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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Faculdade de Engenharia Química CECÍLIA BUZATTO WESTIN ADESÃO, CRESCIMENTO E DIFERENCIAÇÃO DE CÉLULAS-TRONCO MESENQUIMAIS DENTÁRIAS EM SUPORTES POROSOS DE QUITOSANA- XANTANA E PCL PROJETADOS PARA O TRATAMENTO DA OSTEOARTRITE CAMPINAS - SP 2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia Química

CECÍLIA BUZATTO WESTIN

ADESÃO, CRESCIMENTO E DIFERENCIAÇÃO DE CÉLULAS-TRONCO

MESENQUIMAIS DENTÁRIAS EM SUPORTES POROSOS DE QUITOSANA-

XANTANA E PCL PROJETADOS PARA O TRATAMENTO DA OSTEOARTRITE

CAMPINAS - SP

2016

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CECÍLIA BUZATTO WESTIN

ADESÃO, CRESCIMENTO E DIFERENCIAÇÃO DE CÉLULAS-TRONCO

MESENQUIMAIS DENTÁRIAS EM SUPORTES POROSOS DE QUITOSANA-

XANTANA E PCL PROJETADOS PARA O TRATAMENTO DA OSTEOARTRITE

Dissertação apresentada à Faculdade de

Engenharia Química da Universidade

Estadual de Campinas como parte dos

requisitos exigidos para a obtenção do

título de Mestra em Engenharia

Química.

Orientadora: Ângela Maria Moraes

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO

DEFENDIDA PELA ALUNA CECÍLIA BUZATTO WESTIN, E ORIENTADA

PELA PROFA. DRA. ÂNGELA MARIA MORAES

CAMPINAS - SP

2016

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Dissertação de Mestrado defendida por Cecília Buzatto Westin e aprovada em 25 de fevereiro

de 2016 pela banca examidora constituída pelos doutores:

__________________________________

Profa. Dra. Ângela Maria Moraes

__________________________________

Profa. Dra. Everson Alves Miranda

__________________________________

Profa. Dra. João Ernesto de Carvalho

A ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida

acadêmica da aluna.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, por me abençoar e proteger nas difíceis decisões tomadas durante esta

fase.

À minha família, especialmente aos meus pais, Fred e Márcia, por sempre acreditarem no meu

potencial e apoiarem minhas decisões.

Aos meus queridos irmãos, Daniel e Diego, pelas orientações de vida que indiretamente me

concedem.

Ao Caio Henrique Bos Loureiro, pelo apoio, compreensão e amor demonstrados.

À professora Dra. Ângela Maria Moraes, pela oportunidade concedida, pelos esclarecimentos

e orientação dedicada.

Aos meus prezados amigos de laboratório, Re, Fer, Lucas, Sérgio, Gisele, Rodrigo, Cris e

especialmente as minhas irmãzinhas Luizinha e Oxy pela amizade, auxílio e pelos momentos

alegres proporcionados.

Ao Rafael Trinca pela produção dos suportes de PCL.

Às amigas maravilhosas da república, que sempre me proporcionaram momentos de

felicidade e a todos os amigos que fizeram parte desta etapa da minha vida.

Ao LABMOCA, especialmente ao Dr. Ibsen, pelos ensinamentos e pela participação na banca

de qualificação, e as minhas queridas companheiras Carol e Ingrid, que me auxiliaram nas

diferentes técnicas desenvolvidas e me proporcionaram momentos de doçura.

Ao professor Dr. Everson Alves Miranda, também membro da banca de qualificação do

Mestrado.

À R-crio®, especialmente ao Rafael Maza, prezado amigo desde a Nanocore, pela cessão das

células-tronco dentárias.

À Acecil Central de Esterilização Comércio e Indústria Ltda pela esterilização dos suportes

utilizando-se o óxido de etileno.

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À equipe do LRAC, principalmente ao Adilson Brandão, Lucélia Silva e Celso Camargo,

pelos ensaios realizados e esclarecimentos prestados.

Ao Laboratório de Microscopia Eletrônica do IB, pelo auxílio na realização das microscopias

eletrônicas de varredura das amostras com células aderidas.

A todos os funcionários da Faculdade de Engenharia Química que, direta ou indiretamente,

colaboraram para a realização deste trabalho.

À CAPES e FAPESP, pelo apoio financeiro.

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RESUMO

Neste trabalho visou-se desenvolver e avaliar o uso de suportes porosos produzidos

com xantana, quitosana e Poloxamer P188, perfurados (QXp) ou não (QX), e de

poli(caprolactona) (PCL) eletrofiada contendo ou não dexametasona (DEX) para adesão,

crescimento e diferenciação de células-tronco mesenquimais (CTM) dentárias, ainda pouco

exploradas com tal finalidade, em combinação com o fator de diferenciação kartogenina.

Foram analisados o aspecto, morfologia da superfície, absorção e perda de massa em

diferentes soluções aquosas, espessura, eficiência de incorporação e cinética de liberação da

dexametasona, comportamento térmico, cristalinidade e citotoxicidade indireta dos suportes.

O comportamento das CTM foi avaliado por determinação dos parâmetros cinéticos de

crescimento, microscopia eletrônica de varredura e análise histológica da diferenciação

celular. Os suportes QXp apresentaram interconectividade aumentada entre os poros. A matriz

de PCL exibiu aspecto macroscópico homogêneo e flexível, com distribuição aleatória de

fibras, e a presença de DEX não resultou em diferença macroscópica na morfologia dos

suportes. Maior absorção foi verificada para QXp, em água. Para os suportes de PCL, devido à

limitada absorção, notou-se menor perda de massa. As espessuras médias variaram de 887 a

969 µm para suportes QXp e de 286 a 395 µm para os de PCL. A impregnação de DEX nos

suportes QXp não foi efetiva. Porém, nos suportes de PCL, o fármaco foi adequadamente

incorporado por adição direta, notando-se liberação máxima em 72 h em concentração

apropriada para a diferenciação celular em condrócitos. A adição de DEX não alterou a

estabilidade do suporte de PCL de acordo com dados de análise termogravimétrica. A análise

de difração de raios X demonstrou estrutura amorfa para os suportes QXp e cristalina para os

de PCL. A velocidade específica máxima de crescimento das CTM dentárias foi de 0,036 h-1

,

e o tempo de duplicação, de 23,1 h. Baixa citotoxicidade foi verificada para todas as matrizes,

sendo as de PCL menos citotóxicas que as de QXp. A menor concentração de kartogenina

utilizada (100 nmol/L) foi a mais adequada para a indução da diferenciação celular, por

implicar em menor relação custo/benefício. Observou-se adesão, proliferação e diferenciação

apropriadas das células em condrócitos tanto nos suportes de QXp quanto nos de PCL com

dexametasona, concluindo-se que ambos são aplicáveis na área de Engenharia de Tecidos

cartilaginosos.

Palavras-chave: engenharia de tecidos; células-tronco mesenquimais dentárias; kartogenina;

dexametasona; quitosana; xantana; poli(caprolactona); osteoartrite; cartilagem

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ABSTRACT

This study aimed the development and performance evaluation of porous scaffolds produced

with chitosan, xanthan gum (CX) and Poloxamer P188, perforated (CXp) or not (CX), and

with electrospun poly(caprolactone) (PCL) incorporating or not dexamethasone (DEX), for

adhesion, growth and differentiation of dental mesenchymal stem cells (MSC), yet unexplored

for such purpose, in association with kartogenin as a differentiation factor. Characterizations

regarding aspect, surface morphology, absorption and weight loss in different aqueous

solutions, thickness, dexamethasone incorporation efficiency and release kinetics,

thermogravimetric behavior, crystallinity, and indirect cytotoxicity were performed. The

behavior of MSC was evaluated by determining their growth kinetic parameters, scanning

electron microscopy and cell differentiation by histological analysis. The CXp scaffolds

showed improved pore interconnectivity. The PCL scaffolds showed to be homogeneous and

flexible, with randomic fiber distribution, and the presence of DEX did not result in

macroscopic differences in the morphology of the scaffolds. The highest absorption was

detected in water for CXp. Due to the limited liquid absorption, the PCL scaffolds showed low

mass loss. The mean thickness values ranged from 887 to 969 µm for CXp scaffolds and from

286 to 395 µm for PCL scaffolds. DEX impregnation in CXp scaffolds was not effective, but

in the PCL ones, it was successfully incorporated by direct addition, showing maximal release

in 72 h at a concentration suitable for cell differentiation in chondrocytes. The addition of

dexamethasone did not alter the stability and decomposition of the PCL scaffold according to

thermogravimetric analysis. The X-ray diffraction analysis showed amorphous structure for

CXp scaffolds and crystalline structure for those constituted of PCL. The maximum specific

growth rate of dental MSC was 0.03 h-1

, and cell doubling time was 23.1 h. Low cytotoxicity

was detected for all matrices, but those produced with PCL showed lower values the CXp

formulation. The lowest kartogenin concentration (100 nmol/L) was the most appropriate to

induce cell differentiation due to its lower cost/benefit ratio. Adequate adhesion, proliferation

and differentiation of the MSC cells into chondrocytes were observed both in the CXp matrix

and in the PCL scaffolds. Therefore, it was concluded that both types of matrices are suitable

as scaffolds for the application in cartilage Tissue Engineering.

Keywords: tissue engineering; dental mesenchymal stem cells; kartogenin; dexamethasone;

chitosan; xanthan; poly(caprolactone); osteoarthritis; cartilage.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

a0: raio inicial para esferas e cilindros ou metade da espessura para sistemas planos na

liberação de fármacos

Ab: capacidade máxima de absorção

ADAMTS: disintegrin and metalloproteinase with thrombospondin motifs

BMP: proteína morfogenética óssea

C: chitosan

C0: concentração inicial do fármaco na matriz

CBFβ: fator de transcrição da subunidade β do fator núcleo-ligante

CHO: ovário de hamster chinês (chinese hamster ovary)

CTM: célula-tronco mesenquimal

CX: chitosan and xanthan scaffold

DFSC: células-tronco do folículo dental (dental follicle progenitor cells)

DMEM: meio de eagle modificado por dulbecco (dulbecco´s modified eagle´s medium)

DMSO: dimetilsulfóxido

DPSC: células-tronco da polpa de dentes decíduos (dental pulp stem cells)

DRX: difração de raio-x

DEX: dexametasona

EDTA: ácido etileno-diamino-tetracetato-dissódico

FDA: food and drug administration

FGF: fator de crescimento de fibroblasto

GAG: glicosaminoglicano

H&E: hematoxilina e eosina

ITS: insulina, transferrina e selênio

k0: constante de erosão do suporte

KGN: kartogenina

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KH: constante de liberação de higuchi

LABMOCA: laboratório de biologia molecular de cartilagem

LEBC: laboratório de engenharia de biorreações e colóides

LRAC: laboratório de recursos analíticos e de calibração

MEV: microscopia eletrônica de varredura

Mf: massa final

Mi: massa inicial

Ms: massa da amostra seca

MSC: mesenchimal stem cells

MTT: brometo de 3(4,5-dimetiltiazol-2-ila)-2,5-difeniltetrazólio)

Mu: massa da amostra úmida

NaCl: cloreto de sódio

NaOH: hidróxido de sódio

NK: natural killer

OA: osteoartrite

OE: óxido de etileno

OMS: organização mundial da saúde

PBS: tampão fosfato salino

PCL: poli(caprolactona)

PCLd: suporte constituído de poli(caprolactona) contendo dexametasona

PDLSC: células-tronco do ligamento periodontal (periodontal ligament stem cells)

PEC: complexo polieletrólito

PEO: poli(oxi etileno)

PGA: poli(ácido glicólico)

PLA: poli(ácido láctico)

PLGA: poli(ácido lático-co-glicólico)

PLLA: poli(ácido lático)

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Pm: perda de massa

PPO: poli(oxi propileno)

Q: quitosana

Qt/Q∞: fração do fármaco liberada ao longo do tempo

QX: suporte constituído por quitosana e xantana

QXp: suporte perfurado constituído por quitosana e xantana

RPM: rotações por minuto

SCAP: células-tronco da papila apical (stem cells from apical papilla)

SDS: dodecil sulfato de sódio

SFB: soro fetal bovino

SHED: células-tronco da esfoliação dos dentes decíduos humanos (stem cells

from human exfoliated deciduous teeth)

td: tempo de duplicação celular

Tg: transição vítrea

TGA: análise termogravimétrica

TGF-β: fator transformador de crescimento

TLR4: toll-like receptor 4

TPP: poliestireno

X: xantana, xanthan

α-MEM: meio essencial mínimo de eagle (minimum essential medium eagle)

μmáx: velocidade específica máxima de crescimento

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 16

1.1 Objetivo ............................................................................................................................ 19

2. REVISÃO DA LITERATURA ...................................................................................... 21

2.1 Osteoartrite ...................................................................................................................... 21

2.1.1 Tratamentos padrões versus tratamentos atuais ...................................................... 23

2.2 Engenharia de tecidos e células-tronco mesenquimais ................................................ 25

2.2.1 Propriedades esperadas de scaffolds com aplicação na terapia de osteoartrite ...... 27

2.2.2 Células-tronco mesenquimais obtidas da polpa dentária ........................................ 31

2.2.3 Condrogênese ............................................................................................................ 33

2.2.4 Kartogenina ............................................................................................................... 35

2.2.5 Dexametasona............................................................................................................ 36

2.2.6 Mecanismos de liberação controlada de fármacos incorporados em matrizes

poliméricas ............................................................................................................................... 38

2.3 Polímeros com aplicação na produção de scaffolds ...................................................... 42

2.3.1 Poli(caprolactona) (PCL) .......................................................................................... 44

2.3.2 Quitosana ................................................................................................................... 46

2.3.3 Goma Xantana ........................................................................................................... 49

2.3.4 Complexo polieletrólito de quitosana-xantana......................................................... 50

2.3.5 Agentes porogênicos .................................................................................................. 52

2.3.5.1 Poloxamer 188 ........................................................................................................... 53

2.4 Colocação do problema ................................................................................................... 54

3. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................... 56

3.1 Reagentes .......................................................................................................................... 56

3.1.1 Polímeros ................................................................................................................... 56

3.1.2 Reagentes para cultivo e análise do comportamento celular................................... 56

3.1.3 Outros reagentes ........................................................................................................ 57

3.1.4 Células-tronco mesenquimais ................................................................................... 57

3.2 Métodos ............................................................................................................................ 58

3.2.1 Preparação dos suportes poliméricos de Quitosana-Xantana ................................. 58

3.2.2 Incorporação de dexametasona por impregnação em solução hidroetanólica nos

suportes de quitosana-xantana ............................................................................................... 59

3.2.2.1 Análise da eficiência de incorporação de dexametasona incorporada nos suportes de

QX e QXp .................................................................................................................................. 60

3.2.3 Preparação dos suportes poliméricos de poli(caprolactona) ................................... 60

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3.2.4 Incorporação de dexametasona nos suportes de poli(caprolactona) ...................... 61

3.2.4.1 Estimativa da eficiência de incorporação de dexametasona por análise da perda por

evaporação do solvente ............................................................................................................ 61

3.2.5 Caracterização físico-química dos suportes poliméricos ......................................... 62

3.2.5.1 Aspecto e morfologia da superfície ............................................................................ 62

3.2.5.2 Espessura.................................................................................................................... 62

3.2.5.3 Capacidade de absorção e estabilidade em decorrência da exposição a soluções

aquosas.. ................................................................................................................................... 62

3.2.5.4 Análise Termogravimétrica (TGA) ............................................................................. 63

3.2.5.5 Determinação da Cristalinidade ................................................................................ 64

3.2.6 Metodologias de análise do comportamento biológico ............................................ 65

3.2.6.1 Reativação e preservação das células mesenquimais e obtenção do inóculo ........... 65

3.2.6.2 Caracterização dos parâmetros de crescimento das células mesenquimais ............. 65

3.2.6.3 Análise da citotoxicidade in vitro indireta dos suportes às células mesenquimais ... 66

3.2.6.4 Diferenciação das células mesenquimais dentárias em condrócitos ......................... 67

3.2.6.5 Análises histológicas .................................................................................................. 68

3.2.6.5.1 Tricrômico de Masson ................................................................................................ 69

3.2.6.5.2 Hematoxilina e Eosina (H&E) ................................................................................... 70

3.2.6.5.3 Azul de Alcian ............................................................................................................. 70

3.2.6.6 Análise das CTMs aderidas nas membranas por microscopia eletrônica de

varredura (MEV) ...................................................................................................................... 71

3.3 Análise estatística dos resultados ................................................................................... 72

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................... 73

4.1 Caracterização físico-química dos suportes poliméricos ............................................. 73

4.1.1 Determinação da eficiência de incorporação de dexametasona nos suportes ........ 73

4.1.2 Aspecto e morfologia da superfície ........................................................................... 74

4.1.3 Espessura ................................................................................................................... 77

4.1.4 Capacidade de absorção e estabilidade durante a exposição a soluções aquosas .. 79

4.1.5 Liberação de dexametasona incorporada nos suportes de poli(caprolactona) ....... 81

4.1.6 Modelagem matemática dos dados de liberação de dexametasona ......................... 17

4.1.7 Análise Termogravimétrica (TGA) ........................................................................... 17

4.1.8 Determinação da cristalinidade ................................................................................ 21

4.2 Análise do comportamento biológico ............................................................................. 23

4.2.1 Caracterização dos parâmetros de crescimento das células mesenquimais ............ 23

4.2.2 Análise da citotoxicidade in vitro indireta dos suportes às células mesenquimais . 23

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4.2.3 Diferenciação das células mesenquimais dentárias em condrócitos ....................... 25

4.2.3.1 Cultivo das células-tronco dentárias no sistema micromass ..................................... 25

4.3 Cultivo das células-tronco dentárias nos suporte poliméricos .................................... 31

4.3.1 Análise das CTMs aderidas nos suportes por microscopia eletrônica de varredura

(MEV)... .................................................................................................................................... 31

4.3.2 Análise das CTMs aderidas nos suportes por histologia ......................................... 35

5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES ................................................................................... 45

5.1 Conclusões ........................................................................................................................ 45

5.2 Sugestões para trabalhos futuros ................................................................................... 46

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 48

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1. INTRODUÇÃO

Osteoartrite (OA) é definida como uma insuficiência articular, sendo a forma mais

frequente das doenças designadas como "reumatismos", e lidera as causas de invalidez

crônica, em grande parte envolvendo joelhos e quadris. A análise dos dados dos EUA pela

Organização Mundial da Saúde (OMS) indica, por exemplo, que a OA causa invalidez em

10% da população que se encontra na faixa etária de 60 anos, afetando a vida de mais de 20

milhões de seus habitantes (SHARMA; KAPOOR, 2007). Esta doença é caracterizada por

mudanças no metabolismo dos condrócitos, o único tipo celular que compõe a cartilagem, que

levam a uma elevada produção de enzimas proteolíticas, deteriorando o tecido cartilaginoso e

causando a perda das funções articulares (GARCÍA-CARVAJAL et al., 2013).

Por meio das cirurgias reparativas atuais é realizada a substituição total da articulação,

gerando muitas vezes complicações musculoesqueléticas. A utilização de uma abordagem

biológica para reparar essas lesões e restaurar a cartilagem ou os ligamentos constituiria uma

solução ideal. Esta é a proposta da engenharia de tecidos, uma área relativamente nova que

tem como objetivo incorporar células específicas em suportes biodegradáveis e

biocompatíveis (denominados em inglês pelo termo scaffolds) que, quando implantados nas

lesões, regeneram gradualmente o tecido de forma semelhante ao original, restaurando suas

funções (KUO; LI; TUAN, 2013). Idealmente, o suporte deve sofrer degradação em uma taxa

compatível com o crescimento das células nele inoculadas, para que o tecido lesado possa ser

susbtituído pelo novo de maneira eficiente.

Diversos tipos de materiais vêm sendo testados na fabricação destes suportes, como

cerâmicas, metais, poliméricos sintéticos e de origem biológica, assim como compósitos.

Comparados aos materiais cerâmicos, os polímeros oferecem uma maior versatilidade no que

diz respeito ao processamento e à liberação controlada de drogas, podendo acelerar e

aumentar o processo de formação de cartilagem. Além disso, os polímeros se destacam devido

à biocompatibilidade, biodegradabilidade, à capacidade de mimetização de variadas

propriedades biológicas e ao abundante número de grupos funcionais que permitem a

funcionalização de sua superfície (HUANG; LEE; LOO, 2014).

Os suportes podem ser fabricados em diversos formatos ou estados físicos, como

micropartículas, hidrogéis, matrizes porosas, fibras e suas associações (HUANG; LEE; LOO,

2014).

A literatura reporta diversos polímeros naturais e sintéticos utilizados na preparação

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dos suportes para a reparação de osso e cartilagem, como colágeno, fibroína de seda,

quitosana, alginato, goma xantana, poli(caprolactona) (PCL) e poli(ácido lático) (PLA)

(HUANG; LEE; LOO, 2014; LUO; WANG, 2014 e GARCIA-GIRALT et al.,2008).

A quitosana é o único polissacarídeo conhecido carregado positivamente facilmente

obtido de fontes naturais, sendo um dos biopolímeros mais frequentemente utilizados no

desenvolvimento de sistemas de liberação controlada de drogas, devido às suas características

promissoras, como biocompatibilidade, excelente biodegradabilidade, baixa toxicidade, além

de ser extremamente abundante e de baixo custo de produção (HUANG; LEE; LOO, 2014).

Atenção especial tem sido dada à capacidade da quitosana de formar complexos

polieletrólitos (PEC) através de interação eletrostática com polímeros de carga oposta (LUO;

WANG, 2014), como a goma xantana.

A goma xantana é um polissacarídeo aniônico com uma produção anual que se

expande a uma taxa de 5 a 10% devido às suas características reológicas, o que lhe confere

variadas aplicações industriais. Sua baixa toxicidade e origem natural fez com que o FDA

(Food and Drug Administration) aprovasse a sua utilização nas indústrias farmacêuticas e de

alimentos sem limitações específicas de quantidade desde 1968 (LUO; WANG, 2014). O PEC

formado entre a xantana e a quitosana pode ter diversas estruturas, como hidrogéis,

membranas e partículas. Bellini e colaboradores (2012) desenvolveram membranas de

quitosana e xantana porosas em variadas proporções poliméricas, obtendo bons resultados na

utilização das mesmas como scaffolds para adesão celular e como curativos para pele. Veiga e

Moraes (2011) variaram a taxa de adição da quitosana à xantana, assim como a proporção dos

polissacarídeos na mistura e constataram a existência de uma taxa adequada (300 mL/h) para

resultar em membranas com propriedades mecânicas mais apropriadas. O aumento das

concentrações dos polissacarídeos ocasionou o aumento na absorção de água e a redução da

resistência à ruptura.

Dentre os polímeros de origem sintética, destaca-se na constituição de scaffolds a

PCL, que consiste em um material cristalino que possui propriedades mecânicas adequadas e

taxa de biodegradação inferior quando comparada a outros poliésteres, o que confere a este

polímero características superiores na engenharia de tecido cartilaginoso (GARCIA-GIRALT

et al.,2008). Garcia-Giralt e colaboradores (2008) demonstraram que suportes constituídos de

PCL também têm a capacidade de manter o fenótipo de condrócitos durante o cultivo, mesmo

que estes tenham se dediferenciado em fibroblastos durante o cultivo em monocamada.

Para propiciar o adequado crescimento celular na área de medicina regenerativa, com

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frequência é também necessário o uso de fatores de promoção da reprodução e de estimulação

da diferenciação celular, funções nas quais se destacam a kartogenina e a dexametasona no

caso de diferenciação em condrócitos.

A kartogenina (KGN) é um composto recentemente descoberto capaz de acelerar o

processo de recuperação do tecido cartilaginoso. Trata-se de uma pequena molécula

heterocíclica que promove a diferenciação de células-tronco mesenquimais humanas em

condrócitos de maneira eficiente. Estes condrócitos proliferam rapidamente, produzindo a

matriz cartilaginosa no local lesionado (ZHANG; WANG, 2014).

Similarmente, a dexametasona pode ser também utilizada com sucesso na

diferenciação em condrócitos. No início do processo condrogênico, ocorre uma condensação

celular mediada por fatores de crescimento e por glicocorticoides análogos à dexametasona,

porém o mecanismo preciso da ação dos glicocorticoides na condrogênese ainda não é

conhecido (DERFOUL et al., 2006). Estes fatores de diferenciação podem tanto ser

adicionados no meio de cultivo quanto ser incorporados nos suportes que serão utilizados na

engenharia de tecido.

