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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Faculdade de Ciências Aplicadas RENATO GEORGETTE FRIGO POLÍTICA, MEMES E O FACEBOOK NO BRASIL: EM BUSCA DA CIBERDEMOCRACIA LIMEIRA 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Faculdade de Ciências Aplicadas

RENATO GEORGETTE FRIGO

POLÍTICA, MEMES E O FACEBOOK NO BRASIL:

EM BUSCA DA CIBERDEMOCRACIA

LIMEIRA 2017

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RENATO GEORGETTE FRIGO

POLÍTICA, MEMES E O FACEBOOK NO BRASIL:

EM BUSCA DA CIBERDEMOCRACIA

Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestre em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.

Orientador: Prof. Dr. Rafael de Brito Dias Coorientador: Prof. Dr. Álvaro de Oliveira D'Antona ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO RENATO GEORGETTE FRIGO, ORIENTADO PELO PROF. DR. RAFAEL DE BRITO DIAS E CO-ORIENTADO PELO PROF. DR. ÁLVARO DE OLIVEIRA D´ANTONA.

LIMEIRA – SP Fevereiro de 2017

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Autor: Renato Georgette Frigo Título: Política, Memes e o Facebook no Brasil: Em busca da Ciberdemocracia Natureza: Dissertação de mestrado em [Ciências Humanas e Sociais Aplicadas] Instituição: Faculdade de Ciências Aplicadas, Universidade Estadual de Campinas. Aprovado em: 20/02/2017. BANCA EXAMINADORA

________________________________________________ Prof. Dr. Rafael de Brito Dias – Presidente

Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA/UNICAMP)

________________________________________________ Prof. Dr. João José Rodrigues Lima de Almeida - Avaliador

Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA/UNICAMP)

________________________________________________ Prof. Dr. Victor Kraide Corte Real – Avaliador Escola de Comunicação e Artes (ECA/USP)

A Ata da Defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

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Aos meus pais: Arnaldo e Luzia.

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“Nós, seres humanos, jamais pensamos sozinhos ou sem ferramentas.

As instituições, as línguas, os sistemas de signos, as técnicas de comunicação,

de representação e de registro informam profundamente nossas atividades

cognitivas: toda uma sociedade cosmopolita pensa dentro de nós.”

O que é o Virtual?

Pierre Lévy

“Não somos mais nós mesmos.

Cada um reconhecerá os seus.

Fomos aspirados, multiplicados.”

Mil Platôs

Gilles Deleuze e Félix Guattari

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, amigo e conselheiro Prof. Dr. Rafael de Brito Dias pela

infinita paciência em me ajudar a cada mudança e a seguir em frente ao longo

dessa feliz trajetória no campo interdisciplinar. Muito obrigado por compartilhar,

de forma tão pontual, humana e competente, um pouco da sua vasta bagagem

intelectual e do seu tempo comigo. Acima de tudo obrigado por confiar no meu

trabalho.

Aos professores Dr. Álvaro de Oliveira D´Antona por aceitar ser o meu

coorientador nessa primeira pesquisa pela Unicamp e ao Dr. Peter Alexander

Bleinroth Schulz que foi meu primeiro professor na FCA e me ensinou a ver a

ciência de uma maneira apaixonada. Também quero agradecer ao Prof. Dr.

Eduardo José Marandola Junior por me desafiar constantemente a não ficar na

zona de conforto e a buscar a interdisciplinaridade em minhas pesquisas. Não

posso deixa de agradecer a Profa. Dra. Adriana Bin por me aceitar como seu

bolsista PED e de me proporcionar grande momentos de crescimento pessoal

e intelectual. Agradeço também a todos os professores da FCA com os quais

tive o prazer de compartilhar ideias e momentos que levo comigo como um

presente do mestrado.

Aos meus pais, Luzia Aparecida Georgette Frigo e Arnaldo Frigo Filho, pelo

amor incondicional. Graças a vocês eu nunca desisti de nada e mais uma vez

estou aqui agradecendo pelo apoio de vocês, pela dedicação e pelo incentivo a

cada pequena etapa superada nessa caminhada. Obrigado Deus! Obrigado por

tudo mãe! Pai saiba que sua vontade de ser professor sempre foi a motivação

que me trouxe até aqui. Através de mim, você realiza seu sonho, por isso onde

eu estiver você estará comigo.

A minha irmã Fernanda Georgette Frigo, que é um exemplo pra mim e que

agora vai ser mamãe da Maria Eduarda Frigo Tabosa. E ao Murilo Tabosa,

meu cunhado, futuro papai coruja, que assim como eu vai buscar seu lugar no

doutorado. Que um dia minha amada sobrinha possa ler essa dissertação.

As minhas avós, Eleonora Cabrini Georgette e Nica Ülrich Frigo, meus grandes

exemplos de vida, de humildade, de conduta e de felicidade. Obrigado por me

ajudarem a construir o Renato que eu sou hoje.

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À minha amada namorada Laiz dos Santos, que pacientemente suportou

minhas lamúrias, minha clausura e minha vontade em querer usar todo o

tempo disponível para realizar essa pesquisa. Você sabe como isso é

importante pra mim. Obrigado por me ajudar a passar por tudo isso até o final.

Espero que no futuro, quando for a sua vez, eu possa ajudá-la tanto quanto

você me ajudou com essa dissertação.

Ao amigo e companheiro Antônio Carlos Rodrigo de Campos que entrou na

vida da minha família e fez tudo ficar mais feliz. Você me ajudou muito nessa

jornada, sem você eu não teria conseguido por isso sinta-se tão iluminado

quanto eu nesse momento. Muito obrigado por existir em nossas vidas.

Aos amigos Profa. Dra. Adriana Pessatte e Profa. Dr. Tomas Sniker por me

apoiarem nos momentos mais complicados, me mostrando o caminho, me

colocando junto de vocês. Obrigado por reconhecerem minha competência.

Ao grande amigo Victor Kraide Corte Real por ter me indicado, em 2006, para

participar de uma banca de TCC. Foi ali que tudo começou. Se hoje estou aqui

é porque o Victor acreditou em mim no momento que eu mais precisei. Daquela

data em diante, o destino nos uniu várias vezes em momentos de lazer e

trabalho e espero que continue assim. Você não tem ideia do quanto eu sou

grato a você. Tudo isso aconteceu por causa da sua atitude inicial. Que um dia

eu possa lhe retribuir tudo isso. Muito obrigado meu amigo.

A todos os meus tios, tias e claro meus primos (que são muitos) que juntos me

dão a coragem para continuar e me enchem de orgulho em fazer parte da

nossa família. Principalmente ao meu tio Artemio Bertholini que é um exemplo

de profissionalismo, determinação e força de vontade. Ele nunca se acomodou,

nunca desistiu e nunca parou de aprender até hoje. Graças a você e a minha

tia Regina Bertholini tive acesso a uma cultura que me define como pessoa e

que me faz querer continuar estudando para o resto da minha vida.

Aos meus amigos do mestrado, que dividiram comigo as angustias do

pensamento interdisciplinar e a vontade de superação buscando uma nova

forma de fazer ciência com o coração em uma mão e o cérebro na outra. Vou

levar comigo as lembranças dos nossos momentos em sala de aula.

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RESUMO

Os fenômenos promovidos pelas redes sociais, na Internet, se encontram em

constante transformação, produzindo resultados fascinantes e efeitos sociais

concretos através da comunicação existente entre seus membros. No Brasil, o

uso contínuo das redes sociais permitiu ao Facebook se tornar uma poderosa

ferramenta de comunicação social que evoluiu de um software para promover

novas amizades para uma nova esfera pública, utilizada também como mídia,

para quem deseja se organizar e protestar politicamente. Expandindo o foco do

estudo sobre a relação entre Sociedade, Comunicação e Tecnologia, esse

trabalho tem como premissa observar, analisar e categorizar como as imagens

de cunho politico veiculadas no Facebook, funcionam como uma unidade de

informação e identificação com a capacidade de se multiplicar, através das

ideias e cultura que se propagam de indivíduo para indivíduo dentro da

estrutura promovida pela rede social e assim compreender como essa

propagação constante afeta a nossa percepção sobre a democracia e a própria

sociedade. Para entender o cenário atual, partindo das eleições presidenciais

de 2014, quando foi possível perceber um grande aumento no fluxo de

imagens de conteúdo dicotômico entre “direita e esquerda”, vamos pesquisar

essa manifestação social discursivo-imagética através da qual poderemos

identificar diferentes categorias de imagens políticas-ideológicas sob a

perspectiva da criação de um processo de ciberdemocracia no Brasil

começando pela propagação de processos de identificação social que

promovem novos laços e novas práticas políticas referenciadas e reforçadas

culturalmente pelo uso constante de imagens de cunho políticos em redes

sociais.

Palavras-chave: Memes Políticos, Internet e cultura política, Humanidade

Digitais, Unidades Culturais e de Informação, Ciberdemocracia, Impeachment

Brasileiro.

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ABSTRACT

The phenomena promoted by social networks over the Internet are constantly

changing, producing fascinating results and concrete social effects through the

communication between its members. In Brazil, the continued use of social

networks has enabled Facebook to become a powerful social media tool that

evolved from a software to promote new friendships to a new public sphere,

also used as media, for those who want to organize and protest politically.

Expanding the focus of the study on the relationship between Society,

Communication and Technology, this work has the premise of observing,

analyzing and categorizing how the political images transmitted on Facebook

function as a unit of information and identification with the ability to multiply,

Through the ideas and culture that spread from individual to individual within the

structure promoted by the social network and thus understand how this constant

spread affects our perception about democracy and society itself. To

understand the current scenario, starting from the 2014 presidential elections,

when it was possible to perceive a great increase in the flow of images of

dichotomous content between "right and left", we will investigate this discursive,

visual and social manifestation through which we can identify different

categories of political-ideological images from the perspective of creating a

process of cyber-democracy in Brazil beginning with the propagation of

processes of social identification that promote new ties and new political

practices referenced and reinforced culturally by the constant use of political

images in social networks.

Keywords: Political Memes, Internet and Political Culture, Digital Humanities,

Cyberdemocracy, Cultural and Information Units, Brazilian Impeachment.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Tipologia aplicada aos memes (2014 - 2016)...............................31

Quadro 2 – Tipos de memes na amostra.........................................................82

Quadro 3 – Tipos de memes usados pelo PT..................................................83

Quadro 4 – Tipos de memes usados pelo PSDB.............................................83

Quadro 5 – Tipos de memes usados pelo PMDB............................................83

Quadro 6 – Tipos de memes usados pelo MCC..............................................84

Quadro 7 – Tipos de memes usados pelo QOT...............................................84

Quadro 8 – Tipos de memes persuasivos usados pelo PT..............................85

Quadro 9 – Tipos de memes persuasivos usados pelo PSDB.........................85

Quadro 10 – Tipos de memes persuasivos usados pelo PMDB.......................85

Quadro 11 – Tipos de memes persuasivos usados pelo MCC.........................86

Quadro 12 – Tipos de memes persuasivos usados pelo QOT.........................86

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SUMÁRIO

Introdução ............................................................................................................. 12

Capítulo 1 – O CONCEITO DE CIBERDEMOCRACIADE PIERRE LÉVY, A EVOLUÇÃO DA

MEMÉTICA E UMA PROPOSTA DE TAXONOMIA PARA MEMES POLÍTICOS DO

FACEBOOK NO BRASIL. ........................................................................................... 16

1.1 – Ciberculturas como caminho para a ciberdemocracia? ................................................. 16

1.2 – A ideia de meme é um meme. ....................................................................................... 19

1.3 – Memes, Internet e Semiótica: o surgimento de uma nova forma de passar a

informação. ............................................................................................................................. 23

1.4 – Uma taxonomia para os memes políticos: a linguagem do Facebook ........................... 27

1.5 – O conturbado cenário político brasileiro entre 2013 e 2014 ......................................... 36

1.6 – O Movimento Passe Livre em 2013: coxinhas e petralhas em fúria .............................. 39

1.7 – Nunca antes na história deste país uma eleição presidencial foi tão disputada ........... 44

1.8 – Os brasileiros e a rede social: um caso de amor ............................................................ 47

1.9 – Facebook: ferramenta ideal para a criação de uma nova cultura? ................................ 48

Capítulo 2 – MEMES, CAPITAL SOCIAL E O FACEBOOK. ............................................ 53

2.1 – Imagens, discursos políticos e o admirável mundo digital ............................................. 53

2.2 - O poder das imagens nas redes sociais: a ascensão dos memes .................................... 54

2.3 – Duas maneiras de entender o papel dos memes ........................................................... 57

2.4 – Memes e política: uma combinação muito adequada ao cenário brasileiro ................. 60

2.5 – Cooperação x Competição nas redes Sociais: uma dinâmica que tende ao caos .......... 62

2.6 – Transmídia, Clusters, Desterritorialização e Memes Políticos. ...................................... 67

2.7 – O capital social ................................................................................................................ 69

2.8 – Visibilidade, Reputação, Popularidade e Autoridade ..................................................... 76

2.9 – Valores Culturais, Capital Social e a construção dos Memes ......................................... 80

Capítulo 3 – RESULTADOS E DISCUSSÕES SOBRE A BASE EMPÍRICA: OS MEMES

VIERAM PARA FICAR............................................................................................... 84

3.1 Ciberdemocracia ou Pluripartidismo Digital? ................................................................... 84

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 94

Referência Bibliográfica .......................................................................................... 97

Anexos ................................................................................................................. 108

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INTRODUÇÃO

Esta dissertação visa compreender a manifestação dos memes políticos

que tem ganhado destaque na internet, nos últimos quatro anos, como um

indicador da ciberdemocracia. No presente trabalho, buscaremos lançar luz a

esse objeto em uma perspectiva interdisciplinar, compreendendo-o como um

fenômeno de linguagem, que emerge de práticas comunicacionais em um meio

(Facebook) que, como veremos a seguir aqui, é tomado como uma esfera

sígnica.

Durante anos os pesquisadores tentarão explicar os acontecimentos que

permearam a política brasileira no intervalo de tempo entre 2013 e 2017.

Independente da linha de pensamento adotada é perceptível que algumas

coisas mudaram. Essas mudanças ainda são superficiais, mas já conseguiram

alterar de maneira destacável a forma como olhamos para a nossa sociedade.

Um dos fatores que mudaram a nossa visão sobre a sociedade foi o Facebook.

Uma rede social digital que conecta boa parte dos habitantes da Terra em um

novo território virtual onde cada indivíduo se expressa de maneira a posicionar

suas ideias como valores de troca. No Brasil não foi diferente. Assim como

aconteceu em diversos países, a sociedade brasileira se adaptou ao Facebook

e essa mudança de paradigmas, onde o virtual sobrepõe o real, não para de

crescer a cada dia. Entre julho e novembro de 2014, um fato que chamou muito

a nossa atenção foi a proliferação dos memes políticos que apareceram na

linha do tempo de milhares de brasileiros dentro do Facebook. Alguns veículos

de comunicação chamaram esse pleito de "as eleições dos memes" e diante

dessa nova forma de debate político mediado pela rede social, os partidos e os

movimentos por sua vez, compartilharam dessa percepção ao buscarem

desenvolver estratégias de influência no Facebook. O que acontecia nesse

momento era um grande crescimento da cibercultura política brasileira.

Entre os eleitores brasileiros que habitam o território livre das mídias

sociais, todo conteúdo associado a política era motivo para escárnio e, como

muito se discutiu, um radicalismo exacerbado. Mas, sob um ponto de vista

científico, há ainda raras tentativas de compreender o que o fenômeno dos

memes políticos no ambiente da internet representa para a sociedade. Uma

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dessas tentativas se encontra no campo da memética que estuda os memes

como formas de cultura e comunicação e a partir dai se mescla com outros

campos do conhecimento na busca do entendimento interdisciplinar para o

papel dos memes em cada uma de suas metamorfoses. Diante disso, e de uma

curiosidade latente, partimos em busca de coletar, analisar e entender qual

seria o papel dos memes ao se associarem a política e como essa invasão

memética afetou nossa percepção política. Ressaltamos desde já que no

presente trabalho procuraremos dar continuidade ao empreendimento de

melhor compreender o meme, um processo já iniciado por alguns

pesquisadores dessas manifestações culturais, dando continuidade às

reflexões sobre o tema, discutindo o mesmo através de uma perspectiva

interdisciplinar. Nessa obra, pretendemos encontrar os elementos partilhados

por essas diversas manifestações, levando em consideração principalmente

seu caráter informacional e semiótico, pois mesmo sendo esse um fenômeno

muito recente, já existem evidências quantitativas e qualitativas sobre os

memes do Facebook apresentadas em estudos anteriores. Por isso decidimos

em não investigar a natureza dos memes e sim a forma como eles coexistem

na ecologia de saberes proporcionada pelas redes sociais. Dessa forma

analisamos os memes em um intervalo de tempo maior e fizemos relações

entre seu lugar de origem e a forma como ele foi criado e divulgado ao longo

de dois anos. Foi possível notar uma evolução na quantidade dos memes o

que nos levou a indagar se esse compartilhamento contínuo e a forma como

ele acontece até hoje não seria um indício da ciberdemocracia apontada por

Pierre Lévy. Então surgiu a seguinte dúvida:

A memesfera política do Facebook promove indícios de evolução para

uma ciberdemocracia?

Entendemos a memesfera aqui como uma esfera sígnica para os

memes que circulam pelo seu meio (Facebook), mas que não se restringem

apenas à soma de códigos, linguagens e textos. Ela pode ser vista como um

ambiente no qual diversas formações semióticas se encontram imersas em

diálogos constante, um espaço-tempo, cuja existência viabiliza o ciclo vital dos

memes. Por isso é importante ver a memesfera como algo vivo, dinâmico,

ativo, um organismo, uma máquina social complexa e multifacetada que se faz

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necessária para processar a informação memética, mas que por um paradoxo

só consegue sobreviver a partir da existência dos memes.

Dessa forma este trabalho tem como objetivo expor resultados

preliminares de uma abrangente investigação sobre os usos e apropriações

dos memes políticos. Nossa principal meta, nessa etapa da pesquisa, é aplicar

uma matriz taxonômica capaz de auxiliar pesquisadores interessados no tema

a tratarem dos memes com maior objetividade e a partir desse interesse,

monitorar os indicadores que nos aproximariam de uma possível

ciberdemocracia.

Para tanto, procuramos realizar uma análise de conteúdo sobre memes

políticos que circularam no Facebook entre 2014 e 2016. Novamente é preciso

ressaltar que diferentemente da maior parte de trabalhos que aborda o

assunto, não estamos preocupados em avaliar, dentre estes conteúdos, quais

alcançaram maior repercussão, mas em investigar que tipo de conteúdo

circulou e assim que tipologia de meme político prevalece nas redes sociais.

Este esforço inicial de análise é exaustivo, e tem a intenção de

aprofundar o conhecimento sobre usos e efeitos dos memes na política

brasileira. Nossa hipótese é de que memes políticos atuaram como uma

mistura entre publicidade e militância, funcionando assim como verdadeiros

termômetros políticos, capazes de indicar, especialmente durante os fatos da

política nacional, pontos altos e baixos no desempenho de movimentos e

partidos.

O presente trabalho se organiza em quatro seções além desta

introdução. No primeiro momento, apresentaremos uma revisão sobre a

literatura que tem trabalhado com os conceitos de memes e de

ciberdemocracia assim como a relação entre o Facebook e o cenário político

brasileiro de 2014.

Em seguida, pontuaremos como os memes atuam como linguagem, a

maneira como se relacionam com a política e como migraram para o Facebook

se adaptando tanto na militância quanto nos eleitores através do capital social.

E, então, acercando-nos mais especificamente de nosso objeto, procuraremos

recuperar algumas análises sobre o fenômeno dos memes políticos do

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Facebook, atentando especialmente para o seu uso pelos partidos e

movimentos políticos aplicando uma proposta interdisciplinar para

investigações sobre memes. Encerramos esta dissertação ainda um tanto

distate da ciberdemocracia proposta por Pierre Lévy, mas com uma proposta

metodológica robusta para investigações sobre memes políticos, apresentando

para discussão os resultados preliminares dessa pesquisa.

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CAPÍTULO 1 – O CONCEITO DE

CIBERDEMOCRACIADE PIERRE LÉVY, A EVOLUÇÃO

DA MEMÉTICA E UMA PROPOSTA DE TAXONOMIA

PARA MEMES POLÍTICOS DO FACEBOOK NO BRASIL.

1.1 – Ciberculturas como caminho para a ciberdemocracia?

Diante dessa realidade social que está sendo moldada pelas novas

tecnologias de informação, como o Facebook, Pierre Lévy analisa alterações

sociais influenciadas pelo referido “instrumento digital” e reflete sobre o futuro

que vem sendo moldado diante desse contexto influenciado pela constante

fluidez da sociedade atual inserida no meio digital.

Ciberespaço, cibercultura e ciberdemocracia são conceitos evocados

com frequência no decorrer de suas obras, onde se apresentam de forma

interconectada pela Internet que desde a sua popularização se apresenta como

o meio preponderante nas mudanças sentidas nas manifestações sociais,

alterando assim as formas de interação e manifestação do diálogo. Lévy afirma

que o ciberespaço se apresenta como um cenário privilegiado da cibercultura,

possuindo dessa forma uma essência política. E que por isso, no que diz

respeito ao futuro da própria Internet, por um movimento ao encontro de “novas

modalidades de emissão livre, de formas de compartilhamento de informação,

de cooperação”, o autor espera o acontecimento de “mudanças globais da

esfera política em direção a uma ciberdemocracia” (LEMOS, p. 28).

A relação entre os três termos acima citados são aspectos recorrentes

nesse ambiente em constante construção e observação e dessa relação nasce

a possibilidade de um novo Estado, com o intuito de abarcar a diversidade

cultural, que se destaca através das “novas mídias”, assim como estimular a

inteligência coletiva, sendo esta última um fenômeno, frequentemente estudado

e explicado por Lévy em seu conceito de ciberdemocracia. Em se tratando da

referida inteligência, destaca-se a liberdade como elemento de

aperfeiçoamento daquela, que acaba por resultar no produto e sentido da

evolução cultural (LÉVY, p. 38). A dinâmica social oriunda do ciberespaço incita

a capacidade de comunicação e circulação de informações, com isso

disseminando a liberdade, e, como consequência, conforme referido,

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aprimorando a inteligência coletiva (p. 43), pois o “ciberespaço permite uma

liberdade de expressão e de comunicação em escala planetária absolutamente

sem precedente” (p. 52).

Ao abordar o tema o autor consegue distinguir a função midiática pós-

massiva da apenas massiva, no momento que se observa a evolução das

mídias e seus respectivos discursos. Em se tratando da função apenas

massiva, cabe somente informar, mas quando se fala em pós-massiva, além da

informação, se tem a interação resultante de uma conversação coletiva, fruto

das novas mídias digitais, principalmente no âmbito da Internet. Assim existe a

possibilidade de uma aprendizagem coletiva, uma vez que existe uma

colaboração “em rede”, pois ela acontece no ciberespaço, onde se visualiza

então, um conjunto de práticas sociais e comunicacionais, que se pode definir

como cibercultura (LÉVY, p. 70).

