISACAMP
Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de “Mestra” em Ciências, na área de concentração em Saúde da Criança e do Adolescente.
ORIENTADOR: PROF. DR. ANTÔNIO DE AZEVEDO BARROS FILHO
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE A VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA CAROLINE TAVARES DA SILVA E ORIENTADA PELO PROF. DR. ANTÔNIO DE AZEVEDO BARROS FILHO.
CAMPINAS
2017
Orientador (a): PROF(A). DR(A). ANTÔNIO DE AZEVEDO BARROS FILHO
1. PROF(A). DR(A). ANTÔNIO DE AZEVEDO BARROS FILHO
2. PROF(A). DR(A). MARIA ANGELA REIS DE GOES MONTEIRO ANTONIO
3. PROF(A). DR(A). JÚLIA LAURA DELBUE BERNARDI
Programa de Pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas.
A ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros da banca examinadora encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.
BANCA EXAMINADORA DA DEFESA DE MESTRADO
CAROLINE TAVARES DA SILVA
MEMBROS:
Data: 1º de dezembro de 2017
Dedicatória
Dedico este trabalho a minha avó Josephina, meu primo Diego e meu tio/padrinho Jair, pessoas importantíssimas que perdi ao longo dessa caminhada e que estariam orgulhosos em me ver “mestra”. Vejo vocês em meus sonhos.
Epígrafe
"Agradeço todas as dificuldades que enfrentei; não fosse por elas, eu não teria saído do lugar…as facilidades nos impedem de caminhar. Mesmo as críticas nos auxiliam muito. Emmanuel sempre me ensinou assim: — “Chico, se as críticas dirigidas a você são verdadeiras, não reclame; se não são, não ligue para elas(...)”
Chico Xavier
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente ao meu orientador, Prof. Barros, por ser uma das primeiras pessoas a
abraçar a ideia do mestrado e a me acolher, mesmo sem me conhecer e saber se a parceria
daria certo. Passamos por muitas dificuldades juntos, mas no fim tudo deu certo.
Agradeço a minha família, em especial a minha mãe Maria Angélica, meu irmão Denis e meu
padrasto Paulo por sempre estarem ao meu lado e acreditarem no meu potencial, mesmo
quando eu mesma não acreditava. Ao apostarem na minha intuição de entrar nessa jornada
longa e complicada vocês são os mestres, e não somente eu.
Agradeço a Luiza, minha amiga feita no aprimoramento, que plantou a sementinha do
mestrado em meu coração, e sem a qual eu com certeza não estaria escrevendo este texto.
Agradeço a banca de qualificação e defesa, especialmente as professoras Júlia e Maria
Angela, por trazerem contribuições pertinentes e por acreditarem em meu trabalho.
Agradeço a todos os meus amigos, que de forma direta ou indireta contribuíram para que essa
jornada se tornasse mais leve e possível de ser feita, em especial a Eduarda, que redefiniu o
conceito de amizade incluindo o de adoção, me emprestando sua família quando eu mais
precisava; Mariana pelas palavras místicas e por me ensinar a ser grata pela vida todos os
dias; Aline, Jéssica e Thaís pelas experiências compartilhadas extremamente parecidas;
Gabriela pelos momentos de lucidez em meio a loucura que foi essa fase da minha vida,
sempre trazendo conforto e segurança com suas palavras firmes e carinhosas, além das
consultas grátis quando a imunidade me abandonava; Silvia, a última amiga feita durante a
pós, mas uma das mais especiais, que compartilha comigo o orientador, as dores e as ideias
quase que iguais; e a todos os outros que não foram aqui citados mas que moram em meu
coração e que sabem de seu valor nesta caminhada. Gratidão.
Agradeço Daniela de Assumpção pela ajuda na construção das análises.
E por fim, agradeço a Capes pela bolsa concedida, que foi parte fundamental para minha
permanência em Campinas e desenvolvimento do trabalho.
RESUMO
Introdução: A carne vermelha e processada vem sendo alvo de estudos sobre seu consumo e contribuição para desenvolvimento de doenças. Em 2015, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um comunicado ressaltando que após a análise de mais de 800 estudos sobre o tema, mostrou que o consumo de carne vermelha e processada está relacionado com o aumento do risco para câncer colorretal de 28 a 35% e 20 a 49%, respectivamente. O consumo excessivo de carnes vermelhas e processadas também está relacionado ao impacto negativo de sua produção no meio ambiente, sendo responsável pelo desmatamento de diversas áreas da Amazônia, poluição das águas e emissão de gases nocivos à atmosfera. A adolescência é o período que compreende o maior número de transformações endócrinas, corporais, mentais e sociais, sendo compreendida pela faixa etária dos 10 aos 19 anos segundo a OMS. A escolha dos alimentos consumidos nessa fase é de extrema importância para os possíveis problemas relacionados â alimentação. Objetivo: Avaliar o consumo médio de carnes vermelhas e carnes processadas pelos adolescentes de Campinas. Método: Para o trabalho de revisão sistemática foram selecionados 12 trabalhos em inglês e português, que abordassem a temática do consumo de carnes vermelhas e/ou carnes processadas por adolescentes, num período de 10 anos. A pesquisa foi feita utilizando as principais bases de dados eletrônicas nacionais e internacionais, sendo essas Scielo, PubMed, Medline e Lilacs, adotando critérios de exclusão e inclusão estabelecidos. Já o trabalho original é um estudo transversal de base populacional desenvolvido com dados do Inquérito de Saúde de Campinas nos anos de 2008 e 2009, que analisou o consumo de carnes vermelhas e carnes processadas por meio da média de amostra significativa, obtida pelo recordatório de 24 horas dos adolescentes de 10 a 19 anos participantes da pesquisa. Dos 924 entrevistados, 913 participaram das análises, com exclusão de 11 sujeitos. As médias foram ajustadas por sexo e faixa etária. Os valores de referência de consumo são os recomendados pelo World of Cancer Research Fund e a International Agency Research of Cancer (42,9g/dia). O modelo foi construído por meio de regressão linear generalizada, com a média de consumo como variável dependente. As variáveis independentes foram as demográficas, socieconômicas e de comportamentos de saúde, utilizando intervalo de confiança de 95% e p <0,05. Resultados: No trabalho de revisão, os estudos selecionados apontam para um aumento do consumo de carnes vermelhas e processadas pela população mundial, e mostram o impacto desse consumo na saúde e no local em que se vive; No trabalho original a média de consumo foi de 168,7 g (IC 95%: 145,1-192,4; n=462) nos meninos e 129,4 g (IC 95% 91,2-167,6; n=451) nas meninas. Por faixa etária foi de 168,7 g (IC 95% 145,1-192,4) para 10 a 14 anos, e de 189,7 g (IC 95% 151,7-227,7) para 15 a 19 anos. O consumo é maior de acordo com os achados do modelo de regressão linear generalizada, que apresentou ainda relação com consumo diário de refrigerantes, consumo de bebidas alcoólicas e classificação “baixo peso” do IMC. Não houve diferenças quando analisadas separadamente. Conclusão: As médias estão muito acima das recomendadas pelos órgãos de saúde, tanto no trabalho de revisão sistemática quanto no trabalho original, o que demonstra a alta chance de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, câncer e outras doenças.
Palavras-chave: carne vermelha, adolescente, câncer, inquéritos de saúde.
ABSTRACT
Introduction: Red and processed meat has been the subject of studies on its consumption and contribution to the development of diseases. In 2015, the World Health Organization (WHO) issued a statement stressing that after analyzing more than 800 studies on the subject matter, it has been showed that consumption of red and processed meat is related to an increased risk for colorectal cancer from 28 to 35% and 20 to 49%, respectively. The excessive consumption of red and processed meats is also related to the negative impact of its production on the environment, being responsible for the deforestation of several areas of the Amazonia, water pollution and emission of harmful gases to the atmosphere. Adolescence is the period that comprises the greatest number of endocrine, body, mental and social transformations, being comprehend by the age group from 10 to 19 according to WHO. The choice of foods consumed at this stage is extremely important for possible food related problems. Objective: To evaluate the average consumption of red meat and meat processed by the adolescents of Campinas. Methods: 12 studies in English and Portuguese were selected for the systematic review, which addressed the issue of the consumption of red meats and / or processed meats by adolescents over a period of 10 years. The research was done using the main national and international electronic databases, being these Scielo, PubMed, Medline and Lilacs, adopting established exclusion and inclusion criteria. The original work is a cross-sectional population-based study developed with data from the Campinas Health Survey, which analyzed the consumption of red meat and processed meat by means of the mean of a significant sample obtained by the 24-hour recall of adolescents from 10 to 19 years of research. Of the 924 interviewees, 913 participated in the analyzes, with the exclusion of 11 subjects. The averages were adjusted by sex and age group. Consumption reference values are those recommended by the World of Cancer Research Fund and the International Agency of Cancer Research (42.9g / day). The model was constructed using generalized linear regression, with mean consumption as the dependent variable. The independent variables were demographic, socioeconomic and health behaviors, using a 95% confidence interval and p <0.05. Results: In the review work, the selected studies point to an increase in red meat consumption and processed by the world population, and show the impact of this consumption on health and the place where they live; In the original study, mean consumption was 168.7 g (95% CI: 145.1-192.4, n = 462) in boys and 129.4 g (95% CI 91.2-167.6; = 451) in girls. Age range was 168.7 g (CI 95% 145.1-192.4) for 10 to 14 years, and from 189.7 g (CI 95% 151.7-227.7) for 15 to 19 years . There's a bigger consumption according to the findings of the generalized linear regression model, which also showed a relationship with daily consumption of soft drinks, alcohol consumption and "low weight" classification of BMI. There were no differences when analyzed separately. Conclusion: The averages are well above those recommended by health agencies, both in the systematic review and in the original work, which demonstrates the high chance of developing cardiovascular diseases, cancer and other diseases.