Diversas fontes de células-tronco podem ser utilizadas nesta diferenciação em

condrócitos, como as células embrionárias. Entretanto, o emprego destas células envolve

questões éticas, o que desfavorece sua utilização. Assim, fontes alternativas de células-tronco

se tornam imprescindíveis, como as provenientes de tecidos adultos. Dentre estas, as células-

tronco dentárias oferecem uma gama de vantagens, como alta plasticidade, criopreservação

por longos períodos sem perda da capacidade de diferenciação, boa interação com fatores de

crescimento e suportes, além de serem de fácil obtenção (SUNIL et al., 2012). Porém, ainda

são pouco utilizadas para esta finalidade.

Durante a fabricação dos suportes, atenção particular deve ser dada a suas

propriedades mecânicas, morfológicas e a sua porosidade, as quais devem idealmente

mimetizar o tecido a ser reparado. Cada tipo de célula se adapta de diferentes maneiras frente

a diversos tamanhos de poros em relação à adesão, crescimento e motilidade no suporte. No

caso da cartilagem, estudos demonstram que macroporos em torno de 150-300 µm altamente

conectados são propícios ao crescimento interno de tecido cartilaginoso (CHANG; WANG,

2011).

A liofilização é a técnica mais comum de obtenção de biomateriais porosos, a qual

retira, através de sublimação, água e outros solventes contidos no material, porém é um

método de custo relativamente elevado e laborioso. Uma alternativa para a obtenção de poros

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é a adição de agentes porogênicos solubilizáveis, como glicose ou NaCl (BUENO; MORAES,

2011), no entanto, caso estes compostos não sejam removidos de maneira eficientemente,

podem causar aumento da osmolalidade do suporte e do meio de cultivo.

Também é possível obter suportes porosos através da incorporação de tensoativos

como o Tween 80 e Pluronic F-68 em complexos polieletrólitos de polissacarídeos,

propiciando a formação de poros e ainda facilitando a dispersão polimérica (BUENO;

MORAES, 2011; BELLINI et al., 2012). Uma forma alternativa ou adicional de se obter

materiais porosos seria através de perfurações mecânicas, utilizando, por exemplo, agulhas

hipodérmicas. Através deste método, pode-se aumentar a porosidade e a interconexão entre

poros já existentes, aumentando a probabilidade das células se alocarem no interior do

suporte, promovendo proteção enquanto cultivadas in vitro, além de tornar mais efetiva a

transferência de massa.

Outra alternativa para a obtenção de matrizes porosas é a eletrofiação. Esta técnica é

bastante útil para a produção de suportes com micro e nanoporos, apresentando extensa

aplicação na produção de curativos, suportes para engenharia de tecidos e outros materiais

biomédicos (Li et al., 2014). A técnica de eletrofiação consiste na aplicação de uma diferença

de potencial elétrico elevada entre um coletor e uma agulha da qual uma solução polimérica é

expelida a um fluxo constante (GARG; BOWLIN, 2011).

1.1 Objetivo

O presente trabalho, realizado como uma estreita colaboração entre o Laboratório de

Engenharia de Biorreações e Colóides (LEBC) da Faculdade de Egenharia Química da

UNICAMP e o Laboratório de Biologia Molecular de Cartilagem (LABMOCA) da Faculdade

de Ciências Médicas da mesma instituição, teve como objetivo analisar o potencial uso de

suportes porosos obtidos pela complexação de quitosana com xantana em fase aquosa e a

partir de poli(caprolactona) eletrofiada como base para adesão, crescimento e diferenciação de

células-tronco mesenquimais dentárias, através da adição de kartogenina ao meio de cultivo e

da incorporação de dexametasona nos suportes, visando à aplicação na terapia de lesões

cartilaginosas. O trabalho foi organizado nas seguintes etapas:

a) Obtenção e caracterização de suportes de quitosana-xantana porosos na presença

(QXp) e na ausência (QX) de perfuração, contendo ou não dexametasona;

b) Obtenção e caracterização de suportes de poli(caprolactona) contendo (PCLd) ou não

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(PCL) dexametasona;

c) Caracterização dos suportes quanto ao aspecto e morfologia de sua superfície,

capacidade de absorção, espessura, estabilidade em diferentes soluções, cristalinidade

e comportamento térmico;

d) Seleção da concentração mais apropriada de kartogenina no meio de cultivo para

diferenciação das células-tronco em condrócitos;

e) Determinação dos parâmetros de crescimento das células-tronco mesenquimais

dentárias;

f) Avaliação da citotoxicidade dos suportes às células-tronco mesenquimais;

g) Cultivo e avaliação da diferenciação das células-tronco dentárias em condrócitos nos

suportes para o tratamento de osteoartrite.

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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Osteoartrite

A osteoartrite (AO) é definida como uma desordem caracterizada pela perda lenta e

progressiva da cartilagem articular, sendo sua etiologia precisa ainda desconhecida, mas

intimamente relacionada a fatores de riscos como idade, sexo feminino, obesidade, fatores

geográficos, esforço físico, fatores genéticos, traumas, deficiência de vitamina D e

condrocalcinoses (DAS; FAROOQI, 2008).

A cartilagem é um tecido elástico que recobre as extremidades ósseas, amortece

impactos, auxilia no movimento articular, fornece suporte estrutural e conecta tecidos moles e

duros. Existem três tipos de cartilagem humana: hialina, elástica e fibrosa, as quais são

encontradas em diferentes partes do corpo (KUO; LI; TUAN, 2013). A cartilagem é composta

principalmente por condrócitos (sendo este o único tipo celular encontrado), água, colágeno

tipo II e por uma elevada quantidade de proteoglicanos agregados. A rede de colágeno é

responsável pela resistência à tração, e os proteoglicanos agregados (principalmente

agrecanos), com suas cadeias laterais de glicosaminoglicanos (GAG), são responsáveis por

determinar a rigidez da cartilagem (MOYER; RATNESWARAN; BIRMINGHAM, 2014). Na

Figura 1 faz-se a comparação, de forma esquemática, do aspecto uma articulação normal e

uma com osteoartrite, mostrando-se também a composição da cartilagem.

Os danos cartilaginosos são causados por mecanismos físicos, biológicos ou por uma

combinação de ambos. As causas físicas, como traumas, muitas vezes danificam a estrutura

do tecido e prejudicam as células do local, criando lesões permanentes na cartilagem. Por

outro lado, as causas biológicas, tais como doenças autoimunes e inflamação, desencadeiam

respostas bioquímicas e celulares que degradam o tecido cartilaginoso (KUO; LI; TUAN,

2013).

Segundo García-Carvajal e colaboradores (2013), mutações genéticas podem induzir a

deleção do aminoácido glicina no colágeno tipo II, desestabilizando a tripla hélice desta

proteína, tornando-o mais susceptível à degradação por metaloproteinases. Outras moléculas

relacionadas à OA são as enzimas ADAMTS-4 e ADAMTS-5, as quais degradam os

agrecanos, o proteoglicano mais abundante na cartilagem articular. Quando este evento

ocorre, o colágeno tipo II fica exposto e sofre ação proteolítica da enzima DDR-2. Estas

alterações na matriz extracelular da cartilagem primeiramente desencadeiam a proliferação

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dos condrócitos e a formação de tecido fibroso, o qual cicatriza em resposta à doença. Com a

cicatrização, são produzidos fatores de crescimento, como o TGFβ, que causam hipertrofia

dos condrócitos (GARCÍA-CARVAJAL et al., 2013).

Figura 1 – Articulação normal e com osteoartrite e, em detalhe, a composição da cartilagem

(adaptada de WIELAND et al., 2005 e HARDIN; COBELLI; SANTAMBROGIO, 2015).

Até 2030, estima-se que por volta de 25% da população americana irá desenvolver

algum tipo de artrite (KUO; LI; TUAN, 2013). De acordo com dados da Previdência Social

Brasileira, a osteoartrite é responsável por 7,5% dos afastamentos de trabalho, sendo a

segunda doença entre as que justificam o auxílio inicial, e ocupando a quarta posição entre as

doenças que levam à aposentadoria, correspondendo a 10,5% dos casos (TREVISANI;

FIDELIX, 2009). Isto demonstra claramente potencial para elevados dispêndios neste sentido,

reforçando a necessidade urgente de se desenvolver terapias alternativas eficientes para se

tratar a osteoartrite.

ColágenoCondrócito Proteoglicano

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2.1.1 Tratamentos padrões versus tratamentos atuais

A cartilagem é um tecido hipocelular que não possui sistema linfático para auxiliar na

circulação de células e moléculas que atuam no reparo, como fatores de crescimento e

citocinas para iniciar a cicatrização de feridas. Dessa maneira, lesões na cartilagem

geralmente progridem de uma maneira praticamente irreversível (HUNZIKER, 2002).

Os tratamentos atuais para lesões cartilaginosas incluem intervenções cirúrgicas e não

cirúrgicas, estando sumarizados na Tabela 1. Tratamentos não cirúrgicos, como a utilização

de drogas ou fisioterapia, são geralmente realizados nos estágios iniciais da osteoartrite ou em

cartilagens com lesões pouco expressivas, enquanto as intervenções cirúrgicas são realizadas

nos estágios intermediários e avançados da OA ou em cartilagens com danos severos. Nestes

casos, tipicamente, o único recurso para o reparo do tecido cartilaginoso é a intervenção

cirúrgica, devido à baixa capacidade de autorregeneração celular.

O protocolo padrão para tratar lesões severas de cartilagem é a troca total da

articulação, um procedimento efetivo, porém realizado somente quando os demais

tratamentos não propiciaram alívio ao paciente. Além disso, resultados clínicos demonstram

que apesar destes procedimentos cirúrgicos serem capazes de melhorar o quadro do paciente,

podem ocorrer complicações inerentes aos tratamentos, como a formação de fibrocartilagem

(KUO; LI; TUAN, 2013).

Para os pacientes com lesões menos severas, outros procedimentos cirúrgicos são

realizados, sendo a microfratura a técnica mais comum. Nesta técnica são realizadas

perfurações ósseas para promover a liberação de células mesenquimais provenientes da

medula óssea que realizarão, posteriormente, a regeneração da cartilagem (CAVALCANTI et

al., 2012).

Recentemente, novas técnicas de reparação condral têm sido desenvolvidas, como

artroscopia da borda condral com sutura ou com cola de fibrina e utilização de scaffolds ou de

suportes sólidos tridimensionais (CASSAR-GHEITI et al., 2015), como o Chondro-Gide®

(suporte composto por colágeno I e III) e o MACI (suporte de terceira geração constituído de

colágeno de origem porcina), na presença ou ausência de células. Além destes, existem

também a mosaicoplastia e o implante de condrócitos autólogos (CASSAR-GHEITI et al.,

2015).

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Tabela 1: Métodos mais utilizados no tratamento de doenças cartilaginosas e seus resultados

típicos (adaptado de Segal, Buckwalter e Amendola, 2006, com contribuições de Coimbra,

2015).

Método Considerações Resultados

Desbridamento Reestabelece um leito ósseo

sangrante, para que as células-tronco

locais formem um tecido cicatricial

reparando a lesão. É um método

considerado em desuso atualmente

Formação de fibro-cartilagem

com menor resistência quando

comparada à cartilagem hialina.

Microfraturas Desbridamento da cartilagem

associado a perfurações do osso

subcondral, reestabelecendo um leito

ósseo sangrante com maior número

de células que o desbridamento.

Pode ser associado ao uso de

membranas acelulares, como as de

ácido hialurônico.

Formação de fibro-cartilagem

com menor resistência quando

comparada à cartilagem hialina.

Transplante

Autólogo de

Condrócitos

Técnica complexa, realizada em dois

estágios: artroscopia para coletar

cartilagem hialina e desbridamento

da lesão com sutura de bolsa de

perióstio ao redor da lesão, formando

uma cavidade para injeção das

células cultivadas.

O tecido resultante é muito

semelhante à cartilagem hialina.

Mosaicoplastia Retirada de cilindros osteocondrais

da região da tróclea ou intercôndila e

seu transplante para o local da lesão

cartilaginosa.

Técnica efetiva de

preenchimento da lesão com

cartilagem hialina, porém

limitada no tratamento de lesões

grandes por morbidade na área

doadora.

Transplante de

Cartilagem

Transplante de osso e cartilagem de

cadáver humano para o paciente, não

havendo limitação de tamanho para

utilização e não gerando morbidade

na área doadora.

É necessário que haja

compatibilidade anatômica da

área doadora com a área

receptora.

Engenharia de

tecido

Condrócitos são cultivados em

suportes artificiais.

Com esse tipo de estratégia, a

hipertrofia é reduzida em torno

de 5%, e entre 3 e 6 meses as

membranas são reabsorvidas.

A engenharia de tecidos representa uma abordagem emergente para o reparo e

regeneração da cartilagem. Nos anos 90, os estudos de células-tronco, biomateriais e

biorreatores fez com que a engenharia de tecido cartilaginoso ganhasse novas perspectivas.

Tais estudos se baseiam na inoculação de condrócitos ou de células-tronco em scaffold

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constituído por materiais biocompatíveis em um biorreator para produzir cartilagem in vitro.

A cartilagem obtida é, então, implantada in vivo para o tratamento ou substituição do tecido

danificado. Pontos críticos para o sucesso dessa estratégia são o desenvolvimento de scaffolds

com resistência mecânica adequada, que regulem as atividades biológicas celulares e que

garantam a manutenção do fenótipo dos condrócitos (KUO; LI; TUAN, 2013).

2.2 Engenharia de tecidos e células-tronco mesenquimais

A engenharia de tecidos é uma área emergente, definida como um campo

interdisciplinar que aplica os princípios da engenharia, biologia e medicina de forma científica

com o intuito de desenvolver substitutos biológicos que reconstruam, mantenham ou

melhoram as funções dos tecidos lesados, sendo a substituição completa de um órgão seu

maior desafio (SARKAR et al., 2013). No ano de 2007, aproximadamente 50 indústrias e

mais de 3000 funcionários desenvolveram produtos comerciais para a regeneração de tecidos,

gerando receita anual superior a 1,3 bilhões de dólares (LYSAGHT; JAKLENEC;

DEWEERD, 2008). As vantagens tecnológicas em torno das descobertas biológicas

continuam a impulsionar a engenharia de tecidos (SARKAR et al., 2013).

Basicamente, os princípios da engenharia de tecidos podem ser aplicados

terapeuticamente de duas maneiras: 1) os tecidos desenvolvidos em laboratório (in vitro),

constituídos de células e fatores de crescimento inoculados em uma matriz artificial, são

transplantados, como um conjunto, para a região lesada; e 2) uma combinação de matriz

artificial e fatores de crescimento é introduzida na região a ser regenerada, induzindo as

células hospedeiras a restaurarem o tecido in vivo in situ.

No primeiro método, as células também podem ser injetadas diretamente no local a ser

recuperado, porém a taxa de sobrevivência dessas células é extremamente baixa, geralmente

devido à falta de suprimento de nutrientes e oxigênio (MUSCHLER; NAKAMOTO;

GRIFFITH, 2004). Assim, uma variedade de dispositivos extracorpóreos ou implantáveis é

utilizada para abrigar as células transplantadas em matrizes semipermeáveis. A matriz permite

a difusão de nutrientes e de produtos de excreção, além de prevenir o movimento de

anticorpos, agentes patogênicos ou células imunocompetentes (MURUA et al., 2008).

As células utilizadas na engenharia de tecidos podem ser selecionadas de diversas

regiões, incluindo células autólogas do paciente, células alogênicas de outro ser humano, e

células xenogênicas geradas a partir de outras espécies. Entretanto, células alogênicas e

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xenogênicas geralmente são rejeitadas pelo sistema imunológico (SARKAR et al., 2013).

Os tipos de células mais comuns utilizadas incluem as células-tronco, células maduras

diferenciadas, ou uma mistura de células diferenciadas. As células-tronco podem ser

classificadas considerando-se sua origem (embrionárias, pré-natais e adultas) ou sua

capacidade de diferenciação (pluripotente, multipotente e unipotente) (KARAMZADEH;

ESLAMINEJAD, 2013). As células-tronco embrionárias constituem uma alternativa atrativa

para a engenharia de tecidos, visto que elas podem se reproduzir sem que haja perda do

fenótipo, podem ser expandidas em cultura e, o mais importante, podem se diferenciar em

qualquer tipo de célula (pluripotentes) quando sujeitas a estímulos específicos. Como essas

células-tronco são isoladas a partir do estágio embrionário, elas podem se desenvolver em

qualquer uma das três camadas germinativas: endoderme, mesoderme ou ectoderme

(SARKAR et al., 2013). As células-tronco adultas incluem, por exemplo, células

mesenquimais, hematopoiéticas, neurais e hepáticas. As hematopoiéticas são utilizadas

geralmente para o tratamento de doenças do sangue. As células-tronco mesenquimais (CTM)

têm a vantagem de poder ser transplantadas de um paciente para outro sem desencadear

resposta imunológica apreciável, não sendo necessária a utilização de drogas

imunossupressoras. Além disso, são capazes de se diferenciar em diversas linhagens

(multipotentes) como osso, cartilagem e músculos. Células-tronco mesenquimais podem

também modular a resposta imune do hospedeiro através de mecanismos parácrinos ou

endócrinos, sendo atualmente aplicadas em ensaios clínicos para o tratamento de doenças do

sistema imunológico (SARKAR et al., 2013).

Entre os diferentes tipos de células-tronco, as que provêm de tecidos adultos, apesar de

terem menor plasticidade, são muito atrativas para aplicação na medicina regenerativa, pois

não estão associadas a questões éticas, e apresentam potencial tumorigênico inferior ao das

células-tronco embrionárias (KARAMZADEH; ESLAMINEJAD, 2013).

Diversos tecidos adultos contêm células-tronco, como a medula óssea, o cérebro, o

sangue periférico, a medula espinhal, a polpa dentária, vasos sanguíneos, os epitélios do

sistema digestivo e pele, córnea, retina, fígado, pâncreas e músculo esquelético (MALGIER;

NOVELLI; SANGIUOLO, 2011). Este assunto será tratado em mais detalhes adiante.

Uma ampla variedade de suportes é desenvolvida para diversas aplicações na

engenharia de tecidos, e suas características influenciam no tecido a ser formado. Diante do

exposto, no próximo item são descritas as características desejáveis dos suportes (scaffolds)

utilizados para engenharia do tecido cartilaginoso.

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2.2.1 Propriedades esperadas de scaffolds com aplicação na terapia de osteoartrite

Os scaffolds são definidos como matrizes que permitem o crescimento tecidual através

de um suporte estrutural que pode conter fármacos e/ou células (HOWARD et al., 2008). Os

fármacos podem estimular as células do tecido danificado a se proliferarem ou até mesmo se

diferenciarem, ocasionando a regeneração tecidual. Todavia, quando este tecido danificado

possui baixa quantidade de células, pode-se optar por cultivar novas células sobre os scaffolds

que serão implantados no local da lesão, onde irão se proliferar e formar tecidos in vivo

(HOWARD et al., 2008). A necessidade de novos tratamentos para doenças degenerativas da

cartilagem articular vem sendo cada dia mais discutida, colocando a engenharia de tecidos em

destaque (GORDELADZE et al., 2011).

Para a regeneração de tecidos cartilaginosos, células-tronco mesenquimais ou

condrócitos podem ser inoculados em scaffolds biocompatíveis e biodegradáveis e cultivados

in vitro previamente à implantação in vivo (BANDEIRAS et al., 2015). A biocompatibilidade

dos scaffolds é essencial, significando ausência de imunogenicidade ou de produção de

resposta inflamatória adversa, para que não haja rejeição do dispositivo implantado

(BABENSEE; MCINTIRE; MIKOS, 2000). O scaffold deve apresentar taxa de biodegradação

suficiente para que o tecido regenerado substitua o material progressivamente ao longo do

processo de regeneração da lesão. Dessa forma, diferentes tipos de polímeros são amplamente

utilizados nesses sistemas, visto que vários deles possuem características como

biodegradabilidade, fácil processamento e biocompatibilidade (HUANG; LEE; LOO, 2014).

Um scaffold ideal deve servir como suporte para as células animais aderirem,

proliferarem, diferenciarem e formarem a matriz extracelular (MEC). Estes fatores estão

relacionados intimamente às características do scaffold, como sua topografia, características

químicas; microestrutura (porosidade, dimensão dos poros, formato dos poros,

interconectividade dos poros e área superficial específica) e suas propriedades mecânicas

(GORDELADZE et al., 2011). Além disso, o scaffold deve ser passível de esterilização e ser

capaz de se degradar sem produzir metabólitos tóxicos, inflamatórios ou imunogênicos

(BABENSEE; MCINTIRE; MIKOS, 2000).

Para realizar a ancoragem celular, a interação célula-scaffold deve ser adequada. Esta

interação tem impacto direto na adesão e na morfologia das células, o que pode afetar

diversos processos celulares. Esta interação é direta ou indiretamente influenciada pelas

características físico-químicas da superfície do polímero, incluindo a hidrofilicidade,

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cristalinidade, carga e presença de grupos funcionais. A presença desses grupos funcionais é

de grande relevância, visto que eles podem ser utilizados para a conjugação de proteínas e

peptídeos específicos que irão influenciar na atividade celular desejada (BENOIT et al.,

2008).

Scaffolds para cartilagens devem apresentar características gerais comuns para

suportes visando à substituição de tecidos de qualquer tipo, como osso, vasos sanguíneos,

bexiga, músculos, pele, etc. Para se construir um scaffold ideal para a engenharia de tecido

cartilaginoso, é essencial identificar as atividades celulares críticas e quais são as propriedades

requeridas pelo biomaterial para que haja uma regeneração robusta (KUO; LI; TUAN, 2013).

A morfologia celular é um dos parâmetros críticos que devem ser analisados, pois

regula as atividades celulares. Como pode ser observado na Figura 2, a cartilagem articular

nativa é composta por quatro zonas distintas: zona superficial ou tangencial, zona média, zona

profunda ou radial e zona calcificada (GARCÍA-CARVAJAL et al., 2013).

Figura 2 – Organização da cartilagem articular nativa (adaptada de GARCÍA-CARVAJAL et

al., 2013).

Zona

superficial

Zona

média

Zona

radial

Zona

calcificada

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Os condrócitos que se encontram na zona superficial exibem morfologia elíptica, os da

zona média possuem morfologia esférica, os que se encontram na zona radial são agrupados

em colunas e expressam marcadores hipertróficos e os localizados na zona calcificada já se

encontram em apoptose (GARCÍA-CARVAJAL et al., 2013).

Assim, a manutenção do fenótipo dos condrócitos associado a estas diferentes

morfologias é um fator crítico. Testes in vitro demonstram que, após os condrócitos serem

isolados da cartilagem e cultivados em monocamadas em superfícies planas, as células

mudam do formato esférico para o um formato alongado e em fuso, e se dediferenciam em

células similares aos fibroblastos (KUO; LI; TUAN, 2013), conforme mostrado na Figura 3.

Figura 3 – Dediferenciação de condrócitos em cultura em monocamada para fibroblastos: (A)

condrócitos em formato esférico; (B) condrócitos dediferenciados após 6 dias em cultura em

monocamada (fonte: GLATTAUER et al., 2011).

O scaffold deve também ter capacidade efetiva de transporte de massa. Esta

característica é de suma importância no desenvolvimento de scaffolds para tecido

cartilaginoso, pois a cartilagem possui uma natureza avascular que dificulta a remoção

eficiente dos bioprodutos, sendo a difusão o único mecanismo disponível para tal finalidade

(KUO; LI; TUAN, 2013). Assim, os scaffolds devem possuir microporos para o transporte de

nutrientes e eliminação dos metabólitos produzidos pelas células (VIKINGSSON et al.,

2015). Além disso, a porosidade de um scaffold deve propiciar um ambiente biomecânico

adequado para permitir a transdução de sinais mecânicos para que haja diferenciação celular

(VIKINGSSON et al., 2015) e, simultaneamente, deve oferecer proteção para a nova

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cartilagem formada dos danos mecânicos, visto que a carga aplicada sobre eles após a

implantação é elevada (KUO; LI; TUAN, 2013).

Diferentemente dos condrócitos, que produzem colágeno tipo II, as células

dediferenciadas produzem colágeno tipo I, decorinas e biglicanos (KUO; LI; TUAN, 2013).