Analisando o âmbito das mídias pós-massivas, onde emerge o indivíduo

informado e informante, através de suas condutas nos âmbitos virtuais, tais

como, softwares sociais, define-se então o ciberespaço como esfera pública

em constante expansão, a ponto de se intitular hoje de modo global. Essa

expansão possui como significativo protagonista o referido indivíduo e o seu

conteúdo representativo, que não mais está atrelado à esfera pública midiática

de massa, pois passa a exercer sua presença e cidadania no ciberespaço,

recebendo e produzindo informação através das inúmeras ferramentas de

informação disponíveis na Internet.

Essa nova forma de fazer sociedade (LÉVY, p. 101) vem a desenvolver

a iniciativa da inteligência coletiva no ciberespaço, através do desenvolvimento

humano, da educação universal e da luta contra a pobreza, para além da

moralidade, mas também como pressupostos, em âmbito internacional, de

competitividade e desenvolvimento da ciberdemocracia (LÉVY, p. 151). Esta

propõe uma governança eletrônica centrada no cidadão informado/informante,

onde se abstrai a relação de autoridade, passando-se a uma relação de

serviço. Isso se dá, pois o governo eletrônico facilita a prestação de contas,

havendo assim transparência e possibilidade de controle, por parte de todos

que se encontram inseridos no âmbito virtual.

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Assim o cidadão é inserido no ciberespaço através da inclusão digital e

passa a contribuir para o fortalecimento da cibercultura, se adaptando as novas

tecnologias e se comportando cada vez mais como um cibercidadão,

promovendo dessa forma o surgimento, em longo prazo, da ciberdemocracia.

Cabe deixar registrado que a exclusão digital é o verdadeiro obstáculo para o

desenvolvimento das expectativas desse novo contexto social, moldado pelas

novas tecnologias de informação e comunicação.

Lévy destaca o conceito de globalização da visibilidade, uma vez que a

opinião pública torna-se cada vez mais global e instantânea, seja através da

potência do ciberespaço ou do constante uso dos novos instrumentos

tecnológicos de informação. A referida visibilidade global traz consigo a

possibilidade de monitoramento, vigilância e controle da opinião pública

mundial, com a finalidade política ou de mercado. Dessa forma é possível

perceber que existe um teste em relação à existência da ciberdemocracia que

é promover a transparência sem lesar direitos, tais como a liberdade individual

e à vida privada (LÉVY, p. 158 – 159).

Através dessa constante visibilidade, o autor propõe o conceito de um

Estado transparente, sendo uma nova noção e não o entendimento pelo fim do

ente estatal (LÉVY, p. 182). O idealizado Estado refletirá uma inteligência

coletiva, que abarcará a cidadania planetária balizada pela ideia de justiça, um

mercado mundial direcionado a prosperidade e a humanidade consciente de

sua evolução inserida na biosfera (LÉVY, p. 186). Nesse novo contexto

civilizatório, a inteligência coletiva será o meio e a finalidade da ação política

(LÉVY, p. 189), manifestando uma responsabilidade da humanidade, sendo

relevante reflexão do denominado “Estado transparente da ciberdemocracia do

futuro” (LÉVY, p. 197).

Lévy também destaca que nesse momento teremos uma nova forma de

usar o espaço virtual através da cibercultura e de uma nova linguagem,

passando pela ética da inteligência coletiva, onde se destaca o “eu” no mundo

virtual, que vai além dos limites geográficos, possuindo agora uma identidade

inserida num “corpo informacional”, dentro do espaço global da rede, fonte da

potência intelectual (p. 202).

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Esse corpo informacional representado aqui no papel dos memes

políticos do Facebook podem nos aproximar de uma ciberdemocracia?

1.2 – A ideia de meme é um meme.

Independente de todas as críticas recebidas, especialmente a de uma

falta de cientificidade desse conjunto de conhecimentos propostos por

Dawkins, devemos reconhecer certo valor analítico da memética, que pode nos

proporcionar uma reflexão acerca dos traços dessa nova cultura política

brasileira em uma perspectiva diferente, ainda que, segundo Toledo (2013,

p.196), suas analogias não provem nem demonstrem empiricamente nada. Não

intencionamos, portanto, entrar em uma discussão da “utilidade” dessa ciência,

mas reconhecer sua validade enquanto um exercício filosófico e, como dito

anteriormente, que nos serviu de provocação para pensar os memes políticos

do Facebook.

No início dessa investigação e das inúmeras leituras realizadas, o

primeiro incômodo percebido foi à possibilidade de uma aparente passividade

do sujeito no processo de transmissão cultural. Não existiria uma ação

intencional e consciente do sujeito que apenas replica o meme? Essa dúvida é

respondida por Toledo ao mostrar que nossa mente é o ambiente ao qual os

memes devem se adaptar, sobrevivendo aqueles que, graças às escolhas do

sujeito, conseguem ser passados adiante. A construção memética dos

fenômenos de cultura, mesmo reconhecendo essa intencionalidade do sujeito

de propagar e o seu favoritismo por alguns memes (seleção), ignora a

compreensão por parte desse sujeito do que lhe é “transmitido” e o que ele

“transmite”. Nesse sentido, a memética serviu de indicador, pois apreender

sobre o entendimento de um objeto cultural parece ser crucial para abordar um

fenômeno que se manifesta em um ambiente comunicacional. Dessa forma,

podemos destacar uma diferença que nem sempre ficou nítida nessa breve

leitura que fizemos da memética de Dawkins e que justifica o desenvolvimento

da crítica à falta da ação humana, que seria uma forma de diferenciar os

termos “cérebro” e “mente”.

Quando Dawkins postulou seu conceito de meme ele afirma que a

proliferação de ideias se daria por sua passagem de cérebro para cérebro e

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não de mente para mente. Na obra “Gene Egoísta”, ele confirma sobre a

existência da mente humana quando propõe que a evolução da capacidade

dos seres vivos de simular situações “parece ter culminado na consciência

subjetiva” (DAWKINS, 2007, p. 127), porem em sua abordagem das unidades

culturais replicadoras, a forma como está argumentada a hipótese dos memes

e o uso de termos como cérebro e transmissão cultural acabam implicando, a

posição do indivíduo como um simples vetor aleatório de memes e não como

alguém que experimenta e compreende o mundo por meio de sua cultura,

sendo, talvez, uma consequência da escolha da abordagem na perspectiva do

meme.

O incômodo com essa aparente passividade dos indivíduos nos leva a

querer questionar como a memética entenderia a relação entre esses

indivíduos pelos memes. Os memeticistas não ignoram o fato de que a cultura

pressupõe o outro. Tanto é que a memética, entendida aqui como uma teoria

parte do darwinismo universal, admite, por exemplo, as ideias de

hereditariedade e competição, conceitos dos quais precisa-se da existência de

um segundo indivíduo. Contudo por não estar focada na compreensão que

esses sujeitos fazem dessas unidades replicadoras, isto é, o que significam

esses memes em uma comunidade de indivíduos, não há uma explicação

satisfatória da relação que os indivíduos estabelecem por meio dessas

unidades culturais para além de ambientes aos quais elas têm de se adaptar.

Por isso, até agora, a preocupação da memética é a transmissão e a

sobrevivência das informações culturais.

Apesar das críticas a hipóteses dessa disciplina, a analogia meme e

gene é positiva no sentido de entender a cultura como algo que ultrapassa o

limite temporal da existência humana. Não desejando ignorar a essência da

agência humana que alguns autores (por exemplo, FONTANELLA, 2009) tanto

ressaltam ser um equívoco da memética, é possível reconhecer que essas

unidades culturais, de certa forma, possuem “vida própria”. Então podemos sim

entender o meme como um signo (e a ideia de signo inclui a intelecção

humana) e a comparação entre gene e meme soa como válida se aceitarmos

que essas unidades dependem do homem para se replicar, mas também são

elementos que vivem para além da consciência de determinado indivíduo, no

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sentido de que nós, enquanto seres biológicos morremos, mas a vida dos

signos (ou memes) se perpetua através da cultura.

É através desse sentido que é possível entender os memes como

dotados de uma vida própria e certamente mais longa que a nossa: uma

existência fundada na coletividade que permite que eles, enquanto signos se

perpetuem no tempo e no espaço. Essa aproximação entre memes e signos,

permite compreender melhor o sujeito, isto é, refletir semioticamente acerca da

evolução dos memes. Um ponto que podemos pensar, por exemplo, é a ideia

de fidelidade da cópia. Questionamos a noção da fidelidade na replicação por

uma dificuldade em definir os limites da variação entre um meme e sua réplica,

para que essa réplica ainda seja considerada cópia do mesmo meme. Dawkins,

ao discutir a também a questão da fidelidade da cópia, dá como exemplo a

própria teoria do gene egoísta como uma possível variação da teoria

darwinista:

[...] quando dizemos que todos os biólogos hoje em dia acreditam na teoria de Darwin, não queremos dizer que cada biólogo tem, gravada no seu cérebro, uma cópia idêntica das palavras exatas de Charles Darwin. Cada indivíduo tem a sua própria maneira de interpretar tais ideias, e provavelmente as aprendeu não a partir dos textos de Darwin, mas de autores mais recentes. Muito do que Darwin afirmou pode ser considerado, em seus detalhes, incorreto. Se Darwin lesse este livro, dificilmente reconheceria nele a sua teoria original, embora eu goste de pensar que o modo como a apresento o agradaria. No entanto, apesar de tudo isso, há qualquer coisa do Darwinismo que está presente na cabeça de cada indivíduo que compreende a sua teoria. (DAWKINS, 2007, p. 335)

Entendendo assim o meme em um contexto de compreensão e não de

simplesmente transmissão, ou seja, tomando-o como um signo, é possível

entender as réplicas como parte do meme, pois ainda que não sejam cópias

fiéis e justamente por não serem cópias, integram sua semiose: “para Peirce o

signo nunca é algo repetitivo”, no sentido de que “cada vez que se volta a usá-

lo é um novo ato de semiose, que acarreta renovação e, portanto, determina

que seu interpretante não possa estar estabilizado: trata-se do princípio

peirciano da semiose ilimitada” (PONZIO, 2008, p. 165)

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Analisando os memes como signos é possível aproximar o conceito de

ferramentas para essas unidades replicadoras, o que faz alguns memeticistas

reconhecerem a externalidade da mente quando dizem que os memes também

se alojam em suportes físicos. Dessa forma “nossos cérebros” não seriam os

únicos veículos para eles, podendo essas unidades replicadoras, de acordo

com alguns autores (MATOS, 2008; BLACKMORE, 1999; DAWKINS, 2007),

também serem transportadas em suportes como jornais, computadores, livros,

placas, roupas, internet, entre outros. Desse modo, quando trazemos a

abordagem dos memes como um fenômeno de consciência, não excluímos a

noção de materialidade dos signos: há continuidade entre material e mental, os

fenômenos da mente (os signos) não estão localizados somente no cérebro,

estão em um trânsito de pensamentos constantes.

Por isso podemos dizer que a intenção aqui não é definir como errada a

abordagem de Dawkins, mas no que se refere ao fenômeno analisado e a

hipótese de entendê-lo como uma possível nova linguagem de um meio de

comunicação digital. Assim, instâncias como sobrevivência, perenidade,

hereditariedade e evolução, propõe um entendimento geral da cultura e, no

caso dos memes da internet, temos um fenômeno com certas características

que, para essa análise, são relevantes – como o fato de ele estar

contextualizado com a mídia política em um cenário de comunicação social no

ciberespaço. Nesse sentido, pensar os memes no ambiente da internet e com

mais ênfase os memes políticos do Facebook, permite uma reflexão sobre a

influência e o impacto dessa linguagem memética no curso da cibercultura, o

que implica a interação social mediada, como se configuram os memes dentro

do cenário político do Facebook e que aspectos confirmam essas possíveis

significações, entre outros fatores.

É possível reconhecer que a escolha do termo meme para denominar o

fenômeno que ocorre na internet partiu de um ponto específico da teoria de

Dawkins, que seria a replicação, e com ela, a repetição de determinada

informação. Assim, o que se entende por “meme” no discurso da cibercultura

pode ser definido como um fenômeno caracterizado pela rápida difusão de

ideias, brincadeiras, jogos, piadas, comportamentos e conceitos entre os

usuários da rede, i.e., a circulação viral de informações que se repetem de

determinada maneira (FONTANELLA, 2009b, p. 8; BAUCKHAGE, 2011, p. 42).

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Desse modo, o que os memes de Dawkins e os memes da internet têm em

comum é o fato de existirem através da variedade e fidelidade de suas réplicas.

O próprio Richard Dawkins definiu o fenômeno cibercultural com certas

particularidades que o diferenciam da noção primária de meme:

A própria ideia de meme sofreu mutações e

evoluiu em uma nova direção. E o meme da

internet é um sequestro da ideia original. Em vez

de modificar-se ao acaso, em vez de se propagar

na forma de uma seleção darwiniana, os memes

da internet são deliberadamente alterados pela

criatividade humana. Na versão sequestrada,

mutações são esboçadas, não aleatoriamente,

com o total conhecimento da pessoa que está

realizando a mutação. (DAWKINS, 2013)

1.3 – Memes, Internet e Semiótica: o surgimento de uma nova forma de

passar a informação.

O termo meme, criado por Dawkins na década de 70, evoluiu da maneira

acima e passou a ser vinculado ao contexto da comunicação mediada pela

internet. Assim, referir-se a um meme nas últimas décadas, nas redes sociais,

passou a ser referir-se a um meme da internet. E foi justamente essa atribuição

do termo a algo que estava acontecendo corriqueiramente nas redes sociais

que chamou a atenção para um fenômeno que estava se repetindo com certa

regularidade nas interações em rede, de modo que essas ocorrências

frequentes já estavam inclusive sendo nomeadas com o mesmo termo por seus

usuários. Era possível observar um padrão de expressão desses memes, isto

é, uma forma própria de configurar, promover e dar novos significados as

informações. E esse fenômeno estava surgindo na internet e exigindo uma

espécie de “letramento” e troca de conhecimentos atualizados para a sua

prática e compreensão das mensagens veiculadas. A percepção do fenômeno

dessa maneira nos remete à hipótese de que os memes podem configurar um

certo tipo de linguagem, uma vez que operam a partir de algumas regras que

não são preestabelecidas, porém são conhecidas e compartilhadas através da

repetição, padronizando assim os modos de comunicar ao ponto de destacar-

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se de outras formas de expressão e ao mesmo tempo se configura como uma

forma de entendimento da realidade, uma maneira particular de ver o mundo.

Por isso se faz necessário entender que para ser meio de comunicação

uma tecnologia não pode ser vista apenas como um suporte, mas sim como

um ambiente que promove interação de consciências, podendo desse modo

operar como um dispositivo que promove cultura. Essa compreensão de que o

meio cria um ambiente cultural, uma semiosfera, um espaço de transformação,

compreensão e interação visual é a base para entender como os memes se

proliferaram tão rápido no Facebook. “Assim, através da teoria do meio,

podemos ver os meios de comunicação não como um suporte passivo, mas

como uma tecnologia que produz impactos nos nossos modos de comunicar,

pensar e agir, não se tratando de um espaço inerte pelo qual as mensagens

passam.” (MEYROWITZ, 1985).

É necessário aqui fazer uma referência a Marshall McLuhan e suas

pesquisas onde ele procurou entender como e por que os efeitos dos meios

modificam o homem e a sociedade (BARBOSA, 2010, p. 32). McLuhan buscou

desenvolver a ideia de que os meios geram impactos que incidem diretamente

em nós (em nosso corpo) e, por assim dizer, na nossa maneira de ver e

aprender o mundo. Essa noção estaria sustentada pela ideia de que os meios

(tecnologias) funcionam como extensões do homem – como um martelo que

pode ser entendido como uma extensão da mão, um automóvel de nossas

pernas ou ainda a escrita da nossa memória. Assim, McLuhan analisa cada

meio como uma extensão de um ou mais sentidos, membros ou processos

humanos, sugerindo que o uso das diferentes tecnologias afeta tanto a

estrutura da cultura, quanto a organização dos sentidos humanos

(MEYROWITZ, 1994, p. 52), uma vez que a introdução de um novo meio na

cultura muda o “equilíbrio sensorial” dos indivíduos e altera suas consciências

(MEYROWITZ, 1986, p. 3).

Assim, quando é usado aqui o termo “internet”, não é uma referência

exclusiva ao plano técnico. Esse plano por si só não constitui um meio de

comunicação: se pensarmos em uma TV ligada em um ambiente vazio, não

teríamos nessa situação um meio de comunicação, “um jornal, rádio ou TV

executam seu papel na presença do leitor i.e., qualquer um desses dispositivos

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sozinhos em uma sala não seria mais que do que isso, componentes físicos e

mecânicos” (RUSSI, 2013, p. 49).

Desse modo, posto que o meio tratado aqui não é exclusivamente

material, o conceito usado como meio de comunicação se dá, na realidade,

pela viabilização da técnica em estabelecer relações com outros indivíduos: é a

ação e a intenção de consciências que fundamentam o suporte como meio de

comunicação. Assim sendo, a comunicação é a interação (ação) dos sujeitos

com o dispositivo técnico e pelo dispositivo técnico – e é essa ação que

concede a determinado suporte a função de meio de comunicação. Partindo

portanto da ideia de que todo dispositivo é uma extensão de um órgão humano,

de uma função ou ainda de uma faculdade do corpo humano, poderíamos

pensar que os meios de comunicação, como o próprio nome diz, prolongam

nossa faculdade de comunicação, que por sua vez é uma propriedade da

consciência:

[...] mas a que corresponde a comunicação em relação ao corpo humano? A resposta mais uma vez não admite nenhum equívoco, quer dizer, trata-se da consciência já que a comunicação é uma relação de consciências. Os meios de comunicação são, então, objetos técnicos que guardam uma relação bastante especial com a consciência na medida em que se manifestam como uma extensão da consciência ou, como nós preferimos dizer, como simulação da consciência. (MARTINO, 2000, p. 109 e 110).

Consciência entendida aqui como um fenômeno externo a mente como

propõe Peirce. Para ele, o homem é um signo em constante crescimento.

Assim a mente não se localizaria na cabeça, estando em um trânsito de

pensamentos (semiose). Para ele, “a mente é um signo desenvolvendo-se de

acordo com as leis da inferência”, não tendo assim um lugar, sendo na

realidade o resultado do processo inferencial de conhecer (PEIRCE apud

SILVA, 2012, p.147).

É possível pensar então que há uma continuidade que permite que o

pensamento esteja tanto na mente quanto em suportes físicos. Essa noção

sustenta o entendimento de Martino de que a comparação funcional entre

consciência e meio não é simplesmente arbitrária, pois o meio de comunicação

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e a consciência estabelecem uma relação de identidade, isto é, ambos

possuem uma natureza de significado – o que permite aos meios simularem a

faculdade que temos de representar o mundo (MARTINO, 2000, p. 111). Dessa

forma, entendendo o meio digital como uma extensão da consciência (uma

simulação da consciência), por sua vez preenchido por um contínuo de signos,

é possível então entendê-lo como um espaço da mente e, portanto, como uma

cibercultura, uma vez que esta opera como um dispositivo pensante, como se

fosse uma consciência, estando dotada de memória, ação inteligente e da

capacidade de produzir hábitos. Através de uma promissora perspectiva

semiótica, podemos afirmar que essa cultura consiste em “inteligência coletiva”

e “memória coletiva”, ou seja, um “mecanismo de conservação, transmissão e

recepção de conteúdo digital” (ARÁN, 2001, p. 53).

É possível afirmar então que a cultura se apresenta dessa forma como

um ambiente de ação inteligente e produtiva, na qual a geração de sentido se

torna possível. Definindo aqui o conceito de semiosfera como algo que se

tornou “um modo de pensar para os modelos de cultura como um espaço

semiótico de suas práticas” (MACHADO, 2013, p. 62). Lotman define esse

espaço da seguinte maneira:

Como agora podemos supor, não existem por si, de forma isolada, sistemas precisos e funcionalmente unívocos que funcionam realmente. Sua separação está condicionada unicamente por uma necessidade heurística. Tomados separadamente, nenhum deles têm, na realidade, capacidade de trabalhar. Só funcionam estando submergidos em um continuum semiótico, completamente ocupado por formações semióticas de diversos tipos que se encontram em diversos níveis de organização. A esse continuum, por analogia ao conceito de biosfera introduzido por V.I Vernadski, o chamamos de semiosfera. (LOTMAN, 1996, p. 22)

Lotman afirma ainda que a semiosfera é uma condição de existência da

linguagem, “sem semiosfera a linguagem não funciona, como tampouco existe”

(LOTMAN, 1996, p. 35). Ele entende a semiosfera e também os diversos

sistemas culturais que dela fazem parte como algo vivo, dinâmico, em ação,

anterior à comunicação, à linguagem e à semiose (RAMOS et al., 2007, p. 35).

Desse modo, é possível afirmar que a internet, não apenas enquanto suporte

de comunicação, mas também como uma extensão da própria consciência, se

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configura atualmente como um ambiente semiótico, pois torna possível a

existência do meme como linguagem. E enquanto linguagem, o meme também

origina o seu próprio espaço semiótico (semiosfera) e suas fronteiras de

conexão com outros elementos da cibercultura. Então agora é possível ter

como base o fato de que o meme atua como uma subcultura possibilitada pelas

interações na internet e se apresentando como uma extensão da consciência.

Assim, partindo de Lotman, é possível aceitar a linguagem do meme

como o elemento do núcleo da semiosfera, isso porque o fator repetição na

essência do meme o leva rumo a um equilíbrio evolutivo provocando a

formação de hábitos, do constante diálogo que esse núcleo estabelece com a

cibercultura por meio da incorporação de seus elementos.

1.4 – Uma taxonomia para os memes políticos: a linguagem do Facebook

A provocação realizada no item anterior nos levou a entender o meme

como linguagem e tal fato partiu da curiosidade ao observar que, em espaços

de extensão da consciência, como o da internet onde a cibercultura cresce a

cada minuto, as redes sociais - no caso o Facebook - se organiza de um modo

onde o meme encontra um ambiente fértil para a sua reprodução e

perpetuação permitindo assim que por meio dessas formas organizadas e

regulares, os indivíduos podiam compartilhar humor, opiniões, críticas e

experiências, ou seja, o meme conformava também um modo de comunicar,

uma maneira de externalizar um pensamento, de expressar uma compreensão

do mundo. Vale lembrar ainda que o meme tende a existir por meio de uma

constante ressignificação de uma informação. Assim, cada ocorrência

memética acontece como um coeficiente de releituras de uma imagem, um

vídeo ou um texto, com isso cedendo novos sentidos a esse conteúdo, de

forma expansiva, repetitiva e coletiva, parecendo ser este aspecto o que existe

de regular em todas as ocorrências realizadas durante essa pesquisa.