Key words: red meat, adolescent, cancer, health surveys.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Razão população/domicílios e número de domicílios da amostra, segundo o domínio
de estudo. Campinas, 2000 18
Tabela 2 Número de domicílios e setores na amostra e quantidade de domicílios por setor,
segundo o domínio de estudo. Campinas, 2000 19
ARTIGO DE REVISÃO SISTEMÁTICA
Tabela 1 Descrição dos estudos do tipo transversal, que abordaram o tema carne vermelha, carne
processada ou ambos em público adolescente 31
Tabela 2 Descrição de estudos do tipo coorte que abordaram o tema carne vermelha, carne
processada ou ambos em público adolescente 34
ARTIGO ORIGINAL
Tabela 1 Média de ingestão de carnes vermelhas e processadas (g/dia), segundo variáveis
demográficas e socioeconômicas de adolescentes de 10 a 19 anos. Inquérito de Saúde de Campinas
(ISACAMP 2008/2009) 52
Tabela 2 Média de ingestão de carnes vermelhas e processadas (g/dia), segundo variáveis de
comportamentos relacionados à saúde e Índice de Massa Corporal de adolescentes de 10 a 19 anos.
Inquérito de Saúde de Campinas (ISACAMP 2008/2009) 54
Tabela 3 Modelo linear generalizado em duas etapas. Inquérito de Saúde de Campinas (ISACAMP
2008/2009)
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................12
1.1 O que é a carne .............................................................................................................12
1.2 Alimentos processados e seu impacto na saúde............................................................12
1.3 Consumo de carne vermelha e processada e seus impactos ........................................13
1.4 Alimentação do adolescente e suas implicações na saúde........................................... 14
2. OBJETIVOS........................................................................................................................16
2.1 Objetivo geral................................................................................................................16
2.2 Objetivos específicos ...................................................................................................16
3. MÉTODO............................................................................................................................17
3.1 O ISACamp 2008/2009................................................................................................17
3.2 População do estudo.....................................................................................................17
3.3 Processo amostral ........................................................................................................17
3.4 Instrumento e processo de dados..................................................................................19
3.5 Processamento dos dados de consumo alimentar..........................................................19
3.6 Variáveis do estudo.......................................................................................................20
5. RESULTADOS...................................................................................................................23
5.1 Artigo de revisão sistemática.........................................................................................23
5.2 Artigo original................................................................................................................36
6. DISCUSSÃO GERAL..........................................................................................................59
7. CONCLUSÃO.....................................................................................................................60
8. REFERÊNCIAS ..................................................................................................................61
12
1. INTRODUÇÃO
1.1 O que é a carne
O consumo de carne é extremamente significativo em diversas populações e deriva das
origens do homem, podendo ser definida como um conjunto de músculos e tecidos que cobre
a parte óssea e cartilaginosa dos animais. Pode ainda ser dividido em dois tipos: branca e
vermelha, sendo a segunda o tipo mais consumido no mundo . Tendo a carne um valor
significativo em relação a quantidade de proteínas de alto valor biológico, sua importância na
alimentação diária é alta. Em países como os EUA a carne compõe cerca de 15% do total de
energia diária da dieta (1,2).
As carnes vermelhas são as provenientes dos cortes de animais como o boi, vaca,
cordeiro, carneiro, ovelha e porco, esta última de acordo com as resoluções de diversos países
ao redor do mundo. A carne processada é toda aquela que sofreu algum tipo de processo não
natural, ou seja, que se difere de sua forma original, podendo sofrer salga, corte, cozimento,
fritura, secagem, moagem, e/ou mistura com outros ingredientes, fazendo assim partes de
preparações culinárias, ou ainda qualquer outro processo industrial que não possa ser
reproduzido na culinária caseira (1,2).
1.2 Alimentos processados e seu impacto na saúde
São inúmeros os fatores que compõem a alimentação do ser humano, entre eles a sua
idade, seu estado de saúde, o meio em que se está inserido, entre outros, não podendo limita-
la apenas a ingestão de nutrientes, mas sim à todas as características que compõe uma
refeição. O novo Guia Alimentar para a população brasileira, lançado em 2014 pelo
Ministério da Saúde, traz a tona este assunto e aborda de forma clara e objetiva a importância
do grau de processamento dos alimentos e como utilizá-lo a favor da promoção da saúde e
bem estar de crianças, adolescentes e adultos, sendo um marcador importante para o início de
trabalhos que tragam problemas e soluções para melhora do panorama atual. Mais de 40% do
total de calorias ingeridas diariamente pela população brasileira são provenientes do grupo
dos altamente processados ou ultraprocessados, sendo que nas menores classes salariais é
onde há o maior consumo de energia encontrado (1).
As muitas pesquisas desenvolvidas sobre a alimentação da população englobam e
destacam a importância dos nutrientes e dos alimentos no desenvolvimento e alcance de uma
alimentação adequada, mas pouco se fala – e se discute - sobre o grau de processamento
13
industrial dos alimentos e como isso influi diretamente na qualidade da alimentação que se
têm e se oferece. Em geral os alimentos com alto grau de processamento possuem uma grande
quantidade de gordura, açúcar, corantes, conservantes e muitos outros aditivos alimentares,
que comprometem a qualidade do produto final oferecido, além da pobreza em fibras e
nutrientes que se perdem em meio ao processamento. Com os crescentes avanços da industria
alimentícia, surgiram os diversos tipos de alimentos industrializados, entre eles os
processados e ultraprocessados, onde se encontra a carne processada, representada
principalmente pelos embutidos e carnes salgadas para conserva (3,4,5)
1.3 Consumo de carne vermelha e processada e seus impactos
A ingestão de carne vermelha e carne processada tem sido relacionado a diversas
doenças com relação direta a alimentação como obesidade, dislipidemias, problemas
cardivasculares, Diabetes Mellitus tipo 2 e diversos tipos de câncer, principalmente os
relacionados ao sistema digestório. Além disso, a presença desses alimentos relaciona-se com
a menor qualidade da dieta e aumento do índice de massa corporal em homens e mulheres
(6,7,8).
Em 2015, a Organização Mundial da Saúde emitiu um comunicado ressaltando que após
a análise de importantes estudos, foi constatado que a cada 50 gramas de carne processada
ingerida por dia o risco de câncer colorretal aumenta em 18%, apoiando assim as políticas de
saúde pública para sua diminuição na dieta, mesmo não havendo uma quantidade considerada
segura para recomendação. Atualmente é utilizada a recomendação do World Cancer
Research Fund, que indica 500 gramas de carne vermelha e processada semanalmente. Além
disso, o consumo de carne vermelha e carne processada foram relacionadas com o aumento do
risco para câncer colorretal de 28 a 35% e 20 a 49%, respectivamente (9,7).
No Brasil o Novo Guia Alimentar para a População Brasileira não determina uma
quantidade diária, justamente pelo fato de focar no preparo e composição da dieta de acordo
com o ambiente em que se vive. Além disso, a forte presença da carne vermelha na
alimentação tem sido desencorajando também pelo alto impacto de sua produção em massa no
meio ambiente, com a alta produção de gases de efeito estufa, desmatamento para áreas de
pastagem, consumo excessivo de fontes de água potável, entre outros problemas (1, 10, 11,
12).
Em estudo realizado em 2013, utilizando dados do Inquérito Nacional de Saúde feito em
2008/2009, foi demonstrado que a carne bovina apresentou 48,7% de frequência de consumo
14
pelos brasileiros, sendo o quinto alimento mais consumido pela população, mesmo levando
em consideração as regionalidades de alguns alimentos do país, como o alto consumo de
farinha de mandioca pela região nordeste, por exemplo, demonstrando assim que a carne
bovina possui participação importante na alimentação (10).
1.4 Alimentação do adolescente e suas implicações na saúde
A adolescência é o período que compreende o maior número de transformações
endócrinas, corporais, mentais e sociais, sendo compreendida pela faixa etária dos 10 aos 19
anos segundo a OMS, podendo ser dividida também em duas partes: a pré-adolescência (dos
10 aos 14 anos) e a adolescência (dos 15 aos 19 anos). Esta fase também é marcada pela
inserção de hábitos alimentares e de saúde que podem se perpetuar para a vida adulta. A
escolha dos alimentos consumidos nessa fase é de extrema importância para os possíveis
problemas relacionados â alimentação (13).
Em estudo transversal de Leite et al (14), foi mostrado que os pontos de venda de
alimentos mais próximos em torno das escolas das regiões do município de Santos – SP
ofertavam alimentos com alto grau de processamento, enquanto os estabelecimentos que
ofertavam alimentos com grau de processamento menos estavam mais afastados das escolas, o
que demonstra que o consumo desses tipos de alimentos aumenta quando há uma oferta
próxima ao local.
O estudo de Levy et al (15) traz informações acerca da alimentação do adolescente que
já era discutida, porém pouco estudada: a de que as similaridades de fatores de proteção e
risco em relaçao ao consumo alimentar estão presentes de um modo geral, mesmo quando a
renda é considerada para comparação e, quando apresentam diferenças, sempre os fatores de
proteção para adolescentes em escolas públicas é maior que os de escolas particulares. Isso
pode ser efeito dos programas para incentivo da alimentação escolar desenvolvidos pelo
governo, ou ainda o efeito da renda sobre o maior consumo de alimentos industrializados.
Porém, se sabe que países em desenvolvimento apresentam um maior consumo de alimentos
ultraprocessados, entre eles as carnes processadas, que resulta em inúmeras doenças de cunho
nutricional. Sendo esse tipo de alimentação extremamente presente nos arredores de escolas
públicas e constantemente presente em propagandas direcionadas principalmente ao público
jovem, é necessária uma atenção direcionada nesse sentido, afim de entender e melhorar a
relação do adolescente com sua alimentação (2).
15
Em trabalho de Bertrand et al (16), foi visto que a qualidade nutricional da dieta dos
adolescentes pode modificar, tanto positiva quanto negativamente muitos fatores de riscos
relacionados à saúde. No estudo de coorte foi abordado o consumo de gordura animal e carne
vermelha e sua associação ao desenvolvimento de tumores malígnos de mama na fase adulta,
independente da alimentação após este período. Foi encontrado o consumo médio diário de 81
gramas de carne vermelha durante a adolescência, que elevou os níveis de gordura animal
consumidos por dia e seu IMC durante a fase adulta. A relação entre consumo elevado de
gordura animal e desenvolvimento de padrões para diagnóstico de câncer e mama foi
significativa.
Sendo assim, a dissertação a seguir tenta responder a diversas questões, trazendo
informações pertinentes para discussão sobre a alimentação dos adolescentes em relação a
carne vermelha e carne processada, relacionando a média de ingestão encontrada com as
atribuídas e discutidas em outros estudos. Levando em consideração essas informações, serão
apresentados dois trabalhos como resultados (artigo de revisão sistemática e artigo original),
que reúnem informações necessárias para a devida contribuição ao meio científico.
16
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Avaliar o consumo médio de carnes vermelhas e carnes processadas pelos adolescentes
de Campinas.