De fato, o formato de fuso dos condrócitos dediferenciados demonstra uma atividade celular

distinta daquele dos condrócitos esféricos. Entretanto, as células dediferenciadas podem se

rediferenciar no fenótipo esférico se forem encapsuladas em hidrogéis ou cultivadas em uma

superfície pouco adesiva. Os sistemas de cultivo utilizados para que haja a diferenciação em

condrócito são o micromass ou o cultivo de pellets em um sistema tridimensional (KUO; LI;

TUAN, 2013). O cultivo de pellets é um método padrão, baseando-se na centrifugação da

suspensão celular com o intuito de concentrá-la para promover maior interação entre as

células (centrifugação de 1 mL de meio de cultura contendo cerca de 106 células em tubos

cônicos, descartando-se em seguida o sobrenadante e incubando-se em estufa a 37,0 °C

durante 2 horas com posterior adição de meio de cultivo vagarosamente). Esta interação

celular é similar à observada na condensação inicial da formação de cartilagem durante o

desenvolvimento embriogênico (ZHANG et al., 2010). Todavia, dificilmente é obtida uma

cartilagem satisfatória por esta técnica, visto que as células muitas vezes são encontradas

indiferenciadas ou necrosadas na região central do pellet, e somente a camada superficial de

células se diferencia em condrócitos (ZHANG et al., 2010). O sistema de cultura micromass,

descrito primeiramente para a transformação de células-tronco mesenquimais em tecido

esquelético, foi aplicado para a indução de condrogênese de CTM (SCHARSTUHL et al.,

2007). Este sistema é superior à cultura em pellets, observando-se maior homogeneidade da

cultura e elevada produção de colágeno tipo II (ZHANG et al., 2010). Nesta técnica, cerca de

5 x 105 células contidas em gotas de 10 µL são inoculadas em poços de placas de fundo

cônico e mantidas em estufa com circulação de ar enriquecido com 5% de CO2 por 2 a 4

horas. Em seguida, é adicionado o meio de cultivo condrogênico delicadamente para que o

conjunuto de células não se desagregue e espalhe pelo poço.

Dahlin e colaboradores (2014) inocularam co-culturas de condrócitos e CTM de ratos

em scaffolds de poli(caprolactona) produzidos por eletrofiação e implantaram o sistema em

ratos com deficiência osteocondral. As análises histológicas revelaram que as articulações

tratadas com o sistema formaram cartilagem hialina, enquanto que os grupos tratados com os

scaffolds na ausência das células formaram cartilagem fibrosa, demonstrando o potencial uso

da PCL com células para o reparo de cartilagens.

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Em outro estudo, scaffolds constituídos de quitosana e fibroína de seda foram

utilizados para a ancoragem de condrócitos bovinos, observando-se boa adesão e crescimento

celular no scaffold, além de manutenção do fenótipo celular (BHARDWAJ et al., 2011).

Bhardwaj e Kundu (2012) também estudaram este tipo de scaffold poroso para a diferenciação

de células-tronco mesenquimais em condrócitos. Para tal, inocularam uma alta concentração

de condrócitos sobre os scaffolds em placas de 24 poços e, após 3 horas de incubação em

condições apropriadas, adicionaram meio condrogênico. Este meio era constituído de meio

DMEM, 10% de soro fetal bovino, antibióticos, 100 nmol/L de dexametasona, 10 ng/ml de

TGF β1, além de outras substâncias. Os autores relataram a retenção do fenótipo de

condrócito após cultivo de três semanas nos scaffolds, demonstrando que sua utilização para

tal finalidade é eficiente.

2.2.2 Células-tronco mesenquimais obtidas da polpa dentária

Recentemente, as células-tronco dentárias têm atraído a atenção mundial para

potencial uso na área de terapia celular devido a suas superioridades técnicas e práticas. Além

de terem várias das características de células-tronco mesenquimais originadas de outros

tecidos, como a habilidade de adesão a plásticos com a formação de colônias in vitro, elas

apresentam propriedades adequadas em relação à resposta imune, acessibilidade e capacidade

de proliferação quando comparadas às células-tronco mesenquimais derivadas da medula

óssea (KARAMZADEH; ESLAMINEJAD, 2013), uma das fontes comumente empregadas.

Outras desvantagens das células-tronco mesenquimais derivadas da medula óssea são a

dificuldade de obtenção, pois gera dor ao paciente e morbidade no local de coleta, além do

número de células coletadas ser inferior aos das células-tronco dentárias (HUANG;

GRONTHOS; SHI, 2009). Outras fontes celulares amplamente empregadas são as derivadas

do tecido adiposo obtidas por sucção assistida (lipoaspiração) (ZUK et al., 2001; MIZUNO et

al., 2002) e aquelas adquiridas do sangue do cordão umbilical. CTM de tecidos adiposos e

especialmente as derivadas do cordão umbilical (BALLEN et al., 2008) ainda são mais

populares que as células-tronco dentárias, pois estes tecidos são versáteis, possuem grande

potencial para muitas aplicações clínicas e assim, são mais investigados que as células

dentárias.

Cinco tipos de células-tronco são relatados como provenientes de tecidos dentários: 1)

Células-tronco da polpa de dentes decíduos, popularmente conhecidos como dentes de leite

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(dental pulp stem cells - DPSC), 2) Células-tronco da esfoliação dos dentes decíduos humanos

(stem cells from human exfoliated deciduous teeth - SHED), 3) Células-tronco do ligamento

periodontal (periodontal ligament stem cells - PDLSC), 4) Células-tronco da papila apical

(stem cells from apical papilla - SCAP) dos dentes permanentes e 5) Células-tronco do

folículo dental (dental follicle progenitor cells - DFSC). As DPSC, SHED e SCAP são

referidas como células-tronco relacionadas à polpa dentária, e as PDLSC e DFSC como

células-tronco relacionadas ao periodonto (HUANG; GRONTHOS; SHI, 2009). Na Figura 4

são sumarizadas as localizações das células-tronco encontradas nos dentes. As polpas dos

dentes decíduos, geralmente descartadas após a extração, representam assim uma fonte

vantajosa de células-tronco jovens devido ao processo ser pouco invasivo e não envolver

questões éticas como no caso das células embrionárias (KERKIS; CAPLAN, 2012).

Células-tronco de polpa dentária são células multipotentes e têm elevado potencial

proliferativo, podendo ser mantidas por pelo menos 25 passagens. Estas células podem ser

seguramente criopreservadas, possuem propriedades imunosupressivas, expressam

marcadores tais como CD13, CD29, CD44, CD59, CD73, CD90, CD105, CD146 e STRO-1,

e não expressam CD14, CD24, CD34, CD45, CD19 e HLA-DR, estando de acordo com o

critério de células-tronco mesenquimais proposto pela Sociedade Internacional para Terapia

Celular (ISCT) (LINDROOS et al., 2008 e EGUSA et al., 2012). As DPSC possuem a

habilidade de se diferenciar in vitro em células odontoblásticas, osteoblastos, adipócitos,

células neurais, cardimiócitos, miócitos e condrócitos (CARINCI et al., 2008), e a

diferenciação neste último tipo celular será discutida a seguir.

Figura 4 – Células-tronco dos dentes decíduos antes (DPSC) e depois (SHED) da esfoliação e

dos dentes permanentes antes e depois da erupção, destacando-se as células-tronco do

ligamento periodontal (PDLSC), as da papila apical (SCAP) e as do folículo dental (DFSC)

(adaptada de BOJIC et al., 2014).

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2.2.3 Condrogênese

Na evolução embrionária, os condrócitos surgem durante o desenvolvimento do

esqueleto, a partir de células progenitoras mesenquimais, para sintetizar a cartilagem com o

objetivo de desenvolvimento ósseo (GOLDRING; TSUCHIMOCHI; IJIRI, 2005). A

condrogênese embrionária se inicia quando as células-tronco mesenquimais passam por uma

condensação (redução do espaço intercelular), na qual começam a expressar colágeno tipo I,

III e V. A diferenciação em células condroprogenitoras gera a expressão de colágenos

específicos da cartilagem, como os tipos II, IX e XI (GOLDRING, 2012). O processo de

condensação é responsável pelas interações iniciais inespecíficas célula-célula, como a adesão

celular mediada pelas n-caderinas e a comunicação das junções de hiato (KUO; LI; TUAN,

2013).

Durante o desenvolvimento ósseo, os condrócitos remanescentes formam a cartilagem

na extremidade do osso oposto ao formado ou proliferam e, em um determinado momento,

cessam essa proliferação realizando uma diferenciação terminal que leva à hipertrofia e

apoptose. Esse fenômeno permite a ossificação endocondral, através da qual a cartilagem

hipertrófica calcificada é reabsorvida e substituída por osso (GOLDRING, 2012). Estes

processos estão sujeitos a uma complexa regulação através da interação dos fatores de

crescimento de fibroblastos (FGF), do fator transformador de crescimento β (TGFβ), da

proteína morfogenética óssea (BMP) e da sinalização pela via Wnt (HAQUE; NAKADA;

HAMDY, 2007). Sox9 e Runx2 são dois reguladores de transcrição fundamentais para a

formação de cartilagem articular e para a maturação hipertrófica, respectivamente. Além

disso, Runx2 é inibido diretamente por Sox9, TGFβ e por sinais de BMP que regulam de

maneira diferenciada a sinalização Wnt/β-catenina através da ativação de Runx2 (DONG et

al., 2006).

No processo de cultivo dos condrócitos in vitro, é importante garantir que as células

expandidas mantenham seu fenótipo. Entretanto, um dos principais problemas encontrados na

cultura de condrócitos é o processo de dediferenciação, no qual os condrócitos cultivados em

monocamadas produzem de maneira falha a matriz cartilaginosa (HOLTZER et al., 1960).

Isso se deve a uma baixa síntese de colágeno tipo II, sendo produzidos principalmente os

colágenos dos tipos I e III, os quais não são encontrados em cartilagens normais

(THOROGOOD; BEE; VON DER MARK, 1986). Além disso, os condrócitos

dediferenciados começam gradualmente a produzir proteoglicanos de baixa massa molecular

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(conhecidos como versicanos) ao invés de proteoglicanos agregados (agrecanos), e diminuem

a atividade da fosfatase alcalina (BENYA; SHAFFER, 1982).

Os mecanismos que envolvem o processo de dediferenciação ainda não foram

completamente elucidados, mas acredita-se que este seja mediado pela formação das fibras de

estresse de actina quando as células se propagam em um substrato aderente (BENYA;

PADILLA; NIMNI, 1978).

Esse fenômeno de dediferenciação é provavelmente a limitação mais importante no

processo de cultivo de condrócitos para aplicação na engenharia de tecidos. Porém, as células

dediferenciadas podem se rediferenciar em condrócitos através de algumas técnicas de cultura

que inibem o achatamento celular e a formação das fibras de estresse de actina, como a

técnica de cultura em alta densidade, a qual simula o processo de condensação celular através

do empacotamento das células por centrifugação para aumentar as interações entre elas

(KUO; LI; TUAN, 2013). A técnica de cultura de pellets também gera alta densidade de

células agregadas, mantendo o fenótipo de condrócito. O cultivo de condrócitos em hidrogéis

é outra técnica que torna viável a expressão dos marcadores fenotípicos originais das células

tronco, porém a manutenção do fenótipo pode chegar a somente 40% em uma semana de

cultura (MELERO-MARTIN; AL-RUBEAI, 2007).

Fatores de crescimento modulam a proliferação e diferenciação dos condrócitos. A

utilização de FGF-2 durante a expansão em monocamada e de BMP-2 durante o cultivo

tridimensional em scaffolds melhoram de forma eficaz a diferenciação das células-tronco em

condrócitos, aprimorando a engenharia de tecido cartilaginoso (MARTIN et al., 2001). Além

disso, foi demonstrado que a condrogênese de condrócitos articulares adultos pode ser

melhorada se estes condrócitos forem expandidos na presença de uma combinação de fatores

pertencentes à superfamília das BMPs (JAKOB et al., 2001). Também foi relatado que os

condrócitos expandidos em monocamada na presença de FGF-2/TGF-β exibem maior taxa de

proliferação e dediferenciação e alta capacidade de rediferenciação em resposta à

suplementação de meio isento de soro com TGF-β e dexametasona durante culturas

tridimensionais (MARTIN; SMITH; AL-RUBEAI, 2005).

Estes resultados evidenciam que fatores de crescimento adicionados durante a

expansão de condrócitos não só influenciam a proliferação e diferenciação celular, mas

também o potencial da célula para rediferenciação e suas respostas à moléculas regulatórias

após transferência para um ambiente tridimensional (MELERO-MARTIN; AL-RUBEAI,

2007).

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Neste âmbito, novas moléculas têm sido estudas. Johnson e colaboradores (2012)

realizaram um estudo exaustivo de 22.000 moléculas com capacidade potencial de

diferenciação de células-tronco mesenquimais em condrócitos. Um composto, chamado de

kartogenina (KGN) promoveu a diferenciação das células-tronco em condrócitos de uma

maneira dose-dependente (JOHNSON et al., 2012), e será mais detalhadamente abordado no

item seguinte.

2.2.4 Kartogenina

A kartogenina é uma molécula heterocíclica e hidrofóbica que promove a

diferenciação de células-tronco mesenquimais em condrócitos. Quando testada em dois

modelos animais com osteoartrite induzida, promoveu a regeneração da matriz cartilaginosa e

reduziu significativamente os níveis de dor, sem nenhum efeito negativo aparente (JOHNSON

et al., 2012). Sua estrutura é mostrada na Figura 5.

O mecanismo de ação da kartogenina também foi elucidado no estudo de Johnson e

colaboradores (2012), sendo mostrado, de forma resumida, na Figura 6. Ele se baseia na

ligação do composto com a proteína filamina A, promovendo o deslocamento do fator CBFβ

(fator de transcrição da subunidade β do fator núcleo-ligante) de seu sítio de ligação

citoplasmático. Livre, o CBFβ tem capacidade de se inserir no núcleo, onde se liga ao fator de

transcrição RUNX1, o qual em seguida se liga ao DNA. O complexo CBFβ-RUNX1 ativa a

transcrição de proteínas envolvidas na diferenciação da cartilagem, aumentando a síntese de

colágeno tipo II, agrecanos e inibidores teciduais de metaloproteinases (JOHNSON et al.,

2012). Por se tratar de uma droga nova no mercado, seu preço é elevado. Um miligrama é

comercializado, atualmente, por aproximadamente 12 dólares (equivalentes, em janeiro de

2016, a cerca de R$ 48,00).

Figura 5 – Estrutura química da kartogenina (Fonte: Sigma-Aldrich, 2016).

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Em outro estudo, um sistema de liberação controlada de drogas foi desenvolvido para

a kartogenina. Este consistiu da conjugação do composto a micro e nanopartículas de

quitosana por ligação covalente através de seu grupo carboxílico com o grupo amina da

quitosana. A liberação controlada da kartogenina se manteve por 7 semanas e a diferenciação

das células em condrócitos foi expressiva naquelas tratadas com o sistema (KANG et al.,

2014).

A dexametasona é um glicocorticoide conhecido também por auxiliar o início do

processo condrogênico, no qual ocorre uma condensação celular. Este composto será descrito

detalhadamente a seguir.

Figura 6 – Mecanismo de ação de diferenciação condrogênica da kartogenina em uma célula

animal.

2.2.5 Dexametasona

A dexametasona (C22H29FO5) é definida como um hormônio esteroide sintético e está

entre os glicocorticoides usualmente descritos para uso sistêmico, uma vez que possui ação

anti-inflamatória e imunossupressora, apesar de também apresentar alguns efeitos adversos,

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como perda óssea e aumento da susceptibilidade à infecções (KLEIMAN; TUCKERMANN,

2007).

Este fármaco pode ser descrito como um pó cristalino branco e inodoro, praticamente

insolúvel em água e facilmente solúvel em etanol, acetona, dioxano e metanol (BERGAMINI,

2008). Possui peso molecular de 392,46 g/mol e deve ser armazenado de 2 a 8 °C, sendo

sensível à luz. Na Figura 7 é representada a estrutura da dexametasona.

Em conjunto com fatores de crescimento, glicocorticoides análogos à dexametasona

possuem um papel central na diferenciação das células-tronco em condrócitos, porém seu

mecanismo de ação preciso de diferenciação ainda não foi completamente elucidado. Seu

efeito condrogênico foi primeiramente reportado em células-tronco mesenquimais derivadas

da medula óssea, quando Yoo (1998) observou que as células tratadas com TGFβ somente se

diferenciaram em condrócitos na presença de dexametasona. Após esta descoberta, diversos

pesquisadores testaram o TGFβ na presença de dexametasona com CTM de diversas origens,

incluindo células do tecido adiposo (ERICKSON et al., 2002), do periósteo (DE BARI;

DELL’ACCIO; LUYTEN, 2001), do líquido sinovial (DE BARI et al., 2001), do tecido ósseo

(NÖTH et al., 2002) e do tecido muscular (MASTROGIACOMO; DERUBEIS;

CANCEDDA, 2005). Entretanto, os autores não testaram se realmente a dexametasona era

necessária para que ocorresse a condrogênese.

Figura 7: Estrutura química da dexametasona (Fonte: DUARTE et al., 2009).

Shintani e Hunziker (2007) demonstraram que explantes sinoviais bovinos se

diferenciavam em condrócitos na presença de BMP-2 somente na ausência de dexametasona.

Kurth e colaboradores (2007) também verificaram que a dexametasona suprimia a ação de

diferenciação do BMP-2 em CTM sinoviais humanas. Estas pesquisas indicaram que a ação

da dexametasona é diferente para cada tipo de célula-tronco mesenquimal estudada e para

cada tipo de fator de diferenciação, sendo necessários estudos específicos para células-tronco

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dentárias, assim como seu uso em conjunto com a kartogenina. Estratégias que explorem seu

uso direto no meio de cultura e também sua aplicação incorporada em dispositivos de

liberação controlada devem ser também consideradas visando determinar as condições mais

apropriadas de sua utilização.

A incorporação de fármacos em suportes obtidos a partir de polissacarídeos é, na

maioria das vezes, feita pela adição direta do composto à solução polimérica aquosa (PIRES

et al., 2008). No entanto, para compostos que possuem baixa solubilidade em água, como a

dexametasona, esta técnica apresenta desvantagens, como a formação de cristais não

dissolvidos na matriz que influenciam a cinética de liberação e prejudicam as propriedades

mecânicas (DA SILVA et al., 2009) do suporte. Métodos alternativos de incorporação

incluem a impregnação por absorção, na qual o fármaco é dissolvido em um solvente

apropriado (aquoso ou orgânico), o suporte é imerso nesta solução e a impregnação ocorre

durante o intumescimento da matriz (COSTA et al., 2010).

O estudo da cinética de liberação da droga incorporada na matriz pode ser realizado

em meios que simulem as condições de aplicação biológica e pelo ajuste dos dados a variados

modelos matemáticos, visando determinar os mecanismos de liberação, conforme será

abordado no próximo item.

2.2.6 Mecanismos de liberação controlada de fármacos incorporados em matrizes

poliméricas

A liberação de substâncias ativas pode ser resultante de diversos fatores, que incluem a

dissolução, a partição, a difusão e a osmose do fármaco na matriz, o inchaço, a erosão e a

degradação do suporte (SIEPMANN; SIEPMANN, 2012).

A difusão é um dos principais mecanismos de liberação, sendo descrita pela Lei de

Fick. Esta lei define o fenômeno da difusão como um mecanismo de agitação e mistura em

escala molecular. O movimento aleatório e individual das moléculas das substâncias alvo

associado a um gradiente de concentração faz com que, macroscopicamente, resulte em um

fluxo de massa. A difusão pode ser vista como um processo no qual a concentração tende a se

igualar em todos os pontos de cada fase do sistema com o passar do tempo levando a uma

concentração de equilíbrio do soluto entre as fases (HAN, 2000). Assim, a força motriz para a

transferência de massa é a diferença de concentração. Consequentemente, a difusividade do

soluto e sua solubilidade no entorno da matriz são as duas principais interações que governam

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a taxa de transporte ou liberação no sistema matricial específico e podem ser aplicados para

estimar o perfil de concentração de uma substância ativa no suporte (HAN, 2000).

Sistemas de liberação controlados primariamente por este mecanismo difusivo podem

ser considerados do tipo reservatório, monolíticos ou mistos. Como pode ser visto na Figura

8, estes podem se dividir em outros tipos, dependendo da fonte de atividade para os do tipo

reservatório, e da possível solução ou dispersão do fármaco para os monolíticos.

Figura 8 – Tipos de sistemas com mecanismos de liberação controlados por difusão (adaptada

de SIEPMANN; SIEPMANN, 2012).

Esta categorização dos sistemas de liberação permite avaliar com maior facilidade com

qual tipo de sistema se está trabalhando e entender melhor sua estruturação a partir de sua

liberação.

Um dos principais fatores a ser considerado é o intumescimento da matriz, o qual gera

duas grandes consequências:

i) o aumento do caminho difusivo do fármaco, resultando na diminuição dos

gradientes de concentração, diminuindo sua taxa de liberação.

ii) Aumento significativo da mobilidade das macromoléculas, resultando em um

aumento da taxa de liberação do fármaco.

Dispersões monolíticas

Liberação de Primeira Ordem

Liberação de Ordem Zero

Liberação dependente da

geometria

Sistemas reservatórios

Sistemas monolíticos

Outros sistemas

Membrana controladora da taxa de liberação

Formador da droga e da matriz

Fonte de atividade não constante

Fonte de atividade constante

Soluções monolíticas

Moléculas individuais da droga

Cristais da droga ou agregados amorfos

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Enquanto o primeiro fator prejudica a liberação, o segundo auxilia a mesma. Portanto,

um balanço entre estes dois fatores deve sempre ser levado em consideração, visto que

dependendo de qual fator prevalecer, este inchaço pode implicar tanto uma melhoria quanto

uma redução da liberação, o que será determinado pelo sistema polimérico utilizado.

A Figura 9 representa de maneira simplificada o que ocorre com a matriz polimérica

intumescida, demarcando as principais seções onde o fármaco encontra-se disperso na região

não intumescida, dissolvido e disperso na região em moderado estágio de intumescimento, e

ainda completamente dissolvido e eventualmente liberado nas demais regiões de fronteira e

alto intumescimento.

Figura 9 – Configurações típicas de matrizes poliméricas intumescíveis durante o processo de

dissolução e transporte do fármaco (adaptada de SIEPMANN; SIEPMANN, 2012).

Devido ao solvente provocar grande aumento de volume no polímero no caso de

matrizes intumescíveis, a difusão muitas vezes não é adequadamente descrita pela lei de Fick,

pois não é o único fenômeno responsável pelo deslocamento do fármaco para a solução

receptora. Assim, diversos modelos matemáticos foram propostos para a análise do

comportamento cinético no desenvolvimento de dispositivos de liberação controlada de

fármacos, vários deles utilizados por Girata (2011) para o ajuste de dados de liberação do

agente antimicrobiano Alphasan RC2000 de matrizes de quitosana e alginato.

Alguns dos modelos de liberação mais aplicados para matrizes poliméricas são os de

ordem zero, de primeira ordem, de Korsmeyer-Peppas (também conhecido como de Peppas

ou modelo de potência), o modelo de Hopfenberg , o de Weibull e o de Higuchi. Estes e

outros modelos são discutidos em detalhes nos trabalhos de Costa (2002) e de Siepmann e

Siepmann (2012).

Seio do Fluido Somente droga dissolvida Droga dissolvida e dispersa

Matriz não intumescidaMatriz intumescida

Fronteira da erosão Fronteira difusional Fronteira de intumescimento

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Determinados modelos destacam-se no âmbito do trabalho aqui desenvolvido, como

os indicados na Tabela 2. Nestes modelos, o termo Qt/Q∞ refere-se à fração do fármaco

liberada em um dado intervalo de tempo, sendo Qt e Q∞ as quantidades absolutas e

cumulativas de fármaco liberadas no tempo t e no tempo infinito, respectivamente.

Tabela 2 – Exemplos de alguns dos modelos matemáticos mais utilizados para a liberação de

fármacos a partir de matrizes poliméricas (adaptado de COSTA, 2002).

Modelo Equação

Korsmeyer-Peppas

𝑄𝑡

𝑄∞= 𝐾𝑘𝑡𝑛

Higuchi 𝑄𝑡 = 𝐾𝐻√𝑡 = A[D(2C0 - CS)CS t]

0,5

Hopfenberg

𝑄𝑡

𝑄∞= 1 − [

1 − 𝐾0𝑡

𝐶0𝑎0]

𝑛

O modelo de Korsmeyer e Peppas, por exemplo, é um dos mais frequentemente

utilizados devido à sua simplicidade e por seus paramêtros poderem ser utilizados para a

interpretação do mecanismo dominante de liberação ou mesmo resultante da combinação de

dois processos aparentemente independentes: um devido ao transporte do fármaco no interior

da matriz, que obedece às leis de Fick, e outro devido à consequência dos fenômenos de

intumescimento/relaxamento do gel (expansão dinâmica), que envolve a transição de um

estado semirrígido para outro mais flexível.