Assim sendo podemos entender o meme como linguagem ao destacar

seu caráter “normativo”, de formação de regras de funcionamento que os

caracterizam; também por seu aspecto social através do compartilhamento, o

que faz dele uma forma de comunicar com emissor e receptor e por fim o

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caráter do meme que diz respeito à maneira de dar novos sentidos às coisas

do mundo, de dar um novo significado informações, imagens, vídeo, textos.

Esses três aspectos nunca estão separados, pois na realidade um

implica no outro. A ideia de apresentar a construção do meme como linguagem

foi a forma escolhida para explicar de uma maneira clara e direta o processo

através doo qual foi construído o objeto dessa pesquisa, o meme como uma

linguagem da cibercultura usado para fins políticos. Nesse sentido, se faz

necessário a partir daqui, buscar uma forma de analisar os memes dentro do

filtro proposto pelo viés político e pelas fronteiras do Facebook com uma

taxonomia aceitável e com a intenção de entender cada vez mais como os

memes políticos se relacionam com o conceito de ciberdemocracia. A busca

pelo entendimento dessa semiosfera política digital no Facebook permitiu a

analise da formação de hábitos culturais, leis de ação e conduta, orientação

coletiva, concepções sobre o mundo, entre outros fatores. Esses memes

ajudaram a criar uma comunidade linguística interpretativa que, inserida em um

contexto cultural (semiosfera), compreende o conteúdo produzido nas

dinâmicas comunicativas mediadas pelo Facebook.

E por isso os estudos em relação ao papel dos memes tendem a

crescer, pois hoje os memes, em sua maioria, são analisados como objetos

despretensiosos, simples ou até superficiais (MILTNER, 2011). Mas esta visão

é fruto de uma percepção distorcida sobre o fenômeno e por isso parte desta

compreensão errada se deve à falta de maiores estudos que investiguem

profundamente o universo polissemântico dos memes políticos – pois cada vez

mais se apresentam como um novo gênero midiático, como demonstram

Knobel e Lankshear (2007) – a partir de um olhar sobre usos e apropriações

dessas produções em contextos reconhecidamente políticos.

A gama de exemplos é vasta: desde imagens com Geraldo Alckmin, às

páginas de conteúdo ficcional como Dilma Bolada, no Facebook. A

disseminação de correntes de e-mails e mensagens de celular avisando sobre

os riscos da eleição da candidata Dilma Rousseff, uma “ex-terrorista”, ao

Palácio do Planalto. Também a expressão “coxinha” que se vulgarizou como

classificação para manifestantes conservadores a favor do PSDB e “petralha”

para manifestantes de esquerda a favor do PT.

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Atuando como excelentes indicadores eleitorais, eles dinamizam e

dimensionam a opinião pública a respeito de um dado candidato, partido ou

uma proposta específica. Funcionando como comentários situacionais,

escárnio ou manifestação de apoio explícito, os memes são capazes de

descortinar de forma bastante evidente o comportamento das massas em um

cenário eleitoral.

Estudar os memes políticos é uma forma de compreender todas as

motivações e as manifestações que são expressas por meio destas peças de

conteúdo e comportamentos específicos. Por esta razão, esta dissertação se

detém sobre que tipo de conteúdo é difundido e não quem os difunde. Uma

parte das pesquisas sobre o fenômeno dos memes procura demonstrar o

ecossistema de circulação dos mesmos (JENKINS, 2009), ou abordam os

modos de recepção e reprodução (MILTNER, 2011). A maioria das abordagens

propõem taxonomias desenvolvidas procurando se adequar às características

apresentadas originariamente por Dawkins (1976), dentro da visão de

processos de reprodução dos conteúdos (RECUERO, 2010). Por ora, devido

ao atual cenário político brasileiro não é da competência dessa pesquisa

mensurar se e como um determinado grupo específico de memes pode ser ou

não bem-sucedido em termos de aceitação pública a ponto de influenciar o

destino da política nacional. Para entender esse efeito faz-se necessário tempo

e entrevistas pessoais para avaliar parte desse fenômeno que cresce a cada

eleição. Assim a intenção dessa investigação é entender como os memes

políticos, publicados diariamente no Facebook, influenciam o estabelecimento

de uma ciberdemocracia, como proposta por Pierre Levy, no Brasil.

Também por esse motivo, ao invés de trabalhar com a coleta de dados

partindo de um espectro qualitativo de análise, nesse momento é estratégico

enveredar por uma pesquisa sobre um quantitativo expressivo de dados para

em uma pesquisa futura poder investigar o espectro qualitativo dos memes

políticos. Os atuais trabalhos que têm investido neste segmento quantitativo

dos memes, têm se concentrado em desenvolver análises formais dos

conteúdos, comparando-os no que respeita ao tamanho das imagens,

resolução, cromaticidade e outros aspectos relacionados (SOUZA, GOVEIA &

CARREIRA, 2014; HONORATO, CARREIRA & GOVEIA, 2014). Estas

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análises, embora enriquecedoras por um lado, parecem acrescentar poucos

resultados ao atual campo de investigações da comunicação política digital.

E diante da necessidade de uma abordagem interdisciplinar sobre o

papel dos memes políticos, quando se relacionam com as redes sociais

digitais, se fez necessário investigar novos métodos e novas formas de pensar

como a natureza altamente mutável do meme pode influenciar outras formas

de participação política e assim através de uma disseminação massiva de

memes promover o caminho para uma inteligência coletiva que seria um dos

itens pressupostos para a ciberdemocracia. A inteligência coletiva descrita por

Lévy é o processo onde as inteligências individuais, em suas diversidades, são

somadas e compartilhadas por toda a sociedade, potencializadas com o

advento de novas tecnologias de comunicação.

Na busca de novos estudos sobre os memes, encontramos uma matriz

taxonômica que objetiva avaliar o enquadramento discursivo desses memes

políticos baseada em propostas de taxonomias anteriores, tanto oriundas do

universo de pesquisas recentes sobre memes (SHIFMAN, 2014; TAY, 2012)

quanto do universo da Comunicação Política (BENNETT & SEGERBERG,

2012; ALBUQUERQUE, 1999; FIGUEIREDO et al., 1998).

Esta taxonomia também já havia sido usada anteriormente em pesquisa

sobre memes das eleições presidenciais de 2014 (CHAGAS & FREIRE & RIOS

& MAGALHAES, 2015). A pesquisa partiu então de um quantitativo massivo de

dados recolhidos no Facebook, durante sete dias, em três momentos distintos

para efeitos de registro comparativo. São eles: eleições presidenciais (2014), o

primeiro ano do segundo mandato de Dilma Roussef (2015) e o processo de

Impeachment (2016). Os três momentos foram escolhidos, pois juntos

representam uma trajetória de acontecimentos que marcou a política brasileira

e assim repercutiram diretamente na linha do tempo do Facebook de milhares

de brasileiros. Dessa forma o campo empírico desta pesquisa foi o Facebook e

a clivagem partiu da necessidade de analisar os memes dos dois maiores

grupos que se declaram como movimentos políticos (orientação de esquerda e

de direita) e as páginas oficiais dos partidos: PT, PSDB e PMDB1.

______________________________________

1 Todos os memes coletados estão disponíveis em https://memespoliticosdofacebook.wordpress.com

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O monitoramento e a coleta, de memes políticos, acontecem

semanalmente desde setembro de 2014 até a data atual mas para efeito de

recorte e análise o foco se manterá nos três momentos citados acima com a

oportunidade de analisar esse material coletado, sobre outra perspectiva, no

doutorado.

Para a coleta de imagens, foram salvos os memes como arquivos de

imagens direto do Facebook para manter a fidelidade e a fonte. Todos os

memes foram coletados no formato JPG por este ser o formato de imagem

mais comum na internet. A busca foi realizada, no Facebook, através do uso de

hashtags relacionadas às eleições presidenciais de 2014, ao primeiro ano do

segundo mandato do governo Dilma Roussef (2015) e ao processo

impeachment de 2016, que assim indicaram as páginas com maior número de

participantes relacionados a esses assuntos no Facebook. Foram escolhidas

assim cinco páginas como campo empírico: a página com maior quantidade de

memes políticos de direita e a página com maior quantidade de memes

políticos de esquerda mais as três páginas oficiais dos partidos PT, PSDB e

PMDB durante sete dias nos três momentos citados acima. Entre as páginas,

foram coletadas exatamente 262 memes que foram publicados no Facebook, e

que constituem o corpus desta pesquisa.

Durante a análise e catalogação, as imagens dos memes foram

auditadas, segundo um conjunto de variáveis que indicam que entre as

imagens analisadas, há um montante de peças que colocam em dúvida o seu

status como meme. Isso devido ao fato de que, ao menos para este momento

atual, a pesquisa não se preocupou em avaliar quais dentre estas imagens

obteve maior ou menos grau de compartilhamento, qual foi mais ou menos

reapropriada e serviu de base para outras postagens, e mesmo quais eram os

posts e hashtags que acompanhavam estes memes. À primeira vista, alguns

destes memes se apresentam como registros visuais descontextualizados

porem com uma visão mais focada, é possível identificar que uma imagem

aparentemente descontextualizada também é capaz, na dinâmica de memes

replicados e cujo conteúdo é culturalmente compartilhado, de gerar respostas

mais elaboradas.

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Por isso se faz necessário entendermos os memes como construções

culturais que se articulam e que são difundidos por agentes humanos e/ou

grupos organizados. Em outras palavras, não existe um poder misterioso e

intrínseco dos memes em si (BLACKMORE, 2000) que impulsiona e mantem

os processos de difusão cultural, mas sim a construção de teias de significados

e estruturas construídas pelas pessoas em torno deles. Ao avaliar os memes

relacionados a três fases distintas do atual processo político brasileiro é

possível aproximá-los do entendimento de Shifman (2014) sobre a necessidade

de avaliarmos os memes não como unidades de conteúdo isoladamente

apreensíveis, mas como um conjunto semântico, uma coleção, sem o que não

é possível alcançar seu significado pleno.

Também no que diz respeito ao humor, alguns memes políticos

conseguiram ir além das fronteiras tradicionais, pois

Ao passo que alguns memes políticos são enquadrados na forma humorística, outros são extremamente sérios. Independentemente do apelo emocional, memes políticos têm um ponto em comum – participam de um debate normativo sobre como o mundo poderia ser e o que fazer para alcançá-lo (SHIFMAN, 2014, p. 120).

Com estas questões permeando a coleta e a análise, foi feita a divisão

dos memes políticos, primeiramente, entre (1) persuasivos, (2) de ação popular

e (3) de discussão pública. Esta classificação é baseada na divisão de Shifman

(2014), resultante de sua pesquisa sobre memes políticos relacionados às

eleições presidenciais de 2008 nos Estados Unidos e ao movimento Occupy

Wall Street em 2011. Memes persuasivos são aqueles construídos para serem

disseminados e que pretendem angariar apoio a uma determinada ideia,

partido ou candidatura, com a intenção de convencer o eleitor. Subscrevem-se

a esta categoria memes que apresentam gráficos comparativos entre dois ou

mais candidatos ou dois ou mais partidos. Já os memes de ação popular são

aqueles que se caracterizam por uma construção coletiva de sentido,

mobilizando o cidadão comum. Alguns utilizam frases de efeito, como “Fora

PT!” ou “Fora Temer!” e têm relação com a militância partidária, embora não

tenham necessariamente relação com o partido em si. Memes que apontam

para comportamentos coletivos como selfies, também se caracterizam como

memes de ação popular. Memes de discussão pública são aqueles criados

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para funcionar como comentários despropositados dos eleitores a uma

situação ou reação específica, expressão polifônica e de múltiplas opiniões,

geralmente identificados como humor ou ódio. Na primeira fase da coleta, são

apresentados os resultados relacionados aos memes difundidos durante a

eleição presidencial brasileira de 2014. Para esta fase, foi recolhido um total de

76 memes, o que gerou uma amostra de aproximadamente 29% de todo

material coletado. Para classificar essa amostragem, cada meme foi avaliado

em:

(1) suas dinâmicas de ação coletiva nas mídias sociais e como

influenciadores de comportamentos – partindo de nova adaptação da

proposta de categorização de W. Lance Bennett e Alexandra Segerberg

(2012), a respeito das dinâmicas de ações coletivas tradicionais e

surgidas com o advento das novas mídias;

(2) e o tipo de mensagem apresentada, qualificando os conteúdos de

acordo com o objeto do humor – conforme categorias descritas por Tay

(2012).

Na segunda fase da coleta, são apresentados os resultados

relacionados aos memes difundidos durante o primeiro ano do segundo

mandato de Dilma Roussef, especificamente em relação ao vazamento das

ligações telefônicas da presidenta em março de 2015. Para esta fase, foi

recolhido um total de 56 memes, o que gerou uma amostra de

aproximadamente 21% de todo material coletado. E por fim na terceira fase da

coleta, são apresentados os resultados relacionados aos memes postados

durante o processo de impeachment de Dilma Roussef, especificamente em

relação ao seu afastamento do cargo, para o qual foi eleita, em maio de 2016.

Para esta fase, foi recolhido um total de 130 memes, o que gerou uma amostra

de aproximadamente 50% de todo material coletado.

Durante todo o momento da análise era de conhecimento geral que os

conteúdos coletados, na prática, apresentam interseções entre estes tipos

citados acima. Mas, para efeito de simplificação e checagem, o trabalho foi

desenvolvido com estas categorias e subcategorias como excludentes entre si

(a um conteúdo poderia ser atribuída somente uma classificação), utilizando

como expediente uma experiência baseada na quantidade interações,

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comentários e compartilhamentos dos usuários dessas páginas no Facebook.

Terminada a análise, os memes foram dispostos de acordo com o quadro

abaixo.

QUADRO 1

Tipologia aplicada aos memes

Meme de Persuasão Meme de Ação Popular Meme de Discussão Política

TABELA 1

Tipos de memes políticos

Memes persuasivos

Retórica propositiva e/ou um apelo pragmático. O conteúdo sugere ou faz

referência a propostas do candidato, levanta uma discussão que aponta para o

cálculo racional do eleitor (apelo pragmático) ou toca em questões

relacionadas a temas discutidos nas eleições e opiniões dos candidatos.

Retórica sedutora ou ameaçadora e/ou um apelo emocional. O conteúdo

faz uso de aspectos marcadamente subjetivos e emocionais, como retratar um

candidato como "pai/protetor dos pobres" ou colocá-lo ao lado de crianças ou

ainda fazendo um apelo para emoções como o medo, a esperança, o futuro e

os valores sociais, etc.

Retórica ético-moral e/ou um apelo ideológico. O conteúdo investe em

denúncias de escândalos, faz críticas à corrupção ou má gestão de recursos

públicos, menciona a rivalidade entre esquerda e direita de forma acentuada e

ataca o passado de candidatos e partidos, etc.

Retórica crítica e/ou um apelo à credibilidade da fonte. O conteúdo se

ancora em outras fontes, como depoimentos de terceiros ou a própria mídia

(notícias da imprensa), pesquisas de opinião, ou outros, para garantir maior

credibilidade ao candidato ou ao próprio conteúdo dos partidos.

Retórica e/ou um apelo de difícil classificação ou de ambiguidade extrema.

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Memes de ação popular

Dinâmica de ação coletiva e redes curadas por organizações. O conteúdo é explicitamente patrocinado por uma organização partidária (e não pela militância), uma empresa ou organização sem fins lucrativos, uma categoria profissional ou entidade sindical específica (médicos, jornalistas, professores etc.) e assim por diante.

Dinâmica de ação conectiva híbrida e redes catalisadas por organizações. O conteúdo é resultado de ação de militância sem vinculação explícita com organizações partidárias ou possui estreitas relações com organizações e entidades que não são diretamente mencionadas no cenário político. Nesta categoria incluem-se conteúdos criados pela militância como os avatares de Facebook que utilizavam os slogans das campanhas de Dilma e Aécio ou hashtags como #petralha #coxinha #fascista #comunista.

Dinâmica de ação conectiva e redes auto-organizadas. O conteúdo é criação de um coletivo que não se constitui formalmente como organização. Nesta categoria incluem-se conteúdos gerados espontaneamente com algum teor de engajamento político, como p.ex. o #foradilma ou o #foratemer, etc.

Dinâmica de ação conectiva não-engajada. O conteúdo é resultado de uma tendência ou comportamento não necessariamente atrelado a um particular engajamento político, como photo fads, selfies etc. Nesta codificação incluem-se fotos da televisão durante o debate eleitoral ou durante a votação do impeachment p.ex. Dinâmica de ação popular de difícil classificação ou de ambiguidade extrema.

Memes de discussão pública

Lugares-comuns da política. Conteúdos que apresentem comentários sobre

a corrida eleitoral como guerra, a luta contra o comunismo, os políticos como

corruptos, a ação da justiça, o ataque as instituições, etc.

Alusões literárias ou culturais. Conteúdos que apresentem menções a

produtos culturais (séries, filmes etc.) ou à cultura popular em geral, incluindo

referências a expressões populares e gírias da internet, personagens famosos

e celebridades e assim por diante.

Piadas sobre personagens da política. Conteúdos que apresentem

comentários sobre personagens específicos da cena política, especialmente,

mas não apenas os personagens contemporâneos, candidatos ou não.

Piadas situacionais. Conteúdos que apresentem comentários sobre reações, expressões faciais, gestuais ou corporais dos candidatos em determinadas situações, como os memes que brincam com a linguagem usada por Dilma Roussef durante seus discursos.

Discussão pública de difícil classificação ou de ambiguidade extrema.

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Além destas categorias de classificação, os memes foram analisados de

acordo com variáveis formais e de conteúdo, variáveis relacionadas

diretamente à política e aos diferentes gêneros de memes. Assim, foi

identificada a presença de referências aos candidatos, as emissoras de

televisão, questões quanto à linguagem (popular ou culta), ao discurso

empregado (direto ou indireto), à voz do narrador, e muitos outros aspectos

que estudarei no futuro onde pretendo dar continuidade aos estudos em

memética.

1.5 – O conturbado cenário político brasileiro entre 2013 e 2014

A dicotomia política entre a esquerda e a direita existe na maioria dos

países com regimes democráticos e tem determinado a maneira de conduzir o

processo político ao longo do tempo. A disputa pelo poder democrático traz à

tona os ideais de poder e os interesses individuais das pessoas, que se

articulam e se envolvem em uma disputa de ideologias em massa, deixando-se

influenciar por um grupo de ideias que estejam do lado que representa a sua

definição de interesse político. Essa definição política deriva da construção de

ideologias partidárias alimentadas por dispositivos que viabilizam o

desenvolvimento e a divulgação destes novos sujeitos ideológicos.

Segundo Bobbio (1995), a direita e a esquerda são formadas por um

pensamento a partir de uma díade, ou seja, uma forma de pensamento em que

a existência de um implica, necessariamente, a existência do outro, ou seja, a

direita não existiria se não existisse a esquerda, e vice-versa. A ausência de

um dos lados torna o modo de pensar do outro estranho e confuso. Esse

conjunto caracterizado por dois elementos é qualificado por Bobbio como

antagônico, de forma que a oposição entre um e outro seja necessária para a

existência de ambos. Dessa forma, um pensamento político de esquerda só

pode existir se houver um pensamento político de direita que lhe contraponha,

e vice-versa.

Diante desse cenário, os partidos políticos passaram aos poucos a

deixar de lado seus discursos radicais característicos e passaram a se agrupar

cada vez mais próximos de um centrismo ideológico, de forma que as

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diferenças nos partidos são cada vez menores e cada vez mais focadas em

apoiar grupos ao invés de ideologias.

Essa nova forma de posicionamento político que tem caracterizado os

partidos nas últimas eleições brasileiras sinaliza para a incapacidade dos

mesmos em proporcionar novos códigos interpretativos para que os cidadãos

construam suas identidades coletivas. Nas eleições presidenciais de 2002 e

2006, por exemplo, a grande maioria da população brasileira não considerava

que os partidos representassem sua maneira de pensar (Baquero, 2010).

Nesse contexto, as crenças e preferências político-partidárias das pessoas

carecem de substância ideológica, reduzindo a capacidade dos partidos de

representar as múltiplas correntes de opinião e de crenças. Somado a esses

fatores, o processo de constante individualização das sociedades modernas

também tem impactado no crescente afastamento das pessoas dos partidos

políticos. Tal situação complica a função representativa que os partidos estão

obrigados a desempenhar perante os seus eleitores.

A participação política por associativismo, também se apresenta de

forma enfraquecida (FERREIRA, 2000). Sindicatos, que entre os anos 80 e 90

tiveram forte atuação política, foram agraciadas com uma forte aproximação no

governo Lula a partir de 2002.

A consequência disso foi uma elevação do trabalho de mobilização

política da classe trabalhadora (SOARES, 2013). Os estudantes, sempre

pioneiros em mobilizações, limitavam suas ações em espaços protegidos pelos

muros das universidades, colocando em sua agenda de protestos apenas

assuntos relacionados à vida universitária.

Após as manifestações de junho de 2013 (então capitaneada pelo

Movimento Passe Livre), a identificação da população entre ideais de esquerda

e de direta ressurgiu de maneira perceptível. Após a população em geral tomar

as ruas protestando por todas as suas insatisfações, as diferenças ideológicas

dentro das próprias manifestações rapidamente começaram a aparecer, até

esse movimento chegar ao ponto de se separar, dividindo as pessoas em dois

rumos de militância política com caminhos radicalmente opostos.

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Esse estopim na polarização ideológica entre esquerda e direita se

intensificou e resistiu de forma a se manter em pauta e assim se desenvolver

até as eleições presidenciais de 2014. A esquerda se mobilizou contra o projeto

neoliberal do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), e a direita

respondeu desenvolvendo sua ideologia em torno de um forte sentimento

contra o Partido dos Trabalhadores (PT). A maneira radical e até mesmo

conversadora do discurso da direita adquiriu elementos de ódio e fugiu do

debate puramente ideológico e político. A campanha das eleições de 2014 foi

extremamente tensa por esse motivo, aumentando assim as provocações e a

injúrias entre os partidários do PSDB e do PT. Durante o período eleitoral de

2014, diversos conflitos foram registrados em manifestações, principalmente

quando militantes da esquerda e da direita se encontravam nas ruas. A tensão

que existia na insatisfação geral da população se solidificou no discurso dos

dois partidos.

Essa tensão bipartidária seguida das manifestações e dos conflitos

físicos, sempre registrados e divulgados pela mídia (que deliberadamente criou

termos para esses conflitos como: “esquerda x direita”, “petralhas x coxinhas”,

“comunistas (sic) x liberais” e até o famoso “esquerdopatas x reaças“), levou a

população a discutir política no seu dia a dia, principalmente no novo território

promovido pela Internet através das redes sociais. Entre todas as redes

sociais, disponíveis em 2014, foi o Facebook que permitiu uma maior

possibilidade de debates pela existência de grupos e páginas dedicadas ao

assunto e por isso se tornou o principal meio para a proliferação e o

desenvolvimento do posicionamento e das discussões políticas. Dentro dessa

nova esfera pública criada pelo Facebook, em meados de 2014,

aproximadamente 59 milhões de brasileiros faziam parte da rede social e desse

montante, boa parte se polarizaram em grupos e páginas que proliferavam

ideologias políticas partidárias.