2.2 Objetivos específicos
- Elaborar revisão sistemática sobre o tema “consumo de carne vermelha e/ou
processada pelos adolescentes e implicações na saúde na fase adulta”;
- Relacionar a média de consumo diário de carnes vermelhas e processadas dos
adolescentes com a média atualmente recomendada pelos principais orgãos de saúde
nacionais e internacionais;
- Analisar o consumo de carnes vermelhas e processadas de acordo com os sexo, faixa
etária, perfis de renda, escolaridade do chefe da família, número de equipamentos domésticos,
Índice de Massa Corporal (IMC) e perfis de comportamento de saúde.
17
3. MÉTODO
O trabalho utilizará os dados obtidos através do estudo “Inquérito de Saúde do
Município de Campinas, ISACAMP 2008”, conduzido em 2008 e início de 2009.
3.1 O ISACamp 2008/2009
O inquérito de saúde ISACAMP 2008 é um estudo de corte transversal, de base
populacional que teve por objetivo analisar as condições de vida e de saúde da população, por
meio de entrevistas domiciliares. A execução do estudo ocorreu no Centro Colaborador em
Análise de Situação de Saúde (CCAS), localizado no Departamento de Saúde Coletiva da
Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP. O ISACAMP 2008 constitui a segunda
pesquisa domiciliar de saúde de Campinas, dando sequência ao Inquérito Multicêntrico de
Saúde no Estado de São Paulo (ISA-SP), o qual também foi conduzido nos municípios de
Botucatu, São Paulo (Distrito do Butantã), Embu, Itapecerica da Serra e Taboão da Serra,
entre abril de 2001 a março de 2002 (CÉSAR, 2005). Em 2008 o ISACAMP obteve
financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Processo
CNPq nº 40747/2006-8) e da Secretaria de Vigilância em Saúde por meio de contrato com a
Secretaria Municipal de Saúde de Campinas.
3.2 População do estudo
Durante o período de realização do inquérito foram entrevistadas 3.405 pessoas com 10
anos de idade ou mais, não institucionalizadas e residentes em domicílios da área urbana de
Campinas. A população foi dividida em três estratos etários (adolescentes de 10 a 19 anos;
adultos de 20 a 59 anos e idosos de 60 anos ou mais), compondo os domínios de idade.
3.3 Processo amostral
O processo amostral teve por base o que foi desenvolvido para a primeira pesquisa, o
ISA-SP 2001/02 (17) com algumas modificações. Optou-se pelo sorteio de amostras
independentes e de tamanhos iguais a 1.000 pessoas em cada domínio de idade, quantidade
suficiente para possibilitar o desenvolvimento de análises específicas para os segmentos
demográficos investigados. Esse número de entrevistas permite estimar uma prevalência de
50% (que corresponde a situação de maior variabilidade para a frequência dos eventos
estudados), com erro de amostragem entre 4 e 5 pontos percentuais, intervalo de confiança de
95% e efeito de delineamento igual a 2.
18
A amostragem do inquérito foi obtida em dois estágios: setor censitário e domicílio. No
primeiro estágio, foram sorteados 50 setores censitários com probabilidade proporcional ao
número de domicílios. Antes de executar o sorteio sistemático, os setores foram ordenados
pelo percentual de chefes de família com nível universitário, produzindo uma estratificação
implícita por escolaridade. Considerando o tempo decorrido desde a contagem populacional
do IBGE de 2000, todos os setores selecionados foram percorridos para a elaboração de uma
listagem atualizada de endereços. O cálculo do número de domicílios que deveriam ser
sorteados para cada grupo de idade foi feito com base na razão população/domicílio,
dividindo-se o tamanho desejado de amostra (1.000 pessoas) pela razão correspondente
(Tabela 1). Em Campinas, no ano do censo de 2000 foi registrado um total de 282.147
residências nos setores censitários urbanos.
Tabela 1. Razão população/domicílios e número de domicílios da amostra, segundo o
domínio de estudo. Campinas, 2000.
Domínios de estudo Razão Amostra de domicílios
10 a 19 anos 0,598124 1.672
20 a 59 anos 1,918908 522
60 anos ou + 0,323487 3.092
O total de entrevistas efetuadas em cada um dos 50 setores censitários não deveria
ultrapassar 20 (1.000/50=20), garantindo um deff=1,95. Foi então estipulado o total de
domicílios necessários por setor, dividindo-se a amostra de domicílios para cada domínio por
50. Portanto, seriam necessários 43, 14 e 78 domicílios para encontrar 20 adolescentes, 20
adultos e 20 idosos, respectivamente. Esperando a ocorrência de recusas e de domicílios
vagos, foram sorteados números 20% maiores de domicílios (Tabela 2).
19
Tabela 2. Número de domicílios e setores na amostra e quantidade de domicílios por setor,
segundo o domínio de estudo. Campinas, 2000.
Domínios de estudo Amostra de
domicílios
Setores Amostra de
domicílios por setor
10 a 19 anos 2.150 50 43
20 a 59 anos 700 50 14
60 anos ou + 3.900 50 78
Para o presente estudo foi considerado apenas o domínio de adolescentes da amostra,
que totalizou 924 indivíduos.
3.4 Instrumento e coleta de dados
As entrevistas foram aplicadas diretamente aos moradores que pertencessem ao grupo
etário selecionado para aquele domicílio por entrevistadores treinados e supervisionados. Um
questionário organizado em 14 blocos temáticos (Figura 1), com a maioria das questões
fechadas, com alternativas pré-definidas, foi utilizado para coletar as informações. O
instrumento foi previamente testado em um estudo piloto e o seu conteúdo incluiu, sempre
que possível, questões já testadas em outras pesquisas.
3.5 Processamento dos dados de consumo alimentar
O bloco temático sobre hábito alimentar incluiu o recordatório de 24 horas (R24h) para
estimar o consumo alimentar da população. O R24h foi administrado por entrevistadores
treinados e supervisionados por uma nutricionista. As entrevistas foram conduzidas nos
diferentes dias da semana e meses do ano para captar a variabilidade interindividual do padrão
de consumo alimentar. A distribuição dos R24h aplicados entre terça-feira e sábado
correspondeu a 70,4% e entre domingo e segunda-feira a 29,6%.
Durante o trabalho de campo, o conteúdo dos recordatórios foi verificado
minuciosamente por uma nutricionista para identificar e corrigir falhas de preenchimento. Foi
realizada a quantificação dos R24h com o propósito de transformar em gramas ou mililitros as
quantidades de alimentos e preparações referidas previamente em medidas caseiras. Para isto,
20
foram utilizadas informações disponíveis em tabelas de medidas caseiras (Fisberg e Villar,
2002; Pinheiro et al, 2004), em rótulos de alimentos e em serviços de atendimento ao
consumidor. Quando não era encontrada informação sobre o peso de determinado alimento, o
mesmo era comprado, preparado conforme a recomendação do fabricante e pesado. Todas as
decisões tomadas foram organizadas com base no número de identificação do participante e
documentadas em um manual de medidas caseiras para uso interno. Os R24h quantificados
foram enviados para a Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo para a
entrada dos dados no software Nutrition Data System for Research (NDS-R versão 2007,
University of Minnesota). O NDSR utiliza os dados da principal fonte de composição de
alimentos dos Estados Unidos, a USDA National Nutrient Database for Standard Reference e
o programa contém mais de 18 mil alimentos e sete mil marcas de produtos, permitindo que
os ingredientes e os métodos de preparação sejam incluídos detalhadamente. A quantidade de
informações produzidas pelo NDS-R e as possibilidades de investigações proporcionadas,
justificam a escolha do software ainda que este seja um instrumento americano e que não
permita a inclusão de alimentos em sua base de dados, o que poderia ser útil para alimentos
tipicamente brasileiros. Para corrigir os erros de digitação, efetuou-se a análise de
consistência dos dados por meio da checagem dos R24h e apenas um R24h foi excluído da
amostra por apresentar resultados inconsistentes, decorrentes destes erros.
3.6 Variáveis do estudo
O trabalho utilizou a amostra que compreende a população de adolescentes dos 10 aos
19 anos, totalizando 924 entrevistados. Os conjuntos de variáveis analisadas no presente
estudo foram:
a) Variáveis dependentes
- Média de consumo de carnes vermelhas e processadas (g/dia);
b) Variáveis independentes
- Demográficas: faixa etária em anos dividida em dois grupos, sendo:
Pré-adolescência - dos 10 aos 14 anos;
Adolescência - dos 15 aos 19 anos;
- Socioeconômicas, sendo:
21
Sexo;
Faixa etária;
Renda familiar;
Escolaridade do chefe da família;
Número de equipamentos domésticos;
- Comportamentos relacionados à saúde, sendo de frequência semanal:
Consumo de frutas;
Consumo de verduras e legumes cozidos;
Consumo de leite;
Consumo de refrigerante;
Consumo de bebida alcoólica;
Atividades físicas de lazer;
Horas de uso de computador;
c) Estado nutricional, sendo:
- IMC em percentis de acordo com a classificação da Organização Mundial da Saúde
(OMS).
A carne foi classificada de acordo com as recomendações do World Cancer Research
Fund (WCRF) e da OMS, que consideram carne vermelha as carnes provenientes de bois,
vacas, porcos, ovelhas e carneiros; e como carne processada toda aquela que é conservada por
meio de defumação, salga, cura ou por adição de produtos químicos, utilizados também em
outros alimentos processados derivados de outros tipos de carne, como salsichas, linguiças e
blanquets. Os valores de referência de consumo utilizado foi o recomendado por estes orgãos
de saúde, ficando em 42,9g/dia, utilizando a recomendação de 300g/semanais (meta de saúde
pública).
22
Dos 924 adolescentes entrevistados, 913 participaram das análises, com exclusão de 11
sujeitos conforme recomendação de Nielsen (17), por apresentarem consumo energético
menor que 1% (< 641, 934 Kcal) ou maior que 99% (> 6546, 23 Kcal). As médias foram
ajustadas por sexo e faixa etária. As médias do consumo das carnes vermelhas e processadas
relacionadas as variáveis independentes foram feitas utilizando o método de regressão linear
para análise de seu comportamento. Os dados foram apresentados de forma bruta e ajustada
por sexo e faixa etária, utilizando os grupos de pré-adolescência e adolescência, como citado
anteriormente. O intervalo de confiança de ambas as análises foi de 95% com valor de p <
0,05.