Na equação de Korsmeyer-Peppas, Kk é uma constante que incorpora características

estruturais e geométricas do sistema, sendo que quanto maior for seu valor, mais rápida é a

liberação do fármaco. O parâmetro n representa o expoente de liberação, o qual indica o tipo

de mecanismo de liberação da droga. Para filmes finos, quando n é menor ou igual a 0,5, a

liberação é controlada por difusão. Quando n é igual a 1, a liberação do fármaco é controlada

pelo intumescimento e corresponde à cinética de ordem zero. Neste caso, o processo de

relaxamento das macromoléculas que ocorre por meio da embebição de água no sistema é o

passo controlador. No caso de n entre 0,5 e 1, a liberação se dá por sobreposição dos dois

fenômenos citados, sendo o mecanismo denominado transporte anômalo. Se o n é igual a 0,5,

o modelo de Korsmeyer-Peppas e o de Higuchi coincidem.

O modelo desenvolvido por Higuchi define que a liberação do fármaco é um processo

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de difusão dependente da raiz quadrada do tempo, podendo ser utilizado para a liberação a

partir de sistemas matriciais homogêneos esféricos, granulosos planos e granulosos esféricos.

KH é definida como a constante de liberação de Higuchi (COSTA, 2002). No desdobramento

da equação de Higuchi, o termo A refere-se à área da superfície do filme exposta ao meio de

liberação, D à difusividade do fármaco na matriz carreadora, C0 à concentração inicial de

droga na matriz e CS à solubilidade da droga na matriz.

O modelo de Hopfenberg destaca-se por considerar a degradação do sistema de

liberação à medida que esta ocorre. A taxa de liberação é considerada de ordem zero, sendo

confinada à superficie da matriz carreadora, podendo computar, além da dissolução e da

clivagem da matriz, também o seu intumescimento. Neste modelo, o termo K0 é a constante

de erosão do suporte, C0 é a concentração inicial do fármaco na matriz e a0 representa o raio

inicial para esferas e cilindros ou metade da espessura para sistemas planos. O termo n refere-

se a um fator de forma, assumindo o valor de 1 para sistemas planos como filmes, 2 para

cilíndricos e 3 para esféricos.

Para aplicação na engenharia de tecidos, estes sistemas matriciais devem apresentar

características apropriadas, o que significa que devem ser produzidos a partir de materiais

com propriedades também adequadas, algumas das quais serão enfocadas a seguir.

2.3 Polímeros com aplicação na produção de scaffolds

Com o avanço da engenharia de tecidos, diversos materiais têm sido amplamente

estudados com o intuito de aprimorar as características de scaffolds e outros tipos de

biomateriais que possam ser aplicados com sucesso na terapia de lesões em tecidos

cartilaginosos. Por biomateriais entende-se, no contexto do presente trabalho, os produtos que

entram em contato direto com sistemas biológicos, podendo ter diversas aplicações, por

exemplo, como dispositivos para a liberação controlada de drogas e como materiais

implantáveis para a fixação e mesmo a substituição de tecidos. Os biomateriais podem ser de

origem sintética ou natural e são encontrados em diversos formatos, como por exemplo,

sólidos, géis e líquidos (PIRES; BIERHALZ; MORAES, 2015).

Dentre os componentes sintéticos, os compostos mais utilizados para a produção de

suportes são os poli(α-hidroxi ésteres), sendo suas utilizações clínicas aprovadas pelo FDA.

Dentre os poli(α-hidroxi ésteres), o poli(ácido glicólico) (PGA), o poli(ácido láctico) (PLA), o

poli(ácido lático-co-glicólico) (PLGA) e a poli(ε-caprolactona) (PCL) têm sido

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exaustivamente investigados para a utilização na engenharia de tecidos cartilaginosos (KUO;

LI; TUAN, 2013).

A PCL é o poliéster biodegradável mais utilizado em aplicações médicas devido à sua

baixa taxa de degradação, elevada biocompatibilidade, propriedades mecânicas e flexibilidade

estrutural apropriadas. Além disso, os produtos de degradação da PCL são considerados

pouco nocivos, visto que são metabolizados pelo ciclo do ácido tricarboxílico

(CHRISTENSEN et al., 2012).

Os biopolímeros naturais, tanto os baseados em proteína quanto os baseados em

carboidratos, têm sido amplamente pesquisados como compostos de constituição desde uma

longa data. A vantagem da utilização de biopolímeros naturais é que eles possuem domínios

moleculares biofuncionais que podem melhorar as atividades celulares, como adesão celular e

migração (KUO; LI; TUAN, 2013).

Dentre os biopolímeros protéicos, o colágeno tipo I é comumente usado na

constituição de scaffolds para o reparo de cartilagem. A fibrina, um biopolímero encontrado

em coágulos sanguíneos, também foi utilizada recentemente no reparo cartilaginoso, porém na

forma de cola para assegurar que os scaffolds implantados se fixassem de maneira eficiente no

local implantado (WORSTER et al., 2000).

Já dentre os biopolímeros baseados em carboidratos, o alginato é um exemplo de

polissacarídeo utilizado no reparo da cartilagem devido principalmente à sua capacidade de

formar géis na presença de cátions divalentes, como por exemplo o cloreto de cálcio. Isso

possibilita a encapsulação de células na matriz, permitindo que os condrócitos mantenham seu

formato esférico (LIU; LEE; DEAN, 1998). Entretanto, sua taxa de degradação é muito baixa,

o que gera uma reposta imune in vivo inapropriada (PIER et al., 1994), além de que, se

utilizado com cálcio, pode aumentar a severidade da osteoartrite através da degradação da

matriz extracelular, visto que ocorre uma hipertrofia dos condrócitos diferenciados na

presença de cristais de cálcio (FUERST et al., 2009).

Outro polissacarídeo utilizado é a agarose. Este composto foi empregado

exaustivamente como scaffold para rediferenciação de condrócitos ou diferenciação de CTMs

em condrócitos ex vivo (HUANG et al., 2004). Entretanto, assim como o alginato, sua taxa de

degradação é lenta, podendo provocar resposta imune indesejável (COOK et al., 2003).

O polissacarídeo mais utilizado na engenharia de tecido cartilaginoso é o ácido

hialurônico. Ele é o principal componente da matriz extracelular da cartilagem, o que torna

sua utilização como scaffold biologicamente compatível. Entretanto, sua característica

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mecânica não é favorável, o que torna seu uso na forma nativa, inapropriado (KUO; LI;

TUAN, 2013).

A quitosana é um tipo de polissacarídeo comumente encontrado no exoesqueleto de

crustáceos. Ela possui uma alta densidade de cargas positivas, o que permite sua interação

com diversos polímeros aniônicos, como por exemplo, a xantana (PIRES; BIERHALZ;

MORAES, 2015). Além disso, sua excelente biocompatibilidade e facilidade de manipulação

a torna uma grande promessa na engenharia de tecido cartilaginoso (KUO; LI; TUAN, 2013).

A goma xantana (GX) é um heteropolissacarídeo natural, composto por cinco unidades

monossacarídicas (SHAO et al., 2013). Segundo Shao et al. (2013), a injeção intra-articular

de GX protege a cartilagem articular em modelos animais com OA da degradação induzida

por papaína, o que leva a crer que este biopolímero seja um excelente candidato para a

produção de scaffolds visando à regeneração de cartilagem.

A poli(caprolactona), a quitosana e a goma xantana serão, então, mais profundamente

discutidas a seguir, visto que são objeto de estudo no presente trabalho.

2.3.1 Poli(caprolactona) (PCL)

A poli(caprolactona) é definida como um poliéster sintético biodegradável derivado de

síntese química a partir de petróleo bruto. Os solventes mais utilizados para solubilizar a PCL

são clorofórmio, diclorometano, tetracloreto de carbono, benzeno, tolueno, ciclohexanona e 2-

nitropropano, visto que podem ser empregados em temperatura ambiente. Já nos solventes

como a acetona, 2-butanona, etil acetato dimetilformamida e acetonitrila, a PCL possui baixa

solubilidade. É considerada como praticamente insolúvel em água, álcool, éter de petróleo e

éter dietílico (MOHAMED; YUSOH, 2015).

Este polímero é hidrofóbico, semicristalino, com temperatura de transição vítrea (Tg)

de -60 °C e temperatura de fusão entre 59 e 64 °C. Sua massa molar geralmente varia de

3.000 a 90.000 g/mol, sendo que a cristalinidade tende a diminuir com o aumento da massa

molar (MOHAMED; YUSOH, 2015). A estrutura da PCL é mostrada na Figura 10.

O processo de degradação da PCL é considerado lento, característica que favorece a

utilização na liberação controlada de fármacos, visto que o polímero permanece ativo por

mais de um ano no local implantado (SULTANA, 2013). Frente a isso, o FDA aprovou a

utilização da PCL para esta finalidade e para utilização em outros tipos de dispositivos

médicos (KYRIAKIDOU et al., 2008). Luong-Van e colaboradores (2006) demonstraram que

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a incorporação de heparina em suportes de PCL obtidos pela técnica de eletrofiação resulta

em liberação controlada do fármaco em lesões vasculares de maneira eficiente.

Figura 10 - Estrutura química da poli(caprolactona).

O processo de liberação controlada de compostos incorporados em matrizes de PCL

pode estar ligado ao processo de degradação polimérica. A degradação da PCL é dividida em

duas fases. Na primeira, ocorre cisão aleatória da cadeia hidrolítica, o que resulta em redução

da massa molecular do polímero. Na segunda fase, os fragmentos de baixa massa molecular e

as pequenas partículas de polímero são levadas para locais distantes da implantação por

solubilização nos fluidos corpóreos ou por fagocitose, o que resulta em redução do tamanho

das cadeias. O processo de degradação e eliminação da PCL pelo organismo pode levar de

dois a quatro anos para ser concluído (DUMITRIU; POPA, 2013).

A elevada solubilidade da PCL em variados solventes, assim como seu baixo ponto de

fusão e compatibilidade apropriada para formação de blendas, têm estimulado seu uso em

pesquisas na área biomédica (MOHAMED; YUSOH, 2015). No caso de scaffolds, a PCL

pode ser utilizada em pesquisas para regeneração de tecidos da pele, ossos, cartilagem e

fígado (WILLIAMS et al., 2005; CHUNG; BURDICK, 2007; LEEA; SHIN, 2007).

Khor e colaboradores (2002) desenvolveram suportes de PCL para o cultivo e

proliferação de queratinócitos humanos. Os resultados indicaram que os suportes foram

capazes de prover superfícies adequadas para a adesão e proliferação das células, podendo ser

aplicados como matrizes na engenharia de tecidos.

Martins et al. (2010) desenvolveram scaffolds de PCL eletrofiados contendo diferentes

concentrações de dexametasona para diferenciação de células-tronco da medula óssea em

osteoblastos. A bioatividade da dexametasona frente as células mesenquimais foi obtida nos

scaffolds com 15% (m/v) do fármaco quando cultivadas em meio osteogênico na ausência do

mesmo, indicando que o scaffold é eficiente para diferenciação celular.

Salgado et al. (2012) produziram suportes de quitosana complexada com PCL em

diferentes proporções do surfactante Pluronic F68®. Os resultados mostraram que os suportes

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produzidos apresentaram baixa citotoxicidade e, os que continham Pluronic F68®,

estimularam a proliferação celular. A biodegradabilidade e biocompatibilidade dos suportes

foram consideradas satisfatórias e, portanto, apresentaram aplicação potencial na terapia de

lesões.

Tornello e colaboradores (2012) produziram suportes porosos e não porosos de PCL,

obtidos por eletrofiação e evaporação do solvente, respectivamente. O agente antimicótico

embelina foi incorporado nos suportes. A liberação do fármaco foi maior para os suportes

porosos, sendo 90% do fármaco liberado em 12 horas, enquanto que a mesma quantidade foi

liberada em 72 horas pelos suportes não porosos.

Vacanti e colaboradores (2012) desenvolveram scaffolds eletrofiados constituídos de

poli(ácido lático) (PLLA) e PCL contendo dexametasona com o objetivo de diminuir a

resposta inflamatória no local de implantação. A análise dos implantes subcutâneos

demonstrou que as fibras que continham o anti-inflamatório geravam resposta inflamatória

menos severa que as que não possuíam o fármaco, indicando que a incorporação de

dexametasona em scaffolds possui, além de propriedades de diferenciação celular, a

capacidade de diminuir uma possível rejeição do suporte pelo organismo.

Kharaziha e colaboradores (2015) também desenvolveram suportes constituídos de

PCL, porém com diferentes proporções de forsterita (0, 5 e 10% m/v) e encapsularam

dexametasona com o intuito de regeneração óssea. Os resultados demonstraram que a

liberação de dexametasona foi mantida por 21 dias e que a cinética de liberação era governada

pela composição do suporte. Além disso, o processo de diferenciação osteogênica dependia da

liberação da dexametasona, visto que enquanto a proliferação celular diminuía com a

liberação do fármaco, a mineralização da matriz era estimulada, ocorrendo assim a

diferenciação celular em osteoblastos. Os dados de liberação obtidos para o controle (PCL

sem forsterita) foram de 44% de dexametasona em aproximadamente dez dias.

Diante do exposto, a PCL pode ser considerada uma alternativa promissora para a

produção de scaffolds porosos para CTM dentárias visando à aplicação na engenharia do

tecido cartilaginoso.

2.3.2 Quitosana

A quitosana é um copolímero policatiônico de N-acetil-glicosamina e N-glicosamina,

sendo geralmente obtida a partir da desacetilação alcalina da quitina. A quitina se relaciona

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estruturalmente aos glicosaminoglicanos, porém não possui os grupos de ácido urônico. Ela é

o componente primário das paredes celulares de fungos e também do exoesqueleto de

crustáceos, como camarão, caranguejo, e lagosta (KHOR; LIM, 2003). Quando o grau de

desacetilação é maior que 50%, a quitina passa a ser denominada como quitosana. As

estruturas químicas da quitina e da quitosana são mostradas na Figura 11.

Figura 11 – Estruturas químicas da quitina e da quitosana: (a) quitina ou poli(N-acetil-β-D

glicosamina); (b) quitosana ou poli(D-glicosamina); (c) quitosana parcialmente acetilada (DA

– grau de acetilação) (Fonte: RINAUDO, 2006).

Dependendo do valor do grau de acetilação, o pKa da quitosana pode variar de 6,3 a

7,3 (KARAKEÇILI et al., 2007). A conformação e o grau de distensão das cadeias também

dependem do grau de acetilação e da força iônica das soluções diluídas.

Este biopolímero é solúvel em soluções ácidas diluídas, como de ácido acético, visto

que os grupamentos amina ficam protonados nestas condições (JIANG et al., 2015). Devido à

natureza catiônica da quitosana, ela possui a capacidade de se ligar a outros polímeros

aniônicos, formando uma rede iônica interconectada (PRESTWICH; ATZET, 2013). A

quitosana pode ser metabolizada por enzimas humanas, como a lisozima, sendo assim

considerada biodegradável. A taxa de degradação depende do tipo de rede formada com

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outros biopolímeros, devido principalmente às ligações covalentes formadas (FREIER et al.,

2005). Uma das grandes vantagens de utilização da quitosana refere-se à grande quantidade

de grupos amina e hidroxila livres, que permitem diversas modificações químicas funcionais

(BERGER et al., 2005).

Além disso, a quitosana possui atividade antimicrobiana, inibindo o crescimento de

diversos tipos de microorganismos, como E. coli, Fusarium, Alternaria, Helmintho sporium,

S. epidermidis, P. aeruginosa, S. pyogenes, K. pneumoniae, S. aureus, S. faecalis, Shigella

dysenteriae, Aeromonas hydrophila, Salmonella typhimurium, Bacillus cereus, Coliforms,

Vibrio, Agrobacterium tumefaciens, Corynebacterium michiganence, Erwinia sp.,

Micrococcus luteus, Pseudomonas fluorescens, Xanthomonas campestris, Botrytis cinerea,

Fusarium oxysporum, Drechslera sorokiniana, Micronectriella nivalis, Procularia oryzae,

Rhizoctonia solani, Tricophyton equinum e Candida (SILVA; SANTOS; FERREIRA, 2006).

A atividade anti-microbiana da quitosana é atribuída a seus grupos amínicos que, em contato

com os fluidos fisiológicos, provavelmente são protonados e se ligam a grupos aniônicos da

superfície desses microrganismos, resultando na aglutinação das células microbianas e

inibição de seu crescimento (SILVA; SANTOS; FERREIRA, 2006).

Também é atribuída à quitosana potente ação analgésica tópica, sendo esta decorrente

principalmente da captura de íons hidrônio liberados no local da inflamação, através da

ionização do grupo amino a -NH3+

(OKAMOTO et al., 2003). A bradicinina, mediador

químico liberado pela clivagem do cininogênio plasmático e por citocinas, parece ser

particularmente importante na geração da dor no local inflamado (SILVA; SANTOS;

FERREIRA, 2006). A quitosana teria a propriedade de absorver a bradicinina liberada no sítio

da inflamação, diminuindo a dor.

Duarte et al. (2009) desenvolveram um suporte de quitosana impregnado com

dexametasona e observaram que a liberação do fármaco a partir da matriz apresentou perfil

contínuo, o que se considerou adequado para aplicações na engenharia de tecidos. Além disso,

os autores concluíram que há o estabelecimento de ligações de hidrogênio entre as hidroxilas

da dexametasona e as aminas da quitosana.

A quitosana é um dos diversos biopolímeros disponíveis que têm sido extensamente

investigada na produção de sistemas de liberação controlada de drogas e de scaffolds para

uma grande diversidade de tipos celulares (KANG et al., 2014), sendo seu uso na constituição

de biomateriais já bem consolidado.

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2.3.3 Goma Xantana

A goma xantana é um heteropolissacarídeo ramificado produzido pela bactéria

Xanthomonas campestris sp. Dependendo da cepa microbiana e das condições de fermentação

pode-se obter gomas xantanas com estruturas moleculares diferentes quanto às proporções de

unidades de carboidratos tanto na cadeia principal quanto na cadeia lateral (ARGIN-

SOYSAL; KOFINAS; LO, 2009). Geralmente, sua estrutura primária consiste em cinco

unidades repetidas de carboidrato, duas de β-D-glicose ligadas à cadeia principal nas posições

1 e 4, duas unidades de manose e uma de ácido glicurônico (ARGIN-SOYSAL; KOFINAS;

LO, 2009). Em suas cadeias laterais, existem grupos de ácido pirúvico e acetil. A

desprotonação destes grupos é aumentada em pH acima de 4,5, causando um aumento na

carga negativa ao longo das cadeias da xantana (BUENO; PETRI, 2014). A presença dos

resíduos de ácido pirúvico e acético nas cadeias laterais torna a goma xantana um polímero

aniônico natural (LUO; WANG, 2014). Na Figura 12 mostra-se a estrutura típica da goma

xantana.

Figura 12 – Estrutura química típica da goma xantana (adaptada de MORRIS; HARDING,

2009).

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A produção mundial da goma xantana tem aumentado de maneira considerável, a uma

taxa anual de 5 a 10%, e compreende 15,6% da pauta de importações brasileira de

polissacarídeos (CUNHA; PAULA; FEITOSA, 2009). Isso se deve a suas atrativas

propriedades reológicas que conferem à xantana variadas aplicações em diversas industriais,

incluindo a alimentícia, farmacêutica, cosmética, entre outras (LUO; WANG, 2014). Outras

características relevantes da xantana são sua não toxicidade, sua estabilidade na presença da

maioria dos sais metálicos, sua elevada solubilidade e estabilidade tanto em meio ácido

quanto alcalino, sua resistência à degradação em elevadas temperaturas assim como a

oscilações de pH (FARIA, 2005). Este composto foi aprovado pelo FDA na indústria

alimentícia e farmacêutica em quantidades ilimitadas já em 1968 (LUO; WANG, 2014).

A molécula de xantana é grande e rígida, gerando soluções com viscosidades elevadas,

sendo este um dos polissacarídeos com maior solubilidade em água. Estas características

tornam a xantana um polímero ideal para ser utilizado como agente de suspensão e espessante

(MORRIS; HARDING, 2009).

Segundo estudos recentes de Han e colaboradores (2014), a injeção intra-articular de

goma xantana na cartilagem protege e reduz a velocidade de avanço da osteoartrite. Além

disso, injeções intra-articulares de xantana uma vez a cada duas semanas, no decorrer de cinco

semanas, inibiram significativamente a apoptose de condrócitos e a expressão de

metaloproteínases-1 e -3 e também aumentaram a produção de inibidores dessas enzimas na

cartilagem.

Shao e colaboradores (2013) mostraram que a administração local de xantana reduz a

dor na OA e também diminui a degradação da cartilagem, corroborando com os resultados

obtidos por Han e colaboradores (2014).

2.3.4 Complexo polieletrólito de quitosana-xantana

Complexos macromoleculares não-covalentes compostos por diferentes polímeros se

conectam por interações intermoleculares, como ligações de hidrogênio, forças de Coulomb e

forças de van der Waals. Tais complexos podem ser divididos de acordo com a natureza das

interações em complexos polieletrólitos, complexos de transferência de carga, complexos de

ligação de hidrogênio e estereocomplexos (DUMITRIU; CHORNET, 1998).

Os complexos polieletrólitos (PEC) são formados pela associação entre moléculas de

cargas opostas, como de polímero-polímero, polímero-droga e polímero-droga-polímero.

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Estas reações ocorrem devido às interações eletrostáticas entre poliíons de cargas opostas,

permitindo a utilização adicional de agentes reticuladores químicos, reduzindo assim a

possibilidade de citotoxicidade e de outros efeitos indesejáveis dos polímeros

(LANKALAPALL; KOLAPALLI, 2009). Além disso, os complexos polieletrólitos formados

entre um poliácido e uma polibase são apenas discretamente afetados pelas oscilações de pH

no meio de dissolução e geralmente são pouco solúveis em água, visto que as interações

eletrostáticas são consideradas mais fortes que as demais interações secundárias existentes

(LANKALAPALL; KOLAPALLI, 2009 e ARGIN-SOYSAL; KOFINAS; LO, 2009).

A propriedade da quitosana de apresentar grupamentos amina carregados em valores

de pH abaixo de seu pKa permite que ela se ligue a materiais carregados negativamente como

enzimas, células, diversos tipos de polissacarídeos, ácidos nucleicos, cabelo e pele. Assim, é

possível formar um complexo polieletrólito entre a quitosana e a xantana, por meio de

interações iônicas entre os grupos amina da quitosana e carboxila da xantana, conforme

indicado na Figura 13 (ARGIN-SOYSAL; KOFINAS; LO, 2009).

A rede de hidrogel formada entre a quitosana e a xantana é uma candidata promissora

para a liberação controlada de fármacos, visto que os metabólitos produzidos durante sua

degradação são atóxicos e o complexo possui elevada resistência à degradação por enzimas

(ARGIN-SOYSAL; KOFINAS; LO, 2009), tendo já sido explorado com sucesso em outros

trabalhos da equipe para a incorporação de fármacos destinados à terapia de lesões de pele

(VEIGA, 2012; SOUZA, 2014).

Figura 13 - Representação esquemática da interação entre xantana e quitosana na formação de

hidrogéis (fonte: CHELLAT et al., 2000).

Diversos géis compostos pelo PEC de xantana e quitosana podem ser obtidos através

da alteração das propriedades moleculares dos polímeros, tais como a massa molar, o grau de

acetilação da quitosana, a quantidade de ácido pirúvico da xantana, bem como a alteração das

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condições de complexação, tais como o pH da solução de quitosana, a concentração dos

polímeros, o tempo de complexação e a proporção dos componentes da mistura (DUMITRIU,

2002).

Veiga e Moraes (2011) estudaram a formação de membranas por complexação de

quitosana e xantana empregando diferentes concentrações de polissacarídeos a diferentes

taxas de adição de quitosana em seus estudos. Os resultados demonstraram que é possível

produzir membranas com altas capacidades de absorção e drenagem sem perda de massa

significativa quando expostas a soluções aquosas.

Bellini e colaboradores (2012), também estudaram o efeito de diferentes

concentrações dos polímeros quitosana e xantana para a obtenção de membranas, sendo que a

proporção mássica de 1:1 foi a de melhor resultado para a utilização das membranas como

curativos para feridas de pele. Também foram testadas membranas porosas obtidas a partir da

adição de Pluronic F-68 nas misturas com diferentes proporções poliméricas, e a razão

mássica de 1:1 dos polímeros resultou em características favoráveis para a utilização das

membranas como scaffolds.

2.3.5 Agentes porogênicos

A formação de uma estrutura porosa é uma das principais metas na fabricação de

scaffolds. Estruturas porosas são criadas quando partículas ou bolhas são introduzidas

enquanto o scaffold se solidifica, sendo posteriormente removidas, gerando uma rede

interconectada de poros (SARKAR et al., 2013). A maioria das técnicas de fabricação de

scaffolds porosos, incluindo lixiviação de partículas, liofilização, infusão de gás, e separação

de fases, criam poros interconectados distribuídos isotopicamente (SARKAR et al., 2013).