A liberdade de expressão permitida pela Internet somada à semelhança

da origem dos debates gerados pelo ambiente das redes sociais como o

Facebook permitiu um grande desenvolvimento de grupos ideológicos com

liberdade para se expressarem e se radicalizarem, conforme foram se sentindo

seduzidos em seu discurso ideológico de poder das massas. A partir do

momento em que esse discurso encontrou eco em milhares de seguidores ele

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cresceu e se tornou um mantra que definiu os estereótipos dos dois lados

desse embate. De um lado temos a esquerda representada pelo PT e seus

correligionários chamados de “Petralhas” enquanto do outro lado temos a

direita representada pelo PSDB e seus correligionários chamados de

“Coxinhas”.

Diante desse cenário, entenderemos como aconteceu essa polarização

ideológica e tentaremos entendê-la a partir do ressurgimento da militância

agora virtual, que encontrou nas redes sociais a coragem que necessitava para

levantar sua voz tanto no mundo virtual quanto nas ruas do Brasil.

No pleito presidencial de 2002, o PSDB apresentou uma campanha

eleitoral baseada no medo de vermos o Brasil sendo governado por Lula do PT

e pela instauração de um governo de esquerda em terras brasileiras. Em um

discurso de esperança, Lula apresentou uma campanha com tons de

conciliação com a área pública e a privada e, assim, construiu a imagem de um

candidato moderado, revelando suas preocupações com o mercado e com a

economia (CHAIA, 2004). Lula ouviu os anseios do empresariado em troca de

apoio político e conseguiu assim promover uma campanha para desmistificar o

paradigma do medo criado pelos seus opositores e pela mídia.

Desse modo a eleição de 2002 definiu o começo de uma forte

centralização das ideologias declaradas por cada um dos partidos opositores.

O PT deu seu grande passo com êxito, pois conseguiu se aproximar dos

mercados se mostrando como um partido de centro-esquerda moderado. Nas

eleições seguintes (pleito de 2006 e 2010), o partido foi seguido pelos demais

adversários, principalmente o PSDB, que após se deparar com a grande

aprovação dos mandatos de Lula necessitou admitir que as políticas sociais do

PT são importantes e legítimas para o povo brasileiro. Essa suposta inversão

de valores atingiu, nas eleições de 2010, o ponto do candidato do PSDB, José

Serra, passar a defender a política social de Lula e afirmava que ele era o

melhor candidato para levar à frente essa política, e não Dilma Rousseff, a

candidata do próprio PT.

1.6 – O Movimento Passe Livre em 2013: coxinhas e petralhas em fúria

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Com a realização de novos protestos em 2013, todo esse cenário

bipartidário foi literalmente virado de cabeça para baixo. Os protestos que

começaram com o Movimento Passe Livre, declaradamente de esquerda e

com foco de militância no transporte público, cresceram acima do esperado. A

partir do momento em que houve repressão tanto policial quanto do próprio

governo do Estado, a esquerda se uniu ainda mais e começou a se mobilizar e

a participar cada vez mais dos protestos.

A televisão e os jornais tentavam desconstruir o movimento e assim o

caráter das manifestações, apresentando seus participantes como vândalos

que só estavam ali para causar o caos nas cidades. Ao mesmo tempo, sem voz

nas mídias tradicionais, muitos ativistas tentavam apresentar pelas mídias

sociais o que não era contado pelos telejornais e assim o movimento cresceu.

Depois de diversas divergências sobre a cobertura fiel das manifestações, as

mídias tradicionais perderam sua audiência para a liberdade das redes sociais,

um fato até agora inédito e histórico. A possibilidade tecnológica de registrar

todos os momentos dos protestos com câmeras de celulares passou a gerar

provas instantâneas que contrariavam imediatamente o que a mídia tradicional

divulgava.

Diante dessa nova versão dos fatos, a indignação popular aumentou de

maneira geral e o questionamento sobre o que era apresentado para as

pessoas todos os dias pela mídia se desenvolveu fortemente nas redes sociais.

Esse comportamento duvidoso da mídia foi levado às últimas consequências

dando a uma parte do povo o poder de divulgar ideias e questionar realidades

através do Facebook e esse novo poder se manifestou nas grandes

mobilizações por todos os lados do Brasil. Através de cartazes os

manifestantes repetiam frases e ideias debatidas nas redes sociais. As

reivindicações cresceram e se multiplicaram ao ponto de unir na mesma

manifestação tanto a esquerda quanto a direita. Pela primeira vez a voz

popular surgiu com força e pressão suficientes para mudar o jogo político e

trazer novos posicionamentos para todos os partidos.

Nessa nova arena das manifestações, o período de trégua não durou

muito tempo. Para alguns esse período nunca existiu. Pois o combate

ideológico continuou e os extremos se confrontaram novamente nesse novo

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território virtual apresentado pelo Facebook. A esquerda, representada por

militantes de partidos políticos como PSTU, PSOL e o próprio PT, e a direita,

que aqui se declarava apartidária, entraram em um conflito de interesses

constante. Nos protestos era possível ouvir gritos lado a lado de “Fora, Dilma” e

“Fora, Alckmin” e, logo após, vaias de ambos os lados. Dessa forma, a união

pela causa do passe livre rapidamente se desfez, e as pessoas começaram a

declarar e a sustentar suas próprias bandeiras. Passaram a dizer então que os

protestos não eram pelos 20 centavos do transporte público, mas pela total

insatisfação da população com a política e a sua representatividade no Estado.

Desse momento em diante, os protestos passaram a demandar novas

mudanças sociais em diversos setores da sociedade. Fernando Haddad,

prefeito da capital paulista pelo PT, diante das incertezas das motivações das

manifestações, colocou-se em uma posição neutra e prática. Ele condenou

publicamente a violência exercida pela polícia militar, a qual respondia ao

governador Geraldo Alckmin do PSDB, e apoiou desde o começo teor das

manifestações públicas, porém sempre condenando as depredações e os

prejuízos gerados pelos seus manifestantes. Ao mesmo tempo, Haddad

afirmou que não seria possível a redução das passagens do transporte coletivo

por não haver verba disponível para determinado propósito. Apesar de seus

comentários mais neutros, o prefeito Fernando Haddad sofreu com protestos

em frente à prefeitura de São Paulo.

No dia 20 de junho de 2013, após a vitória do movimento que finalmente

conseguiu o retorno das tarifas para o valor R$3, ao invés da tarifa de R$3,20

proposta pelo governo, o Movimento Passe Livre, ao perceber a tensão

ideológica dentro das manifestações, declarou-se satisfeito com a vitória e

transformou o seu ato marcado para o mesmo dia em uma celebração do

movimento popular. O PT de forma reconhecidamente atrasada em relação aos

acontecimentos do Movimento Passe Livre, (pois ainda não tinha entendido

como se posicionar diante dos protestos, uma vez que era situação tanto na

cidade de São Paulo quanto em Brasília), resolveu de maneira direta colocar

boa parte dos seus militantes nas ruas. A militância da direita, que se formava

desde o começo do movimento e que se declarava apartidária, revoltou-se com

essa atitude entrando em conflito físico com os militantes de esquerda,

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depredando e queimando bandeiras de partido e agredindo manifestantes a

favor do PT.

Desde esse dia então, os manifestantes pró-direita de São Paulo

tentaram levar todos os créditos das manifestações, visando que o movimento

fosse visto como um manifesto pela indignação contra a corrupção e o governo

do PT, o que acabou culminando no último protesto em São Paulo em 22 de

junho, que lutava pelo fim da PEC 374 e trazia protestos da classe médica

contra médicos cubanos chamados ao Brasil por um convênio entre os dois

países. Durante esses últimos protestos, a ala da esquerda já havia se retraído

em seu movimento, com o intuito de não deixar sua luta se vincular a essa

nova face da direita que se colocava constantemente nas ruas. E também por

uma grande desmotivação geral, ao ver as interpretações da mídia que eram

feitas sobre o movimento alegando que as manifestações eram um exercício

democrático das pessoas insatisfeitas com o governo do PT, exaltando

principalmente as bandeiras levantadas pela direita que criticavam diretamente

a política do governo.

É possível assim perceber a estratégia usada pela esquerda que através

de movimentos planejados se posiciona, ataca e depois recua quando sente

essa necessidade. Podemos dizer com isso que no Brasil existia uma militância

de esquerda que já era acostumada a protestar como uma herança de luta

desde a ditadura. Já para a nova militância da direita, por sua vez, sair às ruas

foi uma grande novidade. Novidade essa trazida todo dia para a realidade do

indivíduo através do Facebook. Com esse empoderamento tecno-social nasceu

um sentimento de prazer cívico que tomou a maioria das pessoas nos

protestos que eram organizados, difundidos e registrados todos os dias pelo

Facebook. Essa possibilidade de divulgar suas ideias com esse sentimento de

prazer de protestar pelo Brasil permitiu aos protestos um crescimento

vertiginoso em número de participantes e chamou a atenção da mídia global.

Porém, no desenvolvimento desse gosto pelo poder de tomar as ruas e

protestar, a direita tentou impor sua ideologia sobre o movimento Passe Livre.

Essa imposição tomou aos poucos a forma de radicalização, em que ideias

diferentes das colocadas por eles não eram aceitas, impossibilitando assim a

busca por objetivos comuns com seus colegas de manifestação.

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Bobbio (1995) interpreta a radicalização tanto da esquerda quanto da

direita como uma ameaça á democracia. O extremo da radicalização é o ponto

em que a esquerda e a direita se aproximam. No caso das manifestações pelo

Passe Livre, a esquerda não chegou ao ponto da radicalização, já a direita

radicalizou-se e demonstrou um discurso de não tolerância, impedindo até

bandeiras de movimentos dentro dos protestos. Dessa forma podemos

entender que a direita, em minoria, tentou falar mais alto abafando os protestos

da esquerda.

Apesar do fato de que a maioria das pessoas se considerava de centro,

durante os protestos, podemos dizer realmente que a dualidade esquerda e

direita renasceu no Brasil mais forte do que nunca depois do Movimento Passe

Livre. A esquerda percebeu a necessidade de não mais se contentar em um

discurso conciliador de centro proposto por Lula desde o primeiro mandato.

Agora era necessário haver uma identificação maior com a esquerda,

abandonando o discurso centrista e se diferenciando da nova classe da direita.

Essa nova classe, amavelmente, apelidada pela esquerda como a classe

política “coxinha”, mostrava todo o seu conservadorismo ao mesmo tempo em

que tentava apresentar o PT como a expressão mais pura da esquerda,

atribuindo-lhe um caráter comunista e corrupto por natureza ideológica.

No artigo de Singer (SINGER, 2013), é citada uma pesquisa feita pelo

Datafolha no dia 20 de junho de 2013, em que a distribuição dos manifestantes

por ideologia declarada era respectivamente: Esquerda: 22%, Centro-

Esquerda: 14%, Centro: 31%, Centro-Direita: 11% e Direita: 10%.

Depois desse dia, independente dos partidos que defendessem, os

esquerdistas foram apelidados de “Petralhas” em uma mistura de palavras

entre PT e o nome dos personagens Irmãos Metralha dos estúdios Disney.

Grande parte da sociedade brasileira ficou dividida diante das discussões

ideológicas em dois blocos antagônicos: De um lado os “coxinhas” e do outro

os “petralhas”. Mas isso ainda ficaria pior no sentido de quem não se encaixava

em nenhum desses dois grupos. Esses eram chamados de alienados políticos.

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1.7 – Nunca antes na história deste país uma eleição presidencial foi tão

disputada

Houve assim uma polarização ideológica na política brasileira de uma

maneira muito forte e que vem se tornando cada vez mais constante. Devemos

ressaltar aqui que a polarização ideológica deve ser analisada como um

movimento social. Ela se dá quando diferentes polos se atraem ou se repelem

em suas ideologias. A polarização não pode ser analisada pela forma do

distanciamento em uma dualidade. Pelo contrário, a polarização se dá em um

espaço onde pode haver os mais diversos níveis de ideologia (BOBBIO, 1995).

Analisando agora as eleições de 2014, poderíamos interpretar que a

militância da esquerda se tonificou desde os protestos do Movimento Passe

Livre. Prova disso é que a esquerda que defendeu o PT passou a agrupar em

sua agenda ideológica itens comuns à ideologia da esquerda em outros países,

como a busca da igualdade de oportunidades, a defesa das minorias, o

empoderamento do povo e a defesa do Estado como responsável por atingir

essas metas. Essa esquerda de fato já existia, porém era desunida e depois

dos protestos ela começou a agrupar consigo outros setores mais moderados

da esquerda, que por sua vez não militavam e não exerciam um pensamento

característico de esquerda.

É importante ressaltar que essa esquerda unificada não pregava a

defesa de um regime socialista. A esquerda mais radical que defende o

socialismo se absteve do debate, uma vez que não concordava com as

políticas praticadas pelo PT.

O que podemos observar agora é que em 2014 a direita se polarizou

muito em seu discurso de ódio ao PT. Ao ponto de difamar o processo eleitoral

de como antidemocrático e sugerir um golpe de Estado por intervenção militar.

Podemos citar como exemplo disso as pessoas que saíram às ruas após o fim

das eleições, pedindo pelo impeachment de Dilma Rousseff. Podemos assim

entender então que existe hoje no Brasil uma nova direita e que essa é bem

mais radical do que sua versão anterior. O filósofo brasileiro Paulo Eduardo

Arantes traz uma descrição dessa nova direita ao caracterizar essa nova classe

como uma direita oriunda do “Surto da Impaciência” revelado pelas

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manifestações de junho de 2013 que provocou um surto simétrico e antagônico

que permitiu a união de discursos contra a esquerda agora defendida e

representada pelo PT (LUCENA, 2014).

Esse surto simétrico e antagônico, promovido pelo Facebook e

responsável por uma polarização assimétrica, é característico da política

bipartidária dos Estados Unidos. A polarização assimétrica parte do princípio

de que a polarização tem que acontecer com o agrupamento entre polos de

direita e de esquerda. Em segundo lugar, é preciso que as forças não tenham a

mesma intensidade de radicalização. Podemos fazer uma analogia com o

mesmo mecanismo para avaliar se a análise empírica de polarização

assimétrica apresentada no Brasil até agora nos leva para um cenário próximo

ao modelo americano onde dois grandes partidos disputam o poder há anos.

No Brasil, em 2014, a base dos deputados que formam o Congresso

Nacional é a mais conservadora desde 1964. Números apresentados pelo

DIAP (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) justificam essa

afirmação. Dos 513 candidatos eleitos, 257 candidatos foram financiados pelo

agronegócio, que normalmente vão contra causas como direitos indígenas,

preservação de florestas e regulamentações no uso de defensivos agrícolas.

Deputados ligados à Polícia foram 55; estes vão trabalhar por questões como

redução da maioridade penal e fortalecimento de instituições como a Polícia

Militar. A bancada evangélica conseguiu eleger 82 representantes diretos da

igreja; são estes que normalmente trabalham contra direitos de homossexuais

e direitos da mulher. Em contrapartida, deputados defensores das causas

sociais se encolheram, e deputados relacionados a frentes sindicais foram

reduzidos de 83 para 46. Importante destacar aqui que candidatos

ultraconservadores, que trabalharam com declarações racistas, homofóbicas e

com discursos de ódio, obtiveram votações muito expressivas (BEDINELLI,

2014). Como o caso de Luiz Carlos Heinze (PP-RS), eleito deputado federal

com mais votos pelo Rio Grande do Sul, conhecido por declarações racistas1,

_________________________________

1 Deputado diz que quilombolas, índios e homossexuais são "tudo o que não presta". Vídeo gravado em audiência

pública com produtores rurais em Vicente Dutra (RS) registra discursos dos deputados Alceu Moreira (PMDB/RS) e

Luís Carlos Heinze (PP/RS), ambos da bancada ruralista, estimulando que agricultores usem de segurança armada

para expulsar indígenas do que consideram ser suas terras. 0'17". Disponível em:

<http://www.youtube.com/watch?v=PjcUOQbuvXU>. Acesso em outubro de 2016.

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como a do dia 29 de novembro de 2013 em audiência pública, quando afirmou

que “quilombolas, índios, gays e lésbicas, tudo que não presta” estariam

mandando no governo federal. Jair Bolsonaro (PP-RJ), ultraconservador

conhecido pelo seu discurso de ódio contra homossexuais, foi o deputado

federal com mais votos no Rio de Janeiro, com 464.572 votos. Outras

expressivas votações são a de Marcos Feliciano (PSC-SP), homofóbico,

protestante com 398.087 votos; a do delegado Waldir Soares (PSBD-GO),

deputado mais votado em Goiás; e a do policial militar Alberto Fraga, deputado

mais votado no Distrito Federal (BEDINELLI, 2014).

Isso demonstra a grande preferência da população por candidatos de

viés conservador no Brasil. Por isso é possível entender que comentários

discriminatórios em relação às minorias se tornaram desejáveis para o discurso

desses candidatos. É a eterna oportunidade de inclusão social que norteia os

discursos eleitorais no Brasil. Isso devido ao fato que existe hoje um repúdio ao

diferente, uma incapacidade de identificação com o outro, com o próximo. Esse

repúdio cada vez mais se expressa no Facebook como forma de violência

verbal e de um constante desejo de repressão aos direitos do outro. Os

discursos dos candidatos ultraconservadores refletem as discussões que têm

vindo à tona nas redes sociais tendo como o templo da manifestação política: o

Facebook.

Hoje o Facebook reflete a transposição da violência social para a

violência no meio público. Para conviver com essa violência, são criados

dispositivos ideológicos que precisamos interpretar a luz da ciência para

entender o fenômeno da melhor maneira possível até o momento.

Sobre outro ângulo, o filósofo Pierre Lévy acredita que existe uma

ideologia por trás da política, que nasce da possibilidade de uma comunicação

sem fronteiras, não controlada pela mídia tradicional, buscando uma nova

identidade na própria rede. Com a presença de mais inteligência coletiva e

transparência da informação pública. Ele ainda argumenta que o debate

político pelas redes sociais é mais importante do que o resultado gerado por

ele. Para o filósofo não são as mudanças que o ciberativismo pode trazer para

os partidos políticos e sim o nascimento de uma nova consciência social, um

choque cultural que terá efeitos em longo prazo na sociedade brasileira. Lévy

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acredita que a revolução promovida pelas redes sociais está acima de qualquer

evento emocional, social e cultural. É o experimento de uma nova forma de

comunicação que promove a revolução social destacando aqui que o filósofo

acredita ser normal que qualquer força social e política tente tirar vantagem da

mídia social. Mas é impossível “controlar” a rede social sendo apenas possível

então “tentar” influenciar tendências de opiniões ao longo do tempo em que o

indivíduo fica exposto a tecnologia da informação (LÉVY, 2013).

1.8 – Os brasileiros e a rede social: um caso de amor

Um momento importante na construção de uma nova atitude política no

Brasil, através das redes sociais, foi durante as revoltas de junho de 2013, que

se difundiram com o uso constante da Internet. A informação a qual estávamos

acostumados a receber através da televisão passou a não ser realmente a

mais confiável. Um sentimento de ilusão deu lugar a um sentimento de

empoderamento digital personificado aqui pelo Facebook – um “lugar” onde a

maioria dos seus usuários expressa aquilo que sente e pensa. Assim foi muito

rápida a evolução desse desabafo de sentimentos para grandes encontros que

eram arranjados através do Facebook e tinham o poder de parar as cidades e,

até mesmo, o país. Todas as ideologias eram convocadas para as ruas através

do Facebook e ali todos podiam se expressar livremente.

Porém essa fase áurea do debate político no Facebook durou muito

pouco tempo também, pois as pessoas que protestavam não tinham uma visão

ideológica unificada. Reuniu-se uma grande soma de medos e desejos sobre

toda a sociedade. Através da manifestação desses medos, muitos em forma de

preconceito, as pessoas perceberam aos poucos que seus companheiros de

protesto pensavam de maneira diferente e que isso dificultava a união entre

eles. Isso contribuiu para a dissipação das manifestações e assim a Internet

voltou a ser o palco dos debates e enfrentamentos ideológicos.

“Entre o fim dos protestos de 2013 e o início de 2014, passamos a ver um desfile de ideologias. As ferramentas mais utilizadas durante esse período eram os comentários em cima de notícias. A possibilidade de se expressar em uma notícia de um site ou em um blog, algumas vezes

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sem nenhum tipo de filtro, deu às pessoas um novo poder, o de opinar sobre qualquer coisa. Com a massiva produção de notícias de Internet para abastecer esse público sedento por novidades rápidas, todos se tornam conhecedores de tudo. As notícias então são esvaziadas, pois precisam ser rápidas, e as pessoas as filtram ideologicamente. Os comentários passam a serem formas de expressão inquestionáveis. Podemos citar os comentários da Internet quase como uma ágora para o sofista. O comentário não precisa ter o conteúdo da verdade para ser feito, ele não precisa se basear em dados, em pesquisa, ele pode ser simplesmente criado. O importante do comentário é convencer aos pares. Se uma única pessoa questiona apresentando fatos, dados e estudos científicos, não importam. O que importa é a palavra de quem comentou e o apoio da rede. Se a rede apoia quem comentou, as provas e fundamentos contrários se tornam irrelevantes. Longos textos são indesejados; na rede, a informação precisa ser rápida. E se o conteúdo for contra, mais facilmente poderá ser ignorado ou refutado pelos comentários mais esvaziados e agressivos, pois a rede por trás o protegerá com seus próprios comentários.” (CHAIA, 2004, pg23).

1.9 – Facebook: ferramenta ideal para a criação de uma nova cultura?

Embora o ambiente virtual ainda seja um espaço em formação e de

características que não estão completamente definidas, Pierre Levy explica o

ciberespaço como “não apenas a infraestrutura material da comunicação

digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim

como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo” (2000, p.

17). Essa característica faz com que a internet abrigue uma ambiência social

mais democrática, livre e horizontal, não controlada e relativamente barata,

seja de um-para-um ou de um-para-muitos (CASTELLS, 2004).

É importante também ressaltar aqui que toda essa onda tecnológica que

possibilitou a transposição do debate para as redes sociais aconteceu

principalmente por causa daquilo que Foucault chama de “dispositivo” e que

para ele tem o poder de servir como elo, como viabilizador da propagação do

poder através desses meios do saber digital. Esse dispositivo se expressa aqui

no papel do celular que para muitos brasileiros é o meio que permite o acesso

às redes sociais, no caso o Facebook. E dentro desse ambiente da rede social

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os vínculos funcionam como meios de propagação de dispositivos, agora

virtuais, como notícias multimídia, opiniões e comentários, imagens

manipuladas e divulgação de eventos que juntos perpetuam o conteúdo visto,

consumido e debatido por seus seguidores.