O projeto ISACAMP 2008 foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (CEP – FCM
Unicamp) sob o protocolo nº. 079/2007. O projeto do presente trabalho também foi aprovado
pelo CEP – FCM Unicamp sob o protocolo nº 058770/2017.
23
4. RESULTADOS
4.1 Artigo de revisão sistemática
CONSUMO DE CARNE VERMELHA E/OU CARNE PROCESSADA POR
ADOLESCENTES E SUAS IMPLICAÇÕES A SAÚDE: UMA REVISÃO
SISTEMÁTICA
CONSUMPTION OF RED MEAT AND / OR MEAT PROCESSED BY
ADOLESCENTS AND THEIR HEALTH IMPLICATIONS: A SYSTEMATIC
REVIEW
Caroline Tavares da Silva1
Antônio de Azevedo Barros Filho1
______________________________________________________
1 Departamento de Pediatria. Centro de Investigação em Pediatria. Faculdade de Ciências
Médicas.Universidade Estadual de Campinas. Rua Tessália Vieira de Carmargo, 126. Cidade
Universitária Prof. Zeferino Vaz. CEP: 13083-887. Campinas-SP.
24
INTRODUÇÃO
A carne vermelha e processada vem sendo alvo de estudos sobre seu consumo e
contribuição para desenvolvimento de doenças. Em 2015, a Organização Mundial da Saúde
(OMS) (1) emitiu um comunicado ressaltando que após a análise de mais de 800 estudos
sobre o tema, mostrou que o consumo de carne vermelha e processada está relacionado com
o aumento do risco para câncer colorretal de 28 a 35% e 20 a 49%, respectivamente. Ainda
segundo a OMS, a cada 50 gramas de carne processada consumida por dia, o risco de câncer
colorretal aumenta em 18%, apoiando assim as políticas de saúde pública para a diminuição
de seu consumo, mesmo não havendo uma quantidade considerada segura para
recomendação. A ingestão exagerada desses alimentos também está relacionado a diversas
doenças como dislipdemias, doenças cardiovasculares, Diabetes Mellitus, obesidade, entre
outros (1, 2, 3, 4).
O consumo excessivo de carnes vermelhas e processadas também está relacionado ao
impacto negativo de sua produção no meio ambiente, sendo responsável pelo desmatamento
de diversas áreas da Amazônia, poluição das águas e emissão de gases nocivos à atmosfera
(5).
A adolescência é o período que compreende o maior número de transformações
endócrinas, corporais, mentais e sociais, sendo compreendida pela faixa etária dos 10 aos 19
anos segundo a OMS, podendo ser dividida também em duas partes: a pré-adolescência (dos
10 aos 14 anos) e a adolescência (dos 15 aos 19 anos). Esta fase também é marcada pela
inserção de hábitos alimentares e de saúde que podem se perpetuar para a vida adulta. A
escolha dos alimentos consumidos nessa fase é de extrema importância para os possíveis
problemas relacionados â alimentação. Além disso, o consumo de alimentos processados e
ultraprocessados nesta fase podem contribuir para o desenvolvimento de doenças relacionadas
a alimentação na fase adulta ( 6, 7, 8 ) .
A qualidade nutricional da dieta dos adolescentes pode modificar, tanto positiva quanto
negativamente muitos fatores de riscos relacionados à saúde, e o consumo de carne vermelha
e processada e suas consequências vem sendo abordadas em inúmeros estudos sobre e perfil
alimentar e desenvolvimento de doenças na fase adulta. Além disso, a qualidade da
alimentação está muitas vezes relacionadas a renda (8, 9, 10).
25
Visto a importância da abordagem do tema nesta faixa etária, o presente trabalho teve
como objetivo revisar de forma sistemática o consumo de carne vermelha e processada por
adolescentes e suas implicações na saúde.
MÉTODO
Para a revisão foram selecionados trabalhos em inglês e português, que abordassem a
temática do consumo de carnes vermelhas e/ou carnes processadas por adolescentes, num
período de 10 anos. A pesquisa foi feita utilizando as principais bases de dados eletrônicas
nacionais e internacionais, sendo essas Scielo, PubMed, Medline e Lilacs, utilizando as
palavras-chave “consumo de carne vermelha” (“red meat consumption”), “carnes vermelha
adolescentes” (red meat adolescents”) e “carne processada adolescents” (“processed meat
adolescents”). Foram excluídos estudos realizados e não publicados, estudos de revisão
sistemática e/ou metanálise, resumos de eventos científicos (publicados ou não), dissertações
e teses; e foram incluídos estudos que abordem o consumo de carne vermelha e/ou processada
nos adolescentes e suas possíveis implicações na saúde a médio e longo prazo. Os artigos
encontrados pelas estratégias de busca e os critérios de inclusão e exclusão serão mostrados
na figura a seguir.
Figura 1: Fluxograma de seleção dos artigos
26
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Doze artigos preencheram os critérios de inclusão adotados para a revisão. Dos sete
estudos transversais selecionados, cinco foram realizados no Brasil em um período de quatro
anos (2012 em diante, quando os estudos acerca do tema foram ganhando mais força no meio
científico). A tabela 1 em anexo reúne as principais informações sobre os trabalhos
selecionados.
A tabela 2 em anexo reúne as principais informações sobre os cinco estudos de coorte
selecionados para a revisão. Todos os trabalhos apresentados são internacionais, tendo um
trabalho sendo realizado em 2011 e os outros quatro trabalhos realizados e publicados entre
2016 e 2017.
Todos os estudos participantes da revisão abordaram o consumo de carne vermelha e/ou
processada em adolescentes, sendo que alguns utilizaram a faixa etária segundo a OMS, e
outros utilizaram de acordo com a definição própria. Além disso, alguns estudos utilizaram
crianças para compor sua amostra, e outros utilizaram informações de adultos colhidas
durante a adolescência.
Nos estudos transversais, apenas um utilizou a média para analisar o consumo de
carnes. Os outros estudos utilizaram índices como os de prevalência, Índice de Qualidade da
Dieta, correlação e carga fatorial (11, 12, 13, 14, 15, 16, 9).
Em relação aos estudos de coorte, todos utilizaram a média de consumo relacionado a
quintis, quartis ou tercis de acordo com suas análises e os objetivos de cada estudo. Em sua
maioria os autores procuram analisar o consumo de carne por quintis de faixa etária. Em todos
os estudos o consumo de carne vermelha e processada foi abordado, sendo que em alguns
com uma maior importância e destaque, e outros com uma menor participação. Na maioria
dos estudos o consumo de carne vermelha foi abordado juntamente com os diversos tipos de
doenças relacionadas ao seu consumo, principalmente o câncer e as doenças cardiovasculares,
sendo abordado como o perfil alimentar do adolescente têm participação no desenvolvimento
dessas doenças na fase adulta (17, 18, 19, 20, 8).
Os resultados encontrados nos estudos presentes nessa revisão vão de acordo com a
extensa literatura que aborda o mesmo tema. Em 2015 a OMS (1) em conjunto com a World
of Cancer Research Fund (WCRF) e a International Agency Research of Cancer (IARC) um
documento baseado em mais de 800 estudos provenientes de várias regiões do mundo, que
27
demonstravam a forte associação entre o consumo de carde vermelha e processada e diversos
tipos de cancer, especialmente aqueles de ordem gastrointestinal e colorretal. A WCRF
recomenda o consumo de 300g semanais de carnes vermelhas e processadas como meta de
saúde pública, e 500g semanais para recomendação pessoal, o que vai e acordo com os
estudos do IARC, que mostram que a cada 50g de carne consumidos aumenta a chance de
desenvolvimeno de cancer em 18%. A média nacional de consumo de carne vermelha pelos
adolescentes brasileiros é de 48%, demonstrada em estudo da POF 2008/2009 (1, 19, 20).
Todos os estudos participantes da revisão mostraram um consumo de carne vermelha
e/ou processada acima das recomendações utilizadas, elevando assim a importância do estudo
do tema, principalmente da adolescência, onde os hábitos alimentares são desenvolvidos e
perpetuados. A qualidade nutricional da dieta dos adolescentes pode modificar, tanto positiva
quanto negativamente muitos fatores de riscos relacionados à saúde, e o consumo de carne
vermelha e carne processada, juntamente com as conseqüências, vem sendo abordadas em
inúmeros estudos sobre e perfil alimentar e desenvolvimento de doenças na fase adulta. A
qualidade nutricional da alimentação do adolescente pode influenciar a saúde da vida adulta,
tanto positiva quanto negativamente. Apenas o padrão alimentar de consumo alto de carnes
vermelhas e processadas já pode influenciar no desenvolvimento de diversas doenças, tendo o
câncer como centro dos estudos mais recentes. Além disso, os altos índices de consumo
também estão relacionados ao aumento do IMC, dislipidemias, obesidade, diabetes mellitus
tipo 2, entre outras (4, 8, 9, 11, 21) .
CONCLUSÃO
Os estudos abordados nessa revisão apontam para um aumento do consumo de carnes
vermelhas e processadas pela população mundial, e mostram o impacto desse consumo na
saúde e no local em que se vive. O alto consumo de carne vermelha e processada na
adolescencia contribui para o desenvolvimento de doenças graves na fase adulta. É necessário
a criação de políticas para a adequação do consumo, já que esses produtos devem fazer parte
de uma alimentação equilibrada que possa trazer benefícios não só na adolescência, mas
também em todas as fases da vida.
28
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31
ANEXOS
Tabela 1. Descrição dos estudos do tipo transversal, que abordaram o tema carne vermelha, carne processada ou ambos em público
adolescente.
País Ano Público estudado
Resultados do consumo
de carne vemelha e
processada
Conclusões e implicações
para saúde
Assunção et al Brasil 2012
4325 adolescentes dos
10 à 19 anos
Consumo de carne
vermelha diário foi maior
que o consumo de outras
carnes, e o consumo de
carne processada foi
relatado por 48,5%
Consumidores de carne
vermelha e processada em
alta quantidade possuem dieta
mais rica em gordura
saturada e sal
Camelo et al Brasil 2012 59.809 mil adolescentes
50,9% dos participantes
relataram consumo regular
de embutidos, guloseimas,
biscoito doce e refrigerante.