A liofilização é um dos métodos mais comumente utilizados para a produção de poros

em scaffolds (KUCHARSKA et al., 2008). Entretanto, trata-se de um método oneroso,

trabalhoso e de difícil escalonamento (BUENO; MORAES, 2011). Desta forma, outras

estratégias para a elaboração de scaffolds porosos são de grande interesse, como através da

adição de tensoativos como Tween 80 e Pluronic F-68 à mistura reacional dos polissacarídeos

(BUENO; MORAES, 2011). A adição de tensoativos a polímeros também é muitas vezes

realizada para promover homogeneização, emulsificação, suspensão, controle da reologia e

melhora da estabilidade coloidal (HOLMBERG et al., 2002).

O Pluronic F-68, atualmente comercializado como Poloxamer 188, pertence à classe

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de surfactantes não-iônicos, considerados menos prejudiciais, e usados como aditivo em

formulações cosméticas e no preparo de emulsões tópicas (ZHANG et al., 2003). Sendo

assim, o Poloxamer 188 foi selecionado para o desenvolvimento deste trabalho e será mais

detalhadamente descrito a seguir.

2.3.5.1 Poloxamer 188

Poloxamers são copolímeros sintéticos compostos por três blocos: uma cadeia central

hidrofóbica de poli(oxi propileno) (PPO) e duas cadeias laterais hidrofílicas de poli(oxi

etileno) (PEO), conforme demonstrado na Figura 14.

Figura 14 – Estrutura química típica de poloxamers: PEO definido por polioxietileno e PPO

definido por polioxipropileno (adaptada de SANTANDER-ORTEGA et al., 2006).

Este arranjo resulta em uma estrutura anfifílica, sendo sua massa molar,

hidrofilicidade e hidrofobicidade variáveis através da alteração do número de cadeias laterais

da molécula. Uma enorme variedade de poloxamers teve sua fabricação iniciada nos anos 50 e

disponibilizada comercialmente pela empresa BASF Corporation, com o nome comercial de

Pluronic® (MOLOUGHNEY; WEISLEDER, 2012).

O Poloxamer 188 (P188), além de ser também conhecido como Pluronic® F-68, é

denominado comercialmente como Kolliphor® P188 (Sigma-Aldrich), Flocor

TM (CytRx

Corporation), RheothRx (Glaxo Wellcome Inc.), Lutrol® (Basf) e Synperonic F-68 (Croda),

sendo um copolímero linear com massa molar de aproximadamente 8400 Daltons, contendo

cerca de 80% de poli(oxi etileno) e 20% de poli(oxi propileno). Este surfactante é um

excipiente aprovado pela FDA há cerca de 50 anos, sendo solúvel tanto em água quanto em

solventes orgânicos diversos, muito utilizado em dispersões sólidas para melhorar a

solubilidade de fármacos (MA; SONG, 2007).

Em estudos clínicos de fase I, o Poloxamer 188 mostrou uma meia-vida de 18 horas e

PEO PEOPPO

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demonstra ser seguro em períodos de exposição por infusão superiores a 72 horas em doses a

partir de 30 mg de Poloxamer 188 por quilograma do paciente por hora (MOLOUGHNEY;

WEISLEDER, 2012). É bem tolerado em exposições repetidas e é comumente utilizado em

diversos produtos, como pasta de dente, laxantes e enxaguantes bucais. Suas propriedades

fazem deste copolímero um composto muito útil em aplicações cosméticas e farmacêuticas

(MOLOUGHNEY; WEISLEDER, 2012).

A característica mais bem documentada do P188 é sua habilidade de reparar

membranas celulares degradadas através de mecanismos que ainda não foram totalmente

elucidados. O surfactante pode agir aumentando o empacotamento lipídico, pois se acredita

que ele é incorporado diretamente na bicamada lipídica, sendo o processo modulado pela

tensão superficial da membrana, como demonstrado em alguns estudos in vitro utilizando

monocamadas lipídicas (MOLOUGHNEY; WEISLEDER, 2012).

Além de apresentar características crioprotetoras, recentes estudos comprovam a

atividade promotora de crescimento celular do P188. Clincke e colaboradores (2011)

demonstraram que a adição de Pluronic F-68 em meio de cultura para células CHO em

sistemas estáticos e agitados estimula o crescimento celular, aumenta a viabilidade, reduz a

taxa de lise celular em até quatro vezes e ainda proporciona um aumento da produção de γ-

interferon.

O Poloxamer P188 é utilizado intensivamente pela indústria de biofármacos como

agente protetor das células em cultivo em biorreatores do tipo tanques agitados, por propiciar

sua proteção efetiva contra estresse mecânico, podendo ser empregado com sucesso na

constituição de membranas porosas de quitosana complexada com xantana úteis no cultivo de

células mesenquimais estromais para o tratamento de lesões de pele (BELLINI et al.; 2015).

2.4 Colocação do problema

Frente às lacunas detectadas na revisão bibliográfica realizada, identifica-se que

muitos obstáculos ainda são enfrentados na produção de scaffolds para regeneração de

cartilagem, como a dificuldade de suprimento de nutrientes nas partes centrais das matrizes,

poucas opções para o monitoramento do comportamento celular na matriz, dificuldade de

manutenção da produção da cartilagem hialina (BANDEIRAS, et al., 2015) e o fato de que a

ação da dexametasona é diferente para cada tipo de célula-tronco mesenquimal estudada e

para cada tipo de fator de diferenciação, sendo necessários estudos específicos para células-

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tronco dentárias, assim como seu uso em conjunto com a kartogenina.

Desta maneira, verifica-se a importância do desenvolvimento de scaffolds porosos

alternativos constituídos por substâncias biocompatíveis e sua associação a compostos que

estimulem a diferenciação de células-tronco em condrócitos para o tratamento da osteoartrite.

Suportes de quitosana-xantana apresentam potencial aplicação no tratamento de lesões

de pele com alta produção de exsudato. Bellini et al. (2015) utilizaram suportes de quitosana-

xantana porosos como scaffolds, obtendo resultados satisfatórios na engenharia de tecido

dérmico. Porém, não foram localizados trabalhos referentes à associação destes scaffolds a

células multipotentes derivadas da polpa dentária, à kartogenina e à dexametasona como

fatores de diferenciação para o tratamento de tecido cartilaginoso.

Para suportes constituídos de PCL, também não se localizou na literatura associação

com o fator de diferenciação kartogenina. Desta forma, optou-se por analisar o potencial uso

de suportes poliméricos porosos, obtidos pela complexação de xantana e quitosana e por

eletrofiação de PCL incorporando ou não dexametasona, na presença ou não de kartogenina,

como scaffolds para adesão, multiplicação e diferenciação de células-tronco mesenquimais da

polpa dentária, destinados ao uso terapêutico em lesões cartilaginosas, como a osteoartrite.

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3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Reagentes

3.1.1 Polímeros

Para a produção dos suportes foram utilizados os polímeros quitosana de média massa

molecular (190 a 310 kDa) com grau de desacetilação de 75% (Sigma-Aldrich Co.; lote

#STBF3507V; referência do produto: 448877), a goma xantana de Xanthomonas campestris

(Sigma-Aldrich Co.; lote #108K0038; referência do produto: G1253) e a poli(caprolactona)

(Sigma-Aldrich Co.; lote #MKBJ4388V; massa molecular de 70.000 a 90.000 g/mol,

referência do produto: 440744).

3.1.2 Reagentes para cultivo e análise do comportamento celular

1) Ácido ascórbico (Sigma-Aldrich Co.);

2) Ácido fosfotúngstico-fosfomolíbdico (Sigma-Aldrich Co.);

3) Ácido pícrico (Sigma-Aldrich Co.);

4) Azul de anilina (Sigma-Aldrich Co.);

5) Azul de Trypan (Sigma-Aldrich Co.);

6) Brometo de 3(4,5-dimetiltiazol-2-ila)-2,5-difeniltetrazólio) (MTT) (Sigma-Aldrich Co.);

7) Dexametasona (Sigma-Aldrich Co.).

8) Dimetil sulfóxido (DMSO) (Sigma-Aldrich Co.);

9) Dodecil sulfato de sódio (SDS) (Synth);

10) Escarlate de Biebrich (Qeel)

11) Estreptomicina e penicilina (Sigma-Aldrich Co.);

12) Formaldeído (Sigma-Aldrich Co.);

13) Formol (Sigma-Aldrich Co.);

14) Fosfomolíbdico (Inlab);

15) Fucsina ácida (Synth);

16) Glutaraldeído a 25% (m/v) (Dinâmica);

17) Insulina recombinante humana e transferrina humana (ITS) (Sigma-Aldrich Co.);

18) Kartogenina (Sigma-Aldrich Co.);

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19) Meio de cultura DMEM alta glicose (Dulbecco's Modified Eagle Medium) (Gibco);

20) Papel para permanente lavável (Santa Clara);

21) Parafina para histologia (Merck);

22) Paraformaldeído (Synth);

23) PBS (tampão fosfato salino) (Sigma-Aldrich Co.);

24) Prolina (Sigma-Aldrich Co.);

25) Soluções A e B de hematoxilina férrica de Weigert (Sigma-aldrich Co.)

26) Soro fetal bovino (SFB) (Sigma-aldrich Co.)

27) Tricrômico de Masson (Sigma-Aldrich Co.);

28) Tripsina bovina/EDTA (ácido etileno-diamino-tetracetato-dissódico) a 0,25% (m/v)

(Gibco);

29) Xilol (MBF).

3.1.3 Outros reagentes

1) Ácido acético glacial (Synth);

2) Clorofórmio (Sigma-Aldrich Co.);

3) Etanol (Sigma-Aldrich Co.);

4) Isopropanol (Sigma-Aldrich Co.);

5) Metanol (Sigma-Aldrich Co.);

6) Poloxamer 188 (Sigma-Aldrich Co.);

7) Tampão Hepes 10 mmol/L (Sigma-Aldrich Co.).

3.1.4 Células-tronco mesenquimais

As células-tronco mesenquimais da polpa dentária humana foram cedidas pela

empresa R-Crio®, que por sua vez as obteve a partir de uma amostra padronizada adquirida da

empresa Lonza, correspondente ao código de produto PT-5025, lote 0000361150, e as

armazenava em criotudos em nitrogênio líquido no banco de células.

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3.2 Métodos

3.2.1 Preparação dos suportes poliméricos de Quitosana-Xantana

Para obtenção dos suportes de quitosana-xantana foram realizadas adaptações no

protocolo descrito por Bellini et al. (2012). Foram preparados suportes porosos, perfurados ou

não para aumentar sua permeabilidade, na razão mássica de 1:1 de quitosana e xantana. As

soluções empregadas foram xantana a 1% (m/v) em água deionizada (sistema Milli-Q,

Millipore) (pH = 7,7) e quitosana a 1% (m/v) em solução aquosa de ácido acético a 1% (v/v).

Adicionou-se 15 mL do surfatante Poloxamer P188 a 200 mL de solução de xantana visando a

formação de poros.

No protocolo executado, 200 mL da solução de quitosana foram adicionados a 200 mL

da solução de xantana contendo o surfactante com auxílio de uma bomba peristáltica Gilson,

modelo Minipuls 3, a uma vazão de 10 mL/min. A mistura ocorreu em um reator cilíndrico de

aço inoxidável encamisado com diâmetro interno de 10 cm e altura de 20 cm e fundo chato.

Durante a adição da solução de quitosana à solução de xantana, o sistema foi mantido sob

agitação de 1000 rpm com auxílio de um agitador mecânico Q-251 D da marca Quimis, com

hélice do tipo naval de pás inclinadas de raio de 3 cm, a cerca de 4 cm de distância da base do

reator. A temperatura do sistema foi controlada em 25,0 °C com auxílio de um banho

termostático (Q-214 M2, Quimis).

Após a adição da solução de quitosana à solução de xantana, a taxa de rotação foi

aumentada para 1200 rpm, assim permanecendo por 10 minutos. A seguir, a mistura foi

dividida igualmente em termos mássicos em duas placas de Petri de poliestireno de 15 cm de

diâmetro e levada à estufa com circulação de ar (modelo 410D, Nova Ética) à temperatura

constante de 37,0°C, por aproximadamente 48 horas. Em seguida, os suportes foram lavados

em água deionizada através de sua imersão em 200 mL do solvente durante 30 minutos e, em

seguida, foi realizada sua imersão em 200 mL de tampão Hepes 10 mmol/L por 30 minutos

por duas vezes e, novamente em 200 mL de água por 30 minutos. Com este procedimento,

efetuou-se simultaneamente a remoção do tensoativo dos suportes e sua neutralização. Após

as lavagens, os suportes passaram ou não por um processo de perfuração através de agulhas

hipodérmicas de 0,30 x 13 mm (BD Precision Glide). Para tal, foi montada uma estrutura com

diâmetro de 15 cm contendo aproximadamente 250 agulhas hipodérmicas fixadas com cola de

cianoacrilato e dispostas a uma distância de 1 cm uma da outra, conforme demonstrado na

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Figura 15. Após o processo de lavagem dos suportes porosos, esta estrutura foi pressionada

contra o suporte, visando aumentar a intercomunicação transversal dos poros. Feito isso, os

suportes foram novamente secos em estufa com circulação de ar a 37,0 ºC por um período de

aproximadamente 48 horas. Alternativamente à neutralização dos suportes após a secagem

inicial, testou-se também um procedimento no qual as amostras foram neutralizadas

imediatamente após a adição da solução de quitosana à solução de xantana, visando a

eliminação da etapa de lavagem com tampão Hepes e água. Para tal, adicionou-se 2 mL de

NaOH 2M após todo volume de quitosana ser acrescentado à solução de xantana e seguiu-se

com o procedimento conforme já descrito anteriormente.

Figura 15 – Vista lateral do dispositivo utilizado para perfuração das membranas porosas.

3.2.2 Incorporação de dexametasona por impregnação em solução hidroetanólica nos

suportes de quitosana-xantana

O intuito deste ensaio foi obter suportes de quitosana-xantana com dexametasona

incorporada em quantidade suficiente para a diferenciação das células-tronco mesenquimais

dentárias em condrócitos que foram cultivadas na estrutura tridimensional.

Como durante o processo de sua produção os suportes precisam ser submetidos ao

processo de lavagem para neutralização do pH, optou-se por utilizar para estas matrizes

somente o método de impregnação empregando solução água/etanol na proporção de 5:95%

(v/v) contendo a dexametasona dissolvida, visto que se este composto fosse adicionado

diretamente à mistura polimérica, poderia ser liberado durante o processo de lavagem, ficando

indisponível para as células durante o cultivo.

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A incorporação de dexametasona por impregnação foi realizada por imersão dos

suportes de QX e QXp já prontos e secos em solução água/etanol na proporção de 5:95% (v/v)

contendo dexametasona na concentração de 0,06 mg/mL. Para determinação da concentração

a ser utilizada, levou-se em consideração a solubilidade da dexametasona em etanol

(25 mg/mL à 25 °C), considerando-se também o princípio de evitar o uso de quantidades

excessivas do composto ativo.

Neste procedimento, realizado em triplicata, amostras de 1 cm2 dos suportes foram

previamente armazenados e pesados em condições de baixa umidade relativa para que

apresentassem capacidade máxima de absorção quando expostos à solução de dexametasona.

As amostras foram incubadas em estufa por 1 hora com 4,0 mL de solução contendo ou não

(branco) o composto ativo. A temperatura utilizada foi de 25,0 ºC, e o sistema foi agitado na

taxa de 170 rpm.

3.2.2.1 Análise da eficiência de incorporação de dexametasona incorporada nos suportes de

QX e QXp

O cálculo da eficiência de incorporação de dexametasona incorporada foi realizado a

partir da determinação da quantidade de composto ativo presente na solução remanescente por

espectrofotometria à 242 nm, através da interpolação dos dados em uma curva de calibração

apropriada.

Como a concentração inicial da solução de incorporação era conhecida, um simples

balanço de massa forneceu a quantidade de agente ativo realmente incorporado às matrizes.

3.2.3 Preparação dos suportes poliméricos de poli(caprolactona)

Os suportes de PCL foram preparados pela técnica de eletrofiação através de

adaptações do protocolo descrito por Kharaziha e colaboradores (2015). Para tal, uma solução

de 15% (m/v) de PCL foi preparada através da dissolução do polímero em uma solução de

clorofórmio e metanol na proporção de 5:1 (v/v). A solução foi mantida sob agitação

magnética por 4 horas, até que todo o polímero fosse dissolvido. Em seguida, 5,0 mL da

solução polimérica foram transferidos para uma seringa de capacidade igual a 10 mL, sendo

acoplada na sua extremidade uma agulha romba como ejetor. O fluxo da solução foi

controlado em 25 mL/h através de uma bomba de seringa programável (Samtronic Infusion

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Pump 670T, Brasil). Uma fonte de alimentação de alta tensão foi utilizada para promover uma

diferença de potencial de 30 kV. A aplicação da diferença de potencial resultante da ligação

do eletrodo de polaridade positiva à agulha e do eletrodo de aterramento da fonte de alta

tensão à placa coletora forrada com papel alumínio deslocou a solução polimérica ejetada pela

agulha em direção à placa, formando fibras devido ao estiramento do polímero e evaporação

do solvente. A distância da agulha à placa coletora era de cerca de 30 cm e o tempo de

formação do suporte (dado pelo tempo de bombeamento da solução polimérica) foi de

12 minutos. Todos os suportes foram preparados à temperatura ambiente (cerca de 25 °C). Ao

final do processo, os suportes foram transferidos para uma estufa a vácuo (Lab-Line,

Squaroid, EUA) onde ficaram por 24 horas, à temperatura ambiente (cerca de 25 °C), para

que o solvente fosse evaporado.

3.2.4 Incorporação de dexametasona nos suportes de poli(caprolactona)

Para a escolha da concentração de dexametasona a ser incorporada nas matrizes de

PCL, levou-se em consideração os dados de liberação obtidos por Kharaziha et al. (2015).

Para a regeneração de tecido cartilaginoso são necessárias quantidades em torno de 10

a 100 nmol/L (0,004 a 0,04 mg/mL) de dexametasona no meio de cultivo durante 21 dias e

levando-se em conta os dados relatados pelo autor supracitado quanto à liberação do

composto incorporado em matrizes de PCL, dissolveu-se 2 mg do anti-inflamatório em 30 mL

da solução de clorofórmio e metanol na proporção de 5:1 (v/v) previamente à adição da PCL,

sendo executado em seguida o protocolo descrito anteriormente.

3.2.4.1 Estimativa da eficiência de incorporação de dexametasona por análise da perda por

evaporação do solvente

Para determinar a eficiência de incorporação de dexametasona adicionada aos suportes

de PCL, pesou-se 2 mg do fármaco e dissolveu-se em 30 mL de solução de clorofórmio e

metanol na proporção de 5:1 (v/v) para determinar quanto dele seria arrastado ao longo do

processo de evaporação do solvente verificado durante a preparação dos suportes. Aguardou-

se em torno de 24 horas para que todo o volume da solução fosse evaporada em temperatura

ambiente (aproximadamente 25 °C) em capela de exaustão e pesou-se novamente o frasco

para obter-se a quantidade remanescente do fármaco. Como a massa inicial do fármaco era

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conhecida, determinou-se a proporção arrastada e aplicou-se o resultado para, por balanço de

massa, determinar a quantidade de agente ativo realmente incorporado à matriz.

3.2.5 Caracterização físico-química dos suportes poliméricos

3.2.5.1 Aspecto e morfologia da superfície

A morfologia dos suportes foi avaliada macroscopicamente (utilizando uma câmera

fotográfica) e microscopicamente (utilizando um microscópio eletrônico de varredura modelo

LEO 440 da marca Leica operando a 10 kV e 50 pA). Previamente às análises de microscopia

ótica, os suportes foram mantidos em dessecador com sílica ativada por no mínimo 24 horas.

Para as análises de microscopia eletrônica de varredura, os suportes foram cortados

com tesoura em amostras de 1 cm x 1 cm e mantidos em dessecador com sílica por no mínimo

24 horas. As amostras foram recobertas com uma camada ultrafina de ouro (92 Å) em um

mini sputter coater (SC 7620, VG Microtech).

3.2.5.2 Espessura

Os suportes de QX QXp, PCL e PCLd foram previamente acondicionados em um

dessecador contendo sílica como dessecante por um período de aproximadamente 24 horas. A

espessura das amostras foi medida através de um micrômetro digital (Mitutoya, modelo

MDC-25S, Japão), sendo realizadas 10 replicatas em amostras com dimensões de 6 cm x 1 cm

de diferentes lotes.

3.2.5.3 Capacidade de absorção e estabilidade em decorrência da exposição a soluções

aquosas

A estabilidade dos suportes foi determinada pela perda de massa (por dissolução) de

seus componentes em água, PBS e em meio de cultura α-MEM suplementado com 10% de

SFB.

As análises foram realizadas em triplicata com amostras de dimensões de 6 cm x 1cm,

sendo as mesmas previamente armazenadas em dessecador contento sílica gel por um período

de aproximadamente 24 horas anteriormente à determinação da sua massa inicial. Em

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seguida, as amostras foram imersas em 15 mL das diferentes soluções contidas em tubos do

tipo Falcon e incubadas em estufa (modelo: 410D, Nova Ética) a 37,0 ºC por um período de

sete dias. Após a incubação, cada suporte foi lavado com 20 mL de água purificada durante 5

minutos, por 4 vezes, para a remoção de compostos não ligados, como proteínas,

polissacarídeos e íons. Em seguida, as amostras foram secas em estufa a 37,0 °C por

aproximadamente cinco dias até atingirem massa constante. A perda de massa (Pm) foi

determinada através da Equação 1:

100)(

i

fi

M

MMPm (1)

onde Mi refere-se à massa inicial e Mf à massa final das amostras após o período de incubação

nas diferentes soluções.

Para a análise da capacidade de absorção, as amostras passaram pelo mesmo processo

supracitado, porém ficaram imersas nas diferentes soluções por um período de

aproximadamente 24 horas. Ao final deste período, as amostras foram gentilmente

pressionadas entre duas folhas de papel de filtro por 5 segundos e imediatamente pesadas em

balança analítica. A capacidade máxima de absorção (Ab) foi calculada de acordo com a

Equação 2:

s

su

M

)MM(Ab

(2)

onde Mu refere-se à massa da amostra úmida e Ms refere-se à massa da amostra seca.

3.2.5.4 Análise Termogravimétrica (TGA)

A estabilidade térmica dos suportes foi avaliada pela variação da massa em função da

temperatura através do analisador termogravimétrico TGA 50M (Shimadzu; Kyoto, Japan) do

Laboratório de Recursos Analíticos e de Calibração (LRAC). As amostras, com massa de

aproximadamente 1 mg, foram dispostas em cadinhos de alumínio e aquecidas, a uma taxa de

10,0 °C/min, desde a temperatura ambiente até 600,0 °C. Os experimentos foram conduzidos

em atmosfera de nitrogênio (vazão de 100 mL/min).

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3.2.5.5 Determinação da Cristalinidade

A cristalinidade dos suportes foi determinada por difração de raios-X, utilizando-se

um difratômetro Philips Analytical X'Pert MPD (Almelo, Holanda) com radiação Cu-Kα,

λ=1,54Å. A fonte de raios-X operou em 40 kV e 40 mA e a intensidade da difração foi

medida no modo de reflexão a uma taxa de 0,01°/s para 2θ= 5 - 35°. As análises foram

realizadas no Laboratório de Recursos Analíticos e de Calibração (LRAC).

3.2.5.6. Ensaio de liberação de dexametasona incorporada nos suportes

Conforme será abordado mais à frente, a incorporação de dexametasona nos suportes

de QX e QXp por impregnação em solução hidroetanólica não foi eficiente, sendo o ensaio de

liberação realizado somente para os suportes de PCL.

Para a análise da cinética de liberação da dexametasona, realizada em triplicata,

amostras de 0,3 g da matriz de PCL contendo dexametasona foram colocadas em frascos de

vidro contendo 5 mL de PBS e fechados com tampas apropriadas para evitar a evaporação do

líquido. Os frascos foram mantidos em estufa (Tecnal, modelo TE-394/2, Brasil) a 37,0 °C

sob agitação (170 rpm) por até 96 horas. A absorbância do meio de liberação foi avaliada por

espectrofotometria (espectrofotômetro Beckman, modelo DU640) no comprimento de onda

de 242 nm periodicamente através da coleta de 1 mL do líquido, o qual era retornado ao

frasco em seguida à análise. Previamente às leituras, o aparelho era zerado com a solução de

PBS visando desconsiderar o efeito de qualquer interferente da solução na absorbância das

amostras. Como branco, utilizou-se 0,3 g de suporte de PCL sem dexametasona em 5 mL de

PBS.

Os dados experimentais obtidos nos ensaios de liberação de dexametasona em PBS

foram ajustados aos modelos matemáticos de Korsmeyer e Peppas, Hopfenberg e Higuchi,

visando analisar o comportamento cinético do sistema e inferir acerca do mecanismo de

liberação.