Esses fatores são fundamentais para entender que entre setembro e

dezembro de 2014, o Facebook apresentou um relatório afirmando que 89

milhões de brasileiros estavam conectados à rede social e a acessam ao

menos uma vez ao mês1. Diariamente, 59 milhões de brasileiros acessavam o

Facebook, o que corresponde aproximadamente à metade dos votantes da

última eleição.

É fato de que toda narrativa para manter-se precisa ser constantemente

alimentada, portanto ela precisa ser espalhada para poder sobreviver. Dessa

forma, todas as formas de comunicação contribuem para essa dissipação e,

portanto para a sobrevivência das ideologias. Nas últimas eleições, o meio

onde as ideologias se espalharam e cresceram foram as redes sociais. Por isso

se torna tão importante analisar como as redes sociais, mais particularmente o

Facebook, e as novas formas de relação com o mundo, por meio da internet,

transformaram os comportamentos e como isso influenciou na criação de

novas formas de pensar e de agir.

Bauman demonstra como a sociedade moderna transita atualmente da

sociedade de consumo para a sociedade que tem a vida para o consumo

(BAUMAN, 2008). Na transição do perfil de produtores para o perfil dos

consumidores, aconteceu assim à diminuição no relacionamento do trabalho

com a mercadoria, que foi passando e então para a relação da mercadoria com

o consumidor. Assim não era mais importante o que se podia produzi e sim

aquilo que se podia consumir. Nascia assim a sociedade de consumo que

entende o trabalho não como forma de produção, mas sim de gerar recursos

para se consumir. O consumo foi transformado em desejo, e a sua realização

transformada em satisfação. A essência de toda ação voltada para o Marketing.

__________________________________________

1 Oito a cada dez internautas do Brasil estão no Facebook, diz rede social – Disponível em

http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2014/08/oito-cada-dez-internautas-do-brasil-estao-no-facebook-diz-rede-

social.html. Acesso em outubro de 2016.

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Porém, a satisfação de um desejo faz com que o desejo morra. A

satisfação, portanto, não é a do consumo em si, mas o da realização do desejo

de consumo. Portanto, a satisfação em si é muito rápida, pois ao mesmo tempo

em que ela ocorre, ela deixa um vazio que é a falta do desejo já realizado. É

necessário então que se crie um novo desejo para um novo consumo.

Podemos assim analisar que a direita que migrou das passeatas e protestos

para as redes sociais procurava uma nova ideologia política para se polarizar

com a esquerda militante e assim encontrar o seu lugar na polarização das

ideias e se posicionar perante a massa de brasileiros insatisfeitos com o

governo do PT.

Outro fator que contribui para a configuração desse cenário foi a

possibilidade de, através da Internet, ser possível ter a informação acessível

para todos. Todos podem a qualquer momento pesquisar e conhecer sobre

tudo e sobre todos. Esse fator aumentou a radicalização dos argumentos nos

debates realizados nos grupos do Facebook. A proliferação da informação

transformou a sociedade de modo que as próprias pessoas passaram a ser

informação e a acreditar que sua informação é valorosa ao ponto de se

tornaram mercadorias. Na teoria de Bauman, as pessoas passaram, assim, da

sociedade de consumo à vida para o consumo, na qual a pessoa, além de viver

a sua busca contínua pelo consumo, também passa a ser consumida.

Transforma-se em um produto mediado pelo desejo e pela satisfação.

Ao se transformar nesse produto informacional, a pessoa precisa

despertar o desejo do outro, para que este a consuma – novamente a essência

de toda ação voltada para o Marketing - ou seja, a pessoa precisa ser

compartilhada, precisa fazer comentários interessantes para ser curtida, ela

quer ser seguida pelo máximo de pessoas no Facebook. Existe agora um novo

status social delimitado dentro do mundo virtual, determinado pelo quanto você

é consumido, pois como um produto, você precisa de audiência, as pessoas

precisam desejar ver seus vídeos e suas fotos, ler seus comentários, ver seus

compartilhamentos, consumir o que você consome.

Esse admirável mundo novo das mídias sociais nasceu para o

consumismo, foi moldado e desenvolvido em cima do desejo dos seus usuários

em consumir e mostrar o seu hábito de consumo e por fim ser desejado como

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um produto. A opção de construir esse cenário de conforto e intimidade veio

com as relações entre as pessoas em primeiro lugar. Todos podem ser amigos

no Facebook. Esses amigos são o limite do que o autor descreve na sociedade

líquida como as conexões (BAUMAN, 2001). O homem deixa de ter amigos, as

relações são feitas por conexões que são relações frágeis baseadas em

interesse e que podem ser descartadas sem grande custo para a maioria. Igual

a um produto, essa conexão baseada em interesse pode ser consumida e

descartada rapidamente, assim, nessa modernidade as pessoas também

passam a ser descartáveis. O Facebook tem um recurso que te ajuda a

encontrar novas conexões baseadas em interesses em comum. Dessa forma,

se você perde um ponto de conexão da sua rede, você normalmente pode se

conectar com outras e manter o desejo de fazer parte da rede social.

Quanto maior o número de conexões de um indivíduo no Facebook,

maior é o direcionamento de informação com propósitos de Marketing para ele

e para todas as suas conexões. Exponencialmente é essa quantidade de

conexões, que no Facebook chamamos de quantidade de amigos, que permite

a rede social vender a informação gerada pelos seus usuários para as marcas

que estimulam o consumo. Podemos entender que a partir do momento em

que as redes de amigos das pessoas no Facebook se tornaram muito grandes

e os conteúdos também se multiplicaram, o direcionamento de conteúdo

passou a comandar as diretrizes de troca de informação dentro da rede social,

pois do contrário ninguém conseguiria absorver todo o conteúdo gerado

diariamente.

Da mesma forma que o Facebook aproxima o conteúdo das pessoas ele

permite que o usuário execute um bloqueio em alguém que se tornou

inconveniente por sempre estar falando coisas de que o usuário não gosta.

Assim, as redes vão se tornando mais agradáveis, pois tendemos a

compartilhar nossas ideias com pessoas que possam curti-las. É uma relação

positivista ideológica com grande capacidade de crescimento e também de

radicalização, pois o mesmo mecanismo que antes era voltado para o consumo

passou a ser um campo para a reprodução confortável das ideologias. A partir

do momento em que a pauta política passou ao foco dos debates sociais, o

Facebook começou a se reconfigurar com base nas ideologias políticas da

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mesma forma que faria com uma campanha publicitária para o lançamento de

um produto ou serviço.

Essas mudanças foram aceitas pelos usuários que promoveram uma

divisão do território virtual do Facebook em glebas digitais com a percepção de

que a ação política deslocada para o mundo virtual trazia exigências sociais

reduzidas comparadas as ações físicas das ruas e isso devido ao fato de que

as pessoas, em um mundo ampliado de conexões, passam a ser agrupadas

pelos seus interesses no mundo virtual. Nesse caso, a radicalização

gradualmente produzida pela tendência de nos associarmos a pessoas que

pensam de forma semelhante a nós. E isso inclui os problemas sociais. No

Facebook essa insatisfação ganhou voz ao se unir ao imediatismo político

deixando as pessoas impacientes e insatisfeitas em relação ao assunto

política. Essa insatisfação generalizada promovida na linha do tempo do

Facebook de milhares de brasileiros levou o cenário pós-eleitoral para um

ponto de ebulição social onde a política começou a ganhar mais destaque nos

jornais e na televisão.

É possível perceber indícios dessa ebulição, pois com a derrota de Aécio

Neves repercutindo no Facebook, a militância da direita entrou em desespero.

Os valores democráticos foram deixados de lado e começaram a se discutir

soluções para acabar com o PT. Entre as soluções discutidas no Facebook, um

possível separatismo para a desconexão do Norte e do Nordeste como o resto

do Brasil foi muito bem aceita por grande parte dos grupos de direita, outro

assunto produtivamente abordado foi um imediato desejo de impeachment e

até de um golpe militar. Para cada debate, para cada imagem ou discurso feito

por qualquer um dos lados, sempre existe uma reação do outro lado, ou seja,

uma polarização ideológica bipartidária interpretada até agora por dois partidos

que perdem seguidores a cada dia que passa. Enquanto a esquerda promove a

hashtag #NaoVaiTerGolpe, a direita responde no mesmo lugar com a hashtag

#NaoVaiSerGolpe. Isso mostra a ideia de Bobbio (BOBBIO, 1995), sobre como

a forma de pensar e agir da esquerda determina a forma de pensar e agir da

direita, e vice-versa.

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CAPÍTULO 2 – MEMES, CAPITAL SOCIAL E O

FACEBOOK.

2.1 – Imagens, discursos políticos e o admirável mundo digital

Desde as eleições presidenciais de 2014, é possível constatar um

aumento significativo das postagens com conteúdo dicotômico, entre a “direita

e esquerda” nas mídias convencionais (rádio, jornais, revistas e a televisão)

assim como um grande aumento desse tipo de comunicação nas redes sociais.

A proposta aqui é refletir sobre essa nova forma de comunicação política

digital, mais especificamente na rede social Facebook. Diante da relevância

dessa nova maneira de se manifestar vamos analisar a forma de expressão

política como um evento digital das massas que integram hoje o Facebook

(SOUZAJÚNIOR, 2015).

Para entender essa proposta devemos lembrar que as imagens, desde

as pinturas rupestres, fazem parte do cotidiano de todas as sociedades

humanas. Atualmente, no contexto social da tecnologia da informação, as

imagens servem para a divulgação de valores, ideologias e mensagens de

cunho pessoal e público, substituindo aos poucos o uso do alfabeto.

(FLUSSER, 1985, p. 07). As imagens como vetores da comunicação, devem

ser decifradas pelo simples fato de representarem um conjunto de símbolos

“conotativos”, ou seja, elas não têm significados específicos, o que possibilita

diversas interpretações ao longo do tempo. Essas interpretações estão

diretamente relacionadas com a cultura de quem as interpreta. Segundo

Flusser, ao vagar pela superfície da imagem, o “olhar vai estabelecendo

relações significativas” em uma perspectiva que permite perceber “relações

temporais entre os elementos da imagem” e que não necessariamente é um

tempo linear, pois o que foi visto “antes” pode se tornar algo visto “depois”. E,

pelo simples fato de passear pela imagem, o olhar tende a fixar os elementos

“preferenciais do significado” e estabelecer relações significativas.

Esse caráter cultural das imagens é essencial para a compreensão das

suas mensagens. Imagens são códigos que traduzem eventos em situações,

processos em cenas. Assim é possível pensar que imagens substituem

eventos inteiros por uma única cena. Partindo do conceito que toda imagem é

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na verdade um resumo daquilo que ela representa. “E tal poder mágico,

inerente à estruturação plana da imagem, domina a dialética interna da

imagem, própria a toda mediação, e nela se manifesta deforma incomparável.”

(FLUSSER, 1985, p. 07).

Podemos entender então que o entendimento da representação

imagética se dá pela identificação e reordenação de significado dos elementos

das imagens. Esse processo de identificação é o fator inicial que garante o

fenômeno estudado nessa dissertação, pois é a partir dessa identificação que

se inicia o entendimento, a aceitação e a replicação do discurso. Esse

entendimento depende do referencial sociocultural dos indivíduos ao longo do

espaço e do tempo histórico. A partir desse momento, podemos considerar

então que as imagens são portadoras de discursos e, como tal, atuam como

produtos culturais inseridos nos processos de comunicação política no

Facebook.

2.2 - O poder das imagens nas redes sociais: a ascensão dos memes

Podemos entender o Facebook como um novo território de disputa

ideológica? Uma nova arena pública, onde esquerda e direita se enfrentam

pela audiência dos seus argumentos? O Facebook como um produto de uma

empresa americana se apresenta como o lugar ideal para esse tipo de debate

político? Foucault critica a suposta centralidade do poder estatal ao defender

que o poder político é exercido por variados “centros e pontos de apoio

invisíveis e desconhecidos”. Esse suposto poder estaria relacionado com o que

seria um processo ordenado de produção de discursos sociais, “o discurso não

é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas

aquilo por que, pelo que se luta o poder do qual nos queremos apoderar.”

(FOUCAULT, 1999, p. 10).

Entendemos então que as representações imagéticas que circulam no

Facebook atuam como produtos/agentes culturais, por consequência, são

portadoras de mensagens, valores e ideologias. Ideologia apresentada aqui

sem o viés negativo da teoria marxista de domínio de classe, mas seguindo a

proposta do sociólogo J. B. Thompson (2002), que conceitua ideologia como

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um “sistema de crenças, ou formas e práticas simbólicas”. De acordo com

Thompson (2002), os fenômenos simbólicos só podem ser compreendidos

como ideológicos quando situados em seu contexto socio-histórico. Para o

autor, poderemos constatar se os fenômenos simbólicos estabeleceram e

sustentaram relações de dominação – que podem ser entre homens e

mulheres, entre grupos étnicos ou entre grupos do Facebook, em nosso caso –

“[...] somente ao examinar as maneiras como as formas simbólicas são

empregadas, transmitidas e compreendidas por pessoas situadas em contextos

sociais estruturados” (THOMPSON, 2002, p. 78).

Para compreender melhor o que é a imagem na rede social, primeiro nos

perguntamos: o que é o digital? O que é virtual? Pierre Lévy argumenta que há

um erro em pensar que o virtual é algo imaterial e recente e que nasceu com a

tecnologia. Segundo o autor, precisamos entender que o mundo digital é real

(os hardwares, os códigos 0 e 1, as telas etc.) e o virtual, o que não é físico,

começou no início da humanidade. Para ele, o verdadeiro mundo virtual é “o

que é imaterial, é a significação”, podendo dizer que o virtual é “mundo que

começa com a linguagem”. Para Lévy, o que os computadores fazem é

“manipular de maneira automática os signos da linguagem. E a significação

existe sempre na nossa mente.” Implica dizer que a significação é o conceito

que não pode ser tocado (LÉVY, 2014). Nesse sentido, para compreender o

que é a imagem virtual na rede social, Vilém Flusser (1985, p. 08) defende que

“[...] decifrar textos é descobrir as imagens significadas pelos conceitos” e a

escrita seria o metacódigo da imagem. Na contemporaneidade, segundo o

autor (1985, p. 08), as imagens “se tornam cada vez mais conceituais e os

textos, cada vez mais imaginativos. Atualmente, o maior poder conceitual

reside em certas imagens, e o maior poder imaginativo, em determinados

textos da ciência exata”. A partir dessa ideia, o filósofo (1985) aborda as

imagens técnicas – imagens produzidas por aparelhos que são produtos da

ciência aplicada – como “produtos indiretos de texto”. O que para o autor lhes

confere uma “posição histórica e ontológica diferente das imagens tradicionais”.

Nas palavras de Flusser (1985, p. 10):

“[...] a imagem tradicional é abstração de primeiro grau: abstrai duas dimensões do fenômeno concreto; a imagem técnica é abstração de terceiro grau: abstrai uma das dimensões da

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imagem tradicional para resultar em textos (abstração de segundo grau); depois, reconstituem a dimensão abstraída, a fim de resultar novamente em imagem. [...] Por uma questão de ordem, as imagens tradicionais imaginam o mundo; as imagens técnicas imaginam textos que concebem imagens que imaginam o mundo. Essa posição das imagens técnicas é decisiva para o seu deciframento. [...] O caráter aparentemente não simbólico, objetivo, das imagens técnicas faz com que seu observador as olhe como se fossem janelas e não imagens. A aparente objetividade das imagens técnicas é ilusória, pois na realidade são tão simbólicas quanto o são todas as imagens. Devem ser decifradas por quem deseja captar-lhes o significado.”

A partir desse ponto da dissertação, focaremos o conteúdo ideológico

das imagens, visto que nos interessam as maneiras como o sentido, mobilizado

pelas formas simbólicas, serve para estabelecer e sustentar discursos

ideológicos através dos memes. Nesse contexto, uma vez que as imagens se

comportam como veículos de divulgação de valores e ideologias no Facebook,

podemos então identificar e investigar a propagação dos memes políticos que,

cada vez mais, tem surgido no Facebook dos brasileiros.

Mas, afinal, o que são os memes do Facebook e qual a relação deles

com a política? A modernidade e a tecnologia da informação acabaram

influenciando e adaptando o conceito criado, em 1979, pelo biólogo

evolucionista Richard Dawkins, que definiu que um meme seria “o gene da

cultura” – quer dizer, a concepção de uma ideia ou informação replicada de

maneira homogênea, somente de cérebro para cérebro. Esse “meme” seria

uma ideia (ou informação) caracterizada pela: fidelidade, fecundidade e

longevidade. Desde então, o conceito foi sendo estudado e aprofundado por

vários estudiosos de diversas áreas (SOUZA JÚNIOR 2015, p. 33).

A partir dos estudos de Souza Júnior (2015, p. 2), entendemos os

memes da Internet como “composto de práticas (de produção e distribuição de

linguagem, e de produção e distribuição por mídia) que passam a ser

propagadas como ou conjuntos de memes da Internet”.

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2.3 – Duas maneiras de entender o papel dos memes

Atualmente podemos dizer que existem duas formas para se

compreender o fenômeno contemporâneo dos memes no Facebook. A

primeira, consolidada nas questões do campo da memética (BLACKMORE,

2000), enxerga os memes como unidades de reprodução com características

comuns à teoria sociobiológica do determinismo genético, que propõe, como

condição de afirmação destas “mensagens”, uma avaliação de sua longevidade

– isto é, se o meme é capaz de persistir no tempo, propagando-se através da

“duração” –, sua fecundidade – ou seja, se o meme é capaz de conceber sua

própria prole –, e sua fidelidade em relação ao conteúdo original (DAWKINS,

1976; RECUERO, 2006; 2007). Na segunda concepção, os memes são

tratados não como uma unidade de reprodução, mas como um acervo, um

coletivo orgânico de conteúdos, de modo que só encontram sentido quando

analisados em conjunto. Grande parte dos trabalhos acadêmicos relacionados

a memética ainda buscam aplicar o conceito dos memes como categoria

idealizada no campo da biologia aos estudos de memes de internet e com isso

não percebem como a terminologia evoluiu junto com o próprio conceito ao

longo dos anos através do uso feito pelos usuários da internet. A terminologia

ainda pode ter relação temporária com a biologia, mas o estudo dos memes é

acima de tudo um estudo social.

Para Shifman (2014, pp. 37-8), o campo dos estudos de memes se

fundamentou, por um longo tempo, na compreensão bipartida do fenômeno,

que por um lado entendia os memes como ideias (Deus, a religião, mitologias,

ideologias políticas etc.), ou racionalizando-os como comportamentos e

práticas (rituais e cerimônias, hábitos culturais, folclore, moda etc.). Para essa

dissertação, olhamos o fenômeno pela perspectiva interdisciplinar, que

compreende os memes não como unidades propagadoras de informação, mas

como “grupos de conteúdos”.

De acordo com os pressupostos da abordagem integradora de Souza

Júnior (2015, p. 2), “os verdadeiros memes são as formas de construir e os

modos de indicar propósito que os internautas transmitem pela unidade de

propagação criada e que passa a ser configurada como unidade de

propagação.” Souza Júnior (2015, p. 4) assinala ainda que a propagação de

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um evento digital surge através da “prática de construção ou produção

linguístico-midiática primária (por exemplo: um internauta digita letras no

teclado e associa textos a uma imagem que ele mesmo cria ou que lhe foi

passada anteriormente. Assim, a imagem ganha destaque, se difundido de tela

em tela, a representação multimodal segue adiante, através de mecanismos de

destaque, frequência de menção e visualização, comuns nas redes sociais)”.

Como exemplo podemos citar pesquisa realizada anteriormente,

(CHAGAS et al., 2015), onde cerca de 6 mil imagens foram publicadas no

Twitter no decorrer dos debates televisivos das eleições de 2014, em meio à

amostra coletada, havia uma série de fotografias com legendas (os chamados

image macros), montagens que utilizam sobreposições (os exploitables), selfies

e outros gêneros de memes, incluindo um contingente de peças que, em

princípio, questionam o próprio status do meme como objeto disciplinar. No

exemplo, temos uma imagem, originalmente postada logo nos primeiros

minutos do primeiro debate eleitoral de 2014, na Rede Bandeirantes de

Televisão. O exemplo mostra a reprodução de um frame do antigo seriado

“Família Dinossauros”. A imagem deu origem a uma série de macros e look-

alikes com a candidata Marina Silva.

Figura 1 – variações de um meme político1

Uma primeira impressão sobre o fenômeno tende a considerar somente

as duas últimas imagens na sequência acima como memes. Entretanto,

mesmo considerado fora de seu contexto, o frame inicial carrega elementos

que fazem alusão a um conjunto de referências culturais. Por isso embora os

memes se apresentem como peças fluidas, que circulam em grande velocidade

_______________ 1Fonte: The meme politics and the political memes - Trabalho apresentado no VI Congresso da

Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política (VI COMPOLÍTICA), na

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), de 22 a 24 de abril de 2015.

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pelo Facebook, é impossível caracteriza-los em tempo real, pois somente em

retrospecto conjunto de elementos que compõe o meme, ganha sentido. Ou

seja, os memes são uma experiência e ao mesmo tempo um relato de

memórias sociais. Traduzi-los desta forma implica em reconhecermos todas as

três imagens acima como pertencentes a um mesmo meme, ainda que

integrem famílias distintas (os macros, os look-alikes etc.).

Conforme afirma Shifman (SEGEV et al., 2015), estes conteúdos são

passíveis de serem reconhecidos como membros de uma mesma família

graças às características que compartilham entre si.

Blackmore (1999) definiu o meme como “instruções para ações

comportamentais, armazenadas em cérebros (ou outros objetos) e passadas

por repetição” (p.43, tradução nossa), salientando sua propagação pela

imitação/repetição. Já outros autores, como Heylighen (1994) tratam o meme

como um padrão cognitivo, que é simplesmente propagado de um indivíduo a

outro (não necessariamente por imitação), enquanto Bjarneskans, Gronnevick

e Sandberg (2005) salientam que é preciso que o meme influencie o

comportamento dos indivíduos para gerar replicação. Deste modo, o meme é

um replicador, que se propaga através das pessoas, por imitação.

Esses conceitos salientam a analogia do meme com a da teoria da

seleção natural, como elementos capazes de replicação, que estão sujeitos a

uma seleção e que podem variar no tempo, características que Dennett (2005)

associa à evolução. A partir dessa perspectiva é que Dawkins (2001) enumera,

como características essenciais do meme, enquanto replicador: a longevidade,

a fecundidade e a fidelidade das cópias. A longevidade é a capacidade do

meme de permanecer no tempo. A fecundidade é sua capacidade de gerar

cópias. Por fim, a fidelidade é a capacidade de gerar cópias com maior

semelhança ao meme original.