A prática de lazer não
saudável aumenta o consumo
de alimentos prejudiais a
saúde dos adolescentes
Drouillet-Pinat
et al França 2016
574 crianças dos 3 aos
10 anos; e 881
adolescentes dos 11 aos
O consumo de carnes
vermelhas, processadas e
outros tipos está associado
Os determinantes sociais de
renda influenciam
diretamente na qualidade da
32
17 anos principalmente a renda alimentação de crianças e
adolescentes
Dishchekenian
et al;
Brasil 2011 76 adolescentes dos 14
aos 19 anos
O consumo de carnes
vermelhas e processadas foi
associado ao aumento dos
níveis de insulina, glicemia
e triglicérides
O padrão de consumo em que
as carnes verelhas e
processadas estão inseridos
são fatores que influenciam
para a obesidade na
adolescência
Freitas et al;
Brasil 2015
195 adolescente, 272
adultos e 259 idosos
participantes do
Inquérito de Saúde de
São Paulo – ISA
Capital
O consumo de carnes
vermelhas e processadas
diminui a pontuação do
índice de qualidade da dieta
para frutas, integrais, leite e
gorduras sólidas
Sugere-se que os não
consumidores de carne
vermelhas e processadas
possuem uma maior
qualidade na dieta em relação
aos consumidores
Kourlaba et al Grécia 2008 2118 adolescentes de
12 a 17 anos
A carne vermelha foi
analisada como um dos 7
padrões alimentares
estudados e comparados
com a situação
socieconomica e
O estudo escolheu dois
padrões alimentares diferntes
para as análises
socioeconômicas (junk food e
vegetarian/health) e associou
os resultados encontrados de
33
comportamentos de saúde
dos adolescentes
acordo com a similaridade
dos padrões. Portanto, os
padrões associados a má-
alimentação estão
relacionados aos adolescentes
de menor renda, onde a dieta
com padrão de alto consumo
de carne está alocada.
Souza et al Brasil 2015
71.791 adolescentes de
12 a 17 anos
participantes do Estudo
de Riscos
Cardiovasculares em
Adolescentes (ERICA)
A carne vermelha está entre
um dos alimentos mais
consumidos
O padrão da dieta do
adolescente brasileiro é
associado à alta inadequação
de micronutrientes e consumo
excessivo de sódio, gordura
saturada e açúcar livre.
34
Tabela 2. Descrição de estudos do tipo coorte que abordaram o tema carne vermelha, carne processada ou ambos em público adolescente.
Autores País Ano Público estudado Resultados do consumo de
carne vemelha e processada
Conclusões e implicações
para saúde
Asghari et al Irã 2016 621 crianças e
adolescentes dos 6 aos 18
anos
A pontuação utilizada para o
consumo da dieta DASH foi
inversamente proporcional ao
consumo de carnes vermelhas
e processadas
O alto consumo de carnes
vermelhas e processadas está
fortemente associado a menor
adesão a dieta DASH e seus
benefícios
Farvid et al Estados
Unidos
2016 44.231 mil mulheres que
preencheram o
questionário de frequência
de consumo durante o
high school da pesquisa
Nurses Health Study II
Os resultados encontrados
apontam para uma forte
associação entre o alto
consumo de carnes vermelhas
e o risco aumentado para
desenvolvimento de cancer
de mama.
O alto consumo de carne
vermelha durante a
adolescencia ocasiona num
aumento do risco para
desenvolvimeto de cancer de
mama em mulheres
Harris et al Alemanha 2016 1610 adolescentes O consumo de carne
vermelha foi associado
O alto consumo de carne
vermelha eleva os níveis de
35
positivamente ao aumento da
gordura livre corporal,
superior nos meninos
gordura corporal e modifica o
IMC, elevando o peso total e
os riscos de desenvolvimento
de doenças associadas ao
excesso de peso
Harris et al Estados
Unidos
2017 45.204 mulheres que
preencheram o
questionário de frequência
de consumo em 1991,
participarantes do Nurses
Health Study II
O consumo de carne
vermelha foi associado
positivamente com os
marcadores inflamatórios
para desenvolvimento de Ca
de mama
Uma dieta rica em alimento
pró-inflamatórios na
adolescência e na vida adulta
jovem pode contibuir para o
desenvolvimento de Ca de
mama em mulheres na fase
adulta
Ruder et al Estados
Unidos
2011 De 292.797 homens de 50
a 71 anos participantes do
NIH-AARP
Diet and Health Study,
3773 foram selecionados,
sendo 2794 casos de
cancer de cólon e 979 de
cancer de reto.
Um maior consumo de carne
vermelha e processada foi
encontrado nos grupos que
desenvolveram Ca de cólon e
de reto
Foi encontrada associação
positiva entre o consumo de
carne vermelha e processada
na adolescência e o
desenvolvimento de Ca de
cólon e de reto na fase adulta
36
5.2 Artigo original
CONSUMO DE CARNE VERMELHA E CARNE PROCESSADA POR
ADOLESCENTES: ESTUDO ISACAMP
Caroline Tavares da Silva1
Antônio de Azevedo Barros Filho1
Daniela de Assumpção1
Marilisa Berti de Azevedo Barros2
_______________________________________________________
1 Departamento de Pediatria. Centro de Investigação em Pediatria. Faculdade de Ciências
Médicas.Universidade Estadual de Campinas. Rua Tessália Vieira de Carmargo, 126. Cidade
Universitária Prof. Zeferino Vaz. CEP: 13083-887. Campinas-SP.
2 Departamento de Saúde Coletiva. Faculdade de Ciências Médicas. Universidade Estadual de
Campinas. Rua Tessália Vieira de Camargo, 126. Cidade Universitária Prof. Zeferino Vaz.
CEP: 13083- 887. Campinas-SP.
37
RESUMO
Introdução: A carne vermelha e processada vem sendo alvo de estudos sobre seu consumo e contribuição para desenvolvimento de doenças. Em 2015, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um comunicado ressaltando que após a análise de mais de 800 estudos sobre o tema, mostrou que o consumo de carne vermelha e processada está relacionado com o aumento do risco para câncer colorretal de 28 a 35% e 20 a 49%, respectivamente. O consumo excessivo de carnes vermelhas e processadas também está relacionado ao impacto negativo de sua produção no meio ambiente, sendo responsável pelo desmatamento de diversas áreas da Amazônia, poluição das águas e emissão de gases nocivos à atmosfera. A adolescência é o período que compreende o maior número de transformações endócrinas, corporais, mentais e sociais, sendo compreendida pela faixa etária dos 10 aos 19 anos segundo a OMS. A escolha dos alimentos consumidos nessa fase é de extrema importância para os possíveis problemas relacionados â alimentação. Objetivo: Avaliar o consumo médio de carnes vermelhas e carnes processadas pelos adolescentes de Campinas. Método: Trata-se de um estudo transversal de base populacional desenvolvido com dados do Inquérito de Saúde de Campinas nos anos de 2008 e 2009, que analisou o consumo de carnes vermelhas e carnes processadas por meio da média de amostra significativa, obtida pelo recordatório de 24 horas dos adolescentes de 10 a 19 anos participantes da pesquisa. Dos 924 entrevistados, 913 participaram das análises, com exclusão de 11 sujeitos. As médias foram ajustadas por sexo e faixa etária. Os valores de referência de ingestão são os recomendados pelo World of Cancer Research Fund e a International Agency Research of Cancer (42,9g/dia). O modelo foi construído por meio de regressão linear generalizada, com a média de consumo como variável dependente. As variáveis independentes foram as demográficas, socieconômicas e de comportamentos de saúde, utilizando intervalo de confiança de 95% e p <0,05. Resultados: A média de consumo foi de 168,7 g (IC 95%: 145,1-192,4; n=462) nos meninos e 129,4 g (IC 95% 91,2-167,6; n=451) nas meninas. Por faixa etária foi de 168,7 g (IC 95% 145,1-192,4) para 10 a 14 anos, e de 189,7 g (IC 95% 151,7-227,7) para 15 a 19 anos. O consumo é maior de acordo com os achados do modelo de regressão linear generalizada, que apresentou ainda relação com consumo diário de refrigerantes, consumo de bebidas alcoólicas e classificação “baixo peso” do IMC. Não houve diferenças quando analisadas separadamente. Conclusão: As médias estão muito acima das recomendadas pelos órgãos de saúde, tanto no trabalho de revisão sistemática quanto no trabalho original, o que demonstra a alta chance de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, câncer e outras doenças.
Palavras-chave: carne vermelha, adolescente, câncer, inquéritos de saúde.
38
ABSTRACT
Introduction: Red and processed meat has been the subject of studies on its consumption and contribution to the development of diseases. In 2015, the World Health Organization (WHO) issued a statement stressing that after analyzing more than 800 studies on the subject matter, it has been showed that consumption of red and processed meat is related to an increased risk for colorectal cancer from 28 to 35% and 20 to 49%, respectively. The excessive consumption of red and processed meats is also related to the negative impact of its production on the environment, being responsible for the deforestation of several areas of the Amazonia, water pollution and emission of harmful gases to the atmosphere. Adolescence is the period that comprises the greatest number of endocrine, body, mental and social transformations, being comprehend by the age group from 10 to 19 according to WHO. The choice of foods consumed at this stage is extremely important for possible food related problems. Objective: To evaluate the average consumption of red meat and meat processed by the adolescents of Campinas. Methods: This is a cross-sectional population-based study developed with data from the Campinas Health Survey, which analyzed the consumption of red meat and processed meat by means of the mean of a significant sample obtained by the 24-hour recall of adolescents from 10 to 19 years of research. Of the 924 interviewees, 913 participated in the analyzes, with the exclusion of 11 subjects. The averages were adjusted by sex and age group. Ingestion reference values are those recommended by the World of Cancer Research Fund and the International Agency of Cancer Research (42.9g/day). The model was constructed using generalized linear regression, with mean consumption as the dependent variable. The independent variables were demographic, socioeconomic and health behaviors, using a 95% confidence interval and p <0.05. Results: The mean consumption was 168.7 g (95% CI: 145.1-192.4, n = 462) in boys and 129.4 g (95% CI 91.2-167.6; = 451) in girls. Age range was 168.7 g (CI 95% 145.1-192.4) for 10 to 14 years, and from 189.7 g (CI 95% 151.7-227.7) for 15 to 19 years . There's a bigger consumption according to the findings of the generalized linear regression model, which also showed a relationship with daily consumption of soft drinks, alcohol consumption and "low weight" classification of BMI. There were no differences when analyzed separately. Conclusion: The averages are well above those recommended by health agencies, both in the systematic review and in the original work, which demonstrates the high chance of developing cardiovascular diseases, cancer and other diseases.