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3.2.6 Metodologias de análise do comportamento biológico

3.2.6.1 Reativação e preservação das células mesenquimais e obtenção do inóculo

O conteúdo do criotubo de célula-tronco dentárias foi reativado através do

descongelamento em banho-maria (Q-214 M2, Quimis) a 37,0 oC transferindo-se, em seguida,

todo o volume para um tubo tipo Falcon de 15 mL que continha 10 mL de meio α-MEM

suplementado com 10% de SFB. A amostra foi centrifugada por 10 min a 1200 rpm (modelo

5804/5804 R, Eppendorf), em seguida descartou-se o sobrenadante e ressuspendeu-se o pellet

em 3 mL de α-MEM suplementado. O material foi transferido para garrafas de poliestireno

(TPP) com 25 cm2 de área e incubado em estufa a 37,0

oC e 5% de CO2 (Tecnal, modelo TE-

399). Verificada a adesão celular (entre 3 a 4 dias após o descongelamento) e atingida a

confluência de cerca de 70%, realizou-se a expansão para outras garrafas. Para tal, o meio foi

descartado e a garrafa lavada com 2 mL de tampão PBS para a retirada das proteínas do soro e

de debris celulares. Para o desprendimento das células da parede da garrafa, adicionou-se

1 mL de tripsina bovina/EDTA a 0,25% (m/v) (Sigma), aguardando-se de 3 a 5 minutos em

estufa a 37 oC e 5% de CO2 (Thermo scientific, VIOS 160i). Foram acrescentados 2 mL de

meio α-MEM suplementado com 10% de SFB para a neutralização da enzima, transferindo-se

a suspensão para um tubo tipo Falcon de 15 mL e centrifugando-se por 10 min a 1200 rpm. O

sobrenadante foi descartado e o pellet ressuspendido em 10 mL de α-MEM suplementado,

transferindo-se a seguir as células para uma garrafa com área superficial de cultivo de 75 cm2.

Cultivou-se as células nas mesmas condições supracitadas e, após quatro dias,

realizou-se a contagem das células viáveis em câmara de Neubauer utilizando azul de Trypan

como corante. Adequou-se a concentração celular adicionando-se soro fetal bovino e, dessa

maneira, um banco com 6 criotubos de 1,5 mL foi conservado em nitrogênio líquido contendo

106 células suspensas em 600 μL de SFB e 100 μL de DMSO.

3.2.6.2 Caracterização dos parâmetros de crescimento das células mesenquimais

Alíquotas de 2 mL de meio α-MEM suplementado com 10% de SFB contendo

5 x 104

células/mL foram inoculadas em três placas de seis poços de 35 mm de diâmetro. As

placas foram incubadas em estufa a 37,0 °C e 5% de CO2 (Thermo scientific, VIOS 160i).

Decorridas 24 horas, o meio de três poços foi descartado e os poços foram lavados com 1 mL

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de PBS cada para a retirada de debris celulares e de proteínas do soro. Foram adicionados

700 μL de tripsina bovina/EDTA a 0,25% (m/v) em cada poço. A placa foi novamente

incubada por 3 a 5 minutos em estufa a 37,0 °C e 5% de CO2 para que ocorresse o

desprendimento celular. A atividade da enzima foi então interrompida com 700 μL de SFB e a

concentração de células viáveis daqueles poços foi analisada por microscopia ótica (Olympus,

IX53) utilizando o corante azul Trypan. O procedimento foi realizado a cada 24 horas em

novos poços das placas até a verificação da fase de declínio. O meio de cultura dos poços foi

renovado a cada 72 horas para que as células não ficassem desprovidas de nutrientes e

também para evitar a inibição do crescimento celular pelo acúmulo de metabólitos.

Os dados foram graficados na forma de logaritmo natural da concentração de células

viáveis versus tempo para a identificação das fases de crescimento celular lag, log,

estacionária e de declínio. O valor da taxa específica máxima de crescimento (μmáx),

correspondente à inclinação da parte linear da curva na fase log, foi utilizado para determinar

o tempo de duplicação celular (td) pela Equação 3.

𝑡𝑑 = ln 2

𝜇𝑚á𝑥 (3)

3.2.6.3 Análise da citotoxicidade in vitro indireta dos suportes às células mesenquimais

A análise da citoxicidade indireta dos suportes às células-tronco mesenquimais da

polpa dentária foi realizada pelo ensaio colorimétrico de MTT. Quando o MTT é exposto às

células, ele é reduzido enzimaticamente ou através de reação direta com NADH ou NADPH

em cristais de formazan púrpura, sendo a intensidade da cor proporcional ao número de

células viáveis presentes. O composto formado é detectável espectrofotometricamente a

570 nm (SADRIA; CHANGIZIA; EIVAZADEHB, 2015).

O protocolo executado consistiu na utilização de extratos dos suportes obtidos através

da imersão dos mesmos em meio de cultura α-MEM suplementado a uma proporção de 0,05 g

de material seco por mililitro de meio durante 48 horas em estufa a 37 ºC e 5% de CO2

(Thermo scientific, VIOS 160i). Como controles positivo e negativo do ensaio, foram

utilizados extratos de fragmentos de látex obtido de luvas comerciais na mesma proporção em

meio de cultura e o próprio meio de cultura na ausência de extratos, respectivamente. Os

extratos de látex foram obtidos através da imersão de 0,05 g de luva de látex estéril em 1 mL

de meio de cultivo α-MEM suplementado durante 48 horas em estufa a 37 ºC e 5% de CO2.

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Alíquotas de 100 μL de uma suspensão contendo 105 células/mL em meio α-MEM

suplementado foram inoculadas em placas de fundo chato de 96 poços e mantidas por

24 horas em estufa a 37 ºC a 5% de CO2. Após este período, e observada a formação de uma

monocamada celular, os sobrenadantes foram removidos e substituídos por 100 μL dos

extratos, e a placa foi novamente mantida em estufa a 37,0 °C a 5% de CO2 por 24 horas. Os

extratos foram então removidos e cada poço foi lavado duas vezes com 100 μL de tampão

PBS. Após a lavagem, foram adicionados, em cada poço, 100 μL de α-MEM suplementado

sem vermelho de fenol, etapa esta seguida da adição de 10 μL de MTT a 5 mg/mL em tampão

PBS. Após quatro horas de incubação em estufa a 37 ºC foram adicionados a cada poço

100 μL de solução de dodecilsulfato de sódio (SDS) a 100g/L dissolvido em uma solução de

dimetil sulfóxido (DMSO) contendo 0,6% de ácido acético. As amostras foram gentilmente

homogeneizadas e as culturas foram então incubadas a 37 ºC por uma hora. Decorrido este

período, as amostras foram levadas para medida de absorbância a 570 nm em

espectrofotômetro ELISA (Thermo Scientific, Multiskan FC, Finlândia).

3.2.6.4 Diferenciação das células mesenquimais dentárias em condrócitos

Para a análise da diferenciação das células-tronco mesenquimais dentárias em

condrócitos foi realizado primeiramente o cultivo no sistema micromass na presença de

diferentes concentrações de kartogenina (100 nmol/L, 1 µmol/L e 10 µmol/L). Para tal,

alíquotas de 10 µL contendo cerca de 5 x 105 células foram adicionadas a poços de fundo

cônico de 6,4 mm de diâmetro de placas de TPP. Destaca-se que para a obtenção dos meios de

cultura contendo as diferentes concentrações de kartogenina, o composto foi inicialmente

dissolvido em DMSO a uma concentração de 0,05 mol/L e posteriormente diluído em meio de

cultura α-MEM nas concentrações utilizadas.

As culturas foram mantidas em estufa a 37 ºC e 5% de CO2 (Thermo scientific, VIOS

160i) por 2 horas e, após este período, foram acrescidos 190 μL de meio condrogênico ao

sistema, o qual consiste em DMEM com alta concentração de glicose, prolina, ácido

ascórbico, antibióticos estreptomicina e penicilina, ITS (insulina, transferrina e selênio) e as

diferentes concentrações de kartogenina. O sistema foi tratado da mesma maneira descrita,

durante 21 dias, com trocas de meio realizadas aproximadamente a cada 3 dias.

Decorridos os 21 dias, foram realizadas análises histológicas com os corantes Azul de

Alcian, Tricrômico de Masson e hematoxilina e eosina (H&E) para determinar qual

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concentração levou ao melhor desempenho na diferenciação em condrócitos. Estas técnicas

são descritas no próximo item.

Após determinada a concentração mais adequada de kartogenina, o ensaio de

diferenciação foi realizado sobre os suportes de QX, QXp e PCL contendo ou não

dexametasona. Para tal, as células-tronco dentárias foram inoculadas nos suportes cortados em

formato circular, com diâmetro de 15,6 mm. Os suportes foram dispostos em poços de placas

de 24 poços e esterilizados com óxido de etileno (OE) por exposição a Oxyfume-30 (30% OE

e 70% dióxido de carbono) por 8 horas à 40 ºC e umidade relativa de 30 a 80%. Esta

esterilização foi realizada pela empresa Acecil Central de Esterilização Comércio e Indústria

Ltda. (Campinas, SP, Brasil). Primeiramente foi utilizado vácuo a 0,4 a 0,6 kgf/cm2 durante

15 min e o reagente Oxyfume-30 foi adicionado até que a câmara atingisse a pressão de

0,5 kgf/cm2. Após um período de 3,5 horas, o vácuo foi restabelecido e as amostras foram

aeradas com ar filtrado por 10 min. O OE residual foi removido mantendo-se as amostras sob

aeração por 48 horas.

Em fluxo laminar vertical, os suportes foram intumescidos com 1 mL de meio de

cultura condrogênico durante três dias, sendo o meio trocado diariamente. Feito isso, o meio

foi descartado e 5x105 células contidas em 100 µL de meio condrogênico foram injetadas em

cinco pontos diferentes dos suportes através de agulhas hipodérmicas. A placa foi então

levada à estufa a 37,0°C e 5% de CO2 por duas horas. Em seguida, foram adicionados 2 mL

de meio condrogênico aos poços vagarosamente, para evitar a dispersão das células.

Este sistema foi cultivado durante 14 dias totais a 37,0 °C e 5% de CO2, com trocas de

meio realizadas aproximadamente a cada dois dias. Após este período, os suportes foram

analisados por histologia e microscopia eletrônica de varredura.

3.2.6.5 Análises histológicas

Após as células serem cultivadas, os meios de cultura foram descartados dos poços e

os suportes foram transferidos diretamente para cassetes histológicos. Já as microesferas de

células formadas pelo cultivo micromass foram transferidas para o centro de uma folha de

papel para permanente lavável, o qual foi dobrado de maneira que não houvesse perda das

microesferas durante o processamento. Os papéis contendo as microesferas de micromass

foram então transferidos para cassetes histológicos. Todos os cassetes foram fechados e

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imersos em um frasco de solução de PBS contendo 10% (v/v) de formol (formalina), onde

ficaram incubados por aproximadamente 24 horas em temperatura ambiente.

Feito isso, a solução de formalina foi substituída por etanol absoluto até que os

cassetes fossem completamente cobertos pelo reagente. Os cassetes foram incubados em

estufa (Odontobras 1.2) a 60,0 °C durante 5 minutos. O etanol foi descartado e esta etapa foi

realizada por mais três vezes. Sequencialmente, os cassetes foram imersos em xilol e

incubados em estufa (Odontobras 1.2) por 5 minutos a 60,0 °C. Esta etapa foi realizada por

mais uma vez e, em seguida, os cassetes foram imersos em parafina para histologia, a qual se

encontrava em estufa à 60,0 °C no estado líquido. Os cassetes ficaram incubados por

5 minutos e esta etapa foi repetida por mais uma vez.

Por fim, foi realizada a etapa de inserção das amostras nos moldes de inclusão. Para

tal, os cassetes foram retirados da parafina, abertos, e as amostras foram transferidas para os

moldes de inclusão. Os moldes foram completados com a parafina líquida, sendo a parte

inferior do cassete inserida sobre o molde e também completada com parafina líquida. Os

moldes permaneceram em temperatura ambiente até que a parafina se solidificasse. As

amostras foram então removidas dos molde e processadas em micrótomo (Leica RM 2125

RTS), realizando-se três cortes histológicos de 5 µm de espessura. Os materiais assim obtidos

foram imersos em banho-maria histológico (MFB – BHD 1701) à 50,0 °C e em seguida

transferidos para lâminas de microscopia. As lâminas foram colocadas em estufa (Odontobras

1.2) a 70,0 °C durante 20 minutos para remoção de grande parte da parafina.

As três colorações realizadas para a análise da diferenciação das células mesenquimais

dentárias em condrócitos foram tricrômico de Masson, hematoxilina e eosina (H&E), e azul

de Alcian, as quais serão detalhadas a seguir.

3.2.6.5.1 Tricrômico de Masson

Para a realização da técnica, as lâminas foram retiradas da estufa (Odontobras 1.2) e

foram feitos os procedimentos de desparafinização completa e hidratação do material. As

lâminas foram imersas em Xilol durante 5 minutos em temperatura ambiente, por duas vezes.

Sequencialmente, foram imersas três vezes em diferentes alíquotas de álcool anidro

(99,5 INPM) e, em seguida, mais três vezes em outra alíquota de álcool anidro. As lâminas

foram lavadas em água corrente por cinco minutos e incubadas durante 30 minutos em

temperatura ambiente em solução de Bouin (75 mL de solução saturada de ácida pícrico;

25 mL de formaldeído e 5 mL de ácido acético glacial). Em seguida, foram novamente

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lavadas em água corrente até que a coloração amarelada clareasse de maneira considerável,

sendo então rapidamente lavadas em água destilada e coradas com 2,5 mL das soluções A e B

de Hematoxilina Férrica de Weigert, por 10 minutos em temperatura ambiente. As lâminas

foram lavadas em água corrente, passadas em água destilada e coradas com a solução de

Escarlate de Biebrich (90 mL de solução aquosa Escarlate de Biebrich, 10 mL de solução de

fucsina ácida 1% (v/v) e 1 mL de ácido acético glacial) durante 10 minutos. As lâminas foram

passadas em água destilada e em solução de ácido fosfotúngstico-fosfomolíbdico (2,5 g de

ácido fosfotungstico, 2,5 g de fosfomolíbdico e 100 mL de água destilada) durante

10 minutos. As lâminas foram passadas novamente em água destilada e coradas pela solução

azul de anilina (2,5 g de azul de anilina, 2 mL de ácido acético glacial e 100 mL de água

destilada) por 1 minuto e lavadas em água destilada. Por fim, foram desidratadas por 3 vezes

em álcool absoluto (99,5 INPM), e diafanizadas por duas vezes em Xilol (Fabricante: MBF,

lote: 14456).

3.2.6.5.2 Hematoxilina e Eosina (H&E)

As lâminas foram desparafinizadas e hidratadas conforme descrito acima. Em seguida,

foram lavadas em água corrente por cinco minutos e em água destilada por uma vez para

posterior imersão no corante hematoxilina durante 1 minuto e meio em temperatura ambiente.

Foram novamente lavadas em água corrente por cinco minutos e imersas na solução do

corante eosina (2,5 g de eosina, 50 mL de água destilada, 200 mL de álcool 95% em volume

em água purificada e 750 mL de álcool 80% em volume em água purificada) por dois minutos

em temperatura ambiente e lavadas em água destilada por três vezes. Por fim, as lâminas

foram desidratadas por três vezes em álcool absoluto (99,5 INPM), e diafanizadas por duas

vezes em Xilol (Fabricante: MBF, lote: 14456) para a retirada de impurezas da amostra.

3.2.6.5.3 Azul de Alcian

As lâminas foram desparafinizadas e hidratadas conforme já descrito. Em seguida,

foram lavadas em água corrente por cinco minutos e em água destilada por uma vez para

posterior imersão no corante azul de Alcian 1% (m/v) em ácido acético 3% (v/v) por

30 minutos. As lâminas foram lavadas em água corrente por 10 minutos e contra-coradas pela

solução de safranina 0,1% (m/v) em ácido acético 3% (v/v) por 1 minuto. O excesso de

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corante foi retirado através de água destilada e as lâminas foram então desidratadas por

3 vezes em álcool absoluto (99,5 INPM), e diafanizadas por duas vezes em Xilol.

3.2.6.6 Análise das CTMs aderidas nas membranas por microscopia eletrônica de varredura

(MEV)

Decorrido o período de inoculação (24 horas ou 14 dias), as células aderidas nos

suportes de QX, QXp, PCL e PCLd foram fixadas para análise por MEV segundo protocolo

descrito por Bellini (2012). O processo de fixação consistiu da imersão das amostras em

análise em duas diferentes soluções fixadoras, seguida pela desidratação das mesmas.

Primeiramente foi adicionado 1 mL da primeira solução fixadora constituída de

paraformaldeído a 4% (v/v) e glutaraldeído a 2% (m/v) em tampão cacodilato a 0,2mol/L

armazenado em geladeira e a pH 7,2, em cada poço. Após o período de incubação de uma

hora à 4,0 °C, as amostras foram lavadas com 1 mL de tampão cacodilato a 0,2 mol/L gelado

por 15 minutos por três vezes a cada lavagem.

A segunda fixação ocorreu adicionando-se, em cada amostra, 1 mL de solução de

tetróxido de ósmio a 1% (m/v) em tampão cacodilato a 0,2 mol/L. As amostras permaneceram

imersas neste fixador por cerca de 15 minutos à 4,0 °C, sendo posteriormente lavadas por

3 vezes com tampão cacodilato a 0,2 M a cerca de 4,0 °C por 10 minutos a cada lavagem.

Para a desidratação, as amostras foram imersas em 1 mL de soluções de etanol em

água (v/v) a 50 e 70%, durante 15 minutos e por uma noite, respectivamente. Em seguida,

deu-se continuidade ao processo de desidratação com as soluções de etanol em água (v/v) a

90, 100, 100 e 100%, por 15 minutos em cada solução. Após a desidratação em solução

alcoólica, o etanol contido nos materiais foi substituído por CO2 líquido e posteriormente as

amostras foram secas em ponto crítico (critical point dryer CPD 030, Balzers). Após secas, as

amostras foram metalizadas (sputter SCD 050, Balzers) através da deposição de uma fina

camada de ouro (92A) e as morfologias das superfícies das membranas foram avaliadas em

microscópio eletrônico de varredura (MEV) (modelo JSM 5800 LV, JEOL) no Laboratório de

Microscopia Eletrônica do Instituto de Biologia – UNICAMP.

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3.3 Análise estatística dos resultados

O software Statistica 7® foi utilizado para analisar os resultados numéricos referentes

às propriedades das membranas, empregando-se o teste de comparação de médias de Tukey

com nível de significância de 5%. Todos os resultados são expressos como a média das

medidas experimentais com seus respectivos desvios padrão.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Caracterização físico-química dos suportes poliméricos

4.1.1 Determinação da eficiência de incorporação de dexametasona nos suportes

Para o ensaio de determinação da eficiência de incorporação de dexametasona nos

suportes constituídos de quitosana e xantana perfurados ou não (QXp e QX, respectivamente),

primeiramente estabeleceu-se a curva de calibração de dexametasona em solução de

etanol/água (5:95%), conforme demonstrado no Anexo I, Figura AI. O comprimento de onda

utilizado na análise de absorbância foi aquele no qual a dexametasona apresentou o maior

pico de absorbância (242 nm). O ensaio foi realizado em duplicata, utilizando-se como branco

uma amostra de solução exposta aos suportes sem dexametasona na mesma condição do

ensaio de incorporação.

Os scaffolds de QX e QXp secos foram imersos em 4 mL de solução de etanol/água

(5:95%) com concentração igual a 0,06 mg/mL de dexametasona, na temperatura de 37,0 °C,

e a absorbância a 242 nm foi medida após 24 e 48 horas. As concentrações obtidas no líquido

remanescente mantiveram-se constantes em valores de aproximadamente 0,06 mg/mL, não

diferindo estatisticamente entre si. Assim, inferiu-se que não ocorreu impregnação apreciável

de dexametasona nos suportes, possivelmente devido à baixa afinidade da dexametasona pela

matriz polimérica, indicando que o método de incorporação utilizado não foi eficiente.

Uma alternativa a este método seria realizar a incorporação da dexametasona por

adição direta à mistura polimérica, porém sua dispersão possivelmente não seria uniforme.

Ainda, os suportes de QX passam por uma etapa de secagem e posteriormente, de lavagem

para a retirada de Poloxamer 188 e para a neutralização do pH, o que provavelmente

acarretaria em perda precoce de uma fração da dexametasona por arraste na lavagem, a qual

não ficaria mais disponível para o cultivo celular. Seria possível também adicionar uma

quantidade de dexametasona maior que a requerida para o cultivo celular para que a

quantidade remanescente do fármaco após as lavagens fosse suficiente para tal objetivo.

Entretanto, este glicocorticóide possui custo relativamente elevado (cerca de 370 dólares por

grama, equivalentes, em janeiro de 2016, a quase R$ 1500,00 por grama), comprometendo a

viabilidade econômica desta abordagem. Dessa maneira, optou-se por não realizar a

incorporação do fármaco nos suportes constituídos de quitosana-xantana, sendo a

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dexametasona adicionada ao meio de cultivo durante os ensaios de diferenciação celular

quando do uso destes biomateriais nestes ensaios biológicos. Visto que a dexametasona não

mais foi incorporada nas matrizes de quitosana e xantana, somente foram realizados ensaios

de caracterização físico-química dos suportes de polissacarídeos livres deste composto.

Para o ensaio de determinação da eficiência de incorporação de dexametasona nos

suportes constituídos de PCL, pesou-se a dexametasona antes e após o processo de

evaporação do solvente, e de acordo com o teste de Tukey, as massas não diferiram entre si,

podendo-se considerar que não há arraste de dexametasona do sistema durante a produção e a

secagem das fibras. Assim, supõe-se que 100% do composto tenha ficado retido no suporte,

atingindo-se a razão de 0,13 mg de dexametasona por grama de PCL. Neste caso, tanto os

suportes constituídos somente de PCL quanto os que continham dexametasona incorporada

foram caracterizados.

4.1.2 Aspecto e morfologia da superfície

Observou-se durante a fabricação dos suportes de quitosana-xantana a formação de um

complexo homogêneo, opaco e de alta viscosidade. A agitação da mistura contendo o

surfactante Poloxamer P188 ocasionou a incorporação de uma elevada quantidade de bolhas

de ar, beneficiando a formação de uma estrutura porosa. A secagem ocorreu em 72 horas, o

que diferiu do trabalho descrito por Bellini et al. (2012) para os suportes obtidos com os

mesmos polissacarídeos. Isto pode ter ocorrido devido ao agitador utilizado diferir do

empregado no referido trabalho, sendo que este agitador provavelmente incorpora mais ar na

matriz e resulta em uma maior quantidade de espuma, dificultando a evaporação do solvente.

Além disso, as estufas utilizadas diferem de marca, contribuindo para o resultado obtido.

Durante as sucessivas lavagens realizadas para a remoção do ácido acético residual e

neutralização do suporte, as amostras apresentaram aumento de tamanho, principalmente em

seu diâmetro. Após a segunda secagem, observou-se a formação de suportes porosos e

opacos, com a superfície ondulada. As imagens de microscopia eletrônica de varredura e da

superfície dos suportes obtidas estão mostradas na Figura 16.

Nas Figuras 16(a) e 16(c) observa-se que os suportes de quitosana-xantana íntegros ou

perfurados não possuem diferença macroscópica na morfologia de suas superfícies. Nas

Figuras 16(b) e 16(d) nota-se que ambos os suportes possuem diversas irregularidades na

superfície, porém no suporte perfurado encontram-se pontos de fissura, que podem ser

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atribuídos às perfurações realizadas com as agulhas hipodérmicas visando aumentar a

interconectividade entre os poros.

Figura 16 – Superfície do suporte de quitosana-xantana não perfurado (a); MEV da superfície

do suporte de quitosana-xantana não perfurado (b); superfície do suporte de quitosana-xantana

perfurado (c); MEV da superfície do suporte de quitosana-xantana perfurado (d).

A etapa de neutralização dos suportes efetuada imediatamente após a mistura da

xantana à quitosana visando eliminar a etapa de lavagem posterior à preparação não resultou

em amostras íntegras, conforme se pode observar na Figura 17, não sendo possível a

utilização destes suportes na engenharia do tecido cartilaginoso.

Os suportes de PCL foram produzidos pela técnica de eletrofiação, que consiste na

aplicação de uma elevada diferença de potencial elétrico entre um coletor e uma agulha da

qual uma solução polimérica é expelida a fluxo constante (CIPITRIA et al., 2011). Durante o

a b

c d

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processo de fabricação dos suportes de PCL com e sem dexametasona, observou-se a

formação de fluxo contínuo da solução polimérica, o que indica que a diferença de potencial

aplicada foi adequada, visto que não houve ruptura do jato ou formação de eletrospray com

produção de micro ou nanogotas. As imagens da superfície deste tipo de suporte assim como

os resultados da análise por microscopia eletrônica de varredura do mesmo são mostrados na

Figura 18.