Heylighen (1994) salienta ainda que, ao utilizar a Internet, as pessoas

encontram um ambiente fecundo para os memes. A digitalização da informação

proporcionaria uma maior fidelidade da cópia original do meme, além de uma

maior facilidade de propagação. Além disso, a Internet agregaria um maior

potencial de longevidade (no conceito de Dawkins, 2001), pois os memes

poderiam ser arquivados sem desaparecerem do caldo cultural. “O conjunto

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dessas características (fidelidade, fecundidade e longevidade) garantem que os

memes podem se reproduzir com mais eficiencia via rede” (HEYLIGHEN, 1994,

p. 5).

No entanto, apesar de encontrar na Internet um ambiente propício para a

sua propagação, memes necessitam de pessoas que as escolham para

propagar-se (BLACKMORE, 1999) e promover tal replicação. Por conta disso,

memes propagam-se através das redes sociais na Internet, impactando–as, a

partir das interações entre os indivíduos.

Para que se compreenda a propagação dos memes nas redes sociais,

foi ainda acrescido outro critério: o alcance. Isso porque redes sociais são

conjuntos de redes interconectadas, onde laços fortes e fracos

(GRANOVETTER, 1973) conectam indivíduos através da interação social.

Assim, a distância é um elemento que frequentemente compõe o estudo

dessas redes, associada à proximidade ou ao distanciamento entre os

indivíduos entre si (SCOTT, 2001; DEGENNE e FORSÉ, 1999; WELLMAN,

2003; 2002 e 1997). Indivíduos próximos possuem laços sociais mais fortes e

maior interação a conectá-los, com um grau pequeno de separação. Indivíduos

mais distantes podem estar conectados entre si por laços fracos ou por

nenhum laço e necessariamente possuem um grau maior de separação.

2.4 – Memes e política: uma combinação muito adequada ao cenário

brasileiro

As eleições presidenciais brasileiras de 2014 ficaram marcadas no

jornalismo brasileiro como as “eleições dos memes”. Pois tanto veículos online

e offline repercutiram diariamente as “piadas” eleitorais e o humor dos usuários

das redes sociais. Os candidatos, sem perder tempo, compartilharam desta

percepção, ao desenvolver estratégias de influência para o Facebook, que foi

desde conteúdos criados especificamente para a rede social a robôs que

supostamente ampliariam o alcance de suas mensagens reproduzindo-as

através de perfis falsos. Entre os eleitores que habitam o território das mídias

sociais, tudo era motivo para posicionamento e, como muito se percebeu um

radicalismo exacerbado.

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Castells (2003) determina que à estrutura da rede promove a ascensão

do individualismo (“individualismo em rede”), salientando neste fato a

importância do papel do indivíduo na construção da sua própria rede social.

Dessa forma o Facebook é ao mesmo tempo social e individual. Segundo o

autor, na rede o indivíduo escolhe com quem irá interagir. “O individualismo em

rede é um padrão social, não um acúmulo de indivíduos isolados. O que ocorre

é que indivíduos montam suas redes, online e off-line, com base em seus

interesses, valores, afinidades e projetos” (Castells, 2003, p.109). As formas de

se expressar em uma rede social acontecem no estabelecimento de interações

entre os usuários da rede. Essas interações são dinâmicas e permitem

estabelecer os relacionamentos que surgem na rede e que chamamos de laços

sociais. Os laços podem ser fortes ou fracos de acordo com a qualidade das

interações e das trocas sociais realizadas entre os usuários. Laços fortes são

aqueles que se caracterizam pela intimidade e pela proximidade dos usuários e

dentro do cenário político brasileiro, com a divisão ideológica entre direita e

esquerda, foi possível perceber como esses laços se fortificaram através do

uso diário do Facebook como arena política de debates.

Mas não podemos deixar de analisar os laços fracos, pois Granovetter

(1973) descobriu que aquilo que chamamos de laços fracos seriam muito mais

importantes na manutenção da rede social do que os laços fortes, para os

quais habitualmente os sociólogos davam mais importância. Os laços fracos

seriam constituídos pelas interações mais pontuais e superficiais, enquanto os

fortes, pelas relações de amizade e intimidade. Granovetter mostrou também

que pessoas que compartilhavam laços fortes (de amigos próximos, por

exemplo) em geral participavam de um mesmo círculo social (de um mesmo

grupo que seria altamente conectado). Já aquelas pessoas com quem se tinha

um laço mais fraco, ou seja, conhecidos ou amigos distantes, eram justamente

importantes porque conectariam vários grupos sociais.

Esses laços e debates políticos tenderam ao radicalismo graças à

constante produção e promoção de memes políticos utilizados tanto pela

direita, quanto pela esquerda de acordo com o cenário político em Brasília.

Após o termino do período eleitoral o fenômeno ganhou força devido à vitória

do PT nas eleições principais e desde então os memes vem sendo usados na

política como uma forma de comunicação e posicionamento que promove e

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replica todo dia o conteúdo político/ideológico. Para observar este fato,

procuramos realizar uma análise de conteúdo sobre memes políticos que

circularam no Facebook, nas páginas do PT e do PSDB, durante o período da

abertura do processo de impeachment da presidenta Dilma Roussef.

Um dos propósitos dessa dissertação é iniciar e manter uma rotina de

coleta, classificação e analise de memes políticos para poder investigar que

tipo de conteúdo circulou no Facebook durante os fatos políticos brasileiros.

Este primeiro esforço de análise é exaustivo, e tem a intenção de aprofundar o

conhecimento sobre usos e efeitos dos memes na politica e na internet

brasileira e mostrar como os memes influenciam a opinião pública.

É possível destacar desde já que estes memes atuaram como um misto

entre peças publicitárias para a militância e charges políticas, constituindo-se

como verdadeiros termômetros eleitorais, capazes de indicar pontos altos e

baixos no desempenho dos candidatos e que por se espalhar de maneira

rápida e barata tem sido um recurso usado por muitos políticos em suas

páginas no Facebook. Por isso a opção de analisar os memes durante o inicio

do processo de Impeachment, pois foi nesse ponto que direita e esquerda

mudaram suas formas de agir nas redes sociais e por consequência mudaram

o conteúdo dos memes divulgados pelos dois lados. Mas antes de falarmos

sobre esse novo comportamento devemos entender melhor a dinâmica das

redes sociais.

2.5 – Cooperação x Competição nas redes Sociais: uma dinâmica que

tende ao caos

Toda rede social, que exista ou não na Internet, modifica-se em relação

ao tempo. Essas alterações constituem-se também em um padrão importante

para a compreensão dessa rede (Thacker, 2004 e 2004) e devem ser levadas

em consideração. Essa dinâmica é dependente das interações que acontecem

na rede e podem influenciar diretamente sua estrutura. Por isso não podemos

observar uma rede social como um elemento estático, pois ele se encontra em

constante mutação no tempo. Como Watts (2003) afirmou, não há redes

“paradas” no tempo e no espaço. Redes são dinâmicas e estão sempre em

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transformação. Essas transformações são largamente influenciadas pelas

interações que ocorrem dentro da rede social. É possível existir interações que

venham a somar e construir um determinado laço social e interações que

venham enfraquecer ou mesmo destruir outro laço ou a própria rede social.

Dessa forma, o primeiro elemento que deve ser destacado para o estudo

das redes sociais como elemento dinâmico é o aparecimento da cooperação,

da competição e do conflito, entre os usuários da rede, como processos sociais

que influenciam a forma e o conteúdo da mesma.

Ogburn e Nimkoff (1975, p.236) denominam de “processo social” as

“maneiras fundamentais de interação entre os homens”. A ideia de processo

social é intimamente ligada à ideia de interação no tempo. Watzlawick, Beavin

e Jackson (2000) destacam a importância do estudo do tempo, denominando

os padrões resultantes como padrões de interação ou padrões de

comunicação. Trata-se do estudo das regularidades e irregularidades nas

interações, que gera um padrão na relação social. A interação social é

compreendida como geradora de processos sociais a partir de seus padrões na

rede, classificados aqui como competição, cooperação e conflito. Quando os

homens trabalham juntos, tendo em vista um objetivo comum, seu

comportamento é chamado cooperação. Quando lutam um contra o outro, a

conduta é rotulada oposição. Cooperação e oposição constituem os dois

processos básicos da vida em grupo (Ogburn & Nimkoff, 1975, p.236) e essa

são as bases do debate político no Facebook.

A cooperação é o grande processo formador das estruturas sociais. Sem

cooperação, no sentido de agir de maneira organizada, não há sociedade. A

cooperação pode ser gerada pelos interesses individuais, pelo status envolvido

e pelas finalidades dos cooperados. Entretanto, é essencial para a

compreensão das ações coletivas dos usuários que compõem a rede social. A

competição é reconhecida por Ogburn e Nimkoff (p.238) como “a forma

fundamental de luta social”. A competição aqui compreende a luta, mas não a

hostilidade, característica do conflito. A competição pode, por exemplo, gerar

cooperação entre os atores de uma determinada rede, no sentido de tentar

suplantar os atores de outra. O conflito, de outro lado, pode gerar hostilidade,

desgaste e ruptura da estrutura social. Muitas vezes, é associado à violência e

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à agressão. Para que exista a competição, não é necessário um antagonismo

concreto, enquanto no conflito, sim.

Primo (2005) salienta a importância de não se observar o conflito

separadamente, de forma a percebê-lo unicamente como destruição da

estrutura social. Ele também destaca que o “conflito e cooperação, por não

serem extremos opostos, separados por um vazio abismal, só podem de fato

ser separados conceitualmente” (2005, p.20). Burt (1992) estudou, por outro

lado, a estrutura social da competição e descobriu que há redes que

proporcionam acesso a diferentes tipos de capital social e que a participação

nas redes pode ser optimizada, em termos de competição, pelo acesso aos

recursos. A cooperação, a competição e o conflito não são, necessariamente,

processos distintos e não relacionados. São, sim, fenômenos naturais

emergentes das redes sociais. O conflito, por exemplo, pode envolver

cooperação, pois há a necessidade de reconhecimento dos antagonistas como

adversários. Esse reconhecimento implica em uma cooperação.

Do mesmo modo, o conflito entre grupos pode gerar cooperação dentro

dos mesmos. Além disso, Ogburn e Nimkoff salientam a importância da

competição como condição de cooperação. Para os autores, os indivíduos e

grupos podem “competir para melhor cooperar” (p.242). Todas as relações

sociais podem ser constituídas de interações diversas, mas a diferenciação

entre elas torna-se importante na medida em que ajuda a entender os efeitos

dessas interações/relações sobre a estrutura das redes sociais. É necessário

entender que, para que a própria comunidade exista, grande parte das

interações precisa ser cooperativa, pois o conflito e a competição podem

promover mudanças, desequilíbrios e obrigar a comunidade a se adaptar a

uma nova realidade.

Entretanto, se o conflito suplantar a cooperação, pode acarretar em um

desgaste ou ruptura na estrutura social. Cada um desses processos tem,

assim, impacto diferenciado na estrutura social. Enquanto a cooperação é

essencial para a criação e a manutenção da estrutura, o conflito contribui para

o desequilíbrio. A competição, por outro lado, pode agir no sentido de fortalecer

a estrutura social, gerando cooperação para atingir um fim comum,

proporcionar bens coletivos de modo mais rápido, ou mesmo gerar conflito,

desgaste e ruptura nas relações.

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Smith (1999) explica que, apesar de muitos autores perceberem o

conflito como forma de rompimento das relações sociais (e, portanto, de forma

negativa, como uma “patologia” do sistema), para Simmel (1950 e 1964) os

conflitos envolvem, ao mesmo tempo, harmonia e dissonância. Um sistema

completamente harmônico não pode existir, pela sua incapacidade de mudança

e evolução. O autor explica que o conflito tem aspectos positivos, não sendo

por si só um elemento negativo para o sistema social. O conflito pode fortalecer

as estruturas de um sistema, aumentando a união através de uma polarização,

quando em conflito com outros sistemas.

Uma das dinâmicas esperadas em grupos sociais é sua capacidade de

agregar mais pessoas e de que pessoas rompam com o grupo. Essa dinâmica

é referida, pelos estudiosos das redes, como clusterização. Holland (1996)

também prevê a agregação como uma propriedade dos sistemas complexos,

necessária à sua evolução, já que permite que as características do sistema

sejam passadas adiante pelos seus agentes.

A clusterização apontada pelo modelo de Barabási e Albert (1999)

explica que há a presença de conectores em todas as redes, ou seja,

indivíduos que possuiriam muito mais conexões com outras pessoas do que a

média do grupo. Conectores são extremamente importantes em redes sociais

pois criam tendências e promovem a circulação da informação pois

desempenham um papel crítico na configuração da rede, sendo os

responsáveis pela divulgação das informações em um determinado grupo.

Além disso, a clusterização tende a produzir grupos cada vez mais

densos do que o restante da rede. É através desse processo então que os

grupos apareceriam dentro da rede social. Do mesmo modo, a ruptura é

também uma dinâmica esperada em redes sociais onde o conflito prolifere.

Allen (2004) trabalha com a possibilidade das rupturas acontecerem de

modo “natural”. Ele explica que, de acordo com o trabalho de Dunbar, um

antropólogo do University College of London, existiria um limite na quantidade

de conexões que uma pessoa é capaz de manter. Para Dunbar (1993), o limite

seria biológico (referente ao tamanho do neocórtex, região do cérebro), e seria

o número de 150 (conhecido por “Dunbar number”), que Allen especifica como

o tamanho máximo dos grupos com laços fortes. Dentro desta perspectiva, o

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processo de conflito seria tão importante quanto o de cooperação, para permitir

que os grupos continuassem em tamanhos nos quais fosse possível a todos os

seus membros interagir socialmente.

As redes sociais são dinâmicas e por isso estão em constante mudança.

Essa mudança implica o surgimento de novos padrões estruturais. A mediação

pelo computador, por exemplo, gerou outras formas de estabelecimento de

relações sociais. As pessoas adaptaram-se aos novos tempos, utilizando a

rede para formar novos padrões de interação e criando novas formas de

sociabilidade e novas organizações sociais. Como essas formas de adaptação

e auto-organização são baseadas em interação e comunicação, é preciso que

exista circularidade nessas informações, para que os processos sociais

coletivos possam manter a estrutura social e as interações possam continuar

acontecendo. Como a comunicação mediada por computador proporciona que

essas interações sejam transportadas a um novo espaço, que é o ciberespaço,

novas estruturas sociais e grupos que não poderiam interagir livremente

tendem a surgir. Redes sociais, portanto, precisam ter capacidade de

adaptação, pois têm um equilíbrio dinâmico, constantemente redirecionado

entre caos e ordem. E podemos aqui fazer uma tentativa de aproximar os

memes como indicadores dessa relação caos e ordem. Voltamos nesse ponto

depois da análise coletada.

Um fator relevante da dinâmica das redes sociais é a emergência.

Emergência aqui no sentido de emergir, de ser visto ou tornar-se claro;

aparecer, expressar-se, manifestar-se. Dentro desta esfera, o aparecimento da

ordem em sistemas caóticos, a auto-organização e a adaptação dos sistemas,

são considerados comportamentos emergentes. O próprio aparecimento de

redes sociais na Internet pode ser considerado um comportamento emergente

e auto-organizado. Essas características são apontadas pelos modelos de

Barabási (2003), como o aparecimento de clusters muito conectados em uma

rede, e Watts (1999), como o aparecimento de “atalhos” nas redes sociais,

constituindo pequenos mundos paralelos, também podem ser considerados

padrões emergentes. Redes sociais na Internet apresentam comportamentos

emergentes com frequência, como a propagação de memes, a adaptação e a

auto-organização, bem como o aparecimento de mundos pequenos e clusters.

Isso é importante porque implica o fato de que ferramentas que são utilizadas

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pelos usuários fatalmente apresentarão indicativos de emergência em longo

prazo e destaca com a importância dos memes para a própria existência da

rede social. Como se a evolução dos memes pudesse ser um indicador da

evolução da linguagem da rede social.

2.6 – Transmídia, Clusters, Desterritorialização e Memes Políticos.

Não podemos continuar essa discussão sem observar se realmente é

possível entender que o uso constante das NTICs (Novas Tecnologias de

Informação e Comunicação) amplia as capacidades de inteligência e ação

coletiva (LEVY, 1995), e assim também permite novos desafios a politização da

sociedade. A facilidade de mobilização não impõe que as massas tenham a

mesma facilidade de se formar ou de se organizar de modo mais consistente

por meio dessas ferramentas digitais. Pelo contrário, isso pode se tornar até

mais difícil. Algumas pesquisas (HINDMAN, 2009; MOROZOV, 2011;

PARISER, 2011; KEEN, 2012; MCCHESNEY, 2013) demonstram que a

internet incentiva as pessoas a praticamente só entrarem em contato com

aquilo que gostam. As redes sociais fortalecem ainda mais esse processo de

reafirmação de preferências. Desse processo nascem os clusters. E isso só

fortalece os argumentos das pessoas que fazem parte das redes sociais,

sobretudo, por meio de um direcionamento baseado em algoritmos de seleção.

Por trás da operação do Google ou o Facebook está a busca do Marketing em

apresentar e oferecer como conteúdo exatamente aquilo que mais agrada ou

encanta, de uma forma que o usuário receberá esse conteúdo na sua linha do

tempo e assim o absorverá com mais facilidade.

O indivíduo que usa o Facebook para o debate político encontra no seu

espaço público virtual uma série de opiniões discordantes. Para evitar esse tipo

de conteúdo a rede social permite o bloqueio do usuário o que garante a cada

um a opção de só receber aquilo que gosta. Porém, o debate político parece

não se aprofundar, se perde em meio ao gigantesco fluxo de informações

multidirecionais e a constante inundação ou infestação ou ainda epidemia

frenética de memes para todos os assuntos possíveis. É da dinâmica das redes

sociais e nesse caso do Facebook mostrar o atual, o imediato, o engraçado. O

resultado desse desempenho e do poder do imagético diante do discursivo

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(memes no lugar de argumentos) gera um impacto transformador na forma de

entender os debates virtuais e assim abrir caminho para a possibilidade de um

maior entendimento? Maior participação? Maior conscientização? Uma

verdadeira “democracia digital”? Só a constante observação e analise dos

dados nos permitirá dizer com certeza.

Algo que não podemos esquecer, pois acaba influenciando toda a

abordagem desses debates virtuais, é a lógica “participativa” das redes sociais

que é guiada não apenas por métodos científicos, mas por propósitos

consideravelmente diferentes daqueles dos conselhos e assembleias da vida

pública. Existe uma diferença enorme nesses dois territórios. A conhecida

lógica do espetáculo e a desnecessidade de tomada de decisões coletivas que

imperam no Facebook permitem a criação de um perfil de participação pouco

capaz de promover a disposição de ação pública coletiva a não ser para as

mobilizações/passeatas e ações individuais como o panelaço.

Esses elementos indicam que vivemos em um momento de transição de

realidades políticas em que a antiga ação das grandes cadeias de jornais, rádio

e televisão emitindo mensagens para as massas, da sociedade industrial e sua

comunicação centralizada, do “um para muitos” é substituída pela dinâmica

interativa e multidirecional da internet, do “muitos para muitos”, das redes

sociais, da desterritorialização do ambiente de convívio. Não estamos falando

de substituir um canal por outro e sim de convergir todos eles para uma nova

mídia, uma nova forma de comunicar, uma nova ecologia para a informação

que permite uma nova cognição para a comunicação (e também de

mobilização) para um novo modo do organizar a vida em sociedade. Para

Jenkins (2009), essa nova mídia é a “transmídia”: em que as televisões e

rádios interferem nas mídias sociais, que interferem nas ruas, que voltam a

interferir nas televisões e rádios; num ciclo que se retroalimenta sem que

compreendamos com clareza onde tudo começou e onde pode terminar. A

linearidade cognitiva, discursiva e ideológica do século XX não se adequa a

velocidade do digital.

Nessa era da transmídia o apreço pelo individual, como característica

principal dos usuários, faz com que ao se expressar cada participante da rede

se identifique com certos tipos de conteúdo e com isso se posicionem em

clusters que reforçam suas ideologias.

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A rotina de uso da rede social tende a ser diária, pois os laços e o

conteúdo ali gerados são de interesse de seus usuários. Dentro do cluster são

construídos valores sociais. A análise do tipo de valor construído em cada rede

ou cluster pode auxiliar também na percepção do capital social construído

nesses ambientes e como sua influência ajuda na construção e na manutenção

das redes sociais.

Um dos destaques das redes sociais é a capacidade de construir e

promover a emergência de diferentes tipos de capital social que muitas vezes

não são acessíveis aos usuários no mundo offline. Por exemplo, no Facebook

um indivíduo pode ter até 5.000 amigos. Essa quantidade de conexões, que ali

são denominadas amizades, é impossível de se promover na vida off-line e

isso influencia algumas coisas que trazem certas consequências. Por exemplo,

deixar uma pessoa mais visível na rede social, pode tornar as informações

mais acessíveis a essa pessoa. Pode, inclusive, ajudar a construir impressões

de popularidade que ultrapassem o espaço off-line.

Mediante esse cenário descrito acima, como definir e depois como medir

o valor desse capital social que circula no Facebook? Como são construídos,

compartilhados e como podem influenciar os usuários das redes sociais?

Abordando os tipos de capital social de Bertolini e Bravo (2001) podemos dizer

que a primeira mudança significativa que o Facebook proporcionou foi

relacionada com o capital social relacional, ou seja, com as conexões

construídas, mantidas e amplificadas dentro do Facebook. Em essência, redes

sociais permitem que seus usuários aumentem suas conexões sociais. No

entanto, essas conexões não são iguais às conexões da vida off-line, pois

essas em sua maioria são conexões mantidas pelo algoritmo do Facebook e

não pelas interações sociais aumentando assim a conectividade dos grupos

sociais e promovendo os clusters.

2.7 – O capital social

O elemento mais significativo para a análise da qualidade das conexões

de uma rede social na Internet é o capital social. Por isso precisamos definir

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muito bem como entender esse conceito para que todo o resto do processo

investigativo possa seguir um padrão.

O capital social é um dos fatores estudados por diversos autores como

um indicador da conexão entre indivíduos de uma rede social. O conceito de

capital social é variado e ainda não há uma concordância, entre os estudiosos,

sobre qual caminho deve ser seguido. Mas é possível entender aqui que o

conceito refere-se a um valor constituído a partir das interações entre as

pessoas que fazem parte das redes sociais. Então, é possível entender que na

internet o capital social ganha um peso fundamental na estrutura e manutenção

dos laços sociais. No contexto da presente reflexão, partimos das ideias de

Putnam (2000, p.19), que entende que o capital social “refere-se à conexão

entre indivíduos – redes sociais e normas de reciprocidade e confiança que

emergem dela”. Para ele o conceito de capital social é diretamente ligado ao

conceito de virtude cívica, de moralidade e de fortalecimento através de

relações recíprocas. Essa ideia conecta dois aspectos fundamentais para a

construção do valor social: o individual e o coletivo. O aspecto individual se

manifesta no interesse dos indivíduos em fazer parte de uma rede social para

seu próprio benefício. O aspecto coletivo nasce do fato de que o capital social

individual reflete-se na esfera coletiva do grupo, sejam eles como custos ou

benefícios. É desse ponto que vem a natureza do conceito, que pode englobar

tanto bens privados (características do individuo) como coletivos

(características que emergem do grupo).