Key words: red meat, adolescent, cancer, health surveys.
39
INTRODUÇÃO
O consumo de carnes vermelhas vem sendo alvo de estudos sobre sua relação com o
desenvolvimento de doenças. É considerada carne vermelha toda aquela proveniente dos
cortes de animais como o boi, vaca, cordeiro, carneiro, ovelha e porco, esta última de acordo
com as resoluções de diversos países ao redor do mundo. A carne processada é aquela que
sofreu algum processo que a diferencia da carne in natura, ou seja, onde foi realizado corte,
moagem, salga ou adição de algum componente que não está presente em sua forma original.
Os processos são divididos em minimamente processados, processados e ultraprocessados,
esse último só podendo ser reproduzido com manejos industriais e grandes máquinas (1, 2).
Em 2015, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um documento ressaltando
que após a análise de mais de 800 estudos sobre o tema, mostrou que o consumo de carne
vermelha e a carne processada está relacionado com o aumento do risco para câncer
colorretal de 28 a 35% e 20 a 49%, respectivamente. Ainda segundo o documento, a cada 50
gramas de carne processada consumida por dia, o risco de câncer colorretal aumenta em 18%,
apoiando assim as políticas de saúde pública para a diminuição de seu consumo, mesmo não
havendo uma quantidade considerada segura para recomendação. O alto consumo desses
alimentos também está relacionado a diversas doenças como dislipidemias, doenças
cardiovasculares, diabetes mellitus, obesidade, entre outros (3, 4, 5).
O consumo excessivo de carnes vermelhas e processadas também está relacionado ao
impacto negativo de sua produção no meio ambiente, sendo a carne responsável pelo
desmatamento de diversas áreas da Amazônia, poluição das águas e emissão de gases nocivos
à atmosfera (6, 7).
A adolescência é o período que compreende o maior número de transformações
endócrinas, corporais, mentais e sociais, sendo compreendida pela faixa etária dos 10 aos 19
anos segundo a OMS, podendo ser dividida também em duas partes: a pré-adolescência (dos
10 aos 14 anos) e a adolescência (dos 15 aos 19 anos). Esta fase também é marcada pela
adoção de hábitos alimentares e de saúde que podem se perpetuar para a vida adulta. A
escolha dos alimentos consumidos nessa fase é de extrema relevância para o processo de
instalação de possíveis problemas relacionados à alimentação. Além disso, o consumo de
alimentos processados e ultraprocessados nesta fase podem contribuir para o desenvolvimento
de doenças relacionadas na fase adulta (8. 9. 10. 11).
40
A qualidade nutricional da dieta dos adolescentes pode modificar, tanto positiva quanto
negativamente muitos fatores de riscos relacionados à saúde, e o consumo de carne vermelha
e processada e suas consequências vem sendo abordadas em inúmeros estudos sobre e perfil
alimentar e desenvolvimento de doenças na fase adulta. Além disso, a qualidade da
alimentação está muitas vezes relacionadas a renda (12, 13, 14, 15).
Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo avaliar o consumo de carnes
vermelhas e processadas pelos adolescentes de Campinas – São Paulo.
MÉTODO
Este é um estudo transversal de base populacional desenvolvido com dados do Inquérito
de Saúde de Campinas (ISACAMP), realizada entre fevereiro de 2008 e abril de 2009.
A amostra do estudo foi definida por meio de amostragem probabilística, por
conglomerados em dois estágios: setor censitário e domicílio. Na primeira etapa foram
sorteados 50 setores com probabilidade proporcional ao tamanho em número de domicilios. O
tamanho da amostra está relacionado com a máxima variabilidade para a frequência dos
eventos, correspondendo a um nível de confiança de 95% (z=1,96), com erro de amostragem
entre 4 e 5 pontos percentuais e um efeito de delineamento de 2. As amostras, então, foram
determinadas com pelo menos 1.000 indivíduos para cada domínio de idade: adolescentes (10
a 19 anos), adultos (20 a 59 anos) e idosos (60 anos e mais). Levando em consideração a taxa
de não-resposta prevista de 20%, foram desenhadas 2.150 famílias para entrevistas com
adolescentes, 700 para entrevistas com adultos e 3.900 para entrevistas com idosos. O
número estimado de famílias foi calculado com base na razão pessoa / família para domínio
etário. Em cada domicílio foram entrevistados todos os moradores do domínio para o qual o
domicílio foi sorteado. Para o estudo foram utilizados os dados dos adolescentes de 10 à 19
anos, de ambos os sexos, residentes do município de Campinas – SP, com o seu dia alimentar
colhido e analisado por meio do Recordatório Alimentar de 24 horas (R24h). Os critérios de
exclusão utilizados para este estudo foram os grupos participantes da pesquisa que não
pertenciam a faixa da adolescência (10 a 19 anos) e os adolescentes que se recusaram a
responder o R24h.
Os questionários foram organizados de acordo com o setor pertencente, passando por
um primeiro processo de análise denominado “crítica”, sendo determinado as quantidades de
41
alimentos consumidos, utilizando tabelas de composição de alimentos, manual de medidas
caseiras, além do livro ATA das críticas dos inquéritos nutricionais elaborado em 2008 para
utilização nos estudos do ISA-SP e ISACamp. Terminado este processo, os dados obtidos
foram digitados no programa Nutrition Data System for Research (NDRS) versão 2007 (NCC
Food and Nutrient Database, Universidade de Minnesota, Minneapolis, MN, EUA), para
análise e organização das informações de calorias e nutrientes que compõe os alimentos do
recordatório. As entrevistas foram digitadas no banco de dados usando Epidata 3.1 (Epidata
Assoc., Odense, Dinamarca), sendo utilizado o programa Stata 11.0 0 (Stata Corp., College
Station, EUA) para a análise estatística, que leva em consideração o delineamento amostral e
suas variações.
Foi utilizado como variável dependente a média de consumo de carnes vermelhas e
processadas (g/dia); e como variáveis independentes as de natureza socioeconômicas (número
de pessoas no domicílio, renda familiar per capita em salários mínimos - SM, plano de saúde,
nível de escolaridade do chefe da família em anos de estudo, número de equipamento
domésticos e tipo de escola que frequenta), demográficas (faixa etária em anos – dividida em
dois grupos, sendo: pré adolescência, dos 10 aos 14 anos; e adolescência, dos 15 aos 19 anos;
e sexo), de comportamentos relacionados à saúde (horas de uso de computador, consumo de
bebida alcoólica, atividades físicas no lazer, consumo de frutas, consumo de verduras e
legumes cozidos, consumo de leite e consumo de refrigerante) e Índice de Massa Corporal
(IMC) para classificação do estado nutricional, sendo dividido em baixo peso, eutrofia,
sobrepeso e obesidade, levando em consideração o percentil de normalidade entre 15 e 85,
sendo baixo peso todo aquele que se encontra abaixo do percentil 15, sobrepeso o que se
encontra entre 85 e 95, e obeso aquele com IMC superior ao percentil 95.
A carne foi classificada de acordo com as recomendações do World Cancer Research
Fund (WCRF) e da OMS (2) que consideram carne vermelha as carnes provenientes de bois,
vacas, porcos, ovelhas e carneiros; e como carne processada toda aquela que é conservada por
meio de defumação, salga, cura ou por adição de produtos químicos, utilizados também em
outros alimentos processados derivados de outros tipos de carne, como salsichas, linguiças e
blanquets. Os valores de referência de consumo utilizado foi o recomendado por estes orgãos
de saúde, ficando em 42,9g/dia, utilizando a recomendação de 300g/semanais (meta de saúde
pública).
Dos 924 adolescentes entrevistados, 913 participaram das análises, com exclusão de 11
sujeitos conforme recomendação de Nielsen (16), por apresentarem consumo energético
42
menor que 1% (< 641, 934 Kcal) ou maior que 99% (> 6546, 23 Kcal). As médias foram
ajustadas por sexo e faixa etária. As médias do consumo das carnes vermelhas e processadas
relacionadas as variáveis independentes foram feitas utilizando o método de regressão linear
para análise de seu comportamento. Os dados foram apresentados de forma bruta e ajustada
por sexo e faixa etária, utilizando os grupos de pré-adolescência e adolescência, como citado
anteriormente. O intervalo de confiaça de ambas as análises foi de 95% com valor de p <
0,05.
O projeto ISACAMP 2008 foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (CEP – FCM
Unicamp) sob o protocolo nº. 079/2007. O projeto do presente trabalho também foi aprovado
pelo CEP – FCM Unicamp sob o protocolo nº 058770/2017.
RESULTADOS
Foram selecionados 913 adolescentes para inclusão neste estudo.. A amostra apresentou
um número próximo de meninos e meninas (462 adolescentes do sexo masculino e 451 do
sexo feminino), com maior participação da faixa etária de 10 a 14 anos. Os extratos de menor
renda e de menor número de equipamentos domésticos compreendem o maior número de
adolescentes participantes do estudo, sendo 63% e 46% respectivamente.
A média de consumo diário de carnes vermelha e processadas ajustada por sexo e idade
foi de 168,7 g (IC 95%: 145,1-192,4) nos meninos e de 129,4 g (IC 95% 91,2-167,6) nas
meninas. O consumo por faixa etária foi de 168,7 g (IC 95% 145,1-192,4) para 10 a 14 anos, e
de 189,7 g (IC 95% 151,7-227,7) para 15 a 19 anos.
Em relação às variáveis socioeconômicas, observa-se um aumento da média de
consumo de carnes vermelhas e processadas diretamente relacionado ao aumento da renda,
sendo que os adolescentes com idade entre 10 a 14 anos, com renda familiar per capita menor
ou igual a um salário mínimo compreendem o número de 578 participantes. Além disso, há
um número maior de adolescentes nas categorias onde o chefe da família têm maior
escolaridade em anos, agrupando cerca de 44% dos participantes, como mostrado na tabela 1
em anexo.
Já nas variáveis relacionadas aos comportamentos de saúde, o consumo diário de
refrigerantes e bebidas alcoólicas está presente nos grupos em que o adolescente consumiu
43
maior quantidade de carne, apresentando a mesma relação nos itens como "horas de uso do
computador" e "classificação de “baixo peso” do IMC", como mostrado na tabela 2 em
anexo.