Figura 17 – Aspecto final do suporte de quitosana-xantana neutralizado durante o preparo

através da adição de NaOH.

As amostras observadas nas Figuras 18(a) e 18(c) apresentaram aspecto macroscópico

homogêneo e flexível, sendo de fácil manipulação e possibilitando o dobramento e o corte de

forma similar a um tecido elástico. O diâmetro dos suportes se aproximou da área do coletor

(diâmetro de cerca de 10 cm). Os suportes de PCL contendo ou não dexametasona não

possuem diferença macroscópica na morfologia de suas superfícies, possivelmente devido à

baixa concentração empregada do composto. Nas Figuras 18(b) e 18(d) verifica-se

aleatoriedade no alinhamento das fibras eletrofiadas, também não se detectando diferenças

morfológicas entre as fibras com e sem presença de dexametasona.

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Figura 18 - Superfície do suporte de PCL sem dexametasona (a); MEV da superfície do

suporte de PCL sem dexametasona (b); Superfície do suporte de PCL com dexametasona (c);

MEV da superfície do suporte de PCL com dexametasona (d).

4.1.3 Espessura

Os valores correspondentes às espessuras médias dos suportes de quitosana-xantana e

de PCL mantidos em dessecador com sílica são apresentados na Tabela 3. As espessuras

variaram de 887 a 969 µm para os suportes de QX e de 286 a 395 µm para os suportes

constituídos de PCL.

a b

c d

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Tabela 3 – Valores médios das espessuras dos suportes de quitosana–xantana sem perfuração

(QX), perfurados (QXp) e de poli(caprolactona) sem (PCL) e com dexametasona (PCLd).

Amostra Espessura (µm)

QX 886,8 ± 107,5 b

QXp 927,6 ± 69,97 b

PCL 357,8 ± 29,99 a

PCLd 302,9 ± 11,91 a

Mesma letra na mesma linha ou coluna indica que não há diferença significativa entre os valores

médios (Teste de Tukey, p<0,05).

Para as formulações de quitosana-xantana não se observa variação na espessura das

membranas decorrentes da perfuração. As formulações à base de PCL são significativamente

mais finas que as de quitosana-xantana, mas a adição de dexamentasona às mesmas também

não implicou em diferenças nas espessuras.

Entretanto, o desvio padrão encontrado para os suportes de quitosana-xantana é

elevado, o que pode ser atribuído à baixa uniformidade dos suportes em decorrência de

distribuição não homogênea da mistura polimérica sobre a superfície das placas de Petri

usadas para moldar os scaffolds, acarretando na formação de suportes de espessura variável

em diferentes regiões.

O dado obtido para QX difere daqueles reportados por Bellini et al. (2012), sendo que

no estudo citado a espessura encontrada foi de 1840 µm. Os dados aqui reportados foram

analisados em amostras de diferentes lotes, sendo observada uma coerência nas medidas

obtidas. Possivelmente, as amostras analisadas no estudo supracitado não se encontravam nas

mesmas condições de umidade do presente estudo, contribuindo para a diferença entre os

resultados obtidos.

Ateshian, Soslowsky e Mow (1991) mediram a espessura da cartilagem articular

humana e verificaram que esta varia na tíbia de 0,35 a 6,25 mm e na patela de 0,89 a

5,94 mm. Kladny et al. (1999) também mediram a espessura da cartilagem articular humana e

encontraram medidas que variavam de 0,5 a 7,1 mm. Os scaffolds para a engenharia de

tecidos cartilaginosos devem ser capazes de completar a gama das possíveis lesões

cartilaginosas, que podem atingir de maneira parcial ou total a espessura da cartilagem nativa.

Assim, os suportes poliméricos de QX e PCL aqui obtidos podem ser utilizados

em lesões parciais de cartilagens, visto que suas espessuras não alcançam valores suficientes

para o tratamento de lesões condrais severas. Para atender a demandas de lesões desta

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categoria, poderiam ser opcionalmente utilizados na forma empilhada em várias camadas,

desde que devidamente afixados entre si.

4.1.4 Capacidade de absorção e estabilidade durante a exposição a soluções aquosas

A medida da capacidade máxima de absorção e perda de massa dos suportes em

diferentes soluções aquosas é realizada com o intuito de verificar o comportamento dos

scaffolds obtidos, tanto em relação ao seu intumescimento, que tem efeito direto no transporte

de nutrientes e metabólitos no interior da matriz, quanto à sua estabilidade em condições que

podem simular o ambiente de cultivo. Os resultados de capacidade de absorção encontram-se

resumidos na Tabela 4. Nota-se que nos suportes constituídos de quitosana-xantana a maior

capacidade de absorção foi detectada em presença de água. Veiga e Moraes (2011)

demonstraram que membranas lamelares destes mesmos biopolímeros absorvem entre 24,22 e

61,23 g de água por grama de membrana seca. Bellini e colaboradores (2012) obtiveram

resultados de 29,8 g de água por grama de membrana seca, ou seja, relativamente próximos

dos dados aqui relatados. Para solução salina, este último estudo reporta capacidade de

absorção de 17,1 g de solução salina por grama de membrana seca, também estando próximo

do obtido em solução de PBS no presente estudo.

Tabela 4 – Valores médios da capacidade de absorção dos suportes de QX, QXp, PCL e PCLd

em diferentes soluções aquosas após 24 horas.

Solução

Capacidade de Absorção (g/g)

QX QXp PCL PCLd

Água 22,17 ± 10,17 b 28,87 ± 2,17

a 0,52 ± 0,12

d 0,48 ± 0,07

d

α-MEM + 10% SFB 13,20 ± 14,23 c 12,59 ± 2,93

c 0,71 ± 0,04

d 0,79 ± 0,02

d

PBS 11,85 ± 3,81 c 11,86 ± 5,56

c 0,51 ± 0,05

d 0,41 ± 0,14

d

Mesma letra na mesma linha ou coluna indica que não há diferença significativa entre os valores

médios (Teste de Tukey, p<0,05).

Detectou-se diferenças estatísticas entre os suportes de QX e QXp somente para a

capacidade de absorção em água, sendo que o suporte perfurado absorveu maior quantidade

do líquido que o íntegro. Esse resultado supõem que os suportes perfurados têm potencial de

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80

permitir maior acesso de nutrientes para as células cultivadas no interior dos scaffolds,

mantendo de maneira mais eficaz a viabilidade das mesmas, além de possivelmente facilitar

também a saída de metabólitos tóxicos excretados pelas células, como amônio e lactato.

Para os suportes de poli(caprolactona), a capacidade de absorção de soluções aquosas

foi pequena, visto que se trata de um polímero de caráter hidrofóbico. Não se identificou

diferenças estatísticas no comportamento dos suportes de PCL com e sem dexametasona em

nenhumas das três diferentes soluções.

Os resultados da estabilidade dos scaffolds foram determinados pela perda de massa

por 7 dias em água, PBS e em meio α-MEM suplementado, e são mostrados na Tabela 5.

Tabela 5: Valores médios da perda de massa dos scaffolds de QX, QXp, PCL e PCLd em

diferentes soluções aquosas após 7 dias.

Solução

Perda de Massa (%)

QX QXp PCL PCLd

Água 46,61 ± 0,95 a 45,94 ± 2,49

a 14,28 ± 1,16

b 11,48 ± 2,16

b

α-MEM + 10% SFB 49,57 ± 9,14 a 47,38 ± 2,97

a 11,14 ± 3,14

b 10,84 ± 1,02

b

PBS 49,83 ± 7,55 a 42,26 ± 2,95

a 15,38 ± 2,23

b 11,76 ± 1,08

b

Mesma letra na mesma linha ou coluna indica que não há diferença significativa entre os valores

médios (Teste de Tukey, p<0,05).

Os suportes de quitosana-xantana tiveram perdas consideráveis de massa, variando de

42,3 a 49,8%. A elevada perda de massa observada leva a crer que os tensoativos não foram

totalmente retirados durante as sucessivas lavagens dos suportes ou que impediram a total

complexação dos polissacarídeos. Estes dados diferem daqueles obtidos por Bellini e

colaboradores (2012), que reportam perdas de no máximo 34,7% para amostras porosas nas

mesmas proporções de polissacarídeos utilizadas no presente estudo. O teste de Tukey indicou

que não houve diferenças significativas entre o scaffold perfurado e o não perfurado, assim

como nos dados obtidos para as diferentes soluções utilizadas.

Para os scaffolds de PCL também não se detectou diferenças significativas entre os

suportes com e sem dexametasona e entre as diferentes soluções. As perdas de massa dos

suportes de poli(caprolactona) foram significantemente menores que as obtidas para os de

quitosana-xantana, o que pode ser atribuído às características hidrofóbicas da PCL.

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81

4.1.5 Liberação de dexametasona incorporada nos suportes de poli(caprolactona)

A fim de verificar se os suportes de PCL produzidos contendo dexametasona são

capazes de liberar a quantidade requerida do composto para diferenciação das células-tronco

em condrócitos (0,004 a 0,040 mg/mL), fez-se o estudo da cinética de liberação do agente

ativo em meio de liberação que simula o ambiente fisiológico (PBS, pH 7,4, a 37,0 ºC).

Primeiramente estabeleceu-se a curva de calibração de dexametasona dissolvida em

PBS, conforme demonstrado no Anexo I, Figura AII. O comprimento de onda utilizado na

análise de absorbância foi aquele no qual a dexametasona apresentou o maior pico de

absorbância, ou seja, 242 nm. O ensaio foi realizado em duplicata, utilizando-se como branco

uma amostra sem dexametasona exposta ao solvente do ensaio.

Na Figura 19 são mostrados os resultados da cinética de liberação da dexametasona

para os suportes de PCL, no que diz respeito à variação da concentração do composto na

solução de liberação, quantidade liberada por grama de membrana e porcentagem liberada em

função do tempo. Estudos prévios reportam que a liberação de drogas em sistemas

eletrofiados ocorre geralmente em dois estágios, sendo que no primeiro observa-se uma rápida

liberação, seguida de uma liberação controlada no segundo estágio (VACANTI et al., 2012).

Podem-se identificar na Figura 19 estes dois estágios, sendo nos primeiros 10 minutos

observada uma rápida liberação de dexametasona, seguida por uma liberação controlada no

intervalo seguinte. A liberação máxima da dexametasona é alcançada após 72 horas,

atingindo-se em seguida um platô. A porcentagem liberada correspondeu a um total de 38%,

resultado que se aproxima daqueles apresentados por Kharaziha et al. (2015), que detectaram

liberação de 44% de dexametasona de suportes constituídos de PCL. Conforme já

mencionado, a quantidade necessária de dexametasona varia de 0,004 a 0,040 mg/mL para

favorecer a condrogênese de células-tronco. Assim, a quantidade do fármaco liberada em PBS

(cerca de 0,013 mg/mL) é condizente com a esperada para que ocorra a diferenciação das

CTMs em condrócitos quando a proporção de massa de suporte por volume de solução é

respeitada. A liberação in vivo também deve ser testada a fim de se verificar se a quantidade

de dexametasona incorporada na matriz condiz com a necessária quando em lesões de

diferentes tamanhos e espessuras.

Na Figura 20 são apresentados os resultados obtidos para a análise por MEV dos

suportes de PCL contendo ou não dexametasona antes e após o ensaio de liberação do

fármaco (96 horas).

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16

Figura 19 - Liberação de dexametasona incorporada aos suportes de PCL em termos de massa liberada acumulada do composto por grama de

membrana e sua concentração no meio de liberação (a), e da porcentagem liberada (b). O comportamento no período inicial de liberação é

detalhado em termos de massa de dexametasona liberada por grama de membrana (c) e de concentração do composto no meio de liberação (d).

0,000

0,004

0,008

0,012

0,016

0,020

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

0 12 24 36 48 60 72 84 96

Conce

ntr

ação

(m

g/m

L)

Mas

sa d

e dex

amet

asona

liber

ada

por

mas

sa d

e m

embra

na

(mg/g

)

Tempo (horas)

Massa de dexametasona liberada

por massa de membrana (µg/mg)

Concentração do composto no

meio de liberação (mg/mL)

0

20

40

60

80

100

0 12 24 36 48 60 72 84 96

Porc

enta

gem

lib

erad

a (%

)

Tempo (horas)

b

0,000

0,004

0,008

0,00

0,02

0,04

0,06

0,08

0,10

0,12

0,14

0 5 10 15 20 25 30 35 40

Co

nce

ntr

ação

(m

g/m

L)

Mas

sa d

e d

exam

etas

on

a li

ber

ada

por

mas

sa d

e m

emb

ran

a (µ

g/m

g)

Tempo (minutos)

Massa de dexametasona liberada

por massa de membrana (µg/mg)Concentração do composto no

meio de liberação (mg/mL)0

5

10

15

20

25

30

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Po

rcen

tagem

lib

erad

a (%

)

Tempo (minutos)

a

c d

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Figura 20 - Suporte de PCL sem dexametasona (A); suporte de PCL com dexametasona (B);

suporte de PCL sem dexametasona após liberação em PBS durante 96 horas (C); suporte de

PCL com dexametasona após liberação em PBS durante 96 horas (D).

Conforme já mencionado na análise da Figura 18, nas Figuras 20A e 20B, obtidas em

maior ampliação que a Figura 18, observa-se que a presença da dexametasona não afeta a

morfologia das fibras, possivelmente devido à baixa concentração empregada. Após 96 h em

tampão fosfato (pH 7,4, sob agitação à 37 °C), nota-se claramente que houve erosão

superficial das fibras de PCL, como pode ser observado nas Figuras 20C e 20D para os

suportes sem dexametasona e com dexametasona, respectivamente, embora a superfície do

material contendo o hormônio pareça menos afetada. Essa erosão é esperada, sendo resultado

da hidrólise das cadeias de PCL nas condições de realização do ensaio de liberação.

Supõe-se que nos períodos iniciais de liberação a dexametasona localizada na

A B

DC

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17

superfície das fibras tenha rapidamente se deslocado para o meio aquoso, sendo esta

quantidade apreciável em função da grande área superficial das fibras. Com o passar do

tempo, a dexametasona passaria a ser liberada em decorrência de difusão, devendo-se também

computar a discreta contribuição do efeito de absorção da solução tampão pela matriz

polimérica, que, por sua vez, contribui no transporte da dexametasona por canais no interior

da matriz e também na hidrólise da PCL.

4.1.6 Modelagem matemática dos dados de liberação de dexametasona

Os resultados dos ajustes dos diferentes modelos matemáticos testados aos dados

experimentais do início do período de liberação são representados graficamente na Figura 21,

visando elucidar qual seria o mecanismo inicial predominante. Utilizou-se para tal o intervalo

de dados de Qt/Q até 0,4.

Para o modelo de Higuchi, obteve-se KH de 0,092 e R2 de 0,983, indicando que o

modelo proposto ajustou-se de maneira adequada os dados experimentais. Este modelo

considera a matriz como insolúvel e não intumescível o que, na prática, é próximo do que

seria observado para a PCL no período inicial do ensaio.

O modelo de Korsmeyer-Peppas apresentou o melhor ajuste para a liberação, com R2

de 0,986, Kk de 0,032 e n de 0,354, o qual, sendo menor que 0,5, caracteriza uma liberação do

tipo quasi-Fickiana, em que a difusão do fármaco dá-se parcialmente pela matriz em que se

encontra, e parcialmente pelos poros que contêm PBS.

O modelo de Hopfenberg, que descreve a liberação como decorrente da degradação da

matriz, foi o que apresentou o ajuste menos apropriado, de aproximadamente 0,961, com

constante K0 de 0,204, não sendo o mais adequado para descrever a liberação da

dexametasona no suporte de PCL no período inicial. Apesar de se visualizar pela microscopia

eletrônica de varredura (Figura 20) apreciável degradação do dispositivo contendo apenas

PCL, tal fato pode não ser dominante no início do ensaio.

4.1.7 Análise Termogravimétrica (TGA)

A TGA foi realizada com o objetivo de analisar a decomposição térmica dos suportes

poliméricos e se a adição da dexametasona afeta o comportamento do suporte de PCL. Na

Figura 22 são exibidas as curvas de TGA de perda de massa em função da temperatura para os

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Figura 21 - Ajuste linear dos dados experimentais do ensaio de liberação de dexametasona

dos suportes de PCLd em relação aos modelos de Korsmeyer-Peppas (A), Hopfenberg (B) e

Higuchi (C).

y = 0,3535x - 3,4575

R² = 0,9857 -1,6

-1,4

-1,2

-1

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0

5,5 6 6,5 7 7,5

ln (

Qt/

Q∞

) ln (t)

y = 0,0001x + 0,2041

R² = 0,9606 0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

300 800 1300

Qt/

Q∞

Tempo (s)

y = 0,0085x + 0,0917

R² = 0,9831 0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

17 20 23 26 29 32 35 38

Qt/

Q∞

√t (s)

A

B

C

A

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19

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

0

20

40

60

80

100

0 150 300 450 600

Der

ivad

a (%

/°C

)

Mas

sa r

esid

ual

(%

)

Temperatura (°C)

TGA Xantana

DrTGA Xantana

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

0

20

40

60

80

100

0 150 300 450 600

Der

ivad

a (%

/°C

)

Mas

sa r

esil

dual

(m

g)

Temperatura (°C)

TGA Quitosana

DrTGA Quitosana

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

0

20

40

60

80

100

0 150 300 450 600

Der

ivad

a (%

/°C

)

Mas

sa r

esid

ual

(%

)

Temperatura (°C)

TGA Poloxamer 188

DrTGA Poloxamer

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

0

20

40

60

80

100

0 150 300 450 600

Der

ivad

a (

%/

°C)

Mas

sa r

esid

ual

(m

g)

Temperatura (°C)

TGA QXP

DrTGA QXP

suportes de QX e para os polímeros quitosana, xantana e Poloxamer 188 individualmente.

Não foi analisada a matriz QXp por não ser esperada variação de comportamento no material

em função apenas das perfurações com agulhas.

Já na Figura 23 são mostradas as curvas do suporte de PCL com e sem dexametasona e

do polímero individualmente. Para uma visualização mais efetiva dos eventos térmicos, as

curvas de primeira derivada da perda de massa (DrTGA) foram adicionadas aos gráficos. Os

picos destas derivadas correspondem aos pontos de inflexão nas curvas de TGA e indicam a

temperatura na qual ocorreu maior variação de massa.

Figura 22 – Análises térmicas dos polímeros quitosana (A), xantana (B), Poloxamer 188 (C) e

do suporte constituídos por estes polímeros (D).

A análise de TGA da quitosana, da xantana e do Poloxamer 188 isolados (Figuras 22A

a 22C) resultou em dois eventos térmicos. O primeiro evento, atribuído à perda de água,

ocorreu em temperaturas inferiores a 100 °C. Observa-se que os valores do primeiro pico

foram mais baixos para a quitosana (Figura 22A), indicando uma ligação mais fraca da água

por pontes de hidrogênio com os grupos hidroxila.

Os eventos térmicos subsequentes foram associados à degradação dos polímeros. Na

análise da quitosana (Figura 22A), verificou-se perda de massa de 30 % no segundo evento

A B

D C

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20

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

0

20

40

60

80

100

0 200 400 600

Der

ivad

a (%

/°C

)

Mas

sa r

esid

ual

(%

)

Temperatura (°C)

TGA suporte PCLd

DrTGA suporte PCLd

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

0

20

40

60

80

100

0 200 400 600

Der

ivad

a (%

/°C

)

Mas

sa r

esid

ual

(%

)

Temperatura (°C)

TGA suporte PCL

DrTGA suporte PCL

térmico, com pico a 324 °C. Resultados similares foram encontrados por Martins et al.

(2012), que observaram um pico de degradação a 312 °C. Esta etapa de degradação pode ser

atribuída à despolimerização e decomposição pirolítica do polissacarídeo (MARTINS et al.,

2012).

Figura 23 – Análise termogravimétrica do polímero PCL (A) e dos suportes constituídos de

PCL com (B) ou sem dexametasona (C).

Verificou-se uma perda de massa de 40 % para a degradação térmica da xantana no

segundo evento (Figura 22B), com pico a 310 °C. A literatura registra resultados similares

quanto à degradação térmica da xantana, com pico entre 220-320 °C e perda de massa de 40

%, atribuída à degradação da cadeia de xantana (FARIA et al., 2011).

Para o Poloxamer 188 (Figura 22C), o primeiro pico atribuído à perda de massa de

água foi elevado, visto que o produto analisado é apresentado na forma de solução. O segundo

pico de degradação teve máximo em 400 °C com perda de massa de 96%. Li et al. (2015)

também observaram que o Poloxamer 188 se degrada em torno de 400 °C, corroborando os

dados obtidos.

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

0

20

40

60

80

100

0 150 300 450 600

Der

iva

da

(%

/°C

)

Mas

sa r

esid

ual

(%

)

Temperatura (°C)

TGA PCL

DrTGA PCLA

B C

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Na análise dos suportes de QX (Figura 22D), o primeiro evento térmico, que pode ser

atribuído à perda de água, ocorreu em temperaturas variando de 25 a 145 °C, com perda de

massa em torno de 10 %. Os eventos térmicos seguintes são atribuídos às etapas de

degradação do suporte. Supõe-se que no evento entre 200 e 360 °C ocorra a degradação por

oxidação da xantana e da quitosana. Para o terceiro pico, o qual varia de 380 a 460 °C pode

ser atribuído ao Poloxamer 188, visto que a degradação deste composto isolado ocorre neste

intervalo. Dessa maneira, pode-se inferir que os suportes de QX retêm uma fração de

Poloxamer 188 em sua composição mesmo após as lavagens.

A análise de TGA do polímero de PCL (Figura 23A) resultou em um único evento

térmico, com perda de massa de quase 58% a 438 °C. A análise de TGA para a dexametasona

não foi realizada devido já ser bem estabelecida e não apresentar grandes variações, além da

dexametasona ser um composto de alto custo e não se ter material disponível para esta

análise. Islam (2011) demonstrou que a dexametasona tem perda de massa de 50% em torno

de 300 °C.

Para os suportes (Figuras 23B e 23C), observou-se somente um evento térmico, que

pode ser atribuído à degradação do polímero, visto que o pico encontra-se no intervalo de

degradação localizado para a PCL isolada. O pico relativo a dexametasona não foi detectado,

provavelmente devido à baixa quantidade empregada do fármaco. O suporte de PCL sem

dexametasona apresentou temperatura de maior variação de massa em 436,1 °C, enquanto que

para o suporte que contém o fármaco, o evento ocorreu na temperatura de 435,9 °C. Isso

indica que a adição de dexametasona no suporte de PCL não altera a estabilidade e

decomposição do material.

4.1.8 Determinação da cristalinidade

A cristalinidade dos suportes de quitosana-xantana e de PCL contendo ou não

dexametasona foi determinada por difração de raios-X, e os resultados são apresentados nas

Figuras 24 e 25, respectivamente.

Para os suportes de QX, são observados dois picos referentes aos planos

cristalográficos, em 18,9° e em 23,2°, que podem ser atribuídos à fase amorfa da xantana e da

quitosana, respectivamente. A existência de uma estrutura mais amorfa nos suportes ajuda a

explicar o elevado intumescimento dessas amostras, visto que a transferência de massa em um

polímero é altamente afetada pela estrutura polimérica, sendo que quanto mais amorfo, mais

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22

permeável o polímero se torna, ou seja, a fase cristalina pode ser considerada impermeável

(MILLER; KROCHTA, 1997).

Para os suportes de PCL contendo ou não o fármaco dexametasona, observam-se dois

picos referentes aos planos cristalográficos da PCL, em 21,5° e em 23,8°, indicando a

natureza cristalina dos suportes e corroborando com os dados encontrados na literatura

(NOJIMA; ONO; ASHIDA, 1992; SUN et al., 2011). A semelhança entre os resultados indica

que a presença de dexametasona não afeta o grau de cristanilidade da PCL.

Figura 24 - Difratograma de raio-X do suporte de QX.

Figura 25 - Difratogramas de raios-X dos suportes de PCL contendo ou não dexametasona.

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23

4.2 Análise do comportamento biológico

4.2.1 Caracterização dos parâmetros de crescimento das células mesenquimais

A análise do comportamento das células-tronco mesenquimais dentárias em meio de

cultura α-MEM suplementado com 10% de SFB se fez necessária, a fim de padronizar as

condições de cultivo. Estas células crescem de forma aderida, com morfologia fusiforme.

A curva de crescimento de células inoculadas a uma concentração inicial de

0,5 x 105

células/mL por poço de 35 mm de diâmetro de placas de poliestireno contendo

2 mL de meio α-MEM suplementado com 10% de SFB foi analisada, os daos obtidos estão

apresentados na Figura 26.