Putnam define três elementos centrais para o capital social: a obrigação

moral e as normas, a confiança (valores sociais) e as redes sociais (Siisiäinem,

2000). A confiança, para Putnam (2000) vem da crença na reciprocidade, do

consenso, do senso comum. Decorre de escolhas no nível interpessoal, nas

interações, que geram, aos poucos, reciprocidade e confiança. Essas escolhas

refletem-se no nível macro e geram as mesmas vantagens para a coletividade,

criando valores de integração e apoio. Daí nasce o consenso que é a base

para as sociedades “saudáveis”, segundo o autor.

Já as redes sociais consistem nas associações voluntárias que

compreendem a base do desenvolvimento da confiança e da reciprocidade.

Essas associações estimulariam a cooperação entre os indivíduos e a

emergência dos valores sociais. Por fim, as normas e obrigações referem-se ao

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estabelecimento da confiança e das trocas sociais. Assim, os indivíduos agem

com maior confiança naquilo que os demais farão. Putnam vê o capital social

como elemento fundamental para a constituição e o desenvolvimento das

comunidades.

Outro conceito que se destaca é o de Bourdieu (1983):

O capital social é o agregado dos recursos atuais e potenciais, os quais estão conectados com a posse de uma rede durável, de relações de conhecimento e reconhecimento mais ou menos institucionalizadas, ou em outras palavras, à associação a um grupo – o qual provê cada um dos membros com o suporte do capital coletivo (...) (p.248-249).

Para o autor o capital social é relacionado a um determinado grupo (que

aqui podemos entender como rede social, inclusive a virtual). O conceito de

Bourdieu lida fundamentalmente com elementos como poder e conflito.

Siisiäinen (2000) explica que isso se dá porque o conceito de capital social em

Bourdieu está ligado com suas ideias a respeito de classe. O conceito de

capital social teria então dois componentes: um lado que é conectado ao

pertencimento a um determinado grupo; às relações que um determinado

usuário é capaz de manter; e o conhecimento e reconhecimento mútuo dos

participantes de um grupo. Esse conhecimento transformaria o capital social

em capital simbólico, capaz de objetivar as diferenças entre as classes e

adquirir um significado.

O capital social em Bourdieu é diretamente relacionado com os

interesses individuais, no sentido de que provém de relações sociais que dão a

determinado usuário determinadas vantagens no grupo. Trata-se, portanto de

um recurso fundamental para a conquista de interesses individuais. Por fim, há

um terceiro conceito de capital social, o conceito de Coleman (1988). Para ele,

cada usuário da rede social possui controle de certos recursos e interesses em

certos outros recursos. Coleman também conceitua o capital social como um

valor mais geral, capaz de adquirir várias formas na estrutura social.

O capital social é definido por sua função. Não é uma possibilidade

única, mas uma variedade de possibilidades, com dois elementos em comum:

consistem em um aspecto das estruturas sociais, e facilitam certas ações dos

usuários – tanto empresas quanto pessoas – dentro da estrutura da rede

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social. Como outras formas de capital, o capital social é produtivo, fazendo com

que seja possível atingir certos fins que, em sem ele, não seriam possíveis de

ser atingidos.

Para Coleman, o capital social não está nos usuários, mas na estrutura

das relações sociais. Assim o capital social poderia ser transformado em outras

formas de capital como exemplos as organizações, que permitem aos

indivíduos atingir seus objetivos; a força dos laços sociais, que permite que

transações aconteçam com confiança. O apoio que um usuário solicita a um

grupo, por exemplo, pode ser concedido pelo grupo, mas jamais como um todo,

e sim unicamente através da ação dos indivíduos que fazem parte do mesmo.

Ao mesmo tempo, a solicitação de apoio tem suas bases na confiança de que

este apoio será obtido de uma ou várias pessoas no grupo. Tais relações têm

base individual, embora sejam compreendidas como coletivas.

Embora os três conceitos sejam amplamente utilizados, o conceito de

Putnam é explicitamente positivo. Para ele, o capital social não entende o

conflito e não lida com a não cooperação por isso ele não aborda o conflito

entre os interesses individuais e coletivos do capital social. Outro detalhe é a

sua forte ênfase no engajamento cívico que acaba por deixar de lado diversos

aspectos do capital social, por exemplo, em grupos marginais, ou grupos contra

a lei. Já o conceito de Bourdieu, focado numa visão de luta de classes a partir

do momento que se foca na capacidade de um indivíduo em contribuir e utilizar

os recursos coletivos para seus próprios fins. Por outro lado, Coleman vê o

capital social de um ponto de vista estrutural, sem desenvolver as

características e as implicações da construção ou da ausência desse capital.

Uma diferença básica no conceito dos três autores, apontada por DeFilippis

(2001, p.785) é o fato de que, para Putnam (2000), o capital social percebido

pelos indivíduos pode ser transformado em algo possuído por indivíduos ou

grupos. Desse modo as instituições, grupos e comunidades são essenciais

para a formação do capital social e essencialmente responsáveis pelo mesmo.

Já para Bourdieu (1983) e Coleman (1988), o capital social não está nos

indivíduos, mas nas relações entre as pessoas. Os indivíduos percebem esse

capital social e podem transformá-lo, operacionalizá-lo em outras formas de

capital, mas não podem possuir capital social.

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Estes dois conceitos complementam a compreensão do que pode vir a

ser o capital social mediado pela presença dos memes. Mesmo se

apresentando como um conjunto de recursos coletivos (Putnam e Bertolini e

Bravo), ainda sim são recursos que estão agregados às relações sociais e,

simultaneamente, são definidos e moldados pelo conteúdo destas relações.

Por isso, o capital social dos memes pode ser identificado, pelos indivíduos,

através da mediação simbólica da interação (Bourdieu) e, ao mesmo tempo,

através de sua participação às estruturas sociais. É por isso que podemos

entender que através do aprofundamento de um laço social o capital social

pode ser acumulado, (laços fortes permitem trocas mais amplas e íntimas),

potencializando assim o sentimento de grupo ou aqui no caso, uma página do

Facebook. Partindo da discussão desses conceitos, vamos considerar aqui o

capital social como um conjunto de recursos de um grupo (recursos variados e

dependentes da função do grupo, como afirma Coleman) que pode ser usado

por todos os membros do grupo, mesmo que individualmente, e está baseado

na reciprocidade (Putnam) e ao mesmo tempo dentro das relações sociais

(Bourdieu) e é determinado pelo conteúdo dessas relações (Bertolini & Bravo,

2001). Portanto, para que se estude o capital social do Facebook, é preciso

estudar suas relações e o conteúdo das mensagens/imagens que são trocadas

pelos seus usuários.

A classificação construída por Bertolini e Bravo (2001) determina que o

capital social seja heterogêneo, e constroem categorias que denotam aspectos

nos quais o capital social pode ser encontrado. Essas categorias podem ser

compreendidas como os recursos a que os indivíduos têm acesso através da

rede social e seriam:

a) relacional – a soma das relações, laços e trocas sociais que

conectam os indivíduos de uma determinada rede social;

b) normativo – as normas de comportamento de um determinado grupo

e os valores deste grupo;

c) cognitivo – a soma do conhecimento e das informações colocadas

em comum por um determinado grupo;

d) confiança no ambiente social – a confiança no comportamento de

indivíduos em um determinado ambiente social;

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e) institucional – as instituições formais e informais, que se constituem

na estruturação dos grupos, onde é possível conhecer as “regras” da interação

social, e onde o nível de cooperação e coordenação é alto.

Tais aspectos do capital social seriam divididos entre os aspectos de

grupo (segundo nível de capital social), ou seja, aqueles que apenas podem

ser desfrutados pela coletividade, como a confiança no ambiente social (d) e a

presença das instituições (e); e os aspectos individuais, como as relações (a),

as leis ou normas (b) e o conhecimento (c), que variam de acordo com os

indivíduos (primeiro nível de capital social). A existência de capital social de

primeiro nível é necessária para a constituição do capital de segundo nível

(Bertolini & Bravo, 2001).

Deste modo, um segundo nível de capital social demonstra uma maior

maturidade da rede social, além de maior densidade e existência no tempo de

seus laços sociais. O capital de segundo nível é importante porque aumenta a

qualidade e a produção do primeiro nível, criando um mecanismo de produção

constante e gerando mais recursos para o grupo. No primeiro nível, temos os

valores que podem ser acessados pelos indivíduos. Suporte social é um valor

muito invocado pelos usuários do Facebook. Alguém que escreve que está

chateado porque teve um mau dia no trabalho e acha que sua vida está ruim

invoca, de certa forma, o apoio dos comentaristas, que poderão manifestar-se

de forma a fazer o usuário sentir-se melhor. Já o segundo nível compreende

valores que são apenas acessados pela coletividade. Por exemplo, um grupo

que utiliza um determinado grupo no Facebook para organizar uma partida de

futebol. Essa partida é resultado de um esforço coletivo e institucional,

portanto, proveniente do capital social de segundo nível.

Com base nessas ideias, é possível associar a existência de capital

social de segundo nível à existência de laços fortes, pois para que estes

existam, o capital social de segundo nível depende da sedimentação dos laços

sociais, que acontecem apenas com o passar do tempo através da interação

estabelecida entre um grupo de pessoas. Já o capital social de primeiro nível,

por outro lado, poderia estar associado a diversas interações dos mais diversos

tipos de laços. Apesar de o capital social ser entendido como um dos

elementos principais para o estudo das redes sociais, poucos estudam como

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ele aparece nas redes sociais e como ele promove a evolução das estruturas

para um possível terceiro nível de capital social.

Um dos estudos que conectou o capital social à mediação pelo

computador foi desenvolvido por Wellman, em uma vizinhança de Toronto,

durante a década de 90. O autor sugere que a Internet e a tecnologia em geral

poderiam fortalecer e trazer novas formas de comunidades baseadas na

localidade geográfica e, por consequência, poderiam também gerar capital

social. Quan-Haase e Wellman (2002), através de outro exemplo mostraram

que a comunicação mediada por computador modifica consideravelmente o

fluxo de capital social nos grupos envolvidos. Eles demonstraram que a

Internet, muitas vezes, constitui-se em uma via alternativa para o envolvimento

em grupos sociais. A mediação pelo computador, assim, seria uma via de

construção do capital social, permitindo a indivíduos acesso a outras redes e

grupos. Ao associar-se ao Facebook o indivíduo pode estar iniciando

interações através das quais terá acesso a um tipo diferente de capital social,

ou ainda, a redes diferentes de conhecimento.

Compreender a existência de valores nas conexões sociais e no papel

do Facebook para auxiliar essas construções e suas mudanças na percepção

desses valores é fundamental para compreender também como os memes

atuam na criação de valor e capital social para o conteúdo político que circula

na rede social. Os tipos de capital social criados pelos memes funcionam não

apenas como estimuladores para as novas conexões, mas também ajudam a

auxiliar e a moldar os valores que vão emergir da apropriação de imagens e

textos que juntos criam a conexão que promove as ideologias praticadas pelos

seus usuários. Por isso é importante destacar a tese de Victor Real (2015)

sobre os perfis de comunicação política nas redes sociais onde através da

analise dos comentários postados pelos usuários, o autor aponta uma perda de

capital social na comunicação estabelecida no Facebook durante as eleições

presidenciais de 2014. Assim devemos ficar atentos a esses valores mais

comumente relacionados às redes sociais e que de certa forma atraem uma

quantidade enorme de usuários para a sua rotina, mas que nem sempre

significam um ganho de capital social. Por isso ao analisar completamente os

memes políticos devemos destacar ainda outras características.

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2.8 – Visibilidade, Reputação, Popularidade e Autoridade

É característica das redes sociais permitirem que seus usuários fiquem

cada vez mais conectados. Isso implica que há um aumento proporcional da

visibilidade desses usuários. Aqui a visibilidade é entendida como um valor

porque proporciona que os usuários se destaquem na rede social. Assim, um

determinado usuário pode amplificar os valores que são obtidos através de

suas conexões sociais, tais como o suporte social e as informações. Quanto

mais conectado está o usuário, maiores as chances de que ele receba

determinados tipos de informação que estão circulando na rede social e de

obter suporte social quando achar necessário.

Assim, a visibilidade está conectada ao capital social relacional (Bertolini

& Bravo, 2001). Finalmente, a visibilidade também está relacionada com a

manutenção da rede social: um site de rede social, como apontaram Ellison,

Steinfield & Lampe (2007), pode ser utilizado para auxiliar a manter laços

sociais com quem está fisicamente distante.

Aumentar a visibilidade social de um usuário tem efeitos não apenas na

complexidade da rede social, mas também, no capital social obtido por este

usuário. Alguém pode intencionalmente aumentar sua visibilidade para poder

obter outros valores, como reputação. A visibilidade, assim, é um valor

decorrente da presença do usuário na rede social e atua como matéria-prima

para a criação de outros valores.

Em relação à reputação, podemos afirmar, concordando com Buskens

(1998) que se trata de uma noção ligada às informações recebidas pelos

usuários sobre o comportamento dos demais e o uso dessas informações no

sentido de decidir como se comportarão. A reputação, portanto, é aqui

entendida como a percepção construída de alguém pelos demais usuários e

com isso implica em três elementos: o “eu” e o “outro” e a relação entre ambos.

O conceito de reputação está diretamente relacionado ao fato de que há

informações sobre quem somos e o que pensamos que auxiliam outros a

construir, por sua vez, suas impressões sobre nós. Partindo das noções de

Goffman (1975) podemos dizer que a reputação de alguém seria uma

consequência de todas as impressões dadas e emitidas deste indivíduo. A

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reputação dessa forma é influenciada pelas nossas ações, mas não

unicamente por elas, pois depende também da visão dos outros usuários sobre

essas ações. Um dos destaques na construção das redes sociais como o

Facebook é o fato de que os sistemas que as suportam permitem um maior

controle das visões/impressões que são emitidas e dadas por todos, auxiliando

assim na construção da reputação. Assim podemos dizer que uma das

mudanças causadas pelas redes sociais reside no fato de que a reputação é

facilmente construída através de um maior controle sobre as impressões

deixadas pelos usuários. Ou seja, redes como o Facebook são extremamente

efetivas para a construção de reputação. De acordo com Golbeck & Hendler,

(2004) a reputação atua como um mecanismo de seleção dos laços em uma

rede social Através da reputação é possível selecionar em quem confiar e com

quem se relacionar.

Por isso quando falamos de reputação em redes sociais online, não

estamos focando no número de leitores/seguidores, pois assim poderíamos

concluir que a reputação nas redes sociais é relacionada ao número de

conexões. No território do Facebook a reputação é relacionada com as

impressões que os demais usuários pensam sobre um determinado fato. Então

devemos pensar que a reputação é uma percepção qualitativa, pois tem

relação a outros valores agregados. Por isso podemos dizer que no Facebook

não há um único tipo de reputação. Cada usuário da rede pode construir tipos

de reputação baseado no tipo de informação ou meme que divulga em seu

perfil, canal, grupo ou página.

Coleman (1990) e Granovetter (1983) ligaram a reputação à densidade e

à estrutura da rede. Embora as conexões possam auxiliar a compreender a

reputação, elas não oferecem uma percepção das qualidades dessa reputação

e dos valores que estão associados a ela. Assim, a posição de um usuário em

uma rede não é capaz de explicitar o tipo de reputação deste usuário, embora

tal informação possa auxiliar o pesquisador, em conjunto com outras

observações qualitativas das percepções da rede do próprio ator em questão, a

ter uma visão mais ampla desses valores. Todos os usuários possuem

reputação em menor ou maior grau, algum tipo de percepção em sua audiência

proveniente das qualidades percebidas pelos demais membros da rede social.

Essa reputação pode ser administrada uma vez que é permitido a cada usuário

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construir impressões de forma intencional. Com essa intencionalidade, um

determinado usuário poderia trabalhar na construção de sua própria reputação,

seja através das informações publicadas, seja através da construção de

visibilidade social. A reputação, portanto, está associada ao capital social

relacional e cognitivo. Relacional porque é uma consequência das conexões

estabelecidas pelos usuários. Cognitivo porque está também relacionada ao

tipo de informação publicada pelo usuário em seu perfil no Facebook.

A popularidade, por sua vez, é um valor relacionado à audiência, que é

também facilitada nas redes sociais na Internet. Como a audiência é mais

facilmente medida na rede, é possível visualizar as conexões e as referências a

um indivíduo, a popularidade é mais facilmente percebida. Trata-se de um valor

relativo à posição de um usuário dentro de sua rede social. Um usuário mais

centralizado na rede é mais popular, porque há mais pessoas conectadas a ele

e, por conseguinte, esse usuário poderá ter uma capacidade de influência mais

forte que outros usuários na mesma rede. Esses usuários poderiam ser

também aqueles classificados por Barabási (2003) como conectores.

A popularidade é diretamente relacionada ao número de comentários e

ao tamanho da audiência de cada perfil no Facebook, pelo número de

seguidores de uma página ou participantes de um grupo. A popularidade, como

valor, refere-se mais a uma posição estrutural do usuário na rede do que à

percepção que os demais usuários têm. O valor da popularidade pode ser

medido a partir de um valor quantitativo.

A popularidade também é um valor mais relacionado com os laços

fracos do que os laços fortes. Isso porque para a percepção do valor é

associada à quantidade de conexões e não à qualidade das conexões. Por isso

a popularidade também é mais facilmente medida nos sistemas online por

causa da chamada permanência (Boyd, 2007) das interações no mundo digital.

Existem links que podem ser utilizados para avaliar popularidade, ou amigos no

perfil do Facebook. Podemos, por exemplo, avaliar a popularidade de um perfil

na rede social pela quantidade de seguidores que esse perfil possui ou pela

quantidade de referências que são feitas ao perfil em uma conversação. Trata-

se de uma consequência também da visibilidade social, mas enquanto a

visibilidade é um valor relacionado com a capacidade de cada usuário de se

fazer visto (portanto existem usuários que são mais visíveis e usuários que são

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menos visíveis), a popularidade é uma característica relacionada à posição

estrutural do usuário na rede. Apenas alguns usuários são populares, mas

todos os usuários possuem visibilidade.

Esse valor relaciona-se com o número de conexões ou relações de um

determinado usuário com outros. Logo, não é um valor como à reputação. A

popularidade também não é relacionada com autoridade, mas, simplesmente,

com algum tipo de reputação (boa ou ruim, por exemplo). Uma página no

Facebook pode ser popular porque é ruim, porque é engraçada, porque é

crítica e não necessariamente porque o usuário que mantem a página tem

autoridade. A popularidade pode ser assim, uma medida quantitativa da

localização do usuário na rede social.

Por fim, podemos afirmar que a autoridade é o valor que se refere ao

poder de influência de um usuário na rede social. Não é a simples posição do

usuário na rede, ou mesmo, a avaliação de sua centralidade ou visibilidade. É

uma medida da real influência de um usuário em relação à rede a qual ele faz

parte, juntamente com a percepção dos demais usuários sobre a reputação

dele. Autoridade, portanto, compreende também reputação, mas não se

resume somente a ela. Autoridade é uma medida de influência, a qual

influencia a reputação. A autoridade é decorrente não apenas do capital social

relacional, mas, igualmente, do capital social cognitivo de acordo com os tipos

de Bertolini e Bravo (2001). A autoridade também é um valor relacionado à

reputação, mas de uma forma diferente daquela do compartilhamento de

conhecimento, da contribuição. Os usuários que buscam autoridade

preocupam-se em construir uma reputação relacionada a um assunto

específico, mais do que apenas ser reconhecidos como alguém que está

interessado em alguma coisa. Aqueles que buscam autoridade são usuários

bastante comprometidos com seu conteúdo. A autoridade está conectada ao

capital social conector, uma vez que este é o foco dos usuários que desejam

construir uma audiência, mais do que construir intimidade com outros.

. Dessa forma, a autoridade é uma medida que só pode ser percebida

através dos processos de divulgação de informações nas redes sociais e da

percepção dos outros usuários em relação aos valores contidos nessas

informações.

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Na tabela a seguir um resumo das observações com relação aos tipos

de capital social discutidos.

Tabela 2: Valores e Capital Social

Valor Percebido Capital Social

Visibilidade Relacional

Reputação Relacional Cognitivo

Popularidade Relacional

Autoridade Relacional Cognitivo

Os valores da tabela acima são todos provenientes do chamado primeiro

nível e das definições de capital social de Bertolini e Bravo (2001). Isso porque

redes sociais somente são eficientes para o gerenciamento do capital social

básico. As redes são capazes de manter esse capital social, mas não de

aprofundar os laços desses usuários. Para isso, é preciso a participação ativa

dos usuários envolvidos. Dessa forma, o uso do Facebook para a construção

de capital social é eficiente para o primeiro nível, que seria influenciar os

valores mais direcionados à construção e à manutenção da rede dos

indivíduos. Já os valores associados ao segundo nível, voltados para a

institucionalização de um grupo social, não são facilmente construídos e nem

facilmente obtidos nas redes sociais. São valores de grupo, associados à

presença deste e aos usuários que ali atuam dentro da rede social.

2.9 – Valores Culturais, Capital Social e a construção dos Memes

O estudo das características dos memes mostra que há valores que são

criados e difundidos nas redes sociais online, valores esses que são

associados ao capital social. Alguns desses valores são fundamentalmente

importantes para a difusão de informações, tais como a autoridade, a

popularidade e a influência, que são atribuídos aos usuários. Esses valores são

influentes principalmente por conta das redes sociais como o Facebook. E a

existência de redes como o Facebook implicam mudanças expressivas nos

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modos através dos quais esses valores são construídos e promovidos. Isso por

que existe um maior controle nos meios digitais e segundo, porque esses

valores são alterados quando trazidos para a rede. Autoridade, popularidade e

influência são valores relacionados com o capital social observado nas redes

sociais, mas são valores diferentes entre si. Portanto a presença de memes é

relacionada ao capital social, na medida em que a motivação dos usuários para

espalhá-las é, direta ou indiretamente, associada a um desses valores citados

anteriormente. Por exemplo, as pessoas que espalham os recados com

imagens acreditam estar fazendo algo positivo, que deixará aquele que

recebeu a mensagem contente. Portanto, existe uma intenção na construção,

repetição e aprofundamento de um laço social, que é ultimamente explicado

pela necessidade de capital social. Do mesmo modo, muitas pessoas que

espalham mensagens de vírus e informações o fazem com a intenção de

auxiliar e mostrar-se bem informadas, o que também pode ser associado à

construção de capital social. Mas como podemos relacionar os valores de

capital social, o valor da informação e o valor para o usuário da rede social?