No modelo de regressão linear múltipla, os resultados da análise para cada componente
das tabelas ajustado por calorias totais, apresentou a média de consumo de carnes vermelhas e
processadas maior no sexo masculino, nos adolescentes de 15 a 19 anos, nos que relataram
consumo diário de refrigerantes e bebidas alcoólicas, e que apresentaram classificação “baixo
peso” do IMC, apresentado na tabela 3.
DISCUSSÃO
O estudo encontrou uma média de consumo de carnes vermelhas e carnes processadas
entre os adolescentes superiores a atualmente recomendada pela OMS, IARC e WCRF (2),
tendo seus achados diretamente relacionados a sexo, faixa etária, comportamentos de saúde e
fatores socieconômicos.
O consumo de carnes acima da recomendação está fortemente associado ao aumento das
taxas de câncer do trato gastrointestinal, câncer de mama, tumores malignos cerebrais, entre
outros. Em estudo foi relacionado o consumo de carnes vermelhas ao aumento da
concentração de gordura no sangue, encontrando uma forte associação com o aumento dos
riscos para desenvolvimento de câncer de mama, resultados esses também encontrados
diversos outros estudos, sendo utilizado participantes de idade adulta, mas levando em
consideração a alimentação que tiveram na adolescência, e sua influência no desenvolvimento
dessas doenças na fase adulta. (9, 13, 14, 17, 18, 19, 20).
Os achados do presente trabalho se aproximam com estudo de Assunção (21), onde o
consumo de carne processada diário foi relatado por 28,3% dos adolescentes entrevistados.
Ainda observou-se que a prevalência da frequência de consumo diário de pelo menos uma
porção de carne vermelha em adolescentes de 14 e 15 anos era em torno de 43%, se
aproximando com a média nacional de 48% demonstrada em estudo da POF 2008/2009 (8,
10, 22).
As médias de consumo encontradas neste estudo estão muito acima das encontradas em
estudo de Mischa et al (23), que estimou a média global de consumo de carnes vermelhas em
41,8g/dia e de carnes processadas em 13,7 g/dia, tendo a América Latina como uma das
44
maiores consumidoras de carne vermelha e processada, com médias de 80 g/dia e 27 g/dia,
respectivamente, sendo essas ainda bem menores que as apresentadas pelos adolescentes da
pesquisa.
Em estudo de Bertrand et al (24), foi relatado o consumo médio de 81 g de carne
vermelha pelas mulheres durante a adolescência, valor este superado em nosso trabalho, já
que a média encontrada nas meninas foi de de 129,4 g (carnes vermelhas e carnes
processadas). Ainda no estudo, foi abordado o tema gordura animal, carne vermelha e a
associação ao desenvolvimento de tumores malígnos de mama na fase adulta, encontrando
que a qualidade nutricional da dieta dos adolescentes pode modificar, tanto positiva quanto
negativamente, muitos fatores de riscos relacionados à saúde e ainda, que o alto perfil de
consumo elevou os níveis de gordura animal diários, e seu IMC. A relação entre consumo
elevado de gordura animal e desenvolvimento de padrões para diagnóstico de câncer e mama
foi significativa. Em trabalho publicado de Linos et al (17) de uma coorte de 39.268 mulheres,
observou-se que a cada 100g de carne processada consumida, o risco de câncer de mama
aumentava significativamente em torno de 20%, sem associação com carne vermelha e cortes
específicos. Os resultados encontrados podem ser justificados pela forma da coleta dos dados
em relação ao consumo e preparo das carnes durante a pesquisa.
Os comportamentos de saúde observados neste estudo que ficaram fortemente
relacionado ao consumo de carne processada foi o consumo de bebidas alcoólicas, o consumo
diário de refrigerantes, além de um menor consumo de verduras cruas e cozidas e leite,
demonstrando assim uma possível associação entre o consumo de carne processada e
qualidade da dieta. Em seu estudo, Farvid et al (25) demonstrou a qualidade da dieta como
fator positivo para mudança dos comportamentos de riscos que levariam ao desenvolvimento
dos tumores. Além disso, em trabalho de revisão sistemática e meta-análise de Saneei et al
(18), verificou-se uma associação positiva entre o consumo de carne vermelha e processada
com o possível desenvolvimento de tumores cerebrais em estudos de caso-controle; não
houve associação com consumo de carne vermelha e carne processada, e desenvolvimento de
tumores cerebrais em estudos de coorte.
Em trabalho de Harris et al (26), observou-se que o consumo de carne vermelha
juntamente com outros tipos de carnes, como peixes e cortes de aves, além do consumo de
legumes e castanhas na adolescência, está relacionado a diminuição do risco de
desenvolvimento de câncer de mama na fase adulta.
45
No presente estudo foi encontrada uma discreta associação entre diminuição de IMC e
menor consumo de carnes vermelhas e carnes processadas, que não vai de acordo com o
trabalho de Enes e Slater (27), onde foi encontrado uma associação positiva entre excesso de
peso em adultos e tamanho das porções de cinco alimentos consumidos, tendo a carne
vermelha presente. O consumo de carne vermelha estava entre os grupos de maior densidade
energética, com média de 90 g/dia. Essa associação pode ser justificada principalmente pela
renda, que aumenta conforme o IMC vai aumentando, justificando assim que o adolescente
que possui maior poder de renda possui um peso maior; ou ainda a contra-indicação da
utilização deste índice para classificação nutricional em pesquisas de nível populacional,
estando quase em desuso quando apresentado sozinho, já que diversos diagnósticos
nutricionais são realizados utilizando o IMC em conjunto com outras medidas, como
circunferência abdominal, sobras cutâneas, entre outros.
O consumo excessivo de carnes vermelhas e processadas pode estar associado ao
aumento do colesterol sanguíneo LDL e diminuição do HDL, por conta de sua associação
com o menor consumo de alimentos protetores para este tipo de alteração como frutas, grãos
integrais, verduras e legumes. Além disso, ele também se relaciona com o aumento
significativo da pressão sanguínea sistólica e diastólica, com indicações para limitação do
consumo de carne por conta do alto risco de desenvolvimento de doenças cardíacas, além de
doenças conhecidas por terem seu desenvolvimento associado ao consumo inadequado de
alimentos desse tipo, como a DM 2 e a obesidade (28, 29).
Observou-se uma forte associação do perfil alimentar encontrado no estudo com
comportamentos associados a renda, sendo diretamente proporcional a média de consumo de
carnes vermelhas e carnes processadas, ou seja, quanto maior a renda familiar do adolescente,
maior o consumo desses alimentos. Em trabalho de Borges et al (30) foi demonstrado que a
obtenção de alimentos pelas famílias brasileiras é influenciada pelos preços do mercado,
sendo necessário um aumento de 58,1% na renda mensal para compras de alimentos indicados
pelo novo Guia Alimentar. Segundo Verly Junior et al (31), cerca de 80% da população
consome abaixo da recomendação para diversos alimentos relacionados a comportamentos de
saúde como leite, frutas, verduras cruas, entre outros. Além disso, 90% dos adolescentes
participantes da pesquisa estavam com o consumo inadequado para legumes e verduras, sendo
estes pertencentes a menores grupos de renda. Em estudo de Ortiz-Hernández e Gómez-Tello
(11), a frequência de consumo de carne vermelha foi associada diretamente a renda.
No presente estudo o consumo de frutas, verduras e legumes apresentou relação direta
46
com o aumento da média de consumo de carnes vermelhas e processadas, que difere de
estudos relacionados a esse tema, como em de Freitas et al (32), mostrando que o consumo de
frutas estava inversamente proporcional ao consumo de carnes vermelhas e processadas. No
mesmo sentido, o estudo de Kappeler et al (18), que utilizou dados do Third National Health
and Nutrition Extamination Survey (NHANES III), demonstrando que o consumo de frutas é
menor nos consumidores de carnes. Foi encontrado também nesse grupo um maior consumo
de vegetais , além do consumo de carne não estar diretamente associado ao desenvolvimento
de câncer, mas sim na diminuição de sua mortalidade de forma direta, ou seja, quanto menor
o consumo de carne vermelha menor os índices de mortalidade em homens. Porém, é preciso
levar em consideração que os resultados aqui apresentados estão relacionados diretamente
com a renda, e comportamentos assim estão fortemente relacionados com o perfil
socioeconômico do adolescente.
Ainda em relação ao consumo de frutas, verduras e legumes cozidos, os achados do
estudo vão de acordo com as pesquisas de Pereira et al (33) , que mostraram em seu estudo
que os adolescentes em sua maioria consomem porções menores que as recomendadas de
alimentos relacionados a indicadores de saúde, como frutas, verduras cruas, legumes entre
outros; e consomem alimentos relacionados ao excesso de peso em maior quantidade que a
recomendada, como a gordura saturada por exemplo.
O consumo excessivo de carnes vermelhas e processadas também está relacionado om
impacto negativo de sua produção no meio ambiente. O estudo de Carvalho et al (6) mostrou
que 70% do consumo de carnes do Brasil é representada pelas vermelhas e processadas, sendo
esta parcela responsável pela emissão de gases de efeito estufa equivalentes a uma viagem de
carro de 5000 km. A produção de carnes em larga escala é a maior responsável pelo
desmatamento da Amazônia, poluição das águas e perda da biodiversidade, citado também em
outro estudo de 2016, mostrando que a mudança na dieta por alimentos que se encaixam na
rotina sem mudanças radicais e com consumo de carne e laticínios diminuiu em 36% a
emissão de gases de efeito estufa (7).
CONCLUSÃO
Os achados deste estudo alertam para o alto consumo de carnes vermelhas e processadas
pelos adolescentes, que contribui significativamente para o desenvolvimento de doenças na
fase adulta, decorrente do padrão alimentar da adolescência, como diversos tipos de câncer,
47
doenças cardiovasculares, doenças crônicas não-transmissíveis, entre outras. Além disso, o
consumo desenfreado desses alimentos aumenta sua produção em massa, que pode causar
danos irreversíveis ao meio ambiente. É necessário a criação de estratégias para incentivo de
uma alimentação adequada, consciente e sem exageros, trazendo benefícios não só para a
saúde nesta fase, como também nas fases posteriores da vida. Entre as limitações do estudo,
estão a utilização de grupo proveniente de corte transversal, além da informações de consumo
de apenas um dia.
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52
ANEXOS
Tabela 1. Média de ingestão de carnes vermelhas e processadas (g/dia), segundo variáveis demográficas e socioeconômicas de adolescentes de
10 a 19 anos. Inquérito de Saúde de Campinas (ISACAMP 2008/2009).