De acordo com os dados coletados, não foi possível identificar a fase de adaptação

celular, visto que o primeiro ponto analisado foi de 24 horas, o qual já indica fase exponencial

de crescimento. Esta fase é mantida por até 72 horas de cultivo, quando ocorre uma queda no

número de células viáveis, a qual pode ser atribuída à falta de espaço (inibição por contato) ou

à produção de metabólitos tóxicos pelas células, como amônio e lactato. Estabelecendo como

fase log o período entre 24 e 72 horas de cultivo, calculou-se a velocidade específica máxima

de crescimento (µmáx), de 0,036 h-1

, e o tempo de duplicação celular, de, aproximadamente,

23,1 horas. Em células proliferativas típicas de mamíferos a interfase pode durar 23 horas e a

mitose, uma hora, resultando em tempo de duplicação médio de 24 horas (MORAES;

AUGUSTO; CASTILHO, 2007). Pham e colaboradores (2014) demonstraram que células-

tronco extraídas do cordão umbilical cultivadas em meio de cultura contendo 10% de SFB

geram tempos de duplicação em torno de 25,2 horas, corroborando com os dados obtidos.

4.2.2 Análise da citotoxicidade in vitro indireta dos suportes às células mesenquimais

A citotoxicidade dos extratos obtidos a partir dos suportes poliméricos a células-tronco

mesenquimais dentárias foi analisada por via indireta e os resultados obtidos são mostrados na

Figura 27. Os resultados obtidos mostram que nenhuma das amostras afeta de maneira

expressiva o crescimento celular. A análise estatística de Tukey demonstrou que não existem

diferenças significativas entre os suportes de QX e QXp. Já para os suportes de PCL com e

sem dexametasona existem diferenças estatísticas, sendo que o suporte que possui

dexametasona possui citotoxicidade inferior ao suporte sem dexametasona.

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24

Figura 26 – Curva de crescimento das células-tronco mesenquimais dentárias (A); curva de

crescimento celular expressa em termos de seu logaritmo neperiano (B).

0

100.000

200.000

300.000

400.000

0 20 40 60 80 100 120

Cél

ula

s viá

vei

s (c

el/m

L)

Tempo de cultivo (horas)

10,5

11,0

11,5

12,0

12,5

13,0

0 20 40 60 80 100 120

Ln [

Cél

ula

s viá

vei

s]

Tempo de cultivo (horas)

A

B

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25

Os valores de toxicidade para os suportes de PCL pode ser resultante da presença de

traços dos solventes orgânicos utilizados.

Em síntese, os valores de citotoxicidade encontrados indicam que todos os suportes

poliméricos produzidos possuem potencial uso como scaffolds para células-tronco

mesenquimais dentárias.

Figura 27 - Citotoxicidade indireta dos suportes de QX, QXp, de PCL e PCLd. Não há

diferença significativa entre os dados marcados com a mesma letra (teste de Tukey, p<0,05).

4.2.3 Diferenciação das células mesenquimais dentárias em condrócitos

4.2.3.1 Cultivo das células-tronco dentárias no sistema micromass

Para determinar a concentração ideal de kartogenina no meio de cultura, realizou-se o

cultivo das células-tronco mesenquimais dentárias no sistema do tipo micromass. Após 21

dias, realizou-se as análises histológicas usando os corantes tricrômico de Masson,

hematoxilina e eosina (H&E) e azul de Alcian, conforme sumarizado nas Figuras 28 a 36.

A coloração de tricrômico de Masson cora os núcleos celulares de marrom escuro a

preto, o citoplasma, a queratina e as fibras intercelulares de vermelho e o colágeno de azul

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26

(SCHMITZ et al., 2010). Observando-se as micrografias obtidas com este corante (Figuras 28

a 30), pode-se verificar elevada quantidade celular, assim como formação de colágeno

(indicada pelas setas) em todas as concentrações de kartogenina, sugerindo diferenciação das

células-tronco mesenquimais dentárias em condrócitos. Todavia, o aumento da concentração

de kartogenina não induziu maior formação de fibras de colágeno, indicando que a menor

concentração do fator de diferenciação seja a mais indicada visando a economia do reagente.

Figura 28 – Microscopia das células cultivadas em sistema micromass na presença de

0,1 µmol/L de kartogenina coradas com tricrômico de Masson. Barra de escala: 50 µm.

0,1

µm

ol/

L K

GN

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27

Figura 29 – Microscopia das células cultivadas em sistema micromass na presença de

1 µmol/L de kartogenina coradas com tricrômico de Masson. Barra de escala: 50 µm.

Figura 30 – Microscopia das células cultivadas em sistema micromass na presença de

10 µ µmol/L de kartogenina coradas com tricrômico de Masson. Barra de escala: 50 µm.

1 µ

mo

l/L

KG

N10 µ

mol/

L K

GN

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28

Figura 31 – Microscopia das células cultivadas em sistema micromass na presença de

0,1 µmol/L de kartogenina coradas com H&E. Barra de escala: 50 µm.

Figura 32 – Microscopia das células cultivadas em sistema micromass na presença de

1 µmol/L de kartogenina coradas com H&E. Barra de escala: 50 µm.

0,1

µm

ol/

LK

GN

1 µ

mo

l/L

KG

N

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29

Figura 33 – Microscopia das células cultivadas em sistema micromass na presença de

10 µmol/L de kartogenina coradas com H&E. Barra de escala: 50 µm.

Figura 34 – Microscopia das células cultivadas em sistema micromass na presença de

0,1 µmol/L de kartogenina coradas com azul de alcian. Barra de escala: 50 µm.

10

µm

ol/

L K

GN

D

0,1

µm

ol/

L K

GN

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30

Figura 35 – Microscopia das células cultivadas em sistema micromass na presença de

1 µmol/L de kartogenina coradas com azul de alcian. Barra de escala: 50 µm.

Figura 36 – Microscopia das células cultivadas em sistema micromass na presença de

10 µmol/L de kartogenina coradas com azul de alcian. Barra de escala: 50 µm.

1 µ

mo

l/L

KG

N1

0 µ

mo

l/L

KG

N

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31

A coloração H&E é a principal técnica de coloração de tecidos em histologia. A

hematoxilina comporta-se como uma base, tendo afinidade por compostos presentes nos

tecidos celulares que apresentam radicais ácidos, como proteínas e ácidos nucléicos, corando

de azul a roxo os núcleos celulares e a matriz extracelular de tecidos cartilaginosos. Já a

eosina, sendo acidófila, cora de rosa a roxo predominantemente o citoplasma e as fibras de

colágeno (SCHMITZ et al., 2010). Conforme verificado para o tricrômico de Masson, pode-se

notar nas Figuras 31, 32 e 33 elevada densidade celular e formação de colágeno (indicadas

pelas setas) em todas as concentrações de kartogenina, confirmando que a concentração de

100 nmol/L seria, portanto, preconizada.

O corante azul de Alcian é utilizado para corar de azul polissacarídeos ácidos, como os

glicosaminoglicanos encontrados na cartilagem (YAMASHITA; KRAWETZ; RANCOURT,

2009). Observando-se as micrografias feitas com este corante (Figuras 34 a 36), pode-se

inferir que houve elevada produção de glicosaminoglicanos em todas as concentrações de

kartogenina, também indicando diferenciação das células-tronco em condrócitos.

Diante do exposto, todas as colorações indicaram diferenciação das células dentárias

em condrócitos e que não houve diferenças significativas entre as três concentrações de

kartogenina empregadas, sugerindo que a menor concentração do fator de diferenciação seja

já suficiente. Assim, a diferenciação das células-tronco nos suportes poliméricos foi realizada

com 100 nmol/L de kartogenina no meio de cultivo.

4.3 Cultivo das células-tronco dentárias nos suporte poliméricos

4.3.1 Análise das CTMs aderidas nos suportes por microscopia eletrônica de varredura

(MEV)

As células-tronco foram cultivadas nos suportes poliméricos com adição de

100 nmol/L de kartogenina e na presença e na ausência de 100 nmol/L de dexametasona no

meio de cultivo condrogênico, durante 14 dias. Após o cultivo, as células aderidas no suporte

foram submetidas às análises de microscopia eletrônica de varredura.

O intuito desta análise era verificar se as células-tronco dentárias haviam aderido,

proliferado e se diferenciado em condrócitos através da comparação da variação na densidade

celular nos tempos de 24 horas e 14 dias e na formação de redes de colágeno e

glicosaminoglicanos características da linhagem de condrócitos. O aspecto típico das culturas

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32

realizadas nos suportes de quitosana-xantana e de PCL com e sem dexametasona são

mostrados nas Figuras 37 e 38, respectivamente.

Observando-se as micrografias dos suportes de QX e QXp do tempo de 24 horas

(Figuras 37A e 37B), pode-se inferir que a adesão celular ocorre já nas primeiras horas de

contato com os suportes, o que demonstra que os mesmos são adequados para esta finalidade.

Aparentemente, a quantidade de células aderidas nos suportes perfurados e íntegros é a

mesma nas primeiras horas de inoculação. No tempo de 14 dias (Figuras 37C a 37F), verifica-

se elevada densidade celular em ambos os suportes, indicando que os scaffolds permitem que

as células se repliquem e cresçam de maneira satisfatória. Entretanto, observa-se que as

células cultivadas nos suportes perfurados apresentam morfologia mais circular (característica

essencial de condrócitos) quando comparadas com as células dos suportes íntegros, que

crescem formando agregados celulares. Não foram detectadas diferenças relevantes entre as

células cultivadas na presença e na ausência de dexametasona neste tipo de matriz.

Já para os suportes de PCL, as micrografias do tempo de 24 horas (Figuras 38A e 38B)

demonstram que a adesão celular também ocorre já nas primeiras horas de contato com os

suportes, porém em uma quantidade inferior quando comparada aos suportes de QX. Apesar

disso, pode-se também inferir que os suportes de PCL são adequados para a adesão celular,

porém de maneira menos eficiente que os suportes de QX. Assim como para os suportes de

QX, os suportes de PCL contendo ou não dexametasona não apresentaram diferenças na

quantidade de células aderidas nas primeiras horas de inoculação.

No tempo de 14 dias de cultivo com adição de dexametasona no meio de cultura

(Figuras 38C e 38D), verifica-se elevada densidade celular em ambos os suportes de PCL,

demonstrando que os suportes permitem proliferação celular de forma eficiente. Porém, o

suporte que possui dexametasona em sua formulação ainda apresentou maior quantidade de

fibras de colágeno e glicosaminoglicanos, indicando que este scaffold possibilita a

diferenciação de maneira mais eficaz das células-tronco dentárias em condrócitos.

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33

Figura 37 – MEV dos suportes de QX (A, C e E) e de QXp (B, D e F) nos tempos de 24 horas

e 14 dias com e sem dexametasona adicionada ao meio de cultivo.

a

24 h

ora

s

b

14 d

ias

com

dex

amet

asona

c

e

d

f

14 d

ias

sem

dex

amet

asona

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34

Figura 38 – MEV dos suportes de PCL (A, C e E) e de PCL com dexametasona (B, D e F) nos

tempos de 24 horas e 14 dias com e sem dexametasona no meio de cultivo.

Comparando-se as micrografias de 14 dias com e sem adição de dexametasona no

meio de cultivo (Figuras 38C a 38F), verifica-se que quando o fármaco está presente na forma

líquida no meio de cultivo, a diferenciação e proliferação celular é maior. Entretanto, quando

se analisa as micrografias de 14 dias sem dexametasona no meio de cultivo (Figuras 38E e

38F), observa-se que o scaffold que contém o fármaco apresenta maiores quantidades de

células e redes de colágeno e glicosaminoglicanos que os suportes sem dexametasona,

confirmando de maneira mais explícita que sua utilização na diferenciação celular em

condrócitos é mais efetiva.

a b

c

e

d

f

24 h

ora

s14 d

ias

com

dex

amet

asona

14 d

ias

sem

dex

amet

asona

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35

Como neste trabalho tinha-se por meta analisar se os scaffolds produzidos seriam

capazes de serem utilizados para a recuperação de lesões cartilaginosas in vivo, verificou-se

com base na análise dos dados obtidos que o suporte que contém dexametasona torna-se mais

interessante para esta utilização, visto que ele resulta em diferenciação de maneira mais eficaz

das células-tronco cultivadas no mesmo. Após a implantação, o suporte contendo o fármaco

supostamente poderia auxiliar na diferenciação de células-tronco do próprio organismo, além

de ter atividade imunossupressora e anti-inflamatória (KLEIMAN; TUCKERMANN, 2007).

Em síntese, pode-se considerar que os suportes de QXp (perfurados) e de PCL com

dexametasona (PCLd) são mais eficazes que os suportes de QX não perfurado e de PCL sem o

fármaco na diferenciação de células-tronco mesenquimais dentárias em condrócito.

Comparando-se os suportes de QXp e PCLd, pode-se inferir que os suportes de QXp

apresentam características que favorecem a engenharia do tecido cartilaginoso, visto que este

suporte apresentou maior densidade celular.

Destaca-se que não foi possível quantificar as células nos suportes, visto que a técnica

de trispinização normalmente utilizada para este fim não funciona de maneira apropriada nos

suportes porosos avaliados, particularmente nas matrizes compostas de quitosana e xantana.

Também análises com indicadores metabólicos como o MTT não fornecem resultados

inequívocos, já que os mesmos podem ser adsorvidos pelas matrizes poliméricas, em especial

pelas de QX.

4.3.2 Análise das CTMs aderidas nos suportes por histologia

Após o cultivo nos suportes, as células foram submetidas às análises histológicas com

tricrômico de Masson, H&E e azul de Alcian, visando, pelo uso de métodos de coloração

específica, detectar a presença de colágeno e de glicosaminoglicanos.

Para realizar esta análise, é necessário que os suportes poliméricos sejam imersos em

parafina líquida a 60 °C. Nesta etapa do procedimento experimental, os suportes de PCL não

resistiram à temperatura elevada, desintegrando-se, já que a temperatura de fusão da PCL está

entre 59 e 64 °C (MOHAMED; YUSOH, 2015). Dessa maneira, não foi possível realizar os

cortes histológicos para os suportes de PCL, somente para os de QX e QXp. Todavia, as

análises de microscopia eletrônica de varredura já indicaram que os suportes de PCL são

adequados para o cultivo de células-tronco mesenquimais dentárias. As micrografias das

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36

histologias dos suportes de quitosana-xantana sem e com células cultivadas encontram-se nas

Figuras 39 a 53.

Analisando-se as imagens obtidas em presença de tricrômico de Masson (Figuras 39 a

43), observou-se produção de fibras de colágeno (indicadas pelas setas) nos suportes

cultivados tanto na presença quanto na ausência de dexametasona e de perfuração nos

suportes. Nas análises realizadas com o corante H&E (Figuras 44 a 48) pode-se notar também

formação de fibras de colágeno (indicadas pelas setas) em todas as micrografias, sugerindo

que as células-tronco dentárias se diferenciaram em condrócitos tanto na presença quanto na

ausência de dexametasona, também confirmando o que foi observado para as micrografias de

MEV.

Para a coloração de azul de Alcian (Figuras 49 a 53), foram observadas células

completamente coradas de azul, indicando produção de glicosaminoglicanos pelas mesmas, o

que também pressupõe diferenciação dessas células em condrócitos.

Diante do exposto, todas as colorações indicaram diferenciação das células dentárias

em condrócitos e que não houve diferenças significativas entre a presença e a ausência de

dexametasona no meio de cultivo condrogênico e na presença e ausência de perfuração.

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37

Figura 39 – Micrografia do suporte de QX sem células corado com Tricrômico de Masson.

Barra de escala: 50 µm.

Figura 40 - Micrografia do suporte de QX com células cultivadas durante 14 dias com

100 nmol/L de kartogenina e na presença de dexametasona corado com Tricrômico de

Masson. Barra de escala: 50 µm.

QX

Sem

cél

ula

s

QX

com

dex

amet

asona

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Figura 41 – Micrografia do suporte de QXp com células cultivadas durante 14 dias com

100 nmol/L de kartogenina e na presença de dexametasona corado com Tricrômico de

Masson. Barra de escala: 50 µm.

Figura 42 – Micrografia do suporte de QX com células cultivadas durante 14 dias com

100 nmol/L de kartogenina e na ausência de dexametasona corado com Tricrômico de

Masson. Barra de escala: 50 µm.

QX

p

com

dex

amet

aso

na

QX

sem

dex

amet

aso

na

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Figura 43 – Micrografia do suporte de QXp com células cultivadas durante 14 dias com

100 nmol/L de kartogenina e na ausência de dexametasona corado com Tricrômico de

Masson. Barra de escala: 50 µm.

Figura 44 – Micrografia do suporte de QX sem células corado com H&E. Barra de escala:

50 µm.

QX

p

sem

dex

amet

aso

na

QX

sem

cél

ula

s

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40

Figura 45 – Micrografia do suporte de QX com células cultivadas durante 14 dias com

100 nmol/L de kartogenina e na presença de dexametasona corado com H&E. Barra de escala:

50 µm.

Figura 46 – Micrografia do suporte de QXp com células cultivadas durante 14 dias com

100 nmol/L de kartogenina e na presença de dexametasona corado com H&E. Barra de escala:

50 µm.

QX

com

dex

amet

aso

na

QX

p

com

dex

amet

asona

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Figura 47 – Micrografia do suporte de QX com células cultivadas durante 14 dias com

100 nmol/L de kartogenina e na ausência de dexametasona corado com H&E. Barra de escala:

50 µm.

Figura 48 – Micrografia do suporte de QXp com células cultivadas durante 14 dias com

100 nmol/L de kartogenina e na ausência de dexametasona corado com H&E. Barra de escala:

50 µm.

QX

sem

dex

amet

aso

na

QX

sem

dex

amet

aso

na

QX

p

sem

dex

amet

aso

na

QX

p

sem

dex

amet

aso

na

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Figura 49 – Micrografia do suporte de QX sem células corado com azul de Alcian. Barra de

escala: 50 µm.

Figura 50 – Micrografia do suporte de QX com células cultivadas durante 14 dias com

100 nmol/L de kartogenina e na presença de dexametasona corado com azul de Alcian. Barra

de escala: 50 µm.

QX

Sem

cél

ula

s

QX

com

dex

amet

aso

na

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Figura 51 – Micrografia do suporte de QXp com células cultivadas durante 14 dias com

100 nmol/L de kartogenina e na presença de dexametasona corado com azul de Alcian. Barra

de escala: 50 µm.

Figura 52 – Micrografia do suporte de QX com células cultivadas durante 14 dias com

100 nmol/L de kartogenina e na ausência de dexametasona corado com azul de Alcian. Barra

de escala: 50 µm.

QX

p

com

dex

amet

aso

na

QX

sem

dex

amet

aso

na

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Figura 53 – Micrografia do suporte de QXp com células cultivadas durante 14 dias com

100 nmol/L de kartogenina e na ausência de dexametasona corado com azul de Alcian. Barra

de escala: 50 µm.

QX

p

sem

dex

amet

aso

na

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5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES

5.1 Conclusões

Perante os estudos realizados neste trabalho foi possível obter conclusões tanto no

âmbito do preparo e das caracterizações dos suportes quanto no âmbito da adesão,

crescimento e diferenciação das células-tronco dentárias cultivadas nos suportes.

Em relação ao preparo e caracterização dos suportes, pode-se concluir que:

1) O preparo dos suportes foi realizado de forma eficaz, através da adaptação do protocolo

descrito por Bellini et al. (2012) para os suportes de QX. A neutralização destes suportes

durante o preparo visando a eliminação das etapas de lavagem não foi efetiva, impedindo a

formação de uma membrana homogênea e estável.

2) Os suportes QX perfurados apresentaram fissuras na superfície, indicando potencial de

melhoria da interconectividade entre os poros.

3) As espessuras observadas para os suportes QX, QXp, PCL e PCLd atingiram valores que

indicaram que, idealmente, os scaffolds podem ser utilizados para lesões cartilaginosas

parciais. Para o tratamento de lesões condrais severas, seria necessária a sobreposição de

várias unidades do material.

4) Nos suportes de QX, a maior capacidade de absorção foi detectada em presença de água,

sendo que o suporte perfurado absorveu mais água que o íntegro. Para os suportes de PCL

e PCLd, a capacidade de absorção de soluções aquosas foi pequena.

5) A incorporação da dexametasona por impregnação nos suportes de QX não foi eficiente na

concentração testada, inviabilizando sua utilização. Para os suportes de PCL, a

dexametasona foi incorporada por adição direta, e apresentou liberação máxima em

72 horas, atingindo uma concentração adequada para a diferenciação celular.

6) As análises de TGA indicaram que a adição de dexametasona no suporte de PCL não altera

a estabilidade e decomposição do suporte. Para os suportes de QX, as análises de TGA

indicaram a ocorrência de três eventos térmicos.

7) As análises de cristalinidade demonstraram estrutura amorfa para QX e cristalina para os

suportes de PCL.

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46

No tocante ao estudo de adesão, crescimento e diferenciação das células-tronco, pode-

se concluir que:

1) As células-tronco mesenquimais dentárias analisadas apresentaram taxa específica máxima

de crescimento (µmáx), de 0,036 h-1

, e tempo de duplicação celular de, aproximadamente,

23 horas.

2) A citotoxicidade dos suportes poliméricos em relação a estas células foi baixa para todas as

matrizes, sendo os de PCL menos citotóxicos que os de QX.

3) O cultivo das células-tronco dentárias no sistema de micromass em presença de diferentes

concentrações de kartogenina indicou que na menor concentração (0,1 mol/L) já se

observa diferenciação em nível apropriado por análise de microscopia.

4) Os ensaios de microscopia eletrônica de varredurra e a análise histológica dos suportes

com as células-tronco dentárias neles inoculadas indicaram adesão, proliferação e

diferenciação das células em condrócitos, mostrando também que a kartogenina é eficiente

na diferenciação celular e que o suporte de QX perfurado é o mais apropriado para a

aplicação na área de Engenharia de Tecidos cartilaginosos dentre os testados, visto que

nestes suportes ocorrem adesão e proliferação mais significativas que nos suportes de PCL.

5.2 Sugestões para trabalhos futuros

Para dar continuidade aos estudos nesta linha de atuação, recomenda-se:

1) A avaliação do comportamento das células cultivadas nos suportes pela reação em cadeia

da polimerase em tempo real (RT-PCR) para quantificar a produção de colágeno tipo II,

agrecanos e SOX9;

2) A análise do desempenho in vivo dos suportes de QXp e de PCLd, uma vez que a proposta

de regeneração cartilaginosa é destinadas a humanos;

3) A incorporação da dexametasona por impregnação mediada por CO2 supercrítico nos

suportes de QX, uma vez que o CO2 supercrítico pode apresentar alto poder de solvatação,

mas com viscosidade e difusividade similares às de um gás, facilitando a transferência do

agente bioativo para o interior da matriz. Além disso, esta técnica é de baixo custo, não

utiliza solventes orgânicos, não gera resíduos e poderia propiciar a impregnação de

dexametasona de forma bastante homogênea na matriz polimérica em condições amenas de

temperatura, o que contribuiria para a integridade de substâncias termossencíveis.

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4) A realização de análises histológicas das células nos suportes de PCL por congelamento,

visto que estes suportes não se mantêm íntegros nas condições das análises histológicas

convencionais;

5) O desenvolvimento de scaffolds de QX, PCL e outros tipos de polímeros em outros estados

ou formatos, como géis e micropartículas, para o cultivo de células-tronco mesenquimais

para a diferenciação em condrócitos, visto que estes tipos de scaffods permitem injeção

intra-articular na lesão condral.

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ANEXO I

Figura AI – Curva de calibração de dexametasona obtida a partir da absorbância a 242 nm de

diferentes concentrações da droga dissolvida em etanol/água (5:95 %).

Figura AII – Curva de calibração de dexametasona obtida a partir da absorbância a 242 nm de

diferentes concentrações da droga dissolvida em PBS.

De acordo com os dados obtidos, considerou-se satisfatória as curvas-padrão obtidas,

visto que os valores de absorbância encontraram-se dentro de um intervalo adequado para o

equipamento utilizado e os R2

são próximos de 1,0.

y = 32,592x + 0,0271

R² = 0,999 0,000

0,500

1,000

1,500

2,000

2,500

0,000 0,010 0,020 0,030 0,040 0,050 0,060 0,070

Ab

sorb

ânci

a (2

42

nm

)

Concentração (mg/mL)

y = 36,187x + 0,0275

R² = 0,9929

0,000

0,500

1,000

1,500

2,000

2,500

0,000 0,010 0,020 0,030 0,040 0,050 0,060 0,070

Ab

sorb

ânci

a (2

42

nm

)

Concentração (mg/mL)