Usuários não são independentes de motivações. Eles são capazes de

perceber os valores constituintes das redes sociais e utilizar esses valores

através da apropriação do seu espaço nas de redes sociais – como o seu perfil

do Facebook. Por isso é importante conectar as motivações e os valores

percebidos pelos usuários do Facebook e os tipos de capital social percebidos

nos tipos de memes utilizados durante o período relacionado ao impeachment

de Dilma Rousseff.

Inicialmente, a divulgação e promoção dos memes estão relacionadas

diretamente com a autoridade. Isso implica que as informações são difundidas

porque há usuários que são influentes. Essa influência é causa e consequência

dos tipos de informação publicada por um determinado usuário e das

impressões que este causa nos demais usuários do cluster. Autoridade é,

portanto, relacionada principalmente a memes do tipo metamórfico, onde há

espaço para a construção de argumentos que possam influenciar terceiros.

Além disso, a autoridade também está relacionada com a capacidade de gerar

memes epidêmicos, pois os usuários que detêm algum tipo de autoridade

podem, através da divulgação de um meme, fazê-lo epidêmico, graças à sua

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capacidade de influência. Esse tipo de usuário também pode divulgar memes

do tipo replicadores, simplesmente agregando um julgamento de valor.

A autoridade também pode influenciar a difusão global de determinados

tipos de memes, dependendo do tipo de autoridade associada ao usuário. Já a

reputação está relacionada a todos os tipos de meme. Uma reputação pode ser

construída com base em memes miméticos, metamórficos e mesmo,

replicadores. Publicar primeiro um meme engraçado pode conferir reputação a

um determinado usuário e publicar um meme informativo pode conferir outro

tipo de reputação e assim por diante. A popularidade e a visibilidade de um

usuário também atuam na construção de determinados tipos de meme. Um

meme epidêmico, por exemplo, tem maiores possibilidades de iniciar em um

usuário muito popular e muito visível na rede. Do mesmo modo, memes globais

também poderiam ser associados ao número de conexões que um

determinado usuário possui. Imaginemos que um determinado usuário X

deseja iniciar uma campanha contra o racismo no Facebook utilizando seu

perfil. A capacidade de difundir a campanha é diretamente relacionada com a

visibilidade e com a popularidade do usuário no Facebook. A reputação e a

autoridade certamente ajudam, mas é ainda mais essencial que a campanha

seja vista, que atinja uma grande quantidade de usuários. Enquanto alguém

com autoridade pode influenciar muitas pessoas, somente através da

popularidade e da visibilidade é que a campanha será conhecida. Assim, a

popularidade e a visibilidade são essenciais para o alcance da propagação do

meme na rede. No entanto a reputação e a autoridade lhe conferem algum tipo

de valor e de influência.

Finalmente, memes voláteis e persistentes, no entanto, não parecem

relacionar-se diretamente com o capital social, mas, meramente, com ciclos de

vida desse tipo de mensagem na rede.

Na tabela a seguir, vemos os valores associados ao capital social de

Bertolini e Bravo (2001).

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Tabela 3: Tipos de meme e valores gerados

Tipo de meme Valor gerado

Replicador Reputação, Visibilidade, Autoridade

Metamórfico Reputação, Autoridade

Mimético Reputação, Autoridade

Epidêmicos Popularidade, Visibilidade, Reputação

Fecundos Popularidade, Reputação

Global Popularidade, Visibilidade, Reputação

Local Popularidade, Visibilidade, Reputação

Memes são relacionados, assim, a dois tipos de capital social dentro da

proposta de Bertolini e Bravo (2001): o relacional, que é voltado para os

memes cujo valor está na sociabilidade da rede que o difunde na complexidade

dos laços sociais e, mesmo, na ampliação da própria rede; e o cognitivo, que é

relacionado ao valor da informação do que circula nessa rede.

Portanto é possível entender que as informações difundidas no

Facebook possuem um forte componente relacionado ao capital social. Assim,

as pessoas publicam informações não aleatoriamente, mas baseada na

percepção de valor contida na informação que será divulgada. E esse

comportamento nos leva a refletir sobre diferentes tipos de memes. Portanto

podemos concluir que a percepção de um valor pelos usuários influencia a

propagação do meme e seu próprio impacto na rede social.

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CAPÍTULO 3 – RESULTADOS E DISCUSSÕES SOBRE A

BASE EMPÍRICA: OS MEMES VIERAM PARA FICAR.

3.1 Ciberdemocracia ou Pluripartidismo Digital?

Vamos começar essa análise pela categoria que relaciona os memes

políticos do Facebook as estratégias de persuasão. Os memes persuasivos

são peças com propósito de convencimento, criadas seja pelo marketing dos

candidatos, seja pela militância, pela imprensa, ou pelo eleitor comum

deliberadamente para influenciar o processo político.

Essa categoria, de início parece contraditória, porque uma vez que os

memes são tidos pelo senso comum como fruto da ação dos usuários do

Facebook, mas este tipo de meme representa quase 58% do total da amostra

analisada (ver Tabela 4) – de certa forma, comprovando assim que a incidência

de memes está em grande parte relacionada com um comportamento

emergente dos partidos políticos e dos movimentos populares para o território

do Facebook somada a participação cada vez mais frequente das massas que

aderem as redes sociais todos os dias –, a ocorrência deste tipo de conteúdo

ajuda a explicar a estratégia discursiva assumida pelos partidos e pelos

movimentos e replicada pelos seus militantes nas redes sociais. Por outro lado,

os números se equilibram um pouco mais quando falamos de memes de

discussão pública e ação popular, com uma forte caracterização do uso do

Facebook como um canal de mobilização para passeatas e protestos em

lugares públicos.

TABELA 4

Tipos de memes na amostra

Tipo de meme N %

Persuasão 151 57,63%

Ação popular 61 23,28%

Discussão pública 50 19,08%

Total 262 99,99%

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QUADRO 2

Tipos de memes na amostra

Meme de Persuasão Meme de Ação Popular Meme de Discussão Política

Na tabela 5, apresentamos o resultado da análise desta tipologia em

conjunto com a referência dos memes a cada um dos partidos e dos

movimentos analisados. Nele, percebemos que o PT, o PSDB e o Movimento

Contra a Corrupção são os mais beneficiados pela produção de memes

persuasivos durante o período pesquisado. O PMDB, mesmo estando muito

presente no cenário político nacional, possui um conteúdo muito pouco

expressivo nesta categoria comparado com os outros partidos enquanto o

Movimento Quebrando o Tabu se utiliza muito pouco dessa categoria levando

seus memes para o lado da discussão pública.

TABELA 5

Tipos de memes por Partido/Movimento1

Origem Persuasão Ação Popular Discussão Pública

PT 93 12 2

PSDB 33 2 5

PMDB 11 0 0

Movimento Contra a Corrupção 12 44 32

Quebrando o Tabu 2 3 11

TOTAL 151 61 50

1 A tabela leva em consideração apenas os memes publicados nas páginas da pesquisa durante o recorte temporal e

que ainda se encontram disponíveis no Facebook – desde que sejam identificados elementos nesses memes que sugiram referência entre os conteúdos analisados.

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QUADRO 3

Tipos de memes usados pelo PT

Meme de Persuasão Meme de Ação Popular Meme de Discussão Política

QUADRO 4

Tipos de memes usados pelo PSDB

Meme de Persuasão Meme de Ação Popular Meme de Discussão Política

QUADRO 5

Tipos de memes usados pelo PMDB

Meme de Persuasão Meme de Persuasão Meme de Persuasão

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QUADRO 6

Tipos de memes usados pelo MCC

Meme de Persuasão Meme de Ação Popular Meme de Discussão Política

QUADRO 7

Tipos de memes usados pelo QOT

Meme de Persuasão Meme de Ação Popular Meme de Discussão Política

Ao avaliar as subcategorias desta taxonomia, é possível perceber que

memes que fazem referência a Dilma Roussef e ao PT se destacam pela

retórica ético moral e a crítica ao governo embasada em sua grande maioria

em dados da imprensa que são explorados como argumentos de veracidade

para alavancar o capital social do meme gerando credibilidade. (ver Tabela 6).

TABELA 6

Memes Persuasivos por Partido/Movimento

Origem Retórica Retórica Retórica Retórica Outros Total

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propositiva sedutora ético-moral crítica

PT 3 22 22 46 0 93

PSDB 3 4 14 12 0 33

PMDB 0 3 0 8 0 11

Movimento Contra a Corrupção 0 1 3 8 0 12

Quebrando o Tabu 0 0 1 1 0 2

TOTAL 6 30 40 75 0 151

QUADRO 8

Tipos de memes persuasivos usados pelo PT

Retórica Crítica Retórica Sedutora Retórica Propositiva

QUADRO 9

Tipos de memes persuasivos usados pelo PSDB

Retórica Crítica Retórica Ético-Moral Retórica Propositiva

QUADRO 10

Tipos de memes persuasivos usados pelo PMDB

Retórica Sedutora Retórica Crítica Retórica Sedutora

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QUADRO 11

Tipos de memes persuasivos usados pelo MCC

Retórica Crítica Retórica Ético-Moral Retórica Crítica

QUADRO 12

Tipos de memes persuasivos usados pelo QOT

Retórica Crítica Retórica Ético-Moral

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Os memes de ação popular permitem destacar aspectos interessantes.

(ver Tabela 7). Um fato que se destacou foi a grande quantidade de memes de

“ação conectiva hibrida” compartilhados pelo MCC (Movimento Contra a

Corrupção) na intenção de mostrar a existência de grupos de militância sem

vinculação explícita com organizações partidárias ou que possuem estreitas

relações com organizações e entidades que não são diretamente mencionadas

no cenário político, mas que crescem constantemente no território do

Facebook. Esse dado mostra como o processo de engajamento partidário-

político já migrou para o Facebook e se adaptou aos memes para manter seu

posicionamento e ideologia disponíveis para as massas. Aqui novamente é

possível perceber o uso de dados da imprensa explorados como argumentos

de veracidade para alavancar o capital social do meme.

Estes memes foram classificados como “ação conectiva híbrida” na

medida em que permitem especificar posicionamentos dos grupos ativos na

nova esfera pública promovida pelo Facebook. Esse fato é de extrema

relevância, pois tanto nessa categoria como na Discussão Pública é onde

podemos perceber os fatores que podem promover a ciberdemocracia. Como

foi demonstrado no item 3.1 o cidadão é inserido no ciberespaço através da

inclusão digital e passa a contribuir para o fortalecimento da cibercultura, se

adaptando as novas tecnologias e se comportando cada vez mais como um

cibercidadão, promovendo dessa forma o surgimento, em longo prazo, a

ciberdemocracia. Então ao fazer parte do Facebook e participar diariamente de

páginas relacionadas a política o usuário tem acesso a memes usados para

difundir ideias e valores. Essa cultura passa a fazer parte da timeline do

usuário no Facebook que interage com a mesma aumentando sua relevância e

conhecimento. Esse processo começou a crescer em outubro de 2014 e não

parou mais até o momento em que finalizamos essa dissertação. Por isso essa

categoria é importante como um possível indicador de ciberdemocracia. Nota-

se também que a categoria “ação conectiva”, o MCC (Movimento Contra a

Corrupção) incorpora imagens que convidam ao ataque ideológico, e/ou

imagens da imprensa exploradas como argumentos de veracidade para

alavancar o capital social do meme, entre outros.

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TABELA 7

Memes de Ação Popular por Partido/Movimento

Origem Ação

coletiva

Ação

conectiva

híbrida

Ação

conectiva

Ação

conectiva

não-engajada

Outros Total

PT 0 3 8 1 0 12

PSDB 0 2 0 0 0 2

PMDB 0 0 0 0 0 0

Movimento Contra a Corrupção 4 24 16 0 0 44

Quebrando o Tabu 0 1 2 0 0 3

TOTAL 4 30 26 1 0 61

Por outro lado, a análise dos memes de discussão pública (ver Tabela 8)

ressalta o fato de que, entre os partidos e os movimentos que protagonizaram

esta pesquisa, o PMDB foi nulo no uso de memes de Discussão Pública,

chegando a ser superado, neste quesito pelo PT, que durante esse tempo

também se utilizou muito pouco dos memes de Discussão Pública. Dilma

Roussef é a pessoa que figura em muitas “piadas situacionais”, ao passo que

Lula é o vencedor na categoria “piadas sobre personagens da política”, que

exploram a sátira aos próprios candidatos ou outros políticos, e em “alusões

culturais”, a maior parte em menções e referências a filmes e programas de

televisão.

TABELA 8

Memes de Discussão Pública por Partido/Movimento

Origem Lugares

comuns

da

política

Alusões

literárias

ou

culturais

Piadas sobre

personagens

da política

Piadas

situacionais

Outros Total

PT 1 0 1 0 0 2

PSDB 0 0 1 4 0 5

PMDB 0 0 0 0 0 0

Movimento Contra a Corrupção 7 1 9 15 0 32

Quebrando o Tabu 3 2 1 5 0 11

TOTAL 11 3 12 24 0 50

É digno de nota que essa categoria representa o caminho mais próximo

para uma possível ciberdemocracia, pois através da constante discussão

política através do Facebook, seria possível promover um cenário de expansão

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onde o protagonista, o referido indivíduo, e o seu conteúdo representativo, que

não mais está atrelado à esfera pública midiática de massa, pois passa a

exercer sua presença e cidadania no ciberespaço, recebendo e produzindo

informação através das inúmeras ferramentas de informação.

Devemos destacar que entre os memes coletados, 86,5% (N=227) não

apresentam traço evidente de humor, podendo se caracterizar como

informação, comentário ou ataque. Outro fator importante se destaca quando

analisamos como o humor é usado constantemente pelas páginas dos

movimentos enquanto que nas páginas dos partidos o humor é muito pouco

utilizado. Piadas situacionais são as preferidas, pois alavancadas pela mídia

tradicional ganham grande repercussão dentro do Facebook.

Em relação à iconologia destes memes, 21% (N=55) eram memes que

combinavam desenho e texto, ao passo que 72% (N=188) combinavam

fotografias com texto e 7% apresentaram somente texto. Um detalhe

importante é que poucos memes presentes na amostra de fato continham

características típicas dos diferentes gêneros de memes registrados até hoje. A

baixa variação de gêneros mostra que para os partidos o uso dos memes ainda

é algo estrategicamente utilizado, em sua maioria, para ataques e o humor. Já

para os movimentos analisados, essa baixa variação de memes acaba sendo

disfarçada pela grande quantidade de postagens. Esta baixa incidência de

gêneros, no entanto, realça a hipótese de que os memes de 2014 não

evoluíram muito em relação aos memes de 2016, pois não exploram a fundo a

linguagem interativa, são frutos de opiniões em tempo real nas mídias sociais e

de grandes canais de jornalismo digital e continuam assim sendo usados para

alimentar argumentos ideológicos e manter unificados os indivíduos das

páginas do Facebook – o que reitera a nossa perspectiva de que se trata, em

grande medida, de um fluxo de produção de conteúdo de marketing político

transcrito para o posicionamento dos partidos dentro das redes sociais. Do lado

do eleitor militante esses memes causam um eco transcrito na forma de

compartilhamentos, curtidas e comentários diversos em cada um dos 262

memes analisados nessa pesquisa.

Outro fator que deve ficar registrado é que na divisão geral temos uma

evolução gradual do número de memes postados. Enquanto em 2014 temos

um total de 76 memes analisados, em 2015 esse número caiu para 56, mas em

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2016 analisamos 130 memes no mesmo período das coletas anteriores

(aumento de 171% entre 2014 e 2016). Isso nos mostra que tanto os partidos

quanto os movimentos aumentaram o número de memes publicados para os

mais variados assuntos. As páginas analisadas tem um impacto muito grande

se analisarmos a quantidade de indivíduos que as compõem: PT (1.149.651

integrantes), PMDB (65.398 integrantes), PSDB (1.328.892 integrantes), MCC

(3.112.093 integrantes) e QOT (6.190.824 integrantes). Somadas elas

interagem com aproximadamente 11.846.858 pessoas enviando memes com

conteúdo relacionado tanto a esquerda quanto a direita.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados obtidos nesta primeira etapa de análise sobre os memes

políticos do Facebook nos permitiram testar a proposta taxonômica

apresentada, de tal forma que pudemos levantar algumas questões iniciais

para o debate sobre o papel dos memes tanto para os partidos como para os

movimentos. A taxonomia usada aqui, se ainda imperfeita, ao menos confere

ao investigador dimensão sobre as motivações para a produção dos memes

analisados.

A grande incidência, por exemplo, de memes persuasivos e ataques

pessoais a Dilma Roussef nos apontam em direção à hipótese de que o

território do Facebook é dominado pelo partidarismo com grande ambivalência

entre esquerda e direita e que o monitoramento deste tipo de memes é capaz

de indicar a evolução dos discursos praticados pelos partidos assim como

medir a performances dos movimentos populares. Mas isso ainda não é o

suficiente. Não no sentido de entender o porquê agora o virtual se tornou tão

importante para a política e como ele influenciou esses três momentos

analisados entre 2014, 2015 e 2016. Acontece agora uma naturalização do

virtual, através de uma nova realidade digital focada na posição de centralidade

que cada vez mais o virtual detém, de um protagonismo assumido sem

contestações, de modo que se torna cada vez mais impossível pensar a

política real sem o virtual. Os atos políticos, talvez este seja o exemplo mais

redundante, já não podem acontecer se antes não forem eventos criados e

divulgados nas redes sociais.

O sucesso dos atos reais ou manifestações populares depende, cada

vez mais, do modo como o evento faz sucesso anteriormente no mundo virtual.

Aí está um dos traços da naturalização do virtual, serem tratados como

espontâneos. Tais eventos-manifestações existem antes de tudo no mundo

virtual, uma precedência ante o real que diz muito sobre o modo como o partido

político e o virtual se conectam. Os memes seguem a mesma lógica, porem

com uma poder muito maior de informar e entreter, divulgar e julgar e assim

manter o discurso vivo nas páginas e nas linhas do tempo dos militantes.

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É impossível negar, portanto que o Facebook possa ser usado como

instrumento político e lugar de visibilidade das lutas ideológicas entre esquerda

e direita, uma vez que atualmente parece não haver outro lugar de visibilidade

senão o virtual. Todavia, uma indagação dever ser feita: o que o Facebook e

suas ferramentas oferecem não podem ser danosos ao processo político como

um todo? Devido ao fato do Facebook promover uma linha seletiva por divisão

de conteúdo é permitido ao indivíduo ter acesso apenas aquilo que lhe agrada

em primeiro momento. Essa divisão não promove o debate, pelo contrário,

promove um discurso unanime.

Podemos abrir algumas vias de explicitação para a pergunta acima, não

tanto de resposta à mesma, mas sobre o porquê desta indagação não ser feita

pela maioria. Em primeiro lugar, tratar-se-ia de considerar o virtual como uma

espécie de campo de batalha das ideias, que a priori sendo neutro, isto é, nem

de “esquerda”, nem de “direita”, ganhará a “batalha das ideias” aquele lado que

conseguir maior visibilidade, ocupando os espaços, se comunicando melhor.

A permanência da visibilidade no virtual implica que se opere segundo um

modus operandi previamente estabelecido no campo empírico do Facebook.

Por conseguinte, a visibilidade política não é mais que a visibilidade virtual.

Este comunicar-se melhor implica que, na imensa maioria das vezes, os

discursos não sejam apenas simples, mas simplórios. Que possam ser

consumidos rapidamente, diminuindo grandemente o nível de problematização,

redundando em um debate fraco de conteúdo, porém forte de caricaturas.

Novamente aqui temos indicadores que colaboram com a grande

quantidade de memes persuasivos encontrados durante a pesquisa. Não se

trata de uma simples crise da política tradicional, mas da renúncia à própria

ideia de verdade. A estratégia de sedução e ocupação que concretiza a

expansão do virtual através dos memes não é mudar os critérios de

veracidade, não é estabelecer uma nova ideia de verdade, mas trata-se da

própria recusa da verdade. Não havendo mais necessidade de verdade, ao

virtual não pode ser mais imputada ou remetida uma ideia de falsidade, mesmo

que a seu favor. Essa recusa na verdade pode ser considerada além de

estratégica, o fundamento último da proposição de Pierre Lévy de que o virtual

não é o oposto do real. Isso fica muito claro depois de agosto de 2016 quando

Michel Temer assume o cargo de Presidente da República e desde então o

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espaço ocupado pelos partidos e movimentos de direita aumentou

significativamente no Facebook. Verifica-se dessa forma que não há uma

politização da internet, mas sim uma partidarização virtual, pois não podemos

esquecer que é primordialmente pela direção do capital que o Facebook opera.

Diante dessa partidarização não pode haver dúvida de que uma nova

forma de política digitalmente mediada é um componente crucial da revolução

provocada pela internet. Ela já é utilizada para o estabelecimento de agendas

de baixo para cima, capacitar os cidadãos a falar-se em uma esfera pública

interligada, e empurrando os limites da ação coletiva. Em particular, os memes

políticos tem mudado a natureza da campanha política e continuarão a

desempenhar um papel estratégico em futuras eleições e campanhas políticas.

No entanto, a partidarização virtual também pode ser uma plataforma de

conflito e agitação maliciosa por populistas de direita que são disfuncionais

para um discurso democrático saudável, enquanto os nossos sistemas de

governação atual são suscetíveis a explosões emocionais e movimentos

populistas que se desdobram na internet. O que podemos perceber é que o

Facebook está aberto a todos e pode ser usado para influenciar a agenda

pública de muitas maneiras diferentes. Intimado pelo poder dos indivíduos,

nossas atuais instituições de governança são, no entanto, incapazes de lidar

com o dinamismo e a diversidade das opiniões cidadãs mediadas digitalmente.

Assim podemos afirmar que não temos indicadores sólidos para

argumentar a favor de uma possível ciberdemocracia brasileira. A este

respeito, esperamos que etapas subsequentes da pesquisa, no doutorado,

descortinem novos e instigantes novos resultados.

Com efeito, cumpre aqui chegar ao fio da meada lembrando uma fala de

Castells (2015), que demonstra um dos motivos do crescimento dos memes

políticos do Facebook. Ele conclui: “O que é certo é que a comunicação dos

jovens passa pelas redes sociais, e por isso os partidos e movimentos de todo

tipo intervêm nas redes sociais, porque a única coisa segura sobre o futuro é

que são os jovens de hoje que o farão. Quem mais influenciar a mente dos

jovens no espaço da comunicação construirá as bases do poder – conservador,

reformista ou revolucionário – no Brasil”.

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ANEXOS

Todos os memes coletados e as devidas análises apresentadas para essa

pesquisa se encontram disponíveis para consulta na Internet através do

endereço:

http://memespoliticosdofacebook.wordpress.com