Variáveis e categorias n Médias (IC95%) Valor de p* Médias ajustadas** (IC95%) Valor de p*
Sexo
Masculino# 462 177,5 (151,2-203,8) 168,7 (145,1-192,4)
Feminino 451 138,6 (97,7-179,6) < 0,001 129,4 (91,2-167,6) < 0,001
Total 913
Faixa etária (em anos)
10 a 14# 504 110,5 (101,7-119,3) 168,7 (145,1-192,4)
15 a 19 409 130,7 (107,1-154,3) 0,008 189,7 (151,7-227,7) 0,005
Renda familiar per capita (em salário mínimo)
< 1# 578 112,3 (100,0-125,5) 162,6 (137,0-188,1)
53
≥ 1 a ≤ 2 193 125,7 (91,7-160,6) 0,219 173,6 (127,3-219,9) 0,292
> 2 142 139,4 (107,2-172,5) 0,009 187,3 (141,6-232,9) 0,017
Escolaridade do chefe da família (em anos)
0 a 4# 232 109,1 (87,6-130,6) 154,8 (123,9-185,7)
5 a 8 270 110,6 (64,0-157,2) 0,904 162,3 (107,7-217,0) 0,527
9 ou + 400 130,7 (84,2-177,2) 0,089 177,7 (123,7-231,7) 0,052
Nº de equipamentos domésticos
0 a 10 420 113,3 (78,9-147,6) 0,015 164,8 (121,2-208,4) 0,024
11 a 15 231 109,2 (74,4-144,1) 0,006 157,8 (113,4-202,0) 0,004
16 ou +# 261 137,6 (122,6-152,5) 186,0 (160,7-211,3)
n: número de indivíduos na amostra não ponderada;
# Categoria de referência usada para comparação;
* Valor de p para o teste de Rao-Scott;
** Ajustadas por sexo e/ou idade.
54
Tabela 2. Média de ingestão de carnes vermelhas e processadas (g/dia), segundo variáveis de comportamentos relacionados à saúde e Índice de
Massa Corporal de adolescentes de 10 a 19 anos. Inquérito de Saúde de Campinas (ISACAMP 2008/2009).
Variáveis e categorias N Médias (IC95%) Valor de p* Médias ajustadas
** (IC95%)
Valor de p*
Frutas (frequência semanal)
7 vezes# 246 126,0 (108,8-143,2) 175,4 (148,1-202,7)
4 a 6 vezes 189 108,2 (66,2-150,2) 0,156 158,1 (107,3-208,8) 0,144
≤ 3 vezes 478 120,7 (85,6-155,7) 0,552 171,5 (126,9-216,0) 0,651
Verduras e legumes cozidos (frequência semanal)
7 vezes# 178 132,1 (116,6-147,5) 180,1 (153,1-207,2)
4 a 6 vezes 163 112,2 (71,9-152,4) 0,113 161,9 (111,2-212,5) 0,126
≤ 3 vezes 572 117,7 (86,1-149,3) 0,081 167,3 (124,8-209,8) 0,101
Leite (frequência semanal)
7 vezes# 552 116,9 (105,2-128,6) 167,1 (143,1-191,1)
55
4 a 6 vezes 94 118,5 (75,7-161,3) 0,917 170,6 (115,1-226,1) 0,824
≤ 3 vezes 267 125,5 (96,3-154,8) 0,326 179,2 (137,8-220,6) 0,170
Refrigerantes (frequência semanal)
7 vezes 207 148,0 (117,9-178,1) < 0,001 193,8 (149,4-238,3) 0,001
4 a 6 vezes 145 124,9 (93,9-156,0) 0,100 169,0 (125,0-213,0) 0,222
≤ 3 vezes# 561 107,6 (97,3-118,0) 156,7 (132,8-180,6)
Consumo de bebida alcoólica
Não bebe# 764 111,8 (102,1-121,6) 164,0 (141,0-187,0)
Bebe 144 162,4 (119,9-204,8) 0,003 206,6 (147,9-265,2) 0,020
Atividade física no lazer
Ativo# 195 130,7 (112,0-149,4) 173,5 (145,5-201,4)
Insuficientemente ativo 440 112,7 (74,5-150,8) 0,069 166,8 (119,1-214,5) 0,503
Inativo 278 122,7 (80,6-164,7) 0,495 179,7 (128,3-231,1) 0,595
Computador (horas/dia)
56
0# 437 106,9 (93,6-120,2) 157,5 (130,4-184,6)
1 180 127,6 (93,9-161,2) 0,047 180,1 (133,3-226,9) 0,026
2 ou + 290 133,9 (100,0-167,7) 0,011 179,9 (132,3-227,5) 0,033
IMC (Kg/m²)
Baixo peso 30 84,6 (30,6-138,6) 0,060 133,7 (63,0-204,5) 0,031
Eutrofia# 565 124,1 (111,3-136,9) 180,2 (151,6-208,8)
Sobrepeso 133 124,4 (86,7-162,2) 0,979 180,7 (127,9-233,5) 0,971
Obesidade 81 123,9 (84,0-163,8) 0,987 176,2 (120,1-232,3) 0,768
n: número de indivíduos na amostra não ponderada;
# Categoria de referência usada para comparação;
* Valor de p para o teste de Rao-Scott;
** Ajustadas por sexo e/ou idade.
57
Tabela 3. Modelo linear generalizado em duas etapas. Inquérito de Saúde de Campinas (ISACAMP 2008/2009).
Variáveis e categorias Carnes vermelhas e processadas (g/dia)
Primeira etapa (IC95%) Valor de p* Segunda etapa (IC95%) Valor de p*
Sexo
Masculino# 115,1 (91,1-139,1) 132,0 (104,2-159,8)
Feminino 90,9 (53,2-128,6) 0,001 108,1 (67,3-149,0) 0,001
Faixa etária (em anos)
10 a 14# 115,1 (91,1-139,1) 132,0 (104,2-159,8)
15 a 19
132,9 (96,3-169,5) 0,006 134,9 (91,4-178,4) 0,715
Verduras e legumes cozidos (frequência semanal)
7 vezes# 132,0 (104,2-159,8)
4 a 6 vezes 109,7 (55,5-163,8) 0,094
≤ 3 vezes 109,6 (63,8-155,4) 0,015
58
Refrigerantes (frequência semanal)
7 vezes 156,9 (108,2-205,5) 0,021
4 a 6 vezes 137,4 (92,0-182,9) 0,546
≤ 3 vezes# 132,0 (104,2-159,8)
Consumo de bebida alcoólica
Não bebe# 132,0 (104,2-159,8)
Bebe 168,8 (109,7-227,8) 0,022
IMC (Kg/m²)
Baixo peso 92,0 (24,3-159,7) 0,049
Eutrofia# 132,0 (104,2-159,8)
Sobrepeso 134,0 (84,0-184,5) 0,860
Obesidade 131,6 (78,0-185,3) 0,974
# Categoria de referência usada para comparação;
* Valor de p para o teste de Rao-Scott.
59
6. DISCUSSÃO GERAL
A carne vermelha é um dos alimentos mais consumidos do mundo, estando presente em
diversas preparações e sendo consumida de diversas formas diferentes, sendo consideradada
um dos pilares da alimentação do homem. Porém, sua ingestão excessiva em sua forma
natural ou com algum grau de processamento pode ocasionar o desenvolvimento de doenças,
principalmente quando esse excesso acontece durante a infância e adolescência.
Sabe-se que os hábitos alimentares difundidos durante a infância e adolescência são, em
sua maioria, perpetuados na fase adulta, e que estes hábitos juntamente com comportamentos
nocivos a saúde, como o alto consumo de bebidas alcoólicas, a prática baixa de exercícios
físicos, a ingestão de alimentos ricos em gordura, açúcar e sódio; além do baixo consumo de
alimentos protetores a saúde como frutas, verduras, legumes, leite, entre outros, têm se
mostrado um fator importante para o desenvolvimento de doenças já conhecidas e
relacionadas a isso como as dislipidemias, DM2, obesidade, doenças cardiovasculares,
elevação da pressão arterial; agora também se relaciona com doenças antes não associadas ao
consumo de carnes vermelhas e carnes processadas, como câncer no trato digestório, mama,
tumores malignos cerebrais, entre outros.
Tanto o trabalho de revisão sistemática quanto o trabalho original trouxeram dados para
reflexão sobre o que se come e quanto se come na adolescência. Os dados apresentados
apontam para uma alta ingestão de carnes vermelhas e carnes processadas durante a
adolescência no Brasil e em outros países, com diversos perfis de renda diferentes,
entendendo-se que independente da renda, a carne é um dos itens presentes e dominantes do
cardápio do adolescente. No trabalho original as médias de consumo encontram-se três vezes
mais elevada que a média atualmente consumida na América Latina, uma das regiões mais
consumidoras de carne no mundo.
Porém, é preciso levar em consideração questões importantes sobre o consumo de
carnes vermelhas e carnes processadas e o desenvolvimento de doenças, como o seu modo de
preparo, os tipos de corte de carne, comportamentos de saúde além da alimentação como
tabagismo, exposição a poluição e radiação por exemplo, que acabam interferindo e podendo
contribuir significativamente para essas questões. Além disso, o consumo desenfreado de
produtos da carne prejudica o meio ambiente de diversas formas, desde sua produção até o
consumo do produto final, em escala local, nacional e mundial.
60
7. CONCLUSÃO
Os achados dos trabalhos alertam para o alto consumo de carnes vermelhas e carnes
processadas pelos adolescentes, apontando para o consumo de carne vermelha e carne
processada como principais responsáveis pelo desenvolvimento de doenças como câncer,
dislipidemias, diversos tipos de diabetes, ganho de peso associado a doenças crônicas não
transmissíveis, entre outros.
Os trabalhos também responderam as questões levantadas no início, trazendo a
informação necessária acerca do tema e sua relação com a adolescência na revisão
sistemática, além do desenvolvimento das análises estatísticas após a obtenção e ciência da
média de ingestão de carnes vermelhas e processadas pelos adolescentes de Campinas. As
reflexões trazidas por ambos os trabalhos enriqueceram a direção para discussões dessa
natureza.
Portanto, necessário a criação de estratégias para incentivo de uma alimentação
adequada, consciente e sem exageros, trazendo benefícios não só para a saúde nesta fase,
como também nas fases posteriores da vida. Entre as limitações do estudo, estão a utilização
de grupo proveniente de corte transversal, além da informações de consumo de apenas um
dia.
61
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